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GOVERNANÇA

CORPORATIVA

Giancarlo Giacomelli
G721 Governança Corporativa [recurso eletrônico] / Giancarlo
Giacomelli... [et al.] ; [revisão técnica: Gisele Lozada]. –
Porto Alegre : SAGAH, 2017.

Editado também como livro impresso em 2017.


ISBN 978-85-9502-169-3

1. Governança. 2. Administração pública. I. Giacomelli,


Giancarlo.

CDU 336.773

Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin – CRB 10/2147


O controle como função
da administração pública
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Diferenciar o processo de controle interno e externo.


„„ Identificar os momentos do processo de controle.
„„ Relacionar a administração pública e o processo de controle.

Introdução
As práticas de governança corporativa surgiram como uma alternativa
para proteger os interesses dos acionistas e da empresa no longo prazo,
protegendo-a de desvios e falhas decorrentes da busca por ganhos no
curto prazo que podem comprometer o futuro do negócio. Esses desafios
se assemelham muito aos enfrentados pela gestão pública, em especial
no Brasil, em que os principais gestores dependem das eleições a cada
4 anos e podem buscar ganhos ilegítimos nesse período.
Nesse sentido, inovações legislativas trouxeram importantes ferramen-
tas para o gestor público, que conta com o auxílio dos demais poderes
para que haja transparência na administração pública.
Neste texto você vai aprender que, para a boa gestão pública, pro-
cessos internos e externos de controle são fundamentais para que os
princípios prescritos na legislação vigente sejam aplicados.

Processo de controle interno e externo


O controle administrativo é, por definição, aquele exercido pelos órgãos com
função administrativa sobre seus próprios atos, no desempenho da autotutela.
Portanto, cabe ao Poder Executivo o amplo controle sobre suas próprias funções
administrativas, extroversas (que têm impacto fora da organização pública
32 O controle como função da administração pública

a polícia administrativa, por exemplo) e introversas (funções relacionadas


às interações entre os próprios órgãos públicos), e aos demais Poderes do
Estado, bem como aos órgãos constitucionalmente independentes, exercer o
autocontrole no que tange às suas respectivas funções administrativas.

O controle como função administrativa


O controle se constitui em uma função administrativa que apresenta natureza
reflexa, o que lhe confere o poder-dever de praticar todos os atos necessários à
conformação corretiva de sua própria gestão, tanto em referência ao interesse
público não legislado, cuja integração lhe cabe (legitimidade), quanto ao
interesse público legislado (legalidade). Este controle desdobra-se, portanto,
em duas espécies do gênero função administrativa de controle: o controle
administrativo de legitimidade e o controle administrativo de legalidade.
Esses aspectos serão apresentados em maior profundidade ao longo deste texto.
A governança corporativa tem como propósito central garantir a sustenta-
bilidade das organizações. Nesse contexto, para as atividades de administração
pública, a governança exerce um papel vital, sendo uma das principais soluções
para a oferta de serviços públicos mais eficientes e a otimização do uso de
recursos, tão frequentemente desperdiçados pela ingerência ou os atos de má-fé.
Assim, conforme Takeda (2009), “o controle é uma forma de manter o
equilíbrio na relação existente entre Estado e Sociedade, fazendo surgir daquele
as funções que lhe são próprias, exercidas por meio dos seus órgãos, sejam
estes ligados ao Executivo, Legislativo ou Judiciário”. Em decorrência dos
princípios da eficiência administrativa e da eficácia dos seus atos, o Estado
se vê cercado de mecanismos de controle das atividades estatais, gerados pela
necessidade de se resguardar a própria administração pública, bem como os
direitos e garantias coletivos.
De maneira geral, podemos organizar o controle da administração pública
sob quatro diferentes enfoques ou categorias:

„„ quanto à sua origem: se interno ou externo;


„„ quanto ao momento do exercício: se preventivo, concomitante ou
posterior;
„„ quanto ao aspecto controlado: se possui legalidade, legitimidade ou
mérito;
„„ quanto à amplitude: se o controle tem um foco hierárquico ou finalístico.
O controle como função da administração pública 33

O controle quanto à sua origem


Para tratar da classificação do controle na administração pública sob o enfoque
de sua origem, foram criados dois tipos de mecanismos devidamente abarcados
pela Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988):

„„ controle interno: realizado pelos próprios órgãos do Estado.


