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1ª EDIÇÃO

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2022 - GUARUJÁ - SP
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A154 Abordagens interdisciplinares sobre plantas medicinais e fitoterapia: saúde, sustentabilidade e biodiversidade / Jeferson Falcão
do Amaral (Organizador). – Guarujá-SP: Científica Digital, 2022.
E-BOOK ACESSO LIVRE ON LINE - IMPRESSÃO PROIBIDA

Formato: PDF
Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5360-095-9
DOI 10.37885/978-65-5360-095-9

1. Plantas medicinais. 2. Fitoterapia. 3. Ervas - Uso terapêutico. I. Amaral, Jeferson Falcão do (Organizador). II. Título.
CDD 615.321

Elaborado por Janaina Ramos – CRB-8/9166


2022
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APRESENTAÇÃO

O presente livro Abordagens Interdisciplinares sobre Plantas Medicinais e Fitoterapia: Saúde, Sustentabilidade e Biodiversidade
foi uma iniciativa de alguns discentes da turma 2021/2022 e de docentes do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade e
Tecnologias Sustentáveis da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (MASTS/UNILAB). Este foi
resultado do conhecimento construído de forma coletiva na Disciplina Estudo Fitoquímico, Plantas Medicinais e sua relação
Brasil-África; ministrada pelo Prof. Dr. Jeferson Falcão do Amaral (MASTS/UNILAB).
É sabido da riqueza imensurável de conhecimentos acerca do uso empírico de Plantas Medicinais e Fitoterápicos para o
tratamento das mais diversas enfermidades; conhecimentos estes advindos da experiência de uso dos povos tradicionais e
populações rurais e a expressão desse uso de forma cultural, religiosa e sustentável. Sendo a biodiversidade brasileira/africana
uma das maiores do mundo e a tradição do uso de produtos naturais de forma sustentável uma máxima, decidimos explorar os
conhecimentos adquiridos na disciplina sobre as dimensões empírica e científica, por meio de abordagens interdisciplinares, do
uso de Plantas Medicinais e Fitoterápicos na perspectiva da saúde, sustentabilidade e biodiversidade.
Assim, o presente livro foi organizado a partir da elaboração de artigos teóricos desenvolvidos através de revisões bibliográficas
e pesquisas acerca do conhecimento popular e científico sobre Plantas Medicinais e Fitoterapia, buscando explorar de forma
inter/transdisciplinar o contexto do uso medicinal e sustentável da biodiversidade, pelos povos tradicionais e rurais, como forma
de transformação da natureza em recursos para uma maior qualidade de vida.
Nesse sentido, contamos também com artigos desenvolvidos pelos discentes e docentes do Mestrado Acadêmico em
Enfermagem vinculado ao Instituto de Ciências da Saúde (MAENF/ICS/UNILAB) e, ainda, parcerias com discentes e docentes
dos Institutos de Ciências da Saúde (ICS/UNILAB), de Engenharias e Desenvolvimento Sustentável (IEDS/UNILAB) e de Ciências
Exatas e da Natureza (ICEN/UNILAB); além de docentes e discentes de Instituições de Ensino Superior externas e profissionais
de saúde.
Dessa forma, desejamos que este livro possa colaborar com a riqueza de conhecimentos inter/transdisciplinares acerca da
temática proposta contribuindo para o conhecimento científico em produções futuras de docentes e discentes nos cursos de
graduação/pós-graduação e mais do que isso, valorizar o conhecimento dos povos tradicionais e rurais aliado ao conhecimento
científico sobre o uso de Plantas Medicinais e Fitoterápicos de forma sustentável, destacando o usos cultural/religioso e a
promoção da saúde e da qualidade de vida.

Prof. Dr. Jeferson Falcão do Amaral


SUMÁRIO

CAPÍTULO 01
PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERAPIA: SAÚDE, SUSTENTABILIDADE E BIODIVERSIDADE
José Cleilson de Paiva dos Santos; Samira Lopes de Almeida; Ana Flávia Alves Nogueira; Alberto João M`batna; Mirian Raquel do Nascimento
Fernandes; Cecília Maria Lima Silva; Janiel Ferreira Felício; Fábio Morais da Silva; Francisco Danilo Ferreira Costa da Silva; Jeferson
Falcão do Amaral
' 10.37885/220308119................................................................................................................................................................................................. 10
CAPÍTULO 02
DESENVOLVIMENTO DE CARTILHA EDUCATIVA SOBRE PLANTAS MEDICINAIS E SEUS EFEITOS SOBRE A SAÚDE MATERNO-
INFANTIL
Lívia Moura do Nascimento; Antonio Wendel Nogueira Oliveira; Meyrenice Cruz da Silva; Iara Nayane de Araújo Lucas; Raimundo Walisson
Moura da Hora; Rejane Chaves Campos; Jeferson Falcão do Amaral; Leilane Barbosa de Sousa

' 10.37885/220308120 ................................................................................................................................................................................................ 26


CAPÍTULO 03
CONHECIMENTO, ATITUDE E PRÁTICA NA UTILIZAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS ENTRE UNIVERSITÁRIOS GUINEENSES
Momente Basílio Lima; Daniela Raulino Cavalcante; Adelina Braga Batista; Rejane Chaves Campos; Jeferson Falcão do Amaral; Vivian Saraiva
Veras; Natasha Marques Frota; Anne Fayma Lopes Chaves

' 10.37885/220308121................................................................................................................................................................................................. 40
CAPÍTULO 04
CONTRIBUIÇÃO DO CURANDEIRISMO NO PROCESSO SAÚDE/DOENÇA DOS PAÍSES AFRICANOS LUSÓFONOS
Karim Suleimane Só; Alberto João M’batna; Janiel Ferreira Felício; Bárbara Letícia de Queiroz Xavier; Daniel Freire de Sousa; Patrícia Freire de
Vasconcelos; Aline Santos Monte; Aluisio Marques da Fonseca; Jeferson Falcão do Amaral; Francisco Washington Araújo Barros Nepomuceno

' 10.37885/220308122 ................................................................................................................................................................................................ 54


CAPÍTULO 05
PIPER METHYSTICUM (KAVA-KAVA) E O SISTEMA NERVOSO CENTRAL: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Fábio Morais da Silva; Francisco Baltazar Venâncio; Tomás Manuel Djú; Emmanoel Peixoto Saraiva; Cybelle Façanha Barreto Medeiros;
Rosiane Barros Pereira; Antônio Auberson Martins Marciel; Nayara Cristina Rabelo Bandeira; Francisco Danilo Ferreira Costa da Silva; Jeferson
Falcão do Amaral
' 10.37885/220308123 ................................................................................................................................................................................................ 67
CAPÍTULO 06
FARMÁCIAS VIVAS: UM ESTUDO SOBRE AS CONTRIBUIÇÕES À POLÍTICA NACIONAL E SUAS POSSÍVEIS VANTAGENS PARA
A SAÚDE PÚBLICA
Cecília Maria Lima Silva; Mirian Raquel do Nascimento Fernandes; Maria Guadalupe de Sousa Fernandes; Alberto João M’batna; Ana Flávia Alves

Nogueira; Samira Lopes de Almeida; Luís Filipe Sá Pereira; José Cleilson de Paiva dos Santos; Elcimar Simão Martins; Jeferson Falcão do Amaral

' 10.37885/220308124 ................................................................................................................................................................................................80


SUMÁRIO

CAPÍTULO 07
ETNOBOTÂNICA DE PLANTAS MEDICINAIS DA VEGETAÇÃO LITORÂNEA NO CEARÁ: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Marcelo de Oliveira Sindeaux; José Cleilson de Paiva dos Santos; Welton Felipe Nogueira Menezes; Ana Flávia Alves Nogueira; Alberto
João M’batna; Samira Lopes de Almeida; Luís Filipe Sá Pereira; Cecília Maria Lima Silva; Mirian Raquel do Nascimento Fernandes; Jeferson
Falcão do Amaral

' 10.37885/220308125 ................................................................................................................................................................................................ 91


CAPÍTULO 08
CÚRCUMA LONGA L: CARACTERIZAÇÃO, ALIMENTO FUNCIONAL E AÇÕES FARMACOLÓGICAS
Ana Flávia Alves Nogueira; Alberto João M’batna; Nayara Cristina Rabelo Bandeira; Samira Lopes de Almeida; Luís Filipe Sá Pereira; José
Cleilson de Paiva dos Santos; Cecília Maria Lima Silva; Mirian Raquel do Nascimento Fernandes; Maria do Socorro Moura Rufino; Jeferson
Falcão do Amaral

' 10.37885/220308126 .............................................................................................................................................................................................. 105


CAPÍTULO 09
APROVEITAMENTO, CARACTERÍSTICAS FITOQUÍMICAS E ATIVIDADES BIOLÓGICAS DA CASCA DO MARACUJÁ AMARELO
(PASSIFLORA EDULIS F. FLAVICARPA DEGENER): UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Samira Lopes de Almeida; Luís Filipe Sá Pereira; Fábio Morais da Silva; Ana Flávia Alves Nogueira; José Cleilson de Paiva dos Santos; Cecília
Maria Lima Silva; Alberto João M`batna; Mirian Raquel do Nascimento Fernandes; Juliana Jales de Holanda Celestino; Jeferson Falcão do Amaral

' 10.37885/220308127............................................................................................................................................................................................... 118


CAPÍTULO 10
ALOE VERA (BABOSA): ASPECTOS ETNOBOTÂNICOS, FITOQUÍMICOS E CLÍNICO/FARMACOLÓGICOS
Luís Filipe Sá Pereira; Maria Imaculada Lourenço Meirú; Ada Amélia Sanders Lopes; José Márcio Machado Batista; Rosiane Barros Pereira;
Yara Santiago de Oliveira; John Hebert da Silva Félix; Jeferson Falcão do Amaral; Aluisio Marques da Fonseca

' 10.37885/220308128 .............................................................................................................................................................................................. 129


CAPÍTULO 11
POTENCIAL TERAPÊUTICO DO ALHO PARA O TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL: UMA REVISÃO DA LITERATURA
Arlene Pinto de Miranda Silva; Francisco Baltazar Venâncio; Welton Felipe Nogueira Menezes; Zola Paulina Pedro Makabi; Janiel Ferreira
Felício; Fábio Morais da Silva; José Márcio Machado Batista; Aline Santos Monte; Francisco Washington Araújo Barros Nepomuceno; Jeferson
Falcão do Amaral

' 10.37885/220308130 .............................................................................................................................................................................................. 142


SOBRE O ORGANIZADOR ................................................................................................................................................. 154

SOBRE OS AUTORES ........................................................................................................................................................ 155

ÍNDICE REMISSIVO ........................................................................................................................................................... 156


01
Plantas medicinais e fitoterapia: saúde,
sustentabilidade e biodiversidade

José Cleilson de Paiva dos Santos Cecília Maria Lima Silva


MASTS/UNILAB MASTS/UNILAB

Samira Lopes de Almeida Janiel Ferreira Felício


MASTS/UNILAB PPSAC/UECE

Ana Flávia Alves Nogueira Fábio Morais da Silva


MASTS/UNILAB MASTS/UNILAB

Alberto João M`batna Francisco Danilo Ferreira Costa da Silva


PEN/UFSC MASTS/UNILAB

Mirian Raquel do Nascimento Fernandes Jeferson Falcão do Amaral


MASTS/UNILAB MASTS/UNILAB

'10.37885/220308119
RESUMO

O consumo de plantas medicinais no Brasil tem por característica o uso empírico e a


ausência de comprovação adequada das ações farmacológicas dos remédios produzidos
pelos curandeiros, raizeiros, comerciantes e usuários. Neste estudo, realizou-se uma
revisão da literatura com caráter descritivo através de artigos científicos publicados na
íntegra, abrangendo a leitura, análise e interpretação de periódicos científicos disponibili-
zados na internet. Após a seleção dos artigos de interesse pela leitura do título e resumo
destes, realizou-se a leitura interpretativa na íntegra dos que faziam parte da temática
proposta, destacando-se, assim, as seguintes categorias: Plantas Medicinais, Fitoterapia e
Saúde; Plantas Medicinais, Fitoterapia e Sustentabilidade; Plantas Medicinais, Fitoterapia
e Biodiversidade. Devido a gama de plantas que temos em nosso território, ainda falta
mais incentivo em pesquisas para que a nossa biodiversidade seja explorada de forma
mais consciente, gerando autonomia, integração de saberes e auto-sustentabilidade.

Palavras-chave: Plantas Medicinais, Fitoterapia, Saúde, Sustentabilidade, Biodiversidade.

11
Abordagens Interdisciplinares sobre Plantas Medicinais e Fitoterapia - ISBN 978-65-5360-095-9 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022
INTRODUÇÃO

O consumo de plantas medicinais no Brasil tem por característica o uso empírico e a


ausência de comprovação adequada das ações farmacológicas dos remédios produzidos
pelos curandeiros, raizeiros, comerciantes e usuários. Além do que, outros fatores como:
intoxicação, reações alérgicas e ineficácia no tratamento podem ser relacionados ao uso
inadequado dessas plantas. Também essas problemáticas podem estar associadas ao
erro na identificação das espécies consumidas ou à forma como são cultivadas, colhidas,
armazenadas, conservadas ou preparadas (SILVA et al., 1999). Para Scholl (2012), o uso
das plantas medicinais ultrapassou gerações e, até hoje, mesmo com a facilidade do acesso
aos medicamentos sintéticos, a utilização das plantas na profilaxia e tratamento de doenças
é predominante. As crenças praticadas pelos raizeiros, curandeiros e indígenas, que carre-
gam conhecimentos recebidos dos ancestrais, disseminam o conhecimento desta prática;
evitando, assim, os riscos de possíveis reações e até mesmo envenenamentos.
As plantas são usadas no cotidiano de pessoas que buscam tratar ou prevenir doenças,
estas possuem um princípio ativo para cada efeito terapêutico. Devido à falta de informação a
respeito do cultivo, reações adversas, duração do tratamento e preparo adequado de medica-
mentos, as intoxicações acabam se tornando frequentes (CARNEIRO et al., 2016). De acordo
com Braga (2011), nem todas as plantas são medicinais, muitas são venenosas e causam
desde uma simples intoxicação até a morte. As pesquisas de toxicidade com plantas têm
aumentado concomitantemente com o crescimento da utilização terapêutica e com o inte-
resse de confirmação da eficácia das mesmas nas mais variadas funções farmacológicas.
Isso se deve ao caso de várias das plantas usadas por numerosas pessoas, apesar de terem
propriedades farmacológicas, são também tóxicas (LUCIO, 2017). Dada a grande quantidade
de substâncias diferentes presentes ao se ingerir um determinado remédio, preparado de
forma tradicional, usando partes de plantas, o organismo acaba assimilando também uma
centena de outras substâncias químicas não conhecidas pelo usuário, que poderão ser
promotoras de ações benéficas e/ou de reações tóxicas (MATOS, 1987; SILVA et al.,1999).
Dessa forma, durante muito tempo, o uso de plantas medicinais foi o principal recurso
terapêutico utilizado para tratar a saúde das pessoas e de suas famílias; entretanto, com os
avanços ocorridos no meio técnico-científico, sobretudo no âmbito das ciências da saúde,
novas maneiras de tratar e curar as doenças foram surgindo e constituindo, dessa maneira,
uma das alternativas mais usadas pelos seres humanos para tratarem as enfermidades em
determinados países do mundo. Ressalta-se que o uso de plantas medicinais e fitoterápi-
cos para manejo dos quadros clínicos dos indivíduos é tão antigo quanto o aparecimento
da espécie humana na terra. Isso representa-se pela percepção das primeiras civilizações
que perceberam que algumas plantas continham, em suas essências, princípios ativos os
12
Abordagens Interdisciplinares sobre Plantas Medicinais e Fitoterapia - ISBN 978-65-5360-095-9 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022
quais ao serem experimentados no combate às doenças revelaram empiricamente seu
poder curativo; o qual foi sendo transmitido de geração em geração na perspectiva da sus-
tentabilidade no âmbito da biodiversidade com a qual os povos tradicionais e rurais foram
interagindo ao longo dos anos.

OBJETIVO

Realizar revisão bibliográfica sobre o uso popular de Plantas Medicinais e Fitoterápicos


e sua relação com o trinômio (Saúde x Sustentabilidade x Biodiversidade) no Brasil e em
países lusófonos para refletir sobre uso seguro e intoxicações.

MÉTODOS

Neste estudo, realizou-se uma revisão da literatura com caráter descritivo através de
artigos científicos publicados na íntegra, selecionados em português e em inglês, abrangendo
a leitura, análise e interpretação destes a partir de periódicos científicos disponibilizados na
internet. Para a seleção dos mesmos, foram estabelecidos critérios de busca, através das
palavras-chave e elaboração do desenvolvimento do trabalho por meio de uma literatura
significativa que pudesse gerar conhecimento acerca do uso das plantas medicinais no
âmbito da saúde, sustentabilidade e biodiversidade.
A buscas foram feitas usando as seguintes palavras-chaves: plantas medicinais e fi-
toterapia; saúde; sustentabilidade; biodiversidade. Utilizando-se o operador booleano AND,
fez-se a combinação direta da palavra “plantas medicinais e fitoterapia” com cada uma das
demais palavras-chave nas plataformas de buscas de artigos científicos. As bases de dados
utilizadas foram SciELO, LILACS e Google Acadêmico. A principal vantagem da pesquisa
bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos
muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente (AMARAL et al., 2020).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a seleção dos artigos de interesse pela leitura do título e resumo destes, reali-
zou-se a leitura interpretativa na íntegra dos que faziam parte da temática proposta, desta-
cando-se, assim, as seguintes categorias: Plantas Medicinais, Fitoterapia e Saúde; Plantas
Medicinais, Fitoterapia e Sustentabilidade; Plantas Medicinais, Fitoterapia e Biodiversidade.

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Abordagens Interdisciplinares sobre Plantas Medicinais e Fitoterapia - ISBN 978-65-5360-095-9 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022
Plantas Medicinais, Fitoterapia e Saúde

Quando se trata de medicamentos naturais, fala-se de recursos naturais e, muitas


vezes, de fácil aquisição. Historicamente, as plantas sempre foram muito bem empregadas
para fins terapêuticos, o que prevalece até nos dias atuais. Segundo dados da Organização
Mundial de Saúde (OMS), 80% da população mundial utiliza plantas medicinais ou prepa-
rações destas, no que se refere à atenção primária à saúde (ou seja, o primeiro elemento
de um processo de atenção continuada à saúde). O reconhecimento de seu valor como
recurso clínico, farmacêutico e econômico tem crescido progressivamente em vários países
(NICOLETTI et al., 2010).
A maioria dessas plantas é utilizada com base no conhecimento popular, observando-se
a carência do conhecimento científico de suas propriedades farmacológicas e toxicológicas.
Muitas vezes, entretanto, as propriedades farmacológicas anunciadas não possuem vali-
dação científica, por não terem sido investigadas ou comprovadas em testes pré-clínicos e
clínicos. Além disso, verifica-se também escasso conhecimento a respeito dos constituintes
responsáveis pela atividade farmacológica ou as possíveis interações que envolvam as
inúmeras moléculas presentes no extrato da planta (FIRMO et al., 2011).
Apesar do uso de plantas medicinais para tratamento, cura e prevenção de determi-
nadas doenças ser uma das mais antigas formas de prática medicinal da humanidade, é
inegável que o uso popular e, mesmo tradicional, não são suficientes para validar as plantas
medicinais como medicamentos eficazes e seguros (OLIVEIRA et al., 2014). Nesse sen-
tido, as plantas medicinais não se diferenciam de qualquer outro xenobiótico sintético e a
preconização ou a autorização oficial do seu uso medicamentoso deve ser fundamentada
em evidências experimentais comprobatórias de que o risco a que se expõem, àqueles
que a utilizam, é suplantado pelos benefícios que possam advir (ARGENTA et al., 2011).
Geralmente o uso de plantas para finalidade terapêutica é praticado sem acompanhamento
médico, representando um perigo potencial para a população, pois existe a possibilidade
de interação entre esses produtos “naturais” e os medicamentos, além da interferência dos
mesmos em resultados de exames laboratoriais (ZENI et al., 2017).
Em relação a manipulação das plantas medicinais, isso poderá ocorrer de diversas
maneiras, sendo algumas delas apresentadas a seguir: Cataplasma, Chás por infusão, Chás
por decocção ou cozimento, Chás por maceração, Inalação, Xarope, Pós em cápsulas e vinho
medicinal (BRAGA, 2011). Um estudo feito por Badke et al. (2012) evidenciou que o uso de
plantas em forma de chá apareceu com maior frequência, estes utilizavam o chá como anal-
gésicos, sendo indicados em caso de dor de estômago (Boldo, Cancorosa), dor de cabeça
(Macela), dor lombar (Salsaparrilha) e dores generalizadas (Cavalinha, Chapéu de couro).

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Neste mesmo estudo, citado anteriormente, aparecem os chás usados como calman-
tes e nas gripes e/ou resfriados (Alecrim, Cavalinha, Erva cidreira, Folha de laranjeira,
Guaco). Em seguida, têm-se os chás indicados para os problemas gastrintestinais (Sene,
Macela, Boldo, Cancorosa). Além desses, foi também referida a utilização de algumas plan-
tas para o controle do colesterol (Alho, Guabiroba), da rinite (Mentruz, Arnica), para tratar
dos problemas do coração (Boldo), do fígado (Alcachofra), de escoriações (Cavalinha), para
aumentar a diurese (Sene) e propiciar melhora no sono (Guaco) (BADKE et al., 2012).
Segundo os autores supracitados, das plantas mencionadas, quinze apresentam in-
dicações terapêuticas populares semelhantes às encontradas na literatura científica revi-
sada. Cinco plantas citadas pelos entrevistados estão presentes na Relação Nacional de
Plantas Medicinais de Interesse ao SUS, publicada em fevereiro de 2009, pelo Ministério
da Saúde; são elas: Alcachofra (Cynara scolymus L.), Alho (Allium sativum L.), Boldo
(Plectranthus barbatus A.), Cancorosa (Maytenus ilicifolia M.), Guaco (Mikania glomerata
S.) (BADKE et al., 2012).
Isto evidencia a importância de estudos na área das plantas medicinais com o intuito
de aproximar o saber popular do saber científico, oferecendo à população maior segurança
e eficácia, pois a utilização de produtos fitoterápicos envolve uma série de procedimentos e
ações preventivas a fim de minimizar possíveis riscos à saúde dos usuários (BADKE et al.,
2012; ALECRIM et al., 2017).
No que tange aos países africanos de língua portuguesa, observa-se que o uso da
fitoterapia ou de plantas medicinais é principalmente baseado no conhecimento de povos
tradicionais, os chamados curandeiros, mas do que pelos profissionais da saúde. Silva
(2014) relata que os curandeiros tentam tratar os pacientes de uma forma holística, tentan-
do equilibrar o social e o emocional para posteriormente tratar os sintomas com o uso das
plantas medicinais.
Segundo Simon et al. (2007), citado por Silva (2014), a África é um dos locais onde
mais se utiliza a medicina tradicional. A imensa biodiversidade que existe em suas florestas
tropicais e demais ambientes deu aos povos africanos uma grande variedade de plantas,
tendo como consequência um conhecimento riquíssimo sobre o uso das mesmas para fins
medicinais. Destaca-se Guiné Bissau e Angola, que dentre os países africanos, possui uma
grande biodiversidade (FIGUEIREDO, 2008).
Segundo Christin et al. (2017) citado por Tchamba (2019), em Angola, os registros
etnobotânicos escritos são escassos, mas há estudos que demonstram que a prática de
utilização de plantas nativas, naturalizadas e exóticas na cura de doenças e na alimentação
é muito antiga entre estes povos. Este autor ainda complementa que a falta desses registros
pode ser compreendida pelo fato dos ensinamentos terem sido passados aos mais novos
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apenas de forma oral. Fato este também observado por Silva (2014), em sua pesquisa so-
bre Guiné Bissau.
Por serem países considerados pobres e a medicina tradicional ser pouco acessível
à população, a cultura do uso de plantas medicinais é algo bem enraizada e passada de
geração em geração. Entre as principais doenças tratadas pelos curandeiros locais ou os
detentores de saberes tradicionais estão: as cefaleias, as dores de dente, distúrbios gas-
trointestinais, queimaduras, malária, parasitoses, distúrbios hepáticos, anemias, impotência
masculina, infertilidade feminina, envenenamentos e hipertensão (COSTA, 2012; SILVA,
2014). Além das patologias mencionadas, as plantas usadas por estes povos também exer-
cem outras atividades tais como antiinflamatórias, antimicrobianas e antifúngicas.

Plantas Medicinais, Fitoterapia e Sustentabilidade

A tempos as plantas medicinais são usadas na prevenção e tratamentos de várias


doenças. Os benefícios e conhecimento das plantas medicinais são passados de geração
em geração, geralmente no ciclo familiar (CEOLIN et al., 2011; NASCIMENTO et al., 2015).
Muitas pessoas utilizam ervas medicinais em cuidados diários com a saúde ou mesmo para
tratar várias doenças, por isso, essa área vem ganhando cada vez mais espaço no comércio
desses produtos (ETHUR; JOBIM; RITTER; OLIVEIRA; TRINDADE, 2011).
No Brasil, o conhecimento e uso das plantas medicinais, está atrelado a práticas e
tradições fruto da miscigenação de vivências dos povos que aqui existiam no período an-
tecessor a colonização (tupiniquins), que se agregaram ao conhecimento trazido pelos eu-
ropeus, sobretudo os jesuítas e também ao conhecimento dos povos africanos (DIEGUES
et al., 1999; FREITAS, 2014).

O serviço de saúde fazia parte dos ofícios à que estavam destinados os padres
da Companhia de Jesus. Assim, havia os Irmãos enfermeiros que cuidavam e
tratavam dos doentes e os Irmãos farmacêuticos que manipulavam remédios.
A necessidade local, imposta pela pirataria que acontecia no século XVI e
pelas dificuldades de navegação que impediam a chegada de medicamentos
do reino, obrigou os jesuítas, desde cedo, a procurarem medicamentos que
a terra poderia dar. Dessa forma, passaram a estudar e a utilizar as plantas
medicinais brasileiras as quais eram incorporadas em receitas próprias (RO-
DRIGUES, 2002, pp. 13-14).

Logo, “[...] este processo caracteriza a construção de uma tradição de uso inventado
a partir de conhecimentos e saberes oriundos de diferentes culturas. ” (SANTOS, 2000, p.
928). Neste mesmo sentido os escravos de origem africana também desempenharam um
papel muito importante na construção da tradição brasileira voltada para o uso e o manejo
de plantas medicinais. Como os escravos não tinham acesso a recursos médicos quando
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ficavam doentes, eles se voltavam para o conhecimento popular a partir do uso de plantas
medicinais do continente africano, para então cuidar de suas doenças e enfermidades. Assim,
começaram a cultivar essas plantas no território brasileiro e a disseminar seus saberes po-
pulares trazidos de seus ancestrais (CARNEY, 2001).
Toda essa carga de saberes contribuiu para a formulação das tradições e conhecimento
sobre o uso de plantas medicinais aqui existentes e, consequentemente, na formulação da
fitoterapia que a cada dia se consolida como política de saúde, na sociedade brasileira, fruto
de tradições e conhecimento que perpassaram séculos e se encontram ativas no cotidiano
(ARAÚJO et al., 2015).
Graças a sua grande popularidade, as drogas vegetais são facilmente encontradas
em residências, em feiras livres, loja de produtos naturais ou em casas conhecidas como
ervanarias, assim como nas farmácias que também trazem em sua proposta uma abordagem
mais natural, na tentativa de atingir todos os diversos públicos (LIMA; FERREIRA; OLIVEIRA,
2011; GODOY; ANJOS, 2002).
Existem várias vertentes para o crescente consumo das plantas medicinais; uma delas
está atrelada a questão financeira, mais precisamente, o seu baixo valor de mercado e baixo
custo de aquisição. O fato de as plantas medicinais serem mais acessíveis, faz desse produto,
um bem atrativo aos olhos dos consumidores, levando em consideração a proposta de ser um
substituto perfeito de alguns medicamentos (MATOS, 1994, SIMÕES et al., 1988; BRASIL,
2006). Uma outra questão trazida é o crescente estímulo a busca por uma vida mais saudá-
vel e sustentável, através do consumo de produtos naturais que causem menos agressão
ao organismo e ao meio ambiente (BRUNING; MOSEGUI; VIANNA, 2012). Questões como
essas fazem com o que a utilização de plantas medicinais se expanda e ganhe mercado.
Desse modo, em Guiné-Bissau, as plantas medicinais não são utilizadas apenas para
fins medicinais, mas elas também são utilizadas para artesanato, em alimentos, bebidas,
dentre outras coisas. Essa reutilização das plantas para o artesanato, pode ser vista como
uma prática sustentável de manejo e aplicação das plantas. Pois a maioria das plantas utili-
zadas são cultivada em casa, proporcionando assim, um manejo sustentável sem denegrir
ou devastar os biomas e as diversidades existentes na natureza (CATARINO et al., 2016).
Outro fato de destaque é que em Guiné-Bissau, as partes das plantas mais usadas e
vendidas são as folhas, raízes, casca e caule. Uma característica também comum ao Brasil,
como aborda Monteles e Pinheiro (2007) sobre essa prática entre os moradores do quilombo
maranhense que também manejam e vendem essas partes das plantas. Corroborando com
isto, Coelho et al. (2017) destacam que os raizeiros no Rio Grande do Norte vendem as
folhas, casca e raízes das plantas medicinais em feiras livres para a população em geral se
tratar de suas enfermidades. Podemos observar que essas formas de manejo e cuidados
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com as plantas medicinais, que são utilizadas no Brasil, foram sendo introduzidas em nos-
so meio possibilitando o tratamento de várias doenças que duram ao longo de gerações,
formuladas a partir de uma gama de culturas multicontinentais, mas que demonstram um
grande impulso dos povos africanos e dos povos tradicionais indígenas.
As plantas medicinais, trazem em si, uma grande carga que lhe confere a perpetua-
ção e sustentabilidade da cultura, saberes, crenças e vidas. Isso pode ser demonstrado,
através da sua incidência em comunidades tradicionais, que preservam as práticas e sa-
beres de suas ancestralidades envolto a crenças religiosas e misticismo, que ultrapas-
sam a cura corporal e se caracterizam como práticas únicas de cura corporal e espiritual
(RODRIGUES; DE SIMONI, 2010).

Identificando as técnicas de uso das plantas, e modelando o universo mental


onde elas estão ancoradas, com os conceitos e noções que lhes correspondem,
e observando uma certa linha de continuidade que envolve todos estes fatores,
a qual diz respeito, fundamentalmente, aos aspectos formais e rituais destas
práticas, podemos reconstituir seus percursos de gestação, além de hábitos
e costumes das populações envolvidas. SANTOS (2000, p. 926).

A tradição nessas localidades pode ser colocada como sendo um “conjunto de conhe-
cimentos, práticas e experiências singulares [...] aquela que estabelece a coesão social ou
as condições de admissão de um grupo ou de comunidade reais e artificiais (HOBSBAWM,
1991, p.17). Logo, ela pode ser derivada de um sentido identitário social de um local ou re-
gião (geralmente rural) que representam a vida da população, onde seus saberes relacionam
plantas medicinais à cura (BARBOSA, 2018).
A representação emblemática nesses espaços se dá através da imagem de curan-
deiros, rezadeiras, benzedores, pajés, entre outras demonizações, que são pessoas tidas
como escolhidas para “dom” que é constituído em práticas cotidianas de conhecimento e da
cura, que é herdado e se perpetua ao longo de gerações, garantindo a não extinção dessas
práticas (CHALHOUB, 2003; BARBOSA, 2018). Em Guiné Bissau, o conhecimento sobre a
medicina tradicional também é transmitido dentro do clico familiar que são transmitidos de
geração em geração ou através de curandeiros específicos que detém conhecimentos mais
amplo sobre o uso e manejo das plantas e drogas naturais; mas, com o passar do tempo,
esses conhecimentos vêm se perdendo na cultura guineense (SILVA, 2014).
Essa tem sido uma questão tida como problema; com o avanço da modernidade, a sus-
tentabilidade dessas práticas nessas comunidades tradicionais vem perdendo força através
da falta de interesse e descrenças dos mais jovens, levando-os a não continuidade de tais
práticas no uso sustentável de Plantas Medicinais (ALMEIDA et al., 2020; SOUSA et al.,
2021; CATARINO; HAVIK; ROMEIRAS, 2016; LIMA et al., 2016).

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Assim, se faz necessário um incentivo dessas práticas e culturas entre os jovens, pois
tais práticas sustentáveis e conhecimentos estão se perdendo e ocasionado um grande
problema para a questão sociocultural dos países lusófonos, ou seja, apesar dos benefícios
trazidos pela modernidade, temos o lado negativo sobre a grande tentativa de desvaloriza-
ção do saber popular, gerando prejuízos as raízes e tradições das populações e causando
danos muitos graves e irreversíveis para a cultura de uma dada região.

Plantas Medicinais, Fitoterapia e Biodiversidade

Entre os diversos elementos possíveis para se compreender a concepção da biodi-


versidade, a abordagem da etnobotânica pelas comunidades tradicionais e comunidades
urbanas se apresenta como um elemento essencial na luta pelo resgate dos conhecimentos
sobre as plantas medicinais, uma vez que essas populações apresentam um conhecimento
empírico que foi passando de geração em geração.
Assim, Monteles e Pinheiro sintetizam essa relação entre comunidades tradicionais,
meio ambiente e a promoção da cultura:

As comunidades tradicionais, em função da forte influência do meio natural,


apresentam modos de vida e cultura diferenciadas. Seus hábitos estão direta-
mente submetidos aos ciclos naturais, e a forma como apreendem a realidade e
a natureza é baseada não só em experiência e racionalidade, mas em valores,
símbolos, crenças e mitos (MONTELES E PINHEIRO, 2007, p.39).

Ainda sobre a constituição desse rico conhecimento, Soares, et al. (2015), citan-
do Di Stasi, et al. (2002), ressalta a importâncias das pesquisas sobre plantas medicinais:

As pesquisas etnofarmacológicas possuem importantes ferramentas de regis-


tros e documentação dos usos empíricos de plantas medicinais em comunida-
des tradicionais, tendo a finalidade de gerar o conhecimento útil para levar ao
desenvolvimento de novos medicamentos, da conservação da biodiversidade
e a valorização do saber e da cultura local. (SOARES, et al. 2015, p. 901 apud
Di Stasi, et al. 2002).

