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Constituição de 1976 - versão original

 Assembleia Constituinte foi convocada em 1975 e em 2 de abril de 1976 aprova a


Constituição da III república.
 É a constituição mais vasta e mais complexa devido ao denso processo político do seu
tempo, à influência internacional ideológica e à aglutinação de partidos e forças sociais em
luta que significou.
 Os seus grandes fundamentos, segundo o prof. Jorge Miranda são a democracia
representativa e a liberdade política.
 Consigna as grandes reformas de fundo que resultaram dos 2 anos de revolução. Aponta
para um objetivo de transformação social a atingir a que chama “transição para o
socialismo.

Por força do acordo MFA-partidos, a constituição admite a subsistência do Conselho da


Revolução (aparenta-se ao papel das Forças Armadas na Turquia nos primeiros anos de
vigência da constituição de 61) - órgão de soberania composto por militares até à primeira
revisão constitucional.

Jorge Miranda:

 Constituição-garantia
 Constituição prospetiva
 constituição compromissória (tal como outras o têm sido quer em PT quer no
estrangeiro – como a de Weimar e Bona, as espanholas de 1931 e 1978, as francesas
de 46 e 58 ou a italiana de 47) – é compromissória porque estabelece um
compromisso “compromisso histórico” mais imposto pelas circunstâncias politicas e
pelo estado das forças políticas e sociais em presença do que desejo dos partidos.
 constituição pós-revolucionária

Constituição por preocupada com os direitos fundamentais dos cidadãos e dos trabalhadores e
com a divisão do poder.

Surge em ambiente de repulsa do passado próximo, em que tudo parecia possível, um tempo
em que muitos podiam ter sido os desvios. Mesmo assim, procura vivificar e enriquecer o
conteúdo da democracia, multiplicando as manifestações de igualdade efetiva, participação,
intervenção, socialização, numa visão ampla.

Estrutura

Texto longo com 312 artigos (repartidos por princípios fundamentais; P1 – deveres
fundamentais; P2 - organização económica, organização do poder político; garantia e revisão
da constituição; disposições finais e transitórias

Opta pelo pensamento constitucionalista, liberal e democrático na sistematização do texto


constitucional em contraste com as conceções marxistas: os direitos fundamentais vêm antes
da organização económica.

Jorge Miranda – elemento subjetivo – a pessoa perante a sociedade e o estado – o primado


dos direitos da pessoa na ordem constitucional

Elemento objetivo – partes II, III e IV.


69 artigos para os direitos fundamentais; 31 para a organização económica, 166 para a
organização do poder político, 14 para a garantia e revisão da constituição. Para além disso,
recebe valor constitucional a DUDH

O tratamento dos direitos fundamentais assenta na afirmação simultânea dos direitos,


liberdades e garantias e dos direitos económicos, sociais e culturais, numa dicotomia com
proeminência dos primeiros (como é próprio do estado social de direito)

Organização política: 4 relações – entre autonomia politico administrativa dos açores e da


madeira e o poder local; entre democracia representativa e democracia a participativa; entre
presidente da república e assembleia da republica, baseados os dois no sufrágio universal
direito; entre eles e o governo e um órgão ainda radicado na legitimidade revolucionária
recebida na constituição, o conselho da revolução.

A fiscalização da constitucionalidade cabe aos tribunais, ao Conselho da Revolução e a um


órgão específico de comunicação entre aqueles e este, a Comissão constitucional (similar aos
tribunais constitucionais e ao Conselho Constitucional francês). Abrange todos os tipos
possíveis – de ações e de omissões, abstrata e concreta, preventiva e sucessiva, concentrada e
difusa.

Compromisso constitucional múltiplo e diversificado – os direitos, liberdades e garantias e a


democracia política resultaram na convergência PS-PPD-CDS e PCP. Para alem da influência de
diversas correntes ideológicas, a comparação permite descobrir afinidades com Constituições
diversas de países estrangeiros. As regras gerais sobre direitos liberdades e garantias em parte
reproduzem as da constituição de Bona. As constituições italiana e alemã, ambas do pós-
guerra e do pós-fascismo, que mais se aproximam da nossa enumeração de direitos,
liberdades e garantias.

Em matéria de direitos económicos, é palpável certa parecença com constituições marxistas-


leninistas. (a nacionalização das empresas nos setores básicos da economia é anticapitalista.

Traços das constituições portuguesas na de 1976

Da constituição de 1933….

 Intervencionismo social e económico;


 competência legislativa originária do governo
 nome decreto-lei;
 ratificação dos decretos-lei;
 conceitos como os de direitos, liberdades e garantias;
 órgãos de soberania ou autarquias locais
 necessidade de, apresentado um projeto de revisão constitucional, quaisquer outros
terem de ser apresentados no prazo de 30 dias.

Dualismo de Chefe de Estado e Chefe de Governo  experiência constitucional desde 1834;


Fiscalização judicial difusa da constitucionalidade  constituição de 1911

Marcas originais da constituição de 1976


- Dualismo complexo das liberdades e garantias e de direitos económicos, sociais e culturais e
enlace entre eles operado (art. 17.º)

- Constitucionalização de novos direitos e vinculação das entidades privadas pelos direitos,


liberdades e garantias

- Receção formal da DUDH enquanto critério de interpretação e integração das normas sobre
direitos fundamentais.

