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q U ÍM IC A
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REGINALDO DA SILVA SALES
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q U ÍM IC A
1ª EDIÇÃO
editora científica
2021 - GUARUJÁ - SP
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exclusiva dos autores. É permitido o download e compartilhamento desta obra desde que no formato
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Q6 Química [livro eletrônico] : ensino, conceitos e fundamentos: volume 2 / Organizador Reginaldo da Silva Sales. – Guarujá, SP:
Científica Digital, 2021.
E-BOOK
ACESSO LIVRE ON LINE - IMPRESSÃO PROIBIDA
Formato: PDF
Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader
Modo de acesso: World Wide Web
ISBN 9978-65-5360-018-8
DOI 10.37885/978-65-5360-018-8
2021
CDD 540.7
Direção Editorial
Reinaldo Cardoso
João Batista Quintela
Editor Científico
Prof. Dr. Robson José de Oliveira
Assistentes Editoriais
Erick Braga Freire
Bianca Moreira
Sandra Cardoso
Bibliotecário
Maurício Amormino Júnior - CRB6/2422
Jurídico
Dr. Alandelon Cardoso Lima - OAB/SP-307852
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CONSELHO EDITORIAL
Mestres, Mestras, Doutores e Doutoras
Robson José de Oliveira Clóvis Luciano Giacomet
Universidade Federal do Piauí, Brasil Universidade Federal do Amapá, Brasil
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Clecia Simone Gonçalves Rosa Pacheco Réia Sílvia Lemos da Costa e Silva Gomes
Instituto Federal do Sertão Pernambucano, Brasil Universidade Federal do Pará, Brasil
Maria Luzete Costa Cavalcante António Bernardo Mendes de Seiça da Providência Santarém
Universidade Federal do Ceará, Brasil Universidade do Minho, Portugal
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APRESENTAÇÃO
Das ciências naturais clássicas (Geologia, Biologia, Física e Química), a Química é a irmã caçula. Apesar disso, para
muitos, ela é a “Ciência Central”. Portanto, compreender os fundamentos dessa ciência é essencial para a compreensão
do mundo material. Falando em material, aquele decantado conceito de que “matéria é tudo aquilo que possui massa e
ocupa lugar no espaço” resume, simplificadamente, o objeto de estudo da ciência das substâncias e suas transformações,
a saber o mundo material. Certa vez, li num antigo livro de Aristóteles, intitulado “Terra Matrem” , em tradução livre,
“Mãe Natureza”, uma frase tão simples, mas que abarca a amplitude do estudo da Química. Aristóteles começa o opúsculo
fazendo um esclarecimento onde diz que: “o que será tratado nesse livro é sobre o mundo material e não sobre o mundo
espiritual”, eis o campo de estudo da Química, o mundo material, logo, todas as substâncias que formam nosso universo.
Com o objetivo de contribuir na compreensão desse maravilhoso mundo das substâncias, apresentamos QUÍMICA: ENSINO,
CONCEITOS E FUNDAMENTOS. As transformações materiais experimentadas pela humanidades ao longo dos últimos dois
séculos perpassa pela evolução dos conceitos e fundamentos da Química, desenvolvidos por pesquisadores e cientistas
em muitas bancadas de laboratório mundo afora. Ademais, aos educadores, através do ensino dos princípios químicos
compete a missão de torná-los acessível à compreensão de toda a sociedade. A obra reúne trabalhos de Educação Química,
Química Teórica, Química Orgânica, Físico-Química, Química Analítica, Biotecnologia, Energia e Combustíveis, Fármacos,
Química de Alimentos, de Produtos Naturais e de Produtos do dia a dia e, como não poderia faltar, Química Experimental.
Afinal, a Química é uma ciência essencialmente experimental.
De um químico dividido entre a bancada de um laboratório e a sala de aula.
Boa leitura!
