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1ª EDIÇÃO

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2022 - GUARUJÁ - SP
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Guarujá - São Paulo - Brasil
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T674 Tópicos atuais em desenvolvimento regional e urbano / Auristela Correa Castro (Organizadora), Dennis Soares Leite
(Organizador), Marcelo da Fonseca Ferreira da Silva (Organizador). – Guarujá-SP: Científica Digital, 2022.
Outos organizadores: Diogo da Silva Cardoso; Alex Guimarães Sanches
E-BOOK
ACESSO LIVRE ON LINE - IMPRESSÃO PROIBIDA

Formato: PDF
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Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5360-XXX-X
DOI 10.37885/978-65-5360-XXX-X
Tópicos atuais em desenvolvimento regional e urbano / Auristela Correa Castro (Organizadora), Dennis Soares Leite
(Organizador), Marcelo da Fonseca Ferreira da Silva (Organizador). – Guarujá-SP: Científica Digital, 2022.

2022
CDD 338.9
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Elaborado por Janaina Ramos – CRB-8/9166
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Universidade Tecnológica Federal do Paraná Universidade Federal do Pará
Esta obra constituiu-se a partir de um processo colaborativo entre professores,
estudantes e pesquisadores que se destacaram e qualificaram as discussões neste
APRESENTAÇÃO

espaço formativo. Resulta, também, de movimentos interinstitucionais e de ações


de incentivo à pesquisa que congregam pesquisadores das mais diversas áreas do
conhecimento e de diferentes Instituições de Educação Superior públicas e privadas de
abrangência nacional e internacional. Tem como objetivo integrar ações interinstitucionais
nacionais e internacionais com redes de pesquisa que tenham a finalidade de fomentar a
formação continuada dos profissionais da educação, por meio da produção e socialização
de conhecimentos das diversas áreas do Saberes.
Agradecemos aos autores pelo empenho, disponibilidade e dedicação para o
desenvolvimento e conclusão dessa obra. Esperamos também que esta obra sirva de
instrumento didático-pedagógico para estudantes, professores dos diversos níveis de
ensino em seus trabalhos e demais interessados pela temática.

Os Organizadores
SUMÁRIO
CAPÍTULO 01
A AÇÃO ANTRÓPICA NO ESPAÇO NATURAL E OS IMPACTOS SOBRE A POPULAÇÃO DAS ABELHAS SEM FERRÃO NA
CIDADE DE CANELA/RS
Silvana Aparecida Meneses Barros; Cláudio Gabriel Soares Araújo

' 10.37885/220508873......................................................................................................................................................................... 13

CAPÍTULO 02
A GESTÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR: PLURIATIVIDADE, DIVERSIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO E AGRICULTURA
ORGÂNICA – UM ESTUDO DE CASO DA REGIÃO DA CAMPANHA
Otomar Vielmo; Elisabeth Cristina Drumm; Cidonea Machado Deponti

' 10.37885/220709447......................................................................................................................................................................... 27

CAPÍTULO 03
A GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS DAS INDÚSTRIAS DE ALUMÍNIO E A SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA:
UM ESTUDO DE CASO
José de Figueiredo Belém; Ana Marília Barbosa Oliveira; Tharsis Cidália de Sá Barreto Diaz Alencar; Daniel de Melo Morais

' 10.37885/220909909........................................................................................................................................................................ 51

CAPÍTULO 04
A QUESTÃO DOS ASSENTAMENTOS RURAIS: A INVISIBILIDADE CONTINUA, E A RELEVÂNCIA SOCIAL DA JUVENTUDE
RURAL
José Eloízio da Costa; Adriana Lisboa da Silva

' 10.37885/220709503......................................................................................................................................................................... 61

CAPÍTULO 05
A REDE URBANA NOS BIOMAS BRASILEIROS E O PAPEL DAS FLORESTAS URBANAS COMO MITIGAÇÃO DAS
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Cleir Ferraz Freire; Paulo Augusto Zaitune Pamplin

' 10.37885/220910073......................................................................................................................................................................... 77

CAPÍTULO 06
ATIVOS TERRITORIAIS E GOVERNANÇA TERRITORIAL: UM RELATO DA EXPERIÊNCIA FRANCESA DE DESENVOLVIMENTO
TERRITORIAL
Adriana Marques Rossetto

' 10.37885/220809858......................................................................................................................................................................... 94
SUMÁRIO

CAPÍTULO 07
ATUAÇÃO DA ERGONOMIA E DO AMBULATÓRIO DE MEDICINA OCUPACIONAL DE UMA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA
DE SÃO PAULO: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Dennis Soares Leite; Cíntia Menezes Carneiro; Márcia Cristina Csuzlinovics; Manoel Patrocínio de Moraes Neto; Leila Santos

' 10.37885/220709540......................................................................................................................................................................... 112


CAPÍTULO 08
CONDIÇÕES DE TRABALHO DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19: UM ESTUDO DE
CASO DA MICRORREGIÃO DE BLUMENAU
Valdir da Silva; Valmor Schiochet

' 10.37885/220809878......................................................................................................................................................................... 121


CAPÍTULO 09
CONFIGURAÇÃO SOCIOESPACIAL DO MUNICÍPIO DE LAGUNA: A INTERAÇÃO SOCIEDADE E AMBIENTE
Cristina Benedet

' 10.37885/220910059......................................................................................................................................................................... 134


CAPÍTULO 10
CONSUMO DE COCO VERDE EM CUIABÁ: RELAÇÃO ENTRE CLIMA E GERAÇÃO DE RESÍDUOS
Cristiano Liell; Alexandre Magno de Melo Faria; Willian Douglas da Silva Reis; Vera Lícia de Arimatéia Silva

' 10.37885/220709381.......................................................................................................................................................................... 155


CAPÍTULO 11
DESENVOLVIMENTO REGIONAL INTELIGENTE: DAS REGIÕES DE APRENDIZAGEM ÀS REGIÕES INTELIGENTES
Bárbara Françoise Cardoso Bauermann; Alessandra Bussador

' 10.37885/220809893........................................................................................................................................................................ 174


CAPÍTULO 12
DIAGNÓSTICO DA COMERCIALIZAÇÃO DOS PRODUTOS DA AGRICULTURA FAMILIAR EM FEIRAS LIVRES
Taylane Santos Santos; Natália Nayale Freitas Barroso; Rhaiana Oliveira de Aviz; Luana Keslley Nascimento Casais; Michelane Silva
Santos Lima; Andreza Sousa Carmo; Luciana da Silva Borges

' 10.37885/220709464......................................................................................................................................................................... 189


CAPÍTULO 13
DINÂMICA ESPACIAL E ALTERAÇÕES DO PERFIL AGROPECUÁRIO NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL DE 2006
E 2017
Luiz Fernando Saguma Maibashi; Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo

' 10.37885/220809864........................................................................................................................................................................ 204


SUMÁRIO

CAPÍTULO 14
DIVERSIDADE VEGETAL, USO AGRÍCOLA, POLÍTICA FUNDIÁRIA E PERSPECTIVAS DO CERRADO AMAPAENSE DE
2018 A 2022
Gilberto Ken Iti Yokomizo; Liliane do Nascimento Costa; Renan Gomes Furtado; Eneas Correa dos Santos; Igor Correa dos Santos

' 10.37885/220909912......................................................................................................................................................................... 222


CAPÍTULO 15
ESTIMATIVAS PARA O ÍNDICE DE OPORTUNIDADE HUMANA NO BRASIL EM UM CONTEXTO DE REDUÇÃO DA
DESIGUALDADE
Daniel Cirilo Suliano; Jaime de Jesus Filho

' 10.37885/220809849........................................................................................................................................................................ 245


CAPÍTULO 16
ESTUDO DA CONCENTRAÇÃO DA CADEIA DE SERVIÇOS NO MUNICÍPIO DE CAMPOS DO JORDÃO 2008 – 2012
Carlos Armando Benedusi Luca; José Luís Gomes da Silva

' 10.37885/220809842......................................................................................................................................................................... 263


CAPÍTULO 17
ESTUDO SOBRE A HIPÓTESE DE FRAGILIDADE FINANCEIRADE HYMAN MINSKY APLICADA AO ESTADO DE MINAS
GERAIS NO PERÍODO 2008-2018
Cláudio Roberto Caríssimo; Rogério César Corgosinho; Antônio Carlos dos Santos

' 10.37885/220709444......................................................................................................................................................................... 280


CAPÍTULO 18
EVOLUÇÃO DE COOPERATIVAS DE COLETA SELETIVA DE RESÍDUOS DE EQUIPAMENTOS ELÉTRICO E ELETRÔNICOS:
UMA ANÁLISE A PARTIR DAS ATRIBUIÇÕES DA AUDIÊNCIA
Ana Carolina Simões Braga; Dimária Silva e Meirelles

' 10.37885/220709454......................................................................................................................................................................... 300


CAPÍTULO 19
EXTERNALIDADE REVERSA: UMA SOLUÇÃO DO CUSTO EXTERNO
Alexandre Magno de Melo Faria; Hélde Araujo Domingos

' 10.37885/220709382......................................................................................................................................................................... 322


CAPÍTULO 20
INFLUÊNCIA DA CONCORRÊNCIA E RENDA MEDIA DAS FAMÍLIAS NA VARIAÇÃO DO PREÇO DE VENDA NAS EMPRESAS
DE NAMPULA
Lee Cheng Arune Chin Ching Vim

' 10.37885/220809725......................................................................................................................................................................... 342


SUMÁRIO

CAPÍTULO 21
INSTRUMENTOS URBANÍSTICOS: OUTORGA ONEROSA E TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DE CONSTRUIR
Maria Heloísa de Lima Moraes Morué; Simone do Nascimento Costa; Daniela Rosim

' 10.37885/220809881......................................................................................................................................................................... 348


CAPÍTULO 22
MAIN INCENTIVES AND BARRIERS TO EFFECTIVENESS OF GOVERNANCE IN BRAZILIAN SCIENCE AND TECHNOLOGY
PARKS
Milton Correia Sampaio Filho; Maria Ângela da Costa Lino Franco Sampaio; Jair Nascimento Santos

' 10.37885/220408615......................................................................................................................................................................... 366


CAPÍTULO 23
O CULTIVO DA CASTANHA PORTUGUESA COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO TURISMO
Carlos Armando Benedusi Luca; Márcia Azeredo; Marcelo Habice da Motta; José Luís Gomes da Silva

' 10.37885/220709509......................................................................................................................................................................... 388


CAPÍTULO 24
REINSERÇÃO DO CAPIM SANTA FÉ NO AGROECOSSISTEMA MBYÁ GUARANI, EM TERRAS RECONQUISTADAS NO
SUL DO RIO GRANDE DO SUL
Cecile Follet; Gabriel Collares Poester; Gilson Laone Pereira

' 10.37885/220709307......................................................................................................................................................................... 411

SOBRE OS ORGANIZADORES.............................................................................................................................. 418

ÍNDICE REMISSIVO.............................................................................................................................................. 419


01
A ação antrópica no espaço natural e os
impactos sobre a população das abelhas
sem ferrão na cidade de Canela/RS

Silvana Aparecida Meneses Barros


Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA

Cláudio Gabriel Soares Araújo


Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS

'10.37885/220508873
RESUMO

O espaço natural é um local onde as paisagens não foram modificadas pela ação do homem
em seu desenvolvimento cultural e econômico. A ação antrópica no espaço natural transforma
esse espaço, por vezes de maneira irreversível. Essa transformação positiva e necessária
ao homem pode causar danos ambientais negativos aos ecossistemas existentes no espaço
natural. Esta pesquisa tem por objetivo alertar sobre os impactos da modificação do espaço
natural realizados pela ação do homem que podem levar a extinção de espécies importantes
para o ecossistema local, conhecer as espécies de abelhas sem ferrão existentes na região
de Canela e despertar sobre a importância desses insetos para a polinização das plantas
no ambiente natural, assim como, a polinização em áreas de produção agrícola. As abelhas
sem ferrão nativas encontradas no Rio Grande do Sul são seres que dependem do espaço
natural para viver e reproduzir. Com a finalidade de melhor conhecer as abelhas sem ferrão
se realizou uma pesquisa bibliográfica e documental que exigiu uma pesquisa de campo
para ampliar os conhecimentos e ratificar a necessidade de alertar sobre os impactos da
ação do homem sobre o espaço natural.

Palavras-chave: Ação Antrópica, Espaço Natural e Geográfico, Abelhas Silvestres Nati-


vas, Polinização.
INTRODUÇÃO

Atualmente, 84% da população brasileira vive em áreas urbanas e 16% em áreas ru-
rais (IBGE, 2015). No Rio Grande Sul, esses percentuais são praticamente os mesmos das
médias nacionais. Das 497 cidades do estado a capital, Porto Alegre, é a mais populosa,
com quase um milhão e quinhentos mil habitantes. E a região metropolitana com quase 4,5
milhões de habitantes (IBGE, 2022).
Dentre os municípios do Rio Grande do Sul a cidade de Canela, fundada em 1944,
possui uma população de 45.957 habitantes. O município está localizado na microrregião
309 (RS), nos degraus da Encosta Inferior do Nordeste e na extremidade sul da Serra Geral,
e é dividido pelo Rio Caí (Santa Cruz), abrangendo a nascente do Rio Paranhana (Santa
Maria) (PREFEITURA MUNICIPAL DE CANELA, 2021).
No município de Canela a área urbana se expandiu em direção à Floresta Nacional
de Canela. Prova disso é que a área urbana total do município aumentou 164% entre 1978
e 2012, passando de 1.482 hectares (ha) para 3.912 hectares (ha). Esse avanço da área
urbana sobre a floresta trouxe diversos impactos para a Unidade de Conservação (UC), en-
tre eles se destaca a degradação dos recursos naturais, o destino inadequado de despejos
e efluentes domésticos, assim como, efluentes vindos do distrito industrial que poluem os
corpos hídricos do município (COELHO, 2008).
O desenvolvimento humano traz consigo uma gama de modificações ao espaço natural
provocando, entre outras, a exposição dos animais silvestres a riscos diferentes dos quais
estão acostumados a viver em seu ecossistema. O mesmo ocorre com a vegetação que na
maioria das vezes é suprimida e com o desenvolvimento das cidades outros problemas am-
bientais são criados pela deposição de dejetos, resíduos sólidos e poluição do solo, ar e água.
O espaço natural é o local onde as paisagens não foram modificadas pela ação do
homem durante o desenvolvimento econômico e social. A ação antrópica no espaço natu-
ral transforma-o, por vezes de maneira irreversível. Essa transformação positiva e neces-
sária ao homem pode causar danos ambientais negativos aos ecossistemas existentes
no espaço natural.
Os insetos polinizadores são agentes transportadores de pólen responsáveis pela
reprodução das gimnospermas e das angiospermas, garantindo a biodiversidade dos ecos-
sistemas naturais. Cabe destacar a existência de dois tipos de agentes polinizadores, que
são os fatores abióticos, representados pelo vento e água e, os fatores bióticos que são
representados pelos animais, cujo maior destaque e importância são dados às abelhas de
diferentes gêneros (SANTOS, 2021).
Dentre os animais polinizadores, as abelhas são consideradas as mais eficientes, pos-
suem diversas características comportamentais e morfológicas que as qualificam para tal

Tópicos Atuais em Desenvolvimento Regional e Urbano - ISBN 978-65-5360-195-6 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
15
definição, como constância floral, presença de pelos e estruturas especiais para coleta ou
transporte de pólen, néctar ou outros recursos florais (PERUQUETTI; TEIXEIRA; COELHO,
2017). Devido suas características morfológicas – hábito alimentar e capacidades de lo-
comoção – são consideradas principais polinizadores de plantas e atuam na dispersão de
sementes, além de sua capacidade produção de mel.
No decorrer deste trabalho se percebe que algumas das espécies de abelhas sem
ferrão existentes na região de Canela do Rio Grande do Sul podem ter suas populações
diminuídas ou, até mesmo, serem extintas em virtude do aumento da ação antrópica sobre
o ambiente natural. Devido a isso, se fará um levantamento dos impactos da ação humana
que podem levar a extinção de espécies importantes para o ecossistema local.

METODOLOGIA

A pesquisa foi motivada pela percepção do rápido desenvolvimento da cidade de Canela


em detrimento do espaço natural que é modificado, na maioria das vezes, de forma danosa
ao meio ambiente. Assim como em outras regiões do Brasil, na cidade de Canela, a Mata
Atlântica diminui por conta da pressão que o crescimento demográfico e a crescente urba-
nização exercem sobre o espaço natural, transformando-o em espaço geográfico utilizado
pelo homem. O crescimento demográfico em algumas regiões e bairros da cidade aumenta
de maneira desordenada em direção da mata, consequência do modelo de desenvolvimento
econômico adotado no Brasil.
O aumento do contingente populacional é verificado nas áreas mais afastadas, que em
busca de condições de moradia acabam por gerar focos de poluição ambiental e destruição
dos recursos naturais. É necessária maior fiscalização por parte do poder público municipal
e dos órgãos estaduais responsáveis pelo meio ambientes.
Através da pesquisa bibliográfica e documental se buscou informações sobre os tipos de
meliponídeos existentes na região de Canela no estado do Rio Grande do Sul. O estudo levou
ao despertar de sua importância como polinizadora do ambiente natural e para a polinização
de plantas cultivadas para alimentação do homem. As fontes dessa pesquisa ocorreram junto
às bases de dados nacionais e internacionais da CAPES, SCIELO e GOOGLE ACADÊMICO,
assim como, se obteve informações junto a e-books e artigos científicos. No decorrer da
pesquisa se fez necessário maior conhecimento sobre as abelhas sem ferrão, sobre a pos-
sibilidade de as abelhas viverem no espaço geográfico modificado pela ação do homem e
pela possibilidade de estas serem exploradas economicamente para a produção de mel.
Com essa finalidade, foi realizada uma pesquisa de campo em um meliponário (local
destinado à criação racional de abelhas silvestres nativas) composto de um conjunto de
colônias alojadas em colmeias especialmente preparadas para o manejo e manutenção

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dessas espécies. Essa pesquisa de campo proporcionou melhor entender sobre a forma de
vida e da importância das abelhas para os ecossistemas onde habitam. Mesmo com apenas
uma visita se pode considerar a existência da pesquisa de campo como método de inves-
tigação parte dessa pesquisa que adotou o método descritivo e qualitativo para apresentar
os resultados (VERGARA, 2006).

A CLASSIFICAÇÃO BIOLÓGICA DAS ABELHAS SEM FERRÃO

As abelhas podem ser classificadas como abelhas nativas, abelhas silvestres nativas e
abelhas domésticas. As abelhas domésticas da espécie Apis melífera são importantes para
a polinização das plantas e preferidas para a produção de mel e outros produtos apícolas
pela sua capacidade de produção. Já as abelhas silvestres nativas sem ferrão são também
importantes para a polinização das plantas e para a produção de mel, porém, em menor
escala. De acordo com o Artigo 2º da Lei nº 3465, de 15 de maio de 2014 vemos que:

I - abelhas nativas: são as abelhas de ocorrência natural em Canela e no


entorno próximo, que não tenham sido introduzidas por ações do homem;
II - abelhas silvestres nativas: são insetos da ordem HYMENOPTERA, Super-
família APOIDEA, Família APIDAE, Subfamília MELIPONINAE, e tribo MELI-
PONINI incluídos na definição de abelhas nativas. Também conhecidas como
Abelhas Sem Ferrão (ASF), Abelhas Indígenas Sem Ferrão, Abelhas Nativas;
III - abelhas domésticas: aquelas abelhas que através de processos tradicio-
nais e sistematizados de manejo e/ou melhoramento zootécnico tornaram-se
domésticas, apresentando características biológicas e comportamentais em
estreita dependência do homem, podendo apresentar fenótipo variável, dife-
rente da espécie silvestre que as originou. Considera-se doméstica para fins
desta Lei a espécie Apis mellifera, e todas suas raças, objeto da apicultura
(CANELA, 2014).

Entre as abelhas silvestres nativas produtoras de mel, podemos destacar as pertencen-


tes aos gêneros Melipona, Scaptotrigona, Plebeia que são identificadas como abelhas sem
ferrão devido possuírem o aparelho ferroador atrofiado. As abelhas do gênero Melipona tam-
bém conhecidas como meliponídeos, possuem três tribos, conforme sua adaptação climática,
porém, duas são as tribos mais importantes e são denominadas tribo Trigona, recorrente em
grande parte nas regiões tropicais da Terra, ocupando praticamente toda a América Latina
e a África; e tribo Melipona, que ocorre apenas na América do Sul, América Central e Ilhas
do Caribe (CELLA; AMANDIO; FAITA, 2017). Ao todo são mais de 300 espécies existentes
sendo que 35 espécies são as da tribo Melipona (BUENO, 2010).
No estado do Rio Grande do Sul estão catalogadas até o momento 24 espécies de abe-
lhas sem ferrão (CANSI, 2017). Já nas cidades de São Francisco de Paula, Cambará do Sul e
Canela, que fazem parte da Região da Encosta Inferior da Serra do Nordeste, são encontradas

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as espécies Melipona bicolor schencki, com nome popular conhecido como Guaraipo (Figura
01), Scaptotrigona bipunctata, conhecida como Tubuna (Figura 02) e a Plebeia wittmanni,
conhecida como Mirim Mosquito (Figura 03) (WITTER; NUNES-SILVA, 2014).

Figura 1. Melipona bicolor schencki, Guaraipo (A – Operária, B – Macho, C – Rainha).

Fonte: Witter e Nunes-Silva, 2014.

Figura 2. Scaptotrigona bipunctata, Tubuna.

Fonte: Costa, 2019.

Figura 3. Plebeia wittmanni, Mirim Mosquito.

Fonte: Costa, 2019.

Em Canela, área de atuação da Associação Serrana de Apicultura, há quase nove mil


apicultores assistidos pela Emater, sendo este o segundo produto agrícola mais produzido
nas propriedades rurais da região. Por ser uma atividade econômica desenvolvida no local,
por intermédio da Secretaria de Meio Ambiente, no ano de 2014 foi elaborada a lei muni-
cipal de nº 3465, na qual orienta sobre resgate, captura e remoção de abelhas silvestres
(Meliponíneos) e abelhas domésticas com ferrão (Apis mellifera) (CANELA, 2014).
Para Barros et al. (2008, p.77) “a apicultura é a técnica de criação de abelhas produtoras
de mel em colmeias artificiais, utilizando métodos e equipamentos desenvolvidos para melhor
explorar as capacidades naturais destes insetos”. As colmeias são abrigos especialmente
preparados na forma de caixas para a manutenção ou criação racional de abelhas silvestres

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nativas, contudo, apesar de sua importância ambiental e econômica, estes animais, por fa-
zerem parte do ecossistema da região de Canela, sofrem impactos pela ação antrópica no
espaço natural em que vivem.

A AÇÃO ANTRÓPICA NO ESPAÇO NATURAL E OS IMPACTOS SOBRE


A POPULAÇÃO DAS ABELHAS SEM FERRÃO

A ação humana ocorre no espaço geográfico natural que é modificado conforme o


crescimento populacional e desenvolvimento de atividades rurais e urbanas. O espaço
geográfico, também definido como campo das atividades humanas, é sempre produzido e
transformado pela sociedade. O crescimento populacional contribui para o desmatamento,
para a utilização de recursos hídricos e consequentemente para a poluição ambiental, assim
como, para alterações no clima.
O crescimento demográfico, a expansão da área ocupada pelas cidades, a ocorrência
de queimadas no ambiente natural, o desmatamento, as alterações no clima e o uso indis-
criminado de agrotóxicos são considerados ações antrópicas com efeitos negativos sobre o
espaço natural. Esse processo de desenvolvimento humano colabora para uma diminuição
da diversidade dos ecossistemas contribuindo para um declínio nas populações de animais
polinizadores, responsáveis por transferir o pólen entre as flores existentes no meio ambiente
(SANTOS; RIBEIRO, 2009).
O desenvolvimento social e econômico traz consigo um avanço sobre o espaço natu-
ral e por consequência ocorre uma pressão sobre as espécies de plantas e animais exis-
tentes em cada ecossistema modificado pelo homem. Os riscos são eminentes para vá-
rias espécies que, devido à redução de suas populações, são ameaçadas de extinção.
Segundo a Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, quatro espécies de Melipona
integram a “Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas”, entre elas: a Melipona bicolor schen-
ki, a Melipona marginata obscurior, a Melipona quadrifasciata quadrifasciata e a Plebeia
wittmanni (MARQUES et al., 2002).
Outro fator a considerar é o avanço da agricultura e a utilização indiscriminada de
agrotóxicos. Quando da existência de abelhas na região, sempre é recomendado observar
a frequência e rotina de trabalho das abelhas para que não haja a intoxicação de colmeias
por princípios ativos dos defensivos agrícolas.

A presença de floradas abundantes é o principal fator para se obter boa produ-


tividade de mel e sucesso na criação de abelhas, pois uma boa diversidade de
plantas fornecedoras de recursos florais (pólen e néctar) garante uma alimen-
tação variada e completa, além de possibilitar que as abelhas produzam uma
boa reserva de alimento para as estações de escassez (EPAGRI, 2017, p. 40).

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A nutrição das abelhas, sejam Apis ou Meliponas, é obtida através da coleta do néctar
das plantas por elas visitadas e por esse motivo, o contato ou ingestão dos mais diferentes
agroquímicos, leva a sua intoxicação o que contribui consideravelmente com a diminuição
das populações das abelhas. De acordo com Beringer, Maciel e Tramontina (2019) as
principais causas da extinção das colônias de abelhas são: destruição do habitat (des-
matamentos, urbanização, queimadas), manejo inadequado, variações climáticas, ondas
magnéticas, agricultura (estresses, monoculturas, agrotóxicos, desordem do colapso de
colônia-CCD), agentes patogênicos (vírus, bactérias, ácaros, protozoários e fungos) e, por
fim, predadores naturais.
Com o aumento da ação antrópica no espaço natural observa-se um maior desen-
volvimento das cidades e da agricultura que avançam sobre este espaço natural. Esse
processo de urbanização e produção agrícola trazem impactos sobre os ecossistemas e
sobre a vida neles existentes. Assim, a preservação dos ecossistemas é de fundamental
importância para a preservação das espécies que contribuem com a diversidade de fauna
e flora assim como para o aumento da produção de alimentos aos seres humanos que é o
caso das abelhas e meliponídeos que contribuem com a polinização no ambiente natural e
das áreas de produção agrícola.
Ações de incentivo para criação e reprodução de espécies de meliponídeos destinadas
à produção e comercialização de mel e mesmo de enxames podem contribuir para a manu-
tenção das espécies e para uma maior conscientização da sociedade sobre a importância
desses insetos para a natureza. O desenvolvimento de ações de transferência de conhe-
cimento para criadores e agricultores sobre técnicas de manejo adequado das colmeias e
sobre o uso sustentável dos recursos naturais faz aumentar o conhecimento sobre as abelhas
na polinização das plantas e promoção da educação ambiental.
Na busca de contribuir com a preservação ambiental e preservação de espécies, o
município de Canela publicou a Lei 3645 de 15 de maio de 2014, que dispõe sobre o resga-
te, a captura e a remoção de abelhas silvestres nativas (Meliponíneos) e da Apis mellifera
(abelha doméstica com ferrão) no município de Canela. A legislação contribui para que
sejam preservadas as espécies de abelhas, assim como, o resgate, a criação, o transporte
e o comércio de abelhas silvestres nativas.

A PESQUISA DE CAMPO NA BUSCA DE MAIOR CONHECIMENTO

A necessidade de uma pesquisa de campo veio na busca de maior conhecimento sobre


as abelhas sem ferrão. Através da Secretaria Municipal de Agricultura do município de Canela
se chegou ao Sr. Paulo Piva que se disponibilizou em compartilhar seus conhecimentos e
experiência de meliponicultor (pessoa física ou jurídica, autorizada pelo órgão competente,

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com a finalidade de criar e manejar as colmeias de abelhas sem ferrão). O Sr. Piva atua
a mais de 30 anos como apicultor e meliponicultor, entusiasta e divulgador da atividade.
Sempre que possível multiplica seus enxames e os comercializa quando há demanda.
O meliponário se encontra em um bairro residencial na área urbana da cidade (Figura
04). No local se pode constatar a adaptação e o comportamento social das abelhas sem fer-
rão no espaço geográfico, modificado pelo homem para atender suas necessidades. Apesar
das características desse espaço geográfico as abelhas sem ferrão vivem e produzem mel
com naturalidade.

Figura 4. Meliponário em área urbana de Canela.

Fonte: acervo do autor, 2022.

De acordo com o Sr. Paulo Piva as abelhas sem ferrão criadas em meio à cidade não
causaram qualquer problema aos moradores do local, são sociáveis, pouco agressivas e
muito ativas. Perfeitamente adaptadas ao clima da região diminuem suas atividades quando
ocorrem baixas temperaturas. Em dias de temperaturas amenas e quentes tem suas ativi-
dades normais na busca por pólen e produção de mel.
Na Figura 05 se pode ver o interior da colmeia de meliponas da espécie Guaraipo. No in-
terior da colmeia se pode observar que os nichos são recém construídos.

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Figura 5. O interior da colmeia.

Fonte: acervo do autor, 2022.

Na Figura 06 se pode observar uma colmeia, também da espécie Guaraipo, porém já


em seu estágio final de desenvolvimento. Os nichos estão fechados o que possibilita acreditar
que foram depositados ovos pela rainha dando a possibilidade de crescimento do enxame
e o nascimento de novas rainhas.

Figura 6. O interior da colmeia.

Fonte: acervo do autor, 2022.

Na Figura 07 também é possível observar os nichos fechados indicando que a postura


de ovos foi realizada. Ao redor é visível a existência de nichos de depósitos de mel já pro-
duzidos e que mais tarde servirá de alimento para toda a colmeia.

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Figura 7. O interior da colmeia.

Fonte: acervo do autor, 2022.

Na Figura 08 podemos observar duas abelhas rainhas da espécie Manduri em seu


trabalho de colocação de ovos nos nichos. As colmeias são formadas por camadas, na parte
de baixo, o “trabalho” já está concluído enquanto os depósitos de mel e ovos estão sendo
preparados nos níveis acima.

Figura 8. O interior da colmeia.

Fonte: acervo do autor, 2022.

No meliponário visitado, existem colônias de nove espécies diferentes de abelhas sem


ferrão. Foi possível identificar colônias das meliponas Guaraipo, Tubuna e a Mirim mosqui-
to. A área total do meliponário é de 1.200 m² e atualmente comporta 65 colônias, sendo
que as espécies com maior representatividade são a Guaraipo (Melipona bicolor schenki),
a Mandaçaia (Melipona quadrifasciata quadrifasciata) e a Manduri (Melipona obscurior).
Ainda segundo o criador, estas três últimas espécies citadas são as predominantes e que
melhor se adaptam à região.
Estudos realizados em 2021 apontam para uma maior qualidade do mel branco produ-
zido na região de Cambará do Sul, associando essa valorização com indicação geográfica
e origem do processo. Este mel raro, produzido pelos Meliponini possui odor e aroma floral

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e está associado a uma alta porcentagem de Clethra scabra espécie vegetal dominante nas
amostras coletadas. Outra situação analisada é que a abelha Melipona bicolor schencki,
de nome popular Guaraipo, é a mais especializada na coleta de Clethra scabra (WITTER;
NUNES-SILVA, 2014).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Atualmente é reconhecida a importância das abelhas para a preservação dos ecossis-


temas e pela capacidade de geração de renda através da produção de mel e outros produtos
por elas fabricados. No entanto, a alteração do espaço natural pode contribuir para a extinção
de muitas espécies, inclusive de abelhas. O início desse processo é a diminuição das popu-
lações que pode ser causada, pelo desmatamento e pelo crescimento geográfico urbano.
A apicultura é uma atividade ecológica capaz de promover o desenvolvimento regional
conservando o meio ambiente, ao mesmo tempo em que, é rentável e sustentável. Sem dú-
vida as abelhas fazem parte do ecossistema da região de Canela e tem papel fundamental
na reprodução de espécies vegetais o que torna necessário conhecer, estudar e preservar
o habitat destes agentes polinizadores.
O aumento da densidade populacional, o desenvolvimento do turismo na região, a
exploração imobiliária, o uso indiscriminado dos agrotóxicos e a consequente diminuição
do espaço natural na cidade de Canela são resultado da ação antrópica que tem provocado
impactos ambientais. Isto vem contribuindo com a diminuição das populações de abelhas
sem ferrão e elevação do risco à extinção de espécies nativas catalogadas e monitoradas
pelos órgãos ambientais.
Na cidade de Canela, assim como nas demais cidades da região, o crescimento do es-
paço geográfico das cidades ocorre em detrimento da diminuição do espaço natural dos ecos-
sistemas da Mata Atlântica presente nessa região. Com relação aos agricultores que exploram
a atividade apícola no município, cabe destacar a necessidade de preservação do habitat
natural, fazer uso sustentável dos recursos naturais e realizar manejo adequado das colmeias.
Por utilizar os conhecimentos adquiridos, através inicialmente da observação e pos-
teriormente, do estudo das relações entre o meio ambiente, neste caso, o espaço natural e
os seres humanos, a Geografia, como disciplina escolar, pode ser uma importante aliada no
esclarecimento e conscientização, primeiro de alunos e depois da comunidade escolar. Estas
relações, fundamentais e simples, ao mesmo tempo que frágeis e complexas de comple-
mentaridade e dependência entre os seres vivos neste caso, as abelhas nativas sem ferrão
e o meio ambiente, no contexto de seus espaços, naturais e geográficos, podem aumentar
o conhecimento sobre a importância das abelhas na polinização das plantas e promover a
educação ambiental.

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Por fim, é necessário um alerta sobre os impactos da ação do homem sobre o es-
paço natural, há de se pensar em alternativas para a redução da ação antrópica que leva
a geração de impactos negativos sobre a população de abelhas sem ferrão na cidade de
Canela. Se exige maior fiscalização para o cumprimento da legislação ambiental e de pro-
teção aos recursos naturais, assim como, encontrar e disseminar mudanças tecnológicas
para produção e preservação de espécies ameaçadas de extinção e de mudanças sociais
que permitam o desenvolvimento com menos impactos ao meio ambiente através do uso
sustentável dos recursos naturais.

REFERÊNCIAS
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neos-e-da-apis-mellifera-abelha-domestica-com-ferrao-no-municipio-de-canela?r=c.
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7. COELHO, Raul Candido da Trindade Paixão. Avaliação das Bacias Hidrográficas dos
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11 out. 2021.

16. SANTOS, Vanessa Sardinha dos. Polinizadores. Brasil Escola, 2021. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/biologia/polinizadores.htm. Acesso em: 21 out. 2021.

17. VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa. 2. ed. São Paulo: Atlas,
2006.

18. WITTER, Sidia; NUNES-SILVA, Patricia. Manual de boas práticas para o manejo e
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ponível em: https://www.sema.rs.gov.br/upload/arquivos/201611/21110058-manual-
-para-boas-praticas-para-o-manejo-e-conservacao-de-abelhas-nativas-meliponineos.
pdf. Acesso em: 20 jan. 2022.

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26
02
A gestão da agricultura familiar:
pluriatividade, diversificação da produção
e agricultura orgânica – um estudo de
caso da região da Campanha

Otomar Vielmo
URCAMP

Elisabeth Cristina Drumm


UNISC

Cidonea Machado Deponti


UNISC

'10.37885/220709447
RESUMO

Este artigo analisa a gestão combinada das práticas de pluriatividade, de diversificação


da produção e de agricultura orgânica e sua contribuição para o desenvolvimento rural da
propriedade familiar. A justificativa do presente estudo decorre da carência, no âmbito da
literatura, de trabalhos que relacionem as três categorias abordadas. A investigação de-
senvolveu-se por meio de uma pesquisa qualitativa exploratória, em um estudo de caso, o
qual foi definido por uma amostragem não probabilística, ou seja, intencional. Para a coleta
de dados utilizou-se uma entrevista não estruturada e a observação simples. Na sequência
os dados foram analisados de acordo com a técnica da grounded theory em conjunto com
uma triangulação de dados entre conceitos, observações realizadas e fala dos entrevista-
dos. O caso estudado é uma propriedade familiar produtora de alimentos orgânicos, localizada
no município de Santiago – RS, na qual o trabalho e a administração são realizados pela
própria família. Este caso foi escolhido por se observar traços da ocorrência das catego-
rias objeto do estudo em sua propriedade. Os resultados da pesquisa apontaram para um
contexto em que as três práticas combinadas contribuem, principalmente, para a geração
de renda e a estabilidade econômico-financeira da família, que somadas a uma gestão de-
vidamente planejada, organizada, estruturada e controlada permite otimizar a produção e
minimizar os riscos.

Palavras-chave: Gestão da Agricultura Familiar, Pluriatividade, Diversificação da Produção,


Agricultura Orgânica.
INTRODUÇÃO

As discussões que cerceiam a agricultura familiar tomam cada vez mais força nos dias
atuais, é provável que isso ocorra no Brasil como fruto do incentivo a essa categoria, prin-
cipalmente por parte do governo, que em suas políticas públicas voltadas para a área rural
tem facilitado em muito o trabalho do agricultor familiar. Mas além das discussões acerca
de incentivos e de políticas públicas, existem outras de teor científico que buscam entender
alguns fenômenos relacionados a esse tipo de agricultura, e que vão desde discussões sobre
melhoramento de produção até temas de cunho social e econômico.
O papel que essa categoria vem desempenhando na sociedade foge aos limites da
produção para consumo próprio e passa a integrar um contexto em que a produção é orien-
tada para a comercialização. Esse contexto unido à necessidade de geração de renda para
a família faz com que surjam alguns conceitos de cunho socioeconômico como, por exemplo,
a pluriatividade, a agricultura orgânica e a diversificação da produção.
O presente artigo entra no campo das discussões sobre a gestão da agricultura fami-
liar e sua problemática consiste em compreender como a gestão combinada das práticas
de pluriatividade, de diversificação da produção e de agricultura orgânica contribuem no
desempenho da propriedade familiar? A fim de responder a essa problemática, julga-se
necessário definir os conceitos das práticas estudadas, analisar o funcionamento em sua
concepção prática e estudar as principais contribuições da gestão combinada e integrada
desses sistemas de trabalho.
O trabalho justifica-se pelo fato de que se observam na literatura atual, estudos sobre
os temas abordados. No entanto, sem haver a combinação entre a pluriatividade, a diversi-
ficação da produção e a agricultura orgânica.
O presente estudo desenvolveu-se por meio de uma pesquisa qualitativa e exploratória,
a fim de buscar análises mais profundas em relação aos fenômenos estudados e torná-los
claros para a investigação proposta. Do ponto de vista dos procedimentos, a pesquisa
enquadra-se em um estudo de caso, o qual foi definido por meio de uma amostragem não
probabilística, ou seja, intencional. Os instrumentos de coleta de dados utilizados na pesqui-
sa foram a entrevista não estruturada e a observação simples. Os dados foram analisados
conforme a técnica da Grounded Theory, além da triangulação dos conceitos abordados,
as observações realizadas e o depoimento dos entrevistados. O caso estudado é uma pro-
priedade familiar produtora de alimentos orgânicos, localizada no interior do município de
Santiago, no estado do Rio Grande do Sul.
O trabalho está dividido em sete seções, além da introdução e das considerações
finais. No primeiro aborda-se o conceito de agricultura familiar. Do segundo ao quinto desen-
volve-se a revisão de literatura sobre pluriatividade, diversificação da produção e agricultura

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orgânica e gestão das propriedades rurais familiares. O sexto trata dos procedimentos me-
todológicos e o sétimo da análise dos resultados.

A AGRICULTURA FAMILIAR ENQUANTO CATEGORIA SOCIAL

De acordo com Schneider (2003), em meados da década de 1990 houve um movimento


por parte dos estudiosos que simbolizou uma retomada acerca dos estudos na área rural.
Esses estudos passaram a trazer uma ênfase maior em questões sobre sustentabilidade e
de cunho ambiental, bem como trouxeram à tona a categoria agricultura familiar.
Conforme expõe Stoffel (2013), apesar de ter sua ênfase no país na metade dos anos
de 1990 e de haver uma forte inserção da expressão “agricultura familiar” no contexto rural,
esta não é uma categoria que surgiu nesse período, mas seu surgimento na região Sul, por
exemplo, inicia com a ocupação dessa área pelos colonizadores de origem açoriana, alemã
e italiana, que, na época, desenvolviam o trabalho em suas propriedades, utilizando a mão
de obra da própria família visando a uma produção agropecuária que lhes provesse sustento
e uma possível geração de renda.
A fim de facilitar o entendimento da agricultura familiar, considera-se interessante co-
nhecer primeiramente o conceito de propriedade familiar, que de acordo com a Lei nº 4.504,
de 30 de novembro de 1964, inciso II, do Art. 4º, capítulo I, é,

o imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua famí-
lia, lhes absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o
progresso social e econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo
de exploração, e eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros (BRASIL,
Lei nº 4.504 de 30 de novembro de 1964, 1964).

A partir do conceito de propriedade familiar, aborda-se o conceito de agricultura familiar,


no qual Schneider (2003, p.100) afirma que sua manifestação nos meios social, político e
acadêmico, no que diz respeito aos discursos por parte governamental ou de movimentos
ligados ao campo, tem ganhado mais espaço e ocorrido com mais frequência no Brasil. Esse
conceito teve seu surgimento no país na década de 1990, quando em meio a um cenário
desafiador que o sindicalismo rural enfrentava na época, trouxe proteção e apoio “[...] a um
conjunto de categorias sociais, como, por exemplo, assentados, arrendatários, parceiros,
integrados às agroindústrias, entre outros, que não mais podiam ser confortavelmente iden-
tificados com as noções de pequenos produtores [...]”.
Funk (2008) mostra que, contrariando o pensamento de vários autores, que julgavam
a agricultura familiar como uma categoria em extinção frente ao modo de produção capita-
lista, esta tem se desenvolvido e se adaptado a esse meio de tal forma que vem persistindo
ao longo de décadas e com um crescimento considerável. Isso se deve à capacidade de

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adaptar-se rapidamente às mudanças impostas pelo contexto socioeconômico e o qual se
associa à capacidade de decidir o que vai produzir e como o fará, pois essa categoria per-
mite uma proximidade muito grande entre a gestão e a produção, em consequência de o
trabalho ser desenvolvido pela família que gere o negócio.
Em relação à agricultura familiar, os estudos sobre a sua definição indicam que “é o
modo agrícola pelo qual mais se produz alimentos no Brasil, já que possui uma produção
diversificada, destinada ao abastecimento da propriedade onde o excedente é vendido
com vistas à obtenção de renda”. (FUNK; BORGES; SALAMONI, 2006, p.02). Segundo os
autores, a abrangência que a agricultura familiar tem tomado nos últimos anos faz com que
tenha ares de novidade e de renovação, embora não seja uma atividade nova.
Ainda, de acordo com Funk (2008, p.26), a caracterização das economias agrícolas
familiares se dá por alguns princípios, “pois se organizam sobre seus próprios meios de tra-
balho, onde quem movimenta o processo é o próprio dono dos meios de produção”, ou seja,
“a agricultura familiar representa um modelo produtivo de tal forma peculiar, que diversos
estudos procedem a uma delimitação própria” (BROSE, 1999, p.102).
Conforme Jean (1993) o agricultor moderno apresenta uma tríplice identidade: proprietá-
rio fundiário, empresário privado e trabalhador. “Este personagem trinitário que é o agricultor
moderno teve que doar a renda fundiária e o lucro capitalista à economia e à sociedade,
para sobreviver, buscando apenas um salário mínimo para subsistir” (Jean, 1993, p. 5).
A legislação que estabelece as diretrizes para a formulação da política nacional da
agricultura familiar refere-se ao agricultor familiar da seguinte forma:

Art. 3º Para os efeitos desta Lei, considera-se agricultor familiar e empreen-


dedor familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo,
simultaneamente, aos seguintes requisitos:
I - não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais;
II - utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas atividades
econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento;
III - tenha renda familiar predominantemente originada de atividades econômi-
cas vinculadas ao próprio estabelecimento ou empreendimento;
IV - dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família. (BRASIL,
Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006, 2006).

Nesse contexto, Tedesco (1999), explica que a agricultura familiar é aquela na qual
a família é proprietária dos meios de produção e, simultaneamente, é quem executa o tra-
balho necessário ao funcionamento da propriedade. O questionamento central de Tedesco
relaciona-se à explicação teórica da permanência do agricultor familiar e de suas estratégias
de sobrevivência e reprodução na sociedade moderna.

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Dessa forma, Brose (1999), afirma que segundo algumas características gerais deli-
mitadas pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura),
pode-se definir a agricultura familiar, são elas:

a) A gestão da unidade produtiva é realizada por pessoas que mantêm entre si laços
de parentesco e/ou casamento;
b) A maior parte do trabalho é realizada por membros da família;
c) Os meios de produção (embora nem sempre a terra) pertencem à família.

Funk (2008) entende que o desenvolvimento da maioria dos municípios do país sofre
impacto da agricultura familiar, pois essa categoria interfere em setores como o comercial,
o industrial e o de serviços. Isso se dá pelo fato de que a agricultura familiar é responsável
por parte da geração de emprego e de renda locais e pela produção de alimentos, e é con-
siderada a principal força de impulsão do desenvolvimento desses municípios.
Deponti (2006) refere que Wanderley (1999) defende que o agricultor familiar brasileiro
não é um personagem passivo, pois, ao longo da história, tem buscado com suas forças
traçar estratégias para lutar por seu espaço, adaptando-se às exigências da agricultura
moderna sem perder os traços camponeses. Por isso, aliás, afirma a autora que o conceito
de camponês é ressemantizado, na medida em que recorre a sua experiência camponesa,
demonstrando a sua capacidade de resistência e de adaptação às transformações mais
gerais da sociedade.
Em síntese, entende-se que a agricultura familiar é uma categoria que se caracteriza
por ser desenvolvida geralmente por um grupo de pessoas que tem um vínculo de parentes-
co, utiliza seus próprios meios de produção e que o trabalho desenvolvido na propriedade
é realizado pela própria família.
É evidente que a agricultura familiar tem grande importância no contexto socioeconô-
mico, fruto de uma evolução histórica peculiar, por meio da qual desenvolveu características,
métodos e técnicas de produção e de gestão, as quais refletem em uma produção rica e
diversificada e que tornam essa categoria a maior produtora de alimentos do país.
Nesse contexto, na sequência, serão abordados alguns conceitos que fazem parte do
estudo da agricultura familiar e estão intimamente ligados a essa categoria. Esses conceitos
são reflexos de alguns fenômenos que ocorrem nas formas de trabalho das propriedades
familiares e expõem ideias como agroecologia, sustentabilidade, união de atividades agrí-
colas e não-agrícolas no meio rural, entre outras.

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A PLURIATIVIDADE

Schneider (2003, p. 100) aborda que a partir da segunda metade da década de 1990, os
estudiosos passam a investigar e a pesquisar novos temas dentro do espaço rural. As pes-
quisas ultrapassam a temática da agricultura familiar e seguem linhas de pensamento que
“[...] talvez esteja relacionada à insistente afirmação de que não se pode mais confundir ou
interpretar como sinônimos o espaço rural e as atividades produtivas ali desempenhadas”.
Conforme aponta Schneider (2003), a partir desse período houve uma projeção dos
estudos a cerca do fato de que não apenas a agricultura compõe a vida no campo, mas que
a própria vem sendo entendida como uma das dimensões do meio rural. Isso se retrata na
ocorrência de situações em que alguns membros do grupo familiar passam a dedicar-se a
outras atividades que não à prática agrícola, enfatizando a ocorrência de atividades não-a-
grícolas ligadas ao meio rural, o que caracteriza a pluriatividade.
O autor enfatiza que, embora a pluriatividade seja uma categoria nova no âmbito dos
estudos e tenha recebido essa nomenclatura em decorrência dos mesmos, as atividades
que a caracterizam preexistem aos seus estudos no contexto conceitual. Ainda, segundo
Kautsky (apud SCHNEIDER, 2003), as propriedades desempenhavam o que o autor chama
de “formas de trabalho acessório”, e alega que essas formas de trabalhos proporcionam
às famílias o desenvolvimento social. Entre as formas de trabalho acessório abordadas
pelo autor estão o trabalho temporário desenvolvido de forma assalariada em propriedades
maiores e a ocupação de membros do grupo familiar em indústrias no campo, como forma
paralela de obtenção de renda.
De acordo com Schneider et al. (2006, p. 02) a ideia de pluriatividade vem sendo
utilizada por pesquisadores a fim de analisar e de explicar o processo de diversificação do
trabalho que vem ocorrendo nas unidades de produção familiar. Para os autores, “a pluriati-
vidade refere-se a um fenômeno que se caracteriza pela combinação das múltiplas inserções
ocupacionais das pessoas que pertencem a uma mesma família”, ou seja, diz respeito a um
fenômeno em que se combinam pelo menos duas atividades, sendo uma delas a agricul-
tura. Essas atividades são exercidas por um grupo familiar que tenha ou não entre si laços
consanguíneos, mas que se consideram ou denominam uma família e que compartilhem
um mesmo espaço de moradia, (SCHNEIDER, 2009).
Schneider et al. (2006, p.03), ainda apontam, que a pluriatividade é heterogênea e
diversificada e está ligada, “de um lado, às estratégias sociais e produtivas que vierem a
ser adotadas pela família e por seus membros e, de outro, dependerá das características do
contexto em que estiverem inseridas”. É por meio dela que as famílias de agricultores, que
residem no meio rural, “optam pelo exercício de diferentes atividades, ou ainda, optam pelo

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exercício de atividades não agrícolas, mantendo a moradia no campo e uma ligação, inclu-
sive produtiva, com a agricultura e a vida no espaço rural” (PIRES; SPRICIGO, s/d, p.1-2).
Considera-se que “é no âmbito da família que se discute e se organiza a inserção
produtiva, laboral e moral de seus diferentes membros e em função deste referencial que
se estabelecem as estratégias individuais e coletivas que garantem a reprodução social do
grupo”, (SCHNEIDER apud AZAMBUJA 2006, p.57).

Mas a definição operacional da pluriatividade também requer a referência à


uma unidade de análise a ser utilizada. A rigor, pode-se falar da pluriatividade
de uma pessoa, quando esta exerce mais de uma atividade, ou da pluriativi-
dade de uma família ou ainda de parte dos membros que integram a família.
Nos trabalhos que temos realizado, a pluriatividade sempre se refere à família,
pois consideramos pluriativa1 a família em que pelo menos um dos membros
que a integra exerce a combinação de atividades agrícolas, para-agrícolas
e não-agrícolas. Trata-se, portanto, da pluriatividade familiar que ocorre nos
espaços rurais. (SCHNEIDER, 2009, p.05)

é principiante e a mão de obra passa a se tornar mercadoria de troca. Portanto, além


de inserir o grupo familiar em um mercado de produtos, a pluriatividade permite, também,
a inserção de sua mão de obra no mercado de trabalho, de forma concomitante ou distinta,
defendem os autores.
É interessante prestar atenção em uma ressalva feita por Schneider et al. (2006), em
relação ao entendimento da pluriatividade, pois não pode haver confusão nos conceitos da
categoria com o conceito de atividades não-agrícolas. O autor deixa claro que a pluriatividade
ocorre apenas quando há a combinação de atividades não-agrícolas com a agricultura, pois
a família ou membros dela podem “[...] escolher pela troca de ocupação, deixando o trabalho
agrícola e passando a ocupar-se exclusivamente de atividades não agrícolas, mesmo sem
deixar de residir no meio rural”, (SCHNEIDER et al., 2006, p. 05).
Conforme explica Schneider (2009, p. 07), a discussão sobre pluriatividade situa-se no
contexto do desenvolvimento rural e, além de ser uma estratégia para a agricultura familiar,
“[...] poderá contribuir de forma decisiva para ajudar a solucionar dificuldades e restrições
que afetam as populações rurais, tais como a geração de emprego, o acesso à renda e sua
estabilização, a oferta de oportunidades para jovens, entre outros”.
A concepção de pluriatividade e os contextos nos quais se insere geraram uma gama
de estudos em que Schneider (2009), aponta que se pode distinguir essa categoria segundo
algumas tipologias. Essas tipologias, na pluriatividade, ocorrem em decorrência das mais
distintas causas que podem gerá-la. Nessa linha de pensamento, o autor sugere quatro

1 Neologismo apresentado pelo autor.

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tipos distintos de pluriatividade, a saber: a tradicional, a interssetorial, a de base agrária e
a para-agrícola.
Por pluriatividade tradicional, Schneider (2009) trata como sendo aquela que ocorre
dentro da propriedade e que visa a uma produção para o autoconsumo, envolve a produção,
transformação e artesanato com o objetivo de produzir peças que possam ser utilizadas no
próprio meio para desenvolver as atividades referentes ao trabalho da propriedade.
O autor deixa claro que essa é uma tipologia “[...] que sempre existiu e caracteriza de
forma genuína as unidades de produção familiares no meio rural”, (SCHNEIDER, 2009, p.
08). A distinção dessa forma de ocorrência da pluriatividade decorre do fato de que a mesma
não tem objetivos comerciais e sua existência é dependente do modo de vida e de trabalho
do grupo familiar.
Em relação à pluriatividade intersetorial Schneider (2009, p.08), aponta que “[...] decorre
do processo de encadeamento e de articulação da agricultura com os demais setores da
economia, principalmente a indústria e o comércio”, principalmente como consequência de
dois fatores: a descentralização da indústria e a rurbanização2.
O autor entende que esses processos transformam o meio rural e coloca-o dentro de
uma nova dinâmica em que a valorização imobiliária e a prestação de serviços são suas
principais características. Em torno disso, Schneider (2009), afirma que há uma homoge-
neização entre os mercados de trabalho urbano e rural, o que, consequentemente, salienta
a pluriatividade das famílias.
A pluriatividade de base agrária é exposta por Schneider (2009), como sendo um pro-
cesso decorrente da modernização da agricultura e ocorre no âmbito do setor agropecuário,
combinando atividades agrícolas e novas atividades não-agrícolas. Seu surgimento decorre,
principalmente, da terceirização de etapas ou fases da produção a fim de se utilizar de meios
como máquinas e equipamentos para desempenhar o processo produtivo.
De acordo com Schneider (2009, p.10), a pluriatividade de base agrária pode se mani-
festar “[...] através dos indivíduos que residem no meio rural e trabalham na atividade agrícola,
mas uma parcela relevante, senão a maior parte, de sua jornada de trabalho é dedicada à
prestação de serviços”. É caracterizada, principalmente, quando um agricultor utiliza suas má-
quinas e equipamentos para prestar serviços a um vizinho em troca de dinheiro ou produtos.
Pode ocorrer, também, através da contratação de pessoas que residem no meio rural para
a realização de atividades de beneficiamento, transporte ou comercialização. Outra forma
de manifestação é por meio da venda da força de trabalho, decorrente, principalmente, da

2 Neologismo apresentado pelo autor para retratar o processo de expansão das áreas de habitação próximas das regiões metropolita-
nas e o fluxo diário relacionado às pessoas que trabalham em atividades não-agrícolas, mas que residem no meio rural.

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sazonalidade na produção que afeta algumas propriedades, resultando na procura, por parte
dos agricultores, de serviços temporários que lhes tragam renda extra, (SCHNEIDER, 2009).
No que diz respeito à pluriatividade para-agrícola, Schneider (2009) expõe que é aquela
em que o grupo familiar ou membros dele se envolvem com atividades e processos destina-
dos ao beneficiamento ou transformação da produção gerada na propriedade e/ou adquirida
de outrem, mas que se destine à comercialização. Conforme esse tipo de produção cresce e
toma vulto “[...] ela se torna uma atividade independente, inaugurando uma nova jornada de
trabalho e rotinas diferenciadas, sendo possível afirmar que surge uma nova atividade3 [...]”
(2009, p.11). Essa nova atividade, combinada com a agricultura, configura a pluriatividade e
está ligada principalmente à produção de carne, leite e frutas que passam a ser beneficiados
a fim de agregar valor ao produto.
Em suma, a pluriatividade é uma categoria desenvolvida dentro da agricultura familiar,
que consiste em uma diversificação do trabalho, que combina de forma simultânea ativida-
des agrícolas, para-agrícolas e não-agrícolas, ou seja, esse fenômeno ocorre quando um
ou mais membros da família ou grupo familiar estão envolvidos com atividades estranhas
à agricultura, mas que mantenham vínculo com a mesma, ou que sua força de trabalho
esteja sendo empregada além das atividades da agricultura da propriedade, principalmente
servindo como mercadoria de troca com outras propriedades, visando à obtenção de renda.
Torna-se claro que, a pluriatividade pode ser caracterizada de formas distintas, mas
que essas formas podem e ocorrem, muitas vezes, simultaneamente em uma mesma pro-
priedade. Essa integração permite ao grupo familiar adaptar-se conforme suas necessida-
des, principalmente no que diz respeito à geração de renda, servindo como estratégia de
sustentabilidade para a agricultura familiar.

DIVERSIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO

Para Carvalho (2005, p. 01), “[...] a agricultura sempre teve grande importância dentro
da economia nacional. Com o processo de industrialização e de introdução das inovações
tecnológicas, a agricultura, de forma geral, tornou-se um ator coadjuvante no processo do
desenvolvimento capitalista”. As atividades agrícolas tornam-se mais complexas em função
de um mercado cada vez mais incerto e dinâmico, criando uma situação em que “a produ-
ção agrícola já não é mais a única e, em muitos casos, nem a principal fonte de renda das
famílias que vivem no espaço rural” (CARVALHO, 2005, p. 01).

3 Grifo do autor.

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Atualmente o setor agrícola brasileiro é muito dependente de recursos externos às
propriedades, “[...] o que acaba por confirmar o desenvolvimento capitalista da agricultura
e a apropriação industrial de suas atividades” (HAAS, 2008, p. 02). Para a autora, essa
situação é decorrente da modernização da agricultura que vem sendo implantada desde
a década de 1960 e do melhoramento tecnológico e genético, o que resultou no uso cada
vez maior de fertilizantes e de agrotóxicos. Entretanto, com esse modelo surgem problemas
como redução de mão de obra e maior necessidade de investimentos, que reflete em um
aumento de produtividade e maior custo de produção e, consequentemente, baixos índices
de lucratividade.
Para Haas (2008, p.02), “os agricultores familiares que detinham sua renda baseada em
commodities acabavam por dependerem das variações climáticas, das cotações dos preços
de venda internacionais, dos custos dos insumos, entre outros fatores”. Esse cenário de
dependência, queda nos preços internacionais das “commodities” e aumento dos custos de
produção, impossibilitou que agricultores familiares continuassem com os mesmos cultivos,
iniciando, então, uma diversificação da produção como estratégia para a sua sobrevivência.
Essa diversificação é como uma rota de fuga frente aos sistemas de produção especializados.
Funk (2008, p.39) enfatiza que a agricultura familiar utiliza-se dessa estratégia “para
diminuir os riscos de perdas totais, racionalizando o uso da mão de obra e tirando o máximo
proveito da interação entre diversas culturas e criações”.
Nessa linha de raciocínio Fantin (apud HAAS, 2008) observa que uma das principais
vantagens na diversificação da produção está no fato de que o produtor não depende de
apenas uma cultura, mas que ele tenha mais de uma alternativa no caso de ocorrer algum
problema, e consiga continuar produzindo outros produtos de forma a manter a sua estabi-
lidade econômico-financeira.
O mesmo pensamento é evidenciado por Carvalho (2005, p.02), ao dizer que a diver-
sificação agrícola “[...] talvez possa ser uma das maneiras de promover o desenvolvimento
da agropecuária familiar para um município ou região e, consequentemente, promover uma
melhoria na qualidade de vida desses produtores”.
Ellis (2000) defende a diversificação produtiva como uma maneira de subsistência
das famílias rurais, pois através da diversificação, as famílias poderão encontrar outras
oportunidades para enfrentar os diversos e os desconhecidos obstáculos e vulnerabili-
dades encontradas.
Ellis (2001) ainda destaca alguns determinantes para a diversificação produtiva, tais
como: sazonalidade, mercado de trabalho, falhas de crédito, estratégia de risco e de ativos,
comportamento e adaptação. No entanto, esclarece que estes determinantes constituem

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forças e processos que conduzem a diversificações distintas, mas que em determinado
momento podem sobrepor-se.
Em síntese, os estudos indicam que a diversificação da produção é uma estratégia
para os agricultores familiares, pois se caracteriza como uma alternativa de sobrevivência
em um mercado cada vez mais dinâmico. Trata-se de uma forma encontrada para escapar
da dependência que o mercado impõe e para reduzir os riscos frente a um ambiente de ins-
tabilidade em que a agricultura se encontra, estando sempre vulnerável a agentes externos
como o clima, as pragas, as doenças e as variações nas condições de mercado, principal-
mente, os preços das “commodities”. Além disso, consiste em uma opção para aumentar
a renda familiar.

AGRICULTURA ORGÂNICA

Enquanto ciência, a agroecologia, foi “[...] desenvolvida a partir da década de 1970,


como consequência de uma busca de suporte teórico para as diferentes correntes de agri-
cultura alternativa que já vinham se desenvolvendo desde a década de 1920”, (ASSIS;
ROMEIRO, 2002, p.02).
Diante disso, Assis e Romeiro (2002), fazem uma observação quanto ao entendimento
e uso dos termos “agroecologia” e “agricultura orgânica”, pois em função da proximidade que
têm é bem comum que haja uma confusão entre os dois. A agroecologia consiste na ciência
que estuda uma forma de estabelecer a base teórica para os movimentos de agricultura
alternativa, de outro lado, a agricultura orgânica é um desses movimentos e se concretiza
na prática agrícola, ou seja, consiste realmente na forma de trabalhar com o solo, no trata-
mento do ambiente e na produção de alimentos de origem orgânica de forma sustentável.
Assis e Romeiro (2002) complementam dizendo que esse é um movimento alternativo
ao convencional e que se contrapõe ao tradicional modo de trabalhar com a agricultura, o
qual faz uso demasiado de insumos agrícolas industrializados. Esse movimento está tendo
um reconhecimento cada vez maior, e consiste no “rompimento com a monocultura e o re-
desenho dos sistemas de produção” (2002, p. 02).
De acordo com Campanhola e Valarini (2001), a agricultura orgânica consiste em uma
forma de trabalhar que está ligada ao conceito macro de agricultura alternativa e adota
princípios de reciclagem dos recursos naturais, como por exemplo, a prática de composta-
gem de matéria orgânica através de micro-organismos, compostagem por meio do uso de
minhocas que produzem o húmus, utilização de fertilizantes biológicos e rotação de cultu-
ras na propriedade.
A agricultura orgânica, no entendimento de Codonho (2013, p. 119), “[...] está focada
em uma produção que substitui os insumos químicos e tóxicos da agricultura convencional

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por outros, por assim dizer, mais naturais e não prejudiciais ao meio ambiente e à saú-
de humana [...]”.
Codonho (2013) acrescenta que a agricultura orgânica segue um conjunto de normas e
de regras para produzir e comercializar seus produtos, tais regras têm aceitação em âmbito
nacional e internacional. Para os pequenos agricultores, esta forma de trabalho pode ser
vista como uma oportunidade de inserir seus produtos no mercado.
Nesse contexto, Campanhola e Valarini (2001, p.76), entendem que “[...] a agricultura
orgânica é uma opção viável para a inserção dos pequenos agricultores no mercado”. Os au-
tores baseiam essa afirmação em alguns argumentos, como o fato de que as “commodities”
agrícolas requerem uma produção em grande escala para compensar a queda nos preços
e os custos cada vez maiores, reduzindo as margens de lucratividade do produtor.
Campanhola e Valarini (2001) fundamentam a afirmação na constatação de que os
produtos orgânicos atendem a um segmento de mercado seleto, ou seja, um nicho de mer-
cado específico que se dispõe a pagar um valor consideravelmente maior por um produto
mais saudável, fator esse que não ocorre com as “commodities”. A inserção dos pequenos
produtores nas redes de comercialização de produtos orgânicos, sob a organização de as-
sociações ou cooperativas, é um fenômeno que facilita as ações de marketing e implantação
de selos de qualidade e também à gestão das vendas e da produção.
Ainda, segundo Campanhola e Valarini (2001) a afirmação baseia-se, ainda, em dois
fatores que colocam o pequeno agricultor em vantagem, que são a diversificação da pro-
dução orgânica e a baixa dependência de insumos externos à propriedade. Para os auto-
res, a diversificação da produção consiste em uma vantagem, porque mantém uma renda
estabilizada durante o ano todo, o que reduz a sazonalidade e aumenta a segurança do
produtor. “Por sua vez, a menor dependência de insumos externos está associada à menor
área cultivada pelos pequenos agricultores e, também, à maior facilidade de manejo dos
sistemas produtivos com recursos da própria propriedade” (2001, p.77).
Em linhas gerais, pode-se dizer que a agricultura orgânica consiste em mais uma alter-
nativa para o agricultor familiar, pois atualmente é uma categoria em constante crescimento.
Essa categoria oferece facilidades ao pequeno produtor visto que as vantagens levantadas
pelos autores frente ao sistema tradicional de produção.

GESTÃO DE PROPRIEDADES RURAIS FAMILIARES

Segundo Chiavenato (2003, p.02), a gestão, ou a administração, “[...] trata do plane-


jamento, da organização (estruturação), da direção e do controle de todas as atividades
diferenciadas pela divisão de trabalho que ocorram dentro de uma organização”, e que

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consiste em uma “[...] condução racional das atividades de uma organização seja ela lucra-
tiva ou não-lucrativa”.
Martins (2016), entende que para haver um negócio sustentável deve-se ter a capa-
cidade de inovar, saber se relacionar com órgãos de pesquisa e de fomento e saber admi-
nistrar o seu próprio negócio. Argumenta sobre a gestão na agricultura familiar e expõe em
seu trabalho que,

um processo de gestão, envolve um pensamento sistêmico, aprendizado or-


ganizacional, liderança, inovação, busca por resultados, conhecimento do
mercado, parceiros, enfim, envolve um conjunto de características que deter-
minam a gestão (MARTINS, 2016, p.04).

A concepção de Uecker, Uecker e Braun (2005, p. 02), sobre a gestão de propriedades


rurais familiares aborda a ideia de que o processo de gestão deve ter início com a men-
talidade de administrador, já que as mudanças devem iniciar pela postura adotada frente
a uma propriedade rural que passa a desenvolver seu trabalho visando ao lucro, portanto
caracterizando uma empresa rural. “Suas atitudes e comportamentos irão determinar a
passagem de um sistema de produção tradicional para um sistema moderno, operando de
forma estratégica”.
O conceito de empreendimento rural envolve fatores que têm fundamental importância
para o seu sucesso e devem ser observados no contexto em que a empresa rural se encontra.
Deve-se ter em mente que é necessário analisar as oportunidades e os limites do ambiente,
inclusive identificar e entender como se comportam os agentes que impactam na produção,
desde órgãos governamentais até tendências da região, como por exemplo, o incentivo às
propriedades familiares, (UECKER; UECKER; BRAUN, 2005).
Conforme Uecker, Uecker e Braun (2005, p.06), “também é importante considerar se
os agricultores estão diversificando a produção e mudando suas técnicas e em que direção
e como estão atuando os comerciantes e as agroindústrias”.
Silva e Buss (2011) contribuem para esse pensamento em relação à gestão e enfatizam
que os pequenos produtores rurais enfrentam problemas no desempenho de suas atividades
como consequência da falta de conhecimentos de administração, e dizem também que,

a administração rural se caracteriza por um conjunto de atividades que obje-


tivam o planejamento, organização comando e controle da propriedade rural,
provendo subsídios para a tomada de decisão pelo produtor/gestor rural, de
modo que esse possa gerenciar as atividades, maximizar a produção, minimi-
zar custos, obtendo dessa forma, melhores resultados econômico-financeiro
(SILVA; BUSS, 2011, p.163).

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A administração das organizações envolve alguns fatores que possuem grande repre-
sentatividade do ponto de vista econômico, isto se intensifica no caso de empresas rurais
em que se desenvolve a prática da agricultura, já que essa prática envolve fatores incon-
troláveis ou que fogem ao alcance técnico, reforçando o pensamento de que as estratégias
adotadas pelos empreendimentos rurais são dotadas de significativa importância (UECKER;
UECKER; BRAUN, 2005).
No entanto, a gestão das propriedades pela agricultura familiar apresenta algumas
peculiaridades que necessitam ser consideradas. De acordo com Deponti (2014, p.17) di-
versos trabalhos apontam para esta situação,

destacando que os agricultores dão mais peso para as atividades do campo em


detrimento das atividades de gestão, que a utilização rotineira de instrumen-
tos de gestão é exceção na maioria dos estabelecimentos pesquisados; que
quando existem práticas gerenciais, estes procedimentos são rudimentares e
distantes do aceitável e útil; que o nível educacional e a idade avançada dos
agricultores aliada a cultura de não realizar registros escritos dificulta à implan-
tação de práticas de gerenciamento; que a existência e a disponibilidade de
ferramentas de gestão não garantem a utilização destas; que há inadequação
das ferramentas disponíveis; que há baixa qualificação dos técnicos exten-
sionistas em tecnologias de gestão; que há descapitalização dos agricultores;
e que as poucas políticas públicas de estímulo ao setor não privilegiam os
aspectos de gestão.

Percebe-se que a gestão das propriedades familiares desempenha fundamental im-


portância para os proprietários, que devem administrar fatores intrínsecos à propriedade e
aos impactos dos fatores extrínsecos. Nesse sentido, a gestão integrada das práticas de
pluriatividade, diversificação da produção e agricultura orgânica, pode representar uma al-
ternativa interessante para os agricultores familiares.

