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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA


ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO
Especialização em Gestão Pública Municipal

A ECONOMIA NO GOVERNO DE LUÍS INÁCIO LULA DA SILVA1

Antonio Jorge de Souza Menezes2


Raimundo Manoel de Jesus Filho3

O Brasil após o período da ditadura militar começou a redemocratizar a sua política. O


País se encontrava com uma dívida externa altíssima em decorrência da política
desenvolvimentista do regime militar, com a tomada de empréstimos junto ao FMI (Fundo
Monetário Internacional) a juros altíssimos e com uma inflação assustadora, na casa dos dois
dígitos. Por conta disso, muitos planos econômicos foram criados nos governos posteriores para
controlar esta inflação e aplacar a dívida com o Banco Internacional, porém muitos desses
planos falharam e até ocasionaram no primeiro impeachment da história recente do Estado
Brasileiro. No entanto, houve um plano econômico que deu certo. Em 1994, o então presidente
Itamar Franco, tendo como Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, lança o Plano
Real! Este plano estabilizou a moeda brasileira e subsequentemente parou a subida galopante
da inflação. O sucesso desse plano rendeu ao ministro duas eleições (1995-1998 e 1999-2002).
No final do seu segundo mandato, não podendo mais se reeleger, Fernando Henrique
Cardoso, passa o bastão do poder para o eleito, depois de três derrotas consecutivas, Luís Inácio
Lula da Silva. O mercado apavorou-se somente com a possibilidade de Lula ser eleito. A bolsa
caiu, a inflação subiu, o dólar disparou. Isso tudo porque a ideologia do partido era mais voltada
para a esquerda socialista. Contudo, diferentemente do que o mercado previu, o presidente
eleito, Luís Inácio Lula da Silva deu continuidade à política econômica do seu antecessor e foi
muito além, o que, como se verá a seguir, ocasionou em oito anos de mandato presidencial.
O governo Lula reafirmou a política econômica do governo anterior e, ainda foi mais
profundo nas reformas que o país precisava para vencer a crise, contrariando muito integrantes
do seu próprio partido. Entre as medidas econômicas, foi realizada a renovação do acordo com
o FMI e houve também um aumento do superávit primário que, na expectativa do mercado
deveria ser de 3,75% do PIB (Produto Interno Bruto) e passou a ser de 4,25% (GIAMBIAGI,

