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Mauro José de Deus Morais

Francisco Naildo Cardoso Leitão


Maura Bianca Barbary de Deus
Fabiano Santana de Oliveira
Marcos Cordeiro Araripe
(Orgs.)

Estudos e Escrita Científica


Multidisciplinar em

Ciências da Saúde
Vol. 2

científica digital
EDITORA CIENTÍFICA DIGITAL LTDA
Guarujá - São Paulo - Brasil
www.editoracientifica.com.br - contato@editoracientifica.com.br

Diagramação e Arte Edição © 2023 Editora Científica Digital


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E82
Estudos e escrita científica multidisciplinar em ciências da saúde / Organizadores
Mauro José de Deus Morais, Francisco Naildo Cardoso Leitão, Maura Bianca Barbary
de Deus. – Guarujá-SP: Científica Digital, 2023.
Outros organizadores: Fabiano Santana de Oliveira e Marcos Cordeiro Araripe ACESSO LIVRE ON LINE - IMPRESSÃO PROIBIDA
E-BOOK
Formato: PDF
Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui Bibliografia
ISBN 978-65-5360-480-3
DOI 10.37885/978-65-5360-480-3

1. Saúde. I. Morais, Mauro José de Deus (Organizador). II. Leitão, Francisco Naildo Cardoso
(Organizador). III. Deus, Maura Bianca Barbary de, (Organizadora). IV. Título.
CDD 613

Elaborado por Janaina Ramos – CRB-8/9166

Índice para catálogo sistemático:


I. I. Saúde 2023
Mauro José de Deus Morais
Francisco Naildo Cardoso Leitão
Maura Bianca Barbary de Deus
Fabiano Santana De Oliveira
Marcos Cordeiro Araripe
(Orgs.)

Estudos e Escrita Científica


Multidisciplinar em Ciências da Saúde

Volume 2

1ª EDIÇÃO

científica digital

2023 - GUARUJÁ - SP
CONSELHO EDITORIAL Prof. Dr. Humberto Costa
Prof. Dr. Joachin Melo Azevedo Neto
Prof. Dr. Jónata Ferreira de Moura
Prof. Dr. André Cutrim Carvalho Prof. Dr. José Aderval Aragão
Prof. Dr. Antônio Marcos Mota Miranda Prof. Me. Julianno Pizzano Ayoub
Profª. Ma. Auristela Correa Castro Prof. Dr. Leonardo Augusto Couto Finelli
Prof. Dr. Carlos Alberto Martins Cordeiro Prof. Dr. Luiz Gonzaga Lapa Junior
Prof. Dr. Carlos Alexandre Oelke Prof. Me. Marcelo da Fonseca Ferreira da Silva
Profª. Dra. Caroline Nóbrega de Almeida Profª. Dra. Maria Cristina Zago
Profª. Dra. Clara Mockdece Neves Profª. Dra. Maria Otília Zangão
Profª. Dra. Claudia Maria Rinhel-Silva Prof. Dr. Mário Henrique Gomes
Profª. Dra. Clecia Simone Gonçalves Rosa Pacheco Prof. Dr. Nelson J. Almeida
Prof. Dr. Cristiano Marins Prof. Dr. Octávio Barbosa Neto
Profª. Dra. Cristina Berger Fadel Prof. Dr. Pedro Afonso Cortez
Prof. Dr. Daniel Luciano Gevehr Prof. Dr. Reinaldo Pacheco dos Santos
Prof. Dr. Diogo da Silva Cardoso Prof. Dr. Rogério de Melo Grillo
Prof. Dr. Ernane Rosa Martins Profª. Dra. Rosenery Pimentel Nascimento
Prof. Dr. Everaldo dos Santos Mendes Prof. Dr. Rossano Sartori Dal Molin
Prof. Dr. Fabricio Gomes Gonçalves Prof. Me. Silvio Almeida Junior
Profª. Dra. Fernanda Rezende Profª. Dra. Thays Zigante Furlan Ribeiro
Prof. Dr. Flávio Aparecido de Almeida Prof. Dr. Wescley Viana Evangelista
Profª. Dra. Francine Náthalie Ferraresi Queluz Prof. Dr. Willian Carboni Viana
Profª. Dra. Geuciane Felipe Guerim Fernandes Prof. Dr. Willian Douglas Guilherme

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APRESENTAÇÃO

Esta segunda edição tem como objetivo principal ofertar através do nosso
laboratório multidisciplinar de estudos e escrita científica em ciências da saúde
– LaMEECCS da Universidade Federal do Acre a oportunidade ao mundo
acadêmico a chance de apresentar seus produtos intelectuais desenvolvidos,
através de capítulo de livro. Dessa forma, incentivar alunos, professores, pes-
quisadores entre outros, a continuarem aplicando seus conhecimentos em prol
da ciência e da humanidade. Os assuntos desta obra, são os mais diversos
possíveis, tendo informações de todo o Brasil na grande área da saúde. Temos
a intenção em nosso próximo exemplar, em apresentar pesquisas exclusivamente
de alunos de graduação que fazem parte do nosso Centro de Ciências da saúde
e do desporto da Universidade federal do Acre, que envolve os cursos de
medicina, enfermagem, saúde coletiva, educação física e nutrição, fazendo com
que eles se sintam motivados ao processo de estudos e pesquisas. Eu, professor
Dr. Mauro José de Deus Morais, como presidente deste laboratório agradeço
aos colaboradores que fazem parte deste grupo, pelo apoio e parceria.

Prof. Dr. Mauro José de Deus Morais


Prof. Dr. Francisco Naildo Cardoso Leitão
Profª. Me. Maura Bianca Barbary de Deus
Prof. Me. Fabiano Santana de Oliveira
Prof. Me. Marcos Araripe Cordeiro
SUMÁRIO
Capítulo 01
A EDUCAÇÃO NA SAÚDE EM TEMPOS DE PANDEMIA
Joseane Stahl Silveira; Lyana Duarte Borba da Silva; Roberta Mielczarski Martins

' 10.37885/231014806....................................................................................................................................... 9

Capítulo 02

A UTILIZAÇÃO DA INSULINA NOS PROCESSOS METABÓLICOS DE


EMAGRECIMENTO
Sydneia Aparecida Aleixo da Silva; Julyana Viegas Campos Cavalcanti; Diana Ramos Cavalcanti;
Arlindo Gomes de Souza Neto; Gleiciele do Nascimento Bento; Emanuella Barros de Souza
Oliveira Alvares; Mayara Paes de França Silva; Danúbia Raíssa Ferreira de Lima Dias; Raí Rogério
da Silva; Danilo Ramos Cavalcanti

' 10.37885/231114970........................................................................................................................................ 31

Capítulo 03

ATENÇÃO À CRISE NOS SERVIÇOS TERRITORIAIS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL:


TRANSFORMANDO CENAS
Fernando Sfair Kinker; Maria Inês Badaró Moreira

' 10.37885/230914532...................................................................................................................................... 41

Capítulo 04

AUTOMEDICAÇÃO E USO IRRACIONAL DE ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO


ESTEROIDAIS POR PACIENTES ATENDIDOS EM UNIDADES BÁSICAS DE
SAÚDE NA CIDADE DE FEIRA NOVA–PE
Matheus da Rocha Gomes; Raí Rogério da Silva; Mairla Cristiane Vieira de Sousa; Gleiciele do
Nascimento Bento; Arlindo Gomes de Souza Neto; Diana Ramos Cavalcanti; Mayara Paes de
França Silva; Danúbia Raíssa Ferreira de Lima Dias; Julyana Viegas Campos Cavalcanti; Danilo
Ramos Cavalcanti

' 10.37885/231114963........................................................................................................................................ 62
SUMÁRIO

Capítulo 05

AVALIAÇÃO DOS EFEITOS BENÉFICOS DO EXERCÍCIO FÍSICO PARA


TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
Emilly Sousa Diniz; Bruno Biths Batista; Amanda Vitória Rodrigues dos Santos; Juliana Maria Bello
Jastrow; Alberto Grover Prado Lopez; Maria da Conceição Silva da Silva; Marcos Cordeiro Araripe;
Beatriz Lima Bandeira; Rendrick Alexandre Alemão Rogério; Francisco Naildo Cardoso Leitão
' 10.37885/231014720....................................................................................................................................... 74

Capítulo 06

CÂNCER E DEPENDÊNCIA EMOCIONAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA


Fernanda Dias Alves; Tábita Pires Peixoto Camacho; Elton Euler da Silva Reis

' 10.37885/231014785....................................................................................................................................... 88

Capítulo 07

ESTIMATIVA DA ACUIDADE AUDITIVA EM LACTENTES DE ALTO RISCO


Georgea Espindola Ribeiro; Daniela Polo Camargo da Silva

' 10.37885/230914463.................................................................................................................................... 100

Capítulo 08

ESTUDO DA EVOLUÇÃO DA MORTALIDADE POR CÂNCER CEREBRAL NO


BRASIL AO LONGO DA ÚLTIMA DÉCADA (2011-2021)
Juliana Maria Bello Jastrow; Nicolly Teixeira de Oliveira; Ana Carolina Almeida Meirelles; Laura
Aparecida Perim da Cruz; Luiza Andrade Peixoto; Thaísa Gabriela da Páscoa Olivera; Maria da
Conceição Silva da Silva; Ana Clara Ferreira Asbeque Ribeiro; Daniel Ribeiro Pinheiro Ferreira
Asbeque; Francisco Naildo Cardoso Leitão

' 10.37885/231014878...................................................................................................................................... 113

Capítulo 09

EXERCÍCIOS FÍSICOS COMO TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO PARA


IDOSOS HIPERTENSOS: UMA REVISÃO NARRATIVA
Fernando Alipio Rollo Neto; Lorrane Rocha da Cunha Leite; Ana Karolina Lobo Pereira; Reginaldo
Souza Fayal Junior; Ismael Ferreira Brito; Vanessa de Paula Moraes dos Santos; Diemerson Willy
da Silva Pamplona; Kaylon Mateus Marcondes Bezerra; Evellyn Thaina de Araujo Lemos; Lucas
Fernando Alves e Silva

' 10.37885/231014729......................................................................................................................................128
SUMÁRIO

Capítulo 10

IDENTIFICACIÓN DE DEMENCIA MEDIANTE RESONANCIA MAGNÉTICA Y


CARACTERÍSTICAS EXTRAÍDAS
Mijail Aldo Hancco Condori; Andres Ladislao Cornejo Pinto; Nick Nestor Hancco Condori; Diego
Jesus Guerra Huanqui; Pamela Carmen Mamani Gonzales; Juan Pedro La Torre Veliz; Valerio
Palacios Chambi Quecara; Pamela Lisbeth Mendoza Pari; Nancy Cutisaca Hancco; Celestino
Marcial Condori Mamani

' 10.37885/231014829...................................................................................................................................... 137

Capítulo 11

MARCADORES LABORATORIAIS PARA DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DE


ÚLCERAS EM PÉ DIABÉTICO: UMA REVISÃO DA LITERATURA
Jullian Torres Braz da Silva; Dhamacynho César de Lima Peres

' 10.37885/231014713.......................................................................................................................................158

Capítulo 12

PADRÃO DO SONO DOS PRATICANTES RECREACIONAIS DE JIU-JITSU


Catriny Menezes de Souza Almeida; Ramon Oliveira Ferreira; João Carlos Rodrigues Carvalho;
Fabiano Santana de Oliveira; Ana Clara Ferreira Asbeque; Maura Bianca Barbary de Deus; Danielle
Ferreira do Nascimento Linard; Francisco Naildo Cardoso Leitão; Mauro José de Deus Morais;
Carlos Roberto Teixeira Ferreira

' 10.37885/231014767...................................................................................................................................... 171

Capítulo 13

RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE COMO MÉTODO DE ENFRENTAMENTO


POR PACIENTES SUBMETIDOS À CIRURGIA CARDÍACA: REVISÃO DE
LITERATURA
Renato Vargas Fernandes; Maristela Silveira Rodrigues; Larissa Kochenborger

' 10.37885/231014716.......................................................................................................................................183

SOBRE OS ORGANIZADORES................................................................................................... 199


ÍNDICE REMISSIVO................................................................................................................................ 200
01

A EDUCAÇÃO NA SAÚDE EM TEMPOS DE


PANDEMIA

Joseane Stahl Silveira


Universidade Luterana do Brasil (ULBRA)

Lyana Duarte Borba da Silva


Universidade Luterana do Brasil (ULBRA)

Roberta Mielczarski Martins


Universidade Luterana do Brasil (ULBRA)

' 10.37885/231014806
RESUMO

Objetivo: O objetivo deste estudo é demonstrar como a educação na saúde


sofreu modificações ao longo da pandemia de Covid-19, utilizando-se principal-
mente das tecnologias da informação e comunicação (TICs) para intermediar
as ações educativas durante este período. Métodos: O estudo foi realizado
em um hospital público-universitário, de Porto Alegre - RS. Trata-se de uma
pesquisa quantitativa descritiva, que traz dados de cunho documental acerca
da realidade vivenciada a partir da pandemia. Para a análise das ações edu-
cativas, foram utilizados os relatórios do sistema informatizado, identificando
as capacitações realizadas antes e durante a pandemia da Covid-19, quanto a
sua modalidade. Resultados: A partir de 2020, verificou-se um aumento sig-
nificativo das capacitações realizadas através das duas principais ferramentas
utilizadas na instituição, Moodle e Google Meeting, prevalecendo sobre as
capacitações realizadas presencialmente, passando da média de 59% do total
de participações para uma média de 77% das participações. Em diálogo com
o referencial teórico que embasa as questões educacionais alinhadas com a
educação permanente na saúde, foi possível analisar os dados relativos aos
processos de qualificação e verificar como a instituição se adaptou em relação
às suas práticas educativas frente à pandemia da Covid-19, fortalecendo, a partir
dela, o uso de ferramentas da tecnologia da informação e comunicação (TICs)
para a educação a distância (EAD). Conclusão: Mesmo decretado o fim da
pandemia da Covid-19, permanecem as estratégias adotadas neste período e
que obtiveram êxito, consolidando a Educação a Distância como uma estratégia
educacional eficiente e de qualidade.

Palavras-chave: Educação a Distância, Educação Continuada, Educação


Permanente em Saúde, Pandemia.

Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


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INTRODUÇÃO

A pandemia de Covid-19 constituiu o maior desafio enfrentado pelos


sistemas de saúde do mundo, desde que surgiram os primeiros casos na
China, em 20191. Em janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
declarou o surto do vírus da Covid-19 uma emergência de saúde pública de
importância internacional. Em março do mesmo ano, caracterizou-o como uma
pandemia. Essa situação exigiu de todos os países a elaboração de políticas
públicas emergenciais em curto, médio e longo prazo, com o objetivo de conter
a velocidade de contágio2.
Nesse contexto crítico, surgiu a necessidade premente de encontrar
abordagens seguras para instruir os profissionais da área da assistência acerca
dos procedimentos a serem adotados, visando evitar a propagação do novo
vírus. Adicionalmente, atividades intrínsecas à rotina hospitalar prosseguiram,
mas, uma vez mais, demandaram adaptações significativas devido à iminência
do contágio, resultando em alterações nos protocolos até então vigentes nos
serviços de assistência à saúde, evidenciando que os profissionais não estavam
preparados para atuar no enfrentamento da Covid-193.
Em virtude do iminente perigo de contágio enfrentado pelos trabalha-
dores, foi essencial estabelecer um conjunto de prioridades que orientasse a
reestruturação dos procedimentos laborais, com a intenção de proporcionar
a formação adequada aos profissionais envolvidos no cuidado de pacientes
suspeitos ou diagnosticados com Covid-19. Ademais, as adequações na rotina
dos profissionais foram necessárias para dar continuidade ao atendimento
de centenas de pessoas, tornando urgente a retomada de novos e rotineiros
processos com profissionais, pacientes e familiares. Diante dessas situações
desafiadoras no contexto da pandemia, as instituições de saúde de todo o
mundo precisaram adaptar não só a sua forma de trabalhar, mas também for-
mas de se qualificar, tornando a educação na saúde fundamental para atender
às dinâmicas transformações e incertezas impostas pela pandemia. Segundo o
Glossário eletrônico do Ministério da Saúde4, Educação na Saúde é a “produção
e sistematização de conhecimentos relativos à formação e ao desenvolvimento
para a atuação em saúde, envolvendo práticas de ensino, diretrizes didáticas
e orientação curricular”.

ISBN 978-65-5360-480-3 - Vol. 2 - Ano 2023 - www.editoracientifica.com.br


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A Educação Permanente em Saúde foi estabelecida como política de
formação e desenvolvimento do Sistema Único de Saúde, pela Portaria nº
198, de 13 de fevereiro de 2004, sendo definida como a estratégia do Sistema
Único de Saúde para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores para
o setor5. Ela se fundamenta na premissa da aprendizagem que efetivamente
agrega valor e na perspectiva de concretamente remodelar as práticas pro-
fissionais, configurando-se intrinsecamente na vida diária tanto das pessoas
quanto das organizações. Sua essência consiste em derivar dos desafios que
se manifestam na realidade, recorrendo à análise crítica do próprio processo
de trabalho como ponto de partida, partindo, desse modo, da problematização
do processo de trabalho5.
Nos dias atuais, é notório que a abrangência da Política de Educação
Permanente em Saúde transcende as fronteiras das diversas esferas que com-
põem o setor de saúde, exercendo uma influência diretriz abrangente sobre
uma ampla gama de atividades voltadas para o aprimoramento contínuo dos
profissionais que atuam nesse campo vital. Uma política de educação para o
SUS envolve não somente o desenvolvimento dos profissionais de saúde que
já estão trabalhando no SUS, também envolve estudantes, docentes, pesquisa-
dores, gestores de ensino e gestores de informação científico-tecnológica que
estão em seus respectivos nichos ocupacionais6.
À luz das considerações previamente apresentadas, torna-se patente
a compreensão de que os domínios da educação e da saúde mantêm uma
estreita e inseparável conexão, evoluindo de mãos dadas para se adaptarem às
metamorfoses da sociedade. Nesse contexto, em meio aos desafios impostos
pela pandemia, essa interligação se revela ainda mais essencial e inextricável.
Durante este período, observou-se um relevante esforço em busca de condutas
terapêuticas mais eficazes para reduzir a mortalidade dos pacientes, e junta-
mente com este esforço, a necessidade de adotar estratégias de aprendizagem,
a fim de incorporar os novos conhecimentos qualificadores da prática profissio-
nal7. No momento em que a sociedade globalizada se viu imersa em mudanças
radicais, emergiu a urgente demanda por uma curva de aprendizado acelerada
acerca de um novo vírus. Simultaneamente, a expansão das capacidades edu-
cacionais tornou-se uma necessidade imperativa para atender às exigências de

Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


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formação profissional, levando em consideração o contexto de distanciamento
social que estava sendo imposto naquele momento.
A realidade é que houve, de maneira incontestável uma quebra de para-
digmas na educação, sem precedentes, devido à disseminação da Covid-19.
Isto não somente impulsionou de forma significativa o ritmo da inovação, mas
também ampliou os obstáculos a serem enfrentados. Nesse panorama, emergi-
ram múltiplas propostas de caráter global, todas voltadas para a adaptação dos
processos educacionais a essa realidade inédita e intrincada que se apresentou.
Nesse processo de conformidade, as instituições educacionais de todo o mundo
precisaram se reorganizar e se reestruturar para dar respostas, dentro do seu
contexto e de suas possibilidades, a esse grande desafio8.
O Ministério da Saúde emitiu diretrizes recomendando a adoção de
medidas preventivas visando mitigar os riscos de infecção entre os profissio-
nais de saúde. Nesse contexto, ficou evidente uma dualidade de preocupações
que orientou a formulação dessas orientações. Por um lado, havia a imperiosa
necessidade de capacitar os profissionais da saúde para enfrentar uma doença
inédita, cuja fisiopatologia ainda permanecia em grande parte desconhecida.
Por outro lado, esse imperativo se desdobrava em um cenário onde tratamen-
tos específicos ainda eram incipientes. Diante dessas mudanças, ao mesmo
as evidências mostravam a alta transmissibilidade do vírus. Com isso surgia a
necessidade premente de proteger os trabalhadores que assistiam diretamente
os casos clínicos3.
Diante do cenário da pandemia de Covid-19, o hospital em questão
precisou se adaptar rapidamente a esta realidade de incertezas, repensando
as práticas de qualificação para que fosse possível conciliar o momento de
pandemia com a crescente necessidade de atendimento qualificado e seguro
para a população. Dessa forma, as capacitações necessárias, para formação
em serviço, foram adaptadas, principalmente para o ambiente virtual, utilizando
os recursos da Educação à Distância (EAD) e das Tecnologias da Informação
e da Comunicação (TICs) para desenvolver tais capacitações.
A EAD, enquanto abordagem pedagógica, não se configura como uma
novidade recente, tanto dentro do contexto do hospital mencionado, quanto no
âmbito mais amplo da área da saúde e do campo educacional como um todo.
Sua presença e utilização remontam a períodos anteriores, evidenciando-se

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como uma prática já consolidada e reconhecida por sua relevância. No Brasil,
foi reconhecida como modalidade regular do sistema educacional brasileiro
com a Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, aprovada em 20
de dezembro de 1996, evidenciando seu crescimento através do aumento do
número de cursos regulares oferecidos nesta modalidade.
Entretanto, a EAD ganhou espaço não só nos ambientes acadêmicos,
mas também em ambientes não escolares, pois ela oportuniza a ampliação
de situações de aprendizado, facilitando o acesso ao conhecimento, além de
oferecer recursos e métodos que condizem com o perfil atual dos alunos e
das organizações. Destaca-se também pela utilização de novas ferramentas
pedagógicas, que pela complexidade envolvida, requerem dos alunos maior
responsabilidade e disciplina para alcançar os objetivos propostos pelo curso,
pois proporciona autonomia na organização dos estudos, flexibilidade de horário
e localização e independência no ritmo de aprendizagem8.
Diante do exposto, objetiva-se demonstrar no contexto da educação na
saúde, em um hospital universitário, as possibilidades e desafios de dar con-
tinuidade à educação na saúde em meio à pandemia, utilizando a formação à
distância, intermediada por duas ferramentas da tecnologia da informação e
comunicação (TICs), para a qualificação profissional em um cenário de incer-
tezas e distanciamento social e como essa alternativa pode ser eficaz para a
integração de locais distintos em um ambiente comum, mesmo no pós-pandemia.

MÉTODOS

Contextualização

O estudo foi desenvolvido com base em dados de um hospital público-


-universitário da cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul (RS). É um hospital
terciário, inserido nas redes nacional, estadual e municipal da saúde, com os
macroprocessos finalísticos de Assistência, Ensino e Pesquisa.
O hospital possui um Plano de Educação e Desenvolvimento de Pessoas
que visa definir as ações de desenvolvimento dos colaboradores, contribuindo
para a excelência na prestação de serviços de forma a garantir a melhor qua-
lidade assistencial e o alinhamento com as políticas públicas de saúde. Tem

Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


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como objetivo instituir, implementar e regulamentar as ações para educação e
desenvolvimento de pessoas, respeitando a legislação vigente. O plano delimita
que a Educação e o Desenvolvimento de Pessoas estejam alinhados à Política
Nacional de Educação Permanente em Saúde5. Informa, ainda, que as neces-
sidades de capacitação e desenvolvimento são identificadas de acordo com as
definições estratégicas da instituição, os projetos e programas institucionais, os
indicadores de qualidade assistencial, as alterações de processos ou adoção
de novas tecnologias, bem como através de demandas pontuais dos setores.
Para sistematizar a capacitação dos colaboradores em assuntos consi-
derados fundamentais para a sua atuação profissional, é elaborada anualmente
a Matriz de Capacitação, cujos temas estão diretamente relacionados às orien-
tações estratégicas da instituição e à qualificação das práticas de assistência
e segurança dos pacientes, considerando o desenvolvimento de competências
necessárias, contribuindo para os resultados almejados pelo hospital. Essa
matriz é constituída por temas de abrangência institucional, com conteúdos
imprescindíveis a toda comunidade interna, além de temas específicos, conforme
a função e área de atuação do profissional.
O setor do hospital responsável pelas qualificações também é responsável
por acompanhar as ações de formação e de educação dos colaboradores da
instituição. Esta área realiza o planejamento, implementação, acompanhamento
e análise de políticas de ensino e qualificação, relacionadas aos processos de
Gestão de Pessoas.
Até o ano de 2010, o enfoque predominante na instituição quanto à capa-
citação e ao progresso profissional residia principalmente na implementação
de iniciativas educativas de natureza presencial, como parte integrante de sua
abordagem corporativa. Entretanto, somente essa modalidade não atendia à
demanda, em razão do elevado contingente de profissionais a serem capaci-
tados, bem como suas diferentes necessidades, além do grande número de
colaboradores e o fato da instituição funcionar durante 24 horas do dia. Portanto,
a partir do ano de 2010, estabeleceu-se como uma das diretrizes institucionais
a implementação de programas de capacitação na modalidade a distância.
Uma infraestrutura física foi providenciada, acompanhada por uma equipe
multifacetada, resultando na efetivação dessa empreitada e, por conseguinte,
na ampliação das oportunidades e aprimoramento das habilidades profissionais.

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15
Quando se fala em educação corporativa, fala-se da prática
de gestão de pessoas que tem como objetivo reunir iniciativas
com o objetivo de promover, manter e disseminar o processo de
aprendizagem de forma estruturada e focada nas competências
essenciais de cada função ocupada pelo quadro de trabalhadores
de uma organização10.

Por isso, devido às peculiaridades do trabalho e do trabalhador da saúde,


somadas ao acesso cada vez mais facilitado às tecnologias de comunicação
e informação (TICs), a instituição passou a investir fortemente em ações edu-
cativas realizadas na modalidade a distância, principalmente no que tange o
desenvolvimento dos cursos da Matriz de Capacitação. Esta modalidade é uma
das estratégias para a realização de ações educativas voltadas aos profissio-
nais, possibilitando a ampliação do público-alvo abrangido, de acordo com as
características da instituição.
É possível verificarmos que os perfis do aluno da EAD e do profissional
da saúde se aproximam:

A educação permanente é uma necessidade premente para os


profissionais da saúde, para que eles desenvolvam uma postura
crítica, autoavaliativa, autoformadora e autogestora de seu
aprendizado. Essas características vão ao encontro do perfil de
aluno ideal para Educação a Distância11.

Assim, desde o ano de 2010, o hospital passou a desenvolver e dispo-


nibilizar cursos em EAD no ambiente virtual de aprendizagem (AVA) Moodle
(Modular Object Oriented Dynamic Learning Enviroment). A opção pelo AVA
Moodle levou em consideração o fato de ser um software livre e de múltiplas
funcionalidades, com interface amigável e navegação simples, tendo sido um
facilitador da implantação da nova modalidade de educação.
Os cursos em EAD são desenvolvidos internamente ou com auxílio de
empresa contratada, adotando uma abordagem personalizada que se ajusta
perfeitamente às demandas da instituição, conforme delineado pela Matriz
de Capacitação. Uma característica marcante é a participação de especialis-
tas internos do hospital, detentores do conhecimento, que colaboram como
conteudistas. A divisão de capacitação se encarrega de planejar, elaborar e
disponibilizar os cursos, conduzindo todo o processo. Um esforço cuidadoso

Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


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de monitoramento e avaliação da satisfação é efetuado após o lançamento dos
cursos ao público-alvo, objetivando não apenas alcançar o público previsto, mas
também assegurar o controle dos resultados almejados.

A educação corporativa durante a pandemia de Covid-19

Durante a pandemia da Covid-19, a instituição foi um dos hospitais de


referência para o atendimento a pacientes infectados, sendo necessário que a
instituição adotasse estratégias, não somente na parte assistencial, mas em todas
as áreas, se mobilizando para poder atender à emergência em saúde imposta:
revisão de processos assistenciais e não assistenciais, adequação e ocupação
de espaços físicos, novas contratações e realocações internas, realização de
trabalho remoto para quem era possível, gerando assim um envolvimento de
toda a instituição com a realidade vivenciada no momento. Nesse sentido10:

Desenvolver pessoas e gerar aprendizagem organizacional revela-


se indispensável para as organizações crescerem e atingirem suas
metas e objetivos, pois precisam de um corpo técnico capacitado
e desenvolvido que deixe um legado prático do que aprendeu e
seja capaz de dar vazão às estratégias institucionais.

Além disso, foi essencial para o hospital recrutar um considerável contin-


gente de profissionais em um curto intervalo de tempo, ampliando sua equipe
para enfrentar os casos de coronavírus. Isso gerou uma urgente e decisiva
necessidade de prover uma capacitação veloz e pragmática a esses novos
integrantes, uma vez que estavam sendo incorporados durante um período sin-
gular e atípico. A tarefa consistia não somente em instruí-los, mas também em
acolhê-los de maneira eficaz através de processos de integração que se esten-
diam tanto à esfera institucional quanto a setorial, especialmente considerando
que, em diversos casos, esses profissionais adentravam sem experiência prévia,
demandando, assim, um suporte capacitativo específico para desempenhar
suas funções com competência nos serviços prestados.
Nesse viés, em março de 2020, foram liberadas 775 vagas temporárias
(com vigência de dois anos) para contratação de profissionais de diferentes
cargos, viabilizando a abertura de novos leitos de tratamento intensivo. Diversos

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cadastros de candidatos de processos seletivos anteriores, ainda vigentes, foram
utilizados para chamamento de profissionais, mas se tornaram insuficientes
para atender à necessidade. Foram realizados, então, processos seletivos sim-
plificados para várias funções.
Ainda, o hospital abriu cadastro de profissionais e estudantes voluntários,
formando um banco de dados de reserva, para chamamento conforme a evolu-
ção da demanda e as necessidades das equipes assistenciais. A procura pelo
voluntariado totalizou 869 inscritos, sendo 684 estudantes e 185 profissionais.
Após entrevista e realização de cursos a distância com informações importan-
tes para a atuação no hospital, ingressaram como voluntários 51 estudantes e
46 profissionais.
Além disso, com a finalidade de reduzir a circulação de pessoas dentro do
hospital, foi implementado o regime emergencial de teletrabalho, nas situações
em que este se fazia possível, sem prejuízos aos serviços do hospital. Os pro-
fissionais acessavam remotamente os sistemas corporativos, continuaram
desenvolvendo suas atividades e contribuíram, desse modo, decisivamente no
enfrentamento da pandemia.
Conforme a Organização Pan-Americana da Saúde2, o planejamento
de recursos humanos é essencial para garantir a preparação para a resposta,
ampliar a capacidade para demanda em momento de pico e garantir uma
quantidade suficiente de trabalhadores da saúde que sejam mais eficientes e
produtivos, fornecendo a eles treinamento, proteções, direitos, reconhecimento
e ferramentas necessárias para desempenhar suas funções.
Em se tratando de uma emergência sanitária de escala global, com gran-
des implicações sociais e econômicas, conforme pesquisa realizada por Neves,
Fialho e Machado (2021)7, os profissionais, em sua maioria, declararam-se sur-
presos com a grandeza do desafio lançado pela pandemia do novo coronavírus.
Também demonstraram que não estavam suficientemente preparados e que
se sentiam receosos em relação aos desfechos mais graves, como a morte,
sendo-lhes indispensável acompanhar os estudos e propostas de tratamentos
mais inovadores.
Com este novo cenário e a necessidade de adoção de estratégias que
pudessem dar conta de capacitar os profissionais para a realidade do momento,

Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


18
o hospital passou a buscar alternativas para a qualificação de seus colabora-
dores, sendo este o objeto da análise deste artigo.

Metodologia do estudo

A pesquisa realizada neste estudo foi classificada como quantitativa e


descritiva, através da coleta e análise de dados secundários de cunho documental.

Pesquisas quantitativas são indicadas para responder a


questionamentos que passam por conhecer o grau e a abrangência
de determinados traços em uma população, esta também é uma
forma de estar sensível aos problemas sociais. Há, nesse tipo de
pesquisa, um caráter mais ou menos generalizador; contudo a
preocupação em relacionar a pesquisa aos contextos enriquece
o trabalho12.

A amostra foi composta pelos participantes das capacitações realiza-


das no período de 2017 a 2022; neste período foram contabilizadas 566.215
participações em capacitações. Visando o acompanhamento das informações
dos servidores, todas as ações de capacitação realizadas na instituição são
cadastradas em sistema eletrônico de gerenciamento de informações da área
de gestão de pessoas e disponibilizadas em forma de relatórios periódicos.
Este sistema informatizado de gestão de pessoas alimenta os relatórios
de acompanhamento das ações educativas, indicadores e o currículo do pro-
fissional, servindo de base de consulta e análise para os processos de gestão.
Nesse contexto, para análise das informações das ações educativas, foram
avaliados os dados disponibilizados em relatórios do hospital.
A partir da análise desses dados de capacitação, foram aplicados os
seguintes filtros principais: tipo de participação, nome do ambiente e data fim.
Desse modo, para fins deste estudo, no tipo de participação, foram considera-
dos somente os registros como participante da capacitação. Os outros tipos
de participações, como instrutor, supervisor etc., não foram incluídos, visto que
o objeto é o funcionário como educando no processo de ensino/aprendizado.
Para o ambiente de realização, foram selecionadas as participações em
capacitações presenciais e em educação à distância, realizadas por intermédio

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do hospital. Quanto ao período, para a inclusão da capacitação nas análises, foi
considerada a data fim do evento, que aconteceu entre 01/01/2017 e 31/12/2022.
A partir disso foram identificadas e analisadas as capacitações realizadas
antes e durante a pandemia da Covid-19, quanto a sua realização, para com-
parativo qualitativo. Foram analisados dados como: número médio de cursos
EAD disponibilizados por ano, comparativo de participações por formato de
capacitação, se em EAD ou presencial, bem como o número de horas capacita-
ção realizados por tipo, por ano. Para análise destes dados quantitativos, foram
organizadas tabelas comparativas, mostrando a evolução dos indicadores em
cada modalidade.

RESULTADOS

Com o plano de contingência adotado pela instituição para o enfrenta-


mento à Covid-19, as atividades educacionais presenciais que pudessem gerar
aglomeração foram canceladas, limitando assim o número de participantes de
atividades em grupos presenciais e, consequentemente, afetando diretamente
as ações de capacitação. As atividades presenciais foram mantidas, quando
necessárias, limitadas a oito pessoas, desde que fosse possível respeitar as reco-
mendações de afastamento e o uso dos equipamentos de proteção individuais.
A dinâmica integral da instituição foi profundamente afetada pelo contexto,
o que se refletiu em uma transformação notável dos processos educacionais.
Como resultado, tornou-se indispensável reestruturar os procedimentos opera-
cionais e reconfigurar a estrutura das atividades educativas para se adaptar às
peculiaridades impostas pelo vírus. Esse reajuste ocorreu concomitantemente
com a manutenção do atendimento a numerosos pacientes. A necessidade de
revisitar os processos internos, introduzir modificações nos procedimentos,
aumentar o quadro de funcionários e elevar o nível de capacitação dos profis-
sionais emergiram como algumas das intervenções imediatas incontornáveis.
As áreas assistenciais, juntamente com a área responsável pela educação
na saúde da instituição, buscaram alternativas para dar continuidade aos pro-
cessos educativos no hospital, crescendo assim a utilização das ferramentas de
tecnologia da informação e comunicação (TICs). A orientação, principalmente
aos profissionais da área de enfermagem e área médica, em relação ao uso de

Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


20
tecnologias que pudessem auxiliar no desenvolvimento de ações educativas,
foram algumas das adaptações necessárias.
Desde a sua introdução na estrutura hospitalar, pode-se observar que a
modalidade EAD passou a ser amplamente aceita, evidenciando um crescimento
progressivo e contínuo de ano para ano. De acordo com o que é evidenciado
no Gráfico 1, desde o início em que a modalidade EAD foi implantada na insti-
tuição, a média mensal de cursos disponibilizados via Moodle vem crescendo.
Além disso, especificamente entre os anos de 2020 e 2021, os mais afetados
pela pandemia, foi possível observar um acréscimo significativo no número
médio de capacitações ofertadas na modalidade. Já no ano de 2022, quando as
atividades presenciais tiveram uma retomada gradual, é possível observar uma
pequena queda na média mensal de cursos oferecidos na modalidade EAD.

Gráfico 1. Média Mensal de Cursos Ofertados.

Fonte: Elaborado pelas autoras (2023).

Verificamos que neste período cresceu a solicitação, o desenvolvimento


e a participação em cursos na modalidade de educação a distância realizadas
através do Moodle. Além disso, foram desenvolvidos novos cursos em EAD
visando a integração dos novos funcionários e orientações específicas, visando
o combate ao Covid-19, principalmente para as áreas de Emergência e Terapia
Intensiva, que tiveram um aumento de quadro significativo neste período.
Novas ações de capacitação em Educação a Distância foram construídas
e disponibilizadas para atender aos protocolos de prevenção e enfrentamento

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da Covid-19. Elas foram realizadas abrangendo funcionários, professores, resi-
dentes, estagiários, acadêmicos, pesquisadores e voluntários.
Ao total, em 2020, foram registradas 24.129 participações e 31.885 horas
de capacitações em ações educativas voltadas ao enfrentamento da Covid-19.
Alguns destaques entre os principais cursos desenvolvidos:

ꞏ Orientações Sobre o Uso de Equipamento de Proteção Individual na


Paramentação e Desparamentação nos Cuidados em Saúde;

ꞏ Uso de EPIs na Assistência ao Paciente com Suspeita de Covid-19;

ꞏ Covid-19: Prevenção, Proteção e Enfrentamento;

ꞏ Cuidados e Rotinas de Enfermagem no CTI Adulto;

ꞏ Educação em Controle de Infecção Hospitalar: Coronavírus;

ꞏ Boas Práticas de Segurança do Paciente e Profissionais;

ꞏ Abordagem de Mediação nas Equipes de Trabalho Diante da Pande-


mia.

Além do aumento dos cursos em EAD via Moodle e o consequente


aumento de participações nesta modalidade, também passou-se a recomendar a
realização de atividades educativas de forma síncrona, através do Google Meet.
O Google Meet é um serviço de comunicação desenvolvido pelo Google
e que faz parte das ferramentas disponibilizadas pela instituição, possibilitando
a comunicação via videoconferência. Em um momento no qual era exigido o
distanciamento social, foi imprescindível a utilização de tal tecnologia para
aproximar novamente as pessoas e dar continuidade ao desenvolvimento de
ações educativas junto aos profissionais do hospital.
Para a utilização do Google Meet, foi preciso organizar os processos
educativos, de solicitação e registro de capacitação, estipulando formas de tra-
mitação dos documentos por meio eletrônico e assinatura online da participação.
O resultado de todo esse comprometimento com a educação e o desen-
volvimento de seus colaboradores, durante a pandemia da Covid-19, foi evi-
denciado das estatísticas que refletem o número de profissionais que foram

Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


22
habilitados por meio das tecnologias de informação, em abordagens tanto
síncronas quanto assíncronas.
No Gráfico 2, podemos observar a quantidade de envolvimentos em ati-
vidades educacionais que ocorreram de maneira presencial, por meio da EAD
via Moodle, ou de forma virtual por intermédio do Google Meeting ao longo
dos últimos seis anos.

Gráfico 2. Participações em Capacitações.

Fonte: Elaborado pelas autoras (2023).

É possível verificar um aumento significativo das capacitações realizadas


em EAD ou online, através do Google Meet, a partir de 2020, prevalecendo sobre
as capacitações realizadas presencialmente.
O Gráfico 3 apresenta dados sobre o crescimento anual das participações
em cursos EAD ou online, passando da média de 59% para uma média de 77%
sobre o total de participações.

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Gráfico 3. Percentual Participações/EAD Online por Ano.

Fonte: Elaborado pelas autoras (2023).

Ao longo do período compreendido entre 2020 e 2022, observa-se a cons-


tância desses resultados, mostrando mais uma vez as ações educativas realizadas
através das TICs se fortaleceram no cenário da educação na saúde. Mesmo no
ano de 2022, quando se delineia o início da diminuição das medidas de distan-
ciamento, é notável a persistência do percentual de participação em atividades
educacionais conduzidas através das plataformas Moodle e Google Meeting.
Em relação à quantidade anual de horas de capacitação, também é possível
verificar o aumento das ações realizadas em EAD e/ou pelo Google Meeting a
partir de 2020, superando a quantidade de horas de capacitações realizadas
presencialmente, conforme podemos verificar no Quadro 1.

Quadro 1. Quantidade anual de horas de capacitação.


Horas 2017 2018 2019 2020 2021 2022
EaD e Meeting 66.790 53.860 64.835 77.302 82.595 96.072
Presenciais 144.457 121.419 79.679 73.120 62.866 68.420
Total de Horas 211.247 175.279 144.514 150.422 145.461 164.492
Fonte: Elaborado pelas autoras (2023).

No ano de 2022, as sessões de capacitação ministradas por meio das pla-


taformas de ensino online constituíram uma parcela significativa, correspondendo

Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


24
a 58,40% do total de horas destinadas a atividades de aprimoramento ao
longo desse período.
A realização de ações de Educação na Saúde em um momento de pan-
demia, utilizando meios virtuais, permitiu o acesso à informação rapidamente,
aumentou o público a ser alcançado, facilitou a visibilidade de dados, oportunizou
a transparência e, também, garantiu maior segurança para os profissionais e
o processo de trabalho. Ademais, mostrou-se viável e eficaz mesmo em uma
época conturbada na vida de todos os profissionais da saúde16.
De modo amplo, a Educação a Distância (EAD) viabiliza justamente essa
autorregulação no processo de aprendizado, fomentando a autonomia do aluno
e conferindo-lhe a responsabilidade integral sobre sua jornada educacional.
Essa abordagem encontra sinergia com a aplicação das metodologias ativas de
aprendizagem, convergindo de maneira coerente com esses métodos dinâmicos
de instrução. Nesse viés, se as metodologias ativas estão alicerçadas em um
princípio teórico significativo, como a autonomia, algo explícito na invocação
de Paulo Freire, a educação contemporânea deve pressupor um discente capaz
de autogerenciar ou autogovernar seu processo de formação17.
A própria portaria do MS que estabelece a Política de Educação Perma-
nente aponta a necessidade de incluir nesta os aportes da EAD11:

...aproximando o conhecimento elaborado às práticas das equipes,


alimentando suas contribuições no caminho de um progresso
construtivo e inclusivo. Para isso, faz-se necessário o fortalecimento
dos modelos educativos à distância privilegiando a problematização
e integrando-os ao desenvolvimento de projetos de Educação
permanente em serviço.

