Você está na página 1de 17

UNIVERSIDADE PÚNGUÈ

CURSO DE LICENCIATURA EM DIREITO

I semestre 2023
História de Direito de Moçambique

Tema:
Estado Novo: Estatuto do Indigenato

Chimoio, Março de 2023


UNIVERSIDADE PÚNGUÈ

CURSO DE LICENCIATURA EM DIREITO

I semestre 2023
História de Direito de Moçambique

Tema:
Estado Novo: Estatuto do Indigenato

Discentes:

 Anifa Zacarias

 Helena Eduardo

 Kassia Rosa

 Marla Agostinho Muchanga

 Miriamo Chaleca

 Moisés Arone Machava

 Pedro Mário

Orientado por: Celestino Tapera Fernando (PHD)

Chimoio, Março de 2023


Índice

Capítulo I: Introdução.......................................................................................................................1
1. Introdução.....................................................................................................................................1
1.2. Objecivos...................................................................................................................................1
1.2.1. Objectivo geral.......................................................................................................................1
1.2.2. Objectivos específicos............................................................................................................1
1.3. Metodologia de Pesquisa...........................................................................................................1
Capítulo II: revisão de literatura.......................................................................................................2
I - Estatuto do indegenato do Estado Novo......................................................................................2
1. Noções preliminares.....................................................................................................................2
1.1. Estado Novo..............................................................................................................................2
2. Características do Estado novo.....................................................................................................3
2.1. Corporativismo..........................................................................................................................3
2.2. Antiparlamentarismo e antipartidarismo...................................................................................3
2.3. Concentração de poderes no Presidente do Conselho de Ministros..........................................3
3. Decadência do Estado novo..........................................................................................................4
4. Estatuto do indigenato..................................................................................................................4
5. Estatuto dos Indígenas Portugueses das Províncias da Guine, Angola e Moçambique...............6
5.1. estado de indígena de acordo com o Estudo do indigenato.......................................................7
5.2. Noção e capacidade jurídica do indígena..................................................................................7
6. Cidadania originária e cidadania derivada (assimilação).............................................................8
6.1. Situação jurídica dos indígenas................................................................................................8
6.1. Indígena como mão de obra......................................................................................................9
7. Extinção da condição de indígena e aquisição da Cidadania.....................................................10
Capítulo III: Revisão de Literatura.................................................................................................12
1. Colusão.......................................................................................................................................12
2. Referências bibliográficas..........................................................................................................13
Capítulo I: Introdução

1. Introdução

O presente trabalho aborda a matéria da disciplina de História do Direito Moçambicano


inerente ao Estado Novo, em concreto debruça a questão do Estatuto do Indigenato. Assim, sua
abordagem começa por transmitir a noção de Estado novo, noção e capacidade jurídica do
indígena, situação jurídica destes, indígenas como mão de obra, a extinção do estado ou
qualidade pessoal de indígena e finalmente as formas de aquisição da cidadania portuguesa pelos
indígenas. Em termos estruturais este trabalho está subdividido em três capítulos inerenres à
introdução, revisão de literatura e conclusão.

1.2. Objecivos

1.2.1. Objectivo geral

 Compreender e abordar a matéria inerente ao Estado do indigenato no âmbito do Estado


novo.

1.2.2. Objectivos específicos

 Definir Estado novo e caracterizar o mesmo;

 Conceptualizar estatuto do indígena e abordar a nocao de indígena;

 Abordar a situação jurídica do indígena e extinção dessa qualidade;

 Falar das formas de aquisição da cidadania.