Larissa Passos dos Santos; Bárbara Elizabeth Alves de Magalhães; Madson de Godoi Pereira; Débora de Andrade Santana
' 10.37885/210805908................................................................................................................................................................................... 13
CAPÍTULO
02
ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA INTRUSÃO SALINA EM POÇOS DE ABASTECIMENTO NAS COMUNIDADES DAS ILHAS DE
SÃO CAETANO DE ODIVELAS NO NORDESTE PARAENSE
Anderson de Andrade Ribeiro; Davis Castro dos Santos; Reginaldo da Silva Sales
' 10.37885/211006455................................................................................................................................................................................... 31
CAPÍTULO
03
ATENÇÃO! DOCENTE EM FORMAÇÃO ... AS ESTRATÉGIAS DE ENSINO MAIS UTILIZADAS NAS AULAS DE QUÍMICA EM
DUAS ESCOLAS ESTADUAIS DE SANTARÉM (PA) E A NECESSIDADE DE CONSTANTE FORMAÇÃO CONTINUADA
Darlison Guto Travassos de Sousa; Reginaldo da Silva Sales
' 10.37885/211006391................................................................................................................................................................................... 62
CAPÍTULO
04
CONTEXTUALIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS DE QUÍMICA E MOTIVAÇÃO PARA A APRENDIZAGEM: SOB A PERSPECTIVA DOS
ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO
Dulcinéia da Silva Adorni; Marta Brito da Silva
' 10.37885/210605087.................................................................................................................................................................................. 86
CAPÍTULO
05
DETERMINAÇÃO ELETROANALÍTICA DE MINOXIDIL EM TÔNICOS CAPILARES UTILIZANDO UM ELETRODO DE BAIXO CUSTO
Gleidson Thiago de Sá Araújo; Rayza Borba de Lima; Jainara da Silva Costa; Quésia Guedes da Silva Castilho
' 10.37885/210805592..................................................................................................................................................................................117
CAPÍTULO
07
O USO DO LIVRO DIDÁTICO E SUA EVOLUÇÃO NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA: UM OLHAR SOBRE O LIVRO DE QUÍMICA
Leonardo Augusto Couto Finelli
CAPÍTULO
08
QUÍMICA PARA VER, APRENDER E, ASSIM, COMPREENDER
Daiane Fernandes de Oliveira; Laura Carolina Gonçalves; Adilson Aparecido Cardoso; Juliana Barretto de Toledo
' 10.37885/211006452.................................................................................................................................................................................142
CAPÍTULO
09
QUÍMICA, MODELOS DE INSTABILIDADE E ENSINO DE CIÊNCIAS: UMA REVISÃO SOB A ÓTICA DO PENSAMENTO SISTÊMICO
Maria Gabriela Tiritan
' 10.37885/211006535.................................................................................................................................................................................152
CAPÍTULO
10
TINGIMENTO DE TECIDO DE POLIÉSTE/ELASTANO USANDO ÁGUA TRATADA COM RESÍDUO DA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS
Ivonete Oliveira Barcellos; Gláucia Cristina Müller; Martinho Rau
CAPÍTULO
11
TRILHANDO “VELHOS” E “NOVOS” CAMINHOS: A UTILIZAÇÃO DE METODOLOGIAS ATIVAS NO ENSINO DE QUÍMICA NA
EDUCAÇÃO BÁSICA. (REVISÃO INTEGRATIVA DE PUBLICAÇÕES DO ENEQ)
10.37885/210805850
RESUMO
129
Química: ensino, conceitos e fundamentos - Volume 2
INTRODUÇÃO
MÉTODO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
132
Química: ensino, conceitos e fundamentos - Volume 2
de conhecimentos e valores que possam servir de instrumentos mediadores da interação
do indivíduo com o mundo (SILVA; CARNEIRO, 2019).
Reconhece-se que os currículos tradicionais têm enfatizado, na maioria das vezes, ape-
nas aspectos conceituais da química. Tais são apoiados em uma tendência que transforma
a cultura química escolar em algo completamente descolado de suas origens científicas e
de qualquer contexto social ou tecnológico. Além disso, esses currículos apresentam um
número excessivo de conceitos, cuja inter-relação é dificilmente percebida pelos alunos
(LEITE, 2018; MORTIMER; MACHADO; ROMANELLI, 2000).
Neste sentido faz-se mister compreender como se deu a evolução do livro didático de
química na proposta de ensino aprendizagem, considerando suas características e impor-
tância no processo de formação educacional.
A partir da introdução do ensino médio no Brasil, no século XVIII, o sistema de ensino
oferecia livros muito atualizados, cujos autores discutem, em pé de igualdade com cientistas
europeus, o significado de novos conceitos. Tal prática perdurou até o final do século XIX,
quando, infelizmente essa situação modificou-se. A partir do início do século, no Brasil, os
livros adotados passam a apresentar certa inércia de conteúdos, não acompanhando a
evolução dos conhecimentos. Tal quadro reforça a inércia científica ao dificultar o abando-
no de certos conceitos e teorias já em desuso (MIRANDA; PAZINATO; BRAIBANTE, 2019;
MORTIMER, 1988).
