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20 anos de contribuições do IFMT para construção civil

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T255 Tecnologia em controle de obras: 20 anos de contribuições do IFMT para construção civil / Marcos de Oliveira Valin Jr
(Organizador). – Guarujá-SP: Científica Digital, 2023.
E-BOOK
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Formato: PDF
Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5360-326-4
DOI 10.37885/978-65-5360-326-4
1. Engenharia civil. I. Valin Jr, Marcos de Oliveira (Organizador). II. Título.

2023
CDD 624
Índice para catálogo sistemático: I. Engenharia civil
Elaborado por Janaina Ramos – CRB-8/9166
Apoio:
Direção Editorial
CORPO EDITORIAL

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João Batista Quintela

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Sandra Cardoso

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Universidade Federal do Pará Universidade Federal do Triângulo Mineiro
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Universidade Estadual do Norte do Paraná Universidade Federal do Pará
Prof. Me. Teonis Batista da Silva Profª. Ma. Michelle Cristina Boaventura França
Universidade do Estado da Bahia Universidade Federal do Pará
Aos servidores que trabalharam em algum momento de sua vida funcional no Curso
Superior de Tecnologia em Controle de Obras e que hoje encontram-se aposentados.
Nosso alicerce, pedras fundamentais para a celebração dos 20 anos do curso através
do lançamento deste livro. Muito Obrigado!

Admilza Lúcia de Carvalo Silva


Ali Veggi Atala
Antônio Cezar Santos
Arnóbio Santiago Lopes (in memoriam)
Benedito Antônio Rezende Fortes
Benedito Duarte Belém
DEDICATÓRIA

Cacilda Guarim
Carlos Alberto Saldanha
Cleide Lemes de Salva Cruz
Egle Carillo de Farias
Eiji Harima
Eliane Barros
Eliane Muller Affi
Eduardo Ferreira da Cunha
Henrique do Carmo Barros
Isabel Cristina de Oliveira Campos
Iraneide de Albuquerque Silva
Jacira Soares da Silva
João Batista Barbosa da Fonseca (in memoriam)
João Manoel Mischiati Farto
José Luiz Malheiros de Oliveira
José Ribamar Santos
José Rodrigues da Silva
José Vinicius da Costa
Josdyr Vilhagra
Leila Auxiliadora de Alencar
Luis Anselmo da Silva
Luis Carlos Ferreira Coelho
Luiz de Anunciação
Luzinete Torquato da Silva
Marlene Rodrigues
Marlúcia de Moura Hoffman
Milton Roberto Yoshinari (in memoriam)
Mirian Ross Milani
Noemia Vieira Dias
Rita Francisca Bezerra Casseb
Rosana Maria da Silva Santos
Rubens Gargiullo
Sueli Corrêa Lemos Valezi
Thereza Irenio Ribeiro Carvalho Malheiros Gomes
Thompson Ferreira
Wilson Conciani
A Resolução Nº. 007 de 12 de agosto de 2003 aprovada pelo Conselho Diretor trata da
aprovação e autorização do funcionamento do Curso Superior de Tecnologia em Controle
Tecnológico de Obras - Área: Construção Civil, no CEFET/MT (denominado atualmente
de Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso- IFMT, Campus
Cuiabá- Cel. Octayde Jorge da Silva).
O Tecnólogo em Controle de Obras, supervisiona e coordena a qualidade das obras;
executa e gerencia atividades em canteiros de obras e em laboratórios de materiais
de construção, solo, asfalto, cerâmica; executa e avalia instalações laboratoriais e
calibragem de equipamentos; avalia resultados de ensaios; vistoria, realiza perícia,
avalia, emite laudo e parecer técnico em sua área de formação.
A construção civil é uma atividade que envolve grande quantidade de variáveis e se
desenvolve em um ambiente particularmente dinâmico e mutável. Gerenciar uma obra
adequadamente não é um dos trabalhos mais fáceis, e, no entanto, muito de improvisação
ainda tem lugar nos canteiros por todo o mundo. O Controle Tecnológico da obra é um
dos principais aspectos do gerenciamento.
Ao planejar e ter o Controle Tecnológico da Obra o gerente dota a obra de uma ferramenta
importante para priorizar suas ações, acompanhar o andamento dos serviços, comparar
PREFÁCIO

o estágio da obra com a linha de base referencial e tomar providências em tempo


hábil quando algum desvio é detectado. A deficiência do planejamento pode trazer
consequências desastrosas para uma obra. Essas duas décadas do curso traduzem
um esforço coletivo de consolidar e legitimar experiência prática elaborada por esse
grupo de docentes.
Este livro constituiu-se a partir de um processo colaborativo entre pesquisadores, docentes
e discentes, pessoas que entregam para a Sociedade Brasileira o brilhantismo de sua
expertise e o vigor do conhecimento. Os autores são formadores de opinião contra-
hegemônica, de que a dignidade humana se estabelece por patamares civilizatórios
e coletivos. A conduta ética, história profissional e política gabaritam os autores a nos
brindar com as conquistas desses 20 anos.
São 33 artigos que compreendem todas as áreas de atuação do Curso: Asfalto,
Geotecnia, Madeiras e Materiais de Construção (Concreto, Argamassa, Cerâmica
Vermelha), algumas dessas publicações levaram o Curso Controle Tecnológico de
Obras a participar de inúmeros eventos nacionais e internacionais, trazendo premiações
de primeiro lugar em temas de relevância mundial como a Reciclagem de Resíduo da
Construção Civil (RCC).
Os trabalhos aqui publicados fazem jus ao título: TECNOLOGIA EM CONTROLE DE
OBRAS: 20 ANOS DE CONTRIBUIÇÕES DO IFMT PARA CONSTRUÇÃO CIVIL.

Profª. Dra. Juzélia Santos


Prof. Dr. Marcos Valin Jr
SUMÁRIO
Materiais e Sistemas Construtivos

Capítulo 01
APLICAÇÃO DE ENSAIOS NÃO DESTRUTIVOS DE CONCRETO PARA AVALIAÇÃO ESTRUTURAL DA FUNDAÇÃO
DE TORRE DE LINHA DE TRANSMISSÃO
Marcos de Oliveira Valin Jr; Eder Souza de Almeida; Pablo Passos da Silva; Raquel dos Santos Santiago

' 10.37885/230211936.......................................................................................................................................................................... 19
Capítulo 02
CURVA DE CORRELAÇÃO ENTRE ÍNDICE ESCLEROMÉTRICO MÉDIO E RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO SIMPLES
DE CONCRETOS PRODUZIDOS COM AGREGADOS NATURAIS DA REGIÃO DE CUIABÁ
Rafaela da Conceição Soares; Albéria Cavalcanti de Albuquerque

' 10.37885/230312304......................................................................................................................................................................... 35
Capítulo 03
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE COLAS UTILIZADAS EM ENSAIOS DE RESISTÊNCIA DE ADERÊNCIA À
TRAÇÃO DE ARGAMASSA PARA REVESTIMENTO
Kárita Pereira Carvalho; Éder Sousa de Almeida; Albéria Cavalcanti de Albuquerque

' 10.37885/230312353.......................................................................................................................................................................... 48
Capítulo 04
ENSAIOS TECNOLÓGICOS PARA AVALIAÇÃO DA CONDUTIVIDADE TÉRMICA DE ARGAMASSAS
Thaynara Luany de Melo Julkovski; Éder Sousa de Almeida; Alceu Aparecido Cardoso; Albéria Cavalcanti de Albuquerque

' 10.37885/230312354......................................................................................................................................................................... 59
Capítulo 05
ESTUDO DE AGREGADOS GRAÚDOS EMPREGADOS EM CONCRETO NAS CIDADES DE CUIABÁ E
RONDONÓPOLIS - MT
Douglas Macena de Carvalho; Edson Rodrigues Arantes; Albéria Cavalcanti de Albuquerque

' 10.37885/230512983......................................................................................................................................................................... 73
Capítulo 06
ANÁLISE DE PATOLOGIA DE INFILTRAÇÃO EM SISTEMA DE REVESTIMENTO EXTERNO EM FACHADA
TEXTURIZADA DE EDIFÍCIO NA CIDADE DE CUIABÁ - MT
Válery Kessis da Silva Pires; Maria Gabriella Félix Pezzin Salomão

' 10.37885/230512941.......................................................................................................................................................................... 83
SUMÁRIO

Capítulo 07
PROBABILIDADE DE RUÍNA EM CONCRETOS ESTRUTURAIS – ESTUDO DE CASO
Sandra Maria de Lima; Iraci Gottschald

' 10.37885/230512929......................................................................................................................................................................... 104


Capítulo 08
PROPOSTA PARA MINIMIZAR O EMPIRISMO NOS PROCEDIMENTOS DE MOLDAGEM DE CORPOS DE PROVA
DE CIMENTO E DE ARGAMASSA
Angela Santana de Oliveira; Marcos de Oliveira Valin Jr

' 10.37885/230512930......................................................................................................................................................................... 113


Capítulo 09
CONTROLE DA SUCÇÃO DE BLOCOS CERÂMICOS DE VEDAÇÃO EM CANTEIRO DE OBRA
André Vitor de Abreu

' 10.37885/230512944......................................................................................................................................................................... 126


Capítulo 10
PONTES DE MADEIRA EM MATO GROSSO: ALTERNATIVAS ÀS TIPOLOGIAS USUAIS
Benedito Carlos Teixeira Seror; José Manoel Henriques de Jesus; Norman Barros Logsdon

' 10.37885/230312249......................................................................................................................................................................... 135


Capítulo 11
VIABILIDADE FINANCEIRA NA CONTRATAÇÃO DE EMPRESA ESPECIALIZADA PARA FISCALIZAÇÃO DA
EXECUÇÃO DE OBRA PÚBLICA, UM ESTUDO DE CASO
Fabiano Jandrei Bogo; José Vinicius da Costa Filho

' 10.37885/230312318.......................................................................................................................................................................... 154

Resíduos da Construção Civil


Capítulo 12
UTILIZAÇÃO DE ARGAMASSA COM AGREGADO RECICLADO DE CERÂMICA VERMELHA NA RECUPERAÇÃO
DE ESTRUTURAS

Claudeir de Souza Santana; Juzélia Santos

' 10.37885/230312352.......................................................................................................................................................................... 175


Capítulo 13
PRODUÇÃO DE TIJOLOS PRENSADOS COM AGREGADOS RECICLADOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL
Benedito Ilmar de Moraes; Eduardo Miranda Ethur; Juzélia Santos da Costa

' 10.37885/230212023......................................................................................................................................................................... 188


SUMÁRIO

Capítulo 14
ENSAIOS TECNOLÓGICOS EM TIJOLOS PROVENIENTES DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO –
RCD’S
Marina de Sá Hora Santos; Juzélia Santos; Albéria Cavalcanti Albuquerque

' 10.37885/230312305......................................................................................................................................................................... 204


Capítulo 15
CONSTRUÇÃO DE SALA DE AULA UTILIZANDO TIJOLO ECOLÓGICO FABRICADO COM AGREGADO DE RESÍDUO
DA CONSTRUÇÃO CIVIL (RCC)

Juzélia Santos; Lucimara Soares Costa Nepomuceno; Carlos Eduardo Nepomuceno; Bianca dos Santos Lima

' 10.37885/230412819.......................................................................................................................................................................... 215


Capítulo 16
AGREGADO DE RESÍDUO DA CONSTRUÇÃO CIVIL UTILIZADO NA CONSTRUÇÃO DE MESA E BANCO
Bianca dos Santos Lima; Murilo Alberto Batista Bento dos Reis; Lucimara Soares Costa Nepomuceno; Carlos Eduardo
Nepomuceno; Juzélia Santos

' 10.37885/230412845......................................................................................................................................................................... 238


Capítulo 17
PISO PRODUZIDO COM AGREGADO DE RESÍDUO DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM RELAÇÃO AO PRODUZIDO
COM AGREGADO NATURAL

Rafael Henrique Santos da Costa; Karyn Ferreira Antunes Ribeiro; Juzélia Santos da Costa

' 10.37885/230412843......................................................................................................................................................................... 250


Capítulo 18
BLOCO DE CONCRETO VAZADO COM POLIESTIRENO EXPANDIDO (EPS)
João Medeiros Escola; Juzelia Santos

' 10.37885/230412842......................................................................................................................................................................... 264

Geotecnia
Capítulo 19
PRINCIPAIS MÉTODOS ESTUDADOS PARA A ESTABILIZAÇÃO DA EXPANSÃO DOS SOLOS SAPROLÍTICOS
DE FILITOS DA BAIXADA CUIABANA
Karyn Ferreira Antunes Ribeiro; Marcos de Oliveira Valin Jr; Ilço Ribeiro Júnior

' 10.37885/230312255.......................................................................................................................................................................... 280


Capítulo 20
INFLUÊNCIA DA EXPANSÃO DO SOLO NA OBTENÇÃO DOS PARÂMETROS GEOTÉCNICOS OBTIDOS COM
ENSAIOS DE LABORATÓRIO

Karyn Ferreira Antunes Ribeiro; Ilço Ribeiro Júnior

' 10.37885/230312266......................................................................................................................................................................... 293


SUMÁRIO

Capítulo 21
ESTUDO DA RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS RESIDUAIS SAPROLÍTICOS DE FILITO DA
BAIXADA CUIABANA
Renan Rodrigues Pires; Ilço Ribeiro Júnior

' 10.37885/230312369......................................................................................................................................................................... 309


Capítulo 22
DETERMINAÇÃO DO COEFICIENTE DE REAÇÃO VERTICAL (KV) E HORIZONTAL (KH) DE UM SOLO TROPICAL
EM CUIABÁ

Luiz Carlos de Figueiredo; Ilço Ribeiro Júnior; Reyder Rodrigues Pires; Silvana Fava Marchezini

' 10.37885/230512942......................................................................................................................................................................... 324


Capítulo 23
UTILIZAÇÃO DE UM SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA E RESULTADOS DE ENSAIOS SPT COMO
SUBSÍDIO AO PLANEJAMENTO URBANO

Geraldo Antonio Gomes Almeida; Kurt João Albrecht

' 10.37885/230512945......................................................................................................................................................................... 336

Asfalto e Pavimentação
Capítulo 24
ANÁLISE COMPARATIVA DE TRAÇOS PARA CONCRETO BETUMINOSO USINADO À QUENTE NA REGIÃO DE
CAMPO VERDE - MT
Fernanda Victória de Oliveira; Sérgio Luiz Morais Magalhães; Marcos de Oliveira Valin Jr

' 10.37885/230312316.......................................................................................................................................................................... 355


Capítulo 25
ANÁLISE PROBABILÍSTICA DE PARÂMETROS CONSTRUTIVOS EM UM PAVIMENTO FLEXÍVEL NO MUNICÍPIO
DE CAMPO VERDE – MT, COM O MÉTODO FOSM

Luís Anselmo da Silva; Patrícia Mota Rausch; Raquel dos Santos Santiago

' 10.37885/230412750.......................................................................................................................................................................... 372


Capítulo 26
CONTROLE TECNOLÓGICO DA CAMADA DE REVESTIMENTO DE CAUQ DE CUIABÁ: ANÁLISE DAS
PROPRIEDADES

Danilo de Almeida Cruz; Silvana Fava Marchezini; Luiz Carlos de Figueiredo

' 10.37885/230512914.......................................................................................................................................................................... 400


SUMÁRIO

Capítulo 27
COMPORTAMENTO DA BRITA CALCÁRIA DA REGIÃO DE CUIABÁ PARA USO EM MISTURAS DENSAS
USINADAS À QUENTE
Thaisa Bruna Nieland Borges; Fátima Silva Siqueira; Silvana Fava Marchezini; Luiz Carlos de Figueiredo

' 10.37885/230512915.......................................................................................................................................................................... 414


Capítulo 28
ANÁLISE DE PATOLOGIAS EM JUNTAS DE DILATAÇÃO EM PONTE DE CONCRETO: ESTUDO DE CASO EM
CUIABÁ - MT

Jonathan Lima Barbosa; Marcos de Oliveira Valin Jr

' 10.37885/230512919.......................................................................................................................................................................... 426


Capítulo 29
EVALUACIÓN DEL MÓDULO DE RESILIENCIA EN MEZCLAS DE SUELO Y RCD APLICADO EN OBRAS DE
PAVIMENTACIÓN

Enio Fernandes Amorim; Luis Fernando Martins Ribeiro; Juzélia Santos da Costa

' 10.37885/230512981.......................................................................................................................................................................... 444

Ensino
Capítulo 30
MODELAGEM E FABRICAÇÃO DIGITAL DE RECURSOS DIDÁTICOS: UMA PROPOSTA PARA QUALIFICAR O
ENSINO DE REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO CURSO DE TECNOLOGIA EM CONTROLE DE OBRAS DO IFMT
Louise Logsdon; Roberto Nunes Vianconi Souto; Marcos de Oliveira Valin Jr; Paulo Henrique Correa de Morais; Carlos Henrique de
Lucena Borges; Robson Rogerio Dutra Pereira

' 10.37885/230512989......................................................................................................................................................................... 464


Capítulo 31
DESENHO DE INSTALAÇÕES HIDROSSANITÁRIAS: REFLEXÕES DE ENSINO-APRENDIZAGEM NO CURSO DE
TECNOLOGIA EM CONTROLE DE OBRAS

Adelson da Costa Ribeiro; Tadeu João Ribeiro Baptista

' 10.37885/230412773.......................................................................................................................................................................... 479


Capítulo 32
A FORMAÇÃO PROFISSIONAL ENTREMEADA POR SABERES TECNOLÓGICOS E PRÁTICOS COM BASE NO
SISTEMA LIGHT STEEL FRAME

Ângela Fátima da Rocha; Ernany Paranaguá da Silva; Larissa da Silva Freitas; Thaisa Bruna Nieland Borges; Deyziane Anunciação da
Silva; Vânia de Albuquerque Kawatake Mayolino; Kamila Vitória Chaves e Silva; Nivean Ramos; Ana Júlia Lima Lopes

' 10.37885/230512984......................................................................................................................................................................... 494


SUMÁRIO

Capítulo 33
METODOLOGIAS ATIVAS NA CONSTRUÇÃO DE PROJETOS DE PESQUISA: UM ESTUDO DE CASO EM DOIS
CURSOS SUPERIORES DO DEPARTAMENTO DE INFRAESTRUTURA
Eloisa Rosana de Azeredo

' 10.37885/230513003......................................................................................................................................................................... 502

SOBRE O ORGANIZADOR...................................................................................................................................... 513

ÍNDICE REMISSIVO................................................................................................................................................514
Materiais e Sistemas
Construtivos
01
Aplicação de ensaios não destrutivos de
concreto para avaliação estrutural da
fundação de torre de linha de transmissão

Marcos de Oliveira Valin Jr


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Eder Souza de Almeida


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Pablo Passos da Silva

Raquel dos Santos Santiago

Artigo original publicado em: 2017


E&S - Engineering and Science - ISSN 2358-5390.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/230211936
RESUMO

Construída para transportar energia elétrica, as linhas de transmissão são imprescindíveis


para ligar as usinas aos consumidores. O estudo do caso deste trabalho trata-se da investi-
gação com aplicação de ensaios não destrutivos na fundação de uma torre de uma linha de
transmissão (LT) ligando as Subestações dos municípios de Paranatinga - MT à Ribeirãozinho
- MT. A torre da LT, objeto de estudo, tem 43,50 metros de altura em estrutura metálica e sua
fundação é do tipo sapata, apoiada em solo-cimento, a qual apresentou fissuras cerca de 6
meses após o fim da sua construção. Para identificar as causas foram realizados os ensaios
não destrutivos de detecção de barras, velocidade de propagação de onda ultrassônica e de
dureza superficial. O ensaio realizado de detecção de armaduras comprovou que a área se
rompeu devido ao posicionamento incorreto dos estribos, sendo que o restante do bloco da
fundação não apresentou nenhuma patologia. Pelo ensaio de ultrassom ficou comprovado
que não houve a ocorrência de fissuras no interior do bloco. Já pelo ensaio de esclerometria
chegou-se à conclusão de que os valores de resistência da peça estrutural apresentavam
resistência média de 50 MPa, compatíveis com os valores dos ensaios em corpos-de-prova
realizados pela empresa na época da concretagem.

Palavras-chave: Ensaios não Destrutivos, Linhas de Transmissão, Esclerometria, Ultrassom.


INTRODUÇÃO

A transmissão de energia elétrica é o processo de transportar energia entre dois pon-


tos, sendo esse transporte realizado por linhas de transmissão que conecta uma usina ao
consumidor. Rosa (2009) afirma que uma linha de transmissão é constituída de vários com-
ponentes, que dependam fundamentalmente do nível de tensão e potência a ser transmitida,
definindo condutores, cadeia de isoladores, padrão estrutural e tipos de fundação.
Durante a fase de construção, Chiquito (2014) apresenta as dificuldades nas concre-
tagens em linhas de transmissão de energia, onde a distância da base (canteiro de obra)
é muito longa ao local das torres, normalmente com estradas sem pavimentos e de difícil
acesso, principalmente nas épocas das chuvas, onde em alguns casos para que o trabalho
não seja interrompido e a carga de concreto não seja descartada (motivo de agressão am-
biental e prejuízo financeiro) chega-se a utilizar helicópteros para o transporte dos materiais.
Ao citar a segurança de uma obra, geralmente associa-se a estrutura, que comumente
no Brasil está relacionado a sistemas construtivos robustos e com a utilização do concreto
armado. A resistência à compressão axial do concreto é uma das propriedades mais impor-
tantes para projetistas e engenheiros quando o assunto é estruturas de concreto.
Uma dificuldade encontrada por profissionais que atuam na área de construção civil,
especificamente na subárea de estruturas de concreto armado é garantir a qualidade do
empreendimento e que todas as especificações de projeto sejam asseguradas na execução
da obra. Boas práticas construtivas como uma cura adequada, confecção correta das fôr-
mas e controle tecnológico, tornam o concreto um material durável e racional, no sentido de
aproveitar ao máximo os recursos naturais empregados na sua produção, evitando reparos.
De uma forma geral, quando há necessidade de inspeção de uma estrutura de con-
creto armado, os ensaios ou inspeções são realizados pela extração de testemunhos para
a resistência à compressão, sendo esta uma forma destrutiva de ensaio em virtude dos
danos causados a estrutura.
Logo, existindo a possibilidade de se analisar a resistência mecânica e a qualidade
de produção do concreto por meio de ensaios não destrutivos (ENDs), fomentar-se-iam
ganhos financeiros e técnicos, em tempo e praticidade, tendo em vista que não haveria a
necessidade de realizar reparos e os ensaios poderiam simultaneamente monitorar essas
características durante e/ou logo após a sua execução (CARVAHO et al, 2017).
Esse tipo de ensaio, além de poder ser realizado com a estrutura em uso, pode diag-
nosticar o problema em seu estado inicial; por isso, a necessidade de se fazer a manutenção
preventiva é de extrema importância por vários motivos, entre eles é impedir uma sequência
de acontecimentos que possivelmente ocasione uma tragédia como o colapso na estrutura.

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Carvalho et al (2017) salienta a interessante portabilidade do uso dos ENDs nos can-
teiros de obras, pois consistem em métodos de ensaios rápidos, práticos, econômicos e
qualitativos para o monitoramento da qualidade dos concretos estruturais durante sua exe-
cução e/ou já executados.
Como principais opções, Silva e Valin Jr (2013) apontam os ensaios de dureza su-
perficial (esclerometria), resistência à penetração, ensaios de arrancamento, método da
maturidade e ultrassom entre outros.
Este trabalho tem por objetivo aplicar técnicas de ensaios não destrutivos para identificar
as causas da patologia no pilar da fundação de uma torre de linha de transmissão, viabili-
zando assim a execução do correto reparo da estrutura objeto do presente estudo de caso.

MATERIAIS E MÉTODO

Área de estudo

A área de estudo está localizada na cidade de Paranatinga - MT, a 339 km de Cuiabá-


MT. A torre de transmissão cuja fundação foi estudada faz parte de um trecho de 355 km de
linha de transmissão de 500 kV em circuito duplo, ligando as Subestações de energia dos
municípios de Paranatinga-MT à Ribeirãozinho - MT.
O local específico onde foi realizado o estudo é uma torre de linha de transmissão de
energia construída em estrutura metálica de 43,50 metros de altura, com fundação do tipo
sapata pré-moldada com laje moldada “in loco” (Figura 1) destinada a suportar o mastro
central da torre.

Figura 1. Fundação da Torre de Transmissão.

Fonte: Empresa responsável pela obra, 2016

A sapata pré-moldada foi produzida com concreto dosado e controlado no próprio can-
teiro (Figura 2a), sendo o serviço de armação e fôrmas também realizado no local (Figura
2b), enquanto outra equipe ficava responsável pela construção de acessos ao local de

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construção das torres (Figura 2c), desmatamento e limpeza (Figura 2d), locação (Figura
2e) e sondagem (Figura 2f).

Figura 2. Transmissão Etapas de execução de fundação da torre de transmissão: a) produção do concreto; b) montagem
da armação; c) construção de acessos; d) desmatamento; e) locação e f) sondagem.

A B

C d

E f
Fonte: Empresa responsável pela obra, 2016.

O presente estudo decorre da constatação de que a fundação da torre apresentou fissu-


ras na sua base cerca de seis meses após a conclusão, conforme apresentado na Figura 3.

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Figura 3. Fissuras apresentadas após 6 meses.

Fonte: Empresa responsável pela obra, 2016.

Para melhor identificação da patologia, cada uma das faces foi nomeada conforme
apresentado na Figura 4.

Figura 4. Fissuras apresentadas após 6 meses.

Fonte: Os autores.

Para a realização do estudo da patologia, o entorno da área a ser analisada foi devi-
damente escavado, conforme pode ser visualizado na Figura 5.

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Figura 5. Fundação analisada.

Fonte: Os autores.

Como pré-requisito para a realização dos ensaios não destrutivos no concreto da


fundação, faz-se necessário que as superfícies da mesma estejam planas (alisadas) e ín-
tegras. Em virtude da presença de região escarificada e com fissuras no topo do pilar da
fundação (Figura 6), foi necessário à utilização de uma lixadeira para a preparação das
superfícies conforme ilustrado na Figura 7.

Figura 6. Superfície Escarificada.

Fonte: Os autores.

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Figura 7. Superfície Escarificada.

Fonte: Os autores.

Ensaios não destrutivos utilizados

A fim de verificar as causas da patologia no pilar, a extensão dos danos e a integrida-


de do restante da peça que não havia apresentado danos optaram-se em utilizar o ensaio
de detecção da armadura, ensaio de velocidade de propagação de onda ultrassônica e o
Ensaio de dureza superficial.
Para a identificação do posicionamento da armação, nas superfícies onde não ficaram
visíveis após a escarificação ou onde não houve necessidade de ser lixada, utilizou-se o
sistema de detecção de barras denominado de Pacômetro.
O ensaio de detecção de armadura atua determinando a localização das armaduras,
assim como o cobrimento das mesmas nas peças de concreto armado. O ensaio permite
detectar a posição e a direção das armaduras, suas dimensões e recobrimento, de forma
não destrutiva.
Ao serem identificadas pelo equipamento, as barras foram demarcadas com giz na
superfície do concreto (Figura 8).
O método deste ensaio é baseado em normativas estrangeiras tais como, SN 505
262, DIN 1045/ BS 1881: parte 204, não havendo normalização brasileira. É fornecido pelo
fabricante do equipamento, no manual de utilização, os procedimentos de manuseio e as
considerações sobre sua utilização.
O equipamento utilizado foi o da marca “Proceq”, modelo “Profometer 5+”, que detecta
as barras de aço, de maneira não destrutiva, através de indução por pulso.
O pulso emitido pelo equipamento segue o princípio de Foucault, em que ele atravessa
a camada de concreto até o material condutor, no caso a barra de aço, podendo além de

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localizar as barras de reforço, medir durante o trajeto a camada de concreto e o diâmetro
da barra, conforme necessidade do operador.

Figura 8. Superfície sendo preparada.

Fonte: Os autores.

A NBR 8802 - Concreto Endurecido – Determinação da velocidade de propagação de


onda ultrassônica (ABNT, 2019) descreve esse ensaio que tem como objetivo determinar
a velocidade de propagação de ondas longitudinais, obtidas por impulsos ultrassônicos,
através de um componente de concreto.
Suas principais aplicações se resumem em verificar a homogeneidade do concreto,
detectar eventuais falhas internas de concretagem, profundidade de fissuras e outras im-
perfeições, bem como monitorar variações dimensionais no concreto, ao longo do tempo.
O princípio do ensaio de velocidade de propagação de onda ultrassônica é descrito
pela equação 1 de acordo com Neville e Brooks (2013):

𝑉𝑉 = ∫
!.# " Eq. [1]
$

Em que a velocidade do som em um material sólido (V) é uma função da raiz qua-
drada da razão entre seu módulo de elasticidade (E) e aceleração da gravidade (g) pela
sua densidade (δ).
O equipamento de teste ultrassônico utilizado foi o da marca “Proceq”, modelo “Pundit
lab”. Os transdutores foram posicionados na disposição “direta”. Antes da utilização, o equi-
pamento foi zerado com o bloco de calibração, conforme instruções do fabricante, procedi-
mento exemplificado na Figura 9.

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Figura 9. Procedimento de calibração dos transdutores.

Fonte: Os autores.

Seguindo os procedimentos especificados na NBR 8802 (ABNT, 2019), foram medidos


o tempo de trânsito e a velocidade do pulso ultrassônico, sendo que com essas medidas foi
possível verificar a homogeneidade do concreto e detectando eventuais fissuras.
A definição dos pontos a serem ensaiados foi feita a partir do mapeamento das barras
de aço transversais e longitudinais presentes no pilar de sustentação da torre, uma vez
que, por ser uma estrutura sólida, o aço interferiria diretamente nas medições. Seguindo
a identificação das faces, espaçamento entre as armaduras e acabamento superficial da
área a ser ensaiada, foram realizadas 12 medições de forma direta na face NORTE-SUL,
e 10 na face LESTE-OESTE (Figura 10). Diante das imperfeições (patologias) encontradas
no topo da fundação de concreto, as medições foram realizadas abaixo dos 30 cm iniciais.

Figura 10. Medição de ondas ultrassônicas.

Fonte: Os autores.

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O Ensaio de Dureza Superficial também é conhecido por: “Ensaio do Esclerômetro de
reflexão”, ou “Ensaio Esclerométrico”, ou “Esclerômetro de Schmidt”, ou simplesmente por
“Esclorometria”.
De acordo com Neville e Brooks (2013), este ensaio não destrutivo é baseado no
princípio de que a reflexão (recuo) de uma massa elástica depende da dureza da superfície
contra a qual a massa colidiu. O esclerômetro é um equipamento leve, simples de operar e
barato. Com esse instrumento é possível avaliar a uniformidade da resistência mecânica do
concreto “in loco”, com danos praticamente nulos à superfície do material.
Entretanto, os valores obtidos dependem da uniformidade da superfície, da condição
de umidade, da carbonatação superficial e da rigidez do elemento estrutural (MEHTA e
MONTEIRO, 2008).
Os procedimentos foram realizados conforme NBR 7584 – Concreto endurecido –
Avaliação da dureza superficial pelo esclerômetro de reflexão – Método de ensaio (ABNT,
2012). Utilizou-se o esclerômetro tipo “N Silver Schmidt”, marca “Proceq”. O ensaio consis-
te em medir a dureza superficial do concreto por meio do índice de reflexão da massa no
interior do equipamento impulsionada por uma mola. Diante das condições estruturais da
peça de concreto, e visando amplitude de aplicação do método, a metodologia de ensaio
foi adaptada a partir das especificações da normativa, em que se distribuiu por toda face,
os disparos com o equipamento. As faces foram avaliadas individualmente e os resultados
obtidos e apresentados da mesma maneira. Cada área ensaiada foi subdividida por faixas em
relação à parte superior do bloco, que foram locadas a 10, 20, 34 e 46 centímetros, estando
cada uma parcelada em nove pontos regularmente espaçados das ferragens (Figura 11).

Figura 11. Aplicação do esclerômetro.

Fonte: Os autores.

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Um fator que pode influenciar o ensaio é a carbonatação do concreto, que pode elevar a
dureza superficial, resultando em dados incoerentes. Por este motivo, fez-se uso da solução
de fenolftaleína para verificar o fenômeno da carbonatação no pilar. A presença de áreas
coloridas indica a não presença de carbonatação, como ilustrado na Figura 12.

Figura 12. Aplicação da fenolftaleína.

Fonte: Os autores.

RESULTADOS

Detecção da armadura

Para a posterior realização do ensaio de ultrassom, foi realizado o mapeamento dos


estribos presentes na estrutura, já que, por ser uma estrutura sólida, o aço interfere dire-
tamente nas medições. A figura 13 apresenta o posicionamento dos estribos, identificados
pelo ensaio de detecção de armadura.

Figura 13. Posição real dos estribos (m).

Fonte: Os autores.

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A ruptura por esmagamento ocorrida no topo do bloco da fundação se deu por conta
do cobrimento do concreto até a armadura de fretamento e estribos (superior a 10 cm),
sendo que o correto por projeto seria 4 cm, desta maneira então desprotegendo a camada
contra cisalhamento.

Ensaio de velocidade de propagação de onda ultrassônica

A Tabela 1 apresenta os dados coletados durante o ensaio e seus respectivos resul-


tados após análise.

Tabela 1. Dados e resultados do ensaio de ultrassom.

Identificação do ponto Tempo médio (µs) Velocidade média (m/s)


FACE LESTE-OESTE
5 142,6 4287
7 127,3 4703
8 130,1 4712
FACE NORTE-SUL
5 154,1 3925
7 132,2 4524
8 132,9 4497
Fonte: Os autores.

Com base nos resultados do ensaio de ultrassom, verificou-se que o trecho de concreto
analisado apresenta ótimas características, sem a ocorrência de fissuras no interior do bloco.
Esta afirmação pode ser realizada quando observado os valores referentes a veloci-
dade de onda, em que estudos já realizados por Rincon et al. (1998), que associam essa
propriedade a qualidade do concreto. Para valores superiores a 3500 e inferiores 4500m/s,
como as observadas no concreto na obra, a qualidade do concreto pode ser considerada
ótima, conforme indicado na Tabela 2.

Tabela 2. Classificação relacionando velocidade à qualidade do concreto.

Velocidade da Onda Ultra-sônica (m/s) Qualidade do Concreto


V > 4500 Excelente
3500 < V < 4500 Ótimo
3000 < V < 3500 Bom
2000 < V < 3000 Regular
V < 2000 Ruim
Fonte: Rincon et al (1998).

Ensaio de dureza superficial – esclerometria

A Tabela 3 apresenta os dados coletados durante o ensaio e seus respectivos re-


sultados. Após análise, constata-se que nas faces sul e leste, que foram escarificadas

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previamente, não foi possível efetuar analise nas faixas iniciais, em torno dos 30 cm, devido
a presença das armaduras expostas e dos danos que acometeram a estrutura.

Tabela 3. Índices esclerométricos do ensaio de dureza superficial.

Face Norte

Distância (mm) Faixa 1 F. 2 F. 3 F. 4 F. 5 F. 6 F. 7 F. 8 F. 9


1 60 56 52 59 60 56 62 70 62
10 53 50 47 50 70 62 81 64 64
20 40 40 46 36 62 56 62 68 46
34 - 18 23 74 58 60 66 58 52
46 - 57 67 57 62 66 62 66 58
Face Leste
10 - - - 68 79 62 58 56 64
20 - - - 40 68 42 54 80 59
34 - - - - - - 57 59 58
46 - - - 46 56 59 57 55 46
Face Sul
10 - - - - - 31 71 74 64
20 - - - - 58 66 54 76 56
34 - - - - - - 50 51 80
46 72 - - - - - 64 75 58
Face Oeste
10 58 58 49 58 59 61 62 60 55
20 67 61 68 62 62 60 62 60 70
34 62 68 56 60 52 59 67 52 63
46 48 54 65 55 52 60 64 64 64
Fonte: Os autores.

O concreto de cobrimento das faces norte e oeste apresentavam boas condições, em


torno de 5 cm, atendendo ao especificado no projeto, que permitiram a avaliação sem restri-
ções. Ao se analisar os resultados de resistência, observados em todas as faces, conclui-se
que apesar dos danos verificados, o concreto ainda presente na estrutura possui bons índices
esclerométricos, que indicam qualidade e uniformidade.
Esses índices permitiram gerar correlações com a resistência à compressão do concreto
e os resultados dos ensaios, mas não devem ser considerados adequados, pois as curvas
de correlação fornecidas pelo fabricante do aparelho correspondem a concretos preparados
em outros países, com materiais e condições diferentes das brasileiras. Mesmo assim para
as áreas ensaiadas nomeadas como NORTE, SUL, LESTE e OESTE, os valores médios
respectivamente foram de 52, 49, 45 e 49 MPa, compatíveis com os valores dos ensaios de
compressão em corpos-de-prova realizados pela empresa na época da concretagem que
apresentaram em média 50 Mpa, e superiores ao projeto, que tem como resistência carac-
terística mínima o valor de 20 MPa aos 28 dias.

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CONCLUSÕES

Os ensaios foram realizados conforme normativas, não tendo sido observado nenhum
fato anormal durante a fase de execução.
Por meio da análise de detecção de armaduras foi possível comprovar que a região
do topo do pilar da fundação se rompeu devido ao posicionamento incorreto dos estribos,
sendo que o restante do bloco da fundação não sofreu nenhuma patologia. Esta constatação
também foi ratificada pelo ensaio de ultrassom no qual se verificou que não existe a ocor-
rência de fissuras no interior do bloco, bem como nos resultados da esclerometria onde, por
média das correlações, chegou-se a valores de 50 MPa de resistência, compatíveis com os
valores dos ensaios em corpos-de-prova realizados pela empresa na época da concretagem.
O problema apresentado foi suplantado com um reforço no bloco de fundação, realizado
após os ensaios para verificar a integridade da fundação.
Identificada a causa da patologia como sendo o incorreto posicionamento de um es-
tribo, recomenda-se como forma preventiva de evitar a patologia, qualificar os profissio-
nais designados para fiscalização, com a adoção ou aperfeiçoamento de um Sistema de
Gestão da Qualidade.

REFERÊNCIAS
1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7584 - Concreto endure-
cido — Avaliação da dureza superficial pelo esclerômetro de reflexão — Método
de ensaio. Rio de Janeiro, 2012.

2. ______. NBR 8802 - Dureza do concreto pela determinação da velocidade de


propagação de onda ultrassônica. Rio de Janeiro, 2019.

3. CARVALHO, Emanuella de Araújo et al. Utilização de Ensaios Não Destrutivos, Ul-


trassom e Pacômetro, como Métodos de Verificação da Resistência e Qualidade do
Concreto em um Edifício em Aracaju – Sergipe. Revista de Engenharia e Pesquisa
Aplicada, [S.l.], v. 2, n. 3, aug. 2017.

4. CHIQUITO, A. N.. Uso de aditivo plastificante para o concreto aplicado com mais
de 150 minutos. Trabalho de Conclusão de Curso de Controle de Obras. Departamento
da Área de Construção Civil, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso, Cuiabá, MT, 2014.

5. Empresa responsável pela obra. Relatórios técnicos. 2016.

6. MEHTA, P. K.; MONTEIRO, P. J. M.. Concreto. Microestrutura, Propriedades e


Materiais. São Paulo: IBRACON, 2008.

7. NEVILLE, A. M.; BROOKS, J.J.. Tecnologia do Concreto. 2. ed. – Porto Alegre:


Brookman, 2013.

Tecnologia em Controle de Obras: 20 anos de contribuições do IFMT para construção civil - ISBN 978-65-5360-326-4 - Volume 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
33
8. PROCEQ. Profometer 5+ - Modelo S / Scanlog (Sistema de Detecção de Barra de
Reforço). SUÍÇA, 2007.

9. ______. Pundit Lab – Instruções Operacionais (Pundit Lab / Instrumento Ultras-


sônico), SUÍÇA, 2011 A.

10. ______. Silver Schmidt - Instruções Operacionais (Silver Schmidt e Hammerlink).


SUÍÇA, 2011 B.

11. ______. Portable non-destructive testing equipment (NDT). 2016. Disponível em:
< https://www.proceq.com/products/>. Acesso em 07/08/2016.

12. RINCÓN, O. T.; CARRUYO, C. A.; HELENE, P.; DÍAZ, I. Manual de inspeccion,
evaluacion y diagnostico de corrosion em estruturas de hormigon armado. DU-
RAR: Red Temática XV. B Durabilidad de la Armadura – Programa Iberoamericano de
Ciência y Tecnologia para el desarrollo, 1998.

13. ROSA, M. Linha de transmissão: critérios de projetos e definição do tipo de fun-


dação. Trabalho de Conclusão de Engenharia Civil. Universidade Anhembi Morumbi,
São Paulo, SP, 2009.

14. SILVA, R. S. C.; VALIN JR, M. O.. Avaliação do controle tecnológico de fundações
rasas do tipo radier com a utilização do ensaio de Dureza Superficial. In: 55º Con-
gresso Brasileiro do Concreto, 2013, Gramado. Fórum Nacional de Debates sobre
a Tecnologia do Concreto e seus Sistemas Construtivos, 2013.

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02
Curva de correlação entre índice
esclerométrico médio e resistência
à compressão simples de concretos
produzidos com agregados naturais da
região de Cuiabá

Rafaela da Conceição Soares


Instituto Federal de Maro Grosso (IFMT)

Albéria Cavalcanti de Albuquerque


Instituto Federal de Maro Grosso (IFMT)

Artigo original publicado em: 2014


Anais do 56º Congresso Brasileiro do Concreto CBC2014 - ISSN 21758182.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/230312304
RESUMO

Algumas propriedades do concreto utilizado na fabricação de estruturas necessitam ser


conhecidas e acompanhadas, visando assegurar condições específicas de resistência e du-
rabilidade. Para isso, dispomos de ensaios não destrutivos, os quais propiciam informações
que transmitem segurança aos construtores. Um método muito aplicado e de fácil execução
e compreensão é o da esclerometria, que tem como principio medir a dureza superficial
do concreto, possibilitando através desses dados, estimar a resistência à compressão em
função da curva emitida pelo fabricante do esclerômetro. Entretanto, estudos já mostraram
que essa relação pode gerar erros de até 25%, uma vez que a curva de correlação do ín-
dice esclerométrico do fabricante do equipamento é baseada em concretos produzidos em
países que possuem agregados, aglomerantes e condições climáticas com características
diferentes da região em que o esclerômetro é utilizado. Assim, este trabalho teve como
objetivo desenvolver em laboratório uma curva de correlação a partir de concretos confec-
cionados com agregados, aglomerantes e metodologias de dosagens praticadas na região
de Cuiabá, Mato Grosso. Inicialmente, os agregados e aglomerantes foram caracterizados
por meio de ensaios normalizados pela ABNT. Em seguida, foram definidos em laboratório
os parâmetros físicos e mecânicos do concreto. Por fim, de acordo com recomendações
da NM 78:1996 foi elaborada a curva de correlação entre os índices esclerométricos e a
resistência à compressão do concreto, obtendo parâmetros que servem de base científica
para estudos e análises de estruturas da região.

Palavras-chave: Esclerometria, Resistência à Compressão, Concreto.


INTRODUÇÃO

A resistência à compressão axial do concreto é a propriedade mais importante para


projetistas e engenheiros quando o assunto é estruturas de concreto. Definida segundo
MEHTA & MONTEIRO (2008), como a capacidade para resistir à tensão sem se romper, é
normalmente aceita como índice geral de resistência do concreto, tendo os demais fenômenos
mecânicos existentes, relação direta com essa propriedade. A porosidade é inversamente
proporcional e diretamente influente nos valores de resistências do compósito, em que o
volume de vazios existentes em cada componente e nas multifases do mesmo, podem tor-
nar-se fatores limitantes para seu ganho. Visto que agregados naturais comumente utilizados,
apresentam densidade normal e baixa porosidade, além de elevada resistência á compressão
axial, entende-se que as demais formações no interior do material composto, nesse caso a
matriz pasta de cimento e a zona de transição entre a matriz e os agregados, é que influen-
ciarão na qualidade e na magnitude da propriedade mecânica em questão. Com isso, se
faz necessário abordar o fator primordial que, no processo de dosagens para diversos tipos
de concreto, tem a relação mais direta com todas as características citadas anteriormente,
a relação água/cimento (a/c). Responsável por ativar os componentes do cimento durante
processo de hidratação, condicionar a trabalhabilidade, consistência e coesão ao concreto,
a quantidade certa de água presente numa mesma mistura, é fundamental para garantia
de uma baixa porosidade e consequentemente resistência mecânica conforme o almeja-
do. De acordo com MEHTA & MONTEIRO (2008) a relação entre o fator a/c e a resistência
do concreto pode ser explicada como consequência natural do enfraquecimento progressivo
da matriz de pasta de cimento causado pelo aumento da porosidade com o aumento do fator
água/ cimento. Entretanto, não se pode atribuir essa explicação a influência da relação a/c
nas características mecânicas da zona de transição na interface, pois em concretos com
baixa e média resistência compostos por agregados normais, a porosidade da zona de tran-
sição e da matriz determinam a resistência, mantendo-se a relação direta entre valores de
a/c e resistência do concreto. Em casos de misturas de concreto de alta resistência, onde
se trabalha com fatores água/cimento muito baixos, em torno de 0,3 ou menos, aumentos
desproporcionais na resistência à compressão podem ser obtidos com reduções mínimas
no a/c. Existem outros fatores que influenciam na resistência do concreto, como quantidade
de ar aprisionado e incorporado, tipos de cimento e agregados, qualidade da água de amas-
samento, uso de aditivos e adições minerais, condições de cura, entre outros. Um problema
encontrado por tecnologistas da área de concreto, projetistas, engenheiros à muitos anos, é
garantir a qualidade do empreendimento e que todas as especificações ditadas no projeto
sejam asseguradas na execução da obra. Diante de inúmeras propriedades a serem contro-
ladas, a que sempre requereu maiores atenção, foi a resistência à compressão do concreto

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aplicado em um elemento estrutural, pois a necessidade de garantir que esta seja seme-
lhante aos valores obtidos por meio de dosagens experimentais em laboratório, é imensa
e de difícil capacidade de mensurar, pois métodos tecnológicos existem, mas também há
limitações, pois o concreto é um elemento de múltiplas fases, o que dificulta idealizar con-
troles totalmente confiáveis e que reproduzam com clareza as condições reais do artefato.
Desta forma, foram desenvolvidos ao longo dos anos métodos não destrutivos ou indire-
tos, que permitissem caracterizar e entender melhor as propriedades de concretos aplicados
em estruturas, reduzindo os danos ao mesmo, fatos gerados pelo uso de métodos diretos
como extração de testemunhos da peça. Segundo CASTRO (2009), ensaios não destrutivos
(END) podem ser utilizados em estruturas antigas visando avaliar a integridade e capacidade
de resistir a solicitações e em novas estruturas, procurando monitorar a evolução da resis-
tência ou esclarecer dúvidas sobre a resistência ou a homogeneidade do concreto. Um dos
métodos mais utilizados em estruturas de concreto é a esclerometria, método idealizado
por Ernest Schmidt, em 1948, por isto conhecido como esclerômetro Schimdt, sendo um
dos mais antigos métodos não destrutivos, de acordo com NEVILLE (1997). MEHTA &
MONTEIRO (2008) explica que o ensaio consiste em impactar uma superfície de concreto,
de maneira padrão, com uma dada energia de impacto e, então, medir as dimensões da
marca remanescente ou impressão superficial no concreto após impacto, ou medir o rebote
ou a reflexão de uma massa padrão após o impacto, sendo esse ultimo o método referente
ao esclerômetro de reflexão de Schmidt. Sua aplicação em estruturas de concreto garante a
capacidade de verificar a homogeneidade dos compósitos, pois, apesar do instrumento ser
recomendado para determinação da resistência a compressão do concreto, existe inúmeros
fatores que tendem a influenciar em resultados do ensaio. MEHTA & MONTEIRO (2008)
relatam que os resultados do ensaio dependem de parâmetros como:

→ Dosagem do concreto – tipos e quantidade dos agregados desempenham papel


importante nos resultados, principalmente se o objetivo for correlacionar o índice
esclerométrico (IE) com a resistência a compressão;
→ Idade e tempo de cura;
→ Uniformidade da superfície;
→ Condição de umidade – superfícies úmidas reproduzem um índice esclerométrico
mais baixo do que uma superfície seca, podendo subestimar em até 20% os valo-
res;
→ Cabornatação superficial – pode aumentar o índice de reflexão, já que o carbonato
de cálcio é um dos produtos da carbonatação superficial do concreto, sendo um
composto rígido;

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→ Rigidez do elemento – o corpo de prova ensaiado em laboratório ou elemento de
concreto em campo deve apresentar rigidez suficientemente alta para evitar vibra-
ções durante o impacto causado pelo martelo;
→ Localização do êmbolo – caso seja posicionado sobre agregado rígido ou sobre um
grande vazio e/ou agregado mole, o índice de reflexão será erroneamente maior ou
menor, respectivamente.

Pode interferir também o tipo de fôrma utilizada na confecção do concreto em laborató-


rio, relacionada com a adotada em obra. A norma brasileira que rege o ensaio esclerométrico,
NBR 7584 (ABNT, 2012), recomenda que se utilize nos moldes em laboratório, o mesmo
tipo de material a ser aplicado na estrutura a ser ensaiada. MALHOTRA (1991), afirma que
o IE de concretos moldados em fôrmas metálicas é entre 5% e 35% maior que em moldes
de madeira. Já em MACHADO (2005), cita-se que as fôrmas de madeira compensada ab-
sorvem a umidade do concreto, provocando maiores IE.
Diante das inúmeras considerações e fatores que influenciam na determinação da
resistência a compressão do concreto a partir da correlação com índices esclerométricos
medidos em laboratório e em obra, visto que, os parâmetros fornecidos pelo fabricante do
esclerômetro de reflexão, nem sempre foram obtidos considerando as condições ambien-
tais e estruturais do concreto, já que há uma variabilidade de materiais e proporcionamento
destes em uma mistura de concreto, fica inseguro, do ponto de vista técnico e estrutural,
avaliar peças de concreto novas ou velhas baseados apenas nestas informações. De acordo
com MALHOTRA (1984), a precisão na estimativa da resistência do concreto em ensaios
de laboratório, com um esclerômetro calibrado adequadamente, é de mais ou menos 15% à
20% e, em uma estrutura de concreto, da ordem de mais ou menos 25%. Desta forma, com
base nas informações e parâmetros a serem considerados, este trabalho teve por objetivo
desenvolver uma curva característica da relação entre índice esclerométrico e resistência à
compressão do concreto, medido em laboratório, a partir de dosagens utilizando agregados
naturais da região de Cuiabá.

MATERIAIS

Aglomerante

Foi adotado para a pesquisa o cimento Portland tipo CP II Z 32, em virtude da dispo-
nibilidade do mesmo na região, e pelo seu uso em obras de concreto armado e fábricas de
pré-moldados. Os resultados da caracterização física e mecânica estão dispostos no item
resultados deste trabalho.

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Agregados

Para o desenvolvimento dos concretos de estudo foram utilizados dois tipos de agregado
graúdo, sendo classificados comercialmente como brita 1 e brita 0. Estes são derivados de
rocha calcária, britados e provenientes da região da Guia, localidade de Mato Grosso. Já o
agregado miúdo foi uma areia natural de rio, quartzosa, vinda do leito do rio Cuiabá.

METODOLOGIA

O principio do estudo foi buscar entender as recomendações da norma NM 78:1996


– Concreto Endurecido - Avaliação da dureza superficial pelo esclerômetro de reflexão, a
qual descreve procedimentos para obtenção de uma curva de correlação entre o índice
esclerométrico e a resistência à compressão axial do concreto. Em consonância com essa
norma definiu-se traços reais de concreto, com relações água/cimento entre 0,40 e 0,70,
podendo estes ter variação de 0,05. Considerando que, desse modo seriam necessários
sete dosagens distintas para uma mesma proporção cimento:agregados ou 1:m, foi adotado
como base para a primeira etapa do estudo, três fatores a/c, sendo essa escolha feita a
partir das classes de agressividade do meio a que estruturas de concreto armado podem
ser expostas, de acordo com o prescrito na NBR 6118:2010. Com isso, foram adotadas as
relações a/c de 0,45, 0,50 e 0,60, as quais são respectivamente recomendadas para graus
de agressividade muito forte, forte e moderada. Em todos os casos foi confeccionado um
concreto convencional sem uso de aditivos e nem adições, com traço unitário em massa
1:5. Definidas as condições básicas a serem atendidas na elaboração do concreto, partiu-se
para a etapa de caracterização dos materiais em laboratório por meio de ensaios físicos e
mecânicos. Para a dosagem, foi utilizada a metodologia de Helene & Terzian (1992) aliada
ao empacotamento entre as partículas de dois agregados graúdos, visando maior massa
de grãos em um volume e também um reduzido índice de vazios. A adoção desses mate-
riais pétreos com granulometria distintas teve o intuito de limitar esses vazios e melhorar
as propriedades do compósito, haja vista que tal relação é utilizada corriqueiramente em
construções locais, através de misturas dosadas em central, além de possibilitar um menor
custo financeiro e uma redução no consumo de aglomerante. A tabela 1 apresenta os pa-
râmetros utilizados para dosagem dos compósitos.

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Tabela 1. Parâmetros de dosagem.

Fator a/c Proporção de mistura (%) – graúdo/miúdo % teor de argamassa Consumo de cimento (kg/m³)
0,45 55 377
0,50 70/30 51 370
0,60 45 357

Visando se aproximar das condições de fabricação de concreto em usinas e cami-


nhões betoneiras, adotou-se como procedimento de mistura, inserir na betoneira seca,
primeiramente os agregados graúdos para homogeneização prévia, seguindo da areia e
do cimento. Os materiais foram misturados secos por um minuto, para assim iniciar a colo-
cação da água já estabelecida, sendo o tempo de mistura contado a partir desse momento
de aproximadamente cinco minutos. Para cada concreto, foram medidos os parâmetros de
trabalhabilidade, densidade do material fresco e moldados 24 corpos de prova em fôrmas
cilíndricas de metal com dimensões de 10x20cm. Apesar desse tamanho de molde não ser
recomendado por norma, levou-se em consideração que a dimensão máxima do agregado
era de 19mm e que para realização do ensaio de esclerometria em elementos ou compo-
nentes de concreto, requer que o mesmo tenha dimensão superior a 10 cm na direção do
impacto, sendo suficientemente rígidos a fim de evitar fenômenos de ressonância, vibração
e dissipação de energia. Os moldes com as amostras de concreto foram armazenados em
câmara úmida, e protegidos de respingos ou sujeiras até 24 horas após moldagem. Passado
este período, os mesmos foram desmoldados, identificados e imersos em tanque com so-
lução saturada de hidróxido de cálcio, até a idade da realização dos ensaios. Os corpos
de prova destinados aos ensaios de compressão axial e esclerometria, foram ensaiados
superficialmente secos, pois já que a norma vigente para o ensaio de esclerometria reco-
menda que estes sejam retirados do tanque e deixados em ambiente de câmara úmida 48
horas antes da realização do ensaio, optou-se por adotar tal procedimento para ambas as
análises. As amostras foram utilizadas para verificação da resistência a compressão axial
e índice esclerométrico aos 7, 14 e 28 dias. Para o ensaio de esclerometria, os corpos de
prova foram fixados na prensa aplicando 20% da carga ultima de compressão. Por critério de
melhor caracterizar e compreender os concretos, foram executados ensaios complementares
de resistência à tração por compressão diametral, massa especifica no estado endurecido
e absorção de água aos 28 dias.

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RESULTADOS

Caracterização dos materiais

O cimento e os agregados graúdo e miúdo foram caracterizados por meio de ensaios


físicos e mecânicos, sendo que os resultados e os limites da norma de especificação estão
descritos nas tabelas 2 e 3. As figuras 1, 2 e 3 apresentam a curva granulométrica caracte-
rística dos agregados em estudo.

Tabela 2. Resultados da caracterização do cimento.


Parâmetros de norma
Ensaios Valor de ensaio
NBR 11578:1991
Resíduo na peneira de 75 µm (%) 0,04 ≤ 12
Agua de consistência normal (%) 39 -
Massa específica (kg/m³) 3030 -
tempo de inicio de pega (horas) 2h35 ≥ 1 hora
tempo de fim de pega (horas) 6h45 ≤ 10 horas
Expansibilidade a frio (mm) 0 ≤5
Expansibilidade a quente (mm) 0 ≤5

.
Tabela 3. Resultados da caracteriza ‹o dos agregados.
Parâmetros de norma
Ensaios Areia Brita 0 Brita 1
NBR 7211:2009
Diâmetro máximo (mm) 2,4 9,5 19 -
Modulo de finura 2,06 5,19 6,96 -
Massa específica (kg/m³) 2640 2550 2760 -
Massa Unitária Solta (kg/m³) - 1470 1420 -
Absorção de água (%) 0,27 4,68 0,53 -
Abrasão Los Angeles (%) - - 29 ≤ 50
Índice de forma - - 3 ≤3
Material que passa através da - 2 - ≤1
Peneira de # 75µm por lavagem (%) 1,28 - - -
Coeficiente de inchamento

Figura 1. Curva granulométrica da areia natural.

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Figura 2. Curva granulométrica da brita 0.

Figura 3. Curva granulométrica da brita 1.

Analisando as curvas granulométricas dos agregados, constata-se que, tendo referencia


os parâmetros da NBR 7211:2011, a distribuição da areia está presente entre os limites da
zona utilizável. Já os agregados graúdos, brita 0 e 1, não foi possível classificá-las conforme
as faixas normatizadas, pois sua distribuição apresentaram fora de todos os limites. Mesmo
assim, diante da disponibilidade dos materiais, e esses serem característicos da região,
prosseguiu-se com o estudo.

Caracterização do concreto

Durante a confecção dos concretos definitivos, foram determinadas algumas caracte-


rísticas no estado fresco, cujos valores são apresentados na tabela 4.

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Tabela 4. Características dos concretos no estado fresco.
Concreto a/c Concreto a/c Concreto a/c
Características
0,45 0,50 0,60
Densidade real (kg/m³) 2412 2438 2438
Abatimento do tronco de cone (mm) 150 110 195

Já no estado endurecido, como citado anteriormente, os corpo de prova moldados fo-


ram submetidos a ensaios de compressão axial aos 7, 14 e 28 dias, e aos demais ensaios
mecânicos e físicos aos 28 dias, conforme descrito nas tabelas 5 e 6.

Tabela 5. Resistência à compressão axial dos concretos.


Ensaios/Tipos de Idades Resistência à compressão axial média Desvio Padrão
concreto (dias) (MPa) (MPa)
7 26 3
Concreto a/c 0,45 14 29 4
28 38 2
7 32 2
Concreto a/c 0,50 14 36 2
28 42 1
7 23 2
Concreto a/c 0,60 14 30 1
28 34 1

Tabela 6. Propriedades físicas e mecânicas aos 28 dias no estado endurecido.


Resistência à tração por compressão Absorção por imersão Massa específica
Ensaios/Tipos de concreto
diametral (%) (kg/m³)
Concreto a/c 0,45 4 5 2400
Concreto a/c 0,50 5 6 2440
Concreto a/c 0,60 4 5 2410

Fazendo analise dos compósitos estudados percebe-se que, todos apresentaram den-
sidade real de concreto normal, estabelecida na faixa de 2400kg/m³, variando apenas a
trabalhabilidade, que foi proporcional ao aumento da relação água/cimento. Ao contrário do
que era esperado, as amostras fabricadas com a/c de 0,45 apresentaram menor resistência
do que as confeccionadas com a/c 0,50. Acredita-se que nesse caso, a menor trabalhabi-
lidade da mistura prejudicou a compactação dos corpos de prova, o que é ratificado pela
menor densidade do concreto no estado fresco e no estado endurecido.
Baseados nos valores apresentados na tabela 5 constatou-se uma relação entre as
resistências à tração/compressão dos concretos de 9%, 10%, 10%, para os fatores de 0,45,
0,50 e 0,60, respectivamente. Essa mesma sequencia de misturas, proporcionaram um índice
de vazios de 12%, 14% e 12%, respectivamente.

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Obtenção da curva de correlação entre o índice esclerométrico e a resistência à
compressão do concreto

De posse dos índices esclerométricos médios e da resistência à compressão média do


concreto mostrados na tabela 7, elaborou-se a curva de correlação entres as propriedades
conforme a figura 4.

Tabela 7. Valores das propriedades utilizadas na curva de correlação.

Tensão real (MPa) Índice esclerométrico (Q)


31 36
33 36
33 37
39 38
42 38
43 38
44 39
45 40
46 40
22 33
22 33
23 33
28 34
30 34
30 34
33 35
34 35
34 36
28 34
30 35
34 37
36 38
39 38
39 40

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Figura 4. Curva de correlação entre as propriedades mecânicas dos concretos.

CONCLUSÕES

Os estudos aqui desenvolvidos possibilitaram, portanto, obter a curva de correlação


entre as resistências à compressão axial e os índices esclerométricos médios dos concretos
produzidos com cimento composto e agregados de granulometrias variadas oriundos da
região de Cuiabá, Mato Grosso. Os resultados encontrados contribuem para compreensão
e aplicabilidade do ensaio não destrutivo em estruturas de concreto localizadas em área
urbana e de clima tropical, introduzindo uma gama de possibilidades e soluções aos constru-
tores locais, além de demonstrar a possibilidade da utilização do esclerômetro em concretos
jovens, com idades inferiores aos 14 dias.

REFERÊNCIAS
1. ABNT NBR 7584. Concreto endurecido - Avaliação da dureza superficial pelo
esclerômetro de reflexão - Método de ensaio. Rio de Janeiro, 2012.

2. ABNT NBR 6118.Projeto de estruturas de concreto – Procedimentos. – NBR 6118,


Rio de Janeiro, 2010.

3. CASTRO, E., Estudo da resistência à compressão do concreto por meio de tes-


temunhos de pequeno diâmetro e esclerometria. Dissertação de mestrado em En-
genharia civil, Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais, 2009.

4. HELENE, P.R.L.; TERZIAN, P. Manual de dosagem e controle do concreto.2. São


Paulo: Pini, 1992.

5. MALHOTRA, V. M., Durability of concrete. Second international conference, Montreal,


Canadá, 1991.

Tecnologia em Controle de Obras: 20 anos de contribuições do IFMT para construção civil - ISBN 978-65-5360-326-4 - Volume 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
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6. MACHADO, M. D., Curvas de correlação para caracterizar concretos usados no
Rio de Janeiro por meio de ensaios não destrutivos. Dissertação de mestrado em
Engenharia civil, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005.

7. MALHOTRA, V. M., In situ/Nondestructive testing of concrete. ACI SP-82, American


Concrete Institute, Detroit, 1984.

8. MEHTA, P. K., MONTEIRO, P. J. M. Concreto. Microestrutura, propriedades e ma-


teriais. 3ª edição, São Paulo, IBRACON, 2008.

9. NEVILLE, A. M., Propriedades do concreto. Trad. Salvador e Giammusso. 2 edição,


São Paulo, PINI, 1997.

10. NM 78 – Concreto endurecido – Avaliação da dureza superficial pelo esclerômetro


de reflexão. Uruguai, 1996.

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03
Avaliação do desempenho de colas
utilizadas em ensaios de resistência de
aderência à tração de argamassa para
revestimento

Kárita Pereira Carvalho


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso do Sul (IFMS)

Éder Sousa de Almeida


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Albéria Cavalcanti de Albuquerque


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Artigo original publicado em: 2015


6° Seminário Mato-grossense de Habitação de Interesse Social
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/230312353
RESUMO

No controle tecnológico das argamassas de revestimento são considerados diversos parâ-


metros especificados em projeto e também pelas normas técnicas vigentes. Dentre estes
parâmetros de controle está a avaliação da resistência de aderência à tração, prescrita pela
NBR - 13528. O desempenho do sistema de revestimento resulta da interação de quatro
agentes: base, argamassa, revestimento final e processo de aplicação da argamassa. Para
o teste de aderência, a NBR 13528 descreve detalhadamente o processo de execução do
ensaio, que consiste em colar uma pastilha metálica sobre o revestimento e, em seguida,
puncionar a pastilha com auxílio de um “aderímetro” que medirá a intensidade de força ne-
cessária à ruptura do revestimento. A norma técnica, entretanto, em se tratando do elemento
de colagem, especifica apenas as bases químicas que o mesmo deve conter, permitindo
assim ao executante escolher o tipo que lhe convém, sendo que em alguns casos não se
tem conhecimento nenhum da funcionalidade da cola quanto às prescrições mínimas do en-
saio. As eficiências de vários adesivos existentes no mercado foram avaliadas em testes de
aderência de uma argamassa industrializada, identificando a que teve melhor desempenho
com base nos valores característicos e nas condições de manipulação durante os testes.

Palavras-chave: Adesivo, Teste de Aderência, Argamassa.


INTRODUÇÃO

Argamassas são materiais de construção, com propriedades de aderência e endureci-


mento, obtidos a partir da mistura homogênea de um ou mais aglomerantes, agregado miúdo
(areia) e água, podendo conter ainda aditivos e adições minerais (ISAIA, 2010).
Os revestimentos de argamassa têm como função proteger os elementos de vedação
das edificações da ação direta dos agentes agressivos, auxiliar as vedações no cumprimento
das suas funções, regularizar a superfície dos elementos de vedação, servir de base para
aplicação de outros revestimentos ou constituir-se no acabamento final.
A qualidade da argamassa depende tanto das características dos materiais, como do
preparo e manuseio adequados (tempo de mistura, tempo de utilização, aplicação e acaba-
mento). Para que ocorra a união adequada da argamassa com o substrato, a mesma deve
possuir boa adesividade, ou seja, capacidade de aderência da argamassa ao substrato
no estado fresco.
Através de ensaios de laboratórios, a falta de critérios para produção e conhecimentos
dos materiais na confecção da argamassa em canteiro, vem determinando variações em suas
características, em seu desempenho, favorecendo ao aparecimento de manifestações pato-
lógicas, associada à diversidade de traços dificultando a dosagem final destas argamassas
em obra, sendo comuns, adições indiscriminadas de materiais, o que gera grandes danos
em grandes quantidades, principalmente nos revestimentos. Segundo OLIVEIRA (2006) as
argamassas são ainda caracterizadas por grande incidência de patologias, desperdícios de
materiais, tempo e mão-de-obra elevada e altos custos de produção.
Muitos construtores em todo o país têm buscado realizar o controle tecnológico de
argamassas de revestimento, em particular a resistência de aderência, haja vista que sua
deficiência provoca várias manifestações patológicas com consequentes prejuízos econô-
micos e desconforto na habitabilidade.
Hoje a procura por argamassa industrializada vem crescendo, por parte das empresas
construtoras, embora ainda exista carência de informações quanto aos ganhos de eficiên-
cias que podem ser obtidos nos processos, que compreendem desde o recebimento dos
materiais até a aplicação da argamassa.
Diante desses problemas, optou-se por utilizar a argamassa industrializada, que têm
como grande e principal vantagem técnica, a homogeneidade, tanto no proporcionamento
como na qualidade dos insumos empregados. Com essas grandes características eliminam
a necessidade de correções, adaptações, e outras intervenções feitas na obra, minimizando
a probabilidade de ocorrerem defeitos, principalmente em revestimentos de paredes que,
infelizmente, é onde ocorrem com maior frequência.

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A aderência ao substrato é uma das principais propriedades exigidas a uma argamassa
de revestimento no estado endurecido, e pode ser definida como a resistência de arranca-
mento da argamassa endurecida do substrato. (SANTOS, 2008).
Sendo assim, a presente pesquisa busca identificar uma técnica segura para garantir
a eficiência na aplicação, custo benefício, e acima de tudo obter o melhor adesivo utilizado
nos testes de resistência de aderência de argamassas de revestimento.

MATERIAIS E MÉTODOS

Materiais

Argamassa

A argamassa utilizada foi a industrializada de uso geral, comumente comercializa-


da em casas de materiais de construção, em sacos de 20 kg. É aplicada para assentar e
revestir blocos de concreto, blocos cerâmicos e tijolos maciços e dispensa a dosagem de
materiais adicionais, além de ser indicada para pequenos reparos e reformas em ambientes
internos e externos.

Colas

Para esta pesquisa foram utilizados 5 diferentes tipos de colas, que são:

• PVC - Adesivo plástico para PVC/Incolor, ensaiada após 12 e 24 horas após apli-
cação;
• PL 500 - Adesivo a base de resina sintética e água;
• Araldite 2min - Adesivo a base de Epóxi “resina” e Poliaminas “endurecedor”;
• Cuba fix - Adesivo selante a base de poliuretano, aditivos, solventes e pigmentos;
• Massa plástica - Massa adesiva plástica cinza composta por resina poliéster, car-
gas minerais e aditivos, ensaiada após 24 e 72 horas após aplicação.

A Massa plástica será usada como referência para os ensaios de Aderência, pois
é o adesivo mais utilizado atualmente para este ensaio e possui base epóxi, conforme a
recomendação da norma NBR 13528 - Revestimento de paredes e tetos de argamassas
inorgânicas - Determinação da resistência de aderência à tração (ABNT, 2010a). As demais
colas foram escolhidas como alternativa a serem avaliadas em termos da viabilidade téc-
nica e econômica.

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Métodos

Testes de desempenho da argamassa

A argamassa industrializada foi preparada adicionando-se a quantidade de água con-


forme especificação do fabricante e aplicada no substrato, após 3 dias da aplicação do
chapisco. Os ensaios executados para avaliação do desempenho da argamassa foram
aqueles recomendados pela NBR 13281 – Argamassa para assentamento e revestimento
de paredes e tetos – Requisitos (ABNT, 2005a), e executados em conformidade com os
métodos relacionados a seguir.
Os ensaios realizados no estado fresco foram:

– NBR 13276 - Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos -


Preparo da mistura e determinação do índice de consistência (ABNT, 2005b),
– NBR 13278 - Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos -
Determinação da densidade de massa e do teor de ar incorporado (ABNT, 2005c).
– No estado endurecido foram testados:
– NBR 13279 - Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos -
Determinação da resistência à tração na flexão e à compressão (ABNT, 2005d),
– NBR 13280 - Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos
– Determinação da densidade de massa aparente no estado endurecido (ABNT,
2005e),
– NBR 15259 – Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos -
Determinação da absorção de água por capilaridade e do coeficiente de capilarida-
de (ABNT, 2005f).

Ensaios no revestimento aplicado

Para testar os diversos tipos de cola, foram realizados ensaios para Determinação da
resistência de aderência à tração (NBR – 13528) numa área de revestimento realizado com a
argamassa industrializada em uma parede de alvenaria com blocos cerâmicos (ABNT, 2010a).
As distribuições dos pontos foram feitas de forma alinhada, contrapondo as recomen-
dações da norma, a qual deve ser feita de forma aleatória contemplando arrancamento de
juntas e blocos. Tal condição justifica-se pelo fato da área disponível para realização do
ensaio ser reduzida. Entretanto seguiu-se o critério recomendado pela norma, onde os cor-
pos-de-prova devem estar espaçados entre si, dos cantos e das quinas, em no mínimo de
50 mm, ilustrado na Figura 1a.

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O ensaio foi realizado com um Aderímetro manual de capacidade 1200 Kgf, modelo
I-3003 – AB de marca Pavitest, com aplicação de carga centrada contínua e ortogonal com
leitor digital em kgf, observado na Figura 1b.

Figura 1. Ensaio de resistência de aderência à tração.

(a) Área de ensaio e colagem das pastilhas. (b) Detalhe do equipamento utilizado.
(a) (b)

Todos os testes de aderência foram realizados após 28 dias da realização do revesti-


mento com a argamassa em questão. Para cada tipo de cola foram avaliados:

– a facilidade de preparo da cola;


– o tempo para colagem da pastilha no substrato (cura inicial)
– o desempenho no ensaio de aderência após o tempo indicado pelo fabricante (cura
final)
– o desempenho no ensaio de aderência após 24 horas da colagem (cura final)
– a facilidade de limpeza das pastilhas após o ensaio.

Avaliação da forma de ruptura no ensaio de aderência

As rupturas dos corpos-de-prova devem ser expressas com indicação da porcenta-


gem de ocorrências e apresentadas junto com o respectivo valor da resistência de ade-
rência (Figura 2).

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Figura 2. Formas de ruptura no ensaio de resistência de aderência à tração para um sistema de revestimento com chapisco.

Fonte: MMC LAB 2013.

A ruptura na interface cola/pastilha, conforme exemplo G da Figura 2, indica imper-


feição na colagem da pastilha e o resultado deve ser desprezado. No caso da ruptura na
interface substrato/chapisco e chapisco/argamassa (exemplo B e D da Figura 2), o valor
da resistência de aderência à tração é igual ao valor obtido no ensaio. No caso das demais
rupturas, a resistência de aderência não foi determinada e é maior do que o valor obtido no
ensaio. (NBR 13528 - ABNT, 2010a).

RESULTADOS

Desempenho da argamassa industrializada

A designação da argamassa deve cumprir com os requisitos estabelecidos pela norma,


sendo classificados conforme as características e propriedades que apresentam, determinada
pelos métodos de ensaios especificados na Tabela 1.
Conforme os resultados dos ensaios a argamassa industrializada utilizada nesse tra-
balho se enquadra na designação D3, R4, P3, M4, C4. Essa designação é um exemplo de
como produtos deste gênero devem ser classificados, sendo que esta deve estar presente
na embalagem do produto. Neste caso na embalagem da argamassa foram informados
apenas os valores referentes às densidades, aparente e fresca.

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Tabela 1. Resultados dos ensaios de desempenho da argamassa industrializada.

Ensaios Método de ensaio Resultados Limites exigidos da NBR 13281 (ABNT, 2005a)
Consistência NBR 13276 241,12 mm -
D1 ≤1400 kg/m³
D2 1200 a 1600 kg/m³
D3 1400 a 1800 kg/m³
Densidade de massa estado fresco 1582 kg/m³
NBR 13278 D4 1600 a 2000 kg/m³
D5 1800 a 2200 kg/m³
D6 >2000 kg/m³
Teor de ar incorporado 28% - -
R1 ≤1,5 MPa
R2 1,0 a 2,0 MPa
R3 1,5 a 2,7 MPa
Resistência à tração na flexão 2,3 MPa
R4 2,0 a 3,5 MPa
R5 2,7 a 4,5 MPa
R6 >3,5
NBR 13279
P1 ≤2,0 MPa
P2 1,5 a 3,0 MPa
P3 2,5 a 4,5 MPa
Resistência à compressão 2,5 MPa
P4 4,0 a 6,5 MPa
P5 5,5 a 9,0 MPa
P6 >8,0 MPa
M1 ≤1200 kg/m³
M2 100 a 1400 kg/m³

Densidade de massa aparente no estado M3 1200 a 1600 kg/m³


NBR 13280 1514 kg/m³
endurecido M4 1400 a 1800 kg/m³
M5 1600 a 2000 kg/m³
M6 > 1800 kg/m³
C1 ≤1,5 g/dm².min¹/²
C2 1,0 a 2,5 g/dm².min¹/²
C3 2,0 a 4,0 g/dm².min¹/²
Coeficiente de capilaridade NBR 15259 3,2 g/dm².min¹/²
C4 3,0 a 7,0 g/dm².min¹/²
C5 5,0 a 12,0 g/dm².min¹/²
C6 >10,0 g/dm².min¹/²

A argamassa industrializada utilizada nesse trabalho se enquadra conforme os resul-


tados dos ensaios na designação D3, R4, P3, M4, C4. Essa designação é um exemplo de
como produtos deste gênero devem ser classificados, sendo que esta deve estar presente
na embalagem do produto. Neste caso na embalagem da argamassa foram informados
somente os valores referentes às densidades, aparente e fresca.

Testes de aderência do revestimento

Todos os testes de aderência resultaram em valores válidos, uma vez que nenhum
deles apresentou ruptura do tipo G. Na Figura 1 e Tabela 2 estão apresentados os resultados
do ensaio de aderência à tração para os 5 diferentes tipos de colas após 24 horas ou após
o tempo de cura recomendado pelos respectivos fabricantes.

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Tabela 2. Resistência de aderência à tração.

Colas PVC PL 500 Araldite 2min Cuba Fix Massa Plástica


Tempo de ensaio (horas) 12 24 24 2 24 24 72
Resistência (MPa) >0,22 >0,26 >0,30 0,38 0,37 >0,28 >0,41
Forma de Ruptura predominante F C F B B E C

Gráfico 1. Resistência de aderência à tração.

Com base nos resultados mostrados na Tabela 2 e ilustrados no Gráfico 1, a cola de


referência obteve um resultado mais significativo no ensaio de 72h, do que no de 24h, sendo
essa diferença de 13% no valor das resistências, demonstrando que a cura total resulta em
melhores valores mecânicos, mas que a prática com cura parcial ainda permite obter valores
conforme as especificações.
Fazendo análise da cola PVC, optou-se por avalia-las em duas condições: Sendo sua
cura total após 12 horas de aplicação e com 24 horas, baseado nas condições do adesivo
de referência. Assim, verificou-se pouco ganho de resistência com o aumento do tempo,
melhorando apenas o contato cola/argamassa, que é evidenciado pelo formato da ruptura.
Entretanto, nenhuma das resistências foi aceitável, confrontando-as com os valores de re-
ferência e de norma.
A cola PL500, curada totalmente, apresentou problemas decorrentes do arrancamento,
ilustrado pela forma de ruptura, que não possibilitou obter um valor característico real, apesar
dos resultados estarem na faixa de resistência especificada.
Tratando-se da cola Araldite 2 min, a única com horário diferenciado, o qual permite
realizar os procedimentos com apenas 2 horas, foi a que apresentou propriedades mais
próximos da cola de referência, com forma de ruptura considerada ideal e resistência acima
dos requisitos, seus valores se diferem apenas 7% da Massa Plástica.
Diante das informações sobre o adesivo Cuba Fix, vê-se que seu comportamento pe-
rante a argamassa foi semelhante ao Araldite 2 min e a Massa Plástica, apresentando boa

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resistência e forma de ruptura ideal, diferenciando apenas no tempo de cura inicial, que é
mais lento (Tabela 3).

Tabela 3. Condições de manuseio das colas.

Tipo de Cola Condições de uso Tempo de cura inicial Limpeza das pastilhas

PVC Pronto para aplicação Até 10 min Fácil


PL 500 Pronto para aplicação Até 10 min Difícil
Araldite 2min Necessita mistura entre os componentes A e B Até 5 min Fácil
Cuba fix Pronto para aplicação Até 10 min Difícil
Massa plástica Necessita adição de catalizador Até 10 min Difícil

Por fim, em se tratando das condições de manuseio, identificou-se que o tempo de


cura inicial, da maioria, é de até 10 min, e dentre as 5 colas analisadas, apenas 2 necessi-
tavam de preparação antes da aplicação, como a Araldite 2 min e a Massa Plástica. Dentre
as condições analisadas, identificou-se dificuldades na limpeza das pastilhas com as colas
PL500, Cuba fix e Massa Plástica, tendo estas que serem deixadas em banho-maria a 100ºC
por no mínimo 30 min, para facilitar a remoção cola/pastilha. Com PVC e Araldite 2 min, a
limpeza foi fácil, utilizando-se apenas uma espátula para raspar o adesivo das pastilhas.

CONCLUSÃO

Os resultados dos ensaios analisados mostram que as colas ARALDITE 2 MIN e CUBA
FIX foram as que tiveram melhor desempenho no ensaio de aderência à tração, pois apre-
sentaram propriedades próximas da referência, tendo características considerada ideal, em
se tratando da resistência e da forma de ruptura.
No requisito tempo de ensaio e limpeza, analisando somente as duas colas que tiveram
melhor desempenho na resistência de aderência, a ARALDITE 2 MIN foi a melhor opção,
pois em 2h foi possível finalizar o ensaio, com qualidades próximas da referência, e facilidade
na hora da limpeza da pastilha após o teste.
Dentre todos esses parâmetros analisados nos adesivos, ARALDITE 2 MIN e CUBA FIX,
não se pode esquecer do custo benefício, que comparado à referência, é alto. Considerando
as características apresentadas por cada cola, fica a critério o uso, levando em conta requi-
sitos de deslocamento, tempo na execução do ensaio e custos dos funcionários.

Agradecimentos

Agradeço a todos os professores e amigos que me ajudaram e me orientaram neste


trabalho; Ao PROPES/IFMT pela bolsa de pesquisa.

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REFERÊNCIAS
1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13276: Argamassa para
assentamento e revestimento de paredes e tetos — Preparo da mistura e determi-
nação do índice de consistência. Rio de Janeiro: ABNT, 2005b.

2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13278: Argamassa para


assentamento e revestimento de paredes e tetos — Determinação da densidade
de massa e do teor de ar incorporado. Rio de Janeiro: ABNT, 2005c.

3. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13279: Argamassa para


assentamento e revestimento de paredes e tetos — Determinação da resistência
à tração na flexão e à compressão. Rio de Janeiro: ABNT, 2005d.

4. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13280: Argamassa para


assentamento e revestimento de paredes e tetos — Determinação da densidade de
massa aparente no estado endurecido. Rio de Janeiro: ABNT, 2005e.

5. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13281: Argamassa para


assentamento e revestimento de paredes e tetos – Requisitos. Rio de Janeiro:
ABNT, 2005a.

6. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13528: Revestimento


de paredes e tetos de argamassas inorgânicas — Determinação da resistência de
aderência à tração. Rio de Janeiro: ABNT, 2010a.

7. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15259: Argamassa para


assentamento e revestimento de paredes e tetos - Determinação da absorção de
água por capilaridade e do coeficiente de capilaridade. Rio de Janeiro: ABNT, 2005f.

8. ISAIA, Geraldo Cechella. Materiais de Construção Civil e Princípios de Ciência e


Engenharia de Materiais. 2. ed. São Paulo, IBRACON, 2010. 1v

9. MMC LAB. Controle Tecnológico LTDA. Relatório de ensaio resistência de aderência


à tração. Porto Alegre. 2013.

10. OLIVEIRA, F. A. L. Argamassa Industrializada: Vantagens e Desvantagens (Mono-


grafia) Curso de Engenharia Civil da Universidade Anhembi Morumbi. São Paulo. 2006

11. SANTOS, H. B. Ensaio de aderência das argamassas de revestimento. (Monogra-


fia) Curso de Especialização em Construção Civil. Escola de Engenharia. UFMG. Belo
Horizonte. 2008.

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04
Ensaios tecnológicos para avaliação da
condutividade térmica de argamassas

Thaynara Luany de Melo Julkovski


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Éder Sousa de Almeida


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Alceu Aparecido Cardoso


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Albéria Cavalcanti de Albuquerque


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Artigo original publicado em: 2019


ANAIS DO 61º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - ISSN 2175-8182.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/230312354
RESUMO

A formulação de uma argamassa de revestimento com características térmicas implica não


só no conhecimento dos seus componentes, mas também na avaliação das diferentes com-
binações entre eles, de modo a otimizar algumas propriedades. Neste trabalho busca-se
identificar materiais alternativos que possibilitem a utilização em argamassas de revestimento
com a vantagem de menor custo e/ou melhor desempenho térmico do que as argamassas
confeccionadas com materiais convencionais. Foram selecionados para o estudo resíduos
industriais de natureza polimérica e mineral, os quais foram utilizados em substituição de
20% do volume de areia na produção de amostras de argamassa. A capacidade de isola-
mento térmico foi avaliada através da termografia de infravermelhos (TIV) a fim de medir a
temperatura superficial das faces externa e interna de placas moldadas com as argamassas
em estudo. O efeito da adição dos resíduos na resistência mecânica e na absorção de água
das argamassas também foi verificado. Os resultados obtidos foram avaliados em relação
a uma argamassa de referência, sem resíduos e verificou-se que as argamassas contendo
resíduos de PET e de pneu (RPN) apresentaram a melhor combinação de características,
uma vez que resultaram em menor elevação da temperatura do que a referência, aliada à
um baixo coeficiente de capilaridade e elevada resistência. As argamassas contendo resí-
duos de cerâmica vermelha (RCV) e RCD, embora tenham apresentado a menor elevação
de temperatura, não atendem satisfatoriamente aos requisitos de absorção e resistência.

Palavras-chave: Argamassa Térmica, Termografia de Infra-Vermelhos, Resíduos Industriais,


Conforto Térmico.
INTRODUÇÃO

A argamassa de revestimento pode ser comparada à pele de uma edificação, prote-


gendo a alvenaria e a estrutura contra a ação do intemperismo, no caso dos revestimentos
externos. Integram o sistema de vedação, contribuindo com diversas funções, tais como:
isolamento térmico, isolamento acústico, estanqueidade à água, segurança ao fogo e resis-
tência ao desgaste e abalos superficiais (Carasek, 2010).
As soluções utilizadas para atender aos requisitos de desempenho das edificações
requerem inovações tecnológicas, seja por meio de sistemas construtivos inovadores ou
pelo desenvolvimento de novos componentes ou materiais modificados, com maior eficiência
energética e de forma sustentável.
Em relação ao contexto das edificações sustentáveis, o Conselho Brasileiro de
Construção Sustentável (CBCS, 2014) destaca que vários aspectos em relação à sustenta-
bilidade precisam ser contemplados, entre os quais se destacam dois que vão ao encontro
com a temática que se objetiva pesquisar neste trabalho: (I) uso de matérias-primas que
contribuam com a ecoeficiência dos processos e (II) redução, reutilização, reciclagem e
disposição correta dos resíduos sólidos.
Para reduzir o impacto do setor das construções sobre o meio ambiente e na vida do
ser humano, será indispensável promover o desenvolvimento de materiais com menor con-
sumo energético e de matérias primas naturais. Ao mesmo tempo será necessário promover
as tecnologias de reciclagem dos materiais descartados, para reduzir tanto a quantidade
de resíduos lançados no ambiente como o emprego de matérias primas naturais (COSTA,
2006; BERTOLINI, 2010). Por outro lado, a argamassa desenvolvida com resíduos, ne-
cessita apresentar características básicas como: resistência mecânica, durabilidade, baixa
permeabilidade, isolamento térmico e acústico, bem como trabalhabilidade, plasticidade e
retenção de água (Santana e Santos, 2010).
A verificação das características físicas e mecânicas seguem procedimentos norma-
tizados (ABNT, 2005a). Para a investigação do desempenho térmico de edificações e de
materiais de construção, diversos estudos têm utilizado a termografia de infravermelhos (TIV)
(Garcia, 2014; Marques, 2014; Ferreira et al., 2016). Apesar de ser um método simples, a
correta interpretação dos termogramas é uma tarefa delicada devido à complexidade dos
fenômenos físicos de transferência de calor nas edificações, da interferência das condições
climáticas e do correto procedimento na operação do equipamento.
A argamassa pode ser classificada como um material compósito no qual a pasta de
cimento é a matriz e a areia é a fase dispersa. Nos materiais compósitos, as propriedades
finais são proporcionais às frações volumétricas das fases de seus constituintes e as suas
respectivas propriedades. Sendo assim, a medida que se insere no material compósito um

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componente que possui menor condutividade tem-se, consequentemente, um material re-
sultante também de menor condutividade. E o efeito resultante será proporcional à fração
volumétrica do material adicionado e a sua condutividade. O objetivo deste trabalho, portanto,
é avaliar o efeito da substituição parcial da areia por resíduos industriais nas propriedades
físicas, mecânicas e térmicas da argamassa.

METODOLOGIA

Este trabalho tem por base os estudos conduzidos por Cardoso (2017), que envolve-
ram a substituição de 5% a 40% da areia natural por resíduos de origem vegetal, mineral e
polimérica para a produção de argamassa. Observou-se que as composições com melhor
desempenho foram aquelas com substituição de 20% do volume de areia natural por resí-
duos minerais (RCD, RCV, RPV) e poliméricos (RPN, EPS, PET), as quais são objeto do
presente estudo.

Materiais constituintes da argamassa

Os materiais utilizados no presente estudo para a produção das argamassas foram:


cimento CPII Z 32, cal hidratada CHIII, areia natural, aditivo plastificante para argamassas
e água da rede de abastecimento local.
Os resíduos sólidos industriais usados em substituição parcial à areia foram:

– PET (resíduo de polietileno tereftalato): coletado em indústria de reciclagem de em-


balagens de polímero usadas para envasamento de bebidas;
– EPS (resíduo de poliestireno expandido): conhecido como isopor, é um resíduo da
construção civil, oriundo de sobras e descarte de embalagens, juntas de construção
e isolamento de lajes;
– RPN (raspas de pneu): resultantes da raspagem de pneus durante o processo de
recauchutagem;
– RCV (resíduos de cerâmica vermelha): constituídos de telhas e blocos de cerâmica
vermelha quebrados, recortes e descartes, provenientes da construção civil e da
indústria cerâmica;
– RCD (resíduo de construção e demolição): e composto por uma mistura de resíduos
de cerâmica vermelha, de argamassa e de concreto gerados durante procedimen-
tos de construção e demolição;
– RPV (resíduos de vidro): são oriundos dos processos de corte e polimento durante
a produção de vidros para a construção civil, e também de peças quebradas e não-
conformes que são descartadas.

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Devido à variedade no formato e dimensões dos resíduos, esses foram submetidos
à processos de britagem e/ou moagem seguidos de peneiramento na malha de abertura
2,36mm, a fim de obter partículas com dimensões semelhantes à areia natural. Devido à
leveza do EPS, utilizou-se a malha 4,8mm para seu peneiramento (Figura 1).

Figura 1. Areia natural e resíduos sólidos industriais utilizados em substituição parcial à areia.

A análise qualitativa das características superficiais dos resíduos foi realizada com
uma lupa estereoscópica com capacidade de aumento 30x, conforme orientações da NBR
7389-1 (ABNT, 2009).

Preparação da argamassa

Foram adotados os traços experimentais praticados por Cardoso (2017), com 20% de
resíduo em substituição à areia natural, com os devidos ajustes na água de amassamento
a fim de alcançar uma consistência de 220mm +/- 10mm, conforme procedimento da NBR
13276 (ABNT, 2005b). A composição final dos traços está apresentada na TABELA 1.

Tabela 1. Composição das argamassas para a moldagem das placas e dos corpos de prova.

Controle Resíduos poliméricos Resíduos minerais


Materiais
REF EPS PET RPN RCV RCD RPV
% Resíduo 0 20 20 20 20 20 20
Cimento CPII Z 32 (kg) 13 13 13 13 13 13 13
Cal hidratada CH III (kg) 2,6 2,6 2,6 2,6 2,6 2,6 2,6
Areia natural (kg) 69,68 53,6 53,6 53,6 53,6 53,6 53,6
Água (litro) 11,96 11,96 12,22 12,22 13,78 13,00 12,48
Aditivo plastificante (ml) 52,00 50 50 50 50 50 50
Resíduo (kg) 0 0,108 6,87 5,99 12,49 12,68 12,94
Fonte: O autor.

Para cada traço foram moldadas duas placas com dimensões de 45cm x 45cm x 10cm
destinadas aos ensaios térmicos e nove corpos-de-prova prismáticos nas dimensões de
4cm x 4cm x 16 cm, destinados aos ensaios de resistência à tração na flexão e resistência
à compressão, conforme procedimento da NBR 13279 (ABNT, 2005c), e aos ensaios de
absorção por capilaridade, de acordo com a NBR 15259 (ABNT, 2005d).
As amostras foram desmoldadas após 48 horas de cura inicial e em seguida, curadas
ao ar em câmara úmida (Figura 2). Todos os ensaios foram conduzidos aos 28 dias de
idade das argamassas.

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A temperatura superficial foi determinada pela técnica de termografia de infravermelhos
(TIV) realizada em cada placa com uma câmera modelo FLIR E6. As placas foram expostas
ao ambiente visando secá-las e estabilizar a temperatura para início dos ensaios. No dia
seguinte, foram posicionadas sobre a bancada com uma das faces para cima, que iria re-
ceber a incidência dos raios solares, e a outra para baixo, completamente protegida, com
intuito de posterior verificação do transporte de calor (Figura 3). Foram realizadas quatro
leituras de temperatura, duas na face interna e duas na face externa de cada placa, a um
ângulo de 90oC e a uma distância de 90 cm, nos horários de 09:00, 14:00 e 20:00 horas.
Concomitante aos ensaios foi deixado um termohigrômetro para monitorar a temperatura
local do ambiente e a umidade relativa do ar, nos momentos das leituras.

Figura 2. Amostras em cura ao ar. Figura 3. Amostras posicionadas para TIV.

RESULTADOS

Análise dos resíduos

Na Figura 4 é possível observar a distribuição granulométrica da areia natural e dos


resíduos sólidos utilizados em substituição parcial à mesma. Na falta de uma norma espe-
cífica de agregados para argamassa, foram utilizados como referência os limites da NBR
7211 – Agregados para concreto – Especificação (ABNT, 2009).
Observa-se que os grãos dos resíduos RCV, RCD e RPN aproximam-se da granu-
lometria apresentada pela areia natural, dentro da “zona utilizável” determinada pela NBR
7211 (ABNT, 2009).
Os resíduos de PET, por outro lado, são de granulometria mais grosseira e os resíduos
de RPV são de granulometria mais fina, situando-se fora da zona utilizável. Entretanto fo-
ram utilizados mesmo assim, a fim de viabilizar o aproveitamento do resíduo com a menor
interferência possível na forma como foi gerado.
Não foi possível realizar o ensaio de granulometria do resíduo de EPS, uma vez que
devido a sua leveza, as partículas não passaram através da malha das peneiras padrão com
abertura inferior a 2,36mm.

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Figura 4. Distribuição granulométrica da areia e dos resíduos utilizados.

Fonte: o autor.

Por meio da morfoscopia das amostras realizadas em lupa estereoscópica (Figura 5),
realizou-se a análise qualitativa apresentada na Tabela 2, em consonância com os critérios
definidos pela NBR 7389-1 (ABNT, 2009).

Figura 4. Análise dos resíduos na lupa estereoscópica.

PET EPS RPN

RCD RCV RPV


Fonte: o autor.

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Tabela 2. Análise morfoscópica qualitativa das amostras de resíduos.

Material Esfericidade Arredondamento Forma dos gr‹os Textura


EPS Baixa Subanguloso Alongados Poroso
PET Baixa Subanguloso Lamelares Polido
RPN Baixa Anguloso Alongados Rugoso
RCV Baixa Anguloso Alongados Fosco
RCD Baixa Subanguloso Equidimensionais Fosco
RPV Alta Subarredondado Equidimensionais Polido

Análise das argamassas

Na Figura 6 está apresentado o comportamento da resistência à tração na flexão das


argamassas em função do tipo de resíduo utilizado em substituição parcial à areia natu-
ral. A resistência média de cada argamassa foi calculada com base no resultado de três
corpos de prova, excetuando-se aquele com desvio absoluto superior a 0,3MPa, conforme
procedimento descrito na NBR 13279 (ABNT, 2005c).

Figura 6. Resistência à tração na flexão em função do tipo de resíduo.

Segundo a especificação técnica NBR 13281 (ABNT, 2005a), observa-se que as arga-
massas contendo RPN, PET e RPV podem ser classificadas respectivamente como R3, R4 e
R6, com resistência à tração superior à referência. Essas argamassas encontram aplicação
no revestimento de paredes com exposição a choques e deterioração (FILHO, 2013). As ar-
gamassas com EPS, RCV e RCD, bem como a argamassa de controle (REF) encontram
classificação R2, indicada para revestimento de superfícies sem risco de choques e de
deterioração (FILHO, 2013).
Na Figura 7 estão apresentados os valores de resistência à compressão em função do
tipo de resíduo utilizado em substituição parcial à areia natural. A resistência média de cada
argamassa foi calculada com base no resultado de seis corpos de prova, excetuando-se

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aqueles com desvio absoluto superior a 0,5MPa, conforme procedimento descrito na NBR
13279 (ABNT, 2005c).

Figura 7. Resistência à compressão em função do tipo de resíduo.

Segundo a especificação técnica NBR 13281 (ABNT, 2005a), observa-se que somente
as argamassas contendo resíduos de PET e RPV alcançaram resistência à compressão su-
perior à referência e podem ser classificadas como P4. A argamassa com RCV apresentou
resistência à compressão equivalente à referência, na classificação P3, enquanto aquelas
contendo resíduos de EPS, RCD e RPN foram classificadas como P2, com resistência inferior
à argamassa de referência.
Analisando o comportamento mecânico sob tração flexão e sob compressão verifi-
ca-se que as argamassas contendo resíduos de PET e pó de vidro (RPV) foram aquelas
com melhor desempenho, inclusive superior à argamassa de controle, enquanto aquelas
contendo resíduos de EPS e RCD apresentaram resistência inferior, com destaque para o
EPS que resultou na menor resistência em ambos os casos. Essa situação pode ser expli-
cada pelo elevado índice de vazios na estrutura do EPS. Nota-se ainda uma mudança no
comportamento das argamassas com raspas de pneu (RPN) que, sob tração respondeu com
melhor performance do que sob compressão. Tal efeito pode ser atribuído à forma fibrosa e
à superfície rugosa desse resíduo, que atuará como reforço da matriz cimentícia. Segundo
Mehta e Monteiro (1994) compósitos cimentícios reforçados por fibras, quando submetidos
a carregamentos trativos, irão suportar cargas cada vez maiores, desde que a resistência
das fibras ao arrancamento seja maior que a carga na primeira fissuração.
Na Figura 8 estão apresentados os coeficientes de capilaridade das argamassas em
função do tipo de resíduo utilizado em substituição parcial à areia natural. A absorção média
de cada argamassa foi calculada com base no resultado de três corpos de prova, excetuan-
do- se aqueles com desvio relativo máximo superior a 20%, conforme procedimento descrito
na NBR 15259 (ABNT, 2005d).

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Figura 8. Absorção de água por ascensão capilar em função do tipo de resíduo.

Segundo a especificação técnica NBR 13281 (ABNT, 2005a), observa-se que os coefi-
cientes de capilaridade das argamassas contendo resíduos de PET, RPV e RCD se encaixam
na classe C5, enquanto aquelas com resíduo de EPS e RCV apresentaram coeficientes
semelhantes à referência, classe C4. As argamassas classificadas como C5 encontram
aplicação no revestimento de tetos e de paredes internas, enquanto aquelas classificadas
como C4 podem ser usadas em paredes externas protegidas da chuva (FILHO, 2013).
Destaca-se com o mais baixo coeficiente de capilaridade, classe C1, as argamassas con-
tendo resíduos de pneu (RPN) as quais poderiam ser usadas como revestimento de paredes
externas expostas à chuva (FILHO, 2013). Neste último, supõe- se que as raspas de pneu
podem atuar como obstáculos à ascensão capilar, cuja energia da água ascendente se dis-
sipa no espalhamento em torno das partículas. Comportamento semelhante foi observado
por Kurz et al. (2018).
Nas Figuras 9 e 10 tem-se exemplos das termografias realizadas nas faces externa e
interna das placas de argamassa a fim de verificar a variação da temperatura superficial ao
longo do dia. Na Tabela 3 tem-se as médias das leituras realizadas em cada face das placas
confeccionadas com os diferentes tipos de resíduo, bem como os horários das leituras e a
diferença de temperatura entre as faces.

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Figura 9. Termografias de Infravermelhos da face externa da placa de argamassa com resíduos de cerâmica vermelha
(RCV): a) às 09:00 horas; b) às 14:00 horas; c) às 20:00 horas.

(a) (b) (c)

Figura 10. Termografias de Infravermelhos da face interna da placa de argamassa com resíduos de cerâmica vermelha
(RCV): a) às 09:00 horas; b) às 14:00 horas; c) às 20:00 horas.

(a) (b) (c)


Tabela 3. Temperatura superficial das placas de argamassa por Termografia de Infravermelhos (TIV).

Horário de 09:00 14:00 20:00


Leitura Tamb = 24,6 oC UR = 88% Tamb = 43,0 oC UR = 27% Tamb = 27,9 oC UR = 53%
Face Face Face
Argamassa Face Interna ΔT Face Interna ΔT Face Interna ΔT
Externa Externa Externa
RCD 28,2 27,2 1,1 43,0 39,3 3,7 31,3 32,7 -1,4
RCV 28,3 27,1 1,3 42,3 40,5 1,8 32,0 33,2 -1,3
RPV 27,9 27,3 0,6 44,6 41,8 2,8 32,3 31,8 0,5
RPN 28,1 27,1 1,0 44,2 40,5 3,7 31,2 32,4 -1,3
PET 28,3 26,9 1,5 43,6 39,5 4,1 31,3 33,4 -2,2
EPS 28,4 27,6 0,8 44,8 42,4 2,4 31,3 31,4 -0,2
REF 27,1 26,7 0,5 45,9 43,4 2,5 31,4 31,8 -0,4

Com base nas leituras realizadas, observa-se que as temperaturas se elevam das
09:00 às 14:00 horas e depois voltam a diminuir às até 20:00 horas. Observa-se ainda
que a diferença máxima de temperatura entre as faces interna e externa, em cada placa,
ocorre no horário das 14:00 e é maior na placa com resíduo de PET. A menor diferença
de temperatura é verificada na placa com resíduo de RCV, não obstante seja justamente
nesta última que é observada a menor temperatura da face externa às 14:00. Ou seja, além

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de avaliar a diferença de temperatura entre as faces é mister avaliar também qual tipo de
material está sujeito a uma maior elevação da temperatura. Na Figura 11 tem-se o gráfico
em ordem crescente da elevação da temperatura na superfície externa, entre às 09:00 e as
14:00, bem como a redução da mesma, entre as 14:00 e as 20:00.

Figura 11. Diferença de temperatura na face externa da argamassa ao longo do dia.

Analisando o gráfico da Figura 11, verifica-se que a maior elevação da temperatura


ocorreu para a argamassa de referência (REF), embora também tenha sido esta que apre-
sentou maior arrefecimento. Por outro lado, a argamassa contendo RCV foi aquela que
resultou em menor elevação da temperatura e também menor arrefecimento. Restando,
pois, que a retenção de calor nesses dois materiais foi semelhante.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho foi investigado o comportamento térmico, físico e mecânico de argamas-


sas contendo resíduos sólidos industriais em substituição parcial à areia natural, a fim de
identificar composições que atendam satisfatoriamente aos requisitos estudados. Em face
dos resultados obtidos, conclui-se que as argamassas contendo resíduos de PET e de pneu
(RPN) apresentaram a melhor combinação de características, uma vez que resultaram em
menor elevação da temperatura do que a referência, aliada à um baixo coeficiente de capi-
laridade e mais alta resistência. As argamassas contendo resíduos de cerâmica vermelha
(RCV) e RCD, embora tenham apresentado a menor elevação de temperatura, não atendem
satisfatoriamente aos requisitos de absorção e resistência.

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Agradecimentos

Os autores agradecem à professora MSc. Chauanne da Cunha Guimarães, da


Faculdade de Geociências da UFMT, pela realização das análises morfoscópicas dos re-
síduos, e também à professora Dra. Ângela Santana de Oliveira, do IFMT, por fornecer a
câmera de infravermelhos para os ensaios termográficos. Agradecem também à PROPES/
IFMT pelo financiamento da pesquisa e à FAPEMAT pela bolsa de iniciação científica.

REFERÊNCIAS
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massa para assentamento e revestimento de paredes e tetos – Requisitos. Rio de
Janeiro, 2005a.

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Preparo da mistura e determinação do índice de consistência. Rio de Janeiro, 2005b.

3. ______. NBR 13279: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e


tetos– Determinação da resistência à tração na flexão e à compressão axial. Rio de
Janeiro, 2005c.

