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Willian Carboni Viana

(Organizador)

TERRITORIALIDADES DA

AGRICULTURA BRASILEIRA
editora

científica digital
Willian Carboni Viana
(Organizador)

TERRITORIALIDADES DA

AGRICULTURA BRASILEIRA
1ª EDIÇÃO

editora

científica digital

2022 - GUARUJÁ - SP
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EDITORA CIENTÍFICA DIGITAL LTDA


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T327 Territorialidades da agricultura brasileira / Willian Carboni Viana (Organizador). – Guarujá-SP: Científica Digital, 2022.
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Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5360-130-7
DOI 10.37885/978-65-5360-130-7

1. Agricultura - Brasil. I. Viana, Willian Carboni (Organizador). II. Título.

2022
CDD 338.10981
Índice para catálogo sistemático: I. Agricultura - Brasil
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Instituto Federal Goiano, Brasil Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil Universidade de Pernambuco, Brasil
APRESENTAÇÃO

Este livro foi composto a partir de um processo colaborativo entre professores,


alunos e inves-tigadores que se destacam em suas áreas de atuação, trazendo
diversas abordagens para as di-ferentes territorialidades que compõem a agricultura
brasileira. A obra reúne estudos relacio-nados com a área das ciências agrárias e
desenvolvimento agrícola, abordando-se temas distin-tos, e desde enfoques sociais,
econômicos, ambientais, biológicos, técnicos e tecnológicos que em muito contribuem
para a pluralidade de ideias sobre o meio rural-agrário. Espera-se que este conjunto
sirva de referência para graduandos, professores e demais interessados nos as-suntos
expostos nas páginas seguintes.

Willian Carboni Viana


SUMÁRIO
CAPÍTULO 01
CANTASOL: FORMA DE PRODUÇÃO, COMERCIALIZAÇÃO E GERAÇÃO DE RENDA PARA PEQUENOS PRODUTORES
RURAIS
Melre Rocha Lima; Angela Ester Mallmann Centenaro; Daniel Izidoro Ferreira da Silva

' 10.37885/220609060........................................................................................................................................................................ 10

CAPÍTULO 02
CARACTERIZAÇÃO DOS PRODUTORES DE ARROZ NA REGIÃO DE PLANEJAMENTO DOS EIXOS RODOFERROVIÁRIOS
- MARANHÃO

Willian Carboni Viana

' 10.37885/220509000........................................................................................................................................................................ 29

CAPÍTULO 03
CUSTO OPERACIONAL DE TRATOR AGRÍCOLA: UM ESTUDO DE CASO
Kemele Cristina Coelho; Luís Carlos de Freitas; Débora Caroline Defensor Benedito

' 10.37885/220509024......................................................................................................................................................................... 41

CAPÍTULO 04
EFEITO RESIDUAL DE HERBICIDAS APLICADOS EM PRÉ-SEMEADURA NA CULTURA DA SOJA ( GLYCINE MAX L. MERRIL)
Regina Bellan Verona; Gilson Joel Ciconet ; Gustavo Henrique Liberalesso; Luan Alberto Fath; Aline Vanessa Sauer; Caroline Olias;
Priscila Weissheimer; Juliano Antunes de Lima; Cristiano Reschke Lajús

' 10.37885/220408734......................................................................................................................................................................... 51

CAPÍTULO 05
EVOLUÇÃO DOS DIFERENCIAIS DE RENDIMENTOS DOS TRABALHADORES DA AGROPECUÁRIA E DAS DEMAIS
OCUPAÇÕES DURANTE A REDUÇÃO DA DESIGUALDADE DE RENDA BRASILEIRA (2002-2014): NORDESTE E BRASIL

Patrick Leite Santos; Carlos César Santejo Saiani

' 10.37885/220508788......................................................................................................................................................................... 64

CAPÍTULO 06
ÍNDICE DE EROSIVIDADE DO TERRITÓRIO DE IDENTIDADE PORTAL DO SERTÃO-BA
Victor Brenno Britto de Menezes

' 10.37885/220308153......................................................................................................................................................................... 81
SUMÁRIO

CAPÍTULO 07
LEVANTAMENTO DE PLANTAS TÓXICAS DE INTERESSE PECUÁRIO NA ILHA DE SÃO LUÍS - MA
Nélio Barros Freitas; Jonathan dos Santos Viana; Natan Lima Abreu; Wanessa Samara do Nascimento Oliveira

' 10.37885/220308448......................................................................................................................................................................... 94
CAPÍTULO 08
MODERNIZAÇÃO DO CAMPO E USO DE AGROTÓXICOS NOS MUNICÍPIOS DE ARARI E VITÓRIA DO MEARIM –
MARANHÃO
Willian Carboni Viana

' 10.37885/220508997......................................................................................................................................................................... 108


CAPÍTULO 09
PAISAGEM CERAMISTA NO SEMIÁRIDO NORDESTINO

Luiz Antonio Pacheco de Queiroz

' 10.37885/220508939......................................................................................................................................................................... 115


CAPÍTULO 09
RESÍDUOS AGROINDUSTRIAIS COMO ALTERNATIVA PARA PRODUÇÃO DE LIPASES POR FERMENTAÇÃO EM ESTADO
SÓLIDO
Camila Taynara Cardoso dos Santos; Eduardo Candido Milani; Thandara Cristina Aguiar; Gabriella Sadako Igarashi Zanella; Patrícia
Salomão Garcia; Alessandra Machado Baron

' 10.37885/220508980........................................................................................................................................................................ 131


CAPÍTULO 10
USO DO AMIDO DE PINHÃO (ARAUCARIA ANGUSTIFOLIA) COMO SUBSTITUINTE DE GORDURA PARA O
DESENVOLVIMENTO DE MAIONESE LIGHT
Vanessa Mayra de Assis Goulart; Denise Rosane Perdomo Azeredo; Maria Rosa Figueiredo Nascimento; Cristiane Hess
de Azevedo Meleiro

' 10.37885/220609138......................................................................................................................................................................... 146

SOBRE O ORGANIZADOR.................................................................................................................................... 154

ÍNDICE REMISSIVO.............................................................................................................................................. 155


01
Cantasol: forma de produção,
comercialização e geração de renda para
pequenos produtores rurais

Melre Rocha Lima


Universidade Do Estado de Mato Grosso - UNEMAT

Angela Ester Mallmann Centenaro


Universidade Do Estado de Mato Grosso - UNEMAT

Daniel Izidoro Ferreira da Silva


Universidade de Cuiabá - UNIC

'10.37885/220609060
RESUMO

Este trabalho apresenta o projeto CANTASOL, que utiliza de uma plataforma eletrônica
para comercializar a produção dos moradores do assentamento 12 de Outubro, localizado
no município de Cláudia – MT. Estuda-se as mudanças socioeconômicas ocorridas no as-
sentamento após a sua implantação, através do projeto na comunidade, o incremento na
geração de renda, pois também percebe-seque após a implantação do projeto nasceram
outros coletivos de produção e comercialização. Para dar base a revisão teórica, são discu-
tidos os conceitos de economia, os fatores de produção (terra, capital e trabalho), a questão
da reforma agrária e agricultura familiar, o modo de produção e comercialização capitalista,
economia solidária como uma nova forma de produção e comercialização, a posição dos
autores clássicos sobre a teoria da renda. Na metodologia realizada aplicação de questionário
misto com questões abertas e fechadas. Essa pesquisa foi realizada para responder a ques-
tão Após a implantação do subprojeto CANTASOL, visando uma nova forma de produção e
comercialização, quais as mudanças na geração de renda percebidas pelos assentados do
Assentamento 12 de Outubro do município de Cláudia-MT? Segundo o questionário houve
mudança nas condições educacionais e na renda dos moradores.

Palavras-chave: Cantasol, Renda, Economia Solidária.


INTRODUÇÃO

Entre vários temas polêmicos, a Reforma Agrária gera discussões entre capitalistas
que prezam pela propriedade privada e, movimentos sociais que prezam pela distribuição
da propriedade privada acumulada pelos capitalistas. No Estatuto da Terra, Lei nº 4504/64,
“a reforma agrária é o conjunto de medidas para promover a melhor distribuição da terra
mediante modificações no regime de posse e uso, a fim de atender aos princípios de justiça
social, desenvolvimento rural sustentável e aumento de produção”.
No Brasil, apesar do Estatuto da Terra, milhares de famílias foram, e são assentadas
em terras, muitas vezes inférteis, de difícil acesso e desprovidas de infraestrutura. Desta
forma, os pequenos produtores rurais, ou a chamada agricultura familiar, não conseguem
organizar-se e capitalizar-se ficando na dependência financeira de instituições, para garantir
sua sustentabilidade (KUSTER et al, 2004).
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS, online 2015), “a agricultura
familiar é uma forma de produção onde predomina a interação entre gestão e trabalho”, isto
é, são os próprios agricultores familiares que dirigem o processo produtivo, dando ênfase
na diversificação e utilizando o trabalho familiar, sazonalmente ou eventualmente comple-
mentado por trabalhos assalariados. Apesar dos entraves financeiros e organizacionais, a
agricultura familiar é responsável economicamente, por gerar uma grande produção de ali-
mentos, porém não atrativa para o agronegócio, pois este possui um foco produtivo diferente.
Este tipo de produção, familiar, tem um impacto positivo no setor primário da econo-
mia brasileira, pois utiliza mão de obra e recursos próprios, como a terra, além de produzir
uma vasta gama de produtos alimentícios, diferentemente do agronegócio, que se fixa num
produto em grande quantidade.
Os assentamentos agrários são locais para onde muitas famílias sem terras são aloca-
das pelo governo federal. Atualmente, o Brasil possui 9.288 assentamentos, 969.583 famí-
lias assentadas e 88.270.046,03ha de área de assentamentos. O Estado de Mato Grosso,
apesar de a agricultura familiar estar ofuscada pelo agronegócio, possui 547 assentamentos,
com 82.751 famílias assentadas, num total de 6.067.509,27 ha de área de assentamento
(INCRA, online 2015).
Os espaços dos assentamentos, como estão fragilizados pela falta de infraestrutura,
organização e capital, são espaços propícios para a economia solidária, que nesta pesquisa
foi estudada por se apresentar como forma diferenciada de geração de renda, produção e
comercialização da produção.
A pesquisa visa realizar um diagnóstico socioeconômico, mostrando o trabalho desen-
volvido no Assentamento 12 de Outubro, localizado no município de Cláudia – MT, junta-
mente com a Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT e a Escola Estadual do

Territorialidades da Agricultura Brasileira - ISBN 978-65-5360-130-7 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022
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Campo Florestan Fernandes, na área da economia solidária e agricultura camponesa ou
familiar, auxiliando na organização do sistema produtivo das famílias assentadas através do
Sistema Canteiros de Comercialização Sociossolidária Agroecológica (CANTASOL). Este
é uma parte do Projeto Canteiros de Sabores e Saberes institucionalizado na Universidade
do Estado de Mato Grosso - Campus de Sinop. Nesse subprojeto é proposta a inversão de
paradigma da indissociabilidade, quando a universidade vai ao encontro da comunidade.
A preocupação com a forma como o sistema capitalista se comporta excluindo esses
produtores, faz com que esses formatos de projetos sejam uma esperança de permanên-
cia em suas propriedades. O projeto da Universidade busca a inserção desses indivíduos
na sociedade, mas com o pensamento de coletividade, através de práticas pedagógicas,
discutindo a teoria e a prática de conceitos de organização coletiva, de economia solidária,
trabalhos cooperativos para a geração de renda, entre outros. Mostram uma nova visão
de mercado, onde se ganha renda, mas todos precisam cooperar e trabalhar juntos para
aumentar o bem-estar social coletivo, além do financeiro.
Com essa abordagem, chegou-se ao questionamento: após a implantação do subprojeto
CANTASOL, visando uma nova forma de produção e comercialização, quais as mudanças
socioeconômicas percebidas pelos assentados do Assentamento 12 de Outubro do muni-
cípio de Cláudia-MT?
Assim, o objetivo da pesquisa foi avaliar sobre as mudanças socioeconômicas percebi-
das pelos assentados do Assentamento 12 de Outubro do município de Cláudia-MT, após a
implantação do CANTASOL através da forma diferenciada de produzir e comercializar seus
produtos agrícolas.
A metodologia se fundiu com a união das atividades extensionistas da Universidade
com a da Escola Florestan Fernandes, do Assentamento 12 de Outubro, observando-se
uma série de situações a serem problematizadas: uma delas é o papel dessas instituições
na comunidade que as cercam. Entende-se que para lidar com essa realidade, uma carac-
terística da pesquisa científica, deve-se não só observar, mas também transformar.

ASSENTAMENTOS EM MATO GROSSO

Pelo site do INCRA, assentamento rural é “um conjunto de unidades agrícolas inde-
pendentes entre si, instaladas pelo INCRA onde originalmente existia um imóvel rural que
pertencia a um único proprietário” (INCRA, on line 2015).
O estado de Mato Grosso, quando colonizado, recebeu incentivo partindo de empreen-
dimentos imobiliários e governamentais. Como era uma região extensa e com poucos habi-
tantes por metros quadrados, foram doadas terras para pessoas que vinham, na sua maioria,

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13
da região sul do país. Mas esse modelo de colonização excluía o pequeno camponês, pois
eram regiões de mata fechada e sem estrutura de permanência. Muitos agricultores que
chegaram ao estado acabaram trocando suas terras por passagens de volta à origem, onde
voltaram a ser “sem terras” entrando nos movimentos sociais em busca de um lugar para
produzir e manter sua família.

Para tanto, o governo federal criou diversos programas que visavam estimular
o desenvolvimento da região, viabilizando a entrada do grande capital e man-
tendo grandes propriedades nas áreas de agropecuária, promovendo um mo-
delo de desenvolvimento que excluiu o agricultor familiar (II CA Brasil, online).

Assim que iniciaram as discussões sobre reforma agrária no país, também foi visuali-
zado que o estado era uma esperança para aquelas pessoas que não tinham condição de
desbravar sozinhas as terras mato-grossenses, porém a maioria dos produtores que per-
maneceram no estado venderam suas terras no Sul para terem suporte financeiro no Mato
Grosso. O primeiro assentamento com parceria do INCRA surgiu em 1979 no modelo PAC –
(Projeto de Assentamento Comum), mas só ocorreu efetivamente a desapropriação em 1986.

Tabela 1. Assentamentos no estado de Mato Grosso, 2015.

Número de Assentamentos 547


Número de família assentadas 82.571
Área de Assentamentos (ha) 6.067509,27
Nº de assentamentos 469
Projeto de Assentamentos com mais de 10 anos
Nº famílias assentadas 75.391
Nº de assentamentos 78
Projeto de Assentamentos com menos de 10 anos
Nº famílias assentadas 7.180
Fonte: INCRA, on line 2015 (Adaptado pelos autores).

O assentamento aqui estudado se originou a partir do interesse de trabalhadores


camponeses que lutavam contra a desigualdade social no campo. Enviaram proposta, para
a direção do Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST) para ocupar terras da União
destinadas à Reforma Agrária. Os dirigentes foram até o local, na época chamada de Fazenda
Agroquímica. Mas com a intervenção da polícia, em setembro de 2003 foi escolhida outra
área localizada aproximadamente a 17 km da cidade de Sinop. Nesta área, que também era
pertencente à Fazenda Agroquímica, cerca de 200 famílias deram início ao Assentamento
Claudinei de Barros com a ocupação no dia 12 de outubro.
A ocupação não foi tranquila, mesmo com aproximadamente 800 famílias, foram des-
pejados com apenas trinta dias de ocupação, na ocasião, também foram presos professores
da UNEMAT – Universidade do Estado de Mato Grosso, os quais estavam no local para
contribuir na negociação, todos foram acusados de desobediência. Como não tinham para

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onde ir, os assentados foram para o Ginásio de Esportes Benedito Santiago, na cidade de
Sinop-MT, ficaram alojados por cerca de dois dias (KOCHHANN e BREDA, 2015).
Após esta breve estada, as pessoas foram removidas para outro local, a uma distância
de 60 Km do centro da cidade. Cerca de 200 famílias permanecem neste local, mas nova-
mente vivendo com medo do despejo devido a construção da UHE – Sinop, barragem Usina
Hidrelétrica que deverá alagar pelo menos 29 lotes do assentamento, segundo dados do
PPA (Pesquisa de Impacto Ambiental) do próprio empreendimento.
Depois de tantas lutas pelos assentados, uma das conquistas foi a Escola do Campo
Florestan Fernandes, sendo este, o lugar que concentra todos os pontos de discussões da
comunidade e são realizados os trabalhos com o projeto CANTASOL com os professores e
alunos. Através do projeto, aprendem na prática as lições de matemática, português, entre
outras disciplinas do currículo escolar regular.
No Assentamento, atualmente moram cerca de duzentas (200) famílias, mas somente
15 (quinze) fazem parte do subprojeto, pois muitas trabalham fora do assentamento para
sustentar suas famílias e não tem plantação nas suas terras, por serem terras que neces-
sitam de investimento para produzir e não possuírem dinheiro para tal, diante do exposto,
o cultivo é bastante prejudicado. Dos 15 participantes, sete responderam o questionário da
pesquisa. Além deles, também duas mulheres que fazem parte da associação (Coletivo de
Mulheres) responderam os questionários sobre renda, produção, comercialização e econo-
mia solidária, através do projeto CANTASOL.

ECONOMIA SOLIDÁRIA: FORMA DIFERENCIADA DE PRODUÇÃO E


COMERCIALIZAÇÃO

Robert Owen, durante o período da Revolução Industrial, por volta de 1850, afirmava
que a indústria trazia efeitos positivos para a sociedade, mas a gestão dela deveria ser feita
pelos próprios trabalhadores, se caracterizando uma Cooperativa Solidária onde todos os
que trabalham na empresa são os proprietários e, não tem proprietário que não trabalhe
e, não pode haver a divisão de trabalho e capital, sendo elas autônomas e controladas pe-
los seus membros.
Antes mesmo da crise de 1929, em que ocorreu a intervenção do Estado de acordo
com a teoria keynesiana para regulação do mercado e bem-estar da população, os operários
trouxeram a proposta de cooperativas, que são organizações, como grupos de trabalho, cé-
lulas de produção sem fins lucrativos e, que beneficiam todos os trabalhadores envolvidos
de forma mais igualitária e justa, gerando trabalho e renda.

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Para Singer a economia solidária é alternativa ao capitalismo, próxima à cooperati-
va e afirma que,

[...] a economia solidária surge como modo de produção e distribuição alterna-


tivo ao capitalismo, criado e recriado periodicamente pelos que se encontram
(ou temem ficar) marginalizados do mercado de trabalho. A economia solidária
casa o princípio da unidade entre posse e uso dos meios de produção e distri-
buição (da produção simples de mercadorias) com o princípio da socialização
destes meios (do capitalismo) (SINGER, 2003, p.13).

Segundo Leachat, in Singer a economia solidária se destaca como alternativa para a


classe proletária,

[...] no bojo da crise do trabalho começou a surgir a solução. (...) Algum milagre?
Não, mas grande vontade de lutar, muita disposição ao sacrifício e sobretudo
muita solidariedade. É deste modo que a economia solidária ressurge no meio
da crise do trabalho e se revela uma solução surpreendentemente efetiva
(1998, p. 27).

Segundo o Conselho Nacional de Economia Solidária (CNES) o plano de economia


solidária no país possui as seguintes características,

Cooperação: reconhece propriedade comum, divisão de responsabilidade


e de resultados; Autogestão: protagonismo dos participantes na gestão do
empreendimento; Dimensão econômica: é o que move os esforços e con-
grega os interesses; Solidariedade: é perceptível na distribuição igualitária
dos resultados, na produção de oportunidades para a melhoria da qualidade
de vida dos envolvidos - grifos nossos (IPEA, on line).

A economia solidária também é utilizada como forma de amenizar o sofrimento de mui-


tos trabalhadores que estão desempregados ou dos pequenos camponeses e assentados.
Para Leachat (2001, p. 07) a economia solidária se organiza “a partir de fatores humanos,
favorecendo as relações do laço social, o qual é valorizado através da reciprocidade e adota
formas comunitárias de propriedade”.
Depois do início das discussões sobre essa economia alternativa, precisa-se trabalhar
de forma organizada no princípio da coletividade, iniciaram a criação de políticas públicas,
criação de programas específicos nas prefeituras e projetos nas universidades de incentivo e
financiamentos do Governo Federal para a implantação de projetos e incubadoras solidárias.
Para Costa,

A Economia Solidária, conhecida principalmente na forma de cooperativismo,


vem ganhando espaço à medida que aumenta o desemprego e diminuem as
garantias sociais. Ela é vista também, como forma de buscar autonomia e de
estabelecer outros tipos de interação homem-trabalho, homem-ambiente e
homem-homem (2009, p. 01).

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A Economia Solidária se torna importante para as regiões de assentamentos e acam-
pamentos, pois são locais que se encontram grande concentração de desigualdade socioe-
conômica e a solidariedade econômica tende a dirimir um pouco estas divergências sociais
utilizando-se da associação de pessoas objetivando o bem comum.
As famílias assentadas sofrem com problemas de discriminação por parte das pessoas
que vivem nos centros urbanos, também com o escoamento da sua produção, dificuldade
de transporte, distância da cidade, contaminação do solo e da produção, causado pelos
agrotóxicos e a concorrência dos grandes produtores (ANDREOLA, 2011). Mesmo esses
indivíduos possuindo um pedaço de terra para plantar e conseguir gerar seu sustento, isso
não ocorre, pois vivem em condições de extrema pobreza e são abandonados em terras
improdutivas, sem condições dignas mínimas de sobrevivência. Andreola aponta que,

A fome é um problema distributivo e não técnico. Assim, temos de discutir


causas da desigualdade social, ou seja, temos muito mais produção do que
consumo. Mas o problema clássico da fome é o difícil acesso aos alimentos
produzido são os alimentos produzidos, por parte de uma maioria que passa
fome e está abaixo da linha da pobreza no mundo. Paradoxalmente, a maioria
das pessoas que passam fome no mundo são agricultores que vivem no meio
rural, exatamente num local onde poderiam ser produzidos alimentos (2011,
p. 1-3).

Mais da metade dos alimentos que vai para a mesa da população brasileira vem da
produção do pequeno camponês e, mesmo assim a grande concentração de pobreza e
desigualdade está nas zonas rurais dos municípios.
Órgãos do governo como, Ministério de Trabalho e Emprego (MTE), Secretaria Nacional
de Economia Solidária (SNES), Conselho Nacional de Economia Solidária (CNES) são al-
guns que são responsáveis por elaborações e execução a projetos de economia solidaria.
Eles elaboram editais de incentivo a projetos comunitários, científicos de caráter solidário.
A economia solidária, além de ser uma economia alternativa, também trabalha de for-
ma diferente do capitalismo em relação a produção e comercialização. Ela é uma forma de
organizar coletivos de produção, consumidores responsáveis, distribuição justa dos bens
produzidos coletivamente.

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RESULTADOS DA PESQUISA

Projeto Canteiros e Subprojeto CANTASOL

O Projeto Canteiros de Sabores e Saberes1, concebido como projeto de extensão e


institucionalizado na Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) desde junho de
2011, atua em bairros periféricos do município de Sinop/MT e, mais recentemente, em as-
sentamentos da Reforma Agrária na região. Privilegiando a participação de estudantes dos
semestres iniciais. Tal projeto implica na construção de saberes a partir de atividades práticas
nos campos de pesquisa, por meio de ações extensionistas, formuladas e executadas pelos
próprios alunos, sob orientação de professores especialistas na área.
Antes de sua institucionalização, já haviam ações sendo desenvolvidas nas perife-
rias urbanas de Sinop/MT. Inicialmente três subprojetos: Compostagem, Hortas Urbanas e
Arborização Urbana, em parceria com estudantes da Universidade Federal do Estado de
Mato Grosso (UFMT). Em 2011, já institucionalizado, vieram novas ações, “com maior pro-
tagonismo dos estudantes da UNEMAT, nas áreas de Libras e Projetos de Aprendizagem”
(PEREIRA; DE SOUZA, 2016, p. 109).
Outras experiências vivenciadas no projeto é o Sistema Canteiros de Comercialização
Sociossolidária Agroecológica (CANTASOL), ação iniciada em dezembro de 2012, junto
aos produtores do Assentamento 12 de Outubro e Assentamento Zumbi dos Palmares,
em Cláudia/MT. Em dezembro de 2012, após um período de aproximação com famílias
assentadas, deu-se início à construção de uma plataforma para o escoamento de produ-
tos da agricultura familiar camponesa de dois assentamentos: 12 de Outubro e Zumbi dos
Palmares, no município de Cláudia/MT. Tal processo, além dos estudantes e professores da
UNEMAT, participaram os professores da Escola Estadual do Campo Florestan Fernandes
(EEFF), militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e parceiros
do Sistema de Comercialização Solidária (SISCOS2).
A colaboração destes últimos mostrou-se fundamental, tanto pela capacidade mobili-
zadora do MST e da Escola do Campo, como pelos importantes subsídios que os parceiros
do SISCOS oportunizaram, com base nos anos de experiência na área pretendida. Foram
quatro meses de assembleias e oficinas, promovendo diálogos entre os diversos atores do
projeto e os produtores e lideranças da comunidade, até a primeira experiência de venda
dos produtos da comunidade. Ainda de maneira rudimentar, dispondo de pouca experiência

1 Doravante denominado “Projeto Canteiros”


2 O SISCOS, em atividade desde 2006, é uma iniciativa do Instituto Ouro Verde (IOV), organização não-governamental instalada no
município de Alta Floresta/MT. Consiste num sistema de vendas online de produtos agroecológicos, das famílias camponesas da
região, baseados nas propostas da Economia Solidária

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e ferramentas, no dia 19 de março de 2013, foram iniciadas as vendas pelo CANTASOL.
Destacamos que o CANTASOL pretende ser um sistema de comercialização direta bene-
ficiando trabalhadores e consumidores com produtos oriundos da agricultura familiar, pro-
duzidos por pessoas comprometidas com a agroecologia, respeitando os ciclos naturais de
renovação e produzindo alimentos livres de agrotóxicos e insumos sintéticos, potencialmente
danosos a nossa saúde.
Completando sete anos de vendas regulares, o CANTASOL continua dispondo de
vários estudantes e professores comprometidos com sua continuidade, mesmo sendo uma
equipe claramente multidisciplinar, contemplando as áreas de Economia, Administração,
Pedagogia, Letras, Matemática e Engenharias, o projeto atua com diferencial da inserção
dos conceitos da Economia Solidária e Cooperativismo e, da parceria dos professores da
escola do campo Florestan Fernandes, que leva o aprendizado adquirido durante o processo
de organização para a sala de aula, através das disciplinas do currículo escolar tradicional.
Os alunos compartilham a experiência de acompanhar o período de conferência dos
produtos vendidos. Aprendem o nome dos alimentos produzidos pelos seus pais e vizinhos.
Dados como preço, quantidade são utilizados pelos professores para ensinar a ler, escrever
e calcular medidas.
No início, o processo consolida um canal de escoamento e comercialização de produtos
oriundos dos agricultores camponeses assentados, na modalidade de e-commerce3, proces-
so, este, gerido por professores e estudantes, da Universidade e Escola do Campo. Na pla-
taforma são cadastrados os produtos dos assentados para a comercialização no município
de Sinop-MT. A plataforma é paga com o recurso do projeto que conta com financiamento
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Atualmente, o ciclo inicia na quarta-feira quando os produtores ou seus filhos entregam
as comandas de oferta dos produtos para o grupo de alunos responsáveis pela organiza-
ção do site www.cantasol.org.br/sistema. Os produtos ficam disponíveis no portal de quinta
à segunda-feira. Ao final do dia, o grupo se reúne para fazer a partilha solidária que tenta
distribuir de forma mais equitativa possível, os produtos demandados e também observando
as condições socioeconômicas de cada produtor. O site oferece a possibilidade de fazer o
cadastro e consultar os produtos disponíveis.
Em seguida, fazem a distribuição das comandas de pedidos e efetuam a entrega das
mesmas para os produtores. O trabalho envolve os produtores, seus filhos e a escola, sendo
que os produtos são levados à escola, pelos alunos, através do ônibus escolar.

3 Termo adotado para definição de plataformas de comércio eletrônico.

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A comanda de oferta foi uma ferramenta encontrada para identificar a quantidade de
produtos ofertados. A outra comanda, que também é fundamental, é a comanda de pedidos
que é entregue ao produtor depois de realizada a partilha dos produtos. Através da lista de
produtos solicitados que é gerada pelo portal, é feita conferência dos produtos entregues e
marcada na comanda de pedidos.
No início, o transporte era realizado através da parceria com a Universidade, sendo
que todas as quartas-feiras os acadêmicos eram levados ao assentamento para buscar
os produtos, fazerem a conferência das vendas e a entrega do dinheiro para pagamento
aos produtores.
Com a aquisição de uma Van pela cooperativa, o transporte é realizado por eles, onde
os gastos com combustível são custeados através da cota de 10% cobrada pelo CANTASOL,
pago pelos produtores para a manutenção do processo de trabalho.

Dialogando com a Pesquisa de Campo

A pesquisa iniciou-se com dados socioeconômicos, com perguntas relacionadas à


etnia, ao nível educacional, condições de moradia, trabalho e a influência do CANTASOL
no seu cotidiano.
Descobriu-se que a maioria, 78% dos que responderam à pesquisa se autodeclararam
negros e 22% declararam ser brancos. Esse resultado precisa ser melhor estudado, pois
pode demonstrar uma diferença ocorrida entre cidade (negros se declaram pardos, brancos
ou não declaram) e campo (todos se declararam negros), assim como, pode ser uma forma
de conseguirem mais auxílio via governo federal com cotas, etc.
Na entrevista foi perguntado se eles já sofreram preconceito econômico, étnico, racial
ou de cor ou mesmo por morarem em um assentamento, 33% responderam que já sofreram
preconceito porque residem em um assentamento, 56% preconceito racial, 11% disseram
que nunca sofreram preconceito e um entrevistado respondeu que sofreu preconceito por
não ter alimentos em casa. Desses que responderam que já sofreram preconceito por morar
em assentamento, disseram que o preconceito parte da própria família residente na cidade.
A fala de uma entrevistada retrata a discriminação sofrida,

Já passei discriminação, vou falar bem a verdade até por passar fome, por
faltar alimento dentro de casa e, não foi longe não, de próprio parente, eu não
ter o que comer, eles tinham e zombar com a minha cara.

Esta fala traz em si o que Carvalho (1999) afirma que existe uma diferenciação
na memória de vida, sendo importante destacar que cada grupo social tende a aviltar o
outro. Entretanto quanto mais os grupos se tornarem homogêneos tendo “laços fortes”

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(GRANOVETTER, 1985), mais conseguem reagir aos preconceitos sofridos por parte
de outros grupos.
Em relação a épocas passadas, o número de pessoas que residem e trabalham no
meio rural diminuiu, pois a quantidade de filhos por família não é mais a mesma das antigas
famílias camponesas. Pela pesquisa, nota-se que 25% das propriedades são compostas por
duas pessoas, provavelmente o casal; 25% das propriedades são povoadas por 3 pessoas e
50% das propriedades possuem mais de 3 pessoas que moram na propriedade. Segundo o
Censo do IBGE (2000), o número de filhos na área rural influenciou a menor diminuição da
taxa de fecundidade no Brasil (2000-2010). Embora tenha diminuído de 3,4 filhos para 2,6;
é maior do que o verificado nas áreas urbanas, de 2,18 para 1,7. Outro dado interessante,
demonstra que, assim como em outros assentamentos, as mulheres é que tomam conta da
produção, sendo que no Assentamento 12 de Outubro, o percentual de gênero está repre-
sentada por 56% de público feminino e 44% de masculino. Apesar disso, a discriminação
feminina continua ocorrendo, pelo meio rural ser um ambiente onde ainda se prolifera o
patriarcalismo, mesmo invisível.
A vida escolar dos moradores pesquisados se evidencia na grande maioria tendo fre-
quentado uma escola, sendo que 45% cursou somente o Ensino Fundamental, 33% cursam
ou cursaram o Ensino Médio e 22% responderam que nunca foram à escola. Os entrevista-
dos, além de terem frequentado, em sua maioria apenas o Ensino Fundamental, também,
em sua maioria 83%, estavam estudando em escolas públicas, sendo que o restante, 17%,
frequentaram escolas da rede particular de ensino. Depois de conhecer o nível educacional
dos produtores, os dados seguintes apontam para dados da escolha do Assentamento para
constituir moradia.
Dos 100% dos entrevistados, 67% escolheram o assentamento para morar, assim
como, uma camponesa afirma, “Escolhi por que para mim a terra era um sonho”. Outros 22%
dizem que decidiram morar no assentamento por estarem engajados no movimento dos sem
terras e 11% por não ter emprego na cidade, encontraram no Assentamento a possibilidade
de gerarem renda e sobreviverem economicamente.
Os moradores contam que as dificuldades encontradas no início do Assentamento eram
a educação dos filhos, emprego e condições de moradia. Hoje em dia essas dificuldades
foram amenizadas, porém, as dificuldades em relação ao trabalho ainda persistem, pois o
assentamento tem dificuldade na produção, permanência dos pais de família na ajuda com
a produção. Estes saem do assentamento para trabalhar e gerar renda adicional à produção
rural familiar. A dificuldade na produção familiar relatada por 45% dos entrevistados está na
falta de incentivo com crédito ao produtor e políticas públicas de incentivo à produção. 22%
dos moradores apontam a questão do solo infértil e arenoso que não conseguem plantar

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nenhum tipo de produto, porque o solo não produz sem ajuda de componentes químicos e,
como o projeto trabalha com a conscientização da agroecologia não pode utilizar os agrotó-
xicos, mas produtos caseiros para que possa colher o que a família consome. Outros 22%
afirmam que a falta de chuva e falta de condição de fazer uma irrigação mecânica para pro-
dução no ano todo e, 11% julgam as pragas como dificuldade. Como há vizinhos de terras,
grandes produtores rurais e, estes jogam agrotóxicos em suas plantações, os assentados são
prejudicados, pois as plantas deles são atacadas pelas pragas que saem dessas plantações.
Os moradores possuem experiência no trabalho agrícola já demonstrado anteriormen-
te, com perguntas pertinentes ao tema. Assim como, nos outros assentamentos da reforma
agrária, os moradores são indivíduos que passaram a vida toda trabalhando na agricultura
e, por consequência, permanecem nesse ramo. Visualizou-se também que 67% dos en-
trevistados trabalharam a maior parte de suas vidas na agricultura e atividades que fazem
parte do campo. Outros 22% dos entrevistados trabalharam a maior parte de suas vidas em
atividades informais não ligadas à agricultura e 11% tiveram sua ocupação na construção
civil. Somados os 33%, demonstram que as atividades agrícolas estão sendo substituídas
por outras atividades que possam gerar renda para a família. Estes dados vêm de encontro
aos dados acima, que afirmam que os pais de família, devido às dificuldades de produção,
procuram outras atividades para aumentar a renda.
A negociação da força de trabalho se torna necessária para alguns pais de família
para o sustento dos membros, pois pela situação em que se encontram em relação à terra
improdutiva, falta de crédito para o cultivo da terra, problemas climáticos entre outros, não
recebem o suficiente para sobreviver. Esse pensamento vem a calhar com o de Smith (1996)
quando afirma que a renda da terra4 tem uma dependência com as forças produtivas, se elas
se aperfeiçoam (através de investimentos), a renda tirada da terra aumenta, se elas estag-
nam (pela falta de investimentos), há uma diminuição da renda tirada da terra. No caso dos
assentados, existem duas das três tipologias visíveis de sujeitos, aquelas que sobrevivem
da renda conseguida pela produção na terra e aquelas que sobrevivem do salário.
Quanto às moradias, o caso é peculiar, pois eles consideram que possuem moradia
própria, mesmo que ainda não possuam a concessão de uso da terra, pois o INCRA não
fornece escritura de posse, mas a concessão. Entretanto, 89% afirmam que possuem re-
sidência própria e 11% ainda não possuem residência própria, morando de aluguel ou ou-
tras formas de morada, no próprio assentamento. A renda média das famílias assentadas
antes do projeto CANTASOL chegava, em média, até R$ 300,00 reais, representando 57%
dos entrevistados. Um segundo grupo, 14%, chegou a uma renda média de R$ 301,00

4 Renda da terra, para Smith não era a renda pela produção do agricultor, mas o valor intrínseco que ela fornecia ao proprietário.