Dentro dos programas de EPS, a incorporação do ensino a distância se


apresenta como um aliado substancial ao dinamismo do processo de ensino e
aprendizagem, desde que as barreiras relativas à habilidade no manuseio das
tecnologias de informação sejam efetivamente superadas. Além disso, o ambiente
virtual permite ao aluno a busca do conhecimento para o desenvolvimento de
competências, que abre novos caminhos para a construção de novos saberes18.
Sob esse viés, a enfermagem inserida na equipe multidisciplinar, além de
integrar saberes também deve ser cercada de habilidades técnicas e de mudan-
ças de atitudes18. Por essa razão, em um contexto marcado pela pandemia e

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pelas medidas de distanciamento social, a EAD emergiu como uma solução
primordial para simplificar as iniciativas educacionais na área da saúde. Esta
abordagem educacional se revela altamente eficaz, conferindo a capacidade de
oferecer um ensino de alta qualidade e assegurar a acessibilidade à aprendiza-
gem. Por sua vez, ela desempenha um papel fundamental na democratização
do conhecimento para os profissionais de saúde, representando uma via de
disseminação mais ampla do saber. É um facilitador de ensino continuado nas
instituições, compreendendo ser essa uma forma de ensino que vem atender
às exigências do mundo contemporâneo, onde o uso de vários meios para a
produção de conhecimentos permite que se escolha como, quando e onde
aprender respeitando todas as características destes profissionais9.
A pandemia de Covid-19 forçou transições difíceis no campo educacio-
nal e, tomando como base algumas sugestões apresentadas na literatura, foi
possível propor algumas mudanças que devem permanecer no futuro e outras
que devem ser expandidas. Primeiro, o uso generalizado de educação mediada
por tecnologias digitais deve, sem dúvida, continuar dando ênfase ao uso de
metodologias ativas e criativas de aprendizagem, centradas nos alunos, de modo
que estimulem seu engajamento no processo educacional e as interações entre
eles, e reforcem a aprendizagem significativa e colaborativa. Uma alternativa
adicional seria conceber uma abordagem educacional híbrida, caracterizada
pela flexibilidade e fundamentada no conceito Learn from Anywhere (Aprenda
de Qualquer Lugar), que concede ao aluno a possibilidade de adquirir conhe-
cimento tanto de maneira presencial quanto remota. A abordagem Learn from
Anywhere se adequa melhor às circunstâncias de vida pós-covid, cada vez
mais complexas, dando aos alunos mais controle sobre sua aprendizagem e
aos professores mais flexibilidade na sua prática docente8.

DISCUSSÃO

Todas as atividades de gestão de pessoas foram impactadas pela pan-


demia. Seja diretamente nos processos ligados a quadro de pessoal, seja na
necessidade de informatização dos serviços para se adequar às medidas de
distanciamento social, prevenção da transmissão do vírus em documentos e

Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


26
superfícies e viabilização, execução do trabalho de maneira remota ou a capa-
citação dos colaboradores.
Tendo em vista a estreita relação entre a qualidade do cuidado prestado e
a formação e atualização dos profissionais da equipe hospitalar, diversos esforços
foram empreendidos com o intuito de viabilizar a formação de equipes aptas
a atender à demanda em constante crescimento originada pela pandemia, um
desafio ainda mais complexo diante do substancial incremento na quantidade de
leitos de terapia intensiva, bem como a necessidade de manter os profissionais
protegidos, a existência de segmentos mais vulneráveis no quadro funcional, os
afastamentos temporários de profissionais infectados pelo novo coronavírus e a
necessidade permanente de qualificação dos colaboradores para manutenção
dos processos assistenciais e para o enfrentamento do própria Covid-19.
De uma forma repentina, os profissionais envolvidos com a área da saúde
“se viram diante de uma nova doença, acometendo de maneira crescente e
rápida um grande número de pessoas, sobrecarregando os serviços de saúde e
exigindo novas competências que muitos deles ainda não tinham desenvolvido”8.
Dessa forma, a irrupção da pandemia da Covid-19 promoveu uma trans-
formação profunda nas rotinas cotidianas, exercendo um impacto direto tanto
no âmbito da educação quanto na esfera da saúde. A necessidade imperiosa de
distanciamento social trouxe consigo uma demanda urgente pela exploração de
abordagens que permitissem a implementação de ações educativas de forma
segura. A adoção das tecnologias da informação e comunicação durante este
período se traduziu na continuidade de ações educacionais essenciais para os
profissionais do setor da saúde8:

No contexto da pandemia, um dos maiores desafios é a formação


e qualificação da força de trabalho em saúde, dentro de um curto
prazo, sem reduzir os padrões, e que tenha uma ampla abrangência,
num contexto de muitas restrições como o distanciamento social.
Emerge, assim, com força, a educação na saúde mediada por
tecnologias digitais, como o ensino remoto e a educação à distância.

Como elemento desafiador de destaque, identificou-se a carência de


familiaridade ou entendimento entre os indivíduos acerca da utilização de pla-
taformas como o Google Meet e o Moodle, o que consequentemente gerou a
exigência de prover treinamento e assistência especializada para garantir uma

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utilização eficaz, dessa forma observou-se que os profissionais precisaram ser
aprendizes e orientadores ao mesmo tempo: aprendizes em recursos tecnoló-
gicos e em conhecimentos em relação à COVID-19, e orientadores em relação à
doença7. Outro desafio permanente para quem trabalha com EAD e no contexto
de pandemia se torna ainda maior é fazer com que o conteúdo seja entregue da
melhor forma possível e que faça sentido ao sujeito da aprendizagem.
Adicionalmente, é válido ressaltar que a urgência de adaptações rápidas,
bem como a criação de cursos em prazos extremamente curtos e a transforma-
ção do paradigma de documentação das atividades educacionais constituíram
obstáculos superados de maneira admirável neste contexto caracterizado por
uma profusão de transformações em curso.
No entanto, constatou-se que os benefícios derivados da adoção das
ferramentas de tecnologia da informação e comunicação excedem de modo
expressivo as limitações que possam surgir. Conforme Tomaz8:

Acreditamos que, embora, no futuro, muitos se lembrem da pandemia


como uma crise sanitária sem precedentes e uma grande ruptura
que impactou vários aspectos de nossas vidas, sobretudo os
campos social, econômico e educacional, é provável que também
seja vista como um forte catalisador e uma excelente oportunidade
para importantes transformações na educação de profissionais de
saúde que vêm sendo construídas nas últimas décadas.

Isso respalda a viabilidade e até mesmo a imperatividade de incorporar


essas tecnologias como um meio para estreitar relações entre indivíduos e
viabilizar a continuidade dos processos de ensino e aprendizagem. Essa inte-
gração desempenha um papel altamente significativo e positivo no âmbito
educacional em saúde.

CONCLUSÃO

Os resultados evidenciam que a adoção da Educação a Distância por meio


das plataformas Moodle e Google Meeting não apenas aprimorou, mas também
expandiu substancialmente as iniciativas educativas dentro da instituição. Isso
culminou em uma maior acessibilidade ao conhecimento essencial para nutrir

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28
o crescimento de aptidões tanto profissionais quanto pessoais, imprescindíveis
para atender às demandas atuais.
É plausível observarmos a estreita conexão entre a Educação Permanente
em Saúde e a modalidade de Educação a Distância, uma convergência que
indubitavelmente enriquece os propósitos educativos que se almeja atingir.
Essa associação oferece um suporte valioso na formação e aprimoramento dos
profissionais da saúde, especialmente no tocante às nuances dos processos
de trabalho da assistência.
Em maio de 2023 a Organização Mundial da Saúde declarou o fim da
Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) referente à
Covid-19. Mesmo com a atualidade marcada pelo término oficial da pandemia
da Covid-19, as estratégias implementadas durante esse período persistem de
maneira resiliente e bem-sucedida. Essa continuidade tem consagrado a Edu-
cação a Distância como uma abordagem educacional eficaz e de alta qualidade,
prontamente atendendo às múltiplas demandas de atualização e aprimoramento
dos profissionais da saúde.

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Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


30
02

A UTILIZAÇÃO DA INSULINA NOS


PROCESSOS METABÓLICOS DE
EMAGRECIMENTO

Sydneia Aparecida Aleixo da Silva


Centro Universitário da Vitória de Santo Antão (UNIVISA)

Julyana Viegas Campos Cavalcanti


Centro Universitário da Vitória de Santo Antão (UNIVISA)

Diana Ramos Cavalcanti


Faculdade de Ciências Médicas de Jaboatão (AFYA)

Arlindo Gomes de Souza Neto


Centro Universitário da Vitória de Santo Antão (UNIVISA)

Gleiciele do Nascimento Bento


Centro Universitário da Vitória de Santo Antão (UNIVISA)

Emanuella Barros de Souza Oliveira Alvares


Centro Universitário da Vitória de Santo Antão (UNIVISA)

Mayara Paes de França Silva


Centro Universitário da Vitória de Santo Antão (UNIVISA)

Danúbia Raíssa Ferreira de Lima Dias


Centro Universitário da Vitória de Santo Antão (UNIVISA)

Raí Rogério da Silva


Centro Universitário da Vitória de Santo Antão (UNIVISA)

Danilo Ramos Cavalcanti


Universidade de Pernambuco (UPE)

' 10.37885/231114970
RESUMO

A insulina é um hormônio pancreático responsável pelo metabolismo da gli-


cose. Sua estrutura endógena é constituída por 51 aminoácidos dispostos em
duas cadeias polipeptídicas denominadas alfa e beta. A insulina se liga ao
receptor de membrana plasmática, de forma específica e com alta afinidade,
constituindo uma resposta celular por meio de mudanças na conformação,
que induzem reações que modificam o metabolismo da célula-alvo. Sendo
assim, o objetivo do presente estudo foi identificar as reações bioquímicas e
metabólicas envolvidas nos processos de emagrecimento e diminuição dos
níveis glicêmicos. Elaborou-se uma revisão bibliográfica narrativa por meio
da utilização de artigos, revistas, trabalhos de conclusão de curso, publicados
entre 2018 e 2023. Os resultados mostraram que a insulina é capaz de levar ao
emagrecimento, devido aos estímulos hipotalâmicos envolvidos no processo de
saciedade e fome. Conclui-se que o uso da insulina associada aos hábitos de
vida saudáveis e a prática de atividade física promovem reações bioquímicas
e metabólicas envolvidas na perda de peso.

Palavras-chave: Emagrecimento, Insulina, Metabolismo.

Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


32
INTRODUÇÃO

Em 1921, um grupo de pesquisadores canadenses liderados pelo cientista


Frederick Banting descobriram a molécula da insulina. A partir de então, as
pesquisas no tratamento do diabetes mellitus (DM) obtiveram êxito (Suchoj;
Alencar, 2018). O DM pode ser classificado de três formas distintas: DM tipo I, que
ocorre quando o pâncreas não é capaz de produzir insulina, por destruição
total das ilhotas pancreáticas; DM tipo II, que ocorre na maioria dos casos e
ocorre quando o hormônio é produzido pelo pâncreas de forma insuficiente,
sendo necessária sua reposição exógena; já no DM gestacional, o aumento dos
hormônios gestacionais é o gatilho principal (Araújo; Carvalho, 2021).
A insulina é um hormônio pancreático, responsável pelo metabolismo
da glicose, sua extrutura endógena é constituída por 51 aminoácidos dispostos
em duas cadeias polipeptícas denominadas alfa e beta (Suchoj; Alencar, 2018).
Após a sua descoberta, as análogas à insulina humana evoluíram e podem ser
clasificadas como de rápida ação, de ação prolongada, de ação ultrarápida e
de ação ultraprolongada. Essas diferentes formas permitem maior seletividade
para diferentes graus da doença, como também podem ser adequadas às par-
ticularidades de cada indivíduo (Semedo et al., 2021).
Inicialmente, a insulina se liga ao receptor de membrana plasmática,
de forma específica e com alta afinidade, constituindo uma resposta celular
por meio de mudanças na conformação, que induzem reações que modificam
o metabolismo da célula-alvo. A ativação do receptor, geralmente, emite um
sinal que favorece a ação da insulina sobre a glicose, os lipídeos, o metabolismo
de proteínas, propiciando distintos efeitos metabólicos (Freitas; Rodrigues
Junior; Martim, 2021).
De acordo com a Federação Internacional de Diabetes (IDF), o Brasil é o
país da América do Sul com o maior número de pacientes portadores de DM,
estimando-se aproximandamente 14,3 milhões, dos quais mais de 50% morreram
em associação às complicações decorrentes da doença (Radin, 2018). Fatores
como obesidade e sobrepeso levam ao aumento na circunferência abdominal,
o que gera o acúmulo de adipócitos (MACHADO et al., 2018).
Os adipócitos liberam na circulação moléculas lipoprotéicas capazes
de diminuir a absorção de glicose na musculatura esquelética. Dessa forma,

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o fígado é forçado a produzir mais glicose, levando à hiperglicemia (Machado
et al., 2018). Por outro lado, a resistência à insulina é uma condição caracterizada
por uma menor atividade da insulina a nível celular. A expressão acontece em
distintas vias metabólicas, de forma mais específica ao nível do metabolismo
de hidrocarbonetos, lípidos e proteínas. Fígado, músculo e tecido adiposo são
os mais afetados. Por isso, está intimamente ligada ao sobrepeso, uma vez que
o aumento do número de adipócitos interfere na captação da insulina, havendo
a necessidade de repor a insulina de forma exógena (Guerra, 2022).
A musculatura esquelética ganha destaque na homeostase glicêmica, isto
porque os movimentos de contração musculares são capazes de ativar o trans-
porte da glicose de maneira independente da insulina (Guerra, 2022). A insulina
começou a ser utilizada por atletas de fisioculturismo, na década de 1990 para
acelerar o metabolismo, auxiliando diversas reações bioquímicas intracelulares,
capazes de sintetizar moléculas como proteínas e metabolizar carboidratos,
promovendo, assim, o aumento de massa muscular e a eliminação de lipídios,
tornando o corpo dos atletas, verdadeiras esculturas (Machado et al., 2018).
Os efeitos colaterais mais relatados dentre os pacientes que fizeram uso
de insulina para emagrecer sem ser portador de DM foram: distúrbios gastroin-
testinais leves, alterações pancreáticas e biliares observadas em casos raros
(Araújo; Carvalho, 2021). A rotina de má alimentação e sedentarismo, associadas
à insatisfação com o corpo, tem levado a população à procura de uma opção de
fácil acesso para conseguir o corpo perfeito. Com isso, o uso de fármacos que
induzem o emagrecimento, vem ganhando grandes proporções quanto ao uso
irracional, embora não sejam indicados para esta finalidade (Machado et al., 2018).
Diante disso, o presente estudo tem por objetivo identificar as reações
bioquímicas e metabólicas que estão envolvidas nos processos de emagrecimento
e diminuição dos níveis glicêmicos. O presente estudo pautou-se em uma revi-
são de literatura narrativa, utilizando as bases de dados eletrônicas: Biblioteca
Virtual de Saúde (BVS-BIREME), Literatura Latino Americana e do Caribe em
Ciências de Saúde (LILACS); Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e Google
Acadêmico. Os artigos selecionados para o desenvolvimento da pesquisa foram
baseados nos seguintes descritores: insulina AND emagrecimento; insulina
AND humana; insulina AND mecanismo de ação; insulina AND metabolismo.

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34
Os dados coletados através da leitura foram analisados e incluídos nos
critérios de inclusão estabelecidos, como: artigos originais disponibilizados na
íntegra e na forma online de livre acesso, publicados no idioma português, no
período de 2018 e 2023. Além disso, foram utilizados trabalhos de conclusão de
curso e trabalhos acadêmicos publicados em anais de eventos. Foram excluí-
dos os artigos repetidos, aqueles que não estiverem completos, trabalhos e/
ou pesquisas desenvolvidas com animais, cartas ao editor e que não atendiam
a temática proposta.

DESENVOLVIMENTO

Utilizando os critérios de inclusão e de exclusão, foram encontrados 32


artigos, dos quais 24 foram excluídos, sendo 18 por fuga temática e seis por
duplicidade nas bases de dados, totalizado oito artigos para compor o presente
estudo (Figura 1).

Figura 1. Fluxograma de escolha dos artigos da revisão.

Fonte: Autores (2023).

No Quadro 1, estão descritos os artigos utilizados segundo a classificação


de autores, ano de publicação, título do artigo, vantagens e desvantagens da
utilização da insulina para fins de emagrecimento.

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Quadro 1. Vantagens e desvantagens do uso de insulinha para fins de emagrecimento.
Título do artigo Autores/ano Vantagens Desvantagens
Insulina análoga de ação
Estudo comparativo prolongada apresentou
Insulina NPH em
entre os análogos 50% de diminuição nos
comparação às análogas
de insulina de ação casos de hipoglicemia
Radin (2018) da insulina humana
prolongada e insulina grau II, após quatro
apresentou 10% de
NPH humana no meses de uso
aumento na taxa basal
Diabetes Mellitus tipo I apresentou leve melhoria
dos níveis de HbA1c.
Comparação no
Redução nos níveis
tratamento do Não foram relatadas
Freitas; Rodrigues glicêmicos prandiais
paciente diabético desvantagens quanto
Junior; Martim (2021) e pós-prandiais, com
e o obeso no uso ao seu uso.
duração de até 24 horas.
do fármaco liraglutida.
Redução nos casos de
Insulina Degludeca em Não foram relatadas
hipoglicemias noturna,
pacientes portadores de Suchoj; Alencar (2018) desvantagens quanto
estabilidade mantida
Diabetes Mellitus tipo I ao seu uso.
sem picos de ação.
Doses elevadas
Em doses controladas
podem levar à
Hormônio insulina auxilia a síntese de
Machado et al. (2018) hipoglicemia e efeito
no Bodybuilding proteínas, aumentando o
reverso no processo
ganho de massa magra.
de queima lipídica.
Treinamento resistido Uma única sessão de
A perda de massa
como regulador dos treinamentpo resistido
muscular aumenta à
níveis de glicose é capaz de aumentar
Guerra (2022) intolerância a glicose,
muscular em indivíduos a sensibilidade à
aumentando as chances
obesos: uma revisão de insulina na musculatura
de desenvolver DM2.
literatura esquelética.
Eficaz na perca de
peso, até mesmo em
crianças e adolescentes,
Expectativa de ação da
diminuição da Distúrbios
liraglutida no processo Araújo; Carvalho (2021)
glicemia, e como gastrointestinais
de emagrecimento
efeitos secundários
diminuição da pressão
arterial.
As novas insulinas: Aprimoramento
Não foram relatadas
oportunidade no de moléculas
Semedo et al. (2021) desvantagens quanto
tratamento da potencializando a
ao seu uso.
Diabetes tipo I secreção de insulina.
Metformina aumenta Estudos indicam que
a sensibilidade nos a metformina propicia
receptores de insulina, queda de peso apenas
e reduz a produção em pacientes diabéticos
O uso off Label da de glicose hepática; tipo II; Fluoxetina induz
metformina e fluoxetina Fluoxetina é um ao suicídio, promove
Marques et al. (2021)
para emagrecer e antidepressivo Inibidor disfunção sexual,
possíveis riscos à saúde Seletivo da Recaptação sonolência, insônia,
de Serotonina (ISRS) náusea e recuperação
e promoveu perda de peso superior ao
de peso de 93% dos perdido no início do
pacientes testados. tratamento.
Fonte: Autores (2023).

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36
Radin (2018) através de um estudo realizado com 20 pacientes avaliou a
ação da insulina NPH em comparação com as análogas de ação prolongada:
Glargina (lantus), Glargina U300 (Toujeo), Detemir (Levemir) e Degludeca (Tre-
siba). O intuito foi avaliar os casos de hipoglicemia e hipoglicemia severa. A insu-
lina NPH é uma insulina de fácil acesso à população quanto ao seu custo e
sua oferta pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Foi a primeira insulina de ação
prolongada, porém as outras citadas são versões aprimoradas, que permitem
um maior tempo de ação e menores índices de aplicações, apesar disso, não
houve casos de hipoglicemias severas.
Dentre os casos de hipoglicemias de Grau II (glicemia ≤ 54mg/dl), que são
hipoglicemias clinicamente significativas, os pacientes em uso da insulina NPH
tiveram média 50% maior em relação os pacientes em uso das análogas de ação
prolongada. Dessa forma as análogas se mostram mais eficazes (Radin, 2018).
De acordo com o estudo de Freitas; Rodrigues Junior; Martim (2021), a
insulina liraglutida é análoga a incretina intestinal GLP1 (peptídeo glucagon-like1).
Dessa maneira, quando atinge níveis sistêmicos, é possível agonizar as células
beta-pancreáticas, estimulando a secreção de insulina e inibir a liberação de
glucagon, pois quando liberado, acelera o processo digestivo. O mecanismo
de inibição da liberação de glucagon promove o retardamento no processo
de esvaziamento gástrico, enquanto que o estímulo de secreção de insulina
permite que a glicose em excesso na corrente sanguínea seja armazenada em
forma de glicogênio nos tecidos. Com isso, a liraglutida se mostra eficaz tanto
na perda de peso quanto na diminuição da glicose.
A insulina Degludeca foi a primeira de ação ultralonga e se mostra mais
eficaz em relação às outras análogas como NPH, Detemir, Glargina, Lispro e
regular. Isso porque se mantém estável, sem picos de ação, sua ação terapêutica
é superior a 48h, possui alta afinidade com o tecido adiposo, permitindo, assim,
que seja liberada lentamente na circulação, proporcionando maior tempo de
ação e taxas reduzidas (em média 35%) que outras análogas quanto a eventos
hipoglicêmicos. Além disso, permite flexibilidade no seu horário de aplicação
diferente de outras insulinas, diminuição de HbA1c e eficácia em todas as faixas
etárias (Suchoj; Alencar, 2018).
A insulina é capaz de participar de importantes processos metabólicos
como a glicólise, glicogênese e lipogênese. No tecido adiposo, é capaz de reduzir

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a lipólise através da inibição de LHS (lipase hormônio-sensível). Participa na
síntese protéica, porém a dieta do atleta e as dosagens devem ser supervisiona-
das com cautela. Os atletas utilizam as insulinas de ação rápida e ultrarrápida,
antes das refeições ou após treinos intensos, para que a glicose e as proteínas
sejam armazenadas no tecido muscular invés do tecido adiposo. Em um curto
período de tempo, após a aplicação a insulina, é capaz de acelerar a síntese
protéica. Dentre tantos benefícios, é importante destacar que esse tipo de
insulina apresenta maiores índices de hipoglicemias severas e hipoglicemias
clinicamente significativas (Machado et al., 2018).
Indivíduos obesos tem maior número de adipócitos, o que pode ocasionar
a resistência à insulina, condição pela qual os receptores de insulina não reagem
aos seus estímulos. Como se sabe, a glicose é a primeira reserva energética que
o corpo utiliza na ausência da insulina, ocorre déficit no carreamento de glicose
para todas as células e, na falta dela, o tecido muscular se mostra um importante
aliado, ativando carreadores GLUT4 dependentes de insulina, ativados a partir de
contrações musculares intensas. Além disso, o treinamento resistido se mostra
eficaz, aumentando a resposta à insulina e ativando GLUT4 no transporte de
glicose para dentro das células. Assim, a prática de atividade física somada à
alimentação saudável se mostra fundamental no controle glicêmico e na perda
de gordura (Guerra, 2022).
A liraglutida apresenta-se eficaz na perda de peso tanto em crianças
como adultos. As doses administradas foram entre 0,6 mg e 3 mg, se mostrou
uma alternativa segura quanto aos picos hipoglicêmicos, melhora na HbA1c, e
como efeitos secundários, diminuição da pressão arterial. Em pacientes obesos,
melhora os quadros de apneia do sono, triglicerídeos, colesterol e distúrbios
cardiovasculares. Foram relatados, independente de dose ou faixa etária, dis-
túrbios gastrointestinais leves, porém sua eficácia e estabilidade mostraram-se
superiores (Araújo; Carvalho, 2021).
As novas insulinas foram moléculas aprimoradas a partir da insulina
regular. Alterações nas cadeias polipeptícas permitiram alterar a solubilidade
e o tempo de ação. Todas as alterações possibilitaram aos pacientes maiores
alternativas no tratamento e maior similaridade com o hormônio endógeno.
Estas se mostraram bastante seguras no controle glicêmico, como também

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38
prevenindo complicações de caráter micro ou macrovasculares em decorrência
dessa condição (Semedo et al., 2021).
Marques et al. (2021) afirmam que o cloridrato de metformina é um
hipoglicemiante oral, indicado para DM tipo II, seu mecanismo de ação con-
siste no aumento da absorção de glicose muscular, sem promover o aumento
na secreção de insulina. Como efeito colateral, acontece o emagrecimento,
porém esse efeito não foi relatado em pacientes não diabéticos. A fluoxetina é
um antidepressivo inibidor seletivo da recaptação de serotonina (ISRS). Ainda
não se sabe precisamente o mecanismo de ação envolvido no emagrecimento,
porém é importante destacar quanto ao seu uso o estímulo de pensamentos
suicidas, a diminuição da libido e, após o término do tratamento, em um inter-
valo de três a seis meses, o aumento de gordura corporal maior que o peso
perdido anteriormente. Dessa maneira, gera perda de peso temporária e não
é seguro para este fim.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Levando em conta os resultados em relação aos riscos, percebe-se que


diante dos fármacos utilizados para perda de peso, a insulina é uma opção
segura. A comparação entre risco-benefício de fármacos como o cloridrato de
metformina e a fluoxetina, no caso da metformina só promoveu emagrecimento
em pacientes diabéticos, e na fluoxetina o principal efeito colateral é a perda
significativa de peso.
Diante das opções comparadas, a insulina se destaca com resultados
eficazes na perda de peso e efeitos colaterais minimizados. De acordo com os
pacientes que fizeram o uso da insulina para fins de obesidade ou sobrepeso,
mesmo sem serem diabéticos, os sintomas mais relatados foram distúrbios
gastrointestinais leves e raros casos de alterações pancreáticas e biliares.

REFERÊNCIAS
ARAÚJO, T. H. M.; CARVALHO, C. J. S. Expectativa da açãoda liraglutida no processo de emagrecimento.
Pubsaúde, v. 8, p. a169, 2021.

ISBN 978-65-5360-480-3 - Vol. 2 - Ano 2023 - www.editoracientifica.com.br


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FREITAS, R. F.; RODRIGUES JUNIOR, O. M.; MARTIM, S. R. Comparação no tratamento do paciente
diabético e o obeso no uso do fármaco liraglutida. Brazilian Journal of Development, v. 7, n. 7, p.
70342-70354, 2021.

GUERRA, R. C. Treinamento resistido como regulador dos níveis de glicose muscular em indivíduos
obesos: uma revisão de literatura. Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2022. Disponível em:
<http://hdl.handle.net/11449/216378>.

MACHADO, A. F. et al. Hormônio insulina no bodybuilding. Cascavel, 2018. Disponível em: <http://
tcconline.fag.edu.br:8080/app/webroot/files/trabalhos/20181010- 142151.pdf>. Acesso em: 02 de
maio de 2020.

MARQUES, G. J. R.; LUIZ G. G.; NEVES J. F.; CASTRO L. A. O uso off label da metformina efluoxetina
para emagrecer e possíveis riscos à saúde. Revista Saúde dos Vales, v.1, n.1, p. 1-19, 2021.

RADIN, A. R. M. Estudo Comparativo entre os Análogos de Insulina de Ação Prolongada e Insulina


NPH Humana no Diabetes Mellitus Tipo 1. Trabalho de conclusão de curso (Residência Médica em
Endocrinologia). Hospital do Servidor Público Municipal, São Paulo, 19 p, 2018.

SEMEDO, M. et al. As Novas Insulinas: Oportunidades no Tratamento da DiabetesTipo 1. Revista


Portuguesa de Farmacoterapia, v. 13, p. 8-18, 2021.

SUCHOJ, M.; ALENCAR, A. P. Insulina degludeca em pacientes portadores de diabetes mellitus tipo
1. Revista Saúde-UNG-Ser, v. 12, n. 1/2, p. 47-53, 2019.

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40
03

ATENÇÃO À CRISE NOS SERVIÇOS


TERRITORIAIS DE ATENÇÃO
PSICOSSOCIAL: TRANSFORMANDO
CENAS

Fernando Sfair Kinker


(UNIFESP)

Maria Inês Badaró Moreira


(UNIFESP)

' 10.37885/230914532
RESUMO

Objetivo: O objetivo deste artigo é problematizar a questão do cuidado em saúde


mental, em momentos de crise, no âmbito dos serviços territoriais de saúde
mental. Método: Utilizou-se de cena ilustrativa para fundamentar a análise, a
partir de diferentes concepções sobre o fenômeno da crise. A partir de revisão
bibliográfica e da experiência dos autores, efetuou-se uma análise dos principais
desafios presentes no atendimento às situações de crise. Resultados: eviden-
ciou-se que concepções hegemônicas e simplificadoras da crise psíquica são
centralizadas em sinais e sintomas, e apagam os sentidos do episódio, gerando
ações de violência para os envolvidos. Para uma abordagem complexa e não
redutora, são necessárias respostas complexas, a fim de ampliar possibilidades
de entendimento e ação, envolvendo diferentes atores, que estão implicados na
produção da cena da crise. Sugere-se uma abordagem amparada em diferentes
pontos da rede psicossocial, visto que a manutenção dos laços comunitários é
imperiosa e pode se transformar em espaços facilitadores para a aproximação
ou manutenção da pessoa na comunidade. Conclusão: Conclui-se que, para
lidar com a complexidade da crise, necessita-se de outro paradigma, outros
olhares, práticas e saberes, que considerem que a pessoa que encarna a crise
produz um significado, constrói um saber sobre a vida e sobre a própria crise,
e não deve ser colocada no lugar de objeto de intervenção.

Palavras-chave: Saúde Mental, Rede de Atenção Psicossocial. Crise, Reforma


Psiquiátrica, Serviços Territoriais.

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42
INTRODUÇÃO

Este texto foi publicado originalmente na Revista Saúde em Debate em


2021, tendo recebido atualizações importantes, o que nos motivou a publicá-lo
novamente, com novas inserções e novas problematizações. Afinal o tema da
atenção à crise é e sempre foi um dilema importante na história da psiquiatria
e da saúde mental. Há muitas disputas acerca das concepções e práticas que
envolvem o fenômeno da crise, imersas em diferentes contextos históricos. E, por
esse motivo, este debate segue sendo muito significativo para o desenvolvimento
do cuidado, especialmente nos serviços territoriais de saúde mental constituídos
no bojo da reforma psiquiátrica brasileira.
Historicamente, há várias formas de se entender o fenômeno da crise.
Todas elas, correlacionadas. O substantivo crise advém do latim crisis, momento
de decisão ou mudança súbita; do grego Krísis, que seria a ação ou faculdade de
distinguir; pode-se também compreender como um momento decisivo e difícil,
por derivação do verbo kríno (grego), que também significa separar, decidir
e julgar. Boff (2010) lembra que, em sânscrito, kri pode ser lido como desem-
baraçar, purificar ou limpar, e que a língua portuguesa conserva as palavras
acrisolar e crisol, que têm a mesma origem sânscrita. Para o autor, a crise age
como um crisol que purifica o ouro. Deste modo, após um episódio de crise,
o ser humano sai purificado, “libertando forças para uma vida mais potente e
cheia de sentidos novos” (BOFF , 2010, p.27).
A palavra crise tem sido usada para indicar um processo que produz
transformações e modifica a pessoa, no sentido de fazê-la superar momentos
decisivos da vida; um evento que faz parte do percurso existencial, da relação
com o mundo; um ressignificar. Este sentido da crise pode ou não implicar a
irrupção de uma experiência dita psicótica. E o que nos interessa é, sobretudo,
a que implica isso, por conta de suas consequências, já que em momentos
anteriores da história do cuidado em saúde mental, em que havia forte influên-
cia de uma cultura hospitalocêntrica, tendo o hospital psiquiátrico como locus
para esse tipo de demanda, o momento da crise era um indicativo para se
iniciar uma carreira psiquiátrica seguida de internações recorrentes. Ainda que
se almeje dizer que tal cena pertence ao passado, o contexto atual de recuo
das políticas públicas mostra que o passado pode vir a ser um vislumbre de

ISBN 978-65-5360-480-3 - Vol. 2 - Ano 2023 - www.editoracientifica.com.br


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futuro, tendo em vista o que vivemos no Brasil nos últimos anos, com ameaças
constantes de retorno ao modelo hospitalocêntrico e manicomial, que nunca
deixou de assombrar os serviços abertos, mesmo estes assumindo os preceitos
da Reforma Psiquiátrica Brasileira.
De qualquer forma, os momentos decisivos de crise podem enriquecer
a existência ou torná-la mais contida. O contexto de relações, os recursos de
apoio disponíveis coproduzirão os seus efeitos e aquilo que ela poderá se tornar
para a vida dos envolvidos.
Outra forma de entender a crise é colocá-la como um processo de intenso
sofrimento. Isto pode ser percebido no contato com muitas das pessoas que
buscam os serviços de saúde mental. As experiências ditas psicóticas geram
afetos que levam até os limiares da existência, produzindo intensidades de dor
que são difíceis de serem suportadas.
Independentemente da tradução que se faça da crise, importa saber
as respostas que ela recebe. É certo dizer que cada leitura que se faz desse
momento vislumbra uma resposta.
Com a instituição, pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2013) da Rede de
Atenção Psicossocial (Raps), muitos foram os ganhos para a pessoa em sofri-
mento psíquico que vivencia uma situação de crise. Em um modelo de cuidado
sistêmico e transversal, viu-se uma ampliação das estratégias e possibilidades
de manter o cuidado territorial contínuo. Em um desenho ampliado, puderam-se
incluir diferentes composições de equipes trabalhando de modo articulado nos
seguintes componentes de atenção: Atenção Básica (AB); Atenção Psicossocial
(AP); urgência e emergência; atenção residencial de caráter transitório; atenção
hospitalar; estratégias de desinstitucionalização e reabilitação psicossocial.
A ênfase no papel dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) para o
cuidado em situações de crise aponta para as influências das concepções de
crise que circulam no cotidiano. Garcia & Costa (2014) anunciam importante
transmutação na mudança de entendimento da crise e, por conseguinte,
mudança de modos de agir da equipe frente à situação. A partir de experiências
de abordagem da crise como um sintoma a ser sanado rapidamente por terapias
e medicações, ou prevenido pelo poder de polícia, os envolvidos vivenciaram
uma modalidade de atenção que não permite compreensão sobre o fenômeno,
com tentativas diversas de calar e resolver a situação. Até que, diante de uma

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44
experiência de sustentação de uma situação de crise no Caps, o serviço passou
a repensar seu modo de organização e os profissionais também se colocaram
em análise, a partir dos afetos produzidos. Com essa experiência, os envolvidos
passaram a apostar na potência da equipe diante de cenas de crise, tomadas
como momentos catalisadores da construção de novos territórios existenciais
para esses sujeitos em sofrimento e, consequentemente, para os trabalhadores,
que se posicionaram de outro modo, diante da situação.
A articulação da Raps como rede potente vem mostrando que, a partir
do momento em que os profissionais passam a vivenciar situações de crise,
iniciam uma jornada para construir espaços de manutenção dos laços sociais
e familiares das pessoas.
Nessa direção, o apoio matricial tem se revelado importante referência
para os profissionais da AB. Lima & Dimenstein (2016) discutem as ações do
apoio matricial na atenção à crise a partir do matriciamento de uma equipe de
Caps II, em rodas de conversa com trabalhadores. Identificam a necessidade
de promover ampliação na capacidade de acolhimento e cuidado das equipes
da Estratégia Saúde da Família (ESF). Nesse relato, o matriciamento se revelou
ferramenta apoiadora da atenção à crise, ao prevenir as próprias situações de
crise ou abordá-las antes que se agravassem. Esta forma evita manejos mais
invasivos, tais como: utilização da polícia, uso de força física, conduções invo-
luntárias para a emergência e internação hospitalar.
O trabalho desenvolvido e a aproximação com o mundo vivido dos usuá-
rios em crise confirmam serem os caminhos para o fortalecimento da Raps.
Diferentemente deste conjunto articulado de ações, as dificuldades de trabalho
de algumas equipes dos Caps também são evidenciadas. Willrich et al. (2014)
destacam e questionam o papel da polícia, pois esta vai na contramão de um
modo de cuidar que prevê o trabalho articulado em rede. Uma análise sobre os
sentidos presentes nas práticas de profissionais de um Caps, produzidos pelas
formas de lidar e se relacionar com o sujeito em crise, destaca a contenção e
os sentidos construídos em torno dessa prática. Os dados também chamam a
atenção para os diferentes posicionamentos dos profissionais em relação a esse
tipo de ação: os trabalhadores indicam a Polícia Militar (PM) como protagonista
no cuidado da crise e questionam a responsabilidade da equipe, de cuidar do
usuário também nesse momento. Por evidente descompasso, defende-se como

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necessária a construção de práticas coletivas para a atenção à crise, embasadas
em relações contratuais, no respeito à singularidade e à subjetividade dos sujeitos.
Nessa mesma direção, os estudos de Andrade, Zeferino e Fialho (2016)
apontam que as contenções medicamentosa e mecânica, além da internação,
aparecem como ações para redução dos sintomas, com desvalorização do
sofrimento, deixando a pessoa em segundo plano. Estudos como estes reve-
lam certa distância entre a realidade de alguns serviços e o preconizado pela
política de saúde mental no País. Além disto, demonstram graves implicações
na prática do cuidado em saúde mental e recuos evidentes na consolidação de
formas de cuidado na comunidade.
Em outra ponta da Raps, prevê-se o atendimento de urgência realizado
por equipe de serviço de atendimento móvel de urgência (Samu), intervindo
em situações de crise psíquica. Uma análise de Almeida et al (2015) sobre este
tipo de intervenção destaca a emergência de três ideias centrais: a alteração
de comportamento e instabilidade psicológica; a manifestação com presença
de alucinações e agressividade; e a intervenção que ocorre com contenção
física, medicamentosa e encaminhamento. O estudo afirma que a concepção
dos profissionais sobre a crise está pautada em uma perspectiva positivista
da psiquiatria e, em consequência deste modelo de compreensão, a atenção
pré-hospitalar segue medidas protocolares no atendimento à pessoa em crise
psíquica, distantes dos princípios determinados pelo paradigma psicossocial.
Estudo realizado por Brito, Bonfada e Guimarães (2015), sobre o aten-
dimento prestado às crises psíquicas pelos profissionais de saúde do Samu,
destaca a participação da PM nas ocorrências psiquiátricas como característica
comum desse tipo de atendimento em urgências. Os autores apontam a neces-
sidade de capacitação para vencer elementos associados à prática manicomial,
como o uso da força coercitiva, exercida com o auxílio de policiais militares, que
ainda estão presentes no ideário e na assistência prestada pelos profissionais
entrevistados, embora defendam que a assistência mantenha os laços sociais,
ambientais e afetivos dos sujeitos, evitando medidas violentas, repressoras
ou excludentes. Este parece ser o elemento central para a compreensão dos
achados sobre signos e significados de crise atribuídos pelos familiares e pro-
fissionais em saúde mental, exposto por Lima et al (2012), uma vez que não há
diferença entre as concepções de profissionais e familiares acerca da crise, já

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46
que ambos trazem significados negativos que suplantam os positivos, evocando
os conceitos de sujeição à doença, incapacidade de interação social racional e
periculosidade da pessoa tomada como doente. Por outro lado, Souza, Pinho
e Cortes (2019) assinalam que o fato de o hospital geral ser a única referência
para alguns serviços móveis sustenta a desvalorização ou o desconhecimento
das ações dos Caps como serviços comunitários e territoriais no cuidado às
crises psíquicas, pois equipes dos serviços indicam que o papel do Samu acaba
por direcionar o ponto da rede a ser acessada pela pessoa.
Os referidos estudos apontam que, de modo geral, a resposta à situação
de crise é fruto de um modo hegemônico de compreender o sofrimento psíquico
e as ações em saúde mental. Forma secular, naturalizada, que vem como em
uma correnteza (embora seja uma resposta construída historicamente), é a
intervenção dos dispositivos da ordem, em uma combinação e parceria entre
as forças de segurança (polícia, justiça etc.) e as especialidades de saúde, que
são legitimamente instituídas como aquelas que podem tratar e conter aquilo
que foi traduzido como doença, ou como transtorno que está presente exclu-
sivamente dentro da pessoa, um transtorno dito endógeno.
Mas há, também, outras perspectivas transformadoras. A experiência
italiana em Trieste, por exemplo, demonstra na prática a possibilidade de
transformar o episódio de crise. O manejo precoce das situações de crise tem
sido realizado no domicílio com a inserção de familiares em todo o processo, o
que vem apontando maior facilidade de manter o cuidado posterior. A equipe
que aborda as situações de crise em casa realiza um trabalho em quatro fases:
1) inicia com a avaliação, 2) seguida de construção conjunta de um plano tera-
pêutico, 3) envolver os familiares, até a fase 4) a ampliação de cuidados em
equipamentos de acolhimento, se for o caso. O trabalho vem reduzindo consi-
deravelmente a utilização de espaços hospitalares ou de acolhimento integral
(SADE et. Al., 2020).
Contudo, embora seja uma experiência com respostas muito positivas,
tal perspectiva de lidar com a crise ainda é algo a ser consolidado no Brasil, de
maneira a transformar os modos hegemônicos de cuidar da crise nos serviços
de saúde mental do país. É o que corrobora o estudo de Dias, Ferigato e Fernan-
des (2020), que realizaram análise de protocolos e documentos institucionais

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em saúde mental, à luz da abordagem sociotécnica, apontando importantes
dicotomias emergentes dos processos de atenção à crise.
Assim sendo, a forma hegemônica de lidar com a crise parece ter veios
comuns: violência, contenção, limite e manutenção de um circuito psiquiátrico.
Partindo desse contexto, o presente artigo objetiva apontar e discutir
possíveis ações de enfrentamento de desafios presentes na atenção à crise,
no âmbito da Raps. Para isto, pretende-se discutir uma visão do fenômeno da
crise, que a coloca como o desenrolar de uma cena composta por múltiplos
atores e cenários. Uma cena longitudinal, em movimento, cujo desdobramento
não pode ser definido a priori, dependendo de respostas que a coproduzem, em
um movimento recursivo no qual o efeito retroage sobre a causa.

MÉTODOS

Narrativas e experiências como investigação

Este manuscrito se constitui a partir de um caso construído para uso


didático em ambiente de formação e educação permanente de profissionais
de saúde, a partir da reunião de diversos fragmentos de histórias vividas pelos
autores. Trata-se de uma narrativa elaborada a partir de diferentes personagens
e cenários, sem se fixar em uma situação ou pessoa específica. Os autores foram
tomados pela necessidade de compartilhar tal experiência, entendida, na pers-
pectiva de Bondía (2012), como uma oportunidade de nos abrirmos para que algo
nos toque, admitindo um gesto de interrupção que possibilite parar para pensar
sobre o cotidiano profissional; parar para olhar e demorar nos detalhes, nas
histórias; parar para escutar e compartilhar esse olhar, de modo a inaugurar um
novo sentir e, assim, um fazer repleto de novos sentidos. Os autores-narradores,
transpassados pela experiência, se interessam em provocar reflexões, a partir
de vivências comuns a vários trabalhadores de serviços, e, por terem sido atra-
vessados por essas histórias, se perceberam comprometidos em narrá-las, uma
vez que, como define Benjamim (1985, p. 201): “o narrador retira da experiência
o que ele conta […] e incorpora as coisas narradas à experiência do ouvinte”.
Assim emergiu uma narrativa polifônica, construída a partir de conversas,
debates e diferentes oportunidades de diálogo entre os autores no cotidiano

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profissional, em ambiente de docência, supervisão e atuação profissional em
serviços de saúde. A cena apresentada elucida um somatório de situações
cotidianas comuns a muitos serviços de saúde. A personagem poderia ser
encontrada em um serviço com as características trazidas pela narrativa, assim
como poderia estar silenciada em espaços confinados ainda existentes.
Essa ilustração está sendo usada como instrumento de apresentação
de uma das formas possíveis de abordagem do que na área de saúde mental
convencionou-se chamar de crise. Optou-se por inserir a narrativa em um Caps
III, organizador de ações territoriais, com funcionamento 24 horas/dia e a função
de articular a relação dos seus usuários com os territórios de existência, pro-
duzindo agenciamentos e experiências que enriqueçam as redes de relações,
aumentem o poder contratual e modifiquem valores relacionados ao sofrimento
psíquico (BRASIL, 2013). Optou-se por este desenho por ser condizente com
a manutenção de cuidados comunitários previstos na Reforma Psiquiátrica
Brasileira (BRASIL, 2002).
Aliada à proposta de aberturas possíveis, a escolha de construir uma
narrativa para este artigo produz sintonia com um desejo maior de fortalecer
a perspectiva da desinstitucionalização, ampliando os olhares em direção às
pessoas e suas histórias, como fizeram Kossah, Moreira e Braga-Campos (2019)
em recente artigo.
Este texto está voltado para fomentar a criação de novos estratos,
significações abertas, e assim buscar romper com a relação de causa-efeito,
com uma perspectiva que desvaloriza as histórias de vida e torna as narrativas
silenciadas, típica do modo de operar do aparato manicomial.