A apresentação gráfica dos livros dos séculos XIX e início do XX seguiam a postura de
primeiro exemplificar para após a discussão de vários exemplos, generalizá-los mediante um
conceito. Uma característica marcante dos livros do período é a totalidade dos livros preocu-
parem-se em discutir as implicações filosóficas dos conhecimentos químicos e a ausência
completa de exercícios, ou questionários, cuja apresentação ficava a cargo dos professores.
Tal forma de apresentação não se alterou muito até a década de 1960, quando os livros
passaram por mudanças como: trazer quase que exclusivamente textos; os títulos ocupam
pouco espaço; e, as ilustrações são em número bem reduzido. Os conceitos principais
passaram então a receber destaque na apresentação com alguma impressão diferenciada
(mudança de fonte, ou uso do negrito) (MORTIMER, 1988).
No Brasil, a partir de 1931, com a Reforma Francisco Campos, proposta pelo governo,
os livros didáticos sofreram algumas alterações importantes. O programa, proposto pela re-
forma, influenciou o ensino e a forma como este deve ocorrer ao propor currículos seriados.
Quanto ao livro didático, aquela os modificou, assim sua apresentação passou de compên-
dios de química geral, não-seriados, a livros de química, com conteúdos discriminados por
séries. De modo similar, a forma de apresentação dos conceitos se modificou ao passar
pela introdução do conceito seguida de exemplos. Assim muitos conceitos deixam de ser
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Química: ensino, conceitos e fundamentos - Volume 2
introduzidos operacionalmente e são expostos de modo direto ao aluno (MORTIMER, 1988;
SILVA; ALVES; ANDRADE, 2019).
Os livros passaram a apresentar um esboço da história da química, da antiguidade até
os dias atuais, assim como retratos e pequenas biografias de personagens marcantes da
história da química. Tais mudanças obedeciam à orientação do programa oficial. Outra marca
das mudanças deste período foi a introdução de um maior número de ilustrações e de esque-
mas, para facilitar a compreensão do aluno de modelos abstratos e microscópicos. Também
a partir deste período, alguns livros incorporam exercícios, problemas e questionários ao
final da obra e/ou de cada capítulo (MORTIMER, 1988; SILVA; ALVES; ANDRADE, 2019).
É importante considerar que mesmo a partir da Reforma Francisco Campos, muitos
livros não foram atualizados, ou o foram apenas parcialmente, o que perpetuou a inércia do
ensino de conteúdos descontextualizados e que não faziam mais sentido químico, quando
considerados a luz dos novos modelos já em vigor (SILVA; ALVES; ANDRADE, 2019).
Em 1943 é introduzida a Reforma Capanema e em 1951, tem-se uma nova Reforma
Curricular do sistema de ensino, porém, com mudanças pouco significativas que não chegam
a constituir um novo período. Neste sentido o período de 1943 a 1960, os livros didáticos
se tornam mais homogêneos por estarem rigorosamente de acordo com o programa ofi-
cial. Os livros conservaram, em geral, as mesmas características do período anterior, em
relação à impressão e à presença de exercícios e questionários ao final de cada capítulo,
os quais aparecem apenas em alguns deles (MORTIMER, 1988).
Reconhece-se ainda que a maioria dos livros didáticos deste período apresentam
abordagens menos consistente do que no passado, assim como alterações que empobre-
cem a obra. Além disso, são mais dogmáticos em relação a vários tópicos e conteúdos o
que mantinha o processo de atualização vagaroso. Tal situação levou os livros didáticos de
Química a chegarem ao final da década de 1950 bastante desatualizados. Outra mudança
marcante, do período, é que as definições formais deixaram de ser apresentadas entremea-
das por exemplos, a estrutura passou a ser, inicialmente, a apresentação da definição e,
depois, discutem-se um, ou mais, exemplos, que passaram a ficar distantes da construção
do conceito (STOLL et al., 2021).
A partir de 1961 entrou em vigor a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
– LDB, que novamente trouxe grandes mudanças ao sistema de ensino. Uma dessas con-
templou a organização seriada dos conteúdos didáticos em currículos que deixaram de
incorporar programas detalhados para cada disciplina. Assim abriu-se espaço para pro-
postas alternativas de organização curricular. Verificou-se a organização de variadas de
abordagens, muito mais que outras épocas, o que levou a grande heterogeneidade entre
os livros didáticos. Alguns adotaram perspectivas mais arrojadas, sem a preocupação em
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Química: ensino, conceitos e fundamentos - Volume 2
conceituar primeiro para depois exemplificar, outros seguiram, estritamente, os currículos
dos períodos anteriores (PRATA, 2019).
