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N° 33 - 2° ANO - TURMA A
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A tomada da sede da então polícia política irá revestir-se de aspectos dramáticos
já que esta resiste, numa primeira fase, às forças militares que tentam a sua
rendição. No entanto, estes, conseguem vergar os resistentes e tomar conta das
suas instalações.
A primeira fase desta revolução indicava que tudo poderia correr sobre um ambiente
de euforia e felicidade, mas não foi tanto assim, já que algumas forças, ditas democráticas,
tentaram ao longo dos primeiros passos desta revolução conquistar o poder por todos os
meios ao seu alcance. É de realçar que a única diferença entre estas novas forças políticas
e o regime anterior, era a sua filosofia, pois o autoritarismo e a subjugação de um núcleo
restrito sobre um povo estava a ser germinado nas cabecinhas pensantes dos lideres destas
forças.
Mas continuemos a narrar os acontecimentos que se sucederam nesse bendito dia:
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o lançamento de uma política ultramarina que conduza à paz nos territórios
ocupados por Portugal.
A profunda crise política que gera uma luta de posições entre o General
Spínola e seus partidários e o grupo de oficiais mais directamente envolvido
na preparação da revolução de Abril, organizado em torno da Comissão
Coordenadora do Movimento das Forças Armadas (M.F.A.), que não abdi-
cam do direito de controlo sobre os processos de democratização e descolo-
nização;
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A multiplicação de centros de poder (toda a gente queria mandar), que gera
uma profunda crise de autoridade do Estado, o que relega o governo para
um plano de mero gestor de assuntos correntes;
A rejeição pelo Conselho de Estado, constituído pela Junta de Salvação
Nacional (sete membros) e representantes nomeados pelo Presidente da
República (sete membros), da proposta do primeiro ministro de um
plebiscito presidencial imediato e o adiamento para finais de 1976 das
eleiçoes para a Assembleia Constituinte.
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A 11 de Março de 1975 o General Spínola tenta um golpe militar que
fracassaria. Na sequência deste, o General, acompanhado por alguns oficiais da
sua confiança, foge para Espanha e daí para o Brasil, onde vem a fundar o
Movimento Democrático de Libertação de Portugal (M.D.L.P.);
Na noite de 11 para 12 de Março é criado pelos militares o Conselho da
Revolução;
Já com o 4 o governo provisório em funções são decretadas a 15 de Abril as
nacionalizações de todo o sector económico e industrial;
A 25 de Abril de 1975 são realizadas as primeiras eleições livres;
O IOde Maio de 1975 é marcado por uma posição de força por parte do
P.C.P. e seus seguidores (Costa Gomes e Vasco Gonçalves incluídos) que
impedem Mário Soares de chegar à tribuna;
A 19 de Maio, "A República", jornal cujo director era afecto ao P.S. (Raul
Rego), é tomado pelas forças extremistas do P.C.P. e seus pares;
Os comícios de Lisboa (18 de Julho) e do Porto (19 de Julho) convocados pelo
P.S . têm uma palavra de ordem em comum - o afastamento de Vasco
Gonçalves;
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A crise política agudiza-se e o 5 o governo provisório é formado a coberto do
apoio do P.C.P e do M.D.P ./C.D.E. Este governo, no entanto, não irá
perdurar muito mais tempo;
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portuguesa algum tempo mais tarde.
A era pós 25 de Novembro irá marcar a viragem para um regime democrático já
que, após a derrocada das ideias revolucionárias em prol das ideias que propunham uma
legitimidade eleitoral, irá proporcionar aos partidos mais moderados imporem-se na cena
política portuguesa. Assim alguns factos merecem realce:
Julgo ser a altura de dissertar um pouco sobre o que se passou no que diz respeito
à Reforma Agrária. Assim, os donos de grandes herdades que não eram cultivadas foram
despojados das mesmas, para que estas pudessem passar para o povo e este as cultivar e
retirar os dividendos que a terra oferecia. Pelo menos , era assim que se pintava a manta já
que a realidade foi muito diferente, isto é, estes senhores foram despojados dos seus haveres
mas a terra não cultivada, continuou na sua forma de abandono.
