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COMPLIANCE E CONTROLE NA

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
AULA 3

Prof. Rogério Carlos Born


CONVERSA INICIAL

Nesta aula serão abordados o conceito de controle no poder público, os


princípios constitucionais aplicados ao controle da administração, os tipos de
controle e os elementos de controle na administração pública.
No primeiro tema, você irá conhecer as origens do controle na
administração pública e sua interligação com o planejamento estratégico.
No segundo tema, será abordada a aplicação dos princípios
constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade e eficiência aos
controles interno e externo da administração pública.
O terceiro tema contemplará a análise da legalidade e de mérito dos atos
administrativos vinculados, com base na legalidade, e os discricionários, com
fundamento na legalidade e no mérito.
O quarto tema trará o enfoque nos tipos de controle contábil,
orçamentário, financeiro, patrimonial e operacional em relação à legalidade, à
legitimidade e à economicidade.
O quinto e último tema tratará de competência, forma, objetivo, finalidade,
motivação, tempo e abrangência, o que será diferente em relação ao controle
interno e externo.

TEMA 1 – CONCEITO DE CONTROLE NO PODER PÚBLICO

O poder público, embora necessite proteger o patrimônio público,


principalmente porque foram adquiridos e são mantidos pelos contribuintes,
somente há poucas décadas ganhou relevância
Castro (2018, p.35) ensina que a palavra controler, na origem francesa,
significa inspecionar, examinar e registrar. É derivada de contre-rôle, que tem o
significado de fazer um registro fidedigno de dados tomando como base um
documento original. Também esclarece que, na origem italiana, o termo controllo
adquire o mesmo sentido, mas se consagrou na seara mercantil para definir a
inspeção ou exame de papéis para registros empresariais.
Com o passar do tempo, a palavra controle agregou as funções de
coordenação, direção, organização e planejamento às finalidades de aferição,
avaliação, desempenho e resultados, as quais são típicas da gestão privada.
Assim, o controle de qualquer organização envolve as atividades financeiras,

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estratégicas e operacionais de forma que a sua ausência atinge diretamente
tanto as atividades de administração privada quanto da gestão pública.
Apesar do controle na administração pública, em primeiro plano, ser
voltado principalmente para a legalidade, uma vez que o agente público está
preso à prática de atos vinculados ou relativamente discricionários, não é restrito
apenas ao enfoque legal.
De acordo com Corbari e Macedo (2011, p. 47):

O enfoque legal dos atos e dos procedimentos atribuídos ao controle


se justifica devido ao modelo de controle implementado no período em
que a administração pública estava voltada para o método racional-
legal por Weber com o objetivo de substituir o exercício do poder do
Estado absoluto. No Estado absoluto, predominava a administração
patrimonialista, na qual o aparelho do Estado funcionava como uma
extensão do poder do soberano, sendo que o exercício do poder era
desempenhado conforme seu arbítrio, sem se ater às leis e à vontade
popular.

A administração pública moderna implementou o sistema burocrático


racional e legal idealizado por Max Weber como sistema que busca pelos
procedimentos conduzidos por agentes públicos de carreira em graus
hierárquicos que praticam atos que deverão necessariamente publicados com a
finalidade de afastar a corrupção e evitar o nepotismo clássico do Estado
absoluto (Corbari; Macedo, 2011).
A Constituição da República, de 5 de outubro de 1988, diferentemente das
cartas anteriores, aperfeiçoou os seus mandamentos relacionados à legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (art. 37), trazendo
conceitos de cunho gerencial da administração pública como a coordenação,
direção, organização e planejamento (Brasil, 1988).
O controle passou a ser conduzido de forma responsiva sobre a
verdadeira performance, haja visa que passou a exigir um retorno das ações
planejadas a fim de afastar as possíveis anomalias no curso das ações e projetos
do poder público. Tudo isso exige uma sistematização de paradigmas e
instrumentos para o alcance dos resultados pretendidos pela administração
pública.
O moderno controle na administração pública passou a ser tratado dentro
do conceito de ato vinculado e discricionário. Vale lembrar que o direito privado
permite a prática de quaisquer atos que a lei civil e empresarial não proíba. No
direito administrativo, os agentes públicos, quando o ato é vinculado, somente
poderão praticar os atos que a lei ordena e, quando é discricionário, dentro da

