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Nº 8 Eduardo Antonio Canda João

Princípio do Participativo na Gestão da Administração

Segundo, os professores Marcelo Rebelo de Sousa e André Salgado de Matos este


princípio abarca dois subprincípios que aparecem frequentemente autonomizados: o
princípio da colaboração da administração pública com os particulares e o princípio da
participação dos particulares na formação das decisões que lhes digam respeito.

Este princípio, manifesta-se através do poder reconhecido aos particulares de


participarem, de diversas maneiras, no exercício da actividade administrativa (arts. 199º/2
da CRA, 8º, 27º e 52º D.L. 16A/95 de 15 de dezembro). A importante expressão deste
princípio assenta no direito dos interessados à sua audiência prévia previsto no art. 33º D.L.
16A/95, NPAA. Significa que, os cidadãos não devem participar na vida administrativa,
apenas na eleição dos respectivos órgãos, mas também, devem fazê-lo, intervindo, no
funcionamento quotidiano da Administração.

Funcionalmente, este princípio decorre da necessidade de regular em lei o direito de


audiência de particulares relativamente às decisões administrativas que lhes digam respeito.
Por isso, no diploma sobre as Normas do Procedimento e da Actividade Administrativas
encontramos consagrados: a colaboração com os particulares (prestar informações e
esclarecimentos, receber sugestões e informações), da participação, a audiência dos
interessados, o direito à informação sobre o andamento dos processos em que sejam
diretamente interessados67 (arts. 7º, 8º, 33º, 52º e 34º respectivamente todos do D.L.
16A/95 de 15 de dezembro).

Princípio da Colegialidade

É outro princípio com dignidade constitucional, nos termos do artigo 134º e 136º da
CRA. Este princípio traduz a ideia que na tipologia de órgãos administrativos poderão
figurar órgãos colegiais, isto é, aquele que é constituído por mais de um membro, dada a
elevada complexidade de determinadas matérias e que pela sua especialidade obedecem a
um regime próprio de tomadas de deliberações, cuja regulamentação não é genérica a
aplicação plena a todos órgãos colegiais. Porém, encontramos disposições em cada diploma
regulador do estatuto de um órgão colegial a exemplo do DP. nº 216/12 de 15 de outubro
(Regimento do Conselho de Ministros).
A partir dos diplomas reguladores de alguns órgãos administrativos colegiais podem
sintetizar-se as mais relevantes regras gerais a que obedece ao nosso direito, influenciado
pela doutrina portuguesa, na constituição e funcionamento dos órgãos colegiais: a
composição e constituição, marcação e convocação de reuniões, sessões de membros,
funcionamento, deliberação e votação, quórum, modos de votação, a maioria, decisão etc.

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Princípio da Aproximação da Administração às Populações

O princípio da aproximação dos serviços administrativos às populações está contido


no art. 199º/1 da CRA. A aproximação da Administração Pública das populações assenta no
pressuposto de que as necessidades coletivas são melhor satisfeitas através de pessoas
coletivas, órgãos e serviços administrativos próximos daqueles que as experimentam.
Proximidade significa a existência de entidades administrativas mais próximas dos
particulares e, de órgãos e serviços, dentro de cada entidade administrativa, com mais fácil
conhecimento das necessidades concretas que lhes cabe satisfazer e, implica ainda, a
possibilidade de participação dos particulares na formação das decisões que lhes dizem
respeito. Este princípio desdobra-se nos princípios da descentralização, da desconcentração
e da participação dos particulares na gestão da administração pública.

Princípio da Desconcentração

A desconcentração é o modelo em que, por razões de descongestionamento, ou


outros motivos, se permite que determinadas entidades, por via originária ou derivada,
exerçam determinadas funções ou poderes. A desconcentração ocorre na mesma pessoa
coletiva em que há uma repartição em os vários órgãos as competências entre superiores
hierárquicos e subalternos. A Administração é desconcentrada quando aos órgãos inferiores
são atribuídos poderes decisórios. A desconcentração pode ser: a) Funcional ou burocrática
(do ministro para as direções nacionais, destas para as repartições, b) Territorial para a
administração periférica interna (Governo Provincial, Administração Municipal e
Comunal).

Uma estrutura administrativa desconcentrada implica, uma maior eficiência da ação


administrativa, uma maior rapidez de resposta, permitindo, em função disso, uma maior
qualidade de serviço, pese embora, tem a desvantagens de implicar múltiplos centros
decisórios, o que pode inviabilizar a tomada de decisões harmoniosas. No ordenamento
jurídico angolano o princípio da desconcentração é constitucionalmente consagrado no art.
199º/1 da CRA e cujo regime jurídico ordinário tem priorizado a desconcentração derivada
em detrimento da originária, porquanto na generalidade dos casos a fórmula que se utiliza é
a de que “tal titular ou tal órgão poderá delegar”.

Princípio da Descentralização

O princípio da descentralização administrativa decorre do art. 199º/1 e 213º/1 da


CRA. Este princípio exige que, o exercício da função administrativa não seja cometido
apenas ao Estado-Administração, mas, também, a outras pessoas coletivas.

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O Estado admite e reconhece a existência de outros entes públicos com plena


eficácia de satisfazer as necessidades da coletividade. A descentralização, corresponde a
qualquer transferência de atribuições da organização administrativa do Estado, para outros
organismos administrativos, sendo um simples instrumento de desoneração do Estado e da
repartição e especialização de tarefas entre a sua administração direta e uma variedade de
entes administrativos por ele criados encarregues da realização de atividades
administrativas.

O princípio da descentralização administrativa, não pode ser entendido num sentido


meramente formal, ou seja, não basta que, para além do Estado, outras pessoas coletivas
exerçam a função administrativa, é necessário que, essas pessoas coletivas e os seus órgãos
sejam investidos pela lei de atribuições e competências, que permitam efetivamente a
aproximação às populações e que lhes sejam afetados os recursos humanos e financeiros
necessários, para que possam prosseguir aquelas atribuições e exercer aquelas
competências.

Princípio de Autonomia Local

Consagrado no art. 213º da CRA, em que o enunciado constitucional aponta para a


conexão da administração autónoma como princípio democrático da organização do Estado
e da existência das formas organizativas do poder local que, compreendem as autarquias
locais, as instituições do poder tradicional e outras modalidades específicas de participação
dos cidadãos. Na realidade angolana, segundo interpretação do art. 213º da CRA, a
autonomia local não se resume, apenas, na autonomia das autarquias locais, mas num
sentido amplo que corresponde para além das autarquias locais, o reconhecimento das
autoridades tradicionais (poder tradicional) e outras modalidades específicas de
participação dos cidadãos (comissões de moradores).

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