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Curso Científico-Humanístico de Línguas e Humanidades

Guião de Estudo
História A
12º Ano de Escolaridade Ano letivo 2022-2023
Módulo 8.2.2. DA REVOLUÇÃO À ESTABILIZAÇÃO DA DEMOCRACIA:
AS TRANSFORMAÇÕES DECORRENTES DA “REVOLUÇÃO DOS CRAVOS”

TRANSFORMAÇÕES ECONÓMICAS E SOCIAIS DE ABRIL DE 74 A NOVEMBRO DE 75


 recusa do modelo capitalista através de um forte intervencionismo do Estado na economia e finanças, por
pressão das forças político-sociais de esquerda, com o objetivo de construir uma osciedade mais igualitária;
 nacionalização dos bancos emissores (Banco de Portugal, Banco Nacional Ultramarino e Banco de Angola), tendo
os acionistas recebido as indemnizações previstas, e a promulgação de legislação para a fiscalização das
instituições de crédito pelo Estado (setembro de 74), de acordo com o que estava previsto no programa do I
Governo Provisório;
 ocupação de empresas (OU experiências de autogestão OU controlo operário), no contexto da consagração das
ações de poder popular - formação de comissões de trabalhadores que assumem o controlo das empresas
privadas e processos sumários de saneamento dos corpos gerentes e impedindo os proprietários de entrar nas
empresas;
 intervenção do Estado em numerosas empresas, sob a acusação de não contribuírem para o desenvolvimento
económico do país (Decreto-Lei 660/74), nomeando comissões administrativas estatais em substituição dos
corpos gerentes próprios (a partir de novembro de 74) para combater a sabotagem económica (OU a fuga de
capitais para o estrangeiro);
 intensificação da intervenção do Estado na economia e nas finanças, no contexto de radicalização do processo
revolucionário após o 11 de março de 1975, através da nacionalização da totalidade da banca e das seguradoras
e, logo de seguida, das empresas ligadas a setores-chave da economia (transportes e comunicações, companhias
elétricas e hidroelétricas, indústrias siderúrgica e química, entre outras), com o objectivo de desmantelar os
monopólios económico-financeiros;
 processo de reforma agrária, no centro e sul do país, na sequência das primeiras ocupações espontâneas dos
latifúndios do Alentejo e do Ribatejo pelos trabalhadores rurais (janeiro de 75 - “A terra a quem a trabalha”),
que estabeleceu os princípios da expropriação fundiária (OU que legalizou as ocupações espontâneas de terras)
e que promoveu a constituição de cooperativas agrícolas (Unidades Coletivas de Produção – UCP): a posse do
solo expropriado passou a pertencer ao Estado, mas cada UCP detinha a posse plena das alfaias agrícolas e
autogeria-se através de comissões eleitas pelos trabalhadores;
 promulgação de legislação laboral e social para reforço dos direitos dos trabalhadores e proteção dos grupos
economicamente desfavorecidos (OU para uma mais justa distribuição da riqueza): além do direito à greve e da
liberdade sindical, criação do salário mínimo, restrições aos despedimentos, generalização das pensões sociais e
de reforma, tabelamento de preços dos artigos de primeira necessidade para elevar o nível de vida dos
trabalhadores face à inflação existente, entre outras medidas;
 crescimento da inflação, associada à desvalorização da moeda e à escassez de alguns bens de consumo OU
aumento do desequilíbrio das contas externas, em consequência do crescimento da despesa (OU com o
crescimento do défice), no contexto internacional de crise económica e financeira dos anos 70 (choque
petrolífero e desordem do sistema monetário internacional) e de perda dos anteriores mercados coloniais;
 abertura ao estabelecimento de relações económicas com países de diferentes continentes e de diferentes
regimes OU apelo à solidariedade material, em particular dos países democráticos;
 implementação de medidas para a integração social dos portugueses regressados do Ultramar (“retornados”),
na sequência do fim da guerra colonial e da descolonização, processo dificultado pela situação de crise
económica (OU pelas tensões políticas e sociais vividas no país);

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 aumento significativo da população ativa, na década de 70, associada ao regresso dos exilados e “retornados”,
assim como ao crescimento dos setores secundário e terciário;
 grandes campanhas de dinamização cultural e ação cívica, promovidas pelo MFA, com o objetivo de explicar às
populações do interior rural o significado da revolução, o valor da democracia e a importância do voto popular
nos diversos sufrágios em curso, bem como os direitos dos trabalhadores;
 constituição de “comissões de moradores” e “comités de ocupantes” que, nas vilas e nas cidades, ocupam casas
vagas, do Estado ou de particulares, quer para fins habitacionais, quer para a instalação de equipamentos sociais
de iniciativa popular (creches, centros clínicos, parques infantis).