A mudança marcante introduzida a partir de 1961, foi a apresentação de exercícios
e questionários ao final de cada capítulo do livro didático. Porém, em relação à apresen-
tação gráfica, observou-se, ainda, a predominância de textos. Reconheceu-se ainda que
as ilustrações são expostas em pequeno número, e os títulos não ocupam grande des-
taque, assim aqueles livros mantiveram-se muito parecidos aos dos períodos anteriores
(MORTIMER, 1988).
A desqualificação dos cursos de formação docente decorrente da implantação de
licenciaturas curtas (Lei nº 5.692/1971) e as precárias condições de ensino nas escolas
contribuíram para que livro didático passasse a constituir-se em instrumento pedagógico
por excelência e força uniformizadora do currículo. Assim seu uso se expandiu no cenário
do sistema educacional brasileiro dos anos 1970 e 1980 (MEDEIROS, 2019).
Com a diminuição da carga horária do conteúdo de Química no ensino do segundo grau
(consequência da profissionalização obrigatória introduzida pela Lei nº 5.692/71), têm-se
as mudanças mais drásticas do ensino e do livro didático em relação a todos os períodos
anteriores. Os autores viram-se obrigados a simplificar o conteúdo dos livros (não neces-
sariamente modificando a abordagem), o que fez com que os livros apresentassem uma
versão reduzida dos livros anteriores (MORTIMER, 1988).
Uma característica digna de nota, desse período, é que alguns autores publicam duas
edições diferentes para um mesmo livro: a mais recente como uma simplificação, ou uma
versão reduzida, da mais antiga. Os autores simplesmente faziam a seleção do texto, e sa-
crificavam exemplos, explicações mais demoradas, exercícios, etc. Graficamente, os livros
passam a incorporar uma série de truques didáticos, como a apresentação de conceitos em
destaque; títulos de tamanhos variados; introdução de número exagerado de ilustrações,
tabelas, gráficos, desenhos, etc. O número de exercícios também cresceu de maneira signifi-
cativa, porém, apenas como variações no aspecto formal, pois a maioria deles exigia apenas
a habilidade de memorizar os conteúdos, e são reproduções de problemas similares com
alteração das variáveis, ou são extremamente objetivos (completar frases com conceitos,
ou de múltipla escolha de conceitos). Nesse contexto, os alunos passaram a ser treinados a
resolver alguns tipos bem definidos de exercícios. Aqueles se colocados diante de problemas
diferentes daquela tipologia treinada em sala apresentam grande dificuldade em resolvê-lo
(MEDEIROS, 2019; MORTIMER, 1988).
A análise dos livros de ciências dos anos 1970 e 1980 destaca as seguintes carac-
terísticas: vazios de informação; induzem à memorização; apresentam o conhecimento de
forma compartimentalizada; apresentam a experimentação como palavra final e sem vínculo
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Química: ensino, conceitos e fundamentos - Volume 2
com modelos teóricos; apresentam a natureza como fonte inesgotável de recursos; mostram
o universo e o ser humano vivendo em perfeita harmonia; colocam o desenvolvimento da
ciência e da técnica como sempre benéficos. Tal perspectiva idealizada de mundo é típica
de gestões autocráticas e regimes autoritários, que se valem da construção de uma reali-
dade ilusória para mascarar questões sociais latentes (MEDEIROS, 2019; PRETTO, 1985).
Verificou-se ainda que os livros didáticos produzidos no final do período do regime do
governo militar brasileiro estão mais preocupados com a forma de apresentação do conteú-
do do que com o conteúdo propriamente dito. O sacrifício do texto de conteúdo formal se
deu com o uso de truques gráficos e metodológicos emaranhados na obra. Avaliou-se que
apenas 30% do espaço dos livros didáticos, daquele período, eram reservado aos textos ex-
plicativos. Já os exercícios e as ilustrações ocupam espaço maior que o dos textos. E ainda,
reconheceu-se que aqueles livros didáticos estavam em acordo com a metodologia utilizada
à época, que adotava aulas expositivas e de exercícios como as principais alternativas meto-
dológicas de ensino. Mesmo em colégios, que dispunham de laboratórios e realizavam aulas
práticas, a percentagem delas é mínima em relação às aulas expositivas e às de exercícios
(MORTIMER, 1988).