4. ______. NBR. 15259: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e


tetos–Determinação da absorção de água por capilaridade e do coeficiente de capila-
ridade. Rio de Janeiro, 2005d.

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8. CARDOSO, A.A. Desempenho termo físico e mecânico de argamassas de revestimento


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Mato Grosso. Cuiabá: UFMT, 2017. 173p.

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tentável no Brasil e Promoção de Políticas Públicas. 2014. Disponível em http://www.
cbcs.org.br/website/aspectos-construcao-sustentavel/show.asp?ppgCode= 31E2524C-
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Tese (Doutorado). Escola de Engenharia, Universidade Federal de São Carlos. São
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11. FERREIRA, P. R. L.; HENRIQUES, V. M.; DE MELO, A. B.; GOMES, E. G. S. Ava-
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T. DM – 00x x/2013, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de
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edifícios. Mestrado (Dissertação). Faculdade de Engenharia. Universidade do Porto.
Porto, 2014. 159p.

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15. MARQUES, D.F.P.C. Avaliação da qualidade térmica da envolvente de edifícios – Es-


tudo de caso através da análise numérica e por termografia infravermelha. Mestrado
(Dissertação). UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA, Faculdade de Ciências e Tecno-
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16. MEHTA, P.K., MONTEIRO, P.J.M. Concreto: Estrutura, Propriedades e Materiais.


Editora Pini. São Paulo, 1994.

17. SANTANA, C.S.; SANTOS, J. Reparo de patologia de estrutura com argamassa de


rejeito de cerâmica vermelha. Anais do 65º Congresso Internacional da Associação
Brasileira de Metalurgia e Materiais – ABM, 2010, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Disponível
em: https://inis.iaea.org/collection/NCLCollectionStore/_Public/48/018/48018578.pdf

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05
Estudo de agregados graúdos empregados
em concreto nas cidades de Cuiabá e
Rondonópolis - MT

Douglas Macena de Carvalho


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Edson Rodrigues Arantes


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Albéria Cavalcanti de Albuquerque


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

'10.37885/230512983
RESUMO

Os agregados são materiais em de grãos, sem tamanho e forma definidos, que têm por ob-
jetivo compor argamassas e concretos. O consumo de agregados na região centro oeste é
de 1,67 toneladas/habitantes/ano, e as cidades de Cuiabá, Várzea Grande e Rondonópolis,
possuem juntas a maior população do estado, além da estimativa de crescimento de 3% para
os próximos anos, tornando-se o estudo deste produto de extrema relevância. Sabendo-se
que suas propriedades afetam significativamente a qualidade e a durabilidade do concreto e
que o agregado possui preço menor que o cimento, logo considera-se que é mais econômico
utilizá-lo em maior quantidade possível, diminuindo assim, a quantidade de cimento. O ob-
jetivo desta pesquisa exploratória experimental é avaliar os agregados graúdos utilizados
nestas cidades, a partir de coletas em jazidas, ensaios físicos e de reatividade potencial
álcali-agregado em laboratório, para então relacioná-los com parâmetros estabelecidos em
normas técnicas brasileiras. Conclui-se com este estudo, que todos os agregados avaliados
na pesquisa estão dentro dos padrões físicos das normas, porém, para uso do calcário e
granito, considerando a reatividade potencial álcali-agregado, deve-se observar quais as
restrições de aplicação, relacionadas ao ambiente em que os elementos estruturais de
concreto estarão expostos.

Palavras-chave: Reação Álcali-Agregado, Propriedades dos Agregados, Patologia.


INTRODUÇÃO

Segundo Neville (2016), os agregados na realidade não são verdadeiramente iner-


tes, já que suas propriedades físicas, térmicas e químicas, influenciam o desempenho do
concreto, considerando que estes materiais constituem cerca de 80% do concreto produzi-
do, tornando-se relevante que se de as devidas atenções a estes produtos, considerando
também, que o concreto é uma das misturas mais usadas na construção civil no Brasil,
aproximadamente 90%.
Considerando que o consumo per capita na região centro-oeste é de 1,67 tonelada/
ano, e que as cidades de Cuiabá, Várzea Grande e Rondonópolis, possuem juntas a maior
população do Estado de Mato Grosso, e com uma estimativa de crescimento de 3% para
os próximos anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2018),
estima-se que o consumo de agregados aumentará conforme o aumento da população.

DETALHAMENTO DO CASO

O calcário (calcítico) é proveniente da região norte de Cuiabá, a rocha granítica pro-


veniente da região sul na Serra de são Vicente, município de Santo Antônio do Leverger e
o cascalho rolado britado na região leste no município de Poxoréo, sendo a brita calcária e
a granítica utilizadas em Cuiabá e na cidade vizinha Várzea Grande, já o cascalho rolado
britado na região de Rondonópolis. Dada a importância do agregado para a indústria da
construção civil, desenvolveu-se este estudo para melhor conhecimento destes agregados.

Objetivos

Os objetivos deste trabalho são de estudar algumas das principais propriedades dos
agregados, de modo a verificar se estes se adequam aos limites estabelecidos em normas
para utilização em concreto. Como objetivos específicos, serão determinadas as seguintes
propriedades: granulometria, massa específica, índice de forma, abrasão “los angeles” e
reatividade potencial álcali-agregado.

MATERIAIS E MÉTODOS

Materiais

Esta etapa constitui na descrição dos materiais utilizados na pesquisa, conforme cons-
tatação em visitas às usinas de concreto, sendo estes, os principais agregados utilizados
nas construções de edificações nestas regiões. As cidades foram escolhidas por possuírem

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maior consumo e um eixo de proximidade, considerando a localização das jazidas entre
elas. A figura 01, apresenta as regiões onde são extraídas as rochas ou sedimentos para
produção de agregados e as regiões consumidoras. Já a figura 02 apresenta os aspectos
físicos do granito, calcário e cascalho, respectivamente.

Figura 01. Localização das regiões produtoras de agregados.

Fonte: IBGE 2019, Adaptado.

Figura 02. Aspectos físicos dos agregados obtidos por lupa estereoscópica.

Fonte: O autor.

Granito

Comercializado com o nome de “brita granítica”, o granito utilizado como agregado


graúdo, é proveniente da região da Serra de São Vicente, situada no município de Santo
Antônio do Leverger, este é obtido a partir do desmonte de rochas e posterior britagem, e
seleção através de peneiras.
Segundo Trivelli (2016), o granito São Vicente é um corpo rochoso ígneo intrusivo que
ocupa uma área de aproximadamente 400 km², de coloração rósea ou localmente cinza,

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e de granulação fina a grossa (grãos de cristal que podem ser observados a olho nu) e/ou
porfirítica (cristais maiores incrustados em massa de granulação mais fina).

Calcário

Os agregados provenientes de rocha calcário relatados na pesquisa, conhecidos por


“brita calcária”, são oriundos do distrito de Nossa Senhora da Guia na capital de Mato Grosso.
Segundo Hennies (1966) apud Nogueira e Riccomini (2006), descreve que o corpo rochoso
recebe o nome de Formação Guia e ocorre na Mina Nossa Senhora da Guia, são estas,
rochas sedimentares carbonáticas, identificados como mudstones calcíferos (calcários finos
cujos tamanhos são da ordem de 0,063 milímetros), com grãos individuais pequenos demais
para serem distinguidos sem um microscópio, e de cores cinzentos a pretos.

Cascalho

Segundo a NBR 6502 (ABNT, 1995), defini cascalho como pedregulho arredondado
ou semiarredondado. O cascalho utilizado provém da região de Alto Coité no município de
Poxoréu-MT, sendo este material retirado em cavas ou depósitos de rejeitos de garimpos de
diamantes, que foram desenvolvidos na região. Este material passou por processo lavagem,
moagem e classificação, para a então comercialização como brita para concreto.
Segundo Viana et al (2011) a região de Poxoréu está em estagnação econômica desde
o declínio das atividades garimpeiras, iniciada na década de 1920, gerando áreas que foram
intensamente trabalhadas por garimpeiros, encontram-se muito degradadas com a presença
de rejeitos empilhados aleatoriamente em diferentes porções.
Ainda sobre Viana et al (2011), este realizou estudos de análise granulométrica e
geoquímica de amostras selecionadas por mostrarem de boa representatividade. Os estu-
dos granulométricos sugeriram que a maioria das amostras podem ser utilizadas tanto na
indústria de fundição, quanto na fabricação vidro. Os dados geoquímicos apontaram que
todas as amostras podem ser utilizadas pela indústria de construção civil se posteriormente
lavado e britado.

Cimento

O cimento foi utilizado apenas para ensaio de reatividade álcali-agregado, adquirido


no comércio varejista de Cuiabá, sendo este o CP II F 32, um aglomerante hidráulico obtido
pela moagem do clínquer Portland ao qual se adiciona fíller calcário.

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Métodos

Para desenvolvimento da pesquisa, os ensaios foram realizados no laboratório de ma-


teriais de construção do Instituto Federal de Mato Grosso, Campus Cel. Octayde Jorge da
Silva, seguindo métodos padronizados pelas normas da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT), destacando algumas das principais propriedades dos agregados graúdos
necessárias para aplicação em concreto. A tabela 01 apresenta a relação de propriedades
e métodos utilizados.

Tabela 01. Métodos de ensaios.

Propriedades MÉTODOS
Granulometria NBR/NM248:2013 - Agregados – Determinação da composição granulométrica.
ABNT NBR NM 53:2009 - Agregado graúdo - Determinação da massa específica, massa es-
Massa especifica
pecífica aparente e absorção de água.
NBR 7809:2019 - Agregado graúdo - Determinação do índice de forma pelo método do
Índice de forma
paquímetro - Método de ensaio.
Abrasão Los-Angeles ABNT NBR NM 51:2001 - Agregado graúdo - Ensaio de abrasão “Los Angeles”.
ABNT NBR 15577-4:2018 - Agregados - Reatividade álcali-agregado - Parte 4: Determinação
Reatividade álcali-agregado
da expansão em barras de argamassa pelo método acelerado.
Fonte: O autor.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Granulometria

Para o granito determinou-se o valor de dimensão máxima característica (DMC) de 19,1


mm e módulo de finura (MF) de 6,87, e apresentando-se dentro dos limites granulométricos
estabelecidos pela norma NBR 7211 (ABNT, 2009). O calcário obteve o valor de DMF de 19,1
mm e MF 6,71, com a curva granulométrica abaixo dos limites de menor dimensão. O cas-
calho apresentou-se valor de DMC de 19,1 mm e MF 6,81, sendo que apenas a peneira de
12,5 mm na curva granulométrica apresenta valor superior ao limite estabelecido. A figura
03 apresenta a representação gráfica da curva granulométrica.

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Figura 03. Gráfico de granulometria.

110
Composição Granulométrica dos Agregados

90

Granito
70 Cascalho

Retida Acumulada (%)


Calcário
Menor dimensão (d)
Maior dimensão (D)
50

30

10

2,36 4,75 6,3 9,5 12,5 19 25 31,5 37,5 50


-10
Abertura das Peneiras (mm)

Fonte: O autor.

Abrasão “Los Angeles”

Para os testes com o granito, apresentou-se uma perca de 29,13%, o calcário de 19,62%
e o cascalho de 30,07 %, sendo que todos se enquadram ao valor estabelecido em norma,
que é de ≤ 50 %. A figura 04 apresenta o aspecto das amostras antes e depois do ensaio.

Figura 04. Aspecto das amostras após ensaio.

Fonte: O autor.

Reatividade Potencial Álcali-Agregado

No ensaio de reatividade álcali-agregado, o granito obteve expansão aos 30 dias de


0,25% estando enquadrando-se na classificação R1, o calcário obteve expansão de 0,59%
enquadrando- se na classificação R2 e o cascalho apresentou expansão de 0,19%, enqua-
drando- se na classificação R0. A figura 05 a representação gráfica do ensaio de reatividade,
já a tabela 02 apresenta o resumo dos resultados das amostras ensaiadas, comparando-as
com os limites estabelecidos em norma.

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Figura 05. Gráfico de reatividade álcali-agregado.

Fonte: O autor.

Tabela 02. Resumo dos resultados.


Limites
Propriedades Calcário Granito Cascalho
ABNT 7211:2005
19,1 19,1 19,1 19,1
Granulometria - DMC (mm) MF
6,71 6,87 6,81 Não se aplica
Massa especifica (g/cm³) 2,712 2,589 2,441 Não se aplica
Índice de forma 2,6 2,3 1,5 ≤3
Abrasão Los-Angeles (%) 17,62 29,13 30,07 ≤ 50
< 0,19 - R0
≥ 0,19 ≤ 0,40 - R1
Reatividade álcali-agregado, 30 dias (%) 0,59 0,25 0,17
≥ 0,41 ≤ 0,60 - R2
> 0,60 - R3
Fonte: O autor.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos resultados obtidos com os exames laboratoriais das amostras de granito,
calcário e cascalho, verifica-se que para os testes de granulometria, o calcário mesmo apre-
sentando-se abaixo da curva granulométrica, enquadra-se nos limites aceitáveis, o granito
apresenta-se enquadrado nos limites das curvas granulométricas, já o cascalho apresenta
apenas a peneira 12,5 mm fora do limite da faixa superior, sendo o restante dentro da faixa
granulométrica, porém dentro dos limites aceitáveis, sendo que a norma NBR 7211 (ABNT,
2009) estabelece até quatro pontos percentuais abaixo do limite inferior, e até quatro pontos
acima do limite superior das faixas.
Para massa específica, os resultados obtidos nas amostras foram para o granito 2,589 g/
cm³, para o calcário 2,712 g/cm³, e para o cascalho 2,441 g/cm³, e que demonstram suas pró-
prias características físicas, e que, neste caso não se aplicam limites estabelecidos em norma.

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Quanto ao índice de forma, os resultados das amostras obtidos pelo método paquíme-
tro, para o calcário foram de 2,6, para o granito 2,3, e o cascalho de 1,5, sendo que a norma
estabelece que o valor deve ser igual ou menor a 3.
Nos testes de abrasão (Los Angeles), os resultados das perdas para o granito foram
de 29,13%, para o calcário de 17,62% e para o cascalho 30,07 %. Para o granito, verificou-
-se que a perca não foi por desgaste aparente, mas sim por quebra devido ao choque com
as esferas metálicas, sendo que outro tipo de método para esta quantificação, talvez seja
possível que os resultados para o granito se deem diferentes; já para o cascalho observou-
-se visualmente os vários tipos de rochas diferentes, e algumas altamente friáveis inclusive
com desgaste apenas no manuseio, justificando a perca de mais de 30%. Mesmo com as
observações todas as amostras atendem aos requisitos da norma que é ≤ 50%.
Para a reatividade álcali-agregado, os agregados apresentam-se em três faixas dife-
rentes, sendo o granito enquadrando-se na faixa do R1 com expansão de 0,25 %, o calcário
na faixa de R2, apresentando expansão de 0,59 %, e o cascalho apresentou-se a menor das
expansões, de 0,17 %, ficando abaixo da linha limite em 30 dias e enquadrando na faixa R0.
Com estes resultados conclui-se que todos os agregados avaliados na pesquisa estão
dentro dos padrões físicos das normas, porém, para uso do calcário e granito, considerando
a reatividade potencial álcali-agregado, deve-se observar quais as restrições de aplicação,
relacionadas ao ambiente em que os elementos estruturais de concreto estarão expostos.

REFERÊNCIAS
1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 6502: Rochas
e solos. Rio de Janeiro, 1995.

2. _____. NBR 7211: Agregados para concreto - Especificação. Rio de Janeiro, 2009.

3. _____. NBR 7809: Agregado graúdo - Determinação do índice de forma pelo mé-
todo do paquímetro - Método de ensaio. Rio de Janeiro, 2019.

4. _____. NBR 9935: Agregados – Terminologia. Rio de Janeiro, 2011.

5. _____. NBR 15577-4: Agregados - Reatividade álcali-agregado - Parte 4: Deter-


minação da expansão em barras de argamassa pelo método acelerado. Rio de
Janeiro, 2018.

6. _____. NBR NM 51: Agregado graúdo - Ensaio de abrasão “Los Angeles”. Rio de
Janeiro, 2001.

7. _____. NBR NM 53: Agregado graúdo - Determinação da massa específica, massa


específica aparente e absorção de água. Rio de Janeiro, 2009.

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8. _____. NBR NM 248: Agregados – Determinação da composição granulométrica.
Rio de Janeiro, 2013.

9. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA ESTATÍSTICA – IBGE. Projeção da Popu-


lação 2018: número de habitantes do país deve parar de crescer em 2047. Agência
IBGE notícias: Rio de Janeiro, 2018. Disponível em https://agenciadenoticias.ibge.
gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/21837-projecao-
-da-populacao-2018-numero-de-habitantes-do-pais-deve-parar-de-crescer-em-2047.
Acessado em 20/04/2019.

10. INSTITUTO BRASILEIRO DE MINERAÇÃO – IBRAM 2018. AGREGADOS - Informa-


ções e Análises da Economia Mineral Brasileira. 6ª edição. Brasília, 2011. Disponível
em http://www.ibram.org.br/sites/1300/1382/00001450.pdf. Acessado em 20/04/2019.

11. Neville, A. M. Propriedades do Concreto. Tradução: Ruy Alberto Cremonini. – 5 ed.


– Porto Alegre: Bookman, 2016.

12. Nogueira, A. C. R. & Riccomini, C. O Grupo Araras (Neoproterozóico) na Parte


Norte da Faixa Paraguai e Sul do Craton Amazônico, Brasil. Revista Brasileira de
Geociências, volume 36 (4), São Paulo, 2006.

13. Trivelli, G. G. B. et al. Geologia e Petrologia do Granito São Vicente na região do


Parque Estadual Águas Quentes, estado de Mato Grosso, Brasil. Revista do Insti-
tuto de Geociências – USP. Geol. USP, Sér. cient., v. 17, n. 3, p. ‍-48, São Paulo 2017.

14. Viana, A. R. et al. Estudo de Aproveitamento de Rejeito de Diamante da Região


de Poxoréu, Leste do Estado de Mato Grosso. UNESP, Geociências, v.30 n.2 p.
161 – 171, São Paulo, 2011.

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06
Análise de patologia de infiltração em
sistema de revestimento externo em
fachada texturizada de edifício na cidade
de Cuiabá - MT

Válery Kessis da Silva Pires


Instituto Federal de Educação Tecnológica de Mato
Grosso (IFMT)

Maria Gabriella Félix Pezzin Salomão


Instituto Federal de Educação Tecnológica de Mato
Grosso (IFMT)

'10.37885/230512941
RESUMO

O revestimento externo de uma edificação é um sistema que deve receber atenção especial
para que possa atender aos requisitos e critérios de desempenho, vida útil e cumprimento
às exigências de uso e operação. Diante de patologias que se manifestaram de forma pre-
matura em um sistema de revestimento externo em um edifício recém construído na cidade
de Cuiabá MT, surgiu a necessidade da elaboração do presente estudo de caso, no sentido
de corroborar com informações técnicas concernentes a manifestações de infiltração ocorri-
das no referido sistema. A metodologia adotada além da análise visual preliminar em visitas
técnicas in loco, foi a utilização de dois ensaios para a coleta de dados, propostos pela NBR
13528:2010 - Revestimento de Paredes de Argamassas Inorgânicas - Determinação da
Resistência de Aderência à Tração e Centre Scientifique et Technique de la Construction
(CSTC), 1982 - Avaliação da Permeabilidade e da Absorção de Revestimentos sem Textura
– “Método do Cachimbo”, respectivamente. Concluiu-se que, os resultados da aderência da
argamassa foram satisfatórios uma vez que onze, do total de quatorze pontos da amostra-
gem tiveram as resistências superiores ao valor mínimo de 0,3 MPa. Em relação ao ensaio
de permeabilidade do sistema, houve absorção homogênea em três dos quatro pontos
ensaiados quando comparadas ao ensaio de referência realizado com três outras marcas
de tinta que não absorveram.

Palavras-chave: Revestimento, Infiltração, Patologia, Aderência, Absorção.


INTRODUÇÃO

O desenvolvimento deste estudo de caso concentrou-se no Sistema de Revestimento


Externo de Fachada (SREF) com argamassa, cuja aplicação é frequente como forma de
acabamento. É de suma importância que esse sistema tenha desempenho técnico além do
estético, visto que os elementos constituintes devem trabalhar favoravelmente à edificação
sob condições de stress e intempéries. Para tal, suas propriedades devem ser considera-
das na concepção da mesma, uma vez que sua função está relacionada ao conforto aos
residentes e transeuntes, auxilio na proteção dos elementos estruturais e de vedação da
edificação, além da barreira contra agentes externos. Quando ainda na fase da concepção
do empreendimento, alguns fatores são considerados primordiais em relação ao desempe-
nho dos SREF, tais como: existência ou não de projeto de revestimento de fachada, o tipo
do substrato ou base, as técnicas executadas, a argamassa em si, a rastreabilidade durante
a execução e até mesmo a localização dessa edificação. Para manter o nível de desempe-
nho esperado ao longo da sua vida útil, o revestimento deverá resistir tanto a solicitações
que surgem desde as primeiras idades como aquelas, que, no seu estado endurecido, são
promovidas pelos agentes de degradação atuando, geralmente, de forma simultânea [6].
Independentemente do tipo do material ou do uso dado, devem-se ter exigidas sempre as
mesmas funções básicas das argamassas: resistir, unir, vedar, regularizar, e proteger [11].
Diante de manifestações patológicas de infiltração ocorridas em um empreendimento em
fase de entrega e ocupação, houve a necessidade desta análise, com o objetivo de contribuir
com informações técnicas de subsidio para tratativa e manutenção corretiva do sistema, visto
que a propriedade estanqueidade, que de acordo com [5] está relacionada com a absorção
capilar e ao nível de proteção que o revestimento oferece à base contra as intempéries, não
estava sendo atendida. O sistema estudado é composto de revestimento argamassado e
acabamento texturizado, ambos caracterizados com auxílio da literatura específica e infor-
mações da equipe de engenharia responsável pela construção.

DETALHAMENTO DO CASO

O empreendimento abordado neste estudo de caso é residencial vertical, multifamiliar


composto de duas torres de 15 andares (Figura 1). Cada pavimento possui 09 unidades, com
exceção do último, que é composto por 05 unidades duplex. Está localizado na região central
da capital mato-grossense. Possui sistema construtivo em estrutura de concreto armado,
e vedação em alvenaria não estrutural de tijolos cerâmicos. O revestimento das paredes
externas é composto por argamassa industrializada (usinada), com pintura texturizada.

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Figura 1. Empreendimento objeto de estudo – disposição das torres no canteiro.

Fonte: GOOGLE (2016).

Na Figura 1, é possível verificar a disposição da Torre A (concluída) e a Torre B (em


construção). Pode-se observar a pintura da fachada da Torre A finalizada enquanto a
Torre B, ainda em fase de execução do revestimento reboco.

Figura 2. Fachada frontal Torre A.

Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Na Figura 2 (imagem registrada em 2015) pode ser observada a fachada frontal da


Torre A com a pintura texturizada, pronta para entrega aos moradores. Pouco tempo após
o início da entrega das unidades, alguns proprietários, abriram chamados de manutenção
descrevendo problemas relacionados à umidade no interior de seus imóveis, especificamente
nas paredes que faziam parte da fachada do edifício. Surgiu então o questionamento sobre
o que estaria influenciando um edifício recém construído e entregue, a sofrer de patologias
de infiltração precoce em seu sistema de revestimento de fachada. Inúmeros moradores
registraram sua insatisfação e tais ocorrências acabaram por exigir respostas claras e pre-
cisas, além de soluções, de modo que o problema pudesse ser resolvido confortavelmente

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para ambas partes. É válido destacar, que estas manifestações ocorreram no período chu-
voso e após análise dos chamados, a equipe técnica da construtora constatou que todas
as situações estavam correlacionadas às chuvas, ou seja, nenhuma relação ao sistema
hidráulico das torres.
Sendo assim, a construtora colocou em dúvida a qualidade dos materiais fornecidos
para execução do acabamento do sistema de revestimento externo de fachada, especifica-
mente à textura (lote consequente de uma permuta formalizada entre as empresas), alegan-
do falhas que se iniciaram ainda durante a execução, como baixa cobertura e rendimento.
Baseando-se em conhecimentos e experiência adquirida ao longo dos anos em obras, a
equipe técnica da construtora solicitou, a priori, o comparecimento do representante da marca
responsável por fornecer os materiais aplicados na textura no sistema. Após verificação in
loco do problema, o mesmo orientou apenas que se aplicasse um produto hidro-repelente
na fachada, além de levantar a hipótese de que o problema poderia estar no revestimento
reboco (serviço executado com material pré-fabricado/industrializado, fornecido e executado
por duas empresas subcontratadas pela própria construtora). Sendo assim, a construtora
respaldada em seus direitos e como maior parte interessada em resolver a situação, buscou
embasamento técnico científico para fundamentar e contribuir para com a solução do pro-
blema, fato este que a levou a buscar o Laboratório de Construção Civil do Instituto Federal
de Mato Grosso para realizar ensaios laboratoriais para análise do revestimento.
As informações laboratoriais coletados estão delimitadas a apenas uma das duas torres
do empreendimento, a Torre A, cujos apartamentos já haviam sido entregues aos usuários,
e por este motivo, algumas limitações foram encontradas, tais como: a altura da edificação
e ausência de equipamento fotográfico de melhor alcance e qualidade na identificação de
patologias em locais mais altos; em relação a observação e coleta de dados realizada no
interior dos apartamentos: inacessibilidade devido a várias chaves já terem sido entregues
aos proprietários e os mesmos ainda não residirem no local, prejudicando também a quan-
tificação exata de apartamentos afetados pelas manifestações patológicas internas; Em re-
lação ao levantamento de dados no próprio sistema da construtora: visto que os moradores
que documentaram suas reclamações por meio de chamados de manutenção foram apenas
aqueles que já estavam residindo ou que estavam em processo de vistoria.

Manifestações patológicas

Em março de 2015, após o registro de inúmeros chamados de manutenção, a Torre A foi


vistoriada em conjunto: construtora e pesquisadores. As manifestações observadas foram
documentadas por meio de registros fotográficos e ocorreram após período de chuva intensa,
situação propositalmente esperada tendo em vista a natureza dos chamados de manutenção

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dos moradores e as observações realizadas pelos técnicos da construtora. Considerou-se
para o agendamento dos trabalhos, o fato de que a cidade de Cuiabá é caracterizada por
apresentar dois períodos bem definidos: um seco que vai de abril a outubro e outro úmido
de novembro a março, onde se concentra 80% das chuvas (INMET 2003).
Com auxílio dos dados fornecidos pelos chamados de manutenção registrados no sis-
tema interno da empresa, as principais faces afetadas foram localizadas e sinalizadas em
vermelho como mostra a Figura 3. Faz-se necessário memorar o fato de que não foi possível
acessar todas as unidades, visto que em alguns casos a posse das chaves já estava com
os proprietários que ainda não haviam mudado para o edifício.
Portanto, a vistoria ocorreu apenas em unidades já habitadas/entregues (por meio de
compatibilização com os chamados de manutenção realizados) e em unidades ainda não
vendidas, cujas chaves estavam de posse da construtora, porém, nesses casos sem abertura
de registro no sistema da empresa.

Figura 3. Identificação das faces com maior incidência de manifestações patológicas de infiltração.

Fonte: Arquivo pessoal (2015).

A Figura 3 representa o perímetro do edifício, com as quatro faces que apresentaram


maior incidência da patologia de infiltração destacadas em vermelho. Também pode ser
verificado, o perímetro dos apartamentos tipo com as respectivas áreas descritas.

Manifestações patológicas externas

Os chamados de manutenção se referiam a manifestação de infiltração nas paredes


externas e internas dos apartamentos. Porém a equipe técnica da construtora já havia per-
cebido as manifestações externas no início do período chuvoso pós pintura. As Figuras 4 e
5 evidenciam o revestimento sofrível da Face externa 1 da fachada ao longo de toda a sua
extensão devido a exposição à chuva.

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Figura 4. Imagem da fachada da Torre A no período chuvoso.

Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Pode ser observado na Figura 4, nas faces de textura ocre, em toda a extensão da
fachada, as partes mais escuras se destacam com nitidez caracterizando-se como manchas
provocadas pela absorção da água. As partes que receberam textura branca também sofrem
a ação da água. Ainda é possível observar na Torre A que as manchas são irregulares na
Face 1 (a esquerda), sendo que na parte superior da mesma, as manchas são extensas e
homogêneas, única e contínua.
Na face direita à Face 1 existem manchas de caráter regular em todo o pano da mes-
ma. Nessa, é notória a alta absorção em todo seu pano, com exceção das regiões onde o
revestimento se encontra de forma direta com a face lateral da laje. Devido à natureza dos
substratos forma-se um gradiente de absorção entre essas regiões (alvenaria-argamassa
e concreto-argamassa) que facilmente se identifica por ‘listras’, definindo na fachada retân-
gulos de alta absorção.
Observa-se também na Figura 4, na parte mais alta do edifício, uma grande área úmida
que segue em toda extensão do último pavimento, e apesar da diferença de cores da textura,
a parte clara desse pavimento se comporta da mesma forma como as partes mais escuras,
porém se destaca menos na imagem. Abaixo, na Figura 5, é apresentado um detalhe da
fachada pós chuva:

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Figura 5. Detalhe da absorção de água na fachada da Torre A.

Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Na Figura 5, é possível notar a diferença de tonalidade quando se dirige o olhar para


abaixo das janelas localizadas entre as sacadas frontais da Torre A, região que provavelmente
não recebeu chuva incidente diretamente ou que devido a própria geometria e rugosidade
da fachada não favoreceu para com o escorrimento de água de forma uniforme ou ainda,
que se dispersou devido a descontinuidade no plano em favor da abertura para a janela, e
por isso, é mais clara, e aparentemente com menos absorção.

Manifestações patológicas internas

A Torre A apresentou manifestação patológica de infiltração interna conforme descrito


alhures. De acordo com os chamados de manutenção documentados, algumas aferições
foram realizadas pela equipe da construtora e pesquisadores.
Os registros fotográficos representados na Figuras 6, evidenciam a forma como as
manifestações ocorreram no interior das unidades, todas praticamente da mesma forma,
mesmo aspecto, porém com intensidade diferente em função da posição em relação à inci-
dência das chuvas, direção do vento e também, em função do número de paredes externas
de cada apartamento.
As manchas ocorridas pós chuva se propagaram pelas paredes e muitas vezes, pelas
lajes das unidades mais afetadas. Os cômodos que tem faces e arestas (encontro de duas
faces) voltadas diretamente para a direção da chuva, foram os mais prejudicados, o que
pode ser observado pelo escurecimento da região afetada pela água, que infiltra pelo sistema
de revestimento de fachada, com formação de eflorescências ainda em estágio inicial. Vale
ressaltar que não é objetivo deste trabalho aprofundar-se no diagnóstico das patologias apre-
sentadas nas faces internas da torre estudada, sendo apenas uma análise complementar.

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Figura 6. Manifestação de patologia por infiltração Aptos 902 e 1202 Torre A.

Fonte: Arquivo pessoal (2015).

A Figura 6 representa o interior de um cômodo das unidades 902 e 1202 da Torre A. A


unidade 902, que fica na aresta da Face 1, pode ser observada a manifestação no encontro
das faces (canto da parede) e teto. Já na unidade 1202, é possível constatar a infiltração
que não fica na aresta da Face 1, mas sofre com a manifestação da patologia na ex-
tensão da parede.
Os apartamentos centrais (ver Figura 3), com finais 1, 4, 5, 8, 9 não apresentaram regis-
tros consideráveis para este tipo de infiltração, pois tem quantidade bem menor de paredes
externas (considerando abertura de sacadas); os apartamentos com 3 quartos finais 2, 3, 6,
7 relataram em chamados infiltração nas paredes dos quartos após chuvas intensas. O que
pode ser inferido a respeito, é que os apartamentos cujos finais 1, 4, 5, 8 possuem área
menor (54,25m²) em relação aos apartamentos das extremidades da Torre A (de finais 2,
3, 6 e 7 A = 71,91m²) que acabam os protegendo da incidência da chuva dependendo da
direção; Entretanto os apartamentos de final 9 possuem a segunda maior área disponível
para compra e apenas uma face, com aberturas de sacadas, cuja localização faz parte de
um pano bem maior que é comum aos apartamentos do tipo 1 e 8.

Ensaios realizados

Os ensaios técnicos foram realizados in loco pelo Laboratório de Construção Civil do


Instituto Federal de Mato Grosso, Campus Cuiabá Octayde Jorge da Silva. Conforme des-
crito alhures, os ensaios foram concernentes ao desempenho dos componentes argamassa
e textura da Torre A, com construção finalizada e em processo de entrega e vistoria dos
proprietários. A metodologia adotada além da análise visual preliminar de visitas técnicas in

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loco, foi a utilização de dois ensaios para a coleta de dados, propostos pela NBR 13528:2010
- Revestimento de Paredes de Argamassas Inorgânicas - Determinação da Resistência de
Aderência à Tração e Centre Scientifique et Technique de la Construction (CSTC), 1982 -
Avaliação da Permeabilidade e da Absorção de Revestimentos sem Textura – “Método do
Cachimbo”, respectivamente.
O primeiro Relatório Técnico intitulado de Relatório 001/2015: Avaliação de Propriedade
Física e Mecânica de Argamassa de Revestimento Aplicada em Fachada, foi realizado nos
dias 27 e 28 de maio de 2015, em revestimento externo, aplicado em alvenaria de vedação
de blocos cerâmicos. O segundo, Relatório 002/2015: Avaliação de Absorção de Água em
Parede com Revestimento em Textura, foi realizado em 23 de junho de 2015. No total, três
ensaios: dois aplicados ao reboco, e um em textura.

Tabela 1. Planejamento dos ensaios.


Relatório 001/2015:
Relatório 002/2015:
Avaliação de Propriedade
Avaliação de Absorção
Física e Mecânica de
de Água em Parede com
Argamassa de Revestimento
Revestimento em Textura
Aplicada em Fachada
Local Pavimento Térreo
Data Coleta 27 e 28/05/2015 23/06/2015
Norma 13528:2010 CSTC, 1982 CSTC, 1982
Variável Estudada Resistência Permeabilidade Permeabilidade
Revestimento Textura Textura Textura
Superfície Argamassa Textura
(Arg. + Text.) A B C
Cor Ocre - Ocre Branca Branca Branca
Quantidade de Pontos Ensaiados 14 6 4 5 5 5
11 ptos - Indust.
Argamassa - - Indust. Indust. Indust.
3 ptos - Obra
Observações - - - - - -
Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Determinação da Resistência de Aderência à Tração - Argamassa

Foi analisada a alvenaria de vedação externa de fachada do pavimento térreo, composta


por blocos cerâmicos de vedação, em que a camada de revestimento foi aplicada diretamente
sobre o componente, não havendo chapisco. O ensaio para determinação da resistência
de aderência foi realizado nos revestimentos, seguindo os procedimentos descritos na [13].
Utilizou-se um equipamento de tração de comando manual, conforme a Figura 7.

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92
Figura 7. Utilização do equipamento de tração.

Fonte: Arquivo pessoal (2015).

As pastilhas têm seção circular e 50mm de diâmetro. A [13] pede que devam ser en-
saiados ao menos seis corpos de prova para cada situação, espaçados entre si e dos cantos
pelo ao menos 50mm. Para este ensaio, optou-se por ensaiar 14 pontos conforme Figura 8:

Figura 8. Identificação dos pontos de ensaio.

Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Determinação da Absorção de Água - Argamassa e Textura

O ensaio de absorção de água pelo Método do Cachimbo, que não é normalizado no


Brasil, determina a absorção de água e também a permeabilidade do revestimento. O procedi-
mento de ensaio é proposto pelo CSTC (1982). O ensaio foi realizado ajustando os tempos de
leitura para 0, 5, 10, 15, 40 e 60 minutos. Utilizaram-se de cachimbos que foram fixados nos
revestimentos com silicone e massa de calafetar conforme pode ser observado na Figura 9.

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Figura 9. Fixação do ‘cachimbo’ com silicone. Execução do ensaio.

Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Os cachimbos foram fixados sobre o revestimento (argamassa) e também sobre a textu-


ra, em locais que aparentemente não apresentavam fissuras. A figura 10 ilustra a localização
dos pontos ensaiados. Ao todo foram ensaiados seis pontos para análise de permeabilidade
da argamassa e quatro para análise de permeabilidade para a textura.

Figura 10. Pontos de realização do ensaio. Amarelo = textura e cinza = argamassa.

Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Determinação da Absorção de Água – Textura Referência

Para fins de comparação, realizou-se um ensaio de absorção de referência para forne-


cer parâmetros para a avaliação do desempenho do revestimento e textura. Para tal, foram
preparadas três superfícies e cada uma recebeu acabamento texturizado na cor branca,
sendo todas de fornecedores diferentes. O ensaio foi realizado ajustando os tempos de lei-
tura para 0, 5, 10, 15, 40 e 60 minutos. Utilizaram-se de cachimbos que foram fixados nos
revestimentos com silicone e massa de calafetar, conforme Figura 10. Foram realizados
cinco pontos em cada uma das três superfícies, como mostra a Figura 11.

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94
Figura 11. Disposição dos pontos para Textura Marca A, B e C.

Fonte: Arquivo pessoal (2015).

DISCUSSÃO

O Relatório Técnico 001/2015: Avaliação de Propriedade Física e Mecânica de


Argamassa de Revestimento Aplicada em Fachada realizado nos dias 27 e 28 de maio de
2015, em revestimento externo, aplicado em alvenaria de vedação de blocos cerâmicos
concluiu que o revestimento de alvenaria de vedação apresentou resistência de aderência
à tração superior ao limite exigido pela norma em 11, dos 14 pontos analisados, e em 3
pontos apresentou o valor de 0,26 Mpa, sendo exigido valor maior ou igual a 0, 30 Mpa.
Ainda observa que com os dados obtidos pelo ensaio de absorção é possível constatar no
que se refere a quantidade de pontos que a ‘permeabilidade sobre a argamassa absorveu
em 2 pontos, enquanto que sobre a textura absorveu em 3 pontos. Já em relação à média
de absorção entre os pontos, a permeabilidade sobre a argamassa foi de 0,9 cm³, enquanto
que os com a textura foi de 0,2 cm³. O Relatório Técnico 002/2015: Avaliação de Absorção
de Água em Parede com Revestimento em Textura realizado no dia 23 de junho de 2015, em
revestimento externo com textura, aplicado em alvenaria de vedação de blocos cerâmicos
concluiu que observando os dados obtidos no ensaio de absorção, é possível constatar que
em nenhuma das superfícies ocorreu absorção. A seguir, são apresentados os resultados
obtidos e suas análises de forma individual.

Resultados e Discussão da Resistência de Aderência à Tração - Argamassa

A Tabela 2 apresenta o resultado do ensaio de resistência à tração, também conhe-


cido por Ensaio de Arrancamento. A mesma tabela mostra as resistências de aderência à
tração de cada corpo de prova e a forma de ruptura dos mesmos. Segundo a [14], na seção
5 “características dos revestimentos de argamassa”, a cada seis ensaios realizados (com
idade igual ou superior a 28 dias) pelo menos quatro valores devem ser iguais ou superiores
aos indicados na norma, cerca de 0,3 MPa. Dessa forma, ao analisar a Tabela 2, pode-se
observar que dez dos quatorze pontos satisfazem a norma (pontos 2, 3, 5, 6, 7, 10, 11,
13 e 14), sendo dois deles correspondentes a argamassa de revestimento produzida em

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obra. A respeito da forma de ruptura, dos dez pontos válidos, seis apresentaram ruptura na
interface da argamassa com o substrato (bloco cerâmico). A média de resistência à aderência
adquirida dos resultados válidos é de 0,474 MPa. Dessa forma, o revestimento estudado
está de acordo com o exigido em norma. Apesar dos resultados satisfatórios, os pontos 1,
4, 8, 9 e 12 (independentemente da maneira de sua produção - em obra ou usinada) que
não atendem a resistência de aderência à tração mínima especificada na NBR 13749:1996,
ou seja, maior ou igual a 0, 30 MPa, também foram os que apresentaram menor carga de
ruptura, em média 406N em relação aos que atenderam, 1.038,89N, e ainda, um desvio de
aproximadamente 50,05% em relação à média geral, 812,86N.

Tabela 2. Resultados dos ensaios de resistência de aderência.


N Carga de Ruptura Carga de Ruptura Espessura do corpo Forma de Resistência de Aderência Resistência de Aderência
Ponto (kgf) (N) de Prova (mm) Ruptura à Tração (Mpa) à Tração Média (Mpa)
1 35 343 0,17
2 143 1403 0,71
3 89 873 interface 0,44
argamassa/
4 50 491 20 0,25 0,47
substrato
5 160 1570 0,80
6 75 736 0,37
7 102 1001 0,51
8 40 392 0,20
9 46 451 - argamassa 0,23 0,26
10 71 697 0,35
11 90 883 substrato 0,45 0,45
12 36 353 interface 0,18
20 0,31
13 120 1177 argamassa 0,6
14 103 1010 20 substrato 0,51 0,42
Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Resultados e Discussão da Absorção de Água - Argamassa

Os resultados obtidos no ensaio de absorção de água avaliada pelo Método do


Cachimbo são apresentados em duas partes: na Tabela 3 os resultados provenientes do
revestimento de argamassa e Tabela 4 provenientes da textura.

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Tabela 3. Resultados do ensaio de absorção de água de baixa pressão - argamassa.
Absorção de Água de Baixa Pressão
Método do Cachimbo
Tempo (mim) 0 5 10 15 40 60
Amostra 1
Leituras (ml) 4,0 3,9 3,7 3,4 2,2 0,9
Absorção (cm ) 3
0 0,1 0,3 0,6 1,8 3,1
Absorção (%) 0 2,5 7,5 15 45 77,5
Amostra 2
Leituras (ml) 4,0 4,0 4,0 3,9 3,8 3,6
Absorção (cm ) 3
0 0 0 0,1 0,2 0,4
Absorção (%) 0 0 0 2,5 5 10
Amostra 5
Leituras (ml) 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0
Absorção (cm ) 3
0 0 0 0 0 0
Absorção (%) 0 0 0 0 0 0
Amostra 6
Leituras (ml) 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0
Absorção (cm ) 3
0 0 0 0 0 0
Absorção (%) 0 0 0 0 0 0
Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Do total de seis amostras, apenas quatro foram passíveis de mensuração. O restante,


duas, foram perdidas devido à má fixação do cachimbo à superfície do revestimento. A pri-
meira amostra absorveu cerca de 77,5% do volume de água disponível no intervalo de 1 hora,
sendo a maior taxa de variação a partir de 15 minutos do momento de início do ensaio. A se-
gunda amostra, absorveu apenas 10%, cuja maior variação de absorção ocorreu entre 30 e
60 minutos de ensaio. A terceira e a quarta não absorveram. De modo geral, 50% das amos-
tras acusam a não absorção de água, enquanto apenas 25% absorveu consideravelmente.

Resultados e Discussão da Absorção de Água – Textura

Do total de quatro amostras, três absorveram água. As absorções mínimas e máximas


são de 5% e 7,5% respectivamente. Contrariamente ao observado na absorção de água
da argamassa, para a textura houve homogeneidade de absorção, ou seja, os três pontos
absorventes obtiveram praticamente o mesmo resultado, e ainda, nenhum destes de valor
tão destoante como o da argamassa. Sendo assim, é possível armar que a textura absorveu
água homogeneamente em 75% dos pontos ensaiados.

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Tabela 4. Resultados do ensaio de absorção de água de baixa pressão - textura.
Absorção de Água de Baixa Pressão
Método do Cachimbo
Tempo (mim) 0 5 10 15 40 60
Amostra 1
Leituras (ml) 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0
Absorção (cm ) 3
0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Absorção (%) 0 0 0 0 0 0
Amostra 2
Leituras (ml) 4,0 4,0 4,0 3,9 3,8 3,8
Absorção (cm ) 3
0,0 0,0 0,0 0,1 0,2 0,2
Absorção (%) 0 0 0 2,5 5 5
Amostra 3
Leituras (ml) 4,0 4,0 4,0 3,9 3,8 3,7
Absorção (cm ) 3
0,0 0,0 0,0 0,1 0,2 0,3
Absorção (%) 0 0 0 2,5 5 7,5
Amostra 4
Leituras (ml) 4,0 4,0 3,9 3,8 3,8 3,7
Absorção (cm ) 3
0,0 0,0 0,1 0,2 0,2 0,3
Absorção (%) 0 0 2,5 5 5 7,5
Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Resultados e Discussões da Absorção de Água – Textura Referência

Os resultados para o ensaio da textura de marca A mostraram que de quatro pontos


nenhum foi absorvente.

Tabela 5. Resultados obtidos do ensaio de absorção de água de baixa pressão - superfície A.


Absorção de Água de Baixa Pressão
Método do Cachimbo
Tempo (mim) 0 5 10 15 40 60
Ponto 1
Leituras (ml) 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0
Absorção cm3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Ponto 2
Leituras (ml) 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0
Absorção cm 3
0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Ponto 3
Leituras (ml) 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0
Absorção cm3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Ponto 4
Leituras (ml) 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0
Absorção cm 3
0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Ponto 5
Leituras (ml) 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0
Absorção cm3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Os resultados para o ensaio da textura de marca B mostraram que de quatro pontos


nenhum foi absorvente.

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Tabela 6. Resultados obtidos do ensaio de absorção de água de baixa pressão - superfície B.
Absorção de Água de Baixa Pressão
Método do Cachimbo
Tempo (mim) 0 5 10 15 40 60
Ponto 1
Leituras (ml) 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0
Absorção cm 3
0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Ponto 2
Leituras (ml) 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0
Absorção cm3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Ponto 3
Leituras (ml) 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0
Absorção cm 3
0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Ponto 4
Leituras (ml) 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0
Absorção cm3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Ponto 5
Leituras (ml) 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0
Absorção cm 3
0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Os resultados para o ensaio da textura de marca C mostraram que de quatro pontos


nenhum foi absorvente.

Tabela 7. Resultados obtidos do ensaio de absorção de água de baixa pressão - superfície C.


Absorção de Água de Baixa Pressão
Método do Cachimbo
Tempo (mim) 0 5 10 15 40 60
Ponto 1
Leituras (ml) 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0
Absorção cm3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Ponto 2
Leituras (ml) 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0
Absorção cm 3
0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Ponto 3
Leituras (ml) 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0
Absorção cm3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Ponto 4
Leituras (ml) 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0
Absorção cm 3
0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Ponto 5
Leituras (ml) 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0
Absorção cm3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Ao analisar os dados provenientes do ensaio de referência, pode-se verificar que ne-


nhuma das três marcas foram absorventes.

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Resultados e Discussão – Argamassa x Textura

Os resultados obtidos da absorção da argamassa e da textura foram correlaciona-


dos ponto a ponto, de forma que se possa tentar identificar quais componentes do SREF
é responsável pela umidade no sistema. Como já explicado, a Figura 12 que a absorção
da argamassa no ponto 1 foi de 3,1ml, enquanto a textura nada absorveu. No ponto 2 a
argamassa continua absorvendo, 0,4ml, e a textura absorve 0,2ml. No ponto 5 e 6 para ar-
gamassa e 3 e 4 para textura, a argamassa não absorve enquanto a textura absorve 0,3ml
e 0,3ml respectivamente. A média de absorção para argamassa e textura é 0,9ml e 0,2ml
respectivamente, demonstrando que a textura absorve 77,77% a menos que a argamassa.

Figura 12. Comparativo de valores de absorção de água em cm³ por superfície.

Fonte: Arquivo pessoal (2015).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a requisição de parecer formal concernente ao desempenho da tex-


tura encaminhada pela construtora a empresa fornecedora, ratificou-se que o produto não
apresentou satisfatoriamente a propriedade de impermeabilidade. Além disso, a construtora
afirma que o lote aplicado na Torre A (primeira etapa do empreendimento) faz parte de um
lote consequente de uma permuta e que apresentou falhas que iniciaram ainda durante
a execução, como baixa cobertura e rendimento, e se agravou quando, após um período
chuvoso todas as faces da fachada devidamente selada e texturizada absorveram água da
chuva de forma anômala ao que se espera do produto. O primeiro item observado e talvez
o de maior relevância para este trabalho foi a ausência de projeto para o SREF que acabou
por dificultar o aprofundamento da análise de dados, limitando-o a análises numéricas das
informações obtidas nos relatórios. Os ensaios realizados se limitaram a apenas uma parte
da fachada, correspondente ao pavimento térreo da Torre A. Obter dados em pavimentos
diferentes seria o ideal - térreo, andares intermediários e último - tendo em vista a análise da
fachada de forma completa e assim fazer a correlação entre os dados para identificação do

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100
problema. Nos relatórios é apontado que as áreas delimitadas para a realização dos ensaios
não possuem fissuras. Sabe-se pela literatura, que o surgimento de microfissuras (impercep-
tíveis aos olhos humanos, de cerca de 0,05mm) interferem diretamente na estanqueidade
da fachada, admitindo assim a presença de umidade e consequentemente o aparecimento
de patologias de infiltração e principalmente manchas devido a ação de microrganismos
(neste momento ou futuramente). Na Figura 6 é notável o umedecimento do revestimento
interno (indicando passagem de água do revestimento exterior para o revestimento interior
da torre. A rastreabilidade da fachada em relação a utilização de argamassa produzida in
loco e industrializada seria de suma importância, pois sabe-se que quando existe a produção
em obra, o controle da qualidade é influenciado por fatores subjetivos como o conhecimen-
to técnico da mão de obra utilizada, etc. A textura das marcas A, B e C não apresentaram
absorção, enquanto a textura utilizada na torre apresentou entre 5 e 7,5%. A argamassa
também absorveu água, porém não se pode afirmar que houve falhas na execução desse
serviço ou que a mesma possui baixa qualidade. O que se pode inferir é que a argamassa
é um composto naturalmente poroso e que por se tratar de material de base cimentícia têm
tendência a absorver água através de seus poros devido a reação de hidratação continua do
material. Uma vez que a tinta vai sendo espalhada sob essa superfície porosa, a argamassa
vai absorvendo parte desse material, descaracterizando-a de suas funções principais: prote-
ção e estética. Sendo assim, de acordo com a aplicação, a tinta não consegue sustentar a
película protetora igualitariamente devido à baixa fluidez, culminando em baixo rendimento,
cobertura e consequentemente em regiões propícias a passagem de água provenientes da
precipitação no local, que pode se agravar na incidência de ventos, ou seja, no fenômeno
de chuva dirigida. Uma vez que os ventos vão atingindo a fachada, a depender de sua
velocidade, orientação e direção, a água líquida ou em forma de vapor tende a penetrar
pelos caminhos livres da argamassa e podem até mesmo chegar ao substrato. Do substrato
para o interior da edificação a água tende a penetrar da mesma forma, porém por fatores
diferentes da chuva e vento. Vale ressaltar aqui, que quando existem os fenômenos de re-
tração e na presença de microfissurações, a água percola ainda com maior facilidade pelo
revestimento, levando a aceleração do processo de umedecimento e aparecimento de pa-
tologias. A respeito da incidência dos raios solares e chuva dirigida, não houve ensaios que
pudessem contextualizar essas variáveis neste estudo. De acordo com o desenvolvimento
do trabalho notou-se que a quantidade de dados obtidos não foi suficiente para uma análise
realística do SREF da torre estudada, sendo necessários outros ensaios mais específicos
para afirmar o que apresentou problemas: a argamassa, a textura, a associação destes, ou
ainda, o próprio SREF.

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101
CONCLUSÃO

O ensaio de resistência à aderência da argamassa mostrou-se satisfatório e congruente


uma vez que as resistências que superaram o valor mínimo de 0,3 MPa corresponderam a
onze dos quatorze pontos ensaiados, ou seja, 78,57%. Em relação ao ensaio de permea-
bilidade da argamassa, houve absorção homogênea em três dos quatro pontos ensaiados
quando comparadas ao ensaio de referência realizado com três outras marcas de tinta que
não absorveram. A única forma de haver passagem de água do exterior para o interior da
torre por meio do revestimento é quando algum de seus componentes ou a associação
destes fornecem condições favoráveis, ou ainda, não desempenham suas funções como
orientados por norma. Porém, como visto por meio dos ensaios realizados e das considera-
ções para este trabalho, não se conseguiu identificar qual desses componentes apresentou
falhas em sua função.

REFERÊNCIAS
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Trabalho de Diplomação (Graduação em Engenharia Civil) – Departamento de Enge-
nharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

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102
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Revestimento de Paredes e Tetos de Argamassas Inorgânicas - Procedimento,
Rio de Janeiro, 2001.

9. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13281 – Argamassa para


Assentamento e Revestimento de Paredes e Tetos - Requisitos, Rio de Janeiro,
2001.

10. ESQUIVEL, J. F. T.; BARROS, M. M. S. B. Choque Térmico nos Revestimentos de


Argamassa. São Paulo: EPUSP, 2009. 32p. (Boletim Técnico da Escola Politécnica
da USP. Departamento de Engenharia de Construção Civil, BT/PCC/538). Disponível
em: <http://www.pcc.poli.usp.br/files/text/publications/BT_00538.pdf>. Acesso em: 01
ago 2016.

11. MARTINELLI, F. A.; HELENE, P. R. L. Usos, Funções e Propriedades Das Argamas-


sas Mistas Destinadas ao Assentamento e Revestimento de Alvenarias. São Paulo:
EPUSP, 1991. 15p. (Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP. Departamento de
Engenharia de Construção Civil, BT/PCC/47). Disponível em: <http://www.pcc.poli.usp.
br/files/text/publications/BT_00047.pdf>. Acesso em: 01 ago 2016.

12. SELMO, S. M. S.; NAKAKURA, E. H.; MIRANDA, L. F. R.; MEDEIROS, M. H. F.; SILVA,
C. O. Propriedades e Especificações de Argamassas Industrializadas de Múltiplo
Uso. São Paulo: EPUSP, 2002. 27p. (Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP.
Departamento de Engenharia de Construção Civil, BT/PCC/310). Disponível em: <http://
www.pcc.poli.usp.br/files/text/publications/BT_00310.pdf>. Acesso em: 01 ago 2016.

13. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13528 – Revestimento


de Paredes e Tetos em Argamassas Inorgânicas - Determinação da Resistência
de Aderência à Tração - Método de Ensaio, Rio de Janeiro, 1995.

14. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13749 – Revestimento de


Paredes e Tetos de Argamassas Inorgânicas - Especificação, Rio de Janeiro, 1996.

15. CARASEK, H. Materiais de Construção Civil e Princípios de Ciência e Engenharia


de Materiais. 2 ed. São Paulo: IBRACON, 2010.

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07
Probabilidade de Ruína em Concretos
Estruturais – estudo de caso

Sandra Maria de Lima


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Iraci Gottschald
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Artigo original publicado em: 2012


Anais do 540 Congresso Brasileiro do Concreto CBC2012 - ISSN 2175-8182.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/230512929
RESUMO

O controle tecnológico implantado nas obras em concreto armado são instrumentos impor-
tantíssimos para garantir o bom desempenho da edificação. Na maioria das vezes, esse
controle consiste em realizar ensaios de resistência à compressão axial em corpos-de-prova
de concretos e na comparação desses resultados com a resistência característica solici-
tada no projeto estrutural. No entanto, essa análise ficafragilizada se não for observado o
desvio padrão referente aos resultados obtidos nos ensaios. A teoria da probabilidade de
ruína e confiabilidade tem demonstrado que a segurança das obras não é função somente
de resultados de resistência à compressão que apresentem valores iguais ou superiores ao
estabelecido, mas sim da magnitude do desvio padrão e do coeficiente de variação desses
resultados. Este trabalho apresenta um estudo da confiabilidade e probabilidade de ruína de
um concreto utilizado em uma obra de 20 pavimentos e mostra a simplicidade em tornar esse
procedimento uma rotina na gestão do controle tecnológico em obras de concreto armado.

Palavras-chave: Concreto, Controle Tecnológico, Probabilidade de Ruína, Confiabilidade.


INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por objetivo maior introduzir o cálculo da probabilidade de ruína no
controle tecnológico de materiais estruturais, particularmente, o concreto armado.
A importância do controle tecnológico e a correta interpretação dos resultados para a
segurança das obras em concreto armado, tem sido tema de vários debates, e em todos
eles, pode-se perceber a fragilidade do controle tecnológico, no formato em que está sendo
praticado hoje em dia.
Helene (2011) discorre sobre os diversos fatores que interferem na análise da segurança
das estruturas de concreto armado e aponta a complexidade dessa tarefa.

“Complexa porque envolve, indiretamente, a questão da segurança e dura-


bilidade das estruturas de concreto que dependem, entre outros fatores, da
resistência à compressão do concreto. Complexa porque envolve em sua
análise a participação de diferentes profissionais, tecnologistas, calculistas,
ensaios de laboratório e de campo, ou seja, equipes multidisciplinares”.

Tem-se observado que na maioria das obras, o resultado da resistência à compres-


são axial do concreto superior ou igual à resistência especificada do concreto em projeto é
suficiente para dar por atendido os requisitos necessários à segurança das estruturas. Não
há a preocupação em se especificar o desvio padrão máximo para os resultados obtidos do
concreto aplicado em campo. Há sim, a especificação para os desvios-padrão em função
das condições de preparo do concreto (NBR 12655:2006), mas tais desvios são aplicados
para os estudos de dosagem (Tabela 1).

Tabela 1. Desvio padrão a ser considerado nos estudos de dosagem de concreto estrutural.

Condição de preparo do concreto Desvio-padrão (MPa)


A 4,0
B 5,5
C 7,0
Condição A: materiais dosados em massa e controle da umidade dos agregados por meio de ensaio tecnológico
Condição B: aglomerantes dosados em massa, agregados em volume e controle da umidade dos materiais por
meio de ensaio tecnológico
Condição C: aglomerantes dosados em massa, agregados em volume e a umidade dos agregados é controlada
empiricamente pelo valor do slump test
O desvio padrão mínimo deverá ser de 2,0 MPa para casos em que se tem o histórico confiável da obra.
Fonte: NBR 12655:2006.

Já o Manual sobre o Comportamento, Projeto e Desempenho de Concreto Estrutural –


CEB/FIP: 1990, tratando dos conceitos de segurança das estruturas estabelecem valores de
probabilidade de ruína e índice de confiabilidade de suas estruturas. Essa norma recomenda
que tais valores devam ser definidos levando-se em conta:

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• as possíveis consequências da ruina em termos de risco de vida, sequelas, perdas
econômicas e a inconveniência social causada;
• o custo, o nível de esforços e procedimentos necessários para redução da proba-
bilidade de ruína;
• as condições sociais e ambientais em cada lugar.

Acontece que a probabilidade de ruína de uma obra está intrinsicamente relacio-


nada com o valor do desvio-padrão das resistências e das solicitações reais nas estru-
turas de concreto.

A confiabilidade e a probabilidade de ru’na

No Brasil, um dos pioneiros na introdução do cálculo da probabilidade de ruína em


obras é o prof. Aoki1, particularmente em obras de fundação.
As autoras desse trabalho basearam-se nos estudos do Prof. Aoki e fizeram as devidas
adequações para a aplicação da teoria da probabilidade de ruína nas estruturas de concreto.
A teoria da probabilidade de ruína, calculada a partir do índice de confiabilidade, re-
torna valores que permite dimensionar o risco de ruína de uma obra específica ou de um
de seus elementos.
Neste caso, pretende-se aplicar este conceito ao concreto, ou seja, ao montante do
volume de concreto utilizado para executar a estrutura de um edifício de múltiplos pavimentos.
Por exemplo, obtido um resultado cuja pF (probabilidade de ruína) resultou em 1/1000,
significa que 1 m³ de concreto em cada 1000 m³ lançados romperá.
Aoki (2005) ressalta a importância dos conceitos de resistência e solicitação para o
entendimento desta teoria, entretanto este autor define tais conceitos para o sistema de
fundações, mas a analogia à estrutura de concreto é pertinente.
Segundo Aoki (2005) resistências e solicitações são forças reativas internas ao sistema
de fundações. A solicitação depende da intensidade da carga (forças ativas) aplicada ao
sistema. A resistência independe desta solicitação e está relacionada às características do
sistema de fundação (elemento de fundação e do maciço de solo que o envolve e recebe
tais solicitações).
Portanto solicitações e resistências são forças de mesma natureza (forças reativas)
e deve-se entender que a resistência do sistema da estrutura de concreto corresponde à
máxima solicitação que este poderá sofrer sem ruir.
Entretanto, tanto as resistências como as solicitações variam por diversos fatores tais
como heterogeneidade dos materiais, das cargas externas e de outras condições particulares.
Ambas podem ser representadas por curvas de densidade de probabilidade de ocorrência.

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A confiabilidade de uma obra depende das formas dessas curvas de densidade. A figura
1 ilustra os princípios da teoria da probabilidade de ruína. Estão representadas as curvas
de densidade de probabilidade de ocorrência das solicitações (S) e das resistências (R).

Figura 1. Probabilidade de ruína Ang e Tang (1984)2 apud Aoki (2005).

A probabilidade de ruína corresponde à área situada abaixo da intersecção das curvas


de densidade de probabilidade das solicitações e das resistências, ou seja, a ruína ocorrerá
quando a resistência for menor que a solicitada.
Posto isto, observa-se que mesmo a partir de um coeficiente de segurança calculado
com base no valor médio da resistência e no valor médio da solicitação (CS = Rm/Sm) não se
impede a ruína de uma obra.
Outra observação surpreendente é a de que quanto maior for o coeficiente de segu-
rança obtido pelo quociente entre a resistência média e a solicitação média, maior será a
probabilidade de ruína da obra, uma vez que as curvas de densidade de probabilidade das
solicitações e resistências serão mais “achatadas”, o desvio padrão será ainda maior e com
isso a área sob a intersecção destas duas curvas, equivalente à probabilidade de ruína será
ainda maior (Lima e Conciani, 2007)!
Portanto, quanto maior a dispersão dos valores, maior será a área correspondente à
probabilidade de ruína e assim maior será o risco da obra ruir. Com isso, pode-se concluir
que quanto maior o desvio padrão permitido, maior será a probabilidade de ruína.
Ang e Tang (1984) apud Aoki (2005) definem a distância entre a resistência média e
a solicitação média por margem de segurança.

(1)

Onde:

M = função margem de segurança,


Rm = valor da resistência média,
Sm = valor da solicitação média.

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O desvio padrão da função margem de segurança por sua vez é dado pela equação:

(2)

Onde:

σM = desvio padrão da função margem de segurança,


σR = desvio padrão das resistências,
σS = desvio padrão das solicitações.

O índice de confiabilidade da obra é dado por:

(3)

Onde:

β = índice de confiabilidade,
M = função margem de segurança,
σM = desvio padrão da função margem de segurança.

Estas expressões esclarecem matematicamente a importância e a influência da va-


riabilidade das resistências e das solicitações na confiabilidade de uma obra, antes visível
somente graficamente (figura 1).
A tabela 2 apresenta alguns valores de probabilidade de ruína obtidos em função do
índice de confiabilidade, para o caso de distribuição estatística normal, para período de
retorno de 50 anos e de 1 ano segundo CEB/FIP:1990.

Tabela 2. Valores de β em função da probabilidade de ruína pF para a distribuição normal.


Probabilidade de
10-1 10-2 10-3 10-4 10-5 10-6 10-7
Ruína pF
Índice de Confiabilidade β1 1,3 2,3 3,1 3,7 4,2 4,7 5,2
Índice de Confiabilidade β50 0,21 1,67 2,55 3,21 3,83 4,41
Fonte: CEB/FIP: 1990.

Obra em estudo

Trata-se da obra de execução de um condomínio residencial, composto por quatro


torres, cada uma com vinte pavimentos.
Cada torre tem 19 pavimentos tipo, os quais abrigam seis apartamentos, cuja área é
de 69 m².Cada laje tem 493 m2. A figura 2 ilustra a obra em estudo.

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Figura 2. Obra em estudo para cálculo da probabilidade de ruína do concreto.

(A) Painéis de forma da estrutura (B) Detalhe de alguns elementos concretados (C) Edifício em fase final da construção

CÁLCULO DA PROBABILIDADE DE RUÍNA

O cálculo da probabilidade de ruína do material concreto para as obras de construção


do condomínio residencial em estudo teve uma simplificação em relação à proposta de Ang
Tang (1984). Devido ao fato de não ter-se acesso às solicitações reais nos diversos elementos
estruturais, adotou-se que os mesmos estariam solicitados com a resistência característica
determinada em projeto.
Tal consideração implicou em um desvio padrão nulo para as solicitações.
A tabela 3 apresenta os dados utilizados para o cálculo da probabilidade de ruína. Os va-
lores da resistência média do concreto e do desvio padrão foram obtidos a partir da análise
estatística de 272 resultados de ensaios de resistência à compressão axial de corpos-de-
-prova de concreto cilíndricos, com dimensão de 10 cm de diâmetro por 20 cm de altura.
Os cálculos foram feitos segundo as equações 1, 2 e 3 apresentadas na seção anterior.

Tabela 3. Dados para cálculo da probabilidade de ruína.

Índice de Probabilidade de Probabilidade de


Dados
Confiabilidade β Ruína - 50 anos Ruína - 1 ano
Solicitação Média (MPa) 30
Resistência Média (MPa) 34,4
4,47 > 10-7 ~ 15x10-6
Margem de Segurança (MPa) 4,4
Desvio Padrão das Resistências 2,1

A probabilidade de ruína do concreto utilizado nessa obra, para um período de retor-


no de 1 ano foi de 15-6, ou seja 1,5 m³ de concreto em 100.000 m³ de concreto ruirá. Para
o período de retorno de 50 anos, o resultado expressa que 1 m³ a cada 10.000.000 m³
chegará a ruína.
O volume total de concreto utilizado foi de 2.200 m³, portanto a obra estará totalmente
segura do ponto de vista do concreto utilizado.
Caso o desvio padrão do concreto fosse o permitido em norma para as diversas con-
dições de preparo do concreto, e considerando-se os mesmos valores de margem de segu-
rança, os resultados seriam os expressos na tabela 4.

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Tabela 4. Simulação dos valores de probabilidade de ruína para desvios-padrão de acordo com o sugerido pela NBR
12655:2009 para estudos de dosagem de concreto.

Índice de Probabilidade de Probabilidade de


Dados
Confiabilidade β Ruína - 50 anos Ruína - 1 ano
Condição A – Desvio padrão (MPa) 4,0 2,37 3x10-4 2,1x10-3
Condição B – Desvio padrão (MPa) 5,5 1,72 9,5x10 -4
6x10-2
Condição C – Desvio padrão (MPa) 7,0 1,35 3x10-3 10-1

Os cálculos apresentados na tabela 4 foram obtidos por interpolação dos va-


lores da tabela 2.
Estes resultados alertam para a importância da observação do desvio padrão nos
resultados dos ensaios de controle tecnológico. Caso os desvios padrões fossem os su-
geridos por norma para os estudos de dosagem, essa obra apresentaria ruína de parte do
concreto utilizado.
Considerando o montante de 2200 m³ de concreto da obra, para o período de retorno de
1 ano, para as três condições de preparo do concreto, haveria ruína, sendo que o caso mais
crítico seria a condição C, em que a cada 10 m³ de concreto, 1 m³ apresentaria alguma falha.
Para o período de retorno de 50 anos, somente a condição C seria crítica, ou seja, para
cada 1000 m³ de concreto, 3 m³ apresentariam falhas.
Entretanto, há que se ponderarem os outros fatores que também influenciam nos re-
sultados de ensaio.
Para uma análise de probabilidade de ruína consistente é preciso que os ensaios tec-
nológicos sejam confiáveis.

CONCLUSÕES

Este artigo quer despertar nos tecnologista da área de concreto a importância de uma
melhor especificação do concreto e expandir as exigências, propondo que sejam observados
além dos valores da resistência à compressão, os valores do desvio padrão desses resultados.
Além disso, pôde-se comprovar a simplicidade da análise da probabilidade de ruína
por meio da aplicação da teoria de Ang e Tang (1984).
As principais conclusões são:

• A análise simplista dos resultados de ensaios de resistência à compressão superior


à resistência solicitada em projeto não confere segurança à obra.
• Há a necessidade premente de se especificar o desvio padrão para o controle tec-
nológico de concretos.

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Agradecimentos

As autoras agradecem a Imobiliária e Construtora São Benedito pela colaboração na


realização desses estudos.

REFERÊNCIAS
1. AOKI, N. Segurança e confiabilidade de fundações profundas. In: Congresso de pontes
e estruturas, 50. 2005, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ABPE, 2005.

2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Preparo, Controle e Recebimen-


to de Concreto de Cimento Portland: NBR 12655:2006. Rio de Janeiro: ABNT, 2006.

3. FÉDERATION INTERNACIONALE DU BÉTON. Structural Concrete: textbook on beha-


viour, design and performance v.2. Switzerland:FIB, 1999. 305p.

4. Helene, Paulo. Análise da Resistência do Concreto em Estruturas Existentes para Fins


de Avaliação da Segurança. São Paulo, texto provisório datado de 18.05.2011. 44p.
(www.concretophd.com.br).

5. LIMA, S.M.DE; CONCIANI W. A confiabilidade e os coeficientes de segurança nos


projetos de fundações – um estudo de caso. In: Simpósio sobre Solos Tropicais e
Processos Erosivos do Centro-Oeste, 3. 2007. Anais... Cuiabá: CEFET MT, 2007.

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08
Proposta para minimizar o empirismo nos
procedimentos de moldagem de corpos de
prova de cimento e de argamassa

Angela Santana de Oliveira


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Marcos de Oliveira Valin Jr


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

'10.37885/230512930
RESUMO

Para garantir produtividade e qualidade no processo construtivo são necessários estudos,


regulamentação de ensaios laboratoriais, parâmetros de controle, especificações normati-
vas e conhecimento do desempenho dos materiais construtivos, desde a fase de projetos,
execução, até a entrega da obra, com a finalidade de se obter construções mais duráveis,
sustentáveis, econômicas e sem ocorrência de patologias. O objetivo desta pesquisa é
avaliar procedimentos de moldagem da argamassa em seu estado fresco conforme as NBR
7215 (ABNT, 1996), na reprodutibilidade dos resultados da argamassa endurecida e propor
melhorias nas suas execuções. A norma trata da altura e força empregada nessa etapa de
maneira superficial, de modo que não garantem a padronização para diferentes operadores.
Foram produzidas argamassas com o mesmo traço unitário e utilizando os mesmos mate-
riais, em amassada única, garantindo que as variações nos resultados sejam avaliadas em
função da influência da não padronização dos procedimentos de moldagem por diferentes
operadores. Os resultados demonstram para uma mesma argamassa, manuseado por dois
operadores diferentes, o grau de variabilidade na resistência à compressão média de 24
h de idade. Esta pesquisa é relevante pelo fato de que os resultados laboratoriais obtidos
da resistência à compressão na idade de 24 h devem ser constantes independentemente
do operador do ensaio e a norma atual não garante este controle de qualidade. O trabalho
desenvolvido possibilita a padronização do método de ensaio que possibilita maior confia-
bilidade nos resultados, garantindo melhoria de qualidade nas construções.

Palavras-chave: Ensaios Laboratoriais, Padronização de Ensaio, Controle de Qualidade.


INTRODUÇÃO

A área da construção civil vem alcançando gradativamente relevante poder na economia


do país e em razão disso tem aumentado a demanda na busca por qualidade e controle.
Para que ocorra acréscimo e melhoria na qualidade nesta área, se faz necessário o estudo
de todas as etapas, desde a fase de planejamento e projeto até o momento da entrega de
um imóvel, de forma que se siga parâmetros de normatização, os quais são baseados em
normas técnicas de especificações e de desempenho dos elementos construtivos, com o
objetivo de controlar e garantir construções mais duráveis, sustentáveis e econômicas.
Inicialmente as edificações eram frágeis, porém com a evolução do conhecimento dos
materiais existentes ao redor dos aglomerados humanos, passou-se a edificar construções
mais sólidas, capazes de resistir as ações dos predadores e aos fenômenos da natureza.
Supõe-se que, no começo, certos povos arrumavam as pedras umas sobre as outras, sim-
plesmente empilhando-as de modo aleatório, o que comprometia a estabilidade. É certo
que algumas civilizações evoluíram nessa técnica. Talhando as pedras em formatos ade-
quados, conseguiram executar edificações que duraram séculos. Outras, porém, partiram
para ligar os componentes constituintes das alvenarias com uma massa plástica contendo
aglomerante, inerte e água, denominada de argamassa, de modo a auferir estabilidade à
alvenaria (COUTINHO, 1973).
Argamassas são materiais de construção, com propriedades de aderência e endure-
cimento, obtidos a partir da mistura homogênea de um ou mais aglomerantes, agregado
miúdo (areia) e água, podendo conter ainda aditivos e adições minerais.
A construção civil no Brasil em termos de qualidade, tem seu padrão de desempenho
considerado baixo. Para uma indústria de tanta importância o padrão de desempenho poderia
ser enormemente melhorado, dando maior importância ao controle de qualidade realizado
nas obras. (BATISTA, 2018).
Segundo (Sousa, 2005), apesar de todo o desenvolvimento verificado nos materiais,
processos executivos e no estudo das argamassas, em determinadas avaliações, ainda é
notório o caráter empírico nas proposições de especificações, materiais, projetos e detalhes
construtivos. Um exemplo claro é a formulação de argamassas de revestimento que aten-
dam, ao mesmo tempo, determinadas propriedades no estado fresco (trabalhabilidade) e no
estado endurecido (capacidade de absorver deformações, resistência de aderência, dentre
outras) que, em dado momento, são baseadas em critérios qualitativos e empíricos, difíceis
de serem mensuráveis ou até estimados.
A argamassa tem como função: unir as unidades de alvenaria de forma a constituir
um elemento monolítico, contribuindo na resistência aos esforços laterais; distribuir uni-
formemente as cargas atuantes na parede por toda a área resistente dos blocos; selar as

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juntas garantindo a estanqueidade da parede à penetração de água das chuvas; absorver
as deformações naturais, como as de origem térmica e as de retração por secagem (origem
higroscópica), a que a alvenaria estiver sujeita.
Os ensaios são realizados inúmeras vezes por operadores sem qualificação adequada,
desse modo analisando esses fatores e visando manter a rapidez e a facilidade com que o
ensaio é executado, está sendo proposta uma adaptação de procedimentos na NBR 7215
(ABNT, 1996), garantindo melhoria na padronização mesmo com a troca de operadores.
Na execução dos ensaios da NBR 7215 (ABNT, 1996), a diferença entre dois resul-
tados individuais e independentes, obtidos por dois operadores, operando em laboratórios
diferentes a partir de uma mesma amostra submetida ao ensaio, não deve ultrapassar limites
pré-estabelecidos garantindo a reprodutibilidade.
O objetivo desse trabalho é avaliar a influência no detalhamento das instruções dos
procedimentos de moldagem da argamassa fresca conforme as NBR 7215 e na reproduti-
bilidade dos resultados da argamassa endurecida e propor melhorias na execução.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para alcançar os objetivos desse trabalho, inicialmente foram feitos a caracterização


dos materiais que compõe o traço: aglomerante (cimento) e aglomerante (cal), Tabela 1 e
agregado miúdo (areia), Figura 1, Tabela 1 e Tabela 2.

Tabela 1. Caracterização dos materiais.

Característica dos materiais em seu estado solto


Massa Específica Massa Unit. estado solto Massa unit. estado compac.
Material
(g/cm³) (g/cm³) (g/cm³)
3,01
Cimento - -
(NBR 16605, ABNT 2017)
2,51
Cal - -
(NBR 16605, ABNT 2017)
2,62 1,56 1,66
Areia
(NBR 9776 (ABNT 1988) (NBR NM 45, ABNT 2006) (NBR NM 45, ABNT 2006)

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Figura 1. Composição Granulométrica.

Tabela 2. Classificação do agregado conforme NBR NM 248.

Classificação granulométrica do agregado - NBR NM 248 (ABNT, 2003)

Material Classificação Ø Max. Característico (mm) Módulo de finura


Areia Muito fina 1,2 1,75

A determinação da resistência do cimento Portland foi realizada de acordo com a NBR


7215 (ABNT, 1996), obtendo os resultados expressos na Tabela 3.

Tabela 3. Resistência à compressão por idade.

Resistência à compressão

Idade Resistência (MPa)


28 Dias – Lote A 24,36
28 Dias – Lote B 25,84

Produção de argamassas com mesmo traço unitário, e utilização dos mesmos materiais
em todos os lotes, utilizando amassadas únicas

Inicialmente foi definido que cada operador molde quatro corpos de prova, de acordo
com os procedimentos atuais da NBR 7215 (ABNT, 1996). Sendo o total de 32 corpos de
provas, divididos em duas equipes e um total de quatro operadores simultâneos.
Para a moldagem dessa etapa e de todas as demais serão utilizados o traço padrão de-
finido na NBR 7215 (ABNT, 1996) de 1:0,5:3:0,48, aglomerante (cimento), aglomerante (cal),
agregado miúdo (areia), água. Todas as amostragens foram feitas em amassadas únicas.
O preparo da argamassa foi feito em betoneira estacionária, onde primeiramente adi-
cionou-se toda a quantidade de água e cimento na betoneira em funcionamento durante 30
segundos. Após esse tempo adicionou-se a cal, e em seguida a areia durante 30 s. Passado
esse tempo, a betoneira foi desligada por 1 min e 30 s. Nos 15 primeiros segundos foi retirado
a argamassa que ficou aderida na parede da betoneira e nas pás de misturas, nos 1 min e

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15 s restante a massa ficou coberta por um pano úmido. Após o tempo restante foi ligado a
betoneira por mais 2 minutos até uma perfeita homogeneização da argamassa.
Após a mistura e homogeneização na betoneira a argamassa foi coletada com auxílio
de carrinho de mão e levado até o laboratório, e posteriormente colocadas em bandejas para
melhor disposição durante a realização da moldagem por diferentes operadores, argamassa
essa que ficou por certo período de tempo até a organização dos equipamentos, coberta
com pano úmido para que não houvesse a perda de umidade, Figura 2.

Figura 2. Argamassa coberta com pano úmido.

Cada operador recebeu um conjunto de quatro corpos de prova enumerados A1, B1,
C1, D1, onde A, B, C, D, representa os corpos de prova, e a numeração 1 representa o ope-
rador. Conjunto esse acompanhado de um soquete normal, e guia para moldagem da última
camada, paquímetro digital, ficha para anotações da altura das camadas conforme Figura 3.

Figura 3. Conjunto entregue aos operadores.

Realização de procedimento de compactação manual da argamassa fresca na execução


das NBR 7215 (ABNT, 1996).

Iniciou-se ao ensaio com um dos pesquisadores instruindo os operadores de acordo


com as instruções contidas na NBR 7215 (ABNT, 1996).
Primeiramente cada operador com auxílio de uma espátula, pegou uma amostra de
argamassa para moldar ¼ do corpo de prova cilíndrico 50x100 mm, sendo a divisão das
camadas de altura aproximadamente iguais em todas as 4 camadas, Figura 5. Após inserir

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argamassa dentro do corpo de prova, aplicou com auxílio do soquete normal 30 golpes
uniformemente distribuídos pelo corpo de prova na argamassa, conforme Figura 6. Com
auxílio do paquímetro digital mediu-se a altura da primeira camada no centro da argamassa
inserida até o topo de corpo de prova, e anotou-se, Figuras 7 e 8.

Figura 5. Operador inserindo amostra em molde cilíndrico 50x100mm.

Figura 6. Aplicação dos golpes em argamassa.

Figura 7. Medida da altura das camadas: medição da altura (a); anotação da medida (b).

(a) (b)

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Figura 8. Planilha de anotações altura das camadas.

O mesmo procedimento citado acima foi utilizado para as demais camadas. Na quarta
e última camada, após a aplicação dos 30 golpes, com auxílio de uma espátula foi feito o
arrasamento do topo do corpo de prova, obtendo assim o corpo de prova moldado Figura 9.

Figura 9. Corpos de prova moldados.

Logo após a moldagem dos corpos de prova imediatamente as amostras foram le-
vadas em bandejas para cura ao ar, em câmara úmida e coberto com azulejo, durante as
primeiras 24 horas.
Após o armazenamento dos corpos de prova da primeira equipe, deu-se início então
a equipe 2 para moldagem e execução dos procedimentos citados acima.

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Figura 10. Equipe 1 e 2.

Proposta de melhorias nos procedimentos de moldagem da NBR 7215 (ABNT, 1996)

De acordo com as instruções contidas na NBR 7215 (ABNT, 1996), é fato que não há
especificações detalhadas para o operador executar o procedimento de moldagem, a me-
todologia prescrita na NBR 7215 (ABNT, 1996) estabelece que o corpo de prova deve ser
preenchido em 4 camadas de alturas aproximadamente iguais, ou seja cada camada com
25 mm de altura. O problema está no fato que não há especificação como tal medição deve
ser feita, obrigando os operadores a determinar essa altura visualmente.
Diante da necessidade da padronização da altura das camadas, foi desenvolvido o
equipamento que iremos chamar de dosador de camadas, o equipamento consiste em um
tubo galvanizado com Ø de 1 3/4 de polegadas, equivalente a Ø 44,45 mm.
Conhecendo o volume para uma camada do corpo de prova dimensões de Ø 50 mm e
altura de 25 mm, o volume de uma camada é igual a 49.087,39 mm³, equivalente a ¼ da altura
do corpos de prova conforme especificado pela NBR 7215 (ABNT, 1996). Conforme Figura 11.

Figura 11. Dosador de camadas.

Fonte: Autores.

Realização de procedimento de compactação manual da argamassa fresca na execução


da NBR 7215 (ABNT, 1996), utilizando equipamento desenvolvido

O mesmo procedimento para moldagem foi utilizado conforme item 2.2 em que foram
feitas a moldagem dos corpos de prova, desta vez com auxílio do equipamento dosador de
camadas (Figura 12). Cada operador anotou o tempo inicial do ensaio e com o auxílio do
equipamento dosador fez a coleta da argamassa das amostras a serem ensaiadas.

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O volume do dosador é equivale a ¼ do volume do molde de ensaio de argamassa,
sendo assim, o preenchimento do molde foi realizado em todo seu volume em 04 partes de
volume iguais. A cada enchimento do dosador alguns cuidados foram necessários como:
com uma espátula pressionar a argamassa dentro do dosador preenchendo todo seu volume,
posteriormente foi feito o arrasamento e inserida a argamassa no molde cilíndrico 50x100
mm. Daí por diante o procedimento seguiu as recomendações da NBR 7215 (ABNT, 1996),
sendo esse realizado para as quatros camadas do corpo de prova e depois do término do
enchimento do molde, anotou-se o tempo final, para que fosse avaliado o tempo de ensaio
com o uso do dosador.

Figura 12. Execução do ensaio com equipamento dosador.

RESULTADOS

Análise sobre a necessidade de um equipamento para padronização da altura das


camadas

De acordo com a NBR 7215 (ABNT, 1996), a moldagem dos corpos de prova é feita
em 4 camadas, sendo 25 mm para cada uma das quatro camadas completando assim a
altura de 100 mm do corpo de prova. Quanto a padronização da altura das camadas com
a utilização do equipamento dosador, nesta pesquisa foi determinado margem de erro de ±
5 mm por camada.
Na Figura 14 estão apresentados os resultados obtidos das amostras de cada operador
comparando a altura das camadas, com margem de erro de ± 5 mm, portando a faixa de
acerto é de 20 mm a 30 mm.
A NBR 7215 (ABNT, 1996) item 3.5.2.2 cita que a argamassa deve ser inserida no
corpo de prova em 4 camadas de alturas aproximadamente iguais, não sendo clara em
sua prescrição, em teoria seria: 25 mm por camada. Observa-se que na Figura 13, que na
execução do ensaio sem o equipamento dosador, a altura das camadas possui um valor
de dispersão alto chegando a valores de 60 mm, interferindo nas camadas adjacentes.

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Conforme apresentado a utilização do equipamento nas ultimas camadas não obtiveram
medidas satisfatórias, isso pode ser explicado pelo fato de que o dosador foi dimensionado
para ¼ da altura do corpo de prova, e adicionado uma margem de erro de 1,5% no seu vo-
lume considerando os vazios contidos na argamassa. Observando pelo lado positivo, com
a utilização do equipamento dosador, nota-se que a dispersão é bem menor se comparado
a moldagem sem utilização do equipamento, mesmo ainda havendo uma alta porcentagem
de erro na execução da altura das camadas, conforme Figura 14.

Figura 13. Análise da altura das camadas sem utilização de equipamento dosador e com a utilização.

Fonte: Autores.

Figura 14. Porcentagem de acerto por camadas sem equipamento dosador e com equipamento.

A melhoria apresentada em relação a moldagem sem a utilização do equipamento é


pequena, apenas 13,28% de aumento na taxa de acerto de 20 mm a 30 mm da altura da
camada. Porém é uma melhoria em comparação ao ensaio sem a utilização do dosador
que obteve maior dispersão e pode comprometer a ideia proposta pela norma de 25 mm
por camada. Futuramente será analisado a influência da altura das camadas na resistência

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do corpo de prova, se a falta de padronização na altura das camadas compromete ou não
o resultado final da resistência para corpo de prova de argamassa.

CONCLUSÃO

De acordo com os resultados apresentados, observa-se que os procedimentos atuais


contidos na NBR 7215 (ABNT, 1996), não são claros em relação ao preenchimento dos mol-
des, tornando-os um processo visual, em que foi possível evidenciar a falta de padronização
nas alturas das camadas por diferentes operadores conforme resultados apresentados e
uma melhoria significativa apresentada com a utilização do equipamento dosador, que além
de ser de fácil manuseio, de modo que qualquer operador poderá fazer sua utilização com
ou sem qualificação para a execução.
Será dado continuidade ao estudo, analisando a argamassa endurecida com idade de
28 dias, verificando assim o desvio padrão das resistências com procedimento de execução
atual, e com a utilização do equipamento. O equipamento proposto ainda passará por outros
testes e adaptações, até que se chegue a um nível em que poderá ser patenteado por norma,
e passar a ser item de acompanhamento, que garanta assim a melhoria na execução dos
procedimentos e consequentemente dos resultados.

REFERÊNCIAS
1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12654: Controle tecno-
lógico de materiais componentes do concreto. Rio de Janeiro, 1992.

2. ______. NBR 5738: Procedimento de moldagem e cura dos corpos de provas. Rio de
Janeiro, 1998.

3. ______. NBR 7215: Cimento Portland - Determinação a resistência à compressão.


Rio de Janeiro, 1996.

4. ______. NBR 7214: Areia normal para ensaio de cimento especifica a areia para en-
saio. Rio de Janeiro, 1982.

5. ______. NBR 5733: Cimento Portland de alta resistência inicial. Rio de Janeiro, 1991.

6. ______. NBR 9776: Agregados – Determinação da massa específica de agregados


miúdos por meio do frasco de Chapman – Método de ensaio. Rio de Janeiro, 1988.

7. ______. NBR NM 45: Agregados – Determinação da massa unitária e do volume de


vazios. Rio de Janeiro, 2006.

8. ______. NBR 16605: Cimento Portland e outros materiais em pó – Determinação da


massa específica. Rio de Janeiro, 2017.

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9. ______. NBR NM 248: Agregados – Determinação composição granulométrica. Rio
de Janeiro, 2003.

10. ALMEIDA; A, M, J.. Influência da utilização de procedimentos não padronizados


de ensaio para a determinação experimental da resistência à compressão sim-
ples e do módulo estático de elasticidade do cimento Portland. Porto Alegre - RS.

11. BATISTA, W. A. R. Elaboração de proposta para minimizar o empirismo nos pro-


cedimentos de moldagem de corpos de prova de argamassa. Cuiabá - MT 2018.

12. GOMES O. A. - Argamassas para revestimentos de edificações, SOUSA. G. G. J-


contribuição ao estudo das propriedades das argamassas de revestimento no
estado fresco – Brasília - DF: Novembro de 2005.

13. SANTOS; D, L.. Sistema de revestimento com argamassa industrializada. Belo


Horizonte, Minas Gerais.

14. SANTOS; S, P.. Estudo do controle tecnológico dos componentes da alvenaria


estrutural em uma obra de Betim/MG. Belo Horizonte, Minas Gerais.

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09
Controle da sucção de blocos cerâmicos
de vedação em canteiro de obra

André Vitor de Abreu


Instituto Federal de Educação Tecnológica de Mato
Grosso (IFMT)

'10.37885/230512944
RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo controlar a sucção de blocos cerâmicos de vedação
em canteiro de obra, antes de seu assentamento, melhorando assim o desempenho da
alvenaria de vedação. Esse trabalho teve como base o ensaio de determinação do índice
de absorção inicial (AAI), um ensaio não obrigatório, ou seja, atende uma necessidade se-
cundária, após as exigências específicas e particulares de uma obra. O método de ensaio
foi adaptado para ser executado em canteiro de obra. Os resultados dos ensaios nos de-
monstraram a importância da execução do controle da sucção. Em quase todas as amostras
os resultados indicaram que os blocos deveriam ser umedecidos antes do assentamento.

Palavras-chave: Controle Tecnológico, Obras, Blocos Cerâmicos.


INTRODUÇÃO

A sucção nos blocos cerâmicos de vedação é um fator agravante, pois retira parte da
água de amassamento da argamassa de assentamento, o que prejudica a aderência entre
os blocos, e conforme a NBR 15270-2:2017 (Anexo D), podemos medir e controlar esse
fenômeno, contudo este ensaio não é normativo, é de caráter informativo.
Segundo RECENA (2011) Se houver uma considerável absorção de água, a possi-
bilidade de que poderá haver falta de água para as reações de hidratação do cimento, e
para a manutenção da mesma, necessário para predispor o hidróxido de cálcio as reações
de carbonatação não podem ser descartadas. Em resumo haverá uma ligação de baixa
resistência mecânica.
Os blocos cerâmicos devem ser umedecidos para não roubar água da argamassa de
assentamento, o que prejudica a hidratação do cimento (SALGADO, 2013).
O controle da sucção nos blocos cerâmicos possibilita evitar que uma alvenaria seja
executada com blocos com alta sução, impedindo que o bloco retire a água de amassamento
da argamassa influindo diretamente na aderência entre os blocos e assim evitando outros
problemas futuros.
Desse modo, a sucção dos blocos cerâmicos tem influência direta na diminuição das
patologias existentes nas alvenarias, porquanto o controle da sucção dos blocos cerâmi-
cos de vedação através de ensaio tecnológico, no qual estimamos em função da umidade
absorvida pelo bloco ser realizada em 1 (um) minuto, nos permite melhorar a aderência da
alvenaria como um todo.

DETALHAMENTO DO CASO

Nos dias atuais sabemos que pequenas obras, principalmente as residenciais, um


projeto de alvenaria normalmente é deficiente e as vezes nem existe.
Portanto, em tais casos, é preciso usar o bom senso e os cuidados relativos a uma boa
técnica de execução deve ser tomada.
Para a execução do ensaio proposto os corpos de prova devem ser recebidos, identifi-
cados, limpos e ter as rebarbas retiradas e colocados em ambiente protegido que preserve
suas características originais conforme NBR 15207-1 (2017). As amostras foram retiradas
de uma pequena obra conforme, Figura 1.

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Figura 1. Blocos da obra.

Considerando ser um ensaio não obrigatório, de valor informativo, para determinação


de características especiais, iremos executar este ensaio, após os blocos terem sido apro-
vados em todos os outros ensaios obrigatórios NBR 15207-1 (2017).
Este ensaio foi adaptado para ser executado em canteiro de obra, as adaptações já irão
acontecendo durante a execução, a norma descreve a utilização de tanques e suportes para
manter o bloco na superfície da água só com um rodapé de 2 ou 3 mm, submerso. Desta
forma encontramos outra maneira de manter o bloco em mesma situação, que foi encher
uma bandeja de água e colocar apoios para manter o bloco elevado do fundo da bandeja,
garantido assim que água fique em contato com sua face de assentamento da mesma forma
que o ensaio original.
A seguir iremos descrevendo o ensaio e já esclarecendo sua modificação, que será
feita da mesma forma que é feito em laboratório.
Os corpos de prova devem ser representativos do fornecimento e a quantidade de
corpos de prova deve ser especificada em comum acordo entre o fornecedor e o consumi-
dor. Na ausência de tal especificação, a norma recomenda que sejam ensaiados no mínimo
(06) seis corpos de prova, Figura 2, (NBR 15207-2, 2017).

Figura 2. 06 blocos.

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Aparelhagem e instrumentação, para a execução do ensaio, são necessárias os se-
guintes equipamentos:

• balança com sensibilidade de 1,0 g;


• termômetro com sensibilidade de 1,0 ºC;
• estufa que mantenha a temperatura entre (105 ± 5) ºC; (não utilizada)
• reservatório d’água (adaptado uma bandeja com água);
• apoios prismáticos de aço (adaptado fio de energia);
• suportes metálicos rígidos com parafusos (não utilizado);
• régua de nível com bolha;
• cronômetro com sensibilidade de 1 s;
• instrumento para medição de umidade com (não utilizado);
• toalhas de algodão umedecidas.

Procedimentos: A norma recomenda para as amostras a utilização dos mesmos blocos


que foram ensaiados para a determinação do índice de absorção d’água e da área líquida.
A amostra deve ser seca em estufa com temperatura igual a (105 ± 5) ºC, no mínimo
durante 24 h. aguardarmos no mínimo 2 h para executar o ensaio. Resfria-los ao ar livre até
a temperatura ambiente, e depois o bloco deve ser pesado (procedimento não executado).
No caso de faces vazadas (blocos com furos verticais), devem ser descontadas as
áreas correspondentes aos vazados da face de assentamento (NBR 15207-2, 2017).
Foram determinadas as dimensões individuais dos 06 (seis) blocos, para o cálculo da
área em cm², conforme Tabela 1.
Montagem dos equipamentos e nivelamento da lâmina d’água instalar os apoios de
aço (substituído pelo fio de energia) dos corpos de prova sobre os suportes metálicos (sobre
o fio de energia), ajustando-os. Encher o reservatório (substituído pela bandeja) até que o
nível d’água fique nivelado com os apoios.

Execução do ensaio:

Determinar a massa inicial pesando cada corpo-de-prova com precisão de 1,0 g, Figura 3.

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Figura 3. Bloco em pesagem inicial.

Segurar o 1ª corpo de prova sobre os apoios e colocá-lo no mesmo em seguida disparar


o cronômetro somente no momento em que o corpo de prova tocar a face de assentamento
nos apoios, Figura 4.

Figura 4. Bloco em ensaio.

Após (60 ± 1) s, proceder à retirada do corpo de prova e rapidamente retirar o excesso


de água da face ensaiada, utilizando uma toalha de algodão umedecida, Figura 5. (Esta
operação deve ser realizada em no máximo 10 s.)
Determinar a massa final de cada corpo-de-prova, em gramas.

Figura 5. Bloco em pesagem final.

A reposição da água deve ser obrigatória se o reservatório possuir área em planta


inferior a 2 500 cm² (a cada corpo de prova ensaiado).

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Acima desse valor a reposição da água retirada pelo corpo de prova para novo ensaio
fica a critério dos procedimentos internos adotados pelo laboratório (NBR 15207-2, 2017).
NOTA Caso se proceda à determinação da sucção em ambas as faces de assentamen-
to, realizar a segunda determinação imediatamente após a primeira pesagem, de forma que
não ocorram perdas de água por evaporação. Assim, o peso inicial da segunda determinação
deve ser considerado igual ao peso final da primeira determinação.
Expressão dos resultados e relatório de ensaio. O relatório do ensaio deve conter no
mínimo as seguintes informações:

• identificação do solicitante;
• identificação da amostra e de todos os corpos-de-prova;
• data do recebimento da amostra;
• data do ensaio;
• registros das condições de temperatura e umidade;
• dimensões médias das faces de ensaio (faces normais de assentamento, no caso
da alvenaria estrutural, ou faces laterais, tratando-se de blocos em fachadas que
vão receber revestimento);
• para blocos com vazados verticais, apresentar a relação entre área líquida e a área
bruta individual (Aliq/Ab) e a média desta relação na amostra;
• figura esquemática com a face de assentamento do bloco;
• massas iniciais e finais dos corpos de prova;
• valor de referência do índice de absorção de água inicial;
• referência a esta Norma;
• registros sobre eventos não previstos no decorrer dos ensaios (ABNT, 2017).

Conforme a NBR 15270-2:2017 (Anexo D) determinar o índice de absorção de água


inicial (AAI), calculado de acordo com a expressão:

AAI = 194 × (Δ p / Área)

onde:

AAI é o índice de absorção d’água inicial (sucção) da face ensaiada dos blocos, ex-
presso em (g/194cm²) / min;
Δp é a variação de massa obtida no ensaio, em gramas;
Área é a área bruta ou área líquida dos blocos ensaiados, em centímetros quadrados.

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Tabela 1

DISCUSSÃO

O acervo de ensaios em canteiro de obra ainda é muito pequeno e tímido, a maioria é


executada na própria indústria fornece o produto. Trazer esse ensaio ao canteiro de obra,
momento em que estão sendo executadas as alvenarias de vedação, caracteriza um grande
ganho no controle tecnológico e garante o controle e qualidade do produto final.
Sobre o assunto, Bauer (1994) leciona que considerando então a existência da espe-
cificação do produto de acordo com as normas brasileiras, o profissional responsável pela
obra deve solicitar ao proprietário a contratação dos serviços de uma empresa idônea de
controle de qualidade de materiais, a qual realizará ensaios para a verificação do desempe-
nho do produto considerado as normas correspondentes.
Salgado (2013) discorre sobre os tipos de alvenaria dentre elas a alvenaria de vedação
para fechamento de vãos. As alvenarias tiveram a função inicial de dividir ambientes e isolar
as coberturas da ação das intempéries e dos predadores e atualmente, a alvenaria é vista
não só com as suas funções primárias, mas como elemento de construção, e se um bloco
que é o seu principal componente, estiver com baixa absorção de água pode comprometer
a penetração da nata do cimento nos seus poros, comprometendo a aderência com a ar-
gamassa de assentamento. Em condições de temperatura elevada, o umedecimento dos
blocos, principalmente os cerâmicos, para que não haja uma perda muito rápida da umidade
da argamassa de assentamento.
A capacidade das argamassas em reter água é suma importância na garantia da ade-
rência aos substratos, evitando o descolamento das argamassas empregadas em revesti-
mentos de paredes e garantindo a homogeneidade das alvenarias pela manutenção da união
dos vários elementos que compõem na formação de um todo compacto (RECENA, 2011).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Comitê Brasileiro de Construção Civil (ABNT/CB-02), pela Comissão de Estudo de


Componentes Cerâmicos – Blocos, reunido em 2005, estabeleceu que caso o índice de
absorção de água inicial (AAI) para os blocos cerâmicos estruturais e de vedação resulte
superior a (30 g/193,55 cm²) / min, os blocos devem ser umedecidos antes do assentamento
para o seu melhor desempenho. Se o valor do índice de absorção inicial (AAI) resultar menor
que o limite mencionado, os blocos podem ser assentados sem ser previamente umedecidos.
Conforme os resultados do ensaio executado no canteiro de obra, Tabela 1, podemos
dizer que os blocos precisam ser umedecidos antes do assentamento, por que a média da
sucção dos blocos apresentou-se maior que 30g /193,55cm²/min.
Adaptando esse ensaio no canteiro, onde esse controle deve ser executado várias
vezes ao dia e antes da execução da alvenaria de vedação ou estrutural, é possível verificar
a necessidade de umedecimento ou não dos blocos.
É possível concluir que a adaptação desse ensaio no canteiro de obra nos permite
controlar a sucção no momento em que estamos executando a alvenaria, é de fácil e rápida
execução, desta forma evitaríamos patologias futuras, neste segmento.

REFERÊNCIAS
1. BAUER, L.A. Falcão. Materiais de Construção 2. 5 Ed. São Paulo: LTC, 1994.

2. SALGADO, Júlio. Técnicas e Práticas Construtivas para Edificações. São Paulo:


Érica, 2013.

3. RECENA, F. A. P. Conhecendo Argamassa. 2ª ed. Rio Grande do Sul: Edipurs, 2011.

4. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15270-1: Blocos e tijolos


para alvenaria – Parte 01: Requisitos. Rio de Janeiro, 2017.

5. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15270-2: Blocos e tijolos


para alvenaria – Parte 02: Métodos de ensaio. Rio de Janeiro, 2017.

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134
10
Pontes de madeira em Mato Grosso:
alternativas às tipologias usuais

Benedito Carlos Teixeira Seror


Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

José Manoel Henriques de Jesus


Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

Norman Barros Logsdon


Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

Artigo original publicado em:


Revista Madeira Arquitetura & Engenharia - ISSN 2237-7964.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/230312249
RESUMO

Este artigo aborda as tipologias de pontes de madeira atualmente utilizadas nas estradas
vicinais do Estado de Mato Grosso e do município de Cuiabá, mostrando suas deficiên-
cias. Na sequência, demonstra as extensões representativas das travessias dos rios do
Estado e do município da Capital, evidenciando a inadequação das tipologias existentes com
a realidade exigível na maioria dos casos. Por fim, apresenta, como alternativas às atuais
tipologias, duas pontes de madeira estudadas recentemente em dissertações de mestra-
do concluídas no PPGEEA, sendo uma em viga treliçada tipo Pratt, com madeira tropical
serrada, e outra em arco, utilizando madeira tropical serrada combinada com madeira lami-
nada colada, incentivando dessa forma o emprego de outras tipologias tecnicamente mais
adequadas de modo a neutralizar o preconceito quanto ao emprego da madeira em pontes.

Palavras-chave: Pontes de Madeira de Mato Grosso, Tipologias de Pontes, Pontes.


INTRODUÇÃO

Acompanhando as auditorias de obras públicas no Tribunal de Contas do Estado de


Mato Grosso observa-se que a maioria das pontes rodoviárias de madeira existente neste
Estado encontra-se em péssimo estado de conservação, passando a falsa ideia de serem
obras sem qualidade, inseguras, pouco recomendáveis como investimento público.
Em Mato Grosso, ainda existe preconceito contra o uso da madeira nas construções
de pontes definitivas, para as quais são utilizados o concreto ou o aço, fato que leva estes
materiais a dominarem o mercado de obras de arte especiais. Isto ocorre, muitas vezes,
pelo desconhecimento das qualidades da madeira, principalmente por parte dos gestores
públicos, sobre as vantagens e desvantagens desse material para tecnicamente empregá-lo
com a melhor relação custo-benefício.
Também, há de se mencionar a pouca divulgação técnica da madeira como material
estrutural, inclusive no meio acadêmico. Ritter (1990) cita os exemplos do aço e do cimen-
to para explicar o porquê de a madeira não ser um material com boa divulgação técnica.
Entende o autor que o número relativamente pequeno de empresas que realmente produ-
zem o cimento e o aço possibilita a conjugação de esforços para o domínio do mercado.
Enquanto apenas três siderúrgicas são responsáveis pela produção de 90% do aço nos
Estados Unidos, e uma quantidade pouco maior responde pela produção do cimento, no
caso da indústria madeireira ocorre uma multiplicidade de serrarias ao lado de pequenas
e grandes companhias, onde cada uma concorre fortemente com as outras, faltando-lhes
organização para competir com as indústrias do aço e do cimento.
Aliado a esse fato, ainda há a cultura de não se investir adequadamente na manuten-
ção das obras públicas em geral, e das pontes de madeira em particular, ficando o pouco
recurso disponível destinado às novas construções. Os serviços de manutenção das pontes
de madeira são relegados a um segundo plano. Isto afeta sensivelmente a vida útil destas
estruturas e realimenta a falsa ideia de pouca qualidade dessas obras de arte especiais.
Pretende-se neste artigo: a) mostrar as tipologias de pontes rodoviárias de madeira
tropical serrada utilizadas em Mato Grosso e no município de Cuiabá; b) obter o vão re-
presentativo das travessias nos rios do Estado e do município de Cuiabá; e c) apresentar
alternativas construtivas para o caso de os vãos representativos das mencionadas travessias
ser superior ao usualmente adotado como limite pelo Estado e município de Cuiabá.
Finalmente, em decorrência do potencial turístico do Estado, destaca-se, ainda, o apelo
ecologicamente correto no emprego da madeira como material de construção, reforçado pela
presença de três ecossistemas existentes em Mato Grosso (pantanal, cerrado e Amazônia).

