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Belém-PA
2020
4
https://doi.org/10.46898/rfb.9786558890461
D598
ISBN: 978-65-5889-046-1
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461
CDD 340.07
5
Conselho Editorial:
Prof. Dr. Ednilson Sergio Ramalho de Prof.ª Me. Neuma Teixeira dos Santos -
Souza - UFOPA (Editor-Chefe). UFRA.
Prof.ª Drª. Roberta Modesto Braga - Prof.ª Me. Antônia Edna Silva dos Santos
UFPA. - UEPA.
Prof. Me. Laecio Nobre de Macedo - Prof. Dr. Carlos Erick Brito de Sousa -
UFMA. UFMA.
Prof. Dr. Rodolfo Maduro Almeida - Prof. Dr. Orlando José de Almeida Filho
UFOPA. - UFSJ.
Prof.ª Drª. Ana Angelica Mathias Macedo Prof.ª Drª. Isabella Macário Ferro Caval-
- IFMA. canti - UFPE.
Prof. Me. Francisco Robson Alves da Sil-
va - IFPA.
Prof.ª Drª. Elizabeth Gomes Souza -
UFPA.
Diagramação:
Danilo Wothon Pereira da Silva.
Arte da capa:
Pryscila Rosy Borges de Souza.
Imagens da capa:
https://pixabay.com/pt/
Revisão de texto:
Os autores.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................11
Alexandre de Paula Filho,
Pablo Diego Veras Medeiros,
CAPÍTULO 1
A CRÍTICA DECOLONIAL E O NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-A-
MERICANO............................................................................................................................13
Newton Nobel Sobreira Vita
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.1
CAPÍTULO 2
DO PROTAGONISMO JUDICIAL E FORMALISMO NO PROCESSO CIVIL �����35
Rodrigo Ramos Melgaço
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.2
CAPÍTULO 3
O DIREITO À EDUCAÇÃO COMO DIREITO FUNDAMENTAL NO ORDENA-
MENTO JURÍDICO BRASILEIRO....................................................................................51
Maria Carolina Lemos Russo Cartaxo
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.3
CAPÍTULO 4
ENTRE O DIREITO E A JUSTIÇA, LUTE PELO DIREITO!.........................................57
Alexandre Moura Alves de Paula Filho
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.4
CAPÍTULO 5
REVISITANDO O OBJETO DO PROCESSO..................................................................63
Rodrigo Ramos Melgaço
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.5
CAPÍTULO 6
EFETIVIDADE DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS NA PERSPECTIVA DO DIREI-
TO SOCIAL À SAÚDE.........................................................................................................83
Newton Nobel Sobreira Vita
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.6
CAPÍTULO 7
INSERÇÃO POLÍTICA DA MULHER NO BRASIL CONTEMPORÂNEO PÓS
CONSTITUIÇÃO DE 1988: UM ESTUDO SOBRE A REPRESENTAÇÃO FEMINI-
NA NA CÂMARA FEDERAL DE 1988 A 2018...............................................................101
Andréa Cangussú André
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.7
CAPÍTULO 8
OS EFEITOS DA GUARDA COMPARTILHADA SOBRE OS FILHOS MENORES
APÓS A DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO/UNIÃO ESTÁVEL..............................117
Laryssa Rhaphaella da Silva Oliveira
João Roberto Martins Cardoso
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.8
8
CAPÍTULO 9
JUSTIÇA NAS DECISÕES: APLICABILIDADE DA JUSTIÇA RESTAURATIVA
PELOS TRIBUNAIS PÁTRIOS.........................................................................................127
Newton Nobel Sobreira Vita
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.9
CAPÍTULO 10
A PRISÃO DOMICILIAR E AS ALTERAÇÕES PROVOCADAS PELA LEI Nº
13.769/18.................................................................................................................................143
João Roberto Martins Cardoso
Maria Maryelle Batista de Souza
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.10
CAPÍTULO 11
ASPECTOS GERAIS ACERCA DA SISTEMÁTICA DO RECOLHIMENTO DO
ICMS SOBRE OS COMBUSTÍVEIS E A IMPORTÂNCIA DO INSTITUTO DA
SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA.......................................................................................151
Silvana Pereira de Albuquerque
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.11
CAPÍTULO 12
A INSTAURAÇÃO DE INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALI-
DADE JURÍDICA NAS EXECUÇÕES FISCAIS: UMA DIFÍCIL ADAPTAÇÃO ��161
Natália Pimentel Lopes
Andrea Rose Borges Cartaxo
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.12
CAPÍTULO 13
PLATAFORMA DE SAÚDE QUE VIABILIZA CONSULTÓRIO DIGITAL: EXPE-
RIÊNCIA PRÁTICA NA SUA CONFORMIDADE À LEI GERAL DE PROTEÇÃO
DE DADOS (LGPD)............................................................................................................167
Gabriel de Oliveira Cavalcanti Neto
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.13
CAPÍTULO 14
A PRIMAZIA DO JULGAMENTO DE MÉRITO ANALISADO À LUZ DA TEORIA
DOS PRINCÍPIOS DE HUMBERTO ÁVILA................................................................181
Rodrigo Ramos Melgaço
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.14
CAPÍTULO 15
SOBRE A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ELEITORAL PARA JULGAMENTO:
DOS CRIMES COMUNS CONEXOS AOS CRIMES ELEITORAIS.........................197
Gabriel de Oliveira Cavalcanti Neto
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.15
CAPÍTULO 16
TRABALHO INFANTIL: A TRISTE REALIDADE QUE PERDURA NO TEMPO ��211
Áurea Maria Nunes Machado Farias
João Roberto Martins Cardoso
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.16
9
CAPÍTULO 17
A TERCEIRIZAÇÃO NO BRASIL: ANÁLISE CRÍTICA NO CONTEXTO DA RE-
FORMA TRABALHISTA (LEI º 13.467/17).....................................................................219
Renata Esteves Seabra e Silva
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.17
ÍNDICE REMISSIVO..........................................................................................................227
10
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
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APRESENTAÇÃO
A produção acadêmica é fonte de construção e progresso da ciência jurídica. Nes-
se mesmo sentido, a adequação das pesquisas às metodologias contribui para a quali-
dade dos trabalhos apresentados por autores aos leitores.
Por isso, a ideia de produzir uma obra jurídica plural, com pesquisadores preo-
cupados com o progresso da dogmática jurídica e a transformação do espaço em que
estão inseridos. Não à toa, a obra é um esforço coletivo de advogados, magistrados,
gestores públicos, professores, procuradores e assessores jurídicos há algum tempo
engajados em desenvolver seus temas de estudo. Na busca pelo rigor na produção
científica, todos eles participaram de algum dos nossos cursos de metodologia da pes-
quisa, na Escola de Pesquisa em Direito.
Nesta obra coletiva, temas atuais e de diversas frentes serão abordados pelos
autores: Alexandre de Paula Filho, Andrea Cangussú André, Andrea Borges Cartaxo,
Áurea Maria Nunes Machado Farias, Gabriel de Oliveira Cavalcanti Neto, João Ro-
berto Martins Cardoso, Laryssa Rhaphaella da Silva Oliveira, Natalia Pimentel Lopes,
Newton Nobel Sobreira Vita, Maria Carolina Lemos Russo Cartaxo, Maria Maryelle
Batista de Souza, Renata Esteves Seabra e Silva, Rodrigo Ramos Melgaço e Silvana
Pereira de Albuquerque.
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.1
1 Mestre em direito pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Pós-graduado em Direito Civil e Processual
Civil pela Universidade Gama Filho e em Gestão Pública pela Faculdade Getúlio Vargas (FGV). Procurador-Chefe da
Assembleia Legislativa da Paraíba.
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
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RESUMO
1.1 INTRODUÇÃO
Capítulo 1
A CRÍTICA DECOLONIAL E O NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
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Como amplo projeto que se envolve criticamente com a dialética M/C, a Deco-
lonidade objetiva o rompimento com a universalidade do conhecimento que o colo-
nialismo trouxe ao mundo. Com isso, realizando uma análise sobre a colonialidade
presente na modernidade, os pensadores decoloniais exibem as marcas deixadas pelo
colonialismo na sociedade contemporânea, desenvolvendo a pluralidade de muitos
conhecimentos2.
Capítulo 1
A CRÍTICA DECOLONIAL E O NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
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Diante disso, a formação dos Estados Nacionais na era moderna aconteceu a par-
tir de processos violentos de “en-cobrimento” do indivíduo considerado diferente,
que no caso dos espanhóis eram os mulçumanos, e no caso americano eram os povos
originários, denominados de índios, os quais deveriam ser civilizados conforme enten-
dimento dos europeus.
Conforme asseverado por Barbosa e Teixeira, a América Latina esteve sob o con-
trole da península Ibéria desde o século XIV até se impulsionar a um processo de
emancipação que se iniciou no século XVIII, se estendendo até as primeiras décadas
do século XIX.
A formação dos Estados latino-americanos foi impulsionada pelas lutas que ob-
jetivaram a independência, liderados pela elite crioula (descendentes europeus), com
intensa exclusão dos povos originários (índios) e africanos, e a construção de uma
burocracia destinada a assegurar interesses que mantiveram o mesmo modelo de ex-
ploração humana (escrava e indígena), voltados aos interesses econômicos europeus,
sobretudo da Inglaterra que ambicionava os insumos e mercados para expandir os
efeitos de sua revolução industrial.
Assim, a independência e formação de Estados Nacionais Latino Americanos conti-
nuaram respaldadas em interesses eurocêntricos e baseada na importação de insti-
tutos do direito moderno europeu, como a própria noção de Estado Nacional numa
perspectiva uniformizante da linguagem, crenças, valores, moeda, direito e do uso
legitimo da violência pelo Estado e do modo de produção capitalista, reproduzindo
majoritariamente os compromissos fundamentais de uma democracia liberal-bur-
guesa. (BARBOSA; TEIXEIRA, 2017, p. 1116).
Percebe-se que não houve uma modificação do poderio europeu a partir da inde-
pendência, tendo em vista que os descendentes dos europeus que nasceram na Améri-
ca Latina, conhecidos como criollos, comandavam todos os aspectos da vida colonial.
Capítulo 1
A CRÍTICA DECOLONIAL E O NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
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Capítulo 1
A CRÍTICA DECOLONIAL E O NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
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1.3.2 O Neoconstitucionalismo
Capítulo 1
A CRÍTICA DECOLONIAL E O NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO
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para todos e respeitando os povos e classes esquecidas, bem como as suas peculiari-
dades.
Nesse norte, surge como novo conceito de nação, em que as questões de ordem
plurietnica, intercultural e ambiental estejam representadas, sendo fundado a partir de
experiências constitucionais de países latino-americanos, os quais passaram a reanali-
sar o teor do constitucionalismo europeu tradicionalmente utilizado na região, a partir
de um novo olhar sobre os direitos fundamentais, bem como sobre a organização dos
Estados.
A América Latina resistiu à receita neoliberal e, desse modo, procurou fazer uma
Refundação da Teoria Constitucional, garantindo uma maior participação da popula-
ção, que no novo modelo constitucional passa a ter assegurados direitos e garantias,
sobretudo aos indivíduos excluídos, marginalizados e que não possuíam voz nem di-
reitos.
São características do Novo Constitucionalismo Latino Americano: a) ênfase na par-
ticipação popular na elaboração e interpretação constitucionais, o que o caracteri-
za por um forte elemento legitimador; b) adoção de um modelo de “bem viver”
fundado na percepção de que o ser humano é parte integrante de um cosmos; c)
re-articulação entre Estado e Mercado a partir da reestruturação do modelo produ-
tivo; d) rejeição do monoculturalismo e afirmação de pautas pluralistas de justiça e
direito; e) inclusão de linguagem de gênero nos textos constitucionais; f) garantia
de participação e reconhecimento de todas as etnias formadoras das nações latino-
-americanas, inclusive com reconhecimento das línguas originárias e a existência
de Cortes Constitucionais com participação indígena; g) são textos constitucionais
preocupados com a superação das desigualdades sociais e econômicas; h) procla-
mam o caráter normativo e superior da Constituição frente ao ordenamento jurídico
(BARBOSA; TEIXEIRA, 2017, apud BARBOSA, 2015, p. 1128).
Capítulo 1
A CRÍTICA DECOLONIAL E O NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO
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Capítulo 1
A CRÍTICA DECOLONIAL E O NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
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Desse modo, conforme Barbosa e Teixeira (2017), é possível sintetizar que os ins-
trumentos de democracia direta incluídos nas Constituições do Novo Constitucionalis-
mo Latino-Americano, quais sejam: pebliscito, referendo, iniciativa popular legislativa
e de emendas constitucionais e revogatória de mantos, evidenciam a intensificação dos
mecanismos de participação democrática dos cidadãos, garantindo o seu empodera-
mento.
da instituição de diversas línguas, como o idioma dos povos originários, como sendo
dialeto oficial do país.
Capítulo 1
A CRÍTICA DECOLONIAL E O NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
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possui uma clara intenção intercultural e descolonial, buscando romper com o consti-
tucionalismo eurocêntrico tradicional. Nesse sentido, esclarece a autora Barbosa (2015):
O preâmbulo do texto constitucional equatoriano anuncia uma nova maneira de con-
viver harmonicamente com a natureza para alcançar o Sumak Kawsay (kichawas)
ou Suma Qumña (aymaras), para alcançar o equilíbrio ou a plenitude. O “buen Vi-
vir” é previsto no art. 14 da constituição, que reconhece o direito de todos a viver
em um meio ambiente saudável e ecologicamente equilibrado. A noção de “buen
vivir” pretende refundar o Estado a partir de uma perspectiva de coordenação e de
consenso, sem excluir aspectos das culturas europeia ou africana. É uma perspectiva
que visa o interesse geral em detrimento do interesse particular em nome do bem
viver. O Estado se arvora no dever e a competência de executar politicas públicas e
serviços públicos orientados de maneira a efetivar o “buen vivir” no artigo 85.1 da
constituição. (BARBOSA, 2015, p. 99-100).
Capítulo 1
A CRÍTICA DECOLONIAL E O NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO
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Por esas dos razones, no creemos que pueda considerarse un ejemplo del nuevo
constitucionalismo latinoamericano a la Constitución brasileña de 1988, a pesar de
que presenta rasgos específicos que anuncian lo que serán las apuestas centrales de
ese nuevo paradigma constitucional. (VICIANO PASTOR; MARTINEZ DALMAU,
2011, p. 318).
REFERÊNCIAS
BALDI, César Augusto. Direito constitucional e colonialismo interno. MPF. 2009.
Disponível em: < http://www.mpf.mp.br/atuacao-tematica/ccr6/documentos-e-
-publicacoes/artigos/docs/artigos/docs_artigos/constitucionalismocolonial.pdf>.
Acesso em: 28 jul. 2018.
Capítulo 1
A CRÍTICA DECOLONIAL E O NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO
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DO PROTAGONISMO JUDICIAL E
FORMALISMO NO PROCESSO CIVIL
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.2
1 Mestre em direito pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Pós-graduado em direito público na
Faculdade de Direito Damásio de Jesus. Juiz de direito no Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco (TJPE).
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RESUMO
2.1 INTRODUÇÃO
A Constituição Federal não pode ser tida como mais uma manifestação de poder,
existente apenas pela necessidade da exteriorização de força e autoridade que lhe é
ínsita originariamente, do contrário acaba sendo mass um ato despido de efetividade,
causando um arrefecimento não apenas de seus comandos, como também da auto-
nomia da ordem jurídica, onde o escopo principal é a exteriorização para o controle
do poder com seu poder em si, não sendo diferente com o importante e questionado
tema do protagonismo judicial e do formalismo processual, que vem acarretando efei-
tos transcendentes, com reflexos econômicos, políticos e sociais, que de forma alguma
podem obstar a incidência da inafastabilidade da jurisdição prevista em seu art. 5º,
XXXV, da Constituição Federal.
Muito se falou e se fala até os dias atuais sobre formalismo no processo civil, den-
tro do qual se encontram como vetores antagônicos a rigidez e a flexibilização, sendo
que incidentalmente se fala sobre o tema protagonismo, sobretudo o judicial, tema
pouco abordado em termos de doutrina processual civil, ao menos de forma profunda,
temática sempre abordada quando se questiona a atuação jurisdicional em concreto,
ao menos tempo que quase nunca é tratado quando há consonância subjetiva com o
comando judicial prolatado.
Reflexo disso pode se ver nas reformas legislativas dos últimos tempos, dentre
das quais se incluem não apenas a lei de abuso de autoridade e o pacote anticrime,
mas também o Código de Processo Civil, ao qual não dão tanta ênfase neste aspecto ao
menos, pois acarreta em reflexos de pouco holofote pelo caráter preponderantemente
privado das relações, por isso, pouco se fala que não na atuação dos nosso tribunais
superiores, que tem sua relevância e grandeza, porém, que reflete apenas uma peque-
na parcela do Poder Judiciário em âmbito nacional.
Capítulo 2
DO PROTAGONISMO JUDICIAL E FORMALISMO NO PROCESSO CIVIL
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
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Esse movimento centrípeto aos juízes tiveram como ponto de partido o ideal de
que as decisões judiciais seriam a única fonte do direito, como alguns até hoje susten-
tam, pois apenas sua atuação poderia conferir concretude jurídica às regras legais, e a
este movimento se classificou de realismo jurídico.
Capítulo 2
DO PROTAGONISMO JUDICIAL E FORMALISMO NO PROCESSO CIVIL
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
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Por sua vez, a forma em sentido estrito nada mais é, nas palavras de Carlos Al-
berto Alvaro de Oliveira (2003, p. 5) “o invólucro do ato processual, a maneira como
deve este se exteriorizar; cuida-se portanto do conjunto de signos pelos quais a vonta-
de se manifesta e dos requisitos a serem observados na sua celebração. De outra parte
é importante também a abordagem da acepção formalidades, que são as condições não
intrínsecas ao ato, equivalendo à forma em sentido amplo, de forma a “implicar a to-
talidade formal do processo, compreendendo não só a forma, ou as formalidades, mas
especialmente a delimitação dos poderes, faculdades e deveres dos sujeitos proces-
suais” (OLIVEIRA, 2003, p. 6).
Nunca é demais lembrar ainda as sábias palavras de José Carlos Barbosa Morei-
ra, quando afirmou algo que parece óbvio, porém, que não é tido como tal no dia a dia
forense, ou seja, “não há fórmulas mágicas” (MOREIRA, 2000), e, tamanha a sapiência
desta colocação que foi ela alocada, insculpida na exposição de motivos do Código de
Processo Civil pátrio atualmente em vigor.
Como não poderia ser diferente, a busca por um processo imbuído de celeridade
e efetividade tem sido um foco constante pelas reformas legislativas, sejam em paí-
ses de tradição romano-germânica, como também nos de origem anglo-saxã, havendo
nitidamente um avanço não apenas quantitativo, mas também qualitativo da litigio-
sidade, fator que acabou demandando respostas à resolução da necessidade crescen-
te, chamando atenção, então, a uma necessidade por uma flexibilização ao rigorismo
procedimental, com a finalidade de concatenação do direito material ao direito proces-
Rodrigo Ramos Melgaço
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
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A rigidez processual teve sua razão de ser em face do risco de abusos, conferin-
do, então, segurança às partes, o que não é o contexto atual, ou melhor, se alterou o
âmbito de risco, em virtude da insuficiência da rigidez, que em sede do projeto do Có-
digo de Processo Civil italiano enalteceu os poderes do juízes na condução do processo
e como resguardador de interesses sociais em detrimento dos individuais, porém, sem
aumentar a indeterminação do poder, ou mesmo concedendo-lhe poder discricioná-
rio, denegando a transferência do poder de criação aos juízes de regras processuais,
enquanto Chiovenda já defendia um modelo processual orientado pela informalidade
e concentração de atos, com o projeto do Código italiano prevendo um procedimento
adaptável ao caso concreto. (OLIVEIRA, 2018, p. 20).
Capítulo 2
DO PROTAGONISMO JUDICIAL E FORMALISMO NO PROCESSO CIVIL
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
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A atenção, então, estava voltada para conceder a igualdade das pessoas perante
a lei, sob um viés eminentemente formal, sendo esse o prisma do liberalismo, ou seja,
sob um enfoque ao menos abstrato de igualdade, nem sempre visto no plano fático,
afinal o Estado estaria eivado de abstenção, que para o processo se refletiria numa
perspectiva de imparcialidade e postura passiva do julgador, ainda mais sendo o pro-
cesso tido como coisa das partes, portanto, o protagonismo seria das partes, incumbin-
do a estas até mesmo o impulso processual.
Em termos literais, o indivíduo apenas é livre quando for possível escolher en-
tre opções e condutas das mais variadas com o intuito de que seus objetivos sejam
alcançados, sendo que poderá haver limitação pelo Estado apenas com a finalidade
do atingimento ao bem comum, não sendo outra a função do Direito, na condição de
poder, ou seja, a delimitação da atuação de cada um, de forma a não vulnerar a liber-
dade, e, portanto, o direito de outrem, sempre observadas as limitações constitucionais
que pudesse acarretar limitação da liberdade em seus vieses rígidos, como é o caso de
liberdade religiosa.
ciente aos anseios, sobretudo quando se trata de agilidade e barateamento, sendo que
a finalidade primordial é que as partes permaneçam dentro dos limites da lei, portan-
to, sob este prisma os equívocos da persecução não poderiam ser atribuídos ao juiz,
pois o poder judicial estaria limitado pela lei (TROLLER, 2009, p. 46).
Enquanto coisa das parte, o processo precisa ser visto em confronto ao viés pri-
vatista, e, partindo-se da autonomia privada na condição de poder, que estaria sendo re-
conquistado diante de um exagero do publicismo estatista, para retirar do Estado essa
condição de protagonista na estruturação do processo, para que assim seja substituída
por procedimentos que permitam aos indivíduo regular seus interesses, assim, o pro-
cesso deixaria de ser coisa das partes, muito menos coisa do juiz, e sim, coisa para as
partes (RAATZ, 2019, p. 178-179).
De qualquer forma, como foi visto, nem mesmo a concessão de mais poder ao
juiz bastou ao desiderato almejado, portanto, adveio a reforma de Bellot, na primeira
década do século XIX, conferindo ao juiz um papel ativo no processo, incluindo pode-
res até mesmo para investigar fatos, não se atentando para a morosidade processual,
mas sim para uma forte condução do processo pelo magistrado, com o juiz passando a
condição de colaborador, sendo que estaria transgredindo seu dever de juiz se restas-
Capítulo 2
DO PROTAGONISMO JUDICIAL E FORMALISMO NO PROCESSO CIVIL
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
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se passivo mesmo com a deficiência da situação fática que pudesse causar injustiça à
parte desfavorecida pela situação (TROLLER, 2009, p. 56).