As comunidades, historicamente, vêm passando por grandes transformações econô-


micas e sociais. Entre os séculos XV e XIX, o mundo passou a desenvolver novas maneiras
de se relacionar e de se apropriar da natureza; povos e culturas se cruzaram, assim, “os
modos de uso, de preparo e as espécies vegetais utilizadas nas práticas terapêuticas locais
sugerem formas sincréticas de práticas africanas fortemente influenciadas por práticas te-
rapêuticas indígenas” (MONTELES E PINHEIRO, 2007, p.46 e 47).
Ainda para Monteles e Pinheiro (2007), as práticas culturais teriam como origem a
combinação de crenças e experimentação empírica do mundo vegetal, possibilitando a
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descoberta de tratamento para curas e males no plano orgânico e espiritual. Nesse sentido,
Firmo (2011) amplia o campo de visão e relata que a biodiversidade pode ser analisada por
diversos ângulos, entre eles, pelo seu papel evolutivo, ecológico ou como recurso biológico.
Ainda segundo Firmo (2011), a utilização de elementos naturais, especificamente as
plantas, com a finalidade medicinal, nasceu com a humanidade. Diversas civilizações, nos
mais variados períodos, apresentam em suas histórias a prática da cura por meio da utili-
zação de plantas. Assim, “diante deste contexto, através do histórico do uso da fitoterapia,
destaca-se a importância do conhecimento popular e a necessidade de um envolvimen-
to científico para melhor aplicabilidade e uso das plantas medicinais e da biodiversidade”
(FIRMO, 2011, p.91).
No que tange a utilização de plantas e seus compostos bioativos, Dutra et al., (2016)
relatam que o uso da papoula (Papaver somnniferum) e maconha (Cannabis sativa) são
descritos por até 4.000 anos. No entanto, as buscas por constituintes ativos presentes nas
plantas medicinais iniciaram no século XIX. Friedrich Sertuner, em 1806, foi o pioneiro quando
isolou um alcaloide, a mofina a partir da papoula: um evento que motivou a busca contínua
por outros medicamentos derivados de plantas. Após ele, muitos outros pesquisadores iso-
laram compostos bioativos de diversas espécies de plantas.
Levantamentos etnobotânicos realizados nos últimos anos revelam que a utilização de
plantas medicinais é uma prática que persiste em diversas regiões do território brasileiro,
como o trabalho de Souza et al. (2014), que realizou um levantamento de plantas utilizadas
pela população no tratamento de diversas enfermidades. Saraiva et al. (2015) consideram
que o conhecimento tradicional sobre plantas medicinais é de extrema importância para di-
versos campos científicos e tecnológicos, uma vez que algumas espécies apresentam grande
potencial na medicina tradicional. Além dos estudos realizados no Brasil, levantamentos em
países lusófonos como Guiné-Bissau que revelou a utilização de diversas plantas medicinais
das quais a grande maioria são espécies nativas (CATARINO; HAVIK; ROMEIRAS, 2016).
Quando analisadas os aspectos fitoquímicos, um estudo realizado por Silva et al.
(2011), com o objetivo de revisar os estudos fitoquímicos realizados com plantas medicinais
para o tratamento da malária na medicina tradicional nos países lusófonos (Angola, Brasil,
Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe) mostraram que diversas
plantas medicinais de uso popular ainda foram pouco estudadas cientificamente do ponto
de vista fotoquímico.
Observa-se, portanto, pontos de ligação entre os dois polos, sobre os aspectos me-
dicinais no Brasil e África, em um contexto de sustentabilidade e biodiversidade. Para tan-
to, ressaltamos aqui o caráter cultural que liga os dois locais, tanto Brasil quanto á África
apresentam elementos que se completam, seus conhecimentos sobre a utilização da flora
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como componente medicinal exige uma estrutura cientifica que possa validar o conhecimen-
to empírico. Assim, a Etnobotânica é “uma disciplina científica que proporciona métodos
e ferramentas bem adaptadas aos estudos botânicos, ecológicos e antropológicos, pois
permite estudar os conhecimentos autóctones e, concomitantemente, conhecer estado de
conservação da biodiversidade local” (FANÇONY, 2021, p.243).
Dessa forma, é possível observarmos que a história da evolução humana está atrelada,
também, ao processo de conhecimento que cada povo tinha sobre as plantas medicinais em
seu determinado tempo histórico, assim, por meio das relações socioculturais, a utilização
das plantas medicinais, seus modos e preparos foram sendo influenciadas pelos diversos
grupos que se cruzaram.
De acordo com. Firmo, (2011), citando Maciel (2002), fortalece o processo histórico que
as comunidades e povos passaram ao longo dos tempos e a importância do conhecimento
empírico que elas produziram e produzem sobre as plantas medicinais, assim:

O conhecimento sobre plantas medicinais simboliza, muitas vezes, o único


recurso terapêutico de muitas comunidades e grupos étnicos. As observações
populares sobre o uso e a eficácia de plantas medicinais de todo mundo,
mantém em voga a prática do consumo de fitoterápicos, tonando válidas as
informações terapêuticas que foram sendo acumuladas durante séculos (FIR-
MO, 2011, p. 92 Apud MACIEL et al., 2002, p. 429).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que os medicamentos


tradicionais sejam utilizados por cerca de 60% da população mundial, e em alguns países,
são amplamente incorporados aos sistemas de saúde. O uso de plantas medicinais é a
forma de tratamento mais comum na medicina tradicional e complementar no mundo, além
disso reconhece-se que as plantas medicinais são obtidas por meio de coleta e cultivo em
populações locais. Compreende, portanto, o grande papel do conhecimento etnobotânico
quanto ao uso de plantas medicinais.
É importante destacar o grande papel do Brasil no âmbito da biodiversidade, pois de-
tém a maior porcentagem de biodiversidade do planeta, compreendendo mais de 45.000
espécies de plantas superiores com cerca de 20-22% do total existente no planeta (DUTRA
et al., 2016). Portanto, diante do exposto, o estudo sobre a medicina natural no Brasil e
nos países lusófonos, no contexto da saúde, sustentabilidade e biodiversidade, apresenta
elementos importantíssimos que se completam, ou seja, é possível observarmos a ampla
relação existente entre Brasil e África; ambos lugares apresentam uma biodiversidade ri-
quíssima, além é claro, de historicamente terem suas relações cruzadas, possibilitando uma
rica miscigenação ancestral e cultural.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Brasil, por possuir uma das maiores biodiversidades de plantas medicinais do mundo,
traz historicamente o uso da prática destas para tratar doenças e curar males da alma, entre
outras aplicações. Além de incentivar o uso de plantas medicinais, é dever dos serviços de
saúde orientar e esclarecer a população sobre o uso das mesmas e seus possíveis efeitos
colaterais, pois mesmo sendo isentas de prescrição médica, não estão isentas de efeitos
adversos; isto também ajuda na socialização e aproximação dos usuários com os profissio-
nais de saúde, envolvendo o conhecimento medicinal popular e o saber científico.
Estes saberes são uma forma de compreender melhor o processo de saúde-doença
da população, somar o que é aprendido nas experiências de vida (com vizinhos, parentes,
amigos) ao saber científico para possibilitar o uso seguro de plantas medicinais e fitoterá-
picos. Devido a gama de plantas que temos em nosso território, ainda falta mais incentivo
em pesquisas, mais profissionais habilitados e disseminadores de conhecimentos populares
e científicos, para que a nossa biodiversidade seja explorada de forma mais consciente,
gerando autonomia, integração de saberes e auto sustentabilidade.
Quanto à África, as plantas ainda são empregadas no tratamento de uma vasta gama
de condições de saúde por uma grande parcela da população, principalmente nas comu-
nidades rurais que continuam a depender, em grande parte ou exclusivamente de flora
medicinal, para tratar doenças comuns e endêmicas, com destaque no âmbito do binômio
“Biodiversidade e Sustentabilidade”.

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02
Desenvolvimento de cartilha educativa
sobre plantas medicinais e seus efeitos
sobre a saúde materno-infantil

Lívia Moura do Nascimento Raimundo Walisson Moura da Hora


ICS/UNILAB ICEN/UNILAB

Antonio Wendel Nogueira Oliveira Rejane Chaves Campos


ICS/UNILAB PPGEF/UNILAB

Meyrenice Cruz da Silva Jeferson Falcão do Amaral


ICS/UNILAB MASTS/UNILAB

Iara Nayane de Araújo Lucas Leilane Barbosa de Sousa


ICS/UNILAB MAENF/UNILAB

'10.37885/220308120
RESUMO

Objetivou-se desenvolver uma cartilha educativa sobre plantas medicinais e seus efeitos
sobre a saúde materno-infantil direcionada para gestante. Este estudo é de abordagem
metodológica, por enfocar o desenvolvimento de uma cartilha educativa. Foi dividido em
quatro fases distintas: na primeira fase, foi realizada uma revisão bibliográfica; a segunda
fase constituiu na escolha dos tópicos para compor a cartilha; a terceira fase contemplou
a escolha das imagens da cartilha bem como a construção do designer e a diagrama-
ção. O conteúdo da cartilha contemplou as seguintes plantas contraindicadas: babosa,
canela, hortelã, hibisco, romã, quebra-pedra, arruda, eucalipto e camomila. Já entre as
indicadas, foram selecionadas: beterraba, alho, gengibre, couve, linhaça, ameixa e sal-
sa. O material foi organizado em 24 páginas e em design atrativo ao público-alvo. A car-
tilha poderá contribuir para a promoção do uso seguro de plantas medicinais na gestação
após procedimento de validação.

Palavras-chave: Plantas Medicinais, Saúde Materno-Infantil, Tecnologia Educacional.

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INTRODUÇÃO

A gravidez é um período único que requer uma série de cuidados para mãe e para o
bebê, pois é uma fase de alterações que torna a mãe e o feto expostos a riscos, especial-
mente em relação ao uso de medicamentos ou plantas medicinais. Mais comum do que o
uso de medicamento, o uso empírico de plantas medicinais é feito há muito tempo. Desde
épocas remotas esse costume faz parte da evolução humana e foi um dos primeiros recursos
terapêuticos utilizados pelos povos, fazendo parte de várias culturas, onde muitas gerações
utilizavam as ervas como única forma de tratamento para seus males e, dessa forma, de
maneira empírica foi interpretado seu poder de cura (PIRES et al., 2016).
A gestação é um período que leva a alterações fisiológicas, ocasionando muitos sin-
tomas nas gestantes que vão desde os enjoos repentinos, no início da gestação, à azia que
geralmente acontece no último trimestre da gestação. Isso faz com que as grávidas recorram
ao uso de algumas plantas medicinais para fazer chás em busca de alívio de tais sintomas.
Entretanto, é necessário lembrar a importância do uso racional dessas ervas medicinais, em
especial a gestantes sensíveis a certo tipo de compostos fitoterápicos.
A exposição a substâncias tóxicas, advindas do uso de plantas medicinais, é um grande
problema para a saúde materno-infantil devido ao fato de que o uso de preparações artesa-
nais, obtidas de plantas, pode possibilitar o aparecimento de interações medicamentosas
desconhecidas na mãe e prejuízo ao desenvolvimento fetal, sendo notável a carência de
informações sobre o uso de bioativos e quais os efeitos sobre o embrião durante o período
gestacional (LOPES et al., 2017).
O uso empírico de plantas medicinais é uma prática muito utilizada entre as gestan-
tes. As gestantes são as maiores usuárias de chás e ervas medicinais devido à cultura e
a crença de que o natural é sinônimo de seguro; com o objetivo de aliviar sintomas como:
náuseas, vômitos, azia e constipações, advindas da gravidez (MAIA, 2019).
Em contrapartida, existe uma grande carência em estudos que avaliam os riscos tera-
togênicos aos quais essa população possa estar exposta, uma vez que cada vez mais são
descobertas novas plantas medicinais; além disso, ensaios clínicos para avaliar o efeito de
bioativos em gestantes não são considerados seguros e nem eticamente viáveis, uma vez
que os riscos tendem a ser, na maioria das vezes, maior que o beneficio. Assim, surge a
necessidade de atualizações constantes sobre o uso de plantas medicinais durante o perío-
do gestacional, visando proteger a mãe e o feto dos riscos aos quais estão expostos, bem
como identificar os efeitos do uso de bioativos (LOPES et al., 2017).
O uso de qualquer substância ou plantas medicinais durante a gestação deve se
administrado com cautela, pois além dos benefícios que são conhecidos pelas mulheres
popularmente, essa exposição pode trazer também malefícios, possibilitando o surgimento
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de reações desconhecidas na saúde materno/infantil, ocasionando prejuízos no desenvolvi-
mento fetal; entretanto, não há estudos que comprovem essas informações. Sendo assim, é
importante realizar o monitoramento em relação aos riscos/benefícios para o uso de plantas
medicinais no alívio desses sintomas (MAIA, 2019).
A partir disso, as consequências sobre o feto em relação ao uso de chás e ervas me-
dicinais pelas gestantes é considerado um fator de grande preocupação, pois estudos e
pesquisas que mostrem os potenciais riscos aos quais estão expostos a mãe e o feto ainda
são limitados. Nesse contexto, as informações abordadas por meio da comunicação de es-
tudos, através de atividades educativas, são de total importância para a promoção do uso
racional de plantas medicinais no período gestacional.
A equipe de enfermagem tem um papel fundamental na promoção da saúde em re-
lação aos cuidados que se deve ter durante o período gestacional, inclusive acerca de
quais riscos e efeitos estão relacionados ao uso de plantas medicinais durante a gestação.
Além de orientar, acompanhar e avaliar a gestante durante todo o pré-natal é importante
promover ações educativas para a gestante visando o cuidado da saúde da mãe e do feto
(ANDRADE et al., 2016).
No processo de educação em saúde da gestante, é relevante o uso de ferramentas
de fácil acesso a informações, como por exemplo a cartilha educativa que é um material
educativo impresso que tem a finalidade de comunicar informações que auxiliem pacientes,
familiares, cuidadores e comunidades a tomar decisões mais assertivas sobre a sua saúde
(REBERTE, 2008).
Comparada a outros tipos de tecnologias educativas, como por exemplo o vídeo e
álbum seriado, a cartilha educativa destaca-se por consistir em tecnologia de fácil acesso,
baixo custo, não depende de recursos tecnológicos complexos e pode ser consultada pela
gestante em qualquer lugar e momento.
Diante dessa realidade, esta pesquisa foi delineada visando o desenvolvimento de uma
cartilha educativa que poderá ser validada e disponibilizada para uso em unidades básicas
de saúde. A cartilha educativa desenvolvida poderá contribuir para o conhecimento sobre o
consumo de plantas medicinais utilizadas pelas gestantes durante o período gestacional e
sobre os eventuais riscos aos quais a gestante e o feto estão expostos, bem como lançará
bases para o direcionamento de orientações sobre o uso de plantas medicinais que trazem
benefícios para alívio dos sintomas advindos da gravidez.

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OBJETIVO

O artigo teve como objetivo desenvolver uma cartilha educativa sobre plantas medici-
nais e seus efeitos sobre a saúde materno-infantil direcionada para gestantes em qualquer
período gestacional.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo de abordagem metodológica, por enfocar o desenvolvimento


de uma cartilha educativa (POLIT, BECK, 2011). Esse tipo de estudo tem como objetivo
elaborar um produto tendo como meta um material com confiabilidade que posteriormente
possa ser utilizado para outros estudos ou para uso em educação em saúde (LOBIONDO-
WOOD, HABER, 2001).
O estudo foi realizado em quatro fases distintas. Na primeira fase, foi realizada uma
revisão bibliográfica visando delimitar o conteúdo, assim como, categorizar as temáticas.
Nessa fase, foram identificadas as plantas medicinais que possuem potencial nocivo para
as gestantes e para o feto; bem como as que auxiliam nos sintomas da gestação e não
possuem potencial tóxico. O estudo foi fundamentado no manual intitulado “A fitoterapia no
SUS e o Programa de Pesquisas de Plantas Medicinais da Central de Medicamentos”, o
qual constitui um estudo de base sólida (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).
A segunda fase foi constituída pela seleção dos seguintes tópicos para compor a car-
tilha: nome popular da planta, parte utilizada, forma de preparo, indicação, contraindicação,
efeitos adversos. As plantas foram selecionadas de acordo com a disponibilidade na região
do Maciço de Baturité (NETO et al., 2019).
Na terceira fase, ocorreu a seleção das imagens ilustrativas para o material. Foi con-
siderado o contexto sociocultural do público-alvo e a utilização de imagens de fácil entendi-
mento, integrando-se a proposta de uma linguagem adaptativa, permitindo fácil compreensão
e tornando acessível para as pessoas de pouca ou nenhuma escolaridade.
A quarta e última fase se desenvolveu com a construção do design e diagramação do
material por um profissional de comunicação e público, com o auxílio do programa Corel Draw.
O presente estudo não necessitou ser submetido à apreciação pelo Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP) para ser realizado, pois os dados trabalhados são de origem secundária,
ou seja, de pesquisas já realizadas, alimentado com dados primários. Ressalta-se, todavia,
que foram respeitadas as recomendações da Resolução No 466/12 do CNS/MS.

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RESULTADOS

Inicialmente, foram selecionadas plantas contraindicadas e as que possuem potencial


benéfico e seguro para a gestante e para o feto. Após isso, foram identificados o nome popular
da planta, a parte utilizada, a forma de preparo, a indicação, a contraindicação e os efeitos
adversos. Foram encontradas 40 plantas contraindicadas durante o período gestacional.
Destas, foram selecionadas nove, que consistem nas mais populares na região do Maciço
de Baturité (NETO et al., 2019).
Assim, no quadro 1 e no quadro 2, foram apresentadas, respectivamente, as plantas
medicinais contraindicadas na gestação e as que auxiliam nos sintomas gestacionais e não
possuem potencial tóxico. No quadro 1, as plantas contraindicadas foram apresentadas de
acordo com o nome popular, nome científico e respectivos afeitos adversos na gestação.

Quadro 1. Plantas medicinais contraindicadas na gestação.

NOME POPULAR NOME CIENTÍFICO EFEITOS ADVERSOS


Babosa Aloe Vera; A. barbadensis Contrações uterinas, aborto
Canela Cinnamomum cassia PIG, Aborto
Hortelã Mentha peperita Teratogenicidade
Hibisco Hibiscus rosa-sinensis Emenagogo, aborto
Romã Punica granatum Contrações, aborto
Quebra-pedra Phyllanthus niruri Contrações, abortos
Arruda Ruta graveolens L. Abortiva
Eucalipto Eucaliptus globulus Abortivo
Camomila Chamomila recutita Abortiva
Fonte: MAIA (2019, P.22).

Na tabela 2 foram selecionados alguns tipos de plantas medicinais com sua indicação
e forma de preparo. O quadro contempla nome popular, nome científico, indicação, parte
utilizada e forma de preparo das plantas medicinais seguras e que podem promover alívio
de sintomas específicos do período gestacional. Foram identificadas 18 plantas indicadas

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como benéficas durante a gestação. Destas, foram selecionadas as que se encontravam
disponíveis na região do Maciço de Baturité (NETO et al., 2019).

NOME POPULAR NOME CIENTÍFICO INDICAÇÃO PARTE UTILIZADA MODO DE PREPARO


Uso Interno: Infusão - colocar a raiz em
uma xícara de chá 150 ml adicione água
Beterraba Beta Vulgaris L. Prevenção de Anemia Raiz fervente a raiz e deixe abafado por 2 a
3 minutos. Tomar ainda morno e sem
açúcar.
Uso interno: Infusão - ferva cerca de 250
Prevenção de anemia
ml de água, descasque 2 a 3 dentes de
auxilia no controle
Alho Allium sativum Dente de Alho alho, coloque em uma xícara de chá,
da PA, colesterol e
adicione água fervente e abafe; deixe
infecções
descansar por 10 minutos e tome morno.
Uso interno: infusão ou decocção - 0,5g a
1,0g do rizoma (picado para decocção ou
ralado para infusão) para 01 xícara de chá
(150mL) de água. Após o preparo deixar
Gengibre Zingiber officinale Náuseas e vômito Raiz o recipiente tampado por 10 minutos e
tomar 2 a 4 vezes ao dia. Uso externo:
realizar a mesma forma de preparo, após
utilizar fazendo bochecho ou gargarejo de
2 a 4 vezes ao dia.
Preparo: bater no liquidificados as folhas
Prevenção de Ane-
Couve Brassica oleracea Suco das folhas com água gelada, coar e tomar. Obs.:
mia, Males gástrico.
pode utilizar junto com limão.
Deixe 1 colher de chá de semente de
linhaça de molho em água fria por uma
Uso como Alimen-
Linhaça Linum usitatissimu m L. Constipação noite. Pela manha elas estão prontas
to
para consumo. Pode usa-las no cereal, ou
mingau de aveia ou come-las diretamente.
Chá de ameixa: colocar três ameixas
Ameixeira Prunus Laxante Fruto secas e uma xícara de água numa panela
e deixar ferver.
Fonte: MINISTÉRIO DA SAÚDE, (2006).

Ao que concerne à construção da cartilha, posterior a leitura dos estudos publicados


relacionados com a temática de plantas medicinais e gestação, foram compiladas as princi-
pais informações e a dinamização da estrutura do material. Foi construído com linguagem
simples, de forma a apontar as plantas medicinais contraindicadas na gestação e as que
auxiliam nos sintomas gestacionais e que não possuem potencial tóxico.
O título escolhido para a cartilha foi “Uso seguro de plantas medicinais na gestação”,
e sua elaboração teve por objetivo ofertar as informações, de forma agradável, associada a
imagens como estratégia para tornar o aprendizado acessível, interativo, dinâmico e didático.
A cartilha foi confeccionada em 24 páginas, tamanho A4, com imagens e desenhos
criadas em vetor e reais, todas baixadas do Google, sendo que algumas usadas em sua
forma original e outras passaram por um processo de modelagem para se adaptarem ao
conteúdo escrito. O programa utilizado foi o Corel Draw, a fonte da letra da capa é a Black
to Black Bold Demo e na parte interna da cartilha a letra é Arial tamanho 12.

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Figura 1. Capa. Figura 2. Reações adversas.

Figura 3. Plantas Contra indicadas. Figura 4. Plantas Indicadas.

Fonte: Imagens desenvolvidas por designer gráfico sob supervisão da autora do estudo.

DISCUSSÃO

As plantas medicinais e seu uso exigem conhecimento adequado, principalmente no


período da gestação, fase em que a mulher passa por diversas modificações no organismo,
tanto físicas como emocionais. Nesta etapa da vida, a gestante pode recorrer a plantas
medicinais que podem apresentar efeitos adversos. Alguns compostos bioativos podem
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farmacologicamente atuar como substâncias tóxicas que podem ser potencialmente aborti-
vas por aumentarem a contratilidade uterina ou causar má formação do feto (MAIA, 2019).
Por outro lado, estudos demonstraram que plantas medicinais podem auxiliar nos
sintomas gravídicos e não possuírem potenciais tóxicos. Porém, a grande maioria pode
ser utilizada somente após o primeiro trimestre da gestação (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2006; MAIA, 2019).
O uso de plantas medicinais por gestantes vem se tornando cada vez mais comum, e
é por esse fator a importância do conhecimento que as gestantes precisam buscar, com o
uso de algumas espécies de plantas durante o período gestacional, devido à exposição e
as reações que podem ser causadas ao uso excessivo; pela possibilidade de atravessar a
barreira placentária o feto fica exposto aos riscos de aborto, malformação, imaturidade fetal
dentre outros (ANDRADE et al., 2017).
Existem mais de 100 espécies de plantas medicinais contraindicadas na gravidez por
causar algum impacto negativo no processo de crescimento e maturidade do feto. No quadro
1 observamos exemplos de algumas espécies com suas reações causadas com o consumo
da planta no período gestacional, informações encontradas no Manual da Rede cegonha
intitulado “plantas medicinais para o uso na gravidez parto e durante a amamentação”.
Diante dos riscos e benefícios do uso de plantas medicinais na gestação, percebeu-
se a necessidade de se elaborar um material informativo para orientar e monitorar o uso
dessas plantas nas gestantes, priorizando sempre a espécie que pode ser usada e de que
forma pode ser preparada e em que período da gestação pode ser ingerida, visando o uso
seguro para a mãe e para o filho.
O Aloe vera, conhecida popularmente como babosa, é da família das Xanthorrhoeaceae
e a parte utilizada para fins medicinais é o gel incolor mucilaginoso encontrado nas folhas
frescas. É indicado para queimaduras de primeiro e segundo graus e como cicatrizante
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016). Porém, seu uso na gestação é contraindicado devido a
presença de antraquinonas, um constituinte presente na planta que causa um efeito esti-
mulatório o qual pode causar reflexos na musculatura uterina e induzir o aborto (FREITAS,
RODRIGUES, GASPI, 2014).
A Cinnamomum verum, conhecida popularmente como canela, é da família Lauraceae
e sua parte utilizada para uso medicinal é a casca. A canela, apesar de trazer benefícios
como auxílio na digestão, controle da menstruação e auxílio na eficácia da insulina no corpo,
seu uso na gestação é contraindicado, por possuir propriedades estimulantes de contrações
uterinas e induzir ao aborto. Não existe estudo clínico que descarte ou comprove essa pos-
sibilidade, por isso o uso não é recomendado (PONTES et al., 2012).

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A Mentha s,p conhecida popularmente como hortelã, é da família Lamiaceae e é uma
planta medicinal aromática, cuja as partes utilizadas para tratamento fitoterápico são as
folhas. A hortelã, apesar de ser benéfica no tratamento de problemas digestivos como má
digestão enjoos e vômitos durante o período gestacional, não é recomendada por causar
efeito teratogênico ao feto (GORRIL et al., 2016).
O Hibiscus L., conhecida popularmente como Hibisco, é da família Malvaceae e suas
folhas e raízes são as partes utilizadas no tratamento fitoterápico. É uma planta muito comum
e bastante utilizada para auxiliar a perda de peso e retenção de líquidos; o Hibisco não é
recomendado na gestação porque possui potencial tóxico que induz o aborto (ARULLAPPAN,
ZAKARIA, BASRI, 2009).
A Punica granatum, pertencente à família Lythraceae e conhecida popularmente como
Romã, é uma fruta muito utilizada na terapia medicinal. A parte utilizada para tratamento
fitoterápico são as sementes, muito conhecida por seu efeito antiflamatório e utilizada para
tratar dores na garganta. O Romã é contraindicado na gestação desde a segunda sema-
na até o final da gestação, porque causa contrações e causa efeito abortivo na gravidez
(MELO et al., 2015).
O Phyllanthus niruri, pertence à família Phyllanthaceae, é conhecido popularmente
como quebra-pedra e suas folhas são usadas como diurético, suas raízes são usadas para
tratar infecções urinárias, pedra nos rins e outras complicações. Seu uso durante a gravidez
não é recomendado porque possui princípios ativos que ultrapassam a barreira placentária,
podendo induzir ao aborto e, durante a amamentação, pode ser excretado no leite materno
sendo ingerido pelo bebê e causando reações ao organismo do mesmo (AITA et al., 2009).
A Ruta graveolens, conhecida popularmente como Arruda, é da família Rutáceae e a
parte utilizada para fitoterapia são as partes aéreas (folhas); é uma espécie de planta me-
dicinal contraindicada na gestação pois é uma planta com propriedades tóxicas e seu uso
pode interferir no desenvolvimento embrionário, causar má formação, induzir o estímulo da
contração uterina e consequentemente o aborto (BORGES, OLIVEIRA, 2015).
Existem duas espécies de Eucalipto: o Eucalyptus tereticornis que tem o princípio ativo
mais tóxico (citronelal) e é mais comum no Nordeste; e o Eucalyptus globulus (cineol) que é o
mais medicinal e mais comum em biomas florestais. Ambos pertencem à família Myrtaceae e
suas folhas são as partes utilizadas para tratamento fitoterápico. O chá de Eucalipto é muito
utilizado para tratar problemas respiratórios, porém seu uso não e recomendado na gravidez,
pois seu potencial tóxico pode causar má formação e induzir ao aborto (SOUZA et al., 2013).
A Chamomila recutita, popularmente conhecida por Camomila, pertence à família
Asteraceae e a parte utilizada são as inflorescências. A camomila possui efeitos antiespas-
módico, ansiolítico, sedativo leve e anti-inflamatório em infecções da cavidade oral. Contudo,
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ao que concerne a contraindicação as gestantes, é devido à atividade emenagoga e relaxante
da musculatura lisa que pode causar aborto (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016).
Algumas plantas, contudo, podem ser indicadas por conta do potencial terapêutico na
gestação. Entre essas, o presente estudo destacou a beterraba, o alho, a couve, gengibre,
linhaça, ameixa e salsa.
A beterraba (Beta vulgaris) é muito recomendada por ser rica em fibras e potássio,
suas propriedades ativam a circulação de sangue sua raiz é recomendada na gestação por
conter ácido fólico e consequentemente prevenir anemia. Além do chá da raiz, a beterraba
pode ser usada para fazer suco, consumir crua nas saladas e utilizar para fazer o famoso
mel da beterraba (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).
O alho (Allium sativum) é uma planta medicinal utilizada para prevenir inúmeros ma-
les, desde as complicações no aparelho digestivo a verminoses, parasitismo, gripe en-
tre outros. Durante a gestação, seu uso é recomendado para prevenir anemia e contro-
lar a pressão arterial. O uso do alho e reconhecido pela Agência Nacional de vigilância
sanitária (ANVISA) como medicamento fitoterápico sendo seguro seu uso por gestantes
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016).
Durante a gestação, as náuseas e vômitos são as queixas mais comuns, principalmente
no primeiro trimestre da gestação; para o tratamento dessa condição, a planta medicinal
recomendada é o Zingiber officinale, conhecido popularmente como gengibre. O Gengibre
tem ações anticolinérgica e anti-histamínica que possibilitam a atividade antiemética desde os
casos moderados aos intensos. O Gengibre possui efeito semelhante ao da vitamina B6 na
gravidez, não apresenta reações adversas ao ser consumido pelas gestantes, sendo con-
siderado seu uso na gestação (MAIA, 2019).
A Brassica oleracea L, conhecida popularmente como Couve, é utilizada tanto como
alimento como planta medicinal. O suco extraído de suas folhas é recomendado para tratar
males gástrico e o uso durante a gravidez é indicado por possuir substâncias como fibras,
vitaminas e minerais, que auxiliam na prevenção contra anemia e sua ação anti-inflamatória
ajuda a combater qualquer tipo de inflamação no organismo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016).
Outro sintoma muito comum durante a gestação é a constipação, devido às alterações
fisiológicas advindas dos hormônios da gravidez. O uso da planta recomendada é a Linum
usilatitissimum, mais conhecida como Linhaça, que tem ação lagartixa e é bastante utilizada
para alívio da constipação. Porém, o uso da Linhaça deve ser exclusivo na forma de alimento
a partir do segundo trimestre da gestação (MINISTERIO DA SAUDE, 2006).
A constipação durante a gravidez está relacionada com a diminuição da motilidade,
por influência da progesterona. A busca de laxantes naturais que não causem efeito tóxico
no feto levou a indicação da ameixa. O uso de chá de ameixa é recomendado como laxante
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natural na gestação, o consumo diário de sementes secas para fazer o chá resulta na me-
lhora do sintoma de constipação intestinal, sendo incluído na alimentação da gestante sem
causar efeito na saúde do bebê (GOULART BRCARELLO, 2000).
A salsa é uma planta medicinal cujo nome científico é Petroselinum crispum (Mill)
Fuss. A salsa contém um grande número de substâncias com efeito benéfico no corpo
como ácido fólico, vitaminas, minerais, potássio dentre outros. Durante a gravidez, a salsa é
indicada porque além de possuir várias vitaminas ela estimula a produção do leite materno
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).
Esta cartilha, além de contribuir para a popularização do conhecimento sobre o uso
correto de plantas medicinais na gestação, também pode ser utilizada como uma ferramenta
de educação em saúde (posterior ao processo de validação) por proporcionar conhecimento
sobre uma temática de suma importância e favorecer ao leitor a compreensão, através de
imagens ilustrativas, sobre os riscos aos quais estão expostos a saúde da mãe e do feto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A elaboração da proposta da tecnologia educativa oportunizou inicialmente a aproxi-


mação e aprofundamento com o tema proposto, tornando possível a construção de uma
experiência relevante para os pesquisadores envolvidos, bem como na disseminação de
informações embasadas cientificamente para melhor esclarecer sobre o uso de plantas
medicinais durante a gestação.
Para melhor compreensão por parte das gestantes, foi necessário realizar uma adap-
tação da linguagem cientifica para a realidade sociocultural e, dessa forma, repassar infor-
mações de forma clara e agradável, associando-as a imagens ilustrativas para aumentar a
retenção do conhecimento.
O estudo se limitou ao desenvolvimento do material, não sendo possível validar em
virtude do tempo disponível para o trabalho de conclusão de curso. Portanto, diante disso,
sugere-se que outros estudos realizem a validação a fim de que a cartilha possa ser dispo-
nibilizada para uso pelo público-alvo.

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na Gestação: Uma revisão da literatura. Infarma-Ciências Farmacêuticas, Brasília, v. 29, n.
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nang, v. 20, n. 2, p. 109, 2009.

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SAÚDE, 2., 2017, Campina Grande. Anais do Congresso Brasileiro de Ciências da Saúde,
Campina Grande, 2017.

9. GORRIL, L. E. et al. Risco das Plantas Medicinais na Gestação: uma revisão dos dados de
acesso livre em língua portuguesa. Arquivos de Ciências da Saúde da UNIPAR, Umuarama,
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10. LOBIONDO-WOOD, G.; HABER, J. Pesquisa em enfermagem: Métodos, avaliação crítica e


utilização. Barueri: Guanabara Koogan,1998.

11. LOPES, G.; PINTO, E.; SALGUEIRO, L. Natural Products: An Alternative to Conventional
Therapy for Dermatophytosis. Mycopathologia, [S.l.], v. 182, n. 2, p. 143-167, 2017.

12. MAIA, C. L. A. et al. Benefícios e Malefícios Relacionados ao Uso Empírico de Plantas


medicinais por Gestantes: Uma revisão da literatura. 2019. Monografia (Bacharelado em Far-
mácia) – Centro de Educação e Saúde, Universidade Federal da Campina Grande, Cuité, 2019.

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Gestação na Cidade de Curitiba-PB. Comunicação em ciências da saúde, Brasília, v. 23,
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16. REBERTE, L. M.; HOGA, L. A. K.; GOMES, A. L. Z. Process of construction of an educational


booklet for health promotion of pregnant women. Revista Latino-Americana de Enfermagem,
Ribeirão Preto, v. 20, p. 101-108, 2012.

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no Pitiú do Maciço de Baturité. Enciclopédia Biosfera, Goiânia, v. 16, n. 29, p. 1211, 2019.

18. SOUZA MARIA, N. C. V. et al. Plantas medicinais abortivas utilizadas por mulheres de UBS:
etnofarmacologia e análises cromatográficas por CCD e CLAE. Revista Brasileira de Plantas
Medicinais, Paulínia, v. 15, p. 763-773, 2013.

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03
Conhecimento, atitude e prática na
utilização de plantas medicinais entre
universitários guineenses

Momente Basílio Lima Jeferson Falcão do Amaral


ICS/UNILAB MASTS/UNILAB

Daniela Raulino Cavalcante Vivian Saraiva Veras


ICS/UNILAB MAENF/UNILAB

Adelina Braga Batista Natasha Marques Frota


ICS/UFC MAENF/UNILAB

Rejane Chaves Campos Anne Fayma Lopes Chaves


PPGEF/UNILAB MAENF/UNILAB

'10.37885/220308121
RESUMO

Objetivou-se identificar conhecimento, atitude e prática na utilização de plantas medicinais


em universitários guineenses da Universidade da Integração da Lusofonia Afro-Brasileira
(UNILAB). Tratou-se de um estudo avaliativo do tipo Conhecimento, Atitude e Prática,
com abordagem quantitativa, realizado on-line, com alunos dos cursos de Enfermagem e
Farmácia da UNILAB. A amostra foi constituída por 34 acadêmicos. Em março de 2021,
foi realizada a coleta de dados através de questionário enviado por e-mail. Houve parti-
cipação de adultos jovens, dos quais 100% relataram conhecer alguma planta medicinal
e 97,1% a eficiência do uso dessas plantas. Porém, 44,1% não sabem sua finalidade,
76,5% conhecem o preparo dessas plantas, 82,3% relataram que as usariam e 100% já
utilizaram alguma vez. A maior utilização foi para problemas respiratórios. Concluiu-se
que são imprescindíveis disciplinas que abordem essa temática nos currículos ou criação
de capacitação para profissionais da área da saúde.

Palavras-chave: Plantas Medicinais, Conhecimento, Estudantes de Ciências da Saúde.

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INTRODUÇÃO

De acordo com Oliveira et al. (2016), o uso de plantas medicinais vem sendo adquirido
através de hábitos observacionais dos seres humanos e no meio no qual estão inseridos;
que de algum modo resulta no aparecimento de conhecimentos valiosos de características
culturais, religiosas e étnicas diferenciadas que há muito tempo vêm sendo usados com vista
a promoção de saúde das pessoas e suas famílias. Esse saber cultural e fusionado revela
a percepção empírica do homem sobre natureza e suas particularidades.
Segundo Badke et al. (2017), o uso de plantas medicinais e fitoterápicos vem se ex-
pandindo nos serviços públicos de saúde, com o intuito de demonstrar o reconhecimento do
saber popular no meio científico. No entanto, existem lacunas na formação acadêmica dos
profissionais da saúde, os quais em sua maioria nunca tiveram contato com o tema plantas
medicinais e/ou terapias complementares durante sua formação acadêmica. Apesar dessa
lacuna, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 80% da população mundial
faz uso de plantas medicinais no cuidado à saúde, demonstrando o distanciamento entre
formação dos profissionais e realidade da população.
Diante do seu papel crucial na promoção da saúde e no tratamento de diversas doen-
ças, as plantas medicinais no contexto das comunidades de países de língua portuguesa,
em especial de Guiné-Bissau, estão sendo tradicionalmente utilizadas (SILVA et al., 2011).
Tendo em vista a sua capacidade na manutenção da saúde, a prevalência do uso de
plantas medicinais para fins terapêuticos tem aumentado significativamente nos últimos
anos. Acredita-se que isso se deve ao fato de estar ligado a fatores como: falta de acesso
ao serviço de saúde, ampla disponibilidade e acessibilidade de ervas e baixo custo; sendo
consideradas inofensivas para grande parte da população pela garantia de segurança em
relação à efeitos tóxicos, bem como por aumento de consumo de produtos naturais e eficácia
no tratamento das enfermidades (ZENI et al., 2015).
Outros autores afirmam que o aumento na procura de plantas medicinais se deve
a melhor relação custo/benefício quando comparada a produtos sintéticos, sua ação no
organismo apresenta baixa toxicidade e efeitos colaterais, custo de produção e preço de
venda mais acessíveis. Ainda pode-se destacar a busca por hábitos mais saudáveis de vida
visando a valorização do meio ambiente pela sociedade com base no consumo de produtos
naturais (ASSIS et al., 2015).
Por ser derivada de origem natural, a utilização de plantas medicinais tem elevada
prevalência, porém percebe-se a necessidade de mais estudos acerca dos benefícios e
malefícios dessa prática na busca de proporcionar mais segurança, eficácia e consumo
racional pelos pacientes (VIRGINIO et al., 2018).

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No Brasil, o aumento no consumo de plantas medicinais tem como característica o uso
empírico, baseado no senso comum e com poucas comprovações científicas. Para tanto,
alguns fatores devem ser levados em consideração para seu uso adequado como intoxi-
cação, reações alérgicas e ineficácia no tratamento, os quais podem ser relacionados ao
uso incorreto dessas plantas; além de erros na identificação das espécies consumidas ou à
forma como são cultivadas, colhidas, armazenadas, conservadas ou preparadas, resultando
em uso irracional dessas plantas. Isso pode levar ao agravamento do quadro clínico dos
pacientes com doenças crônicas que fazem uso de plantas medicinais por possíveis reações
adversas e interações medicamentosas (CAETANO et al., 2015).
Nesse contexto e na realidade vivenciada em Guiné-Bissau, é preocupante o uso de
medicamentos à base de plantas medicinais para fins terapêuticos, uma vez que, há várias
pessoas ou “curandeiros tradicionais” que trabalham com produção, uso e venda. Havendo
curandeiros com mais conhecimentos com relação a forma de colher, preparar e usar essas
plantas e outros com menos informações. Como nesse país, o uso desses medicamentos
é bastante comum, se torna preocupante como esses medicamentos são produzidos. Além
disso, ainda há falta de informação sobre posologia correta, efeitos colaterais e possíveis
reações adversas.
Baseado no exposto, surgiu o seguinte questionamento: Qual o conhecimento, atitude
e prática na utilização de plantas medicinais em universitários guineenses?
Portanto, trata-se de uma pesquisa relevante, visto que a partir dos resultados sobre
Conhecimento, Atitude e Prática da utilização de plantas medicinais entre universitários
guineenses, se vislumbre um novo conhecimento o qual irá direcionar as ações de saúde
para esse público.

OBJETIVO

Identificar o conhecimento, atitude e prática na utilização de plantas medicinais em


universitários guineenses dos cursos da saúde da Universidade da Integração Internacional
da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB).