„„ controle externo: ocorre quando um Poder exerce controle sobre os
atos administrativos praticados por outro Poder.

Conforme Ramis (2013), “o controle interno é aquele que é exercido pela


entidade ou órgão que é o responsável pela atividade controlada, no âmbito
de sua própria estrutura. O controle que as chefias exercem nos atos de seus
subordinados dentro de um órgão público é considerado um controle interno”.
Já o controle externo, ainda segundo Ramis (2013), nas palavras de Hely Lo-
pes Meirelles (1990), “é o que se realiza por órgão estranho à administração
responsável pelo ato controlado”. Meirelles utiliza como exemplos de controle
externo: a apreciação das contas do Executivo e do Judiciário pelo Legislativo;
a auditoria do Tribunal de Contas sobre a efetivação de determinada despesa
do Executivo; a anulação de um ato do Executivo por decisão do Judiciário;
a sustação de ato normativo do Executivo pelo Legislativo.
O art. 74 da CF/88 é taxativo ao dispor que os três poderes são responsáveis
pelo controle interno, de forma integrada, com a finalidade de:

„„ avaliar o cumprimento de metas do plano plurianual e a execução dos


orçamentos públicos;
„„ comprovar a legalidade e avaliar os resultados, sob os aspectos de
eficiência e eficácia, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial
dos órgãos e entidades da administração;
„„ exercer o controle das operações de crédito; e,
„„ apoiar o controle externo.

O controle externo, mencionado no art. 71 da CF/88, é considerado um


controle político de legalidade contábil e financeira, e a ele cabe averiguara
probidade dos atos da administração, a regularidade dos gastos públicos e do
emprego de bens, valores e dinheiros públicos, e a fiel execução do orçamento
(BRASIL, 1988).
Ainda que as atividades desempenhadas por esses dois mecanismos apresen-
tem alguma similaridade, é necessário e oportuno registrar aqui suas diferenças.
34 O controle como função da administração pública

Quando tratamos de controle interno, podemos fazer um paralelo com as


práticas e processos definidos dentro de uma empresa ou unidade de negócios.
Dessa forma, segundo Takeda (2009), “o mecanismo de controle interno faz
parte da administração, subordina-se ao Administrador, tendo por função
acompanhar a execução dos atos e apontar, em caráter sugestivo, preventivo ou
corretivamente, as ações a serem desempenhadas com vistas ao atendimento
da legislação pertinente” (TAKEDA, 2009).
Com relação ao controle externo, o paralelo pode ser feito com as práticas
dos conselhos e direções, que exercem um controle superior e acima da unidade
de negócios. Ele “se caracteriza por ser exercido por órgão autônomo e inde-
pendente da administração, cabendo-lhe, entre as atribuições indicadas pela
CF/88, exercer fiscalização. Mediante tal função, os tribunais de contas devem
verificar se os atos praticados pela administração estão em conformidade
com as normas vigentes, observando-se as questões contábeis, financeiras,
orçamentárias, operacionais e patrimoniais” (TAKEDA, 2009).
É importante também salientar o caráter opinativo do controle interno,
cabendo a ele o atendimento ou não de propostas de alteração das práticas
de determinados atos, o que é tido como responsabilidade e risco do admi-
nistrador (TAKEDA, 2009). Por sua vez, no controle externo, o Tribunal de
Contas “possui poderes para impor correções à administração, bem como
pode intervir em licitações e aplicar sanções, como multas ou, dependendo
da gravidade, até a decretação de penhora de bens e inelegibilidade do res-
ponsável” (TAKEDA, 2009)

