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Índice
I. A CONSTITUCIONALISMO .................................................................................................................. 3
1. A EVOLUÇÃO DO CONSTITUCIONALISMO PORTUGUÊS ....................................................................................... 4
1.1 Constituições Monárquicas Portuguesas...................................................................................... 4
1.2 A primeira República .................................................................................................................... 5
1.3 O Estado Novo .............................................................................................................................. 6
1.4 A Constituição de 1976: da sua génese à atualidade ................................................................... 6
2. OS DESAFIOS DO CONSTITUCIONALISMO...................................................................................................... 10
Globalização do Direito Constitucional ............................................................................................ 10
II. A CONSTITUIÇÃO ............................................................................................................................ 12
3. SENTIDO DA CONSTITUIÇÃO ..................................................................................................................... 12
4. NORMAS CONSTITUCIONAIS ..................................................................................................................... 13
5. FONTES DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS ..................................................................................................... 14
6. INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DE NORMAS CONSTITUCIONAIS ....................................................................... 16
7. APLICAÇÃO DA LEI CONSTITUCIONAL NO TEMPO:........................................................................................... 17
9. REVISÃO CONSTITUCIONAL: ...................................................................................................................... 19
III. ESTADO DE DIREITO DEMOCRÁTICO .............................................................................................. 26
1. OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS ESTRUTURANTES ........................................................................................ 26
a. Dignidade da pessoa humana ...................................................................................................... 26
b. Igualdade...................................................................................................................................... 27
c. Proporcionalidade......................................................................................................................... 28
d. Segurança jurídica e proteção da confiança ................................................................................ 29
e. Socialidade ................................................................................................................................... 30
2. SEPARAÇÃO E INTERDEPENDÊNCIA DE PODERES ............................................................................................ 31
IV. A FUNÇÃO LEGISLATIVA ................................................................................................................ 32
1. SENTIDO E CONTEÚDO DA LEI ................................................................................................................... 32
2. TIPICIDADE DOS ATOS LEGISLATIVOS ........................................................................................................... 34
4. REPARTIÇÃO DA COMPETÊNCIA LEGISLATIVA ENTRE A AR E O GOVERNO NA CONSTITUIÇÃO .................................. 37
5. PROCESSO LEGISLATIVO ........................................................................................................................... 41
6. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DAS REGIÕES AUTÓNOMAS ................................................................................. 48
V. FISCALIZAÇÃO DA INCONSTITUCIONALIDADE ................................................................................. 50
O que é a Constituição?
- É a lei suprema do país. Introduz os direitos e deveres fundamentais das pessoas e a
organização política e a separação de poderes (dois traços fundamentais que
caracterizam a Constituição). Depois tem organização económica e regras sobre a sua
própria revisão.
NOTAS:
Cidadãos são todos os nacionais dos países.
Pessoas são todos e não só os cidadãos.
A Constituição defende os direitos de, pelo menos, todas as pessoas que estão naquele
território, sejam nacionais ou não.
Antes das revoluções liberais, havia uma enorme arbitrariedade na aplicação dos
direitos na disposição do rei absoluto.
A Constituição inclui direitos de liberdade – estes são direitos visam a criação de uma
esfera onde o estado não pode entrar/interferir. O poder político invadia esta esfera
privada dos cidadãos e esta invasão tinha de ser contida. Ex: propriedade.
- Esta revisão foi fundamental para a estabilização política. - Entre 1982 e 1989 deu-se a
entrada na CEE (1986).
• Revisão de 1989
- O que é que a entrada na CEE representa de desafio para Portugal? Foi uma questão
de pacificação ou de consolidação da nossa economia de mercado.
- A Constituição teve em 1976 uma influência económica fortíssima, por influência do
PCP (ex: não podia haver telecomunicações privadas, televisões privadas, banca privada,
energia privada, etc. – deu-se a estatização de uma serie de setores estruturantes de
um estado). Outro aspeto marcante da revolução foi a irreversibilidade das
nacionalizações (ex: toda a banca privada que existia até 1974 foi passada para o estado,
nacionalizada). Em 1989, dá-se a abertura destes setores à iniciativa privada, portanto
deu-se o fim do monopólio estatal destes setores (passou a ter bancos privados,
televisões privadas, etc.).
- Aqui dá-se o fecho da revolução. Esta revisão foi fundamental para a estabilização
económica.