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a R$ 600,00 mensais. Outros 29% chegavam a ter uma média de renda de R$ 601,00
a R$ 1000,00. Os trabalhos realizados eram diárias para outros proprietários, coletas de
castanhas e empreitadas, alguns chegavam a ganhar R$100,00 reais por mês para sus-
tentar a família.
Atualmente, a renda no assentamento para alguns assentados ainda não é fixa ou re-
gular, pois trabalham com diárias ou empreitadas. A outra parte da amostra são moradores
que também trabalham no serviço público.
A maioria, 78% dos entrevistados possuem renda regular, isto é, trabalham por diária
ou são mensalistas, não se dedicando ao trabalho agrícola plenamente. Os demais, 22% não
possuem renda regular. Segundo dados do INCRA5, 81 milhões de reais foram investidos
na criação de novas fontes de renda em assentamentos. O objetivo deste investimento é
fomentar a agregação de valor à produção e apoiar a agroindustrialização e a comerciali-
zação de produtos da reforma agrária, com foco nas práticas agroecológicas. Entretanto, o
valor investido pelo Governo Federal, através do INCRA, não foi capaz de fazer com que os
assentados se fixassem na terra e dela tirassem renda suficiente par viver com suas famílias,
pelo menos isso não se observou no Assentamento 12 de Outubro.
Apesar dos trabalhos que geram renda regular, ocorreu no assentamento estudado,
a organização de trabalhos coletivos através do projeto CANTASOL quando a renda dos
moradores aumentou significativamente, além de surgir o Coletivo de Mulheres Amazônia
Livre e o Coletivo de Jovens Camponeses do assentamento.
A renda média de até R$ 300,00 ainda é auferida por 11% dos moradores entrevistados;
22% recebem renda de R$ 301,00 a R$ 600,00; 45% renda de R$ 601,00 a R$ 1.000,00
(correspondente a aproximadamente um salário mínimo (SM) atual) e 11% auferem renda
de 1 a 2 SM e mais 11% tem renda de 2 a 4 salários mínimos atuais. Para o INCRA, nos
termos de composição da renda foi constatado diferenças por região, por exemplo: 27%
das famílias em Santa Catarina auferem uma renda familiar mensal de mais de 5 SM e 29%
delas, no Ceará, menos que 0,5 SM; contudo, a maioria do contingente de assentados no
país recebem uma renda familiar mensal de até 2 SM. Observando estes valores, perce-
be-se que os assentados do 12 de Outubro ainda permanecem abaixo da média da renda
nacional, o que demonstra que ainda há espaço para crescer neste aspecto.
A renda familiar dos assentados aumentou e a explicação para essa mudança, segundo
os entrevistados, foi porque “os moradores começaram a frequentar algum coletivo de pro-
dução e comercialização”, que representa 34% dos entrevistados, o que também explica os
22% na mudança de trabalho/emprego, o que significou para eles, o trabalho com o projeto

5 Balanço INCRA 2003/2010, disponível em www.incra.gov.br/index.php/servicos/publicacoes.

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CANTASOL. Outros 22% começaram a trabalhar no setor público e 22% não souberam
responder o que acarretou a mudança.
Dos entrevistados, 67% responderam que se envolvem comunitariamente e participam
ativamente da cooperativa; 22% participam ativamente da associação dos moradores e 11%
disseram que não participam de nenhuma das organizações. A criação das associações é um
meio que os assentados encontraram para enfrentarem a problemática da comercialização
de seus produtos, sendo esse órgão remediador da venda dos produtos dos assentados,
tendo maior autonomia diante dos compradores (IZIDORO, BARONE e SILVA, 2008). As as-
sociações e cooperativas ajudam o coletivo na organização das atividades de produção
e, ao mesmo tempo, na organização familiar nas questões de trabalho, financeira, social,
educacional, pois para 89% dos entrevistados, ocorreram mudanças educacionais na vida
das crianças do assentamento, entre outros.
Mesmo que o trabalho do projeto CANTASOL realizado no assentamento seja de
comercialização coletiva, ou seja, na linha da Economia Solidária, ainda existe produção
individual e comercialização também em 44% dos entrevistados, o sistema misto de pro-
dução é utilizado por 45% dos assentados; e coletivo mostra-se em 11% da produção do
assentamento, mas ainda eles consideram que a produção coletiva é a que mais dá certo,
pois todos trabalham e conseguem vender sua produção. Todos concordaram que o enten-
dimento de uma produção coletiva ocorreu depois da entrada do projeto CANTASOL, pois
ele traz os princípios de cooperativismo, coletividade aos moradores além do talvez mais
importante, mais renda.
A grande dificuldade encontrada por eles na comercialização é a quantidade de produtos
entregues, pois a produção é maior que a demanda, isso traz prejuízos, pois perdem mais
da metade do que produziram. Esse problema está sendo estudado pela Universidade que
apoia os assentados, além de divulgar, via meios eletrônicos, as datas e horários em que os
consumidores podem fazer seus pedidos. A preocupação também é com o transporte, pois
a distância do assentamento até a cidade é de 60Km. O acesso é precário. Mas nem tudo
é negativo. Um dos apontamentos positivos sobre a comercialização coletiva e do fato do
transporte se tornar mais barato, maioria dos moradores não possuem transporte próprio.
Na pesquisa podemos perceber que a maior preocupação dos produtores é a relação
oferta e demanda dos produtos agroecológicos produzidos, com 43% dos entrevistados.
29% entendem que a entrega dos produtos é um entrave na comercialização, pois além
de estarem situados longe do mercado consumidor, há o problema de estradas, pois no
período de chuvas o tráfego é difícil pelo barro e, no período de seca, se torna difícil pela
poeira. O transporte se torna custoso, o que faz com que os preços não sejam competitivos
como respondeu 28% da amostra.

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Pelas respostas, pode-se também afirmar, que o projeto CANTASOL mudou a vida
econômica das famílias, trazendo a produção e comercialização coletiva, auxiliando para
que a comunidade ficasse mais unida. Assim, 78% dos respondentes acreditam que o pro-
jeto foi responsável pelo aumento da renda familiar; 11% demonstrou que o CANTASOL
teve influência na união da comunidade e 11% afirmou que o projeto trouxe motivação aos
participantes.
Um dos maiores problemas encontrados nos assentamentos em geral, é a infraes-
trutura (cultivo, logística, armazenagem, etc.), muitas vezes ela é inexistente ou muito pre-
cária. Assentar uma população em terras inférteis, sem implementos, sem transporte para
escoamento da produção, com estradas intransitáveis, longe dos centros consumidores,
é, no mínimo estranho, pois os discursos sobre a ajuda aos necessitados são fervorosos,
mas na prática, são frios e calculistas. É necessário um mínimo de infraestrutura, para que
os assentados produzam, vendam sua produção e, por conseguinte, tenham uma melhor
qualidade de vida. Existem vários fatores econômicos, sociais e ambientais associados às
problemáticas dos assentamentos rurais envolvidos na produtividade do lote, na geração
de renda, na capacitação técnica, no associativismo, entre outros.
Neste sentido, apresentar aos assentados projetos como o CANTASOL, que gere
oportunidades de melhorar a gestão de suas propriedades e incentivar a geração de renda
sustentável é de fundamental importância. A fala de um entrevistado resume essa importân-
cia: “Eu acho que ele é importante, né! Por que ajuda muita gente, né! Ajuda no financeiro”.
Assim, o projeto CANTASOL que nasceu dentro do Projeto Canteiros de Sabores e
Saberes da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT trabalha com o Assentamento
12 de Outubro, em Cláudia-MT. Preocupados com a qualidade de vida, com a geração de
renda, com a união da comunidade em torno de seus objetivos que são igualmente a me-
lhoria dos intermináveis dias de sofrimento, com a motivação em torno de novo tempo de
prosperidade, as pessoas associadas ao projeto tentam encontrar equilíbrio entre os pontos
negativos e os positivos da estrutura socioeconômica do local.
A utilização dos fatores de produção, nem sempre é possível, pois a terra nem sempre
gera renda; a força de trabalho para gerar e gerir seu próprio negócio ou de forma coletiva,
se torna difícil, tendo que ofertá-la aos proprietários do capital; além de não possuírem capital
em forma de acesso ao crédito, torna a caminhada pesada. Mas a organização de forma
coletiva, em associações, em cooperativas, usando os princípios da Economia Solidária
ameniza e melhora a vida dos cooperados, como se pode observar nesta pesquisa.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estado de Mato Grosso tem como base econômica o agronegócio, caracterizado por
plantações de monoculturas, jornada de trabalho prolongada, salários reduzidos. Os vilões
do agronegócio para a sociedade são o agrotóxico, sementes modificadas e, principalmente
a expropriação do camponês.
A reforma agrária é um programa que veio para auxiliar indivíduos a mudar sua realidade
social, conseguir sua terra e permanência nela. Mas, quando conseguem a concessão de
uso, não conseguem permanecer na propriedade por dificuldades de plantio e financeiros,
principalmente ou por não se adaptar ao local. Mas, o fator que mais influencia, apontado
na pesquisa realizada, é a falta de incentivo do governo através de políticas públicas.
A agricultura camponesa, a reforma agrária e a economia solidária têm formas diferentes
de ver a produção e a comercialização comparando com o modo de produção capitalista.
Eles prezam por produtos agroecológicos, onde não há contaminação por agrotóxicos, pre-
ços justos que todo cidadão consiga pagar e também, ter consciência e respeito de levar
produtos à mesa do consumidor que tenham qualidade.
O CANTASOL surge não como incentivo governamental, mas da Universidade do
Estado de Mato Grosso para a comunidade, fazendo com que seja uma forma de coletiviza-
ção dos espaços e, interação entre os atores da universidade – campo, divulgando diversos
saberes, de ambos os lados. Traz os princípios da agroecologia, da economia solidária por-
que prioriza também a vida socioeconômica do produtor e, mantém diálogo direto com os
consumidores. Os colaboradores realizam trabalho voluntário, todos com o mesmo objetivo:
transformar a vida socioeconômica dos assentados.
Apesar das características de união, motivação e agregação de renda, ainda há proble-
mas que assolam praticamente todos os assentamentos que são: a falta de infraestrutura,
estradas precárias, logística deficiente, terras com problemas de produtividade, entre outros.
Porém, o projeto CANTASOL está sempre atento a estes problemas e tenta ajudar, sendo
politicamente e/ou educacionalmente.
As organizações coletivas são discutidas dentro da economia solidária nos temas de
associativismo e cooperativismo, pois é a forma encontrada de produção e comercialização
mais justa. Estas alternativas surgem em regiões de grande concentração de desigualdade.
Sendo assim, estas formas diferenciadas do atual modo de produção capitalista, onde o
dono do capital procura lucrar, utilizando-se da força de trabalho e dos bens que são de sua
propriedade, tendem a crescer nos espaços onde encontram pessoas dispostas a aceitar
tais mudanças, pois não possuem nada a não ser sua força de trabalho.

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02
Caracterização dos produtores de arroz
na região de planejamento dos eixos
rodoferroviários - Maranhão

Willian Carboni Viana

'10.37885/220509000
RESUMO

O presente artigo busca caracterizar o perfil dos produtores de arroz da Região de


Planejamento dos Eixos Rodoferroviários, situada nas mesorregiões Central e Norte do es-
tado do Maranhão, com vistas a contribuir no entendimento de como se processa, atualmente,
a cadeia produtiva da rizicultura no cenário regional. Para isso, foram aplicados questionários
semiestruturados com os produtores locais e consultadas fontes secundárias de pesquisa,
numa opção metodológica que se aproximou da abordagem qualitativa. Os resultados de-
monstraram que os grandes e médios produtores melhor estruturam seus estabelecimentos,
ao passo que os pequenos exprimem dificuldades diversas, desde aquisição de maquinário
à inserção do seu produto no mercado.

Palavras-chave: Rizicultura, Produção, Comercialização.


INTRODUÇÃO

O arroz no estado do Maranhão, começou a ser cultivado no século XVII, desde a sua
difusão por imigrantes açorianos, na medida em que a colonização subia pelas ribeiras dos
rios navegáveis a partir do litoral. Um pouco mais tarde, em 1755, passou a ser considerado
um produto à exportação, no âmbito da diversificação da economia regional, empreendida
pela Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão (CGCGPM) (MARQUES,
1870, CANEDO, 2008).
Entretanto, foi apenas no século XX, com a intensificação da modernização do campo
a propósito da expansão capitalista dos anos 1960 em diante, que o arroz se tornou um pro-
duto apropriado à monocultura, no contexto da integração do Maranhão no circuito produtivo
nacional, definida ne região por grandes empreendimentos agropecuários e da exploração
do solo especializada (PEDROSA, 1999; BARBOSA, 2013).
Diante dos incentivos governamentais, o Maranhão tornou-se o maior produtor do
Brasil em arroz cultivado no sistema de sequeiro e segundo em irrigado no decorrer da
década de 1970 (PIRES, 1975; IBGE, 1975; 1980; 1985). Em 1980, chegou a ocupar cerca
de 20% das terras destinadas à essa cultura, contribuindo com 18% da produção nacional
(EMBRAPA, 2013).
Contudo, no período compreendido entre 1980 e 2006, o Maranhão apresentou forte
retração na produção desse cereal, enquanto nas outras regiões brasileiras o cenário ocor-
ria justo o contrário, com aumento em área plantada, produção e produtividade (ZONTA &
SILVA, 2014, p. 121).
Em 2013, era o terceiro estado que mais produziu arroz no Brasil (SAGRIMA, 2013),
porém passou a quinto já em 2016 (SAGRIMA, 2016), e no intervalo de tempo abrangido
entre os anos de 2014 e 2020 apresentou queda de 68,5% em área plantada e em produ-
ção (CONAB, 2020).
Um estudo conduzido pelo Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste
(ETENE), instituição vinculada ao Banco do Nordeste, atribuiu à retração e às instabilida-
des da rizicultura do Nordeste como um todo ao alcance dos desenvolvimentos técnicos e
tecnológicos, mas também a própria estruturação fundiária (FREITAS, 2010).
Além das componentes técnicas e tecnológicas, o acréscimo das variações das toma-
das de preços do arroz contribuíram para as instabilidades em sua produção, ora afastando
e ora atraindo produtores, até mesmo de outros segmentos, para o cultivo do arroz.
Diante do exposto, o presente estudo pretendeu traçar o perfil dos produtores de arroz
da região de planejamento dos Eixos Rodoferroviários, situada na porção Centro-Norte do
estado do Maranhão. Essa região despontou como importante zona produtora, agrupando

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sete municípios, designadamente, Arari, Cantanhede, Matões do Norte, Miranda do Norte,
Pirapemas, São Mateus do Maranhão e Vitória do Mearim.
Seguindo a tendência do estado, e Brasil, a região apareceu nos anos 1970 e 1980
como uma das maiores zonas produtoras de arroz, em especial em sistema de sequeiro
favorecido e com projetos inovadores de irrigação, puxados nos municípios de Arari, Vitória
do Mearim e São Mateus do Maranhão (CANEDO, 2008).
Em 1970, a região dos Eixos Rodoferroviários registrou-se uma produção de 23.486
toneladas de arroz, aumentando em 1975 para 33.216 toneladas e chegando em 1980
a marca de 45.670 toneladas (0,5% da produção do Brasil para esse ano). Entretanto, a
produção apresentou retração já em 1985, quando foram contabilizadas cerca de 24.591
toneladas do cereal, retraindo ainda mais em 1995/96 para 19.339 toneladas; em 2006 a
produção regional esboçou certa retomada, quando foram registradas 27.711 toneladas de
arroz, mas com nova diminuição em 2018, para 24.172 toneladas (IBGE, 1970; 1975; 1980;
1985; 1995/96; 2006; 2018).
Há potencialidade e viabilidade econômico-produtiva para retomada e ampliação dos
cultivos de arroz na região (SILVA, et al., 2017), desde que a gestão seja ajustada, susten-
tada, ordenada, integrada e inclusiva.
Com a égide do Estado, a produção do arroz assumiu atributos empresariais desiguais
e excludentes, num quadro de agronegócio (agribusiness) que se sobrepôs e subverteu
as economias rurais em campesinato, se tornando, assim, referência de segmentação na
produção agrícola.
Neste sentido, uma caracterização do perfil dos produtores se justifica pelo agrupamento
de informações que possam dar suporte à gestão da rizicultura, nos Eixos Rodoferroviários,
contribuindo ainda para uma melhor compreensão da atual cadeia produtiva do arroz no
espectro regional.

METODOLOGIA

A metodologia utilizada se aproximou da abordagem qualitativa, utilizando-se dos


procedimentos inerentes aos estudo de caso.
Para a obtenção das informações primárias, realizaram-se questionários semiestru-
turados com os produtores de arroz em todos os municípios dos Eixos Rodoferroviários, a
perceber os contextos em que os participantes estão inseridos, bem como com os secretários
de agricultura, pesca e abastecimento dos municípios em pesquisa.
Fontes secundárias foram consultadas, para embasar e auxiliar no entendimento do
cenário da rizicultura no recorte em tela. Deste modo, verificou-se que a região dos Eixos
Rodoferroviários conta com cerca de 3.999 produtores de arroz (IBGE, 2018) (Tabela 1).

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Nesta pesquisa, os rizicultores da região foram subdivididos em pequenos, médios e gran-
des. Os pequenos produtores são aqueles com propriedades de até 20 hectares de terra, os
médios entre 20 e 200 hectares e grandes os que detém terrenos acima dos 200 hectares.
Estima-se que 84% sejam pequenos produtores, cerca de 12% médios e 4% grandes
(com base nas secretarias municipais de agricultura). No tocante aos pequenos produtores,
aplicaram-se 63 questionários, 28 deles distribuídos nos municípios com maior número de
rizicultores, sendo 14 em Cantanhede e 14 em Pirapemas; nos demais, Arari, Matões do
Norte, Miranda do Norte e Vitória do Mearim, distribuíram-se sete inquéritos em cada. A dis-
tribuição dos questionários, na categoria de pequenas propriedades, foi definida por uma
amostragem probabilística estratificada. Nela, a divisão em subgrupos se deu proporcio-
nalmente em conveniência para se ter uma projeção do todo. Conseguiu-se, assim, atingir
aproximadamente 2% do universo dos pequenos produtores da região (BARBETTA, 2002;
MACEDO, 2004; BUSSAB & MORETTIN, 2010).
Em relação aos médios e grandes produtores, optou-se pela amostragem probabi-
lística simples, uma vez que a literatura remete para um padrão mais ou menos estabele-
cido. Os participantes foram escolhidos de modo aleatório, proporcionalmente ao número
total de estabelecimentos. Assim, foram aplicados 15 inquéritos com os médios, compondo
3,7% de amostragem, e 10 com os grandes produtores, cerca de 7,6% do todo analisado
(BARBETTA, 2002; MACEDO, 2004).
Os questionários elaborados a partir de perguntas básicas, de modo a refletir o perfil
dos produtores e a produção e comercialização do arroz (GOLDENBERG, 2002). Optou-se
pela técnica de pesquisa participante, na qual ocorre a interação entre o investigador e os
membros das situações pesquisadas (MARCON & ELSEN, 2008).
A pesquisa de campo foi empreendida, oportunamente, em campanhas entre os me-
ses de dezembro de 2018 e junho de 2021. Alguns dos questionários foram aplicados de
maneira remota, por telefone ou internet.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O panorama da produção do arroz, na região de planejamento dos Eixos Rodoferroviários,


abrange pequenos, médios e grandes produtores. Para esta pesquisa, foram considerados
os pequenos aqueles com propriedades até 20 hectares, o médios com estabelecimentos
entre 20 e 200 hectares e os grandes detentores de terrenos maiores a 200 hectares.
Os pequenos produtores empreendem suas lavouras na chamada ‘‘roça de toco’’ (coi-
vara-corte-queima), geralmente, consorciado a outros cultivos, como, por exemplo, milho,
feijão, melancia ou mandioca.

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O excedente da produção nas pequenas propriedades é comercializado no próprio mu-
nicípio, absorvido por escolas, com usineiros locais, em feiras e/ou a granel. Em acréscimo
a rizicultura, esses pequenos produtores praticam o pastoreio, possuindo em média entre 2
e 10 cabeças de gado bovino, 2 ou 3 se for no sistema de ‘‘pecuária de corda’’ (quando se
amarra o gado nas beiras das estradas, quintais e jardins, sendo uma prática mais comum
nas cidades). Os caprinos aparecem em maior quantidade, com cerca de 20 a 30 cabras
em alguns dos estabelecimentos, criados soltos, entorno das residências, juntamente com
galinhas, patos e porcos.
Em relação aos grandes e médios produtores, esses realizam preferencialmente a
monocultura do arroz, ainda que eventualmente alguns deles permitam que o gado bovino
paste nos períodos entre as safras.
No que diz respeito aos sistemas de cultivo, tanto nas pequenas quanto nas grandes e
médias, a maior parte do arroz é cultivada em sequeiro favorecido, cujo alagamento ocorre
de maneira natural e permanente durante todo o ciclo vegetativo da planta. Nesse tipo de
cultivo, a semeadura ocorre em dezembro e a colheita entre maio e abril. Outro tipo de cultivo
é por irrigação, ocorrendo exclusivamente nas grandes e médias propriedades, sobretudo,
nos municípios de Arari, Vitória do Mearim e São Mateus do Maranhão - captando água do
rio Mearim; na lavoura irrigada, o plantio ocorre em junho e a colheita em outubro.
Estima-se que 85% do arroz produzido na região seja em sistema de sequeiro favore-
cido e apenas 15% por irrigação.
Os grandes e médios produtores destinam cerca de 96% da sua produção para a Camil
S.A., indústria situada no município de Itapecuru-Mirim, vizinho aos Eixos Rodoferroviários, e
um dos produtores afirma vender ainda uma fração para indústrias de Teresina (PI). De modo
geral, os 4% do arroz restante é comercializado localmente, quer seja com pequenos usi-
neiros ou a granel no próprio estabelecimento.
No tocante a origem dos rizicultores, verificou-se que dos grandes e médios produ-
tores, em sua totalidade, nasceram na região Sul do Brasil, sendo 56% naturais do estado
do Rio Grande do Sul, 36% de Santa Catarina e 4% deles do Paraná (todos do Planalto
Meridional). Os produtores gaúchos, como são chamados, compõem a rizicultura patronal,
estabelecida na região entre 30 e 10 anos atrás.
Quanto aos pequenos produtores, cerca de 61,2% deles são vieram dos municípios
que compõem a região dos Eixos Rodoferroviários, 25,4% são naturais de outras partes dos
Maranhão, 6,3% deles são do estado do Piauí, cerca de 4,7% do Ceará e 1,5% de Goiás.
Diferentemente do passado, quando se tinham até mais de 10 filhos, atualmente as
famílias são compostas em média por dois filhos. Entre os pequenos produtores, os filhos
com idade escolar frequentam instituições de ensino regular, com 82% deles a fazer uso de

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transporte escolar. Quando os filhos atingem uma certa idade, passam a ajudar em casa,
na realização dos afazeres mais leves e no período pós-estudo.
No tocante aos filhos mais velhos, com idade para vender sua mão de obra, geralmen-
te, o fazem no setor de prestação de serviços, construção civil e comércio, auxiliando nas
lavouras em seu tempo livre; alguns dos jovens, após seus 18 anos, viajam para trabalhar,
parte deles para empresas de mineração do Leste do Pará e Oeste do Maranhão. Os fi-
lhos mais velhos que trabalham fora, tendem a colaborar na renda familiar, o mesmo para
os aposentados e pensionistas, o que parece contribuir para a estabilidade econômica do
núcleo familiar.
Dentre os pequenos produtores pesquisados, todos são beneficiários de programas
sociais, como, o Bolsa Família e cerca de 7,9% recebem o Salário-Maternidade.
Em se tratando da mão de obra, nas pequenas propriedades, se utilizam basicamente
a familiar. No tocante aos grandes e médios produtores, o trabalho é executado em cerca
de 35% por membros da própria família e 65% por trabalhadores contratados. Desses 65%
de empregados, cerca de 40% deles foram trazidos dos estados do Rio Grande do Sul e
Santa Catarina e apenas 25% compõe-se de moradores locais.
Os trabalhadores vindos do Sul do Brasil, exercem os serviços com certo grau espe-
cialização, como, operar tratores, colheitadeiras, pilotar os aviões pulverizadores de agro-
tóxicos, etc., já a mão de obra local fazem os serviços mais braçais - sendo o pagamento
feito semanalmente ou quinzenalmente por diárias.
Quando perguntados sobre os motivos de se trazer mão de obra de fora, alguns dos
grandes produtores, alegaram que trouxeram das suas fazendas do Sul, outros disseram
que os trabalhadores locais não se adaptaram ao modo de trabalho ou simplesmente se
recusam a fazer os serviços mais pesados.
Por outro lado, os empregados locais relatam dificuldades em conseguir trabalho nas
grandes e médias lavouras dos gaúchos (na concepção nordestina do termo, a considerar
todos os sulistas com esse termo). Atribuem essa dificuldade ao nível de mecanização dos
processos produtivos, mas também as preferências em contar com mão de obra do Sul em
razão das ‘‘proximidades e afinidades culturais entre eles e os tomadores do trabalho’’.
Tanto na rizicultura campesina, quanto na monocultura dos grandes e médios esta-
belecimentos, as mulheres se envolvem no meio de produção, quer seja diretamente nos
cultivos, como secretárias ou ainda na gerência da unidade produtiva auxiliando o marido.
No tocante ao lugar de moradia, todos os grandes e médios produtores entrevistados
vivem em casas nas partes mais centrais das cidades, se deslocando diariamente às fazen-
das para empreenderem as lavouras; suas moradias dispõem de eletricidade e banheiro.

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Quanto aos pequenos produtores, a proporção de 86% deles residem nas cidades,
mantendo as suas propriedades do meio rural. Em relação aos 14% que moram no interior,
esses denotam resiliência e persistência, permanecendo na terra porque se sentem parte
dela; representam, portanto, a reafirmação da territorialidade da qual antes fazia parte o
seus espaço de vida.
No que trata do tempo em que residem no local, os poucos produtores que vivem no
campo possuem residência há mais de 5 anos. Considerando todos os pequenos produtores,
cerca de 93,7% deles moram em casas de alvenaria, com sanitários e eletricidade, porém
6,3% vivem em casas de barro, com eletricidade e sem sanitários dentro das moradia.
Moradores mais antigos retratam que as casas em alvenaria foram popularizadas na
região depois dos anos 2000, e que antes havia predominância de casas de barro, carac-
terizando as arquiteturas vernáculas.
Em relação as terras, verificou-se que os pequenos produtores são majoritariamente
proprietários. Quanto aos grandes e médios, esses, além de possuir os terrenos, buscam
arrendar outras terras para cultivar o arroz, por conseguinte, aumentar os lucros.
No tocante a forma de aquisição das terras, cerca de 55,5% dos pequenos produtores
conseguiram as terras através de herança, 35% deles compraram e 9,5% obtiveram por
assentamentos. No que diz respeito aos grandes e médios produtores, 32% afirmam terem
herdado a terra aos seus pais, tendo o restante comprado e ainda arrendado outras terras.
Cerca de 68% dos grandes produtores arrendam terras, parte deles possuem fazendas no
Sul e no Mato Grosso, onde criam gado ou plantam arroz.
Em relação ao grau de instrução dos produtores, cerca de 49,8% deles são sub-letra-
dos, seguido de 25,4% com ensino primário e 24,8% com o ensino fundamental. O grau de
instrução dos produtores refletem as suas escolhas e orienta o desenvolvimento socioeconô-
mico, convertendo-se em padrões culturais que delineiam o panorama produtivo da região.
Em relação a faixa etária, a população pesquisada tinham idades entre 26 e 75 anos,
e a média de idade é de 45,82 anos. Cerca de 49% tem idades entre 30 e 50 anos, 40%
entre 50 e 70 anos, 6,5% entre 20 e 30 anos e 4,5% mais que 70 anos.
No que diz respeito a produção, quando perguntados sobre a aquisição das sementes,
grandes e médios produtores, geralmente, compram sementes selecionadas junto a empre-
sas especializadas do Sul do Brasil. Cerca de 92% deles adquirem na empresa de sementes
Braseiro (Rio Grande do Sul) e 8% na Cravil (Santa Catarina).
Quanto aos pequenos produtores, esses relataram utilizar aquelas sementes guarda-
das do ano anterior, provenientes das parcelas de cultivo consideradas, empiricamente, as
mais bonitas, e 6,3% deles dizem conseguir alguma semente nos programas experimentais
da EMBRAPA/SAGRIMA.

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Quando questionados sobre as pragas que mais acometem os produtores, os peque-
nos de maneira geral disseram ter problemas com o fungo causador da brusone, muitas das
vezes chegam a perder toda a lavoura. Em relação aos grandes e médios, esses dizem ter
alguns inconvenientes com a presença de lagartas comedoras de folhas.
Sobre a utilização de fertilizantes, ocorre a predominância de adubos químicos entre
todos os produtores. Em relação aos agrotóxicos, relataram usar inseticidas, herbicidas
e fungicidas de maneira equilibrada, com orientações dos técnicos da Camil S.A. ou dos
próprios engenheiros agrônomos consultores. As marcas mais usadas são o FASTAC-100
para combater pulgão, lagarta e cascudo, 2.4D-TRACTOR e Ally para folha larga, Aurora
para uso geral e pelo de porco, e os fungicidas Vitavax Thiram 200-SC (carboxina + tiram)
e Stratego 250 (triazol + estrobilurina).
Nas grandes e médias propriedades a aplicação dos agrotóxicos é feita por pulveriza-
dores automáticos tratorizados e avião monomotor/bimotor com o pulverizador acoplado.
Os pequenos produtores preferem usar o conhecido glifosato, denominado popular-
mente de ‘‘mata-tudo’’, mas dizem que eventualmente usam o herbicida Aurora. Ambos
comprado nas agropecuárias locais sem receituário. A aplicação se dá por meio de bombas
manuais costais, geralmente, sem equipamentos de segurança.
A água para as plantações provém dos rios e corpos d´água próximos, quanto a água
para o consumo pessoal, a maior parte é captada da chuva e armazenada em cisternas com
capacidade de 16.000 litros, a usar no período de estiagem.
O poder público também tem construído dessalinizadores em diversos povoados, aten-
dendo, assim, as demandas pessoais de alguns dos pequenos produtores (além da população
em geral). Os poços artesianos são utilizados comunitariamente, atendendo as demandas
de higiene das casas, galpões e outros usos domésticos (limpeza, banho, lavação de louças
e roupas, etc.), pois a água dos lençóis e mesmo dos rios tendem a ser salobras em virtude
da influência do oceano.
Normalmente os produtores não fazem um controle específico da produção, mas sabem
do potencial de produção das suas terras (se plantar x hectares vão colher x toneladas).
Uma propriedade de 500 hectares consegue produzir cerca de 7.000 toneladas.
No que se refere ao maquinário utilizado nas lavouras, os médios produtores contam
em média com 04 tratores e pelo menos uma colheitadeira, ao passo que os grandes contam
com cerca de 05 a 07 tratores, 02 a 03 colheitadeiras e aviões.
Quando perguntados sobre a manutenção das propriedades para os próximos 10 anos,
todos disseram que pretendem manter os estabelecimentos, mas não sabem precisar se
praticando rizicultura ou outro segmento. Percebem-se incertezas quantos aos pequenos
agricultores, pois são evidentes as dificuldades por eles enfrentadas.

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Em relação ao crédito rural, os grandes e médios produtores relataram não precisar,
pois disseram ter recursos próprios para empreenderem as lavouras.
Quanto aos pequenos produtores, pelo menos a metade deles são amparados pelo
PRONAF e uma parcela menos pelo PNAE, intermediados pelas secretarias municipais de
agricultura, pesca e abastecimento. O suporte técnico dado no âmbito municipal se constitui
de maneira frágil. Diferentemente dos grandes e médios produtores, os pequenos relatam
não conseguirem fazem aquisição de máquinas ou tecnologias para as suas lavouras.
Durante os diálogos, foi possível observar que políticas municipais direcionadas aos
pequenos produtores se mostram pontuais e variáveis, de acordo com os ‘‘humores’’ dos
governantes, fazendo com que a programação local seja fragmentada.

CONCLUSÃO

Como pode ser visto, os produtores maiores melhor estruturam seus latifúndios, am-
parados pela técnica e tecnologia, mas igualmente pelo Estado através da proteção de
certos modelos de desenvolvimento em detrimentos de outros, como, ao que vem ao caso,
a agricultura patronal em oposição ao campesinato. Incluem-se, nesse suporte, políticas
públicas direcionadas, creditícias, de infraestrutura e logística.
A territorialização da Camil S.A., enquanto grande indústria transnacional, confirmou
o crescimento econômico dos médios e grandes produtores, mas excluiu as pequenas pro-
duções em propriedades familiares.
Os pequenos produtores expõem dificuldades, desde aquisição de maquinário, du-
rante o processo produtivo e até a inserção do seu produto no mercado industrializado.
Evidentemente, por não deterem as mesmas capacidades e nem as mesmo apoio do Estado,
quando comparados aos médios e grandes. Permanecem cada vez mais na dependência
de pequenos usineiros, atravessadores ou ainda da comercialização a granel localizada,
portanto, na margem e apenas sub-integrados na economia agrária geral.
A rizicultura na região de planejamento dos Eixos Rodoferroviários expõe o dualismo
histórico-estrutural, composto pelos setor moderno-tecnoburocrático e tradicional-dependente.
Pelo que se configura regionalmente uma agricultura patronal estabelecida por rizicultores
gaúchos há pelo menos 30 anos.
Aparentemente, a estruturação fundiária e a tecnologia de produção, fatores intrínsecos
às heranças da modernização, convergiram para certos grupos que formaram um círculo
social e econômico fechado, legitimando-se na lógica do mercado.
Neste sentido, para que o desenvolvimento da rizicultura ocorra de maneira integral,
sustentada e inclusiva, não chegam políticas públicas isoladas.