Controle legislativo
O controle legislativo é aquele realizado no âmbito dos órgãos auxiliares e dos
parlamentos do Poder Legislativo. Ele abrange o controle político do próprio
exercício da função administrativa e o controle financeiro da gestão dos gastos
públicos dos três Poderes.
Os instrumentos de controle legislativo mais relevantes estão previstos nos
seguintes dispositivos constitucionais (BRASIL, 1988):

a)  art. 48, X: “Cabe ao Congresso Nacional legislar sobre criação e extinção
de Ministérios e órgãos da administração pública”;
b)  art. 49, V: “É da competência exclusiva do Congresso Nacional sustar
os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regu-
lamentar ou dos limites de delegação legislativa”;
O controle como função da administração pública 35

c)  art. 50: “A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, ou qualquer de


suas Comissões, poderão convocar Ministro de Estado ou quaisquer
titulares de órgãos diretamente subordinados à Presidência da República
para prestarem, pessoalmente, informações sobre assunto previamente
determinado, importando crime de responsabilidade a ausência sem
justificação adequada”;
d)  art. 58, § 3º: “As comissões parlamentares de inquérito, que terão
poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de
outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas
pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou
separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros,
para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas
conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para
que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores”;
e)  art. 71, § 1º: sustar a execução de contrato administrativo objeto de
impugnação perante o Tribunal de Contas da União, como forma de
controle financeiro sobre a administração pública.

Como é possível perceber, a definição da abrangência dos controles inter-


nos e externos contribui para a adoção de práticas de governança nos órgãos
públicos. No entanto, ainda existem os conflitos de interesses e a ausência de
mecanismos de incentivo e punições adequados para que práticas irregulares
sejam coibidas na atividade pública.

No site do Senado Federal é possível acessar os dados sobre as principais despesas do


governo federal. Essa é uma iniciativa que busca gerar mais transparência com relação
aos gastos públicos (BRASIL, 2017). Acesse neste link:

https://goo.gl/wcWQ

Leia também a Lei da Transparência, que “dispõe sobre os procedimentos a serem


observados pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, com o fim de garantir
o acesso a informações”, disponível no link a seguir (BRASIL, 2011):

https://goo.gl/Xk4co
36 O controle como função da administração pública

Os momentos do processo de controle


Como dito anteriormente, o controle da administração pública pode ser orga-
nizado sob quatro diferentes enfoques. Dentre estes, além daquele focado na
origem e que diferencia os controles internos e externos, visto anteriormente,
encontram-se as categorias que avaliam o controle com relação ao momento
de seu exercício, ao aspecto por ele controlado e à sua amplitude. Veremos
mais sobre estas três categorias a seguir.

O controle quanto ao momento de seu exercício


Um aspecto fundamental das atividades de controle interno diz respeito à etapa
do processo em que a intervenção é realizada. Via de regra, os pontos ou ativi-
dades de controle podem ocorrer em caráter preventivo, com monitoramento
simultâneo aos atos, ou por controles posteriores. Estes últimos são os mais
usuais, que recorrem à análise de resultado ou de evidências relacionadas ao
cumprimento das normas e regimentos internos. A nomenclatura formal das
etapas de controle segue essa definição:

„„ Controle preventivo ou prévio (a priori): é aquele verificado antes


da realização da despesa, exempli gratia, da liquidação da despesa.
Tal modo de controle é o mais antigo; contudo, emperra a máquina
administrativa, suspendendo a eficácia do ato até sua análise pelo
órgão competente.
„„ Controle concomitante: é efetuado durante a realização da despesa.
Considerado o mais eficaz, visto que o ato tido como irregular pode
ser interrompido durante o seu cumprimento, evitando, assim, maior
dispêndio para o erário. Como ilustração desse tipo de controle podemos
citar as auditorias do Tribunal de Contas, a fiscalização de concursos
públicos e os procedimentos licitatórios, dentre outros.
„„ Controle subsequente ou corretivo (a posteriori): é aquele feito após
a realização do ato de despesa. É a forma mais comum, mas também a
mais ineficaz, pois verificar as contas de um gestor após o fim de sua
gestão torna a reparação do dano e a restauração do status quo ante
muito difíceis.
O controle como função da administração pública 37

Além do momento do exercício, outras categorias também oferecem im-


portantes oportunidades de segmentação do controle, cabendo destacar o
enfoque relativo ao aspecto controlado (se possui legalidade, legitimidade
ou mérito) e à amplitude (se possui foco hierárquico ou finalístico). A seguir,
você conhecerá mais sobre tais enfoques.