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margem de liberdade que a norma autoriza. Conforme o art. 37, caput, da
Constituição, os atos vinculados de controle são aqueles ligados aos princípios
da legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade, ou seja, são os itens
em que o órgão controlador é obrigado a verificar de acordo com o direito (Brasil,
1988). Ainda de acordo com o mesmo artigo da Carta Magna, os atos
discricionários de controles são aqueles relacionados ao planejamento
estratégico, ou seja, à implementação de ações baseadas no princípio da
eficiência que dependem da formação do administrador (Brasil, 1988). Essa ideia
também se encontra alinhada com o significado da fiscalização operacional
contida no capítulo da fiscalização contábil, financeira e orçamentária da
Constituição (art. 70, caput) (Brasil, 1988). Dessa forma, o controle interno
atende à atividade-fim com os resultados e a atividade-meio com as estratégias.
Nesse ponto, é vital que a função de planejamento seja interligado com o
controle. O planejamento é quem define os paradigmas para a medição dos
verdadeiros resultados para a avaliação de resultados (Bio, 2008).
Os principais ambientes que caracterizam o controle são a
predeterminação de objetivos e metas que o sistema deve atingir; um sistema
de aferição para o acompanhamento do desenvolvimento; a comparação do
resultado com as metas e objetivos pretendidos e a definição de meios de ajustes
para correção das metas e objetivos (Nash; Roberts, citados por Jund, 2003).
Assim, o planejamento e o controle são interligados, interdependentes e
responsivos, uma vez que os sistemas se nutrem num movimento circular
permanente de forma a oferecer ao administrador o retorno dos resultados de
seus atos, admitindo a avaliação do andamento e os atos de correção dos erros
e desvios. Normalmente, o mecanismo de controle é subutilizado porque existe
uma falsa imagem de que é somente um instrumento punitivo que visa identificar
as irregularidade de punir os culpados e na verdade é um sistema estratégico e
orientador de tomadas de decisão pelos gestores públicos.
Na administração pública, o controle interno serve também para limitar o
poder e permitir a fiscalização da utilização de bens e direitos público por
qualquer cidadão ou, no termo mais preciso, do contribuinte.
Hely Lopes Meirelles (2020) frisa que o controle tem, nesta ordem, uma
função vigilância, orientação e correção entre órgãos, poderes (externo),
autoridades e servidores (interno).

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TEMA 2 – PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS APLICADOS AO CONTROLE DA
ADMINISTRAÇÃO

A Constituição prevê que todos os atos administrativos, inclusive os de


controle, deverão respeitar os princípios da legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência (Brasil, 1988). Os controles interno e externo
devem prever mecanismos de fiscalização de cumprimento desses primados
dentre os órgãos, autoridades e servidores públicos.
O princípio da legalidade prevê que todos os atos deverão ser praticados
dentro das normas de direito constitucional e administrativo. O direito
administrativo não possui uma codificação das normas como ocorre com outros
ramos do direito (Código Civil, Penal, Processo Civil e Penal, Eleitoral, Tributário,
Militar etc.). É um conjunto de leis esparsas que tratam individualmente de cada
matéria e que frequentemente se envolvem em conflitos hermenêuticos
aparentes que são resolvidos pelos métodos de interpretação sistemático,
cronológico e pela especialidade. A Lei de Improbidade Administrativa,
independentemente de prejuízos ao erário, sanciona a prática de atos de
improbidade administrativa que importam enriquecimento ilícito, “perda dos bens
ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano,
quando houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de oito
a dez anos, pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo
patrimonial” (Lei n. 8.429/1992, arts. 9 e 12, I) (Brasil, 1992). A mesma lei, em
seus arts. 10 e 12, II, também sanciona a prática de atos de improbidade
administrativa que causam prejuízo ao erário com o

ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores acrescidos


licitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da
função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos,
pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano. (Brasil,
1992)