METODOLOGIA

Esta pesquisa enquadra-se na abordagem qualitativa, pois, os métodos utilizados


para a pesquisa envolvem obtenção de dados descritivos a fim de responder ao problema
levantado. No tocante ao delineamento dos objetivos da pesquisa, pode-se classificá-la em
exploratória. Do ponto de vista dos procedimentos, para este trabalho utiliza-se o estudo
de caso, que se caracteriza pela pesquisa em um caso específico a fim de aprofundar os
conhecimentos acerca do objeto ou fenômeno estudado.
O presente estudo utilizou-se da técnica de amostragem não probabilística, ou seja,
intencional e o caso estudado é uma propriedade localizada no interior da cidade de Santiago,
no estado do Rio Grande do Sul. A família que três anos atrás residia em Torres -RS passou
a observar que os supermercados ofereciam produtos hortifrutigranjeiros geralmente de baixa

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qualidade aos seus clientes e decidiu mudar-se para Santiago onde iniciaram uma produção
voltada para o comércio. A propriedade foi escolhida por se enquadrar nos conceitos de
agricultura familiar e por observar traços dos conceitos objeto do estudo pretendido, sejam
eles: pluriatividade, agricultura orgânica e diversificação da produção.
Após problemas ocorridos com a família, verificaram a necessidade de produzir ali-
mentos orgânicos, e assim a empresa foca nesse ramo de produção que proporciona à
comunidade a oportunidade de consumir produtos de qualidade e livre de agrotóxicos. Sua
ação estratégica está sustentada na missão4 de oferecer produtos que tragam qualidade
de vida e de saúde, garantindo a manutenção do bem estar a preços acessíveis para seus
clientes e na visão5 de estar entre os principais produtores de orgânicos do estado e ser
referência nesse mercado.
Foi realizada uma entrevista não estruturada com a proprietária e seu filho, em sua
propriedade, no mês de junho de 2016, e com o intuito de auxiliar na coleta de dados rea-
lizou-se também uma observação simples. Adotou-se o método da Grounded Theory que
segundo Bandeira-de-Mello e Cunha (2003, p.03) baseia-se na ideia de que a análise ocorre
simultaneamente à coleta de dados, por meio da interligação de conceitos teóricos com os
resultados que vão sendo obtidos com essa coleta. Essa análise basicamente constituiu-se da
relação entre os conceitos abordados, as observações realizadas e a fala dos entrevistados.
Essa dinâmica instalou-se a partir da construção do projeto de pesquisa, o que provocou a
atualização do referencial teórico, na medida em que os dados empíricos foram coletados,
por meio da observação e da interpretação dos dados. A entrevista contribuiu para com a
síntese da análise.
A análise dos resultados baseia-se nos dados coletados por meio da entrevista se-
miestruturada que foi desenvolvida e da observação simples realizada na propriedade do
estudo de caso. Esses resultados foram analisados considerando os conceitos dos autores
já citados na revisão de literatura deste trabalho.

A INTERAÇÃO DA PLURIATIVIDADE, DA DIVERSIFICAÇÃO E DA PRO-


DUÇÃO ORGÂNICA COM A GESTÃO RURAL

A pesquisa revelou que a propriedade familiar é explorada com a agricultura orgânica


para a produção de hortaliças e está iniciando projetos para produção de frutas e criação
de peixes. A mão de obra utilizada é da família, porém eventualmente utiliza-se de mão de
obra terceirizada para desenvolver trabalhos paralelos à produção, por exemplo, cercas,

4 Dados informados pela proprietária, porém ainda não foram racionalizados de maneira formal.
5 Idem.

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estufas, etc. A área total da família é de 4,5 hectares, porém a área explorada com a agri-
cultura é de 1 hectare.
Baseado nos conceitos já revisados e nos dados coletados pode-se afirmar que o es-
tabelecimento objeto do estudo de caso enquadra-se na categoria de propriedade familiar
destacada na Lei nº 4.504 de 1964, já que é explorada pela família, que eventualmente
utiliza-se do trabalho de terceiros para desenvolver o trabalho em sua propriedade, cuja
área total não ultrapassa o limite estipulado de quatro (04) módulos fiscais, que no caso da
região estudada, cada módulo representa 35 hectares de área.
Sobre a agricultura familiar, os dados levantados dizem que, além do sustento da família,
a produção abastece a merenda escolar do município, duas feiras de orgânicos que ocorrem
semanalmente na cidade, três supermercados e um restaurante. Esses dados contribuem
com as ideias já citadas que se referem à agricultura familiar como sendo o modo pelo qual
mais se produz alimento no Brasil, bem como aquelas que dizem que, na agricultura familiar
o excedente dos produtos da propriedade é comercializado para fins de obtenção de renda
(FUNK; BORGES; SALAMONI, 2006).
No que diz respeito à pluriatividade, o grupo familiar é composto por quatro membros,
a proprietária, seu filho e seu genro trabalham apenas na propriedade, sua filha, no entan-
to, trabalha no comércio e desenvolve a agricultura na propriedade, principalmente, no que
se refere à produção de brotos. Esse contexto reflete nos conceitos de pluriatividade, que
dizem ser uma combinação de várias ocupações (Schneider et al., 2006), e que envolvam
atividades agrícolas e não-agrícolas (Sdchneider, 2009), em que pelo menos um membro da
família esteja envolvido em atividades estranhas à agricultura (AZAMBUJA, 2006). Os da-
dos observados permitem afirmar que o tipo de pluriatividade que ocorre na propriedade é
a intersetorial, já que um membro do grupo familiar está envolvido com o comércio e com a
agricultura simultaneamente (SCHNEIDER, 2009).
Sobre a diversificação da produção, a família cria suínos e galinhas, produzem ovos e
outros produtos para consumo próprio. No entanto, para fins comerciais apenas a produção
de hortaliças é empregada, o que atualmente representam 35 produtos diferentes, isso dá
ênfase ao conceito de que o produtor familiar tira o máximo de proveito da integração de
diversas culturas e criações, de acordo com FUNK (2008).
A pesquisa possibilitou identificar também, que a agricultura orgânica está sendo muito
procurada nas feiras, pois uma gama de produtos diversificada é essencial para quem quer ter
opções, impactando na geração de renda. Dessa forma, a estabilidade econômico-financeira
da família depende muito da diversificação e do escalonamento da produção, reforçando
o conceito de que a diversificação da produção orgânica consiste em uma vantagem ao
produtor conforme afirmado por CAMPANHOLA; VALARINI (2001).

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Os dados levantados com a pesquisa empírica possibilitam que se conclua a ocorrência
da diversificação da produção no caso estudado, de tal forma que ilustram os conceitos que
abordam o fato de que o produtor não depende de apenas um tipo de cultura (Fantin apud
Haas, 2008), e dão ênfase à questão de que a diversificação se constitui em uma alternativa
para promover o desenvolvimento das propriedades familiares (CARVALHO, 2005).
No contexto da agricultura orgânica, a família produz o adubo para utilização na pro-
priedade por meio de compostagem, de produção de húmus originário de minhocas e,
recentemente, passou a comprar adubo orgânico certificado, trazendo à tona a ideia de
que essa categoria adota princípios de reciclagem dos recursos naturais (CAMPANHOLA;
VALARINI, 2001). O grupo familiar entende que a agricultura orgânica está em alta no mo-
mento, em função da qualidade dos produtos que são fornecidos, e vê essa categoria como
oportunidade de se inserir no mercado.
A concepção da família em relação à agricultura orgânica reforça os conceitos dos au-
tores estudados que dizem que está baseada na forma de trabalhar o solo, (Assis; Romeiro,
2002), substituindo os insumos químicos por orgânicos com fins de produzir alimentos mais
saudáveis à população (CODONHO, 2013). Da mesma forma, reforça a ideia de que a agri-
cultura orgânica é uma porta de entrada no mercado para os pequenos produtores e uma
forma de se consolidarem nesse mercado.
No que se refere à gestão da propriedade, a família encara o estabelecimento como
uma empresa rural e toma as decisões em conjunto no que diz respeito ao que produzir e
às decisões estratégicas da propriedade (UECKER; UECKER; BRAUN, 2005). As ativida-
des são informalmente divididas entre os membros da família, de forma que uma pessoa é
responsável pela produção; outra, pelos controles administrativo-financeiros e, outra, pela
logística e comercialização.
A família da propriedade faz um mapa de produção para planejar, de acordo com os
prazos de cada espécie, quando se deve plantar para saber, quando vai poder colher a
produção. Esse planejamento é realizado de acordo com a demanda dos consumidores e a
estrutura da sua produção é baseada na qualidade dos produtos, evidenciando o pensamento
de planejamento, de organização, e de estruturação na condução racional das atividades da
propriedade de acordo com o que Chiavenato (2003) menciona em sua obra.
Os gestores utilizam recursos de informática, principalmente tabelas, para controlar
os custos de produção, o retorno das vendas, bem como controles voltados para a produ-
ção que, segundo a entrevistada, fornecem dados para a tomada de decisão em relação
ao que plantar, qual a taxa de perda de produção, qual o custo/benefício de cada produto
entre outras decisões estratégicas da propriedade, o que torna clara a ideia de direção e
controle das atividades da organização, trazida por Chiavenato, (2003). Tal situação destoa

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da maioria das propriedades de agricultura familiar avaliadas pelos trabalhos de diversos
autores6 que destacam a dificuldade de gestão econômica-financeira d os empreendimentos
de agricultura familiar.
A pesquisa mostra que a família adota estratégias voltadas para a otimização da pro-
dução e a redução de custos, (Silva; Buss, 2011), e demonstram tal situação com o exemplo
da produção de mudas, que há algum tempo seria um custo alto e de baixo impacto, mas
que hoje, em função do volume de mudas demandado de outros estabelecimentos, julga-se
mais barato produzir as próprias mudas. Em relação a produtos diferenciados no mercado,
a empresa adota a estratégia de produzir aqueles que geralmente não são produzidos na
região, embora segundo a entrevistada, a região tenha uma cultura que acaba direcionando
a determinados produtos, e é necessário fazer um trabalho de conscientização em rela-
ção aos benefícios trazidos pelos outros produtos. Pode-se claramente notar que o modo
como a família administra a propriedade, caracteriza um conjunto de atividades que tem
por objetivo o melhor gerenciamento da organização a fim de facilitar a tomada de decisões
(SILVA; BUSS, 2011).
A pesquisa revelou também que a agricultura orgânica agrega mais valor ao produto,
além disso, existe uma concepção que vai além dos benefícios ao consumidor e que traz
consigo o teor social da sustentabilidade (ASSIS; ROMEIRO, 2002). Em relação à diversi-
ficação da produção, a família considera ser elemento essencial, já que a propriedade atua
nas feiras do município, e para esse tipo de mercado julga-se imprescindível ter uma gama
diversificada de produtos para atender o maior número de pessoas possível e consolidar-se
como estratégia de sobrevivência (HAAS, 2008).
Quanto à pluriatividade, no contexto em que a propriedade se encontra atualmente, o
fato de ter um integrante do grupo familiar desenvolvendo trabalho em outro setor da eco-
nomia e na agricultura simultaneamente, auxilia à geração de renda. Entretanto, a pesquisa
revela que após a ampliação da área produzida na propriedade, a relação de trabalho fora da
empresa será menos lucrativa do que essa integrante trabalhar diretamente na propriedade,
ou seja, os ganhos serão maiores se trabalhar exclusivamente na propriedade ao invés de
fazê-lo em paralelo com o comércio, destacam os entrevistados.
De acordo com a pesquisa, a forma como a família administra a propriedade faz com
que sejam diferenciados no mercado e isso se dá, principalmente, por meio do empreende-
dorismo e do constante processo de inovação, (Martins, 2016), que julga ser uma carência
dos outros produtores. Os principais resultados que traduzem esse pensamento são o fato

6 No trabalho Batalha, Buainain e Souza Filho (2005) os autores citam diversas experiências: Rezende e Zylbersztajn (1999), Pavarina
et al (2003), Salgado et al (2003), Lunardi (2000), Castro et al (2003).

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de a propriedade ser referência em produção orgânica familiar na região, produzir alimentos
orgânicos em escala maior do que os produtores que há mais de 20 anos já o faziam, confor-
me os entrevistados, assim como ter criado uma associação de produtores de orgânicos no
município que a cada dia integra mais membros à sua força de trabalho e, consequentemente
contribuem no desenvolvimento rural, visto que os produtores comercializam sua produção
para fins de abastecer a merenda escolar do município e as unidades do exército da região.
Observaram-se na propriedade traços fortes referentes à mentalidade administrativa
que o grupo familiar deve ter para gerir o estabelecimento (UECKER; UECKER; BRAUN,
2005). Foi constatado através da pesquisa que a propriedade desenvolve suas atividades
com base em um planejamento prévio, de forma organizada e controlada, inclusive que os
dados obtidos através dos controles são utilizados na tomada de decisões da empresa.
A forma como a produção é planejada e organizada possibilita à propriedade minimizar
custos, diminuir a sazonalidade por meio da substituição de algumas culturas por outras
similares de épocas diferentes e ter sempre produtos para entregar aos consumidores, de
forma a manter sua estabilidade econômico-financeira.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final deste artigo, chegou-se a algumas considerações acerca dos resultados da


pesquisa, entre as quais se encontra o fato de o caso estudado caracterizar a ocorrência
dos fenômenos objeto da pesquisa, e essa ocorrência identifica-se com conceitos trazidos
pelos autores referenciados. Com a pesquisa pôde-se alcançar o primeiro objetivo deste
trabalho que foi de definir os conceitos de pluriatividade, de diversificação da produção e de
agricultura orgânica, a fim de torná-los mais claros para a investigação.
O segundo objetivo deste estudo foi de analisar o funcionamento dos sistemas de traba-
lho desenvolvidos dentro de cada categoria ora definida, com vistas a buscar o entendimento
de sua concepção prática, objetivo este alcançado por meio, principalmente, da observação
realizada na propriedade e com a contribuição da entrevista realizada. O entendimento dos
conceitos na sua concepção prática teve fundamental importância, pois facilitou o processo
de análise dos dados a fim de responder ao problema de pesquisa. A análise dos principais
impactos da gestão combinada e integrada dos sistemas de trabalho consistiu-se no terceiro
objetivo do estudo e possibilitou chegar às considerações que seguem.
A agricultura orgânica é vista, atualmente, como uma forma de produção alternativa,
que busca a sustentabilidade e o bem estar, em consequência os produtos originários des-
se tipo de produção estão sendo, cada vez, mais procurados pelos consumidores. Essa
tendência consiste em uma oportunidade para o agricultor familiar entrar em um mercado
e consolidar-se nele.

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Dessa forma, a diversificação da produção assume papel importante nesse mercado,
pois quem busca produtos orgânicos geralmente prefere ter diversas opções para consumir,
e isso se torna uma vantagem ao produtor que participa desse nicho de mercado. A partir
dessa concepção, pode-se deduzir que trabalhar com uma produção diversificada vai suprir
a demanda de uma quantidade maior de consumidores e, consequentemente, vai aumen-
tar a geração de renda do produtor, resultando em uma estabilidade econômico-financei-
ra para a família.
Nesse contexto de geração de renda e de estabilidade econômico-financeira, a plu-
riatividade desempenha papel relevante, pois no caso estudado essa categoria gera renda
extra para a família. Entretanto, há indícios de que à medida que a propriedade aumente
sua área produzida, o emprego de um membro da família em atividade não agrícola externa
à propriedade, possa se tornar menos vantajoso do que se essa mão de obra for empre-
gada exclusivamente na produção agrícola. É importante ressaltar que esses são indícios
constatados para este estudo de caso, no qual a ocorrência da pluriatividade intersetorial e
o contexto em que a propriedade se insere levam a essas constatações.
O estudo revelou que a gestão integrada das categorias observadas exerce singular
importância no que diz respeito à estabilidade econômico-financeira e ao desenvolvimento
da propriedade, isso decorre do fato de que para se ter uma produção orgânica diversificada
e orientada para o comércio, é necessário que se tenha um planejamento estruturado, com
escalonamento de produção, com controles que permitam calcular as perdas, os riscos de
produzir e a relação de custo/benefício entre diferentes produtos.
O artigo desenvolvido levantou algumas questões que podem ser investigadas em
pesquisas futuras, como por exemplo, o quanto a pluriatividade intersetorial impacta posi-
tivamente no desenvolvimento das propriedades familiares, tendo em vista o potencial de
crescimento dessas propriedades, ou seja, impacta positivamente, mas o qual o limite? Esse
tema é relevante para estudos futuros, inclusive para tratar de questões como a permanência
do jovem no campo.
Com a investigação realizada pretende-se ter contribuído com os estudos realizados
por outros autores sobre as temáticas, trazendo uma nova perspectiva que propõe a com-
binação de diferentes práticas em uma mesma propriedade como estratégia para o seu
desenvolvimento.

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03
A gestão da cadeia de suprimentos das
indústrias de alumínio e a sustentabilidade
econômica: um estudo de caso

José de Figueiredo Belém Tharsis Cidália de Sá Barreto Diaz


UNILEÃO Alencar
UNILEÃO

Ana Marília Barbosa Oliveira


UNILEÃO Daniel de Melo Morais
UNILEÃO

'10.37885/220909909
RESUMO

O objetivo deste artigo é analisar a sustentabilidade econômica em empresas do ramo de


fabricação de alumínio na cidade de Juazeiro do Norte – Ceará, através da previsão de de-
manda, no período de janeiro de 2003 a novembro de 2017. A técnica de coleta de dados
foi a obtenção de dados documentais junto aos gestores das empresas pesquisadas. O es-
tudo foi desenvolvido inicialmente com o referencial teórico sobre as práticas de previsão
de demanda e sustentabilidade econômica em indústrias. O estudo investiga a previsão
de demanda onde é abordado o tema dos modelos de previsão e suas metas ao longo do
tempo, suas diversas sequências, como interfaces, interações e interferências nas empresas
e sistema de Gestão da Cadeia de Suprimentos. Observou-se durante a análise efetuada
através do cálculo das medias móveis, que a cadeia estudada utiliza as ferramentas ade-
quadas dos processos de gestão, inclusive traçando metas, com o propósito de aumentar
a competitividade e gerar sustentabilidade nos seus resultados.

Palavras-chave: Sustentabilidade Econômica, Gestão, Cadeia de Suprimentos.


INTRODUÇÃO

A Gestão na Cadeia de Suprimentos tem despertado crescente interesse entre estu-


dantes de produção e gestores que atuam nas indústrias nos mais diversos ramos de ativi-
dades, apresentando-se como uma questão importante para a área de operações (CARTER;
JENNINGS, 2004).
O propósito do presente artigo é investigar se a Gestão da a Cadeia de Suprimentos
definida como um pensamento estratégico influencia no sucesso da organização, através
de um processo transparente e integrado para atingir objetivos econômicos através de uma
coordenação sistêmica de processos interorganizacionais ao longo de toda a cadeia.
Sendo assim as referências consultadas não contemplam de forma adequada todos
os aspectos da análise, visto que a complexidade e ambiguidade da noção do gerencia-
mento do ponto de vista econômico, que segundo Ballou (2005) são confirmadas pela forma
centralizada na concepção das questões financeiras, como práticas adotadas no trabalho e
obrigações sociais, contingentes à governança interorganizacional ao longo de toda a cadeia.
Diante dessa lógica, é que o presente trabalho está pautado na análise a fim de que
se possa obter uma resposta satisfatória.
Assim traçou-se como objetivo investigar as demandas apresentadas para a cadeia
de suprimentos das indústrias, que contemplam esse tipo de sustentabilidade, buscando:
conhecer volumes demandados; verificar a utilização de práticas que garantam a sustenta-
bilidade econômica; e analisar através de ferramentas estatísticas a previsão da demanda
pelos produtos gerados.

REFERENCIAL TEÓRICO

A Gestão Sustentável na Cadeia de Suprimentos (GSCS) tem suas raízes na litera-


tura de gestão ambiental e gestão da cadeia de suprimentos e se refere à influência e aos
relacionamentos entre essas duas áreas de estudo, conforme preceitua (VOLLMANN, T.;
BERRY, W.; WHYBARK, D.; JACOBS, F. 2006).
Define-se a Sustentabilidade econômica como sendo um conjunto de práticas econô-
micas, financeiras e administrativas que visam o desenvolvimento econômico de um país ou
empresa, preservando o meio ambiente e garantindo a manutenção dos recursos naturais
para as futuras gerações (CARTER; JENNINGS, 2004).
O grande desafio de uma política econômica, seja empresarial ou governamental, é
gerar crescimento econômico, lucro, renda e criar empregos garantindo um período que res-
ponda satisfatoriamente às exigências de mercado para a longa curva da vida da empresa.

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Já as vantagens da sustentabilidade econômica são vistas como sendo: empresas
com atitudes sustentáveis geram mais economias financeiras a médio e longo prazos; a
imagem das empresas que priorizam a sustentabilidade econômica melhora muito diante
dos cidadãos e consumidores; empresa e cidadãos só têm a ganhar com tais atitudes, pois
terão um meio ambiente preservado, maior desenvolvimento econômico e a garantia de uma
vida melhor para as gerações atuais e futuras (SRIVASTAVA, 2007).
A atenção dada ao circuito fechado à sustentabilidade em cadeias de suprimen-
to ainda é relativamente rara e dispersa, porém em crescimento com uma visão aplica-
da ao tripé: Econômica, Social e Ambiental (CHAKRABORTY, 2010; MANN et al. 2010;
SRIVASTAVA, 2007).
Na literatura consultada, a definição e o escopo da sustentabilidade econômica em
cadeia de suprimentos encontram uma grande amplitude, desde a compra, até a integração
da sustentabilidade ao longo da cadeia de suprimentos, conforme (Carter; Ellram 1998) e
(Srivastava 2007), seguindo o caminho do fornecedor, produtor, consumidor, logística e ainda
a cadeia de suprimentos em circuito fechado buscando a melhoria contínua no processo de
produção e de renda para o negócio, mesmo se tratando de época de crise.

SUSTENTABILIDADE SOCIAL

Como define (Van Hoek 1999), sustentabilidade social é um conjunto de ações que se
propõe a melhorar a qualidade de vida da população como um todo, com vista a minimizar
as desigualdades sociais e maximizar o acesso aos direitos e serviços básicos, como por
exemplo, educação e saúde. Um ponto importante a ser observado é que a sociedade só
será igualitária ou justa se houver a participação do mercado e das empresas.
De acordo com a definição de desenvolvimento sustentável, segundo (Corbett e
Kleinderfer 2001), cada cidadão, enquanto consumidor, membro de uma empresa ou do
governo, precisa repensar seu comportamento e posicionamento, procurando adotar práticas
que fortaleçam a sustentabilidade de todos os processos — tanto sociais quanto econômi-
cos e ambientais.

SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA

Para Guivant (2002) os argumentos de economistas a favor da sustentabilidade acon-


tecem em torno de saber usar os recursos do planeta, com alocação eficiente de recursos
naturais em um mercado competitivo, no qual haveriam distorções no mercado que poderiam
ser corrigidas pela internacionalização de custos ambientais e/ou reformas fiscais. Assim, a
sustentabilidade seria alcançada pela racionalização econômica local, nacional e planetá-
ria. Para o autor a implementação da sustentabilidade seria alcançada pela racionalização

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econômica de forma plena e depende de uma gestão geral, bem como de um estudo bem
elaborado acerca da demanda pelos seus produtos.
De acordo com Foladori (2002) a sustentabilidade econômica apresenta uma análise
mais complexa do que a ambiental, pois o conceito restringe o crescimento econômico e a
eficiência produtiva. Tal concepção admite que o crescimento não pode ser ilimitado pois
não representa uma congruência com a dimensão ambiental.
Assim, seria a ideal utilização de toda riqueza produzida, inclusive permitindo uma
previsão da demanda, partindo de um estudo com dados levantados dos últimos períodos.
Seja na igualdade de distribuição, seja na reposição para a natureza do que lhe foi
retirado o que gera um desenvolvimento econômico mais estável sem picos ou situações
de risco para a economia.
A sustentabilidade econômica, segundo Chen (2012), não trabalha só com o presente.
Seu foco também olha para o futuro, pois são através das ações economicamente sustentá-
veis de hoje que se tem uma sustentabilidade econômica amanhã. As ações para se alcançar
uma economia sustentável precisam ser constantes.
Com uma economia sustentável, Foladori (2002) afirma que todos os outros aspectos
da sociedade também são beneficiados. O meio ambiente, porque os recursos são utilizados
com inteligência. A sociedade também ganha, pois, as riquezas são divididas igualmente
minimizando as diferenças sociais. Assim como, há poucas chances de grandes crises como
picos na inflação, grande quantidade de fechamento de postos de trabalho, já que a nação
não precisa depender financeiramente de outra ou de fundos monetários.
O governo tem um papel de fundamental importância nesta conquista, afinal, é
ele que controla.
Cada vez que ele elabora e aplica restrições ambientais mais intensas, obriga as em-
presas não a terem prejuízo, mas a investir em pesquisa e novas tecnologias para obter
uma produção cada mais vez sustentável.

SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

Por fim, o desenvolvimento sustentável ambientalmente correto segundo (Adger 2000),


se refere a todas as condutas que possuam, direta ou indiretamente, algum impacto no meio
ambiente, seja a curto, médio ou longo prazos.
O desenvolvimento sustentável busca, de acordo com (Chakraborty 2010), em primei-
ro lugar, minimizar ao máximo os impactos ambientais causados pela produção industrial.
Caso não seja esse o objetivo, provavelmente estaremos falando muito mais de estratégias
de marketing do que de sustentabilidade de fato.

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METODOLOGIA

Trata-se de um estudo de caso em uma cadeia de suprimentos na indústria de calçados


de Juazeiro do Norte – Ceará, que para Kaplan; Duchon (1988) um estudo de caso consiste
no estudo profundo de objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimen-
to, e explica que essa modalidade pode ser dividida em várias etapas como: formulação do
problema, definição da unidade-caso, determinação do número de informações, elaboração
do protocolo, coleta de dados, avaliação e análise dos dados e preparação do relatório.
De acordo (Yin 2005) em estudo de caso, são especialmente importantes cinco compo-
nentes de um projeto de pesquisa: as questões de um estudo; suas proposições; a unidade
de análise; a lógica que une os dados às proposições, e; os critérios para interpretação
das constatações.
A coleta de dados foi realizada através da aplicação de um levantamento de dados
numéricos sobre os volumes demandados com os relatórios das demandas do período de
2003 a 2017 com os envolvidos no processo produtivo e de gestão da cadeia.
Segundo (Yin 2005) com relação à coleta de dados no método de estudo de caso,
pode ser considerado o mais completo, pois se vale tanto de dados de pessoas quanto de
dados documentais.
Em seguida, os dados levantados receberam tratamento através do processo de ta-
bulação e análise através de ferramentas estatísticas – R Stúdio, para resposta à proble-
matização e verificar se atende aos objetivos propostos, bem como se confirma ou nega a
hipótese levantada, de acordo com (CHOPRA, 2004).
Para a análise dos dados, seguindo orientações de (Scaletzky, 2008) foi feito o uso de
tabulação em planilha seguindo as orientações de dados tais como os valores e os períodos
de cada dado fornecido, bem como as metas estabelecidas pelos gestores.

ANÁLISE DOS DADOS

Metas – Os gestores principais das empresas afirmaram que traçaram metas para o
período de 2003 a 2010 de crescimento de 5% ao ano, reduzindo para 4% ao ano para 2011
a 2013 e finalmente reduzindo para qualquer valor maior que zero a partir de 2014.
Diante desses dados e buscando-se os valores numéricos fornecidos, verificou-se que
as metas traçadas não foram alcançadas, tendo alguns períodos que não conseguiram al-
cançar crescimento algum, ao contrário, observa-se que há alguns períodos de decréscimos
na demanda, porém não tão acentuados.

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Tabela 1. Cálculo dos percentuais das metas.

Tempo Metas Real Atinge?


2003 0,05 903489
2004 0,05 894580 -0,99%
2005 0,05 905022 1,17%
2006 0,05 930708 2,84%
2007 0,05 931901 0,13%
2008 0,05 917493 -1,55%
2009 0,05 931178 1,49%
2010 0,05 917955 -1,42%
2011 0,04 872672 -4,93%
2012 0,04 880706 0,92%
2013 0,04 881553 0,10%
2014 > 0% 872672 -1,01%
2015 > 0% 880706 0,92%
2016 > 0% 883184 0,28%
2017 > 0% 594564 -32,68%

Para o período de 2017, ainda não concluído, com dados somente até o 4º bimestre,
não dá para se afirmar se haverá ou não crescimento.
Analisando a base de dados obtida, segundo Moreti e Tolol (2004) através do cálculo da
média móvel, modelo estatístico que se adaptou bem aos cálculos, por se tratar de uma série
temporal, o que se verificou bem o comportamento da série, trabalhando sempre com t=2.
A Figura 1 a seguir apresenta a série referente à demanda e o modelo de Média Móvel
2 (MM2), a partir da qual verifica-se que o MM2 conseguiu se adequar satisfatoriamente ao
fenômeno analisado. A razão de viés variou entre -3.84 e 4.61, denotando estabilidade para
o modelo, que segundo Chopra e Meindl (2003), se em qualquer período estiver fora da
faixa de -6 a +6, significa que a série está enviesada e que pode está sub ou superestimada.

Figura 1. Previsão a partir do modelo de Média Móvel 2.

Em seguida foi feito o teste de Normalidade de Shapiro-Wilk demonstrado através da


Tabela 2 a seguir, onde indica comportamento normal, assim como o teste de autocorrelação

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de Ljung-Box que também indica que os resíduos são não autocorrelacionados, confirmando
a adequação do modelo à série.

Tabela 2. Análise residual do modelo Média Móvel 2.

Teste Estatística Valor p

Shapiro-Wilk 0.989 0.701

Ljung-Box 0.010 0.919

O Histograma dos Resíduos que realizou o diagnóstico dos resíduos como também o
Teste dos Resíduo – Q-Q Plot, demonstrados na figura 2 a seguir, indicam que os resíduos
são não autocorrelacionados, confirmando a adequação do modelo à série.

Figura 2. Histograma e Q-Q Plot para os resíduos do modelo Média Móvel.

CONCLUSÃO

Ao estudar o modelo de previsão de demanda empregado pela organização, perce-


be-se que a influência das técnicas subjetivas seja pela opinião de especialistas, seja pela
intuição ou experiências, é eficiente na organização estudada.
Como cita Slack (1997, p.349), os “três requisitos para uma previsão de demanda são:
ser expressa em termos úteis para o planejamento e controle da capacidade; ser tão exata
quanto possível; dar uma indicação da incerteza relativa”.
Com relação a este último requisito, os modelos quantitativos oferecem valores pro-
jetados em cálculos estatísticos, fornecendo assim uma dimensão melhor da margem
de erro esperada.
Esse trabalho procurou discutir a importância de um sistema de previsões de demanda
diante das várias incertezas que uma organização enfrenta ao longo de todo o processo pro-
dutivo, para que possa analisar a sustentabilidade econômica ao longo do período estudado.
Um bom sistema de previsão pode auxiliar na programação da produção, no intuito
de diminuir a quantidade de estoques, aumentando a eficiência geral na gestão da cadeia
de suprimentos e consequentemente a diminuição nos custos organizacionais, elevando as
chances de sua sustentabilidade econômica.

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Muitos aspectos têm que ser decididos ao se implementar um sistema de previsões.
Desde os seus propósitos, treinamento até qual software será utilizado para o mesmo.
No caso da aplicação deste trabalho, o software estatístico R Studio se mostrou com
bom equilíbrio entre qualidade dos algoritmos e facilidade de utilização, o que pode ser uma
característica imprescindível para organizações que não tem pessoal especializado e não
querer depender de serviços terceirizados.
Como os resultados alcançados na comparação entre os modelos possíveis indicam
que o modelo de média móvel tem sim um desempenho satisfatório na previsão, conclui-se
que a empresa apresenta sustentabilidade econômica satisfatória, reagindo bem até mesmo
em períodos de crise, com baixa influência negativa em sua demanda de produção.

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04
A questão dos assentamentos rurais: a
invisibilidade continua, e a relevância
social da juventude rural

José Eloízio da Costa


Universidade Federal de Sergipe

Adriana Lisboa da Silva


Universidade Federal de Sergipe

'10.37885/220709503
RESUMO

A questão dos assentamentos rurais tornou-se uma das referências centrais como estru-
tura no abastecimento de alimentos em cadeia curta, isso demonstrado pela experiência
da pandemia da covid-19 e dar maior visibilidade social dessa organização. Mais relevante
quando associamos aos desafios das mudanças e permanências dos jovens dos assenta-
mentos. O que se configura que temos que realizar uma nova leitura do mundo rural desses
territórios em que associa vivência social e atividade econômica autônoma, em forma coletiva
ou individual. Desse modo, as abordagens sobre o desaparecimento da agricultura familiar
ou da simples constituição da renda para efeito comparativo, como o que acontece entre os
pequenos produtores do sul do Brasil e os situados na região Nordeste; efetivamente não
mais explicam esses novos processos sociais rurais. Na mesma toada relaciona-se com a
delicada questão da mentalidade fundiária dos beneficiários assentados e que ainda persiste,
mas de forma mais atenuada. O estudo realizado foi de natureza exploratória, em que se
constitui como uma nova agenda de estudos sobre os assentamentos rurais, particularmente
sobre a nova dinâmica do mundo rural na linha dos papeis sociais dessas organizações
sociais na produção de alimentos, inclusive mais saudáveis.

Palavras-chave: Assentamentos Rurais, Organização, Desenvolvimento Rural,


Juventude Rural.
INTRODUÇÃO

Os estudos sobre Assentamentos Rurais (ARs) é uma marca indelével e mostra um


processo inexorável praticamente consolidado e estes assentamentos enquanto fenômeno
social insere como um dos maiores exemplos de acesso à terra de forma democrática em
que no Brasil, em função das mobilizações e dos processos de ocupação do Movimento dos
Trabalhadores Sem Terra (MST) mostraram a força social de superação de um dos maiores
substratos da estrutural desigualdade social brasileira: a concentração fundiária. O MST
transformou uma das organizações sociais mais sólidas no meio rural brasileiro.
Observar também que o título em epigrafe é uma advertência extraída de um dos
estudos pioneiros da importância socioeconômica dos ARs, e do enquadramento analítico
face a hegemonia das abordagens da “modernização da agricultura” graças a forte inserção
tecnológica e dos ganhos de produtividade; e que, em literatura mais recente, estabeleceram
padrões metodológicos do sucesso econômico do agro, sendo estes estudos que remontam
desde os anos 70 do século passado. Um exemplo, são os autores que inserem o padrão
metodológico da Produtividade Total de Fatores (PTF) como procedimento de construir a
renda bruta dos agricultores em toda o território brasileiro e mostra diferenças abissais,
como por exemplo, entre os agricultores do sul e da região nordeste; podendo mostrar até
mesmo na escala dos agricultores familiares ou da pequena produção rural. Nos parece
que as experiências dos ARs passam ao largo desse processo, por entender que nestes
territórios existem particularidades que transcendem esse indicador que analisa o “sucesso
do agro”, mas ignora processos como a questão da organização dos ARs, do trabalho não
agrícola e do papel da juventude rural.
Sem embargo, a questão dos ARs é de permanente análise, porque agrega um comple-
xo processo social rural envolvendo questões desde a formação da renda dos assentados,
seu legado, relações sociais e principalmente do papel dos mediadores. Mais interessante
é analisar, dentro do marco institucional, do papel da reforma agrária como política publica
de feição fundiária e da experiência dos ARs é a melhor amostra do alcance, das possibi-
lidades de desenvolvimento social e econômico, mas também das controvérsias e contra-
dições do modelo.
Nesta quadra, agregamos ao presente artigo dois fenômenos já observados nos ARs
nas duas últimas décadas: a questão do esvaziamento demográfico e as implicações en-
frentadas pelos assentados face aos fracassos acumulados pela impossibilidade econômica
desses atores sociais sobreviveram em seus “empreendimentos rurais” de baixo rendimento;
e os contornos ainda não analisados de forma mais consistente e detalhada, em destaque
do comportamento e da visão de mundo dos jovens assentados frente a crise do sistema
produtivo com base no modelo da gestão e produção familiar.

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Dividimos o trabalho em duas partes, excluindo a presente introdução e as considera-
ções finais. Na primeira levamos em consideração a heterogeneidade das abordagens dos
assentamentos rurais, passando desde a concepção de certa forma polêmica ou romântica
sobre o assunto, bem comum nos estudos no campo da Geografia Agrária, mas também das
abordagens trabalhadas por NAVARRO (2014) e MARTINS (2003), quando da existência de
limites estruturais e operacionais nas relações sociais de produção existentes nos ARs e que
efetivamente não lograram êxito, ao lado do papel estratégico de um importante ator social
protagonista no processo de organização social e espacial dos ARs: o dos jovens rurais.
Na segunda parte valoramos o papel dos jovens rurais residentes nas áreas de as-
sentamentos, valorando os aspectos conceituais na qual foram trabalhados elementos de
natureza subjetiva para mensurar qual a perspectiva da juventude rural (até os 28 anos de
idade) e que nesse processo poderá definir o futuro dessas áreas de domínio do pequeno
produtor familiar.
Pertinente observar que a pesquisa é exploratória, baseada na revisão bibliográfica de
alguns autores que colocamos em amostra, por apresentar uma abordagem crítica sobre
os ARs, evitando a rotulação ideológica, bem comum nos estudos rurais, que NAVARRO
(2016) denomina do papel político da chamada esquerda agrária e da distorção da realidade
rural, e do caráter militante de seus protagonistas; processo que ocorre também nas rela-
ções sociais nos ARs. E em segundo lugar, na análise dos ARs que agregamos, levando
em consideração a questão da visão de mundo desses assentados e seus dilemas, agre-
gando-se os desafios e contradições da juventude assentada e que certamente definirá o
futuro dos ARs, em uma fase da necessidade inexorável na produção de alimentos; única
estratégia que supere o engessamento da forma-mercadoria na produção de commodities,
não voltada à produção em cadeia curta. E nos parece que a ARs tem essa função, dentro
de uma perspectiva de longo prazo.

ASSENTAMENTOS COMO PROCESSO SOCIAL RURAL: RELEVÂNCIA


DAS ABORDAGENS

É pertinente abordar o tema dos ARs dentro da complexidade enquanto fenômeno


histórico de grande relevância como nobre papel social de acesso a terra e destinada aos
mais pobres, como forma mais explicita de democratização em um pais de longa tradição
escravocrata e forte concentração fundiária; dois esteios do autoritarismo político e econô-
mico brasileiro que desdobra pela vergonhosa concentração da renda.
Assim, em sua essência, o acesso à terra a quem dela sobrevive e incorpora como
“patrimônio familiar” através da reforma agrária institucional, com efeitos socioeconômicos
relevantes, para a realidade brasileira, mesmo de forma limitada; ainda assim podemos

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considerar como processo revolucionário; quando sabemos do caráter reacionário ou con-
servador das elites brasileiras, ou simplesmente da existência da “elite do atraso”, como
demonstrado por SOUZA (2019) em sua obra clássica para entender os processos sociais
e principalmente do comportamento das elites brasileiras desde o período colonial, sendo
um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento social e da eterna persistência da pobreza
como estratégia de dominação através do patrimonialismo e do poder político.
Neste contexto, os ARs atuam como uma forma de trazer dignidade aos beneficiários,
geralmente agricultores não possuidores de terra, e naturalmente atuando na geração de
trabalho e renda, além de diminuir a forte propensão a migração rural-urbana, em especial
da migração dos jovens. Aspecto interessante dessa organização espacial, enquanto forma e
processo, não seria apenas o aspecto democrático da terra, mas dos papéis sociais dos as-
sentados enquanto produtores de alimentos de baixo custo ao lado dos agricultores familiares.
Sendo este de crucial importância na produção e reprodução do trabalho dos assentados.
Para adentrar essa questão, levamos em consideração como abordagem a concep-
ção de alguns autores que analisam os ARs na perspectiva enquanto processo social rural.
Essa figura sociológica é de grande relevância para entender essa complexidade, até pela
diversidade dos ARs em seus diversos formatos, que rebate em situações inesperadas no
amalgama desses processos, e que dar o caráter da heterogeneidade dessas organizações
espaciais voltadas a produção familiar, não exclusivamente na busca do lucro, mas na cons-
tituição da renda como produto final do trabalho familiar.
Um primeiro aspecto relaciona-se no que consideramos como uma temática comple-
xa dos ARs a partir da abordagem de MEDEIROS e Outros (1995) e a necessária visão
multidisciplinar, em um período (meados dos anos 90) em que os ARs ainda estavam em
formação, sendo mais aplicados como objeto de estudo acadêmico que propriamente das
experiências que já podem ser abordadas em nossos dias. Daí colocarmos esse estudo,
que consideramos pioneiro e que abrem, com rigor acadêmico, o fenômeno social desses
territórios construídos institucionalmente e das temáticas abordadas face a heterogeneidade
do mundo rural dos ARs, sendo uma delas o papel social como espaços produtores de ali-
mentos de baixo custo, e da importância na formação das cadeias curtas na comercialização
de seus produtos.
É evidente que a abordagem dos “antecedentes” dos movimentos dos trabalhado-
res sem terra enquadram como processos sociopolíticos específicos de luta pelo acesso
a terra. As táticas do uso de acampamentos e do planejamento das ocupações serviram
como processos centrais de democratização da terra. Mas não devemos omitir que estas
ações tiveram um conjunto de ações institucionais como forma de materialização da de-
manda, o que denota que a construção dos assentamentos foi de mão dupla e que, de

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certa forma, é exagerado afirmar que estes territórios foram conquistados como “vitória” dos
“movimentos sociais”.
Nesse entendimento, foram ações dos dois lados e não podemos negar que a política
pública fundiária no formato do AR teve êxito não apenas em número de unidades, mas no
total das famílias rurais alcançadas (quase um milhão) nestes territórios e que efetivamente
mudou o quadro da pequena produção rural na quadra de novos desafios que envolvem
a questão da melhoria das condições de vida, mas também da inserção desses pequenos
produtores assentados nos mercados de cadeia curta ou nos mercados aninhados. Por outro
lado, observamos dificuldades face a existência de obstáculos para dar maior capilaridade
de produtos de baixo valor agregado e que efetivamente a questão logística, organizacional
e de maior proximidade nos mercados regionais de produtos agropecuários ainda persistem.
Fundamental para ampliar nossa interpretação é a questão da renda desses assentados.
Podemos destacar a abordagem de PICCIN (2012) dentro de uma visão multidimensional em
que os ARs é uma realidade concreta em que a questão transcende meramente ao problema
da renda dos assentados, mas como processo sociocultural face a capilaridade orgânica
da sociabilidade destes atores rurais e que ainda são observados como invisíveis sociais
perante ao todo da sociedade brasileira e do caráter socialmente restritivo dessa importante
categoria social, bem como sua importância. Assim, o autor destaca (PICCIN, 2012, 116):

A posição social dos agricultores de assentamentos rurais na estrutura de


poderes econômicos da sociedade brasileira e as perspectivas de geração de
renda em um contexto de mercados oligopolizados. Aborda-se que tal posição
confere um espaço social, econômico e cultural restringido, em que as distin-
ções socioeconômicas entre agricultores-assentados tendem a corresponder
aos diferentes recursos culturais incorporados ao longo de suas trajetórias. Tal
análise é realizada a partir da identificação de um campo de autonomia relativa
à inserção do agricultor-assentado na estrutura de poderes da sociedade. As
objetivações culturais se expressam nas estratégias de reprodução social e
fontes de renda monetária e não monetária dos grupos domésticos.

Por outro lado, o artigo de ALVES e ROCHA (2010) insere questões seminais levando
em consideração a constituição da renda bruta da pequena produção familiar e dos percalços
da impossibilidade socioeconômica de sobrevivência desses atores sociais. Estudo extraído
dos dados do Censo Agropecuário de 2006, os autores abordam que a pequena produção
rural de bom desempenho é restrita, representando pouco mais de 500 mil estabelecimen-
tos de um total de pouco mais de 5 milhões, mostrando a desigualdade na distribuição das
unidades mais rentáveis e isso estar diretamente relacionado com as tecnologias aplicadas
no processo de produção. Do lado oposto, os autores avaliam que os “agricultores familia-
res”, que, pelo Censo Agropecuário, representavam aproximadamente 4,2 milhões e destes,
3,7 milhões são antieconômicos e inviáveis, sendo propensos ao seu desaparecimento em

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médio a longo prazo. Uma tese que se tornou polêmica e que se estenderia por trabalhos
complementares e analisaria esse fenômeno em que uma das “sete teses do novo mundo
rural brasileiro”, pela existência de uma relação perversa da “nova ordem” da agricultura
moderna que impacta no desaparecimento de segmentos economicamente “não integrados”.
Esse estudo, de grande repercussão perante a comunidade científica que estudam o mundo
rural brasileiro, utiliza com rigor o PTF, de grande prestígio entre os economistas agrários.
É o que bem coloca BUAINAIN (2013, 118) sobre esse quadro socialmente perverso
isso partindo de outro estudo de grande importância analítica, face ao rigor apresentado
com resultados e produtos entre grandes pesquisadores nacionais e da existência dessa
diversidade espacial:

Mesmo nas regiões rurais que prosperaram em virtude de alguma “dinâmica


agrícola”, acaba prevalecendo uma tendência perversa em relação aos esta-
belecimentos rurais de menor porte econômico, ainda que apenas por duas
razões. Primeiramente, os filhos migram para não mais voltar, pois existe um
custo de oportunidade muito elevado. E, segundo, porque a oferta de traba-
lho contratado também se reduz, pelo abandono do campo, o que eleva os
salários rurais.

É evidente que esse quadro tem forte consistência empírica e as abordagens defendem
uma “determinada narrativa”, que no nosso entendimento tornou-se hegemônica entre os
pesquisadores do mundo rural brasileiro. Desse modo, o arranjo teórico construído por mais
de três dezenas de pesquisadores, constituíram as chamadas “sete teses sobre o novo mundo
rural brasileiro”, que mexeram na comunidade cientifica que teve como objeto de estudo, o
complexo mundo rural, processo observado em meados da segunda década deste século.
Para o caso em questão – ARs – duas teses combinam bem para mostrar as limitações
e contradições sobre o modelo de organização territorial dos ARs. A primeira relaciona-se
com a inviabilidade econômica dos agricultores familiares no Nordeste, e por extensão, dos
assentamentos, no que BUAINAIM e at all (2014) denominam de “desenvolvimento agrário
bifronte”, de forte segregação espacial, setorial e principalmente econômico; em que teríamos
um segmento altamente moderno e com ganhos de produtividade, localizado na região cen-
tro-sul do país e que se tornou numa espécie de “eldorado da agricultura de alto rendimento”,
inclusive caracterizando-se como “produtores de alimentos”, desmistificando uma das maiores
narrativas da chamada “esquerda agrária”, fortemente analisada por NAVARRO (2016), em
que a “agricultura familiar é que produz os alimentos para a mesa dos brasilelros”. Para o
autor, com base no artigo de ALVES e ROCHA, é um fenômeno cientificamente inexistente.
Do outro existe uma agricultura estruturalmente atrasada e sem qualquer possibilida-
de de imprimir processos mais amplos de modernização, que compõe uma “vasta maioria

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dos produtores de menor renda, os quais vão sendo empurrados contra a parede, em um
ambiente concorrencial que se acirra diuturnamente” (BUANAIM et all. 2014, 1173).
A outra tese, a mais polêmica, relaciona-se com a questão justamente da reforma
agrária e que essa demanda, pelo quadro dos processos sociais rurais, já não mais cum-
prem seu papel social como meio de combate a desigualdade, inclusive os ilustres autores
resgataram vetustos estudiosos da economia brasileira, como Celso Furtado e Maria da
Conceição Tavares, em que a modernização da agricultura a partir dos anos 60 do século
passado, operou ao largo do processo de luta pela reforma agrária, inclusive persistindo
formas arcaicas em seus processos produtivos. E ainda agregam um antigo estudo de SILVA
(1987), em que o renomado economista da UNICAMP e por quase dez anos presidiu a FAO,
colocava uma tese que abalou, de certa forma, a esquerda agrária: de que a reforma agrária
brasileira pautou-se muito mais como mera justificativa social”.
Desse modo, temos que analisar as teses apresentadas e partimos da realidade que
conhecemos do Nordeste, na medida em que as duas tem implicações analíticas relevan-
tes para o futuro do mundo rural na região, particularmente no que se refere a realidade do
semiarido nordestino.
Uma primeira questão relaciona-se ao suposto “desaparecimento da agricultura familiar”
no Nordeste pela incapacidade de competir com a agricultura familiar sulista mais moderna
e integrada por um sistema organizado em que se articula fomento, extensão e presença
relevante de cooperativas em que elas acompanham as inovações tecnológicas do mundo
moderno. Esta tese é interessante enquanto princípio, porém dentro de uma concepção
puramente econômica e com pretensões comparativas. O que naturalmente evidencia os
aspectos limitantes e estruturais da agricultura de baixa intensidade tecnológica no Nordeste
e não podemos negar da impossibilidade da organização e produção dessa agricultura e
que certamente não será próspera enquanto constituidora da renda familiar. Dai o uso do
PTF como indicador da existência praticamente de duas categorias de produtores, inseridos
setorial e principalmente territorialmente no espaço rural brasileiro.
Sem embargo, a realidade concreta nordestina tem suas particularidades da agricul-
tura familiar e a ousada tese do “desaparecimento” pode não abranger outras dimensões
que ora conhecemos a partir da nossa experiencia pessoal e vivência. A primeira questão
relaciona-se com a organização da produção desses agricultores e isso pode ser observado
como uma espécie de “reinvenção” da agricultura de subsistência dentro do modelo clássico
numa espécie de autoexploração e com ele do autoconsumo familiar.
É evidente que esse processo não é generalizante e que o fenômeno social nas úl-
timas décadas tem diminuído drasticamente, mas que ainda existe e em função da crise
alimentar nos últimos anos, particularmente na longeva pandemia da Covid-19, emergiu

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como segmento produtor de alimentos, inclusive como estratégia de acesso aos alimentos
mais baratos, numa espécie de “antivalor”, fora do circuito formador da mercadoria. Soma-
se também a expansão das práticas da agricultura orgânica de base agroecológica e da
multiplicação de formas de comercialização em escala individual. O que tem fortalecido
esses processos sociais.
Ao lado dessa questão, destacamos da relevante cadeia curta de produtos alimentícios
em nível territorial e regional. Nesse processo, a questão do PTF é secundarizado na medida
em que a renda é importante. Entretanto, a renda da família dos pequenos agricultores deve
estar compatível com os custos de reprodução da força de trabalho familiar e não dentro,
exclusivamente, da lógica dos ganhos de produtividade via inovação tecnológica inserida
no processo de produção.
Destaca-se também, que, experiências como em ARs, pode-se mostrar uma nova con-
figuração socioeconômica e que opera como um dos desafios até mesmo da sobrevivência
dessas organizações territoriais e neste caso, os processos de produção podem realizar
em contextos em que os produtos do trabalho podem materializar-se em formas que não
sejam mercadorias, até porque não existe diretamente exploração do trabalho alheio. Soma-
se o potencial de organização desses ARs, que, com a emergência da crise (econômica,
alimentar, do trabalho, etc.), a capilaridade nestes territórios é determinante, inclusive com
fortalecimento da participação ou da democracia direta informal dentro dos assentamentos.
Portanto, a questão do desaparecimento dos agricultores e dos ARs em função da
impossibilidade competitiva com os agricultores prósperos, é complexa. E nos parece que
os estudos de caso é uma excelente estratégia para entender essa complexidade, além, é
claro, da heterogeneidade do mundo rural nordestino.
Sem embargo, agregamos o estudo de MARTINS (2003) em relação aos dilemas en-
frentados pelos beneficiários da reforma agrária. No livro o Sujeito Oculto, o autor aborda,
dentro de uma metodologia de vivência, extraída de quatro dissertações de mestrado nas
macrorregiões brasileira, na qual analisou o complexo processo social observado por estes
beneficiários. Antecedendo uma publicação anterior – de 2002 – em que o autor coloca os
limites de uma verdadeira reforma agrária no Brasil. O livro disseca um dos maiores proble-
mas da concretização do acesso a terra que não seria apenas a distribuição, na medida em
que “a concessão da terra e o assentamento do supostamente sem-terra apenas encertam
um drama e dão inicio a outro” (MARTINS, 2003, 9).
Nessa quadra, a chamada “questão agrária” não pode ser analisada dentro de uma
perspectiva de “luta pela terra” permanente. Com a concessão abre-se novos processos
e ai estaria um dos maiores dilemas desses beneficiários. Pela abordagem de MARTINS,
essa lógica efetivamente enfrentou profundas contradições na medida em que a relevância

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do “trabalho” não foi percebida nos estudos de caso. E uma delas seria a permanência da
mentalidade da renda fundiária entre os próprios beneficiários, sendo uma delas a locação
do lote ou até mesmo da venda e nos termos do autor (MARTINS, 2003, 15):

O beneficiário da reforma agrária, quando aluga a terceiros terra recebida ou


indevidamente a vende, regenera a renda fundiária como meio de sobrevivên-
cia, nega a relevância do trabalho e do produtivo e afirma a centralidade do
tributo parasitário como meio de vida. Na verdade, no aparentemente minús-
culo ato comercial, ele recria a lógica do latifúndio dentro de si mesma e nega
aquilo que é próprio e essencial da competência e das virtudes históricas do
trabalho e da classe trabalhadora.

Pela envergadura teórica do autor e de ser considerado um dos maiores estudiosos


sobre o mundo rural brasileiro dentro de uma perspectiva histórica e como processo social,
MARTINS enfatiza as contradições dos processos de assentamentos e seus desdobramentos
com a preponderância da subjetividade fundiária na qual sobrepõe a questão do trabalho.
Nada mais sólida essa argumentação. Entretanto, pelo marco temporal da obra martiniana
(2003) e os novos fenômenos sociais dos assentamentos nestas duas últimas décadas, tal-
vez essa percepção analítica possa não mais corresponder as realidades sociais concretas
dos ARs, na medida em que estamos entre duas a três gerações que atuam nestas áreas
e certamente as mudanças ocorridas precisam ser melhor estudadas por apresentar uma
nova concepção, que envolve desde os casos de “sucesso” e “fracasso” dos ARs. O que
oferece diversidade analítica e a hipótese da renda fundiária e da força da mediação com
viés político talvez não tenha tanta centralidade em nossos dias.
Temos que agregar outras abordagens e principalmente entender essa complexidade,
e que envolve desde a efetividade das diversas políticas públicas nestes ARs até a questão
do comportamento social e organizacional dos atores sociais assentados, em especial nos
desafios dos conflitos intergeracionais em que a “nova demanda” etária da juventude rural
nos assentamentos da reforma agrária em que os processos de migração juvenil, a questão
do trabalho, educação e nova visão de mundo entram na agenda destes atores mais novos
e que possa impactar no cotidiano produtivo e familiar desses assentados.
É evidente que observamos duas abordagens em que se agregam ao contexto su-
cintamente colocado em epigrafe. Uma primeira relacionada a emergência da questão am-
biental em que afeta diretamente a estrutura dos ARs, com maior efeito naqueles situados
em áreas do semiárido nordestino e problemas como desmatamento, poluição dos solos e
crise hídrica integram essa agenda emergencial. E segundo, pela organização da produção
e da capacidade de oferecer condições na construção da renda das famílias assentadas.
Desse modo, a agenda juventude rural assentada é determinante para entender o futuro
dos ARs, quando existe concretamente o envelhecimento dos “pioneiros” desses territórios

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e da possibilidade ou não da subsistência do processo de produção com inserção de novas
forças sociais que, de certa forma, o “canto da sereia” do mundo urbano e melhor remunera-
do ainda encanta milhares de jovens rurais. Mas a questão é muito mais ampla e podemos
inserir como um dos maiores desafios ou até mesmo problemas enfrentados pelo meio rural
de domínio da agricultura familiar e dos assentamentos rurais, como agregamos em seguida.

A JUVENTUDE RURAL DOS ASSENTAMENTOS DA REFORMA AGRÁ-


RIA

Aparentemente a relação destacada na epígrafe no subtítulo em si pode ser observa-


da como autoexplicativa face a incompatibilidade estrutural entre uma parcela significativa
de jovens que reside no meio rural e que não mais identificam-se com as atividades ou na
labuta de seus ascendentes já envelhecidos, particularmente na força das redes sociais
via internet e da inserção de informações, bem como de novos padrões comportamentais
tipicamente urbanos.
Relevante também que os jovens rurais socialmente são estigmatizados e representam
valores, hábitos e crenças assimétricas em relação ao dinamismo e da descartabilidade
comportamental dos jovens urbanos. o que fortalece a convicção juvenil que mudanças
espaciais e territoriais poderiam dar “sentido a vida” desses atores sociais ainda inexpe-
rientes na vida, e mais importante, da melhoria das condições de vida. SANTOS (2009, 07)
bem coloca a questão nessa relação complicada para uma faixa etária que muitas vezes
não definiu o destino de suas vidas: “a juventude rural enfrenta no seu cotidiano situações
adversas caracterizadas pela exclusão do sistema produtivo, pelo precário acesso aos
serviços e recursos de infraestrutura e de políticas públicas”.
O que abre uma fértil discussão sobre o novo papel da juventude e colocaremos em
nível mais geral em que hipóteses podemos trabalhar, na busca da superação desses invi-
síveis sociais e que permanece a estigmatização desses atores sociais que talvez possam
salvar a vida no campo, particularmente entre os agricultores familiares e principalmente
entre os assentados.
Nossos fundamentos para entender essa nova complexidade e heterogeneidade da
juventude dos espaços rurais dos assentamentos, podemos agregar uma abordagem que
consideramos ainda imprecisa e especulativa, necessitando apenas comprovações empíri-
cas; mas no nosso entendimento essa argumentação é valorativa como contributiva a uma
futura agenda de pesquisas e estudos de um processo social que reproduz como fenômeno
rural há mais de trinta anos. Para efeito didático colocaremos de forma enumerada:
1 – um primeiro aspecto observamos, de certa forma, que as argumentações de
MARTINS não mais subsistem no que se refere a força da mediação e da persistência da

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mentalidade da renda fundiária. E evidente que esse processo existe, até porque os assen-
tamentos tem suas particularidades e singularidades e a questão da “apropriação privada” é
inexorável em um sistema dominado pelo capital e do forte individualismo dos atores sociais,
o que podemos afirmar que, o não caráter generalista dos fundamentos do nosso ilustre
sociólogo rural, efetivamente não existe; por uma simples constatação: temos mais que uma
geração de experiencia social e econômica, e até mesmo demográfica destes territórios
rurais organizados; configurando um quadro de permanência nos ARs.
Uma delas é a dependência dos programas sociais do governo para grande parte das
famílias assentadas e dos cultivos de “subsistência” na perspectiva regular do autoconsumo.
Desse modo, o que temos é a configuração dessa complexidade, com grande dificuldade para
generalizações. O que denota que teríamos que realizar um amplo estudo sobre o cotidiano
dos assentamentos rurais em diversos territórios brasileiros e extrair processos existentes
que possa explicitar o quadro presente e perspectiva do futuro. Ainda mais que os processos
de assentamentos efetivamente não se realizaram qualquer espécie de radicalidade política,
na medida em que a estrutura da propriedade fundiária rural permanece intacta, sendo este
um grande preço que a sociedade brasileira mais pobre enfrenta.
2 – uma segunda e importante questão relaciona-se com a permanência ou até mesmo
da capacidade de realizar mudanças no processo de organização dos ARs e que o apoio dos
programas sociais não explica a “existência” dos assentamentos. Existem outros fenômenos
sociais e econômicos relevantes. Podemos observar a questão da chamada “educação no
campo” e que tem impactado significativamente até mesmo no acesso a tecnologias e na-
turalmente no aumento da produtividade, numa de espécie de “nova geração de agrônomos
da reforma agrária”. Assim, a orientação para a produção orgânica seria um dos maiores
produtos desse longo processo, destoando as abordagens preexistentes da impossibilidade
de continuidade da reforma agrária.
3 – mais um fenômeno relacionado aos ARs é a propensão a organização dos assen-
tados, não apenas na linha da organização política face a expansão de líderes com viés
partidário, isso como força politica mediadora; mas além, o que se observa é o crescimento
de organizações com funções econômicas como as cooperativas dos assentados da reforma
agrária. Mesmo que não seja um processo generalizado nos milhares de assentamentos exis-
tentes no Brasil, a questão do cooperativismo apresenta vigor, particularmente após o papel
da entidade intrinsecamente mais articulada com os ARs – Movimentos dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra – durante a pandemia da covid-19, que se destacou no fornecimento gra-
tuito ou não de alimentos, da expansão dos alimentos orgânicos e maior visibilidade social
da organização. Nosso entendimento é que o MST e os ARs apresentaram forte capilaridade

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durante o período da pandemia e certamente teremos um quadro qualitativo mais positivo
nos próximos anos e estes segmentos do mundo rural brasileiro.
Soma-se também do fato que os “produtos do agronegócio” não tem qualquer rela-
ção com as demandas internas de alimentos, e em especial aquelas destinadas aos mais
pobres. O que desmonta o argumento dos “produtores mais prósperos” que concentram a
renda e a riqueza, face a inserção de tecnologias no processo de produção. O crescimento
da fome em massa nos últimos dois anos no Brasil mostraram essa incapacidade e da tese
da inviabilidade econômica dos agricultores familiares mais pobres não se sustenta no mundo
real. Pelo simples fato: o crescimento das safras do agronegócio é diretamente proporcional a
fome de dezenas milhões de brasileiros ou que estejam em insegurança alimentar. A relação
da tragédia social não tem nada a ver com a destruição dos estoques com financiamento
estatal – a exemplo do desmonte da da CONAB – e que não é absoluto. E sim do descaso
com o financiamento e o fortalecimento da agricultura familiar.
Nesta quadra, a questão das mudanças e permanências dos jovens que residem nos
territórios dos assentamentos, e das contradições que estamos observando em toda a tra-
jetória do cotidiano dos ARs, outros elementos e fatores podem ser inseridos para ampliar
os estudos e debates sobre essa complexa relação e dos destinos desses segmentos que
integram a segunda geração dos assentados.
Para a nossa abordagem, como pesquisa exploratória, entendemos que deve-se inserir
dentro de um quadro complexo em que o país passa pelo acelerado processo de desindus-
trialização e do maior resultado, numa espécie de retorno ao colonialismo em seu modelo
pós-moderno, da inexistência de projeto nacional e da ascensão para uma sociedade de
serviços de baixo rendimento e de baixa qualificação (POCHMANN, 2021).
A primeira questão relaciona-se com a imprecisão da suposta narrativa da tendencia
inexorável da migração de jovens rurais para os centros urbanos em “busca de melhores
condições de vida”. Esta sentença tornou-se um dogma nos temas demográficos sob o
manto da tese do “esvaziamento demográfico rural” e o fim da agricultura familiar. Mesmo
que os dados dos Censos Demográficos de 2006 e 2017, o número de agricultores familia-
res no Nordeste tenha diminuído substancialmente. Ainda assim, o formato desse modelo
de produção ainda é significativo, perfazendo mais de 40% do total dos estabelecimentos
agropecuários no Nordeste.
O que denota que temos um quadro um tanto complexo, quando não observamos esse
fenômeno social como categoria generalista e a configuração de uma espécie de “migração
de retorno’ é cada vez mais forte. Tendo assim um processo social, claro, bem recente e não
devemos desprezar que esse fenômeno poderá ser crescente nos próximos anos.

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Uma segunda questão é a continuidade da unidade de produção como processo de
autossustentação da família dos assentados e da possibilidade de fortalecimento desse mo-
delo de produção aos moldes da agricultura familiar, em um quadro de fortalecimento e de
organização desse modelo coletivo, em especial na questão da constituição de cooperativa
de assentados, como estratégia de superação do velho problema da comercialização de
produtos agrícolas originados do trabalho familiar.
Outra questão é a própria crise brasileira que se arrasta por mais de uma década e
dos processos disruptivos da política brasileira pos-2016. É impressionante o grau de de-
gradação das instituições brasileiras e isso impacta na expectativa e esperança do jovem
brasileiro, E para a juventude rural esse impacto ainda é maior, pelos antecedentes conhe-
cidos como autênticos “invisíveis sociais” e das dificuldades a serem enfrentadas para um
país que há quatro décadas desistiu de um verdadeiro projeto nacional de desenvolvimento.
Daí a continuidade desse processo invisibilizador na qual associamos a formação
escravocrata e autoritária de uma elite atrasada (SOUZA, 2016) e ainda mais para uma
extensa população rural historicamente “esquecida”, humilhada e socialmente desprezada
por esta minoria patrimonialista. Este seria um dos maiores desafios para os mediadores
dos assentamentos da reforma agrária frente a um quadro estrutural e conjuntural da crise
brasileira, com maior força na destruição das políticas públicas voltadas ao mundo rural.
Por outro lado, o futuro dos ARs frente a crise e a necessidade da consolidação da
pequena produção familiar no Nordeste tem como referência central a permanência dos
jovens nos assentamentos. Não necessariamente por uma questão de cumprir e consolidar
a herança familiar de acesso a unidade produtiva, até porque os lotes, em sua esmagadora
maioria, ainda não adquiriram seu domínio legal, restringindo-se apenas ao uso ou usufruto
da terra assentada. Mas também da possibilidade de organizar uma forma de produção,
mas que tenha como lastro central a existência de políticas públicas tendo como base
os jovens rurais.
Neste diapasão, e que se vislumbra amplas possibilidades, mesmo com seus limites, da
relevância da juventude rural como processo de fortalecimento dos assentamentos da reforma
agrária, dando uma nova configuração social e econômica, em que financiamento, tecnologia
produtiva e capilaridade na comercialização de seus produtos devem ser articulados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os estudos em relação ao tema juventude rural nas áreas de assentamentos da refor-


ma agrária precisa ser ampliada e aprofundada, até pela riqueza dos estudos de caso face
a constituição de milhares de ARs em todo país. Ainda mais relevante, quando passamos
por uma longa crise social e econômica que impactam na visão de mundo e na perspectiva

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de futuro dessa importante fração demográfica, quando enfrentamos dilemas de natureza
subjetiva e de certa forma, material; colocando em grande encruzilhada da sobrevivência
dos próprios assentamentos.
Acreditamos que o quadro estrutural da sociedade e da economia brasileira nas ultimas
décadas sinaliza da impossibilidade de “fecharmos os assentamentos”, até porque já existe
uma infraestrutura razoável, como estradas vicinais, escolas, posto de saúde e benefícios
de programas sociais como o Auxilio Brasil (Bolsa Família) e do papel das aposentadorias
como principal fonte de renda das famílias assentadas e que influencia diretamente na per-
manência dos descendentes.
Desse lado, a concepção economicista afirma esse “desaparecimento das unidades
produtivas” fundamentada em que as famílias rurais, para a constituição da renda, não têm
relevância no que se refere às atividades da agricultura, atividade agora secundarizada.
Apesar da afirmação ser verdadeira, nossa presunção estaria em que a renda dessas fontes
não-agrícolas teria um papel estratégico na permanência dos jovens face ao desemprego
urbano ou da oferta de trabalho de baixos rendimentos. Claro, o desafio estaria na implan-
tação de “políticas públicas produtivas”, e não com políticas compensatórias. Portanto, a
questão é complexa e pela diversidade dos casos, heterogênea.

REFERÊNCIAS
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FILHO, J.E; NAVARRRO, Zander (orgs.) A agricultura brasileira: desempenho,
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pobres ainda tem alguma chance como agricultores? in A pequena produção rural e
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Brasília: EMBRAPA – Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, 2013.

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agrária. Porto Alegre: editora da UFRGS, 2003.

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Neide e LEITE, Sérgio Pereira. Assentamentos Rurais: uma visão multidisciplinar.
São Paulo: editora da UNESP, 1995, 329 páginas.

8. PICCIN, Marcos Botton. ASSENTAMENTOS RURAIS E GERAÇÃO DE RENDA: posi-


ção social restringida, recursos socioculturais e mercados. Campinas: Revista Econo-
mia e Sociedade. V. 21, n. 1. (44), p. 115-141, abr.2012. file:///E:/Assentamentos%20
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Acesso em 05/08/2022.

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11. SANTOS, Ana Caroline Trindade. Juventude Rural e Permanência no Campo: um


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Dissertação de Mestrado. 2009. 106 pp.

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14. SOUZA, Bruno Lacerda e SIMONETTI, Miriam Lourenção. Juventude Rural: a cons-
trução de um conceito. https://www.uniara.com.br/legado/nupedor/nupedor_2014/Ar-
quivos/02/2A/9_Bruno%20Lacerra.pdf. Acesso em 25 de agosto de 2022.

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05
A rede urbana nos biomas brasileiros e o
papel das florestas urbanas como mitigação
das mudanças climáticas

Cleir Ferraz Freire


Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL

Paulo Augusto Zaitune Pamplin


Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL

'10.37885/220910073
RESUMO

As mudanças climáticas devem impor desafios de adaptação às cidades e as florestas


urbanas tem um papel fundamental para atenuar os efeitos deletérios destas mudanças,
entretanto, os serviços ambientais das florestas urbanas podem ser otimizados caso sejam
consideradas as projeções das mudanças climáticas para o bioma no qual o centro urbano
está inserido. Neste trabalho foi traçado um perfil de porte das cidades para os biomas bra-
sileiros e suas zonas de transição e também apontando centros de referência importantes
por porte ou influência local, destacando os serviços ambientais que as florestas urbanas
podem trazer para estes centros. Para a Amazônia será necessário melhorar arborização nas
cidades para amenizar o calor e manter áreas de preservação de corpos hídricos urbanos
maiores que a legislação. Na Caatinga e no Cerrado as florestas urbanas têm o papel de
amenizar o calor e preservar corpos hídricos para evitar perdas excessivas, considerando
a projeção de desertificação da caatinga e secas prolongadas no Cerrado. O crescimento
das cidades médias na Mata Atlântica sudeste e a formação de regiões metropolitanas faz
com que as florestas urbanas tenham papel de reduzir os impactos de deslizamentos e en-
chentes, mesmos problemas projetados para a porção setentrional deste bioma. No Pampa
as florestas urbanas serão importantes na manutenção da integridade dos solos e na re-
gulação dos corpos hídricos. No Pantanal as florestas urbanas têm o importante papel de
amenizar o calor e a seca no microclima urbano e servir como filtro para fumaça produzida
pelas queimadas constantes da estação seca.

