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UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas

Curso de Administração Pública

A Separação de Poderes em Moçambique

Lídia Faife Novo 61220439

Tete, Julho de 2022

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UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas

Curso de Administração Pública

A Separação de Poderes em Moçambique

Trabalho de Campo a ser submetido na


Coordenação do Curso de Administração
Pública do UNISCED.

Tutor:

Lídia Faife Novo 61220439

Tete, Julho de 2022

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Índice
CAPITULO I: NOTAS INTRODUTÓRIAS ................................................................... 4

1.1. Introdução .............................................................................................................. 4

1.2. Objectivos .............................................................................................................. 4

1.2.1. Objectivo geral ................................................................................................ 4

1.2.2. Objectivos específicos ..................................................................................... 4

1.3. Metodologia ........................................................................................................... 4

CAPITULO II: REVISÃO TEÓRICA ............................................................................. 5

2.1. Os três poderes do Estado ...................................................................................... 5

2.2. A génese da separação dos poderes ....................................................................... 5

2.3. A importância da separação de poderes ................................................................. 6

2.4. O princípio de separação de poderes em Moçambique ......................................... 7

Conclusão...................................................................................................................... 9

Referências bibliográficas ........................................................................................... 10

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CAPITULO I: NOTAS INTRODUTÓRIAS

1.1. Introdução
O presente trabalho tem como tema a separação de poderes em Moçambique, com base
nisso procuramos debruçar sobre a génese da separação dos poderes, três poderes do
Estado, importância da separação de poderes e o princípio de separação de poderes em
Moçambique.

Em face disso, a separação de poderes em Moçambique é tida como sendo uma


separação meramente teórica, visto quê os tribunais, Ministério Público não gozam de
uma autonomia que lhe assegure actuação isenta, objectiva e imparcial, dado que
nomeação e demissão do Procurador Geral da República e Presidente do Tribunal
Supremo é feito pelo Presidente da República.

O trabalho encontra-se estruturado em dois (2) capítulos. No primeiro capítulo


apresentamos a nota introdutória, onde apresentamos a introdução e os respectivos
objectivos. No segundo capítulo debruçamos em torno da revisão bibliográfica, e por
fim apresentamos a conclusão e as referencias bibliográficas.

1.2. Objectivos

1.2.1. Objectivo geral


 Analisar a separação de poderes em Moçambique.

1.2.2. Objectivos específicos


 Contextualizar a génese da separação dos poderes;
 Descrever os três poderes do Estado e a importância da separação de poderes;
 Abordar sobre o princípio de separação de poderes em Moçambique.

1.3. Metodologia

O estudo é baseado numa abordagem metodológica de natureza qualitativa e de cunho


descritivo. A pesquisa bibliográfica foi utilizada para atender aos procedimentos
técnicos, com a consulta de diversos autores consagrados no assunto.

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CAPITULO II: REVISÃO TEÓRICA
2.1. Os três poderes do Estado
Distingue-se três tipos de poderes nos diversos Estados: o poder legislativo, o poder
executivo, e o poder de judicial.1

 Poder Legislativo: expressa o poder do Estado no qual reside a faculdade de


fazer as leis e reformá-las, sendo, pois, a primeira função do Estado em que o
poder se manifesta sob a forma de normas gerais e obrigatórias para todos os
habitantes do território do Estado. No Estado a função específica de fazer Leis é
desempenhada por um órgão peculiar, o órgão legislativo. Muito
frequentemente, este órgão legislativo recebe a denominação de parlamento,
Câmara, Assembleia Nacional, Congresso Nacional. Cada país tem sua
denominação. Entretanto, quando tiverem por objectivo específico a elaboração
da Constituição do Estado, chama-se Assembleias Constituintes.
 Poder executivo: é a segunda grande função do Estado não diz respeito à
promulgação da lei que regula a vida social, mas sim aos actos singulares,
visando objectivos concretos, particulares, como a nomeação de funcionários, a
execução de serviços públicos, arrecadação de impostos, etc. A esta função
estatal se dá o nome de função executiva ou função administrativa, e é
desempenhada pelo órgão executivo.
 Poder judiciário. Consiste no exercício de uma actividade específica do Estado:
a de aplicar a lei aos casos concretos, de índole litigiosa e controversa, mediante
os mecanismos da interpretação. Assim, terceira função do Estado é aquela
voltada para a resolução de conflitos entre os cidadãos em razão da aplicação da
lei. Esta função aparece quando o Estado julga e pune os infratores das leis por
ele editadas. O órgão judiciário é formado por juízes e tribunais cuja função é a
de interpretar e aplicar a lei nos discrepâncias surgidos entre os cidadãos ou
entre os cidadãos e o Estado.