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Há que se ter um amplo programa de regulação, incluindo-se diálogos mais efetivos
entre os órgãos do governo e as instituições privadas, projetos de desenvolvimento técnico/
tecnológico, ampliação dos programas existentes destinados aos pequenos produtores e
reforço das estruturas de produção, incentivando ainda a formação de cooperativas locais.
O que deve ser acrescido da absorção do arroz produzido nas pequenas proprieda-
des por parte das grandes indústrias beneficiadoras, além das escolas, hospitais e outros
equipamentos públicos.

Agradecimentos e/ou financiamento

O autor agradece a Elierto Lopes Pitoni (Secretário de Agricultura, Abastecimento e


Meio Ambiente do município de Vitória do Mearim na gestão 2016/2020) e a Jocei Jardim
Ribeiro (Secretário de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia de Arari).

REFERÊNCIAS
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Editora da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, 2002, 340 p.

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ranhão contemporâneo. Blumenau: Revista Brasileira de Desenvolvimento Regional,
2013, 113-128, doi 10.7867/2317-5443.2013V1N1P113-128.

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4. CANEDO, E. V. Organização do espaço agrário maranhense até os anos 80: a


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8. GOLDENBERG, M. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em ciências


sociais. 6nd ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 2002, 107 p.

9. IBGE. Censo agropecuário do Maranhão: edição 1970. Rio de Janeiro: Instituto


Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, 1970, v. 3, tomo II.

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10. IBGE. Censo agropecuário do Maranhão: edição 1975. Rio de Janeiro: Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 1975.

11. IBGE. Censo agropecuário do Maranhão: edição 1980. Rio de Janeiro: Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 1980.

12. IBGE. Censo agropecuário do Maranhão: edição 1985. Rio de Janeiro: Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 1985.

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Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 1995/96.

14. IBGE. Censo agropecuário do Maranhão: edição 2006. Rio de Janeiro: Instituto Bra-
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e na educação. 2ª ed. Salvador: EDUFBA, 2004, 297 p.

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análise de uma experiência. Acta Scientiarum, Biological Sciences, 22, 2008, 637-647.

18. MARQUES, C. A. Diccionario historico-geographico da província do Maranhão.


São Luís: Ed. Typ Frias, 1870, 558 p.

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Públicas. São Luís: Universidade Federal do Maranhão – UFMA, 1999, 43 p.

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2013 [Acesso em 10 set de 2021]. Disponível em: <http://senar-ma.org.br/>.

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23. SILVA, E. S.; REIS, V. R.; MUNIZ, L. C.; CANTANHEDE, I. S.; SANTIAGO, C. M.
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favorecido, no municípios de Arari-MA. X Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado.
Gramado: Anais do X Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado, 2017.

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03
Custo operacional de trator agrícola: um
estudo de caso

Kemele Cristina Coelho


Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB

Luís Carlos de Freitas


Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB

Débora Caroline Defensor Benedito


Universidade Federal do Paraná - UFPR

'10.37885/220509024
RESUMO

Objetivo: Avaliar os custos operacionais de um trator agrícola, buscando elucidar de forma


simples cada um de seus componentes (fixos e variáveis) de forma nortear os pequenos e
médios produtores para uma melhor gestão econômica envolvida no processo produtivo.
Métodos: Avaliou-se o custo operacional de um trator agrícola modelo TL75, da marca New
Holland, com potência de 80 cv. Os custos operacionais foram estimados pela metodologia
proposta por Pacheco, (2000). Resultados: O somatório dos custos fixos e variáveis resul-
tou no custo operacional total do maquinário, sendo este na ordem de R$ 196,72 por hora
efetiva de trabalho. Os custos variáveis apresentaram maior participação entre os custos
totais, tendo uma participação de cerca de 60% em relação ao custo fixo. Conclusão: A esti-
mativa de cálculo de custo operacional apresenta-se como uma ferramenta de planejamento
econômico essencial para determinação do custo das operações mecanizadas no campo,
bem como para definir o valor a ser cobrado pelo arrendamento.

Palavras-chave: Custos Fixos, Custos Variáveis, Planejamento Econômico.


INTRODUÇÃO

A produção e utilização de ferramentas e implementos que auxiliam na produção agrí-


cola acompanham a humanidade desde seus primórdios. Nos meados dos anos de 1917 a
indústria de máquinas e implementos agrícolas ganhou um novo impulso. A montagem dos
tratores que era individual passou a ser em série gerando reduções de custo aos fabricantes
e permitindo a difusão dessas máquinas para a agricultura, entretanto os maquinários eram
muito inseguros e apresentavam altos riscos (BARICELO; VIAN. 2019).
A evolução da mecanização brasileira trouxe um aspecto importante relacionado a
competitividade e redução de custos dos produtos agrícolas. O uso de máquinas pode ser
uma alternativa para a redução dos custos de produção, porém, são necessárias a ampliação
e a modernização da gestão dos sistemas mecanizados (BARBOSA et al., 2015).
O processo de mecanização e as inovações tecnológicas trouxeram avanços expres-
sivos principalmente com o propósito de se adequar as necessidades do homem, meio
ambiente, produtividade e as condições de segurança. Atualmente existem maquinários
adaptados as mais diversas condições de trabalho e com inúmeros padrões de potência,
visando atender as demandas geradas na atividade agrícola, com maior conforto, rendimento,
eficiência e segurança.
Os pacotes tecnológicos trazem, contudo, aumento de custos relacionados a com-
pra e manutenção dos ativos, exigindo, portanto, uma gestão econômica mais eficiente
e dinâmica das empresas no que tange os processos operacionais mecanizados. Neste
contexto ressalta-se a importância da avaliação do custo operacional de máquinas como
alternativa de assegurar o planejamento financeiro nas operações visando a sustentabilidade
econômica no campo.
Os custos operacionais dos tratores e equipamentos são calculados em dois grandes
grupos: os custos fixos (associados à propriedade das máquinas) e custos variáveis (dizem
respeito aos dispêndios com fatores de produção variáveis) (JASPER; SILVA, 2013).
Assim, este trabalho teve como objetivo avaliar os custos operacionais de um trator
agrícola, buscando elucidar de forma simples cada um de seus componentes (fixos e variá-
veis) de forma nortear os pequenos e médios produtores para uma melhor gestão econômica
envolvida no processo produtivo.

MÉTODOS

Avaliou-se o custo operacional de um trator agrícola modelo TL75, da marca New


Holland, com potência de 80 cv. Os custos operacionais foram estimados pela metodologia

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proposta por Pacheco, (2000), sendo divididos em dois componentes principais: custos fixos
(CF) e custos variáveis (CV).

a) Custos fixos

Os custos fixos são aqueles que devem ser debitados, independentemente de a má-
quina ser usada ou não, daí o fato de ser também chamados de custos de propriedade.
Entre os custos fixos foram incluídos: depreciação (D), Juros (J), alojamento e seguros
(AS) e mão de obra.

a. 1) Depreciação (D):

Refere à desvalorização da máquina em função do tempo, seja ela utilizada ou


não. A depreciação pode ser calculada conforme a fórmula abaixo (PACHECO, E.P.,2000).

Onde:
D: Depreciação (R$ h-1)
S: valor de sulcada, sendo arbitrário a 10% do valor de aquisição da máquina;
P: Valor de aquisição do maquinário (R$ 240.000,00).
Vu: vida útil (10.000 h).

a. 2) Juros (J):

Refere-se a perda pelo não investimento alternativo do valor de aquisição do maqui-


nário em fundo de aplicação de poupança. O custo de juros pode ser obtido de acordo com
a fórmula abaixo:

Onde:
J: Juros (R$ h-1)
i: taxa de juros anual (12 % a.a.);
Vi: Vida útil horas/ano (1000)

a. 3) Alojamento e Seguro (AS):

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Segundo Pacheco (2000) os valores sugeridos para alojamento e seguro de máquinas
variam de acordo com o prêmio seguro de 0,75% a 1% do valor do ativo. A fórmula para o
cálculo deste componente de custo encontra-se descrita abaixo.

Onde:
Ps: Prêmio seguro (para o cálculo foi considerado o percentual de 1% do va-
lor de aquisição);
t: Tempo de uso por ano (1000 h)

a. 4) Mão de obra (MO):

Refere-se ao salário do tratorista bem como os encargos e benefícios sociais envolvi-


dos, sendo calculado conforme a fórmula abaixo.
Salário mensal = 1,5 * Salário-mínimo + 20% de encargos e benefícios sociais sobre
1,5 salário-mínimo.

MO (R$/h) = (Salário mensal * 13) /horas de trabalho por ano

Onde: Salário-mínimo (R$ 1.212,00)


Horas de trabalho por ano (1000 horas)

b) Custo Variável

Os custos variáveis são aqueles que dependem da quantidade de uso que se faz
da máquina e são constituídos por: combustíveis, lubrificantes, reparos e manutenção
(JASPER; SILVA, 2013).

b. 1) Custo de combustível:

O custo de combustível foi estimado em torno de 0,25 a 0,30 litros por hora para cada
´´cv´´ de potência exigida na barra de tração.
O custo de combustível por hora (C), pode ser calculado pela fórmula abaixo.

C= 0,25 * PotBT (CV) * Pc

Onde:
PotBT (CV): Refere-se à potência exigida na barra de tração (50 cv)
Pc: Preço do litro de combustível (R$7,35)

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b. 2) Custo de óleo (transmissão + hidráulico)

O custo horário de óleo de transmissão + hidráulico pode ser determinado pela capaci-
dade do reservatório, preço do óleo e periodicidade em que devem ser substituído, conforme
ilustrado abaixo.

Onde:
L1: custo dos óleos (transmissão + hidráulico), em + horas
Q1:capacidade do reservatório (óleo de transmissão + óleo hidráulico): 60 L
PL1: preço médio do litro do óleo (transmissão + hidráulico): R$ 26,00

b.3) Graxa:

O custo horário da graxa pode ser estimado através das variáveis preço da graxa (Kg),
período de substituição (Ts) e de uma constante, conforme ilustrado abaixo.

Onde:
G: Custo hora de graxas (R$)
Pg: Preço da graxa (Kg): R$18,00
Ts: Período de substituição da graxa, em horas (10)

b. 3) Custo de Manutenção (CMan):

O custo de manutenção adotado para máquinas e implementos agrícolas é de 100%


do valor de compra do ativo, referente ao período de vida útil.

Onde:
P: Valor de aquisição da máquina
V: Vida útil (10.000 horas)

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

O custo operacional do maquinário avaliado foi estimado em reais por hora efetiva de
trabalho, sendo as variáveis utilizadas para o referido calculo disposto na Tabela 1.

Tabela 1. Variáveis utilizadas no cálculo de custo operacional para o maquinário avaliado.

Variáveis Valores
Valor de aquisição (R$) 240.000,00
Vida útil (anos) 10,00
Taxa anual de Juros adotada (%) 12,00
Preço do litro do diesel (R$. L-1) 7,35
Valor da sucata (R$) 24000
Preço do óleo lubrificante (R$. L-1) 26,00
Vida útil em horas 10.000
Tempo de uso (anos) 1.000
Salário mensal do tratorista 1212,00
Encargos e benefícios sociais (%) 20,00
Capacidade do reservatório (L) 60,00
Preço da Graxa (R$. kg) 18,00
Período de substituição (horas) 750,00
Período de substituição graxa (anos) 10,00
Fonte: Elaborada pelos autores, 2022.

O somatório dos custos fixos e variáveis resultou no custo operacional total do ma-
quinário, sendo este na ordem de R$ 196,72 por hora efetiva de trabalho. A tabela 2 ilustra
os valores de componentes de custos fixos e variáveis obtidos. De acordo com Silva et al,
(2015) a otimização do desempenho de sistemas agrícolas mecanizados necessariamente
passa por questões de aspectos técnicos e econômicos visando um entendimento adequado
entre as relações de potência disponível e custo operacionais.

Tabela 2. Componentes de custo operacional para o maquinário avaliado.

Custos fixos Custos variáveis

D J AS MO C L G CMan Total
21,60 30,24 2,40 23,63 91,87 2,08 0,90 24,00 196,72
Em que: D: depreciação, J: Juros, AS: Alojamento e seguros, MO: Mão de obra, C: Combustível, L: Lubrificante, G: Graxa,
CMan: Custo de manutenção.
Fonte: Elaborada pelos autores, 2022.

Em relação aos custos fixos, os componentes “juros” e “depreciação” foram os mais


expressivos, correspondendo a 39% e 28% desse total, respectivamente (Figura 1). O valor
expressivo para o custo de juros pode estar relacionado com a taxa anual aplicada (12,70%).

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Figura 1. Distribuição percentual dos custos fixos para o maquinário avaliado.

Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.

Em relação aos custos variáveis, os custos de “combustível” e “manutenção” foram


os mais expressivos, com 77% e 20%, respectivamente (Figura 2). O custo de combustível
está atrelado a potência exigida na barra de tração, no caso, considerou-se o maquinário
utilizando um implemento que demanda uma potência na barra de tração de 3.750 kgfm/s,
o que corresponde a 50 cv. Já o custo de manutenção apresenta uma relação direta com o
valor de aquisição do maquinário, uma vez que foi estimado em função de seu valor integral
(100% do preço do ativo), considerando o tempo de vida útil da máquina.

Figura 2. Distribuição percentual dos custos variáveis para o maquinário avaliado.

Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.

Vieira et al. (2016) analisando o custo operacional total de maquinários florestais encon-
traram para os custos fixos valores de 18,98% (Feller Buncher) e 24,03% (Harvester). Os de-
mais custos “variáveis” e “administrativos” totalizaram (71,93% e 9,09%) e (66,89% 9,09%),
respectivamente. Para o presente estudo, os custos variáveis apresentaram maior partici-
pação entre os custos totais, tendo uma participação de cerca de 60% em relação ao custo
fixo. Isso pode estar atrelado ao custo de combustível.

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Figura 3. Representação gráfica da distribuição percentual para o maquinário avaliado.

CONCLUSÃO

A estimativa de cálculo de custo operacional apresenta-se como uma ferramenta de


planejamento econômico essencial para determinação do custo das operações mecaniza-
das no campo, bem como para definir o valor a ser cobrado pelo arrendamento horário de
máquinas, entendendo o custo operacional como a linha base para pagamento apenas do
custo de produção da máquina, sendo o adicional a este valor referente ao lucro do aluguel
ou arrendamento do equipamento.

REFERÊNCIAS
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CONCEIÇÃO, José. Luiz; OLIVEIRA, Carlos. Alberto. Cunha. Desempenho operacional
e análise de custo do conjunto mecanizado no preparo do solo para plantio florestal.
Rev. Enciclopédia Biosfera, Centro CientíficoConhecer- Goiânia, v.11, 2015.

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agrícolas: Um panorama histórico da formação ao atual estágio de desenvolvimento.
Rev. História e Economia, v.22. 2019.

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Branco: Embrapa, Acre, 2000

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operacional horário da mecanização agrícola utilizando duas metodologias para o
estado de São Paulo. Rev. Nucleus, v.10, n.2, São Paulo, 2013.

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2015.

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6. VIEIRA, Giovanni.Correia; FREITAS, Luis Carlos; CERQUEIRA, Pedro Henrique. Alcân-
tara; SILVA, Evandrp. Ferreira; BRITO, Guilherme. Sonni; SOUZA, Anderson. Marcos.
Custos operacionais e de Produção na atividade mecanizada de corte Florestal. Rev.
Nativa, v.4,n.5 – Mato Grosso, 2016.

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50
04
Efeito residual de herbicidas aplicados em
pré-semeadura na cultura da soja ( Glycine
max L. Merril)

Regina Bellan Verona Caroline Olias


Unoesc Unochapecó

Gilson Joel Ciconet Priscila Weissheimer


Unoesc Unochapecó

Gustavo Henrique Liberalesso Juliano Antunes de Lima


Unoesc Unochapecó

Luan Alberto Fath Cristiano Reschke Lajús


Unoesc Unochapecó

Aline Vanessa Sauer


Unopar

'10.37885/220408734
RESUMO

Objetivo: O presente trabalho tem como principal objetivo avaliar o efeito residual de herbici-
das aplicados em pré-semeadura na cultura da soja. Método: O experimento foi conduzido no
município de São José do Cedro – SC, campus da Universidade do Oeste de Santa Catarina,
entre os meses de novembro e dezembro de 2013. Foi utilizado no experimento a cultivar
Brasmax BMX Turbo RR, com 7 tratamentos e 3 repetições dispostos em delineamento em
blocos casualizados (DBC), totalizando 21 parcelas de 2m x 2m. Utilizando-se os princípios
ativos a seguir relacionados como tratamento: Diclosulam 840g i.a. Kg-1, Clorimurom-etílico
250g i.a.Kg-1, Clomazona 500 g i.a.l-1, Sulfentrazana 500g i.a.l-1, Flumioxazina 500g i.a.kg-1,
Diurom + Paraquat 100 + 200g i.a.l-1 e a testemunha (glifosato). As variáveis respostas
analisadas foram a ocorrência e identificação de plantas daninhas e o efeito residual dos
princípios ativos. Os dados coletados foram submetidos à Análise de Variância (ANOVA)
através do Software Sisvar 5.1 Build 72 e as diferenças entre as médias foram comparadas
pelo teste de Tukey (P≤ 0,05). Resultados: A análise de variância revelou efeito significativo
(P≤0,05) da interação: Princípios Ativos (PA) x Dias Após a Semeadura (DAS) em relação
a variável número de plantas daninhas. Conclusão: O período que proporcionou a menor
ocorrência de plantas daninhas foi aos 3 DAS da soja, com destaque para os princípios
ativos: diclosulam e clorimurom etílico, onde pode-se observar os melhores resultados de
efeito residual no controle de plantas daninhas.

Palavras-chave: Soja, Plantas Daninhas, Princípios Ativos, Efeito Residual, Pré Emergentes.
INTRODUÇÃO

A cultura da soja mostra-se sensível à interferência das plantas daninhas, que são
consideradas de grande importância durante o desenvolvimento da cultura. Competindo por
recursos do ambiente, interferindo no processo de colheita, além de serem hospedeiras de
diversos insetos-pragas, nematóides, e vários agentes patogênicos causadores de doenças
(SILVA et al., 2009).
Segundo Constantin et al., (2007), esse sombreamento das plantas daninhas pode
afetar negativamente a germinação, a emergência ou o desenvolvimento inicial da cultura,
gerando, entre outros efeitos, o estiolamento. Em áreas de alta infestação, quanto maior a
cobertura do solo pelas plantas daninhas no momento da semeadura, maior será o prejuízo
à cultura. Já em áreas de baixa infestação, a semeadura poderá ser feita logo após a ope-
ração de dessecação, sem prejuízo de produtividade.
Conforme Pitelli (2005), um dos fatores mais importantes que afetam o grau de in-
terferência entre as plantas daninhas e cultivadas é o período em que elas conjuntamente
disputam os recursos limitados do meio. De maneira geral, pode-se dizer que, quanto maior
for o período de convivência da cultura com a comunidade infestante, maior será o grau de
interferência no desenvolvimento de ambas.
O sistema de plantio direto pode reduzir a densidade de plantas daninhas na área, pois
a cobertura morta pode promover a liberação de compostos alelopáticos e reduzir a dispo-
nibilidade de radiação solar. Mesmo assim, ainda são necessárias medidas de controle das
plantas daninhas, principalmente com o uso de herbicidas (ERASMO et al., 2004).
Portanto, no presente serão relatados os procedimentos que foram adotados durante a
pesquisa de campo, bem como, os objetivos alcançados e também informações importantes
que nos auxiliaram durante a interpretação dos resultados e a elaboração dos mesmos. Este
trabalho é muito importante nesta área, pois a soja é uma cultura que está crescendo muito
em sua área cultivada no Brasil, tornando-se assim necessário a obtenção de informações
importantes para seu cultivo, principalmente na área de plantas daninhas que podem reduzir
o rendimento da mesma se não forem bem manejadas.

MÉTODO

O experimento foi conduzido na área experimental da Universidade do Oeste de


Santa Catarina – UNOESC campus aproximado de São José do Cedro, localizado na
Linha Esquina Derrubada, a 720 metros de altitude com coordenadas 26º 28’40” S e 53º
30’39” O (GOOGLE EARTH, 2013). O experimento foi conduzido entre os meses de Outubro
de 2013 a Janeiro de 2014.

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Figura 1. Área Experimental do efeito residual de herbicidas aplicados em pré-semeadura na cultura da soja – São José
do Cedro/SC, Safra 2013/14.

Fonte: Elaborado pelos autores (2014).

O solo da área experimental é classificado como LATOSSOLO VERMELHO Distrófico


típico (EMBRAPA, 2010). Foi realizada uma análise de solo na área onde foi conduzido o ex-
perimento, obtendo-se os seguintes resultados: argila (%) 46, pH em H20: 5,6 – índice SMP:
5,9 – matéria orgânica (%) 2,5 – Fósforo (mg/dm3) 6,5 – Potássio (mg/dm3) 55 – saturação
por bases (%) 56,88 – saturação por alumínio (%) 0,00 – CTC (cmolc/dm3) 11,34. As reco-
mendações de adubação foram calculadas segundo a Comissão de Química e Fertilidade
do Solo / Rio Grande do Sul e Santa Catarina – (CQFS, 2004).
O clima da região é do tipo Cfa na classificação de Köeppen, isto é, subtropical com
chuvas bem distribuídas no verão, com temperatura superior a 22ºC (MOTA et al., 1970).
As condições meteorológicas (temperatura e precipitação) foram monitoradas junto à
estação meteorológica da EPAGRI no município de Chapecó.
A água constitui aproximadamente 90% do peso da planta, atuando em, praticamente,
todos os processos fisiológicos e bioquímicos. Desempenha a função de solvente, através do
quais gases e minerais entram nas células e movem-se pela planta. Tem papel importante
na manutenção e distribuição do calor (EMBRAPA, 2011).
As duas etapas críticas da cultura da soja, em relação à disponibilidade hídrica, são da
germinação à emergência e ao pós-florescimento. A deficiência no início do ciclo dificulta a
embebição da semente e, consequentemente, a germinação, além de promover formação de
crostas superficiais em determinados tipos de solo, que atrasam ou impedem a emergência
das plântulas (CÂMARA; HEIFFIG, 2000).
A semente de soja necessita absorver, no mínimo, 50% de seu peso em água para
assegurar boa germinação. Nessa fase, o conteúdo de água no solo não deve exceder a
85% do total máximo de água disponível e nem ser inferior a 50% (EMBRAPA, 2011).
A deficiência hídrica submete a planta de soja a estresse que se manifesta na forma de
baixa estatura, folhas pequenas e murchas, entrenós curtos, redução na taxa de crescimento

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da cultura, menor índice de área foliar, atividade fotossintética menos intensa, prejuízos à
fixação de nitrogênio e, por influir no metabolismo geral da planta, acaba afetando negati-
vamente o rendimento de grãos (NEUMAIER et al., 2000).
A soja melhor se adapta a temperaturas do ar entre 20º C e 30º C. A temperatura ideal
para seu crescimento e desenvolvimento está em torno de 30º C. Sempre que possível, a
semeadura da soja não deve ser realizada quando a temperatura do solo estiver abaixo de
20º C porque prejudica a germinação e a emergência. A faixa de temperatura do solo ade-
quada para semeadura varia de 20º C a 30º C, sendo 25º C a temperatura ideal para uma
emergência rápida e uniforme (EMBRAPA, 2011).
Relata o mesmo autor, que o intervalo de tempo, em número de dias entre a emergên-
cia e o florescimento, depende da influência da temperatura e o fotoperíodo, e que existe
uma relação inversa entre a temperatura média e o número de dias necessários para a
floração. Dessa forma, temperaturas mais baixas causam aumento no período para que
ocorra o florescimento.
O delineamento experimental que foi utilizado é de blocos ao acaso (DBC), com 07
tratamentos e 03 repetições, totalizando 21 parcelas (Figura 2), sendo que cada parcela teve
2m x 2m, totalizando 4m2, e uma área total do experimento de 250 m2. Em cada parcela foi
considerado 1 m2 como área útil para as respectivas avaliações e o restante como bordadura.

Figura 2. Croqui da área com tratamentos e medidas no experimento – São José do Cedro/SC, Safra 2013/14.

Fonte: Elaborado pelos autores (2014).

A cultura antecessora a semeadura da soja na área foi à aveia preta (Avena strigosa),
com objetivo de cobertura do solo, por ser uma área de média declividade e com sistema
de revolvimento de solo.
A pré-dessecação foi realizada com 30 dias de antecedência na ocasião da semea-
dura, com a utilização de pulverização mecanizada. A dessecação para a semeadura com
a aplicação dos pré-emergentes foi realizada cinco dias antes da semeadura da cultura de
forma manual e máquina costal de 5 litros, com produto formulado a base de glifosato 480g
i.a.ha-1 na (dose 1440g i.a.ha-1) e a adição dos tratamentos com exceção das parcelas do
ingrediente ativo diuron + dicloreto de paraquat que será aplicado de forma individual.

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A semeadura da soja foi realizada na segunda quinzena do mês de novembro, pela
sua indicação no zoneamento agroclimático. O espaçamento utilizado foi de 45 cm entre
linhas e uma profundidade de semeadura de 0,05m. Foram utilizadas 12 sementes por metro
linear. A cultivar de soja utilizada é a Brasmax BMX TURBO.
A cultivar utilizada é de porte médio, com hábito de crescimento indeterminado, alto
nível de engalhamento e grupo de maturação 5.8. Tem alta resistência ao acamamento,
alta exigência em adubação, um elevado potencial produtivo e uma alta rusticidade. Peso
de mil sementes é em torno de 232g, dados variáveis conforme o ambiente explorado pelo
cultivar. A cor da flor é roxa, a cor da pubescência é cinza e a cor de hilo é marrom-cla-
ro. A época de semeadura indicada é no mês de novembro, com uma população de plantas
entre 220.000 e 280.000, com um espaçamento entre linhas de 45 cm (BRASMAX, 2012).
Os tratamentos fitossanitários foram realizados conforme as necessidades da cultura
e critérios técnicos. Sendo que, aos 32 dias após a semeadura (DAS) foi realizada a apli-
cação do glifosato + inseticida em todas as parcelas, que foi o período em que as parcelas
de Diclosulam e clorimurom etílico conseguiram se manter sem interferência de plantas
daninhas. A partir disso foram realizadas mais 2 aplicações preventivas aos 53 DAS e aos
75 DAS, no controle da ferrugem e outras doenças que poderiam vir a atacar a cultura.
Foram aplicados os tratamentos com o auxílio de um pulverizador costal manual com
capacidade máxima para cinco litros de água, aplicando-se um volume de calda equivalente
a 200 litros ha-1 proporcional a área de cada parcela.
Os diferentes princípios ativos foram misturados com a adição de glifosato e na con-
centração e dose acima descritos, mais a adição dos seguintes tratamentos divididos cada
qual em uma parcela de igual metragem, aplicados antes da semeadura da cultura, jun-
tamente com a dessecação a base de glifosato. Diclosulam 840g i.a. Kg-1 (dose de 29,4g
i.a.ha-1), Clorimurom-etílico 250g i.a.Kg-1 (dose25g i.a.ha-1), Clomazona 500 g i.a.l-1 (dose
de 1000g de i.a.ha-1), Sulfentrazana 500g i.a.l-1 (dose 600g i.a.ha-1), Flumioxazina 500g
i.a.kg-1 (dose de 25g i.a.ha-1), Diurom + Paraquat 100 + 200g i.a.l-1 (dose 200 + 400g i.a.ha-1),
junto com o Diurom + Paraquat foi adicionado espalhante adesivo (nonipoli etilenoxi etanol)
200g i.a.l-1(dose 100g i.a.ha-1), testemunha nesta parcela foi somente aplicado glifosato nas
concentrações e doses acima descritas.
Levando-se em consideração que as doses acima descritas estão expressas na uni-
dade de medida (ha), a aplicação nas parcelas será feita de forma proporcional à área
referente às mesmas.
Foram realizadas verificações diárias pelos componentes idealizadores do projeto, da
ocorrência de plantas daninhas em cada parcela, entre os diferentes princípios ativos, sendo

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realizadas anotações da ocorrência pelos integrantes. As imagens foram fotografadas com
câmera digital marca Olympus FE-350 Wide.
Durante as verificações diárias foram identificadas as plantas daninhas de maior ocor-
rência na área e classificadas de acordo com seu gênero (Bidens, Digitaria, etc.), sendo
realizadas anotações para no final identificar as plantas daninhas de maior ocorrência.
A partir dos dados coletados em cada parcela, no final do experimento foi avaliado
qual ou quais o(s) princípio(s) ativo(s) que apresentaram maior efeito residual no controle
de plantas daninhas e assim mais eficientes no controle das mesmas.
Os dados coletados foram submetidos à Análise de Variância (ANOVA) através do
Software Sisvar 5.1 Build 72 (FERREIRA, 2007) e as diferenças entre as médias foram
comparadas pelo teste de Tukey (P≤ 0,05).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com a tabela 1, pode-se fazer uma avaliação de frequência da ocorrência


de plantas daninhas no experimento, citando as principais espécies encontradas e suas
respectivas contagens, frequência absoluta acumulada (F’j), frequência relativa (fj) e fre-
quência relativa acumulada (f’j). Sendo que a área avaliada foi de 1 m2 central por parce-
la,em um total de 21.

Tabela 1. Ocorrência de plantas daninhas no experimento – São José do Cedro/SC, Safra 2013/14.

Fj F’j (%) Fj f’j (%)


Avena sp. 1012 1012 30,15 30,15
Digitaria ciliaris 893 1905 26,60 56,75
Euphorbia heterophylla 875 2780 26,06 82,81
Raphanus sativus 408 3188 12,15 94,97
Galinsoga parviflora 77 3265 2,29 97,26
Ipomoea sp. 50 3315 1,49 98,75
Rumex sp. 36 3351 1,07 99,82
Commelina sp. 6 3357 0,19 100,00
∑ 3357 ocorrências
Fonte: Elaborado pelos autores (2014).

Na primeira coluna (tabela 1) pode-se observar quais as espécies de daninha que foram
encontradas no experimento. Na segunda coluna (Fj) da tabela 1, aparece qual foi a conta-
gem, isto é, o número de plantas daninhas identificadas em todas as 21 parcelas avaliadas,
durante as 5 avaliações realizadas. Para Avena sp. (aveia) foram 1012 ocorrências de um
total de 3357, sendo a mais observada durante as contagens (gráfico 1).
A Digitaria ciliaris (milhã) foram 893 ocorrências de 3357, a segunda mais encon-
trada (gráfico 1). De Euphorbia heterophylla (leiteiro) foram 875 contagens em todas as

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parcelas. O Raphanus sativus (nabo) teve 408 aparecimentos. De Galinsoga parviflora
(picão branco) foram 77 ocorrências.
Conforme o gráfico 1, a Ipomoea sp. (corda de viola) aparece 50 vezes durante as 5
contagens realizadas. Da Rumex sp. (língua de vaca) foram 36 ocorrências e por último a
Commelina sp. (trapoeraba) teve apenas 6 ocorrências das 3357, sendo a planta daninha
de menor aparecimento em todo o experimento durante as avaliações realizadas.

Gráfico 1. Ocorrência de Plantas Daninhas (PD) no experimento – São José do Cedro/SC, Safra 2013/14.

Fonte: Elaborado pelos autores (2014).

Em F’j – frequência absoluta acumulada (tabela 1), a aveia teve 1012 ocorrências. Se for
avaliada a ocorrência de aveia e milhã foram 1905 aparecimentos das duas daninhas.
Avaliando-se aveia, milhã e leiteiro obtivemos um total de 2780 plantas daninhas. Se com-
parar aveia, milhã, leiteiro e nabo obtiveram-se 3188 ocorrências das quatro espécies de
plantas daninhas de um total de 3357 que foram contadas.
Ao avaliar aveia, milhã, leiteiro, nabo e picão branco tem-se uma frequência acumulada
de 3265 daninhas. Já quando observa-se a contagem de aveia, milhã, leiteiro, nabo, picão
branco, corda de viola e língua de vaca temos um total de 3351 ocorrências. E quando com-
parado a trapoeraba com as demais citadas acima teremos o total de 3357 plantas daninhas
que foram registradas durante as 5 avaliações realizadas nas 21 parcelas.
No fj – frequência relativa (tabela 1) tem-se quanto em % que representa cada planta
daninha que foi avaliada durante o experimento. Para aveia a frequência foi de 30,15%
do total de daninhas contada (gráfico 1). No milhã obteve-se 26,60% das plantas dani-
nhas contadas. Para o leiteiro teve-se um total de 26,06% das 3357 totais. O nabo foi de
12,15% sua frequência.

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Com base no gráfico 2, o picão branco obteve-se uma frequência de 2,29%. A corda
de viola apresentou um total de 1,49% das ocorrências. Para a língua de vaca 1,07% das
contagens de plantas daninhas, e para a trapoeraba um total de 1,19% do total de ocorrência
de daninhas do experimento.

Gráfico 2. Percentual de ocorrência de cada planta daninha no experimento – São José do Cedro/SC, Safra 2013/14.

Fonte: Elaborado pelos autores (2014).

Por último, em f’j (tabela 1), tem-se a frequência relativa acumulada representando
a % do total acumulado de plantas daninhas quando comparadas ao total observado nas
avaliações. No caso da aveia foi de 30,15%. Quando comparam-se aveia e milhã temos um
total acumulado de 56,75%.
Observando-se aveia, milhã e leiteiro teremos a ocorrência de 82,81% das 3 espécies
acima. Já para aveia, milhã, leiteiro e nabo temos 94,97% das ocorrências, sendo identifi-
cadas como as daninhas de maior presença nas parcelas. Para aveia, milhã, leiteiro, nabo
e picão branco observa-se um total acumulado de 97,26%.
Para aveia, milhã, leiteiro, nabo, picão branco e corda de viola a ocorrência foi de
98,75%. Ao comparar-se a língua de vaca com as demais citadas acima, temos um total
acumulado de 99,82%. E levando em conta a trapoeraba com as demais, se obteve 100%
das plantas daninhas (3357 ocorrências) que foram contadas durante as 5 avaliações rea-
lizadas pelos integrantes do grupo das 21 parcelas.
A análise de variância revelou efeito significativo (P≤0,05) da interação: Princípios
Ativos (PA) x Dias Após a Semeadura (DAS) em relação a variável número de plantas da-
ninhas (Tabela 2).
Conforme a tabela 2, ao desdobrar a interação Princípios Ativos (PA) x Dias Após a
Semeadura (DAS), isolando os PA, pode-se observar que na avaliação feita aos 3 DAS da

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soja, os princípios ativos diclosulam, clorimurom etílico, sulfentrazone e clomazona apresen-
taram diferenças significativas (P≤0,05), quando comparados ao glifosato, sendo que neste
último foi observada uma presença considerável de plantas daninhas quando comparado
aos demais Princípios Ativos (PA) citados acima.