1 Trabalho apresentado no Curso Especialização em Gestão Pública Municipal


2Antonio Jorge de Souza Menezes
3 Raimundo Manoel de Jesus Filho
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2011). Em conjunto com estas medidas econômicas, Fábio Giambiagi citou também, como
“guinada” do mercado o “compromisso do novo governo com as chamadas ‘reformas
estruturais’, entre as quais foram: o envio de proposta de reforma tributária ao Congresso
Nacional e em paralelo a reforma da previdência que foi muito mais profunda do que a
realizada por Fernando Henrique Cardoso. ” (GIAMBIAGI, 2011).
Muito embora, os dois mandatos do presidente Lula tenham sido marcantes para a
economia brasileira, há autores que fizeram outras análises desmerecendo as estratégias
adotadas pelo governo. Filgueiras e Gonçalves, por exemplo, utilizando-se dos ótimos números
conquistados pelo governo, para dizer que estes números “não somente perdem todo o brilho,
como ficam ofuscados com os números dos seus antecessores. ” (FILGUEIRAS E
GONÇALVES, 2007). A atenção dos autores se dirige para temas mais estritamente
econômicos, caracterizando a política econômica do governo Lula como “fiel executora do
modelo liberal periférico” (FILGUEIRAS E GONÇALVES, 2007). Os autores argumentam
que no primeiro mandato do governo Lula, a política econômica herdada do governo anterior
e, apoiado no melhor desempenho do setor externo, deu novo “fôlego” ao modelo
governamental.
Filgueiras e Gonçalves dizem que “nos primeiros anos do primeiro mandato
presidencial de Lula, a situação econômica internacional apresentou-se extraordinariamente
favorável em todas as esferas. O mundo todo cresceu e puxou o Brasil com ele, ...”. A bem da
verdade que o governo de Lula teve um ambiente bastante favorável economicamente, tanto a
nível nacional, com um plano Real que deu certo, como a nível internacional. Prosseguindo,
Filgueiras e Gonçalves utilizando-se de dados do FMI à época demonstraram que “a renda
mundial cresceu a uma taxa média de 4,9%, muito superior à média secular (1890 – 2006) de
3,2%”. Há também de se tecer comentários acerca do superávit primário dito anteriormente. O
mercado internacional esperava um superávit primário de 3,75% do PIB e o governo, indo mais
além, delimitou-o em 4,25%. Isso, nas palavras de Filgueiras e Gonçalves, muito embora tenha
diminuído a dívida externa, esta foi “contrabalanceada com a dívida interna ocasionada por
este aumento do superávit primário”, o que levou ao pagamento de taxa de juros mais alta em
um prazo mais curto.
Outro fator econômico importante, que somente um partido como o de Lula conseguiria
alcançar era a implementação das reformas estruturais necessárias para o crescimento do País,
como a tributária e a previdenciária. Como um partido de esquerda, com fortes laços com os
sindicatos e os movimentos sociais, estas contrarreformas tornou-se muitos mais fácil de serem
implementadas que dificilmente um governo, como o de Fernando Henrique Cardoso (FHC),
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conseguiria implementar” (BOITO JR, agosto 2006). Dessa forma, nas palavras de Boito Jr.,
O presidente Lula “serviu muito melhor a burguesia do que qualquer outro partido liberal”.
Continuando, Boito Jr. explica que a burguesia esta subdividida em “blocos de poder” opostos
entre si. No primeiro bloco, na parte superior, está “o grande capital financeiro internacional
e os grandes bancos. Na parte inferior, ainda do primeiro bloco, estão o grande capital
industrial e o agro voltado para exportação. ” Já no segundo bloco, também dividido em
superior e inferior, estão “as médias empresas exportadoras e médio capital bancário, e na
parte inferior desse segundo bloco estão o médio capital industrial voltado para o consumo
interno. ” (BOITO JR, agosto 2006). Assim, o governo Lula serviu para o grande capital
financeiro e os grandes bancos ao aumentar o superávit primário, contrariando o segundo bloco,
pois a dívida interna aumentou, prejudicando a economia doméstica. Em contrapartida, a
política assistencialista do governo de Luís Inácio Lula da Silva aqueceu essa mesma economia
interna, fazendo com que houvesse um consumo por parte dos mais necessitados agradando em
fim aos burgueses cuja produção era voltada para os brasileiros.
Em suma, o período compreendido entre 2003 – 2010, embora tenha para muitos autores
um período comemorado pelo capital financeiro e os demais burgueses, as classes mais pobres
da sociedade também tiveram um enorme alívio, pois ascenderam economicamente, mesmo
que de forma dependente do governo. No entanto, como é de praxe, esse programa
assistencialista se tornou um importante instrumento de manipulação dessas classes, a qual o
voto tem definido presidentes, como se viu nas eleições de 2022.

REFERÊNCIAS

BOITO JR., Armando. A BURGUESIA NO GOVERNO LULA. En publicación:


Neoliberalismo y sectores dominantes. Tendencias globales y experiencias nacionales.
Basualdo, Eduardo M., Arceo, Enrique. CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias
Sociales, Buenos Aires. Agosto 2006. ISBN: 987-1183-56-9.

FILGUEIRAS, Luiz; GONÇALVES, Reinaldo. A ECONOMIA POLÍTICA DO


GOVERNO LULA. 1ª edição, editora Contraponto, 2007.

GIAMBIAGI, FABIO; VILELA, ANDRÉ E OUTRO. ECONOMIA BRASILEIRA


CONTEMPORÂNEA [1945 – 2010]. 2ª edição, editora Elsevier, 2011.

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