Outra das inúmeras inovações foi o fim da prova legal, tida como teoria da prova
formal, ampliando-se, então, a liberdade de apreciação das provas.
É aspiração de longa data por uma previsibilidade, sem que se suplique eviden-
temente o retorno ao domínio da classe burguesa da França e seu modelo de Estado
liberal monopolizado normativamente. Contudo, o anseio por uma previsibilidade ou
determinabilidade do Direito é premente, seja para atender a primas sociais, como
também econômicos.
Continua ainda o Professor Leonardo Brandelli ao afirmar que “Direito e lei não
necessariamente coincidem, embora geralmente sim. Da mesma forma, o aplicador da
lei não está adstrito à sua interpretação literal” (COSTA NETO, 2017, p. 15).
levada ao conhecimento do juiz em sede processual, para que o devido processo legal
faça as vezes naquilo que lhe é inerente.
Como se pode ver, há vasta discussão até mesmo sobre a evolução do positivis-
mo ou mesmo sobre sua superação, pois para muitos a ultrapassagem do positivismo
exegético já bastaria para configurar a discricionariedade sob um viés pós-positivista,
como se isto fosse a superação do exegetismo, sobretudo pelo fato de que até mesmo
na era do exegetismo existir discricionariedade, ao menos em alguma variante, porém
o voluntarismo estaria imbuído na “mens legis”, sendo daí que o constitucionalismo
vai de encontro de forma ambivalente, ou seja, suplantando a ideia do absolutismo
do que fora legislado, e, simultaneamente, estar-se-ia criando freios ao voluntarismo
judicial (NERY, 2014, p. 14).
Portanto, de duas uma, ou o ordenamento jurídico deveria ser tratado como or-
dem exegética ou seria uma carta em branco para um utilitarismo judicial, assim, en-
tende-se que não deve prosperar a manifestação de Mauro Cappelletti, defensor notó-
rio da discricionariedade judicial, ao defender a criatividade judicial ampla e irrestrita
dos juízes (HERZT, 2017, p. 54), pois isso seria negar valor ao sentido.
atribuição a partir da relação do fato com o direito, com um viés conteudista e não
procedural, sendo o texto mais que mero enunciado linguístico.
Daí é que se evidencia a integridade do Direito, sendo que o texto para se mostrar
sólido para sopesá-lo como norma deve dizer respeito a algo, e é neste algo que deve
ser atribuído sentido, e, não sendo o processo coisa das partes, mas para as partes é
que apenas a facticidade ou factualidade deve ser capaz de atribuição de sentido, eis
então uma limitação manifesta ao protagonismo judicial de forma a coteja-lo com a
liberdade, autonomia da vontade das partes.
REFERÊNCIAS
ABBOUD, Georges. Processo Constitucional Brasileiro, 3ª Ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2019.
BARROSO, Luís Roberto. O Constitucionalismo Democrático no Brasil: Crônica de
um sucesso imprevisto.
COELHO, Fábio Ulhoa. Para entender Kelsen, 7ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribu-
nais, 2019
COSTA NETO, José Wellington Bezerra da. Protagonismo judicial: novo ativismo e
teoria geral da função jurisdicional. – 1ª Ed.- São Paulo: Editora Leud, 2017.
FELLET, André Luiz Fernandes. PAULA, Daniel Giotti de. NOVELINO, Marcelo No-
velino. As novas faces do Ativismo Judicial, Salvador: Ed.Jus Podivm, 2011.
HIRSCHL, Ran. The Judicialization of Mega-Politics and the Rise of Political Court,
Ann. Ver. Polit. Sci. 2008.11:93-118.
LEITE, George Leite. LEITE, Glauco Salomão. STRECK, Lenio Luiz. Neoconstitucio-
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NERY, Carmen Lígia. Decisão Judicial e Discricionariedade, São Paulo, Ed. Revista
dos Tribunais, 2014.
OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de. Do formalismo no processo civil, São Paulo:
Ed. Saraiva, 2003.
OLIVEIRA, Paulo Mendes de. Segurança Jurídica e Processo, São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2018.
RAATZ, Igor. Autonomia privada e processo, Salvador: Ed. Jus Podivm, 2019.
SILVA, Ricardo Alexandre da. A nova dimensão da coisa julgada, São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2018.
Capítulo 2
DO PROTAGONISMO JUDICIAL E FORMALISMO NO PROCESSO CIVIL
50
CAPÍTULO 3
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.3
1 Especialista em Direito Administrativo pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Analista Judiciário no
Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco (TJPE).
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
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RESUMO
Por ser a mais eficiente ferramenta para crescimento do ser humano, a educação
assume o status de direito humano, sendo parte integrante da dignidade humana, ao
passo que contribui para sua ampliação. Ademais, trata-se de um direito multifaceta-
do, sendo de característica: social, econômica e cultural, pois promove o pleno desen-
volvimento da personalidade humana dentro da comunidade, favorece a autossufi-
ciência econômica pois possibilita o trabalho, e possibilita a construção de uma cultura
universal de direitos humanos. Ou seja, a educação é pré-requisito fundamental para
que o indivíduo possa ter plena vivência como ser humano na contemporaneidade
(CLAUDE, 2005, p. 37).
Desta feita, a educação como atributo da dignidade da pessoa humana deve ser
uma educação para a afirmação de valores que lhe são inerentes, como a solidarieda-
de, a justiça e a ética, bem como deve trazer uma “perspectiva intercultural orientada
Como visto, a Dignidade da Pessoa Humana não é direito concedido pelo Orde-
namento, mas é atributo de qualquer ser humano, independentemente de origem, cor,
raça ou sexo. Sua positivação faz com que ela deixe de ser apenas um valor moral para
assumir também um valor jurídico, com eficácia jurídica e caráter normativo, apta a
suscitar importantes consequências no ordenamento jurídico (CAMARGO, 2006, p.52)
Neste sentido, vale dizer que a consagração do direito à educação no plano nor-
mativo constitucional como direito fundamental (arts. 6º e 205 da Constituição da Re-
pública) implica na responsabilidade que o Estado assumiu para protegê-lo, através
de criação e a consequente aplicação de normas sancionadoras contra os que atentem
contra a sua integridade e bem assim o dever de promovê-lo através de prestações
materiais positivas para sua efetivação (CAMARGO, 2006, p. 52). Ou seja, a educação
passa a ser um fim a ser perquirido pelo Poder Público, de maneira que deve apare-
lhar-se para efetivá-lo (PIACENTIN, 2013, p. 55).
Por outro lado, à luz da doutrina alemã do pós-guerra, que visou a construção
de um mínimo para reconhecer um direito fundamental a um mínimo vital (KRELL,
2002, p. 60), passou-se a reconhecer no Brasil o chamado mínimo existencial e por con-
seguinte a teoria da reserva do possível.
Capítulo 3
O DIREITO À EDUCAÇÃO COMO DIREITO FUNDAMENTAL NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
54
de remanejar os recursos disponíveis retirando das áreas em que não são essenciais
para o ser humano, quanto o são o direito à vida, à saúde e à educação. (CUNHA JU-
NIOR, 2006, p. 270).
Não se pode admitir que num Estado em que o povo não possui um padrão míni-
mo de prestações essenciais para sua sobrevivência, os direitos sociais não podem ser
reféns de condicionamentos como os orçamentários da teoria da Reserva do Possível.
Essa interferência do Judiciário para a efetivação dos direitos sociais e dentre eles
o direito à educação é legítima, visto que é obrigado a agir quando os demais poderes
são omissos para garantir o mínimo existencial (KRELL, 2002, p.109)
3.3 CONCLUSÃO
A dignidade da pessoa humana tal qual o conceito que se conhece hoje insere o
direito à educação como um de seus atributos que demonstram a composição de um
mínimo existencial.
Caso o poder público não cumpra com o seu dever, seja o poder executivo e/ou
o poder legislativo, caberá ao poder judiciário, caso acionado, solucionar a omissão.
REFERÊNCIAS
CAMARGO, Marcelo Novelino (org.). O Conteúdo Jurídico da Dignidade da Pessoa
Humana. In: CAMARGO, Marcelo Novelino (org.). Leituras Complementares de Di-
reito Constitucional: direitos fundamentais. Salvador: Juspodivm, 2006. p. 45-65.
CUNHA JUNIOR, Dirley da. A Efetividade dos Direitos Fundamentais Sociais e a Re-
serva do Possível. In: CAMARGO, Marcelo Novelino (org.). Leituras Complementa-
res de Direito Constitucional: direitos fundamentais. Salvador: Juspodivm, 2006, p.
247-292.
Capítulo 3
O DIREITO À EDUCAÇÃO COMO DIREITO FUNDAMENTAL NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
56
CAPÍTULO 4
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.4
1 Mestre em direito pela Universidade Católica de Pernambuco, pós-graduado em direito médico e da saúde pelo
Instituto dos Magistrados de Pernambuco. Advogado.
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
58
RESUMO
Contudo, a experiência vai nos mostrando que a equação que envolve direito e
justiça nem sempre é exata ou decorre de lógica simples... A aplicação da norma jurí-
dica, muitas vezes, desperta em nós um angustiante sentimento de injustiça.
Tema que, vira e mexe, ganha manchete de jornais e passa a ser alvo de discus-
sões é o do linchamento - tortura ou execução pública de pessoas. Trata-se de uma
prática vedada pela Constituição, ao dispor, em seu rol de direitos fundamentais que
Alexandre Moura Alves de Paula Filho
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
59
Ainda na seara processual, tocamos em outro tema, este muito caro a nós, da
ABDPRO: o garantismo processual. De acordo com essa corrente, o processo é, sem de-
magogias ou relativizações, verdadeira instituição de garantia, ou, “contrapoder” de
todo indivíduo face a função jurisdicional do Estado3. O garantismo milita, sobretudo,
contra a ideia de que o processo é um instrumento a serviço da jurisdição para realizar,
a todo custo, o direito material, ou ainda “fazer justiça”, ideais defendidos pela corren-
te instrumentalista, que pode ser bem expressada na passagem de seu maior precursor
no Brasil, Cândido Rangel Dinamarco, com grifos nossos:
Examinar as provas, intuir o correto enquadramento jurídico e interpretar de modo
correto os textos legais à luz dos grandes princípios e das exigências sociais do tempo
1 Recomendamos, neste ponto, a abordagem de Marco Paulo Di Spirito, acerca dessas e de outras hipóteses de dispensa da
referida audiência (DI SPIRITO, 2016).
2 Expressão alcunhada por Lenio Streck situações em que o judiciário dá a “volta” em um dispositivo legal válido, violando o que
é elementar no direito: “uma lei ou dispositivo vigente e válido não pode ser contornada ou desviada” (STRECK, 2016
3 Garantia é muito bem explicada por Eduardo Costa, como sendo “toda e qualquer situação jurídica ativa, simples ou complexa,
atribuída aos cidadãos por norma constitucional, cujo exercício tende a prevenir ou eliminar os efeitos nocivos do abuso de poder
cometido pelo Estado, ou por quem lhe faça as vezes” (COSTA, 2018).
Capítulo 4
ENTRE O DIREITO E A JUSTIÇA, LUTE PELO DIREITO!
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
60
E o perigo desse modus operandi é que, aos poucos, vai-se abrindo espaço para o
ativismo judicial.
Em caso de formar-se um valo entre o texto da lei e os sentimentos da nação, muito
profundo e insuperável, perde legitimidade a lei e isso cria clima para a legitimação
das sentenças que se afastem do que ela em sua criação veio ditar. (DINAMARCO,
1987, p. 274).
Nesse ponto, recordo-me da fala do professor Bianor Arruda, que também é ma-
gistrado, num seminário no PPGD da Unicap, em 2019, no qual, com muito bom hu-
mor, falou que um juiz que nunca voltou triste para casa, após uma decisão que teve
de proferir, provavelmente é um juiz voluntarista. Justifica: o ofício de julgar conforme
a Constituição e as leis pode gerar (como já mencionado) um sentimento de injustiça
ou de que poderia, de algum outro modo, ajudar uma pessoa de boa intenção. No en-
tanto, não é permitido ao juiz colocar seus valore e sentimentos à frente das normas às
quais está vinculado.
É preciso lembrar que, apesar de defender que o termo sentença vem do verbo
latino sentire (do português sentir), nenhuma obra de cunho instrumentalista procurou
enfrentar objetivamente questões como: “que sentimento é esse?” ou, “qual o parâ-
metro de justiça imbuído em termos como “devido processo justo”?”. Dividimos, a
propósito, o incômodo expressado por Abboud e Lunelli (2015, p. 31): “a qual justiça
os instrumentalistas se referem? Se a aposta está na discricionariedade de quem julga,
muitas serão as justiças…”.
4.4 CONCLUSÕES
Por fim, não é possível defender uma posição, sob o mantra de que “a lei é in-
justa”, para afastar o cumprimento da própria lei. Trata-se de uma intentada que não
compete aos juristas.
nosso ordenamento jurídico traz diversas soluções para esses impasses, como a decla-
ração de inconstitucionalidade (permitida, inclusive, aos juízes de primeira instância),
declaração de nulidade parcial, resolução por antinomia (a regra de que prevalece a lei
superior/específica/mais recente), ou simplesmente, a interpretação da norma confor-
me a Constituição Federal4.
REFERÊNCIAS
ABBOUD, Georges. LUNULLI, Guilherme. Ativismo judicial e instrumentalidade do
processo. Revista de Processo (Repro), v. 242, p. 21-47, abr. 2015.
CARREIRA, Guilherme Sarri. ABDPRO #119 - Por que continuo tendo medo do STJ.
Empório do Direito (online).04/03/2020. Disponível em https://emporiododireito.
com.br/leitura/abdpro-119-por-que-continuo-tendo-medo-do-stj. acesso em 15 mar.
2020.
COSTA, Eduardo José da Fonseca. ABDPRO #40 - Notas para um Garantística. Empó-
rio do Direito (online). 04/07/2018. Disponível em: https://emporiododireito.com.
br/leitura/abdpro-40-notas-para-uma-garantistica. Acesso em 14 mar. 2020.
STRECK, Lenio Luiz. Uma ADC contra a decisão no HC 126.292 — sinuca de bico para
o STF! Consultor Jurídico. 29 fev. 2016. Disponível em: https://www.conjur.com.br/
2016-fev-29/streck-adc-decisao-hc-126292-sinuca-stf. Acesso em: 11 dez. 2019.
4 Sugiro ao leitor o texto de Guilherme Sarri Carreira, publicado na coluna da ABDPRO no Empório do Direito, que enfrenta de
modo magistral a questão, intitulado “Por que continuo tendo medo do STJ?” (CARREIRA, 2020).
Capítulo 4
ENTRE O DIREITO E A JUSTIÇA, LUTE PELO DIREITO!
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CAPÍTULO 5
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.5
1 Mestre em direito pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Pós-graduado em direito público na
Faculdade de Direito Damásio de Jesus. Juiz de direito no Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco (TJPE).
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
64
RESUMO
5.1 INTRODUÇÃO
Não é em vão esta atenção conferida pelo ordenamento processual civil, pois do
processo não se pode vislumbrar apenas e tão somente a resolução de casos concretos,
ainda que aprioristicamente seja essa a finalidade mais proeminente, sendo também
uma contribuição relevante para fixação de marcos jurídicos, que servem de orientação
social, e, para tal desiderato é essencial a previsibilidade das consequências jurídicas
dos múltiplos atos praticados na vida em sociedade, por isso, a relevância do direito
ser previsível, exatamente para que possa refletir previsibilidade, e também para não
se permitir a perpetuação do discurso jurídico, para que assim o direito seja protegido
(SILVA, 2018, p. 13-14), e consequentemente o jurisdicionado, como destinatário final
de qualquer provimento do Poder Judiciário.
Portanto, não se pode dizer que o direito ser previsível seria um dogma a ser
abandonado, tema trabalhado pelo jurista português Miguel Teixeira de Sousa, que
aborda exatamente a necessidade do abando dos dogmas, então, entende-se que essa
visão não é aplicável ao direito sob o manto da segurança que se espera que dele se ex-
teriorize, do contrário, a substitutividade e definitividade de uma decisão jurisdicional
estariam eivadas de falibilidade.
Desta forma, e considerando o direito processual civil como ciência desde mea-
dos do século XIX, como ramo do direito público, autônomo, é que se torna relevante
o desenvolvimento da matéria sob um prisma processual, visto que a corrente mate-
rialista advinda do imanentismo já foi superada há tempos, embora sempre se tente
revigorá-la, não por outro motivo que Araken de Assis (1998, p. 114-115) enfatizou a
importância de se preservar o direito à tutela jurídica do autor, independentemente da
relação material afirmada, a qual não pode ser confundida com a “ação”, onde eviden-
temente é preciso que se traduzam todos os elementos necessários ao pronunciamento
jurisdicional, e nem por isso supera a essência do objeto litigioso.
Capítulo 5
REVISITANDO O OBJETO DO PROCESSO
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
66
O direito processual civil, então, é ramo do direito público e não de direito pri-
vado, regulando a constituição e os pressupostos da jurisdição civil, os modos e as
formas, assim como os efeitos da tutela, o processo e a outorgaria a tutela, portanto, o
direito processual não fixa quem tem ou não razão, regulamentando a forma, o modo
com que se pede a tutela jurídica ao Poder Judiciário, com a qual se concede ou se nega
à luz do direito material àquele que estivesse amparado pelo direito aplicado (BENE-
DUZI, 2018, p. 64).
Então, embora não seja um tema nacionalmente tão estudado, nem mesmo abor-
dado em nosso ordenamento jurídico, assim como a carência doutrinária a respeito,
temos como fundamental o devido desenvolvido do objeto litigioso e suas teorias, so-
bretudo a partir do momento em que tanto a legislação e consequentemente a doutrina
pátria priorizam alguns institutos jurídicos tido como fundamentais, logo, inevitavel-
mente estes acabam sendo a fonte de estudos e incursões, não por outro motivo que
os estudos clássicos fixaram aqueles que seriam os institutos fundamentais do direito
processual civil.
Cândido Rangel Dinamarco (2009, p. 302) aponta o sistema processual como uma
estrutura com suas próprias vigas mestras, para que internamente tenha não apenas
corpo, mas também sustentação, tudo convergindo de forma centrípeta a abranger o
Embora ainda seja cedo demais para tecer qualquer conclusão a respeito da di-
cotomia acima, a respeito da necessidade ou não do estudo do objeto litigioso, uma
questão prática, que inclusive foi um dos motivos da escolha do tema deste trabalho,
e que denota a essencial e necessidade do aprofundamento do tema, pois é comum
no dia a dia uma decisão final em demandas jurisdicionais não observarem os termos
exatos do pedido e da causa de pedir expressamente apresentadas na petição inicial, e
esta consideração trago à baila não apenas pela atividade cotidiana, como também por
questionamentos arguidos em sede doutrinária (RODRIGUES, 2014, p. 5).
não por outro motivo partiu-se a uma realocação dos institutos a partir de uma visão
crítica, o que levou a estudos dos mais diversos institutos, como é o caso da pretensão
já tão discutida quando da teoria da actio e a polêmica que se instaurou na época, até
que os alemães retomaram os estudos sobre o objeto litigioso, com a finalidade de de-
limitar o mérito no processo civil, o que é essencial para fixação de consequências em
diversos institutos.
Dinamarco, assim como outros juristas foram até mesmo no encalço da origem
da expressão “objeto”, que seria algo que se põe perante uma pessoa, ou mesmo como
decorrência de uma atividade (2010, p. 305).
Por sua vez, as indagações sobre as teorias dos elementos da demanda chegou a
um desfecho, ao menos na doutrina italiana, concluindo que ambas as teorias seriam
complementares entre si, o que teria sido suscitado por Elio Fazzalari, para quem o
objeto do processo é a situação substancial, enquanto que o objeto litigioso seria a cir-
cunstância concreta apresentada em juízo “in status assertionis” (TUCCI, 1993, p. 131 e
273), apresentando contraponto ao desenvolvido pelos alemães, apontando que estes
almejariam evitar a inter-relação entre as esferas processual e material com a única
finalidade de resguardar a autonomia do processo.
Antes de passar às teorias do objeto litigioso é preciso apenas realizar uma dife-
renciação sobre o que seria o objeto do processo, para que então se eleve ao aprofunda-
mento da litigiosidade do objeto, que são acepções distintas, tal como sustenta Sidney
Sanches e Daniel Mitidiero (SILVA, 2018, p. 133).
Capítulo 5
REVISITANDO O OBJETO DO PROCESSO
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
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Para Cândido Rangel Dinamarco (2009, p. 305; 2017, p. 209) objeto do processo é
o que ordinariamente se chama de mérito, existindo em qualquer espécie de processo,
se confundindo com a pretensão trazida pela parte requerente ao juiz, em prol da solu-
ção ou mesmo satisfação, não passando do material sobre o qual se aterá a atuação ju-
risdicional, incluindo não apenas o apresentado pelo demandante, como também pelo
demandado, apontando que a pretensão seria a aspiração preexistente ao processo,
portanto, seria um fato e não uma situação jurídica, afinal, não passa de uma exigência
decorrente de uma crise jurídica.
Ainda que Dinamarco não tenha trazido um sentido unívoco sobre o que seria
o objeto do processo tal como foi mencionado acima, em outra passagem do mesmo
capítulo (DINAMARCO, 2017, p. 215) doutrinário, ao retomar o tema, passou a indicar
que o objeto do processo seria exclusivamente o pedido, onde residiria a pretensão
com o objetivo de construir um raciocínio lógico jurídico, de onde se pode aferir que
houveram duas observações distintas, uma seria o objeto do processo e a outra seria o
objetivo deste, ou seja, a obtenção da solução prática mediante o eventual acolhimento
do pedido.
José Rogério Cruz e Tucci (1993, p. 126) segue a linha da acepção material, defen-
dendo que o fato ou fatos são essenciais para configurar o objeto do processo, sendo
este que constituem a causa de pedir, que seria aquela que tem o cunho de delimitar a
pretensão, mesmo porque para se vislumbrar uma resposta por meio de uma sentença
é essencial que seja levado ao judiciário determinados acontecimentos dos quais se
aponte uma ou mais consequências jurídicas.
Continuando com a análise da dicotomia acima, “lide”, tida como mérito até cer-
ta passagem, já era tratada pelo italiano Francesco Carnelutti como um conflito de
interesses qualificada pela pretensão resistida (SILVA, 2018, p. 126), logo, não seria
condizente com o objeto do processo, mesmo porque nem sempre o processo, assim
como o exercício da jurisdição dependeria necessariamente da existência de uma lide
na acepção conflito de interesses.