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Com o apoio do governo de então, do P.C .P. e de brigadas de intervenção afectas
às duas estruturas anteriores , pequenos e médios agricultores viram ser assaltadas e pilhadas
as suas propriedades, muitas das quais consistiam em terrenos alugados a outrem e que eram
cultivadas por uma família de recursos idênticos ou menores que os invasores. Foi nesta
época que se assistiu a autênticas lutas campais e ocupações selvagens por quem queria tudo
menos trabalhar (o conceito de liberdade era então o do saque e do roubo à descarada do que
estava feito) e sim aproveitar de imediato o suor que outros tinham dispendido para poderem
sobreviver. Um dos casos mais típicos desta afronta à Democracia passou-se no Alentejo, que
a coberto da Lei da Reforma Agrária se tornou quase uma terra sem lei em que a lei do mais
forte prevaleceu sobre o mais fraco .
Deixemos este aspecto e continuemos a debruçar-ma-nos sobre mais factos que se
foram passando ao longo destes 21 anos:
Não era fácil a vida dos governantes por essa altura, assim, não é de estranhar, que
Mário Soares tivesse sido exonerado e o 3 o Governo Constitucional fosse de iniciativa
Presidencial. Para o formar o Presidente da República convida Nobre da Costa, uma
personalidade independente, para formar governo. Este governo é derrotado na Assembleia
da República e fica em funções de gestão até à formação do 4° governo, cuja liderança é
confiada a Mota Pinto. Este governo mantêm-se em funções até Junho de 1979 , altura em
que é demitido pelo Presidente da República. Dada a crise política que se havia instalado e
sem governo, o Presidente da República vê-se confrontado entre duas alternativas, uma a de
achar um novo governo de base parlamentar e a outra dissolver a Assembleia da República.
O Presidente opta pela última alternativa e dá posse a um governo encabeçado por Maria de
Lurdes Pintassilgo, que tinha a tarefa de preparar o acto eleitoral.
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A saturação e o clima de instabilidade política que o País atravessa dá origem à
formação de uma grande coligação eleitoral entre o P.P.D. e o C.D .S. - a Aliança
Democrática - liderada superiormente por um dirigente carismático - Francisco de Sá
Carneiro. A Aliança Democrática ganha com maioria parlamentar as eleições de 2 de
Dezembro de 1979. Sá Carneiro é, então, incumbido de formar o 6° Governo Constitucional,
que irá desenvolver uma política agressiva e determinada que visa a afirmação clara e frontal
de um novo poder e a criação de condições económicas e sociais para assegurar a vitória nas
eleições de Outubro de 19.80. A A.D . vence uma vez mais as eleições legislativas de 5 de
Outubro de 1980 com uma maioria ainda mais clara, o que lhe perspectivava a hipótese de
consumação do seu projecto de alteração do Regime da Constituição de 1976, o que seria
mais simples caso o seu candidato às eleições presidenciais fosse eleito. A escolha da A.D.
recai sobre o General Soares Carneiro enquanto que a oposição propõe a recandidatura de
Ramalho Eanes que viria a ser reeleito no cargo. É neste período que se dá o acidente de
aviação que provoca a morte de Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa. Esta
tragédia, que durante muitos anos foi encarada como um acidente, conhece actualmente novas
pistas que poderão indiciar sabotagem do aparelho que, a ser verdade, viria confirmar uma
tese defendida por muitos que sempre opinaram que o aparelho teria sido sabotado para fazer
perecer os dois líderes mais carismáticos e capazes da época.
A morte de Sá Carneiro provoca uma grave crise de identidade ao Governo da A.D.
que a levaria a agonizar e desagregar-se após dois anos de vigência. Em 1982 dá-se a revisão
constitucional que dissolve o Conselho da Revolução, cujas competências irão passar a fazer
parte do Presidente da República, da Assembleia da República e do Governo. A Assembleia
da República acaba por ser dissolvida e as eleições legislativas são marcadas para 25 de Abril
de 1983, das quais vai sair vencedor o Partido Socialista e, Mário Soares, como secretário
geral do mesmo, é convidado a formar o 9° Governo. Dado não ter maioria parlamentar faz
uma aliança com o P.S.D . No entanto, cerca de ano e meio mais tarde, e devido à frustação
criada em redor da má gestão deste governo e às convulsões que o P.S.D atravessa, a rotura
da coligação é eminente e previsível vindo a ocorrer em 4 de Junho de 1985. Sem alternativa
a Assembleia da República é uma vez mais dissolvida e são marcadas novas eleições
legislativas onde irá aparecer um novo partido - o P.R.D. - que se vinha organizando em
volta da figura do General Ramalho Eanes.