2.2. A génese da separação dos poderes


A versão mis antiga da teoria da separação dos poderes do Estado é encontrada em
Aristóteles, ao demonstrar a sua preocupação em atribuir-se a apenas um só indivíduo o
exercício do poder e, sobretudo com a impossibilidade prática de que um só homem

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Dallari, Dalmo de Abreu. (1991). Elementos de Teoria Geral do Estado. Editora: Sariva. São Paulo.

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previsse tudo o que nem a lei pode especificar. Segundo Aristóteles, na organização da
Estado há três partes, que devem merecer especial cuidado: a assembleia dos cidadãos,
que é o corpo deliberante, o verdadeiro soberano; a magistratura, que são os
funcionários designados pela assembleia para desempenhar algumas funções e; o corpo
judiciário.2

É Montesquieu quem traça o perfil definitivo dessa teoria no capítulo VI do livro I de


sua obra De l’esprit des lois, publicada em 1748: “Em todos os Estados existem três
espécies de poder público: o poder legislativo, o executivo para assuntos exteriores e o
executivo para a política interna. Pelo primeiro o príncipe ou a autoridade elabora novas
leis para um certo tempo ou para sempre e aperfeiçoa ou derroga as leis antigas. Pelo
segundo declara a paz ou a guerra, envia e recebe embaixadas, vela pela segurança e se
previne de ataques inimigos. Pelo terceiro castiga os crimes e dirime os litígios civis. 3

A exigência da separação dos poderes do Estado fica evidente na Declaração dos


Direitos do Homem e do Cidadão, aprovada na França em 1789, que em seu artigo XVI
declara:

Art. XVI. Toda sociedade na qual a garantia dos direitos não está
assegurada, nem a separação dos poderes determinada, não tem
constituição.

A teoria da separação dos poderes, adoptada nas constituições da quase totalidade dos
países, na actualidade, está associada à ideia de Estado democrático, sendo, pois uma
intrincada constituição doutrinária denominada de freios e contrapesos (checks and
controls). Segundo essa teoria, os actos praticados pelo Estado podem ser de duas
espécies: ou são actos gerais ou são actos especiais.4

2.3. A importância da separação de poderes


O princípio da separação dos poderes é uma limitação do poder estatal mediante a
desconcentração, divisão e racionalização das suas respectivas funções. Assim, tendo
em mente o que é o princípio da separação dos poderes, podemos afirmar que este
possui ligação com o princípio democrático, com a forma republicana de governo.

2
Aristóteles. A Política. Rio de Janeiro, ed. Tecnoprint, livro III, cap. XI.
3
Montesquieu. O Espírito das Leis.
4
Paupério, A. Machado. (1985).Teoria do Estado Resumida. : Editora Freitas Bastos. Rio de Janeiro.

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Algumas das importâncias em se manter a separação dos poderes dentro de um Estado
Democrático de Direito é de:

 Haver uma garantia efectiva de alternância no exercício do poder, pois como o


poder não está somente em determinado “órgão” ou “pessoa”, este não poderá
realizar acções nas esferas de poder visando seu interesse pessoal, não poderá de
forma autoritária permanecer no poder, muito menos alterar forma e sistema de
governo, forma de Estado etc.
 A independência e harmonia dos três poderes, Legislativo, Executivo e
Judiciário, traz legitimidade como modo de limitação e controle do poder,
trazendo a legitimidade de seu exercício.
 Garantia de efectividade dos direitos fundamentais dos indivíduos.
A Constituição faz previsão das competências de cada poder e inclusive faz
previsão da instituição do Ministério Público para evitar desrespeitos e arbítrios
aos direitos.