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo avaliativo do tipo Conhecimento, Atitude e Prática (CAP) com


abordagem quantitativa. A opção pela metodologia CAP ocorreu pela possibilidade de medir
o conhecimento, atitude e prática de uma população, permitindo um diagnóstico destes indi-
víduos, bem como mostrar o que as pessoas sabem, sentem e também como se comportam
a respeito de um tema predefinido (KALIYAPERUMAL, 2004).
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A pesquisa foi realizada no período de março 2021 na Universidade da Integração
Internacional da Lusofonia-Afro-brasileira (UNILAB), uma vez que o público-alvo estuda
nessa Universidade.
A UNILAB, instituída em 2010, pela Lei nº 12.289, como Universidade Pública Federal,
com sede no estado do Ceará e Bahia surge tanto como uma alternativa de formação para
jovens da região do maciço de Baturité, assim como para cooperação Sul-Sul, entre o
Brasil e os demais países da CPLP, Comunidade dos Países da Língua Oficial Portuguesa;
nomeadamente: Guiné-Bissau, Angola, Cabo-Verde, Moçambique, São Tomé e Príncipe,
Portugal e Timor Leste (MOURÃO, 2016).
A Cooperação Sul-Sul (CSS) se apresenta como forma de apoio ao desenvolvimento,
de criação ou fortalecimento de laços políticos, econômicos ou culturais, de negociação no
que se refere a um maior protagonismo internacional e ainda como fonte de poder e de cre-
dibilidade no cenário global. As modalidades adotadas por essa cooperação são no âmbito
de agricultura, saúde, educação, além de defesa (MUÑOS, 2016).
Considerando isto, a população do estudo foi composta por estudantes guineenses
dos cursos da saúde da UNILAB. Foram utilizados como critérios de inclusão os seguintes
quesitos: acima de 18 anos, nacionalidade guineense, estar residindo no Brasil, estar ma-
triculado em cursos da área da saúde, possuir equipamento eletrônico e acesso à internet
para responder o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) e ao instrumento de
coleta de dados. Foram excluídos do estudo os alunos que mudaram o contato telefônico
do cadastro da universidade ou que não atenderam ligações telefônicas após três tentativas
de contato em dias e horários distintos.
De acordo com as informações fornecidas pelo (DRCA), Diretoria de Registro e
Controle Acadêmico, estavam matriculados atualmente 49 discentes guineenses no curso
de Enfermagem e 8 no curso de Farmácia. Logo, não foi necessário cálculo amostral, sendo
incluídos todos os discentes no estudo.
No entanto, apenas 34 universitários participaram da pesquisa, já que alguns alunos an-
teciparam sua formação devido a pandemia da Covid-19 e outros não atenderam às ligações.
Inicialmente, foi conseguiu-se com a DRCA o contato telefônico e e-mail dos alunos
guineenses dos Cursos de Enfermagem e Farmácia após assinatura do Termo de Fiel
Depositário. Posteriormente, foi feita ligação para explanar os objetivos e benefícios da
pesquisa. Aqueles que aceitaram participar receberam o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) em PDF e um questionário criado pelos próprios pesquisadores, utili-
zando-se a ferramenta Google Docs. No e-mail, foi relatada a necessidade da assinatura
do TCLE, o qual deveria ser reenviado por e-mail com assinatura.

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O questionário desenvolvido pelo próprio pesquisador foi composto por duas par-
tes. A primeira com dados sociodemográficos e a segunda com a avaliação do conhecimento,
atitude e prática da utilização de plantas medicinais.
A análise exploratória dos dados consta de frequências absolutas e relativas, média
e desvio-padrão. Os resultados foram apresentados em tabelas e discutidos de acordo
com a literatura pertinente. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira sob número 4.566.79.

RESULTADOS

Participaram 34 universitários dos cursos da área da saúde, os quais eram adultos


jovens com idade média de 25 anos (DP±2,2). Na Tabela 1 estão expostos os dados socio-
demográficos dos participantes da pesquisa.

Tabela 1. Caracterização sociodemográfica dos universitários; Redenção-CE, 2021

Variáveis ƒ %
Sexo
Feminino 27 79,4
Masculino 7 20,6
Curso
Enfermagem 28 82,4
Farmácia 6 17,6
Renda Mensal
Menos de um salário mínimo* 29 85,2
Um salário mínimo ou mais 5 14,8
Semestre
1e2 10 29.4
6, 7, 8 16 47,1
3,4,5,9, e 10 8 23,4
*O salário mínimo no período do estudo no Brasil foi de R$1100,00.

Em relação aos conhecimentos dos universitários sobre utilização de plantas medici-


nais, foi construída a Tabela 2.

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Tabela 2. Conhecimento dos universitários quanto ao uso de plantas medicinais, Redenção CE, 2021

Variáveis ƒ %
Já ouviu falar sobre uso de plantas medicinais?
Sim 34 100,0
Não - -
Conhece alguma planta medicinal?
Sim 34 100,0
Não - -
Tem algum conhecimento sobre a eficácia do uso de alguma/s planta/s medicinal/ais?
Sim 33 97,1
Não 1 2,9
Tem conhecimento de como é feito ou preparado essas plantas medicinais?
Sim 26 76,5
Não 8 23,5
Qual a principal finalidade do uso de plantas medicinais?
Terapêutica 15 44,1
Não sabe responder 19 55,9

Sobre a regulamentação da utilização de plantas medicinais, 29,4% responderam que


a utilização de plantas medicinais no Brasil foi regulamentada e 5,9% responderam que não,
64,7% disseram que não sabiam. Quando questionados sobre a regulamentação da utiliza-
ção das plantas medicinais em Guiné-Bissau, 26,5% responderam que foi regulamentada,
35,3% disseram que não, 38,2% não souberam responder. A seguir, a Tabela 3, apresentará
as atitudes tomadas pelos universitários sobre utilização de plantas medicinais.

Tabela 3. Atitudes adotadas por universitárias sobre utilização de plantas medicinais; Redenção-CE, 2021

Variáveis ƒ %
Faria uso de plantas medicinais?
Sim 28 82,3
Não 6 17,6
Se adoecer, qual seria sua conduta?
Uso de plantas medicinais 1 2,9
Procurar serviço de saúde 30 88,2
Outros 3 8,8
Acha seguro o uso de plantas medicinais?
Sim 21 61,8
Não 13 38,2

A Tabela 4 apresenta as práticas adotadas pelos universitários sobre utilização de


plantas medicinais.

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Tabela 4. Práticas adotadas por universitárias sobre utilização de plantas medicinais; Redenção-CE, 2021

Variáveis ƒ %
Já fez uso de plantas medicinais?
Sim 34 100,0
Não - -
Há quanto tempo faz uso de plantas medicinais?
Há mais de cinco anos 12 35,3
Há menos de cinco anos 22 64,7
Com que frequência faz uso?
Diariamente 3 8,8
Semanalmente 5 14,7
Mensalmente 5 14,7
Semestralmente 10 29,4
Anualmente 11 32,4
De que forma utiliza essas plantas?
Chá 25 73,5
Mastigação 5 14,7
Tópico 2 5,9
Outros 2 5,9
Fonte: Autor, 2021.

Sobre práticas do uso de plantas medicinais adotadas pelos universitários, quando


questionados os responsáveis pela motivação pelo uso de plantas medicinais, 94,1% res-
ponderam que foram seus familiares, 2,9% por amigos e 2,9% por profissional de saúde.
Quando questionados para quais sintomas fizeram uso dessas plantas, 52,9% respon-
deram que foram para problemas respiratórios, 14,7% para problemas intestinais, 26,4%
para problemas osteomuscular e para 5,9% problemas psicológicos.

DISCUSSÃO

Foi observada predominância de adultos jovens nessa pesquisa, sendo um dado que
favorece o cuidado em saúde, haja vista que evidências apontam que adultos jovens demons-
tram melhor capacidade nas tomadas de decisões sobre saúde, levando a comportamentos
e modos de vida saudáveis (BARRETO et al., 2009).
Os dados apontam que discentes usuários de plantas medicinais apresentam uma
renda mensal abaixo de dois salários mínimo. Esses dados assemelham-se à pesquisa
que entrevistou usuários do SUS, a qual enfatizou que o uso das plantas medicinais pode
contribuir para saúde da população de baixa renda (BRASILEIRO, 2008).
Além disso, observou-se que prevaleceram discentes que já tinham cursado grande
parte das disciplinas dos seus respectivos cursos, sendo isso um aspecto positivo, uma vez
que, estudo realizado em uma universidade pública sobre a percepção de competências
clínicas por acadêmicos de Enfermagem, apontou que o conhecimento dos estudantes sobre
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orientação de saúde melhorou de forma considerável ao decorrer do curso, principalmente
quando se aproximavam do estágio supervisionado (ROCHA et al., 2019).
Quanto ao conhecimento sobre uso de plantas medicinais, foi visto que a maior parte
dos universitários demostrou apresentar conhecimento. Esses achados são distintos da
pesquisa que envolveu 339 participantes, dentre os quais, 17% não tinham conhecimento
sobre uso de plantas medicinais e que após as intervenções de capacitação, a mesma fa-
voreceu o conhecimento dos alunos quanto ao uso de plantas medicinais, mostrando que
essas intervenções educacionais são de extrema relevância (ALMEIDA et al., 2012).
Apesar dos resultados apontarem que muitos conhecem a eficiência do uso das plantas
medicinais, o estudo enfatiza que a falta de padronização ou até mesmo o desconhecimento
do uso correto dessas plantas por parte dos usuários, bem como forma de preparo correto,
pode interferir na eficiência a certas doenças e até mesmo podendo ocasionar reações ad-
versas (OLIVEIRA; LUCENA, 2015).
Houve predomínio de universitários que relataram ter conhecimento do preparo de
plantas medicinais, o que difere de estudo de revisão sistemática de Silva et al. (2017), no
qual investigou a utilização de plantas medicinais e fitoterápicas por pessoas, visando bem-
-estar e saúde. As evidências apontaram que o uso incorreto de plantas medicinais pode
ocasionar problemas à saúde, sendo imprescindível o acompanhamento de um profissional
da área para orientar a maneira correta de utilização de determinadas plantas, a fim de ga-
rantir a eficiência do tratamento (SILVA et al., 2017). Acredita-se que essa diferença desse
resultado esteja relacionada ao fato deles serem discentes da área da saúde.
A maioria das espécies das plantas utilizadas possuem características farmacológicas
confirmadas, porém, fatores como modo de preparo e parte utilizada podem condicionar a
efetividade farmacológica dessas plantas, de modo que torna imprescindível ter o conheci-
mento sobre o preparo das mesmas (LIMA; FERNANDES, 2020).
Em relação à atitude dos discentes, foi visto que boa parte não soube responder qual
a finalidade das plantas medicinais, sendo algo preocupante, pois estudo que envolveu 13
pessoas, moradoras do Sertão do Ribeirão, permitiu identificar 114 espécies morfoespécies,
distribuídas em 48 famílias botânicas. Quanto às indicações terapêuticas das plantas medi-
cinais citadas, as categorias mais representativas foram àquelas relacionadas a doenças e
sintomas dos sistemas digestórios (22%), respiratórios (15%) e genitourinário (11%). Tais
indicações demonstram que plantas medicinais contribuem para recuperação da saúde
(GIRALDI; HANAZAKI, 2010).
Quando interrogados se fariam uso das plantas medicinais, a maioria afirmou que sim,
sendo um aspecto positivo pelo custo-benefício e por se tratarem de matérias primas naturais,

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além do que o fácil acesso a utilização dessas plantas está cada vez maior, o que fortalece
práticas tradicionais, levando ao contato direto com a flora local (GIRALDI; HANAZAKI, 2010).
Em caso de adoecimento, foi citada pelos universitários a procura pelo serviço de saúde;
dados distintos de pesquisa realizados por Lima (2013), apud. Gadelha et al. (2015), quando
indagava sobre os motivos que os levavam a fazer uso dessas plantas para fins medicinais,
90% dos entrevistados afirmaram que fizeram uso frequente devido ao conhecimento que
já se tinham sobre eficiência dos remédios e chás caseiros, e que a distância da cidade
não influencia em suas escolhas, enquanto 10% optaram por irem ao posto de saúde ou
à farmácia. Esse achado foi relevante, apesar das evidências apontarem que profissionais
da saúde apresentam lacunas nas orientações quanto a utilização de plantas medicinais
(MIRANDA et al., 2020).
A maioria dos universitários achou seguro o uso das plantas medicinais, esse fato
reforça o quão esses alunos podem ser promotores de saúde no que se refere ao uso das
plantas medicinais. Porém, esse aspecto também é preocupante quando se baseia apenas
no conhecimento popular, já que diversas contribuições científicas, quanto aos aspectos
fitoquímicos e atividade biológica, ainda estão escassos os resultados para a descoberta
de novos fármacos, pois muitas plantas listadas com potencial terapêutico a partir do saber
tradicional ainda não foram investigadas quanto à sua eficiência do ponto de vista farma-
cológico (GOIS et al., 2016).
Foi visto que todos os universitários já utilizaram plantas medicinais alguma vez na vida,
com uma frequência esporádica entre mensal e semestral. Tal fato é observado em outra
pesquisa desenvolvida na cidade Governador Valadares, situada na região Leste do Estado
de Minas Gerais, que envolveu 2.454 participantes, no qual os resultados desta pesquisa
apontam que a utilização de plantas medicinais é bastante difundida, sendo que 36,7%
dos entrevistados utilizam plantas medicinais com frequência, 55,47% utilizam raramente e
apenas 8,06% não utilizam plantas medicinais (BRASILEIRO et al., 2008).
No entanto, pesquisa realizada no Nordeste do Brasil evidenciou que é comum o
uso de plantas medicinais com grande frequência na preparação de remédios caseiros
para o tratamento de doenças em seres humanos, com destaque para as seguintes espé-
cies: hortelã, romã, melão de São Caetano, Capim santo e erva cidreira (PONTES, 2012
apud. GADELHA, et al. 2015). No entanto, vale ressaltar sobre a toxicidade dessas plan-
tas, que pode levar a reações adversas; mesmo que não tenha sido relatado nenhum caso
(CAVALCANTI et al., 2020).
Evidenciou-se que a maioria dos estudantes fez uso das plantas medicinais por meio
dos chás. Esse dado é semelhante ao da pesquisa de Brasileiro et al. (2008), na qual

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mostrou que 78% das preparações eram na forma de chá como principal meio de utilização
das plantas medicinais.
Foi visto que a utilização de plantas medicinais por parte desses universitários foi mo-
tivada na sua maioria por seus familiares. Algumas vezes a tal prática acontece baseado na
cultura e tradição as quais são passados de pai para filho. Os estudos ainda apontam que,
a interação entre comunidade e uso de tais plantas, surge em busca de melhor qualidade
de vida, tentando suprir as deficiências do sistema de saúde (CAVALCANTI et al., 2020).
Em relação ao uso de plantas para tratamento dos sintomas, os discentes relataram
com maior frequência a utilização para sintomas respiratórios. Esses achados são distintos
do estudo realizado com estudantes de psicologia de Campina Grande, onde os sintomas
tratados com maior frequência eram referentes aos problemas gastrointestinais (43,6%).
Não se tem uma justificativa plausível para essa distinção entre os resultados tendo em
vista que ambos os universitários estão residindo no Nordeste do Brasil. A semelhança dos
achados entre as pesquisas consistiu no uso de plantas medicinais para fins de sintomas
psicológicos (SOUZA et al., 2020).
As evidências apontam que os distúrbios relacionados com a saúde mental entre es-
tudantes da área da saúde são comuns, o que induz ao uso de substâncias, sendo impres-
cindível a necessidade de medidas de prevenção e diagnóstico precoces entre esse público
(VASCONCELOS et al., 2015).

CONCLUSÕES

Evidenciou-se que os universitários conhecem as plantas medicinais, sabem como


são preparadas, mas desconhecem sua finalidade. Quanto a sua atitude, relataram achar
seguro a utilização, porém, procurariam inicialmente o atendimento de profissionais da saú-
de. A prática dos discentes revelou sua utilização pelo menos uma vez na vida, com fre-
quência esporádica e na forma de chá.
Apesar de um relativo conhecimento, na atitude e prática percebem-se lacunas quanto
à utilização de plantas medicinais por parte dos discentes; o que reforça a necessidade de
implementação de disciplinas que abordem essa temática nos currículos das áreas da saú-
de ou implementação de um programa de capacitação dos profissionais da área da saúde.
Uma limitação dessa pesquisa consistiu na ausência de discussão dos estudos pro-
duzidos em Guiné-Bissau ou pelos guineenses, abordando temas relacionados ao uso de
plantas medicinais na Guiné-Bissau. Portanto, percebe-se uma necessidade de realização
de pesquisas e produção de materiais sobre a utilização e plantas medicinas pela população
guineenses na Guiné-Bissau e em outros países, a fim de conhecer melhor as propriedades
farmacológicas das plantas da região para melhor utilizá-las.
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04
Contribuição do curandeirismo no processo
saúde/doença dos países africanos
lusófonos

Karim Suleimane Só Patrícia Freire de Vasconcelos


UCP MAENF/UNILAB

Alberto João M’batna Aline Santos Monte


PEN/UFSC ICS/UNILAB

Janiel Ferreira Felício Aluisio Marques da Fonseca


PPSAC/UECE MASTS/UNILAB

Bárbara Letícia de Queiroz Xavier Jeferson Falcão do Amaral


PPGSCOL/UFRN MASTS/UNILAB

Daniel Freire de Sousa Francisco Washington Araújo Barros


MASTS/UNILAB Nepomuceno
ICS/UNILAB

'10.37885/220308122
RESUMO

Objetivo: avaliar a participação e a influência do curandeirismo no tratamento de doenças,


definindo o grau de confiança quanto ao método terapêutico. Método: realizou-se um es-
tudo analítico-descritivo, com abordagem quanti-qualitativo numa universidade federal de
âmbito internacional; os dados foram coletados por meio de um questionário. Resultados:
foram abordados 88 estudantes africanos regularmente matriculados no curso de gra-
duação em Enfermagem da UNILAB, divididos em cinco nacionalidades (Guiné-Bissau,
Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique e Angola). Destes, 55,0 % (41/75) dos
entrevistados referiram ter ido ao curandeiro para tratar sinais ou sintomas de doenças,
enquanto que 45,0 % (34/75) relataram nunca ter recorrido ou não se lembram de ter
procurado. Considerações Finais: Pode-se constatar que a prática do curandeirismo
ainda é prevalente nas comunidades ou países dos estudantes entrevistados.

Palavras-chave: Medicina Tradicional Africana, Saúde Pública, Assistência à Saúde.

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INTRODUÇÃO

As práticas populares em saúde fazem parte da história da humanidade desde as mais


antigas civilizações e mostram-se presentes até os dias atuais. Mesmo com todo o avanço
na medicina, o saber místico, incluindo o curandeirismo, segue proporcionando contribuições
importantes e constituem uma herança de nossos antepassados, enraizada nos costumes
e nos rituais religiosos de certos povos (COSTA, 2016).
Na tentativa de entender o fenômeno saúde-doença, as pessoas dialogavam no universo
de cura e tratamento de doenças com práticas e crenças marcadas por diferenças. Porém,
seus conhecimentos não se ignoram e nem se excluem. No século XVIII, acreditava-se que
as doenças eram uma forma de advertência ou punição enviada por Deus, isso fez com que
a medicina lançasse um olhar atento em direção ao corpo e, especialmente, às formas de
curar disponíveis na época. O curandeirismo entra na discussão como uma alternativa de
tratar doenças desconhecidas, um saber distinto do acadêmico, focado no tratamento com
plantas e ervas, fazendo do curandeirismo um tipo de medicina popularizada e praticada
com base em conhecimentos populares e/ou empíricos (RIBEIRO, 2013).
Por definição, curandeiro é a pessoa com habilidades de cura, utilizando um conjunto
de saberes herdado e/ou adquiridos. Assim, o curandeirismo tem sido considerado uma arte
ou um conjunto de atividades praticadas, pelo qual o praticante (curandeiro ou curador) diz
curar (MATOS, 2005; PUTTINI, 2011). Essas atividades variam de medicina popular/tradi-
cional a espiritualismo, baseadas em crenças e práticas naturalmente bem-intencionadas e
destinadas a ajudar. Em muitos lugares, o curandeirismo é a única opção que a população
dispõe para tratar seus problemas de saúde (ARAÚJO, 2016).
Dos poucos estudos sobre curandeirismo, a maioria mostra a prevalência dessas prá-
ticas em Comunidades dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e principalmente nos
Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). A prática, conhecida pelo nome
“medicina tradicional”, é vista até os dias atuais como método de cura, é aceito e recorrido
por cidadãos de várias classes sociais, sendo eles moradores das zonas rurais ou urbanas
(GRANJO, 2009; SANTANA, 2011).
No relatório mundial de saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS), de 2006,
nota-se o papel dos curandeiros no sistema de saúde africano, registrando-os na classifi-
cação oficial de ocupações e nas contagens dos prestadores de serviços de saúde, com a
denominação de “associados”. Embora a prática desses associados se estabeleça mais no
nível de atenção primária (conselhos sobre o cuidado, diagnóstico e amenização/cura de
sintomas agudos), o curandeirismo também perpetua no tratamento de algumas enfermida-
des graves de níveis secundários e terciários.

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Muitas são as justificativas para a grande procura pelo curandeirismo na África. Entre
elas, podemos citar o fácil acesso ao curandeiro, carência de profissionais de saúde para
atender toda a população, falta de medicamentos e limitações territoriais que impossibilitam
as pessoas de acessar os serviços de saúde formais (GRANJO, 2009; SANTANA, 2011;
COSTA, 2016). Dessa forma, os curandeiros assumem um papel importante nessas comu-
nidades, principalmente em regiões muito afastadas da zona urbana (OMS, 2012).
É importante citar que a participação social para atenção à saúde da população sempre
foi uma sentença da OMS desde 1946. Nessa ordem, a Conferência Internacional sobre
Cuidados Primários a Saúde de Alma-Ata (1978) traz a importância da contemplação das
práticas populares e tradicionais ao sistema formal de saúde, afirmando que é necessário
tornar esses praticantes autóctones aliados ou agentes de saúde da comunidade, mediante
treinamento apropriado para participar dos cuidados primários de saúde (MATOS, 2005).
Tal tese também é defendida pela Carta de Ottawa (1984) no contexto da continuidade
do movimento sanitário como uma política internacional da promoção da saúde. A mesma
proposta foi seguida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil publicando decretos e
portarias como a Portaria nº 971, de 03 de maio de 2006, que aprova a Política Nacional
de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS (PUTTINI, 2008; MATTOS,
2013). Recentemente, a Portaria nº 971 foi atualizada pela Portaria nº 2.436, de 21 de
setembro de 2017.
A mesma estratégia vem sendo adotada por alguns países, inclusive os da África, onde
os gestores incluem cada vez mais essas pessoas no sistema de saúde visando a propor-
cionar uma melhor atenção à saúde a todos (GRANJO, 2009; SANTANA, 2011; OMS, 2014;
ARAÚJO, 2016; BRASIL, 2017).
Justificado pelo fato de ser o ambiente de pesquisa do presente estudo, é impor-
tante descrever a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira
(UNILAB). A UNILAB é uma instituição de ensino superior pública e federal do Brasil cria-
da pela Lei nº 12.289 de 20 de julho de 2010. Teve suas atividades acadêmicas inicia-
das em 25 de maio de 2011, cujo princípio é a cooperação e a integração entre Brasil
e os países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), es-
pecialmente os países africanos. Tem recebido estudantes internacionais africanos de
Angola, Cabo-Verde, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau (BRASIL, 2011;
DIRETORIA DE REGISTRO E CONTROLE ACADÊMICO- DRCA, 2017).
Considerando a diversidade cultural da UNILAB, em especial a africana, e a saúde
como uma das temáticas fundamentais da instituição, percebeu-se a necessidade de se
conhecer a relação das práticas populares em saúde com os estudantes internacionais
vivendo no Brasil.
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Nesse contexto, o presente estudo teve como objetivo avaliar a participação e a in-
fluência do curandeirismo no tratamento de doenças por estudantes africanos do curso de
graduação em Enfermagem da UNILAB, definindo o grau da confiabilidade desses estudantes
quanto ao método terapêutico.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo analítico-descritivo, com abordagem quanti-qualitativa, de-


senvolvido nos campis da UNILAB do Estado de Ceará situados nos municípios de
Redenção e Acarape, com estudantes africanos do 1º ao 10º semestre do curso de gradua-
ção em Enfermagem.
Foram estabelecidos como critério de inclusão no estudo ser discente do curso de
graduação em Enfermagem e regularmente matriculados. Foram excluídos do estudo os
discentes que não quiseram participar do estudo e os que por algum motivo recusaram as-
sinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
A lista total de discentes ativos no curso de Enfermagem disponibilizada pela Diretoria de
Registro e Controle Acadêmico (DRCA) e atualizada pela secretaria do curso de Enfermagem
da UNILAB, auxiliou os proponentes na composição da amostra. Sendo assim, os estudan-
tes de diferentes nacionalidades foram convidados a participar do estudo por conveniência.
Após esclarecimento sobre o propósito do estudo, o participante formalizou sua participação
mediante assinatura do TCLE.
A coleta de dados aconteceu nas dependências dos campis da Universidade (liberdade,
auroras e unidade acadêmica de palmares). O questionário semiestruturado foi aplicado pelo
pesquisador, individualmente, em ambiente reservado. Esse questionário apresentava 14
questões contemplando variáveis sociodemográficas (sexo, idade, nacionalidade e semestre
que estes cursavam), bem como a prática do curandeirismo (última experiência, tratamento,
relevância social e nível de confiança dos estudantes sobre método terapêutico). O anonimato
dos participantes foi preservado e os formulários identificados por códigos.
Os dados coletados foram tabulados e analisados por estatística descritiva, tratada
em função de frequência simples (ƒ) e frequência relativa (%). Para análise dos dados
qualitativos foi adotada a técnica de análise de conteúdo de Bardin (2011). Baseado nesse
autor, primeiramente foi feito pré-análise do material obtido por meio da entrevista; seguida
de exploração do material e por fim partiu-se com tratamento dos resultados (inferência e
interpretação), dando a base para a construção da discussão da temática.
Este trabalho foi desenvolvido após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (CEP/UNILAB) o qual
concedeu parecer favorável sob o protocolo nº 2.670.491, obedecendo todas as diretrizes
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e normas reguladoras de pesquisas com seres humanos descritas na Resolução n° 510 de
07 de abril de 2016 do Conselho Nacional de Saúde brasileiro.

RESULTADOS

Dos 338 graduandos de Enfermagem, foram abordados todos os 88 estudantes africa-


nos regularmente matriculados no curso de graduação em Enfermagem da UNILAB, divididos
em cinco nacionalidades (Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique
e Angola). Destes, 13 se recusaram a assinar o TCLE por motivos religiosos e/ou culturais,
totalizando, assim, 75 participantes entrevistados.
Do total de 75 universitários entrevistados, 72,0 % (54/75) eram do sexo feminino.
Quanto à idade, a mesma variou de 18 a 30, apresentando a média de 23,3 anos. Desses,
64,0% (48/75) eram da nacionalidade guineense e 71,0 % (53/75) cursavam de 5º a 8º se-
mestre de graduação em Enfermagem Tabela 1.

Tabela 1. Dados sociodemográficos dos estudantes africanos do Curso de Enfermagem da UNILAB.

Variável ƒ %
Masculino 21 28,0
Sexo
Feminino 54 72,0
[18-20] Adolescente 3 4,0
Idade [21-25] Jovem Adulto 55 73,0
[26-30] Adulto 17 23,0
Angola 4 5,0
Cabo Verde 11 15,0
Nacionalidade Guiné-Bissau 48 64,0
Moçambique 3 4,0
São Tomé e Príncipe 9 12,0
1º - 2º 7 9,0
3º - 4º 13 17,0
Semestre 5º - 6º 26 35,0
7º - 8º 27 36,0
9º - 10º 2 3,0
Fonte: da própria pesquisa.

Na tabela 2, 55,0 % (41/75) dos entrevistados referiram ter ido ao curandeiro para tratar
sinais ou sintomas de doenças, enquanto que 45,0 % (34/75) relataram nunca ter recorrido
ou não se lembram de ter procurado. Entre os entrevistados, 41,0 % (17/41) referiram ter
procurado/realizado entre duas a quatro consultas com esses colaboradores em saúde e
29,0 % (12/41) afirmaram ter realizado mais de sete consultas com esses profissionais. Além
dos variados problemas de saúde citados, as queixas mais apresentadas foram febres com
29,0 % (12/41), seguida de dores abdominais com 27,0 % (11/41). E a forma de diagnós-
tico relatado pelos entrevistados foi por meio de relatos de sintomas do próprio paciente/
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acompanhante com 54,0 % (22/41), seguida de observação dos sinais com 41,0 % (17/41).
Sobre o tratamento, a maioria 95,0 % (71/75) não sabe nome/identificar o remédio recebido
por curandeiro, porém todos sabiam de que parte de planta era extraído o remédio (caule,
folha ou raiz) e da forma de preparo, pois são orientados por estes, dessa forma 51,0 %
(21/41) dos remédios usados em todos os tratamentos citados pelos entrevistados são
provenientes de folhas das plantas. Dos 41 que recorreram ao método terapêutico, 61,0 %
(25/41) informam que o tratamento resolveu totalmente suas enfermidades.

Tabela 2. Dados sobre a terapia do curandeiro por estudantes africanos do Curso de Enfermagem da UNILAB.

Variável ƒ %
Sim 41 55,0
Contato
Não 34 45,0
[< 02] 6 15,0
[02 - 04] 17 41,0
Vezes
[04 - 06] 6 15,0
[07 +] 12 29,0
Febres 12 29,0
Dor abdominal 11 27,0
Queixa Dor musculoarticular 6 15,0
Lesões cutâneas 6 15,0
Outros 6 15,0
Relatos 22 54,0
Observação 17 41,0
Diagnóstico
Exames 1 2,0
Outros 1 2,0
Folhas 21 51,0
Caules 3 7,0
Remédio
Raízes 8 20,0
Outros 9 22,0
Totalmente 25 61,0
Cura Parcialmente 14 34,0
Não 2 5,0
Fonte: da própria pesquisa.

Na tabela 03, os participantes do estudo foram perguntados sobre a confiança no


curandeirismo, 86,0 % (64/75) relatam ter confiança no curandeiro para tratar doenças e
71,0 % (53/75) desses confia parcialmente. Independentemente do país, 85,0 % (64/75) dos
entrevistados afirmaram que os curandeiros têm realizado um trabalho relevante em suas
comunidades de origem. Em relação a comparação desses colaboradores em saúde com
os profissionais de saúde, a maioria 48,0 % (36/75) atribui ao curandeiro uma figura que faz
“um pouco de tudo”, desde a consulta, tratamentos, cuidados e até as orientações sobre a
saúde. Cerca de 23,0 % (17/75) dos entrevistados comparam estes com os farmacêuticos,
pelo conhecimento que têm sobre os remédios e o fornecimento desses remédios prontos
para uso. Outros 21,0 % (16/75) dos entrevistados referiram que podem ser comparados com
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os médicos. Sobre buscar ajuda do curandeiro numa eventual necessidade de saúde, perce-
beu-se neste estudo que há um equilíbrio entre as repostas “sim” (51,0 %) e “não” (49,0 %).

Tabela 3. Dados sobre a figura do curandeiro por estudantes africanos do Curso de Enfermagem da UNILAB.

Variável ƒ %
Totalmente 11 15,0
Confiança Parcialmente 53 71,0
Não 11 15,0
Sim 64 85,0
Relevância
Não 11 15,0
Médico 16 21,0
Enfermeiro 6 8,0
Comparação
Farmacêutico 17 23,0
Um pouco de todos 36 48,0
Sim 38 51,0
Procura
Não 37 49,0
Sim 69 92,0
Curandeirismo como disciplina
Não 6 8,0
Fonte: da própria pesquisa.

Sobre procura do curandeiro numa eventual necessidade de saúde, pode-se perceber


como justificativa da resposta “sim” na seguinte declaração que se repetiu:

“Estaria sendo ingénuo se eu disser que não recorrerei a esse método, até
porque já fui e deu certo [...] e também vi pessoas que o método resultou. ”
(Respondente nº 30).

Por outro lado, entre as justificativas dos que responderam “não” procurar curandeiro
numa eventual necessidade de saúde nas seguintes declarações que se repete abaixo:

“Existem certas doenças que o curandeiro cura e a medicina moderna não


cura, e vice-versa, ambos têm seus pontos positivos e negativos [...]” (Res-
pondente nº 18).

“Com toda tecnologia disponível atualmente, será difícil procurar [...] se o hos-
pital não resolver, vou procurar o curandeiro [...], por exemplo, febre amarela
lá tem cura. ” (Respondente nº 47).

Por fim, observou-se grande interesse dos estudantes quanto ao assunto, quando per-
guntados sobre inserção do conhecimento sobre o curandeirismo no curso da Enfermagem
da UNILAB. Cerca de 92,0 % (69/75) deles reforçam a ideia afirmando conforme as de-
clarações abaixo:

“Eu acho que é mais uma bagagem para a nossa formação [...] não é para
incentivar ou apoiar a prática entre os acadêmicos, mas sim um conhecimento
a ser agregado, para melhores orientações em saúde. ” (Respondente nº 64).
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“Olha todos nós sabemos que um dia voltaremos para os nossos países
para contribuir [...] como futuros enfermeiros e profissionais da saúde, um dia
provavelmente depararemos com pacientes com esses hábitos [...]. Sendo
assim, é interessante que dentro da academia tenhamos a oportunidade de
discutir um pouco sobre o assunto. ” (Respondente nº 53).

DISCUSSÃO

Pode-se dizer que o curandeirismo versa um conjunto de práticas populares diversas da


medicina oficial, por meio das quais o curandeiro busca sanar os males de seus pacientes.
Para tanto, o responsável por esse tipo de tratamento baseia-se em conhecimento tradicional
vindo dos seus antepassados, que é repassado de geração em geração, compreendendo
desde o uso de plantas medicinais e fitoterápicos até a prática de rituais religiosos, mágicos
e outros que considera eficazes para a recuperação dos Enfermos (CAMPOS et al., 2016).
Sabe-se que a prevalência do curandeirismo ainda é bem notória nos países africanos.
Neste estudo feito com os alunos dos países africanos da UNILAB, percebeu-se que sobre
o contato com o curandeiro em caso de enfermidade, 55,0 % (41/75) referiram utilizar esse
método para tratar sinais ou sintomas de doenças. Esse índice provavelmente está relacio-
nado ao pouco acesso à medicina convencional. Segundo um estudo realizado em vários
países da África, demonstrou-se que os curandeiros tradicionais e espirituais constituem os
principais prestadores de cuidados de saúde para as enfermidades, fato pelo qual os doen-
tes não recorrem às unidades de saúde convencionais (OMS, 2012). A mesma realidade foi
identificada no relatório sobre a saúde na região africana da OMS, em 2014, relatando que
80% das comunidades africanas confiam em receber conselhos e utilizam curandeirismo
para o tratamento de sintomas e doenças.
Apesar de um número expressivo dos entrevistados, 45,0 % (34/75) relataram nunca
ter recorrido ou não se lembram de ter procurado. Isso provavelmente remete ao fato de que
na maioria das vezes uns são levadas na infância pelos pais. Um estudo feito por Gomes e
Melo (2015) afirma, de forma similar, de que é evidenciada uma grande adesão às crendices
populares no período da infância.
Com relação à forma como o curandeiro procede para diagnosticar os seus pacientes,
nesse estudo, 54,0 % (22/41) dos entrevistados afirmaram que foi por meio de relatos de
sintomas do próprio paciente/acompanhante, seguida de observação dos sinais com 41,0 %
(17/41). Entende-se que os colaboradores de saúde, apesar de não terem bases científicas
para praticarem as suas atividades, mas fazem anamnese e exames físicos dos seus pacien-
tes, é importante ressaltar que esses quando relacionadas à medicina moderna constituem
o primeiro pilar/etapa do processo do cuidar/enfermagem, permitindo que o profissional seja
capaz de conhecer e estabelecer o vínculo de confiança com o cliente, identificar alterações
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biopsicossociais e espirituais e por fim, definir possíveis diagnósticos traçando assim metas
e/ou prescrições para o tratamento (SANTOS et al., 2011; SOARES et al., 2014; BARROS,
2016; VALENTE et al., 2017).
Sobre o tratamento, a maioria dos participantes, 95,0 % (71/75) não souberam nome/
identificar o remédio recebido por curandeiro. Muito embora os curandeiros preservem seus
conhecimentos em relação a determinadas plantas que usam para tratar certas enfermida-
des, porém o fato de todos os entrevistados saberem de que parte de planta era extraído o
remédio (caule, folha ou raiz) e da forma de preparo, isso representa que o curandeiro se
preocupa com os efeitos desses remédios, quando forem utilizados sem as devidas orien-
tações (AMARAL, 2019).
O estudo mostrou que 51,0 % (21/41) dos remédios usados em todos os tratamentos
citados pelos entrevistados são provenientes de folhas das plantas. Muitos estudos apontam
que dentre as práticas propagadas pela cultura popular, as plantas sempre assumiram fun-
damental importância, onde suas potencialidades terapêuticas são aplicadas ao longo das
gerações. E mesmo com o desenvolvimento da medicina e avanço tecnológico dos fármacos
sintéticos, essas plantas ainda permaneceram como forma alternativa para tratamento de
enfermidades em várias partes do mundo, sendo ultimamente valorizadas e empregadas para
fins terapêuticos (BADKE et al., 2012 e 2016; GOMES & MELO, 2015; MELO et al., 2015).
Em relação à confiança no curandeirismo, 86,0 % (64/75) relatam ter confiança no
curandeiro para tratar doenças e 71,0 % (53/75) desses confia parcialmente, isso foi sus-
tentado pelas experiências vivenciadas com a prática, sejam elas boas, ruins, diretas ou
indiretas através de parentes ou amigos próximos. Além disso, o costume é um forte fator
condicionante, pelo fato da pessoa crescer numa família que sempre recorreu a esse mé-
todo terapêutico e tem resolvido suas queixas, gerando essa ideia de confiança na pessoa
(MELO et al., 2015).
A literatura tem mostrado que a adesão ao tratamento pelo curandeiro em comunidades
africanas não é fruto apenas de uma deficiência no sistema de saúde público. A confiança
em relação a esta prática está muito associada aos inúmeros casos de sucesso da inter-
venção realizada corroborada pelo contexto histórico e cultural. Acredita-se, também, que a
preferência de muitos pacientes pelo curandeirismo deva-se à capacidade do curandeiro de
trabalhar a cura das doenças a partir das crenças das pessoas (GRANJO, 2009; SANTANA,
2011; OMS, 2016).
Nesse trabalho, 85,0 % (64/75) dos entrevistados afirmaram que os curandeiros têm
realizado um trabalho relevante em suas comunidades de origem. E são muito comparados
com os demais profissionais da área da saúde (médico, farmacêutico, enfermeiro) que são
formados e exercem as suas profissões com base nas ciências. Esse grau de confiança no
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curandeiro pode ser condicionado e justificado por muitos fatores, um deles talvez seja pela
falta de acesso a serviços de saúde adequados e outros associados, condicionando assim
as pessoas procurarem mais esse método terapêutico e tornando-o cada vez mais relevante,
pois é um meio mais rápido e acessível (BADKE et al., 2012).
Denota-se nas declarações da população que compõem esse estudo, revelando um
pouco de insegurança para os que responderam “não”, sendo que na justificativa apontam
que ainda poderiam recorrer após esgotar as opções da medicina convencional. De qualquer
forma, ainda iriam, ou seja, as práticas populares ainda fazem parte deles, isso reforça mais
uma vez a confiança. É importante frisar que as crenças e práticas populares, que muitas
vezes são métodos usados pelo curandeirismo, arduamente auxiliam na resolução de pro-
blemas cotidianos, diminuindo situações de risco em indivíduos. Além disso, essas práticas
são associadas ao comportamento humano, apenas após ser certificado a veracidade de
sua eficácia, pelas vivências, experimentação e avaliação do seu êxito (SILVA et al., 2014).
Gomes & Melo (2015) reforçam ainda que a maioria da população tem o hábito de
utilizar recursos populares em busca da solução para seus problemas de saúde, antes de
buscar os serviços de saúde oficiais. Embora os recursos alopáticos disponham de uma
maior tecnologia com a finalidade de garantir assistência qualificada, a população ainda
prefere optar pelo não abandono do uso de cuidados populares, dando, assim, a continui-
dade ao tratamento.
Desse pressuposto, além da participação social para atenção à saúde da população
defendida pela OMS, Badke e colaboradores (2016) afirmam que é dever dos profissionais
de saúde respeitar as tradições e as opiniões da comunidade em que atua, a fim de que
seja estabelecida uma assistência de qualidade e um convívio saudável entre os saberes
popular e científico.

