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VIOLENCIA JUVENIL
JUSTIÇA - ESCOLA
IMPORTÂNCIA DA PRODUÇÃO DE ESTEREÓTIPOS
NO CONTEXTO EDUCATIVO

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ESCOlA SEC!NlAlIJA/JEAI. YfSRllJIJl- VFX
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Luis Leandro Dinis --- ......
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fora da sérle-

Maio 93

preço: 75$00
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VIOLêNCIA JUVENIL - JUSTIÇA - ESCOLA


IMPORTÂNCIA DA PRODUÇAO DE ESTEREóTIPOS NO CONTEXTO EDUCATIVO
ESCOLA SECUNDáRIA DE ALVES REDOL

RESULTADOS PRELIMINARES

A. OBJECTIVOS

a) Pesquisa dos estereótipos de VIOLêNCIA JUVENIL. JUSTIÇA e ESCOLA de Alu-


nos e Professores.
b) Determinação e esclarecimento do nível de similitude entre os estereóti-
pos referidos.
c) Identificação das as intersecções dos Campos Representacionais de alttnos
e professores sobre os referidos fenómenos.
d) Análise de resultados obtidos em a), b) e c) e produção de inferências
nos domínios sociológico e pedagógico de interesse organizacional (Escola).

B. METODOLOGIA E AMOSTRAS:

1) METODOLOGIA

Análise de Conteúdo de associação de palavras.


A recolha do material a tratar consistiu na administração de questionário
com três termos indutores "Violência Juvenil", "Justiça" e "Escola", por e.sta
ordem apresentados aos inquiridos, com o pedido de indicação de 10 palavras .ou
frases .
A pré-análise e posterior exploração do material obtido permitiu realizar
a codificação e sequente categorização das palavras e frases, em campos semân-
ticos mais restritos, mas mesmo assim em número de mais 8 centenas, no total
dos três dicionários construídos ( conjunto de termos induzidos relativo a um
termo indutor).
Numa aproximação preliminar de tão vasto material , apenas f o i possível
ter em conta como pertinentes no t ratamento da informação, dois critérios de
enumeração, a saber. presença/ausência e a fr equênc ia das .unidades de regi sto
(neste caso a "palavra"). A utilização de outras formas de enumeração (inten-
sidade, ordem, direcção, co-ocorrência , etc . ) certamente esclareceria algumas
das conclusões obtidas .

2) INDIViDUOS INQUIRIDOS
~ . -
Alunos: responderam ao quest.ionário 74 alunos distribuídos ,la segulllLe
forma:
ANOS alunos alunas TOTAL
lOQ ano 13 25 38
12Q ano 19 17 3b
TOTAL 32 42 74

Professores: de 50 questionários entregues obt eve-se resposta a 22 .


distribuídos da seguinte forma:

IDADES professores professoras TOTAL


<25 1 1
25-34 3 5 9
35 - 44 2 8 10
45-54 I 1
55-64 1 I
TOTAL 8 14 22
3) DICIONáRIOS

Foram construídos 6 dicionários a partir do cruzamento dos termos indu-


tores (3) com as amostras de inquiridos (2). O procedimento seguido consistiu
na abreviação das frases em palavras- código (que semanticamente lhes eram mais
próximas), a eliminaçao das que, por excessivamente ambíguas, poderiam produzir
enviezamentos na análise, transformação de todas as formas negativas, ou que
traduziam ausência ou insuficiência, na forma mais simples, pela supressao de
prefixos advérbios, etc., e pela aposiçao do sinal "( - ),, como sufixo. Ao con-
trário do que, usualmente, é feito optámos por nao transpor todos os adjectivos
e substantivos para o masculino do singular, nem transformar todos os verbos e
adject.ivos em substantivos, dada a especificidade dos campos representacionais
em causa (v.g. disciplina/disciplinas, dever/deveres/dívida, etc . )

