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Amartya Sen
COMITÊ EDITORIAL
Organizadores:
Neuro José Zambam
Henrique Aniceto Kujawa
Diagramação: Marcelo A. S. Alves
Capa: Carole Kümmecke - https://www.conceptualeditora.com/
Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8: Escolhas Sociais, Políticas Públicas e Desenvolvimento [recurso eletrônico] / Neuro
José Zambam; Henrique Aniceto Kujawa (Orgs.) -- Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2020.
340 p.
ISBN - 978-65-5917-005-0
DOI - 10.22350/9786559170050
1. Direito, 2. Direitos fundamentais, 3. Estado, 4. Jurisdição. 5. Filosofia do direito I. Título. II. Série
CDD: 340
Índices para catálogo sistemático:
1. Direito 340
Sumário
Apresentação .............................................................................................................11
Neuro José Zambam
Henrique Kujawa
1 ................................................................................................................................ 14
Amartya Sen: abordagem introdutória sobre escolhas coletivas e sociais
Neuro José Zambam
Janine Taís Homem Echevarria Borba
2 ............................................................................................................................... 28
The problem of minimal wage in Poland on the background of other european legal
systems in the context of Amartya Sen
Karol Ryszkowski
3 ............................................................................................................................... 42
Vacinas e escolha social: uma perspectiva pela teoria das titularidades
Fabrício Pontin
4............................................................................................................................... 58
Espacio natural, capacidades y política social
Belinha Herrera
Diego Hernandez
5 ................................................................................................................................ 75
Desarrollo sostenible y enfoque de las capacidades desde una perspectiva de género:
Contribuciones de las teorías de Amartya Sen y Martha C. Nussbaum
Alina Celi Frugoni
6............................................................................................................................... 92
A segregação espacial como limitador de desenvolvimento na perspectiva de Amartya
Sen: estudo de caso de Passo Fundo/RS – Brasil
Pricila Spagnollo
Sandrini Birk Belo
Henrique Kujawa
Caliane Almeida
7 ...............................................................................................................................113
A ausência de proteção aos trabalhadores que prestam serviços por meio de
plataformas e a necessidade de mudanças estruturais na proteção social
Nelson Martins da Silva Neto
Zélia Luiza Pierdoná
8 ............................................................................................................................. 130
La satisfaccion con la democracia: Revisando el concepto desde la propuesta de
Amartya Sen
Graciela Tonon
9.............................................................................................................................. 139
Movimentos migratórios e a proteção humanitária migratória: um olhar necessário
para a proteção da condição de agente dos migrantes
Karoline Izaton
José Carlos Kraemer Bortoloti
10 ............................................................................................................................ 162
Amartya Sen: economia e desigualdade
Luana Paula Lucca
Tatiana Aparecida Pedro Knack
11 ............................................................................................................................. 176
Amartya Sen e a escolha social
Sandro Fröhlich
12 ............................................................................................................................ 198
Pensar a justiça social e o desenvolvimento no contexto latino americano
Anna Paula Bagetti Zeifert
Vitória Agnoletto
Anna Júlia Bandeira Ceccato
13 ............................................................................................................................ 214
Educação e justiça social como instrumentos para a promoção da sustentabilidade
Fernanda Gewehr de Oliveira
Cleusa Maria Rossini
Daniel Rubens Cenci
14 ............................................................................................................................ 227
Tribunais de contas como ferramenta informacional para o aperfeiçoamento das
escolhas sociais em Amartya Sen
Francisco Clayton Brito Júnior
André Studart Leitão
Talita Cavalcante Timbó
15 ............................................................................................................................ 241
Cidadania virtual: o enfrentamento das capabilidades em tempos de pandemia
Vinícius Francisco Toazza
Leonardo Tozzo Cominetti
16 ............................................................................................................................265
A ideia de justiça: vidas que a almejam
Daniela Welter
Thami Covatti Piaia
17 ........................................................................................................................... 278
A violência escolar na perspectiva de alunos dos anos finais do ensino fundamental
de uma escola pública e suas implicações para o desenvolvimento como liberdade
Livia Aquino Alves
Daniela de Figueiredo Ribeiro
18 ........................................................................................................................... 299
Os dados pessoais e Amartya Sen: a correlação entre o livre desenvolvimento da
personalidade e as liberdades substantivas
Salete Oro Boff
Wellinton Silva Gnoatto
19 .............................................................................................................................311
Accountability e transparência a partir da Lei de Acesso à Informação: contribuições
de Amartya Sen
Dionis Janner Leal
20............................................................................................................................ 325
Liberdade, desenvolvimento e os fundamentos da justiça: O encarceramento como
uma política utilitarista do Estado brasileiro
Jéssika Saraiva de Araújo Pessoa
Thaynná Batista de Almeida
Lorena de Melo Freitas
Apresentação
Amartya Sen:
abordagem introdutória sobre escolhas coletivas e sociais
1 Introdução
1
Pós-doutor em Filosofia na Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. Doutor em Filosofia pela PUCRS.
Professor do Programa de Pós-Graduação em Direito da Faculdade Meridional - IMED – Mestrado. Professor do
Curso de Direito (graduação e especialização) da Faculdade Meridional – IMED de Passo Fundo. Membro do Grupo
de Trabalho, Ética e cidadania da ANPOF (Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Filosofia). Pes-
quisador da Faculdade Meridional. Líder do Grupo de Estudo, Multiculturalismo e pluralismo jurídico. Coordenador
do Centro Brasileiro de Pesquisa sobre a Teoria da Justiça de Amartya Sen: interfaces com direito, políticas de desen-
volvimento e democracia. E-mail: neuro.zambam@imed.edu.br; neurojose@hotmail.com.
2
Mestre em Direito, Democracia e Sustentabilidade – IMED; Graduada em Direito pela IMED. Pós-graduada em
Psicomotricidade Relacional pelo La Salle/Canoas. Pós-graduada em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela
FEEVALE/Novo Hamburgo.. Pós-graduanda em Direito Civil e Processo Civil pela Faculdade IMED. Beneficiária da
Taxa PROSUP/CAPES vinculado ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito – IMED - 2018-2020;
Membro do Grupo de Estudo – Direitos Culturais e Pluralismo Jurídico. E-mail: janinehomemborba@gmail.com
Neuro José Zambam; Janine Taís Homem Echevarria Borba | 15
3
Uma visão mais completa sobre essa temático pode ser encontrada em: ZAMBAM, Neuro José; OLIVEIRA, Ricardo
de Almeida de. O LIBERALISMO POLÍTICO DE JOHN RAWLS: a missão de educar a juventude para a democracia no
Séc. XXI. Quaestio Iuris. Vol. 10, nº. 03, Rio de Janeiro, 2017. pp. 1500-1516 DOI: 10.12957/rqi.2017.25623.
Neuro José Zambam; Janine Taís Homem Echevarria Borba | 17
4
Para uma visão mais ampla dessa problemática na Índia dispomos do acesso à matéria jornalística: CHOTTINER,
Issac. Esperanças e medos de Amartya Sen pela democracia indiana. Entrevista publicada na Revista New Yorker em
06 out. 2019. Disponível em: https://www.newyorker.com/news/the-new-yorker-interview/amartya-sens-hopes-
and-fears-for-indian-democracy. Acesso em 20 jul. 2020.
Neuro José Zambam; Janine Taís Homem Echevarria Borba | 19
O tema da teoria das escolhas sociais é muito caro a Sen, seus estudos
nessa área de conhecimento foram motivadas pela obra de Arrow, “Social
Choice and Individual Values”, de 1951. Desde esse período Sen adquiriu
um gosto pela temática e não mais a abandonou. Para Sen a teoria da es-
colha social, pode estar relacionada diretamente com os aspectos racionais,
o que para alguns autores, os quais ele cita, é algo que não merece atenção.
Neuro José Zambam; Janine Taís Homem Echevarria Borba | 21
O que se verá neste item são as razões explicitadas por Sen para refutar as
teorias que são céticas em relação a uma visão racionalista da escolha so-
cial.
Tendo como objetivo empregar estratégias baseadas na razão para
fomentar as mudanças sociais, Sen analisa as três principais vertentes que
criticam essa ideia de que as mudanças sociais possam ser promovidas ex-
clusivamente por escolhas racionais.
5
Para uma visão mais abrangente ver: ZAMBAM, Neuro Jose; Baldissera, Wellington Antônio. Fake News e Demo-
cracia: uma análise a partir dos julgados do Tribunal Superior Eleitoral em 2018 e da visão de Amartya Sen. Revista
Jurídica Cesumar. 2019. Disponível em: https://docs.google.com/document/d/1sZLqD7jHhkD3bVZw
Xs1ddDtHb9Rq56ox/edit. Acesso em 19 nov. 2020.
Neuro José Zambam; Janine Taís Homem Echevarria Borba | 23
6
Paradoxo do voto é o exemplo dado por Sen para explicar o referido teorema. “Se uma pessoa 1 prefere a opção x à
opção y e prefere y a z, enquanto a pessoa 2 prefere y a z e prefere z a x, e a pessoa 3 prefere z a x e prefere x a y,
sabemos evidentemente que a regra da maioria levará a inconsistências. Em particular, x tem a maioria sobre y, que
por sua vez tem maioria sobre z, o qual tem maioria sobre x.”
24 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
7
Para uma compreensão mais ampla sobre a relevância das bases informacionais sugere-se: ZAMBAM, Neuro José.
Bases informacionais transparentes: vitalidade da democracia e da justiça social. Revista Novos Estudos Jurídicos
- Eletrônica, Vol. 22 - n. 2 - mai-ago 2017. Disponível em: https://www6.univali.br/seer/index.php/nej/arti-
cle/viewFile/10985/pdf. Acesso em 20 nov. 2020.
Neuro José Zambam; Janine Taís Homem Echevarria Borba | 25
entanto, não se pode deixar à própria sorte aspectos sociais relevantes para
a promoção de sociedades melhores (Sen, 2010, 324-327).
A tese de Adam Smith, de que o indivíduo é movido por uma “mão
invisível”, que faz com que ele chegue a um fim que não era sua intenção
inicial, é a que desencadeia a ideia de que nas relações econômicas cada
ator vai estar movido por interesses próprios, carreado por consequências
nem sempre desejáveis, mas que de certa maneira foi positivo. Sen dis-
corre que “o mais importante não é que algumas consequências sejam
impremeditadas, mas que a análise causal pode tornar os efeitos impre-
meditados razoavelmente previsíveis.” (SEN, 2010, p. 328).
Considerando essa perspectiva, pode-se refutar o fato de que a tese
das consequências impremeditadas seja contrária a ideia de uma reforma
racionalista, pois as ações sociais e econômicas podem prever alguns re-
sultados, o que leva ao planejamento tendo em conta aspectos importantes
que podem ocorrer frente às consequências impremeditadas.
Na terceira vertente, tem-se o papel dos valores sociais, relacionados
com o auto interesse, ou o bem-estar pessoal. A satisfação pessoal, é um
dos objetivos praticamente de todos os seres humanos, pois mesmo aquele
que diz que faz para colaborar com os demais, está de certa forma alimen-
tando sua satisfação pessoal, mesmo que o ganho não esteja mensurado
em valores econômicos, mas em valores morais.
Por isso, que o interesse pessoal é um meio motivacional para dife-
rentes ações em benefício próprio e alheio e um alerta que Sen faz a
respeito disso é acerca das organizações que têm interesse sociais e econô-
micos não levam em consideração esse aspecto pessoal e acabam não
alcançando o objetivo almejado.
4 Considerações finais
Referências
CHOTTINER, Issac. Esperanças e medos de Amartya Sen pela democracia indiana. Entre-
vista publicada na Revista New Yorker em 06 out. 2019. Disponível em:
https://www.newyorker.com/news/the-new-yorker-interview/amartya-sens-ho-
pes-and-fears-for-indian-democracy. Acesso em 20 jul. 2020.
DREZE, Jean; SEN, Amartya. Glória Incerta: A Índia e suas contradições. Tradução de Ri-
cardo Doninelli Mendes e Laila Coutinho. São Paulo: Companhia das Letras: 2015.
SEN, Amartya. Escolha coletiva e bem-estar social.Tradução Ana Nereu Reis. Coimbra:
Almedina, 2018.
SEN, Amartya. A ideia de justiça. Tradução de Denise Bottmann e Ricardo Doninelli Men-
des. São Paulo, Companhia das letras, 2011.
Neuro José Zambam; Janine Taís Homem Echevarria Borba | 27
ZAMBAM, Neuro Jose; Baldissera, Wellington Antônio. Fake News e Democracia: uma aná-
lise a partir dos julgados do Tribunal Superior Eleitoral em 2018 e da visão de
Amartya Sen. Revista Jurídica Cesumar. 2019. Disponível em: https://docs.goo-
gle.com/document/d/1sZLqD7jHhkD3bVZwXs1ddDtHb9Rq56ox/edit. Acesso em 19
nov. 2020.
2
Karol Ryszkowski 2
As part of the work on the assumptions of the draft budget act for
2021, the government proposed freezing wages in the public/budgetary
sector. The Lewiatan Confederation, like most of the social partners in the
Social Dialogue Council, appeals to the government to verify the initial po-
sition and increase the salaries of budgetary sector employees. The
government has proposed an average annual growth rate of wages in the
state budget sector in 2021 of 100%, which in practice means a wage fre-
eze. There is a considerable inconsistency in this position because if we
can afford to raise the minimum wage from PLN 2,600 to PLN 2,800 in
2021, the level of wages in the budget will dangerously approach the mi-
nimum wage. If during the crisis the government proposes a sharp
1
Has a postdoctoral degree in Banking Law at the Faculty of Law and Administration at the Jagiellonian University,
under the auspicies of the President of the Narodowy Bank Polski. PhD in Legal Studies – the field of Private business
law granted by the Resolution of the Council of the Faculty of Law and Administration at the Jagiellonian University
of 26th March 2018 on the basis of the doctoral dissertation entitled The procedural public policy clause in the Polish
commercial arbitration law in relation to other legal systems (C.H. Beck, Warsaw 2019), supervisor Professor Andrzej
Szumański, Ph.D., full professor of the Jagiellonian University. From 1st October 2018 to the present time Assistant
professor at the Department of Civil, Economic and International Private Law, Institute of Law, Cracow University
of Economics. Lawyer at the civil law notary office for many years. Emails: karol.ryszkowski@uek.krakow.pl ;
ryszkowskikarol@gmail.com
2
Assistant professor at the Department of Civil, Economic and International Private Law, Institute of Law, Cracow
University of Economics, Poland
Karol Ryszkowski | 29
increase in the minimum wage, the more it is worth asking for the inde-
xation of salaries in the budgetary sphere. Low wages in the budgetary
sector limit the already ineffective system of public services. The Lewiatan
Confederation proposes that the wage growth rate should reach 110%.
Wages in the budgetary sector have been inhibited for years, which wor-
sens the situation in the public services sector every year, negatively
affecting their quality and causing the outflow of the best employees. The
problem of poor quality of public services is also highlighted by the Euro-
pean Council, recommending Poland to invest in this area3.
