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1ª EDIÇÃO
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2022 - GUARUJÁ - SP
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Internacional (CC BY-NC-ND 4.0).
A154 Abordagens interdisciplinares sobre plantas medicinais e fitoterapia: saúde, sustentabilidade e biodiversidade / Jeferson Falcão
do Amaral (Organizador). – Guarujá-SP: Científica Digital, 2022.
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Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5360-095-9
DOI 10.37885/978-65-5360-095-9
1. Plantas medicinais. 2. Fitoterapia. 3. Ervas - Uso terapêutico. I. Amaral, Jeferson Falcão do (Organizador). II. Título.
CDD 615.321
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APRESENTAÇÃO
O presente livro Abordagens Interdisciplinares sobre Plantas Medicinais e Fitoterapia: Saúde, Sustentabilidade e Biodiversidade
foi uma iniciativa de alguns discentes da turma 2021/2022 e de docentes do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade e
Tecnologias Sustentáveis da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (MASTS/UNILAB). Este foi
resultado do conhecimento construído de forma coletiva na Disciplina Estudo Fitoquímico, Plantas Medicinais e sua relação
Brasil-África; ministrada pelo Prof. Dr. Jeferson Falcão do Amaral (MASTS/UNILAB).
É sabido da riqueza imensurável de conhecimentos acerca do uso empírico de Plantas Medicinais e Fitoterápicos para o
tratamento das mais diversas enfermidades; conhecimentos estes advindos da experiência de uso dos povos tradicionais e
populações rurais e a expressão desse uso de forma cultural, religiosa e sustentável. Sendo a biodiversidade brasileira/africana
uma das maiores do mundo e a tradição do uso de produtos naturais de forma sustentável uma máxima, decidimos explorar os
conhecimentos adquiridos na disciplina sobre as dimensões empírica e científica, por meio de abordagens interdisciplinares, do
uso de Plantas Medicinais e Fitoterápicos na perspectiva da saúde, sustentabilidade e biodiversidade.
Assim, o presente livro foi organizado a partir da elaboração de artigos teóricos desenvolvidos através de revisões bibliográficas
e pesquisas acerca do conhecimento popular e científico sobre Plantas Medicinais e Fitoterapia, buscando explorar de forma
inter/transdisciplinar o contexto do uso medicinal e sustentável da biodiversidade, pelos povos tradicionais e rurais, como forma
de transformação da natureza em recursos para uma maior qualidade de vida.
Nesse sentido, contamos também com artigos desenvolvidos pelos discentes e docentes do Mestrado Acadêmico em
Enfermagem vinculado ao Instituto de Ciências da Saúde (MAENF/ICS/UNILAB) e, ainda, parcerias com discentes e docentes
dos Institutos de Ciências da Saúde (ICS/UNILAB), de Engenharias e Desenvolvimento Sustentável (IEDS/UNILAB) e de Ciências
Exatas e da Natureza (ICEN/UNILAB); além de docentes e discentes de Instituições de Ensino Superior externas e profissionais
de saúde.
Dessa forma, desejamos que este livro possa colaborar com a riqueza de conhecimentos inter/transdisciplinares acerca da
temática proposta contribuindo para o conhecimento científico em produções futuras de docentes e discentes nos cursos de
graduação/pós-graduação e mais do que isso, valorizar o conhecimento dos povos tradicionais e rurais aliado ao conhecimento
científico sobre o uso de Plantas Medicinais e Fitoterápicos de forma sustentável, destacando o usos cultural/religioso e a
promoção da saúde e da qualidade de vida.
CAPÍTULO 01
PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERAPIA: SAÚDE, SUSTENTABILIDADE E BIODIVERSIDADE
José Cleilson de Paiva dos Santos; Samira Lopes de Almeida; Ana Flávia Alves Nogueira; Alberto João M`batna; Mirian Raquel do Nascimento
Fernandes; Cecília Maria Lima Silva; Janiel Ferreira Felício; Fábio Morais da Silva; Francisco Danilo Ferreira Costa da Silva; Jeferson
Falcão do Amaral
' 10.37885/220308119................................................................................................................................................................................................. 10
CAPÍTULO 02
DESENVOLVIMENTO DE CARTILHA EDUCATIVA SOBRE PLANTAS MEDICINAIS E SEUS EFEITOS SOBRE A SAÚDE MATERNO-
INFANTIL
Lívia Moura do Nascimento; Antonio Wendel Nogueira Oliveira; Meyrenice Cruz da Silva; Iara Nayane de Araújo Lucas; Raimundo Walisson
Moura da Hora; Rejane Chaves Campos; Jeferson Falcão do Amaral; Leilane Barbosa de Sousa
' 10.37885/220308121................................................................................................................................................................................................. 40
CAPÍTULO 04
CONTRIBUIÇÃO DO CURANDEIRISMO NO PROCESSO SAÚDE/DOENÇA DOS PAÍSES AFRICANOS LUSÓFONOS
Karim Suleimane Só; Alberto João M’batna; Janiel Ferreira Felício; Bárbara Letícia de Queiroz Xavier; Daniel Freire de Sousa; Patrícia Freire de
Vasconcelos; Aline Santos Monte; Aluisio Marques da Fonseca; Jeferson Falcão do Amaral; Francisco Washington Araújo Barros Nepomuceno
Nogueira; Samira Lopes de Almeida; Luís Filipe Sá Pereira; José Cleilson de Paiva dos Santos; Elcimar Simão Martins; Jeferson Falcão do Amaral
CAPÍTULO 07
ETNOBOTÂNICA DE PLANTAS MEDICINAIS DA VEGETAÇÃO LITORÂNEA NO CEARÁ: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Marcelo de Oliveira Sindeaux; José Cleilson de Paiva dos Santos; Welton Felipe Nogueira Menezes; Ana Flávia Alves Nogueira; Alberto
João M’batna; Samira Lopes de Almeida; Luís Filipe Sá Pereira; Cecília Maria Lima Silva; Mirian Raquel do Nascimento Fernandes; Jeferson
Falcão do Amaral
Samira Lopes de Almeida; Luís Filipe Sá Pereira; Fábio Morais da Silva; Ana Flávia Alves Nogueira; José Cleilson de Paiva dos Santos; Cecília
Maria Lima Silva; Alberto João M`batna; Mirian Raquel do Nascimento Fernandes; Juliana Jales de Holanda Celestino; Jeferson Falcão do Amaral
'10.37885/220308119
RESUMO
11
Abordagens Interdisciplinares sobre Plantas Medicinais e Fitoterapia - ISBN 978-65-5360-095-9 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022
INTRODUÇÃO
OBJETIVO
MÉTODOS
Neste estudo, realizou-se uma revisão da literatura com caráter descritivo através de
artigos científicos publicados na íntegra, selecionados em português e em inglês, abrangendo
a leitura, análise e interpretação destes a partir de periódicos científicos disponibilizados na
internet. Para a seleção dos mesmos, foram estabelecidos critérios de busca, através das
palavras-chave e elaboração do desenvolvimento do trabalho por meio de uma literatura
significativa que pudesse gerar conhecimento acerca do uso das plantas medicinais no
âmbito da saúde, sustentabilidade e biodiversidade.
A buscas foram feitas usando as seguintes palavras-chaves: plantas medicinais e fi-
toterapia; saúde; sustentabilidade; biodiversidade. Utilizando-se o operador booleano AND,
fez-se a combinação direta da palavra “plantas medicinais e fitoterapia” com cada uma das
demais palavras-chave nas plataformas de buscas de artigos científicos. As bases de dados
utilizadas foram SciELO, LILACS e Google Acadêmico. A principal vantagem da pesquisa
bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos
muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente (AMARAL et al., 2020).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após a seleção dos artigos de interesse pela leitura do título e resumo destes, reali-
zou-se a leitura interpretativa na íntegra dos que faziam parte da temática proposta, desta-
cando-se, assim, as seguintes categorias: Plantas Medicinais, Fitoterapia e Saúde; Plantas
Medicinais, Fitoterapia e Sustentabilidade; Plantas Medicinais, Fitoterapia e Biodiversidade.
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Abordagens Interdisciplinares sobre Plantas Medicinais e Fitoterapia - ISBN 978-65-5360-095-9 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022
Plantas Medicinais, Fitoterapia e Saúde
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Abordagens Interdisciplinares sobre Plantas Medicinais e Fitoterapia - ISBN 978-65-5360-095-9 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022
Neste mesmo estudo, citado anteriormente, aparecem os chás usados como calman-
tes e nas gripes e/ou resfriados (Alecrim, Cavalinha, Erva cidreira, Folha de laranjeira,
Guaco). Em seguida, têm-se os chás indicados para os problemas gastrintestinais (Sene,
Macela, Boldo, Cancorosa). Além desses, foi também referida a utilização de algumas plan-
tas para o controle do colesterol (Alho, Guabiroba), da rinite (Mentruz, Arnica), para tratar
dos problemas do coração (Boldo), do fígado (Alcachofra), de escoriações (Cavalinha), para
aumentar a diurese (Sene) e propiciar melhora no sono (Guaco) (BADKE et al., 2012).
Segundo os autores supracitados, das plantas mencionadas, quinze apresentam in-
dicações terapêuticas populares semelhantes às encontradas na literatura científica revi-
sada. Cinco plantas citadas pelos entrevistados estão presentes na Relação Nacional de
Plantas Medicinais de Interesse ao SUS, publicada em fevereiro de 2009, pelo Ministério
da Saúde; são elas: Alcachofra (Cynara scolymus L.), Alho (Allium sativum L.), Boldo
(Plectranthus barbatus A.), Cancorosa (Maytenus ilicifolia M.), Guaco (Mikania glomerata
S.) (BADKE et al., 2012).
Isto evidencia a importância de estudos na área das plantas medicinais com o intuito
de aproximar o saber popular do saber científico, oferecendo à população maior segurança
e eficácia, pois a utilização de produtos fitoterápicos envolve uma série de procedimentos e
ações preventivas a fim de minimizar possíveis riscos à saúde dos usuários (BADKE et al.,
2012; ALECRIM et al., 2017).
No que tange aos países africanos de língua portuguesa, observa-se que o uso da
fitoterapia ou de plantas medicinais é principalmente baseado no conhecimento de povos
tradicionais, os chamados curandeiros, mas do que pelos profissionais da saúde. Silva
(2014) relata que os curandeiros tentam tratar os pacientes de uma forma holística, tentan-
do equilibrar o social e o emocional para posteriormente tratar os sintomas com o uso das
plantas medicinais.
Segundo Simon et al. (2007), citado por Silva (2014), a África é um dos locais onde
mais se utiliza a medicina tradicional. A imensa biodiversidade que existe em suas florestas
tropicais e demais ambientes deu aos povos africanos uma grande variedade de plantas,
tendo como consequência um conhecimento riquíssimo sobre o uso das mesmas para fins
medicinais. Destaca-se Guiné Bissau e Angola, que dentre os países africanos, possui uma
grande biodiversidade (FIGUEIREDO, 2008).
Segundo Christin et al. (2017) citado por Tchamba (2019), em Angola, os registros
etnobotânicos escritos são escassos, mas há estudos que demonstram que a prática de
utilização de plantas nativas, naturalizadas e exóticas na cura de doenças e na alimentação
é muito antiga entre estes povos. Este autor ainda complementa que a falta desses registros
pode ser compreendida pelo fato dos ensinamentos terem sido passados aos mais novos
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Abordagens Interdisciplinares sobre Plantas Medicinais e Fitoterapia - ISBN 978-65-5360-095-9 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022
apenas de forma oral. Fato este também observado por Silva (2014), em sua pesquisa so-
bre Guiné Bissau.
Por serem países considerados pobres e a medicina tradicional ser pouco acessível
à população, a cultura do uso de plantas medicinais é algo bem enraizada e passada de
geração em geração. Entre as principais doenças tratadas pelos curandeiros locais ou os
detentores de saberes tradicionais estão: as cefaleias, as dores de dente, distúrbios gas-
trointestinais, queimaduras, malária, parasitoses, distúrbios hepáticos, anemias, impotência
masculina, infertilidade feminina, envenenamentos e hipertensão (COSTA, 2012; SILVA,
2014). Além das patologias mencionadas, as plantas usadas por estes povos também exer-
cem outras atividades tais como antiinflamatórias, antimicrobianas e antifúngicas.
O serviço de saúde fazia parte dos ofícios à que estavam destinados os padres
da Companhia de Jesus. Assim, havia os Irmãos enfermeiros que cuidavam e
tratavam dos doentes e os Irmãos farmacêuticos que manipulavam remédios.
A necessidade local, imposta pela pirataria que acontecia no século XVI e
pelas dificuldades de navegação que impediam a chegada de medicamentos
do reino, obrigou os jesuítas, desde cedo, a procurarem medicamentos que
a terra poderia dar. Dessa forma, passaram a estudar e a utilizar as plantas
medicinais brasileiras as quais eram incorporadas em receitas próprias (RO-
DRIGUES, 2002, pp. 13-14).
Logo, “[...] este processo caracteriza a construção de uma tradição de uso inventado
a partir de conhecimentos e saberes oriundos de diferentes culturas. ” (SANTOS, 2000, p.
928). Neste mesmo sentido os escravos de origem africana também desempenharam um
papel muito importante na construção da tradição brasileira voltada para o uso e o manejo
de plantas medicinais. Como os escravos não tinham acesso a recursos médicos quando
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Abordagens Interdisciplinares sobre Plantas Medicinais e Fitoterapia - ISBN 978-65-5360-095-9 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022
ficavam doentes, eles se voltavam para o conhecimento popular a partir do uso de plantas
medicinais do continente africano, para então cuidar de suas doenças e enfermidades. Assim,
começaram a cultivar essas plantas no território brasileiro e a disseminar seus saberes po-
pulares trazidos de seus ancestrais (CARNEY, 2001).
Toda essa carga de saberes contribuiu para a formulação das tradições e conhecimento
sobre o uso de plantas medicinais aqui existentes e, consequentemente, na formulação da
fitoterapia que a cada dia se consolida como política de saúde, na sociedade brasileira, fruto
de tradições e conhecimento que perpassaram séculos e se encontram ativas no cotidiano
(ARAÚJO et al., 2015).
Graças a sua grande popularidade, as drogas vegetais são facilmente encontradas
em residências, em feiras livres, loja de produtos naturais ou em casas conhecidas como
ervanarias, assim como nas farmácias que também trazem em sua proposta uma abordagem
mais natural, na tentativa de atingir todos os diversos públicos (LIMA; FERREIRA; OLIVEIRA,
2011; GODOY; ANJOS, 2002).
Existem várias vertentes para o crescente consumo das plantas medicinais; uma delas
está atrelada a questão financeira, mais precisamente, o seu baixo valor de mercado e baixo
custo de aquisição. O fato de as plantas medicinais serem mais acessíveis, faz desse produto,
um bem atrativo aos olhos dos consumidores, levando em consideração a proposta de ser um
substituto perfeito de alguns medicamentos (MATOS, 1994, SIMÕES et al., 1988; BRASIL,
2006). Uma outra questão trazida é o crescente estímulo a busca por uma vida mais saudá-
vel e sustentável, através do consumo de produtos naturais que causem menos agressão
ao organismo e ao meio ambiente (BRUNING; MOSEGUI; VIANNA, 2012). Questões como
essas fazem com o que a utilização de plantas medicinais se expanda e ganhe mercado.
Desse modo, em Guiné-Bissau, as plantas medicinais não são utilizadas apenas para
fins medicinais, mas elas também são utilizadas para artesanato, em alimentos, bebidas,
dentre outras coisas. Essa reutilização das plantas para o artesanato, pode ser vista como
uma prática sustentável de manejo e aplicação das plantas. Pois a maioria das plantas utili-
zadas são cultivada em casa, proporcionando assim, um manejo sustentável sem denegrir
ou devastar os biomas e as diversidades existentes na natureza (CATARINO et al., 2016).
Outro fato de destaque é que em Guiné-Bissau, as partes das plantas mais usadas e
vendidas são as folhas, raízes, casca e caule. Uma característica também comum ao Brasil,
como aborda Monteles e Pinheiro (2007) sobre essa prática entre os moradores do quilombo
maranhense que também manejam e vendem essas partes das plantas. Corroborando com
isto, Coelho et al. (2017) destacam que os raizeiros no Rio Grande do Norte vendem as
folhas, casca e raízes das plantas medicinais em feiras livres para a população em geral se
tratar de suas enfermidades. Podemos observar que essas formas de manejo e cuidados
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Abordagens Interdisciplinares sobre Plantas Medicinais e Fitoterapia - ISBN 978-65-5360-095-9 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022
com as plantas medicinais, que são utilizadas no Brasil, foram sendo introduzidas em nos-
so meio possibilitando o tratamento de várias doenças que duram ao longo de gerações,
formuladas a partir de uma gama de culturas multicontinentais, mas que demonstram um
grande impulso dos povos africanos e dos povos tradicionais indígenas.
As plantas medicinais, trazem em si, uma grande carga que lhe confere a perpetua-
ção e sustentabilidade da cultura, saberes, crenças e vidas. Isso pode ser demonstrado,
através da sua incidência em comunidades tradicionais, que preservam as práticas e sa-
beres de suas ancestralidades envolto a crenças religiosas e misticismo, que ultrapas-
sam a cura corporal e se caracterizam como práticas únicas de cura corporal e espiritual
(RODRIGUES; DE SIMONI, 2010).
A tradição nessas localidades pode ser colocada como sendo um “conjunto de conhe-
cimentos, práticas e experiências singulares [...] aquela que estabelece a coesão social ou
as condições de admissão de um grupo ou de comunidade reais e artificiais (HOBSBAWM,
1991, p.17). Logo, ela pode ser derivada de um sentido identitário social de um local ou re-
gião (geralmente rural) que representam a vida da população, onde seus saberes relacionam
plantas medicinais à cura (BARBOSA, 2018).
A representação emblemática nesses espaços se dá através da imagem de curan-
deiros, rezadeiras, benzedores, pajés, entre outras demonizações, que são pessoas tidas
como escolhidas para “dom” que é constituído em práticas cotidianas de conhecimento e da
cura, que é herdado e se perpetua ao longo de gerações, garantindo a não extinção dessas
práticas (CHALHOUB, 2003; BARBOSA, 2018). Em Guiné Bissau, o conhecimento sobre a
medicina tradicional também é transmitido dentro do clico familiar que são transmitidos de
geração em geração ou através de curandeiros específicos que detém conhecimentos mais
amplo sobre o uso e manejo das plantas e drogas naturais; mas, com o passar do tempo,
esses conhecimentos vêm se perdendo na cultura guineense (SILVA, 2014).
Essa tem sido uma questão tida como problema; com o avanço da modernidade, a sus-
tentabilidade dessas práticas nessas comunidades tradicionais vem perdendo força através
da falta de interesse e descrenças dos mais jovens, levando-os a não continuidade de tais
práticas no uso sustentável de Plantas Medicinais (ALMEIDA et al., 2020; SOUSA et al.,
2021; CATARINO; HAVIK; ROMEIRAS, 2016; LIMA et al., 2016).
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Assim, se faz necessário um incentivo dessas práticas e culturas entre os jovens, pois
tais práticas sustentáveis e conhecimentos estão se perdendo e ocasionado um grande
problema para a questão sociocultural dos países lusófonos, ou seja, apesar dos benefícios
trazidos pela modernidade, temos o lado negativo sobre a grande tentativa de desvaloriza-
ção do saber popular, gerando prejuízos as raízes e tradições das populações e causando
danos muitos graves e irreversíveis para a cultura de uma dada região.
Ainda sobre a constituição desse rico conhecimento, Soares, et al. (2015), citan-
do Di Stasi, et al. (2002), ressalta a importâncias das pesquisas sobre plantas medicinais:
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Brasil, por possuir uma das maiores biodiversidades de plantas medicinais do mundo,
traz historicamente o uso da prática destas para tratar doenças e curar males da alma, entre
outras aplicações. Além de incentivar o uso de plantas medicinais, é dever dos serviços de
saúde orientar e esclarecer a população sobre o uso das mesmas e seus possíveis efeitos
colaterais, pois mesmo sendo isentas de prescrição médica, não estão isentas de efeitos
adversos; isto também ajuda na socialização e aproximação dos usuários com os profissio-
nais de saúde, envolvendo o conhecimento medicinal popular e o saber científico.
Estes saberes são uma forma de compreender melhor o processo de saúde-doença
da população, somar o que é aprendido nas experiências de vida (com vizinhos, parentes,
amigos) ao saber científico para possibilitar o uso seguro de plantas medicinais e fitoterá-
picos. Devido a gama de plantas que temos em nosso território, ainda falta mais incentivo
em pesquisas, mais profissionais habilitados e disseminadores de conhecimentos populares
e científicos, para que a nossa biodiversidade seja explorada de forma mais consciente,
gerando autonomia, integração de saberes e auto sustentabilidade.
Quanto à África, as plantas ainda são empregadas no tratamento de uma vasta gama
de condições de saúde por uma grande parcela da população, principalmente nas comu-
nidades rurais que continuam a depender, em grande parte ou exclusivamente de flora
medicinal, para tratar doenças comuns e endêmicas, com destaque no âmbito do binômio
“Biodiversidade e Sustentabilidade”.
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02
Desenvolvimento de cartilha educativa
sobre plantas medicinais e seus efeitos
sobre a saúde materno-infantil
'10.37885/220308120
RESUMO
Objetivou-se desenvolver uma cartilha educativa sobre plantas medicinais e seus efeitos
sobre a saúde materno-infantil direcionada para gestante. Este estudo é de abordagem
metodológica, por enfocar o desenvolvimento de uma cartilha educativa. Foi dividido em
quatro fases distintas: na primeira fase, foi realizada uma revisão bibliográfica; a segunda
fase constituiu na escolha dos tópicos para compor a cartilha; a terceira fase contemplou
a escolha das imagens da cartilha bem como a construção do designer e a diagrama-
ção. O conteúdo da cartilha contemplou as seguintes plantas contraindicadas: babosa,
canela, hortelã, hibisco, romã, quebra-pedra, arruda, eucalipto e camomila. Já entre as
indicadas, foram selecionadas: beterraba, alho, gengibre, couve, linhaça, ameixa e sal-
sa. O material foi organizado em 24 páginas e em design atrativo ao público-alvo. A car-
tilha poderá contribuir para a promoção do uso seguro de plantas medicinais na gestação
após procedimento de validação.
