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DEMOCRACIA EM PORTUGAL

Maria Fernanda Barreiras de Carvalho

N° 33 - 2° ANO - TURMA A

CURSO COMPLEMENTAR DE CONTABILIDADE E ADMNISTRAÇÃO


EVOLUÇÃO DA DEMOCRACIA EM PORTUGAL APÓS O 25 DE ABRIL

Em 25 de Abril de 1974, uma revolta militar, levada a cabo por um grupo de


capitães do exército, que ficou conhecido pelo Movimento dos Capitães, veio proporcionar
uma nova fase, quer económica, quer política, quer social, a que os portugueses não estavam
habituados. Este facto fez renascer e acordar o povo português, de uma longa noite de
pesadelo vivida durante 48anos de regime Salazarista. A sensação de liberdade de expressão
fez acreditar que algo de benéfico a nível social, político e económico iria, trazer a felicidade
e o bem estar a todo o povo português. Este caminho iria, no entanto, ser penoso e longo
até que a democracia em Portugal pudesse vir a ser escrita com um "D" maiúsculo.
Os acontecimentos que se sucederam nesse dia são narrados , de uma forma sucinta,
no seguimento.

Na madrugada de 25 de Abril é dada , por via rádio (primeiro através de um


trecho de Paulo de Carvalho e depois através de uma canção que se prolongou
dia fora - Grândola Vila Morena - (cantada por um dos maiores e mais puros
defensores da liberdade - Zeca Afonso), a senha que iria dar início a um
movimento militar que mudaria de uma forma radical o, até então, regime
político vigente;
Este movimento liderado por vários Capitães do Exército consegue, quase sem
recurso a qualquer tipo de violência, derrubar um regime instituído, também
conseguido através do golpe militar de 28 de Maio de 1926;
Salgueiro Maia, da Escola Prática de Cavalaria de Santarém, consegue, na tarde
de 25 de Abril, a rendição do então Presidente do Conselho, Marcelo Caetano,
que se encontrava aquartelado no quartel do Carmo sem que as autoridades
constituídas tivessem qualquer possibilidade de esboçar uma resposta
organizada;
A Marinha e a Aviação, que ficaram a ver como é que as COIsas se Inam
desenrolar acabam por se juntar ao movimento vitorioso;

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A tomada da sede da então polícia política irá revestir-se de aspectos dramáticos
já que esta resiste, numa primeira fase, às forças militares que tentam a sua
rendição. No entanto, estes, conseguem vergar os resistentes e tomar conta das
suas instalações.

A primeira fase desta revolução indicava que tudo poderia correr sobre um ambiente
de euforia e felicidade, mas não foi tanto assim, já que algumas forças, ditas democráticas,
tentaram ao longo dos primeiros passos desta revolução conquistar o poder por todos os
meios ao seu alcance. É de realçar que a única diferença entre estas novas forças políticas
e o regime anterior, era a sua filosofia, pois o autoritarismo e a subjugação de um núcleo
restrito sobre um povo estava a ser germinado nas cabecinhas pensantes dos lideres destas
forças.
Mas continuemos a narrar os acontecimentos que se sucederam nesse bendito dia:

o Movimento das Forças Armadas, cumprindo um programa que tinha


apresentado ao povo português e, sabendo da já demonstrada adesão popular
que o movimento teve desde o seu início, constitui uma Junta de Salvação
Nacional composta por sete militares;
Esta Junta decreta a extinção das instituições do regime deposto e nomeia para
Presidente da República o General António de Spínola a quem é dada a tarefa
de nomear o I Governo Provisório;
Do programa do primeiro governo provisório constam alguns pontos fundamen-
tais tais como:
A convocação no prazo de 1 ano de uma Assembleia Constituinte eleita por
sufrágio universal, directo e secreto;
A garantia de reunião, associação e expressão;
U ma nova política económica, posta ao serviço do povo e em particular à
zona da população mais desfavorecida;
A luta contra a inflação e a alta excessiva do custo de vida, na base de uma
estratégia antimonopolista;
Uma nova política social que defenda as classes trabalhadoras;

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o lançamento de uma política ultramarina que conduza à paz nos territórios
ocupados por Portugal.

