O filme assistido faz uma cinebiografia de Celso Furtado, economista brasileiro
do século XX. A partir de entrevistas com economistas e outros intelectuais, a importância dele vai sendo revelada junto com sua história de vida. Junto com Caio Prado Júnior, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque e outros no contexto da década de 1930, Celso Furtado é reconhecido como autor que ajudou a criar o pensamento que temos atualmente sobre o Brasil. Com seu pensamento original em economia, o autor paraibano acreditava na construção de um Brasil melhor, feita com reformas de base e uma política econômica responsável. Furtado serviu na Itália durante a segunda guerra, após sua graduação em direito no Rio de Janeiro, e esse contato com a Europa lhe deu uma vontade de conhecer o mundo, que culminou com seus estudos de doutorado em economia na França. Segundo o depoimento dele, quando mais jovem queria ser escritor de ficção mas depois percebeu que seu forte era captar o essencial da realidade. Essa qualidade é percebida em seus textos, que ainda hoje são referência nos estudos sobre a formação da economia brasileira. De herança keynesiana, ele ressaltava a importância do Estado na história. Em 1949, ele entra para a recém criada Comissão Econômica para a América Latina e Caribe, a CEPAL, que foi um centro de importantes pesquisas sobre esses países, classificados como subdesenvolvidos. Assim, Celso Furtado percebeu o subdesenvolvimento com resultante de um processo histórico de dominação, não era algo simples de resolver. Contudo, para que o ciclo da pobreza pudesse ser rompido, era necessário o desenvolvimento de um indústria interna forte. Além disso, é importante que se perceba que o subdesenvolvimento é um processo específico e não uma etapa para o desenvolvimento. Com essas ideias Furtado vira expoente no pensamento desenvolvimentista e nacionalista, certamente influenciando as medidas econômicas de Vargas em seu governo. Temos então o livro Formação Econômica do Brasil, que teve repercussão internacional e sem paralelos, combinando a análise keynesiana com análise histórica no processo de construção do capitalismo no Brasil. Compreende-se esse processo como fruto do contexto da instalação do subdesenvolvimento, uma história da concentração do poder. No governo Juscelino, as ideias de Celso foram aproveitadas no programa da nova política de desenvolvimento para o nordeste e ele foi convidado para a direção da Sudene em 1952. Nessa nova perspectiva, não se buscaria lutar contra a seca a partir de obras, mas considera-la como parte daquele ecossistema, buscando mudanças com a industrialização do nordeste e desmontando a estrutura fundiária da região. Celso vê os problemas econômicos e sociais da seca como resultado desse ultimo fator e não do fenômeno natural. A entrada de João Goulart no poder mostra uma forte influência do governo Juscelino, com as diferenças do peso sindical e do enfrentamento com os norte- americanos. Furtado vira ministro do planejamento desse governo em 62, mas em 63 volta para a Sudene, onde permanece até seu exílio forçado com o golpe militar. O golpe muda a direção de um processo brasileiro de capitalismo civilizado para um capitalismo selvagem, mudando o rumo de reformas do país. Assim, a concentração de renda foi agravada e os problemas estruturais não foram resolvidos. Celso então diz a bela frase: “Em nenhum momento da nossa história foi tão grande a distancia do que somos e o que esperávamos ser.” Mesmo com o horizonte de seus sonhos se afastando, Celso nunca parou de mostrar caminhos, quais são as condições estruturais cuja mudança contribuiria para construção do sonho. A partir desse documentário é possível perceber a importância da obra e vida de Celso Furtado, como economista e homem político. Compreende-se também que seu trabalho não pode ser visto fora de seu contexto histórico, pois o marcou fortemente.