1.3. Metodologia de Pesquisa

Este trabalho é desenvolvido usando o método qualitativo de pesquisa científica,


caracterizando-se pela busca de informação com base principalmente na revisão bibliográfica
(leitura de manuais, artigos científicos, dissertações e teses) que abordam a matéria esmiuçada
neste trabalho. Também usamos o recurso a pesquisas na internet em sites que tratam
exclusivamente de matérias jurídicas
1
Capítulo II: revisão de literatura

I - Estatuto do indegenato do Estado Novo

1. Noções preliminares

1.1. Estado Novo

Por volta de 1928, o Presidente da República de Portugal, Óscar Carmona, convidou


António de Oliveira Salazar para chefiar a pasta das Finanças. Era urgente controlar as contas
públicas, pois, mesmo depois do golpe militar de 1926, a situação económico-financeira de
Portugal continuava muito grave. Segundo CAETANO (1938), Estado Novo foi o regime político
ditatorial, autoritário, autocrata e corporativista de Estado que vigorou em Portugal durante 41
anos ininterruptos, desde a aprovação da Constituição portuguesa de 1933 até ao seu derrube pela
Revolução de 25 de Abril de 1974.

Instituída a partir de 1932, a ditadura salazarista nasceu do golpe militar de 28 de maio de


1926, que pôs fim à Primeira República portuguesa. Com o golpe, os militares esperavam
“regenerar” o país e instaurar uma nova era de estabilidade política após dezesseis anos de um
regime republicano marcado por sucessivos governos, pela corrupção e por uma profunda crise
financeira herdada da monarquia e agravada pelos gastos militares impostos pela participação de
Portugal na Primeira Guerra Mundial. (CAETANO, 1938)

A Constituição Portuguesa de 1911, precedeu a instauração formal do Estado Novo (1933).


Após a eleição por sufrágio directo, mas em lista única, do General Óscar Carmona para
Presidente da República em 1928, este, tendo em atenção a incapacidade dos anteriores
governantes, nomeadamente o General Sinel de Cordes, para resolver a crise financeira, chamou
António de Oliveira Salazar, especialista em finanças públicas da Faculdade de Direito da
Universidade de Coimbra, para assumir o cargo de ministro das Finanças, que este aceitou.

2
2. Características do Estado novo

2.1. Corporativismo
O Estado Novo foi considerado pelos seus ideólogos como um "Estado corporativo",
definindo-se oficialmente como uma "República Corporativa", devido à forma republicana de
governo e à vertente doutrinária e normativa corporativista, refletida no edifício das leis
(Constituição política, Estatuto do Trabalho Nacional e numerosa legislação avulsa) e na
configuração do próprio Estado (Câmara Corporativa, Corporações, Ministério das Corporações,
Instituto Nacional do Trabalho e Previdência, Sindicatos Nacionais de direito público, Grémios
Nacionais, Grémios da Lavoura, Casas do Povo, Casas dos Pescadores, Comissões Reguladoras,
etc.). Salazar considerou o corporativismo como a faceta do seu regime com maiores
potencialidades futuras, mas a sua implantação prática foi muito gradual e, sobretudo, obedeceu a
um padrão de "corporativismo de Estado" e não a um figurino de "corporativismo de associação",
que poderia ter conferido um maior papel à iniciativa privada e à autorregulação da sociedade
civil. (CARVALHO, 2018)

2.2. Antiparlamentarismo e antipartidarismo


O regime político-constitucional que vigorou durante o Estado Novo é considerado
antiparlamentar e antipartidário, uma vez que o único partido político aceite pela força política,
que na altura era responsável pela apresentação de candidaturas aos órgãos eletivos de poder, foi
a União Nacional, sendo que os restantes foram ilegalizados, o mesmo aconteceu mais tarde com
as associações políticas. Era permitida, em alguns atos eleitorais, a apresentação de listas não
afectas à União Nacional, mas a sua existência era apenas consentida momentaneamente e era
impossível a eleição de qualquer candidato dessas listas, pois a fraude eleitoral ou a repressão
provocada pela polícia política (PIDE) provocava o esvaziamento de candidatos afetos a essas ou
porque se encontravam presos ou porque desistiam por falta de condições. (CARVALHO, 2018)