C. RESULTADOS

1) UNIDADES DE REGISTO

la) Número de unidades de registo (termos induz idos)


Indutor/Amostras
Alunos Professores TOTAL
Violência Juvenil 518 180 698
Justiça 479 161 640
Escola 574 177 751
TOTAL 1.571 518 2. 089

lb) Número de significantes indicados (ter.os induzidos diferentes - apenas


intra- dicionários)
Indutor/Amostras
Alunos Professores TOTAL
Violência Juvenil 213 112 325
Justiça 170 94 264
Escola 194 106 300
TOTAL 577 312 889

1c) Número médio unidades de registo (termos induzidos)


Indutor/Amostras
Alunos Professores TOTAL
Violência Juvenil 7,00 8,18 7,21
Justiça 6,47 7,31 6.66
Escola 7,75 8,04 7,82
TOTAL 7.07 7,84 7,25

1d) Número médio de significantes indicados


Indutor / Amostras
Alunos Professores TOTAL
Violência Juvenil 2,8 5,0 3.4
Justiça 2,2 4,2 2,8
Escola 2,6 4,8 3,1
TOTAL 2,5 4,7

Uma leitura muito rápida dos quadros permite verificar diferenças nas
extensões (médias) quantitativas e qualitativas das produções simbólicas de
alunos e professores sujeitos aos estímulos representados pelos te1~O' inciu-
tores. Se essas diferenças entre alunos e professores sao até certo ponto ex-
plicáveis por factores exógenos aos próprios estímulos (o domínio lexical dos
professores é maior por razões óbvias), já nas diferenças intra-amostras devem
procurar - se razões que têm a ver com a representaçao social que alunos e pro -
fessores fazem do real. É curioso, por exemplo verificar que os alunos
respondem "mais" sobre a Escola (7,75 contra 7,00 e 6,47 - quadro 1c) mas é
sobre a Violência Juvenil que produzem um campo de significados maior (2,e
contra contra 2,2 e 2,6 - quadro 1d). Por seu lado nos professores a produção
de signif i cados vai "pari passu" com a indicaçao de significantes. Como seria
de esperar quer os alunos, quer os professores respondem em menor intensidade
ao estímul o "Justiça" quer quantitativa quer qualitativamente.
Poder-se-á adiantar a proximidade sociológica (sócio-etária) do fenómeno
da violência juvenil relativamente aos alunos como uma primeira tentativa de
explicação do comportamento verificado naqueles indicadores. Fica por explicar,
por enquanto, o compo rtamento dos mesmos indicadores, em relaçao aos profes-
sores .

2) FREQUêNCL~ DOS TERMOS INDUZIDOS

2a) Termo indut or "VIOLêNCIA JUVENIL" (Quadros 2a1 e 2a2)