CONCLUSÕES

Pode-se constatar que a prática do curandeirismo ainda é prevalente nas comunidades


ou países dos estudantes entrevistados. O curandeiro assume papel importante no cotidiano
das comunidades em relação ao cuidado à saúde. Mesmo tendo observado que uma boa
parte dos estudantes tenha referido nunca ter recorrido ao método para tratar doenças, mas,
foi evidenciado a prevalência do nível de confiança no curandeiro.
Dessa forma, acredita-se que esses conhecimentos não devem ser considerados ape-
nas como práticas passadas, mas sim, como uma área da ciência que precisa ser estudada e
aperfeiçoada para ser aplicada de forma segura e eficaz por profissionais da saúde, servindo
como prática complementar aos cuidados que são ofertados aos seus pacientes.

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Em suma, conclui-se que essas experiências podem ser muito úteis, desde que os
usuários procurem orientações com os profissionais de saúde do sistema formal. Espera-se,
também, que os profissionais de saúde assumam uma postura favorável ao uso de práticas
populares, buscando aliar aos princípios científicos para um uso mais racional e consciente,
evitando assim riscos desnecessários a comunidade.

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2017. Disponível em: http://www.unilab.edu.br/dadosquantitativos/. Acesso em: 15 abr. 2018.

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05
Piper methysticum (kava-kava) e o sistema
nervoso central: revisão bibliográfica

Fábio Morais da Silva Rosiane Barros Pereira


MASTS/UNILAB SMS/GUAIÚBA - CE

Francisco Baltazar Venâncio Antônio Auberson Martins Marciel


ICS/UNILAB UNINASSAU

Tomás Manuel Djú Nayara Cristina Rabelo Bandeira


ICS/UNILAB MASTS/UNILAB

Emmanoel Peixoto Saraiva Francisco Danilo Ferreira Costa da Silva


SMS/AQUIRAZ-CE MASTS/UNILAB

Cybelle Façanha Barreto Medeiros Jeferson Falcão do Amaral


UNINASSAU MASTS/UNILAB

'10.37885/220308123
RESUMO

Piper methysticum (Kava-kava), é uma das plantas terapêuticas utilizadas para o trata-
mento da ansiedade, o seu uso prolongado e em grandes quantidades, além de suas
interações medicamentosas, podem favorecer efeitos adversos. Objetivou-se discutir as
principais reações biológicas provocadas pelas intoxicações advindas do uso incorreto de
plantas medicinais; especialmente da Piper methysticum (Kava-Kava) no âmbito da neu-
rologia. Realizou-se levantamento bibliográfico em Google Acadêmico, Scielo e Pubmed,
utilizando-se as seguintes Palavras-chave: plantas medicinais, distúrbios psiquiátricos
e uso racional. Os resultados demonstram que Kava-Kava contém diversos efeitos no
SNC e que seus componentes químicos mais importantes são: Cavaína, Dihidrocavaína,
Metisticina e Dihidrometisticina que apresentam ação ansiolítica, sedativas, anticonvulsi-
vantes, anestésica local, espasmolítica e analgésica e especificamente a Kavalactonas
mostrando sua eficácia no controle das crises de ansiedade. Concluiu-se que Kava-Kava
além de ser uma erva medicinal, tem ação e propriedades farmacológicas apresentando
efeitos ansiolíticos que induz ao sono e relaxamento.

Palavras-chave: Piper Methysticum, Sistema Nervoso Central, Ansiedade.

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INTRODUÇÃO

Desde do início dos tempos, as plantas já eram utilizadas para fins medicinais, terapêu-
ticos e cosmetológicos ao redor do mundo, porém, ao longo dos anos, houve um crescimento
exponencial pela ânsia em estudos voltados ao uso tradicional e os benefícios da utilização
das plantas, afim de aprofundar suas aplicações medicinais (MACEDO, 2016).
As utilizações de plantas medicinais e fitoterápicos encontram-se entre os meios mais
utilizados pelos brasileiros para tratamentos de doenças, nas quais configuram, segundo a
Organização Mundial da Saúde (OMS), 80% da população; estes aderem as plantas como
utilização complementar para patologias, justamente devido sua fácil acessibilidade e baixo
custo econômico (MACEDO, 2016).
Atualmente o uso com finalidades terapêuticas e medicinal das plantas foi validado
por meio da Portaria MS/GM N° 971, de 3 de maio de 2006, na qual foi instituída a Política
Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC). No entanto, a utilização destas
ainda não é reconhecida por alguns profissionais da saúde como meio medicinal comprovado
para tratamento de doenças (ROCHA et al., 2016).
As plantas medicinais possuem finalidades e propriedades terapêuticas em seus cons-
tituintes, algumas destas são utilizadas para tratamento de transtornos de ansiedade e
depressão, pois atuam diretamente no sistema nervoso central com ação estabilizadora
ou calmante (PAGANI; SILVA, 2016). Segundo Moura et al (2018), ansiedade é um estado
natural de atenção do corpo para sua preservação, porém em casos prolongados é consi-
derado como ansiedade patológica.
Apesar da indústria farmacêutica produzir medicamentos em massa para o tratamento de
doenças, a medicina alternativa das plantas ainda é bastante utilizada (DAMACENO, 2017);
ainda assim, o uso inadequado destas podem acarretar em complicações, portanto a Política
Nacional de Plantas e Medicamentos Fitoterápicos, utiliza-se de meios para garantir o uso
seguro, racional e adequado de fitoterápicos para a população brasileira (MACEDO, 2016).
Vários pacientes acabam utilizando as plantas de maneira inadequada, configurando
seus benefícios e malefícios. A Piper methysticum (Kava-kava) é uma das plantas tera-
pêuticas utilizadas para o tratamento da ansiedade, o seu uso prolongado e em grandes
quantidades, além de suas interações medicamentosas, podem favorecer efeitos adversos
do uso inadequado ou desacompanhado, levando a casos toxicológicos hepáticos associa-
dos à sua ingestão.
A maioria dos medicamentos utilizados para tratar transtornos de ansiedade agem
estimulando o neurotransmissor GABA e, como consequência, desestimulam o Sistema
Nervoso Central (SNC). Em contrapartida, estes costumam apresentar efeitos colaterais
prejudiciais à saúde do paciente como, por exemplo, a dependência da substância. Dito isto,
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algumas plantas medicinais podem agir no controle da ansiedade sem causar tais efeitos
adversos (SOARES, 2019).
Portanto, é possível afirmar que o uso de medicamentos fitoterápicos surge como uma
alternativa no tratamento de transtornos mentais, distúrbios do sono etc. A planta medicinal
kava kava (Piper methysticum) tem se mostrado uma boa opção terapêutica, apresentando
efeitos adversos mínimos e relativa segurança de uso (ALMEIDA, 2017).

OBJETIVO

O estudo teve como objetivo pesquisar e estudar os conceitos e histórico do uso caseiro
de plantas medicinais no Brasil e no mundo, refletindo para melhor compreender a neuro-
biologia dos distúrbios psiquiátricos, particularmente ansiedade e discutindo as principais
reações biológicas provocadas pelas intoxicações advindas do uso incorreto de plantas
medicinais; especialmente da Piper methysticum (Kava-Kava).

METODOLOGIA

A pesquisa desenvolvida foi do tipo bibliográfica, que segundo ZIMATH (2017), consiste
no tipo de pesquisa que é realizada a partir de material já publicado, constituído principal-
mente de livros, artigos, monografias, teses e outros; utilizando- se de dados já trabalhados
por outros autores e devidamente registrado. O pesquisador trabalha a partir dos achados
nas pesquisas constantes nos textos. Segundo Matos (2017), a principal vantagem da pes-
quisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de
fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente.
Foi realizado um levantamento bibliográfico no site Google Acadêmico nas bases de
dados Scielo e Pubmed, utilizando-se as seguintes palavras-chave: Piper methysticum.
Sistema Nervoso Central. Ansiedade. A pesquisa foi realizada em um espaço de trabalho
próprio com computadores com acesso à Internet, mesas cadeiras e armários a disposição.
Além da pesquisa em artigos indexados, foram utilizadas também na pesquisa revistas ele-
trônicas, monografias, teses e cadernos de atenção básica à saúde.
Os critérios de inclusão na amostra foram: artigos com textos na íntegra, publicados
em português, artigos sobre o tema relacionado ao uso de plantas medicinais no SNC e em
conteúdos claros e objetivos sobre a utilização de medicamentos naturais no tratamento
de ansiedade e depressão e as reações biológicas devido ao uso incorreto; especialmente
intoxicações provocadas pela Piper methysticum (Kava-Kava).
Para análise e categorização dos artigos foi realizada uma leitura interpretativa dos
artigos que se enquadravam nos critérios de inclusão da pesquisa e realizada a análise
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descritiva dos dados de acordo com os objetivos propostos. Os dados foram coletados si-
multaneamente, sendo analisados e apresentados através de revisão de literatura. Foram
enquadrados e analisados juntos os objetivos que versavam sobre a mesma finalidade, da
mesma forma quanto à identificação do perfil do uso de plantas medicinais no tratamento
da ansiedade e depressão reações biológicas.
Foram respeitados os aspectos éticos no que concorda a fidedignidade dos dados e
autores encontrados nos artigos que compõe a amostra.

RESULTADOS

A população mundial há anos já fazia uso de produtos naturais com objetivo de mostrar
a sua eficácia no tratamento de diversas doenças, atualmente estima-se que cerca de 25
a 30% de toda as drogas avaliadas como agentes terapêuticos derivam de produtos natu-
ral. E no território do Brasil é rico tanto na diversidade tendo a Floresta Amazônica, cerrado,
Mata Atlântica, Pantanal e caatinga, como um dos grandes principais biomas fonte de pro-
dutos terapêuticos, e o conhecimento também é a outra riqueza que ainda permanece com
influência dos saberes culturais do povo indígena (ARAUJO et al., 2021).
E o Piper Methysticum também conhecido como “Kava-Kava”, é uma planta medicinal
que tem sua origem nas ilhas do Pacífico Sul utilizada há anos com finalidade de promover
o bem-estar, reduzindo a fadiga e a ansiedade (SILVA, 2021).
De acordo com Araújo et al., (2021) em dias atuais a ansiedade é conhecida como um
mal do século mesmo sendo uma característica biológica do ser humano, porém, quando se
torna excessiva e persistente, pode chegar a um nível patológico, prejudicando o bem-estar
e a qualidade de vida e tornando-se em um transtorno de ansiedade generalizada (TAG).
A (TAG) é um dos distúrbios que afetam o Sistema Nervoso Central (SNC), os indivíduos
que são acometidos tendem a ficar constantemente tensos, nervosos, em estado de alerta
manifestando preocupações excessivas, decreta-se que o paciente tem o TAG quando o
mesmo demostra pelo menos três dos sintomas somáticos persistindo por no mínimo seis
meses como: dificuldade de concentração, fadiga, irritabilidade, tensão muscular, insônia e
inquietude (ARAUJO et al., 2021).
E considerando-se a situação atual mundial, registrada com uma importante crise na
saúde pública a pandemia causada pela COVID-19, o estado metal da população não se
mostrou diferente, visto que uma das formas de prevenção da doença é o isolamento so-
cial. Diante disso as pessoas que seguiram a quarentena acatando as normas determinada
pela Organização Mundial da Saúde (OMS), apresentaram maior prevalência de depressão
e ansiedade. E os motivos que agravaram a condição metal da população foi: o medo de
contágio, perda de membros familiares e o isolamento (SILVA et al., 2021).
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Houve um aumento de casos de transtorno de ansiedade entre indivíduos de todo
o mundo. No Brasil os casos de ansiedade chegam a 9,3% da população totalizando
18,60 milhões, ocupando assim o primeiro lugar no mundo de pessoas afetadas com TAG
(SILVA et al., 2020).
Ainda segundo Silva, (2021) no contexto geral observou-se um aumento no uso de
medicamento onde a maioria da população brasileira recorre a utilização de plantas medi-
cinais e fitoterápico, visto que estes eram de fácil acesso, menor custo e menor riscos de
efeitos adversos.
De modo geral Silva et al. (2021) afirma que estudos científicos realizados mostram que
muitas plantas medicinais e fitoterápicas e são eficaz no tratamento de ansiedade podendo
ser consumidas, assim como constam na Instrução Normativa nº 02/2014 e as espécie de
plantas medicinais que atuam no SNC a qual tem um números elevados de estudos en-
volvendo pacientes com TAG são: a kava-kava (Piper methysticum), maracujá (Passiflora
incarnata), valeriana (Valeriana officinalis), camomila (Matricaria recutita), erva-cidreira
(Melissa officinalis) e o mulungu (Erythrina mulungu).
A Piper methysticum (Kava-Kava) família Piperaceae, que é muito utilizada e cultivada
no Pacífico Sul, e atualmente estão distribuindo-se geograficamente pelo Brasil nos estados da
Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Santa Catarina (ARAUJO et al., 2021).
No entanto este vegetal é o rizoma seco, que possui odor fracamente aromático e
sabor levemente amargo. Os principais constituintes do rizoma da Piper methysticum são
as α-pironas, denominadas kavalactonas ou kavapironas este rizoma em forma de extrato
seco padronizado, são as partes mais utilizada para fins fitoterapêuticos, onde encontra-se
os principais constituintes (ARAUJO et al., 2021).
Estudos destacam que a Kava-Kava contém diversos efeitos no SNC e que os seus
componentes químicos mais importantes são: Cavaína, Dihidrocavaína, Metisticina e
Dihidrometisticina que apresenta ação ansiolítica, sedativas, anticonvulsivantes, anestésica
local, espasmolítica e analgésica e especificamente a Kavalactonas mostrando sua eficácia
no controle das crises de ansiedade, no atual cenário pandêmico tais plantas servem como
opção para o tratamento do agravo da TAG (SILVA et al., 2021).
Quando ação desta planta é exercida no SNC a mesma proporciona relaxamento
muscular, ação antiarrítmica, redução no estresse e na ansiedade:

A Kava-Kava apresenta tal efeito devido a sua ação antagonista onde os seis
principais constituintes são yagonina (YAN), desmetoxiagonina (DXY), kavaína
(KAV), dihidrokavaína (DHK), metisticina (MET) e dihidrometisticina (DHM)
como já foi citada anteriormente que se ligam aos receptores do ácido gama-
-aminobutírico (GABA), e possivelmente aos receptores N-metil D-aspartato
(NMDA) e/ou canais de sódio dependente de voltagem e inibem a captação
de noradrenalina, possibilitando atividades ansiolíticas, anticonvulsivantes,
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sedativas, espasmolíticas e analgésicas (SILVA et al., 2021)

Segundo Silva, et al., (2021):

Essa erva medicinal vem sendo uma fonte de estudo para os pesquisadores
pelos seus efeitos ansiolítico. O efeito da dose diária e com 210 mg de ca-
vapirona foi comparado com o efeito de 15mg/dia de oxazepam ou 9 mg/dia
de bromazepam com estudo de seis meses de duração para observar que
reação ocorreria. Uma das vantagens deste fitoterápico é a existência de
boa tolerabilidade, o mesmo não gera sonolência e nem dependência física
medicamentosa quando é 60-210 mg por dose diária no máximo três meses,
tornando fácil o desmame (SILVA et al., 2021).

Ainda de acordo com Silva et al., (2021):

Muitas reações biológicas provocadas pelas intoxicações advindas do uso in-


correto de plantas medicinais têm sido relatadas, como por exemplo, os casos
de toxicidade com o uso da Kava-Kava pois diversos estudos mostram que
houve muitos casos de hepatotoxicidade no Brasil, graves lesões hepáticas
causando óbitos e transplantes hepáticos, por tais motivos não é recomendado
pacientes com problemas hepáticos fazer uso deste fitoterápico.

Porém cerca de 35 casos de toxicidade hepática grave foram relatados na Europa e


EUA nos últimos anos e países como a Suíça e a Alemanha suspenderam o uso desse fitote-
rápico, pois ocorreram vários casos de toxicidade hepática grave (hepatite, cirrose e falência
hepática) que foram relacionados com o uso do extrato desta espécie (SILVA et al., 2021).

No entanto, tem sido dificultoso estabelecer uma causa definida pois não há
provas que tais casos ocorridos foram por conta do uso de Kava-kava em de-
corrência a este fato é recomendado que os usuários realizam testes regulares
rotineiros de função hepática (Departamento Técnico Londrifórmulas, 2020).
Mas quando é usada em doses recomendadas não provoca efeitos adversos,
porém, também há relatos que demonstram que o uso prolongado deste,
pode causar reações alérgicas, queixas gastrointestinais, cefaleia, tonturas,
pigmentação da pele, fadiga matinal (principalmente no início do tratamento),
movimentos involuntários, entre outros e caso apresente qualquer um desses
sinais e sintomas deve-se suspender a utilização (SILVA et al., 2021).

O outro fator é que esta planta potencializa a sua ação quando é utilizada juntamente
com o álcool ou outros medicamentos sintéticos que atuam sobre o SNC ou até mesmo ou-
tras plantas medicinais tais como;(erva-dos-gatos, aipo, camomila alemã, cálamo, calêndula,
ênula, valeriana, sassafrás, urtiga, sálvia, ginseng, siberiano (SILVA et al., 2021).
Atrelado a isso, o uso da mesma em mulheres que estão amamentando não é reco-
mendado pois é de fácil acesso a passagem dos constituintes da planta para o leite materno
e estimulando assim a perda do tônus uterino podendo causar dificuldades em gestações
futuras (SILVA et al., 2021).
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DISCUSSÃO

A maioria dos medicamentos utilizados para tratar transtornos de ansiedade agem esti-
mulando o neurotransmissor GABA e, como consequência, desestimulam o Sistema Nervoso
Central (SNC). Em contrapartida, estes costumam apresentar efeitos colaterais prejudiciais
à saúde do paciente como, por exemplo, a dependência da substância. Dito isto, algumas
plantas medicinais podem agir no controle da ansiedade sem causar tais efeitos adversos
(SOARES, 2019; ARAUJO, 2020). Como tratamento farmacológico, as plantas medicinais
e os fitoterápicos são vistos como uma alternativa viável para o tratamento dos quadros de
ansiedade e depressão, pois podem apresentar índices menores para efeitos colaterais, o
que pode favorecer a continuidade do tratamento (SILVA et al., 2020).
Atualmente já podem ser constatadas vários estudos em diversas área sobre as plantas
medicinas, porém percebe-se que quando se abordar sobre os mesmo sem geral são sempre
intituladas como meios de tratamento farmacológico secundários para tratamento de diversas
patologias mesmo já existindo estudos e trabalhos desenvolvidos sobre o modo e a forma
de uso destas plantas e dentre essas patologias nós temos os transtornos generalizadas,
e devido ao auto índice de automedicação e intoxicações que tenham ocorrido ao longos
dos anos porque, então na atualidade a população está optando em fazer o uso de plantas
medicinais e fitoterápico devido ao fácil acesso, e custo de benefício do valor que ele custa
porem ao mesmo tempo, podemos observar que os mesmo não sabe fazer o uso destas
plantas de forma correta levando novamente ao ponto anterior a intoxicação porque para
muitos “o natural não faz mal - um paradoxo ao uso de plantas medicinais e fitoterápicos”.
Acredita-se que algumas razões para o aumento da popularidade de fitoterápicos na
medicina humana é a falsa ideia de que medicamentos à base de plantas não fazem mal
(PINTO, 2004; BARBOSA et al., 2013).
De acordo com Silva et al., 2021:

O cenário da pandemia elevou os casos de ansiedade e depressão provocando


um grave problema de saúde pública e com isso faz-se necessário traçar es-
tratégias para o cuidado e tratamento dessas doenças. A terapia com plantas,
tem sido um método eficaz, de baixo custo que já vem sendo utilizado como
opção nesse tipo de tratamento [...] Doenças que acometem o SNC como a
ansiedade e depressão estão crescendo vertiginosamente em todo o mundo.
Nos seus tratamentos são necessárias abordagens multidisciplinares envol-
vendo diversos profissionais, como também o tratamento não farmacológico
e farmacológico (SILVA et al., 2020).

Portanto de acordo com Carolina et al., (2020):

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A ansiedade é uma característica biológica do ser humano, porém, quando
essa condição se torna excessiva e persistente, pode chegar a um nível pato-
lógico, prejudicando o bem-estar e a qualidade de vida do indivíduo afetado e
se transformando em um transtorno. As pessoas acometidas por tal transtorno
tendem a ficar constantemente tensos e nervosos, em estado de alerta e aca-
bam desenvolvendo preocupações excessivas, existindo pelo menos três dos
sintomas somáticos a seguir, que devem persistir por no mínimo sei meses:
dificuldade de concentração, fadiga, irritabilidade, tensão muscular, insônia e
inquietude (apud CAVALER e CASTRO, 2018).

O uso de medicamentos fitoterápicos surge como uma alternativa no tratamento de


transtornos de ansiedade e distúrbios do sono. As plantas medicinais passiflora (Passiflora
incarnata), valeriana (Valeriana officinalis) e kava kava (Piper methysticum) têm se mostrado
boas opções terapêuticas, apresentando efeitos adversos mínimos e relativa segurança de
uso (CAROLINA et al., 2020; ALMEIDA, 2017).
Para Barbosa (2013; apud PINTO, 2004) entre os fitoterápicos existentes, destaca-se
a kava-kava (Piper methysticum G. Forst) pertencente à família Piperaceae, que é cultivada
no Pacífico Sul há mais de 3000 anos pelos nativos”.

Segundo Ana Carolina (2020), a kava kava, de nome científico Piper methysti-
cum, apresenta-se como um dos medicamentos fitoterápicos complementares
mais pesquisados para a utilização em condições psiquiátricas (SILVA, 2015),
distribuindo-se geograficamente pelo Brasil nos estados da Bahia, Minas Ge-
rais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Santa Catarina (apud ZIMATH et al.,
2017). As propriedades farmacológicas da kava kava mostram-se semelhantes
às dos benzodiazepínicos, contudo, foi detectada uma fraca ligação entre as
kavalactonas e os receptores GABA, sugerindo que os receptores N-metil-D-as-
partato ou canais de voltagemdependentes estejam envolvidos no mecanismo
de ação das kavalactonas (apud MATOS, PIMENTEL e SOUSA, 2016).

De acordo com Justo e Silva (2008), segundo estudos de Manuela Silva (2021):

Diz que a P. methysticum possui uma boa eficácia e ação farmacológica


no sistema nervoso central (SNC). Isso acontece em decorrência da ação
antagonista das kavalactonas, onde as seis principais são yagonina (YAN),
desmetoxiagonina (DXY), kavaína (KAV), dihidrokavaína (DHK), metisticina
(MET) e dihidrometisticina (DHM), que se ligam aos receptores do ácido ga-
ma-aminobutírico (GABA), e possivelmente aos receptores N-metil-D-aspartato
(NMDA) e/ou canais de sódio dependente de voltagem e inibem a captação
de noradrenalina, possibilitando atividades ansiolíticas, anticonvulsivantes,
sedativas, espasmo-líticas e analgésicas (apud JUSTO e SILVA, 2008).

Em uns ensaios clínicos randomizados, realizado pelo SILVA, (2015) contextualizada


nos estudos de (ARAULJO et al., 2020) diz que:

“Os efeitos ansiolíticos puderam ser comprovados, porém, seu uso está asso-
ciado à diversos casos de hepatotoxicidade, levando à sua retirada do mer-
cado no Reino Unido. Além do efeito ansiolítico, estudos apontam que a kava 75
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kava possui diversos outros efeitos sobre o Sistema Nervoso Central, como
atividades sedativas, anticonvulsivantes, anestésica local, espasmo-lítica e
analgésica”.

Portanto de acordo com SILVA et al., (2021):

A P. methysticum quando utilizada em doses recomendadas não provoca


efeitos adversos, porém, há relatos que demonstram que o uso prolongado
desse fitoterápico pode causar reações alérgicas, queixas gastrointestinais,
cefaleia, tonturas, pigmentação da pele, fadiga matinal (logo no início do tra-
tamento), movimentos involuntários, detrimentos de deglutição e respiração,
contrações involuntárias não ritmadas e contínuas nas extremidades, perda
de peso, perda da função hepática e renal. Caso apresente alguns desses
efeitos deve-se suspender a utilização imediatamente (apud PERES et al.,
2014; BRASIL, 2016).

Ainda segundo Silva et al., (2021):

Portanto percebe-se que atualmente o uso de plantas medicinais comum no


Brasil para o tratamento de doenças em unidade hospitalares e sendo admi-
nistrado segundo orientação medica, podemos constatar da mesmo forma que
forma deste círculo a uma grande ocorrência de uso de plantas medicinais
sem devido conhecimento e prescrição medicas então são necessários estu-
dos sobre o assunto com o intuito de informar a população quais são os reais
riscos que o consumo de plantas medicinais e fitoterápicos sem prescrição e
orientações podem causar na vida deles porque, de um modo geral, observa-se
um crescimento na utilização de medicamentos, onde grande parte da popula-
ção brasileira recorre ao uso de plantas medicinais e fitoterápicos como uma
alternativa em relação à utilização de medicamentos sintéticos, além dos fito-
terápicos e plantas serem de fácil acesso (apud Andrade Oliveira et al., 2017).

Os fitoterápicos representam tratamentos de menor valor econômico, e se forem utiliza-


dos corretamente podem causar menor risco de reações adversas e dependência química,
e estão inseridos nas diretrizes e políticas da fitoterapia, sendo empregados no tratamento
da ansiedade e de outras doenças (SILVA et al., 2021; Lucas Oliveira et al., 2020).
E de acordo com Dias (2015) apud Catão et al. (2012), os produtos fitoterápicos pos-
suem, na maioria das vezes, ação mais suave que os medicamentos alopáticos, visto que o
princípio ativo da planta não é utilizado de maneira isolada, atuando juntamente com outras
substâncias presentes nas plantas, resultando em efeitos colaterais reduzidos o que justifi-
ca seu uso em substituição aos medicamentos convencionais (apud CATÃO, et al., 2012).

Diante do cenário pandêmico também houve um aumento do uso da espécie


Piper methysticum para ansiedade, estresse e insônia, que são sintomas do
transtorno de ansiedade generalizada (TAG). Em um estudo realizado por
Stephen Buhner (2020), a P. methysticum foi utilizada para protocolo específico
de sintomas para o tratamento da síndrome de Covid19 e Pós-Coronavírus,
como cefaleia, problemas músculo esqueléticos, mialgia, sensibilidade cutânea,
palpitações e dores no peito. Porém, não houve um aumento significativo, pos- 76
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sivelmente pela toxicidade apresentada nesta planta, principalmente quando
utilizada com outras plantas medicinais. Em virtude disso a P. methysticum
não pode ser comercializada sem prescrição médica, causando assim uma
baixa procura, por não ser de fácil acesso para população (SILVA et al., 2021;
OLADIMEJI E VALAN 2021; Stephen Buhner, 2020; INSTRUÇÃO NORMA-
TIVA, 2014)

Por isso, é importante utilizar as estratégias voltadas ao “a promoção de educação em


saúde sobre o uso racional não apenas de medicamentos mas também de plantas medici-
nais”, porque o seu uso já não como antes que poderíamos notar que dentre 10 pessoas
apenas 2 fazia o uso, que dentre 50 indivíduos apenas 10 fazia o uso de plantas medicinais
hoje em dia a situação é totalmente diferente apesar de ainda existe a discriminação e o
tabu em relação ao efeito terapêutico real das plantas medicinais, especificamente da kava
kava, e a manutenção de certa heterogeneidade de uso e eventual aplicação de conceitos
farmacocinéticos e farmacodinâmicos. Porque o principal risco de fazer o uso da kava kava
sem conhecimento especifico do mesmo é a intoxicação que caso for muito elevado pode
o indivíduo ir a óbito.
Segundo Silva, et al., (2021):

Porque nota-se que diferente da Piper Methysticum a procura de outros fito-


terápicos como por exemplo a base de P. Incarnata durante a pandemia da
COVID-19 teve um aumento significativo, possivelmente por ser de fácil acesso
e isenta de prescrição médica, segundo a IN 10/2014. (Juliane Pessolato et al.,
2021; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014). Apesar da pandemia ser um assunto
novo, encontrou-se um número considerável de revisões bibliográficas e pes-
quisas de campo que demonstrassem a utilização e a procura de fitoterápicos
a base de P. Incarnata para tratar as psicopatologias como o TAG, durante o
isolamento social e a quarentena.

Ainda conforme Silva et al., (2021):

Entretanto, o mesmo não aconteceu com a P. methysticum. Não há números


significativos de estudos que comprovem a utilização dessa planta medicinal
como fitoterápico durante a pandemia da COVID-19. Atrelado a isso, um dos
possíveis motivos para não haver uma grande procura por fitoterápicos à
base de desta planta é a comercialização somente com prescrição médica, de
acordo com a IN 02/2014 e a ANVISA, por conta dos casos de hepatoxicidade
ocorridos no Brasil e em alguns países europeus. (INSTRUÇÃO NORMATIVA,
2014; BARBOSA et al., 2013).

E diante a época atual do quadro pandêmico provocado pelo novo coronavírus que
de alguma forma contribui para que o consumo de plantas medicinais amplia-se ainda mais
dentre elas a da espécie Piper methysticum para ansiedade, estresse e insônia, que são
sintomas do transtorno de ansiedade generalizada porque, com a pandemia da covid-19 os
índices mundiais com relação aos transtornos aumentaram de forma drásticas fazendo com
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que a população pode-se recorrer não apenas ao tratamento e meios farmacológicos, mas
também ao tratamento não farmacológico realizando assim novas descobertas no mundo da
fitoterapia e das plantas medicinais especificamente da Piper methysticum mais ao mesmo
tempo podemos denotar que o diferente da Piper methysticum para se realizar o uso e a
obtenção de outras plantas medicinais não são exigidas necessariamente prescrições médi-
cas diferentes da kava kava e isso faz que o seu uso, a sua comercialização, seja bastante
limitada como afirma o SILVA (2021), e ao mesmo tempo não somente o seu uso é limitado
mais também informações sobre o mesmo torna-se escassez e difícil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através das pesquisas estudadas neste trabalho, observou-se que o que leva as pes-
soas a procurarem as plantas medicinais para se tratarem é que elas podem ser cultivadas
facilmente e que se tem em mente que o uso das ervas não faz mal algum. Outra coisa que
leva a procura de plantas é o custo benefício que elas têm para o consumidor e o local de
fácil acesso onde podem ser encontradas.
A Kava-Kava é uma planta medicinal que se destaca pelas suas propriedades biológicas
tendo efeitos ansiolíticos e indutores de relaxamento e sono, sendo utilizada no tratamento da
ansiedade e distúrbios nervosos como estresse ou cansaço, agitação, epilepsia, depressão,
entre outras doenças. Seu uso atualmente no mercado como medicamento fitoterápico teve
um grande destaque pelos casos de hepatotoxicidade que foram relatados, fazendo com
que entrasse como venda somente sob prescrição médica.
É possível dizer que a kava-kava (Piper methysticum) apresenta efeitos ansiolíticos
que foram pesquisados em dados científicos, claro que não está isenta de efeitos colaterais,
pois pode interagir com medicamentos depressores do SNC reduzindo a eficácia deste por
alterações no metabolismo hepático.
A Kava-Kava além de ser uma erva medicinal, tem maior destaque pela a sua ação
e propriedades farmacológicas apresentando efeitos ansiolíticos que induz ao sono e rela-
xamento e está sendo muito utilizada no tratamento da ansiedade e problemas no sistema
nervoso principalmente em patologias como a depressão. E é através destes usos popu-
lares (empíricos) que se tem estudado sobre essas ervas com o objetivo de aprofundar os
conhecimentos científicos sobre o tema.
O aconselhamento de um profissional de saúde aos usuários de Kava-Kava visa con-
tribuir para o uso racional de Plantas Medicinais e Medicamentos Fitoterápicos e infor-
mar quanto aos benefícios e malefícios que possam ser causados pelo seu uso para que
os usuários possam ter maior segurança na utilização de Kava-Kava, visando prevenir o
seu uso inadequado.
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06
Farmácias vivas: um estudo sobre as
contribuições à política nacional e suas
possíveis vantagens para a saúde pública

Cecília Maria Lima Silva Samira Lopes de Almeida


MASTS/UNILAB MASTS/UNILAB

Mirian Raquel do Nascimento Fernandes Luís Filipe Sá Pereira


MASTS/UNILAB MASTS/UNILAB

Maria Guadalupe de Sousa Fernandes José Cleilson de Paiva dos Santos


ICS/UNILAB MASTS/UNILAB

Alberto João M’batna Elcimar Simão Martins


PEN/UFSC MASTS/UNILAB

Ana Flávia Alves Nogueira Jeferson Falcão do Amaral


MASTS/UNILAB MASTS/UNILAB

'10.37885/220308124
RESUMO

O presente trabalho busca apresentar uma revisão bibliográfica acerca do desenvol-


vimento das farmácias vivas e sua contribuição ao processo de construção da política
nacional de saúde, assim como analisar as suas possíveis vantagens à saúde pública e
à sociedade. As farmácias vivas mostraram ter uma grande importância política, econô-
mica e social, pois sua criação surge como uma alternativa segura de cuidados com a
saúde, proporciona acesso e informações para as pessoas, principalmente àquelas de
menor poder aquisitivo. As farmácias vivas seguiram como um modelo para construção
da política de saúde em defesa e fortalecimento ao uso e manipulação da fitoterapia e
plantas medicinais em todo país, sua estrutura contribuiu fortalecendo a política nacional,
trazendo vantagens para a saúde pública e benefícios a toda a sociedade brasileira; po-
rém, mesmo diante dessas conquistas, é importante enfatizar a necessidade da contínua
construção e ampliação dessa política a partir de investimento e estudos na área.

Palavras-chave: Farmácias Vivas, Plantas Medicinais, Fitoterapia, Políticas de Saúde Pública.

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INTRODUÇÃO

Sendo o Brasil, um país com grande biodiversidade, entretanto marcado pelas dispari-
dades econômicas, sobretudo em regiões como o Nordeste e considerando as deficiências da
saúde pública na época, a população está condicionada a consumir medicamentos dispostos
na natureza, tanto por extração como por cultivo ou comprando no mercado informal. Mas,
o desenvolvimento do uso de fitoterápicos como medida “[...] profilática, curativa, paliativa
ou com fins de diagnóstico” só foi oficialmente reconhecido pela Organização Mundial de
Saúde (OMS) em 1978, quando recomendou que houvesse uma grande propagação de
orientações e disseminação de informações no mundo no contexto de conhecimentos que
seriam necessários para que as plantas fossem utilizadas de maneira racional e com cons-
ciência por toda população (BRASIL, 2006).
Neste viés, na década de 80, o Estado do Ceará dava um grande passo com a cons-
trução e implementação do projeto Farmácias Vivas, inclusive, esse termo foi originalmen-
te proposto pelo Prof. Dr. Francisco José de Abreu Matos, farmacêutico da Universidade
Federal do Ceará (UFC), o qual idealizou o programa preocupado com o bem-estar da po-
pulação que consumia essas plantas sem nenhuma informação. Então, foram constituídas
pesquisas que juntaram o saber popular e o saber científico, para proporcionar assistência
farmacêutica fitoterápica a entidades públicas interessadas nesse uso. O projeto analisava
as espécies desde a fase do cultivo até à produção dos fitoterápicos, o que passou a gerar
mais segurança à população; além do baixo custo (redução de 20% a 30%) e instruções
para uma utilização segura (RANDAL et al., 2016; SOARES, 2019).
Assim, o programa Farmácias Vivas foi institucionalizado no estado do Ceará, pelo
decreto Nº 30.016, de 30 de dezembro de 2009; regulamentando a lei 12.951 de 1999 que
estabelece a Política de Implantação da Fitoterapia em Saúde Pública no Estado do Ceará.
Dessa forma, entendendo a importância desse modelo de gestão participativa de saúde
para todo país, o Ministério da Saúde, em 2010, através da portaria GM nº 886, de 20 de
abril de 2010, institucionalizou o projeto Farmácias Vivas como sendo um projeto que está
incluso dentro das ações e serviços oferecidos pelo Sistema Único de Saúde – SUS, por
todo território nacional (CEARÁ, 1999, 2009; BRASIL, 2010).
Embora o uso de plantas medicinais no mundo seja comum desde tempos remotos
como uma das formas mais antigas de prática medicinal, por ser uma alternativa na assis-
tência à saúde, hoje, nota-se um crescente interesse da implementação dessas práticas na
atenção primária à saúde, visto que elas podem complementar as terapias medicamentosas
para a população. Ademais, apesar do desenvolvimento da medicina, ainda são muitos os
desafios enfrentados pela população carente. Pode-se citar, por exemplo, a dificuldade do
acesso aos centros de atendimento na atenção básica de saúde e o alto valor agregado
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aos medicamentos prescritos. Logo, a grande maioria recorre à medicina tradicional e ao
uso de plantas medicinais, tanto pela necessidade e fácil acesso como pelas raízes da
cultura e tradição. Contudo, vários aspectos devem ser observados (VEIGA et al., 2005;
PRADO et al., 2018).
Dentro das fragilidades apresentadas pelo SUS, observa-se que, de acordo com dados
do IBGE 2019, cerca de 30,5% (6,2 milhões) da população brasileira teve acesso a pelo
menos um dos medicamentos prescritos no último atendimento no serviço público de saúde
(IBGE, 2019). Dessa forma, constata-se que isto é algo muito preocupante, tendo em vista
que a grande maioria da população brasileira não tem condições financeiras para aquisição
desses medicamentos. Por isso, a introdução de fitoterápicos no sistema público de saúde
pode ser uma estratégia viável para o tratamento de doenças, sobretudo, com a capacitação
dos profissionais da saúde.
Diante o exposto, a presente pesquisa deseja responder a seguinte pergunta norteadora:
“Quais as contribuições das Farmácias Vivas à política nacional e as possíveis vantagens
para a saúde pública? ”.