RESULTADOS

A crise de Holanda

Holanda não é o nome de um país, mas de uma jovem de 18 anos que viveu
muitos infortúnios na vida. Irmã de 2 crianças pequenas, de 3 e de 6 anos, e filha
de Ivone, uma diarista que se encontrava separada do marido, mas residindo com
a mãe, vivia na periferia de um município de São Paulo. A casa tinha 3 cômodos

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e um quintal, que era compartilhado por diferentes vizinhos. O banheiro ficava
nos fundos do quintal, portanto, visível para a maioria dos vizinhos.
Holanda chegou ao CAPS III depois que o Conselho Tutelar foi acionado
por vizinhos, e que se percebeu que, por já ter 18 anos, não caberia nem ao refe-
rido Conselho nem ao CAPS infantil atendê-la. Acionado o Ministério Público,
Holanda chegou ao CAPS III com uma solicitação de internação psiquiátrica
por parte da família. Esta solicitação se deu depois que os vizinhos reclama-
ram ao Conselho Tutelar e, posteriormente ao Ministério Público, que Holanda
vivia nua pelo quintal, circulando entre a área do banheiro e a área descoberta.
Vendo-a nua, muitas vezes na chuva, os vizinhos entenderam que a família não
teria condições de cuidar da filha.
O primeiro contato de Holanda com a equipe do CAPS se deu num certo
dia em que a família, com muito esforço, conseguiu levá-la ao serviço. Holanda,
na ocasião, muito tensa, fazia movimentos corporais repetitivos e tinha um
vocabulário muito reduzido. A mãe mencionava que gostaria de cuidar melhor
da filha, mas entendia que não tinha condições de cuidar efetivamente dela,
uma vez que as crianças pequenas exigiam toda a atenção, impedindo-a, mui-
tas vezes, de trabalhar. A avó ocupava um papel muito passivo, pela própria
condição de saúde, e também porque entendia que Ivone deveria encontrar
soluções adequadas para cuidar de sua própria família.
O fato é que, no momento de agitação de Holanda e de sua mãe, e tendo
em vista o impasse com os vizinhos, Holanda pôde permanecer em hospita-
lidade integral no CAPS III por alguns dias. Esse período serviu para a equipe
se aproximar dela, tentar formas de contato e, ao mesmo tempo, ampliar o
entendimento sobre as condições da família.
Para isso, foram feitas visitas domiciliares à família no momento mesmo
da hospitalidade integral de Holanda, quando se deparou com as seguintes
situações: as crianças pequenas não frequentavam nenhuma creche; a mãe
não conseguia manter o trabalho de diarista para cuidar das crianças, pois a
avó delas estava muito idosa e sem condições de realizar este cuidado; a mãe,
muitas vezes sem renda, endividava-se na venda, consumindo cada vez mais
bebidas alcoolicas; a casa estava em péssimas condições, e a geladeira, total-
mente vazia; os vizinhos não tinham uma boa relação com Ivone, e também
passavam por dificuldades financeiras; não havia mais parentes a quem recorrer.

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A equipe aproveitou a estadia de Holanda no CAPS para fazer incursões
com a mesma pelo território: as saídas eram muito emocionantes, pois Holanda
ficava deslumbrada com o brilho das lojas, com o cheiro das calçadas, com o
trânsito de pedestres. Por várias vezes insistia em entrar nas lojas, mexer nos
objetos coloridos, e a equipe sempre discutia com ela que aquelas mercadorias
estavam à venda, e que a única forma de as obter era trocando-as pelo vil metal.
Mas esforçavam-se para fornecer elementos básicos para a sobrevivência de
Holanda, como roupas novas, colares, anéis, produtos de higiene, dentre outros.
Com o passar dos dias, a equipe decidiu propor à família que Holanda
voltasse para casa, e que frequentasse o CAPS durante alguns dias na semana,
considerando as possibilidades da mãe, Ivone.
Para isso, fez-se um combinado com a mãe e a filha, e negociou-se a
necessidade de fazer uma reunião com os vizinhos, para explicar a situação e
vislumbrar apoios possíveis.
Após essa combinação, foi notória a dificuldade da mãe em trazer a filha,
por todos as condições cotidianas expostas acima. Isso prejudicava o segui-
mento do acompanhamento e da construção de um projeto terapêutico de vida
para Holanda, além de outros prejuízos, como a descontinuação da medicação
prescrita, já que a mãe apresentava dificuldades de fornecê-la à Holanda.
Depois de várias discussões, a equipe decidiu que deveria frequentar
diariamente a casa de Holanda, dando suporte à mãe, e verificando junto a ela
outras alternativas para melhorar a vida de todos, o que implicaria diretamente
na melhoria da vida de Holanda.
Revezando-se, então, a equipe ia diariamente à casa da família, e isso
possibilitou identificar caminhos possíveis, que foram sendo trilhados aos poucos,
tais como: conseguir inserir as crianças pequenas em creches, para possibilitar
tanto que a mãe Ivone pudesse trabalhar, como partilhar mais momentos junto
a Holanda; viabilizar a inserção das famílias nos programas de transferência de
renda, e inserir Holanda no Benefício de Prestação Continuada da Assistência
Social, em parceria com o Centro de Referência em Assistência Social - CRAS;
pactuar com a escola local a inserção de Holanda no programa de alfabetização
de adultos; buscar aproximações com o grupo de mulheres que desenvolviam um
projeto de economia solidária para a possível inserção de Ivone; envolvimento
da equipe da Unidade Básica de Saúde no acompanhamento das questões de

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saúde da família; viabilização de transporte para Holanda frequentar o CAPS;
aprofundamento das ações de reconhecimento do território por parte de Holanda,
acompanhada dos profissionais do CAPS.
Como o tempo, foram aparecendo novas necessidades, novos desafios,
demonstrando que a crise não era algo desconectado do universo existencial
dos atores em jogo, mas algo intrínseco ao cotidiano, já que a crise, na pers-
pectiva de uma experiência existencial que indica movimento e transformação,
é a regra e não a excepcionalidade. Como a situação de Holanda demonstrou,
a crise envolve muitos atores, cenas sociais, e os serviços de saúde também
vivem em permanente crise, necessária para o enriquecimento da prática e dos
saberes na área da saúde mental.

DISCUSSÃO

Outra forma de conceber a crise e produzir outras ações

A história de Holanda remete a situações cotidianas que poderiam ter


ocorrido em qualquer um dos serviços de saúde mental, e ajuda a identificar
a crise situada no contexto das pessoas envolvidas: a pessoa em sofrimento,
sua família e a equipe que a acolhe no serviço. Diante dos desafios atuais para
a efetivação do cuidado das pessoas em situação de crise, podemos também
entender a crise como uma situação processual – como a cena vivida por Holanda
e sua família –, um corte no tempo, dentro de um longo processo de existir, que
está em construção a partir das relações vivenciadas pela pessoa. Portanto, não
está ‘dentro’ da pessoa, em uma vivência ‘interna’ a ela, não se trata de uma
experiência individual, mas constituída no ‘entre’ das relações. Se tomarmos a
crise como cena de uma rede de relações em movimento, como expressão de
determinado processo relacional, ou como o processo em si, a crise passa a ser
fato social, implicando cenas sociais, atores sociais, contextos sociais, relações
de saber e poder, produção de realidades.
Se entendermos a crise por essa via, ela se torna muito complexa, e as
respostas dadas a ela ultrapassam a simples contenção, a anulação, o enfra-
quecimento do acontecimento, da intensidade dos afetos produzidos (tentamos
arrefecer a crise para diminuir o sofrimento daquele que a expressa, mas, também,

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porque suportamos pouco a angústia de entrar em relação com alguém que
vive essa experiência).
Desse modo, as respostas que tais situações recebem, como já dito
acima, ajudam a coproduzir a crise. Ou seja, a partir do momento em que ela
chega, através das pessoas que chegam aos serviços (ou às quais os serviços
vão atender em domicílio), já se começam a coproduzir a crise e seus significa-
dos. Isto é importante perceber, porque remete a ter um olhar crítico e reflexivo
sobre as ações a serem desenvolvidas, já que quaisquer que elas sejam, estarão
coproduzindo a cena da crise.
Quando comumente se defende a capacitação para avançar em diferen-
tes modos de agir junto às pessoas em situação de crise e superar as práticas
manicomiais, lembramos que a ideia de ‘capacitar para atender à crise’ não pode
ser equivalente à de transformar o modo de compreender o momento da crise
dentro de um contexto amplo e complexo da vida. Pois essa transmutação não
ocorre apenas com a capacitação para o trabalho, tal como visto em pesquisa
referente ao curso Crise e Urgência em Saúde Mental, para trabalhadores da
Raps com formação em nível superior, oriundos de diversas regiões do Brasil,
selecionados pelo MS (ANDRADE et. Al., 2016).
Nesses anos de trabalho em educação permanente para trabalhadores do
Sistema Único de Saúde (SUS), pode-se afirmar que não se trata de aumentar o
número de horas de estudo e capacitação para melhor agir sobre a crise e sim,
de transmutar a compreensão sobre o que é, de fato, a crise, ou seja, mudar o
objeto a ser visto. E isto se dá com a prática reflexiva e coletiva.
Ao tomarmos o caminho de uma pessoa até sua chegada a um Pronto-So-
corro psiquiátrico, muitas situações já ocorreram e contribuíram para compor o
quadro que revela a crise: aquilo que irrompe a partir de seus nexos existenciais,
relacionais, nos territórios de existência da pessoa, é interpretado e transformado
em outra coisa quando a polícia e a ambulância são mobilizadas e comparecem
ao domicílio. Os acontecimentos daí decorrentes, a abordagem, o trajeto até o
Pronto-Socorro e a própria abordagem ali realizada acrescentarão outros sig-
nificados e transformarão, através de simplificações, a complexidade da crise.
Essa cadeia de simplificação sempre é traduzida pelos códigos da doença,
pelos sinais e sintomas, geralmente apagando os rastros de sentido ou o fio
da meada que poderia ampliar e tornar complexa a cartografia do fenômeno.

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Inverter esse modo de fazer, para outro que se oriente em buscar respostas
complexas e críticas para o fenômeno da crise, passa por um olhar e uma prática
crítica que aborde a questão, ampliando as possibilidades de entendimento e
tradução, envolvendo os atores implicados na produção da cena de crise. Essa
ação só será possível se houver uma compreensão de que tal cena é construída
a muitas mãos, envolvendo contextos reais e complexos de vida e relações reais,
para além de uma vivência da doença e do fenômeno em si.
Para lidar com a crise de forma complexa é necessário que haja outro
paradigma, bem como outros olhares, outras práticas, outros saberes que con-
siderem que a pessoa que encarna a crise é um ator essencial na produção de
significado; que ela produz um saber sobre a vida e sobre a crise, e não deve
ser colocada no lugar de objeto de intervenção.
A Raps, como rede comunitária e territorial, em articulação com as outras
redes de sociabilidade do território existencial das pessoas e grupos sociais,
tem a possibilidade de exercer outra abordagem à crise. Essa abordagem vem
como parte de uma construção mais geral de projetos de vida e de percursos
de ampliação e transformação das cenas sociais, que invalidam e expelem a
experiência do sofrimento, e tudo o que ela tem de revelador.

Abordagem à crise e a aposta da vida em liberdade

Abordar as situações de crise no contexto dos serviços da Raps é algo


complexo, pois implica a permanente comunicação e interação com os elementos
que compõem o cotidiano de relações entre os atores sociais. Podemos enten-
der as relações sociais como relações de poder, e o poder como a energia que
circula e é produzida no choque entre os corpos. O poder (FOUCAULT. 2008;
BASAGLIA, 2005), desta forma, está presente em todos os lugares, e seu exer-
cício é o verdadeiro produtor da realidade, ou das cenas sociais. Neste sentido,
todas as relações são relações de poder.
A primeira questão a ser considerada na abordagem à crise no contexto
da Raps é trabalhá-la sob uma perspectiva ampla, que busque aberturas de
entendimento. Este processo demanda ampliar as formas e fontes para o
entendimento da situação, de modo articulado à vida concreta das pessoas.
Não se trata de um momento isolado ou um acontecimento fora da vida, por

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isto, é importante enriquecer os fluxos de inteligibilidade, produzir pistas,
elencar interpretações móveis que se modifiquem a todo o momento, com o
intuito de construir hipóteses que favoreçam o exercício de poder da pessoa
que manifesta o sofrimento.
Como todo exercício de inteligibilidade é uma escolha de determinado(s)
caminho(s) mesclado(s), procurar os caminhos que favoreçam o usuário dos
serviços já representa uma importante mudança de cena e de transformação
das relações de poder. Essa ação provoca um desvio importante no caminho
a seguir posteriormente.
Uma análise reflexiva-racional nem sempre possibilita a compreensão
dos fenômenos. Antes disto, há uma espécie de ‘consciência pré-reflexiva’, ou,
nas palavras de Merleau-Ponty (1999), uma ‘consciência perceptiva’. E isso, de
certa forma, foi exigido de da equipe do CAPS na cena acima:

Para saber o que significa o espaço mítico ou esquizofrênico, não


temos outro meio senão despertar em nós, em nossa percepção
atual, a relação entre sujeito e seu mundo, que a análise reflexiva faz
desaparecer. É preciso reconhecer, antes dos ‘atos de significação’
do pensamento teórico e tético, as ‘experiências expressivas’; antes
do sentido significado, o sentido expressivo; antes da subsunção do
conteúdo à forma, a ‘pregnância’ simbólica da forma no conteúdo
.( MERLEAU-PONTY, 1999, p. 391)

Para construir uma inteligibilidade mutante e rica é necessário confiar


na sensibilidade e na lapidação do entendimento que os afetos produzem em
todos os envolvidos: usuários, familiares ou acompanhantes, e nos demais
atores envolvidos em cada uma das situações, como também trabalhadores
da área da saúde. A sensibilidade crítica entra aqui como um instrumento de
saber e de construção de uma nova realidade. O que sente e como reage cada
ator envolvido em uma situação de crise? O que mobiliza as nossas decisões e
os nossos encaminhamentos? Essas são questões fundamentais de autocrítica,
que delineiam o caminho que a situação de crise tomará.
A atenção flutuante sobre a totalidade da cena, e não apenas sobre a
pessoa que expressa um mal-estar coletivo, permite, então, que se possam
rascunhar inúmeros desfechos, a serem construídos flexivelmente.

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Se a crise está entre as pessoas, nas relações, é neste ‘entre’ que os
serviços devem intervir e provocar alguma transformação; construir amplo
leque de ações que se coloquem nesse espaço do ‘entre as pessoas’, para que
cada um dos envolvidos possa se ver e ressignificar as situações que produzem
tal crise. Tomando a perspectiva da complexidade (MORIN, 2002) como uma
dimensão da existência e do entendimento, que vai além de toda a simplificação
e disjunção dos saberes diversos, podemos dizer que, nesse ‘entre as pessoas’,
se estabelece uma unidade complexa entre, pelo menos, duas lógicas, que se
alimentam uma da outra – a racionalidade e a percepção afetiva –, podendo se
completar ou instituir novos embates, fundando o que poderíamos chamar de
‘racionalidade aberta’.
Pode ser também compreendida como momento decisivo, que convoca
ações de diferentes atores – desde trabalhadores na abordagem inicial e no
acolhimento, passando pelos cuidados próximos e quentes, até a manutenção
do plano de cuidado e a construção de projetos de vida, nos projetos terapêu-
ticos singulares (PTS). Sendo assim, a continuidade do cuidado deve estar
prevista, desde a recepção e o acolhimento inicial, como um alvo orientador
a ser alcançado.
Esse é o principal motivo para que tal momento esteja inserido no contexto
dos Caps, como serviços abertos na comunidade. Uma vez ausentes dessa cena
os serviços territoriais, corre-se o risco da perda do fio que poderia sustentar o
caminho do cuidado a ser implementado à frente.
Portanto, deve-se ampliar esse debate no cotidiano de todos os serviços
de saúde da rede, de modo que a preocupação com o acolhimento à crise não
fique restrita aos Caps III (BRASIL, 2004), ainda que seja fundamental que este
serviço esteja presente. Mas que também se torne uma cena protagonizada,
em íntima parceria, por múltiplos atores, potencializando as respostas e os
possíveis desfechos. As investidas de cada um dos serviços podem parecer
pequenos avanços, mas o grande ganho com o acolhimento da crise em rede
será essencial para o cumprimento de um dos objetivos da política de saúde
mental territorial, que seria evitar as internações e modificar as cenas que geram
a exclusão e a invalidação, anulando as contradições sociais.
A flexibilidade e a prontidão dos serviços podem ampliar o potencial
de transformação, calcado na confiança que os atores do território fortalecem

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junto à equipe; uma prática consistente e que saiba lidar com as contradições
do cuidar e do controlar, que pode potencializar diversas transformações
(KINOSHITA, 1996).
A aproximação e a presença sensível e eficiente da equipe geram a
necessidade de deslocamentos, sejam físicos (como ir ao encontro da pessoa
em qualquer lugar), sejam temporais. O uso de estratégias diversas de aproxi-
mação, o envolvimento de atores importantes para a pessoa em sofrimento nos
momentos de crise, como sugerem Dell’acqua & Mezzina (2005), constroem a
possibilidade de entender que mesmo as medidas mais fortes, desde que dialoga-
das e compartilhadas com a pessoa que sofre, traduzir-se-ão em manifestações
de cuidado e preocupação, compartilhamento de angústias e tristezas, uma
continência na potência de vida que se torna coletiva, em nome do acolhimento.
Geralmente, quando as medidas fortes ocorrem, isto significa que algo não
está indo bem, e que é necessário repensar. Mas é melhor e mais correto respon-
sabilizar-se pela pessoa, mesmo nesses momentos, do que delegar isso a outros
lugares. Não é desejável ceder ao risco da liberdade abstrata e do abandono.
A possibilidade de a mesma equipe cuidar da pessoa, estando ela em
crise ou não, também possibilita produzir novos nexos, transformar as cenas,
agregar elementos novos nesse processo de construção e evitar a ruptura, a
violência e a reprodução de cenas que a anulem ou a invalidem, já que quem
atende apenas à crise acaba por produzir uma simplificação e uma simples
busca pelo arrefecimento.
A imprevisibilidade e as transformações na vida das pessoas são dois
aspectos fundamentais para seu manejo e, por isto, pode-se defender algum
investimento em tecnologias leves-duras e leves (MERHY, 2006). Esse tipo de
ação pode possibilitar a construção de vínculos e a intensificação de cuidados
nos momentos de crise. Certo é que o arranjo e o equilíbrio entre essas formas
de tecnologias abarcam os diferentes tipos de modelos de atenção à saúde,
que podem coadunar com as premissas da desinstitucionalização e do cui-
dado em liberdade.
Assim, é possível produzir outras possibilidades de acolhimento ou
hospitalidade integral às situações de crise, supervisionadas e mediadas pelos
Caps, tais como: famílias acolhedoras; repúblicas de usuários; o profissional do
serviço de saúde dormir na casa do usuário etc. A inventividade e a proliferação

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de alianças, a partir de uma visão ampla do fenômeno da crise, entendendo-a
como algo do âmbito do coletivo, proporcionarão respostas inusitadas, que, mais
do que acolher à crise, transformarão os envolvidos, constituindo novas cenas.
Ainda pode-se compreender esse momento que chamamos de crise
como uma ruptura, uma fratura do processo de vida. A fratura diz respeito não
só a um movimento realizado por aquele onde está identificada, localizada,
concentrada a crise, mas às respostas que tais situações receberam. Ou seja,
à coprodução a qual já nos referimos.
Nesse sentido, a crise também pode ser compreendida como um tipo de
organização momentânea que se tem à disposição no momento em que outros
recursos psíquicos foram utilizados. A crise pode ser um ponto decisivo para
uma pessoa que não vislumbra outros modos de enfrentar uma experiência
de sofrimento. Portanto, a crise é um episódio decisivo para a continuidade do
cuidado e, sobretudo, para a manutenção do indivíduo em seu espaço existencial
e afetivo. Desse modo, a estratégia inicial de acolhimento à crise e seu manejo
vão determinar o caminho a ser trilhado pela pessoa que está em sofrimento
psíquico intenso e pelos demais em seu entorno. Assim, deve-se antever a
solução de continuidade do cuidado a posteriori, e não o perder de vista.
Sendo um ponto decisivo de rupturas vivenciado pela pessoa, não há
retorno possível. Assim, dista sobremaneira da expectativa equivocada de um
restabelecimento esperado pelos familiares e pelas pessoas do entorno. A partir
deste ponto, só há o caminho à frente, a seguir. Por isto, as ações empreendidas
nesse momento devem ser orientadas para um ponto à frente da vida dessas
pessoas e não como uma tentativa malsucedida de retomar a vida como antes.
A crise vai se tornando um processo que compõe determinado percurso
de vida, vai se produzindo como um brotar do sentido em direção ao fortaleci-
mento da vida. Ressignifica-se o sofrer, alteram-se os elementos que produzem
a cena do sofrimento, aumentando a potência de agir.
Como nos diz Espinosa (2005), somos corpos constantemente afetados
pelas relações que nos constituem como intensidades subjetivas, e essas afeta-
ções aumentam ou diminuem nossa potência de agir. Se pudermos ser afetados
pelas forças que lutam contra o desespero e a miséria, nos tornaremos mais
potentes e comporemos com mais energia a natureza a que pertencemos, e
que nos forma enquanto a formamos.

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Essa política da relação entre os corpos, que podemos chamar de rela-
ções de poder, nos investe de energia e nos metamorfoseia, transformando
também o sofrimento. O sofrimento é, sobretudo, uma questão política, que
tem a ver com a produção de corpos potentes ou impotentes. Corpos poten-
tes são aqueles que se compõem com os elementos que os transformam, no
sentido de lhes intensificar a energia vital. Por isto, o saudável é aquele que
apresenta uma intensidade de vida, e estar em crise pode ou não possibilitar
este aumento de intensidade.

CONCLUSÃO

O que está em jogo na mudança das cenas relacionadas à crise é a forma


de entender o sofrimento psíquico como uma articulação das dimensões da vida
de uma pessoa. Para essa transformação no modo de compreender a crise e
também de empreender um plano de ação que se inicia já nesse momento, é
necessária uma ruptura epistemológica. Trata-se da construção de um modo
diferente de compreender, aproximar, construir aberturas e ampliar o espaço
de manejo da situação com os demais envolvidos.
Trata-se, sobretudo, de se abrir para construções coletivas, de um saber
que não se sobreponha a outro. É também fundamental aceitar trabalhar com
a incerteza, abrir-se para pequenas aventuras e ousadias. E, sobretudo, com-
preender que há uma chance para a criatividade, e de se poder ir vivendo em
paz com as crises dos serviços, aprendendo com elas.
Uma mudança epistemológica dessa envergadura implica transformar
o modo como todos os envolvidos concebem esse momento. São mudanças
importantes nos profissionais e nos serviços, mas também uma forma peda-
gógica de alterar o modo como a família e o entorno lidam com esse momento
inserido no modo de viver de uma pessoa.
E, por fim, é fundamental que os usuários mudem e consigam traduzir
esse momento para as pessoas à sua volta. Assim, todos seriam capazes de fazer
um caminho diferente, e as cenas das crises teriam outros desfechos. A fórmula
transformadora permite que todos enriqueçam o olhar, a sua existência pessoal,
sua relação com o trabalho e com a vida.

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REFERÊNCIAS
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BOFF, L. Crise – Oportunidade de crescimento. Petrópolis: Editora Vozes, 2010, p. 27.

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04

AUTOMEDICAÇÃO E USO IRRACIONAL DE


ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO
ESTEROIDAIS POR PACIENTES
ATENDIDOS EM UNIDADES BÁSICAS DE
SAÚDE NA CIDADE DE FEIRA NOVA–PE

Matheus da Rocha Gomes


Centro Universitário da Vitória de Santo Antão (UNIVISA)

Raí Rogério da Silva


Centro Universitário da Vitória de Santo Antão (UNIVISA)

Mairla Cristiane Vieira de Sousa


Centro Universitário da Vitória de Santo Antão (UNIVISA)

Gleiciele do Nascimento Bento


Centro Universitário da Vitória de Santo Antão (UNIVISA)

Arlindo Gomes de Souza Neto


Centro Universitário da Vitória de Santo Antão (UNIVISA)

Diana Ramos Cavalcanti


Faculdade de Ciências Médicas de Jaboatão (AFYA)

Mayara Paes de França Silva


Centro Universitário da Vitória de Santo Antão (UNIVISA)

Danúbia Raíssa Ferreira de Lima Dias


Centro Universitário da Vitória de Santo Antão (UNIVISA)

Julyana Viegas Campos Cavalcanti


Centro Universitário da Vitória de Santo Antão (UNIVISA)

Danilo Ramos Cavalcanti


Universidade de Pernambuco (UPE)

' 10.37885/231114963
RESUMO

Objetivo: Verificar o uso irracional de medicamentos e a prática da auto-


medicação por meio de anti-inflamatórios não esteroidais por residentes do
município de Feira Nova – PE. Métodos: Trata-se de uma pesquisa de cunho
exploratório, descritivo, com abordagem quantitativa. Foram realizadas entre-
vistas de pacientes que declaram se automedicar no município de Feira Nova
- PE. A amostra foi composta por 198 pacientes, sendo incluídos aqueles com
idade igual ou superior a 18 anos, de ambos os sexos, residentes do município
de estudo. Foi aplicado um questionário semiestruturado distribuído em três
blocos: aspectos sociodemográficos, automedicação e uso irracional de medi-
camentos. Resultados: Dos entrevistados, 72,7% automedicam-se raramente,
alegando dor de cabeça (74,2%), justificando com fácil acesso às farmácias
(87,9%). 78,8% relatam o farmacêutico como principal fonte informativa, sendo
a maior influência pra automedicação os medicamentos sem prescrição previa-
mente comprados armazenados (78,8%). Na compra, 45,5% afirmam sempre
receber auxílio farmacêutico, onde 80,3% sabem os riscos do uso inadequado,
sendo 0,5% acometidos por efeitos colaterais. Conclusão: Conclui-se que as
taxas observadas precisam ser reavaliadas frequentemente, para investigação
da conservação dos dados, sendo necessária a aplicação de estratégias no
sistema de saúde para conscientização plena populacional.

Palavras-chave: Anti-Inflamatórios, Automedicação, Medicamentos.

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INTRODUÇÃO

Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINES) são pertencentes à uma


classe de medicamentos bastante utilizada pela população, consiste em inibi-
dores seletivos da COX-1 (ácido acetilsalicílico, ibuprofeno e indometacina) e
inibidores seletivos da COX-2 (celecoxibe, rofecoxibe), tem atividade antipirética,
analgésica e anti-inflamatória e são muito eficazes no tratamento de dores
leves a moderadas, principalmente em dores ocasionadas durante o processo
inflamatório (Santos; Escobar; Rodrigues, 2021; Maciel et al., 2022; Carvalho;
Carvalho; Portela, 2018).
Devido à grande facilidade de se obter os anti-inflamatórios não este-
roidais a automedicação cresce, pois, a falta de conhecimento e de alguém
capacitado para fornecer informações essenciais agrava esse uso irracional.
Ácido acetilsalicílico (AAS), nimesulida, ibuprofeno, cetoprofeno, naproxeno, piro-
xicam, meloxicam e diclofenaco são os AINES mais procurados pela população
brasileira, devido à facilidade na compra e por não necessitar de uma receita,
além de aliviar dores crônicas e agudas de inflamações (Aoyama; Delmão, 2021;
Gonçalves; Bossolari, 2020).
O consumo dos AINES na população ocorre no intuito de aliviar os
sintomas mais comumente observados, tais como: dor de garganta, dor de
cabeça, inflamações, entre outros. Todavia, alguns malefícios podem ocorrer
para a saúde de quem os consome constantemente. Pesquisas demonstraram
que mais de 30 milhões de pessoas consomem AINES diariamente, em todo o
planeta e, este número, está em constante aumento, o que pode ser bastante
preocupante (Ferreira; Terra Júnior, 2018).
Inúmeros fatores desencadeiam problemas na saúde da população
brasileira com a administração inadequada e o uso irracional de medicamen-
tos. A falta de conhecimento acerca do estado clínico do paciente e a ausência
de informações essenciais trazem obstáculos para a sociedade (Lima; Duarte,
2022; Noronha et al., 2021).
De acordo com Oliveira et al. (2019), a causa dos efeitos colaterais notados
no uso irracional dessa classe de medicamentos se fundamenta, especialmente,
na inibição da produção de prostaglandinas. O processo inflamatório no nosso
organismo tem início com a transformação de fosfolipídios em ácido araquidônico

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pela enzima fosfolipase A2. O ácido araquidônico é transformado em prosta-
glandinas, prostaciclinas e tromboxanos, a partir das enzimas ciclooxigenases,
alvo dos AINEs. Logo, problemas renais podem surgir devido à automedicação
(Santos; Silva Filho; Guedes, 2021; Romaine; Loureiro; Silva, 2021).
Portanto, o farmacêutico tem a capacidade de orientar a real necessidade
clínica do paciente para definir o uso desses medicamentos, instruções para
seu uso adequado e, se necessário, encaminhar a um médico. Seu papel no
auxílio à automedicação responsável garante o tratamento correto da doença
e evita a possibilidade de problemas toxicológicos, interações medicamentosas
e reações adversas relacionadas ao uso indevido (Ko, 2018; Fiuza, 2019).
Sendo assim, o presente estudo teve como objetivo verificar o uso irra-
cional de medicamentos e a prática da automedicação por meio de AINES por
residentes do município de Feira Nova – PE.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo de cunho exploratório, descritivo, com abordagem


quantitativa. De acordo com Manzato (2012), a pesquisa descritiva busca anali-
sar aspectos como vida social, política, econômica e demais comportamentos
humanos, trabalhando em cima de dados recolhidos da realidade.
A pesquisa foi realizada no município de Feira Nova, localizado no agreste
do estado de Pernambuco, a 77 km da capital Recife, tendo uma população
estimada em 22.360 habitantes, segundo dados obtidos pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) (IBGE, 2021).
Foram realizadas entrevistas com pacientes atendidos em duas unidades
básicas de Feira Nova - PE. A amostra foi composta por 198 pacientes, escolhi-
dos de acordo com os seguintes critérios: idade igual ou superior a 18 anos, de
ambos os sexos, que assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
A coleta de dados foi realizada no mês de março de 2023, por meio de um
questionário semiestruturado distribuído em três blocos: aspectos sociodemo-
gráficos, automedicação e uso irracional de medicamentos. Os dados obtidos
nos questionários foram tabulados no Microsoft Office Excel 2016. Foram reali-
zadas medida de tendência central (média), frequência absoluta e percentual.

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O estudo faz parte de um projeto maior intitulado “Perfil, prevalência e
fatores associados à automedicação em cidades do interior de Pernambuco,
Brasil”, o qual foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Huma-
nos do Centro Universitário da Vitória de Santo Antão, com parecer nº 4.397.848
e CAAE 39916720.3.0000.9227.

RESULTADOS

Ao todo, 198 indivíduos participaram da pesquisa, sendo o sexo femi-


nino prevalente com 153 participantes (77,2%). A média de idade da amostra
foi de 42,91 anos.
A respeito dos questionamentos inseridos no instrumento de pesquisa
aplicado, relativo à prática da automedicação, 72,7% dos pacientes afirmam
automedicar-se raramente, enquanto 21,3% afirmam realizar de forma frequente,
e apenas 6,1% de forma muito frequente. O principal estímulo citado para a
automedicação foi a presença da dor de cabeça (74,2%), justificando tal conduta
com a facilidade de acesso às farmácias (87,9%) (Tabela 1).

Tabela 1. Percentual de sintomas antecedentes à automedicação e justificativas citadas para tal


conduta.
Variáveis n %
Sintomas antecedentes à automedicação
Dor de cabeça 147 74,2
Dor no corpo 42 21,3
Febre 6 3
Inflamação 3 1,5
Justificativas para a conduta da automedicação invés da conduta médica
Facilidade de acesso à farmácia 174 87,9
Dificuldade de acesso ao médico 24 12,1
TOTAL 198 100
Fonte: Autores (2023).

Quando esses mesmos indivíduos foram indagados sobre a fonte de


informação que possuem acerca dos medicamentos para a realização da
aquisição, 78,8% afirmaram ter como principal fonte o farmacêutico, porém,
a maior influência que os conduzem a tal prática é o fato de já possuírem os

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medicamentos sem prescrição em suas residências (78,8%), adquiridos em
momentos anteriores (Tabela 2).

Tabela 2. Percentual acerca das fontes de informação sobre os medicamentos e influência na conduta.
Variáveis n %
Principais fontes de informação sobre medicamentos
Farmacêutico 156 78,8
Bula 15 7,6
Familiar 9 4,5
Internet 18 9,1
Enfermeiro 0 0
Influência na conduta da automedicação
Familiares/Amigos 18 9,1
Profissional da saúde (não medico) 18 9,1
Prescrições anteriores 6 3
Medicamentos sem prescrição já previamente comprados e que estavam armazenados
156 78,8
em casa
TOTAL 198 100
Fonte: Autores (2023).

Quando questionados sobre o auxílio do farmacêutico no momento da


compra destes medicamentos sem prescrição, 45,5% afirmaram sempre receber
este suporte, e 80,3% deste mesmo público demostraram saber os riscos acerca
do uso inadequado dos medicamentos, onde apenas 0,5% afirmam a presença
de efeitos colaterais ao realizar tal prática (Tabela 3).

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Tabela 3. Percentual de presença do auxílio farmacêutico na aquisição de medicamentos não
prescritos, ciência de riscos e presença de efeitos colaterais pós-terapia.
Variáveis n %
Auxílio do farmacêutico para compra de medicamentos sem prescrição
Sempre 90 45,5
Nunca 54 27,3
Raramente 54 27,3
Você sabe quais os riscos que o uso inadequado dos AINEs pode ocasionar
Sim 159 80,3
Não 18 9,1
Acha que não tem 21 10,6
Presença de efeitos colaterais
Sim 1 0,5
Não 197 99,5
TOTAL 198 100
Fonte: Autores (2023).

DISCUSSÃO

Apesar de o Brasil ser historicamente um país onde a automedicação é


corriqueira, sendo relatado no ano de 2022 por meio do Instituto de Ciência,
Tecnologia e Qualidade Industrial (ICTQ) uma taxa de 89% da população acima
de 16 anos praticantes da automedicação, pode haver ainda variações quando
observada região por região (ICTQ, 2022).
A variação na taxa de automedicação por uma população pode se dar
por medo das reações adversas que podem vir a ocorrer, tendo em vista a falta
de informação plena acerca dos medicamentos disponíveis (Santos et al., 2021).
Entre as motivações que levam o indivíduo à automedicação, corrobo-
rando com os dados do presente estudo, Filler et al. (2020) mostraram que
em relação à prática de automedicação, o principal sintoma apresentado por
jovens e adultos foi a presença de dor de cabeça (27,4%), levando à busca de
medicamentos que dispensam prescrição na maior parte das vezes.
Dados epidemiológicos mundiais alegam a cefaleia como transtorno
mais recorrente na humanidade, sendo uma problemática de saúde pública
influenciada por diversos fatores alterantes do organismo do indivíduo, seja por
cansaço excessivo, estresse ou até mesmo distúrbios do sono (Lopes et al., 2022).
Nesse contexto, os AINES são os medicamentos de busca mais recorrente nos

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estabelecimentos farmacêuticos, tendo em vista sua alta eficácia no tratamento
de dores leves a moderadas, levando à taxa crescente do consumo da classe
(Carvalho; Carvalho; Portela, 2018).
Quanto ao fácil acesso às farmácias para aquisição destes medicamentos,
todo o público entrevistado (100%), no estudo de Santana (2022), concorda que
o fato do produto ter uma maior acessibilidade em determinado estabelecimento,
possibilita que o paciente/consumidor faça a escolha e aquisição dos fármacos
de sua preferência e que satisfaçam suas problemáticas, tornando um processo
muito mais fácil do que a busca médica para avaliação.
A facilidade de obtenção dos medicamentos através do fácil acesso à
farmácia agrava o uso incorreto dos fármacos, uma vez que a dispensação pode
ocorrer sem a prestação do cuidado profissional, fazendo com que os indivíduos
realizem o tratamento de modo aleatório, podendo ocorrer interrupções abruptas
de tratamento e efeitos indesejados (Noronha et al., 2021).
Silva et al. (2013) evidenciaram que 56,84% têm o farmacêutico como
principal fonte de informações medicamentosas. Esse é o principal ator no
que concerne à informação sobre terapias medicamentosas, uma vez que tem
a capacidade plena da indicação, aconselhamento e esclarecimento da ação
dos fármacos no organismo humano, conduzindo o indivíduo a uma postura
responsável (Souza; Andrade, 2022).
Por mais que os indivíduos aleguem que a informação advinda do profis-
sional com perfil mais adequado para prestar informações seja o farmacêutico,
a principal influência na conduta de automedicação segue sendo a presença de
medicamentos sem prescrição obtidos em momentos anteriores e armazenados
em suas residências. Wirowski et al. (2022) apresentaram em sua pesquisa que
65,8% dos entrevistados declararam lidar bem com o fármaco por experiências
prévias positivas.
O uso de medicamentos adquiridos previamente para patologias atuais
pode trazer riscos no cuidado à saúde, uma vez que não se sabe claramente se
sua aplicabilidade é viável para o problema vivenciado no momento em questão,
sendo uma prática comum e sem a ponderação de riscos corridos, podendo
haver a ocultação e o mascaramento de possíveis diagnósticos, dificultando e
até prolongando a persistência dos sintomas (Tonon et al., 2020).

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Em relação ao auxílio farmacêutico na aquisição dos medicamentos sem
prescrição, Silva et al. (2020) notaram que 39,7% dos indivíduos participantes
da pesquisa sobre a prevalência de automedicação e características de acesso
a anti-inflamatórios em adultos citaram a orientação profissional no momento
da aquisição destes, colaborando com os dados obtidos na nossa pesquisa.
A atenção farmacêutica na dispensação de medicamentos é importante
de forma que auxilie o indivíduo, promovendo o uso racional dos fármacos de
acordo com a queixa apresentada, elucidando sua ação e tentando diminuir
ao máximo os riscos advindos do uso do medicamento (Ferreira; Terra Júnior,
2018). É nesse momento que o paciente recebe o esclarecimento de um pro-
fissional com competência formativa plena sobre o uso correto, tratamento,
riscos e benefícios, assim como orientação ao atendimento médico quando
necessário (Pegoraro et al., 2019).
Entretanto, a prática da automedicação continua sendo realizada mesmo
com grande parte do público ciente dos riscos à saúde, assim como evidencia
Fiuza et al. (2019) que 76% de entrevistados afirmaram saber as consequências
sobre o uso inadequado desses fármacos. O uso incorreto de medicamentos
pode ter consequências negativas sob a saúde do indivíduo, tais como: reações
adversas, alergias e até mesmo intolerância a componentes medicamentosos,
sendo os principais agentes causadores de intoxicações no país (Silva, 2014).
A recorrência dos efeitos colaterais no uso inadequado é uma realidade
vivenciada há muitos anos pela sociedade global, justificada pela baixa informati-
vidade e fácil acesso aos fármacos. Contudo, em dados observados por Carvalho;
Carvalho; Portela (2018) e Silva et al. (2020) mostraram, respectivamente, que
58% e 80,1% de não apresentaram efeitos colaterais durante a automedicação.
Entre os efeitos indesejados do uso inadequado de AINES, as principais
consequências estão associadas aos sistemas cardiovascular, gastrointestinal
e renal, sendo a principal origem dos problemas a inibição de prostaglandinas,
atuantes de destaque no processo inflamatório (Aoyama; Delmão, 2021; Lima;
Duarte, 2022). Com isto, é reforçada ainda mais a necessidade de um acompa-
nhamento profissional no tratamento medicamentoso.

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70
CONCLUSÃO

Dessa forma, pode-se observar que apesar da automedicação ser uma


prática frequente entre a sociedade brasileira, seus fatores associados podem
apresentar oscilações quando analisadas por região, população e cultura de
forma individual. Apesar de possuírem todos os meios para a realização assídua
desta, e ainda praticarem periodicamente, muitos indivíduos estão optando por
seguir uma via mais consciente de cuidados com a saúde, aderindo de uma
maior cautela para manutenção desta.
Conclui-se, então, que tais situações precisam ser reavaliadas frequente-
mente, para investigação da conservação dos dados, bem como se faz necessária
a aplicação de estratégias no sistema de saúde para conscientização plena da
população, de modo que os números evidenciados sejam cada vez mais dimi-
nuídos, colaborando para o equilíbrio saudável sistêmico.

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ISBN 978-65-5360-480-3 - Vol. 2 - Ano 2023 - www.editoracientifica.com.br


73
05

AVALIAÇÃO DOS EFEITOS BENÉFICOS


DO EXERCÍCIO FÍSICO PARA
TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA
CARDÍACA

Emilly Sousa Diniz


Universidade Federal do Acre (UFAC)

Bruno Biths Batista


Universidade Federal do Acre (UFAC)

Amanda Vitória Rodrigues dos Santos


Universidade Federal do Acre (UFAC)

Juliana Maria Bello Jastrow


Laboratório Multidisciplinar de Escrita e Estudos Científicos em Ciências da Saúde (LaMEECCS

Alberto Grover Prado Lopez


Universidade Federal do Acre (UFAC)

Maria da Conceição Silva da Silva


Universidade Federal do Acre (UFAC)

Marcos Cordeiro Araripe


Laboratório Multidisciplinar de Escrita e Estudos Científicos em Ciências da Saúde (LaMEECCS)

Beatriz Lima Bandeira


Centro Universitário Aparício Carvalho (FIMCA)

Rendrick Alexandre Alemão Rogério


Centro Universitário (UNINORTE)

Francisco Naildo Cardoso Leitão


Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

' 10.37885/231014720
RESUMO

Objetivo: Analisar a relação entre os benefícios e a prática de atividade física


para pacientes diagnosticados com insuficiência cardíaca nos últimos cinco
anos. Métodos: Revisão sistemática sem metanálise delineada pelo Protocolo
PRISMA através das bases de literatura, PubMed, Embase e European Heart
Journal referentes à necessidade de analisar a eficiência do uso terapêutico
dos exercícios físicos para a insuficiência cardíaca. A pesquisa foi feita por
meio do cruzamento entre os descritores “exercício”, “insuficiência cardíaca” e
“distúrbios patológicos”. confirmados na plataforma Descritores em Ciências
da Saúde (DeCS). Resultados: A intensidade desempenha um papel funda-
mental na determinação do limiar entre os aspectos positivos e negativos do
exercício físico. Contudo, é claro que a prática regular atividades físicas de
forma acompanhada por profissionais qualificados acarreta inúmeros benefícios
para a saúde cardiovascular e pulmonar, exemplo a melhora da classificação
de tratamento da New York Heart Association (NYHA), a qual categoriza os
pacientes de acordo com o prognóstico dos sintomas. Conclusão: O exercício
físico pode ser empregado como meio de prevenção e tratamento da insufi-
ciência cardíaca, desde que seja realizado num protocolo individualizado de
manejo terapêutico adequado.

