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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3
1 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO ...................................................................... 4
1.1 Formas de Governo ........................................................................................ 4

1.2 Formas de Estado .......................................................................................... 6

1.2.1 Características da Federação ....................................................................... 11

1.2.2 Os entes federativos do Brasil ...................................................................... 12

1.3 Repartição de competências ........................................................................ 16

1.4 Repartição em matéria administrativa .......................................................... 17

1.5 Repartição em matéria legislativa ................................................................. 18

2 ORGANIZAÇÃO DOS PODERES ............................................................... 22


2.1 Sistemas de Governo ................................................................................... 22

2.1.1 O Sistema no Brasil ...................................................................................... 27

2.2 Tripartição dos Poderes ................................................................................ 28

2.3 Poder Legislativo .......................................................................................... 29

2.3.1 Congresso Nacional ..................................................................................... 29

2.3.2 Câmara dos Deputados ................................................................................ 30

2.3.3 Senado Federal ............................................................................................ 30

2.3.4 Funções ........................................................................................................ 30

2.4 Poder Executivo............................................................................................ 33

2.4.1 Presidente e vice-presidente da República .................................................. 34

2.4.2 Ministros de Estado ...................................................................................... 38

1
2.5 Poder Judiciário ............................................................................................ 39

2.5.1 Estrutura do Poder Judiciário ....................................................................... 39

2.5.2 Divisão de competências .............................................................................. 39

2.5.3 Ingresso dos membros no Judiciário ............................................................ 42

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 44

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INTRODUÇÃO

Prezado aluno,

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.

Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa


disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.

A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser


seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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1 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

A Constituição é precisamente um conjunto de elementos essenciais que


compõem uma totalidade, pelo que uma das suas principais funções é estruturar o
Estado. A Constituição brasileira de 1988 estabeleceu a forma de Estado, que se
refere a estrutura da organização política; a forma de governo, que estrutura os órgãos
de governo e como se relacionam; e o sistema de governo, que se refere às relações
entre as instituições políticas. (DALLARI, 2005. p. 224. apud NUNES JR., 2019)

Nesse conjunto, deve conter os elementos integrantes (componentes ou


constitutivos) do Estado, quais sejam:

Nesses termos, Dalmo de Abreu Dallari define Estado como “a ordem jurídica
soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado em determinado
território. Nesse conceito se acham presentes todos os elementos que
compõem o Estado, e só esses elementos. A noção de poder está implícita
na de soberania, que, no entanto, é referida como característica da própria
ordem jurídica. A politicidade do Estado é afirmada na referência expressa ao
bem comum, com a vinculação deste a um certo povo e, finalmente, a
territorialidade, limitadora da ação jurídica e política do Estado, está presente
na menção a determinado território”. (DALLARI. p. 118. apud LENZA, 2021)

1.1 Formas de Governo

Prevalece nos dias atuais a classificação dualista trazida por Maquiavel em ‘O


Príncipe’, de que todos os estados ou domínios que exercem ou exerceram poder
sobre um povo são Repúblicas ou Principados (Monarquia).

1) Monarquia:

Se caracteriza por três pontos fundamentais:

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a) Vitaliciedade: O monarca não exerce seu poder por um determinado período de
tempo, mas sim enquanto viver ou mantiver condições de governar, podendo também
abdicar., pelo que o próximo da linha sucessória assumirá a posição.

b) Hereditariedade: Em caso de morte ou abdicação, a escolha do próximo monarca


não se dará por voto popular, mas pela sucessão hereditária.

c) Irresponsabilidade: O monarca não possui responsabilidade política. Conforme


disposto no art. 99 da Constituição Imperial do Brasil, “a Pessoa do Imperador é
inviolavel, e Sagrada: Elle não está sujeito a responsabilidade alguma.” [sic.] (BRAZIL,
1824)

Para os monarquistas, tal forma de governo possui a vantagem de ter um chefe


de estado distanciado de disputas políticas cíclicas, sendo possível conferir unidade
ao país. Mas para os republicanos, a monarquia é, em regra, antidemocrática, cara e,
por depender de características subjetivas do monarca, poderia este ser tanto uma
pessoa ponderada quanto um déspota. Assim, tal forma vem sendo abandonada ou
pelo menos relativizada ao longo do tempo, de uma monarquia absolutista (onde o(a)
monarca não precisa prestar contas a um parlamento) para uma constitucional (onde
o(a) monarca é chefe de Estado mas não é chefe de governo, cargo este exercido por
um(a) primeiro-ministro(a) – nomeado(a) com o apoio e muitas vezes à escolha do
parlamento –, ambos(as) com suas funções descritas em uma constituição).

2) República:

A República, etimologicamente do latim res publica (coisa pública), surgiu ainda


na antiguidade e constitui uma “forma de governo que se opõe à monarquia, tem um
sentido muito próximo do significado de democracia, uma vez que indica a
possibilidade de participação do povo no governo. [...]” (DALLARI. apud NUNES JR.,
2019). Fundamentalmente se caracteriza por três pontos mantidos desde o sec. XVII:

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a) Temporariedade: O chefe do governo recebe um mandato com determinado prazo
e, para evitar repetidas eleições da mesma pessoa criando similaridade com
monarquia, introduziu-se a vedação de reeleições sucessivas.

b) Eletividade: O chefe do governo é eleito pelo povo, pelo que a sucessão hereditária
ou qualquer forma que impossibilite o povo de participar das eleições não são
admitidas.

c) Responsabilidade: O chefe do governo é politicamente responsável por seus atos,


o que significa que deve prestar contas diretamente ao povo ou órgão representativo.

A República é a forma adotada pelo Estado brasileiro desde 15 de novembro


de 1889 e é importante destacar que:

[...] embora não seja uma cláusula pétrea expressa, segundo a doutrina
francamente majoritária e segundo o Supremo Tribunal Federal, a República
é uma cláusula pétrea implícita. Até mesmo José Afonso da Silva, único
constitucionalista de escol que adotava posição diversa, mudou de opinião
em edições mais recentes de seu Curso de Direito Constitucional.
Segundo o autor: “Os fundamentos que justificam a inclusão da República
entre as cláusulas intangíveis continuam presentes na Constituição, que só
os afastou por um momento, a fim de que o povo decidisse sobre ela. Como
o povo o fez no sentido de sua preservação, todos aqueles fundamentos
readquiriram plena eficácia de cláusulas intocáveis por via de emenda
constitucional. Não se trata, no caso, de simples limitação implícita, mas de
limitação que encontra no contexto constitucional seus fundamentos, tanto
quanto o encontraria se a limitação fosse expressa”. Nesse mesmo sentido
posiciona-se Gilmar Ferreira Mendes: “A periodicidade dos mandatos é
consequência do voto periódico estabelecido como cláusula pétrea. Uma
emenda não está legitimada para transformar cargos políticos que o
constituinte originário previu como suscetíveis de eleição em cargos vitalícios
ou hereditários. Isso, aliado também à decisão do poder constituinte originário
colhida das urnas do plebiscito de 1993 sobre a forma de governo, gera
obstáculo a uma emenda monarquista” [...] (SILVA; MENDES. apud NUNES
JR., 2019)

1.2 Formas de Estado

Como mencionado, as formas de Estado se relacionam diretamente com a


estrutura da organização política. São elas:

- Estado Composto:

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1) Federação: Quando há divisão espacial de poderes (são repartidos no espaço
territorial), vários centros de poder autônomo convivem distribuídos regionalmente. É
regida por uma constituição e não pode ser dissolvida (não há direito de secessão).

2) Confederação: Quando vários entes soberanos se unem, seja por razões


econômicas, seja por razões de segurança interna ou de defesa externa. É importante
destacar que a soberania se mantém com cada entidade confederada, mesmo após
o vínculo. É regida por um tratado internacional e pode ser dissolvida (caso desejem,
os entes podem se desligar da confederação).

