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UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

Departamento de Ciências Sociais e Humanas


Curso de Licenciatura em Administração Pública

A Separação de Poderes em Moçambique

Doroteia Alice Nataniel Chissano – 31220683

Xai ˗ Xai, Agosto de 2022


UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

Departamento de Ciências Sociais e Humanas


Curso de Licenciatura em Administração Pública

A Separação de Poderes em Moçambique

Trabalho de campo a ser submetido na


coordenação do Curso de Licenciatura em
Administração Publica da Unisced
Tutor: Mestre Celeste Maculuve

Doroteia Alice Nataniel Chissano – 31220683

Xai˗Xai, Agosto de 2022

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Índice
1. Introdução................................................................................................................................. 1

1.1. Objectivos ............................................................................................................................. 1

1.1.1. Geral .................................................................................................................................. 1

1.1.2. Específicos ........................................................................................................................ 1

1.2. Metodologia .......................................................................................................................... 1

2. A Separação de Poderes em Moçambique ............................................................................... 2

2.1. Os principais poderes do Estado........................................................................................... 2

2.1.1. O Poder Legislativo .......................................................................................................... 2

2.1.2. O Poder Judiciário ............................................................................................................ 2

2.1.3. O Poder Executivo ............................................................................................................ 3

2.2. Génese da separação de poderes ........................................................................................... 3

2.3. Importância da separação de poderes ................................................................................... 4

2.4. O princípio de separação de poderes em Moçambique ........................................................ 5

3. Considerações Finais ................................................................................................................ 7

4. Referencias Bibliográficas ....................................................................................................... 8

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1. Introdução

O presente trabalho aborda sobre a Separação de Poderes em Moçambique.

Foi Montesquieu que expôs a melhor forma da Separação dos Poderes, tal como se estabelece hoje.
Para ele, o poder do Estado deveria dividir-se em funções específicas, (especialização funcional),
atribuídas a órgãos independentes (independência orgânica), possibilitando a limitação do poder
em razão da sua incompletude.

Em Moçambique a divisão horizontal dos três poderes do Estado consiste, fundamentalmente, na


repartição entre as diferentes funções do Estado (Legislativa, Executiva e Judicial), funções essas
que devem ser confiadas a órgãos independentes com a finalidade de evitar a sua concentração.

Portanto dos estudos feitos por (Gilles Cistac, 2008; Herminio Manuel, 2004; e Moises Paiva,
2011) sobre a separação de poderes em Moçambique, constatam que este princípio e teoria de
Montesquieu está aqui enfraquecida, existindo uma série de factores que contribuem para este
enfraquecimento.

1.1.Objectivos

1.1.1. Geral

 Analisar a separação de Poderes em Moçambique.

1.1.2. Específicos

 Descrever os três poderes do Estado;


 Caracterizar a génese da separação de poderes do estado;
 Caracterizar o princípio de Separação de Poderes em Moçambique.

1.2.Metodologia

Para a realização do trabalho recorreu se a pesquisa bibliográfica. Segundo Vergara (2000), a


pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído, principalmente,
de livros e artigos científicos e é importante para o levantamento de informações básicas sobre os
aspectos direta e indiretamente ligados à nossa temática.

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2. A Separação de Poderes em Moçambique

2.1.Os principais poderes do Estado

2.1.1. O Poder Legislativo

Função típica do Poder Legislativo em qualquer das esferas de governo, é cediço, é legislar. Em
outras palavras, sua função inerente é a elaboração de leis. De acordo com Menezes (1992, p. 250-
251), o poder legislativo é o que tem a função precípua de elaborar as leis, para a vida do Estado e
conduta de seus jurisdicionados.

No sistema de três poderes proposto por Montesquieu, o poder legislativo é representado pelos
legisladores, homens que devem elaborar as leis que regulam o Estado. O poder legislativo na
maioria das repúblicas e monarquias modernas é constituído por um congresso, parlamento,
assembleias ou câmaras.