2.3. Concentração de poderes no Presidente do Conselho de Ministros


Nesse regime autoritário, o Governo tem simultaneamente o poder executivo e o legislativo
(o Governo pode decretar decretos-lei que sobrepõe as leis aprovadas pela Assembleia Nacional),
e por sua vez os poderes do Governo estão fortemente centralizados e reforçados nas mãos do
Presidente do Conselho de Ministros (Chefe do Governo). O Presidente da República tinha
3
somente funções meramente cerimoniais, embora tivesse o poder de escolher e demitir o
Presidente do Conselho de Ministros. Mas esse poder nunca foi utilizado, visto que o cargo de
Presidente da República era sempre ocupado por um partidário da União Nacional e apoiante do
Presidente do Conselho de Ministros. (CARVALHO, 2018)

António de Oliveira Salazar, no sentido de inviabilizar a vitória do General Humberto


Delgado à Presidência da República em 1958, por este ser contra a ideologia do regime, propôs a
revisão constitucional onde a eleição que até naquela altura era feita por sufrágio directo passou a
ser feita por sufrágio indireto, através de um colégio eleitoral. Esta medida, a par com a
inviabilização dos partidos políticos que já tinham sido ilegalizados na constituição original,
sendo permitidos, no entanto candidaturas de movimentos. (CARVALHO, 2018)

3. Decadência do Estado novo


O Estado Novo, após 41 anos de vida, é derrubado no dia 25 de Abril de 1974. O golpe que
acabou com o regime foi efetuado pelos militares do Movimento das Forças Armadas - MFA. O
golpe militar contou com a presença da população, cansada da repressão, da censura, da guerra
colonial e do abrandamento económico motivado pelo choque petrolífero de 1973. Ficou
conhecida por Revolução de 25 de Abril. Neste dia, diversas unidades militares comandadas por
oficiais do MFA marcharam sobre Lisboa, ocupando uma série de pontos estratégicos. As
guarnições militares que supostamente eram apoiantes do regime renderam-se e juntaram-se aos
militares do MFA. O regime caiu sem ter quase quem o defendesse. Os acontecimentos deste dia
culminaram com a rendição de Marcello Caetano, sitiado pelo capitão Salgueiro Maia, no Quartel
do Carmo. Foi uma revolução considerada "não-sangrenta" e "pacífica", sendo que no dia 25 de
Abril propriamente dito houve apenas quatro mortos, vítimas de disparos da polícia política, junto
à sua sede. (ALMADA, 1943).

4. Estatuto do indigenato
O Estatuto do Indígena ou Estatuto do indigenato é o termo utilizado para definir os direitos,
mas sobretudo os deveres, dos indígenas das colónias portuguesas, expressos em vários diplomas
legais. O primeiro foi o Estatuto Político, Social e Criminal dos Indígenas de Angola e
Moçambique, de 1926, o Acto Colonial de 1930, a Carta Orgânica do Império Colonial Português

4
e Reforma Administrativa Ultramarina, de 1933 e finalmente o Estatuto dos Indígenas
Portugueses das Províncias da Guiné, Angola e Moçambique, aprovado por Decreto-lei de 20 de
Maio de 1954, e que era uma lei que visava a "assimilação" dos indígenas na cultural colonial
(ocidental).

O estatuto foi abolido em 1961 por efeito do Decreto-Lei n.º 43893, de 6 de setembro no
ensejo das reformas introduzidas por Adriano Moreira quando foi Ministro do Ultramar, com o
objectivo de permitir aos indígenas um acesso mais fácil e abrangente à cidadania portuguesa e
aos direitos a ela inerentes. (AGUIAR, 1910)

Até à introdução do Estatuto e, de uma forma geral, os indígenas não tinham virtualmente
nenhuns direitos civis, ou jurídicos, nem cidadania. Com a nova lei ficavam estabelecidos três
grupos populacionais: os indígenas, os assimilados e os brancos. Para a passagem era necessário
demonstrar um conjunto de requisitos (como saber ler e escrever, vestirem e professarem a
mesma religião que os portugueses e manterem padrões de vida e costumes semelhantes aos
europeus, por exemplo) que os indígenas teriam de alcançar para obter o estatuto de "assimilado"
e poderem usufruir direitos que estavam vedados aos indígenas não assimilados.