Tabela 2. Número de plantas daninhas do experimento – São José do Cedro/SC, Safra 2013/14.

Dias Após a Semeadura – DAS


Princípios Ativos
3 Dias 7 Dias 10 Dias 12 Dias 19 Dias
Diclosulam A 0,0 a B 15,3 a B 21,0 a B 20,7 a B 19,3 a
Clorimurom Etílico A 0,7 a B 14,3 a B 18,0 a B 18,7 a B 22,7 a
Sulfentrazona A 1,7 a B 15,0 a C 27,0 a C 32,7 b D 48,3 b
Clomazona A 1,7 a B 23,7 a C 41,7 b D 53,3 c D 60,3 c
Flumioxazina A 10,0 ab B 25,5 a C 43,3 b D 57,7 c D 60,0 bc
Diuron Paraquat A 10,0 ab B 40,0 b C 51,3 bc D 62,3 c D 67,0 cd
Glifosato A 14,7 b B 40,7 b C 58,3 c D 77,0 d D 76,7 d
CV (%) 14,41
Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha não diferem entre si pelo teste de Tukey (p≤0,05).
Fonte: Elaborado pelos autores (2014).

Segundo Silva et al., (2010), a utilização de produtos com ação pré-emergente junto
à dessecação se mostra uma excelente ferramenta, aumentando o espectro de controle de
plantas daninhas e também como um aliado do glifosato em vista de reduzir a infestação e o
porte das plantas daninhas no momento da aplicação do glifosato em pós emergência da soja.
Relatam os mesmos autores, que a associação pode se mostrar vantajosa por reduzir
o período crítico de mato competição, trazendo vantagens adicionais ao sistema produtivo.
De acordo com Ferrell et al., (2005), um dos grandes problemas da cultura da soja é
a infestação por plantas daninhas, que competem intensivamente com a cultura por água,
luz, nutrientes e espaço físico, principalmente em seu estádio inicial de crescimento até o
fechamento da linha de cultivo.
O diclosulam apresenta meia-vida de 67 dias em áreas cultivadas em sistema de plan-
tio direto e de 87 dias em solos cultivados convencionalmente (LAVORENTI et al., 2003).
Na análise realizada aos 7 DAS (Tabela 2) foi verificado que os PA diclosulam, clo-
rimurom etílico, sulfentrazona, clomazona e flumioxazina se diferem significativamente
(P≤0,05) do diuron + paraquat e do glifosato. Para Blanco e Velini (2005) o sulfentrazona
pode persistir no solo por um período superior a 539 dias, porém apresenta bioatividade
mais intensa em solos de textura argilosa ou contendo elevados teores de matéria orgâni-
ca. A atividade microbiológica é a grande responsável pela degradação do sulfentrazone
(COBUCCI; PORTELA, 2001).
Já aos 10 DAS (Tabela 2), o diclosulam, clorimurom etílico e a sulfentrazona diferiram
significativamente (P≤0,05) da clomazona, flumioxazina, diuron + paraquat e do glifosa-
to. O flumioxazin é adsorvido pelos colóides do solo, principalmente pela matéria orgânica

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com lixiviação reduzida em razão de não apresentar dissociação em água. Apresenta rápida
dissipação no solo, com meia-vida variando de 10 a 25 dias (FERRELL et al., 2005).
Avaliando aos 12 DAS (Tabela 2), foi observado que somente o diclosulam e o clo-
rimurom etílico apresentaram diferenças significativas (P≤0,05) em relação aos demais tra-
tamentos, mantendo a soja livre da competição de plantas daninhas. Trabalhos conduzidos
mostram que a adição de clorimurom etílico ao glifosato proporcionou incremento no controle
de Ipomoea sp. e também verificaram que a mistura em tanque de glifosato e clomazona
promove melhor controle de diversas daninhas (MONQUERO et al., 2001).
Dentre os herbicidas mais utilizados para a dessecação pré-semeadura, destaca-se o
glifosato, por possuir reconhecida eficácia e amplo espectro de controle de plantas daninhas
(DVORANEN et al., 2008). Com relação à época de utilização do glifosato na dessecação,
diversos trabalhos têm relatado que a melhor época de se utilizar racionalmente este produto
é de 15 a 20 dias antes da semeadura.
Na avaliação aos 19 DAS (Tabela 2) percebe-se que apenas o diclosulam e o clorimu-
rom etílico revelaram efeito significativo (P≤0,05), quando comparados aos demais tratamen-
tos. Conforme experimentos realizados nesta área pode-se observar que as dessecações
no dia do plantio da soja, com a associação de sulfentrazone ou diclosulam ao glifosato,
foram as mais eficientes no controle de Ipomea grandifolia desde o início das avaliações
(14 Dias Após o Tratamento), com níveis de controle acima de 80%, o que favorece muito
o desenvolvimento inicial da soja, livre de plantas daninhas (SILVA et al., 2010).
De acordo com tabela 2, ao desdobrar a interação Princípios Ativos (PA) x Dias Após a
Semeadura (DAS), isolando os DAS, constata-se que os princípios ativos estudados diferiram
significativamente (P≤0,05) aos 3 dias, quando comparados aos demais (7, 10, 12 e 19 DAS).
Carvalho et al., (2002) observaram que a reinfestação de Euphorbia heterophylla, em
área cultivada com soja, foi reduzida em 34% quando se adicionaram 10 g ha-1 de clorimu-
rom etílico ao glifosato. Trabalhos demonstram um controle de 95% de Bidens pilosa 45
dias após a aplicação a mistura de glifosato (720 g ha-1) com clorimurom etílico (10 g ha -1)
em pré-semeadura da cultura da soja (ROMAN, 2002).

CONCLUSÕES

O período que proporcionou a menor ocorrência de plantas daninhas foi aos 3 DAS da
soja, com destaque para os princípios ativos: diclosulam e clorimurom etílico, onde pode-se
observar os melhores resultados de efeito residual no controle de plantas daninhas.

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05
Evolução dos diferenciais de rendimentos
dos trabalhadores da agropecuária e das
demais ocupações durante a redução da
desigualdade de renda brasileira (2002-
2014): Nordeste e Brasil

Patrick Leite Santos


Universidade Federal de Uberlândia - UFU

Carlos César Santejo Saiani


Universidade Federal de Uberlândia - UFU

'10.37885/220508788
RESUMO

O objetivo deste estudo foi avaliar a evolução dos diferenciais de rendimentos do traba-
lho pela dimensão ocupação, tomando como referência o trabalhador da agropecuária e
comparando o Nordeste e o Brasil. O período de análise compreende os anos de 2002 e
2014, intervalo no qual o país apresentou redução geral da desigualdade de renda. Como
procedimentos metodológicos, foram feitas análises descritivas e estimações por mínimos
quadrados ponderados e regressões quantílicas e interquantílicas. Para isso, foram utiliza-
dos os dados de ocupados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Os principais
resultados evidenciaram que a desigualdade de renda entre as ocupações também reduziu
no período; porém, o trabalhador da agropecuária continuou a ser a ocupação com menor
nível de remuneração e maior grau de desigualdade.

Palavras-chave: Desigualdade de Renda, Ocupações, Regressão Quantílica, Nordeste, Brasil.


INTRODUÇÃO

A desigualdade de renda é um dos principais problemas mundiais. O Brasil, embora


tenha apresentado sensíveis melhoras dos indicadores de desigualdade nas décadas de
2000 e 2010, em decorrência de políticas de valorização do salário mínimo, educacionais
e de transferência de renda, ainda persistiu com desigualdade superior à média mundial e
a países com atributos similares (BARROS et al., 2007). Este estudo contribui com evidên-
cias adicionais para o debate sobre o período de melhoria geral da distribuição de renda
brasileira (2002 a 2014), mas vale apontar que a situação sofreu posteriores reveses com
a grave crise econômica a partir de 2014 (MANNI et al., 2017) e a pandemia do COVID-19
(KOMATSU; MENEZES FILHO, 2020).
Para fundamentar o estudo, um aspecto a destacar é que a principal fonte de renda
(ou a única) da maioria das pessoas é oriunda do trabalho; consequentemente, ao menos
parte da desigualdade de renda se origina no mercado de trabalho (SCHWARTZMAN,
2006). Assim, uma importante dimensão da análise de diferenciais de rendimentos do tra-
balho é a ocupação.
No Brasil, tal dimensão ganhou destaque na “controvérsia de 1970”, debate entre vi-
sões econômicas para justificar o aumento da desigualdade de renda durante o período do
“milagre econômico brasileiro”. Bacha (1978) defendeu que o fenômeno foi consequência da
diferença salarial decorrente do nível hierárquico entre as ocupações. Essa interpretação foi
uma oposição ao trabalho de Langoni (1973), para o qual a desigualdade advinha da baixa
qualificação geral dos trabalhadores. Trabalhos mais recentes retomaram esse debate, mas
tendendo a posicionar a discussão da baixa qualificação como o centro de suas avaliações
(RODRIGUES et al., 2016).
O presente estudo contribui à literatura com evidências que levam em conta três as-
pectos adicionais. O primeiro refere-se à questão da desigualdade regional – em termos
amplos, ao que se convencionou chamar de “problema norte-sul” (WILLIAMSON, 1965),
mais explorado na literatura internacional; em termos nacionais, ao debate sobre diferenças
entre as macrorregiões, no qual é destacado negativamente o Nordeste devido à sua estru-
tura produtiva (FURTADO, 1963). O segundo aspecto é trazer para o centro das análises o
trabalhador da agropecuária, uma ocupação com grande participação em regiões com alta
desigualdade e associada a um setor que tende a ser bem desigual em renda do trabalho
(KUZNETS, 1955). O terceiro aspecto é o temporal, tomando como pano de fundo a já
mencionada queda geral da desigualdade no país.
Assim, o objetivo deste estudo é avaliar a evolução dos diferenciais de rendimentos
do trabalho pela dimensão ocupação, tomando como referência o trabalhador da agrope-
cuária e comparando o Nordeste e o Brasil. Para tanto, são realizadas análises descritivas

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e estimações pelos métodos de Mínimos Quadrados Ponderados (MQP) e Regressões
Quantílicas (RQ) e Interquantílicas (RI). Estes métodos são robustos para análises de distri-
buição com presença de outliers, além de permitir o estudo de diversos pontos da distribui-
ção, o que é crucial para a análise de desigualdade de rendimentos do trabalho (KOENKER;
BASSETT, 1978; GREENE, 2012). Os dados utilizados são os de indivíduos ocupados
oriundos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
Além desta Introdução e das Considerações Finais, o estudo está estruturado em
mais três seções. Na segunda, são realizadas análises descritivas referentes às ocupa-
ções. Na terceira, são discutidos os procedimentos econométricos, cujos resultados são
analisados na quarta seção.

RENDIMENTOS E DESIGUALDADES: ANÁLISES POR OCUPAÇÕES


E REGIÕES

Para as análises (descritivas e econométricas), é adotada a classificação de ocupa-


ções da PNAD do IBGE, que as divide em oito categorias: i) trabalhador da agropecuária;
ii) dirigentes; iii) profissionais das ciências e das artes; iv) técnicos de nível médio; v) tra-
balhadores de serviços administrativos; vi) trabalhadores dos serviços e do comércio; vii)
trabalhadores na produção de bens e serviços da indústria; e viii) membros das forças
armadas e auxiliares. Essa categorização foi adaptada para a Classificação Brasileira de
Ocupações (CBO), que foi alterada em 2002 e serviu de base para a PNAD. Ademais, é
comum na literatura (MAIA, 2013).
Considerando tal classificação, a Tabela 1 apresenta as participações dos ocupados
totais em cada categoria de ocupação, segundo os recortes geográficos (Brasil e Nordeste)
e os anos inicial e final das análises (2002 e 2014, respectivamente). Nota-se que as três
ocupações com maiores participações entre os ocupados nos dois recortes geográficos
são as de trabalhadores: a) dos serviços e comércio; b) na produção de bens e serviços da
indústria; e c) da agropecuária.

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Tabela 1. Brasil e Nordeste: participação (%) nos ocupados totais, segundo as ocupações (2002 e 2014).

Brasil Nordeste
Ocupações
2002 2014 ∆% 2002 2014 ∆%
Trabalhadores da Agropecuária 13,95 9,79 -29,82 25,75 15,7 -39,03
Dirigentes 5,35 5,21 -2,62 3,79 3,69 -2,64
Profissionais das Ciências e das Artes 5,62 8,87 57,83 4,03 7,69 90,82
Técnicos de Nível Médio 7,48 6,86 -8,29 7,36 5,98 -18,75
Trabalhadores de Serviços Administrativos 7,34 8,56 16,62 5,14 7,02 36,58
Trabalhadores dos Serviços e do Comércio 31,73 31,44 -0,91 30,85 32,92 6,71
Trabalhadores na Produção de Bens e Serviços da Indústria 27,57 28,3 2,65 22,32 26,18 17,29
Membros das Forças Armadas e Auxiliares 0,97 0,97 0,00 0,76 0,82 7,89
Fonte: IBGE, PNAD. Elaboração própria. Nota: ∆% – variação percentual de 2002 a 2014.

Ainda na Tabela 1, observa-se que os trabalhadores da agropecuária apresentaram


queda de participação entre os ocupados de 2002 a 2014, tanto no Brasil como no Nordeste.
Ademais, houve reduções nas participações dos dirigentes e técnicos de nível médio; po-
rém, em menores magnitudes. Frente a tais dinâmicas, aumentaram as participações dos
profissionais das ciências e artes – o que é interessante em termos de educação e renda –,
dos trabalhadores de serviços administrativos – com níveis intermediários de qualificação –,
dos trabalhadores dos serviços e comércio – apenas no Nordeste – e dos trabalhadores na
produção de bens e serviços industriais. Nos dois recortes, também cresceu a participação
de membros das forças armadas e auxiliares.
A Tabela 2 apresenta as evoluções (2002 e 2014) dos rendimentos médios do traba-
lho por ocupação e recorte geográfico1. O rendimento médio cresceu em todas as ocupa-
ções, o que sugere aumento generalizado no período do poder de compra dos trabalha-
dores brasileiros.

Tabela 2. Brasil e Nordeste: rendimentos médios do trabalho (R$ de 2014), segundo as ocupações (2002 e 2014).

Brasil Nordeste
Ocupações
2002 2014 ∆% 2002 2014 ∆%
Trabalhadores da Agropecuária 650,98 999,31 53,51 351,98 502,03 42,63
Dirigentes 3.812,45 4.197,94 10,11 2.730,26 3.215,99 17,79
Profissionais das Ciências e das Artes 3.144,70 3.310,86 5,28 2.380,12 2.469,83 3,77
Técnicos de Nível Médio 1.652,64 2.136,02 29,25 1.013,04 1.560,29 54,02
Trabalhadores de Serviços Administrativos 1.152,50 1.345,09 16,71 856,85 1.085,85 26,73
Trabalhadores dos Serviços e do Comércio 710,84 1.022,66 43,87 485,11 743,95 53,36
Trabalhadores na Produção de
975,61 1.383,61 41,82 616,46 958,60 55,50
Bens e Serviços da Indústria
Membros das Forças Armadas e Auxiliares 2.384,63 3.419,41 43,39 1.788,00 2.908,63 62,68
Fonte: IBGE, PNAD. Elaboração própria. Nota: ∆% – variação percentual de 2002 a 2014.

1 Em reais de 2014 (R$ de 2014), sendo utilizado para corrigir pela inflação no período os valores de 2002 o Índice Nacional de Preços
ao Consumidor (INPC), como sugerido por Corseuil e Foguel (2002) para análises deste tipo.

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Os ocupados como trabalhadores da agropecuária são os que possuíam, nos dois
anos, as menores rendas médias nos dois recortes geográficos, embora tenham crescido
sensivelmente – 53,51% no Brasil e 42,63% no Nordeste. A ocupação com maiores rendi-
mentos médios é a de dirigentes, situação que permanece ao menos desde a década de
1970, conforme destacado na já comentada “controvérsia de 1970”, embora esta ocupação
não tenha, na média, os maiores níveis de educação (BACHA, 1978). Contudo, as outras
ocupações com maiores rendas médias são as que possuem os maiores níveis de educação,
evidenciando a importância da melhoria da educação nacional para elevar a produtividade
e os rendimentos e reduzir as desigualdades.
A evolução da desigualdade dos rendimentos por ocupação é ilustrada na Tabela 3, na
qual constam dois indicadores tradicionais de desigualdade (concentração) aqui calculados:
i) coeficiente de Gini; e ii) razão entre percentis (p90/p10) – razão entre as participações
nos rendimentos totais dos 10% com maiores e dos 10% com menores rendas. A maioria
das ocupações apresentou queda (melhora) dos indicadores, i.e., redução na desigualdade
de renda interna a cada ocupação no período que o país teve melhora da concentração
de renda em geral.
Nos dois anos e no Brasil e no Nordeste, as ocupações com menores concentrações
de rendimentos são as de membros das forças armadas e auxiliares e trabalhadores dos
serviços administrativos. Já as ocupações mais concentradoras de renda são, no Brasil, a
de trabalhadores da agropecuária, dirigentes e profissionais das ciências e das artes; no
Nordeste, os profissionais das ciências e das artes e os dirigentes. As ocupações com maiores
reduções das desigualdades de rendimento no período foram, no Brasil, os trabalhadores dos
serviços administrativos, os trabalhadores dos serviços e do comércio, e os trabalhadores
na produção de bens e serviços da indústria; enquanto no Nordeste, os trabalhadores na
produção de bens e serviços da indústria, os membros das forças armadas e auxiliares e
os trabalhadores dos serviços e do comércio.

PROCEDIMENTOS ECONOMÉTRICOS

Para averiguar como os rendimentos do trabalho, condicionais a fatores determinan-


tes, se diferenciam entre os trabalhadores da agropecuária e demais ocupações, as regiões
(Nordeste e Brasil como um todo) e no tempo, são realizadas estimações econométricas
para os dois recortes geográficos com dados de ocupados em 2002 e 2014 oriundos da
PNAD do IBGE destes anos.

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Tabela 3. Brasil e Nordeste: indicadores de distribuição dos rendimentos do trabalho (R$ 2014), segundo as ocupações
(2002 e 2014).
Razão entre Percentis
Gini
Ocupações / Índices (p90/p10)
2002 2014 ∆% 2002 2014 ∆%
Brasil
Trabalhadores da Agropecuária 0,56 0,52 -6,15 10,00 13,33 33,33
Dirigentes 0,50 0,49 -3,26 10,53 9,00 -14,50
Profissionais das Ciências e das Artes 0,51 0,49 -4,02 15,91 9,67 -39,22
Técnicos de Nível Médio 0,48 0,43 -9,83 8,50 5,80 -31,75
Trabalhadores de Serviços Administrativos 0,40 0,32 -18,59 5,00 3,04 -39,22
Trabalhadores dos Serviços e do Comércio 0,45 0,37 -17,01 7,50 6,00 -20,00
Trabalhadores na Produção de Bens e Serviços da Indústria 0,41 0,34 -16,87 5,67 4,17 -26,47
Membros das Forças Armadas e Auxiliares 0,33 0,34 3,00 4,00 5,22 30,43
Nordeste
Trabalhadores da Agropecuária 0,46 0,48 2,93 8,00 8,15 1,88
Dirigentes 0,56 0,51 -8,36 15,00 8,98 -40,15
Profissionais das Ciências e das Artes 0,58 0,52 -10,61 16,67 10,87 -34,78
Técnicos de Nível Médio 0,48 0,44 -8,83 6,76 6,00 -11,20
Trabalhadores de Serviços Administrativos 0,40 0,31 -23,01 4,17 2,70 -35,13
Trabalhadores dos Serviços e do Comércio 0,45 0,38 -14,76 8,00 6,00 -25,00
Trabalhadores na Produção de Bens e Serviços da Indústria 0,42 0,35 -18,35 10,00 5,33 -46,67
Membros das Forças Armadas e Auxiliares 0,25 0,29 15,86 2,80 3,75 33,93
Fonte: IBGE, PNAD. Elaboração própria. Nota: ∆% – variação percentual de 2002 a 2014.

Os primeiros modelos, baseados na equação (1), são estimados por Mínimos Quadrados
Ponderados (MQP), uma expansão dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) com os fa-
tores de expansão (pesos) das amostras das PNADs como ponderadores (WOOLDRIDGE,
2006). As regressões são feitas para os dois anos isoladamente (2002 e 2014). Por MQP,
é estimado o retorno monetário médio (prêmio por atributo) de cada variável explicativa,
sendo a variável dependente ( ) o rendimento mensal no trabalho principal do ocupado
(R$ de 20142). Para melhorar o ajustamento dos modelos e facilitar a interpretação dos
coeficientes estimados das variáveis explicativas, aplica-se o logaritmo neperiano ( ) na
variável dependente (modelos log-lineares). Assim, os coeficientes são interpretados como
percentuais (GREENE, 2012).

(1)

sendo: a variável dependente (rendimento do trabalho) do ocupado ; a constante;


o vetor de coeficientes associados ao vetor de variáveis explicativas de interesse ; o
vetor de coeficientes associados às variáveis explicativas de controle ;e o termo errático.

2 Como sugerido por Corseuil e Foguel (2002), é empregado o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).

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As variáveis explicativas de interesse ( ) para este estudo são descritas no Quadro 1.
Estas correspondem a dummies representativas das categorias de ocupação. Uma dummy
para cada uma das oito ocupações já comentadas, sendo a dummy que denota a ocupação
trabalhador da agropecuária a de referência (default). Ou seja, aquela que, em função da
multicolinearidade perfeita, não é inserida nas estimações, mas para a qual os coeficientes
das demais são relativos.
Após o MQP, são feitas estimações pelo método de Regressão Quantílica (RQ)3,
que tem a vantagem de mensurar o retorno monetário mediano das variáveis de interes-
se (prêmios por atributos) para quantis da distribuição de rendimentos – uma regressão
para cada quantil e não apenas uma para a média, reduzindo os efeitos de outliers. Por
RQ, são estimados modelos baseados na equação (2), sendo considerados cinco quantis:
. Assim, são feitas estimações para cada quantil do Nordeste e Brasil
em cada um dos anos analisados.

(2)

sendo: o quantil em análise; a variável dependente (rendimento do trabalho) do


ocupado ; o conjunto de todas as variáveis explicativas (vetores e ); a constante;
o vetor de coeficientes associados ao vetor de variáveis explicativas de interesse ( );
o vetor de coeficientes associados ao vetor de variáveis explicativas de controle ( ); e
o termo errático.

Quadro 1. Variáveis explicativas de interesse: dummies ocupações ( ).

Varáveis Descrições
Referência
Trabalhadores da Agropecuária Igual a 1 para trabalhadores da agropecuária
(default)
Dirigentes Igual a 1 para dirigentes
Profissionais das Ciências e das Artes Igual a 1 para profissionais das ciências e das artes
Técnicos de Nível Médio Igual a 1 para técnicos de nível médio
Explicativas de Trabalhadores de Serviços Administrativos Igual a 1 para trabalhadores de serviços administrativos
Interesse Trabalhadores dos Serviços e do Comércio Igual a 1 para trabalhadores dos serviços e do comércio
Trabalhadores na Produção de Bens e Serviços Igual a 1 para trabalhadores na produção de bens e serviços
da Indústria da indústria
Membros das Forças Armadas e Auxiliares Igual a 1 para membros das forças armadas e auxiliares
Fonte: IBGE, PNAD. Elaboração própria.

Ademais, é empregado o método de Regressão Interquantílica (RI), que segue os


mesmos pressupostos da RQ para permitir calcular o gap interquantílico da variável de-
pendente e o gap interquantílico das variáveis explicativas. Assim, é possível quantificar a

3 Para mais detalhes, conferir, por exemplo: Koenker e Bassett (1978), Koenker (2000) e Greene (2012).

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contribuição de cada variável explicativa e para a diferença entre os quantis conside-
rados. Pelo método de RI, são aqui estimados modelos baseados nas equações (3) a (5).
Para os trabalhadores nos quantis extremos ( ), são feitas as estimações de (3)
e (4) e, depois, é feita a subtração entre elas. As diferenças entre (4) e (3) correspondem
aos gaps interquantílicos, denotados por (5)4.

; para (3)

; para (4)

(5)

Cabe apontar que as análises econométricas, relativamente às análises descritivas,


possui a vantagem de neutralizar a influência de atributos individuais (variáveis de controle
descritas mais adiante) nos resultados, possibilitando a estimação de coeficientes mais
robustos para as variáveis explicativas de interesse. Para o mesmo fim, as estimações
por RQ e RI possuem a vantagem adicional de neutralizar a dispersão ao longo da distribui-
ção, sendo possível avaliar respostas heterogêneas da variável dependente a alterações
nos regressores segundo o quantil da distribuição da dependente. Ademais, em análises da
distribuição da variável dependente entre as unidades de análise (no caso, rendimentos do
trabalho entre os ocupados), é interessante gerar, por RI, estimativas condicionais a diversos
determinantes (KOENKER; BASSET, 1978).
Assim, é importante escolher as variáveis explicativas de controle fundamentando-se
na literatura, o que é feito no presente estudo. Especificamente, na vertente associada à
Teoria do Capital Humano e nos trabalhos que estimam equações de salários de Mincer
(1974). As variáveis de controle escolhidas, calculadas com dados das PNADs, são des-
critas no Quadro 2.

Quadro 2. Variáveis explicativas de controle ( ).

Variáveis Descrições
Homem Dummy igual a 1 se o ocupado for homem e 0 se for mulher
Branco Dummy igual a 1 se o ocupado se declara como branco e 0 caso contrário
Idade Anos completos de idade
Idade² Idade elevada ao quadrado
Educação Anos completos de estudo
Horas trabalhadas Número de horas trabalhadas por semana
Experiência Número de anos de permanência no trabalho principal
Experiência² Experiência elevada ao quadrado
Urbano Dummy igual a 1 se o ocupado residir em áreas urbanas e 0 caso contrário
Fonte: IBGE, PNAD. Elaboração própria.

4 Para mais detalhes sobre o método de RI, ver: Koenker e Bassett (1978), Koenker (2000) e Greene (2012).

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Segundo a Teoria do Capital Humano, as variáveis idade, educação e experiência
afetam positivamente as remunerações dos trabalhadores (LANGONI, 1973). Porém, alguns
trabalhos defendem “saltos” ou mudanças de tendências, como na conclusão de ciclos de
ensino formal, com a elevação da remuneração total ou a redução dos ganhos salariais
marginais a partir de dada idade ou experiência (turnings points). Assim, justifica-se a in-
clusão destas variáveis em nível e ao quadrado. Quanto à dummy urbano, Barros et al.
(1999) sinalizam que, no Brasil, os trabalhadores de áreas urbanas tendem a ter melhores
remunerações. Já a jornada do trabalho é inserida por tender a se relacionar positivamente
com os rendimentos obtidos no trabalho.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A seguir, são reportados e analisados apenas os resultados das variáveis de interesse


em função do limite de espaço e objetivo do estudo. Os coeficientes das variáveis de con-
trole, no geral, estão de acordo com a literatura e podem ser solicitados aos autores. Para
a interpretação dos coeficientes estimados é aplicada a fórmula . Esse
ajuste é necessário quando a variável dependente está em formato de logaritmo neperia-
no (GREENE, 2012).
A Tabela 4 apresenta os resultados por MQP e RQ do Brasil referentes a 2002. Todos
os coeficientes estimados das dummies ocupações são positivos e estatisticamente signifi-
cativos a 1%. Assim, todas as demais ocupações tinham remunerações superiores às dos
trabalhadores da agropecuária, na média (MQP) e nos quantis (RQ). Logo, nota-se que a
ocupação trabalhador da agropecuária era a com menor nível de rendimento do trabalho
no Brasil no ano de 2002.
As ocupações com maiores rendimentos médios (MQP) e em todos os quantis (RQ) em
2002 eram: dirigentes, profissionais das ciências e das artes e membros das forças arma-
das e auxiliares. Porém, os resultados se comportam de forma distinta nas duas primeiras
ocupações. Elas mantêm diferença significativa com pouca oscilação entre os quantis, o que
não ocorre nas demais ocupações, para as quais, ao elevar o quantil em análise, diminui a
diferença de retorno monetário. O maior diferencial frente os trabalhadores da agropecuária
em cada quantil era o da ocupação de dirigentes – no quantil 90, por exemplo, era aproxi-
madamente 194% superior.
A Tabela 5 reporta os resultados por MQP e RQ para o Brasil referentes a 2014. O quan-
til 10 da RQ apresentou erro de convergência, mesmo quando estimado sem robustez, não
sendo possível a estimação. Todos os coeficientes estimados das dummies ocupações são
significantes a 1%. As demais ocupações remuneravam acima da ocupação trabalhador da
agropecuária na média (MQP) e em quase todos os quantis (RQ) – exceto nos trabalhadores

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dos serviços e do comércio no quantil 90. Assim, o argumento dos trabalhadores da agro-
pecuária ser a ocupação com menor nível de rendimento do trabalho não é integralmente
refutado para o Brasil em 2014.

Tabela 4. Brasil (2002): resultados por MQP e RQ.

RQ RQ RQ RQ RQ
Variáveis / Métodos / Quantis MQP
10 25 50 75 90
Dirigentes 0,984*** 0,955*** 0,932*** 1,003*** 1,061*** 1,078***
Profissionais das Ciências e das Artes 0,864*** 0,900*** 0,850*** 0,889*** 0,956*** 0,881***
Técnicos de Nível Médio 0,589*** 0,773*** 0,635*** 0,584*** 0,556*** 0,493***
Trabalhadores de Serviços Administrativos 0,458*** 0,765*** 0,558*** 0,447*** 0,349*** 0,228***
Trabalhadores dos Serviços e do Comércio 0,195*** 0,342*** 0,242*** 0,191*** 0,155*** 0,083***
Trabalhadores na Produção de
0,302*** 0,488*** 0,385*** 0,330*** 0,271*** 0,170***
Bens e Serviços da Indústria
Membros das Forças Armadas e Auxiliares 0,817*** 1,059*** 0,972*** 0,856*** 0,723*** 0,534***
Controles / Constante Sim Sim Sim Sim Sim Sim
Observações (milhões) 63,976 63,976 63,976 63,976 63,976 63,976
R² / Pseudo R² 0.533 0,310 0,280 0,314 0,351 0,373
*** Significativo a 1%; ** Significativo a 5%; * Significativo a 10%.

Tabela 5. Brasil (2014): resultados por MQP e RQ.

RQ RQ RQ RQ
Variáveis / Métodos / Quantis MQP
25 50 75 90
Dirigentes 0,883*** 0,859*** 0,840*** 0,913*** 0,942***
Profissionais das Ciências e das Artes 0,784*** 0,823*** 0,770*** 0,779*** 0,794***
Técnicos de Nível Médio 0,566*** 0,630*** 0,496*** 0,466*** 0,419***
Trabalhadores de Serviços Administrativos 0,366*** 0,514*** 0,295*** 0,166*** 0,038***
Trabalhadores dos Serviços e do Comércio 0,194*** 0,329*** 0,164*** 0,061*** -0,033***
Trabalhadores na Produção de
0,331*** 0,487*** 0,301*** 0,197*** 0,088***
Bens e Serviços da Indústria
Membros das Forças Armadas e Auxiliares 0,886*** 1,088*** 0,932*** 0,752*** 0,566***
Controles / Constante Sim Sim Sim Sim Sim
Observações (milhões) 81,131 81,131 81,131 81,131 81,131
R² / Pseudo R² 0,473 0,246 0,264 0,299 0,321
*** Significativo a 1%; ** Significativo a 5%; * Significativo a 10%.

Nota-se que em 2014, assim como em 2002, a diferença não tende à queda ou ao
aumento ao elevar os quantis das ocupações dirigentes e profissionais das ciências e das
artes, mas tende a reduzir ao elevar os quantis das demais ocupações. O diferencial médio
(MQP) em relação ao trabalhador da agropecuária caiu de 2002 para 2014 em quase todas
as ocupações, exceto para os membros das forças armadas e auxiliares e os trabalhadores
na produção de bens e serviços da indústria. A diferença máxima também se elevou de 2002
para 2014, sendo a maior diferença novamente da ocupação membros das forças armadas
e auxiliares (aproximadamente 143%).
A Tabela 6 expõe os resultados por MQP e RQ para o Nordeste referentes a 2002.
Todos os coeficientes das dummies ocupações são positivos e estatisticamente significantes

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a 1%. Ou seja, as demais ocupações tinham rendimentos superiores aos trabalhadores da
agropecuária na média (MQP) e nos quantis (RQ), como observado no Brasil no mesmo
ano. Assim, corrobora-se o argumento de que a ocupação trabalhador da agropecuária é a
que tende a remunerar menos.
Ademais, também como no Brasil em 2002, as ocupações com maiores rendimentos, na
média (MQP) e em todos os quantis (RQ), no Nordeste eram os dirigentes, os profissionais
das ciências e das artes e os membros das forças armadas e auxiliares. Os resultados se
comportam de forma distinta para as duas primeiras ocupações, similarmente ao Brasil em
2002. Estas mantêm uma diferença significativa e com pouca oscilação entre os quantis,
ao contrário das demais ocupações, nas quais, ao elevar o quantil, diminui a diferença de
rendimento. A maior diferença de rendimentos do trabalho relativamente aos trabalhadores
da agropecuária era o da ocupação de membros das forças armadas e auxiliares no quantil
10 (aproximadamente 277%).

Tabela 6. Nordeste (2002): resultados por MQP e RQ.

RQ RQ RQ RQ RQ
Variáveis / Métodos / Quantis MQP
10 25 50 75 90
Dirigentes 1,073*** 1,075*** 0,936*** 0,982*** 1,186*** 1,290***
Profissionais das Ciências e das Artes 0,982*** 1,020*** 0,905*** 0,895*** 1,089*** 1,189***
Técnicos de Nível Médio 0,638*** 0,912*** 0,706*** 0,584*** 0,537*** 0,490***
Trabalhadores de Serviços Administrativos 0,560*** 0,911*** 0,649*** 0,508*** 0,420*** 0,373***
Trabalhadores dos Serviços e do Comércio 0,231*** 0,404*** 0,240*** 0,197*** 0,182*** 0,178***
Trabalhadores na Produção de Bens e Serviços
0,271*** 0,398*** 0,331*** 0,282*** 0,271*** 0,255***
da Indústria
Membros das Forças Armadas e Auxiliares 0,962*** 1,326*** 1,119*** 0,976*** 0,844*** 0,658***
Controles / Constante Sim Sim Sim Sim Sim Sim
Observações (milhões) 16,522 16,522 16,522 16,522 16,522 16,522
R² / Pseudo R² 0,485 0,270 0,275 0,248 0,310 0,355
*** Significativo a 1%; ** Significativo a 5%; * Significativo a 10%.

