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Pensando o Brasil: Formação Econômica do Brasil (1959)
O livro Formação econômica do Brasil (1959), é sem dúvida a principal obra de Celso
Furtado, mas não a única. Ao lado de Desenvolvimento e subdesenvolvimento (1961) e
Teoria e política do desenvolvimento econômico (1967), forma um conjunto analítico sobre
o desenvolvimento e desenvolvimentismo brasileiro e da América Latina.
Celso Furtado nasceu em 1920, na cidade de Pombal, Estado da Paraíba. Formou-se em
Direito pela Universidade do Brasil (Rio de Janeiro) em 1944 e doutorou-se em economia pela
Universidade de Paris em 1948. Em 1949 integrou-se
Após o golpe militar de 1964, Celso Furtado teve os direitos políticos caçados e exilou-
se, primeiro nos Estados Unidos, lecionando em Yale e depois em Paris, lecionando na
Sorbonne. Com a redemocratização, em 1985 voltou ao Brasil e foi Ministro da Cultura do
governo José Sarney
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Unidade: Pensando o Brasil: Formação econômica do Brasil (1959), de Celso Furtado
Segundo Gildo Marçal Brandão, Formação econômica do Brasil figura ao lado de obras
clássicas como Casa grande & senzala, de Gilberto Freyre; Raízes do Brasil, de Sérgio
Buarque de Holanda e Formação do Brasil Contemporâneo, de Caio Prado Júnior, seriam
essas obras as que “inventaram” o Brasil.
O livro de Furtado é, de certo modo, fruto das mudanças sociais, econômicas e políticas
advindas da Revolução de 1930. Essa marcou uma nova etapa do desenvolvimento econômico
capitalista no Brasil, que se aprofundou a partir dos anos 1950. Essa nova etapa do capitalismo
introduziu “o Brasil nos modernos padrões de consumo: eletrodomésticos, carros, produtos de
consumo industrializados”. Há também uma mudança nos padrões da administração pública.
Formação econômica do Brasil é um livro de economia, mas com base na história. Para
Furtado a análise econômica que não tem base histórica leva a “uma sintaxe desprovida de
significado e de qualquer potencial para uma ação política transformadora”. Para esse pensador
a “análise econômica e enfoque histórico” são fundamentais para demonstrar “que toda a vez
que um economista se depara com um ‘conjunto social complexo’, ele o faz a partir de uma
vista global fornecida pela história” (BARBOSA, 2010, p. 150).
Celso Furtado foi crítico da teoria econômica elaborada nos países desenvolvidos. Como
Raúl Prebisch, chamou a atenção para o falso senso de universalidade dessas teorias.
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A contribuição fundamental de Furtado foi demonstrar como historicamente se deram
as relações “entre colônias e metrópoles, países desenvolvidos e subdesenvolvidos, centro e
periferia” (RICUPERO, 2005, p. 372).
Para Bernardo Ricupero, Celso Furtado foi leitor das grandes obras fundacionais do Brasil:
Casa grande & senzala; Raízes do Brasil; Formação do Brasil Contemporâneo; Formação da
literatura brasileira (1959), de Antônio Cândido; e Os donos do poder (1959), de Raymundo
Faoro. Porém, Furtado teve uma relação diferenciada com as referidas obras. Enquanto Casa
grande & senzala e Os donos do poder trazem uma avaliação negativa da história, as obras
de Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior e Antônio Cândido propõem a formação
definitiva da nação brasileira, que é o que busca Celso Furtado em suas análises, ou seja, a
proposta dos autores é a superação do externo, dado que “querem efetivamente que se crie
no Brasil uma política autônoma, um mercado interno que supere o externo e uma literatura
consolidada” (RICUPERO, 2005, p. 373).