So as we can see the behavior of the Polish authorities seems to be
the behavior of Polish authorities in the field of earnings in the public/bu-
dgetary sphere does not take into account the recommendations of the
European Union.
Social partners and the government did not agree on the minimum
wage in 2021. The Lewiatan Confederation said that: Increasing the mi-
nimum wage will increase labor costs. Too high a minimum wage will
force the least productive people out of the legal labor market. We cannot
rule out a scenario in which we are driving almost entire industries or a
significant part of the local economy out of the labor market. The alterna-
tive is to pass the higher costs on to the consumer, which will result in
high inflation. Ultimately, an increase in the universality of informal work
in the shadow economy cannot be ruled out. With the current distribution
of wages in the economy, raising the minimum wage too quickly (PLN 716
over 4 years) causes wage compression, disrupting their informational
function. A slight difference between the salary of an employee performing
the simplest work under a code contract and a clerk or a nurse demotivates
people to work in difficult occupations, increasing the risk of mass emi-
gration and negative selection. Similar effects can be expected in less
developed areas, and thus systematically lower wages. In the discussions
on the minimum wage, there is an argument that we are striving for the
3
Konfederacja Lewiatan, Pracodawcy apelują do rządu o podwyżki dla budżetówki w 2021 roku, http://konfede-
racjalewiatan.pl/aktualnosci/2020/1/pracodawcy_apeluja_do_rzadu_o_podwyzki_dla_budzetowki_w_221_roku,
24.08.2020,
30 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
ratio of the minimum wage to the average in the economy at the level of
60%. The 50% proportion is already very high in the international ran-
kings4.
In this argumentation, it is seen the care of the public employees. Be-
cause their work affects the entire country, including the private sector.
The freezing of budgetary sector earnings could be caused by the si-
tuation related to the coronavirus pandemic, and in particular by aid
granted from public funds to private entrepreneurs.
To counteract the difficulties, the government prepared a plan of pu-
blic help for businesses, called the "Anti-crisis Shield" (Polish: Tarcza
antykryzysowa). The program was launched on 1 April 2020. It served to
maintain the financial safety of employees and the protection of jobs.
One of the forms was one-off benefits of circa 2000 PLN gross (80%
of monthly minimal wage) for self-employed and freelancers. This was es-
timated to affect around 2.2 million people.
Business finance measures include:
Public co-financing of employees' salaries up to 40% of the average
monthly wage, if working time has been reduced up to 20%, but no less
than working time for a half-time position.
But it should be noted that during lockdown many employees in the
private sector lost their jobs.
“The minimum wage in Polish is the lowest monthly or hourly re-
muneration that employers are legally allowed to pay their workers in
Poland. The sum is decided by the Polish government. In 2019, the Polish
government announced a sharp rise in the minimum wage from 2019's
2,250 zloty to 2,600 zloty (610,80 euro) in 2020…”5 and it was planned as
PLN 3,000 in 2021 and subsequent 10% increase per annum until 2024.
4
Konfederacja Lewiatan, Bez zgody w RDS. Lewiatan proponuje, aby płaca minimalna w 2021 roku wyniosła 2716
zł, http://konfederacjalewiatan.pl/aktualnosci/2020/1/bez_zgody_w_rds_lewiatan_proponuje_aby_placa_mini-
malna_w_221_roku_wyniosla_2716_zl, 24.08.2020,
5
Minimum wage in Poland, https://en.wikipedia.org/wiki/Minimum_wage_in_Poland, 25.08.2020,
Karol Ryszkowski | 31
Comparing the data about the minimum wage in the European coun-
tries the highest is in Switzerland (cantons of Jura and Neuchâtel) and the
lowest is in Moldova, according to Poland, my country is in the middle6.
According to the announcements of Prime Minister Mateusz Morawi-
ecki in September 2019, the minimum wage in Poland is to increase
gradually, until it reaches the level of PLN 4,000 gross on January 1, 20247.
According to this plan in 2021 will reach PLN 3000 gross, but as it was
written above this plan has changed due to the COVID-19 pandemic.
The minimum wage has its grounds in international law.
International Labour Organization on minimum wages, it has adop-
ted three conventions:
6
List of European countries by minimum wage, https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_European_countries_by_mi-
nimum_wage, 25.08.2020,
7
Płaca minimalna, https://pl.wikipedia.org/wiki/P%C5%82aca_minimalna, 25.08.2020,
8
Płaca minimalna, https://pl.wikipedia.org/wiki/P%C5%82aca_minimalna, 25.08.2020,
32 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
9
Płaca minimalna, https://pl.wikipedia.org/wiki/P%C5%82aca_minimalna, 25.08.2020,
10
Capability approach, https://en.wikipedia.org/wiki/Capability_approach, 28.08.2020,
11
G. Davidov, The Capability Approach and Labour Law: Identifying the Areas of Fit, Published in THE CAPABILITY
APPROACH TOLABOUR LAW(Brian Langille ed., OUP 2019)Ch. 2, http://www.labourlawresearch.net/sites/de-
fault/files/papers/The%20Capability%20Approach%20and%20Labour%20Law.pdf, p. 11, 31.08.2020,
Karol Ryszkowski | 33
level of resources will give different people the same opportunities and
abilities to reach their goals. Surely people with disabilities, or otherwise
detrimental conditions, will be able to do much less if given the same re-
sources. (…) Ronald Dworkin attempted to rectify this problem with his
scheme for redistribution to compensate for brute bad luck, (…) and luck
egalitarians later suggested a shift of focus to ‘opportunity for welfare,’ or
‘access to advantage.’ (…) Sen offered a different solution. He argued that
we should focus on ‘capabilities’ instead of resources. What’s important
for people is effective, real freedom to pursue their plans of life. Sen des-
cribed our needs and wants as ‘functionings,’ and drew attention to the
importance of capabilities to achieve these functionings”12.
“He supports equality of capabilities only in the ‘sufficientarian’
sense: ensuring that everyone has a set of basic capabilities”13.
As Amartya Sen said, on the one hand, the role state is to provide its
citizens with at least a minimum income, on the other hand, influencing
the price in a way that ensures the continuity of the exchange goods, for
example in the form of compensation for losses after natural disasters food
producers14.
The concepts such as the minimum wage are contrary to the indivi-
dual approach and so to the Sen’s concept of „functionings”.
“I have tried to argue for some time now that for many evaluative
purposes, the appropriate “space” is neither that of utilities (as claimed by
welfarists), nor that of primary goods (as demand by Rawls), but that of
the substantive freedoms – the capabilities – to choose a life one has reason
to value”15.
12
G. Davidov, The Capability Approach and Labour Law: Identifying the Areas of Fit, Published in THE CAPABILITY
APPROACH TOLABOUR LAW(Brian Langille ed., OUP 2019)Ch. 2, http://www.labourlawresearch.net/sites/de-
fault/files/papers/The%20Capability%20Approach%20and%20Labour%20Law.pdf, p. 1, 31.08.2020,
13
G. Davidov, The Capability Approach and Labour Law: Identifying the Areas of Fit, Published in THE CAPABILITY
APPROACH TOLABOUR LAW(Brian Langille ed., OUP 2019)Ch. 2, http://www.labourlawresearch.net/sites/de-
fault/files/papers/The%20Capability%20Approach%20and%20Labour%20Law.pdf, p. 2, 31.08.2020,
14
A. Hartleb, Poglądy A. Sen`a na rozwój społeczny i wolność jednostki, Studia Ekonomiczne Prawne i Adminis-
tracyjne, Nr 1/2017, p. 46,
15
A. Sen, Development as freedom, p. 74.
34 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
16
A. Sen, Development as freedom, p. 75.
17
Basic income, https://en.wikipedia.org/wiki/Basic_income, 25.08.2020,
18
A. Sasi, Universal Basic Income: The ‘money for nothing’ idea, https://indianexpress.com/article/explained/sim-
ply-put-the-money-for-nothing-idea-sikkim-universal-basic-income-scheme-what-is-5532728/, 21.08.2020,
19
A. Gupta, Amartya Sen: Granting basic income to all may lead to more privatization, https://indianexpress.com/ar-
ticle/cities/kolkata/amartya-sen-universal-basic-income-ashok-rudra-memorial-lecture-5536609/, 21.08.2020,
Karol Ryszkowski | 35
20
A. Gupta, Amartya Sen: Granting basic income to all may lead to more privatization, https://indianex-
press.com/article/cities/kolkata/amartya-sen-universal-basic-income-ashok-rudra-memorial-lecture-5536609/,
21.08.2020,
21
A. Payne, Niemcy testują uniwersalny dochód podstawowy. 1200 euro miesięcznie za nic przez trzy lata,
https://businessinsider.com.pl/twoje-pieniadze/budzet-domowy/uniwersalny-dochod-podstawowy-testowany-
przez-niemcy/hh2g5m8, 29.08.2020,
22
A. Payne, Germany is beginning a universal-basic-income trial with people getting $1,400 a month for 3 years,
https://www.businessinsider.com/germany-begins-universal-basic-income-trial-three-years-2020-8?IR=T,
22.08.2020,
36 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
idea has gained traction in recent years amid financial crises and growing
inequality in some Western countries”23.
In this experiment, we can see some inequality because of different
numbers of people with and without universal basic income. These num-
bers should be equal. How they can prevent inequality when they start
with selectable inequality (not the objective, existing one) from the begin-
ning?
The interest in German society is seen because of the foundation of
the experiment universal basic income was gathered through private do-
nations.
Such an experiment was done in Finland. But I can say that people
who had got UBI wasn’t representative because they were not for the
whole society but they were selected only form jobless people. The experi-
ment was introduced in the amount of 2000 jobless people in Finland and
they weren’t compared to people with jobs.
“Giving jobless people in Finland a basic income for two years did not
lead them to find work, researchers said.
From January 2017 until December 2018, 2,000 unemployed Finns
got a monthly flat payment of €560 (£490; $634).
The aim was to see if a guaranteed safety net would help people find
jobs, and support them if they had to take insecure gig economy work“24.
So if another country wants in the future to test the universal basic
income I can propose some guidelines.
First of all, it should be noted by researchers what they want to rese-
arch by testing the universal basic income in practice (the aims). Only one
aspect like in Finland or maybe they want to try to realize Sen’s conception
of functionings.
23
A. Payne, Germany is beginning a universal-basic-income trial with people getting $1,400 a month for 3 years,
https://www.businessinsider.com/germany-begins-universal-basic-income-trial-three-years-2020-8?IR=T,
22.08.2020,
24
A. Nagesh, Finland basic income trial left people 'happier but jobless', https://www.bbc.com/news/world-europe-
47169549, 22.08.2020,
Karol Ryszkowski | 37
25
D. Szymański, Rekordowe 1,5 biliona złotych długu. Oto prawdziwy obraz finansów Polski, https://businessinsi-
der.com.pl/finanse/makroekonomia/najwyzszy-dlug-publiczny-w-historii-polski-na-2021-r-15-biliona-
zlotych/9jjwvcf, 29.08.2020,
26
Ministerstwo Finansów o zadłużeniu Skarbu Państwa, https://www.onet.pl/informacje/onetwiadomosci/minis-
terstwo-finansow-o-zadluzeniu-skarbu-panstwa/neb42bz,79cfc278, 29.08.2020,
27
Do przedsiębiorców trafiło już 40 mld zł w ramach tarczy antykryzysowej, https://biznes.gazetaprawna.pl/ar-
tykuly/1478405,emilewicz-tarcza-antykryzysowa-pomoc-dla-przedsiebiorcow.html, 29.08.2020,
28
A. Nagesh, Finland basic income trial left people 'happier but jobless', https://www.bbc.com/news/world-europe-
47169549, 22.08.2020,
38 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
the 90’s. One of the postulates in my city is free public transport for resi-
dents, while the local authorities prefer to allocate money for other
purposes, e.g. concerts and events. You can see a similarity to ancient
Rome and the Roman saying - bread and circuses.
So as we can see the universal basic services is not adopted in Poland
as well. Now when privatization went so far is too late to made all these
things free, for example some people have their own transport companies.
Regardless of whether it would be for the benefit of society or not.
Personally I think the universal basic services is better idea than uni-
versal basic income because in this case people do not have flexibility in
spending money but they receive goods which objectively good for
everyone. The easiest way to provide it is when one state is transforming
from communism or socialism to capitalism, but as the history taught in
these countries capitalism in provided without restrictions with further
repercussions like in Poland – the wild capitalism as we named it in Po-
land. I have to add that in few years back situation in Poland is changing,
because the rulers have the welfare state as their model. But as I told you
in my previous speeches the problem with Polish social program, i.e. 500+
plus program, is that there is no control on which aim the money are
spent. Other countries like Belarus should take this lesson in mind and if
they want to be more capitalistic, In my opinion, universal basic services
should guaranteed.
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Fabrício Pontin 1
Introdução
1
Professor - Universidade LaSalle, Escola de Direito e Política/PPG em Educação PhD (Philosophy), Southern Illinois
University | Institute of International Education Fellow (2008-2012), fabricio.pontin@unilasalle.edu.br.
2
Para fins de praticidade, usarei a designação COVID-19, e não farei referência ao vírus que causa a doença (Sars-
Cov-2) neste artigo.
Fabrício Pontin | 43
dois atores individuais. Esse ponto, como veremos, é essencial para a ins-
trução de atores públicos envolvidos na tomada de decisão sobre bens
sociais e titularidades fundamentais (tanto no nível individual quanto mis-
tas e sociais).
Ao trazer a questão das titularidades fundamentais já antecipo o se-
gundo ponto do meu artigo, que tenta trazer o debate sobre titularidades
partindo da distinção proposta por Calabresi e Melamed (1972) entre titu-
lariedades alienáveis, inalienáveis e regras de propriedade e
responsabilidade na manutenção, reparação e compensação no que tan-
gem titularidades individuais, mistas e sociais. No entanto, o modelo
proposto por Calabresi e Melamed não é suficiente para meu propósito
nesse artigo. Na realidade, creio que a proposta de compensação e prote-
ção no artigo seminal de 1972, não obstante a elegância das interações
propostas no artigo, sofre com algumas das limitações apontadas por Ar-
row sobre equilíbrios Pareteanos e pode se beneficiar tanto da
compreensão mais radical de titularidades sociais proposta por Nussbaum
(2003; 2006) quanto da crítica de Sen ao uso de modelos Pareteanos para
avaliação de prioridades sociais (1970).
Em última medida, esse artigo busca contribuir em dois níveis. Pri-
meiro, gostaria de apontar para a necessidade de maior complexificação
da nossa discussão sobre escolhas individuais e escolhas sociais, sobretudo
sobre como pensamos a relação causal entre a legitimidade de escolhas se
e apenas se preservamos algum grau de livre-arbítrio libertário de agentes
em uma condição de escolha individual “pura”, ou seja, sem quaisquer
condicionamentos ou limitações sociais e políticas para o ato de escolha.