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TIPOLOGIAS ATUAIS DAS PONTES

De modo geral, as pontes existentes em Mato Grosso e no município de Cuiabá são


em vigas serradas, obtidas a partir do cerne de madeira nativa, estruturadas em vigas com
vão de 4,00 m a 6,00 m e, quando necessário vencer vãos maiores, executam-se módulos
iguais, produzindo as denominadas pontes barragens, tal como a ilustrada na Figura 1, loca-
lizada sobre o rio Canamã, em Colniza, MT. Tais pontes, além de terem estética discutível,
geralmente constituem verdadeiros obstáculos à navegação e ao fluxo de detritos carreados
durante a estação chuvosa, comprometendo sua estabilidade, como ocorreu recentemente
com a da Figura 1, destruída devido ao acúmulo de detritos no período chuvoso.

Figura 1. Ponte barragem sobre o rio Canamã, em Colniza, MT, destruída em fevereiro de 2014.

As pontes de madeira existentes em estradas vicinais de Mato Grosso, construídas pelo


Estado e pela Prefeitura de Cuiabá, têm um padrão semelhante entre si. São construídas,
usualmente, com base em DERMAT (1979), que contém detalhes genéricos de pontes mo-
dulares, com tabuleiros transversais para uma única faixa de tráfego, em peças de madeira
serrada, com seções não comerciais, apoiadas em vigas serradas ou em vigas treliçadas, as
primeiras para vãos de 4,00 m a 7,00 m e as segundas, de 10,00 m a 16,00 m. As Figuras
2 e 3 ilustram alguns detalhes dessas pontes.

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Figura 2. Módulos de pontes de madeira.

Fonte: DERMAT (1979).

Figura 3. Perspectiva de tabuleiro de ponte de madeira.

Fonte: DERMAT (1979).

Observa-se na Figura 2 a existência de 3 (três) tipos de pontes: a) as em vigas (linhas 1


a 4 da Figura 2) foram reservadas para vãos de 4,00 m a 7,00 m; b) as em treliças King (linhas
5 e 6 da Figura 2) para vãos de 10,00 m; e c) as em treliças Queen (linha 7 da Figura 2), de

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16,00 m. A Figura 3 mostra que o tabuleiro é apoiado transversalmente nas longarinas e que
as pontes possuem uma faixa de tráfego.
A Figura 4, referente à ponte sobre o rio Claro, no Coxipó do Ouro, em Cuiabá, MT,
ilustra esse tipo de ponte estruturada em viga, construída pelo município de Cuiabá. Essa
ponte tem aproximadamente 35,00 m de extensão, com vários apoios intermediários, tendo
largura total externa de 4,30 m e interna de 3,70m.

Figura 4. Ponte sobre o rio Claro, Cuiabá, MT.

Fonte: SEROR (2013).

Vale mencionar, ainda, que a prática corrente do Estado de Mato Grosso e no municí-
pio de Cuiabá é não realizar projeto de pontes de madeira, apenas utiliza-se a mencionada
publicação do DERMAT (1979), sendo que a mesma não indica nem a classe de carrega-
mento da ponte e nem a resistência da madeira.
Logsdon e Jesus (2012) lembram que a utilização de guarda-rodas nos rodeiros dos
tabuleiros transversais decorreu da ideia de não apenas indicar ao motorista por onde se
deve trafegar, mas também para diminuir a espessura das peças do tabuleiro. Assim, os
guarda-rodas devem ter sua posição definida de modo que, mesmo com o deslocamento
lateral do veículo, ainda se possa admitir o carregamento como aplicado diretamente nas
vigas principais, bastando para isso fixar-se adequadamente a distância entre a extremidade
externa de um rodeiro (guarda-rodas) e a extremidade interna do outro.
Levando-se em conta as larguras máximas dos veículos que sejam compatíveis com
o trem-tipo adotado em norma, e a Resolução 12/98 do CONTRAN, para que as rodas do
veículo fiquem sobre os rodeiros e posicionados sobre as longarinas, podem-se fixar os
rodeiros com 1,00 m de largura, separando-os entre si por igual distância, e limitando-os
nas extremidades por guarda-rodas. Neste caso, as peças do tabuleiro (assoalho) serão

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projetadas para receber apenas o peso de pessoas (portanto, o carregamento de uma pas-
sarela de pedestres, 5,00 kN/m2). A Figura 5 ilustra a seção transversal de uma ponte que
atende estes requisitos.

Figura 5. Limitação dos rodeiros para aliviar as longarinas.

Fonte: LOGSDON E JESUS (2012).

A Figura 6 ilustra a situação desejável para o tabuleiro, limitando-se o rodeiro


por guardaroda.

Figura 6. Posicionamento adequado do veículo.

Fonte: LOGSDON E JESUS (2012).

Ainda, Logsdon e Jesus (2012) destacam que muitas pontes têm sido construídas sem
estes cuidados, fazendo com que as peças do tabuleiro, por não suportarem a carga das
rodas do veículo (mesmo os de menor peso), deformem-se exageradamente, soltando-se
(ruptura das ligações com as vigas principais) e/ou rompendo-se, causando deterioração
prematura do tabuleiro. A Figura 7 mostra a consequência para o tabuleiro pelo não aten-
dimento a essa limitação.

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Figura 7. Consequência do posicionamento inadequado do guarda-roda.

Fonte: SEROR (2013).

Nesse sentido, as Figuras 8 e 9, extraídas de Dermat (1979), referem-se à vista la-


teral e à seção transversal de uma ponte padrão tipo Treliça Queen, com 16,00 m de vão
livre, construída pelo Estado de Mato Grosso. Observa-se na Figura 9 que os guarda-rodas
encontram-se afastados de 60 cm dos rodeiros, permitindo desse modo que os veículos
trafeguem por sobre o tabuleiro. Tal solução é comum aos 28 módulos indicados na Figura
2 e não atende os cuidados, descritos anteriormente, sugeridos por Logsdon e Jesus (2012).

Figura 8. Ponte Queen (tipo V-16A) - elevação.

Fonte: DERMAT (1979).

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Figura 9. Ponte Queen (tipo V-16A) – seção transversal.

Fonte: DERMAT (1979).

EXTENSÃO DAS PONTES EM MATO GROSSO

Avaliou-se a extensão das pontes de madeira em Mato Grosso mediante pesquisa


realizada em setembro de 2012, no sistema informatizado GEO-OBRAS1, do Tribunal de
Contas do Estado de Mato Grosso, encontrando-se dados relativos a contratos para cons-
trução e reforma de 119 pontes de madeira a cargo da Secretaria de Estado de Transportes
e Pavimentação Urbana – SETPU. Desse modo, constatou-se que as extensões das pontes
variam entre 4,00 m e 150,00 m, conforme Tabela 1.

Tabela 1. Extensões de pontes de madeira em MT (SETPU).

Quantidades (N=119) Frequências


Extensões
Intervalos (m) Simples Acumulada Simples Acumulada
n na fr=n/N*100% Fa=na/N*100%
4-21 85 85 71,4 71,4
21-38 21 106 17,7 89,1
38-55 6 112 5,0 94,1
55-72 2 114 1,7 95,8
72-89 1 115 0,8 96,6
89-106 0 115 0,0 96,6
106-133 3 118 2,6 99,2
133-150 1 119 0,8 100,0

1 Acessível em: http://geoobras.tce.mt.gov.br/cidadao/

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Percebe-se na Tabela 1 que cerca de 70% das pontes de madeira existentes em Mato
Grosso poderiam ser construídas com um único vão, ou em vigas simplesmente apoiadas
(até 7,00 m) ou em vigas treliçadas (de 7,00 m a 21,00 m).
A fim de ampliar a informação sobre a extensão das pontes de madeira em Mato Grosso,
foram obtidos, da Secretaria Municipal de Obras de Cuiabá - SMOP, em fevereiro de 2013,
dados cadastrais das pontes existentes nas zonas rural e urbana do município da Capital.
Desse modo, de um total de 120 pontes analisadas, 109 encontram-se na zona rural, e 11,
na urbana. A zona rural possui 98 pontes em madeira e 11 em concreto ou aço, enquanto
que as 11 pontes da zona urbana são todas em madeira. A Tabela 2 resume essas infor-
mações, onde se nota na sua primeira coluna que as extensões das pontes variam entre
4,00 m e 36,00 m.

Tabela 2. Extensões de pontes de madeira no município de Cuiabá (SMOP).

Quantidades (N=120) Frequências


Extensões
Intervalos (m) Simples Acumulada Simples Acumulada
n na fr=n/N*100% Fa=na/N*100%
4-8 57 57 47,5 47,5
8-12 20 77 16,7 64,2
12-16 23 100 19,2 83,3
16-20 8 108 6,7 90,0
20-24 5 113 4,2 94,2
24-28 2 115 1,7 95,8
28-32 1 116 0,8 96,7
32-36 4 120 3,3 100,0

Para o município de Cuiabá, extrai-se da Tabela 2 que 90% das pontes poderiam ser
construídas em madeira com vão único, ou em viga simplesmente apoiada (até 7,00 m) ou
em viga treliçada (de 7,00 m a 20,00 m).
Assim, observa-se que as travessias em Mato Grosso, bem como no município de
Cuiabá, têm uma extensão representativa, para 70% dos casos, de 20,00 m, tornando in-
viável o emprego das tipologias adotadas pela SETPU e SMOP, seja pontes em vigas ou
treliçadas (tipo King ou Queen), pois aquelas, por serem limitadas a 7,00 m, exigiriam a
adoção de pontes barragem, enquanto estas, por não ultrapassarem 16,00 m de vão, não
atendem a maioria das travessias existentes na área em estudo.
Abre-se, portanto, a oportunidade de adoção de outras tipologias de pontes rodoviá-
rias de madeira que não as usualmente empregadas pelo Estado de Mato Grosso e pelo
município de Cuiabá.

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TIPOLOGIAS ALTERNATIVAS

Dissertações concluídas recentemente no Programa de Pós Graduação em Engenharia


de Edificações e Ambiental – PPGEEA, da Universidade Federal de Mato Grosso, em Cuiabá,
trataram de ponte treliçada tipo Pratt, em madeira tropical serrada, e de ponte em arco
triarticulado em madeira tropical serrada combinada com madeira laminada colada (MLC),
ambas para 20,00 m de vão livre e dimensionadas segundo o projeto de revisão da NBR –
7190 da ABNT (2011).
Assim, propõem-se tipologias alternativas às adotadas atualmente pelo Estado de
Mato Grosso e pelo município de Cuiabá, visando desse modo adotar-se modelo diferente
daqueles atualmente empregados pelo Estado de Mato Grosso e pelo município de Cuiabá,
quais sejam os de ponte em viga ou em treliças tipo King ou Queen, limitados a 16,00 m
de vão livre, portanto insuficientes para atender a maioria das travessias, como mostrado.

Ponte treliçada tipo Pratt

Estudo desenvolvido por Seror (2013) comprovou a viabilidade de uma ponte rodoviária
classe 45, para uma faixa de tráfego, em madeira tropical serrada, abundante no Estado
de Mato Grosso, da classe de resistência D60, com dimensões comerciais. O tabuleiro é
superior e longitudinal, com vão livre de 1,00 m, por 3,80 m de largura total, sem passarela
e sem guarda-corpo, apoiado nas transversinas que por sua vez descarregarão em nós das
treliças. Os rodeiros são longitudinais, com 1,00 m de largura, espaçados entre si de 1,00
m, também apoiados nas transversinas, e limitados por guarda-rodas. As treliças tipo Pratt
têm altura fixada em 1/5 do vão livre, portanto com 4,00 m. As Figuras 10, 11 e 12 ilustram
os elementos dessa ponte.

Figura 10. Seção longitudinal.

Fonte: SEROR (2013).

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Figura 11. Planta baixa.

Fonte: SEROR (2013).

Figura 12. Seção transversal.

Fonte: SEROR (2013).

Adotaram-se as seguintes seções transversais comerciais de madeira tropical serrada


disponíveis em Mato Grosso:

• Tabuleiro: 20 x 6 cm2 (5 peças com 20 m de comprimento)


• Rodeiro: 20 x 20 cm2 (5 peças com 20 m)
• Guarda-roda: 2 peças sobrepostas de 20 x 20 cm2 (4 peças com 20 m)
• Transversina: 25 x 30 cm2 (21 peças com 3,8 m)
• Barras das treliças: indicadas na Figura 10.

Na conclusão, Seror (2013) aponta os seguintes resultados:

• Todos os elementos da ponte estudada (tabuleiro, rodeiro, transversinas, barras da


treliça e contraventamento) podem ser construídos com peças de madeira serrada
tropical, de seção comercial, da classe de resistência D60.

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• O ponto crítico no dimensionamento da treliça são as ligações. As ligações compri-
midas “exigem” muita área de contato e as tracionadas muitos parafusos.
• O dimensionamento das ligações dos montantes comprimidos aos banzos mostrou
a necessidade de ampliar a área de contato entre os elementos, pois a resistência
da madeira à compressão normal é pequena. A ampliação da área de contato, uti-
lizando mísulas, como se apresentou no trabalho, não é prática do ponto de vista
construtivo. Aumentar a área de contato, pelo aumento da seção, obrigaria a utilizar
peças compostas em cada linha de contato (por exemplo, seção de 6 cm x (20+20)
cm, para aumentar o contato para 40 cm) ou peças de seção não comercial, além
de tornar os montantes excessivamente largos e, assim, de estética duvidosa.
• Outra alternativa, que merece ser avaliada no futuro, é evitar o uso de peças verti-
cais, alterando o desenho da treliça para o modelo Waren, ou o treliçado de Town,
apresentados na Figura 13.

Figura 13. Treliça Waren e treliçado Town.

Fonte: SEROR (2013).

• Quando o tabuleiro é superior, a altura das treliças torna impeditiva sua utilização
em boa parte dos rios, pois se o relevo do local não for apropriado, enorme massa
de aterro terá de ser mobilizada. Assim, também é interessante avaliar, no futuro,
pontes treliçadas com tabuleiro inferior.

Ponte em arco

Projeto elaborado por Brito (2013), localizado2 no rio Claro, município de Cuiabá, próxi-
mo à divisa com o município de Chapada dos Guimarães, onde atualmente existe construída
uma ponte em viga de madeira serrada, na qual só é permitida a passagem de veículos de
pequeno porte, pois existe uma placa no local proibindo a passagem de caminhões, de-
monstra a viabilidade de ponte de madeira em arco triarticulado. Ilustra-se na Figura 14 a
ponte existente sobre o rio Claro.

2 No mesmo local indicado na Figura 4.

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Figura 14. Ponte de madeira existente no rio Claro.

Fonte: BRITO (2013).

O rio tem uma extensão de aproximadamente 22,00 m nesse local e a ponte existente
possui um tabuleiro de 35,00 m de comprimento, sendo a distância entre pilares de 20,34
m enquanto que o tabuleiro dista 6,60 m em relação ao nível do rio.
A ponte estudada por Brito (2013), em arco triarticulado, tem tabuleiro superior transver-
sal, sem passarela e sem guarda-corpo, para 1 faixa de tráfego, classe de carregamento 45,
com 24,00 m de comprimento, 22,00 m de distância entre os apoios e 6,00 m de flecha dos
arcos. Para o dimensionamento dos elementos da superestrutura da ponte, considerou-se
madeira serrada da classe D60 para tabuleiro, longarinas, transversinas e pilares, e MLC
de classe C30 para os arcos.
Ademais, a ponte possui cinco longarinas, divididas em onze vãos: três vãos de
2,00 m de comprimento, nas encostas e no vão central da ponte, e os demais de 2,25 m
de comprimento.
As Figuras 15 a 19 ilustram a planta baixa, a elevação, as dimensões dos elementos
estruturais do tabuleiro, o corte transversal, e a perspectiva da ponte em arco triarticula-
do. Na vista lateral da ponte, ilustrada na Figura 16, é possível visualizar as divisões das
longarinas caracterizadas pelos pontos de apoios das longarinas nas transversina.

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Figura 15. Planta baixa da ponte em arco triarticulado.

Fonte: BRITO (2013).

Figura 16. Vista lateral da ponte em arco triarticulado.

Fonte: BRITO (2013).

Figura 17. Secção transversal dos elementos estruturais do tabuleiro.

Fonte: BRITO (2013).

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Figura 18. Corte transversal da ponte em arco triarticulado.

Fonte: BRITO (2013).

Figura 19. Perspectiva da ponte em arco triarticulado.

Fonte: BRITO (2013).

A ponte possui dez transversinas de 4,00 m de comprimento, que foram dimensionadas


para a situação mais desfavorável, ou seja, transversinas que apoiam longarinas com vãos
de 2,25 m de comprimento de ambos os lados, o que determina uma área de influência de
2,25 m de comprimento para cada transversina. A Figura 20 ilustra o corte transversal da
ponte evidenciando uma das transversinas.

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Figura 20. Secção transversal evidenciando uma transversina.

Fonte: BRITO (2013).

Os pilares da ponte foram dimensionados para a situação mais desfavorável, ou seja,


considerando um afastamento de 2,25 m de comprimento de ambos os lados, o que deter-
mina uma área de influência de 2,25 m de comprimento para cada pilar.
Quanto aos arcos, foram adotadas peças de madeira laminada colada da classe C30,
com seção transversal retangular de 60 cm de base por 100 cm de altura.
Brito (2013) conclui o estudo apontando inúmeras vantagens do modelo proposto, das
quais destacam-se as seguintes:

• A construção de pontes em arco com madeira laminada colada é uma alternativa a


ser considerada, pois é possível se construir pontes de classe 45 com um volume
relativamente pequeno de madeira. Para a situação exposta, a altura da seção
transversal do arco foi inferior a 5% do vão a ser vencido e, todos os elementos da
ponte, construídos de madeira serrada possuem dimensões comerciais, facilmente
encontradas nas serrarias de Mato Grosso.
• Uma vantagem a ser considerada neste tipo de estrutura é a possibilidade da exe-
cução das pontes sem a necessidade de fundações dentro do rio.
• Outro fator relevante é que para locais onde a diferença de cota entre o rio e o ta-
buleiro for pequena, existe a possibilidade da construção de pontes em arco triarti-
culado com tabuleiro inferior, o que torna este tipo de estrutura uma alternativa para
as pontes do tipo “barragens” existente em toda região.

CONCLUSÃO

Embora o uso de pontes de madeira não seja inédito, em Mato Grosso assume relevân-
cia o seu emprego em decorrência da necessidade de se perenizarem travessias nas áreas

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rurais, garantindo não apenas o escoamento de safras e o direito de ir e vir às populações
desses locais, o que muitas vezes é prejudicado durante a estação chuvosa, como também
por se harmonizar com o turismo ainda incipiente neste Estado, dado seu apelo ecologi-
camente correto, encaixando-se perfeitamente com os diversos ecossistemas do Estado.
Diante dessa realidade, os estudos de novas tipologias, tais como aquelas propostas
por Seror (2013) e Brito (2013), evidenciam a possibilidade de se romper com práticas tec-
nicamente inadequadas, tanto no Estado de Mato Grosso quanto no município de Cuiabá,
que frequentemente conduzem a projetos deficientes e com estética discutível, permitindo
a adoção de obras de maior qualidade, induzindo o poder público a investir em pontes de
madeira para a maioria das travessias existentes na área estudada, em substituição às de
concreto e de aço, hoje líderes no mercado local.
Nesse sentido, podem ser utilizadas tanto peças de madeira tropical serrada, abundan-
tes no Estado, quanto as em madeira laminada colada, que embora sejam industrializadas,
com custo superior àquelas, permite projetos mais ousados.

Agradecimentos

Agradece-se o Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental


- PPGEEA, Campus I da Universidade Federal de Mato Grosso, em Cuiabá, pelas condições
oferecidas à produção do presente artigo.

REFERÊNCIAS
1. Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2011). NBR 7190. Projeto de estruturas
de madeira (Projeto de Revisão). Rio de Janeiro. 75 p.
2. Brito, E. L. de. (2013). Dimensionamento dos Elementos da Superestrutura de uma
Ponte em Arco Triarticulado de Madeira sob a Ótica do Projeto de Revisão da NBR
7190 de 2011. Cuiabá. 300 p. Dissertação (mestrado) – Programa de Pós-graduação
em Engenharia de Edificações e Ambiental. Universidade Federal de Mato Grosso.

3. Calil Jr., C. et al. (2006). Manual de Projeto e construção de pontes de madeira. La-
MEMLaboratório de Madeira e de Estruturas de Madeira. São Carlos. 237 p. Escola
de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo.

4. DERMAT- Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de Mato Grosso. (1979).


Pontes modulares de madeira. 132 p. Cuiabá.
5. Logsdon, N. B.; JESUS, J. M. H. de. (2012). Madeiras e suas aplicações. Cuiabá. 405
p. Apostila. Programa de Pós-graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental.
Universidade Federal de Mato Grosso.

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6. Ritter, M. A. (1990). Timber Bridges: design, construction, inspection, and maintenance.
Washington, DC. 907 p. United States Department of Agriculture Forest Service.

7. Seror, B. C. T. (2013). Dimensionamento dos Principais Elementos da Superestrutura


de uma Ponte Treliçada de Madeira sob a Ótica do Projeto de Revisão da NBR 7190
de 2011. Cuiabá. 235 p. Dissertação (mestrado) – Programa de Pós-graduação em
Engenharia de Edificações e Ambiental. Universidade Federal de Mato Grosso.

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11
Viabilidade financeira na contratação de
empresa especializada para fiscalização
da execução de obra pública, um estudo
de caso

Fabiano Jandrei Bogo


Polícia Rodoviária Federal

José Vinicius da Costa Filho


Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT)

'10.37885/230312318
RESUMO

É viável a contratação de empresa especializada para fiscalização de obras públicas? Este


trabalho apresenta um estudo de caso acerca da contratação de empresa especializada em
fiscalização de obras públicas, buscando demonstrar sua viabilidade financeira. As ferra-
mentas metodológicas qualitativas utilizadas no presente estudo de caso foi a observação
participante e análise documental nos processos de construção de uma Unidade Operacional
da Polícia Rodoviária Federal, localizada na cidade de Pontes e Lacerda/MT, finalizada no
ano de 2015. Os resultados apontam que a contratação desse tipo de empresa pode trazer
benefícios tanto financeiramente quanto na qualidade da entrega da obra. Este trabalho
possui implicações para a área de fiscalização de obras públicas, pois possibilita um melhor
entendimento e suscita discussões com relação à eficiência dos gastos públicos.

Palavras-chave: Obras Públicas, Fiscalização, Contrato Administrativo.


INTRODUÇÃO

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) é um órgão permanente do Ministério da Justiça


e Segurança Pública, muito capilarizado no território nacional, estando presente em todos
os estados da federação. Mato Grosso possui 15 (quinze) unidades operacionais (UOPs) e
uma Sede administrativa que necessitam, para o pleno cumprimento de sua atividade insti-
tucional, de vários produtos e serviços, que devem ser adquiridos e contratados respeitando
os preceitos legais. Dentre esses serviços que devem ser contratados se destacam os que
envolvem obras de construção civil, haja vista que os espaços físicos em que se situam as
unidades necessitam de manutenção periódica, reformas e ampliações; além disso, even-
tualmente precisa realizar a construção de novos espaços físicos.
Esse contexto implica diretamente na necessidade de nomeação de comissões de
fiscalização dessas obras para o devido acompanhamento que, por sua vez, necessitam
de apoio especializado para uma eficiente gestão contratual. Ocorre que na PRF não existe
o cargo de engenheiro ou assemelhado, tão somente o cargo único de Policial Rodoviário
Federal, e o de Agente Administrativo, este último um cargo com exigência de nível médio.
Diante do exposto, resta o questionamento: É viável a contratação de empresa especializada
para fiscalização de obras públicas?
Assim, o objetivo desse trabalho é verificar a viabilidade financeira na contratação de
empresa especializada, para a fiscalização da execução de obras públicas de engenharia
na PRF, mensurando os valores despendidos nessa contratação.
A metodologia qualitativa utilizada foi um estudo de caso realizado mediante revisão
bibliográfica, observação participante e análise documental nos processos de construção
de uma Unidade Operacional da PRF que foi finalizada em 2015, localizada na cidade de
Pontes e Lacerda/MT.
Essa unidade foi escolhida por ser a primeira em que a PRF no Mato Grosso contra-
tou empresa para realizar esse apoio à comissão de fiscalização, bem como é uma obra
de pequeno/médio porte, com previsão de 459,02 m² a serem construídos, com um valor
contratual interessante, no caso, R$ 1.033.052,98 (um milhão, trinta e três mil, cinquenta e
dois reais e noventa e oito centavos).
Este trabalho se divide em três seções. A primeira seção faz uma breve apresentação
sobre licitações, contratos, comissões de fiscalização. A segunda seção descreve a PRF, que
é a instituição analisada. A terceira seção apresenta a metodologia, os dados e resultados
encontrados pela pesquisa. Por desiderato, as considerações finais em que se pontuam os
principais achados.

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LICITAÇÃO, CONTRATOS, COMISSÕES DE FISCALIZAÇÃO

Quando um cidadão precisa de algum bem e/ou serviço, basta a ele procurar quem os
ofereça, negociar os valores, pagar e receber o bem e/ou serviços. Na administração públi-
ca, quando é necessária a aquisição/contratação de bens que servirão para a sociedade,
embora a lógica de aquisição seja a mesma, existem procedimentos para que todo esse
processo transcorra de forma que atenda aos preceitos legais.
Deve-se ter em mente que esse procedimento, obrigatoriamente, deverá envolver os
cinco princípios norteadores da administração pública que são: Legalidade, Impessoalidade,
Moralidade, Publicidade e Eficiência, conforme o artigo 37 da Constituição Federal de 1988
(CF/88). As obras públicas, sejam de pequeno, médio ou grande porte, são construções
que, se bem fiscalizadas e executadas, servirão para o bem maior da sociedade, quer seja
um hospital, uma creche, uma ponte, uma estrada ou uma Base Operacional de Polícia.
As obras e serviços a serem contratadas pela Administração Pública deverão seguir
as diretrizes legais estabelecidas, no momento da obra analisada eram essas as diretri-
zes normativas: a) CF/88; b) Lei 8.666/93; c) Lei 10.520/02; d) Decreto 5.450/2005; e) Lei
12.462/111. Diante dessas legislações, faz-se necessário uma explanação sobre o que é
um processo licitatório.
Di Pietro (2014), define a licitação como:

o procedimento administrativo pelo qual um ente público, no exercício da função


administrativa, abre a todos os interessados, que se sujeitem às condições
fixadas no instrumento convocatório, a possibilidade de formularem propostas
dentre as quais selecionará e aceitará a mais conveniente para a celebração
do contrato. (DI PIETRO, 2014, p.373)

De acordo com a Lei 8.666/93, existem cinco modalidades para licitação: Concorrência,
Tomada de Preços, Convite, Concurso e Leilão. No ano de 2011 foi criada o Regime
Diferenciado de Contratações, inicialmente era para obras de infraestrutura para a Copa do
Mundo FIFA de 2014 e para os Jogos Olímpicos do Rio em 2016, contudo, também está
sendo utilizado para outras obras de engenharia.
Todas as modalidades licitatórias têm prazos a serem cumpridos, seja para garantir
a ampla divulgação, seja para a preparação adequada das propostas, ou mesmo para os
prazos recursais, ou seja, ainda se comparando ao cidadão comum em suas aquisições, a

1 Eram, em princípio, para Obras para a Copa do Mundo de Futebol e Olimpíadas, mas também estão sendo usadas para obras de
engenharia para Escolas e do Sistema único de Saúde, de Segurança Pública, entre outros

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máquina pública necessita de muito mais tempo para se movimentar, para que todo o pro-
cesso seja feito com lisura e transparência.
Dito isso, e sabendo que obras públicas dependem inicialmente de licitação, o passo
seguinte será formalizar o Contrato Administrativo com a empresa que se sagrou como
vencedora do certame.
Esse contrato visa respaldar juridicamente ambas as partes, de um lado o poder pú-
blico, que será o contratante e de outro a empresa responsável pela execução. Fernandes
(2016), define Contrato Administrativo como:

[...] um acordo de vontades celebrado entre a Administração Pública e o


particular, sujeito a um regime jurídico peculiar chamado de regime jurídico
administrativo, com natureza de direito público (aplicando subsidiariamente
princípios do direito privado), através do qual a Administração recebe uma
série de prerrogativas e sujeições (FERNANDES, 2016, p.7).

Se um cidadão, ao perceber que sua aquisição/contratação não foi àquela que almejou,
em primeiro plano ele recorre à empresa e se esta não resolver o problema ele deve recorrer
aos órgãos de defesa do consumidor e a justiça, se necessário. E quando a administração
pública realiza uma licitação e celebra um Contrato Administrativo com uma empresa e esta
não atende a seus requisitos estabelecidos ela deve, também em primeiro plano, tentar re-
solver com a contratada e tomar medidas para, se necessário for, não só rescindir o contrato,
mas punir a empresa dependendo dos motivos do não atendimento ao contrato, pois os
custos de tempo e de valores, para uma nova licitação/contratação sempre são onerosos,
lentos e com lapso temporal demasiado principalmente entre a previsão inicial e o término,
no caso das obras públicas.
Pércio (2010, p. 17) ressalta que “o contrato administrativo é o verdadeiro objetivo da
administração quando realiza uma licitação”. Costa Filho et al. (2015, s/p) complementam
afirmando que “A correta execução desses instrumentos públicos configura como um dos
maiores problemas enfrentados pela Administração Pública”.
A afirmação de Costa Filho et al. (2015) reforça que todo o empenho de tempo, de
pessoal, do erário e de energia da administração deve ser ainda maior no acompanhamento
da execução do que em todo o já trabalhoso processo de licitação.
O contrato administrativo é o elo entre a administração pública e o ente privado. Dele
serão extraídas as peculiaridades de cada objeto contratado. Para o acompanhamento
contratual deverá ser nomeado a fiscalização de contrato, que registrará o desenvolvimento
da obra estando atenta às cláusulas contratadas, dentre elas os prazos estabelecidos e, na
medida de descumprimentos, solicitar os devidos ajustes e, caso ainda persista, a devida
punição. Mas isto não ocorre de forma linear, célere e sem sobressaltos.

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Quando ocorrem imprevistos durante o acompanhamento contratual, a Lei 8.666/93
permite que sejam feitos os Aditivos Contratuais, que podem ser de tempo e de valor, por
exemplo. Normalmente são reflexos de uma fiscalização deficiente pois, se desde a licitação
e após isso, no contrato administrativo, a fiscalização for eficiente, a execução da obra tende
a se desenvolver como o planejado/orçado e no tempo previsto.
A Lei 8.666/93 prevê em seus artigos 58, 67 e 63 a obrigatoriedade da fiscalização dos
contratos administrativos durante sua execução. Dessa forma, a fiscalização de uma obra de
engenharia precisa de um perfil técnico que nem sempre está disponível na Administração
Pública. Nessa perspectiva, Costa (2013) esclarece que:

A escolha do fiscal deve recair sobre pessoa que tenha um conhecimento


técnico suficiente do objeto que está sendo fiscalizado [...] mas, não requer
habilitação específica, sob pena de inviabilizar o cotidiano da Administração
pública (COSTA, 2013, p. 61)

Existem órgãos públicos que têm setores específicos de engenharia, no entanto, outros
órgãos, como a PRF, não possuem setor específico de engenharia, sendo necessário nomear
o fiscal ou a comissão de fiscalização com servidores sem o devido preparo técnico, mas
com a mesma incumbência e responsabilidade impostos a qualquer servidor nessa posição.
A Administração Pública necessita rotineiramente de executar obras, independentemen-
te de possuir ou não em seus quadros agentes públicos com a devida preparação técnica.
Uma solução encontrada para esse gargalo, é a contratação de empresa especializada para
auxiliar nessa fiscalização.
O Tribunal de Contas da União (TCU), orienta que “os fiscais poderão ser servidores
do órgão da Administração ou pessoas contratadas para esse fim” (BRASIL, 2014c, p. 43).
Essa possibilidade de contratação de pessoa/empresa especializada para auxiliar a
fiscalização de obras indica que não existe quantidade suficiente de servidores devidamente
habilitados para essa tarefa.
Por sua vez, a qualidade da entrega de uma obra depende de vários fatores, e o acom-
panhamento diário, próximo, com transparência e eficiência é essencial. Na PRF, a comissão
de fiscalização do órgão, via de regra, fica lotada principalmente nas capitais dos Estados,
contudo, as obras são distribuídas por todo o território. No caso do estado de Mato Grosso,
já ocorreram obras simultâneas, com distância de 1.250 km entre elas.
Inclusive, o autor principal fez parte dessa comissão no período entre janeiro e dezem-
bro de 2015, momento em que a presente inovação (contratação de empresa para auxiliar a
fiscalização) foi implementada na fiscalização das obras da PRF. A participação na comissão
será melhor exposta na metodologia.

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Com o auxílio de empresas contratadas e contando com a tecnologia atual, é possível
a comunicação rápida entre esse representante da empresa fiscalizadora e os membros
da comissão de fiscalização do órgão, repassando quase que instantaneamente todo o
desenvolvimento da edificação.
Essa instantaneidade de informações possibilita que a administração esteja preparada
e possa atuar de forma mais célere aos imprevistos que se apresentam. A administração não
pode ficar refém das distâncias e das impossibilidades de deslocamentos mais frequentes
da comissão e acabar por tomar conhecimento tardio de alterações significativas ou ainda
pior, não tomar conhecimento de algum procedimento inapropriado da construtora que po-
dem causar danos ao erário, desvios de material, aplicação de materiais de baixa qualidade,
entre outras situações escusas.

A PRF E A CONTRATAÇÃO DE EMPRESA ESPECIALIZADA NA FIS-


CALIZAÇÃO E ACOMPANHAMENTO DA OBRA PÚBLICA

A PRF foi criada em 1928, através do Decreto 18.323 de 14/07/1928, denominada à


época de “Polícia das Estradas” e hoje, com mais de 80 anos de existência, muita coisa mu-
dou na instituição, no Brasil e no mundo (LEITE, 2013). Com o advento da CF/88, a Polícia
Rodoviária Federal foi institucionalizada e integrada ao Sistema Nacional de Segurança
Pública (BRASIL, 1988).
Inicialmente concebida para dar “segurança nas estradas” no eixo Rio-São Paulo, hoje
atua em todos os Estados brasileiros e no Distrito Federal, não somente no policiamento e
fiscalização das rodovias federais, tendo como lema principal “Salvaguardar Vidas”, bem
como atua no combate efetivo ao tráfico de drogas, ao contrabando de mercadorias, aos
crimes ambientais, dentre outros crimes, que “circulam” nas rodovias. Realiza, também o
apoio a outros órgãos de segurança pública nas mais variadas missões, realizando escolta
de autoridades e de cargas excedentes, patrulhamento aéreo, ações com cães de faro e
de explosivos, operações de inteligência, de desobstrução de rodovias com grupamento de
choque, dentre outras atividades do órgão.
Acrescentam Calegari et al (2015) que:

As principais atribuições institucionais da PRF encontram-se disciplinadas


no art. 144, § 2º da CF, no Decreto n. 1.655/1995 e na Lei n. 9.503/1997, [...]
Assim sendo, como espécie do gênero polícia, a PRF tem a função principal
de proteger o cidadão. [...] A PRF também apresenta relevante atuação na con-
tenção de crimes como tráfico de entorpecentes, contrabando e descaminho,
bem como no enfrentamento à exploração sexual infantojuvenil às margens
das rodovias federais e na mediação de conflitos, envolvendo movimentos
sociais diversos que optam por fazer suas manifestações no leito das rodovias
federais, dada a inequívoca capacidade de repercussão na mídia (CALEGARI
et al, 2015, p. 101-102)

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A estrutura física para atender todas essas demandas é imensa, conforme o Relatório
anual da Divisão de Infraestrutura Predial, em 2018 a PRF contava com uma sede nacional
em Brasília com 16 mil m² de área construída, 27 sedes regionais, 147 delegacias, 429 uni-
dades operacionais (postos), 5 hangares, 10 canis, 5 centros de treinamento e uma academia
Nacional em Florianópolis com 21 mil m² (BRASIL, 2018).
Diante da modernização e das novas tecnologias, a PRF acompanhou esse ritmo e
realizou um extenso trabalho de criação, desenho e organização da identificação visual da
instituição, que culminou pela elaboração do Manual de Identidade Visual (MIV), estando em
sua 3ª edição e com 454 páginas, trazendo o detalhamento minucioso de como deve se “apre-
sentar os elementos de comunicação visual que identificam a instituição” (BRASIL, 2016).
O MIV em seu capítulo cinco descreve como deve ser a identificação das Edificações
da PRF, a proporcionalidade dos símbolos e letras para que todas as edificações sejam ela-
boradas e mantenham o padrão nacional. Esse manual veio ao encontro com a necessidade
de manter a sintonia entre as novas reformas, ampliações ou construções.
Com relação ao efetivo da PRF ele passa pouco dos treze mil servidores, que contavam
(até 2013) apenas com o cargo de Policial Rodoviário Federal para realização tanto das
tarefas finalísticas do órgão, como as tarefas meio, administrativas, para suporte a ação de
policiamento e fiscalização. Em 2014 ocorreu o primeiro concurso para Agente Administrativo,
nível médio, visando o apoio a essas demandas administrativas.
No estado de Mato Grosso, com aproximadamente 4.500 km (quatro mil e quinhentos
quilômetros) de rodovias federais a serem fiscalizadas, são lotados pouco mais de quinhen-
tos servidores, entre eles os policiais e os agentes administrativos, conforme consulta ao
Núcleo de Administração de Pessoal, da PRF.
Ao contabilizarmos a necessidade de pessoas para gerir uma sede administrativa na
capital do Estado, onde são concentradas as ações burocráticas da instituição, e somarmos
a necessidade de lotar policiais nas 07 (sete) delegacias e 15 (quinze) unidades operacio-
nais (postos), em escala ininterrupta de serviço, percebe-se que falta muita mão de obra e
sobram afazeres e responsabilidades.
Dentre as atribuições administrativas necessárias para o bom andamento dos trabalhos
da instituição, sejam eles das áreas meio ou fim, a de realizar manutenções ou construir
edificações se revela de suma importância, haja vista que um ambiente de trabalho funcional,
adequado e confortável contribui para a saúde do servidor, para um bom desempenho das
missões da PRF e para apoio a sociedade.
Apesar de possuir uma grande organização e rotina dos processos (incluindo os pro-
cessos de reforma e construção), conforme exposto acima, a estrutura regional do setor de
licitações e, por conseguinte, de fiscalização dos contratos ainda é mínima. Por tal desiderato,

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se faz necessário a PRF lançar mão de novas técnicas e metodologias para que a instituição
não pare e cumpra sua finalidade pública precípua.
Conforme diálogo, no ano de 2019, com a chefe da Seção de Infraestrutura Predial da
PRF, a senhora Thaise Bernardo, desde o ano de 2014 iniciou-se um movimento, dentro da
PRF, para a contração de empresas especializadas na fiscalização da execução de obras
públicas, auxiliando as comissões de fiscalização. A inovação descrita no parágrafo anterior
chegou à sede regional da PRF em Mato Grosso, resultando na contratação de empresa
especializada para a fiscalização da execução da obra analisada.
A obra estudada neste trabalho fica situada na cidade de Pontes e Lacerda, na região
oeste do estado do Mato Grosso, cujo município fica distante 450 km da capital, tendo uma
população estimada de pouco mais de 45 mil habitantes e a economia é baseada princi-
palmente no agronegócio com forte tendência da agropecuária com estimativas de mais de
660.000 cabeças de gado na região (BRASIL, IBGE, s.d.).
Com relação a segurança pública e a necessidade de atuação da PRF na região, um
fato relevante é sua distância de aproximadamente 100 km entre a cidade e a divisa com a
Bolívia, país identificado pelas autoridades como grande produtor de drogas e destino comum
de veículos roubados/furtados no Brasil, segundo estatísticas da Delegacia Especializada
de repressão a Roubo e Furtos de Veículos de Cuiabá (DERRFVA/MT).
Devido ao pequeno porte da cidade, durante o processo licitatório, não aparece-
rem empresas locais para atendimento do pleito, mas apenas uma empresa da capital do
Estado participou. A empresa TECMAX – Engenharia e Telecomunicações Ltda-EPP, CNPJ
08.954.940/0001-21 sagrando-se vencedora da licitação, realizada na modalidade Tomada
de Preços número 02/2014, com o valor final de R$1.033.052,08, sendo celebrado o Contrato
Administrativo 22/2014, e feita a nomeação da comissão de fiscalização pela portaria 329
de 25/11/2014. Todos os documentos citados estão dispostos no processo administrativo
08661.005202/2014-80 (BRASIL, 2014a).
Concomitante ao processo de execução da obra foi feita outra licitação para contrata-
ção de empresa para auxiliar na fiscalização. Sagrou-se vencedora do Pregão Eletrônico,
de número 07/2014, a empresa Carvalho & Zavaglio Engenharia e Arquitetura LTDA-ME,
CNPJ 08.057.547/0001-35, uma empresa com sede em Araraquara/SP, com o valor final
de R$ 146.998,47, sendo celebrado o Contrato Administrativo 23/2014. Em seguida no-
meou-se a comissão de fiscalização pela portaria 329 de 25/11/2014. Todos os documentos
citados estão dispostos no processo administrativo 08661.005203/2014-24 (BRASIL, 2014b).
Após os trâmites legais da licitação, contratação, registros e Ordem de Serviço inicial,
os trabalhos iniciaram em janeiro/2015 e se estenderam até dezembro/2015.

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Contratualmente a empresa que auxilia na fiscalização, é obrigada a gerar e fornecer
relatórios diários, semanais e mensais, informando a quantidade de funcionários na obra, a
qualificação deles e os serviços que estão sendo executados, confeccionar o denominado
diário de obra. Esse registro é inserido no processo de fiscalização para acompanhamento
de todos os serviços desenvolvidos. Paralelamente a esse diário foi criado um grupo de
mensagens eletrônicas que ajudou muito no acompanhamento “on-line” dos serviços e no
processo de tomada de decisões que, embora fossem discutidos eletronicamente, eram
devidamente registradas e informadas as empresas, via ofício.
Por sua vez, comissão de fiscalização da administração foi composta por três servidores,
em que apenas um ficava permanente em Pontes e Lacerda/MT, no caso o chefe daquela
delegacia, e os outros dois membros ficavam em Cuiabá. As formas e os resultados do
acompanhamento da execução estão descritos na seção de metodologia, dados e resultados.

METODOLOGIA, DADOS E RESULTADOS

Esta é a seção que possibilita debater o objetivo de apresentar um estudo de caso


sobre os impactos financeiros na contratação de empresa especializada em fiscalização de
obras públicas, buscando demonstrar sua viabilidade.
Quanto à metodologia, essa se perfaz em uma pesquisa qualitativa, que coloca
em evidência um estudo de caso mediante as ferramentas de observação participante e
análise documental.
No caso proposto, a ferramenta de observação participante é caracterizada no presente
estudo, pois, o autor principal fez parte do desafio de participar da comissão de fiscalização
da PRF, que tomou a decisão, instrumentalizou a contratação e fiscalizou a empresa espe-
cializada na fiscalização e acompanhamento da obra pública analisada. Portanto acompa-
nhou de perto todo o desenvolvimento desse novo serviço que estava sendo prestado ao
órgão policial de Mato Grosso. Essa comissão era composta por 3 (três) membros, sendo
designada pela portaria nº 329 de 25/11/2014.
Por sua vez, a ferramenta da pesquisa documental é utilizada para avaliar documen-
tos que não receberam tratamento analítico. Conforme Fonseca (2002, p. 32), recorre-se
a fontes mais diversificadas e dispersas, sem tratamento analítico, tais como documentos
oficiais, conforme se propõe para este estudo.
Dessa forma, a presente pesquisa se debruça nos processos administrativos da PRF
que tratam desde a contratação da empresa especializada na fiscalização e acompanhamento
da obra pública, até o cronograma de pagamento financeiro de pagamentos realizados à
citada contratada, durante a execução da obra e ao final após todo o serviço ser prestado.

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Esta seção se subdivide em três subseções. A primeira subseção trata dos dados
documentais e sua discussão. A segunda subseção apresenta as dificuldades encontra-
das ao longo do contrato analisado. A terceira subseção debate a viabilidade financeira e
acompanhamento da obra pela empresa contratada para contribuir com a fiscalização e
acompanhamento da obra pública.

Dados Documentais e sua discussão

Foram analisados os processos administrativos gerados pela PRF, no estado de Mato


Grosso, quais sejam: a) o processo 08661.005.202/2014-80, que trata exclusivamente so-
bre o processo de celebração e fiscalização do contrato administrativo número 22/2014,
Cronograma Financeiro 11/2014 entre a PRF e a empresa vencedora do certame que exe-
cutou a obra de construção; e b) o processo número 08661.005.203/2014-24 que trata da
fiscalização do contrato administrativo 23/2014, Cronograma Financeiro 12/2014, referente
à empresa que auxiliou na fiscalização da execução da obra.
Outros processos foram consultados, como os financeiros de pagamentos das faturas
mensais e os de reunião de documentações fiscais, que funcionaram como apêndices desses
dois processos principais mencionados.
Os processos administrativos são públicos, de acesso livre, não necessitam de auto-
rização para servirem como base de estudo e pesquisa. Também já foram digitalizados e
se encontram na plataforma eletrônica Sistema Eletrônico de Informações (SEI), de origem
pública, gerenciado pelo Ministério de Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, e têm
notoriamente o objetivo de proporcionar maior transparência aos processos públicos.
Foram analisados os valores contratados que as empresas ofertaram para serem as
vencedoras da licitação, como também verificado, mês a mês os pagamentos realizados e
as proporções entre os pagamentos feitos a empresa executora e a empresa fiscalizadora.
De acordo com a complexidade das etapas de execução da construção da obra, a obra
foi planejada para ser executada em 8 (oito) meses, por isso a criação do cronograma em
oito pagamentos. Os valores não são uniformes porque algumas etapas têm um custo mais
elevado devido aos materiais e serviços específicos daquela etapa.
No entanto, para a empresa fiscalizadora foram divididos em 10 (dez) meses, obe-
decendo a uma proporcionalidade nos valores em que a execução seria mais volumosa e
incluindo dois meses/parcelas, para que a fiscalizadora acompanhasse tanto o Recebimento
Provisório, numa primeira etapa após o final das obras, quanto ao Recebimento Definitivo,
após término de todos os ajustes necessários e entrega dos projetos corrigidos, os chamados
“As Built” (como construído).

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Foi elaborada a Tabela 1 para descrever com maior propriedade os valores to-
tais contratados.

Tabela 1. Valores Totais das contratações.

Valor da Construção R$ 1.033.052,08 Valor da Fiscalização R$ 146.998,47

Fiscalização correspondeu a 14,23% do valor da execução


Cronograma 11/2014 8 parcelas Cronograma 12/2014 10 parcelas
Valor médio mensal R$ 129.131,51 Valor médio mensal R$ 14.699,84
Aditivo de Valor Não Aditivo de Valor Não
Aditivo de Tempo 45 dias Aditivo de Tempo 45 dias
Fonte: BRASIL, 2014b. Comparação entre valores das contratações licitadas.

Se a obra ocorresse exatamente como o planejado, o gráfico correspondente a evolu-


ção dos pagamentos ficaria como demonstrado no gráfico 1, que segue.

Gráfico 1. Programação de pagamentos nos contratos.

Fonte: Da Pesquisa, 2019. Programação contratual de pagamentos das empresas construtora e fiscalizadora.

Para obras de engenharia deve ser criado um cronograma físico de desenvolvimento,


obedecendo a etapas pré-definidas e os prazos em que cada uma delas deve ser executada.
Simultaneamente ao cronograma físico, deve ser criado o cronograma financeiro, para que o
ente público possa se programar para realização dos pagamentos das etapas já concluídas,
e se programar para próximos desembolsos.
Então, o cronograma físico-financeiro deve seguir a evolução física na qual a obra está
se desenvolvendo. Não é possível, nem lícito, antecipar ou realizar qualquer pagamento que
não tenha sido recebido.
Desse modo, numa sequência de construção adequada para este imóvel, no quinto
mês seria o pico do valor a ser desembolsado, pois estava previsto pelo cronograma, que a
obra estaria na fase da cobertura e da necessidade de materiais elétricos e de acabamento,
que envolvem valores significativos, mas não foi o que ocorreu nesta obra, conforme será
debatido a seguir.

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Dificuldades encontradas ao longo do contrato analisado: um relato

A obra em estudo fica localizada no município de Pontes e Lacerda, interior do estado


de Mato Grosso, a 450 km da capital, o que impediu uma visitação mais constante e rotineira
para o acompanhamento da evolução dos serviços executados.
Para ser atestada a medição mensal foi acordado entre as partes envolvidas, a PRF,
por intermédio da comissão de fiscalização, e as empresas construtora e a fiscalizadora
que, uma vez por mês, seria realizada a visita no local da obra, a conferência dos serviços
executados até então e em seguida uma reunião com confecção de Ata, para formalizar a
visita, relatar o que foi encontrado, o que foi medido e o que será efetivamente pago.
Porém, dentro de um mês, podem ocorrer situações adversas que necessitam de
cuidados e decisões pontuais e, para isso, um dos membros da comissão trabalhava na-
quela unidade e a empresa fiscalizadora era obrigada a manter um técnico, engenheiro ou
profissional da área de engenharia, 8 horas por dia, em todos os dias de serviço. Nesse
sentido, o uso da tecnologia torna-se essencial, pois são feitos relatos eletrônicos diários, e
o acompanhamento pode ser realizado pela comissão mesmo estando distante e com outras
tarefas e comissões para tomar conta.
Dentre as cláusulas da celebração do contrato com a empresa fiscalizadora, está ex-
presso no item 2.4 e 2.5 que:

2.4 [...] em caso de paralisação da obra por período superior a 10 (dez) dias,
os serviços de fiscalização também serão paralisados, não sendo remunerados
neste período, retomando a remuneração quando do retorno das atividades
normais de obra;

[...]

2.5 [...] havendo alterações nas etapas de execução das obras, serão proce-
didas alterações proporcionais na fiscalização e nos pagamentos, de modo
a manter o equilíbrio econômico financeiro de todas as partes envolvidas,
inclusive no caso de supressão (BRASIL, 2014b).

Para corroborar com essa explanação, constata-se, conforme a Tabela 2, que nos
cinco primeiros meses a construtora deveria ter realizado cerca de 70% (setenta por cento)
da obra, no entanto executou apenas 31% (trinta e um por cento), e parecia que teríamos
uma obra inacabada, com prazos estendidos e valores sendo aditivados.
Foi elaborada a Tabela 2 para descrever a previsão e os pagamentos realizados.

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Tabela 2. Valores contratados, previstos e realizados.

Contrato Construtora Contrato Fiscalizadora

P Previsto Realizado % P Previsto Realizado %


1 R$103.305,28 R$43.953,60 42,55% 1 R$11.759,88 R$11.759,88 100,00%
2 R$31.714,72 R$60.250,43 189,98% 2 R$3.616,16 R$3.616,16 100,00%
3 R$74.379,80 R$52.171,05 70,14% 3 R$8.467,11 R$8.467,11 100,00%
4 R$168.594,21 R$52.224,72 30,98% 4 R$19.198,00 R$19.198,00 100,00%
5 R$347.415,66 R$109.913,86 31,64% 5 R$39.542,59 R$2.278,48 5,76%
6 R$183.470,18 R$112.761,68 61,46% 6 R$20.888,48 R$16.050,55 76,84%
7 R$44.214,66 R$191.466,50 433,04% 7 R$5.027,35 R$26.824,28 533,57%
8 R$79.958,47 R$410.239,26 513,07% 8 R$9.099,20 R$0,00 0,00%
9 R$14.699,85 R$44.104,16 300,03%
10 R$14.699,85 R$14.699,85 100,00%
R$1.033.052,98 R$1.032.981,10 99,99% R$146.998,47 R$146.998,47 100,00%
Sobras R$71,88 0,01%
Fonte: BRASIL, 2014b. Comparação entre o planejado, o que foi executado, e a proporção entre eles.

O Gráfico 2 demonstra de forma nítida as curvas de desembolso financeiro (cor azul)


e do que foi efetivamente pago (cor vermelha) não coincidindo com o planejado:

Gráfico 2. Relação entre valores previstos e executados da construtora.

Fonte: do autor, 2019. Comparação entre valores previstos e os que realmente foram executados.

Já a fiscalizadora, nos quatro primeiros períodos estava recebendo integralmente,


mesmo com a construtora atrasando o cronograma, foi percebido então que algo não
estava coerente.
Como era uma novidade, a contratação de empresa para auxiliar na fiscalização, a
comissão entendeu que os relatórios que eles estavam elaborando eram suficientes para
que houvesse o pagamento integral dos valores a serem recebidos por ela, mas esse pro-
cedimento se mostrou inadequado.
Conforme descrito anteriormente, os valores a serem pagos para a fiscalizadora devem
ser proporcionais aos valores pagos a executora, ou seja, se a executora não executa a obra
a fiscalizadora também não recebe sobre àquela parcela.

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Com a comissão mais alinhada a essa sistemática e, após nova leitura do processo e de
suas cláusulas, a equipe refez os cálculos e começou a aplicar a proporcionalidade desses
pagamentos, momento em que as empresas parecem ter entendido que, se não ocorrer o
desenvolvimento da obra, não há o que se pagar, nessa perspectiva, foram feitas reuniões
e direcionamentos, tudo registrado em Atas, para que a construtora conseguisse retomar o
ritmo da obra e ainda possibilitar o recebimento dos valores pendentes.
A atuação da empresa fiscalizadora em conjunto com a comissão de fiscalização da
PRF, possibilitou identificar algumas inconsistências no prazo e erros na planilha, a partir
disso, foi: a) elaborado sugestões de troca de materiais; b) solicitado frentes de trabalho mais
eficientes; c) direcionado a força de trabalho da executora para a continuidade e o término
da obra, com a qualidade esperada, no tempo possível e no preço contratado.

Gráfico 3. Comparação entre valores previstos e executados da fiscalizadora.

Fonte: do autor, 2019.

Tanto a comissão de fiscalização, como as empresas executora e fiscalizadora, alinha-


ram-se e definiram estratégias e, a partir do quinto mês, quando foi feita a proporcionalidade
entre o que estava sendo executado e pago à executora e também a fiscalizadora, os valores
por esta última percebidos foram sensivelmente menores, causando uma movimentação de
relatórios, cobranças e acompanhamento mais direcionados, fazendo com que os trabalhos
fossem acelerados, nos meses seguintes, conseguindo acompanhar o planejamento pro-
posto inicialmente.
Financeiramente, observa-se que a partir do sexto mês de construção a obra tomou
a reta final com elevada quantia de valor dispendido nos pagamentos e, por conseguinte,
a proporcionalidade na construção da obra tornou-se protagonista, e não apenas figurante.
Diversos foram os fatores que originaram a morosidade no desenvolvimento da
obra. A análise, por parte da empresa fiscalizadora, foi fundamental, proporcionando a
comissão do órgão o entendimento técnico necessário dos problemas apresentados e pro-
piciando a discussão de soluções.

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A comissão de fiscalização também passou por reformulações, por troca de membros
devido a várias intercorrências. Assim, a obra foi entregue à sociedade, sem acréscimos de
valor, e na qualidade e funcionalidade que uma unidade operacional de polícia necessita.
Percebe-se que a eventual falta da empresa que auxiliou na fiscalização fragilizaria
os trabalhos da comissão de fiscalização da PRF, na medida em que decisões técnicas
seriam tomadas por servidores não habilitados para tal, possivelmente o tramite burocrá-
tico tornar-se-ia mais moroso, visto que haveria a necessidade de consultar terceiros com
capacidade técnica para a finalidade pretendida, além disso, a administração poderia ficar
refém das atitudes e tomadas de decisão da executora, que normalmente visa o seu lucro
em detrimento da qualidade e o comprometimento com o que o edital determina.

Viabilidade financeira e acompanhamento da obra pela empresa contratada para


contribuir com a fiscalização

Para esta edificação foi solicitado, na contratação da empresa fiscalizadora, a presença


de um engenheiro civil por 20 (vinte) horas semanais e um auxiliar de engenharia (técnico
em edificações ou assemelhado) por 44 (quarenta e quatro) horas por semana na obra, ou
seja, período integral no acompanhamento da execução da obra.
O valor do contrato da empresa de fiscalização foi correspondente a 14,23% (quatorze
vírgula vinte e três por cento) do valor da executora, sendo este adequado financeiramente,
tendo em vista os serviços a serem prestados.
O valor do contrato da fiscalizadora não é um valor expressivo, tampouco irrisório, mas
é um valor baixo se considerado que é um contrato de risco, pois, o contrato de fiscalização é
interrompido caso, sem previsão legal ou contratual, a executora da construção não cumpra
com suas obrigações ao atrasar/desistir/abandonar a obra.
Além do compromisso em manter um funcionário técnico em tempo integral na obra
(bem como as 20 horas da presença de engenheiro), foi exigido contratualmente a apre-
sentação de relatórios diários, semanais e mensais, para subsidiar o processamento das
medições a serem pagas e para manter registro inequívoco de tudo que está ocorrendo na
obra, como no relatório fotográfico demonstrado na figura 1.
A empresa construtora, segundo seus relatórios, passou por problemas com falta de
pessoal, falta de materiais, falta de projetos atualizados, mudanças de diretrizes nos locais
de implantação dos ambientes e por isso informou que não executou as etapas no prazo
definido, mas os ajustes foram realizados a posterior, sem prejuízo financeiro.

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A empresa fiscalizadora também apontou falta de material humano qualificado, pois
a cidade de Pontes e Lacerda, no interior de Mato Grosso, carece de mão de obra es-
pecializada, no entanto, após alguns ajustes iniciais conseguiu realizar a obrigação para
que foi contratada.

Figura 1. Fotos do relatório da empresa fiscalizadora.

Fonte: Brasil, 2014b.

Se não houvesse o registro formal e fotográfico dessas etapas, a comissão de fisca-


lização da PRF encontraria dificuldade em constatar a qualidade dos materiais utilizados,
das bitolas de ferro usadas, do uso e reuso das formas de madeira, do traço adequado
do concreto, que foi feita a compactação adequada do solo, entre tantas outras nuances.
Lembrado que essa citada comissão somente realiza uma visita mensal à obra.
Todo o acompanhamento e assessoria na fiscalização da obra busca que essa seja
executada de acordo com o planejado, com os recursos a ela destinados e no prazo estabe-
lecido. Então, diante dos valores apresentados, entende-se que a viabilidade financeira na
contratação de empresa para assessoria na fiscalização de obras públicas, e em especial
esta obra da PRF em Pontes e Lacerda/MT são plenamente justificáveis.
Segue figura que apresenta a unidade operacional após a nova construção.

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Figura 2. Unidade Operacional após a reforma/ampliação.

Fonte: Amilton Antônio, 2015.

Conforme descrito neste trabalho, a unidade operacional de Pontes e Lacerda/MT é


estratégica, pois fica em uma região de fronteira, a pouco mais de 100 km da divisa com a
Bolívia, local de grande fluxo de drogas e tráfego de veículos furtado/roubados. Além disso,
essa unidade tem um trecho de circunscrição de mais de 700 km de extensão em que a
PRF atende ocorrências de trânsito, de criminalidade, de auxílio a usuários, de mediação
de conflitos indígenas, de bloqueio de rodovias e outros.
Por fim, a estruturação dessa unidade contribui para manter condições mínimas de
trabalho para o efetivo que labora nesse local.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A PRF é um órgão de muita capilaridade nacional, com edificações espalhadas por todo
território nacional, com os mais variados objetivos, necessitando de manutenção, reforma
e ampliação constantes, proporcionalmente, precisaria de uma mesma quantidade de equi-
pes de fiscalização para acompanhar tudo isso, o que não é possível devido as demandas
prioritárias de segurança pública do órgão.
Diante disso a contratação de empresas para auxiliar na fiscalização da execução das
obras demandadas surge no horizonte como uma alternativa possível, restava somente o
questionamento acerca da sua viabilidade. Assim, após a realização desse trabalho desta
pesquisa é possível afirmar acerca da viabilidade analisada.
Muitas vezes as obras públicas são expostas na mídia devido ao desvio de dinheiro
público, o superfaturamento, os aditivos que encarecem o planejado, as obras inacabadas,
dentre outras mazelas. No presente caso, afirma-se que nenhum destes itens ocorreu. A obra
foi finalizada, sem aditivos financeiros, dentro do prazo aceitável, no preço justo e licitado,
e que a contratação da empresa que auxilia a fiscalização foi viável e fundamental em todo
o processo de construção até a entrega da obra.

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A contratação da empresa que auxiliou a fiscalização gerou um custo adicional para
a administração, apesar disso, essa se fez tão necessária quanto a própria comissão de
fiscalização da PRF, na medida em que orientou e apoiou a Administração Pública e até
mesmo a própria executora, direcionando de forma mais eficiente a mão de obra disponível
e as técnicas/materiais mais apropriados/normatizados para esta obra.
Cabe salientar que a empresa fiscalizadora também foi fiscalizada pela comissão, o
que demonstrou que ela não era autossuficiente ou independente, como também não rece-
beria sua parcela caso a executora não executasse a obra conforme o planejado, de forma
que foram dois contratos que convergiram para a execução de uma obra de qualidade, com
preço justo, e no prazo razoável.

REFERÊNCIAS
1. BRASIL. IBGE. https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mt/pontes-e-lacerda/panorama, s.d.
consulta feita em 25/03/2019.

2. BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília. 1988.

3. BRASIL. Presidência da República. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regula-


menta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e
contratos da Administração Pública e dá outras providências. Brasília, 1993.

4. BRASIL. POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL. Processo Administrativo


08661.005202/2014-80. Processo de fiscalização do contrato de construção da 7ª
DLPRF. Cuiabá, 2014a; 1.261 páginas.

5. BRASIL. POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL. Processo Administrativo


08661.005203/2014-24. Processo de fiscalização do contrato de construção da 7ª
DLPRF. Cuiabá, 2014b; 1.261 páginas.

6. BRASIL. Tribunal de Contas da União. Obras Públicas - Recomendações Básicas


para a Contratação e Fiscalização de Obras de Edificações Públicas.4ª Ed. Bra-
sília, 2014c.

7. BRASIL. POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL. Manual de Identidade Visual. 3ª Ed.


Brasília, 2016, 454 páginas.

8. BRASIL. POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL. Relatório de Infraestrutura Predial.


Divisão de Infraestrutura Predial, 2018.

9. CALEGARI, R. G et al. As Atribuições da Polícia Rodoviária Federal frente as deman-


das da sociedade contemporânea. Revista da UNIFEBE, [S.l.], p. 99-109, maio 2016.
ISSN 2177-742X.

10. COSTA, Antonio França da. Aspectos gerais sobre o fiscal de contratos públicos.
Revista do TCU. Maio/Ago. 2013.

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11. COSTA FILHO, José Vinicius da; et al. Art. 67 da Lei nº 8666/93: Conhecimentos
fundamentais para o responsável pelo acompanhamento e fiscalização do contrato
administrativo. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVIII, n. 133, fev 2015.

12. DI PIETRO, M. S. Z. Direito Administrativo. 27-Ed. São Paulo: Editora Atlas, 2014.

13. FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002.

14. FERNANDES, Alyson. Licitações Públicas e Contratos Administrativos. Jusbrasil,


2016.

15. LEITE, André Estima de Souza. A legalidade da atuação da polícia rodoviária federal
fora das rodovias federais. In: Âmbito Jurídico; Rio Grande, XVI, n. 110. mar 2013.

16. PÉRCIO, Gabriela Verona. Contratos Administrativos sob a ótica da gestão e da


fiscalização. Curitiba, 2010.

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Resíduos da Construção Civil
12
Utilização de argamassa com agregado
reciclado de cerâmica vermelha na
recuperação de estruturas

Claudeir de Souza Santana


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Juzélia Santos
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Artigo original publicado em: 2011


66° Congresso ABM - ISSN 1516-392X.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/230312352
RESUMO

O objetivo desta pesquisa é a utilização do rejeito de cerâmica vermelha de uma indústria


de tijolos como argamassa para reparo de patologia de estrutura, visando sua aplicação em
substituição à areia. A argamassa produzida restaura um banco confeccionado com concreto
cujo assento era de agregado de cerâmica vermelha e pernas de tijolos de solo-cimento e
uma laje de cobertura de concreto armado, a qual após mais de trinta anos de existência vinha
apresentando manifestações patológicas no revestimento. O rejeito de cerâmica vermelha
descartado no final do processo de produção, foi moído em granulometria apropriada para
simular um tipo genérico de areia. Foram desenvolvidos processos de moagem e traçadas
várias curvas granulométricas. Os agregados produzidos foram caracterizados desde a jazida
até a moagem final de acordo com as normas da ABNT vigente, a área específica através de
BET, para análise micro estrutural foi utilizado difração de Raio-X. A argamassa produzida
mostrou-se adequada para a restauração proposta. Concluiu-se que a argamassa produzida
com agregado reciclado de cerâmica vermelha pode ser utilizada em restauração estrutural
na construção civil em substituição ao agregado natural, com benefícios de custo e ambiental.

Palavras-chave: Reciclagem, Agregado, Cerâmica Vermelha, Restauração Estrutural.


INTRODUÇÃO

O Setor de Cerâmica Vermelha ou Estrutural que fabrica materiais de argila (tijolos,


telhas, blocos, manilhas, lajotas, tubos e ladrilhos vermelhos) para a construção civil, no
Brasil, segundo o Anuário Brasileiro de Cerâmica, existem cerca de 11.000 indústrias de
Cerâmica Vermelha.(1)
Com uma produção de 11.100.000 peças/mês, as 19 Indústrias cerâmicas localiza-
das na Grande Cuiabá, duas empresas produzem 3,6 milhões peça/mês, quatro produzem
acima de 500 mil peças/mês, uma produz 500 mil, e o restante delas produzem abaixo de
400 mil. Com uma mão de obra direta aproximada de 600 pessoas e mão de obra indireta
de aproximadamente 200 pessoas.(2)
A indústria de Cerâmica Vermelha movimenta cerca de 60 milhões de toneladas de
matéria prima por ano,(3) o que representa 54 milhões de toneladas transformadas em pro-
dutos (supondo que 10% desse material correspondam a materiais que são decompostos
como matéria orgânica e carbonatos). A perda média de 3% a 5% durante o ciclo de produ-
ção é aceitável pelas indústrias, podendo gerar de 1,6 milhões a 2,7 milhões de toneladas
de resíduo por ano, constituído de produtos que foram descartados por conter algum tipo
de defeito, como trincas, empenamento, baixa resistência, deformações, ou qualquer outro
que impeça o uso dentro dos padrões exigidos pela normalização vigente.
O objetivo desta pesquisa é estudar a viabilidade deste resíduo se tornar matéria prima
e ser reutilizado na própria construção civil, em substituição ao agregado natural areia de
rio em argamassas.

Problema Analisado

A matéria-prima que servirá como base nesse estudo será o resíduo de cerâmica ver-
melha. Esse material foi coletado em uma indústria de tijolos na cidade de Cuiabá. O estudo
será feito para visualização da qualidade final, em virtude da reutilização desse material
na construção civil, o material substituirá o agregado miúdo em argamassa. Além disso, o
estudo é a tentativa de produzir materiais ecologicamente corretos para evitar agressões à
natureza, contribuir para diminuir a poluição do solo, água e ar, estimular a consciência, uma
vez que produtos gerados a partir dos reciclados são comercializados em paralelo àqueles
gerados a partir das matérias-primas virgens e principalmente o baixo custo que será para
produzir e comercializar este produto.
A argamassa em estudo será utilizada na restauração de um banco construído no ano
de 1995, por duas alunas do curso técnico de Edificações juntamente com a professora
Juzélia Santos, com materiais reciclados, conforme pode ser observado na Figura 1, foto

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retirada alguns dias após a fabricação e cura do mesmo. As pernas foram executadas com
tijolos de solo-cimento e o assento com concreto de cerâmica vermelha.(4) Já nas Figuras 2,
3, 4 e 5 podemos observar fotos do banco no ano 2009, todo deteriorado. O outro objeto de
estudo desta pesquisa foi uma laje de concreto armado, sem cobertura, protegida em sua
parte superior por manta asfáltica e uma camada de argamassa. Na parte inferior, a laje teve
sua área rebocada e pintada com pintura látex. A laje tem área total de 160 m² com extensão
de 57,30 m e 2,80 m de largura, constituindo um ambiente avarandado, destinado ao acesso
de um edifício público ao qual após mais de 30 anos de existência vinha apresentando ma-
nifestações patológicas no revestimento.(5) Conforme pode ser observado nas Figuras 6 e 7.

Figura 1. Foto do banco confeccionado em 1995 (aluna e profª. Juzélia).

Figura 2. Foto do banco deteriorado. Figura 3. Foto do banco deteriorado.

Figura 4. Foto do banco deteriorado. Figura 5. Foto do banco deteriorado.

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O banco foi deteriorado devido às duas obras que ocorreram no pavilhão e em seu
entorno, cujos funcionários utilizaram o referido banco como fonte de apoio para dobragem
de armadura, padiolas e todo tipo de apoio que se fizesse necessário no desenvolvimen-
to da obra, e dessa forma ocasionando patologia que hoje é um dos objetos da recupe-
ração em estudo.

Figura 6. Patologia no reboco.

MATERIAIS E MÉTODOS

Caracterização dos Materiais

O material utilizado é o rejeito de uma indústria de cerâmica vermelha – CV(tijolo),


descartado no processo de produção após a queima, de uma indústria da região de Cuiabá-
MT. As peças foram fragmentadas com britador de mandíbulas, e moídas por moinho de
partículas finas. O material foi separado em frações granulométricas, semelhantes ao en-
contrado na natureza. O agregado reciclado utilizado consistiu de material retido na peneira
de malha 4,75 mm e 2,36 (graúdo) e abaixo da 2,36 retidos na peneira com abertura de
malha de 0,075 mm (miúdo) em ensaio realizado de acordo com NBR NM 248. O agregado
fino convencional de referência foi areia natural quartzosa (areia de rio), da região da cida-
de de Cuiabá-MT.

RESULTADOS

Agregados

Os resultados da caracterização física dos agregados natural e reciclado em estudo


podem ser observados na Tabela 1.

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Tabela 1. Características físicas das matérias – prima.

Propriedades Areia CV - Reciclado Norma


Diâmetro máximo 0,6 mm 4,8 mm NM 248(6)
Módulo de finura 1,85 3,24 NM 248(6)
Massa específica saturada 2,56 2,35 NM 53(7)
Índice de vazios - 17,80% NM 53(7)
Impureza orgânica Clara Clara NM 49(8)
Material pulverulento 0,53% 24% NM 46(9)
Massa unitária solta 1,56m³ 1,13 m³ NBR 7251(10)
Absorção por imersão 0,33% 11,79% NM 53(7)
Determinação de teor de Argila em terrões e materiais friáveis 12% 7,97% NBR 7218(11)
Massa unitária compactada 1,66 m³ 1,22 m³ NBR 7810(12)

Na Figura 7 apresenta-se a curva granulométrica do agregado em estudo. E por


meio deste obteve-se os diâmetro máximo característico de 4,8 mm e módulo de finura de
3,24. Já na Figura 8 tem-se uma foto do agregado reciclado aumentado 80X, em um mi-
croscópio ótico, em relação a tela de um computador.

Figura 7. Curva granulométrica do agregado miúdo areia de rio – CV. NBR NM 248.(6)

Figura 8. Agregado miúdo cerâmica vermelha Mag. 80X (em relação à tela do computador).

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Micro-análise do agregado em estudo/ difração de raios-X

Pelas Figuras 9, 10 e 11 podem-se observar que os agregados em estudo apresentam


a mesma estrutura formadora do esqueleto, independente de ser o agregado reciclado de
cerâmica vermelha ou de areia natural quartzosa as fases mineralógicas são as mesmas.

Figura 9. Raio-x da amostra da jazida de extração da matéria prima. Por meio dele podemos observar a estrutura do
esqueleto formador do material, realizado em aparelho da marca Siemens modelo D5005, no Departamento de Engenharia
de Materiais – DEMA - da Universidade Federal de São Carlos – SP.

Figura 10. Difratograma de Raio-x do agregado cerâmica Figura 11. Difratograma de Raio-x do de agregado natural
vermelha -CV. areia de rio-P.

Argamassa

Durante o estudo foram desenvolvidas argamassas de traço volumétrico denominadas


de CV9 (1:2:9) e CVA12 (1:3:12) (cimento: cal: agregado miúdo de cerâmica vermelha), cujas

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181
similaridades utilizou-se argamassas de referência de cimento, cal e agregado miúdo areia
de rio com traço volumétrico denominadas P9 (1:2:9) e PA12 (1:3:12).
Na restaurações dos objetos utilizou-se a argamassa cujo traço em massa é de 1:
0,91:3,71, denominado se CVD (Cerâmica Vermelha Danilo).(13)

Propriedades físicas das argamassas

As propriedades físicas das argamassas em estudo podem ser observadas na Tabela 2.

Tabela 2. Propriedades físicas das argamassas.


Densidade de massa Massa unitária
Traço Consistência NBR 13276(14) Fator água/cimento
(g/cm²) NBR 13278(15) NBR 7251(10)
CV9 250 1,84 3,31 1,13
CVA12 251 1,84 4,56 1,13
P9 261 1,96 2,63 1,56
PA12 259 1,96 3,43 1,56
CVD 247,5 1,83 1,81 1,13

Resistência à compressão axial

Os resultados de resistência à compressão axial estão apresentadas na Figura 12, um


gráfico para melhor visualização dos resultados. Na Figura 13 temos um CP após o rompimento.

Figura 12. Gráfico de resistência à compressão axial.

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Figura 13. Mostra do corpo de prova após rompimento.

Por meio dos ensaios no estado endurecido podemos perceber, que as argamassas
contendo agregado reciclado apresentam melhores resultados que as argamassas convencio-
nais. Fica evidente que a utilização da argamassa reciclada de cerâmica vermelha propicia a
obtenção de argamassas de propriedades extremamente otimizadas. Quando observamos o
salto de valor que a mesma experimenta quando formulada com o traço especial D (Danilo),
mostra que o efeito do empacotamento é crítico.

PROCESSO DE RECUPERAÇÃO DAS ESTRUTURAS

Banco

No processo de restauração do banco após o empacotamento e definição do traço


(CVD) através do processo de densidade real, foi aplicado removedor de ferrugem confor-
me as Figuras 14 e 15, após 24h aplicou-se um chapisco de traço 1:3 (cimento: agregado
proveniente de cerâmica vermelha). O chapisco em questão foi curado através de processo
de molhagem durante sete dias
Após sete dias de cura aplicou-se então a argamassa produzida e o resultado do banco
após sua recuperação pode ser observado nas Figuras 16 à 19.

Figura 14. Removedor de ferrugem.

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Figura 15. Removedor de ferrugem aplicado nas ferragens.

Figura 16. Banco recuperado. Figura 17. Banco recuperado.

Figura 18. Banco recuperado. Figura 19. Banco recuperado.

LAJE

O processo de restauração da laje deu-se início com o destacamento do reboco que


estava fofo tentando requadrar ao máximo como pode ser observado na Figura 19, foi apli-
cada uma pasta de cimento, constituída por aglomerante do tipo cimento Portland CPII Z 32,
aditivos poliméricos com função de impermeabilização (Aditivo Imperplast) e água, de traço
unitário 1:0,3 de solução (água/aditivo)(16) conforme Figura 20, aguardou-se 7 dias, aplicou-se
um chapisco de traço 1:2 (cimento; agregado natural) aguardou-se mais 7 dias para a cura
do chapisco com processo de molhagem, e por fim deu-se a aplicação da argamassa com

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agregado reciclado, curando a argamassa com molhagem durante 7 dias. O resultado pode
ser observado nas Figuras 20 a 23.

Figura 20. Destacamento do reboco. Figura 21. Pasta de cimento.

Figura 22. Argamassa aplicada. Figura 23. Argamassa aplicada.

CONCLUSÃO

Os resultados indicam até o presente momento que a argamassa em estudo está de


acordo com o mínimo exigido pelas Normas Brasileiras.
Certamente, o uso de areia reciclada em argamassas é viável em muitas cidades.
Entretanto, há desafios tecnológicos e comerciais a serem vencidos para que o produto
possa gradativamente conquistar o mercado consumidor, como uma opção ambientalmente
correta, tanto do ponto de vista da reciclagem quanto da durabilidade das edificações.

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REFERÊNCIAS
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e Tecnologia, SENAI/FIEMTEC. 2005.

2. MAIA, E. C. Monografia, SENAI/FIEMTEC. Centro de Educação e Tecnologia. 2006.

3. GASPAR JÚNIOR, L.A. et all. Panorama atual do pólo cerâmico de Santa Gertrudes
em função de novos estudos mineralógicos e texturais da matéria-prima utilizada na
indústria de revestimentos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CERÂMICA, 41.1997,
São Paulo, SP. Anais... São Paulo: ABC, 1997. P. 696-699. 1632

4. COSTA, J. S. da; CONCIANI, W.; FONSECA, J. B. B.; Brick of Cement-Soil with Ma-
terial of Cuiabana Region, CEFET-MT, 2000.

5. SIQUEIRA, W. G. DE; LIMA, DRª S. M. DE,. Manifestações patológicas em laje de


cobertura: estudo de caso. ANAIS. VI CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE PA-
TOLOGIA Y RECUPERACÍON DE ESTRUCTURAS. 2010.

6. ______. NBR NM 248 – Agregados - Determinação da composição granulométrica.


Rio de Janeiro. 2003

7. ______. NBR NM 53 – Agregado graúdo – Determinação de massa específica, massa


específica aparente e absorção de água. Rio de Janeiro. 2003

8. ______. NBR NM 49 – Determinação de impurezas orgânicas. Rio de Janeiro. 2001

9. ______. NBR NM 46 – Determinação do material fino que passa através da peneira


75 μm, por lavagem. Rio de Janeiro. 2001

10. ______. NBR 7251 – Agregado em estado solto – Determinação da massa unitária.
Rio de Janeiro. 1982

11. ______. NBR 7218 – Agregados – Determinação do teor de argila em torrões e mate-
riais friáveis. Rio de Janeiro. 1987

12. ______. NBR 7810 – Agregados no estado compactado – Determinação da massa


unitária. Rio de Janeiro. 1982

13. BONFIM, D. e BALDO, J.B.; Um novo método para a dosagem de concretos estruturais
de cimento Portland. Dissertação. DEMa-UFSCar, São Carlos, 2005. 92p.

14. ______. NBR 13276 - Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos
- Preparo da mistura e determinação do índice de consistência. Rio de Janeiro. 2002

15. ______. NBR 13278 - Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e


tetos – Determinação da densidade de massa e do teor de ar incorporado. Rio de
Janeiro. 2001

16. TATSUNO, R. T. M.; AMORIM, E. F.; LIMA, Drª S. M. de,. Recuperação estrutural de
um reservatório enterrado: um estudo de caso. ANAIS. 5º Congresso Internacional
sobre Patologia e Reabilitação de Estrutura. 2009.

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17. COSTA, J. S. “Agregados alternativos para argamassa e concreto produzidos a partir
da reciclagem de rejeitos virgens da indústria de cerâmica tradicional. TESE de Dou-
torado, DEMa, Universidade Federal de São Carlos, DEZEMBRO DE 2006, 208P.

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13
Produção de tijolos prensados com
agregados reciclados da construção civil

Benedito Ilmar de Moraes


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Eduardo Miranda Ethur


Universidade do Vale do Taquari (UNIVATES)

Juzélia Santos da Costa


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Artigo original publicado em: 2021


Revista Ibero-Americana de Ciências Ambientais - ISSN 2179-6858.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/230212023
RESUMO

O setor da construção civil provoca grandes impactos ambientais decorrentes de suas ativi-
dades, sendo que a elevada geração de resíduos, denominados de Resíduos da Construção
Civil (RCC), e está associada a várias problemáticas críticas e urgentes no contexto urbano.
Este artigo, fruto da dissertação de mestrado em Ambiente e Desenvolvimento, realizado no
Programa de Pós-Graduação do Univates Centro Universitário - RS, evidencia a possibilidade
do reaproveitamento deste material (RCC) como alternativa de incorporá-lo na fabricação de
tijolos, com o objetivo de realizar a utilização dos resíduos da construção civil. Para viabilizar
a produção de tijolo prensado, foram utilizados Agregados Reciclados da Construção Civil
(RCC). A partir das informações e dados levantados, foram estudadas as legislações vigentes
priorizando o tema, com ênfase nos instrumentos legais estipulados para a gestão ambiental
de RCC. Os tijolos prensados com RCC foram utilizados na execução de alvenarias de ve-
dações, tendo como objetivo proporcionar um destino adequado ao RCC, a fim de contribuir
com a sustentabilidade na construção, atenuando, assim, os problemas enfrentados pelos
órgãos ambientais e sociais. Para a caracterização dos materiais, foram realizados ensaios
laboratoriais, conforme as normas: ensaios de análise granulométrica, ensaios de compressão
simples de absorção de água e capilaridade. Foi utilizado o solo miúdo onde se escolheu a
porcentagem com teor de argamassa (51%), aplicando nos traços definidos (1:7, 1:9, 1:11
e 1:20). Foram produzidos tijolos com RCC que foram analisados e testados numa primeira
etapa nas idades de 07, 14, 28 dias, sendo que o final dos estudos ocorreu na idade de 180
dias, conforme as normas estabelecidas de ensaios para a absorção de água por imersão,
absorção de água por capilaridade, resistência à compressão axial simples entre outros.

Palavras-chave: Resíduos da Construção Civil, Reaproveitamento, Produção de Tijolos


Prensados de (RCC).
INTRODUÇÃO

Segundo Nagalli (2014), a construção civil brasileira vem aumentando sua participação
na economia nacional. Cerca de 20% do PIB brasileiro vem deste setor, o que o torna um
dos mais importantes ramos de produção do país.
Igualmente, nestas últimas décadas, os resíduos da construção civil (RCC) vêm rece-
bendo atenção crescente por parte de construtores e pesquisadores em todo o mundo (YUAN
et al., 2012). Isso se deve, principalmente, ao fato de que os RCCs estão se tornando um
dos principais agentes para a poluição ambiental (YUAN et al., 2011; JAILON et al., 2009).
Nesse cenário, a construção civil, nos moldes como é hoje conduzida, apresenta-se
como grande geradora de resíduos. No Brasil, onde boa parte dos processos construtivos
é essencialmente manual e cuja execução se dá praticamente no canteiro de obras, os
resíduos de construção e de demolição, além de potencialmente degradadores do meio
ambiente, ocasionam problemas logísticos e prejuízos financeiros.
Conforme estimativa da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e
Resíduos Especiais (ABRELPE), em 2012, os municípios brasileiros coletaram mais de
35 milhões de toneladas de RCCs, o que representa 55% de todo o resíduo sólido urbano
(RSU) coletado naquele ano. A União Europeia, preocupada com essa questão, estipulou
a meta ousada de recuperar 70% em peso dos resíduos de construção civil (RCC) até
2020 (LLATAS, 2011).
O Plano Nacional de Resíduos Sólidos estabelece como meta que todas as regiões
do país estejam aptas a reciclar seus resíduos utilizando unidades de recuperação, com
eliminação das áreas de disposição irregular (bota-foras).
Assinala-se que esse tema ganhou grande importância nas últimas décadas, mas as
pesquisas na área ocorrem ainda de maneira dispersa. Yuan et al. (2011), ao pesquisarem
as publicações disponíveis sobre o assunto, concluíram que a investigação sobre os resíduos
da construção civil ainda não é sistemática e carece de aprofundamento e padronização.
Outra dificuldade citada se refere ao fato de que as pesquisas recentes sobre os resí-
duos da construção civil são essencialmente sobre coleta de dados e de cunho descritivo
(YUAN et al., 2011). Ainda assim, vislumbra-se a perspectiva de que as pesquisas se voltem
mais para técnicas de simulação e moldagem mais sofisticadas.
Entre os Centros de Pesquisas Importantes em RCCs estão The Hong Kong Polytechnic
University e City University of Hong Kong (China); University Kebangsaan Malaysia (Malaysia);
Griffith University e University of Western Sydney (Australia); e National Technical University
of Athena’s (Grécia).
No Brasil, o interesse em pesquisar o Campo dos Resíduos da construção civil também
se manifesta. Em Cuiabá, pesquisadores do Campus Octayde Jorge da Silva (IFMT) vêm

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190
desenvolvendo pesquisas com esse objetivo, figurando, entre outros, os estudos com tijolos
de Solo-Cimento, com Agregados Reciclados de Resíduos de Cerâmica Vermelha (RCV)
para Concretos e Argamassas (COSTA et al., 2008) e (FAVINI et al., 2009), com Resíduos
da Construção Civil (RCC), para Blocos de Alvenaria, (RCC) para Concreto Auto Adensável
(LIMA et al., 2012), e (RCC) para Base, Sub-Base de Pavimentos (AMORIM et al., 2011).
Seguindo esse interesse em pesquisar o reaproveitamento de resíduos da construção
civil com intuito de contribuir para o fortalecimento de estudos nessa área em Mato Grosso,
este presente trabalho objetiva produzir um tijolo prensado de agregados reciclados da
construção civil (RCC), materiais oriundos de uma concessionária, no município de Cuiabá-
MT. No desenvolvimento de produção desse tijolo prensado, pretende-se explorar as poten-
cialidades do resíduo (RCC) que, hoje, são descartados na natureza de forma sustentável.

MATERIAIS E MÉTODOS

Fabricações dos Tijolos

Para fabricação dos tijolos, utilizou-se o método do Helene (1993), adaptados por Costa
(2006). Trata-se do proporcionalmente adequado dos materiais constituintes – cimento, agre-
gado miúdo, agregado graúdo, água e eventualmente aditivos – atendendo as características
básicas do estudo de dosagem, com base nos requisitos de obra e de projeto. Na determi-
nação do teor de argamassa ideal, usa- se o traço, ou seja, testar os teores de argamassa
crescentes até identificar o teor que resulta na trabalhabilidade desejada com boa coesão
do concreto, sem exsudação e sem segregação.
Os procedimentos utilizados na fabricação dos tijolos foram: peneiramento do agregado
retirado da empresa em estudo direto do britador, adição do cimento e água, com um teor
de argamassa de 51%, para formar a massa (farofa) nas proporções dos traços em volume
1:7 em massa: (1:3,08:3,92); 1:9 em massa (1:4,1:4,9); 1:11 em massa (1:4,61:6,39) e 1:20
(1:9,71:10,29), respectivamente: cimento e agregado de resíduo da construção civil, (con-
forme figuras 17, 18, 19, 20, 21 e 22). Nessa etapa, os tijolos foram estudados nas idades
de 7, 14 e 28 dias e, na fase final da pesquisa, os tijolos foram avaliados na idade de 180
dias. Os tijolos possuem as seguintes dimensões: 250 mm de comprimento 125 mm de
largura e 62,5 mm de altura.
Para prensagem dos tijolos, utilizou-se uma prensa hidráulica em que foram fabricados
12 tijolos por idade. A cura dos tijolos ocorreu em câmara úmida coberta com lona preta por
um período de 07 dias, sendo molhado uma vez ao dia, conforme as informações técnicas
da NBR-8492:2012.

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191
Propriedades físicas dos Tijolos no estado endurecido

Determinação da absorção de água por imersão - Índice de vazios e massa específica


de acordo com a Norma brasileira NBR 9778:2009 - Argamassa e concreto endurecidos –
Determinação da absorção de água, índice de vazios e massa específica (ABNT, 2001).

Absorção água por imersão NBR 9778:2009

A absorção de água por imersão é o procedimento que faz com que a água tende a se
conduzir para os poros permeáveis de determinado corpo poroso com o intuito de preen-
chê-los. Equação 1.
Definida pela seguinte Equação:

𝑀𝑀!"# − 𝑀𝑀! 𝑥𝑥 100


𝐴𝐴 = Equação 1
𝑀𝑀!

Onde:
A – Absorção de água por Imersão
Msat – Massa do corpo-de-prova saturado
Ms – Massa do corpo-de-prova seco em estufa

Índice de vazios

Como não há previsão de cálculo do índice de vazios e da porosidade nas normas


de solo-cimento, no presente trabalho utilizaram-se os parâmetros determinados por Pinto
(2016). Como a massa específica dos grãos de solo e dos grãos de cimento já foram deter-
minadas em outros ensaios, alternativamente o índice de vazios pode ser determinado sem
necessidade da balança hidrostática, conforme demonstrado nas equações:

(1 + 𝑝𝑝)
𝑒𝑒!"" =
1 𝑝𝑝 Equação 2
𝛿𝛿!""#" +
𝛿𝛿!"" 𝛾𝛾"

1 𝑝𝑝
𝛿𝛿!""#" ( + )
𝛿𝛿!"" 𝛾𝛾" Equação 3
𝑛𝑛!"" =
(1 + 𝑝𝑝)

Dados:

Ρ – Proporção de cimento em relação ao agregado reciclado – (RCC) seco, grama.


δrcc-c – Massa específica aparente do RCC (Resíduo da Construção Civil) mais cimen-
to, g/cm³

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δrcc – Massa específica do agregado reciclado (RCC), g/cm³
Yc – Massa específica do cimento, g/cm³
(ercc-c) = Índice de vazios do agregado reciclado – (RCC) com cimento
(nrcc-c) = Porosidade do agregado reciclado – (RCC) com cimento

Massa Específica (NBR 9778:2009) – em g/cm³

A massa específica é a relação entre a massa seca do material e o volume total, in-
cluindo todos os poros permeáveis e impermeáveis, e a massa específica real é a mesma
relação, excluindo os poros permeáveis. Equação 4.
Calcular da massa específica da amostra seca (𝜌s) pela seguinte Equação 4

𝑀𝑀!
𝜌𝜌𝑠𝑠 = Equação 4
𝑀𝑀!"# − 𝑀𝑀$

Onde:

𝜌s – massa específica seca


msat – massa do corpo de prova saturado
ms – massa do corpo de prova seco em estufa
Mi – massa do corpo de prova saturado, imerso em água

Massa específica da amostra saturada em g/cm³

Calcular a massa específica da amostra saturada após fervura (𝜌sat) pela se-
guinte Equação 5.

𝑀𝑀!"#
𝜌𝜌𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠 =
𝑀𝑀!"# − 𝑀𝑀$
Equação 5

Onde:

𝜌sat – massa específica da amostra saturada


Msat – massa do corpo de prova saturado
Mi – massa do corpo de prova saturado, imerso em água

Massa específica real em g/cm³

Calcular a massa específica real da amostra (𝜌𝑟), pela seguinte Equação 6:

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𝑀𝑀!
𝜌𝜌𝑟𝑟 =
𝑀𝑀! − 𝑀𝑀"
Equação 6

Onde:

𝜌𝑟 – massa específica real


Mi – massa do corpo de prova saturado, imerso em água
Ms – massa do corpo de prova seco em estufa

Determinação da absorção da água por capilaridade - Método de ensaio. Norma


brasileira NBR 9779:2012 - Argamassa e concreto endurecidos – Determinação da
absorção de água por capilaridade

A NBR 9779:2012 prescreve o método para determinação da absorção de água, através


da ascensão capilar, de argamassa e concreto endurecidos. A absorção de água por capi-
laridade deve ser expressa em g/cm² e calculada dividindo o aumento de massa pela área
da seção transversal da superfície do corpo-de-prova em contato com a água, de acordo
com a seguinte equação (7).
A absorção de água por capilaridade é calculada de acordo com a Equação 7.

𝑀𝑀!"# − 𝑀𝑀!
𝐶𝐶 =
𝑀𝑀!
Equação 7

Onde:

C é a absorção de água por capilaridade, expressa em gramas por centímetro qua-


drado (g/cm2);
msat é a massa saturada do corpo de prova que permanece com uma das faces em
contato com a água durante um período de tempo especificado, expressa em gramas
(g);
ms é a massa do corpo de prova seco, assim que este atingir a temperatura de (23 ±
2) °C, expressa em gramas (g);
S é a área da seção transversal, expressa em centímetros quadrados (cm2)

Resistência mecânica à compressão simples

Define-se a resistência de um material como a sua capacidade de resistir à tensão sem


ruptura. Em um corpo de prova, é a carga máxima que este pode suportar.

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Ensaio de resistência à compressão simples dos tijolos ecológicos de acordo com a
NBR 8492:2012. Para o rompimento, os tijolos deverão estar com as faces planas, o que
é feito capeando as faces com pasta de cimento Portland de consistência plástica, com
espessura mínima de 3mm.
Todos esses procedimentos foram realizados para a obtenção de um micro concreto
suficientemente homogêneo e compacto, cuja avaliação será conforme a fabricação dos
tijolos de agregados reciclados da construção.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Figura 1 estão representados os resultados dos ensaios de caracterizações dos agre-


gados reciclados da construção civis e demolições (RCD), utilizadas na pesquisa para pro-
dução dos tijolos. Trata-se da curva granulométrica do agregado miúdo utilizado em estudo.

Figura 1. Composição Granulométrica do Agregado Miúdo.

Diâmetro máximo: 6,3 mm


Módulo de finura: 2,55

O ensaio para determinação do teor de torrões de argila e materiais friáveis foi realiza-
do de acordo com que estabelece a NBR 7218:2010. Na Tabela 1, constam os percentuais
encontrados do agregado miúdo reciclado dos resíduos sólidos da construção civil e demo-
lição respectivamente exigida pela NBR 15116:2004 (ABNT, 2004). Pode-se observar que
a média do teor de torrões de argila e materiais friáveis para o resíduo miúdo ficou acima
do exigido pela norma. Isso pode ter sido influenciado pelas características do material que
apresenta em sua composição grande parcela de material cerâmico, alvenaria, concretos
e outros, e ainda podem ter ocorrido falhas no processamento de trituração e moagem do
material, e isso pode ser outro fator contribuinte para esse resultado. Analisando a média
dos resultados dos ensaios para o agregado miúdo reciclado, é possível observar que a
porcentagem de teor de torrões de argila e materiais friáveis não atendeu ao parâmetro de
2% aceitável pela norma.

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Tabela 1. Teor de torrões de argila.

Peneira depois/lava-
Passante Retido Amostra Ensaiada Amostra Peneirada Seca Amostra Retida em %
gem da amostra
4,47 1,18 200 g 600 185,2 7%
9,5 4,75 1 Kg 2,36 960,5 4%
19 9,5 2 Kg 4,75 1947,2 3%

O ensaio consistiu em preparar uma argamassa contendo os ARTC e o cimento


Portland CP V, que possui alta concentração alcalina para acelerar o processo das bar-
ras de argamassa nas condições do ensaio diante dos limites da exposição estabelecida
pela norma de 0,19%.
O traço utilizado para a argamassas foi o 1: 2,25 (aglomerante: ARTC) e uma relação
água/cimento igual a 0,47 (NBR 15577-4: 2008). As quantidades necessárias para molda-
gem de três barras para cada argamassa, e as granulometrias utilizadas dos ARTC estão,
respectivamente, transcritas na Tabela 2.

Tabela 2. Granulometria requerida do material para ensaio.

Porcentagem de Materiais (agregados)

Peneiras Percentagem (%) Percentagem (%)


4,8 mm e 2,4 mm 10 99
2,4 mm e 1,2 mm 25 247,5
1,2 mm e 0,600 mm 25 247,5
0,600 mm e 0,300 mm 25 247,5
0,300 mm e 0,150 mm 15 148,5
Cimento: Portland CP V

Materiais cimentícios Agregados reciclados


Traço 1: 2,25
Relação equivalente água/cimento 0,47
Comprimento nominal da barra (mm) 285

A argamassa foi misturada manualmente e depois foram moldados os corpos de prova,


confeccionadas três barras prismáticas, de seção quadrada, com 25mm de lado e 285mm
de comprimento, com duas camadas adensadas com 20 golpes de soquete.
Os moldes foram colocados em câmara úmida por 24h e, em seguida, foram desmol-
dadas e colocadas submersas em água destilada a 80ºC por outras 24h.
Retiradas da água, foi feita leitura do comprimento inicial e, em seguida, submersas
na solução de NaOH 1N (Hidróxido de sódio 1 Normal) a 80 ºC. Após a leitura zero (leitura
inicial), foram efetuadas leituras nas idades de 16 e 30 dias, e três leituras intermediárias
em cada período.
Expansões inferiores a 0,10% aos 16 dias de idade indicam um comportamento inócuo
do agregado na maioria dos casos; expansões superiores a 0,10% e inferiores a 0,20% aos

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16 dias de idade indicam um comportamento potencialmente reativo; expansões superiores a
0,20% aos 16 dias de ensaio indicam um comportamento reativo do agregado, ASTM C-1260.
Conforme a Norma da ABNT NBR 15577-4, quando o resultado do ensaio de álcali-
-agregado pelo método acelerado indicar o limite de expansão for menor de 0,19% aos 30
dias de cura em solução alcalina, o agregado reciclado é considerado potencialmente inócuo
para uso em concreto. Conforme o resultado apresentado na Figura 2, a porcentagem da
expansão aos 16 dias foi de 0,098 % e aos 30 dias foi de 0,164 %.

Figura 2. Determinação da Reatividade álcali-Agregado pelo Método Acelerado.

Conforme a Norma da ABNT NBR 15577 e ASTM C-1260, os resultados apresentados


no gráfico 09 e na investigação acima, conclui-se que o agregado reciclado do resíduo da
construção civil (RCC) tem predisposição para uso na indústria da construção civil.
Nas literaturas pesquisadas sobre os agregados reciclados da construção civil, vários
autores fazem referências às atividades pozolânicas das partículas mais finas, manifesta-
das na presença de componentes de cal e cimento. Para constatar essas propriedades,
foi providenciado o ensaio que determina o Índice de Atividade Pozolânica com o cimento.
Trata-se de um método físico para determinar o índice de Atividade Pozolânica, que
se realiza misturando duas partes do material fino do Agregado Reciclado; uma parte de
hidróxido de cálcio puro [Ca(OH)2] numa argamassa composta com 9 partes em massa de
areia normal, observando-se a adição de água para que a argamassa atinja uma consis-
tência de 225±5 mm.
Após a moldagem em corpos-de-prova cilíndricos de 50 mm de diâmetro por 100 mm
de altura, as argamassas são submetidas à cura por 28 dias, sendo que as primeiras 24±2
horas devem ficar a uma temperatura de 23±2 ºC. e posteriores devem ser mantidas a
temperatura de 55±2 ºC até aproximadamente 5 horas antes dos ensaios de compressão.
A NBR 12653:92, que específicas às exigências químicas e físicas para que um mate-
rial seja considerado como uma pozolana. Na presente pesquisa foi utilizada a investigação

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197
do material com cimento aos 28 dias. As quantidades utilizadas para moldar os corpos de
prova estão descritas na Tabela 3.

Tabela 3. Quantidades em massa necessárias para a moldagem de três corpos-de-prova cilíndricos.

Massa necessária (g)


Material
Argamassa (A) Argamassa (B)
Cimento Portland – CP V 312 202,8
Material Pozolânico - 92,82
Areia normal 936 936

Verificou-se que de acordo com a NBR 12653:92 (ABNT, 1992), que prescreve o índice
de atividade pozolânica com cimento aos 28 dias, em relação ao controle, é 75 % mínimo,
portanto, o valor de 60,33% encontrado não satisfaz o previsto na referida norma, em relação
a amostra em estudo.
Como pode se observar analisando os resultados, houve uma menor evolução de resis-
tência para a argamassa B em relação a argamassa A, e desta forma, obteve-se para arga-
massa com adição pozolânica uma menor resistência à compressão aos 28 dias (Tabela 4).

Tabela 4. Resultados da Resistência à Compressão dos Ensaios de Rompimentos dos corpos de provas cilíndricos.

Tensão média argamassa A (MPa) 18,76


Tensão média argamassa B (MPa) 11,32
Índice de atividade pozolânica com cimento (%) 60,33
Água requerida argamassa A (ml) 200
Água requerida argamassa B (ml) 203
Água requerida (%) 101,5

Os testes realizados para a resistência de compressão simples foram determinados


com (06) unidades de tijolos por idade, e a média dos valores será expressa em Mpa. Para
a realização dos testes de resistência, foram produzidos tijolos por fases distintas entre 7,14
e 28 dias de idades. Estipulou-se o final da pesquisa em 180 dias de idade, quando todos
os ensaios no estado endurecido serão repetidos.
O resultado da pesquisa realizada nos estudos da caracterização do agregado reci-
clados da construção civil e demolição que foram coletados na empresa Eco Ambientais
encontram-se habilitados para realizar a fabricação dos tijolos a serem desenvolvidos.
O material coletado diretamente do britador apresentou pequena porcentagem de
areia fina, e com isso não há necessidade de introdução de areia do rio em sua composi-
ção. Portanto, o cimento é único elemento adicionado para obter resistência à compressão.
Conforme os traços (1:7, 1:9, 1:11 e 1:20), nos estudos experimentais definidos para a
fabricação dos tijolos, os resultados apresentados foram satisfatórios atendendo aos obje-
tivos da norma, para a resistência e compressão axial simples. Constatou-se que os tijolos

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fabricados com cimento e resíduos da construção civil (RCC) são resistentes e absorvem
muita água, mas não apresentam fissuras em sua estrutura.
Observou-se, ainda, que os agregados reciclados da construção civil e demolição estão
aptos para serem empregados na fabricação de tijolos a serem utilizados na construção de
habitação sem função estrutural, o qual foi o objetivo da pesquisa.
A propriedade que caracteriza a quantidade de água absorvida pelos vasos capilares é
um fator que deve ser conhecido por quem o utiliza, pois define a possibilidade de umidade
ascendente (REIS et al., 2013). Na determinação da absorção de água imersão, verificou-se
que o melhor desempenho foi o tijolo produzido no traço de 1:7, e como referência, o tempo
de 6 horas apresentou 1,8 g/cm² de absorção, enquanto o tijolo produzido no traço 1:20,
apresentou-se na mesma idade uma maior absorção de 3,3 g/cm². O resultado é coerente
com o ensaio de absorção em que os tijolos produzidos nos traços 1:11 e 1:20, apresentaram
as maiores taxas de absorção da ordem de 17,79% e 16,57% respectivamente. De acordo
com NBR 8491:2012, em Tijolo de Solo-cimento, a absorção de água deve ser ≤ 20,0%.
Porém, em vários estudos, pesquisadores relatam que os materiais reciclados RCC sempre
apresentaram alta taxa de absorção de água.
Assim os estudos sobre os tijolos obtiveram resultado satisfatórios (Figura 3).

Figura 3. Determinação Absorção por Capilaridade (g/cm²) – (180 dias).

Conforme o resultado apresentado para a determinação da absorção por capilarida-


de aos 180 dias, conforme a NBR 9779:2012, verificou-se que o desempenho dos tijolos
produzidos com referências de idades e horas indicadas, apresentou resultados coerentes
para o ensaio. Como o material utilizado para a produção do tijolo em estudos é o agregado
reciclado da construção civil, e sendo o cimento único elemento acrescentado na composi-
ção dos traços definidos para a determinação dos ensaios experimentais. Porém conforme
os estudos pesquisadores relatam que os materiais reciclados de agregados RCC, sempre
apresentaram alta taxa de absorção de água (Tabela 5).