Palavras-chave: Bioma, Mudanças Climáticas, Cidades, Florestas Urbanas, Adaptação.


INTRODUÇÃO

As mudanças climáticas são o grande desafio do século, não apenas pelos acordos
internacionais de redução de emissões, mas também pela urgência de medidas para conter
seus efeitos deletérios. Enquanto ações relativas à mitigação são objeto de acordos interna-
cionais e sistematizadas em relação a metodologias, mesmo que ainda alvo de acaloradas
discussões, as adaptações ainda carecem de metodologias mais explícitas, pois exigem
pesquisas e soluções relacionadas às questões regionais e locais e os efeitos deletérios
observados da emergência climática nos mostram a urgência desta questão. Entender es-
tas especificidades é mister para uma política de redução de danos e em uma visão mais
otimista, tirar proveito de efeitos que podem ser positivos (FREIRE, PAMPLIN, 2022).
Esta política de redução de danos exige, entretanto, projeções climáticas acuradas, pois
o aumento da temperatura, ainda que em pequena escala, interfere em todos os processos
relacionados ao clima, em especial o regime de precipitação, sendo estes dois fatores, por
sua vez, determinantes para a vegetação, a qual define as características de um bioma,
unidade alvo dos estudos de projeções de mudanças climáticas (NOBRE, 2004).
Salazar, 2019, conclui que os modelos climáticos globais apontam para cenários climáti-
cos futuros de aumento da temperatura superficial de 2 a 4°C na América do Sul, no entanto,
quanto à precipitação, ainda não há consenso em relação às anomalias para a Amazônia e
o nordeste brasileiro e a distribuição dos biomas poderá ser afetada pela combinação dos
impactos das mudanças climáticas e do uso da terra, que juntos podem levar o sistema à
savanização de partes da Amazônia e desertificação do Nordeste.
Embora ainda haja muita incerteza em relação às projeções para os biomas brasilei-
ros, os estudos demonstram que as mudanças climáticas indicam aumento de temperatura
média em todos os biomas brasileiros, em diferentes graus e diminuição de chuvas na
Caatinga, Amazônia, Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica NE e aumento nos Pampas e Mata
Atlântica SE (PAINEL BRASILEIRO DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS, 2014), mudanças estas
que devem trazer problemas nas cidades, já muito susceptíveis a qualquer fenômeno natural,
devido a baixa resiliência deste meio tão modificado.
Embora as cidades contribuam para as mudanças climáticas de forma indireta, sofrem
os efeitos de forma direta, na maioria das vezes no formato de desastres. No Brasil, as aglo-
merações urbanas sofreram grande pressão de crescimento, especialmente nos últimos 30
anos. Dados do INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA indicam que a
população urbana brasileira deve chegar aos 86% em 2030. Tal crescimento, juntamente com
condições de baixa renda, ineficiência do poder público, distribuição caótica de terras, entre
outros fatores, determinou um desordenamento territorial e uma informalidade das cidades
que resulta em problemas que vão muito além de destruição e pressão sobre a infraestrutura.

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Desastres ceifam vidas, acidentes contaminam os recursos naturais e má gestão de resíduos
abre as portas para problemas de saúde pública e mais desastres (FREIRE, 2022).
Um elemento importante nas cidades como incremento de sua resiliência é a arboriza-
ção urbana e as áreas verdes, hodiernamente chamado de floresta urbana, devido a mudança
de visão do elemento árvore, de individual para coletivo, agregando com isto, também, os
demais componentes verdes que integram a totalidade urbana (GONÇALVES, 2000).
Os benefícios indiretos que as florestas oferecem ao homem são de grande valor, pois
têm forte influência sobre a qualidade da água, do ar, do solo e das paisagens, permitindo
que as comunidades desenvolvam saudáveis momentos de recreação e lazer, além de exer-
cerem influência direta sobre o clima, provocando variações na temperatura do ar, atuando
e definindo as médias, máximas e mínimas, as diferenças entre as temperaturas máximas
e mínimas diárias, mensais e nos diferentes períodos do ano, influenciando diretamente na
umidade relativa do ar e na transpiração e na evapotranspiração dos seres vivos. Também
reduzem a velocidade dos ventos, favorecendo a recreação ao ar livre e proporcionando um
perfeito intercâmbio entre o ar puro e poluído (TORRES, 2021).
Assim, em um cenário de mudanças climáticas, por vezes imprevisíveis, o incremento
da resiliência das cidades é essencial para sua sobrevivência como local de habitat humano,
fazendo com que qualquer elemento que colabore para esta resiliência se torne primordial
dentro do contexto, como as florestas urbanas. Entretanto, para que estas forneçam seus
serviços ambientais, em especial aqueles que forneçam resiliência para as mudanças climá-
ticas, é preciso planejar suas dimensões, formas, espécies e todas as características que
as envolvem, assim maximizando seus aspectos positivos, sendo que este planejamento
deve considerar as particularidades locais, em especial o bioma, determinante para um pleno
desenvolvimento do verde urbano.
Este trabalho visa realizar uma discussão acerca do papel e da importância das flo-
restas urbanas sob a ótica dos serviços ambientais que podem colaborar para mitigação
dos efeitos das mudanças climáticas nas cidades brasileiras considerando as projeções
esperadas destas mudanças para os biomas brasileiros.

METODOLOGIA

Para esta análise foram consultados os biomas e a população dos 5570 municípios
brasileiros, além da inserção destes em regiões metropolitanas, pela classificação do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (www.ibge.gov.br).
A população é o fator mais determinante para o tamanho da zona urbana das cidades,
pressionando pela expansão e adensamento destas áreas. Assim, é possível inferir que
quanto maior a população maior a pressão pela urbanização e maior a competição pela

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terra, pressionando pela ocupação de áreas verdes e aumentando os estresses climáti-
cos e a vulnerabilidade do ecossistema urbano, que podem ser mitigados pelos serviços
ecossistêmicos das floresta urbana, sendo os mais importantes para o enfrentamento dos
impactos das mudanças climáticas o aprovisionamento de água potável, a regulação dos
eventos extremos, do clima local da qualidade do ar e da água, da erosão e do sequestro
de carbono (PAINEL BRASILEIRO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS, 2016).
Considerando esta proposição, para cada bioma e zona de transição foi levantado o
número de municípios, que representa a ocupação urbana do bioma, as metrópoles existen-
tes (municípios com mais de um milhão de habitantes), consideradas muito vulneráveis pela
área antropizada, a quantidade de municípios com mais de 100.000 mil habitantes (cidades
médias), que representam áreas em expansão, portanto, com crescente vulnerabilidade e
cidades com menos de 20.000 habitantes (área urbana pequena e isenta de elaboração de
plano diretor), que representam baixa vulnerabilidade, pela pouca área antropizada, e destes,
os inseridos ou não em regiões metropolitanas (interferência de área urbanizada maior), que
representam pequenas partes de grandes áreas urbanizadas mais vulneráveis. As demais
cidades, entre 20.000 e 80.000 habitantes são consideradas como capazes de promover
mudanças estruturais urbanas capazes de aumentar sua resiliência com investimentos em
gestão e planejamento mais modestos. Também foram apontadas como destaques cida-
des, regiões, ou mesmo aglomerações urbanas consideradas importantes pelo porte ou
contexto dentro da rede urbana brasileira pelo trabalho “Regiões de influência das cidades”
(INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA ESTATÍSTICA, 2020).
Os dados foram sistematizados em tabelas para visualização e então elaborada dis-
cussão acerca do papel e da importância das florestas urbanas sob a ótica dos serviços
ambientais que estas podem fornecer nas cidades considerando as projeções das mudanças
climáticas para os biomas no qual se inserem e sob características ambientais relevantes
das metrópoles, cidades médias e centros urbanos de referência nos biomas.
Foi considerado que as pequenas cidades, com menos de 20.000 habitantes ainda
não possuem áreas urbanas com grandes vulnerabilidades ou são subordinadas a políticas
públicas de suas regiões metropolitanas quando nestas inseridas. As cidades entre 20.000
e 100.000 habitantes seguem políticas ambientais das cidades de referência da região e
suas vulnerabilidades são parecidas com as cidades maiores.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Amazônia e zonas de transição com Cerrado e Pantanal

O bioma Amazônia contem 440 municípios dos 5570 do país (7,9% do total) e possui
três importantes metrópoles, Manaus, Belém e São Luís. O bioma possui apenas 26 cidades
médias (5,9% do total das cidades do bioma), predominando as cidades pequenas, de menos
de 20.000 habitantes (53,6% do total das cidades do bioma). Neste bioma se destacam as
cidades de Boa Vista, Rio Branco, Porto Velho e Macapá, por serem capitais de estado, e
também as cidades de Santarém, Tabatinga e Sinop por serem importantes centros regionais.

Tabela 1. Quantidade de municípios, número de metrópoles, número de municípios com mais de 100.000 habitantes,
menos de 20.000 habitantes e destaques urbanos no bioma Amazônia.

Amazônia
Quantidade de Municípios 440
Metrópoles 3
Mais de 100 mil habitantes 26
Menos de 20.000 habitantes 236
Destaques urbanos: Santarém (PA), Tabatinga (AM), Boa Vista (RR), Rio Branco (AC), Sinop (MT), Porto Velho (RO), Macapá (AP)

A zona de transição Amazônia/Cerrado contem 110 municípios dos 5570 do país


(1,97% do total) e não possui nenhuma metrópole. A região possui apenas 3 cidades médias
(2,72% do total das cidades da região). As cidades pequenas, embora representem menor
número em relação ao bioma amazônico, somam 36,4% do total das cidades desta zona de
transição. Nesta zona de transição se destaca a região conhecida como Bico do Papagaio,
que contém três importantes cidades, Imperatriz, no estado do Maranhão, Araguaína em
Tocantins e Marabá, no Pará, esta última considerada em bioma amazônico.

Tabela 2. Quantidade de municípios, número de metrópoles, número de municípios com mais de 100.000 habitantes,
menos de 20.000 habitantes e destaques urbanos na área de transição entre o bioma amazônico e o Cerrado.

Amazônia/Cerrado
Quantidade de Municípios 110
Metrópoles 0
Mais de 100 mil habitantes 3
Menos de 20.000 habitantes 40
Destaque: Bico do Papagaio (Região das cidades de Imperatriz (MA), Marabá (PA) e Araguaína (TO))

A zona de transição Amazônia/Pantanal contém apenas 5 municípios dos 5570 do


país, sendo que somente um com menos de 20.000 habitantes. Foi dado destaque para o
município de Mirassol d’Oeste, o único com mais de 20.000 desta zona de transição.

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Tabela 3. Quantidade de municípios, número de metrópoles, número de municípios com mais de 100.000 habitantes,
menos de 20.000 habitantes e destaques urbanos na área de transição entre o bioma amazônico e o Pantanal.

Amazônia/Pantanal
Quantidade de Municípios 5
Metrópoles 0
Mais de 100 mil habitantes 0
Menos de 20.000 habitantes 1
Destaque: Mirassol D’oeste (MT)

As projeções das mudanças climáticas para a Amazônia apontam menor quantidade


de chuvas e maiores temperaturas, o que deve aumentar o calor amazônico e aumentar as
ilhas de calor das cidades. Paradoxalmente, estas cidades já são marcadas pela escassa
arborização urbana, com florestas urbanas restritas nas bordas na área urbana, represen-
tadas por parques criados em tempos mais recentes.
A cidade de Tabatinga, fronteira do Brasil com o Peru e Colômbia, é um exemplo desta
escassa arborização, que na região é feita somente nos canteiros centrais das avenidas,
onde não há calçadas de circulação, limitando o sombreamento para os transeuntes, con-
trastando, inclusive, com soluções de arborização criativas observadas na cidade vizinha
de Letícia, na Colômbia.
O desmatamento desenfreado que a floresta vem sofrendo deve provocar um processo
de savanização, especialmente na Amazônia oriental, onde se localiza a cidade de Porto
Velho, também com escassa arborização e parques nas franjas da área urbana. A savani-
zação também deve afetar a parte setentrional, onde se localiza Boa Vista, que apesar de
também seguir arborização semelhante, conta com reservas de áreas verdes importantes
em região central, além de contar com amplos espaços de passeios laterais, por ser uma
cidade planejada, podendo incrementar sua área de cobertura vegetal com reduzido conflito
com equipamentos públicos e outros usos urbanos.
Os corpos hídricos desta região apresentam cheias e vazantes marcantes, necessitando
de áreas de preservação maiores nas suas margens para que os serviços ecossistêmicos de
contenção das águas e retenção desta no solo tenham efeito benéfico esperado, sendo que
estas áreas também podem incrementar muito a área de cobertura vegetal. As secas mais
prolongadas podem favorecer queimadas, que por sua vez comprometem a qualidade do ar
e as áreas verdes tem papel preponderante nesta questão, agindo como elemento filtrante.
Na região do Bico do Papagaio a cheia e vazante são marcantes, porém com algum
controle devido aos grandes barramentos, capazes de reter vazão. Uma vegetação resis-
tente a subida e descida das águas seria apropriada nas áreas marginais aos rios. Secas
prolongadas e chuvas volumosas, que devem se agravar com as mudanças climáticas, po-
dem ter seus efeitos mitigados com uma densa rede de arborização urbana, com espécies
adaptadas a estas condições.

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A cidade de Mirassol d’Oeste é a referência para entrada na região turística do pan-
tanal norte, que tem no município de Cáceres sua maior referência. Esta região, bastante
horizontalizada precisa valorizar esta vitrine, também utilizando a arborização para aplacar
o calor e auxiliar na drenagem urbana.
As cidades da Amazônia possuem alto grau de subnormalidade habitacional, assim, os
projetos de urbanização destas áreas precisam considerar a reserva de áreas de preservação
de dimensões superiores às exigidas pelo Código Florestal (BRASIL, 2012). Em especial
na cidade de São Luís, que possui grande variação de maré, deve-se dar prioridade a ve-
getação de mangue, capaz de dissipar energia. Os projetos de urbanização também devem
considerar a ampliação de áreas verdes centrais nas cidades.

Caatinga a zonas de transição com Cerrado e Mata Atlântica

O Bioma Caatinga contem 935 municípios dos 5570 do país (16,78% do total) e apenas
uma metrópole, Fortaleza. A região possui 19 cidades médias (2,03% do total das cidades
do bioma) e grande predominância de pequenas cidades, que somam 86,3% das cidades
do bioma. Foi dado destaque para as cidades de Campina Grande, Juazeiro do Norte e
Sobral e também para o hidropolo Petrolina/Juazeiro, todos importantes polos de desenvol-
vimento regional.

Tabela 4. Quantidade de municípios, número de metrópoles, número de municípios com mais de 100.000 habitantes,
menos de 20.000 habitantes e destaques urbanos para o bioma Caatinga.

Caatinga
Quantidade de Municípios 935
Metrópoles 1
Mais de 100 mil habitantes 19
Menos de 20.000 habitantes 807
Destaques: Campina Grande (PB), Juazeiro do Norte e Sobral (CE), Hidropolo Petrolina/Juazeiro (PE/BA)

A zona de transição Caatinga/Cerrado contem 131 municípios dos 5570 do país (2,35%
do total) e também não possui nenhuma metrópole. A região possui apenas 4 cidades
médias (3,05% do total das cidades da região), sendo marcada pela presença de cidades
com menos de 20.000 habitantes (71% do total das cidades desta zona de transição). Foi
dado destaque para a cidade de Teresina, capital de estado e Montes Claros, Barreiras e
Parnaíba, importantes polos regionais.

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Tabela 5. Quantidade de municípios, número de metrópoles, número de municípios com mais de 100.000 habitantes,
menos de 20.000 habitantes e destaques urbanos na área de transição entre o bioma Caatinga e o Cerrado.

Caatinga/Cerrado
Quantidade de Municípios 131
Metrópoles 0
Mais de 100 mil habitantes 4
Menos de 20.000 habitantes 93
Destaques: Teresina (PI), Montes Claros (MG), Barreiras (BA), Parnaíba (PI)

A zona de transição Caatinga/Mata Atlântica contem 134 municípios dos 5570 do país
(2,41% do total) e também não possui nenhuma metrópole. A região possui 10 cidades mé-
dias (7,46% do total das cidades da região) e a menor porcentagem de cidades pequenas
deste bioma e zonas de transição. Foi dado destaque para a cidade de Natal, capital do
estado do Rio Grande do Norte e os importantes polos regionais de Garanhuns e Caruaru
em Pernambuco e Vitória da Conquista na Bahia.

Tabela 6. Quantidade de municípios, número de metrópoles, número de municípios com mais de 100.000 habitantes,
menos de 20.000 habitantes e destaques urbanos na área de transição entre o bioma Caatinga e a Mata Atlântica.

Caatinga/Mata Atlântica
Quantidade de municípios 134
Metrópoles 0
Mais de 100 mil habitantes 10
Menos de 20.000 habitantes 87
Destaques: Garanhuns e Caruaru (PE), Natal (RN), Vitória da Conquista (BA)

As projeções de mudanças climáticas indicam diminuição do volume de chuvas, o que


pode resultar em desertificação. As cidades de Petrolina, PE e Juazeiro, BA, são exemplos
da dependência das águas para o desenvolvimento e para a economia e contam com grande
modificação da vegetação no entorno, impulsionada pela fruticultura, muito forte na região,
que parecem contribuir para uma mudança climática, mas que ainda carece de estudos.
Como o local atrai população migrante de pequenas cidades próximas, este hidropolo precisa
projetar florestas urbanas, tanto nas áreas em expansão quanto nas consolidadas, já que
contam com escassa arborização e são castigadas por altas temperaturas na maior parte do
ano. Embora as altas taxas de ocupação dos terrenos possa dificultar projetos de arboriza-
ção, estas cidades contam com diversos projetos de requalificação urbana e verticalização,
que devem ter regras para criação e expansão de espaços verdes.
A metrópole de Fortaleza e RM conta com Parques urbanos e também com áreas ver-
des e lazer nas praias, porém precisa de projetos para proteção das águas da transposição
do rio São Francisco, que serão primordiais para segurança do abastecimento urbano de
uma metrópole em constante crescimento, a fim de reduzir perdas de água com evaporação,
situação que deve ser observada para o polo tecnológico de Campina Grande depende de

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açudes para seu abastecimento, com forte dependência de fatores climáticos, não muito
favoráveis em um cenário de projeção com redução de volume de chuvas.
A cidade de Garanhuns também apresenta grande quantidade de açudes, embora
muitos destes de propriedade privada, e a vegetação pode auxiliar para manter os níveis
mais estáveis, pois a região é mais elevada, possui temperaturas mais amenas e se deve
valer destas condições para um conjunto verde urbano característico destas condições, o
que também vale para a cidade de Sobral, próxima de serras. Juazeiro do Norte que tem
seu abastecimento por águas subterrâneas deve planejar suas florestas urbanas visando a
recarga destes aquíferos e embora tenha regiões urbanas mais elevadas, o centro urbano
da cidade está em área baixa e também apresenta temperaturas elevadas, tendo carência
de espécies arbóreas.
As cidades de Teresina, Barreiras e Parnaíba contam com forte presença de corpos
hídricos, e as florestas urbanas estão fortemente localizadas próximas a estas áreas, es-
casseando conforme adensamento urbano e em direção a região central. Nestes centros
cujas projeções climáticas indicam períodos maiores de secas e aumento da temperatura,
a arborização e de calçadas precisa ser valorizada.
Centros como Montes Claros e Vitória da Conquista já não dispõe de corpos hídricos
de grandes dimensões, mas contam com importantes áreas verdes em regiões centrais, as
quais devem ser valorizadas como estabilizador climático. Natal conta com um ecossiste-
ma especial, de dunas, e a vegetação do município deve privilegiar espécies de restinga e
resistentes ao vento constante da RM.

Cerrado e zona de transição Cerrado/Mata Atlântica

O bioma Cerrado contem 770 municípios dos 5570 do país (13,82% do total) e possui
duas metrópoles, Brasília e Goiânia. A região possui 25 cidades médias (3,25% do total das
cidades da região) e alta concentração de pequenas cidades, 88% das cidades do bioma.
Foi dado destaque para as capitais Campo Grande, Cuiabá e Palmas.

Tabela 7. Quantidade de municípios, número de metrópoles, número de municípios com mais de 100.000 habitantes,
menos de 20.000 habitantes e destaques urbanos no bioma Cerrado.

Cerrado
Quantidade de municípios 770
Metrópoles 2
Mais de 100 mil habitantes 25
Menos de 20.000 habitantes 678
Destaques: Campo Grande (MS), Cuiabá (MT), Palmas (TO)

A zona de transição Cerrado/Mata Atlântica abriga 404 municípios dos 5570 do país
(7,25% do total) e possui uma metrópole, Belo Horizonte. A região possui 31 cidades médias

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(7,67% do total das cidades da região) e 69,3% das cidades tem menos de 20.000 habitan-
tes. Foi dado destaque para Itumbiara, no estado de Goiás, em Minas Gerais para a região
conhecida como triângulo mineiro e Passos, Dourados e Três Lagoas, no Mato Grosso do
Sul e região noroeste do estado de São Paulo, entre os rios Tietê e Grande.

Tabela 8. Quantidade de municípios, número de metrópoles, número de municípios com mais de 100.000 habitantes,
menos de 20.000 habitantes, menos de 20.000 habitantes em regiões metropolitanas e destaques urbanos na região de
transição entre o Cerrado e a Mata Atlântica.

Cerrado/Mata Atlântica
Quantidade de municípios 404
Metrópoles 1
Mais de 100 mil habitantes 31
Menos de 20.000 habitantes 280
Destaques: Itumbiara (GO), Região do triângulo mineiro e Passos (MG), Dourados e Três Lagoas (MS) e Região noroeste de SP

O Cerrado domina o interior do país e abriga nascentes das grandes bacias hidrográfi-
cas brasileiras, sendo por isso muito preocupante uma redução dos volumes de precipitação
neste bioma, projetadas nas mudanças climáticas.
As metrópoles deste bioma são exemplos para florestas urbanas, contando com grande
quantidade de áreas verdes por habitante e grandes parques urbanos, o que não impede
Brasília e Goiânia de sofrerem com escassez de água para abastecimento e devem investir
em vegetação para ajudar a mitigar esta questão. As cidades de Cuiabá, Campo Grande e
Palmas, embora não se vislumbre problemas em curto prazo de abastecimento, são cidades
que registram altas temperaturas e períodos prolongados de seca, situações que devem se
agravar e merecem atenção por parte das autoridades, como ampliação de áreas verdes e
lazer e também acesso a elas, além de valorizar áreas de proteção, com especial atenção
a evitar gentrificação de áreas verdes.
Este bioma apresenta um rápido e acelerado crescimento das cidades médias, obser-
vável especialmente no noroeste do estado de São Paulo, sudoeste de Minas Gerais e sul
de Mato Grasso do Sul, impulsionado pelo agronegócio. A marcante estação seca desta
região, projetada para se agravar pelas mudanças climáticas, e já observável nos últimos
anos traz a necessidade de um planejamento de floresta urbana voltada para amenizar
estes efeitos deletérios. Nestes casos uma vegetação com maior capacidade de retenção
de água no solo é desejável.

Mata Atlântica Norte/Nordeste

O bioma Mata Atlântica na porção Norte/Nordeste abriga 335 municípios dos 5570 do
país (6% do total) e possui três metrópole, Salvador, Recife e Maceió. A região possui 24
cidades médias (7,16% do total das cidades da região). As pequenas cidades representam

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61,8% do total deste bioma. Foi dado destaque para as capitais Aracaju e João Pessoa e o
sul da Bahia, Ilhéus, Itabuna e Porto Seguro.

Tabela 09. Quantidade de municípios, número de metrópoles, número de municípios com mais de 100.000 habitantes,
menos de 20.000 habitantes e destaques urbanos no Bioma Mata Atlântica porção Norte/Nordeste.

Mata Atlântica Norte/Nordeste


Quantidade de municípios 335
Metrópoles 3
Mais de 100 mil habitantes 24
Menos de 20.000 habitantes 207
Destaques: Aracaju (RM), João Pessoa (RM), Ilhéus/Itabuna e Porto Seguro (BA)

A Mata Atlântica é um bioma muito diverso em ecossistemas, dificultando comparações


em questões ambientais entre cidades e regiões, tanto na sua porção setentrional quanto
meridional. Porém, na parte setentrional destaca-se a grande região metropolitana que vem
se formando entre Salvador e Natal, formada pela busca de áreas de veraneio. Embora esta
ocupação por si não traga excessivo adensamento, a infraestrutura necessária a ela tem
levado a grandes desmatamentos.
O planejamento de uma vegetação adaptada ao ecossistema de dunas, predomi-
nantes na costa nordestina, é essencial para auxiliar a conter movimentações de solo e
erosões. As maiores oscilações de pluviosidade projetadas pelas mudanças climáticas já
causam estragos nestas cidades, que registram enchentes e inundações constantes. Nestes
casos, a regulação hídrica exercida pela vegetação, especialmente a ciliar, torna-se de ex-
trema importância. Um exemplo são as cidades de Itabuna e Ilhéus, que ocuparam áreas de
extravasamento do rio Cachoeira e agora sofrem com transbordamento deste, entretanto,
estas ocupações são na sua maioria irregulares e podem ser substituídas por vegetação
ciliar, atenuando o problema.
A cidade de Recife se destaca pela sua alta vulnerabilidade representada pela baixa
cota e áreas de foz de rios e também áreas de encosta no entorno e região metropolita-
na. As projeções das mudanças climáticas, com extremos pluviométricos exige um plane-
jamento arbóreo capaz de controlar a rápida movimentação das águas pluviais e reduzir a
energia potencial que estes extremos representam.

Mata Atlântica Sul/Sudeste/Centro-oeste

O bioma Mata Atlântica porção Sul/Sudeste/Centro-oeste abriga 2055 municípios dos


5570 do país (36,89% do total), sendo o bioma com maior número de municípios. Possui
as metrópoles de Campinas, Guarulhos e São Paulo, neste estado, Curitiba, no estado do
Paraná, e a cidade do Rio de Janeiro e São Gonçalo no estado do Rio de Janeiro. A região

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possui 149 cidades médias (7,25% do total das cidades da região) e altíssima predominância
de cidades pequenas, totalizando 94,4% do total.
Foi dado destaque para a região do Vale do Aço em Minas Gerais, região metropolitana
de Vitória no Espírito Santo, região metropolitana da capital e região serrana do estado do
Rio de Janeiro, regiões metropolitanas de Campinas, capital, Vale do Paraíba e litoral norte e
Vale do Ribeira e litoral sul do estado de São Paulo, região metropolitana de Curitiba e norte
do estado do Paraná, região serrana do Rio Grande do Sul, capital e norte de Santa Catarina.

Tabela 10. Quantidade de municípios, número de metrópoles, número de municípios com mais de 100.000 habitantes,
menos de 20.000 habitantes e destaques urbanos no Bioma Mata Atlântica porção Sul/Sudeste/Centro-oeste.

Mata Atlântica Sul/Sudeste/Centro-oeste


Quantidade de municípios 2055
Metrópoles 6
Mais de 100 mil habitantes 149
Menos de 20.000 habitantes 1940
Destaques: Região do Vale do Aço (MG), Região metropolitana de Vitória (ES), Região metropolitana da capital e região serrana (RJ),
Regiões metropolitanas de Campinas, Capital, Vale do Paraíba e litoral norte e Vale do Ribeira e litoral sul (SP), Região metropolitana
de Curitiba e norte (PR), Região serrana (RS), Capital e norte (SC)

A Mata Atlântica Sudeste concentra a maior população do país e também uma grande
diversidade de ecossistemas, fazendo com que os efeitos das mudanças climáticas, aumento
de precipitação e temperatura, tenha efeitos diversos e até antagônicos nos ecossistemas,
entretanto, devido a geomorfologia da região, três problemas se destacam, e já se fazem
sentir, deslizamentos, enchentes e avanço do mar na linha costeira.
Os grandes centros urbanos dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro sofrem com
os extremos pluviométricos, entretanto, a marcante irregularidade urbanística representa
uma oportunidade de planejar espaços mais resilientes, mediante normativos modernos
que conciliem espaços construídos e preservados, situação acentuada nas regiões ser-
ranas e litorâneas destes estados e também no estado de Minas Gerais, com marcante
relevo acentuado.
Todos os centros urbanos deste bioma possuem problemas com a ocupação indevida
de áreas de preservação permanente de corpos hídricos, situação que precisa ser contida
e quando possível, revertida, pois exemplos de reversão deste tipo de ocupação se espa-
lham pelo mundo, bastando uma mudança de paradigma. A cidade de Curitiba se destaca
neste bioma como bom exemplo de respeito à ocupação do solo, podendo servir como
exemplo a ser seguido.
As florestas urbanas neste bioma são particularmente importantes como elemento
dissipador de energia, já que os extremos de pluviosidade devem ser agravados e tam-
bém para evitar ressecamentos de solo nos períodos de seca, que devem se tornar cada
vez mais longos.

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O aumento do nível do mar representa um grande risco neste bioma, pois é densa-
mente ocupado como lazer, com grande impermeabilização do solo. Jardins e vegetação
de restinga auxiliam na estabilização do solo e são primordiais para aumentar a resiliência
destas cidades litorâneas. Os famosos jardins de Santos são um exemplo exitoso na esta-
bilidade destas áreas.
Diante da alta ocupação do solo neste bioma juntamente com o crescimento das cidades
médias e formação rápida de áreas metropolitanas a vegetação considerada privada ganha
extrema relevância, especialmente para minimizar estragos dos extremos de precipitação
esperados nas projeções.

Pampa e zona de transição Mata Atlântica/Pampa

O bioma Pampa abriga 92 municípios dos 5570 do país (1,65% do total) e a metrópole
de Porto Alegre. A região possui 9 cidades médias (9,78% do total das cidades da região)
e 62,3% de cidades pequenas, porcentagem mais baixa que os demais biomas. Foi dado
destaque para as regiões metropolitanas de Porto alegre, litoral sul e litoral norte e as cida-
des de Bagé e Uruguaiana, importantes centros regionais.

Tabela 11. Quantidade de municípios, número de metrópoles, número de municípios com mais de 100.000 habitantes,
menos de 20.000 habitantes e destaques urbanos no Bioma Pampa.

Pampa
Quantidade de municípios 93
Metrópoles 1
Mais de 100 mil habitantes 9
Menos de 20.000 habitantes 58
Destaques: Regiões metropolitanas de Porto alegre, litoral sul, litoral norte e as cidades de Bagé e Uruguaiana

A zona de transição Mata Atlântica/Pampa 140 municípios dos 5570 do país (2,51%
do total). Não possui metrópoles. A região possui apenas 5 cidades médias (3,57% do total
das cidades da região) e 85% das cidades possuem menos de 20.000 habitantes. Foi dado
destaque para os municípios de Gravataí, Passo Fundo e Santa Maria, os mais populosos
e centros de referência da região.

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Tabela 12. Quantidade de municípios, número de metrópoles, número de municípios com mais de 100.000 habitantes,
menos de 20.000 habitantes e destaques urbanos na zona de transição entre a Mata Atlântica e o Pampa.

Mata Atlântica/Pampa
Quantidade de municípios 140
Metrópoles 0
Mais de 100 mil habitantes 5
Menos de 20.000 habitantes 119
Destaques: Cidades de Gravatai, Passo Fundo e Santa Maria (RS)

O Pampa possui apenas uma metrópole, Porto Alegre, que embora tenha resiliência
urbano-ambiental, sofre com extremos de temperatura, que deverão ser agravados com as
mudanças climáticas, e a vegetação urbana deve ser usada para atenuar este problema, com
formação vegetal ao longo da orla e incremento especialmente na região central da cidade.
As projeções de aumento de pluviosidade para este bioma devem agravar problemas de
alagamentos. A região leste do bioma já apresenta este problema, derivados de retificações
de arroios, como no município de Pelotas. Na região ocidental do bioma o solo naturalmente
arenoso pode trazer consequências de erosões devido ao aumento de chuvas com maior
energia potencial, sendo imprescindível a formação de florestas urbanas para proteção do
solo e redução desta energia.
Em formações de florestas urbanas deste bioma é comum o uso de uma vegetação
mais arbórea que o ambiente natural pristino apresentava, o que se observa ser vantajoso,
especialmente nos centros urbanos, que podem contar com mais serviços ecossistêmicos
que uma vegetação mais densa proporciona.

Pantanal e Transição Pantanal/Cerrado

O bioma Pantanal e a zona de transição Cerrado/Pantanal abriga 17 municípios dos


5570 do país (0,31% do total) e não possui metrópole. A região possui 2 cidades médias
(11,76% do total das cidades da região) As cidades pequenas são 76,5%. Foi dado desta-
que para as cidades de Corumbá e Aquidauana em Mato Grosso do Sul e Rondonópolis e
Cáceres em Mato Grosso, as maiores da região e centros de referência.

Tabela 13. Quantidade de municípios, número de metrópoles, número de municípios com mais de 100.000 habitantes,
menos de 20.000 habitantes e destaques urbanos no Bioma Pantanal e transição com o Cerrado.

Cerrado/Pantanal
Quantidade de municípios 17
Metrópoles 0
Mais de 100 mil habitantes 2
Menos de 20.000 habitantes 13
Destaques: Cidades de Corumbá e Aquidauana (MS) e Rondonópolis e Cáceres (MT)

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As projeções de mudanças climáticas para o Pantanal são ainda muito incertas, por
este bioma apresentar características muito específicas e peculiares, mas alguns efeitos
já podem ser observados, como secas mais prolongadas, causa de aumento de incêndios,
naturais ou provocados. Nestas condições, as florestas urbanas tem papel fundamental com
filtro de ar, devido a fumaça que invade as cidades.
Nas áreas periurbanas, a manutenção da umidade no solo também é um serviço
ecossistêmico muito desejável para evitar possíveis queimadas mais próximas às cidades,
e amenizar as altas temperaturas da região um serviço que pode ser alcançado com uma
arborização robusta e valorizando áreas privadas nas regiões centrais.

CONCLUSÕES

Os efeitos deletérios das mudanças climáticas projetados para os biomas brasileiros


podem ser amenizados nas cidades pelas florestas urbanas, aumentando seu poder de
resiliência, entretanto, será necessária uma reversão de políticas públicas e de modelos
de expansão urbana. As recentes mudanças do Código Florestal permissivas à ocupação
de áreas de preservação permanente em margens de corpos hídricos urbanos é particu-
larmente nociva e deverá aumentar os problemas já existentes que serão agravados pelas
mudanças climáticas.
Para a Amazônia será necessário melhorar arborização nas cidades para amenizar o
calor e manter áreas de preservação de corpos hídricos urbanos maiores que a legislação,
devido as longas cheias. Na Caatinga e no Cerrado as florestas urbanas têm o importante
papel de amenizar o calor e preservar corpos hídricos para evitar perdas excessivas deste
recurso, considerando a projeção de desertificação da caatinga e secas prolongadas no
Cerrado. Na Caatinga deve-se dar atenção especial aos centros de referência, que são des-
tinos dos migrantes das pequenas cidades do bioma, enquanto que no Cerrado a atenção
deve ser dada às cidades médias, que mais crescem no bioma.
Este crescimento das cidades médias também é observado na Mata Atlântica sudeste
como também a formação de regiões metropolitanas, fazendo com que as florestas urbanas
tenham papel fundamental no planejamento integrado, ajudando a reduzir os impactos das
mudanças climáticas neste bioma, que deve agravar problemas de deslizamentos e enchen-
tes, mesmos problemas projetados para a porção setentrional deste bioma, onde as florestas
urbanas devem ser planejadas para além da mitigação dos deslizamentos e enchentes tam-
bém na manutenção da integridade dos solos, função importante também no Pampa, onde
as florestas urbanas também devem proteger e regular os corpos hídricos. No Pantanal as
florestas urbanas têm o importante papel de amenizar o calor e a seca no microclima urbano
e servir como filtro para fumaça produzida pelas queimadas constantes da estação seca.

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Em cidades médias e metrópoles os projetos de requalificação urbana podem ser uma
excelente oportunidade para aumentar áreas de florestas urbanas em ambiente urbano
consolidadas, pois ocupações irregulares se situam em áreas ambientalmente frágeis e que
não devem ser ocupadas.

REFERÊNCIAS
1. BADIRU, Ajibola Isau. PIRES, Maria Aparecida. RODRÍGUEZ, Ana Cristina Machado.
Método para a Classificação Tipológica da Floresta Urbana visando o Planeja-
mento e a Gestão das Cidades. Disponível em: http://marte.sid.inpe.br/col/ltid.inpe.
br/sbsr/ 2004/11.17.14.54/doc/1427.pdf

2. BRASIL. Lei nº 12.651. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera as Leis nº
6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22
de dezembro de 2006; revoga as Leis nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754,
de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória nº 2.166-67, de 24 de agosto de 2001;
e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, ano CXLIX, no 102,
página 1. 28 de maio de 2012.

3. FREIRE, Cleir Ferraz, PAMPLIN, Paulo Augusto. Mudanças climáticas nos biomas
brasileiros e impactos nas cidades. XI Congresso brasileiro de direito urbanístico.
2022.

4. GONÇALVES, W. Florestas urbanas. Ação Ambiental, v. 2, n. 9, p. 17-19. 1999-2000.

5. IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA ESTATÍSTICA. https://cidades.ibge.


gov.br/ Acessado em: 20 de julho de 2002

6. IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA ESTATÍSTICA. Regiões de influ-


ência das cidades. Rio de Janeiro. IBGE. 2020. 192 p.

7. PBMC. Mudanças climáticas e cidades. Relatório especial do Painel brasileiro de


Mudanças climáticas [Ribeiro, S.K., santos. A.S. (Eds)] PBMC COPPE – UFRJ. Rio
d e Janeiro, Brasil. 2016. 116 p. ISBN: 978-85-285-0344-9.

8. PBMC. Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas Base científica das mudanças


climáticas. [Ambrizzi, T., Araujo, M. (eds.)]. COPPE. Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2014. 464 pp. ISBN: 978-85-285-0207-7

9. SALAZAR, Luis; NOBRE, Carlos; OYAMA, Marcos. Consequências das mudanças


climáticas nos biomas da américa. do sul. Disponível em: http://mtc-m16b.sid.inpe.
br/ col/sid.inpe.br/mtc-m15@80/2006/11.14.16.11/doc/Salazar.Consequ%EAncias.pdf

10. TORRES, Vladimir. Arborização urbana ou floresta urbana?. XIV congresso de eco-
logia do brasil. 2021. (Congresso Online).

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Ativos territoriais e governança territorial:
um relato da experiência francesa de
desenvolvimento territorial

Adriana Marques Rossetto


Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Artigo original publicado em: 2019


IGEPEC, TOLEDO, v. 23, p. 71-88.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/220809858
RESUMO

O estudo sobre desenvolvimento territorial no Brasil tem demandado reflexões sobre as


potencialidades e limites da especificação de ativos territoriais como elemento de suporte, e
mesmo de protagonismo, desse processo. Partindo da premissa de que a existência de ativos
territoriais por si só não garante níveis adequados de desenvolvimentos, faz-se necessário
pensar um conjunto de outros aspectos inter-relacionados entre os quais os níveis de gover-
nança e de participação dos atores nas escalas local/regional. Desta forma, apresenta-se um
relato sobre a experiência francesa de dinamização de territórios através de suas políticas
e dos movimentos que sustentam e fortalecem o modelo de desenvolvimento apoiado em
ativos territoriais. Identifica-se na experiência grande potencial dos ativos territoriais como
desencadeadores de processos de desenvolvimento quando associados a níveis elevados
de governança territorial, a políticas governamentais direcionadas, a identidades territoriais
fortes e valorizadas em processos culturais consolidados, a senso de coletividade e respeito
ao meio ambiente.

Palavras-chave: Ativos Territoriais, Desenvolvimento Urbano e Regional, Gover-


nança Territorial.
INTRODUÇÃO

A discussão sobre desenvolvimento tem encaminhado para a defesa de inúmeras


práticas que, alinhadas ao paradigma econômico dominante do último século, se revelam
pouco eficazes para o alcance de condições socioambientais menos adversas (ASCERALD,
2010, 2004; SAMPAIO, 2009; BARBOSA, 2008; ROSSETTO; ROSSETTO; JOHNSON,
2008; JACOBI, 2006; SILVA, [2004]). Extrapola-se aqui a questão dos impactos sobre os
ecossistemas em relação aos elementos naturais, incluindo nesta reflexão a segregação
social, muitas vezes proveniente do próprio processo de desenvolvimento desencadeado, em
última instância, em busca de melhores condições de vida para as populações envolvidas.
Nos processos de construção dos espaços urbanos e regionais em suas diversas es-
calas, fatores como relações de poder e multiplicidade de agentes e atores envolvidos e com
capacidade decisória e autonomia de ação e incapacidade por parte dos agentes públicos e
privados1 de controle sobre todas as variáveis envolvidas, interferem direta e indiretamente
sobre suas configurações. A combinação destes fatores resulta em melhores ou piores formas
de tratamento e conservação dos ecossistemas naturais e maiores ou menores disparidades
no acesso das pessoas aos benefícios destes processos (COBOS, 2014; NARCISO, 2014;
BOLLMANN; GASPERIN; DUARTE, 2013; ZEPF, 2009; FREY, 2007).
Mesmo que nas últimas décadas já não se perceba a ideia de crescimento econômico
de forma tão unívoca como sinônimo de desenvolvimento, ela ainda tem se mantido, para
muitas áreas do conhecimento, como premissa central destes processos (ROSSETTO;
FILIPPIM, 2008; ROSSETTO; FILIPPIM; JOHNSON, 2012; DUPAS, 2008; PECQUEUR,
2009; BAUMGARTEN, 2002). Talvez este olhar ainda um tanto míope sobre os fatores que
desencadeiam processos de desenvolvimento efetivo e como estes se rebatem nos territórios,
resultando diferentes modelos de urbanização e de apropriação dos espaços, não permita
ações mais efetivas voltadas à sustentabilidade socioambiental.
Somado a esta forma de compreender o desenvolvimento, as atuais demandas por
inovação e inserção indistinta dos territórios aos processos de globalização, têm contribuí-
do para a desvalorização e perda de identidades locais e para a subutilização dos ativos
territoriais como parte inerente do desenvolvimento territorial. Mesmo com a multiplicidade
de fatores envolvidos nesta problemática, um recorte específico parece oportuno neste mo-
mento em que paradigmas importantes começam a ser questionados, em especial os que
se refletem nas atuais formas de relacionamento do homem com a natureza e do homem
com o homem, em seu aspecto territorial (ASCERALD, 2010, 2004; MICOUD, 2010, 2008,

1 Dependendo qual deles detém a liderança do processo ou mesmo do grau de governança estabelecido.

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2004; SAMPAIO, 2009; JACOBI, 2006). Neste sentido, os processos de desenvolvimento
territorial e os processos de urbanização materializam esta problemática em um espaço de-
terminado, evidenciando características específicas de cada processo que o individualizam
e ao mesmo tempo o generalizam.
Surgem então algumas dinâmicas que precisam ser mais bem compreendidas a fim de
ampliar a capacidade de articulação e de intervenção dos atores e agentes destes espaços,
sejam rurais ou urbanos. Entre elas, a capacidade de resiliência dos territórios e sua gover-
nança (DALLABRIDA et al, 2015; CANÇADO; TAVARES; DALLABRIDA, 2013; OLIVEIRA,
2013; PATO; PEREIRA, 2013; FREY, 2007; FERREIRA; MOREIRA, 2000), em especial
através da forma como são potencializados seus ativos territoriais, ou também nominados
de “signos distintivos territoriais”, para desencadear processos de desenvolvimento territorial.
Este se constitui no foco de interesse da reflexão aqui proposta.
A necessidade de compreensão sobre as potencialidades e limites da especificação de
ativos territoriais como estratégia de desenvolvimento (local, regional, territorial) a partir de
múltiplas configurações socioeconômicas construídas em diferentes locais, tem alimentado
os estudos de pesquisadores de diversas áreas do conhecimento (DALLABRIDA, 2015,
2014, 2012, 2011; RAMOS; ROSSETTO, 2015; FIRKOWSKI; MOURA, 2014; CÉLÉRIER;
SCHIRMER, 2013; CHAMPREDONDE, 2011; FROEHLICH; DULLIUS, 2011; NIEDERLE,
2011; SACCO DOS ANJOS; CALDAS, 2010; HINNEWINKEL, 2004), descortinando novos
horizontes a serem reconhecidos e investigados.
Percebe-se que a estrutura de formação dos territórios os direciona para distintas for-
mas de organização e que há um forte indicativo de que aspectos de governança e/ou da
capacidade de resiliência sejam determinantes em seus resultados. Ou seja, a existência
de ativos territoriais em determinado espaço não garante por si só que este se desenvolva
ou que, mesmo alcançando determinado grau de desenvolvimento, apresente equilíbrio em
relação aos aspectos socioambientais, permitindo a elevação da qualidade de vida de forma
generalizada às populações envolvidas.
Existem experiências já implementadas em diversos lugares e com histórico bastante
longo, entretanto, a busca pelo entendimento das dinâmicas e das relações que se esta-
belecem a partir delas, suas potencialidades de transformação e seus impactos, de forma
interescalar e multidimensional é mais recente (RAMOS; ROSSETTO, 2015; FIRKOWSKI;
MOURA, 2014; CÉLÉRIER; SCHIRMER, 2013; FROEHLICH; DULLIUS, 2011; SACCO DOS
ANJOS; CALDAS, 2010; HINNEWINKEL, 2004). O interesse em identificar e compreender o
papel dos diferentes atores e agentes e que resultam nas diferentes formas de governança
e de resiliência destes territórios, que se moldam a partir dessas ou potencializam essas

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configurações, motivou a investigação e o relato da experiência francesa de dinamização
de territórios a partir de seus ativos territoriais.
Desta forma, apresenta-se a seguir de forma sintética a experiência francesa na demar-
cação de ativos territoriais e alguns aspectos de suas políticas e movimentos que sustentam
e fortalecem o modelo de desenvolvimento neles apoiados.

A EXPERIÊNCIA FRANCESA NA DEMARCAÇÃO DE ATIVOS TERRI-


TORIAIS

Oficialmente, a apelação de origem2 constitui a denominação de um país, de uma re-


gião ou de uma localidade que serve para designar um produto que ali obrigatoriamente tem
sua origem e da qual a qualidade ou as características são relacionadas ao meio geográfico
compreendendo os fatores naturais e humanos.
Foi historicamente por lutar contra a fraude que se constituiu progressivamente, desde o
início do século XX (lei de 1905) o conceito de Apelação de Origem. Colocada em prática em
1919, a AOC é um instrumento jurídico que protege a denominação de um produto. O INAO
representa a autoridade competente em matéria de AOC e neste sentido é responsável
pela defesa dos produtos que se beneficiam com a obtenção da certificação que é obtida
através de um procedimento único. O requerente não pode nunca ser uma pessoa jurídica
ou uma empresa privada, sendo que a proposta deve ser encaminhada por um conjunto de
produtores, reunidos em um sindicato que defenderá a futura demarcação (INAO, [2016?]).
Ainda segundo o Instituto, a proposta deve conter as razões que motivam a demanda
da AOC, a prova do uso do nome e da notoriedade do produto e a demarcação do terroir
do produto a partir da apresentação de fatores naturais, técnicos e humanos que conferem
ao produto seu caracteres. A proposta é então submetida aos comitês que trabalham com
o tipo de produto, regional e depois nacional, que decide sobre o reconhecimento ou não
de uma nova apelação de origem. Uma vez reconhecida a apelação a proposta tramita no
Ministério de Agricultura e Finanças a fim de ser homologado por decreto ou anulado.
Em 1935, a partir de um decreto-lei relativo à defesa do mercado de vinho, o governo
francês oficializa e implementa as Apelações de Origem Controladas (AOC) e o organismo
encarregado de sua definição, de sua proteção e de seu controle o INAO.
A política francesa de valorização de produtos agrícolas inspirou a elaboração de uma
regulamentação europeia, que, desde 1992, estabelece as regras relativas à proteção de
apelações de origem e das indicações geográficas. Depois de 1 de maio de 2009, a AOP

2 A Apelação de Origem Controlada (AOC) é controlada pelo INAO (L’appellation d’origine contrôlée).

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figura sobre todos os produtos europeus os quais a produção, a transformação e a elaboração
são realizadas em uma zona geográfica determinada segundo um “savoir-faire” reconhecido
e especificações definidas e específicas. A AOP é um signo europeu que protege o nome do
produto em toda a União Europeia. A Apelação de origem controladas (AOC), que designa os
produtos que respondem aos critérios da AOP, constitui uma etapa da AOP e permite uma
proteção da denominação sobre o território francês, enquanto aguardam seu registro e sua
proteção ao nível europeu. No setor vitivinícola, a AOC constitui igualmente uma menção
de tradição (INAO, [2016?]).
Outra forma de certificação é a denominada Indicação Geográfica Protegida (IGP) que
identifica um produto agrícola, bruto ou transformado, o qual possui qualidade, reputação ou
outra característica ligada a sua origem geográfica. A IGP se aplica aos setores agrícolas,
agroalimentares e vinícolas.
Para obter esta certificação ligada à qualidade e à origem (SIQO), ao menos uma das
etapas seja a produção, a transformação ou a elaboração destes produtos devem ocorrer
dentro das áreas geográficas demarcadas. Para o vinho, todas as operações realizadas de-
pois da colheita da uva até o fim do processo de elaboração do vinho devem ser realizadas
dentro da zona considerada.
A IGP é relacionada a um “saber-fazer” (savoir-faire). Ela não se cria, ela consagra
uma produção existente e lhe confere então uma proteção em escala nacional e mesmo
internacional. Ela pode ser baseada na reputação do produto, que se entende como um
forte reconhecimento pelo público em um dado momento, e que deve ser associado a um
saber-fazer ou a uma determinada qualidade atribuída a origem geográfica. As regras de
elaboração de um produto certificado por uma IGP são descritos em um caderno de espe-
cificações com procedimentos de controle implementado por um organismo independente
aceito pelo INAO.
Em 2017, 140 produtos tinham registro de IGP na França, sendo que destes 74 eram vi-
nhos (1/3 da produção francesa de vinho está sob registro de IGP) e 2 eram cidras. Ou seja, a
IGP é uma certificação cujo setor mais fortemente inserido é o setor vitivinícola (INAO, 2017).
Ainda, a Especialidade Tradicional Garantida (STG) corresponde a um produto no qual
as qualidades específicas estão ligadas a uma composição, ao método de fabricação ou
de transformação fundados em uma tradição. A particularidade da STG se define por dois
elementos distintos e muito ligados: a especificidade e o aspecto tradicional. Visa definir a
composição ou o modo de produção tradicional de um produto, no entanto estes não preci-
sam ter necessariamente ligação com sua origem geográfica.
A STG resulta de uma utilização, de um saber-fazer, de uma prática antiga, típica,
particularmente nacional, regional ou local mais que pode ser realizada fora do país ou da

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região de procedência ou de fabricação do produto. Não se aplica a não ser a produtos ou
alimentos. As regras de elaboração de uma STG estão inscritas em um caderno de especi-
ficações e com procedimentos de controle implementado por um organismo independente
aceito pelo INAO.
Outros rótulos regulamentados são o rótulo vermelho que designa produtos que por
suas condições de produção ou de fabricação possuem um nível de qualidade superior em
relação aos outros produtos similares habitualmente comercializados.
E a agricultura Biológica que é um modo de produção que alia boas práticas ambientais,
o respeito pela biodiversidade, a preservação dos recursos naturais e a segurança de um nível
elevado de bem estar animal. Toda a cadeia produtiva, os operadores engajados no modo
de produção e de transformação biológica respeitam um caderno de especificações rigoroso
que privilegia os procedimentos não poluidores, respeitosos dos ecossistemas e dos animais.
Alguns textos que regulam as certificações são apresentados no Quadro 1.

Quadro 1. Certificações que regulam as AOPs.

AOP/IGP/STG Código rural e da pesca marítima, artigos R.641-1 aa R.641-10


Regulamento (UE) n° 1151/2012 do Parlamento relativo ao sistema de qualidade apli-
cado aos produtos agrícolas e aos alimentos
AOP/IGP/STG agroalimentares Regulamento de execução (UE) n° 668/2014 da Comissão de 13 junho 2014 contendo
modalidade de aplicação do regulamento (UE) n° 1151/2012 do Parlamento relativo ao
sistema de qualidade aplicado aos produtos agrícolas e aos alimentos
Regulamento (UE) n° 1308/2013 contendo a organização comum do mercado de pro-
AOP/IGP Vinícolas
dutos agrícolas (produtos vitivinícolas)
Regulamento (CE) n° 110/2008 do Parlamento europeu e do Conselho de 15 de janeiro
2008 concernente à definição, à designação, à apresentação e à proteção das indicações
geográficas de bebidas alcóolicas e revoga o regulamento (CEE) n. 1576/89 do Conselho
IG alcóolicas Regulamento (UE) n°716/2013 da comissão de 25 de julho 2013 contendo modalidade
de aplicação do regulamento (CE) n°110/2008 do Parlamento europeu e do Conselho
concernente à definição, à designação, à apresentação e à proteção das indicações
geográficas de bebidas alcóolicas
Fonte: Elaboração própria a partir de INAO ([2016?], 2017) e Ministère de L‘Agriculture e de la Santé (2017).

A partir de 4 de janeiro de 2016 o símbolo AOP da União Europeia deve figurar sobre
a etiqueta dos produtos certificados (somente os vinhos são autorizados a portar o selo da
Apelação de Origem Controlada Francês (AOC), a fim de trazer mais segurança e informa-
ção ao consumidor.
Em conjunto AOP e IGP, em 2017, haviam 190 demarcações de ativos territoriais, com
movimentação de mais de 26 bilhões de euros (INAO, 2017), sem contar com as demais
certificações. Estas formas de demarcações territoriais se articulam em sua maioria com a
lógica e o incentivo aos “circuitos curtos” (CC), como redes alimentares alternativas (alter-
native food networks – AFNs), conceitos apresentados no próximo item.
No Quadro 2, apresenta-se a listagem de produtos certificados na França por categoria.

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Quadro 2. Listagem de produtos certificados na França por categoria.

Os queijos e outros produtos derivados do leite AOC / AOP


Les fromages frais  Brocciu Corse ou Brocciu.
Les pâtes molles à croûte fleurie  Brie de Meaux, Brie de Melun, Camembert de Normandie, Chaource, Neufchâtel.
Époisses, Langres, Livarot, Maroilles ou Marolles, Mont d’Or ou Vacherin du Haut-Doubs, Munster,
Les pâtes molles à croûte lavée 
Pont-l’Évêque.
Bleu d’Auvergne, Bleu de Gex Haut-Jura ou Bleu de Septmoncel, Bleu des Causses, Bleu du Vercors-
Les pâtes persillées 
-Sassenage, Fourme d’Ambert, fourme de Montbrison, Roquefort.
Cantal ou Fourme de Cantal ou Cantalet, Laguiole, Morbier, Ossau-Iraty, Reblochon ou Reblochon de
Les pâtes pressées non cuites 
Savoie, Saint-Nectaire, Salers, Tomme des Bauges.
Les pâtes pressées cuites  Abondance, Beaufort, Comté.
Chabichou du Poitou, Charolais, Crottin de Chavignol, Chevrotin, Banon, Mâconnais, Pélardon, Picodon,
Les fromages de chèvres  Pouligny Saint-Pierre, Rigotte de Condrieu, Rocamadour, Sainte-Maure de Touraine, Selles-sur-Cher,
Valencay.
Beurres  Beurre de Charentes-Poitou ou Beurre des Charentes, Beurre des Deux-Sèvres, Beurre de Bresse.
Crèmes  Crème d’Isigny, Crème de Bresse.
As frutas AOP
Pomme du Limousin, Chasselas de Moissac, muscat du Ventoux, Châtaigne d’Ardèche, Noix de Grenoble, Noix du Périgord, Abricots rouges du
Roussillon, Figues de Solliès.
Os legumes AOP
Pommes de terre Béa du Roussillon, pommes de terre de l’île de Ré.
Légumineuses/céréales  Lentille verte du Puy, Coco de Paimpol, Oignons doux des Cévennes, Oignon de Roscoff.
Olivas e Óleos de Olivas AOP
Olive de Nice, Olive de Nîmes, Olives cassées de la vallée des Baux-de-Provence, Olives noires de la
Olives 
vallée des Baux-de-Provence, Olives noires de Nyons, pâte d’olive de Nice.
Huile d’olive d’Aix-en-Provence, Huile d’olive de Corse ou Huile d’olive de Corse - Oliu di Corsica, Huile
Huiles d’olive  d’olive de Haute-Provence, Huile d’olive de la vallée des Baux-de-Provence, Huile d’olive de Nice, Huile
d’olive de Nîmes, Huile d’olive de Nyons.
Os produtos do mar AOP
Moules de bouchot de la Baie du Mont-Saint-Michel.
Carnes e charcuteries AOP
Ovins  Barèges-Gavarnie, Prés-salés de la baie de Somme, Prés-salés du Mont-Saint-Michel.
Bovins  Bœuf de Charolles, Fin Gras du Mézenc, Maine-Anjou, Taureau de Camargue.
Volailles  Dinde de Bresse, Volaille de Bresse ou Poulet de Bresse ou Chapon de Bresse ou Poularde de Bresse.
Coppa de Corse ou Coppa de Corse – Coppa di Corsica, Jambon sec de Corse ou Jambon sec de Corse
Porcins
– Prisutti, Lonzo de Corse ou Lonzo de Corse – Lonzu.
Diversos
Farine de châtaigne corse Farina castagnina corsa.
Les miels   Miel de Corse ou Miel de Corse-Mele di Corsica, Miel de sapin des Vosges.
Le Piment d’Espelette ou Piment d’Espelette Ezpeletako Biperra.
L’Huile essentielle de lavande de Haute-Provence ou Essence de lavande de Haute-Provence.
Le Foin de Crau
Les cidres et poirés  Pays d’Auge ou Pays d’Auge-Cambremer, Cornouaille, Domfront.
Fonte: Elaboração própria a partir de INAO ([2016?], 2017) e Ministère de L‘Agriculture e de la Santé (2017).

AS POLÍTICAS E MOVIMENTOS QUE SUSTENTAM E FORTALECEM


O MODELO DE DESENVOLVIMENTO APOIADO EM ATIVOS TERRITO-
RIAIS

Entre as política e movimentos que mostram um modelo de desenvolvimento a partir


dos ativos territoriais como forma de manter e consolidar os sistemas produtivos e a orga-
nização do território está a valorização dos produtores locais, regionais e nacionais, em

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redes alimentares alternativas (alternative food networks – AFNs). Estas redes pressupõem
cooperação social e parcerias entre produtores e consumidores, oportunizando a reconexão
entre produção e consumo, dinamização de mercados locais, retomada da identidade terri-
torial, entre outros benefícios face a um equilíbrio socioambiental (GOODMAN et. al., 2012;
DAROLT et. al., 2016). A dinâmica pressuposta neste conceito poderia ser encontrada nos
denominados “circuitos curtos e terroirs” e nos produtos de base ecológica, ambos presentes
em movimentos identificados nos territórios franceses.
Nos últimos anos, a distribuição alimentar evoluiu tentando ampliar esta estratégia
de consumo de produtos. Se os Franceses efetuam majoritariamente suas compras em
grandes comércios, eles são igualmente numerosos a frequentar os circuitos de proximi-
dade. Um meio para o consumidor e o produtor se reaproximarem e de criar um clima de
confiança (GARCIA-PARPET, 2004).
Estratégias como venda direta no produtor, lojas de produtores, e-comércio, associa-
ções, feiras itinerantes, entre outros são utilizadas na busca da implementação deste tipo de
rede alimentar que para ser classificada como um circuito curto admite, segundo indicações
teóricas (DAROLT et. al., 2016) um único intermediário na cadeia entre o produtor e o con-
sumidor. A distribuição dos produtos a partir de poucos e grandes distribuidores é a cada
dia mais reduzida ou pelo menos no modelo adotado na última décadas. Em relação a esta
alteração Lestrade (2013), faz um crítica importante sobre a nova estratégia de “proximidade”
da grande distribuição na França.
Identifica-se eventuais modificações na relação entre a grande distribuição e a cidade,
em um contexto particular, em todas as escalas (internacional, nacional e mesmo local),
mas contrariamente às aparências, este comércio é menos um contra-modelo do hipermer-
cado do que uma fórmula renovada dos métodos de implantação e de gestão que fizeram
sucesso na grande distribuição. Em consequência, as relações entre a grande distribuição
e a cidade não conquistaram mudanças significativas na escala local. Na escala menor, em
contrapartida, este comércio de proximidade introduzido pela nova tendência que se inserem
no senso de diferenciação sociocultural aumentada, no interior das aglomerações como no
seio da rede urbana francesa (LAMINE, 2012; LESTRADE, 2013).
Percebe-se duas formas paralelas de restabelece o comércio de proximidade na França,
seja ela pela efetiva aproximação do consumidor ao produtor via organização de circuitos
de distribuição seja pela estratégia adotada pela grande distribuição. Qualquer um dos dois
modelos se sustenta em uma demanda que nasce do próprio consumidores que ampliam
sua consciência e/ou sua exigência por conhecimentos sobre a procedência de sua alimen-
tação e busca de aproximação com os produtores e de uma agricultura enraizada na cultura

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e muito respeitosa ao meio ambiente, que é uma nova tendência no setor agroalimentar
(GARCIA-PARPET, 2004; LESTRADE, 2013; DAROLT et. al., 2016).
O circuito curto se inscreve plenamente na abordagem do desenvolvimento durável.
Ele apresenta benefícios do ponto de vista social, reestabelecendo uma relação direta entre
o produtor e o consumidor, mas também ao nível econômico e ambiental. Ele se impõem
como uma solução para realizar a economia do conjunto da cadeia de distribuição e permite
um aumento das margens graças a uma remuneração direta ao produtor. Enfim, os circuitos
curtos são eco-responsáveis graças notadamente a sua capacidade de limitar os custos de
transporte e aproximar produtor e consumidor restabelecendo relações de confiança e de
identidade. Comprar em um circuito curto é encorajar uma autêntica agricultura enraizada e de
proximidade e participar de uma economia solidária e responsável (GOODMAN et. al., 2012).
Conforme Darolt et. al. (2016), na França identifica-se um nível de desenvolvimento
bastante elevado quando na organização dos circuitos curtos em relação a pontos de venda
coletivos (PVC), a associações de consumidores (AMAP), a lojas de produtos orgânicos inde-
pendentes, a acolhida na propriedade (gastronomia, lazer, esporte, alojamento, propriedade
pedagógica). Sendo mediamente desenvolvidas as feiras de produtores (orgânicos/agroeco-
lógicos), as cestas entregues em domicílio, as lojas de cooperativas de produtores e consu-
midores, a venda na propriedade, os programas de governo (alimentação escolar; população
em risco alimentar), os restaurantes coletivos público ou privado; restaurantes tradicionais,
e as lojas virtuais (site internet de produtos ecológicos). Entretanto, são todas modalidade
utilizadas e estimuladas e que tem garantido um desempenho significativo dos circuitos
curtos e da valorização dos ativos territoriais nos processos de desenvolvimento territorial.
Ainda segundo os autores (p. 8), “o maior nível de escolaridade e de renda dos agricul-
tores familiares, associado ao maior nível de conscientização dos consumidores na França,
permitem uma vantagem comparativa em relação ao desenvolvimento dessas redes.” Os au-
tores seguem ainda afirmando que [...] a cooperação entre os atores e o engajamento
político de produtores e consumidores permite atingir um maior nível de desenvolvimento.”
(DAROLT et. al., 2016, p. 8).
A cooperação agrícola é um dos modos de viabilizar estes circuitos. A cooperação agrí-
cola é conhecida e reconhecida por seu papel na valorização da produção agrícola. Graças a
sua capacidade industrial ela transforma os produtos dos agricultores cooperados. Depois de
um percurso de transformação mais ou menos longo, os produtos alimentares que são proces-
sados são propostos aos consumidores através de redes de distribuição tradicionais: grandes
distribuidores, atacadistas, artesãos... Face às novas expectativas da sociedade as coopera-
tivas se mobilizaram para responder às novas necessidades expressas pelos consumidores
de melhor conhecer a origem daquilo que chega ao seu prato. As cooperativas agrícolas

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francesas, ancoradas no terroir, buscam responder a esta necessidade. Elas estão inovando
propondo um retorno à terra e uma reconexão com o mundo rural (GARCIA-PARPET, 2004;
LESTRADE, 2013; DAROLT et. al., 2016; LA COOPERATION AGRICOLE, 2018).
A força do movimento de cooperação relacionada à produção alimentar pode ser iden-
tificada, por exemplo, na cadeia de laticínios. A oferta francesa destes produtos se distingue
por uma diversidade de produtos únicos no mundo com mais de 1000 queijos pertencentes
as 50 AOPs. Da produção, 40% é exportada e nesta cadeia produtiva 240 cooperativas lei-
teiras contribuem com 55% do leite produzido, 46% do leite transformado, 20000 empregos
e 55000 cooperados. A mesma dinâmica ocorre na cadeia produtiva do vinho, na qual uma
em cada duas garrafas de vinho produzidas é também fruto da cooperação agrícola. E este
contexto está presente da mesma forma nas cadeias da carne, de frutas e legumes, do mel,
entre outras (LA COOPERATION AGRICOLE, 2018).
Esta mobilização gera ou retoma dispositivos enfraquecidos de práticas tradicionais
como os mercados locais, feiras, venda direta no produtor ou em lojas próprias das coo-
perativas, mas também buscam novos focos de atuação. Alguns dão uma nova dimensão
ao potencial turístico dos territórios, associando paisagem com a qualidade dos produtos e
com modos de produção característicos (as certificações). Outros ainda, utilizam as novas
tecnologias para, apesar da distância, aproximar o produtor do consumidor. As empresas
cooperativas estabeleceram e desenvolveram a atividade em seus territórios e hoje repre-
sentam um dos principais setores exportadores da França. Em muitas áreas rurais, as coo-
perativas são os primeiros empregadores privados (LA COOPERATION AGRICOLE, 2018).
Exemplos desta mentalidade podem ser retirados facilmente de campanhas publici-
tárias, encartes de venda, notícias de mídia dos departamentos, das aglomerações e das
cidades. Os Quadros 3, 4, 5 e 6 mostram alguns exemplos3 retirados ao acaso de diversos
tipos de mídia.
No Quadro 3 identifica-se o incentivo ao consumo de produtos locais, de produtos eco-
lógicos, à agricultura familiar e de pequena escala, aos circuitos curtos e aos processos de
cooperação. A busca por identidade local, por segurança alimentar e pela conscientização
dos consumidores também pode ser identificada nas campanhas publicitárias.

3 Os textos são provenientes de coleta em fontes diversas, encartes, mídia televisiva, mídia escrita e radiofônica, outdoors, etc.. A
tradução é da autora e visa a compreensão do conteúdo dos anúncios/slogans de campanhas de divulgação.

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Quadro 3. Exemplo de slogans e pequenos anúncios de campanhas publicitárias para incentivo a consumo de produtos
locais.

LE SAVIEZ-VOUS ? SELON UNE ÉTUDE DU CABINET NATURAL MARKETING, 71 % DES FRANÇAIS


PRÉFÈRENT ACHETER DES PRODUITS LOCAUX ! (você sabia que segundo estudo do Gabinet Natural de
Marketing 71% dos franceses preferem comprar produtos locais?)
Le circuit court : pour une agriculture locale, responsable et écologique ! (o circuito curto: por uma agricultura
local, responsável e ecológica)
Le circuit court : des avantages multiples... et pour tout le monde ! (o circuito curto: vantagens múltiplas .... e
para todo mundo!)
Du circuit long au circuit court : la coopération agricole est sur tous les fronts (Do circuito longo ao circuito
curto: a cooperação agrícola está em todas as frentes)
Le circuit court coopératif : une multitude de dispositifs (O circuito curto cooperativo: uma multitude de
dispositivos)
Le circuit court, une aventure humaine pour des producteurs locaux passionnés (O circuito curto, uma aventura
humana para produtores locais apaixonados)
Créer du lien avec les producteurs locaux (Crie uma ligação com os produtores locais)
Le circuit court pour rencontrer ceux qui nous nourrissent (O circuito curto para reencontrar quem nos alimenta)

Fonte: elaboração própria a partir de anúncios na mídia.

Nos quadros 4 e 5 identifica-se a tentativa de esclarecer e fornecer informações sobre


o significado e o funcionamento dos circuitos curtos, bem como sobre a atuação das coo-
perativas de forma a subsidiar a decisão de compra dos consumidores a partir de escolhas
racionais mais do que pelo apelo ao consumo.

Quadro 4. Exemplo de anúncio em campanha de publicidade para incentivo ao consumo de produtos locais.

Le circuit court : un retour au commencement... en innovant ! (O circuito curto: um retorno ao começo ....
inovando!)
Longtemps courts, les circuits de distribution alimentaire se sont allongés au XIXème siècle avec l’avènement du
chemin de fer ou encore du transport fluvial et maritime. Ceci avant de se raccourcir à nouveau, même si les circuits
longs restent au cœur de la distribution alimentaire. Si les coopératives agricoles sont impliquées dans des circuits
longs et travaillent avec la grande distribution, des centrales d’achats ou encore avec des grossistes alimentaires, elles
n’ont cessé d’encourager ce mode de distribution... et d’innover ! Elles se diversifient et ont une meilleure maîtrise de
la chaîne de distribution : ventes directes à la ferme, e-commerce, magasins franchisés... Autant de dispositifs que les
femmes et les hommes des coopératives ont investi avec modernité et créativité.