Posta tal introdução reconhece-se que para compreender e avaliar o alcance e motiva-
ções das mudanças nos livros didáticos, na atualidade, é preciso analisar os movimentos de
reformas educacionais e curriculares dos anos 1990. Tais reformas foram desencadeadas
por fatores internos e externos à vida escolar tais como: 1. mudanças no perfil sociocultural
dos estudantes, sobretudo no ensino médio; 2. globalização econômica e novas exigências
do mercado de trabalho; 3. influência do construtivismo no meio educacional (MARTINS;
FERREIRA, 2018).
A sexta edição da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (Lei nº
9.394/1996), propôs uma nova reestruturação dos níveis educacionais. As pretensões da
nova LDB ampliaram os horizontes educacionais e tornaram-se mais claras quando o MEC
elaborou, em 1999, os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs e mais tarde, em 2002,
os PCNs+ (MARTINS; FERREIRA, 2018).
Porém, mesmo com a nova LDB e com a elaboração dos PCNs, a reforma pretendida
na educação enfrentou e continua a enfrentar sérios obstáculos que vão desde a indisponi-
bilidade de materiais didático-pedagógicos, passam pela má formação dos professores, e
chegam à estrutura verticalizada do sistema de ensino (MEIRELLES et al., 2017). E ainda,
com a elaboração da Base Nacional Comum Curricular – BNCC, para o ensino fundamental
em 2017 e para o ensino médio em 2018, tem-se que tais documentos propuseram a apre-
sentação de conteúdos teóricos e conceituais de forma ainda mais superficiais se comparados
aos PCN e PCN+ (LICÍNIO, 2021).
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Química: ensino, conceitos e fundamentos - Volume 2
Assim sendo, a produção de livros didáticos passa por movimentos contraditórios: de
um lado, a construção que promova o melhor ensino-aprendizagem entre professores; de
outro, a avaliação positiva por parte do Programa Nacional do Livro Didático – PNLD. Nem
sempre esses dois critérios convergem, uma vez que a maior parte dos professores apre-
senta visões do currículo mais conservadoras e tradicionais. As inovações são lentamente
assimiladas e incorporadas pelos professores, outras vezes rejeitadas ou postergadas,
sobretudo pelo fato de que não se fazem acompanhar de políticas de formação continuada
(LICÍNIO, 2021; MARTINS; FERREIRA, 2018).
Além de mudanças superficiais na edição de textos didáticos consagrados, o movi-
mento de reformas educacionais gerou, sobretudo a partir da segunda metade dos anos
1990, a publicação de novas coleções de livros didáticos alternativos aos currículos tradicio-
nais. A própria política de editoração que até os anos 1960, tomava o renome do autor de
modo a garantir o sucesso de um livro didático modificou-se. Os livros passaram a ser vistos
como mercadorias, e como tal, devem gerar lucro para as editoras que os produzem, assim,
o que menos importa é o valor didático do conteúdo, em contraposição ao atendimento do
PNLD e adoção, em massa, do material (MIRANDA; PAZINATO; BRAIBANTE, 2019).
O livro didático visto como uma mercadoria implica em possuir valor de troca, estabe-
lecido por forças de mercado. Os agentes financiadores do livro didático são grandes corpo-
rações empresariais, que financiam projetos e visam lucro. O mercado do livro didático no
Brasil é um dos maiores mercados editoriais do mundo, já que a partir de 1970, houve um
grande aumento no número de estudantes em todos os graus de ensino. Particularmente
no segundo grau/ensino médio, após a LDB de 1996, houve incremento muito grande no
consumo de livros didáticos (MIRANDA; PAZINATO; BRAIBANTE, 2019).
Nesse contexto, o novo livro didático, com sua organização alternativa, que visa atender
as demandas do PNLD mais do que oferecer a melhor via de ensino-aprendizagem, tem
em sua maioria autores que são pesquisadores ou professores que estiveram muito próxi-
mos da pesquisa acadêmica em educação em ciências. Além disso, vários desses novos
autores estiveram (ou estão) envolvidos com reformas curriculares recentes. Esses atuam
como consultores, e assim, produzem materiais e programas para formação continuada de
professores em parceria com as editoras que oferecem o material nos editais de licitação
do PNLD (VALENTE; ALMEIDA; SILVA, 2020).
