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Da revolução à estabilização da Democracia

Motivos de descontentamento: O descontentamento dos setores militares por motivos


profissionais originou o:
1. Guerra colonial
Movimento dos Capitães - Movimento clandestino dos
- Grande esforço financeiro e humano;
militares, em 1973, onde predominavam essencialmente
- Isolamento internacional; capitães, que pretendia derrubar o regime.

2. Atraso económico e social


- Desenvolvimento tardio;
- Aumento do custo de vida;
- Emigração
3. Estado Novo
- Regime autoritário;
- Recusa da Democratização;

MFA – Movimento das Forças Armadas


Ainda em março de 1974, o movimento dos capitães evoluiu para um movimento das forças armadas.
Nascia o MFA que pretendia:
- Por fim á guerra colonial;
- Derrubar o regime;
- Democratizar o país;

Otelo de Saraiva Carvalho, membro da MFA, planeou a estratégia do Golpe do 25 de abril de 1974, ou
Operação “Fim-Regime”

O 25 de abril
São as forças armadas que vêm para a rua na madrugada de 25 de abril de 1974 e conseguem levar a cabo
uma ação revolucionária que pôs fim ao regime. Tinha por objetivo ocupar diversos pontos estratégicos em
Lisboa:
- RTP
- Emissora Nacional
- Rádio Clube Português
- Aeroporto de Lisboa
- Quartel General
A ação começou quando por volta das 23 h, do dia 24, sob a ordem de Otelo de Saraiva Carvalho, é
transmitida na rádio “ E Depois do Adeus ” , de Paulo de Carvalho, esta seria a primeira indicação de que
estava tudo a correr bem.
Às 00:20h do dia 25, era transmitida a canção “Grândola, Vila Morena”, de Zeca Afonso, uma das poucas
canções que o estado novo não havia censurado. Estava dado o sinal de que as unidades militares podiam
avançar para a ocupação dos pontos estratégicos.
Um dos momentos mais tensos da Operação, foi quando as forças do MFA, encontraram no terreiro do Paço,
o Regimento de Cavalaria 7 que saiu em defesa do Regime, mas Salgueiro Maia conseguiu dissuadi-los.
Com o fim da resistência e com a rendição imposta a Marcello Caetano, pelo cerco das tropas de Salgueiro
Maia, que ameaçavam bombardear o Quartel do Carmo, Marcello Caetano viu-se obrigado a entregar o
poder a Spínola.

Desmantelamento das estruturas do Estado Novo


Com a queda do regime, o MFA entregou o poder á Junta de Salvação Nacional (JSN), presidida por
António Spínola, a quem cabia fazer respeitar o programa do MFA, conhecido como Programa dos 3D, já
que dele constavam ideais fundamentais: democratizar, descolonizar e desenvolver.
Ao abrigo deste programa, a JSN aprovou um conjunto de medidas com vista a desmantelar as estruturas de
suporte do Estado Novo, tais como:
1. Destituição dos órgãos do poder
- Presidente da República (Américo Tomás); Convocação de eleições para a
- Presidente do Conselho (Marcello Caetano); assembleia constituinte, no prazo de um
ano
- Assembleia Nacional;

2. Extinção de todas as organizações repressivas


PIDE; Censura e Legião Portuguesa; Mocidade Portuguesa;

3. Abolição do partido único


- Ação Nacional Popular;

4. Libertação e amnistia dos presos políticos


- Abertura das prisões de Caxias e Peniche;
- Os presos políticos e os exilados, como Mário Soares, regressaram ao país;

5. Nomeação de um governo provisório


A 15 de maio, para normalizar a situação política, António Spínola é nomeado Presidente da República e
o advogado Adelino da Palma Carlos é convidado para presidir à formação do I Governo Provisório.
O processo de democratização – I ao III Governos Provisórios
António de Spínola, nomeado pela JSN para Presidente da República, deu posse ao l Governo
Provisório, composto por personalidades de diversos quadrantes políticos, liderado por Adelino da Palma
Carlos, que assumiu o cargo de Primeiro-Ministro.
O processo de democratização não foi isento de tensões, quer em torno da questão do Ultramar e da
descolonização, quer quanto ao modelo político, económico e social a adotar. No MFA e nas várias
forças político-partidárias que se organizaram, assistiu-se à divisão em torno de duas grandes tendências,
abaixo apresentadas.
 UMA MAIORIA DO MFA E DOS PARTIDOS POLÍTICOS DE ESQUERDA DEFENDIAM:
- A instauração de uma democracia popular, inspirada nas democracias da Europa de Leste;
- Negociações para a descolonização imediata.