O controle quanto ao aspecto controlado


O controle na administração pública pode ainda ser classificado sob o ângulo do
aspecto por ele controlado, que diz respeito ao seu objetivo. Sob esse enfoque,
o controle visa, genericamente, à juridicidade da ação administrativa pública,
ou seja, a realização de atos administrativos que respeitem as previsões legais,
destacadamente quanto ao mérito, à sua legitimidade e à legalidade.
Todo ato administrativo tem um mérito, que deve ser o objeto de controle.
O mérito diz respeito ao ato administrativo em si, a coerência entre a previsão,
a finalidade e a ação efetivamente realizada. O controle administrativo do
mérito é realizado pela própria administração, que irá avaliar a conveniência
e a oportunidade de sua conduta.
No âmbito do Poder Executivo, o controle administrativo de legiti-
midade de seus atos é de superior importância, pelo fato de lhe competir a
quase totalidade da administração extroversa, ou seja, a gestão dos interesses
da sociedade. Estes interesses são constitucionalmente confiados ao Poder
Executivo devido à sua atuação nessa função, por regra, com ampla margem
de discricionariedade, que é o preenchimento administrativo do resíduo de
legitimidade que lhe delega o legislador. Por discricionariedade, neste contexto,
podemos entender a liberdade que o agente público tem para agir dentro do
escopo regulamentado.
Assim como essas autoridades político-administrativas têm competência
para definir o resíduo do interesse público no desempenho de suas respectivas
funções discricionárias, do mesmo modo, lhes caberá exercer sua competência
para controlar a atuação de todos os entes, órgãos e agentes subordinados
em seus respectivos âmbitos de atuação. Dessa forma, elas formulam juízos
críticos sobre o alcance e o resultado dos atos sujeitos à sua decisão, supervi-
são e revisão, em termos de atendimento dos interesses públicos a seu cargo.
Trata-se, assim, de uma competência de controle tanto sobre o exercício de
sua própria discricionariedade como sobre aquela exercitada por todos os seus
subordinados hierárquicos, no exercício de suas respectivas competências.
38 O controle como função da administração pública

Desse modo, o controle administrativo de legitimidade é o controle do


mérito administrativo, pois se refere ao motivo e ao objeto discricionários,
que constituem o mérito, e incide, por isso, exclusivamente sobre esses dois
elementos, desde que tenham sido objeto de decisão discricionária. Um pa-
ralelo com a governança privada seria a compreensão daquele ato como algo
previsto ou alinhado com a estratégia organizacional, normalmente definida
no planejamento estratégico.
O controle administrativo de legalidade, por sua vez, tem natureza di-
versa: trata-se de um dever geral, que se impõe a todo e qualquer ente, órgão
ou agente da administração pública, sobre a ação de seus subordinados, não
importa quem a exerça, em que hierarquia se situe, ouse se trate de atividade
extroversa ou introversa.
No que concerne à ação dos servidores públicos, no desempenho de seus
respectivos cometimentos, esse dever está implícito em sua investidura,
obrigando-os não somente a agir de acordo com a lei, como a atuar obrigato-
riamente no controle da legalidade de sua aplicação, apontando sua violação,
onde e quando for o caso, e corrigindo-a, quando para tanto competentes.
Resumidamente, podemos inferir que enquanto o controle da legitimidade
tem como objeto o escopo e os objetivos da administração pública, o controle
da legalidade olha para a forma com que esses objetivos são buscados, garan-
tindo o respeito às leis.
Assim, o controle administrativo de legalidade abrange não só os elemen-
tos vinculados do ato administrativo, como também todos os aspectos dos
elementos discricionários que se apresentem suscetíveis, de alguma forma, ao
contrasteamento com parâmetros positivados da ordem jurídica. Nesse caso,
a relação está diretamente atrelada ao cumprimento das legislações vigentes
para aquele segmento.