Segundo TJIPILICA (2014), o estatuto do indigenato foi regulado de forma geral pela base
18.ª anexa à Lei n.º 277 de 15 de agosto de 1914, que organizou a administração civil das
províncias ultramarinas. Essa base estabelecia as seguintes regras gerais para o estatuto civil,
político e criminal dos indígenas: “protecção nos seus actos e contratos”; regulação das “relações
civis entre eles” pelos seus “usos e costumes privativos”; ausência de “direitos políticos em
relação a instituições de carácter europeu”; “especial consideração os seus usos e costumes
privativos” na “definição e punição dos crimes, delitos e contravenções”; administração da justiça
por “funcionários ou tribunais especiais, ou chefes administrativos assistidos de grandes
(indígenas), letrados conhecedores da lei especial ou outros indivíduos de respeito e consideração
no seu meio”; disposições de processo civil e criminal “adequadas às condições especiais da vida
do indígena”; e “codificação dos usos e costumes dos indígenas” para segurança do direito. Em
suma, o estatuto pessoal do indigenato envolvia:

 A não aplicação da lei portuguesa em questões civis e criminais;


5
 A ausência de direitos políticos e de acesso aos cargos públicos; e
 A existência de um foro especial, constituído pela autoridade administrativa portuguesa e
por autoridades tradicionais por ela reconhecidas.

Este autor avança em dizer que a base 16.ª anexa à mesma Lei atribuía ao Governador-Geral ou
Governador de Província as competências de “dirigir as relações políticas com os chefes
indígenas e agrupamentos sob a sua dependência”, “definir e regular o estatuto civil, político e
criminal desses indígenas”, “lançar o imposto denominado indígena” e promover “a sua instrução
e progresso”. Nos termos desta Lei, o estatuto do indigenato era extensivo a todas as províncias
ultramarinas, mas diferia nas diversas províncias, e eventualmente mesmo dentro de cada uma,
em função do grau de desenvolvimento dos respectivos povos de cultura não europeia.

5. Estatuto dos Indígenas Portugueses das Províncias da Guine, Angola e Moçambique


De acordo com FERREIRA e VEIGA (1957), com a tomada de poder por parte de Antônio
de Oliveira de Salazar, muitos regulamentos foram produzidos na metrópole portuguesa, um dos
quais, a Lei Orgânica do Ultramar (Lei n.º 2.066, de 27 de Julho de 1953). Esta lei contém vários
preceitos relativos a populações indígenas das províncias da Guine, Angola e Moçambique. Além
das bases componentes da secção especialmente epigrafada «Das populações indígenas»,
encontram-se, nomeadamente, o n.º V da base LXV, sobre o julgamento das questões gentílicas,
e o n.º II da base LXIX, sobre a extensão dos sistemas penal e penitenciário.

A regulamentação dos princípios gerais contidos nestas bases exige que sejam alterados
alguns dos preceitos dos chamados «Estatuto Político, Civil e Criminal dos Indígenas» e
«Diploma Orgânico das Relações de Direito Privado entre Indígenas e não Indígenas» Decretos
n.º 16.473 e 16.474, de 6 de Fevereiro de 1929), que, por outro lado, haveria ja anteriormente
conveniência em modificar e aditar em parte, a fim de uniformizar procedimentos, extinguir
regimes locais inadequados e alargar o âmbito das reformas. Com efeito, em leis gerais de
carácter fundamental, como o Acto Colonial, a Carta Orgânica do Império Colonial Português e a
pr6pria Constituição Política, algumas das regras contidas no estatuto e no diploma Orgânico
foram gradualmente aperfeiçoados, ao mesmo tempo que outros diplomas como Decreto n.º
35.461, de 22 de Janeiro de 1946, sobre o casamento enunciavam preceitos que bem caberiam no

6
estatuto. Acresce que certas matérias importantes, entre as quais a aquisição da cidadania por
antigos indígenas, eram reguladas apenas em textos locais, falhos de homogeneidade.