 A FAÇÃO LIDERADA POR SPÍNOLA, APOIADA POR ALGUNS SETORES MILITARES E


POR PARTIDOS POLÍTICOS MAIS CONSERVADORES E LIBERAIS, DEFENDIA:
- Uma democracia liberal de tipo ocidental;
- Um projeto federalista para o Ultramar ou um processo faseado de descolonização.

O I Governo Provisório, no poder entre 16 de maio e 18 de julho de 1974, demitiu-se não só devido às
crescentes tensões sociais e políticas (greves, ocupações, exigências de aumentos salariais) como à acusação
de afastamento face ao programa do MFA.
Spínola deu posse ao Il Governo Provisório, que esteve em funções entre 18 de julho e 30 de
setembro de 1974.
Il Governo Provisório, revelou-se mais alinhado à esquerda, pelas ligações de Vasco Gonçalves ao Partido
Comunista Português (PCP).
Este novo ordenamento político aumentou o isolamento do Presidente da República, general Spínola, que
não escondeu o seu desconforto face à influência crescente dos comunistas e da extrema-esquerda.
Os setores conservadores convocaram para 28 de setembro uma manifestação de apoio a Spínola,
identificada com a expressão "maioria silenciosa" Foi proibida pelo MFA, por ser conotada com forças
contrarrevolucionárias. A 30 de setembro de 1974, Spínola demitiu-se.

Do Ill Governo Provisório ao golpe de Spínola, a 11 de março de 1975


A JSN nomeou um novo Presidente da República - Francisco da Costa Gomes - que esteve em funções de 30
de setembro de 1974 a 13 de julho de 1976.
Nomeou o Ill Governo Provisório (no poder entre 30 de setembro de 1974 e 26 de março de 1975) e
indigitou Vasco Gonçalves como Primeiro-Ministro. O novo Governo aproximou-se claramente do PCP e
pôs em prática um programa de nacionalizações de diversas empresas e setores da economia. Diversas
forças políticas, mais à esquerda ou de extrema-esquerda, prosseguiram a mobilização popular para efetuar
ocupação de terras e de casas e promover ações grevistas generalizadas a todos os setores da economia.
Estava em curso a viragem à esquerda e a radicalização revolucionária da vida nacional.
Face à conjuntura político-ideológica, os setores conservadores ("reacionários", na linguagem da época)
procuraram, a 11 de março de 1975, inverter o rumo de esquerdização com um golpe militar liderado por
Spínola. O fracasso do golpe levou Spínola ao exílio, em Espanha, e 144 militares à prisão.
Numa reunião do MFA, realizada nessa noite, foram tomadas medidas para impedir o retrocesso da
revolução e institucionalizar o MFA como órgão de poder, conforme se apresenta no esquema abaixo:

CRIAÇÃO DO CONSELHO
DA REVOLUÇÃO (composto QUEDA DO III GOVERNO
exclusivamente por militares): PROVISÓRIO
• um novo centro de poder • tomada de posse do IV
Extinção da JSN político, ao qual cabia a Governo Provisório, liderado
e do Conselho institucionalização do por Vasco Gonçalves, que
de Estado. programa do MFA; esteve no poder entre 26 de
• instituiu-se o MFA como março e 8 de agosto de 1975;
órgão de poder, através do • negociação e assinatura do
Conselho da Revolução e da Pacto MFA/Partidos, entre
Assembleia do MFA, por março-abril de 1975.
decreto de 14 de março 1975.