Abortando um pouco esta narrativa, convém lembrar que logo a seguir ao 25 de


Abril de 1974 se vai viver uma das maiores, se não mesmo a maior, festa da esquerda unida
em Portugal, o 1 de Maio de 1974. O IOde Maio, que é considerado mundialmente o dia
mais importante na luta de todos os trabalhadores, vai reunir na tribuna do actual estádio 10
de Maio os políticos, até então exilados, ou que se mantinham na clandestinidade, que irão
ser saudados e aplaudidos por uma multidão em euforia. Dessa tribuna e da boca dos mesmos
irão ser feitas as primeiras promessas de estabilidade e prosperidade ao povo português.
Infelizmente o tempo tratou de fazer ver a este povo que nem tudo o que luz é ouro e a
maior parte do que foi dito, já um ano mais tarde estaria no lugar mais fundo das gavetas de
certos oradores que se fizeram escutar ao longo dessa grande manisfestação popular de apoio
e esperança.
Continuemos, no entanto, a tentar historiar os acontecimentos que se sucederam
nessa fase atribulada da vida política e social portuguesa.

Surgem os partidos políticos, alguns dos quaJ.s se tinham mantido na


clandestinidade (P.C.P e P.S.) durante muitos anos, assim como a central
sindical fundada em 1970;
O 10 Governo provisório viria a ser encabeçado por um democrata de tendência
liberal (Adelino da Palma Carlos) e integra representantes do P.S., P.C.P,
M.D.P./C.D.E. (movimento constituído em 1969 e que se movimentava numa
acção de semiclandestinidade) e P.P.D. (partido formado em Maio de 1974);
O 10 governo acaba por cair a 9 de Julho fundamentalmente por:

A profunda crise política que gera uma luta de posições entre o General
Spínola e seus partidários e o grupo de oficiais mais directamente envolvido
na preparação da revolução de Abril, organizado em torno da Comissão
Coordenadora do Movimento das Forças Armadas (M.F.A.), que não abdi-
cam do direito de controlo sobre os processos de democratização e descolo-
nização;

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A multiplicação de centros de poder (toda a gente queria mandar), que gera
uma profunda crise de autoridade do Estado, o que relega o governo para
um plano de mero gestor de assuntos correntes;
A rejeição pelo Conselho de Estado, constituído pela Junta de Salvação
Nacional (sete membros) e representantes nomeados pelo Presidente da
República (sete membros), da proposta do primeiro ministro de um
plebiscito presidencial imediato e o adiamento para finais de 1976 das
eleiçoes para a Assembleia Constituinte.

A 12 de Junho é constituído o Comando Operacional do Continente


(COPCON) , sob o comando do Major Otelo Saraiva de Carvalho;
A 18 de Julho é constituído o 2° governo provisório sob a batuta do Coronel
de Engenharia Vasco Gonçalves o qual integra 8 militares do M .F.A.;
A 27 de Julho o General Spínola, em declaração histórica e contra as suas
ideias pessoais, reconhece o direito à independência dos povos das colónias;
Esta afirmação faz nascer alguns partidos políticos de indole mais conservadora
(Partido Liberal e Partido do Progresso) que procuram organizar uma
manifestação de apoio a Spínola, através da mobilização daquilo a que chamam
a "maioria silenciosa". Esta viria a ser proibida pela Comissão Coordenadora
do M.F.A que exige a Spínola a demissão dos três generais mais conservadores
da Junta;
Spínola demite-se a 30 de Setembro deixando o aviso da eminência de uma
catástrofe económica e do advento de novas formas de repressão e totalitarismo;
O General Costa Gomes é nomeado Presidente da República e incube Vasco
Gonçalves de formar o 3° governo provisório. Esta mudança vem reforçar a
força cada vez maior do P.C.P., que tinha agora dois poderosos aliados, o que
lhe permite mudar o seu discurso moderado por um muito mais radical e
imposicionista;