Palavras-chave: Exercício, Insuficiência Cardíaca, Distúrbios Patológicos.

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INTRODUÇÃO

As doenças cardiovasculares são as que mais contribuem para a mor-


talidade global e são a principal causa de morte no Brasil, representando 30%
dos óbitos no território brasileiro. Nesse sentido, a insuficiência cardíaca é uma
dessas doenças que contribuem para esse elevado índice de mortalidade e tem
aumentado ao longo dos anos devido à maior expectativa de vida, às mudanças
nos hábitos alimentares e ao sedentarismo.
O remodelamento cardíaco patológico é um fator crucial para o desen-
volvimento de doenças cardiovasculares. Tanto o aumento do volume do átrio
esquerdo (AE) quanto a hipertrofia do ventrículo esquerdo (VE) são mecanismos
compensatórios do sistema cardíaco em resposta ao aumento da sobrecarga
ou à elevação da pressão arterial sistêmica. Esses fatores de risco, incluindo
hipertensão, obesidade e diabetes mellitus, desempenham um papel significativo
no desencadeamento dessas alterações (Heitmann et al., 2022).
Além da remodelação cardíaca patológica, também é possível identificar
a remodelação considerada fisiológica, que ocorre como resultado da adaptação
do coração a uma demanda elevada causada pela atividade física. Essa adap-
tação é considerada uma resposta fisiológica benigna que se manifesta pelo
alargamento das câmaras e pelo aumento da espessura do ventrículo esquerdo,
sem causar impactos negativos para o indivíduo (Heitmann et al., 2021).
Dessa forma, uma característica intrínseca da insuficiência cardíaca é a
incapacidade do coração de garantir o suprimento sanguíneo adequado aos
órgãos vitais. No entanto, o desempenho cardíaco pode ser aprimorado por
meio da prática de exercícios físicos, nos quais o coração se adapta às novas
demandas de desempenho, reduzindo o débito causado pela insuficiência
cardíaca (Lundgren et al., 2023).
Em consonância com esse cenário, a reabilitação cardíaca emerge
como um componente crucial no tratamento da insuficiência cardíaca crô-
nica, com a capacidade de aprimorar a aptidão física, a qualidade de vida e de
reduzir as hospitalizações. Como resultado, a reabilitação cardíaca conquistou
uma recomendação de classe 1, com nível de evidência A, de acordo com as
diretrizes vigentes para o tratamento da insuficiência cardíaca crônica (Lund-
gren et al., 2023).

Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


76
Diversas medidas preventivas são essenciais para controlar essa situação.
Entre elas, a atividade física tem demonstrado resultados positivos, tanto como
medida preventiva para doenças cardiovasculares, quanto para indivíduos já
diagnosticados com insuficiência cardíaca. Praticar atividade física regularmente
está associado a melhorias no quadro clínico, qualidade de vida e à redução do
risco de eventos clínicos adversos no futuro. (Kaushal et al., 2023).
Dentro desse contexto, esta revisão sistemática tem como objetivo ana-
lisar a relação entre os benefícios e a prática de atividade física para pacientes
diagnosticados com insuficiência cardíaca nos últimos cinco anos, avaliando
as modificações benéficas promovidas nas câmaras do coração.

MÉTODOS

Estudo de Revisão Sistemática sem metanálise delineada conforme


as recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and
Meta-Analyses (PRISMA) à partir das mais robustas e confiáveis bases de
literatura em ciências da saúde para estes tipos de estudo, PubMed, Embase
e European Heart Journal referentes à necessidade de analisar a eficiência do
uso terapêutico dos exercícios físicos para a insuficiência cardíaca.
Os descritores foram confirmados na plataforma Descritores em Ciências
da Saúde (DeCS), eleitos para a busca foram “exercício”, “insuficiência cardíaca”
e “distúrbios patológicos”. Para as bases de dados internacionais, foram usados
os mesmos descritores em inglês. A coleta dos dados foi realizada no período
de outubro de 2023, sendo incluídas publicações do período de 2018 e 2023.
Assim, com base nesses descritores e na triagem inicial, foram encon-
trados um total de 7004 artigos totalizados pela soma em todas essas pla-
taformas. Na pesquisa, aplicou-se o filtro “timeline” com artigos escritos e
publicados de 2018 a 2023. Além disso, também foram utilizados os filtros
“humanos” e “texto completo gratuito”. Após a triagem dos filtros, verificou-se
a totalidade de 166 artigos.
Os artigos selecionados seguiram aos seguintes critérios de inclusão:
artigos com textos disponíveis, indexados nas referidas bases de dados mais
robustas no período proposto e com a temática pertinente ao estudo. Para a
exclusão do estudo, foram utilizados os critérios: não possui foco na avaliação

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do uso terapêutico dos exercícios físicos para a insuficiência cardíaca e artigos
publicados em datas inferiores a 2018.
Ao final dessas triagens, 17 artigos foram selecionados e lidos integralmente
para a construção deste trabalho e expostos na tabela de fichamento presente
na seção resultados. Para evitar divergências na estratificação dos artigos, foi
realizada a mesma estratégia de busca nas bases por 3 pesquisadores distintos
com a mesma sequência, e consequentemente validar estes dados.

Tabela 1. Diagrama de fluxo PRISMA 2020 para revisões sistemáticas atualizadas que incluíram
pesquisas em bases de dados, registros e outras fontes.

Fonte: Page MJ, McKenzie JE, Bossuyt PM, Boutron I, Hoffmann TC, Mulrow CD, et al. A declaração
PRISMA 2020: uma diretriz atualizada para relatar revisões sistemáticas. BMJ 2021;372:n71. doi:
10.1136/bmj.n71. Para mais informações, visite: http://www.prisma-statement.org/.

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RESULTADOS

Ao final das triagens metodológicas realizadas, 17 artigos foram lidos


integralmente por 3 revisores para compor sem divergências o fichamento e
realizar a elaboração da discussão desses dados.

Tabela 2. Fichamento dos artigos selecionados através das bases de literatura, conforme o modelo
PRISMA 2023.
AUTOR/ANO OBJETIVO PRINCIPAIS RESULTADOS
Analisar o impacto da abordagem ci- Na tetralogia de Fallot reparada cirur-
rúrgica em tetralogia de Fallot quando gicamente, a dilatação do VD resultou
paciente é submetido a exercício car- em melhor desempenho no exercício,
diopulmonar. enquanto o VD menor revelou pior de-
Mhanna et al., 2023.
sempenho do exercício. VD pequeno
após reparo da tetralogia de Fallot
representa uma entidade patológica
única.
Propor uma avaliação pré-participati- Deve haver uma proposta de realizar
va em diferentes grupos etários com uma avaliação pré-participativa para
base nas evidências atuais da litera- quem quer iniciar um programa de
Botia-Osorio et al., 2022. tura para detectar e prevenir doenças exercícios moderado em intensidade
cardiovasculares que levam à morte vigorosa ou a prática de um esporte
cardíaca súbita no atleta durante sua criativo, competitivo ou profissional.
prática esportiva.
Identificar o fenótipo ecocardiográfico Atletas apresentam hipertrofia ventri-
de atletas de resistência usando ima- cular e uma menor fração de ejeção
gens 2D de rastreamento de manchas ventricular. Por fim, nota-se que o
Colne et al., 2023.
com uma abordagem multicamadas e exercício intenso resulta em uma mu-
para definir fatores preditivos de dis- dança e remodelamento do coração.
função sistólica sutil do VE.
Avaliar se a terapia de regulação auto- Estudo mostrou um resultado positivo
nômica usando estimulação do nervo com o uso da ART e VNS para pacien-
vago cervical pode ter um papel no tes com IC. Além disso, notou-se que
Kumar et al., 2023. tratamento de pacientes com ICFEp o grupo submetido a nova abordagem
ou ICEFEm. apresentou uma menor mortalidade
quando comparado ao grupo controle
(13,6/1000 x 121/1000).
Analisar o impacto do exercício físico A atividade física em local seguro pro-
(convencional) para a quebra do ciclo porciona a quebra do ciclo vicioso da
vicioso da insuficiência cardíaca. IC e problemas cerebrais. Os impac-
Maroofi et al., 2022.
tos do treino físico não são limitados a
uma única via de sinalização e, dessa
maneira, impactam em vários eixos.
Avaliar a consistência da frequência É possível usar o método sTHR para
cardíaca alvo para o exercício de- prescrever exercícios aeróbicos
terminada pela frequência cardíaca equivalentes à intensidade do limiar
alvo simples com base na frequência anaeróbico para pacientes com ICC
Luo et al., 2023.
cardíaca de repouso e na frequência em hospitais primários que não po-
cardíaca no limiar anaeróbico no tes- dem realizar o teste cardiopulmonar
te de exercício cardiopulmonar para de exercício (CPET).
pacientes com ICC.

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AUTOR/ANO OBJETIVO PRINCIPAIS RESULTADOS
Determinar o valor diagnóstico da A análise dos gases expirados forne-
análise de gás expirado para distin- ceu avaliações objetivas da capaci-
guir a IC de IC com fração de ejeção dade de exercício; no entanto, o seu
Saito et ali., 2023
preservada e doença crônica. valor diagnóstico na identificação da
ICFEP entre os doentes com sintomas
de dispneia de esforço foi modesto.
Comparar os parâmetros do teste de A classificação do NYHA não é eficien-
exercício cardiopulmonar entre os do- te para analisar o estado funcional e
entes com IC classificados com classe prognóstico em doentes com IC suave.
Zirmerman it al., 2023. I e II da NYHA para avaliar o desempe- Dessa maneira, resulta em um ques-
nho e o papel prognóstico do NYHA tionamento do paradigma no qual as
na IC suave. decisões médicas se baseiam forte-
mente no NYHA.
Investigar o efeito do treinamento em A prática de exercício melhora a fun-
diferentes níveis de intensidade sobre ção cardiopulmonar em pacientes
Zhang et al., 2022. a função cardíaca, a capacidade de com ICC. Além disso, nenhum evento
exercício e qualidade de vida. crítico foi encontrado no programa
que durou 12 semanas.
Investigar de que forma o volume A indexação do VDFVE ao VO2pico
diastólico final do ventrículo esquer- melhora a capacidade de diferenciar
do (VDFVE) e volume máximo do átrio o aumento fisiológico do patológico.
esquerdo (LAVmax) estão associados A relação entre o VDFVE e o VO2pico
Letnes et al., 2023.
ao consumo de oxigénio máximo ab- absoluto pode ser um índice chave no
soluto (L/min) (VO2pico). diagnóstico de insuficiência cardíaca
e na avaliação do coração do atleta.

Investigar as capacidades prognós- Em doentes com insuficiência cardía-


ticas do teste de exercício invasivo ca clínica, a prova de esforço invasiva
numa coorte do mundo real de doen- melhora a previsão de mortalidade. Os
Ahlgrim et al., 2022. tes com suspeita de insuficiência car- indivíduos com uma resposta normal
díaca em que foram excluídas causas ao exercício têm uma mortalidade re-
não cardíacas de dispneia lativamente baixa, independentemente
da função sistólica.
Iinvestigar a relação entre a tensão O STRAIN DE REFORÇO DO AE está
do AE e a capacidade de exercício correlacionado de forma indepen-
em uma população com ICC que uti- dente com o VO2max. O strain do AE
Sun et al., 2023.
lizavam beta-bloqueadores. é um indicador potencialmente útil
para avaliar a eficácia da reabilitação
cardíaca
Descrever a relação pressão-fluxo As relações pressão-fluxo (sistémica
em indivíduos saudáveis, doentes e pulmonar) com o exercício tinham
com sobrecarga de pressão (EA), declives distintos de acordo com a
Andersen et al., 2022 doentes com sobrecarga de volume doença subjacente, mas não é linear.
(RM primária) e doentes com com-
prometimento da função miocárdica
após IAM.

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AUTOR/ANO OBJETIVO PRINCIPAIS RESULTADOS
Análisar as várias questões relacio- Estudos da miocina podem oferecer
nadas à uma visão complementar e novas percepções sobre a fisiopato-
emergente da miopatia esquelética logia da miopatia esquelética relacio-
como um agente ativo na fisiopato- nada à IC e que elas podem ser ex-
logia e na evolução clínica da IC por ploradas como possíveis marcadores
meio da desregulação das miocinas. biológicos para a fenotipagem e estra-
Além disso, discussão das possíveis tificação prognóstica desta condição
funções da secreção desregulada em pacientes com IC, particularmente
Ramírez-Vélez et al., 2023. de miocinas em pacientes com IC e em pacientes com ICFEP e comorbi-
miopatia esquelética, dando atenção dades metabólicas associadas, que
especial aos seus efeitos não apenas podem se beneficiar principalmente
no mm. esquelético, mas também no da capacidade do exercício induzir
coração. miocinas e outras exocinas. O exer-
cício físico orientado por mioquinas
(e outras exocinas) pode contribuir
para uma melhor qualidade de vida e,
provavelmente, melhor prognóstico.
Definir limites normais do aumento Os pacientes com IC com fração de
da pressão auricular direita durante a ejeção preservada apresentam um au-
prática de exercício; descrever a adap- mento mais acentuado da hipertensão
tação do coração direito ao exercício auricular direita durante o exercício
Baratto et al., 2023. na hipertensão pulmonar; descrever a do que os pacientes com hipertensão
adaptação do coração direito ao exer- arterial pulmonar. Mecanismos media-
cício na hipertensão pulmonar. dores pela pré-carga podem desem-
penhar um papel no desenvolvimento
de IC direita.
Avaliar prospectivamente os efeitos do Os achados sugerem que os bene-
sacubitril/valsartan nos parâmetros de fícios de sacubitril/valsartana sobre
teste de exercício cardiopulmonar em a capacidade do exercício são ime-
Mapelli et al., 2023.
uma população maior de pacientes diatamente evidentes na dose mais
com ICFEr com diferentes doses de baixa e melhoram progressivamente
medicamentos. com aumento da tose.
Avaliar o efeito da adição das técni- Os exercícios respiratórios têm um
cas de exercícios respiratórios a rea- efeito fisiológico positivo na ICC em
Farghaly et al., 2022. bilitação cardíaca de última geração comparação à reabilitação cardíaca de
referente aos sintomas respiratórios, última geração isolada, que geralmen-
cardiovasculares e cardiopulmonar. te é prescrita para pacientes com ICC.
Fonte: Elaborado pelos próprios autores, a partir dos artigos selecionados nas bases de literatura.

DISCUSSÃO

A insuficiência cardíaca é um distúrbio patológico caracterizado, na


maioria dos pacientes, com quadros clínicos em que há redução da fração de
ejeção e alterações de volume do débito cardíaco relacionadas à hipovolemia.
Nesse sentido, ela pode ser classificada como uma doença cardíaca de suma
importância de estudos para prevenção e tratamento, como apontado pela
necessidade de novos estudos voltados à avaliação da atuação do exercício
físico como forma terapêutica.

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Dessa forma, com um baixo débito cardíaco e fração de ejeção reduzida,
causados primariamente pela dilatação e congestão dos ventrículos ou por
outras patologias, exemplo a Tetralogia de Fallot, resulta-se em um processo
sistêmico em que há pouco volume sanguíneo resultante na circulação arterial
e suas ramificações, o que diminui a perfusão tecidual e a vascularização de
órgãos importantes, como o cérebro (Mhanna et al., 2023).
O declínio cognitivo pode ser provocado em pacientes com insuficiência
cardíaca seja na sua forma crônica ou na sua forma crônica agudizada, uma
vez que a relação entre o coração e o cérebro é prejudicada em prognósticos
hipovolêmicos decorrentes da insuficiência cardíaca, exemplo a má sinalização
entre o peptídeo cardíaco BDNF e o seu receptor cerebral TrkB, prejudicando
na cognição e provocando danos cerebrais (Maroofi et al., 2022).
Para o controle desses mecanismos, então, observou-se a importância da
prática de exercícios físicos e de outras medidas terapêuticas, como a terapia
de regulação autonômica (TARV), que visa melhorar o desempenho cerebral e
dos eixos de regulação da pressão arterial que se encontra elevada em situa-
ções de hipovolemia e baixo débito cardíaco como mecanismo de compensa-
ção neuro-hormonal, para promover o tratamento da insuficiência cardíaca e
suas causas primárias de remodelamento e dilatação concêntrica e excêntrica
dos ventrículos, além de reduzir a taxa de mortalidade dessa doença cardíaca
(Kumar et al., 2023).
Nesse sentido, atletas e pacientes que realizam exercícios físicos, sejam
eles portadores ou não de insuficiência cardíaca, demonstram nos exames de
ecocardiografia de alta performance uma hipertrofia do miocárdio em decor-
rência da prática de alta tensão, o que auxilia na prevenção e tratamento das
remodelações e dilatações patológicas das câmaras do coração, principais
causas primárias da insuficiência cardíaca. De acordo com a fisiopatologia,
portanto, remodelações de volume e pressão acentuam a menor normalidade
da taxa que representa a fração de ejeção, não permitindo que o coração efetue
o volume adequado de volume de ejeção, também chamado de volume sistólico
(Colne et al., 2023).
Com a prática de exercícios físicos, diversos benefícios além da proteção
cardíaca são demonstrados, exemplo a redução das chances de um infarto agudo
do miocárdio (IAM) e outras doenças arteriais coronárias (DAC) como a angina

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82
instável acentuada por fatores preditivos, como a idade maior ou igual a 50 anos,
sexo masculino e fatores de hábitos de vida de sedentarismo e alimentação
rica em lipídios e outros derivados. Entretanto, existe a necessidade que atletas
realizem esporadicamente exames cardiovasculares para avaliar a relação da
alta tensão esportiva com a saúde do coração (Botia-Osorio et al., 2022).
Isso ocorre em decorrência da necessidade de existir uma avaliação da
frequência, intensidade, tempo e tipo de treino com parceria entre o médico
cardiologista, o profissional educador físico e o paciente para que possa ser
avaliado como esse exercício físico está influenciando no débito cardíaco e na
musculatura do coração do portador ou não de insuficiência cardíaca. Nessa
perspectiva, a reabilitação física pode melhorar ou estressar o miocárdio, o
que depende necessariamente da frequência cardíaca alvo tecido-exercício
(Luo et al., 2023).
Desse modo, avaliações como o Teste de Exercício Pulmonar (TEP)
podem auxiliar nesse processo de verificação da potência dos exercícios e seus
impactos nas câmaras cardíacas de pacientes com baixo débito e fração de
ejeção reduzida, pois ele avalia as condições elétricas dos estímulos cardíacos,
o nível de estresse das camadas musculares, a liberação de peptídeos cardíacos
e anormalidades da saturação dos cardiomiócitos (Saito et al., 2023).
A intensidade é a chave para determinar o limiar entre os pontos positivos e
negativos do exercício físico, mas é evidente que essa atividade de forma regular
e com acompanhamento correto de profissionais especializados permite inúme-
ros benefícios cardiovasculares e pulmonares (Zhang et al., 2022). Um exemplo
são o peptídeo BNP natriurético e a pressão arterial, principais pontos em que
a atividade física auxilia no quadro de pacientes com insuficiência cardíaca
por reduzir a vasoconstrição que acentua a pressão dos remodelamentos dos
ventrículos, provocando a hipovolemia e congestão sistêmica, uma vez que o
coração sobre influência positiva desses efeitos metabólicos de redução de
pressão (Letnes et al., 2023).
Ademais, além da necessidade de avaliar os efeitos benéficos do exercício
físico na reabilitação cardíaca, também deve-se reavaliar o quadro de insuficiência
cardíaca desses pacientes pela classificação de tratamento da New York Heart
Association (NYHA) que distingue os pacientes pelo prognóstico dos sintomas.
Para tanto, o paciente que pratica exercícios regularmente pode reverter suas

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classificações, uma vez que entre os benefícios dessa prática estão a redução
da pressão arterial, dos sinais de congestão pulmonar que provocam a dispnéia
e o remodelamento do coração (Zirmerman et al., 2023).
A função de ejeção do ventrículo esquerdo está relacionada ao débito
cardíaco e ao volume sistólico num determinado intervalo de tempo, o que deter-
mina sua importância na avaliação da atividade física pelos testes ergométrico
e teste de exercício pulmonar (TEP). Assim, ela deve ser um dos parâmetros que
norteiam essas avaliações em pacientes com sobrecarga de pressão e volume
característicos da insuficiência cardíaca (Ahlgrim et al., 2022).
As alterações pressão-fluxo sanguíneo provocam distúrbios patológicos
que acarretam elevação da pressão pulmonar e pressão hidrostática dentro dos
capilares pulmonares, principalmente em pacientes com insuficiência cardíaca
esquerda, o que ocasiona a congestão pulmonar congestão sistêmica, pois a
estase sanguínea a nível retrógrado das câmaras esquerdas (Andersen et al.,
2022). Esses sinais de congestão são importantes em decorrência das análises
de que pacientes com hipertensão pulmonar apresentaram pico ≥25 mmHg,
sugerindo a presença de disfunção diastólica latente do VE (Baratto et al., 2023).
Assim, deve existir uma avaliação do nível dessas alterações para que
o exercício físico seja recomendado como primordial adjunto do tratamento
medicamentoso, uma vez que os pacientes com insuficiência cardíaca podem
ter o diagnóstico de miocardiopatia esquelética, uma doença cardíaca relacio-
nada ao enfraquecimento, dilatação ou hipertrofia do miocárdio e a ocorrência
de arritmias da frequência cardíaca (Ramírez-Vélez et al., 2023).
Desse modo, os métodos de tratamento da insuficiência cardíaca, além
dos não medicamentosos como a prática de exercícios físicos, se baseiam em
medicamentos empregados de forma conjunta no manejo dessa patologia car-
diovascular complexa, exemplo os beta-bloqueadores de primeira escolha que
agem nos receptores beta-adrenérgicos para diminuir a resistência a pressão
arterial (Sun et al., 2023).
Um exemplo de terapia medicamentosa eficiente para o tratamento da
insuficiência cardíaca e de suas repercussões é a utilização do sacubitril/val-
sartan em elevação contínua de dosagens, uma vez que ele faz parte da classe
dos bloqueadores do sistema neuro-hormonal dos receptores da angiotensina

Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


84
(BRA) e da classe dos bloqueadores da neprilisina, que degrada e inativa meca-
nismos de compensação (Mapelli et al., 2023).
Portanto, além das terapias medicamentosas, é de suma importância
adicionar a terapêutica da realização de exercícios físicos para o tratamento da
insuficiência cardíaca, mas de forma individualizada e com acompanhamento
de profissionais para que sejam realizados testes e avaliações cardiovasculares
periódicas para determinar apenas benefícios do exercício físico regular e de
média potência, projetando medidas não apenas de tratamento, mas também
de prevenção da insuficiência cardíaca pelo controle da pressão arterial, do
fluxo sanguíneo e dos remodelamentos dos ventrículos direito e esquerdo
(Farghaly et al., 2022).

CONCLUSÃO

O exercício físico pode ser empregado como meio de prevenção e tra-


tamento da insuficiência cardíaca, desde que seja realizado num protocolo
individualizado de manejo terapêutico da insuficiência cardíaca com fração de
ejeção reduzida.

Agradecimentos

Agradecemos cientificamente ao Laboratório Multidisciplinar de Estudos


e escrita Científica em Ciências da Saúde (LaMEECCS) da Universidade Federal
do Acre (UFAC), e seus pesquisadores pela oportunidade de discutirmos ciên-
cia, formação continuada e, sobretudo, desenvolvermos pesquisa na Amazônia
Ocidental em diversas áreas do conhecimento.

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06

CÂNCER E DEPENDÊNCIA EMOCIONAL:


UMA REVISÃO DE LITERATURA

Fernanda Dias Alves

Tábita Pires Peixoto Camacho

Elton Euler da Silva Reis

' 10.37885/231014785
RESUMO

Objetivo: realizar uma revisão da literatura sobre câncer e dependência emo-


cional e os seus impactos na vida das pessoas. Método: trata-se de uma revisão
sistemática de literatura, baseada em uma pesquisa descritiva, cuja seleção dos
artigos ocorreu no mês de outubro de 2023 nas bases de dados google acadê-
mico, Lilacs, APA PsycNet e Pubmed, a partir da combinação dos descritores
“Psychological Dependency; Emotional dependency; interpersonal depen-
dency; Affective dependency”. Quanto à seleção dos trabalhos, determinou-se
os publicados na língua inglesa, espanhola e portuguesa. Uma análise crítica
foi realizada, e os artigos relacionados ao tema e disponibilizados de maneira
completa foram filtrados. Resultados: o câncer é uma doença crônica que gera
instabilidade emocional nos pacientes e afeta não apenas a pessoa doente, mas
toda a família. Os familiares enfrentam desafios emocionais, sobrecarga física
e dificuldades nas relações. Há uma relação entre a dependência emocional
e o câncer, com medo do abandono, necessidade de atenção e de ser amado,
comportamentos de submissão e subordinação. A dependência emocional é um
padrão que envolve aspectos afetivos, motivacionais, cognitivos e comportamen-
tais direcionados para o outro como fonte de segurança pessoal. Conclusão:
os adultos que manifestam a dependência emocional apresentam, também, um
risco mais elevado de desenvolver doenças físicas, incluindo o câncer.

Palavras-chave: Dependência Emocional, Dependência Afetiva, Câncer.

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INTRODUÇÃO

O câncer representa um desafio significativo para a saúde pública em todo


o mundo, sendo uma das principais causas de mortalidade e, consequentemente,
um obstáculo para o aumento da expectativa de vida global. Em muitos países,
o câncer é a causa mais comum de morte prematura, antes dos 70 anos. Porém,
cabe destacar que a incidência e a mortalidade relacionadas ao câncer estão
em constante crescimento em nível global (SUNG et al., 2021).
Embora tenha ocorrido uma diminuição da taxa de mortalidade por câncer
nas últimas três décadas, especialmente em nações de alto poder aquisitivo,
devido a melhorias na prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer, ainda
persistem disparidades substanciais em termos de mortalidade, incidência e
sobrevivência ao redor do mundo (INCA, 2023).
Em países com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) elevado, a
implementação de intervenções eficazes voltadas para a prevenção, detecção
precoce e tratamento do câncer tem gerado impacto positivo nas taxas de inci-
dência e mortalidade por câncer. No entanto, em nações em desenvolvimento,
essas taxas continuam a aumentar ou, no melhor dos casos, permanecem
estáveis. Portanto, o desafio para os países em desenvolvimento é otimizar a
alocação de recursos e esforços, a fim de fortalecer o controle do câncer de
forma mais eficaz (INCA, 2023).
Em 2020, com base nas estimativas do Global Cancer Observatory
(Globocan), desenvolvidas pela International Agency for Research on Cancer
(IARC), o impacto do câncer no mundo apontou a ocorrência de 19,3 milhões
de novos casos de câncer (INCA, 2023). Dessa maneira, fica evidente que um
em cada cinco indivíduos enfrentará o câncer em algum momento de sua vida
(FERLAY et al., 2021; SUNG et al., 2021). Os dez principais tipos de câncer repre-
sentam mais de 60% do total de novos casos. O câncer de mama feminina é
o mais comum globalmente, com 2,3 milhões de novos casos (11,7%), seguido
pelo câncer de pulmão, com 2,2 milhões (11,4%); cólon e reto, com 1,9 milhão
(10,0%); próstata, com 1,4 milhão (7,3%); e pele não melanoma, com 1,2 milhão
(6,2%) de novos casos (FERLAY, 2021).
Conforme a Estimativa de 2023 do Instituto Nacional de Câncer (INCA),
a projeção para o período de 2023 a 2025, no Brasil, indica a ocorrência de 704

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mil novos casos de câncer. O câncer de pele não melanoma é considerado o
mais prevalente, representando 31,3% de novos casos, seguido pelos cânceres
de mama, 10,5%; próstata, 10,2% ; cólon e reto, com 6,5%; pulmão, com 4,6%;
e estômago, 3,1% (INCA, 2023). No caso dos homens, os tipos de câncer mais
frequentes serão o câncer de pele não melanoma, com 102 mil novos casos;
próstata, com 72 mil; cólon e reto, com 22 mil; pulmão, com 18 mil; estômago,
com 13 mil; e cavidade oral, com 11 mil (INCA, 2023). Entre as mulheres, os
cânceres de pele não melanoma, com 118 mil casos; mama, com 74 mil; cólon e
reto, com 24 mil; colo do útero, com 17 mil; pulmão, com 15 mil; e tireoide, com
14 mil novos casos, serão os mais proeminentes (INCA, 2023).
O câncer é caracterizado como uma doença complexa e multifatorial que
envolve uma ampla gama de fatores de risco. Diversos estudos têm destacado
a importância de compreender e de gerenciar esses fatores no contexto da
prevenção e do tratamento do câncer. Segundo Smith et al. (2020), fatores de
risco tradicionais, como o tabagismo, a exposição ao sol sem proteção e a dieta
desequilibrada, desempenham um papel fundamental na carcinogênese. Além
disso, a pesquisa de Jones e Brown (2019) ressalta a influência de fatores gené-
ticos na predisposição ao câncer. Entretanto, não apenas os fatores biológicos e
genéticos são incluídos como fatores de riscos, mas também comportamentos
relacionados com a saúde.
Bornstein (2012) apontou que indivíduos com dependência emocional
apresentam maior risco de desenvolverem doenças físicas, incluindo o câncer.
Outro importante processo que deve ser considerado na origem de doenças
psicossomáticas como o câncer, é a separação individuação (BORNSTEIN,
2012). O trauma de separação seja por indiferença ou morte provoca senti-
mentos hostis que posteriormente podem aparecer na vida da pessoa como
representação deste afeto doloroso (QUITANA, 2007).
Assim, os fatores psicológicos também desempenham um papel relevante
no desenvolvimento e na progressão do câncer. De acordo com um estudo
de Garcia et al. (2021), o estresse crônico e a depressão podem enfraquecer o
sistema imunológico, tornando o organismo mais suscetível a mutações celu-
lares. O câncer é suscetível à influência de estresse, principalmente quando a
exposição é longa e sem capacidade de expressar os sentimentos, e de vários
fatores psicológicos, quer na sua origem ou evolução. (QUITANA, 2007). Além

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disso, fatores psicossociais, como o apoio social e a qualidade de vida, foram asso-
ciados a melhores resultados no tratamento do câncer (KROENKE et al., 2006).
Ao longo dos séculos, houve repetidos relatos, descrevendo uma relação
entre o bem-estar mental e o desenvolvimento do câncer. Particularmente nas
últimas décadas, a investigação sobre as etiologias prováveis dessa afecção
tem sido discutida de forma controversa quanto à ligação com certos traços
de personalidade. O termo “personalidade propensa ao câncer” refere-se a
características que se dizem associadas a um maior risco de desenvolver câncer,
incluindo a dificuldade em expressar sentimentos e necessidades negativas
(SCHWARZ, 2007).
Diante do exposto, faz-se necessário uma melhor compreensão do papel
que fatores não biológicos, entre eles a dependência emocional, desempenham
no desenvolvimento e progressão do câncer, destacando a necessidade de uma
abordagem holística na compreensão dessa doença. Assim, o presente estudo
tem como objetivo realizar uma revisão da literatura sobre câncer e dependência
emocional e os seus impactos na vida das pessoas.

MÉTODOS

Com o intuito de investigar estudos que avaliam a relação entre câncer e


dependência emocional, especificamente abordando dependências afetivas sem
o envolvimento de substâncias químicas, uma revisão sistemática da literatura
foi conduzida seguindo um processo operacional em várias etapas. Primeira-
mente, a questão de pesquisa formulada foi: “Quais evidências estão disponíveis
acerca da dependência emocional e sua relação com o câncer?”. Em seguida,
foram selecionados os seguintes termos em inglês e português, que foram
combinados utilizando operadores booleanos “AND” e “OR”: “Psychological
Dependency; Emotional dependency; Affective dependency; Cancer; Risk factors”.
Esses termos foram escolhidos com base em identificadores únicos do registro
DeCS/MeSH, e a busca por estudos e referências bibliográficas na literatura foi
realizada por meio de uma pesquisa em bases de dados eletrônicas, incluindo,
google acadêmico, PubMed, LILACS, APA PsycNet.
Foram considerados trabalhos publicados em inglês, português e espanhol,
de natureza qualitativa ou quantitativa. Foram excluídas pesquisas relacionadas

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à validação de instrumentos de avaliação psicológica, aquelas envolvendo par-
ticipantes menores de idade, livros, teses e artigos não científicos. Além disso,
foram descartados artigos que abordavam dependências mediadas, como
codependência e bidependência.
Esse processo identificou a necessidade de futuras pesquisas sobre o
tema. Devido à escassez de artigos relacionados ao tópico, as referências dos
artigos selecionados foram revisadas, o que resultou na inclusão de outros artigos.

RESULTADOS

Inicialmente, foram identificados 275 estudos por meio de uma revisão


bibliográfica em bases de dados, dos quais apenas 8 foram incluídos na pesquisa.
Diante da escassez de resultados, procedeu-se à análise das referências citadas
nos artigos examinados, resultando na seleção de 7 estudos adicionais para
revisão, além desses mais cinco estudos foram incluídos, sendo um de própria
autoria dos próprios autores relacionado ao tema e quatro relacionados com a
epidemiologia do câncer, totalizando assim 20 estudos analisados e incluídos.
Para proporcionar uma compreensão clara da dinâmica de inclusão e exclu-
são de amostras ao longo do estudo, apresentaremos a seguir um fluxograma
detalhado, ilustrando a jornada da seleção amostral e evidenciando a perda
amostral em cada fase do processo.

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Entre os artigos selecionados, 7 eram estudos teóricos com foco na revisão
da literatura. Os demais abordaram uma variedade de populações, incluindo
estudantes de graduação (n=2), mulheres afetadas pelo câncer ou cuidadoras
de familiares com câncer (n=2) e indivíduos da população em geral (n=9). Uma
parcela dos estudos explorou a influência emocional do câncer nas relações
familiares (n=3). Destaca-se que 25% dos estudos incluídos foram publicados
em espanhol. Verificou-se uma notável escassez de artigos científicos abordando
a interseção entre dependência emocional e câncer.

DISCUSSÃO

O câncer pode ser enquadrado como uma doença crônica por suas
características de condição de saúde com sintomas e incapacidades associadas
que exige controle de longo prazo. Entre as doenças crônicas degenerativas, o

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câncer é uma das que mais gera instabilidade emocional nos pacientes e nas
pessoas próximas (FERREIRA et al., 2010).
O câncer traz desafios e demandas específicas tanto para a pessoa aco-
metida pela doença como para seus familiares. Assim, pode ser representada
como uma “doença familiar”, pois impacta diretamente no funcionamento da
família, nos papéis desenvolvidos pelos seus integrantes e nos relacionamen-
tos (SILVA, 2007). O câncer invade a família, não somente o corpo da pessoa
doente. (FERREIRA, 2010).
Logo, ter um familiar com câncer exige reorganização na rotina da família
para prestar-lhe cuidado e suprir o papel até então desempenhado por ele. Cada
dia os familiares enfrentam um novo desafio, que culmina com a mudança de
rotina e criação de novas estratégias para superar as adversidades. Observa-
-se, ainda, que a família se une com o objetivo de ajudar o doente em tudo que
for possível e que estiver a seu alcance (FERREIRA, 2010). A doença na família
pode alterar as relações dos membros, sendo capaz de uni-los ao trazer à tona
sentimentos de carinho, cuidado e amor antes esquecidos ou pouco demons-
trados (FERREIRA, 2010).
Entretanto, isso traz um peso muito grande para os familiares pois, além
das questões vivenciadas com a enfermidade, eles têm seus próprios conflitos
e que, na maioria das vezes, se acentuam e causam dificuldades nas suas
próprias relações (FERREIRA, 2010). Assim, os familiares sofrem perdas, uma
vez que se esquecem de si mesmos e passam a viver em função do bem-estar
do seu familiar doente, abdicando de suas necessidades pessoais. (FERREIRA,
2010; BARROS, 2021).
Em pesquisa realizada com mulheres que receberam diagnóstico de cân-
cer, foi avaliado como elas experienciaram a necessidade de receber cuidados
após o diagnóstico, uma vez que elas exerciam o papel de cuidadoras antes
dele. Em seus relatos, foi possível observar que essas mulheres sentiram-se ampa-
radas, conceituando como verdadeiros e naturais os cuidados que receberam
de seus familiares e ainda apontaram que além dos cuidados, receber carinho e
atenção era o que mais precisava naquele momento, demonstrando alegria ao
verificar que seus familiares as atendiam com satisfação. Relataram, ainda, que
quando recebiam cuidados das pessoas em geral se sentiam incomodadas e
angustiadas por ter que esperar pela disponibilidade de tempo do outro, o que

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reforça a necessidade que a pessoa com câncer tem com os familiares mais
próximos, gerando uma sobrecarga física e emocional (SALCI, 2008).
Em outro estudo, onde foi avaliado mulheres que foram acometidas por
câncer e o vínculo afetivo que tiveram com suas mães na infância, a autora
aponta que as participantes expressaram na maioria das respostas, tristeza e
sentimento de vazio interno por terem sido abandonadas tanto na realidade
como na imaginação. A autora enfatiza que as mulheres do estudo, usavam o
corpo através da doença como expressão dos sentimentos hostis provocados
pela rejeição sofrida (QUITANA, 2007). A autora ainda aponta que foi possível
a compreensão dos motivos pelos quais os aspectos psicossomáticos tomam
conta da vida das mulheres com câncer e concluíram que raiva, dificuldades
para individualizar-se e incapacidade para integrar sentimentos bons e maus
projetados na mesma pessoa ocasionam vazios internos e angústia, dirigidos
ao corpo (QUITANA, 2007).
Nos estudos mencionados acima observou-se padrões relacionais entre
a pessoa diagnosticada com câncer e seus familiares, tais como, apresentar:
medo do abandono ou do rompimento da relação; necessidade de atenção e
de ser amado; necessidade de cuidar excessivamente do outro, mesmo que
para isso negligencie suas atividades e autocuidado, comportamentos de sub-
missão e subordinação e ir a extremos para obter carinho e apoio de outros, a
ponto de voluntariar-se para fazer coisas desagradáveis; e essas tendências
são características observadas em pessoas que têm dependência emocional
(Jimenez & Ruiz, 2008; Jimenez & Ruiz, 2009; Izquierdo & Gómez-Acosta, 2013;
Chafla-Quise, 2021; Jaramillo, 2009).
A dependência emocional tem sido conceituada como um padrão que
engloba elementos afetivos (o temor ao abandono e à avaliação negativa dos
outros), motivacionais (um anseio por orientação, proteção, assistência e apro-
vação dos outros), cognitivos (a percepção de si mesmo como frágil, vulnerável
e ineficaz) e comportamentais (uma inclinação a atender às demandas dos
outros nas interações sociais), todos direcionados para o outro como uma fonte
de satisfação e segurança pessoal (BORNSTEIN, 2006).
Conforme estudo conduzido por Zarate-Depraect (2022), a dependência
emocional é identificada como um distúrbio de personalidade, que pode origi-
nar-se na infância, uma vez que crianças podem ser incentivadas, ao longo do

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seu desenvolvimento, a buscar agradar aos outros para conquistar aceitação,
proteção e apoio, o que os leva a agir em função do bem-estar alheio e a evitar
o abandono. Isso ocorre, também, quando a criança não experimenta o amor
de figuras significativas em sua vida (ZARATE-DEPRAECT, 2022).
Assim, a dependência emocional é quando o estado ou a ação de uma
pessoa depende do estado ou da ação de outra pessoa e pode ser dividida em
ativa ou passiva. A dependência emocional ativa está relacionada a uma pes-
soa que tem a capacidade de direcionar ou de influenciar o estado emocional
de outra pessoa, impactando em sua tomada de decisão e na sua capacidade
de agir (ALVES, CAMACHO E REIS, 2023). Em relação à DE passiva, a pessoa
se deixa ser direcionada ou influenciada por outro indivíduo em seu estado
emocional, impactando nas suas decisões e ações. O perfil dos dependentes
emocionais pode ser segmentado em quatro tipos de perfis de padrões contro-
ladores: a vítima natural, a vítima intencional, o vingador e o narcisista (ALVES,
CAMACHO E REIS, 2023).
Apesar das restrições e desafios inerentes à pesquisa sobre o câncer e a
dependência emocional, pode-se observar uma correlação direta entre eles e
certas evidências de que a dependência emocional pode ser um “gatilho” para
o desenvolvimento do câncer.
Existem indícios, porém, escassez de certezas quanto à ligação entre
esses dois problemas de grande importância para a saúde pública. Neste estudo,
buscou-se esclarecer alguns aspectos desta problemática, mas, principalmente,
o levantamento de trabalhos de investigação, apontando caminhos para outros
aprofundamentos e possíveis mudanças na atenção às pessoas diagnosticadas
com câncer e seus familiares.

CONCLUSÃO

As mudanças, tanto no aspecto físico quanto no emocional, que ocor-


rem após o diagnóstico de câncer, marcam um período em que o indivíduo se
torna o centro das atenções no seio familiar. Ao enfrentar esse novo desafio em
suas vidas, é necessário reajustar a rotina familiar, em grande parte devido à
necessidade e ao desejo de receber apoio e cuidado de outros. Compreender
as reações e os sentimentos dos familiares de pessoas diagnosticadas com

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câncer, bem como as estratégias que utilizam para lidar com essa situação, pode
ser fundamental para o desenvolvimento de práticas clínicas que minimizem o
sofrimento de ambas as partes.
Este estudo oferece valiosas contribuições nesse sentido, ao explorar
profundamente as dinâmicas familiares no contexto do câncer. Pessoas expostas
a essa realidade podem apresentar maior suscetibilidade ao desenvolvimento
de comorbidades, incluindo o próprio câncer. Além disso, é relevante destacar
que a dependência emocional pode influenciar o prognóstico e a resposta ao
tratamento em pacientes oncológicos.
Finalmente, é crucial enfatizar que a dependência emocional pode ser
vencida através da conscientização, do autoconhecimento e do apoio apropriado.
Grupos de suporte, como os Grupos de Permissão Superior (GPS), bem como
o cultivo de habilidades de autoestima e independência emocional, constituem
ferramentas valiosas para enfrentar os efeitos da dependência emocional e
fomentar relacionamentos interpessoais mais saudáveis e equilibrados.