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Tabela 5. Absorção por capilaridade (método de teor de argamassa) – (geral).

Absorção por Capilaridade g/cm²


Porcentagem 51%
3h 6h 12 h 48 h 72 h
7 dias 0,81 1,94 1,4 1,7 1,7
14 dias 1,43 1,44 1,37 1,45 1,45
28 dias 1,39 1,41 1,43 1,43 1,46
180 dias 1,45 1,58 1,63 1,69 1,70

Embora diferindo entre si quanto à capacidade de absorção de água, quanto à forma e


textura superficial dos grãos e quanto à granulometria, todos os traços se mostraram viáveis
para uso em tijolos de resíduo de construção civil.
Em relação aos materiais escolhidos para a pesquisa podemos dizer que:
A escolha do agregado reciclado dos resíduos sólidos da construção civil para a fa-
bricação dos tijolos foi acertada, tendo em vista que as variáveis físicas presentes nos
resíduos são constituintes dos RCC. Alguns pesquisadores caracterizam os RCC como
resíduos ‘contaminados’ por apresentarem vários materiais dos agregados da construção
civil na sua composição;
Em relação ao ensaio de absorção realizado segundo a NBR NM 9778:2009 (ABNT,
2001), na condição Saturada Superfície Seca do agregado reciclado de RCC, ficou evidencia-
da a dificuldade que muitos pesquisadores encontram para realizar esse ensaio, em virtude
de o elevado nível de absorção possuir maior porosidade diferentes dos agregados naturais;

– A heterogeneidade do material é responsável pelas dificuldades no controle de qua-


lidade do uso do resíduo que, por sua vez, depende muito da qualidade das fontes
geradoras do resíduo.
– Em relação aos procedimentos das moldagens dos tijolos, o processo ‘artesanal’ de
moldagem da mistura homogênea dos RCC com o cimento pode incorrer em falhas
do tipo:
– Os moldes metálicos da prensa hidráulica devem estar devidamente aquecidos para
evitar a aderência ou a perda precoce de umidade pela mistura a ser moldada;
– Apesar da capacidade de prensagem hidráulica de seis toneladas (segundo manual
do fabricante), o comando incorreto (pelo operador) do dispositivo de movimenta-
ção do pistão hidráulico pode produzir tijolos com espessuras diferentes, mais ou
menos prensadas resultando em artefatos menos resistentes, mais porosos, etc.;
– A forma inadequada da retirada do tijolo após a moldagem também pode provocar
fissuras internas no tijolo, afetando os resultados nos ensaios de resistência à com-
pressão;

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200
– Os resultados obtidos através dos ensaios de resistência à compressão dos tijolos,
conforme os métodos experimentais para os respectivos traços são apresentados
na tabela 19 – (Resistência à Compressão), os valores mínimos estabelecidos pela
norma NBR 8492:2012 (ABNT, 2012) se enquadram na norma que direcionam os
valores individuais ≥ 1,7 MPa, e para a média de resistência ≥ 2 MPa, com idade
mínima de sete dias.

As diferenças nos resultados de ensaios de resistência à compressão apresentados


num mesmo lote de amostras analisadas podem ser justificadas por falhas do tipo:

– Fissuras internas ocorridas na retirada dos tijolos após a moldagem. Dependendo


da pressão exercida pelas mãos do operador no momento da retirada do tijolo, po-
dem ocorrer fissuras internas não detectáveis externamente;
– Falhas no capeamento dos tijolos para a realização dos ensaios de resistência. A
falta de paralelismo entre as faces capeadas, segundo a NBR 10833:2012 (ABNT,
2012) pode influenciar o resultado do ensaio;
– Os períodos de 7, 14, 28 e 180 dias foram suficientes para demonstrar os desem-
penhos mecânicos dos tijolos pesquisados, porém verifica-se que a resistência dos
tijolos fabricados aumenta gradativamente com o passar do tempo.

Em relação ao grau de pozolanicidade da amostra em estudo, constatou-se a não


ocorrência, porém muito próximo do prescrito em norma.
Já a investigação da reação álcali-agregado, na amostra em estudo, conclui-se que
o agregado reciclado do resíduo da construção civil (RCC) tem predisposição para uso na
indústria da construção civil.
Diante dessa constatação, conclui-se que a técnica é viável e, econômica.
Ambientalmente, a associação desses resíduos na produção de tijolos que poderiam ser
incorporados aos processos construtivos da cadeia produtiva da construção civil é uma for-
ma de mitigar o déficit habitacional do país e também dos descartes inadequados desses
resíduos na natureza.
Como análise da viabilidade técnica e oportunidades na reutilização dos resíduos da
construção civil, os tijolos de RCC representam uma alternativa em plena sintonia com as
diretrizes do desenvolvimento sustentável. Como requerem baixo consumo de energia na
fabricação dos tijolos, não há necessidade de extração da matéria-prima, dispensam o pro-
cesso de queima e a emissão de poluentes na superfície terrestre.
Uma vez que os tijolos podem ser produzidos no próprio local da obra, outros aspec-
tos a ser destacado é a possibilidade de racionalização do processo construtivo, por meio

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do uso de tijolos que possibilitam o uso das técnicas empregadas na alvenaria estrutural,
proporcionando redução de desperdícios e diminuição no volume de entulho gerado. Desse
modo, propiciam maior rapidez no processo construtivo, economia de materiais e de mão-
-de-obra, eliminam os rasgos nas paredes para a passagem de tubulações, visto que os
tijolos possuem furos que ficam sobrepostos no seu assentamento e formam dutos por onde
são passados os fios e as tubulações hidráulicas. Além disso, vale ressaltar que ainda há
redução do consumo de argamassas de assentamento e de regularização.

CONCLUSÕES

O sucesso da reciclagem depende da habilidade de reutilização do resíduo no processo


de origem como substituto de algum material: da habilidade de utilização como matéria-prima
ou externa à planta e: da habilidade de segregar materiais recuperáveis e valiosos. A oti-
mização de resíduos é um conceito novo de gerenciamento que envolve qualquer técnica,
processo ou atividade que permite evitar, eliminar ou reduzir o resíduo na sua fonte, reusar
ou reciclar os resíduos para vários propósitos. Desta forma, esta metodologia deve ser in-
corporada aos sistemas produtivos visando o fortalecimento industrial e o meio ambiente
cada vez mais equilibrado.

REFERÊNCIAS

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Norma brasileira (NBR 9778:2009) - (NBR 9779:2012) – Argamassa e Concreto Endure-
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14
Ensaios tecnológicos em tijolos
provenientes de Resíduos de Construção
e Demolição – RCD’s

Marina de Sá Hora Santos


Instituto Federal de Maro Grosso (IFMT)

Juzélia Santos
Instituto Federal de Maro Grosso (IFMT)

Albéria Cavalcanti Albuquerque


Instituto Federal de Maro Grosso (IFMT)

Artigo original publicado em: 2013


Anais do 55º Congresso Brasileiro do Concreto CBC2013 ISSN 2175-8182.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/230312305
RESUMO

O principal objetivo desta pesquisa e a realização de ensaios tecnológicos padronizados pela


ABNT, em tijolos provenientes de Resíduos de Construção e Demolição (RCD’s). Avaliando-
se o desempenho do tijolo ecológico, determinará a confiabilidade de sua utilização em
habitações populares. O uso de produtos confeccionados de materiais reciclados, contribui
na diminuição dos impactos ambientais causados pelo descartes desses resíduos. Foi rea-
lizado um estudo dos ensaios de avaliação da qualidade dos tijolos ecológicos, sendo a:
resistência à compressão, ensaio à compressão simples da parede e absorção por imersão,
conforme as normas da ABNT. A utilização do tijolo ecológico é um produto alternativo, por
ser originado de RCD’s – material reciclável. Avaliar a qualidade desses produtos é de ex-
trema importância, pois, determina se terá eficiência ao ser utilizada. Caracterizado o bom
desempenho, poderão ser utilizado em habitações de interesse social.

Palavras-chave: Ensaios Tecnológicos, Tijolo Ecológico, Qualidade do Tijolo.


INTRODUÇÃO

A qualidade tem o seu surgimento durante o feudalismo, no processo de troca das mer-
cadorias entre os pares, que ao realizarem o escambo já se preocupavam com a qualidade
do produto que utilizavam, agregando a eles graus diferentes de valores (LIMA; SANTIAGO,
2011). Segundo LIMA; SANTIAGO (2011), os consumidores sempre tiveram o cuidado de
inspecionar os bens e serviços que recebiam em uma relação de troca. Essa preocupação
caracterizou a chamada “era da inspeção”, que se voltava para o produto acabado, não
produzindo assim qualidade, apenas encontrando produtos defeituosos na razão direta da
intensidade da inspeção.
LIMA; SANTIAGO, (2011); Longo (1996), retratam a evolução do conceito da ges-
tão da qualidade, como uma linha do tempo com as eras e acontecimentos da socieda-
de. O Feudalismo (era de inspeção) voltava-se apenas para encontrar os produtos defei-
tuosos que possuíam menor poder de troca; anos 30 e 40 (era do controle estatístico) a
introdução de técnicas de amostragem e elaboração de sistemas de qualidade; anos 50 e 60
(era do surgimento da gestão da qualitativa total) uma nova filosofia gerencial, a qualidade
deixava de ser um problema do produto, e passa a ser da empresa; anos 70 (disseminação
de informações) variáveis informacionais, políticas e socioculturais, influenciaram e deter-
minaram no estilo de gerenciar; anos 80 (era do planejamento estratégico) interesse do
impacto estratégico da qualidade aos consumidores e no mercado; anos 90 até hoje (era
da globalização) competitividade acirrada entre as organizações, a qualidade é o diferencial
estratégico necessário à sobrevivência.
No mundo todo, a qualidade tem recebido grande atenção, como fator de competi-
tividade de empresas e economias nacionais. Neste processo, os progressos se dão, de
maneira diferenciada, seja em nível de países ou de setores industriais. Dentre os países,
o Japão é sempre mencionado como liderança no setor, exigindo das empresas ociden-
tais uma grande revisão dos seus conceitos de qualidade. O Brasil só recentemente bus-
ca priorizar este aspecto, estando apenas no início de um processo de avanço na área
(PICCHI; AGOPYAN, 1993).
O PRONACI – Programa Nacional de Formação de Chefias Intermediárias (GUEDES,
2000), conceitualiza o termo qualidade, em produzir produtos que satisfaçam as necessi-
dades e expectativas dos clientes, ao menor custo possível e com a participação ativa de
todos os trabalhadores.
Segundo LIMA; SANTIAGO, (2011), na gestão da qualidade o trabalho é de todos e
tal pensamento deve contagiar todas as etapas do processo, dando origem a uma política
organizacional que proporcione uma sinergia entre os setores e funcionário da empresa.

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Tecnologia em Controle de Obras: 20 anos de contribuições do IFMT para construção civil - ISBN 978-65-5360-326-4 - Volume 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
A garantia da qualidade observa-se quatro aspectos principais: qualidade dos custos
da qualidade, controle total da qualidade, engenharia da confiabilidade e zero defeito, ou
seja, uma inicial tentativa de se obter a qualidade por meio de modelos de política e culturas
qualitativas nas partes e no todo (LIMA; SANTIAGO, 2011). Conhecendo os aspectos citados
anteriormente, surgi-se o conceito da gestão da qualidade total, segundo RUTHES (2010),
define como uma estratégia de administração orientada a criar consciência da qualidade
em todos os processos organizacionais; e complementando o conceito, LONGO (1996),diz
que, a Gestão da Qualidade Total (GQT) é uma opção para a reorientação gerencial das
organizações. Tem como pontos básicos: foco no cliente; trabalho em equipe permeando
toda a organização; decisões baseadas em fatos e dados; e a busca constante da solução
de problemas e da diminuição de erros.
Tendo a necessidade de aprimoramento da qualidade exigido pelo mercado, surge
nos países desenvolvidos diretrizes e procedimentos, que dão embasamento a série das
normas ISO 9000, segundo OLIVEIRA (2013), tem o objetivo de promover, no mundo, o
desenvolvimento da normalização e atividades relacionadas com a intenção de facilitar o
intercâmbio internacional de bens e de serviços, e para desenvolver a cooperação nas es-
feras intelectual, científica, tecnológica e de atividade econômica.
A ISO (International Standard Organization) fundada na Suíça (Genebra), em 23/02/1945,
da qual participam 150 países, representando 95% da produção mundial, empregando a res-
ponsabilidade de administração; sistema da qualidade; análise críticas de contratos; controle
de projeto; controle de documentos; aquisição; produto fornecido pelo cliente; identificação
e rastreabilidade do produto; controle dos processos; inspeção e ensaios; equipamentos
de inspeção, medição e ensaios; situação da inspeção e ensaios; controle de produto não
conforme; ação corretiva e preventiva; manuseio, armazenamento, embalagem, prevenção e
expedição; registros da qualidade; auditorias internas da qualidade; treinamento; assistência
técnica e técnicas estatísticas (OLIVEIRA, 2013).
Da gestão da qualidade total depende a sobrevivência das organizações que precisam
garantir aos seus clientes a total satisfação com os bens e serviços produzidos, contendo
características intrínsecas de qualidade, a preços que os clientes possam pagar, e entregues
dentro do prazo esperado. É fundamental atender e, preferencialmente, exceder às expec-
tativas dos clientes. A obtenção da qualidade total parte de ouvir e entender o que o cliente
realmente deseja e necessita, para que o bem ou serviço possa ser concebido, realizado e
prestado com excelência (LONGO, 1996).
A utilização de produtos, mais precisamente de tijolos ecológicos, como sistema cons-
trutivo para habitações, ainda é pouco empregado (comparado ao convencional), principal-
mente, o uso de produtos confeccionados de materiais reciclados, advindos de Resíduos

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de Construção e Demolição (RCD’s). Para melhor conhecimento desse material, avaliar o
desempenho do mesmo, determinará a confiabilidade de sua utilização em habitações po-
pulares. O uso de produtos confeccionados de materiais reciclados, contribui na diminuição
dos impactos ambientais causados pelo descartes desses resíduos.
O principal objetivo desta pesquisa e a realização de ensaios tecnológicos padroniza-
dos pela ABNT, em tijolos provenientes de Resíduos de Construção e Demolição (RCD’s),
desenvolvendo um estudo dos ensaios de avaliação da qualidade dos tijolos ecológicos,
sendo a: resistência à compressão, resistência à compressão da parede e absorção por
imersão, conforme as normas da ABNT. Avaliar a qualidade desses produtos é de extrema
importância, pois, determina se terá eficiência ao ser utilizada. Caracterizado o bom desem-
penho, poderão ser utilizado em habitações de interesse social.

MATERIAIS E MÉTODOS

A presente pesquisa, realizou ensaios tecnológicos, em tijolos provenientes de Resíduo


de Construção e Demolição – RCD’s, dosado nos traço 1:9 (cimento/areia artificial), e 1: 1,5:
3,5 (cimento/areia artificial fina/ areia artificial grossa) em massa, para tijolos inteiros e meios
tijolos respectivamente. Eles contém em suas misturas, cimento Portland CP II – Z – 32 RS,
areia artificial e água. Os ensaios realizados foram: resistência à compressão, absorção por
imersão e resistência à compressão da parede, em lotes de 130 tijolos, sendo avaliado os
desempenhos dos mesmos, conforme as normas da ABNT.

Realização do ensaio de resistência à compressão

O ensaio de resistência à compressão, foi realizado em 4 lotes de 130 tijolos, retiran-


do-se 6 corpos-de-provas por lote, em tijolos inteiros com dimensões 19x24x7 cm e em
meios tijolos com dimensões 9,5x12x7 cm, tendo 7 dias de cura. Os tijolos foram capeados
individualmente, com argamassa 1:2 (em volume), colocou-se as faces do mesmos, sobre
uma camada de argamassa, em pisos cerâmicos, forrados com jornais e untados com água,
tendo um intervalo de 24 horas por face. Foi determinado a resistência à compressão em 7
dias, conforme as normas NBR 12118;2007 e NBR 6136:2007. Com todos os dados obtidos,
pode-se ter um parâmetro para a classificação da utilização do tijolo, sendo o mesmo, de
vedação ou estrutural.
Na figura 1, verifica-se a demonstração do ensaio citado anteriormente:

Tecnologia em Controle de Obras: 20 anos de contribuições do IFMT para construção civil - ISBN 978-65-5360-326-4 - Volume 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
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Figura 1. Ensaio de resistência à compressão.

Ensaio de absorção por imersão

Foi realizado o ensaio de absorção em um lote de 130 tijolos, retirados três corpos-
de- prova por lote. Eles foram retirados do pátio, onde permaneceram em cura, levados ao
laboratório e ficaram por 24 horas, em seguida, sendo pesados e anotado as suas mas-
sas. Os mesmos, foram deixados em uma estufa, a temperatura de 110 +- 5°C, e mantiveram
por 24 horas. Determinou- se as massas dos corpos- de- prova após 24 h, e em seguida,
levados novamente a estufa, por 2 h, depois desse tempo, pesou-se para a confirmação do
resultado, sendo uma operação repetida mais uma vez e verificando as massas constantes.
Os corpos- de prova resfriados naturalmente, foram deixados imersos, em uma piscina
dento da câmara úmida (23+- 5)°C, por 24 horas. Após esse período, foram retirados da
submerção, de cada um foi deixado escorrer a água e removida com um pano seco, até
atingir a condição de saturado superfície seca, anotados as massas e colocados novamente
na submerção. A cada 2 h, repetir a operação descrita anteriormente, até a verificação das
massas constantes, conforme a norma NBR 12118; 2007.
Os resultados foram obtidos por média aritmética dos valores retirados do ensaio.

Ensaio à compressão simples da parede

Para a realização do ensaio, foi construída uma parede, com dimensões 1,24 cm de
comprimento por 1,74 cm de altura, o mesmo localizada no pátio do laboratório de concreto,
utilizando as instrumentações conforme a norma NBR 8949-1985, empilhando 110 tijolos, sem
argamassa de assentamento, pois, os tijolos são de encaixe (formato de legos), simulando
a parede real. A mesma não foi armada, teve apenas o grauteamento com microconcreto,
traço total 1:5, sendo o traço unitário 1: 1,94: 3,06 e relação água cimento 0,48 (cimento/
areia/pedrisco/ a/c) 1% aditivo plastificante e slamp 150 mm, nos vazados dos tijolos (inter-
valo ímpar), sem adensamento, a cada 3 fiadas. Foram retiradas 20 amostras do concreto
graute, para a realização do ensaio de resistência à compressão.
A parede, manteve-se em cura por 14 dias, logo em seguida, realizou - se o seu carre-
gamento, efetuadas duas descargas, não atingido 50% da carga de ruptura. Os incrementos

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de carga, não foram superiores à de 10% da carga de ruptura. Quando houve o indício de
ruptura, os aparelhos foram retirados. O sistema de aplicação de carga, teve que ser con-
trolado de forma que a tenção aplicada, calculada em relação à área bruta, se elevasse
progressivamente à razão de (0,25 + - 0,050) N/cm²/s. Após isto, as cargas foram incremen-
tadas até a ruptura. Nas figuras 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10 e 11, estão demonstrando as etapas
do ensaio descrito anteriormente.

Figura 2. Parede montada com tijolos de RCD’s. Figura 3. Parede com tijolos de RCD’s pintada com
cal hidratada.

Figura 4. Montagem dos equipamentos de medição Figura 5. Colocação do Defletômetro.


da deformação da parede.

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Figura 6. Conferência das instala ›es dos Deflet™metro. Figura 7. Início do ensaio e as primeiras leituras.

Figura 8. Aparecimento das primeiras fissuras. Figura 9. Demonstra ‹o das fissuras no decorrer do
ensaio.

Figura 10. Recebimento da carga total. Figura 11. Finalização do ensaio à compressão
simples da parede.

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RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados dos ensaios de resistência à compressão, absorção por imersão e com-


pressão simples da parede, estão expostos no gráficos 1, tabelas 1 e 2 respectivamente.
Esses ensaios foram realizados em 4 lotes, contendo 130 tijolos de RCD’S, retirado 6 tijolos
para análise por lote, conforme as normas NBR 6136, NBR 12118 e NBR 8949.

Gráfico 1. Resultados dos ensaios de resistência à compressão axial em tijolos de RCD’s.

Tabela 1. Absorção de água em tijolos de RCD.

Limite absorção de água por imersão


Traço Absorção de água por imersão (%) Bloco de Concreto Bloco Cerâmico Tijolo de Solo-cimento
(NBR 6136) (NBR 15270-1) (NBR 8491)
≤ 10,0 % *
1:9 12,5 8,0% a 22% ≤ 20,0%
≤ 12,5 %**
*Agregado comum. ** Agregado leve

Tabela 2. Ensaio de compressão simples da parede com tijolos de RCD’s.


Resultados do ensaio de compressão simples da parede com tijolos de RCD’S
Compressão simples da parede Resistência à compressão axial do Resistência à compressão axial dos
em MPa aos 14 dias concreto graute em MPa aos 14 dias meios tijolos em MPa aos 7 dias
6,39 31,66 2,8

CONCLUSÃO

Os resultados da resistência à compressão do tijolo RCD moldado com o traço 1:9,


pode ser classificada como tijolos de alvenaria para vedar, uma vez atingido a força mínima
necessária para vários padrões de 7 dias com aplicação equivalente, isto é, os blocos de
concreto, blocos cerâmicos e tijolos de solo-cimento. O teste de resistência à compressão
é extremamente importante uma vez que, com base nos resultados se determina as fases
de execução de trabalhos da construção civil, e a sua aplicação como tijolos de veda-
ção ou estrutural.

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O ensaio de a absorção de água pó imersão, os resultados mostraram que a quantidade
de absorção de água situa-se dentro dos parâmetros estabelecidos pelas normas técnicas.
A utilização do tijolo ecológico é um produto alternativo, por ser originado de RCD’s
– material reciclável. Avaliar a qualidade desses produtos é de extrema importância, pois,
determina se terá eficiência ao ser utilizada. Caracterizado o bom desempenho, poderão
ser utilizado em habitações de interesse social.

REFERÊNCIAS
1. LIMA, J. A.; SANTIAGO, P. O. Os primeiros conceitos da gestão da qualidade total.
XIV Encontro Regional de Estudantes de Biblioteconomia Documentação, Ciência da
Informação e Gestão da Informação. São Luiz – Maranhão, 16 a 22 de janeiro, 2011.
2. LONGO, R. M. J. Gestão da Qualidade: Evolução Histórica, Conceitos Básicos e Apli-
cação na Educação. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Texto Para Discussão
n° 397. Brasília, janeiro de 1996.
3. PICCHI, F. A.; AGOPYAN, V. Sistema da Qualidade na Construção de Edifício. Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo, Departamento de Engenharia de Construção
Civil, Boletim Técnico-Série BT/PPC. São Paulo, 1993.
4. GUEDES, J. M. F. Gestão da Qualidade, Ficha Técnica PRONACI - Programa Nacional
de Formação de Chefias Intermediárias; AEP – Associação Empresarial de Portugal,
Câmara de Comércio e Indústria. Janeiro, 2000.
5. RUTHES, J. Gestão da Qualidade Total. In: WIKPEDIA a enciclopédia livre. Disponível
em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Gest%C3%A3o_da_qualidade_total. Acesso em 30 de
maio, 2013.
6. OLIVEIRA, J. L. Sistema Brasileiro de Normalização. Notas de aula. Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso. Cuiabá, fevereiro de 2013.
7. Costa, J.S. Agregados alternativos para argamassa e concreto produzidos a partir da
reciclagem de rejeitos virgens da indústria de cerâmica tradicional. Tese de doutorado
em Ciência e Engenharia de Materiais. São Carlos, 2006.
8. SANTOS, M.D.S.H.; SANTOS,J.; ALBURQUERQUE, A. C. Tijolos Produzidos com
Agregados de Resíduos da Construção Civil. Anais do 54° Congresso Brasileiro do
Concreto. Maceió, Alagoas. Agosto, 2012.
9. ABNT NBR 12118 - Blocos vazados de concreto simples para alvenaria - Métodos de
ensaio. 2011.
10. ABNT NBR 6136 - Blocos vazados de concreto simples para alvenaria - Requisitos.
2007.
11. ABNT NBR 8949 – Paredes de Alvenaria Estrutural Ensaio à Compressão Simples.
1985.
12. ABNT NBR 15270-1 - Blocos cerâmico para alvenaria de vedação – Terminologia e
Requisitos. 2005.

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13. ABNT NBR 8491 – Tijolo maciço de solo-cimento - Especificação. 1984.

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15
Construção de sala de aula utilizando
tijolo ecológico fabricado com agregado
de Resíduo da Construção Civil (RCC)

Juzélia Santos
Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia
de Mato Grosso (IFMT)

Lucimara Soares Costa Nepomuceno


Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia
de Mato Grosso (IFMT)

Carlos Eduardo Nepomuceno


Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia
de Mato Grosso (IFMT)

Bianca dos Santos Lima


Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia
de Mato Grosso (IFMT)

'10.37885/230412819
RESUMO

A alvenaria modular vem ganhando uso no mercado brasileiro. Os Tijolos Ecológicos são
assim chamados porque evitam a utilização do processo de queima de madeira e combus-
tível, evitando corte de árvores e emissão de monóxido de carbono na atmosfera. O objetivo
dessa pesquisa foi construir uma sala de aula de 24 m², no Instituto Federal de Mato Grosso
– Campus Cuiabá Bela Vista, com tijolo ecológicos fabricados com agregados de resíduo da
construção civil (RCC) e cimento Portland. Essa sala foi construída pelos alunos do Campus
Cuiabá Cel. Octayde Jorge da Silva, Campus Cuiabá Bela Vista e a comunidade entorno,
onde além da construção para a melhoria do Campus foi ensinado a comunidade um mé-
todo construtivo mais econômico e sustentável. O traço do tijolo utilizado foi 1:9 (cimento
e agregado reciclado direto do britador). Os tijolos oferecem um excelente comportamento
térmico e durabilidade. A produção dos tijolos ocorreu em prensa hidráulica, fabricados pelos
próprios alunos em outros projetos. O radier onde a sala foi confeccionada foi executado por
empresa contratada pelo Campus. As paredes foram montadas por encaixe, facilitando o
assentamento e reduzindo o tempo de execução. Os tijolos foram assentados com argamassa
colante para uso externo ACIII, adicionando na mistura cola de PVA com o traço 1:20 sendo
(1 de cola para 20 de argamassa colante) e água. As paredes foram grauteadas utilizando
um microconcreto. O traço do Grout utilizado para preenchimento dos furos dos tijolos foi
(1:1,94:3,06), respectivamente cimento, areia e pedrisco, relação água/cimento 0,48. A ava-
liação dos tijolos quanto a resistência à compressão axial foi de 4,9 MPa, satisfatória de
acordo com a NBR 8492 (ABNT, 2012), o tijolo possui dois furos, faz com que aumente o
isolamento termoacústico, pois os furos compõem câmaras de ar no âmago das alvenarias,
sendo utilizados para passar as tubulações de hidráulica e elétrica, evitando assim rasgo e
corte nas paredes, proporciona acabamento aparente externa e internamente. A avaliação
da sala está ocorrendo em uso pela comunidade do Campus Bela Vista nestes três anos de
forma satisfatória. A utilização do agregado reciclado na construção civil devolve ao setor
produto de qualidade, durabilidade com responsabilidade ambiental e social.

Palavras-chave: Reciclagem, Ladrilho Hidráulico, Resíduo da Construção Civil, Durabilidade.


INTRODUÇÃO

O setor da construção civil é grande gerador e de resíduos, tanto no descarte de pro-


dutos pelas indústrias de materiais de construção civil, como na de execução, reparos e
demolições realizadas em canteiro de obras (Hora Santos, 2013).
O concreto é um dos produtos mais utilizados no mundo, no Brasil cerca de 855.000
m³ são desperdiçados por ano (Favini e Costa, 2009).
O descarte descontrolado, ou muitas vezes clandestino desses materiais que são dei-
xados em zonas urbanas, acarreta a degradação de vias públicas, bem como a saturação
de aterros sanitários, podendo vir a constituir problemas econômicos e socioambientais.
Como exemplos têm-se o assoreamento de córregos e rios, obstrução de bueiros e galerias
de águas pluviais, proliferação de vetores de doenças (Costa, 2006).
A alternativa para amenizar os impactos ambientais é a reciclagem desses resíduos da
Construção Civil (RCC), utilizando-os como agregado artificial na confecção de tijolos. A re-
ciclagem é uma maneira de aproveitar detritos, utilizando-os da mesma maneira como eram
usados anteriormente ou passando a ter outra função.
A resolução 307:2012 do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) classifica
os RCCs como sendo de classe A. Resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados
na construção civil, permitindo assim o seu uso, desde que atenda as exigências do projeto.
Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção
civil. Também, regulamenta ações para minimizar os impactos ambientais destes resíduos
sobre o meio ambiente.
A indústria da cidade de Cuiabá que forneceu o resíduo de tinta, possui em seu pátio
enorme quantidade desse produto em tonéis com dificuldade de descarte. Hoje a cada 1000
toneladas, 600 Kg são descartados, de acordo com informação do proprietário.
Diante tudo isso o projeto da construção está tendo uma (fusão do saber com o fazer),
ou melhor, teoria mais a prática no assentamento e elevação de paredes para construção
de habitações populares utilizando na fabricação dos tijolos agregado: resíduo de tinta e
resíduo da construção civil (RCC) com qualidade, baixo custo e sustentabilidade. Com isso
criando mão de obra especializada e capacitada para o mercado da construção civil.

MATERIAIS E MÉTODOS

Materiais

O Cimento utilizado foi o Portland CP II- F – 32, de embalagem de 50 kg. Usou-se areia
lavada de rio (SIO2 – Quartzo), proveniente do rio Cuiabá – MT. Argamassa cimento cola

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flexível quartzolit de uso interno e externo (tipo ACIII, conforme NBR 14.081-1:2012). Cola
branca PVA; Pedrisco utilizado como agregado para a argamassa do graúdo foi oriundo de
resíduo da construção civil (RCC) de louça sanitária (LS).
Os tijolos utilizados, foram do trabalho de pesquisa Costa, Juzélia; Santos,
Marina (2010) com o título: “UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO
CIVIL EM ARTEFATOS DE CONCRETO E ARGAMASSA” ÁREA TEMÁTICA:
Sustentabilidade; Projeto EDITAL UNIVERSAL FAPEMAT – Nº 006/2010.

Características do tijolo

O tijolo tem dimensão de: 25cmx12,5cmx7,5cm (Largura, Espessura e Altura). Todos


foram feitos no Laboratório do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato
Grosso - Campus Cuiabá Cel. Octayde Jorge da Silva tendo resultado satisfatório para que
fossem utilizados na construção da sala.
Os materiais utilizados para a produção dos tijolos foram: cimento Portland CP IV-32 RS,
pó de resíduo de tinta, areia e pedrisco de RCC (Resíduo da Construção Civil: de cerâmica
vermelha, concreto e resíduo de louça sanitária direto do britador), e água. A proporção de
1:9 (1: 1,35: 4,23: 3,42) em massa, respectivamente cimento: pó de resíduo de tinta: areia:
pedrisco de resíduo (RCC).

MÉTODO DA CONSTRUÇÃO

A sala construída está localizada no Campus Cuiabá Bela Vista - MT, faz parte do Curso de
“ASSENTAMENTO DE TIJOLO SOLO CIMENTO E TIJOLOS DE RESÍDUO DA CONSTRUÇÃO
CIVIL (RCC)” Edital PROEX/REITORIA nº 046/2017. A sala possui 24 m², cuja Projeto de
planta baixa figura 1, cobertura figura 2, e corte A e B Figura 3.

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Figura 1. Planta Baixa (sem escala).

Figura 2. Cobertura (sem escala).

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Figura 3. Corte A e B sem escala.

Para o levantamento da sala foram seguidas algumas etapas, começando pela remoção
dos tijolos do Campus Cel. Octayde Jorge da Silva para o Campus Bela Vista e limpeza do
local da construção (Figura 4 e 5).

Figura 4 - Transportando
Figura os os
4. Transportando tijolos
tijolospara
parao oCampus
CampusBela Vista
Bela Vista.

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Figura 5. Limpeza do local.

O radier já estava construído pelo Campus Bela Vista- MT. A locação (Figura 6) foi
executada por um dos alunos que também é professor do curso de Geoprocessamento
do Instituto Federal Campus Cuiabá, prontificou-se em fazer a marcação com o aparelho
Teodolito, uma vez que o radier estava fora de prumo.

Figura 6. Locação dos tijolos na primeira fiada.

No radier foi aplicada uma camada de impermeabilização (Emulsão Asfáltica) no local


de assentamento dos tijolos, porém antes foi executado uma locação prévia dos tijolos da
primeira fiada, para contagem utilizando espaçador para que os tijolos tivessem o espaço
de no mínimo 1,5 mm para a dilatação, Figura 7.

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Figura 7. Espaçamento 1,5mm.

Na Figura 8 temos a aplicação de impermeabilizante no radier onde foi assentado a


primeira fiada de tijolos.

Figura 8. Impermeabilização.

Para o assentamento dos tijolos foi utilizado uma bisnaga com o modelo de confeiteiro
passando fiadas finas de argamassa (Figura 9). O projeto foi seguindo conforme a planta
baixa feita pela engenheira da reitoria Fátima Matias com as adaptações da técnica de edi-
ficações Lucimara Nepomuceno.

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Figura 9 - Assentando com a bisnaga.

O radier impermeabilizado e os tijolos da primeira fiada recolocados, fez-se as perfura-


ções e locação das ferragens. Para as ferragens utilizou a bitola de 8mm com 1,70m (sendo
0,10 m de encaixe no radier e 1,60m acima radier) realizado com uma furadeira de impacto
para concreto de 8 mm de diâmetro, com profundidade de 10 cm cada furo, seguindo a
seguinte regra básica (Manual ilustrativo – SAHARA 2007);
Para casa de um pavimento utilizamos ferro a cada 1 metro; Para casa de dois pavi-
mentos a cada 0,80 metro; Casa de três pavimentos a cada 0,60 metro.
Com essa regra a seguir colocamos de 1 em 1 metro, como mostra a Figura 10; Depois
do radier já esquadrejado foi usado a mangueira de nível (Figura 11); trena e nível de mão
(Figura 12) para averiguar se o radier se encontrava os quatro cantos em nível correto para
o assentamento da primeira fiada dos tijolos;

Figura 10. Colocação das ferragens.

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Figura 11. Mangueira de nível.

Figura 12. Averiguando o radier.

Na regularização do radier foi usada uma argamassa tradicional de traço 1:3 sendo
1 de cimento e 3 de areia, para assentar a primeira fiada e regularizar o radier. Esse foi o
único momento que foi utilizado o cimento e areia para fazer o assentamento dos tijolos da
primeira fiada (Figura 13).
O assentamento iniciado pelos cantos, espalhando-se uma camada de argamassa no
piso com a colher de pedreiro.
Para o controle das alturas das fiadas foi utilizado “escantilhão”, que é uma haste de
madeira, ou haste metálica, apoiada no piso, onde são previamente marcadas as alturas das

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fiadas. Na elevação do “escantilhão” observou a planeza da face da parede (com a régua),
o nível e o prumo de cada tijolo assentado. Para a conferência escolhe-se um dos lados da
parede, o lado externo.

Figuras 13. Regularização do radier.

O assentamento dos tijolos após a segunda fiada ocorreu com argamassa colante
para uso externo ACIII, e adicionado na mistura uma porção de cola PVA com o traço 1:20
sendo (1 de cola para 20 de argamassa colante) e água, utilizando uma furadeira com um
misturador de argamassa, até ficar uma mistura consistente e coesa (Figura 14).

Figura 14. Aplicando argamassa nos tijolos.

Com a parede a 0,50m foi feito a concretagem dos pilares (Figura 15) utilizando o
traço para o graute já estudado por (Hora, Santos,2013). O traço do graute foi 1: 1,94: 3,06
(cimento/areia/pedrisco), com a/c de 0,48 e 1% de aditivo superplastificante. Nessa etapa

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ocorreu a primeira amarração com grampos (ferragem bitola 4.2mm com 0,70m (sendo
0,30m x 0,10m x 0,30m), com cortes nos tijolos para encaixe como mostra a Figura 15 e 16.

Figura 15. Concretagem dos pilares.

Figura 16. Concretagem dos pilares com grampos.

A parede com 1 metro de altura foi executada a primeira verga de amarração em volta
da sala com canaletas, nesse momento foi utilizado copos descartáveis de 200ml (Figura
17) para tampar os furos que não serão concretados, sendo executado o segundo grampo
de ferragem bitola 4,2mm com 0,70m, (sendo 0,30m x 0,10m x 0,30m), e colocado 4 barras
de ferragem de bitola de 4,2mm e em seguida ocorreu a concretagem (Figura 18).

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Figura 17. Tampando os Buracos com copo descartáveis.

Figura 18. Amarração dos pilares.

Logo depois da concretagem das canaletas (Figura 19) foram colocadas as janelas
da sala e os eletrodutos para passar a fiações e a ferragem para alcançar os 3 metros de
altura da sala. Figura 20 e 21.

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Figura 19. Concretagem das canaletas.

Figura 20. Colocação das janelas.

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Figura 21. Janelas fixada.

Na parte superior da janela foi executada a verga e na inferior a contra verga com
canaleta passando mais uma fiada de amarração no entorno das paredes da sala. Para
ajudar na concretagem dos pilares, foi utilizado uma barra de ferro de 8mm (Figura 22) para
compactar o furo não deixando espaço vazios no graute dos pilares, (Figuras 23 e 24).

Figura 22. Compactação dos pilares e verga superior nas janelas e porta.

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Figuras 23. Concretagem dos pilares da contra verga.

Figura 24. Contra verga concretado.

A elevação da alvenaria prosseguiu até os 3 m, sendo que antes do encunhamento


da alvenaria que consiste no fechamento do espaço remanescente entre a estrutura e a
última fiada de tijolos da elevação das paredes, foi executada a última fiada de amarra-
ção com canaleta.

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A porta de madeira foi fabricada pelo estudante de Controle de Obras e Técnico em
Edificações, Carlos Eduardo Nepomuceno com a participação de Antônio da Costa (sogro)
e Atair de Arruda Nepomuceno (pai).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Tijolo

A avaliação no estado endurecido com nove anos de idade segundo a resistência à


compressão axial dos tijolos e absorção por imersão foi reavaliada por BENTO, M. A. B (2018)
segundo a NBR 8492 (ABNT, 2012), conforme Tabela 1 e Figura 25.

Tabela 1. Resultados dos ensaios de resistência e absorção dos tijolos.

Resistência à com- Desvio Padrão Absorção por imersão Massa especificas em Índice de vazios
Traço 1:9
pressão axial em MPa (%) % (g/cm3) (%)
7 dias 3.8 0,17 12,16 2,81 12,11
14 dias 4,4 0,24 12,03 2,81 12,16
28 dias 4,5 0,62 11,61 3,03 13,14
180 dias 4,9 0,109 15,04 2,14 17,84
9 dias 10,3 0,10 8,5 2,67 9,6

Figura 25. Resultados dos ensaios de resistência e absorção dos tijolos.

De acordo com NBR 8492:2012 utilizada para análise, a absorção de água deve ser
≤ 20,0%. Porém, em vários estudos, pesquisadores relatam que os materiais reciclados
sempre apresentaram alta taxa de absorção de água. Assim os estudos sobre os tijolos
obtiveram resultado satisfatórios.

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Resistência à compressão da parede (NBR 8949:1985)

A avaliação da parede grauteada foi realizada por (Hora, Santos,2013), com os tijolos
ecológicos foi feito em parede de alvenaria estrutural com ensaio à compressão simples de
acordo com método de ensaio da NBR 8949-1985. Avaliar a qualidade desse produto é de
extrema importância, pois, determina se terá eficiência ao ser utilizada, Tabela 2 e Figura 26.

Tabela 2. Resistência à compressão simples da parede com tijolos de RCC.

Resistência à compressão (MPa)

Da parede, aos 14 dias aos 7 dias Do concreto graute, aos 14 dias Dos meios tijolos,
6,4 31,7 2,8

Figura 26. Colapso da parede correspondente à capacidade total de carga.

Fonte: Acervo da equipe de pesquisadores 2013.

Parede Pronta

Para a construção da sala de aula foram utilizados 47 tijolos por metro quadrado. Nas
figuras 27, 28 e 29 temos a sala pronta.

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Figura 27. Fase final.

Figura 28. Fase final.

A sala de aula hoje encontra-se com essa aparência, o Campus Cuiabá Bela Vista
trocou a porta alegando segurança.
Nos fundos temos a vista do mesmo Projeto, porém executado com Tijolos de Solo
cimento em outra etapa com outra equipe colaborando.

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Figura 29. Sala pronta.

VANTAGENS DE USAR OS TIJOLOS ECOLÓGICO NAS OBRAS

• Polui menos o meio ambiente. Não precisa ser cozido em fornos, eliminando assim
a utilização de lenha e a emissão de gases de efeito estufa pela queima.
• Economia do custo final DA OBRA em até 40%
• Economia de 100% no uso de madeiras para caixarias dos pilares e vigas
• Economia de 70% do concreto e argamassa de assentamento
• Economia de 50% de ferro
• Assentamento dos azulejos é direto sobre os tijolos
• Se quiser, não precisa rebocar e pintar, economizando mais ainda.
• Instalações Hidráulicas - Toda a tubulação é embutida em seus furos dispensando
a quebra de paredes, como na alvenaria convencional. SEM DESPERCÍOS COM
“QUEBRA-QUEBRA”!
• Instalações Elétricas - Como as instalações hidráulicas, também são embutidas
nos furos, dispensando conduites e caixas de luz, podendo os interruptores e toma-
das serem fixados, diretamente sobre os tijolos.
• Isolamento acústico - Como o tijolo ecológico possui dois furos, estes diminuem os
ruídos provocados na rua para o interior da casa.
• Isolamento Térmico (calor) – O furo dos tijolos, são importantes pois formam câ-
maras térmicas evitando com isso que o calor que está do lado de fora penetre no
interior da residência.

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• Obra mais rápida, limpa e sem entulhos

MANIFESTAÇÃO DE DANOS E ADAPTAÇÕES

O radier encontrava-se totalmente desnivelado. No começo da obra vários alunos as-


sentaram os tijolos sem perceber que alguns tijolos encontravam de tamanhos e espessuras
diferente ou trincados com isso o peso da parede fez com que alguns tijolos rachassem.
Como foi detectado antes de continuar foi derrubado e retirado alguns tijolos, assim causando
um atraso na obra e perda de materiais.
Sendo a alvenaria aparente o rejunto é executado com cautela para não sujar o ti-
jolo; Foram feitas várias adaptações para passar o rejunte, nesse caso a obra houve no-
vamente um atraso;
O piso foi confeccionado no Instituto Federal – Campus Cuiabá pelos alunos do curso
Tecnologia em Controle de Obras com orientação da Professora Dra. Juzélia Santos do
IFMT, sendo instalado na sala e a dificuldade foi para lixar os pisos;
Faltou 50 cm para ser rejuntado acima da última canaleta, ocasionado pela
Pandemia; Na sala não foi passado selador, proposto no Projeto, por causa da Pandemia;
Orienta-se que seja passado selador no piso e nas paredes para evitar patologia devido
não ser rebocada.

CONCLUSÃO

Ao término da construção dessa sala iniciada em 2013 com as confecções dos tijolos,
desenvolvendo vários tipos de estudo ensino, teoria e prática, o Instituto Federal Campus
Cuiabá Cel. Octayde Jorge da Silva chegou a essa sala, com o apoio do Campus Cuiabá
Bela Vista - MT.
A equipe executora assumiu a função de colocar em prática o projeto. Neste projeto
foi desenvolvida a comunidade do entorno do Campus Bela Vista, mostrando o sistema
construtivo, envolveu professores de outras áreas (elétrica e geoprocessamento);
Enfim esse trabalho monstra a modernização dos padrões da construção civil, na for-
mação de alunos, especialmente a comunidade envolvida, pois na nossa região não contem
obras com esse sistema construtivo utilizando tijolos com resíduo da construção civil (RCC).
O resíduo da construção civil (RCC) diminui os materiais que são jogadas em vias
públicas ou até mesmo na natureza;
A avaliação da sala está ocorrendo em uso pela comunidade do Campus Bela Vista
nestes três anos de acompanhamento de forma satisfatória. A utilização do agregado

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reciclado na construção civil devolve ao setor produto de qualidade com responsabilidade
ambiental e social;
Desta forma estamos atendendo as demandas da sustentabilidade, do meio ambiente
com a construção, utilizando os materiais de resíduo da construção civil e ensinando a po-
pulação que podemos construir com o método tradicional de construção, mas com materiais
reciclados que poderiam estar descartados de forma irregular na natureza.

REFERÊNCIAS
1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ABNT NM23 de 11/2000 Ci-
mento Portland e outros materiais em pó - Determinação de massa específica

2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ABNT ABNT NBR 16972:


06/2021 - Agregados - Determinação da massa unitária e do índice de vazios

3. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ABNT NBR 7215:2019 - Ci-


mento Portland - Determinação da resistência à compressão de corpos de prova
cilíndricos

4. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ABNT NBR 6136:2016 – Blocos


vazados de concreto simples para alvenaria

5. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ABNT NBR 15270-1:2017 –


Bloco e tijolos para alvenaria. Parte 1: Requisitos

6. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICA ABNT NBR 10833:2012 Versão


Corrigida: 2013 (Fabricação de tijolo e bloco de solo-cimento com utilização de
prensa manual ou hidráulica – Procedimento).

7. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICA NBR 8491/2017 Tijolo Maciço


de Solo Cimento.

8. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICA ABNT NBR 8492:2012 - Tijolo de


solo-cimento — Análise dimensional, determinação da resistência à compressão
e da absorção de água — Método de ensaio ABNT NBR 10833:2012 Versão Corrigi-
da:2013 - Fabricação de tijolo e bloco de solo-cimento com utilização de prensa
manual ou hidráulica — Procedimento.

9. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICA ABNT NBR 14081-1 de 04/2012


Argamassa colante industrializada para assentamento de placas cerâmicas - Parte
1: Requisitos

10. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICA ABNT NBR 8949: Prescreve


método de preparo e de ensaio de paredes estruturais submetidas à compressão axial,
construídas com blocos de concreto, blocos (cancelada) – Substituída NBR8949 DE
10/2014 Paredes de alvenaria estrutural - Ensaio à compressão simples

11. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICA NBR 10834:2012 Versão Corri-


gida: 2013 (Bloco de solo-cimento sem função estrutural Requisitos)

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12. COSTA, J.S. Agregados alternativos para argamassa e concreto produzidos a
partir da reciclagem de rejeitos virgens da indústria de cerâmica tradicional. Tese
de doutorado em Ciência e Engenharia de Materiais. São Carlos, 2006.

13. Brasil. Ministério do Meio Ambiente (MMA). Conselho Nacional do Meio Ambiente (CO-
NAMA). Resolução CONAMA Nº 307, de 17/07/2002. Estabelece diretrizes, critérios e
procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil

14. COSTA, J.S. Agregados alternativos para argamassa e concreto produzidos a


partir da reciclagem de rejeitos virgens da indústria de cerâmica tradicional. Tese
de doutorado (Ciência e Engenharia de Materiais). UFSC. São Carlos, 2006.

15. FAVINI, A.C., COSTA, J.S. Avaliação do concreto produzido com agregado de
rejeito de telha cerâmica vermelha usada. Revista Proficiência. No. 4. IFMT. 2009.

16. NEPOMUCENO, L.S.C Avaliação de bloco e tijolo para vedação utilizando resíduo
de poliestireno (isopor), cerâmica vermelha e concreto. Anais do 59° Congresso
Brasileiro do Concreto CBC2017.

17. SANTOS M.S.H. Ensaios tecnológicos em tijolos provenientes de resíduos de


construção e demolição – rcd’s. Anais do 55° Congresso Brasileiro do Concreto
CBC2013, acessado em 19.05.2018.

18. Cartilha de Construção - Eco Produção - Sahara Tecnologia, Disponível em: https://
www.sahara.com.br/pdf-sahara-tecnologia/cartilha-eco-producao.pdf acessado dia
19/06/2018

19. RESOLUÇÃO Nº 307, DE 5 DE JULHO DE 2002: Disponível em: http://www.mma.


gov.br/port/conama/res/res02/res30702.html

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16
Agregado de resíduo da construção civil
utilizado na construção de mesa e banco

Bianca dos Santos Lima


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Murilo Alberto Batista Bento dos Reis


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Lucimara Soares Costa Nepomuceno


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Carlos Eduardo Nepomuceno


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Juzélia Santos
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Artigo original publicado em: 2023


67° Congresso Brasileiro de Cerâmica
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/230412845
RESUMO

O trabalho visou utilizar resíduo da construção civil (RCC) na forma de agregado para fa-
bricação de tijolos, concreto e produto final mesa e banco. No concreto da mesa, banco
e radier utilizou-se agregado graúdo de resíduo: louça sanitária (LS), cerâmica vermelha
(CV) e concreto, com adição de areia e cimento Portland. O traço utilizado no concreto do
radier, bancos e mesa foi 1:3,5(1:1,38:0,67:1,45) respectivamente: cimento: areia: (pedris-
co e agregado graúdo de RCC), relação água/cimento 0,62, com teor de argamassa de
53%. O traço do microconcreto (Grout) foi (1:1,94:3,06) relação água/cimento 0,48 e teor de
argamassa 49%. Na avaliação estudou-se as propriedades no estado fresco, e no estado
endurecido. Os resultados de acordo com as normas vigentes foram satisfatórios. O produto
final, mesa e banco, avaliado através do uso contribuí em diferentes dimensões: a susten-
tabilidade, meio ambiente, disseminando conhecimento para a comunidade acadêmica do
IFMT e para o setor da construção civil.

Palavras-chave: Resíduos de Construção, Louças Sanitárias, Concreto e Cerâmica Vermelha.


INTRODUÇÃO

Segundo o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS, 2007) até 75%


dos recursos naturais extraídos são consumidos pela construção civil. Ainda, segundo a
Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública de Resíduos Especiais (ABRELPE,
2020), no ano de 2019, foram coletados 44,5 milhões de toneladas de resíduos de construção
civil, sendo esse número cerca de 34% superior ao coletado no ano de 2010.
De acordo com o artigo 5º da resolução no 307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente
– CONAMA, é função de Municípios e do Distrito Federal a elaboração de um Plano Integrado
de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil. Neste plano deverão ser incorporados
os seguintes itens: a) Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos da Construção
Civil; b) Projetos de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil. A destinação correta
dos resíduos é o fator decisivo para um plano ser exitoso.
Ser sustentável significa que, no processo como um todo, não se utiliza, em nenhuma
hipótese, recursos naturais, como pedreiras, cascalhos, terra ou material congênere. A re-
ciclagem além de contribuir com a limpeza da cidade poupa os rios, represas, terrenos bal-
dios, o esgotamento sanitário, alivia o impacto nos aterros sanitários e lixões e até ameniza
alagamentos e enchentes, uma vez que, não vai parar em bueiros e não impermeabiliza o
solo. Sustentável e lucrativo, (MORAES, 2021).
A reciclagem é uma maneira de aproveitar detritos, utilizando-os da mesma maneira
como eram usados anteriormente ou passando a ter outra função. O beneficiamento é o ato
de submeter um resíduo a operações e/ou processos que tenham por objetivo dotá-lo de con-
dições que permitam que seja utilizado como matéria-prima ou produto (NBR 15116: 2021).
O déficit habitacional no Brasil mostra-se como um dos maiores problemas da socieda-
de atual. Ter um lugar para morar é um dos requisitos básicos para o bem estar do homem
moderno. Na Região Centro-Oeste, o déficit habitacional para pessoas de renda até 3 sa-
lários mínimos é da ordem de 82,90%, segundo o Centro de Estatísticas e Informações da
Fundação João Pinheiro (FJP/CEI). Ou seja, o Estado tem um déficit habitacional de mais
de 185.000 habitações.
O Plano Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2012b) estabelece como meta que
todas as regiões do país estejam aptas a reciclar seus resíduos utilizando unidades de re-
cuperação, com eliminação das áreas de disposição irregular (bota-foras).
Considerando o franco desenvolvimento na área de sustentabilidade o IFMT - Campus
Cuiabá “Cel. Octayde Jorge da Silva” elaborou o Plano de Gestão de Logística Sustentável
(PLS) em resposta à Instrução Normativa nº 10, de 12 de novembro de 2012, da Secretaria
de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
(IN SLTI/MP nº 10/2012). O PLS consiste em uma ferramenta de planejamento da gestão,

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240
com objetivos e responsabilidades definidas, bem como, metas, ações, prazos de execução,
mecanismos de monitoramento e avaliação, cujo objetivo é estabelecer práticas de susten-
tabilidade e racionalização de gastos.
Dados coletados pelo Governo Federal apontam uma evolução na quantidade de mas-
sa de resíduos totais recebidos nas unidades de processamento dos municípios. Dentre os
dados, destaca-se que as massas de RCC, em 2013, destinadas a área de transbordo e
triagem, área de reciclagem e aterro somaram 3.784.560 toneladas (SNIS – BRASIL, 2015).
Diante do exposto esse trabalho vem contribuir de forma sustentável com a política do
estado de Mato Grosso que está colocando em prática o que Institui o Plano Integrado de
Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (Lei Nº 4.949, de 05 de janeiro de 2007),
de acordo com que estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos e dá outras provi-
dências (Lei Nº 12.305, de 02 de agosto de 2010 ).

MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa ocorreu nas dependências do IFMT, Departamento de Infraestrutura-


DINFRA – com a orientação da profa. Dra. Juzélia Santos e equipe do projeto.
A metodologia de pesquisa envolveu ensaios nos laboratórios de Construção Civil do
IFMT, investigação de campo, pesquisa bibliográfica e intercâmbio de informações com
universidades, indústria e centros de pesquisa. Aplicação do Produto Pronto (tijolo).
Posteriormente foi dado início às atividades de coleta e limpeza dos resíduos, seguida
de sua classificação granulométrica. Para moldagem das amostras de referência, sem resíduo
de construção civil (RCC) e outras adições, foram utilizados agregados naturais em mistura
com o mesmo tipo de cimento das amostras com utilização do resíduo da construção civil
classe A e adição de resíduo de tinta. Na avaliação do produto foram utilizadas as normas
técnicas vigentes.

Concreto utilizado

A escolha do traço do concreto para o piso (radier) e para o microconcreto (grout) foi
através do método de dosagem do prof. Paulo Helene e Terzian (1992), adaptado por (Costa,
2006) para agregado reciclado.
No concreto do radier (piso); jogo de mesa e banco utilizou-se o traço 1:3,5 (sendo 1
de cimento e 3,5 total em massa do agregado seco de resíduo de louça sanitária, cerâmica
vermelha ou concreto), com uma proporção de 53% de teor de argamassa, 30% de pedrisco
de resíduo (brita 0), 70% de brita 1 do resíduo da construção civil, após diversas misturas
utilizando diferentes composições entre os agregados, resultando em um traço em massa

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de 1: 1,38: 0,67: 1,45 respectivamente: (1 cimento: 1,38 agregado miúdo – areia: 0,64
de pedrisco de resíduo (louça sanitária, cerâmica vermelha ou concreto): 1,48 agregado
graúdo de resíduo (louça sanitária, cerâmica vermelha ou concreto): relação água/cimento
0,62. No traço foi adicionado 10% de pigmento (azul, verde ou vermelho) em relação a
quantidade do cimento.
O microconcreto (grout) utilizou o traço 1:5 em massa 1: 1,94: 3,06: 0,48, (sendo 1
de louça sanitária: relação água/cimento 0,48), com uma proporção de 49% de teor de
argamassa, sendo acrescentado 1,5 % de resíduo de tinta em relação a quantidade de
areia. A análise dos resultados foi em relação as propriedades no estado fresco, endurecido
e produto aplicado.

Cimento

Cimento Portland tipo II com adição de Fíler com classe de resistência à com-
pressão de 32 MPa.

Agregado

O agregados foram caracterizado quanto a granulometria, massa unitária solta, com-


pactada, massa específica, índice de vazios e inchamento.
A determinação da composição granulométrica se fez pelos métodos NBR NM 26:2009
e NBR NM 248:2003. A partir da composição granulométrica pode-se traçar a curva de gra-
nulometria dos agregados. Os somatórios das porcentagens retidas acumuladas em massa
de um agregado nas peneiras da série normal dividido por 100 é denominado módulo de
finura. Observa-se que, colocando-se as aberturas das malhas das peneiras em escala lo-
garítmica, o módulo de finura corresponde à área limitada pela curva de granulometria e o
eixo das ordenadas (isto é, a integral da curva granulométrica), (COSTA,2006).
Usou-se areia lavada de rio Cuiabá – MT (SIO2 – Quartzo), que passa pela peneira
com abertura de malha com no máximo 4,8 mm e ficam retidos na peneira ABNT 0,075 mm.

Água

A água utilizada na confecção foi potável do abastecimento local fornecida pela compa-
nhia de saneamento da capital Cuiabá-MT, não contendo resíduos industriais, substâncias
orgânicas impurezas que possam vir a prejudicar as reações entre ele e os compostos do
cimento. Além da função de hidratação do cimento, também serve para assegurar a traba-
lhabilidade respeitando sempre a relação água/cimento (a/c).

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Pigmento

Os pigmentos são substâncias que quando aplicadas a um material lhe conferem cor
ele promove simultaneamente a cobertura, opacidade, tingimento e a cor da tinta.

Fabricação dos tijolos

Para fabricação dos tijolos utilizou-se como referência a NBR 10833:2012.


Na escolha dos traços levaram-se em conta os traços usualmente utilizados nas em-
presas de artefatos de cimento com agregados de origem natural. Os tijolos possuem as
seguintes dimensões: 250 mm de comprimento 125 mm de largura e 62,5 mm de altura.
O procedimento para fabricação dos tijolos foram: o agregado dos resíduos do próprio
laboratório, britado em britador de mandíbula utilizando o agregado miúdo direto do britador,
relação, água/cimento de 1,48, com teor de argamassa de 51%, para formar a massa (fa-
rofa) na proporção em volume 1:9 e em massa (1:4,1:4,9) respectivamente: cimento, areia
e agregado miúdo de resíduo da construção civil de concreto, resíduo de louça sanitária e
cerâmica vermelha. Figura 1.

Figura 1. Mostra o britador de mandíbula utilizado na pesquisa.

A pesquisa sobre tijolos com resíduos faz parte de estudos realizados em diferentes
etapas por alunos diferentes, e utilizando diversos resíduos (cerâmica vermelha, concreto
e louça sanitária).
Os tijolos foram avaliados quanto a resistência à compressão axial e absorção de água,
nas idades de 7, 14, 28 e 180 dias idade, sendo 12 por idade. A cura foi através de molhagem
durante 7 (sete) dias e coberto por lona preta, de acordo com a NBR 8492 (ABNT, 2012) e
NBR 8491 (ABNT, 2012).

Radier, banco e mesa

A execução da mistura do concreto para o piso (radier), banco e mesa foi realizada
de forma manual. A Figura 2, mostra o radier confeccionado com resíduo de louça sanitária
(LS), e os pilares com os tijolos fabricados com resíduos (louça sanitária, cerâmica vermelha,

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resíduo de concreto e resíduo misto). Na área de convivência do IFMT, foram construídos
10 bancos (dez).

Figura 2. Radier e os pilares dos bancos e mesa com os tijolos fabricados.

O radier possui 10 cm de espessura. No radier foi colocado uma malha de aço, com a
saída de ferragem para os bancos e mesa. Nos furos dos tijolos foi inserido o graute. Com
o concreto fresco foi confeccionado na mesa um tabuleiro para dama ou xadrez, conforme
Figura 3, Figura 4, Figura 5 e Figura 6.

Figura 3. Banco construído com agregado de louça sanitária Figura 4. Banco construído com agregado de concreto,
(LS), com pigmento verde. sem pigmento. pigmento.

Figura 5. Banco construído com agregado de cerâmica Figura 6. Banco construído com agregado de resíduo misto
vermelha (CV), com pigmento vermelho. (RCC), com pigmento azul.

O total de bancos confeccionados na área de convivência do IFMT, Campus Cuiabá


Cel. Octayde Jorge da Silva, foram dez (10).

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244
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Propriedade física do agregado e aglomerante

A seguir são apresentado o resultado da caracterização física dos materiais.

Granulometria

A avaliação da composição dos agregados em estudo se deu através do ensaio con-


forme prescrição da NBR NM 248 (ABNT, 2003). Na Figura 7 e Figura 8 são apresentadas
as curvas granulométricas dos agregados em estudo.

Figura 7. Granulometria do agregado graúdo de resíduo; Figura 8. Granulometria do agregado miúdo (areia)
Diâmetro máximo: 25 mm Módulo de finura: 6,42. Diâmetro máximo: 4,8 mm Módulo de finura: 2,85.

Resultado das propriedades físicas dos agregados: massa unitária solta, compactada
e massa específica dos agregados, são apresentados nas Tabelas I

Tabela I. Resultado da massa unitária solta e compactada dos agregados – NBR NM 45:2006. massa específica dos
agregados – NBR NM 53: 2009 (graúdo) e agregado miúdo NBR NM 52:2009.
Material massa unitária massa unitária massa unitária massa unitária massa específi- massa específica
agregado de agregado graúdo agregado graúdo agregado miúdo agregado miúdo ca do agregado agregado miúdo
resíduo solta (g/cm³) compactada (g/cm³) solta (g/cm³) compactada (g/cm³) graúdo (g/cm³) pedrisco (g/cm³)
Louça Sanitária -LS 1,59 1,70 1,27 1,47 ,2,73 2,42
vermelha CV 1,47 1,63 1,46 1,56 2,62, 2,42
Concreto 1,69 1,83 1,65 1,71 3,05 2,47
Areia natural 1,47 1,67
Massa específica da areia = 1,8 (g/cm³)
Abrasão Los Angeles + 19 % NBR NM 51: 2001

Cimento

O Cimento utilizado foi o Portland CP II- F – 32, de embalagem de 50 kg.


As principais características analisadas em laboratório e os valores estão apresenta-
dos na Tabela II.

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245
Tabela II. Características físicas do cimento.

Características e propriedades NBR Unidade Resultado

Finura (resíduo na peneira 75 µm) 11579:2013 % 3,7


Área de Blaine 16372:2015 m2 /kg 367
Início de pega H 2h 15 min.
Tempo de início e fim de pega 16607:2018
Fim de pega H 4h 30 min
Perda ao fogo NM 18:2012 % 0,37
Massa específica 16605:2017 Kg/dm3 3,25
Frio Mm 2,06
Expansividade a frio e a quente 11582:2016
Quente Mm 3,68
3 dias de idade MPa 18,00
Resistência à compressão 7 dias de idade MPa 27,00
7215:2019
28 dias de idade MPa 42,00
Fonte: Acervo pessoal (2019)

Propriedades do concreto no Estado Fresco

Na Tabela III são apresentados o resultado da densidade, relação água/cimento e


consistência do concreto e do microconcreto em estudo, no estado fresco.
A determinação da consistência pelo abatimento do tronco de cone ABNT
NBR NM 67:1998. Este procedimento é mais conhecido no setor da construção civil como
slump test e é uma medida da sua consistência.

Tabela III. Propriedades do concreto no estado fresco.


Densidade de Massa Densidade de Massa Densidade de Massa Consistência
Fator Água/
Material (g/cm³) (g/cm³) resíduo de Abatimento Tronco de
Cimento (a/c)
louça sanitária cerâmica vermelha concreto(g/cm³) Cone (mm)
Concreto com resíduo:
de louça sanitária: ce-
2,40 2,35 2,40 0,62 62
râmica vermelha e
concreto - traço – 1:3,5
Microconcreto do
2,43 2,36 2,45 0,48 80
grout traço – 1:5,0

Propriedades do Concreto no Estado Endurecido

No estado endurecido foi analisado o concreto do piso(radier), mesa e banco, micro-


concreto do grout tijolo em relação as propriedades: resistência à compressão axial, índice
de vazios, absorção por imersão e massa específica.

Microconcreto do grout: resistência à compressão axial, índice de vazios, absorção


por imersão e massa específica

Para o microconcreto do grout o ensaio de resistência à compressão axial seguiu a


norma NBR 5739:2007. Os resultados do índice de vazios, absorção por imersão e massa
específica, seguiu a norma NBR 9778:2005. Os resultados são apresentados na Tabela IV.

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Tabela IV. Ensaios de índice de vazios, absorção de água por imersão e massa específica e resistência à compressão do
microconcreto grout.

Tra o: 1:5 Índice de Vazios Absorção por Imersão Massa Específica


Microconcreto do grout 7,4 (%) 4,3 (%) 2,28 (g/cm³)
Resist ncia a compress‹o do grout aos 28 dias
26,21 MPa
de idade

Tijolos

A resistência à compressão axial dos tijolos, absorção por imersão, índice de vazios
e massa específica, foram avaliados segundo a NBR 8492 (ABNT, 2012). Nas idades de 7,
14, 28 e 180 dias, sendo 06 corpos por idade, conforme Tabela V e Figura 9.

Tabela V. Resultados dos ensaios de resistência e absorção dos tijolos.


Resistência à compres- Desvio Padrão Absorção por imer- Massa específica Índice de vazios
Idades
são axial em MPa (%) são % real g/cm³ %
7 dias 3,8 0,17 12,16 2,81 13,11
14 dias 4,4 0,24 12,03 2,81 13,16
28 dias 4,5 0,62 11,61 3,03 13,14
180dias 4,9 0,109 15,04 2,14 17,84

Figura 9. Resultados dos ensaios de resistência à compressão axial dos tijolos.

Os resultados demonstraram que a fabricação dos tijolos com cimento Portland, resí-
duos da construção civil (RCC), foi satisfatória, conforme os valores mínimos de resistência
à compressão axial estabelecidos pela NBR 8492 (ABNT, 2012), que direcionam os valores
individuais ≥ 1,7 MPa, e para a média de resistência ≥ 2 MPa, com idade mínima de sete
dias, para serem utilizados como elementos de vedação em paredes internas acima do nível
do solo. Quanto a absorção de água deve ser ≤ 20,0%.

Concreto com agregado de louça sanitária (radier), bancos e mesa

O resultado da resistência à compressão axial, absorção por imersão, massa especí-


fica e índice de vazios do concreto com agregado de louça sanitária para o radier, bancos
e mesa, encontram-se na Tabela VI e Figura 10.

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Tabela VI. Resistência à compressão axial, absorção por imersão, massa específica e índice de vazios.
Concreto com Absorção por Massa específica Índice de
Resistência á compressão em MPa
resíduo imersão % real g/cm³ vazios%
Idade em dias 7 14 28 180 28 28 28
Concreto (LS) 25,8 34,4 38,5 53,6 11,61 3,03 18,14
Concreto (CV) 15,86 18,06 19,89 25,32 12,3 2,60 23,4
Concreto 26,8 30,5 36 42,7 10,61 3,03 8,10

Figura 10.Resistência à compressão axial do concreto com agregado de resíduo: de louça sanitária, cerâmica vermelha
(CV) e concreto,utilizado no radier, bancos e mesa.

O concreto produzindo, mostrou-se de boa qualidade de acordo com a NBR 5739:2018.


Observa-se que no concreto com agregado reciclado sua resistência evoluiu com o tempo,
podendo fazer estudos com traços menores.

CONCLUSÕES

Esta pesquisa demonstrou através dos resultados que é possível produzir concreto
com agregado reciclado: louça sanitária, cerâmica vermelha(CV), concreto para piso (radier),
mesa e banco, com ótima coesão, consistência e resistência.
O microconcreto (grout) com agregado de louça sanitária incorporado com resíduo de
tinta proporcionou uma mistura com alta trabalhabilidade e alta resistência.
Os tijolos produzidos com resíduo de louça sanitária, resíduo de cerâmica vermelha e
resíduo de concreto apresentaram resistência aos 7 dias de idade de acordo com o estabe-
lecido pela norma utilizada na avaliação.
O produto final, conjunto piso (radier), mesa e banco com tabuleiro de xadrez, em uso
a quatro anos, pela comunidade do IFMT, vem otimizando o espaço pelos acadêmicos e
usuários em geral, com qualidade e de forma satisfatória, proporcionando lazer e conforto.
Reutilizar o resíduo classe A gerado na indústria da construção na fabricação de artefa-
tos de cimento, mostra a toda comunidade acadêmica a resistência dos materiais reciclados
e importância da reutilização, além de aplicar na prática todo conhecimento adquirido em
sala de aula, contribuído desta forma com mais uma ação sustentável.

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Agradecimentos

Agradeço a FAPEMAT e CNPq por conceder a bolsa de iniciação científica do


EDITAL Nº 037/2018 PROPES/IFMT - CHAMADA 2018/2019 PROJETOS DE PESQUISA
APLICADA E BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA COTAS CAMPUS, SANTOS.J, 2018 e equipe.

REFERÊNCIAS
1. ABRECON (Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos de Construção Civil e
Demolição). Reciclagem de resíduos da construção e demolição no Brasil. Acesso 2022.

2. ABRELPE - Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Es-


peciais. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil. São Paulo, 2014. Acesso. 2022.

3. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICA NBR 8492/2012 Tijolo de so-


lo-cimento Análise dimensional, determinação da resistência à compressão e
absorção de água Método de ensaio

4. Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT NBR 15116:2021. Agregados recicla-


dos para uso em argamassas e concretos de cimento Portland - Requisitos e métodos
de ensaios.

5. CONAMA 307/2002 reformulada em 2012. Conselho Nacional do Meio Ambiente.

6. COSTA, J. S. Agregados Alternativos para Argamassa e Concreto produzidos a partir


da reciclagem de rejeitos virgens da indústria de cerâmica tradicional. Tese de Dou-
torado, UFSCar, Departamento de Engenharia de Materiais - DEMa - (2006).

7. Helene, Paulo R.L: Manual de Dosagem e Controle de Concreto – São Paulo 1992

8. MORAES B. I. Produção de Tijolos Prensados com Agregados Reciclados da Constru-


ção Civil: Estudo de Caso em Cuiabá – MT, Dissertação Mestrado. Univates Centro
Universitário, 2021.

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17
Piso produzido com agregado de resíduo da
construção civil em relação ao produzido
com agregado natural

Rafael Henrique Santos da Costa


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Karyn Ferreira Antunes Ribeiro


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Juzélia Santos da Costa


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Artigo original publicado em: 2015


3º Encontro em Engenharia de Edificações e Ambiental - ISSN 2318-5570.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/230412843
RESUMO

Neste trabalho foi efetuado o controle tecnológico de um piso produzido com concreto utili-
zando como agregado o resíduo da construção civil, executado no pátio público do Instituto
Federal de Educação Ciências e Tecnologia de Mato Grosso Campus Cuiabá Cel. Octayde
Jorge da Silva. O resíduo de construção descartado pela construção civil foi britado em bri-
tador e moído em granulometria apropriada para simular tipos genéricos de brita do tipo 1
(agregado graúdo) e areia (agregado médio). As características do concreto desenvolvido
em várias idades foram similares a um concreto convencional de referência, produzido nas
mesmas condições de traço e água de amassamento. No concreto de referência os materiais
utilizados foram: cimento: areia lavada de rio: agregado graúdo (brita basáltica 1). Para a
caracterização e similaridade de resultados entre os concretos contendo agregados recicla-
dos e o concreto de referência, foram utilizadas as normas da ABNT. A avaliação ocorreu
aos 07, 14, 28 e mais 360 dias de idade. Os resultados mostraram que as propriedades no
estado fresco foram bastante similares para todos os concretos. A avaliação após 360 dias
foi através da dureza superficial do concreto por meio do esclerômetro de reflexão. Pelos
resultados se conclui que agregados produzidos por reciclagem de resíduo da construção,
apresenta potencial para utilização em concreto de cimento Portland não estrutural em luga-
res públicos. Outro aspecto relevante refere-se à contribuição para a diminuição do impacto
ambiental, que resulta da substituição da areia e da brita por agregado reciclado da cons-
trução civil, provocado pelo descarte de tais produtos, mesmo sendo considerados inertes.

Palavras-chave: Reciclagem, Piso de Concreto, Resíduo da Construção.


INTRODUÇÃO

O presente estudo apresenta uma avaliação do uso do resíduo da construção civil como
agregado alternativo para concreto com cimento Portland, aplicado em um piso público. Tal
reciclagem é importante no que tange à proteção de recursos naturais, diminuição de área
de descarte e impacto ambiental.
O concreto é um material resultante da mistura intima e proporcionada de um aglome-
rante (cimento), agregado graúdo, agregado miúdo e água. É considerado o material mais
importante da construção civil. Sendo assim este trabalho visa apresentar a propriedades
específicas do concreto, utilizando agregado proveniente de resíduo da construção civil.
O projeto está inserido na linha de pesquisa “Agregados alternativos para argamas-
sas e concretos”, cujo enfoque é a reciclagem de resíduos industriais, dentro do grupo de
pesquisa “Desenvolvimento e propriedades de materiais e componentes para a indústria
da construção civil” do IFMT.
Hansen (1992) afirma que as normas no Reino Unido permitem o uso de agregados
reciclados em pavimentação e em construções. Admite-se o uso de reciclado de concreto ou
de alvenaria em concreto com baixa requisição estrutural. Para que se aplique o reciclado em
concretos é necessário que o material atenda a algumas especificações básicas. O mesmo
autor afirma que embora as especificações variem de país para país, pode-se identificar
exigências gerais a que qualquer agregado deve atender: (1) deve ser suficientemente
resistente para o uso no tipo de concreto em que for usado; (2) deve ter dimensionamento
estável conforme as modificações de umidade; (3) não deve reagir com o cimento ou com
o aço usado nas armaduras; (4) não deve conter impurezas reativas; (5) deve ter forma de
partículas e granulometria adequadas à produção de concreto com boa trabalhabilidade.
Outro aspecto relevante no uso do material reciclado é a massa específica que segun-
do o mesmo pesquisador e (Metha e Monteiro, 2008), as massas específicas de concretos
com reciclado são entre 5 % a 15 % menores que as de concretos convencionais. A massa
específica de concretos com reciclado é, em geral, menor que a de concreto convencional,
devido à diferença de massa dos agregados reciclados.
Os aspectos relevantes da utilização dos resultados são simultâneos. As indústrias
concentradas numa região pequena e estratégica, favorável à comercialização de seus
produtos, poderão dispor de alternativas mais econômicas e ecologicamente corretas para a
disposição dos descartes, que não seja a de aterros sanitários. O recolhimento e a concentra-
ção desses resíduos, por exemplo, em centrais, é favorecido, já que o acesso às empresas
é facilitado (pistas de asfalto, empresas concentradas em pequena região).
O gerenciamento ambiental, já disposto na ABNT NBR ISO 14.050:2012 estarão aten-
didos quanto ao manejo eficiente desses resíduos. A Associação Brasileira de Normas

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Técnicas, através da NBR 15116:2004, delineia sobre os agregados reciclados de resíduos
sólidos da construção civil - Utilização em pavimentação e preparo de concreto sem função
estrutural – Requisitos.
A realidade do país e do setor da construção se alterou radicalmente nos últimos anos,
sofrendo transformações de forma acelerada em seu cenário produtivo e econômico. Delineia-
se, assim, uma nova realidade que coloca desafios importantes para as empresas de cons-
trução civil, entre os quais o da sobrevivência em um mercado mais exigente e competitivo.
Além disso, o aspecto ambiental decorrente dessa ação de reciclagem é eviden-
te. Um fator relevante a ser considerado no descarte indiscriminado de resíduos sólidos da
construção civil é nas cercanias de áreas urbanas é justamente o meio que propiciam para
a proliferação de insetos e animais nocivos em função do abrigo a estes animais. Também,
o volume de resíduos sólidos, quando dispostos em aterro sanitário, envolve custos consi-
deráveis para essa disposição, que nem sempre são incluídos nos benefícios econômicos
da reciclagem. Um tipo de resíduo extensamente estudado é o entulho (resíduo não virgem),
proveniente de demolições e perdas em obras de construção civil, cuja reciclagem tem sido
estudada por grupos de pesquisa já estabelecidos (JONH, 1996). Propriedades importantes
encontradas como a atividade pozolânica têm sido consideradas como fator um decisivo
para o aproveitamento dos mesmos.
As britas e areias para construção são retiradas na região, principalmente das mar-
gens e leito de rios, como o rio Cuiabá, se bem que existem outras fontes. Obviamente o
volume reciclado não poderia suprir, no momento, o equivalente ao das fontes naturais,
mas as discussões e regulamentações relativas à extração de areia e brita tem como con-
clusão final de que o procedimento é extremamente nocivo ao ambiente. A disponibilização
de alternativas como essa apresentada no presente estudo pode diminuir sensivelmente o
impacto ambiental, já que para cada metro cúbico de material reciclado, um metro cúbico
de material não será extraído, e o ganho final será de dois metros cúbicos, em relação ao
meio ambiente (JONH, 1996).

METODOLOGIA

O resíduo construção civil utilizado neste trabalho foram os materiais descartados


das obras e do laboratório de construção civil do IFMT, onde foram britados em britador de
mandíbula e moídos em moinho de bola de forma a produzir agregado com granulometria
apropriada para simular um tipo genérico de brita e areia (COSTA, 2003 e 2006). A pesquisa
foi desenvolvida durante a disciplina concreto e argamassa, usando como base estudo simi-
lar das propriedades dos concretos com agregados convencionais de origem natural. Para

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determinação da resistência mecânica à compressão, foram utilizadas as normas brasileiras
da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
Foram produzidos dois concretos, um denominado de concreto com resíduo da cons-
trução civil (RCC) e outro de referência com agregado natural denominado (CR). O concreto
além de moldado em corpos de prova cilíndricos foi aplicado na restauração de um piso
no pátio do Instituto Federal de educação Ciências e Tecnologia de Mato Grosso campus
Cuiabá Cel. Octayde Jorge da Silva (IFMT).
A escolha do traço foi através do método de dosagem do Prof. Paulo Helene (1993),
adaptado por (Costa, 2006) para agregado reciclado, segundo a qual se utilizou um traço
normal de 1:5 (uma parte de cimento e cinco de agregado seco total em massa), com uma
proporção de 49% de teor de argamassa, resultando em um traço em massa de 1:1,94:3,06
(uma parte de cimento: 1,94 de agregado miúdo:3,06 de agregado graúdo).
Ambos os concretos com os traços em massa de 1: 1,94: 3,06. Em todos os concretos
aqui estudados o consumo de cimento foi de 350 kg/m3, sob uma relação água/cimento
igual a 0.60 e slump test 6 mm. Para efeito de suas propriedades, o concreto foi analisado
em duas condições distintas: no estado fresco, considerado até o momento em que se dá
o início de pega do conjunto, e no estado endurecido, considerado o material obtido pela
mistura dos componentes após o fim de pega do sistema.
No estado fresco, as propriedades avaliadas foram aquelas que garantam a obtenção
de uma mistura fácil de ser transportada, lançada e adensada, sem segregação, e que,
depois de endurecida, se apresente homogênea, com o mínimo de vazios.
Assim, as propriedades avaliadas foram: consistência (Slump test / relação água-ci-
mento), textura, trabalhabilidade, massa específica, densidade.
Para a avaliação no estado endurecido foram executados os ensaios mecânico de re-
sistência à compressão axial pelo método destrutivo aos 7, 14 e 28 dias de idade, e o ensaio
pelo método não destrutivo avaliado aos dois anos e meio de idade executado segundo a
NBR 7584:1995 – Concreto endurecido – avaliação da dureza superficial pelo esclerômetro
de reflexão Figura 1 e Figura 2.
O ensaio não destrutivo é muito indicado para avaliações in loco, uma vez que ao
final do ensaio as estruturas de concreto continuarão em serviço sem nenhum dano a
sua integridade.
Os ensaios esclerométricos são ensaios não destrutivos que permitem avaliar a quali-
dade do concreto em elementos de concreto armado ou concreto simples. Este ensaio utiliza
o esclerômetro de Schmidt que mede a dureza superficial do concreto a partir do recuo de
uma massa incidente após o choque com a superfície a ensaiar. Este recuo é então conver-
tido num valor de resistência à compressão através de ábacos. O ensaio deve realizar-se

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em superfícies de concreto homogéneas, devendo ser efectuada a remoção da camada
superficial carbonatada, através de raspagem.

Figura 1. Marcação para ensaio de Concreto endurecido.

Figura 2. Avaliação da dureza superficial pelo esclerômetro de reflexão.

O fabricante do esclerômetro de reflexão utilizado nos ensaios é a Proceq inc. e o


modelo é Silver Schmidt ST. As áreas foram delimitadas segundo a NBR 7584:2013, que
estabelece um número mínimo de impactos de nove por elemento, sendo distância entre
seus centros de 30 mm. Foram adotados para ensaio 16 impactos por elemento e distância
entre os centros de 30 mm.
Além desses ensaios foram executados no estado endurecido: resistência à compressão
axial, resistência à tração por compressão diametral, absorção por imersão e capilaridade.

Caracterização dos materiais

Os agregados graúdos reciclados foram produzidos pela britagem e moagem de peça


de cerâmica vermelha e concreto, até que o material tivesse granulometria passante em
uma peneira de malha quadrada com abertura nominal de 19mm, ficando retidos na peneira
ABNT nº 4 (4,8mm) (NBR NM 248:2003). Por sua vez, o agregado miúdo abaixo da peneira
4.8mm foi constituído para o concreto com reciclado por agregado reciclado poduzido em

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moinho de bola e direto do britador e para o concreto com agregado convencional foi utili-
zado areia natural de rio.
O desgaste do agregado foi verificado através do ensaio de resistência à abrasão,
portanto, a capacidade que tem o agregado de não se alterar quando manuseado.
O desgaste do agregado foi avaliado através do ensaio de Abrasão “Los Angeles”,
NBR NM 51, onde mediu o impacto entre os agregados com esferas de aço padronizadas
que giram num tambor, com velocidade controlada de 30 rpm a 33 rpm. Após isso, o agre-
gado foi peneirado e pesado. O desgaste é convencionalmente expresso pela porcentagem,
em peso, do material que passa, após o ensaio, pela peneira de malhas quadradas de 1,7
mm (ABNT nº 12).

Composição granulométrica do agregado abaixo das malha 4 (NBR NM 248:2003)

O agregado natural (areia lavada de rio), utilizado neste estudo apresentou uma gra-
nulometria que o coloca aproximadamente dentro da faixa considerada areia média de rio,
conforme é mostrado na Figura 3.

Figura 3. Limite granulométrico da areia média oriunda do rio Cuiabá – MT.

Diâmetro Máximo Característico = 4,8mm


Módulo de Finura = 3,92

Por sua vez o agregado reciclado abaixo de 4,8mm, apresentou igualmente granulome-
tria equivalente à de uma areia média, porém com melhor graduação, como mostra a Figura 4.

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Figura 4. Limite granulométrico da areia média produzida em britador de mandíbula e moinho de bola. Resíduo oriundo
de cerâmica vermelha e concreto das construções e do laboratório do IFMT Campus Cuiabá.

Diâmetro Máximo Característico = 4,8mm


Módulo de Finura = 2,85

Cimento

O aglomerante utilizado foi o cimento Portland CPII F32, cujas características são
mostradas na Tabela 1, NBR 11578:1991.

Tabela 1. Característica do cimento.

Característica Cimento
Tipo CP II-F-32
Finura (%) 3
Massa unitária (g/cm3) 1,15
Massa Específica do cimento (g/cm3) 3,15

Dosagem

Para avaliar-se o efeito dos agregados reciclados, foram formulados dois concretos de-
nominados; primeiro utilizando cimento: agregado miúdo e graúdo de Resíduo da Construção
Civil (RCC); segundo traço utilizando cimento: agregado miúdo (areia natural): agregado
graúdo (brita 1). Ambos os traços em massa de 1: 1,94: 3,06, com teor de argamassa de
49%. Em todos os concretos aqui estudados o consumo de cimento foi de 350 kg/m3, sob
uma relação água/cimento igual a 0.60. A massa específica do concreto com reciclado foi
de 2,13 g/cm3 e do concreto convencional foi e 2,39 g/cm3.

Mistura

Os concretos foram misturados, em betoneira de 100dm3, por um período de 3 minu-


tos, seguido de repouso de 10 minutos. A temperatura durante o preparo foi de 30oC e 2oC
e umidade relativa de 68% (ambiente do laboratório). Após o repouso, cada concreto foi
misturado por mais 1 minuto e em seguida descarregado da betoneira.

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Moldagem e cura dos corpos-de-prova e piso em estudo

Os corpos de prova de concreto foram moldados de forma manual, no formato cilíndrico


com diâmetro de 100 mm e altura de 200 mm, segundo a NBR 5738:2015.
Estes corpos de prova foram submetidos à cura em água até a idade de ensaio, con-
forme ABNT. A seguir foram ensaiados à compressão axial de acordo com NBR 5738:2015
nas idades de 7, 14 e 28 dias de idade. O piso de concreto foi executado com o mesmo
concreto dos corpos de prova, sendo utilizado uma barra de ferro de uma polegada durante
a execução como espaçador formando piso de 30 cm X 30 cm, conforme Figura 5.

Figura 5. Formato do Piso executado.

A cura do piso foi através de molhagem três vezes ao dia durante 7 dias, iniciando após
24 horas, além de ficar coberto com lona preta durante esse período.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Propriedades no estado fresco

Inicialmente avaliou-se a Consistência do concreto através do ensaio de Abatimento


segundo a NBR NM 67:1998, utilizando um cone de dimensões 7,5 cm de diâmetro no topo,
15 cm de diâmetro na base e 20cm de altura. Outros indicadores foram avaliados conforme
mostrado na Tabela 2.

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Tabela 2. Índices Físicos dos concretos estudados.
Densidade de
Fator água/ Abatimento tronco Massa unitária do Massa específica do
Traço massa e massa
cimento (a/c) de cone (mm) agregado (g/cm3) agregado (g/cm3)
específica (g/cm3)
Resíduo Natural Resíduo Natural
Concreto resíduo (miúdo) (miúdo) (miúdo) (miúdo)
2,13 0,6 60
(RCC)
1,59 1,54 2,5 2,6
Resíduo Natural Resíduo Natural
Referência (CR) 2,39 0,6 60 (graúdo) (graúdo) (graúdo) (graúdo)
1,39 1,43 2,3 2,56
Agregado de RCC – Resíduo da
Abrasão Los Agregado natural
Construção Civil
Angeles %
31 % 38 %

Propriedades no estado endurecido

Do ponto de vista estrutural a propriedade mais importante avaliada no estado endu-


recido do concreto de referência como do concreto contendo agregado reciclado de resíduo
da construção, foi à resistência à compressão axial, avaliada segundo a NBR 5739:2007 e
avaliado segundo a NBR 7584:2013, avaliação através da dureza superficial pelo esclerô-
metro de reflexão. Os resultados são apresentados na Tabela 3 e Figura 6.

Resistência à compressão axial

De acordo com Mehta e Monteiro (2008), o concreto em estudo foi classificado como
de resistência moderada, pois, se enquadra na faixa entre 20 MPa aos 28 dias de idade.
Apresentado na Tabela 3 e Figura 6.

Tabela 3. Resistência à Compressão (MPa) para os dois tipos de concreto avaliados neste estudo.

Resistência à Compressão Axial (MPa) NBR 5739:2007


esclerômetro de reflexão dois anos
Idade em dias dos concretos 7 Dias 14 Dias 28 Dias
e meio
Concreto com (RCC) 15,17 18,62 19,50 19,50
Concreto de referência 15,20 19,30 20,70 21,50

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Figura 6. Resistência à compressão axial do concreto com agregado natural de referência (CR) e do concreto com agregado
de resíduo da construção civil (RCC).

Resistência à tração por compressão diametral (NBR 7222: 2011)

Segundo a norma ABNT NBR 7222 (2011) a tensão de tração por compressão diame-
tral, é influenciada pelo diâmetro (D) e pelo comprimento (L) do corpo de prova, como pode
ser observado na Equação 1. Os resultados se entram na Tabela 4 e Figura 7.

(1)

Tabela 4. Resultado do ensaio de Resistência á tração por compressão diametral (MPa).

Concreto Resistência à Tração por Compressão Diametral

Idade em dias dos concretos 7 Dias 14 Dias 28 Dias Dois anos e meio

Concreto com resíduo (RCC) 2,04 2,08 2,57 3,25


Concreto de referência (CR) 3,07 4,68 4,87 5,30

Figura 7. Resistência à tração por compressão diametral do concreto com agregado natural de referência (CR) e do
concreto com agregado de resíduo da construção civil (RCC).

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O resultado da resistência à tração por compressão diametral e à tração na flexão dos
concretos contendo reciclados é indicativo de uma boa adesão da matriz do agregado além
de uma zona de transição forte.

Absorção por Imersão

A pesquisa foi realizada conforme a norma NBR 9778/2009 absorção por Imersão, visto
que o concreto confeccionado absorve grande volume de água. Na Tabela 5, verificam-se
os resultados da absorção por imersão do concreto reciclado com resíduo da construção
civil (RCC) e do concreto de referência com agregado natural (CR).

Tabela 5. Resultado dos índices físicos no estado endurecido.

Concreto do Piso Absorção por imersão (%) Índice de vazios (%)


Concreto com resíduo (RCC) 5, 05 % 7,40 %
Concreto de referência (CR) 3,07 % 4,8 %

Absorção por Capilaridade

A propriedade que caracteriza a quantidade de água absorvida pelos vasos capilares


do concreto é um fator que deve ser conhecido por quem o utiliza, pois define a possibilidade
de umidade ascendente no concreto. Resultados da absorção por capilaridade do concreto
de resíduo da construção civil (RCC) e de referência (CR) foi determinada em 24,48 e 72
horas. Encontram- se na Tabela 6. De acordo com a NBR 9779:2012.

Tabela 6. Resultado do ensaio de Absorção por Capilaridade.

Absorção por Capilaridade (g/cm²)


Concreto
24 horas 48 horas 72 horas
Concreto com resíduo (RCC) 4,36 4,47 4,47
Concreto de referência (CR) 4,40 4,48 4,49

CONCLUSÕES

O concreto contendo agregado reciclado após mistura apresentou-se consistente e


coeso, menor teor de água poderia ter sido utilizado para ajuste da trabalhabilidade man-
tendo-se semelhante o concreto reciclado e o concreto convencional.
A massa específica do concreto com reciclado foi de 2,13 g/cm3 e do concreto con-
vencional foi e 2,39 g/cm3.
De acordo com os estudos com os Hansen (1992), Metha e Monteiro (2008), afirmam
que massas específicas de concretos com reciclado são entre 5 % a 15 % menores que as
de concretos convencionais, devido à diferença de massa dos agregados reciclados.

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Nos ensaios de resistência à compressão do concreto com adição de agregado miúdo e
graúdo com reciclado e o concreto com agregados naturais os resultados foram semelhantes.
Uma vez que o consumo de cimento foi igual ao do concreto de referência, podemos
afirmar que a pequena diferença da resistência à compressão do concreto natural em re-
lação ao reciclado foi ocasionado pelo melhor empacotamento dos materiais no concreto
com agregado natural.
No concreto reciclado, seu bom desempenho foi ocasionado por atividade pozolânica
da parte fina do agregado reciclado de cerâmica vermelha, já estudado pelo grupo de pes-
quisa, cujo empenho seria melhor se a absorção de água do concreto fosse menor.
Outra observação se refere ao ensaio destrutivo e o não destrutivo onde permane-
ceu a similaridade dos resultados nos ensaios mecânico à compressão axial com mais de
dois anos de idade.
Os resultados dos ensaios realizados mostram que a utilização do agregado graúdo e
miúdo reciclado pode proporcionar níveis de resistência mecânica similares aos de um con-
creto de cimento Portland convencional de mesmo traço. Assim, pode-se concluir pela viabi-
lidade e grande potencial de uso de tal concreto, no mínimo em aplicações não estruturais.

REFERÊNCIAS
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terminação da massa unitária e do volume de vazios. Rio de Janeiro, 2006.

2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR NM 51. Agregado Graú-


do — Ensaio de Abrasão “Los Angeles”. Rio de Janeiro, 2001.

3. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR NM 67 – Concreto – de-


terminação da consistência pelo abatimento do tronco de cone. Rio de Janeiro,
1998.

4. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR NM 248- Agregado-Deter-


minação da composição granulométrica *Método de Ensaio*. Rio de Janeiro, 2003.

5. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5738 Moldagem e cura


de corpos-de-prova cilíndricos ou prismáticos de concreto. Rio de Janeiro, 2003.

6. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5739. Concreto – Ensaio


de compressão de corpos-de-prova cilíndricos. Rio de Janeiro, 2007.

7. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7211. Agregados para


concreto – especificação. Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2009.

8. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7222. Argamassa e


concreto – Determinação da Resistência à Tração por Compressão diametral de
corpos- de- prova cilíndricos. Rio de Janeiro, 2010.

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262
9. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7584– Concreto endu-
recido – avaliação da dureza superficial pelo esclerômetro de reflexão. Rio de
Janeiro, 2013.

10. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9778. Argamassa e


concreto endurecidos – Determinação da absorção de água, índice de vazios e
massa específica. Rio de Janeiro, 2009.

11. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9779. Argamassa e


concreto endurecidos — Determinação da absorção de água por capilaridade.
Rio de Janeiro, 2012.

12. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 11578.Cimento Portland


composto - Especificação. Rio de Janeiro, 1991.

13. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12142. Concreto-Deter-


minação da resistência à tração na flexão em corpos-de-prova prismáticos. Rio
de Janeiro, 2010.

14. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 14050. Gestão am-
biental — Vocabulário. Rio de Janeiro, 2012.

15. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15116. Agregados re-


ciclados de resíduos sólidos da construção civil - Utilização em pavimentação
e preparo de concreto sem função estrutural – Requisitos. Rio de Janeiro, 2004.

16. COSTA, J. S.; MARTINS, C.A.;Baldo,J. B.. Reciclagem de rejeitos da indústria de


tijolos e telhas como agregados alternativos em substituição á areia em arga-
massas de alvenaria. 47º Congresso de cerâmica- julho – 2003.

17. COSTA, J. S. Agregados alternativos para argamassa e concreto produzidos a


partir da reciclagem de rejeitos virgens da indústria de cerâmica tradicionais.
Tese de doutorado em ciência e engenharia de matérias. São Carlos, 2006.

18. HANSEN, T. C., NARUD, H. Strength of recycled concrete made from crushed
concrete coarse aggregate. Concrete International. Design and construction, v.
5, n. 7, 1992.

19. JOHN, V. M. Pesquisa e desenvolvimento de mercado para resíduos. In: Reciclagem


e Reutilização de resíduos como materiais de construção. São Paulo, 1996. São
Paulo, ANTAC, PCC-USP, p. 21-30.

20. MEHTA, P. K.; MONTEIRO, P. J. M. Concreto: microestrutura, propriedades dos ma-


teriais. Ed.3 São Paulo: IBRACON, 2008. 674p.

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18
Bloco de concreto vazado com Poliestireno
Expandido (EPs)

João Medeiros Escola


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Juzelia Santos
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Artigo original publicado em: 2015


3º Encontro em Engenharia de Edificações e Ambiental
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/230412842
RESUMO

A pesquisa justifica-se por possibilitar um melhor destino aos resíduos de Poliestireno


Expandido “EPs”. Com base neste raciocínio, o material foi reutilizado e, desta forma, um
novo produto foi gerado. Trata-se de um produto de alta sustentabilidade, que é descartado
sem ser reciclado. Por ser volumoso, esse material, acumula-se em terrenos baldios, nas
encostas dos rios e nos aterros sanitários. A reutilização dessa matéria prima pode contribuir
para a conscientização da sociedade a manter o meio ambiente preservado. A produção de
“EPs” tem se mantido em ascensão, majoritariamente, vem sendo utilizado para transpor-
te de alimentos, proteção para eletrodomésticos, eletrônicos, produtos do setor industrial
como também na área da construção civil. Utilizou-se o EPs reciclado para fabricar blocos
de concreto vazado, substituindo uma porcentagem do agregado natural por EPs. Após a
realização de múltiplos testes e inúmeras dosagens, resultados significativos para o bloco
de concreto foram obtidos. Esses blocos podem ser utilizados em alvenaria de vedação
sem função estrutural, por serem mais econômicos e sustentáveis. Esses resultados foram
obtidos através de ensaios de resistência mecânica, absorção por capilaridade, retração,
comparando com as especificações técnicas.

Palavras-chave: Bloco de Concreto, EPS, Reutilizar.


INTRODUÇÃO

Este estudo possibilitou uma avaliação para obtenção de melhor destino aos resíduos
de “EPs”. Utilizou-se o material para gerar um novo produto, uma vez que, possivelmente
esse material seria jogado de forma inadequada em lugares não autorizados. Trata-se de
um produto de alta sustentabilidade que foi utilizado no sentido de propiciar economia no
produto final. Esses materiais foram desenvolvidos dentro das regulamentações técnicas,
garantindo, desta forma a qualidade esperada.
A produção de Poliestireno Expandido “EPs” vem aumentando cada vez mais, esses
materiais são utilizados para transporte de alimento, proteção de eletrodomésticos, eletrô-
nicos, produtos do setor industrial e na área de construção civil. Após a utilização, esse
material é descartado, muitas vezes, sem destino adequado, gerando dessa forma, acú-
mulo de resíduos na natureza. Os blocos de concreto vazado com “EPs” foram moldados
e testados, observaram-se as qualidades técnicas em conformidade às normas vigentes,
para que fossem utilizados em alvenarias de vedação sem função estrutural. Procedeu-se
várias dosagens dos blocos de concreto, aumentando e diminuindo os agregados naturais,
levando em conta o efeito de finos de “EPs”.

REFERENCIAL TEÓRICO

Poliestireno Expandido “EPs”

O Poliestireno Expandido “EPs” popularmente conhecido como (isopor), foi descoberto


na Alemanha em 1949, pelos químicos Frits Stasny e Karl Buchhol. Segundo Manual de
Utilização de EPs na Construção Civil, (2006), é composto por um plástico celular rígido
obtido através da polimerização do estireno em água, na sua composição contém o (Hidro
Carbureto), que em contato com os raios solares se deteriora rapidamente, é reciclável e
pode voltar a sua condição de matéria prima original.
Composto por 98% de ar e 2% de plástico, o “EPs”, por ser um material leve resistente e
de baixo custo é muito utilizado para o transporte de alimento, por ser um excelente isolante
térmico. O que garante ao produto no seu interior a conservação da temperatura e também
diminui o risco de sua deterioração.
Por não ter a propriedade de hidroscopia, oferece uma elevada resistência à absor-
ção de água, permitindo manter suas propriedades inalteradas e dos produtos embala-
dos. Muito usado também para transporte de produtos congelados, peixes, carnes, deriva-
dos de laticínios.

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O “EPs” é mais utilizado em transporte de utensílios eletrônicos e eletrodomésticos,
e produtos industriais, oferece uma grande vantagem, a capacidade de resistência a im-
pactos, quedas e choques garantindo a proteção de equipamento acondicionado no seu
interior como exemplo: vidros, produtos cerâmicos, perfumes, utensílios de jardinagem,
sanitários entre outros.
Na construção civil o “EPs” é muito utilizado por sua propriedade de isolamento térmico
e acústico, é empregado em lugares com necessidades de melhorar a temperatura do am-
biente por condições climáticas de região e para melhorar desempenho de equipamentos
de climatização, garantindo menor perca de temperatura, economizando energia. Também
muito utilizado em ambientes que precisa de isolamento acústico, exemplo: teatros, cinemas,
estúdios. É uma matéria prima barata, resistente e de fácil acesso.
Empregado em coberturas, paredes, em câmaras frigorificas, argamassa, concretos,
enchimento de lajes, como blocos, formas permanentes, painéis pré-moldados, junta de di-
latação e como concreto leve. Segundo a Associação Brasileira de Poliestireno Expandido
(ABRAPEX), 2006, o “EPs”, é produzido em duas versões: Classe P, não retardante à cha-
ma, e Classe F, retardante à chama. Também três grupos de massa específica aparente,
de acordo com a Tabela 1.

Tabela 1. Massa especifica do “EPs”.

I- De 13 a 16 kg/m³.

II - De 16 a 20 kg/m³.

III - De 20 a 25 kg/m³.
Fonte: ABRAPEX/ 2006.

O “EPs” não contamina o solo e o ar, o maior problema é que depois de utilizado ele é
descartado na natureza gerando o acumulo desse material em aterros sanitários sem que
seja reaproveitado de forma a garantir sustentabilidade e economia.
Esse estudo é relevante no sentido de avaliar as demais propriedades, de forma a
fornecer a sociedade um produto ecologicamente correto, com qualidade e sustentabilidade.
Incrementando dessa forma as políticas públicas de incentivo as cooperativas que estão
em consonância com as normas técnicas de reciclagem e de acordo com a resolução 258
do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA, 1999) e Resolução 307 (CONAMA,
2002 reformulada em 2012). O conselho nacional do meio ambiente (CONAMA 307/2012),
classifica os resíduos provenientes da construção civil, seus geradores, os agregados que
são reciclados, explica sobre gerenciamento de resíduos e reciclagem para transformação
e sua reutilização como matéria prima.
Todo município deve criar um Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos da
Construção Civil, para seu uso de forma correta.

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As exigências prescritas nas resoluções citadas são grandes, assim sendo será ne-
cessário muito mais que fiscalização será necessário à conscientização dos geradores, em
conjunto com sociedade e academia visando à utilização correta desses resíduos.

Bloco de concreto

O bloco de concreto é um componente industrializado, produzido em máquinas que


vibram e prensam, podendo ser fabricados com uma vasta variedade de composições. Por
serem moldados em fôrmas de aço, possuem precisão dimensional que confere facilidade
na execução da alvenaria.
Suas características e desempenho dependem do equipamento, da qualidade dos
materiais empregados e da sua proporção adequada.
Os blocos de concreto normalizados possuem formato e dimensões padronizadas, que
proporcionam um sistema construtivo limpo, prático, rápido, econômico e eficiente. Além dis-
so, o material concreto possui um módulo de elasticidade similar ao da junta de argamassa,
aproximando a resistência da alvenaria à do bloco.
Os aspectos técnicos, dos blocos de concreto devem estar conforme a norma, as es-
pecificações da NBR 6136, da ABNT (2014).
Podem ser produzidos em resistências características variadas, em função da neces-
sidade estrutural das edificações.
Podem ser produzidas com diferentes formas, cores e texturas.
Possuem vazados de grandes dimensões que permitem a passagem de tubulações
elétricas e, em alguns casos, sanitárias.
Estes vazados também podem ser preenchidos com graute (micro concreto) para a
execução de cintas de amarração, vergas ou quando se deseja aumentar a resistência da
alvenaria à compressão.
Por serem produzidos a partir da mistura de cimento, agregados miúdos e graúdos,
estão disponíveis em praticamente todas as cidades de médio e grande porte do País.
Apresentam baixíssima variação de dimensões, que são modulares, evitando des-
perdícios por quebras em obra e diminuindo substancialmente as espessuras dos revesti-
mentos aplicados.

Concreto leve com “EPs”

Geralmente o Poliestireno Expandido “EPs” é misturado com cimento, areia e água, em


uma sequência específica de mistura, obtendo assim o concreto leve para uso na construção
civil. O “EPs” mais utilizado na regularização de lajes, mas também pode ser usados em qua-
dras esportivas, bancos de jardim, vasos, balaústres, casas pré-fabricadas, exceto estruturas.