OBJETIVO

O presente trabalho objetivou refletir sobre o desenvolvimento do programa Farmácias


Vivas, suas contribuições ao processo de construção da política nacional de saúde e as
possíveis vantagens ao poder público e à sociedade, através de uma revisão de literatura.

METODOLOGIA

Caracteriza-se por uma revisão de literatura por meio de um estudo exploratório, trans-
versal com abordagem qualitativa, realizado através de um levantamento bibliográfico junto
a uma base de dados; abrangendo a leitura, análise e interpretação de artigos publicados na
íntegra, em periódicos científicos disponibilizados na internet. A pesquisa bibliográfica tem o
objetivo de colocar o pesquisador em contato direto com o escrito sobre a temática da pes-
quisa, por meio de materiais como: artigos científicos e teses (PRODANOV; FREITAS, 2013).
Após a definição do tema, da pergunta norteadora e objetivos, foi feita uma busca
em base de dados virtuais tais como: Google acadêmico e Scientific Electronic Library
Online (SciELO), utilizando-se computador com acesso à internet. Para a busca bibliográfi-
ca utilizaram-se termos da língua portuguesa. Para o levantamento dos artigos, utilizou-se
as palavras-chave: “Plantas Medicinais”, “Fitoterapia”, “Farmácias Vivas”, “Políticas de
Saúde Pública”. O agrupamento das palavras-chave foi realizado da seguinte forma: “Plantas
Medicinais” e “Políticas de Saúde Pública”; “Fitoterapia” e “Farmácias Vivas”.
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Foram incluídos artigos publicados no período de 2005 a 2021, disponíveis online na
íntegra, no idioma português, que discutiam sobre o uso de plantas medicinais e a relevância
das Farmácias Vivas para a construção de políticas públicas de saúde. Foram adotados,
como critérios de exclusão, os estudos que não apresentaram ou detalharam a temática
proposta. O método para a construção da pesquisa foi o dedutivo, o qual parte do geral para
o específico. Para análise e categorização dos artigos foi realizada uma leitura interpretativa
dos que se enquadraram nos critérios de inclusão do estudo e realizada a análise descritiva
do conteúdo de acordo com os objetivos propostos; evidenciando assim as seguintes catego-
rias: A falta de acesso aos medicamentos; A implantação das farmácias vivas; Os desafios
da Inserção da Fitoterapia no Brasil; Contribuições das Farmácias Vivas no Brasil.

RESULTADOS

A falta de acesso aos medicamentos

No Brasil, a saúde é garantida por lei, constando no Art. 198, da Constituição Federal
de 1988, que diz: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante polí-
ticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos
e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação”. Apesar dessa estrutura estabelecer pressupostos legais para melhoria da
dignidade humana, a efetivação da saúde muitas vezes é negligenciada, principalmente
para as populações pobres e marginalizadas que se encontram à parte do gozo dos seus
direitos constitucionais (BRASIL, 1988).
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma parcela
considerável da população brasileira faz uso de plantas medicinais ou prática integrativa e
complementar. De acordo com a Pesquisa Nacional da Saúde, existe uma estimativa de que
4,6% das pessoas fazem uso de alguma dessas práticas como tratamentos de acupuntura,
homeopatia, plantas medicinais e fitoterapia, entre outros. As regiões que apresentam as
maiores proporções são as Regiões Norte (5,7%) e Sul (5,4%) enquanto as demais regiões
permaneceram dentro da média nacional. É importante destacar que, em 2013, as pessoas
que faziam uso dessas práticas integrativas e complementares eram de 3,8% da população.
Análogo a isso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) destaca que 80% da população
mundial utiliza os recursos das medicinas populares para suprir necessidades de assistência
básica de saúde (FIRMO et al., 2011; IBGE, 2019, p. 52).
Dentro das fragilidades apresentadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), podemos
citar o acesso a medicamentos. Segundo dados apresentados em 2019, cerca de 30,5% (6,2
milhões) da população brasileira teve acesso a pelo menos um dos medicamentos prescritos
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no último atendimento no serviço público de saúde. Os dados ainda indicam que as regiões
que mais se sobressaem nesses resultados são a Centro-Oeste (24,9%) e Nordeste (28,9%)
com as menores proporções, enquanto a Região Sul, com a maior (36,2%). Ou seja, as re-
giões que apresentam menor e maior índice populacional são as que representam os menores
indicativos de acesso a medicamentos pelo Sistema Único de Saúde – SUS (IBGE, 2019).
Segundo Ferreira (2020) o uso de plantas medicinais é muito comum no Nordeste,
todavia, é necessário estabelecer o uso seguro de preparos e extratos naturais, visto que
a região apresenta matéria prima propícia ao levantamento etnobotânico. Ademais, nota-
-se que as políticas públicas de saúde apresentam muitas falhas na assistência básica de
saúde, no que diz respeito à carência de medicamentos distribuídos pelo SUS; fazendo,
assim, a população recorrer à medicina tradicional para tratamento de doenças e enfermi-
dades. No entanto, muitas vezes o uso é realizado sem nenhuma orientação e cuidado,
tornando assim preocupante as ações adversas do consumo sem nenhum acompanhamento
farmacoterapêutico.

A implantação das Farmácias Vivas

Pensando nestas questões das falhas apresentadas pelas políticas nacionais de saúde,
o Prof. Dr. Francisco José de Abreu Matos, farmacêutico da Universidade Federal do Ceará
(UFC), idealizou e implementou o projeto Farmácias Vivas, com o propósito de proporcionar
uma assistência farmacêutica fitoterápica a entidades públicas e a orientar o uso correto e
racional das plantas medicinais para a população.
Tal como o município de Maracanaú, localizado no Estado do Ceará, foi o pioneiro em
implantar o Programa Farmácias Vivas no SUS, a Secretaria Municipal de Saúde Fortaleza
tem se destacado quanto a sua organização, abrangência e funcionalidade no processo de
implantação do Programa Farmácias Vivas no SUS. Sua infraestrutura compõe-se de 01
horto com 40 canteiros para o cultivo das plantas medicinais e 01 laboratório de manipulação
para a produção dos medicamentos fitoterápicos. A distribuição dos medicamentos é reali-
zada nas Unidades Básicas de Atenção à Saúde da Família (UBASF) do Programa Saúde
da Família (PSF) por meio da prescrição do profissional de saúde (SILVA et al., 2006).
De acordo com Ceará (2009) existem quatro modelos de Farmácias Vivas vigentes que
são: Tipo I - Cultivo de plantas medicinais; Tipo II - Pré-processamento; Tipo III - Preparação
de remédios caseiros com plantas medicinais; Tipo IV - Preparação de fitoterápicos para
dispensação no SUS.
Atualmente, há 99 registros de instalação de Farmácias Vivas no Estado do Ceará,
sendo 42 em atividade. A maioria delas está inserida no modelo I, em virtude de sua menor
complexidade e pela falta de recursos financeiros, dentre estas, apenas oito são completas
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como é o caso das de Viçosa, Maracanaú, Quixeramobim e a de Itapipoca. Isso porque
poucos são os recursos e incentivos governamentais para implementação dessas unidades,
além da incapacidade dos órgãos públicos em se adequarem às exigências do Decreto
nº 30.016/2009, que dispõe sobre a política de implantação da fitoterapia em saúde pú-
blica no Estado do Ceará. Assim, um dos grandes desafios para as Farmácias Vivas é
conseguir recursos financeiros para sua expansão e manutenção nas unidades instaladas
(BONFIM et al., 2018).

DISCUSSÃO

Os desafios da Inserção da Fitoterapia no Brasil

Adiante, Carnevale (2018, p. 87) em sua tese traz o seguinte questionamento: “Como
um dos países com a maior biodiversidade do mundo e com um elevado uso de plantas
medicinais pela população (...) não inclui a fitoterapia no currículo médico? ”. No desenvol-
vimento do trabalho, ela traz que a propaganda da indústria foi relatada como uma forma
de manipulação dos médicos, além da falta de formação dos mesmos em disciplinas sobre
plantas medicinais e que isto está relacionado ao descrédito da fitoterapia e à ausência
de professores médicos capacitados para ministrarem disciplinas de plantas medicinais.
Ademais, a falta de financiamento também foi citada e associada ao pequeno interesse
governamental nas Farmácias Vivas, uma vez que a associam a “coisa de pobre” pelo des-
conhecimento de seus benefícios para a população, incluindo seus benefícios econômicos
e de caráter sustentável. Também, outras justificativas para o desinteresse dos gestores é
porque este projeto não traz benefício pessoal ou político e porque alguns políticos estão
vinculados às indústrias farmacêuticas.
Em suma, os desafios mais referidos para a implantação da fitoterapia na atenção
primária foram a estrutura física das unidades e a capacitação profissional. Dessa forma, é
possível definir estratégias para qualificar a atenção primária e ampliar o acesso à fitoterapia
como prática alternativa e complementar. Para tal, sabe-se que quaisquer propostas somente
terão êxito caso haja o reconhecimento e o compromisso na política governamental para a
real implantação na atenção primária, o que envolve mudanças na percepção do processo
saúde-doença no contexto social e cultural (ARAUJO, 2014).

Contribuições das Farmácias Vivas no Brasil

O projeto Farmácias Vivas tem uma grande importância política, econômica e social,
pois sua criação surgiu como um modelo para construção de política na saúde, em defesa
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e fortalecimento ao uso e manipulação da fitoterapia e plantas medicinais; de modo a com-
plementar aos demais tratamentos de saúde. Cabe destacar a importância para a saúde
pública do Brasil, visto que se pode comprovar que os fitoterápicos são eficazes no tratamento
de várias doenças, da mesma maneira que os medicamentos alopáticos. Dessa forma, as
famílias carentes são favorecidas, levando em conta o baixo custo dos fitoterápicos compa-
rados com os medicamentos industrializados; além da assistência farmacêutica que, por sua
formação, torna os farmacêuticos aptos a prestar orientações a esta população. Ademais, o
programa Farmácias Vivas no modelo IV (Preparação de fitoterápicos para dispensação no
SUS) permite que haja a dispersão dos fitoterápicos na comunidade através das Unidades
Básicas de Atenção à Saúde da Família com a prescrição do médico. Assim, proporcionando
que medicamentos naturais sejam disponibilizados à população de uma maneira segura e
com qualidade atendendo todas as normas sanitárias e de saúde (PEREIRA et al., 2015;
PRADO et al., 2018; IBGE, 2019).
Hoje, os serviços de fitoterapia estão sendo continuamente implantados e ampliados no
país, o que tem gerado um aumento da demanda por essa prática e o acesso às discussões
nesse segmento se ampliam e seguem ganhando força. Ademais, é importante levar em
consideração que o saber científico surge oriundo do saber popular e programas, como as
Farmácias Vivas e as leis de regulamentação do uso de plantas medicinais e fitoterápicos,
são culminantes para o reconhecimento dessa prática milenar, mostrando que todos os
saberes podem ser válidos (LEITE et al., 2021).
Por isso, faz-se necessário a introdução de manejos sustentáveis para garantir a ma-
nutenção da diversidade biológica no contexto do uso das plantas medicinais no âmbito da
saúde pública. É muito importante implementar ações e projetos que visem o acesso, capa-
citação e o uso de plantas medicinais entre os profissionais de saúde, porque desta forma
eles poderão indicar/prescrever e ampliar as opções referentes à prevenção e tratamento
de doenças que acometem a população de uma forma mais segura, eficiente e de qualidade
do ponto de vista da atenção básica saúde (PASA et al., 2010; MATTOS, 2018).
Em síntese, Argenta et al. (2011) destacam ainda que é importante desenvolver mais a
pesquisa voltada para o campo das plantas medicinais, para comprovar a eficiência e ações
por intermédio do uso popular; além de incentivar mais a utilização de plantas medicinais
em programas de saúde, em especial no SUS. Assim, ampliar as relações, cooperações e
os projetos entre universidades e comunidades, com o intuito de melhorar a qualidade de
vida da população mais carente, dos povos rurais e povos tradicionais através de uma maior
acessibilidade dos recursos terapêuticos disponíveis de forma segura e racional.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tomando como base o presente estudo bibliográfico, pode-se inferir que a utilização
de plantas medicinais e fitoterápicos sempre foi uma realidade, entretanto a falta de estudos
por parte dos profissionais da saúde, em destaque os médicos, enfermeiros e farmacêuti-
cos, implica diretamente no uso seguro e racional pelos usuários que sem informações são
acometidos muitas vezes de efeitos adversos, levando o paciente a ser poli medicado ou
tendo uma utilização demasiada ou moderada de um medicamento natural, ocasionando
consequências a médio e longo prazo para o paciente.
Desta forma, é imprescindível ter mais investimentos para as práticas de fitoterapia,
para as políticas de Saúde e para a implementação de Farmácias Vivas em todo território
Nacional; além de recursos para a capacitação dos profissionais de saúde tais como mé-
dicos, enfermeiros, dentre outros e, mais especificamente farmacêuticos, para terem mais
segurança em prestar orientações quanto o uso, administração, posologia e possíveis inte-
rações e efeitos colaterais dos medicamentos naturais para os pacientes.
Constatou-se, ainda, que as Farmácias Vivas têm muito potencial para contribuir com
a política nacional, além de trazer vantagens para a saúde pública, mas ratificando, precisa-
-se haver investimento e estudos na área, a fim de promover o uso sustentável de recursos
naturais para a promoção da saúde e melhoria da qualidade de vida da população.

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12. LEITE, P. M.; CAMARGOS, L. M.; CASTILHO, R. O. Recent progessin phytotherapy: a brazilian
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13. MATTOS, G. et al. Plantas medicinais e fitoterápicos na Atenção Primária em Saúde: percepção
dos profissionais. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 23, n. 11, p. 3735-3744, 2018.

14. ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE (OPAS). OMS apoia governos no objetivo


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paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5263:opas-oms-apoia-gover-
nos-no-objetivo-de-fortalecer-e-promover-a-saude-mental-da-populacao&Itemid=839. Acesso
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15. PASA, M. C.; ÁVILA, G. Ribeirinhos e recursos vegetais: a etnobotânica em Rondonópolis,


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16. PEREIRA, J. B. A.; PEREIRA, P. M. P. O papel terapêutico do Programa Farmácia Viva e


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17. PRADO, M. A. S. A. et al. Farmácia da natureza: um modelo eficiente de farmácia viva. Revista
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19. PRODANOV, C. C.; FREITAS, E. C. Metodologia do trabalho científico: métodos e técnicas
da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2nd. ed. Novo Hamburgo: Feevale, 2013.

20. SILVA, M. I. G. et al. Utilização de fitoterápicos nas unidades básicas de atenção à saúde da
família no município de Maracanaú (CE). Revista Brasileira de Farmacognosia, Curitiba, v.
16, n. 4, p. 455-462, 2006.

21. SOARES, G. Santo de casa, Professor Abreu Matos e o projeto Farmácias Vivas. 2009.
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22. VEIGA JÚNIOR, V. F.; PINTO, A. C. Plantas medicinais: cura segura? Química Nova, São
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Etnobotânica de plantas medicinais da
vegetação litorânea no Ceará: uma revisão
bibliográfica

Marcelo de Oliveira Sindeaux Samira Lopes de Almeida


MASTS/UNILAB MASTS/UNILAB

José Cleilson de Paiva dos Santos Luís Filipe Sá Pereira


MASTS/UNILAB MASTS/UNILAB

Welton Felipe Nogueira Menezes Cecília Maria Lima Silva


ICS/UNILAB MASTS/UNILAB

Ana Flávia Alves Nogueira Mirian Raquel do Nascimento Fernandes


MASTS/UNILAB MASTS/UNILAB

Alberto João M’batna Jeferson Falcão do Amaral


PEN/UFSC MASTS/UNILAB

'10.37885/220308125
RESUMO

O Estado do Ceará apresenta razoável diversidade de unidades fitoecológicas, com-


preendendo variados tipos de vegetação. Dentre esses tipos, aqueles situados na região
costeira ocupam 12,6% do território do Estado, sendo ainda pouco estudados se compa-
rado à vegetação de caatinga. O presente artigo resulta de uma pesquisa bibliográfica
acerca dos conhecimentos etnobotânicos de plantas medicinais da vegetação litorânea
no estado do Ceará. A pesquisa exploratória, de abordagem quali-quantitativa, teve
como procedimento metodológico o levantamento bibliográfico envolvendo artigos e
dissertações disponíveis na internet. Como principais resultados, encontramos 71 espé-
cies medicinais nativas do litoral no Ceará, utilizadas tanto por grupos indígenas como
por populações não indígenas. Por fim, verificou-se entre os grupos indígenas um maior
conhecimento das espécies nativas quando comparado aos saberes etnobotânicos dos
grupos não indígenas.

Palavras-chave: Etnobotânica, Plantas Medicinais, Vegetação Litorânea, Ceará.

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INTRODUÇÃO

A etnobotânica pode ser entendida como a ciência que estuda a relação entre os se-
res humanos e seu ambiente vegetal, sendo o estudo das plantas medicinais um de seus
principais objetos de investigação.
Desde tempos imemoriais, diferentes grupos humanos e civilizações ao redor do mundo
vêm fazendo uso de plantas em suas culturas para diversas finalidades, dentre elas: alimenta-
ção, como medicamentos e instrumentos ritualísticos. Na medicina tradicional chinesa, usa-se
plantas para finalidades terapêuticas desde 5.000 a.C., prática esta que ainda hoje tem sido
utilizada e disseminada. Na cultura indiana, o uso dos compostos vegetais como métodos
de promoção à saúde é ainda mais antigo, trazendo influências diretas para a medicina ayu-
verdica, bem como para outras culturas como a árabe, grega e romana. No Egito antigo, em
aproximadamente 1.500 a.C., já se utilizava plantas no tratamento de verminoses, problemas
de pele, como condimentos e também nos processos de mumificação (ALMEIDA, 2011).
No Brasil, onde se concentra a maior biodiversidade em espécies vegetais do planeta,
o uso medicinal de plantas remonta ao período pré-colonial, quando os povos nativos já se
beneficiavam desses recursos naturais. Estes usos medicinais passaram a ser objeto da
investigação científica a partir do século XVII, com a vinda dos primeiros naturalistas, esten-
dendo-se até os dias atuais, com o crescente desenvolvimento das pesquisas etnobotânicas
(FLORA DO BRASIL, 2020).
Especificamente no Estado do Ceará, os estudos etnobotânicos de plantas medicinais
tiveram contribuição significativa do Professor Dr. Francisco José de Abreu Matos, criador
das Farmácias Vivas, um programa de assistência social farmacêutica, baseado no em-
prego científico de plantas medicinais e fitoterápicos, organizado com o apoio da OMS em
2005. A partir daí, tem-se verificado um aumento progressivo dos estudos etnobotânicos
no estado, principalmente relacionados às plantas da caatinga (FLORA DO BRASIL, 2020).
Embora a vegetação de caatinga seja de fato a mais proeminente em termos de ex-
tensão, esta ocupa 68,8% do território cearense; o estado apresenta grande diversidade de
formações vegetais, notadamente em sua região litorânea (MORO et al., 2015). O trabalho
de mapeamento realizado por Figueiredo (1997) e posteriormente atualizado por Moro et al.
(2015), apontam dezesseis diferentes tipologias vegetais, das quais oito estão presentes na
região costeira. São elas: os campos praianos; os arbustais praianos; a vegetação de dunas
fixas; a vegetação de dunas semifixas e móveis; as florestas de tabuleiro; os arbustais de
tabuleiro; os cerrados e cerradões costeiros e os manguezais.
Essas formações costeiras recobrem aproximadamente 13% de toda a extensão terri-
torial do Ceará e são predominantes em todos os municípios litorâneos, onde residem apro-
ximadamente 43% da população do Estado (IBGE, 2010). A diversidade biológica abrangida
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por estas formações vegetais encontra-se estreitamente ligada à diversidade cultural, uma
vez que se constitui como importante fonte de recursos para populações tradicionais de
indígenas, pescadores artesanais e outras comunidades praieiras (MORO et al., 2015).
Apesar da diversidade e relevância das formações vegetais costeiras do Ceará, os
estudos etnobotânicos de plantas medicinais com foco nessa vegetação têm sido pouco
evidenciados. Em revisão de literatura acerca do uso de plantas medicinais no Ceará entre
2008 e 2018, Ferreira, Pinheiro e Gomes (2020) identificaram um total de 27 trabalhos,
dos quais apenas 3 estão situados em municípios com predominância das formações ve-
getais costeiras.
Além disso, a vegetação costeira, em suas diferentes tipologias, vem sendo gra-
vemente ameaçada pela expansão urbana, pelos grandes empreendimentos turísti-
cos (VASCONCELOS e CORIOLANO, 2008); pelos empreendimentos de carcinicultura
(MEIRELES et al., 2007); pela implantação de usinas eólicas (MOURA-FÉ e PINHEIRO,
2013) e por projetos de grande impacto ambiental, como é o caso do complexo portuário
industrial do Pecém (MORO et al., 2015).
Visando demonstrar a importância das formações vegetais costeiras para as populações
locais e reforçar a necessidade de novos estudos e políticas para sua conservação, buscou-se
neste trabalho realizar uma pesquisa bibliográfica acerca dos conhecimentos etnobotânicos
de plantas medicinais, tendo como foco a vegetação litorânea no Estado do Ceará. O estu-
do ora desenvolvido partiu, portanto, da seguinte pergunta norteadora: Quais espécies da
vegetação costeira no Ceará são utilizadas popularmente como plantas medicinais?

OBJETIVO

A pesquisa teve como objetivo conhecer os saberes etnobotânicos de plantas medici-


nais nativas da vegetação litorânea no Estado do Ceará.

METODOLOGIA

O presente texto resulta de uma pesquisa exploratório-descritiva, pois foi desenvolvida


com o objetivo de “proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado
fato” (GIL, 2008, p.27); como também buscou descrever “características de determinada
população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis” (GIL, 2008, p.28);
como é o caso do uso de plantas medicinais da vegetação costeira cearense por diferen-
tes grupos sociais.
Quanto à abordagem, trata-se de trabalho resultante de pesquisa quali-quantitativa,
pois além de enumerar e quantificar as plantas medicinais da vegetação costeira utilizadas
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na medicina popular, buscou abordar também os aspectos subjetivos/ significativos relativos
aos usos dessas plantas.
No tocante ao método procedimental foi adotada o estado da arte, abrangendo a
seleção, leitura, análise e interpretação de trabalhos publicados na íntegra em periódicos
científicos e repositórios de trabalhos acadêmicos disponíveis na internet. Optou-se pela
revisão bibliográfica por esta “permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenôme-
nos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente” (GIL, 2008, p.50);
notadamente “quando o problema de pesquisa requer dados muito dispersos pelo espaço”,
como é o caso da extensão de toda a zona costeira cearense.
A coleta de dados foi realizada por meio de buscas na plataforma digital “Google
Acadêmico” entre 21 e 28 de abril de 2021. Foram delimitados como descritores os termos:
“etnobotânica”, “plantas medicinais”, “vegetação litorânea” e “Ceará”, bem como as varian-
tes – “etnobotânico(a)(os)(as)” e “CE”.
Além dos descritores principais, foi utilizado ainda o operador lógico “AND”, resultan-
do em nove combinações: 1)”plantas medicinais” AND “vegetação litorânea” AND “Ceará”
(em qualquer lugar do trabalho); 2)“etnobotânica” AND “vegetação litorânea” AND “Ceará”
(em qualquer lugar do trabalho); 3) “plantas medicinais” AND “Ceará” (no título do artigo);
4) “plantas medicinais” AND “CE” (no título do artigo); 5) “vegetais” AND “Ceará” (no título
do artigo); 6) “etnobotânico AND “Ceará” (no título do artigo); 7) “etnobotânica AND “Ceará”
(no título do artigo); 8) “etnobotânicos AND “Ceará” (no título do artigo); 9) “etnobotânicas
AND “Ceará” (no título do artigo).
Os trabalhos encontrados em cada combinação foram selecionados segundo critérios
de inclusão e exclusão. Foram incluídos os trabalhos que atendiam simultaneamente aos dois
seguintes critérios: 1) lócus da pesquisa situado em um ou mais dos seguintes municípios:
Barroquinha, Chaval, Camocim, Jijoca de Jericoacoara; Cruz; Bela Cruz, Acaraú; Itarema;
Amontada; Itapipoca; Trairí; Paraipaba; Paracurú; São Gonçalo do Amarante; Caucaia;
Fortaleza; Eusébio; Aquiraz; Pindoretama; Cascavel; Beberibe; Fortim; Aracati e Icapuí; 2)
trabalhos que contribuíam para responder à pergunta norteadora da pesquisa.
Para a delimitação dos municípios citados no critério de inclusão nº 1), realizou-se a
sobreposição do mapa de unidades fitoecológicas do Ceará (Figura 1) e mapa político do
Estado do Ceará, tendo-se constatado que as tipologias vegetais focalizadas neste estudo
estão concentradas nos municípios litorâneos citados, banhados pelo Oceano Atlântico,
além de Chaval, Bela Cruz e Eusébio.

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Figura 1. Mapa de unidades fitoecológicas do Ceara.

Fonte: MORO et al., (2015).

No tocante aos critérios de exclusão, foram deixados de fora da pesquisa os trabalhos


que se encaixavam simultânea ou alternativamente nos seguintes critérios: 1) tinham lócus
de pesquisa situado fora dos municípios listados; 2) não traziam contribuição significativa
para responder à pergunta norteadora.
Os dados obtidos foram sistematizados em planilha eletrônica (Microsoft Excel) com
vistas a facilitar as contagens e análises dos aspectos quantitativos da pesquisa. A distinção
entre espécies botânicas nativas e espécies exóticas/cultivadas foi realizada com base em
consulta pública ao portal “REFLORA - Plantas do Brasil: Resgate Histórico e Herbário Virtual
para o Conhecimento e Conservação da Flora Brasileira” (FLORA DO BRASIL, 2020). A aná-
lise dos dados foi complementada com abordagem qualitativa mediante leitura e interpretação
dos conteúdos dos trabalhos selecionados.

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RESULTADOS

Como resultados das buscas realizadas segundo a metodologia descrita, foram se-
lecionados 10 (dez) trabalhos, sendo 8 (oito) artigos científicos e 2 (duas) dissertações de
mestrado, conforme Tabela 1 a seguir:

Tabela 1. Resultado das buscas.


“plantas medicinais” + “vegetação litorânea” + “Ceará” (em qualquer lugar do artigo) = 77 resultados
Combinação 1:
/ 3 selecionados
(Artigo) Potencialidades de uso da flora de uma área de restinga no município de Camocim, Ceará.
(Artigo) Conhecimento etnobotânico dos Tremembé da Barra do Mundaú sobre as frutas da
Trabalhos selecio-
sociobiodiversidade.
nados:
(Dissertação) Na nossa terra tem murici e batiputá: o conhecimento etnobotânico dos Tremembé sobre
as frutas nativas.
“etnobotânica” + “vegetação litorânea” + “Ceará” (em qualquer lugar do artigo) = 37 resultados /
Combinação 2:
2 selecionados
(Artigo) Conhecimento etnobotânico dos Tremembé da Barra do Mundaú sobre as frutas da
Trabalhos selecio- sociobiodiversidade. (REPETIDO)
nados: (Dissertação) Na nossa terra tem murici e batiputá: o conhecimento etnobotânico dos Tremembé sobre
as frutas nativas. (REPETIDO)
Combinação 3: “plantas medicinais” + “Ceará” (no título do artigo) = 22 resultados / 3 aproveitados
(Artigo) Plantas medicinais usadas pelos índios Tapebas do Ceará.
Trabalhos selecio-
nados: (Artigo) Uso e cultivo de plantas medicinais por horticultores no bairro de Sabiaguaba, Fortaleza, Ceará,
Brasil.
Combinação 4: “plantas medicinais” + “CE” (no título do artigo) = 26 resultados / 3 selecionados
(Artigo) Uso e diversidade de plantas medicinais no município de Aracati–CE, Brasil.
Trabalhos selecio- (Artigo) Plantas utilizadas como medicinais por moradores em um bairro de Itapipoca-CE
nados:
(Artigo) Uso de plantas medicinais por adultos diabéticos e/ou hipertensos de uma unidade básica de
saúde do município de Caucaia-CE, Brasil.
Combinação 5: “vegetais” + “Ceará” (no título do artigo) = 12 resultados / 1 selecionado
Trabalhos selecio- (Dissertação) Uso de recursos vegetais pelo povo indígena Jenipapo-Kanindé em Aquiraz, Ceará, nordeste
nados: do Brasil.
Combinações 6,7,8
“etnobotânico(a)(os)(as)” + “Ceará” (no título do artigo) = 12 resultados / 1 selecionado
e 9:
Trabalhos selecio-
(Artigo) Transmissão de saberes etnobotânicos na etnia Jenipapo-Kanindé, Aquiraz, Ceará.
nados:
Fonte: Produção dos autores

A análise dos trabalhos selecionados revelou o total de 198 espécies medicinais (excluí-
das as repetições e táxons não identificados). Desse total, verificou-se que 71 espécies são
identificadas como “nativas” no Herbário Virtual do portal FLORA BRASIL (2020); ocorrendo
espontaneamente nas formações vegetais costeiras no Estado do Ceará. As outras 116 es-
pécies são classificadas como “naturalizadas” ou “cultivadas” no citado portal. Considerando
o objetivo de evidenciar o potencial medicinal da vegetação nativa do litoral cearense, conso-
lidamos na Tabela 2 abaixo o resultado da triagem das espécies encontradas nos estudos,
bem com os conhecimentos etnobotânicos a elas associados.

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Tabela 2. Plantas medicinais nativas da vegetação costeira no estado do Ceará e conhecimentos etnobotânicos associados.

Nome popular Nome Científico Indicação popular Parte utilizada Forma de preparo
Vermicida/ antimicrobiano, folhas, raizes e extrato aquoso/
Jequiriti Abrus precatorius
diurético, expectorante. ramos/ raízes macerado
Delegado Acanthospermum hispidum Gripe folhas chá
Acmella uliginosa
Agrião Inflamação, gripe folhas e flor in natura ou lambedor
(Sw.) Cass.
Sempre viva Alternanthera brasiliana Tosse, fígado, bexiga. folhas infusão ou decocção
Amburana cearensis Inflamação, diabetes,
Cumaru cascas decocção
(Allemão) A.C.Sm tosse, bronquite e asma.
Gastrite, diabetes, ferimento,
Cajueiro Anacardium occidentale L. cascas chá, garrafada
dor, inflamação.
Angico Anadenanthera colubrina Cicatrização casca garrafada
Astronium fraxinifolium
Gonçalo alves Pressão alta talo Sem informação
Schott
Astronium urundeuva
Aroeira do sertão Ferimentos casca extrato hidroalcoolico
(M.Allemão) Engl.
Mororo Bauhinia cheilantha Inflamação e diabetes folhas infusão
Rins, colesterol,
Urucum Bixa orellana L. sementes infusão / lambedor
condimento/ tosse.
Caesalpinia ferrea Coluna, pancada, inflamação frutos / toda a infusão, maceração /
Jucá ou Pau ferro
Mart. ex Tul. / rins / hipoglicemiante. planta / casca infusão /decocção
Gripes, inflamação e próstata raízes / folhas
Guabiraba Campomanesia aromatica decocção / chá
/ câncer e inflamações. e cascas
Erva de Chumbo Cassytha filiformis L. Expectorante folhas não informado
Torém Cecropia pachystachya Rins, inflamação folhas infusão
Rins / escorbuto,
Mandacaru Cereus jamacaru infecções de pele / tosse, raízes / ramos decocção / suco / xarope
bronquite e úlceras.
Câncer, colesterol
Dente de leão Chaptalia nutans folhas infusão
diabetes e infecção.
Cainana ou Febre, doenças respiratórias não informado/
Chiococca alba (L.) Hitchc. chá / decocção
cruzeirinha / purgativo e diurético. frutos
Guajiru Chrysobalanus icaco L. Diabetes raízes não informado
Alho do mato Cipura paludosa Aubl. Gripe rizoma não informado
Commiphora leptophloeos Doenças estomacais, enjoo, cascas e garrafada e xarope
Imburana de espinho
(Mart.) J.B.Gillett tosse/ feridas, gastrite, úlceras. sementes/ cascas / decocção
Infecções mucosas,
Mangue-branco Conocarpus erectus L. não informado não informado
conjuntivite, diabetes, sífilis.
Podoi ou copaíba Copaifera langsdorffii Desf. Diabetes casca não informado
Coutarea hexandra Epilepsia, gripe,
Quina-Quina casca não informado
(Jacq.) K.Schum. expectorante, abortivo.
Croton sonderianus
Marmeleiro Dor de estômago cascas chá
Müll.Arg.
Velame Croton sp. Sangue folhas extrato hidroalcoolico
Cajueiro Brabo Curatella americana L. Tosse, inflamação, intestino. látex não informado
Contra erva Dorstenia brasiliensis Lam. Gripe raízes chá
Má digestão, próstata
João Mole Echites peltatus cascas decocção
e infecção urinária.
Aguapé Eichhornia crassipes Dor de dente não informado não informado
Elephantopus
Língua de vaca Fígado, coração folhas não informado
hirtiflorus DC.
Mutamba Guazuma ulmifolia Lam. Inflamação (região íntima) folhas garrafada
Guettarda angelica
Angélica Gripe raiz não informado
Mart. ex Müll.Arg.
Fedegoso Heliotropium indicum L. Tosse folhas chá

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Nome popular Nome Científico Indicação popular Parte utilizada Forma de preparo
Himatanthus drasticus Câncer, inflamação,
Janaguba látex látex
(Mart.) Plumel cisto no ovário.
Tosse, inflamação e
Jatobá Hymenaea courbaril cascas extrato aquoso / chá
gripes / anemia.
Ipomoea pes-
Salsa-da-praia Reumatismo, folhas friccção da decocção
caprae (L.) R.Br.
Jatropha ribifolia
Pinhão Dor de cabeça folha xarope
(Pohl) Baill.
Anador Justicia pectoralis Jacq. Hipertensão; dor de cabeça. folhas chá
Krameria tomentosa
Carrapicho Não informado não informado não informado
A.St.-Hil
Libidibia ferrea (Mart. Ossos, dor de coluna,
Jucá, Pau ferro casca não informado
ex Tul.) L.P.Queiroz dor em geral,
Oiticica Licania rigida Benth. Não informado não informado não informado
Lippia alba (Mill.) N.E.Br.
Erva -cidreira Calmante folhas infusão / chá
ex Britton & P.Wilson
Cabacinha Luffa operculata Sinusite e abortiva; infusão. frutos não informado
Mandioca Manihot esculenta Crantz Dor ao urinar farinha farinha com água
Marsypianthes Reumatismo / anemia
Hortelã-do-campo folhas / raízes banho / chá
chamaedrys (Vahl) Kuntze e dor de cabeça
Proteção (“fechar o corpo”),
Jurema preta Mimosa tenuiflora cascas banho
afinar sangue e próstata.
Aroeira Myracrodruon urundeuva Inflamação; folhas e casca infusão
Neoglaziovia variegata
Croatá Não informado não informado não informado
(Arruda) Mez
Operculina hamiltonii Regula o ciclo menstrual
não informado /
Batata de purga (G.Don) D.F.Austin / abrir apetite, tratamento casca / raízes
maceração
& Staples da gastrite e infecção.
Tumores, reumatismo,
Ouratea fieldingiana
Batiputá ferimentos, queimaduras, sementes óleo
(Gardner) Engl.
úlceras gástricas.
Maracujá Passiflora edulis Pressão alta folhas chá
Passiflora picturata
Maracujá da mata Cansaço, câncer fruto, flor não informado
Ker Gawl.
Pedras nos rins /
Quebra pedra Phyllanthus niruri L. raízes / raízes decocção / Infusão
hipoglicemiante
Piptadenia Gripes, massagem para
Angico cascas infusão
macrocarpa Benth aliviar dores, inflamação;
Louco Plumbago scandens L. Dor de dente raízes extrato hidroalcoolico
Poincianella
Catingueira Dor de cabeça folhas não informado
pyramidalis (Tul.)
Tosse / incômodo do
Pombalia calceolaria
Ipepacuanha nascimento da primeira raízes ou folhas chá ou lambedor
(L.) Paula-Souza
dentição, gripe, cólica.
Almesca Protium heptaphyllum Dor cascas não informado
Pseudobombax Dores na coluna, tratamento
Embiratanha cascas decocção
marginatum da gastrite e próstata.
Inflamação, hemorroidas,
Vassourinha Scoparia dulcis L. infecção urinaria/ raízes decocção / infusão
hipoglicemiante e hipotensiva.
Inflamação, gripe, dor de
Mangerioba Senna alata (L.) Roxb. folhas não informado
cabeça, dor de barriga.
Malva Sida galheirensis Ulbr. Gripe folhas lambedor, chá
Quixabeira Sideroxylon obtusifolium Inflamação, gastrite cascas decocção
Gripe e resfriado / cascas e frutos
Jurubeba branca Solanum albidum lambedor / chá
sangue e fígado. / raízes
Cajazeira Spondias mombin L. Anemia cascas extrato aquoso
Inflamação, diabetes.
99
Pau D’arco Tabebuia avellanedae cascas decocção

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Nome popular Nome Científico Indicação popular Parte utilizada Forma de preparo

Orelha de Onça Tibouchina heteromalla Abortivo, estômago, infecção. raízes decocção


Chanana Turnera subulata Sm. Inflamação raízes chá
Ferimentos, dor de garganta, casca ou extrato hidroalcoolico/
Ameixa Ximenia americana L.
gripe, dor, febre / gastrite. raízes/ casca chá
Juá Ziziphus joazeiro Mart. Caspa / gripe, pancada. casca banho / não informado
Fonte: Produção dos autores

DISCUSSÃO

Entre as espécies nativas mais frequentes, a ameixa do mato (Ximenia americana


L.) e o jatobá (Hymenaea courbaril L.) foram mencionados em 06 trabalhos. O cajueiro
(Anacardium occidentale) apareceu em 05 trabalhos. O juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.),
o quebra-pedra (Phyllanthus niruri L.), a erva cidreira (Lippia alba), e o pau ferro ou jucá
(Caesalpinia férrea) apareceram em 04 trabalhos. O batiputá (Ouratea sp.), a vassouri-
nha (Scoparia dulci), o urucum (Bixa orellana) e a ipepacoanha ou pepaconha (Pombalia
calceolaria) foram mencionadas em 03 trabalhos. Já o cumaru (Amburana cearensis), o
mororó ou pata-de-vaca (Bauhinia cheilantha), a guabiraba (Campomanesia aromática), o
torém (Cecropia pachystachya), o mandacaru (Cereus jamacaru), a angelca ou angélica
(Guettarda angélica), a janaguba (Himatanthus drasticus), a buchinha ou cabacinha (Luffa
operculata), o anador (Justicia pectoralis), o batiputá (Ouratea hexasperma) e a jurubeba
(Solanum albidum) foram mencionados em 02 trabalhos. Todas as demais espécies foram
citadas em apenas 01 dos 10 trabalhos analisados.
As espécies medicinais referenciadas nos trabalhos pertencem a 43 diferentes famílias
botânicas, sendo as mais expressivas a família Fabaceae, com 10 espécies; a Anacardiaceae
com 05 espécies e a Euphorbiaceae e Asteraceae que apresentaram 04 espécies/cada.
No tocante às partes de plantas mais utilizadas, as folhas e cascas foram referenciadas
no uso de 25 espécies, cada uma. As raízes também são bastante utilizadas, tendo sido
mencionadas em 17 espécies. Os frutos e sementes foram mencionados em 04 e 03 espé-
cies, respectivamente. Em 02 espécies são utilizadas as flores. Foi também mencionado o
uso do látex em uma espécie.
As principais enfermidades/sintomas tratados pelos grupos estudados com o uso de
plantas medicinais nativas são: inflamações em geral, para as quais foram mencionadas
18 espécies; gripe (15 espécies); dores em geral (15 espécies, das quais 5 são utilizadas
especificamente para dor de cabeça); diabetes (11 espécies); problemas do aparelho gas-
trointestinal (10 espécies); tosse e problemas do aparelho respiratório (09 espécies); pro-
blemas nos rins (5 espécies); ferimentos (5 espécies); câncer (04 espécies), dentre outros.