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A 11 de Março de 1975 o General Spínola tenta um golpe militar que
fracassaria. Na sequência deste, o General, acompanhado por alguns oficiais da
sua confiança, foge para Espanha e daí para o Brasil, onde vem a fundar o
Movimento Democrático de Libertação de Portugal (M.D.L.P.);
Na noite de 11 para 12 de Março é criado pelos militares o Conselho da
Revolução;
Já com o 4 o governo provisório em funções são decretadas a 15 de Abril as
nacionalizações de todo o sector económico e industrial;
A 25 de Abril de 1975 são realizadas as primeiras eleições livres;
O IOde Maio de 1975 é marcado por uma posição de força por parte do
P.C.P. e seus seguidores (Costa Gomes e Vasco Gonçalves incluídos) que
impedem Mário Soares de chegar à tribuna;

Nesta fase da vida política portuguesa começa, no meu entender, a desenhar-se o


maior perigo que existiu após o 25 de Abril de 1974, para que a democracia em Portugal
pudesse vir a ser uma realidade. Vasco Gonçalves, Costa Gomes, P.C.P. (ou pelo menos os
seus líderes) e a lntersindical tentam manobrar no sentido de se implantar em Portugal um
regime autoritário e subjugante a soldo da, até então, poderosa União Soviética. Felizmente
que estes intentos foram abortados a tempo de se remediar uma tendência que poderia vir a
ser desastrosa para os anseios dos portugueses. Um dos sinais mais evidentes da tentativa de
subjugação que o Partido Comunista Português e seus pares tentam impôr é vivida em 1 de
Maio de 1975, quando Mário Soares, o Partido Socialista, os Socialistas e todos os
Democratas em geral, são banidos e agredidos no estádio IOde Maio quando tentam chegar
à tribuna de honra para aí puderem falar de sua justiça.
Façamos, no entanto, um pouco mais de história.

A 19 de Maio, "A República", jornal cujo director era afecto ao P.S. (Raul
Rego), é tomado pelas forças extremistas do P.C.P. e seus pares;
Os comícios de Lisboa (18 de Julho) e do Porto (19 de Julho) convocados pelo
P.S . têm uma palavra de ordem em comum - o afastamento de Vasco
Gonçalves;

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A crise política agudiza-se e o 5 o governo provisório é formado a coberto do
apoio do P.C.P e do M.D.P ./C.D.E. Este governo, no entanto, não irá
perdurar muito mais tempo;

Dissertemos, um pouco maiS, sobre os acontecimentos até aqui referidos. O


COPCON, a Intersindical, Costa Gomes e Vasco Gonçalves conseguem, alicerçados na
ignorância popular e com a oferta de variados doces, conduzir Portugal a uma situação de
rotura económica e financeira que lhes iria servir de base para as suas ambições pessoais,
as quais, passavam por tornar Portugal e todo o seu povo em mais uma região ao serviço da
União Soviética. Estas suas pretensões só não são conseguidas porque, por um lado a União
Soviética não teve a coragem de no momento certo invadir Portugal com a sua esquadra (a
homóloga americana estava perto) e porque, os democratas portugueses moveram uma guerra
política e de manifestação de massas que se impuseram às palavras, quiçá doces, de Vasco
Gonçalves, Cunhal e seus pares. O Conselho da Revolução, orgão a soldo das vontades do
P.C.P. , é suspenso por militares descontentes, a guerra civil só não eclode por mero acaso
e o próprio Otelo defensor de uma esquerda ainda mais radical vê a sua influência escassear.
Mas o Gonçalvismo, como foi conhecida esta fase conturbada da vida política nacional,
estava cada vez mais doente. Vasco Gonçalves sente isso e tenta uma última tentativa de
apoio antes de cair. A reorganização do Conselho da Revolução, de onde são afastados os
oficiais afectos a Vasco Gonçalves, cria as condições para que o Almirante Pinheiro de
Azevedo consiga vir a constituir o 6 0 Governo Provisório. No entanto, as forças de esquerda
ainda tentam as suas cartadas e apoiadas pelo COPCON tentam desestabilizar a vida política
nacional recorrendo para o efeito a boatos e contraboatos, algumas forças extremistas
organizam atentados bombistas, os assaltos e as destruições de sedes de sindicatos e de
partidos de esquerda suucedem-se em catadupa. Porém , o pior poderia ainda ter sucedido
quando Otelo é afastado do comando da Região Militar de Lisboa sendo substituído por
Vasco Lourenço. Este facto irá desencadear uma tentativa de golpe a 25 de Novembro que
é, no entanto, desmontado e anulado. Esta derrota dos sublevados do 25 de Novembro
encerra, quiçá, o ciclo mais agitado e contraditório após o 25 de Abril de 1974. Os
comunistas tinham sofrido o seu primeiro grande revés, Otelo estava, de momento, incapaci-
tado para reagir e Ramalho Eanes emergia da sombra para se vir a impôr na vida política