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Esse tipo de concreto geralmente é usado em locais que necessitam boa redução
de peso em elementos das edificações. O fato do “EPs” praticamente não absorver água
e ter um acabamento homogêneo, possibilita o uso do concreto leve em outros elementos
arquitetônicos e de paisagismo.

Cimento Portland

Popularmente conhecido como cimento, ele é um composto de clinquer e de adi-


ções. O cimento Portland, foi descoberto por Joseph Aspdim, a mais de 150 anos. Tem
como característica desenvolver uma reação química em contato com a água, primeiro ele
se torna pastoso e depois endurece, essa é sua principal característica.
As adições são matérias-primas que, misturadas ao clínquer na fase de moagem, per-
mitem a fabricação dos diversos tipos de cimento Portland disponíveis no mercado. Essas
outras matérias-primas são o gesso, as escórias de alto-forno, os materiais pozolânicos e
os materiais carbonáticos (OLIVEIRA, 2013).

Agregados

Os agregados se classificam em naturais ou artificiais. Os naturais como areia de rio,


cascalho e pedregulho que são encontrados de forma particulada na natureza. Artificiais são
aqueles produzidos por processos industriais, (pedras britadas, areias artificiais escorias de
alto forno e argilas expandidas). O agregado tem influencia significativa para aumentar a
estabilidade, resistência o desgaste ao fogo e a condutibilidade térmica.

Areia

Classificada como agregado miúdo, 0,075 mm < f < 4,8 mm. Possui grãos de dimensões
variadas, e angulosos, entra na composição das argamassas, e contribuem para diminuição
da contração volumétrica da argamassa, tornando a mais econômica. As areias dos rios são
as mais puras, por isso são as mais usadas.

Granulometria

Utilizou-se a Composição granulométrica conforme a norma NBR 7211 da ABNT, (2004)


que diz que a distribuição que constitui os agregados, geralmente é expressa em termo
de porcentagens individuais ou acumulada retida em cada uma das peneiras da chamada
série normal ou intermediarias e sua grandeza é associada à distribuição granulométrica
do agregado corresponde á abertura nominal, em milímetros, de malha da peneira da série
normal e intermediaria (NETO, 2005).

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Massa unitária solta e compactada

Massa unitária solta de um agregado é a relação entre sua massa e seu volume sem
compactar, considerando-se também os vazios entre os grãos. É utilizada para transformar
massa em volume e vice-versa. Massa unitária compactada é a relação entre sua massa
e seu volume compactado segundo um determinado processo, considerando-se também
os vazios entre os grãos. Pode ser feita com um único agregado ou com uma composição
destes. Utilizado na transformação de massa para volume com vazios entre os grãos de
agregados é aplicado em concreto dosado em volume e para controle de recebimento e es-
tocagem de agregados em volumes. A massa unitária também serve como parâmetro para
classificação do agregado quanto à densidade (REIS e SANTOS, 2013).

Retração

A retração é o processo de redução de volume que ocorre na massa de concreto,


ocasionada principalmente pela saída de água por exsudação (retração plástica e por se-
cagem ou hidráulica).

CARACTERIZAÇÃO DOS MATERIAIS

Cimento

O Cimento utilizado foi o Portland CP II- F – 32, de embalagem de 50 kg. Realizou-se o


ensaio de acordo com a norma NBR NM 23, da ABNT (2001), que prescreve o método para
determinação da massa específica do cimento Portland e outros materiais em pó por meio
do frasco volumétrico de (Le Chatelier), no qual o volume de um corpo é medido através do
deslocamento de um líquido. Foram utilizadas as medida do tempo de pega, e resistência à
compressão axial mencionada na embalagem do fabricante: NRB 11578, da ABNT (1991),
cujos resultados se encontram na Tabela 2, 3 e 4.

Tabela 2. Massa especifica do cimento Portland.

Massa especifica cimento 2,909 g/cm³³

Tabela 3. Início e fim de pega do cimento Portland, dados da embalagem do fabricante.

NBR 65: 2003 Tempo de inicio de pega Hora >= 1.


NBR 65: 2003 Tempo de fim de pega Hora <= 10.

Tabela 4. Resistência à compressão axial do cimento Portland, dados da embalagem do fabricante.

Resistência à compressão axial (MPa) normatizada


3 dias 7 dias 28 dias

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Resistência à compressão axial (MPa) normatizada
> =10,0 > =20,0 > =32,0

“EPs”

O Poliestireno Expandido “EPs” utilizado foi coletado em vias publicas e shoppings da


cidade de (Cuiabá - MT) onde foi descartado. Ralou-se e decidiu-se usar 1,5% de “EPs”,
substituindo parte da areia lavada. O material utilizado foi o passante na peneira de malha
quadrada 1,2mm da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnica).

Areia

Usou-se areia lavado de rio (SIO2 – Quartzo), substituindo uma fração de 1,5% por
“EPs”. Realizou-se o ensaio para determinar a granulometria da areia conforme NBR NM 248,
da ABNT (2003), na Figura 1 e apresentada a curva granulometrica.

Pedrisco:

Figura 1. Curva granulométrica da areia de rio.

O Pedrisco utilizado na pesquisa foi procedente da empresa Caieira e Mineradora Nossa


Senhora da Guia Ltda. Localizada a 30 km da cidade de Cuiabá, na R. São Benedito, 33- Ns.
da Guia – MT, a empresa trabalha com extração e britagem de pedras e outros materiais
para a construção. Utilizou-se o pedrisco passante na peneira quadrada de malha 2,4mm e
retido na 1,2mm da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnica). Na Tabela 6 temos
os valores da massa unitária solta e compactada e da massa específica.

Tabela 6. Valores da massa unitária solta e compactada e da massa específica do pedrisco.

Massa unitária solta (Média) 1,54 g/cm³

Massa unitária compactada (Média) 1,52 g/cm³

Massa específica 2,31 g/cm³

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Aditivo:

Como aditivo utilizou-se o Adesivo à base de PVA, (cola branca, usada para colar pa-
pel, madeira e materiais porosos em geral). Usou-se uma quantidade de 15 ml. Na Tabela
7 temos os dados do adesivo.

Tabela 7. Tempo de cura adesivo a base de PVA.


Tempo de cura Mínimo 12 horas Máximo 24 horas

Água

A água utilizada tem como função fazer a mistura se tornar homogênea e causar o
endurecimento da pasta do cimento. Foi fornecida pela CAB, (Cuiabá - MT), responsável
pelo abastecimento de água na capital de Cuiabá estado de Mato Grosso. Utilizou-se 6 litros.

METODOLOGIA

Iniciou-se este estudo coletando o “EPs” em vias publicas em shoppings e obras de


construção civil, onde foram descartados sem serem reciclados gerando, desta forma, o
acumulo deste material, como mostra a Figura 2.

Figura 2. Matéria prima “EPs” descartada.

Fonte: acervo próprio.


..

O Instituto Federal de Mato Grosso, Campus Cuiabá Cel. Octayde Jorge da Silva,
não possui triturador ou qualquer outro equipamento necessário para transformar o “EPs”
coletado na granulometria necessária passante e retido nas peneiras ABNT (Associação
Brasileira de Normas Técnica).

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Construiu-se então, um ralador artesanal, feito com partes de uma lata de tinta e
pregos. Exemplo, Figura 3, ralou-se o “EPs” e colocou-se o material obtido na peneira de
malha quadrada com abertura nominal 2,4 mm e retido na peneira de malha 1,2 mm, ABNT
(Associação Brasileira de Normas Técnica).

Figura 3. Amostra de “EPs” sendo ralado.

Fonte: acervo próprio.

A investigação sobre a utilização do “EPs” em blocos de concreto vazados para se-


rem utilizados em alvenarias de vedação sem função estrutural ocorreu a partir da escolha
da granulometria dos agregados naturais, para assegurar melhor entrosamento das partí-
culas na mistura.
Utilizou-se como agregado areia de rio e brita passante nas peneiras conforme, ABNT
(Associação Brasileira de Normas Técnica).
Decidiu-se substituir 1,5% dos finos (areia), pelo “EPs”, através de ensaios empíricos
com diferentes quantidades na mistura.
Os blocos de concreto com a adição do “EPs” foram moldados, utilizando como refe-
rência o concreto tradicional (cimento, areia de rio, brita).
O traço em massa utilizado foi 1:5, escolhido através do método de dosagem do professor
(PAULO HELENE, 2011). Com teor de argamassa de 51%, Sob-relação água/cimento 0,55.
A mistura para moldagem das peças foi homogenia, depositadas numa prensa manual
vibratória, como mostra a (Figura 4).

Figura 4. Prensa manual vibratório, para blocos de Concreto.

Fonte: acervo próprio.

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A cura das peças moldadas ocorreu através de molhagem 3 vezes ao dia, em um pe-
ríodo de 07 dias, mantendo as peças cobertas por uma lona preta, (Figura 5).
A avaliação do produto (bloco de concreto vazado com EPs) foi feita sobre as proprie-
dades no estado endurecido aos 07, 14 e 28 dias.

Figura 5. Cura dos blocos de concreto.

Fonte: acervo próprio.

ANÁLISE DE DADOS

As propriedades do “bloco de concreto vazado” contendo em sua composição EPs,


apresentaram-se bastante consistentes e coesas, (Figura 6 e Figura 7), com menor absor-
ção de água para ajuste da trabalhabilidade semelhante ao bloco de concreto tradicional.
O produto (bloco de concreto vazado com adição de “EPs”), demostrou um perfeito
encaixe entre os agregados e o cimento Portland. Não apresentou trincas ou fraturas que
poderiam prejudicar no assentamento e durabilidade da construção, (Figura 8, Figura 9).

Figura 6. EPs adicionado a mistura. Figura 7. EPs homogeneizado.na mistura (traço).

Fonte: acervo próprio. Fonte: acervo próprio.

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Figura 8. Blocos de concreto simples com EPs. Figura 9. Blocos de concreto simples com EPs.

Fonte: acervo próprio. Fonte: acervo próprio.

RESULTADOS

Resistência compressão simples

Na Tabela 8 e Figura 10 encontram-se o resultado do ensaio de resistência à com-


pressão simples do “bloco de concreto vazado com EPs”, aos 07, 14 e 28 dias de idade, a
maior resistência ocorreu aos 28 dias 2,54 MPa.

Tabela 8. Resistência à compressão simples do Bloco de concreto com “EPs” em (MPa).

Idade Média tensão (MPa)


7 dias 1,64 MPa.
14 dias 2,05 MPa.
28 dias 2,54 MPa.

Figura 10. Resistência à compressão simples do bloco de concreto com “EPs” em (MPa).

Absorção de água por capilaridade

Ensaio de absorção de água por capilaridade, NBR 9779, da ABNT (2012) – (Argamassa
e concreto endurecidos - Determinação da absorção de água por capilaridade), O resultado
encontram- se na Tabela 9, Figura 11 e Figura 12.

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Tabela 9. Absorção de água por capilaridade.

Hora g/cm²
3h 0,13 g/cm²
24h 0,13 g/cm²
48h 0,16 g/cm²
72h 0,16 g/cm²

Figura 11. Ensaio de absorção de água por capilaridade.

Fonte: acervo próprio.

Figura 12. Resultado do ensaio de absorção de água por capilaridade.

Fonte: acervo próprio.

CONCLUSÕES

Com base na NBR 6136, da ABNT (2014), como também nos resultados de resistência
a compressão simples, os estudos realizados com o “EPs” reciclados na produção de (blo-
cos de concreto vazado), mostrou-se bastante satisfatórios, demostrando que a produção
é viável para sua utilização em alvenarias de vedação não estrutural, isso porque a referida
norma exige uma resistência mecânica de 2,0 MPa para vedação internas.
O bloco de concreto vazado com “EPs” apresentou resistência de 2,54 MPa com 28 dias
de idade, valor acima do mencionado pela norma NBR 6136, da ABNT (2014). Os valores
encontrados foram expressivos em função da porosidade causada pelo “EPs”, que contém
muito ar na sua composição diminuindo, desta forma, a resistência mecânica.

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No ensaio de absorção por capilaridade o bloco apresentou resultado de 0,16 g/cm² com
72 horas, ficando dentro do permitido pela NBR 6136, da ABNT (2014), Tabela 3 – Requisitos
para resistência, características à compressão simples, absorção de água e retração.
Ocorreu expansão no bloco de 3,13%.
O bloco ficou classificado na classe (D), agregado leve, (Tabela 3- requisitos para re-
sistência, característica à compressão simples, absorção e retração), conforme norma NBR
6136, da ABNT (2014), (Blocos vazados de concreto para alvenaria simples), sem função
estrutural para uso em elementos acima do nível do solo.
É de extrema importância a continuidade da pesquisa, realizando outras dosagens ou
a utilização de outros métodos experimentais, diminuindo e aumentando a quantidade de
Poliestireno Expandido “EPs”, e alterando sua granulometria. A realização de ensaios sobre
as propriedades térmica, acústica e resistência ao fogo, devem também ser pesquisadas.
Este estudo favoreceu a contribuição por uma conscientização de sustentabilidade, dimi-
nuindo o impacto que esses resíduos têm provocado no meio ambiente.

REFERÊNCIAS
1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7211 – Agregados para
concreto – especificações, Rio de Janeiro, 2009.

2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6136 - Blocos vazados


de concreto simples para alvenaria. – Métodos de ensaios, Rio de Janeiro, 2014.

3. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9779 - Argamassa e


concreto endurecido - Determinação da absorção de agua por capilaridade, Rio
de Janeiro, 2012.

4. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR NM 23 - Cimento Portland


e outros materiais em pó - Determinação da massa específica, Rio de Janeiro, 2001.

5. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR NM 248 - Agregados -


Determinação da composição granulométrica. Rio de Janeiro, 2003.

6. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE POLIESTIRENO EXPANDIDO (ABRAPEX). http://


www.abrapex.com.br/ acessado 14/08/2015 às 22h47min.

7. ACEPE, http://www.acepe.pt/index.php/eps. Acessado 17/08/2015 às 13h37min.

8. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente (MMA). Conselho Nacional do Meio Ambiente


(CONAMA). Resolução CONAMA Nº 448, de 18 de janeiro de 2012. Alteram parcial-
mente os artigos da Resolução CONAMA 307 de, 05 de julho de 2002.

9. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Decreto Nº 7.404, de 23 de dezembro de 2010.


Regulamenta a Lei Nº 12.305, de 02 de agosto de 2010.

10. HELENE, P..Manual de Dosagem e Controle do concreto, 2011, PINI.

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277
11. OLIVEIRA, L. S.. Reaproveitamento de Resíduos de Poliestireno Expandido (iso-
por) em compósitos cimentícios, 2013.

12. NETO, Sbrighi Cláudio. Concreto: Ensino, Pesquisa e Realizações. Ed. Geraldo C.
Isaia. São paulo: IBRACON, 2005. 2v. 1600p.

13. PINI. Manual de Utilização de EPs na Construção Civil, maio de 2006

14. PINI. http://piniweb.pini.com.br/construcao/noticias/manual-de-utilizacao-de-eps-na-


-construcao-civil-79317-1.aspx. Acessado 20/08/20015 às 14h43min.

15. REIS, S. L.; SANTOS, J.. Sustentabilidade com Artefato de Cimento Produzido
com Resíduo da Construção Civil – RCC e Pó de Pedra. Seminário Mato-grossense
de Habitação de Interesse Social - SHIS. Cuiabá, UFMT, 29 de novembro de 2013.

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Geotecnia
19
Principais métodos estudados para a
estabilização da expansão dos solos
Saprolíticos de Filitos da Baixada Cuiabana

Karyn Ferreira Antunes Ribeiro


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Marcos de Oliveira Valin Jr


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Ilço Ribeiro Júnior


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Artigo original publicado em: 2014


XVII Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica / VII Congresso Luso-Brasileiro de Geotecnia / VI Simpósio
Brasileiro de Mecânica das Rochas / VI Simpósio Brasileiro de Jovens Geotécnicos
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/230312255
RESUMO

O solo da Baixada Cuiabana, denominado solo residual Saprolítico de Filito possui caráter
expansivo, ou seja, aumentam de volume quando umedecidos e se contraem quando res-
secam. Nesta região os problemas mais comuns dos solos são a expansão, que é causada
pela presença de argilominerais do grupo das ilitas contidas na fração silte e argila. Sua
tensão de expansão é em torno de 20 kPa e sua expansão livre em torno de 20%, que causa
trincas e fissuras nas edificações. Em alguns casos as patologias também podem ocorrer
pela má compactação do solo, pois suas curvas de compactação apresentam anomalias
devido à característica expansiva do solo. Este estudo tem como principal objetivo realizar
um levantamento sobre os principais métodos de estabilização do solo expansivo da Baixada
Cuiabana. Os principais métodos de estabilização da expansão foram obtidos pela adição
de cal hidratada ao solo, cinza da casca de arroz e o desenvolvimento de uma camada de
pedregulho com vazios, com o intuito de deixar espaço suficiente para que solo possa ex-
pandir sem trazer prejuízo à obra. Todas as soluções estudadas foram satisfatórias e seus
resultados apontam que estas diversas soluções de estabilização química e física podem
ser aplicadas com sucesso na prática da engenharia.

Palavras-chave: Solo Saprolítico, Expansão, Estabilização, Cal e Cinza da Casca de Arroz.


INTRODUÇÃO

O comportamento expansivo nos solos da Baixada Cuiabana, tem provocado diversos


problemas nas obras de construção civil. Esse fenômeno ocorre devido às variações volu-
métricas com ganho no teor de umidade ou perda de sucção. Presa (1980) define que solo
expansivo seja ele no estado natural, ou compactado, é aquele em que a variação volumé-
trica é muito elevada, de forma a produzir efeitos prejudiciais nas obras construídas sobre os
mesmos ou nas proximidades. Vargas (1989) enfatiza que os danos provocados por solos
expansivos estão posicionados em terceiro lugar dentre as seis catástrofes naturais mais
perigosas do mundo, sendo elas: terremotos, escorregamentos, solos expansivos, ciclones,
furacões e enchentes.
Na Baixada Cuiabana a expansão ocorre sob obras residenciais, prediais, rodoviá-
rias, e também em obras de saneamento. Nas residências térreas ou sobradas o problema
é muito comum. Em prédios de quatro pavimentos a ocorrência é menor, porém existe,
(RIBEIRO JÚNIOR, 2006).
O objetivo deste estudo é analisar os diferentes métodos de estabilização da expansão
nos solos da Baixada Cuiabana. Os principais métodos são:
A cal hidratada cálcica: a adição de cal é uma das mais antigas técnicas utilizadas pelo
homem para obter a estabilização ou melhoria de solos instáveis.
A cinza da casca de arroz: o aproveitamento devido às suas propriedades físicas e
químicas, esse resíduo pode apresentar propriedades de aglutinação das partículas sólidas,
além de interferir nas trocas iônicas.
Camada de pedregulho: Esta solução foi testada em laboratório através de ensaios
edométricos modificados e seus resultados iniciais apontam que esta solução pode ser
usada com sucesso.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Característica do Solo da Baixada Cuiabana

Futai et al. (1998) e Ribeiro Junior (2006), estudando os solos residuais de filito da
Baixada Cuiabana concluíram, que este solo têm minerais do tipo 2:1, sendo predominante
a montmorilonita e a ilita, que são expansivos.
Ribeiro Junior & Conciani (2005) estudaram o solo saprolítico da Baixada Cuiabana e
observaram cerca de 27% de expansão volumétrica para a situação livre (sem carregamen-
to), como pode ser visto na Figura 1.

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Figura 1. Ensaio de expansão livre do solo da Baixada Cuiabana. (Ribeiro Júnior, 2005).

Silva et al. (2005) encontraram pressões de expansão da ordem de 25 kPa para o solo
de Cuiabá. A Figura 2 apresenta o potencial e pressão de expansão deste solo. O potencial
de expansão chega a 15%. Segundo Futai et al. (1998) o potencial de expansão e a pressão
de expansão são máximos na profundidade de 1 m.

Figura 2. Tensão de expansão do solo saprolítico de filito (Silva et al., 2005).

Segundo Santos et al. (2003), os solos saprolíticos da Baixada Cuiabana apresentam


uma instabilidade entre a massa específica aparente seca e o teor de umidade durante o
processo de compactação. A curva de compactação destes solos apresenta não um pico,
mas uma banda de pontos de máximos. Sendo assim é quase impossível determinar a umi-
dade ótima para a compactação destes solos em campo. Ribeiro Júnior (2005) apresenta
anomalias nas curvas de compactação dos solos da Baixada Cuiabana, obtidas sem reuso
de amostras e utilizando energia normal. A Figura mostra tal anomalia. Pode-se associar
esta instabilidade da curva de compactação à presença de argilominerais expansivos.

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Figura 3. Curva de compactação do solo saprolítico de filito da Baixada Cuiabana. (Ribeiro Júnior, 2005).

Fundações em Obras Residenciais na Baixada Cuiabana

Segundo Ribeiro Júnior et al. (2006), quando pequenas construções são feitas sobre
solos expansivos, o efeito da impermeabilização do terreno pela própria construção pode
provocar uma elevação do teor de umidade, pois, antes da construção, ocorria evaporação
da água que ascendia por capilaridade. Este aumento de umidade pode provocar expansão
que danifica as construções, provocando trincas ou ruínas.
Nas obras de pequeno porte como as construções populares para habitação, as fun-
dações são projetadas e executadas, de uma forma geral por radier, blocos, ou sapatas.
Radier é o tipo de fundação mais usada em obras habitacionais populares. Esta prática
tornou-se forte, porque o radier é usado em terrenos que não oferecem boa capacidade
de suporte dispensando assim análise prévia do terreno. No caso da Baixada Cuiabana,
onde o solo pode ser expansivo, isso se torna grave. O radier por possuir grande área de
contato, e a edificação popular serem relativamente leve, irá transmitir uma baixa tensão ao
solo, ocorrendo à expansão da edificação como um todo ou expansão diferencial (RIBEIRO
JÚNIOR & CONCIANI, 2005).
Tradicionalmente, para solos expansivos recomenda-se o uso de fundações profundas,
entretanto, a falta de conhecimento geotécnico e as disposições das profundidades da rocha
branda, inviabilizam a aplicação da técnica adequada. As opções para estabilizar quimica-
mente o solo frente ao fenômeno da expansão são a adição de cal e de cinza da casca de
arroz. Outra opção é deixar um espaço entre o solo e o piso da obra para que o solo possa
expandir, ou seja, a camada de pedregulho.

Cal

Segundo Guimarães (2002), a adição de cal é uma das mais antigas técnicas utilizadas
pelo homem para obter a estabilização ou melhoria de solos instáveis. São marcantes alguns

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284
indícios do uso desta técnica no sul da Itália no ano de 312 a.C, onde foram construídos
584 km da famosa Via Ápia e trechos da monumental muralha da China, onde no ano de
228 a.C. se empregou uma mistura de terra argilosa e cal, onde posteriormente sofriam o
processo de compactação.
Para melhor explicar as reações que ocorrem ao se adicionar cal ao solo úmido po-
de-se classificá-las em reações imediatas (troca catiônica) e reações de longo prazo (ação
pozolânica). A troca catiônica promove após alguns instantes de contato, mudanças nas
propriedades físicas do solo, dentre eles: o deslocamento da curva granulométrica para o
lado grosseiro, o aumento do limite de plasticidade e a queda do índice de plasticidade e
limite de liquidez, na compactação há uma diminuição na massa específica aparente seca
e um aumento na umidade ótima, redução na expansão e na contração, aumento da capa-
cidade de suporte. Partes destes efeitos são devidas à floculação.
Já a ação pozolânica é de longo prazo, em condições normais o tempo de cura de
± 180 dias, pois está fundamentada no caráter pozolânico dos materiais estabilizados,
(GUIMARÃES, 2002). Segundo Millet (1979) apud Guimarães (2002), um material com
característica pozolânica é aquele que em combinação com a cal e em presença de água,
sob condições de temperatura ambiente produz compostos hidratados estáveis com proprie-
dades ligantes. Nos solos esta propriedade se encontra na fração argila e nos argilo-mine-
rais. Já Pinto & Boscov (1990), afirma que não há uma certeza de que a cal reaja somente
com os argilo-minerais, e que é possível à cal reagir também com a matéria amorfa, não
cristalina do solo.
Guimarães (2002), contudo, afirma que a reação de carbonatação é progressiva. Isto
é, tem início imediato, mas é crescente com o tempo. É ela, junto à ação pozolânica a res-
ponsável pela ação cimentante no processo de estabilização.

Cinza da casca de arroz

A cinza da casca de arroz é um resíduo que vem sendo utilizado em muitas pesquisas
nos últimos anos. Houston (1972) apud Leiras et al.,(2005), cita varias formas possíveis
de aproveitamento da cinza da casca de arroz na agricultura e industrias. METHA, apud
SILVEIRA, diz que a cinza de casca de arroz é um material extremamente atrativo como
material cimentante complementar, principalmente em países onde a indústria cimenteira é
pouco desenvolvida. Segundo Houston (1972) apud Leiras et al. (2005), as cinzas da casca
de arroz em sua maioria são de cor preta. Esta coloração é devida à presença de carbono,
a CCA também é encontrada na cor cinza, púrpura ou branca. Esta coloração irá depender
das impurezas presentes e das condições de queima. A análise química feita em várias
amostras de CCA, de várias partes do mundo, mostra que o conteúdo de sílica varia de 90 a

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95%. Os álcalis, K2O e Na2O, ocorrem como a principal impureza. O conteúdo de K2O pode
variar entre 1 e 5%, dependendo do tipo e quantidade de fertilizante utilizado na plantação.
Pequenas quantidades (menos que 1%) de outras impurezas, tais como CaO, MgO e P2O5,
também são encontradas. A Tabela 1 abaixo apresenta os valores médios da composição
química da cinza de casca de arroz encontrada na literatura.

Tabela 1. Composição Química da CCA.

Composição Química Valores percentuais


SiO2 86,71
Al203 0,36
F2O3 0,76
CaO 0,46
MgO 0,68
P2O5 0,60
Na2O 0,11
TiO2 0,02
K2O 0,84
Fonte: Dafico (2001), apud Leiras et al.,(2005).

Segundo Freire & Beraldo (2003) a cinza de casca de arroz é um dos produtos de
origem vegetal mais utilizado em pesquisas de potencial aglomerante dentre as cinzas ve-
getais. Os principais motivos que levam a isto são:

• a quantidade de cinza produzida após a calcinação da casca de arroz é uma das


maiores dentre os vegetais;
• a sílica presente na casca de arroz apresenta estrutura alveolar e com grande área
específica;
• o arroz é plantado em grandes quantidades em todo mundo.

Figura 4. Cinza de casca de arroz bruta e casca (Leiras et al., 2005).

A Figura 4 mostra a casca de arroz e a cinza da casca de arroz bruta. Nesta foto-
grafia pode- se observar que a cinza de casca de arroz permanece com o mesmo for-
mato geral. A queima parece alterar pouco da estrutura deste material. Na cinza é co-
mum encontrar-se pequenas “esferas” de vidro. Este vidro é proveniente da formação de

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286
arranjos de sílica. A sílica pode chegar à forma de cristais se a temperatura de queima for
superior à 800º C.

Camada de pedregulho

Com base nas características do solo expansivo e no seu modo evolutivo, foi proposto
que se criasse um espaço diferenciado entre o elemento de fundação e o solo, para que o
solo possa se expandir, não causando patologias. Este espaço é constituído por uma camada
de pedregulho entre o solo e fundação incluindo contra-pisos.
A camada de pedrisco se posiciona sobre a camada de solo expansiva, como pode ser
observada na Figura 5. No detalhe desta mesma figura, mostra uma região onde o pedrisco
acomodou o solo que se expandiu isto ocorrerá desde que o solo imponha uma força de
reação. Devido ao grande índice de vazios do pedrisco, a área de contato do solo com a
estrutura passa a ser menor. Sendo menor a área de contato, a tensão pontual, transmitida
ao solo será maior. Assim, a estrutura tem maior capacidade de reação reduzindo-se os
deslocamentos da estrutura causados pela expansão do solo.

Figura 5. Esquema de funcionalidade solo expansivo e pedrisco. (Ribeiro Júnior et al., 2005).

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Cal

Os resultados granulométricos podem ser analisados de uma forma geral na TABELA 2,


onde se pode verificar o aumento da fração de solo como o teor de cal, bem como a influên-
cia do defloculante nas frações do solo saprolítico de filito estabilizados com cal. Na Figura
6, mostra que o uso de defloculante de uma forma geral aumentou as frações de silte e
argila nas amostras analisadas. Contudo este resultado mostra a importância do uso deste

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produto nos ensaios de granulometria com sedimentação nos solos tropicais como o da
Baixada Cuiabana.

Tabela 2. Análise Granulométrica do solo natural e do solo estabilizado com cal nos teores propostos, com e sem o uso
de defloculante (Ribeiro Júnior, 2006).

GRANULOMETRIA
Sem uso de defloculante
Frações Granulométricas
Nat. 1% 2% 4% 6%
Areia grossa % 1,8 5,2 9,9 9,1 10,0
Areia fina % 0,4 3,3 12,0 13,5 16,0
Areia media % 24,8 6,0 9,2 5,4 11,0
Silte % 65,0 72,5 58,1 60,0 49,8
Argila % 8,0 13,0 10,8 12,0 13,2
GRANULOMETRIA
Com uso de defloculante
Frações Granulométricas
Nat. 1% 2% 4% 6%
Areia grossa % 0,15 0,18 0,21 0,23 0,14
Areia fina % 12,9 19,8 15,9 25,9 18,4
Areia media % 4,95 3,12 3,49 2,57 3,56
Silte % 69,2 63,2 68,1 58,6 65,2
Argila % 12,8 13,7 12,3 12,7 12,7

Figura 6. Curva Granulométrica do solo natural e do solo estabilizado com cal nos teores de 1%, 2%, 4% e 6%, com o uso
de defloculante.

Os resultados encontrados no ensaio de compactação estão ilustrados na Figura 7.

Figura 7. Curva de compactação do solo saprolítico de filito e dos solos estabilizados com cal hidratada cálcica (Ribeiro
Júnior, 2006).

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A curva de compactação de 4% de cal em relação à massa seca do solo apresenta 2
picos e uma curva de inflexão distanciando as umidades ótimas cerca de 10%. Já para a
curva de compactação de 2% de cal em relação à massa seca do solo apresenta no ramo
seco uma região linear típica da curva de compactação. Logo depois da região linear, a curva
apresenta uma região de inflexão terminada no ponto de máximo da curva, onde no ramo
úmido ela decresce de forma atípica. Na curva de compactação de 1% de cal em relação à
massa seca do solo apresentou no ramo seco da curva um comportamento linear crescente
típico das curvas de compactação. No ramo saturado também apresentou um comporta-
mento linear e decrescente. A curva tem forma parabólica bastante aberta, oferecendo um
ponto de máximo onde se pode determinar a umidade ótima e a máxima massa específica
aparente seca (RIBEIRO JÚNIOR, 2006).

Cinza da casca de arroz

As curvas de expansão livre do solo com diversas porcentagens de cinza de casca de


arroz estão ilustrada na Figura 8. Segundo Leiras et al. (2005), as amostras foram moldadas
todas com o mesmo teor de umidade de 20% e a mesma massa específica seca de 1,65
g/cm3. Verifica-se na mesma figura que para o solo natural a expansão encontra-se com
26%. Já para o solo com 1% de cinza de casca de arroz a expansão livre do solo reduziu
para 20%. Ainda pode-se observar que o aumento do percentual de cinza de casca de arroz
pode reduzir a expansão do solo. Para Leiras et al. (2005), esta redução de expansibilidade
é devida disponibilidade de cátions livres trocáveis. Esses cátions são facilmente trocáveis
por percolação de soluções químicas. Segundo Pinto (2002) o tipo de cátion presente na
fração argila condiciona o seu comportamento perante a presença de água. Uma argila es-
mectita com sódio adsorvido é muito mais sensível à água do que tendo cálcio adsorvido.

Figura 8. Curva de expansão livre do solo saprolito (Leiras et al., 2005).

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No ensaio de granulometria apresentado na Figura 9, ocorreu uma mudança brusca na
forma da curva do solo natural, sendo apresentando por uma descontinuidade na passagem
do ensaio de peneiramento fino para sedimentação. Esta descontinuidade indica a ausência
de uma faixa granulométrica, característica de um solo mal graduado (LEIRAS et al.,2005).

Figura 9. Curvas Granulométricas (Leiras et al, 2005).

Camada de pedregulho

Esta solução foi testada em laboratório através de ensaios edométricos modificados


onde foram realizados ensaios edométricos utilizando amostra compactada e uma camada
com altura de 5 mm (RIBEIRO JÚNIOR et al., 2006).
A Figura 8 mostra o resultado dos ensaios edométricos do solo com a proposta da
camada de pedrisco numa tensão de 6 kPa em comparação a amostras convencionais com-
pactadas em diversos teores de umidade e carregamentos. Para o solo compactado sem o
acréscimo da camada de pedrisco, a uma umidade de 16% e não tendo nenhuma força que
reaja a força de expansão, ocasionará uma expansão em torno de 15%. Para o solo nas
mesmas condições descritas acima, submetido a uma tensão de 10 kPa, a expansão será
em torno de 8%. Já para o solo compactado que recebeu a camada de pedrisco, tendo sua
umidade em 17%, sendo esta muito próxima da condição descrita acima e submetida a uma
tensão de 6 kPa, ou seja, pouco mais da metade da tensão citada acima sem a camada
de pedrisco, ocasionará uma expansão em torno de 2%. (RIBEIRO JÚNIOR et al., 2006).

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Figura 10. Comparação entre a expansão em amostras convencionais e na amostra tratada com a camada de pedrisco.
(Ribeiro Júnior et al., 2006).

Segundo Ribeior Júnior et al., (2006), este resultado aponta para uma grande redução
na expansão final do solo. Isto é, solo se expande para dentro do espaço criado pelos vazios
do pedregulho e não levanta a estrutura sobre ele assente.

CONCLUSÃO

O estudo dos diferentes métodos de estabilizar os solos da Baixada Cuibana pode se


chegar as seguintes conclusões.
Na utilização da Cal Calcitica, o teor mais adequado para a correção da curva de
compactação do solo saprolítico de filito é de 1% de cal, sobre a massa seca do solo. Esta
correção da curva de compactação influenciará diretamente na aplicação deste tipo de solo
como material nas obras de grande movimento de terra. Esta técnica é economicamente
viável, pois utilizando apenas 1% de cal, se consegue a estabilização do solo saprolítico de
filito. Na análise granulométrica, o uso de defloculante se faz necessário, porque as partículas
do solo saprolítico de filito em seu estado natural se encontram agregadas de forma natural.
A adição de 5% de cinza da casca de arroz apresentou a maior redução de expansão
em relação aos outros teores de cinza, mostrando ser um método bastante eficiente na
utilização de estabilizador de expansão do solo saprolpitico.
A camada de pedregulho apresentou ser uma solução que pode ser utilizada com
muito êxito. No ensaio realizado com a inclusão da camada de pedregulho com 6 kPa
de sobrecarga, as expansões foram reduzidas para 2%, bem abaixo dos solo sem a in-
clusão do pedregulho. Isto demonstrou que a associação da camada de pedregulho e a

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sobrecarga são importantes na redução da expansibilidade, que resultará em obra mais
segura e com qualidade.

REFERÊNCIAS
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Prática de engenharia Geotécnica do Centro Oeste, I, 2009, Goiânia. GEOCENTRO,
I. Brasília: ABMS-NRCO, 2009. Vol. único.
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arroz na massa de argila para produção de tijolos de 8 furos. I Seminário Mato gros-
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Edição. São Paulo: Oficina de texto, 367 p.
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filito com cal hidratada cálcica para construções populares. In: SEMINÁRIO M A T O -
GROSSENSE DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL, I., Cuiabá, Anais eletrônicos
CD-ROM, Cuiabá: CEFET - MT/UFMT, 2005. p. 10.
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Civil, Universidade Federal de Mato Grosso, 60 p.
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Ciência e Tecnologia, UFCG, Campinas Grande, 2003. São Paulo. Vol.1, Universidade
de São Paulo, São Paulo, 509 p.

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20
Influência da Expansão do Solo na Obtenção
dos Parâmetros Geotécnicos Obtidos com
Ensaios de Laboratório

Karyn Ferreira Antunes Ribeiro


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Ilço Ribeiro Júnior


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Artigo original publicado em: 2014


XVII Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica / VII Congresso Luso-Brasileiro de Geotecnia / VI Simpósio
Brasileiro de Mecânica das Rochas / VI Simpósio Brasileiro de Jovens Geotécnicos
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/230312266
RESUMO

Este trabalho tem o objetivo apresentar o comportamento de um solo expansivo da Baixada


Cuiabana quando compactados. Este estudo consiste em comparar os métodos de obten-
ção dos parâmetros nos ensaios de compactação, que será influenciado pela expansão
do solo. As amostras foram analisadas com inserção da água de compactação no ato do
ensaio com e sem reúso de amostra e inserção de água com 24 horas de antecedência à
compactação do material também com e sem reúso de amostra. Outro método estudado
foi o comportamento do material com e sem secagem prévia nos ensaios de Limites de
Atterberg e Granulometria. De uma forma geral, o solo expansivo da Baixada Cuiabana se
mostra sensível ao tempo que a água é inserida no processo de ensaio, na curva de com-
pactação do solo. Conhecer as características peculiares do solo com que se trabalha, e
aplicar simplesmente a metodologia dos ensaios propostos pelas Normas Brasileiras nos
ensaios de caracterização e compactação podem levar a obtenção de dados que não refle-
tem a realidade do material. Para uma boa obtenção de parâmetros, é sempre viável tentar
reproduzir no laboratório as mesmas condicionantes encontradas no campo.

Palavras-chave: Solo Saprolítico, Expansão e Compactação.


INTRODUÇÃO

Na Baixada Cuiabana os problemas mais comuns dos solos são de expansão. A ex-
pansão ocorre em todo os tipo de obra de pequeno porte.
Os danos provocados por solos expansivos estão posicionados em terceiro lugar dentre
as seis catástrofes naturais mais perigosas do mundo, sendo elas: terremotos, escorrega-
mentos, solos expansivos, ciclones, furacões e enchentes. No Brasil solos expansivos podem
ser encontrados em diversas regiões (VARGAS, 1989).
Para Pinto (2006), quando pequenas construções são feitas em solos expansivos, o
efeito da impermeabilização do terreno pela própria construção pode provocar uma elevação
do teor de umidade, pois, antes da construção, ocorria evaporação da água que ascendia
por capilaridade. E o aumento de umidade pode provocar expansões, que danificam as
construções, provocando trincas ou ruínas.
A presença de solo expansivo tem causado constante preocupação entre pesqui-
sadores e profissionais que trabalham com obras geotécnicas, pois o uso indiscriminado
deste material pode gerar enormes prejuízos a tais obras. Deste fato, resulta o interesse e
a importância dos constantes trabalhos relacionados a este assunto. Estes materiais podem
gerar instabilidades em taludes, subleito de pavimentação, fundações de grandes estrutu-
ras, desabamento de túneis, devido, principalmente, a sua propriedade de expansibilidade,
(FRAZÃO E GOULART, 1976; PEREIRA 2004).
Existe também uma dificuldade na compactação dos solos residuais de filito. Nas obras
de grande movimentação de terra como em construções de barragens e rodovias, a dispo-
nibilidade e a localização dos solos adequados aos padrões tecnológicos são fundamentais
no custo do empreendimento.
Entretanto, esses materiais nem sempre se encontram à distância ou em quantidade
economicamente viáveis. Para não onerar custos com o transporte, às vezes se resolve
compactar solos residuais (GUIMARÃES et al., 2003 apud RIBEIRO JÚNIOR, 2006).
Segundo Santos et al. (2003), os solos saprolíticos da Baixada Cuiabana apresentam
uma instabilidade entre a massa específica aparente seca e o teor de umidade durante o
processo de compactação. A curva de compactação destes solos apresenta não um pico,
mas uma banda de pontos de máximos. Sendo assim é quase impossível determinar a
umidade ótima para a compactação destes solos em campo.

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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Características dos Solos Expansivos

A expansão de um solo é a variação de volume resultante da mudança de umidade


ou sucção. Ferreira (1994) apud Ribeiro Júnior (2006), alerta que é difícil identificar um solo
expansivo, pois a expansão não depende unicamente das propriedades intrínsecas do solo,
mas também das condições em que se encontram (teor de umidade e sucção) e das que
são impostas (carregamento).
O fenômeno de expansão dos solos é muito complexo, envolvendo um conjunto de
fatores que influenciam e interagem entre si, tais como a composição das argilas (argilomi-
neral) e fatores ambientais(clima da região, natureza do fluido, grau de saturação do solo).
Segundo Pinto (2002) apud Ribeiro Júnior (2006), os limites de Atterberg indicam a
influência dos finos argilosos no comportamento do solo, isto porque eles têm se mostrados
muito úteis para identificação e classificação dos solos. O potencial de expansão geralmente
aumenta com o limite de liquidez e o índice de plasticidade. Quando se quer ter uma idéia
sobre a atividade da fração argila, os índices de Atterberg devem ser comparados com a
fração argila presente.
Segundo López et al. (1999) apud Ribeiro Júnior (2006), retrata que existem vários
métodos para identificação de um soloexpansivo, onde alguns métodos dúvidas por serem
empíricos. Segundo eles, um método eficaz de identificação são as análises mineralógicas
da matéria argilosa, onde permite um conhecimento profundo sobre o fenômeno da expan-
são e permite um raciocínio científico sobre o tratamento para a expansão com diversos
materiais. Estes ensaios podem ser de difração de raios-X, análises calorimétricas, espec-
tropia por raios infravermelhos ou microscopia eletrônica de varredura, como demonstrados
nas Figuras 1 e 2.

Figura 1. Ensaio de microscopia eletrônica do solo saprolítico de filito seco: + 3000 X. (FUTAI, 1995).

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Figura 2. Ensaio de microscopia eletrônica do solo saprolítico de filito inundado: + 3000 X. (FUTAI, 1995).

Característica do Solo da Baixada Cuiabana

O solo utilizado para o estudo é o saprolítico resultante do intemperismo das rochas


de filito apresentando xistosidade e estratificação.
As características dos solos saprolíticos estão diretamente relacionadas com a rocha
matriz. Desta forma, as camadas podem variar de algumas a várias dezenas de metros e
diferentes comportamentos e cores. Eles são identificados macroscopicamente por apre-
sentarem manchas, xistosidades, vazios e outras características inerentes à rocha matriz.
Sua composição mineralógica é muito variada, sendo resultante do intemperismo da rocha,
depende, portanto, do grau de alteração e do tipo de rocha, (FUTAI, 1999).
Futai et al. (1998) e Ribeiro Junior (2006), estudando os solos residuais de filito da
Baixada Cuiabana concluíram, que este solo têm minerais do tipo 2:1, sendo predominante a
montmorilonita e a ilita, que são expansivos. Ribeiro Junior, (2005) estudou o solo saprolítico
da Baixada Cuiabana e observou cerca de 25% de expansão volumétrica para a situação
livre (sem carregamento).
Futai et al. (1998) apud Ribeiro Júnior (2006), estudando os solos residuais de filito da
Baixada Cuiabana concluíram, que este solo têm minerais do tipo 2:1, sendo predominante
a montmorilonita e a ilita, que são expansivos. Quando o solo estiver próximo à rocha matriz,
o índice de alteração diminui e a expansão acompanha esta tendência, pois ainda não se
formou material expansivo.
Ribeiro Júnior (2005) apresenta anomalias nas curvas de compactação dos solos da
Baixada Cuiabana, obtidas sem reúso de amostras e utilizando energia normal. A Figura
mostra tal anomalia, onde não é possível determinar os valores de peso específico seco (γd)
e a umidade ótima (ωot). Entre W2 e W3 ocorre uma região quase horizontal com dois picos
mais acentuados e outros menores. Entre estes dois picos maiores ocorre uma variação de
cerca de 5% na umidade ótima. Pode-se associar esta instabilidade da curva de compac-
tação à presença de argilominerais expansivos, que ao adsorver a água de compactação

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em sua camada, entra em desequilíbrio elétrico-químico. Tais características também foram
anteriormente encontradas por Santos (2003).

Figura 3. Curva de compactação do solo saprolítico de filito da Baixada Cuiabana. (Ribeiro Júnior, 2005).

MATERIAIS E MÉTODOS

Material

Solo da Baixada Cuiabana

O solo estudado é classificado como residual e saprolítico, pois é originado pela de-
composição da rocha local de filito. O material coletado era de coloração amarelada e a
profundidade de 0,5 m a 1,0 m.

Figura 5. Local da coleta de amostra de solo, AV. Miguel Sutil, próximo à entrada do Centro de Eventos do Pantanal - Obra
Construtora GMS.

Métodos

Ensaio de Atterberg

O limite de liquidez é a quantidade de umidade do solo no qual o solo muda do estado


líquido para o estado plástico, ou seja, perde a sua capacidade de fluir. O ensaio foi realizado

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segundo a NBR 6459 (1984), Solos - Determinação do limite de liquidez. Realizando de duas
formas: com e sem secagem prévia.
O limite de plasticidade é o teor de umidade em que o solo passa do estado plástico
para o semi-sólido, onde perde a capacidade de ser moldado. O ensaio foi realizado segundo
a NBR 7180 (1984), Solos - Determinação do limite de Plasticidade. Também foi realizado
de duas formas: com e sem secagem prévia.

Ensaio de Compactação

Santos (2003), afirma que a compactação consiste no processo mecânico que, através
de uma aplicação repetida e rápida de cargas ao solo, conduz a uma diminuição do seu
volume, e, portanto, a uma diminuição do índice de vazios e a um aumento do peso especí-
fico seco. Esta redução de volume é resultado, sobretudo, da expulsão de ar dos vazios do
solo, não ocorrendo significativa alteração do teor em água nem alteração do volume das
partículas sólidas durante a compactação.
O ensaio de compactação foi realizado de acordo com a ABNT/NBR 7182/86, seguindo
algumas modificações estabelecidas para tal procedimento. O ensaio de compactação foi
realizado com e sem reúso de amostra. E também com e sem secagem prévia. Nas energias
normal, intermediária e modificada.

Ensaio sem reúso do material

Os ensaios de compactação sem reúso de amostras apontam pela experiência obser-


vada na bibliografia, que para solos saprolíticos, os resultados obtidos são mais próximos
da realidade, sendo assim mais confiáveis. Quando o material é formado de partículas muito
quebradiças, este procedimento é necessário para não descaracterizar o resultado, (PINTO,
2000). A desvantagem é sem dúvida a maior quantidade de material utilizado. Souza (1980)
recomenda que quando uma amostra sofre degradação ou há dificuldade em adsorver água,
deve-se usar sempre uma amostra sem reúso para cada ponto da curva de compactação.
A norma Brasileira de ensaio de compactação prevê alternativas de ensaio sem reúso
do material quando as partículas são facilmente quebradiças.

Ensaio com inserção de água com 24 horas de antecedência

Este método foi utilizado para verificar a diferença entre os resultados obtidos pelo
método recomendado pela ABNT NBR- 7182 - Ensaio de Compactação e método que foi
desenvolvido para solos expansivos, onde a amostra ficou armazenada em sacos plásticos
lacrados por 24h, já com a umidade de compactação de cada ponto da curva, como mostra

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a Figura 6. Este procedimento foi adotado para o solo poder se expandir antes de se com-
pactado. Pelo método referendado pela NBR 7182 (Figura 7), o solo expande durante o
processo de compactação, levando a curva a obter anomalias devido à expansão.

Figura 6. Solos armazenados em sacos plásticos.

Figura 7. Ensaio de compactação em andamento.

Ensaio sem secagem prévia do solo

De acordo com Pìnto (2006), a experiência mostra que a pré-secagem da amostra


influi nas propriedades do solo, além de dificultar a posterior homogeneização da umidade
incorporada. A influência da pré-secagem, para alguns solos, é considerável. A pré-secagem
provoca, por exemplo: em solos argilosos de composição de gnaisse, umidades ótimas me-
nores e densidade secas máxima maiores. Os ensaios realizados sem a secagem prévia,
portanto, são mais representativos principalmente aos solos tropicais, mas a prática corrente
é fazer a pré-secagem, provavelmente pela facilidade de padronizar os procedimentos nos
laboratórios, diminuindo o grau de supervisão.

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Ensaio de Análise Granulométrica

O ensaio de análise granulométrica do solo foi executado segundo ABNT/NBR


7181/82. O comportamento granulométrico do solo foi observado de quatro maneiras:

I. Sem secagem prévia e sem o uso de defloculante,


II. Sem secagem prévia e com o uso de defloculante,
III. Com secagem prévia e sem uso de defloculante,
IV. Com secagem prévia e com uso de defloculante.

Esta medida foi adotada para quantificar o poder desagregador do defloculante e


observar o seu comportamento perante as amostras com e sem secagem prévia. Molinero
et al. (2003), estudaram a influência do defloculante químico na análise granulométrica
dos solos do Distrito Federal e concluíram que o defloculante é um agente significativo na
classificação dos solos.
Além destes ensaios mencionados acima, foram realizados mais cinco ensaios de
granulometria com uso de defloculante com materiais das amostras advindas dos 5 pontos
do ensaio de compactação com reúso de amostras e deixadas expandir por 24h em sacos
plásticos fechados com a umidade de compactação de cada ponto, com objetivo de verificar
a modificação granulométrica significativa de cada ponto da curva de compactação, obtida
pela quebra de grãos oriunda das repetidas energias aplicadas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Limites de Atterberg

É apresentado na Figura 8, o gráfico do limite de liquidez (WL) do solo com e sem


secagem prévia. Para a amostra com secagem prévia, como recomenda a ABNT, o Limite
de Liquidez (WL) é de 31,2%. Já o limite de liquidez obtido com a amostra na umidade de
campo, ou seja, sem secagem prévia, é de 30,1%. Observa-se também que o coeficiente
angular das duas linhas de tendência (com e sem secagem prévia) têm praticamente o mes-
mo valor. Este desempenho da curva aponta para a idéia que este solo com característica
expansiva solo não modifica sua estrutura intermolecular de capacidade de adsorver água,
mantendo-se na mesma proporção. O deslocamento da curva sem secagem prévia para
baixo indica apenas uma mudança no potencial inicial de adsorver água, totalmente enten-
dível, pois quanto menor o teor de umidade inicial, maior é o potencial inicial de adsorção
de água pelos argilo-minerais.

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Figura 8. Limite de liquidez com e sem secagem prévia.

Segundo a Carta de Plasticidade de Casagrande apresentado na Figura 9, este solo


é classificado como CL - Argila de baixa compressibilidade.

Figura 9. Carta de Plasticidade do solo saprolítico de filito com e sem secagem prévia.

Análise Granulométrica

Os comportamento granulométrico do solo foi observado de quatro maneiras:

I. Com Defloculante Sem Secagem Prévia – (CDSS)


II. Com Defloculante Com Secagem Prévia – (CDCS)
III. Sem Defloculante Sem Secagem Prévia – (SDSS)
IV. Sem Defloculante Com Secagem Prévia – (SDCS)

Na Figura 10 são apresentadas as curvas granulométricas do solo saprolítico de filito


com e sem secagem prévia e com e sem o uso do defloculante. O tamanho das partículas
do solo foi classificado de acordo segundo a ABNT NBR 6502 (1985).

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Figura 10. Curva Granulométrica dos solos com e sem secagem prévia e com e sem o uso de defloculante.

Pode-se verificar na Figura 10, que as amostras CDSS, CDCS, SDSS e SDCS não
tiveram diferença granulométrica até atingirem o diâmetro de areia fina, ou seja, durante a
etapa experimental do peneiramento grosso e fino. As discrepâncias granulométricas entre os
estados da amostra começam na fase da sedimentação. Como já era de se esperar, ensaios
sem uso do defloculante (SDSS e SDCS) assumem o mesmo tipo de comportamento, sendo
que esta ausência do defloculante faz com que o solo não consiga quebrar os aglomerados
de origem reliquiar, formados por partículas finas, assumindo, portanto, características de
solo granular. O Fato de termos nesta situação amostras com e sem secagem prévia não
alterou em muito seu comportamento, mostrando que, quando se tratam de amostras sem
uso do defloculante, este é o que influencia com generosidade no comportamento do solo.
As amostras com defloculante (CDSS e CDCS) obtiveram resultados na fase de sedi-
mentação mais condizentes com sua verdadeira característica. Isso é devido à capacidade
de desagregação do hexametafosfato (defloculante), como mencionado anteriormente.
Porém, Pinto (2006), diz que a diferença de resultados mostra a importância do defloculan-
te para a dispersão das partículas. No ensaio feito de acordo com a norma NBR-7181, as
partículas sedimentam-se isoladamente, e podem-se detectar seus diâmetros equivalen-
tes. No ensaio sem defloculante, as partículas agrupadas, como se encontram na natureza,
sedimentaram-se mais rapidamente, indicando diâmetros maiores, que não são das partí-
culas, mas das agregações.
Para as amostras com uso do defloculante, é importante ainda analisar seu compor-
tamento com e sem a secagem prévia. Ainda na Figura 10, pode-se verificar que a amostra
sem secagem prévia (CDSS) obteve valores de finos (siltes e argilas) superiores a amostra
com secagem prévia (CDCS). Este fato pode se dar pela amostra CDSS ter sucção inicial e
coesão menor que a amostra CDCS por conta da diferença entre os teores de umidade no
momento da preparação de amostras para a fase da sedimentação.

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Compactação

Influencia da energia

Para o estudo da influência da energia na obtenção dos parâmetros oriundos do ensaio


de compactação, optou-se por compactar as amostras nas energias normal, intermediária e
modificada. Por conta da quebra da estrutura reliquiar vinda da matriz rochosa, optou-se por
compactar sem a reutilização de amostras, necessitando assim, de uma quantidade maior
de solo para tal experimento. Para estes ensaios, foram adicionadas as devidas quantidades
de água para compactação de cada ponto da curva de próctor 24 horas antes do ensaio.
Este procedimento foi necessário para que os resultados obtidos não fossem distorcidos pelo
processo de expansão durante o ensaio de compactação. De modo usual, e normatizado
pela ABNT NBR 7182/86, esta água seria acrescida a amostra minutos antes do processo
de aplicação da energia sobre o solo.
Pode-se observar na Figura 11 que o comportamento do solo saprolítico de filito foi
como o esperado e descrito por Pinto (2006). O teor de umidade foi decrescente com a
energia de compactação e o peso específico seco, crescente. As anomalias da curva de
compactação para este solo, descritas por Santos (2003) e Ribeiro Junior (2005) não foram
observadas, pelo fato destas anomalias serem oriundas do processo expansivo durante o
ato da compactação, uma vez que a água fora acrescida instante antes a este processo.
Para este trabalho, acresceu-se a água de compactação com antecedência de 24 horas,
processo o qual eliminou em grande parte as anomalias na curva de compactação.

Figura 11. Curva de Compactação sem reúso com diferentes energias.

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Para Santos (2003), a influência da energia no processo de compactação passa en-
tão a ser fundamental. Ao se aumentar a energia de compactação a curva se aproxima do
formato tradicional, isso provavelmente se deve a redução do consumo de água no ensaio.

Influencia do reúso do material

Para o estudo da influência do reúso do material, foram realizados quatro ensaios com
e sem reúso, e com inserção de água no momento da compactação e com antecedência
de 24 horas. Os ensaios foram assim denominados: com reúso/ com 24h; com reúso/sem
24h; sem reúso/com 24h e sem reúso/sem 24h. O objetivo deste procedimento foi verificar
qualitativamente se o manuseio do material pode ocasionar quebra de partículas. O fato de
estudar as amostras com inserção de água no momento da compactação e com antecedência
de 24 horas, se dá na verificação da formação das anomalias já anteriormente descritas em
relação ao reúso ou não das amostras.
Ao analisar a Figura 12 é possível confirmar o que Santos (2003), diz sobre a com-
pactação com reúso de amostras, que geram curvas mais achatadas, isto é, o manuseio
das amostras muda o comportamento do solo. Entretanto, estas alterações indicam que o
solo continua a sofrer influências da possível adsorção inicial de água e pela mineralogia.
Segundo Lee & Suedkamp (1972) apud Araújo (1996), conhecendo-se os minerais e os
argilo-minerais que compõem o solo, pode-se melhor entender a forma das curvas quanto à
compactação, pois se esse fenômeno não está totalmente entendido e há várias teorias para
explicá-lo. A mistura de água com o solo, o tempo entre o preparo da amostra e o ensaio e
o operador podem ser condicionantes na dispersão dos pontos.
As amostras com e sem reúso que receberam água no momento da compactação ob-
tiveram um coeficiente angular no ramo seco e no ramo úmido, muito alto, fato que pode ser
explicado pela grande energia liberada no momento inicial da adsorção de água. As amos-
tras com e sem reúso que tiveram a oportunidade de receber a água de compactação com
antecedência de 24 horas, tiveram seu ramo seco bem mais suave, sendo que as umidades
ótimas obtidas muito próximas, tanto para a amostra com reúso, quanto para a sem reúso.

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Figura 12. Curva de Compactação com e sem reúso, acrescentando água no momento e com antecedência de 24 horas.

CONCLUSÃO

O limite de plasticidade (WP) do solo com e sem secagem prévia diferiram também
cerca de 1%, obtendo assim, iguais IP’s, ou seja, mesmo tamanho de região plástica.
As amostras CDSS, CDCS, SDSS e SDCS não tiveram diferença granulométrica até
atingirem o diâmetro de areia fina, mas houve na fase de sedimentação.
Ensaios sem uso do defloculante (SDSS e SDCS) assumem o mesmo tipo de compor-
tamento granular, independente da amostra ser seca ou não previamente.
As amostras com defloculante (CDSS e CDCS) obtiveram resultados na fase de se-
dimentação mais condizentes com sua verdadeira característica. A amostra sem secagem
prévia (CDSS) obteve valores de finos superiores a amostra com secagem prévia.
O estudo da influência da energia na compactação obteve teor de umidade decrescente
com a mesma e o peso específico seco, crescente. As anomalias da curva de compactação
não foram observadas, pois acrescentou-se a água de compactação com antecedência de
24 horas, processo o qual eliminou em grande parte as anomalias na curva de compactação.
Para o estudo da influência do reúso do material, pode-se confirmar que a compacta-
ção com reúso de amostras geram curvas mais achatadas, isto é, o manuseio das amostras
muda o comportamento do solo.
As amostras com e sem reúso que receberam água no momento da compactação
obtiveram um coeficiente angular no ramo seco e no ramo úmido, relativamente alto, fato
que pode ser explicado pela grande energia liberada no momento inicial da adsorção de
água. As amostras com e sem reúso que tiveram a oportunidade de receber a água de com-
pactação com antecedência de 24 horas, tiveram seu ramo seco bem mais suave, sendo
que as umidades ótimas obtidas muito próximas, tanto para a amostra com reúso, quanto
para a sem reúso.

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Recomenda-se o mínimo de esforço mecânico nos ensaios, pois alguns solos saprolí-
ticos podem ter sua granulometria alterada devido à quebra de grãos durante as etapas de
destorroamento e lavagem das amostras.
Conhecer as características peculiares do solo com que se trabalha, e aplicar sim-
plesmente a metodologia dos ensaios propostos pelas Normas Brasileiras nos ensaios de
caracterização e compactação podem levar a obtenção de dados que não refletem a reali-
dade do material. Para uma boa obtenção de parâmetros, é sempre viável tentar reproduzir
no laboratório as mesmas condicionantes

REFERÊNCIAS
1. ARAÚJO A. Algumas Considerações Sobre o Ensaio de Compactação com Energia
585 KJ/m³. São Carlos: EESC-USP, 1996. Dissertação (Mestrado em Engenhariade
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expansivo, não saturado, de Sergipe. In: VI Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados,
2007, Salvador. NSAT2007, 2007. v. 1. p. 133-139.

3. CONCIANI, W.. Solos Tropicais na prática da engenharia geotécnica. In: Simposio de


Prática de engenharia Geotécnica do Centro Oeste, I, 2009, Goiania. GECENTRO, I.
Brasilia: ABMS-NRCO, 2009. v. unico.

4. COZZOLINO, V. M. N. e NOGAMI, J. S. (1993) Classificação Geotécnica MCT para


Solos Tropicais. Revista Solos e Rochas. ABMS/ ABGE. Vol 16, n. 2, p. 77-91.
5. FRAZÃO, E. B.; GOULART, E. P. (1976). Aspecto da expansibilidade de argilo-mine-
rais: Algumas Implicações em Obras Civis. In: 1º Congresso Brasileiro de Geologia de
Engenharia, ABGE, São Paulo, Tema 11, 2: 351-365.

6. FUTAI, M.M. Comportamento de fundações em solos tropicais de Cuiabá. Cuiabá, 1995.


TCC (Engenharia Civil) – Departamento de Engenharia Civil, UFMT, 1995.

7. FUTAI, M.M.; SOARES, M.M.; CONCIANI, W. Propriedades geotécnicas do solo sa-


prolítico da Baixada Cuiabana. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MECÂNICA DOS
SOLOS E ENGENHARIA GEOTÉCNICA, 11, 1998, Brasília. Anais... Brasília: CO-
BRANSEG, 1998. P. 221-228.

8. PINTO, C.S. Curso básico de mecânica dos solos em 16 aulas. 3.ª Edição. São Paulo:
Oficina de texto, 2006. 367p.

9. PRESA, E.P. (1980). Parâmetros Convenientes para projetos de rodovias em Solo


Expansivo. II Seminário Regional de Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações
– NRBA/ABMS-Salvador-Ba. 83-106.

10. RIBEIRO JUNIOR, I. ; CONCIANI, W. Controle da do solo saprolítico de filito com cal
hidratada cálcica para construções populares. In: SEMINÁRIO MATO-GROSSENSE DE
HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL, I. 2005, Cuiabá, Anais eletrônicos CD-ROM,
Cuiabá: CEFET-MT/UFMT, 2005. 10p.

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11. RIBEIRO JUNIOR, I.. Estabilização da Expansão do Solo Saprolítico de Filito com Cal
Hidratada Cálcica, 2006 (Trabalho de Conclusão de Curso).
12. SANTOS, A.C.C. Estudo da influência da energia e do reúso de amostras na compac-
tação em solo saprolítico. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Centro de
Ciência e Tecnologia, UFCG, Campinas Grande, 2003.

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21
Estudo da Resistência ao Cisalhamento
dos Solos Residuais Saprolíticos de Filito
da Baixada Cuiabana

Renan Rodrigues Pires


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Ilço Ribeiro Júnior


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Artigo original publicado em: 2016


XVIII Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/230312369
RESUMO

As rupturas de taludes e fundações rasas ocorrem por cisalhamento do solo. O solo da


Baixada Cuiabana é do tipo residual saprolítico de filito, que é uma rocha metamórfica com
xistosidades e planos de fratura. Através de ensaios físicos de caracterização geotécnica,
classificou-se o solo da Baixada Cuiabana como um Silte Arenoso que apresenta caracte-
rísticas expansivas devido à presença de argilominerais ativos. O solo saprolítico mantém
presente as características e estruturas da rocha de origem. Este solo é geralmente encon-
trado com umidade abaixo da umidade de saturação, gerando sucção. A sucção foi levada
em conta nos resultados apresentados, pois influencia diretamente a resistência ao cisalha-
mento. Verificou-se a anisotropia do material através do ensaio de cisalhamento direto de
amostras indeformadas com planos paralelos e perpendiculares ao plano de corte imposto
pela prensa. A quantificação da contribuição da estrutura do solo foi tomada como a dife-
rença da resistência ao cisalhamento da amostra indeformada com a amostra compactada
a energia normal. Para verificar a influência da sucção na resistência ao cisalhamento do
solo, repetiram-se os ensaios de cisalhamento com a amostra saturada. Com o ensaio de
cisalhamento, obteve-se o valor do ângulo de atrito e coesão do solo, que foram compara-
dos em todos os planos e condições de saturação. Como resultado observa-se que existe
anisotropia no solo da Baixada Cuiabana, com o Coeficiente de Anisotropia (“CA”), no valor
de 1,72 para amostras na umidade natural e 1,95 para amostras saturadas para tensões de
100 kPa. O solo apresentou Coeficiente de Estrutura, no valor de 1,46 no plano paralelo e
2,52 no plano perpendicular na umidade natural. O plano perpendicular apresentou coesão
de 89,28 kPa na umidade natural e 126,32 kPa com a amostra saturada.

Palavras-chave: Anisotropia, Resistência ao Cisalhamento, Solo Saprolítico de Filito.


INTRODUÇÃO

O colapso em fundações diretas, barragens, aterros, taludes e outras obras de terra


ocorrem por ruptura ao cisalhamento. A resistência ao cisalhamento de um solo é um dos
principais fatores que fornecem estabilidades aos maciços. Quando um maciço se deses-
tabiliza, ocorre o deslizamento de terra, sendo um desastre que, geralmente, causa graves
danos patrimoniais e, por vezes, vítimas fatais. O estudo da resistência ao cisalhamento do
solo tem o objetivo de trazer qualidade às obras, evitando acidentes e fornecendo seguran-
ça à população, por isso é importante cada vez mais pesquisas variando-se as condições
encontradas em campo para observar quais condicionantes podem trazer riscos.
Por Cuiabá ser uma região populosa e estar em uma ascensão construtiva de verti-
calização, há cada vez mais necessidade de estudos das características do seu solo, para
aumentar a segurança nas escavações, fundações e estruturas de contenções executadas
na região. Na Baixada Cuiabana situada no Estado de Mato Grosso, devido à rocha-mãe
estar bem superficial e o clima ser de região tropical, os solos são saprólitos jovens em
estado de degradação.
Segundo Vecchiato (1987) apud Ribeiro Júnior (2005), a Baixada Cuiabana está lo-
calizada em uma depressão que dá início à Bacia Sedimentar do Pantanal. Esta área é
constituída por rochas metamórficas do Grupo Cuiabá, pertencente ao grande cinturão de
dobramentos do Paraguai. A Baixada Cuiabana apresenta solos saprolíticos das rochas
metassedimentares formadoras do Grupo Cuiabá, geralmente filitossericíticos ou carbono-
sos, com xistosidades, estratificações plano-paralelas e clivagem ardosiana. A parte norte
e central da Baixada Cuiabana, regiões sobre a Formação Miguel Sutil, apresentam solos
argilo-siltosos por toda a formação. A região Sul, sobre a Formação Rio Coxipó apresenta
solos areno-siltosos. Segundo Futai (2005), o solo da baixada cuiabana é predominantemente
não saturado e com pequeno índice de vazios.
Os solos da Baixada Cuiabana apresentam estratificações herdadas das rochas me-
tassedimentares que os originaram. Estas estratificações podem gerar valores diferentes
de resistência ao cisalhamento, ângulo interno e coesão do solo dependendo do angulo de
aplicação da força e das estratificações. Futai (1995) estudou a relação entre a resistência
ao cisalhamento do solo em diversas posições das estratificações em relação à resistência
ao cisalhamento do solo em relação ao plano paralelo em um solo residual e estabeleceu
que esta razão fosse denominada de “CA” (coeficiente de anisotropia).
Além da resistência variar em relação aos planos analisados da estrutura indeformada,
um solo com a estrutura destruída (solos desagregados e posteriormente compactados)
apresenta valores de resistência ao cisalhamento, ângulo interno e coesão diferente dos

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apresentados pelos ensaios na estrutura indeformada justamente por estes solos não apre-
sentarem a estrutura herdada da rocha mãe.
Quando se pensa em estrutura do solo, pensamos em um arranjo das partículas do
solo não explicados pelo histórico de tensões. Nos solos pouco intemperizados (saprolíticos),
a estrutura é influenciada pela rocha mãe, pois o solo carrega suas características. São
materiais complexos e heterogêneos, principalmente quando a rocha-mãe é metamórfica.
Boszczowski (2008) disse que a estrutura de um solo pode ser definida como a diferença
de comportamento do solo no estado indeformado com o comportamento do solo no estado
amolgado, mantido a mesma sucção e estado de tensões.
A sucção é uma tensão existente nos solos não saturados devido aos “caminhos” de
ar existentes no solo. De acordo com Fredlund et al. (1978) apud Delgado (2002) foram
identificadas relações associando a resistência ao cisalhamento com a sucção utilizando
ensaios de sucção controlada.
No presente trabalho foi realizada a caracterização da amostra do solo cuiabano quan-
to aos parâmetros de caracterização física, podendo assim classificar geotecnicamente o
material. Foram realizados os ensaios de resistência ao cisalhamento direto nas condições
compactada e indeformada, nos planos paralelos e perpendiculares às xistosidades, na
condição saturada e de umidade natural, podendo obter o valor da resistência conferida pela
estrutura da amostra, em relação à amostra amolgada, como fez Boszczowski (2008), e obter
a relação entre a resistência ao cisalhamento do plano perpendicular pelo plano paralelo,
obtendo o coeficiente “CA”, estabelecido por Futai (1995). Estes ensaios foram realizados
na condição lenta, adensada, dando tempo para a dissipação de toda a pressão neutra.

MATERIAIS E MÉTODOS

Local de Estudo

O solo foi coletado na obra do Edifício Torres do Parque, edificação que conta com
duas torres de 20 pavimentos, localizado na Avenida Miguel Sutil, na cidade de Cuiabá-MT,
conforme Figura 1. Trata-se de um solo saprolítico, cuja rocha de origem é o filito de cor
amarelo mostarda, com estratificações e xistosidades visíveis a olho nu, bem característico
da Baixada Cuiabana. Este local pertence à Formação Miguel Sutil, dentro do grupo Cuiabá.

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Figura 1. Local da coleta de amostra de solo: AV. Miguel Sutil, próximo à entrada do Centro de Eventos do Pantanal.

Fonte: Adaptado do Google Earth.

Extração e coleta

A coleta foi realizada conforme o método de extração de amostras indeformadas de-


senvolvido pelos professores de mecânica dos solos da Escola Politécnica de São Paulo e
conforme o procedimento da NBR 9820/97 - Coleta de Amostras Indeformadas de Solos,
com dimensões de, aproximadamente, 30 x 30 x 30 cm.

Preparação das amostras

Os ensaios de caraterização foram realizados com amostras amolgadas, a partir do


material que foi desagregado durante a extração das amostras indeformadas para os ensaios
de resistência. Depois de preparado, o material ficou armazenado em sacos plásticos devi-
damente identificados, conforme prescreve a NBR 6457/86 - Amostras de solo - Preparação
para ensaios de compactação e ensaios de caracterização.

ENSAIOS LABORATORIAIS

Análise granulométrica

Devido ao solo não apresentar fração graúda na fase de preparação da amostra, o en-
saio de análise granulométrica foi realizado em duas etapas: sedimentação com defloculante
e peneiramento fino, conforme prescreve a NBR 7181/84 - Solo - Análise granulométrica.

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Limites de Atterberg

O ensaio de limite de liquidez foi realizado conforme prescreve a NBR 6459/84 - Solo
- Determinação do limite de liquidez e o ensaio de limite de plasticidade foi realizado con-
forme prescreve a NBR 7180/88 - Solo - Determinação do limite de plasticidade. E a partir
dos resultados encontrados calculou-se o índice de plasticidade classificando então o solo
através da Carta de Casagrande.

Compactação

Segundo Ribeiro Júnior (2005), o solo da Baixada Cuiabana é expansivo. Este autor
relata que os resultados para ensaios de compactação utilizando o procedimento puramente
como descreve na norma ABNT 7182/86 produz resultados errôneos para as curvas de com-
pactação dos solos da Baixada Cuiabana, com instabilidades e não mostrando um ponto de
umidade ótima. Ribeiro (2009) estudou métodos alternativos de preparo da amostra de solo
expansivo da Baixada Cuiabana para ensaio de compactação sem reúso, desenvolvendo
um método de preparação da amostra que estabiliza a curva de compactação, fazendo com
que ela volte a ter o formato típico com ramo seco, ramo úmido e umidade ótima.
Adotou-se, portanto, para este estudo, o método desenvolvido para preparação de
amostras por Ribeiro (2009) e a NBR 7182/86 - Solo - Ensaio de Compactação.

Cisalhamento direto

O ensaio de cisalhamento direto é realizado para definir diversos parâmetros de um


solo, dentre eles a resistência ao cisalhamento, o ângulo de atrito interno e a pressão neu-
tra. Os ensaios foram realizados com as amostras indeformadas de solo. Estas amostras
foram moldadas no anel padrão cilíndrico da prensa, que possui as dimensões de 60 mm
de diâmetro e 30 mm de altura.
Os ensaios foram realizados com as xistosidades paralelas (PAR) e perpendiculares
(PER) ao plano de corte. Também foram realizados ensaios com a amostra deformada
compactada na energia do proctor normal (COM). Como o equipamento não permitia a
verificação da sucção em tempo real e como se deve considerar a influência da sucção na
resistência ao cisalhamento das amostras, realizaram-se os ensaios de cisalhamento direto
na condição de umidade natural (NAT) e na condição saturada (SAT).
A amostra foi considerada na condição saturada quando todo o sistema de inserção da
amostra na prensa foi inundado de uma vez, 24 (vinte e quatro) horas antes da realização
do ensaio de cisalhamento, para que haja tempo suficiente para a saturação da amostra.

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A velocidade de deslocamento do carrinho para cisalhamento da amostra foi de 0,02
mm/min, velocidade adotada para que a poroporessão fosse dissipada durante a realização
do ensaio de cisalhamento. Como não há normatização nacional para o ensaio de cisalha-
mento direto, a referência adotada foi a ASTM-D 3080/98 - Standard test method for direct
shear test of soils under consolidated drained conditions.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Granulometria

A Figura 2 mostra um solo sem pedregulhos, com alguma presença de areia e uma
predominância de finos, que em sua maioria absoluta se encontra na fração silte. Observa-se
também que a forma da curva leva a um solo com granulometria mal graduada, com mais
de 70% de sua composição sendo da fração silte.
Também existe um pouco de areia, cerca de 20%, o que não rege seu comportamento.
De uma forma geral, o solo estudado apresenta 0% de pedregulho, 7% de areia grossa,
11% de areia média, 4% de areia fina, 71% de silte e 7% de argila, o que o classifica como
solo silte arenoso.

Figura 2. Curva Granulométrica.

Limite de liquidez

Na Figura 3 obteve-se o Limite de Liquidez (WL), cujo valor após traçar a linha de ten-
dência é de 39%, valor típico dos solos finos e aponta para um solo que possui coesão natural.

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Tabela 2. Determinação do Índice de Plasticidade (IP).

Com o valor de WL e de IP, podemos classificar a fração fina do solo (Figura 4). A fração
fina do solo foi classificada como um solo CL, ou seja, uma Argila de Baixa Compressibilidade.

Figura 3. Limite de liquidez (WL) do solo saprolítico de filito.

Limite de plasticidade

O limite de Plasticidade (WP) obtido pela média de três pontos analisados mostra o
valor de 18% como pode ser observado na Tabela 1.

Tabela 1. Resultados do ensaio de Limite de Plasticidade.

Limite de Plasticidade
Teor de umidade 18% 20% 17%
Média - WP 18%

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Índice de plasticidade

O valor do Índice de Plasticidade (IP) encontrado para o solo analisado foi de 21%,
conforme observado na Tabela 2.

Tabela 2. Determinação do Índice de Plasticidade (IP).

Índice de Plasticidade

WL 39%
WP 18%
IP 21%

Carta de Casagrande

Com o valor de WL e de IP, podemos classificar a fração fina do solo (Figura 4). A fração
fina do solo foi classificada como um solo CL, ou seja, uma Argila de Baixa Compressibilidade.

Figura 4. Carta de Casagrande do solo em estudo.

Curva de compactação

Como pode ser visto na Figura 5, a umidade ótima obtida pelo método de Ribeiro (2009)
para este solo foi de 19%. Esta umidade foi utilizada para a realização da compactação o
solo sem reúso de onde se retirou a amostra para ser utilizada no ensaio de cisalhamento
direto com amostra compactada à energia normal.

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Figura 5. Curva de compactação de solos expansivos conforme proposto por Ribeiro (2009).

Cisalhamento direto na umidade natural

Observa-se, na Figura 6, a envoltória de resistência obtida para os solos com a umidade


natural e ótima. Pode-se observar que o plano perpendicular é o que apresenta as maiores
resistências em todas as condições de carga.
O ângulo de atrito do plano perpendicular e do plano paralelo apresentam valores
próximos, porém a coesão do plano perpendicular é maior, deslocando a envoltória de re-
sistência para cima, apresentando valor de resistência ao cisalhamento maior em todas as
tensões. A amostra compactada apresenta o menor ângulo de atrito entre eles, mostrando a
grande influência que a estrutura tem no valor do ângulo de atrito para amostras à umidade
natural, independente do plano analisado em relação à amostra compactada.

Figura 6. Envoltória de resistência ao cisalhamento dos solos na umidade natural.

Cisalhamento direto com amostra saturada

Observa-se na Figura 7, a envoltória de resistência obtida para os solos saturados.


Pode- se observar que o plano perpendicular é o que apresenta as maiores resistências em

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todas as condições de carga. Os ângulos de atrito do plano perpendicular saturado, do solo
paralelo saturado e do solo compactado saturado possuem praticamente o mesmo ângulo de
atrito, sendo a resistência do solo no plano perpendicular maior devido a maior contribuição
da parcela da coesão neste estado.
No plano perpendicular, a resistência de ruptura dos solos com baixas tensões normais
é maior que as no plano paralelo, devido exclusivamente ao ganho de coesão. Portanto,
a diferença na resistência ao cisalhamento pelo ângulo de corte se da, principalmente, a
coesão. Para tensões normais acima de 400 kPa, nota-se que o incremento de resistência
ao cisalhamento aumenta mais no plano paralelo que no perpendicular, para um nível de
tensão onde a interferência do plano de corte na resistência ao cisalhamento seja minimizada
pelas altas tensões normais.

Figura 7. Envoltória de resistência ao cisalhamento dos solos na saturação.

Ângulo de atrito e coesão

Pode-se observar, na Tabela 3, que o valor do ângulo de atrito da condição natural é


superior ao valor de ângulo de atrito da condição saturada e que, nas amostras indeformadas,
os ângulos de atrito são governados pela condição de saturação da amostra. Observa-se
também que qualquer posição de amostra indeformada apresenta ângulo de atrito maior
do que a amostra compactada, demonstrando que a presença da estrutura, em qualquer
posição, aumenta o ângulo de atrito do solo.
A coesão foi a grande revelação deste estudo. Foi descoberto que a coesão é 30%
maior na condição saturada do que na condição natural e que, principalmente, ela é três
vezes maior na posição perpendicular do que na posição paralela, independente se saturada
ou não a amostra. A partir deste fato, atribui-se ao valor de coesão o incremento de resis-
tência ao cisalhamento devido à condição de estrutura da amostra. Porém, mesmo que a
coesão seja maior nas amostras saturadas que nas amostras na umidade natural, o ângulo

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de atrito consideravelmente superior das amostras na umidade natural faz com que a maior
resistência ao cisalhamento se apresente nesta condição.

Tabela 3. Comparativo dos valores de ângulo de atrito interno e coesão das amostras de cisalhamento.

ϕ` c`
Amostra
(o) (kPa)
Natural Paralelo 43,48o 31,21
Perpendicular 16,21 o
89,28
Compactado 24,97o 23,67
Paralelo 27,55 o
37,53
Saturado

Perpendicular 25,68o 126,32


Compactado 22,76o 27,09

Coeficiente de estrutura

Realizando a comparação das resistências ao cisalhamento como proposto por


Boszczowski (2008), pode-se concluir que a resistência devido à estrutura é maior no plano
perpendicular do que no plano paralelo, independente da condição de saturação. Observa-
se, na Figura 8, uma estabilidade nos coeficientes de estrutura em todos os casos, exceto na
condição do corte perpendicular saturado, onde há um decréscimo progressivo nos valores
do coeficiente de estrutura.

Figura 8. Coeficiente de estrutura conforme proposto por Boszczowski (2008).

Coeficiente de anisotropia

Utilizando-se o método de análise utilizado por Futai (1995), determina-se o coeficiente


de anisotropia dos solos nas condições saturadas e na umidade natural, mostrados na Figura
9. Pode-se observar que o coeficiente de anisotropia é mais estável na umidade natural do
que na condição saturada, e que, como pode se observar na imagem abaixo, a diferença da

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resistência conferida pela estrutura do solo na posição perpendicular em relação à paralela
diminui quanto maior a tensão normal aplicada.

Figura 9. Coeficiente de anisotropia conforme proposto por Futai (1995).

CONCLUSÃO

O solo analisado foi caracterizado como um solo saprolítico de filito da Baixada


Cuiabana. A curva granulométrica mostra claramente um silte arenoso, porém os limites
de Atterberg com a carta de Casagrande classificam a parte fina deste solo como uma
Argila de baixa compressibilidade. Pode-se concluir que a argila interfere no comportamento
deste solo, pois, embora sua fração granulométrica seja pequena, este solo se comporta
como uma Argila de baixa compressibilidade, embora com o ponto na carta de Casagrande
próximo à Linha A.
A anisotropia do solo saprolítico é determinante para o valor da resistência ao cisa-
lhamento, principalmente na posição perpendicular ao plano de corte quando aplicadas pe-
quenas tensões normais. Para tensões maiores, a presença da anisotropia ainda colabora
com a resistência, mas a interferência do plano de cisalhamento tende a decrescer com o
aumento da tensão normal.
A estrutura do solo mostrou-se determinante para o aumento da resistência ao cisa-
lhamento do solo, pois mesmo a amostra indeformada no seu plano de menor segurança
apresenta resistência superior à amostra desestruturada.
Quase todas as amostras saturadas perderam algum valor de resistência devido à
neutralização da sucção, principalmente na posição paralela a altas tensões, onde a sucção
representa, em média, 33% da resistência da amostra. A saturação contribui para a diminui-
ção do valor do ângulo de atrito do solo. O ângulo de atrito e a coesão foram avaliados no
ensaio de cisalhamento direto. O ângulo de atrito é mais alto nas amostras indeformadas,
principalmente nos planos perpendiculares, como esperado. A coesão é a governante da

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diferença da resistência ao cisalhamento entre os planos, sendo bem maior no plano per-
pendicular do que nos outros planos e se mostrou maior em planos saturados do que em
planos na umidade natural, por mais de que as amostras à umidade natural tenham maior
resistência do que as amostras saturadas. No que se referem às amostras compactadas,
os valores de ângulo de atrito e coesão não são alterados significativamente nas condições
estudadas. Isto se dá à umidade de moldagem, pois teoricamente a umidade ótima se encon-
tra próxima dos 85% do grau de saturação, o que oferece ao solo uma grande proximidade
de comportamento à condição saturada.

Agradecimentos

Agradecemos à Universidade Federal do Estado de Mato Grosso que disponibilizou


seu laboratório de solos e nos forneceu a prensa de cisalhamento direto, sem o qual não
seria possível a realização dos ensaios de cisalhamento e, consequentemente, do presente
artigo. Agradecemos, também, ao Instituto Federal de Educação pela imensa colaboração
com este estudo, desde a extração da amostra até a análise dos resultados obtidos.
Como contribuição para futuros trabalhos, sugere-se que as pesquisas do solo da
Baixada Cuiabana aprofundem-se nas pesquisas para obtenção de maior conhecimento
sobre os valores de sucção destes solos, em um maior desenvolvimento das pesquisas de
resistência ao cisalhamento e em melhorias das características dos solos compactados.

REFERÊNCIAS
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method for direct shear test of soils under consolidated drained conditions. U.S., 1998.
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Preparação para ensaios de compactação e ensaios de caracterização. Rio de Janeiro,
RJ, 1986.

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RJ, 1988.

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1997.

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322
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Pós-Graduação em Engenharia Civil da PUC - Rio, Rio de Janeiro, RJ, 2008.

9. DELGADO, A. K. C. Influência da sucção no comportamento de um perfil de solo tropical


compactado. Dissertação de Mestrado, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental,
Universidade de Brasília. Brasília, DF, 2002.

10. FUTAI, M. M. Comportamento das Fundações em Solos Tropicais em Cuiabá. Trabalho


de Conclusão de Curso, Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de
Mato Grosso. Cuiabá, MT, 1995.

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portamento da argila de Sarapuí. Solos e Rochas, v. 29, p. 125-126, 2005.
12. RIBEIRO JÚNIOR, I. CONCIANI, W. Controle da expansão do solo saprolítico de filito
com cal hidratada cálcica para construções populares. I seminário Mato-grossense de
habitação de interesse social. Cuiabá, MT, 2005.

13. RIBEIRO, K. F. A. Influência da expansão do solo na obtenção dos parâmetros geotécni-


cos obtidos com ensaios de laboratório. Trabalho de Conclusão do Curso, Departamento
da Área de Construção Civil, Instituto Federal de Mato Grosso. Cuiabá, MT, 2009.

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22
Determinação do coeficiente de reação
vertical (Kv) e horizontal (Kh) de um solo
tropical em Cuiabá

Luiz Carlos de Figueiredo


Instituto Federal de Educação Tecnológica de Mato
Grosso (IFMT)

Ilço Ribeiro Júnior


Instituto Federal de Educação Tecnológica de Mato
Grosso (IFMT)

Reyder Rodrigues Pires


Instituto Federal de Educação Tecnológica de Mato
Grosso (IFMT)

Silvana Fava Marchezini


Instituto Federal de Educação Tecnológica de Mato
Grosso (IFMT)

Artigo original publicado em: 2017


GEOCENTRO
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/230512942
RESUMO

Este trabalho apresenta a determinação dos coeficientes verticais e horizontais de um solo


tropical, com perfil silte argiloso, na cidade de Cuiabá, Centro-Oeste do Brasil. A metodolo-
gia utilizada baseia-se na utilização de sondagens de SPT e execução de provas de carga
verticais para a obtenção do coeficiente de reação vertical (Kv) e de provas de carga hori-
zontal para a determinação do coeficiente de reação horizontal (Kh). Para ambos os coefi-
cientes foram empregados a Hipótese de Winkler. Os resultados mostraram que os ensaios
SPT apresentam proporcionalidade com Kv e que a obtenção de Kh indicou a coerência do
método empregado.

Palavras-chave: Coeficiente de Reação Vertical, Coeficiente de Reação Horizontal, Hipóte-


ses de Winkler, Solo Tropical.
INTRODUÇÃO

No ramo da engenharia civil há muitas questões relacionadas a carregamentos, sejam


esses oriundos das cargas vivas, do peso da estrutura e/ou derivado de outras fontes são
projetados para serem transmitidos às fundações onde a carga é dissipada no solo. De modo
geral as estruturas são dimensionadas com apoios indeslocáveis que contrariam O com-
portamento do solo. De fato, O solo apresenta, quando solicitado pelas cargas estruturais,
deformação plástica com recalques e levantamentos, que alteram os esforços atuantes nos
elementos estruturais. Nesse contexto, o solo e os deslocamentos que este provoca nas
estruturas constituem parte importante da solução que garanta segurança e economicidade
de uma fundação.

Pressões de contato

A literatura geotécnica apresenta diversos conceitos e modelos de análise da interação


solo-fundação que têm por objetivo determinar os deslocamentos reais da fundação, embora
possam ser agrupados em dois grandes grupos: diretos da análise da interação ou indiretos
por meio das pressões de contato com componentes e normal e cisalhante na vizinhança
solo-fundação (VELLOSO, 2010). Para Velloso (2010),
Para Velloso (2010), um aspecto importante na análise de interação solo-fundação é
0 das pressões de contato. Fatores como características da carga aplicada, rigidez rela-
tiva fundação-solo, proriedades dos solos e intensidade das cargas afetam diretamente a
referida análise.
Desses fatores, o da rigidez relativa fundação solo foi quantificado por vários autores
em propostas que variavam conforme O tipo de fundação, a exemplo de Meyerhof (1953) e
Schultze (1966), apud Velloso (2010) para uma fundação retangular e Padfield e Sharrock
(1983) para radier.
Em relação ao fator solo-estrutura solo-estrutura Meyerhof (1953) substituiu toda a
estrutura da edificação, segundo uma direção, por uma viga de rigidez à flexão; Chamecki
(1956) considerou a interação solo estrutura, ou seja, o efeito dos recalques causados pela
carga da estrutura que modificaria as cargas propostas pelo projetista estrutural; Aoki e
Lopes (1975) apresentaram uma proposta para o caso de fundações que impõem tensões
uma às outras nas quais os apoios em molas são substituídos por um meio elástico; Poulos
(1975), seguido por Gusmão (1990) propõe uma análise com base em meio elástico, possível
com O uso de ferramenta computacional.

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326
Hipótese de Winkler

Velloso (2010) apresenta dois modelos para representar o solo, na análise da interação
solo-estrutura: hipótese de Winkler e meio contínuo. O modelo de meio contínuo pode ser
elástico e elastoplástico. Na primeira variante há algumas soluções e para vigas e placas
baseadas na Teoria da Elasticidade; na segunda é necessária a solução numérica, pelo
método de elementos finitos.
O modelo com base na Hipótese de Winkler, proposta em 1867, considera uma viga
sobre um meio elástico, no qual o solo é substituído por uma série de molas horizontais,
idênticas, independentes entre si, igualmente espaçadas e de comportamento elástico li-
near (ARAUJO, 2013).
A hipótese de Winkler, pelo seu fácil entendimento, é a mais difundida no meio geotéc-
nico (Milani, 2013). Embora a solução simplificadora seja atraente, deve-se considerar como
precaução que se trata de um modelo linear de tensão-deformação e que não leva em conta
a dispersão área de influência (Milani, 2012). Como se trata de um modelo no qual as molas
são independentes, a coesão das partículas no meio solo fica comprometida (PORTO, 2010).

Os coeficientes de reação do solo

Pela Hipótese de Winkler as pressões de contato são proporcionais ao recalque, como


mostra a Figura 1. Como se observa O coeficiente de reação se aplica de modo simplificado
para uma fundação assentada diretamente ao solo e conceito de molas independentes é
facilmente compreendido.

Figura 1. Modelo de Winkler (Velloso, 2010).

A determinação do coeficiente de reação vertical pode ser simplificada como mos-


trada na Equação 1:

(1)

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onde q é a carga aplicada, ky é o coeficiente de reação vertical e pé o recalque. Segundo
Velloso (2010) 0 coeficiente de reação vertical é conhecido por modelo de molas ou modelo
do fluido denso. Nota-se que a unidade é igual à do peso específico (FL-3).
No caso de estacas submetidas a esforços laterais a reação do solo não é tão sim-
ples, mesmo considerando a Hipótese de Winkler. Velloso (2010) cita a natureza do solo,
o nível de carregamento, e a forma e dimensão da estaca como variáveis que influenciam
na reação do solo. A condição de trabalho da estaca fornece Os deslocamentos horizontais
e os esforços internos da estaca. A Figura 2 mostra a condição de trabalho de uma estaca
submetida a esforço lateral e a representação em modelo pela Hipótese de Winkler. Nota-
se que a aplicação da carga no topo livre e frontal da estaca provoca um deslocamento
diferencial entre 0 topo da estaca e a sua base.

Figura 2. Estaca submetida a uma força transversal: reação solo real (a) e modelada pela Hipótese de Winkler (b), (Velloso,
2010).

Para uma estaca submetida esforço lateral, o solo resiste ao deslocamento horizon-
tal por tensões contra frente da estaca e cisalhantes na lateral da estaca; quase não há
resistência na parte de trás da estaca. Observa-se que essa tipificação de reação do solo
independe da forma da seção transversal da estaca, Velloso(2010). A Figura 3 exemplifica
a reação do solo para uma um esforço lateral em estaca.

Figura 3. Reação do solo contra o deslocamento horizontal da estaca, (Velloso, 2010).

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A Equação 2 descreve para a Hipótese de Winkler a reação horizontal em função da
tensão normal horizontal (FL-2):

(2)

onde
p é a tensão normal horizontal atuando na frente da estaca (numa faixa de largu-
ra B= diâmetro ou largura da estaca), kh é o coeficiente de reação horizontal (FL-3) e v é o
deslocamento horizontal no sentido do eixo y.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram realizados cinco sondagens de SPT, Tabela 1, nas proximidades dos ensaios
de prova de carga de placa em placa, na Arena Pantanal em Cuiabá, Figura 4. Os arranjos
seguem a seguinte sequência: Furo 01, P 15; Furo 03, P 17; Furo 08, P 19, Furo 11, P 14,
Furo 13, P 20. O perfil do solo foi caracterizado como silte argiloso. Os ensaios de SPT
obedeceram aos critérios da NBR 6484 (ABNT, 2001).

Tabela 1. Dados dos ensaios de sondagem SPT.

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Nas sondagens F05, F08, F11 e F13, nos primeiros metros da sondagem não houve
registro do índice do NSPT, por motivos não especificados no relatório, paras estas foram
adotadas o índice de “0”.

Figura 4. Localização dos ensaios para determinação dos coeficientes de reação do solo (Google Maps [Arena Pantanal] ).

As provas de carga verticais foram executadas utilizando-se uma placa quadrada com
dimensões de 71 cm. Para este ensaio foi adotado o método de carregamento rápido. A es-
trutura de reação caracteriza-se por viga de reação ancorada em estacas paralelas.
Tanto as provas de carga verticais em placas quanto OS ensaios de SPT ancoraram
a determinação do coeficiente de reação vertical do solo. Foram realizadas seis provas de
carga horizontais contínua no topo de estacas do tipo hélice com diâmetro de 600 mm e com-
primento de 12 metros, pareadas no seguinte arranjo: ET 01 e ET 02: ET 03 e ET 04; ET 05
e ET 06. As provas de carga horizontal deram suporte para a determinação do coeficiente de
reação do solo horizontal. Todas as provas de carga obedeceram a NBR 12131 (ABNT, 2006).
A Figura 5 mostra o posicionamento dos furos de SPT distribuídos na Arena
Pantanal, enquanto

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Figura 5. Distribuição dos furos de SPT na Arena Pantanal.

RESULTADOS

O comportamento das provas de carga verticais P 15, P 17 e P 19, P 14, e P 20 são


apresentadas na Figura 6, a carga efetiva máxima para as três primeiras provas de carga
é de 592,03 kN; a P 14 tem carga máxima efetiva de 419,57kN e a P 20 tem carga máxima
efetiva de 593,51 kN.
Nota-se que a resposta do solo, para a medida de recalque e restituição elástica, para
cada prova de carga vertical em placa é proporcional à média do NSPT. Além, disso como
se trata de um solo de grande resistência ao SPT, ainda assim a baixa restituição elástica
da prova de carga P 14, em função da carga aplicada para essa prova de carga ter sido 70%
das demais provas de carga verticais, chama a atenção e cuidado para os solos tropicais no
tocante a deformação plástica em função da magnitude da carga. De todo modo o ensaio de
SPT concorda em proporcionalidade com os resultados da prova de carga vertical em placa.
Argui-se, porque não foi fornecido para este artigo, que os índices de NSPT=0 tratam-se de
material de aterro que depois foi retirado para se atingir as cotas de rasamento dos blocos
onde foram realizadas as provas de carga.

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Figura 6. Resultado das provas de carga em placa.

A Tabela 2 apresenta da esquerda para direita; O nome da prova de carga o coeficiente


de reação vertical do solo calculado (kv), o recalque máximo, 0 recalque permanente para a
carga aplicada, e um coeficiente de restituição elástica em percentagem (CR). Foi aduzido
esse parâmetro geotécnico, pelos autores, (CR), dado que o uso de uma arena submete
o solo a variação de carga considerável, além disso a carga horizontal, devido ao vento,
também não pode ser negligenciada. CR é dado pela Equação 3:

(3)

Reitera-se, no cálculo do CR, que há uma proporcionalidade entre esse parâmetro e


a média do NSPT. Embora essa proporcionalidade não seja linear, ainda que todo o perfil
tenha sido caracterizado para o mesmo tipo de solo. Ressalta-se, a limitação do ensaio
SPT para 0 limite último de resistência do solo. Os relatórios dos ensaios de SPT apontam
NSPT=50 para a maioria dos pontos perfilados, porém deduz-se pelos resultados de ky que
se trata de mera indicação do limite penetração do equipamento.

Tabela 2. Dados correlacionados à reação do solo vertical (ky).

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A Figura 7 apresenta o resultado das provas de carga horizontais para as estacas 1, 2,
3, 4, 5 e 6, pareadas uma ao lado da outra do seguinte modo: Estaca 1 e Estaca 2; Estaca
3 e Estaca 4; Estaca 5 e Estaca 6. Todas as estacas foram submetidas à mesma carga
máxima aplicada: 256,43 kN.

Figura 7. Resultado das provas de carga horizontal.

Nota-se que a resposta do solo, para a medida de recalque máximo, para cada prova de
carga horizontal, foram semelhantes entre os pares das estacas, exceto para o par formado
pelas estacas 5 € 6, Tabela 3. O coeficiente de restituição, embora com a visível discrepân-
cia da Estaca 5, apresentou média de 55,74 com desvio padrão de 16,07 e Coeficiente de
Variação de 28%.
No que se refere ao coeficiente de reação do solo horizontal (kh), vale notar que foi
considerado para o cálculo desse parâmetro, o trecho linear da curva carga deslocamen-
to. A juízo dos autores, foi desprezada O par carga verus deslocamento para as estacas 1,
2, 3 e 4, preservando o conceito de molas do método de Winkler. A discrepância dos resul-
tados é mostrada pelo Coeficiente de Variação, 164%. Nota-se que o coeficiente de reação
horizontal, embora a maioria na casa de milhar de kN/m’, ainda carece de maior precisão
para O método empregado, o da Hipótes de Winkler.

Tabela 3. Dados correlacionados à reação do solo horizontal (kh).

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CONCLUSÕES

O método empregado para obtenção dos coeficientes reação do solo pelo modelo que
emprega a Hipótese de Winkler demonstrou que para os coeficientes de reação vertical (kv)
obedece a uma proporcionalidade com O ensaio SPT e que a pareação entre as estacas
submetidas a esforço horizontal para obtenção do coeficiente de reação horizontal (kh) de-
monstraram que o método é coerente, embora haja necessidade, para ambos os coeficientes
de mais investigação, dada a clara dispersão dos resultados, a priori, oriundos da anisotropia
do solo. Além disso, no tocante as provas de carga horizontal, parte da restituição é devida
ao material da estaca, não há certeza de que o solo manteria uma elasticidade correlacio-
nada ao material estrutural da estaca.

REFERÊNCIAS
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ndations by the Theory of Elasticity. In: PANAMERICAM CONFERENCE ON SOIL
MECHANICS AND FOUNDATION ENGINEERING, 5., Buenos Aires. Proceedings…..
Buenos Aires: PCSMFE.

2. Araújo, A.G.D. (2013). Provas de carga estática com carregamento lateral em estacas
hélice contínua e cravadas metálicas em areia. Dissertação de Mestrado. Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. Natal, RN, 221f.

3. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12131. (2006). Estacas


Prova de carga estática - Método de ensaio. Rio de Janeiro.

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de edificações. Tese de Mestrado. COPPE-UFRJ, Rio de Janeiro.

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The Structural Engineer, Vol. 31, p. 151-167.

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siderando a interação solo-estrutura. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal
de Santa Maria, RS, 190 p.

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the Environment.

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rede de fundação. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Minas Gerais,
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11. Poulos, H.G.(1975). Settlement analysis of structural foundations systems, In: SOUTH-
-EAST ASIAN CONFERENCE ON SOIL ENGINEERING. 4. Kuala Lumpur. Proceedin-
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23
Utilização de um sistema de informação
Geográfica e resultados de ensaios SPT
como subsídio ao planejamento urbano

Geraldo Antonio Gomes Almeida


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Kurt João Albrecht


Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

'10.37885/230512945
RESUMO

A área da bacia do Córrego do Barbado pela sua importância e localização dentro da área
urbana, foi escolhida para realização deste trabalho. A bacia corta com seu curso, duas for-
mações geológica distintas, formadoras do Grupo Cuiabá. Esse trabalho teve por objetivo
criar um banco de dados de sondagens de simples reconhecimento (SPT), georreferenciado
num ambiente de um sistema de informação geográfica (SIG) e como fonte de dados do
meio físico, como subsídio ao planejamento urbano, utilizar as informações dos relatórios
de sondagens cedidos pelas empresas que atuam no ramo de prospecção geotécnica em
Cuiabá MT. Através do Banco de Dados do SPT - BDSPT foram analisados os dados das
sondagens, permitindo conhecer o comportamento do NA, tipos de solos, NSPT, impene-
trável, tanto para as Unidades Homogêneas: colinas, planície de inundação, áreas alagadi-
ças, assim denominadas pela CARTA GEOTÉCNJCA DE CUIABÁ (1990), como também
para as Formações: Miguel Sutil e Rio Coxipó assim denominadas pela Carta Geológica,
(MIGLIORINI 2000). O resultado foi à criação de uma poderosa ferramenta de análise atra-
vés do geoprocessamento dos dados de SPT em informações espaciais, que possibilitou
criar mapas temáticos, num ambiente digital interativo, e produtos cartográficos, das áreas
urbanas já consolidadas na Bacia do Córrego do Barbado. Os programas utilizados foram:
EXCEL, AUTOCAD, ACCESS e ARCVIEW.

Palavras-chave: SPT, SIG, Banco de Dados, ACCESS, ARCVIEW.


INTRODUÇÃO

A criação de um banco de dados de sondagens de simples reconhecimento SPT em


um ambiente SIG, tem como objetivo utilizar as informações contidas nessas sondagens
para melhorar o conhecimento do meio físico, especialmente em áreas urbanas onde são
realizadas muitas sondagens. A ideia de criar um banco de dados de sondagens de simples
reconhecimento SPT, num ambiente SIG, originou-se da constatação de que as informações
contidas nesses ensaios podem servir de fonte de dados para o melhor conhecimento do
meio físico, visto que, as Sondagens de Simples Reconhecimento, também denominadas
de Standard Penetration Test - SPT, consistem em sondagens geomecânicas, que têm
como objetivo reconhecer as variações verticais dos materiais inconsolidados do subsolo,
a profundidade do nível d’água na época da perfuração, e a profundidade do impenetrável,
que servirá de base das fundações das edificações, ou qualquer outro tipo de obra de enge-
nharia. O trabalho se concentra na área da bacia do Córrego do Barbado, em Cuiabá-MT, e
aborda conceitos principais sobre SPT, mapeamentos temáticos e a carta geotécnica elabo-
rada para o planejamento urbano de Cuiabá, MT. Os resultados obtidos foram decorrentes
da análise das informações do banco de dados de SPT referenciado à bacia do córrego do
Barbado que apresenta uma grande expansão urbana no município, como conhecer: o nível
d’água, materiais inconsolidados, resistência à penetração e as tensões admissíveis desses
materiais inconsolidados, a profundidade do impenetrável; como também as facilidades de
criação de mapas e cartas temáticas, análises visuais e estatísticas, interatividade e mul-
tifinalidade para o uso da engenharia e arquitetura. O trabalho conclui que o BDSPT tem
potencial para subsidiar o planejamento urbano da área, mas também apresenta limitações
que precisam ser consideradas.

MÉTODOS

Área de Estudo

A cidade de Cuiabá, capital do estado de Mato Grosso, está localizada na região Centro-
Oeste do Brasil, e nela está situado o marco geodésico da América do Sul. Cuiabá é um
município rico em recursos hídricos, cortado por diversos rios, ribeirões e córregos, todos
eles formadores da Bacia do Rio Cuiabá. A área escolhida para o estudo foi a Sub-Bacia do
Córrego do Barbado, por causa da sua localização, importância e estado de degradação que
se encontra. Na Figura1, encontra-se a localização da cidade de Cuiabá- MT, e sua situação
como centro geodésico da América do Sul, a abrangência da área de seu município e os
nomes dos municípios fronteiriços, visualiza-se também a localização da bacia do Córrego do

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338
Barbado em relação ao mapa da cidade de Cuiabá. Os 255 (duzentos e cinquenta e cinco)
pontos das sondagens (círculos vermelhos) referenciados na base digitalizada da cidade.