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INTRODUÇÃO
A gravidez é um período único que requer uma série de cuidados para mãe e para o
bebê, pois é uma fase de alterações que torna a mãe e o feto expostos a riscos, especial-
mente em relação ao uso de medicamentos ou plantas medicinais. Mais comum do que o
uso de medicamento, o uso empírico de plantas medicinais é feito há muito tempo. Desde
épocas remotas esse costume faz parte da evolução humana e foi um dos primeiros recursos
terapêuticos utilizados pelos povos, fazendo parte de várias culturas, onde muitas gerações
utilizavam as ervas como única forma de tratamento para seus males e, dessa forma, de
maneira empírica foi interpretado seu poder de cura (PIRES et al., 2016).
A gestação é um período que leva a alterações fisiológicas, ocasionando muitos sin-
tomas nas gestantes que vão desde os enjoos repentinos, no início da gestação, à azia que
geralmente acontece no último trimestre da gestação. Isso faz com que as grávidas recorram
ao uso de algumas plantas medicinais para fazer chás em busca de alívio de tais sintomas.
Entretanto, é necessário lembrar a importância do uso racional dessas ervas medicinais, em
especial a gestantes sensíveis a certo tipo de compostos fitoterápicos.
A exposição a substâncias tóxicas, advindas do uso de plantas medicinais, é um grande
problema para a saúde materno-infantil devido ao fato de que o uso de preparações artesa-
nais, obtidas de plantas, pode possibilitar o aparecimento de interações medicamentosas
desconhecidas na mãe e prejuízo ao desenvolvimento fetal, sendo notável a carência de
informações sobre o uso de bioativos e quais os efeitos sobre o embrião durante o período
gestacional (LOPES et al., 2017).
O uso empírico de plantas medicinais é uma prática muito utilizada entre as gestan-
tes. As gestantes são as maiores usuárias de chás e ervas medicinais devido à cultura e
a crença de que o natural é sinônimo de seguro; com o objetivo de aliviar sintomas como:
náuseas, vômitos, azia e constipações, advindas da gravidez (MAIA, 2019).
Em contrapartida, existe uma grande carência em estudos que avaliam os riscos tera-
togênicos aos quais essa população possa estar exposta, uma vez que cada vez mais são
descobertas novas plantas medicinais; além disso, ensaios clínicos para avaliar o efeito de
bioativos em gestantes não são considerados seguros e nem eticamente viáveis, uma vez
que os riscos tendem a ser, na maioria das vezes, maior que o beneficio. Assim, surge a
necessidade de atualizações constantes sobre o uso de plantas medicinais durante o perío-
do gestacional, visando proteger a mãe e o feto dos riscos aos quais estão expostos, bem
como identificar os efeitos do uso de bioativos (LOPES et al., 2017).
O uso de qualquer substância ou plantas medicinais durante a gestação deve se
administrado com cautela, pois além dos benefícios que são conhecidos pelas mulheres
popularmente, essa exposição pode trazer também malefícios, possibilitando o surgimento
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de reações desconhecidas na saúde materno/infantil, ocasionando prejuízos no desenvolvi-
mento fetal; entretanto, não há estudos que comprovem essas informações. Sendo assim, é
importante realizar o monitoramento em relação aos riscos/benefícios para o uso de plantas
medicinais no alívio desses sintomas (MAIA, 2019).
A partir disso, as consequências sobre o feto em relação ao uso de chás e ervas me-
dicinais pelas gestantes é considerado um fator de grande preocupação, pois estudos e
pesquisas que mostrem os potenciais riscos aos quais estão expostos a mãe e o feto ainda
são limitados. Nesse contexto, as informações abordadas por meio da comunicação de es-
tudos, através de atividades educativas, são de total importância para a promoção do uso
racional de plantas medicinais no período gestacional.
A equipe de enfermagem tem um papel fundamental na promoção da saúde em re-
lação aos cuidados que se deve ter durante o período gestacional, inclusive acerca de
quais riscos e efeitos estão relacionados ao uso de plantas medicinais durante a gestação.
Além de orientar, acompanhar e avaliar a gestante durante todo o pré-natal é importante
promover ações educativas para a gestante visando o cuidado da saúde da mãe e do feto
(ANDRADE et al., 2016).
No processo de educação em saúde da gestante, é relevante o uso de ferramentas
de fácil acesso a informações, como por exemplo a cartilha educativa que é um material
educativo impresso que tem a finalidade de comunicar informações que auxiliem pacientes,
familiares, cuidadores e comunidades a tomar decisões mais assertivas sobre a sua saúde
(REBERTE, 2008).
Comparada a outros tipos de tecnologias educativas, como por exemplo o vídeo e
álbum seriado, a cartilha educativa destaca-se por consistir em tecnologia de fácil acesso,
baixo custo, não depende de recursos tecnológicos complexos e pode ser consultada pela
gestante em qualquer lugar e momento.
Diante dessa realidade, esta pesquisa foi delineada visando o desenvolvimento de uma
cartilha educativa que poderá ser validada e disponibilizada para uso em unidades básicas
de saúde. A cartilha educativa desenvolvida poderá contribuir para o conhecimento sobre o
consumo de plantas medicinais utilizadas pelas gestantes durante o período gestacional e
sobre os eventuais riscos aos quais a gestante e o feto estão expostos, bem como lançará
bases para o direcionamento de orientações sobre o uso de plantas medicinais que trazem
benefícios para alívio dos sintomas advindos da gravidez.
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OBJETIVO
O artigo teve como objetivo desenvolver uma cartilha educativa sobre plantas medici-
nais e seus efeitos sobre a saúde materno-infantil direcionada para gestantes em qualquer
período gestacional.
METODOLOGIA
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RESULTADOS
Na tabela 2 foram selecionados alguns tipos de plantas medicinais com sua indicação
e forma de preparo. O quadro contempla nome popular, nome científico, indicação, parte
utilizada e forma de preparo das plantas medicinais seguras e que podem promover alívio
de sintomas específicos do período gestacional. Foram identificadas 18 plantas indicadas
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como benéficas durante a gestação. Destas, foram selecionadas as que se encontravam
disponíveis na região do Maciço de Baturité (NETO et al., 2019).
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Figura 1. Capa. Figura 2. Reações adversas.
Fonte: Imagens desenvolvidas por designer gráfico sob supervisão da autora do estudo.
DISCUSSÃO
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A Mentha s,p conhecida popularmente como hortelã, é da família Lamiaceae e é uma
planta medicinal aromática, cuja as partes utilizadas para tratamento fitoterápico são as
folhas. A hortelã, apesar de ser benéfica no tratamento de problemas digestivos como má
digestão enjoos e vômitos durante o período gestacional, não é recomendada por causar
efeito teratogênico ao feto (GORRIL et al., 2016).
O Hibiscus L., conhecida popularmente como Hibisco, é da família Malvaceae e suas
folhas e raízes são as partes utilizadas no tratamento fitoterápico. É uma planta muito comum
e bastante utilizada para auxiliar a perda de peso e retenção de líquidos; o Hibisco não é
recomendado na gestação porque possui potencial tóxico que induz o aborto (ARULLAPPAN,
ZAKARIA, BASRI, 2009).
A Punica granatum, pertencente à família Lythraceae e conhecida popularmente como
Romã, é uma fruta muito utilizada na terapia medicinal. A parte utilizada para tratamento
fitoterápico são as sementes, muito conhecida por seu efeito antiflamatório e utilizada para
tratar dores na garganta. O Romã é contraindicado na gestação desde a segunda sema-
na até o final da gestação, porque causa contrações e causa efeito abortivo na gravidez
(MELO et al., 2015).
O Phyllanthus niruri, pertence à família Phyllanthaceae, é conhecido popularmente
como quebra-pedra e suas folhas são usadas como diurético, suas raízes são usadas para
tratar infecções urinárias, pedra nos rins e outras complicações. Seu uso durante a gravidez
não é recomendado porque possui princípios ativos que ultrapassam a barreira placentária,
podendo induzir ao aborto e, durante a amamentação, pode ser excretado no leite materno
sendo ingerido pelo bebê e causando reações ao organismo do mesmo (AITA et al., 2009).
A Ruta graveolens, conhecida popularmente como Arruda, é da família Rutáceae e a
parte utilizada para fitoterapia são as partes aéreas (folhas); é uma espécie de planta me-
dicinal contraindicada na gestação pois é uma planta com propriedades tóxicas e seu uso
pode interferir no desenvolvimento embrionário, causar má formação, induzir o estímulo da
contração uterina e consequentemente o aborto (BORGES, OLIVEIRA, 2015).
Existem duas espécies de Eucalipto: o Eucalyptus tereticornis que tem o princípio ativo
mais tóxico (citronelal) e é mais comum no Nordeste; e o Eucalyptus globulus (cineol) que é o
mais medicinal e mais comum em biomas florestais. Ambos pertencem à família Myrtaceae e
suas folhas são as partes utilizadas para tratamento fitoterápico. O chá de Eucalipto é muito
utilizado para tratar problemas respiratórios, porém seu uso não e recomendado na gravidez,
pois seu potencial tóxico pode causar má formação e induzir ao aborto (SOUZA et al., 2013).
A Chamomila recutita, popularmente conhecida por Camomila, pertence à família
Asteraceae e a parte utilizada são as inflorescências. A camomila possui efeitos antiespas-
módico, ansiolítico, sedativo leve e anti-inflamatório em infecções da cavidade oral. Contudo,
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ao que concerne a contraindicação as gestantes, é devido à atividade emenagoga e relaxante
da musculatura lisa que pode causar aborto (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016).
Algumas plantas, contudo, podem ser indicadas por conta do potencial terapêutico na
gestação. Entre essas, o presente estudo destacou a beterraba, o alho, a couve, gengibre,
linhaça, ameixa e salsa.
A beterraba (Beta vulgaris) é muito recomendada por ser rica em fibras e potássio,
suas propriedades ativam a circulação de sangue sua raiz é recomendada na gestação por
conter ácido fólico e consequentemente prevenir anemia. Além do chá da raiz, a beterraba
pode ser usada para fazer suco, consumir crua nas saladas e utilizar para fazer o famoso
mel da beterraba (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).
O alho (Allium sativum) é uma planta medicinal utilizada para prevenir inúmeros ma-
les, desde as complicações no aparelho digestivo a verminoses, parasitismo, gripe en-
tre outros. Durante a gestação, seu uso é recomendado para prevenir anemia e contro-
lar a pressão arterial. O uso do alho e reconhecido pela Agência Nacional de vigilância
sanitária (ANVISA) como medicamento fitoterápico sendo seguro seu uso por gestantes
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016).
Durante a gestação, as náuseas e vômitos são as queixas mais comuns, principalmente
no primeiro trimestre da gestação; para o tratamento dessa condição, a planta medicinal
recomendada é o Zingiber officinale, conhecido popularmente como gengibre. O Gengibre
tem ações anticolinérgica e anti-histamínica que possibilitam a atividade antiemética desde os
casos moderados aos intensos. O Gengibre possui efeito semelhante ao da vitamina B6 na
gravidez, não apresenta reações adversas ao ser consumido pelas gestantes, sendo con-
siderado seu uso na gestação (MAIA, 2019).
A Brassica oleracea L, conhecida popularmente como Couve, é utilizada tanto como
alimento como planta medicinal. O suco extraído de suas folhas é recomendado para tratar
males gástrico e o uso durante a gravidez é indicado por possuir substâncias como fibras,
vitaminas e minerais, que auxiliam na prevenção contra anemia e sua ação anti-inflamatória
ajuda a combater qualquer tipo de inflamação no organismo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016).
Outro sintoma muito comum durante a gestação é a constipação, devido às alterações
fisiológicas advindas dos hormônios da gravidez. O uso da planta recomendada é a Linum
usilatitissimum, mais conhecida como Linhaça, que tem ação lagartixa e é bastante utilizada
para alívio da constipação. Porém, o uso da Linhaça deve ser exclusivo na forma de alimento
a partir do segundo trimestre da gestação (MINISTERIO DA SAUDE, 2006).
A constipação durante a gravidez está relacionada com a diminuição da motilidade,
por influência da progesterona. A busca de laxantes naturais que não causem efeito tóxico
no feto levou a indicação da ameixa. O uso de chá de ameixa é recomendado como laxante
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natural na gestação, o consumo diário de sementes secas para fazer o chá resulta na me-
lhora do sintoma de constipação intestinal, sendo incluído na alimentação da gestante sem
causar efeito na saúde do bebê (GOULART BRCARELLO, 2000).
A salsa é uma planta medicinal cujo nome científico é Petroselinum crispum (Mill)
Fuss. A salsa contém um grande número de substâncias com efeito benéfico no corpo
como ácido fólico, vitaminas, minerais, potássio dentre outros. Durante a gravidez, a salsa é
indicada porque além de possuir várias vitaminas ela estimula a produção do leite materno
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).
Esta cartilha, além de contribuir para a popularização do conhecimento sobre o uso
correto de plantas medicinais na gestação, também pode ser utilizada como uma ferramenta
de educação em saúde (posterior ao processo de validação) por proporcionar conhecimento
sobre uma temática de suma importância e favorecer ao leitor a compreensão, através de
imagens ilustrativas, sobre os riscos aos quais estão expostos a saúde da mãe e do feto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Abordagens Interdisciplinares sobre Plantas Medicinais e Fitoterapia - ISBN 978-65-5360-095-9 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022
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Conhecimento, atitude e prática na
utilização de plantas medicinais entre
universitários guineenses
'10.37885/220308121
RESUMO
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INTRODUÇÃO
De acordo com Oliveira et al. (2016), o uso de plantas medicinais vem sendo adquirido
através de hábitos observacionais dos seres humanos e no meio no qual estão inseridos;
que de algum modo resulta no aparecimento de conhecimentos valiosos de características
culturais, religiosas e étnicas diferenciadas que há muito tempo vêm sendo usados com vista
a promoção de saúde das pessoas e suas famílias. Esse saber cultural e fusionado revela
a percepção empírica do homem sobre natureza e suas particularidades.
Segundo Badke et al. (2017), o uso de plantas medicinais e fitoterápicos vem se ex-
pandindo nos serviços públicos de saúde, com o intuito de demonstrar o reconhecimento do
saber popular no meio científico. No entanto, existem lacunas na formação acadêmica dos
profissionais da saúde, os quais em sua maioria nunca tiveram contato com o tema plantas
medicinais e/ou terapias complementares durante sua formação acadêmica. Apesar dessa
lacuna, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 80% da população mundial
faz uso de plantas medicinais no cuidado à saúde, demonstrando o distanciamento entre
formação dos profissionais e realidade da população.
Diante do seu papel crucial na promoção da saúde e no tratamento de diversas doen-
ças, as plantas medicinais no contexto das comunidades de países de língua portuguesa,
em especial de Guiné-Bissau, estão sendo tradicionalmente utilizadas (SILVA et al., 2011).
Tendo em vista a sua capacidade na manutenção da saúde, a prevalência do uso de
plantas medicinais para fins terapêuticos tem aumentado significativamente nos últimos
anos. Acredita-se que isso se deve ao fato de estar ligado a fatores como: falta de acesso
ao serviço de saúde, ampla disponibilidade e acessibilidade de ervas e baixo custo; sendo
consideradas inofensivas para grande parte da população pela garantia de segurança em
relação à efeitos tóxicos, bem como por aumento de consumo de produtos naturais e eficácia
no tratamento das enfermidades (ZENI et al., 2015).
Outros autores afirmam que o aumento na procura de plantas medicinais se deve
a melhor relação custo/benefício quando comparada a produtos sintéticos, sua ação no
organismo apresenta baixa toxicidade e efeitos colaterais, custo de produção e preço de
venda mais acessíveis. Ainda pode-se destacar a busca por hábitos mais saudáveis de vida
visando a valorização do meio ambiente pela sociedade com base no consumo de produtos
naturais (ASSIS et al., 2015).
Por ser derivada de origem natural, a utilização de plantas medicinais tem elevada
prevalência, porém percebe-se a necessidade de mais estudos acerca dos benefícios e
malefícios dessa prática na busca de proporcionar mais segurança, eficácia e consumo
racional pelos pacientes (VIRGINIO et al., 2018).
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No Brasil, o aumento no consumo de plantas medicinais tem como característica o uso
empírico, baseado no senso comum e com poucas comprovações científicas. Para tanto,
alguns fatores devem ser levados em consideração para seu uso adequado como intoxi-
cação, reações alérgicas e ineficácia no tratamento, os quais podem ser relacionados ao
uso incorreto dessas plantas; além de erros na identificação das espécies consumidas ou à
forma como são cultivadas, colhidas, armazenadas, conservadas ou preparadas, resultando
em uso irracional dessas plantas. Isso pode levar ao agravamento do quadro clínico dos
pacientes com doenças crônicas que fazem uso de plantas medicinais por possíveis reações
adversas e interações medicamentosas (CAETANO et al., 2015).
Nesse contexto e na realidade vivenciada em Guiné-Bissau, é preocupante o uso de
medicamentos à base de plantas medicinais para fins terapêuticos, uma vez que, há várias
pessoas ou “curandeiros tradicionais” que trabalham com produção, uso e venda. Havendo
curandeiros com mais conhecimentos com relação a forma de colher, preparar e usar essas
plantas e outros com menos informações. Como nesse país, o uso desses medicamentos
é bastante comum, se torna preocupante como esses medicamentos são produzidos. Além
disso, ainda há falta de informação sobre posologia correta, efeitos colaterais e possíveis
reações adversas.
Baseado no exposto, surgiu o seguinte questionamento: Qual o conhecimento, atitude
e prática na utilização de plantas medicinais em universitários guineenses?
Portanto, trata-se de uma pesquisa relevante, visto que a partir dos resultados sobre
Conhecimento, Atitude e Prática da utilização de plantas medicinais entre universitários
guineenses, se vislumbre um novo conhecimento o qual irá direcionar as ações de saúde
para esse público.
OBJETIVO
METODOLOGIA
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O questionário desenvolvido pelo próprio pesquisador foi composto por duas par-
tes. A primeira com dados sociodemográficos e a segunda com a avaliação do conhecimento,
atitude e prática da utilização de plantas medicinais.
A análise exploratória dos dados consta de frequências absolutas e relativas, média
e desvio-padrão. Os resultados foram apresentados em tabelas e discutidos de acordo
com a literatura pertinente. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira sob número 4.566.79.
RESULTADOS
Variáveis ƒ %
Sexo
Feminino 27 79,4
Masculino 7 20,6
Curso
Enfermagem 28 82,4
Farmácia 6 17,6
Renda Mensal
Menos de um salário mínimo* 29 85,2
Um salário mínimo ou mais 5 14,8
Semestre
1e2 10 29.4
6, 7, 8 16 47,1
3,4,5,9, e 10 8 23,4
*O salário mínimo no período do estudo no Brasil foi de R$1100,00.
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Tabela 2. Conhecimento dos universitários quanto ao uso de plantas medicinais, Redenção CE, 2021
Variáveis ƒ %
Já ouviu falar sobre uso de plantas medicinais?
Sim 34 100,0
Não - -
Conhece alguma planta medicinal?
Sim 34 100,0
Não - -
Tem algum conhecimento sobre a eficácia do uso de alguma/s planta/s medicinal/ais?
Sim 33 97,1
Não 1 2,9
Tem conhecimento de como é feito ou preparado essas plantas medicinais?
Sim 26 76,5
Não 8 23,5
Qual a principal finalidade do uso de plantas medicinais?
Terapêutica 15 44,1
Não sabe responder 19 55,9
Tabela 3. Atitudes adotadas por universitárias sobre utilização de plantas medicinais; Redenção-CE, 2021
Variáveis ƒ %
Faria uso de plantas medicinais?
Sim 28 82,3
Não 6 17,6
Se adoecer, qual seria sua conduta?
Uso de plantas medicinais 1 2,9
Procurar serviço de saúde 30 88,2
Outros 3 8,8
Acha seguro o uso de plantas medicinais?
Sim 21 61,8
Não 13 38,2
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Tabela 4. Práticas adotadas por universitárias sobre utilização de plantas medicinais; Redenção-CE, 2021
Variáveis ƒ %
Já fez uso de plantas medicinais?
Sim 34 100,0
Não - -
Há quanto tempo faz uso de plantas medicinais?
Há mais de cinco anos 12 35,3
Há menos de cinco anos 22 64,7
Com que frequência faz uso?
Diariamente 3 8,8
Semanalmente 5 14,7
Mensalmente 5 14,7
Semestralmente 10 29,4
Anualmente 11 32,4
De que forma utiliza essas plantas?
Chá 25 73,5
Mastigação 5 14,7
Tópico 2 5,9
Outros 2 5,9
Fonte: Autor, 2021.
DISCUSSÃO
Foi observada predominância de adultos jovens nessa pesquisa, sendo um dado que
favorece o cuidado em saúde, haja vista que evidências apontam que adultos jovens demons-
tram melhor capacidade nas tomadas de decisões sobre saúde, levando a comportamentos
e modos de vida saudáveis (BARRETO et al., 2009).
Os dados apontam que discentes usuários de plantas medicinais apresentam uma
renda mensal abaixo de dois salários mínimo. Esses dados assemelham-se à pesquisa
que entrevistou usuários do SUS, a qual enfatizou que o uso das plantas medicinais pode
contribuir para saúde da população de baixa renda (BRASILEIRO, 2008).
Além disso, observou-se que prevaleceram discentes que já tinham cursado grande
parte das disciplinas dos seus respectivos cursos, sendo isso um aspecto positivo, uma vez
que, estudo realizado em uma universidade pública sobre a percepção de competências
clínicas por acadêmicos de Enfermagem, apontou que o conhecimento dos estudantes sobre
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orientação de saúde melhorou de forma considerável ao decorrer do curso, principalmente
quando se aproximavam do estágio supervisionado (ROCHA et al., 2019).
Quanto ao conhecimento sobre uso de plantas medicinais, foi visto que a maior parte
dos universitários demostrou apresentar conhecimento. Esses achados são distintos da
pesquisa que envolveu 339 participantes, dentre os quais, 17% não tinham conhecimento
sobre uso de plantas medicinais e que após as intervenções de capacitação, a mesma fa-
voreceu o conhecimento dos alunos quanto ao uso de plantas medicinais, mostrando que
essas intervenções educacionais são de extrema relevância (ALMEIDA et al., 2012).