(Durante muito tempo, os circuitos de distribuição de alimentos se alongavam, no século XIX pelos em vistas dos
caminhos das ferrovias ou do transporte fluvial ou marítimo. Isto antes de novamente se retraírem mesmo que
circuitos longos ainda se mantenham no coração da distribuição de alimentos. Se as cooperativas agrícolas estão
implicadas nos circuitos longos e trabalham com a grande distribuição, os centros de compras ou ainda com os
atacadistas de alimentos, elas não deixam de encorajar este modo de distribuição ... e de inovar! Elas se diversificam
e têm um melhor controle da cadeia de distribuição: vendas diretas na fazenda, comércio eletrônico, lojas
franqueadas ... Todos os dispositivos que as mulheres e os homens das cooperativas investiram com modernidade e
criatividade.)
Fonte: elaboração própria a partir de anúncios na mídia.

Da mesma forma os Quadros 5 e 6 também buscam valorizar a atuação dos produtores,


evidenciando a qualidade de seu trabalho e os benefícios de sua associação.

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Quadro 5. Exemplo de anúncio em campanha de publicidade para incentivo ao consumo de produtos locais e valorização
do trabalho cooperativo.

Zoom sur les Halles de l’Aveyron : une expérience terroir en agglomération (Zoom sobre o mercado de
Aveyron: uma experiência de terroir em uma aglomeração)
Des agriculteurs installés sur les contreforts du Massif central et réunis au sein de la coopérative UNICOR
souhaitaient mettre en place une initiative de mise en marché de leurs productions. En 2008, UNICOR
ouvrait ainsi son 1er magasin Les Halles de l’Aveyron : 1000 m2 où sont vendues les productions sous signes
officiels de qualité de ses adhérents. Les gammes sont complétées avec les productions d’autres
coopératives et petites entreprises locales. Aujourd’hui, les Halles de l’Aveyron c’est deux magasins à Rodez
et à Herblay dans le Val d’Oise, en région parisienne. Un restaurant qui cuisine les produits du terroir est
attenant aux magasins. Une douzaine de «Petites Halles» installées dans les jardineries Point Vert de la
coopérative complète ce dispositif. La démarche est simple : s’appuyer sur le circuit court collectif et les
forces de la coopérative pour apporter dans les agglomérations le meilleur de leurs fermes à un prix juste,
pour les clients... comme pour les paysans ! Un beau succès qui a conduit UNICOR à annoncer l’ouverture
d’un 3eme magasin en Ile-de-France d’ici fin 2017.

(Os agricultores instalados sobre as encostas do Maciço Central e reunidos ao seio da cooperativa UNICOR desejam
implementar uma iniciativa de lançar no mercado seus produtores. Em 2008, UNICOR abriu assim sua primeira loja
Les Halles de l’Aveyron: 1000 m2 onde são vendidos as produções sob os signos oficiais de qualidade e seus aderentes.
As gamas são complementadas com as produções de outras cooperativas locais e pequenas empresas. Hoje, Les Halles
de l'Aveyron possui duas lojas em Rodez e Herblay, no Val d'Oise, na região parisiense. Um restaurante que cozinha
produtos locais é adjacente às lojas. Uma dúzia de "Les Halles", instalada nos centros verdes de cultivo da Cooperativa,
completa este sistema. A abordagem é simples: confiar no curto-circuito coletivo e as forças da cooperativa para trazer
as aglomerações o melhor de suas fazendas a um preço justo, para os clientes ... quanto aos camponeses! Um grande
sucesso que levou a UNICOR a anunciar a abertura de uma 3ª loja na Ile-de-France até o final de 2017.)

Fonte: elaboração própria a partir de anúncios na mídia.

Quadro 6. Exemplo de anúncio para incentivo ao consumo de produtos locais.

Les Halles de l’Aveyron sont un outil de dialogue ! (O mercado de L‘Aveyron são uma ferramenta de
dialogo) - Témoignage de Jean-Claude Virenque, Président de la coopérative UNICOR (Testemunho de
Jean-Claude Virenque, presidente da cooperativa UNICOR)
Le fait de maîtriser la distribution est très positif pour les producteurs. Les Halles de l’Aveyron contribuent
à redonner du sens et du plaisir de faire leur métier à nos agriculteurs. Nos adhérents sont présents un
week-end par mois dans leurs magasins. Nos clients viennent à leur rencontre pour comprendre leur
travail, leur quotidien, parler avec eux de ce qu’ils produisent. Il y a un réel besoin d’échange et de
dialogue entre les populations urbaines et le monde agricole, et les Halles de l’Aveyron facilitent ce
dialogue. Le réseau contribue à créer une "relation de confiance" inédite avec des consommateurs
pourtant bien loin des lieux de production.

(O fato de controlar a distribuição é muito positivo para os produtores. O Mercado de L‘Aveyron contribue a
devolver o senso e o prazer de fazer seu trabalho a nossos agricultores. Nossos cooperados estão presentes um final
de semana por mes em suas lojas. Nossos clientes vêm a seu encontro para conhecer seu trabalho, seu cotidiano, falar
com eles e sobre o que eles produzem. Há uma real necessidade de troca e de diálogo entre as populações urbanas e o
mundo agrícola, e o Mercado de l‘Aveyron facilata o diálogo. A rede contribui para criar uma “relação de confiança”
inédita com os consumidores mesmo muito longe do local da produção.)

Fonte: elaboração própria a partir de anúncios na mídia.

Coloca-se então a compra em circuitos curtos como uma forma de fugir da padroniza-
ção imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direcio-
na o consumo, aproxima produtor de consumidor, reforça identidades, melhora o desem-
penho econômico de todos os envolvidos bem como o desempenho socioambiental dos
territórios, aspectos já colocados por Garcia-Parpet (2004) Lestrade (2013) Darolt et. al.
(2016), entre outros.

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CONCLUSÕES

Em relação a utilização de Ativos Territoriais como forma de alavancar o desenvolvi-


mento territorial, as primeiras evidencias mostram que a valorização do produtor rural, do
saber-fazer, da tradição e da qualidade inseridas tanto nos produtos como nas práticas pro-
dutivas, em conjunto com um cuidado com o meio ambiente e com o bem estar animal, se
refletem em um ambiente ambientalmente mais equilibrado, em paisagens extremamente
preservadas ou construídas com qualidades estéticas, em boas condições de vida e bons
resultados econômicos para toda a cadeia produtiva envolvida na exploração deste ativo.
Estas práticas são culturalmente reconhecidas, aceitas e valorizadas e o consumidor,
bem como as comunidades nas quais as demarcações estão inseridas se envolvem em um
processo de conhecimento, controle, valorização e divulgação.
Existem políticas governamentais tanto na escala nacional, como regional e local que
incentivam o consumo dos produtos das demarcações francesas, em especial as das pró-
prias regiões. As estratégias proposta para o incentivo deste consumo se materializam em
nível local em espaços específicos (praças ou prédios) destinados a feiras e exposições
que ocorrem sistematicamente a partir de calendários pré-estabelecidos, com forte enfoque
na produção local.
A estrutura fundiária rural concorre para estes bons resultados na relação “villes” e
“camapgne”. O predomínio de minifúndios e de policultivos/criação, mesmo que com ên-
fase maior em alguma cultura ou criação, garante a subsistência e o equilíbrio dos preços
da alimentação que se mantém em patamares aceitáveis. Também, a maior proximidade
do produtor com o consumidor, encurtando muito a cadeia de atravessamento, aumenta o
ganho dos produtores bem como mantém os preços mais baixo para os consumidores. Este
é um dos fatores que tem auxiliado a manutenção do produtor rural em suas atividades.
Sendo o setor agrícola um dos sustentáculos da economia francesa, tendo uma alta
percentagem de emprego e de produtores, esta manutenção das atividades rurais auxilia
a reduzir a migração para os polos maiores e com isto mantém um maior equilíbrio na dis-
tribuição da população. Assim as áreas urbanas crescem a menores ritmo o que viabiliza
a oferta de infraestrutura quase que concomitantemente, ocorrendo menores impactos nas
estruturas sociais e ambientais.
Identifica-se nos Ativos Territoriais grande potencial para sustentar processos de desen-
volvimento regional/local equilibrados em relação aos aspectos socioambientais. Entretanto,
eles dependem de estruturas e dinâmicas de distintas escalas territoriais, processos culturais
consolidados, envolvimento e valorização por parte das comunidades de abrangência, polí-
ticas públicas de incentivo à produção e ao consumo direcionadas que extrapolam marcos
regulatórios (necessários mas insuficientes), estrutura fundiária rural em escala que permita

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a proximidade do produtor e do consumidor aos processos produtivos, zelo pela qualidade
dos produtos e processos produtivos, senso de coletividade e respeito ao meio ambiente.
Condições que demandam o aprimoramento da governança territorial e do envolvimento
coletivo nos processos de desenvolvimento.

Agradecimentos

A CAPES pelo apoio financeiro ao projeto cujo resultado está relatado neste capítulo.

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07
Atuação da ergonomia e do ambulatório
de medicina ocupacional de uma indústria
farmacêutica de São Paulo: relato de
experiência

Dennis Soares Leite Manoel Patrocínio de Moraes Neto


Libbs Farmacêutica Libbs Farmacêutica

Cíntia Menezes Carneiro Leila Santos


Catividade - Soluções em Qualidade de Vida Libbs Farmacêutica

Márcia Cristina Csuzlinovics


Libbs Farmacêutica

'10.37885/220709540
RESUMO

Introdução: Os estudos sobre a relação de trabalho e ações ergonômicas e da medicina


ocupacional na indústria farmacêutica são restritos nas bases de dados científicos, com
ênfase na prevenção de doenças ocupacionais e acidentes de trabalho. Dessa forma, o
trabalho possui como objetivo abordar às ações propostas da medicina ocupacional e er-
gonomia em um indústria farmacêutica. Metodologia: O trabalho visa relatar às ações
preventivas e o formato de trabalho do ambulatório de medicina ocupacional entre abril de
2021 até maio de 2022, do setor de ergonomia de uma indústria farmacêutica localizada em
São Paulo. A indústria farmacêutica do estudo é uma empresa 100% brasileira. Resultados
e discussão: A organização do trabalho dos profissionais do ambulatório da medicina ocu-
pacional consiste no trabalho multiprofissional, com ênfase na longitudinalidade do cuidado,
referência e contrarreferência, clínica ampliada, ambiência e promoção de saúde, de acordo
com os princípios da saúde coletiva, Política Nacional de Humanização (PNH) e Política
Nacional de Promoção de Saúde (PNPS). O trabalho multiprofissional é a integração, en-
volvimento de vários profissionais de especialidades diferentes, que trabalham em conjunto
para solucionar questões que surgem no ambulatório de medicina ocupacional. Conclusão:
Com base na organização do ambulatório de medicina ocupacional e ergonomia é possí-
vel identificar uma relação de trabalho relacionada ao trabalho multiprofissional, educação
permanente e atuação centrada no indivíduo (colaborador) de acordo com os princípios da
promoção e prevenção de saúde.

Palavras-chave: Ergonomia, Medicina Ocupacional, Equipe Multiprofissional de Saúde,


Saúde do Trabalhador, Promoção da Saúde.
INTRODUÇÃO

A indústria farmacêutica tem sua atividade extremamente regulada pelo poder público,
diferentemente das indústrias de transformações tradicionais. A concessão da liberação fica
vinculada às especificações de insumos, tamanho dos lotes, processos, locais de fabricação,
apresentação de testes, apresentação ao consumidor1.
Um aspecto importante que deve ser levado em consideração são as Boas Práticas de
Fabricação (BPF) que está destinada para a diminuição de riscos da fabricação farmacêu-
tica. Os riscos são: contaminação-cruzada, contaminação por partículas e troca de produto
o que gerou uma sobrecarga na área produtiva e saúde do trabalhador1,2.
O processo de trabalho industrial farmacêutico é complexo, porque estão alinhados
aos aspectos científicos, saúde, tecnologia e políticas industriais. Com isso, o objetivo da
vigilância em saúde do trabalhador possui o interesse em conhecer a realidade de saúde e
avaliação do processo produtivo, estudando os riscos, carga horária de trabalho e ambiente2,3.
Existem poucas pesquisas que abordam sobre a relação entre saúde e a doença na
indústria de medicamentos no Brasil, os principais estudos são concentrados no estado da
Bahia e na Fundação Osvaldo Cruz no Rio de Janeiro. Sendo recomendado estudos que
levantam às percepções dos trabalhadores frente ao risco ocupacional, sendo nas linhas
de produção ou diversos setores que são essenciais para uma indústria farmacêutica1,3.
Os estudos sobre a relação de trabalho e ações ergonômicas e da medicina ocupa-
cional na indústria farmacêutica são restritos nas bases de dados científicos, com ênfase
na prevenção de doenças ocupacionais e acidentes de trabalho. Dessa forma, o trabalho
possui como objetivo abordar às ações propostas da medicina ocupacional e ergonomia em
um indústria farmacêutica.

METODOLOGIA

O trabalho visa relatar às ações preventivas e o formato de trabalho do ambulatório


de medicina ocupacional entre abril de 2021 até maio de 2022, do setor de ergonomia de
uma indústria farmacêutica localizada em São Paulo. A indústria farmacêutica do estudo
é uma empresa 100% brasileira, produzindo 90 tipos de produtos distintos nas seguintes
especialidades: oncologia, ginecologia, dermatologia, transplantes, sistema nervoso central,
cardiovascular etc.
A empresa funciona 24 horas por dia, sendo dividida em 3 turnos. Dependendo da
função o colaborador trabalha em 1º, 2º ou 3º turno, além de ter o horário comercial, princi-
palmente para as pessoas que trabalham home office ou no formato híbrido. Desde agosto
de 2021, os colaboradores que estavam trabalhando no formato home office tiveram o seu

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contrato atualizado para o formato teletrabalho e com isso às novas contratações também
mudaram para teletrabalho.
Atualmente, a empresa possui 3 modalidades de trabalho: presencial, híbrido e tele-
trabalho. Com isso, ações diferentes foram adaptadas para a realização do bem-estar e
integralidade do colaborador levando em consideração as particularidades de cada função
do trabalho e formato. Uma das principais ações, que começou em abril de 2021 através
do projeto de ergonomia, foi a implementação das avaliações das pessoas que estão traba-
lhando no formato teletrabalho.
A avaliação individual dos colaboradores que estão no formato teletrabalho consiste em
realizar o levantamento das queixas álgicas durante a rotina de trabalho, abordar questões
de ergonomia física, cognitiva e organizacional, orientações de alongamentos, técnicas para
higiene visual, identificação de fatores de risco relacionados ao mobiliário, ruído, iluminação
e temperatura etc.
O ambulatório de medicina ocupacional apresenta os seguintes profissionais e espe-
cialidades: técnicos de enfermagem, enfermeiras, psicóloga, assistente social, fisioterapeuta
do trabalho, ergonomista, fonoaudióloga, médico do trabalho, médico clínico geral, médico
de família e comunidade, médico otorrinolaringologista e médica ginecologista4.
A organização do trabalho dos profissionais do ambulatório da medicina ocupacional
consiste no trabalho multiprofissional, com ênfase na longitudinalidade do cuidado, referência
e contrarreferência, clínica ampliada, ambiência e promoção de saúde, de acordo com os
princípios da saúde coletiva, Política Nacional de Humanização (PNH) e Política Nacional de
Promoção de Saúde (PNPS). O trabalho multiprofissional é a integração, envolvimento de
vários profissionais de especialidades diferentes, que trabalham em conjunto para solucionar
questões que surgem no ambulatório de medicina ocupacional4.
O serviço de ergonomia trabalha em conjunto com várias áreas dentro da indústria far-
macêutica estudada, como: engenharia, técnicos de meio ambiente, medicina ocupacional e
segurança do trabalho com foco em gerar bem-estar físico, cognitivo e organizacional para
os colaboradores, através de ações pautadas nas Normas de Higiene Ocupacional (NHO)
e Norma Regulamentadora – 17 (NR-17)1.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segundo estudo realizado por Ramazini (1992) a exposição de substâncias químicas


ativas utilizadas no processo de fabricação de medicamentos apresenta um potencial nocivo
de risco à saúde durante um longo prazo. Sendo identificados até hoje, porque muitos efeitos
são encontrados depois de muitos anos. Entretanto, o ambulatório de medicina ocupacio-
nal da indústria farmacêutica estudada apresenta estratégias para a prevenção, através

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de exames hormonais específicos, exames admissionais e periódicos, avaliações de risco
através da ergonomia e escuta qualificadas das demandas de cada área1.
Alguns autores abordam a importância do higiene do trabalho durante a rotina do traba-
lho, refere-se a um conjunto de normas e procedimentos que visa a proteção da integridade
física e mental, o que faz considerar o colaborador como um ser biopsicossocial. O ambula-
tório possui uma assistente social, que tem papel fundamental na criação de projetos, análise
de documentação, acompanhamento do colaborador durante o luto, criação de formas mais
efetivas de promoção e prevenção de saúde e que trabalha de forma interdisciplinar com a
psicologia e fisioterapia3,5.
O serviço de psicologia é recente na empresa e começou em agosto de 2021, que surgiu
da necessidade de uma visão abrangente do colaborador, entendendo suas vulnerabilida-
des sociais e sofrimento psíquico. A psicologia trabalha em conjunto com a enfermagem,
medicina, serviço social e fisioterapia através do projeto de atenção à saúde mental para os
colaboradores e o compartilhamento do cuidado, respeitando o princípio da corresponsabi-
lidade do cuidado. Os atendimentos são realizados individualmente no formato presencial
ou online, através de marcação de consultas no ambulatório de medicina ocupacional ou
através do encaminhamento de outros profissionais do ambulatório5.
O serviço de fonoaudiologia atua no gerenciamento audiológico dos colaboradores que
necessitam de exames audiométricos na admissão e periódico, principalmente pelo fato de
algumas substâncias utilizadas nas indústrias farmacêuticas serem nocivas para o sistema
auditivo. Além disso, realiza ações com a fisioterapia do trabalho através das avaliações
do teletrabalho, sensibilizando os colaboradores sobre utilização de fone de ouvido de uso
contínuo ou intermitente. Outra atuação bastante importante é em conjunto com o médico
otorrinolaringologista, através de ações de prevenção e promoção de saúde com foco na
saúde do trabalhador1,5.
O serviço de medicina possui distintas especialidades como médico do trabalho, gi-
necologista, otorrinolaringologista, de família e comunidade e clínico geral, que atuam para
a integralidade do cuidado com exames admissionais, periódicos e demissionais. Atuam
e guiam suas práticas através do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
(PSCMSO). Trabalham com teleconsulta, principalmente para casos de afastamento de
trabalho e colaboradores com sintomas e diagnóstico de COVID-19. O serviço de gine-
cologia atua com consultas online e presenciais para as colaboradoras no ambulatório de
medicina ocupacional1.
Realizam consultas clínicas de colaboradores que possuem queixas álgicas, acidentes
de trabalho de trajeto e dentro da fábrica, doenças ocupacionais, sintomas de lesões por
esforço repetitivo e nexo causal com o trabalho. Os médicos compartilham os casos com

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os outros profissionais atuantes no ambulatório, principalmente com o fisioterapeuta e fo-
noaudióloga do ambulatório, realizando a longitudinalidade do cuidado, deixando de lado o
cuidado vertical de saúde e modelo biomédico centralizado no médico2.
O serviço de fisioterapia é dividido em fisioterapia do trabalho e ergonomia, quando
é relacionado ao foco em fisioterapia às principais atribuições são: consultoria individual e
avaliação de colaboradores que estão no formato teletrabalho, atendimento no ambulatório
de fisioterapia, onde os pacientes são encaminhados pelo médico do ambulatório ou pas-
sam diretamente com o fisioterapeuta. O foco nos atendimentos é para nexo causal com
o trabalho, pois existem muitas demandas, mas a maioria não apresenta relação com a
jornada de trabalho1,5.
Os atendimentos são realizados 1 vez na semana, onde cada colaborador possui 45
minutos de sessão. A primeira consulta é sempre destinada para avaliação biomecânica e
diagnóstico cinético-funcional através da história clínica do colaborador, doenças prévias
e testes ortopédicos. Geralmente, é realizada uma avaliação do posto de trabalho de cada
colaborador que passa na fisioterapia, através de ferramentas ergonômicas e avaliações
biomecânicas. As sessões são direcionadas para diminuição das queixas álgicas e reedu-
cação funcional da postura e movimento1,4.
Existe o projeto de atenção integral às colaboradoras gestantes, onde o fisioterapeuta
atende individualmente online, colaboradoras que estão no 1º trimestre da gestação, com
foco em retirada de dúvidas, promoção e prevenção de complicações. Os principais tópicos
abordados são: queixas álgicas, hipertensão e diabetes durante o período gestacional e pre-
venção de sintomas de incontinência urinária. Durante às consultas online, o fisioterapeuta
percebeu que às colaboradoras gestantes possuíam dúvidas relacionadas ao prognóstico,
fatores de risco e principais sintomas de incontinência urinária durante o período gestacional.
Dessa forma, o setor de fisioterapia e ginecologia fizeram um folder sobre incontinência uriná-
ria e os principais tópicos relacionados ao assunto para incluir no folder para às gestantes5.
O projeto de atenção integral às colaboradoras gestantes funciona com a participação
de alguns profissionais do ambulatório de medicina ocupacional. No primeiro momento, o
setor da enfermagem realiza a triagem através do primeiro contato com a colaboradora,
depois tem a consulta online com o fisioterapeuta, passa em consulta no 3º trimestre com
a fonoaudióloga e caso haja necessidade passa com a assistente social e médica gineco-
logista. Existe o programa de atenção aos futuros papais destinado para os colaboradores
da empresa, onde é entregue cartilhas de promoção de saúde e kits da empresa5.
O setor da ergonomia atua com a melhora continua nos aspectos físicos, cognitivos e
organizacionais da empresa através de avaliações, análise ergonômica do trabalho, análise
ergonômica preliminar, treinamento sobre transporte manual de cargas, identificação de

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fatores de risco do mobiliário, iluminação, temperatura e ruído, atuando em conjunto com a
segurança do trabalho, engenharia e gestão de cada área. Durante o recorte da avaliação,
a ergonomia ganhou notoriedade em realizar blitz postural nos postos de trabalho, parceria
com os técnicos de segurança do trabalho e meio ambiente, avaliação da iluminação nos
novos prédios da empresa e participação na Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
(CIPA) e Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho (SIPAT) com o intuito de
adaptar o trabalho para o trabalhador2,3.
A medicina ocupacional participa anualmente da SIPAT, em 2021 a semana foi direcio-
nada para utilização de tecnologias e inovações, o ambulatório ficou responsável em reali-
zar uma live sobre ergonomia no trabalho home office e mitos e verdades sobre COVID-19
através de jogos de memória e verdadeiro/falso.
Desde o início da pandemia em março de 2020, a empresa teve a preocupação sobre
a questão de ergonomia no trabalho home office e com isso disponibilizou cadeiras ergonô-
micas para a retirada na empresa, além disso disponibiliza suporte para tela do computador,
suporte para notebook, mouse pad, suporte para os pés. Em 2022, o setor de ergonomia e
medicina ocupacional aprovaram o serviço de avaliação online de colaboradores que estão
trabalhando no formato teletrabalho5.
Através de levantamento de dados e estudo preliminar, as principais dúvidas dos
colaboradores que estão no formato teletrabalho são: volume do fone de ouvido e qual o
tempo ideal para utilizar, altura ideal para o notebook e tela do computador, tempo entre
pausas durante a rotina de trabalho e utilização do apoio para os pés. Durante a avaliação
pelo ergonomista são retiradas todas às dúvidas, orientações sobre síndrome da visão do
computador, temperatura adequada, dicas de organização do trabalho, entendimento sobre
estresse ocupacional de acordo com a NR-17. As principais queixas musculoesqueléticas
identificadas dos colaboradores são cervicalgia e lombalgia, além de sintomas de síndrome
da visão do computador. Com base nisso, durante às avaliações são realizadas orientações
sobre higiene visual, incentivo às pausas e alongamentos na região lombar e cervical1,5.
A enfermagem atua através da organização de exames ocupacionais, gerenciamento da
farmácia em conjunto com o assistente administrativo, levantamento de casos de COVID-19,
primeiro contato com às gestantes, organização do fluxo das gestantes e do projeto de aten-
ção aos futuros pais, gerenciamento de medicamentos, organização de campanhas de gripe
e vacinação, participação no gerenciamento de risco ocupacional e atuação em conjunta
com outros profissionais etc4,5.
Em 2022, o ambulatório de medicina ocupacional participou da formação dos no-
vos cipeiros da empresa, onde realizaram às seguintes palestras: prevenção de Infecções
Sexualmente Transmissíveis (IST), síndrome da visão do computador, relação entre

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alcoolismo e trabalho, tipos de ergonomia: física, cognitiva e organizacional, transporte ma-
nual de cargas e serviços oferecidos pelo ambulatório de medicina ocupacional3.
Em um estudo realizado com trabalhadores de uma indústria farmacêutica na Bahia so-
bre os principais sintomas referidos forma: em 1° lugar cansaço físico, 2º lugar dor na coluna
vertebral e em 3º lugar causado por cefaleia tensional. O que corrobora com alguns achados
do ambulatório de medicina ocupacional. Os principais sintomas musculoesqueléticos dos
colaboradores que passam no ambulatório de fisioterapia são: lombalgia e cervicalgia. Dessa
forma, mostra a importância da atuação do ergonomista realizando a avaliação do posto de
trabalho para diminuição do absenteísmo relacionado a lombalgia e cervicalgia. Os colabo-
radores não possuem cansaço físico, porque os colaboradores possuem pausas devido a
política da empresa, enquanto a cefaleia tensional está mais relacionada aos trabalhadores
do formato teletrabalho associada com o mobiliário1,2,3.

CONCLUSÃO

O trabalho teve o intuito de relatar o processo de trabalho da ergonomia e do ambula-


tório de medicina ocupacional de uma indústria farmacêutica, afinal relatos de experiência
e estudos envolvendo a temáticos são escassos nas bases de dados científicos. Com base
na organização do ambulatório de medicina ocupacional e ergonomia é possível identificar
uma relação de trabalho relacionada ao trabalho multiprofissional, educação permanente
e atuação centrada no indivíduo (colaborador) de acordo com os princípios da promoção e
prevenção de saúde.
O processo de trabalho do ramo farmacêutico apresenta uma série de riscos químicos,
físicos, biológicos, acidente e ergonômico. Mas, com o princípio de trabalho interdisciplinar
do ambulatório, estes riscos ficam baixos, proporcionando um bem-estar ao colaborador
e diminuído os riscos e impactos na saúde do trabalhador. Mais estudos como esses são
necessários para implementação de políticas e direcionalidade do trabalho em ambulatório
de medicina ocupacional.

REFERÊNCIAS
1. ALENCAR, João Rui Barbosa de. Occupational risks in the production of medicine:
analysis of an industry located in the northeast of Brazil. Revista Brasileira de Saúde
Ocupacional, São Paulo, v. 30, n. 112, p. 49-67, ago. 2005.

2. OTENIO, Cristiane Corsini Medeiros et al. Trabalho Multiprofissional: representações


em um serviço público de saúde municipal. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 17, n.
4, p. 135-150, jul. 2008.

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3. EDWARDS, Brian; A GLOOR, Charles; TOUSSAINT, Franck; GUAN, Chaofeng; FUR-
NISS, Dominic. Human factors: the pharmaceutical supply chain as a complex socio-
technical system. International Journal For Quality In Health Care, [S.L.], v. 33, n.
1, p. 56-59, 30 set. 2020.

4. RÉZIO, Larissa de Almeida; FORTUNA, Cinira Magali; BORGES, Flávio Adriano. Tips
for permanent education in mental health in primary care guided by the Institutional So-
cio-clinic. Revista Latino-Americana de Enfermagem, [S.L.], v. 27, p. 1-20, out. 2019.

5. BERNARD, Renaldo M; TOPPO, Claudia; RAGGI, Alberto; MUL, Marleen de; MIQUEL,
Carlota de; PUGLIESE, Maria Teresa; FELTZ-CORNELIS, Christina M van Der; OR-
TIZ-TALLO, Ana; SALVADOR-CARULLA, Luis; LUKERSMITH, Sue. Strategies for
Implementing Occupational eMental Health Interventions: scoping review. Journal Of
Medical Internet Research, [S.L.], v. 24, n. 6, p. 34479-34498, 1 jun. 2022.

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08
Condições de Trabalho dos Profissionais
da Saúde Durante a Pandemia de Covid-
19: um estudo de caso da microrregião de
Blumenau

Valdir da Silva
Universidade Regional de Blumenau - FURB

Valmor Schiochet
Universidade Regional de Blumenau - FURB

Artigo original publicado em: 2021


V Seminário de Desenvolvimento Regional, Estado e Sociedade (SEDRES/2021) – Inovação, Sociedade e Desenvolvimento Regional:
Repercussões e contradições nos territórios - ISSN 2358-5307.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/220809878
RESUMO

O texto aborda a crise da pandemia de coronavírus por meio de uma busca bibliográfica, se-
guido de uma avaliação das condições de trabalho dos profissionais da saúde da microrregião
de Blumenau. Sendo assim, através dos dados da Rais analisamos os vínculos dos profis-
sionais de Medicina, Enfermagem, Fisioterapia e os Técnicos e Técnicas em Enfermagem,
que se constituem em atores importantes da frente de trabalho no atendimento das vítimas
da Covid-19. O estudo foi dividido em quatro partes, iniciando pela introdução ao debate,
que busca a contextualização da crise da Covid-19, na sequência faz-se uma discussão
sob o ponto de vista de algumas dimensões: a dimensão política, a dimensão no mundo do
trabalho para fins econômicos e a dimensão do mundo do trabalho no setor de saúde. Será
que a política atual contribui para diminuir a crise? A economia foi afetada somente após a
crise? Em que contexto os profissionais da saúde enfrentam a crise?

Palavras-chave: Microrregião de Blumenau, Médicos e Médicas, Enfermeiros e Enfermeiras,


Fisioterapeutas, Técnicos e Técnicas em Enfermagem.
INTRODUÇÃO

Fica claro que o Brasil sofreu um golpe político para que as elites consigam fazer quatro
processos importantes: a reforma da previdência; a reforma trabalhista; o estabelecimento
do papel do Estado de assegurar a reprodução do capital financeiro e, para isso, impedir
que o Estado continuasse a implementar políticas de utilização dos recursos públicos para
a proteção da população (medida do teto de gastos a PEC 241, também chamada de PEC
55); e a transferência do ativo das riquezas do povo brasileiro para os capitais privados (o
pré sal é parte disso) (ANTUNES, 2018).
Para Antunes (2020), o sistema de metabolismo antissocial do capital tem como norma-
lidade a destrutividade. Nesse sentido, o capital altera os mecanismos de interação humana
por meio das relações de trabalho para obter maior rendimento. Os desdobramentos das
crises do capital que encontraram tendências percebidas a partir das crises de 1968-1973
e em 2008-2009 são a superexploração do trabalho; deterioração do campesinato; destrui-
ção da natureza; a transformação do agronegócio em atividades extrativistas predatórias; a
segregação urbana e social (ANTUNES, 2020).

Acrescente-se ainda a forte eugenia social, a exacerbação do racismo, a opres-


são de gênero, a xenofobia, a homofobia, o sexismo, além da propagação
do culto aberrante da ignorância, do desprezo à ciência, dentre tantos outros
traços destrutivos que se desenvolvem nesta era de exasperação da razão
instrumental e de contrarrevolução preventiva [...] (ANTUNES, 2020, p.10).

A situação do mercado de trabalho brasileiro às vésperas da pandemia já era ruim,


mesmo antes desta nova crise. Por isso, os impactos no país tendem a ser ainda mais dra-
máticos. No início de 2020 o Brasil já existia uma taxa de desemprego acima de 11%. Essa
situação seria mais facilmente contornável, caso a maioria da população estivesse ocupada
em empregos formais. Houve também, a diminuição do grau de formalização das ocupações
desde 2015 e, em grande medida, por causa da perda dos empregos no ramo industrial.
Com a redução dos empregos industriais, uma parte doa trabalhadores se deslocou para
setores de menor produtividade e menores salários como o comércio e o setor de serviços
(MATTEI; HEINEN, 2020).
Entre outras coisas que servirão de aprendizado, as formas de convivência em socie-
dade se tornam um desafio a cada dia. O distanciamento físico (e não social), o uso das
tecnologias da informação e comunicação para trabalhar, aprender e se relacionar com as
pessoas, estão, cada vez mais, presentes em nosso cotidiano. Mesmo assim, líderes gover-
namentais ignoram o perigo eminente da doença e preferem atender às necessidades da
economia em detrimento da saúde da população. Essa crítica é formulada por Mattei (2020c)
que ao comentar a elevação dos casos no estado de Santa Catarina escreveu:

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[...] é necessário que as autoridades governamentais do estado de Santa
Catarina parem de adotar medidas populistas para atender lobbies eco-
nômicos e, de fato, adotem medidas mais drásticas que sejam capazes
de achatar a curva de contágio do atual surto epidêmico visando evitar
sua propagação indefinidamente, bem como uma elevação do número
de óbitos (MATTEI, 2020c, p.39, grifo do autor).

O cenário da Covid-19 na microrregião de Blumenau (Figura 1) até o dia 03.09.2020


foi preocupante, porque sua participação era de 43% de todos casos da mesorregião. Nas
regiões mais populosas, como o município de Blumenau aumentou para 47% do total de
casos da microrregião, Brusque representava 21%, Gaspar 11%, Indaial 7%, Timbó 4% e
Pomerode 3%. Nesse período, o somatório de casos nesses seis municípios era de 93%
(MATTEI, 2020a). Nada obstante, essa microrregião segue entre as mais impactadas pelo
número de infectados e de mortos. Aliás, a microrregião de Blumenau pertence a mesorregião
com maior número de óbitos registrados no estado até dezembro de 2020 (MATTEI, 2020c).

Figura 1. Mapa da Microrregião do Blumenau com destaque para os seis municípios mais afetados.

Fonte: Silva (2019).

Conforme boletim divulgado pelo Núcleo de Estudos de Economia Catarinense (NECAT) a


alta concentração de casos da Covid-19 nos seis municípios destacados na Figura 1 corro-
bora para a disseminação do vírus na região próxima como ocorreu em Rodeio, Guabiruba
e Benedito Novo (MATTEI, 2020a). No entanto, a complexidade da crise causada pela pan-
demia apresenta várias dimensões. Destaca-se aqui as dimensões políticas, econômicas e
do mundo do trabalho.

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A DIMENSÃO POLÍTICA

No território brasileiro a pandemia da Covid-19 aparece no contexto da retórica populista


diante do consenso da política liberal ortodoxa. Existe, portanto, uma divisão da sociedade
em dois campos antagônicos e nefastos, o povo abandonado e as elites no poder. Após
as eleições de 2018, fomos compulsoriamente marcados por uma divisão social entre os
vencedores e os perdedores. Desse modo, mesmo que houvesse uma ruptura política, não
teríamos a nova ordem social almejada pelos críticos do sistema. A ideologia implantada é
que para resguardar os valores e da família tradicional ou dos chamados “cidadãos de bem”,
seria excepcional interromper os planos de instalação de um regime comunista no Brasil.
Para tal aspiração, valeria tudo. Matar 30 mil, metralhar a “petralhada” já que o inimigo de-
monizado e culpado por todos os males eram os comunistas do Partido dos Trabalhadores
(PT) (TOSTES, 2020).
Nesse contexto de legitimidade fragilizada no Brasil e em várias partes do mundo, que
surge a pandemia de Coronavírus. À vista disso, dentro de muitas contradições a ideologia
política disseminada pelo (des)governo1 Bolsonaro que faz “pouco caso” da crise e ainda
responde às críticas com negacionismo da pandemia; grandes conspirações da esquerda
nacional e mundial; e o remédio milagroso, a Cloroquina (TOSTES, 2020).
Todavia, a crise apresenta muitos elementos, como a contribuição da mídia na divul-
gação de “fórmulas mágicas”, ou seja, o medicamento (Cloroquina) que ainda não teve a
comprovação científica da sua eficácia. Outro elemento da crise é a falácia de que o vírus
foi feito em laboratório chinês para criar condições de promover uma ditadura de esquerda
no Brasil. Não bastasse tanta bobagem sem fundamento, em vários municípios do Brasil,
apoiadores do (des)governo fizeram buzinaços em frente a hospitais, enquanto doentes de
Covid-19 eram tratados, o que se configura no total desrespeito aos enfermos e profissionais
da saúde (TOSTES, 2020).
No atual (des)governo, o debate sobre o vírus é intermitentemente conduzido por uma
cortina de fumaça. Entre vários absurdos ditos destaca-se o descrito por Löwy (2020):

Em 20 de abril, Bolsonaro fez uma declaração significativa: “70% da popula-


ção vai ser contaminada pelo Covid-19, isto é inevitável”. Claro, seguindo a
lógica da “imunização de grupo” (proposta inicial de Trump e Boris Johnson,
depois abandonada), isto talvez pudesse acontecer. Mas só seria “inevitável”
se Bolsonaro conseguisse impor sua política de recusa das medidas de con-
finamento: “o Brasil não pode parar” (DOS SANTOS SOUZA, 2020, p.150).

1 O termo (des)governo em crítica ao governo Bolsonaro vem sendo utilizado por vários pesquisadores. Entre eles, está o professor
Ricardo Antunes que utilizou o termo no prefácio do livro O “estado de mal-estar social” brasileiro.

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Enquanto empresários desfilavam com seus carrões exigindo a volta dos trabalhadores
para as atividades, uma parcela da população buscava ser incluída no mecanismo de renda
mínima, também chamado de Auxílio Emergencial. Depois de muito debate sobre as impli-
cações financeiras do Auxílio Emergencial, com a proposta de corte pela metade, o (des)
governo Bolsonaro proporciona para a oposição uma ocasião de mobilização e educação
política. Enquanto o (des)governo se posicionava contra o sistema de ajuda aos pobres, a
sintonia entre a oposição e a articulação da Rede Brasileira de Renda Básica o mecanismo
de renda básica foi aprovado para que muitas pessoas não fossem lançados a própria sorte
(MARTINS, 2020).

A DIMENSÃO NO MUNDO DO TRABALHO PARA FINS ECONÔMICOS

Argumentando “evitar demissões”, o (des)governo anunciou as medidas elaboradas


pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Tais medidas foram analisadas pelo olhar
crítico de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (MATTEI, 2020b):

• Como primeira medida, foi sugerida a redução da jornada de trabalho com corte
proporcional nas remunerações, podendo chegar a 50%. No entanto, os salários
não poderão ser diminuídos abaixo do valor de um salário mínimo. Com a desculpa
de ser apenas uma flexibilização temporária, o (des)governo argumenta que essa
proposta não fere os preceitos da Legislação Trabalhista. Porém, existe uma incon-
sistência que qualifica o argumento do (des)governo como mentira. Isto, porquê o
artigo 503 da Consolidação das Leis do Trabalho não permite a unilateralidade da
decisão e, do mesmo modo não permite uma redução maior do que 25%.
• A segunda medida sugerida pela CNI e aceita pelo (des)governo, foi a regulamen-
tação do Teletrabalho. Segundo essa regra, o acerto entre trabalhador e empresa
exige uma antecedência de apenas 48 horas. Essa medida exige a inclusão de um
novo artigo no Capítulo II-A da CLT. Ademais, a organização patronal da indústria
ambicionou que houvesse a inclusão de um artigo com a intenção de fixar turnos
mistos, ou seja, períodos presenciais e outros com Teletrabalho.
• A terceira medida nos lembra o período de forte desemprego e desregulação do
trabalho, ou seja, a década de 1990. Isto, porque faz a sugestão de alterações no
Banco de Horas, ou seja, os trabalhadores poderão ficar ociosos em casa e depois,
pagar as horas com o acréscimo de 2 horas diárias na jornada. O grande inconve-
niente desta medida é que ela seria imposta por uma decisão unilateral da empresa
com prazo de até 2 anos para compensar as horas. Tal fato, somente seria possí-
vel, mediante a alteração do artigo 59 da CLT.

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• Sem causar estranhamento, a quarta medida requer a alteração da CLT, especifica-
damente, no que tange as férias individuais e coletivas. A proposta é de flexibilizar
os artigos 7, 135 e 139 da Constituição Federal.
• A quinta medida diz respeito ao “Estado Máximo”, porque, a falácia neoliberal do
“Estado Mínimo” serve para beneficiar o mercado econômico e tecnocrático. Sendo
assim, a proposta é que o Estado venha a assumir o pagamento do afastamento
dos trabalhadores infectados pelo Coronavírus, acima de tudo, os empregados das
micro e pequenas empresas. No entanto, essa medida exige a alteração do artigo
60 da Lei 8.213/91.

Não bastassem tantas formas de se apropriar da força de trabalho, o (des)governo


se posicionou em favor de estimular a flexibilização nas decisões patronais, disfarçadas de
negociações individuais para aumentar a extração de mais-valia, com a desculpa de manter
os empregos (MATTEI, 2020b; ANTUNES, 2020).

Neste caso (flexibilização), observa-se que o documento da CNI já antecipou


um conjunto de outras medidas, com destaque para: a) mudar unilateralmente
o horário de trabalho (alterar art. 468 da CLT); b) ampliação do lay-off, o que
significa alterar o artigo 476-A da CLT; c) não aplicação de multas por medidas
adotadas pelas empresas, o que significa alterar o artigo 627 da CLT; d) sus-
pensão de registros administrativos exigidos pelas normas regulamentares,
conforme NR 04 (Segurança do Trabalho) e NR 05 (CIPA); suspender os prazos
de contestação e de recursos administrativos de autos de infração trabalhista
(MATTEI, 2020b, p.19).

As propostas econômicas visando “evitar demissões” anunciadas pela CNI compõe as


áreas: tributária, monetária, financiamento, regulação e alterações na legislação do traba-
lho. Vale lembrar que outras medidas que desfavorecem os trabalhadores, também, foram
impostas com o argumento de preservar os empregos como cita Mattei (2020b):

Neste sentido, sempre é bom lembrar que se fez a reforma trabalhista com os
mesmos objetivos, ou seja, preservar o emprego, mas o que se viu logo após
a aprovação dessa reforma foi um avanço expressivo do desemprego, o qual
permanece com taxas elevadas até os dias atuais. Por isso, escandalosamente
está se tentando fazer mais uma minirreforma trabalhista com objetivo muito
claro: retirar mais direitos que ainda estejam presentes na CLT. De fato, só
faltou requisitar a volta da escravidão, tamanha é a desfaçatez das propostas
apresentadas pela CNI e incorporadas pelo governo como se suas fossem
(MATTEI, 2020b, p.19).

Além disso, a PEC 186/19 (ou PEC Emergencial) estabelece a redução de 25% da
jornada de trabalho e nos salários dos servidores públicos (QUEIROZ, 2020). De acordo
com Mattei (2020b) as propostas econômicas evidenciam as debilidades do (des)governo

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Bolsonaro, porque, a diminuição das remunerações, por conseguinte, reduz a capacidade
de compra dos cidadãos e desencadeia-se um ciclo de diminuição das arrecadações de
tributos, nos negócios das empresas e nas atividades de produção. Da mesma forma, dimi-
nuir as remunerações dos [...] “servidores públicos neste momento de epidemia impactará
negativamente em quatro áreas cruciais de atendimento à população: saúde, assistência
social, educação e segurança pública”.
Não é recente a burguesia representada pela CNI atuar na luta de classes por meio
da pressão contra o Estado para alterar a constituição e retirar os direitos dos trabalhado-
res. De acordo com Cadoná (2009), após a constituição de 1988 essa organização patronal
atua com o intuito de pressionar o Estado para modificar as leis com a inclusão de meca-
nismos de flexibilização das formas de trabalho.

A DIMENSÃO DO MUNDO DO TRABALHO NO SETOR DE SAÚDE DA


MICRORREGIÃO DE BLUMENAU

Para analisarmos a dimensão do mundo do trabalho é fundamental verificar em que


condições alguns dos profissionais da chamada linha de frente no cuidado dos doentes da
Covid-19. Para tal pretensão, foram organizadas informações, seguidas por análises com
período anual entre 2003 e 2018, sendo que este recorte temporal ocorreu depois da rees-
truturação da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) em 2002. Essas informações
são do período pré-pandemia e revela caracterizações do mundo do trabalho dos profissio-
nais da saúde como:

a) Salários por gênero dos profissionais da saúde da microrregião de Blumenau entre


2003 e 2018;
b) Tipos de vínculos dos profissionais da saúde da microrregião de Blumenau entre
2003 e 2018;
c) Tempo de permanência no trabalho dos profissionais da saúde da microrregião de
Blumenau entre 2003 e 2018.

Condições de Trabalho dos Profissionais de Medicina da Microrregião de Blumenau


entre 2003 e 2018

Inicialmente, é notório que a medicina é exercida na microrregião de Blumenau por mais


médicos do que médicas, ou seja, o percentual de homens fica entre 58% e 67%. Em termos
de equidade salarial, não se pode constatar que ocorrem discrepâncias, pois, as diferenças
são inerentes aos dois lados para mais ou para menos. Isto é um ponto positivo, porque,
em outros setores como é o caso da Indústria do Material Elétrico e de Comunicação entre

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2005 e 2015, as mulheres são quase metade dos vínculos, mas estão incluídas nas menores
faixas de remuneração (SILVA, 2019). As remunerações da maioria dos profissionais de
medicina entre 2003 e 2006 eram entre 4 e 15 salários mínimos. A partir de 2007 as maiores
faixas avançam para o montante entre 15 e 20 salários e em 2018 estes, estão nas faixas
entre 7 e mais de 20 salários. Mesmo com o aumento no número de médicos e médicas
no ano de 2007 (aumentou cerca de 7%) ou pequenas diminuições em alguns períodos as
remunerações sempre tenderam a atingir patamares maiores. Logicamente, entre todos os
profissionais da saúde, os médicos e médicas estão nas maiores faixas de remuneração.
Quanto aos tipos de vínculos dos profissionais de medicina da microrregião de Blumenau
entre 2003 e 2018, este é o tipo de trabalhador mais contratado por prazos temporários (entre
9,7 em 2005 e 24% em 2009). Dentre as formas de contratação temporária, esses vínculos
estão inseridos nos vínculos: estatutário não efetivo; temporário; trabalhador urbano vinculado
a empregador pessoa jurídica por contrato de trabalho regido pela CLT, por tempo determi-
nado ou obra certa; contrato de trabalho por prazo determinado, regido pela Lei 9.601, de
21 de janeiro de 1998; contrato de trabalho por tempo determinado, regido por lei municipal.
A sistematização dos dados para o tempo de permanência no trabalho dos profissionais
de medicina da microrregião de Blumenau entre 2003 e 2018 mostra que a maioria destes
ficam no trabalho por entre 3 e 10 anos. Como o número de profissionais com estabilidade
no trabalho é considerável, é certo que fixam carreira por muito tempo e, dentre os que
estão com tempos menores de permanência no trabalho, estão os novos contratados com
estabilidade e os sem estabilidade.

Condições de Trabalho dos Enfermeiros e Enfermeiras da Microrregião de Blumenau


entre 2003 e 2018

A presença de mulheres na enfermagem é muito maior, fica entre 84% e 90,6%. Não
obstante, a condição de remuneração dos enfermeiros e enfermeiras é muito parecida. Entre
2003 e 2005 a maioria dos profissionais recebiam entre 5 e 10 salários. Esse patamar se
dissolve para 4 a 10 salários entre 2006 e 2011. No ano de 2012 se decompõe entre 2 e 10
salários para a maioria dos profissionais da área. Entre 2013 e 2018 perde participação nos
maiores salários e a maior parte dos profissionais de enfermagem entraram no patamar de 3 a
7 salários mínimos. Mas, é neste ano que o número de trabalhadores aumentou 21,3%. Sendo
assim, durante todo o período analisado aumentou o número de vínculos, acompanhado de
uma queda na remuneração dos enfermeiros e enfermeiras da microrregião de Blumenau.
Quanto aos tipos de vínculos dos enfermeiros e enfermeiras da microrregião de
Blumenau entre 2003 e 2018, nota-se que existe uma variação entre 3,6% em 2016 e
14,2% em 2009 nos trabalhadores com contratos temporários. No entanto, contata-se uma

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tendência de diminuição na contratação dos vínculos por tempo determinado, porquê existe
um decréscimo temporal, em 2018 eram 4,4%. As formas de contratação dos enfermeiros
e enfermeiras (sem estabilidade no emprego) são as mais variadas: servidor público não-e-
fetivo (demissível revogável pela vontade de uma só das partes ou admitido por legislação
especial, não regido pela CLT); trabalhador temporário, regido pela Lei 6.019, de 3 de janeiro
de 1974; trabalhador urbano vinculado a empregador pessoa jurídica por contrato de traba-
lho regido pela CLT, por tempo determinado ou obra certa; contrato de trabalho por tempo
determinado, regido por lei municipal.
Os dados para o tempo de permanência no trabalho dos enfermeiros e enfermeiras da
microrregião de Blumenau entre 2003 e 2018 mostram uma dispersão que abrange desde
os 6 meses até 10 anos para a maioria dos vínculos. Os dados, também sofrem influência
da constante ampliação no sistema de saúde, porque são muitas contratações anuais.

Condições de Trabalho dos Fisioterapeutas da Microrregião de Blumenau entre 2003


e 2018

No que tange as diferenças de remuneração por gênero, não se observa uma tendência
que leva a injustiça. Dentre os profissionais de fisioterapia as mulheres são maioria, ou seja,
entre 76,8% e 82,4%. As médias de remuneração em 2003 ficavam entre 1,5 e 3 salários,
mas, de 2004 até 2007 a maioria dos trabalhadores com esta formação recebiam de 1 a 5
salários. No ano de 2008, fica de 1 a 3 salários e, a partir de 2009 as médias estão, para a
maior parte dos vínculos, de 1 até 5 salários. Essa dispersão, também é resultado do au-
mento anual do número de trabalhadores da fisioterapia.
Os dados sobre os tempos de permanência no trabalho dos fisioterapeutas entre 2003
e 2009, mostram uma dispersão entre 6 meses e 3 anos. No entanto, o número de contrata-
ções anuais altera com frequência esses dados, porque entre 2010 e 2018 a dispersão fica
para os tempos da maioria dos trabalhadores entre 6 meses e 10 anos.
Quanto aos tipos de vínculos dos fisioterapeutas da microrregião de Blumenau, entre
2003 e 2018 a maior parte desses profissionais tem emprego estável e alterações mais con-
sistentes são nos anos 2017 (5,2%) e 2018 (4,3%). Por isso, além de ser a modalidade com
menos profissionais, também é a que mais garante estabilidade no emprego na microrregião e
período analisados. As formas de contratação são as mesmas dos enfermeiros e enfermeiras.

Condições de Trabalho dos Técnicos e Técnicas em Enfermagem da Microrregião de


Blumenau entre 2003 e 2018

Os salários por gênero de Técnicos e Técnicas em Enfermagem da microrregião de


Blumenau entre 2003 e 2018 ficam na média entre 2 e 3 salários. Dos profissionais analisados

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130
aqui, estes são os que tem formação de nível médio. Também, são profissionais que mais
entram em contato com os pacientes. Para saber o tamanho da importância desses profis-
sionais no cuidado e diminuição das dores dos pacientes é necessário ter sido internado
alguma vez. O nivelamento por baixo acontece sem distinção de gênero nessa massa de
profissionais que é majoritariamente feminina, porque entre no período analisado o número
de mulheres nessa profissão é de 84,4% a 86,2%.
Os dados sobre os tipos de vínculos dos técnicos e técnicas em enfermagem da mi-
crorregião de Blumenau entre 2003 e 2018, mostram que as formas de contratação dos
técnicos e técnicas em enfermagem são as mesmas que as dos enfermeiros, enfermeiras
e fisioterapeutas. No quesito estabilidade no emprego a grande maioria dos profissionais
são contratados em cargos com constância, pois sem estabilidade varia entre 1,5% em
2016 e 6,1% em 2009.
Os dados sobre o tempo de permanência no trabalho em meses dos técnicos e técnicas
em enfermagem da microrregião de Blumenau entre 2003 e 2018, sendo está profissão a
que mais necessita de trabalhadores. Como o número de trabalhadores está em constante
crescimento, os dados revelam constante dispersão no tempo de trabalho entre 6 meses e
10 anos ou mais.

CONCLUSÕES

• A situação do mercado de trabalho brasileiro às vésperas da pandemia já era ruim,


e, em função disso, os impactos no país tendem a ser ainda mais terríveis. No iní-
cio de 2020 o Brasil já contava com uma taxa de desemprego muito alta (MATTEI;
HEINEN, 2020).
• A microrregião de Blumenau até o dia 03.09.2020, participava com 43% de todos
casos de contaminação por Covid-19 da mesorregião. A alta contaminação da mi-
crorregião foi na cidade central, Blumenau. Nesse período, o somatório de casos
nos municípios de Blumenau, Timbó, Pomerode, Brusque, Gaspar e Indaial era de
93% (MATTEI, 2020a).
• Do ponto de vista político, excepcionalmente, o que se observa é o agravamento
da crise e a negligência do atual (des)governo por vários motivos que compõem
a ideologia implantada. Dentre eles: o negacionismo da pandemia; grandes cons-
pirações da esquerda nacional e mundial; e o remédio milagroso da Cloroquina
(TOSTES, 2020).
• Ao mesmo tempo que o (des)governo Bolsonaro se posicionava contra a implan-
tação de um mecanismo de renda básica de ajuda aos pobres, a sintonia entre a
oposição e a articulação da Rede Brasileira de Renda Básica fez com que este
fosse aprovado (MARTINS, 2020).

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• O ano de 2020 que já começou com a economia fragilizada e desemprego. Mas,
para “amenizar” a crise e “evitar demissões”, foram anunciadas pelo (des)governo,
as medidas elaboradas pela CNI (MATTEI, 2020b).
• As medidas visam, principalmente, reduzir benefícios e salários de trabalhadores
e servidores públicos. Inclusive com propostas de alterações nas leis trabalhistas.
• Para compreensão do contexto em que os profissionais da saúde enfrentam a cri-
se, fez-se uma análise dos dados da Rais e percebemos conjunturas diferentes
entre profissionais de medicina, de enfermagem, fisioterapia e técnicos e técnicas
de enfermagem.
• Sobre as condições de trabalho dos profissionais de medicina da microrregião de
Blumenau entre 2003 e 2018, estes são os profissionais com os salários mais altos,
maiores faixas de tempo no trabalho, mas, estes estão mais sujeitos a cargos com
contato temporário.
• Quanto as condições de trabalho dos enfermeiros e enfermeiras da microrregião de
Blumenau entre 2003 e 2018, não foram observadas diferenças salariais entre gê-
neros. Na microrregião analisada, este é uma profissão majoritariamente feminina
(84% e 90,6%). Os salários variam com a contratação de mais profissionais e foram
diminuindo com o passar dos anos, até atingir a tendência do patamar de 3 a 7 sa-
lários mínimos. A maioria dos enfermeiros e enfermeiras tem empregos estáveis e,
por isso, estes profissionais tendem a ficar muito tempo no mesmo emprego.
• A respeito das condições de trabalho dos fisioterapeutas da microrregião de Blu-
menau entre 2003 e 2018, este grupo, composto majoritariamente por mulheres
com salários dispersos entre 1,5 e 5 vezes o salário mínimo. Analisando o fato de
que o número de contratações anuais altera com frequência os dados, existe uma
tendência dos tempos de permanência no trabalho entre 6 meses e 10 anos. Isso,
também, porque é uma profissão com alta estabilidade de emprego na microrregião
analisada.
• Já os técnicos e técnicas em enfermagem da microrregião de Blumenau entre 2003
e 2018 apresentam condições salarias sem muita variação. Isto, porque, esta pro-
fissão composta majoritariamente por mulheres recebe durante todo este período
uma média de 2 a 3 salários mínimos. Mesmo sendo a profissão da linha de frente
nos cuidados da população contaminada por Covid-19, a alta estabilidade faz com
que estes permaneçam por muito tempo no emprego (de 6 meses e 10 anos ou
mais).

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3. CADONÁ, Marco André. A inserção neoliberal: burguesia industrial e a inserção


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4. COSTA, José Ricardo Caetano; SERAU JUNIOR, Marco Aurélio; SOARES, Hector
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6. Lauro, MATTEI. A crise econômica decorrente do covid-19 e as ações da equipe eco-


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em Direito) - Faculdade de Direito, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2020.

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Regional) - Universidade Regional de Blumenau, Centro de Ciências Humanas e da
Comunicação, Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional.

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xões sobre a pandemia e depois / Anjuli Tostes, Hugo Melo Filho; ilustração de Carlo
Giambarresi. – 1.ed. – Bauru: Canal 6, 2020.

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09
Configuração socioespacial do município de
Laguna: a interação sociedade e ambiente

Cristina Benedet
Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Este artigo é uma proposta de discussão a partir do Projeto de Extensão Diagnóstico Participativo da Ocupação Urbana no Bairro Cen-
tro, Laguna, SC, Centro de Ensino Superior da Região Sul – CERES, Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, realizado no
ano de 2009.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/220910059
RESUMO

Laguna é um dos municípios que participou ativamente da histórica de Santa Catarina e do


Brasil. As medidas políticas e econômicas nos períodos da colônia, monarquia e república
refletiram no desenvolvimento territorial em diferentes períodos históricos, que se caracte-
rizaram por períodos de prosperidade e de declínio. A fundação e o desenvolvimento his-
tórico estão relacionados às primeiras providências para a expansão do território brasileiro
juntamente com as medidas políticas e econômicas de ocupação efetiva das terras do sul
do Brasil. Desde meados do século XX, Laguna perde a representatividade econômica,
política e cultural em nível de região e Brasil resultando num período de decadência. Com
uma industrialização insuficiente, sustentam a economia do município, o turismo sazonal
voltado para as praias, para as atividades de veraneio e para o centro histórico; a pesca
artesanal, a carcinicultura e o setor de serviços. A atual organização do território, além de
ser uma construção histórica, onde o espaço geográfico guarda as formas e as funções de
diferentes períodos históricos, responde às condições do ambiente natural, particularmente
por ser uma área costeira com uma complexidade ambiental que engloba potencialidades e
fragilidades para a manutenção do equilíbrio ecológico e econômico. Permanece o desafio
de um progresso sustentável para toda a população e para a economia local.

Palavras-chave: Laguna, Território, Ambiente, Espaço Geográfico.


INTRODUÇÃO

Um centro histórico ilustra, da melhor forma, empiricamente, a resistência ou a imponên-


cia frente às mudanças. Caracterizam uma época, testemunhos de um período simbolizam
valores estéticos, culturais e econômicos. Representam processos, mantendo-se frente aos
processos consolidados e emergentes.
Os referenciais locais, contudo, não se constituíram e se mantêm desvinculados das
inter-relações que ultrapassam os limites políticos, naturais e ambientais. O município in-
terage com a dinâmica socioespacial, regional, nacional e, para além dos limites do seu
país. A organização socioespacial do território municipal reflete o papel que é atribuído ao
município no contexto de cada período histórico. O município de Laguna esteve, histori-
camente, relacionado à dinâmica socioeconômica e política que abrangeu desde a escala
local a escala mundial. Reflexo dessas interações permanece nos edifícios, na paisagem,
na cultura, nos monumentos, na sua história.
Desta maneira, compreender como a organização socioespacial responde às condições
econômicas, políticas, ambientais e culturais frente às diferentes funções, urbana, regional
e nacional, característicos dos períodos históricos, permite entender os processos que con-
tribuíram com a configuração atual do município de Laguna. Cidades históricas possuem
uma rede de relações significativas com o seu exterior que interferem internamente na
configuração socioespacial, a qual é reconhecida e institucionalizada com o tombamento,
constituindo-se em patrimônio histórico e artístico nacional.
O município de Laguna está localizado na faixa litorânea do Sul de Santa Catarina
(mapa 01). Os limites políticos administrativos integram a bacia hidrográfica do rio Tubarão,
mais particularmente, é acompanhada, em sua extensão territorial, por um complexo lagunar,
no qual a sede urbana está localizada junto ao canal da barra que liga ao mar e frente à foz
do rio principal, o rio Tubarão.

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Mapa 01. Localização do município de Laguna.

Fonte: da autora.

A estimativa da população, para o ano de 2010, era de 51.691 habitantes, ocupando


uma área de 441km². No PIB (Produto Interno Bruto) municipal, a agropecuária, contribui
com 42.357 mil reais; a indústria com 61.484 mil reais e o setor de serviços com 240.502 mil
reais. O PIB per capita fica em 7.257 reais (IBGE, 2007). A pesca é a atividade representa-
tiva do setor primário em nível regional, enquanto as outras atividades da agropecuária e a
extração mineral não alcançaram expressividade.
Quanto ao setor secundário, não se encontra ainda consolidado, porém, alguns setores
industriais se destacaram, como o do pescado, confecções e o processamento da fécula
de mandioca e do arroz. O setor terciário é representado pelo turismo e a consequente de-
manda de serviços de alojamento e alimentação; o comércio, em geral, não apresenta uma
especialização mais específica. Porém, o setor turístico não está solidificado, a atividade
é, de maneira geral, sazonal, na temporada de veraneio, ficando, o restante do ano, com a
capacidade ociosa (SANTA CATARINA, 1990).

Espaço geográfico: referencial teórico

Encontra-se, em Milton Santos, o referencial teórico para a teoria socioespacial. O au-


tor esclarece que

todos os espaços são geográficos, porque são determinados pelo movimento


da sociedade, da produção. Mas, a paisagem e o espaço resultam de movi-
mentos superficiais e de fundo da sociedade, uma realidade de funcionamento
unitário, um mosaico de relações, de formas, funções e sentidos (SANTOS,
1997, p. 61).

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Mais especificamente, “A paisagem é um conjunto heterogêneo de formas naturais
e artificiais; é formada por frações de ambas [...] A paisagem é sempre heterogênea [...]”
(SANTOS, 1997, p. 65). Compreendendo conceitualmente “[...] o espaço não pode ser ape-
nas formado pelas coisas, os objetos naturais e artificiais, [...] O espaço é tudo isso, mais
a sociedade: cada fração da natureza abriga uma fração da sociedade atual.” (SANTOS,
1985, p. 1). E ainda, “[...] um conjunto de objetos e de relações que se realizam sobre estes
objetos; não entre estes, especificamente, mas para os quais eles servem de intermediários
[...]” (SANTOS, 1997, p. 71).
A relação do ser humano e da sociedade com o objeto representa os processos sociais,
os quais caracterizam os períodos históricos, para a área de abrangência que sofre a influên-
cia dos eventos em diferentes escalas. Esses processos sociais se manifestam por meio das
formas e das funções; o espaço formado de fixos e fluxos (SANTOS, 1985). A interação entre
ambos ocorre por intermédio do espaço econômico “[...] um conjunto de pontos e de fluxos
entre eles [...], pois os fixos provocam fluxos em função de seus dados técnicos, que são
geralmente locacionais, mas, também, em função dos dados políticos [...]” (SANTOS, 1997,
78). Assim, quando se tratar da compreensão global de uma área de estudo precisamos ir
além da paisagem “[...] Desvendar essa dinâmica social é fundamental, as paisagens nos
restituem todo um cabedal histórico de técnicas, cuja era revela; mas ela não mostra todos
os lados, que nem sempre são visíveis” (SANTOS, 1997, p. 69).
A partir deste ponto de vista, lançamos um olhar sobre o município de Laguna e,
mais particularmente, para o Centro Histórico. Entre os diversos autores que já escreveram
sobre Laguna, há a preocupação em descrever os processos sociais de uso e ocupação
das terras. Interpretando e relacionando os fatos aos eventos nas diferentes escalas dos
acontecimentos, percebe-se uma possibilidade do entendimento a partir da configuração
socioespacial. Entre eles, de maneira suscinta, Ulysséa (1956; 2004) descreve a dinâmica
histórica, destacando o desenvolvimento do Centro urbano. De forma semelhante, Ulysséa
(1943) atém-se à História do município nos anos de 1880 e, também, dedica páginas à es-
cravidão ao registrar a história de um navio negreiro, relatada por um morador que afirmava
ser o capitão de um navio de tráfico.
Dall’Alba (1980) prende-se à história e à ocupação do território, nas décadas anterio-
res a 1880, dedicando um capítulo à presença, venda e ao trabalho dos escravos negros,
apresentando uma parte do Livro de Transferência de Escravos do Mirim. Graça (1883) fez
estudos sobre o canal da barra de Laguna e protagonizou uma discussão sobre a rivalidade
histórica na competição entre o porto de Laguna e de Imbituba. Guedes Junior (1994) de-
dica-se à economia do município, recupera a história do porto, as atividades e os projetos
econômicos privados e estatais envolvidos. Lucena (1998) enfoca as transformações físicas

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e socioculturais nos espaços públicos do Centro histórico resgatando a memória urbana do
centro. Campos (2007) estuda o nível de percepção, interpretação e produção de novos
significados os quais indicaram alternativas para maior identificação e consequente preser-
vação do Centro Histórico.

A configuração socioespacial do município: uma periodização.

A colonização das terras que, após se chamaria Laguna, ocorreu dentro da política
expansionista do domínio português. É incerta a data dos primeiros contatos com as terras
do sul do Brasil, atribui-se, mais exatamente, à expedição espanhola náufraga do capitão
Juan Salazar, em 1551, o primeiro a vencer a barra da laguna e alcançar o seu interior
(ULYSSÉA, 1956).
Mas, essas terras, de início consideradas desprovidas de povo e território, abrigavam
a população dos índios carijós, portadores de uma cultura, formadores de grupos sociais
e conhecedores e exploradores dos recursos naturais provenientes do ambiente costeiro.
Dois povos distintos, dois níveis técnicos diferentes ocupando o mesmo espaço. Por um
lado, há a defesa do território, de outro, a conquista. Surgem, então, os jesuítas, amenizando
os conflitos, apaziguando interesses divergentes. Contudo, a História registra a vitória dos
interesses dos colonizadores em detrimento das sociedades indígenas.
Laguna se originou em consequência da expansão Vicentista para o sul, seguindo
o litoral. No século XVII, no ano de 1676 Domingos de Brito Peixoto chega em Laguna,
acompanhado do grupo de servidores característicos dos desbravadores: colonos, índios e
escravos. Devoto de Santo Antônio, para o qual dedica a primeira capela erguida, estende
a homenagem para o lugar com o topônimo de Santo Antonio dos Anjos da Laguna (pos-
teriormente, abreviado para Laguna). A expansão portuguesa para o sul alcança a linha do
Tratado de Tordesilhas, marco que, praticamente, dois séculos antes delimitou as terras
entre Portugal e Espanha em 1494 (ULYSSÉA, 1956).
Desde o início da colonização de Laguna é notável a influência do ambiente na deter-
minação do sítio de ocupação. Uma península caracteriza a boca da barra da laguna. A lo-
calização permite o acesso às terras nas margens da lagoa e possibilita, ao colonizador,
certa facilidade na defesa ao ataque dos índios Carijós, ao mesmo tempo em que permanece
próximo do mar aberto. Favoreceram, ainda, na escolha do sítio, o relevo de morros que o
protegiam do vento de nordeste, fonte de água potável e o solo mais favorável à agricultura
(ULYSSÉA, 2004).
A História da configuração socioespacial de Laguna pode ser analisada em períodos
assim caracterizados: a fundação e a organização política da vila; a expansão colonizadora

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e a incrementação comercial e portuária de Laguna; a ascensão econômica e sociocultural
e o período de declínio econômico (LUCENA, 1998).
O primeiro período (1678 – 1748) é marcado pela fundação e a organização política
da vila: A fundação de laguna, primeiramente subordinada ao governo de São Paulo e,
posteriormente, em 1742, ao governo do Rio de Janeiro, desde o início teve o seu propósito
expansionista, o qual a vila sustentou mesmo que resultasse em períodos de declínio a serem
superados. Inicialmente, a Póvoa de Laguna tinha o propósito de fixar os colonizadores e
delimitar território. Os anos de prosperidade se devem, primeiramente, ao domínio que incluía
o local como ponto obrigatório para a passagem das tropas de gado oriundas de Vacaria
e Viamão para Curitiba e Sorocaba, abastecendo a região de exploração da mineração, a
comercialização da carne salgada, ao pescado da lagoa que eram destinados aos portos
de Santos, do Rio de janeiro ou da colônia de Sacramento e ao domínio territorial que se
estendia até a vila de Desterro (atual Florianópolis) (ULYSSÉA, 1956).
Em 1720, é instalada a vila de Laguna; esta progressão é considerada a primeira
etapa da urbanização e a distinção entre a área urbana e a área rural (LUCENA, 1998).
Naquele ano, iniciou-se a construção da Casa de Câmara e Cadeia a qual foi concluída em
1747. Em 1726, são demarcados os limites Sul da vila de Desterro quando Santo Antonio
dos Anjos da Laguna perde parte do seu território. A partir deste fato acrescido, ainda, da
abertura da estrada dos Conventos, a qual torna possível o caminho para o sudeste do
Brasil sem passar pelos domínios das terras lagunenses, começa Santo Antonio dos Anjos
da Laguna, a perder importância. Caracteriza-se, assim, o primeiro período de declínio da
vila. A produção volta-se para as atividades locais da produção do peixe seco, da farinha de
mandioca, do cultivo de cereais, leguminosas e cana-de-açúcar (ULYSSÉA, 1956).
Mais tarde, a partir de 1733, foi de Laguna que partiram as expedições formadas pela
população branca, não excluindo a mão-de-obra do negro escravo, para a colonização dos
campos com a criação do gado, concretizando a conquista das terras mais meridionais do
Brasil, hoje o Estado do Rio Grande do Sul (ULYSSÉA, 1956). No início da segunda metade
do século XVIII, é característica a ligação dos moradores de Santo Antonio dos Anjos da
Laguna com os campos meridionais descrita como

‘[...] movimento de fluxo e refluxo dos habitantes da vila para campanha e


desta para aquela; quase todos os estancieiros tinham sua residência na vila,
porém, à proporção que se foram erigindo a capela do Viamão e a freguesia
de São Pedro, o movimento da campanha para ela foi diminuindo’ (GALVÃO,
[19-] apud ULYSSÉA, 1956, p. 14 e 15).