Segundo, gostaria de tentar apontar para o caráter da vacinação ou da “ti-
tularidade do direito de ser vacinado” como um tipo de titularidade que é
ao mesmo tempo inalienável e de exercício coletivo. Como veremos, isso
coloca a titularidade da prerrogativa de ser vacinado como um bem de
gestão complexa do ponto de vista político, na medida que a titularidade
deste direito só pode ser de fato garantida na medida que todos nossos
pares sociais têm o direito garantido ao mesmo tempo que nós. Isto traz
44 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
- pessoas escolhem;
Fabrício Pontin | 45
Pois bem, estes dois primeiros pontos são aparentemente óbvios. Ar-
row simplesmente indica que qualquer pessoa que pretenda ser tomada
como um agente racional deve agir como um agente capaz de fazer esco-
lhas e se manter consistente sobre suas escolhas. No entanto, preciso fazer
algumas observações sobre como Arrow está entendendo esta relação. Ve-
jam, quando dizemos que pessoas escolhem, ranqueiam e são consistentes
sobre escolhas estamos falando da declaração de uma preferência ou de
um comportamento individual?
De fato, Arrow adota uma perspectiva nominalista no que tange a
escolha, ranqueamento e consistência das preferências. Neste sentido, o
individuo tem uma relação solipsista com bens idealizados, que são ran-
queados e considerados desde uma perspectiva de primeira pessoa.
Permitam-me ilustrar isso com um exemplo: temos aqui João respon-
dendo um questionário com três perguntas sucessivas, a primeira
pergunta é sobre qual bem ele gostaria de consumir, vamos presumir,
nesse caso, que João responda que gostaria de consumir uma fruta. A per-
gunta seguinte pede para João ranquear, de primeiro a terceiro lugar, suas
frutas favoritas, ao que João responde “1) Laranja; 2) Limão; 3) Pêssego”.
Finalmente, perguntamos para João se, diante da possibilidade de consu-
mir Limão, Pêssego e Laranja, todas as coisas sendo as mesmas, qual fruta
ele iria consumir? Nesse ponto, esperamos que João responda “Laranja”,
e, diante dessa resposta estamos prontos para confiar em João enquanto
um agente racional em um nível básico.
Vejam, no nosso exemplo João não está vendo quaisquer uma dessas
frutas. Ele apenas declara preferências em abstrato, de forma nominal, a
respeito de alguns bens. Mas nossa expectativa a partir dessa preferência
declarada irá impactar, ao menos para Arrow, a organização de um sis-
tema de garantias de prerrogativas e titularidades factuais em nível social.
Isso é porque Arrow vê nesta declaração de preferências individuais uma
46 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
Arrow passa boa parte do seu artigo mostrando que dentro dessas
condições, que são condições que ele adota como condições de “livre-mer-
cado” ou de “não-intervenção”, não é possível, matematicamente, a
passagem de um estado de escolha individual para um estado de escolha
social. Basicamente, Arrow indica a impossibilidade de uma função de es-
colha social que, ao agregar apenas vontades individuais, acabe como uma
escolha de “bem-estar” geral.
Nesse ponto, podemos, em alguma medida, dentro do modelo do Ar-
row, pensar o problema das vacinas e ilustrar a impossibilidade de escolha
social: basicamente, é impossível determinar uma escolha social para a va-
cina partindo apenas de escolhas individuais — isso é porque em alguma
medida iremos violar ou a regra de não-imposição, ou a regra de não-di-
tadura, ou a regra de universabilidade, ou a regra de superveniência, ou a
regra de single-peak Pareto.
Partindo de um exemplo com apenas duas pessoas, Manu e Lucca.
Manu tem uma excelente alimentação, tem uma saúde excelente, faz exer-
cícios frequentemente, e acredita que vacinas têm componentes
cibernéticos que irão causar infertilidade e demência vascular e, por isso,
sustenta que detém a prerrogativa de negar-se a tomar uma vacina. De
outro lado, temos Lucca. Lucca não cuida da própria alimentação, é diabé-
tico, não pratica exercícios, e acredita que vacinas são excelentes meios de
evitar propagação de doenças crônicas. Se pensamos em termos estritos
de escolha individual, pode ser possível fazer uma equivalência entre todas
as escolhas listadas acima: Manu pode seguir se alimentando bem, fazendo
exercícios, com saúde perfeita, e negando-se a tomar a vacina, e Lucca
pode seguir se alimentando terrivelmente, sem fazer exercícios, e com
uma condição crônica, e tomar sua vacina, correto?
No entanto, a questão é um pouco mais complexa que uma simples
escolha individual de Lucca e Manu no que tange a vacina. Isso é porque a
vacina não é uma prerrogativa que se esgota na ação individual de Lucca
ou Manu. De fato, ao pensarmos no grupo de pessoas que Manu e Lucca
48 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
Duda quer correr na Orla e tomar uma cerveja com o Jorge na Lima e Silva
no final da noite, e não acredita em vacinas. Esses interesses, no entanto,
são indissociáveis dos contextos em que Duda, Matheus, Jorge e até a Manu
estão colocados. Os interesses deles não ocorrem desde uma perspectiva
hipotética (como queria Rawls, uma perspectiva que Sen vai chamar mais
tarde de “institucionalismo transcendental”) nem desde uma perspectiva
puramente auto-interessada e que pode ser reduzida a uma transição for-
mal de interesses individuais para interesses sociais (essa é a perspectiva
do “tolo racional”, que é como o Sen está delicadamente chamando Ar-
row), na realidade, esses interesses estão em um nexo de condições de
escolha marcadas por uma sobreposição de sentimentos morais e condi-
ções de escolhas sociais que são previamente dadas (e sobre as quais
apenas as vezes nossos amigos Porto-Alegrenses tiveram agência).
Daí a conclusão de Sen sobre a relativa superficialidade no foco de
análise na escolha individual — precisamos falar, antes disso, das condi-
ções de escolha dos indivíduos, isto é, quais são as condições institucionais,
públicas, onde eles estão inseridos para escolher. A perspectiva sobre o
“bem social” e a “preferência individual” é conectada com o contexto de
escolha, com como você está quando você está escolhendo. Mesmo emo-
ções supostamente positivas, como empatia, “senso de comunidade” e
amor, por exemplo, nesse contexto, podem ser confundentes para a cria-
ção e avaliação de escolha (empatia e amor são ótima sensações, mas
podem nos levar a fazer merda do ponto de vista público, especialmente
se estamos escolhendo “sem rede”).
Este último ponto é desenvolvido sobretudo por Nussbaum, e no re-
torno que Nussbaum faz ao trabalho de Stuart-Mill, para mostrar que já
na Economia Política de Mill, a relação sobre a qualidade da escolha indi-
vidual já é profundamente dependente do desenvolvimento institucional
público que dá apoio para o fomento de emoções morais informadas por
um comprometimento público — daí a insistência da Nussbaum na pers-
pectiva Milliana para educação, com todas as indiossincrasias do modelo.
De novo, não podemos pensar em escolhas individuais antes de avaliar
50 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
II
III
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4
Belinha Herrera 1
Diego Hernandez 2
1
Abogada, Candidata a Doctor en Derecho – Universidad Externado de Colombia, Magister en Derecho de la Univer-
sidad del Norte. Director de Programas en Extensión y a Distancia de la Universidad de la Costa- Investigadora Senior
Colciencias de la Universidad de La Costa. Par Académico del Ministerio de Educación Nacional. E-mail: bher-
rera3@cuc.edu.co. orcid.org/0000-0002-5974- 7040.
2
Abogado, Doctor en Filosofía del derecho – Universidad católica de Lovaina UCL, Magíster en Filosofía – Universidad
Nacional de Colombia. Investigador y profesor de tiempo completo de la Universidad de la Costa . Consultor en
políticas públicas sociales gubernamentales – metodología e implementación. E-mail: dhernand47@cuc.edu.co. or-
cid.org/0000-0002-4475-9487.
3
En una reflexion que recoge la critica del joven Marx de los derechos como abstraccón legal, Nussbaum concluye
que “the central task of the city will, then, be to give its people (all the ones who can lead such lives, in the sense of
B-capability) the conditions of fully human living: living in which the essential functionings according to reason will
be available. This means, don't just give out food and allow people to "graze": make it possible for people to choose
to regulate their nutrition by their own reason. Don’t just take care of their perceptual needs in a mechanical way,
producing a seeing eye, a hearing ear, etc, Instead, make it possible for people to use their bodies and their senses in
a truly human way. And don't make all this available in a minimal way: make it possible to do these things well.”
(Nussbaum, 1987, 49).
4
“Quando se pode considerar uma sociedade justa? A proposta de Sen não se limita à avaliação do acesso aos bens,
a uma determinação quantitativa, ao aparato legal ou ao funcionamento das instituições. Primeiramente, elege a
democracia como um valor e uma das maiores conquistas da humanidade e apresenta mecanismos e instituições não
dependentes de líderes, corporações ou burocratas, mas inteiramente permeada por formas de participação, decisão
Belinha Herrera; Diego Hernandez | 59
e informação capazes de alcançar a todos os membros de uma sociedade e transformar profundamente as relações.
As capacidades humanas são uma condição fundamental para que as pessoas tenham condições de proceder aos atos
de escolha e buscar a efetivação dos seus objetivos. A ausência ou negação das capacidades compromete negativa-
mente a realização das expectativas de uma pessoa, a satisfação e o preenchimento das necessidades mais
importantes e a respectiva integração no grupo social, com os demais, entre outras dimensões.”
5
“Martha Nussbaum’s list of the 10 central capabilities contains the most plausible account of valuable functionings
that we have” (Wenar, 2020)
60 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
6
“The aim of political planning is the distribution to the city's individual people of the conditions in which a good
human life can be chosen and lived. This distributive task aims at producing capabilities. That is, it aims not simply
at the allotment of commodities, but at making people able to function in certain human ways” (Nussbaum, 1987, 1).
7
“Amartya Sen’s critique of the concept of need and his case for the superiority of capability as a measure of advan-
tage have been highly influential.” (Fardell, 2020, 263).
Belinha Herrera; Diego Hernandez | 61
“people seem to have very different needs varying with health, longevity, cli-
matic conditions, location, work conditions, temperament, and even body size.
… So what is being involved is not merely ignoring a few hard cases, but over-
looking very widespread and real differences” (Sen 1980: 215–216).
8
“The capability approach explicitly aims at providing an alternative to normative views that rely exclusively on
mental states in their evaluative exercises… Sen is concerned not only with the information that is included in a
normative evaluation, but also with the information that is excluded. The non-utility information that is excluded by
utilitarianism includes a person's additional physical needs, due to being physically disabled for example, but also
social or moral principles, such as human rights or the specific principle that men and women should be paid the
same wage for the same work. For a utilitarian, these features of life and these principles have no intrinsic value.”
(Robeyns, 2016).
62 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
ESPACIO/AMBIENTE
funcionamientos logrables/functioning
a) Persona fín en sí misma (b) Libertad como desarrollo de (c) Desarrollo como libertad
capacidades
9
“No afirmo que la igualdad de la capacidad básica sea la única guía del bien moral. La moralidad, para empezar, no
se ocupa solo de la igualdad. Por otra parte, si bien sí afirmo que la igualdad de la capacidad básica tiene ciertas
ventajas claras sobre otros tipos de igualdad, no creo que los otros sean moralmente irrelevantes. La igualdad de la
capacidad básica es una guía parcial de la porción del bien moral que se ocupa de la igualdad. He intentado demostrar
que como guía parcial tiene sus virtudes que no poseen otras caracterizaciones de la libertad.” (Sen, 1982, 369).
64 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
AMBIENTE
funcionamientos logrables/functioning
(a)’ Libertad sustantiva (b)’ Basic capability equality (c)’ Libertad de elegir
Figura 2: Elaboración propia basado en Sen (1989), Choice, Welfare and Measurement
Belinha Herrera; Diego Hernandez | 65
Global commons
the developed countries take up an unequally large share of what are called
“the global commons” – the common pool of air, water and other natural space
that we collectively can share. (…) is a contemporary fact that has to be taken
into account in looking for a plausible contract about how to share the burdens
of environmental control among different countries today (Sen, 2010, 134).
10
Rauschmayer & Lessmann “argue for introducing ‘functioning constraints’ in order to protect the freedom of
others, including that of future people. By so doing point to the impact of an individual’s decision on others and
hence to individual responsibility for sustainable development. (Rauschmayer & Lessmann, 2013, 96).
Belinha Herrera; Diego Hernandez | 67
ESPACIO/AMBIENTE
funcionamientos logrables/functioning
(a) Persona fín en sí misma (b) Libertad como capacidad (c) Desarrollo como libertad
(a)’ Substantive freedom (b)’ Basic capability equality (c)’ Libertad de elegir
GENERACIONES FUTURAS
Elaboración propia.
del río, al cual se asigna una importancia ecológica y social. Los métodos
de pesca artesanal y las técnicas agropecuarias y constructivas ancestrales
se han adaptado a esta realidad física, lo mismo que las festividades y ce-
lebraciones se refieren y rinden culto al río. El cuidado del río comporta
una simbología espiritual y una gran importancia material y de intercam-
bio.
En el caso de la comunidad del río Yurumaguí se hace evidente cómo
el espacio/ambiente moldea las convicciones de vida buena y determina lo
que las personas tienen razones para valorar. Los determinantes ambien-
tales delimitan el alcance de los funcionamientos logrables, al punto que
las capacidades que tiene sentido desarrollar son aquellas que permiten a
la comunidad vivir de forma sostenible con y para el río. Por esta razón,
las autoridades tradicionales de la zona han priorizado la conservación del
ambiente natural y el ecosistema del río como elemento central de su
agenda organizativa.
Desde el punto de vista metodológico, la concepción del espacio mol-
dea el alcance de los funcionamientos logrables y, por lo mismo, determina
cuáles serían las capacidades cuyo desarrollo tendría un sentido específico
y contextual. En el caso examinado, la comunidad establece una relación
colectiva con el espacio, a través de la existencia de una autoridad étnica,
por lo cual las capacidades a desarrollar no son únicamente capacidades
individuales, sino fundamentalmente capacidades organizativas de la au-
toridad tradicional. Capacidades colectivas que, en virtud de la
importancia del ecosistema del río para la comunidad de Yurumanguí, re-
dundan en funcionamientos logrables ambientalmente sostenibles (Fig.
3).
Fig. 3 Modelo metodológico para el desarrollo de capacidades en la comunidad de Yurumanguí
ESPACIO/AMBIENTE
funcionamientos logrables/functioning
(a) Persona fín en sí misma (b) Libertad como ampliación de la (c) Desarrollo como libertad
capacidad
(a)’ Substantive freedom (b)’ Basic capability equality (c)’ Libertad de elegir
Belinha Herrera; Diego Hernandez | 69
GENERACIONES FUTURAS
Elaboración propia.
