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Portugal

Da Revolução de 25 de Abril à estabilização da democracia


O MFA e o início da Revolução
Conjuntura política
 Guerra colonial sem solução
 O PAIGC declarara a independência unilateral da Guiné
 A situação em Angola e Moçambique mantinha-se num impasse
 A condenação internacional à política colonial portuguesa agravava-se
 Militares descontentes com a falta de soluções políticas por parte do governo de
Marcello Caetano
 Descontentamento popular contra o aumento do custo de vida (crise dos anos 70)
 Insatisfação de um setor empresarial moderno que defende a aproximação à CEE
 Aumento da violência interna por parte de grupos políticos clandestinos
Do “Movimento dos Capitães” ao
“Movimento das Forças Armadas” (MFA)
 Movimento dos Capitães (1973)
 Criado por oficiais do quadro (capitães) em protesto contra a integração na carreira militar
de oficiais milicianos, que recebem apenas uma formação intensiva na Academia Militar.
 A satisfação das suas reivindicações mostrou a sua força política.
 Passam a ter como objetivo criar uma solução política para o Ultramar.
 Movimento das Forças Armadas (1974)
 É uma evolução do Movimento dos Capitães, impulsionada pela insistência do regime na
guerra colonial e pela exoneração dos generais António de Spínola e Costa Gomes do alto-
comando do Estado-Maior das Forças Armadas.
 Tem como objetivo pôr fim à política do Estado Novo.
O “25 de Abril”
 Operação “Fim Regime”.
 24 de abril – 22.55 h – transmissão da canção “E Depois do Adeus” de Paulo de Carvalho
(primeira senha do movimento).
 25 de abril – 00.20 h – transmissão da canção “Grândola Vila Morena” de José Afonso
(segunda senha do movimento) – avanço das unidades militares.
 Ocupação de pontos estratégicos – rádio, RTP, aeroportos civis e militares, órgãos de direção
político-militar.
 Salgueiro Maia ocupa o Terreiro do Paço e enfrenta o Regimento de Cavalaria 7 (única
unidade militar do lado do regime).
 Cerco do Quartel do Carmo (GNR) e rendição de Marcello Caetano, que entrega o poder ao
General António de Spínola.
 A operação militar é um sucesso e ganha enorme apoio da população de Lisboa
transformando-se numa Revolução Popular – a “Revolução dos Cravos”.
O fim das instituições do Estado Novo
 Para regularizar a governação foi criada a Junta de Salvação Nacional, presidida pelo
general António de Spínola.
 A Junta de Salvação Nacional tomou as seguintes medidas:
 Destituição de Américo Tomás e de Marcello Caetano (exilados).
 Dissolução da Assembleia Nacional e do Conselho de Estado.
 Revogação da Constituição de 1933.
 Destituição de todos os governadores civis e da Ação Nacional Popular.
 Extinção da PIDE/DGS, Censura e Legião Portuguesa.
 Amnistia e libertação dos presos políticos, autorização de regresso aos exilados.
 Formação de partidos políticos e sindicatos livres.
 Nomeação de um Governo Provisório.
 Preparação de eleições livres para a Assembleia Constituinte.
 Nomeação de António de Spínola para Presidente da República.
As tensões político-ideológicas pós revolução
 A reivindicação excessiva de direitos sociolaborais conduziu a elevada agitação social, de
difícil controle, provocando a queda do I Governo Provisório.
 O II Governo Provisório é entregue a Vasco Gonçalves, que imprime uma clara tendência
revolucionária de esquerda. Neste período ocorrem:
 Processos sumários de saneamento de docentes (universidades) e empresários ou gestores (empresas)
conotados com o Estado Novo.
 Ocupações a fábricas, instalações laborais, campos agrícolas e residências devolutas.
 É criado o Comando Operacional do Continente (COPCON) – instrumento político militar
de ideologia radical.
 O Partido Comunista ganha elevada influência política e governativa.
 Surgem profundas divergências entre o Presidente da República (Spínola) e o MFA, quanto
ao processo de descolonização e à evolução política do país.
Situações de confronto - 1

 28 de Setembro (1974) – confrontação civil


 Setores moderados (a maioria silenciosa) organizam uma manifestação nacional de
apoio a Spínola.
 O MFA proíbe a manifestação e as forças de esquerda organizam barricadas, para
impedirem o acesso dos manifestantes a Lisboa.
 Spínola fica fragilizado no poder e resigna. A presidência é entregue a Costa Gomes.
 Confirma-se a aliança MFA/Povo (reconhecida como uma aliança entre o MFA e o
Partido Comunista)
 Os militantes do Partido Socialista afastam-se do Partido Comunista (PCP), que
acusam de tentar criar uma democracia popular.
Situações de confronto - 2