Segundo Darcy Azambuja, Confederação “é a união permanente e contratual


de Estados independentes que se unem com o objetivo de defender o
território da Confederação e assegurar a paz interior, além de outras
finalidades que podem ser pactuadas. Essa união, para atingir seus objetivos,
necessita uma organização permanente, mas não fere a soberania dos
Estados confederados, que apenas se obrigam a exercer em comum certas
funções ou a exercê-las em casos determinados. Essas funções geralmente
se referem ao Direito internacional, como o direito de paz e de guerra,
conclusão de tratados etc.” (AZAMBUJA. apud NUNES JR., 2019)

- Estado Unitário ou Simples: Quando há um poder central, sendo a cúpula e o centro


do poder político, existindo, portanto, unidade de poder sobre o território, pessoas e
bens. Por sua vez, é classificados em:

1) Estado Unitário Puro

Quando existe apenas um poder legislativo, um poder executivo e um poder


judicial, todos eles centralmente localizados na capital. Todas as autoridades
executivas e judiciárias existentes na extensão do Estado são delegações da
autoridade central de onde retiram o seu poder; é ele quem os nomeia e determina
suas atribuições. O poder legislativo de um Estado unitário é único, não há outro órgão
com competência para legislar. O estado puramente unitário é aquele em que o
governo nacional, ainda que haja circunscrições, assume a gestão de todos os
serviços que se estendem uniformemente a todo o território, a todas as autoridades e
à criação de órgãos centrais. Tal modelo só seria praticável em um pequeno território,

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com uma pequena população, como, por exemplo, o Vaticano, que se tornou
soberano em 1929 com a assinatura do Tratado de Latrão.

2) Estado Unitário Desconcentrado

Quando ocorre desconcentração administrativa territorial, ou seja, os órgãos


territoriais não possuem personalidade jurídica própria, logo, não têm autonomia, não
sendo permitido que se tome decisões sem interveniência do poder central.

Como lembra José Luiz Quadros de Magalhães, “o modelo meramente


desconcentrado aproxima a administração da população e dos diversos
problemas comuns as esferas territoriais diferentes. Entretanto, como toda
decisão depende do Poder Central, torna-se lento. Os Estados democráticos
avançados não mais adotam esse modelo, que permanece apenas em
estados autoritários”. (MAGALHÃES. apud NUNES JR., 2019)

3) Estado Unitário Descentralizado

Como sugere a doutrina, trata-se de uma evolução dos estados


desconcentrados, uma vez que as unidades desconcentradas foram dotadas de
personalidade jurídica própria, com competências administrativas que lhes são
conferidas pela legislação nacional. A descentralização pode ser administrativa ou
política:

a) Administrativa

Diz respeito aos serviços públicos. De acordo com Sahid Maluf, “embora
descentralizados em municípios, distritos ou departamentos, tais divisões são de
direito administrativo. Não têm esses organismos menores uma autonomia política”.
(MALUF. apud NUNES JR, 2019)

b) Política

“Consiste na atribuição de funções políticas aos órgãos regionais ou locais, com


o intuito de dar maior participação aos cidadãos nos poderes estatais”. (AZAMBUJA.
apud NUNES JR., 2019)

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Como lembra José Luiz Quadros de Magalhães, “não é necessário se
reportar ao Poder central. [...] Quanto mais competências forem transferidas
para os entes descentralizados, mais ágil e mais democrática a
administração. A doutrina europeia tem ressaltado a necessidade da eleição
de órgãos dirigentes dos entes territoriais descentralizados como
característica essencial de sua autonomia em relação ao poder central”.
(MAGALHÃES. apud NUNES JR., 2019)

Entre um e outro, parte da doutrina identifica outras formas de Estado: Regional


(Itália) e o Autonômico (Espanha).

- Estado Regional: Menos centralizado que o Estado Unitário, mas sem chegar ao
extremo da descentralização federal. É uma forma intermediária, tentando conciliar a
ideia de descentralização ou autonomia. Geralmente tem subdivisões territoriais
chamadas regiões. Também é frequentemente referido como um Estado Unitário com
autogoverno.

Para para alguns doutrinadores, não há diferença fundamental com o Estado


Federal: Enquanto neste os estados decidem transferir parte de seus poderes para o
governo federal, no regional é o estado central que atribui seus poderes às unidades
subnacionais que o compõe. A diferença estaria no grau de descentralização ou no
número de poderes delegados às regiões e na forma como são delegados. No Federal
apenas são transferidos poderes administrativos, no Regional as regiões também têm
poderes legislativos ordinários concedidos por lei nacional, esta que amplia e reduz
essa autonomia.

Como principal exemplo de Estado Regional, há Itália que, embora sua


constituição a designe como Estado Unitário, foram introduzidos regionalismos
autônomos. Existem 4 níveis de competência administrativa (estado nacional, região,
província e comuna), 2 níveis de competência legislativa ordinária (nacional e
regional) e um 1 judiciário unitário, porém descentralizado.

- Estado Autonômico: Difere do estado regional essencialmente na forma como se


constitui a influência do poder regional: No estado regional, a legitimidade e
descentralização do poder das regiões se constroem pelo estado unitário e se

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distribuem nas partes menores da nação, "de cima para baixo". Ao contrário ocorre
um grau de organização “de baixo para cima” no modelo autônomo de forma a
oferecer às unidades autônomas um maior grau de representação. As províncias se
unem para formar uma região e, por meio de uma assembleia, elaboram o seu estatuto
de autonomia, que assumirá todas as competências delegáveis pelo poder central (as
que a região não aceitar, permanecem com o poder central nacional). Esse estatuto
deverá passar pela aprovação do Parlamento espanhol.

Temos como exemplo a Espanha e seu criativo modelo resultado da


constituição de 1978. O país é conhecido pelo rico pluralismo cultural, possuindo
inclusive quatro línguas reconhecidas constitucionalmente (castelhano, galego, basco
e catalão), e possui várias comunidades autônomas – CA (Andaluzia, Galícia,
Catalunha, Astúrias, Aragão, Navarra, País Basco, etc.), que são unidades territoriais
administrativas com determinadas competências administrativas, representantes
próprios e certa autonomia legislativa e executiva. Os órgãos básicos comuns a todas
elas são: 1 Assembleia Legislativa (eleita por sufrágio universal), 1 Conselho de
Governo, com funções executivas, e 1 presidente da CA, que detém a máxima
representação da comunidade (eleito pela Assembleia Legislativa).

Tanto no Estado Autonômico quanto no Regional, não há que se falar em poder


constituinte decorrente, o que implica a descentralização das competências
legislativas constitucionais, esta só ocorrendo no Estado Federal.

Percebe-se, contudo, que a clássica distinção entre Estado Unitário e Federal


está superada, pois se tornou insuficiente para a distinção dos Estados
contemporâneos, devido sua complexidade. A efetiva descentralização territorial é
cada vez mais valorizada em todo o mundo, como forma de aumentar a agilidade, a
eficiência e, acima de tudo, a democracia e o respeito à diversidade cultural, o que
torna possível encontrar soluções criativas para manutenção do sentimento de
cidadania.

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1.2.1 Características da Federação
Com as formas apresentadas, passemos então a um melhor detalhamento da
forma federativa, a adotada atualmente no Brasil.

A palavra "federação" vem do latim foedus, foederis, que significa pacto, aliança.
A federação se caracteriza pela coexistência de um poder soberano e várias forças
políticas autônomas unidas por uma constituição. Ou seja, os entes são autônomos,
mas ao contrário da confederação, existe apenas um poder soberano.

O ente soberano tem poder supremo na ordem interna e independente na ordem


externa, podendo estabelecer relações e acordos conforme lhe convir, e o poder
autônomo é o conferido aos outros para auto-organização, legislação e administração
próprias, dentro dos limites impostos pelo poder soberano.

Assim, estabelecido o pacto federativo, os estados membros renunciam à parte


das competências legislativas e administrativas. No Brasil, tal renúncia está firmada
no arts. 1º e 18 da Constituição Federal.