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As eleições legislativas vêm confirmar a tendência de saturação em que o povo
português vivia e, não foi de estranhar, que o P.S.D . , com Cavaco Silva como líder, venha
a atingir uma maioria absoluta que ainda hoje (1995) se mantêm. Cavaco Silva consegiu
reunir mais de 50% da população portuguesa em volta do seu partido e da sua figura,
aproveitando não só o facto da abstenção ter aumentado , mas também fazendo uma campanha
que induziu muitos portugueses ao voto útil, isto é, o voto na estabilidade governativa que
permitisse que as pessoas não andassem sempre a ser massacradas com campanhas políticas
demagogas e a caminho das urnas de voto.
Cavaco Silva irá apoiar para Presidente da República primeiro Freitas do Amaral
que viria a perder para Mário Soares e quatro anos volvidos apoiará a recandidatura de
Mário Soares. Os governos liderados por Cavaco Silva, aproveitando o facto de deterem
maioria parlamentar, têm conseguido, de algum modo, retirar Portugal da situação incómoda,
quer política, quer económica, que Portugal vivia à data da sua eleição. Nem tudo foram
rosas para os portugueses, muitas coisas têm deixado de ser feitas e outras talvez pudessem
ter sido melhor encaminhadas mas , o que é certo é que, actualmente, se vive um período
mais calmo da vida política portuguesa.
Apesar de alguns dos métodos utilizados pelo seu governo e até de fazer transparecer
uma certa arrogância que usa devido ao facto de deter maioria parlamentar, é certo que a
estabilidade governativa que se viveu nos últimos anos em Portugal, acabou por ser benéfica
para a construção de algum desenvolvimento económico positivo a que ninguém pode e deve
ficar indiferente.
Estamos em 1995, ano de eleições parlamentares e, segundo as últimas sondagens,
o P .S. com o seu actual lider - António Guterres - leva alguma vantagem mas, o que irão
fazer os portugueses à boca da urna? será que é sufuciente dizer-lhes que tudo poderá ser
melhor e mais bem feito? será que os portugueses já esqueceram os tempos agitados do
período anterior aos governos que obteram maioria absoluta? é o presente, vamos aguardar
para sabermos as respostas a estas questões .
Os tempos conturbados vividos desde o 25 de Abril de 1974 são, para mim que os
vivi de perto, de um enriquecimento humano de que nos podemos orgulhar. Penso , de uma
forma pessoal que quem está tempo demais à cabeça de um país acaba por se tornar, mais
tarde ou mais cedo, num ditador, não só para ele próprio mas também para quem o rodeia.
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Assim, penso estar na altura de Portugal e os portugueses virarem mais uma página e terem
coragem de mudar, mudar uma vez mais.
Não defendo uma mudança radical uma vez que penso que os dados da democracia
estão bem lançados e os seus alicerces já não são de barro mas sim de betão sólido. No
entanto, é hora de nos lançarmos na construção dos pisos onde iremos viver, sem medo das
contingências que daí possam advir, sem medo do trabalho e do sacrifício que daí possa
resultar. O pior que pode acontecer a um povo, é este tornar-se acomodado às circunstâncias
que o rodeiam, e eu recuso-me a acreditar que somos um povo acomodado .
Se estivesse em sintonia com os radicais deste país diria, abaixo o Governo, mas não
estou e, sendo assim, como acho que em democracia a crítica tem de ser feita de um modo
construtivo e não destrutivo, prefiro apelar para o bom senso, não nos esqueçamos que
estivemos, durante o período do Gonçalvismo, muito perto de nova ditadura, e dizer a todos
os verdadeiros democratas para que o caminho traçado pela revolução de Abril continue a
ser uma meta de prosperidade para todos os que acreditam que em democracia tudo é
possível menos a imposição de esquemas totalitários.
Faço votos que daqui por alguns anos todos nos possamos orgulhar do País onde
vivemos e que nunca mais nos desviemos dos caminhos democráticos ainda que alguns
espinhos e algumas contrariedades nos possam aparecer.
Penso, ainda, que Portugal vive hoje em verdadeira Democracia com "D", mas,
penso também, que é preciso fazer mais, muito mais, de modo a que não adormeçamos à
beira dos lucros conquistados, para que não venham os espinhos e as cobras (que me
perdoem estes simpáticos bichinhos) corroer os alicerces em que foi construida a Democracia
em que vivemos.
Termino dizendo, feliz 25 de Abril de 1974, feliz 25 de Novembro de 1975,
obrigado a todos os que me possibilitaram estar aqui e agora a escrever estas breves palavras
sobre a história da democracia pós 25 de Abril e a sua repercussão no dia a dia de todos, ou
quase todos, os portugueses.