O objectivo do poder legislativo é elaborar as normas de direito de abrangência geral ou individual


que são aplicadas a toda sociedade, objectivando a satisfação dos grupos de pressão; a
administração pública; em causa própria e distender a sociedade. Em regimes ditatoriais o poder
legislativo é exercido pelo próprio ditador ou por uma câmara legislativa nomeada por ele. Entre
as funções elementares do poder legislativo está a de fiscalizar o poder executivo, votar leis
orçamentárias, e, em situações específicas, julgar determinadas pessoas, como o Presidente da
República ou os próprios membros da assembleia.

2.1.2. O Poder Judiciário

O Poder Judiciário é um conjunto de elementos pessoais e materiais inter-relacionados, que tem a


finalidade especifica de assegurar o desempenho da função jurisdicional de um determinado
Estado, (Texeira, 1993; Caminha, 2008).

Trata-se da função jurisdicional, que lhe é ínsita. Para Aderson de Menezes (1992, p. 252-253),
função peculiar do poder judiciário é julgar “as contendas derredor de direitos e interesses, fazendo
a interpretação da lei e a distribuição da justiça”. No tocante às funções atípicas do Poder Judiciário,
podemos citar, à guisa de exemplo, a organização dos serviços que lhe são inerentes e a nomeação
de seus próprios servidores.

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2.1.3. O Poder Executivo

As atribuições do Poder Executivo variaram ao longo da história. Este Poder, dentro do modelo
clássico adotado pelo liberalismo político, época em que o Estado intervinha o mínimo possível na
ordem econômica e social, tinha por função a defesa externa e a segurança interna. Superada essa
fase, passando-se para o Estado social, em que há maior intervenção do Estado na ordem
econômica, o Poder Executivo passou a acumular cada vez mais atribuições. O Poder Executivo é
o poder do Estado que, nos moldes da Constituição de um país, possui a atribuição de governar o
povo e administrar os interesses públicos, cumprindo fielmente as ordenações legais. O executivo
pode assumir diferentes faces, conforme o local em que esteja instalado.

O Estado, então, assumiu a realização de obras de infraestrutura e de assistência social; a iniciativa


legislativa privativa em diversos temas; e o comando da actividade econômica, intervindo sempre
que necessário. Não obstante a assunção de maiores atribuições pelo Estado, a clássica divisão de
poderes, cuja sistematização tal qual a conhecemos hodiernamente foi elaborada por Montesquieu,
não foi abalada.

2.2.Génese da separação de poderes

O célebre “O espírito das leis”, publicado em 1748, traz a ideia de três poderes harmônicos e
independentes entre si, sendo eles o Poder Legislativo, o Poder Executivo e o Poder Judiciário.

Foi Montesquieu que expôs a melhor forma da Separação dos Poderes, tal como se estabelece hoje.
Nesse sentido: “Em matéria de separação de poderes o oráculo sempre consultado e sempre citado
é Montesquieu.” (Hamilton et al., 2003, p.299).

A teoria da Separação de Poderes do filósofo iluminista Montesquieu redefiniu o poder do Estado,


de forma que este passasse a ser limitado.

Para ele, o poder do Estado deveria dividir-se em funções específicas, (especialização funcional),
atribuídas a órgãos independentes (independência orgânica), possibilitando a limitação do poder
em razão da sua incompletude. Em outras palavras, o poder era limitado pelo próprio poder, de
forma que não seria mais absoluto. (Montesquieu, 1998).

Ocorre que, de 1729 a 1731, Montesquieu viveu na Inglaterra e teve contato com o sistema político
inglês do início do século XVIII, centrado no Parlamento e Aristocracia, com poder de monarquia

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limitado. Foi inspirado no sistema jurídico-político inglês, que Montesquieu escreve “O Espírito
das Leis”.

Ao Poder Executivo era atribuída a função de administrar o Estado e de executar as questões


relativas à esfera pública; enquanto o Poder Judiciário deveria aplicar as leis em caso de conflito
(Montesquieu, 1998).

A função jurisdicional era vista como uma função secundária, de menor relevância, que jamais
poderia impor aos demais poderes qualquer limitação que não fosse decorrente da própria
separação.