• Revisão de 1992
- Esta revisão justifica-se por razões exclusivamente europeias – para Portugal poder
ratificar o Tratado de Maastricht que lançou as bases da UE e da moeda única. Este era
um tratado que punha em causa elementos de soberania muito fortes – entendeu-se
que Portugal não podia ratificar este tratado sem introduzir alguns elementos que
permitissem avançar para essa ratificação.
- Avanço da integração europeia.
• Revisão de 1997
- Revisão muito política.
- Resulta de um acordo de regime entre o PS e o PSD.
• Revisão de 2001
- Revisão cirúrgica: alteração ao artigo 7o CRP para ratificar o estatuto do Tribunal Penal
Internacional. Introduzir uma clausula que permite excecionar a pena de prisão
perpetua para atuação do Tribunal Penal Internacional.
• Revisão de 2004
- Revisão motivada pelo reforço das autonomias regionais - poderes das regiões
autónomas dos Açores e da Madeira, aumentando as suas competências legislativas e
fundamentando a sua autonomia com os aspetos simbólicos.
- Alteração que tem a ver com o princípio do primado (alteração ao artigo 8o).
• Constituição de 1822: artigo 25o - religião católica como religião oficial; possibilidade
de culto privado a outras religiões apenas se estrangeiro.
• Constituição de 1911: artigo 3o, pp. 6o, 7o, 8o, 9o, 10o, 12o - direito de liberdade
religiosa (criação de casas para cultos próprios religiosos; criação de uma lei especial
para regulação de tal matéria; caráter secular dos cemitérios públicos; fiscalização das
instituições públicas e privadas pelo estado, mantendo-se neutra em matéria religiosa;
manutenção da extinção da Companhia de Jesus e todas as congregações religiosas
(manifestações da vertente anticlerical). Estas normas eliminam os aspetos que nas
constituições monárquicas eliminam a liberdade religiosa (ex: ninguém pode ser
perseguido por motivos religiosos; o culto pode ser público, por qualquer pessoa, e em
locais assumindo a forma de templo). O Prof. Jorge Miranda fala de um anticlericalismo
da Constituição de 1911. O Prof. Gonçalo Matias acha que na 1a parte não há
anticlericalismo, mas na 2a parte há.
- Apesar de tudo, toda esta realidade ainda é relativamente tradicional dado que
tudo isto depende das relações entre a comunidade internacional e os estados.
Assim, não depende da vontade dos estados, mas está assente numa realidade
que é essencialmente estadual.
II. A Constituição
3. Sentido da Constituição
• Material – consiste na chamada ideia de direito. Quer dizer que são os princípios
fundamentais que estiveram na base, na origem da nova constituição. A ideia de direito
pode evidentemente ir evoluindo, mas o seu ADN permanece. Nestes termos, existiam
normas constitucionais mesmo antes de sair uma constituição escrita, como a Magna
Carta- que detinha os direitos fundamentais – neste sentido existia, portanto, uma”
constituição” mesmo antes de haver uma formalização da mesma.
Para que uma constituição permaneça no tempo tem que ser o mais flexível possível –
(constituição americana por exemplo) porque senão torna-se necessariamente com o
tempo a absoleta dada a sua desatualização. Torna-se burocrática. Ex: No estado de
emergência presidente tem que ter aprovação para viajar (esta norma vem na sequência
da família real ter fugido para o brasil). Ora, normas como estas, colocam obstáculos ao
exercício político. Uma constituição demasiado dirigente é menos democrática porque
não permite certas alternativas.
4. Normas constitucionais
Normas precetivas: são aquelas que têm completitude constitucional – não está
dependente da concretização do legislador. Podem ser invocadas pelos cidadãos dada a
sua determinabilidade. Ex: direitos de liberdades e garantias
Fontes:
Imediatas (modo de criação de normas)
I. LEI
® Constituição – é uma lei especial porque não tem um processo de aprovação
igual aos outros (tem exigências próprias/agravadas que lhe conferem um grau
hierárquico superior às outras).
II. COSTUME
® Prática social reiterada com convicção de obrigatoriedade.
® Isto não quer dizer que todas as decisões do TC têm força obrigatória geral.
Muito pelo contrário, a esmagadora maioria das decisões do TC são em sede de
fiscalização concreta (pronunciam-se em função dos casos concretos – a decisão
esgota-se no caso). Contudo, ao fim de 3 casos, o TC pode passar da fiscalização
concreta para a fiscalização abstrata e elimina a norma do ordenamento jurídico.
