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UNIVERSIDADE LICUNGO

FACULDADE DE ECONOMIA E GESTÃO

CURSO DE LICENCIATURA EM ADMINISTRAÇÃO PUBLICA E AUTÁRQUICA

RAJÚ AMÉRICO CIPRIANO

Organização Administrativa-Princípios de Descentralização e


Desconcentração

Quelimane
2022
RAJÚ AMÉRICO CIPRIANO

Organização Administrativa-Princípios de Descentralização e


Desconcentração

Trabalho de carácter avaliativo a


ser entregue na Cadeira de TAP
lecionada pelo docente:
Dr. Danane

Quelimane
2022
Índice
Introdução ............................................................................................................................ 4

Objectivos ............................................................................................................................ 5

Objectivo geral ..................................................................................................................... 5

Objectivos específicos ......................................................................................................... 5

Metodologia ......................................................................................................................... 5

A organização administrativa .............................................................................................. 6

Descentralização .................................................................................................................. 6

Princípio da descentralização .............................................................................................. 8

Princípio da Desconcentração .............................................................................................. 8

Os níveis locais de desconcentração do Estado ................................................................... 9

Conclusão .......................................................................................................................... 11

Referencias bibliográficas ................................................................................................. 12


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Introdução
A democracia, como um processo de construção permanente de um ideal político, social e
normativo, assenta no pressuposto da autoridade partilhada entre atores políticos ou sociais, através
de processos de participação, de cidadania, de direitos e deveres individuais e coletivos.

O contexto no qual se desenrola o processo de democratização articulada das conceções do


Estado (Williams, 2003) deixa em aberto a possibilidade e a responsabilidade de criação de
mecanismos e instituições nacionais e locais que possam garantir a operacionalização dos ideais
do projeto democrático através do processo de delegação do poder legitimado pelo sufrágio
universal que igualmente encarrega-se da deslocação do poder do centro para a periferia.

Em Moçambique, este processo de deslocação do poder, do centro para a periferia, encontra


suporte no n˚ 1 do artigo 263˚ do Título XII, capítulo IV (princípios organizatórios) da Constituição
da República, que estipula que a “organização do Estado e o funcionamento dos órgãos do Estado
a nível local obedecem aos princípios de descentralização e desconcentração, sem prejuízo da
unidade de ação e dos poderes de direção do Governo”.

No caso da descentralização do Estado, o Governo central de Moçambique atribui aos


órgãos locais (Vilas e Cidades) a autoridade para administrar o território sob a sua jurisdição.
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Objectivos

Objectivo geral
➢ Compreender a organização administrativa

Objectivos específicos
➢ Descrever a organização administrativa
➢ Identificar os princípios de descentralização e desconcentração

Metodologia
Para a efectivacao deste trabalho foi com base nas consultas bibliográficas de artigos e
manuais que retratam do tema bem como pesquisas pela internet.
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A organização administrativa
A organização administrativa é o modo de estruturação concreta que, em cada época, a lei
dá à administração pública de um dado país. Tal como é subjectivo, a administração publica
distingue se por dois sentidos [orgânico e material].

Na organização administrativa consagra se a personalidade jurídica que se classifica em


personalidade jurídica colectiva publica que visa a prossecução de interesses da colectividade,
enquanto que a pessoa jurídica do direito privado visa interesses dos particulares. Os territórios, os
institutos, associações, são tipos de pessoas colectivas.

O Estado esta organizado em Ministérios, Direcções, Departamentos, Repartições e


secções; E lhe atribuída a soberania e inalienável, as leis são valentes assim como os símbolos. O
Estado é susceptível de vontades, as quais satisfazem se através dos seus órgãos. São órgãos do
Estado, o Presidente da República, a Assembleia da República, o Governo, os Tribunais e o
conselho constitucional.

O conselho de ministros é o órgão executivo que se responsabiliza pela administração do


país, garantia de integridade, ordem publica, segurança, bem-estar económico-social, legalidade, .
. . e política externa. Artg. 203 da CRM, as formas dos são em decretos-leis, decretos e as demais
designam se por resoluções Artg.210 da CRM. As formas de execução do governo podem ser
colegiais e ou individuais. Os órgãos classificam se em singulares, colegiais, locais, primários,
secundários, vicários, representativos, activos, . . ., consultivos.

Descentralização
A descentralização pode ser entendida como um processo planificado que tem por objetivo,
produzir mudanças na geografia e na sociologia de um dado poder central, a favor de "níveis de
poder" mais baixos da administração do Estado, sem pôr em causa as forças políticas que a
constituem e que controlam a distribuição da riqueza, do recurso e do tal poder (Weimer, 2012).