Apesar dos resultados apontarem que muitos conhecem a eficiência do uso das plantas
medicinais, o estudo enfatiza que a falta de padronização ou até mesmo o desconhecimento
do uso correto dessas plantas por parte dos usuários, bem como forma de preparo correto,
pode interferir na eficiência a certas doenças e até mesmo podendo ocasionar reações ad-
versas (OLIVEIRA; LUCENA, 2015).
Houve predomínio de universitários que relataram ter conhecimento do preparo de
plantas medicinais, o que difere de estudo de revisão sistemática de Silva et al. (2017), no
qual investigou a utilização de plantas medicinais e fitoterápicas por pessoas, visando bem-
-estar e saúde. As evidências apontaram que o uso incorreto de plantas medicinais pode
ocasionar problemas à saúde, sendo imprescindível o acompanhamento de um profissional
da área para orientar a maneira correta de utilização de determinadas plantas, a fim de ga-
rantir a eficiência do tratamento (SILVA et al., 2017). Acredita-se que essa diferença desse
resultado esteja relacionada ao fato deles serem discentes da área da saúde.
A maioria das espécies das plantas utilizadas possuem características farmacológicas
confirmadas, porém, fatores como modo de preparo e parte utilizada podem condicionar a
efetividade farmacológica dessas plantas, de modo que torna imprescindível ter o conheci-
mento sobre o preparo das mesmas (LIMA; FERNANDES, 2020).
Em relação à atitude dos discentes, foi visto que boa parte não soube responder qual
a finalidade das plantas medicinais, sendo algo preocupante, pois estudo que envolveu 13
pessoas, moradoras do Sertão do Ribeirão, permitiu identificar 114 espécies morfoespécies,
distribuídas em 48 famílias botânicas. Quanto às indicações terapêuticas das plantas medi-
cinais citadas, as categorias mais representativas foram àquelas relacionadas a doenças e
sintomas dos sistemas digestórios (22%), respiratórios (15%) e genitourinário (11%). Tais
indicações demonstram que plantas medicinais contribuem para recuperação da saúde
(GIRALDI; HANAZAKI, 2010).
Quando interrogados se fariam uso das plantas medicinais, a maioria afirmou que sim,
sendo um aspecto positivo pelo custo-benefício e por se tratarem de matérias primas naturais,
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além do que o fácil acesso a utilização dessas plantas está cada vez maior, o que fortalece
práticas tradicionais, levando ao contato direto com a flora local (GIRALDI; HANAZAKI, 2010).
Em caso de adoecimento, foi citada pelos universitários a procura pelo serviço de saúde;
dados distintos de pesquisa realizados por Lima (2013), apud. Gadelha et al. (2015), quando
indagava sobre os motivos que os levavam a fazer uso dessas plantas para fins medicinais,
90% dos entrevistados afirmaram que fizeram uso frequente devido ao conhecimento que
já se tinham sobre eficiência dos remédios e chás caseiros, e que a distância da cidade
não influencia em suas escolhas, enquanto 10% optaram por irem ao posto de saúde ou
à farmácia. Esse achado foi relevante, apesar das evidências apontarem que profissionais
da saúde apresentam lacunas nas orientações quanto a utilização de plantas medicinais
(MIRANDA et al., 2020).
A maioria dos universitários achou seguro o uso das plantas medicinais, esse fato
reforça o quão esses alunos podem ser promotores de saúde no que se refere ao uso das
plantas medicinais. Porém, esse aspecto também é preocupante quando se baseia apenas
no conhecimento popular, já que diversas contribuições científicas, quanto aos aspectos
fitoquímicos e atividade biológica, ainda estão escassos os resultados para a descoberta
de novos fármacos, pois muitas plantas listadas com potencial terapêutico a partir do saber
tradicional ainda não foram investigadas quanto à sua eficiência do ponto de vista farma-
cológico (GOIS et al., 2016).
Foi visto que todos os universitários já utilizaram plantas medicinais alguma vez na vida,
com uma frequência esporádica entre mensal e semestral. Tal fato é observado em outra
pesquisa desenvolvida na cidade Governador Valadares, situada na região Leste do Estado
de Minas Gerais, que envolveu 2.454 participantes, no qual os resultados desta pesquisa
apontam que a utilização de plantas medicinais é bastante difundida, sendo que 36,7%
dos entrevistados utilizam plantas medicinais com frequência, 55,47% utilizam raramente e
apenas 8,06% não utilizam plantas medicinais (BRASILEIRO et al., 2008).
No entanto, pesquisa realizada no Nordeste do Brasil evidenciou que é comum o
uso de plantas medicinais com grande frequência na preparação de remédios caseiros
para o tratamento de doenças em seres humanos, com destaque para as seguintes espé-
cies: hortelã, romã, melão de São Caetano, Capim santo e erva cidreira (PONTES, 2012
apud. GADELHA, et al. 2015). No entanto, vale ressaltar sobre a toxicidade dessas plan-
tas, que pode levar a reações adversas; mesmo que não tenha sido relatado nenhum caso
(CAVALCANTI et al., 2020).
Evidenciou-se que a maioria dos estudantes fez uso das plantas medicinais por meio
dos chás. Esse dado é semelhante ao da pesquisa de Brasileiro et al. (2008), na qual
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mostrou que 78% das preparações eram na forma de chá como principal meio de utilização
das plantas medicinais.
Foi visto que a utilização de plantas medicinais por parte desses universitários foi mo-
tivada na sua maioria por seus familiares. Algumas vezes a tal prática acontece baseado na
cultura e tradição as quais são passados de pai para filho. Os estudos ainda apontam que,
a interação entre comunidade e uso de tais plantas, surge em busca de melhor qualidade
de vida, tentando suprir as deficiências do sistema de saúde (CAVALCANTI et al., 2020).
Em relação ao uso de plantas para tratamento dos sintomas, os discentes relataram
com maior frequência a utilização para sintomas respiratórios. Esses achados são distintos
do estudo realizado com estudantes de psicologia de Campina Grande, onde os sintomas
tratados com maior frequência eram referentes aos problemas gastrointestinais (43,6%).
Não se tem uma justificativa plausível para essa distinção entre os resultados tendo em
vista que ambos os universitários estão residindo no Nordeste do Brasil. A semelhança dos
achados entre as pesquisas consistiu no uso de plantas medicinais para fins de sintomas
psicológicos (SOUZA et al., 2020).
As evidências apontam que os distúrbios relacionados com a saúde mental entre es-
tudantes da área da saúde são comuns, o que induz ao uso de substâncias, sendo impres-
cindível a necessidade de medidas de prevenção e diagnóstico precoces entre esse público
(VASCONCELOS et al., 2015).
CONCLUSÕES
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Contribuição do curandeirismo no processo
saúde/doença dos países africanos
lusófonos
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Muitas são as justificativas para a grande procura pelo curandeirismo na África. Entre
elas, podemos citar o fácil acesso ao curandeiro, carência de profissionais de saúde para
atender toda a população, falta de medicamentos e limitações territoriais que impossibilitam
as pessoas de acessar os serviços de saúde formais (GRANJO, 2009; SANTANA, 2011;
COSTA, 2016). Dessa forma, os curandeiros assumem um papel importante nessas comu-
nidades, principalmente em regiões muito afastadas da zona urbana (OMS, 2012).
É importante citar que a participação social para atenção à saúde da população sempre
foi uma sentença da OMS desde 1946. Nessa ordem, a Conferência Internacional sobre
Cuidados Primários a Saúde de Alma-Ata (1978) traz a importância da contemplação das
práticas populares e tradicionais ao sistema formal de saúde, afirmando que é necessário
tornar esses praticantes autóctones aliados ou agentes de saúde da comunidade, mediante
treinamento apropriado para participar dos cuidados primários de saúde (MATOS, 2005).
Tal tese também é defendida pela Carta de Ottawa (1984) no contexto da continuidade
do movimento sanitário como uma política internacional da promoção da saúde. A mesma
proposta foi seguida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil publicando decretos e
portarias como a Portaria nº 971, de 03 de maio de 2006, que aprova a Política Nacional
de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS (PUTTINI, 2008; MATTOS,
2013). Recentemente, a Portaria nº 971 foi atualizada pela Portaria nº 2.436, de 21 de
setembro de 2017.
A mesma estratégia vem sendo adotada por alguns países, inclusive os da África, onde
os gestores incluem cada vez mais essas pessoas no sistema de saúde visando a propor-
cionar uma melhor atenção à saúde a todos (GRANJO, 2009; SANTANA, 2011; OMS, 2014;
ARAÚJO, 2016; BRASIL, 2017).
Justificado pelo fato de ser o ambiente de pesquisa do presente estudo, é impor-
tante descrever a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira
(UNILAB). A UNILAB é uma instituição de ensino superior pública e federal do Brasil cria-
da pela Lei nº 12.289 de 20 de julho de 2010. Teve suas atividades acadêmicas inicia-
das em 25 de maio de 2011, cujo princípio é a cooperação e a integração entre Brasil
e os países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), es-
pecialmente os países africanos. Tem recebido estudantes internacionais africanos de
Angola, Cabo-Verde, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau (BRASIL, 2011;
DIRETORIA DE REGISTRO E CONTROLE ACADÊMICO- DRCA, 2017).
Considerando a diversidade cultural da UNILAB, em especial a africana, e a saúde
como uma das temáticas fundamentais da instituição, percebeu-se a necessidade de se
conhecer a relação das práticas populares em saúde com os estudantes internacionais
vivendo no Brasil.
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Nesse contexto, o presente estudo teve como objetivo avaliar a participação e a in-
fluência do curandeirismo no tratamento de doenças por estudantes africanos do curso de
graduação em Enfermagem da UNILAB, definindo o grau da confiabilidade desses estudantes
quanto ao método terapêutico.
METODOLOGIA
RESULTADOS
Variável ƒ %
Masculino 21 28,0
Sexo
Feminino 54 72,0
[18-20] Adolescente 3 4,0
Idade [21-25] Jovem Adulto 55 73,0
[26-30] Adulto 17 23,0
Angola 4 5,0
Cabo Verde 11 15,0
Nacionalidade Guiné-Bissau 48 64,0
Moçambique 3 4,0
São Tomé e Príncipe 9 12,0
1º - 2º 7 9,0
3º - 4º 13 17,0
Semestre 5º - 6º 26 35,0
7º - 8º 27 36,0
9º - 10º 2 3,0
Fonte: da própria pesquisa.
Na tabela 2, 55,0 % (41/75) dos entrevistados referiram ter ido ao curandeiro para tratar
sinais ou sintomas de doenças, enquanto que 45,0 % (34/75) relataram nunca ter recorrido
ou não se lembram de ter procurado. Entre os entrevistados, 41,0 % (17/41) referiram ter
procurado/realizado entre duas a quatro consultas com esses colaboradores em saúde e
29,0 % (12/41) afirmaram ter realizado mais de sete consultas com esses profissionais. Além
dos variados problemas de saúde citados, as queixas mais apresentadas foram febres com
29,0 % (12/41), seguida de dores abdominais com 27,0 % (11/41). E a forma de diagnós-
tico relatado pelos entrevistados foi por meio de relatos de sintomas do próprio paciente/
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acompanhante com 54,0 % (22/41), seguida de observação dos sinais com 41,0 % (17/41).
Sobre o tratamento, a maioria 95,0 % (71/75) não sabe nome/identificar o remédio recebido
por curandeiro, porém todos sabiam de que parte de planta era extraído o remédio (caule,
folha ou raiz) e da forma de preparo, pois são orientados por estes, dessa forma 51,0 %
(21/41) dos remédios usados em todos os tratamentos citados pelos entrevistados são
provenientes de folhas das plantas. Dos 41 que recorreram ao método terapêutico, 61,0 %
(25/41) informam que o tratamento resolveu totalmente suas enfermidades.
Tabela 2. Dados sobre a terapia do curandeiro por estudantes africanos do Curso de Enfermagem da UNILAB.
Variável ƒ %
Sim 41 55,0
Contato
Não 34 45,0
[< 02] 6 15,0
[02 - 04] 17 41,0
Vezes
[04 - 06] 6 15,0
[07 +] 12 29,0
Febres 12 29,0
Dor abdominal 11 27,0
Queixa Dor musculoarticular 6 15,0
Lesões cutâneas 6 15,0
Outros 6 15,0
Relatos 22 54,0
Observação 17 41,0
Diagnóstico
Exames 1 2,0
Outros 1 2,0
Folhas 21 51,0
Caules 3 7,0
Remédio
Raízes 8 20,0
Outros 9 22,0
Totalmente 25 61,0
Cura Parcialmente 14 34,0
Não 2 5,0
Fonte: da própria pesquisa.
Tabela 3. Dados sobre a figura do curandeiro por estudantes africanos do Curso de Enfermagem da UNILAB.
Variável ƒ %
Totalmente 11 15,0
Confiança Parcialmente 53 71,0
Não 11 15,0
Sim 64 85,0
Relevância
Não 11 15,0
Médico 16 21,0
Enfermeiro 6 8,0
Comparação
Farmacêutico 17 23,0
Um pouco de todos 36 48,0
Sim 38 51,0
Procura
Não 37 49,0
Sim 69 92,0
Curandeirismo como disciplina
Não 6 8,0
Fonte: da própria pesquisa.
“Estaria sendo ingénuo se eu disser que não recorrerei a esse método, até
porque já fui e deu certo [...] e também vi pessoas que o método resultou. ”
(Respondente nº 30).
Por outro lado, entre as justificativas dos que responderam “não” procurar curandeiro
numa eventual necessidade de saúde nas seguintes declarações que se repete abaixo:
“Com toda tecnologia disponível atualmente, será difícil procurar [...] se o hos-
pital não resolver, vou procurar o curandeiro [...], por exemplo, febre amarela
lá tem cura. ” (Respondente nº 47).
Por fim, observou-se grande interesse dos estudantes quanto ao assunto, quando per-
guntados sobre inserção do conhecimento sobre o curandeirismo no curso da Enfermagem
da UNILAB. Cerca de 92,0 % (69/75) deles reforçam a ideia afirmando conforme as de-
clarações abaixo:
“Eu acho que é mais uma bagagem para a nossa formação [...] não é para
incentivar ou apoiar a prática entre os acadêmicos, mas sim um conhecimento
a ser agregado, para melhores orientações em saúde. ” (Respondente nº 64).
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“Olha todos nós sabemos que um dia voltaremos para os nossos países
para contribuir [...] como futuros enfermeiros e profissionais da saúde, um dia
provavelmente depararemos com pacientes com esses hábitos [...]. Sendo
assim, é interessante que dentro da academia tenhamos a oportunidade de
discutir um pouco sobre o assunto. ” (Respondente nº 53).
DISCUSSÃO
CONCLUSÕES
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Em suma, conclui-se que essas experiências podem ser muito úteis, desde que os
usuários procurem orientações com os profissionais de saúde do sistema formal. Espera-se,
também, que os profissionais de saúde assumam uma postura favorável ao uso de práticas
populares, buscando aliar aos princípios científicos para um uso mais racional e consciente,
evitando assim riscos desnecessários a comunidade.
REFERÊNCIAS
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dado à saúde. Revista de enfermagem da UFSM, Santa Maria, v. 6, n. 2, p. 225-234, 2016.
3. BADKE, M. R. et al. Saberes e práticas populares de cuidado em saúde com o uso de plantas
medicinais. Texto & contexto enfermagem, Florianópolis, v. 21, n. 2, p. 363-70, 2012.
8. COSTA, F. A. Z. et al. Práticas populares em saúde indígena e integração entre o saber cien-
tífico e popular: revisão integrativa. SANARE, Sobral, v. 15, n. 2, p.112-119, 2016.
10. GRANJO, P. Saúde e Doença em Moçambique. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 18, n. 4,
p. 567-581, 2009.
11. MATOS, I.; GRECO, R. M. Curandeirismo e Saúde da Família: conviver é possível? Revista
de APS, Juiz de Fora, v. 8, n. 1, p. 4-14, 2005.
12. MATTOS, L. F.; OLINTO, B. A. “Todos são curandeiros”: saberes populares e curandeirismo
nos processos-crime de Guarapuava (1940-1950). Revista Tempo, Espaço, Linguagem,
Irati, v. 4, n. 2, 2013.
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13. MELO, M. C. P. et al. Saberes populares e produção de saúde: repensando práticas no cuidado
materno-infantil. Revista de APS, Juiz de Fora, v. 18, n. 4, p. 492-499, 2015.
14. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Promover a saúde oral em África: prevenção
e controlo das doenças orais e do noma como intervenções essenciais contra as doenças não
transmissíveis. Escritório Regional da OMS para a África, 2016.
15. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Saúde das pessoas: O que funciona - Re-
latório sobre a Saúde na Região Africana 2014: resumo. Escritório Regional da OMS para a
África, 2014.
20. RIBEIRO, D. B. Medicina e práticas mágicas na cura de enfermidades tropicais no século XVIII.
Revista UNIABEU, Belford Roxo, v. 6, n. 13, 2013.
22. SANTOS, N.; VEIGA, P.; ANDRADE, R. Importância da anamnese e do exame físico para o
cuidado do enfermeiro. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 64, n. 2, p. 355-358,
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26. VALENTE, F. L. et al. Exame físico no domínio da enfermagem: Revisão integrativa da literatura.
Revista ibero-americana de saúde e envelhecimento, Évora, v. 3, n. 3, p. 1074-1086, 2017.
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Piper methysticum (kava-kava) e o sistema
nervoso central: revisão bibliográfica
'10.37885/220308123
RESUMO
Piper methysticum (Kava-kava), é uma das plantas terapêuticas utilizadas para o trata-
mento da ansiedade, o seu uso prolongado e em grandes quantidades, além de suas
interações medicamentosas, podem favorecer efeitos adversos. Objetivou-se discutir as
principais reações biológicas provocadas pelas intoxicações advindas do uso incorreto de
plantas medicinais; especialmente da Piper methysticum (Kava-Kava) no âmbito da neu-
rologia. Realizou-se levantamento bibliográfico em Google Acadêmico, Scielo e Pubmed,
utilizando-se as seguintes Palavras-chave: plantas medicinais, distúrbios psiquiátricos
e uso racional. Os resultados demonstram que Kava-Kava contém diversos efeitos no
SNC e que seus componentes químicos mais importantes são: Cavaína, Dihidrocavaína,
Metisticina e Dihidrometisticina que apresentam ação ansiolítica, sedativas, anticonvulsi-
vantes, anestésica local, espasmolítica e analgésica e especificamente a Kavalactonas
mostrando sua eficácia no controle das crises de ansiedade. Concluiu-se que Kava-Kava
além de ser uma erva medicinal, tem ação e propriedades farmacológicas apresentando
efeitos ansiolíticos que induz ao sono e relaxamento.
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INTRODUÇÃO
Desde do início dos tempos, as plantas já eram utilizadas para fins medicinais, terapêu-
ticos e cosmetológicos ao redor do mundo, porém, ao longo dos anos, houve um crescimento
exponencial pela ânsia em estudos voltados ao uso tradicional e os benefícios da utilização
das plantas, afim de aprofundar suas aplicações medicinais (MACEDO, 2016).
As utilizações de plantas medicinais e fitoterápicos encontram-se entre os meios mais
utilizados pelos brasileiros para tratamentos de doenças, nas quais configuram, segundo a
Organização Mundial da Saúde (OMS), 80% da população; estes aderem as plantas como
utilização complementar para patologias, justamente devido sua fácil acessibilidade e baixo
custo econômico (MACEDO, 2016).
Atualmente o uso com finalidades terapêuticas e medicinal das plantas foi validado
por meio da Portaria MS/GM N° 971, de 3 de maio de 2006, na qual foi instituída a Política
Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC). No entanto, a utilização destas
ainda não é reconhecida por alguns profissionais da saúde como meio medicinal comprovado
para tratamento de doenças (ROCHA et al., 2016).
As plantas medicinais possuem finalidades e propriedades terapêuticas em seus cons-
tituintes, algumas destas são utilizadas para tratamento de transtornos de ansiedade e
depressão, pois atuam diretamente no sistema nervoso central com ação estabilizadora
ou calmante (PAGANI; SILVA, 2016). Segundo Moura et al (2018), ansiedade é um estado
natural de atenção do corpo para sua preservação, porém em casos prolongados é consi-
derado como ansiedade patológica.
Apesar da indústria farmacêutica produzir medicamentos em massa para o tratamento de
doenças, a medicina alternativa das plantas ainda é bastante utilizada (DAMACENO, 2017);
ainda assim, o uso inadequado destas podem acarretar em complicações, portanto a Política
Nacional de Plantas e Medicamentos Fitoterápicos, utiliza-se de meios para garantir o uso
seguro, racional e adequado de fitoterápicos para a população brasileira (MACEDO, 2016).
Vários pacientes acabam utilizando as plantas de maneira inadequada, configurando
seus benefícios e malefícios. A Piper methysticum (Kava-kava) é uma das plantas tera-
pêuticas utilizadas para o tratamento da ansiedade, o seu uso prolongado e em grandes
quantidades, além de suas interações medicamentosas, podem favorecer efeitos adversos
do uso inadequado ou desacompanhado, levando a casos toxicológicos hepáticos associa-
dos à sua ingestão.
A maioria dos medicamentos utilizados para tratar transtornos de ansiedade agem
estimulando o neurotransmissor GABA e, como consequência, desestimulam o Sistema
Nervoso Central (SNC). Em contrapartida, estes costumam apresentar efeitos colaterais
prejudiciais à saúde do paciente como, por exemplo, a dependência da substância. Dito isto,
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algumas plantas medicinais podem agir no controle da ansiedade sem causar tais efeitos
adversos (SOARES, 2019).
Portanto, é possível afirmar que o uso de medicamentos fitoterápicos surge como uma
alternativa no tratamento de transtornos mentais, distúrbios do sono etc. A planta medicinal
kava kava (Piper methysticum) tem se mostrado uma boa opção terapêutica, apresentando
efeitos adversos mínimos e relativa segurança de uso (ALMEIDA, 2017).