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A OPÇÃO CONSTITUCIONAL DE 1976 E A REVISÃO CONSTITUCIONAL DE 1982
Pendor socialista e revolucionário do texto constitucional de 1976 (assegurado pelo anterior Pacto MFA-Partidos):
 a afirmação de uma sociedade socialista, construída com “respeito pela vontade do povo português”;
 institucionalização da participação dos militares na vida política do país, através da manutenção do Conselho da
Revolução como órgão de soberania (em estreita ligação com o Presidente da República, que o encabeça), visto
como o garante do processo revolucionário;
 consagração constitucional das conquistas revolucionárias, consideradas irreversíveis (a reforma agrária, as
expropriações e as nacionalizações) OU do socialismo como modelo económico e social, nomeadamente nas
disposições relativas à economia e aos direitos sociais;

Pendor democrático e descentralizador do texto constitucional de 1976:


 consagração de uma democracia pluralista, baseada no respeito pela soberania popular, na realização de eleições
diretas, por sufrágio universal, para a Assembleia Legislativa e para a Presidência da República (OU pelo Estado de
direito), na divisão e independência dos três poderes do Estado;
 respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais – adoção dos princípios da Declaração dos
Direitos Humanos: liberdade de imprensa e de expressão, entre outros exemplos;
 institucionalização de um regime democrático, organizado em torno de cinco órgãos de soberania: Presidente da
República, Conselho da Revolução, Assembleia da República, Governo e Tribunais;
 instituição de autonomia política nas regiões insulares da Madeira e dos Açores, em respeito pela vontade
popular: governo exercido através de uma Assembleia Legislativa Regional, um Governo regional e um ministro
da República, designado pelo Chefe de Estado (a quem cabe nomear o Governo regional e promulgar diplomas
legais);
 instituição de um modelo de poder autárquico descentralizado, estruturado em municípios e em freguesias,
ambos com um órgão legislativo e um órgão executivo, eleitos democraticamente (via direta) – papel relevante
no desenvolvimento local e na resolução dos problemas específicos das localidades;
 definição de uma política externa baseada nos princípios da independência nacional, do respeito pelo direito
internacional, da autodeterminação e independência dos povos, da igualdade entre os estados e da solução
pacífica de conflitos.

Revisão constitucional de 1982 (após “período de transição” de 4 anos):


 manutenção das disposições relativas à economia que diziam respeito às nacionalizações e à reforma agrária
(revogadas apenas em 1989) e manutenção dos princípios socializantes, embora suavizados;
 reforço do modelo político democrático de tipo europeu (OU da matriz democrático-liberal do regime), assente
no sufrágio popular (cariz democrático liberal do regime):
- manutenção do Preâmbulo original apenas como marco histórico, abolindo-se expressões como «o exercício
democrático do poder pelas classes trabalhadoras»;
- abolição do Conselho da Revolução e subordinação completa dos militares ao poder político, que passa a
assentar exclusivamente na legitimidade democrática;
- criação do Conselho de Estado, em substituição do Conselho da Revolução, de consulta obrigatória pelo
Presidente da República em decisões relevantes;
- reequilíbrio entre órgãos de soberania, através da criação do Tribunal Constitucional, com competência para
zelar pelo cumprimento da Constituição, e da limitação dos poderes presidenciais e do reforço dos poderes da
Assembleia da República – instituição de um regime semipresidencialista.