O princípio da impessoalidade busca afastar os privilégios e preferências


do gestor ou de servidores públicos, primando por procedimentos objetivos de
seleção de serviços e servidores públicos. Esse primado constitucional fica bem
evidente no processo licitatório e nos concursos públicos para provimento de
cargos. A impessoalidade exige que os agentes públicos sejam neutros no que
diz respeito às relações particulares com pretensos fornecedores de bens e

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serviços e com candidatos aos cargos públicos e que vise o interesse público
por meio do mérito dos prestadores.
Pelo princípio da moralidade, não basta que o agente ou autoridade
públicos ajam de acordo com a lei, mas que pautem as suas condutas de acordo
com a ética e a probidade. No entanto, as condutas que são legais nem sempre
são imorais e, por isso, a Lei de Improbidade Administrativa, independentemente
de prejuízos ao erário, sanciona com a perda da função pública, a suspensão
dos direitos políticos de três a cinco anos e o pagamento de multa civil de até
cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente pela prática de “atos
de improbidade administrativa que atentam contra os princípios da administração
pública” (Lei n. 8.429/1992, arts. 11 e 12, III) (Brasil, 1992).
O princípio da publicidade exige que o administrador público pratique
todos os atos administrativos com transparência. De acordo com o art. 37,
parágrafo 3º, inciso II, da Constituição, é necessário que os cidadãos conheçam
todas as ações do poder público e tenham o “acesso dos usuários a registros
administrativos e a informações sobre atos de governo a todos os documentos
que comprovam estes atos” (Brasil, 1988). Esse primado não exige apenas a
publicação de atos oficiais em diários oficiais, mas que sejam divulgados em
linguagem clara e inteligível ao cidadão comum. Também é necessária uma
assessoria de comunicação social eficiente para que a divulgação dos
programas de governo cheguem a todas as camadas da população pelos meios
de comunicação social. A Constituição prevê, no art. 37, parágrafo 1º, que

a publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos


órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de
orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou
imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou
servidores públicos. (Brasil, 1988)

O princípio da eficiência exige que todas as ações, atos e programas


sejam produzidas agilidade, exatidão e economicidade. Assim, o serviço público
deverá buscar a perfeição.
A Constituição determina que

Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de


forma integrada, sistema de controle interno com a finalidade de:
[...]
II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e
eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos
e entidades da administração federal, bem como da aplicação de
recursos públicos por entidades de direito privado; (Brasil, 1988)

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A Carta Magna também prevê, no art. 144, parágrafo 7º, que “a lei
disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela
segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades” (Brasil,
1988). Os estatutos de servidores públicos também preveem o dever de
eficiência.
Por fim, a eficiência é explicita quando disposta em normas ou implícita,
uma vez que, independentemente de disposição legal, os órgãos, autoridades e
servidores públicos têm o dever de buscar a perfeição.

TEMA 3 – CONTROLE DE LEGALIDADE E DE MÉRITO

O controle quanto à extensão é realizado para avaliação da legalidade o


do mérito.

3.1 Controle de legalidade

O controle de legalidade é realizado para verificar se foram praticados


de acordo com a legislação, gênero que abrange a lei e os atos normativos.
Considera-se como leis todos as normas e regras editadas pelo Poder
Legislativo no âmbito dos quatro entes federativos e atos normativos as
regulamentações editadas pelos poderes Executivos (Decretos e outros) e
Judiciário (Resoluções e outros). A Constituição, em seu art. 59, classifica como
leis no sentido formal, as emendas à Constituição; as leis complementares; as
leis ordinárias; as leis delegadas; as medidas provisórias; os decretos
legislativos e resoluções (Brasil, 1988). Nesta classificação também deverão ser
incluídos os decretos-leis (não confundir com decretos legislativos) que eram
dispostos nas constituições anteriores e que foram recepcionadas como lei
ordinária pela atual Constituição.
O controle social da legalidade é realizado pela ação popular e mandado
de segurança individual ou coletivo.
Carvalho Filho (2019, p. 752) ressalta que