IV. DOUTRINA
® É uma fonte mediata, pode ser utilizada como fonte de persuasão, mas não é
vinculativa.
A aplicação da lei no tempo é uma matéria com base na teoria do direito, mas tem
algumas especificidades no Direito constitucional.
Norma é inconstitucional, mas o parlamento está de acordo de que essa norma não
devia desaparecer. Então o parlamento reúne-se para fazer uma revisão
constitucional, para tornar a norma inconstitucional em constitucional. Isto é
possível? Uma revisão constitucional pode salvar uma norma ordinária anterior que
era inconstitucional? Quanto a este aspeto temos duas opiniões:
• Prof. Jorge Miranda: uma norma que nasce inconstitucional nunca se pode sanar,
porque o vício é de tal forma grave, afeta-a de forma tão radical, que nunca vai
desaparecer. Para ter em vigor uma norma que toda a gente deseja, é preciso fazer uma
revisão constitucional e aprovar uma lei igual à anterior. Só renovando a vontade do
legislador é que é possível manter uma norma que era originariamente inconstitucional.
Ou seja, se se quiser, de facto, manter essas normas ordinárias na ordem jurídica, então
tem que se proceder à elaboração de um novo processo legislativo. O professor diz que
a Constituição é tão intocável, que uma vez tocada, fica inquinada para a vida, só uma
nova norma, embora igual à anterior, a pode salvar.
• Prof. Rui Medeiros: usa o argumento da economia de meios para dizer que, se essa é
a vontade do legislador, então essa vontade deve ser respeitada. Há aqui um problema
de economia de meios. Pretende que se deve atribuir à revisão constitucional o efeito
de sanar o vício da constituição anterior, caso em que ela passaria a ignorar validamente
para o futuro.
No entanto, para dar início ao projeto revisão constitucional ordinária ® Basta apenas
um deputado apresentar o projeto de revisão constitucional.
O art.º 286º nº3 onde “O PR não pode recusar a promulgação da lei de revisão” explica-
se por este não se poder recusar a promulgar A LEI DE REVISÃO, no entanto, à contrário
sensu, o PR pode-se recusar a promulgar algo que não seja a LEI DE REVISÃO. = Isto tudo
5 requisitos formais que têm de estar preenchidos para que a revisão constitucional
seja válida:
• Iniciativa dos deputados
• 5 anos ou 4/5
• Maioria de 2/3
• Intencionalidade
• Limites circunstanciais (art. º289) - Apesar da nossa constituição proibir estritamente
a revisão constitucional num estado de sítio ou estado de emergência, esta é sempre
desaconselhada porque não é um período de normalidade constitucional. A constituição
não está a funcionar na sua normalidade e assim teme-se mudanças que poderiam ser
feitas não se vinculem, também, à normalidade.
Ter em atenção que são precisos dois processos de revisão. 1º para eliminar o limite de
revisão material. 2º para instituir a norma. Então ficaríamos dependentes dos
deputados que estivessem em exercício de funções 5 anos depois? Não, podemos
convocar uma revisão extraordinária.
Revisão constitucional
Artigo 284.º
Competência e tempo de revisão
1. A Assembleia da República pode rever a Constituição decorridos cinco anos sobre
a data da publicação da última lei de revisão ordinária.
- Limites temporais para a revisão= 5 em 5 anos
Assim, é preciso fazer uma distinção muito clara entre iniciativa (como é que a
proposta nasce) e a aprovação da lei de revisão (como é que ela é aprovada):
• Revisão ordinária:
-Iniciativa: é necessário 1 deputado
-Aprovação: maioria de 2/3 (art.º 286º nº1)
• Revisão extraordinária:
-Iniciativa: é necessário 1 deputado + uma maioria de 4/5
-Aprovação: maioria de 2/3 (art.º 286º nº1)
Artigo 285.º
Iniciativa da revisão
1. A iniciativa da revisão compete aos Deputados.
- Só deputados podem dar início ao processo de revisão. (exs: governo, PR,
associação de moradores não tem iniciativa.)
2. Apresentado um projeto de revisão constitucional, quaisquer outros terão de ser
apresentados no prazo de trinta dias.
- Uma vez apresentado um projeto, os outros projetos têm de ser apresentados no
prazo de 30 dias – para respeitar o limite temporal de 5 anos (se não nunca se
encerrava o projeto de revisão porque havia sempre pessoas a apresentar projetos).