A posição geográfica da Colônia de Sacramento a deixava vulnerável às agressões dos


espanhóis, como a ocorrida em 1735, deixando a colônia em situação difícil. É de Laguna

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que parte a ajuda que, além de mantimentos, era formada por um contingente de homens
subtraindo da vila praticamente toda a força produtiva. Contudo, o governo militar com sede
em Desterro retira, da então, Santo Antonio dos Anjos da Laguna o predomínio sobre as
terras dos campos do sul. Desta maneira, os impactos são sentidos sobre a população, a
produção e o território (ULYSSÉA, 1956). Um novo declínio se inicia. No núcleo de povoa-
mento, os caminhos entre a capela e o campo do manejo, a fonte da água e a rua ao longo
da praia desenham o traçado urbano (LUCENA, 1998).
O segundo período (1748 – 1850) é caracterizado pela expansão colonizadora e incre-
mentação portuária e comercial de Laguna. Predominam, em Laguna, o índio e o mestiço
até o ano de 1749 quando chegam os imigrantes açorianos, pois pretendia-se retomar o
predomínio da população branca na vila. Em detrimento das novas técnicas trazidas da
Europa pelos açorianos, na vila, já desponta a vocação pesqueira em prejuízo do cultivo do
solo. A expressiva quantidade de pescado retirada da lagoa faz com que sejam instituídas
normas protetoras: estabelecendo malhas mais largas para as redes, proibindo as pescarias
nas proximidades da barra para não afugentar o peixe de entrada e o abatimento de aves
marinhas que predam os pequenos habitantes da lagoa (ULYSSÉA, 1956).
No núcleo urbano, destaca-se a Casa de Câmara e Cadeia por suas funções, concen-
trando no seu entorno um maior número de pessoas, residências e comércio, tornando-se
o principal núcleo de expansão urbana; o largo da matriz exerceu importância secundária
para o crescimento urbano, atuando como a ligação entre este núcleo e o Largo da Casa de
Câmara e Cadeia, preferencialmente próximo à lagoa - pela rua da Praia e pela rua direita
(Fig.: 01 e 02).

Figura 01. Rua Direita, caracterizada por ligar dois pontos importantes da cidade. Atual Rua Raulino Horn. Laguna.
Primeiros anos do Séc. XX.

Fonte: Acervo Antonio Carlos Marega.

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Figura 02. Rua Raulino Horn. Laguna, 2009.

Fonte: da autora.

Na segunda metade do século XVIII, Santo Antonio dos Anjos da Laguna recupera a sua
prosperidade, favorecida pelo fechamento da barra na vila do Rio Grande e a interrupção da
saída para o Atlântico pelos espanhóis no final do ano de 1760. Destacam-se, neste período,
na economia local, os donos de barcos formando uma aristocracia local representada pelos
armadores que também desempenhavam a função de comerciantes importadores e exporta-
dores. No entanto, com a política expansionista do governo, além da população deslocar-se
para o rio Grande do Sul, também, dirigiam-se para ocupar a terra nos Campos da serra
Geral e interior (catarinense), havendo o decréscimo da população local (ULYSSÉA, 2004).
Em 1820, os habitantes de Laguna representavam uma classe pobre (soldados e ma-
rinheiros) e uma classe média (comerciantes e transportadores), com uma população total
de nove mil habitantes (LUCENA, 1998). Neste mesmo ano, registra-se a passagem por
Laguna de Saint Hilaire, o qual descreve: as terras cobertas por grandes florestas, comércio
próspero, o fluxo do porto com a ilha de Santa Catarina e com outros portos, como o do Rio
de janeiro, Bahia, Pernambuco e Montevidéu. A vila foi assim caracterizada “[...] As ruas
eram bem estreitas, mas direitas e pavimentadas com uma mistura de terra preta e casca-
lho, bem batida, de tal sorte que, nos dias de chuva, pouca lama se formava no seu leito.
Tinham as casas boa aparência e eram, em geral, de alvenaria” (ULYSSÉA, 1956, p. 21).
Por ocasião da Revolução Farroupilha, o porto de Laguna serviu de comunicação
com o mar e, em 29 de julho do mesmo ano, é proclamada a autonomia de Santa Catarina,

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constituindo-se em República até a data de 15 de novembro de 1839 quando os revolucio-
nários são dominados pelas forças imperiais.
No ano de 1847, Laguna é elevada à categoria de cidade. Comerciantes e profissionais
liberais formam uma nova classe social, originando organizações políticas e culturais.
Nos anos entre meados do século XVII e meados do século XIX, o estilo arquitetônico
presente é o Luso Brasileiro com edificações alinhadas a rua, geminadas e conjugadas;
lotes com testadas pequenas e grande profundidade; os materiais de construção utilizados
são encontrados na região: a cal, (extraída das conchas), barro e pedra (soltos à beira-
-mar); as técnicas para as casas mais comuns: paredes de adobe (tijolos maciços de barro
cru); para as casas de melhor padrão, paredes de pedra, argamassa de barro e óleo de
baleia (CAMPOS, 2007).
O terceiro período (1850-1950), a partir de 1850, chegam, aos portos de Desterro e
Laguna, os imigrantes europeus que logo partiram para colonizar as terras a montante do rio
tubarão e do rio Araranguá, formando pequenas propriedades. Posteriormente, era do porto
de Laguna que o excedente produzido nas colônias era comercializado e destinado ao Rio
de Janeiro, ao mesmo tempo em que, no comércio local, os colonos adquiriam os produtos
que chegavam pelo porto. Comerciantes exportadores eram proprietários de navios para
o transporte de mercadorias (farinha de mandioca, feijão, milho e favas, entre outras) cujo
destino principal era o Rio de Janeiro (LUCENA, 1998). Nas Docas, realizava-se o comércio
em pequenas canoas.
É uma época de prosperidade. No entanto, em meio a eventos prósperos, ocorre no
ano de 1870, o desmembramento de uma parte expressiva do território para constituir o
município de Tubarão e, em 1890, emancipa-se o município de Imaruí.
A expansão urbana é registrada no início da década de 1880. Caracterizada como um
movimento de segregação, em relação ao Centro, ocorre a ocupação dos arrabaldes de
Magalhães, semelhantes a um subúrbio, onde se instalavam pescadores e marinheiros; outro
núcleo de expansão foi o arrabalde de Campo de Fora, o qual apresentava características
de expansão urbana diferente do Magalhães (LUCENA, 1998).
Fomenta, ainda, o desenvolvimento de Laguna a inauguração, em 1884, da Estrada
de Ferro D. Tereza Cristina que serve o porto de laguna com uma ramificação da linha que
liga Imbituba às minas de carvão localizadas na bacia do rio Tubarão próximo às escarpas
da Serra Geral. No ano de 1909, aconteceu o aterramento do cais como benfeitoria das
atividades do porto. Em 1929, ocorreu a construção do molhe norte e o início do novo porto
no bairro Magalhães.

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Nesta fase de prosperidade para a economia de Laguna, os empresários possuidores
de armazéns e de navios estabeleceram acordos com os colonos da região sul de Santa
Catarina para a comercialização dos produtos. Assim, enriquecem e a cidade progride.
Destacavam-se, entre os produtos comercializados, o carvão que vinha de Criciúma e
Lauro Muller, e a madeira de araucária, em pranchas, de 8 cm por 30 cm, de 3 a 6 metros
(as medidas variavam), e outras madeiras nobres. O destino dos navios era, principalmente,
Florianópolis, São Paulo e Rio de Janeiro. Por outro lado, de Laguna, partiam, principal-
mente, os produtos manufaturados que abastecia as outras vilas, como o açúcar, o sal, a
querosene (usada em lamparinas para iluminação). A cidade de Laguna progrediu até os
anos cinquenta. O centro destacava-se pelos estabelecimentos comerciais e industriais.
Havia, entre outros, próximo ao porto, os armazéns, os depósitos de cereais, também as
atividades do beneficiamento e embalagem para a comercialização. Depois se estabeleceu
fábrica de pescados, a produção de farinha de peixe, entre outras atividades.
Neste período de prosperidade, o estilo arquitetônico que predomina é o eclético nas
novas construções que, entre outras características apresentavam jardim lateral e muros;
eram utilizados, entre outros materiais, o vidro na arquitetura, calhas e platibandas, gradis
de ferro, vasos e estatuas para ornamentação (LUCENA, 1998).
A Primeira e a Segunda Guerra Mundial impulsionam a comercialização do carvão,
matriz energética para a época. Porém, nos anos quarenta, o porto de Imbituba, já instalado,
possui melhores condições para atracar e de instalações e grande parte dos produtos que
eram comercializados no porto de Laguna foram-lhe destinado. A atividade portuária em
Laguna entra em declínio.
O porto carvoeiro é transferido para o Magalhães, em 1943, e o porto de carga e
passageiros permanecem no Centro, mas o principal problema persiste: a passagem da
barra, perdendo aquele a competitividade (LUCENA, 1998). Ao final deste período, ainda
é registrada a expectativa de desenvolvimento para laguna “A cidade em si está bem edifi-
cada, notando-se um surto de progresso, com novas construções, especialmente no bairro
denominado ‘Magalhães’ [...]” (BANCO DO BRASIL, 1943, p. 10). Contudo, esta expectativa
estava longe de se concretizar.
O quarto período (1950-1997) é caracterizado pelo declínio econômico de
Laguna. Em 1959, deixa de ser centro econômico e, então, entra em estagnação. Nos anos
cinquenta, o trem deixa de lá entrar, permanecendo, os trilhos, até os anos 60. Na década
de setenta, a linha ferroviária é retirada do centro de Laguna e, no lugar, é aberta uma ave-
nida. A riqueza gerada pelo comércio e indústrias não prosperou, refletindo, posteriormente,
na falta de desenvolvimento da cidade.

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No final da década de trinta, quando a prosperidade econômica entra em declínio,
o estilo arquitetônico adotado no centro urbano foi o art deco, que representa o início do
movimento modernista na arquitetura e a ruptura com o passado e a inspiração no futu-
ro (CAMPOS, 1998).
A partir de meados do século XX, o governo investe no setor rodoviário em detrimento
do transporte ferroviário e navegação. Concorre, para o declínio da cidade, a abertura da
Rodovia BR 101 que retira do centro urbano o movimento de passageiros e carga; o as-
soreamento da lagoa que restringe o acesso de navios de grande porte, devido ao baixo
calado natural, o acesso de pequenas embarcações ao cais do centro e o movimento pouco
representativo do porto de Magalhães.
Nos anos setenta, alguns setores industriais instalaram-se em Laguna (materiais não-
-metálicos, cerâmica – olarias, produtos alimentares e madeira), mas com pouca expressão
econômica, pois não lograram o desenvolvimento esperado (LUCENA, 1998).
É a expansão urbana para a área do Mar Grosso, nas duas últimas décadas do século
passado, que inicia a vocação turística para o município, impulsionando a economia local,
principalmente o setor de serviços (hotelaria, restaurantes, bares entre outros), empregando,
principalmente, a mão-de-obra sazonal no período de veraneio. Na década de noventa, é
verificado um excedente de mão-de-obra o que ocasionou a busca pelo trabalho informal,
refletindo o baixo nível econômico da população, renda per capita e arrecadação de impos-
tos (LUCENA, 1998).
A expansão urbana ocorre paralelamente à via de acesso da BR 101 ao centro da
cidade por uma população de média e baixa renda; a expansão do bairro Mar Grosso
recebeu investimentos e se consolidou como o mais nobre, com residências para a tem-
porada. O bairro sede permanece como ponto principal de comércio, serviços públicos e
atividades de lazer e religiosas. Os primeiros tombamentos de imóveis isolados ocorreram
com o plano diretor de 1978. No entanto, não protegiam o conjunto arquitetônico represen-
tado pelos edifícios. Consequentemente, casarios simbólicos foram demolidos até que, em
1985, ocorre o Tombamento por determinação federal de toda a área central, definindo o
polígono do centro histórico. Desta lei resultou a desvalorização física, econômica e social
dos imóveis mediante as restrições de uso e alterações, ficando, para tanto, os proprietários
sujeitos às normas estabelecidas pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional). O centro, então, aos poucos, perde a sua função do lúdico e de sociabilidade
(LUCENA, 1998).

Uso do solo e impacto ambiental

Santa Catarina possui, no seu litoral, 47 lagoas costeiras de água salgada ou salobra,
ocupando uma área de 342,69km² o equivalente a 11, 4% da linha de costa. Na sua maioria,

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localizam-se na porção sul do Estado. Nesta região, destaca-se, na paisagem, o complexo
lagunar Mirim, Imaruí e Santo Antônio, um corpo de água único, delimitado pela posição
física e formando uma área de 184,94 km², com 5 a 75 km de superfície, totalizando 53,56%
km² da área total de Lagoas do Estado (SANTA CATARINA, 1986; PIRES, 1997).
Atualmente, o complexo lagunar recebe a poluição e a contaminação por resíduos e
efluentes que são lançados na laguna (lagoas) em toda a sua extensão, pelos afluentes,
rio Rio D’una e Tubarão (mapa 02); da bacia deste último escoa, para o rio, os rejeitos da
mineração de carvão.
Entre as causas da degradação da laguna estão: a água das bacias de decantação da
usina Jorge Lacerda, que pode conter pequenas quantidades de metais pesados ou mate-
riais não identificados, pode causar danos à biota aquática dos rios da região e à saúde da
população que tem contato com a água (MONN, 2008); o banhado da Estiva dos Pregos que
apesar das medidas de recuperação carreiam material contaminante pela água de drenagem,
resíduos de agrotóxicos, utilizados na agricultura que excedem os limites permitidos para o
consumo, as indústrias, as fecularias, as vinícolas, as olarias, os curtumes, as cerâmicas,
as indústrias alimentícias, a carcinicultura em áreas inadequadas, as indústrias químicas,
a extração de fluorita, as fábricas de adubo, as mecânicas, as metalúrgicas, os dejetos da
suinocultura, os esgotos sanitários doméstico e hospitalares, o desmatamento, a ocupação
irregular das encostas e mananciais das áreas litorâneas e ribeirinhas, a pesca predatória,
o assoreamento dos rios aumentando a turbidez e os níveis de poluição das águas da la-
guna (Santos, 2002)

Mapa 02. Municípios da Bacia Hidrográfica do rio Tubarão e Complexo Lagunar.

Fonte: da autora.

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Além da poluição e contaminação, ocorre o assoreamento da lagoa. Este processo
foi potencializado, em 1946, com o aterro da ponte de cabeçuda e a construção da estrada
rodoferroviária – ponte de laranjeiras. Outro fator que contribuiu com o impacto na lagoa foi
a retificação do rio tubarão. A retilinização colaborou para que, além dos dejetos e resíduos
transportados, diariamente, em épocas de cheias e inundações, o material depositado ao
longo das margens do rio seja lançado na lagoa.
Acrescenta-se, ainda, a água liberada dos arrozais, causando entre outros danos, a
morte das algas. Por fim, a pesca predatória.
Como consequências, são encontrados peixes e crustáceos contaminados com teo-
res de metais e agrotóxicos que excedem os limites permitidos para consumo. Registra-se,
também, um decréscimo na produção pesqueira. No ano de 1976, (início da mecanização
das atividades de mineração do carvão), o conjunto das lagoas do complexo produziam
cerca de 7.650 toneladas de camarões. Estudos indicam que para o mesmo ano, um pes-
cador capturava 15 kg/dia de camarões, enquanto que, em 1998, obtinha apenas 4 kg/dia,
com tendência de manter o decréscimo (Superintendência de Desenvolvimento da Pesca
– SUDEPE, [19-] apud POMPILIO; SANTOS; [20-]).
No centro urbano, na década de 1950 já havia relatos da poluição na lagoa devido aos
encanamentos que despejavam nela esgotos do hospital e de outras instalações. Havia os
guardas que, entre outras funções, por precaução, não deixavam ninguém tomar banho na
lagoa; pelo mesmo motivo, havia pessoas que não comiam peixe do cais. Em relação aos
recursos pesqueiros na laguna, na atualidade, as afirmações divergem: há os que susten-
tam que o pescado diminuiu, outros afirmam que tem aumentado e há, ainda, a afirmação
de que a alteração é provocada pelo maior número de pessoas pescando na laguna, para
o consumo ou lazer.
Entre as tradições culturais e ecológicas no município de Laguna, destaca-se a pesca
cooperativa com o auxílio do boto ou golfinho (tursiops Truncatus), prática esta encontrada,
também, apenas na África e na Austrália (SIMÕES-LOPES; FÁBIAN; MENEGHETI, 1998,
apud PETERSON; HANAZAKI; SIMÕES-LOPES, 2008). Contudo, esta tradição da pesca
artesanal, que remonta ao século XIX, está ameaçada pela poluição e contaminação da la-
goa. Os golfinhos não se deslocam mais até o interior da laguna, permanecendo na lagoa de
Santo Antonio, mais próximo do canal da barra. Os metais pesados e as redes dos grandes
barcos de pesca industrial são ameaças para os botos (D’AMARO, 1999).

Organização socioespacial: desafio permanente, novas perspectivas.

Ações de regulamentação, reorganização e planejamento do município de Laguna


estão sendo desenvolvidas. Nas propostas do Plano Diretor Municipal (em elaboração)

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(PREFEITURA MUNICIPAL DE LAGUNA; HARDT-HEGEMIN; CODESC, 2010), são apre-
sentadas as áreas com restrições à ocupação urbana, devido às condições físico-naturais;
as áreas urbanas são identificadas como áreas com satisfatória condição de consolidação,
com vazios urbanos e áreas de expansão; no entanto, é apontada a necessidade de regu-
larização dos loteamentos e o planejamento territorial urbano. São propostas como áreas
de expansão urbana toda área de influência da BR 101 e a faixa lindeira da BR 101. Entre
os serviços públicos, é colocado, como prioridade, três serviços do sistema de saneamen-
to básico: esgoto, abastecimento público da água e a drenagem urbana. Em relação às
áreas de interesse especial, foi identificado a APA (Área de Proteção Ambiental) da Baleia
Franca, contudo, é apontada a falta do Zoneamento Ecológico Econômico e o Plano de
Manejo. As Zonas de Interesse Especial se coadunam com as áreas identificadas no Plano
Municipal de Habitação de Interesse Social.
A Lei 9 433/97, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, define a ba-
cia hidrográfica como a unidade territorial para implementação da Política Nacional de
Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.
Correspondendo às orientações da Lei acima, está em desenvolvimento o Plano de
Desenvolvimento Territorial Sustentável do Litoral Sul Catarinense, que tem a finalidade de
integrar os municípios da Bacia do rio Tubarão e Complexo Lagunar. Os municípios, com
exceção de Laguna e Tubarão (médio porte), são considerados de pequeno porte. Abrange
uma área de 4.910 km² (5,15% da área do Estado), com uma população total de 359.404
habitantes e. densidade demográfica de 73,19 habitantes por quilômetro quadrado, superan-
do a média estadual de 61,57 hab/km² (SONZA, 2010). A taxa de urbanização (IBGE, 2007
apud SONZA, 2010) é de 76.11% da população do território, enquanto o Estado apresenta
a porcentagem de 79,75%.
Integrado à Política de Desenvolvimento Territorial da Pesca e da Aquicultura do
Ministério da Pesca e Aquicultura, o plano é desenvolvido como estratégia para a supera-
ção da pobreza e das desigualdades sociais junto às comunidades pesqueiras e aquícolas.
O diagnóstico foi realizado enfocando a região no contexto regional e nacio-
nal e apontou que:

O território tem potencial expressivo na pesca Industrial e Artesanal, na Maricul-


tura, Piscicultura e na Carcinicultura, porém há necessidade da intervenção da
política do Ministério da Pesca e Aquicultura para ordenar, fomentar e desen-
volver políticas e ações nos municípios com articulações de integrações das
diversas entidades Civis e Governamentais existentes (SONZA, 2010, p. 9).

Internamente, observou-se:

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[...] um grande potencial turístico, na exploração das belezas naturais, águas
termais, infraestrutura, bons empreendedores com suas organizações; no
entanto, a falta de planejamento de conjunto, a exploração de minerais, o
desmatamento, a falta de saneamento das cidades e o individualismo, em
geral, impedem o Desenvolvimento Territorial Sustentável (SONZA, 2010, p. 9).

Foi registrada, ainda, a desarticulação entre o potencial humano e a diversidade cul-


tural, na pesca e aquicultura, o investimento na cadeia produtiva, organizada e ajustada,
contudo, sem parâmetros de respeito com a sustentabilidade; Áreas de Proteção Ambiental
fragilizadas por falta de algumas definições e fiscalização (SONZA, 2010).
Uma iniciativa entre as precursoras no Estado de Santa Catarina no ano de 2002 foi
finalizado o Plano integrado da Bacia Hidrográfica do Rio Tubarão e Complexo Lagunar.
Como resultado, apontou ações emergenciais, às quais consistem na recuperação das
áreas degradadas pela mineração do carvão e depósitos de resíduos a céu aberto; na im-
plantação de programas e/ou incentivos a sistemas de plantios mais eficientes no uso da
água no cultivo do arroz irrigado; de sistema de coleta e tratamento dos esgotos sanitários
da bacia; do acompanhamento do programa multissetorial do desenvolvimento sustentável
do complexo lagunar sul, de melhorias tecnológicas e validação de sistemas de destinação
de dejetos de animais e; do programa de recomposição da mata ciliar e áreas de nascentes
(SANTA CATARINA, 2002).
O decreto Lei de 25, de 30 de novembro de 1937, define o patrimônio histórico e ar-
tístico nacional como “[...] o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja
conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da
história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico
ou artístico” (BRASIL, 1937, não paginado). Acrescenta os “[...] monumentos naturais, bem
como os sítios e paisagens que importem conservar e proteger pela feição notável com que
tenham sido dotados pela natureza ou agenciados pela indústria humana” (BRASIL, 1937,
não paginado). A preservação do Patrimônio Cultural é uma ação e um estímulo à cidadania,
pois “[...] conserva-se a memória do que fomos e do que somos: a identidade da nação [...]”
(FUNDARPE, sd., não paginado). Para tanto, “[...] é constituído pelos bens materiais e ima-
teriais que se referem à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores
da sociedade brasileira [...]” (FUNDARPE, sd., não paginado). Colabora com a política da
preservação do patrimônio cultural a Lei Federal de Crimes Ambientais (9.605/1998) quando
tem por objeto os Crimes contra o Ordenamento Urbano e o Patrimônio Cultural em que
define as ações que são passíveis de penalização: “[...] Destruir, inutilizar ou deteriorar: I -
bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial; II - arquivo,
registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação científica ou similar protegido por lei, ato
administrativo ou decisão judicial [...]” (BRASIL, 1998, não paginado).

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Laguna tem o centro histórico tombado. Primeiramente, no ano de 1954, ocorreu o
tombamento da Casa de Câmera e Cadeia (Fig.: 03) pelo Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional. Em 1978, por iniciativa da prefeitura, por meio de decreto lei é tombado
um pequeno número de casarios e monumentos históricos. O Decreto 1290 de 29/10/1996
torna patrimônio a Igreja do Senhor Bom Jesus do Socorro da Pescaria Brava. O tombamento
do conjunto arquitetônico como Patrimônio Histórico Nacional, o qual considera o acervo
paisagístico (Fig.: 04), acontece em 1985 sob responsabilidade do IPHAN compreende 700
edificações e estilos arquitetônicos como o lusobrasileiro, o eclético, o art deco, o modernista,
entre outros, em uma área de 1,2 Km² (CAMPOS, 2007).
O tombamento não teve a participação popular, foi empenho de uma classe intelec-
tual da cidade. Assim, gerou descontentamento na população. Verificou-se “[...] indícios de
rejeição do patrimônio presentes nos murmúrios dos moradores do Centro Histórico [...]”
(CAMPOS, 2007, p. 14).

Figura 03. Museu Anita Garibaldi antiga Casa de Câmera e Cadeia. Laguna. 2009.

Fonte: da autora.

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Figura 04. Vista do Centro Histórico.

Aproximadamente no centro da foto a Praça da Matriz. Laguna. 2009.


Fonte: da autora.

Os empreendedores afirmam que os edifícios não são auto-sustentáveis (CAMPOS,


2007). Os relatos referem-se à falta de autonomia na alteração e melhoramentos nos edifícios
tombados, pois é necessária a orientação do IPHAN nas obras e manutenção para assegu-
rar as características originais; outras reclamações referem-se à mobilidade e às restrições
a circulação de automóveis, a questão imobiliária, e a falta de um plano para promover o
turismo e, então, a economia e a vida social no centro histórico.
Diante do quadro histórico, seja na questão ambiental, econômica, urbana, cultural e
social as diferentes transformações por que passou o município de Laguna na configuração
do seu espaço geográfico pode-se explicar conforme Santos (1985, p. 2) “[...] Como as formas
geográficas contêm frações do social, elas não são apenas formas, mas formas-conteúdos.
Por isso, estão sempre mudando de significação, na medida em que o movimento social lhes
atribui, a cada momento, frações diferentes do todo social” (grifo do autor). Em municípios
históricos se tornam mais concretos esta significação social das formas, ao mesmo tempo
em que, os fluxos também adquirem determinadas especificidades.

CONCLUSÃO

Fatos históricos permanecem no tempo, seja por meio da cristalização das formas no
espaço geográfico, seja na memória individual e coletiva que permanecem por gerações.
Objetivam-se na forma de Leis e são incorporadas à cultura de uma comunidade como

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patrimônio. A configuração espacial de um município resulta de sucessivos processos que
subsistem e recebem contribuições ao longo do tempo, simultaneamente, à formação do
espaço, do território, da paisagem e da sociedade. As formas permanecem, objetos de uma
época do passado, cristalizados frente à metamorfose de formas e funções que circundam
e envolvem o espaço construído.
A organização socioespacial de laguna é representada pelos hábitos e tradições cul-
turais, pelas medidas políticas locais e nacionais somadas às atividades econômicas que
foram incorporadas ao território, ou seja, diferentes formas de trabalho e, consequentemente,
diferentes formas de apropriação do espaço e a divisão em classes sociais. Geralmente, o
nível tecnológico define o grau de impacto ou de manejo sobre um determinado ecossistema
e território. Surgem os conflitos gerados pelos diferentes usos do solo e as práticas tradicio-
nais. Quando os locais transformam-se em patrimônio, ao mesmo tempo, a administração e
a comunidade assumem o compromisso pelo zelo e preservação. Reside aí a importância
de decisões compartilhadas entre a comunidade, as lideranças locais e os administradores
públicos nos níveis pertinentes. Medidas político-administrativas coerentes com as Leis
superiores, com a realidade local, juntamente com a participação da população, tornam-se
mais eficazes e compreendidas por esta, que pode se manifestar, contribuindo com o pro-
cesso democrático da gestão pública. Ao mesmo tempo em que, coopera para a formação
da cultura do planejamento no âmbito dos municípios, percebida como uma carência na
maioria das administrações municipais no Brasil.
A partir disso, fortalecer o contexto local com a possibilidade de estruturar estratégias
e planos que estejam em equilíbrio com as particularidades da forma e da função histórica,
ambiental e econômica local, reforçaria, ao mesmo tempo, o sentimento de identidade e
pertencimento da população à condição histórica do município.

REFERÊNCIAS
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ciúma e outras atividades econômicas. Florianópolis: do autor, 1943.

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10
Consumo de coco verde em Cuiabá: relação
entre clima e geração de resíduos

Cristiano Liell Willian Douglas da Silva Reis


UNEMAT Prefeitura de Cuiabá

Alexandre Magno de Melo Faria Vera Lícia de Arimatéia Silva


UFMT Tribunal de Justiça de Mato Grosso

'10.37885/220709381
RESUMO

Este trabalho tem como objetivo investigar o descarte de cascas proveniente do consumo
de água de coco no espaço urbano de Cuiabá, estado de Mato Grosso, Brasil. Com dados
de consumo de coco e registros climáticos (temperatura e umidade), estimou-se um modelo
de previsibilidade de períodos de maior geração de carcaças, propiciando ferramentas para
melhor alocação e tratamento destes resíduos. Os resultados indicam que a cada oscilação
positiva de 1 °C na temperatura média mensal, o montante de carcaças de coco aumenta em
8.580 unidades mensais e uma oscilação negativa de 1% na umidade relativa do ar média
mensal eleva o volume de cascas em 1.286 unidades mensais. Os resultados econômicos
indicam que a produção de carcaças de coco gera cerca de R$ 200 mil anuais de custos
externos à sociedade, valores assumidos pela prefeitura enquanto coleta e acondicionamento
no aterro sanitário. Os resultados e conclusões deste trabalho podem servir de referência
para planejadores públicos e empreendedores construírem um sistema de logística reversa
que transforme os atuais custos externos em novos produtos, empregos e geração de renda.

Palavras-chave: Coco Verde, Resíduos, Custos Externos, Logística Reversa, Cuiabá.


INTRODUÇÃO

O despertar das nações para a consciência ambiental no século XX fomentou uma


série de encontros governamentais para discutir a real situação dos recursos naturais e
os métodos de extração e produção empreendidos. Desde então, inúmeros esforços vêm
sendo promovidos para desenvolver métodos amigáveis ao meio ambiente, que valorizem
os recursos naturais e sua máxima otimização, a fim de evitar desperdícios. Documentos
firmados como o Relatório Brundtland revelaram um panorama geral sobre a situação global,
e o firmamento da Agenda 21 orienta diretrizes para os países seguirem a fim de promover
o desenvolvimento sustentável (Berchin e Carvalho, 2016).
Nas metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável até 2030 (ODS 2030), a
Organização das Nações Unidas (ONU) reitera que um grupo de 17 objetivos são fundamen-
tais para que a população humana mundial alcance padrões mínimos de qualidade de vida
sem comprometer os recursos naturais do planeta, tanto na sua disponibilidade quantitativa
quanto qualitativa. Os sistemas produtivos, as cadeias de distribuição e o consumo devem
incorporar novas tecnologias que permitam reduzir a intensidade de recursos e promover a re-
ciclagem de materiais, além das metas de redução de pobreza e desigualdades (ONU, 2022).
A questão é que até cerca da década de 1950 os sistemas biofísicos do planeta es-
tavam relativamente equilibrados, com oferta abundante de recursos naturais. Contudo, a
partir do boom verificado na população humana após a Segunda Guerra Mundial e o rápido
crescimento econômico conjugado expandiram a escala econômica de forma a gerar cres-
cente escassez de recursos a partir da década de 1970. Não por acaso o debate da utili-
zação de resíduos como novas fontes de recursos começam a surgir ao final da década de
1960. O reaproveitamento de resíduos se embasava em três premissas: 1) a crescente de
escassez de recursos primários, 2) a criação de tecnologias de reciclagem, e 3) a contenção
da perda de resiliência do meio ambiente para absorver os resíduos (Daly e Farley, 2004).
Produtos consumidos em larga escala acabam gerando resíduos em mesma pro-
porção, desprendendo esforços da sociedade para resolver os problemas de destinação
final. A exemplo deste tipo de produto tem-se o coco, um produto com origem conhecida no
sudeste asiático, mas que se disseminou por toda a região tropical do mundo. Seu consumo
se deve amplamente no albúmen sólido, popularmente conhecido como castanha de coco no
Brasil, que tem vários produtos e é amplamente utilizado na gastronomia nacional. No Brasil
seu consumo habitual foi acrescentado ao uso de sua água nutritiva e de sabor agradável
para dessedentação humana. Devido ao sabor, indústrias se especializaram no envasamento
da água para comércio, mas o sabor in natura agrada mais os consumidores devido à sua
naturalidade e certa rusticidade, difundida pelo litoral brasileiro em suas praias (Fontes e

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Ferreira, 2006). A região do Nordeste além de apresentar expressivo consumo, é a região
de maior produção nacional, exportando para as demais regiões (IBGE, 2017).
O acúmulo de cascas vazias advindas do coco gigante, variedade maior em tamanho
apresentando maior quantidade de castanha, tem sido destinada a queima em caldeiras no
Brasil (Callado e Paula, 1999). Nas Filipinas e Malásia a utilização do coque, casca dura que
envolve a castanha e o líquido, é amplamente utilizado para a produção de carbono ativado,
material valorizado e utilizado na produção de diversos produtos (Macabebe et al., 2016).
Porém, a variedade de coco verde - de tamanho menor, mas com maior incidência
de água – não apresenta uma destinação definida de seus resíduos, gerando acúmulo de
cascas vazias em praias e cidades de climas quentes. A casca apresenta grande resistência
a compactação por caminhões coletores, tem peso médio de 1,5 quilo por unidade e seu
grande volume demanda espaço de 1m³ para alocação de aproximadamente 300 unidades.
Diferente das cascas do coco gigante que tem seu interior consumido quando secas, o coco
verde leva este nome por ser consumido ainda imaturo, apresentando grande quantidade
de umidade, não sendo de imediato adequado para queima em caldeiras como o coco seco
(Silveira, 2008).
Alternativas de consumo/destinação das cascas vem sendo desenvolvidas por pesqui-
sadores do mundo todo. Nacionalmente nas regiões litorâneas onde os impactos são mais
expressivos devido ao consumo, já existem projetos que reaproveitam as cascas em proces-
sos reversos, substituindo materiais primários e preservando recursos naturais. A exemplo,
projetos de centrais de reaproveitamento das cascas no litoral nordestino, em que se ex-
traem o pó e fibras das cascas, sendo o primeiro utilizado na produção de substrato agrícola
para hortas, e o segundo com uma infinidade de produtos derivados. Estes são placas de
isolamento acústico e térmico, preenchimento de bancos em automóveis, substituição de
agregados para produção de concreto e asfalto, material para artesanato dentre outros fins.
Alguns projetos ainda se apresentam na fase de planejamento, mas outros já operam e
contribuem efetivamente com a redução de resíduos dispostos na natureza, gerando emprego
e renda por meio da agregação de valor (Passos, 2005; Silva e Jeronimo, 2013). A Embrapa
Tabuleiros Costeiros se destaca nacionalmente no desenvolvimento de tecnologias para ex-
tração do pó e fibras, além do desenvolvimento de produtos que empreguem estes materiais
como alternativas sustentáveis para o meio ambiente e sociedade (Nunes, 2019).
Dentre os municípios mais quentes do Brasil, tem-se Cuiabá, a capital de Mato Grosso,
localizada na região Centro-Oeste. Por estar na borda planície pantaneira, com reduzida
altitude em relação ao nível do mar, Cuiabá apresenta clima quente o ano inteiro, inclusive
com uma estação seca e baixa umidade do ar. Neste cenário, os habitantes cuiabanos
incorporaram em seus hábitos o consumo de água de coco in natura. Silva et al. (2011)

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identificaram que em 2005 foram consumidas aproximadamente 2.250.000 unidades de coco
em Cuiabá, resultando na geração de 3.375 toneladas de cascas no município.
Este volume se junta aos demais resíduos municipais com destino ao aterro, que traba-
lha com capacidade acima do limite a vários anos (Dióz, 2013; Lopes, 2021). Além disto, a
prefeitura municipal regulamentou orientações para vários comerciantes locais, incluindo os
vendedores de água de coco, que segregassem as cascas e dessem tratamento e destinação
final destas carcaças, sem destiná-las ao sistema público de resíduos, o que aparentemente
não vem ocorrendo (Cuiabá, 2014; Liell, 2018).
Para que se possa planejar e construir um bom sistema de gestão ambiental de coleta
e reciclagem de resíduos do coco, os tomadores de decisão necessitam de informações
estratégicas capazes de orientar políticas e ações de enfrentamento. Neste sentido, esse
artigo tem como objetivo investigar o descarte de cascas proveniente do consumo de água de
coco no espaço urbano de Cuiabá, estado de Mato Grosso, Brasil. Com dados de consumo
e registros climáticos (temperatura e umidade) pode-se tentar correlacionar essas variáveis
e gerar previsibilidade de períodos de maior geração de resíduos na cidade, propiciando
ferramentas para gerir melhor a alocação e tratamento destas carcaças de coco verde. Para
verificar a correlação entre clima e carcaças de coco, propõem-se a utilização da metodologia
da regressão linear múltipla, que permite identificar a força do relacionamento e a devida
intensidade de cada fator sobre o consumo e consequentemente, a geração de resíduos.

O COCO E SUAS UTILIDADES

O coco é formado por sua parte externa chamada de epiderme, podendo ser verde,
amarela ou avermelhada de acordo com a espécie da planta. O mesocarpo fibroso, popular-
mente conhecido casca do coco, pode ser utilizado como matéria-prima, sendo extraído suas
fibras, ou ainda sendo triturado em pó para composição de substrato (Callado e Paula, 1999).
O mesocarpo protege o endocarpo ou coque, parte de alta resistência responsável pela
proteção do albúmen sólido e líquido. Este endocarpo por vezes é utilizado como combus-
tível em caldeiras industriais. O embrião é responsável pela germinação do fruto. Por fim,
o albúmen sólido e líquido corresponde respectivamente pela castanha do coco e água de
coco, parte consumível do fruto (Callado e Paula, 1999).
Dentre as espécies de frutas, se distinguem o coco gigante que tem maior produção
de albúmen sólido, sendo mais utilizado pela indústria para produção alimentícia. Já o coco
anão, quando colhido prematuramente, tem maior produção de albúmen líquido, sendo in-
dicado para o comércio de água de coco, ou para envasamento por indústrias de bebidas.
Este pode atingir entre 300 a 600 mililitros de líquido (Aragão, 2002).

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Após seu consumo, o mesocarpo e endocarpo se tornam resíduos, que alocados
inadequadamente, se decompõem de forma anaeróbica, gerando metano, gás poluidor da
atmosfera e altamente inflamável. A casca também gera lixiviado que contamina o solo, as
águas superficiais e subterrâneas, e sua disposição atrai animais como ratos e insetos que
são vetores de doenças, além de causar poluição visual se disposta em vias públicas, praças
e praias (Jerönimo, 2012; Makishi, 2012; Silva e Jeronimo, 2013).
A casca de coco verde, que representa a maior parte do resíduo, tem em média 1,5
quilogramas de peso, podendo ser armazenado um volume de 300 cascas inteiras ou cor-
tadas em uma área de 1 m3, em média. As lixeiras utilizadas especificamente para este re-
síduo, devem ser de alta resistência devido ao peso elevado que o mesmo possui, podendo
danificar a lixeira no momento do manuseio da mesma (Silveira, 2008).
Já existem diversas pesquisas que identificam usos para o mesocarpo de coco, de
acordo com o processo de extração de matéria-prima. Quando este é triturado por completo,
é gerado o pó da casca de coco, amplamente utilizado como componente na constituição de
substrato agrícola, mais recomendado na produção de hortaliças (Bitencourt, 2008; Rocha
et al., 2010; Mattos et al., 2011; Makishi, 2012; Silva e Jeronimo, 2013).
Entretanto, se aplicado processo mais refinado, pode-se separar o pó das fibras do coco,
em que estas também têm muitas utilidades em diversos seguimentos industriais. Alguns
exemplos são na produção de mantas termo acústicas (Souza et al., 2015), na composição
de fibrocimento (Pereira, 2012), fabricação de briquetes (Silveira, 2008), geração de papel
(Marin et al., 2016), confecção têxtil (Martins et al., 2013), dentre outros.
Desta forma, o coqueiro é conhecido como “a árvore da vida” por dele tudo se aprovei-
tar, desde suas folhas e troncos até mesmos todas as partes de seu fruto (Bitencourt, 2008).
Mesmo com a existência de processos de reutilização dos resíduos do coco, já cientificamente
comprovados, existem entraves para a sua utilização, como a logística reversa nas áreas
de consumo da fruta, que geralmente não existe por falta de informação ou investimento.
Araújo e Mattos (2010) analisaram o sistema de logística reversa de uma empresa
que envasa água de coco e produz polpas de frutas no estado do Rio Grande do Norte,
para identificar seu funcionamento e entraves. Foram identificados cinco entraves, sendo
eles a falta de funcionários para o manejo das cascas que acabam se acumulando no pá-
tio da empresa juntamente com a falta de maquinário para consumir a grande quantidade
de cascas geradas.
Também identificaram a falta de compradoras para utilização do líquido da casca do
coco verde (LCCV) - resíduo líquido gerado pela casca do coco, que acumula no local do
beneficiamento das cascas. Outro entrave vem a ser a falta de incentivo do governo para

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compra de maquinário que transforme as cascas em fibra e pó para serem vendidas comer-
cialmente, pelo fato do maquinário ser caro e ter alta taxa de depreciação.
Também existem entraves para a logística reversa, quando aplicadas no meio urba-
no. No caso estudado de Araújo e Mattos (2010), as cascas estão concentradas em um
único local, o pátio de uma empresa. Já no caso do comércio in natura das cascas por
vendedores ambulantes, estas cascas estão espacialmente dispersas pela zona urbana,
necessitando de um sistema de coleta, com impacto significativo nos custos de gestão am-
biental (Silveira, 2008).
Também é necessário manter um padrão de qualidade destas cascas no momento do
seu descarte, pois se efetuado de forma inadequada, pode reduzir as qualidades físicas e
químicas, inviabilizando a sua utilização em processos produtivos. Outro fator que deve ser
levado em consideração, vem a ser a sazonalidade deste mercado, que devido as oscila-
ções de consumo em cada estação, podem prejudicar o projeto pela insuficiência em alguns
períodos e excesso de oferta de matéria-prima em outros.
Por fim, Liell e Faria (2021) reuniram diversas publicações brasileira e internacionais
que apresentam possibilidades de utilização da casca de coco verde. O trabalho tem objetivo
de ofertar um guia de referência para pesquisadores, gestores públicos e empreendedores
compreenderem o potencial de reciclagem e reutilização dos materiais constantes na car-
caça do coco verde.

CONSUMO E TEMPERATURA

No período contemporâneo, as sociedades vivem em tempos de grande interação


entre diversos fatores e aspectos, propiciados pela globalização e o avanço das tecnolo-
gias, sendo um processo influenciado e influenciável à medida que os indivíduos agem de
acordo com suas necessidades e anseios. Este processo tornou a rotina social mais acele-
rada, requisitando processos dinâmicos que atendam os cidadãos de forma a manter este
processo evolutivo.
Desta forma, não somente a rotina, mas o consumo humano também se tornou ace-
lerado, sendo este processo expansivo, acompanhado pelas indústrias e empresas que
dinamizam seus métodos a fim de atender seus consumidores. Como consequência, este
procedimento intensificou a extração de recursos naturais e principalmente a geração de
resíduos, que necessitam receber um fim adequado para manutenção do bem-estar social
e ambiental (Boulding, 1966).
Diversos fatores contribuem com o consumo, e consequentemente com o descarte
do mercado, como as necessidades básicas de habitação, alimentação, segurança, etc.
(Maslow, 1954). Mas outros fatores também influenciam diretamente o consumo, e podem

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ajudar a definir processos de oferta destes para a sociedade, e posteriormente impactar nos
sistemas de manejo dos resíduos.
Dentre estas relações, é amplamente conhecido que o sistema climático influencia
inúmeros processos produtivos e de consumo, como no setor agrário (Yohannes, 2015), no
consumo de energia (De Cian, Lanzi e Roson, 2007; Bessec e Fouquau, 2008; Avdakovic,
Ademovic e Nuhanovic, 2013), na saúde (Stephenson et al., 2013; Ribeiro, Pesquero e
Coelho, 2016;), no turismo, dentre outros. Desta forma, compreender o comportamento
sazonal das oscilações climáticas é de suma importância para compreender processos
econômicos, e em última instância, gerenciar processos de suporte para a sociedade.
Locais com temperaturas mais intensas, impulsionam o consumo de bebidas e alimentos
refrescantes, e em contrapartida, temperaturas amenas influenciam o consumo de produtos
que forneçam sensação de aquecimento. Um exemplo deste tipo de consumo pode ser visto
no comércio de água de coco verde em regiões tropicais.
Cidades e regiões litorâneas no Brasil, apresentam de forma disseminada a prática
do comércio de água de coco, devido aos fatores nutricionais que favorecem a hidratação,
além do sabor adocicado e apreciado pelos consumidores. Desta forma, em períodos de
maior intensidade térmica, este mercado se intensifica, e consequentemente o montante de
resíduos aumenta, podendo causar transtornos para os sistemas de coleta e manutenção
de limpeza municipais, caso não estejam preparados para estes períodos.

METODOLOGIA

O ponto inicial da pesquisa ocorreu com a requisição à Secretaria Municipal de


Agricultura, Trabalho e Desenvolvimento Econômico de Cuiabá (SATDE), uma relação
simples de vendedores ambulantes que detenham registro ou pedido de registro formal de
comércio ambulante junto a secretaria, que especificasse dentre as atividades, pelo menos
a venda de água de coco. Além destes pontos iniciais, a aplicação do questionário piloto
nas redondezas da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) em Cuiabá, proporcionou
incrementar ainda mais a lista de pontos de venda, para então de fato iniciar a pesquisa de
campo. Desta forma, para identificar os demais vendedores existentes na cidade, foi utilizada
a metodologia denominada snowball. Esta consiste em buscar referencias da localização
de demais membros de um grupo alvo, que é desconhecido, com alguns membros já co-
nhecidos. Este processo é repetido inúmeras vezes, até que os participantes já conhecidos,
citem apenas outros participantes também já conhecidos, fechando o ciclo e determinando
o tamanho do grupo em questão (Velasco e Díaz de Rada, 2006).
Para obter a devida relação entre as variáveis climáticas e a geração de cascas de
coco, é proposto a utilização do método de regressão múltipla, que tem por finalidade explicar

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o comportamento de uma determinada variável dependente, por meio da oscilação de ou-
tras variáveis consideradas independentes dentro do modelo. Estas relações expressas
quantitativamente, demonstram estimativas por meio de valores reais coletados no setor de
interesse, sendo o modelo avaliado por meio de parâmetros estatísticos para corroborar as
informações geradas. A Equação 1 apresenta a forma genérica de um modelo de regressão
linear múltipla.

𝑌𝑌! =∝ +𝛽𝛽" 𝑋𝑋"! + 𝛽𝛽# 𝑋𝑋#! + ⋯ + 𝐵𝐵$ 𝑋𝑋$! + 𝑢𝑢! 𝑗𝑗 = 1, … , 𝑛𝑛 (1)


#

𝑌𝑌! = 𝛼𝛼 + % 𝛽𝛽" 𝑋𝑋"! + 𝑢𝑢!


(2)
"$%

No presente estudo, a variável dependente em questão é a quantidade de vendas de


cocos, mensurada por meio de pesquisa de campo com vendedores de água de coco am-
bulantes na cidade de Cuiabá, estado de Mato Grosso, Brasil, no período entre setembro e
novembro de 2017. Este levantamento captou as vendas em mililitros de água, que foram
convertidas em cocos, que variam entre 300 a 600 mililitros, sendo utilizado nesta pesquisa
o valor médio de 500 mililitros por coco, devido a realidade local identificada (Aragão, 2002).
Também foram coletadas as sazonalidades de vendas de cada período, para identificar com
maior precisão a quantidade de cocos consumidos por mês na cidade.
As variáveis independentes deste estudo são a temperatura média (°C) e a umidade
relativa do ar (%) de cada mês no espaço urbano de Cuiabá. Estes valores foram coletados
junto ao Banco de Dados Meteorológicos para Ensino e Pesquisa do Instituto Nacional de
Meteorologia administrado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do
Brasil. Este banco de dados é formado por coletas diárias de várias estações meteorológi-
cas espalhadas pelo país, que disponibilizam seus dados por meio deste banco de dados
mencionado (Instituto Nacional de Meteorologia, 2020).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Por meio da metodologia snowball, foram identificados 72 vendedores ambulantes de


água de coco na cidade de Cuiabá, sendo que 69 concordaram em participar da pesquisa.
Estes estão dispersos espacialmente por vários bairros da cidade, localizados em pontos de
grande circulação de pedestres, como forma de aproximação da oferta do produto, com os
possíveis consumidores. Suas estruturas variam desde a simples utilização de um carrinho
de vendas até a instalação local de tenda com algumas cadeiras para os clientes.
Referente ao registro formal, foi identificado que 39,44% dos vendedores não têm
nenhum tipo de registro na prefeitura. Entre os demais, 23,94% manifestaram ter alvará

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de funcionamento, 1,41% alvará sanitário, 25,35% Termo de Permissão de Uso – TPU, e
9,86% informaram possuir outro tipo de registro diferente desses. Estes registros diferentes
foram descritos como autorizações de estacionamentos ou de calçadas de estabelecimentos
comerciais para que o vendedor possa manter seu carro de vendas no local.
Em relação às vendas, estas ocorrem de formas variadas, por meio de copo e garrafas
plásticas de diversos tamanhos, além da venda para consumo na própria fruta, em tempe-
ratura ambiente ou refrigerada. Desta forma, o montante de vendas de cada comerciante,
por tipo de venda, foi convertido em mililitros de água de coco, e somando o valor total,
convertido em unidades de coco, utilizando como referência o volume de 500 mililitros por
unidade de fruto. A Figura 1 apresenta o montante total comercializado em Cuiabá.

Gráfico 1. Média de consumo diário de cocos em Cuiabá.

Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

Box 1: análise gráfica. Na Figura 1 pode-se visualizar que o consumo de coco verde em Cuiabá
varia entre 3.900 e 4.000 unidades nos dias laborais de segunda-feira a sexta-feira. Aos sábados
o consumo médio é de cerca de 3.700 unidades e o domingo apresenta consumo médio pouco
superior a 3.300 unidades. Esse foi um resultado interessante, pois na hipótese inicial acreditava-se
que o consumo seria maior nos finais de semana, o que não se confirmou.

O comportamento de consumo observado no gráfico é justificável primeiramente pelas


características da cidade. Como Cuiabá não é uma cidade litorânea, o consumo não é ex-
pressivo nos finais de semana, período em que se espera um maior fluxo de pessoas nas
praias, praças etc. Desta forma, o comércio ocorre com maior intensidade devido ao fluxo
de pessoas que circulam por áreas de comércio e serviços, consumindo água de coco por
conveniência da proximidade com os vendedores. Além disto, muitos vendedores informaram
não trabalhar nos fins de semana, o que reduz a oferta do produto neste período.
Devido ao comportamento do consumo explicitado, por convenção se admite o mesmo
comportamento em relação a geração dos resíduos. Desta forma identificou-se que 90% dos
vendedores mantêm em seus pontos de venda, recipientes para o descarte tanto das cascas
como de produtos consumidos conjuntamente como copos e garrafas plásticas, e apenas

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10% utilizam-se de lixeiras públicas. Em relação a coleta, 81% dos vendedores destinam
seus resíduos ao sistema público de coleta, 6% entregam as cascas para o próprio fornece-
dor da fruta ou em uma fazenda local, 9% para uma empresa especializada no tratamento
de resíduos e 4% informaram outros destinos, em geral, para artesãos locais que utilizam
a casca para confecção de artesanato.
Para identificar como o consumo se comporta ao longo do ano, os vendedores foram
questionados quanto aos montantes mensais de venda, sendo estes comparados com as
temperaturas médias mensais, que podem ser observadas na Figura 2.

Gráfico 2. Sazonalidade do comércio de água de coco e temperaturas média mensais em Cuiabá (2017).

Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

Box 2: análise gráfica. Na Figura 2 pode-se visualizar três linhas com diferentes cores. A linha azul
representa o consumo médio mensal de unidades de coco verde, que foi de 125.324 unidades.
A linha vermelha representa a temperatura média em cada um dos meses do ano. A linha preta
representa o consumo de unidades de coco a cada mês. Entre os meses de junho e dezembro, a
correlação é quase perfeita entre a temperatura e o consumo de coco verde.

Foi identificado três períodos distintos de consumo, sendo o primeiro e segundo se-
mestres do ano e o mês de julho como um outlier. No primeiro semestre foram consumidas
em média mensalmente 106.667 unidades de coco, seguido pelo segundo semestre com
consumo de 156.968 unidades mensais de coco. O mês de julho que nitidamente divide os
dois períodos, apresentou o consumo de 79.048 unidades, sendo o mês de menor consumo
no ano. Desta forma, em 2017 o comércio de água de coco em Cuiabá consumiu 1.503.886
unidades de coco verde, com uma média de 125.324 unidades por mês. Percebe-se um
consumo total cerca de 33% inferior em relação ao ano de 2005, quando Silva et al. (2011)
estimaram aproximadamente 2.250.000 unidades consumidas em Cuiabá.
Por meio da relação apresentada, identifica-se que existe uma relação entre a venda e
consumo de água de coco em Cuiabá com relação ao clima da cidade, oscilando de acordo
com as estações climáticas locais. A média de consumo é menor no primeiro período do
ano, devido à grande intensidade de chuvas e umidade, que reduz a demanda. Já o segundo

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período do ano é marcado por meses de temperaturas mais intensas, além de baixa umida-
de relativa do ar, resultando em maior demanda deste produto. O mês de julho é marcado
pela estação fria na região, o que justifica o menor consumo. Para corroborar esta relação,
o Quadro 1 apresenta a análise econométrica entre as vendas de água de coco em relação
a temperatura e umidade em Cuiabá.

Tabela 1. Resultados do modelo.


Modelo: MQO, usando as observações 1-12
Variável dependente: vendas em cocos
Coeficiente Erro Padrão razão-t p-valor
Constante −22.320,90 53.968,6 −0,4136 0,6889
Temperatura média 8.580,71 1.814,87 4,728 0,0011***
Umidade relativa média −1.286,00 497,478 −2,585 0,0295**
Média var. dependente 125.323,9 D.P. var. dependente 28.989,67

Soma resíduos quadrados 2,45e+09 E.P. da regressão 16.508,02


R-quadrado 0,734690 R-quadrado ajustado 0,675733
F (2, 9) 12,46132 P-valor (F) 0,002552
Log da verossimilhança −131,8404 Critério de Akaike 269,6808
Critério de Schwarz 271,1355 Critério Hannan-Quinn 269,1422
Fonte: Elaborada pelos autores (2018).

O modelo apresentou significância estatística, com valor de R2 de 0,73. A variável


temperatura tem significância de 99%, enquanto a umidade relativa apresentou significância
para 97% neste modelo. Os resíduos não apresentaram autocorrelação serial e heteroce-
dasticidade, reforçando a robustez do modelo. Os coeficientes sinalizam que uma variação
positiva em 1 °C na temperatura média mensal altera as vendas totais em 8.580 unidades
adicionais mensais de coco, indicando que maiores temperaturas impulsionam o consu-
mo. Em contraponto, uma variação negativa em 1% na umidade relativa do ar média mensal
altera positivamente o consumo em 1.286 unidades de coco mensais, indicando que em
momentos de menor umidade o consumo é maior e vice-versa. Os valores extremos dos
coeficientes identificados são 20 °C e 48% de umidade relativa do ar, ou 30 °C com 77%
de umidade relativa do ar.
Como identificado na literatura apresentada, em períodos de temperaturas mais in-
tensas, as pessoas buscam se refrescar utilizando mais ventiladores e aparelhos de ar
condicionado, denominado de efeito resfriamento (De Cian, Lanzi e Roson, 2007; Bessec e
Fouquau, 2008; Avdakovic, Ademovic e Nuhanovic, 2013). Nas ruas, este comportamento
pode ser identificado no consumo de bebidas energéticas com finalidade de hidratação, fator
relacionado a saúde pessoal (Stephenson et al., 2013; Ribeiro, Pesquero e Coelho, 2016).
O padrão de consumo das pessoas pode ser interpretado por meio da pirâmide de
Maslow (1954), que determina níveis de produtos a serem consumidos, de acordo com as

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prioridades de cada indivíduo. Desta forma, espera-se que inicialmente os consumidores
busquem sanar suas necessidades físicas como alimentação, vestuário e saúde, e pos-
teriormente consumirem bens supérfluos. Desta forma, a água de coco, devido as suas
características nutricionais, pode ser encaixada como consumo que busca sanar parte das
necessidades físicas primárias de um consumidor (Maslow, 1954). As propriedades nutri-
cionais da água de coco decorrem da composição de uma solução isotônica usada para a
hidratação oral com a reposição de eletrólitos como sódio e potássio, componentes quími-
cos importantes para a saúde, em especial de crianças e idosos, que constantemente são
eliminados através da pele e da urina (Aragão, Isberner e Cruz, 2001).
Por meio dos dados agregados apresentados foi possível identificar individualmente
os volumes anuais gerados por vendedor, além da destinação destes resíduos. Do total de
69 vendedores, 56 direcionam as carcaças do coco para o sistema público de coleta, re-
presentando 38,25% do montante anual consumido na cidade. Outros seis destinam seus
resíduos para uma empresa especializada em coleta de resíduos, por estarem localizados
em parques que tem esta exigência. Mas estas empresas, como apurado, destinam sua
coleta ao aterro local, sendo o mesmo destino dos 56 vendedores anteriores, somando mais
4,15% do montante total.
Já outros três vendedores, que geram em seus pontos 4,79% do montante total, por
deterem de maior fluxo e capital, destinam suas carcaças a uma fazenda local de cocos,
da qual estes são consumidores, sendo estas cascas utilizadas como adubo na plantação.
Semelhante a estes três vendedores, o maior comerciante local de cocos é responsável
por 50,69% do montante anual de carcaças geradas na cidade. Quanto a sua destinação,
este gerador de resíduos tem acordo firmado com seus fornecedores que entregam a fruta
e recolhem as cascas, também para serem utilizadas nas respectivas fazendas produtoras.
Por fim, um vendedor destina suas cascas conservadas para uma doceira local, que
utiliza da castanha presente no interior da fruta, para fazer doces de coco. Esta doceira, como
apurado, destina as carcaças ao sistema público de coleta, como os primeiros vendedores,
somando 0,72% do montante total. E os últimos dois vendedores, responsáveis por 1,39%,
destinam suas carcaças para artesão locais, que utilizam das fibras e coque para diversos
objetos de decoração.
Em síntese, 63 vendedores que representam 43,13% do montante anual, destinam
seus resíduos de coco para o sistema público de coleta e tratamento, terceirando seus
custos de tratamento, gerando custos externos para a sociedade local. Em contrapartida,
os demais seis vendedores responsáveis por 56,87% do montante anual de resíduos de
coco, praticam um sistema de logística reversa com seus resíduos, sendo estes utilizados
como matéria-prima para outros produtos, e não simplesmente descartados como fazem

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os anteriores. A logística reversa compõe um conjunto de atividades de coleta, separação e
destinação de resíduos de produtos consumidos até locais específicos para reprocessamento,
revenda e, no último caso, o descarte final, tornando possível que os materiais resultantes
desse ciclo retornem ao processo produtivo e de negócios (Schwartz Filho, 2006). De outra
forma, os resíduos do coco sendo depositados em aterros sanitários promovem a produção
de metano, gás de efeito estufa, com efeitos negativos na atmosfera do planeta ou poluindo
o meio ambiente, com o simples descarte na natureza (Passos, 2005), além dos custos com
a coleta e limpeza pública.
Para compreender qual o impacto da externalidade negativa gerada pelo descarte das
carcaças de coco na cidade de Cuiabá, foi investigado quais os custos despendidos pelo
município com a coleta e tratamento dos resíduos no aterro local. Desta forma, foi possível
identificar o custo por tonelada de coleta e tratamento geral, e assim identificar o custo ge-
rado apenas pelo descarte das cascas de coco. Primeiramente os custos referentes a coleta
estão expressos na Tabela 1.

Tabela 2. Custos estimados com a coleta domiciliar em R$/t.

Coleta Domiciliar
Coleta (valor anual de acordo com contrato com empresa atual em R$) 19.722.599,58
Quantidade média de resíduos coletados (2017) 158.956
Preço médio (R$/t) 124,07
Não considera gastos com combustível
Cálculo com combustível
Km média mensal 153.000,00
Km/litro 1,70
Preço do diesel (litro) 2,59
Valor com combustível anual 2.797.200,00
Valor em R$/t 18,94
Valor total da coleta (R$/t) 143,01
Fonte: Adaptada e atualizada de Cuiabá (2013, p.216).

Tabela 3. Custos estimados com o aterro sanitário em R$/t.

Disposição Final dos Resíduos

Valor com serviços de locação equipamentos 421.578,31


Valor sem combustível
Variável de acordo com consumo e número de horas trabalhadas das máquinas
Utilizaremos como base 15% do valor total do contrato 63.236,75
Mão de obra (usaremos como base 20% da locação) 117.439,67
Total mensal 602.254,73
Total anual 7.227.056,80
Quantidade de resíduos depositados 158.956
Valor (R$/t) 45,46
Não contempla a implantação de novas células
Usaremos assim um cálculo estimado do governo federal
Cálculo estimado de acordo com Nota Técnica SNSA n° 492/2010 do Ministério das Cidades

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Disposição Final dos Resíduos

Valor com serviços de locação equipamentos 421.578,31


Valor per capita para população de 500 mil habitantes 81,00
População em (2012) 561.329
Valores para 20 anos – quantidade de resíduos depositados (t) 2.954.033,08
Valores investimentos (para 20 anos, considerando a pop. E o valor per capita) 45.467.649,00
Em R$/t 15,39
Total do aterro (operação e implantação) R$/t: 60,85
Fonte: Adaptada e atualizada de Cuiabá (2013, p.219).

Levando em consideração que foi consumido em 2017 o montante de 1.503.886 co-


cos, a quantidade destinada para coleta de 43,13% representa 648.626 cascas. Visto que
uma casca pesa em média 1,5 quilo, resultando o total de 972,9 toneladas. Desta forma, o
dispêndio público é de R$ 139.140,00 por ano em coleta de cascas de coco. Para mensurar
o valor gasto para o tratamento das cascas no aterro local, a Tabela 2 apresenta o cálculo
municipal para este serviço.
Pôde-se concluir que o poder público dispende para tratamento das cascas anual-
mente no aterro local, o valor de R$ 59.203,33. Portanto, no ano de 2017, os vendedores
de água de coco geraram R$ 198.343,33 de custos para a sociedade cuiabana, na forma
de custos externos, por não tratarem de algum modo os resíduos do coco gerados por sua
atividade econômica.
Outra externalidade decorrente do descarte no aterro deriva da decomposição anaeró-
bica que as cascas são submetidas, gerando gás metano com grande potencial de efeito
estufa. A casca também gera lixiviado que contamina o solo, as águas superficiais e sub-
terrâneas, e sua disposição atrai animais como ratos e insetos que são vetores de doenças,
além de causar poluição visual se disposta em vias públicas, praças e praias (Silveira, 2008;
(Silva e Jeronimo, 2013).
Desta forma, a externalidade negativa gerada é ainda maior, se for computado os custos
para tratamento do metano e lixiviado gerados, caso as carcaças não sejam devidamente
manejadas no aterro. Estes custos poderiam ser neutralizados e até convertidos em novas
fontes de faturamento, com a reutilização das cascas em novas cadeias de logística reversa.
Deste modo, apesar da legislação local exigir que cada vendedor trate dos próprios
resíduos de coco, gerados pela sua atividade comercial, a normativa não leva em conside-
ração as limitações econômicas da escala, que varia de acordo com a temperatura local.
Como vimos na literatura, existem várias alternativas para a utilização da casca de coco,
sendo algumas inclusive já praticadas na região, como o direcionamento das carcaças como
adubo e a confecção de artesanatos.
Identificado os custos externos dos vendedores, transferidos para a sociedade local por
meio do descarte, pôde-se concluir que a cada oscilação positiva de 1 °C na temperatura

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local, o montante de cascas de coco aumenta em 8.580 unidades, sendo necessário o
transporte e alocação no aterro de 12.870 quilos de cascas. Isto representa um custo adi-
cional de R$ 1.840,54 para o serviço de coleta e R$ 783,14 para alocação no aterro, so-
mando R$ 2.623,68.
Já em relação a umidade relativa, uma redução desta em 1% eleva o volume de cascas
em 1.286 unidades, pesando respectivamente 1.929 quilos, gerando custos de R$ 275,87
de coleta e R$ 117,38 para o aterro, totalizando R$ 393,25. Portanto, a relação climática
com o comércio de água de coco, pode ser prevista tanto para fins logísticos e de receitas
deste mercado, quanto para os custos por eles gerados, incluindo os externalizados pelos
vendedores à sociedade cuiabana.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O consumo de água de coco na área urbana do município de Cuiabá tem uma forte
relação com os registros climático da cidade, com altos volumes de comercialização nos
períodos mais quentes e com baixa umidade durante o ano, notadamente entre os meses
de agosto e dezembro.
Considerando esse cenário o estudo apontou que 57% dos resíduos provenientes das
vendas de água de coco possui um processo de logística reversa das cascas do coco. Os de-
mais são descartados no sistema público de coleta, trazendo diversas externalidades ne-
gativas, como os problemas ambientais na decomposição do produto e um alto custo na
logística de destinação pública desses resíduos.
Apesar da legislação local exigir que os resíduos do coco sejam destinados e tratados
pelos próprios comerciantes, existem limitações socioeconômicas da maior parte dos ven-
dedores constantes na análise que não conseguem implantar a correta destinação desses
resíduos, considerando as exigências sanitárias previstas, que passam pela logística até o
reprocessamento e reaproveitamento desse produto.
Uma alternativa seria realocar os cerca de R$ 200 mil gastos anualmente com a logística
de coleta e acondicionamento das cascas de coco em direção a uma nova uma política de
incentivo local que promova a reciclagem por cooperativas ou pequenos empreendimentos,
com a prefeitura apoiando com cessão de pontos de coleta, logística, acesso à tecnologia
e fontes alternativas de energia.
A construção da logística reversa das cascas de coco verde poderia promover a re-
ciclagem e geração de novos produtos, com criação de empregos e distribuição direta de
renda, conjugado com mitigação de gás metano e demais efeitos adversos ao meio ambiente.

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11
Desenvolvimento regional inteligente:
das regiões de aprendizagem às regiões
inteligentes

Bárbara Françoise Cardoso Bauermann


Centro Universitário Dinâmica das Cataratas
Instituto de Tecnologia Aplicada e Inovação

Alessandra Bussador
Centro Universitário Dinâmica das Cataratas
Instituto de Tecnologia Aplicada e Inovação

'10.37885/220809893
RESUMO

As abordagens do desenvolvimento regional envolvem aspectos socioeconômicos das re-


giões, tais como exportação, geração de renda e emprego etc. Contudo, em virtude da
atuação governamental para a transformação das cidades em cidades inteligentes, e do foco
no social dentro do processo de transformação dessas cidades, o desenvolvimento regional
inteligente tem sido uma das preocupações dos gestores de políticas públicas. Para que se
tenha esse desenvolvimento, é necessário que as cidades inteligentes trabalhem em virtude
de promover as regiões de aprendizagem, que, por sua vez, promoverão as regiões inteli-
gentes com a finalidade de se obter o desenvolvimento regional inteligente. Nesse sentido,
este capítulo tem o objetivo de descrever as características das regiões inteligentes de forma
produzir subsídios para a promoção do desenvolvimento regional inteligente.

Palavras-chave: Cidades Inteligentes, Regiões Inteligentes, Regiões de Aprendizagem,


Desenvolvimento Regional Inteligente.
INTRODUÇÃO

Muito se fala em desenvolvimento regional considerando apenas aspectos socioe-


conômicos das regiões, tais como exportação e geração de emprego e renda. Todavia, o
desenvolvimento regional depende da atuação da população em si, não no sentido de pro-
mover o desenvolvimento local, mas para incentivar o desenvolvimento regional inteligente.
Após a década de 2010, ficou muito comum falar em cidades inteligentes. Contudo,
esse conceito ainda está atrelado à questão tecnológica, apesar de as cidades inteligentes
considerarem outros temas, tais como: mobilidade, urbanismo, meio ambiente, energia, tecno-
logia e inovação, economia, educação, saúde, segurança, empreendedorismo e governança.
Devido ao debate em torno de cidades inteligentes, o conceito de “inteligente” tem re-
cebido atenção crescente de pesquisadores e formuladores de políticas públicas durante as
últimas duas décadas. Quando esse conceito apareceu pela primeira vez, seu foco principal
parecia ser infraestrutura de tecnologia de informação e comunicação, porém mais pesquisas
foram realizadas sobre o papel do capital humano e da educação, capital social e relacional,
e interesse ambiental como importantes impulsionadores de crescimento regional. Com isso,
o conceito de “inteligente” foi aplicado também às regiões.
Colantonio e Cialfi (2016) argumentam que o conceito de região inteligente não se
limita à aplicação de tecnologias aos países. De fato, o uso do termo está se proliferando
em muitos setores sem definições acordadas, o que gera confusão entre os formuladores
de políticas regionais, na esperança de instituir políticas que tornem suas regiões inteligen-
tes. A qualidade da formulação de políticas criativas e um conceito de desenvolvimento
regional inteligente relaciona-se com a melhoria dos processos de aprendizagem individual
e coletiva dos atores regionais envolvidos por redes abertas e flexíveis.
De acordo com Ferreira et al. (2021), ainda é pouco conhecida a relação entre os ato-
res regionais e sua contribuição para a competitividade e internacionalização regional como
forma de alcançar a especialização inteligente.
Neste contexto de cidades inteligentes, regiões inteligentes e desenvolvimento regio-
nal inteligente, este capítulo se insere, tendo como objetivo descrever as características
das regiões inteligentes de forma a ter subsídios para a promoção do desenvolvimento
regional inteligente.