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Em relação às comunidades pesquisadas, verificou-se que, dos 10 trabalhos selecio-
nados, 05 foram realizados dentro de comunidades indígenas abordando os usos, modos
de preparo e finalidade das plantas medicinais pelos grupos focados.
Os estudos de Pinto (2016) e Pinto et al. (2019) entre os índios Tremembé da Barra do
Mundaú, no município de Itapipoca-Ce, revelou o uso medicinal de 16 plantas (excluídas as
repetições), das quais 09 espécies (56,2%) constam como nativas da vegetação costeira no
Herbário Virtual REFLORA (2020). Já entre os índios Tapeba, em Caucaia-Ce, Moraes et al.
(2005) mencionaram 63 plantas medicinais, sendo que 23 delas (36,5%) foram identificadas
como nativas da vegetação costeira no referido herbário.
Negreiros (2017) e Batista et al. (2018), por sua vez, ao estudarem a etnia Jenipapo-
Kanindé da lagoa da Encantada, no município de Aquiraz-Ce, apontam o uso por esses in-
dígenas de 61 plantas medicinais (excluídas as repetições), sendo que 32 espécies (52,4%)
foram identificadas em nosso levantamento como nativas.
Em relação aos demais trabalhos selecionados, todos foram realizados dentro do
contexto litorâneo, embora apresentem algumas especificidades relativas aos grupos es-
tudados. Os moradores do bairro da Ladeira, em Itapipoca-Ce, estudados por Pires et al.
(2016), revelaram o conhecimento de 57 plantas medicinais, sendo que 14 espécies (24,5%)
foram identificadas como nativas da região.
No trabalho de Rodrigues e Sobreira (2020), os usuários da unidade básica de saúde
do município de Caucaia-Ce relataram o uso de 18 plantas medicinais associadas à dia-
betes e hipertensão, das quais apenas 04 espécies (22,2%) ocorrem espontaneamente na
região. Já os Horticultores do bairro Sabiaguaba, em Fortaleza-Ce, pesquisados por Vieira
et al. (2019), mencionaram o uso e cultivo de 12 espécies medicinais, das quais somente
02 (16,6%) são nativas da vegetação costeira.
Os erveiros do mercado de Aracati, estudados por Lima e Fernandes (2020), demons-
traram conhecimento de 58 plantas medicinais, sendo que 26 delas (44,8%) foram identi-
ficadas como nativas das formações vegetais litorâneas do Ceará. Por fim, o trabalho de
Sales et al. (2019) teve como foco as potencialidades medicinais das plantas da restinga,
não explicitando o grupo que as utiliza.
Embora os trabalhos tenham sido realizados com enfoques e metodologias diferen-
tes, motivo pelo qual reconhecemos a fragilidade das conclusões obtidas a partir da com-
paração entre eles, nota-se que o percentual de espécies nativas em relação ao total de
plantas medicinais utilizadas pelos grupos estudados mostrou-se maior entre os grupos
indígenas (Tremembé – 56,2%; Tapeba – 36,5%; Jenipapo-Kanindé – 52,4%) do que entre
as populações não indígenas (Bairro da ladeira – 24,5%; Caucaia – 22,2%; Sabiaguaba –
16,6%). Os percentuais verificados entre os grupos indígenas foram equiparados somente
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pelos erveiros de Aracati-Ce (44,8%) para quem o conhecimento de plantas medicinais
constitui uma atividade profissional.
Outro aspecto relevante diz respeito à complexidade de significações atribuídas pelos
povos indígenas às plantas nativas, como no caso dos Tremembé que fazem do murici e do
batiputá símbolos de sua luta territorial (PINTO, 2016); além de utilizá-los na alimentação
e medicina tradicional. Os Jenipapo-Kanindé, por sua vez, associam o uso medicinal do
jatobá ao banho ritual na Lagoa da Encantada, como parte integrante do processo de cura
(BATISTA et al., 2018).
Esses resultados sugerem uma maior intimidade dos grupos indígenas com a biodi-
versidade de seus territórios, corroborando com Batista et al. (2018, p.3) para os quais “as
comunidades indígenas, como herdeiras de acervos de saberes tradicionais, sugerem à hu-
manidade um exemplo de integração com a natureza, que resiste aos avanços econômicos
e ao desrespeito cultural por parte da sociedade hegemônica”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, constatamos primeiramente que os trabalhos etnobotânicos e etno-


farmacológicos focados na vegetação litorânea no estado do Ceará ainda são poucos, sendo
oportuna a realização de mais pesquisas sobre o tema. A pesquisa confirmou a percepção
de que as formações vegetais costeiras englobam uma grande biodiversidade, de grande
valor intrínseco e com amplos potenciais medicinais e farmacológicos, além de constituir uma
rica fonte de recursos para as populações litorâneas, notadamente as populações indígenas,
cujo modo de vida encontra-se mais estreitamente ligado aos recursos de seus territórios.
Neste contexto, pode-se concluir, a partir do levantamento bibliográfico sobre a vege-
tação litorânea presente no litoral cearense, que se faz urgente a adoção de medidas mais
eficazes para a conservação dessa vegetação, uma vez que o atual modelo adotado pela
maioria das cidades litorâneas, não atendem a urgência de se pensar a sustentabilidade,
além de colocar em risco o desaparecimento de comunidades tradicionais e/ou tipos espe-
cíficos de vegetação.

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08
Cúrcuma longa L: caracterização, alimento
funcional e ações farmacológicas

Ana Flávia Alves Nogueira José Cleilson de Paiva dos Santos


MASTS/UNILAB MASTS/UNILAB

Alberto João M’batna Cecília Maria Lima Silva


PEN/UFSC MASTS/UNILAB

Nayara Cristina Rabelo Bandeira Mirian Raquel do Nascimento Fernandes


MASTS/UNILAB MASTS/UNILAB

Samira Lopes de Almeida Maria do Socorro Moura Rufino


MASTS/UNILAB MASTS/UNILAB

Luís Filipe Sá Pereira Jeferson Falcão do Amaral


MASTS/UNILAB MASTS/UNILA

'10.37885/220308126
RESUMO

Objetivo deste estudo consistiu em conhecer e descrever as propriedades farmacológicas


da Cúrcuma longa e sua possível utilização como alimento funcional. Trata-se de um
estudo descritivo e exploratório feito a partir de um levantamento bibliográfico junto a uma
base de dados, incluindo trabalhos publicados no período 2011-2021, disponibilizados
na internet, com perfil alinhado com o objetivo deste. Durante a pesquisa feita na base
dos artigos encontrados, percebe-se que inicialmente a cúrcuma era apreciada por seu
valor alimentício com propriedades similares ao gengibre, posteriormente ganhou espaço
por suas propriedades etnomedicinais que incluem: atividade hepática, gastroprotetora,
anti-inflamatória, antimicrobiana, anti-HIV, hipoglicemiante, dermatológica, oftalmológica,
antioxidante, aplicação em oncologia, etc. De modo geral, fica claro que cúrcuma exerce
vários efeitos benéficos à saúde através de sua ação antioxidante e antinflamatória.

Palavras-chave: Cúrcuma Longa, Atividades Farmacológicas, Alimento Funcional.

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INTRODUÇÃO

Uso de plantas medicinais como agente de tratamento tradicional para várias doenças
que afetam os seres humanos é uma prática muito antiga (MARCHI et al., 2016; BATISTA &
CATÃO, 2019). Essa prática ocorria dentro das comunidades tradicionais acompanhado de
rituais e orações, configurando como único meio existente naquela época para prevenção
e/ou tratamento de patologias e lesões (MARCHI et al., 2016).
Este conhecimento e essa prática do uso de plantas medicinais e fitoterápicos foi sempre
repassado de geração em geração, isto é, os mais velhos ensinam os mais novos. Vale res-
saltar que com o tempo, houve crescimento na área das ciências, levando ao aparecimento
dos medicamentos convencionais, após isso, essa prática passou a sofrer críticas por parte
dos alguns profissionais com formação baseada nas ciências. Porém, nas últimas décadas,
o uso de plantas medicinais tem ganhado grande repercussão a nível mundial (MARCHI
et al., 2016; GRASSO; AOYAMA & FURLAN, 2017).
Atualmente, o emprego de plantas medicinais tem aumentado no tratamento ou na
prevenção de várias doenças em todo o mundo, assim como no Brasil. Os motivos que jus-
tificam esse aumento são vários, dentre esses, destaca-se: aumento na demanda, como,
por exemplo, de ordem médica, social, cultural, econômica ou filosófica, os quais justificam
o uso das plantas como opção terapêutica para uma parcela significativa da população, seja
rural ou urbana (GRASSO; AOYAMA & FURLAN, 2017).
Em resposta às demandas supracitadas, no Brasil, surge a necessidade de ampliação
das opções terapêuticas aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) para as inúmeras
patologias que acometem a humanidade e a população brasileira. Isto porque os medica-
mentos sintéticos produzidos pelas grandes multinacionais acarretam diversas reações ad-
versas, criam dependência química e na maioria das vezes elevam os custos de tratamento
(PETRY & JUNIOR, 2012); justificando, dessa maneira, o aumento verificado nos últimos
anos em relação à utilização dos medicamentos naturais pela população brasileira e o apoio
externado pelo SUS para que esses produtos naturais sejam utilizados pelo povo brasileiro
como uma das opções existente para tratamentos das diversas patologias.
No entanto, o uso empírico das plantas medicinais, com cultivo na sua grande maioria
nas residências dos usuários, vem sendo largamente discutido pelos serviços de saúde
e pela comunidade científica por se preocupar com o emprego correto e racional dessas
espécies relativas à qualidade dos preparados e a confirmação das propriedades farma-
cológicas. O uso desses recursos muitas vezes é estimulado de maneira pouco criteriosa;
remetendo que há necessidade de muitos estudos científicos que envolvem os medicamentos
naturais para poder garantir o seu uso seguro, correto e com qualidade pelos seus usuários
(PETRY & JUNIOR, 2012).
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Dessa forma, dentre as mais variadas plantas usadas com finalidade terapêutica, encon-
tra-se a Cúrcuma longa, originária do Sudeste da Ásia e tradicionalmente usada na medicina
indiana, estando seu consumo associado à prevenção e controle de várias enfermidades
(BATISTA & CATÃO, 2019; PERES et al., 2015).
A Cúrcuma insere-se entre as espécies vegetais reconhecidas como plantas medici-
nais estudadas e apresentadas na Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao
Sistema Único de Saúde (RENISUS). Suas propriedades farmacológicas/medicinal legitima-
ram a sua ação na fitoterapia e pode até servir dentro da medicina alternativa para substituir
alguns fármacos convencionais (MORETES & GERON, 2019).

OBJETIVO

Conhecer e descrever as propriedades farmacológicas da Cúrcuma longa e sua pos-


sível utilização como alimento funcional.

METODOLOGIA

O presente trabalho constitui-se de um estudo descritivo e exploratório a partir de um


levantamento bibliográfico junto a uma base de dados; para isso, foi feito a leitura, análise
e interpretação de artigos publicados em periódicos científicos, disponibilizados na internet,
com perfil alinhado com o objetivo deste. É importante enfatizar que este tipo de estudo
dispensa a necessidade do parecer do Comitê de Ética em Pesquisa, por se tratar de dados
secundários, conforme preconizada na Resolução 466/2012 (BRASIL, 2012).
A pesquisa bibliográfica tem como finalidade direcionar o leitor ao estudo de determi-
nado assunto, proporcionando o saber, por meio de uma pesquisa a partir de um construto
de referenciais. Além disso, pode ser utilizado como base para as outras pesquisas, através
de uma leitura crítica das obras pertinentes sobre o tema em estudo (AMARAL et al., 2020).
Dessa forma, deseja-se responder a seguinte pergunta norteadora: quais são as propriedades
farmacológicas da Curcuma longa e suas possíveis aplicações como alimento funcional?
Após a definição do tema, objetivos e da pergunta norteadora, foi feita uma busca em
base de dados virtuais tais como: (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SciELO),
Google Acadêmico e Medical Literature Analysis and Retrieval System on-line (Medline);
utilizando-se computador com acesso à internet. Para a busca bibliográfica utilizaram-se
termos da língua portuguesa. Para o levantamento dos artigos, utilizamos as palavras-chave
“atividade farmacológica”, “alimentos funcionais” e “Curcuma longa”. Realizamos o agrupa-
mento das palavras-chave da seguinte forma: “atividade farmacológica” e “Curcuma longa”;
“alimentos funcionais” e “Curcuma longa”.

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Foram incluídos artigos publicados no período de 2011 a 2021, disponíveis online na
íntegra, nos idiomas português, inglês e espanhol, que discutiam a atividade farmacológica,
atividade antinflamatória e aplicações da cúrcuma como alimento funcional. Foram adotados
como critérios de exclusão, estudos que estão fora do período estabelecido nesta pesquisa
e aqueles que não apresentaram e/ou detalharam a temática proposta.
O método para a construção da pesquisa foi o dedutivo, no qual parte do geral para o
específico. Para análise e categorização dos artigos foi realizada uma leitura interpretativa
dos que se enquadraram nos critérios de inclusão do estudo e realizada a análise descritiva
do conteúdo de acordo com os objetivos propostos e pergunta norteadora. Após o estudo e
reflexão dos artigos, as informações foram apresentadas através de revisão bibliográfica e
abordadas a partir de três categorias: “Características gerais da Curcuma longa”; “Curcuma
longa como Alimento Funcional” e “Atividade farmacológica da Curcuma longa”.

RESULTADOS

Foram encontrados 1.100 artigos. A amostra final de artigos selecionados foi 18, sendo
2 da base de dados LILACS e 10 do Google Acadêmico, 4 do SciELO e 2 da Medline como
descreve a Figura 1.

Figura 1. Fluxograma PRISMA caracterizando a busca nas bases de dados.

Fonte: adaptado PRISMA, 2021.

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Após seleção da amostra, realizou-se uma discussão dos principais achados refe-
rentes a Curcuma longa relacionados a caracterização, uso como alimento funcional e
ações farmacológicas.

DISCUSSÃO

Características gerais da Curcuma longa

A Curcuma longa L. representa uma espécie botânica da família dos Zingiberaceae,


nativa da Ásia e Índia (MORETES e GERON, 2019). É denominada popularmente por aça-
frão-da-terra, cúrcuma, turmérico, açafrão-da-índia, açafrão, gengibre-amarelo, dentre outras
denominações atribuídas a esta planta (GRASSO, AOYAMA, FURLAN, 2017).
Esta espécie é usada há anos e seu uso na Índia é datado cerca de 4000 anos a.C.
Inicialmente era apreciada por seu valor alimentício com propriedades similares ao gengibre,
posteriormente ganhou espaço por suas propriedades etnomedicinais que incluem: atividade
hepática, gastroprotetora, anti-inflamatória, antimicrobiana, anti-HIV, hipoglicemiante, der-
matológica, oftalmológica, antioxidante, aplicação em oncologia, no sistema respiratório, no
sistema reprodutor, no sistema digestório e no sistema nervoso central (MARCHI et al., 2016).
A Cúrcuma tem sido usada na culinária asiática por seu sabor e cor e na medicina
chinesa e ayurvédica, particularmente como antiinflamatório e para o tratamento de icterícia,
dificuldades menstruais, hematúria, hemorragia e cólicas (LABBAN, 2014).
Inserido na Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao Sistema Único de
Saúde (RENISUS), sua suplementação é permitida para uso oral nas formas de: infusão,
extrato, alcoolatura, decocção e tintura (COSTA e HOEFEL, 2019).
Na década de 80 esta espécie foi introduzida no Brasil. Se desenvolve em solo úmi-
do e argiloso, portanto, se adapta bem na maioria dos países tropicais (MARCHI et al.,
2016). É uma planta herbácea, anual, aromática, com ramificações laterais compridas. A parte
utilizada da planta é o rizoma (raiz), que externamente apresenta uma coloração esbranqui-
çada ou acinzentada e amarelada internamente.
A Cúrcuma possui em seus rizomas compostos fenólicos que são os curcuminoi-
des. Os principais curcuminoides encontrados são curcumina, demetoxicurcumina e bisde-
metoxicurcumina. Destes, o mais conhecido e estudado é a curcumina e suas propriedades
antioxidantes são pertinentes a grupos β-dicetona e metila, os quais atuam na eliminação de
radicais livres (CARNEIRO e MACEDO, 2020). A curcumina é um polifenol lipofílico quase
insolúvel em água, mas bastante estável no pH ácido do estômago (LABBAN, 2014).
Além destes compostos, a Cúrcuma é constituída por óleos essenciais, sendo rico em
sesquiterpenos oxigenados, responsáveis pela característica aromática da planta (picante);
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por carbinol, resina, amido, polissacarídeos (A, B, C e D), sais de potássio, açúcares, dentre
outros (MARCHI et al., 2016).
Segundo estudo realizado por Costa e Hoefel (2019), esta espécie não pode ser con-
sumida por grávidas, por ser estimulador do útero, nem por crianças menores de 4 anos
de idade, nem por pessoas com anemia, em quadro de cálculo biliar, por portadores de
distúrbios hemorrágicos, nem por pessoas que apresentam úlceras gástricas ou histórico
familiar de úlceras.

Cúrcuma longa Como Alimento Funcional

A designação alimento funcional foi utilizada pela primeira vez no Japão na metade
da década de 80 ao se referir aos alimentos processados que continham ingredientes que
auxiliavam em funções específicas do corpo e na nutrição - denominados como Foshu ou
“Foods for Specified Health Use”, traduzindo para o português, Alimentos Funcionais ou
Nutracêuticos (BVS, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).
No Brasil, a legislação não possui uma definição para alimento funcional, mas sim para a
alegação de propriedade funcional e alegação de propriedade de saúde, além de estabelecer
diretrizes para sua utilização, bem como as condições de registro (ANVISA, 1999). Em resu-
mo, alimento funcional é aquele que alega propriedades funcionais e exerce algum ou vários
efeitos benéficos à saúde. Dentre os alimentos que alegam propriedades funcionais temos
os carotenóides, os ácidos graxos, os probióticos, as fibras, os compostos sulfurados e os
compostos fenólicos - destacando aqui os curcuminóides (PERES et al., 2015).
A Cúrcuma é utilizada na culinária, desde tempos remotos, devido as suas caracte-
rísticas flavorizantes, corante e conservante de alimentos. Em diversos países asiáticos,
trata-se de um componente indispensável no preparo de diversos pratos e temperos, como
no caso do curry (GRASSO, AOYAMA, FURLAN, 2017).
Para Cecílio Filho (2000) citado por Bezerra et al. (2013), em virtude da proibição
do uso de alguns corantes sintéticos nos principais países da América do Norte e Europa,
acredita-se que a Cúrcuma possa ganhar mais espaço no atraente e crescente mercado
de aditivos de alimentos, uma vez que se trata de um produto natural com características
de cor semelhantes às da tartrazina, corante amarelo artificial muito utilizado na indústria
alimentícia e farmacêutica que pode provocar reações adversas ao homem.
Brunelli (2015) relata que a Cúrcuma se mostra como um suplemento nutricional eficaz,
salientando suas propriedades funcionais quando consumida diariamente, seja na forma de
cápsulas ou associada às refeições. A parte mais utilizada nas preparações é o caule, mas
as folhas também são aproveitadas.

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A Cúrcuma também exerce ação antioxidante, ou seja, combate os radicais livres,
que são moléculas liberadas pelo metabolismo humano com elétrons altamente instáveis
e reativos, que podem causar doenças degenerativas, envelhecimento e morte celular
(VASCONCELOS et al., 2014).
Este efeito se dar pela sua capacidade de sequestrar os radicais livres e inibir a pe-
roxidação lipídica, agindo na proteção das macromoléculas celulares, incluindo o DNA,
dos danos oxidativos e pela sua capacidade em quelar metais como o ferro, cobre e zinco,
importantes agentes geradores de radicais livres (PERES et al., 2015).
Alguns autores relatam que a ação antinflamatória da Cúrcuma pode ser comparada
aos corticóides, pois ela melhora a percepção do cortisol, sem causar os efeitos colaterais
que as drogas causam. Também tem o poder de induzir a apoptose, inibir a proliferação de
tumores, tendo função citotóxica, mais eficiente e menos tóxica e desempenhar atividade
quimiopreventiva (SILVA, 2018).
A dosagem varia entre os estudos, menciona-se doses de 80mg/dia para tratar os tri-
glicerídeos, 1,5g/dia para artrites e tendinites, 900mg a 1,8g/dia para efeitos antinflamatórios
e outros mencionam que doses entre 3 a 6g de curcumina geram um melhor efeito. Porém
em humanos a absorção é baixa via oral.
Portanto, para ter uma absorção mais potencializada recomenda-se o uso em asso-
ciação com o Piper nigrum (pimenta preta ou pimenta do reino) principalmente, mas outros
compostos como a quercetina, a bromelina e o azeite também podem ser utilizados para
aumentar a absorção e a biodisponibilidade da Cúrcuma (SILVA, 2018).

Atividade farmacológica da cúrcuma Longa

No que se refere à atividade anti-inflamatória, Nascimento, Júnior & Branco (2020) no


trabalho de revisão da literatura feito por estes, com relação a esse tópico, citaram o estudo
monográfico do Ministério da Saúde que fala sobre dieta contendo Cúrcuma (padronizada
em 0,25% de curcumina), foi dada ao hamsters por via oral, deparou-se com efeito anti-in-
flamatório, diminuindo a agregação de células inflamatórias nos ductos biliares e os níveis
de alanina transaminase no soro, principalmente na fase inicial da inflamação.
No trabalho intitulado “Desenvolvimento de filme orodispersível à base de Curcuma
longa L. (Açafrão) para o tratamento alternativo de estomatites (aftas) ” de Santana et al.
(2020), trouxe evidência presente na literatura sobre o uso desta planta em pacientes com
mucosite oral, onde há o aparecimento de estomatites aftosas, foram encontrados resultados
considerados positivos no desaparecimento das aftas e no combate a mucosite.
Segundo Marchi et al. (2016) e Moretes & Geron (2019), a Cúrcuma longa Linn possui
ação anti-inflamatória potente, e isso decorre devido a diferentes mecanismos que atuam
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sobre a cascata do ácido araquidônico, podendo também ser chamada de cascata da infla-
mação, inibindo as moléculas envolvidas no processo inflamatório.
Marchi et al. (2016) especificam que a curcumina, componente químico mais impor-
tante da curcuma, possui ação preponderante neste processo, este age inibindo diferentes
moléculas envolvidas no desencadeamento da inflamação, como fosfolipase A, LOX – li-
poxigenases, COX-2– cicloxigenases, leucotrienos, tromboxanos, prostaglandinas, TNF-α,
MCP-1, óxido nítrico, colagenase, elastase, hialuronidase.
Moretes & Geron (2019) destacaram que os fatores Necrose Tumoral Alfa (TNF-α),
Cicloxigenase-2 (COX-2) e NF-kB são responsáveis por várias patologias inflamatórias. A cur-
cumina trabalha diretamente na diminuição produtiva de TNF-α interferindo na sua mediação
celular, eliminando as funções biológicas do COX-2, eliminando o NF-kB, dessa maneira,
trabalha como propriedade medicinal anti-inflamatória.
E na revisão de literatura feito por Grasso, Aoyama & Furlan (2017), estes referem
que a curcumina, componente químico do açafrão, faz a regulação negativamente a várias
expressões de citocinas pró-inflamatórias, tais como o fator de necrose tumoral (TNF-α),
interleucinas (IL-1, IL-2, IL-6, IL-8, IL-12) e quimiocinas; provavelmente, isso decorre por
inativação do fator de transcrição nuclear (NF-Kβ). Pode modular a ativação de células-T,
células-B, macrófagos, neutrófilos, células naturais killer (NK) e células dendríticas. Referem
ainda que, em doses baixas, a curcumina pode também aumentar as respostas de anticorpos.
A Cúrcuma atua também no tratamento da ostoartrite, que constitui uma doença dege-
nerativa das articulações e acomete principalmente os mais idosos, tem como característica
um quadro inflamatório e com a presença de dor, porém em alguns casos pode causar inca-
pacidade de locomoção prejudicando a qualidade de vida (CARNEIRO e MACEDO, 2020).
O tratamento básico é feito por antinflamatórios não esteroidas principalmente, mas
estes não podem ser utilizados por um período longo, pois podem causar danos gastrintes-
tinais como úlceras e gastrites. Devido alguns pacientes não se adapatarem ao tratamento
é que se busca meios alternativos com o objetivo de aliviar os sintomas e causar menos
danos ao paciente (LAIRES et al., 2017).
Os benefícios da Cúrcuma em relação a esta patologia estão relacionados com a sua
capacidade de inibir vias e citocinas pró-inflamatórias. Segundo um estudo de Haroyan et al.
(2018) citado por Carneiro e Macedo (2020), após avaliarem a eficiência de uma formula-
ção contendo curcumina e óleo volátil de açafrão em pacientes com dor nas articulações,
perceberam uma melhora nos sintomas na dor, rigidez e locomoção.
Com relação à atividade antibacteriana, nos dias atuais, na medicina, aborda-se muito
a problemática da resistência microbiana a partir do uso irracional de antibióticos. Neste
sentido, as principais indústrias farmacêuticas, juntamente às universidades, perceberam
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que há uma grande necessidade de desenvolver estudos que ajudem a ciência a obter res-
postas contra este problema (PEDRO et al., 2020).
Diante deste problema, no estudo feito por Álvarez, Ortíz & Martínez (2016), sobre
“Atividade antibacteriana in vitro da Cúrcuma longa (Zingiberaceae) contra bactérias no-
socomiais em Montería, Colômbiados”, observou-se que à medida que a concentração do
extrato etanólico e do óleo essencial aumentavam, ocorria uma queda das absorbâncias,
refletindo na redução do crescimento bacteriano. Em todas as concentrações avaliadas, o
extrato etanólico teria apresentado percentuais de redução de mais de 50% em relação ao
crescimento da cepa K. pneumoniae ATCC 700603 [Kp ATCC 700603] e um isolado clínico
de E. coli [ Ec (AI) ], sendo esta redução clara à medida que aumentava a concentração do
extrato. Este mesmo comportamento foi observado também contra cepas S. aureus, em
contrapartida o uso do óleo essencial não se mostrou tão eficaz para inibição de cresci-
mento bacteriano.
No trabalho sobre “Atividade antibacteriana in vitro do extrato alcoólico de Curcuma lon-
ga linn a 4, 8, 12 e 16% na flora salivar mista” os autores Oviedo, Rojas & Flores (2019) cita-
ram resultado obtido com relação a inibição em percentagens de 70% contra Staphylococcus
aureus e 50% contra Enterococcus faecalis a partir do óleo essencial de Curcuma longa linn.
Ambas as bactérias são gram-positivas, pois no estudo realizado em bactérias gram-nega-
tivas não houve percentual de inibição (E. coli e S. tiphy). Segundo eles, pode-se concluir
que é necessário um estudo por linhagens específicas das bactérias.
Sobre a atividade anticancerígena da Cúrcuma, entende-se que esta desencadeia
o bloqueio no crescimento descontrolado verificado nas células cancerosas, fazendo com
que estas sejam induzidas a apoptose (morte celular). Impede também a formação de
novos vasos sanguíneos em tumores e retarda a propagação do câncer em metástases
(PERES et al., 2015).
Neste mesmo contexto, as literaturas apontam que a Cúrcuma também exerce o efeito
anticâncer, através das suas propriedades farmacológicas, que atuam não só na redução
do crescimento tumoral, mas, também para modular problemas secundários associados ao
câncer, como fadiga, depressão ou insônia. Neste sentido, entende-se que a curcumina age
inibindo direta e indiretamente a ciclooxigenase-2 (COX-2), uma proteína crucial na cascata
da inflamação e que se associa a determinados tipos de câncer. Em células cancerosas, a
curcumina apresenta capacidade antiinflamatória e redução do crescimento celular por meio
da inibição da expressão das interleucinas IL-1 ß, IL-6 e fator de necrose tumoral-α (TNF-α)
(COS & CARRIL, 2014).
Ainda, no que tange sobre a possibilidade do uso da Cúrcuma como anticancerígena, foi
relatado por Nascimento, Júnior & Branco (2020) que a curcumina in vitro pode atuar inibindo
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a fosforilação de proteínas de grande importância biológica. Constatou-se que nas células
cancerígenas do cólon (linha celular PC-3), o tratamento feito na base da curcumina tem
sido associado à diminuição da fosforilação de Akt, mTOR, GSK3, FoxO1 e outras proteínas.
Nas linhas celulares cancerígenas de mama é descrita como algumas proteínas in-
tracelulares envolvidas na via de sinalização Wnt/catenin, podendo ser reguladas pelo tra-
tamento com curcumina. Ainda, os autores citaram um estudo realizado in vitro e in vivo,
onde foi possível verificar que a curcumina inverteu o MDR das células tumorais (a MDR
é a principal causa para a redução dos efeitos da quimioterapia nos tumores), bloqueando
assim o mecanismo de resistência das células tumorais e revertendo a resistência à droga
(NASCIMENTO, JÚNIOR & BRANCO, 2020).
Quanto a atividade hepatoprotetora desta planta medicinal, estudos relatam que a
Cúrcuma é tradicionalmente usada na medicina ayurvédica e na medicina chinesa para
auxiliar a função hepática e no tratamento da icterícia. A Cúrcuma aumenta o conteúdo de
glutationa e sua atividade de glutationa-s-transferase no fígado. Essas substâncias atuam
como os principais protetores contra os efeitos nocivos das toxinas e dos radicais livres. A cur-
cumina é um poderoso antioxidante que influencia a expressão de enzimas relacionadas aos
processos redox, como a glutationa sintase (GTS) ou a citocromo P450 oxidase (CYP-450),
capaz de neutralizar espécies reativas de oxigênio (COS & CARRIL, 2014).
Nascimento, Júnior & Branco (2020) apontaram no trabalho feito, por meio da revisão
da literatura, que curcumina exerce efeito hepatoprotetor contra lesões isquêmicas através
de mecanismos antiapoptóticos. Estes autores ainda mencionaram um trabalho que avaliou
o potencial da Cúrcuma frente a uma intoxicação induzida em camundongos por paraceta-
mol. Neste referido estudo, constatou-se que a curcumina fitossômica conseguiu proteger os
camundongos de lesão hepática aguda induzida por paracetamol in vivo. Após a administra-
ção de paracetamol, verificou-se que os níveis séricos de ALT e AST em camundongos que
receberam paracetamol foram significativamente maiores em relação aos do grupo controle
e a curcumina fitossoma conseguiu reduzir esses níveis. Desta forma, concluiu-se através
destes resultados que a curcumina fitossômica conseguiu proteger os hepatócitos in vivo
de danos provocados pela administração de paracetamol.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente trabalho, que objetivou conhecer e descrever as propriedades farmacoló-


gicas da Cúrcuma longa e sua possível utilização como alimento funcional, de modo geral,
ficou claro que a Cúrcuma exerce vários efeitos benefícos à saúde através de muitas ações
que foram faladas no texto, especialmente, como a antioxidante e antinflamatória. A curcu-
mina é a principal substância que concede essas características à Cúrcuma, de modo de
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ação já bem esclarecido, porém temos que nos atentar para sua forma de uso e quantidade
a fim de garantir uma boa biodisponibilidade e evitar efeitos adversos.
E pela sua facilidade de uso, acesso e custo, a Cúrcuma poderia ser bem mais explo-
rada e utilizada, já que tem um papel significante como alimento funcional e sobre várias
doenças, como de cunho inflamatório e degenerativas.

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09
Aproveitamento, características
fitoquímicas e atividades biológicas da
casca do maracujá amarelo (Passiflora
edulis F. Flavicarpa Degener): uma revisão
bibliográfica

Samira Lopes de Almeida Cecília Maria Lima Silva


MASTS/UNILAB MASTS/UNILAB

Luís Filipe Sá Pereira Alberto João M`batna


MASTS/UNILAB PEN/UFSC

Fábio Morais da Silva Mirian Raquel do Nascimento Fernandes


MASTS/UNILAB MASTS/UNILAB

Ana Flávia Alves Nogueira Juliana Jales de Holanda Celestino


MASTS/UNILAB MASTS/UNILAB

José Cleilson de Paiva dos Santos Jeferson Falcão do Amaral


MASTS/UNILAB MASTS/UNILAB

'10.37885/220308127
RESUMO

O maracujá amarelo (Passiflora edulis f. flavicarpa), família Passifloraceae, é uma es-


pécie amplamente cultivada em diversos países. O fruto da planta é empregado com
diversas finalidades comerciais, principalmente na produção de sucos. Ressalta-se que
durante a fabricação de sucos a casca do fruto é descartada sem receber o devido
aproveitamento. No entanto, é importante destacar que essa parte do fruto é rica em
compostos bioativos que podem desempenhar diversas atividades biológicas. Diante
disso, este trabalho objetiva realizar uma análise sob o aspecto da casca como resíduo
agroindustrial e seu reaproveitamento perante sua composição química que apresenta
potencial biotecnológico. Foi realizado um levantamento bibliográfico com base em artigos
científicos de bases de dados de periódicos online (Science Direct, LILACS, Periódicos
CAPES e Pubmed) e os dados analisados de forma qualitativa. Os resultados revelaram
diversas atividades e diversos estudos revelam a utilização da casca na forma de farinha
e na suplementação alimentar.

P a l a v r a s - c h a v e: C a s c a d o Fr u t o, R e a p r o v e i t a m e n t o, C o m p o s t o s B i o a t i v o s ,
Atividades Biológicas.

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INTRODUÇÃO

Maracujá é um nome dado à várias espécies do gênero Passiflora, pertencente à família


Passifloraceae, que compreende mais de 500 espécies distribuídas em regiões de clima
tropical e subtropical (REIS et al., 2018). A espécie Passiflora edulis f. flavicarpa Degener,
popularmente conhecida como maracujá amarelo ou azedo, é originária das regiões tro-
picais e subtropicais da América do Sul e amplamente cultivada em todo o mundo devido
aos seus aspectos econômicos e medicinais e ao valor agregado ao fruto e seus derivados
(SOUSA et al., 2020).
P. edulis f. flavicarpa é uma espécie que apresenta uma significativa representação do
ponto de vista medicinal, quanto ao seu uso como calmante, ansiolítico e sedativo (DENG
et al., 2010). Além disso, estudos científicos demonstraram atividade antioxidante, anti-infla-
matória, antimicrobiana, anti-hipertensiva, hepatoprotetora, hipoglicêmica e hipolipidêmica
e antidepressiva para partes como as folhas (HE et al., 2020).
O Brasil, é considerado como um dos maiores produtores e consumidores mundiais
de P. edulis f. flavicarpa, destinada principalmente para a preparação de sucos, além de
diversos produtos alimentícios e na indústria cosmética (MELETTI et al., 2005; XU et al.,
2016). No ano de 2019, o país produziu 593.429 toneladas do fruto (IBGE, 2020). Em suma,
o cultivo da espécie é voltado principalmente para a produção de sucos e polpas, em razão
de seu sabor ácido e da receita financeira gerada. Para a obtenção da polpa cítrica, a casca
e o bagaço (sementes e mucilagem) são separadas, resultando em subprodutos do pro-
cessamento industrial. A casca representa 50% do peso da fruta e consiste no exocarpo ou
flavedo, parte com cor, e mesocarpo ou albedo, parte branca intermediária, a destinação
inadequada dos seus resíduos (casca e a semente) pelas indústrias é bastante expressiva
(Figura-1) (CANTERI et al., 2014; CERQUEIRA-SILVA et al., 2014).