Além disso, a Constituição deve estabelecer os seguintes princípios:


• os cidadãos dos diversos Estados-membros aderentes à Federação devem
possuir a nacionalidade única dessa;
• repartição constitucional de competências entre a União, Estados-membros,
Distrito Federal e município;
• necessidade de que cada ente federativo possua uma esfera de
competência tributária que lhe garanta renda própria;
• poder de auto-organização dos Estados-membros, Distrito Federal e
municípios, atribuindo-lhes autonomia constitucional;
• possibilidade constitucional excepcional e taxativa de intervenção federal,
para manutenção do equilíbrio federativo;
• participação dos Estados no Poder Legislativo Federal, de forma a permitir-
se a ingerência de sua vontade na formação da legislação federal;
• possibilidade de criação de novo Estado ou modificação territorial de Estado
existente dependendo da aquiescência da população do Estado afetado;
• a existência de um órgão de cúpula do Poder Judiciário para interpretação
e proteção da Constituição Federal.
Note-se que, expressamente, o legislador constituinte determinou a
impossibilidade de qualquer proposta de emenda constitucional tendente a
abolir a Federação (CF, art. 60, § 4º, I). (MORAES, 2020)

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1.2.2 Os entes federativos do Brasil
1.2.2.1 União

Seguindo o entendimento de Moraes, a União é um ente federativo autônomo


em relação aos estados membros e municípios, que se constitui pessoa jurídica de
Direito Público Interno e é responsável pelo exercício dos poderes soberanos do
Estado brasileiro.

Não se confunde com o Estado Federal, pessoa jurídica de direito internacional


e composto conjuntamente pela União, Estados-membros, Distrito Federal e
municípios.

A União pode agir tanto em nome próprio quanto em nome da Federação, se


neste último caso se relaciona com outros países.

Os bens pertencentes à União estão elencados no art. 20 da Constituição


Federal.

1.2.2.2 Estados-membros

“A autonomia dos Estados-membros caracteriza-se pela denominada tríplice


capacidade de auto-organização e normatização própria, autogoverno e
autoadministração.” (MORAES, 2020)

1) Auto-organização e normatização própria

Efeito do exercício do poder constituinte derivado-decorrente: Possibilita a


edição de Constituições Estaduais e, em consequência, de legislação própria (art. 25),
respeitando:

a) Princípios constitucionais sensíveis: São os que, se violados, podem resultar em


intervenção federal. Estão previstos no art. 34, VII, da Constituição Federal.

b) Princípios federais extensíveis: São as normas centrais que a União, os estados, o


DF e os municípios têm em comum, o que significa que todos devem respeitá-las. Ex.:

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art. 1º, I a V; art. 2º, art. 3º, I a IV; art. 4º, I a X; art. 5º, I, II, III, VI, VIII, IX, XI, XII, XX,
XXII, XXIII, XXXVI, LIV E LVII; arts. 6º a 11, art. 93, I a XI; art. 95, I a III.

c) Princípios constitucionais estabelecidos: Certas normas difundidas no texto da CF


que organizam a Federação e estipulam preceitos centrais de cumprimento obrigatório
dos estados em sua auto-organização. Se dividem em normas de competência (ex.:
arts. 23, 24, 25, 27 § 3º) e normas de preordenação (ex: arts. 27, 28, 37 I a XXO, §§
1º a 6º, arts. 39 a 41).

2) Autogoverno

A Constituição prevê os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário no âmbito


estadual (respectivamente arts. 27, 28 e 125). É a população do Estado que elege
seus representantes do Executivo e Legislativo locais.

3) Autoadministração

Os Estados membros possuem poder de autoadministração no âmbito de suas


competências administrativas, legislativas e tributárias constitucionalmente
instituídas. Ressalte-se que o exercício tributário implica na existência de recursos
mínimos obtidos através de sua própria competência.

Também podem estabelecer agrupamentos de municípios limítrofes (formando


regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões), através de lei
complementar, para integralização da organização, planejamento e execuções
públicas de interesse comum, com o objetivo de encontrar soluções para seus
problemas ou necessidades. (art. 25, § 3º da CF)

1.2.2.2.1 Formação dos Estados

A Constituição admite a transformação dos estados com possibilidade de


criação de novos. (art. 18, § 3º) As hipóteses de alteração da divisão interna do
território brasileiro são:

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a) Incorporação ou fusão: Dois ou mais Estados se unem sob um nome diferente, a
personalidade jurídica original de cada um se extingue e uma nova é criada.

b) Subdivisão: O Estado é dividido em duas ou mais partes. A personalidade jurídica


original se extingue e novas são criadas (novos Estados).

c) Desmembramento – anexação: consiste em separar uma parte do território de um


estado junto com sua população se anexando a outro já existente, sem que nenhum
perca sua personalidade original, não havendo, portanto, modificação de
personalidade.

d) Desmembramento – formação: Consiste em separar uma parte territorial e


populacional de um estado e um novo estado ou território é formado com a parte
fragmentada. Assim, o estado original permanece como antes, mas com menos
território e população, e o novo estado terá uma nova personalidade jurídica. É o que
ocorreu no caso do Tocantins (ADCT, art. 13).

1.2.2.3 Municípios

Conforme a Constituição brasileira, os municípios são entidades federativas


indispensáveis e têm plena autonomia (art. 1º, 18, 29, 30 e 34, VII, c). Nenhuma das
constituições contemporâneas do mundo atribuiu tal importância.

A autonomia do município é semelhante à estadual:

1) Capacidade de auto-organização e auto normatização (Lei Orgânica Municipal - art.


29 - e edição de leis municipais - art. 30).

2) Autogoverno (eleição de seu executivo e legislativo sem ingerência de outros


entes).

3) Autoadministração (realização autônoma das competências administrativa,


legislativa e tributária.

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1.2.2.3.1 Formação dos Municípios

O art. 18, § 4 da Constituição prevê as formalidades para a formação dos


municípios, tendo o seguinte procedimento:

1) Criação de Lei Complementar Federal que, de forma geral, estipula o prazo possível
para a constituição de novos municípios. A lei ainda não foi editada, pelo que o § 4 do
art. 18 possui eficácia limitada, dependendo, portanto, da complementação.

2) Lei ordinária federal que define os requisitos gerais aplicáveis, bem como a
apresentação e a publicação de estudos de viabilidade municipal.

3) Plebiscito com a população diretamente interessada, ou seja, a população do


distrito que se emancipa e se torna município e a população do município
desmembrado.

4) Lei ordinária estadual específica para a criação do novo município.

1.2.2.4 Distrito Federal

O Distrito federal também é um ente da federação (arts. 1º e 18) e possuidor


da tríplice capacidade de

1. Auto-organização e auto normatização (lei orgânica e edição de leis distritais - art.


32 caput)

2. Autogoverno (eleição de governador e vice, assim como deputados distritais para a


Câmara Legislativa - art. 32, § 2º e 3º).

3. Autoadministração (exerce suas capacidades legislativas, administrativas e


tributárias sem ingerência da União).

Embora não seja um estado ou município, o DF possui competências


legislativas e tributárias reservadas a estes (arts. 32, § 1º, e 147), a exceção do art.

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22, XVII (O Poder Judiciário do DF é gerido pela União, o que limita sua autonomia).
Também, é vedado ao DF se dividir em municípios (art. 32, caput).

1.2.2.5 Territórios

Os territórios não são entes independentes da Federação, por serem


descentralizações administrativas da União.

Atualmente não há mais territórios. Haviam três quando da promulgação da


Constituição em 1988: Amapá, Roraima e Fernando de Noronha.

Amapá e Roraima tornaram-se Estados Federados (art. 14, ADCT), e


Fernando de Noronha foi reintegrado ao estado de Pernambuco (art. 15, ADCT).

No entanto, a criação de territórios é prevista no art. 18, § 3 da CF, mediante


Lei Complementar.

1.3 Repartição de competências

Para garantir a autonomia entre os entes, é necessária a repartição de


competências legislativas, administrativas e tributárias, o que é feito pela própria CF,
observando o Princípio da Predominância do Interesse, que se manifesta da seguinte
forma:

Obs.: No DF, há exceção na organização do Judiciário, MP e Defensoria Pública (art.


22, XVII).

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Diante de tal princípio, quatro pontos são estabelecidos:

1) Reserva de áreas específicas de competência administrativa e legislativa:

- União: Poderes enumerados (arts. 21 e 22);

- Estados-membros: Poderes Remanescentes (art. 25, § 1º);

- Municípios: Poderes enumerados (art. 30);

- Distrito Federal: Poderes dos Estados + Municípios (art. 32, § 1º).