Artigo 286.º
Aprovação e promulgação
1. As alterações da Constituição são aprovadas por maioria de dois terços dos
Deputados em efetividade de funções.
Artigo 287.º
Novo texto da Constituição
1. As alterações da Constituição serão inseridas no lugar próprio, mediante as
substituições, as supressões e os aditamentos necessários.
- Há renumeração total.
2. A Constituição, no seu novo texto, será publicada conjuntamente com a lei de
revisão.
Artigo 288.º
Limites materiais da revisão
As leis de revisão constitucional terão de respeitar:
a) A independência nacional e a unidade do Estado;
b) A forma republicana de governo;
c) A separação das Igrejas do Estado;
d) Os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos;
e) Os direitos dos trabalhadores, das comissões de trabalhadores e das
associações sindicais;
f) A coexistência do sector público, do sector privado e do sector cooperativo e
social de propriedade dos meios de produção;
- Esta alínea é alvo de discussão porque não é a ideia de direito que temos hoje.
Não pode ser praticado nenhum ato de revisão constitucional na vigência de estado
de sítio ou de estado de emergência.
- Desaconselha-se, apesar da nossa constituição também o proibir, porque não é um
período de normalidade constitucional.
- A rigidez do nosso texto não passa apenas pela previsão de limites de natureza
procedimental, mas também pela existência de limites materiais.
- Artigo 288o CRP: contém uma lista bastante alargada de matérias – o que contribui
para a rigidez da nossa constituição. Quanto maior o elenco de matérias em relação aos
quais não pode haver alterações, maior a rigidez será a sua rigidez.
- Qual é legitimidade de uma geração para condicionar as gerações futuras nas suas
opções? Não é isso que se trata quando se inclui uma norma destas na Constituição?
Quando quem elabora a constituição estabelece um conjunto de matérias às quais
atribui a força de limites de revisão constitucional, no fundo está a dizer que estes são
princípios fundamentais que presidiram à elaboração desta constituição. Enquanto esta
constituição se mantiver, estes limites são inalteráveis. Se pretendem alterar esta ideia
de direito, muda-se de constituição.
- O Prof. Jorge Miranda distingue limites de 1o grau de limites de 2o grau (Prof. GM: ele
está a reconhecer que o artigo 288o foi além daquilo que devia ter ido):
• Limites de 1o grau: limites que correspondem verdadeiramente à ideia de
direito
• Limites de 2o grau: limites que não correspondem verdadeiramente à ideia de
direito. Só são limites de revisão constitucional porque e enquanto lá estão
previstos.
- O que é que acontece se o artigo 288o for eliminado ou se algumas alíneas deste artigo
forem revogadas? O legislador de revisão não está impedido de revogar o artigo 288o
Prof. Jorge Miranda: são precisos dois momentos para eliminar os limites à revisão – um
em que se elimina o limite (artigo 288o), e outro em que se altera a própria matéria (o
artigo relativo à matéria). Este processo não coloca nenhum problema constitucional
quanto aos limites de 2o grau. Quanto aos limites de 1o grau, na primeira revisão esse
limite não foi verdadeiramente eliminado, ele permanece lá, e, portanto, quando na
segunda revisão se vai alterar a matéria, o limite permanece lá – isto é uma transição
constitucional (pois altera-se a ideia de direito e surge uma nova Constituição).
- Na verdade, não é preciso haver uma revolução para constituição de uma nova ideia
de direito e de uma nova constituição – por via da revisão constitucional.
- No momento da promulgação, o PR não pode fazer nada quanto aos dois casos (limites
de 1o grau de 2o grau). Depois, é que poderá pedir a fiscalização sucessiva quanto aos
limites de 1o grau.
- Dificuldade:
• Quando a Constituição contém uma norma-regra, é claro que o legislador não a pode
contrariar, e isso é bastante evidente – ex: quando a CRP estabelece que para ser PR é
preciso ter mais de 35 anos e posteriormente a lei eleitoral estipule que para ser PR são
precisos mais de 20 anos, isto é inconstitucional.
Princípio basilar.
Resulta de vários artigos da nossa Constituição – desde logo, o artigo 1o: a república
portuguesa é baseada na dignidade da pessoa humana.