OBJETIVO
O estudo teve como objetivo pesquisar e estudar os conceitos e histórico do uso caseiro
de plantas medicinais no Brasil e no mundo, refletindo para melhor compreender a neuro-
biologia dos distúrbios psiquiátricos, particularmente ansiedade e discutindo as principais
reações biológicas provocadas pelas intoxicações advindas do uso incorreto de plantas
medicinais; especialmente da Piper methysticum (Kava-Kava).
METODOLOGIA
A pesquisa desenvolvida foi do tipo bibliográfica, que segundo ZIMATH (2017), consiste
no tipo de pesquisa que é realizada a partir de material já publicado, constituído principal-
mente de livros, artigos, monografias, teses e outros; utilizando- se de dados já trabalhados
por outros autores e devidamente registrado. O pesquisador trabalha a partir dos achados
nas pesquisas constantes nos textos. Segundo Matos (2017), a principal vantagem da pes-
quisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de
fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente.
Foi realizado um levantamento bibliográfico no site Google Acadêmico nas bases de
dados Scielo e Pubmed, utilizando-se as seguintes palavras-chave: Piper methysticum.
Sistema Nervoso Central. Ansiedade. A pesquisa foi realizada em um espaço de trabalho
próprio com computadores com acesso à Internet, mesas cadeiras e armários a disposição.
Além da pesquisa em artigos indexados, foram utilizadas também na pesquisa revistas ele-
trônicas, monografias, teses e cadernos de atenção básica à saúde.
Os critérios de inclusão na amostra foram: artigos com textos na íntegra, publicados
em português, artigos sobre o tema relacionado ao uso de plantas medicinais no SNC e em
conteúdos claros e objetivos sobre a utilização de medicamentos naturais no tratamento
de ansiedade e depressão e as reações biológicas devido ao uso incorreto; especialmente
intoxicações provocadas pela Piper methysticum (Kava-Kava).
Para análise e categorização dos artigos foi realizada uma leitura interpretativa dos
artigos que se enquadravam nos critérios de inclusão da pesquisa e realizada a análise
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descritiva dos dados de acordo com os objetivos propostos. Os dados foram coletados si-
multaneamente, sendo analisados e apresentados através de revisão de literatura. Foram
enquadrados e analisados juntos os objetivos que versavam sobre a mesma finalidade, da
mesma forma quanto à identificação do perfil do uso de plantas medicinais no tratamento
da ansiedade e depressão reações biológicas.
Foram respeitados os aspectos éticos no que concorda a fidedignidade dos dados e
autores encontrados nos artigos que compõe a amostra.
RESULTADOS
A população mundial há anos já fazia uso de produtos naturais com objetivo de mostrar
a sua eficácia no tratamento de diversas doenças, atualmente estima-se que cerca de 25
a 30% de toda as drogas avaliadas como agentes terapêuticos derivam de produtos natu-
ral. E no território do Brasil é rico tanto na diversidade tendo a Floresta Amazônica, cerrado,
Mata Atlântica, Pantanal e caatinga, como um dos grandes principais biomas fonte de pro-
dutos terapêuticos, e o conhecimento também é a outra riqueza que ainda permanece com
influência dos saberes culturais do povo indígena (ARAUJO et al., 2021).
E o Piper Methysticum também conhecido como “Kava-Kava”, é uma planta medicinal
que tem sua origem nas ilhas do Pacífico Sul utilizada há anos com finalidade de promover
o bem-estar, reduzindo a fadiga e a ansiedade (SILVA, 2021).
De acordo com Araújo et al., (2021) em dias atuais a ansiedade é conhecida como um
mal do século mesmo sendo uma característica biológica do ser humano, porém, quando se
torna excessiva e persistente, pode chegar a um nível patológico, prejudicando o bem-estar
e a qualidade de vida e tornando-se em um transtorno de ansiedade generalizada (TAG).
A (TAG) é um dos distúrbios que afetam o Sistema Nervoso Central (SNC), os indivíduos
que são acometidos tendem a ficar constantemente tensos, nervosos, em estado de alerta
manifestando preocupações excessivas, decreta-se que o paciente tem o TAG quando o
mesmo demostra pelo menos três dos sintomas somáticos persistindo por no mínimo seis
meses como: dificuldade de concentração, fadiga, irritabilidade, tensão muscular, insônia e
inquietude (ARAUJO et al., 2021).
E considerando-se a situação atual mundial, registrada com uma importante crise na
saúde pública a pandemia causada pela COVID-19, o estado metal da população não se
mostrou diferente, visto que uma das formas de prevenção da doença é o isolamento so-
cial. Diante disso as pessoas que seguiram a quarentena acatando as normas determinada
pela Organização Mundial da Saúde (OMS), apresentaram maior prevalência de depressão
e ansiedade. E os motivos que agravaram a condição metal da população foi: o medo de
contágio, perda de membros familiares e o isolamento (SILVA et al., 2021).
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Houve um aumento de casos de transtorno de ansiedade entre indivíduos de todo
o mundo. No Brasil os casos de ansiedade chegam a 9,3% da população totalizando
18,60 milhões, ocupando assim o primeiro lugar no mundo de pessoas afetadas com TAG
(SILVA et al., 2020).
Ainda segundo Silva, (2021) no contexto geral observou-se um aumento no uso de
medicamento onde a maioria da população brasileira recorre a utilização de plantas medi-
cinais e fitoterápico, visto que estes eram de fácil acesso, menor custo e menor riscos de
efeitos adversos.
De modo geral Silva et al. (2021) afirma que estudos científicos realizados mostram que
muitas plantas medicinais e fitoterápicas e são eficaz no tratamento de ansiedade podendo
ser consumidas, assim como constam na Instrução Normativa nº 02/2014 e as espécie de
plantas medicinais que atuam no SNC a qual tem um números elevados de estudos en-
volvendo pacientes com TAG são: a kava-kava (Piper methysticum), maracujá (Passiflora
incarnata), valeriana (Valeriana officinalis), camomila (Matricaria recutita), erva-cidreira
(Melissa officinalis) e o mulungu (Erythrina mulungu).
A Piper methysticum (Kava-Kava) família Piperaceae, que é muito utilizada e cultivada
no Pacífico Sul, e atualmente estão distribuindo-se geograficamente pelo Brasil nos estados da
Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Santa Catarina (ARAUJO et al., 2021).
No entanto este vegetal é o rizoma seco, que possui odor fracamente aromático e
sabor levemente amargo. Os principais constituintes do rizoma da Piper methysticum são
as α-pironas, denominadas kavalactonas ou kavapironas este rizoma em forma de extrato
seco padronizado, são as partes mais utilizada para fins fitoterapêuticos, onde encontra-se
os principais constituintes (ARAUJO et al., 2021).
Estudos destacam que a Kava-Kava contém diversos efeitos no SNC e que os seus
componentes químicos mais importantes são: Cavaína, Dihidrocavaína, Metisticina e
Dihidrometisticina que apresenta ação ansiolítica, sedativas, anticonvulsivantes, anestésica
local, espasmolítica e analgésica e especificamente a Kavalactonas mostrando sua eficácia
no controle das crises de ansiedade, no atual cenário pandêmico tais plantas servem como
opção para o tratamento do agravo da TAG (SILVA et al., 2021).
Quando ação desta planta é exercida no SNC a mesma proporciona relaxamento
muscular, ação antiarrítmica, redução no estresse e na ansiedade:
A Kava-Kava apresenta tal efeito devido a sua ação antagonista onde os seis
principais constituintes são yagonina (YAN), desmetoxiagonina (DXY), kavaína
(KAV), dihidrokavaína (DHK), metisticina (MET) e dihidrometisticina (DHM)
como já foi citada anteriormente que se ligam aos receptores do ácido gama-
-aminobutírico (GABA), e possivelmente aos receptores N-metil D-aspartato
(NMDA) e/ou canais de sódio dependente de voltagem e inibem a captação
de noradrenalina, possibilitando atividades ansiolíticas, anticonvulsivantes,
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sedativas, espasmolíticas e analgésicas (SILVA et al., 2021)
Essa erva medicinal vem sendo uma fonte de estudo para os pesquisadores
pelos seus efeitos ansiolítico. O efeito da dose diária e com 210 mg de ca-
vapirona foi comparado com o efeito de 15mg/dia de oxazepam ou 9 mg/dia
de bromazepam com estudo de seis meses de duração para observar que
reação ocorreria. Uma das vantagens deste fitoterápico é a existência de
boa tolerabilidade, o mesmo não gera sonolência e nem dependência física
medicamentosa quando é 60-210 mg por dose diária no máximo três meses,
tornando fácil o desmame (SILVA et al., 2021).
No entanto, tem sido dificultoso estabelecer uma causa definida pois não há
provas que tais casos ocorridos foram por conta do uso de Kava-kava em de-
corrência a este fato é recomendado que os usuários realizam testes regulares
rotineiros de função hepática (Departamento Técnico Londrifórmulas, 2020).
Mas quando é usada em doses recomendadas não provoca efeitos adversos,
porém, também há relatos que demonstram que o uso prolongado deste,
pode causar reações alérgicas, queixas gastrointestinais, cefaleia, tonturas,
pigmentação da pele, fadiga matinal (principalmente no início do tratamento),
movimentos involuntários, entre outros e caso apresente qualquer um desses
sinais e sintomas deve-se suspender a utilização (SILVA et al., 2021).
O outro fator é que esta planta potencializa a sua ação quando é utilizada juntamente
com o álcool ou outros medicamentos sintéticos que atuam sobre o SNC ou até mesmo ou-
tras plantas medicinais tais como;(erva-dos-gatos, aipo, camomila alemã, cálamo, calêndula,
ênula, valeriana, sassafrás, urtiga, sálvia, ginseng, siberiano (SILVA et al., 2021).
Atrelado a isso, o uso da mesma em mulheres que estão amamentando não é reco-
mendado pois é de fácil acesso a passagem dos constituintes da planta para o leite materno
e estimulando assim a perda do tônus uterino podendo causar dificuldades em gestações
futuras (SILVA et al., 2021).
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DISCUSSÃO
A maioria dos medicamentos utilizados para tratar transtornos de ansiedade agem esti-
mulando o neurotransmissor GABA e, como consequência, desestimulam o Sistema Nervoso
Central (SNC). Em contrapartida, estes costumam apresentar efeitos colaterais prejudiciais
à saúde do paciente como, por exemplo, a dependência da substância. Dito isto, algumas
plantas medicinais podem agir no controle da ansiedade sem causar tais efeitos adversos
(SOARES, 2019; ARAUJO, 2020). Como tratamento farmacológico, as plantas medicinais
e os fitoterápicos são vistos como uma alternativa viável para o tratamento dos quadros de
ansiedade e depressão, pois podem apresentar índices menores para efeitos colaterais, o
que pode favorecer a continuidade do tratamento (SILVA et al., 2020).
Atualmente já podem ser constatadas vários estudos em diversas área sobre as plantas
medicinas, porém percebe-se que quando se abordar sobre os mesmo sem geral são sempre
intituladas como meios de tratamento farmacológico secundários para tratamento de diversas
patologias mesmo já existindo estudos e trabalhos desenvolvidos sobre o modo e a forma
de uso destas plantas e dentre essas patologias nós temos os transtornos generalizadas,
e devido ao auto índice de automedicação e intoxicações que tenham ocorrido ao longos
dos anos porque, então na atualidade a população está optando em fazer o uso de plantas
medicinais e fitoterápico devido ao fácil acesso, e custo de benefício do valor que ele custa
porem ao mesmo tempo, podemos observar que os mesmo não sabe fazer o uso destas
plantas de forma correta levando novamente ao ponto anterior a intoxicação porque para
muitos “o natural não faz mal - um paradoxo ao uso de plantas medicinais e fitoterápicos”.
Acredita-se que algumas razões para o aumento da popularidade de fitoterápicos na
medicina humana é a falsa ideia de que medicamentos à base de plantas não fazem mal
(PINTO, 2004; BARBOSA et al., 2013).
De acordo com Silva et al., 2021:
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A ansiedade é uma característica biológica do ser humano, porém, quando
essa condição se torna excessiva e persistente, pode chegar a um nível pato-
lógico, prejudicando o bem-estar e a qualidade de vida do indivíduo afetado e
se transformando em um transtorno. As pessoas acometidas por tal transtorno
tendem a ficar constantemente tensos e nervosos, em estado de alerta e aca-
bam desenvolvendo preocupações excessivas, existindo pelo menos três dos
sintomas somáticos a seguir, que devem persistir por no mínimo sei meses:
dificuldade de concentração, fadiga, irritabilidade, tensão muscular, insônia e
inquietude (apud CAVALER e CASTRO, 2018).
Segundo Ana Carolina (2020), a kava kava, de nome científico Piper methysti-
cum, apresenta-se como um dos medicamentos fitoterápicos complementares
mais pesquisados para a utilização em condições psiquiátricas (SILVA, 2015),
distribuindo-se geograficamente pelo Brasil nos estados da Bahia, Minas Ge-
rais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Santa Catarina (apud ZIMATH et al.,
2017). As propriedades farmacológicas da kava kava mostram-se semelhantes
às dos benzodiazepínicos, contudo, foi detectada uma fraca ligação entre as
kavalactonas e os receptores GABA, sugerindo que os receptores N-metil-D-as-
partato ou canais de voltagemdependentes estejam envolvidos no mecanismo
de ação das kavalactonas (apud MATOS, PIMENTEL e SOUSA, 2016).
De acordo com Justo e Silva (2008), segundo estudos de Manuela Silva (2021):
“Os efeitos ansiolíticos puderam ser comprovados, porém, seu uso está asso-
ciado à diversos casos de hepatotoxicidade, levando à sua retirada do mer-
cado no Reino Unido. Além do efeito ansiolítico, estudos apontam que a kava 75
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kava possui diversos outros efeitos sobre o Sistema Nervoso Central, como
atividades sedativas, anticonvulsivantes, anestésica local, espasmo-lítica e
analgésica”.
E diante a época atual do quadro pandêmico provocado pelo novo coronavírus que
de alguma forma contribui para que o consumo de plantas medicinais amplia-se ainda mais
dentre elas a da espécie Piper methysticum para ansiedade, estresse e insônia, que são
sintomas do transtorno de ansiedade generalizada porque, com a pandemia da covid-19 os
índices mundiais com relação aos transtornos aumentaram de forma drásticas fazendo com
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que a população pode-se recorrer não apenas ao tratamento e meios farmacológicos, mas
também ao tratamento não farmacológico realizando assim novas descobertas no mundo da
fitoterapia e das plantas medicinais especificamente da Piper methysticum mais ao mesmo
tempo podemos denotar que o diferente da Piper methysticum para se realizar o uso e a
obtenção de outras plantas medicinais não são exigidas necessariamente prescrições médi-
cas diferentes da kava kava e isso faz que o seu uso, a sua comercialização, seja bastante
limitada como afirma o SILVA (2021), e ao mesmo tempo não somente o seu uso é limitado
mais também informações sobre o mesmo torna-se escassez e difícil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através das pesquisas estudadas neste trabalho, observou-se que o que leva as pes-
soas a procurarem as plantas medicinais para se tratarem é que elas podem ser cultivadas
facilmente e que se tem em mente que o uso das ervas não faz mal algum. Outra coisa que
leva a procura de plantas é o custo benefício que elas têm para o consumidor e o local de
fácil acesso onde podem ser encontradas.
A Kava-Kava é uma planta medicinal que se destaca pelas suas propriedades biológicas
tendo efeitos ansiolíticos e indutores de relaxamento e sono, sendo utilizada no tratamento da
ansiedade e distúrbios nervosos como estresse ou cansaço, agitação, epilepsia, depressão,
entre outras doenças. Seu uso atualmente no mercado como medicamento fitoterápico teve
um grande destaque pelos casos de hepatotoxicidade que foram relatados, fazendo com
que entrasse como venda somente sob prescrição médica.
É possível dizer que a kava-kava (Piper methysticum) apresenta efeitos ansiolíticos
que foram pesquisados em dados científicos, claro que não está isenta de efeitos colaterais,
pois pode interagir com medicamentos depressores do SNC reduzindo a eficácia deste por
alterações no metabolismo hepático.
A Kava-Kava além de ser uma erva medicinal, tem maior destaque pela a sua ação
e propriedades farmacológicas apresentando efeitos ansiolíticos que induz ao sono e rela-
xamento e está sendo muito utilizada no tratamento da ansiedade e problemas no sistema
nervoso principalmente em patologias como a depressão. E é através destes usos popu-
lares (empíricos) que se tem estudado sobre essas ervas com o objetivo de aprofundar os
conhecimentos científicos sobre o tema.
O aconselhamento de um profissional de saúde aos usuários de Kava-Kava visa con-
tribuir para o uso racional de Plantas Medicinais e Medicamentos Fitoterápicos e infor-
mar quanto aos benefícios e malefícios que possam ser causados pelo seu uso para que
os usuários possam ter maior segurança na utilização de Kava-Kava, visando prevenir o
seu uso inadequado.
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Farmácias vivas: um estudo sobre as
contribuições à política nacional e suas
possíveis vantagens para a saúde pública
'10.37885/220308124
RESUMO
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INTRODUÇÃO
Sendo o Brasil, um país com grande biodiversidade, entretanto marcado pelas dispari-
dades econômicas, sobretudo em regiões como o Nordeste e considerando as deficiências da
saúde pública na época, a população está condicionada a consumir medicamentos dispostos
na natureza, tanto por extração como por cultivo ou comprando no mercado informal. Mas,
o desenvolvimento do uso de fitoterápicos como medida “[...] profilática, curativa, paliativa
ou com fins de diagnóstico” só foi oficialmente reconhecido pela Organização Mundial de
Saúde (OMS) em 1978, quando recomendou que houvesse uma grande propagação de
orientações e disseminação de informações no mundo no contexto de conhecimentos que
seriam necessários para que as plantas fossem utilizadas de maneira racional e com cons-
ciência por toda população (BRASIL, 2006).
Neste viés, na década de 80, o Estado do Ceará dava um grande passo com a cons-
trução e implementação do projeto Farmácias Vivas, inclusive, esse termo foi originalmen-
te proposto pelo Prof. Dr. Francisco José de Abreu Matos, farmacêutico da Universidade
Federal do Ceará (UFC), o qual idealizou o programa preocupado com o bem-estar da po-
pulação que consumia essas plantas sem nenhuma informação. Então, foram constituídas
pesquisas que juntaram o saber popular e o saber científico, para proporcionar assistência
farmacêutica fitoterápica a entidades públicas interessadas nesse uso. O projeto analisava
as espécies desde a fase do cultivo até à produção dos fitoterápicos, o que passou a gerar
mais segurança à população; além do baixo custo (redução de 20% a 30%) e instruções
para uma utilização segura (RANDAL et al., 2016; SOARES, 2019).
Assim, o programa Farmácias Vivas foi institucionalizado no estado do Ceará, pelo
decreto Nº 30.016, de 30 de dezembro de 2009; regulamentando a lei 12.951 de 1999 que
estabelece a Política de Implantação da Fitoterapia em Saúde Pública no Estado do Ceará.
Dessa forma, entendendo a importância desse modelo de gestão participativa de saúde
para todo país, o Ministério da Saúde, em 2010, através da portaria GM nº 886, de 20 de
abril de 2010, institucionalizou o projeto Farmácias Vivas como sendo um projeto que está
incluso dentro das ações e serviços oferecidos pelo Sistema Único de Saúde – SUS, por
todo território nacional (CEARÁ, 1999, 2009; BRASIL, 2010).
Embora o uso de plantas medicinais no mundo seja comum desde tempos remotos
como uma das formas mais antigas de prática medicinal, por ser uma alternativa na assis-
tência à saúde, hoje, nota-se um crescente interesse da implementação dessas práticas na
atenção primária à saúde, visto que elas podem complementar as terapias medicamentosas
para a população. Ademais, apesar do desenvolvimento da medicina, ainda são muitos os
desafios enfrentados pela população carente. Pode-se citar, por exemplo, a dificuldade do
acesso aos centros de atendimento na atenção básica de saúde e o alto valor agregado
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aos medicamentos prescritos. Logo, a grande maioria recorre à medicina tradicional e ao
uso de plantas medicinais, tanto pela necessidade e fácil acesso como pelas raízes da
cultura e tradição. Contudo, vários aspectos devem ser observados (VEIGA et al., 2005;
PRADO et al., 2018).
Dentro das fragilidades apresentadas pelo SUS, observa-se que, de acordo com dados
do IBGE 2019, cerca de 30,5% (6,2 milhões) da população brasileira teve acesso a pelo
menos um dos medicamentos prescritos no último atendimento no serviço público de saúde
(IBGE, 2019). Dessa forma, constata-se que isto é algo muito preocupante, tendo em vista
que a grande maioria da população brasileira não tem condições financeiras para aquisição
desses medicamentos. Por isso, a introdução de fitoterápicos no sistema público de saúde
pode ser uma estratégia viável para o tratamento de doenças, sobretudo, com a capacitação
dos profissionais da saúde.
Diante o exposto, a presente pesquisa deseja responder a seguinte pergunta norteadora:
“Quais as contribuições das Farmácias Vivas à política nacional e as possíveis vantagens
para a saúde pública? ”.
OBJETIVO
METODOLOGIA
Caracteriza-se por uma revisão de literatura por meio de um estudo exploratório, trans-
versal com abordagem qualitativa, realizado através de um levantamento bibliográfico junto
a uma base de dados; abrangendo a leitura, análise e interpretação de artigos publicados na
íntegra, em periódicos científicos disponibilizados na internet. A pesquisa bibliográfica tem o
objetivo de colocar o pesquisador em contato direto com o escrito sobre a temática da pes-
quisa, por meio de materiais como: artigos científicos e teses (PRODANOV; FREITAS, 2013).
Após a definição do tema, da pergunta norteadora e objetivos, foi feita uma busca
em base de dados virtuais tais como: Google acadêmico e Scientific Electronic Library
Online (SciELO), utilizando-se computador com acesso à internet. Para a busca bibliográfi-
ca utilizaram-se termos da língua portuguesa. Para o levantamento dos artigos, utilizou-se
as palavras-chave: “Plantas Medicinais”, “Fitoterapia”, “Farmácias Vivas”, “Políticas de
Saúde Pública”. O agrupamento das palavras-chave foi realizado da seguinte forma: “Plantas
Medicinais” e “Políticas de Saúde Pública”; “Fitoterapia” e “Farmácias Vivas”.