Aguiar Mazula (1998) perceciona a descentralização como sendo um processo de criação


de entidades autónomas distintas e paralelas ao Estado central apesar de, em alguns casos, ocorrer
sem implicar a transferência definitiva (descentralização administrativa) ou parcial (delegação) da
autoridade do titular originário das funções para o incumbido de exercer o poder de decisão e
implementação.
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Segundo a Constituição da Republica, a descentralização (poder local) pressupõe a


existência de duas pessoas colectivas do direito público (Estado e Autarquias), enquanto a
desconcentração (OLE) ocorre dentro da mesma pessoa colectiva pública, ou seja, é um processo
mas restrito, apesar de tal como a primeira (descentralização), tratar-se de uma oportunidade para
proporcionar maior aproximação a participação dos cidadãos no processo político, a sua capacidade
de influenciar a formulação das políticas públicas, a abertura do governo às demandas da população
e a transparência com que o governo trata dos assuntos públicos são indicadores da qualidade da
democracia.

Para Alves & Godoy (2005) citando Crook & Manor (1998) e Agrawal & Ribot (1999)
defendem que a descentralização refere-se à transferência de autoridade e responsabilidade do
governo central aos níveis mais baixos de hierarquia político-administrativa e territorial e/ou para
comunidades locais. Referem ainda que a descentralização significa que o Governo e/ou
comunidade local passam a tomar decisões relativas às atribuições designadas por uma lei maior e
concernente à sua jurisdição. Existe uma partilha de responsabilidades e autoridades entre o
governo central e os governos estaduais ou locais em algumas questões, onde os poderes são
distribuídos entre os diferentes níveis e de forma regulamentada.

Para L. Adamolekun citado por Forquilha, trata-se de descentralização quando há uma


delegação de autoridade e da responsabilidade de gestão para as organizações fora da estrutura do
governo central para funções específicas.

A descentralização constitui um dos princípios-chave da organização da administração


pública em Moçambique. Neste âmbito o Estado implanta as autarquias locais ou poder local à luz
do n˚1 do art.135 da Constituição da República, para responder aos interesses das respetivas
populações. Nestes termos, concebe um pacote legislativo que regula a implantação e
funcionamento dos tais poderes. Assim, a Constituição da República de Moçambique consagra no
Título XIV o Poder Local o qual compreende as Autarquias locais.

As autarquias são, segundo o n˚ 2 do art. 272 da Constituição da República, “pessoas


coletivas públicas dotadas de órgãos representativos próprios que visam a prossecução dos
interesses das populações das respetivas zonas de jurisdição”.
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Princípio da descentralização
O princípio da descentralização, como princípio da organização e do funcionamento da
administração pública, encontra-se presente no artigo 267º nº2 da Constituição e trata-se
exclusivamente da descentralização administrativa e não se confunde com a política ou legislativa
que existe por exemplo quanto às regiões autónomas (presente no artigo 225º nº3 e 228º da CRP).

Este princípio demanda que o exercício da função administrativa seja repartido a diversas
pessoas coletivas além do Estado. Impede assim a centralização, ou seja, que tal exercício recaia
apenas sobre o Estado-administração e remete o legislador para a estruturação da administração
pública, impondo-lhe a manutenção e mesmo o aprofundamento, não a restrição, da
descentralização administrativa.

O princípio da descentralização não pode ser entendido num sentido meramente formal:
não basta que, além do Estado, outras pessoas colectivas exerçam a função administrativa, é
necessário que essas pessoas colectivas e os seus órgãos sejam investidos pela lei de atribuições e
competências que permitam efetivamente a aproximação da administração relativamente às
populações e que lhe sejam afetados os recursos humanos e financeiros necessários suficientes
para que possam prosseguir aquelas atribuições e exercer aquelas competências.

A descentralização pode ser territorial, traduzida na existência de pessoas colectivas de base


territorial (como as regiões autónomas e as autarquias locais) e não territorial (por vezes designada
como devolução de poderes), MARCELO. R. S, (2006).

A descentralização pode também ser institucional, expressa na existência de pessoas


colectivas de substrato patrimonial (como os institutos públicos) ou associativa, traduzida na
existência de pessoas coletivas de substrato associativo (como as associações e as universidades
públicas).

Princípio da Desconcentração
Para CARVALHO, S. S. (2008), este princípio está consagrado no art 267º nº2 da CRP. A
desconcentração administrativa exige que as competências para a prossecução de atribuições de
uma pessoa coletiva sejam repartidas por diversos órgãos. Por oposição impede a concentração,
que restringe a um único órgão as competências decisórias para a prossecução de atribuições da
pessoa coletiva em que está integrado e aponta ao legislador um caminho para a estruturação da
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administração pública, no sentido de lhe impor a manutenção e mesmo o aprofundamento e não a


restrição da desconcentração administrativa já atingida. A Constituição regula expressamente uma
forma de desconcentração, a hierarquia administrativa (arts. 199º alínea d, 271º nº2 e 3 da CRP) e
prevê ainda outra, a delegação de poderes (art.111º nº2 da CRP).

A desconcentração distingue-se facilmente da descentralização administrativa, na medida


em que respeita à repartição de competências por órgãos de cada pessoa coletiva, enquanto a última
se reporta à divisão de poderes de atribuições entre pessoas coletivas.