11
En virtud de esta dificultad metodológica, Susumu Cato ha propuesto adoptar un “enfoque interseccional exten-
dido.” “The intersection approach is a common method of overcoming a conflict among multiple values. Under this
approach, a state is more desirable than another if it is so for all criteria in question. A fundamental difficulty is that
judgment under the intersection approach lacks completeness in too many cases. We propose alternative methods
that extend the intersection approach: the union and union-intersection approaches. Our methods generate a (quasi-
)coherence judgment which is more completed and can be applied to most problems of ethical indices.” (Cato, 2020,
231).
Belinha Herrera; Diego Hernandez | 71
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issue 3, 511-536.
Yerkes M, Javornik J, Kurowska A (ed.), 2019, Social Policy and the Capability Approach,
Policy Press.
1. Introducción
1
Doctora en Derecho Ambiental (Universidad de Alicante). Profesora de Derecho Ambiental, (Universidad Interna-
cional Iberoamericana- UNINI. Universidad de la Empresa-UDE). alina.celi@gmail.com.
ORCID ID: 0000-0003-2587-0013.
76 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
Conclusiones
Referencias
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pp.311-328. In: https://revistas.uptc.edu.co/index.php/cenes/article/view/74. Ac-
ceso en 22.10.2020.
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In: https://unstats.un.org/sdgs/report/2020/goal-05/. Acceso en 08.11.2020.
6
Pricila Spagnollo 1
Sandrini Birk Belo 2
Henrique Kujawa 3
Caliane Almeida 4
1 Introdução
1
Aluna do curso de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, membro do Grupo de Pesquisa THAC-IMED e beneficiária
de Taxa PROSUP CAPES. E-mail: pricispa@hotmail.com.
2
Aluna do curso de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, membro do Grupo de Pesquisa THAC-IMED e benefici-
ária de Taxa PROSUP CAPES. E-mail: sandrinibelo@hotmail.com.
3
Orientador. Docente do mestrado de Arquitetura e Urbanismo e membro do Grupo de Pesquisa THAC-IMED. E-
mail: henrique.kuwaja@imed.edu.br.
4
Orientadora. Docente do mestrado de Arquitetura e Urbanismo e coordenadora do Grupo de Pesquisa THAC-IMED
e Bolsista de Produtividade da Fundação Meridional. E-mail: caliane.silva@imed.edu.br.
Pricila Spagnollo; Sandrini Birk Belo; Henrique Kujawa; Caliane Almeida | 93
5
As liberdades instrumentais (políticas, econômicas, sociais) permitem o alcance da liberdade plena (substantiva) e
desenvolvimento das capacitações, possibilitando escolhas e decisões aos indivíduos, tornando-os atuantes e partici-
pativos (condição de agente) na vida em sociedade (SEN, 1999).
94 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
Estou usando o termo agente não nesse sentido, mas em sua acepção mais
antiga – e “mais grandiosa” – de alguém que age e ocasiona mudança e cujas
realizações podem ser julgadas de acordo com seus próprios valores e objeti-
vos, independentemente de as avaliarmos ou não também segundo um
critério externo (...) papel da condição de agente do indivíduo como membro
do público e como participante de ações econômicas, sociais e políticas (inte-
ragindo no mercado e até mesmo envolvendo-se, direta ou indiretamente, em
atividades individuais ou conjuntas na esfera política ou em outras esferas)
(SEN, 1999, p.33).
5 Considerações finais
Referências
ALMEIDA, Caliane C. O. de. Habitação social no Nordeste: a atuação das CAPs e dos
IAPs (1930-1964). Tese de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo - (IAU-USP),
2012.
Pricila Spagnollo; Sandrini Birk Belo; Henrique Kujawa; Caliane Almeida | 111
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Martins Fontes, 2014.
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Campus de Rio Claro, Rio Claro, 2007.
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ponível em <http://www.pmpf.rs.gov.br/files/revisao_plano_diretor_etapa2_
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SANCHES, Fabio; MACHADO, Luiz Roberto M.. Segregação espacial e impactos socio-
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Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, [S.l.], v. 5, n. 3, jun. 2010.
ISSN 1809-239X. Disponível em: https://www.rbgdr.net/revista/index.php/
rbgdr/article/view/249 Acesso em: 22 out. 2020.
112 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. Tradução de Laura Teixeira Motta. São
Paulo: Companhia das letras, 1999.
1. Introdução
1
Advogado. Graduado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie. nelsonmsilva-
neto@gmail.com.
2
Professora na Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, vinculada à Graduação (Direito da
Seguridade Social) e ao Programa de Pós-Graduação em Direito Político e Econômico. Coordena o Grupo de Pesquisa
"O sistema de seguridade social". Doutora e Mestre em Direito pela PUC-SP. Estágio de pós-doutoral na Universidad
Complutense de Madrid. zelia.pierdona@hotmail.com.
114 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
do art. 194 da Constituição, bem como no caput dos arts. 194 e 195 e no §
5º do art. 195, todos da Constituição. Apesar de cada um dos subsistemas
ter objetivos e sujeitos específicos, eles devem ser interpretados como in-
tegrantes do sistema de seguridade social (PIERDONÁ, 2016, p. 100).
Em relação ao financiamento, a Constituição determina que a res-
ponsabilidade é de toda a sociedade, que o faz de forma direta e indireta.
O financiamento direto se dá pelo pagamento das contribuições sociais
para a seguridade social (atualmente são sete contribuições – seis previstas
no art. 195 e uma no art. 239, ambos da Constituição) e, o financiamento
indireto, pela destinação de recursos do orçamento fiscal da União, dos
estados, do Distrito Federal e dos municípios.
Em razão disso, Zélia Luiza Pierdoná (2017, p. 168) aponta que, a par-
tir da Constituição de 1988, “o custeio da proteção social não é mais tríplice
(do trabalhador, do empregador e do governo), mas é de responsabilidade
de toda a sociedade, que a financia de forma direta e indireta”.
Dentre as contribuições sociais elencadas pelo constituinte, duas são
exclusivas para o financiamento do Regime Geral de Previdência Social
(RGPS): a contribuição da empresa sobre a remuneração do trabalho e a
contribuição dos trabalhadores, nos termos do art. 167, inciso XI, da Cons-
tituição.
No que se refere às regras específicas de cada um dos subsistemas
que compõem a seguridade social, verifica-se que o subsistema de saúde é
dirigido a todos. Com isso o acesso aos serviços de saúde é universal e, por
determinação infraconstitucional, é gratuito. Assim, não é exigida qual-
quer contraprestação específica do cidadão. Seu principal objetivo é
promover políticas públicas que visem à redução do risco de doença e de
outros agravos, mas também busca implementar ações e serviços para a
promoção, a proteção e a recuperação da saúde (art. 196 da Constituição).
As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionali-
zada e hierarquizada e constituem um sistema único chamado de Sistema
Único de Saúde - SUS (art. 198, caput, da Constituição). No que se refere
116 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
3
A falta de proteção social desses trabalhadores é mitigada pelo subsistema de assistência social, que concede um
benefício de um salário mínimo ao idoso com mais de 65 anos e à pessoa com deficiência, desde que não possuam
meios de prover sua manutenção ou de tê-la provida pela família. Porém, trata-se de uma proteção inadequada, uma
vez que nas situações de incapacidade temporária ou com a morte do trabalhador, não haverá proteção. Além disso,
o beneficiário não contribuiu financeiramente para seu direito, mesmo tendo trabalhado durante sua idade laboral.
Nelson Martins da Silva Neto; Zélia Luiza Pierdoná | 121
5. Conclusão
visto que, o RGPS necessita, cada vez mais, de receitas de outras contri-
buições de seguridade social, além das contribuições do trabalhador e da
empresa sobre a remuneração, prejudicando a efetividade dos outros di-
reitos de seguridade social. O problema de financiamento se agrava,
também, pelo enorme contingente de trabalhadores, desprotegidos pela
previdência social e desempregados, se socorrendo dos benefícios de
transferência de renda do subsistema de assistência social.
Assim, uma alternativa a ser considerada é a instituição de uma renda
universal básica, para todos os cidadãos brasileiros, ou uma renda seletiva,
de forma a garantir o mínimo existencial e a ampliar a liberdade e a dig-
nidade dos brasileiros.
Além da medida acima, talvez o mais adequado seja a alteração do
modelo financeiro de repartição simples do RGPS para o de capitalização,
para o qual apenas as contribuições do trabalhador e da empresa sobre a
remuneração financiariam a proteção previdenciária, garantindo-se uma
proteção mínima com recursos arrecadados de contribuições/impostos
suportados por toda a sociedade, em um sistema solidário.
Referências
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xílio Emergencial após crise. Notícias - Governo Federal, Presidência da
República, Planalto, Brasília/DF, 28 de setembro de 2020. Renda Cidadã. Disponí-
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2020/09/novo-programa-garantira-renda-a-brasileiros-atendidos-pelo-auxilio-
emergencial-apos-crise>. Acesso em 30 set. 2020;
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anos. Deutsch Welle, Bonn/Alemanha, 31 de janeiro de 2020. Desemprego. Dispo-
nível em: <https://p.dw.com/p/3X6nR>. Acesso em 25 set. 2020;
Nelson Martins da Silva Neto; Zélia Luiza Pierdoná | 129
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decorrentes da implementação das novas tecnologias nas relações de trabalho. In:
AZAÑA, María Yolanda Sánchez-Urán; RUIZ, María Amparo Grau (Dirs.);
LORENCINI, Bruno César; FRANCISCO, José Carlos. Nuevas tecnologías y dere-
cho: retos y oportunidades planteadas por la inteligencia artificial y la robótica.
Juruá Editorial, 2019. p. 149-166;
PIERDONÁ, Zélia Luiza; LEITÃO, André Studart; FURTADO FILHO, Emmanuel Teófilo.
Primeiro o básico. Depois o resto: o direito à renda básica. Revista Jurídica, v. 2, n.
55, p. 390-417, Curitiba: 2019;
SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. Tradução: Laura Teixeira Motta; revi-
são técnica: Ricardo Doninelli Mendes. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
8
Graciela Tonon 1
1
Dra. en Ciencia Política, Magister en Ciencia Política y Trabajadora Social.
Directora de la Maestría en Ciencias Sociales y del Centro de Investigación en Ciencias Sociales (CICS-UP) de la
Universidad de Palermo, Argentina.
Es Secretaria de la Human Development and Capability Association (2016-2022).
gtonon1@palermo.edu
Graciela Tonon | 131
acción y decisión, como las oportunidades reales que tienen los sujetos da-
das sus circunstancias personales y sociales. De esta manera, el enfoque
de las capacidades consiste en la identificación de la libertad como un prin-
cipio fundamental de desarrollo. Esta propuesta teórica, difiere de la
evaluación utilitarista tradicionalmente usada para estudiar el bienestar,
ya que considera una variedad de actos y estados humanos en tanto im-
portantes en sí mismos y no solo relacionados con alguna utilidad.
El enfoque de las capacidades está además directamente relacionado
con el bienestar y la libertad de las personas, al tiempo que ejerce una in-
fluencia indirecta sobre la producción económica y el proceso de cambio
social (Sen, 2000). Richardson (2007, p.396) señala que la capacidad se
refiere a lo que las personas realmente pueden elegir; " uno puede real-
mente elegir un funcionamiento o logro dado, sólo si después de haberlo
elegido, se respeta y ejecuta su elección” (Sen, 1985, p. 211).
Las capacidades humanas que tiene en realidad una persona, no son
solo las que se enuncian teóricamente, sino que las mismas dependen de
la naturaleza de las instituciones sociales de cada paìs, las cuales pueden
ser fundamentales para el ejercicio de las libertades individuales; y es en
ese sentido que para Sen (2000) el Estado y la sociedad no pueden evadir
su responsabilidad.
Asimismo, Sen (2000) considera la relevancia de las diferencias en la
satisfacción de las necesidades que tienen las personas, centrando la aten-
ción en el hecho de que las mismas pueden necesitar diferentes recursos
para alcanzar el desarrollo de las mismas libertades.
Sen (2000, p. 57) identifica cinco tipos de libertades estructurales que
contribuyen directa o indirectamente a la libertad de las personas de vivir
como les gustaría, las mismas son: las oportunidades sociales, las liberta-
des políticas, los servicios económicos, las garantías de transparencia y la
seguridad protectora.
Sen (2000) define la salud como una de las oportunidades sociales de
la población en tanto servicios sanitarios que tiene la sociedad y que influ-
yen en la libertad fundamental de los sujetos para vivir mejor. Estos
132 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
¿Cuán satisfecho se encuentra ud. con los planes de ayuda social del
gobierno?
Conclusiones.
Referencias
Canache, D., Jeffery, M., & Seligson, M. (2001). Meaning and measurement in cross-natio-
nal research on satisfaction with democracy. Public Opinion Quarterly, 65, pp. 506–
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of Human Development and Capabilities, Volume 13, Issue 3, 2012. Special Is-
sue: Education and Capabilities. Pp. 495-512.
9
Movimentos migratórios e
a proteção humanitária migratória:
um olhar necessário para a proteção da
condição de agente dos migrantes
Karoline Izaton 1
José Carlos Kraemer Bortoloti 2
“Nossa civilização global é uma herança do mundo – e não apenas uma cole-
ção de culturas locais discrepantes”. Amartya Sen
Introdução
1
Graduada em Direito pela Faculdade Meridional – IMED/Passo Fundo – RS; Advogada. E-mail: karoliza-
ton@yahoo.com.br.
2
Doutor em Direito (UNESA/RJ), com Doutoramento Sanduíche na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
(orientação Prof. Dr. Jorge Miranda) financiado pelo PDSE/CAPES. Mestre em Direito (ULBRA/RS). Advogado. Do-
cente da Escola de Direito da IMED/Passo Fundo - RS. Membro do Centro Brasileiro de Pesquisa sobre a Teoria da
Justiça de Amartya Sen e do Grupo de Estudo Direitos Culturais e Pluralismo Jurídico, ambos vinculados ao Programa
de Pós-graduação stricto sensu em Direito – PPGD/IMED. E-mail: jose.bortoloti@imed.edu.br.
140 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
3
São consideradas formas de refoulement a recondução sumária dos imigrantes que adentraram o território do país
ilegalmente, a recusa em admitir a entrada de indivíduos sem documentos válidos, entre outras práticas (OLIVERA;
CARVALHO, 2017, p. 44).
Karoline Izaton; José Carlos Kraemer Bortoloti | 145
4
Frisa-se, aqui, a pertinente elucidação de Amartya Sen: “Nossa civilização global é uma herança do mundo – e não
apenas uma coleção de culturas locais discrepantes”. (SEN; KLISPERG, 2010, p. 20).
Karoline Izaton; José Carlos Kraemer Bortoloti | 149
Necessário pensar como migrante não apenas quem migra, mas o conjunto da
unidade social de referência do migrante que se desloca. Mesmo que uma parte
da família fique no lugar de origem e apenas outra parte se desloque para o
lugar de destino. No entanto, todos padecem as consequências da migração,
embora não sejam estatisticamente migrantes. Todos vivem cotidianamente o
sonho do reencontro. Vivem todos os dias à espera do ausente (MARTINS,
2003, p. 145).
violência. Por isso, empenha-se para evitar o sofrimento por meio da pro-
moção e fortalecimento dos direitos e princípios humanitários universais
(MEDEIROS; MOULIN, 2010).