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ISBN 978-65-5360-480-3 - Vol. 2 - Ano 2023 - www.editoracientifica.com.br


99
07

ESTIMATIVA DA ACUIDADE AUDITIVA EM


LACTENTES DE ALTO RISCO

Georgea Espindola Ribeiro


Universidade Estadual Paulista (UNESP)

Daniela Polo Camargo da Silva


Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

' 10.37885/230914463
RESUMO

Introdução: A estimativa da acuidade auditiva de neonatos é importante para


minimizar os impactos no desenvolvimento que a privação sensorial pode trazer.
Assim medidas que determinam de forma objetiva e automática a audição em
diferentes frequências auxiliam no diagnóstico precoce de uma perda auditiva.
Objetivo: Descrever a resposta auditiva de estado estável (RAEE) em lacten-
tes normo-ouvintes de alto risco. Métodos: Estudo observacional analítico
realizado em lactentes com risco para deficiência auditiva, com presença de
emissões otoacústicas e limiar eletrofisiológico no potencial evocado auditivo
de tronco encefálio-clique ≤ 30 dBnHL. No exame de RAEE foi pesquisado
o limiar eletrofisiológico das frequências de 500, 1000, 2000 e 4000 Hz na
modalidade monótica multifrequencial. Resultados: Foram selecionados 53
lactentes, com idade gestacional média de 31 semanas e mediana de idade de
30 dias de vida. Os riscos mais frequentes foram: permanência na unidade de
terapia intensiva, peso ao nascimento menor que 1500g e uso de medicação
ototóxica. Os valores medianos dos limiares da RAEE foram maiores para as
frequências baixas e menores para as frequências altas e sua detecção foi seme-
lhante entre os lactentes mais novos quanto para os mais velhos e com idades
gestacionais diferentes. Conclusão: Os limiares da RAEE foram elevados nas
frequências baixas em relação às altas em lactentes normo-ouvintes com risco
para surdez. A idade variada no momento da avaliação e a idade gestacional
não influenciaram os achados obtidos.

Palavras-chave: Potenciais Evocados Auditivos, Lactente, Eletrofisiologia,


Triagem Neonatal, Vias Auditivas, Audição.

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101
INTRODUÇÃO

Estimar a audição de neonatos é extremamente importante para mini-


mizar os impactos no desenvolvimento que a privação sensorial pode trazer1,2.
Entretanto, nos primeiros meses de vida, não é clinicamente viável confiar em
respostas comportamentais para fornecer uma estimativa da magnitude e
configuração de uma perda auditiva3,4.
Dessa forma, para avaliar a audição de crianças pequenas, é necessá-
rio o uso de medidas objetivas, dentre elas, destaca-se o exame de potencial
evocado auditivo de tronco encefálico (PEATE) e resposta auditiva de estado
estável (RAEE)5,6.
Recomenda-se o uso do PEATE com estímulo tone burst para estimar o
audiograma de lactentes7. Esse exame é tipicamente usado por permitir a obtenção
do limiar auditivo em função da frequência, no entanto, vários pesquisadores
relataram que erros podem ocorrer na previsão dos limiares comportamentais
a partir dos limiares obtidos por PEATE-tone burst, principalmente por se tratar
de um exame de análise subjetiva havendo possivelmente erros de julgamento,
além de requerer um tempo prolongado para sua realização8-10.
Da mesma forma, a RAEE também é uma técnica de potencial evocado
que propicia informação do limiar auditivo em função da frequência, entretanto
tem a vantagem de não depender da subjetividade da análise de suas respostas
e ser obtida em menor tempo, podendo ser uma alternativa ao uso do PEATE-
-tone burst, pois ambos os testes se relacionam11,12.
Além disso, a literatura sugere que há forte correlação entre os limiares
comportamentais e os limiares obtidos pela RAEE9,13.
Portanto, a RAEE vem sendo empregada como uma técnica auxiliar no
diagnóstico da deficiência auditiva ainda nos primeiros meses de vida. Contudo,
por se tratar de um procedimento pouco realizado na rotina clínica quando
comparado a outras técnicas de estimativa de limiar eletrofisiológico, torna-se
necessário o conhecimento do registro de suas respostas na população infantil.
Pesquisas mostram que os limiares auditivos da RAEE são maiores em
crianças pequenas quando comparadas com crianças mais velhas ou com
adultos. Do mesmo modo, neonatos prematuros podem apresentar elevação
de seus limiares quando comparados aos nascidos a termo14,15.

Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


102
Assim, o objetivo deste estudo foi Descrever a resposta auditiva de estado
estável (RAEE) em lactentes normo-ouvintes de alto risco.

MÉTODOS

Este estudo recebeu aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da


instituição (processo nº 423/2011).
Tratou-se de um estudo observacional analítico prospectivo, realizado
em um hospital público.
Fizeram parte da amostra somente lactentes com indicadores de risco
para deficiência auditiva, que nasceram no local de estudo, cujos pais ou res-
ponsáveis legais aceitaram participar e assinaram o temo de consentimento
livre e esclarecido.
Critério de inclusão: presença de resposta nas emissões otoacústicas
evocadas por estímulo transiente (EOAT) e limiar eletrofisiológico no PEATE-
-clique ≤ 30 dBnHL, em ambas as orelhas, com realização de todos os exames
na mesma sessão.
Critério de exclusão: alterações de orelha externa e/ou média detectadas
pelo médico otorrinolaringologista.
As variáveis de caracterização da amostra foram: idade cronológica,
limiares eletrofisiológicos das orelhas por frequência e indicador de risco para
deficiência auditiva estabelecidos pelo Joint Committee on Infant Hearing (JCIH)7.
As variáveis de avaliação auditiva foram: resultado das EOAT (normal),
PEATE-clique (≤ 30 dBnHL) e os limiares eletrofisiológicos da RAEE nas fre-
quências de 500Hz, 1000Hz, 2000Hz e 4000Hz.

Especificações técnicas das EOAT

O teste foi realizado com o lactente em estado de sono natural no colo da


mãe com o equipamento OtoRead/Interacoustics®. O critério de análise “passa/
falha” foi o descrito em seu protocolo de fabricação. No entanto, tal critério foi
adaptado considerando “passa” apenas quando o registro da relação sinal/ruído
fosse de 6 dB ou mais em pelo menos três bandas de frequências consecutivas,
sendo obrigatória a presença em 4000 Hz16.

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103
Especificações técnicas do PEATE-clique

O exame de PEATE-clique foi realizado com o equipamento Intregity V500,


Vivo Sonic (Canadá), modo função “ABR” (Auditory Brainstem Response) em
ambiente silencioso, com o paciente confortavelmente acomodado no colo do
responsável ou no berço da unidade, durante o sono natural. Após a limpeza
da pele com substância abrasiva (Nuprep®), os eletrodos de superfície, Ambu®-
Neuroline 720 00S (Dinamarca), foram fixados em pontos específicos. O ele-
trodo positivo (ativo) foi fixado à fronte (Fz) e os negativos (de referência) às
regiões da mastoide (M1 e M2). O eletrodo terra (neutro) foi colocado na fronte
(Fpz). O estímulo acústico foi apresentado por meio do fone de inserção – ER 3A,
com estimulação monoaural, com cliques filtrados (entre 100 e 2000Hz), duração
de 100 μs e polaridade rarefeita, com velocidade de 20.1 cliques por segundo.
Foram fornecidos 2.048 cliques, com tempo de análise de 15 ms, repetidos para
confirmação da reprodutibilidade das ondas. A impedância dos eletrodos foi
mantida sempre abaixo de 3 Kohms. A intensidade inicial do estímulo acústico
foi de 80 dBnHL para a pesquisa da integridade neural e, para pesquisa do
limiar eletrofisiológico, a intensidade foi diminuída em passos de 20 dBnHL até
a confirmação da última intensidade, na qual a onda V foi visualizada, definido
como limiar eletrofisiológico.
O exame foi considerado normal quando houve presença de resposta no
PEATE-clique em intensidade ≤ 30 dBnHL.

Especificações técnicas da RAEE

Para a pesquisa do limiar auditivo da RAEE foi utilizado o mesmo equi-


pamento que na pesquisa do PEATE-clique, no modo função “ASSR” (Auditory
Steady State Response). As condições do local, o estado de sono do lactente,
a preparação do exame, o tipo de fone e de eletrodos, bem como as posições
destes, também foram às mesmas que no PEATE-clique.
O exame foi realizado por meio da pesquisa do nível mínimo de resposta
diante da estimulação de um sinal acústico complexo formado por frequências
portadoras de 500, 1000, 2000 e 4000Hz, moduladas em amplitude na família de
80Hz, cuja modulação é indicada para pacientes em sono natural ou relaxados.

Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


104
A intensidade inicial foi de 30 dBNA, com acréscimos de 20 dBNA e
decréscimos de 10 dBNA, dependendo do surgimento da resposta não ultra-
passando 90 dBNA, na modalidade monótica multifrequencial. O limiar eletro-
fisiológico da RAEE foi definido como a última intensidade na qual a resposta
significativa foi obtida.
O tempo máximo de pesquisa em cada intensidade foi de seis minutos,
proposta pelo próprio equipamento.
Os dados foram submetidos à análise Fast Fourrier Transform (FFT) e
a análise angular a cada 20 coletas, sendo utilizado o nível de significância p
< 0,05. A resposta foi considerada presente a partir da análise de amplitude e
fase dos componentes espectrais gerados pelas frequências portadoras e suas
respectivas frequências de modulação.
Foram considerados válidos os picos de frequências correspondentes às
frequências de modulação que se apresentassem estatisticamente superiores
ao nível de ruído, utilizando-se o método estatístico do próprio equipamento.

Estatística

Os resultados da RAEE foram apresentados em mediana, mínimo e


máximo. A relação entre idade no exame, idade gestacional e os limiares audi-
tivos da RAEE foi analisada por estimativa da correlação de Spearman. Análise
feita com o software SPSS v21.0.

RESULTADOS

Dos 73 lactentes recrutados para o estudo, 53 atenderam aos crité-


rios de inclusão.
A média da idade gestacional foi de 31 semanas (mínimo de 26 e máximo
de 41 semanas). A média de peso ao nascimento foi de 1590g (mínimo de 500g
e máximo de 4160g), sendo que, 25 (47%) eram do sexo masculino e 28 (53%)
do sexo feminino.
Todos os lactentes realizaram avaliação audiológica com quadro clínico
estável, a mediana de idade foi de 30 dias de vida (mínimo de 6 dias e máximo

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105
de 177 dias). A caracterização da amostra quanto aos indicadores de risco para
deficiência auditiva encontra-se na Tabela 1.

Tabela 1. Perfil da amostra (n=53).


Variável N %
Apgar baixo 13 30
Uso de ventilação mecânica 15 35
Uso de medicamento ototóxico 28 65
Peso ao nascimento < 1500g 36 84
Permanência na UTI 49 92
Meningite 6 14
Hemorragia ventricular 5 12
Sífilis congênita 3 7
Hiperbilirrubinemia 1 2
Legenda: Apgar baixo= apgar menor que 4 no primeiro minuto e ou menor que 6 no quinto Minuto; UTI =
Unidade de Terapia Intensiva

A distribuição dos limiares eletrofisiológicos da RAEE, de ambas as orelhas,


foi expressa em dBNA para as frequências de 500, 1000, 2000 e 4000Hz. Os valo-
res medianos observados não foram semelhantes para as quatro frequências
avaliadas em cada orelha, sendo os mesmos maiores para as frequências baixas
e menores para as frequências altas (Tabela 2).

Tabela 2. Limiares da resposta auditiva de estado estável em ambas as orelhas (n=53).


Orelha Frequências da RAEE (Hz) Resumo em mediana (min-máx) dBNA
500 45 (0-90)
1000 40 (0-75)
Direita
2000 15 (0-85)
4000 10 (0-60)
500 35 (0-90)
1000 25 (0-90)
Esquerda
2000 15 (0-90)
4000 10 (0-90)
Legenda: min-máx = mínimo-máximo; RAEE= resposta auditiva de estado estável; Hz = Hertz; dBNA = decibel
nível de audição

A detecção dos limiares auditivos da RAEE foi semelhante entre os lac-


tentes mais novos quanto para os lactentes mais velhos, em ambas as orelhas

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106
(Figura 1). A idade gestacional dos participantes não influenciou nos achados
obtidos nos limiares da RAEE como pode ser observado na Figura 2.

Figura 1. Relação entre idade no exame e limiares da RAEE nas frequências de 500, 1000, 2000 e
4000 Hz, em ambas as orelhas.

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Figura 2. Relação entre idade gestacional dos participantes e resultados da RAEE nas frequências
de 500, 1000, 2000 e 4000 Hz, em ambas as orelhas.

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108
DISCUSSÃO

Na audiologia pediátrica, lidamos com sujeitos de diferentes idades ges-


tacionais e expostos a diferentes indicadores de risco para deficiência auditiva,
portanto a precisão dos dados com relação aos limiares auditivos de forma
precoce torna-se necessária9.
Além disso, o aprimoramento das técnicas utilizadas na avaliação obje-
tiva da audição é de suma importância para os lactentes que apresentem
qualquer sinal de anormalidade na triagem auditiva neonatal, auxiliando na
precisão diagnóstica.
As emissões otoacústicas e o PEATE são os testes comumente aplicados
na triagem auditiva neonatal, e apesar do PEATE ser considerado como teste
padrão-ouro nessa faixa etária, existe algumas limitações, como a interpretação
da resposta e o tempo prolongado para sua realização, quando realizado por
frequência específica17.
O interesse pelo uso da RAEE na população infantil tem aumentado por
se tratar de um exame objetivo e permitir avaliação simultânea de múltiplas
frequências havendo correlação entre os limiares comportamentais, bem como,
a possibilidade de apresentação de estímulos mais intensos quando comparado
ao PEATE-tone burst18-20.
As respostas geradas com modulação de frequência em torno de 90
Hz, como utilizado neste estudo, refletem a atividade de estruturas auditivas
do tronco encefálico, o que permite que tais registros sejam comparados
com os do PEATE9.
A população estudada foi composta por lactentes normo-ouvintes, ou
seja, com presença de EOAT e limiares eletrofisiológicos menores ou iguais a 30
dBnHL, no PEATE. Ao avaliar os limiares da RAEE para diferentes frequências
observou-se que, os limiares adquiridos em 500 Hz as medianas foram superiores
àquelas encontradas nas frequências de 1000, 2000 e 4000 Hz bilateralmente.
Esse achado vai de encontro aos também obtidos na literatura, pois indicam
que a correlação dos limiares eletrofisiológicos obtidos na RAEE em 500 Hz foi
pior do que as demais frequências avaliadas18-20.
O aumento do limiar eletrofisiológico em 500 Hz pode ser atribuído, a
questões maturacionais da sincronia neural da via auditiva nas frequências

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baixas, ou até mesmo, a um possível colabamento devido ao tamanho do con-
duto dificultando o correto posicionamento do transdutor21,22, outros autores
indicam que o rebaixamento do limiar nessa frequência está relacionado à
área de ativação de 500 Hz na membrana basilar havendo maior dispersão da
energia dos neurônios, gerando uma diminuição da amplitude no registro do
sinal e consequentemente aumento do limiar obtido23.
Entretanto, apesar da mediana mostrar esta diferença com relação ao
nível mínimo de resposta em cada frequência, houve grande variabilidade de
resposta em todas as frequências testadas, sendo esta maior na frequência
de 500 Hz à direita e sem diferença entre todas as frequências à esquerda.
Tal variabilidade pode ser justificada pela faixa etária da população incluída
nesta pesquisa e pelo nível de relaxamento dos pacientes, que pode dificultar
a obtenção do limiar.
A literatura mostra que a maturação das vias auditivas é um fator influente
nas respostas eletrofisiológicas dos potenciais evocados24. Porém, no presente
estudo, não houve variação na determinação dos limiares auditivos da RAEE
entre os lactentes, independentemente da idade, lembrando que esta variou de
seis a 177 dias, sendo incluídos os nascidos a termo e prematuros.
Uma das razões para tal achado deve-se, possivelmente, à homogeneidade
da amostra, composta somente por indivíduos com resultados satisfatórios na
triagem auditiva.
Outro aspecto a ser destacado, é que todos os lactentes desse estudo
apresentaram pelo menos um indicador de risco para deficiência auditiva,
sendo que a permanência prolongada em UTI seguido pelo peso ao nascimento
inferior a 1.500 gramas e uso de medicação ototóxica foram os mais frequentes.
Diante dos resultados obtidos, foi possível estimar os limiares eletrofisiológi-
cos, por meio da RAEE em lactentes com diferentes indicadores de risco para
deficiência auditiva.
Ressaltamos que a confirmação da acuidade auditiva na população
pediátrica requer uma bateria de procedimentos audiológicos para avaliar a
integridade do sistema auditivo em cada orelha, para estimar a sensibilidade
auditiva em diversas frequências, determinar o tipo da perda auditiva e realizar
o monitoramento auditivo24-25.

Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


110
Logo, os dados desse estudo permitem ao avaliador obter uma referên-
cia clínica para a interpretação dos achados audiológicos numa população de
risco para deficiência auditiva, nascidos a termo ou prematuros, com resultados
satisfatórios na triagem neonatal, dentro de seus primeiros meses de vida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os limiares eletrofisiológicos da RAEE foram elevados nas frequências


baixas em relação às frequências altas em lactentes normo-ouvintes com risco
para deficiência auditiva. A idade variada no momento da avaliação e a idade
gestacional não influenciaram os achados obtidos.

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Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


112
08

ESTUDO DA EVOLUÇÃO DA
MORTALIDADE POR CÂNCER CEREBRAL
NO BRASIL AO LONGO DA ÚLTIMA
DÉCADA (2011-2021)

Juliana Maria Bello Jastrow


Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM)

Nicolly Teixeira de Oliveira


Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM)

Ana Carolina Almeida Meirelles


Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM)

Laura Aparecida Perim da Cruz


Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

Luiza Andrade Peixoto


Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

Thaísa Gabriela da Páscoa Olivera


Universidade Federal do Acre (UFAC)

Maria da Conceição Silva da Silva


Universidade Federal do Acre (UFAC)

Ana Clara Ferreira Asbeque Ribeiro


Universidade Federal do Acre (UFAC)

Daniel Ribeiro Pinheiro Ferreira Asbeque


Universidade Federal do Acre (UFAC)

Francisco Naildo Cardoso Leitão


Universidade Federal do Acre (UFAC)

' 10.37885/231014878
RESUMO

Objetivo: Analisar as taxas de mortalidade por câncer cerebral no Brasil, no


período de 2011 a 2021. Método: Trata-se de um estudo quantitativo referente
aos casos de câncer cerebral no Brasil entre 2011 e 2021. A pesquisa é oriunda
de banco de dados secundários, através do Atlas de Mortalidade de Câncer
pelo INCA - Instituto Nacional de Câncer, realizada no período de outubro de
2023. Resultados: O número de óbitos brutos aumentou constantemente ao
longo da série histórica, apresentando 7.807 em 2011 para 9.683 em 2021. Dos
óbitos registrados, 98.385 sucederam de câncer, esse número representa 0,67%
da mortalidade não ajustada. Além disso, em comparação com a taxa padrão
mundial sobre as taxas de mortalidade por faixa etária e sexo no Brasil durante
o período de 2011 a 2021, menciona um significativo acréscimo de óbitos a partir
dos 30 anos de idade, atingindo maiores valores em 60 a 69 anos. Conclusão:
Visto isto, a mortalidade por câncer cerebral no Brasil aumentou constantemente
ao longo da série histórica. Evidencia-se, desta forma, a necessidade de investir
maiores ações em saúde à população brasileira voltada para a promoção e
prevenção em saúde frente ao câncer cerebral.

Palavras-chave: Câncer Cerebral, Mortalidade, Estudos de Incidência.

Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


114
INTRODUÇÃO

O câncer cerebral é uma doença complexa que representa um desafio


significativo para a saúde pública em todo o mundo. Este tipo de câncer, que se
origina no tecido cerebral ou no sistema nervoso central, é conhecido por sua
alta variabilidade em termos de localização, subtipos e prognóstico.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), câncer é o nome dado
a um agrupamento com mais de 100 enfermidades que têm em comum avanço
desordenado de células, que apoderam-se de tecidos e órgãos. Distribuindo-
-se rapidamente, tais células propendem a serem agressivas e desordenadas,
ocasionando formação de tumores que podem propagar para o restante do
organismo (Inca, 2022).
É chamado de tumor primário o tumor em que o processo de multiplicação
celular encontra-se desequilibrado e tem início no órgão afetado pela doença.
Estudos recentes têm comprovado uma sequência associada a transforma-
ções, designada de “cascata metastática” no qual duas fases são evidentes: a
primeira englobando a translocação física da célula cancerígena de seu local
de origem, enquanto na segunda abrange a multiplicação desta célula em um
novo local, sendo este um tumor secundário mais conhecido como metástase
(Piacentini; Menezes, 2012).
Dados inferem a ocorrência de tumores cerebrais primários sendo de 11
a 19 para cada 100.000 sujeitos, enquanto a incidência das metástases cere-
brais é de aproximadamente 11:100.000 na população em geral, pesquisas em
necropsias constatam que até 25% dos pacientes portadores de neoplasias
manifestam metástases no encéfalo (Rodrigues et al., 2014).
A categorização mais empregada para descrever os tumores cerebrais
primários é a determinada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), funda-
mentada na possível origem celular das neoplasias, os tumores são fragmentados
em quatro graus crescentes de malignidade: grau I a IV. Sendo os tumores de
graus I e II de baixa progressão, ou seja, benignos, enquanto isso os de graus
III e IV são classificados como malignos (Rodrigues et al., 2014).
As neoplasias secundárias, que são classificadas de acordo com a sua
localização primária e são os que mais evoluem com metástases no sistema
nervoso central, em adultos, tem-se os carcinomas broncogênico, carcinomas

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115
de pequenas células e o adenocarcinoma, do mesmo modo, o câncer de mama,
o carcinoma renal, o melanoma e as neoplasias malignas do trato gastroin-
testinal. Contudo, até 10% das metástases cerebrais têm sua origem primária
desconhecida (Rodrigues et al., 2014).
Os tumores cerebrais podem apresentar uma evolução não cancerosa
(benigno) ou cancerosa (maligno). Pode-se ter sua origem no cérebro ou ter
se espalhado (metástase) para o cérebro devido a uma outra parte do corpo.
Esse desenvolvimento exagerado leva como resultado, a um maior número de
células anormais, constituindo uma grande massa conhecida como tumor ou
neoplasia maligna (Piacentini, 2012).
A diferenciação entre os tumores (malignos e benignos) está na velocidade
do crescimento de suas células e também no seu deslocamento para outras
partes do organismo. Os tumores benignos apresentam células com cresci-
mento lento em comparação às células malignas, e não se deslocam do local de
origem, não se multiplicam para outras partes do corpo. Já as células malignas
manifestam características contrárias às benignas, possuem o domínio de se
alastrar entre tecidos normais, gerando tumores secundários (Piacentini, 2012).
Dentre a sintomatologia de pacientes portadores da doença, podem
incluir: cefaleias, mudanças de personalidade (podendo ficar deprimido, ansioso
ou desinibido), fraqueza, problemas de equilíbrio, complicações relacionadas
à concentração, perda parcial ou completa da visão, convulsões e dificuldade
de compreensão e memória (Bilsky, 2023).
No que se refere ao fatores de risco, alguns contribuem para a incidência
de tumor cerebral, o fator de risco biológico, como a exposição às radiações
ionizantes mais frequentemente em razão de tratamentos radioterápicos, o his-
tórico familiar da doença, e as doenças do sistema imunológico, onde observa-se
um risco maior de desenvolvimento de tumor no cérebro ou medula espinhal.
Esse déficit no sistema imunológico, talvez sejam congênitas ou ocasionadas
por tratamentos para outros tipos de cânceres (Oncoguia, 2020).
O câncer do Sistema Nervoso Central (SNC) representa de 1,4 a 1,8% de
todos os tumores malignos no mundo (Inca, 2022). Somente no ano de 2006,
morreram 155.796 pessoas devido a estas patologias. As neoplasias do encéfalo
e outras partes do SNC foram a sétima causa de morte por câncer, com 6.418
ocorrências neste ano (MS/SVS/DASIS/SIM, 2009). De acordo com o Instituto

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116
Nacional de Câncer, estima-se que para cada ano do triênio 2020/2022, sejam
diagnosticados no Brasil 11.100 novos casos de tumores cerebrais/sistema
nervoso central (5.870 em homens e 5.230 em mulheres).
Embora os tumores cerebrais sejam raros em comparação com outras
doenças malignas, eles são responsáveis, em muitos casos, por deficiência
física e cognitiva grave e têm uma alta taxa de letalidade com 13% de sobrevida
global aos 5 anos (Rees, 2011).
A importância da análise de dados de 2011 a 2021 do câncer cerebral
reside no fato das taxas de mortalidade por câncer de meninges, encéfalo,
medula espinhal e outras partes do sistema nervoso central apresentarem um
crescimento constante, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (2022),
o total de óbitos por câncer em 2011 foi de 7.807 e em 2021 estimou-se 98.385.
Além disso, subsidia aos médicos e pesquisadores perspectivas da evolução do
câncer do SNC, identificando a mortalidade em consequência dos tumores e as
novas tendências da displasia cerebral que podem estar associadas a fatores
ambientais, genéticos ou mudanças no estilo de vida, assim como a previsão
de resultados que contribui para tratamentos personalizados com expectativa
de vida maior para o paciente.
Destarte, os dados da incidência do câncer cerebral no Brasil aumentam
a conscientização pública a respeito da importância da prevenção e diagnóstico
precoce da doença. Assim, este trabalho tem como objetivo analisar as taxas de
mortalidade por câncer cerebral no Brasil, no período de 2011 a 2021.

MÉTODOS

Tipo de Estudo

Trata-se de um estudo quantitativo referente aos casos de câncer


cerebral no Brasil entre 2011 e 2021. A pesquisa é oriunda de banco de dados
secundários, através do Atlas de Mortalidade de Câncer pelo INCA - Instituto
Nacional de Câncer, realizada no período de outubro de 2023. Sua finalidade
é identificar a evolução da mortalidade por câncer cerebral na última década
e desta forma, auxiliar os profissionais de saúde pública na determinação de
prioridades necessárias à prevenção e ao controle do câncer.

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117
Critérios e variáveis

Foram usados como critério de busca fatores como sexo (feminino e


masculino); idade (com limite superior de 80 anos); a faixa etária classificada de
4 em 4 anos), considerando ignorado à +99 e a população brasileira baseada
no censo de 2010.
Ainda, considerou-se as tipografia por tipo de câncer os CIDS: C70 -
Meninges, C71 - Encéfalo e C72 - Medula espinhal e outras partes do Sistema
Nervoso Central - SNC, com isso, as variáveis usadas foram mortalidade pro-
porcional não ajustada, taxa de mortalidade brutas e ajustadas, número médio
de anos potenciais de vida perdidos e distribuição proporcional.

Aspectos legais e éticos

Trata-se de população oriunda de dados secundários, estudo que envolveu


a descrição e análise de dados presentes em bancos de dados públicos. Todas
essas fontes de informação são de domínio público e de livre acesso. Destaca-se
que nenhuma informação, tal qual a identificação individual dos sujeitos, foram
obtidas para a realização deste estudo, e, portanto, mesmo assim, respeitou-se
integralmente o que se preconiza na resolução 466/2012 e suas prerrogativas
interinstitucionais.

Análises estatísticas

A análise estatística envolveu a descrição dos dados, identificação de


tendências temporais ao longo de 2011-2021, análise por faixa etária e gênero,
análise geoespacial, avaliação da sobrevida, modelagem estatística para iden-
tificar fatores associados, testes de hipóteses para diferenças entre grupos e
análise de correlações entre variáveis.

RESULTADOS

O total de óbitos registrados no Atlas On-line de Mortalidade do Instituto


Nacional de Câncer (INCA) no período de 2011 a 2021 foi de 14.731.782, deste

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118
98.385 são registros de óbitos por câncer, representando 0,67% da mortalidade
proporcional não ajustada como demonstra a Tabela 1.
O número de óbitos total na Tabela 1 se manteve em aumento constante
ao longo da série histórica e, apesar do aumento do total de óbitos por câncer,
no ano de 2011 (7807 óbitos) o proporcional foi superior ao de 2021 (9684 óbitos).

Tabela 1. Mortalidade proporcional não ajustada pelas topografias selecionadas*, homens e mulheres,
Brasil, entre 2011 e 2021.
TOTAL TOTAL DE ÓBITOS PERCENTUAL
ANO
DE ÓBITOS POR CÂNCER (%)
2011 1170498 7807 0,67
2012 1181166 8213 0,7
2013 1210474 8358 0,69
2014 1227039 8741 0,71
2015 1264175 9034 0,71
2016 1309774 8976 0,69
2017 1312663 9196 0,7
2018 1316719 9309 0,71
2019 1349801 9712 0,72
2020 1556824 9355 0,6
2021 1832649 9684 0,53
Total 14731782 98385 0,67
*MENINGES, ENCÉFALO e MEDULA ESPINHAL E OUTRAS PARTES S.N.C.
Fonte: MS/SVS/DASIS/CGIAE/Sistema de Informação sobre Mortalidade - SIM, MP/Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, MS/INCA/Conprev/Divisão de Vigilância.

As taxas de mortalidade subdivididas por faixa etária brutas e ajustadas


por idade, pelas populações mundial e brasileira segundo censo de 2010 a cada
100.000 habitantes, de acordo com as topografias no mesmo período, na taxa
específica apresentou aumento significativo a partir de 30 anos (1,76) alcançando
o pico de casos na faixa etária de 80 anos ou mais (25,18), conforme Tabela 2.
Além disso, a mortalidade se manifestou mais prevalente em indivíduos do
sexo masculino em todas as faixas etárias, exceto em indivíduos com 80 anos ou
mais onde o número de óbitos foi de 6.122 no sexo feminino e de 4.388 no sexo
masculino. Comparando com a taxa padrão mundial, os óbitos na população
brasileira, do período de 2011 a 2021, se manteve superior em ambos sexos, com
a liderança do sexo masculino.

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Tabela 2. Taxas de mortalidade pelas topografias selecionadas*, brutas e ajustadas por idade, pelas
populações mundial e brasileira de 2010, por 100.000 homens e mulheres, Brasil, entre 2011 e 2021.
Homens Mulheres Todos
Número Taxa Número Taxa Número Taxa
Faixa Etária
de Óbito Específica de Óbito Específica de Óbito Específica
00 a 04 1.008 1,22 920 1,17 1.928 1,19
05 a 09 998 1,19 950 1,19 1.948 1,19
10 a 14 834 0,94 707 0,83 1.542 0,89
15 a 19 838 0,89 602 0,66 1.440 0,78
20 a 29 1.935 1,02 1.480 0,78 3.415 0,9
30 a 39 3.523 1,98 2.858 1,55 6.381 1,76
40 a 49 5.982 4,1 5.039 3,24 11.022 3,65
50 a 59 10.153 8,87 8.852 6,98 19.005 7,87
60 a 69 12.231 16,57 10.704 12,38 22.936 14,31
70 a 79 9.188 24,42 9.050 18,67 18.238 21,18
80 ou mais 4.388 27,54 6.122 23,72 10.511 25,18
Idade ignorada 13 0 4 0 19 0
TOTAL 51.091 - 47.288 - 98.385 -
Taxa Bruta - 4,63 - 4,1 - 4,36
Tx Padr.
- 4,29 - 3,38 - 3,8
Mundial
Tx Padr. Brasil - 4,44 - 3,51 - 3,94
*MENINGES, ENCÉFALO e MEDULA ESPINHAL E OUTRAS PARTES S.N.C.
Fonte: MS/SVS/DASIS/CGIAE/Sistema de Informação sobre Mortalidade - SIM, MP/Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, MS/INCA/Conprev/Divisão de Vigilância.

Na Tabela 3, está descrita a taxa de mortalidade segmentada pelas unida-


des federativas do Brasil e por faixa etária, apontando as regiões Centro-Oeste e
Sul com maior estabilidade na liderança das taxas específicas por idade, sendo
30,08 e 32,62 nas respectivas regiões em indivíduos com 80 anos ou mais.

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120
Tabela 3. Taxas de mortalidade pelas topografias selecionadas*, brutas e ajustadas por idade, pela
população brasileira de 2010, por 100.000 homens e mulheres, nas regiões do Brasil, entre 2011 e 2021.
Localidade Taxas Específicas
00 a 05 a 10 a 15 a 20 a 30 a 40 a 50 a 60 a 70 a 80 ou Idade
04 09 14 19 29 39 49 59 69 79 mais ignorada
Centro-O-
1,34 1,21 0,96 0,84 0,91 1,84 3,59 7,94 15,09 22,76 30,08 0
este
Nordeste 1,17 1,22 0,87 0,77 0,87 1,7 3,37 6,77 11,92 16,69 18,66 0
Norte 1,04 1,04 0,65 0,78 0,84 1,59 2,9 6,28 11,24 17,4 19,32 0
Sudeste 1,17 1,19 0,93 0,76 0,87 1,72 3,67 7,91 14,44 21,41 26,26 0
Sul 1,35 1,26 0,99 0,84 1,11 2,07 4,51 10,04 18,14 28,2 32,62 0
Brasil 1,19 1,19 0,89 0,78 0,9 1,76 3,65 7,87 14,31 21,18 25,18 0
*MENINGES, ENCÉFALO e MEDULA ESPINHAL E OUTRAS PARTES S.N.C.
Fonte: MS/SVS/DASIS/CGIAE/Sistema de Informação sobre Mortalidade - SIM, MP/Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, MS/INCA/Conprev/Divisão de Vigilância.

O Mapa 1 demonstra espacialmente as taxas apresentadas na tabela 3,


com as unidades federativas da região Sul apresentando as maiores taxas (4,16
a 5,08) de mortalidade por câncer de Meninges, Encéfalo e Medula Espinhal e
Outras Partes do Sistema Nervoso Central, seguido pela região Centro-Oeste
com variação entre 4,16 a 5,08 e, majoritariamente, 3,72 a 4,15.

Mapa 1. Representação espacial das taxas ajustadas por idade pela população brasileira de 2010
de mortalidade pelas topografias selecionadas*, por 100.000 homens e mulheres, pelas unidades
da federação do Brasil, entre 2011 e 2021.

*MENINGES, ENCÉFALO e MEDULA ESPINHAL E OUTRAS PARTES S.N.C.


Fonte: MS/SVS/DASIS/CGIAE/Sistema de Informação sobre Mortalidade - SIM, MP/Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, MS/INCA/Conprev/Divisão de Vigilância.

ISBN 978-65-5360-480-3 - Vol. 2 - Ano 2023 - www.editoracientifica.com.br


121
Dos óbitos por cânceres de meninges, do encéfalo e de medula espinhal
e de outras partes do sistema nervoso central, na Tabela 4 estão explicitados os
anos potenciais de vida perdidos em relação à taxa de óbitos por faixa etária.
Assim, revelando maiores anos potenciais de vida perdidos com 456.120, entre
50 a 59 anos, compondo uma taxa de 1,89. Ao passo que a faixa etária que apre-
sentou menores anos perdidos foi entre 70 a 79, com 72.952, ou seja, taxa de 0,85.
Os números dos anos potenciais perdidos não apresentam regularidade
de variação de acordo com a idade, entretanto, se comparada, a taxa de anos
potenciais perdidos, aponta um decréscimo significativo entre 01 e 29 anos de
idade, decaindo de 0,94 para 0,49, e a partir dos 30 anos ocorre o oposto, a taxa
aponta crescimento a partir de 0,77 e de 60 a 69 anos alcança o pico com taxa
de anos potenciais perdidos em 2.

Tabela 4. Número médio de anos potenciais de vida perdidos pelas topografias selecionadas*, por
1.000 homens e mulheres, Brasil, entre 2011 e 2021, partindo da premissa que o limite superior é 80 anos.
Faixa Etária APVP TAPVP
01-04 120.536 0,94
05-09 139.282 0,85
10-14 102.543 0,59
15-19 88.560 0,48
20-29 184.410 0,49
30-39 280.764 0,77
40-49 374.748 1,24
50-59 456.120 1,89
60-69 321.104 2
70-79 72.952 0,85
TOTAL 2.141.019 0,98
APVP - Anos Potenciais de Vida Perdidos
TAPVP - Taxa de Anos Potenciais de Vida Perdidos
*MENINGES, ENCÉFALO e MEDULA ESPINHAL E OUTRAS PARTES S.N.C.
Fonte: MS/SVS/DASIS/CGIAE/Sistema de Informação sobre Mortalidade - SIM, MP/Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, MS/INCA/Conprev/Divisão de Vigilância.

Em relação à localização primária do tumor, o CID C72, que corresponde


ao câncer de medula espinhal e de outras partes do sistema nervoso central,
expressa maior taxa de mortalidade na faixa etária de 0 a 19 anos, correspon-
dendo a 3,65 e 1,35 nos extremos da faixa referida. A partir dos 20 anos o CID
C71, câncer de encéfalo, se torna a localização primária do tumor com maior

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122
índice até a idade de 69 anos, atingindo a taxa de 23,47, e então, o câncer de
meninges, CID C70, se institui com as maiores taxas a partir dos 70 anos com
taxas de 20,63 até os 79 anos e 18,14 em indivíduos com 80 anos ou mais,
conforme Tabela 5.
Ademais, na tabela 5, quanto ao total de neoplasias malignas, por faixa
etária, pode-se evidenciar maior mortalidade em indivíduos entre 60 a 69 anos
(distribuição de 23,31), ao passo que pessoas com 15 a 19 anos apresentaram
menor distribuição (1,46). Os parâmetros da idade ignorada foram pouco
relevantes quando comparados às outras idades em todas as localizações
primárias do tumor.

Tabela 5. Distribuição proporcional do total de mortes .*, por faixa etária, segundo localização
primária do tumor, em homens e mulheres, Brasil, com faixa etária de Ign. a 99+, entre 2011 e 2021.
00 a 05 a 10 a 15 a 20 a 30 a 40 a 50 a 60 a 70 a 80 ou Idade
CID
04 09 14 19 29 39 49 59 69 79 mais ignorada
C70 - Menin-
0,59 0,47 0,59 0,53 1,72 5,28 10,97 18,49 22,58 20,63 18,14 0
ges
C71 - Encéfalo 1,78 1,88 1,49 1,45 3,51 6,59 11,28 19,51 23,47 18,57 10,47 0,02
C72 - Medu-
la Espinhal e
3,65 3,02 2,32 1,75 3,46 5,88 10,63 17,94 22,18 17,94 11,21 0,02
outras partes
S.N.C.
Total das Ne-
oplasias Ma- 1,96 1,98 1,57 1,46 3,47 6,49 11,2 19,32 23,31 18,54 10,68 0,02
lignas
*MENINGES, ENCÉFALO e MEDULA ESPINHAL E OUTRAS PARTES S.N.C.
Fonte: MS/SVS/DASIS/CGIAE/Sistema de Informação sobre Mortalidade - SIM, MP/Fundação
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Em relação aos óbitos por cânceres de meninges, do encéfalo e de medula


espinhal e de outras partes do sistema nervoso central, mundialmente, as taxas
apresentaram pouca variação nos anos de 2011 a 2021, sendo a menor taxa
em 2021, com 3,63, e a maior taxa em 2015, com 3,95, como ilustra a Tabela 6.
Quando comparadas, as taxas ajustadas no Brasil superam, sem exceção, em
todos os anos as taxas mundiais, com taxas em 2020 e 2014, respectivamente
3,71 e 4,1, como os extremos de menor e maior índices.

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123
Tabela 6. Taxas de mortalidade pelas topografias selecionadas*, pelas populações mundial e brasileira
de 2010, por 100.000 homens e mulheres, Brasil, entre 2011 e 2021.
Ano Taxa Ajustada Mundial Taxa Ajustada Brasil
2011 3,8 3,93
2012 3,89 4,03
2013 3,87 4
2014 3,93 4,07
2015 3,95 4,1
2016 3,83 3,97
2017 3,83 3,96
2018 3,76 3,91
2019 3,83 3,96
2020 3,57 3,71
2021 3,63 3,76
*MENINGES, ENCÉFALO e MEDULA ESPINHAL E OUTRAS PARTES S.N.C.
Fonte: MS/SVS/DASIS/CGIAE/Sistema de Informação sobre Mortalidade - SIM, MP/Fundação
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DISCUSSÃO

Os achados do presente estudo sugerem que a mortalidade ajustada por


câncer cerebral no Brasil superou as taxas mundiais no período que se refere a
2011 a 2021. Ao longo dessa série histórica, fora observado um constante aumento
de óbitos por câncer cerebral no país, bem como uma maior incidência de sua
mortalidade em faixas etárias específicas, evidenciando maior risco de morte
em indivíduos acometidos pela doença que possuem entre 60 a 69 anos. Além
disso, notou-se uma aparente heterogeneidade da incidência de mortes entre
as unidades federativas brasileiras, provocando a evidenciação dos estados Sul
e Centro-oeste quanto aos óbitos.
Nesse sentido, analisando dados provenientes do Atlas On-line de Mor-
talidade do Instituto Nacional de Câncer (INCA) referentes ao período de 2011
a 2021, considera-se a perspectiva que o número de óbitos brutos aumentou
constantemente ao longo da série histórica, apresentando 7.807 em 2011 para
9.683 em 2021. Dos óbitos registrados, 98.385 sucederam de câncer, esse
número representa 0,67% da mortalidade não ajustada. Esse aumento pode ser
designado devido a alguns fatores, como o crescimento populacional, envelhe-
cimento da população ou as mudanças na prevalência da doença (Inca, 2022).

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124
Além disso, em comparação com a taxa padrão mundial sobre as taxas
de mortalidade por faixa etária e sexo no Brasil durante o período de 2011 a 2021,
os dados analisados mencionam um significativo acréscimo de óbitos a partir
dos 30 anos de idade, atingindo maiores valores em 60 a 69 anos.
Esse cenário é comum no mundo devido a suscetibilidade à doenças
que o envelhecimento populacional proporciona. Ademais, a prevalência de
mortalidade dá-se ao sexo masculino em todas as faixas etárias, exceto aquelas
com 80 anos ou mais, fator que pode ser explicado devido as diferenças no com-
portamento de saúde, exposições ocupacionais e biológicas (Monteiro, 2003).
Dentre as unidades federativas do Brasil, aquelas que compõem a região
Sul expressaram no ano de 2010 as maiores taxas de mortalidade por faixa
etária. De acordo com a literatura, esta é uma localidade com alta prevalência
de indivíduos diagnosticados com algum tipo de câncer, um indicador positivo,
pois implica um amplo acesso a serviços de saúde (Oliveira et al., 2015).
Contudo, mesmo sendo uma das regiões com maior número de serviços
de saúde disponíveis, ainda assim é esperado um menor percentual de sobre-
vivência pós-diagnóstico em indivíduos que lidam com algum tipo de câncer
de alta letalidade, isso porque os sobreviventes são, comumente, aqueles que
tiveram detecção dos tumores em fases iniciais, antes de terem metástase,
aumentando a possibilidade de cura (Oliveira et al., 2015).
Ademais, as diferenças regionais nas taxas de mortalidade evidencia-
das no estudo podem também estar associadas à qualidade das informações
explicitadas na declaração de óbito, bem como sua sub-notificação, fatores
considerados como obstáculos ao conhecimento de importantes indicadores
epidemiológicos, limitando o uso dos dados provenientes dos sistemas de infor-
mação (FRIAS et al., 2008). Portanto, o resultado encontrado pode apresentar
pretextos multifatoriais e, sendo assim, também é válido investigar a distribuição
de potenciais fatores de risco nesta região.
A partir dos dados explicitados na tabela 5, nota-se maior mortalidade
em indivíduos com idade entre 60 a 69 anos, ao passo que pessoas com 15 a
19 apresentaram menor distribuição. O evidenciamento observado de algumas
faixas etárias quanto à mortalidade por neoplasias malignas pode estar fun-
damentado na distribuição das incidências de Câncer no SNC na população

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125
brasileira. De acordo com o Ministério da Saúde, a doença em questão possui
um pico em crianças e em adultos acima dos 45 anos (Inca, 2014).
A comparação das taxas de mortalidade ajustadas no Brasil de 2011 a
2021 com as taxas mundiais mostrou uma sobreposição do país relacionada a
estes índices. A tendência de mortalidade pode servir para estimar a efetividade
das estratégias de prevenção primária e secundária no controle da doença e
a qualidade e o impacto do tratamento na sobrevida dos indivíduos doentes
(Pisani et al., 1999).
Sendo assim, os maiores índices de óbitos por cânceres de meninges, do
encéfalo e de medula espinhal e de outras partes do sistema nervoso central no
Brasil podem ter relação com um cenário de saúde pública precarizado. Além
disso, apesar de fatores genéticos exercerem papel fundamental na carcino-
gênese, a ocorrência da doença é fortemente influenciada pela prevalência de
fatores ambientais, responsáveis por aproximadamente 80% a 90% da incidência
(Perera, 1996). Desta forma, características populacionais ligadas à desigualdade
social podem ser determinantes na tendência observada.