Alguns são típicos atos de direito privado, sobretudo quando a entidade


se destina à exploração de atividade econômica. Nesse aspecto,
equipara-se inteiramente às pessoas de direito privado e seus atos são
regidos pelo Direito Civil ou Comercial, dependendo da hipótese e da
natureza da atividade da empresa. Aqui incide, em toda a sua
plenitude, o art. 173, § 1º, da CF. O Estatuto, em mais de uma
passagem, indica a aplicação da Lei nº 6.404/1976, que regula as
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sociedades por ações no campo privado. Não obstante, empresas
públicas e sociedades de economia mista atuam, em muitos aspectos,
como entidades delegadas da respectiva pessoa pública controladora.
Em virtude da natureza de tal delegação, as manifestações de vontade
pertinentes rendem ensejo à prática de atos administrativos, sobre os
quais incidem, em linha de princípio, os elementos e características
peculiares aos atos dessa categoria.

Quando o controle efetua a extinção de atos em decorrência de


ilegalidade originária, os efeitos são retroativos (ex tunc) com a finalidade de
abortar a produção de efeitos antijurídicos.
Oliveira (2020) entende que é um dever da Administração Pública
promover a anulação de atos ilícitos em cumprimento ao princípio da legalidade.
É possível que o ato ilegal se mantenha vigente em circunstâncias especiais pela
convalidação ou sanatória se a decisão administrativa for motivada e ponderada
com princípios constitucionais. Exemplifica que, no controle de legalidade do ato
administrativo, “a Administração Pública pode modular os efeitos da invalidação
do ato ilegal, de forma análoga à modulação de feitos no controle de
constitucionalidade (art. 27 da Lei n. 9.868/1999)” (Oliveira, 2020, p. 526).

3.2 Controle de mérito

O controle de mérito, ao contrário, visa a comprovação da oportunidade,


conveniência e eficiência, que são avaliadas internamente em razão dos
resultados por meio de critérios técnicos e científicos que ficam sob a
responsabilidade das autoridades de direção superior de cada órgão. Aqui, como
são atos discricionários, o controle interno verifica não somente a legalidade,
mas o mérito para atestar se o gestor está atuando dentro da margem de
decisão tolerável pela lei.
Na definição de Oliveira (2020, p.497-498),

o mérito é a liberdade conferida pelo legislador ao agente público para


exercer o juízo de ponderação dos motivos e escolher os objetos dos
atos administrativos discricionários. É possível afirmar que o mérito é
o núcleo dos atos administrativos discricionários. Não há mérito na
edição de atos vinculados.

O Poder Judiciário, no entanto, somente poderá verificar a legalidade dos


atos discricionários emanados dos poderes Executivo e Legislativo, sendo-lhe
defesa a análise do mérito para não substituir o administrador e o legislador, o
que afrontaria o princípio da separação de poderes. Assim, a Justiça apenas

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pode anular um ato discricionário pela ilicitude, mas não pode revogá-los por
conveniência e oportunidade (Oliveira, 2020, p. 498-499).
Por fim, é conveniente salientar que os atos discricionários estão sujeitos,
primeiramente, pela teoria do desvio de poder ou finalidade, o que permite a
invalidação pelo Judiciário quando estiver em discordância quanto à finalidade
da norma, por exemplo, a remoção de ofício de servidor por perseguição política
(Oliveira, 2020, p. 499). Depois, pela teoria dos motivos determinantes que
explicita que “a validade do ato administrativo depende da correspondência entre
os motivos nele expostos e a existência concreta dos fatos que ensejaram a sua
edição” (Oliveira, 2020, p. 499), como no caso da exoneração de ocupante de
cargo que, se for motivada, poderá ser anulada. Por fim, pela teoria dos
princípios jurídicos e o controle de juridicidade, que exige a compatibilidade
principiológica, como no caso de nepotismo.