Diante do que já foi tratado sobre o objeto do processo, é importante ser realizada
uma diferenciação, pois embora possa parecer que o objeto do processo tem o mesmo
significado de objetivo deste, enquanto que são acepções distintas, duas feições incon-
fundíveis, sendo que a própria doutrina utiliza a expressão para designações de coisas
bem distintas, e tal como já foi mencionado anteriormente, a partir de Dinamarco,
para quem o objetivo do processo nada mais é do que a obtenção da solução práti-
ca mediante o eventual acolhimento do pedido, sendo o escopo social. Já para James
Goldschmidt o objetivo do processo seria unicamente uma pretensão de tutela jurídica
da parte do autor, sem que fosse possível que o requerido correspondesse a essa pre-
tensão por meio de tutela jurídica independente (GOLDCHMIDT, 2016, p. 13).
Capítulo 5
REVISITANDO O OBJETO DO PROCESSO
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
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papel importante à lei, com os países que a compõe passando a adotar códigos (DA-
VID, 2002, p.23).
Em face dos pilares advindos do direito romano é que se faz necessária a análise
do objeto do processo a partir da processualística na acepção italiana, e apenas e tão
somente para demonstrar a importância do objeto do processo, para não sair da fina-
lidade do presente estudo.
Por sua vez, estudos apontam para a divisão dessa expansão da intenvenção es-
tatal entre a ordo iudiciorum privatorum e extraordinaria cognitio, que deixaria de ser uma
fase do processo civil romano para ser um gênero, exatamente pelo caráter público em
expansão (ROMANO, 2017).
Na fase da legis actiones ou ações da lei, pelo fato de estarem ações previamente
estabelecidas e delineadas na lei para a tutela de direito individualizados na lei, sendo
fase em que se caracterizava uma forma rígida de processo, estando taxativamente
previstas de forma exaustiva, seja em suas obrigações, como em suas consequentes
ações, taxatividade que exigia peremptoriamente uma correspondência, logo, nesta
fase não eram mencionados os fatos que o provocavam.
No direito romano não se dizia que uma pessoa teria um direito, e sim que ela
teria uma ação, portanto, não seria titular da actio qualquer cidadão que lograsse de-
monstrar certos requisitos, e sim aquele que conseguisse se enquadrar em esquemas
preestabelecidos que evidenciasse uma situação de direito material realmente existen-
te, assim, ficava nítido que apenas teria direito a ação aquele que demonstrasse que
tinha razão (TUCCI, 1993, p. 23).
Capítulo 5
REVISITANDO O OBJETO DO PROCESSO
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
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Houve nesta primeira fase a bipartição em duas etapas ou subfases, que seria
in iure e a apud iudicem ou in iudicio (GOLDSCHMIDT, 2016, p. 18), aquela subfase
desenvolvida perante um magistrado, normalmente o pretor, perante o qual as par-
tes compareciam, onde eram as ambas parte ouvidas, momento em que se debateria
formalmente a ação proposta, marcando-se então pela oralidade, onde se verificaria a
possibilidade ou não se submeter a causa ao juiz.
Nesta fase o contraditório entre as partes se dava entre a causa em que se funda-
va a vindicação (TUCCI, 1993, p. 25), e não observando-se o que se pretendia, o que
traria à evidência a importância do objeto do processo a partir da causa de pedir para
se poder delimitar a pretensão.
É importante observar que nesta fase ocorria a delimitação do objeto, das ques-
tões a serem decididas, assim como a indicação do pretor/magistrado, sendo que da
formação da litis contestatio advinha o fim da fase in iure, para dar início à etapa apud
iudicem ou in iudicio, na qual o demandante já com o objeto delimitado viria então ex-
por suas razões e produzia as provas necessárias perante o iudex/juiz, para que enfim
fosse proferida uma sentença sem fundamentação, inviabilizando qualquer possibili-
dade de nova demanda vir a ser proposta, qualquer que fosse o resultado alcançado
(RODRIGUES, 2014, p. 08, refletindo de imperium e a iurisdictio, aquela visando manter
a ordem, resguardando-se o interesse público e o privado, podendo advir uma decreta
ou um interdicta, respectivamente um fazer e uma abstenção, ou não fazer. Já a iurisdic-
tio ou o poder, poderia ser exercido de forma voluntária ou contenciosa, neste último
caso quando então seria necessária a manifestação do tribunal, enquanto que na vo-
luntária, ou graciosa não seria preciso essa manifestação do tribunal, podendo ocorrer
em qualquer dia e lugar (ROMANO, 2017).
Assim, fica bem clara a importância e o espectro da forma, assim como do con-
teúdo da causa que seria levada ao conhecimento do juiz, e, apesar disso era admitidas
flexibilizações seja da parte de quem pede, ou mesmo em face de quem se pede, esta
última que se manifestaria através da exceptio (GOLDSCHMIDT, 2016, p. 20), e o pró-
ximo passo seria a nomeação de um julgador, sendo elaborada a fórmula com a parti-
cipação das partes, que redundaria na litis contestatio, com o comprometimento dos en-
volvidos sobre os limites do ato formular, para que na próxima etapa do procedimento
fossem realizadas as colheitas das provas e proferida enfim a sentença, esta limitada
pela fórmula e questões de fato e de direito ali fixadas, com um diferencial substancial
aos dias atuais, ou seja, era possível que na hipótese de não se chegar ao convenci-
mento sobre os fatos não fosse proferida qualquer sentença, quando então ocorreria
a nomeação de outro pretor/magistrado (GOLDSCHMIDT, 2016, p. 10), o que não é
admissível nos dias atuais, por mais que se questione por demais, e até se afirme, que
o judiciário não deve julgar todas as matérias, o que mais adiante será abordado, so-
bretudo diante do preceito fixado no art.5º, XXXV da Constituição Federal.
Capítulo 5
REVISITANDO O OBJETO DO PROCESSO
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
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Logo, mais uma vez fica clara a importância e a atenção de longa data quanto
à ideia de delimitar a res iudicium deducta, pois da fórmula se depreende o objeto do
processo, parametrizando, assim, a matéria litigiosa desde o momento in iure, haven-
do o compromisso da submissão às consequências da decisão, que aprioristicamente
definia os limites da análise da demanda pelo juiz/iudex.
como é o caso daquelas demandas que envolviam direito pessoal e nas que abrangiam
direito real, e, como se pode ver, desde o direito italiano se vislumbrava importância
nos elementos da ação para delimitação da ação e do objeto do processo, onde havia
rigidez na estabilização da demanda, como consequência da litis contestatio (RODRI-
GUES, 2014, p. 16).
Nesta fase ganha relevo a teoria da prova formal, com o que aumenta a interven-
ção judicial no processo (GOLDSCHMIDT, 2016, p. 23), pois a partir do instante em
que eram apresentadas formulações por escrito, desde questões jurídicas a pedido das
partes, se estava então transmitindo ao juiz a investigação da questão de fato (GOLDS-
CHMIDT, 2016, p. 22).
Nesta fase os juízes passaram a ser públicos, não mais se portando como jurados
leigos, proferindo decisão não em nome do povo romano e sim como representantes
do poder imperial, havendo aqui um rompimento com o sistema da ordo iudiciorum
privatorum, pois o processo tornou-se público, com a causa de pedir devendo ser tra-
zida com base em fatos, onde apenas com autorização do juiz seria possível a altera-
Capítulo 5
REVISITANDO O OBJETO DO PROCESSO
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
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ção, onde passou a ser prescindível se atribuir um nomen iuris à ação, pois se estaria
concedendo ao julgamento a ingerência a partir da máxima iura novit curia, ganhando
ainda importância o princípio dispositivo, pois os limites da demanda seriam fixados
apenas e tão somente pelo demandantes quando da apresentação deste limites a partir
da petição inicia (TUCCI, 1993, p. 34).
Portanto, como foi mencionado no início do tratamento fosse essa terceira fase,
a litis contetatio teve remodelada sua formação, desde de aspectos burocráticos e for-
mais, como em termos do momento de formação, o que ficou muito claro na época ou
período de Justiniano, onde a litis denuntiatio foi substituída pela libellus conventionis,
sendo este o documento apresentado dirigido ao juiz que apontava sucintamente a
pretensão do autor e seus fundamentos, que, após o exame sumário do magistrado se-
ria remetido ao requerido, tendo este por sua vez a oportunidade de se opor ao pleitos
apresentado na pretensão, apresentando, então a libellus contradictionis, para que mais
adiante em audiência pública se alcançasse a litis contestatio, agora não passando de
um momento processual apenas, sem a relevância existentes na fase privatista, sendo
o instante de definição da controvérsia sobre a qual o órgão julgador deveria se pro-
nunciar (TUCCI, 1993, p. 35).
Dessa forma, não se deve ficar adstrito a dogmas que terminam por engessar a
análise do processo como se todo o desenvolvimento do processo antes e pós autono-
mia tivesse advindo da perspectiva da actio romana, sobretudo ponderando que ine-
xoravelmente houve a junção de vieses romanos e germânicos, tanto, que atualmente
tem-se como um dos sistemas jurídicos tradicionais, o sistema romano-germânico, um
fato, assim, é preciso acompanhar o olhar do desenvolvimento histórico para alcançar
avanços e não estabilização científica.
Não por outro motivo foi que Araken de Assis (1998, p. 101) afirmou que “o
estudo do objeto litigioso se tornou um pólo fundamental do processo e instituto cen-
tralizador das soluções cabíveis aos temas principais da ciência, incluindo, por óbvio,
o cúmulo de ações. Ele representa “verdadeiro centro ao qual converge a disciplina de
inúmeros institutos processuais” (DINAMARCO).
Apesar disto, entre nós há tempos se valora com preponderância a temática sob
o viés da “ação”, tanto que os conceitos de coisa julgada e litispendência em nosso or-
denamento estão parametrizados pelos elementos tradicionais da ação (parte, pedido
e causa de pedir), assim, a ação constitui o objeto do processo, ao passo que o direito
alemão carece muito em face da imprecisão conceitual do objeto litigioso e da Anspru-
ch (pretensão em alemão).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como foi possível verificar neste estudo sobre o objeto do processo, e sua rele-
vância ao atingimento dos escopos do processo, sendo um deles exatamente a resposta
àquilo que se levou ao Poder Judiciário, ou seja, a busca por uma sentença de mérito, à
qual é indispensável a exata delimitação não apenas dos elementos da ação, como tam-
bém o âmbito do objeto do processo, para que assim seja o estudo mais aprofundado
a partir do instituto do objeto litigioso, quando então será preciso toda uma incursão
sobretudo à causa de pedir e sua relevância, que foi notada mesmo antes da autonomia
do processo como ciência.
Capítulo 5
REVISITANDO O OBJETO DO PROCESSO
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
80
de imediata aos provimentos, mesmo que sem julgamento de mérito, em vez de sem-
pre rogar por uma flexibilização como um dogma a ser sopesado e talvez abandonado,
ao menos de forma descriteriosa, sob pena de cada vez mais afastar-se do primado da
segurança, social e jurídica.
REFERÊNCIAS
ASSIS, Araken de. Cumulação de ações, 3ª Edição. São Paulo: Ed. Revista dos Tribu-
nais, 1998.
BÜLOW, Oskar Von. A teoria das exceções e dos pressupostos processuais, 2ª Edição.
Campinas. Traduzido por Ricardo Rodrigues Gama, Ed. LZN, 2005.
BUZAID, Alfredo. Exposição de motivos do código de processo civil. Mini Vade Me-
cum Civil e Empresarial, São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2013.
CORRÊA, Fábio Peixinho Gomes. O objeto litigioso no processo civil. São Paulo: Ed.
Quartier Latin, 2009.
DAVID, René. Os grandes sistemas do direito contemporâneo. São Paulo: Ed. Mar-
tins Fontes, 2002.
DINAMARCO, Cândido Rangel, Instituições de direito processual civil, Vol. II, 7ªEd.
São Paulo: Malheiros, 2017.
SILVA, Ricardo Alexandre. A nova dimensão da coisa julgada. São Paulo: Ed. Revista
dos Tribunais, 2018.
SOBRINHO, Elicio de Cresci. Objeto litigioso no processo civil. Porto Alegre: Ed.
Sergio Antonio Fabris, 2008.
TUCCI, José Rogério Cruz. A causa petendi no processo civil. São Paulo: Ed. Revista
dos Tribunais, 1993.
Capítulo 5
REVISITANDO O OBJETO DO PROCESSO
82
CAPÍTULO 6
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.6
1 Mestre em direito pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Pós-graduado em Direito Civil e Processual
Civil pela Universidade Gama Filho e em Gestão Pública pela Faculdade Getúlio Vargas (FGV). Procurador-Chefe da
Assembleia Legislativa da Paraíba.
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
84
RESUMO
6.1 INTRODUÇÃO
O modelo de gestão da saúde pública por meio das Organizações Sociais de Saú-
de (OSS) possibilita maior efetividade da prestação do serviço público para a popula-
ção, oferecendo meios que assegurem o direito social à saúde, uma vez que compete a
este setor privado, sem fins lucrativos, desempenhar com qualidade e eficiência o ser-
viço público de saúde, com fiscalização e acompanhamento da Administração Pública.
Capítulo 6
EFETIVIDADE DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS NA PERSPECTIVA DO DIREITO SOCIAL À SAÚDE
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
86
Nesse ínterim, constata-se que a saúde está diretamente ligada ao estado físico,
mental e social. Além do mais, o conceito envolve o tratamento de moléstias, o forneci-
mento de medicamentos, medidas de prevenção, entre outras políticas públicas.
Por conseguinte, é imperioso destacar que o direito à saúde não está limitado ao
descrito no art. 6º da Constituição Federal, mas também ao longo do seu texto, como
o caso do art. 194, que trata da seguridade social, situando os objetivos da seguridade
social, que se destina a assegurar os direitos relativos à saúde, bem como a previsão do
art. 196, determinando que a saúde é direito de todos e dever do Estado, e garantindo
um acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação.
A prestação do serviço da saúde pode ser efetuada de forma direta, pelo Poder
Público, ou indireta, através de terceiro, por pessoa física ou jurídica de direito priva-
do, como também, conforme previsto no art. 227 da Carta Magna, é admitida a partici-
pação de entidades não governamentais por meio de políticas públicas.
O Estado observou que não poderia continuar nesse modelo de prestação de ser-
viços públicos, necessitando de uma reforma administrativa, que ocorreu no período
dos anos 90, chamada de Reforma Gerencial do Estado, a qual incentivou a criação e
implementação de entidades não estatais que teriam a responsabilidade de executar os
serviços públicos, de gerir recursos e atividades tipicamente públicas.
Capítulo 6
EFETIVIDADE DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS NA PERSPECTIVA DO DIREITO SOCIAL À SAÚDE
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
88
Diante do cenário exposto, em que o Estado busca a sua reforma gerencial, a Lei
nº. 9.637, de 15 de maio de 1998, foi decisiva para concretização da política de colabo-
ração entre o setor público e o setor privado, dispondo sobre a qualificação das Orga-
nizações Sociais e a criação do Programa Nacional de Publicização, estabelecendo, em
seu artigo 1º, que:
Art. 1º O Poder Executivo poderá qualificar como organizações sociais pessoas jurí-
dicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas ao en-
sino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação
do meio ambiente, à cultura e à saúde, atendidos aos requisitos previstos nesta Lei.
(BRASIL, 1998).
Assim, essas entidades são organizações particulares que não estão inseridas
como parte da estrutura governamental, mas sim, com a quais o Poder Público man-
tém parcerias, a fim de que sejam desenvolvidas atividades essenciais à coletividade,
desde que seja possível a atuação da iniciativa privada, embora algumas delas, quando
exercidas pelo Estado, se constituam em serviços públicos (SCHIMITT, 2006).
Capítulo 6
EFETIVIDADE DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS NA PERSPECTIVA DO DIREITO SOCIAL À SAÚDE
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
90
Nesse passo, a referida Lei federal estabelece que o contrato de gestão discrimi-
nará as atribuições, responsabilidades e obrigações do Poder Público e da OS, devendo
especificar o programa de trabalho proposto, as fixações das metas a serem atingindas,
os prazos de execução, bem como os critérios objetivos de avaliação de desempenho,
mediante indicadores de qualidade e produtividade.
Além disso, o contrato deve prever os limites e critérios para despesa com remu-
neração e vantagens a serem percebidas pelos dirigentes e empregados da OS, além de
outras cláusulas julgadas convenientes pelo Poder Público.
A eficácia, por sua vez, possui relação com os meios e instrumentos que a Admi-
nistração Pública irá empregar, para consecução dos seus objetivos. Sendo assim, a efi-
cácia se coaduna com a intermediação entre os objetivos pretendidos, a fim de alcançar
os resultados, compreendendo o ambiente, necessidades e desafios (MAXIMILIANO,
2000).
Ocorre que, a prestação do serviço social à saúde por parte do Estado apresen-
ta-se de maneira crítica e deficitária, sobretudo em razão da ineficaz gestão adminis-
trativa, culminando em uma má prestação de assistência à população, principalmente
àquela que vive em regiões periféricas e de difícil acesso.
Capítulo 6
EFETIVIDADE DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS NA PERSPECTIVA DO DIREITO SOCIAL À SAÚDE
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
94
Contudo, Travagin (2017), lançando um olhar crítico às OSS, adverte que a trans-
ferência de atividades do setor público para as entidades do terceiro setor, se trata de
uma decisão política, contida em um contexto capitalista, e não apenas um arranjo
administrativo.
Essa lei foi regulamentada através da Lei Complementar nº 846/98, que permitia
a parceria do Estado de São Paulo com entidades privadas sem fins lucrativos para o
exercício de atividade não exclusiva do Estado.
Além disso, a lei regulamentou sobre o instrumento legal dessa parceria, por
meio do contrato de gestão que estabelece as metas e resultados, o modelo de assistên-
cia à saúde e transparência das transferências dos recursos públicos repassados a essas
Diante disso, o relatório expedido pela Secretária do Estado de São Paulo de-
monstrou um comparativo entre a execução da administração hospitalar realizada
pela Administração Direta e por meio das Organizações Sociais (ADRIANO, 2016).
Nesse estudo, houve uma pesquisa de satisfação dos usuários no ano de 2015,
demonstrando um resultado positivo na prestação do serviço. Além disso, o relatório
destaca que os hospitais administrados pelas Organizações Sociais atingiram grau de
excelência, possuindo inclusive certificação máxima de qualidade, atingindo a eficiên-
cia e efetividade na prestação de serviço público de saúde. Ressaltando, ainda, que os
nove melhores hospitais públicos de excelência no Brasil são geridos por OSS, sendo
um situado no estado do Pará e os demais no estado de São Paulo.
O Hospital Miguel Arraes foi implantado nesse modelo de gestão, sendo o pri-
meiro a assinar o contrato de administração do hospital através das Organizações So-
ciais, possuindo 180 leitos, 977 profissionais, e tornou-se referência estadual em en-
doscopia digestiva e traumato-ortopedia (PERNAMBUCO, 2013). Além do mais, em
2014, a administração estadual informou que houve assinatura do contrato de gestão
de mais oito hospitais, sob a gestão das Organizações Sociais (PERNAMBUCO, 2014).
rios baixos e alta rotatividade, bem como não há uma política de recrutamento, avalia-
ção e de desenvolvimento dos servidores.
A partir desse estudo, verificou-se que a implantação das OSS no Estado da Pa-
raíba não atingiu um propósito econômico para o poder público, uma vez que os hos-
pitais geridos por OSS apresentavam menor número de leitos, e, em contrapartida,
demandava maior investimento financeiro por parte do Estado. Sendo assim, a admi-
nistração dos hospitais pelas Organizações Sociais no Estado da Paraíba não ocorreu
nos moldes propostos na lei e no contrato de gestão relativo a esse modelo de gestão
administrativa.
Em razão do exposto, percebe-se que a aplicação das OSS podem ser efetivas
para o setor de saúde, desde que haja, por parte do Estado, a devida fiscalização e
acompanhamento dos resultados pretendidos, eis que tal competência lhe é atribuída.
Capítulo 6
EFETIVIDADE DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS NA PERSPECTIVA DO DIREITO SOCIAL À SAÚDE
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
98
REFERÊNCIAS
ADRIANO, E. R. Organizações Sociais de Saúde (OSS). Secretaria de Esta-
do da Saúde de São Paulo. 2016. Disponível em: <https://ses.sp.bvs.br/wp-con-
tent/uploads/2017/05/CGCSS-CCTIES_apresentado-na-reuni%C3%A3o-Holan-
da-201016_Dr.-Eduardo.pdf>. Acesso em: 28 jul. 2019.
CUNHA, D. da. Curso de direito constitucional. 6ª ed. Bahia: Ed. JusPodium, 2012.
Capítulo 6
EFETIVIDADE DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS NA PERSPECTIVA DO DIREITO SOCIAL À SAÚDE
100
CAPÍTULO 7
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.7
1 Assessora Parlamentar do Bloco Democracia e Luta na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Graduada em
Direito pelo Centro Universitário do Distrito Federal – UDF e em Administração Pública pela Universidade Presidente
Antônio Carlos (2004).
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
102
RESUMO
7.1 INTRODUÇÃO
Capítulo 7
INSERÇÃO POLÍTICA DA MULHER NO BRASIL CONTEMPORÂNEO PÓS CONSTITUIÇÃO DE 1988: UM ESTUDO SOBRE A
REPRESENTAÇÃO FEMININA NA CÂMARA FEDERAL de 1988 a 2018.
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
104
Já na primeira Eleição com a vigência da cota, em 1998, ficou claro seus limites,
brechas e falhas. Mesmo com a existência de uma Lei que orientava a necessidade
de um contingente mínimo de candidaturas femininas, os partidos e coligações não
indicaram sequer metade do mínimo estabelecido de 25%. Isso se deu em função da
ausência de qualquer mecanismo ou constrangimento legal para aqueles que não cum-
prissem o estipulado em lei. E a Lei incidia apenas sobre a lista potencial não sobre
a efetiva; a Lei determinava a reserva, não o preenchimento efetivo. A ampliação do
número total de candidaturas ofereceu aos partidos a chance de manter e acomodar
todos os candidatos do gênero masculino tradicionalmente privilegiados. Com o au-
mento do número total de candidaturas, não foi necessário retirar uma única vaga de
candidatura masculina, em favor da inclusão das mulheres. Novamente como ressalta
Martins (2007, p. 24), “os partidos aproveitaram a brecha da legislação que determina-
va apenas a reserva, mas não o preenchimento, e não completaram as vagas, deixan-
do-as no todo ou em parte vazias.”.
da
Federal
1Para a 49ª Legislatura (1991-1995), a composição da Câmara dos Deputados passou de 495 para 503
parlamentares, em função da transformação dos antigos territórios federais do Amapá e de Roraima
em Estados, garantindo-lhes oito cadeiras. Posteriormente, a Lei Complementar 78/93 aumentou a
representação de São Paulo de 60 para 70 cadeiras. Totalizando assim os atuais 513 assentos da
Câmara Federal.