Figura 1. Casca de P. edulis f. flavicarpa.

Fonte: Autores, 2021.

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Por meio da desidratação, as cascas de maracujá podem ser transformadas em fa-
rinha, a qual tem diversos efeitos na saúde e é comercializada no Brasil como tratamento
adjuvante do diabetes devido ao seu efeito hipoglicemiante e a qual também é relacio-
nada ao tratamento da dislipidemia (SMITH et al., 2012; FERNANDES-MARQUES et al.,
2016). Estudos têm demonstrado que a casca é considerada como um alimento funcional,
uma vez que contém compostos bioativos, assim como outras partes da planta (PANELLI
et al., 2018). De acordo com Tehranifar et al. (2011), a casca contém uma quantidade de
compostos fenólicos superiores à porção comestível ou polpa. A composição química está
atrelada aos promissores efeitos biológicos que vêm sendo observados pela população (DE
FAVERI et al., 2020).
Portanto, a exploração da casca do fruto de P. edulis f. flavicarpa representa vanta-
gens econômicas e ambientais, gerando receita por meio da formulação de produtos, bem
como evita-se o descarte inadequado no meio ambiente (DE SOUZA et al., 2017). Desta
forma, é de grande importância que se busque soluções plausíveis para o aproveitamento
da casca. Tais soluções apenas poderão se concretizar por intermédio de pesquisas e, tam-
bém, através de mudanças comportamentais atreladas a uma boa gestão que preze para o
desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade (OLIVEIRA et al., 2002).

OBJETIVO

A presente pesquisa teve como objetivo realizar uma abordagem sobre o problema dos
resíduos sólidos com ênfase na importância do reaproveitamento das cascas de P. edulis
f. flavicarpa, bem como realizar levantamento de estudos sobre atividades biológicas da
casca da referida espécie, relacionando a importância de seu aproveitamento na redu-
ção de resíduos sólidos orgânicos e como fonte de compostos bioativos pra diversas ativi-
dades biológicas.

METODOLOGIA

A presente pesquisa tratou-se de um estudo exploratório acerca da utilização da casca


de P. edulis f. flavicarpa a fim do seu aproveitamento quanto um resíduo agroindustrial e um
levantamento bibliográfico sobre atividades biológicas demonstradas pela casca da espécie
em questão com base em artigos científicos publicados nos últimos 10 anos, bem como dos
constituintes químicos presentes na casca do maracujá. Foram realizadas buscas nos ban-
cos de dados Science Direct, LILACS, Periódicos CAPES e Pubmed, utilizando termos da
língua inglesa e para levantamento foram utilizadas as seguintes frases e palavras-chave:
“Peel Passiflora edulis flavicarpa” “Biological activity”; “Effect” utilizando o operador booleano
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“AND”. O levantamento foi realizado entre os meses de abril e maio de 2021. A inclusão foi
baseada nos seguintes critérios: relatavam o tipo de atividade biológica da casca do maracujá;
relataram os constituintes químicos ao qual foi atribuída determinada atividade biológica; o
tipo de análise in vitro ou in vivo, bem como dose ou concentração avaliada e que tenham
sido pulicados entre 2010 até o presente mês de maio de 2021.

RESULTADOS

A amostra final de artigos selecionados foi 14, sendo 1 da base de dados LILACS e 9
da Periódicos CAPES e 4 do Science Direct como descreve a Figura 1.

Figura 1. Fluxograma PRISMA caracterizando a busca nas bases de dados.

Fonte: adaptado PRISMA, 2021.

Após seleção da amostra realizou discussão dos principais achados referente a casca
de P. edulis f. flavicarpa e o seu aproveitamento.

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DISCUSSÃO

Aproveitamento da casca do maracujá amarelo (Passiflora edulis f. flavicarpa) como


forma sustentável de lidar com os resíduos orgânicos

A fração orgânica dos resíduos é formada basicamente por lixos verdes de poda e,
também, por restos de alimentos como casca de banana, maracujá, casca de ovo, entre
outros. Este tipo de resíduo comporta a maior parte dos lixos residenciais. Além disso, tais
resíduos possuem grande capacidade de atrair vetores e, no processo da sua decomposi-
ção, provocam mau odor e, consequentemente, produzem um líquido escuro vulgarmente
chamado de chorume que tem alta capacidade de poluir o solo e criar sérios problemas ao
lençol freático (PHILIPPI JR; AGUIAR, 2005; GRIMBERG, 2016).
Um dos maiores problemas que o mundo enfrenta no século XXI é a quantidade gerada
dos resíduos sólidos. O aumento populacional e a industrialização atrelados à expansão
das cidades, proporcionaram um ambiente fértil para geração de grandes quantidades de
resíduos, ou seja, não apenas houve aumento na quantidade, mas também os tipos de
resíduos se diversificaram. Esses fatores, associados ao gerenciamento inadequado dos
mesmos, causaram e ainda causam sérios danos ao meio ambiente e à saúde das pessoas.
Neste sentido, os governos de todos os países têm enfrentado grandes desafios quanto à
destinação e disposição final ambientalmente adequadas dos resíduos e buscam melhores
alternativas para o efeito (PERSEGONA, 2015; MARQUES et al., 2017).
O Brasil, sendo um dos países do mundo que enfrenta os supracitados desafios, ele
também é considerado como um dos mais férteis quando se trata do desperdício, ou seja,
recursos naturais, financeiros e até mesmo os alimentos são colocados no lixo. No entanto,
com o intuito de buscar alternativas, algumas medidas foram tomadas no sentido de combater
o desperdício em várias partes do setor produtivo, isto é, evidenciando o reaproveitamento
de certos materiais industrializados descartáveis (OLIVEIRA et al., 2002).
O aproveitamento total dos resíduos está sendo cada vez maior nas indústrias mo-
dernas em todo o mundo, e isso se deve ao fato de que muitas indústrias estão a desen-
volver e a aplicar os sistemas de gestão ambiental baseados na International Organization
for Standardization, isto é, ISO 14000, como assegura Kawabata (2008). De acordo com
Oliveira et al. (2002), desde o início da década de 1970, a alternativa que está ganhando
força é o aproveitamento dos resíduos orgânicos, ou seja, cascas de frutas que podem ser
aproveitados de diferentes maneiras e uma delas é a sua inclusão na alimentação humana.
O desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade ambiental aparecem como con-
ceito pela primeira vez na União Internacional pela Conservação da Natureza (International
Union for Conservation of Nature - IUCN), que foi realizada em Ottawa, Canadá, em 1986,
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por BRUNDTLAND. De acordo com Brundtland (1987), o desenvolvimento sustentável é
aquele que satisfaz e garante as necessidades do presente sem, no entanto, comprometer
as das futuras gerações.
Dessa forma, percebe-se que a sustentabilidade é ampla e complexa e, ao mesmo
tempo, exige a responsabilidade compartilhada. Assim sendo, quando se fala da Passiflora
edulis f. flavicarpa, uma das soluções plausíveis para o aproveitamento das suas cascas é
a transformação em farinha, que há vários anos vendo sendo estudada o seu uso terapêu-
tico e, também, o seu uso alimentar (PITA, 2012). Em relação ao uso alimentar, a casca do
maracujá amarelo por ser rica em proteína, pectina e carboidrato, ela é utilizada na produção
de geleia comum e também na fabricação de doces.
Essas alternativas, como asseveram Oliveira et al. (2002), podem contribuir para o
melhor gerenciamento das cascas que eram vistas apenas como resíduos e, ao mesmo
tempo, podem ajudar a valorizar comercialmente o produto. Outra importante alternativa ou
solução quando se fala da casca do maracujá amarelo é que, além de estender a vida útil
do alimento e combater a desnutrição, quando é utilizada de maneira consciente e susten-
tável, melhora a renda de muitas famílias, diminui a geração do resíduo orgânico e também
promove a segurança alimentar. Sendo assim, a aplicação da tecnologia em subprodutos na
indústria alimentícia além de diminuir de forma significativa o resíduo desperdiçado, impacta
positivamente a economia (DIAS, 2016).

Constituintes químicos das cascas de P. edulis flavicarpa

A casca de Passiflora edulis f. flavicarpa possui grande riqueza de substâncias em


sua composição, ou seja, ela é rica em fibras solúveis e ácido-γ- amino-butírico. Este fato
tem despertado o interesse para as investigações a respeito de usos terapêuticos como
alternativa para prevenção e o tratamento de várias doenças. Os principais constituintes
nutricionais das cascas de P. edulis flavicarpa incluem fibra dietética, carboidratos, lipídios,
ácidos carboxílicos, polifenóis, compostos voláteis, proteínas e aminoácidos, vitaminas,
minerais dentre outros (HE et al., 2020).
A farinha da casca de P. edulis f. flavicarpa apresenta alta concentração de polissaca-
rídeos, os quais apresentam diversas atividades biológicas descritas na literatura. Em uma
análise da composição monossacarídica o estudo de Silva et al. (2012) demonstrou alta
concentração de ácido galacturônico (44,2 g/100 g de polissacarídeo), além de arabinose,
raminose, glicose, manose, galactose, xilose e poucos resíduos de ribose e fucose. É im-
portante ressaltar que a alta concentração de ácido galacturônico está associada a pectina
que tem sido extraída da casca do fruto de P. edulis flavicarpa e empregada na indústria
(VASCO-CORREA et al., 2017).
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Goss et al. (2018) realizou a análise fitoquímica e observaram indicativos de compostos
fenólicos, especificamente o ácido cafeico e isoorientin que é um flavonoide. Assim como foi
evidenciado a presença de β-caroteno, luteína, criptoxantina e compostos fenólicos totais
ao qual foi associada a atividade antioxidante (PANELLI et al., 2018).

Atividades biológicas das cascas de Passiflora edulis f. flavicarpa

Após a realização do levantamento bibliográfico, foram observadas diversas ativida-


des biológicas atribuídas à casca de Passiflora edulis f. flavicarpa, principalmente quanto a
compostos a partir da farinha da casca da espécie. Na medicina popular, a farinha é utilizada
principalmente para o tratamento de diabetes. Diversos estudos vêm sendo realizados e
evidenciam o efeito hipoglicêmico deste produto, como por exemplo, o de Costa et al. (2015),
no qual a farinha obtida por desidratação da casca do maracujá foi incorporada na massa
de talharim e submetida à análise sensorial e avaliação da glicemia antes e após a ingestão.
O alto consumo de alimentos ricos em frutose está associado à resistência à insulina,
associada ao descontrole da glicemia. Animais que receberam a farinha de P. edulis flavi-
carpa não apresentaram resistência à insulina, aumento dos níveis de triglicerídeos séricos,
crescimento de depósitos de gordura no fígado e alargamento dos adipócitos, que caracteriza
o efeito de prevenção da resistência à insulina e a esteatose hepática. Associa-se estes
resultados à presença de fibras ou compostos bioativos, como compostos fenólicos, ácido
caféico e isoorientina encontrados na composição da farinha (GOSS et al., 2018).
Além dos ensaios pré-clínicos realizados avaliando o efeito hipoglicêmico e a resistência
à insulina, Queiroz et al. (2012) realizaram um estudo com 43 voluntários com Diabetes mel-
litus tipo 2, no qual os resultados encontrados sugerem que a farinha pode ser empregada
na composição de massas alimentícias no auxílio do controle glicêmico. Além dos efeitos
no controle hiperglicêmico, foi observado que a suplementação da farinha de P. edulis f.
flavicarpa exerceu ação na resistência à insulina quando avaliada a glicose em jejum e
hemoglobina glicada.
Associado ao diabetes, a hiperlipidemia é uma condição responsável pelo desenvolvi-
mento de muitos problemas de saúde, como a aterosclerose (MEHTA et al., 2006). No estudo
de Fernandes-Marques et al. (2016) foi avaliado o uso da farinha em um ensaio clínico com
pessoas portadoras de HIV e com lipodistrofia. Os pacientes fizeram a utilização de 30g
de farinha por 90 dias. O uso da farinha por este período aliada a dieta e acompanhamen-
to terapêutico foi eficaz nas melhorias das concentrações plasmáticas de colesterol total,
LDL-c, HDL-c e triglicerídeos. Os efeitos hipolipidêmicos citados corroboram com o estudo
de Panelli et al. (2018), no qual avaliou a casca do fruto de P. edulis f. flavicarpa e demostrou
a estimulação da capacidade antioxidante e redução da dislipidemia e da gordura corporal
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em camundongos obesos, demonstrando que a casca do fruto da referida planta auxilia na
melhora da composição corporal e nos parâmetros metabólicos e antioxidantes.
Em uma análise in vivo demonstrou-se a diminuição da peroxidação lipídica no fígado
e no tecido adiposo, bem como o aumento da expressão de enzimas como GPx e GR. Além
disso, foi observada a diminuição de citocinas inflamatórias, caracterizando assim um efeito
anti-inflamatório da farinha de P. edulis f. flavicarpa (VIOLO et al., 2019).
Quanto ao efeito gastroprotetor, a fibra proveniente da farinha de P. edulis flavicarpa
foi avaliada em modelo de úlcera gástrica induzida por etanol, na qual foi evidenciado que
o tratamento dos animais com o material reduziu significativamente as lesões de úlcera
gástrica em até 87%, assim como evitou o esgotamento dos níveis de glutationa (GSH) e
de muco da parede gástrica por administração oral e intraperitoneal (ABBOUD et al., 2019).
Popularmente, P. edulis f. flavicarpa é associada a seus efeitos sedativos, para partes
como as flores e as folhas. Um estudo de Figueiredo et al. (2016) avaliou o efeito sedativo
para as cascas do fruto da referida espécie, na qual foi demonstrado que a administração
da farinha durante um mês promoveu um efeito sedativo sem causar relaxamento muscular.
Além disso, nesse trabalho foi evidenciado que os animais tratados com a farinha de P. edulis
f. flavicarpa também apresentaram redução do ganho de massa corporal sem causar alte-
ração no consumo alimentar.
Visando avaliar a atividade antitumoral da farinha de P. edulis f. flavicarpa Silva et al.
(2012) demonstraram, por meio de um ensaio in vivo, que os animais tratados apresentaram
taxas de inibição do crescimento de tumores do tipo Sarcoma. Além disso, não se evidenciou
toxicidade expressiva, assim como observado em outros estudos in vivo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a realização do levantamento bibliográfico observa-se que a casca do maracujá


(P. edulis f. flavicarpa) compreende uma fonte de compostos bioativos, os quais estão as-
sociados à diversas atividades biológicas, como a hipoglicemiante que é bastante difundida
na medicina popular. Compreende-se ainda que a utilização da casca de P. edulis flavicarpa
contribui para a diminuição da geração de resíduos sólidos que é um grande problema devi-
do aos impactos negativos gerados ao meio ambiente. Assim, com a utilização desta parte
do fruto, que acaba sendo descartada no processamento de sucos em residências e em
escala industrial, diversos benefícios para a saúde humana e ambiental podem ser gerados
na perspectiva da sustentabilidade.

REFERÊNCIAS
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saborizadas com boca boa (Buchenavia Tomentosa) e pera do cerrado (Eugenia Klotz-
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8. MARQUES, E. A. F. et al. Gestão da coleta seletiva de resíduos sólidos no campus Pampulha


da UFMG: desafios e impactos sociais. Revista de Gestão Ambiental e Sustentabilidade,
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9. MELETTI, L. M. M. et al. Melhoramento genético do maracujá: passado e futuro. In: FALEIRO,


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tos) - Universidade Estadual Do Sudoeste Da Bahia, Itapetinga, 2012.

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ponível em: https://sidra.ibge.gov.br/tabela/5457#resultado. Acesso em: 13 maio 2021.
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16. SOUZA, C. G. et al. Sequential extraction of flavonoids and pectin from yellow passion fruit rind
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Londres, v. 98, n. 4, p. 1362-1368, 2018.

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2016.

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Aloe vera (babosa): aspectos etnobotânicos,
fitoquímicos e clínico/farmacológicos

Luís Filipe Sá Pereira Yara Santiago de Oliveira


MASTS/UNILAB ICS/UNILAB

Maria Imaculada Lourenço Meirú John Hebert da Silva Félix


MASTS/UNILAB MASTS/UNILAB

Ada Amélia Sanders Lopes Jeferson Falcão do Amaral


IEDS/UNILAB MASTS/UNILAB

José Márcio Machado Batista Aluisio Marques da Fonseca


UNICATÓLICA MASTS/UNILAB

Rosiane Barros Pereira


SMS/GUAIÚBA-CE

'10.37885/220308128
RESUMO

A Aloe vera (L) Burm. f. conhecida popularmente como babosa, pertence à família
Aloaceae, possui aproximadamente 15 gêneros e 800 espécies. O objetivo deste trabalho
é buscar evidências através da literatura sobre o uso da Aloe vera (babosa). Realizou-se
uma revisão da literatura, através de artigos científicos publicados em português e em
inglês, abrangendo a leitura, análise e interpretação destes em periódicos científicos dis-
ponibilizados na internet. Os resultados alcançados neste estudo revelam que Aloe vera
(gel da polpa das suas folhas) possui muitas atividades sendo estudadas e atribuídas
a ela, que são: antiinflamatória, antiviral, antifúngica, antibacteriana, laxante, proteção
contra radiação, tratamento contra queimaduras, aceleração em cicatrização das feridas,
problemas gastrintestinais, diabetes, dentre outras. Portanto, é de suma importância
novos estudos mais aprofundados sobre a referida planta, uma vez que o conhecimento
científico da mesma pode ajudar a população a usá-la de forma mais segura e racional.

Palavras-chave: Aloe Vera, Etnobotânica, Uso Popular, Atividade Farmacológica.

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INTRODUÇÃO

De acordo com Toro et al. (2018) e Badke et al. (2011), o poder da cura em relação às
plantas medicinais é tão antigo quanto a espécie humana. As primeiras civilizações perce-
beram que algumas plantas possuíam utilidade para o tratamento de várias doenças e que
surtiam efeitos benéficos, ou seja, curavam.
Desde então, a cura por meio das plantas medicinais dominou o mundo e resolveu
várias enfermidades não apenas de uma família específica, mas de toda uma comunida-
de. No entanto, devido às transformações ocorridas no meio técnico-científico, principalmente
nas áreas das ciências da saúde, outras formas de tratar e curar as doenças surgiram, e
uma delas é o uso dos medicamentos alopáticos.
A partir de então, o uso das plantas medicinais começou a ser descartado em muitos
países do mundo. Entretanto, ainda em muitos países africanos, asiáticos e americanos
uma ampla maioria das pessoas continuam a usá-las para diversos fins. Em várias partes
do mundo, assim como no Brasil, as transformações de ordem econômica, social, política e
outras modificaram as relações sociais e agudizaram vários problemas já existentes; para
enfrentar tais desafios, é necessária uma intervenção multidisciplinar.
Neste sentido, foi criada, no Brasil, a Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde (SUS), em 2006. O principal obje-
tivo dessa política era ampliar e diversificar as opções terapêuticas aos usuários do SUS,
isto é, possibilitando o acesso e garantia a plantas medicinais e a serviços relacionados à
fitoterapia, com segurança, eficácia e qualidade, na perspectiva da integralidade da atenção
à saúde. Com o intuito de fortalecer ainda mais a política anterior, um ano depois, em 2007,
foi instituído o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, que visava “garantir
à população brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos,
promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia produtiva e
da indústria nacional” (BADKE et al., 2011).
Ao fazer isso, o país estava reconhecendo que parte significativa da sua população
tinham outras formas de ver o mundo e resolver os problemas relacionados com a saúde, ou
seja, existem povos tradicionais como indígenas e quilombolas ou afro-descentes que ainda
usam os recursos (plantas) provenientes da natureza para tratar e curar as suas doenças.
Tais relatos podem ser observados nos trabalhos de Monteles e Pinheiro (2007) sobre a
comunidade quilombola do Maranhão e de Badke et al. (2011) sobre plantas medicinais no
Rio Grande do Sul, onde foram evidenciadas várias plantas que possuem princípios ativos
para tratar várias doenças, pois até mesmo na literatura científica aquelas informações
foram confirmadas.

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Nesse sentido, uma das principais plantas medicinais conhecidas e utilizadas por po-
vos tradicionais é a Aloe vera (L.) Burm.f. Asphodelaceae; conhecida como babosa. A ori-
gem da palavra Aloe vera provém da fusão de árabe e latim, ou seja, Alloeh (árabe), que
significa substância amarga e brilhante e Vera (latim), que significa verdadeiro (GUARI;
NEHA; FARHAT, 2011).
Aloe vera é muito comum no Brasil, onde é popularmente utilizada na cicatrização de
feridas, no tratamento de queimaduras, conjuntivite e dores reumáticas, dentre outros males.
Durante os séculos dezoito e dezenove, a Aloe foi popularmente prescrita por seus efeitos
catárticos, que são mais fortes que de qualquer outra planta conhecida. Atualmente, não é
mais recomendado como primeira escolha entre as preparações laxativas devido aos efeitos
colaterais resultantes, tais como cólica severa e náusea. É imprescindível a padronização
do uso da Aloe vera, com objetivo de conservar melhor suas características químicas e a
definição da melhor forma de sua aplicação (FREITAS; RODRIGUES; GASPI, 2014).
Dessa forma, é de fundamental importância novos estudos que apresentem as carac-
terísticas morfológicas, fitoquímicas e farmacológicas da Aloe vera para que o conhecimento
científico sobre esta planta medicinal se torne cada vez mais seguro para a população e a
cultura do uso racional seja disseminada.

OBJETIVO

O objetivo deste trabalho foi buscar evidências, através da literatura, sobre o uso da
Aloe vera (babosa), apontando principalmente os aspectos etnobotânicos, fitoquímicos e
clínico/farmacológicos.

METODOLOGIA

Neste estudo, realizou-se uma revisão da literatura com caráter descritivo através de
artigos científicos publicados na íntegra, selecionados em português e em inglês, abran-
gendo a leitura, análise e interpretação destes em periódicos científicos disponibilizados na
internet. Para a seleção destes, foram estabelecidos critérios de busca, através das pala-
vras-chave, de inclusão/exclusão para a organização e elaboração do desenvolvimento do
trabalho por meio de uma literatura significativa que pudesse gerar conhecimento acerca da
Aloe vera. A buscas foram feitas usando as seguintes palavras-chaves: Aloe vera, efeito,
atividade farmacológica, uso popular, utilizando o operador booleano AND. As bases de
dados utilizadas foram SciELO, LILACS e Google Acadêmico.

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A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investiga-
dor a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia
pesquisar diretamente (AMARAL et al., 2020).
Após a aplicação dos critérios de inclusão/exclusão, realizou-se a leitura interpretativa
dos artigos que faziam parte da temática proposta, destacando-se, assim, as seguintes
categorias sobre a Aloe vera: Aspectos Etnobotânicos; Aspectos Fitoquímicos; Aspectos
Clínicos e Farmacológicos.

RESULTADOS

Foram encontrados 1.550 artigos. A amostra final de artigos selecionados foi 16, sendo 1
da base de dados LILACS, 2 do SciELO e 13 do Google Acadêmico como descreve a Figura 1.

Figura 1. Fluxograma PRISMA caracterizando a busca nas bases de dados.

Fonte: adaptado PRISMA, 2021.

Após seleção da amostra realizou-se a discussão dos principais achados referentes


ao uso da Aloe vera nos âmbitos etnobotânico, fitoquímico, clínico e farmacológico.

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DISCUSSÃO

Aspectos Etnobotânicos sobre a Aloe vera

A Aloe vera (L) Burm. f. pertence à família Aloaceae e possui aproximadamente 15 gê-
neros e 800 espécies. Originou-se da África e da Península Arábica. Atualmente, é plantada
em grande escala em vários países do mundo como China, Estados Unidos da América,
Índia, África do Sul, Haiti e México (WHO, 1999; FREITAS; RODRIGUES; GASPI, 2014).
Os nomes comuns ou sinonímias encontradas na literatura em relação a Aloe vera
(L.) Burm.f. são: Aloe chinensis Bak, Aloe vera Var, Aloe chinensis Berger, Aloe barba-
densis Mill, entre outros. No entanto, ela é popularmente conhecida como babosa-ver-
dadeira, aloe-de-barbados e/ou aloe-decuraçau (WHO, 1999; CASTRO; RAMOS, 2002;
LORENZI; MATOS, 2008).
É uma planta herbácea que cresce em qualquer tipo de solo e não necessita de muita
água. As folhas possuem a face ventral/plana e a dorsal é convexa, cerosa e lisa. É sucosa
e possui odor muito forte, desagradável e sabor amargo. As folhas são grossas, eretas,
rosuladas, ensiformes, carnosas/suculentas, verdes e medem de 30 a 60 centímetros de
comprimento; são verde-brancas contendo manchas claras quando novas e, também, são
lanceoladas, agudas e possuem margens de dentes espinhosos e apartados. É uma planta
com caule curto e estolonífero e raízes abundantes, longas e carnosas (WHO, 1999; MATOS,
2002; FREITAS; RODRIGUES; GASPI, 2014).
Quanto às flores, elas são branco-amareladas e têm de 2 a 3 cm de comprimento
e, ao mesmo tempo, são cilíndricas a subcilíndricas, com os segmentos coerentes com
as pontas estendidas. As flores ainda possuem seis estames quase do tamanho do tubo,
filetes delgados e anteras oblongas. O ovário é trilocular, triangular e é séssil; o estilete é
mais longo que o perianto, com um pequeno estigma, sendo os óvulos abundantes nos
lóculos. A inflorescência é central, ereta e tem de 1 a 1,50 m de altura. O escapo possui de
10 a 15 cm, e o racimo é denso de 1 a 3 cm, contendo brácteas lanceoladas longas mais
do que os pedicelos. O processo de florescimento acontece na primavera, isto é, no mês de
setembro e outubro (CASTRO; RAMOS, 2002; LORENZI; MATOS, 2008).
Em relação aos frutos, são constituídos por cápsulas ovóide-oblongas, curtas e cônicas,
com deiscência loculicida, triloculares, só que com septos aparentemente de 6 lóculos. As se-
mentes são numerosas, pardo-escuras, achatadas e reniformes (CASTRO; RAMOS, 2002;
LORENZI; MATOS, 2008).
Sobre o cultivo, em relação ao solo, Aloe vera, não é muito exigente, desde que o solo
seja drenado e permeável, isto é, arenoso ou arenoso-argiloso; no entanto, é sensível à
acidez do solo. Referente ao clima, é uma planta de climas tropicais e subtropicais, sendo
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assim, deve ser cultivada em locais protegidos de ventos frios hibernais, já que é uma planta
de plena luz e não se dá bem com a sombra. É plantada no outono ou no início da primavera,
distantes uma das outras, ou seja, de 0,80 a 1m para maior facilidade de limpeza entre as
plantas. São plantadas em covas rasas e em solos bem preparados (CASTRO; RAMOS,
2002; LORENZI; MATOS, 2008).
Aloe vera é vendida como massas opacas que variam do preto avermelhado ao acas-
tanhado, cor preta a marrom escura. O seu odor é característico e desagradável; o gosto
é azedo, nauseante e muito amargo (CASTRO; RAMOS, 2002; LORENZI; MATOS, 2008).
Toro et al. (2018) desenvolveram um trabalho etnobotânico na comunidade São Gonçalo
Beira Rio, em Cuiabá/MT, intitulado “Levantamento Etnobôtanico da Planta Medicinal Aloe
vera L. na comunidade São Gonçalo Beira Rio, Cuiabá, MT”, onde identificaram que as pes-
soas que residem na referida comunidade conhecem e usam Aloe vera (L) Burm. f. para di-
versas fins terapêuticos. O quadro abaixo ilustra diversos usos apontados pelos entrevistados:

Quadro 1. Informações etnobotânica da comunidade São Gonçalo Beira Rio. Cuiabá. 2018.
Utiliza a babosa in Utilizar a babosa
Idade Sexo Conhecer a babosa Possui em casa Finalidade
natura* industrializada
49 F Sim Não Cabelo e ferida. Sim Shampoo
Cabelo, pele, queimadu-
54 M Sim Sim Sim Não
ra, estômago e fígado
62 M Sim Sim Queimaduras e infecções Sim Remédio
59 F Sim Não Cabelo Sim Não
59 F Sim Sim Queimaduras Sim Não
74 M Sim Sim Estômago Não Não
73 M Sim Sim Infecções Sim Não
37 M Sim Não Cabelo Não Não
25 M Sim Não Queimadura Não Sim
Cicatrização de machu-
53 M Sim Não Não Sim
cado
Perfume, hidra-
59 M Sim Sim Lesões e queimaduras Sim
tante e shampoo
Queimaduras, úlcera e Produtos para a
44 M Sim Não Sim
cicatrização pele
39 M Sim Não Ruim Sim Shampoo
Cabelo, estômago e
64 F Sim Sim Sim Shampoo
cicatrização
Prevenção do câncer
89 M Sim Sim e para problema do Sim Não
coração.
Cabelo, prevenção do
53 M Sim Não Não Não
câncer, doenças.
Cabelo e prevenção do
50 M Sim Não Sim Não
câncer.
15 M Sim Não
77 M Sim Não
67 M Sim Sim Hemorroida Sim Shampoo
64 M Sim Sim Gastrite, azia Sim Não
21 F Sim Sim Ferimento, remédio Sim Cosmético
Fonte: Toro et al. (2018).
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Aspectos Fitoquímicos sobre a Aloe vera

A composição química da Aloe vera pode variar de acordo com a qualidade do solo,
situação geográfica, radiação e temperatura, disponibilidade de água, entre outros (MUÑOZ;
LEAL; CARDEMIL, 2015).
A principal parte da planta com uso popular/cultural disseminado por todo mundo são
as folhas, as quais podem ser divididas em duas. Na parte externa da folha pode-se extrair
o suco que, ao ficar concentrado, recebe o nome de Aloé. O referido suco sai de forma
espontânea das folhas cortadas contendo sabor amargo, a cor marrom escura e odor for-
te. O suco é composto principalmente por derivados antracênicos, isto é, aloínas (FREITAS;
RODRIGUES; GASPI, 2014).
Ainda na folha da planta, quando são retirados os tecidos externos, consegue-se gel mu-
cilaginoso e incolor, denominado de gel de Aloe Vera. Este gel é constituído majoritariamente
de água e polissacarídeos, mas também de outros componentes como vitaminas A, B, C, E,
potássio, zinco, magnésio, cálcio e diversos aminoácidos, carboidratos e enzimas (FREITAS;
RODRIGUES; GASPI, 2014).
De acordo com Lacerda (2016), existem mais de 20 compostos com atividades benéfi-
cas para saúde humana, entre eles, estão as enzimas, compostos orgânicos, antraquinonas,
minerais, vitaminas e aminoácidos. No entanto, quando se junta a casca com o exsudato,
eles apresentam em maior grau componentes fenólicos como as antraquinonas. Assim
sendo, entre os constituintes químicos mais verificados, estão os compostos fenólicos e os
principais grupos encontrados são as antraquinonas e cromonas (isobarbaloína e barbaloína).

Estrutura química da Isobarbaloína Estrutura química da Barbaloína

Fonte: Lacerda (2016).

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Aspectos Clínicos e Farmacológicos sobre a Aloe vera

De acordo com Freitas, Rodrigues e Gaspi (2014), há milhares de anos, a Aloe vera tem
sido utilizada na medicina tradicional para o tratamento de diversos males. O primeiro registro
do uso da Aloe vera foi feito na Mesopotâmia, em uma tabuleta de argila datada de 2100
a.C. No Egito, a referida planta é conhecida como a “planta da imortalidade”, e possivelmente
foi usada por Cleópatra nos cuidados da pele e do cabelo. Segundo Grindlay e Reynolds
(1986), as primeiras pesquisas científicas sobre propriedades medicinais do gel da polpa das
plantas do gênero Aloe iniciaram-se nos anos de 1930. No entanto, os primeiros resultados
clínicos foram apresentados na publicação de Collins e Collins em 1935. Eles basearam-se
no uso popular do gel contra as queimaduras solares graves em pacientes na Flórida.
O uso popular da Aloe vera não aconteceu apenas no mundo antigo e nas localidades
supracitadas, mas na atualidade, ela vem sendo empregada em vários países do mundo
devido ao seu potencial terapêutico. No Brasil, por exemplo, o seu uso é muito comum e é
popularmente utilizada na cicatrização de feridas, dores reumáticas, tratamento de queima-
duras, entre outros (FREITAS; RODRIGUES; GASPI, 2014).
Para Reynolds e Dweck (1999), diversas atividades biológicas foram estudadas e
atribuídas a Aloe vera, especificamente ao gel da polpa de suas folhas. Entre as ativida-
des estudadas e atribuídas verificam-se atividades antiviral, antiinflamatoria, antifúngica,
antibacteriana, laxante, tratamento contra queimaduras, aceleração em cicatrização das
feridas, proteção contra radiação, problemas gastrintestinais, diabetes, úlcera, tratamento
de edemas, estimulante do sistema imunológico, dentre outras.

– Atividade anti-inflamatória e cicatrizante

De acordo com Freitas, Rodrigues e Gaspi (2014), estudos realizados in vitro ou atra-
vés dos animais revelaram algumas substâncias como partes responsáveis pelas atividades
cicatrizante e antiinflamatória da Aloe vera. Foram propostos diversos mecanismos para
explicar tais influências.
A acemanana, que é um polissacarídeo encontrado em grande quantidade no gel
de Aloe vera, estimulou in vitro macrófagos murinos da linhagem RAW 264.7 a liberarem
interleucina-6, fator de necrose tumoral-α e óxido nítrico. Neste sentido, a fusão entre a
acemanana e interferon-γ intensificou tais efeitos, possibilitando assim uma ação sinérgica
como assegura Zhang & Tizard (1996 apud Freitas; Rodrigues e Gaspi, 2014).
De acordo Davis et al. (1994 apud Freitas; Rodrigues; Gaspi, 2014), outro importante
aspecto apontado é a manose-6-fosfato, que é um polissacarídeo encontrado no gel de Aloe

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vera. Ela diminuiu a inflamação e acelerou o processo de cicatrização em camundongos na
dosagem de 300 mg/kg.
Em relação a queimaduras, Aloe vera foi testada em estudo publicado por Khorasani
et al. (2009) como asseguram Freitas, Rodrigues e Gaspi (2014), onde fizeram a comparação
entre um creme contendo Aloe vera a 0,5% e sulfadiazina de prata a 1%, que é um trata-
mento usado habitualmente. Foram usados em 30 pessoas com queimaduras de segundo
grau; no entanto, o creme contendo Aloe vera a 0,5% mostrou-se mais efetivo, pois em 16
dias, já havia promovido a cicatrização, enquanto que creme com sulfadiazina em 19 dias.

– Atividade antifúngica e antibacteriana

De acordo com Freitas; Rodrigues e Gaspi (2014), Aloe vera possui atividade antimi-
crobiana e atua em vírus, fungos e em bactérias Gram positivas e Gram negativas. Ainda
para os autores, diversos estudos identificaram alguns compostos com ação bacteriostática
ou bactericida em Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa, Escherichia coli,
Helicobacter pylori, Salmonella typhi, Bacillus cereus, Candida albicans, Shigella flexneri,
Streptococcus pyogenes, Mycobacterium tuberculosis dentre outros. Neste sentido, o ácido
p-cumárico, ácido cinâmico, ácido ascórbico e o pirocatecol, foram alguns dos compostos
encontrados que possivelmente atuam de maneira sinérgica.

– Tratamento da hiperglicemia e dislipidemia

Segundo Ngo et al. (2010 apud Freitas; Rodrigues e Gaspi, 2014), em um artigo de
revisão sobre a utilização da Aloe vera para o tratamento do Diabetes e da dislipidemia,
existem 8 estudos clínicos com 5285 pacientes no total que concluíram que há indícios do
uso de Aloe vera na diminuição do colesterol e glicose.
De acordo com Freitas, Rodrigues e Gaspi (2014), em animais, a atividade hipoglice-
miante da Aloe vera foi verificada no trabalho de Tanaka et al. (2006), em que uma linha-
gem de ratos que possuíam distúrbios similares aos causados pelo diabete tipo 2 como
(hiperglicemia, obesidade e resistência insulínica), foram submetidos a tratamento via oral
com 25 μg/ animal/dia de gel de Aloe vera, nas concentrações de 20, 30 e 50 mg/mL, e 1
ug/animal/dia de 5 diferentes fitoesteróis isolados desta espécie (lofenol, 24-metil-lofenol,
24-etil-lofenol, cicloartanol e 24-metileno-cliartanol. Depois de 33 dias de tratamento, houve
redução significativa.
Ainda, de acordo com Freitas, Rodrigues e Gaspi (2014), diversos estudos foram
realizados também em ratos com Diabetes tipo 1 induzida por estreptozotocina. Entretanto,
as atividades antioxidantes de Aloe vera foram detectadas, bem como redução da glicose

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plasmática a níveis normais. Outro aspecto importante são os exames histológicos realizados
no fígado, rim, pâncreas e intestinos, que demonstraram efeito protetor do gel de Aloe vera.

– Outros usos

Estudo realizado por Cho et al. (2009 apud Freitas; Rodrigues e Gaspi, 2014) revela o
aumento de expressão de pró-colágeno tipo 1 e a diminuição de rugas nas mulheres acima
de 45 anos de idade que usaram de forma oral a solução a base de gel de Aloe vera em pó
dissolvido em água destilada.
Ainda, de acordo com Freitas, Rodrigues e Gaspi (2014), como Aloe vera são bons
hidratantes, as indústrias de higiene pessoal e cosméticos usam elas em mais diversas
formulações, ou seja, em xampus, cremes e sabonetes. Em alguns países, como assevera
os autores, é inserido nos cremes de barbear com o intuito de ajudar no processo de cica-
trização devido a alguns cortes que ocorrem durante o processo de barbear.