O controle quanto à sua amplitude


Cabe ressaltar, ainda, que o controle pode também ser categorizado sob o
ângulo de sua amplitude, sendo classificado como hierárquico ou finalístico.
O controle hierárquico é o que decorre naturalmente em virtude da es-
trutura hierárquica do órgão de administração pública, quando os superiores
acompanham e respondem pelos atos das áreas sob sua subordinação.
O controle como função da administração pública 39

Já o controle finalístico está relacionado a atividades de controle exercidas


entre partes sem relação hierárquica direta. É notadamente exercido pela
administração direta sobre pessoas jurídicas da administração indireta, tendo
como base a previsão legal que estabeleça os meios de controle, as autoridades
e a finalidade do controle.
Os meios de controle administrativo da administração pública envolvem
a supervisão ministerial sobre as entidades descentralizadas e o controle
hierárquico típico dos órgãos da administração direta. Quanto aos recursos
hierárquicos, o entendimento majoritário identifica duas categorias:

a)  Recurso hierárquico próprio: é aquele endereçado à autoridade su-


perior à que praticou o ato recorrido. Como tal recurso é inerente à
organização escalonada da administração, pode ser interposto sem
necessidade de previsão legal.
b)  Recurso hierárquico impróprio: dirigido à autoridade que não ocupa
posição de superioridade hierárquica em relação a quem praticou o ato
recorrido. Tal modalidade de recurso só pode ser interposta mediante
expressa previsão legal.

Veja alguns exemplos de recursos hierárquicos próprio e impróprio:


„„ Próprio: recurso contra autuação dirigido à chefia do setor de fiscalização.
„„ Impróprio: recurso contra decisão tomada por autarquia, endereçado ao ministro
da pasta à qual a entidade recorrida está vinculada.

A administração pública e o processo de


controle
Toda implantação de um processo de controle exige alguns requisitos funda-
mentais. O primeiro requisito é a definição do objeto de controle, discutida
amplamente ao longo deste texto. A seguir, é fundamental que se estabeleça
os objetivos e os padrões de desempenho.
A existência de um processo de controle sem o estabelecimento claro de
objetivos e padrões de desempenho não passa de mero monitoramento do
40 O controle como função da administração pública

status quo. Para as organizações privadas, o estabelecimento de diretrizes e


metas é mais fácil, dado que podem ser alteradas e cobradas de acordo com
os objetivos estratégicos da organização. Para a administração pública, no
entanto, não há uma liderança clara e unificada, e, assim, os objetivos e padrões
de desempenho correm o risco de ficar subjetivos e difíceis de mensurar.
Assim, um dos primeiros desafios na implantação de um sistema de controle
na administração pública é a definição de indicadores factíveis – eventual-
mente com benchmarking de organizações privadas – que respeitem a legislação
do órgão e o conduzam à um nível de desempenho superior, seja por meio da
redução dos custos, seja melhorando a qualidade do serviço ofertado ao público.
O próximo requisito da implantação de um processo de controle é avaliar
o desempenho atual. Quando já se sabe qual é o objeto do controle e já foram
definidos os objetivos de desempenho, é importante que a administração olhe
para o seu desempenho atual, buscando identificar os principais gaps de
desempenho e definindo ações necessárias para suplantar estes gaps.
O ciclo de implantação do processo de controle se renova com a implemen-
tação de ações corretivas e de um novo processo de avaliação de desempenho.
A Figura 1 a seguir ilustra este processo.

Estabelecer objetivos
e padrões de
desempenho

Adotar a ação Avaliar o


corretiva necessária desempenho atual

Comparar o
desempenho atual com
os objetivos ou padrões

Figura 1. Implantação de um processo de controle genérico.


Fonte: Duarte (2012).
O controle como função da administração pública 41

Estas ações estão de acordo com o controle administrativo, que é fun-


damentado no poder de autotutela que a administração exerce sobre seus
próprios atos, tendo como objetivos a confirmação, a correção ou a alteração
de comportamentos administrativos.
Na Figura 2 é apresentado um esquema da Lei de Responsabilidade Fiscal e
algumas de suas regras relacionadas ao controle interno, que visam o cumpri-
mento de limites nas despesas públicas. A Lei estabelece “parâmetros a serem
seguidos relativos ao gasto público de cada ente federativo”, e foi criada devido
à necessidade de redução do déficit das contas públicas. (BRASIL, 2000).
Como pode ser observado, o controle se constitui num elemento funda-
mental da administração pública, e atualmente estão sendo criados diversos
órgãos e instrumentos para aprimorar o controle sem penalizar o andamento
das rotinas das atividades públicas. Nesse sentido, cada vez mais os elementos
da governança corporativa nas organizações privadas fornecerão insumos
para a melhoria no desempenho da administração pública.