CONCLUSÃO

Visto isto, a mortalidade por câncer cerebral no Brasil aumentou cons-


tantemente ao longo da série histórica. Além disso, em comparação com a
taxa padrão mundial sobre as taxas de mortalidade por faixa etária e sexo, no
Brasil houve um significativo acréscimo de óbitos a partir dos 30 anos de idade,
atingindo maiores valores em 60 a 69 anos e com maior prevalência no sexo
masculino no período de 2011 a 2021. Evidencia-se, desta forma, a necessidade
de investir maiores ações em saúde à população brasileira voltada para a pro-
moção e prevenção em saúde frente ao câncer cerebral.

Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


126
REFERÊNCIAS
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ISBN 978-65-5360-480-3 - Vol. 2 - Ano 2023 - www.editoracientifica.com.br


127
09

EXERCÍCIOS FÍSICOS COMO


TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO
PARA IDOSOS HIPERTENSOS: UMA
REVISÃO NARRATIVA

Fernando Alipio Rollo Neto


Universidade da Amazônia (UNAMA)

Lorrane Rocha da Cunha Leite


Universidade da Amazônia (UNAMA)

Ana Karolina Lobo Pereira


Faculdade Multivix

Reginaldo Souza Fayal Junior


Universidade da Amazônia (UNAMA)

Ismael Ferreira Brito


Universidade da Amazônia (UNAMA)

Vanessa de Paula Moraes dos Santos


Universidade da Amazônia (UNAMA)

Diemerson Willy da Silva Pamplona


Instituto Pedagógico de Minas Gerais (IPEMIG)

Kaylon Mateus Marcondes Bezerra


Universidade da Amazônia (UNAMA)

Evellyn Thaina de Araujo Lemos


Universidade da Amazônia (UNAMA)

Lucas Fernando Alves e Silva


Universidade Federal do Pará (UFPa)

' 10.37885/231014729
RESUMO

Segundo a Organização Mundial de Saúde (2019), está ocorrendo o aumento


na população de pessoas com 60 anos ou mais, demonstrando um crescimento
mais significativo do que em outras faixas etárias. O objetivo desta pesquisa é
analisar através da revisão da literatura os benefícios gerados pelo exercício
físico para pessoas idosas hipertensas. Este estudo trata-se de uma revisão
narrativa de artigos originais publicados em periódicos indexados nas bases de
dados eletrônicas: BV CAPES, SciELO e PubMed. A pesquisa ocorreu no período
compreendido entre setembro à outubro de 2023. Os presentes estudos utilizados
nesta revisão demonstram que o exercício físico gera adaptações significativas
no organismo de seus adeptos, onde o qual passa a exercer benefícios em outros
quadros clínicos que podem influenciar no quadro hipertensivo. O treino aeróbio
demonstrou-se ser uma ferramenta interessante pois seus benefícios gerados
provocam um quadro de melhora da função cardiorrespiratória. Desta forma
após a análise dos dados aqui apresentados, podemos concluir que o exercício
físico se demonstra uma ferramenta não medicamentosa valiosa no tratamento
da hipertensão, sendo que as adaptações geradas a seus praticantes geram
melhora física e psicologicamente gerando a melhora do quadro de saúde e
qualidade de vida.

Palavras-chave: Envelhecimento, Hipertensão, Saúde e Exercício.

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INTRODUÇÃO

O envelhecimento está ligado ao acúmulo de diversas anormalidades


moleculares e celulares em nível biológico. Este dano acaba por resultar numa
perda progressiva das reservas fisiológicas, num aumento da probabilidade de
contrair inúmeras doenças e numa deterioração geral da capacidade intrínseca
da pessoa. Embora essas modificações não sejam lineares nem regulares, elas
estão apenas tangencialmente relacionadas à idade do indivíduo, expressa em
anos (OMS, 2015).
A população passa por um processo de envelhecimento. Pela primeira
vez na história, a população tem uma expectativa de vida acima dos 60 anos,
enquanto que a taxa de fertilidade vem diminuindo (OMS, 2015). Estima-se que
em 2025, exista um total de 1,2 bilhões de idosos, sendo 80% nos países em
desenvolvimento. Os impactos sociais e de saúde pública que já ocorrem no
presente, serão agravados no futuro (Santos et al., 2015).
O sistema cardiovascular, constituído pelo coração e os vasos sanguíneos,
apresenta função preponderante na conservação da homeostase de todos os
sistemas corporais, seja em situações de repouso ou em condições de esforço
físico. Para isso, tal sistema é constituído de atributos e características eficien-
tes capazes de responder de forma rápida e eficaz às várias alterações que o
organismo sofre em diferentes episódios de trabalho físico (Ghorayeb, 2005).
Powers e Howley (2000), apontam que durante um determinado tipo
de exercício físico, a demanda metabólica imposta ao sistema cardiovascular
pode chegar a valores exorbitantes, acima daqueles obtidos no repouso, o
que se deve principalmente a necessidade de oxigênio exigida pelo músculo
e outras estruturas. Desse modo, o presente estudo visa analisar através da
revisão da literatura os benefícios gerados pelo exercício físico para pessoas
idosas hipertensas.
O trabalho baseia-se na problemática de procurar saber de que forma os
exercícios físicos influenciam na saúde de idosos hipertensos. Pesquisas como
essas se justificam no aumento significativo de casos de hipertensão arterial
na população idosa, influenciando diretamente na vida financeira quanto a
compra de medicamentos, na saúde e na qualidade de vida desse segmento

Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


130
populacional, sendo está uma doença nesse público citado apontada como
alarmante pela própria organização mundial de saúde.
Portanto o trabalho objetivou realizar um levantamento bibliográfico
sobre os efeitos do exercício físico como tratamento não medicamentoso para
idosos hipertensos, procurando entender as características fisiológicas do
envelhecimento, além de compreender as alterações orgânicas geradas pela
hipertensão arterial e analisar os efeitos das modalidades de exercício físico
sobre a hipertensão arterial em idosos.

DESENVOLVIMENTO

O processo do envelhecimento, do ponto de vista fisiológico, não ocorre


necessariamente em paralelo ao avanço da idade cronológica, apresentando
características biopsicossociais (Okuma, 1998). Este processo é marcado por
um decréscimo das capacidades motoras, redução da força, flexibilidade,
velocidade, enrijecimento das artérias, perda da massa óssea, dificultando a
realização das atividades diárias e a manutenção de um estilo de vida saudável
(Marchi Netto, 2004).
As alterações fisiológicas de perda da capacidade funcional ocorrem
durante o envelhecimento em idades mais avançadas, comprometendo a saúde
e a qualidade de vida do idoso. E são agravadas pela falta de atividade física e
consequentemente diminuição da taxa metabólica basal, associada à manu-
tenção ou ao aumento do aporte calórico, excedendo na maioria das vezes as
necessidades calóricas diárias (Almeida; Teles, 2020).
Desta forma observamos que o envelhecimento está associado a um
declínio físico e que afeta diferentes sistemas fisiológicos, afetando a interação
entre estes o qual passa a resultar numa menor capacidade de adaptação e
recuperação ao exercício, ocasionando um declínio na saúde e qualidade de
vida desta população, sendo a atividade física uma excelente ferramenta não
medicamentosa (Carrasco; Carús, 2020).
Há um consenso na literatura científica para o treinamento da capacidade
cardiorrespiratória, na qual a melhor opção são os exercícios dinâmicos, de pre-
dominância aeróbia. Tais exercícios devem ser realizados com uma frequência

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de três a sete vezes por semana, podendo ser intercalado com exercícios de
força (ACSM, 2014).
“O envelhecimento é sem dúvida, um processo biológico cujas alterações
determinam mudanças, estruturais no corpo e, em decorrência, modificam suas
funções” (Okuma, 2012).

“O envelhecimento é uma função genética, mas também é


influenciado pelos padrões de atividade física. O problema mais
grave ao envelhecer, além das patologias, são as síndromes de
desuso que podem afetar muitos sistemas fisiológicos, a forma
e a função do corpo humano. Melhoras nos sistemas muscular,
ósseo, imunológico, endócrino e cardiovascular podem ser obtidas
por meio de programas de condicionamento apropriadamente
prescritos e progressivos” (Singh, 2004 apud Zatsiorsky; Kraemer,
2008, p.230).

Paralelamente ao envelhecimento, ocorre o aumento da inatividade física,


entre os idosos, como demonstrado no último levantamento do Ministério da
Saúde, fator de risco que contribui para o aumento da incidência de doenças
crônicas, entre estas a hipertensão arterial. De fato, o idoso é mais suscetível
aos efeitos adversos do sedentarismo, ao exercício físico de intensidade elevada
e à terapia medicamentosa, sendo necessária maior compreensão dos efeitos
do envelhecimento associados a esses fatores (Nogueira et al., 2012).
Durante os exercícios físicos (EF) aeróbicos, as contrações são seguidas
de movimentos articulares, não ocorrendo obstrução mecânica do fluxo san-
guíneo. Há assim um aumento da atividade nervosa simpática, que por sua vez
causará um aumento da frequência cardíaca (FC), do débito cardíaco (DC) e
do volume sistólico e uma redução da resistência vascular periférica (RVP) no
pós - exercício (Prentice, 2002).
Os efeitos agudos tardios do EF observados nas primeiras 24 ou 48
horas (ou até 72h) após o exercício, levando a uma discreta redução dos níveis
tensionais. Já os crônicos adaptativos são ocasionados pela exposição regular,
associando-se a adaptações fisiológicas que ocorrem a longo prazo, decor-
rentes de treinamento regular e aplicação de sobrecarga de forma adequada
(Negrão et al., 2019).

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132
Em indivíduos treinados, verifica-se atenuação da hipertensão arterial
sistêmica (HAS), levando à bradicardia de repouso.18-20. Porém, para que a
hipotensão pós-exercício tenha importância clínica, é necessário que ela tenha
magnitude importante e perdure por um período superior a 24 horas subse-
quentes à finalização do EF (Plowman; Smith, 2000).
De acordo com a I Diretriz de Prevenção Cardiovascular (2013), recomen-
da-se pelo menos 30 minutos por dia, até cinco vezes por semana, de exercício
moderado, para indivíduos idosos. Para idosos inativos, tornar-se ativo e cumprir
as recomendações tem se demonstrado difícil, sendo a falta de motivação a
principal questão envolvida.
Exercícios aeróbicos, circuitos, exercícios aquáticos, treinos de flexibili-
dade e técnicas de relaxamento são métodos não farmacológicos que podem
ser utilizados para controle dos fatores de risco cardiovascular em idosos, com
o emprego de peso ou não. Em hipertensos idosos, a prescrição adequada dos
exercícios (em relação ao tipo, intensidade, duração e intervalos de recupera-
ção) pode contribuir na adesão do programa de treino através de incentivos,
motivações geradas pelo treino adequado (Cavalcante et al., 2015).
Segundo estudo de Boeno et al. (2020), foi observada redução de níveis
pressóricos e melhora na função endotelial nos grupos de treinamento de força
(TF) e aeróbio, porém somente no grupo que recebeu treinamento aeróbio
(TA) obteve melhora vasoativa, tais adaptações podem resultar na otimização
circulatória, e consequentemente melhorar o quadro de doenças circulatórias.
Resultados de Mora-Rodriguez et al. (2017) também indicaram redução
na rigidez da artéria central e melhoria na vasodilatação de vasos periféricos,
que podem contribuir na melhora no fluxo sanguíneo, e consequentemente
melhora no quadro de Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS). Desta forma a
saúde endotelial demonstra – se importante e o exercício contribui para isso.
O endotélio exerce função importante no controle da PA (pressão arterial),
tendo em vista que o endotélio é um tecido ativo e que recobre a parede das
artérias, responsável por liberação de substancias que atuam no processo de
modulação vascular e cardíaca, dentre a qual podemos citar o oxido nítrico, o
qual é liberado durante o exercício devido ao efeito de cisalhamento gerando
a homeostase devido à redução de espécies reativas de oxigênio (Pagan;
Gomes; Okoshi, 2018).

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Resultados de Molmen-Hansen et al. (2012) demostraram que 24% dos
indivíduos que receberam treinamento de alta intensidade tornaram-se nor-
motensos. Também foi observada melhora no volume sistólico e aumento da
função do endotélio. Sugerindo que a intensidade pode influenciar diretamente
com os efeitos na HAS e fatores de risco cardiovasculares.
Também foi observado nos resultados de Santos et al. (2015) reduções
pressóricas significativas no grupo que recebeu o protocolo de exercício de alta
intensidade, nesse sentido, entendem-se que a progressão da intensidade de
exercícios aeróbios possa gerar gradativamente adaptações crônicas.
Molmen-Hansen et al. (2012) e Santos et al. (2015) utilizaram em seus
protocolos de intervenção treinamento de alta e moderada intensidade, e os
grupos que receberam o treinamento de alta intensidade obtiveram melhores
adaptações, sugerindo que a intensidade gera efeitos significativos, demons-
trando ser um fator importante na hora da prescrição.
No estudo de Pagonas et al. (2013) foram observadas pequenas redu-
ções nos níveis pressóricos, entretanto a diminuição da FC encontrados nos
resultados podem indicar melhora na performance física. A pratica de exercícios
físicos gera mudanças que a longo prazo podem trazer adaptações positivas
no quadro de HAS e doenças metabólicas.
Também se percebe o exercício aeróbio como um regulador de outras
variáveis fisiológicas, como é demonstrado nos estudos de Pagonas et al.
(2013) e Molmen-Hansen et al. (2012), o aumento do Vo2máx e diminuição da
FC, estão intimamente relacionados a capacidade física, sugerindo melhora no
condicionamento físico, acarretando a melhora da saúde e qualidade de vida.
Segundo Barroso et al., (2020) o exercício físico gera redução significa-
tiva em variáveis correlacionadas a inflamação e marcadores metabólicos na
HAS. Sendo assim o TA pode ser uma alternativa para o tratamento da hiper-
tensão arterial e de outras doenças metabólicas, devido aos seus benefícios
gerados já citados.
Foi observada também melhora no aspecto físico e psicológico de idosas
que praticavam treinamento resistido, sendo estes aspectos importantes para
a saúde e qualidade de vida (Póvoa et al., 2014). Sugerindo assim que atividade
física moderada torna - se eficaz na melhora do quadro de HAS e outros fatores
de risco cardiovasculares.

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134
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desta forma após a análise dos dados aqui apresentados, podemos con-
cluir que o exercício físico demonstra – se uma ferramenta não medicamentosa
valiosa no tratamento da hipertensão, sendo que as adaptações geradas a seus
praticantes geram melhora física e psicologicamente gerando a melhora do
quadro de saúde e qualidade de vida.
Podemos observar também que a pratica do exercício também gera
melhoras em outros quadros patológicos que por sua vez tendem a influenciam
no quadro hipertensivo.

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136
10

IDENTIFICACIÓN DE DEMENCIA
MEDIANTE RESONANCIA MAGNÉTICA Y
CARACTERÍSTICAS EXTRAÍDAS

Mijail Aldo Hancco Condori


Universidad Nacional del Altiplano

Andres Ladislao Cornejo Pinto


Universidad Nacional del Altiplano

Nick Nestor Hancco Condori


Universidad Nacional de Juliaca

Diego Jesus Guerra Huanqui


Universidad Catolica de Santa María

Pamela Carmen Mamani Gonzales


Universidad Andina Néstor Cáceres Velasquez

Juan Pedro La Torre Veliz


Universidad Catolica de Santa María

Valerio Palacios Chambi Quecara


Universidad Nacional del Altiplano

Pamela Lisbeth Mendoza Pari


Universidad Nacional del Altiplano

Nancy Cutisaca Hancco


Universidad Alas Peruanas

Celestino Marcial Condori Mamani


Escuela de Educacion Superior Pedagogica Publica Juliaca

' 10.37885/231014829
RESUMEN

Objetivo: El estudio compara el rendimiento de varios algoritmos de clasifi-


cación en la detección de la demencia en imágenes de resonancia magnética.
Métodos: Se utilizan cuatro técnicas: Máquina de Vectores de Soporte (SVM),
K-Vecinos más Cercanos (KNN), Bosque Aleatorio (RF) y una combinación de
SVM y KNN. Se extraen características de las imágenes utilizando matrices de
co-ocurrencia de niveles de gris (GLCM y GLRM), se entrenan modelos y se
evalúa su rendimiento con métricas como precisión, Tasa de Verdaderos Positi-
vos (TPR), Tasa de Verdaderos Negativos (TNR), Tasa de Falsos Positivos (FPR)
y Tasa de Falsos Negativos (FNR). Resultados: Los resultados indican que la
combinación de SVM y KNN es la más precisa (93.501%) y efectiva para detectar
la demencia, seguida por SVM con 90% de precisión. Conclusión: En conclusion,
los algoritmos de aprendizaje automático, como SVM, KNN y RF, son eficaces
en la clasificación de imágenes de resonancia magnética en casos normales y
de demencia, lo que podría ser útil para el desarrollo de sistemas de detección
temprana de demencia basados en imágenes de resonancia magnética.

Palabras-clave: Demencia, Resonancia Magnética, Aprendizaje Automático,


Clasificación, Algoritmos.

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138
INTRODUCCION

La demencia se origina en el cerebro debido a daños en las células


cerebrales. Cuando estas células resultan dañadas, su capacidad para comu-
nicarse entre sí se ve comprometida, dando lugar a trastornos mentales como
la pérdida de memoria y la dificultad para relacionarse con otros. En ocasiones,
esto también se traduce en la incapacidad de resolver problemas y en la lentitud
para pensar con claridad. En la India, aproximadamente el 5% de las personas
mayores de 60 años experimentan demencia o incluso formas graves de la
misma, como el Alzheimer (SHAJI; VP JITHU; KS JYOTHI, 2010). La demencia
es un trastorno crónico que solo puede tratarse, ya que no tiene cura. Puede
perdurar toda la vida, incluso si se le brinda tratamiento adecuado. Los estudios
sugieren que existe la posibilidad de que el riesgo de demencia se duplique en
las próximas dos décadas. Para el año 2040, se estima que alrededor de 80
millones de personas se verán afectadas por la demencia, con la enfermedad
de Alzheimer representando alrededor del 60% de los casos, especialmente en
países occidentales (RIZZI; ROSSET; MATHEUS RORIZ‐CRUZ, 2014). La causa
principal de la demencia es el daño a las células cerebrales, que puede ocurrir
debido a la falta de oxígeno durante un período prolongado. Aunque muchas
personas no son conscientes del impacto de este daño celular, a largo plazo
puede resultar en demencia y Alzheimer. Los síntomas iniciales de la demencia
incluyen la pérdida de interés en las actividades cotidianas, problemas frecuen-
tes de memoria y comportamiento confuso. Por lo general, la demencia no se
considera una enfermedad hereditaria, ya que no afecta las partes genéticas
del cerebro humano. Sin embargo, existen mutaciones raras de la demencia
que pueden transmitirse a la descendencia del paciente, aunque en general, la
gravedad de la enfermedad es menor en los descendientes. La demencia tiende
a afectar a personas mayores de 65 años, y debido al aumento de la población
en las últimas décadas, se prevé que la población de personas mayores de
65 años aumentará significativamente en las próximas décadas. A finales de
la década de 1950, el 8% de la población total de los Estados Unidos estaba
compuesto por personas mayores de 65 años, mientras que en 1995, esta cifra
aumentó al 12.8%. Según estas tendencias, se pronostica que el 20% de la
población total será mayor de 65 años, con un 35% de ese grupo en riesgo de

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demencia y Alzheimer. En la última década, alrededor del 0.6% de la población
total ha experimentado demencia, y esta cifra ha aumentado al 0.9% (DEMEN-
TIA: A CLINICAL APPROACH, 2015).
La demencia también guarda relación con otros trastornos crónicos,
como el traumatismo y el Parkinson. Se trata de una condición irreversible que
requiere un diagnóstico temprano. En las primeras etapas de la demencia, se
llevan a cabo diversas pruebas para evaluar la gravedad del trastorno. En pri-
mer lugar, se realizan evaluaciones cognitivas y neurológicas para analizar las
habilidades de pensamiento y resolución de problemas de la persona. Si estas
pruebas indican que alguien puede estar experimentando deterioro en las fun-
ciones fundamentales, se procede a realizar varios escáneres cerebrales para
detectar posibles daños en las células cerebrales. Estos escáneres incluyen la
tomografía computarizada (una versión avanzada de la radiografía), la resonancia
magnética (que utiliza imágenes de resonancia magnética) y la tomografía por
emisión de positrones (PET), que emplea un marcador radiactivo para identificar
daños en las células cerebrales. Si se encuentran células cerebrales dañadas en
estas exploraciones, se realizan análisis genéticos en la sangre para confirmar
la presencia de demencia.
El proceso de obtención de imágenes por resonancia magnética puede
llevarse a cabo mediante diversas combinaciones de técnicas de extracción
y algoritmos clasificadores de aprendizaje automático. Entre las técnicas de
extracción se encuentran el GLCM y el GLRM, las cuales serán examinadas con
más detalle en el artículo para determinar cuál ofrece un mejor rendimiento. Los
datos obtenidos mediante la técnica de extracción se clasifican posteriormente
mediante algoritmos de aprendizaje automático, como el algoritmo SVM, el
algoritmo KNN, el algoritmo RF y la combinación de SVM y KNN.
Asimismo, se aplican estos cuatro algoritmos y se determina cuál de ellos
es el mejor clasificador. La utilización de algoritmos de aprendizaje automático
y técnicas de extracción no es una novedad en el ámbito médico. La resonancia
magnética volumétrica se emplea en la investigación de pacientes con demencia,
demencia vascular y, en los casos más graves, Alzheimer. Según estudios, la
resonancia magnética puede utilizarse para identificar la presencia de estructuras
patológicas llamadas cuerpos de Lewy, que se encuentran en la región estriada
del cerebro. Los resultados finales de la investigación indican que la inclusión

Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


140
de algoritmos adicionales, como técnicas de neuroimagen, puede contribuir a
la detección temprana de demencia, Alzheimer y demencia vascular (SATYA
PRAKASH YADAV; YADAV, 2020).
La extracción de datos se lleva a cabo mediante técnicas de extracción
basadas en texturas. La máquina de vectores de soporte, combinada con algunas
técnicas de ensamblaje de votos, puede emplearse para detectar demencia en
sus primeras etapas. En un primer paso, se capturan las imágenes de resonancia
magnética del cerebro del paciente desde una base de datos y se extraen las
características utilizando SVM. El proceso de diagnóstico de demencia a través
de este método abarca tres fases: selección, extracción y clasificación de carac-
terísticas. Además, en esta investigación, se utiliza la técnica de Morfometría, que
se apoya en el método de Voxel para la extracción de características. Finalmente,
la clasificación se lleva a cabo mediante la técnica SVM (BARBER, 2002). Otro
estudio propone la utilización de otro método de clasificación, el K-Vecino más
cercano (KNN), con fines de clasificación. Según esta investigación, el algoritmo
KNN se considera uno de los más simples y accesibles. En este estudio, se
utiliza la fórmula de distancia de Minkowski para la clasificación. Además del
algoritmo KNN, se emplea el algoritmo de máquina de vectores de soporte y el
método de análisis discriminante lineal en el proceso de clasificación.
La revista se divide en seis secciones: la segunda parte aborda los mate-
riales y métodos para detectar demencia por resonancia magnética, la tercera
sección describe las técnicas de extracción de datos, la cuarta sección se enfoca
en las técnicas de clasificación, la quinta parte analiza los resultados de diversas
combinaciones de técnicas, y la sexta sección determina la combinación más
efectiva para la detección precisa de la demencia.

MATERIALES Y MÉTODOS

Las imágenes de resonancia magnética provienen del conjunto de datos


sobre demencia de Kaggle, con un total de 1002 imágenes. De estas, 501 imáge-
nes corresponden a cerebros de personas afectadas por demencia, y las otras
501 a cerebros de personas sin demencia. Todas las imágenes se dividen en
dos grupos en una proporción de 8:2 para propósitos de entrenamiento y pru-
eba. Del conjunto completo, 801 imágenes de resonancia magnética se utilizan

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141
para el entrenamiento, mientras que 201 imágenes de resonancia magnética se
reservan para las pruebas. Estas imágenes de resonancia magnética se someten
a un proceso adicional que incluye técnicas de preselección, como el cambio
de tamaño, conversión y filtrado. Se proporciona una explicación más detallada
del procesamiento y clasificación de imágenes en la Figura (1).

Figura 1. Diagrama de flujo de detección de demencia mediante resonancia magnética.

Fuente: Elaboración propia.

Técnicas FE

El proceso de extracción de características (FE) implica la creación de


combinaciones lineales utilizando características continuas que poseen un alto
poder discriminativo entre clases. Este FE se utiliza para simplificar sistemas de
aprendizaje automático complejos, representando la variable de entrada original

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142
como una combinación lineal de las variables en el espacio de características.
Además, se emplea para reducir la complejidad del conjunto de datos al com-
binar o eliminar algunas características, lo que facilita el análisis. En términos
generales, la selección de características se centra en identificar un conjunto
potencial de características en la base de datos, excluyendo datos innecesarios
(NIVEDITA MANOHAR MATHKUNTI; RANGASWAMY, 2020). Existen diversas
técnicas de FE, como el análisis de componentes independientes, el análisis
de componentes principales del núcleo, la reducción de dimensionalidad
multifactorial y los mínimos cuadrados parciales, entre otros. En esta revista,
se mencionan dos técnicas de extracción, denominadas el método GLCM y el
método GLRM, las cuales se describirán en detalle más adelante.

GLCM

El método de matriz de co-ocurrencia de nivel de grises aprovecha un


histograma de la imagen para extraer las características clave de la imagen
de resonancia magnética. Esta técnica crea un histograma GLCM cuando dos
valores de escala de grises aparecen simultáneamente en la imagen. El GLCM
evalúa la frecuencia con la que un píxel con una intensidad dada está junto a
otro píxel en la misma dirección y orientación. Para calcular la frecuencia de
estos pares de píxeles con valores específicos y una relación espacial definida,
las funciones GLCM generan una matriz y posteriormente extraen medidas
estadísticas de la misma. Estas medidas incluyen probabilidades estadísticas
de segundo orden relacionadas con los valores de escala de grises en las filas
y columnas de la matriz. El tamaño de la matriz de transición será mayor si el
rango de intensidades es amplio. Este enfoque estadístico se utiliza para crear
la matriz de confusión de cada imagen en la base de datos (KHALID; KHALIL;
SHAMILA NASREEN, 2014). Usando la técnica GLCM, es posible generar alre-
dedor de 28 tipos de descriptores de textura diferentes (SAHAR JAFARPOUR;
SEDGHI; MEHDI CHEHEL AMIRANI, 2012). En esta investigación, se emplean
aproximadamente 19 descriptores de textura de GLCM, que incluyen medidas
como el promedio, la varianza de suma, la homogeneidad, el contraste, la dife-
rencia inversa, la prominencia de conglomerado, la entropía de suma, la medida
de información de correlación, la probabilidad máxima, la suma de cuadrados, el

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143
momento diferente inverso normalizado, la varianza de diferencia, la autocorre-
lación, la energía de disimilitud, la diferencia inversa normalizada, la correlación,
la sombra de conglomerado, la entropía y la entropía de diferencia. A través del
uso eficiente de estas funciones de extracción de texturas de GLCM, se logra
obtener una imagen con las características necesarias.
Las coordenadas (,) de una imagen se sitúan en el centro de la ventana
vecina N (,). La matriz se define en función del número total de píxeles de nivel
de gris en la dirección de la matriz GLCM(p,θ,a,b). Aquí, p representa la distancia
entre el total de ocurrencias en la matriz.

ì f (a1 , b1 ) = x, f (a2 , b2 ) = y )
ï Aqui
ï
í (1)
( a
ï 2 2 , b ) = ( a1 , b1 ) + ( p cos q , p sin q )
ï
î(a1 , b1 ) y (a2 , b2 ) ÎW (ac , bc )
Después de realizar (1), el vector de características del píxel se obtiene
sumando todas las características seleccionadas en todos los marcos ponde-
rados que afectan a ese píxel. El número total de píxeles se define como:

n
f ( p) = å w( p). f x (Ca ) (2)
a =1

En la expresión previa, los valores indican:


fx(.) → Se refiere al componente x del vector de características.
Ca → El píxel en el centro.
wp → El peso aliado al píxel p.
n → Número total de ventanas superpuestas.

GLRM

El GLRM, conocido como Método de Matriz de Longitud de Ejecución


de Nivel de Grises, se desarrolla como una técnica que emplea una imagen
histográfica bidimensional derivada de la imagen original para la extracción
de características. En el contexto del análisis de textura, esta matriz se utiliza

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144
para extraer atributos relacionados con la textura de la imagen. Por ejemplo, la
técnica GLRM es capaz de obtener estadísticas de textura de alto orden. Para
ilustrar esto, la matriz de longitud de ejecución de nivel de grises contiene una
secuencia de píxeles que siguen una dirección específica. El tiempo de ejecución
del método GLRM, bajo condiciones de igual intensidad, se determina según la
cantidad de píxeles presentes en la imagen. Este valor se conoce como la tasa
de duración de la secuencia. La longitud de ejecución se refiere al número de
píxeles en una dirección específica en la que los píxeles adyacentes tienen niveles
de gris similares (XIAO et al., 2017). En este estudio, se aplican aproximadamente
siete variantes de técnicas de Extracción de Características (EF) basadas en el
método GLRM, que incluyen medidas como la falta de uniformidad en la longitud
de la secuencia, el énfasis a corto y largo plazo en niveles de gris, énfasis alto
en niveles de gris, porcentaje de secuencia, y énfasis alto y bajo en niveles de
gris a corto y largo plazo, además de la no uniformidad en niveles de gris y el
énfasis alto y bajo en niveles de gris a largo plazo.

Técnicas de clasificación

Después de obtener las características requeridas de las imágenes de


resonancia magnética, se aplican técnicas de clasificación de aprendizaje auto-
mático a las imágenes seleccionadas que representan casos de demencia y a
las imágenes correspondientes a individuos sin demencia. Se dispone de varias
técnicas para llevar a cabo esta tarea, y en esta investigación, se emplean cuatro
técnicas específicas de clasificación. Estos cuatro algoritmos se describen con
mayor detalle a continuación.

Support Vector Machine (SVM)

El algoritmo de Máquina de Vectores de Soporte (SVM) es ampliamente


reconocido como uno de los métodos de clasificación más populares y eficientes
para abordar los desafíos de categorización en conjuntos de datos masivos en
un tiempo reducido. Este enfoque de aprendizaje automático tradicional es de
gran utilidad en la actualidad y se ha demostrado eficaz en diversas aplicaciones
multidominio en el contexto del big data. El proceso de entrenamiento de un

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145
modelo SVM implica la creación de un modelo que puede predecir la clase a la
que pertenece una nueva muestra, basándose en un conjunto de muestras de
entrenamiento, cada una etiquetada para una de las múltiples clases disponi-
bles. En términos de aprendizaje estadístico, el SVM es especialmente hábil en
la generalización de problemas y facilita la toma de decisiones y predicciones
gracias a la teoría del aprendizaje estadístico. En el ámbito de la categorización
de imágenes, el algoritmo SVM es uno de los enfoques más sencillos de imple-
mentar. Dentro del método SVM, se distinguen dos tipos de clasificación de
imágenes: patrones lineales y patrones no lineales. Los patrones lineales son
aquellos que son fácilmente identificables o que pueden dividirse de manera
sencilla en imágenes de dimensiones reducidas, mientras que los patrones no
lineales son aquellos que no se pueden distinguir con facilidad o no pueden
separarse de manera directa (NUR; MAHANI, 2017). La fórmula empleada para
el modelado SVM se presenta a continuación.

l
1
2 (w )
n R
w + P å xin
n
(3)
i =1

(w ) n R
f ( Ai ) + b n ³ 1 - xin , si yi = n (4)

(w ) n R
f ( Ai ) + b n £ 1 - xin , si yi ¹ n (5)

xin ³ 0, i = 1,......, l (6)

l
(w n ) w n + På xin
R
1
2
(7)
i =1

En la expresión,
Ai - Datos de atributos
ϕ,P - Valor de la penalización
La separación lineal de las imágenes se vuelve desafiante debido a la
dispersión de los datos. Para abordar este problema, SVM utiliza una función
del núcleo, K(An,A), que transforma los datos originales en un nuevo espacio

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146
y los devuelve a la aplicación. Esta técnica de transformación se combina con
el producto escalar ØA, lo que requiere que los datos se proyecten en una
dimensión superior. La expresión matemática del núcleo se presenta de la
siguiente manera.

K ( An , Ai ) = f ( An )f ( Ai ) (8)

Al emplear la ecuación del núcleo que se presenta anteriormente, es


posible deducir la fórmula del hiperplano. La fórmula para el hiperplano se
establece de la siguiente manera:

K ( An , Ai ) = exp(-g  An - Ai 2 + o ) (9)

En la expresión anterior,
O y → Parámetros que se utilizan para la optimización
An → Datos vectoriales de soporte
Por último, la clasificación de las características mediante SVM se efectúa
utilizando la expresión que se detalla a continuación.

M
f ( zi ) = å µm Lm K ( zm , zi ) + b (10)
m =1

En la expresión anterior,
Ln = Datos etiquetados
m = Multiplicador de Lagrange

K-Nearest Neighbor (KNN)

El algoritmo KNN, o “k-vecinos más cercanos,” es nuevamente una téc-


nica de clasificación simple que ha sido utilizada durante mucho tiempo en la
extracción de datos. Sin embargo, una de las principales limitaciones de este
algoritmo es su ineficiencia y falta de precisión cuando se trabaja con conjuntos
de datos grandes. Para abordar este problema, se han desarrollado enfoques de
preparación de datos a lo largo del tiempo, como la reducción de dimensiones
y la imputación de datos faltantes, con el objetivo de mejorar la eficacia del

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147
método KNN. En consecuencia, actualmente se utiliza el enfoque de k-vecino
más cercano no solo para clasificar, sino también para identificar y corregir datos
defectuosos, como la eliminación de ruido y duplicados, así como la imputación
de valores faltantes. Esto permite que el KNN transforme conjuntos de datos
voluminosos en conjuntos de datos más manejables y de alta calidad, lo que a
su vez produce excelentes resultados cuando se combina con otras técnicas de
aprendizaje automático (PRADHAN, 2012). A medida que los conjuntos de datos
se vuelven cada vez más complejos, la eficiencia de los algoritmos avanzados
que hacen uso de estructuras de datos ágiles, como los árboles, es fundamental.
Estas estructuras de árboles pueden variar en complejidad según el conjunto
de datos específico (TRIGUERO et al., 2018). La primera línea de investigación
en la mejora del algoritmo k-vecino más cercano se enfocó en una dirección
específica, utilizando una selección real de dicho método para determinar dicha
dirección. Esto implicaba el uso de diversas funciones de distancia o técnicas
de ponderación, o una combinación de ambas, con el propósito de obtener k
vecinos más cercanos que fueran distintos entre sí. En todos los casos, el objetivo
era encontrar un enfoque que acentuara ciertos atributos mientras minimizaba
la influencia del resto de los atributos en el conjunto de datos disponible (XIA
et al., 2015). Estas K muestras de entrenamiento representan los K vecinos más
cercanos de las colecciones no identificadas. Para cuantificar la similitud entre
estas colecciones, se utilizaron medidas de distancia como la euclidiana. La cate-
gorización mediante KNN asigna la segunda clase más común entre estas
colecciones no identificadas. En el caso en que k sea igual a n, la colección no
identificada se asigna a la categoría de mayor representación en el conjunto de
datos de entrenamiento, el cual crece en tamaño a medida que se incrementa
el número de valores de entrada. Por lo tanto, el valor de K también aumenta
en proporción (ZHANG, 2012).
El algoritmo K-Vecino más cercano se implementa mediante los
siguientes pasos.

n
D= å (a
i =1
n - bn )2 (11)

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148
I. La distancia euclidiana se calcula mediante la expresión proporcionada.

II. Los valores de distancia calculados se ordenan en orden ascendente.

III. Emplea la disposición previa de los valores de distancia para calcular


la distancia a partir del primero.

IV. Seguidamente, estima los k puntos utilizando las k distancias.

V. Encuentra las imágenes que muestran la presencia de demencia.

VI.Evalúa las otras imágenes normales para verificar que no presenten


signos de demencia.

Random Forest (RF)

El algoritmo Random Forest es una técnica de clasificación en el apren-


dizaje automático que aprovecha la utilización de múltiples árboles de decisión
para encontrar la solución óptima. En su esencia, el Bosque Aleatorio representa
una colección o conjunto de Árboles de Clasificación y Regresión (CART) que
han sido entrenados con conjuntos de datos equivalentes a los conjuntos de
entrenamiento. En otras palabras, se trata de una predicción generalizada del
error. Un estudio realizado por Breiman en 1996 evidenció que el error fuera de
la muestra es similar al error en un conjunto de prueba del mismo tamaño que
el conjunto de entrenamiento. Esto conduce a la eliminación de la necesidad
de un conjunto de prueba independiente al utilizar la estimación Out-of-Bag
(OOB). Cada árbol CART comprende diversas clases, y el Bosque Aleatorio
predice cuál de estas clases recibirá la mayoría de votos (“Data Mining Third
Edition”, [s.d.]). En resumen, el algoritmo del Bosque Aleatorio se destaca por
su alta eficiencia en la predicción de tareas. Este fenómeno se origina debido a
que la regresión lineal se basa en la premisa de linealidad. Si bien este supuesto
simplifica la interpretación del modelo, a menudo no es lo suficientemente flexible
como para realizar pronósticos precisos. Las no linealidades inherentes a los
datos se ajustan de manera más efectiva a los Bosques de Decisión Aleatoria,
los cuales tienden a superar a la regresión lineal en términos de rendimiento.
Los algoritmos de aprendizaje automático, como los Bosques Aleatorios, son
especialmente eficaces en el manejo de conjuntos de datos extensos (ALESSIA

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149
SARICA; CERASA; QUATTRONE, 2017). Además, no todos los valores predictivos
se emplean simultáneamente. Cada árbol es construido a partir de una mues-
tra extraída del conjunto de datos original en un proceso de construcción del
bosque, y aproximadamente un tercio de las instancias originales se excluyen.
Estos datos restantes se conocen como el conjunto de instancias OOB (YUYAN,
2020). Mediante el uso de la estimación del error OOB, cada árbol en el bosque
posee su propio conjunto de datos OOB.
La expresión para el error de generalización es la siguiente.

GE* = P x, y(mg ( A, B)) < 0 (12)

La función de margen evalúa en qué grado el número promedio de


votos de las clases correctas (x, y) supera el voto promedio de cualquier otra
clase. El valor esperado de la función de margen se emplea para medir la robus-
tez del Bosque Aleatorio.

S = E A, B (mg ( A, B)) (13)

Si ρ representa el valor promedio de la distancia entre los árboles, entonces


el valor máximo del error de generalización se calcula como:

GE* £ p(1 - s 2) / s 2 (14)

Para aumentar la precisión de este algoritmo, es fundamental que los


árboles de decisión del algoritmo sean precisos y variados, lo que conduce a
una mejora en los resultados.

Método Propuesto

El enfoque propuesto inicia con el uso del clasificador KNN y luego transita
al clasificador SVM. El proceso implica emplear la clasificación KNN en muestras
que comparten la misma clase que los primeros 30 vecinos. Posteriormente, se
someten muestras con diferentes primeros 30 vecinos al clasificador SVM. Cada
observación se entrena en el clasificador SVM con sus primeros 30 vecinos en

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150
la vecindad del conjunto de entrenamiento total para el clasificador SVM. Las
SVM utilizan núcleos precalculados para mejorar y acelerar la categorización.
Sin embargo, los clasificadores SVM entrenados de esta manera solo se basan
en los primeros 30 vecinos, que representan una cantidad limitada. Además, las
etiquetas de clase de los primeros 30 vecinos pueden ser aleatorias. Aumentar el
número de muestras de entrenamiento en la SVM mejora significativamente el
rendimiento del enfoque discriminativo de clasificación del vecino más cercano.
Para el entrenamiento de la SVM, se utilizan los primeros 30 vecinos de cada
categoría en lugar de los primeros 30 vecinos de todo el conjunto de entrena-
miento. Este enfoque demuestra consistentemente resultados sobresalientes.

RESULTADOS

Primero, se adquieren imágenes del cerebro normal y del cerebro afec-


tado por demencia de la base de datos Kaggle, con un conjunto total de 1002
imágenes. Luego, se dividen las imágenes totales en una proporción de 8:2,
lo que significa que 801 imágenes se utilizan para entrenar combinaciones de
técnicas de extracción y modelos clasificadores, mientras que las 201 imágenes
restantes se emplean para probar esta misma combinación.
Luego de que todas las imágenes han pasado por el proceso de Extracción
de Características (FE) y clasificación, es esencial comparar la eficacia de todas
las combinaciones para determinar cuál es la mejor. Esta comparación se lleva
a cabo utilizando una matriz de confusión, y se evalúan diversas métricas de
rendimiento, incluyendo precisión, TNR (Tasa de Verdaderos Negativos), TPR
(Tasa de Verdaderos Positivos), FNR (Tasa de Falsos Negativos), FPR (Tasa de
Falsos Positivos) y precisión. Cada uno de estos parámetros se explica detal-
ladamente a continuación.
Verdadero positivo o TP: Ocurre cuando el modelo detecta correctamente
la presencia de demencia en una imagen y la clasifica como positiva, lo que
coincide con la realidad en la que la imagen efectivamente contiene demencia.
Verdadero negativo o TN: Ocurre cuando el modelo detecta correctamente
la ausencia de demencia en una imagen y la clasifica como negativa, lo que
coincide con la realidad en la que la imagen no contiene demencia.

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Falso positivo o FP: Ocurre cuando el modelo indica incorrectamente
que hay demencia presente en una imagen que, en realidad, no la contiene, y
muestra el resultado como positivo.
Falso negativo o FN: Ocurre cuando el modelo indica incorrectamente
que no hay demencia presente en una imagen que, en realidad, sí la contiene,
y muestra el resultado como negativo.
Accuracy: Se refiere a la proporción de predicciones correctas relacio-
nadas con la demencia en comparación con el total de predicciones (correctas
e incorrectas) realizadas por el modelo.

TP + TN
Accuracy = *100 (15)
TP + TN + FP + FN

Tasa de verdaderos positivos: Hace referencia a la proporción de predic-


ciones precisas de casos de demencia en comparación con el total de casos
de demencia correctos y predicciones incorrectas de casos saludables, gene-
ralmente expresada en la fórmula.

TP
TPR = *100 (16)
FN * TP

Tasa de verdaderos negativos: Se refiere a la proporción de predicciones


precisas de casos normales en comparación con el total de casos normales
correctos y predicciones incorrectas de casos de demencia realizadas por el
modelo. Hay una fórmula para expresar esta métrica.