A dignidade da pessoa humana tem várias dimensões: começa com a proteção da vida
(a vida humana é inviolável, artigo 24º - esta é uma regra), e depois há derivações da
dignidade da pessoa humana, essas mais principiológicas – exs: que as pessoas tenham
uma vida digna (acesso aos bens fundamentais, autonomia e proteção contra a
exploração); princípio à autodeterminação pessoal (direito que resulta da dignidade da
pessoa humana para cada um se autodeterminar como entender - inclui aspetos como,
por exemplo, tatuagens e piercings); direito ao livre desenvolvimento da personalidade;
proibições de tortura; etc.
b. Igualdade
É preciso tratar o que é igual de forma igual e de forma diferente o que é diferente, na
exata medida da diferença.
Artigo 13o: qual é a razão para se enumerarem estas várias realidades no nº2? Porque
estas categorias são aquelas que historicamente têm disso principais objetos de
discriminação. Assim, as categorias mencionadas são aqui incluídas como categorias
suspeitas.
Ex: idosos querem contratar uma mulher portuguesa para tomar conta deles; um
banco quer contratar só homens para trabalhar no banco; o estado concede um
subsídio só a homens com filhos. Não se pode levar o princípio da igualdade ao
extremo quando estamos a falar de uma situação íntima como ter alguém em
Não é proibido discriminar, ou seja, tratar de forma diferente. Mas quem trata de forma
diferente tem de estar preparado para justificar essa diferença – fundamento material.
c. Proporcionalidade
• Adequação – o meio tem de ser apto a atingir o fim que se pretende. Aqui já
decidimos que aquele meio é necessário, mas a medida tem de ser razoável /
adequada ao fim que se pretende atingir. Não pode ser excessiva (proibição de
excesso). Ex: o terreno da família é enorme e o hospital só precisa de uma parte,
-Certeza como conhecimento exato das normas aplicáveis, da sua vigência, das suas
condições de aplicação e da fixação do comportamento dos destinatários.
-Estabilidade, como garantia de um mínimo de permanência das normas, por uma parte,
e garantia dos atos e dos efeitos jurídicos produzidos por outra parte.
e. Socialidade
Traduz uma ideia de constituição social, isto é, uma constituição que protege direitos
sociais.
É um princípio que nasce com o estado social, próprio deste. A ideia que o estado
assegura aos cidadãos as suas necessidades mais básicas, “from birth to the grave”,
sejam estas saúde, educação, habitação.
Este princípio tem sofrido uma grande evolução no que diz respeito à parte da
constituição referente aos direitos económicos, culturais e sociais.
Questões:
Limites:
• O princípio da socialidade é um princípio que tem de estar sujeito às mesmas
regras que estão sujeitas as próprias normas programáticas que o subjazem –
reserva do financeiramente possível. O estado social terá a dimensão que for a
cada momento financeiramente possível para o estado. O estado social não é
algo absoluto porque ele depende dessas condições financeiras. Mas essas
restrições não podem ir ao ponto de aniquilar/destruir o estado social.
NOTAS:
Um governo que tem maioria parlamentar não tem problemas de reserva de
administração uma vez que não há coligações negativas, aprovando assim, o que
lhe apetece. Num governo minoritário, a AR pode unir-se para aprovar matérias
contrárias aos interesses do governo, por isso já interesse há reserva de
administração.
Pode haver uma lei em sentido material que não seja uma lei em sentido formal?
Sim. Regulamento da escola tem generalidade e abstração, mas não é formal porque
não foi aprovado por nenhum órgão com competência legislativa.
Tem que haver sempre legitimidade legislativa para a aprovação de atos normativos.
Deve haver um ato legislativo que permita a aprovação de atos normativos.
Professor Jorge Miranda alerta que as leis-medidas têm um limite. Como não têm
generalidade e abstração, jamais podem violar o princípio da igualdade. Estas leis devem
ter, portanto especial atenção. Há, portanto, um esforço especial do legislador para
justificar estas leis-medida. – Porque estas são uma “exceção” à regra. Por exemplo:
situação com o BPN era uma situação de tal forma única que se justificava à luz do
princípio da igualdade esta lei medida.
Lei medida é um 2 em 1: pode ser impugnada como lei (pelo tribunal constitucional) e
como ato administrativo (pelos particulares – uma vez que estes não têm acesso direto
ao tribunal constitucional). 268 nº4.