TEMA 4 – TIPOS DE CONTROLE

A Constituição da República prevê, no art. 70, que os controles interno e


externo deverão exercer a tutela dos atos, ações e programas governamentais
na contabilidade, orçamento, financeiro, patrimonial e operacional (Brasil, 1988).
Em cada uma dessas áreas, o controle será efetivado em relação à
legalidade, à legitimidade e à economicidade.
O controle da legalidade já foi amplamente retrocitado e debatido em
aulas anteriores e se constitui na verificação da compatibilidade das ações do
poder público com as leis e atos normativos.
O controle da legitimidade é a verificação se os atos praticados pela
administração pública atendem ao bem coletivo. Mesmo que esteja adequado à
legalidade, à impessoalidade, à moralidade e à publicidade, a legitimidade vem
completar a aplicação da eficiência.
Para Gasparini (2017, p. 111-112),

A invalidação não é obstáculo a que o ato invalidado seja novamente


editado, observada, agora, a legitimidade para sua prática, desde que,
por evidente, essa edição seja legalmente possível. Assim, invalidado
o ato de nomeação de candidato aprovado e classificado em concurso
público para ingresso no serviço público porque praticado por
autoridade incompetente pode ser novamente editado pela autoridade
competente. Nem poderia ser diferente visto que ainda se deseja a
nomeação. Do mesmo modo, invalidado um procedimento licitatório,
outro deve ser instaurado, pois ainda é desejado o bem licitado.
Diferente seria na revogação em que a situação regulada pelo ato

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revogado já não atende ao interesse público. Nesse caso, o
refazimento do ato revogado seria, no mínimo, muito estranho.

O Estado também dispõe da presunção de legitimidade ou de veracidade


como ferramenta para o exercício do poder de polícia. No entanto, a presunção
de legitimidade é apenas relativa. Isso porque a autuação de um agente público
em procedimento de fiscalização é considerada como verdadeira, mas admite
prova em contrário dos fatos e da tipificação administrativo pelo autuado para
afastar a sanção.
Como afirma Di Pietro (2020, p. 226),

Como consequência dessa presunção, as decisões administrativas


são de execução imediata e têm a possibilidade de criar obrigações
para o particular, independentemente de sua concordância e, em
determinadas hipóteses, podem ser executadas pela própria
Administração, mediante meios diretos ou indiretos de coação.

Por derradeiro, a economicidade representa a necessidade de o poder


público balancear a relação entre custo e benefício na aplicação de recursos
materiais e humanos, sem comprometer a qualidade do produto adquirido e do
serviço prestado.
Nas palavras de Campos (2019, p. 92), “na administração gerencial
busca-se uma maior produtividade e economicidade, sendo esta instituída com
a chegada da tecnologia, que acabou facilitando muito o desempenho da
atividade estatal”.
De acordo com o art. 11 da Lei n. 8.666/1993, o princípio específico da
economicidade fica evidente na Lei de Licitações quando enuncia que

a aquisição de produtos e a contratação de serviços com recursos da


União transferidos a entidades privadas sem fins lucrativos deverão
observar os princípios da impessoalidade, moralidade e
economicidade, sendo necessária, no mínimo, a realização de
cotação prévia de preços no mercado antes da celebração do contrato.
(Brasil, 1993, grifo nosso)

Assim, hoje se realizam licitações na modalidade de pregão eletrônico


para que o poder público e os fornecedores tenham uma maior praticidade na
contratação e rápido atendimento às prestações de serviços públicos à
população.

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TEMA 5 – ELEMENTOS DO CONTROLE NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Os elementos do controle administrativo são competência, forma,


objetivo, finalidade, motivação, tempo e abrangência, o que será diferente
em relação ao controle interno e externo.

5.1 Competência

A competência significa que tanto o controle interno quanto o controle


externo devem verificar se o órgão ou o agente público que praticou o ato
administrativo eram legitimados pelos regimentos para fazê-lo. O ato
administrativo deve ser editado por agente público competente.
Nas palavras de Oliveira (2020, p. 484-485), “o sujeito é elemento de todo
e qualquer ato jurídico. No caso dos atos administrativos, o sujeito é o agente
público que a legislação define como competente para o exercício de
determinada função administrativa”. A competência poderá ser delegada
quando é precariamente transferida (total ou parcialmente) para autoridade
subordinada à capacidade do exercício de algumas atribuições. No entanto, a
delegação, pela temporariedade, poderá ser avocada com a retomada da
capacidade delegada pela autoridade superior das atribuições inicialmente
outorgadas.