2) Possibilidade de delegação: Através de Lei complementar federal, a União pode


delegar matérias de sua competência privativa aos Estados, possibilitando que estes
legislem sobre o tema delegado (art. 22, parágrafo único).

3) Áreas comuns de atuação administrativa paralela: art. 23.

4) Áreas de atuação legislativa concorrente: art. 24.

1.4 Repartição em matéria administrativa

Competência Administrativa:

MORAES, 2020.

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Aos Estados cabe a competência remanescente, logo, o que não for da União
(art. 21), dos municípios (art. 30) e nem de competência comum (art. 23), é
competência dos Estados. Dessa forma, é conferido ao Estado uma maior autonomia,
já que a competência da União é numerus clausus e a dos Estados é aberta,
excetuando-se assim, apenas o previsto constitucionalmente (rol taxativo).

Quando às competências administrativas dos municípios (poderes


enumerados), somam-se a elas a regra geral do interesse local. E as do Distrito
Federal são as competências estaduais + competências municipais (art. 32, § 1º).

1.5 Repartição em matéria legislativa

- Competência privativa da União (art. 22)

É perceptível a supremacia da União ante os demais entes em matéria


legislativa. Esta é uma necessidade teórica e prática para manutenção da Federação.
Isso também proporciona uma hierarquia superior das leis federais sobre as leis
estaduais e municipais.

- Delegação de competência da União para os Estados

A teor ao art. 22, parágrafo único, a União pode delegar aos Estados matérias
legislativas privativas de sua competência. Para isso, deve respeitar três requisitos:

1) Requisito formal: A delegação deve ocorrer via lei complementar (votada por
maioria absoluta no Congresso Nacional)

2) Requisito material: A delegação só poderá se referir a um ponto em particular,


portanto a lei complementar que delega competência não pode ter um caráter geral,
mas específico, ou seja, determinadas matérias precisam ser identificados.

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3) Requisito implícito: Pelo art. 19, III, é vedado o tratamento preferencial entre os
entes federativos, de modo que, ao delegar competências legislativas, a União deve
fazê-lo indistintamente para todos os Estados membros, sob pena de violação do
princípio da igualdade.

- Competência concorrente entre União, Estados e DF

A doutrina divide a competência concorrente em:

a) Cumulativa: Não há limitações entre os entes, todos eles legislam livremente sobre
questões concorrentes.

b) Não cumulativa ou vertical: Há uma reserva superior de competência da União, que


define os princípios e normas gerais, cuja complementação fica a critério dos Estados
membros.

A Constituição brasileira adotou a segunda opção, de maneira que a


competência da União se limita a estabelecer regras gerais para o disposto no art. 24,
cabendo aos Estados e o DF especifica-las por meio de suas respectivas legislações
sobre as necessidades regionais. Essa é a denominada competência suplementar
(art. 24, § 2).

Desta forma, as incompatibilidades entre a legislação regional e nacional são


reduzidas.

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O rol do art. 24 é taxativo e suas matérias não podem ser delegadas aos demais
entes.

Se a União for indolente na promulgação da lei sobre as matérias do art. 24, os


estados e o DF terão competência supletiva para editar livremente a lei necessária.

A superveniência da lei federal nas matérias do Art. 24 suspende a eficácia


das leis regionais se as contradizerem, prevalecendo a hierarquia da legislação
federal.

- Competência dos Estados-membros

Competência remanescente ou reservada, pelo que o Estado deve legislar


sobre o que não lhe for vedado.

a) Vedações explícitas: Devem ser observados os princípios sensíveis (se violados,


podem acarretar em intervenção federal - art. 34, VII), estabelecidos (determinadas
normas distribuídas pelo texto da CF, que organizam a federação e estabelecem
preceitos de observância obrigatória - ex: arts. 23, 24, 27, 28, etc.) e federais
extensíveis (normas comuns à todos os entes - ex: art. 1º, I a V; art. 3º, I a IV, etc.)

A Constituição excepcionalmente elencou algumas competências para os


Estados: art. 18, § 4º; 25, § 2º e 3º.

b) Vedações implícitas: Art. 22 (União) e art. 30 (municípios).

* Transportes: A competência sobre comércio internacional, interestadual, trânsito e


transportes é exclusiva e atribuída à União (art. 22, VIII e XI), e à esta também é
conferida a possibilidade de explorar serviços de transporte rodoviário interestadual e
municipal (art. 21, XII, ‘e’). E aos municípios a exploração dos serviços de transporte
coletivo local (art. 30, V).

Cabe, portanto, à União organizar a política nacional de transportes e ao


município as regras de interesse local para os transportes coletivos. Os Estados são

20
responsáveis pela edição das normas de transito e transporte intermunicipal (art. 25,
§ 1) - Competência remanescente.

- Competência exclusiva e suplementar do Município

a) Competência genérica pela predominância do interesse local (art. 30, I): Os


interesses locais podem frequentemente andar de mãos dadas com os interesses
regionais e nacionais, pelo que as situações de conflito de leis têm de ser analisadas
caso a caso, considerando o princípio da predominância do interesse.

Ex.: Ordenação de uso do solo, coleta de lixo, polícia das edificações, horário de
funcionamento do comércio local, etc.

Obs.: O horário de funcionamento dos bancos é de competência da União, conforme


decisão do STF e STJ.

b) Competência para estabelecimento de Plano Diretor

O município pode estabelecer sua política de desenvolvimento urbano,


conforme a disposição da lei local (art. 182 e § 1º).

A competência municipal para determinar o cumprimento da função social da


propriedade imobiliária está disposta no art. 182, § 2º e 4º.

c) Competências enumeradas: Elencadas no art. 30, III a IX e art. 144, § 8º.

d) Competência suplementar

Disposta no art. 30, II, e estará sujeita ao princípio do interesse local.

- Competência reservada do Distrito Federal

Conforme art. 32, § 1º, ao DF são atribuídas cumulativamente as competências


de Estado e município, salvo o disposto no art. 22, XVII.

21
Logo, compete ao DF: Editar a própria lei orgânica (art. 32, caput), a
competência remanescente dos Estados-membros (art. 25, § 1º), a delegada pela
União (art. 22, parágrafo único), a concorrente-suplementar dos Estados-membros
(art. 24, §§ 2º e 3º), a enumerada do município (art. 30, I, II a IX) e a suplementar do
município (art. 30, II).

2 ORGANIZAÇÃO DOS PODERES

A teoria da separação dos poderes tornou-se matéria constitucional sob a


influência de Montesquieu, com o objetivo de garantir a liberdade dos indivíduos. Em
sua obra ‘O Espírito das Leis’ de 1748, Montesquieu afirma que não haveria liberdade
para o cidadão enquanto os poderes (legislativo, executivo e judiciário) estivessem
concentrados nas mãos de um mesmo órgão ou pessoa, uma vez que possibilita ao
governante criar leis tirânicas e executá-las sem maiores problemas. Assim, a teoria,
que evita governos absolutos, enraizada no séc. XVIII, foi reforçada no século XIX,
pela ideia de que poderes separados e especializados tornariam o Estado mais
eficiente.

2.1 Sistemas de Governo

Sistemas de governo “são técnicas que regem as relações entre o Poder


Legislativo e o Poder Executivo no exercício das funções governamentais.” (SILVA,
2013. p. 505)

Há quatro tipos de sistema de governo: Parlamentarismo, Presidencialismo,


Semipresidencialismo (sistema misto) e Sistema diretorial.

Sendo que o Parlamentarismo e o Presidencialismo são os que predominam


atualmente, pelo que discorreremos brevemente quanto aos restantes.

22
- Sistema diretorial

Segundo Sahid Maluf, “Sistema diretorial é aquele em que todo o poder de


Estado se concentra no parlamento, sendo a função executiva exercida por uma junta
governativa por delegação do mesmo parlamento”. (MALUF. apud NUNES JR., 2020)

Esse é o sistema adotado pela Suíça e possui as seguintes características


estruturais:

a) Existência um poder executivo colegial – um diretório – (Conseil Fédéral), eleito


pelo parlamento (Assembleia Federal) por um mandato de 4 anos.

b) Ausência de chefe de Estado autônomo, pois as funções cabíveis são exercidas


pelo Diretório, e as sessões deste são geridas pelo “Presidente da Confederação”
(com rotatividade anual).