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DESENVOLVIMENTO REGIONAL INTELIGENTE

Regiões de Aprendizagem e Regiões Inteligentes

É comum o equívoco de se denominar uma região de aprendizagem (learning region)


como uma região inteligente (smart region). Oliveira (2011) argumenta que as regiões inte-
ligentes se formam por meio das regiões de aprendizagem, que, por sua vez, promove um
ambiente com conhecimento, ideias e inovações que conduzem ao desenvolvimento regio-
nal inteligente. Colantonio e Cialfi (2016) expõem que o crescimento econômico depende
da inovação territorial que, por sua vez, depende da criação, aplicação e disseminação do
conhecimento. Logo, existe cooperação e interatividade entre regiões de aprendizagem e
regiões inteligentes.
Oliveira (2011) afirma que tanto as regiões inteligentes quanto as regiões de apren-
dizagem são alternativas à organização do espaço territorial com o intuito de gerar um
ambiente inovador que seja capaz de promover o desenvolvimento regional e sustentável
nas localidades.
As regiões de aprendizagem são aquelas que proporcionam à sua comunidade pro-
cessos de aprendizagem e difusão do conhecimento, além da capacidade de absorção do
conhecimento (LINS, 2007). Nessas regiões surgem as inovações que, quando aplicadas,
torna uma região de aprendizagem em uma região inteligente.
Souza (2005) expõe que uma região inteligente é aquela que relaciona inovações e
território na dinâmica interativa de aprendizagem coletiva da sociedade. Giffinger e Gudrun
(2010) afirmam que as regiões inteligentes podem ser entendidas como um lugar que provê
inspiração, compartilha cultura, conhecimento e vida. A região inteligente é uma região que
motiva seus habitantes a criarem e prosperarem em suas vidas.
Para Mishra (2013), a inteligência de uma região ou de uma cidade é similar à inteligên-
cia da região de aprendizagem. Contudo, as regiões inteligentes são locais de inteligência
espacial e inovação, baseadas em sensores, dispositivos incorporados, grandes conjuntos
de dados, e informações e respostas em tempo real. Markkula e Kune (2015) acrescentam
que a inteligência de uma região está relacionada à capacidade de aproveitar seus capitais
humanos, estruturais e relacionais, e à sua habilidade de integrar diversos atores na prática
de inovação regional.
Jucevicius et al. (2017) complementa afirmando que a literatura tem discutido o conceito
de regiões inteligentes por diferentes perspectivas, destacando:

• Um modelo de tríplice-hélice (universidades, empresas e governo) que enfatiza


as regiões inteligentes como um processo de reconstrução social sustentado pela

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política, liderança acadêmica e estratégias corporativas.
• Capital humano com o componente mais importante; e
• Tecnologias de informação modernas como sendo essencial para qualquer cidade
inteligente; a área onde a cultura é o meio para interligar economia, sociedade e
meio ambiente.

Dessa forma, o conceito de uma região inteligente pode ser entendido como um cons-
tructo integral composto por diferentes conceitos e aportes teóricos. Todavia, não se pode
falar em regiões inteligentes sem considerar o sistema social. Basicamente, uma região
inteligente é um sistema social aberto, que deve ser interconectado com uma variedade de
conhecimentos, competências e outros tipos de redes.

A human being becomes the priority here: technical/digital systems are the
products of a human being and, thefore, smartness is primarily applicable to
(a) human being(s). Consequently, the main starting point in analyzing the
term smart is a human being and the quality smart is, first of all, attributed to
a human being. (JUCEVICIUS et al., 2017, p. 3).

Jucevicius et al. (2017) expõem o modelo conceitual de regiões inteligentes como um


sistema social (Figura 1).

Figura 1. Modelo de regiões inteligentes como um sistema social.

Fonte: Jucevicius et al. (2017).

O modelo mostra que, para desenvolver indivíduos inteligentes, é necessário prover


um ambiente inteligente; e para desenvolver indivíduos inovativos, é necessário prover um
ambiente inovativo. Isso significa que o ambiente é fundamental para o desenvolvimento
de uma região inteligente, não podendo desprezar os principais aspectos que compõem o
ambiente inteligente e inovativo, que são: economia, sociedade e governança pública.
O Intelligent Community Forum (2013) caracteriza uma comunidade inteligente por
meio de cinco indicadores, a saber:

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• Conectividade de banda larga: vital para o crescimento econômico;
• Conhecimento da força de trabalho: criação de valor econômico;
• Inclusão digital: provê formação de competências e promove os benefícios da inclu-
são da banda larga na economia;
• Inovação: gera crescimento de empregos nas economias modernas e investe em
programas de governo eletrônico (e-government); e
• Marketing e advocacia: compartilhamento da história com o mundo e construção de
uma nova visão da comunidade a partir de dentro dela (desenvolvimento endógeno).

Todavia, cada um desses cinco indicadores, por se tratar de comunidades inteligentes,


somente pode ser ativado em um ambiente favorável, que forneça espaço, ferramentas e
medidas necessárias. Para que esse ambiente seja favorável, deve-se analisar suas ca-
racterísticas sociais, culturais, políticas, econômicas, legais e tecnológicas. Além disso, a
transformação de uma cidade em cidade inteligente facilita o processo de tornar as regiões
em regiões de aprendizagem e, consequentemente, em regiões inteligentes.

Cidades Inteligentes

Para Komninos (2007), as cidades inteligentes surgem com a convergência de duas


correntes principais da abordagem contemporânea da cidade e do desenvolvimento urba-
no: por um lado, a redefinição da cidade sob o prisma das tecnologias de comunicação, da
interligação digital da respectiva representação; por outro lado, por meio da percepção da
cidade como um espaço de criatividade e inovação.
Uma cidade pode ser categorizada como inteligente quando o crescimento econômico
sustentável e alta qualidade de vida foram alcançados por meio de investimento em capital
humano, nível adequado de participação governamental e infraestrutura que apoia a dissemi-
nação adequada de informações por toda a cidade (CARAGLIU; DEL BO; NIJKAMP, 2011).
Assim, as cidades inteligentes devem basear sua inteligência em três pilares principais, a
saber: capital humano, infraestrutura e informação (Figura 2).

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Figura 2. Pilares das Cidades Inteligentes.

Fonte: Adaptado de Komninos (2007).

Segundo Komminos (2007), as duas componentes essenciais das cidades


inteligentes são:

• O sistema de inovação (em âmbito local ou regional), que orienta o desenvolvi-


mento dos conhecimentos e das tecnologias nas entidades e organismos da região
(empresas, universidades, centros tecnológicos, incubadoras de atividade, dentre
outros); e
• As aplicações digitais de gestão da informação e dos conhecimentos, que facilitam
a difusão de informações, a comunicação, o processo decisório, a transferência e
aplicação de tecnologias, a colaboração para a inovação, dentre outras.

A construção de uma cidade inteligente deve pautar-se pela relação harmoniosa com
o meio ambiente, por meio da utilização e reaproveitamento de forma racional dos recursos
ambientais locais e regionais em benefício da população. Isso pode ser perceptível a partir de
um rearranjo de utilização da energia, da água e do espaço – dimensões de grande importân-
cia para o ser humano. Para ocorrer a transformação de uma cidade em cidade inteligente,
há a necessidade da inclusão do fator humano, sendo insuficiente somente a existência de
uma estrutura tecnológica. As pessoas são o elo principal por disporem de informações úni-
cas e particulares advindas de suas percepções sobre o ambiente em que vivem; por outro
lado, são capazes de propor soluções para os problemas locais (CURY; MARQUES, 2016).
Buhalis e Amaranggana (2014) apresentam aspectos relacionados a cada um dos
indicadores de inteligência para uma cidade:

• Governança inteligente, que se relaciona com o aspecto da transparência dentro


dos sistemas de governança por meio da modernização da administração da cida-
de, apoiando a abertura de dados e o envolvimento público;
• Ambiente Inteligente, que está relacionado à otimização de energia que leva ao

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gerenciamento sustentável dos recursos disponíveis;
• Mobilidade Inteligente, que se refere à acessibilidade dentro e fora da cidade e dis-
ponibilidade de sistemas de transporte modernos;
• Economia Inteligente, que está relacionada à implementação de estratégias econô-
micas baseadas na tecnologia digital;
• Pessoas Inteligentes, relacionadas ao nível de qualificação do capital humano da
cidade; e
• Vida Inteligente, que envolve a qualidade de vida, medida em termos de meio am-
biente saudável, coesão social, atração turística e disponibilidade de serviços cul-
turais e educacionais.

Estes indicadores contribuem para a transformação de uma cidade em cidade inteli-


gente, havendo a necessidade da inclusão do fator humano, além de oferecer uma estrutura
tecnológica para a cidade. Com base nos indicadores são criadas as normas que auxiliam
no gerenciamento e boas práticas das cidades inteligentes.
O conceito brasileiro de cidades inteligentes pela Carta Brasileira para Cidades
Inteligentes define estas cidades como:

Cidades comprometidas com o desenvolvimento urbano e a transformação


digital sustentáveis, em seus aspectos econômico, ambiental e sociocultural,
que atuam de forma planejada, inovadora, inclusiva e em rede, promovem o
letramento digital, a governança e a gestão colaborativas e utilizam tecnologias
para solucionar problemas concretos, criar oportunidades, oferecer serviços
com eficiência, reduzir desigualdades, aumentar a resiliência e melhorar a
qualidade de vida de todas as pessoas, garantindo o uso seguro e responsável
de dados e das tecnologias da informação e comunicação (MINISTÉRIO DO
DESENVOLVIMENTO REGIONAL; MINISTÉRIO DA CIÊNCIA; COMUNICA-
ÇÕES, 2020).

Este conceito pode ser complementado pelos auxiliares de “Transformação Digital


Sustentável” e “Desenvolvimento Urbano Sustentável”. A transformação digital susten-
tável é o processo de uso responsável de tecnologias de informação e comunicação no
contexto dessa grande mudança cultural. Esse uso responsável deve se basear na ética
digital e orientado para o bem comum, que inclui: segurança cibernética; transparência
ao usar dados, informações, algoritmos e dispositivos; dados e códigos abertos, acessí-
veis a todas as pessoas; proteção geral de dados pessoais; letramento digital; e inclusão
digital (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL; MINISTÉRIO DA CIÊNCIA;
COMUNICAÇÕES, 2020).
Todas essas ações devem ser realizadas de forma adequada e com respeito às carac-
terísticas socioculturais, econômicas, urbanas, ambientais e político-institucionais específicas

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de cada território, conservando os recursos naturais e preservar as condições de saúde das
pessoas. O objetivo dessas políticas é reduzir desigualdades socioespaciais entre regiões,
dentro das regiões, entre cidades e dentro das cidades.
A Carta Brasileira de Cidades Inteligentes está organizada em oito objetivos estratégicos
para garantir as ações, e vincula-se à Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR)
e à Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU) (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO
REGIONAL; MINISTÉRIO DA CIÊNCIA; COMUNICAÇÕES, 2020). Tais objetivos são:

• Integrar a transformação digital nas políticas, programas e ações de desenvolvi-


mento urbano sustentável, respeitando as diversidades e considerando as desi-
gualdades presentes nas cidades brasileiras;
• Prover acesso equitativo à internet de qualidade para todas as pessoas;
• Estabelecer sistemas de governança de dados e de tecnologias, com transparên-
cia, segurança e privacidade;
• Adotar modelos inovadores e inclusivos de governança urbana e fortalecer o papel
do poder público como gestor de impactos da transformação digital nas cidades;
• Fomentar o desenvolvimento econômico local no contexto da transformação digital;
• Estimular modelos e instrumentos de financiamento do desenvolvimento urbano
sustentável no contexto da transformação digital;
• Fomentar um movimento massivo e inovador de educação e comunicação públicas
para maior engajamento da sociedade no processo de transformação digital e de
desenvolvimento urbano sustentáveis; e
• Construir meios para compreender e avaliar, de forma contínua e sistêmica, os im-
pactos da transformação digital nas cidades.

A Carta Brasileira assume uma perspectiva ampla da transformação digital nas cidades.
Portanto, é preciso compreender quais são as mudanças impostas ao espaço urbano pela
digitalização e de que forma o espaço urbano responde a essas mudanças.
Para desenvolver os serviços de cidades inteligentes, deve haver colaboração entre
os diferentes níveis de governo, distribuição efetiva de fundos, planejar instalações habi-
tacionais adequadas e formar regras e regulamentos apropriados para vários domínios de
uma cidade. Ao projetar os serviços públicos, o foco do governo deve ser em prestações de
serviços com boa relação custo-benefício, inovadoras e oportunas (KUMAR et al., 2018).
Posto isso, é necessário frisar que a transformação das cidades em cidades inteligentes
é essencial para a formação das regiões inteligentes. Sendo assim, elas devem ser levadas
em consideração ao se falar do desenvolvimento regional inteligente.

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Desenvolvimento Regional Inteligente

Para Colantonio e Cialfi (2016), o termo “região inteligente”, no planejamento urbano, é


considerado uma ideologia, em que ser inteligente implica em direcionamentos estratégicos.
Nesse sentido, os decisores políticos são os mais propensos a atribuir um peso consistente
à homogeneidade espacial, o que torna a progressiva clusterização do capital humano re-
gional uma grande preocupação. De fato, eles estão adotando a noção de “inteligência” para
distinguir suas políticas e programas visando o desenvolvimento sustentável, crescimento
econômico, melhor qualidade de vida para seus cidadãos e criação de felicidade.
Nesse contexto, as características comuns para o desenvolvimento regional inteligente
envolve (COLANTONIO; CIALFI, 2016, p. 87):

• A utilização de uma infraestrutura de rede para aumentar a eficiência econômica e


política e permitir o desenvolvimento social, cultural e urbano. O termo infraestrutu-
ra se refere a serviços empresariais, de habitação, lazer e estilo de vida, e tecno-
logias de informação e comunicação (telefones fixo e móvel, televisão por satélite,
redes de computadores, comércio eletrônico, serviços de internet etc.).
• Ênfase no papel crucial da alta tecnologia e indústrias criativas no crescimento re-
gional de longo prazo. Este fator envolve infraestruturas leves, tais como redes de
conhecimento, organizações voluntárias, ambientes livres de crimes, economia do
entretenimento etc. Em suma, as ocupações criativas estão crescendo cada vez
mais e as empresas, consequentemente, procuram atrair pessoas criativas.
• Atenção profunda no papel do capital social e relacional no desenvolvimento regio-
nal. As pessoas precisam ser capazes de usar a tecnologia em benefício próprio, ou
seja, elas devem ter uma capacidade de absorção de aprendizado da tecnologia.
• A sustentabilidade social e ambiental é o maior componente estratégico do desen-
volvimento das regiões inteligentes. As regiões estão se baseando cada vez mais
no desenvolvimento de suas riquezas no turismo e nos recursos naturais, devendo
garantir o uso seguro e renovável do seu patrimônio natural.

Para que haja o desenvolvimento regional inteligente, a região deve prover de inova-
ção e sistema regional de inovação. De fato, “[...] a sustentação do crescimento regional
somente pode ser atingida por meio de investimentos em pesquisa e capacitação técnica,
pois, assim, estimula-se a inovação e a difusão de tecnologias para todo o sistema regional.”
(OLIVEIRA, 2011, p. 36-37).
Souza (2005) expõe que o desenvolvimento regional inteligente deve acontecer por
meio de ações dos atores locais da região, tais como universidades, centros de pesquisas,

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poder público local, agências de fomento à pesquisa, associações comerciais, indústrias
e outros. Esses atores têm o dever de estimular as inovações locais, reduzir o custo de
instalação e produção das empresas/indústrias e desenvolver atrativos para que a região
inteligente consiga desenvolver seu sistema regional de inovação.
Santos (2002, p. 293) afirma que “O sucesso nas trajetórias de desenvolvimento de
certas regiões será devido às suas capacidades intrínsecas de fabricar novos produtos,
adotar novos processos produtivos, bem como configurações organizacionais e institucionais
inovadoras”. A inovação se torna, nesse sentido, o fator fundamental para o desenvolvimento
regional inteligente.
Para Santos (2002) e Souza (2005), os meios inovadores de determinada região são
abertos à economia nacional e internacional, permitindo a geração de processos de apren-
dizagem coletiva. Para que o meio seja inovador, é necessário que ele possua os seguintes
elementos: um componente espacial; um conjunto de atores conscientes da realidade so-
cioeconômica local e regional; elementos materiais; uma lógica de interação; e uma lógica
de aprendizagem.
O sucesso da dinâmica entre esses elementos é fundamental, segundo Souza (2005)
para o desenvolvimento regional inteligente, pois “a interação entre os agentes locais, com
o apoio das autoridades locais e regionais, reduz a incerteza e os riscos associados à ino-
vação.” (SOUZA, 2005, p. 104).
Posto isso, pode-se afirmar que, para o desenvolvimento regional inteligente aconte-
cer, é necessário, primeiramente, que uma região se torne uma região de aprendizagem
e, posteriormente, uma região inteligente. OECD (2001) expõe os principais insumos para
uma região de aprendizagem:

• Aprendizagem individual: o fator-chave educacional é uma educação secundária


bem-sucedida, pois as universidades têm maior impacto regional por meio de pes-
quisas.
• Aprendizado organizacional: os formuladores de políticas públicas devem ter como
objetivo facilitar o aprendizado organizacional, mas não o direcionar; e
• Mudanças institucionais regionais: os formuladores de políticas públicas devem es-
timular o pensamento do que foi realizado anteriormente e funcionou para a sua
região, e deve estar disposto a reaprender a gerenciar processos complexos de
transformação.

Para que esses insumos sejam transformados em produtos na região, é necessário


que todos os participantes estejam atentos às suas funções e que as concretizem. A OECD
(2001) expõe os principais mecanismos de aprendizagem nesse processo, a saber:

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• Redes organizacionais: Ao incentivar as empresas a participar de redes, os for-
muladores de políticas públicas regionais precisam demonstrar seus benefícios e
demonstrar os benefícios do aprendizado para os indivíduos.
• Estratégias regionais de top-down e bottom-up: A população regional precisa estar
engajada na elaboração de uma estratégia. Projetos grandes e visíveis podem aju-
dar as pessoas comuns a se identificarem com a mudança.
• Estratégias de coordenação: É importante reunir várias vertentes políticas em âm-
bito regional e reunir as muitas vertentes de governo que operam na região.
• Capital social: Desenvolver capital social onde ele é fraco é difícil e deve ser feito
de maneira focada, especialmente, fortalecendo as redes existentes.

Para se alcançar o desenvolvimento regional inteligente, as regiões devem melhorar


seu desempenho econômico em uma economia baseada no conhecimento, por meio de
atividades intensivas em inovação. Para que isso aconteça, a OCDE (2001) expõe 10 prin-
cípios a serem seguidos, quais sejam:

• Garantir que haja uma oferta educacional de alta qualidade e com bons recursos,
na qual a aprendizagem individual eficaz ao longo da vida das pessoas possa ser
desenvolvida;
• Coordenar cuidadosamente a oferta de indivíduos qualificados e instruídos por
meio de educação e treinamento, e a demanda por eles na economia regional para
que os benefícios plenos da aprendizagem individual possam ser colhidos por meio
de seus efeitos na aprendizagem organizacional;
• Estabelecer condições de enquadramento adequadas para a melhoria da aprendi-
zagem organizacional, tanto dentro das empresas como entre empresas e outras
organizações em redes de interação, e demonstrar às empresas os benefícios des-
tas formas de aprendizagem;
• Facilitar o aprendizado organizacional eficaz não apenas para um conjunto pré-
-selecionado de setores de “alta tecnologia” convencionalmente definidos, mas em
todos os setores e serviços da economia regional que tenham potencial para de-
senvolver altos níveis de capacidade inovadora;
• Identificar até que ponto os recursos atualmente disponíveis para a região (indús-
trias existentes, oferta educacional, instalações de pesquisa, capital social positivo
etc.) constituem um impedimento para o desenvolvimento econômico (lock-in) ou
podem contribuir no desenvolvimento de estratégias inovadoras para o futuro;
• Responder positivamente às condições econômicas e sociais emergentes, espe-
cialmente quando isso envolver o “desaprendizado” de práticas inadequadas e

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conhecimento (incluindo os próprios formuladores de políticas) que sobraram das
instituições regionais de eras anteriores;
• Prestar muita atenção aos mecanismos para coordenar as políticas entre o que
geralmente tem sido responsabilidades departamentais separadas (para desenvol-
vimento industrial, P&D, ciência e tecnologia, educação e treinamento etc.) e entre
os diferentes níveis de governança (regional, nacional e supranacional);
• Desenvolver estratégias para fomentar formas apropriadas de capital social como
mecanismo-chave para promover a aprendizagem organizacional e a inovação
mais efetivas;
• Avaliar continuamente as relações entre participação na aprendizagem individual,
inovação e mudanças mais amplas no mercado de trabalho, especialmente no que
diz respeito à exclusão social de grupos dentro da população regional;
• Garantir que a estratégia regional de aprendizagem e inovação seja legitimada pela
população da região a ser transformada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento regional inteligente é um aspecto novo a ser considerado pelos


decisores de políticas públicas. Afinal, ele está atrelado às regiões inteligentes que, por
sua vez, existem pela capacitação da sociedade por meio de uma região de aprendizagem,
que preza pela inovação e disseminação de conhecimento, além da tecnologia de informa-
ção e comunicação.
A inovação se apresenta como o principal fator para o desenvolvimento regional inte-
ligente. Todavia, isso não descarta a importância das teorias do desenvolvimento regional,
que são essenciais para a análise da dinâmica de determinada região. O que se enfatiza
aqui é a importância da inovação no desenvolvimento regional, uma vez que ela é uma ca-
racterística-chave de uma região inteligente.
Sendo assim, é notável que a educação nas regiões de aprendizagem é fator funda-
mental para o desenvolvimento regional inteligente, pois é por meio da educação que se
alcança a inovação nessas regiões, transformando-as em regiões inteligentes.
Posto isso, pode-se afirmar que o desenvolvimento regional inteligente está diretamente
relacionado ao nível educacional da população e ao nível de inovação das regiões.

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12
Diagnóstico da comercialização dos
produtos da agricultura familiar em feiras
livres

Taylane Santos Santos Michelane Silva Santos Lima


Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA Universidade Estadual Paulista - UNESP

Natália Nayale Freitas Barroso Andreza Sousa Carmo


Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA Universidade Estadual do Norte Fluminense - UENF

Rhaiana Oliveira de Aviz Luciana da Silva Borges


Universidade Federal do Piauí - UFPI Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA

Luana Keslley Nascimento Casais


Universidade Federal do Tocantins - UFT

'10.37885/220709464
RESUMO

Os agricultores familiares do município de Paragominas, no sudeste do Pará, realizam a co-


mercialização de seus produtos tanto de forma independente, quanto através de cooperativas.
Diante disso objetivou-se diagnosticar a comercialização dos produtos da agricultura familiar
em feiras livre, no município de Paragominas. A pesquisa foi iniciada em setembro de 2021.
Foram visitadas feiras organizadas pela prefeitura e cooperativa (CooperUraim). A coleta
de dados foi realizada de forma direta, através de entrevista com os feirantes, guiadas por
um questionário semiestruturado, com perguntas abertas e fechadas sobre o perfil, impacto
das feiras na renda, estrutura, divulgação e apoio aos feirantes. A realização das feiras,
desde início da produção até a comercialização, é um grande desafio para os agricultores
familiares. De forma geral, as feiras são de grande importância para os lucros dos feirantes
ligados a agricultura familiar em Paragominas, pois são a sua principal fonte e aumento
de renda. Entretanto, há dificuldades encontradas, principalmente pouca divulgação pelos
organizadores, barracas precisando ser reformadas, pouca capacitação e assistência. É ne-
cessário que os feirantes recebam apoio e valorização, visto que, grande parte dos produtos
oriundos da agricultura familiar, são produzidos de forma agroecológica, contribuindo com
a sustentabilidade.

Palavras-chave: Cadeia Produtiva, Cooperativa, Feirantes, Hortifruti.


INTRODUÇÃO

A agricultura familiar tem contribuição relevante para o abastecimento alimentar no


Brasil, pois são os principais fornecedores de produtos de origem animal e vegetal para o
comércio regional (DELGADO; BERGAMASCO, 2017). De acordo com dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2017), esse setor é responsável por 23% da
área e produção agropecuária brasileira, sendo a mandioca, abacaxi, café, banana e feijão
os principais produtos provenientes dele, além disso, abrange cerca de 67% do total dos
trabalhadores agropecuários.
Além de possuir mão de obra predominantemente familiar, o setor também tem como
caraterística práticas de cultivo sustentável, como a adoção de adubação orgânica, cultivo
consorciado e uso de sementes crioulas (SILVA; TORRES, 2020). Dessa forma, obtém
produção diversificada com baixo impacto ambiental, para comercialização e consumo pela
própria família (VIEIRA, 2018).
Em relação ao escoamento da produção dos agricultores familiares, seu destino é
principalmente as feiras livres, onde o produtor tem contato direto com o consumidor final,
permitindo a identificação de melhorias na qualidade dos produtos (AZEVEDO; FAULIN,
2005). Outras alternativas são o fornecimento dos produtos para supermercados e para
políticas públicas, como PAA (Programa de aquisição de alimentos) e PNAE (Programa
nacional de alimentação escolar) (JESUS et al., 2018).
A distribuição e comercialização dos produtos agrícolas são feitos de forma indepen-
dente ou através de cooperativas. Esta ultimo tem por objetivo fortalecer a atividade agrícola,
através da organização dos agricultores familiares em um grupo para ajuda mútua (MORAES;
SCHWAB, 2019). A formação de cooperativas facilita a obtenção de crédito, transporte,
tecnologia e assistência técnica, permitindo ao agricultor familiar competir diretamente com
grandes produtores rurais (ANDRADE; ALVES, 2013).
Estudos mostraram que os agricultores familiares do município de Paragominas, no
sudeste do Pará, realizam a comercialização de seus produtos tanto de forma independente,
quanto através de cooperativas (GUIMARÃES et al., 2020; CARNEIRO; BORGES; JOELE,
2021). Entretanto, sabe-se pouco sobre as dificuldades enfrentadas por esses agriculto-
res para comercializar seus produtos. Diante disso objetivou-se diagnosticar a comercia-
lização dos produtos da agricultura familiar em feiras livre, no município de Paragominas,
sudeste do Pará.

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MÉTODOS

A pesquisa foi realizada no município de Paragominas (Figura 1), localizado as margens


da rodovia Belém-Brasília (BR-010), a 320 quilômetros da cidade de Belém. O município
faz parte da mesorregião sudeste Paraense e se limita com cinco municípios paraenses:
Ipixuna do Pará, Nova Esperança do Piriá, Ulianópolis, Goianésia do Pará e Dom Eliseu,
também possui 19.342,25 km² de extensão e abriga uma população de 108.547 mil habi-
tantes (FAPESPA, 2016).

Figura 1. Mapa de localização do município de Paragominas - PA.

Fonte: Guimarães (2017).

A pesquisa foi iniciada em setembro de 2021. Foram visitadas feiras em funciona-


mento na cidade (Figura 2-A, B, C, D, E e F), organizadas pela prefeitura (ocorrem nas
quartas e sextas a partir das 07h30min) e pela cooperativa formada por agricultores fami-
liares de Paragominas, chamada CooperUraim (ocorre nas segundas, terças e quintas a
partir das 7:00h).

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Figura 2. Feiras em funcionamento na cidade de Paragominas, realizadas pela CooperUraim (A, B e C) e pela prefeitura
(D, E e F).

A C

D E F

Fonte: Autores.

A coleta de dados foi realizada de forma direta, através de entrevista com os feiran-
tes. A metodologia adotada foi utilizada por outros autores na literatura (SANTOS; REBELLO,
2012; SOMBRA et al., 2018; GUIMARÃES et al., 2020). Essas entrevistas foram guiadas
por um questionário semiestruturado, com perguntas abertas e fechadas sobre:

• Perfil dos feirantes: gênero, profissão, origem do produto comercializado, desloca-


mento até a feira e se participava como cooperado ou convidado.
• Impacto da feira na renda dos feirantes: a feira era a fonte de renda principal ou
extra, aumento de renda através da feira e retornos dos custos para os feirantes.
• Estrutura das feiras, divulgação e funcionamento do aplicativo da cooperativa.
• Apoio assistencial, apoio a capacitação e dificuldades enfrentadas pelos feirantes.

Esse formato de coleta de assegura a aproximação com os feirantes, estabelecendo


maior confiança dos entrevistados frente aos questionamentos (CAMARGO, 2015). Todos
os protocolos de segurança devido à COVID-19 foram seguidos, garantindo a segurança
dos autores e dos feirantes.
As feiras são compostas por cooperados da CooperUraim e convidados. Na coope-
rativa há 60 participantes, porém, em média 11 são ativos nas feiras. Diante disso foram
entrevistados 14 feirantes envolvendo agricultores familiares cooperados e comerciantes
convidados de outros setores, como laticínios, refeições e açougue.
Após a finalização das entrevistas, os dados foram tabelados, e gerados gráficos atra-
vés do software Microsoft Excel 2013.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante a visita nas feiras, encontrou-se os mais variados produtos, desde legumes,
frutas, flores, até refeições. São comercializados diferentes hortifrútis como abóbora, jambu,
melancia, coco, banana, manga, goiaba, berinjela, pimenta-de-cheiro, macaxeira, alface,
entre outros (Figura 3 – A, B, C, D, E e F).

Figura 3. Produtos hortifruti comercializados nas feiras em Paragominas.

A B C

D E F

Fonte: Autores.

A grande disponibilidade de hortaliças e frutas para comercialização está relacionada


com o fácil manejo das culturas, a adaptação dessas espécies na região norte, entre outros
motivos (AVIZ et al., 2019). Além disso, as espécies olerícolas podem ser manejadas em
pequenos espaços de terras e necessitam de um investimento inicial baixo, em comparação
com as demais produções agrícolas (FAULIN; AZEVEDO, 2003).
Além desses, outros produtos também são comercializados na feira (Figura 4 - A, B, C, D,
e E), como castanhas, queijos, doces, pães, embutidos, flores, goma para tapioca, mel,
manteigas caseiras e adubos. A diversidade de produtos nas feiras livres ocorre devido à
abrangência de produtores de diferentes seguimentos, ocasionando a oferta de variados
produtos, atraindo mais consumidores, aumentando a visibilidade e fortalecimento das feiras
livres na cidade de Paragominas.

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Figura 4. Outros produtos expostos para a venda nas feiras livres em Paragominas.

A B C

D E

Fonte: Autores.

Em relação ao perfil dos feirantes (Figura 5-A), 64% eram mulheres e 36% eram
homens, o que mostra maior participação da mulher na fase final da cadeia produtiva da
agricultura familiar. A participação das mulheres na produção agrícola familiar cresce a cada
ano, e de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), na região
norte estima-se que chega à 67% (CONAB, 2020). Apesar do aumento da participação das
mulheres na cadeia produtiva, elas exercem tanto atividade remuneradas, quanto não re-
muneradas, e que geralmente são na mesma proporção, o que causa acúmulo de funções
(MEUS; ETHUR, 2021).
Os dados coletados revelaram que os feirantes não são exclusivamente agricultores
familiares (Figura 5-B). Desses entrevistados, 21% possuem outras profissões, como ven-
dedores de lanches, vigilantes, cozinheiros e artesãos. Apesar de os feirantes terem outras
profissões, agricultores familiares predominam, e isso está ligado ao fato de que grande
parte dessas feiras são organizadas pelas cooperativas, que viabilizam toda a estrutura
para o funcionamento.
Dentre os produtos à venda nas feiras, 78% são oriundos de produção própria dos
entrevistados, 8% são adquiridos através de outros fornecedores, e 14% são originados das
duas formas (misto) (Figura 5-C). Os agricultores dispõem de variedade de culturas em sua
área de produção, proporcionando mais opções para o consumidor final, e obtendo sucesso
em suas vendas, entretanto, quando não há variedade de produtos, eles diversificam suas
vendas através da aquisição de produtos de terceiros (VERANO; MEDINA, 2021).

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Figura 5. Perfil dos participantes da feira.

A B

C D

Fonte: Autores.

Em relação ao deslocamento até as feiras (Figura 5-D), foi verificado que 79% dos en-
trevistados dispõem de conduções próprias, e 21% utilizam transporte público. Esse resultado
reflete o sucesso produtivo e retorno de lucros para o produtor, pois segundo estudo realizado
por Castro e Pereira (2017) com os lucros adquiridos os agricultores tem a possibilidade de
investir no aumento de área e na qualidade da produção, além da aquisição de melhorias,
como veículo próprio para seu deslocamento e transporte da produção.
Ao observar o número de feirantes, foi questionado o porquê da baixa adesão dos agricul-
tores participantes da cooperativa nas feiras, sendo que dos interrogados 43% eram feirantes
cooperados, 43% eram feirantes convidados e 14% se encaixava em outras denominações,

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por exemplo, ex-cooperados (Figura 5-E). A explicação dada, foi que não viam a feira como
uma forma de renda compensatória, por conta de todas as dificuldades existentes.
Em contrapartida, dos feirantes entrevistados 64% consideram as vendas nas feiras
como principal fonte de renda (Figura 6-A), e apenas 36% veem como forma de renda ex-
tra. A feira é considerada como renda extra para os feirantes que possuem outras profissões
e também para os agricultores que participam de políticas públicas, como PAA (Programa
de aquisição de alimentos) e PNAE (Programa nacional de alimentação escolar).
As feiras são de grande importância para o faturamento dos feirantes e agricultores,
pois de acordo com os dados, 93% dos entrevistados relataram ter aumentado sua renda,
enquanto apenas 7% não souberam falar (Figura 6-B). A adesão do agricultor as políticas
públicas garantem renda estável até o vencimento do contrato firmado, entretanto, pesqui-
sas apontam que os valores pagos são mais baixos em comparação ao valor dos produtos
vendidos nas feiras (ANDRADE et al., 2019). Segundo Ferreira et al. (2015), a produção
agrícola familiar em Paragominas é destinada a vendas e consumo próprio, e a maior parte
das vendas são para supermercados e à domicílios.
Além dos custos próprios de cada produtor, existe também os custos coletivos para
ocorrerem as feiras, nos quais todos os feirantes precisam pagar uma taxa de 25 reais, des-
tinados ao frete e montagem das barracas. Esse valor corresponde apenas para as feiras
realizadas pela cooperativa. Para 43% dos feirantes (Figura 6-C), esses custos são onero-
sos por conta dos altos preços relacionados aos transportes como combustíveis, revisões
dos veículos, e também devido as longas distâncias do ponto de produção até o centro de
comercialização, que em alguns casos passam mais de 15 km.

Figura 6. Impacto da feira na renda dos feirantes.

A B

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C

Fonte: Autores.

Em relação às feiras organizadas pela cooperativa, 64% dos feirantes acharam as


estruturas das barracas boas, 21% disseram ser ruim, 8% diz ser ótima e 7% não soube-
ram opinar (Figura 7-A). Em relação aos entrevistados que consideraram a estrutura ruim,
isso ocorreu pelo fato de que haviam barracas em estado de deterioração no local. Quando
questionado o representante da cooperativa sobre essas barracas, ele afirmou haver pro-
videnciado a reforma.
Para que ocorra a procura pelos consumidores, é essencial a divulgação sobre o funcio-
namento das feiras, constando informações sobre local e horário de funcionamento. Em vista
disso, foi feito o questionamento sobre a existência de publicidade, e 60% dos entrevistados
consideraram a divulgação insuficiente, enquanto 40% julgaram haver publicidade suficiente
em prol das feiras (Figura 7-B). Nas feiras livres de Paragominas, as publicidades notadas
foram realizadas pela prefeitura e cooperativa em suas redes sociais. A cooperativa também
contratou um carro de som para anunciar a chegada da feira no local dois meses antes.
Model e Denardin (2014) em seu diagnóstico, também relataram o déficit de divulgação
das feiras à comunidade, com todas as informações necessárias para o seu acontecimento,
além do objetivo das feiras livres. Essa baixa, ou até mesmo escassez de publicidade nas
feiras, é um dos obstáculos a serem superados, e feirantes relataram em outros estudos que
esse é o “caminho” fundamental para o crescimento dos faturamentos (FOSSÁ; TERNUS;
BADALOTTI, 2020).

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Figura 7. Estrutura das feiras, divulgação e funcionamento do aplicativo da cooperativa.

A B

Fonte: Autores.

Durante o diagnóstico chegou-se ao conhecimento de que a cooperativa havia criado


um aplicativo para ser usado como canal para comércio dos produtos, principalmente durante
a pandemia. Entretanto, o seu uso não foi proveitoso, pois 93% dos entrevistados afirmaram
não conseguir vender seus produtos, e apenas 7% conseguiram (Figura 7-C). As alegações
para o não escoamento foram falta de explicação sobre o funcionamento do aplicativo para
o produtor e consumidor, pouca ou nenhuma facilidade com o uso de tecnologias, desorga-
nização referente aos produtos a serem escolhidos e entregues, entre outros.
Foi questionado se os entrevistados receberam algum tipo de apoio assistencial, oriundo
da prefeitura ou de outro órgão que os auxiliassem no funcionamento das feiras. Dos feiran-
tes, 86% disseram ter recebido apoio e 14% não receberam (Figura 8-A). Esses resultados
corroboram com os dados de Guimarães et al. (2020), onde se conclui que 67% não tiveram
nenhum tipo de assistência técnica. Muitos feirantes relataram que gostariam de receber
mais assistência da prefeitura, como maior divulgação, mais cursos ofertados via prefeitura,
capacitação de como agregar valor nas mercadorias, disponibilidade de transporte coletivo
para ser usado pelos produtores.

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Figura 8. Apoio assistencial, a capacitação e dificuldades enfrenadas pelos feirantes.

A B

Fonte: Autores.

Além do apoio assistencial, também foi indagado se os feirantes tinham algum apoio
na área de capacitação para melhoria das venda e atendimento. Nos resultados obtidos,
78% disse ter algum tipo de apoio nessa área, 14% disse não ter e 8% não souberam res-
ponder (Figura 8-B). É importante ter alto índice de pessoas capacitadas nas feiras, pois o
comércio está em contínua atualização e alta exigência, é necessário que os feirantes se
qualifiquem para haver maior segurança nas vendas, tanto para eles como para os clientes
(BARROS; MICHELLON; COSTA, 2017). Todavia, pôde-se verificar na literatura que os da-
dos aumentaram, e no estudo realizado por Guimarães et al. (2020), verificou-se que 75,5%
dos produtores estão envolvidos em algum tipo de qualificação direcionado a olericultura.
Nas entrevistas, 50% dos feirantes mencionaram algum tipo de dificuldade para a ven-
da de seus produtos, 36% não relataram dificuldades e 14% não souberam opinar (Figura
8-C). Frente a esses relatos foram diagnosticados algumas dificuldades, como locomo-
ção, infraestrutura, estruturas das barracas, preços abaixo do mercado, pouco ou nenhum
tipo de apoio assistencial e pequena valorização dos produtos pelos consumidores. Para
Fossá, Ternus e Badalotti (2020), foi possível observar dificuldades pelos feirantes rela-
cionados à infraestrutura e estrutura dos espaços de comercialização. A distância enorme
entre a área de produção e os centros de distribuição, e também foi vista no estudo de Maia,

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Nascimento e Hanke (2019), como uma das dificuldades posta pelos produtores rurais, que
afetam suas produções.

CONCLUSÕES

A realização das feiras, desde início da produção até a comercialização, é um grande


desafio para os agricultores familiares. De forma geral, as feiras são de grande importância
para os lucros dos feirantes ligados a agricultura familiar em Paragominas, pois são a sua
principal fonte e aumento de renda. Entretanto, há dificuldades encontradas, principalmente
pouca divulgação pelos organizadores, barracas precisando ser reformadas, pouca capaci-
tação e assistência. É necessário que os feirantes recebam apoio e valorização, visto que,
grande parte dos produtos oriundos da agricultura familiar, são produzidos de forma agroe-
cológica, contribuindo com a sustentabilidade.

Agradecimentos

À Universidade Federal Rural da Amazônia, ao Grupo de Pesquisa em Horticultura na


Amazônia (HORTIZON) e a CooperUraim.

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13
Dinâmica espacial e alterações do perfil
agropecuário no estado de Mato Grosso
do Sul de 2006 e 2017

Luiz Fernando Saguma Maibashi


Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS

Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo


Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS

'10.37885/220809864
RESUMO

A agropecuária no Estado de Mato Grosso do Sul se evidencia na produção de inúmeros


produtos do setor, principalmente as atividades de algodão, soja, milho, cana-de-açúcar e
pecuária, dado que, no censo agropecuário de 2017, as culturas de soja, milho e cana-de-
-açúcar corresponderam a 94% do valor bruto obtido na produção de lavouras temporárias
do estado. Neste contexto, essas atividades possuem um crescimento expressivo em termos
de valor de produção e área colhida. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é explorar a
evolução da produção das principais atividades agropecuárias nas Regiões Geográficas
Imediatas (RGI) de Mato Grosso do Sul, no período de 2006 e 2017, através da utilização
de indicadores de localização e especialização.

Palavras-chave: Indicadores de Localização e Especialização, Regiões Geográficas Ime-


diatas, Algodão, Soja, Milho, Cana-de-Açúcar, Pecuária.
INTRODUÇÃO

Em um cenário em que a globalização exige cada vez mais produtividade e especializa-


ção das atividades produtivas, o nível de competitividade dessas atividades de determinada
região torna-se essencial. Neste novo cenário, o produtor e o arranjo produtivo são colocados
à prova pelo mercado capitalista que tem por base acumular e expandir, em um contexto onde
o fator terra é totalmente essencial e limitado para a produção de modo geral. Sendo assim,
são impostas complexas relações produtivas e sociais aos produtores (SOARES, 2019).
A agricultura em Mato Grosso do Sul incorporou a modernização produtiva, através da
utilização de utensílios, corretivos, defensivos, fertilizantes, máquinas e equipamentos etc.,
que possibilitaram a ampliação da produção agrícola, principalmente das culturas comer-
ciais, voltadas para a exportação. Este processo aconteceu através dos programas federais
(I e II PND, PRODECER E POLOCENTRO), programas de colonização do Centro-Oeste e
cuja área abrange boa parte de Mato Grosso do Sul (PAVÃO, 2005).
A estimativa do Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) para Mato Grosso do Sul
é de R$ 79,9 bilhões, se mantendo como estado na posição de sétimo colocado no ranking
nacional, com um índice de crescimento de 17,8% no VBP agropecuário do estado, no pe-
ríodo de 2020 a 2022. De acordo com o levantamento feito pelo Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2022).
Conforme nota técnica sobre o Valor Bruto da Produção (VBP) da agropecuária do esta-
do de Mato Grosso do Sul, desenvolvida pela Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento
Econômico, Produção e Agricultura Familiar (SEMAGRO) com base na pesquisa do MAPA,
as culturas de maior evidência no crescimento de seu valor bruto de produção do estado
foram à soja sendo 5º no ranking, o milho: 4º no ranking, a cana-de-açúcar: 4º no ranking;
enquanto que na pecuária o melhor desempenho foi para bovinos: 4º no ranking.
Os resultados do movimento econômico em Mato Grosso do Sul foi o crescimento das
atividades agrícolas ligadas ao mercado externo e industrial (cana-de-açúcar, milho, soja e
pecuária). Desta forma, um processo de internacionalização do capital está relacionado com
as modificações da economia sul-mato-grossense, na qual alteraram o perfil produtivo e a
dinâmica espacial da distribuição da terra entre as atividades produtivas do estado.
A partir desse contexto, inúmeros trabalhos, como Fagundes et al., (2016), Pereira
et al., (2014; 2019) e Figueiredo et al.,(2011), ressaltam a importância do setor agropecuário
para o crescimento e desenvolvimento econômico do estado de Mato Grosso do Sul.
Os dados presentes neste trabalho foram recolhidos através da base de dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para cada Região Geográfica
Imediata (RGI) de Mato Grosso do Sul, levando em conta os anos que ocorreram o Censo
Agropecuário (2006 e 2017).

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206
Nesse sentido, o problema de pesquisa fica estabelecido: de que modo a alteração do
uso da terra afeta o desenvolvimento da agropecuária de Mato Grosso do Sul em termos
de área de produção, ganhos de rendimento e os estímulos de preço entre 2006 e 2017?
O presente trabalho pode proporcionar uma melhor compreensão sobre o desenvolvi-
mento do estado em relação ao setor agropecuário, exclusivamente por abordar a atividade
produtiva da Pecuária, na qual outros autores não usaram em seus trabalhos. Além disso,
pode contribuir para a criação de políticas e medidas que possibilitam uma melhora na parte
produtiva e tecnológica, com o objetivo de expandir o setor agropecuário no estado de Mato
Grosso do Sul. E por fim trabalho pode auxiliar na expansão do estoque de conhecimento
da classificação de Regiões geográficas imediatas do estado inseridas pelo IBGE em 2017,
na qual outros autores não utilizaram em seus trabalhos. Auxilia, além disso, na compreen-
são do comportamento de atividades econômicas importantes na composição do PIB local,
colaborando com a tomada de decisão tanto na esfera pública quanto na privada.
O objetivo geral do trabalho é identificar a dinâmica do uso do espaço rural no estado
de Mato Grosso do Sul, a partir da verificação das alterações no perfil produtivo das princi-
pais atividades (Algodão, Cana-de-açúcar, Soja, Milho e Pecuária).
Esse estudo torna possível uma melhor compreensão da base produtiva do estado e
seus determinantes, podendo ser utilizada como subsídio para indicação de estudos e/ou
políticas que desenvolvam toda a estrutura produtiva do estado. Para tanto, analisou-se a
dinâmica espacial das principais atividades agrícolas: soja, milho, cana-de-açúcar e, além
disso, a pecuária (bovinocultura de corte).
A fim de alcançar esse objetivo, foram estipulados o seguinte objetivo específico: anali-
sar a aglomeração e especialização das principais atividades produtivas (Algodão, Cana-de-
açúcar, Milho, Soja e Pecuária), por meio dos indicadores de localização e especialização.

REFERENCIAL TEÓRICO

A presente seção compreende o arcabouço teórico recorrido na elaboração do traba-


lho. A seção se inicia com uma apresentação das referências sobre o Crescimento econô-
mico a partir da agricultura no Brasil; no tópico seguinte são apresentadas as teorias sobre
os Indicadores de Análise Regional.

Crescimento Econômico a partir da Agricultura Brasileira

O setor da agricultura no Brasil vivenciou intensas transformações ao longo da história


do país, a partir de sucessivas alterações na política agrícola e em programas econômicos,
o setor alcançou níveis expressivos, se modernizando e consequentemente aumentando

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207
sua competitividade no cenário internacional (ALMEIDA, 2003). A implementação de novas
tecnologias, junto a maiores investimentos em termos industriais, impulsionou a produtividade
das terras e da mão de obra nos anos 1960, resultando em alterações na base técnica do
setor agroindustrial, principalmente na região Centro-Sul do Brasil (ALVES; CONTINI, 1992).
Nas décadas de 1950 e 1960, a fim de resolver o problema da oferta de alimentos,
foram adotadas políticas que impulsionaram a expansão da área produtiva, onde se enqua-
drou a ampliação da rede logística (de transporte), melhorias em infraestrutura de armaze-
namento e emprego de mão-de-obra. No período dos anos 1970, a política agrícola tinha
o objetivo de aumentar a produtividade da terra e do trabalho a partir da modernização do
setor. Essa década foi marcada pela importante política de crédito rural subsidiado, sen-
do determinante para o crescimento da produção, por possibilitar os produtores a adquirir
maquinário necessário para a produção (SMITH, 1983; BARROS; ARAÚJO, 1991; VIEIRA
FILHO; FISHLOW, 2017).
Apesar das consequências negativas da primeira crise do petróleo em 1973, Mesquita
(1994) destaca que na década de 1970 as condições para o crescimento do setor agrícola
foram favoráveis. Além disso, houve a segunda crise do petróleo em 1979, que ocasionou a
queda dos preços dos produtos agrícolas no mercado mundial, enquadrando uma recessão
na economia brasileira entre 1981 e 1983.
Nesse contexto de dificuldades, o setor agrícola apresentou um desempenho positivo
na década de 1980, devido às melhorias na produtividade e política cambial favorável às
exportações (MELO, 1990). O crédito subsidiado até os anos 80 permitiu a capitalização e a
modernização da agricultura, com incorporação de novas áreas agrícolas, especificamente no
Centro-Oeste do Brasil (NAKANO, 1992). No período dos anos 1990 houve uma valorização
da moeda nacional devido ao Plano Real, que se baseou em um câmbio relativamente fixo,
que ocasionou um estímulo às importações. Os benefícios das reformas oriundas do Plano
Real atingiram o setor agro, por meio da liberalização comercial e da queda de preços dos
insumos agrícolas, oque intensificou a modernização do setor.
Além disso, o governo passou a adotar uma postura menos intervencionista, diminuindo
a rigidez do controle de estoque de alimentos, na política de preços mínima e etc. Programas
de financiamento ao investimento foram criados, como o Pronaf em 1996, o Programa de
Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras
(Moderfrota) em 2000, elevando o volume de crédito agrícola disponível (VIEIRA FILHO;
FISHLOW, 2017). Segundo esses autores, o desempenho positivo das exportações brasi-
leiras, se associa aos ganhos de competitividade decorrentes da modernização tecnológica,
do aumento da produtividade e da elevação da eficiência técnica e produtiva do setor.

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A partir do contexto mercadológico das commodities agrícolas, esta se insere cada vez
mais no sistema financeiro global, onde os preços dos produtos flutuam com maior inten-
sidade, o padrão de acumulação da agricultura deixou de ser aquele utilizado no passado.
Nos dias atuais, o volume de investimentos na terra, vai garantir a competitividade agrícola
(maior produtividade com menor custo), intensificando a inserção dos produtores nesses
circuitos financeiros, exigindo um nível mais elevado de endividamento para financiar a
produção. (BUAINAIN, 2014).
Nesse âmbito de intensas transformações no setor agro, a busca pela competitividade
e o desenvolvimento rural continua a todo tempo. Onde esse novo padrão de acumulação
exige elevada eficiência produtiva, o que é comum nas grandes propriedades rurais que se
dedicam à produção de commodities agrícolas, instituindo tecnologias e reduzida mão de
obra, na qual a produção é destinada ao mercado externo ou às agroindústrias. Portanto
observa-se que o atual modelo de funcionamento do agronegócio brasileiro se caracteriza
pela predominância de capital, especialização produtiva e tendência à concentração em
grandes unidades de produção/exploração (MATOS; PESSÔA, 2011).
Os autores Silva e Vian (2021) apontam que após a abertura comercial, os produtores
(estruturados e concentrados) que se modernizaram e se consolidaram na economia brasi-
leira, foi devido às políticas públicas de modernização agrícola, que se adequaram aos seus
perfis produtivos. A expansão da fronteira agrícola para a região Centro-Oeste do país se
enquadrou nessa dinâmica. Para os autores Pizarro e Sobrinho (2017), a modernização da
agricultura foi importante para a formação e consolidação das agroindústrias, tendo em vista
as crescentes exigências das mesmas em relação ao volume e qualidade das matérias-pri-
mas. Esse fato evidencia a elevada especialização agrícola em algumas regiões do Brasil.

Indicadores de Análise Regional

A fim de analisar as informações sobre a estrutura, distribuição e associação das


atividades produtivas no espaço, utilizam-se características das teorias de localização e
especialização. Essas teorias oferecem um grande leque de ferramentas para compreensão
do comportamento dos setores produtivos e seu impacto sobre a economia regional.
Os indicadores são utilizados nos estudos sobre desenvolvimento regional para men-
surar determinado nível de desenvolvimento. Entretanto, uma variável econômica ou so-
cial só é configurada como indicador quando representa alguma característica significativa
desse desenvolvimento. Ou seja, o importante não é a mensuração de uma determinada
variável, mas se o que está sendo mensurado é realmente importante para o contexto que
se pretende analisar.

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É através da utilização de indicadores, sejam eles econômicos ou sociais, que políticas
de desenvolvimento são formuladas, portanto os indicadores devem atender às seguintes
características: ser simples, dinâmico, sensível, abrangente, alta acurácia, participativo e
capaz de relacionar fatores gerais como específicos (CARACAS, 1989).
As estruturas de produção, padrões de consumo, distribuição da força de trabalho, ele-
mentos culturais, sociais e políticos são características que indicam que as áreas geográficas
estão ligadas e formam uma região em comum, ou seja, são características que viabilizam
a organização do espaço e sua estrutura produtiva. Assim, os métodos de análise regional
buscam compreender o comportamento dos setores produtivos e de como eles influenciam
a dinâmica setorial-produtiva da região (LIMA et al., 2007).
Uma série de indicadores e coeficientes foi desenvolvida pelos teóricos da ciência
regional a fim de se compreender melhor a economia das regiões. Indicadores de desigual-
dade regional: são aqueles que têm por objetivo medir o grau de desigualdade das regiões,
geralmente em relação a renda per capita. Exemplos: Coeficiente de Variação, Índice de
Williamson e Índice de Theil; Indicadores de especialização regional: buscam identificar as
quão distintas são as regiões de um critério de referência. Exemplos: Quociente Locacional,
Coeficiente de Especialização e o Índice de dessemelhança de Krugman; e, indicadores de
localização setorial: tem por objetivo aferir a concentração/dispersão dos setores econômicos.
São exemplos o Coeficiente de Localização, Índice de Hirschman-Herfindahl e o Índice de
Gini para localização (MONASTERIO, 2011).

METODOLOGIA

Nesta seção será apresentada a metodologia empregada no presente trabalho. A seção


contém a tipologia da pesquisa, os dados e as variáveis utilizadas, assim como os métodos
utilizados para análise estão presentes nos tópicos a seguir.

Métodos de Análise

A metodologia que será utilizada neste trabalho é bastante difundida na literatura sobre
análise regional. Inicialmente demonstrada no trabalho de Isard (1962), e em Lodder (1974)
e Haddad (1989) posteriormente, em nível nacional (SILVA FILHO, 2014). Recentemente,
foi utilizada em uma série de trabalhos acerca de composição e desempenho setorial da
economia, tais como Piacenti et al. (2004), Simões (2005), Lima et al. (2006), Lima et al.
(2007), Silva Filho et al. (2014) e Silva Filho (2014).

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Medidas de Localização e Especialização

Conforme Soares (2019), Piacenti et al. (2004) e Lima et al. (2006), as medidas de lo-
calização possuem o objetivo de identificar o nível de concentração ou dispersão da variável
analisada, dada a localização das atividades em um determinado período. As medidas de es-
pecialização, por sua vez, diagnosticam o padrão de especialização ou diversificação das ati-
vidades regionais em um determinado momento e suas variações ao longo do tempo. Ou seja,
são medidas que permitem analisar a estrutura produtiva de cada região analisada.
Em síntese, as medidas de localização e especialização tem como foco, diagnosticar
o padrão espacial da estrutura produtiva de uma determinada região. As principais medidas
utilizadas na literatura se destacam o Quociente Locacional (QL), Coeficiente de Localização
(CL), Coeficiente de Redistribuição (CRed) e Coeficiente de Reestruturação (CR), que são
aplicados neste estudo.

- Quociente Locacional (QL)

O Quociente Locacional (QL) calcula a especialização produtiva de cada município e


identifica quais seriam as atividades importantes para a economia local. O QL, além disso,
identifica a participação do município na produção de determinada lavoura (cultura) no total
do estado em relação a produção total desse mesmo município na composição do estado,
como descrito na equação. (SOARES, 2019; MONASTERIO et al., 2011).

𝐴𝐴!" ⁄𝐴𝐴!
𝑄𝑄𝐿𝐿!" =
𝐴𝐴! ⁄𝐴𝐴 #

Onde,
𝐴𝑗𝑖 – área colhida da lavoura j no município i;
𝐴𝑗 – área colhida da lavoura j de todos os municípios;
𝐴𝑖 – área colhida de todas as lavouras do município i;
𝐴𝑇 – área colhida de todas as lavouras e de todos os municípios.
O cenário que encontra QL ≥ 1 indica que o município é considerado importante na
produção da atividade j. Sendo assim, isso mostra que o município é relativamente mais
especializado em determinada atividade produtiva em relação à produção local e ao restante
do estado. De outra forma, quando QL < 1 observa-se uma localização média ou fraca, o que
indica uma atividade básica, de menor importância em comparação com as demais ativida-
des produtivas do local e com o total colhido pelo estado. (SOARES, 2019; MONASTERIO
et al., 2011; LIMA et al., 2006).

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- Coeficiente de Localização (CL)

O Coeficiente de Localização (CL) indica o padrão de concentração e dispersão das


atividades no estado. É medido pela relação, em módulo, entre a participação da área colhida
de determinado município no total colhido da mesma atividade no estado e a participação do
total de áreas colhidas do município no total do estado, como descrito na equação. (SOARES,
2019; MONASTERIO et al., 2011; LIMA et al., 2006).

𝐴𝐴!" 𝐴𝐴!
Σ" 𝐴𝐴! − 𝐴𝐴 #
𝐶𝐶𝐶𝐶! =
2

onde,
𝐴𝑗𝑖 – área colhida da lavoura j no município i;
𝐴𝑗 – área colhida da lavoura j de todos os municípios;
𝐴𝑖 – área colhida de todas as lavouras do município i;
𝐴𝑇 – área colhida de todas as lavouras e de todos os municípios.
Neste caso, quanto mais próximo de 1 for o CL, mais concentrado espacialmente
será. Ou seja, a atividade j é mais concentrada do que as outras atividades no estado. Por
outro lado, quando mais próximo o CL for de 0, significa dizer que a atividade j está distribuída
no estado de forma menos concentrada que às demais atividades. Em síntese, resultados
próximos de 1 indicam concentração da atividade, enquanto resultados próximos a zero
indicam dispersão da atividade produtiva dentre os municípios do estado (SOARES, 2019;
MONASTERIO et al., 2011; LIMA et al., 2006).

- Coeficiente de Redistribuição (CRed)

O Coeficiente de redistribuição (CRed) calcula o padrão de concentração e dispersão


das atividades em diferentes períodos, permitindo identificar alterações neste padrão es-
pacial no estado ao longo do tempo. Para isto, ele relaciona a distribuição percentual da
produção de uma atividade j de um município i com o total da atividade j do estado, em dois
períodos distintos, sendo o ano base 𝑡0 e o ano um 𝑡1, como descrito na equação, de forma
que, como resultado, obtém-se um CRed, em módulo, para cada lavoura (SOARES, 2019;
LIMA et al., 2006).

𝐴𝐴#$ 𝐴𝐴#$
Σ# 𝐴𝐴# 𝑡𝑡𝑡 − 𝐴𝐴 % 𝑡𝑡𝑡
𝐶𝐶𝐶𝐶!" =
2

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Um valor de CRed próximo de um (1) indica uma mudança no padrão espacial de loca-
lização das atividades e próximo de zero (0) indica que não houve modificações significativas
(LIMA et al., 2006a; LIMA et al., 2006b).

- Coeficiente de Reestruturação (CR)

O Coeficiente de reestruturação tem por objetivo verificar o grau de mudança da espe-


cialização das regiões. Nele, são relacionadas à estrutura da atividade produtiva por região
em dois períodos, o ano base (t0) e o ano um (t1).

𝐴𝐴𝐴𝐴𝑖𝑖 𝐴𝐴𝐴𝐴𝑖𝑖
𝛴𝛴! −
𝐴𝐴! 𝑡𝑡𝑡 𝐴𝐴! 𝑡𝑡𝑡
𝐶𝐶𝐶𝐶 =
2

Um valor de CR igual ou próximo a um (1) indica uma reestruturação substancial da


estrutura produtiva da região e, CR igual ou próximo a zero (0) indica que não houve modifi-
cações na estrutura produtiva (PIACENTI et al., 2004; LIMA et al., 2006a; LIMA et al., 2006b).

Descrição dos Dados

Os dados presentes neste trabalho foram recolhidos através da base de dados do


Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para cada Região Geográfica Imediata
(RGI) de Mato Grosso do Sul, levando em conta os anos que ocorreram Censo Agropecuário
(2006 e 2017). Os dados recolhidos foram: área colhida (em hectares), quantidade produ-
zida (toneladas) e valor de produção (R$) das culturas estudadas. Foi realizada a deflação
dos dados referentes à valor a preço corrente de 2021, a partir do Índice Geral de Preços
– Disponibilidade Interna (IGP-DI).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Nesta seção, será apresentado os resultados referentes aos Indicadores de Localização


e Especialização.

Indicadores de Localização e Especialização

A seção 4.1 expõe os resultados obtidos através da avaliação dos indicadores re-
gionais de localização e especialização, sendo composto por: Quociente Locacional (QL),
Coeficiente de Localização (CL), Coeficiente de Redistribuição (CRed) e Coeficiente de
Reestruturação (CR).

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Quociente Locacional

O indicador Quociente Locacional (QL) calcula o grau de especialização de um muni-


cípio na produção de determinada cultura em relação a produção total. Neste caso, o valor
de QL acima de 1 indica que a região é mais especializada que as outras regiões do estado
em determinada atividade produtiva. A tabela 1apresenta os quocientes locacionais para
as culturas do algodão, soja, milho, cana-de-açúcar e pecuária nas regiões geográficas
imediatas de Mato Grosso do Sul para o ano de 2006.
As culturas significativas (QL>1), classificadas em ordem decrescente, em mais regiões
do estado em 2006 foram: pecuária (8 entre as 12 do estado), soja (5), cana-de-açúcar
(4), milho (3), e algodão (3). Apenas a região de Naviraí-Mundo Novo teve quaro culturas
com QL significativo, e a RGI de Coxim e Paranaíba apresentou três culturas com QL signi-
ficativo. E por fim Ponta Porã foi a RGI que apresentou duas culturas com QL significativo.
O algodão, significativo em três regiões, apresentou resultados expressivo para a RGI
de Paranaíba (5,92), seguido de Coxim (2,57) e Naviraí-Mundo Novo (1,36). A soja com cinco
RGIs com QL acima de 1, teve Ponta Porã (4,95), Dourados (4,74), Naviraí-Mundo Novo
(1,73), Amambai (1,43) e Coxim (1,00). O milho, significativo em três regiões, teve Dourados
(6,21), Ponta Porã (5,12) e Naviraí-Mundo Novo (1,39). A cana-de-açúcar, significativa em
quatro regiões, teve Naviraí-Mundo Novo (5,94), Dourados (3,91), Nova Andradina (3,54)
e Paranaíba (2,24). E por fim a pecuária que obteve QL>1 na maioria das regiões com ex-
cessão de Dourados, Naviraí-Mundo Novo, Ponta Porã, e Amambai.
A tabela 1 apresenta também os quocientes locacionais para as culturas do algodão,
soja, milho, cana-de-açúcar e pecuária nas regiões geográficas imediatas de Mato Grosso
do Sul no ano de 2017.
As culturas que apresentaram QL>1, em ordem decrescente são, pecuária (8 das 12
do estado), soja (4), cana-de-açúcar (4), milho (4) e algodão (2). Quatro regiões (Campo
Grande, Paranaíba, Dourados e Ponta Porã) apresentaram resultados significativos para
três culturas. A cultura de algodão foi significativa (QL>1) nas regiões de Coxim (6,64) e
Paranaíba (3,70).
A cultura de soja foi especializada (QL>1) nas regiões de Ponta Porã (4,23), Dourados
(3,35), Naviraí-Mundo Novo (2,09), Amambai (1,19) e Campo Grande (1,04). A cultura do
milho foi significativa (QL>1) nas regiões de Ponta Porã (4,16), Dourados (4,05), Naviraí-
Mundo Novo (1,95) e Campo Grande (1,06). A cultura de cana-de-açúcar foi significativa
nas regiões de Nova Andradina (4,77), Dourados (3,23), Ponta Porã (2,01) e Paranaíba
(1,39). E por fim a pecuária foi significativa na maioria das regiões, com exceção de Dourados,
Naviraí-Mundo Novo, Nova Andradina e Ponta Porã.

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Tabela 1. Quociente Locacional (QL) para as culturas do algodão, soja, milho, cana-de-açúcar e pecuária nas Regiões
Geográficas imediatas (RGIs) de Mato Grosso do Sul em 2006 e 2017.

Região Geográfica Imediata - RGI Algodão Soja Milho Cana-de-açúcar Pecuária

2006
Campo Grande 0,75 0,90 0,73 0,21 1,02
Três Lagoas 0,01 0,14 0,09 0,02 1,10
Paranaíba-Chap. do Sul-Cassilândia 5,92 0,72 0,64 2,24 1,01
Coxim 2,57 1,00 0,39 0,77 1,02
Dourados 0,74 4,74 6,21 3,91 0,56
Naviraí-Mundo Novo 1,36 1,73 1,39 5,94 0,90
Nova Andradina 0,03 0,48 0,49 3,54 1,03
Ponta Porã 0,41 4,95 5,12 0,05 0,61
Amambai 0,09 1,43 0,66 0,07 0,99
Corumbá 0,00 0,00 0,00 0,01 1,11
Jardim 0,13 0,16 0,13 0,05 1,09
Aquidauana-Anastácio 0,01 0,01 0,05 0,01 1,11
2017
Campo Grande 0,25 1,04 1,06 0,77 1,00
Três Lagoas 0,00 0,17 0,13 0,08 1,23
Paranaíba-Chap. do Sul-Cassilândia 3,70 0,69 0,32 1,39 1,09
Coxim 6,64 0,68 0,45 0,96 1,09
Dourados 0,00 3,35 4,05 3,23 0,31
Naviraí-Mundo Novo 0,00 2,09 1,95 0,85 0,77
Nova Andradina 0,00 0,62 0,54 4,77 0,96
Ponta Porã 0,08 4,23 4,16 2,01 0,23
Amambai 0,00 1,19 0,88 0,06 1,02
Corumbá 0,00 0,00 0,01 0,00 1,27
Jardim 0,00 0,41 0,41 0,00 1,18
Aquidauana-Anastácio 0,00 0,12 0,09 0,00 1,24
Fonte: Elaboração própria.

Ao longo do período estudado somente a cultura do milho apresentou localização sig-


nificativa em mais regiões em 2017 do que 2006. A RGI de Campo Grande apresentou um
aumento no número de culturas especializadas (QL>1) DE 2006para 2017. Coxim passou
a concentrar a maior parte da produção de algodão, atingindo um QL alto em 2017. Naviraí-
Mundo Novo foi uma das regiões que apresentou redução no número de culturas significati-
vas de 2006 para 2017, deixando de se especializar em algodão e cana-de-açúcar. Destaca
para Ponta Porã que já possui significância expressiva na produção de soja e milho, e em
2017 passa a se especializar na produção de cana-de-açúcar.
As regiões de Corumbá, Jardim e Aquidauana-Anastácio não obteve variação em
seus resultados, de 2006 a 2017, se mantendo somente especializadas (QL>1) na cultura
de pecuária, que, neste caso, é a atividade produtiva mais diversificada do estado, sendo
presente na maioria da área total do estado.

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Coeficientes de Localização e de Redistribuição

Calculado pela relação entre a participação da área colhida de determinada cultura de


cada RGI no total cultivado no estado e a participação do total de áreas colhidas de cada RGI
sobre o total produzido pelo estado. O Coeficiente de Localização (CL) aponta o parâmetro
de concentração e dispersão da produção de cada lavoura do estado de Mato Grosso do Sul.
Analisando os resultados do Coeficiente de Localização para os anos de 2006 e 2017
(tabela 2), percebe-se que a lavoura de algodão possui a maior concentração espacial no
estado, quando comparada às demais atividades produtivas, seu CL aumentou entre os anos
de 2006 e 2017 (de 0,57 para 0,77). A lavoura que apresentou a segunda maior concentra-
ção espacial em 2017 foi o Milho, apesar de sofrer redução de seu CL de 2006 para 2017
(de 0,57 para 0,50). A lavoura de cana-de-açúcar apresentou o maior CL em comparação
as demais lavouras, no ano de 2006 (CL= 0,63), no entanto sofreu redução para o ano de
2017 (CL = 0,48), sendo a terceira lavoura com maior concentração espacial em 2017.
A lavoura de soja apresenta certa concentração espacial, possuindo CL = 0,44 para
o ano de 2017. No entanto, a lavoura sofreu redução do CL de 2006 para 2017 (de 0,46
para 0,44, respectivamente). Esses movimentos de redução de CL de 2006 para 2017 nas
lavouras milho, cana-de-açúcar e soja, indicam uma redução da concentração (ou aumento
da dispersão) da produção dessas culturas pelas RGIs do estado.
Por fim a atividade produtiva de pecuária possui seu CL bem baixo, ou seja, sua ati-
vidade produtiva é muito dispersa pelas RGIs do estado, o que comprova os resultados do
quociente locacional por RGI, na qual se observa que a pecuária está presente em 8 RGIs
das 12 do estado em 2017. No entanto, de 2006 para 2017, seu CL apresenta um leve au-
mento da concentração (de 0,05 para 0,08).

Tabela 2. Coeficiente de Localização (CL) e de Redistribuição (CRed) – Culturas de Algodão, Milho, Cana-de-Açúcar, Soja,
Pecuária, período entre 2006 e 2017.

CL CL CRed

CULTURAS 2006 2017 2006 a 2017


Algodão 0,57 0,77 0,42
Soja 0,46 0,44 0,11
Milho 0,57 0,50 0,15
Cana-de-açúcar 0,63 0,48 0,24
Pecuária 0,05 0,08 0,04
Fonte: Elaboração própria.

O Coeficiente de Redistribuição (CRed) aponta se ocorreram alterações no padrão de


dispersão e concentração da atividade produtiva no estado ao longo do período de 2006 a
2017 (tabela 2). Neste sentido, o coeficiente considera a diferença entre os dois anos distintos,

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sobre a participação da produção de uma determinada lavoura de uma RGI específica sobre
o total produzido da lavoura no estado, em termos de área colhida.
Analisando os resultados do cálculo do coeficiente de redistribuição, é possível afirmar
que a lavoura de algodão apresentou maior grau de alteração no padrão espacial de loca-
lização entre os anos de 2006 e 2017, ou seja, neste caso a cultura de algodão foi a que
mais apresentou mudanças de concentração ou dispersão no total do estado.
O restante das culturas de cana-de-açúcar, milho, soja, pecuária, apresentaram um
coeficiente de redistribuição muito inferiores a 1, apontando que praticamente não houve
alterações significativas no padrão espacial de localização no período do estudo.