 11 de Março (1975) – confrontação militar


 Crescem as preocupações das forças políticas mais conservadoras frente à
radicalização do processo revolucionário.
 Militares afetos ao general Spínola tentam um golpe, com o objetivo de travar
o domínio revolucionário das forças de esquerda.
 O MFA domina o golpe e Spínola é obrigado a refugiar-se em Espanha.
 A esquerda revolucionária (PCP) sai reforçada.
Situações de confronto - 3
 O Verão Quente de 1975
 Em sequência ao 11 de Março, uma Assembleia do MFA, dominada pelo PCP,
procede à dissolução da Junta de Salvação Nacional e cria o Conselho da
Revolução.
 As eleições para a Assembleia Constituinte (Abril de 1975) dão a vitória ao Partido
Socialista, seguido do Partido Popular Democrático (hoje PSD), levando estes dois
partidos a pedirem maior representação no governo.
 A preponderância do PCP continuava forte no MFA e no governo.
 PS e PPD abandonam o governo e declaram-se opositores ao primeiro ministro
Vasco Gonçalves, exigindo o retorno ao programa inicial do MFA.
 A guerra civil (moderados X esquerda) esteve eminente. Eram os tempos do PREC.
O “Processo Revolucionário em Curso”
 Expressão usada para designar a vaga de ações revolucionárias tomadas pela esquerda
radical com vista à conquista do poder e ao reforço da transição para o socialismo
marxista.
 Ficou marcado pela intervenção do Estado na economia através de medidas
socializantes lançadas pelos governos de Vasco Gonçalves, nomeadamente:
 Apropriação pelo Estado dos setores-chave da economia.
 Intervenção do Estado na administração de pequenas e médias empresas.
 Reforma agrária – expropriação institucional de grandes herdades e criação de Unidades
Coletivas de Produção.
 Grandes campanhas de dinamização cultural e de ação cívica.
 Grandes conquistas dos trabalhadores (direito à greve; liberdade sindical; salário mínimo;
controle de preços de bens de primeira necessidades; redução do horário de trabalho; melhoria
de reformas e pensões; garantias de trabalho/entraves ao despedimento).
O “Documento dos Nove”
Inversão do processo revolucionário
 Tratou-se de um manifesto assinado por nove oficiais do Conselho da Revolução,
encabeçados por Melo Antunes, publicado em agosto de 1975.
 Surge para fazer frente à crescente radicalização do processo revolucionário, pretendendo
clarificar posições políticas e ideológicas e terminar com ambiguidades criadas no
processo revolucionário.
 No “Documento dos Nove” surge expressa a recusa de um regime de tipo “europeu
oriental” para Portugal.
 O Manifesto provoca o agravamento da confrontação política e social.
 A 25 de novembro (1975), frente a uma tentativa de golpe pelos militares de esquerda, o
general Ramalho Eanes comanda um contragolpe que sai vitorioso e provoca a demissão
de Vasco Gonçalves. Terminava o período mais extremista de revolução que regressava
ao pluralismo democrático inicial.
A Constituição de 1976
 Condicionantes:
 Pacto MFA/Partidos – acordo prévio à elaboração da Constituição que obrigava
os deputados constituintes a salvaguardar as premissas revolucionárias
(pluralismo político; via socializante; institucionalização do MFA).
 O primeiro ministro era Vasco Gonçalves e o Conselho da Revolução era o órgão
executivo do MFA.
 O país vivia um período conturbado, marcado pela radicalização das posições do
MFA.
 Os deputados constituintes foram alvo de várias pressões chegando a ser cercados
na Assembleia e ameaçados.
A Constituição de 1976
 Decisões (pendor revolucionário):
 “abrir caminho para uma sociedade socialista” (Preâmbulo)
 [A República Portuguesa é] “um Estado de direito democrático (…) que tem
por objetivo a transição para o socialismo (…)” (Art.º 2.º)
 Defendia como “conquistas irreversíveis das classes trabalhadoras” (Art.º
83.º) a coletivização “dos principais meios de produção e solos, bem como
dos recursos naturais” (Art.º 80.º), prevendo “expropriações de
latifundiários e de grandes proprietários e empresários ou acionistas” (Art.º
82.º 2.)
A Constituição de 1976
 Legitimação constitucional das instituições político-administrativas:
 Eleições para a primeira Assembleia da República (25.04.1976) – vitória do Partido
Socialista.
 Nomeação do 1.º Governo Constitucional – Mário Soares.
 Eleições para a Presidência da República – Gen. Ramalho Eanes (julho de 1976).
 Eleições para as autarquias locais (municípios e freguesias) em dezembro de 1976.
 Reconhecimento da autonomia administrativa dos arquipélagos dos Açores e da
Madeira (com Assembleia Legislativa Regional; Governo Regional e um
representante da autoridade máxima da soberania nacional – o ministro da
República).
Revisão Constitucional de 1982
 Conjuntura:
 Beneficia do acordo político entre o PS; o PSD e o CDS para a revisão.
 Os militares afastam-se do poder político (segundo Pacto MFA/Partidos)
 Decisões:
 Manutenção do processo das nacionalizações e da reforma agrária.
 Extinção do Conselho da Revolução (CR).
 Criação do Conselho de Estado e do Tribunal Constitucional (em vez do CR)
 Afirmação do primado do poder civil na atividade governativa.
Funcionamento das instituições democráticas - 1