2.4. O princípio de separação de poderes em Moçambique

Moçambique, sendo um Estado de Direito democrático1, tem como um dos princípios


fundamentais e estruturantes o princípio da separação de poderes dos órgãos de
soberania, princípio este constitucionalmente consagrado nos termos do art. 134 da
CRM2.

Sendo os órgãos de soberania o Presidente da República, a Assembleia da República, o


Governo, os tribunais e o Conselho Constitucional, conforme disposições do art. 133 da
CRM, constata-se facilmente que, observando as atribuições de cada um deles, estes
órgãos correspondem à tripartição dos poderes do Estado, nomeadamente o poder
executivo, o poder legislativo e o poder judicial.

O Estado, enquanto detentor do poder público, que exerce através do executivo, deve
fazê-lo nos termos e nos limites da lei. A não ser assim, a actividade dos titulares dos
órgãos da Administração Pública, ou seja, do executivo, resvalarão para o abuso do
poder e a consequente violação dos direitos e liberdades fundamentais do homem que,
aliás, devem ser garantidos aos cidadãos por força do art. 3 da CRM para que
Moçambique efectivamente se assuma como Estado de Direito. Não obstante a
obrigatoriedade do Estado subordinar-se à Constituição e fundar-se na legalidade3, pode

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esta ser posta em causa e ser violada, não só pelo Estado, enquanto poder público, na
sua relação com os cidadãos, como também pelos particulares nas suas relações entre
si.5

Ora, quando tal ocorre verifica-se a violação da legalidade, em virtude de terem sido
postas em causa as leis aprovadas pelo poder legislativo que devem regular a vida em
sociedade e a relação entre o Estado e os cidadãos.

Diante de tal situação, e porque ao legislativo cabe somente produzir leis para regular a
vida em sociedade e fiscalizar a actividade do executivo, o poder judiciário é chamado a
exercer as suas atribuições orientadas para restabelecer a paz jurídica violada,
prosseguindo a função jurisdicional que lhe é constitucionalmente conferida,
penalizando as violações da legalidade e decidindo pleitos de acordo com o estabelecido
na lei4. É através do exercício da função jurisdicional que o judiciário, mais
concretamente os tribunais, prosseguem o objectivo consagrado no n. o 1 do art. 212, o
de garantir e reforçar a legalidade, como factor da estabilidade jurídica, e garantir o
respeito pelas leis e assegurar os direitos e liberdades dos cidadãos.

Entretanto, não obstante o princípio da separação dos poderes, consagrado na


Constituição, tendo em vista a independência de cada um dos três poderes do Estado
acima mencionados, há que assegurar que o judiciário goze da necessária e efectiva
independência para se garantir a prossecução do objectivo que lhe foi cometido pela
Constituição. É do que se trata no ponto seguinte, para mais adiante se apontar os
indicadores de enfraquecimento do judiciário, face ao actual quadro constitucional que
não oferece garantias para uma boa prossecução do objectivo que lhe compete no
exercício da função jurisdicional.

5
Art. 3 da CRM.

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Conclusão
Com base nas abordagens destacadas no trabalho foi possível verificar que em
Moçambique a separação de poder no quadro jurídico em vigor confere aos tribunais
uma independência meramente teórica e ao Ministério Público uma autonomia também
simplesmente teórica. Em face disso, os tribunais não gozam de efectiva independência,
pois não só o titular do Tribunal Supremo não está totalmente imune a influências e
pressões externas, propiciadas pela forma da sua indicação para o cargo, como também
porque há uma total dependência financeira do judiciário relativamente ao executivo.
Igualmente, o Ministério Público não goza de efectiva autonomia que lhe assegure
actuação isenta, objectiva e imparcial, dado o nó de estrangulamento de nomeação e
demissão pelo Presidente da República, do seu dirigente máximo, o Procurador-Geral
da República, ao que se associa o constrangimento da dependência financeira em
relação ao executivo.

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Referências bibliográficas

Aristóteles. A Política. Rio de Janeiro, ed. Tecnoprint, livro III, cap. XI.

Dallari, Dalmo de Abreu. (1991). Elementos de Teoria Geral do Estado. Editora:


Sariva. São Paulo.

Montesquieu. O Espírito das Leis.

Paupério, A. Machado. (1985).Teoria do Estado Resumida. Editora Freitas Bastos. Rio


de Janeiro.

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