A Tabela 7 mostra os resultados por MQP e RQ para o Nordeste em 2014. Os coe-


ficientes de todas as dummies ocupações são positivos e significantes a 1%. Ou seja, as
demais ocupações tinham rendimentos superiores aos trabalhadores da agropecuária, na
média (MQP) e em todos os quantis (RQ), assim como na região em 2002 e, no geral, no
Brasil nos dois anos. Logo, é mais uma evidência dos trabalhadores da agropecuária ten-
derem a ser menos remunerados.

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Tabela 7. Nordeste (2014): resultados por MQP e RQ.

RQ RQ RQ RQ RQ
Variáveis / Métodos / Quantis MQP
10 25 50 75 90
Dirigentes 1,114*** 1,117*** 1,056*** 1,046*** 1,220*** 1,288***
Profissionais das Ciências e das Artes 1,052*** 1,193*** 1,123*** 1,050*** 1,037*** 1,098***
Técnicos de Nível Médio 0,815*** 1,114*** 0,912*** 0,724*** 0,665*** 0,716***
Trabalhadores de Serviços Administrativos 0,646*** 1,078*** 0,830*** 0,566*** 0,381*** 0,331***
Trabalhadores dos Serviços e do Comércio 0,377*** 0,622*** 0,516*** 0,368*** 0,239*** 0,213***
Trabalhadores na Produção de Bens e Serviços
0,477*** 0,763*** 0,659*** 0,478*** 0,335*** 0,303***
da Indústria
Membros das Forças Armadas e Auxiliares 1,236*** 1,427*** 1,453*** 1,308*** 1,141*** 0,964***
Controles / Constante Sim Sim Sim Sim Sim Sim
Observações (milhões) 20,216 20,216 20,216 20,216 20,216 20,216
R² / Pseudo R² 0,481 0,319 0,316 0,236 0,289 0,321
*** Significativo a 1%; ** Significativo a 5%; * Significativo a 10%.

Ademais, assim como em 2002, as ocupações com maiores rendimentos, na média


(MQP) e em todos os quantis (RQ), eram: profissionais das ciências e das artes e membros
das forças armadas e auxiliares. Tais ocupações mantiveram os resultados com comporta-
mentos distintos, permanecendo um diferencial significativo com pouca oscilação ao alterar
o quantil, o que não é observado nas demais ocupações, nas quais, ao elevar o quantil, cai
a diferença de rendimento. O maior diferencial de rendimentos frente aos trabalhadores da
agropecuária permaneceu sendo o dos membros das forças armadas e auxiliares, mas no
quantil 25 (aproximadamente 328%).
A Tabela 8 expõe os resultados por RI do Brasil e do Nordeste em 2002 e 2014. Alguns
dos coeficientes das dummies ocupações não são estatisticamente significantes a 10%.
Observa-se que a única ocupação com gaps interquatílicos maiores que os trabalhadores
da agropecuária nos dois anos e no Brasil e no Nordeste é a de dirigentes. No Brasil em
2002, esta ocupação apresentava gap interquantílico aproximadamente 11% superior ao gap
dos trabalhadores da agropecuária. De 2002 para 2014, o gap caiu para aproximadamente
3,46%. No Nordeste em 2002, os dirigente apresentavam gap interquantílico aproximada-
mente 23% superior ao gap dos trabalhadores da agropecuária. De 2002 para 2014 o gap
nordestino também reduziu (para aproximadamente 17%). Comparando Brasil e Nordeste
em 2002, observa-se que a diferença é maior na região (aproximadamente 12 pontos per-
centuais); em 2014, a diferença continuou maior no Nordeste e cresceu frente a 2002 – para
aproximadamente 13 pontos percentuais.

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Tabela 8. Brasil e Nordeste (2002 e 2014): resultados por RI.

Brasil Nordeste
Variáveis / Recortes Geográficos / Anos
2002 2014 2002 2014
Dirigentes 0,100*** 0,034 0,206*** 0,156*
Profissionais das Ciências e das Artes -0,021 -0,052* 0,150** -0,038
Técnicos de Nível Médio -0,283*** -0,368*** -0,332*** -0,370***
Trabalhadores de Serviços Administrativos -0,556*** -0,714*** -0,549*** -0,743***
Trabalhadores dos Serviços e do Comércio -0,266*** -0,469*** -0,223*** -0,424***
Trabalhadores na Produção de Bens e Serviços da Indústria -0,328*** -0,539*** -0,156*** -0,491***
Membros das Forças Armadas e Auxiliares -0,480*** -0,479*** -0,620*** -0,490***
Controles / Constantes Sim Sim Sim Sim
Observações (Amostra) 140.117 144.849 41,528 38,395
Pseudo R² – quantil 90 0,3752 0,3226 0,3719 0,3309
Pseudo R² – quantil 10 0,3018 0,3099 0,2822 0,3318
*** Significativo a 1%; ** Significativo a 5%; * Significativo a 10%.

Os profissionais das ciências e artes apresentavam gap interquantílico no Brasil em


2002 inferior ao dos trabalhadores da agropecuária. Em 2014, essa diferença aumen-
tou. No Nordeste em 2002, os profissionais das ciências e das artes possuíam gap maior
que os trabalhadores da agropecuária; em 2014, a diferença inverteu. Comparando Nordeste
e Brasil em 2002, a diferença dos profissionais das ciências e artes era maior na região; em
2014, nota-se o inverso.
Os técnicos de nível médio apresentavam gap interquantílico no Brasil em 2002 menor
do que o gap dos trabalhadores da agropecuária. De 2002 para 2014, tal diferença aumen-
tou. No Nordeste em 2002, os técnicos de nível médio apresentavam gap interquantílico
inferior ao dos trabalhadores da agropecuária. Entre 2002 e 2014, assim como no Brasil,
verifica-se um aumento da diferença. Comparando Nordeste e Brasil, em 2002, a diferença
era maior na região; 2014, tal diferença continuou maior no Nordeste, mas ocorreu uma
redução de sua magnitude.
No Brasil em 2002, a ocupação de trabalhadores de serviços administrativos possuíam
gap interquantílico menor do que os trabalhadores da agropecuária. De 2002 para 2014,
esta diferença aumentou. No Nordeste em 2002, os trabalhadores de serviços administra-
tivos tinham gap menor do que os trabalhadores da agropecuária. De 2002 e 2014, essa
diferença aumentou. Confrontando Brasil e Nordeste, em 2002, a diferença era maior no
Brasil; em 2014, o inverso.
Os trabalhadores dos serviços e do comércio apresentavam gap interquantílico inferior
ao gap dos trabalhadores da agropecuária no Brasil em 2002. Em 2014, tal diferença au-
mentou. Já no Nordeste em 2002, os trabalhadores dos serviços e do comércio possuíam
gap menor do que os trabalhadores da agropecuária. Em 2014, assim como no Brasil, a
diferença aumentou. Ao comparar os dois recortes geográficos, em 2002, a diferença é maior

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no Brasil. Em 2014, a diferença sofreu uma pequena redução, mas se manteve superiora
no Brasil como um todo.
A ocupação de trabalhador na produção de bens e serviços da indústria apresentava gap
interquantílico no Brasil em 2002 menor do que os trabalhadores da agropecuária. De 2002
para 2014, ocorreu um aumento dessa diferença. No Nordeste em 2002, o gap interquan-
tílico dos trabalhadores da produção de bens e serviços também era menor do que os tra-
balhadores da agropecuária, sendo que tal diferença aumentou em 2014. Em 2002 e 2014,
a diferença entre os gaps dos trabalhadores na produção de bens e serviços industriais e
da agropecuária era superior no Brasil, tendo o diferencial em relação ao Nordeste caído
sensivelmente no período.
Finalmente, os membros das forças armadas e auxiliares apresentava gap interquan-
tílico em 2002 no Brasil menor do que o gap dos trabalhadores da agropecuária. Em 2014,
ocorreu redução dessa diferença. No Nordeste em 2002, o gap interquantílico dos membros
das forças armadas e auxiliares era menor do que o gap dos trabalhadores da agropecuá-
ria. Em 2014, tal diferença na região diminuiu. Comparando Nordeste e Brasil em 2002, a
diferença era maior na região nordestina; em 2014, o mesmo é observado, mas com um
diferencial bem inferior.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo avaliou a evolução dos diferenciais de rendimentos do trabalho pela di-
mensão ocupação, tomando como referência o trabalhador da agropecuária e comparando
o Nordeste e o Brasil. O período de análise compreendeu os anos de 2002 e 2014, momento
no qual o país apresentou redução geral da desigualdade de renda em função de políticas
redistributivas, de valorização salarial e educacionais. Assim, foi investigado como este
momento se refletiu nos diferenciais de rendimentos do trabalho segundo as ocupações.
Para isso, foram feitas análises descritivas e estimações econométricas pelos métodos de
Mínimos Quadrados Ponderados e de Regressões Quantílicas e Interquantílicas. Os dados
usados são oriundos das PNADs do IBGE.
As análises descritivas mostraram que, no período, ocorreram alterações nas partici-
pações das ocupações nos totais de ocupados do Brasil e do Nordeste. Houve aumento da
participação das ocupações com maiores rendimentos e qualificação. Contudo, persistiram
desvantagens no Nordeste: i) maiores participações de ocupações com menores rendimentos;
e ii) menores níveis de rendimentos, mesmo estes tendo aumentado em todas as ocupa-
ções, principalmente naquelas categorias da estrutura ocupacional compostas por ocupados
na parte inferior da distribuição. Outra constatação foi a de melhoras na distribuição dos

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rendimentos na maioria das ocupações, o que foi sinalizado por indicadores de desigualdade
(concentração) de renda aqui calculados.
Os resultados das estimações econométricas também sinalizaram importantes evi-
dências – nesse caso, condicionais a outros determinantes dos rendimentos do trabalho.
Primeiramente, que a ocupação de trabalhador da agropecuária é a que tem o menor nível
de remuneração, o que é ruim ao Nordeste, já que ela é uma das ocupações com maiores
participações na região. Em contrapartida, os dirigentes são a ocupação com o melhor nível
de remuneração. Ademais, as ocupações que requerem maiores níveis de qualificação são
as que têm remunerações mais elevados. No Nordeste, a ocupação de dirigente é a segunda
menor em termos de participação relativa, o que indica predominância de ocupações com
baixo rendimento na região nordestina.
Os dirigentes também são a ocupação mais concentradora de rendimentos, nos dois
anos e recortes geográficos, enquanto a ocupação com menor de concentração é a dos
trabalhadores de serviços administrativos. Assim, embora não tenha uma posição tão pri-
vilegiada, a ocupação dos trabalhadores da agropecuária não é a mais desigual, tanto no
Brasil todo como no Nordeste.
Portanto, pode-se concluir que a distribuição dos rendimentos do trabalho no Brasil
e no Nordeste, analisada pelo prisma da ocupação, melhorou no período em que o país
passou por uma redução geral da desigualdade (concentração) de renda. Os resultados do
presente estudo evidenciaram também que a ocupação de trabalhador da agropecuária era
e continua sendo a com menor nível de remuneração e uma das mais concentradoras de
rendimentos do trabalho.

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06

Índice de erosividade do território de


identidade Portal do Sertão-BA

Victor Brenno Britto de Menezes

'10.37885/220308153
RESUMO

O objetivo deste trabalho foi calcular o índice de erosividade das chuvas do território de
identidade Portal do Sertão (BA) e analisar seu comportamento espacialmente. Os dados
pluviométricos foram obtidos através do Sistema Nacional de Águas por meio da plataforma
HidroWeb, sendo obtidas séries históricas de 23 postos pluviométricos, situados em municí-
pios pertencentes ao território de identidade portal do sertão e em municípios circunvizinhos.
Após o cálculo do índice de erosividade os valores obtidos foram analisados e comparados
com os valores de acordo com as classes de interpretação. O valor do índice de erosividade
anual calculado para o Portal do Sertão foi de 5230,91 MJ.mm.ano–1.ha–1.h1–, sendo classi-
ficada como média-forte. Os valores de erosividade anual variaram de 3692,22 a 8586,75
MJ.mm.ano–1.ha–1.h1–, os quais enquadraram-se nas classes média, média-forte e forte, repre-
sentando 30,44 %, 60,86 % e 8,70 %, respectivamente. O índice de erosividade apresentou
alto coeficiente de variação, comportamento que se relaciona com a ocorrência de variados
padrões de chuva na região semiárida. O período compreendido entre os meses de setem-
bro a dezembro merece atenção por representar alto risco potencial a perda de solo devido
ao aumento observado no índice de erosividade. Durante os meses de setembro e outubro
a região apresenta baixo volume de precipitação e a vegetação da caatinga, predominante
na região, perde suas folhas reduzindo a capacidade de interceptação das gotas de chuva
e aumentando a exposição do solo. O período compreendido entre os meses de setembro a
dezembro apresenta alto risco potencial a perda de solo devido ao grande aumento obser-
vado no índice de erosividade, demandando práticas de manejo de solo conservacionistas.

Palavras-chave: Erosividade, Portal do Sertão, Conservação do Solo.


INTRODUÇÃO

A erosão hídrica é um processo que causa a degradação do solo em diversas regiões


do planeta, sobretudo em áreas de atividades agrícolas, gerando impactos econômicos sig-
nificativos (THOMAS et al, 2013). A ação do impacto direto das gotas de chuva sobre o solo
pode afetar suas características físicas, químicas e biológicas (VAEZI; AHMADI; CERDÀ,
2017; NOGUEIRA et al., 2008), reduzindo a sua capacidade produtiva e aumentando a de-
manda por insumos externos para atender as exigências nutricionais das culturas. Em estudo
realizado por Dechen et al. (2015), os autores estimam que os custos associados as perdas
de nutrientes em lavouras anuais no Brasil, estão em torno de US$ 1,3 bilhão ao ano.
Regiões de clima semiárido apresentam-se vulneráveis ao processo de desertifica-
ção, o qual pode ser intensificado pela erosão hídrica, comprometendo significativamente a
capacidade produtiva destes solos. O programa ambiental da ONU estimou que os custos
envolvendo a desertificação e a degradação da terra estão em torno de US$ 42, enquanto
o manejo sustentável do solo com prevenção e/ou recuperação de áreas degradas pode
proporcionar um retorno de US$ 1,4 trilhão em produtividade (BARBUT, 2018).
A avaliação do potencial de perdas de solo pela erosão hídrica é fundamental para
que se possa tomar medidas preventivas a fim de reduzir os seus danos sobre os so-
los. A Universal Soil Loss Equation (USLE) (WISCHMEIER; SMITH, 1978) é uma equação
empírica que leva em consideração seis fatores para determinação da perda anual de solo.
Dentre os fatores que compõem a equação está o fator R, que representa a Erosividade das
chuvas. De acordo com a Organização de Agricultura e Alimentos das Nações Unidas (FAO)
(1967), a erosividade da chuva é um índice que expressa a capacidade da chuva esperada
em uma certa localidade de causar erosão em uma área sem proteção.
O fator R é calculado diretamente a partir de dados pluviográficos, porém seu cálculo
pode ser restrito aos locais com disponibilidade deste tipo de dados, os quais são escassos
em muitas localidades. Uma alternativa utilizada para superar esta limitação são as equações
que utilizam dados pluviométricos (LOMBARDI NETO; MOLDENHAUER, 1992; LEPRUN,
1981; SILVA 2001) em substituição aos dados pluviográficos, os quais encontram-se dispo-
níveis em maior número de localidades, facilitando sua aplicação.
Um levantamento realizado por Oliveira, Wendland e Wearing, (2013) apontou a existên-
cia 75 equações de regressão para a estimativa da erosividade das chuvas no Brasil. Em estu-
do realizado por Silva (2004), o autor propôs a divisão do Brasil em oito regiões homogêneas
em termos de precipitação, indicando uma equação mais adequada para cada região. Assim,
a utilização de uma equação adequada para a região de estudo proporciona resultados mais
coerentes. O objetivo deste trabalho foi objetivo calcular o índice de erosividade das chuvas
do território de identidade Portal do Sertão (BA) e analisar seu comportamento espacialmente.

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MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi desenvolvido na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). A área


de estudo compreende 17 municípios do território de identidade Portal do Sertão, com 5,7
mil quilômetros quadrados (IBGE, 2010) (Figura 1). Os dados pluviométricos foram obtidos
através do Sistema Nacional de Águas por meio da plataforma HidroWeb, sendo obtidos
dados de séries históricas de 23 postos pluviométricos, situadas em municípios pertencentes
ao território de identidade portal do sertão e em municípios circunvizinhos (Figura 2).

Figura 1. Território de identidade Portal do Sertão.

Figura 2. Pontos de coleta de dados pluviométricos.

Após a obtenção dos dados foi realizado um pré-tratamento para a verificação da con-
tinuidade das informações e a duração das séries históricas, visando seguir recomendações
de Bertoni e Lombardi Neto (1990) para utilização de séries históricas com mínimo 20 anos
de registro. A erosividade foi determinada através da equação proposta por Silva (2004).

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(2)

Onde Rx é a erosividade da chuva para cada mês (MJ.mm.ha–1.h–1), Mx as precipita-


ções médias mensais (mm) e P a precipitação média anual (mm).
Após o cálculo do índice de erosividade os valores obtidos foram analisados e compa-
rados com os valores de acordo com as classes de interpretação propostas por Foster et al.
(1981), modificado para o sistema internacional de unidades por Carvalho (1994).

Tabela 1. Classes de interpretação de erosividade anual (R).

Erosividade (MJ.mm.ano.ha–1.h–1) Classes de erosividade


R ≤ 2.452 Erosividade baixa
2.452 < R ≤ 4.905 Erosividade média
4.905 < R ≤ 7.357 Erosividade média-forte
7.357 < R ≤ 9.810 Erosividade forte
R > 9.810 Erosividade muito forte
Fonte: Carvalho (1994), modificado de Foster et al. (1981).

Com os resultados obtidos foram criadas tabelas para a análise dos dados, as quais
posteriormente foram inseridas no software Arcgis 10.5. Através da ferramenta interpolação
de dados foram gerados mapas de erosividade utilizando-se o método de Krigaggem ordiná-
ria. Este método de interpolação baseia-se numa função contínua, a qual explica o compor-
tamento de uma determinada variável nas direções de um espaço geográfico (GARDIMAN
JUNIOR et al., 2012).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O valor do índice de erosividade anual calculado para o Portal do Sertão foi de 5230,91
MJ.mm.ano–1.ha–1.h1–, sendo classificada como média-forte. Os valores de erosividade anual
dos municípios variaram de 3692,22 a 8586,75 MJ.mm.ano–1.ha–1.h–1, os quais enquadra-
ram-se nas classes média, média-forte e forte, representando 30,44%, 60,86% e 8,70%,
respectivamente. Os valores encontrados estão de acordo com os obtidos por outros pes-
quisadores em estudos do índice de erosividade (OLIVEIRA; WENDLAND; NEARING, 2013;
PANAGOS et al., 2017; SILVA, 2004; TRINDADE et al., 2016).
O maior valor do índice de erosividade anual foi observado no posto 5 (8.586,75 MJ.mm.
ha–1.h–1), enquanto o menor valor observado foi do posto 3 (3.692,22 MJ.mm.ha–1.h–1), tendo
portanto, uma variação de 4.894,53 MJ.mm.ha–1.h–1 na erosividade anual dos postos estu-
dados. O índice de erosividade anual no Brasil apresenta grande variação espacial, compor-
tamento que se relaciona com a distribuição da pluviosidade nas diferentes regiões do país,
com valores que variam de 1672 a 22.452 MJ mm ha−1h−1ano−1, onde os maiores valores de

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erosividade são observados nas regiões Norte e Sudeste, enquanto a região Nordeste apre-
senta menores valores (OLIVEIRA; WENDLAND; NEARING, 2013; TRINDADE et al., 2016).

Figura 3. Erosividade anual e mensal no Portal do Sertão.

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Erosividade dos municípios (MJ.mm.ha-1.h-1)
Municípios
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Anual
Posto 1 4360,37 6567,12 9916,31 5597,13 9086,20 6485,95 3224,04 2235,56 1896,46 1013,96 4246,77 5706,59 5230,91
Posto 2 3632,81 6258,53 6263,59 15630,74 19248,71 16261,74 15059,56 6281,58 4091,60 4062,40 5676,25 4596,54 8315,06
Posto 3 2543,23 2653,28 7038,10 5593,47 5422,84 4960,58 2436,86 1464,83 1583,54 2206,82 1922,60 4672,66 3692,22
Posto 4 4909,93 4036,54 6799,98 5997,42 4734,80 5709,35 6585,41 3808,15 1952,58 1786,27 7454,51 6824,73 5060,00
Posto5 2591,40 5508,50 10414,30 12310,00 21717,74 14890,28 9425,94 6380,09 3683,82 2603,36 6395,69 4983,86 8586,75
Posto 6 5303,14 3323,78 4640,79 5290,91 7779,47 5709,31 9070,23 5104,92 1971,86 1638,34 8837,56 8167,71 5476,90
Posto 7 4062,66 5209,25 7135,81 10781,58 8621,63 8107,78 6930,82 2852,26 4356,78 4501,73 4519,78 4030,08 5965,21
Posto 8 3707,73 6429,90 5383,01 4027,44 5646,13 6695,06 3358,57 1455,67 1511,78 2693,53 4276,33 3439,96 4026,53
Posto 9 6195,91 5725,40 5418,78 11278,58 9040,34 6428,72 6690,61 3485,56 3277,00 2495,54 3725,15 5006,05 5750,33
Posto 10 3943,28 2678,89 7705,45 7264,66 7416,29 5710,23 6161,94 2533,40 1917,86 1650,21 6495,38 4037,96 5342,18
Posto 11 3527,36 5380,18 7187,84 6609,85 9216,52 7042,31 6408,96 3616,55 2009,84 2973,99 3996,95 4260,81 5174,13
Posto 12 4834,30 4661,28 7420,56 4184,79 3425,06 5779,38 5822,81 2402,52 1062,16 2111,95 6109,38 7548,51 5121,31
Posto 13 4229,65 3828,15 7881,75 6689,85 10111,53 6242,52 6263,72 2895,62 2161,42 2863,27 7472,32 5614,83 5795,28
Posto 14 3208,38 3442,57 4857,27 8372,87 12422,85 8536,74 8101,17 5643,13 2421,14 3225,17 5458,17 4474,14 6014,97
Posto 15 1919,22 2730,65 9303,52 6561,95 9274,01 7181,02 8210,03 4805,78 2632,98 1853,12 5730,67 4708,35 5415,46
Posto 16 6035,67 6698,67 10443,78 4292,41 1692,06 2710,28 2312,82 1369,39 1022,32 1248,54 4573,46 8131,12 4550,74
Posto 17 4627,54 4221,04 5012,03 3261,07 2877,90 2251,01 2918,74 1241,87 712,24 1167,99 6203,54 9115,25 4353,07
Posto 18 3843,21 3608,92 6438,36 8977,50 4869,80 4232,77 4840,11 3128,93 2071,15 1984,92 4399,61 5759,02 4474,46
Posto 19 7668,33 7236,01 6584,72 6557,51 4802,89 4737,26 3334,56 1517,31 1821,41 2113,49 14695,11 21358,00 6622,56
Posto 20 6096,79 5774,72 7222,41 5214,91 5316,44 5397,50 3675,35 1799,85 1606,65 1589,16 4764,43 7527,35 4686,59
Posto 21 3846,56 4648,45 6207,40 6829,82 8130,35 6170,34 7063,51 3838,87 2523,58 2126,57 6003,93 9098,25 5142,51
Posto 22 9641,85 9955,12 3776,34 2729,29 6786,64 3831,07 2950,69 1749,63 1689,27 4612,40 5308,02 9921,38 5218,83
Posto 23 3807,69 3959,77 5907,90 9455,80 13570,70 10567,89 6447,42 3377,33 2693,01 2616,66 7148,71 5701,04 6568,85
Média 4062,66 4661,28 6799,98 6561,95 7779,47 6170,34 6263,72 2895,62 1971,86 2126,57 5676,25 5701,04 5230,91

87
A tabela 3 apresenta a estatística descritiva, onde é possível observar que o índice de
erosividade apresentou alto coeficiente de variação, comportamento que se relaciona com a
ocorrência de variados padrões de chuva na região semiárida (LIMA et al., 2013; RIBEIRO
FILHO et al., 2017). O comportamento do índice de erosividade do Portal do Sertão é in-
fluenciado pelas características climáticas da região semiárida, que se estende do Norte do
estado de Minas Gerais até o estado do Ceará, ocupando 982.563 km² do território nordestino
(BEZERRA, 2017), apresentando regime pluviométrico de 200 a 1300 mm.

Tabela 3. Estatística descritiva do índice de erosividade no Portal do Sertão.


Desvio-pa- Coeficiente de
Mês Média Mínimo Máximo
drão variação
-----------(MJ.mm.ano.ha–1.h–1)---------- (%)
Janeiro 4062,65 1919,22 9641,85 1721,69 42,37
Fevereiro 4654,86 2653,28 9955,12 1752,02 37,63
Março 6584,72 3776,34 10443,78 1799,13 27,32
Abril 6561,95 2729,29 15630,74 3125,77 47,63
Maio 7101,46 1692,06 21717,74 4824,9 67,94
Junho 6170,34 2251,01 16261,74 3317,12 53,75
Julho 6161,94 2312,82 15059,56 2934,5 47,62
Agosto 2895,61 1241,87 6380,09 1583,97 54,7
Setembro 1944,85 712,24 4356,78 929,8 47,8
Outubro 2126,56 1013,96 4612,4 981,04 46,13
Novembro 5567,2 1922,6 14695,11 2435,95 43,75
Dezembro 5701,03 3439,96 21358 3696,05 64,83
Anual 5218,82 3692,22 8586,75 1179,57 22,6

Em outros estudos realizados na região Nordeste, pesquisadores obtiveram resultados


semelhantes de erosividade anual, obedecendo as características pluviométricas da região.
Aragão et al. (2011) calculando a erosividade das chuvas no rio Japaratuba em Sergipe,
obtiveram valor médio anual de 5638,3 MJ mm ha–1 ano–1 com o coeficiente de variação de
30%. Neste mesmo estudo os autores observaram uma grande variação entre os municípios
estudados, a qual relaciona-se com as características pluviométricas de cada localidade.
Comportamento semelhante para a erosividade anual tem sido observada em regiões se-
miáridas (REJANI, et al., 2016; NEARING, et al., 2015).
A ocorrência de fenômenos climáticos que alterem o comportamento da pluviosidade
pode afetar o comportamento do índice de erosividade. O padrão de comportamento da
pluviosidade é alterado pelas oscilações na temperatura da superfície do mar no Pacífico
equatorial, podendo aumentar ou reduzir a ocorrência de precipitação e a capacidade erosiva
da chuva (Figura 4) (MELLO et al., 2011; PAULA et al., 2010). Mello et al. (2011) e Costa;
Blanco (2018), observaram alterações significativas no comportamento da erosividade quan-
do da ocorrência de alterações na temperatura da superfície do mar no Pacífico equatorial.

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Figura 4. Variação anual dos índices de erosividade e pluviosidade no Portal do sertão.

O Portal do Sertão está localizado em uma zona de transição climática, apresentando


desuniformidade na distribuição da pluviosidade e variações nos padrões de chuva ao longo
do território, gerando variação no comportamento da erosividade (ARAGÃO et al., 2011;
HASTENRATH, 2012; RODRIGUEZ et al., 2015). O índice de erosividade anual apresen-
tou um padrão de crescimento no sentido oeste-leste, ou seja, foi menor na zona oeste,
de clima semiárido e aumentou em direção à zona leste, de clima tropical, onde foram ob-
servadas as áreas com maior erosividade. Regiões próximas ao litoral apresentam maior
regime pluviométrico, o que contribui para o aumento do índice de erosividade, enquanto
a irregularidade e os baixos índices de precipitação anual reduzem o índice de erosividade
em regiões semiáridas (ALMEIDA et al., 2017; OCHOA et al., 2016).
Analisando os valores do índice de erosividade percebe-se que há uma variação sig-
nificativa entre os meses. Os maiores valores do índice de erosividade foram observados
no período compreendido entre os meses de março a julho, passando de média-forte a
forte erosividade ao longo deste período, com destaque para os meses de março, abril e
maio. Os valores de erosividade mensal classificados como baixa, média, média-forte e forte
representaram 17%, 25%, 50% e 8%, respectivamente.
A distribuição desuniforme da pluviosidade durante o intervalo de tempo de um ano
proporciona valores de erosividade altos para alguns meses do ano, comportamento diferente
do observado para a erosividade anual. Assim, a variação na distribuição pluviométrica anual
proporciona variação na erosividade durante os meses, com os maiores valores concen-
trados no trimestre de março a maio. Este padrão de comportamento de concentração da
erosividade durante a estação chuvosa tem sido observado por outros autores em estudos
realizados na região Nordeste do Brasil (SANTOS; MONTENEGRO, 2012; ARAGÃO et al.,
2011; LIMA et al., 2013).

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A variação no comportamento da erosividade na área de estudo pode ser observada
em alguns postos com maior intensidade, como nos postos 4, 6, 10, 12, 13, 17, 19 e 23,
com destaque para o posto 19, o qual apresentou um aumento de 12.581,62 MJ.mm.ha-1.h-1,
entre os meses de outubro a novembro, seguido por outro aumento de 6.662,89 MJ.mm.
ha-1.h-1, entre os meses de novembro a dezembro.
Os meses de agosto, setembro e outubro apresentaram os menores valores de erosi-
vidade, com destaque para o mês de setembro, com valor de erosividade 1.971,86 MJ.mm.
ha–1.ano–1. Neste período, a ocorrência de precipitação é extremamente baixa na região
semiárida, reduzindo os valores de erosividade na região (ALMEIDA et al., 2017; AMARAL;
DANTAS; CARVALHO NETO, 2014; SANTOS; MONTENEGRO, 2012).
O período compreendido entre os meses de setembro a dezembro merece atenção
por representar alto risco potencial a perda de solo devido ao aumento observado no índice
de erosividade. Durante os meses de setembro e outubro a região apresenta baixo volu-
me de precipitação e a vegetação da caatinga, predominante na região, perde suas folhas
(FERNANDES; QUEIROZ, 2018; MAASS; BURGOS, 2011), reduzindo a capacidade de
interceptação das gotas de chuva e aumentando a exposição do solo.
A perda de solo por erosão está relacionada, dentre outros fatores, com a capacidade
da chuva em erodir o solo. Assim, os eventos de precipitação apresentam variações quanto
a sua capacidade de causar perdas de solo, como observado por Ribeiro Filho et al. (2017),
Lima et al. (2013), Chamizo et al. (2012), e Liu et al. (2012), em estudos em regiões de
clima semiárido.
O manejo do solo é um fator determinante no processo erosivo (WISCHMEIER; SMITH,
1978), por isso, manejos que proporcionam a presença constante de cobertura do solo são
menos susceptíveis a erosão em comparação a sistemas em que os solos se encontram
descobertos, sob iguais condições dos demais fatores envolvidos no processo erosivo (LIMA
et al., 2013; RIBEIRO FILHO et al., 2017). Dentro desse contexto tem-se observado efeitos
benéficos em sistemas conservacionistas sobre as características do solo nos sistemas cultivo
em comparação com os sistemas convencionais (ALMEIDA et al., 2016; ZOLIN et al., 2016).

CONCLUSÃO

As chuvas incidentes sobre o Portal do Sertão apresentam um índice de erosividade


anual de 5230,91 MJ.mm.ano–1.ha–1.h1– classificado como média-forte. A irregularidade das
chuvas e sua má distribuição provocam variações no índice de erosividade. O período com-
preendido entre os meses de setembro a dezembro apresenta alto risco potencial a perda de
solo devido ao grande aumento observado no índice de erosividade, demandando práticas
de manejo de solo conservacionistas.

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07

Levantamento de plantas tóxicas de


interesse pecuário na Ilha de São Luís - MA

Nélio Barros Freitas Natan Lima Abreu


UEMA UFRA

Jonathan dos Santos Viana Wanessa Samara do Nascimento


UNESP/FCAV Oliveira
UNESP/FCAV

'10.37885/220308448
RESUMO

A intoxicação por plantas é sabidamente uma das principais causas de morte de animais
adultos de interesse zootécnico no Brasil. As plantas tóxicas são caracterizadas como todos
os vegetais que, introduzidos no organismo dos homens ou de animais domésticos, são
capazes de causar danos à saúde e vitalidade desses seres. O presente estudo teve como
objetivo determinar a ocorrência das principais plantas tóxicas de interesse pecuário na ilha
de São Luís, Maranhão. Para a identificação das plantas tóxicas, foram realizadas visitas
em 31 propriedades nos municípios de São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e
Raposa, no período de agosto-novembro de 2016, onde qual foi realizada coleta e identi-
ficação botânica de espécies de plantas tóxicas. A espécie Ipomoea asarifolia (Salsa) foi
caracterizada como a planta tóxica de maior ocorrência, encontrada em todos os municípios
da ilha de São Luís. Porém, o maior número de relatos de surtos foi atribuído a Manihot
esculenta (Mandioca), principalmente nos municípios de Paço do Lumiar e Raposa, onde a
planta foi encontrada em todas as propriedades visitadas. A planta de menor ocorrência foi
a Senna occidentalis (fedegoso), porém não se deve subestimar o potencial tóxico e eco-
nômico dessas espécies apenas por ser encontrada em menor número. Conclui-se que há
plantas tóxicas de interesse pecuário na região da Ilha de São Luís e que ocorrem sinais de
intoxicação, porém estes são subestimados. Deve-se fazer o controle ou erradicação das
espécies nos locais onde os animais têm acesso, principalmente na época da estação seca,
quando há escassez de forragens e disponibilidade dessas plantas.

Palavras-chave: Plantas Tóxicas, Pecuária, Toxicologia, Maranhão.