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portuguesa algum tempo mais tarde.
A era pós 25 de Novembro irá marcar a viragem para um regime democrático já
que, após a derrocada das ideias revolucionárias em prol das ideias que propunham uma
legitimidade eleitoral, irá proporcionar aos partidos mais moderados imporem-se na cena
política portuguesa. Assim alguns factos merecem realce:

A 2 de Abril de 1976 a Assembleia Constituinte aprova a nova Constituição;


Este documento consagra a eleição do Presidente da República por sufrágio
universal e um sistema de dupla responsabilidade política do governo perante
a Assembleia da República e o Presidente da República, competindo a este
último nomear e exonerar o 10 Ministro;
Ao Conselho da Revolução é atribuído, além das competências militares, as
funções de orgão de consulta do presidente da República e sobretudo de
fiscalização da constitucionalidade das leis;
A 25 de abril de 1976 efectuam-se as primeiras eleições para a Assembleia da
República, donde sai vencedor o P.S. com 34% dos votos;
A 27 de Junho de 1976 é eleito para Presidente da República o General
Ramalho Eanes que convida Mário Soares, como lider do partido mais votado,
a formar o I Governo Constitucional;
Em Março de 1977 Portugal solicita a adesão à Comunidade Económica
Europeia;
A criação da Lei da Delimitação entre o Sector Público e o Sector Privado e a
Lei da Reforma Agrária.

Julgo ser a altura de dissertar um pouco sobre o que se passou no que diz respeito
à Reforma Agrária. Assim, os donos de grandes herdades que não eram cultivadas foram
despojados das mesmas, para que estas pudessem passar para o povo e este as cultivar e
retirar os dividendos que a terra oferecia. Pelo menos , era assim que se pintava a manta já
que a realidade foi muito diferente, isto é, estes senhores foram despojados dos seus haveres
mas a terra não cultivada, continuou na sua forma de abandono.

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Com o apoio do governo de então, do P.C .P. e de brigadas de intervenção afectas
às duas estruturas anteriores , pequenos e médios agricultores viram ser assaltadas e pilhadas
as suas propriedades, muitas das quais consistiam em terrenos alugados a outrem e que eram
cultivadas por uma família de recursos idênticos ou menores que os invasores. Foi nesta
época que se assistiu a autênticas lutas campais e ocupações selvagens por quem queria tudo
menos trabalhar (o conceito de liberdade era então o do saque e do roubo à descarada do que
estava feito) e sim aproveitar de imediato o suor que outros tinham dispendido para poderem
sobreviver. Um dos casos mais típicos desta afronta à Democracia passou-se no Alentejo, que
a coberto da Lei da Reforma Agrária se tornou quase uma terra sem lei em que a lei do mais
forte prevaleceu sobre o mais fraco .
Deixemos este aspecto e continuemos a debruçar-ma-nos sobre mais factos que se
foram passando ao longo destes 21 anos:

A queda a 7 de Dezembro de 1977 do 10 Governo Constitucional, é devido


fundamentalmente à grave crise económica por que Portugal passa;
O 2 o Governo presidido por Mário Soares é um governo de acordo político com
o C.D.S. que fica com três lugares no executivo ;
Este governo lança o Serviço Nacional de Saúde, que foi uma das medidas
sociais que foram implementadas nesta altura.