Figura 1. Localização do Córrego do Barbado.

Fonte: O Autor.

Aspectos Metodológicos

Os aspectos metodológicos para a implantação do BDSPT e do SIG envolveram os


seguintes princípios metodológicos:

√ a coleta de informações;
√ adequação e conversão de dados
√ a estruturação e organização;
√ Processamento de dados.

Coleta de Informações

A coleta de dados e informações foi dividida entre a materiais para o BDSPT e para o SIG.
BDSPT-Foi elaborada uma seleção das empresas atuantes no setor de sondagens na
área urbana de Cuiabá, no qual, o critério estabelecido foi o bom conceito junto aos escri-
tórios locais de engenharia de estruturas e fundações consultadas. Foram coletadas 255
sondagens de simples reconhecimento, a partir da década de 80, dando preferência para
dados dos últimos 10 anos.

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339
As empresas e as quantidades de sondagens cedidas:

a) ENGENORT - 167 sondagens;


b) FUNSOLO - 53 sondagens;
c) NACON - 31 sondagens;
d) SCHURING - 04 sondagens.

Foram necessárias visitas técnicas com finalidade de recuperação dos dados de sonda-
gens nos locais dos ensaios que apresentaram falhas nos relatórios ou alguma imprecisão.
Alguns relatórios, em razão do tempo transcorrido, apresentavam endereços antigos e de
difícil localização. Muitas vezes, o acesso aos ensaios se deu através das planilhas de perfis
das sondagens e não do seu relatório final, trazendo somente: o nome da obra, dados de
campo e croquis de localização dos furos de sondagens, desta forma, exigindo uma dispo-
nibilidade de tempo para poder localizar de forma mais precisa o endereço correto e o local
onde as sondagens foram realizadas.
SIG - Duas bases digitais em arquivo do AUTOCAD na escala 1:25000 foram cedi-
das para elaboração deste trabalho, uma que está sendo trabalhada pela PMC - Prefeitura
Municipal de Cuiabá, e a outra pelo Departamento de Geologia da UFMT. A opção foi feita
pela base do Departamento de Geologia, porque, a da PMC, tem a sua malha viária digita-
lizada em uma entidade do AUTOCAD, a “Spiline” que não foi reconhecida pelo programa
utilizado, ARCVIEW (3 2 a). Foram coletadas também em arquivos do AUTOCAD, a Carta
Geológica e a Carta Geotécnica digitalizadas na escala 1:25000.

Adequação e conversão de dados

A adequação e conversão de dados foi dividida entre a recuperação das informações


para o BDSPT e para o SIG.
BDSPT- As informações contidas nos relatórios de sondagens e que constarão no banco
de dados são: identificação do ensaio, endereço, cota da boca, nível d’água, impenetrável,
variações de profundidades, tipo de solos encontrado para cada profundidade e os números
de golpes dados para cravação do amostrador padrão o NSPT, para cada profundidade.
Destes dados, a cota da boca do furo e o NSPT, tiveram que sofrer adequações para
poderem ser utilizados. A cota da boca apresenta os dados encontrados nos relatórios de
sondagens, com sinais e unidades diferentes, em consequência das referências de níveis
dotadas pelos operadores e, por serem de difícil recuperação devido ao tempo e a modifi-
cação da topografia pela execução da própria obra. A solução encontrada para a referência
altimétrica desse dado foi à criação de uma superfície através da interpolação das curvas
de níveis no SIG e o georreferenciamento dos seus respectivos ensaios.

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340
Os NSPT fracionados, encontrados nos relatórios de sondagens foram inclusos nas ta-
belas, como números inteiros, segundo estimativa e fórmulas apresentadas por BELlNCANTA
(2001). Segundo o mesmo autor, para a estimativa de N do SPT, quando da penetração do
amostrador de 40 a 50 cm, no caso cm que não há perfeita distinção do número de golpes,
para a cravação de cada 15 cm, sendo ainda mais, n1, n2, n3 os números de golpes corres-
pondentes às penetrações parciais do amostrador, isto é, penetrações, I1, I2, I3, pode-se es-
timar o índice de resistência à penetração N do SPT pelo procedimento que se segue, como
alternativa e em primeira aproximação, pois é considerada a validade da proporcionalidade
dentro de cada parecia da penetração.
a) Quando I1 < 15 cm e existe, n1, n2, n3, I1, I2, I3

N = {n2.( I1+I2+I3)/’I2)} + {n3.(45-I1-I2)/ I3}

b) Quando I1 > 15 cm e existe n1, n2, n3, I1, I2, I3

N = {n1.( I1-15) / I1}+n2+ {n3.( 45-I1, I2)/ I3}

c) Quando I1> 15 cm e não existe, n3, I3

N = {n1.( I1-15) / I1}+{n2.(45-I1)/ I2}

d) Quando somente da existência de n1 e I1

N = {n1.(30) / I1}

Para se obter o valor inteiro do SPT, foi criado um programa no EXCEL, onde os va-
lores de n e I fracionados, foram digitados e calculados, obtendo-se dessa forma os dados
em números inteiros para inclusão no BDSPT.
SIG- As bases e as cartas digitalizadas em arquivos do AUTOCAD tiveram que ser
referenciadas em unidades cartográficas, sofreram alterações em versões, conversões de
dados, entidades e layers, um processo bastante trabalhoso e que demandou muito do tempo
dedicado a este trabalho. As entidades reconhecidas pelo ARVIEW para dados vetoriais são
ponto, linha, polígono e texto. Uma área representada por hachura no AutoCad, não será
reconhecida pelo ARCVIEW, se esta não estiver contida dentro de linhas poligonais fechadas.
O ARCVIEW (3.2a) trabalha com temas, onde cada tema está relacionado com uma
tabela dos atributos relativos a esse tema, e para que produza o efeito desejado, os layers da
base digitalizada em AUTOCAD tiveram que ser, cada um deles, transformados em arquivos
com a extensão dwg. Então os layers• curvas de nível, sistema viário e toponímia, drenagem
deixaram de ser layers de um único arquivo, para cada um, transformar em arquivo dwg;

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341
p.ex: curvas de nivel.dwg, sistema viário.dwg, etc, e dessa forma poder ter no ARCVIEW
uma tabela de atributos associada às suas entidades. Cada arquivo criado e importado para
o ambiente do sistema de informação geográfica tem que ser referenciado em projeções
cartográficas, que no caso adotou-se a UTM (Universo Transverso de Mercator), nos permi-
tem trabalhar em unidades métricas e pode-se relaciona-lo com mapas digitais em escalas
maiores ou menores (regionais). São várias as vantagens do ARCVIEW, a base pode ser
trabalhada e atualizada com precisão cm AUTOCAD, pois o programa importa todas as
atualizações efetuadas.

A Estruturação e Organização dos Dados

O BDSPT, banco de dados de SPT, foi criado de forma a permitir o armazenamento


de inúmeros ensaios e poder trabalhar tanto de forma independente através do Access ou
vinculado a um SIG. A estruturação e a organização seguiram os modelos conceituais, lógicos
e físicos elaborados para esse fim. O BDSPT contém em sua estrutura cinco tabelas relacio-
nais, consultas, formulários para entrada de dados e dois tipos de relatórios, um de detalhes
e outro resumo com os dados principais, com a finalidade de simples conferência. O relatório
resumo traz as informações básicas do SPT, (código do SPT, NA., localização, cota da boca
do furo, impenetrável e fornecedor), menos as relativas a estratificação do subsolo, que se
encontram nos detalhes, que inclui todas as informações relativas a um ensaio especifico.
O Modelo Conceituai do BDSPT- O projeto conceituai foi fruto do aprimoramento de
outras tentativas concebidas durante o transcorrer deste trabalho. O projeto original era
bem mais simples, mas incluía um número de campos fixos de profundidade, que mesmo
não ocupado por um registro em outros ensaios, aparecia, no formulário e no relatório SPT-
Detalhes, destes ensaios. Esses campos indesejados além de aumentar o tamanho do
arquivo, acabavam por interferir no estudo estatístico do tema SPT.shp, no Arcview.

O Processamento de Dados

A alimentação dos dados foi planejada de forma que as empresas fornecedoras dos
relatórios receberam uma letra no código dos ensaios, que as identifiquem e permitam, que
a inserção dos seus dados seja continua e independente. Esse código contém quatro dígitos,
sendo que o primeiro identifica a empresa e os outros três restantes possibilitam a entrada
de até 999 ensaios de sondagens, por empresa. A inserção dos dados se faz através do
formulário de entrada de dados criado, ou pela pagina formulário que poderá ser criada no
Access para receber no futuro, os dados das próprias empresas através da internet. A ideia
é manter o SIG e o BDSPT atualizados para fins de pesquisas, através do CEFETMT, onde

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342
essas empresas poderiam acessar, através de senhas, todas informações do SIG, disponi-
bilizadas no futuro, através do provedor desta instituição.

RESULTADOS DISCUSSÕES

Analisando a Bacia do Córrego do Barbado através do SIG relacionando o BDSPT e


a Carta Geotécnica de Cuiabá MT

Analisando a Bacia do Córrego do Barbado através do SIG relacionando o BDSPT e


a Carta Geotécnica de Cuiabá MT. Na Carta Geotécnica de Cuiabá (UFMT, 1990), através
da metodologia do IPT adotada, distinguiu setes Unidades Homogêneas: Canal Fluvial,
Diques Marginais, Planície de Inundação, Áreas Alagadiças, Áreas Aplainadas, Colinas
e Morrotes. O SIG permitiu que sejam correlacionados os dados da Carta Geotécnica de
Cuiabá MT, e os dados das sondagens do BDSPT, criando possibilidades de investigações
do comportamento do subsolo para algumas unidades homogêneas existentes, na área da
Bacia do Córrego do Barbado.
Na Figura 2, pode-se ver as unidades homogêneas pertencentes à bacia do Córrego
do Barbado. Dos 1595 ha, correspondente neste trabalho à área da bacia, l405 ha, corres-
pondem às áreas denominadas de Colinas, 26 ha correspondem às Áreas Alagadiças do
tipo Embaciados; 28 ha correspondem às Áreas Alagadiças do tipo Várzea; 13,5 ha corres-
pondem às áreas da Planície de Inundação.

Figura 2. BDSPT nas Unidades Homogêneas da Carta Geotécnica de Cuiabá MT.

Fonte: O Autor.

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Pode-se ver nas Tabelas, 1, 2 e 3 os dados estratificados dos tipos de solos e o NSPT
para cada profundidade pesquisada, além do comportamento do nível d’água e impenetrá-
vel para cada unidade. Os dados apresentados seguem uma convenção adotada para este
trabalho. Para números de dados interiores a 7, não serão efetuados estudos estatísticos.
Para tipos de solos com quantidades inferiores a 5, não serão demonstrados em tabelas.
Solos com designação composta dos tipos: argila arenosa, argila siltosa, e que apareçam
com números de unidades inferiores a 5, serão sornados e simplesmente designados como
argilas. Desta forma, designação de solos como: argilas, siltes, areias, pedregulhos, pas-
sam a representar os seus respectivos subconjuntos e aparecerão nas tabelas desde que
somados e, os resultados sejam maiores que 5 unidades.
Na Tabela 1, encontra-se a síntese estatística do comportamento dos dados do BDSPT,
para Unidade Homogênea denominada de Áreas de Colinas A análise dos dados, pode for-
necer subsídio para determinação de parâmetros urbanísticos para essa unidade. A altura
correspondente entre a superfície e o lençol freático, pela Carta Geotécnica denominada de
Zona de Aeração, representada aqui pela média amostral dos valores do NA = -3,46m, per-
mite que os efluentes domésticos possam ser eliminados através de fossa e sumidouro até
a implantação dos sistemas de coletores pluviais e sanitários. Adotando-se um critério para
simples compreensão de uma graduação cromática, indo do verde = permitido, passando
pelo amarelo = atenção as restrições, até o vermelho = impedido, para determinação dos
parâmetros de uso e ocupação, os dados do impenetrável = -6,51 m, representando a média
amostral, e os valores encontrados para o NSPT médio para cada profundidade, esses dados
indicam um sinal verde, nas questões de cunho geotécnico para a área. O material incon-
solidado ou o tipo de solo, com predominância do silte argiloso e sua baixa permeabilidade
e consequente pouca capacidade de infiltração, indica que medidas preventivas devem ser
tomadas para drenar e evitar problemas nas áreas mais baixas. A variação sazonal (VSc)
para a área de Colina é superior à média da bacia, VSc = 1, 73 m.

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Tabela 1. O BDSPT X Unidade Homogênea: Colinas.
PROF NA IMP MAT. INCONSOLIDADO NSPT
(m) (m) (m) (Classe Modal) (golpes)
-3,46 (48/151)* - Silte Argiloso
0-1 -4,60 (c) -6,5 (3 9/ 15 1) - Pedregulhos 0
-2,87 (s) (3 7 / 15 1) - Aterro Mat. Diversos
(99/151) - Silte Argiloso
1-2 (15/151) - Aterro Mat. Diversos 23
(13/ 15 1) - Silte Arenoso
(103/149) - Silte Argiloso
2-3 (26/ 149) - Silte Arenoso 42
(11/149) - Areias
(97/148) - Silte Argiloso
3-4 (34/ 148) - Silte Arenoso 59
(9/ 148) - Areias
(93/140) - Silte Argiloso
4-5 82
(42/140) - Silte Arenoso
(90/128) - Silte Argiloso
5-6 101
(34/1 28) - Silte Arenoso
(76/97) - Silte Argiloso 138
6-7
(25/97) - Silte Arenoso
(45/67) - Silte Argiloso
7-8 127
(29/67) - Silte Arenoso
(19/35) - Silte Argiloso
8-9 181
(101/35) - Silte Arenoso
(7/13) - Silte Argiloso
9-10 241
(6/1 3) - Silte Arenoso
Universo amostral = 15 l SPT; * (NB) = frequência modal/ universo amostral
Fonte: o Autor.

A Tabela 2, contém as informações estatísticas do comportamento dos dados do


BDSPT, para Unidade Homogênea denominada de Área Alagadiça (Embaciados) Áreas
que do ponto de vista geotécnico, determinam um sinal amarelo para o seu uso e ocupação.
Por mais que o NA médio = -3,86 m, a sua topografia determina que seja um vertedouro na-
tural, e o tipo de solo predominante silte argiloso, dificulta a infiltração das águas de chuvas
oriundas das regiões mais altas, propiciando os alagamentos e inundações nessas áreas e
das suas edificações. O NSPT nos três primeiros metros mostrou baixa capacidade de su-
porte do solo, indicando estar, a resistência do material variando de mole a média, gerando
necessidades de maiores investimentos para as fundações de suas edificações

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Tabela 2. O BDSPT X Unidade Homogênea: Áreas Alagadiças, (Embaciados).
PROF NA IMP NSPT
MAT. INCONSOLIDADO (Classe Modal)
(m) (m) (m) (golpes)
(22/46) - Aterro Mat. Diversos
0-1 -3,86 -7,21* 0
(9/46) - Silte Argiloso
(16/46) -Aterro Mal. Diversos
1-2 (11/46) - Silte Argiloso 8
(6/46) - Silte Arenoso
(16/46) - Silte Argiloso
2-3 (9/46) - Aterro Mat. Diversos 11
(6/46) - Silte Arenoso
(20/44) - Silte Argiloso
3-4 22
(7/44) - Silte Arenoso
(93/140) - Silte Argiloso
4-5 32
(42/140) - Silte Arenoso
(20/39) - Silte Argiloso
5-6 43
(6/39) - Silte Arenoso
(20/37) - Silte Argiloso
6-7 80
(5/37) - Areias
7-8 (24/27) - Silte Argiloso 121
8-9 (16/19) - Silte Argiloso 152
9-10 (10/13) - Silte Argiloso 184
• Universo amostral= 46 SPT:** (A/B) = frequene1a modal/universo amostral
Fonte: o Autor.

Na Tabela 3, pode-se ver o comportamento dos dados do BDSPT para a Unidade


Homogênea denominada de Planície de inundação. Área que do ponto de vista geotécnico
determina um sinal laranja para sua ocupação. O NA médio = - 1,44m, demonstra que nessa
área deverá ter priorizada a implantação de sistemas coletores sanitários e de águas pluviais
eficazes, como infraestrutura mínima, pois fossas sépticas, sumidouros e caixas de areias,
não funcionariam para eliminação desses efluentes.
A média encontrada para o Impenetrável = -9,35 m, o Tipo de Solo e sua baixa ca-
pacidade de suporte representada pelo NSPT, indicam que as fundações necessitam ser
profundas e de preocupações com gastos adicionais, que serão representativos nos custos
finais das suas obras. Além do problema que geram por sua topografia plana e cotas alti-
métricas abaixo das cotas 148 m e 150 m, segundo IBGE apud Carta Geotécnica (1990)
atingidas pelas cheias do rio Cuiabá, solicitando a necessidade de aterros ou construções
sobre pilotis. Vide o caso da Universidade de Cuiabá – UNIC e os constantes alagamentos
e inundações recorrentes como vistas

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Tabela 3. O BDSPT X Unidade Homogênea: Planície de Inundação.
PROF NA IMP MAT. INCONSOLIDADO NSPT
(m) (m) (m) (Classe Modal) (golpes)
(16/31) - Aterro Mat. Diversos
-1,44 -9,35 (9/31) - Argilas
0-1 6/3 1) - Areia Siltosa 0

(14/31) - Aterro Mat. Diversos


(10/3 l) - Argilas
1-2 (6/46) - Areia Siltosa 14
(11/3 1) - Argilas
(10/3 1) - Areias
2-3 (10/3 1) - Aterro Mat. Diversos 10
(14/31) - Argilas

3-4 (10/3 1) - Areias


8
(5/3 1) - Aterro Mat. Diversos
(19/31) - Argila
4-5 10
(9/3 1) - Areias
18/3 l) - Argilas
5-6 14
(7 /3 l) - Areias
(15/29) - Argilas
6-7 26
( 10/29) - Siltes
(9/26) - Argilas
7-8 45
(9/26) - Silte Argiloso
(11/22) - Silte Argiloso
8-9 80
(9/22) - Silte Arenoso
9-10 (11/16) - Siltc Argiloso 126
10-11 (11 / 15) - Silte Argiloso 196
* Universo amostral = 31 SPT; ** (A/B) = frequência modal/ universo amostral
Fonte: o Autor.

Analisando a Bacia do Córrego do Barbado através do SIG relacionando O BDSPT e


a Carta Geológica.

Segundo MIGLIORINI (2000), a Formação do Grupo Cuiabá na área urbana, está divi-
dida em duas formações distintas: a Formação Miguel Sutil e a Formação Rio Coxipó. Neste
trabalho procuramos explorar essas duas formações, através do BDSPT, e saber se existem
diferenças quanto ao NA, impenetrável, tipos de materiais inconsolidados e a capacidade de
suporte dos solos estratificados ao longo da profundidade. A bacia do Córrego do Barbado
é privilegiada para o estudo dessas duas formações, por ter sua nascente localizada na
Formação Miguel Sutil e sua foz na Formação Rio Coxipó.
Na análise comparativa entre as duas formações, tendo como parâmetros os dados do
BDSPT, pode-se ver que as variações sazonais do lençol freático da formação Miguel Sutil
e da Formação Rio Coxipó apresentaram valores bem diferentes, que podemos justificar
como sendo causados pela maior declividade na Formação Miguel Sutil na área da bacia
do Córrego do Barbado e da maior permeabilidade da própria formação. As médias dos
impenetráveis, acusaram valores bem próximos O estudo dos solos estratificados mostrou

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que a predominância nas duas formações é do solo tipo silte argiloso, com mais de 50%
de ocorrência e aumentando essa porcentagem com a profundidade. A Formação Miguel
Sutil apresentou nas referências dos seus tipos de solos, coloração variando do vermelho
ao cinza, que se pode explicar pela presença de canga ferruginosa citadas nas sondagens
dessa região. A resistência do solo, representada pelo NSPT, pode-se classificar os solos
a partir da profundidade de (2-3) m variando de mediamente compacto a compacto, para
solos arenosos e de rija a dura, para solos silte argilosos e argilosos.
Na Figura 3, encontramos a Bacia do Córrego do Barbado cortando as duas formações
geológicas. Pode-se perceber que o Córrego do Barbado nasce na formação Miguel Sutil e
tem sua oz na Formação Rio Coxipó.

Figura 3. A Bacia do Córrego do Barbado e a Carta geológica de Cuiabá MT.

Fonte: o Autor.

As Tabela 4 e 5, fornecem as informações dos dados representativos para a Formação


Miguel Sutil através do estudo estatístico dos dados do BDSPT.

Tabela 4. Variação Sazonal do NA, na Formação Miguel Sutil.

NA ESTAÇÃO DA SECA NA ESTAÇAO CHUVOSA VARIAÇAO SAZONAL


NA médio= -3, 14m NA médio= -2,62m 0,52 m
Universo Amostral = 61 Universo Amostral= 46
NA max = -0,50 m NA max = -0,10 m
NA min = -6,55 m NA min = -7,86 m
DP=1,81 DP = 1,90
Fonte: o Autor.

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Comparando-se a variação sazonal encontrada para esta formação = 0,52m, com a
encontrada para a bacia= 1,15m (Tabela 4), pode-se supor duas razões possíveis para que
ocorra tal diferença; a primeira é a declividade mais acentuada apresentada nessa forma-
ção, e a segunda são as litofácies argilo-areno-conglomerática que formam um solo arenoso
muito propício às infiltrações das águas pluviométricas, e também pela presença constante
dos veios e quartzos nessa formação, citados por MIGLIORINI (2000).

Tabela 5. BDSPT - FORMAÇAO MIGUEL SUTIL.


PROF NA IMP MAT. INCONSOLIDADO NSPT
(m) (m) (m) (Classe Modal) (golpes)
-2,92 (34/142) - Aterro Mal. Diversos
-2,62 (c) -6,51 (25/142) - Silte Argiloso
0-1 -3,14(s) (2 1/ 142) - Areia c/ Pedregulho 0

(52/142) - Silte Argiloso


(19/142) - Silte Argiloso Vermelho
1-2 (18/142) - Aterro Mat. Diversos 22
(55/ 142) - Silte Argiloso
(19/ 142) - Silte Argiloso Vermelho
2-3 (17/142) - Silte Arenoso 33
(57/138) - Silte Argiloso
(19/ 138) - Silte Arenoso
3-4 18
(18/ 138) - Silte Argiloso Vermelho
(58/ 128) - Silte Argiloso
4-5 60
(19/l 28) - Argilas
(52/119) - Silte Argiloso
5-6 67
(19/119) - Silte Arenoso
(56/102) - Silte Argiloso
6-7 85
(15/102) - Argilas
(44/71) - Silte Argiloso
7-8 78
(16/71) - Silte Arenoso
(31/43) - Silte Argiloso
8-9 102
(10/43) - Silte Arenoso
Universo amostral = 142 SPT/ Max=-12,00 m/Min= -2,28 m/ D.P. = 2, 13
* (A/B) = frequência modal/ universo amostral
Fonte: o Autor.

As Tabela 6 e 7, fornecem as informações dos dados representativos para a Formação


Rio Coxipó, através do estudo estatístico dos dados do BDSPT.

Tabela 6. Variação Sazonal do NA, na Formação Rio Coxipó.

NA ESTAÇÃO DA SECA NA ESTAÇAO CHUVOSA VARIAÇAO SAZONAL


NA médio= -4,49 m NA médio= -2,7lm 1,78 m
Universo Amostral= 74 Universo Amostral = 23
NA max = -0,0Sm NA max = -0,0Sm
NA min = -9,09 m NA min = -6,08m
DP = 2,08 DP= 1,51
Fonte: o Autor.

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349
Analisando os dados dos SPTs representativos das duas formações, Miguel Sutil e
Rio Coxipó, na área da bacia do córrego do Barbado, encontra-se um valor médio de NSPT,
indicando uma boa capacidade de suporte e solos bastante estáveis, não apresentando
restrições para engenharia de fundações.

Tabela 7. SPT (Estatístico) - Formação Rio Coxipó.


PROF NA IMP MAT. INCONSOLIDADO NSPT
(m) (m) (m) (Classe Modal) (golpes)
-3,60 (44/99) - Aterro Mat. Diversos
-2,71 (c) -7,35 (20/99) - Silte Argiloso
0-1 -4,49(s) (20/99) - Pedregulho Siltoso 0

(46/99) - Silte Argiloso


(31/99) - Aterro Mat. Diversos
1-2 (6/99) - Silte Arenoso 15
(52/97) - Silte Argiloso
(16/97) - Silte Arenoso
2-3 (14/97) - Aterro Mat. Diversos 30
(54/97) - Silte Argiloso
(26/97) - Silte Arenoso 41
3-4
(6/97) - Aterro Mat. Diversos
(49/93) - Silte Argiloso
4-5 61
(30/93) - Silte Arenoso
(52/88) - Silte Argiloso
5-6 85
(25/88) - Silte Arenoso
(53/79) - Silte Argiloso
6-7 127
(24/79) - Silte Arenoso
(42/59) - Silte Argiloso
7-8 134
(15/59) - Silte Arenoso
Universo amostral= 99 SPT/ Max=-12.07 m/Mm= -1,09 mi D.P. = 2,19
• (A/B) = frequência modal/ universo amostral
Fonte: o Autor.

Nas questões urbanísticas, pode-se afirmar que as duas formações apresentam con-
dições favoráveis para a sua ocupação. Para as questões de infraestrutura, como redes
enterradas, deve-se como pré-requisito considerar a variação sazonal, determinando cuida-
dos especiais para obras realizadas no período da seca, com as possíveis imersões dessas
tubulações pela variação do lençol freático no período chuvoso, tanto nas áreas mais planas
e baixas e principalmente na Formação Rio Coxipó onde a variação sazonal é maior.

CONCLUSÃO

A implantação de um banco de dados das sondagens de simples reconhecimento


(SPT), georreferenciado num sistema de informação geográfica (SIG), gerou uma fonte
de informação simples, visual, interativa e continua. Mostrou-se capaz de disponibilizar
informações necessárias para subsidiar o planejamento e o replanejamento de áreas já

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350
consolidadas. Gerau informações preliminares que podem ser aproveitadas pelas companhias
concessionárias municipais, como as de saneamento e energia. Permite o conhecimento
da área de estudo, para poder priorizar os tipos de infraestrutura necessária, e o material
adequado a ser usado em sua execução, e desta forma poder prever gastos do orçamento
público. Os dados obtidos em relatórios de sondagens, proporcionam informações pontuais
e ou generalizada através da geoestatística, inúmeras representações cartográficas, que
propiciam ao planejamento urbano uma multifinalidade.
A recuperação de relatórios de sondagens em forma de um banco de dados evita a
superposição de trabalhos e possibilita a criação de um mapeamento das propriedades
geotécnicas de toda a cidade, de forma contínua. A importância de se conhecer o compor-
tamento do NA, e sua variação sazonal, mostrou-se prioritária para a área de estudo, para
determinação das potencialidades e limitações do seu uso e ocupação e priorização de
infraestruturas.
O NSPT foi um dos dados que apresentaram grandes variações, se analisado de for-
ma pontual. Acredita-se que isso ocorra devido às dobras apresentadas pelas rochas no
perímetro urbano da cidade, principalmente para a Formação Rio Coxipó. O NSPT atingiu
altos valores, quando da transformação proposta por BELINCANTA (2001), de números fra-
cionários para números inteiros. Acredita-se que isso tenha ocorrido devido a compacidade
do solo, e/ou pela necessidade de obedecer aos critérios de paralisação da NBR:6484/80.
Estudos devem ser realizados com a finalidade de adaptar os ensaios de SPT para
trabalhos em BD e permitir que venham minimizar a interveniência do fator do critério de
paralisação adotado pela NBR 6484/80 e o excesso de zelo das empresas executoras
para obedecer a tal critério e, que acabam extrapolando as médias amostrais nos estu-
dos estatísticos.
O BDSPT mostrou-se limitado. pela dificuldade de disponibilizar sondagens já exis-
tentes, em áreas, pouco habitadas, oriundas de invasões e áreas verdes, dificuldade que
pode ser facilmente solucionada com a contratação pelo órgão competente, de sondagens
investigatórias complementares, com a vantagem de um baixo custo, para a administração
municipal. Desta feita poder-se-ia obter informações complementares para estimar a distri-
buição espacial das características geotécnicas da Bacia do Córrego do Barbado através
de métodos geoestatísticos como o da krigagem.
As Sondagens investigatórias de Simples Reconhecimento (SPT), deveriam ser ado-
tadas como pré-requisito para aprovações de novos loteamentos e novos condomínios,
visto que são fontes de baixo custo de dados do meio físico, necessárias para determinação
das infraestruturas que deverão ser priorizadas e exigidas do loteador. Notou-se que 24 %
dos relatórios de sondagens emitidos pelas empresas não apresentaram conformidade e

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uniformidade com a norma estabelecida pela ABNT, sendo que 12% desses relatórios foram
excluídos por total impossibilidade de recuperação dos seus dados.

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353
Asfalto e Pavimentação
24
Análise comparativa de traços para
concreto betuminoso usinado à quente na
região de Campo Verde - MT

Fernanda Victória de Oliveira


Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

Sérgio Luiz Morais Magalhães


Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

Marcos de Oliveira Valin Jr


Instituto Federal de Maro Grosso (IFMT)

'10.37885/230312316
RESUMO

A relevância do estudo de agregados na pavimentação é fundamentada pelo avanço e


aprimoramento de técnicas executivas e pela incessante busca da redução de custos na
execução de pavimentos. Esse trabalho tem como perspectiva estudar o pó de pedra, ad-
vindo de duas pedreiras diferentes, partindo do princípio em que a origem da rocha que se
transformou nesse material tem uma importância significativa no desempenho do Concreto
Betuminoso Usinado à Quente, sendo o principal objetivo analisar a relação o custo-bene-
fício dos diferentes materiais. A rodovia escolhida foi a MT-140, trecho entre Campo Verde
e Nova Brasilândia, durante a execução da implantação de um pavimento de extensão de
9,97km. As pedreiras escolhidas foram Polimix – próxima da obra e a Brita Guia que apresen-
ta uma distância maior. No que se refere aos ensaios de caracterização desses agregados
as duas misturas utilizadas estavam dentro dos limites definidos pelo DNIT, Faixa C (o qual
é especificado em projeto), portanto a relevância principal se deu na composição do traço e
no custo final apresentado por estes. Por apresentar um material de maior teor pulverulento,
a mistura que utilizou o pó da Brita Guia exigiu uma quantidade menor de cimento asfáltico
de petróleo (CAP 30/45) para atingir o desempenho ideal, sendo um teor de apenas 5,05%
já o pó de pedra da pedreira Polimix que possui um teor menor, demandou a necessidade de
5,8% de material asfáltico, o que foi determinante para uma diferença de aproximadamente
5% no custo unitário entre as misturas e levando em conta também o custo dos transportes
dos materiais. Dessa forma, o estudo apresentado mostra com maiores detalhes os métodos
utilizados na busca desses resultados e reafirma a importância dos ensaios tecnológicos
utilizados antes da execução do pavimento.

Palavras-chave: CBUQ, Pó de Pedra, Composição de Custos.


INTRODUÇÃO

O Brasil é um país de 8.516.000 km² o que o coloca na 5ª posição de extensão territorial


do mundo. Esse tamanho elevado faz com que haja uma dificuldade de integração total do
território e um dos meios utilizados para diminuir essas distâncias são as rodovias. A primeira
rodovia pavimentada implantada no Brasil foi em 1928 pelo presidente Washington Luís e
interligava a cidade do Rio de Janeiro a Petrópolis.
O modal rodoviário tem uma participação expressiva na matriz de transporte brasileira,
concentrando cerca de 65% da movimentação de mercadorias e 95% da de passageiros,
segundo a pesquisa da Confederação Nacional de Transportes (CNT, 2021). Constata-se
então a necessidade de um desempenho apropriado e o conhecimento aprofundado de
dados que possam otimizar custos e elevar a qualidade destas.
Ainda na pesquisa da CNT foram apontadas que das rodovias pavimentadas cerca
de 61,8% apresentam algum tipo de problema reforçando a necessidade de cada vez mais
estudos na área.
Mato Grosso atualmente é o maior produtor de soja do Brasil e enfrenta dificuldades
no escoamento desses grãos devido à falta de pavimentação nas rodovias que fazem parte
de seu território, tendo em vista que apenas 24,85% das rodovias presentes no estado são
pavimentadas, segundo o levantamento do Sistema Rodoviário Estadual de Mato Grosso,
feito pela Secretaria de Infraestrutura e Logística (SINFRA, 2020).
Dentro do cenário apresentado é imprescindível destacar também a importância do
Concreto Betuminoso Usinado à Quente (CBUQ), que atualmente é o revestimento asfál-
tico mais utilizado no país, e possui dentro de sua composição, de forma geral, agregados
graúdos, agregados miúdos e cimento asfáltico de petróleo (CAP).
Os agregados são fragmentos de rochas popularmente conhecidos como “areias” e
“pedras” e por não possuírem formas e volumes definidos são removidos do meio ambiente
de forma bruta e depois adequados à necessidade do projeto.
O traço do CBUQ determina a quantidade de cada tipo de agregado que será utiliza-
do em sua composição e para isso é importante conhecer as especificações de cada tipo
de agregado, a fim de aumentar a qualidade do CBUQ e dessa forma também aumentar a
qualidade do pavimento executado.
É necessário ressaltar que em um mundo cada vez mais globalizado e capitalizado, o
conhecimento é, de fato, poder. Sendo os materiais asfálticos a parte mais cara do traço do
CBUQ, conhecer sua composição e entender como se comportam cada tipo de agregado,
pode trazer uma redução significativa no seu custo final.
Sabe-se também que em um projeto de pavimentação um dos itens analisados du-
rante o levantamento de dados, é a localização de pedreiras próximas que possam ser

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utilizadas como fonte de agregados, é importante que essas pedreiras estejam localizadas
próximas à região de aplicação como meio de facilitar a logística da execução, no entanto
essa pesquisa traz como alternativa a utilização do agregado pó de pedra de uma pedreira
considerada distante da aplicação, na busca de um maior preenchimento de vazios e assim
a redução da quantidade de material asfáltico utilizada, diminuindo assim o custo final da
composição do CBUQ.
Analisando a importância do desenvolvimento da pavimentação no Brasil, e entendo a
necessidade um pavimento de qualidade no estado de Mato Grosso, buscou-se trazer nessa
pesquisa um comparativo de traços focado no agregado miúdo pó de pedra e através de
ensaios técnicos determinados por normas, analisa-se a economia atingida com a diferença
na utilização de pó de pedra nos traços de CBUQ projetados para utilização na MT-140, em
Nova Brasilândia, na região de Campo Verde no estado de Mato Grosso.

MATERIAL E MÉTODOS

Essa pesquisa trata-se de um estudo experimental, onde serão comparados dois traços
de Concreto Betuminoso Usinado à Quente. O principal e único elemento de diferenciação
desses traços será o agregado pó de pedra, com intuito de demonstrar a diferença econô-
mica que pode ser alcançada utilizando um material de diferente origem, mas com maior
aptidão no preenchimento de vazios.

Área de estudo

O objeto de estudo dessa pesquisa é a rodovia MT 140, no trecho entre os municípios


de Campo Verde e Nova Brasilândia, onde está sendo executada, a obra de Implantação
e Pavimentação (Figura 1). São duas pedreiras que fornecem agregados para a obra em
questão para composição do traço do CBUQ, sendo a primeira localizada na Serra de São
Vicente, município de Santo Antônio de Leverger - MT, e a segunda no distrito de Nossa
Senhora da Guia, Cuiabá-MT.

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Figura 1. Mapa de localização obras e pedreiras.

Fonte: Os autores.

Materiais utilizados

Para o estudo de traço do Concreto Betuminoso Usinado à Quente especificado nessa


pesquisa, utilizou-se os seguintes materiais:

• Agregados pétreos de origem granítica da Pedreira Polimix:

◦ Brita 19,05mm – diâmetro máximo;


◦ Pedrisco 9,525mm – diâmetro máximo;
◦ Pó de pedra – 4,8mm diâmetro máximo.

• Agregados pétreos de origem calcária da Pedreira Nossa Senhora da Guia:

◦ Pó de pedra – 4,8mm diâmetro máximo.

• Ligante asfáltico classificado pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) como Ci-
mento Asfáltico de Petróleo – CAP 30/45

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Ensaios realizados

Os ensaios e análises foram divididos em 4 etapas (Caracterização dos Agregados,


Dosagem, Ensaios mecânicos e Comparativos de Custos) conforme detalhamento realizado
por Oliveira (2022).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização dos agregados

Após a realização de todos os ensaios granulométricos foram constatados que todas


as amostras colhidas de maneira individual preencheram os requisitos necessários para
estar na mistura de Concreto Betuminoso Usinado à Quente.
O teor de material pulverulento apresenta a informação da quantidade de agregado
da amostra coletada de dimensão inferior a 0,075mm e a Tabela 1 apresenta os resultados
obtidos para os dois diferentes tipos de pó de pedra estudados, que são os materiais mais
relevantes para essa pesquisa.

Tabela 1. Teor de material pulverulento.

Pó da Pedreira Guia Pó da Pedreira Polimix


% de Material Pulverulento
14,60% 6,60%

Através dos resultados apresentados pode ser afirmado que o pó de pedra da pedreira
Brita Guia, da amostra coletada, possui teor maior que o da pedreira Polimix, sendo uma
diferença de 8%, onde para a pedreira da Guia o teor alcançado foi de 14,6% e da pedreira
Polimix 6,60%. Esse teor reflete diretamente no consumo do material asfáltico, cimento as-
fáltico de petróleo, tendo em vista que a área de contato do grão aumenta conforme menor
seu tamanho. Esse teor evidencia a diferença obtida através das diferentes origens das ro-
chas, pois sendo as rochas da Polimix de origem granítica, é esperado que haja baixo teor
de material pulverulento em sua granulometria, não excluindo a existência deste.

Dosagem

A dosagem dos traços de CBUQ dessa pesquisa foi feita a partir do ensaio Marshall
(Figura 2). É importante salientar que a delimitação determinada é a Faixa C – DNIT. O en-
saio em questão foi realizado com 4 teores de CAP 30/45, sendo estes: 4,5; 5,0; 5,5 e 6,0,
de modo que a análise desses resultados apresentou um teor “ótimo” onde as necessidades
do traço são atendidas e o traço permanece rentável e lucrativo.

360
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Figura 2. Soque Marshall elétrico utilizado e Corpos de prova dos teores testados.

Fonte: Os autores.

Primeiramente serão apresentadas as tabelas de composições de cada traço reco-


mendado e em seguida a curva granulométrica de cada composição, a partir dos ensaios
anteriormente realizados nos agregados. Serão nomeados de Mistura 1 – aquela que utiliza
o Pó de Pedra apenas da Pedreira Polimix (Tabela 2 e Figura 3), e Mistura 2 – aquela que
leva em conta o Pó de Pedra da Pedreira Guia (Tabela 3 e Figura 4).

Tabela 2. Traço sugerido para Mistura 1.

TRAÇO SUGERIDO - MISTURA 1

Brita 3/4 Pedrisco Pó da Polimix Cal CH 3

15,0% 26,0% 56,0% 3,0%

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Figura 3. Curva granulométrica da Mistura 1.

Fonte: Os autores.

Tabela 3. Traço sugerido para Mistura 2.

TRAÇO SUGERIDO - MISTURA 2

Brita 3/4 Pedrisco Pó da Polimix Pó da Guia

19,0% 35,0% 23,0% 23,0%

Figura 4. Curva granulométrica da Mistura 2.

Fonte: Os autores.

Observa-se através dos gráficos que ambos os traços são atendidos pelos critérios
delimitados na Faixa C do DNIT, embora as curvas apresentem certa sobreposição na

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mistura 1, identificando assim que o traço está mais próximo aos limites máximos e míni-
mos quando em comparação à mistura 2. Um relevante adendo a ser feito neste tópico é
a inclusão da Cal CH 3 na composição da mistura 1, que se dá ao fato do pó de pedra da
pedreira Polimix não suprir 100% os vazios da mistura, portanto foi sugerida uma pequena
adição da cal ao traço.
Uma vez que realizadas as composições e checagem de limites destes traços, che-
gou-se ao teor ótimo de 5,8% de ligante para a mistura 1 e 5,05% para a mistura 2. Essa
diferença deixa clara a importância do preenchimento dos vazios, afirmando a ideia inicial
de que quanto menor os grãos maiores a superfície de contato e dessa forma melhor seu
papel de preenchimento é realizado.

Ensaios mecânicos

Os ensaios mecânicos foram importantes para estabelecer que ambas as misturas


poderiam ser aplicadas ao projeto em questão, preenchendo requisitos de resistência à
tração e módulo de resiliência. Nesse projeto as duas misturas preencheram os requisitos
necessários para se comprovar sua aceitabilidade.

Resistência à tração

A resistência à tração alcançada pelas duas misturas foi maior que 0,65MPa, que é o
limite mínimo exigido pela norma 031 (DNIT, 2006) para a Faixa C. A mistura 1 apresentou
uma média de 0,95MPa e a mistura 2 de 1,37MPa. O comportamento conforme os teores
de asfalto são representados na Figura 5.

Figura 5. Teor de asfalto e resistência à tração das misturas 1 e 2.

Fonte: Os autores.

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363
Módulo de resiliência

Os estudos sobre o comportamento resiliente dos materiais usados em pavimentação


foram iniciados na década de 1930 com Francis Hveem, que foi o primeiro a relacionar as
deformações recuperáveis (resiliência) com as fissuras surgidas nos revestimentos asfálti-
cos. Foi ele também quem adotou o termo “resiliência”, que é definido classicamente como
“energia armazenada num corpo deformado elasticamente, a qual é devolvida quando ces-
sam as tensões causadoras das deformações” (BERNUCCI, 2010).
Na tabela 4 estão apresentados os resultados do módulo de resiliência, e a razão
entre estes e a resistência à tração, essa razão tem sido utilizada como indicador da vida
de fadiga de misturas uma vez que incorpora informações de rigidez e resistência.

Tabela 4. Resultados do módulo de resiliência das misturas.

Misturas MR (MPa) RT (MPa) MR/RT


1 5080,6 0,95 5348,00
2 6342,1 1,37 4629,27

Comparativo de custos

Esse comparativo foi separado em 3 etapas, onde primeiramente foi levantada o preço
da usinagem no Concreto Betuminoso Usinado à Quente para 1 tonelada de cada traço,
em seguida o custo do transporte desses materiais e posteriormente o custo da aplicação
deste. Entendendo a importância de cada um desses parâmetros poderá então ser feita uma
comparação entre o traço da mistura 1 e mistura 2.
Os valores e as DMTs utilizadas foram levantadas com o preço real atual de cada pe-
dreira, o custo dos equipamentos de cada etapa e a quantidade utilizada em cada processo
foi retirada da SICRO, dessa forma têm-se uma composição de custo detalhada baseada
nas composições da SICRO de janeiro de 2022.
O traço alcançado na Mistura 1 é apresentado na Tabela 5 e as composições de custo
nas Tabelas 6 a 8, respectivamente: custo de usinagem, transporte e aplicação.

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364
Tabela 5. Traço utilizado na mistura 1.

Brita Pedrisco Pó de Pedra Cal CH3 CAP 30/45


% 9,40% 27,30% 56,50% 0,90% 5,80%

Tabela 6. Composição de custos da Usinagem da Mistura 1.

SISTEMA DE CUSTOS REFERENCIAIS DE OBRAS – SICRO (Mato Grosso)

Janeiro/2022 Produção da equipe 99,6 T

Usinagem de concreto asfáltico - faixa C - areia e brita comerciais

Utilização Custo Horário


EQUIPAMENTOS Qtde Custo Horário Total
Operativa Improd. Produtivo Improd.
Aquecedor de fluido térmico - 12 kW 1 1 0 75,17 43,67 R$ 75,17
Carregadeira de pneus com capacidade de 1,72
1 0,8 0,2 168,53 80,16 R$ 150,85
m³ - 113 kW
Grupo gerador - 456 kVA 1 1 0 388,30 21,07 R$ 388,30
Tanque de estocagem de asfalto com capaci-
2 1 0 57,24 39,10 R$ 114,49
dade de 30.000 l
Usina de asfalto a quente gravimétrica com
1 1 0 1058,36 560,13 R$ 1.058,36
capacidade de 100/140 t/h - 260 kW
R$ 1.787,17
MÃO DE OBRA Qtde Unidade Custo Horário Custo Horário Total
Servente 4 h 18,6946 74,7784
Custo horário total de mão de obra 74,7784
Custo horário total de execução R$ 1.861,95
Custo unitário de execução R$ 18,69
MATERIAL Qtde Unidade Preço Unitário Custo Unitário Total
Pó de pedra (Polimix) 0,38 m³ R$ 41,44 R$ 15,82
Cal Hidratada 9,00 kg R$ 0,38 R$ 3,38
Brita 1 0,06 m³ R$ 70,50 R$ 4,42
Cimento asfáltico de petróleo - CAP 30/45 0,06 T R$ 6.213,34 R$ 360,37
Óleo tipo A1 8,00 l R$ 5,33 R$ 42,66
Pedrisco 0,18 m³ R$ 76,96 R$ 14,20
R$ 440,85
Custo total da Usinagem R$ 459,55

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Tabela 7. Composição de custo dos transportes de materiais da Mistura 1.

Fator de Total a Referência DMT Preço do


Material Unid. Qtde (T) TKM
Utilização transportar Origem Destino (Km) transporte

Transporte Comercial c/ basc. 10m rod. pav.


3

CBUQ - capa rola-


Brita m³ 1,02 0,0940 0,10 Polimix Canteiro 139 13,33 R$ 8,93
mento AC/BC
CBUQ - capa rola-
Pedrisco m³ 1,02 0,2730 0,28 Polimix Canteiro 139 38,71 R$ 25,93
mento AC/BC
CBUQ - capa rola-
Pó de pedra m³ 1,02 0,5650 0,58 Polimix Canteiro 139 80,11 R$ 53,67
mento AC/BC
CBUQ - capa rola- Cal Hidra-
Kg 1,02 0,0100 0,01 Polimix Canteiro 139 1,42 R$ 0,95
mento AC/BC tada
Transporte Comercial c/ basc. 10m3 rod. Não pav.
CBUQ - capa rola-
Brita m³ 1,02 0,0940 0,10 Polimix Canteiro 10 0,96 R$ 0,81
mento AC/BC
CBUQ - capa rola-
Pedrisco m³ 1,02 0,2730 0,28 Polimix Canteiro 10 2,78 R$ 2,34
mento AC/BC
CBUQ - capa rola-
Pó de pedra m³ 1,02 0,5650 0,58 Polimix Canteiro 10 5,76 R$ 4,84
mento AC/BC
CBUQ - capa rola- Cal Hidra-
Kg 1,02 0,0100 0,01 Polimix Canteiro 10 0,10 R$ 0,09
mento AC/BC tada
Transporte de Material Asfáltico
CAP 30/45 T 1,02 0,058 0,06 Betunel Canteiro 209 195,14 R$ 11,54
Custo total do transporte R$ 109,10

Tabela 8. Composição de custos da Aplicação da Mistura 1.

SISTEMA DE CUSTOS REFERENCIAIS DE OBRAS – SICRO (Mato Grosso)

Custo Unitário de Referência Janeiro/2022 Produção da equipe 99,6 T

Concreto asfáltico - faixa C - areia e brita comerciais

Utilização Custo Horário Custo


EQUIPAMENTOS Qtde
Operativa Improdutiva Produtivo Improdutivo Horário Total
Rolo compactador de pneus auto-
1 0,7100 0,2900 206,46 95,71 R$ 174,34
propelido de 27 t - 85 kW
Rolo compactador liso autopropeli-
1 0,8200 0,1800 235,37 80,02 R$ 207,41
do vibratório de 11 t - 97 Kw
Vibroacabadora de asfalto sobre
1 1,0000 - 280,81 120,50 R$ 280,81
esteiras - 82 kW
Custo horário total de equipamentos R$ 662,57
Custo Horário
MÃO DE OBRA Qtde Unidade Custo Horário
Total
Servente 8 h 18,695 149,5568
Custo horário total de mão de obra 149,5568
Custo horário total de execução R$ 812,12
Custo unitário de execução R$ 8,15
ATIVIDADES AUXILIARES Qtde Unidade Preço Unitário Custo Unitário
Usinagem de concreto asfáltico - fai-
1,02 T R$ 459,55 R$ 468,74
xa C - areia e brita comerciais
Custo total de aplicação do CBUQ R$ 476,89

Analisando as tabelas pode ser afirmado que o custo para a aplicação de 1 tonelada
de CBUQ da mistura 1 seria de R$ 585,99 (quinhentos e oitenta e cinco reais e noventa
e nove centavos).

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Já o traço alcançado na Mistura 2 é apresentado na Tabela 9 e as composições de
custo nas Tabelas 10 a 12, respectivamente: custo de usinagem, transporte e aplicação.

Tabela 9. Traço utilizado para Mistura 2.

Brita Pedrisco Pó de Pedra Pó de Pedra CAP 30/45


% 18,00% 33,20% 21,80% 21,80% 5,05%

Tabela 10. Composição de custos da Usinagem da Mistura 2.

SISTEMA DE CUSTOS REFERENCIAIS DE OBRAS – SICRO (Mato Grosso)

Janeiro/2022 Produção da equipe 99,6 T

Usinagem de concreto asfáltico - faixa C - areia e brita comerciais

Utilização Custo Horário Custo


EQUIPAMENTOS Qtde Horário
Operativa Improdutiva Produtivo Improdutivo Total
Aquecedor de fluido térmico - 12 kW 1 1 0 75,17 43,67 R$ 75,17
Carregadeira de pneus com capacidade de
1 0,8 0,2 168,53 80,16 R$ 150,85
1,72 m³ - 113 kW
Grupo gerador - 456 kVA 1 1 0 388,30 21,07 R$ 388,30
Tanque de estocagem de asfalto com capa-
2 1 0 57,24 39,10 R$ 114,49
cidade de 30.000 l
Usina de asfalto a quente gravimétrica com
1 1 0 1058,36 560,13 R$ 1.058,36
capacidade de 100/140 t/h - 260 kW
R$ 1.787,17
Custo
MÃO DE OBRA Qtde Unidade Custo Horário Horário
Total
Servente 4 h 18,6946 74,7784
Custo horário total de mão de obra 74,7784
Custo horário total de execução R$ 1.861,95
Custo unitário de execução R$ 18,69
Preço Uni- Custo Uni-
MATERIAL Qtde Unidade
tário tário Total
Pó de pedra (polimix) 0,148 m³ R$ 41,44 R$ 6,12
Pó de pedra (guia) 0,148 m³ R$ 42,92 R$ 6,34
Brita 1 0,12 m³ R$ 70,50 R$ 8,46
Cimento asfáltico de petróleo - CAP 30/45 0,0505 T R$ 6.213,34 R$ 313,77
Óleo tipo A1 8 l R$ 5,33 R$ 42,66
Pedrisco 0,225 m³ R$ 76,96 R$ 17,29
R$ 394,64
Custo total da Usinagem R$ 413,34

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Tabela 11. Composição de custo dos transportes de materiais da Mistura 2.

Qtde Fator de Total a Referência DMT Preço do


TRANSPORTES Material Unid. TKM
(T) Utilização transportar Origem Destino (Km) transporte

Transporte Comercial c/ basc. 10m rod. pav. 3

CBUQ - capa rolamento


Brita T 1,02 0,1804 0,18 Polimix Canteiro 139 25,58 R$ 17,14
AC/BC
CBUQ - capa rolamento
Pedrisco T 1,02 0,3323 0,34 Polimix Canteiro 139 47,11 R$ 31,57
AC/BC
CBUQ - capa rolamento
Pó de pedra T 1,02 0,2184 0,22 Polimix Canteiro 139 30,96 R$ 20,75
AC/BC
CBUQ - capa rolamento
Pó de pedra T 1,02 0,2184 0,22 BritaGuia Canteiro 249 55,47 R$ 37,16
AC/BC
Transporte Comercial c/ basc. 10m3 rod. Não pav.
CBUQ - capa rolamento
Brita T 1,02 0,1804 0,18 Polimix Canteiro 10 1,84 R$ 1,55
AC/BC
CBUQ - capa rolamento
Pedrisco T 1,02 0,3323 0,34 Polimix Canteiro 10 3,39 R$ 2,85
AC/BC
CBUQ - capa rolamento
Pó de pedra T 1,02 0,2184 0,22 Polimix Canteiro 10 2,23 R$ 1,87
AC/BC
CBUQ - capa rolamento
Pó de pedra T 1,02 0,2184 0,22 BritaGuia Canteiro 10 2,23 R$ 1,87
AC/BC
Transporte de Material Asfáltico
CAP 30/45 T 1,02 0,0505 0,05 Betunel Canteiro 209 R$ 195,14 R$ 10,05

Custo total do transporte R$ 124,80

Tabela 12. Composição de custos da Aplicação da Mistura 2.

SISTEMA DE CUSTOS REFERENCIAIS DE OBRAS – SICRO (Mato Grosso)


Custo Unitário de Referência Janeiro/2022 Produção da equipe 99,6 T
Concreto asfáltico - faixa C - areia e brita comerciais
Utilização Custo Horário Custo
EQUIPAMENTOS Qtde
Operativa Improdutiva Produtivo Improdutivo Horário Total
Rolo compactador de pneus auto-
1 0,7100 0,2900 206,46 95,71 R$ 174,34
propelido de 27 t - 85 kW
Rolo compactador liso autopropeli-
1 0,8200 0,1800 235,37 80,02 R$ 207,41
do vibratório de 11 t - 97 Kw
Vibroacabadora de asfalto sobre
1 1,0000 - 280,81 120,50 R$ 280,81
esteiras - 82 kW
Custo horário total de equipamentos R$ 662,57
MÃO DE OBRA Qtde Unidade Custo Horário Custo Horário Total
Servente 8 h 18,695 149,5568
Custo horário total de mão de obra 149,5568
Custo horário total de execução R$ 812,12
Custo unitário de execução R$ 8,15
Preço
ATIVIDADES AUXILIARES Quantidade Unidade Custo Unitário
Unitário
Usinagem de concreto asfáltico - fai-
1,02 T R$ 413,34 R$ 421,60
xa C - areia e brita comerciais
Custo total de aplicação do CBUQ R$ 429,76

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Analisando as tabelas apresentadas pode ser afirmado que o custo para a aplicação
de 1 tonelada de CBUQ da mistura 2 seria de R$ 554,56 (quinhentos e cinquenta e quatro
reais e cinquenta e seis centavos).
É imprescindível salientar que para ambas as composições na aplicação do CBUQ consi-
derou-se 1,02 T devido à eventuais perdas, que podem acontecer na prática. Apresentar-se-á
na Tabela 13 a seguir um resumo comparativo dos custos unitários obtidos para cada mistura.

Tabela 13. Comparação de custos unitários das misturas 1 e 2.

Mistura 1 Mistura 2
Usinagem R$ 459,55 R$ 413,34
Aplicação R$ 476,89 R$ 429,76
Transportes R$ 109,10 R$ 124,80
Total R$ 585,99 R$ 554,56
Nota-se que embora o custo de transportes da mistura 1 é menor que da
mistura 2, o custo total da mistura 2 ainda fica consideravelmente menor, e
isso se dá pelo menor teor de CAP utilizado, tendo em vista que esse é o
material mais caro de todo o processo.

Uma vez que calculados os valores unitários das misturas propostas, faz-se relevante
a apresentação desses valores em termos de projeto. O projeto da MT 140 prevê em sua
execução a implantação de 9,97Km de pavimento, sendo nestes solicitados 9.283,7 tone-
ladas de Concreto Betuminoso Usinado à Quente dessa forma apresenta-se na Tabela 14
os resultados das misturas obtidas para a quantidade solicitada em projeto.

Tabela 14. Comparação de custos entre as misturas 1 e 2 com quantidades de projeto.

Mistura 1 Mistura 2
Usinagem R$ 4.266.305,20 R$ 3.837.289,44
Aplicação R$ 4.427.329,05 R$ 3.989.732,97
Transportes R$ 1.012.839,45 R$ 1.158.609,94
Total R$ 5.440.168,50 R$ 5.148.342,91
Economia R$291.825,59 (5,67%)

Sendo assim, conclui-se que com a aplicação do estudo dessa pesquisa obtém-se uma
economia de R$ 291.825,59 (duzentos e noventa e um mil oitocentos e vinte e cinco reais e
cinquenta e nove centavos). Ainda no panorama geral da obra, têm-se abaixo a relevância
do estudo no custo total da implantação.

Tabela 15. Resultados de custo em panorama geral de obra.

PROJETO MT-140
Custo da Obra R$ 9.346.040,11
Desconto R$291.825,59
Valor atualizado R$ 9.054.214,52
Economia total 3,12%

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dentro do aspecto proposto na pesquisa todos os resultados alcançados e apresen-


tados foram satisfatórios para o estudo do Concreto Betuminoso Usinado à Quente a maior
relevância, no entanto, se mostra nos valores de custo da composição desse material.
Para o projeto em análise da rodovia MT 140 ambas as misturas se enquadram por
conseguirem atingir todos os aspectos exigidos pelo DNIT para a FAIXA C, desse modo
todos os ensaios mecânicos atingiram resultados positivos, se tratando da resistência à
tração a mistura 1 apresentou uma maior constância nos valores obtidos, porém com uma
média final menor que a mistura 2, essa a qual apresentou uma maior variação e instabili-
dade nos resultados. No módulo de resiliência têm-se como parâmetro a variável MR/MT
onde a mistura 2 apresentou um valor menor em relação a mistura 1, indicando uma menor
propensão a trincamentos.
No que se refere aos ensaios de caracterização é importante evidenciar a diferença
considerável em duas situações, sendo a primeira o teor de material pulverulento, onde o pó
de pedra que foi unicamente utilizado na mistura 1 apresenta a porcentagem de 6,60% e o
pó de pedra utilizado na mistura 2 apresenta o teor de 14,60% deixando explícito a razão de
maior quantidade de material asfáltico na mistura 1. A segunda situação a ser evidenciada
são as relações betume/vazio de cada mistura, onde a mistura 1 apresentou uma maior
quantidade de RBV sendo 79,72% e em comparação à mistura 2 que apresentou 76%.
Por fim, têm-se a comparação do custo de cada mistura, é importante acentuar que a
utilização do CBUQ demanda custos que vão além do preço dos materiais e dessa forma,
na busca de apresentar valores justos e condizentes com a prática, essa pesquisa apresenta
separadamente o custo da usinagem, aplicação e transportes. Dados os resultados apre-
sentados, a mistura 2 se mostrou mais econômica com uma diferença de aproximadamente
5%. Ainda que uma diferença percentual baixa, quando se utiliza os parâmetros gerais do
projeto o valor é de extrema relevância, sendo a economia total no projeto de R$ 291.825,59.
Conclui-se então respondendo à pergunta proposta no início da pesquisa que sim, a
utilização de materiais de diferentes origens na composição no traço do CBUQ pode trazer
benefício no desempenho do pavimento e no custo final da execução.

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370
REFERÊNCIAS
1. BERNUCCI, Liedi Bariani; DA MOTTA, Laura Maria Goretti; CERATTI, Jorge Augusto
Pereira e SOARES, Jorge Barbosa, 2010. Pavimentação asfáltica: formação básica
para engenheiros. Rio de Janeiro.

2. CNT. Confederação Nacional do Transporte, 2021. Pesquisa CNT de rodovias 2021.


Brasília.

3. DNIT. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. 2006. Norma 031 -


Gestão da qualidade em obras rodoviárias - Procedimento. Rio de Janeiro.

4. OLIVEIRA, F. O., 2022. Análise comparativa de traços para concreto betuminoso usina-
do à quente na região de Campo Verde. Trabalho de Conclusão de Curso (Engenharia
Civil). Cuiabá, UFMT.

5. SINFRA – Secretaria de Infraestrutura e Logística de Mato Grosso, 2020. Sistema


rodoviário estadual. Cuiabá, Mato Grosso. Disponível em http://www.transparencia.
mt.gov.br/relatorios-estatisticos Acesso em 03 de março de 2022.

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25
Análise probabilística de parâmetros
construtivos em um pavimento flexível no
município de Campo Verde – MT, com o
Método FOSM

Luís Anselmo da Silva


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Patrícia Mota Rausch


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Raquel dos Santos Santiago


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

'10.37885/230412750
RESUMO

Segundo o DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, a malha rodo-


viária brasileira, com pouco mais de 213 mil quilômetros de rodovias pavimentadas predo-
minantemente de pavimentos flexíveis, é precária e necessita de reforma iminente e, para
reestruturar, é necessário ter conhecimento dos parâmetros construtivos de sua estrutura.
Para realizar um projeto de reestruturação, é necessário saber se a estrutura dele suporta
apenas uma pequena restauração no revestimento ou se é necessário uma reforma mais
profunda. Esta pesquisa utilizou métodos de investigação direta - extração de núcleos de
revestimento, para estimar sua espessura média; utilizou, métodos indiretos, como o Radar
de Penetração no Solo, GPR. Para medidas de deflexões verticais em campo, adquiriu da-
dos com Viga Benkelman. Com esses dados e com a inferência de módulos de elasticidade
das camadas foi possível realizar a retroanálise e a análise de danos de um pavimento em
Campo Verde – MT, uma pista experimental no Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de Mato Grosso – IFMT. Este trabalho teve como objetivo a realização da análi-
se probabilística, utilizando o Método FOSM – FirstOrder, SecondMoment, com o propósito
de conhecer as influências dos principais parâmetros de construção desse pavimento fle-
xível. O estudo mostrou que os Módulos de Elasticidade das camadas de base e subleito
influíram significativamente na fadiga precoce da camada de subleito.

Palavras-chave: Análise Probabilística, Método FOSM; Retroanálise, GPR, Pavimento.


INTRODUÇÃO

A Confederação Nacional de Transporte (CNT) comprova que o modal rodoviário bra-


sileiro é o maior e o mais importante modalidade de transporte, responsável pela movimen-
tação de 60% de cargas e de 90% de passageiros no país.
A nossa malha rodoviária possui 1.720.607km de rodovias, com 213.299km pavimen-
tadas (12,4%), de revestimento asfáltico, em sua maioria (66.712km, federais; 119.691km
estaduais; 26.826km municipais - CNT, 2015). As condições do transporte são ineficientes
por falta de manutenção e, nem sempre, a construção está de acordo com o projeto. A ma-
nutenção é necessária para garantir a vida útil da rodovia. Sem esta, a sua recuperação
pode requerer reestruturação ou reconstrução, o que é mais oneroso.
De acordo com a CNT, mais da metade das rodovias sob gestão pública apresentam
algum tipo de deficiência no revestimento (12,64% considerado ótimo; 30,46%, bom; e
57,65%, regular, ruim ou péssimo).
Pavimento rodoviário é definido como uma superestrutura constituída por um sistema
de camadas de espessuras finitas, assentada sobre um semi-espaço considerado teorica-
mente como infinito, o subleito (DNIT, 2006). Os pavimentos rodoviários são construídos
basicamente com dois tipos de revestimento: rígidos (Concreto de Cimento Portland - CCP)
e flexíveis (Pavimentos Asfálticos). O pavimento flexível é caracterizado por ser revestido
com materiais betuminosos, ou asfálticos, sujeito à deformação elástica; a carga se distribui
e deve ser absorvida pelas camadas de revestimento e base em detrimento da camada de
subleito. Já o pavimento rígido é caracterizado por ter a camada de revestimento formada
por placas de CCP, sendo constituído de apenas duas camadas, revestimento e base, que
absorvem praticamente todas as tensões do carregamento aplicado (Figura 1):

Figura 1. Distribuição de cargas em um pavimento flexível e em um pavimento rígido.

A execução de um pavimento nem sempre obedece às prescrições estabelecidas nos


projetos, o que dificulta, posteriormente, a recuperação dos dados reais com a finalidade de
verificar a vida útil do pavimento em um determinado momento.

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Para este trabalho optou-se por estudar o comportamento de um pavimento flexível
de três camadas.
O objetivo geral do trabalho é realizar uma análise probabilística com o propósito de
conhecer a influência dos principais parâmetros construtivos de um pavimento flexível, com
o Método FOSM – FirstOrder, SecondMoment.

DESENVOLVIMENTO

Área de Estudo

A área de estudo desta pesquisa está localizada em Campo Verde – MT (Figura 2), e
consiste de uma pista de pavimento flexível, construída por Amorim (2013), que serve de
acesso para o estacionamento de veículos do Instituto Federal de Educação, Ciências e
Tecnologias de Mato Grosso (IFMT) – Campus São Vicente.
A pista construída no Campus (Figura 3) tem 70m de extensão e 5m de largura.

Figura 2. Mapas com a localização do Brasil, do Estado de Mato Grosso e do Município de Campo Verde, respectivamente.

A estrutura dessa pista foi construída com uma camada de revestimento do tipo capa
selante, executado em Pré Misturado a Frio – PMF, com 5cm de espessura, acomodada
sobre uma camada de base de 20cm, compactada na energia Proctor Intermediário.

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Figura 3. Vista – aérea e frontal – da pista em Campo Verde. Localização: lat. 15º 33’34.4”S / long. 55º 10’43.8”W.

Fonte: Google Earth, 2015.

O primeiro trecho A, construído a partir do portão de acesso à área do Campus, tem


30m de extensão. A sua camada de base é constituída de solo laterítico. O trecho B, inter-
mediário, possui 10m de extensão, cuja camada de base recebeu uma mistura de solo +
Resíduo de Construção Civil (RCC) para os primeiros 10cm mais próximos do subleito e, nos
outros 10cm mais próximos do revestimento, apenas solo laterítico. O trecho final C, com
30m de extensão, teve como material de base uma mistura de solo + RCC na proporção de
75% - 25% respectivamente, em massa. Na composição dos materiais constituintes do RCC
foram utilizados 50% de restos de concreto, 35% de restos de alvenaria e 15% de restos
de pisos, em massa. A Figura 4 ilustra a divisão da pista em três trechos, onde a camada
de base é composta por diversos tipos de materiais. Este trabalho concentrou a sua análise
apenas no trecho A da pista.

Figura 4. Projeto do pavimento da pista em Campo Verde – corte e planta, mostrando a linha sobre a qual foram adquiridos
os dados de GPR, na trilha de rodas, margens da pista.

Caracterização da Área de Estudo

Foi feita uma caracterização dos materiais que constituem as camadas de revestimento,
base e subleito do Trecho A, por Amorim (2013).

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O subleito caracteriza-se por ser um solo laterítico com as seguintes propriedades:
peso específico dos grãos, γS=26,7Kn/m³; limite de liquidez, WL=23%; limite de plasticidade,
WP=16% e índice de liquidez, IP=7.
A camada de base, também se caracteriza por ser um solo laterítico com valores de
peso específico dos grãos, γS=28,6Kn/m³; limite de liquidez, WL=3%; limite de plasticidade,
WP=16% e índice de liquidez, IP=7, e EA, o equivalente de areia, de 36%.
Amorim (2013) afirma que, no que diz respeito à composição granulométrica, a norma
DNIT 141/2010b – ES menciona seis faixas de enquadramento para os solos destinados à
estabilização de camadas de base de pavimentos. Essas faixas tem uma variação de “A” a
“F”, onde as faixas “A, B, C e D” são indicadas para um tráfego atuante com o número N de
tráfego calculado maior que 5x106. O solo em análise enquadra-se na faixa de trabalho “D”,
o que permite o seu emprego para o número de repetições de eixo padrão menor que 5x106.
Amorim ainda destaca o motivo de se fazer o ensaio de equivalente de areia tendo
como referência um valor mínimo de 30%, por conta de que os valores obtidos para o limite
de liquidez (WL) e para o índice de plasticidade (IP) não atenderam as recomendações
impostas pela norma DNIT ES 141, 2010b (Pavimentação – Base estabilizada granulome-
tricamente). Portanto, com base no resultado obtido EA=36%, pode-se induzir que o solo
em análise está apto para o uso em bases estabilizadas granulometricamente.

Pavimento Flexível

Pavimento flexível é aquele em que todas as camadas sofrem deformação elástica


significativa sob o carregamento aplicado e, portanto, a carga se distribui em parcelas apro-
ximadamente equivalentes entre as camadas (DNIT, 2006, p.95).

Revestimento Flexível

Os revestimentos flexíveis são divididos em “betuminosos” e “por calçamento”, como


o esquema representado na Figura 5.
Os Revestimentos Flexíveis Betuminosos são formados pela união de agregados e
materiais betuminosos, podendo ser construídos, tanto por penetração, quanto por mistura.
Os Revestimentos Flexíveis por Calçamento possuem uma execução limitada a esta-
cionamentos, vias urbanas e alguns acessos viários.

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Figura 5. Classificação dos Revestimentos Flexíveis.

Fonte: Manual de Pavimentação, DNIT 2006.

Retroanálise e Análise de Danos

A retroanálise de um pavimento é um estudo que consiste na inferência de Módulos de


Elasticidade (ME) das camadas do pavimento e inserção de dados construtivos do pavimen-
to em um programa de computador, que fornecerá valores de deslocamentos verticais na
superfície do pavimento, capaz de permitir a elaboração de uma bacia deflectométrica que
será denominada Bacia Calculada. “A retroanálise é uma opção não destrutiva que permite
inserir os módulos das camadas estruturais do pavimento por interpretação de bacias de
deformação ou bacias de deslocamentos verticais recuperáveis.” SILVA (2014, p.78).
O ensaio com Viga Benkelman fornece os valores medidos em campo dos Módulos de
Elasticidade das camadas do pavimento possibilitando a elaboração de uma bacia deflec-
tométrica denominada Bacia Medida. A Bacia Calculada, quando ajustada à Bacia Medida,
fornece os Módulos de Elasticidade das camadas do pavimento em estudo – disso consiste a
retroanálise e, com isso, é possível realizar a análise de danos do referido pavimento. O fluxo
de processamento da retroanálise é relativamente simples e interativo (Figura 6).

Figura 6. Fluxograma da Retroanálise.

Fonte: FARIAS, 2013.

A retroanálise requer um processo interativo durante o qual se busca minimizar as


diferenças entre a Bacia Calculada e a Bacia Medida. Esta diferença pode ser mensurada
pelo erro quadrático médio (SILVA, 2014), dado pela equação (1):

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! -
1 %&'"'( )*+),+'(
𝑒𝑒 = & . 𝛿𝛿" − 𝛿𝛿" (1)
𝑛𝑛 "#$

Onde e = erro quadrático médio; δi= deslocamento em um ponto “i” na superfí-


cie do pavimento.
A Viga Benkelman é um dos equipamentos mais utilizados para medir os desloca-
mentos verticais na superfície de um pavimento, produzidos por uma carga-padrão repre-
sentada por um caminhão toco. A norma DNER-ME 024/94 (Determinação das flexões por
Viga Benkelman) descreve o procedimento necessário para a realização do ensaio de Viga
Benkelman (Figura 7).

Figura 7. Realização do ensaio com Viga Benkelman.

Os dados de espessura das camadas do pavimento foram obtidos (Figura 8) pela


aplicação de um método geofísico: o GPR. Ele permite, após a sua calibração por métodos
diretos, estimar os valores das espessuras das camadas do pavimento.
O equipamento GPR consiste de duas antenas: transmissora e receptora. A antena
transmissora emite um sinal eletromagnético no solo, que se propaga em subsuperfície e,
quando encontra um material com propriedades físicas que contrastam com as proprieda-
des físicas do meio interior – pode ser, por exemplo, uma segunda camada do pavimento
– parte da onda é refletida e captada pela antena receptora; parte da onda é refratada; e a
outra parte continua propagando. A parte do sinal refletida é enviada para uma unidade de
controle, que amplifica e armazena. Um conjunto desses sinais forma uma imagem de alta
resolução que é apresentada no display da unidade de controle, denominada perfil GPR.

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Figura 8. Aquisição de dados de GPR durante a construção da pista em 2011, por Amorim (2013).

O KENPAVE (Huang, 2004) é um programa computacional que foi utilizado como supor-
te à retroanálise e que permitiu inferir os ME e dados da estrutura do pavimento, tais como:
as características dos materiais constituintes das camadas, suas espessuras, o número de
camadas e Coeficientes de Poisson, dentre outros (Figura 9).

Figura 9. Tela principal do KENPAVE (HUANG, 2004).

Os dados esperados (tensões, deformações e deflexões) expressam a situação do


pavimento flexível em estudo. Após o seu processamento e com os dados obtidos, realizou-
-se a análise de danos do pavimento. Sua tela principal possibilita soluções em pavimento
rígido, “KENSLABS”, e pavimento flexível, “KENLAYER”. O programa dispõe de uma janela
para a introdução dos dados do pavimento em estudo (Figura 10).

Figura 10. Janela inicial do KENLAYER.

Fonte: Silva, 2014.

A opção File permite que um novo arquivo seja aberto. A janela General disponibiliza
várias opções de dados, que devem ser selecionadas e que estabelecem parâmetros para

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análise do pavimento. A janela Zcoord destina-se a registrar coordenadas verticais dos pontos
a analisar. Na janela Layer, o programa solicita as informações de espessura e Coeficientes
de Poisson das camadas da estrutura do pavimento. A janela Interface, informa quais as
camadas que deslizam entre si. Na janela Moduli são solicitados os valores dos Módulos de
Elasticidade/Resiliência (MR) das camadas do pavimento. Na janela Load, o KENLAYER
solicita as informações do tipo de carga considerada para o tráfego. Nas opções Nonlinear
e Viscoelastics têm-se a possibilidade de materiais não-lineares e viscoelásticos das cama-
das do pavimento. Por fim, a janela Damage denomina a análise de danos do pavimento.
Após a inserção dos dados, o programa calcula deslocamentos verticais necessários para a
elaboração da Bacia Deflectométrica Calculada. A Bacia Calculada ajustada à Bacia Medida
com Viga Benkelman resultam na retroanálise.
Numa segunda fase o programa permite realizar a análise de danos do pavimento,
fornecendo os valores de tensões e deformações nas camadas subjacentes. Com esses
dados é possível calcular o valor de Nf, conforme a equação (2):

𝑁𝑁! = 𝑓𝑓" . (−𝜀𝜀# )$!! . (𝐸𝐸# )$!" (2)

Onde, Nf é o número permitido de passadas; f1, f2 são os coeficientes de fadiga, suge-


ridos pela AsphaltInstitute f1 = 0,0796; f2 = 3,291; f3 = 0,854; εr é a deformação de tração na
superfície inferior da camada de revestimento e; Er é o Modulo de Elasticidade da camada
de revestimento.
A análise de danos é a comparação Nf de com Np (Número de passadas de projeto),
Segundo a relação proposta por Miner (1945):

!!
!"
= 1 (3)

Viga Benkelman

A Viga Benkelman (Figura 11) possibilita medir deflexões em pavimentos e é constituída


por uma parte fixa, que é apoiada no pavimento por meio de três pés reguláveis; e por uma
parte móvel acoplada à parte fixa por uma articulação. Assim, uma das extremidades fica
em contato com o pavimento e a outra extremidade aciona um extensômetro. A viga possui
um vibrador, que tem a função de vencer o atrito entre as peças móveis e evitar eventuais
inibições do ponteiro do extensômetro.

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Figura 11. Viga Benkelman, sendo preparada para o ensaio em Campo Verde, MT.

A Figura 12 ilustra como a Viga Benkelman é composta. Segundo a DNER-ME 024/94,


são admitidas relações entre o braço da viga, que estabelecem os intervalos de confiança,
que estão apresentados na Tabela 1.

Figura 12. Esquema da Viga Benkelman.

Fonte: DNER – ME 024/94.

Tabela 1. Intervalos de confiança em função da relação entre braços da viga.

Relação entre braços da viga (a/b) Intervalo de confiança


2:1 1,90 – 2,10
3:1 2,85 – 3,15
4:1 3,80 – 4,20
Fonte: DNER-ME 024/94.

A Viga Benkelman utilizada para a realização dos ensaios da pista de Campo Verde
foi de relação 2:1. Antes de realizar a medição com a Viga Benkelman deve-se fazer a sua
aferição, de acordo com a DNER – PRO 175/94 (Aferição de Viga Benkelman). Para reali-
zar a aferição da viga devem ser utilizados: uma prensa para a obtenção do Índice Suporte
Califórnia – ISC; um extensômetro mecânico de sensibilidade mínima de 0,01mm e; conjunto
para fixação do extensômetro no tirante de aço da prensa.
O ensaio com Viga Benkelman consiste em colocar a ponta de prova da viga entre os
pneus das rodas geminadas do eixo traseiro de um caminhão tipo “toco”, carregado com
8,2t no eixo traseiro; nesse ponto é feita a leitura inicial no extensômetro. Em seguida, o
caminhão se desloca para as posições de 25cm, 50cm, 75cm, 100cm, 125cm e 150cm dis-
tantes do ponto inicial, onde se repetem as leituras no extensômetro para cada um desses

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pontos. Depois da última leitura o caminhão se afasta lentamente da ponta de prova, até que
extensômetro não acuse mais variação de leitura, onde se faz a leitura final, que corresponde
ao descarregamento do pavimento e em que todo o deslocamento recuperado é associado
à deformação elástica do pavimento, ou seja, a deflexão.
Os resultados das deflexões obtidas com o ensaio de Viga Benkelman permitem a ela-
boração de uma bacia deflectométrica denominada Bacia Medida, para diferenciar daquela
obtida na retroanálise, Bacia Calculada.

GPR

O Georradar ou Radar de Penetração no Solo, o GPR (Figura 13), é um método geo-


físico que utiliza a propagação de ondas eletromagnéticas no solo e que tem como produto
final, imagens de alta resolução que são associadas a objetos e materiais existentes no
subsolo (SILVA, 2014).

Figura 13. Imagem do GPR utilizado para a investigação.

O equipamento GPR possui uma unidade de controle, responsável pela geração e


registro do sinal de radar, um conjunto de antenas, transmissora e receptora; e um compu-
tador para armazenar os dados.
A antena transmissora do GPR emite ondas eletromagnéticas que são geradas a partir
de um curto pulso de alta frequência emitida repetidas vezes para o terreno. Os contrastes
entre as propriedades elétricas do meio fazem com que partes do sinal sejam refletidas e
refratadas. Sendo assim, as ondas refletidas são recebidas pela antena receptora, onde a
frequência do sinal refletido é registrada em função do tempo de percurso da onda e gravado
no computador. A tela do computador, quando integrada ao equipamento, permite monitorar
todo o processo em tempo real.
A profundidade de penetração da onda eletromagnética depende da frequência da an-
tena; quanto maior a frequência de onda, melhor a resolução da imagem, porém, a profundi-
dade de penetração é menor. A Figura 14 ilustra o comportamento da onda eletromagnética

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emitida pela antena transmissora pela aplicação do GPR numa prospecção geofísica. Nessa
figura as antenas estão separadas de uma distância entre si, e não são blindadas. São
destacadas as ondas aéreas que se propagam acima da superfície; a groundwave, que se
propaga próximo da superfície do solo; a onda que se propaga em subsuperfície e a onda
refletida que é captada pela antena receptora e transformada em imagem.

Figura 14. Esquema representando a propagação das ondas eletromagnéticas em subsuperfície com o uso do GPR –
antenas não blindadas.

Fonte: BORGES, 2002.

Neste trabalho a antena utilizada foi do tipo blindada em que ambas, antena trans-
missora e receptora, são acondicionadas em uma mesma caixa blindada, que impede a
interferência de objetos presentes em superfície na construção da imagem.
A aquisição de dados de GPR deste trabalho usou a técnica denominada Perfil de
Deflexão com Afastamento Constante, em que o afastamento entre as antenas é sempre
mantido constante; sendo assim, o radargrama registra a variação de amplitude do sinal ele-
tromagnético em função do tempo de trânsito duplo. Existem outras técnicas de aquisição de
dados de GPR, como, Sondagens de Velocidade, CommomMidPoint – CMP, que possibilita a
investigação do meio ao longo de um eixo vertical central; WideAngleReflectionandRefration
– WARR em que uma antena permanece fixa e a outra é afastada gradativamente, o que
gera o imageamento de uma área; e Tomografia de Radar, que é utilizada, principalmente,
no interior de poços. A aquisição, o processamento e a interpretação de dados são etapas
que compõe o desenvolvimento de pesquisas com GPR. O software ReflexW(SANDMEIER,
2010) foi utilizado para processar os dados. A rotina de processamento consistiu no ajuste
do tempo zero, filtro temporal (dewow), ganho (manual gain), migração e conversão de
tempo em profundidade – velocidade constante. Os registros obtidos a partir da aquisição
são de extrema importância para seguir as etapas seguintes, pois influenciam na qualidade
do resultado, sendo bem ou mal sucedidos.

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Análise Probabilística

A análise probabilística leva em consideração a variabilidade dos parâmetros de cálculo


e, numa análise de conservação de pavimentos, a maioria dos dados de entrada não são
conhecidos com precisão. Isso se deve à dispersão dos resultados de ensaio ou à variabi-
lidade natural que existe de um ponto a outro do pavimento. Esses valores acabam por ser
considerados como variáveis aleatórias. Assim, fatores de segurança diferentes são obtidos
se forem usados valores diferentes dessas variáveis; portanto, o próprio fator de segurança
se torna uma variável.
Diversos métodos probabilísticos são desenvolvidos para gerar medidas de distribuição
de funções de variáveis dependentes como fator de segurança. Esses métodos são distribuí-
dos em três categorias, de acordo com Harr (1985), que são: os Métodos Exatos; Métodos
de Aproximações da série de Taylor da Variável Dependente; e Método das Estimativas
Pontuais. Porém, para este trabalho, será usado para análise o Método FOSM (FirstOrder,
SecondMoment) que fará o cálculo do número de passadas que leva um pavimento a romper
por fadiga e deformação permanente.
O número de passadas que leva um pavimento à fadiga é função de diversos parâ-
metros como, por exemplo, módulos mecânicos, coeficientes, medidas de espessuras de
camadas da estrutura, etc.
O Método FOSM foi baseado na série de Taylor com aproximação de primeira ordem
para as derivadas parciais da função F e aproximações de segunda ordem para sua variân-
cia. Assim, uma variável dependente (F) é função de muitas outras variáveis (X1, X2,..., Xn)
cujos valores médios esperados são conhecidos, bem como suas variâncias. Neste traba-
lho, as variáveis dependentes (funções) são todas as variáveis calculadas pelo programa
KENLAYER como, por exemplo, deslocamentos, deformações, tensões, danos, etc. Já as
variáveis independentes são todos os dados que se fornece ao programa, por exemplo,
módulo de subleito, espessura do revestimento, espessura da base, etc. Assim, a função
(F) passa a ter uma distribuição normal com valor médio esperado E(F), e variância v(F)
dados pelas equações (4) e (5):

𝐸𝐸(𝐹𝐹) = 𝐹𝐹(𝑥𝑥̅! , 𝑥𝑥̅" , . . . , 𝑥𝑥̅# ) (4)

%& (
𝑣𝑣(𝐹𝐹) = ∑!
"#$. %'!
. 𝑉𝑉[𝑥𝑥) ] (5)

A deformação de tração na superfície inferior da camada de revestimento em função


das variáveis aleatórias tem as seguintes, para valor médio esperado (6) e variância (7):

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𝐸𝐸 ℇ! = 𝐹𝐹(𝐻𝐻! , 𝐻𝐻" , 𝑀𝑀! , 𝑀𝑀" , 𝑀𝑀#$ , … ) (6)

&'! )
𝑣𝑣 𝜀𝜀! = ∑"
#$%. &("
. 𝑉𝑉[𝑥𝑥* ] (7)

Neste trabalho não foi possível obter a derivada de forma analítica, portanto, foi deter-
minada de forma numérica, onde se variou ±10% cada parâmetro do solo, segundo Sandroni
e Sayão (1992). A derivada parcial de εr, por exemplo, em função de qualquer variável in-
dependente (Xi) pode ser aproximada numericamente usando derivadas em “avanço” na
equação (8), que é a mais comum, ou a em “atraso”, equação (9) e, também, a “centrada”
na equação (10), que é a mais precisa:

!"! "! #"$ &,( #" ) "!


= (8)
!#" &,(.#"

!"! "!$ "! #"$ &,( #"


!#"
= &,(.#" (9)

!"! "! #"$ &,( #" ) "!(#") &,(#")


=
!#" &,,.#" (10)

Assim é possível fazer uma análise de sensibilidade da influência de cada variável in-
dependente (Xi), tornando-se contribuição para o somatório no lado direito da equação em
relação ao valor total da variância da variável independente, substituindo na equação (11)
para +10%, na equação (12) para -10% e, na equação (13) para ±10%:

"! #"$ &,(#" ) "! +


𝑣𝑣 𝜀𝜀! = ∑,-.( . &,(.#"
. 𝑣𝑣[𝑋𝑋/ ] (11)

"!# "! %"#&,(%" *


𝑣𝑣 𝜀𝜀! = ∑+,-( . &,(.%"
. 𝑣𝑣[𝑥𝑥, ] (12)

"! #"$%,'#" ( "!(#"( %,' #") ,


𝑣𝑣 𝜀𝜀! = ∑./0' . . 𝑣𝑣[𝑥𝑥/ ]
%,,.#" (13)

RESULTADOS

O ensaio com a Viga Benkelman e os dados adquiridos pelo GPR, forneceram as


informações necessárias que o programa computacional KENLAYER precisa para reali-
zar a retroanálise, a análise probabilística utilizando o Método FOSM e a análise de da-
nos em Campo Verde.

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Medida de Deflexões na Pista com Viga Benkelman

A viga aferida e utilizada para os ensaios é de fabricação da PAVITEST, com uma


relação entre os braços (a:b) de 2:1.
Na aferição, a viga foi aceita como caso ɪɪɪ e, a partir da equação (14) foi possível
saber o valor da constante da viga, de 2,113. A coleta de dados a partir do ensaio de Viga
Benkelman na pista em Campo Verde, ilustrado na Figura 20, ocorreu em dois sentidos:
do início para o final da pista (margem direita) Sentido A; e, do final para o início da pista
(margem esquerda), Sentido B. Ambos distantes 45cm da borda.

∑!
"#$ "#
𝑋𝑋" = 𝑁𝑁 ≥ 30 (14)
$

No trecho A, onde foi concentrada a área de estudo, os ensaios com Viga Benkelman
resultaram na média dos valores encontrados em cada ponto onde as medições foram
realizadas em ambos os sentidos, nos pontos D0; D12,5; D25; D50; D75; D100; D125;
D150 (Tabela 2).

Figura 20. Ilustração da aquisição de dados com a Viga Benkelman.

Tabela 2. Valores das deflexões D0 à D150, para as aquisições de dados nos dois sentidos da pista, no Trecho A.

Trecho A – Deflexões – Médias SA/SB


Sentido / Ponto de
D0 D12,5 D25 D50 D75 D100 D125 D150
Medição
0,0 12,5 25,0 50,0 75,0 100,0 125,0 150,0
Média Sentido A 48,6 34,2 25,4 16,5 10,6 5,5 3,0 0,0
Média Sentido B 43,5 36,3 25,8 14,4 7,6 3,4 1,7 0,0
Média SA/SB 46,1 35,3 25,6 15,4 9,1 4,4 2,3 0,0

Fonte: SILVA, 2014.

Com esses dados coletados, foi possível elaborar um gráfico (Figura 21) das cur-
vas de deflexão médias com os dados adquiridos nos dois sentidos do trecho em análise,
Trecho A, denominado Bacia Medida.

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Figura 21. Curvas de deflexão média do trecho A obtidos da pista, Bacia Medida.

A partir das curvas obtidas, deu-se início à retroanálise e à análise de danos do pavimento.

Medidas das Espessuras das Camadas com o GPR

Furos de sondagem foram feitos (Figura 22) para que o método GPR fosse calibrado
a partir de valores medidos em campo das espessuras de revestimento (Hr) e base (Hb).

Figura 22. Trincheira aberta para obtenção dos valores da espessura de revestimento e de base.

A partir dos valores pontuais medidos de espessura e os valores de tempo duplo de


propagação da onda eletromagnética, foram calculados os valores de velocidade para as
camadas do pavimento com o auxílio da equação (3.2).

!"
𝑣𝑣 = # (15)

Os valores de medida de espessura (m) e tempo (ns) que o GPR detectou para o
pavimento de Campo Verde, na estaca 25, onde o furo foi feito e os valores de velocidade
calculada para esse ponto estão apresentados na Tabela 3.

Tabela 3. Valores para ajuste de profundidade dos perfis.

Camada Medida (m) Tempo (ns)


Hr 0,05 1,6253
Hb 0,107 3,476

Os cálculos resultaram numa velocidade de 0,0615 m/ns para as camadas de reves-


timento e base para esse ponto. Entretanto, outros furos foram realizados nos três trechos

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do pavimento para a camada de revestimento, de tal forma que a média desses valores
resultaram numa velocidade de 0,0551 m/ns para essa camada, valor tomado como refe-
rência para a calibração do método GPR. Para a camada de base foi mantida a velocidade
de 0,0615 m/ns como referência para essa calibração. Esses valores de velocidade, então,
ajustaram o perfil GPR que proporcionou duas linhas indicativas das interfaces revestimento/
base e base/subleito, com infinitos valores de espessura das camadas de revestimento e
base, que permitiram a estimativa dos valores médios para essas camadas.
A Figura 23 ilustra as interfaces das camadas de revestimento e base com as cama-
das subjacentes.

Figura 23. Perfil de GPR com resultado do processamento de picagem nas interfaces das camadas do pavimento no
trecho A.

O perfil GPR indica uma irregularidade na construção dos primeiros 10m da camada
de base desse pavimento, associada à impossibilidade operacional do equipamento de ter-
raplenagem devido à presença de uma viga de concreto no portão de entrada do acesso ao
estacionamento do Campus São Vicente, Unidade Campo Verde, onde a pista foi construída.
Foram estimados os valores das médias das espessuras das camadas de revestimento
e base, respectivamente, resultantes da análise dos perfis de GPR, em 4,24cm e 25,10cm.
Esses valores foram usados na retroanálise do pavimento.

Retroanálise e Análise de Danos

A retroanálise consistiu em estabelecer e alimentar o programa KENLAYER com parâ-


metros construtivos da pista de Campo Verde, em que os valores dos Módulos de Elasticidade
foram inferidos até o ajuste das Bacias Medida e Calculada. A Tabela 4 mostra os dados de
entrada no programa KENLAYER.

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Tabela 4. Valores inseridos no programa KENLAYER para o processamento da retroanálise.

Programa KENLAYER (HUANG, 2004)

Dados de Entrada Solicitados Sigla Dados de Entrada Fornecidos Referência


Tipo de Material MATL Linear elástico
Número de Períodos por ano NPY 1
Número de Grupos de Carga NLG 1 Eixo/Rodas
Tolerância para Integração Numérica DEL 0,01 Padrão
Número de Camadas NL 3
No de Coordenadas Z para análise NZ 1 Superfície do revestimento
Ciclos Máximos de Integração Numérica ICL 80 Padrão
Tipos de Respostas NSTD 1 Deflexões verticais
Todas as Camadas são Solidárias NBON 1 Sim
No de Camadas Tensão Tração na Base NLBT 1 Base do revestimento
No de Camadas Tensão Compressão no
NLTC 1 Topo do subleito
Topo
Sistema de Unidades NUNIT 1 Sistema internacional
Valor da Coordenada Z para Análise ZC 0 Superf. do revestimento
Espessura da Camada 1 TH 4,24 Espes. do revestim. (cm)
Espessura da Camada 2 TH 25,1 Espessura da base (cm)
Módulo de Poisson para o Revestimento PR 0,3 (Kn/m3)
Módulo de Poisson para a base PR 0,3 (Kn/m3)
Módulo de Poisson para o Subleito PR 0,3 (Kn/m3)
Módulo de Resiliência para a Camada 1 E 1.000.000 (KPa)
Módulo de Resiliência para a Camada 2 E 375.000 (KPa)
Módulo de Resiliência para a Camada 3 E 95.000 (KPa)
Tipo de Carga ou Carregamento LOAD 1 Eixo simples/Roda dupla
Raio de Contato da Área Circular Carre-
CR 10 (cm)
gada
Pressão Contato sobre a Área Circular
CP 560 (KPa)
Carregada
Espaço centro-a-centro entre 2 rodas du-
YW 30 (cm)
plas na dir. Y
Espaço Centro-a-centro entre dois eixos
XW 0 (cm)
na direção X
No. de Coorden. Radiais p/ serem anali-
NR 7 D0 a D150 da Viga Benkelman
sadas sob Rodas Simples
0-12,5; 12,5-15; 25-15; 50-15;
Coordenadas X e Y de Pontos de Respos-
XPT, YPT 75-15; 100-15; 125-15; 150-
tas p/ o Grupo de Cargas
15(cm)
Fonte: SILVA, 2014.

Uma carga de 560 KPa, produzida pelo contato do pneu no pavimento, e distribuída
sobre uma área com raio de 10cm foi considerada no processamento do KENLAYER para
a realização da retroanálise.
Com o ajuste das Bacias Medida – obtida com os dados resultantes da aquisição de
dados em campo com a Viga Benkelman, e Calculada com o programa KENLAYER, foi
possível obter os valores atuais dos módulos de elasticidade desse pavimento.
Os valores dos Módulos de Resiliência considerados no ajuste das Bacias Medida e
Calculada foram, para a camada de revestimento, 1000 Mpa; para a camada de base (solo

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laterítico) 375 MPa e, para o subleito, 95 MPa. Esses foram os valores que melhor permitiram
ajustar as bacias deflectométricas Medida e Calculada (Tabela 5).

Tabela 5. Valores adquiridos para as bacias de deflexão medida e calculada.

Bacia Medida (x10-2 mm)

D0 D12,5 D25 D50 D75 D100 D125 D150

Média 41,2 34,9 29,6 21,1 15,8 11,6 8,5 0,0


SA/SB Bacia Calculada (x10-2 mm)

D0 D12,5 D25 D50 D75 D100 D125 D150

42,7 37,07 29,71 20,03 14,27 10,76 8,54 7,06

Com esses valores apresentados na Tabela 7 foi possível construir as curvas das
Bacias Medida e Calculada para a retroanálise (Figura 24).

Figura 24. Melhor ajuste das bacias deflectométricas medida e calculada – Trecho A.

Em seguida foi processado no programa KENLAYER a análise de danos do pavimento.


Ativado no programa o modo “Análise de Danos”, foram obtidos os resultados dos valores
das deformações de tração (εt) atuante na superfície inferior da camada de revestimento
e da deformação de compressão (εc) atuante na superfície superior da camada de sub-
leito. Os dados complementares de entrada no programa para a análise de danos estão
apresentados na Tabela 6.

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Tabela 6. Dados complementares inseridos no programa KENLAYER para o processamento da análise de danos do
pavimento.

Programa KENLAYER (Huang, 2004)

Dados de Entrada Solicitados Sigla Dados de Entrada Fornecidos Referência


No da camada para análise de dano da
LNBT 1 Camada de Revestimento
tensão de base
Coeficiente de fadiga, f1 FT1 0,0796 AsphaltInstitute
Coeficiente de fadiga, f2 FT2 3,291 AsphaltInstitute
Coeficiente de fadiga, f3 FT3 0,854 AsphaltInstitute
No da camada para análise de dano da ten-
LNTC 3 Camada de subleito
são da tensão de topo
Coeficiente de deformação permanente, f4 FT4 1,365.10-9 AsphaltInstitute
Coeficiente de deformação permanente, f5 FT5 4,477 AsphaltInstitute
No total de repetição de cargas para cada
TNLR 1 Volume de tráfego
grupo de carga, durante cada período
Fonte: SILVA, 2014.

Os valores encontrados para a tração na superfície inferior da camada de revestimento


foi εt = -2,610.10-5 e na superfície superior da camada de subleito foi εc = 6,960.10-4, para o
Trecho A do pavimento. Os dados complementares de entrada no programa KENLAYER
(Tabela 9) possibilitaram a determinação dos resultados apresentados.
A aplicação dos valores εt e de εc na equação (2.2) apresentada permitiu estimar o
valor do número permitido de passadas para esse pavimento de Nf = 3,8.109 e o valor do
número de passadas de projeto, foi sugerido por Amorim (2013), sendo Np = 3,2.106. Miner
(1945) afirma que a razão entre o número de passadas previstas em projeto e o número de
passadas que pode levá-lo à fadiga deve ser igual à unidade (equação 2.3).
Para uma análise da camada de revestimento do pavimento em estudo, a razão en-
tre, Np = 3,2.106 (valor sugerido por Amorim, 2013) e o valor calculado de Nf = 3,8x109 fornece
o valor do consumo de fadiga da estrutura. O valor encontrado, de 8,42x10-4 indica que a
camada de revestimento não romperia por fadiga nos 10 anos previstos no projeto. Para
a análise da camada de subleito desse pavimento, o valor de Nf =1,88x105 foi obtido pela
aplicação da seguinte equação:

𝑁𝑁! = 𝑓𝑓" . (𝜀𝜀# )$!! (16)

Onde, Nf é o valor do número de passadas que pode levar a camada de subleito à fadiga;
εc é a deformação de compressão na superfície superior da camada de subleito; E, os valores
de f4 e f5 estão apresentados na Tabela 3.5 como FT4 e FT5, sugeridos pela AsphaltInstitute.
Assim, o subleito apresenta sinais de deformação permanente em, aproximadamente, 1
ano e 8 meses, pois foi considerado o mesmo valor de Np e, para Nf = 1,88x105, sua razão
seria igual a 17,2.

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Este tipo de análise mostra a importância de um método de dimensionamento meca-
nístico-empírico, sendo assim possível considerar as tensões atuantes nas diversas cama-
das do pavimento.

Análise Probabilística do Pavimento

O Método FOSM foi aplicado para a análise probabilística do pavimento da pista em


Campo Verde para as deformações de tração na superfície inferior do revestimento e de
compressão no topo do subleito. O Método foi usado, também, para avaliar a influência das
variáveis aleatórias sobre o número de passadas que leva as camadas de revestimento e
subleito à fadiga, tendo como variáveis aleatórias as espessuras das camadas da estrutura
do pavimento e seus respectivos Módulos de Resiliência (MR).
A Tabela 7 apresenta os valores das deformações, os valores de N_f e análise de
danos para as camadas de revestimento e o subleito, respectivamente em três momentos:
calculados pelo KENLAYER com os valores encontrados na retroanálise (M); com os valores
encontrados na retroanálise, acrescentando 10%, derivada em avanço, para uma variável
e mantendo as demais fixas [Hr(+), Hb(+), Mr(+), etc.]; com os valores encontrados na re-
troanálise, subtraindo 10%, derivada em atraso, para uma variável e mantendo as demais
fixas [Hr(-), Hb(-), Mr(-), etc.].

Tabela 7. Valores das deformações de Nf e de análise de danos para as camadas de revestimento, base e subleito para
aplicação do Método FOSM.

Deformação Número de Passadas Dano


-8,59E-05 7,48E+07 1,34E-08
M
6,96E-04 1,88E+05 5,33E-06
-9,15E-05 6,08E+07 1,64E-08
Hr(+)
6,82E-04 2,05E+05 4,87E-06
-7,74E-05 1,06E+08 9,47E-09
Hr(-)
7,10E-04 1,72E+05 5,83E-06
-8,69E-05 7,21E+07 1,39E-08
Hb(+)
6,32E-04 2,89E+05 3,46E-06
-8,54E-05 7,64E+07 1,31E-08
Hb(-)
7,67E-04 1,21E+05 8,25E-06
-8,91E-05 6,64E+07 1,51E-08
Mr(+)
6,90E-04 1,94E+05 5,15E-06
-8,20E-05 8,72E+07 1,15E-08
Mr(-)
7,01E-04 1,81E+05 5,53E-06
-7,17E-05 1,36E+08 7,36E-09
Mb(+)
6,74E-04 2,16E+05 4,63E-06
-1,03E-04 4,12E+07 2,43E-08
Mb(-)
7,19E-04 1,62E+05 6,19E-06
-8,91E-05 6,63E+07 1,51E-08
Msl(+)
6,57E-04 2,43E+05 4,11E-06

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Deformação Número de Passadas Dano
-8,23E-05 8,64E+07 1,29E-10
Msl(-)
7,40E-04 1,42E+05 7,03E-06

A Tabela 8 apresenta os valores das médias; de 10% das médias e do dobro desse
valor; do desvio padrão e da variância para, respectivamente, as alturas das camadas de
revestimento e base, e dos módulos de elasticidade das camadas de revestimento, base e
subleito, valores estes que se destinaram aos cálculos do Método FOSM.

Tabela 8. Valores de média, desvio padrão e variância das espessuras e dos módulos de revestimento, base e subleito
para aplicação do Método FOSM.

Variáveis Média 10% x M Desvio Padrão 2(10% x M) Variância


Hr 4,24E+00 4,24E-01 9,90E-02 8,48E-01 9,80E-03
Hb 2,51E+01 2,51E+00 7,23E+00 5,02E+00 5,22E+01
Mr 1,00E+06 1,00E+05 1,58E+07 2,00E+05 2,49E+14
Mb 3,75E+05 3,75E+04 7,35E+06 7,50E+04 5,40E+13
Msl 9,50E+04 9,50E+03 1,90E+06 1,90E+04 3,61E+12

Com os valores apresentados nas tabelas 3.6 e 3.7, foi possível calcular as derivadas
centradas parciais para as variáveis e informar o valor esperado para a deformação do re-
vestimento e a influência que cada variável exerce.
O Método FOSM foi aplicado para determinar a variância da deformação de tração na
superfície inferior da camada de revestimento para o incremento de 10% das variáveis alea-
tórias, com derivadas centradas. A tabela 11 informa os valores das variâncias das variáveis
aleatórias e as respectivas influências que cada variável exerce no valor da deformação de
tração da camada de revestimento.

Tabela 9. Derivadas parciais e valor esperado para a deformação da camada de revestimento.

Variáveis Derivada Centrada Influência v[Def]±


Hr -1,67E-05 0,00 2,72E-12
Hb -3,05E-07 0,00 4,85E-12
Mr -3,55E-11 3,06 3,13E-07
Mb 4,18E-10 92,29 9,43E-06
Msl -3,63E-10 4,65 4,75E-07

Na Figura 25 está representada a influência de cada variável aleatória que contribuiu


para a deformação do valor da variância da deformação de tração na superfície inferior da
camada de revestimento, usando a derivada centrada (equação 2.13), com ênfase para o
Módulo de Elasticidade da camada de base, que tem a maior influência.

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Figura 25. Influência das variáveis aleatórias sobre o valor da deformação na superfície inferior da camada de revestimento,
com o Método FOSM, Trecho A.

O Método também foi aplicado para determinar a variância da deformação de com-


pressão na superfície superior da camada de subleito para o incremento de 10% das va-
riáveis aleatórias, com derivadas centradas. A tabela 10 informa os valores das variâncias
das variáveis aleatórias e as respectivas influências que cada variável exerce no valor da
deformação compressão na superfície superior da camada de subleito.

Tabela 10. Derivadas parciais e valor esperado para a deformação da camada de subleito.

Variáveis Derivada Centrada Influência v[Def]±


Hr -3,25E-05 0,00 1,06E-11
Hb -1,51E-04 0,04 3,80E-08
Mr -1,25E-05 0,85 7,67E-07
Mb -5,05E-05 21,57 1,94E-05
Msl -9,22E-05 77,53 6,99E-05

Assim, o resultado dessa análise proporcionou a criação do gráfico da Figura 26 para


ilustrar essa influência, com ênfase no Módulo de Elasticidade da camada de subleito que
tem maior influência, seguido do Módulo de Elasticidade da camada de base.

