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1. Introdução
1. Noções preliminares
Por volta de 1928, o Presidente da República de Portugal, Óscar Carmona, convidou António de
Oliveira Salazar para chefiar a pasta das Finanças. Era urgente controlar as contas públicas, pois,
mesmo depois do golpe militar de 1926, a situação económico-financeira de Portugal
continuava muito grave. Segundo CAETANO (1938), Estado Novo foi o regime político ditatorial,
autoritário, autocrata e corporativista de Estado que vigorou em Portugal durante 41 anos
ininterruptos, desde a aprovação da Constituição portuguesa de 1933 até ao seu derrube pela
Revolução de 25 de Abril de 1974.
2.1. Corporativismo
O Estado Novo foi considerado pelos seus ideólogos como um "Estado corporativo", definindo-
se oficialmente como uma "República Corporativa", devido à forma republicana de governo e à
vertente doutrinária e normativa corporativista, refletida no edifício das leis (Constituição
política, Estatuto do Trabalho Nacional e numerosa legislação avulsa) e na configuração do
próprio Estado (Câmara Corporativa, Corporações, Ministério das Corporações, Instituto
Nacional do Trabalho e Previdência, Sindicatos Nacionais de direito público, Grémios Nacionais,
Grémios da Lavoura, Casas do Povo, Casas dos Pescadores, Comissões Reguladoras, etc.).
Salazar considerou o corporativismo como a faceta do seu regime com maiores potencialidades
futuras, mas a sua implantação prática foi muito gradual e, sobretudo, obedeceu a um padrão
de "corporativismo de Estado" e não a um figurino de "corporativismo de associação", que
poderia ter conferido um maior papel à iniciativa privada e à autorregulação da sociedade civil.
(CARVALHO, 2018)
O Estado Novo, após 41 anos de vida, é derrubado no dia 25 de Abril de 1974. O golpe que
acabou com o regime foi efetuado pelos militares do Movimento das Forças Armadas - MFA. O
golpe militar contou com a presença da população, cansada da repressão, da censura, da
guerra colonial e do abrandamento económico motivado pelo choque petrolífero de 1973.
Ficou conhecida por Revolução de 25 de Abril. Neste dia, diversas unidades militares
comandadas por oficiais do MFA marcharam sobre Lisboa, ocupando uma série de pontos
estratégicos. As guarnições militares que supostamente eram apoiantes do regime renderam-se
e juntaram-se aos militares do MFA. O regime caiu sem ter quase quem o defendesse. Os
acontecimentos deste dia culminaram com a rendição de Marcello Caetano, sitiado pelo
capitão Salgueiro Maia, no Quartel do Carmo. Foi uma revolução considerada "não-sangrenta"
e "pacífica", sendo que no dia 25 de Abril propriamente dito houve apenas quatro mortos,
vítimas de disparos da polícia política, junto à sua sede.
4. Estatuto do indigenato
O estatuto foi abolido em 1961 por efeito do Decreto-Lei n.º 43893, de 6 de setembro no
ensejo das reformas introduzidas por Adriano Moreira quando foi Ministro do Ultramar[3], com
o objectivo de permitir aos indígenas um acesso mais fácil e abrangente à cidadania portuguesa
e aos direitos a ela inerentes.
Até à introdução do Estatuto e, de uma forma geral, os indígenas não tinham virtualmente
nenhuns direitos civis, ou jurídicos, nem cidadania. Com a nova lei ficavam estabelecidos três
grupos populacionais: os indígenas, os assimilados e os brancos. Para a passagem era
necessário demonstrar um conjunto de requisitos (como saber ler e escrever, vestirem e
professarem a mesma religião que os portugueses e manterem padrões de vida e costumes
semelhantes aos europeus, por exemplo) que os indígenas teriam de alcançar para obter o
estatuto de "assimilado" e poderem usufruir direitos que estavam vedados aos indígenas não
assimilados.