5.1. estado de indígena de acordo com o Estudo do indigenato


O artigo 1.º do Estatuto do Indigenato dispunha que Gozavam de estatuto especial, de
harmonia com a Constituição Política, a Lei Orgânica do Ultramar e o Estatuto dos indígenas, os
indígenas das províncias da Guine, Angola e Moçambique. O estatuto do indigena português é
pessoal, devendo ser respeitado em qualquer parte do território português onde se ache o
indivíduo que dele goze.

Para FERREIRA e VEIGA (1957), o facto de os nativos das províncias portuguesas da


África continental se encontrarem ainda em determinado grau inferior de civilização implica a
necessidade de se processar um ordenamento jurídico adequado à possibilidade de efectivação de
poderes e deveres por parte desses nativos, isto é, os indígenas (conceito que o art. 2. do Estatuto
esclarece) encontram-se numa posição especial perante a ordem jurídica geral. Ora essa posição
especial dos sujeitos de direito perante a ordem jurídica designa-se em terminologia técnica pelo
nome de <<:estado» (status) au «situação jurídica» ou «qualidade jurídica» e depende de um
conjunto de qualidades, circunstancias ou situações pertinentes ao indivíduo ou grupos de
indivíduos (por exemplo o estado de filho, estado de casado ou solteiro, estado de funcionário,
estado de indígena).

5.2. Noção e capacidade jurídica do indígena


Segundo FERREIRA e VEIGA (1957), o «estado de indígena» não gera uma verdadeira
incapacidade (capacidade diminuída) já porque as incapacidades como exepções à regra geral
(capacidade diminuída), da capacidade tem de ser expressa e declarada. O Estatuto do Indigenato
diferenciava o indígena do cidadão português, assim, o indígena não podia ser considerado
cidadão e não tinha a totalidade dos direitos deste. Vide o artigo 2 do Estatuto do Indigenato o
seguinte: "Consideram-se indígenas das referidas províncias os indivíduos de raça negra ou seus
descendentes que, tendo nascido ou vivendo habitualmente nelas, não possuam ainda a ilustração
e hábitos individuais e sociais pressupostos para a integral aplicação do direito público e privado

7
dos cidadãos portugueses. Consideram-se igualmente indígenas os indivíduos nascidos de pai e
mãe indígena é locais estranhos àquela província para qual se tem um deslocado.

A condição de indígena não contraria a cidadania civil, no sentido de nacionalidade, isto é,


vínculo jurídico que liga determinado indivíduo a um país ou Estado como membro do seu povo.
Significa que tanto o cidadão no sentido referido pelo estatuto do indígenato, tanto o indígena
tinha nacionalidade portuguesa. Deste mundo, pode dizer que tanto o cidadão português quando o
indígena, eram cidadãos, porém, isto não se pode confundir com cidadania política do indígena
por gesta se refere a certos direitos políticos que o indígena não possuía assim sendo, todos eram
considerados portugueses, no entanto haviam certos direitos que não cabiam os indígenas só aos
brancos portugueses. Segundo FERREIRA (1957), os indígenas eram súbditos portugueses,
sujeitos à protecção do Estado do português, mas sem fazerem parte da nação, que esta seja
considerada a comunidade cultural quer, seja considerada associação política. Os indígenas eram
regidos segundo os costumes próprios da sua origem.

6. Cidadania originária e cidadania derivada (assimilação)


O Estatuto indígenato distinguia a cidadania originária da cidadania derivada, a primeira
nunca se perde, ao passo que a segunda é passiva de perda nos termos do artigo 64 do Estatuto do
indígena, segundo o qual, a cidadania reconhecida nos termos do artigo 58 e 60 do Estatuto pode
ser revogada por ordem do juiz de direito da respectiva comarca, meliante justificação promovida
pela competente autoridade administrativa, com participação do ministério público.