Verifica-se, ainda, que após da Segunda Guerra Mundial os direitos e
garantias dos migrantes restaram resguardados pela Declaração Universal
dos Direitos Humanos, pois, diante do reconhecimento no indivíduo no
âmbito internacional, bem como com o aumento dos imigrantes no
mundo, tornou-se cada vez mais frequente a utilização da Declaração Uni-
versal dos Direitos Humanos para regular as relações entre os Estados
receptores e os imigrantes (PATARRA, 2015, p. 86).
Posterior à Declaração Universal dos Direitos Humanos, foi criada a
primeira legislação específica para os migrantes, por meio da Organização
Internacional do Trabalho, que elaborou, em 1949, a Convenção sobre os
Trabalhadores Migrantes e, em 1975, as disposições completares da Con-
venção sobre os Trabalhadores Migrantes. Tais documentos
recomendavam que os Estados a garantissem aos migrantes o mesmo tra-
tamento e direitos dos trabalhadores nacionais, independentemente de
sua nacionalidade, raça, religião ou sexo (PATARRA, 2015, p. 86-87).
O Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados – ACNUR, do
mesmo modo, encontra-se engajado na empreitada protetiva, visto que,
oferece, de forma global, àqueles que são obrigados a deixar o seu país de
origem, alimentos de emergência, abrigo, água e suprimentos médicos.
Além disso, possui projetos para ajudar a proteger o meio ambiente, cons-
truir escolar e conscientizar sobre questões a AIDS (ACNUR, 2019).
Os Estados, por sua vez, desenvolvem um importante papel na pro-
teção dos migrantes. Isso porque, levando em consideração que a migração
deixou de ser apenas um fenômeno social, transformando-se, também, em
um fenômeno político, cabe aos Estados, por meio de políticas de migra-
ção, lidar com a formação e manutenção dos fluxos migratórios
(MOREIRA, 2017, p. 85).
nas diversas políticas públicas. A junção entre políticas que possam acomo-
dar os imigrantes no mercado de trabalho formal, com a perspectiva dos
direitos humanos, contribuirá de forma decisiva a consolidar a imigração
como um ativo para o desenvolvimento no país, não somente do ponto de vista
econômico, mas também cultural, social e político (CAVALCANTI, 2015, p. 47,
grifo nosso).
5
Veja-se, nesse sentido: STF - RE: 587970 SP, Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento: 30/04/2011,
Data de Publicação: DJe-119 DIVULG 21/06/2011 PUBLIC 22/06/2011.
154 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
6
No sentido capabilities.
156 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
Considerações finais
Referências
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Karoline Izaton; José Carlos Kraemer Bortoloti | 161
Amartya Sen:
economia e desigualdade
Introdução
1
Advogada, Faculdade Meridional – IMED, vinculada ao Centro Brasileiro de Pesquisa sobre a Teoria da Justiça de
Amartya Sen: interfaces com direito, políticas de desenvolvimento e democracia. E-mail:<luanalu-
cca.ll@gmail.com>.
2
Mestre em Direito, Democracia e Sustentabilidade, pela Faculdade Meridional – IMED. Advogada. Membro do Cen-
tro Brasileiro de Pesquisa sobre a Teoria da Justiça de Amartya Sen, interfaces com direito, políticas de
desenvolvimento e democracia. E-mail: tatiknack@hotmail.com.
Luana Paula Lucca; Tatiana Aparecida Pedro Knack | 163
1. A economia
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado con-
forme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de
elaboração e prestação;
VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII - busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as
leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econô-
mica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos
previstos em lei.
[...] São eles (i) existência digna para todos; (ii) redução das desigualdades
regionais e sociais; (iii) busca do pleno emprego; (iv) e a expressão das em-
presas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua
sede e administração no país.
A igualdade para Sen, deve ser analisada de forma conjunta com ou-
tras demandas, caso contrário, a avaliação tende a ser distorcida ou
sobrecarregada, sempre analisando a importância na formulação de polí-
ticas públicas nos domínios econômico e social.
Segundo o autor a desigualdade está ligada com as capacidades, ou
seja, estamos falando em igualdade, quando todos os cidadãos, tem as
mesmas oportunidades de buscar por suas liberdades, e para poder tomar
suas decisões e analisar o que é mais importante em cada momento de
suas vidas.
Outrossim, analisa-se também que para Sen as capacidades de deter-
minar o que queremos, o que valorizamos para nossa vida é essencial para
as condições de justiça, para uma expansão da condição de agente ativo de
Luana Paula Lucca; Tatiana Aparecida Pedro Knack | 169
4 Considerações finais
Referências
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Veiga, José Eli da. ______. Desenvolvimento sustentável o desafio do século XXI. Rio de
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11
Sandro Fröhlich 1
1. Introdução
Uma das questões centrais para a vida de cada sujeito é quanto à es-
colha, da liberdade de optar por uma ou outra preferência ou valor. Se na
esfera individual a escolha representa um aspecto crucial, maior ainda é o
desafio de transformar as infinitas escolhas individuais em opções e esco-
lhas coletivas. Em certa medida isso demonstra a complexidade e a riqueza
que é a existência humana em sociedade, pois há sempre a necessidade e
o desafio de conjugar as escolhas pessoais em decisões coletivas e modos
de organização da vida em comunidade.
A escolha social é um dos temas que perpassou a discussão da econo-
mia do século XX e tem em Amartya Sen um dos grandes pesquisadores,
ao ponto de a Real Academia de Ciências da Suécia lhe conceder o prêmio
em reconhecimento aos estudos e avanços empreendidos. Diante do im-
passe apresentado pelo teorema da impossibilidade de Arrow, é Sen quem
rompe com o paradigma, abrindo frentes para a adoção de um espectro
mais amplo de informações e avaliação da realidade.
A partir de uma metodologia dedutiva – a partir da análise dos escri-
tos e teorias apresentadas por autores – o presente trabalho tem como
objetivo conhecer elementos históricos da teoria da escolha social, bem
1
Doutor em filosofia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS; Mestre em Ciências Criminais e Filo-
sofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS; Advogado; Professor na Univates. E-mail:
sfrohlich@gmail.com
Sandro Fröhlich | 177
2
Em seu artigo sobre ‘escolha social’ no dicionário Stanford de filosofia, List (2013) apresenta também o seguinte:
“Central questions are: How can a group of individuals choose a winning outcome (e.g., policy, electoral candidate)
from a given set of options? What are the properties of different voting systems? When is a voting system democratic?
178 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
si existe una pregunta central que pueda considerarse como el tema de debate
que motiva e inspira la teoría de elección social, es ésta: ¿cómo puede ser posi-
ble elaborar, al nivel agregado, evaluaciones coherentes de la sociedad (evaluar,
por ejemplo, el “bienestar social”, o “el interés público,” o “la pobreza agre-
gada”), dada la diversidad de preferencias, preocupaciones y predicamentos de
los distintos individuos dentro de la sociedad? ¿Cómo podemos encontrar una
base racional para realizar tales evaluaciones a nivel agregado, evaluaciones
como “la sociedad prefiere esto a aquello”, o “la sociedad debería elegir esto y
no aquello”, o “esto es socialmente correcto”? ¿Es una elección social razonable
del todo posible, particularmente dado que, como lo notó Horacio hace mucho,
puede haber “tantas preferencias como gente”?
How can a collective (e.g., electorate, legislature, collegial court, expert panel, or committee) arrive at coherent collec-
tive preferences or judgments on some issues, on the basis of its members' individual preferences or judgments? How
can we rank different social alternatives in an order of social welfare? Social choice theorists study these questions
not just by looking at examples, but by developing general models and proving theorems”.
Sandro Fröhlich | 179
3
Tal pensamento é corroborado por Megales (1994, p. 50 – 51), que escreve que a pergunta básica da teoria da escolha
social é: “¿cómo son posibles los juicios sobre el bienestar social? El bienestar social es un objectivo de la sociedad y,
como tal, un valor social. De aquí que su pregunta en realidad sea una pregunta por los fines de la sociedad: ¿cómo
es posible que la sociedad se dé fines a sí misma?”.
Sandro Fröhlich | 183
En primer lugar, los individuos son los únicos legitimados para juzgar su bie-
nestar y nadie tiene autoridad para cambiar ese juicio. En segundo lugar, los
únicos argumentos relevantes para el juicio social son las utilidades individu-
ales, tal y como las presentan las funciones de utilidad. En tercer lugar, el
criterio para evaluar los estados sociales es el de la maximización de la utilidad
y, por consiguiente, se considera que la decisión social ha de seguir las mismas
pautas de racionalidad que la decisión individual (MEGALES, 1994, p. 25).
a ideia era chegar a uma função de bem-estar social a partir das decisões indi-
viduais, no entanto, apesar de se manter o conceito de utilidade como principal
argumento dessa função, utilidade passou a estar associada apenas a escolhas
individuais e não mais a intensidades cardinais relativas a estados mentais in-
dividuais (BELTRAME; DE MATTOS, 2014).
184 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
4
With ordinal utility functions, still numerical functions, the real numbers/utilities could only be meaningfully com-
pared according to the relation ≥. All the other mathematical properties defining the field of real numbers were
rejected. A kind of corollary to the ordinalism thesis was that interpersonal comparisons had to be excluded too, even
when these comparisons are limited to the relation ≥, that is, one could not assert that the utility of individual i in
state x is, say, greater than the utility of individual j in state y (SALLES, 2015, p. 10).
5
“Para abordar la tarea del diseño del procedimiento de fundamentación Arrow abandonó el lenguaje de la teoría de
la utilidad en el que Bergson había presentado la función de bienestar social por el de la lógica formal. Por ello en
lugar de hablar de utilidades habla de preferencias y de ordenamientos de preferencias. Así tanto los valores indivi-
duales como los colectivos son presentados en su modelo como ordenamientos individuales y colectivos de
preferencias”. “De ahí la característica genérica de su investigación: ¿puede haber un método para las sociedades
democráticas que tenga la misma precisión que los métodos de las sociedades no democráticas?”. (MEGALES, 1994,
p. 29-30).
Sandro Fröhlich | 185
é que não aceita as bases ou pressupostos dados como invioláveis por Ar-
row.
eleições sociais’ (SEN, 1999). Sua intenção não é de afirmar que todas as
comparações possam ser axiomatizadas em funções de eleição social – do
‘tipo tudo ou nada’ -, mas inclusão de comparações parciais ou nem sem-
pre completas ou totalmente exatas. Não visa a adoção de extremos, uma
total ausência de comparações ou a comparação interpessoal em todos os
sentidos, mas de uma ‘comparabilidade parcial’6.
A utilização de comparações interpessoais permite que as decisões
públicas e sociais sejam sensíveis e atentas ao aspecto central da desigual-
dade, algo que os sistemas de votação majoritária e o utilitarismo
welfarista não tomam em consideração. A incorporação de novas informa-
ções possibilita a utilização ou desenvolvimento de novos critérios para
considerar o bem-estar das pessoas, considerando uma dimensão mais
ampla da condição humana e tomando em conta a situação social das pes-
soas (pobreza, exclusão social, desigualdade, renda, consumo, etc.).
Junto à proposta da possibilidade de comparações interpessoais, Sen
elabora uma crítica ao que ele denomina como a ocorrência de ‘inconsis-
tência ou incoerência de decisões’ no modelo de decisão social clássico.
Vale-se da vinculação com a crítica ao modelo da decisão pela maioria para
tal e cita um exemplo para ilustrar e explanar melhor o assunto. Toma-se
o exemplo da divisão de um bolo entre três sujeitos (SEN, 2010, p. 321 e
seguintes): se a preocupação for o de melhor atender o interesse da maio-
ria, dois deles poderiam se unir e realizar uma divisão que a eles
contemplasse com 90% do bolo e, ao outro o restante. Ao tomar em con-
sideração apenas o fator de decisão da vitória por maioria, uma plêiade de
informações não estaria contemplada nas razões para a tomada de decisão,
o que abre a possibilidade para a inconsistência ou incoerência decisional.
Por isso sua insistência para a ampliação informacional, com o intuito de
proporcionar a criação de critérios que gerem coerência e consistência nas
6
Muito ilustrativo o exemplo e explicação que o autor apresenta: “Puede ser, por ejemplo, que no nos sea muy difícil
aceptar que la ganancia de utilidad que el Emperador Nerón obtuvo al quemarse Roma fue menor que la pérdida total
de utilidad de todos los otros romanos que sufrieron por culpa del fuego. Pero esto no implica que estemos seguros
de que podamos establecer una relación de uno a uno para la utilidad de todas las personas. Puede haber, por ende,
espacio para una ‘comparabilidad parcial’ – negándose así ambos extremos: la comparabilidad completa y la ausencia
de comparabilidad”. (SEN, 1999).
190 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
Sen estabelece três condições que uma função de decisão social7 deva
respeitar: condição U – domínio restrito (todo conjunto logicamente pos-
sível de ordenamentos individuais está incluso no domínio da regra de
escolha social); condição P (se cada indivíduo prefere qualquer alternativa
x a outra alternativa y, então a sociedade deve preferir x a y); condição L
– liberalismo mínimo (há ao menos dois indivíduos tais que para cada um
deles existe ao menos um par de alternativas sobre as quais ele é decisivo,
ou seja, há um par de x, y tal que se ele prefere x a y, a sociedade prefere
x a y) (SEN, 1997, p. 286). Considerando a obediência a tais condições a
conclusão de Sen é que ‘não há uma função de decisão social capaz de sa-
tisfazer simultaneamente as condições U, P e L.
Para tornar o assunto mais ‘palpável’ é útil apresentar um exemplo
(do livro ‘O amante de Lady Chatterley’), apresentado pelo pensador,
(SEN, 2011, p. 344).
7
Uma função de decisão social é uma regra de escolha coletiva cujo domínio está restrito às relações de preferência
social que geram uma função de escolha. (SEN, 1997, p. 286).
192 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
melhor que Puritano leia o livro e não Luxurioso), mas as outras duas al-
ternativas violam as exigências da liberdade, o que leva Sen a concluir que
“nada pode ser escolhido que satisfaça as exigências específicas da escolha
social, uma vez que cada alternativa disponível é pior que alguma outra.
Daí a impossibilidade de satisfazer simultaneamente ambos os princípios”
(SEN, 2011, p. 344).
O conflito do liberal paretiano não pode ser resolvido por compara-
ções interpessoais. Isto porque a “fuerza de las reivindicaciones de un
individuo sobre su espacio privado yace en la naturaleza personal de esa
elección –no en las intensidades relativas de las preferencias de distintas
personas sobre el espacio privado de una persona en particular”. Ainda, “la
eficiencia de Pareto depende de la congruencia de las preferencias de dis-
tintas personas con relación a una elección entre dos opciones –no en la
fuerza comparativa de esas preferencias” (SEN, 1999).