Fonte: Eneida Martins (2007)
Conforme Vogel (2019, p. 41), a Lei 12.034/2009 introduziu três alterações na po-
lítica de ação afirmativa relativa às candidaturas de mulheres. A primeira delas, a subs-
tituição da expressão “deverá reservar” por “preencherá”, na redação do § 3º do art.
10 da Lei 9.504/97, que estabelece o percentual mínimo para o registro dos candidatos
de cada gênero. A segunda estabeleceu percentual mínimo de 5% do total de recursos
recebidos do Fundo Partidário para a destinação, criação e manutenção de programas
para incentivo à participação política das mulheres. E terceiro, a reserva de mínimo de
1
Para a 49ª Legislatura (1991-1995), a composição da Câmara dos Deputados passou de 495 para 503
10% do tempoem
parlamentares, defunção
propaganda partidária
da transformação gratuita
dos antigos de rádio
territórios e TV
federais dopara também
Amapá promo-
e de Roraima em
Estados, garantindo-lhes oito cadeiras. Posteriormente, a Lei Complementar 78/93 aumentou a representação
çãodeeSão
difusão da participação feminina. Essa última medida foi prejudicada, em razão
Paulo de 60 para 70 cadeiras. Totalizando assim os atuais 513 assentos da Câmara Federal.
Capítulo 7
INSERÇÃO POLÍTICA DA MULHER NO BRASIL CONTEMPORÂNEO PÓS CONSTITUIÇÃO DE 1988: UM ESTUDO SOBRE A
REPRESENTAÇÃO FEMININA NA CÂMARA FEDERAL de 1988 a 2018.
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
106
das alterações da legislação de 2017 que, entre outras coisas, extingui a propaganda
obrigatória para os partidos nos veículos de comunicação de massa gratuitos.
Tabela 3 - Cumprimento da Cota de candidaturas de Gênero nas Eleições 2010, 2014 e 2018
Conforme dados de Eneida Martins (2007), nas Eleições de 2006, última antes da
vigência da nova lei foram candidatas à Câmara Federal 630 mulheres, o que corres-
pondia à 12,7%, mas já em 2010 esse número saltou para 934, 19, 07%; em 2014 foram
1724 candidatas, com 29,35% total; e em 2018, 2.426 candidatas e 31,64% do total. Ou
seja, foram necessários 20 anos e 5 Eleições para a política de ação afirmativa de gê-
nero, nas candidaturas à Câmara Federal serem efetivamente cumpridas. Apesar do
aumento significativo de candidaturas de mulheres para à Câmara Federal, não houve
aumento automático do número de eleitas. Essas alterações, como demonstrado a se-
guir, só se efetivará em 2018.
A ADI nº 4.650/DF foi ajuizada pelo Conselho Federal da Ordem dos Advoga-
dos do Brasil (OAB) contra dispositivos da Lei das Eleições (Lei 9.504/1997) e da Lei
dos Partidos Políticos (Lei 9.096/1995), que versavam sobre o financiamento privado
de campanhas eleitorais por parte de pessoas jurídicas e fundamentando o pedido da
inicial na ofensa no princípio democrático, no princípio republicano e no princípio da
igualdade. O Ministro Luiz Fux, em um trecho de seu voto como Relator na Ação Di-
reta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 4.650/DF, destacou que a excessiva penetração
do poder econômico nas eleições pode trazer o desequilíbrio à disputa eleitoral pri-
vilegiando o candidato que tem mais relação com as grandes corporações que fazem
doações à sua campanha, além do fato dessas empresas terem interesses de financiar
os candidatos mais competitivos na disputa eleitoral, de forma a manter relações com
o candidato que for eleito.
Capítulo 7
INSERÇÃO POLÍTICA DA MULHER NO BRASIL CONTEMPORÂNEO PÓS CONSTITUIÇÃO DE 1988: UM ESTUDO SOBRE A
REPRESENTAÇÃO FEMININA NA CÂMARA FEDERAL de 1988 a 2018.
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
108
rídicas, podendo receber apenas de pessoas físicas, nos termos e limites estabelecidos
por lei.
Eleitoral.
Tabela 5 – Comparativo distribuição financiamento privado segundo Gênero nas Eleições 2014 e
2018
2014 2018
Homens Mulheres Homens Mulheres
Cargo Fonte Proporção Proporção Proporção Proporção
da receita da receita da receita da receita
do Gênero do Gênero do Gênero do Gênero
relativa à relativa à relativa à relativa à
fonte fonte fonte fonte
Deputado(a) Privado 97,06% 95,80% 26,63% 12,52%
Federal Público 2,94% 4,20% 73,37% 87,48%
pela Lei nº 13.165 de 30 de setembro de 2015, que alterou a Lei nº 9.504/1997, chamada
Lei das Eleições e a Lei nº 9.096/1995, chamada Lei dos Partidos Políticos, e o Códi-
go Eleitoral - Lei nº 4.737/1965. O legislador brasileiro pretendia com as mudanças
propostas na Minirreforma Eleitoral pretendia promover a redução dos custos das
campanhas eleitorais, a simplificação da administração das agremiações partidárias
e o incentivo à participação feminina na política, mas o que se demonstrou ao longo
dos anos seguintes é que efetivamente essas mudanças na legislação eleitoral seriam
capazes de surtir o efeito pretendido.
Até então, a Lei 9.096/95 (Lei dos Partidos Políticos) estabelecia, de maneira gené-
rica, que os recursos do Fundo Partidário poderiam ser utilizados para as campanhas
eleitorais, sem definir critérios de gênero para a sua distribuição. A Lei dos Partidos
Políticos previa, a partir da Reforma Eleitoral de 2009 (Lei nº 12.034/2009), o percen-
tual mínimo de 5% dos recursos do Fundo Partidário para a “criação e manutenção
de programas de promoção e difusão da participação política das mulheres, criados e
mantidos pela secretaria da mulher do respectivo partido político ou, inexistindo a se-
cretaria, pelo instituto ou fundação de pesquisa e de doutrinação e educação política”
(inciso V do art. 44).
Capítulo 7
INSERÇÃO POLÍTICA DA MULHER NO BRASIL CONTEMPORÂNEO PÓS CONSTITUIÇÃO DE 1988: UM ESTUDO SOBRE A
REPRESENTAÇÃO FEMININA NA CÂMARA FEDERAL de 1988 a 2018.
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
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O Ministro Edson Fachin, o Relator da ADI 5617/DF, ao iniciar sua fala com a
frase “Nunca haverá paz no mundo enquanto as mulheres não ajudarem a criá-la” (Bertha
Lutz) já dava o tom de seu voto, que seria posteriormente seguindo pela maioria dos
ministros do STF, levando à procedência da ADI 5617/DF. O Relator votou pela in-
constitucionalidade dos citados dispositivos legais, fundamentado no direito à digni-
dade (art. 1º, III, da CRFB), no pluralismo político (art. 1º, V, da CRFB), no objetivo de
se construir uma sociedade livre, justa e solidária, no direito à igualdade (art. 5º, caput,
da CRFB), na autonomia partidária (art. 17, § 1º, da CRFB) e no direito à igualdade sem
discriminações (art. 2º, 3º, 5º e 7º da Convenção para Eliminação de Todas as Formas
de Discriminação contra a Mulher).
Com base nesses princípios, o Ministro Fachin argumentou que “as ações afirma-
tivas prestigiam o direito à igualdade”, que “é incompatível com o direito à igualdade
a distribuição de recursos públicos orientados apenas pela discriminação em relação
ao sexo da pessoa” e que a “a igualdade entre homens e mulheres exige não apenas
que as mulheres tenham garantidas iguais oportunidades, mas também que sejam elas
empoderadas por um ambiente que as permita alcançar a igualdade de resultados”.
Considerando que as ações afirmativas visam, de forma temporária, beneficiar grupos
que se encontram em situação menos favorecida, de modo a “corrigir injustiças histó-
ricas que levaram à formação de minorias com menos recursos, capacidades ou bem-
-estar”, o teto estabelecido pelo artigo pelo artigo 9º da Lei 13.165/15 representa uma
inversão da lógica que fundamenta as políticas de ação afirmativa ao produzir “mais
desigualdade e menor pluralismo na definição de gênero na política – em vez de mais
igualdade, como seria esperado”.
Ao destinar 30% das vagas das chapas eleitorais para candidaturas do mesmo
gênero (entende-se aqui candidaturas femininas) e, ao mesmo tempo, limitar em 15% a
utilização dos recursos do Fundo Partidário para essas mesmas candidaturas, significa
que do outro lado os homens ocupariam 70% das vagas e podendo utilizar 85% destes
mesmos recursos do Fundo Partidário, a legislação viola o princípio constitucional da
igualdade de sexo e gênero na política.
No dia 15 março de 2018, o STF decidiu, por maioria dos votos, a “equiparação
do patamar mínimo de 30% de candidaturas femininas ao mínimo de recursos do Fun-
do Partidário a lhes serem destinados”, além de definir que havendo percentual maior
de candidatas nas eleições proporcionais os recursos deverão ser alocados na mesma
proporção. A consequência mais importante da ADI 5617/DF foi que as alterações nos
Capítulo 7
INSERÇÃO POLÍTICA DA MULHER NO BRASIL CONTEMPORÂNEO PÓS CONSTITUIÇÃO DE 1988: UM ESTUDO SOBRE A
REPRESENTAÇÃO FEMININA NA CÂMARA FEDERAL de 1988 a 2018.
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
112
Essas ações em conjunto tiveram impacto positivo em dois aspectos centrais para
mensurar o sucesso dessas medidas: o aumento do expressivo no quantitativo de su-
frágios recebidas por candidatas aos legislativos estaduais e federal, além do aumento
também significativo do percentual de receitas financeiras recebidas por elas. Haven-
do, portanto, uma clara e óbvia vinculação entre financiamento e número de mulheres
eleitas para à Câmara Federal. As tabelas 6 e 7 demonstram os impactos em termos de
vagas e votos obtidos pelas mulheres após as mudanças aqui explicitadas.
Variação
Eleição 2010 2014 2018 % entre
2014-
2018
Número % Número % Número %
Eleitas sobre Eleitas sobre Eleitas sobre
o o Total o
Total Total
Candidatas 45 8,77% 51 9,94% 77 15,01 50,98%
a deputada
federal
meio da aprovação das Lei dos Partidos 9.096/95, Lei das Eleições 9.504/97, e nas mu-
danças e ajustes, com as Leis 12.034/2009, 13.165/2015, 13.487/2017 e 13.488/2017. Já
ação do Judiciário se deu em três momentos: no julgamento da ADI 4650/DF, da ADI
5617/DF e na Consulta Pública nº 0600252-18.2018.6.00.0000.
REFERÊNCIAS
BACKES, Ana Luiza; VOGEL, Luiz Henrique; AFONSO COSTA, João Carlos; CHE-
VITARESE ALVES, Marcus Vinícius. Breve análise dos dados sobre candidaturas de
Mulheres nas Eleições de 2018. Brasília: Câmara dos Deputados, abr, 2019.
Capítulo 7
INSERÇÃO POLÍTICA DA MULHER NO BRASIL CONTEMPORÂNEO PÓS CONSTITUIÇÃO DE 1988: UM ESTUDO SOBRE A
REPRESENTAÇÃO FEMININA NA CÂMARA FEDERAL de 1988 a 2018.
116
CAPÍTULO 8
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.8
1 Pós-graduanda em direito do trabalho e previdenciário pela Escola Superior de Advocacia - OAB/PE. Advogada.
2 Professor de Direito do Trabalho e Empresarial na FACET - Faculdade de Ciências de Timbaúba/PE. Pós-graduado
em direito civil e empresarial pela faculdade Damásio de Jesus. Pós-graduado em Poder Judiciário e Magistratura do
Trabalho pela Esmatra (TRT6). Advogado.
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
118
RESUMO
8.1 INTRODUÇÃO
Este trabalho tratará inicialmente do poder familiar que teve uma roupagem di-
ferente ao passar do tempo. No Código Civil de 1916, o poder familiar era tido como
pátrio poder, onde a figura do pai era muito forte e ele era o verdadeiro chefe, tendo
totais poderes sobre a esposa e os filhos.
É fato, que a família moderna, tem passado por uma enorme mutação em seu
conceito tradicional, condição que remonta para uma profunda crise de identidade,
com perca de referências a muito identificadas pelos novos padrões sociais, fruto de
uma sociedade atrelada ao fenômeno da modernidade. “Para alguns juristas, esta crise
seria mais aparente que real, “pois o que se observa é a mutação dos conceitos básicos,
estruturando o organismo familiar à moda do tempo, que forçosamente há de deferir
da conceptualística das idades” (CAHALI, 2000, p. 19).
Capítulo 8
OS EFEITOS DA GUARDA COMPARTILHADA SOBRE OS FILHOS MENORES APÓS A DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO/
UNIÃO ESTÁVEL
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
120
A maioria dos divórcios ou separações são litígios, onde deve-se sempre levam
em conta o interesse dos menores. No revogado Código Civil de 1916, a regra era que
a guarda da prole ficaria com o cônjuge “inocente”. Já no código Civil de 2002 segue
o princípio de melhor interesse do menor e com isso se estabelece a guarda de acordo
com o caso e sempre que possível um regime em que o menor conviva com ambos os
pais, seja através de visitas ou até mesmo da guarda compartilhada, podendo ser re-
visto a qualquer tempo (RODRIGUES, 2004, p. 28).
direito à guarda, exceto se comprovado que o filho não vem sendo bem tratado por
este.
Muitas vezes por conflitos pessoais entre os cônjuges, o que detém a guarda uni-
lateral impossibilita as visitas do outro cônjuge. Desrespeitando o princípio do melhor
interesse do menor. Tendo em vista esse tipo de comportamento que há vários julga-
dos como:
TJ-RS - Apelação Cível AC 70075878983 RS (TJ-RS)Data de publicação:
05/03/2018Ementa: REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS. PREVALÊNCIA DO ME-
LHOR INTERESSE DA CRIANÇA. 1. A regulamentação de visitas materializa o
direito do filho de conviver com o genitor não-guardião, assegurando o desenvolvi-
mento de um vínculo afetivo saudável entre ambos. 2. Não merece reparo a fixação
das visitas quando observa a rotina de vida do filho e resguarda o melhor interesse
da criança, que está acima da conveniência dos genitores, não havendo prova al-
guma de que o genitor não tenha condições plenas de exercer a visitação ao filho.
Recurso desprovido. (Apelação Cível Nº 70075878983, Sétima Câmara Cível, Tribu-
nal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em
28/02/2018).
O pioneiro a identificar este tema foi o professor Richard Gardner, em 1985, que
por muitas vezes, nas disputas judiciais de divórcio, o maior interesse dos ex-cônjuges
era afasta-lo da convivência com os filhos, como forma de penaliza-lo, sem levar em
conta o dano psicológico causado aos filhos (FREITAS, 2015, p. 36).
Em suas pesquisas, Gardner pode perceber várias situações onde os pais tentam
opor seus filhos em face do outro genitor, como por exemplo: Síndrome de SAID,
Síndrome da Mãe Maliciosa, Síndrome da Interferência Grave e Síndrome de Medeia.
Toda essa pesquisa e descoberta de “síndromes”, serviu como base para o desenvol-
vimento da Síndrome da Alienação Parental, onde se enquadram todas as caracterís-
ticas das síndromes anteriores e onde tal nomenclatura foi adotada pelo Brasil (FREI-
TAS,2015, p. 37).
No Brasil, esse fenômeno passou a ser aceito pelos tribunais a partir do ano de
2003, onde houveram as primeiras decisões usando tal nomenclatura. Este fenômeno
foi mais eficaz através da participação de equipes interdisciplinares nos processos de
familia e também por ser objeto de pesquisa de institutos como a APASE – Associação
dos Pais e Mães Separados, IBDFAM – Instituto Brasileiro de Direito de Família, entre
outros (SOUZA, 2007, p. 5).
Capítulo 8
OS EFEITOS DA GUARDA COMPARTILHADA SOBRE OS FILHOS MENORES APÓS A DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO/
UNIÃO ESTÁVEL
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
122
A Síndrome de Alienação Parental tem seu conceito disposto no art. 2.º da Lei
12.318, de 2010, no qual é definido:
Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da
criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós
ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vi-
gilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à
manutenção de vínculos com este.
O ideal seria que para cada decisão que fosse tomada em relação aos filhos, o
outro genitor fosse não apenas comunicado, mas consultado para atender melhor o
interesse da prole. No entanto o que mais acontece são os cônjuges alienadores agindo
de forma inconsequente, tomando decisões importantes, sem consultar o outro cônju-
ge apenas para penalizá-lo. Com isso, infelizmente,
os filhos são cruelmente penalizados pela imaturidade dos pais quando estes não
sabem separar a morte conjugal da vida parental, atrelando o modo de viver dos
filhos ao tipo de relação que eles, pais, conseguirão estabelecer entre si, pós-ruptura
(SOUZA, 2007, p. 7).
Em 2010 foi sancionada no Brasil a Lei nº 12.318, que dispõe sobre a alienação
parental e assim como a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente
e o Código Civil, tem o objetivo de proteger a criança e o adolescente e seus direitos
fundamentais.
A guarda dos filhos agora assume uma postura coletiva, onde mesmo com a
guarda unilateral, a responsabilidade não recai apenas sobre um dos pais, mas sobre
ambos, onde as decisões em relação aos filhos devem ser tomadas em conjunto, obede-
cendo sempre o melhor interesse da criança e do adolescente.
Capítulo 8
OS EFEITOS DA GUARDA COMPARTILHADA SOBRE OS FILHOS MENORES APÓS A DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO/
UNIÃO ESTÁVEL
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
124
divórcio ou dissolução da união estável, deverá ser fixada a guarda dos filhos menores
ou dos incapazes.
A autora traz a nova tendência da guarda que é retirar a ideia de posse e implan-
tar a ideia de estar, fazer-se presente, de compartilhar as fases da vida da criança e do
adolescente, mesmo após o divórcio ou dissolução do casamento, pois o que se desfez
foi a relação afetiva, mas nunca a relação entre pais e filhos, e levando sempre em conta
o melhor interesse das crianças e adolescentes e como resultado também interesse dos
pais em ver o bem estar de seus filhos.
8.6 CONCLUSÃO
A guarda compartilhada ainda é uma ótima opção tanto para os filhos, quanto
para os genitores. Assim ambos terão participação ativa na vida dos filhos e os genito-
res por sua vez não sofrerão tanto com o término da relação afetiva de seus pais e terão
ambos por perto sempre que possível.
Este instituto tem sido uma opção muito usada em casos nos quais ambos os pais
querem a guarda, mas não entram em acordo. No entanto, cada caso concreto deve ser
analisado e observado as regras onde não são indicadas a aplicação da guarda com-
partilhada, como por exemplo, em casos onde os filhos não se sentem à vontade com
a presença do cônjuge não guardião, seja por maus tratos e até mesmo por suspeita de
abuso. Essas hipóteses, entre outras a lei veda a aplicação desse tipo de guarda, sendo
mais aconselhada a guarda unilateral.
Com o propósito de a guarda compartilhada seja aplicada e tenha seu escopo al-
mejado, os pais devem ter a maturidade para entender o que está em jogo é o bem estar
dos filhos, e que eles devem ser a principal preocupação naquele momento e que para
isso devem deixar todas as diferenças pessoais de lado e sempre lembrar que existe
ex-maridos e ex-esposas, mas que os laços com os filhos são eternos.
REFERÊNCIAS
CAHALI, Yussef Said. Divórcio e Separação. São Paulo: RT, 2000.
FERREIRA, Verônica A. da Motta; MACEDO, Rosa Maria Stefanini de. Guarda com-
partilhada: uma visão psicojurídica [recurso eletrônico]. Porto Alegre: Artmed, 2016.
Capítulo 8
OS EFEITOS DA GUARDA COMPARTILHADA SOBRE OS FILHOS MENORES APÓS A DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO/
UNIÃO ESTÁVEL
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
126
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2008. Disponível em: https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/108727/lei-n-11698-08-a-
-guarda-compartilhada-simone-roberta-fontes. Acesso em: 21 nov. 2018.
GONÇALVES, Carlos Roberto, Direito de Família, 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
RODRIGUES, Silvio Direito civil: direito de família - volume 6. 28. ed. São Paulo:
Saraiva, 2004.
SALLES, Karen Ribeiro Pacheco Nioac de. Guarda Compartilhada. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2001.
SOUZA, Raquel Pacheco Ribeiro de. A tirania do guardião. In: APASE – Associação
de Pais e Mães Separados (Org.). Síndrome da alienação parental e a tirania do guar-
dião: aspectos psicológicos, sociais e jurídicos. Porto Alegre: Equilíbrio, 2007.
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.9
1 Mestre em direito pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Pós-graduado em Direito Civil e Processual
Civil pela Universidade Gama Filho e em Gestão Pública pela Faculdade Getúlio Vargas (FGV). Procurador-Chefe da
Assembleia Legislativa da Paraíba.
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
128
RESUMO
9.1 INTRODUÇÃO
Justiça é uma palavra abstrata que permeia diversas áreas do conhecimento hu-
mano, que de alguma forma lidam com interações sociais, como o direito, a filosofia,
a ética, a moral e a religião. As concepções e tipologias da justiça variam conforme o
contexto social e é alvo de controvérsias entre doutrinadores, filósofos e demais estu-
diosos.
A partir dessas breves linhas traçadas, faz-se importante mencionar que no Bra-
sil, hodiernamente, o sistema de Justiça Criminal, vem passando, nas últimas décadas,
por uma longa e grave crise.
Neste viés, impende trazer ao presente estudo a Justiça Restaurativa que possui
como um de seus diferenciais o da participação de todos os interessados no procedi-
mento, sejam estes, a vítima, o infrator, a família, a comunidade, ou seja, todos aqueles
que têm interesse no restabelecimento da ordem violada. Em virtude do surgimento
desse modelo de justiça e tendo em vista a sua natureza integrativa e o retorno que esta
pode trazer a sociedade, este trabalho analisa a possibilidade de aplicação complemen-
tar da Justiça Restaurativa pelos Tribunais Pátrios ao modelo de justiça tradicional.
Capítulo 9
JUSTIÇA NAS DECISÕES: APLICABILIDADE DA JUSTIÇA RESTAURATIVA PELOS TRIBUNAIS PÁTRIOS
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
130
Conceituar justiça tem sido um grande desafio para muitos estudiosos, doutrina-
dores e/ou juristas. A palavra tem origem latina Iustitia, contudo mesmo sendo objeto
de estudo há séculos, ainda não foi possível chegar a um consenso sobre o seu concei-
to. Na Grécia e em Roma a Justiça era personificada por deusas que eram utilizadas
para representar um equilíbrio entre o abstrato e o concreto.
O jurista Ulpiano (1985) ao refletir sobre o tema chegou a conclusão de que “Jus-
titia est constans et perpetua voluntas jus suum cuique tribuendi”, que numa tradução livre
seria Justiça é a constante e firme vontade de dar a cada um o que é seu.