O Diretório também se caracteriza pela sua irrevogabilidade e não é possível


votos ou tentativas de censura por parte do parlamento (Assembleia Federal). Do
mesmo modo, o parlamento não pode ser dissolvido pelo Diretório.

A Assembleia Federal é composta por duas Câmaras: o Conseil National, eleito


diretamente por método proporcional para um mandato de 4 anos, e o Conseil des
États, constituído por dois representantes de cada estado.

- Parlamentarismo

O Parlamento e, consequentemente, o Parlamentarismo, nasceu na Inglaterra


no século XIII e, após inúmeros conturbações históricas, foi adquirindo os contornos
que possui na contemporaneidade.

Possui como principais características:

a) Distinção entre Chefe de Estado e Chefe de Governo: As funções são exercidas


por pessoas distintas. O Chefe de Estado representa o Estado aquém das disputas
políticas, que são cíclicas, muitas vezes atuando como interlocutor nas crises entre os

23
Poderes. Já o Chefe de Governo, figura central desse sistema, exerce o Poder
Executivo. É comumente indicado pelo Chefe de Estado e deve ser aprovado pela
maioria dos membros do parlamento.

b) Responsabilidade política do Chefe de Governo: O mandato do Chefe de Governo


não possui um prazo determinado, ele permanecerá no cargo enquanto possuir
aprovação da maioria do parlamento, o que é verificado a cada eleição parlamentar.
Outra hipótese de responsabilização que implica na demissão do Primeiro-Ministro é
o voto de desconfiança, quando um parlamentar desaprova a política exercida por ele
e propõe o voto, que se aprovado pela maioria parlamentar, revela que o Chefe de
Governo não possui concordância da maioria do povo (que o parlamento representa,
e, portanto, deverá demitir-se.

c) Dissolubilidade do parlamento: É possível a “dissolução do parlamento por parte do


Primeiro-Ministro, normalmente quando este percebe que sua maioria parlamentar é
tênue e acredita que, com novas eleições parlamentares, essa maioria será ampliada.”
(NUNES JR., 2020)

Obs.: O Parlamentarismo é aplicável e adaptável tanto à Monarquia quanto à


República.

- Semipresidencialismo

O sistema semipresidencialista possui traços do parlamentarismo e do


presidencialismo. Existem dois órgãos eleitos por sufrágio direto: Presidente e
Parlamento, e há responsabilidade do governo perante ambos.

O Presidente possui poderes próprios e tem possibilidade de dissolver o


Parlamento por iniciativa autônoma.

Um dos países que exemplificam esse sistema é Portugal, explica Canotilho:

24
“parece seguro que a Constituição Portuguesa de 1976 não acolheu uma
forma de governo ‘quimicamente pura’ (presidencialismo, parlamentarismo)
antes procurou articular dimensões próprias de várias formas de governo”.
O sistema português tem traços do regime parlamentarista (autonomia do
governo – liderado pelo Primeiro-Ministro; responsabilidade ministerial, com
a possibilidade de moção de censura pelo Parlamento) e traços do regime
presidencialista (Presidente da República eleito pelo voto popular; veto
político do Presidente da República). No sistema português, o chefe de
governo é o Primeiro-Ministro, enquanto o Presidente é o chefe de Estado.
Segundo Canotilho, há uma interdependência que caracteriza as relações
entre o Presidente da República e o Primeiro-Ministro (e, através dele, o
governo): “o Primeiro-Ministro, embora responsável politicamente perante o
Presidente da República, é definidor de uma política governamental
autônoma, pode-se dizer que há uma interdependência institucional entre
Presidente da República e Primeiro-Ministro com autonomia governamental”.
(CANOTILHO. apud NUNES JR., 2020)

- Presidencialismo

O Presidencialismo surgiu com a Constituição dos Estados Unidos de 1787,


onde foram aplicadas ideias democráticas centradas na igualdade dos indivíduos,
soberania popular e, sob influência de pensadores como Montesquieu, a separação
dos poderes e seus freios e contrapesos.

Tem como principais características:

a) O Presidente é Chefe de Estado e Chefe de Governo: Como chefe de Estado, o


Presidente representa o país internacionalmente, e como Chefe de Governo, exerce
as funções internas de política social, econômica, tributária, etc.

b) A chefia do Executivo é unipessoal: A responsabilidade pelas diretrizes do poder


Executivo cabe ao Presidente, ainda que possua auxiliares como Ministros e
Secretários, pois estes são nomeados e exonerados livremente por ele, sem
necessidade da aprovação do Poder Legislativo. O Vice-presidente não possui
funções autônomas, se limitando a substituição do Presidente em sua ausência ou em
sua sucessão, em caso de vacância.

c) O Presidente é eleito pelo povo: Em regra, por sufrágio direto, embora haja o
exemplo do presidencialismo estadunidense onde a eleição é feita por Colégios

25
Eleitorais, o que pode impedir que o candidato detentor de mais votos da população
se eleja, por não possuir a maioria de votos entre os delegados.

[...] no ano 2000 na eleição norte-americana. O candidato democrata Al Gore


teve 51.003.926 votos, enquanto o candidato republicano George W. Bush
teve 50.460.110 votos. O segundo, que elegeu 271 delegados no Colégio
Eleitoral, foi eleito presidente, enquanto o primeiro elegeu 266 delegados.
Mais recentemente, em 2016, a candidata democrata Hillary Clinton teve
62.391.335 votos (48,01% dos votos), enquanto o candidato republicano
Donald Trump teve 61.125.956 votos (47,03% dos votos). Mesmo tendo
votação menor, o candidato republicano foi eleito presidente, porque
conquistou 290 delegados (enquanto a candidata democrata conquistou
270). (NUNES JR., 2020)

d) O mandato do Presidente tem prazo determinado: Caso o mandato não tivesse


termo, se tornaria uma “monarquia eletiva”. Pelo mesmo motivo, costuma-se impedir
reeleições sucessivas. No Brasil e Estados Unidos há limite de duas eleições
sucessivas.

e) O Presidente tem poder de veto: Embora a função legislativa seja do Congresso


Nacional, o presidente possui poder de vetar projetos de lei, por inspiração da Teoria
dos freios e contrapesos (Checks and Balances System), salvo quando o projeto for
de competência exclusiva do Poder Legislativo, a exemplo dos decretos legislativos,
resoluções e emendas constitucionais no Brasil.

f) Responsabilidade política do Presidente: A responsabilidade política do Presidente


é ainda mais traumática do que do Primeiro-Ministro no sistema parlamentarista, onde
basta que este perca sua maioria no parlamento para que precise se demitir do cargo.
No presidencialismo há o impeachment, processo onde o presidente que comete
crime de responsabilidade é afastado e, concluído o processo, poderá perder o cargo
e juntamente ser inabilitado para exercer função pública por 5 anos e impedido de se
candidatar a qualquer cargo por 8.

Outrossim, não pode o Presidente da República dissolver o Legislativo, como


lembra Canotilho: “não existem controles primários entre o Presidente da
República e o Congresso: o Presidente não tem poderes de dissolução das
câmaras e nenhuma destas ou ambas tem a possibilidade de aprovar moções
de censura contra o presidente.

26
O governo é ‘irresponsável’ e o parlamento ‘indissolúvel’. Daí o afirmar-se que
os poderes são poderes separados. De todo o modo, existem alguns
elementos de ‘contrapeso’: o Presidente pode ser destituído através do
processo de impeachment e o Senado tem de dar o seu assentimento à
nomeação dos secretários de Estado e altos funcionários do Executivo. Por
sua vez, o Presidente dispõe do direito de veto relativamente aos atos
legislativos mas com possibilidade de superação do veto político por cada
uma das câmaras através de deliberação” por quórum qualificado.
(CANOTILHO. apud NUNES JR., 2020)

2.1.1 O Sistema no Brasil


O Brasil adotou a forma republicana de governo, a forma federativa de Estado
e o sistema presidencialista de governo. “O Poder Executivo é exercido pelo
Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de Estado” (CF/88, art. 76). Ele
exerce a representação do país internacionalmente (onde não participa de decisões)
e como Chefe de Governo exerce as atribuições políticas de governo, onde é figura
política central.