O objetivo de Sen foi demonstrar que cada reivindicação pessoal pode
entrar em conflito com as demais reivindicações, gerando uma espécie de
conflito mútuo. Não pretende inibir a liberdade, mas torná-la consciente e
efetiva, coexistindo com os confrontos e com as possibilidades ou necessi-
dades de acordos de unanimidade ou de eficiência paretiana. Não se trata
de escolher pela liberdade individual ou pela opção de uma eficiência pa-
retiana, mas demonstrar que a resolução satisfatória desta impossibilidade
“debe incluir una visión que evalúe las prioridades aceptables entre libertad
personal y deseo de satisfacción general, y debe ser sensible a la informa-
ción relacionada a los canjes entre ésta y aquella que los mismos individuos
están dispuestos a aceptar” (SEN, 1999).
8
“Buridan’s ass, which died of starvation dithering between two haystacks (unable to decide which one was better),
could not find a ‘best’ option (since the haystacks could not be ranked vis-à-vis each other), but it still had the oppor-
tunity of doing much better than starving to death. Either haystack would have been a maximal choice, and choosing
a maximal alternative, even though no ‘best’ would have been sensible enough.” (SEN, 2002, p. 16- 17).
“There is no great merit in insisting that the ranking or opportunity must be complete in all cases. The importance of
evaluating freedom or opportunity does not li in any possible hope of being able to rank every set of options against
every other, but in the relevance and reach of the many comparisons that we can sensible make”. (SEN, 2002, p. 610-
611).
194 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
Conclusão
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Sandro Fröhlich | 197
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SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras,
2010¹.
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12
1. Introdução
1
Pós-doutora pela Escola de Altos Estudos - Desigualdades Globais e Justiça Social: Diálogos sul e norte, do Colégio
Latino-Americano de Estudos Mundiais, programa da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO Bra-
sil) e UNB (Capes PrInt). Doutora em Filosofia (PUCRS). Professora do Programa de Pós-Graduação em Direito –
Mestrado e Doutorado em Direitos Humanos - e do Curso de Graduação em Direito da UNIJUI. Integrante do Grupo
de Pesquisa Direitos Humanos, Justiça Social e Sustentabilidade (CNPq). E-mail: anna.paula@unijui.edu.br
2
Graduanda do Curso de Graduação em Direito da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do
Sul (UNIJUÍ). Voluntária do projeto de pesquisa “Justiça Social: os desafios das políticas sociais na realização das
necessidades humanas fundamentais”, grupo de Pesquisa “Direitos Humanos, Justiça Social e Sustentabilidade”
(CNPq). Assistente Editorial Voluntária da Revista Direito em Debate da UNIJUÍ (Qualis B1) E-mail: viagnole-
tto@yahoo.com.br
3
Graduanda do Curso de Graduação em Direito da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do
Sul (UNIJUÍ); Bolsista PIBIC/UNIJUÍ; Integrante do Grupo de Pesquisa “Direitos Humanos, Justiça Social e Sustenta-
bilidade” (CNPq). E-mail: annajuliabandeiraceccato@hotmail.com
Anna Paula Bagetti Zeifert; Vitória Agnoletto; Anna Júlia Bandeira Ceccato | 199
uma vez que tem como objetivo que o mínimo de dignidade humana seja
atingido nas sociedades de qualquer país.
Sen (2011) e Nussbaum (2013) concordam em indicar a necessidade
de construir a concepção de que o ser humano não pode ser compreendido
fora de seu contexto social, econômico, político e cultural, pois esses ele-
mentos determinam a pluralidade de identidades do indivíduo.
A capacidade de uma pessoa está diretamente relacionada as condi-
ções em que essa está inserida. Desse mesmo modo, a liberdade de escolha
depende da medida da capacidade de cada um. Apenas terá liberdade para
escolher o que considera valoroso aquele que possuir real oportunidade
para fazer essa escolha.
A ideia de justiça, para Sen (2011), busca garantir qualidade de vida e
bem-estar, mas sem esquecer da tão importante liberdade. Uma vida justa
apenas é plenamente justa quando possui equilíbrio entre liberdade, qua-
lidade de vida e bem-estar. Enquanto isso, Nussbaum (2013) busca, no
enfoque das capacidades, construir um modelo de direitos humanos bási-
cos para cada indivíduo da comunidade global, através de sua lista das dez
capacidades básicas demonstra que ela pode ser adaptada para qualquer
sociedade que tenha o objetivo de alcançar o ideal de sociedade justa.
4
En la región, el hambre se deriva de la pobreza (en particular la pobreza extrema) y no de la falta de alimentos.
Teniendo en cuenta que la línea de la pobreza extrema se determina sobre la base del costo de la canasta básica de
alimentos, las personas cuyos ingresos están bajo esta línea no cuentan con los recursos suficientes para cubrir los
costos básicos de alimentación. Así, la caída económica pronosticada para 2020 afectará directamente a la seguridad
alimentaria de millones de personas. (CEPAL, 2020)
206 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
5 Conclusão
(2011) e de Martha C. Nussbaum (2013). Por mais grave que seja o cenário
latino-americano o que tange as desigualdades e o aumento dos níveis de
pobreza, existem possibilidades de transformação desta realidade, como
apontam os referidos autores.
Essas possibilidades passam, necessariamente pela construção de po-
líticas sociais e públicas voltadas para grupos vulneráveis, buscando a
efetivação de direitos básicos e a construção de sociedades justas.
Referências
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con igualdad: nuevas proyecciones. Disponível em: https://repositorio.ce-
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SEN, Amartya. A ideia de justiça. Tradução de Ricardo Doninelli Mendes e Denise Bott-
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SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. Tradução de Laura Teixeira Motta. São
Paulo: Companhia das Letras, 2000.
13
1 Introdução
1
Advogada. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Sistemas Ambientais e Sustentabilidade da Universidade
Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (PPGSAS/UNIJUÍ). Especialista em Direito e Processo do Tra-
balho (Anhanguera). Graduada em Direito (UNIJUÍ). Estudante do Projeto de Pesquisa Direitos Humanos, Justiça
Social e Sustentabilidade CNPq. http://orcid.org/0000-0001-9458-6660. E-mail: nanda_gewehr@hotmail.com
2
Pedagoga. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Sistemas Ambientais e Sustentabilidade da Universidade
Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (PPGSAS/UNIJUÍ), Especialista em Gestão do Trabalho Peda-
gógico: Supervisão e Orientação Escolar pela Faculdade Internacional de Curitiba (UNINTER). Graduada em Direito
(UNIJUÍ) e Pedagogia (UNINTER). Estudante do Projeto de Pesquisa Direitos Humanos, Justiça Social e Sustentabili-
dade CNPq. https://orcid.org/0000-0001-8281-2413.E-mail:cleusam210@gmail.com
3
Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento (UFPR), mestre em Direito (UNISC), graduado em Direito (UNIJUÍ).
Professor do Programa de Mestrado e Doutorado em Direitos Humanos da UNIJUI. Professor do Programa de Mes-
trado em Sistemas Ambientais e Sustentabilidade. Pós Doutor em Geopolítica Ambiental Latino-americana na
USACH – Universidade de Santiago – Chile. Coordenador do Grupo de Pesquisa Direitos Humanos, Justiça Social e
Sustentabilidade (CNPq). Coordenador do Projeto de Pesquisa O Direito ao Meio Ambiente Ecologicamente Equili-
brado no Contexto da Sociedade de Risco: em Busca da Justiça Ambiental e da Sustentabilidade.
https://orcid.org/0000-0001-7919-6840. E-mail: danielr@unijui.edu.br
Fernanda Gewehr de Oliveira; Cleusa Maria Rossini; Daniel Rubens Cenci | 215
Nas diversas obras de Sen existem muitos conceitos que ganham uma
roupagem que difere de outros autores, dentre filósofos e pensadores da
época, por exemplo, quando Sen trabalha com liberdade, desenvolvi-
mento, cidadania, comprometimento social, bem-estar e justiça com um
olhar ao que é humano e individual de cada um, a teoria impõe uma ten-
dência ao “institucionalismo transcendental” que por muitas vezes
encontra a utopia na organização da sociedade, a qual pressupõe a justiça
perfeita, igualdade de direitos, perante quais os seres humanos possam
viver com liberdade e dignidade.
A presente pesquisa objetiva promover a discussão sobre os ideais
de justiça e cidadania almejados por Amartya Sen no tocante à educação e
sustentabilidade, condição necessária para o desenvolvimento, efetivação
dos direitos humanos e o bem estar das pessoas e do planeta. O estudo
será feito através da análise bibliográfica explicativa, bem como de abor-
dagem metodológica qualitativa para descrever e compreender a
problemática destes conceitos, a fim de trazer à tona a discussão contex-
tualizada, conjuntamente com as medidas de proteção cabíveis para
garantir os direitos fundamentais, tendo as contribuições de Amartya Sen,
e demais autores.
ter a opção de escolher como de não escolher e nesse ponto encontra com
a teoria de Amartya Sen.
Para Sen (2010) o desenvolvimento precisa adicionar às liberdades
envolvidas nos processos políticos, sociais e econômicos e em qual grau as
pessoas tem ou não oportunidade de obter resultados. O desenvolvimento
como caminho para remover as privações de liberdade, entre as quais está
a pobreza, negligência de serviços públicos, excessos cometidos pelos Es-
tados repressivos tem como resultado negar liberdades elementares e
substantivas as pessoas.
Tanto a liberdade elementar quanto a substantiva são negadas a uma
boa parcela da sociedade. A substantiva relacionada a pobreza econômica
em que retira das pessoas o básico, como ter acesso a remédios, de mora-
dia e de vestir-se, assim como de ter acesso a água e saneamento. Em
outros casos, pode-se citar a carência de serviços públicos e assistência so-
cial, assistência médica e educacional e, também, a violações de ordem civil
e política como em regimes autoritários (SEN, 2010).
Assim, Sen (2010) não restringe a liberdade somente ao que estiver
relacionado a renda ou crescimento econômico e nem conceber processos
de decisões e escolha social como meios de desenvolvimentos quando de-
vem ser entendidos como fins para o desenvolvimento. Na compreensão
de Zambam (2009) não depende de fins definidos de ordem política, cul-
tural ou econômica, mas como um valor absoluto e indispensável no
ordenamento por influenciar e fortalecer atores sociais, garantir e promo-
ver o acesso a liberdade, tendo um papel de superação a situações que
possam comprometer o processo de desenvolvimento.
Para Pies (2013, p. 03) a partir do ponto de vista de Sen, compreender
o desenvolvimento de uma forma a ampliar um conjunto de variáveis para
expandir liberdades civis, políticas ou estender direitos quanto a distribui-
ção de renda e cidadania, somente com uma democracia forte a decisão
pública ocorrerá através de cidadãos, ou seja, “vão desde os condicionan-
tes macroeconômicos, a inclusão social, a participação social nos espaços
públicos e o uso racional dos recursos naturais”.
Fernanda Gewehr de Oliveira; Cleusa Maria Rossini; Daniel Rubens Cenci | 217
A educação ambiental deve ser acima de tudo um ato político voltado para a
transformação social. O seu enfoque deve buscar uma perspectiva holística de
ação, que relaciona o homem, a natureza e o universo, tendo em conta que os
recursos naturais se esgotam e que o principal responsável pela sua degrada-
ção é o homem.
sua relação com a natureza, contudo, para que isso venha a ocorrer é ne-
cessário consciência sobre os problemas locais e globais. Depreende- se a
partir destas premissas que a educação é o ponto central para a mudança
de comportamentos e que o tema da sustentabilidade está interrelacionado
com a justiça social, qualidade de vida e equilíbrio ambiental.
4 Conclusão
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14
1. Introdução
1
Mestrando em Direito pelo Centro Universitário Christus (UNICHRISTUS). Especialista em Direito e Processo do
Trabalho pela Universidade Anhanguera (UNIDERP). Especialista em Controle Externo pela Universidade Estadual
Vale do Acaraú (UVA). Bacharel em Direito pela Faculdade Farias Brito. Consultor Técnico no Tribunal de Contas do
Estado do Ceará. E-mail: claytonbritojr@hotmail.com.
2
Pós-doutor (Universidade Presbiteriana Mackenzie). Mestre e Doutor em Direito (PUC-SP). Professor do
programa de pós-graduação stricto sensu da Unichristus e do curso de graduação do Centro Universitário Farias
Brito. Procurador Federal. E-mail: andrestudart@gmail.com.
3
Especialista em Direito e Processo do Trabalho pela Universidade Anhanguera (UNIDERP). Bacharel em Direito
pela Faculdade Farias Brito. Advogada. E-mail: talitactimbo@gmail.com.
228 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
social racional seja viável, posto que para ele, só com conhecimento ade-
quado poderíamos tomar decisões mais acertadas ou menos injustas, o que
pode influenciar na democracia.
Partimos, então, da ideia de que os Tribunais de Contas, sendo um
órgão que exerce fiscalização da conta pública, e que atua auxiliando o Po-
der Legislativo nesta função fiscalizatória, devem ser instrumentos
capazes de trazer informações importantes para serem ponderados pela
sociedade em geral nas tomadas de decisões que mais afetam a coletivi-
dade, como, por exemplo a de sufrágio, enriquecendo consideravelmente
os debates e consequentemente fomentando a justiça e a democracia sob
a ótica de Amartya Sen.
A utilização da função de controle social da administração pública,
auxiliada pelos Tribunais de Contas, pode ser compreendida, neste con-
texto, como um ato que vai além do autointeresse, que pretende impedir
uma injustiça evidente.
É de relevância inquestionável um banco de dados e mais ainda a
transparência e confiabilidade nas informações constantes neles, pois,
desse modo, orientam os cidadãos e a sociedade na tomada de decisões
para, assim, alcançar o bem comum.
Deste modo ao cidadão, tão importante quanto votar e ser votado deve ser:
- Acompanhar as ações dos eleitos (gestores/legisladores) no trato da coisa
pública;
- Participar e contribuir para o bem-estar da sociedade.
O Tribunal de Contas do século XXI deve ser capaz de dar respostas efetivas
às demandas da sociedade e, como foi apontado acima, sua ação será, inevita-
velmente, pautada pelo princípio da sustentabilidade.
4. Conclusão
5. Referências
BRITTO, Carlos Ayres. O Regime Constitucional dos Tribunais de Contas. Belo Hori-
zonte: Fórum, 2001. Disponível em: <https://www.editoraforum.com.br/
noticias/o-regime-constitucional-dos-tribunais-de-contas-ayres-britto/>. Acesso
em: 23 out. 2020.
LIMA, Edilberto Carlos Pontes; DINIZ, Gleison Mendonça. Avaliação de políticas públicas
pelos Tribunais de Contas: fundamentos, práticas e a experiência nacional e interna-
cional. In: SACHSIDA Adolfo (Organizador). Políticas públicas: avaliando mais de
meio trilhão de reais em gastos públicos. Brasília: Ipea, 2018. p. 399-416.
SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. Tradução de Laura Teixeira Motta. São
Paulo: Companhia das Letras, 2010.
Cidadania virtual:
o enfrentamento das capabilidades
em tempos de pandemia
1 Introdução
1
Mestre em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Passo Fundo. Especialista em Direito Penal. Pro-
fessor da Faculdade de Direito da UPF. Advogado. Presidente do Conselho da Comunidade do Sistema Penitenciário
de Passo Fundo. Presidente da APAC de Passo Fundo. Membro do Conselho Penitenciário do Estado do RS. E-mail:
vinitoazza@hotmail.com.
2
Graduando em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Passo Fundo - UPF. E-mail: leonardo.comine-
tti@gmail.com.
242 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
2 Cidadania virtual
Dizer que determinada regra é válida equivale a reconhecer que esta satisfaz a
todos os critérios propostos pela norma de reconhecimento e é, portanto, uma
norma do sistema. Na verdade, pode-se simplesmente dizer que a afirmação
de que certa norma é válida significa que tal norma satisfaz a todos os critérios
oferecidos pela norma de reconhecimento.
Por fim, pode-se entender que “pueden concebirse a las NT, en par-
ticular, a internet como un nuevo tejido comunitário para la sociedad civil
o como un instrumento de sujeción universal” (PÉREZ LUÑO, op. cit, p.
100). Tudo vai depender da consciência com que cada indivíduo acessa as
informações disponíveis no ciberespaço e da maturidade político partici-
pativa que ele possui.
Cabe, ainda referir que é preciso superar a cidadania apenas como
uma única identidade:
Em síntese, pode-se dizer que uma sociedade conectada cria seus ci-
bercidadãos capazes de interagir uns os outros, com a governança e
progressivamente com o cosmo. Não sendo imprescindível para assegurar
sua cibercidadania que todos com quem se relacione sejam da mesma na-
ção, já que se pensa de modo cosmopolita a ideia de cidadania, sem
barreiras territoriais ou de identidade nacional. Da mesma forma que se
promove a inclusão de todos na rede, comungando de uma visão multi-
culturalista da cidadania, que por hora se demonstra mais a mais sã e
equilibrada dentre outras.
Assim, pode-se constatar que quanto mais efetiva é a política pública,
mais o cidadão assume a condição de agente meio e não fim. A construção
de uma sociedade mais justa, para Sen, passa por um olhar apurado para
as políticas públicas, não com o fim de evidenciar as incapacidades do
cidadão, mais sim de trabalhar suas capacidades, chegando assim, no
Vinícius Francisco Toazza; Leonardo Tozzo Cominetti | 261
agente que interfere em seu meio, e busca por si próprio reduzir as desi-
gualdades sociais, econômicas e políticas.
4 Conclusão
5 Referências
BARRETO, Vicente de Paulo (coord.). Dicionário de filosofia política. São Leopoldo: Uni-
sinos, 2010.
Vinícius Francisco Toazza; Leonardo Tozzo Cominetti | 263
BERTASO, João Martins; HAMEL, Marcio Renan. Ensaios sobre reconhecimento e tole-
rância. Santo Ângelo: FuRI, 2016.
BOBBIO, Norberto. O Futuro da Democracia: Uma defesa das regras do jogo. 6aed.
Trad. Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
HART, Herbert Lionel Adolphus. O Conceito do Direito. 1aed. São Paulo: WMF Martins
Fontes, 2012.
HELD, David. Modelos de democracia. 3ª ed. Trad. Maria Hernámdez. Madrid: Alianza
Editorial, 2001.
LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 3ª ed. São
Paulo: Loyola, 2000.
264 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
MORAES, Dênis de. O Concreto e o Virtual. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. PADILHA, Lúcia.
Nacionalidades X Globalizados. Revista in Verbis, ano 2, n. 14, ago./set. 1998.
A ideia de justiça:
vidas que a almejam
Daniela Welter 1
Thami Covatti Piaia 2
1. Introdução
1
Acadêmica do 6° semestre da Graduação da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI
– Campus Santo Ângelo. Bolsista do Projeto “Cybberbullying nas escolas: informação e conscientização/Cybberbul-
lying nas escolas: perspectivas e desafios para alunos, professores e sociedade” nesta instituição. Endereço eletrônico:
danielawelter561@gmail.com.
2
Orientadora do artigo; Doutora em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Visiting
Scholar na Universidade de Illinois – Campus de Urbana-Champaign – EUA (2012). Professora na Graduação e no
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito, Mestrado e Doutorado da Universidade Regional Integrada
do Alto Uruguai e das Missões – URI -, Campus de Santo Ângelo/RS. Coordenadora do rojeto “Cybberbullying nas
escolas: informação e conscientização/Cybberbullying nas escolas: perspectivas e desafios para alunos, professores e
sociedade”. Endereço eletrônico: thamicovatti@hotmail.com
266 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
2. Desenvolvimento
aqueles que possuem condições de arcar com as despesas, bem como, fa-
vorece pessoas que somente agem em causa/benefício próprio. Sobre o
acesso à justiça, Vera Leilane Mota Alves de Souza discorre:
Se o processo for julgado por juiz parcial não teremos um julgamento, mas
uma fraude, pois a imparcialidade compõe a própria jurisdição, não restando
outra alternativa senão reconhecer que aqueles atos não têm qualquer valor.
[...] Juiz que atua com parcialidade corrompe a jurisdição e mancha o Poder
Judiciário. Não se trata de uma questão que alcança exclusivamente as partes.
Estas são diretamente atingidas, mas a atuação parcial afeta o Poder e a de-
mocracia.
Com o exposto acima, extrai-se que a justiça e o meio pelo qual ela é
representada, no Brasil pelo Poder Judiciário, deve ser imparcial, para uma
decisão justa, sem o favorecimento de uma das partes, por fatores como
por exemplo foro íntimo, subordinação, ou entendimento pessoal do jul-
gador fora dos moldes da lei.
Sobre a importância da análise da justiça e da injustiça, bem como da
imparcialidade e parcialidade, Sen explica que: “A linguagem da justiça e
da injustiça reflete uma boa dose de compreensão mútua e comunicação
do conteúdo das afirmações e alegações desse tipo, mesmo quando a na-
tureza substantiva das alegações seja contestada depois de ser
compreendida”. Diante disso, compreende-se que é necessário entender as
duas versões das partes contrárias que estão buscando um determinado
resultado, sendo este decidido pelo órgão responsável, visando uma deci-
são justa. Cada ser possui a sua verdade, o seu ponto de vista, e cabe a
justiça, de modo imparcial, objetivo e ligado a razão, decidir qual o resul-
tado que melhor adequa-se às legislações vigentes no Estado em que estes
encontram-se.
Outrossim, em tratando-se de justiça e seu conceito, é indubitável
afirmar que cada pessoa tem para si o que seria justiça, podendo esta ter
sua concepção diante de cada ser humano e a realidade que este vive. Mas,
270 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
fica claro que todos devem ter acesso à justiça, uma vez que a justiça e a
injustiça estão presentes no cotidiano por meio das realizações dos seres
humanos. Sobre o tema, Amartya Sen:
pela natureza e pelo funcionamento do mundo ao seu redor. [...] Quando al-
guém pensa, escolhe e faz algo, certamente é a pessoa, e não outra, quem está
fazendo tais coisas. Mas seria difícil compreender como e por que ela realiza
essas atividades sem alguma compreensão de suas relações sociais.
sendo forçado, e sim, pela sua própria consciência e vontade do ser hu-
mano (SEN, 2011).
Amartya Sen explica em seu livro, que uma pessoa pode realizar a
mesma ação estando coagida ou por livre escolha, o resultado final pode
ser exatamente o mesmo, contudo, a possibilidade que existe no meio
desta realização da ação é divergente, visto que, a pessoa quando não está
coagida ou forçada a algo, tem a total liberdade e a possibilidade de diver-
sas escolhas, de outra banda, se coagida em sua ação, esta não possui mais,
tais possibilidades, e assim, deve permanecer e fazer o que lhe foi exposto
sob pena de sofrer grave consequência. Com a liberdade, a pessoa pode
entender o que são coisas valoráveis para si. Pessoas têm vantagens indi-
viduais diferentes umas das outras, haja vista que esta relação está
fortemente ligada ao fato de que, quanto mais o indivíduo consegue reali-
zar, mais capacidade e liberdade de escolha este tem para ser livre.
Ainda, Pansieri discorre sobre o assunto nas perspectivas de Amartya
Sen.
3. Considerações finais
Referências
SOUZA, Vera Leilane Mota Alves de. Breves considerações sobre o acesso à justiça. 2013.
Disponível em https://jus.com.br/artigos/24200/breves-consideracoes-sobre-o-
acesso-a-justica. Acesso em 24 de out. de 2020.
1 Introdução
1
Graduanda em Psicologia, Uni-FACEF, pesquisa financiada pelo PIBIC CNPq, liviaquinoa@gmail.com.
2
Doutora e docente em Psicologia, Uni-FACEF, danifiribeiro@yahoo.com.br.
Livia Aquino Alves; Daniela de Figueiredo Ribeiro | 279
[...] a escola é uma instituição que utiliza o poder disciplinar para o controle
social. No entanto, ao mesmo tempo em que ela produz corpos dóceis e sub-
missos, ela também produz comportamentos de transgressão, como forma de
não submissão às regras impostas (BISPO; LIMA, 2014, p. 6).
[...] como fator de mudança social, por isso que levaria à modernização ou
racionalização, ou como instrumento de preservação da ordem vigente, por
isso que levaria à interiorização de crenças e valores que legitimam e perpe-
tuam as iniquidades sociais, a escola encontra-se assim sob fogos cruzados
(GOUVEIA, 1997, p. 28).
Apesar desta visão fazer parte de nossa sociedade Sen (2010) afirma
que não seria a solução o crescimento econômico simplesmente, afastando
as teorias que restringem o desenvolvimento, sendo àquelas que o limitam
ao crescimento econômico.
Livia Aquino Alves; Daniela de Figueiredo Ribeiro | 281
Ainda pensando desta forma, Goldin (2016, apud Mattos, 2017) traz
a concepção de que o desenvolvimento não está limitado ao crescimento
econômico e não pertence apenas ao estudo econômico. Ao contrário, o
próprio assunto se tornou objeto de estudo em sociologia, política, psico-
logia, geografia, história, medicina, antropologia, entre outras disciplinas,
se tornando interdisciplinar, e tem apontado rápida evolução.
Mattos (2017) diz que, considerando o desenvolvimento das capaci-
dades, a educação é um fator importante, tendo em vista que estas
possibilitam a concretização das liberdades substantivas, que são aquelas
que, sendo essenciais na realização de um indivíduo, não estão vinculadas
apenas ao acesso ao mercado ou ao crescimento econômico, dando impor-
tância às diferentes maneiras de relações e, ainda, considerando os direitos
civis e políticos importantes para uma atuação na sociedade, permitindo o
exercício de liberdade e a eleição de maneira efetiva e consciente sobre
aquilo que é importante e essencial para si, influenciando na perspectiva
da condição de agente, descrito por Sen, que está intimamente relacionado
às capacidades, às liberdades e ao desenvolvimento. Deste modo, as capa-
cidades são essenciais e decisivas no que se diz respeito ao fortalecimento
no desenvolvimento da sociedade e das potências humanas e da dimensão
da condição de agente. Sendo necessário, deste modo, promovê-las para
que haja tanto o desenvolvimento de seus integrantes quanto o bem-estar
destes, tendo em vista que é a partir dessas condições que uma atuação
efetiva e consciente se torna possível, considerando abrir caminhos, qua-
lificar a participação social e a importância do equilíbrio em uma sociedade
democrática.
Zambam e Aquino (2016), dizem que quando há oportunidade, por
meio da democracia, da participação social, com uma distribuição de poder
equitativa e promovendo condições melhores de desenvolvimento, há uma
ampliação de liberdades e um engrandecimento no que se refere às capa-
cidades humanas. Desse modo, poderão ser mitigados a fome, as
desigualdades, o desemprego, a miserabilidade, a exclusão.
282 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
quando aponta como exemplo aqueles que não têm acesso à educação, os quais
são excluídos do mercado de trabalho e de atividades econômicas que exijam
qualificação; bem como o analfabetismo, que impede de participar politica-
mente por simplesmente não compreenderem jornais ou conseguirem
comunicar-se de forma escrita. Mesmo em países ricos, é comum haver res-
trição para determinada porcentagem da população no que tange a educação
básica, acesso a serviços de saúde, saneamento básico, água tratada, emprego
remunerado ou segurança social. Essas formas de privação da liberdade geram
morbidez desnecessária e mortes prematuras/evitáveis ( AMARTYA SEN,
2010, p.59).
práticas escolares e sua orientação. Ainda que se possa idealizar que ocor-
ram conversões significativas nestas, é possível que dificilmente elas sejam
operadas sem que seja transformada a própria sociedade, de acordo com
Gouveia (1997).
Portanto, compreendendo que a “criação surge da transgressão, do
conflito, presente em todo grupo social” (BISPO; LIMA, 2014, p. 8), é nos
remetida à ideia de que é papel da escola dar abertura a espaços que cai-
bam a palavra e a promoção de estruturação de um sentido singular aos
estudantes, mesmo que dentro de um âmbito coletivo.
Considerando Mattos (2017), são muitos os incentivos, planejamen-
tos e esforços que buscam a melhoria da educação nas organizações
mundiais. A educação tem a possibilidade de decidir questões acerca de
problemas relevantes no mundo, atualmente. Para isso, a autora compre-
ende a necessidade na elaboração de políticas públicas que se
fundamentem em uma perspectiva global das sistematizações educacio-
nais. Além disso Mattos reconhece que a educação viabiliza a valorização,
o reconhecimento, o enriquecimento e a transformação de culturas, pro-
movendo sociedades que sejam pacíficas e assegurando a promoção da
empatia nas relações. Ainda, a educação por ser indispensável em oportu-
nizar inovação e tecnologia, controla-as e as influencia.
Desta forma, Amartya Sen (2010) coloca a liberdade como impres-
cindível no desfecho do desenvolvimento, considerando que o
“desenvolvimento pode ser visto como um processo de expansão das li-
berdades reais que as pessoas desfrutam” (SEN, 2010, p. 17). Essas
liberdades viabilizam a ação humana nas mais diversas perspectivas,
sendo de indiscutível relevância na vida humana.
Desde modo, de acordo com Zambam (2012), agindo de maneira
ativa e autônoma o indivíduo na condição de agente transforma e possibi-
lita o equilíbrio nas relações, sejam elas sociais ou ambientais. Além disso,
principalmente relacionados ao contexto educacional, influenciam na su-
peração das dificuldades sociais, sendo capazes de proporcionar a busca
288 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
2 Metodologia
3 Resultados e discussão
Mattos (2017), por fim, revela que considerar o meio social como de-
mocrático diz respeito à uma convivência onde há liberdade para atuação
e expressão, num contexto onde haja espaço para diferentes pensamentos
e opiniões, onde haja espaço para ser e agir.