- Perspetiva universalista traduzida no princípio da equiparação de direitos de portugueses e


estrangeiros, nas garantias da extradição e da expulsão, na previsão do estatuto de refugiado
político;

-Apelo à participação dos cidadãos, associações e grupos diversos nos procedimentos


legislativos e administrativos;

- Subjetivação da tutela do meio ambiente;

- Tratamento sistemático prestado às eleições, aos partidos, aos grupos parlamentares e ao


direito de oposição;

- Redobrada preocupação com os mecanismos de controlo recíproco dos órgãos de poder e na


constitucionalização do Provedor de Justiça;

- Coexistência de semipresidencialismo a nível de Estado, sistema de governo parlamentar a


nível de regiões autónomas e sistema diretorial a nível de municípios;

- Sistema de fiscalização concreta da constitucionalidade, com competência e decisão de todos


os tribunais e recurso, em certos casos, para um órgão de competência concentrada e
especializada, a Comissão Constitucional.

- Fiscalização da constitucionalidade por omissão

 Dignidade da pessoa humana;


 Sistema de direitos fundamentais
 Liberdade política e democracia pluralista representativa
 Estado de Direito Democrático
 Sistema de governo semipresidencial
 Democracia descentralizada
 Democracia participativa

DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Presente na constituição de 33, após a revisão de 51 a propósito da incumbência do estado de


zelar pela melhoria das condições de vida das classes sociais mais desfavorecidas

A constituição de 76 declara a república, a comunidade política dos portugueses, fundada na


dignidade da pessoa humana (art. 1.º); Respeito e a garantia dos direitos e liberdades
fundamentais como base do estado democrático. Art. 2.º  não se pretende retirar a
individualidade das pessoas, mas sim frisar que em cada homem e em cada mulher estão
presentes as faculdades da humanidade e que todo e qualquer Homem é irredutível e
insubstituível enquanto tal e enquanto cidadão. Assim, completa-se a referência à dignidade
humana com a referência à dignidade social que têm todos os cidadãos e todos os
trabalhadores (art. 13.º nº1), decorrente da inserção numa determinada comunidade.

A constituição de 76 determina a proteção da pessoa humana, à luz do artigo 1.º da DUDH,


que realça a razão e consciência do homem como justificativo do reconhecimento e garantia
dos direitos fundamentais. Assim, no artigo 25.º/2, determina a inexistência em caso algum da
pena de morte e a proibição da extradição por crimes a que corresponde a pena de mote
segundo o direito do Estado requisitante (art. 23.º/3) nem admite a extradição por motivos
políticos (art. 23.º)

Outras manifestações da salvaguarda da dignidade humana: garantia de integridade pessoal


contra a tortura e os tratos e as penas cruéis, degradantes ou desumanos (art. 26.º), incluindo
em processo criminal (art. 32.º/6); o direito dos trabalhadores à organização do trabalho em
condições socialmente dignificantes, de forma a facultar a realização pessoal (art. 53.ºb) ; o
direito à habitação que faculte que preserve a intimidade pessoal e a privacidade familiar (art.
65.º)

16.º/2 e 9.º c)  conceção universalista.

PT garante asilo aos perseguidos em consequência da sua atividade em favor da democracia,


da libertação social e nacional, da paz entre os povos, da liberdade e dos direitos da pessoa
humana (art. 22.º).

DIREITOS FUNDAMENTAIS

principios gerais comuns às grandes categorias de direitos previstos

Previsão de novos direitos: à informática (art. 35.º); o direito de antena (art. 40.º) e a objeção
de consciência (art. 41.º/5).

Direitos, liberdades e garantias são mais importantes na constituição que direitos económicos,
sociais e culturais – firma-se na decisão do preâmbulo “garantir os direitos fundamentais dos
cidadãos”, na referencia ao Estado democrático ao respeito e à garantia dos direitos e
liberdades fundamentais (art. 2.º). Estes são limites materiais da revisão constitucional

Infopedia

Assim, durante a vigência da Constituição de 1976 podem estabelecer-se
quatro fases distintas: a primeira fase (1974-1976) corresponde ao períodoque decorreu entre a r
utura com o regime totalitarista e
a aprovação, pelaAssembleia Constituinte, da Lei Fundamental que aprovou a novaConstituição
; na segunda fase (1976-1982), entra em vigor o textoconstitucional, com as suas orientações de 
um socialismo embrionário,assistindo-se a uma separação dos poderes militares e civis e ao des
ejo deuma revisão constitucional; a terceira fase (1982-1986) é marcada pelaprimeira revisão co
nstitucional, pela subordinação das forças armadas aopoder civil democrático e pela entrada de 
Portugal na ComunidadeEconómica Europeia; finalmente, a quarta fase (1986-1994) é caracteri
zadapela abertura económica de Portugal à Europa, pelas revisõesconstitucionais de 1989 e de 1
992, pelo reinício das privatizações dasempresas nacionalizadas em 1975 e pela ratificação do T
ratado deMaastricht.
Funcionamento do sistema de governo

Desde 76 houve 7 revisões e 7 eleições presidenciais, 4 presidentes eleitos e 17 governos

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