A anális e dos quadros 2a1 e 2a2 permitem-nos desde logo extrair algumas
conclusoes sobre os estereótipos de Violência Juvenil produzidos pelos alunos e
professores.
Relativamente aos alunos verifica-se a associação muito forte do fenó-
meno de Violênc ia Juvenil aos consumos de DROGA e áLCOOL, e à prática de actos
de força (VIOLAÇÃO, AGRESSÃO, BRIGA). Só a um nível de associação mais inferior
(abaixo dos 10%) aparecem termos que configuram as condiçoes, causas e ambien-
tes da Violência Juvenil (INCOMPREENSÃO sao, MAUS TRATOS, EDUCAÇÃO, POBREZA,
PAIS, ESCOL4, PROBLEMAS e CONFLITOS FAMILIARES, etc.) A sensibilidade própria
dos adolescentes e a sua permeabilidade à dramaticidade simbólica do fenómeno
poderá ser uma explicação da identificação da Violência Juvenil com a ItORTE,
GUERRA, SANGUE, óDIO, VINGANÇA. Repare-se que, por exemplo nenhum destas pala-
vras é indicada pelos professores
Nos professores, mais até do que nos alunos, a DROGA (86,3%) aparece
como dominante na associação com a Violência Juvenil. A MARGINALIDADE e o ROU-
BO, como consequência lógica da primeira, referem a prática de actos necessá-
rios à continuidade do consumo da Droga, não configurando necessarÍament.e act.os
de força, diferentemente do referido pelos alunos. Num terceiro nível de asso-
ciação (mas com valores acima dos 10%) aparecem as condíçoes e causas do fenó -
meno (ABANDONO e PERSPECTIVAS[-], 18,2%; AMOR[- ], APOIOS INSTITUCIONAIS, CA -
RêNCIAS ECONóMICAS, FAMíLIA, EDUCAÇÃO[-], OCUPAÇÃO[ - ], PROBLEMAS FAMILIARES,
etc) .
Não obstante haver uma certa semelhança nas respostas de alunos e pro-
fessores, quanto às causas e condições, parece poder concluir-se existirelu duas
diferenças fundamentais na representação social que alunos e professores fazem
ela Violência Juvenil. A primeira tem a ver com o tipo de manifestações que a
concretizam, isto e, o nível de manifestação da violência. A segunda que de-
corre, de certa forn,3 da primeira, relaciona-se com o período em que oc.)rre. Os
alunos parece referirem-se mais à a.dolescência, estrito senso, enquanto os
professores a localizam mais na passagem ela fase final da adolescêncíapa~a a
adultez.
QUADRO 281
FREQUÊNCIA DE TERMOS INDUZIDOS (%)
TERMO INDUTOR: VIOLÊNCIA JUVENIL - RESPOSTAS DOS AlUNOS

141

~ ~A
~ MAUS·
8.1'" MORTE
7 6 .6
E~~C~C;;-,~ ln PAIS POBREZA

e CRIANÇA MALTRATADA
FSCOI A GUERRA ÓDIO
DO,","' e ... o FAMILIARES REVOlTA ROUBO
CONFLITOS F"'" IARFS
I"e, ; ,.·~,~ .. o
ESPANCAMENTO GRUPOS
LUTAS DEGANGS MUSICA
....r."e
QUADRO 202
FREQU ~NC IA DE TERMOS INDUZIDOS (%)
TERMO INDUTOR : VIO L~N CIA JUVENIL · RESPOSTAS DOS PROFESSORES

r=A ROUBO

4 ot
:'n ECONOMICAS ~~~~~ , .......
DO "R' . .. . . . ... " ,." • •
APO IOS I ,,~
FAMiLIA
TELEVISÃO
I

~ 9, I APOIO FAMILIAR(· ) COMPANHIAS(·)


CRIMINALIDADE DIÁLOGO(.)
." :; FUTEBOL GANGS
'~ - "V
MUStcA NOITE
PROSTITUIÇÃO
~~' S!,!O

2b) Termo indutor "JUSTIÇA" (Quadros 2bl e 2b2)

A identificação que alunos e professores fazem da "Justiça" s ao de al-


guma f orma divergentes. Enquantos os primeiros polarizam o conceito em t.orno
dos agent es que de uma forma ou outra, "produzem" e adm i nistram a J us t i ça (AD -
VOGADO , JillZ, POLíCIA - valores superiores a 30%) "distribuindo" sançiies (PRI-
SAO, PENAS - valores acima dos 15%), os professores ind i cam aqueles agentes.
apenas após a referência a valores abstractos (JUSTIÇA[ - ] em primeiro lugar com
36 , 4%, IGUAl.DADE, LIBERDADE. RESPEITO, com 18,2%). Curiosamente, as pos i çiies de
ADVOGADO e JUSTIÇA[ - ] invertem-se entre alunos e professores .