Em “Oração aos Moços”, Rui Barbosa (1999, p.26) traz à concepção de que “A
regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais, na
medida em que se desigualam.” Para ele, o contrário disso seria uma “desigualdade
flagrante”. Assim sendo, por mais que o conceito de justiça transite entre uma e outra
coisa, o cerne daquele está ligado à questão da igualdade e valores.
Paulo Nader (Nader, 2007, p. 106) afirma que a justiça seria a composição de
valores éticos. Para ele, “praticar a justiça é praticar o bem nas relações sociais.” Mais
adiante, o autor complementa, ainda, que para a ordem jurídica ser legitimada é essen-
cial que ela seja a verdadeira “expressão da justiça”.
De acordo com o autor (DINAMARCO, 1990) o juiz não deve cumprir apenas
a função de dirimir litígios sem aplicar os critérios de justiça, posto que isso poderia
levar a uma “sucessão de brutalidades arbitrárias, que em vez de apagar os estados
anímicos de insatisfação, acabaria por acumular decepções definitivas no seio da so-
ciedade.”
ou se deveriam ser tratados de forma diferente em função de alguns fatores como an-
tecedentes e periculosidade.
Assim, até mesmo em casos concretos parecidos, cada situação exige do magis-
trado um posicionamento diferente, uma vez que ele não pode ficar “engessado” a
uma determinada decisão, de modo a aplicá-la a todos os casos que considere “seme-
lhantes”. Isso ocorre, porque cada caso concreto possui nuances diferentes, exigindo
do juiz, posicionamentos menos acomodados. Assim, além da aplicação da lei, ele de-
ver trazer valores à decisão, a fim de proferir uma decisão mais justa em casa situação
que lhe é apresentada.
Deste modo, para que uma decisão proferida seja justa, é necessário que o jul-
gador além das leis, observe também princípios valorativos, a fim de aferir a real e
premente necessidade das partes e, somente assim, após detidamente sopesar toda a
situação, decidir da forma mais justa possível, com vistas a satisfazer as partes envol-
vidas em um litígio judicial.
Ao tratar sobre justiça e sua aferição pelo juiz no caso concreto, impende trazer à
baila posicionamentos de alguns magistrados sobre quais são as funções de um julga-
dor e como este deve se portar ao emitir juízo, a fim de proferir uma decisão conside-
ravelmente justa.
Em seu voto, o Ministro cita ainda Piragibe da Fonseca, destacando que este afir-
mava que a melhor interpretação não é o enquadramento frio de fatos a conceitos pre-
fixados, mas, sim, aquela que se preocupa com a solução mais justa.
Capítulo 9
JUSTIÇA NAS DECISÕES: APLICABILIDADE DA JUSTIÇA RESTAURATIVA PELOS TRIBUNAIS PÁTRIOS
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
132
Assim, vale salientar que não basta existir um processo que atenda aos princípios
e ditames constitucionais, é necessário também, que o magistrado dê uma interpreta-
ção adequada à legislação, para assim prolatar a decisão definitiva mais adequada e
justa.
Aliás, o art. 6º da Lei 9.0099/95 (BRASIL, 1995), que cria os juizados especiais,
determina que o juiz deve emitir uma decisão justa e equânime, buscando atender
aos fins socais da lei: “O Juiz adotará em cada caso a decisão que reputar mais justa e
equânime, atendendo aos fins sociais da lei e às exigências do bem comum.”
O Ministro João Otávio de Noronha (Noronha, 2019) do STJ, lembrou que o tribu-
nal completa 30 anos e que durante esses anos tem buscado acompanhar as mudanças
do direito, das tecnologias e da sociedade. Entrementes, em que pese tais mudanças,
destacou que o indivíduo, enquanto ser humano, deve ser a preocupação central do
aplicador da lei. Em síntese afirmou: “O que nenhum de nós, julgadores, pode deixar
de considerar é que lá na ponta existe uma pessoa.” De acordo com o Ministro, no iní-
cio e no fim do processo existe um ser humano que tem pressa e que justiça que chega
tarde não é efetiva.
Desse modo, é patente a função do juiz, de sorte que este não deve cumprir um
papel de mero executor/aplicador da lei sem, contudo, considerar a necessidade pau-
tável de aplicar uma solução mais justa a cada lide que lhe é apresentada, caso con-
trário a satisfação das partes não será alcançada, o que desvirtuaria a ideia de justiça
e igualdade.
É cediço que a justiça restaurativa surgiu em razão das duras críticas formuladas
ao sistema retributivo. Acerca do conceito de Justiça Restaurativa impende registrar
que, assim como o conceito de justiça em sua essência, o conceito de justiça restau-
rativa ainda não está fundamentalmente determinado. Segundo Pallamolla (2009) a
justiça restaurativa possui um conceito que vem se transformando e renovando-se ao
longo dos anos, a medida que vão ocorrendo estudos e experimentos.
Capítulo 9
JUSTIÇA NAS DECISÕES: APLICABILIDADE DA JUSTIÇA RESTAURATIVA PELOS TRIBUNAIS PÁTRIOS
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
134
Assim sendo, a crise do sistema de Justiça Criminal nas últimas décadas, faz
surgir a necessidade de se fazer uma reestruturação no sistema criminal. Neste viés, a
Justiça Restaurativa em contraposição à Justiça Retributiva, possui como um de seus
diferenciais a participação de todos os interessados no procedimento, sejam estes, a
vítima, o infrator, a família, a comunidade, ou seja, todos aqueles que têm interesse
no reestabelecimento da ordem violada. Desse modo, urge fazer referência a alguns
exemplos onde a implementação de ações reabilitantes surtiu efeito no que tange a
inclusão do infrator como membro produtivo da sociedade, bem como, aos benefícios
resultantes destes trabalhos.
Capítulo 9
JUSTIÇA NAS DECISÕES: APLICABILIDADE DA JUSTIÇA RESTAURATIVA PELOS TRIBUNAIS PÁTRIOS
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
136
De acordo com matéria veiculada pelo CNJ (2018) “A iniciativa vai ao encon-
tro dos princípios do Programa Começar de Novo, do Conselho Nacional de Justiça
(CNJ), que busca conscientizar a sociedade sobre a importância do acesso de detentos
e ex-detentos ao estudo e trabalho para prevenção da reincidência criminal”.
Capítulo 9
JUSTIÇA NAS DECISÕES: APLICABILIDADE DA JUSTIÇA RESTAURATIVA PELOS TRIBUNAIS PÁTRIOS
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
138
Do exposto, tem-se visto que a Justiça Restaurativa tem potencial para contribuir
com a consolidação da pacificação social, uma vez que prioriza restaurar as relações.
É possível solucionar conflitos através da aplicação das práticas restaurativas, que po-
dem atuar na redução dos índices de reincidência, na reparação de danos e pacificação
social.
Sobre a justiça restaurativa sabe-se que ainda há muito a ser feito e desenvolvido,
porém pode-se perceber que tal aplicação complementar ao sistema retributivo, ain-
da que recente no Brasil, vem aos poucos surtindo efeitos. As maiores contribuições
têm se dado na área penal, na seara cível, nas escolas públicas e privadas e onde mais
for necessário, trazendo uma nova forma de enxergar, (re) pensar, acompanhando as
Por fim, pelo que se aufere, em razão de suas características, bem como das ex-
periências obtidas, o modelo de justiça restaurativa aparenta ser aquele que melhor
satisfaz o sentimento social de justiça, podendo ser aplicado de forma complementar e
não excludente ao sistema de justiça retributiva. Portanto, em razão de ser uma justiça
colaborativa, de escuta, o modelo restaurativo é aquele que melhor se apresenta como
a proposta mais justa de tratamento adequado dos conflitos, inclusive, tendo o poten-
cial de alcançar a pacificação das relações sociais de forma mais efetiva.
REFERÊNCIAS
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BARBOSA, Rui; MÓDOLO, Marcelo. Oração aos moços. 5ª Edição, Casa Rui Barbosa.
Rio de Janeiro: 1999, p.26.
Capítulo 9
JUSTIÇA NAS DECISÕES: APLICABILIDADE DA JUSTIÇA RESTAURATIVA PELOS TRIBUNAIS PÁTRIOS
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
140
MARONI, João Rodrigo. Prisão onde 100% dos detentos trabalham e estudam? Exis-
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ZEHR, Howard. Trocando as lentes: um novo foco sobre o crime e a justiça. Trad.
Tônia Van Acker- São Paulo: Palas Athena, 2008.
Capítulo 9
JUSTIÇA NAS DECISÕES: APLICABILIDADE DA JUSTIÇA RESTAURATIVA PELOS TRIBUNAIS PÁTRIOS
142
CAPÍTULO 10
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.10
RESUMO
10.1 INTRODUÇÃO.
A Lei que concede o benefício da prisão domiciliar já existe desde o ano de 2011.
(Lei nº 12.403/11). Entretanto, com a Lei 13.257/2016, a prisão domiciliar a passa a ter
a possibilidade de ser concedida às mulheres gestantes e também à qualquer pessoa
que seja a única responsável por crianças de até 12 anos incompletos.
De acordo com os termos do artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal: “nin-
guém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condena-
tória”, configurando assim, o princípio da presunção da inocência, que de uma forma
geral dispõe que ninguém é considerado culpado até a sua condenação não poder ser
mais recorrida (MENDONÇA, 2016).
O in dubio pro reo (em dúvida para o acusado) está expresso no artigo 386 do Có-
digo de Processo Penal e possui uma forte ligação com o princípio constitucional da
presunção de inocência, que pressiona o juiz no momento de prolatar a sentença, que
em caso de dúvidas da autoria do crime, absolva o réu por insuficiência de provas. Ou
seja, se não houver certeza da autoria do crime, o juiz, de acordo com o princípio da
presunção de inocência ou da não culpabilidade, deve absolver o acusado. De acordo
com o que foi exposto acima percebe-se que o princípio do in dubio pro reo e o da pre-
sunção de inocência possui uma relação de causa e efeito. E por último e não menos
importante, o terceiro efeito, é que o Estado não pode, enquanto houver possibilidade
de uma reanálise da sentença, impor uma antecipação de pena (MENDONÇA, 2016,
p. 36).
Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde
que reconheça:
I - estar provada a inexistência do fato;
II - não haver prova da existência do fato;
III - não constituir o fato infração penal;
IV – estar provado que o réu não concorreu para a infração penal; (Redação
dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal; (Redação
dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20,
21, 22, 23, 26 e § 1º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada
dúvida sobre sua existência; (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
VII – não existir prova suficiente para a condenação. (Incluído pela Lei nº 11.690,
de 2008)
Parágrafo único. Na sentença absolutória, o juiz:
I - mandará, se for o caso, pôr o réu em liberdade;
II – ordenará a cessação das medidas cautelares e provisoriamente aplicadas; (Re-
dação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
III - aplicará medida de segurança, se cabível. (DECRETO-LEI Nº 3.689, DE 3 DE
OUTUBRO DE 1941).
Capítulo 10
A PRISÃO DOMICILIAR E AS ALTERAÇÕES PROVOCADAS PELA LEI Nº 13.769/18
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
146
A prisão preventiva está expressa no Código de Processo Penal nos artigos 311 e
seguintes, que esclarecem como pode ser decretada a prisão e em quais circunstâncias
a mesma torna-se cabível. De acordo com Guilherme de Souza Nucci (2013, p. 617), a
prisão em flagrante é uma das espécies de medidas cautelares de cerceamento de liber-
dade, por razões que se façam necessárias e respeitando os requisitos expressos em lei.
Este tipo de medida cautelar pode apenas ser decretado por um juiz ou tribunal
que seja competente, com fundamentos, a partir de requerimento do Ministério Públi-
co ou mediante representação da autoridade policial (LOPES JR., 2014, p. 654).
Vale ressaltar que o leitor pode ser induzido a erro ao ler o artigo 311 do Código
de Processo Penal, quando ele retrata que uma das formas da prisão preventiva ser
decretada pelo juiz, é a requerimento do querelante. Vale ressaltar que quando há
requerimento do querelante, trata-se de ação penal privada. Entretanto, encaixando o
que está disposto no artigo 313 do Código de Processo Penal, não caberá a decretação
da prisão preventiva em crimes os quais a pena é igual ou inferior a 04 (quatro) anos,
que aplicando-se agora os dois artigos, são justamente os crimes de ação penal priva-
da. (LOPES JR., 2014, p. 654).
Abordando a Lei 7.960 de 1989, pode-se perceber que esta trata das formas e
de todo o trâmite a ser seguido a respeito da Prisão Temporária. Sendo assim, a dita
prisão também está encaixada dentro das prisões cautelares, ou seja, é uma espécie de
prisão que pode ser decretada antes da sentença penal condenatória.
O artigo 1º da Lei 7.960/89 traz em seus termos incisos que dispõe quando cabe a
decretação da prisão temporária e no inciso III, traz um extenso rol taxativo dos crimes
que cabe a mencionada prisão. A decretação desta prisão se dá pelo Juiz, se houver
requerimento da autoridade policial ou do Ministério Público. De acordo com o artigo
2º da dita Lei, a prisão temporária terá prazo máximo de 05 (cinco) dias, sendo pror-
rogável por mais 05 (cinco) dias e podendos ser prorrogável apenas uma única vez,
sendo devidamente fundamentada.
A Lei é clara ao dispor das formalidades a serem seguidas, por exemplo, no pa-
rágrafo primeiro do artigo 2º, a prisão temporária se for requerida pela autoridade
policial, o Juiz antes de decidir pela decretação ou não da prisão do sujeito, deve antes
ouvir o Parquet. Como é de praxe, o despacho em que for decretado a prisão temporá-
ria do sujeito, deve ser bem fundamentada a prolatada em até 24 horas após o recebi-
mento da representação ou do requerimento.
Deverão ser expedidos dois mandados de prisão temporária, para que uma das
cópias fique com a pessoa que esteja com sua liberdade cerceada servindo como nota
de culpa. Após o decurso dos 05 (cinco) dias e se o prazo não for prorrogado e nem a
prisão temporária tiver sido convertida em preventiva, o indiciado deverá ser posto
em liberdade imediatamente. Além disso, os presos temporários deverão serem man-
tidos em local diferente dos demais presos, nos termos da Lei 7.960/89.
A prisão domiciliar foi regulamentada pela Lei 12.403/2011, que previu, em fase
processual, hipóteses de cumprimento de preventiva em residência, a citada prisão
tem como característica a detenção da pessoa do acusado em sua residência, não po-
dendo dela sair para nada, salvo seja avisado com antecedência ao juízo competente.
Capítulo 10
A PRISÃO DOMICILIAR E AS ALTERAÇÕES PROVOCADAS PELA LEI Nº 13.769/18
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
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A regra do cumprimento de pena é que seja em cárcere fechado, mas como toda re-
gra há exceção, temos a prisão domiciliar que atende aos casos excepcionais, seja por
questão de enfermidade quando a cadeia não dispõe de local apropriado para atender
as necessidades do acusado ou até mesmo por motivos específicos trazidos no rol do
artigo 117 da Lei de Execuções Penais. E nos artigos 318, 318-A e 318-B do Código de
Processo Penal.
Tendo em vista que a prisão domiciliar não é considerada uma medida cautelar,
e sim uma forma de cumprimento preventivo tido como uma exceção à regra, que
normalmente, a pena é cumprida em presídio, somado com a precariedade do sistema
penitenciário brasileiro, considera-se privilegiado a pessoa que é concedido o benefí-
cio da prisão domiciliar. Quando o benefício de ficar em casa é concedido, o apenado
recebe uma tornozeleira eletrônica.
De acordo com o levantamento feito pelo Conselho Nacional de Justiça, até 2014,
das 711 mil pessoas que estavam submetidas a algum tipo de prisão no Brasil, cerca de
20% cumpriam regime de prisão domiciliar (BRASIL, 2014).
Ressalte-se também que a referida lei alterou o artigo 318 do Código de Processo
Penal e incluiu os artigos 318-A e 318-B, para que houvesse a substituição da prisão
preventiva pela prisão domiciliar, concedendo essa benesse, como já foi mencionado
acima, para mulheres gestantes, lactantes ou até com crianças de 12 anos incompletos
(CUNHA, 2018).
Como foi exposto nesta pesquisa, a liberdade de uma pessoa é a regra, sendo as-
sim, o encarceramento, a exceção. Para fundamentar isso, temos o chamado princípio
constitucional: presunção da inocência. O dito princípio fala que a pessoa do acusado
só pode ser considerada culpado após o trânsito em julgado de sentença penal conde-
natória. Como exceção, temos as chamadas prisões cautelares que ocorrem, de manei-
ra geral durante o trâmite do processo.
Com o passar dos anos, a prisão domiciliar foi recebendo algumas alterações, uma
delas foi com o advento da Lei nº 13.257/2016, sendo o principal alvo dessa mudança,
as mulheres gestantes ou a que estejam em estado puerperal ou ainda que possuem
filhos até 12 anos incompletos e que sejam a única pessoa responsável pela criança, que
passou a ter a possibilidade da concessão da prisão domiciliar. Claro que a prisão só
pode ser concedida, claro tudo isso seja claramente comprovado.
Outra mudança na citada prisão foi em 2018, com o advento da Lei n° 13.769/2018,
quando incluiu no Código de Processo Penal os artigos 318-A e 318-B (encontrados na
pág. 34 desta pesquisa) quando o caput dispõe que a prisão domiciliar será imposta
às mulheres que estiverem em prisão preventiva, desde que as mesmas não tiverem
cometido crimes mediante violência ou grave ameaça, ou ainda crimes contra seus
descendentes (filhos ou enteados).
Capítulo 10
A PRISÃO DOMICILIAR E AS ALTERAÇÕES PROVOCADAS PELA LEI Nº 13.769/18
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
150
A partir daí, foi concedido um Habeas Corpus coletivo à todas as mulheres que
se encontravam na situação de, como já explicado, em gestação, pós parto ou a úni-
ca responsável pelo menor de até 12 anos incompleto. Pode-se concluir que, o julga-
do 143.641, só foi concedido em 2018 porque a Lei de 2016 trazia a possibilidade e a
de 2018 trouxe a imposição. Note-se a mudança das palavras nos referidos artigos:
“pode” para “será”.
REFERÊNCIAS
BRASIL, Conselho Nacional de Justiça. Novo diagnóstico de pessoas presas no Bra-
sil. CNJ: Brasília/DF, junho de 2014. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-con-
tent/uploads/2014/06/diagnostico_de_pessoas_presas_correcao.pdf. Acesso em: 08
dez. 2020.
LOPES JR., Aury. Direito processual penal, 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
MENDONÇA, Ana Cristina. Coleção Descomplicando: Processo Penal. 1. ed. Ed. Ar-
mador, Recife, 2016.
NUCCI, Guilherme de Souza, Manual de processo penal e execução penal, 10. ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.11
RESUMO
11.1 INTRODUÇÃO
É válido ressaltar que este imposto possui hipóteses de incidência e base de cál-
culo diversas. Além disso, embora a configuração da hipótese de incidência do ICMS
dependa, em regra, da efetiva realização da operação de circulação de mercadorias, a
Constituição Federal passou a autorizar o instituto da Substituição Tributária.
Deste modo, este artigo visa esclarecer aspectos gerais da Substituição Tributária
e como há diversas particularidades em sua aplicabilidade, quando relacionado aos
combustíveis.
A Constituição Federal de 1934, por sua vez, passou a prever o instituto do Im-
posto sobre o Consumo, o qual era de competência da União. Ocorre que, antes de ser
previsto no texto constitucional de 1934, o Imposto sobre o Consumo já havia apareci-
do no ordenamento jurídico brasileiro, incidindo de forma específica sobre determina-
dos produtos, como por exemplo, o “imposto sobre o consumo de fumo” e o “imposto
sobre o consumo de álcool”.
O ICMS surge na Constituição Federal de 1988, sendo previsto em seu art. 155, II,
o qual preconiza que:
“Art. 155. [...]
II - Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: operações
relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte
interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as pres-
tações se iniciem no exterior.”
A sigla “ICMS” alberga pelo menos cinco impostos diferentes, isto porque, estes
institutos possuem hipóteses de incidência e base de cálculo diversas, são eles: a) o
imposto sobre operações mercantis (operações relativas à circulação de mercadorias);
b) o imposto sobre serviços de transporte interestadual e intermunicipal; c) o imposto
sobre serviços de comunicação; d) o imposto sobre produção, importação, circulação,
distribuição ou consumo de lubrificantes e combustíveis líquidos e gasosos e de ener-
gia elétrica; e e) o imposto sobre a extração, circulação, distribuição ou consumo de
minerais (CARRAZA, 2011).
1 Uma das justificativas ofertadas à época com o intuito de justificar a competência da União sobre o ICM, circundava a ideia do
medo que, Estados e Municípios, por meio de uma tributação discricionária, prejudicassem à expansão das indústrias no país.
Capítulo 11
ASPECTOS GERAIS ACERCA DA SISTEMÁTICA DO RECOLHIMENTO DO ICMS SOBRE OS COMBUSTÍVEIS E A IMPOR-
TÂNCIA DO INSTITUTO DA SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
154
Um dos fatos da vida comum, sobre o qual incide o ICMS, são justamente, aque-
les relacionados a operações que envolvem produção, importação, circulação, distri-
buição ou consumo de lubrificantes e combustíveis líquidos e gasosos2, conforme dis-
ciplinado no art. 155, §3º, da CF.
Nos termos do texto constitucional, este tributo tem por hipótese de incidência
possível a condição de uma pessoa produzir, importar, fazer circular, distribuir ou
consumir lubrificantes ou combustíveis líquidos e gasosos.
De acordo com a Carta Magna, a base de cálculo do ICMS sobre operações rea-
lizadas com estes produtos, é o valor de sua produção, importação, circulação, distri-
buição ou consumo.
Neste ínterim, é valido ressaltar que a alíquota máxima é estabelecida pelo Sena-
do Federal.
(DENARI, 2009). O contribuinte substituto tributário, antecipa o tributo que apenas de-
veria ser pago na última etapa do processo circulatório.
Para José Juan Ferreiro Lapatza (2006), a real função da substituição tributária
no sistema jurídico tributário brasileiro, tem o fim primordial de facilitar e assegurar o
cumprimento do tributo. De acordo com ele, o nosso ordenamento jurídico conheceu
e conhece diversas técnicas que, em geral, interpõem entre a Fazenda Pública e as pes-
soas que a lei pretende expressamente gravar com o tributo, um terceiro sujeito, o qual
fica obrigado a pagar as importâncias que ele pode ou deve cobrar daquelas pessoas,
geralmente um grupo numeroso de pessoas, que têm com o sujeito interposto uma
determinada relação (TROCCOLI JUNIOR, 2001).