Figura 26. Influência das variáveis aleatórias sobre o valor da deformação na superfície superior da camada de subleito,
com o Método FOSM, Trecho A.

Também foi determinada a influência das variáveis aleatórias para o número de pas-
sadas permitidas para a camada de revestimento para o incremento de 10%, com deriva-
das centradas. A Tabela 11 informa os valores das variâncias das variáveis aleatórias e as

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respectivas influências que cada variável exerce no valor do número de passadas permitidas
na camada de revestimento.

Tabela 11. Derivadas parciais e valor esperado para o número de passadas no revestimento.

Variáveis Derivada Centrada Influência v[Def]±


Hr -5,28E+07 0,00 2,73E+13
Hb -8,65E+05 0,00 3,91E+13
Mr -1,04E+02 2,91 2,70E+18
Mb 1,26E+03 92,74 8,61E+19
Msl -1,06E+03 4,35 4,04E+18

A Figura 27 apresenta a influência de cada variável aleatória, usando a derivada cen-


trada, com ênfase no Módulo de Elasticidade da Camada de Base.

Figura 27. Influência das variáveis aleatórias para o número de passadas permitidas para a camada de revestimento,
com o Método FOSM, Trecho A.

A Tabela 12 informa os valores das variâncias das variáveis aleatórias e as respec-


tivas influências que cada variável exerce no valor do número de passadas para a ca-
mada de subleito.

Tabela 12. Derivadas parciais e valor esperado para o número de passadas no subleito.

Variáveis Derivada Centrada Influência v[Def]±


Hr 3,98E+04 0,00 1,55E+07
Hb 3,35E+04 0,04 5,85E+10
Mr 6,69E-02 0,85 1,12E+12
Mb 7,23E-01 21,49 2,82E+13
Msl 5,32E+00 77,61 1,02E+14

A figura 28 ilustra o comportamento dos parâmetros do pavimento que influenciaram


na determinação do número de passadas permitidas para a camada de subleito, com ênfase
no Módulo de Elasticidade do subleito que apresenta maior influência, seguido do Módulo
de Elasticidade da camada de base.

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Figura 28. Influência das variáveis aleatórias sobre o número de passadas permitidas para a camada de subleito, Trecho A.

CONCLUSÃO

As espessuras das camadas de revestimento e de base do pavimento flexível em


Campo Verde tiveram seus valores encontrados pela aquisição e processamento de dados
com o GPR. Os dados fornecidos pelo GPR permitiram perceber a variabilidade das espes-
suras de cada camada da estrutura do pavimento. Também foi possível, com esses dados,
excluir os primeiros 10m da pista, por conta de uma grande irregularidade, por conta de um
obstáculo que prejudicou no controle da execução da camada de base.
Essas informações, com outros dados construtivos do pavimento foram inseridas no
programa KENLAYER com o propósito de realizar a retroanálise, que forneceu valores de
deslocamentos verticais usados para elaborar uma bacia deflectométrica que foi denomi-
nada Bacia Calculada. Os valores dos deslocamentos verticais (deflexões) na superfície do
pavimento foram obtidos com o uso da Viga Benkelman, que possibilitou a elaboração de
uma bacia deflectométrica que foi denominada Bacia Medida. O ajuste das Bacias Medida e
Calculada, do Trecho A da pista, foi muito satisfatório, porque as suas diferenças estiveram
mantidas nos limites do erro quadrático. Com a retroanálise foi possível estimar os Módulos
de Elasticidade das camadas.
A análise de danos, realizada com os dados obtidos na retroanálise, permitiram identi-
ficar uma fragilidade acentuada da camada de subleito, contrastando com a rigidez elevada
da camada de revestimento.
Os resultados da retroanálise e da análise de danos permitiram a realização de uma
análise probabilística do pavimento mostrando a influência dos parâmetros das camadas de
sua estrutura. O valor do módulo de resiliência (MR) da camada de base teve maior influência
na variância da deformação e do número de passadas do revestimento para o trecho A, que
sugere que a camada de base é preponderante na sustentação da camada de revestimento,
assim como para a absorção das tensões impostas ao pavimento para proteção da camada
de subleito. Para a camada de subleito, o Módulo de Elasticidade dessa camada foi o parâ-
metro que apresentou maior influênciaque evidencia a importância do subleito como lastro
de sustentação para a estrutura geotécnica, pavimento.

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A retroanálise e a análise de danos é um estudo que deve ser realizado toda vez que
é necessário a realização de um diagnóstico de um pavimento. Ficam, portanto, como su-
gestão para desenvolvimento de trabalhos futuros:
1. A reavaliação de Trecho A desse pavimento, com o propósito de acompanhar a sua
degradação pelo uso;
2. A realização de estudos de retroanálise e análise de danos para os Trechos B e C do
pavimento em estudo;
3. A realização da análise probabilística por ocasião dos diagnósticos obtidos nas
duas situações anteriores, com o propósito de confirmação das conclusões apresenta-
das neste trabalho.

REFERÊNCIAS
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26
Controle tecnológico da camada de
revestimento de cauq de Cuiabá: análise
das propriedades

Danilo de Almeida Cruz


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Silvana Fava Marchezini


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Luiz Carlos de Figueiredo


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Artigo original publicado em: 2014


43ª RAPv – REUNIÃO ANUAL DE PAVIMENTAÇÃO E 17º ENACOR – ENCONTRO NACIONAL DE CONSERVAÇÃO RODOVIÁRIA
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/230512914
RESUMO

Este artigo tem como objetivo relatar o controle tecnológico de revestimento feito em uma
importante obra de duplicação de uma das pistas da cidade de Cuiabá, que é via de acesso
a uma grande indústria de bebidas da cidade e ao rodoanel da mesma, localizada na rodo-
via Chico Mendes, km 10, conhecida como “Estrada da Antártica”. Esse controle foi feito a
partir da extração de três corpos de prova do revestimento já finalizado, por meio de Sonda
Rotativa sem ter sido submetido às solicitações do tráfego. Através de ensaios laboratoriais
e em campo foram determinadas propriedades do revestimento como: teor de betume, grau
de compactação, granulometria, espessura da camada e parâmetros físicos como porcen-
tagem de vazios (%Vv), relação betume vazios (%RBV). A partir dos resultados montou-se
uma tabela e gráficos em que se é possível comparar e avaliar os parâmetros definidos em
projeto com os executados no pavimento. Este trabalho também nos possibilita analisar uma
predisposição a patologia em que o pavimento está sujeito a sofrer devido as suas proprie-
dades reais em campo encontradas e uma possibilidade de identificação de problemas no
processo construtivo. O controle tecnológico feito pode servir como fase de manutenção,
melhoramento e fiscalização do cumprimento de especificações da pista.

Palavras-chave: Controle Tecnológico de Revestimento, Propriedades do Revesti-


mento, Qualidade.
INTRODUÇÃO

Segundo CNT (2013) o estado de conservação da malha rodoviária brasileira em 2013


piorou em relação ao ano anterior, 2012. Na avaliação das pistas, em um total de 96.714
km, cerca de 1,1 %, 63,8 %, apresentaram alguma deficiência em seu pavimento. Já dizia
Bernucci et al. (2008), que o bom desempenho desses revestimentos e tratamentos super-
ficiais asfálticos dependem da utilização de procedimentos corretos em diversas etapas,
considerando essa afirmação, é indispensável o bom cumprimento desses procedimentos
e para garantir a validade, eficiência e padronização dos processos construtivos as normas
brasileiras vem regulamentar e instruir todo controle, execução e ensaios a serem realizados.
Balbo (2007) comenta que o grande problema das obras rodoviárias no Brasil é a ne-
gligência e ausência do controle tecnológico adequado aos processos de construção, para
isso faz-se necessário um bom planejamento e organização quanto aos responsáveis para
que todas as etapas e procedimentos sejam cumpridos.
Este artigo tem por objetivo realizar um estudo de caso sobre o controle da qualidade
da capa asfáltica executada em uma importante obra de duplicação de uma das pistas da
cidade de Cuiabá, que é via de acesso a uma grande indústria de bebidas da cidade e ao
rodoanel da mesma, localizada na rodovia Chico Mendes, mais popularmente conhecida
como “Estrada da Antártica”, uma análise de suas propriedades seguindo especificações do
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, ES 31/06 (DNIT, 2006).

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Asfalto

No Brasil o produto asfalto recebe a denominação de Cimento Asfáltico de Petróleo, ou


simplesmente CAP, os CAPs produzidos dão origem a vários tipos de materiais comumente
empregados na pavimentação (emulsões e asfalto diluídos), esses permitem a adição de
diversos produtos em sua mistura, como a de polímeros que alteram algumas de suas ca-
racterísticas físicas e mecânicas, boas vantagens para sua gama de aplicações, condições
de trabalho e uso.

Pavimento

Segundo NBR 7207 (ABNT, 1982), pavimento é uma estrutura construída após ter-
raplanagem e destinada, econômica e simultaneamente, a resistir e distribuir ao subleito
os esforços verticais produzidos pelo tráfego, melhorar as condições de rolamento quanto
à comodidade e segurança e a resistir aos esforços horizontais que nele atuam tornando

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mais durável a superfície de rolamento, conforme a Figura 1 que apresenta a divisão das
camadas de um pavimento.

Capa Asfáltica

Segundo Senço (2007), define-se capa asfáltica como sendo a camada, tanto quanto
possível impermeável (exceto as camadas porosas de atrito) que recebe diretamente a ação
do tráfego e destinada a melhorar a superfície de rolamento quanto às condições de conforto
e segurança, além de resistir ao desgaste, ou seja, aumentando a durabilidade da estrutura.

Figura 1. Camadas do pavimento flexível e rígido (Bernucci et al., 2010).

Em geral o revestimento é submetido a esforços de compressão e de tração devidos à


flexão, ficando as demais camadas submetidas principalmente à compressão. Balbo (2007)
orienta que devida a essa função de receber as cargas, a capa necessita ser composta de
materiais bem aglutinados ou dispostos a evitar sua movimentação horizontal, resistir à de-
gradação. Em muitos casos esses revestimentos são subdivididos em duas ou mais camadas
por razões técnicas, construtivas e financeiras. Assim subdivide-se a capa em “camada de
rolamento” e “camada de ligação”.
Defini-se camada de rolamento como camada superficial do pavimento, diretamente em
contato com as cargas e com ações ambientais. Estão associadas à camada de desgaste,
capa de rolamento e revestimento.
Camada de ligação é a camada intermediária, também em mistura asfáltica, entre a
camada de rolamento e a base do pavimento, associada como camada de binder ou sim-
plesmente binder (Balbo, 2007).
Além dessas duas camadas existe a “camada de nivelamento”, utilizada para corrigir
desníveis em pistas, afundamentos, nivelamento do perfil do greide e a “camada de reforço”,
nova camada de rolamento em pavimento já existente antigo ou defeituoso, serve as razões
funcionais, estruturais ou ambas.
Para dimensionar adequadamente uma estrutura de pavimento faz-se necessário conhe-
cer bem as propriedades dos materiais utilizados, sua resistência à ruptura, permeabilidade

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e deformabilidade, frente à repetição de carga e ao efeito do clima a ser usado na camada
(Senço, 2007, p. 20).
Em todos os métodos de dimensionamento, a camada de revestimento tem espessura
adotada, seja a função de critérios próprios, sejam em função do tráfego previsto. Para vias
simples – duas faixas de tráfego e duas mãos de direção – espessuras de 3 a 5 cm são
habituais. Para autoestradas, chega-se a revestimentos mais espessos, entre 7,5 a 10,0 cm.

CBUQ – Concreto Betuminoso Usinado a Quente

O Concreto Betuminoso Usinado a Quente (CBUQ) pode ser considerado como a


mistura mais comum utilizada para execução de revestimentos no país. Os materiais em-
pregados em sua fabricação e os processos de controle exigidos para sua execução são
fatores que contribuem para sua utilização. Trata-se de uma mistura de agregados minerais
(naturais ou artificiais, britados ou em sua forma disponível), de material fino (pó de pedra,
cimento portland, etc) e de cimento asfáltico de petróleo (CAP). Tem-se a homogeneização,
a quente, desses materiais em uma usina misturadora (Balbo, 2007).

Controle de Qualidade da Capa Asfáltica

O controle da qualidade constitui-se em garantia do sucesso de toda construção.


As exigências de controle da qualidade e os métodos de ensaios são especificados
para se assegurar que a obra responda às normas de qualidade mínima apropriadas ao
comportamento desejado. Assim, a qualidade obtida em conformidade com as normas, por
ocasião das obras, é um complemento à qualidade do projeto (DNIT, 2006, p.233)
O DNIT, órgão responsável pela malha rodoviária federal, estabelece os parâmetros
de controle de qualidade interno para assegurar a conformidade e qualidade da execução
de capa asfáltica em CBUQ. A Tabela 1 mostra, os requisitos exigidos pela especifica-
ção ES 31/06 (DNIT, 2006) para serviços de concreto asfálticos a serem usados em reves-
timento de pavimentos e que compõem os parâmetros a serem atendidos na dosagem de
laboratório e no campo.

Tabela 1. Especificações a serem atendidas pelo CBUQ segundo ES 031/06 (DNIT, 2006).

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MATERIAIS E MÉTODOS

Obteve-se as amostras em campo e realizaram-se os ensaios de granulome-


tria ME 083/03(DNER, 2003)), teor de ligante ME 053/94 (DNER, 1994), estabilidade e
fluência ME 043/95 (DNER, 1995). A partir desses parâmetros físicos obteve-se o volume
de vazios (% Vv), o grau de compactação, a relação betume vazios (% RBV). Organizou-se
os resultados levantados em planilhas eletrônicas do software Microsoft Office Excel, que
possibilitou a geração de gráficos, e contribuiu na melhor compreensão e visualização das
comparações. Fez-se o controle da qualidade nove meses após o termino da pista sem que
houvesse sua liberação para o tráfego.
Na Figura 2 apresenta-se um fluxograma onde contém todas as etapas desta pesquisa.

Área de Estudo

A área selecionada para se fazer o controle tecnológico foi um trecho de 240 m da


Rodovia Chico Mendes, Cuiabá – Mato Grosso. Distante à 1,2 km do final do pavimento
rígido da indústria de bebidas, sentido cidade rodoanel, ver Figura 3.

Figura 2. Fluxograma de atividades realizadas.

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Figura 3. Localização do trecho (fonte: www.google.com.br/earth).

Amostras

Retirou-se as amostras da capa asfáltica em CBUQ por meio da sonda rotativa, Figura 4.

Figura 4. Sonda Rotativa ( acervo Danilo de Almeida Cruz).

O número de amostras sugerido pelo ES 031/06 (DNIT, 2006) é de uma a cada 700
m² de pista, neste trabalho retirou-se um total de três amostras, caracterizando 1800 m²
da pista. As extrações seguiram-se da seguinte forma, todas na lateral do pavimento e em
lado oposto da anteriormente retirada, ver Figura 5. Definiram-se as amostras como sendo
A1, A2 e A3. A1 para A2 está distante 100 m, A2 para A3 está distante 140 m, comprimento
total analisado 240 m da rodovia.

Figura 5. Local de retiradas dos furos no trecho.

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Caracterização das Amostras

Limpeza das amostras

Após extração das amostras do revestimento, as mesmas foram limpas retirando-se


todos os fragmentos existentes da camada de base do pavimento e impurezas de seu corpo,
por fim regularizadas com talhadeira e escova de aço para em seguida obter as medidas.

Medidas de diâmetro e espessura

Obteve-se as medidas de diâmetro e espessura das amostras por meio do paquímetro


digital, seguindo o seguinte procedimento: mediu-se quatro pontos de preferência opostos
e a média entre eles corresponde às dimensões do corpo de prova.

Densidade Aparente e Grau de compactação

Seguiu-se as especificações do método de ensaio ME 117/94 (DNER-1994), pesou-


-se as quatro amostras em estado natural ao ar e submersas (hidrostática). Em seguida
fez-se as relações entre a densidade obtida com a densidade do projeto, para obter o
grau de compactação.

Teor de Betume

Determinou-se o teor de betume da camada de revestimento conforme ME 053/94


(DNER, 1994) com uso de gasolina ao invés de solvente tetracloreto de carbono. Realizou-
se a determinação do percentual de betume dos três corpos de provas extraídos.

Granulometria

Para obtenção da composição granulométrica das amostras, utilizou-se o material pétreo


resultante dos três ensaios de determinação do teor de betume, representou-se graficamente
a granulometria. O procedimento de ensaio seguiu as especificações do método ME 083/98
(DNER 1998) Agregados – Análise Granulométrica.

Determinação da Fluência e Estabilidade

Determinou-se a fluência e a estabilidade de acordo com o item 6.0 do ME 043/95


(DNER 1995). Realizou-se o ensaio com três amostras de capa asfáltica extraídas do trecho
através de sonda rotativa, e determinou-se a estabilidade através da prensa Marshall.

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Parâmetros Físicos

Com base nos resultados laboratoriais calculou-se os parâmetros físicos das amostras
coletadas: volume de vazios (%Vv), grau de compactação e a relação betume vazios (%
RBV), parâmetros que são analisados rotineiramente conforme a especificação do item 7.2
Controle da produção da ME 031/06 (DNIT 2006).

RESULTADO E DISCUSSÕES

Apresenta-se na Tabela 2 o resumo das espessuras medidas.

Tabela 2. Resumo das Espessura.


Diâmetro Espessura Volume
Amostra Controle Estatístico
(cm) (cm) (cm³)
Média Média
9,4 5,7 Nº de Amostras 3
9,3 5,9 Espessura Média 7,0 cm
A1 9,4 5,8 42,5
9,3 5,9 Desvio Padrão 1,1
9,3 5,7 Espessura Projeto 5,0 cm
9,3 8,0 Especificação DNIT Mín. 4,75 cm
A2 9,3 9,3 8,1 8,0 58,8 Especificação DNIT Máx. 5,25 cm
9,3 8,0
9,4 8,0
9,4 7,2
9,4 7,3
A3 9,4 7,3 53,5
9,3 7,0
9,3 7,6

Com os dados da Tabela 2 é pode-se afirmar que as três espessuras obtidas não aten-
dem a especificação do DNIT. A espessura interfere de modo no recebimento das tensões
e nas deformações da pista, entretanto olhando para essa inconformidade, ela não repre-
senta diminuição na vida útil do pavimento, pois não compromete a resistência do mesmo
em relação às deformações.
Em relação ao grau de compactação, o resumo dos resultados encontra-se na Tabela 3:

Tabela 3. Grau de Compactação (G.C).

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Com base nos dados da tabela 3 elaborou-se o Gráfico apresentado na Figura 6:

Figura 6. Grau de Compactação (G.C).

Observando-se a figura 6 constata-se que o grau de compactação de todos os pon-


tos analisados estão em não conformidade. O não atendimento dessa característica física
compromete a vida útil da pista, pode-se vir a surgir trilhas de roda devido às deformações
permanentes causadas por uma pós-compactação gerada pelo tráfego, o que pode com-
prometer-se a estabilidade da pista.
Os teores de ligante obtidos pelas amostras retiradas no campo estão ex-
postos na Tabela 4:

Tabela 4. Teor de Ligante.

Elaborou-se o Gráfico apresentado na Figura 7 com base nos dados apresen-


tados na tabela 4:

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Figura 7. Teor de Ligante.

Analisando-se a figura 7 é possível definir-se que os teores de ligantes encontrados


não se enquadram aos limites estabelecidos pelo DNIT. O teor de betume está diretamente
relacionado com a resistência à tração e a vida útil do pavimento. Seu excesso pode causar
deformação no revestimento, superfície escorregadia além do risco de exsudação.
Os resultados dos ensaios de granulometria estão representados no Gráfico da Figura 8.

Figura 8. Curva Granulométrica.

Observa-se que a granulometria atende as especificações definidas pelo


DNIT para a Faixa C.
Ao romper-se as amostras determinou-se a Fluência e a Estabilidade cujos resulta-
dos estão apresentados na Tabela 5. Analisando-se os dados da tabela verifica-se que os
valores de estabilidade atendem as prescrições técnicas. A fluência obtida é diretamente
proporcional ao teor de betume, nota-se a alta porcentagem de ligante nas misturas: A1 -
8,2%, A2 - 7,8%, A3 - 6,4%, consequentemente aumento da fluência da mesma, é bem claro
essa relação entre as propriedades em nossas amostras. Com esses valores altos de teor
de betume o asfalto está sujeito a corrugações.

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Tabela 5. Resultados geral dos ensaios.

O parâmetro físico, volume de vazios, volume cheio de betume (%VCB), vazios do


agregado mineral (%VAM) e relação betume/vazios (%RBV) obtido das amostras está apre-
sentado na Tabela 6:

Tabela 6. Volume de Vazios.

Analisando os resultados, tanto o volume de vazios quanto a relação betume/vazios,


todos estão em inconformidade com as especificações do DNIT. A necessidade de manter-se
os vazios nos limites especificados deve-se ao risco de exsudação da camada de revesti-
mento. A porcentagem total de vazios da mistura betuminosa decresce com o aumento do
conteúdo de asfalto, tendendo para um valor mínimo.

CONCLUSÕES

Os resultados obtidos nesta pesquisa mostraram várias inconformidades da pista que


podem ser utilizadas como banco de dados para consulta, para futuras manutenções e
melhorias da mesma.

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Os resultados levam a inferir que no processo de usinagem dos materiais e compac-
tação do asfalto pode ter ocorrido alguma falha que implicou na qualidade final do produto,
os itens analisados: espessura, grau de compactação, teor de ligante, volume de vazios,
relação betume/vazios estão em inconformidade com as especificações da norma vigente
para tal atividade.
Caracteriza-se a pista como sendo susceptível a surgimento de patologias relaciona-
das à grande concentração de ligante a mistura. É necessário destacar o importante papel
do controle de qualidade de cada atividade executada numa obra de pavimentação, como
diz Bernucci et al. (2008, p. 374) “O bom desempenho de revestimentos e de tratamentos
superficiais asfálticos depende da utilização de procedimentos corretos em diversas etapas”,
por fim a aplicação do controle da qualidade se faz necessária em obras de pavimentação
para garantia de qualidade e satisfação dos usuários com o pavimento a sua disposição.

Agradecimentos

Ao Instituto Federal de Mato Grosso, Campus Cuiabá Octayde Jorge da Silva pela
disponibilização do transporte e laboratório.
À Secretaria de Estado de Transporte e Pavimentação Urbana de Mato Grosso (SETUP-
MT) que disponibilizou a sonda rotativa para a extração das amostras.

REFERÊNCIAS
1. ASSOSSIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT 7207/82 – Termino-
logia e Classificação de Pavimentação, Rio de Janeiro, 1982.

2. BALBO, J.T. Pavimentação Asfáltica: materiais, projeto e restauração. São Paulo:


Oficina de Textos, 2007.

3. BERNUCCI, L.B.; MOTTA, L. M. G.; CERATTI, J. A. P.; SOARES J.B. Pavimentação


Asfáltica: Formação básica para engenheiros. Rio de Janeiro. 2008.

4. CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE TRANSPORTE. Pesquisa CNT de Rodovias 2013:


Relatório Gerencial. Brasília, DF, 2013.

5. DEOLINDO, A.H.; ARNS, P.; SANTOS, A. A. Controle Tecnológico da Camada de


Revestimento em CAUQ de Acordo com DINFRA SC-ES-P-05/92 – Estudo de Caso.
Artigo, Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma.

6. DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE. DNIT:


Manual de Pavimentação. Rio de Janeiro: IPR, 2006.

7. DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE. DNIT


011/2004-PRO: Gestão da Qualidade em Obras Rodoviárias – Procedimento. Rio de
Janeiro: IPR, 2004.

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8. DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES. DNIT
031/06: Pavimentos Flexíveis – Concreto Asfáltico – Especificação de Serviço. Rio de
Janeiro: IPR, 2006b.

9. DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM. DNER-ME 043/95:


Misturas asfálticas a quente – ensaio Marshall: método de ensaio. Rio de Janeiro:
IPR, 1995.

10. DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM. DNER-ME 053/94:


Mistura betuminosas - percentagem de betume. Rio de Janeiro: IPR, 1994.

11. DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM. DNER-ME 083/98:


Agregados – Análise granulométrica. Rio de Janeiro: IPR, 1998.

12. DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM. DNER-ME 117/94:


Mistura betuminosa – determinação da densidade aparente. Rio de Janeiro: IPR, 1994.

13. DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM DO ESTADO DO PARANÁ. DER/


PR ES-P 21/05: Pavimentação: Concreto usinado à quente. Curitiba, 2005.

14. PETROBRÁS. Cimento Asfáltico de Petróleo (CAPs), Rio de Janeiro. Disponí-


vel em:<http://www.br.com.br/wps/portal/portalconteudo/produtos/asfalticos/cap/!ut/p/
c4/04_SB8K8xLLM9MSSzPy8xBz9CP0os3hLf0N_P293QwP3YE9nAyNTD5egIEcnQ-
3dLA_2CbEdFAFe2Wp0!/ > Acesso em: 18 mar. 2014.

15. SENÇO, W. Manual de Técnicas de Pavimentação. São Paulo: PINI; 2° edição, 2007.

Tecnologia em Controle de Obras: 20 anos de contribuições do IFMT para construção civil - ISBN 978-65-5360-326-4 - Volume 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
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Comportamento da Brita Calcária da
Região de Cuiabá para Uso em Misturas
Densas Usinadas à Quente

Thaisa Bruna Nieland Borges


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Fátima Silva Siqueira


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Silvana Fava Marchezini


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Luiz Carlos de Figueiredo


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Artigo original publicado em: 2020


XX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica / IX Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas / IX Simpósio
Brasileiro de Engenheiros Geotécnicos Jovens / VI Conferência Sul Americana de Engenheiros Geotécnicos Jovens
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/230512915
RESUMO

Os revestimentos asfálticos de pavimento constituem-se de uma mistura de ligantes asfálticos


e de agregados. Os defeitos dos pavimentos, como desagregação e deformação permanente
podem estar diretamente relacionados à escolha inadequada dos agregados. A região da
Grande Cuiabá-MT possui pedreiras de origem calcária localizada em média a 23 km do mu-
nicípio e, de origem granítica distante a 63 km. O objetivo da pesquisa foi estudar o agregado
calcário da Região da Guia, como material para dosagem de misturas densas, faixa C pres-
crita pelo DNIT e o seu comportamento nessa mistura. Caracterizou-se os agregados pelos
ensaios de granulometria, massa específica, abrasão Los Angeles, índice de forma, adesi-
vidade do agregado ao ligante, equivalente de areia. Determinou-se a faixa granulométrica
para enquadrar a mistura asfáltica na faixa C. Nas misturas utilizou-se o teor de ligante em
5%, 5,5% e 6%, para determinar o traço ideal, pela metodologia Marshall. Os resultados
da caracterização dos agregados e do ligante atenderam as especificadas nas normativas
vigentes. Com o Vv e a RBV obteve-se o teor ótimo de ligante de 5,3%. Com os resultados
obtidos concluiu-se que a brita calcária da região da Grande Cuiabá, possui características
adequadas para misturas asfálticas densas, Faixa C DNIT.

Palavras-chave: Brita Calcária, Distrito da Guia, Concreto Asfáltico Usinado à Quente,


Dosagem Marshall.
INTRODUÇÃO

A infraestrutura de transporte no Brasil constitui-se basicamente por rodovias. O meio


de transporte rodoviário é um dos elementos de maior importância para a economia do país.
Grande parcela dos bens econômicos produzidos no país são transportadas pelas rodovias.
Segundo CNT (2019), 61% da movimentação de mercadorias e, 95% da de pessoas
ocorrem pelo modal rodoviário, sendo que 78,5% do total das rodovias não são pavimenta-
das, e apenas 12,4% as são. Do total pavimentado no Brasil, a Região Centro Oeste detém
17,5%, destes Mato Grosso com 26,69%. O mesmo relatório nos apresenta que Mato Grosso
possui rodovias com as piores condições na classificação do estado geral e de pavimento
com 67,7% e 67,3% respectivamente, em condições de regular a péssima.
No Brasil, os pavimentos asfálticos constituem o maior elemento de infraestrutura rodo-
viária. Constituído por um sistema de múltiplas camadas compostas por diferentes materiais.
Pela complexidade do sistema, a vida útil a longo prazo do pavimento, é um grande desafio.
Os revestimentos asfálticos de pavimento constituem-se de uma mistura de ligantes
asfálticos e de agregados. Os agregados têm a função de manter a estabilidade mecânica
dos revestimentos e de suportar as tensões impostas na superfície do pavimento e em seu
interior. Os defeitos dos pavimentos, como desagregação e deformação permanente podem
estar diretamente relacionados à escolha inadequada dos agregados.
Segundo Balbo (2007), os agregados devem possuir propriedades para atender aos
requisitos necessários tais como durabilidade, resistência, adesividade ao ligante, ou ainda,
a combinação de diversos requisitos mínimos.
A região da Grande Cuiabá-MT possui pedreiras de origem calcária e granítica. As de
origem calcária localizam-se em média a 23 km do município e, as de origem granítica a 63
km. Em geral, utiliza-se para misturas densas o agregado de origem granítica. Mato Grosso,
possui como reserva de rochas calcárias 1.600.000.000 toneladas e Cuiabá com 31.970.000
toneladas. A reserva de rochas calcárias com valor econômico estão localizadas em Poconé,
Sangradouro e Distrito da Guia (Espírito Santo, 2003).
Levando-se em conta o estudo restrito, disponíveis sobre misturas asfálticas com agre-
gados da grande Cuiabá, de origem calcária, da região da Guia, esta pesquisa estudou uma
composição granulométrica para uso em misturas densas. Estudo sobre as características
dos materiais locais torna-se interessante com o objetivo de minimizar os custos de trans-
portes e atender a crescente demanda por agregados, tornando-se o aproveitamento desses
materiais, um poderoso instrumento no barateamento das obras de pavimentação.
Portanto, esta pesquisa teve como objetivo estudar o agregado calcário da Região
do Distrito da Guia, grande Cuiabá, como material na dosagem de misturas asfálticas tipo
CAUQ (concreto asfáltico usinado à quente) faixa C prescrita pelo Departamento Nacional

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416
de Infraestrutura e Transportes (DNIT) e, o seu comportamento nessa mistura. A jazida
pertence ao Grupo Cuiabá, localizada na Baixada Cuiabana. O estudo contemplou a análise
das características dos agregados e o comportamento mecânico da mistura, a partir de um
ligante processado em uma refinaria localizada em Minas Gerais.

MATERIAIS E METODOLOGIA

Os agregados e o ligante foram caracterizados em relação aos ensaios básicos nor-


matizados e amplamente utilizados.

Materiais

A caracterização dos agregados foi realizada no Laboratório de Asfalto do Instituto


Federal de Ciência, Educação e Tecnologia de Mato Grosso, Campus Cuiabá – IFMT. A ori-
gem dos agregados britados é calcária proveniente de uma jazida localizada no Distrito da
Guia, Município de Cuiabá-MT, na rodovia MT 410, distante 27 km da capital matogros-
sensse, Figura 1. Utilizou-se como agregado graúdo a brita 19 mm e 9,5 mm; agregado
miúdo o pó de pedra e, a areia do rio extraída do leito do Rio Cuiabá, perímetro urbano da
Cidade de Cuiabá, na localidade conhecida como Sucuri. O CAP usado foi o 50/70, fornecido
pela empresa Betunel a distribuidora de ligantes, proveniente de uma refinaria localizada
em Minas Gerais.

Figura 1. Localização Mineração Guia – GoogleMaps.

Metodologia

Caracterização dos materiais

Para atender o objetivo proposto nesta pesquisa foi necessário realizar inicialmente a
caracterização dos agregados para verificar se os mesmos atendiam os valores recomen-
dados nas normativas do (DNIT) e da ABNT, descritas na Tabela 1:

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417
Tabela 1. Normativas para caracterizar as amostras.

Ensaios Normas Material


ME 083
Agregados – análise granulométrica Agregados e fíler
(DNER, 1998)
ME 035
Agregados – determinação de abrasão “Los Angeles” Brita 1
(DNER, 1998)
ME 081
Agregados - determinação da absorção e da densidade de agregado graúdo Agregado graúdo
(DNER 1998)
Agregados - Determinação da massa específica de agregados miúdos por meio do frasco NBR 9776
Agregado miúdo
Chapman - Método de ensaio (ABNT 1987)
ME 078
Agregados graúdo – adesividade a ligante betuminoso Brita 1
(DNER 1994)
ME 086
Agregado – determinação do índice de forma Brita 1
(DNER 1994)
ME 054
Equivalente areia Areia
(DNER, 1997)

A caracterização do ligante foi realizada pela fornecedora, com as normativas descri-


tas na Tabela 2:

Tabela 2. Normativas para caracterizar o ligante CAP 50/70.

Ensaios Normas
Materiais betuminosos - Determinação da viscosidade em temperaturas elevadas usando um viscosímetro
NBR 15184 (ABNT, 2004)
rotacional
Produtos betuminosos semissólidos — Determinação da massa específica e densidade relativa NBR 6296 (ABNT 2012)
Ligantes asfálticos - Determinação do ponto de amolecimento - Método do anel e bola NBR 6560 (ABNT 2016)
Materiais asfálticos - Determinação da penetração NBR 6576 (ABNT, 2007)

Mistura Asfáltica

Após a caracterização dos agregados, definiu-se a composição granulométrica obtidas


pelo Método das Tentativa. A Composição atendeu a faixa C, definida pelo DNIT, a mais
utilizada no Estado de Mato Grosso. Adotou-se a metodologia de dosagem Marshall sob a
referência ME 043 (DNER, 1995) que estabelece uma metodologia de dosagem de teores
ótimos de Cimento Asfáltico de Petróleo (CAP) a serem empregados nas misturas asfálti-
cas. O método de dosagem pode ser visto em Bernucci et al., 2008.
Para as misturas asfálticas foram moldados 15 corpos de provas, sendo 5 para cada
teor de CAP para avaliar a estabilidade, e obter densidade aparente, volume de vazios e
relação betume vazios. Os teores de CAP utilizados nesta pesquisa foram de: 5,0%, 5,5%
e 6,0%. Os resultados obtidos representam a média de cinco CP’s.
Com esses resultados obtidos nos ensaios das misturas asfálticas, determinou-se os
parâmetros apresentados a seguir:

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Densidade aparente da mistura (Gmb), em g/cm3 obtido pela Equação 1:

𝑀𝑀!"
𝐺𝐺𝐺𝐺𝐺𝐺 =
𝑀𝑀!" − 𝑀𝑀Á$%&
(1)

MAR = massa do corpo de prova (g); MÁgua = massa do corpo de prova imerso (g)

Densidade máxima teórica (DMT) em g/cm3, calculada pela Equação 2:

100
𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷 =
%𝑎𝑎𝑎𝑎 %𝑎𝑎𝑎𝑎 %𝑓𝑓 %𝑎𝑎 (2)
𝑑𝑑!" + 𝑑𝑑!# + 𝑑𝑑$ + 𝑑𝑑!

%ag = percentual do agregado graúdo; %am = percentual do agregado miúdo; %f = per-


centual do filer; %a = percentual ligante; dag = massa específica real do agregado graúdo
(g/cm3); dam = massa específica real do agregado miúdo (g/cm3); df = massa específica do
fíler; da = massa específica real do ligante;

Volume de vazios

% (Vv) da mistura, determinada pela Equação 3:

𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷 − 𝑑𝑑
𝑉𝑉! = 100 (3)
𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷

D = densidade máxima teórica (g/cm3); d = densidade aparente da mistura (g/cm3).

Relação betume vazios

% (RBV) da mistura, determinada pela Equação 4:

𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉 − 𝑉𝑉!
𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅 = 100 (4)
𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉

VAM= (Vv + VCB) volume de agregado mineral (%); Vv = volume de vazios (%); VCB =
𝑑𝑑(% 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶)
vazio com betume (%) = 𝜌𝜌𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶
; d = densidade aparente da mistura (g/cm3); 𝜌𝐶𝑎𝑝= massa
específica do Cap 𝜌𝐶𝑎𝑝 (g/cm3); %Cap= percentual do CAP.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Materiais

O peneiramento dos agregados foi feito manualmente e, a granulometria apresentou os


valores descritos na Tabela 3. O somatório das massas retidas nas peneiras e nos fundos,
diferiram em menos de 0,3 % da massa da amostra seca inicial, conforme determina a norma.

Tabela 3. Percentual passante no ensaio de peneiramento.

Peneiras % Passante
(mm) Brita 1 Brita 0 Pó de pedra Areia Cimento
25,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
19,1 99,6 100,0 100,0 100,0 100,0
12,7 54,9 100,0 100,0 100,0 100,0
9,5 18,2 97,3 100,0 100,0 100,0
4,8 2,4 36,9 99,9 100,0 100,0
2,0 1,3 5,2 90,5 95,8 100,0
0,42 0,8 1,9 35,0 58,2 100,0
0,18 0,6 1,0 23,4 5,2 99,9
0,075 0,3 0,5 17,6 0,2 96,8

A caracterização dos agregados teve como resultado os valores apresenta-


dos na Tabela 4:

Tabela 4. Caracterização dos agregados e fíler.

Ensaios Brita 1 Brita 0 Pó de pedra Areia


Abrasão Los Angeles (LA) (%) 20,91 - - -
Absorção (a) 0,4 1,0 - -
Massa específica (r ) (kN/m ) 3
27,1 24,6 27,0 26,0
Índice de forma (f) 0,72 - - -
Equivalente de areia (%) (Ea) - - - 94

Segundo a ES 031 (DNIT, 2006) os agregados devem apresentar os seguintes valores


limites: LA £ 50%; f >0,5; Ea ³55%. Os valores obtidos do agregado calcário atendem os
limites prescritos na norma como apresentado na tabela 4. A forma da brita é considerada
cúbica com valor f = 1 e, lamelar para f = 0. Pode-se considerar para o agregado pesqui-
sado que o mesmo apresenta forma cúbica. Os resultados encontrados na brita calcária
atendem os limites especificados em norma e, comparados aos da brita de origem granítica,
apresentou valores semelhantes: massa específica 26,5 kN/m3, absorção 0,4%, abrasão
Los Angeles 31,56%.
Em relação a adesividade ao ligante, a brita calcária apresentou resultado satisfatório,
como era de se esperar, por se tratar de agregado de característica básica (Franklin, 2007).

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420
A caracterização do ligante apresentou valores definidos em normativas: Ponto de
amolecimento 50ºC; penetração 53 mm ; viscosidade Brookfield a 135ºC, 150ºC e 177ºC os
valores de 316 cp, 156 cp e 60 cp. respectivamente e, densidade específica 1,01.

Misturas

Os percentuais determinados para a composição granulométrica e, utilizada na mol-


dagem das misturas asfálticas estão apresentadas na Tabela 5. Observa-se que não foi
utilizado fíler na mistura na composição.

Tabela 5. Percentual dos agregados na dosagem das misturas.

Agregados (%)
Brita 19 mm 25
Brita 9,5 mm 36
Pó de pedra 24
Areia 15
Cimento 0

O critério escolhido para a composição granulométrica foi de forma a obter os percen-


tuais mais próximos da média da faixa de trabalho, como apresenta a Figura 1.

Figura 2. Gráfico da granulometria composição.

As misturas asfálticas apresentaram os resultados provenientes da média de cinco


corpos de prova que constam na Tabela 6. Os valores da estabilidade foram corrigidos se-
gundo orientação a norma DNER ME 043.

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421
Tabela 6. Resultados das misturas – Composição.

Parâmetros 5% CAP 5,5% CAP 6% CAP


E (N) 5610 8050 11500
Gmb (g/cm ) 3
2,2149 2,2296 2,2357
DMT (%) 2,4188 2,3902 2,3623
Vv (%) 8,426 6,718 5,359
VAM (%) 19,380 18,848 18,627
VCB (%) 10,9543 12,1296 13,2683
RBV (%) 56,5213 64,35312 71,2288

Para o cálculo da DMT, os percentuais dos agregados foram corrigidos em relação


aos percentuais do CAP.
O gráfico que relaciona e RBV versus % CAP, Figura 3 nos mostra pela equação
de tendência que o valor do teor de CAP, para atender o valor médio RBV de 78,5%,
deve ser de 6,48%.

Figura 3. Gráfico da relação RBV versus % do CAP da mistura.

Seguindo a mesma tendência, o gráfico que relaciona Vv versus teor de ligante, Figura
4 nos mostra pela equação de tendência que para atender o valor médio Vv de 4%, o teor
de asfalto deve ser de 6,42%.

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Figura 4. Gráfico da relação Vv versus % do CAP da mistura.

A norma DNIT ES 031 prescreve que as misturas devem atender às especificações da


relação betume/vazios ou aos mínimos de vazios do agregado mineral, dados pelo Tamanho
Nominal Máximo do agregado. Nesta pesquisa, o tamanho nominal máximo é 19,1 mm, que
pela norma o valor de VAM deve ser maior que 15%. Neste trabalho, os valores de VAM
ficaram acima de 18%.
Os resultados das misturas nesta pesquisa, obtiveram valores para a Estabilidade (E)
acima do limite mínimo da norma, porém, se observarmos os resultados obtidos para volume
de vazios e relação betume vazios não atenderam aos especificados nas normativas.
Outra análise é que os valores de RBV aumentam com o aumento do ter do CAP na
mistura, e inversamente, o Vv diminui.

CONCLUSÃO

Os agregados de origem calcária, do Distrito da Guia, localizado na Grande Cuiabá,


caracterizados nesta pesquisa, atenderam os valores de parâmetros especificados nas
normativas, para serem utilizados como agregados nas misturas densas.
Esta informação é importante, na medida que diminui a incerteza sobre a aplicação
desse tipo de agregado. Obviamente, há necessidade de mais estudos para verificar a re-
petibilidade de comportamento nas misturas asfálticas.
A composição granulométrica definida e utilizada nesta pesquisa, sem uso do fíler, e
os percentuais dos teores de ligante, apresentou resultados de volume de vazios e relação
betume vazios que não atenderam os limites definidos nas normativas.
Graficamente, pelas Figuras 3 e 4 pode-se inferir que, há necessidade de utilizar um
percentual de ligante acima de 6%, para reduzir o volume de vazios. Uma mistura com teor
elevado, pode favorecer surgimento de patologias e encarecer o concreto asfáltico. Esse
resultado, pode estar relacionado com a ausência de fíler na composição granulométrica.

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Em continuidade ao estudo, moldar a mistura desta composição com teor de 6,5%,
como obtido pelas equações das linhas de tendência dos gráficos das figuras 3 e 4; utilizar
uma segunda composição, com uso de fíler, reduzindo o percentual do pó de pedra.

Agradecimentos

Agradecemos ao IFMT e a Betunel que nos forneceu o ligante asfáltico.

REFERÊNCIAS

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Textos, São Paulo, 1332p.

Bernucci, L. B., Motta, L. M. G. da, Ceratti, J. A. P, Soares, J. B. (2006) Pavimentação


asfáltica: formação básica para engenheiros, Petrobras: ABEDA, Rio de Janeiro, 504p.

CNT – Confederação Nacional do Transporte (2019) Pesquisa CNT de Rodovia 2019. ht-
tps://pesquisarodovias.cnt.org.br acesso: 10 fevereiro 2020.

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sividade a ligante betuminoso. Rio de Janeiro.

Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (1994) ME 086: Agregado: determinação


do índice de forma. Rio de Janeiro.

Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (1994) ME 089: Agregados: avaliação


da durabilidade pelo emprego de soluções de sódio ou de magnésio. Rio de Janeiro

Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (1995) ME 043. Misturas betumi-


nosas a quente: ensaio Marshall para misturas betuminosas. Rio de Janeiro.

Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (1995) ME 084. Agregado miúdo: de-


terminação da densidade real. Rio de Janeiro

Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (1996) ME 193: Materiais betuminosos


líquidos e semi- sólidos - determinação da densidade e massa específica. Rio de Janeiro.

Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (1997) ME 054. Equivalente de areia. Rio


de Janeiro Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (1998) ME 035. Agregados:
determinação da abrasão Los Angeles. Rio de Janeiro.

Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (1998) ME 081. Agregados: determinação


da absorção e da densidade de agregado graúdo. Rio de Janeiro.

Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (1998) ME 083. Agregados: análise


granulométrica. Rio de Janeiro.

Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (1999) ME 383. Misturas betu-


minosas: desgaste por abrasão de misturas betuminosas com asfalto polímero: ensaio
Cântabro. Rio de Janeiro.

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cos – Determinação do ponto de amolecimento – Método do Anel e Bola Método de ensaio.
Rio de Janeiro.

Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (2010) ME 155. Material asfáltico


– determinação da penetração – Método de ensaio. Rio de Janeiro.

Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (2006) ES 031. Pavimentos flexí-


veis - Concreto asfáltico - Especificação de serviço. Rio de Janeiro.

Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (2018) ME 136. Pavimentação


asfáltica - Misturas asfálticas – Determinação da resistência à tração por compressão dia-
metral – Método de ensaio. Rio de Janeiro

Espírito Santo, O. (2003) Qualidade dos calcários agrícolas produzidos no Estado de Mato
Grosso. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade de
Agronomia e Medicina Veterinária. 45 p.

Franklim, N.T. (2007) Avaliação da adesividade ligante-agregado e misturas asfálticas por


técnicas de análise de superfícies. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio
de Janeiro, COPPE. 99p.

Leitura de Prova - ISBN XXX-XX-XXXX-XXX-X - Vol. X - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
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28
Análise de patologias em juntas de
dilatação em ponte de concreto: estudo
de caso em Cuiabá - MT

Jonathan Lima Barbosa


Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT)

Marcos de Oliveira Valin Jr


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

'10.37885/230512919
RESUMO

É crescente a preocupação com a morbidade dos problemas que surgem nas construções,
além do fato de que as estruturas devem ser mantidas regularmente para atingir a vida útil
projetada. As pontes são um elemento indispensável no sistema viário, conectando cida-
des e até mesmo países, e impulsionando o desenvolvimento econômico e cultural. Estas
estruturas sofrem de muitos problemas patológicos nas juntas de dilatação devido à falta
de manutenção ou equívocos nos critérios de dimensionamento. As juntas de dilatação
são elementos que não possuem caráter estrutural, porém são importantes para o pleno
funcionamento das obras de arte especiais (OAE). No município de Cuiabá, localizado na
região centro-sul do território do estado de Mato Grosso, na região centro-oeste do Brasil, o
município tem recebido investimentos públicos e privados para obras de estrutura viária, um
desses investimentos foi a construção de ponte ligando os Bairros Jardim Itália e Recanto
dos Pássaros, sendo uma ponte de médio porte, no Córrego do Moinho, que serve de aces-
so para veículos de pequeno e grande porte. O presente trabalho visou compreender as
patologias existentes nas juntas de dilatação na ponte em estudo, bem como seus agentes
causadores, a fim de fornecer subsídios aos seus administradores, para que possa gerar
possíveis soluções de reparo e garantir a elas segurança e vida útil.

Palavras-chave: Patologia, Junta de Dilatação, Ponte de Concreto.


INTRODUÇÃO

Ao longo dos anos, a construção civil ocupou posições importantes na estrutura eco-
nômica mundial, sendo posição de destaque no PIB de diversos países, o setor emprego
que necessita da mão de obra direta e indireta para elaboração dos serviços, e é o ramo
econômico que mais produz emprego e renda nos curtos e médios prazos, sendo capaz de
impulsionar o crescimento do mundo economia (NASSER, 2009; CARVALHO, 2017).
A construção civil cresceu 17,7% no último biênio (2021/2022), nesse período a eco-
nomia nacional apresentou expansão de 8,2% da mesma forma a Câmara Brasileira da
Indústria da Construção (CBIC) estima o crescimento da construção civil cerca de 2,5% em
2023 (CBIC, 2022).
A crescente dinâmica econômica recente exige que as cidades absorvam esse cresci-
mento e melhorem as condições de urbanização para sustentá-lo do ponto de vista territorial
(ROLNIK; KLINK, 2011). Portanto, expandir os territórios vencendo os desafios apresen-
tados pelos relevos e hidrologias, torna-se fundamental a implantação de obras de arte
especiais (OAE).
Pontes e viadutos, são conhecidos como obras de arte especiais (OAE), fazendo-se
parte importante de muitos sistemas viários, e podem ser constituídos de vários tipos de ma-
teriais, como madeira, aço, concreto armado e concreto protendido (MASCARENHAS, 2019).
Em alguns países, o crescimento acelerado da construção de OAE tem alimentado
a necessidade de inovação, o que significa assumir maiores riscos, ainda que dentro de
certos limites, uma vez que, são regulados das mais diversas formas, o progresso no desen-
volvimento tecnológico ocorre naturalmente, com consequente aumento do conhecimento
de estruturas e materiais, principalmente por meio de pesquisas e análises de eventos que
levam à deterioração prematura ou acidentes (SOUZA, RIPPER, 2005).
Cada estrutura é dimensionada para suportar uma certa quantidade de esforço e vida
útil, porém, fatores como efeitos patológicos irão acelerar o envelhecimento da estrutura,
portanto, é necessário tomar medidas para prevenir o aparecimento de manifestações pa-
tológicas entre as mencionadas (DE MORAIS; DE CARVALHO; DINIZ., 2023).
No entanto, nenhum material dura para sempre, levando à necessidade de um novo
campo de pesquisa na engenharia estrutural voltado para o estudo da durabilidade em re-
lação aos parâmetros que a afetam (MASCARENHAS, 2019).
Além disso, no Brasil, ainda não há conhecimento técnico-científico sistemático e apro-
fundado para a avaliação do estado de estabilidade estrutural das pontes rodoviárias exis-
tentes, principalmente as mais antigas. (BASTOS; MIRANDA, 2017).
No presente momento, a tecnologia permite aprimorar os cálculos e o conhecimento
dos materiais, levando à execução de trabalhos mais esbeltos e, portanto, exigindo mais

Tecnologia em Controle de Obras: 20 anos de contribuições do IFMT para construção civil - ISBN 978-65-5360-326-4 - Volume 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
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atenção. Portanto, há a necessidade de um estudo para entender os principais fatores de
degradação, conhecidos como patologia. (MASCARENHAS, 2019).
Um dos elementos que mais apresentam manifestações patológicas em OAE, são as
juntas de dilatação (LANER, 2001).
As juntas de dilatação são elementos importantes nas OAE, responsáveis ​​por atenuar
o movimento causado por fenômenos de mudança de temperatura, possibilitando de que
esses movimentos estejam contidos apenas em seus componentes para transferir a ação
para os outros componentes da ponte e do viaduto, sendo assim, proporcionando maior
segurança aos usuários da OAE e manter o pleno exercício de suas funções (CORDEIRO;
SOUZA; OSÓRIO, 2019).
O uso de juntas de dilatação em pontes e viadutos está ganhando força ao validar o
efeito das mudanças de temperatura nos diferentes materiais usados ​​para compor estrutu-
ras de pontes e viadutos. Em pontes de pedra e madeira não há necessidade de utilização
de juntas de dilatação, pois o efeito das variações de temperatura nas OAE é considerado
insignificante e não oferece riscos aos usuários, entretanto, a utilização do aço e concreto
na construção de pontes, ao longo do tempo tem confirmado que os efeitos das dilatações
térmicas ocorrem como prejudiciais e significativos, confirmando que a utilização de juntas
de dilatação é necessária e imprescindível para o pleno funcionamento de pontes e viadutos
(CORDEIRO; SOUZA; OSÓRIO, 2019).
Com o avanço da tecnologia e o aumento do tráfego de veículos, apesar das inovações,
não houve muito desenvolvimento nos sistemas de inspeção e manutenção de juntas de
dilatação (FERREIRA, 2013).
Sem progressos significativos nessas questões, as juntas de dilatação tornaram-se
cada vez mais propensas a anomalias e mau condicionamento, levando a um aumento na
incidência de falha de componentes de pontes (CORDEIRO; SOUZA; OSÓRIO, 2019).
No município de Cuiabá, Mato Grosso, existe uma ponte edificada em estrutura de
concreto, assente sobre o córrego do Moinho, que serve de passagem para os transeuntes
da região, porém a estrutura apresentou patologias nas juntas de dilatação, no entanto a
OAE foi inaugurada recentemente. Conforme relatos dos populares, o tráfego ocorre de
maneira adequada sobre a estrutura. Com fundamento nas informações supracitadas, cabe
o seguinte questionamento: Quais as possíveis causas que levou a ponte apresentar pato-
logias rapidamente?
O trabalho teve como objetivo geral apontar possíveis causas que ocasionaram a exi-
bição de patologias na junta de dilatação da ponte de concreto na cidade de Cuiabá, capital
estado do Mato Grosso. Os objetivos específicos são: investigar a literatura científica dispo-
nível em fontes confiáveis sobre patologias em pontes; abordar de maneira minuciosa acerca

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das hipóteses citadas no trabalho como possíveis causas para manifestação de patologias;
encontrar soluções preventivas, corretivas e viáveis conforme concepção técnica para que
sejam evitados acidentes futuros.

DETALHAMENTO DO CASO

A área de estudo está localizada na cidade de Cuiabá-MT, capital do estado do Mato


Grosso, situada nas coordenadas 15º59’82” latitude Sul e 56º03’80” longitude Oeste, com
uma população estimada em torno de 623.614 habitantes.
Além das atividades administrativas, a indústria terciária responde pela maior parcela
do PIB cuiabano 67,54% e também reúne importantes centros comerciais e de serviços em
todo o estado (GUITARRARA, 2023). A indústria responde por 13,38% da economia da
cidade. Dentre os empreendimentos instalados na cidade, os setores mais representados
são os de metalurgia, transporte de materiais, produtos minerais não metálicos, confecções,
alimentos e móveis (GUITARRARA, 2023).
A área em estudo está localizada no Planalto Central brasileiro, próximo da planície
do Pantanal, apresentando vegetação pertence ao bioma cerrado, o clima dominante é o
tropical continental, caracteriza-se por duas estações do ano bem definidas: um verão quente
e chuvoso, que se estende de setembro a maio aproximadamente, e um inverno ameno e
seco (GUITARRARA, 2023).
A ponte de concreto objeto de estudo, está localizada no bairro jardim Itália, perten-
cendo ao município de Cuiabá, conforme a Figura 1.

Figura 1. Localização da ponte sobre o córrego moinho.

Fonte: Adaptado Google Maps (2023).

A ponte de concreto faz parte de uma parceria firmada entre a Secretaria Municipal
de Obras Públicas e a construtora do setor privado, possui cerca de 36 metros de extensão
e 18 metros de largura para comportar duas pistas (CUIABÁ, 2021), conforme a Figura 2.

Tecnologia em Controle de Obras: 20 anos de contribuições do IFMT para construção civil - ISBN 978-65-5360-326-4 - Volume 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
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Figura 2. Ponte de concreto armado sobre o córrego do Moinho.

Fonte: Prefeitura de Cuiabá (2021).

Coleta de dados

O levantamento foi feito a partir de visitas e inspeções visuais na ponte, respaldado


por normas de segurança. As inspeções nas pontes são realizadas de forma sistemática e
organizada para detectar quaisquer deficiências na estrutura e garantir que todos os ele-
mentos estruturais sejam inspecionados, conforme a Tabela 1.
O relatório fotográfico é produzido de forma abrangente com fotografias que ilustram
em alta qualidade os pontos mais importantes detectados nas juntas de dilatação analisando
as deficiências que eventualmente são encontradas, conforma Tabela 1.

Tabela 1. Técnicas de Observação e Diagnóstico.

Observação Técnica
Observação visual direta
Observação
Observação com equipamentos (Binóculos, máquina fotográfica e filmadora)
Verificação auditiva direta
Auditiva Medição de ruído através do sonômetro
Percussão com martelo
Medição com trena
Medição com paquímetro
Medição Medição com régua de folga
Medição com transferidor
Monitoração do espaçamento da junta
Estudo de amostra da junta
Mecânica
Teste com chave dinamométrica
Impermeabilidade e drenagem Teste de estanqueidade
Fonte: Adaptado de Lima e Brito, 2007.

Finalmente, as deficiências devem ser inspecionadas e documentadas para identificar


as causas e encontrar soluções para a reestruturação. Durante as inspeções, é importante
aguardar a passagem de veículos pesados na ponte para verificar vibrações excessivas ou
deformações, além de identificar qual o tipo de junta instalada, devido à variedade de opções
de juntas disponíveis no mercado, conforme a Tabela 2.

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Tabela 2. Alguns tipos de juntas de dilatação.

Tipo Modelo Código Descrição do material


Constituídas em concreto com reforço metálico,
1 Juntas abertas JA
caso necessário
2 Juntas ocultas sobre pavimentos contínuos JOPC Material betuminoso
Betume modificado com elastómeros e agrega-
3 Junta de betume modificado JBM
dos siliciosos ou basálticos
4 Juntas seladas com material elástico JSME Poliuretanos, silicones
5 Junta de perfil elastomérico comprimido JPEC Borracha natural ou sintética
Fonte: Adaptado Marques Lima (2006).

DISCUSSÃO

Dilatação Térmica

Podemos definir a expansão térmica como um fenômeno, acontece quando um objeto


(seja sólido, líquido ou gasoso) aumenta de tamanho devido ao aumento da temperatura, o
fato pode ser explicado pelo aumento da agitação das partículas do objeto devido ao aumento
da temperatura. Portanto, um aumento na agitação das partículas faz com que a distância
entre elas fique maior, o que leva a um aumento na divisão entre as partículas, o que leva
a um aumento no tamanho do objeto (PIZETTA; MASTELARO, 2014).
Desta forma, define-se estudar a dilatação térmica em apenas uma dimensão (com-
primento) do objeto, denominada dilatação linear, ou direcionar o estudo em duas dimen-
sões do corpo (comprimento e largura), isso é chamado de dilatação da superficial e, final-
mente, se o estudo tiver três dimensões do corpo, é chamada de dilatação volumétrica ou
expansão cúbica.
A dilatação linear estuda apenas o fenômeno da expansão térmica em um corpo solido
(Figura 4). Em contraste com outras descobertas físicas, a expansão linear pode ser definida
classificando-a como uma simples consideração empírica. Portanto, podemos definir com a
seguinte expressão matemática, conforme a Figura 3.

Figura 3. Comprimento do corpo final.

Fonte: IFRS (2016).

Onde:

L = Comprimento do corpo final (m)


L0 = Comprimento do corpo inicial (m);
α = Coeficiente de dilatação linear (1.10^-6 °C^-1);
∆t = Variação de temperatura (°C).

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Figura 4. Efeitos da dilatação térmica linear em uma barra.

Fonte: IFRS (2016).

O coeficiente de expansão ou dilatação linear (α) é definido para cada material e varia
de acordo com a faixa de temperatura estudada, valores definidos para a temperatura de
20°C conforme a Tabela 3.

Tabela 3. Coeficientes de dilatação linear.

Material α (1.10^-6 °C^-1)


Alumínio 24
Cobre 17
Concreto 12
Ferro 12
Vidro 9
Fonte: Cordeiro, Gomes e Osório (2019).

A dilatação superficial é o estudo dos efeitos da expansão térmica calor bidimensional


de sólidos. Assim, pesquisas estendidas para superfície projetada analisam mudanças no
comprimento e na largura do corpo sob vigilância (CALÇADA; SAMPAIO, 2012).
Como exemplo, podemos analisar a variação da área proporcional e área inicial de
uma placa de metal, submetida ao aumento de temperatura, conforme a Figura 5.

Figura 5. Efeitos da dilatação térmica linear em uma barra.

Fonte: Villaruel (2014).

A dilatação superficial pode ser descrita matematicamente com a seguinte ex-


pressão da Figura 6.

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Figura 6. Variação da área do corpo.

Fonte: Cordeiro, Souza e Osório (2019).

Onde:

∆A = Variação da área do corpo (m²);Ai = Área inicial (m²);


β = Coeficiente de dilatação superficial (1.10^-6 °C^-1);
∆t = Variação de temperatura (°C).

Resultante da dilatação térmica superficial também depende da tipologia do material,


assim sendo, para definir a variação da área do corpo em estudo, deve-se utilizar o coefi-
ciente de dilatação superficial (β), conforme o material do corpo observado, estabelecido
como duas vezes o coeficiente de dilatação linear, conforme a Figura 7.

Figura 7. Comprimento do corpo final.

Fonte: Cordeiro, Souza e Osório, (2019).

A dilatação térmica volumétrica de um sólido pode ser definida como todas as dimen-
sões do corpo devido ao aumento da temperatura (GASPAR, 2010).
Este fenômeno é o único de expansão térmica que faz sentido ocorrer em um líquido.
Portanto, podemos definir a expansão de volume de um sólido pela expressão matemática
na Figura 8 e representação na Figura 9.

Figura 8. Variação do volume do corpo.

Fonte: Cordeiro, Souza e Osório, (2019).

Onde:

∆V= Variação do volume do corpo (m³);V0 = Volume inicial (m³);


γ = Coeficiente de dilatação volumétrica (1.10^-6 °C^-1);
∆t = Variação de temperatura (°C).

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Figura 9. Corpo sólido submetido aos efeitos da dilatação volumétrica.

Fonte: Adaptado Cordeiro, Souza e Osório, (2019).

Do mesmo modo que, o coeficiente de dilatação superficial (β), o coeficiente de dilatação


volumétrica (γ) também será obtido conforme da tabela 3, portanto, para que o coeficiente
de dilatação volumétrica seja obtido deve ser calculado conforme formula da Figura 10.

Figura 10. Corpo sólido submetido aos efeitos da dilatação volumétrica.

Fonte: Cordeiro, Souza e Osório, (2019).

A dilatação térmica volumétrica em corpos líquidos, deve-se estudar considerando o


líquido em um recipiente, pois não é possível realizar o estudo da dilatação térmica volumé-
trica de um corpo líquido, sem a presença de um recipiente (GASPAR, 2010).
Agora, com o avanço da ciência e da tecnologia, o surgimento de novos materiais, ta-
belas para interpretação de coeficientes de dilatação volumétrica de líquidos aparentemente
sem uso, o uso de tabelas está se tornando mais comum, representa-se o coeficiente de
dilatação volumétrica de um líquido real, conforme a Tabela 4.

Tabela 4. Coeficientes de dilatação volumétrica de líquidos real.

Material α (1.10^-6 °C^-1)


Alumínio 24
Cobre 17
Concreto 12
Ferro 12
Vidro 9
Fonte: Cordeiro, Gomes e Osório (2019).

Tipos de patologias em juntas de dilatação

Manifestações patológicas em juntas de dilatação de pontes e viadutos podem ser o


resultado de uma série de condições e aspectos, conforme a Figura 11.

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Figura 11. Gráfico da Incidência de manifestações patológicas em juntas de dilatação em pontes, viadutos e passarelas.

Fonte: Laner (2001).

Podemos observar uma elevada percentagem de anomalias relacionadas com res-


saltos, sujidade e infiltrações em viadutos e pontes. Essas manifestações patológicas são
comuns em muitas OAE no Brasil e estão relacionadas principalmente à falta de manutenção
(CORDEIRO; SOUZA; OSÓRIO, 2019).
Para melhor entendimento do estudo de caso, vamos classificá-la de acordo com
os fatores causais, explicando a principal teoria das manifestações patológicas nas jun-
tas de dilatação.

Fixação

A maneira como as juntas de dilatação se conectam às estruturas da ponte é muito


importante porque esse aspecto garantirá resistência ao esforço e garantirá conforto para
o usuário no handover. Quando solto ou danificado. A estrutura das juntas fixas, o som
dos veículos que passam, nota-se que há uma anomalia na fixação da junta de dilatação,
(CORDEIRO; SOUZA; OSÓRIO, 2019) conforme a Figura 12.

Figura 12. Patologia de fixação na junta de dilatação do estudo de caso.

Fonte: Próprio autor (2023).

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Geometria e transição para o pavimento

Este tipo de exceção é muito frequente e caracteriza-se por prevalecer juntas de dila-
tação com pavimento asfáltico em pontes e viadutos são comuns recapeamento para trazer
pistas para um bom padrão, porém, para maior conforto do usuário, podemos observar que
durante procedimentos, as agências responsáveis ​​pelo recapeamento podem realizar revi-
talização de estradas e juntas de dilatação (CORDEIRO; SOUZA; OSÓRIO, 2019).
Desta forma, o pavimento asfáltico sobre as juntas de dilatação evita o movimento.
Portanto, as juntas de dilatação atuam no pavimento asfáltico e podem ser afetadas por
rachaduras (CORDEIRO; SOUZA; OSÓRIO, 2019) conforme a Figura 13.

Figura 13. Fissuras no pavimento asfáltico sob a junta de dilatação do estudo de caso.

Fonte: Próprio autor (2023).

Quando este elemento apresenta anomalias na transição para o pavimento, o sistema


pode funcionar mal, o mesmo é usado para fixar juntas de dilatação e suas bordas, onde
podem ocorrer trincas em lábios de polímero, no caso das juntas com cantoneiras nas
bordas, podem apresentar fissuras ou rompimento (CORDEIRO; SOUZA; OSÓRIO, 2019),
conforme Figuras 14 e 15.

Figura 14. Fissuras no pavimento asfáltico sob a junta de dilatação do estudo de caso.

Fonte: Próprio autor (2023).

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Tendo em vista que, crescimento dessas rachaduras, podem causar vibrações duran-
te a passagem dos veículos e, com a movimentação das juntas, vai provocar vibrações no
asfalto da pista, tornando-se propício ocorrer acidentes graves (FERREIRA, 2013).

Figura 15. Fissuras no pavimento asfáltico sob a junta de dilatação do estudo de caso.

Fonte: Próprio autor (2023).

Movimentos das juntas de dilatação

A limitação do movimento da junta de dilatação pode ser o resultado de vários fatores,


com isso, um dos fatores que dificultam o movimento articular é a deposição de detritos entre
as articulações. Esses detritos podem atingir as juntas por meio de precipitação, veículos e
movimentação de pessoas (FERREIRA, 2013), conforme Figuras 16 e 17.

Figura 16. Fissuras no pavimento asfáltico sob a junta de dilatação devido aos movimentos.

Fonte: Próprio autor (2023).

No entanto, enfatiza-se que as barreiras ao movimento nas juntas podem estar rela-
cionadas aos espaços que podem aparentar ter uma dimensão considerada muito aberta
ou muito fechada, de modo que um material designado para desempenhar uma função, não
pode realizar o movimento plenamente (CORDEIRO; SOUZA; OSÓRIO, 2019).

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Figura 17. Fissuras no pavimento asfáltico sob a junta de dilatação devido aos movimentos.

Fonte: Próprio autor (2023).

Drenagem e impermeabilidade na junta de dilatação

A escassez de impermeabilização na junta, pode ocorrer outras patologias, acredita-


-se que seja improvável que as juntas e seus componentes fixos sofram algumas fraturas
(FERREIRA, 2013).
Apresentando ausência do detalhamento para vedar as juntas de dilatação, significa
execução insuficiente e, além disso, essa insuficiência combinado com a falta de drenagem
para evacuar água que fica alojada sob a estrutura, posteriormente, causará transporte e
acomodação da água, e poderá atingir outros elementos que constituem OAE (CORDEIRO;
SOUZA; OSÓRIO, 2019).
Portanto, apontou-se que a ponte sobre o córrego do moinho, não apresenta nenhum
sistema de drenagem superficial, conforme a Figura 18.

Figura 18. Ponte sobre o córrego do moinho não apresenta drenagem na estrutura.

Fonte: Próprio autor (2023).

A drenagem e o bom manejo das águas pluviais em regiões urbanas, é o conjunto


de atividades e operações de infraestrutura para drenar as águas pluviais, transportadas,
evacuando possíveis retenções (SILVA et. al., 2019).

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Várias práticas no projeto de sistemas de águas pluviais devem ser respeitadas para
proteger áreas irregulares (CANHOLI, 2014). Estudar o relevo da área em que será construída
uma OAE é fundamental para planejar o uso de elementos para drenar as águas pluviais.
A topografia da área, deve evitar urbanizações em áreas excessivamente íngremes,
portanto, com declividades altas devem ter áreas livres e vegetação de proteção, ou devem
ser realizados estudos de urbanização (BOTELHO, 2021).
A ponte sobre o córrego do moinho, apresenta-se na área mais baixa em relação as
duas margens de acesso, conforme a Figura 19 e 20.

Figura 19. Ponte sobre o córrego do moinho apresenta-se em nível abaixo da pista de rolagem.

Fonte: Próprio autor (2023).

Figura 20. Ponte sobre o córrego do moinho apresenta-se em nível abaixo da pista de rolagem.

Fonte: Próprio autor (2023).

O curso da chuva é determinado pelo traçado da rua e acaba se comportando de forma


diferente de seu comportamento original, sendo assim, o traçado das ruas é, portanto, um
elemento importante na definição do sistema de drenagem de águas pluviais, determinando
a largura das ruas, suas declividades transversais (Figura 21), e declividades longitudinais,
destinando uma parcela das águas resultantes aos pontos mais baixos (BOTELHO, 2021)
conforme a Figura 22.

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Figura 21. Declividade transversal de pista de rolagem.

Fonte: Botelho (2021).

Figura 22. Declividade longitudinal de pista de rolagem.

Fonte: Botelho (2021).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As juntas de dilatação são elementos essenciais em muitas estruturas de engenharia,


especialmente em obras de arte especiais, como pontes e viadutos, pois permitem acomodar
a expansão térmica e as vibrações estruturais, evitando o aparecimento de rachaduras e
danos permanentes. No entanto, essas juntas também podem apresentar patologias, que
podem afetar sua eficácia e a integridade da estrutura como um todo.
Algumas das patologias mais comuns em juntas de dilatação, foram apresentadas na
área de estudo em questão, incluindo a acumulação de sujeira e detritos, a deterioração do
material de vedação, a obstrução do movimento das juntas devido a problemas de construção
ou modelo inadequado. Esses problemas podem levar a vazamentos de água, infiltração
de sujeira e até mesmo falhas estruturais na pista de rolamento para o acesso da estrutura.
Para prevenir ou remediar essas patologias, é importante realizar uma inspeção regular
das juntas de dilatação, especialmente em estruturas expostas a condições adversas, como
altas temperaturas, umidade ou agentes químicos. Além disso, é fundamental garantir que
as juntas sejam projetadas e construídas de acordo com as normas e diretrizes adequadas,
e que os materiais de vedação resistentes à água e com um sistema de drenagem eficaz
para garantir que a água da chuva não se acumule nas juntas, Além do mais, é importante

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realizar inspeções regulares para identificar e corrigir problemas de infiltração de água o
mais cedo possível.
Em resumo, embora as juntas de dilatação sejam elementos cruciais para a inte-
gridade estrutural de muitas construções, elas também podem apresentar patologias que
precisam ser cuidadosamente gerenciadas para garantir a segurança e a eficácia a longo
prazo da estrutura.
As patologias por águas pluviais, ou erros de dimensionamento em juntas de dilatação
são um problema sério que pode comprometer a integridade estrutural de uma constru-
ção. É fundamental tomar medidas preventivas e corretivas adequadas para garantir que
as juntas permaneçam eficazes em lidar com as tensões e movimentos estruturais e para
evitar danos causados pela infiltração de água.

REFERÊNCIAS
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de pontes e viadutos: manuseio e manutenção das obras de arte especiais. Minas
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sitorio.unitau.br/jspui/bitstream/20.500.11874/1071/1/Tiago%20de%20Mo raes%20
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São Paulo, 2019. DOI 10.29327/4161455.

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vantada-e-municipio-trabalha-na-construcao-de-uma-nova-via/24897. Acesso em 30
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tipos de juntas de dilatação em Obras de Arte. Lisboa, 2013. Acesso em: 12/03/2023.

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uol.com.br/brasil/cuiaba.htm. Acesso em 30 de março de 2023.

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Evaluación del módulo de resiliencia en
mezclas de suelo y RCD aplicado en obras
de pavimentación

Enio Fernandes Amorim


Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN)

Luis Fernando Martins Ribeiro


Universidade de Brasília (UNB)

Juzélia Santos da Costa


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Artigo original publicado em: 2014


CONVENCIÓN CIENTÍFICA DE INGENIERÍA Y ARQUITECTURA
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/230512981
RESUMEN

El almacenamiento y la eliminación de residuos de construcción y demolición de obras pú-


blicas (RCD) todavía no están perfectamente asociados con una asignación sostenible y,
a su vez la generación de estos residuos ha tenido un importante aumento en cantidad en
todo el mundo. Es importante destacar que su acumulación inadecuada genera una carga
grande para la salud pública, impacto ambiental y una gran contaminación visual. Basado
en estos aspectos, algunas investigaciones desarrolladas en varias partes de Brasil y del
mundo señalan la viabilidad de la utilización de estos residuos en las obras viales. En este
contexto, este trabajo presenta una evaluación del comportamiento mecánico de mezclas
de suelo con RCD con base en pruebas del módulo resiliente, con el objetivo de evaluar su
uso en obras de pavimentación. El programa experimental que se llevó a cabo a partir de
las muestras procedentes de los restos del RCD hormigón, mampostería y ladrillos, mezcla-
dos con un suelo natural de la ciudad de Campo Verde - MT, Brasil. Los procedimientos de
las pruebas se basaron en las recomendaciones impuestas por la Asociación Brasileña de
Normas Técnicas (ABNT) y la Asociación Americana de Carreteras Estatales y Transporte
(AASHTO). Los resultados mostraron la aplicación potencial de la mezcla de RCD como
una alternativa viable de aplicación en diferentes capas de las obras viales, dado el orden
de magnitud que se encuentra la capacidad de resistencia de las mezclas.

Palabras-Clave: Módulo Resiliente, Residuos de la Construcción, Mezclas de Suelos y RCD.


INTRODUÇÃO

A humanidade chega à segunda década do século XXI com sete bilhões de habitantes,
dos quais a maioria vive em um regime socioeconômico que tende a estimular o alto con-
sumo e a busca incessante por riqueza [1]. Neste contexto, percebe-se índices alarmantes
relacionado à produção de resíduos sólidos urbanos, em que segundo [2] cada habitante
chega a gerar 1,106 kg de lixo por dia, os quais devem ser devidamente acondicionados de
modo a se evitar o colapso parcial ou total do meio ambiente.
Inserida nesse cenário, a construção civil colabora em larga escala com a produção de
resíduos, principalmente os oriundos de obras de demolição, reformas, desperdícios durante
a execução de obras novas e mesmo por resíduos gerados pela ausência da adequação
de materiais às condições das obras. Neste último caso, pode-se exemplificar a quebra de
tijolos necessária para finalizar painéis de vedação e cortes em materiais de revestimentos.
Muito embora seja uma prática comum, o correto seria que os projetos das edificações
fossem concebidos a partir das dimensões padronizadas de tijolos, peças cerâmicas, etc.
Contudo, no Brasil, essa realidade ainda encontra-se distante, o que colabora, em muito,
com a produção elevada de resíduos na área da construção civil.
Neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo principal avaliar os módulos de
resiliência obtidos a partir de misturas de solo com resíduos de construção e demolição de
obras, visando à sua utilização em obras de pavimentação.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

De acordo com [3], os resíduos oriundos da construção civil são provenientes de cons-
truções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, e, os resultantes da
preparação e da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em
geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas madeiras e compensados, forros, arga-
massa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiações elétricas,
etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou metralha. Ainda de acordo com
[3], os RCD classificam-se em quatro classes denominadas de A, B, C e D, em função das
possibilidades de reciclagem. Desse modo, a classe A tem como base os materiais reutili-
záveis ou recicláveis como agregados, enquadrando-se assim, com os materiais residuais a
serem empregados e analisados nesta pesquisa. As demais classes possuem características
que não serão abordadas, neste estudo, tendo em vista que foge o objeto proposto para a
realização deste trabalho. Contudo, como informações adicionais, a classe B engloba os
materiais recicláveis para outras destinações tais como plásticos; a classe C caracteriza-se

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por apresentar materiais sem tecnologia economicamente viável como o gesso e a clas-
se D que envolve os resíduos perigosos.

Potencial de Utilização dos RCD

Uma vez que a teoria do desenvolvimento sustentável tem focado a ideia de que se
deve usufruir do espaço em que se vive de forma que sejam garantidas condições mínimas
e adequadas para as futuras gerações, a preocupação em lidar com técnicas alternativas
para cuidar do meio ambiente tem sido uma prática corriqueira nos estudos realizados por
parte de alguns pesquisadores, para que o meio ambiente seja preservado de maneira mais
eficaz. No caso específico do potencial de utilização dos RCDs, têm-se evidenciado a capa-
cidade e a viabilidade com que diversos tipos de resíduos gerados pela área de construção
civil têm sido aproveitados em países como Austrália, Brasil, China, Estados Unidos, França,
Holanda, Noruega, Reino Unido e Suécia, nos mais variados serviços da engenharia como:
fabricação de blocos de concreto sem fins estruturais, blocos intertravados para calçadas,
materiais constituintes de camadas de base, sub-base e reforço de subleito em pavimentos
submetidos a um baixo volume de tráfego, agregados reciclados para uso em obras de
drenagem, dentre outras soluções.
De acordo com [4], o uso de materiais reciclados provenientes da construção civil tem
sido empregado a cerca de alguns anos, porém, sem nenhum embasamento científico ca-
talogado. Segundo esses autores,
[5] antigas estruturas de concreto executadas nos tempos romanos, possuíam, na
sua composição, uma mistura de cal, resíduos de tijolos quebrados e outras substâncias
com um elevado teor pozolânico, capaz de produzir um material resistente para a solução
empregada na época.
[6] afirmaram que na Europa a reciclagem de materiais oriundos da construção civil teve
o seu desenvolvimento acelerado a partir de 1980, destacando que a Noruega e a Holanda
detiveram um grande interesse por esses materiais alternativos, haja vista que esses países
apresentavam dificuldades espaciais para a estocagem de resíduos em aterros sanitários,
além de estarem com parte de seus recursos naturais escassos.
[7] reportam que escombros de construção foram empregados na Holanda em 1874
para recuperação de pavimentos, e, em 1920 esse país utilizou agregados reciclados como
materiais básicos para a execução de aterros e como agregados na fabricação de concretos
e asfaltos. Ainda de acordo com [6], em 1970, motivados pela crise de petróleo, a Holanda
utilizou asfaltos triturados para a recuperação de pavimentos pré-existentes.
[8] menciona a utilização de agregados reciclados como camadas drenantes, lastro
para assentamento de tubos e guias, além do seu emprego no envelopamento de galerias

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de estabilização de solos expansíveis ou com baixa capacidade de suporte. Ainda de acordo
com [7], os agregados reciclados também podem ser empregados em regularização e cas-
calhamento de ruas de terra, sendo vantajosos neste tipo de situação em relação às britas
corridas comuns, em virtude da coesão provenientes de reações pozolânicas que o tornam
um material menos erodível.
[9] aponta que os agregados reciclados oriundos da geração de RCD podem ser em-
pregados na produção de concreto e argamassa para diferentes fins estruturais como contra
pisos e componentes de alvenaria. Nessa mesma linha de pesquisa, [9] destaca que desde
1980 o Brasil começou a estudar o aproveitamento de resíduos da construção, na forma de
agregados, para a fabricação de argamassas e concretos sem fins estruturais, como uma
fonte alternativa em alguns serviços de engenharia. Essa autora descreve também que a
Bélgica, em 1986, realizou algumas pesquisas com RCD com o objetivo de desenvolver
normativas para uso de agregados reciclados no país. Por último, [9] menciona que em
1989 a Dinamarca realizou algumas experiências com RCD de modo a produzir agregados
reciclados voltados para a fabricação de blocos de concretos.
[10] reforçam a ideia que, desde a década de 80, o Brasil vem realizando experiências
de aplicação do resíduo sólido de construção civil como material de pavimentação, porém,
sem estudos sistemáticos e monitoramentos periódicos. No entanto, esta autora revela que
no início da década de 90, foi instalada pela Prefeitura Municipal de São Paulo (PMSP) a
primeira recicladora de RCD do Brasil e que no final de 2004, iniciou-se uma pavimentação
do sistema viário do novo Campus da Universidade de São Paulo (USP) na zona Leste (USP-
Leste), seguindo um projeto inovador de pavimento ecológico, com o emprego de materiais
reciclados em toda sua estrutura. A Figura 1 mostra uma vista geral da recicladora instalada
pela Prefeitura Municipal de São Paulo (PMSP).

Figura 1. Recicladora instalada pela PMSP.

Fonte: [10].

[11] avaliou um programa experimental baseado na realização de ensaios de laboratório


e de campo, a partir da concepção de uso de agregados reciclados de RCD empregados
em camadas de base e sub-base de pavimentos, tendo executado para tanto, um trecho
experimental na cidade de Goiânia - GO. Para a realização dos ensaios de laboratório foram

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selecionadas duas amostras de resíduos de construção e demolição de obras, sendo uma
constituída de concreto e a outra de resíduos cerâmicos. Essas amostras foram britadas
separadamente e agrupadas em três frações granulométricas, de modo que os ensaios de
laboratório foram realizados para cada uma dessas frações.
[12] avaliou o comportamento dos resíduos oriundos da demolição do estádio de fu-
tebol Mané Garrincha, em Brasília - DF, como forma de reaproveitá-los como materiais de
construção em camadas de base em obras viárias. O programa experimental desenvolvido
por essa autora consistiu na realização de ensaios de laboratório visando uma caracteriza-
ção física, química e mecânica para os agregados reciclados avaliados. Nesse contexto, é
oportuno destacar a realização de ensaios de compactação, CBR, módulo de resiliência,
resistência à compressão simples, avaliação da quebra dos grãos e a determinação da ati-
vidade pozolânica dos materiais alternativos produzidos pela demolição do antigo estádio
de Brasília - DF.

MATERIAIS E MÉTODOS

MATERIAIS UTILIZADOS

Cascalho laterítico

O solo empregado nas misturas com os resíduos de construção foi obtido em uma jazida
localizada a cerca de 7 km do centro urbano do município de Campo Verde - MT (Brasil),
situado a uma latitude de 15º32’48” sul e a uma longitude de 55º10’08” oeste, estando a
uma altitude de aproximadamente 736 metros.

RCD

Os resíduos de construção e demolição de obras (RCD) utilizados neste trabalho fo-


ram coletados no lixão a céu aberto e em outros locais de descarte no município de Cuiabá
- MT (Brasil). Como justificativa para a escolha desses locais, destaca-se a facilidade na
logística para o beneficiamento dos resíduos, dada à proximidade dos laboratórios na ci-
dade de Cuiabá - MT. Foram coletadas frações de resíduos contendo restos de concretos
armados, fragmentos de alvenarias e pisos cerâmicos. As dimensões desses materiais,
no momento da coleta, eram bastante variáveis, tendo em vista que esses materiais foram
obtidos em sua maioria a partir da demolição de obras pré-existentes no Estado de Mato
Grosso (Brasil). As Figuras 2 e 3 ilustram detalhes da coleta dos resíduos para serem ava-
liadas neste trabalho.

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Figura 2. Triagem realizada em campo para os RCD em estudo.

Figura 3. Restos de concreto armado coletado para análise.

As frações de RCD coletadas em campo passaram por uma redução de tamanho,


como forma de se obter uma amostra representativa para o uso desses resíduos na com-
posição das misturas destinadas a camadas de pavimentação. Realizou-se, num primeiro
momento, uma redução desses materiais por meio do impacto de uma marreta sobre essas
frações, até se obter uma dimensão condizente com a abertura de alimentação do britador
de mandíbulas utilizado nesta pesquisa (em torno de 10 cm por 10 cm). Após a obtenção
das frações necessárias para a alimentação no britador, optou-se por regular a abertura de
saída desse equipamento, em dimensões imediatamente menores que 25 mm, de modo
que o agregado produzido pudesse ser enquadrado na classificação comercial da Brita 2,
e, houvesse um controle quanto ao seu diâmetro máximo. No entanto, é oportuno destacar
que não foi possível realizar o mesmo controle do material quanto ao seu diâmetro mínimo,
considerando principalmente as características que o RCD apresenta em função da sua
heterogeneidade, facilidade de quebra, resistência ao impacto, etc. As Figuras 4 e 5 ilustram
detalhes da produção dos agregados de RCD.

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Figura 4. Vista geral do britador de mandíbulas com restos de concretos.

Figura 5. Detalhe dos resíduos de concreto fracionados.

Mistura de solo-RCD

Para efeito desta pesquisa utilizou-se uma mistura do cascalho laterítico com o RCD na
porcentagem, em massa de 75% de solo e 25% de RCD. No que diz respeito à composição
dos materiais constituintes do resíduo de construção e demolição de obras, utilizou-se 50%
de restos de concretos, 35% de materiais provenientes de alvenarias e 15% de restos de piso,
em massa. Essas porcentagens foram adotadas com base na média da composição desses
resíduos oriundos de obras de edificações na região metropolitana de Cuiabá - MT (Brasil)
e nas casas populares construídas no município de Campo Verde - MT (Brasil).

METODO DE TRABALHO

Nos últimos tempos, embora o Brasil continue adotando o método de dimensionamento


de pavimentos flexíveis baseado nos valores do ensaio de CBR, tem sido cada vez mais
estudada a importância de avaliar a deterioração prematura de um pavimento em virtude dos
efeitos gerados pela fadiga dos materiais, fruto da contínua solicitação do tráfego atuante
sobre o pavimento como um todo. Neste contexto, têm-se introduzido a investigação siste-
mática da resiliência dos materiais empregados em obras viárias, como forma de avaliar o
seu comportamento estrutural.

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[13] descreveu uma série de fatores capazes de afetar o comportamento resiliente de
materiais granulares empregados em obras viárias tais como: o tipo e a forma dos grãos;
o método empregado na compactação; o nível de tensão confinante a que os materiais
são submetidos; a massa específica aparente seca máxima; a granulometria do material; a
duração e frequência do carregamento atuante sobre os materiais; o estado e histórico de
tensões a que os materiais foram submetidos.
Na concepção adotada para materiais considerados granulares, o módulo de resiliên-
cia definido através de carregamentos cíclicos por meio de ensaios triaxiais onde a tensão
confinante é tida como constante, é obtida através da equação:

(1)

Onde:

MR - módulo de resiliência;
σ1 - tensão principal maior ou tensão axial;
σ3 - tensão principal menor ou tensão confinante;
σ1 - deformação axial resiliente, correspondente a um número particular de repetições
da tensão-desvio.

Entretanto, [12] descreve que o comportamento resiliente apresentado por materiais


granulares, ao longo do tempo, deve-se fazer uso de um modelo constitutivo, onde, a formu-
lação mais comum empregada é chamada de modelo universal, definido a partir da equação:

(2)

Onde:
MR - módulo de resiliência;
𝜃𝜃 - soma das tensões principais σ1, σ2 ou σ3 tensão volumétrica;
k1, k2 e k3 - coeficientes de regressão obtidos nos ensaios de laboratório;
pa - pressão atmosférica;
𝜏𝜏!"# - tensão octaédrica 𝜏𝜏!"# = 1%3 𝜎𝜎$ − 𝜎𝜎% % % % $'%
+ 𝜎𝜎$ − 𝜎𝜎& + 𝜎𝜎% − 𝜎𝜎&

Para a presente pesquisa, os ensaios de módulo de resiliência foram realizados com


corpos de provas cilíndricos com 10 cm de diâmetro e 20 cm de altura, tendo-se utilizado para
a sua confecção moldes tripartidos, onde a energia de compactação aplicada nas amostras
do solo laterítico, na condição pura, e nas misturas de solo-RCD foi à intermediária. É im-
portante destacar que visando avaliar a resiliência dos materiais ao longo do tempo, foram

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estabelecidos os procedimentos de estocagem e períodos de cura para 1, 7, 15, 30, 60,
90 e 180 dias. Para uma melhor interpretação e validação dos resultados, confeccionou-se
03 corpos de prova para cada período de cura. A realização do ensaio foi feita fazendo-se
uso de uma prensa triaxial cíclica da ELE/IPC pertencente ao Laboratório de Engenharia
Rodoviária (LER) da Universidade de Brasília. Os procedimentos de ensaio foram adota-
dos com base nas descrições contidas na norma [14], onde a sequência de carregamentos
programados na prensa triaxial teve os seus valores estipulados para materiais destinados
à camada de base e sub-base de pavimentos. Os valores dos módulos de resiliência foram
calculados fazendo-se uma média aritmética dos últimos cinco ciclos de cada sequência
de carregamento, fornecidos por um programa de aquisição de dados instalado na prensa
triaxial utilizada. As Figuras 6 e 7 ilustram detalhes do ensaio do módulo de resiliência.

Figura 6. Colocação da membrana sobre a amostra de solo-RCD.

Figura 7. Detalhe do andamento do ensaio do módulo de resiliência.

RESULTADOS

A Figura 8 apresenta os valores médios, máximos e mínimos obtidos para os módulos


de resiliência, nos diferentes períodos de cura analisados. Visando um melhor entendimento
do solo em estudo, a Figura 9 apresenta a variação obtida para os módulos de resiliência
em função das tensões confinantes aplicadas, para os diferentes tempos de cura adota-
dos neste estudo.

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Figura 8. Módulos de resiliência obtidos para o solo natural em função do tempo de cura.

Figura 9. Variação do módulo de resiliência com a tensão confinante.

Analisando a Figura 8, observa-se que o módulo de resiliência do solo tem o seu valor
crescente até o período de cura de aproximadamente 15 dias, quando este, por sua vez,
atinge um valor máximo tendendo a permanecer constante independente do aumento do
tempo de cura. Acredita-se que este tipo de comportamento estaria associado à influência
dada pela sucção interna no solo, de modo que a sua estabilização só vem a ocorrer dentro
do período de 15 dias. No que concerne aos valores limites encontrados, os módulos de
resiliências médios variaram de 157 a 203 MPa, os máximos variaram de 198 a 239 MPa
e os mínimos tiveram os seus limites dentro do intervalo de 116 a 167 MPa. Estes valores
encontram-se em concordância com os resultados apresentados por [15] considerando
diversos ensaios de MR para solos lateríticos brasileiros, onde obteve-se valores da ordem
de 100 a 500 MPa.

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Observando-se a Figura 9 é possível verificar que a dependência do módulo de re-
siliência se mostrou crescente à medida que a tensão de confinamento aumentou. Esse
comportamento condiz com o esperado para um solo pedregulhoso, haja vista que alguns
trabalhos já desenvolvidos por [11] e [12] refletiram bem essa tendência em materiais com
características semelhantes ao solo em análise. Com relação ao período de cura, é possível
observar que as respostas dadas pelo solo tendem a conduzir, inicialmente, a resultados
crescentes de MR à medida que aumenta o tempo de cura.
No intuito de se estabelecer uma relação entre os módulos de resiliência encontrados e
as tensões confinantes aplicadas, a Figura 10 apresenta a variação dos MR em função das
tensões confinantes, para amostras ensaiadas com um tempo de cura de 15 dias. A escolha
do período de cura de 15 dias deve-se ao fato desse período apresentar um comportamento
significativo, uma vez que o valor de pico alcançado para o MR ocorreu nesta data. Visando
avaliar o efeito da tensão desvio nos valores obtidos dos módulos de resiliência, a Figura
11 apresenta a relação obtida para esses parâmetros, tomando como referência a média
dos resultados obtidos para a amostra de solo puro com o período de cura de 15 dias e
considerando a tensão confinante constante de 68,9 kPa.

Figura 10. Variação do módulo de resiliência com a tensão confinante.

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Figura 11. Relação do módulo de resiliência com a tensão desvio.

Analisando-se a Figura 10, chega-se a uma equação com um nível de regressão de


0,9391, o que significa dizer que a tendência apresentada pelo modelo reproduzido constitui-
-se de uma ferramenta significativa na retro-análise de outros valores de MR, em situações
semelhantes à ilustrada.
Observando-se a Figura 11 torna-se possível verificar que a dependência do módulo de
resiliência em função da tensão desvio é considerada pouco expressiva quando comparada
as relações apresentadas em função das tensões confinantes, embora, possa ser visto um
pequeno acréscimo nos valores dos módulos de resiliência à medida que a tensão desvio
aumenta. Essa mesma tendência foi relatada por [16], para solos granulares, onde esses
autores detectaram que o comportamento apresentado por materiais pedregulhos são bas-
tante dependentes da tensão confinante aplicada e pouco influenciado pela tensão desvio.
É importante destacar que as amostras de solo ensaiadas tiveram os seus teores de
umidade obtidos, após o ensaio do módulo de resiliência, para verificar possíveis variações
e interferências que esses teores podem produzir nas análises dos resultados obtidos.
Contudo, os teores de umidade obtidos estavam bem próximos da umidade ótima encontrada
para o solo (14,24 %), possuindo variações da ordem de mais ou menos 1%. Diante desse
aspecto, não há uma representatividade significativa em termos de variação da umidade
para os resultados obtidos nos módulos de resiliência.
Avaliando o efeito da adição do RCD ao solo, a Figura 12 apresenta os valores má-
ximos, mínimos e médios dos módulos de resiliência obtidos para a mistura de solo-RCD
proposta, destacando-se que os resultados encontram-se em função dos períodos de cura
ensaiados. Além disso, objetivando estabelecer uma análise comparativa entre os valores
dos módulos de resiliência médios obtidos na condição do solo puro quando comparado à
mistura de solo-RCD, em análise, a Figura 13 apresenta uma síntese dessa situação, em

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função dos diferentes períodos de cura. Inicialmente pode-se observar que a adição do RCD
ao solo elevou os seus valores de MR.

Figura 12. Módulos de resiliência obtidos para a mistura de solo-RCD ao longo do tempo.

Figura 13. Módulos de resiliência médios obtidos para o solo e para a mistura de solo-RCD.

De modo análogo aos comentários feitos para os resultados obtidos sob a análise do
solo na condição pura, observa-se que os módulos de resiliência da mistura de solo-RCD
também tiveram os seus valores crescentes com o período de cura. Contudo, no caso es-
pecífico das misturas de solo-RCD, percebe-se que os valores do módulo passam a atingir
um valor considerado de pico, próximo aos 30 dias e não de 15 dias, conforme observado
para o solo puro. Diante dessa situação, infere-se que a presença da fração de resíduos de
concreto na composição do RCD, misturado ao solo em análise, possivelmente promoveu
uma cimentação interna da mistura, uma vez que a presença de matrizes cimentícias livres
reagiu novamente com a água de composição da preparação das amostras. Esta condição
proporcionou uma nova condição de estabilidade, próximo do período característico da
composição de um concreto (28 dias). Com relação aos valores limites encontrados para

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a mistura de solo-RCD, os módulos de resiliências médios variaram de 182 a 242 MPa,
os máximos variaram de 229 a 295 MPa e os mínimos tiveram os seus valores dentro do
intervalo de 135 a 189 MPa.
Analisando-se a Figura 13 é possível verificar que nos primeiros 15 dias tanto o solo
puro quanto a mistura de solo-RCD apresentaram valores de MR bem próximos. Neste
contexto, durante esses 15 dias iniciais, acredita-se que o comportamento apresentado por
ambos os materiais encontra-se efetivamente influenciado pela estabilização interna asso-
ciados aos efeitos da sucção. Contudo, acima desse período, os valores do MR obtidos para
o solo puro manteve-se constante, enquanto que para a mistura de solo-RCD os valores
de MR continuaram aumentando até próximo dos 30 dias, em virtude das reações químicas
existentes entre as matrizes cimentícias e água presente na mistura, conforme descrições
já realizadas anteriormente. Diante deste cenário, percebe-se que o incremento do RCD,
junto ao solo, elevou os valores dos MR em cerca de 50 MPa, tornando a mistura em estudo
um material de melhor qualidade quando comparado ao solo puro.
Uma vez que a influência dada pelas tensões confinantes constitui-se de fatores es-
senciais nos valores dos módulos de resiliência, conforme descrições apresentadas por [11]
e [12], a Figura 14 ilustra as variações obtidas nos valores dos módulos de resiliência da
mistura de solo-RCD, em análise, em função das tensões confinantes aplicadas. Além dis-
so, como forma de se estabelecer uma relação matemática entre os módulos de resiliência
encontrados para a mistura de solo-RCD, em função das tensões confinantes aplicadas, a
Figura 15 apresenta esta tendência a partir de amostras ensaiadas com um tempo de cura
de 30 dias. É importante destacar que a escolha do período de cura de 30 dias deve-se ao
fato do módulo de resiliência da mistura de solo-RCD ter atingido seu valor de pico nas pro-
ximidades desse intervalo de tempo. Entretanto, ressalta-se que tal comportamento torna-se
representativo para todas as outras amostras ensaiadas.

Figura 14. Variações dos módulos de resiliência 3 obtidos na mistura de solo-RCD.

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Figura 15. Variação do módulo de resiliência com a tensão confinante para amostras solo-RCD.

Diante dos resultados plotados por meio da Figura 14, fica evidente que a mistura de
solo-RCD possui uma dependência direta com as tensões confinantes atuantes, de modo
que os valores dos módulos de resiliência crescem na medida em que se eleva o nível de
tensões confinantes. Quanto ao período de cura, percebe-se uma tendência de sobreposi-
ção nas amostras ensaiadas a partir de 30 dias, justificando a influência dada pelas reações
químicas, que ocorrem internamente, com a presença de restos de concreto com matrizes
cimentícias livres.
A partir da Figura 15 chega-se a uma equação matemática representativa para a varia-
ção do módulo de resiliência em função da tensão confinante aplicada, quando das análises
realizadas na mistura de solo- RCD em estudo. Dessa forma, analisando-se a equação
encontrada é possível verificar que o nível de regressão apresentado foi de 0,9566.
Num outro aspecto, visando avaliar as tendências geradas pelos valores obtidos nos
módulos de resiliência em função da tensão desvio, a Figura 16 apresenta a relação obtida
para esses dois parâmetros, tomando como referência a média dos resultados obtidos para a
amostra da mistura de solo-RCD com o período de cura de 30 dias e considerando a tensão
confinante constante de 68,9 kPa.

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Figura 16. Relação do módulo de resiliência com a tensão desvio para a mistura de solo-RCD ensaiadas com um período
de cura de 30 dias e submetidas a uma tensão confinante de 68,9 kPa.

A Figura 16 apresenta um comportamento semelhante às análises realizadas por meio


da Figura 11, para o solo na condição pura, em que tornou-se possível observar que a
dependência do módulo de resiliência em função da tensão desvio, de fato, é considerada
menos expressiva em materiais grosseiros, quando comparada a influência fornecida pelas
tensões confinantes. A partir da Figura 16 observa-se que a variação alcançada nos valores
dos módulos de resiliência foi de 228 a 252 MPa, o que representa um aumento da ordem
de 10%, em virtude do acréscimo da tensão desvio. Por outro lado, tomando-se como base
os resultados obtidos nesse mesmo período, porém considerando a relação dos módulos
de resiliência em função das tensões confinantes, como ilustrado na Figura 14, essa va-
riação chega a ser de 187 a 291 MPa, representando um aumento no valor do módulo de
resiliência de 56%.
Finalizado os ensaios de módulo de resiliência para as misturas de solo-RCD, desta-
ca-se que foram verificados os teores de umidades de todas as amostras ensaiadas, com o
objetivo de verificar possíveis variações e identificar algumas inconsistências com base nos
resultados obtidos. Entretanto, dado o critério rigoroso de confecção dos corpos de prova
e armazenamento dos mesmos, os teores de umidade obtidos encontraram-se bastantes
próximos da umidade ótima concebida para a mistura de solo-RCD (18,38 %). Dentro desse
contexto, não foram realizados nenhuma análise dos módulos de resiliência quanto à varia-
ção nos teores de umidade.

CONCLUSÕES

Das análises realizadas no ensaio do módulo de resiliência, observou-se que a pre-


sença do RCD associada ao solo produziu um material de módulo resiliente maior que o
solo puro, de modo que a presença desses resíduos promoveu uma maior estabilidade do
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material, elevando o módulo de resiliência em aproximadamente 50 MPa. Quanto ao tempo
de cura, verificou-se que o módulo de resiliência tende a se comportar de modo que a fra-
ção de concreto existente nas frações de RCD tende a constituir um material de importante
destaque no comportamento apresentado pelas misturas de solo-RCD.
Por fim, num cenário geral, a possibilidade de utilização do RCD associado a um solo
com características semelhantes ao estudado, pode ser extrapolada como soluções alternati-
vas em outros munícipios brasileiros, como materiais de elevado potencial para uso em obras
de pavimentação, tendo em vista o embasamento técnico-científico produzido neste trabalho.

Agradecimentos

Os autores gostariam de agradecer ao Laboratório de Geotecnia da Universidade de


Brasília (UnB) com toda sua equipe técnica, ao Laboratório de Solos do Centro Interdisciplinar
de Estudos em Transporte (CEFTRU), ao Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), aos alunos
Carlos Victor Pereira e Rômulo Helbingen bolsitas de IC da UnB e finalmente ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio financeiro.

REFERÊNCIAS
1. WEINBERG, M., BETTI, R. (2011). 7 Bilhões de Oportunidades. Reportagem. Revista
Veja - Ed. 2241 - Ano 44 - nº 44. Editora Abril. São Paulo - SP. p.122-132.

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pectivas. Audiência Pública. Apresentação. ABRELPE. São Paulo - SP. 25p.

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no Federal, Brasil. (2002). Resolução nº 307, de 05 de julho de 2002. Brasília - DF, 3p.

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Tecnologia em Controle de Obras: 20 anos de contribuições do IFMT para construção civil - ISBN 978-65-5360-326-4 - Volume 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
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Ensino
30
Modelagem e fabricação digital de recursos
didáticos: Uma proposta para qualificar o
ensino de representação gráfica do curso
de Tecnologia em Controle de Obras do
IFMT

Louise Logsdon
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Roberto Nunes Vianconi Souto


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Marcos de Oliveira Valin Jr


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Paulo Henrique Correa de Morais


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Carlos Henrique de Lucena Borges


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Robson Rogerio Dutra Pereira


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

'10.37885/230512989
RESUMO

Objetivo: Desenvolver modelos físicos e digitais de edificações e sistemas construtivos,


através de modelagem e fabricação digital, a fim de serem utilizados como recurso didático
nas disciplinas de representação gráfica do curso de tecnologia em Controle de Obras do
IFMT. Métodos: A pesquisa será desenvolvida através da abordagem da Design Science
Research (DSR), sendo dividida em cinco etapas: (1) identificação do problema; (2) enten-
dimento do tema; (3) proposição do artefato; (4) uso e avaliação do artefato; (5) organização
das contribuições. Resultados: A pesquisa encontra-se em sua terceira fase, tendo vários
elementos já modelados e fabricados digitalmente, e outros ainda no processo de impressão
e montagem. Conclusão: A fabricação digital tem se mostrado uma boa aliada na produção
de recursos didáticos para a construção civil. No ensino de representação gráfica, acredita-se
que esses recursos facilitarão o entendimento do conteúdo de uma maneira mais efetiva e,
desse modo, estaremos contribuindo para a formação de melhores profissionais de tecno-
logia em controle de obras.

Palavras-chave: Desenho Arquitetônico, Maquetes, Ensino de Construção Civil.