A questão da relação do Brasil com o externo é uma preocupação permanente na
obra de Celso Furtado. Ao contrário de autores que buscavam fatores similares do Brasil
ao feudalismo europeu, “identificados com a historiografia mais tradicional ou com a
interpretação da III Internacional sobre os ‘países colônias, semicoloniais e dependentes’,
assim como historiadores do escravismo colonial e Gilberto Freyre”, que “têm em comum
a postura de privilegiar os fatores internos à colônia”, Celso Furtado chamou a atenção,
principalmente, “para a relação do Brasil (desde o início da sua história) com a economia
mundial” (RICUPERO, 2005, p. 373).
Utilizando-se dos estudos do francês Paul Leroy-Beulieu “sobre a colonização moderna”,
que sugere a possibilidade de diferentes desenvolvimentos históricos, Celso Furtado fez
“uso da comparação entre colônia de povoamento, que prevaleceria na região temperada
do continente americano, e colônias de exploração, dominantes na região tropical”
(RICUPERO, 2005, p. 374). Sua conclusão a esse respeito é de fundamental importância
para a análise das diferenças de desenvolvimento dos Estados Unidos e da América Latina,
do Brasil em particular.
Para Celso Furtado “o desenvolvimento das colônias de povoamento”, se deu “de dentro
para fora, privilegiando o mercado interno (similar, portanto, à Europa)”, o que “possibilitou
o surgimento de uma camada de pequenos proprietários e de grupos dominantes menos
dependentes da metrópole” (RICUPERO, 2005, p. 374), o que explica, em parte, o
desenvolvimento capitalista avançado dos Estados Unidos. Já as colônias de exploração, que
tiveram um êxito inicial, que desde cedo estiveram integradas ao mercado europeu, tiveram
dificuldades para superar a situação colonial, tornando-se, posteriormente, subdesenvolvidas.
Assim como Caio Prado Júnior, Furtado demonstrou como a “economia açucareira do
litoral nordestino – setor de alta produtividade voltado à produção para o mercado externo” –
estava articulada com “a pecuária, realizada no interior, de baixa produtividade e voltada para
o mercado interno”. A economia do litoral produzia “para o mercado externo, utilizando o
trabalho escravo em grandes unidades, enquanto fariam parte do setor inorgânico ‘as atividades
inclassificáveis ou de difícil classificação’ subordinadas, de alguma forma, ao setor orgânico”
(RICUPERO, 2005, p. 374).
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Em sua análise da economia colonial brasileira, Celso Furtado demonstrou que a renda
monetária da produção é revertida “ao empresário açucareiro e deste para os importadores
e financiadores dos bens de capital, revelando a sua natureza meramente contábil”. Assim o
autor explica “porque este crescimento com base no impulso externo não poderia engendrar
um processo de desenvolvimento autopropulsor” (BARBOSA, 2010, p. 152).
Em Formação econômica do Brasil fica demonstrado que a economia colonial não passa
por crises, pelo menos da maneira que essas ocorrem na economia industrial. “Ao arrefecer-se
o impulso externo, a atividade açucareira se mantém em virtude dos altos custos fixos”. A crise
se dá na “economia criatória” (BARBOSA, 2010, p. 152), que com a queda do consumo
“retorna à subsistência”. Para entender esse processo,
Essas formulações apontam para o que foi demonstrado anteriormente, e que Celso Furtado
se perguntara e “tentara responder ao longo de sua vida intelectual” (BARBOSA, 2010, p.
153), ou seja, a diferença de padrão de desenvolvimento capitalista entre Brasil e Estados
Unidos. Segundo Alexandre de Freitas Barbosa (2010, p. 153):
A análise comparativa entre Brasil e Estados Unidos explica porque o Brasil se tornou um
país subdesenvolvido e não uma potência industrial, mas
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Retomemos então a análise de Furtado sobre a formação econômica brasileira. Segundo o
autor a economia açucareira foi o centro da exploração colonial portuguesa, que se concentrou
no Nordeste brasileiro. Para esse pensador a mão de obra escrava foi fundamental para o
sucesso da empresa açucareira. A instalação dessa foi realizada com trabalho indígena.
