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RESENHA “UM SONHO INTENSO”, 2013.

Dirigido por José Mariani, “Um sonho intenso,” 2013, traz um relato das
transformações e do processo de desenvolvimento socioeconômico brasileiro, válido
principalmente pelo relato de economistas e historiadores que consideram que os avanços
desde 1930 até os dias atuais não foram suficientes para eliminar as principais características
do subdesenvolvimento brasileiro. O documentário faz uma profunda reflexão sobre o processo
de desenvolvimento do país, bem como as suas características principais e as suas contradições.
Narrando o ano de 1930 que foi marcado pela Grande Depressão e a crise cafeeira, a análise se
desenvolve a partir da opinião e da reflexão de grandes pensadores da temática, como Maria
da Conceição Tavares, Carlos Lessa, Celso Amorim, Luiz Gonzaga Belluzzo, João Manuel
Cardoso de Melo, entre outros.
O documentário se trata de uma obra de reflexão sobre a história econômica do país
desde 1930. A partir de uma visão crítica, os entrevistados traçam um panorama social e
econômico brasileiro que consideram os avanços obtidos no país nos últimos anos e a
desigualdade inerente ao processo. Carlos Lessa abre o documentário e conduz o discurso do
filme, economista e ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social , ele ressalta a ideia de que as privatizações realizadas por Fernando Henrique Cardoso
fundaram o projeto de soberania nacional. Já Maria da Conceição Tavares ressalta sobre a
relevância da política de criação de emprego durante o governo Lula, que gerou 10 milhões de
empregos no país e que na crise de 2009, conseguiu ser o único país que não foi atingido pelo
desemprego.
O economista e professor brasileiro Luiz Gonzaga Belluzzo também ressaltou que o
governo Lula aproveitou um momento marcado pela hiperinflação internacional e forneceu um
destino correto para as políticas sociais brasileiras. O documentário também faz uma profunda
reflexão sobre o governo Goulart, os anos da ditadura e todo o seu processo do ponto de vista
econômico e social. No entanto, como contraponto, Francisco de Oliveira, que é considerado
um dos mais relevantes sociólogos brasileiros, possui uma visão oposta, e afirma que os petistas
na verdade são os “nacionalistas do grande empresariado”.
O documentário faz uma análise do Brasil República, iniciando com a república do café
com leite que abrange a sua discussão até o governo Lula, passando por todos os presidentes,
eleitos ou impostos, sob um viés principalmente econômico e social. Dentre as diversas
reflexões possíveis que o documentário abarca a não aceitação da elite econômica e dos
militares sobre as mudanças propostas para melhorar a distribuição de renda no país e que as
reformas de base de João Goulart, na verdade tinham o objetivo de alcançar os interesses
capitalistas. Além disso, o “milagre econômico” da ditadura é retratado como algo
extremamente negativo, pois na realidade concentrou renda e estimulou o consumo da classe
média e das grandes elites no país.
Os discursos dos especialistas se unem para reforçar a ideia de que Getúlio nos deu uma
base social e Juscelino, de fato, os avanços econômicos, e tal disparidade, foi João Goulart que
tentou solucionar tal questão, no entanto foi impedido pela intervenção militar. Além disso, o
documentário também ressalta que a estatização proposta pelos militares gerou uma reação dos
empresários, que passaram a defender a volta da democracia, diante da ameaça dos seus
próprios interesses. A partir de visões importantes sobre a nossa história econômica, o
documentário revela que ao longo do tempo, mesmo diante das mudanças políticas e
econômicas do país, a propriedade não foi desconcentrada e nesse processo, houve rupturas e
mudanças sociais que permitissem desenvolver uma sociedade mais igualitária.

Referência:

Um Sonho Intenso (2015 / Brasil)


Direção: José Mariani
Roteiro: José Mariani
Consultor: Ricardo Bielschowsky
Duração: 101 min.

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