Ao ampliar a divisão dos poderes que fora anteriormente estabelecida por Locke, Montesquieu
acreditava que para afastar os governos absolutistas e evitar a produção de normas tirânicas, seria
fundamental estabelecer a autonomia e os limites para cada um dos poderes, quais sejam o
Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

2.3.Importância da separação de poderes

O princípio da separação dos poderes é uma limitação do poder estatal mediante a desconcentração,
divisão e racionalização das suas respectivas funções. Cuida-se de uma distribuição e/ou divisão
entre as funções típicas do poder estatal, visto que o poder do Estado como tal é uno e indivisível,
assim como é una e indivisível a soberania.

Há uma divisão horizontal de poderes (de desconcentração e recíproca limitação funcional entre
órgãos estatais) entre os poderes (funções) legislativo, executivo e judiciário, cuja horizontalidade
decorre da circunstância de inexistir qualquer hierarquia entre os respectivos órgãos e funções do
poder estatal, todos operando na esfera de suas competências constitucionalmente estabelecidas.

Assim, tendo em mente o que é o princípio da separação dos poderes, podemos afirmar que este
possui ligação com o princípio democrático, com a forma republicana de governo.

Ora, vemos de logo uma das importâncias em se manter a separação dos poderes dentro de um
Estado Democrático de Direito. Há uma garantia efetiva de alternância no exercício do poder, pois
como o poder não está somente em determinado “órgão” ou “pessoa”, este não poderá realizar
ações nas esferas de poder visando seu interesse pessoal, não poderá de forma autoritária
permanecer no poder, muito menos alterar forma e sistema de governo, forma de Estado etc.

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A independência e harmonia dos três poderes, Legislativo, Executivo e Judiciário, traz legitimidade
como modo de limitação e controle do poder, trazendo a legitimidade de seu exercício.

Outra importância que se constata com a separação dos poderes é a garantia de efetividade dos
direitos fundamentais dos indivíduos. A Constituição da Republica de Moçambique faz previsão
das competências de cada poder e inclusive faz previsão da instituição do Ministério Público para
evitar desrespeitos e arbítrios aos direitos.

Caso haja edição de lei pelo poder Legislativo que cujo conteúdo viole a Constituição da Republica,
os indivíduos poderão por meio do controle difuso recorrer ao poder Judiciário, bem como pode o
Judiciário apreciar tal questão ao ser provocado por meio do controle concentrado.

As garantias, direitos e ações e mecanismos que a Constituição prevê tem uma ligação, de forma
que tudo caminha para consagração de um Estado Democrático de Direito.

Com efeito, há uma repartição entre os poderes das funções estatais prevendo prerrogativas e
imunidades para que os indivíduos que estão à frente possam exercê-las, bem como, há mecanismos
de controles recíprocos, sempre como garantia da perpetuidade do Estado democrático de Direito.

2.4.O princípio de separação de poderes em Moçambique

Em Moçambique a Constituição consagra o princípio de separação de poderes e interdependência


(art.º 134).

A Constituição da República de Moçambique de 2004 (CRM/2004) consagra o carácter soberano


do Estado de Direito Democrático, baseado no pluralismo de expressão, organização partidária e
no respeito e garantia dos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos. Com tudo espera-se que
se mostre a evolução do poder judiciário desde a primeira constituição de 1975 até a de 2004.

Em Moçambique a divisão horizontal dos três poderes do Estado consiste, fundamentalmente, na


repartição entre as diferentes funções do Estado (Legislativa, Executiva e Judicial), funções essas
que devem ser confiadas a órgãos independentes com a finalidade de evitar a sua concentração,
(Ucama, 2013).

Entretanto o primeiro fator aqui proposto sobre a excessiva concentração de poderes a favor da
figura do Presidente da República, há que salientar que, do ponto de vista dos sistemas de governo,
Moçambique é um sistema presidencialista, (Cistac, 2008, p.17). E para Harman (2013) é um

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sistema presidencialista com total ausência de um mecanismo de “prestação de contas” por parte
do chefe de governo e chefe de estado (Presidente da República) perante a Assembleia da
República, sendo apenas os membros do governo que são fiscalizados, ficando assim de fora a
chefia do governo, (Harman, 2013).

