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AULA 1

DIREITO ADMINISTRATIVO

Prof. Rômulo Quenehen


TEMA 1 – NOÇÕES GERAIS

“O conceito de Direito Administrativo Brasileiro, para nós, sintetiza-se no


conjunto harmônico de princípios jurídicos que regem os órgãos, os agentes e as
atividades públicas tendentes a realizar concreta, direta e imediatamente os fins
desejados pelo Estado” (Meirelles, 1991).
Celso Antônio Bandeira de Mello (2002) afirma que o direito administrativo
é o ramo do direito público que disciplina a função administrativa, bem como
pessoas e órgãos que a exercem.
Hely Lopes Meirelles (1991), por sua vez, destaca que "os órgãos, agentes
e atividades administrativas como instrumentos para realização dos fins
desejados pelo Estado".
Maria Sylvia Zanella Di Pietro afirma que o objeto do Direito Administrativo
são os órgãos, agentes e as pessoas integrantes da Administração Pública no
campo jurídico não contencioso. “O ramo do direito público que tem por objeto os
órgãos, agentes e pessoas jurídicas administrativas que integram a Administração
Pública, a atividade jurídica não contenciosa que exercer e os bens de que se
utiliza para a consecução de seus fins, de natureza pública”.

TEMA 2 – NOVA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A Nova Gestão Pública, identificada como Gestão para o Século XXI, é uma
proposta que se destina a adaptar e melhorar as formas de organização e
funcionamento do Administração Pública, para que o Estado possa cumprir com
eficácia e eficiência os seus fins.
Reconhece que o Estado é o instrumento fundamental para orientar o
desenvolvimento econômico, de qualquer país e que, portanto, é necessário
fortalecer sua capacidade de gestão.
Seu maior desafio é harmonizar as tendências globais de mudança com as
especificidades de cada país, e suas correspondentes divisões territoriais.
A Nova Gestão Pública é definida, também, como um novo contrato, um
novo acordo entre políticos, funcionários públicos e sociedade, para melhorar a
capacidade do Estado na sua tarefa de implementar políticas, em condições
fiscais e financeiras adequadas.
A Nova Gestão Pública surge do reconhecimento da existência de três
grandes problemas que estão presentes nos países da América Latina, que são

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facilmente identificáveis nos níveis nacional, estadual e municipal e que devem
ser considerados como prioridade pelo Estado. São eles: consolidação da
democracia; crescimento econômico; e redução da desigualdade social.

2.1 Administração Pública Patrimonialista

A administração pública patrimonialista no Brasil tem suas origens no


século XVII. O governo era autoritário, escravocrata, patrimonialista, e o modelo
de Administração Pública era caracterizado por imoralidade, corrupção e
nepotismo. Os bens, o dinheiro e o patrimônio público se confundiam com os bens
dos governantes.

2.2 Administração Pública Burocrática

O marco de criação do modelo burocrático no Brasil foi nos anos 1930, com
a criação do Departamento Administrativo de Serviço Púbico (Dasp), no governo
de Getúlio Vargas. O modelo de administração burocrática visava combater à
corrupção e o nepotismo patrimonialista. Pretendia instaurar o poder racional-
legal: as normas e procedimentos universais; o controle rígido dos processos
administrativos; a criação de concurso público; a profissionalização, a promoção
por mérito, a carreira, a hierarquia funcional e a função orçamentária.
A Administração Pública brasileira possui três fases distintas, a do modelo
de administração patrimonialista (período da monarquia e início da República); a
do modelo burocrático adotado pelo governo Vargas para substituir o
patrimonialismo; e por último o modelo gerencial implementado de fato no governo
Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Segundo Bresser-Pereira (2010): “a característica principal do modelo
patrimonialista era o nepotismo e a confusão entre o público e o privado. Já o
modelo burocrático tentava romper e impor a distinção entre o público e o privado
e a separação entre o político e o administrador público”.
Ainda que o pensamento do modelo gerencial exista desde meados dos
anos 50, foi no governo do Fernando Henrique Cardoso que ele foi realmente
implementado na Administração Pública Brasileira. Dentre os principais objetivos
do modelo estaria a readequação do aparato estatal para a promoção eficiente de
justiça social. “A Reforma buscava tornar os administradores públicos mais

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autônomos e responsáveis, e as agências executoras dos serviços sociais mais
descentralizadas” (Bresser-Pereira, 2010).

TEMA 3 – PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A chave da boa administração pública é a busca da realização de seus


princípios e do interesse público. “O Direito Administrativo brasileiro não é
codificado. Por isso, as funções sistematizadora e unificadora de leis, em outros
ramos desempenhadas por códigos, no Direito Administrativo cabem aos
princípios” (Mazza, 2014).
O direito administrativo brasileiro tem a função de garantia (Mazza, 2014):

O direito administrativo, cumpre basicamente uma função de garantia,


de modo que protege tanto o interesse público como o privado ante a
utilização ilegítima da administração pública. Os processos
administrativos devem respeitar os princípios. Princípios são regras
gerais que a doutrina identifica como condensadoras dos valores
fundamentais de um sistema. Por meio de um processo lógico
denominado abstração indutiva, os estudiosos extraem da totalidade de
normas específicas as ideias-chave que animam todo o complexo de
regras. Assim, os princípios informam e enformam o sistema normativo.
Informam porque armazenam e comunicam o núcleo valorativo
essencial da ordem jurídica. Enformam porque dão forma, definem a
feição de determinado ramo.