Com isso, segundo Lapatza (2006), o número de pessoas a quem a Fazenda deve
se dirigir para cobrar o tributo se reduz de forma bastante significativa. Se a isto so-
marmos o fato de que os sujeitos interpostos quase sempre são mais facilmente iden-
tificáveis e, também, são em termos econômicos, mais significativos, entenderemos
com facilidade que as técnicas de interposição não apenas facilitam a gestão do tributo
como também assegura sua cobrança, isto é, sua efetiva aplicação (TROCCOLI JU-
NIOR, 2001).
Neste interim, vale salientar que de acordo com o art. 8º da lei 87/96, a base de
cálculo para fins de substituição tributária relativa às operações subsequentes deve
considerar, além do valor agregador da operação ou prestação própria e dos valores
de seguro, de frete e de outros encargos cobrados ou transferíveis aos adquirentes, a
margem do valor agregado, inclusive lucro, relativa às operações ou prestações sub-
sequentes.
Em outras palavras, existem basicamente dois tratamentos que podem ser utili-
zados pelo legislador estadual para fins de fixação de base de cálculo do ICMS-ST: a) o
resultado do somatório dos valores da operação própria, do seguro, frete e outros en-
cargos e da margem de valor agregado; ou b) o preço a consumidor final usualmente
praticado no mercado considerado.
rente disso, descambaríamos para a prática da pauta fiscal, recordando-se que é ilegal
a cobrança do ICMS com base no valor da mercadoria submetido ao regime de pauta
fiscal (MARTINS, 2009).
É razoável que seja assim, uma vez que a autorização para cobrança do ICMS
antes de ocorrido o seu fato gerador é voltada tão somente a propiciar melhores condi-
ções de fiscalização e cobrança do imposto, concentrando em um só contribuinte a exi-
gência que de outra forma seria diluída em dezenas, centenas de outros contribuintes.
Deste modo, resta nítido que a substituição tributária foi pensada para dificultar
a sonegação fiscal e reduzir o universo de contribuintes sujeitos a fiscalização. A ga-
solina e o óleo diesel, por exemplo, são fornecidos aos revendedores sob o regime da
substituição tributária, figurando o distribuidor como substituído tributário, encarregado de
recolher, por antecipação, o ICMS relativo as operações subsequentes. A base de cálculo do
tributo é o preço final do produto destinado ao consumidor, estando incluso a margem
de lucro do revendedor.
Vale salientar que a Constituição Federal não permite um abandono total do fato
gerador subsequente, como se poderia apressadamente pensar, ponderando que, em-
bora seja escolhido um novo fato gerador, qual seja, a saída da mercadoria na fase ini-
cial do ciclo econômico, o ponto de referência para o dimensionamento da obrigação
tributária com substituição continua sendo o fato gerador que presumidamente vai
ocorrer em fase subsequente do ciclo econômico.
Não há autorização para que se adote qualquer base de cálculo para obrigação
com substituição, mas apenas aquela cuja grandeza corresponda ao fato que deva
ocorrer posteriormente, do contrário, estaria se permitindo o arbítrio tributário.
Capítulo 11
ASPECTOS GERAIS ACERCA DA SISTEMÁTICA DO RECOLHIMENTO DO ICMS SOBRE OS COMBUSTÍVEIS E A IMPOR-
TÂNCIA DO INSTITUTO DA SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
158
Sendo assim, o art. 155, §2º, X, b, CF não é uma imunidade propriamente dita,
mas uma genuína hipótese de não incidência do tributo, restrita ao Estado de origem,
não abrangendo o Estado de destino. Na saída da mercadoria, a alíquota é zero, para
que este imposto seja todo ele arrecadado no Estado de entrada (HARADA, 2011).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BECKER, Alfredo Augusto. Teoria Geral do Direito Tributário. São Paulo: Noeses,
2007.
CARRAZA, Roque Antônio. ICMS. 15ª Ed. São Paulo: Malheiros, 2011.
COSTA, Regina Helena; DERZI, Mizabel Abreu Machado; COELHO, Sacha Calmon
Navarro. Base de cálculo do ICMS no regime de substituição tributária para frente
– Exclusão dos descontos incondicionais. Revista do Direito Tributário, São Paulo:
Malheiros, n. 72, p. 63, 1996.
FREITAS, Rinaldo Maciel de. ICMS Do Imposto Sobre o Consumo à Guerra Fiscal.
Barueri: FISCOSoft, 2011.
Capítulo 11
ASPECTOS GERAIS ACERCA DA SISTEMÁTICA DO RECOLHIMENTO DO ICMS SOBRE OS COMBUSTÍVEIS E A IMPOR-
TÂNCIA DO INSTITUTO DA SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
160
LAPATZA, José Juan Ferreiro. Direito Tributário: teoria geral do tributo. Barueri/SP:
Manoele; Espanha/ES, 2006.
A INSTAURAÇÃO DE INCIDENTE DE
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
JURÍDICA NAS EXECUÇÕES FISCAIS: UMA
DIFÍCIL ADAPTAÇÃO
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.12
1 Pós-Graduada pelo Curso de Especialização em Direito Civil e Empresarial, pela Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE). Advogada e Vice-Presidente da Subcomissão de Recuperação Judicial e Falências da OAB/PE.
2 Pós-graduada em direito processual civil pela Escola Superior do Ministério Público da Paraíba. Juíza titular da 4ª
vara de sucessões e registros públicos de Recife.
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
162
RESUMO
A criação de uma disciplina específica com previsão exata dos ritos necessários
à responsabilização patrimonial de terceiro, notadamente em processos executórios,
parecia suficiente para o mister idealizado pelo novo diploma processual.
Tal providência é aplicada ora com base no que dispõe o art. 8542 do CPC, ora
como simples pedido de tutela provisória de natureza cautelar. Em ambos os casos,
há indevida equiparação do terceiro à condição de executado, antes de ato judicial
1 Destacamos a série de decisões proferidas no Tribunal Regional Federal da 2ª Região pela sua 8ª Turma especializada, notadamente
em processos sob a relatoria da Exma. Sra. Desembargadora Helena Elias Pinto, a exemplo do AG 00100425720164020000,
HELENA ELIAS PINTO, TRF2 - 8ª TURMA ESPECIALIZADA.
2 Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou em aplicação financeira, o juiz, a requerimento do exequente, sem dar
ciência prévia do ato ao executado, determinará às instituições financeiras, por meio de sistema eletrônico gerido pela autoridade
supervisora do sistema financeiro nacional, que torne indisponíveis ativos financeiros existentes em nome do executado,
limitando-se a indisponibilidade ao valor indicado na execução.
Para o Professor Paulo César Conrado, Juiz Federal titular da 12ª Vara de Exe-
cuções Fiscais da Seção Judiciária de São Paulo, a inobservância do instrumento ade-
quado, com as formalidades que lhe são próprias, coloca o responsável sob a condição
de terceiro estranho à lide – e não de terceiro ali regularmente introduzido, via inter-
venção -, apresentando-se espúria, por conseguinte, a constrição que o desfavorece
(CONRADO, 2017, p. 66).
A incerteza sobre a aplicação do IDPJ aos feitos executivos fiscais frente ao vulto-
so número de casos sensíveis ao tema, sobretudo na Justiça Federal na 5ª Região, levou
o respectivo Tribunal Regional Federal a admitir incidente de resolução de demandas
repetitivas, utilizando como principais fundamentos i) a então inexistência, no STJ e
STF, de recurso afetado à sistemática de repercussão geral ou do regime de recursos
repetitivos e ii) a “efetiva repetição de processos que discutem a aplicabilidade do
incidente de desconsideração da personalidade jurídica (IDPJ) nas execuções fiscais
(BRASIL, 2018).
A segurança jurídica, direito fundamental com previsão no Artigo 5º, inciso XXX-
VI, da Constituição Federal, tem como desiderato, abrigar a estabilidade das relações
jurídicas, além de manter conservada a Democracia:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garan-
tindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
(...)
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa
julgada;
Capítulo 12
A INSTAURAÇÃO DE INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NAS EXECUÇÕES FISCAIS:
UMA DIFÍCIL ADAPTAÇÃO
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
164
O caput do Artigo 966 do Código de Processo Civil disciplina quando uma deci-
são de mérito pode ser rescindida e, seus incisos e parágrafos, revelam o instrumento
legal para a sua obtenção, qual seja, a ação rescisória.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Gustavo. Reclamação constitucional no direito processual civil. 1. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2018.
BRASIL, Senado Federal. Código de processo civil e normas correlatas. 7. ed., Brasília:
Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2015.
CONRADO, Paulo César. Execução Fiscal. 3 ed. São Paulo: Noeses, 2017.
Capítulo 12
A INSTAURAÇÃO DE INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NAS EXECUÇÕES FISCAIS:
UMA DIFÍCIL ADAPTAÇÃO
166
CAPÍTULO 13
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.13
1 Pós-graduando em Direito Digital pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e em Direito Eleitoral pela
Uninassau. Advogado. Graduado em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
168
RESUMO
E ste artigo tem como tema analisar uma plataforma de saúde que viabiliza um
consultório digital, fazendo uma experiência prática acerca da aplicabilidade
da Lei Geral de proteção de dados. Foi utilizado um fluxograma para auxiliar os pro-
fissionais, na ausência da Autoridade Nacional de Proteção de dados.
Palavras-chave: Lei Geral de Proteção de Dados. Consultório Digital. Plataforma de
Saude. Processo de Conformidade.
13.1 INTRODUÇÃO
A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), após uma trajetória de grande in-
definição com relação ao termo inicial de sua vigência, entrou em vigor no mês de
setembro de 2020, tendo repercutido no fomento do mercado de prestação de serviços
advocatícios especializados, bem como no tocante aos serviços de ordem técnica, prin-
cipalmente referentes a segurança de informação.
Por se tratar de uma legislação “híbrida”, ou seja, que congrega conceitos jurídi-
cos e técnicos, o processo de adequação e conformidade com a LGPD demanda, quase
que organicamente, uma equipe multidisciplinar formada por profissionais da área
jurídica e de tecnologia da informação, essa última predominantemente com enfoque
em segurança da informação.
Partindo dessa concepção híbrida da LGPD, a qual é concebida por muitos pro-
fissionais de diversas áreas, compreende-se que, com a integração de uma equipe legal
e técnica é possível dar início ao processo de adequação de empresas atuantes nos mais
variados seguimentos de atividades econômicas.
No entanto, dentre elas, a que será objeto deste estudo de caso é uma platafor-
ma digital que viabiliza a criação de uma clínica digital para o profissional de saúde,
possibilitando, além do próprio agendamento de consulta ou atendimento por tele-
consulta, a organização financeira, administrativa e fiscal dos profissionais mediante
o pagamento de um ticket mensal. Na prática, o profissional de saúde passa a possuir
uma verdadeira clínica ou consultório virtual, permitindo sua adaptação a esse ce-
nário de transformação que vivenciamos, o que pode ser traduzido de forma muito
precisa nas sábias palavras do cientista Sílvio Meira (2020), o qual afirma que todos os
futuros são FIGITAIS, ou seja, articulações do físico, aumentado pelo digital, sendo os
dois orquestrados pelo social.
de, não será apresentado detalhes e descrições explícitas dos dados da empresa, bem
como de peculiaridades do serviço prestado e em vigência até outubro de 2021. Toda-
via, as experiências aqui apresentadas refletem o desenvolvimento do estudo aprofun-
dado da Lei Geral de Proteção de Dados e doutrinas especializadas no assunto, o que
viabilizou que fosse criado um modelo autoral de conformidade.
Portanto, o objeto desse trabalho é expor de forma prática o método adotado pela
equipe de profissionais no processo de conformidade da plataforma em comento, es-
pecificando o trabalho inicial de treinamento e conscientização e o estudo do ambiente
para fins de subsídio para ao desenvolvimento das fases subsequentes.
13.2 A PLATAFORMA
13.2.1Crescimento exponencial em tempos de Covid-19
Capítulo 13
PLATAFORMA DE SAÚDE QUE VIABILIZA CONSULTÓRIO DIGITAL: EXPERIÊNCIA PRÁTICA NA SUA CONFORMIDADE
À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS (LGPD)
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
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170
Além disso, por ser uma plataforma que trata dados pessoais sensíveis, bem
como de crianças e de adolescentes, tornou-se impreterível o início do processo de sua
conformidade a LGPD.
De início, foi verificado que empresas que lidam com grandes volumes de dados,
dentre eles de caráter sensível e/ou de informações sobre crianças e adolescentes, bem
como as que possuem elevado número de titulares de dados, tem se preocupado em
atuar em consonância ao estabelecido na legislação nacional de proteção de dados.
Estas empresas dão preferência a contratação de encarregado de dados interno, o qual,
na prática, esse profissional terá a responsabilidade de implementar um novo processo
interno de adequação legal a LGPD, assim como atender as solicitações dos titulares
de dados e entidades de fiscalização para fins de cumprimento legal, ao menos du-
rante um prazo pré-determinado, o que, no caso em apreço, foi de 12 (doze) meses a
contar do início de outubro de 2020.
Dispõe a LGPD (2018) que o encarregado de dados é uma pessoa indicada pelo
controlador e operador para atuar como canal de comunicação entre o controlador, os
titulares de dados e a Autoridade Nacional de Proteção de Dados, sendo sua identi-
dade e informações de contato divulgadas publicamente, preferencialmente no site do
controlador, cabendo ao mesmo, além do citado anteriormente, realizar a orientação
de funcionários e colaboradores contratados no tocante as boas práticas para a prote-
ção de dados pessoais, bem como executar as demais atribuições determinadas pelo
controlador ou em normas complementares.
Uma segunda ponderação a ser realizada diz respeito a previsão legal de que o
encarregado de dados deve executar “as demais atribuições determinadas pelo con-
trolador” (BRASIL, 2018), sendo necessária a especificação dessas atribuições, posto
que tal subjetividade pode dar azo a inúmeras interpretações, a exemplo do próprio
controlador determinar que o encarregado de dados pratique suas atribuições de de-
terminado modo que seja contrário as suas crenças profissionais.
Capítulo 13
PLATAFORMA DE SAÚDE QUE VIABILIZA CONSULTÓRIO DIGITAL: EXPERIÊNCIA PRÁTICA NA SUA CONFORMIDADE
À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS (LGPD)
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
172
O processo de adequação legal a LGPD possui várias fases. De início, uma reu-
nião para compreensão do modelo de negócio da empresa é fundamental para o enten-
dimento, mesmo que superficialmente, da rotina da atividade econômica contratante.
Capítulo 13
PLATAFORMA DE SAÚDE QUE VIABILIZA CONSULTÓRIO DIGITAL: EXPERIÊNCIA PRÁTICA NA SUA CONFORMIDADE
À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS (LGPD)
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
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A segunda etapa é primordial para que seja possível entender em grau de deta-
lhes o processo interno atual de tratamento de dados para que uma mudança cultural
seja implementada. Mudança exige conhecimento do estado atual. É justamente nessa
fase que será feito, em grau de detalhes, o mapeamento dos dados com a especificação
do fluxo e inventário dos dados pessoais tratados, bem como uma análise profun-
da dos artefatos jurídicos existentes, a exemplo de políticas de privacidade, cláusulas
contratuais com titulares, encarregados, operadores ou outro controlador, bases legais
aplicadas em cada tipo de tratamento e eventual remodelação, existência ou não de
consentimento em casos em que inevitavelmente deve ser aplicado, design do marke-
ting interno ou externo, além de verificação ampla da vertente relacionada a segurança
da informação na corporação contratante, como identificação dos pontos que podem
refletir em incidentes de segurança, políticas e procedimentos internos basilares e pre-
vistos na ISO 27001, etc.
Todos esses detalhes têm como finalidade o registro das vulnerabilidades e pon-
tos de risco sob o aspecto legal e técnico da segurança da informação. Durante essa
fase é elaborada uma minuta preliminar e sugerida para que a contratada publique em
seu site eletrônico, posto que nessa fase de mapeamento detalhado, mediante acesso a
muita informação, os consultores terão possibilidade de minutarem um modelo inicial
de política e sua respectiva publicação aos usuários.
1 Segundo Mello (2018) o As Is é: “É o trabalho de levantamento e documentação da situação atual do processo, comumente
chamado de AS IS, a qual é representada em fluxo ou diagrama. Nesta mesma oportunidade levantam-se também os problemas
ou fragilidades, bem como as oportunidades de melhoria do processo”.
Capítulo 13
PLATAFORMA DE SAÚDE QUE VIABILIZA CONSULTÓRIO DIGITAL: EXPERIÊNCIA PRÁTICA NA SUA CONFORMIDADE
À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS (LGPD)
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
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Capítulo 13
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À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS (LGPD)
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
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Por fim, a consultoria para adequação da plataforma de saúde a LGPD exige pes-
quisa de conteúdo estrangeiro diante de ausência de diretrizes da Autoridade Nacional
de Proteção de Dados brasileira e o modelo de implementação baseado no fluxograma
apresentado tem demonstrado grande eficiência para diversos setores empresarias,
inclusive para a própria plataforma de saúde objeto deste estudo.
REFERÊNCIAS
ASSAF. O guia descomplicado da LGPD. Disponível em: https://d335luupugsy2.
cloudfront.net/cms/files/97331/1600464053eBook_LGPD_Assaf_6edicao.pdf. Aces-
so em: 20 nov. 2020.
MELLO, Pedro. Mapeamento AS IS – 20. 2018. Dêgrau 10. Disponível em: https://
degrau10.com.br/mapeamento-as-is/. Acesso em: 18 nov. 2020.
PINHÃO E KOIFFMAN ADVOGADOS. Legal Design: o que é? e como ele pode aju-
dar a sua empresa?. 2019. Disponível em: https://direitoparatecnologia.com.br/legal-
-design-o-que-e-e-como-ele-pode-ajudar-a-sua-empresa/. Acesso em: 19 nov. 2020.
Capítulo 13
PLATAFORMA DE SAÚDE QUE VIABILIZA CONSULTÓRIO DIGITAL: EXPERIÊNCIA PRÁTICA NA SUA CONFORMIDADE
À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS (LGPD)
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CAPÍTULO 14
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.14
1 Mestre em direito pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Pós-graduado em direito público na
Faculdade de Direito Damásio de Jesus. Juiz de direito no Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco (TJPE).
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
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RESUMO
14.1 INTRODUÇÃO
A opção por fazer a análise a partir da teoria de Ávila se deu por ter sido o prisma
tomado como ponto de partida de estudo específico sobre a primazia do mérito reali-
zada por Artur Orlando Lins.
Muito se falou antes mesmo da aprovação do projeto de lei que redundou na lei
nº 13.105/2015, como sendo a codificada legislação processual civil atualmente em
vigor, que veio a revogar o Código de Buzaid, idealizador do ordenamento processual
civil de 1973, e que dentre os diversos focos teve a primazia do julgamento de mérito
como uma de suas bandeiras.
Além disso, é inegável que o atual ordenamento processual trouxe foco não ape-
nas ao aspecto formal, como também ao espectro material, por isso, em si já distin-
guindo-se das legislações processuais civis que até então vigoraram, atentando-se não
apenas à estrutura, como também ao conteúdo, trazendo algo antes não visto entre
nós, ou seja, trouxe as chamadas normas fundamentais do processo civil, dando en-
sejo até mesmo a se argumentar pela existência de uma nova metodologia condizente
ao pensamento jurídico contemporâneo (LINS, 2019, p.36.), enquanto que parcela da
doutrina a classificou com uma nova fase metodológica ou cultural do processo (JO-
BIM, 2018, p.103), agregando-se às metodologias já trabalhadas em sua evolução pela
ciência processual.
Resta inequívoco também que o CPC trouxe diversas regras em seu texto de
cunho contrafático, com um viés de se permitir mais balizas para fiscalização de con-
dutas não condizentes, um primeiro argumento para não compreender tão simples-
mente a primazia do mérito como um princípio, acepção contrafática que não passou
despercebida por Lins, trabalhado por Dierle Nunes, ao apontar em trabalho especí-
fico sobre a função contrafática do direito, sobretudo o processual, para se combater
Capítulo 14
PLATAFORMA DE SAÚDE QUE VIABILIZA CONSULTÓRIO DIGITAL: EXPERIÊNCIA PRÁTICA NA SUA CONFORMIDADE
À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS (LGPD)
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
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Ainda que adepto em classificar a primazia do mérito como princípio, Lins sa-
lienta em passagem doutrinária que atentando-se para a perspectiva heurística de
Humberto Ávida seria possível se vislumbrar aquela primazia ora como princípio e
ora como regra no caso concreto (ÁVILA, 2019, 09-11) (JOBIM, 2018, p. 94), sobretu-
do por estar expressa numa norma jurídica, situando-se num contexto de dever-ser,
sem configurar um valor, sendo que, ainda assim, reafirma Lins não haver maiores
discussões sobre ser o art.4º do CPC uma norma-princípio, afirmando ser justificável
a criação de uma norma-princípio, não podendo ser concebida como uma “regra” por
não estabelecer diretamente as condutas aos seus destinatários, que seriam deduzidas
indireta e regressivamente do estado ideal advindo do princípio (LINS, 2019, p.38),
como se fosse possível alcançar um estado ideal por via diversa que não pela autono-
mia da vontade em vez da perspectiva da jurisdição como instrumental.
De toda forma, esta corrente sustentada por Câmara e Lins encontra muitos
adeptos, como é o caso de Virgílio Afonso da Silva, que entende ser tarefa do intérpre-
te definir se a norma será uma regra ou um princípio após o processo interpretativo
do texto (JOBIM, 2018, p. 84), sobretudo por ser a norma um texto interpretado contex-
tualmente e não sinônimos.
sobretudo da autonomia da vontade, o que diria então quando Lins apontou a acepção
principiológica por um estado ideal, de cunho eminentemente subjetivo, discricioná-
rio, diversamente de um proceder, tal como propugna o garantismo processual.
Capítulo 14
PLATAFORMA DE SAÚDE QUE VIABILIZA CONSULTÓRIO DIGITAL: EXPERIÊNCIA PRÁTICA NA SUA CONFORMIDADE
À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS (LGPD)
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
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Seguindo então as diretrizes traçadas por Humberto Ávila, como paralelo ao em-
pregado por Lins para chegar à conclusão de tratar a primazia do mérito como princí-
pio, sendo que para Ávila as regras são tidas como “normas imediatamente descritivas,
primariamente retrospectivas e com pretensão de decidibilidade e abrangência, para
cuja aplicação se exige a avaliação da correspondência, sempre centrada na finalidade
que lhe dá suporte e nos princípios que lhe são axiologicamente sobrejacentes” (ÁVI-
LA, 2019, p. 227), sendo preciso fazer um paralelo segundo Ávila entre a construção
conceitual da descrição normativa e a construção dos fatos.