5.2 Forma

A forma indica qual é o órgão que efetua o controle. O controle interno de


um órgão público é realizado por um órgão da própria estrutura do órgão
(conforme momento anterior de nossos estudos). No governo federal, a
responsabilidade pelo controle interno é da Controladoria-Geral da União, mas
cada órgão subalterno possui uma Coordenadoria de Controle Interno que
realiza as avaliações prévias a este órgão e ao Tribunal de Contas. A atribuição
da Controladoria-Geral da União é realizar o controle interno e a auditoria nos
órgãos integrantes do Poder Executiva da União, exceto nos órgãos que
possuem o controle interno setorial independentes na sua estrutura, que são a
Casa Civil (CISET/CC/PR), o Ministério das Relações Exteriores (CISET/MRE),
o Ministério da Defesa (CISET/MD) e a Advocacia-Geral da União (AGU).

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5.3 Objetivo

Em relação ao objetivo, cabe ao controle interno proteger os ativos, exigir


e garantir a execução correta da legislação (leis e atos normativos), produzir
relatórios contábeis confiáveis e precisos e conduzir com eficiência os atos e
ações públicas. Cabe ao controle externo a realização da fiscalização e
orientação contábil, financeira, orçamentária e operacional da administração
pública.

5.4 Motivo

Em relação ao motivo, os controles interno e externo deverão verificar se


as autoridades administrativas justificam a prática de atos, ações e programas
da administração no interesse público. As decisões deverão possuir motivo de
fato (situação de fato) quando “a lei elenca diversos motivos que podem justificar
a edição de determinado ato e o agente público, no caso concreto, elegerá o
motivo mais conveniente e oportuno para a prática do ato” e “a lei menciona os
motivos que, existentes no caso concreto, acarretarão, necessariamente, a
edição do ato administrativo” (Oliveira, 2020, p. 492).

5.5 Finalidade

Em relação à finalidade, o controle interno possui a atribuição de garantir


em consonância com os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência, além dos princípios específicos de controle previsto no
ordenamento jurídico. Além disso, também é responsável pelo monitoramento
das falhas e riscos potenciais que possam comprometer as atividades-meio e
fim do Estado. O controle externo é a verificação de adequação dos atos, ações
e programas à legislação, bem como se atende ao interesse público e se está
sendo conduzido com eficiência e eficácia.

5.6 Tempo

Em relação ao tempo, o controle interno realiza as atividades


continuamente, ou seja, tão logo uma despesa pública seja liquidada,
imediatamente é encaminhada para ratificação desse órgão. O controle externo

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ocorre ordinariamente a cada ano, ou por correições e inspeções ordinárias ou
extraordinárias que poderão ser realizadas a qualquer tempo.

5.7 Abrangência

Por fim, em relação à abrangência, o controle interno opera a fiscalização


e a orientação em todas as atividades, ações e programas do órgão controlado,
enquanto as atribuições do controle externo são restritas às operações
contábeis, financeiras, orçamentárias, operacionais e patrimoniais.

NA PRÁTICA

A Constituição prevê, no art. 37, que todos os atos, fatos e contratos com
a administração pública deverão respeitar os princípios da legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (Brasil, 1988).
Utilizando o que você aprendeu hoje, faça uma reflexão sobre uma notícia
publicada no jornal O Globo para verificar se os atos administrativos de compras
de suprimentos para as Forças Armadas citadas atendem aos princípios
constitucionais retrocitados, além da legitimidade, economicidade e motivação.