Limites dos poderes legislativos – como todos sabemos há uma separação de poderes
entre o poder legislativo e o poder executivo. O que é que acontece se o poder
executivo invadir o poder legislativo? Viola princípio da separação de poderes e sobre
pena de ilegalidade. Lei é o limite e o fundamento de toda a atuação publico-
administrativa. Não se pode fazer o que a lei proíbe como aquilo que a lei não permite.
A questão é saber se haverá matérias que são próprias do poder administrativo e que
o poder legislativo não pode intervir (reserva de administração). Poder legislativo não
pode intervir. Ex: quando as coligações negativas legislam sobre a reserva
administrativa – havendo, portanto, um comprometimento do princípio da separação
de poderes. Quando a assembleia em coligação negativa (porque queria ser popular)
aumentou os números de vagas do ensino (uma decisão que deve ser administrativa no
sentido em que é preciso saber nº de cadeiras salas etc.) No entanto o tribunal
considerou que não que não interferia em reserva administrativa.
®Normas referentes ao poder administrativo têm que estar subordinados à lei. (art.º
112 CRP)
Artigo 112.º
Atos normativos
1. São atos legislativos as leis, os decretos-leis e os decretos legislativos
regionais.
Obedece ao princípio da tipicidade, ou seja, são estes os atos e mais nenhuns.
Diz respeito às leis de valor reforçado – leis que têm um valor superior às outras.
Dois tipos:
• Lei de valores reforçado pelo procedimento: constituição estabelece um
procedimento mais exigente de aprovação imposto pela constituição.
Ex: leis orgânicas e as que carecem de aprovação por maioria de 2/3.
® Orgânicas: São leis que são definidas pela constituição e têm um
procedimento especial de aprovação. O seu conceito técnico-constitucional
estão definidas no art.º 166 nº2.
O seu regime agravado de aprovação está presente no art.º 168 nº 5. Voto
favorável de 116 deputados (maioria absoluta dos deputados em
efetividade de funções).
As “leis orgânicas” do governo são umas falsas leis orgânicas. É importante
não confundir.
® Leis que carecem de aprovação por maioria de 2/3 PRESENTES:
São as que estão elencadas no art.º 168 nº6. O seu regime de aprovação
depende de 2/3 dos deputados presentes (desde que superior a 116).
O valor reforçado destas leis traduz-se pelo facto de não poder ser revogado por
leis ordinárias. Assim, para revogar uma lei orgânica será necessária uma lei de
valor reforçado, uma lei orgânica.
® Que por outras devem ser respeitadas (leis quadro): Aquela que deve
ser respeitada por outras.
Decretos legislativos têm âmbito regional – claramente que não legislam sobre o
âmbito nacional.
5. Nenhuma lei pode criar outras categorias de atos legislativos ou conferir a atos
de outra natureza o poder de, com eficácia externa, interpretar, integrar, modificar,
suspender ou revogar qualquer dos seus preceitos.
Norma é muitas vezes denominada de “proibição de regulamento delegado”:
® Este art.º vem reforçar o princípio da tipicidade (nº1) – “nenhuma lei pode vir
criar outros atos legislativos”.
Quaisquer outras normas têm que estar sujeitas, submetidas, aos atos legislativos.
Nenhuma lei pode conferir a atos de outra natureza (regulamentos) com eficácia
externa interpretar, integrar, modificar, suspender ou revogar qualquer dos seus
preceitos. Toda a gente tem o poder de interpretar uma lei, mas esta não pode ter
eficácia externa (não pode ser imposto aos cidadãos), apenas interna.
Caso uma lei incorra nesse erro, é inconstitucional.
“Qual a diferença entre regulamento delegado e deslegalização?” – Pergunta
importantíssima de oral
® Regulamento delegado consiste em a lei atribuir a um ato de outra natureza o
poder de com eficácia externa interpretar, integrar, modificar, suspender ou
revogar qualquer dos seus preceitos - é inconstitucional.
® No entanto esta “regra” não deve ser levada ao limite pois leis e decretos-leis
têm o mesmo valor.
Reserva absoluta da AR art.º 164: só a AR pode legislar sobre estas matérias (mais
nenhum órgão pode).
® Matérias que dizem respeitem aos elementos fundamentais do Estado: povo,
território e poder político. Aqui está presente o que é essencial da estrutura do
Estado é matéria que está inscrita na reserva absoluta da AR.
® Esta lista é taxativa. São estas e não outras matérias.