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Foram incluídos artigos publicados no período de 2005 a 2021, disponíveis online na
íntegra, no idioma português, que discutiam sobre o uso de plantas medicinais e a relevância
das Farmácias Vivas para a construção de políticas públicas de saúde. Foram adotados,
como critérios de exclusão, os estudos que não apresentaram ou detalharam a temática
proposta. O método para a construção da pesquisa foi o dedutivo, o qual parte do geral para
o específico. Para análise e categorização dos artigos foi realizada uma leitura interpretativa
dos que se enquadraram nos critérios de inclusão do estudo e realizada a análise descritiva
do conteúdo de acordo com os objetivos propostos; evidenciando assim as seguintes catego-
rias: A falta de acesso aos medicamentos; A implantação das farmácias vivas; Os desafios
da Inserção da Fitoterapia no Brasil; Contribuições das Farmácias Vivas no Brasil.
RESULTADOS
No Brasil, a saúde é garantida por lei, constando no Art. 198, da Constituição Federal
de 1988, que diz: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante polí-
ticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos
e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação”. Apesar dessa estrutura estabelecer pressupostos legais para melhoria da
dignidade humana, a efetivação da saúde muitas vezes é negligenciada, principalmente
para as populações pobres e marginalizadas que se encontram à parte do gozo dos seus
direitos constitucionais (BRASIL, 1988).
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma parcela
considerável da população brasileira faz uso de plantas medicinais ou prática integrativa e
complementar. De acordo com a Pesquisa Nacional da Saúde, existe uma estimativa de que
4,6% das pessoas fazem uso de alguma dessas práticas como tratamentos de acupuntura,
homeopatia, plantas medicinais e fitoterapia, entre outros. As regiões que apresentam as
maiores proporções são as Regiões Norte (5,7%) e Sul (5,4%) enquanto as demais regiões
permaneceram dentro da média nacional. É importante destacar que, em 2013, as pessoas
que faziam uso dessas práticas integrativas e complementares eram de 3,8% da população.
Análogo a isso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) destaca que 80% da população
mundial utiliza os recursos das medicinas populares para suprir necessidades de assistência
básica de saúde (FIRMO et al., 2011; IBGE, 2019, p. 52).
Dentro das fragilidades apresentadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), podemos
citar o acesso a medicamentos. Segundo dados apresentados em 2019, cerca de 30,5% (6,2
milhões) da população brasileira teve acesso a pelo menos um dos medicamentos prescritos
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no último atendimento no serviço público de saúde. Os dados ainda indicam que as regiões
que mais se sobressaem nesses resultados são a Centro-Oeste (24,9%) e Nordeste (28,9%)
com as menores proporções, enquanto a Região Sul, com a maior (36,2%). Ou seja, as re-
giões que apresentam menor e maior índice populacional são as que representam os menores
indicativos de acesso a medicamentos pelo Sistema Único de Saúde – SUS (IBGE, 2019).
Segundo Ferreira (2020) o uso de plantas medicinais é muito comum no Nordeste,
todavia, é necessário estabelecer o uso seguro de preparos e extratos naturais, visto que
a região apresenta matéria prima propícia ao levantamento etnobotânico. Ademais, nota-
-se que as políticas públicas de saúde apresentam muitas falhas na assistência básica de
saúde, no que diz respeito à carência de medicamentos distribuídos pelo SUS; fazendo,
assim, a população recorrer à medicina tradicional para tratamento de doenças e enfermi-
dades. No entanto, muitas vezes o uso é realizado sem nenhuma orientação e cuidado,
tornando assim preocupante as ações adversas do consumo sem nenhum acompanhamento
farmacoterapêutico.
Pensando nestas questões das falhas apresentadas pelas políticas nacionais de saúde,
o Prof. Dr. Francisco José de Abreu Matos, farmacêutico da Universidade Federal do Ceará
(UFC), idealizou e implementou o projeto Farmácias Vivas, com o propósito de proporcionar
uma assistência farmacêutica fitoterápica a entidades públicas e a orientar o uso correto e
racional das plantas medicinais para a população.
Tal como o município de Maracanaú, localizado no Estado do Ceará, foi o pioneiro em
implantar o Programa Farmácias Vivas no SUS, a Secretaria Municipal de Saúde Fortaleza
tem se destacado quanto a sua organização, abrangência e funcionalidade no processo de
implantação do Programa Farmácias Vivas no SUS. Sua infraestrutura compõe-se de 01
horto com 40 canteiros para o cultivo das plantas medicinais e 01 laboratório de manipulação
para a produção dos medicamentos fitoterápicos. A distribuição dos medicamentos é reali-
zada nas Unidades Básicas de Atenção à Saúde da Família (UBASF) do Programa Saúde
da Família (PSF) por meio da prescrição do profissional de saúde (SILVA et al., 2006).
De acordo com Ceará (2009) existem quatro modelos de Farmácias Vivas vigentes que
são: Tipo I - Cultivo de plantas medicinais; Tipo II - Pré-processamento; Tipo III - Preparação
de remédios caseiros com plantas medicinais; Tipo IV - Preparação de fitoterápicos para
dispensação no SUS.
Atualmente, há 99 registros de instalação de Farmácias Vivas no Estado do Ceará,
sendo 42 em atividade. A maioria delas está inserida no modelo I, em virtude de sua menor
complexidade e pela falta de recursos financeiros, dentre estas, apenas oito são completas
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como é o caso das de Viçosa, Maracanaú, Quixeramobim e a de Itapipoca. Isso porque
poucos são os recursos e incentivos governamentais para implementação dessas unidades,
além da incapacidade dos órgãos públicos em se adequarem às exigências do Decreto
nº 30.016/2009, que dispõe sobre a política de implantação da fitoterapia em saúde pú-
blica no Estado do Ceará. Assim, um dos grandes desafios para as Farmácias Vivas é
conseguir recursos financeiros para sua expansão e manutenção nas unidades instaladas
(BONFIM et al., 2018).
DISCUSSÃO
Adiante, Carnevale (2018, p. 87) em sua tese traz o seguinte questionamento: “Como
um dos países com a maior biodiversidade do mundo e com um elevado uso de plantas
medicinais pela população (...) não inclui a fitoterapia no currículo médico? ”. No desenvol-
vimento do trabalho, ela traz que a propaganda da indústria foi relatada como uma forma
de manipulação dos médicos, além da falta de formação dos mesmos em disciplinas sobre
plantas medicinais e que isto está relacionado ao descrédito da fitoterapia e à ausência
de professores médicos capacitados para ministrarem disciplinas de plantas medicinais.
Ademais, a falta de financiamento também foi citada e associada ao pequeno interesse
governamental nas Farmácias Vivas, uma vez que a associam a “coisa de pobre” pelo des-
conhecimento de seus benefícios para a população, incluindo seus benefícios econômicos
e de caráter sustentável. Também, outras justificativas para o desinteresse dos gestores é
porque este projeto não traz benefício pessoal ou político e porque alguns políticos estão
vinculados às indústrias farmacêuticas.
Em suma, os desafios mais referidos para a implantação da fitoterapia na atenção
primária foram a estrutura física das unidades e a capacitação profissional. Dessa forma, é
possível definir estratégias para qualificar a atenção primária e ampliar o acesso à fitoterapia
como prática alternativa e complementar. Para tal, sabe-se que quaisquer propostas somente
terão êxito caso haja o reconhecimento e o compromisso na política governamental para a
real implantação na atenção primária, o que envolve mudanças na percepção do processo
saúde-doença no contexto social e cultural (ARAUJO, 2014).
O projeto Farmácias Vivas tem uma grande importância política, econômica e social,
pois sua criação surgiu como um modelo para construção de política na saúde, em defesa
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e fortalecimento ao uso e manipulação da fitoterapia e plantas medicinais; de modo a com-
plementar aos demais tratamentos de saúde. Cabe destacar a importância para a saúde
pública do Brasil, visto que se pode comprovar que os fitoterápicos são eficazes no tratamento
de várias doenças, da mesma maneira que os medicamentos alopáticos. Dessa forma, as
famílias carentes são favorecidas, levando em conta o baixo custo dos fitoterápicos compa-
rados com os medicamentos industrializados; além da assistência farmacêutica que, por sua
formação, torna os farmacêuticos aptos a prestar orientações a esta população. Ademais, o
programa Farmácias Vivas no modelo IV (Preparação de fitoterápicos para dispensação no
SUS) permite que haja a dispersão dos fitoterápicos na comunidade através das Unidades
Básicas de Atenção à Saúde da Família com a prescrição do médico. Assim, proporcionando
que medicamentos naturais sejam disponibilizados à população de uma maneira segura e
com qualidade atendendo todas as normas sanitárias e de saúde (PEREIRA et al., 2015;
PRADO et al., 2018; IBGE, 2019).
Hoje, os serviços de fitoterapia estão sendo continuamente implantados e ampliados no
país, o que tem gerado um aumento da demanda por essa prática e o acesso às discussões
nesse segmento se ampliam e seguem ganhando força. Ademais, é importante levar em
consideração que o saber científico surge oriundo do saber popular e programas, como as
Farmácias Vivas e as leis de regulamentação do uso de plantas medicinais e fitoterápicos,
são culminantes para o reconhecimento dessa prática milenar, mostrando que todos os
saberes podem ser válidos (LEITE et al., 2021).
Por isso, faz-se necessário a introdução de manejos sustentáveis para garantir a ma-
nutenção da diversidade biológica no contexto do uso das plantas medicinais no âmbito da
saúde pública. É muito importante implementar ações e projetos que visem o acesso, capa-
citação e o uso de plantas medicinais entre os profissionais de saúde, porque desta forma
eles poderão indicar/prescrever e ampliar as opções referentes à prevenção e tratamento
de doenças que acometem a população de uma forma mais segura, eficiente e de qualidade
do ponto de vista da atenção básica saúde (PASA et al., 2010; MATTOS, 2018).
Em síntese, Argenta et al. (2011) destacam ainda que é importante desenvolver mais a
pesquisa voltada para o campo das plantas medicinais, para comprovar a eficiência e ações
por intermédio do uso popular; além de incentivar mais a utilização de plantas medicinais
em programas de saúde, em especial no SUS. Assim, ampliar as relações, cooperações e
os projetos entre universidades e comunidades, com o intuito de melhorar a qualidade de
vida da população mais carente, dos povos rurais e povos tradicionais através de uma maior
acessibilidade dos recursos terapêuticos disponíveis de forma segura e racional.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tomando como base o presente estudo bibliográfico, pode-se inferir que a utilização
de plantas medicinais e fitoterápicos sempre foi uma realidade, entretanto a falta de estudos
por parte dos profissionais da saúde, em destaque os médicos, enfermeiros e farmacêuti-
cos, implica diretamente no uso seguro e racional pelos usuários que sem informações são
acometidos muitas vezes de efeitos adversos, levando o paciente a ser poli medicado ou
tendo uma utilização demasiada ou moderada de um medicamento natural, ocasionando
consequências a médio e longo prazo para o paciente.
Desta forma, é imprescindível ter mais investimentos para as práticas de fitoterapia,
para as políticas de Saúde e para a implementação de Farmácias Vivas em todo território
Nacional; além de recursos para a capacitação dos profissionais de saúde tais como mé-
dicos, enfermeiros, dentre outros e, mais especificamente farmacêuticos, para terem mais
segurança em prestar orientações quanto o uso, administração, posologia e possíveis inte-
rações e efeitos colaterais dos medicamentos naturais para os pacientes.
Constatou-se, ainda, que as Farmácias Vivas têm muito potencial para contribuir com
a política nacional, além de trazer vantagens para a saúde pública, mas ratificando, precisa-
-se haver investimento e estudos na área, a fim de promover o uso sustentável de recursos
naturais para a promoção da saúde e melhoria da qualidade de vida da população.
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19. PRODANOV, C. C.; FREITAS, E. C. Metodologia do trabalho científico: métodos e técnicas
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20. SILVA, M. I. G. et al. Utilização de fitoterápicos nas unidades básicas de atenção à saúde da
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Etnobotânica de plantas medicinais da
vegetação litorânea no Ceará: uma revisão
bibliográfica
'10.37885/220308125
RESUMO
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INTRODUÇÃO
A etnobotânica pode ser entendida como a ciência que estuda a relação entre os se-
res humanos e seu ambiente vegetal, sendo o estudo das plantas medicinais um de seus
principais objetos de investigação.
Desde tempos imemoriais, diferentes grupos humanos e civilizações ao redor do mundo
vêm fazendo uso de plantas em suas culturas para diversas finalidades, dentre elas: alimenta-
ção, como medicamentos e instrumentos ritualísticos. Na medicina tradicional chinesa, usa-se
plantas para finalidades terapêuticas desde 5.000 a.C., prática esta que ainda hoje tem sido
utilizada e disseminada. Na cultura indiana, o uso dos compostos vegetais como métodos
de promoção à saúde é ainda mais antigo, trazendo influências diretas para a medicina ayu-
verdica, bem como para outras culturas como a árabe, grega e romana. No Egito antigo, em
aproximadamente 1.500 a.C., já se utilizava plantas no tratamento de verminoses, problemas
de pele, como condimentos e também nos processos de mumificação (ALMEIDA, 2011).
No Brasil, onde se concentra a maior biodiversidade em espécies vegetais do planeta,
o uso medicinal de plantas remonta ao período pré-colonial, quando os povos nativos já se
beneficiavam desses recursos naturais. Estes usos medicinais passaram a ser objeto da
investigação científica a partir do século XVII, com a vinda dos primeiros naturalistas, esten-
dendo-se até os dias atuais, com o crescente desenvolvimento das pesquisas etnobotânicas
(FLORA DO BRASIL, 2020).
Especificamente no Estado do Ceará, os estudos etnobotânicos de plantas medicinais
tiveram contribuição significativa do Professor Dr. Francisco José de Abreu Matos, criador
das Farmácias Vivas, um programa de assistência social farmacêutica, baseado no em-
prego científico de plantas medicinais e fitoterápicos, organizado com o apoio da OMS em
2005. A partir daí, tem-se verificado um aumento progressivo dos estudos etnobotânicos
no estado, principalmente relacionados às plantas da caatinga (FLORA DO BRASIL, 2020).
Embora a vegetação de caatinga seja de fato a mais proeminente em termos de ex-
tensão, esta ocupa 68,8% do território cearense; o estado apresenta grande diversidade de
formações vegetais, notadamente em sua região litorânea (MORO et al., 2015). O trabalho
de mapeamento realizado por Figueiredo (1997) e posteriormente atualizado por Moro et al.
(2015), apontam dezesseis diferentes tipologias vegetais, das quais oito estão presentes na
região costeira. São elas: os campos praianos; os arbustais praianos; a vegetação de dunas
fixas; a vegetação de dunas semifixas e móveis; as florestas de tabuleiro; os arbustais de
tabuleiro; os cerrados e cerradões costeiros e os manguezais.
Essas formações costeiras recobrem aproximadamente 13% de toda a extensão terri-
torial do Ceará e são predominantes em todos os municípios litorâneos, onde residem apro-
ximadamente 43% da população do Estado (IBGE, 2010). A diversidade biológica abrangida
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por estas formações vegetais encontra-se estreitamente ligada à diversidade cultural, uma
vez que se constitui como importante fonte de recursos para populações tradicionais de
indígenas, pescadores artesanais e outras comunidades praieiras (MORO et al., 2015).
Apesar da diversidade e relevância das formações vegetais costeiras do Ceará, os
estudos etnobotânicos de plantas medicinais com foco nessa vegetação têm sido pouco
evidenciados. Em revisão de literatura acerca do uso de plantas medicinais no Ceará entre
2008 e 2018, Ferreira, Pinheiro e Gomes (2020) identificaram um total de 27 trabalhos,
dos quais apenas 3 estão situados em municípios com predominância das formações ve-
getais costeiras.
Além disso, a vegetação costeira, em suas diferentes tipologias, vem sendo gra-
vemente ameaçada pela expansão urbana, pelos grandes empreendimentos turísti-
cos (VASCONCELOS e CORIOLANO, 2008); pelos empreendimentos de carcinicultura
(MEIRELES et al., 2007); pela implantação de usinas eólicas (MOURA-FÉ e PINHEIRO,
2013) e por projetos de grande impacto ambiental, como é o caso do complexo portuário
industrial do Pecém (MORO et al., 2015).
Visando demonstrar a importância das formações vegetais costeiras para as populações
locais e reforçar a necessidade de novos estudos e políticas para sua conservação, buscou-se
neste trabalho realizar uma pesquisa bibliográfica acerca dos conhecimentos etnobotânicos
de plantas medicinais, tendo como foco a vegetação litorânea no Estado do Ceará. O estu-
do ora desenvolvido partiu, portanto, da seguinte pergunta norteadora: Quais espécies da
vegetação costeira no Ceará são utilizadas popularmente como plantas medicinais?
OBJETIVO
METODOLOGIA
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Figura 1. Mapa de unidades fitoecológicas do Ceara.
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RESULTADOS
Como resultados das buscas realizadas segundo a metodologia descrita, foram se-
lecionados 10 (dez) trabalhos, sendo 8 (oito) artigos científicos e 2 (duas) dissertações de
mestrado, conforme Tabela 1 a seguir:
A análise dos trabalhos selecionados revelou o total de 198 espécies medicinais (excluí-
das as repetições e táxons não identificados). Desse total, verificou-se que 71 espécies são
identificadas como “nativas” no Herbário Virtual do portal FLORA BRASIL (2020); ocorrendo
espontaneamente nas formações vegetais costeiras no Estado do Ceará. As outras 116 es-
pécies são classificadas como “naturalizadas” ou “cultivadas” no citado portal. Considerando
o objetivo de evidenciar o potencial medicinal da vegetação nativa do litoral cearense, conso-
lidamos na Tabela 2 abaixo o resultado da triagem das espécies encontradas nos estudos,
bem com os conhecimentos etnobotânicos a elas associados.
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Tabela 2. Plantas medicinais nativas da vegetação costeira no estado do Ceará e conhecimentos etnobotânicos associados.
Nome popular Nome Científico Indicação popular Parte utilizada Forma de preparo
Vermicida/ antimicrobiano, folhas, raizes e extrato aquoso/
Jequiriti Abrus precatorius
diurético, expectorante. ramos/ raízes macerado
Delegado Acanthospermum hispidum Gripe folhas chá
Acmella uliginosa
Agrião Inflamação, gripe folhas e flor in natura ou lambedor
(Sw.) Cass.
Sempre viva Alternanthera brasiliana Tosse, fígado, bexiga. folhas infusão ou decocção
Amburana cearensis Inflamação, diabetes,
Cumaru cascas decocção
(Allemão) A.C.Sm tosse, bronquite e asma.
Gastrite, diabetes, ferimento,
Cajueiro Anacardium occidentale L. cascas chá, garrafada
dor, inflamação.
Angico Anadenanthera colubrina Cicatrização casca garrafada
Astronium fraxinifolium
Gonçalo alves Pressão alta talo Sem informação
Schott
Astronium urundeuva
Aroeira do sertão Ferimentos casca extrato hidroalcoolico
(M.Allemão) Engl.
Mororo Bauhinia cheilantha Inflamação e diabetes folhas infusão
Rins, colesterol,
Urucum Bixa orellana L. sementes infusão / lambedor
condimento/ tosse.
Caesalpinia ferrea Coluna, pancada, inflamação frutos / toda a infusão, maceração /
Jucá ou Pau ferro
Mart. ex Tul. / rins / hipoglicemiante. planta / casca infusão /decocção
Gripes, inflamação e próstata raízes / folhas
Guabiraba Campomanesia aromatica decocção / chá
/ câncer e inflamações. e cascas
Erva de Chumbo Cassytha filiformis L. Expectorante folhas não informado
Torém Cecropia pachystachya Rins, inflamação folhas infusão
Rins / escorbuto,
Mandacaru Cereus jamacaru infecções de pele / tosse, raízes / ramos decocção / suco / xarope
bronquite e úlceras.
Câncer, colesterol
Dente de leão Chaptalia nutans folhas infusão
diabetes e infecção.
Cainana ou Febre, doenças respiratórias não informado/
Chiococca alba (L.) Hitchc. chá / decocção
cruzeirinha / purgativo e diurético. frutos
Guajiru Chrysobalanus icaco L. Diabetes raízes não informado
Alho do mato Cipura paludosa Aubl. Gripe rizoma não informado
Commiphora leptophloeos Doenças estomacais, enjoo, cascas e garrafada e xarope
Imburana de espinho
(Mart.) J.B.Gillett tosse/ feridas, gastrite, úlceras. sementes/ cascas / decocção
Infecções mucosas,
Mangue-branco Conocarpus erectus L. não informado não informado
conjuntivite, diabetes, sífilis.
Podoi ou copaíba Copaifera langsdorffii Desf. Diabetes casca não informado
Coutarea hexandra Epilepsia, gripe,
Quina-Quina casca não informado
(Jacq.) K.Schum. expectorante, abortivo.
Croton sonderianus
Marmeleiro Dor de estômago cascas chá
Müll.Arg.
Velame Croton sp. Sangue folhas extrato hidroalcoolico
Cajueiro Brabo Curatella americana L. Tosse, inflamação, intestino. látex não informado
Contra erva Dorstenia brasiliensis Lam. Gripe raízes chá
Má digestão, próstata
João Mole Echites peltatus cascas decocção
e infecção urinária.
Aguapé Eichhornia crassipes Dor de dente não informado não informado
Elephantopus
Língua de vaca Fígado, coração folhas não informado
hirtiflorus DC.
Mutamba Guazuma ulmifolia Lam. Inflamação (região íntima) folhas garrafada
Guettarda angelica
Angélica Gripe raiz não informado
Mart. ex Müll.Arg.
Fedegoso Heliotropium indicum L. Tosse folhas chá
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Nome popular Nome Científico Indicação popular Parte utilizada Forma de preparo
Himatanthus drasticus Câncer, inflamação,
Janaguba látex látex
(Mart.) Plumel cisto no ovário.
Tosse, inflamação e
Jatobá Hymenaea courbaril cascas extrato aquoso / chá
gripes / anemia.