– Contra-indicações e efeitos indesejáveis

Durante a gravidez, não é recomendada o uso oral de Aloe vera devido à presença de
antraquinonas, uma vez que seu efeito no intestino grosso pode causar reflexos na mus-
culatura uterina e induzir o aborto. Em excesso, as antraquinonas causam cólicas fortes,
náuseas, diarréias e, também, perda de eletrólitos que, por sua vez, ocasionam disfunção
cardíaca e neuromuscular (WHO, 1999).
Na literatura atual, existem vários casos de hepatite aguda causada pelo consumo oral
de Aloe vera. De acordo com Freitas, Rodrigues e Gaspi (2014), o primeiro caso relatado
desse acontecimento aconteceu na Alemanha, com uma mulher de 57 anos. O relato foi feito
por Rabe et al. (2005), ou seja, mostraram que quando a referida mulher ingeriu tabletes
com 500 mg de extrato de Aloe vera por quatro semanas, ela apresentou sintomas como
prurido, dor abdominal e icterícia. No entanto, após os exames laboratoriais, foi verificado
níveis anormais de alanina aminotransferase (1480 U/L – normal: <22 U/L) e aspartato amino-
transferase (711 U/L – normal: <15 U/L). A biópsia hepática revelou hepatite aguda severa e,
após uma semana de suspensão dos tabletes, começou-se a observar melhoras na referida
senhora, pois os níveis de alanina aminotransferase paulatinamente voltaram a normalidade.
Outro elemento importante apontado por Freitas, Rodrigues e Gaspi (2014) é a proibição
pela ANVISA da comercialização de sucos e outros alimentos que possuem Aloe vera, ou
seja, a proibição aconteceu devido ao fato de que há diversos relatos que apontam reações
adversas devido ao consumo desses produtos e por não existirem evidencias científicas que
comprovassem a sua segurança.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Popularmente conhecida como Babosa, Aloe vera é muito importante para a socie-
dade humana devido as suas numerosas atividades biológicas comprovadas durante anos
de pesquisas e, também, devido ao conhecimento popular. A pesquisa evidenciou que há
milhares de anos a referida planta tem sido utilizada na medicina “tradicional” no sentido de
tratar várias enfermidades.
Esta pesquisa evidenciou que existem diversas atividades biológicas estudadas e
atribuídas a Aloe vera, especificamente ao gel da polpa de suas folhas. Entre as atividades
estudadas e atribuídas podem-se destacar atividades antiinflamatória, antiviral, antifúngi-
ca, antibacteriana, laxante, proteção contra radiação, estimulante do sistema imunológico,
tratamento contra queimaduras, aceleração em cicatrização das feridas, úlcera, problemas
gastrintestinais, diabetes, dentre outras.
Apesar da sua grande importância desde antiguidade, há algumas contraindicações
quanto ao uso indiscriminado desta planta ou produtos que tem como a base Aleo vera.
Devido a presença de antraquinonas, durante a gravidez, não é recomendada o uso oral de
Aloe vera, ou seja, o efeito da mesma no intestino grosso pode causar reflexos na muscu-
latura uterina e, consequentemente, induzir o aborto. Portanto, não é recomendada. Outro
aspecto importante no que se refere a contraindicações são casos de hepatite aguda causada
através do consumo oral de Aleo vera.
Portanto, apesar da sua grande importância devido a sua constituição fitoquímica
rica e diversificada, se não for utilizada de maneira correta, pode causar sérios proble-
mas para a saúde.

REFERÊNCIAS
1. AMARAL, J. F. et al. Atividade farmacológica do chá verde e suas possíveis aplicações: uma
revisão bibliográfica. International Journal of Development Research, [S.l.], v. 10, n. 10, p.
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Escola Anna Nery, Rio de Janeiro, v. 15, n. 1, p. 132-139, 2011.

3. CASTRO, L. O.; RAMOS, R. L. D. Cultivo de três espécies de babosa: descrição botânica e


cultivo de Aloe arborescens Mill. babosa-verde, Aloe saponaria (Aiton) Haw. babosa-lis-
trada e Aloe vera (L.) Burm.f., babosa-verdadeira ou aloe-de-curaçau (ALOEACEAE). Porto
Alegre: FEPAGRO, 2002. 12 p.

4. FREITAS, V. S.; RODRIGUES, R. A. F.; GASPI, F. O. G. Propriedades farmacológicas da


Aloe vera (L.) Burm. F. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, Paulínia, v. 16, n. 2, p.
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5. GAURI, B.; NEHA, J.; FARHAT, D. Aloe Vera: A valuable multifunctional cosmetic ingredient.
International Journal of Medicinal and Aromatic Plants, Brussels, v. 1, n. 3, p. 338-341, 2011.

6. GRINDLAY, D.; REYNOLDS, T. The Aloe Vera Phenomenon: a review of properties and mo-
dern uses of the leaf parenchyma gel. Journal of Ethnopharmacology, Limerick, v. 16, p.
117-151, 1986.

7. LACERDA, G. E. Composição química, fitoquímica e dosagem de metais pesados das


cascas das folhas secas e do gel liofilizado de Aloe Vera cultivadas em hortas comuni-
tárias da cidade de Palmas, Tocantins. 2016. Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde)
– Universidade Federal do Tocantins, Palmas, 2016.

8. LORENZI, H.; MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil nativas e exóticas. 2nd. ed.
Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2008.

9. MATOS, F. J. A. Farmácias Vivas: sistema de utilização de plantas medicinais projetado para


pequenas comunidades. 4nd. ed. Fortaleza: Editora UFC, 2002.

10. MONTELES, R.; PINHEIRO, C. U. B. Plantas medicinais em um quilombo maranhense: uma


perspectiva etnobotânica. Revista de Biologia e Ciências da Terra, Aracaju, v. 7, n. 2, p.
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11. MUÑOZ, O. M. et al. Extraction, Characterization and Properties of the Gel of Aloe Vera (Aloe
barbadensis Miller) Cultivated in Chile. Medicinal & Aromatic Plants, Brussels, v. 4, p. 1-7,
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12. REYNOLDS, T.; DWECK, A. C. Aloe Vera leaf gel: a review update. Journal of Ethnophar-
macology, Limerick, v. 68, p. 3-37, 1999.

13. TORO, A. M. et al. Levantamento Etnobôtanico da Planta Medicinal Aloe vera L. na comunida-
de São Gonçalo Beira Rio, Cuiabá, MT. Biodiversidade, Cuiabá, v. 17, n. 1, p. 80-88, 2018.

14. WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). WHO Monographs on selected medicinal plants.
Geneva: WHO Publications. 1999.

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Potencial terapêutico do alho para o
tratamento da hipertensão arterial: uma
revisão da literatura

Arlene Pinto de Miranda Silva Fábio Morais da Silva


IBRAS/FACEC MASTS/UNILAB

Francisco Baltazar Venâncio José Márcio Machado Batista


ICS/UNILAB UNICATÓLICA

Welton Felipe Nogueira Menezes Aline Santos Monte


ICS/UNILAB ICS/UNILAB

Zola Paulina Pedro Makabi Francisco Washington Araújo Barros


ICS/UNILAB Nepomuceno
ICS/UNILAB
Janiel Ferreira Felício
PPSAC/UECE Jeferson Falcão do Amaral
MASTS/UNILAB

'10.37885/220308130
RESUMO

A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) tem se tornado um dos mais importantes proble-
mas de saúde pública por ser uma doença complexa, multifatorial e poligênica. A busca
por terapias complementares é uma prática comum no Brasil e, principalmente, o uso de
plantas medicinais e fitoterápicos para o tratamento da HAS como o alho (Allium sativum).
Este estudo teve como objetivo conhecer e discutir a efetividade e segurança do uso do
alho no tratamento da HAS. Para isso foi realizada uma pesquisa de caráter explorató-
rio nas bases de dados científicos relacionadas ao uso do alho no tratamento da HAS.
Resultados identificaram que o alho apresenta cerca de 30 substâncias com potencial
efeito terapêutico, sendo que a alicina é a responsável pela maioria dos seus efeitos
farmacológicos; estudos realizados em ratos demonstraram esses efeitos. Demostrou-
se também que o alho possui diferentes mecanismos de ação que contribuem para o
efeito normotensor.

Palavras-chave: Anti-Hipertensivo, Alho, Hipertensão Arterial Sistêmica.

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INTRODUÇÃO

As doenças crônicas não-transmissíveis (DCNTs) têm se tornado um dos mais impor-


tantes problemas de saúde pública. A hipertensão arterial sistêmica (HAS) está entre elas,
por ser uma doença complexa, multifatorial e poligênica; dependente da dieta, de fatores
demográficos, fatores genéticos e sedentarismo, resultando no desequilíbrio de vários sis-
temas, sendo considerada um fator de risco para doenças cardiovasculares (DCVs), pro-
movendo a insuficiência cardíaca (IC), insuficiência renal (IR) e acidente vascular cerebral
(AVC) (WILLIAMS, 2010).
A mortalidade por DCV aumenta progressivamente com a elevação da Pressão Arterial
(PA) a partir de 120/80 mmHg de forma linear, contínua e independente; quanto mais alta
a PA maior a possibilidade de agravos cardiovasculares, especialmente quando o paciente
não procura atendimento médico e acompanhamento para cuidados em saúde. No Brasil, a
principal causa de morte são as DCVs, sendo responsáveis, em 2008, por 34% dos óbitos
da população adulta e 40,8% dos óbitos de indivíduos com 60 anos ou mais (INFARMA,
2013). As DCVs são ainda responsáveis pela alta frequência de internações, ocasionando
custos médicos e socioeconômicos elevados (MALTA et al., 2009).
A HAS se tornou um problema que vem crescendo anualmente, na maioria das vezes,
trazendo outras complicações. Muitos dos pacientes não têm uma boa adesão ao tratamen-
to medicamentoso e as estatísticas de abandono a este são altas. Visando melhorar essa
situação, alguns pacientes começaram a buscar alternativas de tratamento mais efetivos e
acessíveis, que sejam comprovadas cientificamente. Neste contexto surge a utilização das
plantas medicinais e fitoterápicos, sendo estas práticas tradicionais e culturais, mas que de-
vem estar sob orientação médica e/ou acompanhamento com profissionais de saúde, para
que seja evitada a baixa efetividade terapêutica, reações adversas severas, dentre outros
danos à saúde (ANVISA, 2016).
Existem dois tipos de tratamento para a HAS, o medicamentoso e o não medicamen-
toso; neste estão inseridas as terapias complementares. No ano de 2006, foi implantada no
Brasil a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no âmbito do
Sistema Único de Saúde (SUS), visando estimular mecanismos naturais e alternativos de
prevenção de agravos por meio de tecnologias eficazes e seguras (BRASIL, 2006). Dentre
as Práticas Integrativas e Complementares do SUS (PICS), pode-se destacar a fitoterapia,
área que trabalha com a utilização e beneficiamento das plantas medicinais, ou de partes
delas, que apresentem propriedades terapêuticas e não ofereçam risco de toxicidade a seus
usuários em dosagens corretas.
A busca por terapias complementares é uma prática comum no Brasil. As plantas me-
dicinais e os fitoterápicos são amplamente utilizados em todo o mundo e, embora seja um
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recurso do saber popular, utilizado no meio familiar, o conhecimento das plantas com suas
propriedades terapêuticas e formas de utilização não é baseado somente no saber empírico
(CEOLIN et al., 2009).
Tendo em vista que o nosso país conta com uma das maiores biodiversidades de
espécies vegetais do planeta e estas espécies fazem parte de toda uma cadeia produtiva,
tecnológica e alimentícia, a ANVISA regulamentou a Relação Nacional de Plantas Medicinais
de Interesse do SUS (RENISUS). Este documento lista 71 espécies vegetais, que possuem
suas propriedades terapêuticas comprovadas, bem como estimula o desenvolvimento e
beneficiamento das matérias primas e produtos obtidos e fornecidos como terapia comple-
mentar em unidades básicas de saúde (RENISUS/MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).
Uma das plantas medicinais mais utilizadas no tratamento da HAS é o alho (Allium
sativum), inserida no RENISUS, pertencente à família Liliaceae; apresenta efeitos natriu-
réticos e diuréticos, antiagregante plaquetário e fibrinolítico e cardioprotetor na reperfusão
e na isquemia (RAHMAM, 2001). Os efeitos farmacológicos do alho têm sido atribuídos
aos compostos orgânicos sulfurados, abundantes nos tecidos desta espécie, derivados do
aminoácido cisteína, subdivididos em sulfóxidos de S-alilcisteína e γ-glutamilS-alilcisteína
(SCHULZ; HÄNSEL; TYLER, 2002; LORENZI; MATOS, 2002).
Dessa forma, chama a atenção à riqueza de informações sobre o uso de produtos natu-
rais para o tratamento de várias patologias, o que desperta o interesse, especialmente, em sa-
ber mais sobre a utilização do alho no tratamento da HAS e desenvolver o presente trabalho.

OBJETIVO

Realizar levantamento de informações científicas que demonstrem o uso popular do


alho (Allium sativum) no tratamento da HAS. Conhecer as substâncias químicas presentes
no alho e seu potencial farmacológico que podem contribuir para o seu uso popular no trata-
mento da HAS. Discutir os efeitos indesejáveis e uso irracional do alho no tratamento da HAS.

METODOLOGIA

Neste estudo realizou-se uma revisão da literatura, com caráter descritivo, através de
artigos científicos publicados na íntegra, selecionados em português e em inglês, abran-
gendo a leitura, análise e interpretação destes em periódicos científicos disponibilizados na
internet. Para a seleção destes, foram estabelecidos critérios de busca, de inclusão/exclusão
para a organização e elaboração do desenvolvimento do trabalho por meio de uma literatura
significativa que pudesse gerar conhecimento acerca do tema escolhido. A principal vanta-
gem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma
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gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente
(AMARAL et al., 2020).
A seleção dos artigos foi realizada nas bases de dados online: PUBMED/Medline
(Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), Scielo (Scientific Electronic
Library Online) e Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe de Informação em Ciências
da Saúde). Para a realização e ampliação da busca, foram utilizadas combinações, com o
operador booleano “AND”, das seguintes palavras-chave: Anti-hipertensivo, Alho, Hipertensão
Arterial Sistêmica (Anti-hypertensive, Garlic, arterial hypertension). Após a aplicação dos
critérios de inclusão/exclusão, realizou-se a leitura interpretativa dos artigos que faziam
parte da temática proposta. Foram excluídos do estudo os artigos científicos repetidos e os
trabalhos não relacionados a temática proposta. Além disso, foram observados e respeitados
os aspectos éticos no que concorda a fidedignidade dos dados e autores encontrados nos
artigos que compõe o material bibliográfico selecionado.
Os artigos foram coletados simultaneamente, sendo analisados e apresentados através
de revisão da literatura. Foram enquadrados e analisados juntos os objetivos que versavam
sobre a mesma finalidade, da mesma forma quanto à identificação do perfil uso popular do
alho no tratamento da HAS e o potencial farmacológico. Dessa forma, emergiram as seguintes
categorias as quais foram desenvolvidas de acordo com os objetivos propostos: Aspectos
gerais sobre HAS e uso medicinal do Alho; Caracterização química da Allium sativum L e
seu potencial farmacológico; Efeitos indesejáveis e toxicidade no uso do Alho para HAS.

RESULTADOS

Foram encontrados 263 artigos. A amostra final de artigos selecionados foi 12, sendo
1 da base de dados LILACS, 9 do SciELO e 2 da Medline como descreve a Figura 1.

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Figura 1. Fluxograma PRISMA caracterizando a busca nas bases de dados.

Fonte: adaptado PRISMA, 2021.

Após seleção da amostra realizou discussão dos principais achados referente ao po-
tencial terapêutico do alho para o tratamento da Hipertensão Arterial.

DISCUSSÃO

Aspectos gerais sobre HAS e uso medicinal do Alho

A HAS é um dos problemas de saúde pública mais importantes no mundo, já que é um


importante fator de risco para a ocorrência do acidente vascular cerebral e o infarto agudo
do miocárdio. Apesar de apresentar alta prevalência no Brasil, existem ainda uma grande
porcentagem de indivíduos que desconhecem serem portadores da HAS.
O uso de plantas medicinais no tratamento e prevenção de doenças vem crescendo
no decorrer dos anos; as pessoas estão em busca de tratamentos mais naturais com me-
nos agressão ao organismo. Por esse motivo, o SUS criou e publicou duas políticas que
regulamentam e asseguram à população que procura essa forma terapêutica (SAÚDE,
2006). Nesse sentido, se faz importante a busca por outros meios que possam se integrar
ao tratamento convencional como uma forma alternativa, além de valorizar práticas antigas
como o uso de plantas medicinais (LIMA et al., 2020).
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A população brasileira portadora de HAS está estimada entre 11 a 20%, sendo a maior
prevalência com a progressão da idade. Além disso, a HAS eleva o risco de ocorrência de
complicações cardiovasculares. As principais complicações observadas são: aterosclero-
se, infarto agudo do miocárdio (IAM) e o acidente vascular cerebral (AVC) (LARINI, 2008).
Devido à dificuldade de aderir ao tratamento com fármacos e estilo de vida, contribuindo
para que a HAS seja um problema de saúde pública em constante crescimento, a popu-
lação busca cuidados através da utilização de plantas medicinais para conter e manter os
níveis de pressão arterial (PA) adequados. A Allium sativum L. é considerada a planta mais
estudada para verificação de ação na HAS. Possui nome popular de alho, sendo oriundo da
Ásia Central, pertencente à família do Lírio, no qual o bulbilho, ou seja, o “dente” é utilizado
na gastronomia e na medicina (LIMAA et al., 2020).
Existem dois tipos de tratamento para HAS: o farmacológico (com medicamento) e o
não farmacológico (sem medicamento). O tratamento não farmacológico pode ser realizado
através do controle dos fatores de risco, portanto, a modificação no estilo de vida do indiví-
duo se faz necessária. Nessas modificações deve-se incluir: controle de peso, redução ou
abandono do álcool e fumo, aumento da prática regular de atividade física (30 min/dia ou
150 min/semana), controle da dieta e a reeducação alimentar, além de outras formas para
auxiliar na sua prevenção e terapia (SPOSITO et al., 2007). Sobre o tratamento farmaco-
lógico, além dos medicamentos anti-hipertensivos, medicamentos fitoterápicos a base de
Alho (Allium sativum) podem ser utilizados como terapia complementar no âmbito das PICS.
Quando preparado, o alho tem que ser consumido rapidamente de preferência sem sofrer
nenhuma ação de calor ou qualquer outro tipo de tratamento térmico, porque os componentes
sulfurados são extremamente voláteis (MARCHIORI, 2005).

Caracterização química da Allium sativum L. e seu potencial farmacológico

Uma das plantas usadas no tratamento da HAS é o alho (Allium sativum L), pertencente
à família Liliaceae, apresenta efeitos natriuréticos e diuréticos, antiagregante plaquetário,
fibrinolítico, cardioprotetor na reperfusão e na isquemia (RAHMAM, 2001). O Allium sati-
vum L. é um alimento rico em alicina possuindo ação antiviral, antifúngico e antibiótico. Possui
ação vasodilatadora e hipocolesterolemiante, ou seja, também se tornando um redutor de
doenças cardiovasculares (LÚCIO, 2017).
Em sua forma pura, foi constatada atividade antibacteriana contra uma ampla gama de
bactérias gram-negativas e gram-positivas, incluindo cepas enterotoxicogênicas multirresis-
tentes de Escherichia coli e também possui atividade antifúngica, atividade antiparasitária e
antiviral (PAI; PLATT, 1992; ROSS et al., 2001). Além disso, a atividade antifúngica do alho
foi uma das primeiras a serem estudadas. Estudos in vitro e in vivo mostraram uma grande
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eficácia do alho e seus derivados contra um amplo espectro de fungos e leveduras, incluindo
Candida, Trichophyton, Torulopsis, Rhodotorula, Cryptococcus, Aspergillus e Trichosporon
(DAVIS & PERRIE, 2003).
Foram constatadas as atividades antivirais de vários produtos comerciais a base de
alho, incluindo comprimidos e cápsulas de alho em pó, alho macerado em óleo, óleos de alho
destilados a vapor, alho envelhecido em álcool aquoso e óleo de alho fermentado, contra
vírus do Herpes simplex Tipos 1 e 2, influenza A e B viruses (FENWICK & HANLEY, 1985);
citomegalovírus humano (MENG et al., 1993); estomatia vesicular vírus tis, rinovírus, vírus
da imunodeficiência humana (HIV), pneumonia viral e rotavírus foram estudados. A atividade
antiviral desses produtos comerciais parecem depender do seu processo de preparação e
os produtos com os mais altos níveis de alicina e outros tiossulfinatos, principalmente DADS,
DATS e ajoene têm as melhores atividades antivirais (WEBER et al., 1992).
O tipo e a concentração dos compostos extraídos do alho dependem do seu estágio
de maturação, práticas de cultivo, localização na planta, condições de processamento, ar-
mazenamento e manipulação (MARCHIORI, 2005). No alho, foram identificadas cerca de
30 substâncias com potencial efeito terapêutico. O seu bulbo apresenta rendimento de 0,1
a 0,2% (v:p) de óleo volátil destacando-se na sua composição química dissulfeto de dietila,
dissulfeto de alilproprila, dissulfeto de dialila, trissulfeto de alila, polissulfeto de dialila, S-alil
cisteína, S-alilmercaptocisteína, entre outros constituintes.
A maioria dos componentes sulfurados está presente nas células quando o alho é
amassado, partido, cortado ou mastigado, pois ocorre uma interação entre os vários com-
postos, desencadeando reações químicas seqüenciais como: quando as células do bulbo
são rompidas, permite que a aliina entre em contato com a enzima aliinase e, dentro de
poucos minutos, ocorre à formação do composto volátil aliicina (SCHULZ; HÄNSEL; TYLER,
2002). É importante ressaltar que a aliicina é um produto instável e sofrerá reações adicio-
nais para formar outros derivados e produtos, dependendo de condições ambientais e de
processamento (REUTER; SENDL, 1994).
Foram isoladas do extrato metanólico de bulbos várias substâncias, também deriva-
das da aliicina, dentre elas: 2-vinil-4H-1,3-ditiino, 3-vinil-4H-1,2-diitino e ajoeno (LORENZI;
MATOS, 2002). Ao analisar a cinética enzimática da aliinase a uma temperatura de 40 a
60°C observou que cerca de 90 % aliicina formada manteve-se estável. Para preservar a
composição química do alho, recomenda realizar o processo de secagem através da desidra-
tação entre 3 a 4 dias, a 50°C em estufa de ar circulante (LAGUNES & CASTAIGNE, 2008).
Também podem ser encontrados na sua constituição química os flavonóides, adenosi-
na, pectinas, saponinas esteroides, compostos fenólicos e mucilagens (MARCHIORI, 2005).
Muitos dos efeitos farmacológicos do alho são atribuídos a aliicina, que representa cerca de
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60-80% do total dos compostos sulfonados (KIVIPELTO et al., 2005; YULI; SHI-YING; DA-
WEN, 2007). Em estudo feito em ratos com hipertensão induzida por frutose e tratados com
aliicina, na dose de 8 mg/kg/dia, durante 2 semanas, observou-se o efeito anti-hipertensivo
possivelmente pelo seu mecanismo de ação que inibi a enzima conversora de angiotensina
(ECA) (ELKAYAM et al., 2001).
Estudos realizados em ratos que fizeram uso de compostos organossulfurados, em face
ao modelo de contração de aorta isolada, com solução de epinefrina a 10M, observaram o
efeito vaso relaxante nas concentrações de 1,5, 10, 20 e 50g/mL de alho e sugeriram um
possível efeito anti-hipertensivo, devido ao aumento da produção de óxido nítrico (ASHRAF;
HUSSAIN & FAHIM, 2005). Estudo realizado por Ali et al. (2000) demonstrou que o extrato
aquoso do alho administrado por via oral a ratos hipertensos, na dose de 0,5mL/kg, resultou
em diminuição na pressão de sangue sistólica.
Segundo a Resolução RDC nº 48, de 16 de março de 2004, da ANVISA (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária), o alho, além de alimento, é considerado também um fi-
toterápico de uso tradicional. A alicina contribui na redução da HAS através da inibição da
formação da aterosclerose e LDL (low density lipydes – colesterol ruim), por promover a va-
sodilatação e evitar a lipoperoxidação de lipoproteínas, bem como a agregação plaquetária.
Experimento realizado com 35 ratos com hipertensão induzida com L-NAME (N G –
nitro - arginina metil éster L), durante 10 dias, tratados por extrato hidro alcoólico de alho e
captopril, demonstrou que o efeito redutor da PA do extrato hidro alcóolico se compara com
o do captopril (ICHIKAWA et al., 2006).
Estudo realizado com 100 pacientes com distúrbio hipertensivo, divididos em dois gru-
pos, um tratado com tintura de alho e o outro com medicamentos tradicionais, observou que
o tratamento com a tintura de alho provou ser mais benéfico, em menos tempo do que o tra-
dicional, por possuir uma ação vasodilatadora coronariana e diurética (GARCIA et al., 2000).

Efeitos indesejáveis e toxicidade no uso do Alho para HAS

O Allium sativum L., conhecido popularmente como alho, é uma das plantas terapêu-
ticas utilizadas para o tratamento de diversas patologias dentre elas temos a hipertensão
arterial, porém o seu uso prolongado e em grandes quantidades, além de suas interações
medicamentosas, podem favorecer efeitos adversos do uso inadequado ou desacompanha-
do, podendo assim levar a intoxicações (CARNEIRO et al., 2016).
Ingerir alho cru ou em cápsulas, por exemplo, pode potencializar o efeito anticoagulante
do sangue, contribuindo para a sua fluidez, algo que é extremamente benéfico, mas que
também pode ter um efeito prejudicial na saúde de quem o consome. Bashiri (2015) utilizou,
em seus estudos, comprimidos de alho e atividade física para verificar efeitos na pressão
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arterial. O uso das cápsulas teve elevada tolerância, apresentando em poucas pessoas
efeitos desagradáveis apenas no início da pesquisa.
Mesmo sendo o alho um dos remédios caseiros mais utilizados, estudos demonstram
que também existem contraindicações. Comer alho, ou tomar cápsulas de óleo de alho
pode ser muito perigoso para todos aqueles que têm problemas de coagulação sanguínea,
tomam fármacos anticoagulantes, têm trombose ou suspeitam de trombos não consolida-
dos, sofrem de hemorragias, têm menstruação muito abundante ou indivíduos com pressão
arterial muito baixa.
Estudos como o de Sobenin (2009), indicam que há também uma série de medica-
mentos que interagem com os componentes do alho por efeito da sua ação bloqueadora do
citocromo P450 (CYP 3A4) que afeta, por sua vez, um grupo de enzimas metabolizadoras
de inúmeros fármacos. Alguns deles são os anticoagulantes, medicamentos para o coração,
medicamentos para controle da hipertensão arterial, anticoncepcionais, retrovirais, antibió-
ticos, antifúngicos e antilipídicos (estatinas).
Além disso, o Alho por apresentar compostos sulfurados, quando ingerido junto com
medicamentos anti-hipertensivos, classificados como inibidores da enzima conversora de
angiotensina (IECA) potencializa o efeito vasodilatador do medicamento causando hipotensão
(ALEXANDRE; BAGATINI; SIMÕES, 2008). As mulheres grávidas devem ter cautela ao ingerir
o alho, pois correm o risco de aborto por estimulação da motilidade uterina. Se consumido
em excesso pode causar distúrbios gastrintestinais (úlceras, lesão da mucosa), distúrbios
testiculares, reações alérgicas (dermatite de contato); o composto responsável por essa
reação é a alicina presente no alho cru (TSAI et al., 2012).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo apresentou as possíveis contribuições do alho no tratamento da HAS,


bem como o uso popular, usos clínicos, efeitos indesejáveis/tóxicos e características quí-
micas/farmacológicas com base em estudos científicos. O tratamento com medicamentos
naturais, como por exemplo com alho para HAS, pode ser mais barato e de fácil acesso
para a população em geral; no entanto, medicamentos naturais a base de alho não devem
substituir o tratamento convencional para hipertensão arterial mas ser consumido em cará-
ter complementar (PICS), desde que seu uso racional seja observado e acompanhado por
profissional de saúde; garantindo assim a eficiência do tratamento e o uso seguro/racional
para redução de efeitos colaterais, interações medicamentosas e toxicidade; favorecendo
assim uma maior qualidade de vida dos hipertensos.

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SOBRE O ORGANIZADOR

Jeferson Falcão do Amaral


Professor Adjunto Classe C3 da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia
Afro-Brasileira (UNILAB). Possui graduação em Farmácia pela Universidade Federal do
Ceará (2000), Mestrado em Farmacologia pela Universidade Federal do Ceará (2004) e
Doutorado em Farmacologia pela mesma Universidade (2010). Especialista em Gestão
Estratégica de Instituições de Ensino Superior-IES (FAMETRO). Especialista em Atenção
Farmacêutica e Farmácia Clínica (IPOG). Especialização em Saúde Mental em andamento
(FAVENI). Especialização em Fitoterapia e Prescrição de Fitoterápicos em andamento
(Faculdade Metropolitana). Professor da disciplina de Saúde da Família (IEAD-UNILAB).
Professor Permanente do Mestrado em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis
(MASTS/UNILAB). Professor Orientador TCCs da Residência Uni/Multiprofissional da ESP-
CE (TEMA: Saúde Mental/Coletiva). Coordenador do Grupo de Pesquisa e Extensão em
Utilização de Medicamentos (GPUMed - UNILAB). Vice-Coordenador do Curso de Farmácia
da UNILAB. Coordenador do Polo EAD de Redenção-CE (IEAD/UNILAB). Membro da
Comissão Técnica Assessora de Farmácia Comunitária e Serviços Farmacêuticos (CRF-
CE). Membro da Comissão Técnica Assessora de Assistência Farmacêutica (CRF-CE). Tem
experiência na área de Gestão Acadêmica e Gestão da EAD. Tem experiência na área da
Saúde (Assistência Farmacêutica e Ensino). Atua como Pesquisador e Extensionista nas
seguintes linhas de estudo: Farmácia Clínica; Saúde Mental e Neuropsicofarmacologia; Uso
Racional de Medicamentos/Plantas Medicinais/Fitoterápicos, Educação/Promoção da Saúde
e Assistência Farmacêutica.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/0654690159235740

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SOBRE OS AUTORES

Ada Amélia Sanders Lopes


Doutora/Docente do Insituto de Engenharias e Desenvolvimento Sustentável (IEDS/UNILAB)
Adelina Braga Batista
Doutora/Fisioterapeuta da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (SESA-CE)
Alberto João M`batna
Discente da Pós-graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina
(PEN/UFSC)
Aline Santos Monte
Doutora/Docente do Instituto de Ciências da Saúde (ICS/UNILAB)
Aluisio Marques da Fonseca
Doutor/Docente do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis
(MASTS/UNILAB)
Ana Flávia Alves Nogueira
Discente do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis
(MASTS/UNILAB)
Anne Fayma Lopes Chaves
Doutora/Docente do Mestrado Acadêmico em Enfermagem (MAENF/UNILAB)
Antônio Auberson Martins Marciel
Mestre/Docente do Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU)
Antonio Wendel Nogueira Oliveira
Discente do Mestrado Acadêmico em Enfermagem (MAENF/UNILAB)
Arlene Pinto de Miranda Silva
Discente do Instituto Brasil de Pós-graduação da Faculdade Cathedral (IBRAS/CATHEDRAL)
Bárbara Letícia de Queiroz Xavier
Discente do Mestrado Acadêmico em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (PPGSCOL/UFRN)
Cecília Maria Lima Silva
Discente do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis
(MASTS/UNILAB)
Cybelle Façanha Barreto Medeiros
Doutora/Docente do Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU)
Daniel Freire de Sousa
Doutor/Docente do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis
(MASTS/UNILAB)
Daniela Raulino Cavalcante
Discente do Mestrado Acadêmico em Enfermagem (MAENF/UNILAB)
Elcimar Simão Martins
Doutor/Docente do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis
(MASTS/UNILAB)
Emmanoel Peixoto Saraiva
Enfermeiro da Secretaria Municipal de Saúde de Aquiraz (SMS/Aquiraz-CE)

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SOBRE OS AUTORES

Fábio Morais da Silva


Discente do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis
(MASTS/UNILAB)
Francisco Baltazar Venâncio
Discente do Curso de Farmácia do Instituto de Ciências da Saúde (ICS/UNILAB)
Francisco Danilo Ferreira Costa da Silva
Discente do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis
(MASTS/UNILAB)
Francisco Washington Araújo Barros Nepomuceno
Doutor/Docente do Instituto de Ciências da Saúde (ICS/UNILAB)
Iara Nayane de Araújo Lucas
Discente do Curso de Enfermagem do Instituto de Ciências da Saúde (ICS/UNILAB)
Janiel Ferreira Felício
Discente do Mestrado Acadêmico em Saúde Coletiva da Universidade Estadual do Ceará
(PPSAC/UECE)
Jeferson Falcão do Amaral
Doutor/Docente do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis
(MASTS/UNILAB)
John Hebert da Silva Félix
Doutor/Docente do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis
(MASTS/UNILAB)
José Cleilson de Paiva dos Santos
Discente do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis
(MASTS/UNILAB)
José Márcio Machado Batista
Doutor/Docente do Centro Universitário Católica de Quixadá (UNICATÓLICA)
Juliana Jales de Holanda Celestino
Doutora/Docente do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis
(MASTS/UNILAB)
Karim Suleimane Só
Discente do Mestrado em Enfermagem da Universidade Católica Portuguesa (UCP)
Leilane Barbosa de Sousa
Doutora/Docente do Mestrado Acadêmico em Enfermagem (MAENF/UNILAB)
Lívia Moura do Nascimento
Discente do Curso de Enfermagem do Instituto de Ciências da Saúde (ICS/UNILAB)
Luís Filipe Sá Pereira
Discente do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis
(MASTS/UNILAB)
Marcelo de Oliveira Sindeaux
Discente do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis
(MASTS/UNILAB)
Maria do Socorro Moura Rufino
Doutora/Docente do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis
(MASTS/UNILAB)
Maria Guadalupe de Sousa Fernandes
Discente do Curso de Farmácia do Instituto de Ciências da Saúde (ICS/UNILAB)
Maria Imaculada Lourenço Meirú
Discente do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis
(MASTS/UNILAB)

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SOBRE OS AUTORES

Meyrenice Cruz da Silva


Discente do Curso de Enfermagem do Instituto de Ciências da Saúde (ICS/UNILAB)
Mirian Raquel do Nascimento Fernandes
Discente do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis
(MASTS/UNILAB)
Momente Basílio Lima
Discente do Curso de Enfermagem do Instituto de Ciências da Saúde (ICS/UNILAB)
Natasha Marques Frota
Doutora/Docente do Mestrado Acadêmico em Enfermagem (MAENF/UNILAB)
Nayara Cristina Rabelo Bandeira
Discente do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis
(MASTS/UNILAB)
Patrícia Freire de Vasconcelos
Doutora/Docente do Mestrado Acadêmico em Enfermagem (MAENF/UNILAB)
Raimundo Wallisson Moura da Hora
Discente do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do Instituto de Ciências Exatas
e da Natureza (ICEN/UNILAB)
Rejane Chaves Campos
Discente do Mestrado Profissional em Ensino e Formação Docente (PPGEF/UNILAB)
Rosiane Barros Pereira
Farmacêutica da Secretaria Municipal de Saúde de Guaiúba (SMS/Guaiúba -CE)
Samira Lopes de Almeida
Discente do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis
(MASTS/UNILAB)
Vivian Saraiva Veras
Doutora/Docente do Mestrado Acadêmico em Enfermagem (MAENF/UNILAB)
Welton Felipe Nogueira Menezes
Discente do Curso de Farmácia do Instituto de Ciências da Saúde (ICS/UNILAB)
Yara Santiago de Oliveira
Doutora/Docente do Instituto de Ciências da Saúde (ICS/UNILAB)
Tomás Manuel Djú
Discente do Curso de Enfermagem do Instituto de Ciências da Saúde (ICS/UNILAB)
Zola Paulina Pedro Makabi
Discente do Curso de Enfermagem do Instituto de Ciências da Saúde (ICS/UNILAB)

Abordagens Interdisciplinares sobre Plantas Medicinais e Fitoterapia - ISBN 978-65-5360-095-9 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022
ÍNDICE REMISSIVO

A P
Alho: 15, 32, 98, 143, 146, 147, 148, 150, 151, Piper Methysticum: 67, 68, 69, 70, 72, 75, 76,
153 77, 78, 79

Alimento Funcional: 106 Plantas Medicinais: 10, 22, 23, 24, 31, 38, 39,
51, 52, 79, 89, 90, 92, 97, 98, 103, 140, 141, 153
Aloe Vera: 34, 38, 129, 130, 132, 133, 134, 135,
136, 137, 138, 139, 140, 141 R
Ansiedade: 53, 68, 70 Reaproveitamento: 119

Anti-Hipertensivo: 143, 146 S


Atividade Farmacológica: 109, 112, 116, 130, Saúde: 11, 13, 14, 15, 21, 22, 23, 24, 25, 27, 38,
140, 152 41, 42, 51, 52, 53, 55, 56, 57, 59, 65, 66, 69, 71,
79, 81, 82, 83, 84, 85, 87, 88, 89, 107, 108, 110,
Atividades Biológicas: 119, 125 112, 116, 117, 131, 141, 144, 146, 152, 153
Atividades Farmacológicas: 106 Saúde Materno-Infantil: 27

B Sustentabilidade: 11, 13, 16, 22, 127

Biodiversidade: 11, 13, 19, 22, 23, 141 U


C Uso Popular: 24, 79, 130

Casca do Fruto: 119 V


Ceará: 44, 52, 58, 82, 85, 86, 88, 89, 91, 92, 93, Vegetação Litorânea: 92
94, 95, 97, 98, 101, 102, 103, 104

Compostos Bioativos: 119

Conhecimento: 23, 24, 38, 40, 41, 43, 46, 52,


96, 97, 104

Cúrcuma Longa: 105, 106, 108, 111, 112, 114,


115, 117

E
Estudantes: 41, 53

Etnobotânica: 21, 23, 52, 91, 92, 130

F
Farmácias Vivas: 80

Fitoterapia: 11, 13, 14, 16, 19, 23, 38, 81, 82,
83, 84, 86, 88, 89, 128, 152, 153

Abordagens Interdisciplinares sobre Plantas Medicinais e Fitoterapia - ISBN 978-65-5360-095-9 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022
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