Para abordar todos os pontos mencionados por Lins, é importante tratar do argu-
mento no sentido de que as regras teriam feição de decidibilidade, enquanto os prin-
cípios não, sendo importante sopesar que quando se realiza o tratamento a partir da
ciência dogmática do direito, não se tem como afastar até mesmo dos princípios o con-
dão pela decidibilidade, afinal, a ciência do direito tem como ponto central o próprio
ser humano, portanto, as normas, sejam estas princípios ou regras são estereótipos
para decidibilidade, por isso é que a ciência jurídica se articula em diferentes modelos,
determináveis segundo Tercio Sampaio Ferraz Junior conforme o modo como se en-
Capítulo 14
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care a questão da decidibilidade, tendo sempre o ser humano como centro, eis então
a divisão dos modelos, em analítico, hermenêutico e empírico, respectivamente abor-
dando a relação hipotética entre conflito e decisão, as condições de possibilidade e, a
última, ou seja, a empírica, da qual se vislumbraria a partir da teoria da norma, teoria
da interpretação e teoria da decisão, que se inter-relacionam por não serem estanques,
sendo neste inter-relacionamento o espectro para se alcançar a unidade sistêmica do
saber dogmático. (FERRAZ JR. 2019, p.64-65)
Por sua vez, os princípios, para Ávila, seriam analisados e valorados a partir da
acepção normativa como sendo “normas imediatamente finalísticas, primariamente
prospectivas e com pretensão de complementariedade e de parcialidade, para cuja
aplicação demandam uma avaliação da correlação entre estado de coisas a ser pro-
movido e os efeitos decorrentes da conduta havida como necessária à sua promoção”
(ÁVILA, 2019, p.227), assim sem pretensão de exclusividade ou decidibilidade, como
ocorreria segundo Lins com a regra, que segundo ele não se aplicaria complementar-
mente a outra regra, ao contrário dos princípios (LINS, 2019, p. 41).
Não é de agora a controvérsia sobre o prisma dos princípios, sendo que a única
concordância na visão de Jobim da parte da doutrina é o fato de os princípios serem
normas indeterminadas, sendo que este fator não bastaria para diferenciá-los das re-
gras, afinal, não menos atual e permanente é a indagação sobre a vagueza das regras, o
que, assim, deixa mais inquestionável ainda que princípio são normas. (JOBIM, 2018,
p. 97-98)
Indicada acima a premissa de Ávila, preceitos que Lins reconheceu ter seguido
de forma explícita, ressaltando Lins que os princípios como normas de direito posi-
tivos e não como fonte de integração de lacunas na ordem jurídica acabam por admi-
tir que sejam extraídas normas de qualquer espécie de enunciado normativo, sempre
com pretensão de complementariedade, e tal como foi mencionado, nas palavras de
Lins, os princípios possuem estrutura deôntico-teleológica, por não fixarem direta-
mente comportamentos a serem seguidos quando da aplicação do direito, sendo que
os comportamentos ou condutas esperadas não configurariam mera recomendação ao
destinatário, já que sem conteúdo valorativo, e sim corresponderiam a imposição do
princípio jurídico, portanto, se o comportamento for adequado para o estado ideal de
coisas deve ser considerado, do contrário será indevido, salientando que os comporta-
mentos aos fins seriam inferidos indireta e regressivamente pelo aplicador do direito.
(LINS, 2019, p. 40)
teria uma imposição, sendo que Ávila em mais de uma passagem salienta que “os
princípios não determinam diretamente (por isso prima facie) a conduta a ser seguida,
apenas estabelecem fins normativamente relevantes, cuja concretização depende mais
intensamente de um ato institucional de aplicação que deverá encontrar o comporta-
mento necessário à promoção do fim” (ÁVILA, 2019,p. 87), o que mais à frente será no-
vamente trabalhado quando do desenvolvimento do tema em suas demais variantes,
observando-se as premissas de Ávila, tal como o fez Artur Orlando Lins.
Outro argumento de Ávila utilizado por Lins para tentar embasar o enquadra-
mento principiológico da primazia do mérito foi a alegação da eficácia interna e externa,
sendo que da eficácia interna poderia se vislumbrar em seus aspectos direto e indireto.
(LINS, 2019, p.42-43)
Por sua vez, quanto à eficácia externa entende-se pela consonância das coloca-
ções de Lins, exceto quando aponta que se trata a primazia do mérito como princípio,
Capítulo 14
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DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
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Já se tratou da menção de Lins sobre o estado ideal de coisas que estaria a perse-
guir a primazia do mérito. Contudo, esta acepção apenas pode ser alcançada como o
próprio Lins reconhece, a partir de uma feição de “maleabilidade” (LINS, 2019, p. 43)
dos princípios, confrontada por exemplo com a complexidade social constante, que
traz à baila valores, assim a apontada maleabilidade está em torno de um dos pontos
mais questionados hoje no estudo, não apenas da processualística em termos formais,
como também para o alcance da aplicação do direito material e suas discussões em
torno da “iura novit curia”, ou seja, em torno da flexibilidade e atenção à autonomia da
vontade em sentido amplo.
Findo o diálogo imediato com Lins, urge agora prosseguir ao desfecho da inda-
gação.
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DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
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Ademais, os atos de vontade dificultam, para não se dizer, já dizendo, que im-
possibilitam a fiscalização e apuração de abusos processuais, pois ao tratá-lo como
princípio não se teria como observá-los de forma objetiva, pela impossibilidade de
objetividade no trato com os princípios, sempre caracterizados pelo seu subjetivismo,
do contrário deixam de ser princípios (ÁVILA, 2019, p. 131-132), enquanto que nosso
ordenamento possui critérios objetivos no art.489 do Código de Processo Civil para o
reconhecimento de um proceder, mesmo que menosprezados pelo anseio na manu-
tenção do entendimento sufragado na jurisprudência pela desnecessidade de esgotar
a matéria levada à valoração e que bastaria a racionalidade do julgado, uma verten-
te subjetiva, lamentavelmente, tal como foi o julgado do STJ já após a vigência do
CPC/15, no Recurso Especial nº 1.765.579 - SP (2017/0295361-7) ao tratar sobre o tema,
onde apenas se ignorou que estamos diante de uma nova ordem jurídica, se é que se
pode falar em nova, mesmo que nada inovando em termos constitucionais, apenas es-
pecificando o proceder, legislação confeccionada em prol do conteúdo, desde que não
sujeita à liberalidade de quem a aplique em detrimento da disponibilidade e liberdade
sim do jurisdicionado.
Portanto, tem-se que a primazia do mérito evidencia hoje verdadeira regra, ver-
dadeiro proceder, e não princípio, afinal, a partir do momento onde se demandam
escolhas, ou que se faz uso da vontade para alcançar o viés termina-se perdendo a
premissa essencial do que se tem como segurança jurídica a partir da dogmática, e
como salientado por Ávila, de um princípio jurídico se adviria um estado ideal que
estaria relacionado a um comportamento, envolvendo um fim e meios, portanto, seria
preciso extrair a acepção ‘escolha’, ‘vontade’, o que ultrapassa o caráter contrafático do
positivismo em termos do proceder da jurisdição, sem qualquer prejuízo ao pós-posi-
tivismo decorrente do conteúdo e não da consciência para o julgamento do mérito em
si, fase subsequente a um proceder eminentemente garantista, de contenção de abuso
de poder e observância da autonomia da vontade.
REFERÊNCIAS
ÁVILA, Humberto. Teoria da Segurança Jurídica, 5ª Ed., ver., atual. e ampl.- São Pau-
lo: Malheiros, 2019.
FERRAZ JR., Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, domi-
nação, 11ª Ed. – São Paulo: Atlas, 2019.
JOBIM, Marco Félix. As funções da eficiência no processo civil brasileiro. – São Pau-
lo: Editora Revista dos Tribunais, 2018.
NUNES, Dierle. PEDRON, Flávio. Doutrina deve ter prudência e rigor ao definir
princípios do Novo CPC https://www.conjur.com.br/2015-abr-19/doutrina-pru-
dencia-definir-principios-cpc , Acesso 10.05.2020.
PASSOS, José Joaquim Calmon de. Direito, Poder, Justiça e Processo: Julgando os que
nos julgam, Rio de Janeiro: Forense, 2000.
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CAPÍTULO 15
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1 Pós-graduando em Direito Digital pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e em Direito Eleitoral pela
Uninassau. Advogado. Graduado em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).
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RESUMO
O presente capítulo tem como tema a competência penal e como objeto a com-
petência da Justiça Eleitoral para julgar crimes conexos a crimes eleitorais.
Metodologicamente, trata-se de um estudo de caso, no qual se analisou o julgado do
STF no Inquérito n. 4435, que reafirmou a jurisprudência da corte no sentido de que o
cometimento de crimes comuns conexos a crimes eleitorais atraem a competência da
referida justiça especializada para processar e julgar a todos, por força do art. 35, inc.
II do Código Eleitoral (Lei 4.737/65).
Palavras-chave: Conexão; Crimes eleitorais; Justiça Eleitoral; Justiça Comum.
A palavra jurisdição vem da expressão latina iuris dictio, que significa dizer o
direito. Trata-se de um direito-garantia fundamental dos cidadãos previsto no art. 5º,
inc. XXXV, da Constituição Federal (CRFB/88). A jurisdição não é apenas o poder do
Estado de impor a norma jurídica na solução dos conflitos intersubjetivos, pois tam-
bém um dever, visto que ao negar o direito à justiça privada, ele toma para si a obriga-
ção de prestar a tutela jurisdicional (THEODORO JUNIOR, 2020). Em outras palavras,
os particulares depositam no Poder Judiciário - através de seus órgãos imparciais en-
carregados de proferir julgamentos que adquirem, na quase totalidade das situações,
a imutabilidade (coisa julgada) – a expectativa da obtenção de um pronunciamento
adequado, que atenda às suas necessidades (ROCHA, 1993).
O princípio do juiz natural é o direito que cada cidadão tem de saber, previamen-
te, a autoridade que irá processar e julgá-lo. Conforme lição de Renato Brasileiro de
Lima (2017, p. 330), “juiz natural, ou juiz legal, dentre outras denominações, é aquele
constituído antes do fato delituoso a ser julgado, mediante regras taxativas de compe-
tência estabelecidas pela lei”.
Capítulo 15
SOBRE A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ELEITORAL PARA JULGAMENTO: DOS CRIMES COMUNS CONEXOS AOS CRIMES
ELEITORAIS
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
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Também possui foro por prerrogativa de função os juízes federais da área de sua
jurisdição, incluídos os da Justiça Militar (JM) e da Justiça do Trabalho (JT), nos crimes
comuns e de responsabilidade, e os membros do MPU, os quais devem ser julgados
pelos respectivos TRFs, ressalvada a competência da JE (art. 108, inc. I, alínea a da
CRFB/88).
Vale destacar que, ante o Princípio da Isonomia, o foro por prerrogativa de fun-
ção só se justifica quanto aos crimes cometidos e diretamente relacionados às ativida-
des do agente. Nesse sentido é a jurisprudência do STF, leia-se:
DIREITO CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL. QUESTÃO DE ORDEM
EM AÇÃO PENAL. LIMITAÇÃO DO FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO
AOS CRIMES PRATICADOS NO CARGO E EM RAZÃO DELE. ESTABELECI-
MENTO DE MARCO TEMPORAL DE FIXAÇÃO DE COMPETÊNCJA. [ ... ] Quanto
ao sentido e alcance do foro por prerrogativa 1. O foro por prerrogativa de função,
ou foro privilegiado, na interpretação até aqui adotada pelo STF, alcança todos os
crimes de que são acusados os agentes públicos previstos no art. 102, 1, b e e da
Constituição, inclusive os praticados antes da investidura no cargo e os que não
guardam qualquer relação com o seu exercício. 2. impõe-se, todavia, a alteração des-
ta linha de entendimento para restringir o foro privilegiado aos crimes praticados
no cargo e em razão do cargo. É que a prática atual não realiza adequadamente
princípios constitucionais estruturantes, como igualdade e república por impedir,
em grande número de casos, a responsabilização de agentes públicos por crimes
de naturezas diversas. Além disso, a falta de efetividade mínima do sistema penal,
nesses casos, frustra valores constitucionais importantes, como a probidade e a mo-
ralidade administrativa. 3. Para assegurar que a prerrogativa de foro sirva ao seu
papel constitucional de garantir o livre exercício das funções - e não ao fim ilegítimo
de assegurar impunidade - é indispensável que haja relação de causalidade entre o
crime imputado e o exercício do cargo. (Questão de Ordem no Ação Penal n. 937-RJ,
Rel. Min. Roberto Barroso. STF. Plenário. Julgado em 3.5.2018. publicado no DJ em
11.12.2018) -g.n.
À JM, por sua vez, compete processar e julgar os crimes militares definidos em
lei (art. 104 da CRFB/88). A Emenda Constitucional nº 45/04 acrescentou ao art. 125 os
§§§ 3º, 4º e 5º da CRFB/88, a fim de estruturar as Justiças Militares estaduais (JME). O
§4º do mesmo dispositivo reafirma a competência à Justiça Militar estadual processar e
julgar os militares dos Estados, mas ressalva a competência do Tribunal do Júri quan-
do a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e
da patente dos oficiais e da graduação das praças. O §5º do art. 125 da cRFB/88 defere
aos Juízes de Direito da JM a competência para processar e julgar, singularmente, os
crimes militares cometidos contra civil, cabendo ao Conselho de Justiça (órgão colegia-
do) o processo e julgamento dos demais crimes militares.
A Justiça Militar da União, por sua vez, julga tanto civis como militares, nos
crimes militares cometidos por integrantes das Forças Armadas ou por civis que aten-
tem contra a Administração Militar federal. Cabe ressalvar que a Lei nº 13.491/2017,
alterando o disposto no art. 9º do Código Penal Militar, previu a competência da Jus-
tiça Comum (federal ou estadual) para o julgamento de crimes dolosos contra a vida
praticados por militar contra civil, estando ou não em serviço, salvo se praticados no
cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da Repúbli-
ca ou pelo Ministro de Estado da Defesa; no curso de ação que envolva a segurança
de instituição militar ou de missão militar, mesmo que não beligerante; ou durante
atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem ou de
atribuição subsidiária.
Tal competência foi firmada através da Lei Complementar 4737/95, que instituiu
o Código Eleitoral (CE). Nesse diapasão, o seu art. 22 dispõe que é de competência do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), processar e julgar originariamente os crimes eleito-
rais e os comuns que lhes forem conexos cometidos pelos seus próprios juízes e pelos
juízes dos Tribunais Regionais. Já o art. 29, inc. I, alínea a, do CE estabelece a compe-
tência dos Tribunais Regionais, atribuindo-lhes a missão de processar e julgar origina-
Capítulo 15
SOBRE A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ELEITORAL PARA JULGAMENTO: DOS CRIMES COMUNS CONEXOS AOS CRIMES
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riamente, os crimes eleitorais cometidos pelos juizes eleitorais. Por fim, o art. 35, inc.
II do CE define a competência dos juízes eleitorais para processar e julgar os crimes
eleitorais e os comuns que lhe forem conexos, ressalvada a competência originária do
TSE e dos Tribunais Regionais.
Por fim, quanto aos tipos de competência, vale ressaltar que a competência em
razão do lugar está fixada no art. 70 do Código de Processo Penal (CPP), segundo o
qual “a competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a
infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de
execução”. O art. 69 do CPP complementa a norma, indica os critérios de competên-
cia jurisdicional penal: a) o lugar da infração; b) o domicílio ou residência do réu; c)
a natureza da infração; d) a distribuição; e) a conexão ou continência; f) a prevenção;
g) a prerrogativa de função. Nota-se que referido dispositivo não elenca a ordem de
observação dos critérios para fixação da competência, o que ficou a cargo da doutrina.
Nesse sentido, Victor Gonçalves (2018, p. 152) ensina que primeiro fixa-se a de-
terminação do foro competente a partir do local da infração ou do domicílio do réu;
depois fixa-se a justiça competente, considerando a natureza da infração; e, por fim,
determina-se a vara competente pela prevenção ou pela distribuição.
De forma distinta, Renato Brasileiro de Lima (2017, p. 349) entende que, primeiro
analisa-se a competência em razão da matéria para identificar a Justiça competente, se
é: a) Justiça Militar (da União e dos Estados); b) Justiça Eleitoral; c) Justiça Política (cri-
me de responsabilidade); d) Justiça Federal ou e)Justiça comum; então, averígua-se a
competência em razão da pessoa, isto é, se há foro por prerrogativa de função que fixe
a competência originária; depois, observa-se a competência em razão do lugar, portan-
to, qual o foro competente, no caso da JE a comarca, da JF a Seção e subseção, da JM a
circunscrição e no caso da JE a zona eleitoral competente; feito isso, o próximo passo
é definir a competência de juízo, que se faz mediante distribuição ou pela prevenção.
O crime eleitoral é toda infração penal disposta em lei e tida como ofensiva à
liberdade do voto direto e secreto enquanto exercício da soberania popular. Portan-
to, são atos antijurídicos que afetam tão grave e diretamente o interesse público, por
impedir ou turbar o escorreito curso do processo eleitoral, que ensejam a intervenção
penal. Conforme lição de Gomes (2015, p. 3),
o crime eleitoral é apenas uma especificação do crime em geral, com a particularida-
de de objetivar a proteção de bens e valores político-eleitorais caros à vida coletiva.
Tais bens são eminentemente públicos, indisponíveis e inderrogáveis pela autono-
mia privada. São bens necessários à configuração da legítima ocupação dos cargos
político- eletivos e, portanto, do regular funcionamento do regime democrático.
Os crimes eleitorais estão previstos em leis penais, tanto no CE, quanto em legis-
lações esparsas que estabeleçam regras penais em matéria de eleição, quais sejam: Lei
nº 6.091/1974; Lei nº 6.996,/1982; Lei nº 7.021/1982; Lei Complementar nº 64/1990; e,
finalmente, a Lei nº 9.504/1997 (“Lei das Eleições”).
Até 1932, com a edição do primeiro CE, o Estado Brasileiro protegia penalmente
apenas os direitos políticos. Essa primeira previsão data do Código Criminal do Impé-
rio do Brazil de 1830, Título III (art. 100 a art. 106), que estabeleceu os crimes contra o
livre gozo e exercício dos Direitos Políticos dos cidadãos. Com a República, o Governo
Provisório e seu Ministério dos Negócios da Justiça criou um o novo Código Penal
dos Estados Unidos do Brasil de 1890, mas tratou pouco dos direitos políticos, cuja
proteção penal foi prevista no Cap. III, dos crimes contra o livre exercício dos poderes
políticos, embora nada trata-se de crimes eleitorais, conduta que se repetiu na Conso-
lidação das Leis Penais de 1932.
Esta conclusão pode ser alicerçada no art. 287 do CE, segundo o qual “aplicam-
-se aos fatos incriminados nesta lei as regras gerais do Código Penal”. Trata-se da
consagração do principal geral do direito lex specialis derrogat legem generalem, a fim de
solucionar o concurso aparente de normas penais que obteve consagração legislativa.
Nesse sentido, as regras gerais do CP somente se aplicam aos fatos incriminados por
lei especial, se esta não dispuser de modo contrário, isto é, o CP tem aplicação subsi-
diária e supletiva ao CE.
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SOBRE A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ELEITORAL PARA JULGAMENTO: DOS CRIMES COMUNS CONEXOS AOS CRIMES
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O Agravo, nos termos do art. 1.021 do Código de Processo Civil, é o recurso ca-
bível para impugnar decisões tomadas individualmente pelo relator de um recurso.
No caso em análise, o recurso foi oposta por Pedro Paulo Carvalho Teixeira e
Eduardo da Costas Paes contra decisão do Relator do Inquérito 4.435 (Ministro (Min)
Marco Aurélio), que declinou da competência do STF para a primeira instância da Jus-
tiça do Estado do Rio de Janeiro, afirmando que os delitos imputados aos investigados
– previstos nos art. 317 e 333 do CP; em concurso com os crimes previstos no art. 1º,
inc. V da Lei nº 9.613/1998 e no art. 22 da Lei nº 7.492/1986 – teriam sido cometidos
parte em 2010, durante o tempo em que exerceu mandato de deputado estadual, e
parte em 2014. O Relator destacou que, nesse último caso, apesar de os crimes supos-
tamente praticados terem ocorrido quando Pedro Teixeira já era deputado federal, não
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têm relação com o cargo, motivo pelo qual o STF não seria competente para julgar o
feito, e sim a Justiça Eleitoral do Rio de Janeiro (JERJ).
Quanto aos crimes do ano de 2012, trata-se do recebimento, por Eduardo Paes,
da quantia aproximada de R$ 15.000.000,00 pagos pela Odebrecht, a pretexto da sua
campanha eleitoral para reeleição à prefeitura do Rio de Janeiro. Como Eduardo Paes
era prefeito do Rio de Janeiro à época, há imputação nos crimes de corrupção ativa
e passiva. Tal recebimento ilegal teria sido intermediado por Teixeira, coordenador
da campanha, que operacionaliza os pagamentos inclusive mediante transações rea-
lizadas no exterior. O Parquet destacou, ainda, a existência de indícios reveladores da
prática dos crimes dos art. 350 do CE, 317 e 333 do CP, 22 da Lei nº 7.492/1986 e 1º
da Lei nº 9.613/1998, de modo que o STF seria incompetente para processar o feito, e
defendeu a cisão do processo para que o crime eleitoral fosse julgado pelo TERJ e os
demais crimes pela JF do Rio de Janeiro (JFRJ).
da Odebrecht. Assim, estaria caracterizado o crime do art. 350 do CE. Ao final, pro-
pugnou que este delito deveria permanecer no STF e em razão do foro privilegiado de
Pedro Teixeira.
Diante desse quadro fático, o STF decidiu, nos termos do voto do Relator, acom-
panhado pelos Ministros Alexandre de Moraes, Lewandowski, Gilmar Mendes, Celso
de Mello e Dias Toffoli (Presidente), manteve sua jurisprudência e deu parcial provi-
mento ao agravo interposto pelos investigados para: i) no tocante ao fato ocorrido em
2014, assentar a competência do STF; e ii) quanto aos delitos supostamente cometidos
em 2010 e 2012, declinar da competência para a TERJ.