Não era fácil a vida dos governantes por essa altura, assim, não é de estranhar, que
Mário Soares tivesse sido exonerado e o 3 o Governo Constitucional fosse de iniciativa
Presidencial. Para o formar o Presidente da República convida Nobre da Costa, uma
personalidade independente, para formar governo. Este governo é derrotado na Assembleia
da República e fica em funções de gestão até à formação do 4° governo, cuja liderança é
confiada a Mota Pinto. Este governo mantêm-se em funções até Junho de 1979 , altura em
que é demitido pelo Presidente da República. Dada a crise política que se havia instalado e
sem governo, o Presidente da República vê-se confrontado entre duas alternativas, uma a de
achar um novo governo de base parlamentar e a outra dissolver a Assembleia da República.
O Presidente opta pela última alternativa e dá posse a um governo encabeçado por Maria de
Lurdes Pintassilgo, que tinha a tarefa de preparar o acto eleitoral.

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A saturação e o clima de instabilidade política que o País atravessa dá origem à
formação de uma grande coligação eleitoral entre o P.P.D. e o C.D .S. - a Aliança
Democrática - liderada superiormente por um dirigente carismático - Francisco de Sá
Carneiro. A Aliança Democrática ganha com maioria parlamentar as eleições de 2 de
Dezembro de 1979. Sá Carneiro é, então, incumbido de formar o 6° Governo Constitucional,
que irá desenvolver uma política agressiva e determinada que visa a afirmação clara e frontal
de um novo poder e a criação de condições económicas e sociais para assegurar a vitória nas
eleições de Outubro de 19.80. A A.D . vence uma vez mais as eleições legislativas de 5 de
Outubro de 1980 com uma maioria ainda mais clara, o que lhe perspectivava a hipótese de
consumação do seu projecto de alteração do Regime da Constituição de 1976, o que seria
mais simples caso o seu candidato às eleições presidenciais fosse eleito. A escolha da A.D.
recai sobre o General Soares Carneiro enquanto que a oposição propõe a recandidatura de
Ramalho Eanes que viria a ser reeleito no cargo. É neste período que se dá o acidente de
aviação que provoca a morte de Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa. Esta
tragédia, que durante muitos anos foi encarada como um acidente, conhece actualmente novas
pistas que poderão indiciar sabotagem do aparelho que, a ser verdade, viria confirmar uma
tese defendida por muitos que sempre opinaram que o aparelho teria sido sabotado para fazer
perecer os dois líderes mais carismáticos e capazes da época.
A morte de Sá Carneiro provoca uma grave crise de identidade ao Governo da A.D.
que a levaria a agonizar e desagregar-se após dois anos de vigência. Em 1982 dá-se a revisão
constitucional que dissolve o Conselho da Revolução, cujas competências irão passar a fazer
parte do Presidente da República, da Assembleia da República e do Governo. A Assembleia
da República acaba por ser dissolvida e as eleições legislativas são marcadas para 25 de Abril
de 1983, das quais vai sair vencedor o Partido Socialista e, Mário Soares, como secretário
geral do mesmo, é convidado a formar o 9° Governo. Dado não ter maioria parlamentar faz
uma aliança com o P.S.D . No entanto, cerca de ano e meio mais tarde, e devido à frustação
criada em redor da má gestão deste governo e às convulsões que o P.S.D atravessa, a rotura
da coligação é eminente e previsível vindo a ocorrer em 4 de Junho de 1985. Sem alternativa
a Assembleia da República é uma vez mais dissolvida e são marcadas novas eleições
legislativas onde irá aparecer um novo partido - o P.R.D. - que se vinha organizando em
volta da figura do General Ramalho Eanes.