Segundo Tjipilica (2014), o estatuto do indigenato foi regulado de forma geral pela base 18.ª
anexa à Lei n.º 277 de 15 de agosto de 1914, que organizou a administração civil das províncias
ultramarinas. Essa base estabelecia as seguintes regras gerais para o estatuto civil, político e
criminal dos indígenas: “protecção nos seus actos e contratos”; regulação das “relações civis
entre êles” pelos seus “usos e costumes privativos”; ausência de “direitos políticos em relação a
instituições de carácter europeu”; “especial consideração [d]os seus usos e costumes
privativos” na “definição e punição dos crimes, delitos e contravenções”; administração da
justiça por “funcionários ou tribunais especiais, ou chefes administrativos assistidos de grandes
(indígenas), letrados conhecedores da lei especial ou outros indivíduos de respeito e
consideração no seu meio”; disposições de processo civil e criminal “adequadas às condições
especiais da vida do indígena”; e “codificação dos usos e costumes dos indígenas” para
segurança do direito. Em suma, o estatuto pessoal do indigenato envolvia:
Este autor avança em dizer que a base 16.ª anexa à mesma Lei atribuía ao Governador-Geral ou
Governador de Província as competências de “dirigir as relações políticas com os chefes
indígenas e agrupamentos sob a sua dependência”, “definir e regular o estatuto civil, político e
criminal desses indígenas”, “lançar o imposto denominado indígena” e promover “a sua
instrução e progresso”. Nos termos desta Lei, o estatuto do indigenato era extensivo a todas as
províncias ultramarinas, mas diferia nas diversas províncias, e eventualmente mesmo dentro de
cada uma, em função do grau de desenvolvimento dos respectivos povos de cultura não
europeia.
De acordo com FERREIRA e VEIGA (1957), com a tomada de poder por parte de Antônio de
Oliveira de Salazar, muitos regulamentos foram produzidos na metrópole portuguesa, um dos
quais, a Lei Organica do Ultramar (Lei n.º 2.066, de 27 de Julho de 1953). Esta lei contém vários
preceitos relativos a populações indígenas das províncias da Guine, Angola e Moçambique.
Além das bases componentes da secção especialmente epigrafada «Das populações indígenas»,
encontram-se, nomeadamente, o n.º V da base LXV, sobre o julgamento das questões
gentílicas, e o n.º II da base LXIX, sobre a extensão dos sistemas penal e penitenciario.
A regulamentação dos princípios gerais contidos nestas bases exige que sejam alterados alguns
dos preceitos dos chamados «Estatuto Político, Civil e Criminal dos Indígenas» e «Diploma
Orgânico das Relações de Direito Privado entre Indígenas e não Indígenas» Decretos n.º 16.473
e 16.474, de 6 de Fevereiro de 1929), que, por outro lado, haveria ja anteriormente
conveniência em modificar e aditar em parte, a fim de uniformizar procedimentos, extinguir
regimes locais inadequados e alargar o âmbito das reformas. Com efeito, em leis gerais de
carácter fundamental, como o Acto Colonial, a Carta Organica do Imperio Colonial Português e
a pr6pria Constituição Política, algumas das regras contidas no estatuto e no diploma Orgânico
foram gradualmente aperfeiçoados, ao mesmo tempo que outros diplomas como Decreto n.º
35.461, de 22 de Janeiro de 1946, sobre o casamento enunciavam preceitos que bem caberiam
no estatuto. Acresce que certas matérias importantes, entre as quais a aquisição da cidadania
por antigos indígenas, eram reguladas apenas em textos locais, falhos de homogeneidade.
Para FERREIRA e VEIGA (1957), o facto de os nativos das províncias portuguesas da África
continental se encontrarem ainda em determinado grau inferior de civilização implica a
necessidade de se processar um ordenamento juridico adequado à possibilidade de efectivação
de poderes e deveres por parte desses nativos, Isto é, os indígenas (conceito que o art. 2. do
Estatuto escIarece) encontram-se numa posição especial perante a ordem jurídica geral. Ora
essa posição especial dos sujeitos de direito perante a ordem juridica designa-se em
terminologia técnica pelo nome de <<:estado» (status) au «situação jurídica» ou «qualidade
jurídica» e depende de um conjunto de qualidades, circunstancias ou situações pertinentes ao
indivíduo ou grupos de indivíduos (por exemplo o estado de filho, estado de casado ou solteiro,
estado de funcionário, estado de indígena).