Por concluírem que não houve relação dos ilícitos ao mandato de deputado fe-
deral de Pedro Teixeira e afastando o foro por prerrogativa de função, os ministros di-
vergentes requereram a cisão do processamento dos crimes, devendo a JERJ processar
e julgar apenas as apurações relacionadas aos crimes de falsidade ideológica eleitoral,
sendo os demais delitos (crimes de corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de
capitais e evasão de divisas) direcionados a uma das varas criminais da Seção Judi-
ciária da JF do Rio de Janeiro. Os demais crimes comuns (crimes de corrupção ativa,
corrupção passiva ) seriam atraídos para a Justiça Federal porque conexos aos crimes
contra o Sistema Financeiro (evasão de divisas), em atenção à regra de prorrogação de
competência do art. 78, inciso IV, do CPP, segundo o qual, “no concurso entre a juris-
dição comum e a especial, prevalecerá esta”.
quanto ao art. 24. (…) (ADI 2473 MC, Rel. Min. Néri da Silveira, Tribunal Pleno, DJ
de 7.11.2003); (...) somente regra expressa da Lei Magna da República, prevendo foro
especial por prerrogativa de função, para autoridade estadual, nos crimes comuns e
de responsabilidade, pode afastar a incidência do art. 5º, XXXVIII, d, da CF, quanto
à competência do júri. Em se tratando, portanto, de crimes dolosos contra a vida, os
procuradores do Estado da Paraíba hão de ser processados e julgados pelo júri. (HC
78.168, Rel. Min. Néri da Silveira, 1ª Turma, DJ de 29.8.2003)
REFERÊNCIAS
BADARÓ, Gustavo Henrique. Processo penal. 4ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2016
DIDIER JR., Fredie; Curso de direito processual civil. 7. ed. rev., ampl. e atual. Salva-
dor: Ed. JusPodivm. 2017.
GOMES, José Jairo. Crimes e processo penal eleitorais. São Paulo: Atlas, 2015.
GOMES, Suzana de Camargo. Crimes eleitorais. 4ª ed. rev. atual. e ampl. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2010.
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. REIS, Alexandre Cebrian Araújo Reis. Direito
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SOBRE A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ELEITORAL PARA JULGAMENTO: DOS CRIMES COMUNS CONEXOS AOS CRIMES
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210
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dor: JusPodivm, 2016.
LOPES JR., Aury. Direito processual penal. 15. ed. – São Paulo: Saraiva Educação,
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NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Pena Comentado. 15ª ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2016.
SILVA, Marco Antonio Marques da; FREITAS, Jayme Walmer de. Código de Processo
Penal comentado. São Paulo: Saraiva, 2012.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 61ª ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2020.
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 35. ed. São Paulo: Saraiva,
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BRASIL. STF. Questão de Ordem no Ação Penal n. 937-RJ. Rel. Min. Roberto Barroso.
STF. Plenário. Julgado em 3.5.2018. publicado no DJ em 11.12.2018.
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.16
RESUMO
O trabalho em análise tem como escopo principal trazer à baila a triste reali-
dade que por décadas estar presente no Brasil apesar das relevantes mu-
danças socioeconômicas. Essa mazela se desenvolve nos setores domésticos, artístico,
agrícola e na exploração sexual que, hoje, sustenta a prosperidade econômica no país.
Para isso, fez-se necessário um breve introito na história do Brasil apontando que des-
de os tempos remotos o país já era maculado com essa prática repugnante, em seguida,
foi realizado o estudo da legislação que proíbe esse tipo de trabalho, porém apesar de
possuir leis severas para quem explora esse tipo de trabalho não existe punição. Em
continuidade, adentramos nos direitos e garantias fundamentais da criança fazendo
uma correlação com o trabalho do menor mostrando suas diferenças, peculiaridades,
enfim, fazendo um paralelo entre o trabalho infantil e o trabalho do menor. Por fim, faz
a distinção entre criança e adolescente trazendo à discussão o instituto da capacidade
laboral e dos direitos humanos. Conclui-se afirmando que a educação é a solução para
dirimir a questão do trabalho infantil, além disso, o respeito à dignidade da pessoa, o
respeito e a fiel aplicação à legislação que trata do instituto e da sua sanção para aquele
que infringe tal dispositivo, ou seja, tem que haver uma conscientização daqueles que
faz uso de mão de obra humana deixar de valorar ganhos matérias em detrimento da
exploração das crianças, pois aquele que se utiliza do trabalho infantil sabe que está
infringindo a lei além de macular um ser em desenvolvimento educacional, cultural,
emocional.
Palavras-Chaves: Trabalho Infantil. Exploração. Direitos Humanos. Legislação.
O Brasil foi descoberto na fase das grandes navegações portuguesas que esses
vinham em busca de explorar novas terras em busca de riquezas.
Daremos ênfase ao trabalho escravo que a princípio a mão de obra era extraída do
trabalho indígena, pois eles já haviam colaborado com a extração do pau-brasil, logo,
o colonizador julgava que isso poderia se repetir com o trabalho agrícola. Entretanto,
os índios não se submeteram facilmente às condições exigidas pela nova atividade,
uma vez que, a extração do pau-brasil podia ser realizada de forma esporádica e livre
e, o mesmo não acontecia no setor agrícola, que exigia trabalho sistemático, disciplina,
organização.
Nesse contexto, começou a escravização dos índios, porém por uma série de cir-
cunstâncias, a escravidão africana acabou se impondo como solução para o problema
da mão-de-obra. O escravo era considerado por muitos como simples mercadoria. Eles
eram submetidos a trabalhos duros e castigos severos motivo pelo qual a vida útil de
Áurea Maria Nunes Machado Farias
João Roberto Martins Cardoso
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
213
um escravo adulto nas plantações era de no máximo 10 (dez) anos o que ensejava a
substituição desde cedo de seus filhos muitos ainda em idade de desenvolvimento.
Hoje, a triste realidade não é muito diferente dos tempos de outrora, pois temos
crianças livres, porém presas por um sistema político onde as riquezas são designadas
única e exclusivamente nas mãos daqueles que já as possuem, são presas pelas desi-
gualdades sociais bastante visíveis por qualquer cidadão que se permita olhar para o
lado e vê o quão gritante é a situação, pois ela clama por mudanças e não precisa ter
sensibilidade para ouvir seu clamor.
Crianças e jovens são obrigados a trabalhar por várias razões, sendo a pobreza a
principal delas. Muitos governos, ao enfrentar crises econômicas, não dão priorida-
de às áreas que poderiam ajudar a aliviar as dificuldades enfrentadas por famílias
de baixa renda: não priorizam saúde, educação, moradia, saneamento básico, pro-
gramas de geração de renda, treinamento profissional, entre outros. Para essas fa-
mílias, a vida se torna uma luta diária pela sobrevivência. As crianças são forçadas a
assumir responsabilidades, ajudando em casa para que os pais possam trabalhar, ou
indo elas mesmas trabalhar para ganhar dinheiro e complementar a renda familiar
(ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2007, p. 11).
Capítulo 16
TRABALHO INFANTIL: A TRISTE REALIDADE QUE PERDURA NO TEMPO
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
214
Com o fiel cumprimento desses dispositivos não estaríamos nas infelizes estatís-
ticas que só fazem macular ainda mais o cenário do país, não estaríamos contaminados
com essa cólera que tira o quão mais precioso que a criança carrega: sua inocência.
Corroborando, ainda, com os artigos já mencionados temos o art. 405 da CLT que traz
em seu bojo várias restrições ao trabalho do menor.
O conceito de trabalho infantil (precoce) é o que melhor expressa a proibição do
trabalho infanto-juvenil entendido como todo trabalho realizado por criança ou
adolescente com idades inferiores aos determinados pela legislação (CUSTÓDIO,
VERONESE, 2007, p. 125).
O uso da mão de obra infantil não é considerado uma “novidade” como já de-
monstrado, pois crianças trabalhavam para ajudar suas famílias a fim de se evitar ao
menos a fome.
Com efeito, o Código Penal em seu artigo 149 pune aquele que reduz alguém a
condição análoga à de escravo, vejamos:
Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-a a trabalhos
forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-a a condições degradantes de tra-
balho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida
contraída com o empregador ou preposto.”
Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa, além da pena correspondente à
violência.
Em vista de todo elencado, percebemos o quão as leis estão um tanto mortas, pois
sua existência não transcende de simples transcrições nos papéis. A legislação não tem
eficácia esperada ao caso concreto, ou seja, não atende ao objetivo pelo qual foi criada.
Inicialmente, acerca da terminologia das faixas etárias das pessoas que não atin-
giram a maior idade, temos que:
a utilização do termo criança e adolescente não decorre do mero acaso ou adesão à
terminologia internacionalmente empregada. A conotação dada à palavra “menor”
como “menor de rua”, “menor abandonado”, “menor carente”, revelou a chamada
“menorização”, que se quer justamente combater, outorgando-se a todas as pessoas
em desenvolvimento físico e mental, independentemente de sua condição social, a
proteção integral, sem desconsiderar seus anseios e perspectivas de atuação para
satisfazê-los. (FONSECA, 1995, p. 93).
Capítulo 16
TRABALHO INFANTIL: A TRISTE REALIDADE QUE PERDURA NO TEMPO
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
216
16.4 CONCLUSÃO
O trabalho infantil é, ainda, uma triste realidade. Onde, primeiramente, para mu-
dar essa dura realidade precisa-se de uma forte reforma política, moral e cultural.
Percebemos, por fim, que só existirá uma mudança se primeiro existir absolu-
tamente o animus de mudar e para que isso aconteça tem-se que abdicar de legados
deixados por nossos antecedentes históricos, abdicar de uma cultura maculada pela
ostentação de bens materiais, enfim por todo tipo mazelas social. Nossas crianças só
deixarão de serem exploradas se cada um de nós como seres integrantes de uma so-
ciedade der sua contribuição com o único objetivo de sanar o mal dos séculos e assim
partiremos para pensar numa ideologia de vida.
REFERÊNCIAIS
CUSTÓDIO, André Viana. O trabalho da criança e do adolescente no Brasil: uma
análise de sua dimensão sócio-jurídica. Dissertação (Mestrado em Direito) – Curso
de Pós-Graduação em Direito, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
2002.
CUSTÓDIO, André Viana; VERONESE, Josiane Rose Petry. Trabalho Infantil: a ne-
gação de ser criança e adolescente no Brasil. Santa Catarina: OAB/SC Editora, 2007.
Capítulo 16
TRABALHO INFANTIL: A TRISTE REALIDADE QUE PERDURA NO TEMPO
218
CAPÍTULO 17
DOI: 10.46898/rfb.9786558890461.17
1 Gestora educacional na UNOPAR, Pós-graduada em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho pela Estácio
em parceria com CERS. Pós-graduanda em Direito Civil e Empresarial pela Universidade Federal de Pernambuco.
Advogada.
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
220
RESUMO
17.1 INTRODUÇÃO
De acordo com Raphael Miziara e Iuri Pinheiro, após a Segunda Guerra Mundial
ocorreu uma expansão econômica que ficou conhecida como o boom econômico ou
Era de Ouro do capitalismo. Esse período foi marcado pela prosperidade econômica
em meados do século XX e as economias dos países capitalistas industrializados se
deram perfeitamente bem, porque pela primeira vez passava a existir uma economia
de consumo de massas. Nessa época também ocorreu um furor lucrativo até então ra-
ramente visto, era natural que a indústria das multinacionais se transferisse para locais
de mão de obra barata (PINHEIRO, 2017).
Porém, o otimismo diminuiu na década de 1970, pois a Era do Ouro começa a dar
sinais de desordem. Devido ao chamado ‘’superaquecimento da economia’’. Logo, ela
termina com o colapso, produzindo uma imensa recessão. Nesse momento, o neolibe-
ralismo começa a se instaurar.
Conforme lembra Eric Hobsbawn, a Era de Ouro perdeu o seu brilho, uma era
chegava ao fim (HOBSBAWM, 1995). Enquanto isso, o mundo ocidental voltou suas
atenções para os elevados índices de produtividade que vinham sendo conquistados
pelo Japão com uma nova organização da produção, e começou a buscar cada vez mais
alternativas em relação ao modelo então predominante, o taylorista-fordista. Surge a
linha de montagem, produção em série.
Nessa vereda, o Poder Executivo no dia 19 de março de 1998, então chefiado pelo
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, apresentou na Câmara dos Deputados, à
época presidida por Michel Temer, o PL n.4302 de 1998 com objetivo de modificar a
Lei n. 6019/74 que dispõe sobre o Trabalho Temporário nas Empresas Urbanas, e dá
outras Providências bem como dispor sobre as relações de trabalho na empresa de
prestação de serviços a terceiros.
Após certo período de tramitação foi apresenta pelo então Presidente Luís Iná-
cio Lula da Silva, a mensagem n. 389, cujo objeto era a retirada de pauta do Projeto de
Lei em referência.
Ainda sobre a súmula nº 331, no caso de terceirização lícita (de atividade meio ou
trabalho temporário), se o tomador de serviços ou cliente for uma empresa particular
responderá de forma subsidiária. Enquanto que se o tomador de serviço ou cliente for
a administração pública responderá de forma subsidiária se ficar demonstrada a sua
culpa.
Em 1994, é proposto o Projeto de Lei nº 4430 que só foi aprovada pela Câmara dos
Deputados dez anos depois. A principal diferença entre o projeto de lei de 1994 para
a súmula nº 331 consiste na possibilidade de terceirização de qualquer atividade da
contratante, sem diferenciação entre atividade meio e fim. Infelizmente, vivemos em
um país com a maior carga tributária do mundo e, por isso, para muitas empresas esse
projeto de lei surge como uma possibilidade de reduzir os custos.
Capítulo 17
A TERCEIRIZAÇÃO NO BRASIL: ANÁLISE CRÍTICA NO CONTEXTO DA REFORMA TRABALHISTA (LEI º 13.467/17)
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
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224
Sendo assim, o trabalhador é pessoa física contratada pelo regime da CLT pela
empresa de trabalho temporário que deve ser pessoa jurídica. Essa empresa contrata
pessoal para deixá-los à disposição das empresas tomadoras de serviços, que podem
ser tanto pessoas físicas quanto pessoa jurídicas.
Ademais, algumas mudanças como terceirizado poder ser contratado para ati-
vidade fim e não apenas atividade meio como antes, outrossim, trabalho temporário
mudou de 60 dias para 180 dias com a possibilidade de prorrogação de mais 90 dias.
Responsabilidade subsidiária (complementar), empresa contratante é acionada. INSS
mantida retenção de 11% para garantir o recolhimento do INSS. Higiene, salubridade
e segurança no trabalho.
17.4 CONCLUSÕES
Capítulo 17
A TERCEIRIZAÇÃO NO BRASIL: ANÁLISE CRÍTICA NO CONTEXTO DA REFORMA TRABALHISTA (LEI º 13.467/17)
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
226
Essa nova lei de terceirização trouxe mudanças que impactaram a Justiça Tra-
balhista, críticos apontam que terceirizados trabalham em média três horas a mais
por semana que os contratados diretos, ao mesmo tempo em que ganham salários
em média 25% menores, segundo ratifica o estudo feito pela CUT (Central Única dos
Trabalhadores) e o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioe-
conômicos).
REFERÊNCIAS
ALVARENGA, Gustavo Filipe Barbosa Garcia e Rúbia Zanotelli de. Terceirização de
serviços e direitos sociais trabalhistas. São Paulo: Ltr, 2017.
HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991) [livro eletrônico].
São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
OLIVEIRA, Paulo Antônio Fuck de. Terceirização como estratégica. Curitiba: Bate
byte, 1996.
ÍNDICE REMISSIVO
A Fins 5
Adolescentes 89, 118, 123, 124, 136, 170, 213, 215 Fundamentais 4, 18, 20, 21, 22, 23, 24, 26, 34, 44,
49, 52, 53, 54, 55, 58, 66, 67, 85, 123, 178, 182,
Autonomia 36, 41, 43, 48, 65, 66, 67, 69, 71, 72, 78, 183, 187, 191, 192, 194, 195, 212, 215
79, 110, 171, 176, 183, 184, 185, 190, 194, 202,
203 G
Brasil 7, 9, 86, 89, 90, 101, 103, 105, 107, 109, 111, I
113, 114, 115, 132, 148, 150, 162, 163, 165,
171, 176, 210, 219, 221, 223, 225 Idéia 17, 130
Indígenas 14, 15, 18, 20, 24, 25, 27, 28, 29, 30, 32,
C
33
Caso 15, 18, 28, 29, 36, 41, 42, 44, 55, 59, 60, 68, 71, Interdisciplinares 4, 121
74, 75, 76, 77, 86, 87, 88, 91, 120, 121, 123,
125, 129, 131, 132, 133, 136, 137, 144, 145, J
148, 149, 150, 154, 155, 168, 169, 170, 173,
183, 184, 185, 186, 189, 190, 198, 202, 204, Jurídica 11, 22, 33, 36, 38, 39, 44, 53, 55, 58, 59, 65,
205, 206, 207, 208, 215, 223, 224 66, 68, 70, 71, 76, 79, 80, 86, 89, 90, 107, 114,
119, 120, 130, 144, 155, 157, 162, 163, 164,
Cidadãos 25, 28, 30, 31, 33, 42, 59, 107, 198, 203 168, 174, 184, 187, 188, 189, 191, 192, 193,
Civil 29, 36, 37, 38, 39, 41, 42, 49, 59, 65, 66, 68, 71, 194, 198, 216, 220, 225
72, 73, 80, 81, 90, 103, 106, 107, 117, 126, 135, Justiça 35, 51, 58, 63, 121, 128, 129, 130, 131, 132,
143, 161, 162, 163, 164, 165, 182, 183, 184, 133, 134, 135, 136, 137, 138, 139, 140, 148,
194, 195, 201, 209, 210, 211 150, 162, 163, 181, 195, 198, 199, 200, 201,
Competência 31, 91, 97, 152, 153, 198, 199, 200, 202, 203, 205, 206, 207, 208, 226
201, 202, 204, 205, 207, 208, 209 Justiça 3, 7, 8, 57, 59, 61, 127, 129, 131, 133, 134,
Constitucionalismo 14, 15, 20, 23, 24, 25, 26, 27, 135, 137, 139, 141, 197, 199, 201, 203, 205,
28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 48 207, 209
Constituição 14, 20, 21, 22, 23, 25, 26, 28, 29, 30, L
31, 32, 33, 36, 44, 52, 53, 55, 58, 60, 61, 75, 85,
86, 87, 92, 97, 98, 102, 103, 114, 118, 120, 123, Lei 84, 86, 89, 90, 91, 94, 96, 103, 104, 105, 106,
144, 150, 152, 153, 154, 155, 157, 158, 163, 107, 109, 110, 111, 114, 115, 119, 122, 123,
187, 189, 193, 194, 198, 199, 200, 201, 205, 124, 126, 132, 136, 144, 145, 147, 148, 149,
207, 208, 209, 213, 215, 223, 224 150, 155, 158, 159, 164, 168, 169, 170, 178,
198, 201, 203, 205, 206, 207, 209, 215, 220,
D 222, 223, 224, 225
Diálogos 4, 16 Lucrativos 85, 88, 89, 90, 92, 94, 97, 135
Dignidade 22, 26, 42, 52, 53, 54, 55, 86, 110, 118, M
119, 120, 123, 125, 129, 136, 212, 214, 215,
216 Mérito 8, 181
Direito 7, 51, 53, 55, 57, 59, 61, 83, 85, 87, 89, 91, Mulheres 15, 26, 102, 103, 104, 105, 106, 108, 109,
93, 95, 97, 99, 200, 207 110, 112, 113, 114, 115, 123, 144, 148, 149,
150
E
N
Educação 28, 52, 53, 54, 55, 85, 87, 88, 97, 106, 109,
118, 123, 150, 212, 213, 215, 216 Neoconstitucionalismo 14, 22, 26, 33, 34, 48, 49
F O
Federal 33, 36, 44, 51, 58, 61, 75, 84, 85, 86, 92, 97, Objeto 39, 42, 46, 48, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71,
98, 101, 102, 103, 104, 105, 106, 107, 108, 111, 72, 73, 74, 76, 77, 78, 79, 80, 121, 130, 164,
112, 113, 114, 115, 120, 123, 137, 140, 144, 168, 169, 172, 178, 186, 193, 194, 198, 222
148, 150, 152, 153, 154, 155, 157, 158, 161,
162, 163, 165, 187, 189, 193, 194, 198, 199, Ordenamento 20, 22, 23, 25, 26, 47, 52, 53, 54, 59,
200, 202, 205, 207, 208, 209, 215, 216, 219, 61, 65, 66, 71, 76, 79, 102, 104, 106, 107, 108,
223 109, 111, 112, 113, 114, 118, 123, 124, 144,
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JUSTIÇA: DIÁLOGOS INTER-
DISCIPLINARES
228
Pessoa 22, 26, 42, 52, 53, 54, 60, 68, 73, 86, 89, 90,
107, 110, 118, 119, 120, 123, 125, 132, 144,
146, 147, 148, 149, 154, 155, 170, 171, 198,
199, 202, 204, 205, 212, 214, 215, 225
Poder 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 26, 29, 30, 31, 34,
36, 41, 42, 43, 45, 55, 58, 59, 71, 72, 74, 77,
96, 104, 107, 108, 118, 119, 120, 124, 125, 144,
182, 190, 191, 194, 198, 225
Política 15, 17, 18, 19, 20, 21, 24, 26, 27, 29, 31, 33,
37, 38, 39, 85, 86, 89, 94, 96, 103, 104, 105,
106, 107, 109, 110, 113, 114, 134, 175, 179,
216
Princípio 41, 42, 78, 80, 92, 103, 104, 107, 109, 110,
119, 120, 121, 123, 125, 129, 144, 145, 149,
153, 155, 156, 162, 182, 183, 184, 185, 186,
187, 188, 189, 190, 191, 192, 193, 194, 195,
199, 207, 209, 212
Prisão 8, 143, 145, 147, 149
Processo 7, 35, 37, 39, 41, 43, 45, 47, 49, 63, 65, 67,
69, 71, 73, 75, 77, 79, 81
Público 35, 55, 63, 65, 66, 73, 74, 77, 84, 85, 86, 87,
88, 89, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98, 102, 107,
108, 171, 181, 202, 206, 223
Regras 23, 32, 38, 41, 44, 60, 72, 74, 111, 125, 133,
156, 183, 184, 185, 186, 187, 188, 189, 190,
191, 192, 198, 199, 203, 204, 208
Saúde 7, 8, 83, 85, 87, 89, 91, 93, 95, 97, 99, 167,
169, 171, 173, 175, 177, 179, 183, 185, 187,
189, 191, 193, 195
Serviços 31, 86, 87, 88, 89, 90, 92, 93, 94, 95, 97,
153, 168, 169, 170, 172, 174, 177, 200, 208,
220, 221, 222, 223, 224, 225, 226
Sociedade 15, 16, 20, 29, 31, 32, 33, 38, 53, 60, 65,
67, 84, 85, 87, 90, 98, 102, 103, 106, 107, 110,
113, 118, 119, 120, 123, 128, 129, 130, 132,
133, 134, 135, 136, 138, 149, 169, 171, 213,
215, 216, 220
Vida 15, 16, 19, 43, 54, 58, 65, 67, 86, 118, 119, 120,
121, 122, 124, 125, 136, 144, 154, 155, 163,
201, 202, 205, 209, 212, 213, 215, 216