Coeficiente de Reestruturação

O coeficiente de reestruturação (CR) aponta se houve modificação no nível de espe-


cialização nos municípios nos municípios ao longo do período estudado, ou seja, analisa
se houve transformação na estrutura produtiva de cada RGI entre os anos de 2006 e 2017.
Analisando os resultados obtidos no cálculo do coeficiente de reestruturação, do total de 12
RGIs do estado de Mato Grosso do Sul, cerca de 7 apresentaram reestruturação produtiva
menor que 0,1, o que aponta pequena modificação no nível de especialização nessas 7 RGIs.
Por outro lado, as outras 5 RGIs alcançaram um coeficiente de reestruturação produtiva
acima de 0,1, sendo elas especificamente: Ponta Porã (500008); Dourados (500005); Naviraí-
Mundo Novo (500006); Nova Andradina (500007) e Campo Grande (500001). Destaque para
a RGI de Ponta Porã que apresentou o maior coeficiente de reestruturação, cerca de 0,4,
seguido de Dourados e Naviraí-Mundo Novo com 0,3.
A RGI de Campo Grande obteve o maior CR devido a sua dinâmica de especialização,
onde de 2006 para 2017 a RGI se especializou na produção de Soja, Milho e aumentou sua
atividade produtiva na cana-de-açúcar.
Observando os resultados do coeficiente de reestruturação (tabela 3), é possível verificar
um padrão de localização no Sul do estado, de RGIs que apresentaram certo grau de altera-
ção no nível de especialização, entre os anos de 2006 e 2017. Esse padrão de localização
se concentra entre as RGIs de Ponta Porã, Dourados, Nova Andradina e Naviraí-Mundo
Novo. Todas se encontrando na região intermediária (Sul) de Dourados.

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Tabela 3. Coeficiente de Reestruturação do conjunto de culturas para cada RGI, período 2006 e 2017.

Class. Região Geo. Imediata (RGI) CR


1º Campo Grande 0,37
2º Três Lagoas 0,26
3º Paranaíba-CHAP.D SUL.-CASS 0,22
4º Coxim 0,18
5º Dourados 0,13
6º Naviraí-Mundo Novo 0,08
7º Nova Andradina 0,06
8º Ponta Porã 0,06
9º Amambai 0,06
10º Corumbá 0,02
11º Jardim 0,02
12º Aquidauana-Anastácio 0,00
Fonte: Elaboração própria com base em dados do IBGE.

CONCLUSÕES

Ao observar os resultados mais importantes obtidos no trabalho, percebe-se que no


estado de Mato Grosso do Sul existe um maior número de regiões geográficas imediatas
(RGI) especializadas na produção da pecuária, ao se comparar com as demais atividades
produtivas analisadas, da mesma forma em que a produção da pecuária é a mais dispersa
espacialmente ao redor do estado.
Em outro âmbito, a produção de algodão foi a única que apresentou mudanças no
padrão de concentração de sua produção. Nos resultados da análise individual indicam
de forma geral efeitos positivos para as diferentes lavouras analisadas, onde se destacam
a atividade produtiva de pecuária apresentou maiores efeito rendimento e efeito preço, a
cultura de cana-de-açúcar apresentou o maior efeito-área e as demais culturas analisadas
apresentaram variações positivas em seu efeito total (soma dos efeitos).
A partir das análises regionais do presente trabalho, conclui-se que a lavoura de algo-
dão é que apresenta maior concentração espacial no estado, uma vez que esta sofreu mo-
dificações em sua estrutura espacial, onde culturas mais rentáveis substituíram a produção
do algodão, de maneira a deslocar a concentração desta última para regiões específicas.
Por outro lado, a pecuária é muito dispersa no estado, devido ao fato de que a mesma pode
utilizar o mesmo fator terra em diferentes períodos do ano.
Os resultados demonstram uma considerável expansão da área de produção agrope-
cuária no estado, principalmente para as culturas voltadas para atender a demanda externa
(exportação), com exceção da atividade produtiva da pecuária que obteve uma pequena
redução de sua área de produção no período analisado.

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Apesar da crise internacional de 2008, a permanência dos preços agrícolas acima da
média registrada até então, influenciados pelo ciclo das commodities, favoreceu as regiões
produtoras de produtos exportáveis, motivando a expansão da produção agrícola no pe-
ríodo (VIEIRA FILHO; FISHLOW, 2017). Outro fator importante a se destacar é que nesse
período ocorre também um momento de expansão dos estabelecimentos processadores de
cana-de-açúcar no estado do Mato Grosso do Sul, especificamente regiões de Dourados e
Iguatemi, ocasionando em uma maior especialização produtiva da cadeia sucroalcooleira
estadual, com consequente aumento da produção canavieira, que cresceu a uma taxa anual
de 21,03% no período.
Nas culturas de soja, milho, algodão e cana-de-açúcar, observa-se aumento da área
de produção. Por fim, observa-se que ocorre a substituição ou deslocamento de atividades
menos rentáveis pelas atividades produtivas mais rentáveis, já que as evidências apontam
para o efeito positivo da substituição entre as lavouras no valor da produção do estado.
O desempenho positivo da agricultura no MS ocorreu pelos fatores: de pesquisas e ao
desenvolvimento de novas tecnologias, assim como das políticas de crédito agrícola que
elevaram a produtividade dos fatores e, consequentemente, a produção (GASQUES et al.,
2012; VIEIRA FILHO; FISHLOW, 2017; SILVA E VIAN, 2021).
Portanto, com base nos resultados obtidos no presente trabalho, é possível compreen-
der a dinâmica de crescimento das principais atividades agropecuárias do estado de Mato
Grosso do Sul, bem como a importância e a especialização dessas atividades em cada
região geográfica imediata. Os resultados possibilitam visualizar a dinâmica das principais
atividades produtivas do Mato Grosso do Sul, por meio da localização, composição e área,
ou seja, como as principais culturas se comportaram entre os anos de 2006 e 2017.

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14
Diversidade vegetal, uso agrícola, política
fundiária e perspectivas do Cerrado
amapaense de 2018 A 2022

Gilberto Ken Iti Yokomizo Eneas Correa dos Santos


Embrapa Amapá Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA

Liliane do Nascimento Costa Igor Correa dos Santos


UNIFAP Centro de Ensino Superior do Amapá - CEAP

Renan Gomes Furtado


Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Amapá

'10.37885/220909912
RESUMO

A inserção de atividades agrícolas extensas na região Amazônia é tema de controvérsias,


muitas vezes infundadas ou distorcidas. Essa exploração é baseada principalmente na ex-
ploração madeireira na floresta densa de terra firme, notando-se que o Cerrado presente
na região Norte do País é praticamente desconhecido e sem discussões. Desta forma, o
objetivo deste texto é mostrar as formas de uso atual, ocupação e possíveis consequências
da utilização do Cerrado amapaense, que ainda praticamente não tem área inserida em
Unidades de Conservação, podendo haver perda de importante material genético e prin-
cipalmente por estar em condições climáticas tropicais, cujo desequilíbrio ambiental pode
gerar impactos elevados, também se deseja mostrar o uso potencial e as políticas públicas
existentes. As informações foram buscadas nas principais bibliotecas da área existentes
no Estado, instituições de pesquisa e pela internet em trabalhos técnico-científicos. Nota-
se que o uso atual é baseado principalmente na silvicultura, com baixa expressividade da
agricultura extensiva, mas havendo elevado potencial de exploração para produção de ali-
mentos, lembrando que para isso é fundamental a adoção de técnicas de manejo, material
genético apropriado e existência de políticas públicas de gestão e fiscalização, o que ainda
é incipiente e pouco aplicado, associando desenvolvimento com conservação ambiental.

Palavras-chave: Cerrado Amapaense, Diversidade Vegetal, Economia Regional, Desenvol-


vimento Sustentável.
INTRODUÇÃO

Anterior ao vislumbre da possibilidade de se realizar a agricultura neste bioma extenso,


o Cerrado foi considerado uma região inóspita possuindo solos pobres em nutrientes, sem
qualquer possibilidade de utilidade para a produção agrícola em grande escala, havendo
apenas a presença de árvores de pequeno porte com galhos e troncos tortuosos e gramí-
neas ralas e secas na maior parte do tempo, sendo capazes de sobreviver nesse ambiente
(MOTTA et al., 2002; RIBEIRO, 2015).
Na percepção da existência e geração de impactos ambientais causados pela ampla
produção agrícola que foi conseguido em áreas do Cerrado (TRANCOSO et al., 2015), foram
necessárias as estruturações de diretrizes para orientar o processo de desenvolvimento eco-
nômico, obrigatoriamente englobando aspectos de maximização da produção de alimentos
com as melhores tecnologias disponíveis, mas associados com estratégias que englobam
políticas sociais, econômicas e ambientais que auxiliem na preservação e conservação dos
recursos naturais, mantendo e consolidando o máximo possível de um desenvolvimento sus-
tentável e associado com uma mobilização contínua da sociedade (ALMEIDA et al., 2006).
Visando mitigar efeitos considerados prejudiciais dos grandes empreendimentos agrí-
colas em âmbito nacional, foi lançado em 2010 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA), a partir da Lei nº 12.187/09 e do artigo 3° do Decreto n° 7.390/2010,
o Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para Consolidação
de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC) (MAPA, 2012),
no intuito de atender os compromissos firmados na Conferência das Nações Unidas sobre
as Mudanças Climáticas de 2009 (COP15).
Nota-se que os principais objetivos do Plano ABC apoiado em pesquisas científicas é
se obter a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) no setor agropecuário, o
projeto envolve ações com diferentes tecnologias que visam a recuperação de pastagens
degradadas, usando a integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), sistemas agroflorestais
(SAFs), sistemas de plantio direto (SPD), fixação biológica de nitrogênio (FBN), florestas
plantadas, tratamento de dejetos de animais e adaptação às mudanças climáticas.
O bioma Cerrado ocupa aproximadamente um quarto do território brasileiro, com cerca
de 200 milhões de hectares, e aproximadamente 40% desta área convertida em pasta-
gens e agricultura nas últimas três décadas (SANO et al., 2008). O Cerrado é o segundo
maior bioma brasileiro tendo sua área core, ou nuclear, abrangendo os Estados de Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins e o Distrito Federal. Torna-se importante
apresentar a existência também de prolongamentos em Minas Gerais, São Paulo, Bahia,
Maranhão e Piauí, além de enclaves em Rondônia, Roraima e Amapá (VALLEJO, 2010), com
isso permite-se ao leitor saber que o mesmo não existe apenas na região do centro-oeste

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brasileiro. A Figura 1 de Mazzeto Silva (2009) apresenta esta ampla distribuição pouco co-
nhecida pelas pessoas em geral.

Figura 1. Domínio do Cerrado e suas áreas de transição, segundo Mazzetto Silva (2009).

Fonte: Vallejo (2010), obtidos de LEMTO - Laboratório de Estudos sobre Movimentos Sociais e Territorialidades do Departamento de
Geografia da Universidade Federal Fluminense (UFF), layout do Geógrafo Sandro Heleno Laje da Silva.

As pesquisas científicas desenvolvendo novas tecnologias tem papel fundamental nessa


fronteira agrícola, como já destacado anteriormente, visto que a possibilidade de utilização de
maquinários e a incorporação de química aos solos foram efetivadas em razão das pressões
da industrialização dos processos produtivos e torna-se preciso uma reestruturação destes,
com base no tripé tecnologia-ciência-informação (MENDES; CHELOTTI, 2020).
Segundo Albuquerque e Da Silva (2008), o Cerrado apresenta uma divisão em três
distintos grupos de fitofisionomias, a primeira engloba as formações florestais, onde se
destaca as matas de galeria e as matas ciliares, diretamente ligadas à água, a mata seca
e o cerradão, que ocorrem em terrenos mais secos, as árvores são altas e as copas se
encontram na maioria das vezes formando uma única massa de folhas; a segunda envolve
as formações savânicas onde os principais tipos fisionômicos são o Cerrado no sentido

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restrito, contendo o que é intitulado de parque de Cerrado, o palmeiral e a vereda, sendo
composto por árvores e arbustos espalhados sobre uma grande quantidade de plantas com
aspectos gramiforme; e a terceira são as fitofisionomias campestres que lembram campos
sem árvores, ocorrendo apenas arvoretas e plantas rasteiras, formadas pelo campo sujo,
campo rupestre e campo limpo.
O Cerrado abriga um rico patrimônio de recursos naturais renováveis adaptados às
duras condições climáticas, edáficas e hídricas que determinam sua própria existência
(MAROUELLI, 2003), mas ao qual é dado pouca importância. O seu estudo busca ampliar
os conhecimentos, visando constatar o que tem sido feito neste bioma e quais os seus prin-
cipais usos e, o que realmente é realizado para utilizar de forma adequada, conservando
seu patrimônio da biodiversidade tanto animal, como vegetal e de microrganismos.
Conhecido como a savana mais rica do mundo, o Cerrado brasileiro é considerado um
Hotspot mundial da biodiversidade, que são regiões biologicamente ricas, mas que sofrem
intensa ameaça. Há também uma importância geoestratégica, tanto pelo seu vínculo fron-
teiriço com a Amazônia, como pela sua relevância hidrológica, sendo reconhecida como
berço das nascentes das principais bacias latino-americanas, ou até mesmo por ser habitat
e zona de reprodução de uma rica biodiversidade (PEREIRA, 2009).
Especificamente o Cerrado no Estado do Amapá, ocupa cerca de 900.000 hectares,
o que corresponde a 6,9% da superfície deste Estado (MELÉM JÚNIOR et al., 2008). Este
bioma engloba desde o município de Macapá, avançando na direção norte em uma faixa que
varia de 50 a 150 km de largura, até aproximadamente o município de Calçoene, percorrendo
cerca de 374 km de extensão (CASTRO; ALVES, 2013). No trajeto em questão, o Cerrado
atravessa os municípios de Santana, Porto Grande, Itaubal e Tartarugalzinho
A conservação da biodiversidade também é inserida no contexto do Amapá, pois os
recursos naturais são um patrimônio a ser mantido, por representar fontes futuras de material
genético com possibilidade de uso e manutenção do equilíbrio ambiental. De acordo com a
inserção gradual da temática ambiental nas inúmeras discussões em torno do crescimento
econômico que já foram propostas e realizadas, revela-se deveras importante se considerar
com muita atenção a premissa de se realizar intervenções neste bioma local, buscando gerar
recursos econômicos, mas enfatizando a manutenção de um ambiente sadio e equilibrado.
O Amapá é considerado como uma das últimas fronteiras agrícolas e, portanto, o
cultivo em grande escala ainda é insipiente e em processo de adaptação, empregando-se
metodologias desenvolvidas em outras regiões, principalmente do Centro-Oeste do Brasil.
Devendo-se assumir as boas práticas existentes e evitar os problemas causados pela agricul-
tura comercial já conhecidos, conseguindo desta forma obter uma produção sustentável de
baixo impacto ambiental, conservando as belezas naturais do Estado, isso é possível pois a

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implantação de empreendimentos agrícolas podem ainda ser perfeitamente acompanhadas
pelos órgãos de fiscalização ambiental e pelo público.
Pesquisas envolvendo milho, arroz, soja, gramíneas para pastagem e coberturas verdes
para a recomendação de cultivares adaptadas às condições edafoclimáticas regionais, são
cruciais, mas também devem existir estudos relativos a adubação, irrigação, fitossanidade,
época de semeadura, controle de invasoras, manejo de cobertura verde, de forma partici-
pativa com os agricultores. Adicionalmente deve-se buscar soluções quanto aos aspectos
fundiários e de infraestrutura no Amapá, além de desenvolvimento de políticas públicas
adequadas (YOKOMIZO, 2015), mantendo-se com isso um equilíbrio sustentável entre
produção econômica e ambiente.
Este texto propõe analisar a utilização atual do Cerrado amapaense e suas principais
formas de ocupação, que aconteceram e/ou vem acontecendo. Visando manter em alerta
o Estado todo, mas possibilitando subsidiar novas propostas de uso adequado à realidade
local, principalmente, devido às condições climáticas tropicais. Para isto, discorrer-se-á sobre
a política pública existente, que ainda não está formatada, seguida por apresentação das
atividades socioeconômicas desenvolvidas no Cerrado amapaense, com uso em sua maior
parte apoiada na silvicultura, com insipiente pecuária de base tecnológica baixa e cultivo
agrícola de grãos que iniciou um crescimento e que por motivos fundiários e de documen-
tações sofreu um decréscimo
Será também apresentado seu potencial para o desenvolvimento do Amapá, apresen-
tando informações sobre suas características edafoclimáticas, infraestrutura, localização
estratégica em relação ao mercado externo, assim como também o real potencial de pro-
dução tanto de grãos, como de frutíferas, pecuário e de essências florestais e terminando
abordando o uso sustentável do mesmo, visando principalmente a manutenção deste bioma
e de seus recursos vegetais, devido a apenas 6,9% do Cerrado amapaense estar inserido
em algum tipo de unidade de conservação ambiental, o que pode permitir a destruição deste
ecossistema no Estado.

MÉTODOS

Coleta das Informações

O presente texto em forma de ensaio teórico, se caracteriza como uma pesquisa bi-
bliográfica. Quanto à abordagem, em alinhamento à classificação proposta por Sampieri
et al. (2013), caracterizando-se principalmente por ter um enfoque qualitativo, apesar de
também apresentar parte quantitativa, baseado em número. Esse primeiro enfoque visa a
dispersão das informações, buscando entender o fenômeno de estudo em seu ambiente

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usual, de forma ampla sem generalizar os resultados a uma única situação, inferindo sobre
a situação vivenciada regionalmente.
Quanto aos fins, trata-se de uma pesquisa descritiva, pois esse estudo pretende coletar
informações de forma independente, integrando essas informações para descrever como
se manifesta a situação do Cerrado amapaense proposta no título deste artigo, sem indicar
como as variáveis se relacionam (SAMPIERI et al., 2013).
Sobre os meios de obtenção dos dados, é uma pesquisa bibliográfica, realizada por
meio de um estudo de caso relacionado ao tema, pois toda a bibliografia existente, especi-
ficamente para o Cerrado amapaense, com possibilidade de consulta foi obtida. Yin (2010)
cita que o estudo de caso se relaciona a um método de investigação empírico que verifica
um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto. Conforme o autor, as coletas de dados
para esses estudos estão apoiadas em diversas fontes de evidências entre as quais constam
a documentação, o registro em arquivos, em entrevistas, numa observação direta, numa
observação participante e em artefatos físicos. Aqui foram empregadas as duas primeiras
evidências e, a terceira, quando possível.
Para esse estudo foram utilizados dados secundários, que foram as interpretações de
dados primários. Os dados secundários foram obtidos através das análises de documentos,
artigos publicados e sítios na Internet (COOPER; SCHINDLER, 2011).
Segundo Cervo et al. (2007), a pesquisa documental ou bibliográfica busca explicar
um assunto apoiado em referências teóricas, sejam elas oriundas de livros, artigos publi-
cados, dissertações, teses, anais de congressos e revistas especializadas que tratam do
tema. No processo devem ser efetuadas buscas e leituras intensas acerca do tema em
questão para que se consiga obter o máximo de informações possíveis e tentar exaurir os
resultados de busca.
Conforme Lakatos e Marconi (2008), a função de uma pesquisa bibliográfica é colocar
o pesquisador em contato com o que foi produzido sobre determinado assunto, inclusive
através de conferências. Para Gil (2011) “A principal vantagem da pesquisa bibliográfica
reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito
mais ampla do que aquela que poderia se pesquisar diretamente”.
Os locais de coleta das informações empregadas foram: a biblioteca “Dr. Dorival
Pimentel” pertencente a Embrapa Amapá, a biblioteca Central pertencente a Universidade
Federal do Amapá (UNIFAP), a biblioteca da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA)
do Amapá, a biblioteca do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do
Amapá (IEPA) e os textos, dissertações, teses e artigos com cunho verídico e com precisão
científica e ética existentes na internet com auxílio do buscador Google.

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A forma de interpretação foi concatenar as informações para se tentar compreender a
situação do Cerrado em geral e propor alternativas para inter-relacionar o existente no Amapá
com os possíveis resultados do seu uso, baseado numa discussão descritiva, com aborda-
gem descritiva-discursiva, por meio de pesquisa documental. O aspecto descritivo-discursivo
é observado na discussão do Cerrado e seu potencial de utilização para os personagens
envolvidos apresentando, assim, uma descrição da amostra analisada, ou seja, do que foi
obtido na fase de levantamento documental. Conforme Gil (2011), uma pesquisa deste tipo
tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população,
fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Situação do Cerrado amapaense - Atividades econômicas desenvolvidas no Bioma

Inicialmente sobre o Cerrado brasileiro em geral, tem-se que é uma das regiões em
que a agricultura brasileira mais se desenvolveu nas últimas décadas. A produção prove-
niente das culturas agrícolas anuais colhidas neste bioma a 40% da produção total nacio-
nal. Os rebanhos de bovinos, suínos e aves também apresentaram expansão nas últimas
quatro décadas, embora não tenham ampliado significativamente a parcela no total do País.
Essas características fazem com que haja crescente preocupação com a preservação e o
uso sustentável dos recursos naturais nesse bioma de forma a garantir também o desen-
volvimento sustentável da agricultura na região (MORETTI, 2020).
A vegetação nativa (floresta e formação campestre) do bioma Cerrado brasileiro diminuiu
de 136 milhões para 112 milhões de hectares, enquanto a área ocupada com agricultura e
pastagens aumentou de 65 milhões para 85 milhões de hectares, e outros usos de 2 milhões
para 5 milhões de hectares entre os anos de 1985 a 2017 (MAPBIOMAS, 2017). Contudo,
mesmo com as profundas transformações da agricultura em termos econômicos, sociais e
ambientais, o Cerrado possui 55% de sua cobertura vegetal nativa, o que indica uma pro-
dução agrícola intensiva, baseada no emprego de tecnologias. Adicionalmente, Faleiro e
Farias Neto (2008) destacaram que pesquisas envolvendo o Cerrado são essenciais para
manter e subsidiar o equilíbrio entre sociedade, agricultura e recursos naturais.
Mas Strassburg et. al (2017) traz reflexões importante sobre este bioma, citando que
88,4% do que ainda resta do Cerrado são adequados para o cultivo de grãos e 68,7% para
o cultivo da cana-de açúcar, dessa forma, os autores projetam que até 2050, se os em-
preendimentos forem realizados de forma incorreta, de 31 a 34% do que resta do Cerrado
nativo será eliminado, não havendo espaço para tantas espécies nativas, o que levaria à
extinção de cerca de 1.140 espécies endêmicas, um total oito vezes maior que o número

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oficial de plantas extintas em todo o mundo desde o ano de 1500, quando começaram os
registros. Portanto apesar da necessidade de se produzir alimentos no Cerrado amapaense,
também devem ser observados estes aspectos, de cuidado em se manter a biodiversidade
e desenvolver tecnologias adequadas.
Especificamente sobre o Cerrado amapaense tem-se que primeiro e principal uso
iniciou através da implantação da Amapá Florestal e Celulose S.A. (AMCEL) em 1976 no
município de Porto Grande, com plantios em monocultivo de Pinus, visando fornecer cavaco
de madeira para fábrica de celulose do Complexo Industrial do Jarí, que após 1997 ampliou
seu mercado para o Japão, União Européia (Suécia, Portugal e Espanha) e Estados Unidos
da América (PORTO, 2007). Este empreendimento é controlado pelas empresas japonesas
Nippon Papers Industries Co. Ltda. e NYK – Nippon Yusen Kaisha (AMCEL, 2022).
A atuação, no setor industrial, da empresa Champion Papel e Celulose Ltda., compra-
dora do patrimônio da AMCEL, em 1996, foi bastante criticada no que se refere ao plantio
de mais de 100 mil hectares de eucaliptos nas áreas de Cerrado do Amapá em substituição
ao pinus. Tal objetivo foi alvo de críticas por representantes governamentais, mas nada foi
feito (PORTO, 2007).
Observa-se que o uso do Cerrado nos últimos anos tem se tornado cada vez mais
frequente, pois pesquisas na área de melhoramento genético vegetal tem disponibilizado
cultivares adaptados às condições edafoclimáticas do Cerrado para utilização pelos pro-
dutores rurais e empresas agrícolas. O trabalho de Oliveira (2009), discorre sobre a ques-
tão, expondo que o Cerrado amapaense apresentava algum tipo de cultivo agrícola para
produção de grãos e que a proximidade destes cultivos com a rodovia BR 156 facilitou a
escoação da produção.
O Amapá historicamente tem sua economia baseada em atividades extrativistas tanto
vegetal quanto mineral, além de uma insipiente agropecuária. A maioria destas atividades
são desenvolvidas no Cerrado, onde a agricultura acompanha as margens das rodovias, em
sua maioria desenvolvida por agricultura familiar. A pecuária abrange as pastagens nativas
e campos inundáveis, sendo que a vegetação natural constitui a principal fonte alimentar
dos rebanhos bubalinos e bovinos. Nesses ambientes, a pecuária é desenvolvida de forma
extensiva, tanto em grandes como em pequenas propriedades (PPCDAP, 2010).
Segundo Marouelli (2003), é evidente que o Cerrado possui vantagens comparativas na
produção agrícola, quando comparado a outras regiões. Uma das características favoráveis
para a produção agrícola no Cerrado brasileiro é o solo, que é em sua maior extensão do
tipo Latossolo, estando presente em 46% da área do bioma (SANTOS et al., 2010), além da
presença de chuvas bem definidas, relevo do solo plano, insolação, entre outros.

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De acordo com estudos realizados por Oliveira (2009), 59% do Cerrado amapaense
encontrava-se apto para a produção agrícola, sendo que 39% eram ocupadas pela silvicul-
tura, restando 20% para a produção temporária, que seriam principalmente o feijão caupi, o
milho e a soja. Mais recentemente conforme o relatório diagnóstico do RURAP (2019) a área
plantada de soja na Safra 2019 foi de 20.552 ha (vinte mil, quinhentos e cinquenta e dois
hectares), ou seja, aproximadamente apenas 2,5% do total do Cerrado amapaense e pela
silvicultura 130 mil hectares disponíveis para o plantio de florestas renováveis de eucalipto
somados a 180 mil hectares de reservas nativas (AMCEL, 2022), num total aproximado
de 35% do Cerrado.
A atividade agrícola, embora seja considerada de maior importância socioeconômica,
uma vez que é o sustento básico de qualquer economia, no Amapá os cultivos em grande
escala ainda não conseguiram solidificar-se, predominando as culturas apenas para sub-
sistência. A participação no abastecimento do mercado local é insignificante, não havendo
excedente para exportação, ao contrário há importação em quase a totalidade do que é
consumido internamente (PPCDAP, 2010).
O fortalecimento da economia no Estado do Amapá, apoiada no desenvolvimento do
agronegócio, basicamente todo realizado no Cerrado, pode ser considerado como irreversível,
contudo pontos fracos existentes como um processamento industrial baixo ou inexistente;
altos custos de produção e comercialização; baixa capacidade de gestão empresarial; ine-
xistência ou baixa qualificação da mão-de-obra, baixa condição de estrutura e infraestrutura
instalada; dificuldade de regularização fundiária, devem ser urgentemente solucionados
Os pontos fortes são relacionado a posição estratégica em relação ao mercado consu-
midor interno e externo, grande estoque de terras prontas para integrar o processo produtivo,
condição ecológica favorável ao agronegócio, baixo risco de passivo ambiental, disponibi-
lidade de programas de financiamento para a região, programas do Governo Federal que
favorecem a região (ABC e outros), facilidade de implantação de programas de qualificação
da mão-de-obra, organização social e jurídica (Cooperativa dos Produtores Agrícolas do
Cerrado Amapaense) dos participantes da cadeia de produção agropecuária ativa no Estado
(ALVES; CASTRO, 2014a; 2014b), sendo estes os condicionantes que estimulam este es-
forço em se desenvolver o Amapá com base neste tipo de produção.
Apesar de parte do Cerrado amapaense ser utilizado para a produção principalmente
de eucalipto, com menor escala dos grãos de soja, milho e arroz, com concentração às mar-
gens da rodovia federal BR 156, a partir de Macapá até as proximidades do km 50, estando
presente também no município de Itaubal (MELÉM JUNIOR et al., 2003), teve-se no ano de
2002 introduzido o cultivo de arroz em larga escala nos Cerrados de Itaubal, despertando
o conhecimento e o interesse de produtores do sul do país em adquirir terras no Amapá

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visando a produção de soja, o que abriria perspectivas para o surgimento de nova frente
agrícola em território amapaense (DOMINGUES et al., 2004).
No ano de 2011, o número de produtores na região do Cerrado amapaense não era
grande, segundo Yokomizo (2015) haviam somente 20 proprietários que desenvolviam al-
gum tipo de atividade em suas áreas, sendo que destes, quatro não quiseram se manifestar
sobre que cultivo realizavam, nove citaram que atuavam na produção de frutas e hortaliças
e sete com a produção de grãos. Passando de uma área cultivada de 2.500 para quase
10.000 hectares, entre os anos de 2012 e 2013 (CASTRO et al., 2014), de acordo com a
Cooperativa de Agricultores do Cerrado Amapaense, a produção de grãos no Estado, em
2013, contabilizou 18 mil toneladas de soja, 8 mil toneladas de milho, 22 mil toneladas de
arroz e 700 toneladas de feijão (SUPERTI; SILVA, 2015).
Conforme projeção da Cooperativa dos Produtores Agrícolas do Cerrado Amapaense
(COOPAC), havia a tendência de crescimento a cada ano da produção de soja no Amapá,
causado por médios produtores vindos de outras regiões do país, entre gaúchos, paranaen-
ses, mineiros e mato-grossenses. A COOPAC estimava que dos cerca de 50 cooperados,
pouco mais da metade já se encontravam instalados e os demais estavam se preparando.
Isso também explica o aumento na produção de outros cultivos como arroz, feijão (caupi)
e milho, registrado pelo IBGE (PEDRADA; SANTOS, 2014). Porém devido a problemas de
licenciamento ambiental e documentação fundiária no último levantamento realizado pelo
RURAP e citado por Pires (2019) contabilizou-se apenas 24 unidades produtivas, com uma
área plantada de 19.476 ha com produção de 60 mil toneladas, frustrando as expectativas
de quantidade produzida.
Para se ter uma breve visualização, na Tabela 1, são apresentadas as áreas colhidas
e o quantitativo de grãos das culturas de soja, milho e arroz, considerando-se que quase
a totalidade destes valores são obtidos em áreas do Cerrado, nota-se que apenas o milho
apresentou tendência de crescimento, enquanto que a soja e o arroz diminuíram.

Tabela 1. Dados de área colhida em ha e produção de grãos em toneladas no Amapá de 2018 até 2022.

2018 2019 2020 2021 2022


Área 20.200 20.900 19.722 5.220 6.500
Soja
Produção 58.250 57.500 59.569 12.705 17.225
Área 1.610 1.380 1.400 1.310 2.500
Milho
Produção 1.590 1.150 1.380 1.186 2.350
Área 1.450 825 1.100 880 860
Arroz
Produção 1.380 820 1.056 865 890
Fonte: IBGE (2022).

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Potencial do Cerrado no Amapá para o desenvolvimento regional

O Cerrado amapaense possui qualidades de relevo, segundo Oliveira (2009) e Alves


e Castro (2014b), representando importantes áreas mecanizáveis, com proximidade de
estradas de ferro e rodovias, delimitando as regiões com maior potencial de utilização. Por
ser uma área de elevada precipitação pluviométrica, possui características intrínsecas que
o distingue do Cerrado da região Centro-Oeste do País, possibilitando um período de cultivo
suficiente para duas safras agrícolas por ano na mesma área, sem uso de irrigação com-
plementar, com baixa probabilidade de insucesso na safrinha em decorrência de veranicos
(ALVES; CASTRO, 2014b).
Adicionalmente Abrantes e Castro (2020) citam que as vantagens comparativas para a
produção e escoamento dos grãos no Amapá são, sobretudo, a significativa produtividade da
soja; a distância média ao porto de embarque (350 km); a melhor logística para exportação
dada a localização geográfica com a proximidade dos portos de destinos; o valor das terras
do Amapá, consideravelmente inferior ao praticado no resto do Brasil.
O Amapá indubitavelmente possui uma localização geográfica privilegiada, ou seja, está
mais próximo dos centros industrializados como a União Europeia. Este talvez seja um dos
aspectos mais importante para se considerar para a produção de grãos no estado em relação
aos outros estados brasileiros produtores. Além do solo, com textura franco argilosa que
permite sua manutenção hídrica e fornecimento de nutrientes, sem lixiviação imediata após a
aplicação de adubação mineral, o clima da região em questão é apropriado para o cultivo de
grãos e também que o relevo é adequado com extensas áreas planas (YOKOMIZO, 2004).
O solo do Cerrado amapaense tem como predominância o latossolo amarelo, distrófico,
com textura média entre 20 a 30% argiloso, com baixa fertilidade natural, apresentando bai-
xos teores de matéria orgânica, com alta saturação de alumínio e elevada acidez (MELÉM
JÚNIOR et al, 2003). A região é marcada por uma estação chuvosa, que vai de dezembro a
julho, e uma época de estiagem, que vai de agosto a novembro, com precipitação anual de
2700 mm, e temperatura média entre 26 a 28ºC (MELÉM JÚNIOR et al, 2003), com estes
dois períodos bem definidos, o chuvoso, com bons índices pluviométricos, e um de estiagem,
tem-se um potencial para uso agrícola.
No manejo do Cerrado amapaense tem que ser considerado as características tropi-
cais específicas existentes, o qual difere das áreas tradicionais de cultivo do Centro-Oeste
do Brasil. A falta de inserção de parte deste bioma em uma unidade de conservação e seu
uso sem precedentes, pode trazer problemas irreversíveis, como perda de biodiversida-
de, além de modificação das condições edafoclimáticas regionais conforme apresentado
em SETEC (2014).

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Para se ter uma idéia sobre a biodiversidade vegetal do Cerrado amapaense, Pereira
et al. (2007), apresenta várias espécies de enorme potencial para gerar renda econômica
aos pequenos proprietários como as frutíferas Araticum (Annona paludosa Aubl.), Caju
(Anacardium occidentale L.), Mangaba (Hancornia speciosa Gomez.), Muruci (Byrsonima
crassifolia (L.) Rich.) e Piquiá (Caryocar villosum (Aubl.) Pers.), somando-se as medicinais
Barbatimão (Ouratea hexasperma (St. Hill.) Benth.), Sucuúba (Himathanthus articulata
(Vahl.) Wood.) e, Lacre (Vismia guianensis (Aubl.) Choisy).
Ainda existem as espécies arbóreas/arbustivas, segundo Pereira et al. (2007), que
podem ser citadas Sucuúba (Himathanthus articulata (Vahl.) Wood.), Caimbé (Curatella
americana L.), Mangaba (Hancornia speciosa Gomez.), Barbatimão (Ouratea hexasperma
(St. Hill.) Benth.), Muruci (Byrsonima crassifolia (L.) Rich.), Muruci rasteiro (Byrsonima ver-
bascifolia (L.) Rich.) e Bate Caixa (Salvertia convallariaeodora St. Hill.).
No estrato herbáceo, conforme Pereira et al. (2007), as espécies mais frequentes são
Chamaecrista diphylla Greene, C. racemosa (Vogel) Irwin et Barn. (Leguminosae), Comolia
lytrarioides (Steud.) Naud. (Melastomataceae), Paspalum carinatum Fluegge (Poaceae),
Rhynchospora barbata (Vahl) Kunth, Scleria cyperiana Kunth. (Cyperaceae). Todas estas
espécies devem ser conservadas e mantidas com sua biodiversidade o mais próximo do
original, para não se perder material genético importante, que futuramente podem gerar
produtos com agregação de valor.
Quanto a distribuição das espécies vegetais Costa Neto et al. (2017) citam que foram
registrados 378 táxons, distribuídos em 221 gêneros e 73 famílias. Identificou-se neste tra-
balho 378 espécies, sendo que 53% foram herbáceas, 16% arbustivas, 15% arbóreas, 9%
subarbustivas, 4,8% trepadeiras 0,3% epífitas, 0,5% hemiparasitas, 0,3% parasitas e 1%
palmeiras. As famílias mais ricas foram Poaceae (56 espécies e 15%), Cyperaceae (40 e
11%), Fabaceae (38 e 10%), Melastomataceae (22 e 6%) e Rubiaceae (21 e 6%); represen-
tando 48% das espécies registradas.
Vinte sete famílias (37%) e 152 gêneros (68,5%) apresentaram apenas uma espécie
e 158 espécies foram registradas uma única vez, o que sugere alta diversidade, segundo
Costa Neto et al. (2017), ratificado pela similaridade florística entre os pontos de levanta-
mento que foi baixa (média de 0,235), ou seja, houve pouca coincidência de espécies ao
longo do Cerrado amapaense.
Num trabalho mais recente no Amapá, segundo Amaral et al. (2019) foram observadas
a presença das espécies: Amarelão (Rhynchospora globosa (Kunth) Roem. & Schult); Bate
Caixa (Palicourea rígida Kunth.); Breu Sucuruba (Trattinnickia rhoifolia Willd.); Cambuí-
açú (Myrciaria tenella (DC.) O. Berg); Capim Agulha (Trachypogon spicatus (L.f.) Kuntze);
Capim Viloso (Rhynchospora barbata (Vahl) Kunth.); Carvalho do Cerrado (Roupala montana

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Aubl.); Cupiúva (Tapirira guianensis Aubl.); Erva de São Martinho (Sauvagesia erecta L.);
Murici (Byrsonima crassifolia (L.) Kunth.); Murici do Cerrado (B. coccolobifolia Kunth.); Murici
(Byrsonima verbascifolia (L.) DC.); Mutamba (Luehea cymulosa Spruce ex Benth.); Murtinha
dourada (Myrcia cúprea (O. Berg) Kiaersk.); Pau Amargo (Simarouba amara Aubl.); Pau
de Arara (Salvertia convallariodora A. St.-Hil.); Quaresmeira (Tibouchina aspera Aubl.);
Sambaíba (Curatella Americana L.); Sucuuba (Himatanthus articulatus (Vahl) Woodson);
Sucupira Preto (Bowdichia virgilioides Kunth.); Umiri (Humiria balsamifera (Aubl.) J.St.-Hil.);
Vassourinha de Bruxa (Ouratea hexasperma (A. St.-Hil.) Baill.); também encontraram diversas
outras ervas das famílias das Eriocaulaceae, Xyridaceae, Droseraceae, Lentibulariaceae,
Gentianaceae e Polygalaceae.
Baseado nestes aspectos dos levantamentos da flora do Cerrado amapaense, pode
se notar que a cada ação é adicionado uma quantidade expressiva de espécies, indicando
que a diversidade existente é muito ampla e pouco conhecida ainda.

O uso sustentável do Cerrado: manutenção dos ecossistemas e recursos vegetais

O Amapá possui a peculiaridade de ter cerca de 72% de seu território protegido por
leis Estaduais e Federais que transformaram essas áreas em unidades de conservação,
tendo o Cerrado como o único local para produção agrícola que não se encontra incluso
totalmente sob alguma forma de proteção e que, na realidade, possui apenas uma parce-
la de aproximadamente 1.117 km2 (13%) da área inserida em Unidade de Conservação
(AMARAL et al., 2019).
A criação de diversas Unidades de Conservação na década de 90 tornou o Amapá
um “exemplo” positivo em termos mundiais em relação a conservação ambiental, porém
foi falho em não incluir o bioma Cerrado, permitindo uma situação de fragilidade perante a
diversos tipos de uso inadequado, com elevado impacto ambiental. Um amplo conjunto de
ações políticas e econômicas foi efetuado para a formação territorial e gestão ambiental do
Estado do Amapá, dentre as quais se destacam a proteção ao seu patrimônio natural com a
criação de unidades de conservação, mas o processo de bioprospecção e biogeografia não
foram adequadamente realizadas com a finalidade de definir de forma eficaz e científicas
suas dimensões e limites (BRITO; PORTO, 2005).
Diante de tantas delimitações dos espaços dos demais biomas, principalmente em sua
maioria de florestas densas, o bioma Cerrado foi esquecido, gerando ações de uso para di-
versos fins, ou seja, muitos de seus recursos naturais foram e tem sido alvo de extinção por
uso indevido através de ações antrópicas intensas, sem organização ou fiscalização. Os de-
safios ambientais em função do processo de urbanização identificam um campo amplo de

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possíveis conflitos em torno do uso e apropriação da terra e de seus componentes bióticos
e abióticos presentes neste espaço (QUEIROZ, 2008), perdurando até os dias atuais.
Para o uso adequado deste bioma então deve-se partir de políticas de desenvolvimento
baseadas na sustentabilidade e potencialidades ambientais e sociais, atentando-se para
delinear caminhos voltados à verticalização e organização do processo produtivo, de modo
a promover oportunidades de trabalho e renda a comunidade como um todo. Nessas condi-
ções, as atividades econômicas: mineração, hidrelétrica, petróleo, agronegócio, onde está
inserido o cerrado e áreas protegidas, vistas como fatores importantes para o desenvolvi-
mento do estado, devem encontrar um ambiente coeso com outras alternativas econômicas,
onde o mínimo impacto ambiental seja a premissa básica para identificar potencialidades e
limitações. Os recursos naturais devem ser considerados no processo por gerarem impac-
tos diretos e indiretos para a sociedade e para a natureza (CHAGAS; FILOCREÃO, 2020).
Um ponto positivo que surgiu para mitigar efeitos considerados prejudiciais dos gran-
des empreendimentos agrícolas em âmbito nacional foi apresentado pelo Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2012), a partir da Lei nº 12.187/09 e do artigo
3° do Decreto n° 7.390/2010, que se refere ao Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às
Mudanças Climáticas para Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na
Agricultura (Plano ABC), com o intuito de atender os compromissos firmados na Conferência
das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2009 (COP15).
O principal objetivo do Plano ABC é se obter a redução das emissões de gases de efei-
to estufa (GEE) no setor agropecuário, o projeto envolve ações com diferentes tecnologias
que visam a recuperação de pastagens degradadas, usando a integração Lavoura-Lavoura-
Pecuária-Floresta (iLPF), sistemas de plantio direto (SPD), fixação biológica de nitrogênio
(FBN), florestas plantadas, tratamento de dejetos de animais e adaptação às mudanças
climáticas, perfeitamente aplicáveis, pois são ações ambientalmente adequadas e portanto
devem ser empregadas no planejamento do uso da terra no Cerrado amapaense. Sendo
apresentada na Tabela 2.

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Tabela 2. Objetivos do plano setorial de mitigação e de adaptação às mudanças climáticas para consolidação de uma
economia de baixa emissão de carbono na agricultura (Plano ABC)

Ações Especificações
A recuperação de pastagens degradadas e a manutenção da produtividade das pasta-
Recuperação de pastagens degradadas
gens contribuem para mitigar a emissão dos gases do efeito estufa
A ILPF é uma estratégia de produção sustentável que integra atividades agrícolas, pecu-
árias e/ou florestais realizadas na mesma área, em cultivo consorciado, em sucessão ou
rotacionado, e busca efeitos sinérgicos entre os componentes do agroecossistema. Os
Integração Lavoura-Pecuária-Floresta SAFs são descritos como sistemas de uso e ocupação do solo em que plantas lenhosas
(ILPF) e Sistemas Agroflorestais (SAFs) perenes são manejadas em associação com plantas herbáceas, arbustivas, arbóreas,
culturas agrícolas e forrageiras, em uma mesma unidade de manejo, de acordo com
arranjo espacial e temporal, com alta diversidade de espécies e interações desses
componentes.
O SPD consiste em processos tecnológicos destinados à exploração de sistemas agrícolas
produtivos, compreendendo mobilização de solo apenas na linha ou cova de semeadura,
Sistema Plantio Direto (SPD)
manutenção permanente da cobertura do solo, diversificação de espécies e minimização
ou supressão do intervalo de tempo entre colheita e semeadura.
A FBN é amplamente reconhecida, pois reduz o custo da produção e os riscos para o
Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) meio ambiente pela diminuição de emissão de gases de efeito estufa, além de elevar o
conteúdo de matéria orgânica (sequestro de carbono) e melhorar a fertilidade do solo.
A produção de florestas plantadas (econômicas) nas propriedades rurais possui quatro
objetivos básicos: implantar uma fonte de renda de longo prazo para a família do produ-
Florestas Plantadas
tor; aumentar a oferta de madeira para fins industriais; reduzir a pressão sobre as matas
nativas; e capturar CO2 da atmosfera, reduzindo os efeitos do aquecimento global.
A correta destinação dos dejetos e efluentes da criação de animais estabulados tem-se
Tratamento de Dejetos Animais constituído como um importante fator que condiciona a regularidade ambiental das
propriedades rurais.
A adaptação às mudanças climáticas deve ser parte de um conjunto de políticas públicas
Adaptação às Mudanças Climáticas
de enfrentamento das alterações do clima.
Tem como objetivo promover a complementaridade das demais ações definidas nos
Ações Transversais do Plano ABC programas, contribuindo, também, para a consecução dos compromissos assumidos
pelo Brasil.
Fonte: MAPA (2012).

As políticas públicas para o desenvolvimento da agricultura no Cerrado amapaense

Para permitir o desenvolvimento adequado da agricultura em grande escala no Amapá


torna-se necessário definir critérios apropriados (cientifico, social, político e econômico) para
a criação de novas áreas protegidas em Amapá, neste caso especificamente para o bioma
de Cerrado. Devendo-se também definir modelos de gestão para que estas áreas sejam
compatíveis com a política ambiental e agrária na Amazônia, muitas vezes o processo ado-
tado deixa para ocasião futura de se redigir este ponto importante. Outro aspecto crucial
seria detalhar os estudos nas áreas de Cerrado e definir critérios para sua ocupação e seu
uso (LIMA; PORTO, 2008).
Torna-se primordial ressaltar a importância da existência de unidades de conservação
do ecossistema de Cerrado no Amapá, que passam a margem do planejamento estatal
quando o assunto é desenvolvimento regional, sendo apenas exploradas como slogan de
promoção de imagem política de governos sob o apelo do desenvolvimento sustentável
(CHAGAS; RABELO, 2015).
Porém o potencial para a agricultura continua real, contudo para evitar a degradação
total deste ecossistema e estimular uma produção sustentável o uso deve ser gerenciado

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através de políticas públicas adequadas, sendo que as existentes para a Amazônia brasi-
leira geralmente apresentam e retratam interesses ambíguos e conflituosos, muitas vezes
de interpretação aberta, ou então com ausência de informações. De um lado, há o discurso
da busca do favorecimento de novas infraestruturas, de suporte para o desenvolvimento
econômico pautado somente na racionalidade econômica, visando apenas o favorecimento
de grandes empreendimentos, no lado oposto de políticas focadas nos interesses das popu-
lações locais e na sustentabilidade socioambiental, devido as pressões sociais existentes.
(BECKER, 2009), ambas as situações sendo extremas.
Este binômio conflituoso também ocorre no Amapá e não tem gerado políticas pú-
blicas adequadas para o Cerrado amapaense, pois com a troca de governos estaduais o
processo retorna ao seu início constantemente, apesar disso existem tentativas de fortalecer
a agricultura familiar e também a agricultura empresarial, baseadas, respectivamente, na
diversificação da produção e em tecnologias de ponta (ALVES; CASTRO, 2014b). Desta
forma, apesar de se observar um desenvolvimento do agronegócio no Estado, um dos maio-
res entraves é a não continuidade das políticas públicas que o Estado tenta desenvolver
(ALVES; CASTRO, 2014a).
O zoneamento ecológico econômico (ZEE) torna-se um importante instrumento político
e técnico, que tem a função de oferecer subsídios para o processo de regulação do uso do
Cerrado, integrando as diferentes políticas públicas, aumentando a eficácia da interven-
ção do Estado na gestão do Cerrado e na construção de parcerias. É um instrumento de
planejamento econômico e gestão, estimulador do desenvolvimento sustentável (ALVES;
CASTRO, 2014a), sendo que o ZEE do Cerrado amapaense ainda está sendo realizado,
contendo ainda discussões conflitantes com embasamento técnico-científico associados a
“muitas vontades” alheias para este bioma.
Para o plantio de grãos no Amapá, segundo Chelala e Silva (2020) também existem
entraves jurídico-institucionais que é a questão fundiária. Para apresentar tal situação, faz-se
necessário compreender as especificidades históricas da regularização de terras no estado.
Sendo que insipientes hectares foram efetivamente regularizados no Amapá pelo poder
executivo. Até este momento, é praticamente impossível o produtor rural conseguir um título
fundiário definitivo e com isso não tem como viabilizar a instalação de plantios de forma legal.
Chelala e Chelala (2019) comentam que este gargalo impacta profundamente a viabili-
dade do negócio no Amapá. Primeiramente por reduzir o valor do principal ativo do agrone-
gócio: a propriedade rural. Além disto, a ausência do documento de propriedade impede os
agricultores de acessar programas oficiais de financiamentos, que apresentam as melhores
condições do mercado.

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Ponto pacífico é que se sabe que o Estado possui enorme potencial, como já foi possível
notar nos tópicos anteriores, para a produção e exportação de produtos agropecuários, mas
é necessário trabalhar melhor as questões de regularização fundiária, políticas públicas de
gestão e controle ambiental, definindo corretamente através de um zoneamento econômico
e ecológico quais as delimitações físicas das áreas que realmente poderiam ser utilizadas
para cultivo (SETEC, 2014), somente quando todos estes pontos forem perfeitamente delimi-
tados e oficializados, o Amapá terá uma agricultura realmente forte, pautada num processo
de desenvolvimento o mais adequado possível com o tripé da sustentabilidade.

CONCLUSÃO

A forma de utilização do Cerrado amapaense ainda não está devidamente definida,


mas observa-se que discussões referentes ao seu uso estão a cada novo momento melhor
baseados em aspectos técnico-científicos e ecologicamente mais adequados.
A possível crescente demanda de uso áreas deste ecossistema abre caminho para
novos investimentos neste bioma e, consequentemente, novos rumos para a economia local,
pois o Cerrado do Amapá tem sido alvo de novos investimentos de agropecuária empresarial,
que pode gerar melhorias substanciais a balança econômica do Estado.
Mas deve ter um planejamento adequado, gerenciado de forma oficial pelos devidos
órgãos competentes, refletindo na geração de diversos empregos de forma direta e indireta,
nos inúmeros elos da cadeia produtiva.
Com o desenvolvimento da produção agrícola ocorrerá um aumento da segurança
alimentar estadual, por diminuir as necessidades de importação de alimentos de outras
localidades, processando e agregando valor aos grãos, além do desenvolvimento urbano
local, tanto em infraestrutura como na educação e saúde como contrapartida do uso deste
bioma, mas para que haja este efeito é preciso que haja comprometimento de todos os atores
envolvidos neste processo, empregando instrumentos legais que possam gerar este avanço.
A expansão agrícola no Cerrado amapaense certamente trará impactos tanto para este
bioma quanto para os demais, particularmente a Floresta Amazônica. A conservação da bio-
diversidade é um tema atual e muito importante para a gestão da agricultura no Brasil. A uti-
lização para este fim requer uma série de precauções e medidas que visem o seu desen-
volvimento mais próximo possível do sustentável, sem esgotamento dos recursos naturais.
Um entrave importante que deve ser contornado é o aspecto fundiário que tem impedido
a implantação das áreas de produção, sendo que isso pode levar a exploração “escondida”
e com isso predatória de parte do Cerrado, não trazendo benefícios a sociedade e nem ao
ambiente. Portanto ressalta-se que é urgente que estes aspectos legais sejam sanados o
mais rápido possível.

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Desta forma, conclui-se que há elevado potencial para exploração de áreas do Cerrado
amapaense para produção de alimentos, que tem sua área de produção com tendência de
crescimento, mas é fundamental observar aspectos referentes à adoção de técnicas de
manejo, uso de material genético adequado e existência de políticas públicas de gestão e
fiscalização que permitam associar desenvolvimento regional com conservação ambiental,
obtendo com isso uma produção sustentável e benéfica a todos.

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244
15
Estimativas para o Índice de Oportunidade
Humana no Brasil em um Contexto de
Redução da Desigualdade

Daniel Cirilo Suliano


Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará
- IPECE

Jaime de Jesus Filho


Universidade Federal do Ceara - UFCE

'10.37885/220809849
RESUMO

Objetivo: O objetivo deste trabalho é mensurar o Índice de Oportunidade Humana (IOH)


para o Brasil utilizando dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no período de 2001 a 2011. O indicador
é uma síntese da cobertura de bens e serviços básicos para o bem-estar de crianças a partir
de um conjunto de oportunidades que são determinantes para o desenvolvimento das suas
habilidades e que estão associadas à sociedade a qual ela pertence bem como as suas
circunstâncias de nascimento. Nesses termos, foram elencados oito indicadores de serviços
básicos, sendo cinco de dimensão habitacional e três de dimensão educacional a partir de
sete variáveis de circunstâncias. Os resultados mostram além de uma heterogeneidade
das oportunidades nas taxas de cobertura uma ampliação da rede de acesso, não obstante
diferenças entre os grupos de distintas circunstâncias.

Palavras-chave: Índice de Oportunidade Humana, Desigualdade de Renda, Crianças.


INTRODUÇÃO

Em um sistema econômico meritocrático os resultados desejáveis se dão não quando


todos terminam juntos a corrida, e sim quando começam do mesmo ponto de partida. Tal
concepção de modelo social começou a se consolidar nos últimos três séculos, fruto das
sociedades modernas, a partir das mudanças de paradigmas catapultadas por Hobbes (1651)
e Locke (1689), onde a gênese do ente Estado estaria condicionada a sua capacidade de
prover instrumentos de interesse geral para a sociedade.
Até então, predominavam sociedades hierárquicas de natureza aristocrática nas quais
o progresso e as oportunidades de sucesso vinham predominantemente de laços de san-
gue. De acordo com Botton (2004), nestas sociedades tradicionais o que importava era a
identidade da pessoa ao nascimento, ao invés de suas realizações geradas em decorrên-
cia de seu talento e/ou trabalho. Nesse aspecto, pode-se dizer que o grande avanço das
sociedades modernas foi destituir, em sua maior parte, os privilégios herdados na medida
que tornou a posição social dependente da realização individual consubstanciada em su-
cesso financeiro1.
Sob a égide econômica, no Brasil essa discussão se deu a partir da década de 1970
nos estudos que procuraram explicar o processo de iniquidade de renda do país [Castro
(1970), Fishlow (1972) e Langoni (1973)]. O diagnóstico da época encontrou evidências da
importância da educação na dinâmica do mercado de trabalho sendo o principal mecanismo
influenciador na distribuição dos rendimentos. Mais especificamente, tanto a distribuição
como os retornos por ano de estudo tiveram papéis determinantes2.
Ferreira (2000) discorre a respeito do mecanismo pelo qual essa desigualdade de
renda permanece tão elevada no Brasil. A hipótese é que o país se encontra num equilíbrio
Pareto-inferior de um sistema dinâmico em que três distribuições são determinadas simulta-
neamente, a saber: de educação, de riqueza e de poder político. Tal equilíbrio caracteriza-se
por um círculo vicioso no qual uma grande heterogeneidade educacional acarreta uma grande
desigualdade de riqueza, que se transforma em grandes diferenças de poder político, que
por sua vez geram uma política educacional que perpetua a desigualdade inicial.

1 É importante pontuar que o modelo meritocrático atual tão propalado na sociedade dos EUA também tem sido posto à prova, com di-
versas críticas com relação a sua eficácia e seus reais resultados. Para uma análise desse argumento ver Markovits (2019) e Sandel
(2020).
2 Posteriormente, diversas análises identificaram o lento progresso educacional como a variável que mais explica o alto grau de
desigualdade de renda [Reis e Barros (1990, 1991), Leal e Werlang (1991, 2000), Lam e Levinson (1992), Lam e Schoeni (1993),
Menezes-Filho et al. (2000, 2006), Menezes-Filho (2001)]. De acordo com Barros e Mendonça (1995, 1996), mesmo após considerar
diferenças de experiência, gênero, raça, setor de atividade e região a educação explica entre 30% e 50% da desigualdade total na
renda brasileira.

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Não obstante, a década de 2000 foi caracterizada por uma queda contínua e robusta
no grau de desigualdade jogando luz em quais mecanismos podem impulsionar maiores
condições de equidade na sociedade brasileira3. Essa vasta literatura diagnosticou quais
os fatores desde o surgimento da coleta de base de dados em pesquisas domiciliares que
estão por trás de uma das menores desigualdades nos últimos 50 anos4.
Souza (2009), por outro lado, argumenta que quando se esquece a gênese da desi-
gualdade social brasileira não é possível falar da escola como uma variável isolada sem
relação com o mundo social. De fato, por mais importante que seja, tomada isoladamente,
apenas legitima desigualdades que começaram muito antes. Nesse aspecto, pode-se dizer
que o processo de competição por recursos escassos e limitados não começa na escola,
mas, em grande parte, é pré-decidido na socialização familiar. Assim, para que exista justiça
social as crianças deveriam chegar à escola em condições semelhantes de forma que não
compreender essa dimensão fundamental é continuar pensando que todas as pessoas são
produzidas com as mesmas capacidades e chances.
Considere, por exemplo, o caso de duas crianças, sendo a primeira residente na zona
rural, de cor preta, vivendo em condições de extrema pobreza em uma família de muitos
irmãos e sendo ainda residente em um domicílio com apenas um progenitor sem nenhum
grau de instrução. Para a segunda criança, a situação é diametralmente oposta. Neste caso,
ela é moradora na zona urbana e de cor branca, residente em uma família nuclear abonada
em termos de renda per capita sem nenhum irmão e tendo ainda os pais concluído o ensi-
no superior. Considerando essas duas situações antagônicas, é provável que a chance de
sucesso econômico e melhora social sejam diferentes.
Com efeito, diversas das oportunidades das crianças brasileiras não estão meramente
condicionadas as suas escolhas da vida e muito menos associadas ao esforço e/ou talento
desprendido ao longo de suas atividades produtivas, mas sim a idiossincrasias de nascimento.
Nessa perspectiva, parte substancial da desigualdade poderia ser explicada por circunstân-
cias além do controle do indivíduo em vista da não distribuição equitativa de determinadas
oportunidades ainda na fase inicial da vida.
A ótica dessa análise motivou por parte de World Bank (2006), Barros et al. (2008),
Barros et al. (2009), Barros, Vega e Saavedra (2010) e Molinas et al. (2010) a construção
de uma medida de desigualdade de oportunidades com base em circunstâncias exógenas

3 Ver, por exemplo, Soares (2006a, 2006b), Hoffmann (2005), Barros et al. (2004, 2006a, 2006b, 2006c, 2007a, 2007b, 2007c, 2007d,
2007e, 2007f, 2009a, 2010), IPEA (2006), Ferreira et al. (2006), Barros, Franco e Mendonça (2007a, 2007b, 2007c, 2007d, 2007e),
Hoffmann (2006), Hoffmann (2007), Ramos (2007), Soares et al. (2007).
4 Mais uma vez, cabe destacar a educação e seus efeitos rebatedores. De fato, sendo a escolaridade um dos principais fatores que
afeta a produtividade do trabalho e a renda do trabalhador seu impacto se deu tanto através do declínio na desigualdade educacional
da força de trabalho quanto através da sensibilidade da remuneração do trabalho [Barros et al. (2007a, 2007b, 2007c)].

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248
que influenciam o acesso das crianças a bens e serviços básicos necessários ao seu bem-
-estar na medida que elas não podem vir a ser responsabilizadas por componentes fora
de seu controle5.
Neste contexto, o Índice de Oportunidade Humana (IOH) é uma métrica que combina
elementos de cobertura de acesso a determinados bens ou serviços básicos visando à
melhoria das oportunidades das crianças bem como o grau de desigualdade da distribuição
da sua cobertura.
Assim, a partir das melhoras nos indicadores sociais em um ambiente de estabilidade
macroeconômica e crescimento econômico ao longo da década de 2000 o presente traba-
lho fez uso de dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD) do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para mensuração do Índice de Oportunidade
Humana no Brasil. Mais especificamente, analisou-se sua evolução a partir das sete cir-
cunstâncias elencadas em Barros et al. (2008), Barros et al. (2009b) e Molinas et al. (2010)
e um compêndio de oito oportunidades nas dimensões de habitação/infraestrutura e na
dimensão educacional.
Esse trabalho segue com mais três seções além desta introdução e das considerações
finais. Na seção seguinte aborda-se a definição do Índice de Oportunidade Humana, o con-
texto histórico e a descrição da base de dados; em seguida são apresentados os resultados
e as discussões.

MÉTODOS

Definição do Índice de Oportunidade Humana

Dentre diversos outros fatores, o que torna a persistente desigualdade no Brasil ainda
mais perversa e estanque é a sua alta correlação com as condições iniciais de vida de cada
indivíduo. De fato, como evidenciam Cunha et al. (2005), tanto as habilidades cognitivas
como as não cognitivas dependem do ambiente em que as crianças e adolescentes foram
expostos ao longo de sua formação ocasionando efeitos tanto no desempenho escolar como
nos determinantes do mercado laboral já na fase adulta.
As condições de oportunidades para crianças e adolescentes no acesso a bens e ser-
viços de primeira necessidade não deveriam estarem associadas as suas circunstâncias
de nascimento. Nesse aspecto, é de se esperar que em um ambiente ideal os anseios e as
conquistas de cada um sejam legitimamente aceitáveis caso reflitam diferenças de escolha,

5 Em trabalho recente, Dill e Gonçalves (2012) replicam a análise de Molinas et al. (2010) estimando o índice para o Brasil para os anos
de 1999 e 2009 e uma decomposição do valor de Shapley para o índice de desigualdade das circunstâncias.

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esforços ou talento individuais e não resultado de assimetria de oportunidades fruto de cir-
cunstâncias pré-determinadas.
Com base nessa ideia, uma gama de estudos tendo como foco crianças com idade
entre zero e dezesseis anos em 19 países da América Latina e Caribe especificaram uma
medida de desigualdade de oportunidades no âmbito do bem-estar social e econômico a
partir de um subconjunto de serviços básicos necessários, tais como acesso a educação,
água potável ou vacinação, dada a tecnologia local disponível [ver World Bank (2006), Barros
et al. (2008), Barros et al. (2009b), Barros, Vega e Saavedra (2010), Molinas et al. (2010)].
O objetivo do Índice de Oportunidade Humana (IOH) é projetar políticas públicas de
longo prazo e romper a persistência dos ciclos intergeracionais de desigualdade aos moldes
da função de bem-estar de Sen (1976). Analiticamente, estimar a cobertura e a desigual-
dade de oportunidades requer elencar variáveis determinantes para o desenvolvimento do
indivíduo que estejam ao mesmo tempo fora de seu controle (exógenas para os cidadãos),
mas que podem sofrer influências de escolhas sociais (endógenas para a sociedade).
Na abordagem de Barros et al. (2009b) e Molinas et al. (2010), por exemplo, foram
considerados cinco indicadores de bens e serviços considerados básicos, sendo dois de
dimensão educacional – frequência escolar e conclusão da sexta série na idade correta – e
três de dimensão de habitação/infraestrutura – acesso a luz elétrica, água potável e rede de
saneamento. Para as circunstâncias de nascimento fora do controle da criança, sete variáveis
foram elencadas, sendo elas: gênero, cor/raça, renda familiar per capita, escolaridade do
chefe da família, presença de um dos pais ou ambos na moradia, número de irmãos com
idades entre 0 e 16 anos e área de residência (região urbana).
O foco nas crianças com base nos parâmetros de cobertura em bens e serviços bá-
sicos e desigualdades a eles associados procura “nivelar o campo de jogo” além de inserir
no centro do debate político medidas de intervenções precoces ao longo do ciclo de vida
que apresentam maior probabilidade de equalizar as condições de oportunidade tornando,
assim, as políticas mais eficazes do que aquelas feitas tardiamente, seja qual for o campo
ideológico a qual pertence seu formulador [Barros et al. (2009b)].
No seu cômputo, o Índice de Oportunidade Humana é formado pela taxa de cobertu-
ra C – cobertura média daqueles atendidos com acesso a determinado bem ou serviço – e
um índice de desigualdade D – como equitativamente a taxa de cobertura está distribuída.
O índice de desigualdade D pode também ser interpretado como o quantitativo que teria
de ser realocado entre crianças de grupos de circunstâncias diferentes vis-à-vis aqueles com
acesso a mesma dimensão de forma que a oportunidade seja igual para todos. Portanto,
o seu complementar (1 - D) corresponde à percentagem de oportunidades disponíveis que

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foram igualmente distribuídas de forma que o Índice de Oportunidade Humana pode ser
assim representado6:

IOH = C ´ (1 - D) (01)

O Índice de Oportunidade Humana pode também ser interpretado como o acesso a


uma oportunidade em termos de taxa de cobertura descontada pela sua alocação de forma
desigual. Sendo assim, pode-se medir a melhora de acesso do bem ou serviço básico de
uma determinada região por meio dele caso ocorra um aumento na cobertura média e/ou
através de um aumento da igualdade de oportunidade existente desse acesso7.

Aferição do Índice de Desigualdade (D)8

A desigualdade de oportunidades (índice D) é uma medida relativa de acesso médio


de um bem ou serviço (dimensão) para grupos definidos por características de circunstân-
cias em comparação com a taxa média de acesso da mesma dimensão em análise para a
população em geral.
Para uma amostra aleatória de i crianças em uma dada oportunidade (Ii = 1 se o grupo
tem acesso e Ii = 0 caso contrário) e um vetor de m circunstâncias xi = (x1i,...,xmi), pode-se
escrever o índice de desigualdade de oportunidade alternativamente como:

E P ( I = 1 x ) - P ( I = 1)
D= (02)
2 P ( I = 1)

reescrevendo P ( I = 1) = E ( P ( I = 1 x ) tem-se:

E P( I = 1 x ) - E ( P( I = 1 x ))
D= (03)
2 E ( P( I = 1 x ))

Em (03), a estimação de D é feita com base em algum grupo definido em termos de


circunstâncias para uma determinada taxa de cobertura de uma oportunidade expressa por
P( I = 1 x ) . As estimativas se dão por meio de regressão logística tal que:

6 Dessa forma, quanto mais próximo da unidade o índice D estiver, maior a distância de um grupo específico a um determinado bem
ou serviço em comparação à taxa média de cobertura. Logo, se a taxa de cobertura para grupos específicos são iguais à média (D =
0), o Índice de Oportunidade Humana é igual à taxa média de cobertura global (C)
7 Resultados de Barros et al. (2009b) e Molinas et al. (2010) para dados da América Latina e Caribe em um intervalo de 10 anos
(1995-2005) mostram que dois terços das melhorias no Índice de Oportunidade Humana na região foram decorrentes do aumento no
fornecimento de oportunidades disponíveis e o terceiro terço restante por uma redução da desigualdade no acesso.
8 Esta subseção foi baseada em Barros, Vega e Saavedra (2010).

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æ P( I = 1 x1 ,!, xm ) ö m
Lnçç ÷ = å hk (xk )
÷ k =1
1 - P ( I = 1 x , ! , x ) (04)
è 1 m ø

com xk denotando um vetor de variáveis de k circunstâncias tal que x = ( x1 ,..., x m )


. As funções {hk } estão em consonância com as circunstâncias delineadas e hk ( xk ) = xk b k ,
sendo, portanto, lineares nos parâmetros. A probabilidade prevista de acesso a uma deter-
minada oportunidade de uma criança i poderá ser obtida por:

exp æ b^ + m x b^ ö
^ ç 0 å ki k ÷
pi = è k =1 ø
^ ^ (05)
1 + expæç b 0 + å xki b k ö÷
m

è k =1 ø
_
1
e sendo a taxa média de acesso denotada por p e wi = as ponderações, chega-se
n
as seguintes expressões finais que denotam a estimativa de D:

- ^
p = å wi p i e D = 1- å wi p i - p
n ^ n ^ -
(06)
i =1
2 p i =1

Contexto Histórico e Base de Dados

A base de dados utilizada foi a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD)
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nos anos de 2001 a 20119, período
caracterizado por crescimento econômico e melhorias intensivas nos aspectos sociais do país.
A Figura 1 permite observar que ao longo da década de 2000 o Brasil conseguiu con-
jugar crescimento econômico com redução na desigualdade, combinação pouco usual no
processo de desenvolvimento econômico brasileiro no pós-guerra10.

9 Exceto para 2010, ano em ocorreu o Censo Demográfico e não PNAD.


10 Ver Ferreira e Veloso (2013).

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Figura 1. Taxa de crescimento do produto/Índice de Gini (renda domiciliar per capita).

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da PNAD.

Conforme visto acima, determinar a desigualdade de oportunidade a partir do Índice


de Oportunidade Humana requer analisar além de circunstâncias exógenas ao nascimento
das crianças, oportunidades em alguma dimensão no que concerne ao acesso de bens e
serviços considerados básicos ao seu bem-estar.
Com relação às variáveis exógenas indicadoras de circunstâncias, seguiu-se a linha
de Barros et al. (2009b) e Molinas et al. (2010) ao se fazer uso de sete variáveis. O Quadro
1 descreve essas circunstâncias com maiores detalhes.

Quadro 1. Circunstâncias para aferição do Índice de Desigualdade D.

Dimensão da Circunstância Descrição

Gênero Masculino/Feminino.
Pessoa responsável pela unidade domiciliar (ou pela família) ou que
assim fosse considerada pelos demais membros. A classificação segundo
Escolaridade da pessoa de referência os anos de estudo foi obtida em função da série e do nível ou grau que
a pessoa estava frequentando ou havia frequentado, considerando a
última série concluída com aprovação.

Número de crianças no domicílio Total de crianças de 0 a 16 anos de idade residente no mesmo domicílio.

Razão entre o total de rendimentos de todas as pessoas da família e o


Renda familiar per capita
seu número de componentes.

Família com formação uniparental Domicílio onde reside apenas um progenitor (pai ou mãe solteiro).

Área de residência Código de situação censitária: área urbana ou área rural

Fonte: Elaboração própria.