O sistema presidencialista foi adotado em todas as Constituições do país, com


exceção de Constituição de 1824 onde a forma de governo era a Monarquia e o Chefe
de Governo o Imperador. Entretanto o parlamentarismo foi experimentado em duas
ocasiões: No Segundo Reinado (reinado de Dom Pedro II) – 1847 a 1889 – e após a
renúncia do Presidente Jânio Quadros – setembro de 1961 a janeiro de 1963 – quando
houve resistência para o vice-presidente João Goulart assumir o cargo, pelo que
solucionaram por meio de uma Emenda Constitucional feita às pressas, deixando
Jânio com apenas a chefia de Estado. No período houveram 3 primeiros-ministros:
Tancredo Neves, Brochado da Rocha e Hermes Lima. Em 1963, optou-se pelo retorno
do presidencialismo através de plebiscito popular, com Jânio assumindo com plenos
poderes.

O sistema presidencialista não se tornou cláusula pétrea na Constituição


Federal de 1988, não constando no rol do art. art. 60, § 4º, porquanto o
parlamentarismo ou outro sistema ainda permanecem como possibilidades, razão
pela qual existem no Congresso várias propostas de Emendas Constitucionais sobre

27
nova mudança ao parlamentarismo. Ademais, entende-se doutrinariamente que tal
mudança dependeria de aprovação popular (plebiscito ou referendo).

2.2 Tripartição dos Poderes

A Constituição brasileira prevê a tripartição dos poderes, com o escopo de


evitar violações aos Direitos Fundamentais. Assim, temos o Poder Executivo, o
Legislativo e o Judiciário. Aqui trata-se de cláusula pétrea, não podendo, portanto, ser
abolida (art. 60, § 4º, III).

É previsto ainda, o instituto do Ministério Público, independente aos outros


poderes. Conforme art. 127 da CF, “o Ministério Público é instituição permanente,
essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica,
do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.” (BRASIL,
1988). Deste modo, é preservada a inércia e imparcialidade do Poder Judiciário, já
que o Ministério é atuante, ao contrário do Judiciário que depende do impulso das
partes interessadas.

- As funções estatais, imunidades e garantias em face do princípio da igualdade

Para que um sistema governamental composto por vários órgãos funcione


corretamente, o relacionamento entre eles deve ser orientado por regras de lealdade
constitucionais (os órgãos devem cooperar dentro da medida necessária para atingir
as metas constitucionais e evitar o máximo possível de atrito + respeito mútuo).

Para este fim, os membros do legislativo, executivo, judiciário e parlamentar


gozam de imunidade e garantias. As imunidades e garantias criadas pela Constituição
têm origem no princípio da igualdade: assegurar a igualdade de tratamento entre
membros dos Poderes e Ministério Público. No entanto, podem existir divergências
entre eles, desde que sejam essenciais ao desenvolvimento de suas atividades (tratar
desigualmente os desiguais), criando assim garantias e imunidades próprias a cada
setor, desde que sejam razoáveis no seu pleno funcionamento. Isso garante o

28
conhecido sistema de freios e contrapesos (um poder tem fundamento para resistir à
influência negativa dos outros e para conter os exageros alheios). Tudo isso garante
a permanência da separação de poderes e do sistema democrático (evita-se o
autoritarismo de um único poder).

2.3 Poder Legislativo

2.3.1 Congresso Nacional


No âmbito federal, o Poder Legislativo é bicameral, dá-se pelo Congresso
Nacional composto pela Câmara dos Deputados (representantes do povo) e Senado
Federal (representantes dos entes: Estados e DF) – CF/88 art. 44.

Já no âmbito dos Estados e Municípios temos o unicameralismo.


Respectivamente a Assembleia dos Deputados e a Câmara dos Vereadores.

O Congresso se reúne na Capital Federal de 02 de fevereiro a 17 de junho e


de 1º de agosto a 22 de dezembro de cada ano – CF/88 art. 57. No entanto o art. 57,
§ 6º prevê convocação extraordinária. Nela, o Congresso deliberará sobre os assuntos
a motivaram, incluindo as análises de medidas provisórias que vigorem no período de
sua convocação.

O órgão administrativo de direção do Congresso Nacional é chamado ‘Mesa’,


presidida pelo Presidente do Senado, e os demais cargos são exercidos pelos
ocupantes de cargos semelhantes da Câmara e do Senado, alternadamente e em
conformidade com seus regimentos internos.

As mesas são eleitas entre seus membros e por eles mesmos, para mandato
de 2 anos, não sendo possível reeleição para o mesmo cargo.

* Atribuições do Congresso Nacional: Ver arts. 48 (com participação do Poder


Executivo, por meio de sanção presidencial) e 49 (por meio de decreto legislativo -
competências exclusivas).

29
2.3.2 Câmara dos Deputados
A Câmara dos Deputados é composta pelos representantes do povo eleitos
para um mandato de quatro anos pelo sistema de representação proporcional ao
número de eleitores de cada Estado e do DF.

Conforme dispõe a Lei complementar 79/1993, é composta por no máximo 513


deputados por estado e mínimo 8 (e 4 deputados por Território). O Estado mais
populoso é representado por 70 deputados. Adotando o método do quociente eleitoral

Há, contudo, ajustes que destoam a proporcionalidade (máximo 70 e mínimo


de oito deputados por Estado), desconstruindo o princípio da igualdade do voto do art.
14, caput (um homem um voto). Adotou-se, portanto, o método do quociente eleitoral.

* Competências privativas da Câmara dos Deputados: Ver art. 51.

2.3.3 Senado Federal


O Senado Federal é composto por representantes dos entes federativos
(Estados e DF) e possui número igual de 3 senadores para cada um deles (art. 46, §
1º). Garante-se, portanto, isonomia de opiniões entre os entes. Trata-se se
representação federativa, não importando o número de habitantes.

Os representantes são eleitos pelo sistema majoritário (mais votados em cada


ente), sendo atualmente 81 Senadores.

O mandato de cada senador é de 8 anos (art. 46, § 1º) e são renovados de 4


em 4 anos, alternadamente (art. 46, § 2º).

* Competências exclusivas do Senado: Ver art. 52.

2.3.4 Funções
Ao repartir os poderes, a Constituição deu a cada um dos Poderes funções
típicas e atípicas.

30
Funções atípicas: Administrar e julgar. O próprio Congresso se administra
internamente, ditando as regras sobre suas operações internas, cargos e promoções.
A função julgadora ocorre, por exemplo, ao julgar o Presidente da República por crime
de responsabilidade.

Funções típicas: Legislar e fiscalizar. O Congresso Nacional deve editar as normas


jurídicas (legislar) bem como fiscalizar a área contábil, financeira, orçamentária,
operacional e patrimonial do Poder Executivo (art. 70).

Quanto à função de legislar, o Processo Legislativo é um mecanismo por meio


do qual os representantes eleitos elaboram as normas a serem aplicadas no território
de abrangência. É previsto pelo CF e seu descumprimento torna a lei editada
inconstitucional.

O art. 59 prevê as espécies legislativas “I - emendas à Constituição; II - leis


complementares; III - leis ordinárias; IV - leis delegadas; V - medidas provisórias; VI -
decretos legislativos; VII - resoluções.” (BRASIL, 1988)

Obs.: O termo “lei” no sentido do art. 5, II da CF refere-se a todas as modalidades


previstas no art. 59, ou seja, toda norma prevista constitucionalmente para elaboração
de regras permissivas, proibitivas e obrigacionais.

Convém mencionar três importantes aspectos do Processo Legislativo:

Desconstitucionalização: É o nome técnico dado ao instituto que mantém o vigor de


uma norma constitucional anterior em um novo ordenamento jurídico que perderá sua
hierarquia constitucional se tornando legislação comum. Não existe no Direito
brasileiro. Com a promulgação de uma nova constituição, as leis antigas mantêm sua
validade desde que sejam compatíveis com a novo ordenamento.

Recepção: Acolhimento que uma nova constituição dá às normas elaboradas sob a


proteção da constituição anterior. Todas as normas antigas e compatíveis com a nova
ordem constitucional são mantidas.