6.1. Situação jurídica dos indígenas


Nos termos do artigo 7 do Estatuto do Indigenato, a instituições de natureza política
tradicionais dos indígenas são transitoriamente bandidas de conjugam-se com as instituições
administrativas do estado português declaradas na lei. A regra geral era que os indígenas estavam
sujeitos aos costumes próprios de sua região, no entanto, o estatuto do indígenato permitia que a
lei comum fosse aplicada caso o indígena optasse por esta nas situações descritas pela lei. Vide o
artigo 27.º do estatuto do indígena, que o indígena, em matérias inerentes ao direito de família,
sucessões, comércio e propriedade imobiliária pode optar pela lei comum. Esta opção poderia ser

8
requerida pelo interessado ou aceita pelo juiz com limitação de algumas das espécies de relações
indicadas neste artigo.

Relativamente ao trabalho, os indígenas poderiam segundo o estatuto escolher a área na qual


gostariam de trabalhar, quero por conta própria, quer trabalho alheio, quero nas suas terras para
as quais foram designados. A prestação de trabalho não indígenas assenta na liberdade
contractual e no justo salário.

6.1. Indígena como mão de obra


O facto de ser o diploma legal que regulava o trabalho dos indígenas a estabelecer a
respetiva definição legal chama a atenção para o facto de a questão dos estatutos pessoais se ligar
de forma crucial à questão da contratação de mão de obra para as atividades económicas
promovidas por europeus nos domínios ultramarinos. Abolida a escravatura, essa mão de obra
passou a ser constituída por serviçais e colonos contratados, os serviçais trabalhando sob direção
do patrão europeu, os colonos trabalhando por conta própria em terras propriedade de europeus.
Os contratos de trabalho de serviçais e colonos foram regulados por sucessivas disposições
legais:

 Decreto de 20 de dezembro de 1875;


 Decreto de 21 de novembro de 1878;
 Decreto de 29 de janeiro de 1903;
 Decreto de 7 de julho de 1909 e Lei de 17 de julho de 1909;
 Decreto com força de Lei de 27 de maio de 1911;
 Decreto de 1 de outubro de 1913.

Segundo o Decreto 951 de 15 de Outubro de 1914, “Todo o indígena válido das colónias
portuguesas fica sujeito à obrigação moral e legal de, por meio do trabalho, prover ao seu
sustento e de melhorar sucessivamente a sua condição social” (artigo 1.º) e se “não tiver
domicílio certo, nem meios de subsistência, nem exercer habitualmente alguma profissão, ofício
ou outro mestre em que ganhe a sua vida”, “será julgado pelo curador de serviçais e colonos,
administrador do respectivo concelho ou circunscrição civil, ou capitão-mor respectivo, conforme

9
os casos”. Sendo condenado, “será entregue à autoridade administrativa, que lhe poderá fornecer
trabalho pelo período que entender conveniente” (artigo 2.º).

7. Extinção da condição de indígena e aquisição da Cidadania


De acordo com o artigo 56.º do Estatuto do Indígenato, pode perder a condição de indígena e
adquirir a cidadania o indivíduo que prove satisfazer cumulativamente aos requisitos seguintes:

 Ter mais de 18 anos;


 Falar corretamente a língua portuguesa;
 Exercer profissão, arte ou ofício de que aufira rendimento necessário para 0 sustento
próprio e das pessoas de família a seu cargo, ou possuir bens suficientes para o mesmo
fim;
 Ter bom comportamento e ter adquirido a ilustração e os hábitos pressupostos para a
integral aplicação do direito público e privado dos cidadãos portugueses;
 Não ter sido nota do como refratário ao serviço militar nem dado como desertor.

A prova dos fatos referidos neste artigo era feita segundo a lei, mas os requisitos das alíneas b), c)
e d) Podem também provar-se por meio de certificados dos administradores dos conselhos ou
circunscrições em que o indivíduo tenha residido nos últimos três anos. Para a prova do bom
comportamento, para Além deste atestado, e também necessária certidão do seu registo criminal
para a comprovação de que o indivíduo não sofreu nenhuma condenação maior ou condenação
que corresponde a uma pena correcional.