Sobre o funcionamento das instituições democráticas ver Manual, páginas 139-142

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PROCESSO DE DESCOLONIZAÇÃO NO IMEDIATO PÓS-25 DE ABRIL: DIFICULDADES E DESAFIOS
A questão colonial foi um dos mais fortes motores do golpe militar de 25 de abril de 1974, mas a resolução
do impasse a que a guerra chegara foi um dos aspetos que mais dividiu o MFA.
• dificuldades na obtenção de uma solução rápida e consensual para o problema colonial, após anos de
arrastamento da guerra e da recusa portuguesa em discutir a descolonização, apesar do reconhecimento, por
parte de setores militares, de que a guerra colonial teria de ter uma solução política;
• divergências no MFA e no país, imediatamente após a Revolução de 25 de Abril, quanto à situação das colónias:
confronto entre as teses federalistas de Spínola e as teses da independência imediata defendidas por outros
setores do MFA;
• intensificação de fortes pressões internas (multiplicação de manifestações de apoio ao regresso imediato dos
soldados e pressão partidária) com vista à descolonização imediata OU forte pressão internacional com vista à
consagração do direito das colónias à autodeterminação (sobretudo da Organização das Nações Unidas e da
Organização da Unidade Africana) OU pressão dos movimentos de libertação para que Portugal reconheça o
direito das colónias à autodeterminação, recusando-se a iniciar negociações antes desse reconhecimento (com
exceção da UNITA, União para a Independência Total de Angola);
• alteração da política colonial através da aprovação da Lei 7/74 de 27 de julho, que reconheceu o direito das
colónias à independência, após a derrota das posições federalistas de Spínola OU através do reconhecimento do
direito dos povos das colónias à autodeterminação, consagrado na Carta das Nações Unidas (OU respeitando as
sucessivas resoluções da ONU que intimavam Portugal a descolonizar);
• negociação com os movimentos de libertação das colónias, reconhecidos por Portugal como representantes
legítimos dos respetivos povos, com vista à descolonização (Partido para a Independência da Guiné e Cabo Verde
(PAIGC); Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO); Frente Nacional para a Libertação de Angola (FNLA),
Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e União para a Independência Total de Angola (UNITA)) OU
estabelecimento de um calendário de negociações para o reconhecimento dos processos de independência das
ex-colónias nos termos dos acordos assinados (26 de agosto de 1974, Acordo de Argel – independência da Guiné-
Bissau efetivada a 10 de Setembro de 1974); 6 de setembro de 1974, Acordo de Lusaca – independência de
Moçambique efetivada a 25 de junho de 1975; 15 de janeiro de 1975, Acordo de Alvor – independência de Angola
efetivada a 11 de novembro de 1975): estes, com exceção da Guiné-Bissau, previam um curto período de transição
para transferência de poderes, durante o qual estruturas conjuntas de Portugal e dos movimentos de libertação
assegurariam o respeito pela legalidade e pela ordem;
• dificuldades no processo de descolonização devido à existência de mais do que um movimento de libertação em
várias ex-colónias (Angola – FNLA, MPLA e UNITA; Timor – Frente Revolucionária da Timor-Leste Independente
(FRETILIN) e União Democrática Timorense (UDT));
• dificuldades de Portugal, após a suspensão dos combates e as negociações entre o novo regime e os
movimentos de libertação, em fazer cumprir os acordos de transição para a independência (OU em impedir os
conflitos armados entretanto surgidos em algumas das ex-colónias), dada a instabilidade política interna e o
desgaste provocado por uma situação de guerra prolongada (desmotivação dos soldados e deterioração das
relações entre os militares africanos e os comandos europeus);
• retorno em massa, e em condições precipitadas, de milhares de portugueses fugidos dos conflitos político-
militares nas ex-colónias OU fuga à situação mais complicada em Angola (forças portuguesas apenas controlavam
os principais centros urbanos), com a organização de uma «ponte aérea» para evacuar os cidadãos portugueses
(setembro-outubro);
• implementação de medidas para a integração social dos portugueses regressados do Ultramar («retornados»),
apesar das difíceis condições em que chegaram ao país – criação do Instituto de Apoio ao Retorno de Nacionais
(IARN) para facilitar o acolhimento dos portugueses das ex-colónias;
• dificuldades acrescidas na descolonização de Timor, devido à ocupação do seu território pela Indonésia,
impossibilitando a descolonização logo após o 25 de abril OU defesa, no contexto internacional, dos interesses
dos timorenses após a ocupação de Timor-Leste pela Indonésia OU envolvimento ativo, nacional e em contexto
internacional, no processo que possibilitaria a independência de Timor-Leste;
• abertura de negociações com a República Popular da China para a transferência da soberania de Macau,
posteriormente concretizada;
• desafios colocados pelo regresso de Portugal às fronteiras europeias do século XV, reconhecidas as
independências das colónias africanas em 1974 e 1975.
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AS REPERCUSSÕES INTERNACIONAIS DA REVOLUÇÃO DE ABRIL

O novo regime português procurou a aceitação e o reconhecimento internacionais, definindo uma política externa
baseada nos princípios da independência nacional, do respeito pelo direito internacional, da autodeterminação e
independência dos povos, da igualdade entre os estados e da solução pacífica de conflitos.

 Reencontro de Portugal com o Mundo


A Revolução portuguesa foi encarada, pela comunidade internacional, como uma importante vitória da democracia,
associada a um projeto descolonizador – contribuiu, assim, para pôr fim ao isolamento de Portugal em contexto
mundial e europeu, permitindo que o país recuperasse a sua dignidade e fosse aceite nas instâncias internacionais:
- integração plena de Portugal, como país democrático, no seio da Organização das Nações Unidas;
- reforço das relações bilaterais com os Estados Unidos da América – renovação do Acordo das Lajes – e da
participação de Portugal na Organização do Atlântico Norte (NATO);
- aproximação à Europa Ocidental, orientada para a integração nas Comunidades Europeias e para a formalização
do processo de adesão, opção fundamentada na necessidade de consolidar a democracia pluralista e de garantir
a modernização e o desenvolvimento económico do país;
- estabelecimento de relações diplomáticas, políticas e económicas com diversos Estados: membros do Movimento
dos Países Não Alinhados, países do Bloco de Leste, Estados árabes e outros.

 Princípio do fim dos regimes autoritários ainda existentes na Europa ocidental


A Revolução portuguesa parece ter tido uma forte influência na transição democrática dos países do sul, onde
persistiam regimes autoritários - da Grécia (1974, “regime dos coronéis”) e, sobretudo, da Espanha (1975, regime
franquista).

 Enfraquecimento dos regimes racistas em África


A Revolução portuguesa contribuiu, devido à descolonização que lhe esteve associada, para enfraquecer o regime
segregacionista da Rodésia (futuro Zimbabué), para pôr em evidência a desumanidade do regime de apartheid sul
africano e para acelerar a independência da Namíbia.

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