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As eleições legislativas vêm confirmar a tendência de saturação em que o povo
português vivia e, não foi de estranhar, que o P.S.D . , com Cavaco Silva como líder, venha
a atingir uma maioria absoluta que ainda hoje (1995) se mantêm. Cavaco Silva consegiu
reunir mais de 50% da população portuguesa em volta do seu partido e da sua figura,
aproveitando não só o facto da abstenção ter aumentado , mas também fazendo uma campanha
que induziu muitos portugueses ao voto útil, isto é, o voto na estabilidade governativa que
permitisse que as pessoas não andassem sempre a ser massacradas com campanhas políticas
demagogas e a caminho das urnas de voto.
Cavaco Silva irá apoiar para Presidente da República primeiro Freitas do Amaral
que viria a perder para Mário Soares e quatro anos volvidos apoiará a recandidatura de
Mário Soares. Os governos liderados por Cavaco Silva, aproveitando o facto de deterem
maioria parlamentar, têm conseguido, de algum modo, retirar Portugal da situação incómoda,
quer política, quer económica, que Portugal vivia à data da sua eleição. Nem tudo foram
rosas para os portugueses, muitas coisas têm deixado de ser feitas e outras talvez pudessem
ter sido melhor encaminhadas mas , o que é certo é que, actualmente, se vive um período
mais calmo da vida política portuguesa.
Apesar de alguns dos métodos utilizados pelo seu governo e até de fazer transparecer
uma certa arrogância que usa devido ao facto de deter maioria parlamentar, é certo que a
estabilidade governativa que se viveu nos últimos anos em Portugal, acabou por ser benéfica
para a construção de algum desenvolvimento económico positivo a que ninguém pode e deve
ficar indiferente.
Estamos em 1995, ano de eleições parlamentares e, segundo as últimas sondagens,
o P .S. com o seu actual lider - António Guterres - leva alguma vantagem mas, o que irão
fazer os portugueses à boca da urna? será que é sufuciente dizer-lhes que tudo poderá ser
melhor e mais bem feito? será que os portugueses já esqueceram os tempos agitados do
período anterior aos governos que obteram maioria absoluta? é o presente, vamos aguardar
para sabermos as respostas a estas questões .
Os tempos conturbados vividos desde o 25 de Abril de 1974 são, para mim que os
vivi de perto, de um enriquecimento humano de que nos podemos orgulhar. Penso , de uma
forma pessoal que quem está tempo demais à cabeça de um país acaba por se tornar, mais
tarde ou mais cedo, num ditador, não só para ele próprio mas também para quem o rodeia.

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Assim, penso estar na altura de Portugal e os portugueses virarem mais uma página e terem
coragem de mudar, mudar uma vez mais.
Não defendo uma mudança radical uma vez que penso que os dados da democracia
estão bem lançados e os seus alicerces já não são de barro mas sim de betão sólido. No
entanto, é hora de nos lançarmos na construção dos pisos onde iremos viver, sem medo das
contingências que daí possam advir, sem medo do trabalho e do sacrifício que daí possa
resultar. O pior que pode acontecer a um povo, é este tornar-se acomodado às circunstâncias
que o rodeiam, e eu recuso-me a acreditar que somos um povo acomodado .
Se estivesse em sintonia com os radicais deste país diria, abaixo o Governo, mas não
estou e, sendo assim, como acho que em democracia a crítica tem de ser feita de um modo
construtivo e não destrutivo, prefiro apelar para o bom senso, não nos esqueçamos que
estivemos, durante o período do Gonçalvismo, muito perto de nova ditadura, e dizer a todos
os verdadeiros democratas para que o caminho traçado pela revolução de Abril continue a
ser uma meta de prosperidade para todos os que acreditam que em democracia tudo é
possível menos a imposição de esquemas totalitários.
Faço votos que daqui por alguns anos todos nos possamos orgulhar do País onde
vivemos e que nunca mais nos desviemos dos caminhos democráticos ainda que alguns
espinhos e algumas contrariedades nos possam aparecer.
Penso, ainda, que Portugal vive hoje em verdadeira Democracia com "D", mas,
penso também, que é preciso fazer mais, muito mais, de modo a que não adormeçamos à
beira dos lucros conquistados, para que não venham os espinhos e as cobras (que me
perdoem estes simpáticos bichinhos) corroer os alicerces em que foi construida a Democracia
em que vivemos.
Termino dizendo, feliz 25 de Abril de 1974, feliz 25 de Novembro de 1975,
obrigado a todos os que me possibilitaram estar aqui e agora a escrever estas breves palavras
sobre a história da democracia pós 25 de Abril e a sua repercussão no dia a dia de todos, ou
quase todos, os portugueses.

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