4 Considerações finais
Referências
AVANCI, J. Q.; PESCE, R. P.; FERREIRA, A.L. Reflexões sobre Promoção da Saúde e Preven-
ção da Violência na Escola. In: ASSIS, S. G.; CONSTANTINO, P.; AVANCI, J. Q. (Orgs).
Impactos da violência na escola: um diálogo com professores [online]. Rio de
Janeiro: Ministério da Educação/Editora FIOCRUZ, 2010.
BISPO, F. S.; LIMA, N. L. de. A violência no contexto escolar: uma leitura interdisciplinar.
Educ. ver., Belo Horizonte, v. 30, n. 2, abr./jun. 2014
DAHLBERG, L. L.; KRUG, E.G. Violência: um problema global de saúde pública. Ciência &
Saúde Coletiva, 2007, p. 1164-1165.
LIBARDI, S. S.; CASTRO, L. R. Violências “sutis”: jovens e grupos de pares na escola. Frac-
tal, Ver. Psicol., Rio de Janeiro, v. 26, n 3, p. 1-12, set./dez. 2014
Organização Mundial da Saúde (WHO). World Report on Violence and Health. Geneva:
World Health Organization Press; 2002, p. 5 e 32.
SEN, A. A Ideia de Justiça. Tradução de Ricardo Donidelli Mendes, Denise Bottmann. São
Paulo: Companhia das Letras, 2011.
SEN, A. Desenvolvimento como Liberdade. Tradução Laura Teixeira. São Paulo: Compa-
nhia das Letras, 2010.
SILVA, B. R. V. S.; SILVA, A. O.; PASSOS, M. H. P.; SOARES, F. C.; VALENÇA, P. A. M.;
MENEZES, V. A.; COLARES, V.; SANTOS, C. F. B. F. Ciênc. saúde coletiva, Pernam-
buco, v. 23, nº9, p. 1-8, Set. 2018.
1. Introdução
1
Pós-Doutora pela Universidade Federal de Santa Catarina (2008). Doutora e Mestre em Direito pela Universidade
do Vale dos Sinos (2000). É coordenadora e docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu - Mestrado - em
Direito da Faculdade Meridional (IMED). É professora da UFFS - Universidade Federal da Fronteira Sul. E-mail:
salete.boff@imed.edu.br; e
2
Mestrando e Graduado em Direito pela Faculdade Meridional – IMED/RS (2020). Advogado. E-mail: wgno-
atto.adv@gmail.com.
300 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
3
Texto original: “[...] we must ask not only who designed the model but also what that person or company is trying
to accomplish.”
302 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
média 6 horas e 43 minutos dos seus dias na internet, o que pode significar
40% do seu tempo de vida4.
A democracia necessita a compreensão da visão do outro e de empa-
tia, entretanto, cada vez mais é ofertado aos cidadãos uma visão paralela e
ímpar sobre aspectos de convívio social, políticos, morais, entre outros.
Como o processo é silencioso e nada disruptivo, os usuários estão sob a
demanda das grandes corporações e de seus interesses.
Há cinco empresas que trabalham incisivamente com bases e análise
de dados, disciplinando a forma como nos relacionamos com o mundo.
São elas: a) Alphabet (participante do universo Google que possui o sis-
tema operacional Android); b) Amazon (notória pelos serviços de
streaming, e-books e smart speakers); c) Apple (fabricante de hardwares
com ecossistema próprio, como os iPhones e a Apple TV); d) Facebook
(também controlador das plataformas WhatsApp e Instagram); e e) Mi-
crosoft (criadora do Windows, sistema operacional de 90% dos
computadores do mercado), notoriamente conhecida (KISCHINHEVSKY e
FRAGA, 2020, p. 127-129).
É fundamental a compreensão de que essas empresas, apesar de seus
processos originários ocorrerem de forma online, se espalham para o
mundo real. É nesse sentido que Shoshana Zuboff indaga: se o Google é
apenas uma empresa que promove sites de busca, por que investe em dis-
positivos de casa inteligente, carros autônomos, entre outros? E, se o
Facebook é apenas uma rede social, por que está desenvolvendo drones e
métodos de realidade aumentada? Os dados pessoais estão sendo explora-
dos e extorquidos de todas as maneiras possíveis (ZUBOFF, 2019).
A Lei nº 13.709/2018 (BRASIL, 2018) define e conceitua o que é um
dado pessoal, disciplinando se trata de qualquer informação relacionada a
uma pessoa natural identificada ou identificável. Dessa forma, o diploma
legal possibilita as identificações que não são diretamente vinculadas à al-
guém, ou seja, com o big data e tecnologias de análise de dados, pode-se
4
www.datareportal.com. Digital 2020: Global Digital Overview. Disponível em:
<https://datareportal.com/reports/digital-2020-global-digital-overview>. Acesso em 23 set. 2020;
Salete Oro Boff; Wellinton Silva Gnoatto | 303
chegar a uma identificação de uma pessoa natural, ainda que não se obte-
nha nome, sobrenome, etc.
A posição de uma pessoa num ordenamento social pode ser julgada por duas
perspectivas diferentes, que são (1) a realização de fato conseguida, e (2) a
liberdade para realizar. A realização liga-se ao que conseguimos fazer ou al-
cançar, e a liberdade, à oportunidade real que temos para fazer ou alcançar
aquilo que valorizamos. As duas não necessitam ser congruentes. (SEN, 2001,
p. 69).
“[...] dado pessoal sobre origem racial ou étnica, convicção religiosa, opinião
política, filiação a sindicato ou a organização de caráter religioso, filosófico ou
político, dado referente à saúde ou à vida sexual, dado genético ou biométrico,
quando vinculado a uma pessoa natural” (BRASIL, 2018).
4. Conclusão
Referências
O’Neil, Cathy. Weapons of math destruction: how big data increases inequality and thre-
atens democracy. New York: Crown, 2016.
PARISER, Eli. O filtro invisível: o que a internet está escondendo de você. Tradução de
Diego Alfaro. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.
SEN, Amartya Kumar. A ideia de Justiça. Tradição de Denise Bottmann e Ricardo Doninelli
Mendes. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
310 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
STAFFEN, Márcio Ricardo. Interfaces do direito global. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2015.
ZAMBAM, Neuro José; KUJAWA, Henrique Aniceto. As políticas públicas em Amartya Sen:
condição de agente e liberdade social. Revista Brasileira de Direito, Passo Fundo,
vol. 13, n. 1, p. 60-85, jan./abr. 2017. Disponível em: <https://seer.imed.edu.br/in-
dex.php/revistadedireito/article/view/1486/1112>. Acesso em 26 jul. 2020.
ZUBOFF, Shoshana. The age of surveillance capitalism: the fight for a human future at
the new frontier of power. New York: PublicAffairs, 2019.
19
Introdução
1
Advogado. Especialista em Direito Público. Técnico Administrativo em Educação no Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia Farroupilha. Membro do Núcleo de Inovação e Transferência de Tecnologia. Graduando em
Formação Pedagógica para Professores da Educação Profissional pela mesma instituição de ensino. Mestrando em
Direito e membro do GEDIPI, ambos pela Faculdade Meridional de Passo Fundo-RS. E-mail: dionislea-
ladv@gmail.com
312 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
2
Portal de transparência do governo federal: http://www.portaltransparencia.gov.br/
314 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
3
Sobre o tema, ver o Guia de Transparência Ativa do governo federal. Disponível em: https://reposito-
rio.cgu.gov.br/bitstream/1/46643/1/gta_6_versao_2019.pdf.
Dionis Janner Leal | 315
2 Accountability empresarial?
4
Lei n° 8.313/1991.
5
Lei n° 11.196/2005.
Dionis Janner Leal | 317
6
Diz-se sanção indireta uma vez que as sanções aplicadas a agente público pelo não atendimento das disposições da
LAI são pautadas por legislação esparsa, específica, como a de improbidade administrativa.
Dionis Janner Leal | 319
7
Lei n° 12.527/2011. Art. 33. A pessoa física ou entidade privada que detiver informações em virtude de vínculo de
qualquer natureza com o poder público e deixar de observar o disposto nesta Lei estará sujeita às seguintes sanções:
I - advertência; II - multa; III - rescisão do vínculo com o poder público; IV - suspensão temporária de participar em
licitação e impedimento de contratar com a administração pública por prazo não superior a 2 (dois) anos; e V -
declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a administração pública, até que seja promovida a reabili-
tação perante a própria autoridade que aplicou a penalidade.
Dionis Janner Leal | 321
4 Considerações Finais
8
Sobre o tema ver: LEAL, Dionis Janner. Accountability no setor público sobre a perspectiva de Amartya Sen: do
estado eficiente ao estado de controle e gestão de riscos. In: LUCAS, Doglas Cesar et al (Orgs.). Direitos Humanos e
Dionis Janner Leal | 323
cidadão de, diretamente, aplicar sanções, mas por um órgão estatal que
possua essa prerrogativa.
Referências
CABRAL, Flávio Garcia; CABRAL, Dafne Reichel. O Tribunal de Contas da União (TCU) e
seu papel para um accountability horizontal efetiva. Revista de Direito Adminis-
trativo e Infraestrutura, São Paulo, vol. 6/2018, p. 143 – 164, Jul - Set 2018.
Online. Acesso em: 17 ago. 2019.
GIOVANINI, Wagner. In: PAULA, Marco Aurélio Borges de; CASTRO, Rodrigo Pironti Agui-
rre de. Compliance, gestão de riscos e combate à corrupção: integridade para o
desenvolvimento. Belo Horizonte: Fórum, 2018.
KOPPELL, Jonathan G S. Wold rule. Accountability, Legitimacy, and the Design of Glo-
bal Governance. The University of Chicago Press, 2010.
LEAL, Dionis Janner. Accountability no setor público sobre a perspectiva de Amartya Sen:
do estado eficiente ao estado de controle e gestão de riscos. In: LUCAS, Doglas
Cesar et al (Orgs.). Direitos Humanos e Democracia em tempos de crise: a pro-
teção jurídica das minorias. Vol. 2. p. 544-558. Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2019.
Democracia em tempos de crise: a proteção jurídica das minorias. Vol. 2. p. 544-558. Porto Alegre, RS: Editora Fi,
2019.
324 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
SEN, Amartya; DRÈZE, Jean. Glória incerta: a Índia e suas contradições. Tradução de
Ricardo Doninelli Mendes Laila Coutinho. São Paulo: Compa-nhia das Letras,
2015, on-line.
1 Introdução
1
Mestranda em Ciências Jurídicas pela Universidade Federal da Paraíba-UFPB. E-mail: jessikasaraiva@gmail.com..
2
Mestranda em Ciências Jurídicas pela Universidade Federal da Paraíba-UFPB. E-mail: thaynna.ba@gmail.com.
3
Professora dedicação exclusiva da UFPB (Associada I), ensinando na Graduação (Hermenêutica Jurídica, Direito
Internacional Privado) e Pós-Graduação em Direito - Mestrado e Doutorado (Metodologia, Teoria Geral do Direito).
Membro do GT Ética e Cidadania da ANPOF. Graduada (UNICAP), Mestra e Doutora (UFPE) em Direito. Desenvolve
pesquisas voltadas à atividade judicial. E-mail: lorenamfreitas@hotmail.com
326 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
Afirma SEN (2010, p. 48) que nossas liberdades são diversas, ha-
vendo um processo de valoração explícita na determinação do peso
específico das diferentes formas de liberdade quando se contrapõe às van-
tagens individuais e ao progresso social. Em todo esse trato, encontra-se
explícito a valoração dos valores, isto é, a “seleção dos valores mais valio-
sos”, ainda que nem sempre isso seja feito explicitamente – aliás, na
maioria das vezes sucede implicitamente.
328 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
continuemos nesse ritmo crescente de 352,6 pessoas presas para cada 100
mil habitantes, logo ocuparemos o segundo lugar no vergonhoso ranking
de encarceramento no mundo, caminhando na contramão da tendência
mundial.
Ademais, a superlotação é notória, claramente constatável quando a
realidade é de 700 mil presos para pouco mais de 350 mil vagas. Esse é
um dos fatores que contribui para a violação de Direitos Humanos siste-
matizada que será abordada no próximo capítulo.
Em contrapartida a essa realidade vergonhosa do sistema carcerário,
do ser e do dever ser, a lei Nº 7.210/ 1984 (lei de Execução penal-LEP), que
deve ser aplicada tanto ao preso provisório quanto ao apenado na execu-
ção provisória ou definitiva da pena ou da medida de segurança, prevê a
individualização da execução da pena. Assim como ocorre na sentença (do-
simetria), na execução cada condenado possui um processo de execução
individualizado, consoante ao princípio da individualização da pena, uma
vez que a execução penal é um novo processo de caráter jurisdicional e
administrativo que tem como fim colocar em prática as disposições da sen-
tença ou da decisão judicial e proporcionar condições para a harmônica
integração social do preso, ou seja, sua ressocialização.
Nesse sentido, os artigos 5 e 84 da LEP com base no princípio de
individualização da pena, dispõem que o preso provisório ficará em celas
separadas do condenado por sentença transitada em julgado. Na prática,
contudo, essa separação não é feita, os presos provisórios são misturados
aos que possuem condenação definitiva e os presos definitivos não são se-
parados de acordo com a gravidade do delito, seus antecedentes e
personalidade, para orientar a individualização da execução penal. Res-
salte-se que devem ser garantidos ao preso todos os direitos não suspensos
pela sentença, tais como assistência à saúde, judiciária, educacional e rein-
gresso ao trabalho, conforme os princípios Reeducativos ou da
Ressocialização e princípio da Humanização das penas, ambos com ali-
cerce na Dignidade da Pessoa Humana.
Jéssika Saraiva de Araújo Pessoa; Thaynná Batista de Almeida; Lorena de Melo Freitas | 335
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Artigo 9º- Todo o acusado se presume inocente até ser declarado culpado e, se se julgar indispensável prendê-lo,
todo o rigor não necessário à guarda da sua pessoa, deverá ser severamente reprimido pela Lei.
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Artigo XI 1. Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua
culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas
todas as garantias necessárias à sua defesa.
336 | Estudos sobre Amartya Sem - Volume 8
Conclusão
Referências
_______. Supremo Tribunal Federal. ADPF n. 347 – DF. Rel. Min. Marco Aurélio. Infor-
mativo STF, n. 798. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/
documento/informativo798.htm>. Acesso em: 05.05.2019.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADPF n. 347 – DF. Rel. Min. Marco Aurélio. Informa-
tivo STF, n. 798. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/
documento/informativo798.htm>. Acesso em: 05.07.2019.
SANDEL, Michael J. Justiça: O que é fazer a coisa certa. Rio de Janeiro: Civilização Brasi-
leira, 2012.
SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. Tradução de Laura Teixeira Motta. São
Paulo: Companhia de letras, 2010.
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