31
Repristinação: Fenômeno que ocorre quando uma lei revogada por lei posterior, tem
sua validade reafirmada por uma legislação mais recente ou por uma que revogue
aquela que a revogou. Não existe no Direito Constitucional brasileiro. As normas
revogadas não retornam. No entanto, existe a possibilidade na LINDB – Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro, art. 2°, § 3°: “Salvo disposição em
contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.”
(Grifo nosso)

Na função de fiscalizar, há o controle político-administrativo e financeiro


orçamentário.

No político administrativo, tem-se a análise da gestão da coisa pública por meio


das Comissões Parlamentares de Inquérito – CPI (art. 58, § 3°).

Devido a imprecisão do texto constitucional no §3º (fala em poderes


investigativos próprios da autoridade judicial, no entanto a autoridade judicial no Brasil
não tem poderes de investigação, o que cabe às Polícias e ao MP), se faz necessário
uma melhor definição do âmbito de atividades das CPIs.

A CPI deve respeitar os limites constitucionais e perseguir apenas os objetivos


estabelecidos no momento da sua criação (podem investigar situações paralelas
desde que sejam úteis ao objetivo final), podendo exercer a mesma atividade de
procura de provas dos juízes criminais (poderes instrutórios). Deve-se justificar seus
atos e não agir arbitrariamente. Os poderes de investigação das CPIs são:

1) Possibilidade de quebra de sigilo bancário;

2) Oitiva de testemunhas, com a possibilidade de condução coercitiva;

3) Oitiva de investigados ou indiciados (preservado o direito ao silêncio - ninguém será


obrigado a produzir prova contra si mesmo);

4) Realização de perícias e requisição de documentos;

32
5) Determinação de buscas e apreensões (podem determinar às polícias a realização
de buscas de elementos probatórios).

No entanto, por não serem órgãos judiciais, as CPIs não poderão:

1) Decretar quaisquer hipóteses de prisão, salvo em flagrante.

2) Determinar quaisquer medidas cautelares (como indisponibilidade de bens,


sequestros, arrestos, hipoteca judiciária, proibição de ausentar-se da Comarca ou
Município).

3) Proibir ou restringir assistência judiciária aos investigados.

4) Determinar invasão de domicílio e interceptação telefônica.

Possíveis abusos praticados pelas CPIs são controlados pelo STF.

Quanto ao controle financeiro orçamentário, é fiscalização praticada pelo


Tribunal de Contas da União - TCU (arts. 70 a 75), órgão auxiliar do Poder Legislativo,
embora a ele não subordinado, que pratica os atos de natureza administrativa.

O TCU tem sede no DF, com suas funções dispostas no art. 71.

Quando o órgão rejeita as contas apresentadas pelo Chefe do Executivo,


caberá a apresentação de parecer ao Congresso Nacional, para que seja realizado o
julgamento das contas (art. 49, IX).

A composição do TCU está descrita no art. 73.

2.4 Poder Executivo

A estrutura do Poder Executivo consta dos arts. 76 a 91 da Constituição e suas


principais atividades são: Acompanhar a execução das leis, participar da atividade
legislativa, implementar e gerenciar políticas de interesse público, incentivar e
fomentar as atividades privadas que auxiliem o Estado (Terceiro Setor).

33
2.4.1 Presidente e vice-presidente da República

2.4.1.1 Eleições

No Brasil, aplica-se o sistema de maioria absoluta, se o candidato não obtiver


a metade mais 1 do total de votos válidos (descontando-se brancos e nulos), deverá
ser realizado um segundo turno.

Condições de elegibilidade para o cargo, conforme art. 14, § 3º da CF:

I - a nacionalidade brasileira;
II - o pleno exercício dos direitos políticos;
III - o alistamento eleitoral;
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
V - a filiação partidária;
VI - a idade mínima de:
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República [...]
(BRASIL, 1988)

2.4.1.2 Posse

A posse do presidente e do vice deve ocorrer no dia 1° de janeiro do ano subsequente


às eleições (art. 82) e será para um mandato de 04 anos. Se, depois de dez dias da
data estabelecida para a posse, o presidente ou o vice, por força maior, não assumir
o cargo, este será declarado vago (art. 78, parágrafo único).

Em caso de impedimento do presidente, o vice assumirá (art. 79). Se ambos estiverem


impedidos ou no caso de vacância, a ordem sucessória será:

1° Presidente da Câmara dos Deputados;

2° Presidente do Senado Federal;

3° Presidente do Supremo Tribunal Federal.

34
No caso da vacância, os substitutos serão provisórios até a realização de nova
uma eleição direta no prazo de 90 dias. No entanto, se ela ocorrer nos últimos dois
anos do mandato, a eleição para presidente e vice deverá acontecer 30 dias após a
abertura da última vaga e não serão eleitos por voto popular, mas sim pelo Congresso
Nacional (única hipótese de eleição indireta no Brasil).

Em todos os casos, os eleitos devem cumprir o restante do mandato de seus


antecessores.

2.4.1.3 Atribuições do Presidente

Conforme rol do art. 84 da CF, as atribuições do Presidente da República


podem ser divididas (em ordem de relação dos incisos) em:

2.4.1.3.1 Chefia de Estado

VII - Manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes


diplomáticos

VIII - Celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do


Congresso Nacional

XVIII - Convocar e presidir o Conselho de Defesa Nacional (parte final do inciso XVIII)

XIV - Nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo


Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores (parte do inciso XIV)

XV - Nomear, observado o disposto no art. 73, os Ministros do Tribunal de Contas da


União

XVI - Nomear os magistrados, nos casos previstos nesta Constituição (primeira parte
do inciso XVI)

XIX - Declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso


Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões

35
legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização
nacional

XX - Celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacional; XXI -


conferir condecorações e distinções honoríficas

XXII - Permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras
transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente.

2.4.1.3.2 Chefia de Governo

I - Nomear e exonerar os Ministros de Estado

III - Iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta Constituição;
IV - Sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e
regulamentos para sua fiel execução

V - Vetar projetos de lei, total ou parcialmente

IX - Decretar o estado de defesa e o estado de sítio

X - Decretar e executar a intervenção federal

XI - Remeter mensagem e plano de governo ao Congresso Nacional por ocasião da


abertura da sessão legislativa, expondo a situação do País e solicitando as
providências que julgar necessárias

XII - Conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos
instituídos em lei

XIII - Exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear os Comandantes da


Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover seus oficiais-generais e nomeá-los
para os cargos que lhes são privativos

36
XIV - Nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Governadores de Territórios,
o Procurador-Geral da República, o presidente e os diretores do banco central e outros
servidores, quando determinado em lei (parte do inciso XIV)

XVII - Nomear membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII

XVIII - Convocar e presidir o Conselho da República (primeira parte do inciso XVIII)

XXIII - Enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes


orçamentárias e as propostas de orçamento previstos nesta Constituição

XXVII - Exercer outras atribuições previstas nesta Constituição.

2.4.1.3.3 Chefia da Administração Federal

II - Exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração


federal

VI - Dispor, mediante decreto, sobre:

- organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar


aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos;

- extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos.

XVI - Nomear o Advogado-Geral da União (segunda parte do inciso)

XXIV - Prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de sessenta dias após a


abertura da sessão legislativa, as contas referentes ao exercício anterior

XXV - Prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma da lei

XXVI - Editar medidas provisórias com força de lei, nos termos do art. 62

37
2.4.1.4 Atribuições do vice-presidente

1) Substituição do Presidente no caso de impedimento (art. 79). Ou seja, para


situações temporárias;

2) Sucessão em caso de vaga do Presidente (art. 79). A vaga, por sua vez, ocorre em
casos de falecimento, renúncia, extinção ou cassação do mandato;

3) Participação nos Conselhos da República e da Defesa (arts. 89, I, e 91, I);

4) Representação do país como Chefe de Estado, quando for designado.

O Vice-Presidente, além de outras atribuições conferidas por lei complementar,


auxiliará o Presidente em missões especiais sempre que por ele convocado (art. 79,
parágrafo único). E, assim como o próprio Presidente, não poderá se ausentar do país
por prazo superior a 15 dias sem licença do Congresso Nacional, sob pena de perda
do cargo.