Figura 2. Lei de responsabilidade fiscal e suas regras para o controle interno de despesas
públicas.
Fonte: Monólitos (2016).
42 O controle como função da administração pública

1. Assinale a alternativa que contém do próprio órgão controlado.


as diferentes categorias nas quais b) Interno significa que o controle
o controle da administração é feito dentro do próprio
pública pode ser classificado. órgão controlado; externo
a) Quanto à origem, ao momento significa que o controle é feito
do exercício, ao aspecto por um órgão diferente do
controlado e à amplitude. que está sendo controlado.
b) Quanto à fonte, ao momento c) Interno significa que é feito
da decisão, ao aspecto para controlar os bens móveis
visualizado e à magnitude. de dentro das instalações
c) Quanto à informação, ao físicas do órgão; externo
momento do contrato, ao significa que é feito para
aspecto monitorado e à licitude. controlar as vias públicas.
d) Quanto à amostragem, ao d) Interno significa que os
momento do acordo, ao agentes públicos vão fiscalizar
aspecto impresso e à finitude. os colegas; externo significa
e) Quanto à finalidade, ao momento que os agentes públicos
da amostragem, ao aspecto vão fiscalizar a sociedade.
auditado e ao nível hierárquico. e) Interno significa que o
2. A frase “enquanto o controle próprio agente público vai
da ____________ tem como fazer um relatório de seus
objeto o escopo e os objetivos da atos; externo significa que o
administração pública, o controle da superior hierárquico do agente
__________ olha para a forma com público fará um relatório sobre
que estes objetivos são buscados, atos do referido agente.
garantindo o respeito às leis.” 4. A administração pública é
a) transparência; eficácia. baseada em cinco princípios
b) formalidade; eficiência. fundamentais. Quais são eles?
c) publicidade; transparência. a) Legalidade, impessoalidade,
d) legitimidade; legalidade. moralidade, publicidade,
e) impessoalidade; moralidade. eficiência.
3. Quanto à sua origem, o controle b) Imparcialidade,
da administração pública individualidade, moralidade,
pode ser classificado como publicidade e eficácia.
interno ou externo. O que c) Parcialidade, pessoalidade,
significam esses termos? moralidade, discrição e eficiência.
a) Interno significa que o d) Neutralidade, pessoalidade,
controle é feito por um órgão discrição, eficiência e eficácia.
diferente do que está sendo e) Legalidade, impessoalidade,
controlado; externo significa neutralidade, notoriedade
que o controle é feito dentro e eficiência.
O controle como função da administração pública 43

5. O controle na administração pública b) Concomitante, sucessivo,


pode ser classificado com relação conclusivo.
ao momento de seu exercício. Qual c) Intermitente, consecutivo,
das alternativas abaixo apresenta conclusivo.
a totalidade das classificações d) Prévio, determinante, corretivo.
consideradas nesse caso? e) Preventivo, concomitante,
a) Prévio, sucessivo, concessivo. subsequente.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF, 1988. Dis-
ponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.
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RAMIS, D. D. Controle da administração pública. Âmbito Jurídico, Rio Grande, v. 6, n.
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TAKEDA, T. Diferenças entre controles interno e externo. Jurisway, 2009. Disponível
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44 O controle como função da administração pública

de melhoria. Brasília, DF: TCU, 2014. Disponível em: <http://www.fazenda.gov.br/


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em: 31 out. 2017.

Leituras recomendadas
MAZZA, A. Curso de Direito Administrativo. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
MOREIRA NETO, D. F. Curso de Direito Administrativo. 16. ed. São Paulo: Forense, 2014.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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