O livro didático alternativo se apresenta como instrumento para efetivação das mudan-
ças curriculares, de maneira semelhante ao que ocorria com os Projetos de Ensino nos anos
1960-1970. Vários foram os aspectos de inovação de conteúdos e abordagens de ensino,
tais como: 1. imagem mais crítica e sofisticada acerca da ciência e suas relações com tec-
nologia e sociedade; 2. ensino centrado na aprendizagem e aluno como sujeito do processo;
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Química: ensino, conceitos e fundamentos - Volume 2
3. seleção criteriosa de modelos e ideias centrais da ciência a serem ensinados; 4. subsídios
para trabalho dos professores e fundamentação da proposta; 5. materiais de ensino mais
dialógicos, com atividades de modelamento e metacognição (MARTINS; FERREIRA; 2018).
Não obstante, mesmo esse novo material, que assumiu a tendência educacional tecni-
cista, por vezes parece ter a pretensão de substituir o professor na tomada de decisões sobre
a organização do trabalho pedagógico em sala de aula. Ao se observar algumas coleções
de textos inovadores é possível verificar sinais de invasão da autonomia docente, o que é
indício de tendência dos autores (supostos especialistas) em considerar que as orientações
específicas para realização de atividades devem estar prescritas em detalhe para que possam
de fato ser efetivadas em sala de aula. Há também, tensões entre autores e editores, onde
para os novos autores, o livro é assumido enquanto Projeto de Ensino aberto, flexível, em
permanente mudança. Entretanto, os limites e os custos de edição fazem com que o livro
didático cristalize certas opções. E ainda se verificam tensões entre editores e consumidores
(governo e usuários dos livros didáticos), frente ao acesso aos recursos e seu custo. Todos
estes aspectos justificam as mais diversas pesquisas de análise da qualidade dos livros
didáticos (MARTINS; FERREIRA; 2018; VALENTE; ALMEIDA; SILVA, 2020).
CONCLUSÕES
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Química: ensino, conceitos e fundamentos - Volume 2
compete com as informações trazidas por outros meios, o que gera funções novas para
este instrumento.
Assim como se observou em Loguercio; Samrsla; Pino (2001), não é possível estabe-
lecer um critério que especifique o número de obstáculos epistemológicos, ou a quantidade
de páginas, que conterão poluição visual tal, que seja considerada limite, para se dizer que
um livro é ruim ou bom. Da mesma maneira reconhece-se que é claro que quanto menor o
número de problemas identificados, melhor o trabalho do professor e do aluno com o livro (no
sentido de assimilar o conhecimento), assim como menor será a necessidade de gerenciar
e discutir esses problemas com os alunos de modo a promover tranquilidade ao professor
para utilizar os textos.
Verifica-se também que é muito difícil ao aluno desenvolver um projeto de leitura ade-
quado e particular, pois, nos livros didáticos, tudo já vem pronto para o educando. Os con-
ceitos mais importantes já estão em destaque, assim como são direcionadas as informações
de conteúdo e exercícios de fixação. Como normalmente definições e conceitos estão em
destaque, os alunos podem simplesmente ler os quadros e consultar as ilustrações sem
acompanhar todo o texto.
Tal abordagem do aprendizado empobrece o conhecimento que se torna mais mnemô-
nico do que racional. Ou seja, o aluno perde a capacidade de raciocinar e assim relacionar
conceitos ou buscar explicações lógicas para fatos novos a partir de seus conhecimentos
prévios. Esse aluno passa a apenas reproduzir uma série de conceitos que não apresentam
sentido ou significado para ele. Neste sentido a proposta de aprender a aprender perde-se
e o aluno não têm mais a possibilidade de aprender com seu erro já que não é estimulado
a pensar. Assim os livros didáticos transformam-se em guias metodológicos de qualidade
duvidosa, quase sempre simplificando em excesso o conteúdo das disciplinas em nome de
uma pretensa objetividade.
Espera-se com tal discussão que a relevância do livro didático tenha sido ampliada,
assim como que se tenha clarificado que suas características e seleção para o uso em cada
escola envolvem diretrizes educacionais que atendem a propósitos políticos de projeto de
nação para qualquer país. Reconhece-se que tal análise não se esgota em si mesma, e
assim esperamos que as presentes reflexões contribuam com todos para a realização de
escolhas mais conscientes e direcionadas as demandas que se deseja suprir.
139
Química: ensino, conceitos e fundamentos - Volume 2
REFERÊNCIAS
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Química: ensino, conceitos e fundamentos - Volume 2
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141
Química: ensino, conceitos e fundamentos - Volume 2