2.4.2 Ministros de Estado


A teor do art. 87, “os Ministros de Estado serão escolhidos dentre brasileiros
maiores de vinte e um anos e no exercício dos direitos políticos.” (BRASIL, 1988), e
suas funções estão previstas no parágrafo único do mesmo dispositivo:

I - Exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entidades da


administração federal na área de sua competência e referendar os atos e decretos
assinados pelo Presidente da República;

II - Expedir instruções para a execução das leis, decretos e regulamentos;

III - Apresentar ao Presidente da República relatório anual de sua gestão no Ministério;

IV - Praticar os atos pertinentes às atribuições que lhe forem outorgadas ou delegadas


pelo Presidente da República.

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Há, ainda, outras atribuições distribuídas na Constituição e na lei (art. 87,
parágrafo único), também, “a lei disporá sobre a criação e extinção de Ministérios e
órgãos da administração pública” (art. 88).

2.5 Poder Judiciário

A função típica do judiciário é a jurisdição, logo é quem possui competência


para aplicar a lei ao caso concreto e resolver os conflitos de interesse social. Tendo,
para isso, a característica da inércia, ou seja, atuará apenas quando provocado pela
parte interessada.

No entanto, a Constituição determina em seu art. 5º, XXXV, que nenhuma lesão
ou ameaça aos direitos não será excluída da apreciação do judiciário. Portanto, a
autoridade judiciária exerce o monopólio da aplicação da lei, exceptuando a utilização
apenas quando for opção da parte interessada (ex.: processos administrativos e
arbitrar).

2.5.1 Estrutura do Poder Judiciário


Conforme art. 92 da Constituição, os órgãos do Poder Judiciário são:

I - o Supremo Tribunal Federal;


I-A o Conselho Nacional de Justiça;
II - o Superior Tribunal de Justiça;
II-A - o Tribunal Superior do Trabalho;
III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais;
IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho;
V - os Tribunais e Juízes Eleitorais;
VI - os Tribunais e Juízes Militares;
VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.
(BRASIL,1988)

2.5.2 Divisão de competências


- Supremo Tribunal Federal (STF):

Guardião da Constituição: art. 102;

Competência originária: art. 102, I;

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Competência recursal: art. 102, II e II;

Membros: Os Ministros do STF são nomeados pelo Chefe do Executivo (art. 101,
parágrafo único).

- Conselho Nacional de Justiça (CNJ)

Membros: art. 103-B;

Funções: art. 103-B, § 4º.

Obs.: O CNJ é órgão Jurídico-Administrativo.

- Superior Tribunal de Justiça (STJ)

Competência originária: art. 105, I;

Competência recursal: art. 105, II e II;

Membros: Os Ministros do STJ são nomeados pelo Chefe do Executivo (art. 104,
parágrafo único).

- Tribunais Regionais Federais (TRF) e Juízes Federais

a) TRF:

Competência originária: art. 108, I;

Competência recursal: art. 108, II;

Membros: Compostos por juízes do TFR (concursados conforme art. 93, I) + 1/5 dentre
advogados e membros do Ministério Público Federal, nomeados pelo Presidente da
República (art. 107).

Distribuição geográfica dos TRFs:

1ª Região (Brasília, Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Goiás,


Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Pará, Piauí, Rondônia, Roraima e Tocantins)

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2ª Região (Rio de Janeiro e Espírito Santo)

3ª Região (São Paulo e Mato Grosso do Sul)

4ª Região (Porto Alegre, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul)

5ª Região (Recife, Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e


Sergipe)

b) Juízes Federais:

Competência: art. 109.

Membros: Juízes com ingresso na carreira por meio de concurso público (art. 93, I).

- Tribunais e Juízes do Trabalho

A competência do TST e a divisão de competência da Justiça do Trabalho


devem ser definidas por lei (art. 111-A, § 1º e art. 113), e esta possui competência
geral para julgar as matérias definidas no art. 114

Membros: Os Ministros do TST serão nomeados pelo Chefe do Executivo (art. 111-
A), e os juízes têm ingresso na carreira por meio de concurso público (art. 93, I).

Os Tribunais Regionais do Trabalho são divididos em 24 regiões geográficas.

- Tribunais e Juízes Eleitorais

A competência dos Tribunais deve ser conferida por Lei Complementar (art.
121). E os membros do TSE são escolhidos nos termos do art. 119 (eleição pelo pleno
do STF) e do TER pelos do art. 120.

- Tribunais e Juízos Militares

A competência também é definida por lei (art. 124), e seus membros são
Ministros do Superior Tribunal Militar (STM), nomeados pelo Chefe do Executivo (art.
123), e os juízes tem seu ingresso por concurso público (art. 93, I).

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- Dos Tribunais e Juízes dos Estados

A competência deve ser definida pela Constituição Estadual de cada Estado


(art. 125).

2.5.3 Ingresso dos membros no Judiciário


Seleção dos membros: Art. 93, I = concurso público.

- Quinto Constitucional: o acesso à Magistratura também pode ocorrer nos termos do


art. 94 e 104, II.

- Nomeação pelo Chefe do Executivo: Ministros do STF (art. 101, par. único), STJ (art.
104, par. único), TST (art. 111-A) e STM (art. 123, par. único), Juízes do TRF (art.
107).

Promoção: art. 93, II e III.

Nota: foi com a EC 45 que foi introduzido o conceito de produtividade e objetividade


para a promoção dos juízes.

Residência na Comarca: a EC 45 permitiu, desde que com autorização do respectivo


Tribunal, que o Juiz resida em Comarca diferente da sua sede (art. 93, VII).

2.5.3.1 Garantias dos membros do judiciário

1) Vitaliciedade (art. 95, I):

Prerrogativa apenas de membros da Magistratura e Ministério Público, que


garante que somente perderão o cargo por meio de decisão judicial transitada em
julgado. A vitaliciedade somente é adquirida após o período de estágio probatório de
dois anos (juízes substitutos).

2) Inamovibilidade (art. 93, II):

O magistrado não poderá ser removido ou promovido a não ser por interesse
próprio, quando houver possibilidade no quadro da carreira ou por motivo de interesse

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público, na forma do art. 93, VIII (decisão por voto da maioria absoluta do respectivo
tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla defesa).

3) Irredutibilidade de subsídio:

Ressalvado o teto salarial dos Ministros do STF, ou seja, os juízes que estejam
acima do teto poderão ter seus subsídios reduzidos.

Teto salarial:

- O teto salarial para os funcionários públicos no Brasil, de qualquer esfera da


federação, será o do art. 37, XI: subsídios dos Ministros do STF.

- Para os Ministros dos Tribunais Superiores, corresponderá a 95% do subsídio


mensal fixado para os Ministros do Supremo Tribunal Federal (art. 93, V).

- Para os demais cargos do Judiciário brasileiro, o Conselho Nacional de Justiça


decidiu que os subsídios dos magistrados serão de no máximo 90,25% do teto
(Ministros do STF), respeitando-se assim o art. 37, XI e o 39, § 4º.

4) Proibições:

Conforme previsão do art. 95, parágrafo único, aos juízes é vedado:

I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma


de magistério;
II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;
III - dedicar-se à atividade político-partidária;
IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de
pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções
previstas em lei;
V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de
decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou
exoneração. (BRASIL, 1988)

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3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Decreto-lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942. Lei de Introdução às


normas do Direito Brasileiro. Redação dada pela Lei nº 12.376, de 2010. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del4657compilado.htm> Acesso
em ago. 2021.

BRASIL Código Civil. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado


Federal: Centro Gráfico, 1988.

BRAZIL. Constituição Politica do Imperio do Brazil, de 25 de março de 1824.


Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm>
Acesso em: ago. 2021.

DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 25 ed. São


Paulo: Saraiva, 2005.

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 25 ed. São Paulo: Saraiva


Educação, 2021.

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Tradução de Maria Lucia Cumo. Rio de Janeiro:


Paz e Terra, 1996.

MONTESQUIEU, Charles-Louis de Secondat. O Espírito das Leis. 3 ed. Traduzido


por Cristina Murachco. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 36 ed. São Paulo: Atlas, 2020.

NUNES JÚNIOR, Flávio Martins Alves. Curso de Direito Constitucional. 3 ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2019.

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo:
Malheiros, 2013.

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