7.1. Formas de aquisição da cidadania

A condição de indígena extingue-se sempre isso pela condição de não indígena (estado de
cidadão). A aquisição da cidadania pode sempre revestir formas diversas que podem agrupar-se
da seguinte maneira:

a) Forma normal de aquisição de cidadania: esta é regulada pelos artigos 56 e seguintes do


Estatuto do Indigenato, caracterizada por ser realizada através de um processo
administrativo (Jurisdicionalizado na fase do recurso) e através do qual deve ser

10
demonstrado que o indígena reúne todos os requisitos necessários ou essenciais à
aquisição da cidadania mencionados no art. 56 do Estatuto do Indigenato.
b) Forma automática de aquisição da cidadania: esta forma é regulada pelo artigo 60 do
Estatuto. Segundo esta forma, o bilhete de identidade será passado sem dependência do
despacho a que se refere o número 2 do artigo 59, e, portanto, sem processo
administrativo a quem apresentar o documento comprovativo de alguma das
circunstâncias enunciadas no artigo do Estatuto do indigenato.
c) Forma graciosa de aquisição da cidadania: através desta forma adquire-se a cidadania
através da Conceição dos governos das províncias ultramarinas neste caso, o governo da
província Moçambicana, Angolana e Guinesa

A mulher indígena casada com indivíduo que adquira a cidadania nos termos do artigo 56 do
Estatuto e os filhos legítimos ou ilegítimos perfilhados, menores de 18 anos, que vivam sob a
direcção do pai à data daquela aquisição, podem também adquirir a cidadania desde que tenham
os requisitos das alíneas b) e d).

11
Capítulo III: Revisão de Literatura

1. Colusão

Este trabalho abordou a matéria inerente ao Estado novo, mais concretamente sobre o
estatuto do indigenato. Ao fim deste concluímos que Estado Novo foi o regime político ditatorial,
autoritário, autocrata e corporativista de Estado que vigorou em Portugal a partir de 1933.
Estatuto do indigenato é o termo utilizado para definir os direitos, mas sobretudo os deveres, dos
indígenas das colónias portuguesas, expressos em vários diplomas legais. O Estatuto indígenato
distinguia a cidadania originária da cidadania derivada, a primeira nunca se perde, ao passo que a
segunda é passiva de perda nos termos do artigo 64 do Estatuto do indígena, segundo o qual, a
cidadania reconhecida nos termos do artigo 58 e 60 do Estatuto pode ser revogada.

Os indígenas estavam sujeitos aos costumes próprios de sua região, no entanto, o estatuto
do indígenato permitia que a lei comum fosse aplicada caso o indígena optasse por esta nas
situações descritas pela lei. Relativamente ao trabalho, os indígenas poderiam segundo o estatuto
escolher a área na qual gostariam de trabalhar, quero por conta própria, quer trabalho alheio,
quero nas suas terras para as quais foram designados.

12
2. Referências bibliográficas

Doutrina:

AGUIAR, Roque, Distrito de Lourenço Marques, Relatório Das Circunscrições 1909-1910.


Lourenço Marques, Imprensa Nacional, 1910.
ALMADA, José de, Tratados Aplicáveis ao Ultramar, Vol. IV. Agência Geral das
Colônias Lisboa.1943.

TJIPILICA, Valério Nuno. Estatuto colonial do império colonial português. 1ᵃ edição. Coimbra,
2014
FERREIRA, Carlos Ney; VEIGA, Vasco Soares da. Estatuto dos Indígenas Portugueses. Lisboa:

Coimbra, 1957.

Legislação:

Estatuto dos Indígenas Portugueses das Províncias da Guine, Angola e Moçambique –


Decreto .º39.666, de 2 de Maio de 1954.

13

Você também pode gostar