Entretanto foi então criado o COPCON – Comando Operacional do Continente, sob a liderança de Otelo
Saraiva Carvalho, que fará deste órgão de poder militar e político um elemento essencial de ligação entre o
MFA e as movimentações populares, tendo, com o decorrer dos acontecimentos, evoluído para o apoio a
uma construção de formas de poder popular.
PREC ( Processo Revolucionário em Curso) é a expressão usada para designar a vaga de atividades
revolucionárias levadas a cabo pelos partidos mais à esquerda e uma parte do MFA a eles ligados, com vista
à institucionalização do poder popular e ao reforço da transição para o socialismo marxista.

Verão Quente de 1975


Decorreu entre o final do IV Governo Provisório e a vigência do V Governo Provisório. Constituiu-se como
um conjunto diversificado e complexo de acontecimentos, que resultaram, em grande medida, da dinâmica
revolucionária marcada pelo agravamento de divergências políticas e de agitação social depois das eleições
de abril de 1975. O verão de 1975 foi um período marcado por confrontos e tensões sociais e ideológicas
entre forças de direita e de esquerda, como pode analisar no esquema seguinte.
Continuação da ocupação de
Saneamentos de pessoas Ataques a sedes de partidos
conotadas com a direita em casas e terras.
empresas e e a casas de militantes de Constituição de comissões
instituições públicas. direita e de esquerda. de moradores e
de trabalhadores

Realização de
Ocupação de empresas
movimentações da classe
privadas ou adoção de
operária para assumir o
modelos de autogestão
controlo da
pelos trabalhadores.
produção e das empresas.

Estas iniciativas enquadraram-se, no contexto do PREC, no projeto de institucionalização do poder popular,


isto é, o exercício direto do poder pelo povo, em que a comunidade assume competências do governo no
sentido de resolver problemas e tomar decisões, organizando-se em assembleias populares.

Documento dos Nove


Em pleno Verão Quente, na véspera da tomada de posse do V Governo Provisório, foi divulgado na
imprensa, a 7 de agosto de 1975, o chamado Documento dos Nove, cujo significado se sintetiza a seguir.

Um conjunto de nove oficiais do Defenderam uma terceira via,


Conselho da Revolução, entre os considerando que a transição para o
quais se destacou Melo Antunes, socialismo era inseparável da
democracia pluralista e das liberdades e
denunciou que o processo de direitos fundamentais, recusando o
democratização e de modelo socialista das democracias
consagração das liberdades populares do Leste Europeu e o modelo
estava em causa social-democrata da Europa Ocidental

O Documento dos Nove fragilizou a atuação governativa de Vasco Gonçalves.


O seu conteúdo evidenciou o mal-estar nos setores do MFA que não apoiavam a radicalização do processo
revolucionário. O V Governo Provisório caiu a 19 de setembro de 1975 e o gonçalvismo chegou ao fim.
O Conselho da Revolução foi remodelado com a integração de elementos mais moderados. O almirante
Pinheiro de Azevedo assumiu a chefia do VI Governo Provisório, cuja vigência ocorreu entre 19 de
setembro de 1975 e 23 de julho de 1976 (quando foi empossado o | Governo Constitucional).

Golpe do 25 de Novembro de 1975


Foi neste ambiente de alta tensão e de confronto, ao nível militar e civil, que ocorreu o 25 de Novem-bro,
uma tentativa de golpe e de contragolpe que deixou o país à beira da guerra civil. O duplo significado do 25
de Novembro pode ser analisado no esquema seguinte.
O Presidente da República, Costa
Tentativa de golpe por parte das
Gomes, declarou o estado de sítio e
tropas paraquedistas de Tancos
autorizou a reação do setor
juntamente com unidades do
moderado que, num contragolpe,
COPCON (lideradas por Otelo
liderado pelo general Ramalho
Saraiva de Carvalho), que tomaram
Eanes, neutralizou as forças de
pontos estratégicos e bases
Tancos e do COPCON, pondo fim à
aéreas em Lisboa.
tentativa de sublevação.

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