Portanto dos estudos feitos por (Gilles Cistac, 2008; Herminio Manuel, 2004; e Moises Paiva,
2011) sobre a separação de poderes em Moçambique, constatam que este princípio e teoria de
Montesquieu está aqui enfraquecida, existindo uma série de factores que contribuem para este
enfraquecimento. Porem, depois da transição do regime absolutista para o regime liberal, a
separação dos poderes foi convertida de teoria para princípio fundamental e referência material das
Constituições, tal como resultava do seguinte teor do artigo 16 da Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão de 1789.

A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem assegurada a separação dos
poderes não tem Constituição.

Por isso que, pode se dar o caso que no sistema político moçambicano é provável que existam
condicionamentos à separação de poderes entre o executivo e o legislativo, mas também entre o
executivo e o judicial. Porque uma vez que a maior parte das principais funções desses poderes
estão concentradas na figura do Presidente da República. Isto é, no sistema de governo
moçambicano, dai que não se pode falar, em bom rigor, da existência de um controle recíproco de
poder, nem de equilíbrio de poderes, que são os pressupostos funcionais do princípio da separação
de poderes, (Ucama, 2013).

A CRM de 2004 ela confere à figura do presidente da República, amplos poderes como são os
casos de ele ser, ao mesmo tempo, o Chefe do Governo (CRM, no. 3 do artigo 146), ter a iniciativa
de Lei (CRM, alínea d, do no. 1, do artigo 183) e existir um governo “irresponsável” perante o
Parlamento, mas responsável perante o Chefe de Estado. Tal retira a possibilidade de o Presidente
da República garantir a interdependência do consagrado no artigo 134 da CRM, que, ao funcionar,
completaria um dos requisitos funcionais do princípio da separação de poderes, a moderação e o
equilíbrio, (Paiva, 2011).

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3. Considerações Finais

Diante de todos os fatos aqui levantados sobre a separação de poderes. Conclui-se que a separação
dos poderes surge no momento liberal como uma das alternativas de divisão do poder, e que junto
com o constitucionalismo e com o reconhecimento dos direitos fundamentais, representa o maior
e mais firme contributo para o modelo de Estado de Direito hoje existente.

Em Moçambique a divisão horizontal dos três poderes do Estado consiste, fundamentalmente, na


repartição entre as diferentes funções do Estado (Legislativa, Executiva e Judicial), funções essas
que devem ser confiadas a órgãos independentes com a finalidade de evitar a sua concentração

Pode se dar o caso que no sistema político moçambicano é provável que existam condicionamentos
à separação de poderes entre o executivo e o legislativo, mas também entre o executivo e o judicial.
Porque uma vez que a maior parte das principais funções desses poderes estão concentradas na
figura do Presidente da República. Isto é, no sistema de governo moçambicano, dai que não se
pode falar, em bom rigor, da existência de um controle recíproco de poder, nem de equilíbrio de
poderes, que são os pressupostos funcionais do princípio da separação de poderes.

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4. Referencias Bibliográficas

Comparato, F. K. (1999). A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. São Paulo: Ed. Saraiva.

Comparato, F. K. (2004). O poder judiciário no regime democrático. Estudos Avançados.

Giordani, M. C. (2003). História dos séculos XVI e XVII na Europa. Petrópolis: Vozes.

Hamilton, A. et al. (2003). O federalista. Belo Horizonte: Líder.

Locke, J. (2003). Segundo Tratado sobre o Governo Civil. Trad. Alex Marins, São Paulo: Martin
Claret.

Montesquieu, C. de S. (1998). O Espírito das Leis: as formas de governo, a federação, a divisão


dos poderes, presidencialismo versus parlamentarismo. São Paulo: Saraiva.

Sarlet. I. W. (2001). A Eficácia dos Direitos Fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado.

Ucama, A. C. D. (2012). A independência do poder judicial- um desafio a consolidação de estado


de direito democrático em Moçambique? Mestrado. Beira..

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