Leite condensado: MP junto ao TCU vê indício de superfaturamento do


governo em gasto de R$ 15 milhões
O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas fez uma
representação pedindo à presidente da corte, ministra Ana Arraes, que
autorize a corte a apurar “a ocorrência de supostas irregularidades nos
atos da administração do governo Bolsonaro” no gasto com alimentos
em 2020 — com destaque para R$ 15 milhões destinados à aquisição
de leite condensado destinado a todo o Executivo. O subprocurador-
geral Lucas Furtado afirmou, no documento, que a despesa “afronta
princípio da moralidade administrativa”. A representação cita casos de
compra feitas pelas Forças Armadas noticiados pela imprensa. O
Ministério da Defesa, líder nos gastos com alimentos, nega que haja
compras abusivas.
Na representação, Furtado escreveu: "Dentre os pontos, chamo
atenção para os seguintes números: só de chiclete, mais de R$ 2,2
milhões foram gastos. Pizza e refrigerante, juntos, totalizaram R$ 32,7
milhões. R$ 15 milhões foram gastos com leite condensado. Se, em
tempos normais, esse banquete já não fosse um absurdo, em tempos
de crise e de pandemia, não sei nem como definir tamanho descaso
com o povo brasileiro. Além disso, ao se analisar os preços unitários
de alguns alimentos, notam-se claros indícios de pagamentos em
valores acima do mercado a configurar superfaturamento nos gastos
do Governo".
No documento, o MP pede ainda que, confirmadas as irregularidades,
o TCU apure a responsabilidade dos envolvidos e aplique as sanções
cabíveis.
Na representação o MP cita notícias publicadas na internet que
atribuem valor acima do preço para a compra de leite condensado pelo
3º Esquadrão de Cavalaria Mecanizada do Comando do Exército.
Segundo nota de empenho, foram compradas duas caixas de leite

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condensado pelo valor de R$ 162,00. O Ministério do Exército informou
que cada caixa adquirida continha 27 “caixinhas” de 395g do produto.
“Dessa forma, pode-se concluir que o valor unitário de cada “caixinha”,
contendo 395g, foi adquirido pelo valor de R$ 6,00, correspondendo ao
preço médio de mercado do citado item.”, informou o ministério.
A Defesa sustenta ainda que os gastos globais com refeição dos
militares levam em conta a cifra de R$ 9,00 per capita dia. E justificou
a compra de produtos como leite condensado e chiclete. “O leite
condensado é um dos itens que compõe a alimentação por seu
potencial energético. Eventualmente, pode ser usado em substituição
ao leite. Ressalta-se que a conservação do produto é superior à do leite
fresco, que demanda armazenamento e transporte protegido de altas
temperaturas. De acordo com o IBGE, o brasileiro consome em média
5,6 gramas de doce à base de leite por dia. Por se tratar de um
contingente eminentemente jovem, o consumo, eventualmente, pode
ser até um pouco superior”. (Capelli, 2021)

FINALIZANDO

Na aula de hoje, é importante lembrar que o controle passou a comportar,


na administração pública, a coordenação, direção, organização e planejamento
às finalidades de aferição, avaliação, desempenho e resultados que eram típicas
da gestão privada.
Outro ponto que não pode ser esquecido é que o planejamento e o
controle são interligados, interdependentes e responsivos ente si e se alimentam
num ciclo permanente em busca estratégica de cumprimento de metas e
resultados.
Nos controles interno e externo, deverá ser verificado se os prolatores dos
atos administrativos respeitaram os princípios da legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência.
O controle dos atos vinculados são aferidos com base na legalidade,
enquanto nos atos discricionários o mérito somente é avaliado para verificar se
o administrador o praticou dentro das margens que o legislador permitiu.

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REFERÊNCIAS

BIO, S. F. Sistema de informação: um enfoque gerencial. 2. ed. São Paulo:


Atlas, 2008.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial


da União, 5 out. 1988. Disponível em
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso
em 14 out. 2021.

_____. Lei n. 8.429, de 2 de junho de 1992. Diário Oficial da União, 3 jun. 1992.

_____. Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993. Diário Oficial da União, 22


jun.1993,

_____. Lei n. 9.868, de 10 de novembro de 1999. Diário Oficial da União, 11


nov. 1999.

CAMPOS, A. C. Direito administrativo facilitado. São Paulo: Método; Rio de


Janeiro: Forense, 2019.
CAPPELLI, P. Leite condensado: MP junto ao TCU vê indício de
superfaturamento do governo em gasto de R$ 15 milhões. Extra, 27 jan. 2021.
Disponível em: <https://extra.globo.com/noticias/brasil/leite-condensado-mp-
junto-ao-tcu-ve-indicio-de-superfaturamento-do-governo-em-gasto-de-15-
milhoes-24858262.html>. Acesso em: 14 out. 2021.

CARVALHO FILHO, J. S. Manual de direito administrativo. 33. ed. São Paulo:


Atlas, 2019.
CASTRO, D. P. Auditoria e controle interno no setor público. 7. ed. São
Paulo: Atlas, 2018.

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