A CORRUPÇAO é re f e r ida por alunos e professores (9,5% e 18,2%, respec -


tivamente) o que aliado à forte presença da JUSTIÇA[ -] (24,3% e 36 , 4%) e MORO -
SIDADE (18,2% - PROFESSORES) indic i a valências negativas no es tereótipo de
Justiça.
Como conclusão genér i ca, poder- se- á a f i rmar que à perspectiva mais nor-
mativa-repressiva (quase neutra do ponto de vista valorativo- emoc i onal ) dos
alunos , os pr ofes s ores cont r apiiem uma perspectiva sócio- afectiva (projecto
i deal expresso nos val ores que sao a ess ência da J ustiça).

QUADRO 21>1
FREOUÉNCIA DE TERMOS INDUZIDOS (%)
TERMO INDUTOR: JUSnçA - RESPOSTAS DOS AlUNOS

,, ( ", Wij7

, I~'~ ~NAL .
2. (JUSTICA/. LEI

~e', ~: ~~
16.2 m
~ 9, cÃo
l ,n 6.8 IBE~ DIREITO MENTIRA

I"':,~:~,~" PRESO ROUBO

QUADRO 2b2
FREOUÉNCIA DE TERMOS INDUZIDOS (%)
TER MO IN DUTOR: JUSTIÇA· RESPOSTAS DOS PROFESSOR ES

1 36.4
JUSTIcAi:) TRIBU NAL
2 27.3
LEI PRISÃO
3 >2.7
CASTIGO
4 18.2
CORRUPÇAO IGUALDADE JUIZ
LIBERDADE MOROSIDADE RESPEITO
5 13.6 ADVOGADO BALANCA PENA
6 9.1 AUTOR IDADE CRIME DEMOCRACIA
DEUS DINHEIRO DIREITOS
FAlTA DE MEIOS HONESTIDADE IDEAIS
IGUALDADE(·) PAZ REGRA
SENTENCA SOCIEDADE VERDADE
2c) Termo indutor "ESCOLA" (Quadros 2c1 e 2c2)

Situaçao i dêntica à verificada a propósito da "JUSTIÇA" acontece também


para este termo. Talvez de forma nao tao saliente, mas mesmo assim ainda s u fi -
c i entemente explícita, para merecer uma atençao especia l. Desde l ogo os alunos
identific am claramente a Escola com PROFESSORES e ALUNOS (59, 5% e 41 ,9%, res-
pectivamente , enquanto os professores indicam para esses te r mos apenas 18,2 e
27 , 3). Os professores por seu lado referem primeiro EDUCAÇÃO e TRABALHO, e
mesmo ass i m com valores substancialmente mais baixos (31,8%). Trê s aspec t os que
parecem merecer a coincidência de professores e alunos sao FUTURO, CULTURA e
CONví VIO I AHIGOSI A..IlIZADE/COLEGA como ideias identificadoras da Escola.
Só a um terceiro nível os alunos referenciam a APRENDIZAGEM, ESTUDO,
AULA, TESTES, DISCIPLINAS e TRABALHO, comprovando o que de a l gum modo era já
sabido, ou seja, que a Escola funciona em primeira instância como um espaço de
socializaçao de valores e comportamentos. Uma análise atenta do quadro 2c.2,
entretanto mostra- nos que essa dimensão e pouco valorizada pel os professores. à
apenas uma referência CO,,'fiVIO (22, 7~), professores contrapiiem de segu i da FOR-
MAÇÃO, ENSINO, APRENDIL\GL~, AOL\, SABER, EDUCAÇAO, e só depois aparecem com
9,1% os termos A.~GO, A.'lIL\DE, COLEGA.
Pontos de divergência são sem dúvida as referências a DISCIPLINA [- ] e
DROGA. A primeira referenciada pelos professores não aparece sequer entre as 26
pal avras mais citadas pelos alunos. A segunda, citada em 5Q lugar (18,9%) é
omitida pelos professore·s. Serão estes dois casos resultado lógico do posicio-
namento próprio de alunos e professores na estrutura de relações no seio da
escola, ou pelo contrário uma situaçao paradigmática de miopia subconsciente de
í ndol e grupal.
A concluir não pode deixar de ser notada a fraca identificaçao da Escola
com NOTAS (ao contrario do que o senso comum indicaria), LIVRO (a mostrar a
perda de importânc i a do manual como referência básica do processo ensino -
- aprendizagem em favor de outros suportes de transmissão do saber?!). Mais no-
tável ainda, porque nem alunos, nem professores indicam entre até ao score de
8%, é a ausência dos termos TURMA (fraca identificaçao com o grupo- turma por
par te dos alunos?!), FÉRIAS (por opos i çao a tempo de aulas).