Ipomoea pes-
Salsa-da-praia Reumatismo, folhas friccção da decocção
caprae (L.) R.Br.
Jatropha ribifolia
Pinhão Dor de cabeça folha xarope
(Pohl) Baill.
Anador Justicia pectoralis Jacq. Hipertensão; dor de cabeça. folhas chá
Krameria tomentosa
Carrapicho Não informado não informado não informado
A.St.-Hil
Libidibia ferrea (Mart. Ossos, dor de coluna,
Jucá, Pau ferro casca não informado
ex Tul.) L.P.Queiroz dor em geral,
Oiticica Licania rigida Benth. Não informado não informado não informado
Lippia alba (Mill.) N.E.Br.
Erva -cidreira Calmante folhas infusão / chá
ex Britton & P.Wilson
Cabacinha Luffa operculata Sinusite e abortiva; infusão. frutos não informado
Mandioca Manihot esculenta Crantz Dor ao urinar farinha farinha com água
Marsypianthes Reumatismo / anemia
Hortelã-do-campo folhas / raízes banho / chá
chamaedrys (Vahl) Kuntze e dor de cabeça
Proteção (“fechar o corpo”),
Jurema preta Mimosa tenuiflora cascas banho
afinar sangue e próstata.
Aroeira Myracrodruon urundeuva Inflamação; folhas e casca infusão
Neoglaziovia variegata
Croatá Não informado não informado não informado
(Arruda) Mez
Operculina hamiltonii Regula o ciclo menstrual
não informado /
Batata de purga (G.Don) D.F.Austin / abrir apetite, tratamento casca / raízes
maceração
& Staples da gastrite e infecção.
Tumores, reumatismo,
Ouratea fieldingiana
Batiputá ferimentos, queimaduras, sementes óleo
(Gardner) Engl.
úlceras gástricas.
Maracujá Passiflora edulis Pressão alta folhas chá
Passiflora picturata
Maracujá da mata Cansaço, câncer fruto, flor não informado
Ker Gawl.
Pedras nos rins /
Quebra pedra Phyllanthus niruri L. raízes / raízes decocção / Infusão
hipoglicemiante
Piptadenia Gripes, massagem para
Angico cascas infusão
macrocarpa Benth aliviar dores, inflamação;
Louco Plumbago scandens L. Dor de dente raízes extrato hidroalcoolico
Poincianella
Catingueira Dor de cabeça folhas não informado
pyramidalis (Tul.)
Tosse / incômodo do
Pombalia calceolaria
Ipepacuanha nascimento da primeira raízes ou folhas chá ou lambedor
(L.) Paula-Souza
dentição, gripe, cólica.
Almesca Protium heptaphyllum Dor cascas não informado
Pseudobombax Dores na coluna, tratamento
Embiratanha cascas decocção
marginatum da gastrite e próstata.
Inflamação, hemorroidas,
Vassourinha Scoparia dulcis L. infecção urinaria/ raízes decocção / infusão
hipoglicemiante e hipotensiva.
Inflamação, gripe, dor de
Mangerioba Senna alata (L.) Roxb. folhas não informado
cabeça, dor de barriga.
Malva Sida galheirensis Ulbr. Gripe folhas lambedor, chá
Quixabeira Sideroxylon obtusifolium Inflamação, gastrite cascas decocção
Gripe e resfriado / cascas e frutos
Jurubeba branca Solanum albidum lambedor / chá
sangue e fígado. / raízes
Cajazeira Spondias mombin L. Anemia cascas extrato aquoso
Inflamação, diabetes.
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Pau D’arco Tabebuia avellanedae cascas decocção
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Nome popular Nome Científico Indicação popular Parte utilizada Forma de preparo
DISCUSSÃO
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Em relação às comunidades pesquisadas, verificou-se que, dos 10 trabalhos selecio-
nados, 05 foram realizados dentro de comunidades indígenas abordando os usos, modos
de preparo e finalidade das plantas medicinais pelos grupos focados.
Os estudos de Pinto (2016) e Pinto et al. (2019) entre os índios Tremembé da Barra do
Mundaú, no município de Itapipoca-Ce, revelou o uso medicinal de 16 plantas (excluídas as
repetições), das quais 09 espécies (56,2%) constam como nativas da vegetação costeira no
Herbário Virtual REFLORA (2020). Já entre os índios Tapeba, em Caucaia-Ce, Moraes et al.
(2005) mencionaram 63 plantas medicinais, sendo que 23 delas (36,5%) foram identificadas
como nativas da vegetação costeira no referido herbário.
Negreiros (2017) e Batista et al. (2018), por sua vez, ao estudarem a etnia Jenipapo-
Kanindé da lagoa da Encantada, no município de Aquiraz-Ce, apontam o uso por esses in-
dígenas de 61 plantas medicinais (excluídas as repetições), sendo que 32 espécies (52,4%)
foram identificadas em nosso levantamento como nativas.
Em relação aos demais trabalhos selecionados, todos foram realizados dentro do
contexto litorâneo, embora apresentem algumas especificidades relativas aos grupos es-
tudados. Os moradores do bairro da Ladeira, em Itapipoca-Ce, estudados por Pires et al.
(2016), revelaram o conhecimento de 57 plantas medicinais, sendo que 14 espécies (24,5%)
foram identificadas como nativas da região.
No trabalho de Rodrigues e Sobreira (2020), os usuários da unidade básica de saúde
do município de Caucaia-Ce relataram o uso de 18 plantas medicinais associadas à dia-
betes e hipertensão, das quais apenas 04 espécies (22,2%) ocorrem espontaneamente na
região. Já os Horticultores do bairro Sabiaguaba, em Fortaleza-Ce, pesquisados por Vieira
et al. (2019), mencionaram o uso e cultivo de 12 espécies medicinais, das quais somente
02 (16,6%) são nativas da vegetação costeira.
Os erveiros do mercado de Aracati, estudados por Lima e Fernandes (2020), demons-
traram conhecimento de 58 plantas medicinais, sendo que 26 delas (44,8%) foram identi-
ficadas como nativas das formações vegetais litorâneas do Ceará. Por fim, o trabalho de
Sales et al. (2019) teve como foco as potencialidades medicinais das plantas da restinga,
não explicitando o grupo que as utiliza.
Embora os trabalhos tenham sido realizados com enfoques e metodologias diferen-
tes, motivo pelo qual reconhecemos a fragilidade das conclusões obtidas a partir da com-
paração entre eles, nota-se que o percentual de espécies nativas em relação ao total de
plantas medicinais utilizadas pelos grupos estudados mostrou-se maior entre os grupos
indígenas (Tremembé – 56,2%; Tapeba – 36,5%; Jenipapo-Kanindé – 52,4%) do que entre
as populações não indígenas (Bairro da ladeira – 24,5%; Caucaia – 22,2%; Sabiaguaba –
16,6%). Os percentuais verificados entre os grupos indígenas foram equiparados somente
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pelos erveiros de Aracati-Ce (44,8%) para quem o conhecimento de plantas medicinais
constitui uma atividade profissional.
Outro aspecto relevante diz respeito à complexidade de significações atribuídas pelos
povos indígenas às plantas nativas, como no caso dos Tremembé que fazem do murici e do
batiputá símbolos de sua luta territorial (PINTO, 2016); além de utilizá-los na alimentação
e medicina tradicional. Os Jenipapo-Kanindé, por sua vez, associam o uso medicinal do
jatobá ao banho ritual na Lagoa da Encantada, como parte integrante do processo de cura
(BATISTA et al., 2018).
Esses resultados sugerem uma maior intimidade dos grupos indígenas com a biodi-
versidade de seus territórios, corroborando com Batista et al. (2018, p.3) para os quais “as
comunidades indígenas, como herdeiras de acervos de saberes tradicionais, sugerem à hu-
manidade um exemplo de integração com a natureza, que resiste aos avanços econômicos
e ao desrespeito cultural por parte da sociedade hegemônica”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Cúrcuma longa L: caracterização, alimento
funcional e ações farmacológicas
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INTRODUÇÃO
Uso de plantas medicinais como agente de tratamento tradicional para várias doenças
que afetam os seres humanos é uma prática muito antiga (MARCHI et al., 2016; BATISTA &
CATÃO, 2019). Essa prática ocorria dentro das comunidades tradicionais acompanhado de
rituais e orações, configurando como único meio existente naquela época para prevenção
e/ou tratamento de patologias e lesões (MARCHI et al., 2016).
Este conhecimento e essa prática do uso de plantas medicinais e fitoterápicos foi sempre
repassado de geração em geração, isto é, os mais velhos ensinam os mais novos. Vale res-
saltar que com o tempo, houve crescimento na área das ciências, levando ao aparecimento
dos medicamentos convencionais, após isso, essa prática passou a sofrer críticas por parte
dos alguns profissionais com formação baseada nas ciências. Porém, nas últimas décadas,
o uso de plantas medicinais tem ganhado grande repercussão a nível mundial (MARCHI
et al., 2016; GRASSO; AOYAMA & FURLAN, 2017).
Atualmente, o emprego de plantas medicinais tem aumentado no tratamento ou na
prevenção de várias doenças em todo o mundo, assim como no Brasil. Os motivos que jus-
tificam esse aumento são vários, dentre esses, destaca-se: aumento na demanda, como,
por exemplo, de ordem médica, social, cultural, econômica ou filosófica, os quais justificam
o uso das plantas como opção terapêutica para uma parcela significativa da população, seja
rural ou urbana (GRASSO; AOYAMA & FURLAN, 2017).
Em resposta às demandas supracitadas, no Brasil, surge a necessidade de ampliação
das opções terapêuticas aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) para as inúmeras
patologias que acometem a humanidade e a população brasileira. Isto porque os medica-
mentos sintéticos produzidos pelas grandes multinacionais acarretam diversas reações ad-
versas, criam dependência química e na maioria das vezes elevam os custos de tratamento
(PETRY & JUNIOR, 2012); justificando, dessa maneira, o aumento verificado nos últimos
anos em relação à utilização dos medicamentos naturais pela população brasileira e o apoio
externado pelo SUS para que esses produtos naturais sejam utilizados pelo povo brasileiro
como uma das opções existente para tratamentos das diversas patologias.
No entanto, o uso empírico das plantas medicinais, com cultivo na sua grande maioria
nas residências dos usuários, vem sendo largamente discutido pelos serviços de saúde
e pela comunidade científica por se preocupar com o emprego correto e racional dessas
espécies relativas à qualidade dos preparados e a confirmação das propriedades farma-
cológicas. O uso desses recursos muitas vezes é estimulado de maneira pouco criteriosa;
remetendo que há necessidade de muitos estudos científicos que envolvem os medicamentos
naturais para poder garantir o seu uso seguro, correto e com qualidade pelos seus usuários
(PETRY & JUNIOR, 2012).
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Dessa forma, dentre as mais variadas plantas usadas com finalidade terapêutica, encon-
tra-se a Cúrcuma longa, originária do Sudeste da Ásia e tradicionalmente usada na medicina
indiana, estando seu consumo associado à prevenção e controle de várias enfermidades
(BATISTA & CATÃO, 2019; PERES et al., 2015).
A Cúrcuma insere-se entre as espécies vegetais reconhecidas como plantas medici-
nais estudadas e apresentadas na Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao
Sistema Único de Saúde (RENISUS). Suas propriedades farmacológicas/medicinal legitima-
ram a sua ação na fitoterapia e pode até servir dentro da medicina alternativa para substituir
alguns fármacos convencionais (MORETES & GERON, 2019).
OBJETIVO
METODOLOGIA
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Abordagens Interdisciplinares sobre Plantas Medicinais e Fitoterapia - ISBN 978-65-5360-095-9 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022
Foram incluídos artigos publicados no período de 2011 a 2021, disponíveis online na
íntegra, nos idiomas português, inglês e espanhol, que discutiam a atividade farmacológica,
atividade antinflamatória e aplicações da cúrcuma como alimento funcional. Foram adotados
como critérios de exclusão, estudos que estão fora do período estabelecido nesta pesquisa
e aqueles que não apresentaram e/ou detalharam a temática proposta.
O método para a construção da pesquisa foi o dedutivo, no qual parte do geral para o
específico. Para análise e categorização dos artigos foi realizada uma leitura interpretativa
dos que se enquadraram nos critérios de inclusão do estudo e realizada a análise descritiva
do conteúdo de acordo com os objetivos propostos e pergunta norteadora. Após o estudo e
reflexão dos artigos, as informações foram apresentadas através de revisão bibliográfica e
abordadas a partir de três categorias: “Características gerais da Curcuma longa”; “Curcuma
longa como Alimento Funcional” e “Atividade farmacológica da Curcuma longa”.
RESULTADOS
Foram encontrados 1.100 artigos. A amostra final de artigos selecionados foi 18, sendo
2 da base de dados LILACS e 10 do Google Acadêmico, 4 do SciELO e 2 da Medline como
descreve a Figura 1.
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Após seleção da amostra, realizou-se uma discussão dos principais achados refe-
rentes a Curcuma longa relacionados a caracterização, uso como alimento funcional e
ações farmacológicas.
DISCUSSÃO
A designação alimento funcional foi utilizada pela primeira vez no Japão na metade
da década de 80 ao se referir aos alimentos processados que continham ingredientes que
auxiliavam em funções específicas do corpo e na nutrição - denominados como Foshu ou
“Foods for Specified Health Use”, traduzindo para o português, Alimentos Funcionais ou
Nutracêuticos (BVS, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).
No Brasil, a legislação não possui uma definição para alimento funcional, mas sim para a
alegação de propriedade funcional e alegação de propriedade de saúde, além de estabelecer
diretrizes para sua utilização, bem como as condições de registro (ANVISA, 1999). Em resu-
mo, alimento funcional é aquele que alega propriedades funcionais e exerce algum ou vários
efeitos benéficos à saúde. Dentre os alimentos que alegam propriedades funcionais temos
os carotenóides, os ácidos graxos, os probióticos, as fibras, os compostos sulfurados e os
compostos fenólicos - destacando aqui os curcuminóides (PERES et al., 2015).
A Cúrcuma é utilizada na culinária, desde tempos remotos, devido as suas caracte-
rísticas flavorizantes, corante e conservante de alimentos. Em diversos países asiáticos,
trata-se de um componente indispensável no preparo de diversos pratos e temperos, como
no caso do curry (GRASSO, AOYAMA, FURLAN, 2017).
Para Cecílio Filho (2000) citado por Bezerra et al. (2013), em virtude da proibição
do uso de alguns corantes sintéticos nos principais países da América do Norte e Europa,
acredita-se que a Cúrcuma possa ganhar mais espaço no atraente e crescente mercado
de aditivos de alimentos, uma vez que se trata de um produto natural com características
de cor semelhantes às da tartrazina, corante amarelo artificial muito utilizado na indústria
alimentícia e farmacêutica que pode provocar reações adversas ao homem.
Brunelli (2015) relata que a Cúrcuma se mostra como um suplemento nutricional eficaz,
salientando suas propriedades funcionais quando consumida diariamente, seja na forma de
cápsulas ou associada às refeições. A parte mais utilizada nas preparações é o caule, mas
as folhas também são aproveitadas.
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A Cúrcuma também exerce ação antioxidante, ou seja, combate os radicais livres,
que são moléculas liberadas pelo metabolismo humano com elétrons altamente instáveis
e reativos, que podem causar doenças degenerativas, envelhecimento e morte celular
(VASCONCELOS et al., 2014).
Este efeito se dar pela sua capacidade de sequestrar os radicais livres e inibir a pe-
roxidação lipídica, agindo na proteção das macromoléculas celulares, incluindo o DNA,
dos danos oxidativos e pela sua capacidade em quelar metais como o ferro, cobre e zinco,
importantes agentes geradores de radicais livres (PERES et al., 2015).
Alguns autores relatam que a ação antinflamatória da Cúrcuma pode ser comparada
aos corticóides, pois ela melhora a percepção do cortisol, sem causar os efeitos colaterais
que as drogas causam. Também tem o poder de induzir a apoptose, inibir a proliferação de
tumores, tendo função citotóxica, mais eficiente e menos tóxica e desempenhar atividade
quimiopreventiva (SILVA, 2018).
A dosagem varia entre os estudos, menciona-se doses de 80mg/dia para tratar os tri-
glicerídeos, 1,5g/dia para artrites e tendinites, 900mg a 1,8g/dia para efeitos antinflamatórios
e outros mencionam que doses entre 3 a 6g de curcumina geram um melhor efeito. Porém
em humanos a absorção é baixa via oral.
Portanto, para ter uma absorção mais potencializada recomenda-se o uso em asso-
ciação com o Piper nigrum (pimenta preta ou pimenta do reino) principalmente, mas outros
compostos como a quercetina, a bromelina e o azeite também podem ser utilizados para
aumentar a absorção e a biodisponibilidade da Cúrcuma (SILVA, 2018).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
1. ALIMENTOS funcionais. Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), 2009. Disponível em: http://
bvsms.saude.gov.br/dicas-em-saude/420-alimento-funcionais. Acesso em: 01 maio 2021.
3. AMARAL, J. F. et al. Atividade farmacológica do chá verde e suas possíveis aplicações: uma
revisão bibliográfica. International Journal of Development Research, São Paulo, v. 10,
n.10, p. 41232-41237, 2020.
9. BRUNELLI, A. C. Pesquisa da Esalq indica que cúrcuma pode reduzir sintomas da depres-
são. Universidade de São Paulo, 2015. Disponível em: http://www5.usp.br/80952/pesquisa-da-
-esalq-indica-que-curcuma-pode-reduzir-sintomas-da-depressao. Acesso em: 05 maio 2021.
10. CAÑAS, G. J. S.; BRAIBANTE, M. E. F. A química dos alimentos funcionais. Química Nova
na Escola, São Paulo, v. 41, n. 3, p. 216-223, 2019.
11. CARNEIRO, J. A.; MACEDO, D. S. Turmeric: active principles and their benefits health. Revista
Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, [S.l.], v. 14, n. 87, p. 632-641, 2020.
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12. COSTA, R. C.; HOEFEL, A. L. Suplementação da curcumina, como reparador de dano mus-
cular induzido pelo exercício. Revista Brasileira de Nutriçao Esportiva, [S.l.], v. 13, n. 82,
p. 998-1008, 2019.
13. GRASSO, E. C.; AOYAMA, E. M.; FURLAN, M. R. Ação Antiinflamatória de Curcuma longa
L.(zingiberaceae). Revista Eletrônica Thesis, São Paulo, v. 14, n. 28, p. 117-129, 2017.
15. LAIRES, P. A. et al. Inadequate pain relief among patients with primary knee osteoarthritis. Re-
vista Brasileira de Reumatologia, São Paulo, v. 57, p. 229-237, 2017.
16. MARCHI, J. P. et al. Curcuma longa L., o açafrão da terra, e seus benefícios medicinais. Ar-
quivos de Ciências da Saúde da UNIPAR, São Paulo, v. 20, n. 3, 2016.
23. SAIZ DE COS, P.; PÉREZ-URRIA CARRIL, E. Cúrcuma I (Curcuma longa l.). REDUCA Bio-
logía, Madrid, v. 7, n. 2, p. 84-99, 2014.
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Aproveitamento, características
fitoquímicas e atividades biológicas da
casca do maracujá amarelo (Passiflora
edulis F. Flavicarpa Degener): uma revisão
bibliográfica
'10.37885/220308127
RESUMO
P a l a v r a s - c h a v e: C a s c a d o Fr u t o, R e a p r o v e i t a m e n t o, C o m p o s t o s B i o a t i v o s ,
Atividades Biológicas.
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INTRODUÇÃO
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Por meio da desidratação, as cascas de maracujá podem ser transformadas em fa-
rinha, a qual tem diversos efeitos na saúde e é comercializada no Brasil como tratamento
adjuvante do diabetes devido ao seu efeito hipoglicemiante e a qual também é relacio-
nada ao tratamento da dislipidemia (SMITH et al., 2012; FERNANDES-MARQUES et al.,
2016). Estudos têm demonstrado que a casca é considerada como um alimento funcional,
uma vez que contém compostos bioativos, assim como outras partes da planta (PANELLI
et al., 2018). De acordo com Tehranifar et al. (2011), a casca contém uma quantidade de
compostos fenólicos superiores à porção comestível ou polpa. A composição química está
atrelada aos promissores efeitos biológicos que vêm sendo observados pela população (DE
FAVERI et al., 2020).
Portanto, a exploração da casca do fruto de P. edulis f. flavicarpa representa vanta-
gens econômicas e ambientais, gerando receita por meio da formulação de produtos, bem
como evita-se o descarte inadequado no meio ambiente (DE SOUZA et al., 2017). Desta
forma, é de grande importância que se busque soluções plausíveis para o aproveitamento
da casca. Tais soluções apenas poderão se concretizar por intermédio de pesquisas e, tam-
bém, através de mudanças comportamentais atreladas a uma boa gestão que preze para o
desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade (OLIVEIRA et al., 2002).
OBJETIVO
A presente pesquisa teve como objetivo realizar uma abordagem sobre o problema dos
resíduos sólidos com ênfase na importância do reaproveitamento das cascas de P. edulis
f. flavicarpa, bem como realizar levantamento de estudos sobre atividades biológicas da
casca da referida espécie, relacionando a importância de seu aproveitamento na redu-
ção de resíduos sólidos orgânicos e como fonte de compostos bioativos pra diversas ativi-
dades biológicas.
METODOLOGIA
RESULTADOS
A amostra final de artigos selecionados foi 14, sendo 1 da base de dados LILACS e 9
da Periódicos CAPES e 4 do Science Direct como descreve a Figura 1.
Após seleção da amostra realizou discussão dos principais achados referente a casca
de P. edulis f. flavicarpa e o seu aproveitamento.
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DISCUSSÃO
A fração orgânica dos resíduos é formada basicamente por lixos verdes de poda e,
também, por restos de alimentos como casca de banana, maracujá, casca de ovo, entre
outros. Este tipo de resíduo comporta a maior parte dos lixos residenciais. Além disso, tais
resíduos possuem grande capacidade de atrair vetores e, no processo da sua decomposi-
ção, provocam mau odor e, consequentemente, produzem um líquido escuro vulgarmente
chamado de chorume que tem alta capacidade de poluir o solo e criar sérios problemas ao
lençol freático (PHILIPPI JR; AGUIAR, 2005; GRIMBERG, 2016).