O principal problema da desconcentração administrativa está relacionado com conhecidas


restrições na prática da administração pública, traduzidas na utilização limitada da permissão legal
de delegação de poderes. A desconcentração pode ser horizontal e vertical, conforme coloque ou
não um órgão em supremacia sobre os demais, CARVALHO, S. S. (2008),

Os níveis locais de desconcentração do Estado


A. Localidade

Segundo o atual quadro administrativo legal em Moçambique, entende-se por localidade,


“a unidade territorial base da organização da administração local do Estado na qual se estabelecem
os primeiros contatos dos Órgãos Locais do Estado com as comunidades locais e as respetivas
autoridades” (Lei dos órgãos locais do Estado).

Os chefes das localidades, como entidades que representam a autoridade central da


administração do Estado dentro da respetiva localidade, promovem em nome do Estado, e de
acordo com o plano económico e Social do governo, ações de desenvolvimento económico, social
e cultural da localidade, através da mobilização, organização e participação da comunidade local
na procura de soluções para as questões locais (n˚ 1 e 2, art.50 da Lei 8/2003, de 19 de Maio).

É neste órgão de consulta da administração local onde o Estado busca soluções para as
questões locais, mediante o envolvimento das respetivas comunidades.

B. Posto Administrativo

O posto administrativo constitui o veículo de transporte de orientações do distrito para as


localidades tendo em vista a garantia da aproximação efetiva dos serviços da administração do
Estado para as populações e assegurar maior participação destes na realização dos interesses locais.
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Neste caso, o posto administrativo representado pelo chefe do posto, que normalmente é
auxiliado por 2 ou 3 funcionários públicos que asseguram a ligação entre as autoridades
administrativas do Estado e as comunidades locais através da organização e implementação de
orientações do governo distrital.

As localidades bem como os postos administrativos organizam normalmente, reuniões com


as populações para auscultação sobre o funcionamento da administração pública local e para
canalizar informações provenientes do governo distrital. Esses encontros que podem igual serem
orientados para duas perspetivas, sendo uma das sessões do governo distrital e a outra, paras as
várias sessões alargadas aos outros atores locais (para discutir os planos de desenvolvimento do
distrito).

C. Distrito

O distrito como unidade sociopolítica congrega o administrador distrital (representante da


autoridade central do Estado no respetivo território) e o governo distrital (que se subdivide em
serviços e representa os ministérios). Isto é, a administração distrital replica ao nível do distrito o
mapa funcional do governo provincial do qual se subordinam (Faria e Chichava, 1999). Entretanto,
no âmbito da desconcentração e descentralização, o distrito é definido como o centro de
planificação inclusiva através da promoção da participação das comunidades e das autoridades
comunitárias no desenvolvimento socioeconómico e cultural do respetivo território.
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Conclusão
A participação da comunidade no processo de gestão pública, representada pelos Conselhos
Consultivos Locais, apesar de espelhar um certo envolvimento da população, julgo que ainda está
longe de ser um momento de participação efetiva dos cidadãos, na medida em que geram-se
internamente, dinâmicas e grupos de interesses às vezes antagônicos que em certa medida põe em
causa a transparência destes processos.
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Referencias bibliográficas
AFRIMAP. (2009), “Moçambique - Democracia e Participação Política.” Londres –
Joanesburgo: Relatório publicado pelo AfriMAP e pela Open Society Initiative for Southern
Africa.

BOVENS, M. (2006), “Analysing and Assessing Public Accountability: A conceptual


framework”. European Governance Papers, (EUROGOV) nº C-06-1.

BRITO, L. (2003), “Os Moçambicanos, a política e a democracia”, in Santos, Boaventura


de Sousa & Trindade, João C. (orgs.), Conflito e Transformação Social: Uma Paisagem das Justiças
em Moçambique. 1 Volume, Porto: Afrontamento, 179-194.

CARVALHO, S. S. (2008), “Um olhar sobre os mecanismos de prestação de contas nos


processos de democratização dos países africanos”, trabalho apresentado no âmbito do seminário
democracia no sul do doutoramento interdisciplinar democracia no século XXI. Coimbra: CES
(não publicado).

MARCELO. R. S, (2006), Direito Administrativo Geral, Tomo I (Introdução e princípios


fundamentais), 2ª edição, Dom Quixote.

BAMBAI (2016), A Desconcentração em Moçambique, Participação da comunidade no


Processo de Tomada de Decisões, Estudo de Caso Distrito de Gondola.

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BRITO, L. (2003), “Os Moçambicanos, a política e a democracia”, in Santos, Boaventura


de Sousa & Trindade, João C. (orgs.), Conflito e Transformação Social: Uma Paisagem das Justiças
em Moçambique. 1 Volume, Porto: Afrontamento, 179-194.

FERNANDES, T. M. (2009), O Poder Local em Moçambique: Descentralização,


pluralismo jurídico e legitimação, Porto: Afrontamento.

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