Os núcleos que não obtiveram êxito na empresa açucareira, como São Vicente, tornaram-
se fornecedores de escravos indígenas, funcionando em torno do mercado açucareiro,
o que significa dizer, que “mesmo aquelas comunidades que aparentemente tiveram um
desenvolvimento autônomo nessa etapa da colonização, deveram sua existência indiretamente
ao êxito da economia açucareira” (FURTADO, 2000, p. 46).
Os escravos africanos foram introduzidos na colônia quando o sistema de produção
já estava montado, chegou “para expansão da empresa”. Foi quando a rentabilidade
do negócio estava assegurada que entraram em cena, na escala necessária, os escravos
africanos: base de um sistema de produção mais eficiente e mais densamente capitalizado
(FURTADO, 2000, p. 46).
A renda gerada pela produção açucareira era fortemente concentrada nas mãos dos
senhores de engenho e proprietários de canaviais. Aproximadamente 5% de todo o montante
era gasto com serviços e outros 5% com reposição, como por exemplo, de gado. “Tudo indica,
destarte, que pelo menos 90 por cento da renda gerada pela economia açucareira dentro do
país se concentrava nas mãos da classe de proprietários de engenhos e de plantações de cana”
(FURTADO, 2000, p. 48).
Porém, como demonstrado, essa renda não financiou o desenvolvimento econômico da
colônia. Como demonstra Furtado, os capitais gerados na economia açucareira “não eram
utilizados dentro da colônia, onde a atividade não-açucareira absorvia ínfimos capitais”
(FURTADO, 2000, p. 49). Os estudos do autor demonstram que boa parte dos capitais
aplicados pertencia aos comerciantes.
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Furtado demonstra que o sistema escravista podia crescer livremente, desde que
os preços internacionais fossem mantidos ou tivessem aumentos. Internamente o
crescimento era possível dada a enorme quantidade de terras disponíveis. O nível de
preços da segunda metade do século XVI e da primeira do século XVII mantiveram uma
rentabilidade elevada, permitindo
O crescimento da empresa açucareira foi constante nos séculos XVI e XVII, mas não
acarretou mudanças estruturais no sistema. Esse desenvolvimento proporcionou aumento
populacional, porém, como a renda ficava concentrada nos proprietários de engenhos e
canaviais e nos comerciantes estrangeiros, “não permitia uma articulação direta entre os
sistemas de produção e consumo, [o que] anulava as vantagens desse crescimento demográfico
como elemento dinâmico do desenvolvimento econômico” (FURTADO, 2000, p. 55).
Como ficou demonstrado, a economia açucareira dependia, quase que exclusivamente,
do externo. A diminuição da procura externa dava início à decadência do sistema,
atrofiando o setor monetário. Mas dadas as características do sistema de produção, a
decadência não adquiria características catastróficas das crises econômicas típicas do
sistema capitalista industrial.
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Na segunda metade do século XVII, com a invasão holandesa, houve a desorganização
do mercado açucareiro e iniciou-se a concorrência da produção das Antilhas, de modo que
os preços caíram pela metade. Os proprietários de engenhos e canaviais de tudo fizeram
para manter a produção em nível elevado. A tendência de baixa dos preços continuou e se
acentuou com a exploração das minas, que atraiu “a mão-de-obra especializada” e elevou “os
preços do escravo”, reduzindo
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Com a crise da produção açucareira, os portugueses entenderam que a única saída para a
manutenção da colônia seria encontrar metais preciosos. Portugal voltava, assim, ao projeto
original, que tinha como base a exploração desses metais.
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A forma de exploração do ouro proporcionou a vinda de pessoas sem muitas posses, pois
a exploração do ouro de aluvião, que era encontrado no fundo dos rios, não exigia grandes
investimentos. O governo português teve, inclusive, que tomar medidas contra a imigração,
pois se corria o perigo de “esvaziar” a metrópole.