Um dos maiores problemas que o mundo enfrenta no século XXI é a quantidade gerada
dos resíduos sólidos. O aumento populacional e a industrialização atrelados à expansão
das cidades, proporcionaram um ambiente fértil para geração de grandes quantidades de
resíduos, ou seja, não apenas houve aumento na quantidade, mas também os tipos de
resíduos se diversificaram. Esses fatores, associados ao gerenciamento inadequado dos
mesmos, causaram e ainda causam sérios danos ao meio ambiente e à saúde das pessoas.
Neste sentido, os governos de todos os países têm enfrentado grandes desafios quanto à
destinação e disposição final ambientalmente adequadas dos resíduos e buscam melhores
alternativas para o efeito (PERSEGONA, 2015; MARQUES et al., 2017).
O Brasil, sendo um dos países do mundo que enfrenta os supracitados desafios, ele
também é considerado como um dos mais férteis quando se trata do desperdício, ou seja,
recursos naturais, financeiros e até mesmo os alimentos são colocados no lixo. No entanto,
com o intuito de buscar alternativas, algumas medidas foram tomadas no sentido de combater
o desperdício em várias partes do setor produtivo, isto é, evidenciando o reaproveitamento
de certos materiais industrializados descartáveis (OLIVEIRA et al., 2002).
O aproveitamento total dos resíduos está sendo cada vez maior nas indústrias mo-
dernas em todo o mundo, e isso se deve ao fato de que muitas indústrias estão a desen-
volver e a aplicar os sistemas de gestão ambiental baseados na International Organization
for Standardization, isto é, ISO 14000, como assegura Kawabata (2008). De acordo com
Oliveira et al. (2002), desde o início da década de 1970, a alternativa que está ganhando
força é o aproveitamento dos resíduos orgânicos, ou seja, cascas de frutas que podem ser
aproveitados de diferentes maneiras e uma delas é a sua inclusão na alimentação humana.
O desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade ambiental aparecem como con-
ceito pela primeira vez na União Internacional pela Conservação da Natureza (International
Union for Conservation of Nature - IUCN), que foi realizada em Ottawa, Canadá, em 1986,
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por BRUNDTLAND. De acordo com Brundtland (1987), o desenvolvimento sustentável é
aquele que satisfaz e garante as necessidades do presente sem, no entanto, comprometer
as das futuras gerações.
Dessa forma, percebe-se que a sustentabilidade é ampla e complexa e, ao mesmo
tempo, exige a responsabilidade compartilhada. Assim sendo, quando se fala da Passiflora
edulis f. flavicarpa, uma das soluções plausíveis para o aproveitamento das suas cascas é
a transformação em farinha, que há vários anos vendo sendo estudada o seu uso terapêu-
tico e, também, o seu uso alimentar (PITA, 2012). Em relação ao uso alimentar, a casca do
maracujá amarelo por ser rica em proteína, pectina e carboidrato, ela é utilizada na produção
de geleia comum e também na fabricação de doces.
Essas alternativas, como asseveram Oliveira et al. (2002), podem contribuir para o
melhor gerenciamento das cascas que eram vistas apenas como resíduos e, ao mesmo
tempo, podem ajudar a valorizar comercialmente o produto. Outra importante alternativa ou
solução quando se fala da casca do maracujá amarelo é que, além de estender a vida útil
do alimento e combater a desnutrição, quando é utilizada de maneira consciente e susten-
tável, melhora a renda de muitas famílias, diminui a geração do resíduo orgânico e também
promove a segurança alimentar. Sendo assim, a aplicação da tecnologia em subprodutos na
indústria alimentícia além de diminuir de forma significativa o resíduo desperdiçado, impacta
positivamente a economia (DIAS, 2016).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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1. BRAGA, A.; MEDEIROS, T. P.; ARAÚJO, B. V. Investigação da atividade antihiperglicemiante
da farinha da casca de Passiflora edulis Sims, Passifloraceae, em ratos diabéticos induzidos
por aloxano. Revista Brasileira de Farmacognosia, Rio de Janeiro, v. 20, p. 186-191, 2010.
5. HE, X. et al. Passiflora edulis: An Insight Into Current Researches on Phytochemistry and
Pharmacology. Frontiers in Pharmacology, [S.l.], v. 11, p. 1-16, 2020.
11. PANELLI, M. F. et al. Bark of Passiflora edulis treatment stimulates antioxidant capacity, and
reduces dyslipidemia and body fat in db/db mice. Antioxidants, [S.l.], v. 7, n. 9, p. 120, 2018.
13. PHILIPPI JÚNIOR, A. Resíduos sólidos: características e gerenciamento. In: PHILIPPI JÚNIOR,
A. Saneamento, saúde e ambiente: fundamentos para um desenvolvimento sustentável. São
Paulo: Manole, 2005. p. 267-321.
15. PRODUÇÃO Agrícola Municipal. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2020. Dis-
ponível em: https://sidra.ibge.gov.br/tabela/5457#resultado. Acesso em: 13 maio 2021.
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16. SOUZA, C. G. et al. Sequential extraction of flavonoids and pectin from yellow passion fruit rind
using pressurized solvent or ultrasound. Journal of the Science of Food and Agriculture,
Londres, v. 98, n. 4, p. 1362-1368, 2018.
17. XU, F.-Q. et al. Protective effects of cycloartane triterpenoides from Passiflora edulis Sims
against glutamate-induced neurotoxicity in PC12 cell. Fitoterapia, [S.l.], v. 115, p. 122-127,
2016.
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Aloe vera (babosa): aspectos etnobotânicos,
fitoquímicos e clínico/farmacológicos
'10.37885/220308128
RESUMO
A Aloe vera (L) Burm. f. conhecida popularmente como babosa, pertence à família
Aloaceae, possui aproximadamente 15 gêneros e 800 espécies. O objetivo deste trabalho
é buscar evidências através da literatura sobre o uso da Aloe vera (babosa). Realizou-se
uma revisão da literatura, através de artigos científicos publicados em português e em
inglês, abrangendo a leitura, análise e interpretação destes em periódicos científicos dis-
ponibilizados na internet. Os resultados alcançados neste estudo revelam que Aloe vera
(gel da polpa das suas folhas) possui muitas atividades sendo estudadas e atribuídas
a ela, que são: antiinflamatória, antiviral, antifúngica, antibacteriana, laxante, proteção
contra radiação, tratamento contra queimaduras, aceleração em cicatrização das feridas,
problemas gastrintestinais, diabetes, dentre outras. Portanto, é de suma importância
novos estudos mais aprofundados sobre a referida planta, uma vez que o conhecimento
científico da mesma pode ajudar a população a usá-la de forma mais segura e racional.
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INTRODUÇÃO
De acordo com Toro et al. (2018) e Badke et al. (2011), o poder da cura em relação às
plantas medicinais é tão antigo quanto a espécie humana. As primeiras civilizações perce-
beram que algumas plantas possuíam utilidade para o tratamento de várias doenças e que
surtiam efeitos benéficos, ou seja, curavam.
Desde então, a cura por meio das plantas medicinais dominou o mundo e resolveu
várias enfermidades não apenas de uma família específica, mas de toda uma comunida-
de. No entanto, devido às transformações ocorridas no meio técnico-científico, principalmente
nas áreas das ciências da saúde, outras formas de tratar e curar as doenças surgiram, e
uma delas é o uso dos medicamentos alopáticos.
A partir de então, o uso das plantas medicinais começou a ser descartado em muitos
países do mundo. Entretanto, ainda em muitos países africanos, asiáticos e americanos
uma ampla maioria das pessoas continuam a usá-las para diversos fins. Em várias partes
do mundo, assim como no Brasil, as transformações de ordem econômica, social, política e
outras modificaram as relações sociais e agudizaram vários problemas já existentes; para
enfrentar tais desafios, é necessária uma intervenção multidisciplinar.
Neste sentido, foi criada, no Brasil, a Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde (SUS), em 2006. O principal obje-
tivo dessa política era ampliar e diversificar as opções terapêuticas aos usuários do SUS,
isto é, possibilitando o acesso e garantia a plantas medicinais e a serviços relacionados à
fitoterapia, com segurança, eficácia e qualidade, na perspectiva da integralidade da atenção
à saúde. Com o intuito de fortalecer ainda mais a política anterior, um ano depois, em 2007,
foi instituído o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, que visava “garantir
à população brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos,
promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia produtiva e
da indústria nacional” (BADKE et al., 2011).
Ao fazer isso, o país estava reconhecendo que parte significativa da sua população
tinham outras formas de ver o mundo e resolver os problemas relacionados com a saúde, ou
seja, existem povos tradicionais como indígenas e quilombolas ou afro-descentes que ainda
usam os recursos (plantas) provenientes da natureza para tratar e curar as suas doenças.
Tais relatos podem ser observados nos trabalhos de Monteles e Pinheiro (2007) sobre a
comunidade quilombola do Maranhão e de Badke et al. (2011) sobre plantas medicinais no
Rio Grande do Sul, onde foram evidenciadas várias plantas que possuem princípios ativos
para tratar várias doenças, pois até mesmo na literatura científica aquelas informações
foram confirmadas.
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Nesse sentido, uma das principais plantas medicinais conhecidas e utilizadas por po-
vos tradicionais é a Aloe vera (L.) Burm.f. Asphodelaceae; conhecida como babosa. A ori-
gem da palavra Aloe vera provém da fusão de árabe e latim, ou seja, Alloeh (árabe), que
significa substância amarga e brilhante e Vera (latim), que significa verdadeiro (GUARI;
NEHA; FARHAT, 2011).
Aloe vera é muito comum no Brasil, onde é popularmente utilizada na cicatrização de
feridas, no tratamento de queimaduras, conjuntivite e dores reumáticas, dentre outros males.
Durante os séculos dezoito e dezenove, a Aloe foi popularmente prescrita por seus efeitos
catárticos, que são mais fortes que de qualquer outra planta conhecida. Atualmente, não é
mais recomendado como primeira escolha entre as preparações laxativas devido aos efeitos
colaterais resultantes, tais como cólica severa e náusea. É imprescindível a padronização
do uso da Aloe vera, com objetivo de conservar melhor suas características químicas e a
definição da melhor forma de sua aplicação (FREITAS; RODRIGUES; GASPI, 2014).
Dessa forma, é de fundamental importância novos estudos que apresentem as carac-
terísticas morfológicas, fitoquímicas e farmacológicas da Aloe vera para que o conhecimento
científico sobre esta planta medicinal se torne cada vez mais seguro para a população e a
cultura do uso racional seja disseminada.
OBJETIVO
O objetivo deste trabalho foi buscar evidências, através da literatura, sobre o uso da
Aloe vera (babosa), apontando principalmente os aspectos etnobotânicos, fitoquímicos e
clínico/farmacológicos.
METODOLOGIA
Neste estudo, realizou-se uma revisão da literatura com caráter descritivo através de
artigos científicos publicados na íntegra, selecionados em português e em inglês, abran-
gendo a leitura, análise e interpretação destes em periódicos científicos disponibilizados na
internet. Para a seleção destes, foram estabelecidos critérios de busca, através das pala-
vras-chave, de inclusão/exclusão para a organização e elaboração do desenvolvimento do
trabalho por meio de uma literatura significativa que pudesse gerar conhecimento acerca da
Aloe vera. A buscas foram feitas usando as seguintes palavras-chaves: Aloe vera, efeito,
atividade farmacológica, uso popular, utilizando o operador booleano AND. As bases de
dados utilizadas foram SciELO, LILACS e Google Acadêmico.
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A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investiga-
dor a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia
pesquisar diretamente (AMARAL et al., 2020).
Após a aplicação dos critérios de inclusão/exclusão, realizou-se a leitura interpretativa
dos artigos que faziam parte da temática proposta, destacando-se, assim, as seguintes
categorias sobre a Aloe vera: Aspectos Etnobotânicos; Aspectos Fitoquímicos; Aspectos
Clínicos e Farmacológicos.
RESULTADOS
Foram encontrados 1.550 artigos. A amostra final de artigos selecionados foi 16, sendo 1
da base de dados LILACS, 2 do SciELO e 13 do Google Acadêmico como descreve a Figura 1.
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DISCUSSÃO
A Aloe vera (L) Burm. f. pertence à família Aloaceae e possui aproximadamente 15 gê-
neros e 800 espécies. Originou-se da África e da Península Arábica. Atualmente, é plantada
em grande escala em vários países do mundo como China, Estados Unidos da América,
Índia, África do Sul, Haiti e México (WHO, 1999; FREITAS; RODRIGUES; GASPI, 2014).
Os nomes comuns ou sinonímias encontradas na literatura em relação a Aloe vera
(L.) Burm.f. são: Aloe chinensis Bak, Aloe vera Var, Aloe chinensis Berger, Aloe barba-
densis Mill, entre outros. No entanto, ela é popularmente conhecida como babosa-ver-
dadeira, aloe-de-barbados e/ou aloe-decuraçau (WHO, 1999; CASTRO; RAMOS, 2002;
LORENZI; MATOS, 2008).
É uma planta herbácea que cresce em qualquer tipo de solo e não necessita de muita
água. As folhas possuem a face ventral/plana e a dorsal é convexa, cerosa e lisa. É sucosa
e possui odor muito forte, desagradável e sabor amargo. As folhas são grossas, eretas,
rosuladas, ensiformes, carnosas/suculentas, verdes e medem de 30 a 60 centímetros de
comprimento; são verde-brancas contendo manchas claras quando novas e, também, são
lanceoladas, agudas e possuem margens de dentes espinhosos e apartados. É uma planta
com caule curto e estolonífero e raízes abundantes, longas e carnosas (WHO, 1999; MATOS,
2002; FREITAS; RODRIGUES; GASPI, 2014).
Quanto às flores, elas são branco-amareladas e têm de 2 a 3 cm de comprimento
e, ao mesmo tempo, são cilíndricas a subcilíndricas, com os segmentos coerentes com
as pontas estendidas. As flores ainda possuem seis estames quase do tamanho do tubo,
filetes delgados e anteras oblongas. O ovário é trilocular, triangular e é séssil; o estilete é
mais longo que o perianto, com um pequeno estigma, sendo os óvulos abundantes nos
lóculos. A inflorescência é central, ereta e tem de 1 a 1,50 m de altura. O escapo possui de
10 a 15 cm, e o racimo é denso de 1 a 3 cm, contendo brácteas lanceoladas longas mais
do que os pedicelos. O processo de florescimento acontece na primavera, isto é, no mês de
setembro e outubro (CASTRO; RAMOS, 2002; LORENZI; MATOS, 2008).
Em relação aos frutos, são constituídos por cápsulas ovóide-oblongas, curtas e cônicas,
com deiscência loculicida, triloculares, só que com septos aparentemente de 6 lóculos. As se-
mentes são numerosas, pardo-escuras, achatadas e reniformes (CASTRO; RAMOS, 2002;
LORENZI; MATOS, 2008).
Sobre o cultivo, em relação ao solo, Aloe vera, não é muito exigente, desde que o solo
seja drenado e permeável, isto é, arenoso ou arenoso-argiloso; no entanto, é sensível à
acidez do solo. Referente ao clima, é uma planta de climas tropicais e subtropicais, sendo
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assim, deve ser cultivada em locais protegidos de ventos frios hibernais, já que é uma planta
de plena luz e não se dá bem com a sombra. É plantada no outono ou no início da primavera,
distantes uma das outras, ou seja, de 0,80 a 1m para maior facilidade de limpeza entre as
plantas. São plantadas em covas rasas e em solos bem preparados (CASTRO; RAMOS,
2002; LORENZI; MATOS, 2008).
Aloe vera é vendida como massas opacas que variam do preto avermelhado ao acas-
tanhado, cor preta a marrom escura. O seu odor é característico e desagradável; o gosto
é azedo, nauseante e muito amargo (CASTRO; RAMOS, 2002; LORENZI; MATOS, 2008).
Toro et al. (2018) desenvolveram um trabalho etnobotânico na comunidade São Gonçalo
Beira Rio, em Cuiabá/MT, intitulado “Levantamento Etnobôtanico da Planta Medicinal Aloe
vera L. na comunidade São Gonçalo Beira Rio, Cuiabá, MT”, onde identificaram que as pes-
soas que residem na referida comunidade conhecem e usam Aloe vera (L) Burm. f. para di-
versas fins terapêuticos. O quadro abaixo ilustra diversos usos apontados pelos entrevistados:
Quadro 1. Informações etnobotânica da comunidade São Gonçalo Beira Rio. Cuiabá. 2018.
Utiliza a babosa in Utilizar a babosa
Idade Sexo Conhecer a babosa Possui em casa Finalidade
natura* industrializada
49 F Sim Não Cabelo e ferida. Sim Shampoo
Cabelo, pele, queimadu-
54 M Sim Sim Sim Não
ra, estômago e fígado
62 M Sim Sim Queimaduras e infecções Sim Remédio
59 F Sim Não Cabelo Sim Não
59 F Sim Sim Queimaduras Sim Não
74 M Sim Sim Estômago Não Não
73 M Sim Sim Infecções Sim Não
37 M Sim Não Cabelo Não Não
25 M Sim Não Queimadura Não Sim
Cicatrização de machu-
53 M Sim Não Não Sim
cado
Perfume, hidra-
59 M Sim Sim Lesões e queimaduras Sim
tante e shampoo
Queimaduras, úlcera e Produtos para a
44 M Sim Não Sim
cicatrização pele
39 M Sim Não Ruim Sim Shampoo
Cabelo, estômago e
64 F Sim Sim Sim Shampoo
cicatrização
Prevenção do câncer
89 M Sim Sim e para problema do Sim Não
coração.
Cabelo, prevenção do
53 M Sim Não Não Não
câncer, doenças.
Cabelo e prevenção do
50 M Sim Não Sim Não
câncer.
15 M Sim Não
77 M Sim Não
67 M Sim Sim Hemorroida Sim Shampoo
64 M Sim Sim Gastrite, azia Sim Não
21 F Sim Sim Ferimento, remédio Sim Cosmético
Fonte: Toro et al. (2018).
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Aspectos Fitoquímicos sobre a Aloe vera
A composição química da Aloe vera pode variar de acordo com a qualidade do solo,
situação geográfica, radiação e temperatura, disponibilidade de água, entre outros (MUÑOZ;
LEAL; CARDEMIL, 2015).
A principal parte da planta com uso popular/cultural disseminado por todo mundo são
as folhas, as quais podem ser divididas em duas. Na parte externa da folha pode-se extrair
o suco que, ao ficar concentrado, recebe o nome de Aloé. O referido suco sai de forma
espontânea das folhas cortadas contendo sabor amargo, a cor marrom escura e odor for-
te. O suco é composto principalmente por derivados antracênicos, isto é, aloínas (FREITAS;
RODRIGUES; GASPI, 2014).
Ainda na folha da planta, quando são retirados os tecidos externos, consegue-se gel mu-
cilaginoso e incolor, denominado de gel de Aloe Vera. Este gel é constituído majoritariamente
de água e polissacarídeos, mas também de outros componentes como vitaminas A, B, C, E,
potássio, zinco, magnésio, cálcio e diversos aminoácidos, carboidratos e enzimas (FREITAS;
RODRIGUES; GASPI, 2014).
De acordo com Lacerda (2016), existem mais de 20 compostos com atividades benéfi-
cas para saúde humana, entre eles, estão as enzimas, compostos orgânicos, antraquinonas,
minerais, vitaminas e aminoácidos. No entanto, quando se junta a casca com o exsudato,
eles apresentam em maior grau componentes fenólicos como as antraquinonas. Assim
sendo, entre os constituintes químicos mais verificados, estão os compostos fenólicos e os
principais grupos encontrados são as antraquinonas e cromonas (isobarbaloína e barbaloína).
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Aspectos Clínicos e Farmacológicos sobre a Aloe vera
De acordo com Freitas, Rodrigues e Gaspi (2014), há milhares de anos, a Aloe vera tem
sido utilizada na medicina tradicional para o tratamento de diversos males. O primeiro registro
do uso da Aloe vera foi feito na Mesopotâmia, em uma tabuleta de argila datada de 2100
a.C. No Egito, a referida planta é conhecida como a “planta da imortalidade”, e possivelmente
foi usada por Cleópatra nos cuidados da pele e do cabelo. Segundo Grindlay e Reynolds
(1986), as primeiras pesquisas científicas sobre propriedades medicinais do gel da polpa das
plantas do gênero Aloe iniciaram-se nos anos de 1930. No entanto, os primeiros resultados
clínicos foram apresentados na publicação de Collins e Collins em 1935. Eles basearam-se
no uso popular do gel contra as queimaduras solares graves em pacientes na Flórida.
O uso popular da Aloe vera não aconteceu apenas no mundo antigo e nas localidades
supracitadas, mas na atualidade, ela vem sendo empregada em vários países do mundo
devido ao seu potencial terapêutico. No Brasil, por exemplo, o seu uso é muito comum e é
popularmente utilizada na cicatrização de feridas, dores reumáticas, tratamento de queima-
duras, entre outros (FREITAS; RODRIGUES; GASPI, 2014).
Para Reynolds e Dweck (1999), diversas atividades biológicas foram estudadas e
atribuídas a Aloe vera, especificamente ao gel da polpa de suas folhas. Entre as ativida-
des estudadas e atribuídas verificam-se atividades antiviral, antiinflamatoria, antifúngica,
antibacteriana, laxante, tratamento contra queimaduras, aceleração em cicatrização das
feridas, proteção contra radiação, problemas gastrintestinais, diabetes, úlcera, tratamento
de edemas, estimulante do sistema imunológico, dentre outras.
De acordo com Freitas, Rodrigues e Gaspi (2014), estudos realizados in vitro ou atra-
vés dos animais revelaram algumas substâncias como partes responsáveis pelas atividades
cicatrizante e antiinflamatória da Aloe vera. Foram propostos diversos mecanismos para
explicar tais influências.
A acemanana, que é um polissacarídeo encontrado em grande quantidade no gel
de Aloe vera, estimulou in vitro macrófagos murinos da linhagem RAW 264.7 a liberarem
interleucina-6, fator de necrose tumoral-α e óxido nítrico. Neste sentido, a fusão entre a
acemanana e interferon-γ intensificou tais efeitos, possibilitando assim uma ação sinérgica
como assegura Zhang & Tizard (1996 apud Freitas; Rodrigues e Gaspi, 2014).