INTRODUÇÃO

Nos seus variados graus de complexidade, o desenho arquitetônico é apreendido pelo


leitor leigo, quando este vê uma ilustração de uma planta num prospecto de venda imobiliária,
até os atores mais especializados da construção civil – técnicos, tecnólogos, engenheiros
e arquitetos (TAMASHIRO, 2003).
A grade curricular do curso de Tecnologia em Controle de Obras (TCO) do IFMT traz,
no primeiro e segundo semestres, as disciplinas de representação gráfica – desenho técnico
e desenho arquitetônico. Nestas, o estudante retoma e intensifica conhecimentos de geome-
tria e matemática, obtidos no ensino fundamental, e vai sendo direcionado à compreensão
dos sistemas de projeções ortogonais, que é base para o conceito de representação das
edificações em plantas, cortes e elevações. Ao fim das duas disciplinas, o objetivo é que o
estudante seja capaz de representar, ler e interpretar projetos arquitetônicos, o que envolve
a comunicação através da representação gráfica, no desenho.
A experiência dos professores em sala de aula, de uma maneira geral, aponta para
uma notória dificuldade dos estudantes na compreensão espacial dos sistemas de projeção
ortogonal e, consequentemente, no desenvolvimento das vistas ortográficas (plantas, cortes
e elevações), assunto de conhecimento essencial e pré-requisito para muitas disciplinas dos
períodos seguintes. Esse fato parece ter se agravado muito durante a pandemia, quando
estes conteúdos foram ministrados de maneira remota, com uma relação mais distante entre
docente, discente e laboratórios práticos de desenho. No retorno presencial em 2022, foi
necessário retomar os conteúdos e utilizar elementos em 3D na prática didática, para suprir
um conhecimento que não foi consolidado anteriormente.
Tamashiro (2003) levantou a frequente queixa de professores de arquitetura de di-
versas universidades brasileiras de que os alunos não sabem desenhar; e mesmo nos
trabalhos finais de graduação se verificam, na maioria das vezes, desenhos inconsistentes.
Tais desenhos denunciam falhas em três aspectos: (1) o não-entendimento completo da
aplicação da geometria projetiva em desenhos de arquitetura, com erros na correlação entre
plantas, cortes e/ou vistas; (2) o desenho inexpressivo, insosso, vacilante e sem esquadro,
que denota a ausência da prática das técnicas de grafismo; e (3) o não saber o que está
representando com o desenho, evidenciando não conhecer os materiais de construção e
seus desempenhos, o sistema estrutural adotado etc.
De acordo com Nunes, Martins e Souza (2003), as dificuldades no ensino-aprendizado
de desenho são causados, sobretudo, pela deficiência curricular das disciplinas de repre-
sentação gráfica e, mais ainda, pela precariedade do ensino dos níveis educacionais pre-
cedentes. Associa-se a isso a dificuldade de ensinar algo quase que subjetivo: a abstração.
Pois um desenho técnico nada mais é que a abstração em duas dimensões de um volume

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tridimensional. Como define Jorge Sainz (1994, p.80), “desenhar, em geral, é plasmar sobre
uma superfície plana bidimensional a imagem de um volume tridimensional com os recursos
dos sistemas de geometria descritiva e projetiva, para conseguir a transposição de três para
duas dimensões”.
Acredita-se que essa dificuldade de abstração pode ocorrer, em parte, pela aborda-
gem didática com recursos bidimensionais: explanação oral e demonstração dos planos
projetado em telões, com uso de aparelhos datashow. Mesmo a incorporação dos sistemas
CAD (Computer Aided Design) e BIM (Building Information Modeling) nas disciplinas de
representação gráfica não tem garantido a compreensão do conteúdo; ao contrário, tem di-
vidido a atenção entre o aprendizado conceitual e visual, com o operacional dos softwares.
Percebe-se, portanto, a necessidade de um maior embasamento do estudante quanto aos
planos no início das disciplinas, sendo necessário uma demonstração no ambiente físico
antes de passar ao virtual. Além disso, é de extrema importância que os estudantes explo-
rem a capacidade de abstração e espacialidade necessárias para a leitura e compreensão
de plantas e vistas ortográficas.
Para Pitano, Roqué (2015), o uso de maquete física é um recurso didático eficiente
na visualização tridimensional, que facilita a compreensão do projeto de edificações. Como
representação dos objetos – em escala reduzida, real ou ampliada – possibilita ao observador
sua manipulação, visualização e apropriação. Em um ambiente de ensino, é um instrumento
de análise e síntese. Oliveira e Malanski (2008) acrescenta que a maquete permite a inclu-
são social de pessoas portadoras de deficiência visual parcial ou total, neste caso, aplicada
com a devida metodologia.
O professor, enquanto mediador da aprendizagem, ao perceber dificuldades no proces-
so pode lançar mão de diferentes instrumentos educacionais, buscando melhorar a apreensão
do conteúdo pelos distintos perfis de alunos. Nesse contexto, este trabalho busca explorar
novas ferramentas para contribuir com o ensino-aprendizagem de leitura, interpretação e
representação gráfica de projetos de edificações, através de maquetes físicas como estímulo
ao desenvolvimento da percepção espacial dos estudantes.
A pesquisa está em andamento, sendo conduzida pela abordagem da Design Science
Research (DSR), método que se preocupa em prescrever a solução de um problema real
ou desenvolver/construir um novo artefato que seja útil para os profissionais (DRESCH;
LACERDA; ANTUNES JR, 2015). Neste caso, o artefato se traduz em modelos físicos e
digitais de edificações e sistemas construtivos (escadas, rampas, telhados, etc.), construídos
através de modelagem e fabricação digital, a fim de serem utilizadas como recurso didáti-
co, em especial nas disciplinas de desenho do curso de Tecnologia em Controle de Obras,

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467
podendo futuramente abranger demais componentes curriculares – como desenho estrutural
e topografia, por exemplo – e demais cursos técnicos e superiores da construção civil.
A pesquisa prevê a fase de produção dos recursos didáticos, e sua aplicação nas aulas
das disciplinas de representação gráfica. Espera-se, com isso, um ganho significativo no
processo ensino-aprendizagem, conferindo aos estudantes um conhecimento que lhes será
fundamental para o bom desempenho no curso como um todo, bem como na sua atuação
como profissionais da área da construção civil.
Além disso, os modelos digitais serão disponibilizados online para que outras instituições
do estado possam fabricar os modelos físicos e utilizá-los também como recursos didáticos.

OBJETIVO GERAL

Desenvolver modelos físicos e digitais de edificações e sistemas construtivos, através


de modelagem e fabricação digital, a fim de serem utilizadas como recurso didático nas
disciplinas de representação gráfica do curso de tecnologia em Controle de Obras do IFMT.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Estudar o arcabouço técnico e metodológico dos conceitos de modelagem e fabri-


cação digital.
• Definir os projetos das edificações que serão modeladas, garantindo que estejam
de acordo com as necessidades curriculares do curso e com a realidade e o con-
texto social dos estudantes.
• Estudar os softwares de modelagem – CAD e/ou BIM – disponíveis em versões
gratuitas para fins educacionais.
• Modelar digitalmente as peças previamente definidas e fabricá-las com o auxílio de
impressoras 3D e cortadora a laser.
• Utilizar e analisar a eficácia dos modelos no processo ensino-aprendizado das dis-
ciplinas de Desenho Técnico e Arquitetônico do curso.

MÉTODO

A pesquisa está fundamentada na abordagem da Design Science (DS), ciência que


busca desenvolver e projetar soluções consideradas satisfatórias para “melhorar sistemas
existentes, resolver problemas ou, ainda, criar novos artefatos que contribuam para uma
melhor atuação humana, seja na sociedade, seja nas organizações” (DRESCH; LACERDA;

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468
ANTUNES JR, 2015, p. 57). A DS se dedica a propor como construir artefatos com pro-
priedades desejadas e que realizem objetivos específicos. É uma ciência do projeto, à qual
interessa o quê e como as coisas devem ser (SIMON, 1996).
Ao contrário das ciências tradicionais – que têm como objetivos explorar, descrever,
explicar ou fazer predições relacionadas a fenômenos naturais e sociais –, a DS tem uma
abordagem prescritiva: está orientada para gerar conhecimentos que suportem a solução de
problemas e tem como produto uma prescrição (DRESCH; LACERDA; ANTUNES JR, 2015).
Enquanto as ciências naturais estão ocupadas em entender a realidade – como e porque as
coisas ocorrem –, a DS está preocupada em desenvolver artefatos que atendam a determina-
dos objetivos, ou seja, criar coisas para servir a propósitos humanos (MARCH; SMITH, 1995).
O método que operacionaliza a pesquisa realizada sob o paradigma da Design Science
é chamado de Design Science Research (DSR) e, nesta pesquisa, estará dividida em cinco
etapas: (1) identificação do problema; (2) entendimento do tema; (3) proposição do artefato;
(4) uso e avaliação do artefato; (5) organização das contribuições.

Figura 1. Delineamento da Pesquisa.

Fonte: Os autores.

A etapa 1 é realizada antes mesmo da elaboração do projeto de pesquisa. Parte de


informações da literatura e da experiência em sala de aula dos docentes que integram esta
pesquisa. A leitura de mapas e planta baixa, por exemplo, é conteúdo que deve ser minis-
trado ainda no ensino fundamental. No entanto, os alunos chegam no ensino superior sem
terem contato com os desenhos de edificações, como a planta baixa, apresentando muita
dificuldade na leitura de projetos e, mais ainda, em desenvolver a visão espacial necessária
para a representação gráfica das edificações e de seus sistemas construtivos.
Durante a pandemia essa questão se agravou mais ainda, pois os conteúdos eram
ministrados remotamente, por vídeo, e os estudantes desenvolviam as atividades sem o
auxílio direto do professor e sem a vivência que os permitia observar de perto determinados

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elementos de uma edificação - como escadas, rampas, etc. A partir da identificação deste
problema, estruturou-se o objetivo geral da pesquisa.
A etapa 2, entendimento do tema, é baseada em revisão bibliográfica e análise de
documentos. Foram buscados artigos que tratam de modelagem e fabricação digital, e ana-
lisaram-se as ementas das disciplinas de desenho técnico e arquitetônico do curso de TCO,
a fim de verificar quais projetos e elementos construtivos deveriam ser trazidos em 3D para
a sala de aula, para que os estudantes pudessem visualizar e entender tanto o processo
de representação gráfica como o de construção propriamente dito. O objetivo desta etapa é
entender e definir as peças que serão fabricadas digitalmente na etapa posterior.
A etapa 3, proposição do artefato, é subdividida em pré-construção e construção.
Na fase de pré-construção, os equipamentos necessários foram adquiridos com os
recursos providos pela agência de fomento. A cortadora a laser ainda aguarda instalação,
e as duas impressoras 3D já estão em uso – a Ender Creality 5 plus (sem cabine e com
nivelamento manual) e a GTMax 3D Core H5 (com cabine fechada e nivelamento automá-
tico). Os integrantes de pesquisa aprenderam a manusear os softwares e equipamentos
necessários para a modelagem e fabricação das peças – SketchUp, Cura (para impressão
na Ender) e Simplify3D (para impressão na GTMax). Foram gravados tutoriais para serem
compartilhados futuramente.
Na fase de construção, os recursos didáticos (modelos físicos) são efetivamente cons-
truídos: as peças selecionadas na etapa 2 foram modeladas no SketchUp e posteriormente
construídas através da montagem/colagem das peças cortadas na cortadora a laser e im-
pressas na impressora 3D. No presente momento (maio de 2023), a pesquisa se encontra
exatamente nesta etapa, em que muitas peças já foram modeladas digitalmente e estão
sendo impressas e montadas.
Com as peças prontas, inicia-se a quarta etapa da pesquisa, em que os recursos
didáticos produzidos anteriormente são utilizados nas disciplinas de Desenho Técnico e
Arquitetônico, do primeiro e segundo semestre, respectivamente, do curso de TCO. Aqui,
os estudantes adquirem o conhecimento necessário para a adequada compreensão de uma
edificação e todos os seus elementos construtivos (telhados, escadas, etc), para sua pos-
terior representação gráfica – em planta baixa, planta de implantação, planta de cobertura,
cortes e fachadas – de acordo com a norma de representação de projetos de arquitetura
(NBR 6492:2021).
Por fim, na etapa 5, os resultados da pesquisa serão publicados em forma de artigos
científicos, em periódicos e eventos. Além disso, pretende-se fazer ampla divulgação da
experiência no site da instituição e no Instagram, através do perfil do grupo de pesquisa
@arqtec.mt. Os modelos digitais e o método de fabricação serão disponibilizados para

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download, para que outras instituições de ensino técnico e superior possam fabricá-los e
utilizá-los como recursos didáticos.

RESULTADOS PARCIAIS

Os trabalhos desta pesquisa se iniciaram há 6 meses e, neste momento, a terceira etapa


está em execução. Enquanto os integrantes da pesquisa aprendiam a utilizar os softwares
e equipamentos de modelagem, a coordenadora ocupou-se em definir as peças que seriam
produzidas. Em um primeiro momento, a ementa de Desenho Arquitetônico foi analisada e
definiu-se a fabricação de:

a) uma residência pequena, de 36m2, aqui chamada casa popular;


b) uma residência de dois pavimentos, aqui chamada sobrado;
c) telhado com madeiramento: tesouras, terças, caibros e ripas.
d) diferentes tipos de escadas, vencendo uma mesma altura
e) diferentes tipos de rampas, com quantidade de segmentos e inclinações distintas

A primeira maquete representa uma casa de 36m2, composta por 2 dormitórios, sala,
cozinha e banheiro, construída com alvenaria de 15cm e telha cerâmica com inclinação de
30%. Desta casa, foram produzidas 3 peças – 1 seção horizontal, para ilustrar a represen-
tação da planta baixa; 1 seção vertical longitudinal, para ilustrar a representação do corte
longitudinal; e 1 seção vertical transversal, para ilustrar a representação do corte transver-
sal. Ou seja, temos 3 maquetes seccionadas de formas distintas, todas na escala 1/50,
para que os estudantes pudessem entender e visualizar o que é uma planta baixa, um corte
longitudinal e um transversal.
Importante ressaltar que a modelagem para a impressão 3D se difere de uma mode-
lagem que visa uma imagem renderizada, por exemplo. Aqui, é necessário analisar como
a impressora irá fazer a impressão da peça, verificando a necessidade de dividir o mode-
lo, gerar suportes, etc. Neste caso, foi necessário imprimir partes da casa e depois colar
umas às outras.

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Figura 2. Maquete 1 da Casa Popular: (a) modelo físico pronto; (b) modelo digital seccionado no SketchUp; (c) primeira
parte da peça configurada para impressão no Cura; (d) segunda parte da peça configurada para impressão no Cura.

(b)

(c) (d)
Fonte: Os autores.

Figura 3. Maquete 2 da Casa Popular: (a) modelo físico pronto; (b) modelo digital seccionado no SketchUp; (c) primeira
parte da peça configurada para impressão no Simplify 3D; (d) segunda parte da peça configurada para impressão no
Simplify 3D; (e) terceira parte da peça configurada no Cura.

(b)

(c) (d) (e)


Fonte: Os autores.

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Figura 4. Maquete 3 da Casa Popular: (a) modelo físico pronto; (b) modelo digital seccionado no SketchUp; (c) primeira
parte da peça configurada para impressão no Simplify 3D; (d) segunda parte da peça configurada para impressão no
Simplify 3D; (e) terceira parte da peça configurada no Cura.

(b)

(c) (d) (e)


Fonte: Os autores.

A segunda maquete representa o projeto de um sobrado. Trata-se de uma casa de dois


pavimentos, com garagem, sala/cozinha integrada, banheiro social, área de serviço, escada,
dois dormitórios e banheiro. Assim como no modelo anterior, foram impressas e montadas
as seções horizontais e verticais para visualização e compreensão das plantas baixas e cor-
tes. Esta maquete ainda está sendo impressa, mas os modelos digitais já foram finalizados.

Figura 5. Maquete do Sobrado: (a) modelo digital seccionado no SketchUp; e duas partes (b e c) das quatro que serão
impressas e montadas para confecção do modelo físico para visualização das plantas.

(a) (b) (c)


Fonte: Os autores.

Os tipos de telhado, bem como o cálculo das quantidades e dimensões de tesouras,


terças e caibros é também parte da ementa de Desenho Arquitetônico. Sua representação
gráfica é relativamente complexa, pela grande quantidade de peças que se sobrepõem. E a
visualização dessas peças em um ambiente real é muito difícil (Como subir em um telhado,
tirar as telhas para ver como as peças se encaixam?). Por isso, foi produzida uma maquete
de um telhado de 2 águas, em escala 1/25, com as peças do madeiramento sobrepos-
tas e as telhas soltas. Dessa forma, os estudantes conseguem visualizar a composição e

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desenvolver os desenhos com mais facilidade. As peças foram todas impressas separada-
mente e depois coladas.

Figura 6. Maquete do telhado: (a) modelo físico pronto, sem as telhas; (b) modelo digital seccionado no SketchUp; (c)
primeira, (d) segunda e (e) terceira parte da peça configurada para impressão no Cura.

(a)
(b)

(c) (d) (e)


Fonte: Os autores.

O cálculo e a representação gráfica de escadas também são conteúdo da disciplina


de Desenho Arquitetônico. Os estudantes devem aprender a calcular a quantidade e as
dimensões dos degraus (pisos e espelhos) conforme a norma e, a partir daí, projetar tipos
de escada que atendam a determinado requisito – como caber em um determinado espaço,
por exemplo. É necessário que eles entendam como diferentes modelos de escada ocupam
mais ou menos espaço, para que tomem decisões de projeto mais eficientes. Por isso, foram
criadas maquetes de vários tipos de escada, todas vencendo o mesmo vão, com a mesma
quantidade e dimensão de degraus, na escala 1/50. As escadas tiveram que ser impressas
em partes e depois coladas e, em alguns casos, ainda foi necessário utilizar suportes.

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Figura 7. Maquete da Escada 1: (a) modelo físico pronto; (b) modelo digital no SketchUp; (c) primeira parte da peça
configurada para impressão no Cura; (d) segunda parte da peça configurada no Cura.

(a)
(b)

(c) (d)
Fonte: Os autores.

Figura 8. Maquete da Escada 2: (a) modelo físico pronto; (b) modelo digital no SketchUp; (c) primeira parte da peça
configurada para impressão no Cura; (d) segunda parte da peça configurada no Cura.

(a) (b)

(c) (d)
Fonte: Os autores.

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Figura 9. Maquete da Escada 3: (a) modelo físico pronto; (b) modelo digital no SketchUp; (c) modelo digital particionado
no SketchUp; (d) primeira parte da peça configurada para impressão no Cura; (e) segunda parte da peça configurada
para impressão no Cura.

(a) (b)

(c) (d) (e)


Fonte: Os autores.

Figura 10. Maquete da Escada 4: (a) modelo físico pronto; (b) modelo digital no SketchUp; (c) peça configurada para
impressão no Cura.

(a) (b) (c)


Fonte: Os autores.

Este capítulo mostrou, então, as peças que já foram fabricadas digitalmente. Demais
peças ainda serão fabricadas – em especial as rampas e demais partes do sobrado – e
todas elas serão utilizadas como recursos didáticos a partir do segundo semestre de 2023.
Nova publicação deverá ser elaborada com os resultados da aplicação destes recursos no
ensino de representação gráfica do curso de TCO.

RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS

Entende-se que o principal resultado desta pesquisa são os recursos didáticos pro-
duzidos via fabricação digital e todo seu potencial para o enriquecimento da qualidade do
curso de Tecnologia em Controle de Obras. São modelos físicos e digitais de edificações e
sistemas construtivos, produzidos em seções ou em sua totalidade, para que os estudantes

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consigam visualizá-los em 3 dimensões. Esta visualização facilita muito o entendimento da
construção do elemento em si e da sua representação gráfica, o que trará um ganho muito
relevante no ensino-aprendizagem de componentes curriculares do curso. Até o presente
momento, o foco tem sido os componentes da disciplina de Desenho Arquitetônico, mas a
produção de maquetes pode atender diversos outros como, por exemplo, desenho técnico,
estrutural e topografia. Na quarta etapa da pesquisa, quando os recursos forem efetivamente
utilizados nas disciplinas, será possível analisar a contribuição dos mesmos no processo
ensino-aprendizagem. Acredita-se que estes recursos poderão minimizar as deficiências de
ensino sentidas no período da pandemia, quando as disciplinas práticas, em especial, foram
prejudicadas pela necessidade de serem ministradas de maneira remota.

CONCLUSÃO

A fabricação digital tem se mostrado como uma boa aliada na produção de recursos
didáticos para o ensino da construção civil. A impressão na impressora 3D é lenta e, por
esta razão, não é viável pensar em uma produção em série destes recursos. Dependendo
do modelo, ele precisa ser impresso em partes separadas e depois colado, para facilitar
e otimizar a impressão e a geração de suportes. Ou seja, algum trabalho manual ainda é
necessário. De qualquer forma, agora que os modelos digitais estão prontos, pretende-se
divulgar e disponibilizar os mesmos para download, a fim de que qualquer instituição possa
realizar as impressões, montar os modelos físicos e utilizá-los como recurso didático. Espera-
se que estes recursos tragam ganhos significativos ao processo ensino-aprendizagem, em
cursos técnicos, tecnólogos e bacharelado, auxiliando na formação de melhores profissio-
nais da construção civil, com um entendimento mais preciso do ato de projetar e também
do construir. Desta forma, a pesquisa estará contribuindo para a formação de profissionais
mais capacitados na construção civil, atividade que apresenta hoje seu melhor desempenho
desde 2010 (CBIC, 2022) e, no estado de Mato Grosso, representa 4,34% do PIB, o que
equivale a e 26,6% do PIB da indústria, perdendo apenas para o setor de alimentos (dados
de 2019) (PERFIL DA INDÚSTRIA NOS ESTADOS, s.d.).

Agradecimentos

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (FAPEMAT) pelo fo-


mento a esta pesquisa através do edital 007/2022.

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31
Desenho de instalações hidrossanitárias:
reflexões de ensino-aprendizagem no curso
de Tecnologia em Controle de Obras

Adelson da Costa Ribeiro


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Tadeu João Ribeiro Baptista


Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

'10.37885/230412773
RESUMO

De tarde eu quero descansar, chegar até a praia e ver...

O ensino-aprendizagem na disciplina de desenho de instalações hidrossanitárias muitas ve-


zes se constituiu em um problema para o curso de Tecnologia em Controle de Obras. Os es-
tudantes não conseguiam compreender os processos dos desenhos das instalações, que
se agravou com fechamento do laboratório e chegavam ao final do semestre sem conseguir
apresentar um projeto concluído de água fria e de esgotamento sanitário de forma adequada,
mesmo copiando os desenhos do quadro, o que passou a gerar reflexões sobre o processo de
ensino-aprendizagem. Deste modo, este texto é um relato de experiência sobre a aplicação
dos fundamentos do ensino desenvolvimental, o qual pretendeu modificar a metodologia das
aulas e, deste modo, aprimorar a aprendizagem dos estudantes. Apesar das dificuldades
encontradas, os resultados demonstram avanços quanto ao uso desta metodologia de ensi-
no, uma vez que os acadêmicos formaram conceitos por seguirem o processo desenvolvido
pelos cientistas para resolverem problemas como deste estudo.

Palavras-chave: Desenho, Instalações Hidrossanitárias, Formação Profissional, Controle


de Obras, Ensino.
INTRODUÇÃO

Uma menina me ensinou quase tudo...

Desde o momento da posse no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia


de Mato Grosso (IFMT), em 2014, recebi forte acolhimento do todo departamento da área
de construção civil (DACC), mas principalmente da chefe do departamento, na figura da
professora doutora Ângela Santana. Esta, não mediu esforços para dar apoio na nova em-
preitada que se iniciava, como professor da cadeira de Segurança do Trabalho.
Ela se esforçou em organizar e orientar para que pudesse ministrar aulas também das
disciplinas Instalações Hidrossanitárias nos vários cursos da construção civil, elencando as
necessidades e dificuldades de distribuição de aulas entre os professores, podendo desta
forma aproveitar, da melhor maneira, a graduação em engenharia Sanitária do recém-em-
possado professor.
Ainda, com a preocupação com o ensino-aprendizagem, a chefe sugeriu a elaboração
e aplicação de um projeto para reabertura do laboratório de instalações hidrossanitárias,
que se encontrava fechado e sem uso a alguns anos. Através do laboratório era possível
aproximar os discentes aos materiais hidráulicos e os colocava em contato direto com as
instalações hidrossanitárias em dimensões reais, no intuito apreenderem com mais veraci-
dade as informações e os objetos a serem desenhados na disciplina.
Este projeto iria ao encontro do que Meirieu (1998 apud WACHOWICZ, 2014) trazem
sobre o ensino-aprendizagem: a compreensão verdadeira daquilo que queremos ensinar
somente ocorre por meio de uma interação entre as informações (que o meio disponibiliza
ao estudante) e o projeto de vida que ele tem. “A aprendizagem e a compreensão verdadeira
não são senão essa interação, ou seja, a criação do sentido” (WACHOWICZ, 2014, p. 16).
E também, procurando ir ao encontro da união indissociável entre ensino e aprendi-
zagem, que segundo Libâneo (2013, p. 82): “A unidade ensino-aprendizagem se concre-
tiza na interligação de dois momentos indissociáveis – transmissão/assimilação ativa de
conhecimentos e habilidades, dentro de condições específicas”. Ambos estão num mesmo
processo como explica o autor: “Ensinar e aprender, pois, são duas facetas do mesmo
processo, e que se realizam em torno das matérias de ensino, sob a direção do professor”
(LIBÂNEO, 2013, p. 56).
Infelizmente, quando o laboratório ficou pronto para uso, o projeto foi descontinua-
do pela Direção do campus. Mas, graças a toda mediação da chefe do DACC, foi possí-
vel observar as dificuldades vivenciadas de ensino-aprendizagem junto as disciplinas de
Instalações Hidrossanitárias, dando a oportunidade da construção deste texto, com foco

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especial, sobre a cadeira de Desenho de Instalações Hidrossanitárias, do curso de Tecnologia
de Controle de Obras.
As dificuldades observadas na disciplina, nos vários cursos, eram as mesmas de
Controle de Obras, podendo-se desta forma serem descritas. Isto ocorre no segundo item
deste texto. Posteriormente, serão colocadas as propostas de melhorias diante das dificul-
dades enumeradas no item anterior, discutindo-se cada elemento observado. Aproveitou-se
naquele momento, a motivação do recém-concluído mestrado em Educação do professor
para procurar impulsionar a disciplina. Mais adiante, traz-se os resultados obtidos com as
medidas mitigadoras aplicadas na turma de Tecnologia de Controle de Obras de 2018/1 e
demais considerações.

DIFICULDADES VIVENCIADAS:

Você culpa seus pais por tudo, e isso é absurdo...

É importante deixar evidente que em nenhum momento se pretendeu buscar culpados,


ou promover uma “caça às bruxas”. O intuito neste item é apenas descrever um levanta-
mento das dificuldades no ensino-aprendizagem observadas durante os vários anos no co-
tidiano da disciplina, que se transformam em desafios para serem enfrentados e superados
nos semestres posteriores, além de divulgar para a comunidade, através deste relato, a
prática e vivências em sala de aula da disciplina citada. Podendo ainda, alinhar os conhe-
cimentos de engenharia sanitária aos preceitos de educação profissional, para uma leitura
leve e prazerosa.
Um dos primeiros aspectos observados era o fato dos alunos estarem acostumados
a copiarem do quadro, reproduzindo em papel, os desenhos (feito pelo professor) do pro-
jeto hidrossanitário objeto do aprendizado. Percebeu-se ainda, que muitos discentes não
conheciam todas as peças e conexões que ali estavam desenhadas, o que dificultava a
compreensão e o aprendizado. Havia necessidade de aproximação com os objetos dese-
nhados dando mais significação ao conteúdo da matéria. Ressalta-se que o fechamento
do laboratório de instalações hidrossanitárias teve impacto negativo ao aprendizado, pois,
trazia a realidade aos discentes.
A reprodução do desenho do quadro, para o papel croqui, feito pelos alunos e alunas,
era sobretudo, uma atividade bastante mecânica, em que para alguns discentes, era uma
atividade pouco atrativa, e não estimulava a total compreensão do objeto que estava de-
senhado no quadro mesmo sendo explicado pelo professor, pois em verdade, para esses
discentes, não ocorriam as atividades mentais que evitariam a reprodução mecânica do
desenho para o papel, apenas seguindo fielmente o passo a passo do professor.

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Mas era fácil perceber, na hora da correção, que esses discentes com dificuldades, não
haviam entendido totalmente o desenho que eles reproduziram, principalmente os desenhos
isométricos que exigiam maior compreensão e maiores estímulos.

A relação entre ensino e aprendizagem não é mecânica, não é uma simples


transmissão do professor que ensina para um aluno que aprende. Portanto é
uma relação recíproca na qual se destacam o papel dirigente do professor e a
atividade dos alunos. […] O ensino visa estimular, dirigir, incentivar, impulsionar
o processo de aprendizagem dos alunos (LIBÂNEO, 1994, p. 90).

Num mundo cada vez mais digital, alguns alunos já traziam algumas dificuldades natu-
rais das disciplinas anteriores com os desenhos manuais. Neste momento quer-se destacar
e explicar a necessidade de esboços ou croquis manuais em papel, principalmente nesta
primeira fase de aprendizado dos estudantes, sem expertise, incipiente ainda, como uma
etapa importante para apreender melhor os detalhes do projeto e utilizar estes detalhes no
dimensionamento, para então, realizar a posterior digitalização dos desenhos, que no caso
do curso de Tecnologia em Controle de Obras seria pelo programa Auto CAD.
Todos os discentes perdiam muitas horas reproduzindo os desenhos arquitetônicos
(plantas baixas), pois, eram usados como base para lançamento dos desenhos hidráulicos.
Reproduziam uma arquitetura para se fazer desenhos de instalações de água fria e outra
arquitetura para se fazer a instalações de esgoto, gerando bastante desgaste diante destas
dificuldades. E estas dificuldades se agravavam quanto mais, na preparação, quando o tema
era o já mencionados desenhos isométricos, desenhos em três dimensões, o famoso 3D.
Alguns discentes não conseguiam visualizar, ou melhor dizendo, imaginar um objeto
(tubulações) no espaço tridimensional e desenhá-los, ou melhor dizendo, copiá-los do qua-
dro era uma tarefa complexa, necessita de exercícios mentais para enxergar a realidade.
Mais uma vez a falta do laboratório se apresenta e, ali seria possível visualizar o objeto
na realidade. Sobretudo, mesmo copiando os desenhos do quadro, mesmo desta forma,
muitos discentes também não conseguiam concluir e entregar no final do semestre, todos
os desenhos de instalação de água e esgoto. Normalmente, só entregando os desenhos
de água fria, sem concluir os de esgotamento sanitário, o que impactava na avaliação dos
alunos e alunas.
Apesar de a disciplina ser denominada “Desenho” de Instalações Hidrossanitárias, não
se baseava apenas em desenhos, em sua ementa está também o aprendizado de conceitos
considerados básicos da hidráulica, como: pressão, vazão, perda de carga, entre outros.
Conceitos mínimos necessários para os discentes pudessem realizar alguns cálculos dos
dimensionamentos das tabulações e os cálculos de verificação de pressão final.

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Os conceitos eram transmitidos de forma convencional para os discentes, ou seja,
transmissão de conceitos prontos e acabados, ou seja, não estimulava o desenvolvimento
do intelecto dos estudantes. Em que, para Davydov (1982 apud LIBÂNEO; FREITAS, 2013,
p. 315), considerava “[…] insuficiente a escola que passava aos alunos apenas informação
e fatos isolados”. Pois,

[...] o ensino não é só transmissão de informações, mas também o meio de


organizar a atividade do aluno. O ensino somente é bem-sucedido quando
os objetivos do professor coincidem com os objetivos de estudo do aluno e
é praticado tendo em vista o desenvolvimento das suas forças intelectuais
(LIBÂNEO, 2013, p.56).

Para tanto, Davydov (1982) propõe um método de ensino que entende ampliar a ativida-
de de pensar por meio da formação histórica de conceitos relacionados ao objeto científico, ou
seja, estudar a epistemologia de constituição desse objeto, incentivando o desenvolvimento
mental dos discentes. Para o autor, estas características não são dadas biologicamente, mas
pela relação simbólica do indivíduo com os objetos do conhecimento, e o autor lembra que
os conceitos não são eternos. Trata-se da teoria do ensino desenvolvimental de Davydov
(1982) que será discutida mais adiante.

Sou a gota d´água …

Mas de todos os aspectos observados neste item, o que mais causou perplexidade ao
autor deste texto, era o fato de que existia um comércio de projetos entre os alunos. Os que
aprenderam e se saíram bem na disciplina, eram procurados pelos alunos que tinham di-
ficuldades para que no final do semestre, no caso do curso de Tecnologia de Controle de
Obras, obtivessem os projetos prontos. A tentativa era enganar o professor, mas de fato
engava os próprios discentes que perdiam a oportunidade de aprender e de desenvolver seu
intelecto, a sua capacidade profissional, a qual é um dos objetivos do curso. Isto se tornou
a gota d´água, algo precisava ser feito em prol do ensino-aprendizagem na disciplina.

SUGESTÕES DE MELHORIAS: É preciso amar as pessoas como se não houvesse


amanhã...

Faz-se importante destacar que as melhorias que foram propostas, não têm nenhum
intuito punitivo, e sim, têm intuito de tentar melhorar o quadro do ensino-aprendizagem dos
discentes na disciplina, do curso de Tecnologia de Controle de Obras, mesmo quando a
proposta for vista como impopular. Mas, na verdade, têm nelas muita dedicação, comprome-
timento e carinho pela aprendizagem de todos os estudantes, na tentativa de transcender o
papel do educador em prol da produção da aprendizagem dos alunos e alunas.

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Ao passo que, quando as propostas de melhorias forem sugeridas neste item, serão
também descritas as motivações, as razões, as justificativas pelas quais se definiu por elas.
Trata-se de um olhar crítico-reflexivo sobre a realidade educacional da disciplina, alvo deste
texto, para gerar a oportunidade duradoura do “[…] desenvolvimento e transformação pro-
gressiva das capacidades intelectuais dos alunos em direção ao domínio dos conhecimentos
e habilidades, e sua aplicação” (LIBÂNEO, 2013, p. 84).
As melhorias e a organização do ensino que se propõem, têm como base também no
que Franco (2015) explica:

[...] uma aula só se torna uma prática pedagógica quando ela se organiza em
torno: de intencionalidades, de práticas que dão sentido às intencionalidades;
de reflexão contínua para avaliar se a intencionalidade está atingindo todos;
de acertos contínuos de rota e de meios para se atingir os fins propostos pelas
intencionalidades (FRANCO, 2015, p. 605).

Com as intencionalidades e objetivos equiparados e alinhados, enumera-se as su-


gestões a seguir:
Primeiro, para que os estudantes não mais realizassem a ação de copiar mecanicamen-
te os desenhos do quadro, sugere-se que o projeto que os alunos tenham que desenhar seja
outro projeto diferente do desenhado no quadro pelo professor, estimulando aos estudantes
a pensar sobre o seu próprio desenho (projeto) com base nos desenhos do quadro. As dú-
vidas que devem surgir normalmente, serão mitigadas em uma discussão orientada pelo
professor e seu grupo de trabalho, uma vez que os alunos não mais irão trabalhar sozinho
e sim em grupos, de 03 (três) alunos normalmente.
Segundo, o trabalho em grupo tende a simular a realidade do mundo do trabalho,
onde os projetos são sempre realizados por uma equipe, as vezes até multiprofissional.
Esta situação mais real de trabalho traz outros benefícios aos estudantes, como a possibi-
lidade de discutir entre si os detalhes dos projetos, numa construção coletiva e progressi-
va de aprendizado.
Outro ponto favorável, é a linguagem entre os discentes mais acessível que a do profes-
sor, podendo facilitar a compreensão do objeto do estudo pelo aluno que tinha dúvidas. Ainda,
àqueles alunos que trazem consigo a dificuldade natural de desenhar pode ser mitigada pela
divisão dos trabalhos no grupo, tendo os membros o objetivo coletivo e mútuo de cumprirem
as tarefas, mesmo ciente de alguns aspectos contrários na formação de grupos, pois, aqui
também não serão ressaltados todos os benefícios da dinâmica grupal, alongando o texto.
Lewin (1985) em análise sobre a eficácia de pequenos grupos, e a dinâmica estabe-
lecida pelos seus membros integrantes em relação a uma tarefa proposta, detecta uma

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interdependência, na qual o autor considera que: “A essência de um grupo não é a semelhan-
ça ou a diferença entre seus membros, mas a sua interdependência” (LEWIN, 1985, p. 100).
A interdependência dos membros de pequenos grupos à tarefa como essência, nos
levou a acreditar nos grupos e aplicar esta situação em sala de aula. A dinâmica de grupo
pode também influenciar e dar solução a outro problema descrito no item anterior, a não
conclusão de todos os desenhos (água e esgoto) do semestre. Acredita-se que com 03
(três) alunos alinhados nas tarefas, desenhando um projeto único, será mais eficiente do
que alunos desenhando individualmente todo um projeto, mesmo que este projeto seja um
pouco diferente daquele feito no quadro pelo professor, como ocorre no mundo do trabalho.
E o fato de pensarem seus próprios projetos coletivamente, estimulará os estudantes a
desenvolverem individualmente seus intelectos, na busca das soluções da tarefa proposta.
Tem-se então, a transformação de uma atividade mecânica e individual em uma atividade
coletiva, mais atrativa e que inspira os alunos e alunas a pensarem coletivamente na solu-
ção daquela tarefa. O ganho intelectual, através do desenvolvimento mental, possibilitará
os estudantes dar soluções a outras tarefas, similares ou não, na vida laboral e pessoal,
educando-os para a vida.
Para Davydov (1982), o objetivo principal da atividade de ensino é o pensamento
teórico, sendo que é por meio de uma apreensão ampla da realidade mais concreta, numa
linguagem mais inteligível, que se estrutura o pensamento através da formação histórica de
conceitos, a partir da compreensão dos elementos essenciais do objeto do conhecimento
e, por consequência, o desenvolvimento psíquico do estudante.
Com o fechamento do laboratório de instalações hidrossanitárias, já mencionado no
item anterior, a sugestão foi levar para a sala de aula a grande maioria das peças e cone-
xões hidráulicas, tanto de água como de esgoto, as quais seriam desenhadas pelos discen-
tes. O intuito é que os alunos tenham sempre contato com a realidade dos objetos, deste
modo, o objeto do projeto terá mais significado aos discentes. Outras peças foram possíveis
de serem observadas em uma apostila que foi adotada, de fácil acesso na internet e com
linguagem simples, e com modelo de cálculos adequados aos alunos do curso, baseado
em uso de tabelas.
A apostila adotada, também vem ao encontro da questão da dificuldade que alguns
alunos têm com os desenhos em três dimensões, pois, a apostila contém vários desenhos
hidráulicos em isométrica. Outro ponto sugerido para dar solução a questão dos desenhos
em três dimensões, é a demonstração, através de projetor, de isométricas, com uso dos
programas do Auto Cad e do Revit, aproximando o aluno da realidade mesmo que vir-
tual. No final do semestre os alunos poderiam utilizar a sala de computadores para digitalizar
os projetos desenhados.

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Nas discussões que haveriam entre o professor e o grupo, era necessário que o grupo
fizesse um desenho a mão livre do objeto, e caso fosse encontrado algum erro pelo professor,
após orientação, o grupo voltava a se reunir até que encontrar as soluções e passar por nova
discussão como o professor. Somente posterior a esta etapa que eles iriam realmente fazer
o croqui em escala a ser entregue junto ao projeto. O desenvolvimento mental e intelectual
dos alunos também está incluso nesta atividade e a importância dos croquis manuais que
ressaltamos no item anterior.
Para evitar a perda de tempo dos alunos em fazer por duas vezes o projeto arqui-
tetônico, organizou-se os desenhos da arquitetura em formato A4 das áreas molhadas
(banheiros, cozinha e área de serviço) em escala apropriada para visualizar detalhes em
planta e isométricos, entregues prontos para os alunos. Pois, o que importa nesta disciplina
sempre será o aprendizado das instalações hidrossanitárias, não havendo necessidade de
redesenhar arquitetura.
Outro aspecto sugerido sobre os desenhos, foi que os alunos apenas desenhariam em
sala de aula, não mais levariam os desenhos em desenvolvimentos para casa. O intuito é
principalmente acabar com aquele comércio de desenhos entre os alunos, e ainda, facilitar o
acompanhamento do desenvolvimento dos projetos em sala. Os alunos seriam obrigados a
fazer seus desenhos, sendo um projeto por grupo. Medida que pode ganhar impopularidade
entre os alunos que não gostam de desenhar, mas se tornou necessária. Em contrapartida,
os alunos estariam trabalhando em grupos.
Sem o laboratório de Instalações Hidrossanitárias, ficou complexo trabalhar conceitos
próximos à realidade, pois, no laboratório poderiam ser feitas demonstrações de pressão,
vazão, perdas de cargas, entre outros, o que facilitaria a compreensão ativa para aqueles
alunos com dificuldades. Segundo Varella (2018), o método de ensino tradicional, concepção
dogmática do conhecimento, um ensino asséptico, não mais atende os objetivos da escola
nos dias atuais, pois, a nossa sociedade é muito dinâmica, e está em constante mudança,
novas tecnologias estão surgindo o tempo todo.
É possível apresentar contribuições da teoria do ensino Desenvolvimental para o pro-
cesso de formação do pensamento teórico dos conceitos científicos da disciplina de Desenho
de Instalações Hidrossanitárias. A teoria do ensino desenvolvimental de Davydov (1982)
representa o desdobramento e aplicação pedagógica da teoria histórico-cultural formulada
por Vygotsky (1991), particularmente no que diz respeito às relações entre educação e de-
senvolvimento humano.
Davydov (1982) tem como eixo central a relação entre o modo pelo qual o professor
organiza um plano de ensino, estruturando as bases lógico-psicológicas da disciplina envol-
vida, a partir dos conceitos científicos a serem aprendidos e o desenvolvimento das funções

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mentais dos estudantes. Ao decorrer deste item conseguimos estabelecer essa relação
reestruturando o ensino para melhorar a aprendizagem.
Em outras palavras, para Libâneo (2004 apud VARELLA, 2018) o cerne da teoria do
ensino Desenvolvimental é o ensino voltado para a formação de conceitos, mas, não conceito
como definição, e sim como uma ferramenta mental, no cognitivo, aprendendo pensar teori-
camente, que o aluno poderá utilizar no futuro para a solução de novos problemas, em que
o conteúdo é compreendido por ele de forma ampla, pois, participa da formação/construção
do conceito em sala, partindo do algum conhecimento prévio do conteúdo, já que trata-se
de alunos de curso superior, e não simplesmente memorizar, o conceito pronto e acabado.
No próximo item, sobre os resultados observados, será apresentada, descrita, uma aula
com aplicação do ensino desenvolvimental, para a construção do conceito de pressão com
os discentes. Embora tenha sido utilizada para todos os conceitos científicos da disciplina, se
mencionado apenas a aula sobre pressão para não se alongar muito com os outros conceitos.

RESULTADOS OBSERVADOS

Nada é fácil de entender...

Apesar de toda dedicação, nem todas as sugestões propostas tiveram êxito ou pude-
ram ser aplicadas conforme planejado, por exemplo: não foi possível em tempo hábil para
os alunos concluírem todos os desenhos de esgoto juntamente como os de água, e ainda,
digitalizarem os projetos desenhados, devido ao fato de os alunos trabalharem, nesta tur-
ma, individualmente. Apenas 3 alunos de 7 compareciam a aula e fizeram a disciplina. Não
sendo possível montar grupos, optou-se por trabalhos individuais com os 3 alunos, mas eles
podiam interagir uns com os outros.
Observou-se que desenharam mais das instalações hidrossanitárias que os alunos de
outras turmas que perdiam tempo redesenhando a arquitetura. Observou-se que a prepa-
ração da arquitetura das áreas molhadas em formato A4, entregue pronta para eles, ajudou
sobremaneira, pois, não perderam tempo em redesenhar a arquitetura e foram mais além
nos desenhos que o “normal”, aprendendo melhor inclusive os desenhos isométricos, mesmo
sendo os desenhos deles um pouco diferentes dos apresentados pelo professor, tiveram que
pensar nos seus projetos. O contato com as peças e conexões hidráulicas em sala de aula,
também favoreceu os alunos, pois, suprimiu, de certo modo, a falta do laboratório. Ainda
houve tempo para ver os cálculos de forma mais detalhada.
Realmente apreenderam fazer os dimensionamentos como eles desejavam desde o
princípio da disciplina, alinhando, deste modo, seus objetivos e intencionalidades com a
disciplina. O uso da apostila contribuiu para este êxito, pois, além linguagem da teoria estar

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bem acessível, os modelos de cálculos eram baseados em tabelas, de uso mais fácil para o
dimensionamento. Entretanto, não foi possível concluir o cálculo de verificação da pressão
final, que pode ser resolvido com pequenos ajustes no planejamento. Em contrapartida,
conseguiram absorver o conteúdo de dimensionamento visto de forma significativa.
A dinâmica de discutir a tarefa entre si, fazer rascunhos, e depois discutir com o pro-
fessor, também tornou a aula, desta forma, mais estimulante e vibrante para os alunos,
eles próprios enxergavam a evolução das tarefas, que tão breve encontravam as soluções
e partiam para o desenho definitivo a ser entregue junto ao projeto completo no final do
semestre, pois, tinham confiança e domínio do conhecimento apreendido.

A escola deve prover aos alunos conhecimentos sistematizados que, contri-


buindo para o seu desenvolvimento intelectual, sejam úteis para a atividade
permanente de estudo e para a vida prática. Sem o domínio dos conhecimentos
não se desenvolvem as capacidades intelectuais, não é possível a assimilação
de conhecimentos de forma sólida e duradoura (LIBÂNEO, 2013, p.86)

A seguir tem a descrição de uma aula sobre Pressão, para os alunos do curso de
Tecnologia de Controle de Obras, aplicando a teoria de ensino Desenvolvimental:

Professor: Começaremos falar hoje sobre os principais conceitos hidráulicos. Fala-


remos sobre a Pressão. O que vocês trazem na cabeça de conhecimentos sobre a
Pressão?

Alunos: Professor, lembro na Física que Pressão é uma força aplicada em uma
área.
Professor: Muito bem! Bem lembrado! Mas a Força aplicada em uma Área, viram
também em qual outra disciplina?

Alunos: Sim, Estruturas, Isostática.

Professor: Muito bem! Lá nas Estruturas a Força sobre uma Área é aplicada em
uma matéria em que estado físico?

Alunos: Sólidos, concreto professor.

Professor: Correto! Mas e se fosse em outro estado da matéria, por exemplo um


fluido, um líquido melhor dizendo?

Alunos: Fiquei em dúvida, não sei se dá pra usar.

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Professor: Sim, desta forma causa dúvida realmente. Mas imaginem aplicando uma
força sobre uma área de água, por exemplo dando um soco na superfície da água,
o que acontece?

Alunos: A água se movimenta. Mas acho que não é pressão igual nos sólidos.

Professor: Exatamente! Na água, nos líquidos a Pressão funciona diferente dos


sólidos. Não é a relação de Força sobre Área, vocês já perceberam.

Alunos: Então como é que funciona a Pressão na água professor?

Professor: Vou ajudar vocês lembrarem como funciona a pressão na água, nos
líquidos. Observem esta imagem (Figura 1) de dois mergulhadores no mar, ambos
na horizontal, um a 10m e outro a 20m da superfície do mar.

Alunos: Sim, professor.

Figura 1. Imagem projetada para os alunos.

Fonte: Aula de Desenho de Instalações Hidrossanitárias (2018).

Professor: Quer ver como vocês sabem? Qual dos mergulhadores está sofrendo
maior Pressão da água?

Alunos: Agora ficou fácil, é o que está a 20m, professor.

Professor: Correto, e por que ele sofre mais Pressão?

Alunos: Porque ele tem uma camada de água maior sobre o corpo dele, tá mais
profundo que o que está a 10m.

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Professor: Correto, tem duas coisas interessantes em suas respostas, vamos por
partes. Primeiro ao invés de “camada de água” podemos imaginar uma “Coluna de
água” em cima do corpo dos mergulhadores?

Alunos: Sim, professor.

Professor: No mergulhador que está a 10m temos uma Coluna d´água de quantos
metros?

Alunos: 10m de coluna d´água

Professor: No outro mergulhador temos uma Coluna d´água de quantos metros?

Alunos: 20m de coluna d´água

Professor: Parabéns! Metros coluna d´água ou mca, é a unidade de pressão mais


usada na hidráulica.

Alunos: Legal, professor, também é diferente da unidade de pressão em Estrutu-


ras.

Professor: Sim, diferente um pouco, embora todas elas são unidades de Pressão.
Mas agora voltando à resposta de vocês, falta corrigirmos uma coisa. Ao invés de
“profundidade”, que outra grandeza física podemos utilizar no nosso caso? Por
exemplo, eu tenho 1,75m de?

Alunos: Altura.

Professor: Isso! Não usamos “profundidade” para falar de pressão nos líquidos,
consideramos que a Coluna d´água é uma Altura. Por tanto, a Pressão na água
depende apenas da?

Alunos: Altura, professor.

Professor: Perfeito! Vamos fazer alguns exercícios de fixação. Depois veremos os


outros princípios hidráulicos desta mesma forma.

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Percebe-se como é fácil de entender e simples a utilização do ensino Desenvolvimental,
e o quanto ele propicia ao estudante participar na formação dos conceitos científicos na sala
de aula, tendo o professor apenas o papel de mediador. Percebe-se ainda que o professor
não responde a nenhuma questão posta pelos alunos, e sim, estimula os alunos a pensarem
e se desenvolverem como seres humanos capazes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O que você vai ser quando você crescer?

Para começar, pode-se registrar que a média final desta turma de Tecnologia de
Controle de Obras 2018/1, ficou entre 8,5 e 9,0. Superando outras turmas da mesma dis-
ciplina em outros cursos. Sem contar o desempenho e assimilação excelentes na relação
ensino-aprendizagem, logrando êxito com a aplicação da apostila e demais medidas suge-
ridas. E às poucas medidas que não obtiveram êxito, basta alguns ajustes a serem feitos
nos próximos semestres.
Deve-se ainda utilizar as medidas nas outras turmas de Instalações Hidrossanitárias
de outros cursos, inclusive o ensino desenvolvimental aplicado na turma para aprendizagem
dos conceitos técnicos, ocorrendo conforme afirmou Vygotsky (1991), os alunos interagiram
a partir de sua zona de desenvolvimento real e, coletivamente ampliaram esta zona e a zona
de desenvolvimento próximo (ou proximal). Em outras palavras, a zona de desenvolvimento
proximal é uma zona potencial de desenvolvimento. Quando o desenvolvimento real aumen-
ta, a proximal se amplia. Fazendo uma comparação, é como se fosse o horizonte. Nunca
alcançamos a capacidade máxima, mas sempre caminhamos neste sentido.
O texto sobre relatos de experiências com ensino-aprendizagem numa disciplina téc-
nica, em um curso da educação profissional, mais precisamente no curso em Tecnologias
de Controle de Obras, tem sua importância no contexto proposto no livro, pois, entende-se
que o ensino-aprendizagem é imprescindível para o curso técnico e, portanto, suas melho-
rias, também se tornam, contribuições importantes para a construção civil. E a partir disto,
pensar o curso, ou imaginar, como estará daqui a mais 20 anos.

Agradecimentos

Iniciamos os agradecimentos e parabenizando as pessoas que participaram de algum


modo da organização deste livro, na pessoa do professor doutor Marcos de Oliveira Valin Jr,
propiciando a inclusão deste relato no projeto. Ao Departamento de Infraestrutura – Dinfra,
na figura da professora doutora Silvana Fava Marchezini. Agradecimentos ao fraterno amigo

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e parceiro de artigos professor doutor Tadeu João Ribeiro Baptista. Encerro com agradeci-
mentos aos músicos da banda Legião Urbana, que sempre nos inspiram.

REFERÊNCIAS
1. DAVYDOV, V. V. Problems of developmental Teaching – The experience of theoretical
and experimental psychological research. Problemas do ensino desenvolvimental: A
experiência da pesquisa teórica e experimental na psicologia. Tradução de José Carlos
Libâneo e Raquel A. Marra de Madeira Freitas. Revista Soviet Education, v. XXX,
n. 8, 1982.

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3. LIBÂNEO, J. C. Didática. 2a ed. São Paulo: Cortez, 2013.

4. LIBÂNEO, J. C.; FREITAS, R. A. M. da M. Vasily Vasilyevich Davydov: a escola e a


formação do pensamento teórico-científico. In LONGAREZI, M. A. E PUENTES, V. R.
(Orgs.). Ensino desenvolvimental: vida, pensamento e obra dos principais represen-
tantes russos. Uberlândia: EDUFU, 2013.

5. LEWIN, K. Problemas de dinâmica de grupo. São Paulo: Cultrix, 1985.

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zagem dos conceitos científicos. Monografia para Licenciatura em Química. Inhumas:
IFG – Campus Inhumas. 2018.

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1991.

8. WACHOWICZ, L. A. Avaliação da aprendizagem profissional. Coleção Formação


Pedagógica. Curitiba: IFPR, 2014. Disponível em <https://curitiba.ifpr.edu.br/wp-con-
tent/uploads/2016/05/Avalia%C3%A7%C3%A3o-da-aprendizagem-profissional.pdf>.
Acessado em 03 Mar. 2023.

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32
A formação profissional entremeada por
saberes tecnológicos e práticos com base
no Sistema Light Steel Frame

Ângela Fátima da Rocha Vânia de Albuquerque Kawatake


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mayolino
Mato Grosso (IFMT) Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

Ernany Paranaguá da Silva


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT) Kamila Vitória Chaves e Silva
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)
Larissa da Silva Freitas
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT) Nivean Ramos
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)
Thaisa Bruna Nieland Borges
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT) Ana Júlia Lima Lopes
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)
Deyziane Anunciação da Silva
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

'10.37885/230512984
RESUMO

O objetivo do trabalho foi promover o desenvolvimento educacional por meio de ações


teórico-práticas que levaram os conhecimentos fundamentais sobre o sistema construtivo
Light Steel Framing LSF, a fim de que os discentes possam atuar de forma mais eficiente
e mais inovadora na construção civil em Mato Grosso. Método: Um laboratório protótipo
de construção a seco foi desenvolvido e construído no sistema construtivo LSF dentro do
campus Cuiabá Cel. Octayde Jorge da Silva. Foi trabalhada a pesquisa ação. Os parti-
cipantes foram discentes dos cursos Superiores em Tecnologia de Controle de Obras e
Construção de Edifício, dos cursos de ensino Médio Integrado e do ensino Subsequente,
em Edificações e Agrimensura. Resultados: Os resultados obtidos promoveram reflexões
quanto ao sistema construtivo LSF e os sistemas convencionais, bem como o aprendizado
teórico-prático de qualidade. Conclusão: A pesquisa interdisciplinar dentro da Educação
Profissional e Tecnológica demanda uma atuação de interação com a sociedade e com os
diversos segmentos institucionais; envolvendo, por meio da própria pesquisa, discentes,
docentes, administrativos e, por fim, a sociedade. Para além do desenvolvimento de uma
simples temática, a pesquisa realiza algo que desperta nos discentes o gosto pelo estudo
e traz a satisfação aos docentes em trabalhar em prol dela.

Palavras-chave: Educação Profissional, Interdisciplinaridade, Sistemas Construtivos,


Transformação Social.
INTRODUÇÃO

A pesquisa sobre sistemas construtivos em Light Steel Framing (LSF) dentro do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso IFMT, trata do conhecimento
científico e prático entre o saber/apreender e o agir para a construção social da ação, o desen-
volvimento da emancipação e da transformação social sobre o sistema construtivo LSF, sendo
utilizado como estímulo aos discentes propensos a trabalhar na área da Engenharia Civil.
Devido à substancial demanda por habitações, à crescente busca por qualidade, à ne-
cessidade de se reduzir o tempo de construção e à redução de custos, tem-se aberto espaço
para o crescimento do Sistema LSF no mundo do trabalho da construção civil brasileira,
pois ele traz alguns conceitos que se destacam, como a não utilização de água, a susten-
tabilidade alcançada pelo aço, a leveza da estrutura, a rapidez construtiva, a otimização e
o não desperdício de materiais. No entanto, ainda há certa resistência cultural em diversos
segmentos da sociedade, por construções com perfis de aço leve e com lajes secas.
É certo que discursos contrários a essa nova tecnologia construtiva continuem a cir-
cular, mas é certo também que esse panorama vem se alterando dia a dia, pois o Sistema
LSF traz alternativas que superam alguns dos sistemas construtivos convencionais – que
comumente produzem elevado desperdício e utilizam produtos menos sustentáveis.
Considerando a importância de se promover no espaço de formação profissional tec-
nologias diferentes, uma maior divulgação desse sistema (não apenas no espaço comercial)
foi requerida nesta pesquisa, de forma a inserir, atualizações da construção civil no Campus.
Tratou-se de um projeto de pesquisa, que foi financiado pela Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de Mato Grosso (FAPEMAT), por meio do Edital n°005/2021 “Mulheres
e Meninas da Computação, Engenharia e Ciências Exatas e da Terra”, com o apoio do IFMT
Campus Cuiabá – Cel. Octayde Jorge da Silva.
A pesquisa pretendeu o desenvolvimento educacional de discentes de cursos da referida
área profissional por meio de ações teórico-práticas fundamentadas no sistema construtivo
de LSF, a fim de que eles possam atuar de forma eficiente e inovadora na construção civil
em Mato Grosso; promovendo, assim, melhorias socioeconômicas tanto para si quanto para
o seu entorno familiar e social.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa enquadrou-se dentro de alguns pressupostos teórico-metodológicos da


pesquisa-ação, pois considera que todos os envolvidos nela – pesquisadores e pesqui-
sados – precisam atuar de forma cooperativa e participativa, a partir de finalidades co-
muns, em torno da resolução de um problema social como por exemplo o da moradia; mais

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especificamente com vistas ao aumento das práticas profissionais ligadas à Engenharia
Civil e ao trabalho feminino.
Tem-se, desse modo, um tipo de pesquisa que foi construída ao longo do processo de
realização da investigação e, consequentemente, seus dados foram coletados na medida em
que eles surgiram no dia a dia da ação dos envolvidos – sejam eles os que intencionalmente
a propuseram, ou os que foram o alvo principal para promover transformações sócias, a
partir do desenvolvimento de conhecimentos teóricos e práticos (THIOLLENT, 2011; DEMI,
2015; SANTIAGO, 2012).
O Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do IFMT aprovou o projeto por meio de seu
Parecer N° CAAE: 2 50526321.5.0000.8055, após submissão na Plataforma Brasil.
Desta forma, pesquisadores e discentes dos cursos superiores de Tecnologia em
Controle de Obras e Construção de Edifícios, e do Ensino Médio Integrado e do subsequen-
te em Edificações e Agrimensura do IFMT Campus Cuiabá – Cel. Octayde Jorge da Silva
trabalharam no agir, por meio de pesquisa bibliográfica, de um curso de formação prático
específico e da montagem de um protótipo de laboratório de construção a seco no sistema
construtivo em LSF. Para isso, a pesquisa vinculou resultados dos estudos teóricos às rea-
lizações práticas (FAZENDA, 2010; SEVERINO, 2010; POMARO e CARREGARI, 2015).
A pesquisa foi executada em quatro etapas: (i) Preparação dos recursos materiais
e humanos do projeto; (ii) Elaboração de questionário e sua aplicação; (iii) Realização de
cursos de formação; e (iv) Finalização do protótipo e da pesquisa. Pré e pós análises de
dados gerados pela aplicação de questionário diagnóstico, após as etapas de pesquisa e
confecção do protótipo.
O local de investigação foi o próprio IFMT – Campus Cuiabá, onde ocorreram os treina-
mentos teóricos e práticos com todos os discentes participantes da pesquisa, do Departamento
de Infraestrutura DINFRA e do departamento de Engenharia Elétrica e Automação DEEA.

RESULTADOS

Após todo o desenvolvimento do projeto, se percebeu um engajamento efetivo entre os


pesquisadores, os discentes bolsistas do projeto e todos os discentes voluntários. Ademais,
notou-se relativo aumento da probabilidade desses discentes conhecerem e analisarem
os segmentos de engenharia e de construção civil, gerando, naqueles menos propensos a
esses trabalhos, oportunidades novas que poderão empregá-los no futuro.
A equipe produziu diversos materiais de ensino e divulgação do projeto, como: (i)
minicurso de nivelamento sobre pesquisa científica; (ii) curso de curta duração - formação
teórica sobre LSF; (iii) curso de formação prática em LSF (3 dias); (iv) entrevistas; (v) artigos
científicos; (vi) relatórios técnicos; (vii) um produto educacional em forma de protótipo; (viii)

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resumos expandidos; (ix) apresentações orais em eventos como Jenpex 2022 e os Fóruns
da Pós-graduação do IFMT em 2021 e 2022; (x) minicursos de 3 horas na Construgeo 2022;
(xi) pitch´s, vídeos e áudios; (xii) banners; (xiii) ‘post’ para divulgação do projeto nos grupos
de WhatsApp, para maior adesão dos participantes quanto ao questionário aplicado; (xiv),
camisetas para a equipe e (xv) um carrossel para divulgação no site do IFMT campus Cuiabá
e no Instagram do IFMT, bem como, da FAPEMAT. A Figura lembra momentos vivenciados
durante a pesquisa.

Figura 1. Momentos vivenciados durante a pesquisa

Fonte: autores (2023).

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Por fim, a importância do tema de pesquisa foi revelada desde o início, pois foi reco-
nhecido pela primeira dama do estado de Mato Grosso e escolhido como um dos projetos
para seu amadrinhamento. Eis um olhar significativo e que destacou o quanto é necessário
o fomento de pesquisas frente ao desenvolvimento discente feminino; além da importância
da interdisciplinaridade em prol da formação profissional do IFMT no Estado de Mato Grosso.

DISCUSSÕES

A pesquisa investiu em capital humano e em insumos materiais, melhorando os recursos


escolares diretos e indiretos; pois quanto mais atrativas as alternativas escolares, menos
atrativo o estar fora da escola será. A pesquisa ainda gerou reprodutibilidade, melhorando
o entendimento das pessoas por meio do contato familiar e social com todas os discentes
participantes da pesquisa (RIZATTI, 2020; BARBIER, 2004).
Com o desenvolvimento da pesquisa evidenciou-se os entendimentos dos participantes
a respeito dos sistemas construtivos tratados. As especificidades de cada sistema construtivo
ampliaram o olhar sobre as diferenças entre eles e suas características construtivas. Essas
especificidades promoveram reflexões quanto ao sistema LSF.
Os estudos sobre as atividades na construção civil mais apropriadas ao mercado da
construção civil atualmente, são de fundamental importância para a conquista do mundo do
trabalho. Esses estudos também contribuíram para um maior entendimento do empreende-
dorismo advindo da construção civil para mulheres por exemplo; levando o IFMT Campus
Cuiabá – Cel. Octayde Jorge da Silva a promover aprendizado teórico-prático de qualida-
de aos discentes.

CONCLUSÃO

A importância do conhecimento teórico e prático dentro do sistema construtivo estudado


foi fundamental, bem como a compreensão dos valores a ele agregados, quanto ao sistema
habitacional de nosso estado, quanto à participação da mão de obra da mulher; do mesmo
modo, valores e entendimentos frente ao clima quente de nossa região, à sustentabilidade
do aço como material de construção, ao não uso de água potável, a um menor consumo
de cimento e à leveza dos materiais frente as fundações, sabe-se que nenhum desses ele-
mentos podem ser postos de lado.
Como esta pesquisa foi aplicada, fomentamos uma provável mudança de paradigmas
em todas as pessoas envolvidas; uma tentativa de desconstruir pré-conceitos, distinguindo os
entremeios entre os sistemas construtivos convencionais e de Light Steel Frame LSF. A tão

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sonhada formação profissional interdisciplinar e entrelaçada com os saberes tecnológicos
voltadas para o trabalho.
Nesse ínterim, essas considerações são apenas o início de um processo investigativo
que vislumbra grandes e possíveis transformações no olhar dos participantes, ao fornecer
um caminhar mais seguro a eles, como discentes de áreas como a construção civil, dentro
do enfrentamento que terão ao serem egressos dos cursos de formação técnica profis-
sional. Desse modo, importantes contribuições serão dadas à sociedade mato-grossense
nos próximos anos.

Agradecimentos

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (FAPEMAT); ao IFMT


Campus Cuiabá – Cel. Octayde Jorge da Silva; ao Mestrado Profissional em Educação
Profissional e Tecnológica (ProfEPT) do Campus IFMT, aos professores participantes convi-
dados, professoras Suely Valezi e Karyn Ribeiro; a todos os discentes bolsistas e discentes
voluntários do projeto a saber: Joilson Pereira, Matheus Cavalcante, Wesley Neves, José
Neves, Wigor Mendes, Izaac Mayolino, Felipe Leite e Mirelly Barbosa; aos servidores do
administrativo do campus e aos servidores em geral e a direção geral.

REFERÊNCIAS
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de conhecimentos e no fortalecimento comunitário para o enfrentamento de proble-
mas. Revista Educação e Sociedade. 34 (122). 2013. https://doi.org/10.1590/S0101-
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2. BRASIL, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO - CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO


- CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Resolução CNE/CEB 6/2012. Diário Oficial da
União, Brasília, 21 de setembro de 2012, Seção 1, p. 22.

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nível em: http://cnct.mec.gov.br/cursos/curso?id=94. Acesso em 30 de outubro de 2022.

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6. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25 ed.


São Paulo: Paz e Terra, 1996.

7. FREIRE, P. Política e educação: ensaios / Paulo Freire. 5 ed. - São Paulo, Cortez, 2001.

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8. FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria; RAMOS, Marise (org.). Ensino Médio In-
tegrado: concepção e contradições. São Paulo: Cortez, 2012.

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17. POMARO, H.; CARREGARI, L. Micura Light Steel Framing-Tecnologia, Industrialização


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33
Metodologias ativas na construção de
projetos de pesquisa: um estudo de caso
em dois cursos superiores do departamento
de infraestrutura

Eloisa Rosana de Azeredo


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT)

'10.37885/230513003
RESUMO

O presente trabalho apresenta o relato de experiências sobre a didática proposta nas dis-
ciplinas de Metodologia Científica, TCC 1 e TCC 2, aplicada nos cursos superiores de
Tecnologia em Construção de Edifícios e Tecnologia em Controle de Obras, do Departamento
de Infraestrutura (DINFRA), do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia – campus
Cuiabá - Octayde Jorge da Silva, cujo objetivo tem sido estimular a produção acadêmica
dos alunos e a construção de suas próprias pesquisas que resultarão no trabalho de con-
clusão de curso. O relato também apresenta como esta didática que tem como proposta
o uso das metodologias ativas, tem refletido no processo de ensino e aprendizagem dos
acadêmicos e inclusive, melhorado o número de alunos que conseguem concluir o curso.
Com uma abordagem qualitativa, foram coletados depoimentos de alunos egressos e que
cursam a disciplina, além de um levantamento junto da secretaria do número de formandos
dos últimos 7 anos. Conclui-se que a proposta possibilita uma aprendizagem significativa
aos acadêmicos, revelando-se necessária para a formação integral dos envolvidos e mos-
trando-se positiva para a sua utilização no Ensino Superior.

Palavras-chave: Pesquisa, Metodologias Ativas, Aprendizagem Significativa, Controle de


Obras, Controle de Edifícios.
INTRODUÇÃO

Em 2018, quando fui convidada a ministrar a disciplina de Metodologia Científica nos


cursos superiores de Tecnologia em Controle de Obras e Tecnologia em Construção de
Edifícios do Departamento de Infraestrutura do IFMT- campus Cuiabá - Cel. Octayde Jorge da
Silva, fui desafiada a auxiliar num problema antigo dos cursos de Tecnologia em Controle de
Obras e Tecnologia em construção de Edifícios: a construção do tão temido TCC. Retornando
nesta época de um afastamento para a realização do doutorado, achei que seria válida minha
contribuição, haja vista que trabalhar com investigação científica era o que mais tinha feito
nos últimos quatro anos. Logo após assumir a disciplina, observei a tamanha dificuldade
que os alunos possuíam para escrever. Muitas eram as queixas de professores e coorde-
nadores que alegavam que poucos alunos conseguiam finalizar o curso devido à dificuldade
para a construção da sua pesquisa e o trabalho de conclusão de curso (TCC). Uma dessas
coordenadoras, a Dra Juzélia Santos sempre que me encontrava na instituição reforçava:
“precisamos arrumar um jeito de colocar esses alunos para escrever...esses meninos pre-
cisam colar grau...” E depois percebi que a preocupação da professora era legítima.
Em levantamento realizado junto da secretaria do Departamento de Infraestrutura
(DINFRA), do período letivo de 2016/01 a 2019/02, nenhum aluno do curso de Tecnologia em
Construção de Edifícios havia colado grau. Já no curso de Controle de Obras foi observado
os mesmos dados entre 2016/01 e 2018/02. Muitas podem ser as causas dessa ausência
de formandos em períodos tão extensos. Mas o que se observou é que, nos últimos anos,
começaram a crescer o número de alunos que entregaram seus TCCs. Na cerimônia de
colação de grau ocorrida em maio de 2023, doze alunos do curso de Controle de Obras
participaram de solenidade e dois de Construção de Edifícios.
Em se tratando dos motivos pelos quais os alunos possuem tanta dificuldade para
escreverem seus TCCs, muitos podem ser os caminhos que colaboram para a não con-
clusão deste processo. Sobretudo o que se têm observado é que estas barreiras foram se
erguendo ao longo da vida escolar. A crescente expansão do Ensino Superior no Brasil
desde 1990, contribui para a ampliação do acesso da população aos cursos de graduação,
incluindo grupos historicamente excluídos, mas não acompanhou as necessidades destes
grupos, produzindo assim, uma inadequação entre o que é ensinado e as necessidades do
discente (CORREIA e OLIVEIRA, 2020). Neste sentido o uso de metodologias que privile-
giem a autonomia do aluno e estejam voltadas para a construção de novas competências
torna-se imprescindível.
Na busca por formar um profissional que seja capaz de buscar informações, investigar,
analisar e produzir com autonomia o conhecimento, “o professor precisa buscar metodolo-
gias de aprendizagem que sejam centradas nos estudantes que os envolvam em projetos,

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pesquisas, reflexões, análises constantes e correções das suas ações” (UZUN, 2021, p. 154).
Entendemos aqui as metodologias como grandes diretrizes, que podem orientar os processos
de ensino e aprendizagem, e que se materializam por meio de estratégias, abordagens e
técnicas que venham ao encontro das necessidades do aluno e os objetivos do professor.
Na dinâmica adotada para se buscar sanar as dificuldades observadas nos dois cursos
de tecnologia em questão, as metodologias ativas se constituíram na possibilidade de se
contemplar os objetivos do DINFRA e dos alunos de Tecnologia em Controle de Obras e
Construção e Edifícios e mostrou-se positiva na construção do processo de ensino e apren-
dizagem não só na disciplina de metodologia científica bem, como nas disciplinas de TCC1
e TCC2 que posteriormente também me foram entregues e que resultaram neste relato de
experiências. O objetivo deste relato é compartilhar um pouco desta vivência, seus limites
e possibilidades até o presente ano.

A pesquisa e as dificuldades na escrita dos alunos do Ensino Superior

O IFMT tem como um de seus objetivos, contribuir não só para a formação profissional
dos seus alunos como também para “a ampliação do conhecimento científico em diferentes
áreas do conhecimento, por meio de pesquisas desenvolvidas por servidores e docentes
das diferentes áreas de ensino” (IFMT, 2018, p.112). Neste sentido, a pesquisa está como
um dos princípios fundamentais da instituição, promovendo um constante processo de ação-
-reflexão-ação com a realidade institucional, regional e nacional.
Partindo desse princípio, entende-se que disciplinas voltadas para a investigação cien-
tífica e a produção do TCC tem um papel que vai muito além do que é exposto no PPC dos
cursos, onde se exige basicamente os modelos de projetos, artigos e o uso adequado das
normas técnicas utilizadas (ABNT). Mais importante do o que será trabalhado na disciplina
está o como isso será trabalhado. É preciso ensinar o aluno a pesquisar. Entretanto, muitas
são as dificuldades.
Muitos alunos ao se depararem com a disciplina chegam assustados, com medo de
não conseguir terminar o curso, com medo de não conseguir escrever o artigo e com bas-
tante resistência para a leitura e a produção da escrita. Colaborando para esta discussão,
Motta (2010), afirma que este tem sido um problema recorrente no Ensino Superior e que
tem relação com o modelo de escola no qual fazemos parte.

A situação escolar, em geral, é a seguinte: Na maioria das atividades de produ-


ção escrita o aluno escreve para interlocutor nenhum, sem qualquer propósito,
a não ser receber uma nota, sem a qual não passará de ano. O professor é
para o aluno um revisor, um apontador de “erros”, que farão, apenas com que
a nota seja rebaixada. Além disso, para o aluno falar sobre o que não conhece
é difícil. Escrever, pior ainda. Escrever sobre o que não se conhece, apenas

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para cumprir obrigação, é a pior situação possível. Em geral se fornece um
modelo formal, solicitando-se reflexões sobre o tema dado, isto é, a estrutura
sintático-semântica não decorre da reflexão sobre o tema, e sim o contrário:
junta-se um emaranhado de fragmentos de reflexão, ou frases desarticuladas
(Motta, 2010, p. 02).

No modelo vigente de educação, grande parte das metodologias aplicadas para o


ensino da produção escrita ainda segue o modelo tradicional do ensino, onde o aluno é um
mero receptor do que o professor transmite. Outro ponto que tem gerado bastante fracasso
escolar no decorrer da história, está relacionado à avaliação que tem sido utilizada como
uma dinâmica de “decoreba” em detrimento do raciocínio, da reflexão e da leitura crítica.
Nas disciplinas de metodologia científica, TCC1 e TCC2, identificou-se que os alunos pos-
suíam muitas dessas dificuldades e que, embora não pudessem ser resolvidas no decorrer
das aulas, algumas estratégias precisariam ser adotadas. Foi neste caminho que comecei
a buscar por metodologias que tornassem o ensino mais interessante e que estivessem vol-
tadas para estratégias, abordagens e técnicas que superassem as limitações reproduzidas
no decorrer da vida escolar dos alunos.

A pesquisa com o uso de metodologias ativas

Com o objetivo não só ensinar metodologia científica, mas de ir ao encontro das neces-
sidades dos estudantes e de ajudá-los a desenvolver todo o seu potencial, comecei a fazer
uso das metodologias ativas na sala de aula. Centradas na participação efetiva e ativa dos
estudantes, as metodologias ativas envolvem

a construção de situações de ensino que promovam uma aproximação crítica


do aluno com a realidade; a opção por problemas que geram curiosidade e
desafio; a disponibilização de recursos para pesquisar problemas e soluções;
bem como a identificação de soluções hipotéticas mais adequadas à situação
e a aplicação dessas soluções. Além disso, o aluno deve realizar tarefas que
requeiram processos mentais complexos, como análise, síntese, dedução,
generalização (MEDEIROS, 2014, p.43).

Na perspectiva das metodologias ativas, a aprendizagem torna-se mais significativa


quando conseguimos motivar os alunos intimamente, quando as atividades propostas come-
çam a fazer sentido, quando suas motivações são consultadas, quando se engajam para a
construção de seus próprios projetos, quando há diálogo sobre as atividades e a forma de
realizá-las (BACICH e MORAN, 2018). E isso tem-se buscado nas disciplinas ministradas,
buscando uma “personalização da aprendizagem”.
Do ponto de vista do professor, a personalização da aprendizagem é o movimento de ir
ao encontro das necessidades e interesses dos estudantes e de ajudá-los a desenvolver todo

506
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o seu potencial (Idem). Na proposta metodológica das disciplinas de pesquisa ministradas,
após o aluno definir e delimitar o seu tema e o campo de pesquisa inicia-se um processo
de construção de um projeto de pesquisa que posteriormente irá orientar e direcionar todo
processo de investigação, motivando-os para que leiam, investiguem, reflitam e caminhem
para a finalização do curso e a tão sonhada colação de grau.
O processo inicia com a disciplina de Metodologia Científica, onde inicialmente contex-
tualizo o universo conceitual da pesquisa e a sua importância para a sociedade no decorrer da
história. Após este primeiro trabalho, que dura cerca de dois a três encontros, iniciamos um
processo de cada um produzir a sua pesquisa e então os alunos precisam definir e delimitar
um tema que gostariam de explicar para que cada um construa o seu pré-projeto. É explicado
aos alunos que este pré-projeto continuará a ser trabalhado na disciplina de TCC1 e TCC2
e que, portanto, a escolha do tema é muito importante. As partes do projeto são explicadas
e orientadas parte a parte, em sala de aula, onde é explicitada cada item do projeto e o alu-
no, utilizando seu tema busca tentar fazer. Os alunos executam cada etapa, no seu próprio
ritmo, tirando as dúvidas com o professor e voltando e avançando no processo sempre que
preciso. A disciplina culmina com a entrega deste pré-projeto que contém objetivos, problema
e hipótese, referencial teórico, metodologia, cronograma e referências bibliográficas.
Ainda neste processo, questões diversas são trabalhadas como formatação, leitura,
concordância verbal, escolha adequada do tema, disposição das idéias, como fazer citações,
plágio e normas da ABNT. Esta personalização da aprendizagem exige maturidade, autono-
mia e muita motivação do aluno, neste sentido, um dos papéis principais neste processo foi
também o estímulo aos alunos, o encorajamento, fazendo com que eles enxergassem seu
crescimento. Muitos pensam em desistir logo que se deparam com as primeiras dificulda-
des, mas com o trabalho realizado prosseguem e superam esta etapa. Neste sentido, esta
dinâmica de construção dos projetos de pesquisa contribui não só para a construção do
TCC como também para o desenvolvimento de competências cognitivas e socioemocionais.
Destaca-se ainda que, neste processo, os alunos também discutem em grupo e podem
auxiliar o colega na construção de seus objetivos e hipóteses, atuando sozinhos e também
em equipe. Todos são avaliados de acordo com seu desempenho durante o processo e na
entrega do pré-projeto de pesquisa.
Na disciplina de TCC1 o aluno traz seu pré-projeto e a primeira atividade é apresentar a
todos os colegas, organizando um Power point. Após este momento é vez então de revisitar
seu documento e reconstruí-lo verificando se a metodologia atende os objetivos e problema
central da pesquisa além de analisar o referencial teórico construído e acrescentar mais
leituras. Neste processo, além desenvolverem as habilidades da primeira disciplina, apren-
dem também a realizar o fichamento das obras pesquisadas e montarem os instrumentos

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de pesquisa (questionários, entrevistas, planilhas para ensaios no laboratório etc.). A disci-
plina culmina com a entrega do projeto de pesquisa. Já a disciplina de TCC 2 o aluno deve
executar todo seu projeto, organizar os dados e elaborar o artigo científico, juntamente com
o seu orientador.

RESULTADOS OBSERVADOS E RELATOS DOS ALUNOS

A vida é um processo de aprendizagem permanente e ativa, de resolução de problemas


e de enfrentamento de desafios cada vez mais complexos. Muitas são as formas de aprender:
aprendemos quando alguém experiente nos fala, aprendemos por experimentação, através
de indagações, de pesquisas, projetos, entre outras atividades (BACICH e MORAN, 2018).
Mas o que constatamos cada vez mais, é que a aprendizagem por meio de transmissão é
importante, mas nada se compara à aprendizagem por questionamentos e experimentação.
Neste sentido, a metodologia adotada para as disciplinas de metodologia cientifica, TCC1 e
TCC2 se mostra bastante positiva para os alunos. Além disso, proporcionam uma caminhada
do estudante para a investigação científica e para o amadurecimento da escrita acadêmica
que até então não existia. Voltados para uma compreensão teórico prática das habilidades
construtivas, é nessas disciplinas que se cumpre em parte, o papel do IFMT que se alicerça
no tripé ensino, pesquisa e extensão. Essa constatação pode ser observada nos relatos
de alguns egressos e alunos matriculados sobre as aulas ministradas nas disciplinas de
metodologia científica, TCC1 e TCC2. Os nomes foram ocultados para preservar os alunos.

Nos cursos ligados a construção geralmente não damos tanta importância nas ma-
térias de elaboração de pesquisa e desenvolvimento de relatórios, entretanto, são
matérias indispensáveis, pois nos auxiliam na formação acadêmica e também na
vida profissional, pois nos dão amparo para elaboração de relatórios, projetos e pes-
quisas. São materiais que nos ensinam como buscar conhecimento, como descrever
esses conhecimentos e até mesmo como organizá-los dentro dos textos (aluno 01).

A disciplina me ajudou de várias formas, pois me fez enxergar que nem tudo ocorre
no campo. Expandiu meu conhecimento devido às pesquisas que eram necessárias
e hoje utilizo no dia a dia seja para fazer um relatório, um orçamento, uma ata etc.
Sem a disciplina eu teria uma dificuldade maior para fazer um artigo ou TCC. A disci-
plina foi o começo de tudo, onde foi abrindo um leque de idéias e guiando como um
passo a passo para a criação do meu artigo. Quem leva a disciplina a sério conse-
gue entender a importância da mesma. É o primeiro contato de muitos que atuam e
estudam na área da construção civil com essa parte teórica, que querendo ou não

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também é de extrema importância na nossa rotina (egresso 01).
Pelo fato de morar área considerada zona rural, tive um ensino médio fraco... eu tinha
muita dificuldade na leitura e na escrita, mas já consigo sentir uma grande melhoria
nesse sentido com a matéria de metodologia científica (aluno 02).

Sou técnica em edificações e tecnóloga em controle de obras pelo Instituto Federal


de Mato Grosso – IFMT. A minha experiencia com a disciplina de metodologia cien-
tifica foi fundamental durante a minha formação acadêmica principalmente na fase
final do curso, a disciplina me ajudou muito ao desenvolvimento do meu trabalho
de conclusão de curso e de artigos científicos. A metodologia aplicada foi capaz de
me fazer analisar cuidadosamente os termos técnicos a serem abordados no meu
desenvolvimento acadêmico, a sempre buscar fontes acadêmicas confiáveis para
as leituras, que possa utilizar em desenvolvimento de artigos ou até mesmo em re-
latórios técnicos, e consequentemente no meu desenvolvimento profissional. Hoje,
atuante no mercado de trabalho, utilizo frequentemente a metodologia aplicada na
disciplina, para elaborações de projetos de inovação, aonde consigo apresentar de-
talhadamente as medidas a serem tomadas em cada etapa do desenvolvimento do
projeto, elaborações de relatórios técnicos, conforme a apresentação de dados quan-
to os resultados obtidos e os resultados estabelecidos pelas normativas técnicas da
área da construção civil, e também no desenvolvimento de artigos com os resultados
de trabalhos desenvolvidos para melhorias técnicas de possíveis materiais a serem
utilizados. Contudo posso afirmar que a metodologia aplicada na disciplina de de-
senvolvimento de trabalho científico me proporcionou uma análise de dados onde
enriqueceu a minha capacidade técnica, e concomitantemente capacidade para a
apresentação destes, sendo tanto na minha vida acadêmica quanto na minha vida
profissional (egressa 02).

A disciplina de metodologia científica me ajudou muito a desenvolver o meu artigo


podendo entender o caminho mais fácil na escolha do tema e cada etapa escrita, me
ajudado a desenvolver e me dando uma base formadora. Com a ajuda da professora,
esclarecendo muitas dúvidas, tanto na matéria como para desenvolver o artigo, indi-
cando livros, anais, artigos e outras ferramenta de estudo (egresso 03).
A disciplina tem me ajudado muito. Eu não tinha nem um conhecimento sobre projeto
de pesquisa/ TCC, entrei no curso já sentindo medo do TCC,em alguns momentos
pensei até em desistir pois não me sentia capaz de produzir um artigo científico, mais
hj graças à disciplina de metodologia científica, consegui perder esse medo (aluno
03).

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Sou graduada em tecnologia em controle de obra e especialista em Docência para
a Educação Profissional e Tecnológica (DocentEPT. A matéria de metodologia cien-
tífica foi essencial na minha formação inicial, porque sempre tive dificuldade em es-
crever o que tinha aprendido de forma que as pessoas entendessem o que estava
tentando dizer.

Tinha dificuldade em fazer artigo a dissertar o corpo do texto de forma correta e


formal. Através da disciplina ofertada, tive o privilégio de realizar um artigo bem ela-
borado e fundamentado tirando assim nota 9.7 em minha apresentação de TCC. Já
na especialização, também através da disciplina, consegui fazer um memorial alcan-
çando uma nota que garantiu minha vaga no IFMT, e produzi um artigo no TFC (tra-
balho final de curso) com muita facilidade aplicando assim as habilidades absorvidas
(egresso 04).

A elaboração de um projeto final de faculdade seja ele no modelo artigo ou tcc é de


fato bem complexa, sem um direcionamento se torna quase uma missão impossível a
concepção de tal trabalho. O curso superior da área da construção civil abrange maté-
rias bases no 1° e 2° semestre e vai avançado para as específicas, fazendo com que
o estudante tenha aprendizado suficiente para ter o melhor desempenho nas ativida-
des da área. Deste modo, absorvido todo este conhecimento chega o momento de
utilizá-lo em seu projeto, abordando um assunto específico em que mais integrou-se
ao longo do curso, se aprofundando mais ainda com pesquisas e estudos, reunindo o
máximo de informações sobre o tema, tornando o trabalho esclarecedor. Entretanto,
para o estudante conseguir reunir tais informações onde usará cada pesquisa para
um tópico específico do trabalho, se faz necessário a metodologia, o planejamento
que a disciplina traz é de suma importância para que o estudante não se perca com
tantas pesquisas e referências que irá reunir. Deste modo, é necessário que todas
as instituições de cursos superiores ofertem a disciplina de metodologia para melhor
aproveitamento do assunto abordado e para melhor apresentação de tal projeto ela-
borado pelo aluno, sendo não só para cursos superiores da área da construção civil
mas para todos os que exigem a apresentação de um projeto final (egressa 05).

As atuais pesquisas da neurociência cada vez mais tem dado ênfase à singularidade
que é o processo de aprendizagem para cada ser humano. Cada indivíduo aprende o que
é mais significativo diante de sua experiência de vida, ou seja, o que lhe gera mais cone-
xões cognitivas e emocionais. Neste movimento que as práticas adotadas na disciplina de

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metodologia científica e depois ampliadas na disciplina de TCC I e TCC II acabam por ser
mais consistentes pois partem de um assunto que é do interesse de cada aluno. O trabalho
de finalização do curso acaba então tendo mais sentido e sendo resultado de um processo
de amadurecimento de todos envolvidos.
Como podemos observar nos relatos apresentados, a partir do momento que o apren-
dizado tem sentido para o aluno e se torna útil, as barreiras do medo da escrita se rompem.
Outra questão observada nos relatos é alguns alunos afirmam ter continuado utilizando o
que foi aprendido em outras esferas da vida como seleções, especializações e trabalho,
gerando assim novas práticas com o conteúdo.
Por fim, pode-se dizer, que as práticas ativas, adotadas nas disciplinas de metodologia
de pesquisa, TCC1 e TCC2 têm contribuído de variadas formas com os alunos do curso
de Tecnologia em Controle de Obras e Tecnologia em Construção de Edifícios. No entan-
to, elas não resolvem todos os problemas de ensino, nem garantem que todos envolvidos
aprenderão significativamente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse relato não teve a pretensão de compartilhar uma experiência de prática docente
pronta e finalizada nos cursos do DINFRA, mas que muito ainda pode ser melhorada. Toda
metodologia de aprendizagem precisa ser revisitada, discutida e estar aberta à reflexões e
feedbacks constantes, à autoavaliação e à avaliação de professores e alunos envolvidos.
Por mais promissora que seja, a metodologia em si, não transforma sozinha a turma, ela
precisa se materializar junto de uma série de mediações que antes só existiam no ideal do
professor e isso exige também uma boa dose de disponibilidade intelectual e afetiva de
todos envolvidos.
Como nos auxilia Moran (2018), as metodologias ativas mais adequadas são aquelas
relacionadas às necessidades dos alunos, aos seus projetos e expectativas. Se o aluno cons-
tata que o que ele aprende o ajuda a avançar e de alguma maneira a viver melhor, direta ou
indiretamente ele acaba por se envolver mais. Entretanto isso nem sempre é tão simples e
uma só forma de trabalho pode não atingir todos alunos e fazer com que se responsabilizem.
Neste sentido seguimos o desafio, já obtivemos um melhor resultado na produção acadê-
mica dos nossos alunos nos últimos anos, mas ainda seguimos longe do que seria o ideal.

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REFERÊNCIAS
1. BACICH, L & MORAN, J. (Orgs). Metodologias Ativas para uma educação inova-
dora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018.

2. IFMT. Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI 2019-2023. Instituto Federal


de Educação Ciência e Tecnologia de Mato Grosso. Cuiabá-MT: IFMT, 2018.

3. MEDEIROS, A.. Docência na socioeducação. Brasília: Universidade de Brasília,


Campus Planaltina, 2014.

4. UZUN, M. L. C. As principais contribuições das Teorias da Aprendizagem para à apli-


cação das Metodologias Ativas. Revista Thema, v.19, n.1, 2021.

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SOBRE O ORGANIZADOR
Marcos de Oliveira Valin Jr
Professor no Departamento de Infraestrutura do IFMT, Regime de Dedicação Exclusiva, concursado
em 2012. Doutor em Física Ambiental (Linha Análise e modelagem microclimática de sistemas
urbanos) pela UFMT em 2019 e Graduação em Tecnologia em Controle de Obras pelo IFMT em
2010. Atuação nos níveis do Ensino Médio Integrado, Técnico Subsequente e Ensino Superior nas
áreas de Materiais e Técnicas de Construção, com ênfase em práticas integradoras e sustentáveis.
Líder do grupo de pesquisa SUSTEMA - Sistemas Urbanos, Sustentabilidade, Tecnologia e
Materiais Construtivos, onde desenvolve pesquisas nas temáticas de tecnologia e materiais de
construção e de ensino com formação cidadã e profissional.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1988817143994600

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ÍNDICE REMISSIVO

A Banco de Dados: 336, 337, 339, 341, 349, 350,


410
Absorção: 41, 42, 44, 52, 58, 60, 63, 67, 68, 70,
71, 78, 81, 84, 85, 89, 90, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98, Bloco de Concreto: 212, 264, 265, 268, 274, 275,
99, 100, 101, 127, 128, 130, 132, 133, 134, 181, 276
187, 189, 192, 194, 199, 200, 202, 205, 208, 209,
212, 213, 230, 235, 242, 246, 247, 248, 255, 261, Blocos Cerâmicos: 51, 52, 92, 95, 127, 128, 134,
262, 263, 265, 266, 274, 275, 276, 277, 396, 417, 212, 445
419, 423 Brita Calcária: 75, 77, 413, 414, 419

ACCESS: 336, 341 C


Aderência: 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, Cal e Cinza da Casca de Arroz: 281
58, 84, 92, 95, 96, 101, 102, 103, 115, 128, 133,
200 CBUQ: 355, 356, 357, 359, 365, 367, 368, 369,
370, 403, 405
Adesivo: 49, 51, 56, 57, 272
Cerâmica Vermelha: 60, 62, 69, 70, 72, 176, 177,
Agregado: 39, 40, 41, 50, 71, 74, 75, 76, 77, 78, 178, 179, 180, 181, 182, 183, 184, 187, 191, 203,
79, 80, 81, 115, 116, 117, 176, 177, 178, 180, 181, 217, 236, 238, 240, 241, 242, 243, 244, 246, 247,
182, 183, 184, 185, 186, 187, 191, 192, 193, 195, 248, 255, 257, 262
196, 197, 198, 199, 200, 201, 203, 212, 214, 215,
216, 217, 234, 236, 237, 238, 240, 241, 242, 243, Coeficiente de Reação Horizontal: 324, 328, 332,
244, 245, 247, 248, 250, 251, 252, 253, 254, 255, 333
256, 257, 259, 260, 261, 262, 265, 269, 270, 273, Coeficiente de Reação Vertical: 323, 324, 326,
277, 356, 357, 359, 410, 414, 415, 416, 417, 418, 327, 329, 331
419, 422, 423, 424, 449, 461
Composição de Custos: 355, 364, 365, 366, 368
Análise Probabilística: 371, 372, 374, 384, 385,
392, 396, 397 Concreto: 19, 21, 22, 23, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31,
32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 43, 44, 45, 46,
Anisotropia: 309, 310, 319, 320, 333 47, 51, 59, 62, 64, 71, 72, 73, 74, 75, 77, 78, 81, 82,
85, 89, 104, 105, 106, 107, 110, 111, 112, 124, 144,
Aprendizagem Significativa: 502 145, 152, 172, 177, 179, 188, 191, 192, 194, 195,
197, 202, 203, 204, 209, 212, 213, 216, 217, 222,
ARCVIEW: 336, 339, 340, 341
231, 233, 235, 236, 238, 240, 241, 242, 243, 245,
Argamassa: 41, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 246, 247, 248, 249, 251, 252, 253, 254, 255, 256,
58, 60, 61, 62, 63, 64, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 78, 257, 258, 259, 260, 261, 262, 263, 264, 265, 266,
81, 84, 85, 89, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 99, 100, 267, 268, 269, 270, 273, 274, 275, 276, 277, 278,
101, 102, 113, 114, 115, 116, 117, 118, 119, 121, 354, 355, 356, 357, 358, 359, 363, 364, 365, 366,
122, 123, 124, 125, 128, 133, 134, 176, 177, 178, 367, 368, 369, 370, 373, 375, 388, 403, 412, 414,
179, 182, 183, 184, 186, 187, 188, 189, 191, 192, 415, 422, 424, 425, 426, 427, 428, 429, 430, 431,
194, 196, 197, 198, 200, 202, 203, 208, 209, 213, 432, 434, 441, 442, 445, 446, 447, 448, 449, 450,
215, 216, 217, 221, 223, 224, 233, 235, 236, 238, 456, 458, 460, 461, 488
240, 241, 242, 249, 253, 254, 257, 262, 263, 267,
268, 269, 273, 275, 277, 445, 447, 461 Concreto Asfáltico Usinado à Quente: 414, 415

Argamassa Térmica: 60 Concreto e Cerâmica Vermelha: 238

B Confiabilidade: 105, 106, 107, 108, 109, 110, 111,


112, 114, 205, 207, 208

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514
ÍNDICE REMISSIVO

Conforto Térmico: 60 Estabilização: 280, 281, 282, 284, 285, 291, 292,
307, 376, 447, 453, 457
Contrato Administrativo: 157, 160, 161, 164, 166,
174 Expansão: 78, 79, 81, 197, 277, 280, 281, 282,
283, 284, 285, 287, 289, 290, 291, 292, 293, 294,
Controle de Edifícios: 502 295, 296, 297, 300, 304, 307, 322, 337, 351, 427,
431, 432, 433, 440, 503
Controle de Obras: 33, 230, 234, 463, 464, 465,
466, 467, 475, 478, 479, 481, 482, 483, 488, 491, Expansão e Compactação: 294
494, 496, 502, 503, 504, 508, 510
F
Controle de Qualidade: 114, 115, 133, 200, 403,
411 Fiscalização: 33, 156, 157, 158, 159, 160, 161,
162, 163, 164, 165, 166, 167, 168, 169, 170, 171,
Controle Tecnológico: 21, 34, 49, 50, 58, 105, 172, 173, 174, 268, 400
106, 111, 112, 124, 125, 127, 133, 251, 399, 400,
401, 404, 411 Formação Profissional: 479, 493, 495, 498, 499,
504
Controle Tecnológico de Revestimento: 400
G
D
GPR: 372, 375, 378, 379, 382, 383, 385, 387, 388,
Desenho: 147, 163, 351, 464, 465, 466, 467, 469, 396, 398
470, 472, 473, 476, 477, 478, 479, 481, 482, 484,
486, 488, 489 H
Desenho Arquitetônico: 464, 465, 470, 472, 473, Hipóteses de Winkler: 324
476, 477
I
Distrito da Guia: 414, 415, 416, 422
Infiltração: 83, 84, 85, 86, 88, 90, 91, 100, 343,
Dosagem Marshall: 414, 417 344, 440, 441

Durabilidade: 36, 61, 74, 102, 106, 186, 215, 274, Instalações Hidrossanitárias: 478, 479, 480, 481,
402, 415, 423, 427 482, 485, 486, 487, 489, 491

E Interdisciplinaridade: 494, 498

Educação Profissional: 481, 491, 494, 499, 509 J


Ensaios Laboratoriais: 87, 114, 189, 312, 400 Junta de Dilatação: 267, 426, 428, 435, 436, 437,
438
Ensaios não Destrutivos: 19, 20, 21, 22, 25, 26,
33, 36, 38, 47, 254 L
Ensaios Tecnológicos: 59, 111, 204, 205, 208, Ladrilho Hidráulico: 215
236, 355
Linhas de Transmissão: 20, 21
Ensino: 234, 278, 442, 463, 464, 465, 466, 467,
468, 470, 475, 476, 477, 478, 479, 480, 481, 482, Louças Sanitárias: 238
483, 484, 485, 486, 487, 488, 491, 492, 494, 496,
500, 502, 503, 504, 505, 507, 508, 510 M
Ensino de Construção Civil: 464 Maquetes: 464, 466, 470, 473, 476, 477

EPS: 62, 63, 65, 66, 67, 68, 69, 264, 265, 266, 267, Método FOSM: 371, 372, 374, 384, 385, 392, 393,
268, 269, 271, 272, 273, 274, 275, 276, 277, 278 394, 395

Esclerometria: 20, 22, 31, 33, 36, 38, 41, 46 Metodologias Ativas: 501, 502, 504, 505, 510, 511

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ÍNDICE REMISSIVO

Mezclas de Suelos y RCD: 444 Pontes de Madeira de Mato Grosso: 136

Módulo Resiliente: 444, 459 Probabilidade de Ruína: 104, 105, 106, 107, 108,
109, 110, 111
O
Propriedades do Revestimento: 400
Obras: 22, 33, 39, 87, 105, 106, 107, 110, 115, 127,
128, 137, 143, 144, 145, 152, 157, 158, 159, 160, Propriedades dos Agregados: 74, 75, 78
161, 164, 165, 166, 167, 168, 172, 173, 174, 180,
190, 202, 216, 230, 233, 234, 253, 272, 282, 284, Q
291, 295, 307, 310, 345, 349, 358, 364, 365, 366,
Qualidade: 21, 22, 31, 32, 33, 37, 50, 72, 74, 87,
367, 370, 401, 403, 411, 415, 426, 427, 429, 440,
101, 114, 115, 133, 137, 152, 157, 161, 162, 170,
441, 442, 443, 444, 445, 446, 448, 450, 451, 460,
171, 172, 173, 178, 200, 205, 206, 207, 208, 213,
463, 464, 465, 466, 467, 475, 478, 479, 481, 482,
215, 216, 231, 235, 248, 254, 266, 267, 268, 292,
483, 488, 491, 494, 496, 502, 503, 504, 506, 508,
310, 351, 356, 357, 370, 383, 400, 401, 403, 404,
510
411, 424, 430, 457, 475, 494, 495, 498
Obras Públicas: 137, 157, 158, 159, 160, 164,
165, 172, 173, 174, 429, 442, 444 Qualidade do Tijolo: 205

P R
Padronização de Ensaio: 114 Reação Álcali-Agregado: 74, 201

Patologia: 20, 22, 24, 26, 33, 71, 72, 74, 83, 84, Reaproveitamento: 189, 191, 278
88, 91, 177, 180, 187, 234, 400, 426, 428, 435, 442
Reciclagem: 61, 62, 71, 177, 186, 188, 202, 203,
Pavimento: 85, 89, 92, 100, 222, 355, 356, 357, 213, 215, 216, 236, 239, 240, 248, 249, 251, 252,
368, 370, 371, 372, 373, 374, 375, 376, 377, 378, 253, 263, 267, 445, 446, 460, 461
379, 380, 382, 384, 387, 388, 389, 390, 391, 392,
395, 396, 397, 400, 401, 402, 404, 405, 406, 407, Resíduo da Construção: 62, 191, 192, 197, 201,
409, 411, 414, 415, 436, 437, 438, 445, 447, 450 203, 214, 215, 216, 217, 234, 235, 237, 238, 240,
242, 250, 251, 252, 254, 257, 259, 260, 261, 278
Pesquisa: 33, 39, 51, 58, 71, 74, 75, 77, 78, 81, Resíduo da Construção Civil: 62, 191, 192, 197,
114, 122, 143, 158, 165, 166, 167, 173, 174, 177, 201, 203, 214, 215, 216, 217, 234, 235, 237, 238,
178, 179, 191, 195, 198, 199, 200, 205, 208, 213, 240, 242, 250, 251, 252, 254, 257, 260, 261, 278
215, 217, 240, 242, 248, 252, 253, 261, 262, 263,
265, 271, 277, 278, 351, 356, 357, 358, 359, 368, Resíduos de Construção: 190, 202, 204, 205,
369, 370, 372, 374, 404, 410, 411, 414, 415, 416, 207, 208, 236, 238, 239, 248, 445, 448, 461
417, 422, 423, 427, 442, 445, 447, 449, 450, 451, Residuos de la Construcción: 444
464, 466, 467, 468, 469, 470, 475, 476, 477, 492,
494, 495, 496, 497, 498, 499, 500, 501, 502, 503, Resíduos Industriais: 60, 62, 203, 241, 252
504, 505, 506, 507, 508, 509, 510
Resistência à Compressão: 21, 32, 35, 36, 37, 39,
Piso de Concreto: 251, 258 40, 44, 45, 46, 55, 63, 66, 67, 105, 106, 110, 111,
112, 114, 117, 124, 125, 183, 189, 195, 198, 200,
Pó de Pedra: 203, 278, 355, 357, 358, 359, 360, 201, 202, 205, 208, 209, 212, 215, 230, 231, 235,
362, 364, 365, 366, 367, 369, 403, 416, 419, 420, 241, 242, 245, 246, 247, 248, 254, 255, 259, 260,
423 262, 270, 275, 448
Ponte de Concreto: 425, 426, 428, 429, 430
Resistência ao Cisalhamento: 308, 309, 310, 311,
Pontes: 112, 135, 136, 137, 138, 139, 140, 141, 313, 317, 318, 319, 320, 321
143, 144, 147, 151, 152, 157, 158, 164, 165, 168,
172, 173, 174, 426, 427, 428, 430, 434, 435, 436, Restauração Estrutural: 177
440, 441, 442
Retroanálise: 372, 377, 379, 380, 382, 385, 387,

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ÍNDICE REMISSIVO
388, 389, 390, 392, 396, 397

Reutilizar: 248, 265

Revestimento: 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 58,
60, 61, 66, 68, 71, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90,
92, 93, 94, 95, 96, 97, 100, 101, 102, 103, 115, 125,
132, 177, 179, 187, 356, 372, 373, 374, 375, 376,
380, 384, 387, 388, 389, 390, 391, 392, 393, 394,
395, 396, 399, 400, 402, 403, 406, 409, 410, 411

S
SIG: 336, 337, 338, 339, 340, 341, 342, 346, 349

Sistemas Construtivos: 21, 23, 61, 464, 466, 467,


468, 475, 494, 495, 498

Solo Saprolítico: 281, 282, 283, 284, 287, 288,


291, 292, 294, 296, 297, 298, 302, 304, 307, 309,
311, 315, 320, 322
Solo Tropical: 322, 323, 324

SPT: 324, 328, 329, 330, 331, 333, 335, 336, 337,
340, 341, 344, 345, 346, 348, 349, 350, 351, 352

T
Termografia de Infra-Vermelhos: 60

Teste de Aderência: 49

Tijolo Ecológico: 205, 213, 214, 233

Tipologias de Pontes: 136, 137, 144

Transformação Social: 494, 495

U
Ultrassom: 20, 22, 30, 31, 33

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