®Princípio do primado da AR: A existência desta reserva é uma manifestação claro
do primado da competência da AR porque há um conjunto de matérias que estão
reservadas em absoluto para a AR que dizem respeito à organização fundamental
do Estado.
®Porque é que a AR tem primado? A AR tendo em conta o modo de eleição dos
seus deputados e a representatividade que possui, é o órgão que melhor representa
os cidadãos – tem pluralismo partidário, coisa que o governo pode não ter.
Reserva relativa da AR art.º 165º: À partida, existe uma reserva da AR para estas
matérias (competência exclusiva), mas esta pode autorizar o Governo (mas isto não
é uma competência partilhada) – artigo 165º CRP.
® Não é verdade que o artigo 164º trate de matérias mais importantes do que o
artigo 165º (veja-se a alínea B) respeitante a direitos, liberdades e garantias.
® O artigo 164º trata dos aspetos fundamentais da organização do Estado e o artigo
165º não trata diretamente de matérias relativas à organização do Estado.
As leis de bases podem ser apenas aprovadas pela AR ou também pode ser
por DL? -De acordo com o art.º 165, AR pode permitir a legislação de matéria
de leis de bases mediante autorização ao governo.
NOTAS:
Perguntas de oral:
- Quando começa a autorização? Quando a lei de autorização entra em vigor (findo o
prazo de vacatio legis.
- Quando caduca a lei de autorização legislativa? Quando passar o tempo que ela
própria determina.
- O que o governo tem de fazer para cumprir a autorização legislativa dentro do prazo?
Legislar. O governo legisla com a aprovação em conselho de ministros.
®Prof. Jorge Miranda: o que devia contar não é a aprovação em conselho de
ministros, mas o envio para promulgação do PR (o que conta é a data de entrada
na presidência da república) porque o Governo pode manipular a data da
aprovação em Conselho de Ministros. Prof. Gonçalo Matias: considera que o
Professor Jorge Miranda não tem razão e esta não é a posição seguida pelo TC (o
que conta para cumprir o prazo é o momento da aprovação em conselho
ministros) - por duas razões: este argumento parte de uma desconfiança total
em relação ao Governo (e não se pode partir deste pressuposto); não é verdade
- Artigo 165o/3: As autorizações legislativas não podem ser utilizadas mais de uma vez,
sem prejuízo da sua execução parcelada.
® A autorização legislativa caduca/esgota-se depois de ter sido utilizada – terá
que pedir uma nova autorização legislativa.
®Isto impede que o governo se arrependa e queira mudar.
®“sem prejuízo da sua execução parcelada” – o governo pode utilizar a
autorização legislativa parceladamente (ex: autorização sobre a matéria de
corrupção e autorização sobre o enriquecimento ilícito), às fatias/bocados. Mas
a parcela que esgotou está esgotada.
- Estes atos visam contribuir para a melhor decisão e controlar para a melhor
decisão (há intervenientes de contributo e há intervenientes de controlo).
- No fundo, temos uma multiplicidade de sujeitos e de atos todos com o mesmo
objetivo, contribuir para o melhor resultado possível. Porque vai ser um ato que
vai regular a vida das pessoas, por isso tem de ser o mais perfeito possível.
- Fase da iniciativa
• Artigo 167o CRP
- Fase da apreciação
• Uma vez dada a entrada a iniciativa, e sendo ela admitida e registada pelo PR, depois
ela passa para uma fase de apreciação, onde no fundo vai recolher contributos de várias
entidades.
• Essa apreciação pode ser interna (feita dentro do próprio parlamento, em comissão
em razão da matéria – as comissões fazem pareceres detalhados sobre os projetos) ou
externa (no próximo ponto).
- Fase da deliberação
NOTAS:
Quórum deliberativo: número mínimo de elementos para que o órgão possa decidir.
Para a assembleia da república poder deliberar tem de ter 116 deputados presentes.
-Fase da promulgação
®De um ponto de vista de Veto político: Pode utilizar este tipo de veto caso ultrapasse
o prazo de fiscalização de constitucionalidade. Ex: se entender que lei está mal
feita/juridicamente deficiente.
Prazos de veto:
®Para promulgar ou vetar a lei da AR tem o prazo de 20 dias;
®Para vetar Decretos-leis do governo tem 40 dias;
O que indica mais uma vez o primado da competência legislativa. Quase como
uma “via-verde” para a AR.