O grande eldorado se deu na primeira metade do século XVIII, “alcançou seu ponto máximo
em torno de 1760, quando atingiu cerca de 2,5 milhões de libras”, exportados. Assim como
o crescimento, a queda da produção foi rápida “e já por volta de 1780, não alcançava meio
milhão de libras” (FURTADO, 2000, p. 83).
Apesar de a renda média na região minerada ser inferior à produção açucareira, era
menos concentrada e a população vivia em núcleos urbanos e semiurbanos. Essas questões,
em conjunto com a distância dos portos, contribuíram para o “desenvolvimento de atividades
ligadas ao mercado interno do que havia sido até então a região açucareira”. Entretanto,
esse desenvolvimento não alcançou grandes proporções, principalmente no que diz respeito
à manufatura. Segundo Furtado (2000, p. 84), a “causa principal possivelmente foi a
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própria incapacidade técnica dos imigrantes para iniciar atividades manufatureiras numa
escala ponderável”.
O ouro brasileiro teve um efeito negativo na economia portuguesa, pois retirou Portugal da
crise econômica estabelecida com a queda da produção e comercialização do açúcar brasileiro,
contribuindo para a estagnação econômica lusitana, já que com a abundância de riqueza
trazida pela exploração mineira, Portugal abandonou projetos de industrialização implantados
no período de crise do açúcar. Ocorre que a nação mais beneficiada com a produção mineira
do Brasil foi a Inglaterra.
Como na região mineira não se efetuou outras formas de atividades econômicas, com
a decadência da produção mineira a região retrocedeu à produção de subsistência. “Essa
população relativamente numerosa encontrará espaço para expandir-se dentro de um regime
de subsistência e virá a constituir um dos principais núcleos demográficos do país” (FURTADO,
2000, p. 90).
Assim, no início do século XIX a decadência da economia colonial era geral. Segundo Furtado,
uma saída possível seria a industrialização, porém faltava ao Brasil um mercado interno, que
impulsionasse esse processo. A indústria têxtil que tinha consumidores e, portanto, poderia
ter se desenvolvido, concorria com a Inglaterra, que havia baixado os preços dos tecidos,
dificultando a produção artesanal existente no Brasil e, mais, a potência inglesa dificultava por
todos os meios a importação de máquinas e equipamentos, com a clara intenção de impedir
o desenvolvimento industrial das ex-colônias europeias.
A queda dos preços dos produtos exportáveis, mormente do açúcar, acarretou a queda da
renda per capita, provavelmente “a mais baixa do que em qualquer período da colônia, se se
consideram em conjunto as várias regiões do país” (FURTADO, 2000, p. 113).
Para superar a crise que se abateu no Brasil a partir do final do século XVIII era necessário
que o País se reintegrasse no comércio internacional. “Num país se técnica própria e no qual
praticamente não se formavam capitais que pudessem ser desviados para novas atividades, a
única saída que oferecia o século XIX para o desenvolvimento era o comércio internacional”
(FURTADO, 2000, p. 115).
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O café, que era produzido na colônia desde o século XVIII, no início do século XIX apareceu
como um produto exportável e ganhou maior importância quando se deu a desorganização
da produção no Haiti, que era o grande produtor nesse período. A partir de 1840 o café já
respondia por 40% das exportações brasileiras, tornando-se o principal produto nacional.
As primeiras plantações de café concentraram-se nas regiões próximas da capital, Rio
de Janeiro, aproveitando-se da abundância de mão de obra, dada a decadência da região
mineradora; da proximidade do porto, que facilitava o transporte por mula, animal que também
existia em abundância, pois era utilizado no transporte do ouro retirado das minas.
Nessa nova etapa da economia brasileira, formou-se também uma nova classe de
empresários, “que desempenhará papel fundamental no desenvolvimento subsequente do
país” (FURTADO, 2000, p. 119).