Segundo FERREIRA e VEIGA (1957), o «estado de indígena» não gera uma verdadeira
incapacidade (capacidade diminuída) já porque as incapacidades como exepções à regra geral
(capacidade diminuída), da capacidade tem de ser expressa e declarada. O Estatuto do
Indigenato diferenciava o indígena do cidadão português, assim, o indígena não podia ser
considerado cidadão e não tinha a totalidade dos direitos deste. Vide o artigo 2 do Estatuto do
Indigenato o seguinte: "Consideram-se indígenas das referidas províncias os indivíduos de raça
negra ou seus descendentes que, tendo nascido ou vivendo habitualmente nelas, não possuam
ainda a ilustração e hábitos individuais e sociais pressupostos para a integral aplicação do
direito público e privado dos cidadãos portugueses. Consideram-se igualmente indígenas os
indivíduos nascidos de pai e mãe indígena é locais estranhos àquela província para qual se tem
um deslocado.
O facto de ser o diploma legal que regulava o trabalho dos indígenas a estabelecer a respetiva
definição legal chama a atenção para o facto de a questão dos estatutos pessoais se ligar de
forma crucial à questão da contratação de mão de obra para as atividades económicas
promovidas por europeus nos domínios ultramarinos. Abolida a escravatura, essa mão de obra
passou a ser constituída por serviçais e colonos contratados, os serviçais trabalhando sob
direção do patrão europeu, os colonos trabalhando por conta própria em terras propriedade de
europeus. Os contratos de trabalho de serviçais e colonos foram regulados por sucessivas
disposições legais:
Segundo o Decreto 951 de 15 de Outubro de 1914, “Todo o indígena válido das colónias
portuguesas fica sujeito à obrigação moral e legal de, por meio do trabalho, prover ao seu
sustento e de melhorar sucessivamente a sua condição social” (artigo 1.º) e se “não tiver
domicílio certo, nem meios de subsistência, nem exercer habitualmente alguma profissão,
ofício ou outro mester em que ganhe a sua vida”, “será julgado pelo curador de serviçais e
colonos, administrador do respectivo concelho ou circunscrição civil, ou capitão-mor
respectivo, conforme os casos”. Sendo condenado, “será entregue à autoridade administrativa,
que lhe poderá fornecer trabalho pelo período que entender conveniente” (artigo 2.º).
De acordo com o artigo 56.º do Estatuto do Indígenato, Pode perder a condição de indígena e
adquirir a cidadania o individuo que prove satisfazer cumulatlvamente aos requisitos seguintes:
A prova dos fatos referidos neste artigo era feita segundo a lei, mas os requisitos das alíneas b),
c) e d) Podem também provar-se por meio de certificados dos administradores dos conselhos
ou circunscrições em que o indivíduo tenha residido nos últimos três anos. Para a prova do bom
comportamento, para Além deste atestado, e também necessária certidão do seu registo
criminal para a comprovação de que o indivíduo não sofreu nenhuma condenação maior ou
condenação que corresponde a uma pena correcional.
A condição de indígena extingue-se sempre isso pela condição de não indígena (estado de
cidadão). A aquisição da cidadania pode sempre revestir formas diversas que podem agrupar-se
da seguinte maneira:
A mulher indígena casada com indivíduo que adquira a cidadania nos termos do artigo 56 do
Estatuto e os filhos legítimos ou ilegítimos perfilhados, menores de 18 anos, que vivam sob a
direcção do pai à data daquela aquisição, podem também adquirir a cidadania desde que
tenham os requisitos das alíneas b) e d).