QUADRO 2<:1
FREQUÉNCIA DE TERMOS INDUZIDOS (%)
TERMO INDUTOR: ESCOLA· RESPOSTAS DOS ALUNOS

59 .
41. IAL o
27 .
120.3 FUTURg
5 DROGA
117.
I
e
9 112.
~URA
lADE
~ Ps1 y:; SALA

~HO
, 12 6,- EDIFIC IO
LIVRO NAMORO
I~~~~~"'"
QUADRO 2c2
FR EQU ~ NCIA DE TERMOS INDUZIDOS (%)
TERMO fNDlJTOR: ESCOLA - RESPOSTAS DOS PROFESSORES

1l3t TFrlIICAC ÃO .",ARAIHO


,127 : IALUNe

'" CulTURA
"4 li8. ENSINO
FUlURO

5 13,6 AULA CRiANÇA


.:... ,;:; .~ REFORlo1A SABER

e ~1 Ai.iiGO ~ APRENDER
COt.EG-. COMPETIçÃO
I~~';'-;'i;" 0ISCPlJN.t. ENSINO lIVRESCO
FALTA OE WEJOS I1oIPOSlÇÃO
IlNRO ., liIOõlIIAÇÁO{-J ~ÃO

3) INTERSECÇXO DE DICIONáRIOS

A in tersecção de dicionários define-se como o conjunto de termos que são


comuns aos conjuntos lexicais utilizados, melhor, produzidos pelos inquiridos
sob efeito de determinado estímulo , De algum modo, a intersec ção de dicionários
permite, por um lado concluir da maior ou menor similitude entre as dimensoes
dos campos semânticos dos conceitos em análise (referidos à repre'sentação so-
cial que os actores sociais específicos fazem da realidade) facilí tando a a
compreensão das expectativas sociais comuns às realidades representadas (j>ode
por isso ser um útil instrumento de pilotagem à disposiçao dos agentes de mu-
dança social). Por outro lado, partindo da enumeração baseada na p resen-
ça/ausência de respostas, revela- se de uma grande riqueza qualitativa (ao con-
trário da análise fundada no registo de frequências relativas) permitindo de-
finir espaços específicos de significados, (por vezes considerados irrelevantes
na sua expressão quantitativista) mas que se revelam de grande importância para
o diagnóstico e intervenção organizacional.

3a) Dicionários dos Termos Indutores - Similitude

Recorrendo ao índice de similitude de Ellegard (divisão do número de


palavras comuns aos dicionários pela raíz quadrada do produto do número de pa-
lavras dos dicionários) obt i vemos os seguintes valores (est.e índice ,varia entre
O - inexistência de palavras comuns, e 1 - os dicionários sao exactamente
iguais): ,,

alunos v. Juvenil Justiça Escola


v , Juvenil 1,000
Jus t iça 0,157 1,000
Escola 0,108 0,077 1,000

professores V, Juvenil Justiça Escola


V, Juvenil 1,000
Justiça 0,087 1,000
Escola 0,055 0,070 1,000

Ordenando os val ores obtidos:

0,157 - alunos - V, Juvenil/Justiça


0,108 - alunos - V, Juvenil/Escola
0,087 - profes. - V, Juvenil/Justiça
0,077 - a l unos - Justiça/Escola
0,070 - pro fe s. - Justiça / Escola
0,055 - profes, - V, Juvenil/Escola
Mais do que os valores e m si interessa - nos a sua comparação e posição
relativa na ordenação. A interpretação é extremamente simples: os alunos no seu
discurso (produzido através dos campos semânticos) aproximam a VIOLêNCIA JUVE-
NIL mais à JUSTIÇA do que à ESCOLA, e ainda em menor intensidade a JUSTIÇA à
ESCOLA . Por seu lado os professores diferenciam-se dos alunos, colocando de-
cl aradamen te maior afastamento semântico entre VIOLêNCIA JUVENIL e ESCOLA.
Em geral a similitude verificada entre dicionários é maior entre os
alunos que entre os professores.
Sendo a Escola e a Justiça realidades sociais, no seio das quais o apelo
à prática do discurso representacional é regra, parece-nos evidente a impor-
tância da compreensão dos campos de significados que nelas se geram e a as
possibí.lidades que existem de os actores organizacionais a utilizarem para lU113
gestão fundada na Cultura e na produção de Símbolos .

3b) Dicionários de Alunos e Professores - Similitude

Através de procedimento idêntico ao descrito antes, calcularam-se os


índices de Ellegard para verificar os níveis de similitude entre os dicionários
de alunos e professores, para cada U1I dos termos indutores:

0,628 - \'iolência Juvenil - alunos/pro f es .


0,719 - Justiça - alunos / profes ,
0,550 - Escola - alunos/profes.

Não deixa de ser paradoxal que, pelos result.ados obtidos, se conclua ser
a propósito da Escola que a intersecçao nos crunpos representacionais de alunos
e professores é menor. Significa isto que em termos de representação soci31 os
alunos e professores se "entendem melhor" acerca da Violência e Just.iça do que
acerca da Escola. Parece ser, inevitave lmente, uma das conclusões a tirar des-
tes resultados. Eles ,'e., aliás, comprovar o que os índices anteriores (3a) já
deixavam prenunciar, principalmente ao nível da associação entre Violência Ju-
venil e Escola.

3c) Dicionários de Termos Indutores - Análise de Termos


(Quadros 3cl, 3c2, 3c3, 3c4)