Esses empresários locais se formaram a partir da produção de gêneros de subsistência
em Minas Gerais, que eram fornecidos à capital do País, que havia passado por grandes
transformações desde a chegada de D. João VI, em 1808. “Muitos desses homens, que
haviam acumulado alguns capitais no comércio e transporte de gêneros e de café, passaram
a interessar-se pela produção deste, vindo à constituir a vanguarda da expansão cafeeira”
(FURTADO, 2000, p. 119).
A formação das classes dirigentes da economia cafeeira é significativamente diferente de
sua congênere açucareira. Nessas a atividade comercial estava concentrada nas mãos de
portugueses ou holandeses, de modo que a produção estava separada da atividade comercial.
Os homens que dirigiam a produção açucareira não tinham a menor visão do processo
total. “Assim isolados, os homens que dirigiam a produção não puderam desenvolver uma
consciência clara de seus próprios interesses” (FURTADO, 2000, p. 120).
Processo altamente diferente aconteceu na economia cafeeira. Os homens que iniciaram a
produção tinham longa experiência no comércio. “Em toda a etapa da gestação os interesses da
produção e do comércio estiveram entrelaçados” (FURTADO, 2000, p. 120). Sua proximidade
com a capital do Brasil lhes permitiu perceber a necessidade de influenciar os governos para
alcançarem seus objetivos.
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Um dos problemas encontrados à expansão cafeeira foi o da mão de obra. A maioria dos
trabalhadores livres estava ligada à economia de subsistência, de modo que muitos trabalhavam
nas roças, em propriedades de grandes fazendeiros produtores de gado e, se não estavam
ligados diretamente a terra, mantinham laços com esses proprietários, que dificilmente os
liberariam para o trabalho nas lavouras de café. Da parte dos cafeicultores e dos governos
não houve nenhuma tentativa nesse sentido. Outra fonte possível eram os trabalhadores livres
urbanos, mas em geral os cafeicultores e os governantes viam consideráveis dificuldades desses
homens se adaptarem ao trabalho nas grandes lavouras de café.
Ademais, havia ainda o problema do pagamento da viagem, cuja solução veio a partir de
1870, quando foi adotado o sistema em que o governo imperial responsabilizava-se pelo
custeio das despesas de viagem do imigrante da Europa até a fazenda. Ao fazendeiro cabia
a responsabilidade de manter o imigrante durante o primeiro ano de atividade, período de
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maturação do trabalho. Os proprietários rurais, ainda, deveriam colocar terras à disposição
dos colonos, para que esses produzissem gêneros de primeira necessidade.
Não foi difícil em tais condições, atrair e fixar uma parte substancial da
antiga força de trabalho escravo, mediante um salário relativamente
baixo. Se bem não existam estudos específicos sobre a matéria,
seria difícil admitir que as condições materiais de vida dos antigos
escravos se hajam modificado sensivelmente, após a abolição, sendo
pouco provável que esta última haja provocado uma redistribuição
de renda de real significado (FURTADO, 2000, p. 143).
Nas regiões cafeeiras a abolição teve diferentes efeitos. Nas mais antigas e decadentes
em função do crescimento das plantações no interior paulista, como o Vale do Paraíba, os
ex-escravos fixaram-se nas fazendas, recebendo maiores salários, dada a necessidade de os
fazendeiros manterem a produção.
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Unidade: Pensando o Brasil: Formação econômica do Brasil (1959), de Celso Furtado
Segundo Furtado, nas regiões em que para manter o ex-escravo nas fazendas foi necessário
pagar salários elevados, houve um afrouxamento nas normas do trabalho. Nessas condições
o ex-escravo preferia trabalhar apenas dois ou três dias, o que lhe garantia a sobrevivência e
manter-se no ócio nos demais.
No interior paulista a abolição não manteve os ex-escravos nas plantações, pois essas já
vinham suprindo suas necessidades a partir da imigração europeia.
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