Celso Antônio Bandeira de Mello (2002) informa:

princípio é, pois, por definição, mandamento nuclear de um sistema,


verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre
diferentes normas, compondo-lhes o espírito e servindo de critério para
exata compreensão e inteligência delas, exatamente porque define a
lógica e a racionalidade do sistema normativo, conferindo-lhes a tônica
que lhe dá sentido harmônico.

Mello (2002) completa:

violar um princípio é muito mais grave do que violar uma norma. A


desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico
mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais
grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão
do princípio violado, porque representa insurgência contra todo o
sistema, subversão de seus valores fundamentais.

Atividade Administrativa é execução imediata da lei, direta e


concretamente. Os princípios basilares do Direito Administrativo são dois. A
supremacia indica a supremacia do interesse público sobre o privado, ao passo
que a indisponibilidade indica a indisponibilidade do interesse público.

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TEMA 4 – PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO

Princípios constitucionais da Administração (art. 37, caput):

 Legalidade: A Administração só pode fazer o que a lei permitir ou


determinar.
 Impessoalidade: Impõe as seguintes condutas: a) igualdade de
tratamento às pessoas; b) neutralidade do agente público.
 Moralidade: Impõe obediência à ética, à honestidade e à probidade. A
contratação de parentes para cargo em comissão viola o princípio (Súmula
Vinculante n. 13 do STF). A improbidade é a imoralidade administrativa
qualificada. Os meios de proteção poderão ser: ação popular, ação civil
pública, ação por improbidade e outras ações judiciais.
 Publicidade: Impõe divulgação dos atos oficiais para conhecimento
público e início de efeitos externos. As exceções são os sigilos para
preservar a segurança da sociedade e do Estado, bem como a intimidade,
vida privada e imagem de pessoas.
 Eficiência: Impõe à Administração atender satisfatoriamente aos
administrados e ao Administrador fazer o melhor como profissional. A
origem do princípio é a EC 19/98.

Outros princípios importantes:

 Razoabilidade: Impõe adequação entre os meios e fins previstos em lei. A


proporcionalidade é a medida da razoabilidade.
 Motivação: Impõe a indicação dos pressupostos de fato e de direito que
determinam o ato.
 Segurança Jurídica: Impõe maior estabilidade nas relações jurídicas (art.
2º, caput, da Lei n. 9.784/99).
 Autotutela: (art. 53 da Lei n. 9.784/99 e Súmula 473 do STF). Estabelece
que a administração tem o: dever de anular atos ilegais e o poder de
revogar atos inconvenientes, respeitados os direitos, independente de
apreciação judicial.

TEMA 5 – PODERES ADMINISTRATIVOS

Para o adequado cumprimento de duas competências constitucionais, a


legislação confere à Administração Pública competências especiais.
Sendo prerrogativas ligadas a obrigações, as competências

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administrativas constituem verdadeiros poderes-deveres instrumentais
para a defesa do interesse público. Por facilidade metodológica, vamos
estudar os importantes poderes administrativos, ao lado de algumas
figuras de intervenção estatal na propriedade privada. (Mazza, 2014)

Os poderes de que dispõe a administração pública são necessários e


aplicados de acordo com as funções determinados. Em outras palavras, a
administração pública está dotada de poderes que se constituem em instrumentos
de trabalho:

 Poder vinculado: O poder vinculado nasce da lei. O administrador público


está vinculado pela letra de lei para a prática dos atos administrativos. É o
exemplo da multa de trânsito por passar no sinal vermelho.
 Poder discricionário: É o poder que dispõe a administração pública para
a prática de alguns atos com maior liberdade de ação.
 Poder disciplinar: A faculdade de castigar internamente as infrações
funcionais dos servidores. O poder disciplinar se exerce no âmbito dos
órgãos e serviços da administração.
 Poder de polícia: É a faculdade da administração pública de condicionar
ou de restringir o uso e o gozo de bens, atividades e direitos individuais, em
benefício da coletividade ou do próprio Estado. O poder policial é o
mecanismo de controle e dispõe a administração pública para conter os
abusos da utilização desenfreada do direito individual.

Quadro 1 – Polícia administrativa versus polícia judiciária

Polícia administrativa Polícia judiciária


ilícito administrativo ilícito penal
bens e atividades pessoas
Age por variados órgãos Age por Polícia Civil e PF
Observação: A Polícia Militar faz policiamento ostensivo.

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REFERÊNCIAS

BRESSER-PEREIRA, L. C. Democracia, estado social e reforma gerencial. Rev.


adm. empres., São Paulo, v. 50, n. 1, jan./mar. 2010.

DI PIETRO, M. S. Z. Direito Administrativo. 14. Ed. São Paulo: Atlas, 2002.

_____. Discricionariedade administrativa na constituição de 1988. 2. ed. São


Paulo: Atlas, 2001.

DINIZI, M. H. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral das obrigações. 26.
ed. São Paulo: Saraiva 2011. v. 2.

MAZZA, A. Manual de direito administrativo. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.

MEIRELLES, H. L. Direito administrativo brasileiro. 16. ed. atual. São Paulo:


Revista dos Tribunais, 1991.

MELLO, C. A. B. de. Ato administrativo e direitos dos administrados. São


Paulo: Revista dos Tribunais, 1981.

_____. Curso de direito administrativo. 14. ed. ref. ampl. e atual. São Paulo:
Malheiros, 2002.

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