A leitura destes quadros permite-nos centrar a nossa reflexão sobre 3


determinaçao dos campos de significados em torno de pólos de valências signi-
ficativas, seja POSitividade/Negatividade, Acçao/Omissão, Actividade/Passivi-
dade, Individual/Soc ial, etc .
Independentemente da frequência veri f icada na produção dos termos (uma
boa parte deles foram indicados apenas uma vez), o nOS50 interesse reca~ sobre
os seus significados e a5 suas relaçoes intra-grupos de intercepção, '
Se é certo que a intercepçao entre os três dicionários seria fortemente
influenciada pela negatividade imanente do Dicionário Violência Juvenil, é no-
tória a contribuição dos alunos para a a forte negatividade deste conjuntó-in-
tersecção. Com efeito se por um lado os alunos participam para os três dicio-
nários com LIBERDADE, JOVENS e SOCIEDADE, oS restantes termos denotam valências
negativsa, semanticrunente bem mais fortes (ANGUSTIA, CONFLITO, DEGRADAÇÃO,
DROGA, PRISÃO, PROBLEMAS, VIOLêNCIA). No conjunto as valências posi ti vas de
CRI ANÇA, CULTURA, LIBERDADE, JOVENS E SOCIEDADE nao se nos afiguram suficientes
para contrariar as dos restantes termos (em número de 13) .
Relativamente à intersecção dos Dicionários Violência Juvenil/Escola, é
sem dúvida aos professores que cabe maior contributo (em termos relativos) para
a sua valência negativa), Exceptuando JUVENTUDE, todos os restantes tenl"'S têm
cargas negativas. Por seu lado os alunos contribuem' com apenas 6 termos de ne-
gatividade explícita (aLCOOL, ANALFABETISMO, COMPREENSÃO[-], FRUSTRAÇÃO, TABA-
CO, e VINGANÇA), contra 16 de valência oposta (alguns de forte positividade:
AMIZADE, CRIANÇA, CULTURA, FUTURO, JUVENTUDE, TRABALHO ). Interessante seria
QUADRO 3c1 QUADRO 3c2
TERMOS INDUZIDOS TERMOS INDUZIDOS
INTERSECÇÃO DE DICIONARIOS INTERSECÇÃO DE DICIONARIOS
VlOL~NCIA JUVENIUJUSTIÇNESCOLA VIOL~NCIAjUVENIUESCOLA
ALUNOS E PROFESSORES ALUNOS E PROFESSORES
ALU PRO AUPR ALU PRO AUPR
ANGUSTIA X ADOLESCENCIA X
ANSIEDADE X ALCOOL X
CONFLITO X AMIGOS X
CRIANÇA X AMIZADE X
CULTURA X ANAlFABETISMO X
DEGRADAÇÃO X CASA X
DISCIPLlNA(-) X COMPATIBILlDADE(-) X
DROGA X COMPREENSÃO(-) X
IGUALOADE{-) X CONFUSÃO X
JOVENS X CRIANÇA X
JUST1ÇA(-) X X CULTURA X
UBERDAIlE X DEGRADAÇÃO X
IoIIJD.',NÇA X DESPORTO X
PRISÃO X DROGA X
PRO!lUWS X EDUCAÇÃO X
SOCIEDADE X EMPREGO X
TRABAI..HO X FRUSTRAÇÃO X X
WIGANÇA X FUTURO X
V1OLàIc&.\ X GRUPOS X
11 -4 5 INFLUÊNCIAS X
INSTITUiÇÃO X
JUVENTUDE X X
ClUADRO 3c3 NAMORO X
TERNOS INDUZIDOS PAiS X
INTERS€CÇÃO DE DlClONAR1os RAPARIGAS X
V1OLàIc&.\ JUVENIUJUSTlÇA REPROVAÇÕES X
ALUNOS E PROFESSORES SUCESSO(-) X
~U PRO AlJPR TN3ACO X
ADAPTAÇ:"O(-) X "TR . . . . I~O X
AFlRMAÇÃO X VlNGAiII~A X
AGRESSÃO X 22 6 4
APOIO X
ANSIEDADE X
CAUSA X
CHORO X QUADRO 3c4
COMPLEXO X TERMOS INDUZIDOS
CORRUPÇÃO X INlERSECÇÃO DE DICIONARIOS
CRIANÇA X JUSTIÇNESCOLA
CRIME X ALUNOS E PROFESSORES
CRIMINOSO X ~u PRO ALlPR
CULTURA X BEM X
DELlNOUt:NCtA X BOM X
DELINQUENTES X CADEIRA X
DINHEIRO X COMPORTAMENTO X
ESCOLA X ANALFABEllS,I.IO X
FOME X X CASA X
FORÇA X X COMPAllBlLlDADEI-) X
HOMICIClO X COMPREENSÃO(-) X ~
IDEAIS X CONFUSÃO k
IMPULSO X CRIANÇA X
JUSTIÇA PRÓPRIA X CULTURA X
MAL X DEGRADAÇÃO X -
MEIO SOCIAL X DESPORTO X
MORTE X DROGA X
POBREZA X EDUCAÇÃO X
PODER X EMPREGO X
POLICIA X FRUSTRAÇÃO X X
POLITICA X FUTURO X
PORRADA X GRUPOS X
RACISMO X INFLUÊNCIAS X
REVOLTA X INSmUlçÁO X
ROUBO X JUVENTUDE X X
SEGURANÇA(-) X NAMORO X
SOCIEDADE X X PAiS X
SOFRIMENTO X RAPARIGAS X
SOLIDÃO X REPROVAÇÕES X
TRABALHO X SUCESSO(-) X
VALORES X TABACO X
VINGANÇA X TRABALHO X
VIOLAÇÃO X VlNGANCA X
30 9 6 14 7 5
9
procurar uma explicaçao, com uma análise mais . fina, das coincidências verif~i=-------------­
cada entre alunos e professores acerca de CONFUSAO, INSTITUIÇÃO, PAI S e REPRO-
VAç6ES ( que só entram no grupo - intersecçao por acçao combinada das duas amos-
tras, alunos e prof es sores).
Fortemente negativa a valênc ia global da intersecção dos Dicionários
Violênci a Juvenil / Justiça, com a primeira desempenhar o centro de gnlvidade do
campo semântico (ao con t rário do que ver ifi cámos pa ra Violência Juvenil/Es co -
la), nao regis ta este grupo- intersecçao senao 10 termos de algwna positividad e
(repare-se num total de 45), sendo 5 dos alunos (APOIO, ESCOLA , IDEAIS, SOCIE-
DADE, VALORES), 1 dos professores (SOCIEDADE) e 4 de alunos/professores (AFIR-
~~ÇAO , CRIANÇA, CL~TURA, TRABALHO).
Por fim, no último grupo - intersecçao Justiça/Escola, a positividade , já
demonstrada antes, do dicionário Escola é fortemente potenciada pela do dicio-
nário Justiça, de tal forma que em 26 termos apenas 6 têm carga simbólica ne-
gat i va ou fortemen te negativa (ERRO, FALTA DE MEIOS, PRECaRIA, TRISTEZA, VIN-
GANÇA e VIOLêNCIA ) . At endendo à fortíssima positividade de alguns termos (BEM,
BOM, CO~WREENSAO, CRIANÇA, DIáLOGO, HONESTIDADE, PESSOA , PROGRESSO, VERDADE)
nao restam dúvidas que os dois conce i tos em causa (Escola e Justiça) recolhem
dos inquiridos o campo de significados mais favorável.