INTRODUÇÃO

As plantas tóxicas de interesse pecuário são responsáveis por prejuízos à bovinocultura


em todo o mundo. No contexto brasileiro, essas plantas causam perdas econômicas signifi-
cativas e diretas, como a morte súbita dos animais (Pessoa et al., 2013), redução de índices
reprodutivos tais como a infertilidade e o aborto, além da diminuição na produtividade dos
animais que sobreviveram a essas intoxicações e outras alterações devido às enfermidades
transitórias pela maior susceptibilidade, em função da diminuição na resposta imunológica
(MELLO et al., 2010).
A mortalidade após exposição crônica a algumas espécies, ou seja, quando os animais
adoecem ao longo do tempo ou quando a mortalidade é esporádica, bem como a perda de
peso progressiva que antecede ao óbito frequentemente é atribuída à baixa qualidade da
alimentação, verminoses e manejo sanitário ineficiente.
Algumas plantas daninhas são extremamente tóxicas e a sua presença nas pastagens
traz consigo muitos problemas para os pecuaristas, devido principalmente à perda de ani-
mais intoxicados. São exemplos destas plantas as espécies: Palicourea marcgravii A. St-Hil.
Rubiaceae (erva-de-rato), Pteridium aquilinum L. Kuhn Dennstaedtiaceae (samambaia) e
Baccharis coridifolia DC. Asteraceae (mio-mio) que podem levar a morte um animal que
ingira 700 mg de material vegetativo por quilo de peso vivo (no caso da erva-de-rato) e 1000
mg (no caso do mio-mio) (SVICERO et al. 2015).
Além de todos os impactos negativos para produção animal citados anteriormente, a
ocorrência de plantas tóxicas em pastagens promove a queda da capacidade de suporte
do cultivo, aumenta o tempo de formação e recuperação do pasto e compromete o valor
estético das propriedades (MATOS et al. 2011).
A falta da definição do que seja planta tóxica do ponto de vista da pecuária, fez com
que, de uma maneira geral no Brasil, inúmeras plantas fossem indevidamente incluídas
nesta categoria. Tal fato tem causado muita confusão em torno do assunto (SOUZA, 2014).
Nos Estados Unidos, por exemplo, a importância dada a este problema é tão significa-
tiva, que existe um programa para o controle de espécies tóxicas em pastagens, no qual, o
governo subsidia uma parte do custo do herbicida utilizado pelos pecuaristas. Em contraste,
no Brasil, ainda não foi percebida a real dimensão do problema das plantas tóxicas.
Dobereiner et al. (2000), publicaram algumas informações sobre os prejuízos causados
por plantas tóxicas ao rebanho do Estado do Rio Grande do Sul extrapolando os dados para
o Brasil, mostrando que o agronegócio da pecuária está sujeito a grandes perdas devido a
ocorrência de plantas tóxicas nas pastagens. Além disso, alguns outros estudos já foram
publicados, porém não existe nenhuma informação sobre a ocorrência de plantas tóxicas
nas pastagens no estado do Maranhão.

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O Maranhão tem o segundo maior rebanho de bovinos da região Nordeste com
7.758.353 cabeças (26,4%) perdendo apenas para o Estado da Bahia, que possui o efetivo
de 10.824.134 (36,9%) (IBGE, 2014). A criação de ruminantes e equídeos no estado do
Maranhão é quase que exclusivamente no sistema de criação extensivo, em alguns casos
chegando até ao sistema de criação semi-extensivo.
De acordo com Souza (2014), esses sistemas de criação permitem uma grande exposi-
ção dos animais de produção às plantas tóxicas, principalmente quando há presença dessas
espécies nas áreas de pastejo. O referido autor afirma também que há grandes dificuldades
de reconhecimento prático e visual das espécies tóxicas pelos profissionais, pecuaristas e
demais interessados, necessitando assim de informações acessíveis e regionalizadas para
rápida identificação das espécies tóxicas.
Neste sentido, a necessidade da execução de um estudo regionalizado ou municipa-
lizado, a respeito da possível presença de plantas tóxicas, bem como os principais sinais
clínicos como, por exemplo, fotossensibilização, aborto, perda de peso e hemorragias, foi
o que motivou a realização deste estudo. Desta maneira, objetivou-se realizar um levanta-
mento, nas áreas de pastagens nos municípios de Raposa, são José de Ribamar, Paço do
Lumiar e São Luís - MA, sobre plantas tóxicas que podem causar prejuízos econômicos à
pecuária na região nordeste do Brasil.

MATERIAL E MÉTODOS

Caracterização da área de estudo

O período de realização do levantamento de plantas tóxicas se deu entre agosto a


novembro de 2016 nos municípios de São José de Ribamar, Raposa, Paço do Lumiar e
São Luís, localizados na Ilha de Upaon Açú, também conhecida como Ilha Grande ou Ilha
de São Luís (Figura 1) (IBGE, 2016).

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Figura 1. Estado do Maranhão com destaque a ilha de São Luís.

Fonte: acta.inpa.gov.br e www.scielo.br adaptado pelo Autor.

A Ilha de São Luís localiza-se no norte do Estado do Maranhão, região nordeste do


Brasil, coordenadas geográficas 2º 31’ 48” latitude Sul e 44º 18’ 10” de longitude Oeste, com
área total de aproximadamente 1.410 Km2. O clima da região é do tipo AW segundo a clas-
sificação de Köppen, tropical chuvoso, com uma estação seca de julho a dezembro e outra
chuvosa de janeiro a junho com predominância de chuvas entre os meses de fevereiro e
maio, com médias mensais de 382; 422; 473 e 320 milímetros de precipitação pluviométrica
nos meses de fevereiro, março, abril e maio, respectivamente.
A temperatura média anual oscila em torno de 28º C. Em relação a hidrografia a região
conta com rios que desaguam em diversas direções abrangendo dunas e praias dentre eles
estão os de pequeno porte como os rios: Paciência, Timbiras, Maracanã, Cachorro, Coqueiro,
Calhau e rio Pimenta, e os rios de maior porte que deságuam na Baia de São Marcos como
o rio Anil, com 13.800 m de extensão e o Rio Bacanga, com 9.300 m de extensão.
A vegetação da ilha de São luis é constituida de matas secundárias, mangue-
zais, restingas e apicuns. E encontra-se três classes de uso urbano: denso, esparso e
industrial. Em termos de extensão, os principais solos encontrados na ilha de São Luis
são: RQ Neossolos Quartzarênico, SM Solos Indiscriminados de Mangue, Àrea Urbana,
PVAc Argilossolo Vermelho-Amareloconcrecionário, PVAc+PVA Argissolo Vermelho-Amarelo
Concrecionário + Argissolo Vermelho-Amarelo, GX + RY Gleissolo Háplico + Neossolo Flúvico
(NUCLEOGEO/UEMA, 2012).

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Critérios de escolha do local para a pesquisa

As propriedades foram selecionadas aleatoriamente e a quantidade foi determinada


de acordo com a área territorial de cada município. Nos municípios com maiores áreas ter-
ritoriais, foram aplicados maior número de questionários. A análise dos dados foi realizada
de forma descritiva. A razão para a escolha do período do ano para a coleta de dados está
relacionada com a época das secas no estado do Maranhão, cujo período mais crítico é de
agosto a novembro. É nesse período que a escassez de forragens na região chega a períodos
críticos, o que leva os animais a comerem tudo que lhes é disponibilizado, inclusive as plantas
com princípios tóxicos, que nesses períodos, são as únicas espécies verdes disponíveis.

Coleta de dados

Essa Pesquisa foi realizada em duas etapas, na primeira, foram feitas consultas a
órgão de dados estáticos (IBGE, MAPA, AGED, Secretárias de Agricultura estadual e mu-
nicipais) para obtenção de dados para que se pudesse obter uma amostragem significativa
da problemática.
Na segunda etapa foram feitas visitas às propriedades para aplicação dos questionários
para determinação e identificação dessas plantas tóxicas de interesse pecuário na ilha de
São Luís. Foram visitadas 31 propriedades, onde as áreas de pastejo foram vistoriadas a
pé e todas as espécies indicadas como tóxicas existentes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No levantamento realizado em 31 propriedades da ilha de São Luís, foram encontra-


das 14 espécies de toxicidade comprovada, porém apenas 10 de interesse pecuário e com
sinais clínicos semelhantes aos descritos previamente na literatura. O número plantas por
espécies encontradas nos quatro municípios encontra-se na Figura 1.
Houve relatos dos produtores de mais duas plantas que estariam causando surtos de
intoxicação, porém não foi possível identifica-las, pois na época das visitas, essas plantas
não foram encontradas nas propriedades.

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Figura 1. Espécies de plantas tóxicas de interesse pecuário encontradas em 4 municípios da ilha de São Luís – MA.

Ocorrência de plantas tóxicas de interesse pecuário

Os dados obtidos mediante a aplicação dos questionários em 31 propriedades pes-


quisadas nos municípios de São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa
localizados na Ilha de São Luís – MA, estão apresentados nas Tabelas 1, 2 e 3.

Tabela 1. Espécies de plantas tóxicas de interesse pecuário encontradas em 10 propriedades no município de São Luís - MA.

Município – São Luís


Espécies tóxicas de Interesse pecuário
P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10
Ipomoea asarifolia (Salsa) X X - X X X X X - X
Crotalaria sp. (Crotalária) - X X X - X X X - X
Ricinus communis (Mamona) X X - - X - X X - X
Leucena leococephala (Leucena) X X - X X - - - - X
Manihot esculenta (Mandioca) - - - X - - X X - X
Calotropis procera (Flor-de-seda) - X - - X - - - - X
Ipomoea carnea subsp. fistulosa (algodão –
- - - X - - - - - X
bravo)
Brachiaria decumbens (capim braquiária) - - X - - - X - - -
Senna obtusifolia (mata-pasto) - X - X - - - - - -
Senna occidentalis (fedegoso) - X - - - - - - - -

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Tabela 2. Espécies de plantas tóxicas de interesse pecuário encontradas em 10 propriedades no município de São José
de Ribamar, na Ilha de São Luís – MA.

Município – São José de Ribamar


Espécies tóxicas de interesse pecuário
P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10
Ricinus communis (Mamona) X X X - X - X - X X
Ipomoea asarifolia (Salsa) - X X X X - X - X X
Crotalaria sp. (Crotalária) X X - X X - X X X -
Calotropis procera (Flor-de-seda) X - - - X - X - - -
Manihot esculenta (Mandioca) - - X X - - - - - -
Brachiaria decumbens (capim braquiária) - - X X - - - - - -
Manihot esculenta (Mandioca) - - X X - - - - - -
Leucena leococephala (Leucena) - X - - - - X - - -
Ipomoea carnea subsp. fistulosa (algodão –bravo) - - - X - - - - - -
Senna obtusifolia (mata-pasto) - - - X - - - - - -

Tabela 3. Espécies de plantas tóxicas de interesse pecuário encontradas em 6 propriedades no município de Paço do
Lumiar e 4 propriedades no município de Raposa na Ilha de São Luís – MA.

Municípios

Espécies tóxicas de interesse pecuário Paço do Lumiar Raposa

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P1 P2 P3 P4 P5
Manihot esculenta (Mandioca) X X X X X X X X X X X
Ipomoea asarifolia (Salsa) X X X X X X X X X X X
Ricinus communis (Mamona) X X X X X X X X X X X
Brachiaria decumbens (capim braquiária) - X X X X X X X X - X
Calotropis procera (Flor-de-seda) - - - X - X - X - - -
Leucena leococephala (Leucena) - - X - - - - - X - -
Crotalaria sp. (Crotalária) - - X - - - - - - - X

A espécie tóxica de interesse pecuário de maior ocorrência em todo o estudo foi Ipomoea
asarifolia (Salsa) encontrada em 26 (83,8%) de todas as propriedades visitadas. Nos muni-
cípios de Paço do Lumiar e Raposa, essa espécie foi encontrada em todas as propriedades
visitadas. No município de São Luís a referida espécie foi encontrada em 80% e em São
José de Ribamar em 70% das propriedades. Houve casos de intoxicação dos animais em
46% das propriedades em que havia a presença dessa espécie. Cinquenta por cento dos
entrevistados conhecem relatos de intoxicação de animais por I. asarifolia em outras regiões.
Foram relatados casos de intoxicação em quatro animais (bovinos) em uma propriedade
em Paço do Lumiar e de cinco animais em uma propriedade em São Luís na qual os animais
apresentaram sintomas de intoxicação como, por exemplo, incoordenação motora, aborto
e falta de apetite, sintomas estes característicos de intoxicação por essa planta, segundo
Silva (2010) e Matos et al. (2011). Também foi relatado caso de intoxicação em bovinos
no município de São José de Ribamar e em ovinos em uma propriedade no município de
Raposa, ambos com sintomas similares aos acima descritos.
Em levantamento sobre a ocorrência de plantas tóxicas em municípios da Mesorregião
Norte Piauiense, Mello et al. (2010) relataram que essa espécie foi citada por 51 entrevistados

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(46%). Costa (2009), em um levantamento sobre a ocorrência de plantas tóxicas de interesse
pecuário nas regiões de Araguaína e Bico do Papagaio, região norte do Tocantins, em relata
que dos 172 entrevistados, 21,5% conheciam I. asarifolia e relataram a ocorrência de 11
surtos de intoxicação em bovinos adultos decorrente da ingestão dessa espécie.
A segunda espécie tóxica de maior ocorrência foi a Ricinus communis (Mamona),
presente em 24 (77,4%) das propriedades visitadas. A espécie foi encontrada em todas
as propriedades dos municípios de Raposa e Paço do Lumiar e em 60% das propriedades
pesquisadas no município de São Luís e em 70% das propriedades visitadas em São José
de Ribamar. Cinquenta e quatro por cento dos entrevistados relataram casos de intoxicação
por ingestão dessa espécie também em outras regiões.
Em 37,5% das propriedades em que havia a presença de R. communis teve casos
de intoxicação porem em nenhum dos casos houve sintomas parecidos com os sintomas
característicos de intoxicação pela ingestão dessa espécie citados por Silva (2010).
Resultados similares foram relatados por Costa (2009) em levantamento de plantas tóxi-
cas realizados nas regiões de Araguaína e Bico do Papagaio no norte do estado do Tocantins
onde a referida espécie foi encontrada em 80% das propriedades pesquisadas. Em con-
traste, Mello et al. (2010) em levantamento realizado no norte piauiense informou que de 71
entrevistados apenas um produtor relatou a intoxicação em dois bovinos pela ingestão das
folhas da mamona, dos quais um morreu e o outro e recuperou.
Em levantamento de plantas tóxicas para ruminantes e equídeos no Seridó Ocidental
e Oriental do Rio Grande do Norte, Silva et al. (2006), informam que apenas um criador
dentre 68 entrevistados relatou a intoxicação em 15 bovinos, de um rebanho de 180 animais.
A espécie Manihot esculenta (Mandioca) foi encontrada em 17 (54,8%) das proprie-
dades visitas. Nos municípios de Raposa e Paço do Lumiar essa planta foi encontrada em
todas as propriedades pesquisadas, enquanto que no município de São Luís foi encontrada
em 4 (40%) das propriedades visitadas e no município São José de Ribamar em 2 (20%)
das propriedades visitadas.
Foi relatada a ocorrência de mandioca em 11(64,7%) propriedades visitadas na Ilha
de São Luís. Além disso, 13 criadores (41,9%) dos entrevistados, informaram também ter
conhecimento de casos de intoxicação de animais por essa planta em outras regiões. Em to-
das as propriedades onde houve a ocorrência dessa planta na ilha de São Luís, foram rela-
tados casos de intoxicação dos animais, porém em apenas oito propriedades, os sintomas
apresentados são característicos de intoxicação pela ingestão da M. esculenta citados por
Matos et al. (2011).
Os surtos ocorreram em quatro propriedades de criadoras de Ovinos na cidade Paço
do Lumiar, onde o principal sintoma apresentado foi embriagues, inclusive com a morte de

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102
oito animais em uma das propriedades. Houve também relatos de um surto em uma proprie-
dade de criação de caprinos e ovinos no mesmo município, onde 34 animais apresentaram
sintomas como embriagues e tonturas, destes, quatro animais vieram a óbito. Por outro
lado, no município de Raposa, foram relatados surtos periódicos em uma propriedade de
criação de caprinos e ovinos, com a mesma sintomatologia citada acima, em que quatro
animais vieram a óbito.
Em Paço do Lumiar também houve outros relatos de intoxicação em uma propriedade
de criação de bovinos, em outra de criação de bovinos e ovinos e em outra de criação de
bovinos e caprinos. Nessas propriedades, os animais apresentaram sintomas característicos
de intoxicação por ingestão de mandioca, porém, todos se recuperaram.
No levantamento feito por Santa’Ana et al. (2014) em propriedades localizadas na
região sudeste de Goiás, foram descritos quatro surtos de intoxicação em bovinos e um em
ovinos, onde todos os animais morreram minutos depois de ingerirem a casca fresca das
raízes da mandioca.
Espécies de Crotalária (Crotalaria spp.) foram encontradas em 16 (51,6%) do total
das propriedades visitadas, com destaque para C. spectabilis L. e C. retusa L. A ocorrência
dessas espécies foi maior nos municípios de São Luís e de São José de Ribamar sendo
encontradas em 7 (70%) das propriedades visitadas de cada município. Em contraste, no
município de Raposa C. spectabilis foi encontrada em apenas uma das cinco propriedades
visitadas, o mesmo ocorreu no município de Paço do Lumiar onde houve relato de intoxi-
cação dos animais na propriedade, porem a sintomatologia apresentada pelos animais não
está de acordo com os sintomas decorrentes de intoxicação por Crotalaria spp. citadas por
Costa (2009) e Riet-Correa et al. (2011).
Apenas 9,6% dos entrevistados relataram a ocorrência de intoxicação por Crotalaria spp.
em outras regiões. Costa (2009) relata que apenas um produtor do município de Araguaína
relatou caso de intoxicação em dois bovinos que ingeriram sementes de Crotalaria sp. por
30 dias em uma área onde havia a planta. Mello et al. (2010) relata que dos 71 entrevistados
no levantamento feito sobre plantas tóxicas para ruminantes e equídeos no Norte Piauiense,
apenas dois criadores relataram terem visto casos de intoxicação por essa planta e apenas
um responsabilizou a planta por um caso de aborto ocorrido.
A espécie Brachiaria decumbens (capim braquiária) foi encontrada em 13 (41,9%) das
propriedades visitadas. A maior ocorrência foi registrada no município de Paço do Lumiar,
onde a espécie foi encontrada em 5 (83,3%) das propriedades visitadas, seguida do muni-
cípio de Raposa onde foi encontrada em 4 (80%) e São Luís com 2 (20%) e São José de
Ribamar, também com 2 (20%) das propriedades visitadas.

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Em 12 (92%) das propriedades onde existe essa gramínea, os criadores relataram
algum caso de intoxicação, mas os sintomas citados não se igualam aos citados por Souza
et al. (2010) e Mustafa et al. (2012). Por outro lado, em todas as propriedades visitadas nesta
pesquisa onde há o cultivo de B. decumbens, os criadores relataram ter conhecimento da
ocorrência de intoxicação decorrente da ingestão da mesma em outros locais.
Sant’Ana et al. (2014) em levantamento realizado para identificar plantas tóxicas para
ruminantes na região sudeste de Goiás, registrou que 94 (86,7%) dos entrevistados relataram
casos de intoxicação por Brachiaria spp. em bovinos e ovinos.
A espécie Leucena leococephala (Leucena), foi registrada em 9 (29%) das proprieda-
des. O município de maior ocorrência foi São Luís onde a planta foi encontrada em 5 (50%)
propriedades. Nos municípios de São José de Ribamar, Raposa e Paço do Lumiar a ocor-
rência foi de 2 (20%), 1 (20%) e 1 (16,6%) das propriedades pesquisadas, respectivamente.
Não houve relatos de intoxicação causados pela ingestão desta espécie pelos animais
em nenhuma das propriedades onde a planta foi encontrada, porém dois entrevistados rela-
taram ter conhecimentos de casos de intoxicação decorrente da ingestão dessa planta em
outros locais. Macêdo et al. (2008) relataram casos de surtos de intoxicação por ingestão de
Leucena leococephala em caprinos e ovinos no semiárido brasileiro nos estados da Paraíba,
Pernambuco e Rio Grande do Norte.
Outra planta com ocorrência igual a L. leucocephala foi Calotropis procera (Flor-de-
seda) que também foi encontrada em 9 (29%) das propriedades visitadas.
Nos municípios de São Luís e São José de Ribamar a ocorrência dessa espécie foi
de 3 (30%) em cada município e em Paço do Lumiar e Raposa foi de 2 (33,3%) 1 (20%)
respectivamente.
Nenhum dos entrevistados tem conhecimentos de casos de intoxicação por essa plan-
ta e em nenhuma das propriedades onde a mesma foi encontrada. Houve algum relato de
intoxicação em outros locais.
Em nenhuma das propriedades a planta é usada na alimentação animal, talvez por
desconhecimento do seu potencial nutricional, talvez seja essa a explicação para a não
ocorrência de nenhum caso de intoxicação.
A espécie Senna obtusifolia (mata-pasto), foi encontrada em apenas 4 (12,9%) das
propriedades visitadas, sendo a sua maior ocorrência em 3 propriedades no município de São
Luís e uma em São José de Ribamar. Apenas um dos entrevistados relatou ter conhecimento
de casos de intoxicação decorrentes da ingestão dessa espécie em outros lugares. Em ne-
nhuma das propriedades onde foi encontrada essa espécie, houve relatos de intoxicação.
A espécie Ipomoea carnea subsp. fistulosa (algodão – bravo), foi encontrada em ape-
nas duas propriedades no município de São Luís, e em uma propriedade em São José de

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Ribamar. Do total dos entrevistados, 12 (38,7%) relataram que tinham conhecimento de
casos de intoxicação decorrente da ingestão de “Algodão-bravo” em outros lugares, porem
em nenhuma das propriedades em que a planta foi encontrada, registrou-se algum caso
comprovado de intoxicação pela planta. Na pesquisa realizada em Goiás por Silva et al.
(2006), apenas um dos entrevistados relatou um caso de uma cabra e seu cabrito, sendo
que ambos se recuperaram.
A espécie Senna occidentalis (fedegoso) foi a planta de menor com registro de ocor-
rência com registro em apenas 1 (3,2%) uma propriedade no município de São Luís. Não
houve nenhum relato de intoxicação nessa propriedade. Dois dos 31 entrevistados revelaram
ter conhecimento de casos de intoxicação animal decorrente da ingestão dessa planta em
outros locais. No levantamento que Sant’Ana et al. (2014), fizeram sobre a ocorrência de
Plantas tóxicas para ruminantes do Sudeste de Goiás, foram citados cinco casos de intoxi-
cação por S. occidentalis em bovinos adultos.

Tabela 4. Lista de espécies de plantas tóxicas de interesse pecuário encontradas em 31 propriedades localizadas em
quatro municípios de Ilha de São Luís – MA.

Municípios da Ilha de São Luís


Plantas tóxicas de interesse pecuário Paço do São José de
Raposa São Luís Total %
Lumiar Ribamar
Leucena leococephala (Leucena) 1/6 1/5 5/10 2/10 9/31 29%
Manihot esculenta (Mandioca) 6/6 5/5 4/10 2/10 17/31 54,8%
Ipomoea asarifolia (Salsa) 6/6 5/5 8/10 7/10 26/31 83,8%
Ricinus comunis (Mamona) 6/6 5/5 6/10 7/10 24/31 77,4%
Crotalaria Sp. (Crotalária) 1/6 1/5 7/10 7/10 16/31 51,6%
Calotropis procera (Flor-de-seda) 2/6 1/5 3/10 3/10 9/31 29%
Ipomoea carnea subsp. fistulosa (algodão –bravo) 0/6 0/5 2/10 1/10 3/31 9,6%
Brachiaria decumbens (capim braquiária) 5/6 4/5 2/10 2/10 13/31 41,9%
Senna occidentalis (fidegoso) 0/6 0/5 1/10 0/10 1/31 3,2%
Senna obtusifolia (mata-pasto) 0/6 0/5 3/10 1/10 4/31 12,9%

Houve relatos de casos de intoxicação animal em duas outras propriedades no muni-


cípio de São Luís, em uma das propriedades o entrevistado atribuiu o caso à ingestão de
ingestão de “cebolinha do campo” e na outra, os responsáveis não souberam informar se os
sintomas de intoxicação foram decorrentes da ingestão de plantas ou de picadas de cobra.

CONCLUSÕES

As plantas tóxicas de interesse pecuário encontradas na ilha de São Luís, são a Leucena
leococephala (Leucena), Manihot esculenta (Mandioca), Ipomoea asarifolia (Salsa), Ricinus
communis (Mamona), Crotalaria Sp. (Crotalária), Calotropis procera (Flor-de-seda), Ipomoea
carnea subsp. fistulosa (algodão –bravo), Brachiaria decumbens (capim braquiária), Senna

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occidentalis (fidegoso), Senna obtusifolia (mata-pasto). Todas as plantas encontradas são
características de outras regiões do nordeste brasileiro.
A espécie Ipomoea asarifolia (Salsa) foi caracterizada como a planta tóxica de maior
ocorrência, encontrada em todos os municípios da ilha de São Luís. Porém o maior número
de relatos de surtos foi atribuído a Manihot esculenta (Mandioca), principalmente nos muni-
cípios de Paço do Lumiar e Raposa, onde a planta foi encontrada em todas as propriedades
visitadas. A planta de menor ocorrência foi a Senna occidentalis (fedegoso), porém não se
deve subestimar o potencial tóxico e econômico dessas espécies apenas por ser encontrada
em menor número.
Conclui-se que há plantas tóxicas de interesse pecuário na região da Ilha de São Luís
e que ocorrem sinais de intoxicação, porém estes são subestimados. Deve-se fazer o con-
trole ou erradicação das espécies nos locais onde os animais têm acesso, principalmente na
época da estação seca, quando há escassez de forragens e disponibilidade dessas plantas.

REFERÊNCIAS
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08
Modernização do campo e uso de
agrotóxicos nos municípios de Arari e
Vitória do Mearim – Maranhão

Willian Carboni Viana


Instituto Histórico e Geográfico de Arari - IHGA

'10.37885/220508997
RESUMO

O presente estudo de caso analisou o uso de agrotóxicos no âmbito do dualismo históri-


co-estrutural, materializado nos setores agrícolas moderno-tecno-burocrático e tradicional-
-dependente. O objetivo central foi demonstrar que a aplicação dos defensivos ocorre sob
a lógica da reprodução capitalista, nesses dois modelos de agricultura, tendo como campo
empírico o exemplo a o cultivo de arroz nos municípios de Arari e Vitória do Mearim, situados
na mesorregião do Norte do estado do Maranhão. Os resultados apontam que a tentativa
de manutenção da saúde das plantas, tem relações diretas com o capital social, cultural e
aporte financeiro dos produtores.

Palavras-chave: Modernização, Dualismo Histórico-Estrutural, Rizicultura, Agrotóxicos.


INTRODUÇÃO

A modernização do Brasil, intensificada no século XX por meio da industrialização em


substituição a exportação, concretizou o chamado dualismo histórico-estrutural, composto
por dois setores produtivos: moderno-tecnoburocrático e tradicional-dependente. Enquanto
o primeiro se integrou aos desenvolvimentos tecnológicos e de aumento de produtividade,
o segundo, alheado a tais processos (PEREIRA, 1977; SMITH, 1988), ficou sub-integrado
na economia agrária.
Na porção Norte do estado do Maranhão (Brasil), em Arari e Vitória do Mearim, essa
dualidade aflorou nos modos agronegócio-monocultor e tradicional-corte/queima.
O agronegócio-monocultor, empreendido nas médias e grandes propriedades, se uti-
liza do moderno e mecanizado, envolvendo preparação sofisticada do solo, sementes se-
lecionada, orientação técnica e demais insumos; o tradicional-corte/queima, por sua vez,
se caracteriza pelas técnicas manuais de cultivo, pautadas no conhecimento empírico dos
pequenos agricultores (roça de toco).
Ambos os modelos de agricultura apresentam o emprego de defensivos agrícolas,
enquanto elemento introduzido com maior expressividade na década de 1970, no âmbito da
denominada ‘‘Revolução Verde’’ (SILVA, 1982). Na agricultura brasileira, o uso de agrotóxi-
cos, emergiu com produtos difundidos a partir dos Estados Unidos. Nos anos 1970, o Brasil
dependia da importação desses insumos, tendo a incipiente produção deles em território
nacional controlada por empresas transnacionais (ALVES FILHO, 2002, p. 59).
Entre 1970 e 2010, o Brasil se converteu à maior mercado consumidor a escala mundial,
com crescimento aproximado de 700% no uso dos venenos, ao passo que em área cultiva-
da aumentou em cerca de 78% (CAMPOS; MEDEIROS, 2012). No estado do Maranhão, o
aumento foi de mais ou menos 35% entre 2009 e 2014 (MARQUES, 2012, p. 17).
Dado o contexto, o presente estudo analisou a aplicação de defensivos para o controle
de pragas e doenças no cultivo de arroz na área de estudo. Esta é uma pesquisa explorató-
ria, com enfoque na percepção de como se processa o uso dos agrotóxicos pelos diferentes
produtores de arroz.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O aporte metodológico se aproximou da abordagem qualitativa, através do estudo de


caso (GOLDENBERG, 2002). Para retratar o panorama do uso de defensivos químicos,
foram consultadas fontes secundárias de pesquisa. Para aquisição das informações, sobre
a aplicação dos agrotóxicos na monocultura de arroz em Arari e Vitória do Mearim, foram
utilizadas fontes primárias.

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110
No que diz respeito as fontes primárias, realizaram-se entrevistas com os secretá-
rios de agricultura e meio ambiente de ambos os municípios, bem como aplicaram-se 14
questionários semiestruturados, sendo 10 deles com os pequenos produtores (<20 hectares
de terra) - esses compunham a maior parte dos estabelecimentos rurais, dois com médios
(20-200 ha) e dois com grandes (>200 ha).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em Arari e Vitória do Mearim, a maior parte do arroz é cultivado em sistema de sequeiro


favorecido, no qual as plantações permanecem com a lâmina d´água durante todo o processo
desde a semeadura. Na década de 1980, esses municípios iniciaram a prática de irrigação,
captando água do rio Mearim (Canedo, 2008). Entre 1970 e 1985, o Maranhão chegou ao
posto de segundo maior produtor de arroz do Brasil, correspondendo a 18% da produção
nacional, ocupando 20% das terras destinadas ao cultivo desse cereal (EMBRAPA, 2013).
O avanço do capitalismo no campo chegou à região pelas modificações nos meios de
produção. Assim, o cenário agrário passou a ser composto por grandes e médios produtores
como setor moderno-tecnoburocrático e os pequenos, tradicional-dependente, que continua-
ram suas lavouras manuais de corte e queima, as chamadas ‘‘roças de toco’’ (VIANA, 2018).
No cerne da questão, ambos os setores, moderno-tecnoburocrático e tradicional-depen-
dente, fazem amplo uso de agrotóxicos em suas plantações. Em última instância, criou-se
um nicho de mercado capitaneado pela popularização desses insumos. O uso dos defen-
sivos em Arari e Vitória do Mearim, seguiu em consonância a crescente do mercado desde
a década de 1970.
A praga que mais afeta as lavouras de arroz é o fungo brusone (em inglês blast, em
italiano bruzone), sendo responsável pela maior parte da perda do cereal, principalmente a
dos pequenos produtores. A principal medida adotada para contenção do brusone é a apli-
cação preventiva de fungicidas, tanto nas sementes a pré-plantio (carboxina + tiran), quanto
pulverizado nas plantações com pelo menos três associações (exemplo: azoxistrobina e
trifloxistrobina + propiconazol).
A presença do brusone não se constitui num grande problema para os maiores produ-
tores, devido a qualidade das sementes, insumos, agrotóxicos fungicidas e pela orientação
técnica, que ao longo dos anos propiciou conhecimento ao próprio produtor.
A situação é um pouco diferente no que diz respeito aos pequenos produtores, por
não disporem de aportes técnicos ou orientações, tendem a ter suas plantações fortemente
infestadas por esse fungo.
Enquanto os grandes e médios produtores, geralmente, adquirem sementes seleciona-
das junto a EMBRAPA ou a empresas especializadas, como, por exemplo, da Cooperativa

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111
Cravil (RS), os pequenos aproveitam as que guardaram do ano anterior, provenientes de
alguma parcela por eles considerada de melhor qualidade, o que torna a sua plantação
mais suscetível.
O uso dos venenos se converteu em problemas de diversas ordens, desde contami-
nação do rio Mearim e afluentes à intoxicação de trabalhadores e populações marginais a
esses rios. Nos anos 2000 era fato recorrente a intoxicação de trabalhadores, uma vez que
a pulverização era feita com os mesmos estando nos campos de arroz, bem como de mora-
dores de comunidades do entorno das plantações. Esse problema, de pulverizar os cultivos
com pessoas nas canchas, ocorre com menor incidência nos últimos 10 anos.
Nas grandes e médias propriedades, os agrotóxicos são aplicados por aviões e/ou
pulverizadores automáticos tratorizados. Os entrevistados disseram seguir protocolos de
segurança, o que inclui comunicar os povoados vizinhos as plantações, e os aplicadores
fazem utilização de equipamentos de proteção individual (EPI’s). Em relação a destinação
das embalagens, verificou-se que o descarte é realizado de maneira adequada, sendo a
empresa que fornece o defensivo a responsável pela recolha dos recipientes e suas tampas.
Quanto aos pequenos produtores, os defensivos são aplicados por meio de bombas
manuais costais, geralmente, sem utilização de EPI’s. Compram o popular ‘‘mata-tudo’’
(roundup + outros) nas agropecuárias locais e, sem receituário agronômico ou acompa-
nhamento, aplicam quantidades muito maiores do que o aceitável. Alguns deles guardam
as botelhas cheias dentro das residências (um fator de risco às famílias!), outros deixam
os galões nas roça, quintais ou paióis. Em relação ao descarte das embalagens, parte dos
produtores queimam, outros deixam jogadas ou enterram nos arredores das roças; o fato é
que são facilmente encontradas no meio da própria cadeia produtiva.
Nas cidades de Arari e Vitória do Mearim não há bases de recebimentos de embala-
gens desse tipo, porém as secretarias municipais têm atuado no sentido da conscientização
e racionamento, sobretudo, junto aos pequenos produtores.
A maior parte do arroz é cultivada marginalmente aos rios, colocando em xeque a di-
minuição da biodiversidade e a qualidade da água, em detrimento do despejo dos venenos
nesses cursos d´água, conforme já denunciado por Gaspar et al. (2005), que ao analisarem
a água do Mearim detectaram altas quantidades de resíduos, como, carbamatos e organo-
fosfatos, que podem desencadear doenças crônicas (GASPAR, et al., 2005, p. 52).
Todos os participantes entrevistados/questionados relataram aumento de pragas, o
que deve estar relacionado a aplicação dos agrotóxicos por longo período, resultando na
resistência das mesmas em relação aos defensivos empregados. O declínio da atividade
rizicultora não diminuiu o uso dos defensivo agrícolas, com aplicação principal de fungicidas
e inseticidas sistêmicos.

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112
CONCLUSÃO

O cultivo de arroz se solidificou como monocultura dominante ao modelo empresarial,


e a utilização dos agrotóxicos parece seguir a lógica da reprodução do capital.
O agronegócio se sobrepôs e subverteu a lógica das economias rurais não capitalis-
tas, ou precariamente inseridas nesse sistema, tornando-se referência de segmentação na
produção agrícola.
Conforme demonstrado, o controle das pragas e doenças na área de estudo têm rela-
ções diretas com o capital social, cultural e aporte financeiro dos produtores. Em um processo
crescente, iniciado na propagação de insumos a partir dos países centrais.

Agradecimentos e/ou financiamento

O autor agradece a Elierto Lopes Pitoni (Secretário de Agricultura, Abastecimento e


Meio Ambiente do município de Vitória do Mearim na gestão 2016/2020) e a Jocei Jardim
Ribeiro (Secretário de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia de Arari).