De acordo Davis et al. (1994 apud Freitas; Rodrigues; Gaspi, 2014), outro importante
aspecto apontado é a manose-6-fosfato, que é um polissacarídeo encontrado no gel de Aloe
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vera. Ela diminuiu a inflamação e acelerou o processo de cicatrização em camundongos na
dosagem de 300 mg/kg.
Em relação a queimaduras, Aloe vera foi testada em estudo publicado por Khorasani
et al. (2009) como asseguram Freitas, Rodrigues e Gaspi (2014), onde fizeram a comparação
entre um creme contendo Aloe vera a 0,5% e sulfadiazina de prata a 1%, que é um trata-
mento usado habitualmente. Foram usados em 30 pessoas com queimaduras de segundo
grau; no entanto, o creme contendo Aloe vera a 0,5% mostrou-se mais efetivo, pois em 16
dias, já havia promovido a cicatrização, enquanto que creme com sulfadiazina em 19 dias.
De acordo com Freitas; Rodrigues e Gaspi (2014), Aloe vera possui atividade antimi-
crobiana e atua em vírus, fungos e em bactérias Gram positivas e Gram negativas. Ainda
para os autores, diversos estudos identificaram alguns compostos com ação bacteriostática
ou bactericida em Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa, Escherichia coli,
Helicobacter pylori, Salmonella typhi, Bacillus cereus, Candida albicans, Shigella flexneri,
Streptococcus pyogenes, Mycobacterium tuberculosis dentre outros. Neste sentido, o ácido
p-cumárico, ácido cinâmico, ácido ascórbico e o pirocatecol, foram alguns dos compostos
encontrados que possivelmente atuam de maneira sinérgica.
Segundo Ngo et al. (2010 apud Freitas; Rodrigues e Gaspi, 2014), em um artigo de
revisão sobre a utilização da Aloe vera para o tratamento do Diabetes e da dislipidemia,
existem 8 estudos clínicos com 5285 pacientes no total que concluíram que há indícios do
uso de Aloe vera na diminuição do colesterol e glicose.
De acordo com Freitas, Rodrigues e Gaspi (2014), em animais, a atividade hipoglice-
miante da Aloe vera foi verificada no trabalho de Tanaka et al. (2006), em que uma linha-
gem de ratos que possuíam distúrbios similares aos causados pelo diabete tipo 2 como
(hiperglicemia, obesidade e resistência insulínica), foram submetidos a tratamento via oral
com 25 μg/ animal/dia de gel de Aloe vera, nas concentrações de 20, 30 e 50 mg/mL, e 1
ug/animal/dia de 5 diferentes fitoesteróis isolados desta espécie (lofenol, 24-metil-lofenol,
24-etil-lofenol, cicloartanol e 24-metileno-cliartanol. Depois de 33 dias de tratamento, houve
redução significativa.
Ainda, de acordo com Freitas, Rodrigues e Gaspi (2014), diversos estudos foram
realizados também em ratos com Diabetes tipo 1 induzida por estreptozotocina. Entretanto,
as atividades antioxidantes de Aloe vera foram detectadas, bem como redução da glicose
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plasmática a níveis normais. Outro aspecto importante são os exames histológicos realizados
no fígado, rim, pâncreas e intestinos, que demonstraram efeito protetor do gel de Aloe vera.
– Outros usos
Estudo realizado por Cho et al. (2009 apud Freitas; Rodrigues e Gaspi, 2014) revela o
aumento de expressão de pró-colágeno tipo 1 e a diminuição de rugas nas mulheres acima
de 45 anos de idade que usaram de forma oral a solução a base de gel de Aloe vera em pó
dissolvido em água destilada.
Ainda, de acordo com Freitas, Rodrigues e Gaspi (2014), como Aloe vera são bons
hidratantes, as indústrias de higiene pessoal e cosméticos usam elas em mais diversas
formulações, ou seja, em xampus, cremes e sabonetes. Em alguns países, como assevera
os autores, é inserido nos cremes de barbear com o intuito de ajudar no processo de cica-
trização devido a alguns cortes que ocorrem durante o processo de barbear.
Durante a gravidez, não é recomendada o uso oral de Aloe vera devido à presença de
antraquinonas, uma vez que seu efeito no intestino grosso pode causar reflexos na mus-
culatura uterina e induzir o aborto. Em excesso, as antraquinonas causam cólicas fortes,
náuseas, diarréias e, também, perda de eletrólitos que, por sua vez, ocasionam disfunção
cardíaca e neuromuscular (WHO, 1999).
Na literatura atual, existem vários casos de hepatite aguda causada pelo consumo oral
de Aloe vera. De acordo com Freitas, Rodrigues e Gaspi (2014), o primeiro caso relatado
desse acontecimento aconteceu na Alemanha, com uma mulher de 57 anos. O relato foi feito
por Rabe et al. (2005), ou seja, mostraram que quando a referida mulher ingeriu tabletes
com 500 mg de extrato de Aloe vera por quatro semanas, ela apresentou sintomas como
prurido, dor abdominal e icterícia. No entanto, após os exames laboratoriais, foi verificado
níveis anormais de alanina aminotransferase (1480 U/L – normal: <22 U/L) e aspartato amino-
transferase (711 U/L – normal: <15 U/L). A biópsia hepática revelou hepatite aguda severa e,
após uma semana de suspensão dos tabletes, começou-se a observar melhoras na referida
senhora, pois os níveis de alanina aminotransferase paulatinamente voltaram a normalidade.
Outro elemento importante apontado por Freitas, Rodrigues e Gaspi (2014) é a proibição
pela ANVISA da comercialização de sucos e outros alimentos que possuem Aloe vera, ou
seja, a proibição aconteceu devido ao fato de que há diversos relatos que apontam reações
adversas devido ao consumo desses produtos e por não existirem evidencias científicas que
comprovassem a sua segurança.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Popularmente conhecida como Babosa, Aloe vera é muito importante para a socie-
dade humana devido as suas numerosas atividades biológicas comprovadas durante anos
de pesquisas e, também, devido ao conhecimento popular. A pesquisa evidenciou que há
milhares de anos a referida planta tem sido utilizada na medicina “tradicional” no sentido de
tratar várias enfermidades.
Esta pesquisa evidenciou que existem diversas atividades biológicas estudadas e
atribuídas a Aloe vera, especificamente ao gel da polpa de suas folhas. Entre as atividades
estudadas e atribuídas podem-se destacar atividades antiinflamatória, antiviral, antifúngi-
ca, antibacteriana, laxante, proteção contra radiação, estimulante do sistema imunológico,
tratamento contra queimaduras, aceleração em cicatrização das feridas, úlcera, problemas
gastrintestinais, diabetes, dentre outras.
Apesar da sua grande importância desde antiguidade, há algumas contraindicações
quanto ao uso indiscriminado desta planta ou produtos que tem como a base Aleo vera.
Devido a presença de antraquinonas, durante a gravidez, não é recomendada o uso oral de
Aloe vera, ou seja, o efeito da mesma no intestino grosso pode causar reflexos na muscu-
latura uterina e, consequentemente, induzir o aborto. Portanto, não é recomendada. Outro
aspecto importante no que se refere a contraindicações são casos de hepatite aguda causada
através do consumo oral de Aleo vera.
Portanto, apesar da sua grande importância devido a sua constituição fitoquímica
rica e diversificada, se não for utilizada de maneira correta, pode causar sérios proble-
mas para a saúde.
REFERÊNCIAS
1. AMARAL, J. F. et al. Atividade farmacológica do chá verde e suas possíveis aplicações: uma
revisão bibliográfica. International Journal of Development Research, [S.l.], v. 10, n. 10, p.
41232-41237, 2020.
6. GRINDLAY, D.; REYNOLDS, T. The Aloe Vera Phenomenon: a review of properties and mo-
dern uses of the leaf parenchyma gel. Journal of Ethnopharmacology, Limerick, v. 16, p.
117-151, 1986.
8. LORENZI, H.; MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil nativas e exóticas. 2nd. ed.
Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2008.
11. MUÑOZ, O. M. et al. Extraction, Characterization and Properties of the Gel of Aloe Vera (Aloe
barbadensis Miller) Cultivated in Chile. Medicinal & Aromatic Plants, Brussels, v. 4, p. 1-7,
2015.
12. REYNOLDS, T.; DWECK, A. C. Aloe Vera leaf gel: a review update. Journal of Ethnophar-
macology, Limerick, v. 68, p. 3-37, 1999.
13. TORO, A. M. et al. Levantamento Etnobôtanico da Planta Medicinal Aloe vera L. na comunida-
de São Gonçalo Beira Rio, Cuiabá, MT. Biodiversidade, Cuiabá, v. 17, n. 1, p. 80-88, 2018.
14. WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). WHO Monographs on selected medicinal plants.
Geneva: WHO Publications. 1999.
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Potencial terapêutico do alho para o
tratamento da hipertensão arterial: uma
revisão da literatura
'10.37885/220308130
RESUMO
A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) tem se tornado um dos mais importantes proble-
mas de saúde pública por ser uma doença complexa, multifatorial e poligênica. A busca
por terapias complementares é uma prática comum no Brasil e, principalmente, o uso de
plantas medicinais e fitoterápicos para o tratamento da HAS como o alho (Allium sativum).
Este estudo teve como objetivo conhecer e discutir a efetividade e segurança do uso do
alho no tratamento da HAS. Para isso foi realizada uma pesquisa de caráter explorató-
rio nas bases de dados científicos relacionadas ao uso do alho no tratamento da HAS.
Resultados identificaram que o alho apresenta cerca de 30 substâncias com potencial
efeito terapêutico, sendo que a alicina é a responsável pela maioria dos seus efeitos
farmacológicos; estudos realizados em ratos demonstraram esses efeitos. Demostrou-
se também que o alho possui diferentes mecanismos de ação que contribuem para o
efeito normotensor.
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INTRODUÇÃO
OBJETIVO
METODOLOGIA
Neste estudo realizou-se uma revisão da literatura, com caráter descritivo, através de
artigos científicos publicados na íntegra, selecionados em português e em inglês, abran-
gendo a leitura, análise e interpretação destes em periódicos científicos disponibilizados na
internet. Para a seleção destes, foram estabelecidos critérios de busca, de inclusão/exclusão
para a organização e elaboração do desenvolvimento do trabalho por meio de uma literatura
significativa que pudesse gerar conhecimento acerca do tema escolhido. A principal vanta-
gem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma
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gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente
(AMARAL et al., 2020).
A seleção dos artigos foi realizada nas bases de dados online: PUBMED/Medline
(Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), Scielo (Scientific Electronic
Library Online) e Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe de Informação em Ciências
da Saúde). Para a realização e ampliação da busca, foram utilizadas combinações, com o
operador booleano “AND”, das seguintes palavras-chave: Anti-hipertensivo, Alho, Hipertensão
Arterial Sistêmica (Anti-hypertensive, Garlic, arterial hypertension). Após a aplicação dos
critérios de inclusão/exclusão, realizou-se a leitura interpretativa dos artigos que faziam
parte da temática proposta. Foram excluídos do estudo os artigos científicos repetidos e os
trabalhos não relacionados a temática proposta. Além disso, foram observados e respeitados
os aspectos éticos no que concorda a fidedignidade dos dados e autores encontrados nos
artigos que compõe o material bibliográfico selecionado.
Os artigos foram coletados simultaneamente, sendo analisados e apresentados através
de revisão da literatura. Foram enquadrados e analisados juntos os objetivos que versavam
sobre a mesma finalidade, da mesma forma quanto à identificação do perfil uso popular do
alho no tratamento da HAS e o potencial farmacológico. Dessa forma, emergiram as seguintes
categorias as quais foram desenvolvidas de acordo com os objetivos propostos: Aspectos
gerais sobre HAS e uso medicinal do Alho; Caracterização química da Allium sativum L e
seu potencial farmacológico; Efeitos indesejáveis e toxicidade no uso do Alho para HAS.
RESULTADOS
Foram encontrados 263 artigos. A amostra final de artigos selecionados foi 12, sendo
1 da base de dados LILACS, 9 do SciELO e 2 da Medline como descreve a Figura 1.
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Figura 1. Fluxograma PRISMA caracterizando a busca nas bases de dados.
Após seleção da amostra realizou discussão dos principais achados referente ao po-
tencial terapêutico do alho para o tratamento da Hipertensão Arterial.
DISCUSSÃO
Uma das plantas usadas no tratamento da HAS é o alho (Allium sativum L), pertencente
à família Liliaceae, apresenta efeitos natriuréticos e diuréticos, antiagregante plaquetário,
fibrinolítico, cardioprotetor na reperfusão e na isquemia (RAHMAM, 2001). O Allium sati-
vum L. é um alimento rico em alicina possuindo ação antiviral, antifúngico e antibiótico. Possui
ação vasodilatadora e hipocolesterolemiante, ou seja, também se tornando um redutor de
doenças cardiovasculares (LÚCIO, 2017).
Em sua forma pura, foi constatada atividade antibacteriana contra uma ampla gama de
bactérias gram-negativas e gram-positivas, incluindo cepas enterotoxicogênicas multirresis-
tentes de Escherichia coli e também possui atividade antifúngica, atividade antiparasitária e
antiviral (PAI; PLATT, 1992; ROSS et al., 2001). Além disso, a atividade antifúngica do alho
foi uma das primeiras a serem estudadas. Estudos in vitro e in vivo mostraram uma grande
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eficácia do alho e seus derivados contra um amplo espectro de fungos e leveduras, incluindo
Candida, Trichophyton, Torulopsis, Rhodotorula, Cryptococcus, Aspergillus e Trichosporon
(DAVIS & PERRIE, 2003).
Foram constatadas as atividades antivirais de vários produtos comerciais a base de
alho, incluindo comprimidos e cápsulas de alho em pó, alho macerado em óleo, óleos de alho
destilados a vapor, alho envelhecido em álcool aquoso e óleo de alho fermentado, contra
vírus do Herpes simplex Tipos 1 e 2, influenza A e B viruses (FENWICK & HANLEY, 1985);
citomegalovírus humano (MENG et al., 1993); estomatia vesicular vírus tis, rinovírus, vírus
da imunodeficiência humana (HIV), pneumonia viral e rotavírus foram estudados. A atividade
antiviral desses produtos comerciais parecem depender do seu processo de preparação e
os produtos com os mais altos níveis de alicina e outros tiossulfinatos, principalmente DADS,
DATS e ajoene têm as melhores atividades antivirais (WEBER et al., 1992).
O tipo e a concentração dos compostos extraídos do alho dependem do seu estágio
de maturação, práticas de cultivo, localização na planta, condições de processamento, ar-
mazenamento e manipulação (MARCHIORI, 2005). No alho, foram identificadas cerca de
30 substâncias com potencial efeito terapêutico. O seu bulbo apresenta rendimento de 0,1
a 0,2% (v:p) de óleo volátil destacando-se na sua composição química dissulfeto de dietila,
dissulfeto de alilproprila, dissulfeto de dialila, trissulfeto de alila, polissulfeto de dialila, S-alil
cisteína, S-alilmercaptocisteína, entre outros constituintes.
A maioria dos componentes sulfurados está presente nas células quando o alho é
amassado, partido, cortado ou mastigado, pois ocorre uma interação entre os vários com-
postos, desencadeando reações químicas seqüenciais como: quando as células do bulbo
são rompidas, permite que a aliina entre em contato com a enzima aliinase e, dentro de
poucos minutos, ocorre à formação do composto volátil aliicina (SCHULZ; HÄNSEL; TYLER,
2002). É importante ressaltar que a aliicina é um produto instável e sofrerá reações adicio-
nais para formar outros derivados e produtos, dependendo de condições ambientais e de
processamento (REUTER; SENDL, 1994).
Foram isoladas do extrato metanólico de bulbos várias substâncias, também deriva-
das da aliicina, dentre elas: 2-vinil-4H-1,3-ditiino, 3-vinil-4H-1,2-diitino e ajoeno (LORENZI;
MATOS, 2002). Ao analisar a cinética enzimática da aliinase a uma temperatura de 40 a
60°C observou que cerca de 90 % aliicina formada manteve-se estável. Para preservar a
composição química do alho, recomenda realizar o processo de secagem através da desidra-
tação entre 3 a 4 dias, a 50°C em estufa de ar circulante (LAGUNES & CASTAIGNE, 2008).
Também podem ser encontrados na sua constituição química os flavonóides, adenosi-
na, pectinas, saponinas esteroides, compostos fenólicos e mucilagens (MARCHIORI, 2005).
Muitos dos efeitos farmacológicos do alho são atribuídos a aliicina, que representa cerca de
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60-80% do total dos compostos sulfonados (KIVIPELTO et al., 2005; YULI; SHI-YING; DA-
WEN, 2007). Em estudo feito em ratos com hipertensão induzida por frutose e tratados com
aliicina, na dose de 8 mg/kg/dia, durante 2 semanas, observou-se o efeito anti-hipertensivo
possivelmente pelo seu mecanismo de ação que inibi a enzima conversora de angiotensina
(ECA) (ELKAYAM et al., 2001).
Estudos realizados em ratos que fizeram uso de compostos organossulfurados, em face
ao modelo de contração de aorta isolada, com solução de epinefrina a 10M, observaram o
efeito vaso relaxante nas concentrações de 1,5, 10, 20 e 50g/mL de alho e sugeriram um
possível efeito anti-hipertensivo, devido ao aumento da produção de óxido nítrico (ASHRAF;
HUSSAIN & FAHIM, 2005). Estudo realizado por Ali et al. (2000) demonstrou que o extrato
aquoso do alho administrado por via oral a ratos hipertensos, na dose de 0,5mL/kg, resultou
em diminuição na pressão de sangue sistólica.
Segundo a Resolução RDC nº 48, de 16 de março de 2004, da ANVISA (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária), o alho, além de alimento, é considerado também um fi-
toterápico de uso tradicional. A alicina contribui na redução da HAS através da inibição da
formação da aterosclerose e LDL (low density lipydes – colesterol ruim), por promover a va-
sodilatação e evitar a lipoperoxidação de lipoproteínas, bem como a agregação plaquetária.
Experimento realizado com 35 ratos com hipertensão induzida com L-NAME (N G –
nitro - arginina metil éster L), durante 10 dias, tratados por extrato hidro alcoólico de alho e
captopril, demonstrou que o efeito redutor da PA do extrato hidro alcóolico se compara com
o do captopril (ICHIKAWA et al., 2006).
Estudo realizado com 100 pacientes com distúrbio hipertensivo, divididos em dois gru-
pos, um tratado com tintura de alho e o outro com medicamentos tradicionais, observou que
o tratamento com a tintura de alho provou ser mais benéfico, em menos tempo do que o tra-
dicional, por possuir uma ação vasodilatadora coronariana e diurética (GARCIA et al., 2000).
O Allium sativum L., conhecido popularmente como alho, é uma das plantas terapêu-
ticas utilizadas para o tratamento de diversas patologias dentre elas temos a hipertensão
arterial, porém o seu uso prolongado e em grandes quantidades, além de suas interações
medicamentosas, podem favorecer efeitos adversos do uso inadequado ou desacompanha-
do, podendo assim levar a intoxicações (CARNEIRO et al., 2016).
Ingerir alho cru ou em cápsulas, por exemplo, pode potencializar o efeito anticoagulante
do sangue, contribuindo para a sua fluidez, algo que é extremamente benéfico, mas que
também pode ter um efeito prejudicial na saúde de quem o consome. Bashiri (2015) utilizou,
em seus estudos, comprimidos de alho e atividade física para verificar efeitos na pressão
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arterial. O uso das cápsulas teve elevada tolerância, apresentando em poucas pessoas
efeitos desagradáveis apenas no início da pesquisa.
Mesmo sendo o alho um dos remédios caseiros mais utilizados, estudos demonstram
que também existem contraindicações. Comer alho, ou tomar cápsulas de óleo de alho
pode ser muito perigoso para todos aqueles que têm problemas de coagulação sanguínea,
tomam fármacos anticoagulantes, têm trombose ou suspeitam de trombos não consolida-
dos, sofrem de hemorragias, têm menstruação muito abundante ou indivíduos com pressão
arterial muito baixa.
Estudos como o de Sobenin (2009), indicam que há também uma série de medica-
mentos que interagem com os componentes do alho por efeito da sua ação bloqueadora do
citocromo P450 (CYP 3A4) que afeta, por sua vez, um grupo de enzimas metabolizadoras
de inúmeros fármacos. Alguns deles são os anticoagulantes, medicamentos para o coração,
medicamentos para controle da hipertensão arterial, anticoncepcionais, retrovirais, antibió-
ticos, antifúngicos e antilipídicos (estatinas).
Além disso, o Alho por apresentar compostos sulfurados, quando ingerido junto com
medicamentos anti-hipertensivos, classificados como inibidores da enzima conversora de
angiotensina (IECA) potencializa o efeito vasodilatador do medicamento causando hipotensão
(ALEXANDRE; BAGATINI; SIMÕES, 2008). As mulheres grávidas devem ter cautela ao ingerir
o alho, pois correm o risco de aborto por estimulação da motilidade uterina. Se consumido
em excesso pode causar distúrbios gastrintestinais (úlceras, lesão da mucosa), distúrbios
testiculares, reações alérgicas (dermatite de contato); o composto responsável por essa
reação é a alicina presente no alho cru (TSAI et al., 2012).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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ÍNDICE REMISSIVO
A P
Alho: 15, 32, 98, 143, 146, 147, 148, 150, 151, Piper Methysticum: 67, 68, 69, 70, 72, 75, 76,
153 77, 78, 79
Alimento Funcional: 106 Plantas Medicinais: 10, 22, 23, 24, 31, 38, 39,
51, 52, 79, 89, 90, 92, 97, 98, 103, 140, 141, 153
Aloe Vera: 34, 38, 129, 130, 132, 133, 134, 135,
136, 137, 138, 139, 140, 141 R
Ansiedade: 53, 68, 70 Reaproveitamento: 119
E
Estudantes: 41, 53
F
Farmácias Vivas: 80
Fitoterapia: 11, 13, 14, 16, 19, 23, 38, 81, 82,
83, 84, 86, 88, 89, 128, 152, 153
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