D. CONCLUSÕES

Uma boa parte das conclusoes j á ficaram expressas ao longo da exposiçao dos
resultados .
Importa aqui, fazer, ainda que de forma breve, alguma reflexao sobre a im -
portânc ia do estudo e conhecimento dos fenómenos de representaçao socia l em
cont exto escolar . Precavendo - nos sempre sobre a utilizaçao perve rsa da enge-
nharia social, importa em benefício das pessoas, individual e colectivamente
consideradas, incentivar o conhecime nto mútuo e o diálogo, no sentido do es -
clarecimento das expectativas dos diversos actores em presença na Esco l a .
A procura de explicaçao de algumas interpretações realizadas ao longo de ste
estudo, nao poderá nunca ser feita sem a participaçao dos alunos e professores .
Des de a descoincidência de scobe rta ~opósito da DROGA e da DISCIPLINA[-l,
pela c lara dominância da ESCOLA c.omo campo semântico de posit.ividade suficiente
para contrar i a r a da VI OLeNCI A JUVENIL, até à menor similitude verificada ent~'e
dicionários de Alunos e professores sobre a ESCOLA, estende-se um conjlmto fIe
questoes que, dificilmente sao perceptíveis a olho nu, porque relevam da pró-
pria cultura e clima da escola, e aperU1S se manifestam no domínio do simbólico.
Por serem menos perceptíveis, nao deixam no entanto de existir e de condicionar
em profundidade os comportamentos, atitudes e valores que a escola como reali-
dade compósita a todo o momento realiza.

16 de Maio de 1993
Vila Franca de Xira
LUIS LEANDRO DINIS

bibliografia:

_ Representations Sociales et analyses de dorulées


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- Análise de Conteúdo
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