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114
09
Paisagem ceramista no semiárido
nordestino

Luiz Antonio Pacheco de Queiroz


Universidade Federal de Sergipe

'10.37885/220508939
RESUMO

Com a experiência de pesquisas etnográficas desenvolvidas por mais de seis anos argu-
mento para a existência da paisagem ceramista em lares e locais de trabalho. A noção foi
construída com a observação participante realizada nos sertões cearenses e pernambuca-
nos junto a ceramistas e consumidores de vasilhames cerâmicos utilitários. A abordagem
ressalta uma paisagem distinta dos discursos que desvalorizam a potencialidade existente
no semiárido nordestino quanto à vida a partir da exploração das coisas locais. A interação
das ceramistas com o ambiente agropastoril extrapola circunstâncias da confecção e uso
daqueles vasilhames, pois é comum a dedicação na agricultura e criação de animais quando
cai a procura pela produção cerâmica. A documentação de campo propiciou entender uma
paisagem genuína que pode ser alcunhada de ceramista por meio da materialidade.

Palavras-chave: Paisagem, Produção Cerâmica, Semiárido Nordestino.


INTRODUÇÃO

A paisagem para quem atua na produção cerâmica em localidades dos sertões cea-
renses e pernambucanos é compreendida como ambiente de vida para além do trabalho
quando averiguadas as perspectivas locais. A ambivalência é oriunda da relação de pessoas
e coisas desenvolvida nos espaços vinculados às tarefas produtivas.
A partir do modo de vida local ressalto a distinção da paisagem ceramista frente aos
discursos que desvalorizam a potencialidade do semiárido nordestino quando o assunto
é a produção e utilização de coisas do ambiente agropastoril. A manifestação cultural das
loiceras (denominação êmica para as ceramistas) tem evidente posicionamento com a re-
sistência disseminada através das atividades artesanais. O modo de se expressar pelos
ofícios tradicionais é um contraponto à modernidade porque reproduz a genuinidade do
emprego de habilidades e conhecimentos do ambiente de vida agropastoril, inclusive ao
incorporar na paisagem das loiceras espaços não considerados como produtivos. Como se
define para o sustento familiar, sem pretensões de enriquecimento e contrário à obrigação
do uso de força física, é ofício desconsiderado quanto a sua importância pelo modo coloni-
zador da modernidade.
Discursos que depreciam criações com base em materiais extraídos na região con-
sideram obsoletas as loiças de barro (termo êmico para utensílios domésticos feitos em
cerâmica). O desuso delas também tem relação com a desaparição de hábitos tradicionais
no semiárido nordestino e causa oscilações na comercialização. A discussão dessas noções
enfoca nas manifestações das práticas artesanais tradicionais da confecção, venda e uso
dos referidos recipientes.
Substancio a discussão com materiais arqueológicos e memórias acessados pela ob-
servação participante, aprofundada em minha dissertação de mestrado (QUEIROZ, 2015),
com a metodologia voltada à interação com o modo de vida local (MAY, 2004). O relacio-
namento difundido propiciou o registro da visão dos habitantes sobre sua própria história e
com referências a situações ainda recorrentes no presente (GONZÁLEZ-RUIBAL, 2003).
Compreendo a paisagem por meio da materialidade e ideias que a formam, com base
nas relações sociais, portanto além do entendimento como condição da natureza imposto
pelo Ocidente (BENDER, 2006). A noção prioriza compreender a fixação dos significados
através do engajamento social, também elementar para ler o território como porção especí-
fica de construção social (ZEDEÑO, 2016).
Para analisar o território incorporei características do entendimento da territorialidade a
partir da percepção que os envolvidos têm das coisas da paisagem, ações e pensamentos
(HAESBAERT, 2003). A base está no entendimento da formação das pessoas e territórios
pela dependência às coisas, um princípio do conceito de materialidade alicerçado na ideia da

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criação de seres humanos e coisas pelas relações sociais entre si (OLSEN, 2010). Apesar
de influente, a apropriação econômica de territórios não restringe a visão dos significados
locais. Manter o foco requer atentar para os efeitos da produção e consumo de bens que
implicam, junto às imposições da modernidade, no jeito de ser em muitas localidades pela
relação com as coisas (GONZÁLEZ-RUIBAL, 2008; 2019; HARRISON; SCHOFIELD, 2010).
Dessa forma cabe ressaltar os modos de vida distintos da globalização.
Os discursos que tornam o ser moderno, influentes nos estereótipos que impõem a
distinção dos sertanejos nordestinos por termos inventados, contribuíram para consolidar
relações sociais baseadas no progresso material e moral dos rumos de democratização,
industrialização, independência e sofisticação (CANCLINI, 2011). A reprodução dessa con-
cepção de territórios e sua gente, desde o Brasil Colônia e junto à conformação do país
enquanto nação, esteve atrelada à regulação das práticas simbólicas e foi predominante na
criação de um Nordeste inventado (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2011). Enquanto discursos
dos quadros da globalização e da organização do capitalismo, visões estereotipadas de
território impossível de ser habitado incidiram na espacialidade imposta ao nordeste brasilei-
ro. A mediação se deu através dos simbolismos que compõem os mercados consumidores
regionais e geraram sentidos aos sertões não apenas como parcelas territoriais distante dos
grandes centros habitados, mas também por sua caracterização para torná-los impossíveis,
miseráveis e desumanos (ALVES, 2011).
A violência proveniente das relações com as coisas é muito própria da permanente
conformação capitalista (CANCLINI, 2007) e persistente como instrumento de dominação
simbólica. Diante disso e da inadequação de simplificar o modo de vida sertanejo com
visões forâneas, é necessário avaliar as imposições da materialidade que influenciam o
modo de ser loicera.

DETALHAMENTO DA EXPERIÊNCIA

O registro das atividades ceramistas aconteceu nas zonas rural e urbana do sertão cen-
tral pernambucano e Cariri cearense. Isso permitiu observar o mercado consumidor tradicional
abrangido pela distribuição de produtos da agricultura onde é distribuída a produção cerâmica.
As pesquisas etnográficas foram realizadas entre 2008 a 2014. Na maior parte do
referido período morei nos sertões cearenses e pernambucanos e desenvolvi registros et-
nográficos para o licenciamento ambiental1. Nesses mais de seis anos, ao interagir com as
coisas, loiceras, comerciantes e consumidores dos vasilhames cerâmicos, os significados

1 A documentação era solicitada nas pesquisas arqueológicas realizadas pela empresa Zanettini Arqueologia.

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ficaram evidentes, com mostras das mudanças culturais. Para apreender tais papéis so-
ciais adotei posturas que rompem com o androcentrismo das imposições cientificistas
(CONKEY; SPECTOR, 1984).
Na interação com os habitantes percebi hierarquias nas relações oriundas do modo
de vida ocidental, já postulado em estudos da paisagem (ASHMORE, 2006). Ficou evidente
como o jeito de viver da modernidade impôs a identificação das pessoas por dois gêneros,
o feminino e o masculino, com o predomínio social desse último.
O respeito ao tempo de vida local foi seguido. A perspectiva de registrar os acontecimen-
tos com base nas visões de dentro repercutiu em uma ampla aceitação de minha presença,
porém a inestimável contribuição de amigos e colegas resultou em apresentações prévias
que facilitou ser bem recebido.
A maior parte dos registros foi feita durante o contato com habitantes envolvidos com a
produção cerâmica ou que usam vasilhames em seu lar. Nos encontros o estímulo ao tema
da produção, venda e uso dos recipientes cerâmicos levou à adequada concentração no
objeto de estudo, mas não sem conversas amistosas sobre outras manifestações culturais e
assuntos pertinentes ao morar nas localidades visitadas. Ao realizar as conversas, interagir
com habitantes locais sobre o tema estudado e me deslocar pelos caminhos das ceramistas
pude participar dos instantes da produção, venda e uso dos vasilhames cerâmicos.
Os primeiros contatos com a produção de cerâmica aconteceram durante conversas
informais com habitantes locais que me conduziram às feiras nas sedes municipais. Em se-
guida estive nos locais de produção e aquisição de matéria prima com as loiceras.
Durante a produção elas contavam como se inseriam no ofício desde a infância, ao
seguir os ensinamentos das mães, quando já praticavam o aprendizado ao mesmo tempo
que realizavam tarefas domésticas. Foi fundamental acessar esses pormenores do terri-
tório, o que permitiu verificar o quanto é comum esse acúmulo de funções diárias para a
maioria das loiceras.
Nos nossos diálogos percebi o envolvimento das suas famílias na produção. Mas aí
ficou nítida uma mudança, a raridade da participação de filhas e filhos, que antes era muito
disseminada. Já a participação dos homens ficou evidente no aprovisionamento das matérias
primas e tratamento inicial da argila. Mas, foram as loiceras que me apresentaram o território,
inclusive com uma ativa presença que expôs o distanciamento dos homens no processo de
fabricação. Já nas etapas de queima e venda é comum o envolvimento de ambos.
Apesar de parte crucial da documentação de campo ter sido feita durante pesquisas da
arqueologia preventiva, as situações que vivenciei fora do expediente de trabalho também
foram fundamentais para obter muitas das características da produção e uso da cerâmica.
Alfredo González-Ruibal (2003) argumenta que mais do que o tempo, são os objetivos de

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pesquisa que direcionam uma adequada documentação de campo. Assim, a execução da
etnografia com os habitantes locais no ambiente de vida deles e com base nas circunstâncias
da confecção e uso da cerâmica, ressalta a produção das informações como qualitativa.
Nos povoados em que passei mais tempo com as ceramistas, Passagem de Pedra,
Sítio Baixa do Quaresma e Jamacaru, todos em Missão Velha/CE, a experiência foi aprofun-
dada e possibilitou o entendimento da sequência de tarefas da produção cerâmica, desde
o aprovisionamento até à venda, além de dar acesso aos consumidores locais e a muitos
clientes fiéis que moram distante dali. Nos lugarejos em que a experiência se deu em um
tempo razoável não foi diferente, porém, a quantidade de habitantes com quem interagi foi
menor. No entanto, como à observação participante foram adicionadas as recordações,
houve o cuidado para averiguar detalhes que ressaltaram de forma plena os significados
na maior parte dos núcleos de produção visitados.

DISCUSSÃO

Saberes, fazeres e usos da cerâmica utilitária nos sertões cearenses e pernambucanos


têm ampla abrangência na paisagem das loiceras (QUEIROZ; FERREIRA, 2018) conforme
indicam as práticas e memórias dos nativos. As referências são das jazidas de argila, espa-
ços destinados à produção cerâmica e nas unidades domésticas e locais de venda (feiras
ou lojas do comércio de utilidades).
Condições culturais específicas são evidentes na visão da paisagem ceramista. A re-
sistência de quem vive no semiárido, perceptível nos tradicionais modos de fazer e usar, é
atitude que deve ser ponderada porque a permanência de formas de produção depende de
muitas situações, desde as chances de viver dos ofícios tradicionais aos novos campos de
trabalho local e fatores relativos ao meio ambiente.
Existem diversos olhares locais sobre as loiças de barro. As loiceras são exaltadas
quando seu trabalho é reconhecido artisticamente. Daí surgem aceitações de sua dedicação
diária, potencialmente valorizada pelos habitantes de povoados da zona rural. Nos distritos
que sediam os municípios é comum a baixa relevância de seu ofício, devido à consideração
da produção ser obsoleta, já que vasilhames cerâmicos são vistos como ultrapassados, sem
grandes possibilidades de uso ou pouco úteis diante das muitas serventias dos objetos feitos
a partir de materiais plásticos e metálicos. Todavia a presença dos vasilhames cerâmicos
nas sedes municipais indica sua permanência no cotidiano (ver Figura 1).

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Figura 1. Potes à venda em Ouricuri/PE.

Fonte: O autor (2011).

Discursos da modernidade depreciam a atividade ceramista por julgá-la imunda (ver


Figura 2) devido ao contato com substâncias aderentes aos corpos. Essa concepção surgiu
de influências universalistas da cultura que implicam em sensações ocidentalizadas nas
sociedades (HOWES, 2008).

Figura 2. Montes de massa de argila para fazer potes em Passagem de Pedra, Missão Velha/CE.

Fonte: O autor (2013).

Há um aspecto relacionado à sofisticação de bens de consumo, característica tam-


bém imposta pela modernização, que se ajusta a essa paisagem: a implantação da energia

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elétrica na zona rural e povoados localizados distantes dos distritos sede que levou a uma
importante mudança cultural nas regiões impactadas pela aridez climática. Habitantes de
diversas localidades se referiram à aquisição de eletrodomésticos como motivo do desuso
de potes cerâmicos arranhados feitos para armazenar água potável. É recorrente a aceita-
ção do efeito das ranhuras inseridas nos potes para manter baixa a temperatura da água
(QUEIROZ, 2015). Mas nada como o efeito das geladeiras, que se tornaram comuns nas
residências dos consumidores desses tipos de potes.
No povoado de Carnaúba dos Vasquez, do município de Missão Velha, foi mencionada
a trajetória de desapego com os potes. Na infância de moradores era comum o uso de potes
cerâmicos, que os pais consideravam adequados para manter a água fria devido à superfície
feita com ranhuras. Como na época não existia energia elétrica naquela localidade, era o pote
que servia para a função de manter a água fria. Quando a geladeira começou a ser usada, os
potes foram abandonados. Os que restaram serviam apenas para guardar as recordações.
Outras vozes indicaram que apesar da redução nas vendas os potes arranhados con-
tinuaram em uso por quem mantinha as práticas tradicionais. O sabor da água armazenada
no pote de barro é uma atração desses recipientes para muitos consumidores. A dificuldade
de colocar dentro da geladeira um vasilhame tão espesso não impede o uso. Na cozinha
de muitos lares um pote fica ao lado de tal eletrodoméstico (Figura 3). Uma solução para
manter o costume de tomar a água com o sabor da cerâmica. Uma moradora do Sítio Baixa
do Quaresma, em Missão Velha, acentuou isso ao afirmar que primeiro colocava a água no
pote para depois encher as garrafas e levar à geladeira.

Figura 3. Pote em sua permanente localização ao lado de geladeira no Sítio Baixa do Quaresma/CE.

Fonte: O autor (2014).

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A imbricação da produção cerâmica com o mundo agropastoril extrapola as tarefas da
confecção de vasilhames, pois é bastante comum a realização da atividade de plantio pelas
mulheres quando cai a procura pelas loiças de barro. Uma ex-loicera do Sítio Cachoeira,
situado em Missão Velha, alternou suas práticas ceramistas com a lavoura e o ensino na
rede pública. Preferia a loiça de barro financeiramente, mas o ofício de professora lhe deu
maior inserção na sociedade.
A origem no ofício ceramista tem, de forma geral, vinculação com as imposições de
gênero. Algumas das ceramistas do referido povoado lidaram cedo com a loiça de barro
ao ajudar suas mães. Ao falar do aprendizado como loicera, uma delas comentou que ao
auxiliar a mãe, também artesã do barro, foi iniciada na atividade ceramista.
Não existia nenhuma ceramista em atividade quando estive no Sítio Cachoeira. Mas
as memórias locais me levaram a compreender a rigorosidade da separação dos gêneros
na divisão social do trabalho: mulheres atuavam na produção das loiças de barro e homens
na feitura de materiais construtivos.
O Sítio Cachoeira é marcado por histórias de opressão, de luta pela terra. A maior
família da localidade, tinha entre seus membros loiceras e trabalhadores da olaria (que
confecciovam telhas e tijolos). Ouvi recorrentes agradecimentos ao Padre Cícero que com
sua influência política impediu que o Coronel Floro Bartolomeu tomasse as terras das mãos
daquela família. Uma evidente exaltação do domínio social masculino nas memórias.
O que deu ao Sítio Cachoeira fama entre as loiceras e consumidores de vasilhames
cerâmicos foi a especialização local na fabricação de pratos. Loiceras de diversas localida-
des do Cariri cearense conhecem o saber fazer uma da outra e ressaltaram especificidades
das companheiras de ofício. Em cada núcleo produtor de cerâmica havia algum detalhe da
produção que lhes dava reconhecimento, seja pelos limites relativos às propriedades da
argila, tecnologia empregada, produtos finais alcançados ou por enfrentar as dificuldades
para manter a distribuição. Se pratos afamaram o Sítio Cachoeira:

– A queima a céu aberto (única na região), a disposição para vender as peças onde
nenhuma loicera se arriscava ir e as úteis panelas exaltaram o saber fazer de Ja-
macaru em Missão Velha;
– A improvisação da torneira no pote e as peças decorativas deram destaque à loicera
do Sítio Baixa do Quaresma;
– A disponibilidade de participar de feiras de artesanato e promover a comercialização
de todas as maneiras possíveis, e as panelas arranhadas (feitas da argila localiza-
da no terreno ao lado da própria residência) marcam a trajetória de uma loicera do
município de Mauriti/CE - única a inserir ranhuras nesse tipo de utensílio;
– A diversidade de peças de uma loicera de Brejo Santo/CE, sua labuta ao buscar tão

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distante a argila e o companheirismo do marido na maioria das etapas da produção
evidenciam sua singularidade e resiliência.
– E em Passagem de Pedra são os impressionantes detalhes da tecnologia que leva-
ram a localidade ao amplo reconhecimento que extrapola os limites do município de
Missão Velha e da região do Cariri cearense. As ceramistas de lá são reconhecidas
por diversas habilidades e improvisação para renovar técnicas que são evidentes
no âmbito: das idiossincrasias do refinado acabamento das peças, inserção de mar-
cantes atributos decorativos, uso de distintos sedimentos com propriedades que
elevam a qualidade do produto final, queima em um tipo de forno que permite maior
aproveitamento da produção e aceitação das imposições do mercado consumidor
que levou as loiceras a inserir tratamentos de superfície antes inexistentes em suas
técnicas, mas que não as impediu de continuar atuando (QUEIROZ, 2015).

O espaço de trabalho da maioria das ceramistas que conheci é associado à própria


residência. O motivo é evidente: a ocupação diária delas na realização dos serviços roti-
neiros do lar. A destinação, e não vocação, das mulheres em atividades domésticas como
uma única via para sua vida e a admissão das opções do lazer e trabalho fora do lar para
os homens é extremamente comum entre as práticas e relações de gênero nos sertões
cearenses e pernambucanos.
Em muitas localidades reconheci que ainda é frequente o uso dos recipientes cerâmi-
cos nas práticas diárias, por isso ali circulam cotidianamente os intrincados significados da
paisagem das loiceras. Nos centros urbanos onde a cerâmica é utilizada com raridade, as
narrativas e memórias é que reproduzem as paisagens ceramistas. E vinculado às zonas rural
e urbana se mantêm os saberes e fazeres presentes na comercialização da loiça de barro.
Com as novidades de materiais mais duráveis e muito mais leves se tornou frequente a
visão da diversidade de utensílios domésticos no comércio local. Ali passaram a se concentrar
grande quantidade de materiais industrializados, até considerados/ditos mais sofisticados
que os cerâmicos. Mas a loiça de barro manteve-se nesse cenário.
A comercialização da cerâmica utilitária é destinada a um mercado consumidor esta-
belecido nos distritos sede (Figura 4), para onde foram destinados produtos provenientes de
atividades ligadas ao mundo agropastoril. Tal localização é um efeito da modernidade nos
sertões. Como às grandes feiras e lojas de utilidades tornou-se muito frequente a destinação
dos produtos regionais e perdia-se singularidades das redes de comércio locais, o poder de
negociar valores e manter produtos em venda se concentrou fortemente em quem realizava
as trocas comerciais junto aos consumidores, ou seja, o homem comerciante proprietário de
lojas e/ou barracas de feira. Com isso se fortaleceu no semiárido um domínio na paisagem

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ceramista com a hegemonia dos homens e subordinação das loiceras. Aí está o contexto
que aprisionou a venda das loiças de barro.

Figura 4. Potes e panelas à venda em Juazeiro do Norte/CE.

Fonte: QUEIROZ (2015, p. 260).

Ficou bastante evidente a dificuldade que as loiceras têm de estarem presentes nas
feiras, local principal da venda de vasilhames cerâmicos. A perda de antigas formas de
transporte é um dos fatores, já que antes muitas delas levavam a produção em grande quan-
tidade com o uso de animais próprios e atualmente sem tal recurso há bastante dificuldade
de locomoção com as peças cerâmicas.
As decisões sobre a produção e o preço das peças é parte do conjunto de situações
que as loiceras esperam controlar. Em estudos das atribuições das ceramistas no Vale do
Jequitinhonha vários pesquisadores perceberam a significância do domínio na venda para
a autoestima das mulheres produtoras de cerâmica (MATTOS, 2001; LIMA, 2012). Observei
a mesma circunstância nos sertões em que pesquisei. É bastante negativo para algumas
delas o controle das vendas exercido pelos homens. Mas algumas delas dominam todas
as etapas do trabalho. Se presentes as loiceras mantém ativo seu papel quando a feira é
apropriada como espaço de negociação. Em sua ausência o comerciante assume as tran-
sações comerciais. Isso torna frequente a invisibilidade das loiceras nos discursos sociais.
Os aspectos destacados acima enaltecem motivos do obscurecimento da visibilidade
social das loiceras no semiárido. Devido às tendências da modernidade que predominaram
na espacialidade do nordeste brasileiro as loiceras perderam expressividade. Essa cir-
cunstância foi documentada em outras pesquisas etnográficas da região (AMARAL, 2012;
MENDES, 2011; MORAES WICHERS; et al., 2018). A condição de mulher subjugada pelo

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domínio político-ideológico dos homens restringiu sua mobilidade a papéis de coadjuvantes
na sociedade, situação também recorrente no ofício ceramista em outras paragens (ver
contextos estudados no Vale do Jequitinhonha por MATTOS, 2001 e LIMA, 2012).
Apesar de muito ativas a perda de independência das ceramistas nas vendas foi in-
tensamente mencionada em vários locais pesquisados. As loiceras dos diversos núcleos
produtores buscaram alternativas para obter melhores vendas:

– Em Buíque/PE vendiam tanto na feira do município, ao negociar com uma comer-


ciante, quanto no município vizinho (Tupanatinga/PE) onde eram as responsáveis
diretas e assim conseguiam mais rendimentos;
– Loiceras da localidade de Passagem de Pedra, em Missão Velha, também recorriam
aos municípios fronteiriços (Barbalha/CE e Milagres/CE). Os obstáculos da comer-
cialização para as ceramistas do Cariri cearense são os atravessadores e as lojas
que, na visão das ceramistas, impedem elevar o valor de venda dos produtos;
– Do contexto de Santa Rita em Ouricuri/PE não é diferente. Na feira de Trindade/PE,
uma das loiceras destinava sua produção. Sua irmã vendia na própria localidade de
Santa Rita em pouca proporção e a venda a grosso somente para o atravessador
que comercializa em Ouricuri e Parnamirim/PE.

De modo geral, alcançar diretamente o mercado consumidor dependia da resistência


delas em persistir com o transporte das peças para a sede dos municípios. Essa prática exi-
gia labutar com poucas peças e recorrer ao empréstimo do espaço de barracas de feirantes
amigas e/ou ao acomodarem vasilhames no chão.
Os efeitos da modernização não são por si só responsáveis por tornar obsoletos po-
tes, panelas e demais vasilhames cerâmicos diante de artefatos feitos com materiais mais
duráveis e/ou que permitem, além de uma multiplicidade de usos, ditos melhores desem-
penhos. Também não são apenas as características da modernidade que reconfiguraram o
papel social de quem se destinou à produção cerâmica. As mudanças culturais não levaram
de imediato ao desaparecimento de todas as coisas e sim a uma coexistência de hábi-
tos. As causas não devem ser avaliadas dentro de uma visão hegemônica do capitalismo
que sempre esteve associado à concepção moderna do caminho único das sociedades à
evolução material e tecnológica.
As menções da produção cerâmica são pequenas notas das peculiaridades da pai-
sagem das ceramistas. Impressionam pela capacidade de resistência das protagonistas e
são considerados importantes registros etnográficos para pensar nas relações sociais em
contextos de produção cerâmica (LIMA, 2012; MATTOS, 2001; QUEIROZ, 2015).

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A paisagem das loiceras é recheada pelos eventos do processo produtivo e do ambiente
doméstico em que emerge a participação delas, ora com o domínio e ora com a subordinação,
nos espaços públicos e privados quando as referências se concentram na confecção e venda
da loiça de barro. E mesmo diante de sua exclusão em algumas das ações, principalmente
aquelas que dependem de transporte, há pela abrangência da atividade ceramista a saída
das mulheres da invisibilidade histórica e apropriação de suas próprias histórias.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O cerne da paisagem está na sociabilidade local, por isso, a discussão ressaltou os


próprios olhares das loiceras no semiárido nordestino. A experiência etnográfica permitiu
realizar avaliações de casos distintos e bastante interessantes das negociações sociais.
Daí derivou interpretações por diferentes escalas, tanto do aspecto da globalização quando
remetidos às influências externas quanto de perspectivas locais ao buscar compreender
pontos de vista da região.
Os processos que impõem e/ou influenciam a obsolescência das maneiras tradicionais
de viver nos sertões nordestinos não os encerraram. Há uma convivência de noções antigas
e recentes na paisagem.
Nos casos pesquisados, mesmo enquanto mudam os hábitos de consumir recipientes
cerâmicos, substituídos por aqueles confeccionados com materiais não-cerâmicos, permane-
cem as atitudes e lembranças entre aqueles que decidem continuar a viver daquilo com que
sempre produziram ou que se expressam através de um saber-fazer na região em que nasceu.
De acordo com a perspectiva humanista da paisagem a compreensão do território é
proveniente das ações e pensamentos orientados por produções sociais, dentre eles os
papéis de quem se envolveu com as atividades mencionadas. Dessa forma o significado
do território se dá tanto pelas tarefas de aquisição e transformação da argila em produtos
comercializáveis quanto pela chegada dos vasilhames nas mãos dos consumidores e pelo
seu uso, o que abrange de forma ampla diversas noções das pessoas e características da
materialidade. Portanto, a paisagem ceramista é compreendida pelo contato com materiais
extraídos nos terrenos agricultáveis, estada nas áreas de produção em tempo que exi-
gia também lidar com tarefas domésticas, caminhos e negociações para levar a produção
aos consumidores, sensações proporcionadas pelos vasilhames cerâmicos e memórias
dessas práticas.
As concepções da modernidade geram um desvio do conhecimento dos territórios
devido à desconsideração das noções locais. A ideia de qualificar a paisagem por meio da
atividade ceramista ressaltou costumes em risco de desaparição, de nativos habituados com
loiças de barro em um ambiente característico dos cuidados com a terra.

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Diante do exposto loiceras podem ser situadas em um campo distinto dos eventos da
representação do(s) Nordeste(s) inventado(s) e reinventado(s). Todavia, as imposições da
modernidade, que desvalorizaram os conhecimentos locais, são, ao mesmo tempo, respon-
sáveis por fragmentar o jeito das pessoas e criar espaços para a permanência das tradições
culturais (CANCLINI, 2007; 2011; HALL, 2005), portanto, incidem na caracterização da
paisagem ceramista.
O desdobramento de tal caracterização do território por meio das implicações dos
processos de globalização é pertinente à geração de necessidades materiais persistentes e
homogeneizantes, que limitou o desenvolvimento econômico dos saberes e fazeres tradicio-
nais, rompeu conexões com as sedes das cidades e também desestruturou papéis sociais.
Por outro lado, é necessário considerar o agenciamento individual e poder de restrição e
permissão da materialidade devido a sua relação fundamental com as pessoas.
Na oportunidade da documentação de campo foi perceptível, pela atenção à materia-
lidade, aspectos da exclusão social. Isso possibilitou discutir a abrangência da paisagem
ceramista na prática e de forma mnemônica em situações relativas à apropriação da materia-
lidade. A partir dos referidos seguimentos foi possível discutir como loiceras se manifestam
no semiárido, de acordo com seus papeis sociais nos locais onde habitam e/ou trabalham.
As restrições e liberdades de ser, atuar em um ofício tradicional e tornar-se alguém
por vinculação a uma atividade artesanal têm na materialidade aspectos de pertencimento
apropriados por quem exerce o domínio social e por quem é oprimido. As estratégias para
burlar regras sociais ou alternativas para não perder o espaço da produção e comercializa-
ção na sociedade estão, principalmente, no cotidiano das mulheres, devido ao seu subjugo
à afirmação do poder dos homens.
No fazer e usar, na prática diária de vida, na hierarquia que condiciona a mobilidade
e visibilidade dos corpos e reconhecimento de quem atua em certo ofício, a paisagem das
ceramistas apresentou circunstâncias da emancipação e da acomodação de quem era
protagonista ou coadjuvante. Como se soubessem das possibilidades de se posicionar so-
cialmente ou alheias à negociação social que as inseria num caminho sem volta, as loiceras
revelaram os meios pelos quais mantêm o fervor da produção cerâmica em sua paisagem
vivenciada plenamente mesmo diante de tantos obstáculos.

REFERÊNCIAS
1. ALBUQUERQUE JÚNIOR, D. M. de. A Invenção do Nordeste e Outras Artes. São
Paulo: Cortez, 2011.

2. ALVES, E. M. A Economia Simbólica da Cultura Popular Sertanejo-Nordestina.


Maceió: EDUFAL, 2011.

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3. AMARAL, D. M. Loiça de Barro do Agreste: um estudo etnoarqueológico de cerâmica
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09
Resíduos agroindustriais como alternativa
para produção de lipases por fermentação
em estado sólido

Camila Taynara Cardoso dos Santos Gabriella Sadako Igarashi Zanella


Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR

Eduardo Candido Milani Patrícia Salomão Garcia


Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR

Thandara Cristina Aguiar Alessandra Machado Baron


Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR

'10.37885/220508980
RESUMO

Objetivo: O presente trabalho tem por objetivo o estudo da produção de lipases de Penicillium
corylophilum por fermentação em estado sólido (FES), utilizando meios de cultivo de baixo
custo e resíduo da agroindústria: farelo de semente de girassol (FSG), torta de milho (TM)
e triguilho (T). Métodos: Para tal, estudou-se como solução umidificadora, água e tampão
fosfato pH 7, 0,05 mol L-1, fixando a umidade final em 55% (v/m). O efeito da liofilização na
atividade enzimática do sólido fermentado e uma análise dos custos para a produção das
lipases de P. corylophilum por FES para os meios citados foram avaliados. A produção de
lipases foi analisada pela atividade lipolítica através do método da hidrólise do palmitato de
p-nitrofenila (pNPP). Para o meio com maior atividade frente ao pNPP, avaliou-se também a
atividade do fermentado pelo método titulométrico, utilizando o óleo de oliva como substra-
to. Resultados: Os resultados mostraram que o triguilho (T) apresentou a maior atividade
lipolítica, 32,3 U g-1S frente ao pNPP e 97 ± 11,9 U g-1S para o método titulométrico em 168
horas (7 dias) de cultivo. Em relação à liofilização, a atividade residual foi maior para FSG
(83%) e muito próxima para T (38%) e TM (40%). A análise de custos indicou valores muito
próximos para os três meios, sendo o menor para TM (R$ 73,99/100 g de substrato seco)
seguido do T (R$ 74,49/100 g de substrato seco) e FSG (R$ 75,41/100 g de substrato seco).
Conclusão: Sendo assim, analisando os resultados de custo e perdas na atividade durante
a liofilização, o triguilho seria mais viável quando se pretende utilizá-lo sem a necessidade de
liofilização, isto é, aplicação essencialmente em reações onde o meio aquoso é principal, pois
apresentou maior atividade lipolítica e o segundo menor valor (R$ 74,49/100 g de substrato
seco). Porém, para reações onde há necessidade de se utilizar um fermentado com baixos
teores de água, por exemplo, em reações de esterificação, o FSG seria mais viável, pois o
sólido fermentado apresentou menor perda da atividade após a liofilização.

Palavras-chave: resíduos agroindustriais, fungo, lipase, Penicillium corylophilum.


INTRODUÇÃO

Lipases [Glicerol éster hidrolases (E.C. 3.1.1.3)] são enzimas atuantes na interface
orgânico-aquosa, que catalisam a clivagem de ligações éster em triglicerídeos, produzindo
glicerol e ácidos graxos livres. Além disso, em meios não aquosos, agem catalisando tam-
bém reações de esterificação, transesterificação, interesterificação, aminólise e lactonização,
constituindo uma classe especial de esterases (BORELLI; TRONO, 2015).
As lipases oriundas de microrganismos apresentam potencial como biocatalisador,
com vasta gama de aplicação industrial devido sua estabilidade, especificidade de substra-
to, produção em grandes quantidades e menores custos de produção (PRABANINGTYAS
et al., 2018), ou seja, a produção de lipases por microrganismos viabiliza a utilização de
matérias-primas com baixo valor agregado.
Diferentes técnicas de produção foram desenvolvidas em busca de lipases específicas,
estáveis ​​e com maior rendimento permitindo sua aplicação industrial (SALIHU, 2012; RIGO
et al., 2009). Fermentação em estado sólido (FES) e fermentação submersa (FS) são os
dois métodos de produção mais utilizados para produzir lipase fúngica (GEOFFRY; ACHUR,
2018; SUN; XU, 2008). A produção destas enzimas por FES permite a utilização de resí-
duos agroindustriais, reduzindo o custo de produção e contribuindo com o meio ambiente
(PUTRI et al., 2020).
Em um país com abundância de biomassa e resíduos industriais, o uso de resíduos
como substrato para a produção de lipases auxilia na redução dos custos dos bioprocessos,
agrega valor ao material final, diminuindo impactos ambientais. Desse modo, a fermentação
em estado sólido é uma técnica economicamente vantajosa para o Brasil (BOSSA et al., 2019).
Os resíduos renováveis incluem uma variedade de substratos, como farelos, tortas,
cascas, caroços e borras. Esses materiais gerados pelas indústrias, além de fonte de matéria
orgânica, podem ser usados como fonte de proteínas, enzimas e óleos essenciais, sendo
passíveis de recuperação e aproveitamento (COELHO et al., 2001).
Tendo em vista a preocupação com a diminuição de custos de produção de lipases,
diferentes meios de cultivo foram estudados para produzir lipases de Penicillium corylophilum
por meio da fermentação em estado sólido (FES).

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MÉTODOS

Reagentes

Os materiais empregados como meio de cultivo, farelo de semente de girassol (FSG)


(Sempre Vita®) e triguilho (Kinino®) (T), foram adquiridos em comércio local. A torta de milho
(TM), um resíduo agroindustrial, foi gentilmente cedida pela Caramuru Alimentos®.
O óleo de soja (Concórdia®), utilizado como indutor nos cultivos com TM e T e óleo
de oliva extra virgem (Gallo®), empregado na dosagem da atividade lipolítica pelo método
titulométrico, também foram adquiridos em comércio local.
Todos os demais reagentes utilizados neste trabalho foram de grau analítico.

Microrganismo

O fungo P. corylophilum foi isolado no Laboratório de Tecnologia Enzimática e


Biocatálise-UFPR e sua caracterização taxonômica foi realizada no Laboratório de Coleção
de Cultura de Fungos da Fundação Oswaldo Cruz, onde está depositado como P. corylo-
philum Dierckx (IOC-4211).