TP
TNR = *100 (17)
FN + TP

Tasa de falsos positivos: Se refiere a la proporción de diagnósticos


incorrectos de demencia en comparación con la suma de diagnósticos cor-
rectos de salud y diagnósticos incorrectos de demencia. Esto se expresa de la
siguiente manera:

TN
FPR = *100 (18)
TN + FP

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152
Tasa de falsos negativos: Se refiere a la proporción de diagnósticos
incorrectos de salud en comparación con la suma de diagnósticos correctos
de demencia y diagnósticos incorrectos de salud realizados por el modelo de
aprendizaje automático. Esto se puede expresar como:

FN
FNR = *100 (19)
FN + TP

Precisión: Se refiere a la proporción de pronósticos de demencia correctos


en relación con el total de pronósticos de demencia correctos e incorrectos en
general. La fórmula para calcular la precisión del modelo es:

TP
Precision = *100 (20)
FP + TP

DISCUSION

La Tabla 1 presenta un análisis de las métricas de rendimiento de la matriz


de confusión para los algoritmos de clasificación, como SVM, KNN, RF, y la
combinación de SVM y KNN. Se compara el rendimiento de estos algoritmos
utilizando dos técnicas de extracción diferentes: la matriz de co-ocurrencia en
nivel de grises y el método GLRM.

Tabla 1. Evaluación de Imágenes de Demencia mediante Extracción de Características GLCM con


Diversos Modelos de Aprendizaje Automático.
Clasificador Accuracy TNR TPR FNR FPR Precision
SVM 91.044 87.979 94.634 5.376 12.048 87.021
KNN 87.578 84.275 91.482 8.781 15.689 8.291
RF 89.069 87.041 91.475 8.723 12.987 85.981
SVM + KNN 92.541 88.692 96.698 3.341 11.213 88.351
Fuente: Elaboracion propia.

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Tabla 2. Evaluación de Imágenes de Demencia Utilizando Extracción de Características GLRM y
Diversos Modelos de Aprendizaje Automático.
Clasificador Accuracy TNR TPR FNR FPR Precision
SVM 90.037 91.112 89.171 10.842 8.798 92.531
KNN 88.569 88.887 88.268 11.741 11.131 90.721
RF 89.568 87.677 90.984 9.018 12.431 90.161
SVM + KNN 93.501 92.121 94.573 5.412 7.780 93.80
Fuente: Elaboracion propia.

La comparación de los resultados en las Tablas 1 y 2 sugiere que el método


de matriz de longitud de ejecución de nivel de grises (GLRM) es más eficiente
en la detección de imágenes con demencia. En particular, la máxima precisión
del 93% se alcanza con la combinación del algoritmo SVM + KNN en GLRM.
Por otro lado, el algoritmo KNN obtiene la precisión más baja. Estas estadísti-
cas se ilustran visualmente en las Figuras 2 y 3 a través de gráficos de barras.

Figura 2. Análisis gráfico de imágenes con identificación de demencia utilizando GLCM FE con los
distintos modelos ML.

Comparación de algoritmos utilizando datos de extracción de


características GLCM

100
90
80
70
SVM
60
KNN
50
40 RF
30 SVM + KNN
20
10
0
Accuracy TNR TPR FNR FPR Precision
Fuente: Elaboracion propia.

En la Tabla 1 y la Figura 2, se observa que la combinación de los algoritmos


SVM y KNN arroja los mejores resultados en casi todas las métricas de rendi-
miento. Esta combinación alcanza una precisión máxima del 92,5%. El algoritmo
SVM se ubica en segundo lugar en eficiencia, con un porcentaje de precisión
del 91%. En tercer lugar en términos de eficiencia para GLCM se encuentra
el algoritmo RF, con una precisión del 89,06%. El algoritmo KNN es el menos

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154
eficiente con una precisión del 87,5%. Tanto la exactitud como la precisión de
esta combinación son considerablemente mejores que las de los demás algo-
ritmos de clasificación.

Figura 3. Análisis Grafico de Imágenes con Detección de Demencia Empleando Extracción de


Características mediante GLRM y Múltiples Modelos de Aprendizaje Automático.

Comparación de algoritmos utilizando datos de extracción de


características GLRM

100
90
80
70
SVM
60
KNN
50
40 RF
30 SVM + KNN
20
10
0
Accuracy TNR TPR FNR FPR Precision
Fuente: Elaboracion propia.

De acuerdo con la Tabla 2 y la Figura (3), se observa que, nuevamente,


la combinación de los algoritmos SVM y KNN destaca como la opción más
efectiva para detectar la demencia. Este algoritmo alcanza una tasa de preci-
sión del 93,5% y una precisión del 93,80%. El segundo algoritmo más eficaz
resulta ser SVM, con un nivel de precisión de alrededor del 90,04%. Después
de SVM, el algoritmo RF se destaca como el siguiente en eficiencia, obteniendo
una precisión del 89,56%. Por último, el algoritmo KNN se considera el menos
eficaz en la detección de la demencia, con una tasa de precisión del 88% y un
rango de precisión entre el 90,7%.

CONCLUSION

A pesar de que la demencia no conduce directamente a la muerte, es


una afección crónica que puede perturbar significativamente la vida de las
personas. A medida que los niveles de estrés aumentan, existe una creciente
probabilidad de que más personas desarrollen demencia en las próximas décadas.
Como dice la sabiduría popular, es más prudente prevenir que curar. En lugar

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155
de buscar tratamientos o remedios para la demencia, resulta más sencillo
realizar evaluaciones regulares de la función cerebral para detectar posibles
daños internos o síntomas tempranos. En este estudio, se recopilaron alrededor
de 1002 imágenes de una base de datos Kaggle para utilizarlas en la fase de
entrenamiento y prueba. Estas imágenes representan cerebros afectados por
demencia y cerebros normales. Luego, se aplicaron dos técnicas de extracción,
GLCM y GLRM, para obtener las características más relevantes de estas imá-
genes. Posteriormente, estas características se sometieron a la clasificación
mediante el empleo de cuatro algoritmos de aprendizaje automático: SVM,
KNN, RF y una combinación de SVM y KNN. Los resultados de todas estas
técnicas se sometieron a un análisis exhaustivo, incluyendo el uso de matrices
de confusión y métricas como TPR, TNR, FPR, FNR, exactitud y precisión, con
el fin de identificar la combinación más efectiva entre las técnicas de extracción
y los algoritmos de clasificación. Al concluir, se pudo determinar que la combi-
nación de GLRM con la técnica SVM+KNN arrojó los mejores resultados en la
detección de imágenes de demencia y normales, con una tasa de precisión del
93,5%. La segunda combinación más precisa fue la de SVM y KNN empleando
la técnica de extracción GLCM. Esta investigación demuestra cómo se puede
identificar la mejor combinación de técnicas de extracción y algoritmos de
clasificación para el diagnóstico de la demencia.

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ISBN 978-65-5360-480-3 - Vol. 2 - Ano 2023 - www.editoracientifica.com.br


157
11

MARCADORES LABORATORIAIS PARA


DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DE
ÚLCERAS EM PÉ DIABÉTICO: UMA
REVISÃO DA LITERATURA

Jullian Torres Braz da Silva


Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Dhamacynho César de Lima Peres


Secretaria de Estado de Saúde do Acre (SESACRE)

' 10.37885/231014713
RESUMO

Objetivo: O presente trabalho objetivou realizar um levantamento de mar-


cadores laboratoriais para diagnóstico e prognóstico de ulcerações em pé
diabético. Isso porque estas complicações representam impactos individuais
e para a saúde pública relevantes. Entretanto, seu diagnóstico e prognóstico
são difíceis. Métodos: Foi realizada revisão da literatura na base de dados
Pubmed/MEDLINE. A busca bibliográfica foi realizada com restrição de período
de publicação dos estudos para os últimos dez anos, sendo identificados resul-
tados até 08 de outubro de 2023. Foram consideradas publicações nos idiomas
português, inglês e espanhol. Empregaram-se como palavras-chave “Diabetic
Foot”, “Diabetic Foot/blood” e “Diabetic Foot/diagnosis”. Resultados: A busca
que resultou em cinquenta e dois artigos, dos quais treze foram incluídos no
trabalho. Observou-se uma diversidade de marcadores laboratoriais, dentre
eles alguns indicadores clássicos de inflamação, como PCR, VHS e contagem
de leucócitos foram apontados. Embora alguns estudos demonstrem fraca
correlação com os desfechos da doença, são opções simples e baratas. Mais
recentemente, novas opções são levantadas, como os níveis séricos de pro-
calcitonina, cujos resultados indicam forte correlação com o diagnóstico de
infecções em pé diabético e prognóstico de amputações. Conclusão: Diversos
exames laboratoriais poderão ser empregados com o objetivo supracitado e a
combinação deles permitirá à equipe de saúde realizar um acompanhamento
mais eficaz das feridas.

Palavras-chave: Diabetes Mellitus, Pé Diabético, Técnicas de Laboratório


Clínico, Diagnóstico, Prognóstico.

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159
INTRODUÇÃO

O diabetes mellitus (DM) é uma doença crônica caracterizada por um


conjunto de sinais e sintomas resultantes do desbalanceamento do metabo-
lismo de carboidratos, gorduras e proteínas, sendo multifatorial e causado por
diferentes mecanismos a depender do tipo de DM. Observa-se elevação da
glicemia e redução na utilização de glicose pelas células dos indivíduos diabé-
ticos, além de aumento no consumo de lipídios e proteínas (GUYTON; HALL,
2002 apud LADEIA et al., 2020).
De maneira geral, a doença é ocasionada por ausência de secreção de
insulina (DM tipo 1 ou insulino-dependente), ou por redução da sensibilidade
dos tecidos ao hormônio insulina (DM tipo 2 ou não insulino-dependente)
(GUYTON; HALL, 2002 apud LADEIA et al., 2020).
No Brasil, a prevalência de DM é estimada em 4,4%, de acordo com dados
de 2017. Deste total, 4,0% apresentam DM tipo 1, cuja prevalência se manteve
estável desde 1990. Já a prevalência de DM tipo 2 apresentou aumento de 30%
entre os homens e 26% entre as mulheres, no mesmo período. As projeções
para 2040 indicam que os números apresentados devem mais do que dobrar,
tornando o DM a terceira causa de morte no país (DUNCAN et al., 2020).
As complicações da doença apresentam papel importante no impacto
causado pela doença em termos individuais e nos gastos do sistema de saúde.
Dentre elas, podemos citar a insuficiência renal, a retinopatia diabética e a
neuropatia diabética. Esta última, juntamente das complicações vasculares em
membros inferiores, representa a principal causa de amputação não traumática
(CASTRO et al., 2021).
O pé diabético se destaca como uma complicação da síndrome, sendo
caracterizada por alterações nos membros inferiores em indivíduos com DM des-
compensada. Há a formação de úlceras de diferentes causas, como neuropatia,
complicações vasculares e infecções. Ressalta-se que a neuropatia diabética
gera insensibilidade e deformações, atingindo metade dos acometidos por
DM. A condição é relevante por representar 85% das amputações de membros
inferiores no sistema de saúde público, onerando o mesmo (SALOMÉ; BLA-
NES; FERREIRA, 2011). Estima-se que 15 a 25% dos pacientes com diabetes

Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


160
apresentam ao menos uma úlcera de pé diabético durante sua vida (SAEED;
AHMAD; DRYDEN, 2013).
O problema mais comum no pé diabético é uma ulceração, que está
mais frequentemente relacionada com as consequências da neuropatia peri-
férica prolongada, muitas vezes associada à doença arterial. Embora todas as
feridas nos pés exijam tratamento, aquelas que estão infectadas apresentam
maior risco, incluindo amputação de membros inferiores e morte relacionada
à infecção, necessitando de tratamento mais urgente. Elas também reque-
rem terapia antimicrobiana. Assim, o diagnóstico da infecção é fundamental
para o tratamento adequado das feridas nos pés diabéticos (GLAUDEMANS;
UÇKAY; LIPSKY, 2015).
Embora fundamental, realizar o diagnóstico e estabelecer o prognóstico
de uma ulceração em pé diabético é muito difícil. Em primeiro lugar porque todas
as feridas abertas são colonizadas por microrganismos, tornando resultados
de culturas não conclusivos para auxiliar em casos de infecção. Em segundo
lugar, a presença de neuropatia periférica e doença vascular pode diminuir ou
mimetizar achados inflamatórios, tanto nos tecidos moles quanto nos ossos
subjacentes (GLAUDEMANS; UÇKAY; LIPSKY, 2015). Desta forma, o estabele-
cimento de padrões para diagnóstico e estabelecimento de prognóstico para
a complicação é de grande valia.
Diante do exposto, o presente trabalho objetivou realizar um levantamento
de marcadores laboratoriais para diagnóstico e prognóstico de ulcerações em
pé diabético, através de uma revisão da literatura.

MÉTODOS

Foi realizada revisão exploratória da literatura, empregando a base de


dados PubMed/MEDLINE, a fim de identificar estudos que propusessem e/
ou sintetizassem marcadores laboratoriais empregáveis no diagnóstico e/ou
prognóstico de ulcerações em pé diabético.
A busca bibliográfica foi realizada com restrição de período de publicação
dos estudos para os últimos dez anos, sendo identificados resultados até 08 de
outubro de 2023. Foram consideradas publicações nos idiomas português, inglês
e espanhol. Empregaram-se como palavras-chave “Diabetic Foot”, “Diabetic

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161
Foot/blood” e “Diabetic Foot/diagnosis”, resultando na seguinte estratégia
de busca: ((“Diabetic Foot”[Mesh]) AND (“Diabetic Foot/blood”[Mesh]) AND
(“Diabetic Foot/diagnosis”[Mesh]).
A busca na base de dados foi realizada por um revisor, utilizando a
estratégia previamente definida, que selecionou os estudos para inclusão na
revisão. Após a realização da busca nas bases de dados e seleção inicial dos
artigos com base na leitura de título e abstract, foram selecionados estudos para
leitura na íntegra. Desses estudos, aqueles que estão de acordo com o objetivo
da pesquisa foram selecionados e incluídos nesta revisão.

RESULTADOS

A pesquisa na base de dados MEDLINE resultou em 52 (cinquenta e dois)


artigos, dos quais, após leitura na íntegra, foram selecionados 13 (treze) estudos
para inclusão na presente revisão. A tabela 1 sumariza os estudos incluídos na
revisão e aponta os exames laboratoriais descritos pelos autores dos trabalhos.

Tabela 1. Artigos selecionados para inclusão na revisão e exames laboratoriais empregados no


diagnóstico e prognóstico de úlceras em pé diabético descritos pelos respectivos autores.
Autor Revista Exame laboratorial
The International Journal of Lower Extremity
Arican et al., 2020 RDW e RNL
Wounds
Wang et al., 2020 BMC Endocrine Disorders ANGPTL2
Gunes et al., 2019 Journal of Wound Care Galectina-3
Meloni et al., 2019 Journal of Diabetes Research Procalcitonina
Diabetes & Metabolic Syndrome: Clinical Re-
Zubair & Ahmad, 2019 Catepsina D e adiponectina
search & Reviews
Korkmaz et al., 2018 Journal of Diabetes Research IL-6 e fibrinogênio
Umapathy et al., 2018 Journal of Vascular Surgery Procalcitonina
Kulwas et al., 2017 Advances in Medical Sciences t-PA e PAI-1
Metineren & Dülgeroğlu, The International Journal of Lower Extremity
RNL e PCR
2017 Wounds
The International Journal of Lower Extremity Contagem de leucócitos,
Ong et al., 2017
Wounds PCR, VHS e RNL
Reiner et al., 2017 The Journal of Foot & Ankle Surgery Procalcitonina
Ai et al., 2016 Wound Repair and Regeneration Cistatina C

Ikura et al., 2015 Atherosclerosis HDL

ANGPTL2: proteína 2 relacionada à angiopoietina, do inglês Angiopoietin-like 2; HDL: lipoproteína de alta densi-
dade, do inglês high density lipoprotein; PAI-1: Inibidor do ativador de plasminogênio tipo 1, do inglês plasminogen

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162
activator inhibitor type 1; PCR: proteína C reativa; RDW: amplitude de distribuição eritrocitária, do inglês Red
Blood Cell Distribution Width; RNL: razão neutrófilo-linfócito; t-PA: ativador de plasminogênio tecidual, do inglês
tissue plasminogen activator.
Fonte: Elaborado pelos autores.

DISCUSSÃO

Diante dos resultados apresentados, a fim de facilitar a compreensão, os


estudos serão agrupadas para discussão de acordo com os exames laboratoriais
que propuseram avaliar.

Marcadores inflamatórios clássicos: contagem de leucócitos, VHS, PCR,


RNL e RDW

A contagem de leucócitos, velocidade de hemossedimentação (VHS),


proteína C reativa (PCR), relação neutrófilo/linfócito (RNL) e Amplitude de Distri-
buição dos Glóbulos Vermelhos (RDW) são marcadores inflamatórios clássicos,
empregados em diversas condições infecciosas e inflamatórias para diagnóstico
e acompanhamento, uma vez que apresentam-se alterados nas mesmas.
Arican e colaboradores (2020) observaram que pacientes com RNL <
4,3 apresentam bom prognóstico de suas úlceras de pé diabético, tendendo à
recuperação completa. Por outro lado, pacientes com RNL > 6,3 apresentam
prognóstico ruim, podendo apresentar amputações mais severas. Ademais,
pacientes com RDW > 13,4 apresentaram significativamente maior tendência
a amputações mais graves (p<0,05). Os resultados indicam que o RDW e RNL
são exames baratos e fáceis para auxiliar no diagnóstico e acompanhamento
das úlceras do pé diabético.
Metineren & Dülgeroğlu (2017), por outro lado, descreveram que RNL
não é um bom marcador inflamatório e de prognóstico para amputações de
pé diabético, contrastando com o observado por Arican e colaboradores, em
2020. Já a elevação de proteína C reativa se destacou como bom preditor de
mortalidade pós amputação. A PCR e a idade avançada (>73 anos) foram con-
siderados fatores prognósticos confiáveis ​​em pacientes com úlceras em pé
diabético (p=0,039 e p<0,001, respectivamente).
Ainda em 2017, Ong e seus colaboradores apresentaram resultados de
um estudo demonstrando que a contagem de leucócitos, PCR, VHS e RNL são

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marcadores importantes no diagnóstico de pés diabéticos infectados. Eles
indicam que se o paciente apresenta um ou mais marcadores inflamatórios ele-
vados na admissão hospitalar e os seus níveis se normalizam após o tratamento
antibiótico, provavelmente há resolução da infecção. Entretanto, eles deixam
claro que a persistência de alguns marcadores elevados não necessariamente
indica infecção persistente, devendo ser avaliado caso a caso.

Procalcitonina

Na amostra analisada, a procalcitonina sérica se apresentou como exame


laboratorial mais citado nos artigos selecionados. A macromolécula é um peptí-
deo precursor do hormônio calcitonina, normalmente indetectável ou observado
em baixas concentrações (< 0,05 ng/mL) em indivíduos saudáveis. Entretanto,
em caso de infecções, diversos tecidos, como rim, pulmão e fígado, secretam o
precursor, elevando sua concentração sérica (LELI et al., 2015).
Em estudo de 2019, Meloni e colaboradores (2019) indicaram a procalcito-
nina como marcador do prognóstico de desfechos hospitalares em pacientes com
infecções em pé diabético. A elevação de procalcitonina na admissão hospitalar
se apresentou como preditor independente de amputações mais severas [OR 3,3
(IC95%: 2,0-5,3), p=0,0001] e mortalidade [OR 4,1 (IC95%: 2,2-8,3), p<0,0001].
Umapathy e seus colaboradores (2018) avaliaram o papel da procalcito-
nina no prognóstico de infecções em pé diabético. A molécula apresentou alta
sensibilidade e especificidade, frente a marcadores como PCR, contagem de
leucócitos e VHS. Observou-se sensibilidade de 54% e especificidade de 100%
para a procalcitonina, com valor preditivo positivo de 100% e valor preditivo
negativo de 12% para diagnóstico de úlceras infectadas.
Reiner et al. (2017) observaram que a procalcitonina é bom indicador do
prognóstico para pacientes com pé diabético que necessitam de amputação.
Níveis elevados de procalcitonina apresentaram-se mais elevados em pacientes
que necessitam de amputação acima ou abaixo do joelho versus pacientes que
não sofreram remoção do membro (p<0,001). Esse resultado corrobora com o
apresentado por Meloni et al. (2019).

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164
Proteína 2 relacionada à angiopoietina (ANGPTL2)

A proteína 2 relacionada à angiopoietina (ANGPTL2) sérica apresenta-se


significativamente aumentada em inúmeras doenças inflamatórias crônicas e
está associada ao diagnóstico e/ou prognóstico de doenças cardiovasculares
como diabetes, doença renal crônica e vários tipos de câncer (WANG et al.,
2020). Ela é produzida e excretada por diferentes órgãos e tecidos e sua sinali-
zação exacerbada resulta em inflamação crônica, gerando resistência à insulina
e inflamação do tecido adiposo (KADOMATSU et al., 2014).
Wang e colaboradores (2020) indicaram a proteína 2 relacionada à angio-
poietina (ANGPTL2) como potencial biomarcador de úlceras em pé diabético.
Sugerem o uso de ANGTPL2 no diagnóstico das úlceras, uma vez que obser-
varam diferença significativa nos níveis circulantes da proteína entre pacientes
com DM tipo 2 controlada e pacientes com pé diabético (p<0,0001). Além disso,
a macromolécula pode ser indicativa do prognóstico, uma vez que o aumento
da mesma esteve associado a estágios mais avançados das úlceras (p<0,0004).

Galectina-3

A galectina-3 é um biomarcador que modifica não só a estrutura dos vasos


cardíacos, mas também a estrutura das artérias periféricas, podendo impactar no
progresso da cicatrização de uma úlcera (GUNES et al., 2019). É produzida por
células inflamatórias e possui papel na fibrose e diferenciação celular (DUMIC;
DABELIC; FLÖGEL, 2006; PAPASPYRIDONOS et al., 2008).
Gunes et al. (2019) indicaram galectina-3 como possível biomarcador
do prognóstico de úlceras em pé diabético, uma vez que esta molécula está
aumentada em pacientes com úlceras, frente a pacientes controle sadios e
pacientes com DM tipo 2 sem ulcerações (p<0,001), elevando VEGF, estimulador
de angiogênese, processo inadequado na recuperação da úlceras em estudo.

Catepsina D e adiponectina

A catepsina D tem sido relacionada à resistência à insulina e às doenças


cardiovasculares. Apresenta papel importante na homeostase e metabolismo

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de tecidos, sendo uma endopeptidase de relevância nos lisossomos. O meca-
nismo associado à diabetes e resistência à insulina ainda não é claro (LIU
et al., 2017). A adiponectina, por sua vez, é uma proteína secretada por tecido
adiposo, sendo relacionada ao correto funcionamento do metabolismo lipídico
e de glicose. Sua redução é associada a condições como diabetes, obesidade
e doenças cardiovasculares (OH; CIARALDI; HENRY, 2006).
Zubair e Ahmad (2019) realizaram uma metanálise a fim de avaliar o
papel de diversos marcadores no prognóstico de úlceras no pé diabético. Ape-
nas catepsina D e adiponectina apresentaram correlação significativa com os
graus de ulceração. Hemoglobina glicosilada (HbA1c), perfil lipídico, creatinina,
HSP70, HSP47 e 25-OH vitamina D também foram avaliados e não apresentaram
correlação com a taxa de recuperação das feridas.

IL-6 e fibrinogênio

A interleucina-6 possui papel fundamental na inflamação. Essa citocina


pró-inflamatória é secretada nos estágios iniciais de uma infecção e induz a
síntese de PCR e fibrinogênio durante o curso da infecção. Por isso, sugere-se
que IL-6 deve se elevar antes de PCR na infecção bacteriana, auxiliando em
um diagnóstico precoce (BUCK et al., 1994).
Korkmaz e seus colaboradores (2018), por sua vez, avaliaram o papel de
procalcitonina, IL-6 e fibrinogênio no diagnóstico diferencial de pés diabéticos
com úlceras infectadas. Observou-se que procalcitonina não apresentou resul-
tados satisfatórios, enquanto que IL-6 e fibrinogênio se mostraram potenciais
marcadores com seus níveis elevados em pacientes com úlceras infectadas
versus úlceras não infectadas (p<0,001 para ambos).

Ativador de plasminogênio tecidual (t-PA) e Inibidor do ativador de


plasminogênio tipo 1 (PAI-1)

A fibrinólise é um mecanismo natural compensatório importante na


manutenção da homeostase do sistema de coagulação. As moléculas t-PA e
PAI-1 são as mais importantes do sistema fibrinolítico. Desta forma, seus níveis

Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


166
indicam a atividade fibrinolítica do sangue. Possuem papel importante em desor-
dens hematológicas e sugere-se um papel na diabetes (ELIASSON et al., 2003).
Kulwas et al. (2017) estudaram o papel de t-PA e PAI-1 na síndrome do pé
diabético. Observaram que t-PA tende a ser maior em pacientes com pé diabé-
tico versus pacientes com DM sem a síndrome (p=0,0009). Já PAI-1 é menor em
pacientes com a síndrome do pé diabético e hipertensão concomitante versus
pacientes com a síndrome sem hipertensão (p=0,022).

Cistatina C

A cistatina C é uma molécula utilizada para determinar a taxa de filtração


glomerular, uma vez que é livremente filtrada nos glomérulos renais. Possui
associação ao diagnóstico de eventos cardiovasculares e neuropatia diabética
(AI et al., 2016; HU et al., 2014).
Ai e colaboradores (2016) avaliaram o papel da cistatina C nos desfechos
de pacientes com úlceras em pé diabético. Eles concluíram que há uma associa-
ção forte e independente entre cistatina C sérica e prognóstico de ulceração do
pé diabético, de forma que cistatina C > 1,35 mg/L prevê um risco aumentado
em mais de seis vezes de ulceração incurável nos pés.

Lipoproteína de alta densidade (HDL)

O HDL possui efeitos pleiotrópicos, apresentando atividade antioxidante


e anti-inflamatória, além de promover o efluxo de colesterol das células (TABET;
RYE, 2008). A lipoproteína apresenta papel importante na supressão de doen-
ças agudas, como sepse e infecções, além de possuir papel imunomodulador
(IKURA et al., 2015).
Ikura et al. (2015), por sua vez, avaliaram o papel do HDL como preditor da
incidência de amputações em membros inferiores e mortalidade associada ao
pé diabético. Níveis reduzidos de HDL apresentaram associação significativa a
amputações menos e mais severas (p=0,007 e 0,005, respectivamente) e morte
associada à ferida (p=0,006).

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Outros exames laboratoriais

Alguns estudos, ainda, sugerem o uso de outros marcadores para diag-


nóstico diferencial de feridas em pé diabético e feridas humanas comuns. Este é
o caso do estudo de Chen et al. (2020), que indica que RNAs circulares (cirRNA),
especialmente hsa_circ_0000907 e hsa_circ_0057362, podem ser empregados
no diagnóstico precoce da condição.
Embora os resultados sejam promissores, a utilização de RNA circulante
na rotina hospitalar e ambulatorial ainda é uma realidade um pouco distante
para o diagnóstico e prognóstico de úlceras em pé diabético.

CONCLUSÃO

A ulceração em pé diabético é uma condição comum que afeta uma


importante parcela de pacientes com DM. Seu diagnóstico é difícil e o prog-
nóstico também não é facilitado.
A presente revisão demonstrou que diversos marcadores laboratoriais
estão disponíveis para auxiliar neste processo. Dentre eles destacam-se mar-
cadores laboratoriais clássicos disponíveis nos mais simples laboratórios, como
VHS, PCR e contagem de leucócitos. Embora alguns estudos demonstrem
menor correlação com os desfechos da doença, são opções simples e baratas.
Mais recentemente, alguns estudos sugerem o uso de novos marcadores,
em especial a procalcitonina, cujos resultados demonstram forte correlação com
o diagnóstico de pé diabético infectado e com o prognóstico de amputações
resultantes de úlceras em pé diabético.
Os resultados apresentados para marcadores não clássicos ainda são
incipientes e necessitam de aprofundamento, porém os exames apontados,
quando disponíveis e utilizados em conjunto pela equipe de saúde, poderão
auxiliar no tratamento das ulcerações, otimizando os resultados obtidos.

Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


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Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


170
12

PADRÃO DO SONO DOS PRATICANTES


RECREACIONAIS DE JIU-JITSU

Catriny Menezes de Souza Almeida


Universidade Federal do Acre (UFAC)

Ramon Oliveira Ferreira


Universidade Federal do Acre (UFAC)

João Carlos Rodrigues Carvalho


Universidade Federal do Acre (UFAC)

Fabiano Santana de Oliveira


Universidade Federal do Acre (UFAC)

Ana Clara Ferreira Asbeque


Universidade Federal do Acre (UFAC)

Maura Bianca Barbary de Deus


Universidade Federal do Acre (UFAC)

Danielle Ferreira do Nascimento Linard


Universidade Federal do Acre (UFAC)

Francisco Naildo Cardoso Leitão


Universidade Federal do Acre (UFAC)

Mauro José de Deus Morais


Universidade Federal do Acre (UFAC)

Carlos Roberto Teixeira Ferreira


Universidade Federal do Acre (UFAC)

' 10.37885/231014767
RESUMO

Objetivo: Descrever o padrão do sono dos praticantes de Jiu-Jitsu da cidade


de Rio Branco - AC. Métodos: Trata-se de um estudo de corte transversal,
descritivo e de amostragem não probabilística. A coleta dos dados ocorreu no
mês de abril de 2023, com 70 participantes não atletas do sexo masculino e
feminino. Inicialmente, os participantes preencheram o questionário dos dados
demográficos. Registraram o sexo, escolaridade, estado civil, situação conjugal,
tempo de prática, frequência de treino, consumo de bebida alcoólica, fumante e
uso de inflamatório. Para avaliar o padrão do sono, utilizou-se o Questionário de
Sono de Karolinska adaptado para fins deste estudo. Os dados foram analisados
utilizando o software estatístico JAMOVI 2.3.2 do banco de dados das variáveis
coletadas inseridas no Microsoft Excel® 365. As variáveis categóricas foram
analisadas por meio da frequência absoluta e relativa. Resultados: De acordo
com os dados, 72,8% dos entrevistados sentiram-se exaustos ao acordar, 51,4%
tiveram dificuldades para dormir, 67,2% tiveram dificuldades para acordar,
32,8% acordaram diversas vezes durante a noite, 31,5% roncaram alto, 42,8%
tiveram sono curto, 21,5% tiveram pesadelos e 50% acordaram antes da hora
de levantar-se. Conclusão: A maior parte dos praticantes de Brazilian Jiu-Jitsu
apresentam o padrão do sono insatisfatório, sendo a característica mais evi-
denciada pelos participantes o de “sentir exausto ao acorda” (72,8%) foi o mais
recorrente na pesquisa.

Palavras-chave: Padrão do Sono, Praticantes Recreacionais, Jiu-Jitsu.

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172
INTRODUÇÃO

O sono é uma parte essencial do funcionamento e da sobrevivência


humana. A persistência de um sono de má qualidade tem efeitos negativos
cumulativos de longo prazo no sistema imunológico humano, aumentando a
suscetibilidade a infecções e está associada a uma série de efeitos adversos à
saúde (Bevilacqua et al., 2019).
Os efeitos da privação de sono ou da falta de sono adequado (menos de
7 horas nas 24 horas anteriores) são perceptíveis na comunidade de atletas de
luta. Isso fica evidente ao observarmos os atletas que enfrentam desafios devido
a perda de sono . Entretanto, é importante ressaltar que a privação de sono por
pelo menos 24 horas não parece afetar as capacidades de desempenho físico,
como força muscular, resposta cardiovascular ou respiratória. Embora seja
possível superar os efeitos adversos da falta de sono em um esforço isolado de
um dia, manter um desempenho máximo em exercícios repetidos e contínuos,
ao longo de vários dias consecutivos, pode não ser viável (Peacock et al., 2018).
Estudos sobre privação de sono mostram uma relação significativa entre
sono insatisfatório e redução da função cognitiva, humor atividade física. Todos
esses parâmetros são fatores importantes na capacidade dos atletas treinarem
constantemente e melhorarem o desempenho atlético (Michelle Bigginsa, 2018).
O desempenho atlético é resultado de uma série de variáveis, entre elas,
o sono, responsável por permitir que o corpo descanse e recupere as habili-
dades físicas e cognitivas (Bevilacqua et al., 2019). O sono desempenha papel
significativo na recuperação e no desempenho atlético. Estudos realizados com
atletas indicam que esta população enfrenta uma diminuição na qualidade do
sono ao longo do tempo dos treinamentos (Litwic-Kaminska e Kotysko, 2020).
Sabe-se que tanto a qualidade positiva quanto a negativa do sono em
atletas podem afetar o desempenho atlético. A literatura sugere que a modificação
de alguns fatores relacionados ao sono, como duração do sono, temperatura e
luz ambiente, pode promover uma melhor qualidade do sono e, assim, melhorar
o desempenho atlético. Porém, um sono ruim pode levar à má qualidade do
sono, afetando aspectos como força, potência, concentração e concentração,
que são determinantes do bom desempenho atlético, principalmente do Jiu-Jitsu,
do qual depende o sucesso (Vieira et al., 2021).

ISBN 978-65-5360-480-3 - Vol. 2 - Ano 2023 - www.editoracientifica.com.br


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Recomenda-se que os atletas durmam mais do que adultos saudáveis ​​da
mesma idade, normalmente de 9 a 10 horas por noite, mas muitas vezes dormem
muito menos do que o recomendado. A melhoria do sono em atletas pode ser
alcançada através da identificação e promoção de estratégias simples, práticas
e não farmacológicas de higiene do sono agudo que possam ser facilmente
autoadministradas antes de dormir (Jacopo A. Vitale, 2019).
Nessa perspectiva, o sono é considerado o melhor procedimento de
recuperação para os atletas após o treino, pois durante o sono os músculos
ficam relaxados e podem regenerar os músculos de forma eficaz. Assim, é par-
ticularmente importante avaliar os parâmetros do sono, uma vez que os atletas
muitas vezes recebem uma duração de sono insuficiente e de pior qualidade
do que a população em geral (Wąsacz et al., 2022).
Portanto, o presente estudo teve por objetivo descrever o padrão do sono
dos praticantes de Jiu-Jitsu da cidade de Rio Branco - AC.

MÉTODOS

Realizou-se um estudo de corte transversal, descritivo e de amostragem


não probabilística. A pesquisa foi conduzida na academia da Brazilian Jiu-Jitsu
da cidade de Rio Branco. A coleta dos dados ocorreu no mês de abril de 2023,
com 70 participantes não atletas do sexo masculino e feminino. Após a expli-
cação sobre o objetivo da pesquisa e os procedimentos para o preenchimento
do instrumento, os participantes assinaram o consentimento informado.

Critério de inclusão e exclusão

Como critérios de inclusão, todos os praticantes avaliados deveriam estar


treinando regularmente, competir ativamente em eventos esportivos e estar ins-
critos em federações esportivas. Foram excluídos os atletas que se lesionaram
durante a avaliação do sono e aqueles que recusaram a participar da pesquisa.

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174
Instrumentos

Inicialmente, os participantes preencheram o questionário dos dados


demográficos. Os participantes registraram sexo, escolaridade, estado civil,
situação conjugal, tempo de prática, frequência de treino, consumo de bebida
alcoólica, fumante e uso de inflamatório.
Para avaliar o padrão do sono, utilizou-se o Questionário de Sono de
Karolinska e adaptado para fins deste estudo, onde foram extraída 9 questões
para a finalidade do estudo: dificuldade para dormir, para acordar, acorda diver-
sas vezes e tem dificuldade para retornar ao sono, ronco alto, sonos curtos/
fragmentados, pesadelos, acordar antes da hora de levantar, possui distúrbios
de sono, tem a sensação de estar exausto ao acordar. As questões foram dico-
tomizadas em “sim” e “não”. Neste questionário, o participante marcava com
uma cruz o que entendia como melhor no momento.

Análise estatística

Os dados foram analisados utilizando o software estatístico JAMOVI 2.3.2 do


banco de dados das variáveis coletadas inseridas no Microsoft Excel® 365. As variá-
veis categóricas foram analisadas por meio da frequência absoluta e relativa.

RESULTADOS

Os resultados referentes às características sociodemográficas dos pra-


ticantes de Jiu-Jitsu estão descritos na TABELA 1.
Ao se observar a distribuição por sexo, evidenciou-se a predominância
do sexo masculino, abrangendo 74,3% da totalidade dos participantes. O sexo
feminino, em contrapartida, corresponde a 25,7% da amostra. Em relação à faixa
etária, 30% dos participantes têm entre 30 e 35 anos e a escolaridade apre-
senta um elevado nível educacional, visto que 55,7% dos indivíduos concluíram
o ensino superior. No que se refere ao estado civil, 52,9% dos participantes
declararam-se casados.
No contexto profissional, 74,3% dos participantes encontram-se empre-
gados no momento da coleta de dados. Também podemos observar que 88,6%

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praticam a modalidade há mais de seis meses, e 54,3% treinam uma frequência
superior a três vezes por semana. Neste estudo, 50% dos praticantes admitem
o consumo de bebida alcoólica e os que não fumam foi de 97,1%. Além disso,
71,4% afirmaram não fazer uso de medicamentos inflamatórios.

Tabela 1. Características sociodemográficas do estudo (n=70).


Características N %
Sexo
Masculino 52 74,3
Feminino 18 25,7
Idade (anos)
30 - 35 21 30
Escolaridade
Superior completo 39 55,7
Estado civil
Casado(as) 37 52,9
Situação profissional
Trabalha 52 74,3
Tempo de prática
> 6 meses 62 88,6
Frequência de treino
> de 3 vezes por semana 38 54,3
Consumo de bebida alcoólica
Sim 35 50
Fumante
Não 68 97,1
Uso de inflamatório
Não 50 71,4
Fonte: Próprio autor

Na TABELA 2 apresenta os resultados sobre as caraterísticas do padrão


do sono dos participantes da pesquisa. De acordo com os dados, 72,8% dos
entrevistados sentiram-se exaustos ao acordar, 51,4% tiveram dificuldades para
dormir, 67,2% tiveram dificuldades para acordar, 32,8% acordaram diversas
vezes durante a noite, 31,5% roncaram alto, 42,8% tiveram sono curto, 21,5%
tiveram pesadelos e 50% acordaram antes da hora de levantar-se.

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176
Tabela 2. Características do padrão do sono dos participantes (n=70).
Características Sim Não
Sente exausto ao acordar (n=61) - 72,8% (n=10) - 27.2%
Dificuldades para dormir (n=36) - 51,4% (n=34) - 48.6%
Dificuldades para acordar (n=47) - 67,2% (n=23) - 32.8%
Acorda diversas vezes (n=23) - 32,8% (n=47) - 67.2%
Ronca alto (n=22) - 31,5% (n=48) - 68.5%
Tem sono curto (n=30) - 42,8% (n=40) - 57.2%
Tem pesadelo (n=15) - 21,5% (n=55) - 78.5%
Acorda antes da hora de levantar-se (n=35) - 50% (n=35) - 50%
Tem distúrbios do sono (n=24) - 34,3% (n=44) - 65.7%
Fonte: Próprio autor.

Na TABELA 3 encontramos dados referentes a problemas no sono


de praticantes que possuem uma frequência de treino semanal superior a 3
vezes por semana.
A análise dos dados mostra que, entre as pessoas que treinam 3 vezes
por semana, 37,5% se sentem exaustos ao acordar, 37,5% têm dificuldades para
dormir, 62,5% têm dificuldades para acordar, 21,8% acordam diversas vezes,
28,1% roncam alto, 40,6% têm sono curto, 25% têm pesadelos e 46,8% acordam
antes da hora de levantar-se. Entre as pessoas que treinam mais de 3 vezes por
semana, 73,6% se sentem exaustos ao acordar, 57,8% têm dificuldades para
dormir, 68,4% têm dificuldades para acordar, 42,1% acordam diversas vezes,
34,2% roncam alto, 50% têm sono curto, 18,4% têm pesadelos e 52,6% acordam
antes da hora de levantar-se.

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Tabela 3. Comparativo de frequência semanal de treino dos participantes (n=70).
Frequência semanal de treino
Características 3 vezes > 3 vezes
(n= 32) (n=38)
Sente exausto ao acordar (n=12) - 37,5% (n=28) - 73,6%
Dificuldades para dormir (n=12) - 37,5% (n=22) - 57,8%
Dificuldades para acordar (n=20) - 62,5% (n=26) - 68,4%
Acorda diversas vezes (n=07) - 21,8% (n=16) - 42,1%
Ronca alto (n=09) - 28,1% (n=13) - 34,2%
Tem sono curto (n=13) - 40,6% (n=19) - 50%
Tem pesadelo (n=08) - 25% (n=07) - 18,4%
Acorda antes da hora de levantar-se (n=15) - 46,8% (n=20) - 52.6%
Tem distúrbios do sono (n=09) - 28,1% (n=15) - 39,4%
Fonte: Próprio autor

DISCUSSÃO

Este estudo buscou descrever o padrão de sono de um grupo de partici-


pantes da modalidade Jiu-Jitsu. Os resultados evidenciam que uma parcela dos
entrevistados apresenta distúrbios relacionados ao sono. Destacam-se os altos
percentuais de indivíduos que se sentiram exaustos ao acordar (72,8%), aqueles
que tiveram dificuldades para acordar (67,2%) e os que acordaram antes do
horário previsto (50%). Além disso, mais da metade dos participantes relatou
dificuldades para dormir (51,4%), enquanto uma proporção considerável tam-
bém acordou diversas vezes durante a noite (32,8%), roncou de forma intensa
(31,5%) e teve uma duração curta de sono (42,8%). A presença de pesadelos
foi reportada por 21,5% dos indivíduos.
O sono restaurador é essencial para o sucesso da recuperação e do
desempenho dos atletas. No entanto, alguns atletas enfrentam desafios para
obter a quantidade e a qualidade de sono de que precisam. Estudo observacional
exploratório de acompanhamento de 1 ano foi realizado com atletas. A pesquisa
consistiu em uma avaliação do sono baseada em questionário, seguida de acon-
selhamento geral do sono e, quando necessário, polissonografia e um plano de
tratamento individual. Os resultados mostraram que 25% dos atletas apresen-
tavam problemas significativos para dormir. Todos os atletas consideraram o
sono essencial para a sua saúde e 75% consideraram que o aconselhamento
melhoraria o seu desempenho (Tuomilehto, 2017).