 Presidente da República
 Eleito por sufrágio direto e universal, por maioria absoluta (de 5 anos em 5
anos, só pode ter dois mandatos seguidos).
 Representante máximo da soberania nacional.
 Comandante Supremo das Forças Armadas.
 Nomeia e dá posse ao primeiro-ministro e ao governo.
 Pode dissolver a Assembleia da República (ouvidos os partidos).
 Tem o poder de promulgar, executar e vetar as leis.
Funcionamento das instituições democráticas - 2

 Assembleia da República
 Órgão legislativo.
 Compõe-se de 230 deputados eleitos por círculos eleitorais.
 Cada legislatura tem um período normal de 4 anos.
 Os deputados apresentam projetos de lei que depois de discutidos, votados e
aprovados por maioria parlamentar se transformam em leis.
 Pode interpelar o Governo; discutir e votar o seu programa; votar moções de
confiança e de censura.
Funcionamento das instituições democráticas - 3

 Governo
 É o órgão executivo.
 Constituído pelo primeiro-ministro; ministros; secretários e subsecretários
de Estado.
 Superintende a administração pública do país.
 É formado pelo partido vencedor das eleições, na respetiva legislatura).
 Conduz a política geral do país através de decretos-lei, propostas de leis
que tem de submeter à aprovação da Assembleia da República.
 Conduz a política externa.
Funcionamento das instituições democráticas - 4

 Tribunais
 Exercem o poder judicial, em total independência do poder político.
 Ao Tribunal Constitucional (1982) compete zelar pelo rigoroso
cumprimento dos princípios consagrados na Constituição, ao lado do
Presidente da República.
 Garante o funcionamento da Democracia tutelando os vários processos
eleitorais.
Descolonização – 1
 Duas propostas:
 MFA: “claro reconhecimento do direito à autodeterminação e a adoção acelerada
de medidas tendentes à autonomia administrativa e política dos territórios
ultramarinos”.
 António de Spínola e moderados: “lançamento de uma política ultramarina que
conduza à paz”.
 A conjuntura era favorável à primeira proposta devido a:
 Exigência de uma rápida solução para a questão colonial, por parte dos
movimentos independentistas.
 Pressão internacional (ONU e OUA)
 Interesse em fazer regressar os militares portugueses e em confirmar o carácter
democrático e anticolonial do regime.
Descolonização - 2
 27 de julho de 1974, o Conselho de Estado aprova a Lei n.º 7/74 reconhecendo o direito das
colónias à independência.
 Via pacífica:
 Guiné – reconhecimento do PAIGC - Acordo de Argel
 Cabo Verde – reconhecimento do PAIGC – Acordo de Argel
 S. Tomé e Príncipe – reconhecimento do MLSTP
 Vertente conflituosa:
 Moçambique – reconhecimento da FRELIMO – Acordo de Lusaca – contestação interna e inicio da guerra
civil – fuga dos portugueses (movimento dos retornados)
 Angola – reconhecimento do MPLA; FNLA e UNITA – Acordo de Alvor – proposta de criação de Forças
Armadas integradas e de eleições livres e democráticas. Os movimentos de libertação não se entendem e
lançam-se numa guerra interna. MPLA funda a República Popular de Angola – FNLA/UNITA fundam a
República Democrática de Angola. Portugal reconhece o MPLA e assiste a nova vaga de “retornados”
numa ponte aérea criada para retirar os portugueses do local. A paz só chegará em 2002 com o assassinato
de Jonas Savimbi (dirigente da UNITA)
Significado internacional do “25 de Abril”
 Revolução não violenta, com um programa liberalizador e descolonizador.
 Fim do isolamento e hostilidade internacional contra Portugal.
 Na Europa:
 Influenciou o abandono do poder pelos militares conservadores na Grécia, levando este país ao retorno à
democracia.
 A morte de Franco em Espanha e o exemplo da revolução portuguesa asseguraram o caminho da
democracia.
 Em África:
 A vitória dos movimentos de libertação nas colónias portuguesas reforçou o empenho na luta das
maiorias negras
 Zimbabué – influenciado pela descolonização em Moçambique – constituição de um governo de maioria negra.
 África do Sul – influenciado pela pressão internacional – atribuição do Nobel da Paz a Desmond Tutu –
libertação de Nelson Mandela – eleições livres – governo de maioria negra.
 Namíbia – A África do Sul retira a sua administração da Namíbia – Independência em 1990.

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