Esterilização dos meios

Para assegurar as condições estéreis de crescimento do fungo, desde o pré-cultivo


até a fermentação, assim como todos os materiais utilizados, foram feitas esterilizações em
autoclave a 121 °C com pressão de 1 atm por 15 min.

Preservação da cepa

Usou-se o meio BDA (batata, dextrose e ágar), que foi anteriormente esterilizado e
adicionado em Erlenmeyer; o fungo foi repicado em três regiões diferentes do frasco e in-
cubado a 29 ºC. Depois do seu crescimento, em 6 dias, foi armazenado, lacrado com papel
filme e mantido a 4 ºC.

Composição dos meios e preparação dos substratos

Para a produção da enzima foram utilizados como substratos T, FSG e TM. Para os
meios T e TM houve adição de 5% (v/m) óleo de soja como indutor. A umidade dos substra-
tos foi fixada em 55%, sendo avaliada como solução umidificadora, água ou tampão fosfato
pH 7,0, 0,05 mol L-1.

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A semente de girassol foi triturada, tamisada e embalada em sacos plásticos, sendo
utilizadas as frações do farelo com granulometria entre 0,85 e 1,70 mm de diâmetro para os
estudos de FES. Os demais substratos foram utilizados sem preparação prévia.

Condições de cultivo

O microrganismo foi avaliado em três tempos de cultivo distintos (5, 6 e 7 dias), sendo
retirada triplicatas (T, FSG e TM) do cultivo a cada tempo. Os cultivos foram feitos utilizan-
do-se 4 g dos substratos em Erlenmeyers de 250 mL. O processo de umedecimento foi
realizado em duas etapas, sendo a primeira anterior à esterilização e a segunda durante
o inóculo dos esporos. O volume de água/tampão adicionado foi em q.s.p. (quantidade
suficiente para) faltar apenas 0,4 mL e a mistura foi homogeneizada com bastão de vidro.
Para os substratos sólidos umedecidos T e TM foram acrescidos 200 µL de óleo de soja de
forma a obter uma porcentagem de 5% de óleo (v/m) em cada Erlenmeyer. O volume de
0,4 mL restante foi adicionado na forma de suspensão de esporos no momento do inóculo
do microrganismo, atingindo o teor de umidade estabelecido.
Para obtenção dos esporos foi feita uma raspagem do fungo crescido em Erlenmeyers
contendo BDA, segundo item de preservação da cepa. A raspagem foi feita com água
contendo 0,01% de Tween 80. Uma alíquota da suspensão coloidal de esporos obtida foi
levada à câmara de Neubauer, fez-se uma diluição da suspensão original em tampão a
fim de obter uma solução de 4,0 x 107 esporos. mL-1 (107 esporos. g-1 de substrato seco)
e 0,4 mL utilizado para inocular o meio umedecido de cada Erlenmeyer. Os cultivos foram
incubados a 29 °C e triplicatas de cada meio retirada em três tempos, 5, 6 e 7 dias. Após
o período de fermentação, os sólidos fermentados foram armazenados em refrigerador a 4
°C para posterior dosagem de atividade (determinação da atividade lipolítica) e liofilização.

Determinação da umidade por infravermelho

A umidade foi determinada em analisador de umidade com lâmpada infravermelha


halógena IV3100 (Gehaka).

Estudo da solução umidificadora

Foram estudadas como soluções umidificadoras: água destilada e tampão fosfato pH


7,0 (0,05 mol L-1). A primeira foi estudada para os três meios, nos dias 5, 6 e 7. A solução
tampão fosfato foi estudada apenas para o tempo de 6 dias nos três meios. Os ensaios
foram realizados em triplicata.

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Estabilidade à liofilização

Para verificar a estabilidade do sólido fermentado à liofilização, 2 g dos sólidos fermen-


tados após 144 h de fermentação foram liofilizados em liofilizador (SL-404, Solab) por 48
h. A atividade residual do sólido fermentado seco foi dosada por meio da hidrólise do pNPP.

Custo-benefício

Para o cálculo aproximado da produção de lipases, os custos foram relacionados para


cada 100 g do substrato seco, sendo os valores da semente de girassol (R$ 17,60/ kg) e
triguilho (R$ 5,50/ kg) adquiridos em comércio local e para a torta de milho, o valor foi infor-
mado pela Caramuru Alimentos® (R$ 1,50/ kg), que gentilmente forneceu o material para a
realização do trabalho. Demais itens também foram adicionados aos cálculos, como água
destilada (R$ 22,80/ 5 L), óleo de soja (R$ 7,39/900 mL), BDA (R$ 386,51/ 500g) e energia
elétrica (R$ 6,24 kWh).

Métodos analíticos: Determinação da atividade lipolítica

Para a determinação da atividade lipolítica, foram utilizados dois métodos: o método


espectrofotométrico de hidrólise do palmitato de p-nitrofenila (pNPP) e o método titulométri-
co (apenas para o meio com maior atividade frente ao pNPP). Para ambos, a atividade foi
expressa em U g-1 S e refere-se a unidades de atividade (U) por grama de sólido fermenta-
do obtido ao término da fermentação. Para o fermentado liofilizado, a atividade foi dosada
apenas frente ao pNPP e expressa em U g-1 SS e refere-se a unidades de atividade (U) por
grama de sólido fermentado seco.
O método da hidrólise do palmitato de p-nitrofenila (pNPP) foi realizado como descrito
na literatura (WINKLER e STUCKMANN 1979). A liberação de p-nitrofenol a 40 °C em tam-
pão fosfato 0,05 mol L−1 (pH 8) foi detectada a 410 nm. Uma unidade de atividade da lipase é
definida como a liberação de 1 μmol de pNP por minuto. O coeficiente de extinção molar de
pNP (1,5 × 104 L mol−1 cm−1) foi usado para correlacionar a concentração do produto a partir
das leituras de absorbância. Os ensaios foram realizados em triplicata.
No método titulométrico (STUER; JAEGER; WINKLER, 1986), o óleo de oliva foi utili-
zado para determinar a atividade hidrolítica da lipase presente no fermentado (apenas para
o meio com maior atividade frente ao pNPP). A emulsão preparada por agitação magnética
(30 min) contém 200 mmol L−1 de óleo vegetal, 6% (m/v) de Triton X-100 em solução tam-
pão fosfato 0,05 mol L−1, pH 7,0. O fermentado (0,3 g) foi adicionado a 5 mL da emulsão e
incubado sob agitação a 150 rpm por 30 min e 40 °C. A reação foi interrompida com 16 mL da
solução 1:1 (v/v) acetona:etanol. Os ácidos graxos livres foram titulados com uma solução

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de NaOH 0,05 mol L−1 com uma solução de fenolftaleína como indicador. Uma unidade de
atividade hidrolítica (U) corresponde à liberação de 1 μmol de ácido graxo livre (FFA) por
minuto, nas condições do ensaio. Os ensaios foram realizados em triplicata.

Análise estatística através do teste de Tukey

A análise estatística foi realizada para verificar diferenças significativas entre amos-
tras independentes após a etapa de obtenção do sólido fermentado para quantificação da
atividade lipolítica e determinação da atividade. Para isso, utilizou-se ANOVA (Análise de
Variância) e o teste de Tukey a 95% de probabilidade (TUKEY, 1953).

RESULTADOS

Fermentação em estado sólido utilizando diferentes substratos

Em estudos anteriores, observou-se que a maior produção de lipase por P. corylo-


phium estava entre o quinto e o sétimo dia (CAMARGO, 2015), por isso a fermentação,
neste trabalho, foi realizada durante sete dias, sendo a atividade enzimática analisada em
120 h (5 dias), 144 (6 dias) e 168 h (7 dias). Os meios antes e após a fermentação podem
ser observados na Figura 1. Após a fermentação, observa-se o fermentado com a coloração
típica do fungo, o que caracteriza seu desenvolvimento e crescimento sobre o substrato,
porém para verificar se houve produção de lipases, o fermentado foi utilizado em reações de
hidrólise do palmitato de p-nitrofenila (pNPP) (Figura 2), sendo o triguilho (32,3 ± 5,5 U g-1S)
168 h com maior atividade.

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Figura 1. Substratos para a produção de lipases de Penicillium corylophilum por fermentação em estado sólido. TM: torta
de milho; T: triguilho; FSG: farelo de semente de girassol. À direita, os substratos antes do processo de fermentação e à
esquerda, o fermentado após 6 dias de fermentação.

Fonte: Autoria própria (2021).

A atividade do sólido fermentado para o meio (Triguilho, 168 h) foi analisada também
pelo método titulométrico, utilizando como substrato o óleo de oliva. A atividade lipolítica foi
de 97 ± 11,9 U g-1 S.

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Figura 2. Atividade lipolítica relativa aos sólidos fermentados obtidos do cultivo de Penicillium corylophilum utilizando
diferentes substratos. Condições: 55% de umidade, 29°C. Condições de ensaio na dosagem da atividade em pNPP: 40
°C, tampão fosfato pH 8,0, 0,05 mol L-1. a,b,c: letras acima nas colunas indicam diferenças significativas segundo o teste
Tukey com 95% de confiança (p ≤ 0,05).

Fonte: Autoria própria (2021).

Efeito das soluções umidificadoras no processo de fermentação e liofilização dos


sólidos fermentados

O efeito da solução umidificadora para a produção de lipase por FES, utilizando dife-
rentes substratos, demonstrou que a atividade enzimática é maior nos três meios quando
utilizado água como solução para umidificar os substratos em relação ao tampão fosfato (pH
7 - 0,05 mol L-1), tornando o processo mais viável em termos de custo (Tabela 1).
O processo de liofilização foi acompanhado com o sólido fermentado obtido após 6
dias de fermentação. Os resultados mostram que a atividade residual foi de 83,24% para
FSG, 40% para TM e 37,53% para T. A atividade dos fermentados após a liofilização foram
51,6 (FSG), 22,8 (TM) e 32,0 (T) U g-1SS.

Tabela 1. Efeito das soluções umidificadoras sobre a produção das lipases de Penicillium corylphilum por fermentação
em estado sólido. Condições: 55% de umidade; 144 h, 29 °C. Condições de ensaio na dosagem da atividade em pNPP: 40
°C, tampão fosfato pH 8,0, 0,05 mol L-1.

Atividade (U g-1 S)

FSG TM T
Água 28,2 ± 3,8 17,5 ± 3,7 15,2 ± 4,1
Tampão pH 7 0,05 mol L -1
20 ± 4,5 11,4 ± 0,9 12,9 ± 1,3
Fonte: Autoria própria (2021).

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Análise do custo-benefício para fermentação em estado sólido em diferentes meios
de cultivo

Para avaliar o custo-benefício para a produção de lipases por P. corylophilum nos


diferentes meios de cultivo, avaliou-se o pré-cultivo, que inclui a preparação do BDA (BDA
e água); cultivo, incluindo o substrato, água e óleo (para milho e trigo) e a energia gasta
durante a utilização da autoclave e estufa.

Tabela 2. Valores em reais para a produção de lipases de Penicillium corylophilum em diferentes meios de cultivo em
fermentação em estado sólido.

Substrato Atividade U g-1S Valores em reais (R$)/100 g do substrato seco


FSG (144 h) 28,2 ± 3,8 75,41
TM (168 h) 21,5 ± 5,4 73,99
T (168 h) 32,3 ± 5,5 74,49
Fonte: Autoria própria (2021).

É válido ressaltar que em nenhum dos três dias foi ultrapassado os 30 kWh (consumo
definido para padrão monofásico, conforme Resolução Normativa 414 de 2010 da ANEEL-
Agência Nacional de Energia Elétrica), é cobrado apenas a taxa mínima, ou seja, não há
diferença de valores de energia para 5, 6 ou 7 dias. Porém, deve-se levar em conta o des-
gaste de equipamentos e uso de mão de obra.
Para avaliar o custo-benefício, considerou-se a maior atividade para cada substrato
em relação à variação do tempo (5, 6 e 7 dias) (Tabela 2). Os valores em reais para a pro-
dução das lipases por FES foram muito próximos para os três tipos de substratos, apesar
da TM e T apresentarem menor custo por quilo em relação ao FSG. Isso se deve ao fato de
que nos cultivos com TM e T há a necessidade de adição de óleo e água em maior quanti-
dade, quando comparado ao cultivo com FSG, sendo estes dois itens os responsáveis pelo
aumento do custo final da produção quando se utilizou TM e T como substratos.

DISCUSSÃO

A fermentação em estado sólido (FES) consiste no crescimento de microrganis-


mos em materiais sólidos na ausência de água livre. Entretanto o substrato deve possuir
umidade suficiente, presente na forma adsorvida na matriz sólida (SALIHU et al., 2012;
GEOFFRY; ACHUR, 2018).
O teor de água nos processos de FES varia entre 50 e 80%. No geral, fungos neces-
sitam de baixo teor de água, cerca de 40-60% de umidade pode ser satisfatório. Contudo, a
seleção do substrato depende de vários fatores comumente relacionados com o preço e a

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140
disponibilidade e assim sendo, pode envolver a triagem de diversos resíduos agroindustriais
(SINGHANIA et al., 2009; GEOFFRY; ACHUR, 2018).
Analisando a composição físico-química dos substratos a partir de dados da literatura
ou de informações do fabricante (Tabela 3), o farelo da semente de girassol (FSG) apresenta
como vantagem alto conteúdo lipídico ou gorduras totais (superiores a 25%), tornando des-
necessária a adição de indutores. Os substratos triguilho (T) e torta de milho (TM) possuem
altos teores de proteínas porém baixos teores lipídicos.
Indutores de lipase, como óleos vegetais, tributirina, Tween 20 e Tween 80, são re-
portados com frequência na literatura (KANCHANA; MURALEEDHARAN; RAGHUKUMAR,
2011), sendo adicionados aos substratos com baixos teores lipídicos. Por isso, para os meios
contendo T e TM foram adicionados 5% (v/m) de óleo de soja.

Tabela 3. Composição físico-química dos substratos a partir de dados da literatura ou de informações do fabricante.

Substrato Gorduras totais (%) Carboidratos (%) Proteínas (%) Fibras (%) Fonte/Procedência
FSG 26 46 18 28,5 Fernandes (2007)
T 1 56 16 16 Kinino®
TM 0,40 a 1,20 48 11 5 Caramuru Alimentos®
Fonte: Autoria própria (2021).

Tabela 4. Fermentação em estado sólido para produção de lipases, análise de diferentes indutores.

Microrganismo Substrato Principais Resultados Lipídio Indutor Fonte


farelo de arroz e torta de
Aspergillus niger 176 U mL-1, 5 dias 1% de óleo de azeite Putri et al. (2020)
semente de Jathropa
torta de dendê, farelo de soja, 163,33 U g-1 SS, para farelo de Prabaningtyas et al.
Aspergillus niger 4% de óleo de oliva
caroço de coco soja, 9 dias (2018)
38,67 U g-1 SS, para farelo de
Aspergillus niger farelo de arroz, casca de arroz 2% de azeite de oliva Utami et al. (2017)
arroz, 5 dias
Aspergillus niger casca de mandioca 72,26 U g-1 SS, 7 dias 1% de gordura suína Kempka et al. (2017)
Cascas do fruto de dendê
Trichoderma sp. 0,39 U g-1 SS, 5 dias 3% de azeite de oliva Musa et al. (2017)
(OPEFB)
Fonte: Autoria própria (2021).

Neste trabalho, o critério para a escolha do tipo de óleo foi o menor custo do óleo de
soja em relação aos outros, como oliva, girassol ou milho. Em relação à porcentagem de
óleos vegetais, a literatura relata, em geral, a adição de 1 a 7% (v/m) de óleo ao meio de
cultivo (Tabela 4).
O estudo do tipo de substrato a ser empregado na FES é um dos parâmetros mais
importantes a serem estudados na produção de enzimas, pois o material atua como su-
porte físico e como fonte de nutrientes para o crescimento do microrganismo, em alguns
casos. A seleção por materiais de baixo custo e em abundância pode reduzir o custo da
produção. A utilização do uso de resíduos agroindustriais como substratos alternativos,
uma adaptação aos processos por FES, permitiu reduzir muito o custo de produção das

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lipases, além de auxiliar na diminuição da poluição ambiental (GEOFFRY; ACHUR, 2018;
CONTESINI et al., 2010).
No presente estudo, os materiais empregados como meio de cultivo, farelo de semente
de girassol, triguilho e torta de milho possuem baixo custo, (17,60/kg girassol e 5,50/kg trigo,
valor disponibilizado pelo fabricante) sendo o menor valor para a torta de milho, um material
obtido do processamento após a extração do óleo de milho, é empregado como complemento
na ração animal (R$ 1,50 reais/kg valor disponibilizado por Caramuru Alimentos®).
Observa-se que a maior atividade foi obtida com o triguilho (32,3 ± 5,5 U g-1S), em 168
h. Entretanto, de acordo com a análise estatística (Tukey - p≤0,05), observa-se que o gru-
po amostral relativo ao cultivo com triguilho (T) seria diferente apenas do grupo relativo ao
cultivo contendo o próprio triguilho, mas em 144 h, com atividade de 15,2 ± 4,1 U g-1 S. Os
demais grupos são estatisticamente iguais entre si quando comparados dois a dois. A falta
de significância pode estar associada aos altos valores dos desvios para os cálculos das
atividades, e neste caso pode ser atribuída à característica do sólido fermentado, que poderia
conter quantidades distintas da enzima nas réplicas realizadas.
Em se tratando de processos fermentativos utilizando resíduos agroindustriais, Coelho
et al. (2018) avaliou a produção de lipase de A. niger por fermentação em estado sólido
usando o farelo de trigo como substrato e óleo de coco como indutor. A atividade foi de
107,68 U g-1SS (método titulométrico, óleo de oliva). Já Fernandes et al. (2007) produziu lipa-
ses de B. cepacia tendo como substrato o farelo de milho, obtendo atividade de 108 U g-1SS
pelo método pNPP.
Considerando as diferenças em termos de condições, quando se analisou o sólido
fermentado contendo as lipases de P. corylophilum, houve boa produção enzimática. Como
o processo de fermentação não está completamente otimizado, os resultados podem ser
ainda melhorados.
Em relação à liofilização, Mena et al. (2015) cita um decréscimo da atividade enzimática
após liofilização, possivelmente ocasionada pela desnaturação da enzima. Junior; Parra e
Pitombo (2006) relatam que problemas relacionados com o congelamento e a desidratação,
induzidos pela liofilização, podem levar a instabilidade proteica, salientando que um parâ-
metro importante a ser definido é a taxa de congelamento.
A análise do custo-benefício para a produção de lipases de P. corylophilum por FES
em diferentes meios de cultivo indica que o sólido fermentado obtido a partir de TM (menor
custo) seguido de T, em 168 h seriam adequados para serem empregados em processos
em que não há a necessidade de controle de umidade no biocatalisador, como por exemplo,
reações de hidrólise. Se o tempo de fermentação for analisado, a fermentação utilizando FSG
(144 h) é preferível, visto que reduz a laboração em um dia. No caso de aplicabilidade que

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exige a necessidade de controle de água, como reações de esterificação e transesterificação
para produção de biodiesel, por exemplo, faz-se necessário o procedimento de liofilização
e assim o fermentado obtido a partir do FSG seria a melhor opção, já que entre os três foi
o que perdeu menor atividade (20%) após secagem por liofilização.

CONCLUSÃO

A utilização de resíduo agroindustrial e meios de cultivo eco-amigáveis e de baixo cus-


to para produzir lipases de P. corylophilum por fermentação em estado sólido apresentou
resultados satisfatórios. Neste estudo, a maior atividade lipolítica foi de 32,3 ± 5,5 U g-1S e
51,6 U g-1SS antes e após a liofilização (7 dias, FSG). No processo de liofilização, o sólido
fermentado obtido a partir do FSG apresentou os melhores resultados em termos da ativi-
dade residual (83,24%).

Agradecimentos

Os autores agradecem o apoio técnico do LAMAP e LabMult – Laboratório Multiusuário


da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná campi Apucarana).

REFERÊNCIAS
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10
Uso do amido de pinhão ( Araucaria
angustifolia) como substituinte de gordura
para o desenvolvimento de maionese light

Vanessa Mayra de Assis Goulart Maria Rosa Figueiredo Nascimento


Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ

Denise Rosane Perdomo Azeredo Cristiane Hess de Azevedo Meleiro


Instituto Federal do Rio de Janeiro - IFRJ Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ

'10.37885/220609138
RESUMO

O presente estudo teve por objetivo apresentar como substituto de gordura, a farinha da
semente da Araucaria angustifolia, para a obtenção de duas maioneses light, propondo a
substituição de 35% e 50% do óleo vegetal do alimento convencional por adição da farinha
de pinhão comparando com um produto controle produzido nos teores de lipídeos conven-
cionais. Como resultado obteve-se um produto de viscosidade muito próxima a do mercado,
cor característica e principalmente os produtos light apresentaram uma redução de 50,17%
de gordura (34,34% de redução) e 38,31% gordura (49,86% de redução) em relação à
formulação tradicional (76,41% de gordura). Os três produtos foram aprovados quanto aos
resultados microbiológicos e as suas rotulagens nutricionais revelaram que em 12 gramas
do produto conforme preconiza a legislação (1 colher de sopa – medida caseira) o consumo
diminui de 17% para 11% e 8% do valor diário recomendado de calorias, respectivamente
nas substituições de 35 e 50% da farinha do pinhão.

Palavras-chave: Emulsão, Substituinte Amiláceo, Pinha do Paraná.


INTRODUÇÃO

Os hábitos alimentares da população brasileira têm sofrido influência externa trazidos


pela globalização e o fácil acesso a comidas rápidas e pré-prontas. Em consequência, a OMS
(Organização Mundial da Saúde) fez um alerta quanto à dieta inadequada que o brasileiro
inseriu em seu cotidiano. De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2021) no ano de
2019, 54, 7% dos óbitos registrados no Brasil tiveram como causa as Doenças Crônicas Não
Transmissíveis (DCNT) que incluem as doenças cardiovasculares, neoplasias, diabetes e
doenças respiratórias crônicas.
A indústria de alimentos vem se empenhando na geração de alternativas que ameni-
zem os impactos causados à saúde dos brasileiros, investindo em novos ingredientes com
atributos miméticos à gordura, sem que o produto perca suas características originais e
tenha boa aceitabilidade por parte do consumidor.
Os lipídeos, que tem papel fundamental no funcionamento do corpo e por suas carac-
terísticas físicas fazem parte da formulação de muitos alimentos, entretanto, muitas vezes
encontram-se em excesso. Uma das principais alternativas para reduzi-los na dieta são os
substitutos, alimentos à base de carboidratos, proteínas, compostos sintéticos e até mesmo
gorduras alternativas (como exemplo os ácidos graxos de cadeia média - TCM).
Nesse sentido, o presente estudo teve por objetivo formular, um produto bastante
aceito pela população, a maionese light, a partir da substituição de parte do teor de óleo
pela farinha do pinhão (Araucaria angustifolia) que constitui fonte de amido. Essa semente
pode ser facilmente encontrada na região sul e sudeste do país, sendo desperdiçada na
época de safra.

MÉTODOS

Matéria-prima:

A fonte de amido como substituinte de gordura foi o pinhão, que é a semente do


Pinheiro Brasileiro ou Pinheiro-do-Paraná (Araucaria angustifolia), pertencente a família
Araucariaceae. A matéria-prima foi colhida em Bocaina de Minas, Minas Gerais, na micror-
região de Andrelândia.

Obtenção da farinha de pinhão

Para a obtenção da farinha, as pinhas foram selecionadas, em seguida foram pesadas


e lavadas/sanitizadas, compreendendo as etapas de pré-lavagem, lavagem e desinfecção,
com a imersão dos frutos em água clorada a 100 ppm durante 20 minutos. Em seguida, os

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frutos foram descascados, obtendo-se as sementes, que foram cozidas por 40 minutos. Para
a redução de umidade, foram escorridas em peneira de plástico e na sequência secas em
papel toalha, em seguida trituradas em um mixer de marca Braun manual. A farinha obtida
foi armazenada sob congelamento.

Ingredientes da maionese

Os ingredientes utilizados na formulação da maionese foram: gema de ovo desidratada


da empresa DIM Alimentos (hidratada para uso), óleo de milho marca comercial Liza, vinagre
de álcool marca Castelo, sal marca Cisne, açúcar marca União, mostarda marca Hemmer
e condimentos (pimenta com cominho, noz-moscada e páprica).

Formulações

A) Testes de Formulação – produto controle

Para chegar ao produto desejado, ou seja, a maionese light foi necessário à formula-
ção de um produto chamado “controle”, somente com os ingredientes tradicionais de uma
formulação de mercado. Este produto com características sensoriais desejáveis foi à base
comparativa das sucessivas substituições posteriores dos teores de lipídeo estudado.
Em um recipiente, foram adicionados a gema de ovo hidratada previamente (8g de
ovo para 9 mL de água mineral), vinagre, sal, açúcar e condimentos. Após a homogenei-
zação desses ingredientes, foi adicionado lentamente o óleo sob uma agitação constante.
Formou-se a emulsão esperada com a consistência firme, homogênea, contínua e de cor
clara (tempo médio de 5 minutos). Após, o produto obtido foi transferido para pote de vidro
de 150 mL e armazenado.

B) Produção das maioneses light

A partir da formulação final do produto-controle foram realizados testes para a maionese


light com a substituição de 35 e 50% da farinha de pinhão. As quantidades dos ingredientes
para a elaboração das maioneses light com substituição de 35% e 50% pelas farinhas de
pinhão, se encontram disponíveis na Tabela 1.

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Tabela 1. Formulação proposta para o produto light 35% e 50% de amido de pinhão
Quantidades (g) Quantidades (g)
Ingredientes (%) (%)
35% 50%
Óleo de milho 70,2 47,13 54 36,25
Farinha de Pinhão 37,8 25,37 54 36,25
Gema de Ovo 18 12,1 18 12,1
Vinagre 15 10,1 15 10,1
Sacarose 5 3,3 5 3,3
Sal 2 1,3 2 1,3
Condimentos 1 0,7 1 0,7

Análises

As maioneses elaboradas, foram analisadas, em triplicata, em relação aos seguintes


parâmetros físico-químicos: umidade e lipídeos (segundo MAPA, 2006); proteínas (de acordo
com Adolfo Lutz, 2008), carboidratos, sódio e cinzas (MAPA, 2006; AOAC, 1995;). O per-
centual de fibra alimentar presente nas amostras foi determinado por diferença.
No tocante as análises microbiológicas, os microrganismos pesquisados foram coliformes
termotolerantes a 45 °C e Salmonella sp, conforme preconizado pela legislação pertinente.
A rotulagem nutricional foi determinada a partir dos dados obtidos na Tabela Brasileira
de Composição dos Alimentos – TACO, 2011.
Para a análise estatística dos dados foi calculado média e desvio padrão e os resulta-
dos obtidos foram avaliados aplicando-se análise de variância (ANOVA) e testes de média
de Tukey sendo p≤ 0,05.

RESULTADOS

A composição centesimal das maioneses elaboradas pode ser observada na Tabela 2.

Tabela 2. Composição centesimal da maionese controle e com farinha de pinhão (35 e 50% de substituição).

Maionese controle Maionese 50% Maionese 35%


Valor calórico
Kcal/100g 713,9a ± 10,2 423,5c ± 8,1 512,6b ± 9,2
KJ/100g 2938,5 ± 42,7
a
1752,0 ± 34,0
c
2115,8b ± 37,7
Umidade (%) 16,18c ± 0,84 37,73a ± 0,47 30,40b ± 0,48
Cinzas (%) 0,86b ± 0,08 1,26a ± 0,11 1,37a ± 0,01
Proteínas (%) 3,51 ± 0,18
b
4,10 ± 0,20
a
3,99a ± 0,02
Lipídios (%) 76,41a ± 0,39 38,31c ± 0,20 50,17b ± 0,96
Carboidratos (%) 3,03 ± 1,49
c
15,58 ± 1,36
a
11,27a ± 0,10
Fibra alimentar (%) (por diferença) 0,00b ± 0,00 2,24a ± 1,34 1,54a ± 0,58
Sódio (MG/100G) 313,1 ± 2,6
a
218,0 ± 2,8
c
281,7b ± 2,8
Letras iguais na mesma linha não diferem estatisticamente (p>0,05)

Os resultados obtidos foram coerentes com o perfil da substituição utilizada. O teor de


umidade foi superior nas formulações com a farinha de pinhão, isso é característico quando

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se usa um substituinte amiláceo, pois o amido tende a reter mais água. O teor de umidade
também se relaciona com o teor de lipídeos, assim quanto maior o teor de lipídeo menor
a umidade, afetando diretamente a validade e a estabilidade microbiológica do produto.
Ressalta-se que produtos light, em muitos casos, recebem conservadores na sua formulação.
O teor de resíduos minerais fixos ou cinzas, também seguiu a tendência esperada,
verificando-se valores superiores quando da adição de farinhas de pinhão. Nutricionalmente,
esses valores são interessantes, pois os sais minerais são desejáveis na alimentação diária.
A redução no teor de lipídeos obtido nas diferentes formulações, comprovou, ser pos-
sível, formular produtos light, com a adição da farinha de pinhão. No produto com 50% de
farinha de pinhão, verificou-se uma redução de 49,86% no teor de lipídeos, quando compa-
rado a formulação convencional.
A variação no teor de carboidratos ocorreu em consequência ao amido presente na
farinha de pinhão.
O teor de fibras nas amostras com adição da farinha de pinhão demonstrou aumento, em
relação a formulação controle, o que do ponto de vista nutricional, acarreta benefícios à saúde.
O elemento sódio variou estatisticamente em todas as amostras e foi surpreendente-
mente inversamente proporcional a adição da farinha de pinhão. Uma das hipóteses é que
o sódio seria originado do óleo vegetal utilizado nas formulações. Com o objetivo de validar
a hipótese, analisou-se o teor de sódio no óleo de milho, e obteve-se o resultado de 12,5
mg de sódio/100g de óleo vegetal.
Em relação aos parâmetros microbiológicos, os produtos formulados encontram-se de
acordo com os padrões estabelecidos pela legislação, demonstrando que as boas práticas
de fabricação foram adequadamente seguidas.

Rotulagem nutricional

Levando-se em consideração uma porção de 12g (equivalente a medida caseira de


uma colher de sopa) estabelecida em legislação, foram propostas as rotulagens dos produtos
formulados, conforme apresentado na Tabela 3.

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Tabela 3. Rotulagem Nutricional da maionese-controle, 35% e 50% de substituição.

Maionese controle Maionese 50% Maionese 35%

Porção de 12 g VD Porção de 12 g VD Porção de 12 g VD


Valor calórico
Kcal/100g 86 kcal 4 51 kcal 3 62 kcal 3
KJ/100g 353 kJ 4 210 kJ 3 254 kJ 3
Carboidratos 0,4 g 0 1,9 g 1 1,4 g 0
Proteínas 0,4 g 1 0,5 g 1 0,5 g 1
Gorduras totais 9,2 g 17 4,6 g 8 6,0 g 11
Fibra alimentar 0,0 g 0 0,3 g 1 0,2 g 1
Sódio 37,6 mg 2 26,2 mg 1 33,8 mg 2
VD - Valor diário recomendo para uma dieta de 2000 kcal.

A análise do valor calórico na porção (12g) da maionese tradicional foi de 86 Kcal/100g;


na maionese com substituição de 50% de farinha de pinhão obteve-se 51 Kcal/100g, isso
equivale a uma diminuição de 41%, quando comparado ao produto convencional. Para a
formulação com 35% de substituição de lipídeos, obteve-se uma redução equivalente a
26,19%. Sendo assim, pode-se afirmar que os dois produtos formulados no estudo apre-
sentaram redução maior que 25% no valor energético em relação à maionese tradicional/
controle, conforme preconiza a legislação (Brasil, 1998).

CONCLUSÃO

O uso de ingredientes substitutos de gordura nos produtos industrializados se insere


no contexto de saudabilidade e inovação com o objetivo de atender o consumidor moderno,
que apresenta uma preocupação crescente com a sua alimentação. Esses componentes
alternativos também atendem a dietas de pessoas com saúde comprometida, mas que não
conseguem formar novos hábitos alimentares.

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www.cfn.org.br/wp-content/uploads/2017/03/taco_4_edicao_ampliada_e_revisada.pdf

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SOBRE O ORGANIZADOR
Willian Carboni Viana
Doutor em Geografia (Geografia Humana) pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto
(Portugal). Mestre em Arqueologia pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro - UTAD em
parceria com o Instituto Politécnico de Tomar - IPT (Portugal), no âmbito do Programa Internacional
Erasmus Mundus Master in Quaternary and Prehistory (IPT/ UTAD, UNIFE, URV, MAHN, UPD).
Licenciado e bacharel em Geografia pela Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC
(Brasil). Possui registro profissional no Conselho Federal de Engenharia e Agronomia - CONFEA /
CREA-SC (124.747-9 ), situação ativa no Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos
de Defesa Ambiental - CTF / AIDA (7316763). Dedica-se a estudos relacionados a Geografia
Econômica e Social, Geografia Cultural, Gestão do Território e Arqueologia da Paisagem. Atua
como Geógrafo na elaboração de documentos técnico-científicos, em pesquisas sobre Patrimônio
Cultural e Ciências Humanas.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2232281100381836

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154
ÍNDICE REMISSIVO

A Pecuária: 95, 106, 153

Agricultura: 27, 28, 39, 63, 83, 99, 113, 153 Penicillium Corylophilum: 132, 133, 138, 139,
140
B
Plantas Tóxicas: 95, 105, 106, 107
Brasil: 12, 14, 21, 27, 28, 31, 32, 34, 35, 36, 40, 53,
62, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 73, 74, 75, 76, 77, Portal do Sertão: 89
78, 79, 80, 83, 85, 89, 91, 93, 95, 96, 97, 98, 106,
107, 110, 111, 113, 114, 118, 133, 148, 152 Produção: 39, 50, 68, 70, 71, 74, 75, 76, 77, 106,
143, 144, 149
C
R
Cantasol: 10, 11
Renda: 11, 22, 27
Comercialização: 13, 18
Resíduos: 131, 143
Custos Fixos: 44, 47
Resíduos Agroindustriais: 131, 143
Custos Variáveis: 47
Rizicultura: 30
D
S
Desigualdade de Renda: 65, 79
Soja: 52, 62
E
T
Efeito Residual: 51
Toxicologia: 95
Erosividade: 83, 85, 86, 87, 91, 92, 93

L
Lipase: 144

M
Maranhão: 29, 30, 31, 32, 34, 35, 39, 40, 95, 96,
97, 98, 99, 107, 108, 109, 110, 111, 113, 114

Modernização: 108, 109

N
Nordeste: 28, 31, 39, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70,
71, 74, 75, 76, 77, 78, 79, 86, 88, 89, 91, 97, 107,
118, 128
O
Ocupações: 65, 67, 68, 70

P
Paisagem: 115, 116, 130

Territorialidades da Agricultura Brasileira - ISBN 978-65-5360-130-7 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022
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