• Referenda – artigo 140o - Uma vez promulgado o diploma, este vai para referenda
ministerial. Esta é basicamente um resquício da monarquia (era utilizada como uma
Há ainda uma terceira figura dentro dos atos legislativos que são os atos legislativos
regionais e que correspondam à competência dos órgãos legislativos regionais.
Elas são dotadas de uma ampla autonomia político-administrativa, que tem vindo a ser
reforçada alargando por isso, o conjunto de matérias que se podem autorregular.
• Artigo 227o/1, al. b) – Até 2004 a reserva relativa de competência da AR estava vedada
às regiões autónomas. Depois da revisão constitucional, as ALR passam a poder ter
autorizações legislativas para legislar sobre matérias de competência relativa, mas não
sobre todas as matérias – há um conjunto de alíneas que estão excluídas (ver o preceito).
• Artigo 227o/1, al. c) – As ALR têm competência para desenvolver as bases das leis
gerais para o âmbito regional. – É desenvolvida por DLRegional.
• Artigo 227o/1, al. e) – Só pode ser alterada por iniciativa das assembleias Legislativas
regionais.
• Artigo 226/
1- A ARL tem iniciativa de âmbito regional relativamente aos projetos de estatutos
político-administrativos e de leis relativas à eleição dos deputados às ALR’s.
• Artigo 233o/
1 - Figura do representante da república – também criada em 2004 (antes era ministro
da república) – este desempenha para os DLR a mesma função do PR para as leis e
decretos-leis. Quem promulga ou veta os DLR não é o PR, mas o representante da
república – artigo 233o.
3 - Se a ALR confirmar o voto por maioria absoluta dos seus membros em efetividade de
funções, supera o veto e nestes termos, o Representante da República deverá assinar o
diploma no prazo de 8 dias a contar da sua receção.
• Artigo 234o - a dissolução dos órgãos já é feita pelo PR pois considera-se uma matéria
de projeção nacional.
V. Fiscalização da inconstitucionalidade
® O PR tem 8 dias para promover a fiscalização. Vai apara o TC, este tem 25 dias
O TC vai decidir o caso daquela senhora e a sua decisão vale apenas para
aquele caso concreto. Esgota-se neste caso, a norma não desaparece da
ordem jurídica.
Extra:
Julgamento de inconstitucionalidade: Ocorre na fiscalização sucessiva concreta ®
esgota-se no caso concreto, só se aplica àquele caso.
Declaração de inconstitucionalidade: Ocorre na fiscalização sucessiva abstrata ®tem
força obrigatória geral, torna-se nula para todos e desaparece do ordenamento jurídico.
3.PR tem 8 dias para requerer fiscalização preventiva (só começa a contar no dia
seguinte).
7. Quando PR recebe uma lei orgânica, está proibido de a promulgar durante 8 dias – de
forma que PM, e deputados também tenham de requerer fiscalização preventiva se
desejarem.
Mas PR tem de esperar pelos 8 dias para pedir fiscalização preventiva? Não, pode
mandar logo para o TC.
8. TC deve pronunciar-se no prazo de 25 dias (que pode ser encurtado pelo PR por
motivos de urgência.
2.a) É possível recorrer para tribunal constitucional por leis de valores reforçados –
violação de uma lei de valor reforçado.
c) Este artigo permite perceber que pela mera declaração em casos de fiscalização
concreta tem efeitos inter partes, mas quando haja sido julgada 3 vezes como
inconstitucional, pode haver uma fiscalização abstrata sucessiva.
Limitação dos efeitos de inconstitucionalidade “in futuro” – assumir que uma norma é
inconstitucional, mas a inconstitucionalidade estará salvaguardada no futuro por
algum tempo.
Art.º 282º
1. A declaração de inconstitucionalidade ou de ilegalidade destrói retroativamente
todos os efeitos.
Pergunta de oral:
Qualquer tribunal pode proceder à fiscalização da inconstitucionalidade? Qualquer
tribunal que tenha natureza jurisdicional pode proceder à fiscalização. Art.º 204º
É de exercício oficioso? Ou seja, mesmo que não seja suscitado por nenhuma das partes
tribunal pode fiscalizar a constitucionalidade da norma X, de maneira a não aplicar.
Que meios é que o cidadão dispõe para requerer a inconstitucionalidade de algo que
vai entrar em vigor? (pergunta de oral)
Petição ao provedor de justiça.