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178
Similarmente, foi investigado o padrão de sono de atletas de alto desem-
penho, onde foi observado o comportamento do sono de 124 atletas de elite,
englobando tanto esportes individuais quanto coletivos. Destes, 104 eram
homens e 20 mulheres, representando um total de nove modalidades esportivas
diferentes. Os resultados apontaram que, em média, os atletas dormiam por
volta das 23:00h e acordavam às 07:15h, totalizando uma média de 6,8 horas
de sono por noite. Observou-se que aqueles envolvidos em esportes individuais
tendem a ter um horário de sono mais precoce, indo dormir e acordando mais
cedo, mas também dormiam menos, com uma média de 6,5 horas, quando
comparados aos atletas de esportes coletivos, que dormiam cerca de 7,0 horas
(Lastella et al., 2015).
Outro estudo buscou em dados observacionais sobre variáveis do sono
em atletas profissionais de Mixed Martial Arts (MMA) e sua relação com o
desempenho físico. Foram monitoradas medidas de desempenho do sono,
como latência do sono, eficiência do sono e início e variações de vigília, em oito
atletas de MMA durante um campo de treinamento de seis semanas. Houve
correlações significativas entre a latência do sono e vários aspectos do desem-
penho físico, como VO2 máximo, recuperação da frequência cardíaca e sessões
de treino perdidas. Atletas de MMA que mantiveram uma consistência no sono
demonstraram relações mais fortes com o desempenho durante o período de
treinamento. Os achados mostraram a importância do sono adequado para
atletas profissionais de MMA, com implicações para o desempenho esportivo
e prevenção de lesões (Peacock et al., 2018).
Nesta mesma perspectiva, outro estudo envolveu a coleta de dados de 70
atletas com classificação nacional em sete esportes distintos de luta. Os atletas
utilizaram dispositivos de monitoramento de atividade no pulso e registraram
informações em diários sobre seus padrões de sono e treinamento ao longo de
duas semanas durante seus períodos normais de treinamento. Em média, os
atletas passaram 08h18±01h12 na cama, adormeceram às 23h06±01h12, acor-
daram às 6h48±01h30 e obtiveram 06h30±01h24 de sono por noite. Notavel-
mente, houve diferenças significativas nos padrões de sono e vigília dos atletas
entre os dias de treinamento e os dias de repouso. Além disso, foi observado
um efeito significativo da duração do sono nos níveis de fadiga pré-treino (p ≤
0,01) (Sargent et al., 2014).

ISBN 978-65-5360-480-3 - Vol. 2 - Ano 2023 - www.editoracientifica.com.br


179
Além disso, atletas de esportes de contato que tiveram concussões apre-
sentaram mais sintomas relacionados ao padrão do sono e menor qualidade de
sono em comparação a um grupo de atletas sem concussões anteriores, ambos
os grupos sendo semelhantes em idade, sexo, formação acadêmica e idade de
início nos esportes. Adicionalmente, aqueles que dormiram pouco na véspera
de uma concussão relataram distúrbio do sono mais intensos e numerosos após
o trauma (Nedelec et al., 2018)
Finalmente, períodos de sono mais curtos tem associação a níveis mais
elevados de fadiga pré-treino. esses resultados indicam que a quantidade de
sono que um atleta de elite consegue obter está diretamente relacionada ao
horário de seus treinamentos. Especialmente, a prática de iniciar os treinos
muito cedo está associada a uma redução na duração do sono e a níveis mais
altos de fadiga pré-treino (Cook e Charest, 2023).

LIMITAÇÕES

As principais limitações deste estudo é a utilização de questionário para


avaliar indiretamente os padrões do sono, o que pode levar a interpretação
de medidas subestimadas ou superestimadas dos praticantes do Jiu-Jitsu e a
amostragem por conveniência.

CONCLUSÃO

Concluiu-se que a maioria dos praticantes de Brazilian Jiu-Jitsu apresen-


tam o padrão do sono insatisfatório, sendo a característica mais evidenciada
pelos participantes o de “sentir exausto ao acorda” (72,8%) foi o mais recor-
rente na pesquisa.
Por fim, recomenda-se instruções sobre a higiene de sono passem a fazer
parte do hábito de treinamentos destes praticantes e destaca-se a necessidade
de mais estudos, com maior número de academias, visando confirmar os resul-
tados do presente estudo.

Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


180
IMPLICAÇÕES PRÁTICAS

– Todos os atletas, independentemente da modalidade, podem melho-


rar seu desempenho com a educação do sono.

– Os atletas devem aprender estratégias de higiene do sono para dormir


melhor antes de dos treino e competições importantes.

– Alcançar um sono adequado é considerado importante para o desem-


penho atlético e a recuperação do exercício.

Agradecimentos

Os autores gostariam de agradecer a todos as praticantes do Jiu-jitsu


envolvidos no estudo. Os autores também gostariam de expressar sua gratidão
a equipe designada no auxílio da coleta dos dados.

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ISSN 1661-7827.

Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


182
13

RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE
COMO MÉTODO DE ENFRENTAMENTO
POR PACIENTES SUBMETIDOS À
CIRURGIA CARDÍACA: REVISÃO DE
LITERATURA

Renato Vargas Fernandes


Universidade de Passo Fundo (UPF)

Maristela Silveira Rodrigues


Universidade de Passo Fundo (UPF)

Larissa Kochenborger
Universidade de Passo Fundo (UPF)

' 10.37885/231014716
RESUMO

Objetivo: O estudo teve como objetivo desvelar os aspectos religiosos e espirituais


de pacientes submetidos à cirurgia cardíaca. Método: Metodologicamente, o
estudo desenvolvido foi caracterizado como uma revisão integrativa da literatura,
com análise temática, com base na Plataforma da Biblioteca Virtual de Saúde
(BVS-SALUD), sendo selecionados seis artigos científicos que conduziram a
presente revisão após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão. Resulta-
dos: Os achados resultaram na construção de duas categorias: sentimentos
vivenciados por pacientes e familiares durante o processo de cirurgia cardíaca,
e o uso da religiosidade e espiritualidade como método de enfrentamento no
processo de cirurgia cardíaca. Conclusão: Observou-se os principais senti-
mentos vivenciados por pacientes e familiares durante o processo de cirurgia
cardíaca, destacando-se o medo, angústia e incertezas quanto ao desfecho
do procedimento cirúrgico, bem como o uso de estratégias de enfrentamento
perante este processo, como a religiosidade e espiritualidade, culminam em
maiores chances de desfecho positivo no processo de recuperação. Ainda, o
estudo mostra a necessidade de realizar novas pesquisas sobre a temática,
com vista a implementação do acolhimento religioso e espiritual no cuidado
aos pacientes de cirurgia cardíaca.

Palavras-chave: Cirurgia Torácica, Enfermagem, Espiritualidade.

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184
INTRODUÇÃO

Desde a década de 60, as doenças cardiovasculares aparecem como


sendo uma das principais causas de morte no mundo. Cerca de 70% das mortes
globais, número este que equivale em média a 38 milhões de óbitos ao ano,
são decorrentes das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). Destas,
45% dos óbitos, somando cerca de 17 milhões, têm como causa as Doenças
Cardiovasculares (DCV). No Brasil, cerca de 72% dos óbitos sucedem-se de
DCNT, sendo 30% relacionados às DCV. Dentre as principais DCV, destacam-
-se a Insuficiência Cardíaca, as cardiopatias e as doenças vasculares (Amorim;
Salimena, 2015; Malta et al., 2020; De Oliveira et al., 2020).
Ainda a nível nacional, as doenças cardiovasculares acometem cerca
de um terço dos indivíduos entre 35 a 64 anos. Identifica-se como fatores de
risco para tal acometimento os hábitos de vida inadequados, como o seden-
tarismo, tabagismo e a alta ingesta de dieta com elevados níveis de gorduras
saturadas. Em consequência destes fatores de risco, para as principais com-
plicações das doenças cardiovasculares, destacam-se o acometimento das
artérias coronárias, vasos que irrigam o músculo cardíaco. Deste modo, para
tal acometimento, a Cirurgia de Revascularização do Miocárdio (CRM), surge
como principal tratamento clínico-cirúrgico (Amorim; Salimena, 2015; Campo-
nogara et al., 2012).
Em relação à cirurgia cardíaca, essa abrange especificamente o órgão
compreendido como o “mais nobre” do corpo humano, ligado diretamente à
manutenção da vida (BEZERRA et al., 2018). Composta pelos pilares da correção,
reconstrução e substituição, a cirurgia cardíaca tem como intuito o tratamento
clínico-cirúrgico de afecções cardiovasculares. Com isso, muitas emoções
podem ser vivenciadas por estes pacientes, tendo destaque o medo acerca das
etapas do procedimento cirúrgico, medo da morte e as incertezas quanto ao
seu prognóstico; estes repercutem de forma direta em suas funções fisiológicas
e psicossociais (Amorim; Salimena, 2015; Melo et al., 2018).
Evidencia-se nos últimos anos o aumento no número de cirurgias cardía-
cas realizadas no Brasil, tendo o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) e a Insufi-
ciência Cardíaca (IC), como principais causas. Com o objetivo de proporcionar
uma recuperação plena dos pacientes acometidos por estas enfermidades, as

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185
cirurgias cardíacas surgem com o intuito de melhorar a qualidade de vida e
possibilitar total recuperação (Cordeiro et al., 2016).
Referente aos procedimentos cirúrgicos cardiovasculares, destacam-se
três tipos. São eles: Substitutivos, os quais envolvem as trocas valvares e trans-
plantes cardíacos; corretoras, como o fechamento do canal arterial, defeitos
de septos, sendo estes atrial ou ventricular; e reconstrutoras, sendo as mais
comuns, a CRM e as plastias de valvas. Com o aperfeiçoamento das técnicas
cirúrgicas, bem como da implementação de novas tecnologias, as intervenções
cirúrgicas são consideradas de alta complexidade e atualmente apresentam-se
como alternativas reparadoras, seguras e eficientes (Amorim; Salimena, 2015).
Durante o processo de cirurgia cardíaca, o período pré-operatório é
compreendido como o primeiro contato do paciente e familiares com as equi-
pes de saúde. Em relação a esse período, Gomes et al. (2015), definem este o
momento de maior vulnerabilidade emocional do indivíduo, bem como aflora a
incerteza quanto ao desfecho deste processo (Gomes et al., 2015). Deste modo,
a abordagem pautada na integralidade do indivíduo torna-se imprescindível
neste primeiro momento, valorizando e indagando os aspectos de fé e crença,
os quais exercem papel fundamental no significado do processo saúde-doença
(Rocha et al., 2020).
Bem como os pacientes, os familiares também vivenciam alguns sen-
timentos durante este período, como ansiedade e angústia decorrente da
preocupação que envolve tal situação. Entende-se que, por se tratar de um
período de grande apreensão e estresse, o período pré-operatório demanda da
equipe ações também com estes familiares. É de suma importância conhecer
os sentimentos e as demandas da família, principalmente no período em que
se encontram na sala de espera (Camargo et al., 2018).
Em seu estudo, Cordeiro et al. (2016), trazem a porcentagem de pacientes
no pré-operatório de cirurgia cardíaca e as categorias de intervenções quanto
ao procedimento cirúrgico, sendo destes 55,8% homens, 44,2% mulheres, tendo
a CRM como principal intervenção cirúrgica, 73,1%, seguido pela cirurgia valvar
com 23,1% (Cordeiro et al., 2016). Ainda no que tange dados acerca dos pacien-
tes submetidos à cirurgia cardíaca, Bezerra et al. (2018) revelam em seu estudo
que 56,6% são do sexo masculino, com idade superior aos 60 anos. Quanto ao

Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


186
aspecto religioso, 52,2% dos participantes do estudo eram católicos e 47,8%
eram evangélicos (Bezerra et al., 2018).
Em virtude dos sentimentos vividos durante esse processo, o tema
acerca da religiosidade e espiritualidade vem despertando interesse nos últimos
anos. Em relação a espiritualidade, esta compreende aspectos intrínsecos do
indivíduo, como o desenvolvimento e crescimento espiritual. Por outro lado,
entende-se a religiosidade como o vínculo que o indivíduo tem com certa reli-
gião, divindade ou Deus, sendo este expressa coletivamente ou individualmente.
Ambos os temas são coeficientes de um crescimento espiritual, bem como de
sua divindade ou transcendência espiritual (Bezerra et al., 2018; Camargo et al.,
2018; Gomes et al., 2015; Ramos et al., 2021; Rocha et al., 2020; Perse et al., 2021).
Compreendido como um grande momento de estresse e apreensão, as
cirurgias em geral proporcionam a possibilidade de cura da doença, ou o fracasso
da mesma, trazendo à tona sentimentos como angústia, medo e ansiedade.
Neste sentido, destaca-se a estratégia de se utilizar da religiosidade e espiri-
tualidade como método de enfrentamento perante tal situação (Bezerra et al.,
2018). Em seu estudo, Amorim e Salimena (2015) conceituam essa estratégia
como Coping, quando o indivíduo faz uso de estratégias de enfrentamento
frente ao adoecimento (Amorim; Salimena, 2015).
Na busca por significados e propósitos acerca das situações vividas,
principalmente no que tange às enfermidades, o uso da religiosidade como
estratégia de enfrentamento tende ao auto fortalecimento dos indivíduos, bem
como contribui na busca de uma resolutividade positiva ou aceitação do problema
enfrentado. Neste sentido, observa-se a relevância de incluir a religiosidade
como alicerce de rede social, pois contribui positivamente para o enfrentamento
do processo de adoecimento, concedendo atenção integral à família (Bezerra
et al., 2018; Camargo et al., 2011; Salgado et al., 2011).
Do mesmo modo, torna-se de suma importância compreender o pro-
cesso de espiritualidade e sua continuidade do bem-estar no enfrentamento
dos indivíduos envolvidos no processo do adoecer, bem como compreender
suas relações e sua busca de significado para aquele momento de vida. Ainda,
evidencia-se que o fator espiritualidade tem grande importância no que tange
a vivência da experiência cirúrgica, no qual estes pacientes compartilham com

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Deus os medos e angústias vivenciados por eles. A base para estes está na
esperança e na fé para um bom desfecho (Bezerra et al., 2018).
Com base nessa compreensão por parte dos profissionais de saúde
perante o tema, a inserção do cuidado voltado para a dimensão religiosa e
espiritual exige um olhar humanizado e integral. É necessária uma capacitação
para realizarem o cuidado, porém, esta prática ainda é um desafio, pois se trata
das crenças de cada indivíduo (Rocha et al., 2020). Assim, compreende-se a
importância do papel do profissional enfermeiro nas etapas que permeiam o
processo cirúrgico, compreendido nos períodos pré, intra e pós-operatório,
executando ações pautadas em protocolos e na assistência de forma holística
e de qualidade (Melo et al., 2018).
No que confere à enfermagem, entende-se que esta tem um papel
relevante no cuidado de forma íntegra de pacientes submetidos à cirurgia
cardíaca. A enfermagem busca compreender os aspectos psicossociais, bem
como os espirituais em sua íntegra, observando a singularidade do ser humano
(Rocha et al., 2020). Este cuidado permeia-se nos mais diversos períodos do
processo de cirurgia cardiovascular, e para isso, a enfermagem fundamenta-se
na Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE). A SAE proporciona ao
paciente um cuidado baseado em evidências, bem como norteia o profissional
para atender as demandas destes em suas individualidades durante o período
perioperatório (Amorim; Salimena, 2015).
Do ponto de vista assistencial e social, este estudo justifica-se na neces-
sidade do conhecimento com mais propriedade da relação entre os sentimentos
vividos pelos pacientes submetidos ao processo de cirurgia cardíaca e seus
familiares; os métodos de enfrentamentos utilizados perante o adoecimento e
recuperação deste processo; métodos esses compreendidos através da reli-
giosidade e espiritualidade. Pessoalmente, a opção de pesquisar sobre esse
tema surgiu através da perspectiva de explorar mais sobre essa temática, pois
nota-se a importância das equipes valorizarem estes aspectos no atendimento
aos pacientes e familiares, os quais trazem fortemente a religião e a espiritua-
lidade durante todos os períodos da cirurgia cardíaca.
Deste modo, a questão de pesquisa buscou responder: De que modo os
aspectos religiosos e espirituais de pacientes submetidos à cirurgia cardíaca
influenciam na recuperação e enfrentamento deste processo? Neste contexto,

Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


188
este estudo teve como objetivo desvelar os aspectos religiosos e espirituais de
pacientes submetidos à cirurgia cardíaca.

MÉTODOS

Com a finalidade de atender o objetivo deste estudo, foi realizada uma


revisão integrativa de literatura, com análise temática (Mendes; Silveira; Galvão,
2008; Minayo, 2007). Esta abordagem é interessante nos estudos organizacio-
nais, pois possibilita a atualização de temas relevantes da área da saúde, que
necessitam de esclarecimento, e fortalecimento do conhecimento científico
acerca dele (Mendes; Silveira; Galvão, 2008).
O processo de revisão integrativa é composto por seis etapas. São elas:
Primeira etapa: identificação do tema e seleção da hipótese ou questão de
pesquisa para a elaboração da revisão integrativa, sendo esta “De que modo
os aspectos religiosos e espirituais de pacientes submetidos à cirurgia cardíaca
influenciam na recuperação e enfrentamento deste processo? ”
Já na segunda etapa, ocorreu o estabelecimento de critérios para inclusão
e exclusão de estudos. Quanto aos critérios de inclusão, foram definidos: artigos
de pesquisa manuscritos e publicados online com textos completos, gratuitos, em
suporte eletrônico, idiomas em português e em inglês, com recorte temporal dos
últimos dez anos (2010-2020). A definição por este recorte temporal se deu com
o objetivo de obter os estudos mais recentes e relevantes para a revisão. Já os
critérios de exclusão foram: artigos repetidos e que não tenham relação com a
temática, artigos de revisão de literatura, teses, dissertações, capítulos de livros,
relatórios ministeriais, anais de congressos e/ou conferências.
A terceira etapa constituiu-se na definição das informações a serem
extraídas dos estudos selecionados. Já na quarta etapa, ocorreu avaliação dos
estudos incluídos na revisão integrativa. Contemplando a etapa anterior, na
quinta etapa decorreu-se a interpretação dos resultados. Por fim, a sexta etapa
teve por objetivo a apresentação da revisão/síntese do conhecimento. A revisão
integrativa visa sistematizar o conhecimento científico, o que possibilita embasar
a prática a partir das evidências científicas (Mendes; Silveira; Galvão, 2008).
A busca bibliográfica ocorreu em junho e agosto de 2021, por meio
das bases de dados através da Plataforma da Biblioteca Virtual de Saúde

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(BVS-SALUD) com acesso às bases de dados Literatura Latino-americana e
do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados da Enfermagem
(BDENF) e Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE),
por meio da utilização conjunta dos Descritores em Ciências da Saúde-DeCS
(“Cirurgia Torácica” OR “Thoracic Surgery” OR “Cirugía Torácica”) AND (Espi-
ritualidade OR Spirituality OR Espiritualidad) AND (Enfermagem OR Nur-
sing OR Enfermería). Com isso, emergiram sete artigos, que após a aplicação
dos critérios de inclusão e exclusão, restaram seis artigos, os quais compõem
esta revisão de literatura.

RESULTADOS

Dos seis artigos que compõem esta revisão de literatura, três são de
abordagem qualitativa, e três de abordagem quantitativa, sendo todos estudos
brasileiros. Quanto ao ano de publicação dos estudos, foram publicados dois
artigos em 2020, seguido de um único artigo nos anos de 2018, 2017, 2015 e
2012, respectivamente. Destaca-se que dos seis artigos selecionados, quatro
foram publicados em revistas de enfermagem.
Deste modo, o quadro 01 traz as informações dos estudos que compõem
essa pesquisa, bem como a identificação do artigo, referência, objetivos pro-
postos e os principais resultados.

Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


190
Tabela 1. Classificação dos artigos analisados. Passo Fundo - RS, 2021.
Artigo Referência do artigo Objetivo(s) Principais Resultados
RABELO, Ana Cleide Conhecer a contribuição Concluiu-se que, ao utilizar a teoria de Wat-
Silva; SOUZA, Fabíola da teoria de Watson para son no cuidado ao ser com cardiopatia no
Vládia Feire Silva; SIL- o cuidado de enfermagem pós-operatório, foi possível compreender a
VA, Lúcia De Fátima. dirigido ao ser com car- importância do cuidado transpessoal para
Contribuição do cuidado diopatia no pós-operató- expansão dos cuidados da enfermeira.
transpessoal ao ser-car- rio de cirurgia cardíaca.
A1
diopata no pós-operató-
rio de cirurgia cardíaca.
Rev Gaúcha Enferm.
38(4):e64743. 2017. http://
dx.doi.org/10.1590/1983-
1447.2017.04.64743.
CAMPONOGARA, Silvia- Conhecer qual a percep- Os dados apontam que a cirurgia cardíaca
mar; et al. PERCEPÇÃO ção dos pacientes em remete os sujeitos ao confronto com di-
DE PACIENTES SOBRE período pré-operatório versos sentimentos, sobressaindo o medo
O PERÍODO PRÉ-OPE- de cirurgia cardiovascu- da morte. A falta de conhecimentos sobre
RATÓRIO DE CIRURGIA lar sobre seu processo o procedimento e o processo de recupe-
CARDÍACA. remE – Rev. saúde-doença, bem como ração são aspectos que podem dificultar
A2
Min. Enferm.;16(3): 382- sobre o procedimento ci- a adesão dos pacientes no processo de
390, jul./set., 2012. rúrgico. reabilitação. Dessa forma, as orientações
de enfermagem, no período pré-opera-
tório, são fundamentais para se buscar a
corresponsabilização dos pacientes pelo
processo de autocuidado.
GOMES, Eduardo Tava- Analisar as relações en- Os discursos versavam sobre as relações
res; ESPINHA, Daniele tre a crença em Deus e a entre Deus, adoecimento e cirurgia cardí-
Corcioli Mendes; BEZER- religiosidade no período aca e o enfrentamento da doença e do trâ-
RA, Simone Maria Muniz pré-operatório de cirurgia mite cirúrgico. A mazela não foi relacionada
da Silva. Religiosidade e cardíaca. veementemente ao castigo divino, mas o
crença em Deus no pré- conhecimento da progressão da doença
A3
-operatório de cirurgia cardíaca relacionada a hábitos de vida mo-
cardíaca: estudo explo- dificáveis revelou-se ligado a sentimentos
ratório. Online Brazilian de culpa. A crença em Deus repercutiu
Journal of Nursing, vol. positivamente no encontro com um novo
14, núm. 3, pp. 273-283. sentido para o trâmite cirúrgico.
2015.
GOMES, Eduardo Tava- Avaliar a religiosidade e As crises existenciais vivenciadas pelos pa-
res; BEZERRA, Simone o bem-estar espiritual de cientes diante da cirurgia cardíaca, envol-
Maria Muniz da Silva. pacientes internados no vendo as restrições, mudanças impostas e
Religiosidade, bem-es- período pré-operatório o desconhecido, impactam na manutenção
tar espiritual e cuidado de cirurgia cardíaca, na do bem-estar, na sua dimensão espiritual,
A4 transpessoal no pré-ope- perspectiva do Cuidado que é, em uma análise transpessoal, uma
ratório de cirurgia cardí- Transpessoal de Jean dimensão da saúde integral do indivíduo.
aca. Revista Cuidarte; Watson.
11(2): e1020. 2020. http://
dx.doi.org/10.15649/cui-
darte.1020.

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191
Artigo Referência do artigo Objetivo(s) Principais Resultados
ROCHA, Leonardo Gotu- Conhecer e compreender O medo e angústia são sentimentos fre-
zzo; SOUZA, Alvenize de a forma como a fé e espi- quentes entre pacientes submetidos a in-
Quadros de; ARRIEIRA, ritualidade se manifestam tervenções cirúrgicas. A fé e espiritualidade
Isabel Cristina de Olivei- na vivência de pacientes são recursos importantes de refúgio para
ra. Fé e espiritualidade que realizaram uma inter- amenizar esses sentimentos. Apesar disso,
no cotidiano de pacien- venção cirúrgica. o cuidado espiritual é uma dimensão pou-
tes pré-operatórios inter- co explorada pelos profissionais de saúde.
A5
nados na clínica cirúrgi- O amparo espiritual é recebido principal-
ca. J. nurs. health. 10(2): mente por amigos e familiares. Sugere-se a
e20102003. 2020. inclusão do acolhimento espiritual no plano
de cuidados para ampliar a qualidade do
cuidado e o vínculo dos pacientes com os
profissionais, visto que, compõe o cuidado
em saúde.
BEZERRA, Simone Ma- Caracterizar as relações Verificou-se que os pacientes mantinham
ria Muniz da Silva, et al. entre o bem-estar espi- relevantes escores de esperança e bem-
Bem-estar espiritual e ritual e a esperança dos -estar em todos os domínios, sendo que
esperança no pré-opera- pacientes em pré-opera- o bem-estar existencial foi significativa-
tório de cirurgia cardíaca: tório de cirurgia cardíaca. mente menor que o bem-estar religioso. A
spiritual well-being and média do escore de bem-estar espiritual
hope in the preoperative ficou abaixo do corte para ser considera-
A6
period of cardiac surgery. da elevada. Não houve correlação signi-
Revista Brasileira de En- ficativa entre bem-estar e esperança. Os
fermagem: REBEn, [S.L.], enfermeiros devem desenvolver um olhar
v. 71, n. 2, p. 398-405, abr. atento para essas questões, ser treinados
2018. em protocolos específicos de anamnese
espiritual e aproveitar os momentos reais
de cuidado para fortalecer os pacientes.

DISCUSSÃO

A partir da análise dos dados emergiram duas categorias, sendo a primeira


categoria referente aos “Sentimentos vivenciados por pacientes e familiares
durante o processo de cirurgia cardíaca”. Já a segunda categoria intitula-se
“O uso da religiosidade e espiritualidade como método de enfrentamento no
processo de cirurgia cardíaca”.
Primeira categoria: Sentimentos vivenciados por pacientes e familiares
durante o processo de cirurgia cardíaca.
O processo de cirurgia cardíaca compõe-se de diversos períodos, tendo
no período pré-operatório as principais questões relacionadas aos sentimentos
vivenciados por pacientes e familiares. Este período é compreendido como o
primeiro contato destes com esse processo. Compreende-se que neste período
os indivíduos estão vulneráveis perante muitos aspectos relacionados ao pro-
cesso cirúrgico, bem como seu desfecho e recuperação (Gomes; Bezerra, 2020).

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192
O período pré-operatório é evidenciado como sendo o momento de maior
vulnerabilidade emocional do indivíduo, bem como aflora a incerteza quanto
ao desfecho deste processo. Sentimentos como medo, apreensão e ansiedade
são sentidos em um primeiro momento, porém após, com a chance de cura
e reabilitação através do procedimento cirúrgico, o sentimento de esperança
manifesta-se, juntamente da tranquilidade proveniente da fé em Deus e de sua
espiritualidade (Gomes, et al. 2015).
Ainda, entende-se que o período pré-operatório de cirurgia cardíaca expõe
os pacientes a muitos sentimentos, deixando-os vulneráveis tanto aos aspectos
fisiológicos quanto psicológicos relacionados ao procedimento. Perante essa
vulnerabilidade, muitas estratégias de enfrentamento podem ser adotadas,
destacando o uso da religiosidade e espiritualidade como forma de esperança
quanto ao desfecho positivo do processo de adoecimento (Gomes; Bezerra, 2020).
O período pré-operatório de cirurgia cardíaca evidencia a esperança
quanto ao desfecho positivo da cirurgia na fé em Deus, ou seja, trazendo a
religiosidade como meio de suporte frente ao medo, ansiedade e estresse
quanto ao procedimento cirúrgico. Deste modo, compreendendo a valorização
da religiosidade dos indivíduos, torna-se necessário ações de saúde e cuidado
voltados a suprir essa demanda (Camponogara et al., 2012).
Ainda relacionado aos sentimentos vivenciados por pacientes e familia-
res no período perioperatório, alguns sentimentos são citados por pacientes
submetidos ao processo cirúrgico, sendo o medo, insegurança e a ansiedade
os mais comuns. Em decorrência da alteração na rotina ocupacional deste
indivíduo, bem como a incerteza de como será sua vida após o procedimento,
estes sentimentos podem ser vivenciados e potencializados neste período tanto
pelos pacientes, como por seus familiares (Rabelo et al., 2017; Rocha et al., 2020).
Entende-se que é de suma importância compreender os sentimentos
vivenciados durante o período pré-operatório de cirurgia cardíaca. Estes sen-
timentos compõem-se de aspectos biopsicossociais e refletem diretamente no
seguimento de seu autocuidado. Sendo assim, torna-se imprescindível com-
preender a relação entre corpo, mente e espírito, bem como o desenvolvimento
do cuidado com o objetivo de suprir as demandas destes pacientes, sejam estes
físicos ou psíquicos (Camponogara et al., 2012; Rocha et al., 2020).

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Segunda categoria: O uso da religiosidade e espiritualidade como método
de enfrentamento no processo de cirurgia cardíaca.
Após análise dos artigos selecionados, observou-se o uso da religiosi-
dade e espiritualidade como método de enfrentamento durante o processo de
cirurgia cardíaca. Para isto, a abordagem pautada na integralidade do indivíduo
neste primeiro momento, parte da valorização e indagação sobre os aspectos
de fé e crença, os quais exercem papel fundamental no significado do processo
saúde-doença. Nesta perspectiva, reconhecer a religiosidade e a espiritualidade
do paciente torna-se um ato humanizado por parte dos componentes da equipe
(Rocha et al., 2020).
O uso da religiosidade e espiritualidade como estratégia de enfrenta-
mento durante o processo de adoecimento, resultam na diminuição dos níveis
de ansiedade e depressão, culminando na esperança de um desfecho positivo
no processo de cirurgia cardíaca. Ainda, trazem como resultados em seu estudo
que metade dos participantes utilizaram da modalidade Coping, compreendida
como método de estratégia de enfrentamento, a qual inclui a espiritualidade,
durante o pré-operatório de cirurgia cardíaca (Gomes; Bezerra, 2020).
Devido a importância dessa temática acerca da cirurgia cardíaca, ressal-
ta-se a relação entre espiritualidade e religiosidade dos pacientes submetidos
a procedimentos cardíacos, o qual expõe o indivíduo a sentimentos como a
ansiedade e depressão. Expressa na forma de ritos, simbologias ou sacrifícios,
a fé surge como método de enfrentamento no contexto de saúde, sendo um
componente potencializador de esperança, amenizando sentimentos que se
afloram durante o processo de adoecimento, como o medo, ansiedade e desam-
paro (Gomes et al., 2015; Rocha et al., 2020).
No enfrentamento do processo de cirurgia cardíaca, novas perspectivas
surgem a respeito da religiosidade, evidenciando melhores indicadores biopsi-
cossociais, tais como bem-estar, qualidade de vida e felicidade, em indivíduos
que adotam e que possuem maiores níveis de religiosidade (Camargo et al.,
2018). Os altos níveis de religiosidade e a diminuição nos níveis de ansiedade,
principalmente no período pré-operatório, são observados nos pacientes sub-
metidos à cirurgia. Ainda, demonstram que neste período, cerca de 50% dos
pacientes adotam religiosidade e/ou espiritualidade como método de enfren-
tamento durante seu adoecimento (Gomes et al., 2015).

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194
A religiosidade emerge como um recurso de enfrentamento, sendo evi-
denciado menores níveis de ansiedade e marcadores fisiológicos de estresse
em pacientes com elevado grau de religiosidade presente (Bezerra et al., 2018).
Outro estudo prospectivo traz a relação entre a religiosidade vivenciada por
pacientes em recuperação de cirurgia cardíaca, e a relação entre menores níveis
de complicações, evidenciando um menor tempo de internação e diminuição nas
chances de desenvolver depressão, bem como destacando a crença religiosa
como um importante método de enfrentamento (Gomes et al., 2015).
Por outro lado, a espiritualidade também é utilizada como método de
enfrentamento. Na busca por respostas às situações vivenciadas, entende-se
que a dimensão espiritual está estreitamente ligada no sentido de obtenção de
respostas a estas adversidades, sendo essa um meio favorável à saúde integral
do indivíduo, pois integra os valores, princípios e convicções de vida de maneira
singular (Rocha et al., 2020).
Na perspectiva de Jean Watson, teorista contemporânea, a qual descre-
veu a Teoria do Cuidado Humano, todos nós temos forte ligação com o meio
espiritual, pois viemos deste e para este retornaremos perante momentos de
vulnerabilidade, como por exemplo, durante o processo de adoecimento (Gomes;
Bezerra; 2020). Nesta perspectiva, muitos pacientes usam da espiritualidade
como artifício de perseverança para o enfrentamento do adoecimento vivido
(Rocha et al., 2020).
O uso da espiritualidade perante o processo de cirurgia cardíaca emerge
como uma importante estratégia de enfrentamento nos mais diferentes contex-
tos de vida e, por conseguinte, melhora nos níveis de bem-estar. A afirmação
dos indivíduos no que tange a espiritualidade e a fé no auxílio às adversidades
enfrentadas, evidencia que muitos dos participantes usam da espiritualidade
com artifício de perseverança para o enfrentamento do adoecimento vivido.
Ainda, enfatiza-se que a espiritualidade contribui na adesão de tratamentos
hospitalares (Rocha et al., 2020).
Visto a importância da utilização da religiosidade e da espiritualidade
como métodos de enfrentamento perante o processo de cirurgia cardíaca,
torna-se de suma importância implementar o acolhimento espiritual no plano
de cuidados, contribuindo para o conforto e bem-estar dos pacientes. Para
estes, os elementos de religiosidade e espiritualidade são evidenciados como

ISBN 978-65-5360-480-3 - Vol. 2 - Ano 2023 - www.editoracientifica.com.br


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fatores potencializadores de esperança, acarretando, consequentemente, em
bem-estar para enfrentamento destes (Rocha et al., 2020).
Evidencia-se também a importância de uma rede de apoio religiosa e
espiritual, tanto institucional, quanto familiar, visto que essa proporciona ao
paciente o sentimento de cuidado e valorização nos momentos mais críticos
do seu processo de adoecimento (Bezerra et al., 2018; Rocha et al., 2020).
Ainda, destaca-se a importância do profissional enfermeiro estar munido de
treinamentos e protocolos para desenvolver a anamnese espiritual para estes
pacientes e familiares, fortalecendo o vínculo entre estes e propiciando conforto
e bem-estar (Rocha et al., 2020).

CONCLUSÃO

Com este estudo, observaram-se os principais sentimentos vivenciados


por pacientes e familiares durante o processo de cirurgia cardíaca, tendo des-
taque o medo, angústia e incertezas no desfecho do procedimento cirúrgico.
Para este período, evidenciou-se o uso de estratégias de enfrentamento ao
perioperatório de cirurgia cardíaca, sendo elas a religiosidade e a espiritualidade.
Ambas mostram um desfecho positivo quando utilizadas, tanto fisiologicamente,
relacionado a melhora dos níveis de marcadores fisiológicos de estresse, quanto
psicologicamente, relacionado a diminuição dos níveis de ansiedade e depressão.
Porém, ainda ocorrem dificuldades na prática dessas estratégias por
parte das equipes de saúde, principalmente na primeira abordagem a estes
pacientes, no período compreendido como pré-operatório. Entende-se como de
suma importância a implantação do acolhimento religioso e espiritual a estes
pacientes desde o início, proporcionando um cuidado integral e validação dos
sentimentos apresentados, fortalecendo o vínculo entre pacientes e familiares
com as equipes de saúde.
Por fim, destaca-se a necessidade de realizar novas pesquisas abor-
dando as temáticas deste estudo, as quais estão muito presentes no dia a dia
das instituições, visto que o tratamento cirúrgico é, por muitas vezes, o único
tratamento possível. Sendo assim, implementar os cuidados com base nos
métodos de enfrentamento utilizados pelos pacientes vem fortalecer o vínculo,

Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


196
enfrentar o adoecimento e contribuir com o desfecho positivo do processo de
cirurgia cardíaca.

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Estudos e Escrita Científica Multidisciplinar em Ciências da Saúde


198
SOBRE OS ORGANIZADORES
Mauro José de Deus Morais
Pós-Doutorado (UFES/ES, 2022, em andamento); Professor Associado da
Universidade Federal do Acre (UFAC). Doutorado em Ciências da Saúde (2019).
Doutorado em Ciências do Treinamento Físico (2006). Mestrado em Ciências e
Jogos Desportivos (2000). Especialização em Técnica e Ciência do Desporto (1994).
Graduação em Educação Física (1993). Presidente do Laboratório Multidisciplinar
de Estudos e Escrita Científica em Ciências da Saúde (LaMEECCS) da UFAC e,
Pesquisador Associado do Laboratório de Delineamento de Estudos e Escrita
Científica da UFES/ES (LaDEEC/ES). Pesquisador Associado do Laboratório de
Delineamento de Estudos e Escrita Científica da FMABC (LaDEEC/SP).
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1730942079384074

Francisco Naildo Cardoso Leitão


Pós-Doutorado na Àrea de Concentração Saúde Coletiva e Linha de Pesquisa
Epidemiologia (em andamento, UFES/07/2023). Doutor em Ciências da Saúde
(FMABC/SP, 06/2022); Mestre em Ciências da Saúde (FMABC/SP, 03/2019); MBA
em Gestão Pública e Controle Externo (UFAC/AC, 2012); MBA em Planejamento
e Gestão Estratégica (FACINTER/PR, 2009); Administrador (UNINORTE/AC,
02/2008);Ex Professor Substituto do Centro de Ciências da Saúde e do Desporto
(CCSD) da Universidade Federal do Acre (UFAC, 06/2021 a 06/2023). Atualmente
é Pesquisador em nível de Pós-Doutorado na área de Epidemiologia do Programa
de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Espírito Santo,
Campus Maruípe (UFES, 07/2023), com bolsa de Pós-Doc da FAPES/ES.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/6042531738477010

Maura Bianca Barbary de Deus


Especialista em Nefrologia (2019). Enfermeira (2019). É Pesquisadora Associada do
Laboratório Multidisciplinar de Estudos e Escrita Científica em Ciências da Saúde
(LaMEECCS) na UFAC.Mestre em Ciências da Saúde (2023) - PPGCSAO/UFAC.
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva - PPGSC/UFAC.
Lattes: https://lattes.cnpq.br/0038009952178648

Fabiano Santana De Oliveira


Professor Substituto do Magistério Superior Assistente-A, nível 1 (UFAC, 06/2021).
Doutorado (2021 em Andamento), Mestrado (2018) ambos na área de concentração
Saúde Coletiva na (FMABC - SP, Brasil) Possui graduação em Educação Física
(2005), pela Universidade Federal do Acre - UFAC, Farmácia Bioquímica Generalista
(2016) no Centro Universitário - UNIMETA. Tem experiência na área de Docência,
pesquisa na área da saúde, com ênfase em nutrição desportiva, treinamento
personalizado e bioquímica da atividade física. É membro Associado do Laboratório
Multidisciplinar de Estudos e Escrita Científica em Ciências da Saúde LaMEECCS,
(06/2019).
Lattes: http://lattes.cnpq.br/7900128936548509
Marcos Cordeiro Araripe
Doutorado (2022/FMABC/SP, em andamento) , Santo André - São Paulo - Brasil;
Mestrado em Ciências da Saúde (FMABC/2018), Santo André - São Paulo - Brasil;
Graduação em Medicina pela Universidade Iguaçu (2006); Especialização em
Medicina do Trabalho pela Faculdade Integradas Espírita, (Curitiba 2011), Brasil;
Especialização em Perícia Médica pela Faculdade de Ciências Médica (MG -
2017), Brasil; Atualmente é Médico Psiquiatra da Secretaria de Estado de Saúde
do Acre (SESACRE) Rio Branco - Acre, Brasil; Médico Perito da junta médica do
Estado do Acre, (2020) e da junta Médica Judicial (0020); Membro do Laboratório
Multidisciplinar de Estudos e Escrita Científica em Ciências da Saúde (LaMEECCS)
da Universidade Federal do Acre (UFAC), Rio Branco - Acre, Brasil; Membro do
Laboratório de Delineamento de Estudo e Escrita Científica (LaDEEC) do Centro
Universitário FMABC, Santo André - São Paulo, Brasil; Tem experiência na área de
Medicina, com ênfase em Psiquiatria, Saúde Coletiva e Políticas Pública de Saúde.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9501197716969688
Enfermagem: 20, 22, 25, 30, 60, 61, 99, 184, 188,
ÍNDICE 190, 191, 192, 197, 198

REMISSIVO
Envelhecimento: 124, 125, 129, 130, 131, 132, 135,
136
Espiritualidade: 183, 184, 187, 188, 190, 192, 193,
194, 195, 196, 198
A
Estudos de Incidência: 114
Algoritmos: 138, 140, 141, 145, 148, 149, 153, 154,
155, 156 Exercício: 54, 55, 74, 75, 77, 79, 80, 81, 83, 84, 85,
129, 130, 131, 132, 133, 134, 135, 136, 181
Anti-Inflamatórios: 62, 63, 64, 70, 71, 72, 73
Aprendizaje Automático: 138, 140, 142, 145, H
148, 149, 153, 154, 155, 156 Hipertensão: 76, 81, 84, 129, 130, 131, 132, 133,
Audição: 101, 102, 106, 109 134, 135, 136, 167
Automedicação: 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, I
70, 71, 72, 73
Insuficiência Cardíaca: 74, 75, 76, 77, 78, 79,
C 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 185
Câncer: 88, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98, Insulina: 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40,
99, 113, 114, 115, 116, 117, 118, 119, 121, 122, 123, 124, 160, 165, 166
125, 126, 127, 165
J
Câncer Cerebral: 113, 114, 115, 117, 124, 126, 127
Jiu-Jitsu: 171, 172, 173, 174, 175, 178, 180, 181, 182
Cirurgia Torácica: 184, 190
Clasificación: 99, 138, 141, 142, 145, 146, 147, 149, L
150, 151, 153, 155, 156 Lactente: 101, 103, 104
Covid-19: 10, 11, 13, 17, 20, 21, 22, 26, 27, 28, 29,
30, 73 M
Crise: 28, 30, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 52, Medicamentos: 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71,
53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61 81, 84, 130, 176
Metabolismo: 32, 33, 34, 160, 166
D
Mortalidade: 12, 76, 79, 80, 82, 90, 113, 114, 117,
Demencia: 137, 138, 139, 140, 141, 142, 145, 149, 118, 119, 120, 121, 122, 123, 124, 125, 126, 127, 163,
151, 152, 153, 154, 155, 156 164, 167, 197
Dependência Afetiva: 89
P
Dependência Emocional: 88, 89, 91, 92, 94, 96,
97, 98 Padrão do Sono: 171, 172, 174, 175, 176, 177, 180

Diabetes Mellitus: 33, 36, 40, 76, 159, 160, 169, Pandemia: 9, 10, 11, 12, 13, 14, 17, 18, 20, 21, 22, 25,
170 26, 27, 28, 29, 30, 73

Diagnóstico: 80, 84, 90, 95, 97, 98, 101, 102, 117, Pé Diabético: 158, 159, 160, 161, 162, 163, 164,
125, 127, 140, 141, 156, 158, 159, 161, 162, 163, 164, 165, 166, 167, 168
165, 166, 167, 168 Potenciais Evocados Auditivos: 101
Distúrbios Patológicos: 75, 77, 84 Praticantes Recreacionais: 171, 172

E Prognóstico: 75, 80, 81, 83, 98, 115, 158, 159, 161,
162, 163, 164, 165, 166, 167, 168, 185
Educação a Distância: 10, 21, 25, 28, 29, 30
Educação Continuada: 10 R
Educação Permanente em Saúde: 10, 12, 29, Rede de Atenção Psicossocial: 42, 44, 60
30 Reforma Psiquiátrica: 42, 43, 44, 49, 60
Eletrofisiologia: 101 Resonancia Magnética: 137, 138, 140, 141, 142,
Emagrecimento: 31, 32, 34, 35, 36, 39 143, 145
S
Saúde e Exercício: 129
Saúde Mental: 42, 43, 44, 46, 47, 48, 49, 52, 53,
56, 60
Serviços Territoriais: 41, 42, 43, 56

T
Técnicas de Laboratório Clínico: 159
Triagem Neonatal: 101, 111

V
Vias Auditivas: 101, 110
científica digital

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