Além disso, foram também elencadas oito dimensões em termos de oportunidades


para bens e serviços básicos, sendo cinco delas de dimensão habitacional/infraestrutura
e três de dimensão educacional. No Quadro 2 a seguir são descritos detalhes das oportu-
nidades elencadas.

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Quadro 2. Condições de oportunidade para aferição do Índice de Oportunidade Humana.

Dimensão das Condições de Oportunidade Descrição

Dimensões de Habitação/Infraestrutura
Investigou-se a existência de água canalizada nos domicílios
Acesso à água
particulares permanentes.
Investigou-se a existência de banheiro ou sanitário, para
uso de moradores, no domicílio particular permanente ou
no terreno ou na propriedade em que estava situado. Pes-
Acesso a saneamento
quisou-se, também, o número de banheiros ou sanitários
de uso exclusivo dos moradores em domicílios particulares
permanentes.
A forma de iluminação elétrica utilizada no domicílio parti-
cular permanente foi assim classificada quando o domicílio
Acesso à eletricidade
tivesse iluminação elétrica proveniente de rede geral, con-
versor de energia solar etc.
Nos domicílios particulares permanentes, foi pesquisado se
Acesso à telefonia celular algum morador do domicílio particular tinha linha telefônica
móvel (telefone móvel celular).
Nos domicílios particulares em que havia microcomputador
Acesso à internet
foi pesquisado se era utilizado acesso a internet.
Dimensões de Educação

Início do ensino fundamental na idade certa Entrada na idade correta no Ensino Fundamental11.

Crianças com idade de 4 e 5 anos que estejam frequentan-


Frequência a pré-escola na idade de 4 e 5 anos do escola ou creche, independente se estejam no período
eletivo correspondente a sua idade escolar.
Crianças na faixa etária de 10 a 14 anos que estejam frequen-
Frequência à escola na idade de 10 a 14 anos tando escola ou creche, independente se estejam no período
eletivo correspondente a sua idade escolar.
Fonte: Elaboração própria.

RESULTADOS

A Tabela 1 no Apêndice apresenta os resultados da taxa de cobertura (C). Exceto


para as coberturas “eletricidade” e “início do ensino fundamental na idade certa” as demais
apresentaram uma tendência de crescimento vertiginosa. A dimensão “frequência a pré-es-
cola para idade 10-14 anos” mesmo com uma taxa de expansão lenta detém uma taxa de
cobertura quase universalizada em 2011.
Na dimensão “água”, a expansão acontece a taxas lentas, mas partindo de uma base
alta (81%), finalizando a série com pouco menos de 91%. Por sua vez, a cobertura de “aces-
so a telefone celular” e “acesso a internet” demonstram uma boa perspectiva refletindo a
melhor eficiência dos serviços ao longo da década de 200012.

11 A partir de 2007 a entrada no Ensino Fundamental inicia-se aos 6 anos (regime de 9 anos). Até 2006, a entrada iniciava-se aos 7 anos
(regime de 8 anos).
12 A privatização do setor de telecomunicações no final da década de 1990 ocasionou uma maior oferta de serviços além do aumento da
concorrência o que aliado ao aumento do poder aquisitivo no período posterior veio permitir maior acesso desses serviços por parte
de toda a população.

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Quando se observa a dimensão serviço de “saneamento” deve-se destacar que apesar
de em 2001 a cobertura se restringir a 58%, no ano de 2011 há uma ampliação para pouco
mais de 70% do total.
Na Tabela 2, também no apêndice, encontram-se os resultados referentes ao índice
de desigualdade (D). Em certa medida, refletem a imagem inversa do resultado anterior
considerando que uma maior desigualdade deve ser entendida como uma realocação das
oportunidades disponíveis daqueles grupos mais favorecidos aos grupos menos favorecidos
no intuito de gerar um maior alcance de igualdade de oportunidade.
Cabe destacar entre eles o acesso às condições de “saneamento” e “inicio do ensino
fundamental na idade certa”. Em ambos, apesar de as estimativas ao longo da série exibir
uma tendência de redução da desigualdade, ainda do ponto de vista relativo as diferenças
entre os grupos de distintas circunstâncias são prementes. Em 2011, por exemplo, 13%
das oportunidades no acesso ao saneamento precisariam ser realocadas ao grupo de pior
situação de modo a se alcançar uma maior igualdade de oportunidade, valor esse igual a
pouco menos de 9% no mesmo ano para a iniciação do ensino fundamental na idade certa.
Finalmente, a Tabela 3 reporta os resultados para o Índice de Oportunidade Humana.
Semelhantemente aos resultados da taxa de cobertura (C), “eletricidade” e “frequência a
escola para idade 10-14 anos” são dois indicadores com taxas de proporção do total de
oportunidades disponíveis em 2001 já elevada o que leva, por conseguinte, a uma baixa
tendência de crescimento e quase universalização em 2011.
Por sua vez, a dimensão inicialização do ensino fundamental na idade correta apre-
senta condições de oportunidade ainda em níveis bem baixos dada a sua lenta taxa de
expansão no período.
Cabe mais uma vez mencionar o vertiginoso crescimento do “acesso a telefonia celular”
e “acesso a internet” assim como a tendência a universalização da “água”.
No entanto, tanto “saneamento” como “frequência a pré-escola para idade 4-5 anos”
ainda estão bem aquém dos demais indicadores, particularmente essa última. O caso do
acesso ao saneamento preocupa em razão de seus desdobramentos na formação na qua-
lidade do capital humano dada as suas implicações nas condições de saúde da criança ao
longo de sua vida. No ano de 2011, apenas 61% das oportunidades de saneamento estavam
igualmente distribuídas para as crianças de 0 a 16 anos no Brasil.

DISCUSSÃO

A Figura 2 e a Figura 3 reportam as decomposições para o Índice de Oportunidade


Humana dos anos de 2001 e 2011, respectivamente, para as sete circunstâncias em análise.

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Em linhas gerais, pode-se perceber que a “educação da pessoa de referência” é o
componente com maior poder explicativo, com destaque nas oportunidades de dimensão
educacional, principalmente para o “inicio do ensino fundamental na idade certa”.

Figura 2. Decomposição do Índice de Oportunidade Humana – 2001.

Fonte: Elaboração própria usando dados da PNAD.

Outras duas circunstâncias de destaque são a “renda familiar per capita” e a área “ur-
bana”. A primeira chega a representar quase 47% do “acesso a telefonia celular” em 2001,
embora perca em importância relativa nos anos de 2006 e 2011.

Figura 3. Decomposição do Índice de Oportunidade Humana – 2011.

Fonte: Elaboração própria usando dados da PNAD.

CONCLUSÃO

Este trabalho utilizou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na aferição do Índice de Oportunidade

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Humana (IOH) para o Brasil nos anos de 2001 a 2011, período caracterizado por uma forte
redução da desigualdade de renda com crescimento econômico.
O Índice de Oportunidade Humana tem como objetivo projetar políticas públicas de
longo prazo a partir da mensuração do acesso à cobertura de bens e serviços básicos para
o bem-estar de crianças. No seu cômputo, elenca-se variáveis de circunstâncias que este-
jam fora do controle das crianças – exógenas para os cidadãos –, além das que podem ser
afetadas por escolhas sociais – endógenas para a sociedade.
Nesse trabalho, foram elencados oito indicadores de bens e serviços, sendo cinco de
dimensão habitacional – acesso a agua, saneamento, eletricidade, telefonia celular e inter-
net – e três de dimensão educacional – inicialização do ensino fundamental na idade certa,
frequência escolar na idade 4 e 5 anos e frequência escolar na idade 10 a 14 anos – a partir
de sete variáveis de circunstâncias: gênero, raça, renda familiar per capita, escolaridade da
pessoa de referência, presença de um dos pais ou ambos na moradia, número de crianças
no domicílio com idade entre 0 e 16 anos e área urbana.
Os resultados mostraram crescimento do “acesso à dimensão telefonia celular e in-
ternet” bem como uma tendência a universalização da oportunidade do acesso à “água”,
não obstante a carência de oportunidades das dimensões de “saneamento” e “frequência a
pré-escola para crianças com idade entre 4 e 5 anos”.
Por sua vez, as dimensões de “eletricidade” e “frequência a escola para idade 10-14
anos” estão praticamente universalizadas.
Deve-se também observar que a “inicialização do ensino fundamental na idade corre-
ta” além de apresentar condições de oportunidade em níveis baixos teve ainda uma lenta
taxa de expansão.
Diante desses resultados, é preciso destacar que ainda resta desafios a serem alcança-
dos em termos de políticas públicas. Por exemplo, a prevenção, segundo as recomendações
fitossanitárias, configura-se como uma das mais eficientes medidas de redução de demanda
por serviços de atendimento médico, podendo, assim, reduzir no longo prazo gastos na área
de saúde e melhora na qualidade do sistema.
Adicionalmente, a ampliação da oferta das escolas para crianças de 4 e 5 anos pode
servir de suporte na medida em que a formação de lares monoparentais e a consolidação
da mulher no mercado de trabalho configura-se como um arranjo social atual nas famí-
lias brasileiras.
Finalmente, iniciar o aprendizado no período correto é condição essencial para o melhor
aprimoramento das habilidades cognitivas e melhoria da qualidade da educação.

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APÊNDICE

Tabela 1. Evolução da Taxa de Cobertura (C), em %.

Dimensões de Oportunidades 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011
Habitação/Infraestrutura                    
Água 81,1 83,4 84,0 83,7 84,6 85,9 87,5 88,6 89,4 90,7
Saneamento 57,9 59,6 60,5 60,2 60,9 62,1 65,8 65,7 65,2 70,3
Eletricidade 94,0 95,2 95,5 95,1 95,4 96,2 97,3 97,9 98,4 99,0
Acesso a telefone celular 25,8 29,2 33,2 43,2 56,2 61,5 66,4 76,2 79,8 88,9
Acesso à internet 5,9 7,3 8,0 8,5 9,8 12,2 15,4 19,3 44,6 33,1
Educação                    
Inicio do Ensino Fundamental na idade certa 19,0 19,9 20,2 21,3 21,4 21,8 21,1 20,2 20,3 22,3
Frequenta a pré-escola, idade 4-5 anos 54,9 56,6 59,0 61,5 62,8 67,7 70,1 72,9 75,0 77,4
Frequenta a escola, idade 10-14 anos 96,2 96,8 97,1 96,8 97,1 97,3 97,3 97,7 97,7 98,3
Fonte: Elaboração própria usando dados da PNAD.

Tabela 2. Evolução do Índice de Desigualdade (D), em %.

Dimensões de Oportunidades 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011
Habitação/Infraestrutura                    
Água 11,3 9,8 9,4 9,9 9,4 8,7 7,4 6,8 6,2 5,6
Saneamento 20,0 19,0 18,2 18,4 18,4 17,1 15,4 14,9 14,4 12,9
Eletricidade 4,3 3,5 3,3 3,7 3,4 2,8 2,1 1,6 1,2 0,8
Acesso a telefone celular 34,3 32,3 29,6 24,7 19,7 16,7 14,1 10,7 9,1 5,5
Acesso a internet 69,0 67,3 65,6 64,8 62,9 58,2 52,1 47,8 22,5 35,0
Educação                    
Inicio do Ensino Fundamental na idade certa 7,8 7,9 7,9 8,2 7,6 8,0 8,3 8,5 8,4 8,8
Frequenta a pré-escola, idade 4-5 anos 10,4 10,2 9,6 8,6 8,6 7,2 6,2 6,1 4,8 4,3
Frequenta a escola, idade 10-14 anos 1,1 0,9 0,8 0,9 0,8 0,8 0,7 0,4 0,5 0,4
Fonte: Elaboração própria usando dados da PNAD.

Tabela 3. Evolução do Índice de Oportunidade Humana (IOH), em %.

Dimensões de Oportunidades 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011
Habitação/Infraestrutura                    
Água 71,9 75,2 76,1 75,4 76,6 78,4 81,0 82,5 83,8 85,6
Saneamento 46,3 48,2 49,5 49,1 49,7 51,5 55,7 56,0 55,8 61,2
Eletricidade 90,0 91,8 92,4 91,6 92,2 93,5 95,2 96,3 97,2 98,2
Acesso a telefone celular 17,0 19,8 23,4 32,6 45,1 51,2 57,0 68,1 72,5 84,0
Acesso a internet 1,8 2,4 2,7 3,0 3,6 5,1 7,4 10,1 12,5 21,5
Educação                    
Inicio do Ensino Fundamental na idade certa 17,5 18,4 18,6 19,5 19,7 20,1 19,3 18,5 18,6 20,3
Frequenta a pré-escola, idade 4-5 anos 49,2 50,8 53,4 56,2 57,4 62,8 65,7 68,4 71,4 74,1
Frequenta a escola, idade 10-14 anos 95,2 96,0 96,4 95,9 96,3 96,5 96,7 97,3 97,2 98,0
Fonte: Elaboração própria usando dados da PNAD.

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16
Estudo da concentração da cadeia de
serviços no município de Campos do Jordão
2008 – 2012

Carlos Armando Benedusi Luca


Universidade de Taubaté - UNITAU

José Luís Gomes da Silva


Universidade de Taubaté - UNITAU

'10.37885/220809842
RESUMO

O objetivo deste trabalho foi caracterizar a concentração da cadeia de serviços no município


de Campos do Jordão, na formação de cadeia produtiva do turismo. A identificação do tipo
de concentração permitiu posicionar essa cadeia produtiva, na contribuição do crescimento
local, no desenvolvimento econômico e social, para a sugestão da implantação de um pólo
de desenvolvimento em sustentabilidade. A formação da cadeia de serviço foi baseada na
revisão bibliográfica, por meio dos modelos de desenvolvimento econômico e social. Os pro-
cedimentos metodológicos adotados incluem pesquisa qualitativa e quantitativa e quanto
aos seus objetivos foi utilizada a metodologia exploratória, descritiva e explicativa. Com
referência aos meios de investigação, utilizou-se a pesquisa documental e bibliográfica. A co-
leta de dados ocorreu nas entidades de classe da cidade, na associação da rede hoteleira
e nos órgãos públicos locais, sendo o período de pesquisa 2008 a 2012. Com o resultado
obtido na pesquisa desenvolvida, definindo-se os atores institucionais na concentração
da cadeia de serviço e identificado o tipo da mesma na cadeia de serviço hoteleira, como
parte integrante da cadeia produtiva do turismo, espera-se uma mudança na maneira de
pensar e agir sobre a economia local. Para tanto, deve-se analisar a proposta do “Pólo de
Desenvolvimento Sustentável”, destacando-se a importância da formação desta aglomera-
ção no desenvolvimento local.

Palavras-chave: Cadeia Produtiva, Cadeia de Serviços, Cadeia Produtiva de Turismo, Pla-


nejamento, Crescimento, Desenvolvimento Regional e Sustentabilidade.
INTRODUÇÃO

O objetivo principal deste trabalho foi caracterizar a concentração da cadeia de serviços


na formação da cadeia produtiva do turismo, enfatizando sua contribuição no desenvolvimento
econômico e social em Campos do Jordão, de 2008 a 2012, avaliando ainda a importância
dessa contribuição no desenvolvimento econômico e social da região como um todo.

Conceito de Cadeias

Cadeia Produtiva

De acordo com Silva (2012), o estudo da cadeia produtiva e serviços têm como finali-
dade mapear as etapas por onde os insumos sofrem transformações. Constituem as várias
operações integradas em unidades e interligadas, desde a extração à distribuição, ou seja,
abrange todos os agentes econômicos envolvidos na produção, distribuição e consumo.
A cadeia de suprimentos, para um melhor entendimento, é composta pelo que os au-
tores denominam de três outras cadeias que incluem num todo a estrutura, os fornecedores
e os clientes, detalhadas:
Cadeia Interna: Composta por fluxos de materiais e informações internas de
uma organização.
Cadeia Imediata: Composta por fornecedores e clientes diretos da primeira camada e
seus fluxos integrados de materiais e informações.
Cadeia Total: Composta por todos os fornecedores, clientes e suas cadeias imediatas,
seus respectivos fluxos, sendo que fornecedores e clientes de segunda camada são próxi-
mos da cadeia imediata.
Para que toda essa complexidade venha a ser bem realizada temos a Logística, que
também faz parte da cadeia produtiva e serviços. Ela tem a função de planejar, programar
e implementar o controle, com eficiência e eficácia, dos fluxos de estoque de produtos,
serviços e informações relativas a estas atividades, desde o ponto de origem até o ponto
de consumo, com o propósito de atender aos requisitos do cliente. Ela pode ser dividida em
dois tipos de atividades:
Principais: Reúnem transporte, manutenção de estoques, processamento de pedi-
dos e distribuição.
Secundárias: Reúnem o sistema de armazenagem, manuseio de materiais, embalagem,
suprimentos, planejamento, sistema de informação etc.

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265
Cadeia do Turismo

Sessa (1993) e Beni (2006) define o turismo não como atividade terciária, mas como
atividade industrial real, porque nele existe um processo de transformação de matérias-pri-
mas, para a elaboração de produtos que são comercializados e consumidos no mercado.
Neste contexto, Balanzá e Nadal (2003) enfatizam que a formação do produto turístico en-
volve três pontos importantes:

• Atrativos Turísticos: elementos básicos a partir dos quais se desenvolve a atividade


turística – turismo natural, cultural, histórico-monumental e eventos;
• Infraestrutura Turística: elementos desenvolvidos de maneira a permitir que o turis-
ta atenda suas necessidades básicas e desfrute dos atrativos do destino; e
• Produto Turístico Global: conjunto de elementos tangíveis e intangíveis organiza-
dos de maneira que possam satisfazer as percepções e expectativas de um deter-
minado segmento de mercado.

Cadeia de Suprimento

Em termos gerais as empresas produtoras não possuem unidades fabris de transforma-


ção nos municípios consumidores, porém utilizam-se da infraestrutura dos mesmos, como a
logística para comercialização dos seus produtos e serviços, formatando a cadeia de serviço.

Cadeia de Serviço

Para Castelli (2006), o Ser Humano é o elemento central em uma cadeia de serviços e
podem-se definir os serviços como uma experiência de vida. Gronroos (2003) destaca outro
enfoque de classificação dos serviços, segundo sua utilização, como serviços high-touch:
dependem muito de pessoas no processo de produção do serviço; e serviços high-tech:
são predominantemente baseados na utilização de sistemas automatizados, tecnologia de
informação e outros tipos de recursos físicos.
Nessa linha de pensamento destacam-se Lovelock e Wright (2006), que propõem três
níveis de contato com o cliente, representando o grau de interação com o pessoal de servi-
ços, com os elementos físicos do serviço ou com ambos que são:

• Serviços de Alto Contato: são aqueles nos quais os clientes, ao longo da prestação
do serviço, são ativamente envolvidos.
• Serviços de Médio Contato: são aquelas situações em que os clientes visitam as
instalações do fornecedor do serviço e mantém um contato moderado com a pres-
tação de serviços. e

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• Serviços de Baixo Contato: envolvem pouco ou nenhum contato direto entre clien-
tes e fornecedores de serviço.
• Gianesi e Correa (1996) destacam que o nível de contato que uma empresa de
serviço pretende ter com seus clientes é o principal fator a influenciar na definição
do sistema de serviços, que podem ser:
• Front Office ou Linha de Frente: são prestações de serviço que têm um nível de
contato alto com o cliente. Exemplo: salão de um restaurante; e
• Back-Office: São aquelas atividades de retaguarda que apresentam baixo contato
com o cliente. Ex: cozinha de um restaurante.

Arranjo Produtivo Local – APL

Para desenvolver o conceito de Arranjo Produtivo Local é necessário retomar o conceito


de cadeias produtivas e serviços, permitindo uma visão mais abrangente do estudo. De acor-
do com Galvão e Vasconcelos (1999) há alguns tipos de APLs:

• Agrupamento Potencial: Quando existe na região uma concentração de atividades


produtivas que apresente alguma característica comum;
• Agrupamento Emergente: No local ocorre a presença de empresas de vários tama-
nhos tendo como característica comum o desenvolvimento de ações de interação
entre os agentes existentes na região ou setor;
• Agrupamento Maduro: Quando ocorre uma concentração local de atividades, tendo
em comum, a existência de uma base tecnológica significativa;
• Agrupamento Avançado: A principal característica é um alto nível de coesão interna
de organização entre os agentes internos e externos;
• Cluster: Apresenta características de agrupamento maduro quanto a seu grau de
coesão interna; e
• Polo Tecnológico: É definido como um agrupamento maduro em que estão reuni-
das empresas intensivas em conhecimento.

Clusters

A organização pode variar em tamanho, amplitude e estágio de desenvolvimento, po-


dendo-se identificar a Temática, a Taxionomia e suas características, conforme De Sordi e
Meirelles (2012).

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Arranjo Interorganizacional

Aglomeração: Especialização de uma cidade ou região que se torna fator de atração


de compradores e de fornecedores para aquela cidade ou região.
Arranjo Produtivo Local: À medida que a aglomeração cresce, ela passa a atrair para o
entorno os produtores das principais matérias-primas e insumos utilizados pelas empresas
que a compõem induzindo mais firmas compradoras e se instalarem perto dos fornecedores;
carece de estruturas de governança.
Sistema Produtivo Local: É um APL que evoluiu e constitui estruturas de governança.

Maturidade Tecnológico

Artesanal; Baseado em empresas com modo de produção artesanal recorrendo a téc-


nicas e equipamentos tradicionais.
High-tech: Constituído por empresas com alto investimento em Pesquisa &
Desenvolvimento, reservas vastas de capital de risco e excelência em produtos de tec-
nologia intensiva.
Cluster com grandes empresas: Baseado na presença de grandes empresas para
o apoio institucional regional, favorecendo treinamentos com alta qualificação, educação,
Pesquisa & Desenvolvimento e infraestrutura de comunicação.

Produção

Cluster Ativo; Concentração geográfica de empresas conexas que através de interação e


interdependência conseguem maiores volumes de produção do que operando isoladamente.
Cluster Latente: Longe de seu principal (na maior parte dos casos porque a interação
entre agentes econômicos é ainda fraca).
Cluster Potencial: Denota ainda a ausência de atributos e pré-requisitos importantes
para o alcance das plenas vantagens da concentração geográfica.

Desenvolvimento

Cluster Embrionário: Limita-se quase que totalmente ao mercado local, caracterizan-


do-se pela presença de empresas que atuam como subcontratadas de grandes empresas,
as quais, em geral, localizam-se fora do contexto local.
Cluster Consolidado: Tem capacidade de conquistar um mercado mais ampliado, con-
tando com empresas mais especializadas e passando a ter uma identidade e uma efetiva
imagem de um cluster.

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Cluster Maduro: Desenvolvem e sedimentam uma habilidade de inovar com sucesso,
passando a gerar uma produção dotada de maior valor agregado e alcançando um âmbito
internacional de atuação e competitividade; as estruturas intermediárias de governança
possuem um papel vital.

Arranjo Interorganizacional

Distrito Industrial Marshalliano: Estrutura de produção dominada por pequenas empre-


sas, concentradas geograficamente; reduzidas economias de escala; elevada cooperação
entre agentes econômicos das várias fases do ciclo de produção; reduzida ou inexistente
interação com agentes externos ao próprio Distrito Industrial
Distrito Hub-and-Spoke: Determinadas empresas mãe e filiais funcionam como ânco-
ras na economia regional, apoiadas por fornecedores e atividades correlacionadas que se
dispersam em seu redor; os investimentos públicos possuem papel relevante na construção
da infraestrutura de apoio à atividade empresarial.
Plataforma Satélite: Desenvolve-se sob a égide do governo nacional ou local e sua
estrutura econômica é dominada por um conjunto de filiais de grandes empresas localizadas
no exterior do distrito; é fraca a interação no interior do distrito entre fornecedores / clientes.

Inovação

Cluster Local: As empresas são competitivas e exploram atividades conexas assentadas


nas competências básicas existentes.
Cluster Industrial: Há especialização, diversificação expansão e adensamento de ativi-
dades e complementaridades no interior do cluster, deslocando o centro de gravidade para
atividades menos suscetíveis à concorrência.
Cluster Regional; Empresas identificam oportunidade de diversificação a partir das
competências básicas e da exploração de sinergias entre dois ou mais clusters industriais.
Megacluster: Existência de diálogo entre atores empresariais, o Estado, as Universidades
e Institutos Tecnológicos sobre eventuais concentrações de esforços para reforçar posições
numa área funcional com procura dinâmica e / ou para ascender na cadeia de valor e enri-
quecer a presença já existente numa área funcional.
Da mesma forma De Sordi e Meirelles (2012) sintetizam as características de concen-
tração de atividades produtivas:
Marshall (1982): Arranjo Interorganizacional - As características são enfatizadas pela
maturidade tecnológica, onde empresas artesanais com seus equipamentos tradicionais
crescem e desenvolvem-se favorecendo os seus investimentos em tecnologia.

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Amim (1994) / Albu (1997): Maturidade Tecnológica - As características de aglomeração,
arranjo produtivo local e sistema produtivo local, demonstram uma evolução dos conceitos
em cada momento em que ocorre uma maior concentração das atividades produtivas.
Enright (1996): Produção - A produção é como a principal evolução de Cluster pelas
vantagens da concentração geográfica.
Bianchi (1996): Desenvolvimento - O desenvolvimento é a principal característica para
a evolução e amadurecimento de um Cluster.
Markusen (1996): Arranjo Interorganizacional - O arranjo interorganizacional é a prin-
cipal característica de crescimento e aprimoramento de um Cluster.
Chorincas, Marques e Ribeiro (2001): Inovação - A inovação é a principal característica
de crescimento de um Cluster, enfatizando as competências dessas empresas e a existência
de diálogo entre os atores envolvidos demonstra maturidade.

Teorias de Desenvolvimento

Dois modelos centrais da macroeconomia clássica são descritos:

• A “lei dos mercados” - conhecido como Lei de Say (1803) segundo Hunt e Sherman
(2004), esclarece que a oferta cria uma demanda da mesma magnitude. Ele afirma-
va que “Produção abre caminho para Produção”; e
• A teoria quantitativa da moeda, que, partindo da equação de trocas, concluía que
sendo a velocidade da moeda constante e dada uma determinada quantidade de
moeda, a produção variava em relação inversa e proporcional aos preços.

Desenvolvimento Sustentável Econômico e Social

Myrdal (1961) expressa que “desenvolvimento econômico” em um determinado país,


estado ou região em desigualdade interna encontra-se em comparação com as desigualda-
des de outros países, estados e regiões.
Para ele é fácil ver como a expansão em uma localidade produz “efeitos regressivos”
(backwash effects) em outras. Isto é, os movimentos de mão-de-obra, capital, bens e serviços
não impedem por si mesmos, a tendência natural à desigualdade.
Em contraponto têm-se os “efeitos propulsores” (spread effects) centrífugos, que se
propagam do centro de expansão econômica para outras regiões. É natural que toda região
situada em torno de um ponto central de expansão se beneficie dos mercados crescentes
de produtos agrícolas e seja paralelamente estimulada ao progresso técnico.

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Alguns conceitos da dinâmica territorial do desenvolvimento expresso por Dallabrida e
Becker (2000) podem ser relatados para aprimorar o conceito de desenvolvimento econô-
mico, conforme pode ser observado:
Espaço: Refere-se á totalidade dos lugares, entendendo lugar como a expressão
materializada do global, produzido na articulação contraditória entre a mundialidade e
a especificidade.
Região: Pode ser definida como o Locus de determinadas funções da sociedade total
em um momento dado, ou seja, um subespaço nacional total.
Território: Significa terra pertencente a alguém. Pertencente, entretanto, não se vincula,
necessariamente, à propriedade da terra, mas a sua apropriação.
TDR – Territorialização, Desterritorialização, Reterritorialização: É resultante do con-
ceito de território. Territorialização é o processo de apropriação do espaço, seja através de
uma ação do setor público ou privado. Toda forma de ocupação ou apropriação do espaço
provoca diferentes formas de desterritorialização. Já a reterritorialização é o processo de
assentamento dos desterritorializados.
Dinâmica Territorial do Desenvolvimento: Diz respeito às diferentes formas de os atores
/ agentes locais / regionais organizarem-se para atuarem no processo de ordenamento /
reordenamento do território, para atuarem no processo de desenvolvimento local / regional.
Desenvolvimento Local / Regional: Refere-se a um determinado processo de territoriali-
zação que contempla a dimensão da reterritorialização, capaz de estimular as potencialidades
e contribuir para a superação dos desafios locais / regionais.
Na tomada de decisão sobre qual modelo econômico utilizar deve-se atentar aos desa-
fios para sua implantação. O primeiro desafio teórico seria compatibilizar retornos crescentes
com concorrência perfeita e o segundo seria formular modelos de crescimento endógeno
com concorrência monopolista. Esses desafios evoluíram em três tipos de modelos:

• Spillovers: que explicam o crescimento por meio das externalidades positivas da


acumulação de capital humano e de conhecimento.

A teoria do Crescimento Endógeno, que emergiu a partir dos artigos de Romer (1986)
e Lucas (1988), enfatizado por Clemente e Higachi (2000) introduz incentivos para firmas
ou indivíduos investirem não apenas em capital físico, mas também em inovações e na
acumulação de capital humano.

• Lineares: que preservaram a importância do processo de acumulação de capital


para o crescimento, mas introduziram novos fatores endógenos, acumulação de
capital humano e de conhecimento.

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• Inovação tecnológica: que considera a fonte básica do crescimento, a própria ino-
vação, traduzido no resultado deliberado pela busca de poder de monopólio tem-
porário ou permanente.

Para melhor esclarecimento, os dois primeiros modelos–Lineares e de Spillovers, têm


como foco a aproximação ao fenômeno do crescimento econômico, pois buscam capturar
seus determinantes mais imediatos. Identificam-se com os conceitos de Dallabrida e Becker
e de Corrêa, por poder utilizar a territorialidade de uma forma política ciente, estimulando
as potencialidades regionais.
Para Schumpeter (1970), a inovação tecnológica justificaria lucros diferenciados para
as empresas, com destaque para aquelas que, ao inovarem, estimulam o crescimento eco-
nômico e recebem como “prêmio”, um lucro maior que o obtido pela concorrência. Ainda o
autor, a inovação tecnológica é um centro gravitacional da dinâmica das economias capi-
talistas que, pela noção da “destruição criativa”, destrói a base produtiva velha para impor
uma nova, tendo o processo de geração e difusão das novas tecnologias assumida um papel
fundamental no arcabouço neo-Shumpeteriano.
Podem-se distinguir duas subclasses de modelos de crescimento endógeno basea-
dos na inovação:

• Modelos de Crescente Variedade de Produtos: onde novos produtos são agrega-


dos à função de produção ou de utilidade, ao mesmo tempo em que supõem retor-
nos crescentes dinâmicos de escala ou preferência pela variedade; e
• Modelos Evolucionistas: que têm como ponto de partida uma analogia biológica ex-
plícita com base no qual constrói um referencial dinâmico para abordar a inovação
e o desenvolvimento econômico de uma perspectiva Schumpeteriana.

Teoria de Crescimento

Vários autores expressaram o conceito da diferença entre desenvolvimento e cresci-


mento econômico, assim descritos:
Jaguaribe (1962): O desenvolvimento depende dos valores de cada sociedade, de certo
modo pode até se opor à idéia de progresso econômico, pois seu objetivo é mais do que a
oferta de bens e serviços resultantes do aumento de produtividade.
Sachs – Hunt (1981): O desenvolvimento baseia-se na capacidade de um povo em
pensar a seu próprio respeito, dotar a si mesmo de um projeto, o que, evidentemente, remete
à cultura e à ética com suas vertentes: solidariedade sincrônica com a geração presente e
solidariedade diacrônica com as gerações futuras.

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Vaz (2005): A quantidade de recursos financeiros ou bens, que possibilite o aumento
da produção e da produtividade é importante para o desenvolvimento econômico, mas uma
melhor distribuição dos recursos é capaz de harmonizar o desenvolvimento contribuindo
para a melhoria da qualidade de vida.
Sen (2010): Desenvolvimento econômico significa aquilo que os agentes econômicos
possam usufruir a partir de suas posses e não necessariamente ter mais posses. Uma região
desenvolvida é aquela em que os indivíduos possam desfrutar das liberdades individuais,
para atender a seus desejos, associada ao comprometimento social institucional.
Clemente e Higachi (2000): O crescimento econômico refere-se ao crescimento
da produção e renda, enquanto o desenvolvimento econômico, à elevação do nível de
vida da população.
Essas variáveis conceituais diferem conforme as várias correntes do pensamento
econômico, segundo Hunt (1981), assim descritas:
Smith (1776): A riqueza de uma nação constitui o trabalho produtivo e a especialização
que depende das ações individuais.
Malthus (1798): No seu ensaio sobre a população defende fim das leis dos pobres,
pois cada um deve ser responsável por seu sustento e de sua família.
Ricardo (1799): Defende a concentração de renda em favor dos capitalistas urbanos
industriais, por serem responsáveis pela acumulação que determina o crescimento econô-
mico, gerando mais empregos e desenvolvimento.
Keynes (1936): O desenvolvimento provém de uma participação do estado na econo-
mia com políticas de curto prazo e demanda efetiva. Pretende com isso obter o crescimento
efetivo de uma nação e o desenvolvimento no nível de vida da população.

METODOLOGIA

O tipo de pesquisa utilizado neste trabalho segue a propositura de Vergara (2000), por
ser dirigida a área de pesquisa em administração, quanto aos fins e aos meios.
Quanto aos meios a pesquisa é de caráter bibliográfico e documental sendo que na
bibliográfica foram utilizadas publicações acessíveis ao público em geral, para a obtenção
de dados referenciais teóricos já analisados e publicados nos meios escritos e eletrônicos,
enquanto na documental recorreu-se aos documentos de entidades públicas. E, quanto aos
fins foram utilizadas as pesquisas Exploratória, Descritiva e Explicativa.
Quanto à abordagem utilizou-se a pesquisa Qualitativa e Quantitativa. Na primeira
evidenciaram-se os aspectos da realidade que não podem ser quantificados, o aprofunda-
mento da informação, sua organização, buscando esclarecer o porquê dos fatos. A coleta
de dados foi realizada por meio de pesquisa bibliográfica, com base em material publicado

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em livros, revistas, redes eletrônicas, entre outros, fornecendo instrumental analítico para
posterior análise dos dados.
O contato com os órgãos municipais para a coleta dos documentos ocorreu com a
autorização do Prefeito do Município da Estância de Campos do Jordão e do Presidente da
Câmara Municipal da Estância de Campos do Jordão, o que possibilitou a coleta dos dados
para posterior análise. O período analisado foi de 2008 e 2012, por limitação à acessibili-
dade de documentos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A cadeia de serviço teve em um primeiro momento, o poder público como prestador de


serviços, por meio das instituições de ensino, das Organizações de Fomento, das Agências
de Serviços, iniciando assim a atividade da cadeia produtiva. Atualmente as empresas pri-
vadas, representadas pelas empresas privadas produtoras e prestadoras de serviço da rede
hoteleira, nas suas diversas modalidades, marcam uma forte presença na cadeia prestadora
de serviço em conjunto com o prestador de serviço público.
Mapa da Cadeia de Serviço - Estágio Atual

A Cadeia de Serviço no estágio atual.

Fonte: Autores (2012).

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PROPOSTA DE MODELO DE CADEIA PRODUTIVA DE TURISMO SUS-
TENTÁVEL

A proposta de modelo de cadeia produtiva de turismo sustentável foi elaborada em


quatro etapas, elencadas a seguir:

Proposta da Cadeia Produtiva Sustentável.


Fonte: Autores (2012).

O modelo proposto para a cadeia de turismo é um “Polo de Desenvolvimento


Sustentável”, pode ser visualizado:

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Pólo de Desenvolvimento Sustentável.

Fonte: Autores (2012).

A estrutura do Polo de Desenvolvimento Sustentável está organizada com referência


a quatro centros de desenvolvimento:
Centro de Empreendedores: tem como finalidade dar suporte ao futuro empreende-
dor, orientando-o no plano de negócio e plano de marketing, assim como na documentação
necessária para estabelecer-se no polo de desenvolvimento de empresas.
Centro Esportivo de Alto Desempenho: tem como propósito ser o núcleo de alto
desempenho na região, permitindo desenvolver algumas modalidades específicas na clima-
tização dos atletas em Atletismo, Natação, Aventura e esportes de Salão.
Centro Educacional: tem como objetivo desenvolver cursos adequados ao poder
aquisitivo dos futuros profissionais da periferia de cidade, agregando conhecimento e cultura
aos profissionais das diversas áreas de atuação, das várias atividades da cadeia produtiva,
para suporte acadêmico necessário à consolidação do Polo de Desenvolvimento Sustentável;
Centro de Estudos “Observatório”: será o núcleo de inteligência. A coleta de dados
dará suporte ao centro estatístico, ao estudo de mercado e mapeamento urbano (centro e

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periferia), além de possibilitar o desenvolvimento do planejamento urbano e turístico, bem
como a elaboração do plano de comunicação turístico para o mercado nacional e internacional.

CONCLUSÃO

A análise da cadeia de serviço, sob o enfoque de cadeia produtiva é recente no Brasil


e a pesquisa realizada no município de Campos do Jordão teve como objetivo caracterizar
o tipo de concentração daquela cadeia especificamente na formação da cadeia produtiva
do turismo. A identificação dos atores institucionais na cadeia de serviço permitiu discutir a
contribuição dos vários tipos de concentração dessa cadeia, bem como sua participação no
desenvolvimento econômico e social da cidade, contribuindo também para uma proposta
de modelo de cadeia produtiva de turismo sustentável.
Concluindo, a realização deste trabalho propondo um modelo de “Polo de
Desenvolvimento Sustentável” reafirma a convicção de que sua implantação poderá a cur-
to/médio/longo prazos alavancar além do crescimento, o desenvolvimento da população
residente da cidade como um todo, nos aspectos socioeconômicos.

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Estudo sobre a Hipótese de Fragilidade
Financeirade Hyman Minsky aplicada ao
estado de Minas Gerais no período 2008-
2018

Cláudio Roberto Caríssimo


Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL

Rogério César Corgosinho


Centro Universitário UNA

Antônio Carlos dos Santos


Universidade Federal de Lavras - UFLA

Artigo original publicado em: 2021


Desenvolvimento em Questão - ISSN 2237-6453.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/220709444
RESUMO

O objetivo deste trabalho foi aplicar os conceitos da Hipótese de Fragilidade Financeira


para as contas públicas do Estado de Minas Gerais no período de 2008 a 2018. Conforme
a Hipótese de Fragilidade Financeira (HFF) apresentada por Minsky, a forma como são
previstos e realizados fluxos futuros de receitas esperadas e, em contraponto, as despesas,
revela como resultado posições financeiras de suficiência, moderada restrição ou completa
insuficiência, nomeadas por hedge, especulativa e ponzi, respectivamente. Os estudos so-
bre a HFF também são adaptáveis para testar a fragilidade das finanças públicas, isto é, a
capacidade de um governo de sustentar suas dívidas e demais despesas. A base de dados
foi o Balanço Orçamentário. Foi apurada posição de financiamento ponzi para o Estado nos
anos de 2011 a 2017, e especulativa para os anos de 2009, 2010 e 2018. Considera-se per-
tinente a utilização dos estudos sobre a Hipótese de Fragilidade Financeira quando aplicados
ao setor público, podendo ser instrumento de análises complementares sobre a fragilidade
financeira de entes governamentais, reforçando, assim, seu conteúdo teórico e empírico.

Palavras-chave: Fragilidade Financeira, Minsky, Setor Público, Minas Gerais.


INTRODUÇÃO

Políticas fiscais são instrumentos que auxiliam os governos na execução de suas po-
líticas públicas, seja no aspecto da geração de recursos seja no gasto. No que se refere à
geração de recursos públicos, esses podem ser por meio de arrecadação ou endividamen-
to. O endividamento governamental não necessariamente sinaliza fragilidades ou condição
negativa de um governo. O endividamento público pode ser instrumento para alavancagem
de investimentos de um governo, mecanismo de alocação de recursos, fator de distribuição
equitativa no custeio de obras públicas e elemento de políticas anticíclicas na economia
(MUSGRAVE, 1973; BARRO, 1979; TERRA; FERRARI FILHO, 2020).
Apesar do endividamento público contribuir para o impulsionamento de investimentos
e/ou políticas contracíclicas, no caso brasileiro apresenta restrições, tendo o serviço da dívi-
da forte impacto nas finanças dos governos. Bresser-Pereira (1990) comentou sobre essas
restrições e sua relação com a crise brasileira na década de 80 do século 20. Para o autor,
deveria haver maior controle fiscal e maior compatibilidade entre o serviço da dívida e o
crescimento econômico e a estabilidade dos preços. Lima (2011) argumentou que Keynes
defendia o financiamento de longo prazo para despesas de capital e que uma dívida pública
elevada pode levar a restrições financeiras e reduzir os recursos públicos que poderiam ser
utilizados em programas sociais. Essas restrições derivam de elevados valores utilizados
para garantir o serviço da dívida.
A contribuição de Hyman Minsky pode ajudar no entendimento das consequências da
dívida pública incorrida, assim como no diagnóstico da condição financeira dos governos.
Conforme Minsky (1986), os agentes econômicos se endividam para alavancar os seus inves-
timentos e, então, na realização dos fluxos de caixa esperados, auferir recursos suficientes
para cobrir tanto os custos de produção quanto o serviço da dívida. Em razão, no entanto,
das crises, que, conforme o autor, são cíclicas no sistema capitalista, quando essas ocorrem
e afetam os fluxos de caixa das empresas isso, de forma generalizada na economia, agrava
a situação de crise, formando o que o autor chamou de hipótese de fragilidade financeira
(MINSKY, 1986, 1992). A maneira como são previstos e realizados esses fluxos futuros de
receitas esperadas, em contraponto às despesas, re vela posições financeiras de suficiência,
moderada restrição ou completa insuficiência.
No setor público essa suficiência relaciona-se com a cobertura das despesas correntes
e de capital, inclusive o serviço da dívida. A moderada restrição decorre, porém, de sufi-
ciência para despesas correntes, contudo sem cobrir o serviço da dívida. Na situação de
insuficiência, os fluxos de receitas não são suficientes para cobrir as despesas correntes,
de capital e o serviço da dívida. Com base na contribuição de Minsky, além de apurar as
posições financeiras nas realizações dos fluxos de entradas e saídas de recursos, é possível

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também elaborar um índice para evidenciar as situações de restrições de caixa (TERRA;
FERRARI FILHO, 2020).
Inspirados nas contribuições de Minsky, Ferrari Filho, Terra e Conceição (2010) e Terra
e Ferrari Filho (2011, 2020) desenvolveram o Índice de Fragilidade Financeira Aplicada ao
Setor Público. Tal índice pode auxiliar na evidenciação das posições financeiras aplicadas
ao setor público, além de possibilitar classificações das situações de fragilidade. Apesar da
possibilidade de estudos deste tipo, no entanto, não são evidenciados muitos trabalhos que
avaliam os impactos dos gastos correntes, somados ao serviço da dívida e à consequente
posição financeira. Estudos que avaliassem o impacto das finanças estaduais e municipais,
por exemplo, sob a ótica da Hipótese de Fragilidade Financeira Aplicada ao Setor Público,
poderiam auxiliar não somente na evidenciação de segurança ou fragilidade no setor público,
mas na análise da consequência destas posições da dívida pública.
Nesse contexto, o objetivo deste artigo é aplicar os conceitos da Hipótese de Fragilidade
Financeira para as contas públicas do Estado de Minas Gerais no período de 2008 a
2018. A escolha do Estado de Minas Gerais e do período justifica-se, em primeiro lugar,
pelo período contemplar a crise estadunidense de 2008, com reflexos mundiais e a crise
nacional a partir do ano de 2014, que resultou em contração do nível econômico e queda
na arrecadação tributária. Tais restrições levaram tanto o governo federal quanto os gover-
nos estaduais e municipais a contingenciarem gastos sob pena de incorrerem em situação
financeira insustentável e descumprirem as regras da Lei de Responsabilidade Fiscal –
LRF. Em segundo lugar, os Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul
são os Estados brasileiros mais afetados pela crise financeira, conforme divulgado pela
imprensa nacional. Objetiva-se, desta forma, evidenciar a posição de financiamento deste
Estado no período de 2008 a 2018, contribuindo, assim, com mais um mecanismo para o
entendimento da crise fiscal sofrida pelos governos e da possibilidade da aplicação empírica
da Hipótese de Fragilidade Financeira Aplicada ao Setor Público.
Para tanto, além desta introdução, o estudo está organizado em quatro outros tópicos:
referencial teórico, que aborda os principais conceitos de finanças públicas e as contribuições
do economista Hyman Minsky e sua teoria da Hipótese de Fragilidade Financeira (HFF);
procedimentos metodológicos; resultados e as possíveis necessidades de reestruturação
das contas públicas de Minas Gerais; e, por fim, as considerações finais trazem uma sín-
tese do estudo, ao mesmo tempo em que descrevem suas lacunas e sugerem temas para
futuras pesquisas. As referências bibliográficas empregadas no estudo estão expostas no
final do artigo.

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REFERENCIAL TEÓRICO

Finanças públicas e o papel do Estado

Finanças Públicas, conforme Rosen (2004), podem ser consideradas um ramo da


economia que estuda a atividade de arrecadação e gastos do Estado. Para o autor, porém,
sua atuação vai além de questões operacionais, alcançando a análise do uso dos recursos,
assim como abordagens positivas, que lidam com questões de causa e efeito dos fenômenos
relativos à área e normativas que abordam questões éticas e de escolhas públicas.
Esse ramo da economia ganhou força e relevância teórica com as contribuições de
Musgrave (1973), que, na formulação da Teoria das Finanças Públicas, destacou o papel
da política orçamentária. Além disso, chamou atenção para as três funções econômicas
dos governos: alocativa, distributiva e estabilizadora. Na função alocativa o governo bus-
ca corrigir ineficiências do sistema de mercado; na função distributiva o governo procura
amenizar os efeitos da concentração de renda; e na função estabilizadora o governo faz a
gestão das políticas monetárias e fiscal com o objetivo de assegurar estabilidade macroe-
conômica (CASE, 2008).
John Maynard Keynes desenvolveu uma teoria sobre a atuação do Estado na economia
em relação às contribuições dos governos no monitoramento e minimização de crises econô-
micas. Para Keynes, os Estados devem adotar medidas para evitar, ou pelo menos minimizar,
dois problemas intrínsecos aos ciclos econômicos: o desemprego e a inflação. As ações de
política fiscal, somadas às concomitantes medidas de política monetária, contribuem para a
estabilização econômica (MATIAS-PEREIRA et al., 2011). Na visão keynesiana das finanças
públicas, é necessária a presença estatal para amenizar as falhas de mercado.
Para Keynes, as políticas anticíclicas deveriam ser contrabalançadas. Em períodos
de crise, deveria haver redução dos impostos, aumento nos investimentos governamen-
tais, elevação do poder de compra da população, estímulo ao consumo, ou seja, aumento
da demanda total para superar a etapa depressiva e voltar a uma fase de expansão; nos
tempos de bonança econômica, a atuação fiscal seria inversa: redução dos gastos públi-
cos, elevação de impostos e amortização da dívida pública emitida durante a depressão
(MATIAS-PEREIRA, 2013).
Uma das formas de financiamento dos investimentos e também de execução de po-
líticas anticíclicas, é o endividamento público. Tal mecanismo de geração de recursos, no
entanto, pode trazer consequências nas finanças públicas decorrentes de seu serviço, ou
seja, de sua amortização e dos juros. O contexto, porém, não se restringe a esses aspectos.
Afonso, Araújo e Fajardo (2016) destacaram a questão da sustentabilidade da dívida pública
brasileira como fator de estabilização da economia e credibilidade dos governos. Os autores

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ressaltaram, ainda, problemas referentes ao endividamento externo e das altas taxas de
juros que, por sua vez, impactam o orçamento público. Deve ser destacado que esse pro-
blema da dívida pública, seus reflexos no orçamento e na sua sustentabilidade, é sentido
em âmbito mundial, principalmente em países emergentes e subdesenvolvidos, conforme
apresenta Easterly (2001).
Nas finanças públicas estaduais o endividamento, do mesmo modo, é motivo de res-
trições, impactos orçamentários e políticas de governo. No caso dos Estados brasileiros,
Caldeira et al. (2016) realçam que no primeiro trimestre de 2014 seu impacto era de 10,7%
do PIB brasileiro e que na década de 90 contribuiu para uma crise de dívidas estaduais,
levando a um processo de repactuação com a União em 1997. Anteriormente, no entanto,
em 1993, já havia sido estabelecida uma negociação das dívidas estaduais com a União.
Uma das motivações desta crise foram os altos juros e o descontrole dos gastos, porém
nessa negociação não havia o estabelecimento de esforços de ajustes fiscais (ALMEIDA,
1996, PELLEGRINI, 2012). Já na renegociação posterior, conforme Caldeira et al. (2016),
foram estabelecidas condições de ações e controles fiscais aos Estados.
Posteriormente com a promulgação da LRF, buscou-se resguardar a sustentabilidade
das dívidas estaduais para, assim, evitar condições e descontroles que levassem a novas
crises financeiras (MORA, 2016). Tais evidências apresentadas por estes diversos autores
levam à reflexão do impacto na gestão da dívida no orçamento e finanças públicas e sua
capacidade de levar a posições de fragilidade financeira. Nesse aspecto, as contribuições de
Hyman Minsky quanto à hipótese de fragilidade financeira podem auxiliar na compreensão
das crises econômicas e dos governos, assim como instrumentos para sua evidenciação ou
até mesmo controle e prevenção.

Hipótese de Fragilidade Financeira (HFF) de Hyman Minsky

A contribuição de Hyman Minsky quanto à hipótese da instabilidade financeira das


economias de mercado às mudanças no modo de produção capitalista (BAHRY; GABRIEL
2008), pode ser adaptada para testar a fragilidade das finanças públicas, isto é, a capaci-
dade de um governo sustentar suas dívidas e demais despesas. Os trabalhos de Ferrari
Filho, Terra e Conceição (2010) e Terra e Ferrari Filho (2011, 2020) adaptam a Hipótese de
Fragilidade Financeira (HFF) de Minsky para analisar o grau de fragilidade financeira das
contas públicas da União.
Minsky, em sua HFF, argumenta que as economias capitalistas não tendem ao equi-
líbrio. A economia liberal caracteriza-se por um sistema financeiro complexo e seu desen-
volvimento ocorre acompanhado por trocas de dinheiro presente por dinheiro futuro, isto
é, entre agentes superavitários que almejam poupar/investir e aqueles que são deficitários

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e necessitam captar recursos. Por isso, a economia capitalista é naturalmente instável,
apresentando endividamento crescente em razão de os agentes econômicos necessita-
rem financiar seus investimentos, ocasionando ciclos de inflações e deflações de dívidas
(BAHRY; GABRIEL, 2008).
Minsky (1992, 2013) demonstra que as expectativas dos agentes econômicos mudam de
acordo com o ciclo econômico. No início, os preços dos ativos são estabelecidos de maneira
conservadora e as dívidas assumidas são pequenas em relação a estes ativos. Na fase de
crescimento econômico, porém, os preços dos ativos sobem e cresce também o peso da
dívida até que os custos do endividamento das firmas superam a rentabilidade dos ativos,
induzindo uma desaceleração econômica. Conforme Minsky (1986, 1992), durante um boom
econômico a estimativa dos riscos do credor e do devedor é baixa. Isso ocorre em virtude
da situação de entusiasmo dos mercados e da racionalidade limitada dos agentes, além da
assimetria das informações. No setor público, os governantes ficam eufóricos e elevam suas
dívidas, enquanto os credores subestimam os riscos de financiar a dívida pública. Em um
ambiente de incerteza, a partir do momento em que existe algum tipo de convenção otimista
no mercado a respeito do futuro, os investidores concedem mais empréstimos e financia-
mentos para tomadores de recursos considerados mais arriscados, acabando por diminuir
a margem de segurança das operações.
Dependendo da forma pela qual se estabelece a relação entre os fluxos futuros de
receitas esperadas – que se tornam fluxos de caixa para as unidades econômicas – e os
compromissos financeiros contratados, as posições financeiras das unidades econômicas
podem ser hedge, especulativa ou ponzi (MINSKY, 1986).
Uma unidade econômica hedge é aquela em que a renda esperada da utilização dos
ativos de capital é maior do que os seus compromissos financeiros em todos os períodos.
Isto significa que essas unidades são capazes de honrar, mediante seu fluxo de renda, tanto
o pagamento do principal (amortizações) quanto dos juros, além das obrigações operacionais
(MINSKY, 1992). Quando o mercado tende ao crescimento, os investidores se endividam a
fim de conseguir vantagens investindo em ativos financeiros e de capital cujos rendimentos
esperados superam os custos do passivo contratado. Este grupo de investidores encontra-se
em posição de hedge, na qual não dependem de novos financiamentos para liquidar suas
dívidas. Essas posições são aplicadas ao mercado, mas podem também ser constatadas no
setor público. No âmbito do setor público, essa posição ocorre por meio dos resultados do
fluxo de caixa e orçamentários. A situação de hedge acontece quando as receitas totais são
suficientes para arcar com os gastos correntes e os financeiros, não havendo a necessidade
de endividamento e nem de refinanciamento (TERRA; FERRARI FILHO, 2011). No Brasil,

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uma outra forma de avaliar a sustentabilidade do serviço da dívida pública é a relação entre
o resultado primário e o serviço da dívida (LIMA; DINIZ, 2016; BOHN, 2008).
Quando uma unidade econômica é especulativa seus compromissos financeiros são
maiores do que a renda esperada para alguns períodos, mesmo que o valor presente dos
retornos previsto seja maior que o valor presente dos compromissos de pagamento ao longo
do tempo. Essas unidades apresentam um fluxo de renda almejado superior apenas ao pa-
gamento dos juros, sendo necessário obterem refinanciamento para saldar o principal. Nesse
caso, existe uma vulnerabilidade na eventualidade de aumento das taxas de juros (MINSKY,
1992). No setor público, isso é nítido quando as receitas totais superam apenas os gastos
correntes, mas não as despesas financeiras. Dessa forma, não há margem de segurança,
somente superávits sobre os gastos correntes. Nessa situação, é preciso recorrer ao mer-
cado financeiro para captar recursos que possibilitem postergar o endividamento. Para sair
dessa situação, a administração pública, em algum momento, deverá expandir suas receitas
o suficiente para cobrir seus gastos totais, ou seja, tanto as despesas correntes quanto as
de capital (TERRA; FERRARI FILHO, 2011).
A unidade econômica ponzi apresenta a realização dos fluxos de renda esperados
de forma insuficiente para cumprir com o serviço da dívida, necessitando, assim, de em-
préstimos para poder rolar os compromissos de suas obrigações. Os agentes em situação
ponzi esperam que o valor presente de suas receitas líquidas sejam maiores do que seus
compromissos ao considerar um prazo mais longo. Tanto a unidade especulativa quanto a
ponzi necessitam de empréstimos adicionais para realizar seus compromissos. O montante
que a unidade especulativa necessita, entretanto, é menor que a sua dívida vincenda, en-
quanto a unidade ponzi amplia suas dívidas (MINSKY, 1992). Nesta posição, os investidores
não conseguem, com o seu fluxo de caixa ou com o estoque de ativos, sequer efetuar os
pagamentos dos juros da dívida, de maneira que é necessário realizar outros empréstimos
para liquidar a dívida já existente. No caso da posição ponzi, a dívida é crescente e tende
a ser insustentável no médio e no longo prazos.
No setor público a situação é semelhante quando a condição financeira não permite
pagar os gastos correntes, inviabilizando a amortização da dívida e o pagamento dos juros.
Não há margem de segurança nessa posição; é a situação mais vulnerável, pois nela é
necessário reestruturar os dispêndios correntes, gastos financeiros e a própria arrecada-
ção. A situação ponzi tem o potencial de afetar negativamente a produção nacional, uma
vez que há o deslocamento de renda do setor privado para o financiamento dos gastos
públicos. Isso impede o aumento dos investimentos produtivos, reduzindo o crescimento
e, consequentemente, a arrecadação do setor público (TERRA; FERRARI FILHO, 2011).

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Em suma, estas são as posições financeiras assumidas pelo setor público sob a ótica
da Hipótese de Fragilidade Financeira de Minsky. Em geral, pode ocorrer a passagem da
posição hedge para a especulativa e, depois, ponzi, em contexto de depreciação da gestão
das finanças públicas ou em decorrência da queda da atividade econômica derivada da
redução dos investimentos privados, com a consequente redução das receitas.

Apuração dos índices da HFF aplicados ao setor público

Ferrari Filho, Terra e Conceição (2010), Terra e Ferrari Filho (2011, 2020) inovaram
ao aplicar ao setor público a contribuição de Minsky (1992) sobre a Hipótese de Fragilidade
Financeira. Os autores elaboraram uma análise da estrutura financeira das contas públicas
da economia brasileira entre 2000 e 2009 e, posteriormente, de 2000 a 2016. Para fins deste
trabalho, nos baseamos em Terra e Ferrari Filho (2011, 2020):

𝑇𝑇 + 𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅 − 𝐺𝐺 > 𝐺𝐺𝐺𝐺 + 𝐺𝐺𝐺𝐺 (1)

onde,
T são os tributos arrecadados; Rof representa as receitas de outras fontes; G são os
gastos correntes; Ga são os gastos financeiros com amortização; e Gi são gastos financeiros
com pagamento de juros.
Assim, de acordo com o arcabouço teórico e com as adequações propostas por Terra
e Ferrari Filho (2011, 2020), se

𝑇𝑇 + 𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅 − 𝐺𝐺 > 𝐺𝐺𝐺𝐺 + 𝐺𝐺𝐺𝐺


haverá posição de financiamento hedge, ou seja, o ente público é capaz de cumprir


com seus compromissos na gestão dos serviços públicos mais os gastos contratuais do
serviço da dívida pelos seus fluxos de caixa.

Se: 𝐺𝐺𝐺𝐺 + 𝐺𝐺𝐺𝐺 > 𝑇𝑇 + 𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅 − 𝐺𝐺 > 𝐺𝐺𝐺𝐺

haverá posição financeira especulativa, isto é, os recursos arrecadados na tributação


e outras receitas, exceto as operações de crédito, deduzindo os gastos correntes, são
menores que os gastos com juros e amortização da dívida, porém maiores que os juros
isoladamente. Nessa situação, conforme Minsky (1992), pelo menos os encargos dos fi-
nanciamentos são suportados.

Se 𝑇𝑇 + 𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅 − 𝐺𝐺 < 𝐺𝐺𝐺𝐺

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haverá posição de financiamento ponzi, ou seja, o ente público, tendo realizado as
arrecadações das receitas tributárias, outras receitas correntes, exceto as operações de
crédito, e deduzido os gastos correntes, não é capaz sequer de cumprir com seus compro-
missos dos encargos financeiros do financiamento.
Para a análise dos índices de fragilidade financeira, esses são calculados pela seguinte
fórmula, de acordo com o modelo proposto por Terra e Ferrari Filho (2011):

𝑇𝑇 + 𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅 − 𝐺𝐺
= 1 (2)
𝐺𝐺𝐺𝐺 + 𝐺𝐺𝐺𝐺

Essa equação representa o ponto de equilíbrio em que o resultado das arrecadações


das receitas tributárias, outras receitas correntes e mais as receitas de capital, exceto as
operações de crédito, e deduzido os gastos correntes, é igual aos gastos com os juros e
amortizações. Equivale ainda à seguinte equação:


𝑇𝑇 + 𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅 − 𝐺𝐺 = 𝐺𝐺𝐺𝐺 + 𝐺𝐺𝐺𝐺 (3)

As posições financeiras e os respectivos índices serão evidenciados da seguinte forma:

Quadro 1. Índices das posições de financiamento.

Índice apurado Posição

𝑇𝑇 + 𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟 − 𝐺𝐺
<1 Posição de financiamento hedge
𝐺𝐺𝐺𝐺 + 𝐺𝐺𝐺𝐺

! # $%& '(
() # (*
> 0 <1 Posição de financiamento especulativa

𝑇𝑇 + 𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟 − 𝐺𝐺
<0 Posição de financiamento ponzi
𝐺𝐺𝐺𝐺 + 𝐺𝐺𝐺𝐺

Fonte: Adaptado de TERRA; FERRARI FILHO (2011).

Conforme o Quadro 1 – Índices das Posições de Financiamento –, caso a proporção


das receitas tributárias, somadas às outras receitas correntes, deduzindo os gastos corren-
tes, divididos sobre os gastos financeiros com amortização e com pagamento de juros, seja
maior que 1, representa a posição de financiamento hedge. Estando o índice apurado maior
que zero e menor que um, ou seja, representando um número positivo em que o resultado
da arrecadação é capaz de, pelo menos, suprir os gastos correntes, evidencia uma posição
financiadora especulativa. Por consequência, apurando um índice menor que zero, ou seja,
negativo, a fonte de receitas sequer supriu os gastos correntes, e o índice negativo repre-
sentará uma posição ponzi.

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METODOLOGIA

Esta é uma pesquisa descritiva, com abordagem quantitativa. O objetivo é a análise da


Hipótese de Fragilidade Financeira, proposta por Minsky (1992), aplicada ao setor público,
conforme método apresentado por Ferrari Filho, Terra e Conceição (2010) e Terra e Ferrari
Filho (2011, 2020). Argitis e Nikolaidi (2014) realizaram estudo similar para avaliação dos
índices de fragilidade financeira do governo grego no período de 1999 a 2012, adaptando
estes às finanças do país. A análise da HFF será realizada sobre as finanças do Estado de
Minas Gerais no período de 2008 a 2018.
Os dados foram obtidos do portal da Secretaria do Tesouro Nacional – STN –, na par-
te de execução orçamentária dos Estados, disponível em http://www.tesouro.fazenda.gov.
br/contas-anuais. A base de dados foi o Balanço Orçamentário. Dessa forma, as variáveis
propostas por Terra e Ferrari Filho (2011, 2020) foram obtidas e ajustadas conforme as
contas disponíveis no referido balanço. Os Gastos Correntes correspondem às despesas
correntes. Do valor das despesas correntes foram deduzidos os gastos com juros e encargos
financeiros por dois motivos: primeiro, porque na apuração do índice
é utilizada a variável Gastos Financeiros com Juros – Gi; segundo, porque deven-
do a variável Gi ser evidenciada isoladamente, deve ser deduzida do total das Despesas
Correntes, posto que fazia parte de sua formação.
A utilização dos dados oriundos da execução orçamentária é necessária pelos se-
guintes motivos: 1) as variáveis evidenciadas nesta demonstração estão de acordo com as
variáveis propostas no modelo de Terra e Ferrari Filho (2011, 2020); 2) na demonstração
da execução orçamentária são apresentadas as receitas realizadas e as despesas empe-
nhadas e liquidadas. As despesas empenhadas representam aquelas em que o governo
reconheceu a obrigação de execução. As despesas liquidadas representam a fase seguinte
da execução orçamentária, na qual foi verificado o direito do credor e a obrigação do ente
governamental de pagar (BRASIL, 2018). Desta forma, mesmo as despesas ainda não pa-
gas, ou seja, em que não houve saída de caixa, devem ser reconhecidas conforme o regime
contábil da competência.
As demonstrações contábeis, Balanço Financeiro e Demonstração dos Fluxos de Caixa
evidenciam apenas as entradas e saídas efetivas de caixa, ou seja, os fluxos realizados.
Não havendo o pagamento da obrigação, esta não é deduzida do saldo da conta, não reco-
nhecendo um passivo e nem se incorporando às despesas, posto que não houve a efetiva
saída de caixa. Assim, restrições em razão de insuficiência de caixa não são evidenciadas
nestas demonstrações, uma vez que não havendo o pagamento não há o reconhecimento.
Nesse sentido, o Balanço Orçamentário, ou mesmo as planilhas de execução orçamentária
divulgadas no portal da STN, são adequados em razão de permitirem a apuração de situações

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com fragilidade financeira, assim como o processo de rolagem da dívida, possibilitando a
constatação das posições ponzi, especulativa e hedge.
A variável Gastos Financeiros com Amortização – Ga – foi obtida do grupo Despesas
de Capital, Amortização da Dívida. A variável Tributo foi obtida do grupo Receitas Tributárias,
sendo um subgrupo das Receitas Correntes. A variável Demais Receitas Correntes cor-
responde à variável Receitas de Outras Fontes – Rof – utilizada em Terra e Ferrari Filho
(2011), sendo o total das Receitas Correntes deduzidas as Receitas Tributárias. Foram
excluídas as Receitas de Capital e, por consequência, as receitas de operações de crédito.
Tal exclusão, no entendimento dos autores deste artigo, justifica-se em virtude de que a sua
inclusão acarretaria uma inferência imprópria, posto que a evidenciação das posições de
financiamento, conforme exposto por Minsky (1992), apura a condição financeira do ente,
baseado na geração própria de recursos.
A escolha do Estado de Minas Gerais deve-se aos seguintes motivos: 1º) apesar de os
estudos de Minsky terem como objetivo discutir procedimentos para as ações estabilizadoras
na economia, a apuração das posições financeiras representa a etapa de diagnóstico da
condição da entidade a ser analisada. Dessa forma, entende-se que, mesmo sendo um ente
subnacional, a aplicação da Hipótese de Fragilidade Financeira Aplicada ao Setor Público
é válida em razão de sua capacidade de diagnóstico e evidenciação das posições e índices
de fragilidade financeira; 2º) o Estado de Minas Gerais, assim como o Rio de Janeiro e Rio
Grande do Sul, representa um dos Estados brasileiros com desequilíbrio em suas finanças,
conforme apontado pela Secretaria do Tesouro Nacional (BRASIL, 2019). Dessa forma, a
evidenciação da posição de financiamento deste Estado no período de 2008 a 2018, pode
contribuir para o entendimento da crise fiscal sofrida pelo governo de Minas Gerais.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

De posse dos dados obtidos no portal da STN, com os devidos ajustes, foram elabora-
das planilhas, matriz de correlação, estatística descritiva dos dados e o cálculo dos índices
de posição de financiamento, conforme descrito no referencial teórico.
As receitas e despesas, de acordo com o método proposto por Terra e Ferrari Filho
(2011), são apresentados na Tabela 1.

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Tabela 1. Recursos arrecadados, gastos correntes, amortização e juros (Valores nominais em milhares).
Gastos Financeiros Gastos Financeiros
Ano Tributos Demais Rec. Corr. Gastos Correntes
Amortiz. Juros
2008 23.198.993 11.497.213 31.057.568 529.545 2.544.019
2009 22.694.164 10.156.273 32.132.220 1.098.021 2.197.016
2010 26.830.039 10.761.705 37.460.711 1.237.319 2.242.733
2011 29.591.510 12.388.287 46.215.446 1.632.101 2.568.301
2012 32.789.943 12.661.208 52.926.505 4.006.626 2.347.645
2013 37.685.690 17.921.401 58.383.663 5.211.297 2.666.432
2014 40.996.500 20.313.482 64.143.039 2.901.579 2.842.739
2015 41.920.500 23.789.311 74.695.799 3.504.239 3.309.966
2016 46.304.167 22.577.129 82.159.440 1.516.026 1.389.034
2017 50.699.149 21.048.519 90.210.420 1.515.330 2.815.773
2018 55.367.607 18.424.159 72.313.288 2.422.223 4.152.775
Fonte: Elaborada pelos autores, adaptada de Secretaria do Tesouro Nacional (BRASIL, 2018).

Na Tabela 1 são expostos os gastos correntes, amortização e juros, como também as


receitas de tributos e demais receitas correntes, conforme referencial teórico e adequações
dispostas nos procedimentos metodológicos. Os valores são nominais e em milhares. Para
uma evidenciação, excluindo os efeitos inflacionários, essas variáveis foram atualizadas pelo
índice IGP-M fornecido pela Fundação Getúlio Vargas, conforme Tabela 2.

Tabela 2. Recursos arrecadados, gastos correntes, amortização e juros atualizados (Valores reais em milhares).
Gastos Financeiros Gastos Financeiros
Ano Tributos Demais Rec. Corr. Gastos Correntes
Amortiz. Juros
2008 39.887.300 19.767.788 53.398.978 910.475 4.374.071
2009 39.699.078 17.766.447 56.209.142 1.920.776 3.843.257
2010 42.160.568 16.910.882 58.865.545 1.944.315 3.524.217
2011 44.244.458 18.522.646 69.100.136 2.440.276 3.840.056
2012 45.474.257 17.559.012 73.400.355 5.556.531 3.255.798
2013 49.527.150 23.552.599 76.728.766 6.848.772 3.504.269
2014 51.968.491 25.750.027 81.309.793 3.678.136 3.603.547
2015 48.071.032 27.279.654 85.655.089 4.018.378 3.795.601
2016 49.535.885 24.152.860 87.893.615 1.621.834 1.485.979
2017 54.528.018 22.638.132 97.023.233 1.629.770 3.028.424
2018 55.367.607 18.424.159 72.313.288 2.422.223 4.152.775
Fonte: Elaborada pelos autores, adaptada de Secretaria do Tesouro Nacional (BRASIL, 2018) e FGV (2018).

Neutralizando os efeitos inflacionários, é possível evidenciar a evolução em valores


corrigidos da arrecadação tributária, inclusive com as quedas em 2015 e 2016. Tais quedas
são decorrentes da crise nacional a partir do ano de 2014, que impactou tanto o setor público
quanto o privado. Os gastos correntes apresentaram queda somente em 2018. Os gastos com
encargos da dívida vinham mostrando crescimento, contudo, em 2016, apresentaram queda
relevante em razão da crise financeira do Estado e de uma negociação com a União, que
liberou o Estado do pagamento de R$ 3 bilhões. Em 2013 houve um crescimento relevante
na alocação dos gastos com amortização da dívida. Evidencia-se uma certa estabilização

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dos gastos com juros até o ano de 2015, porém observa-se um aumento expressivo no ano
de 2018, tanto dos gastos com os juros quanto com a amortização da dívida. Observa-se,
ainda, uma tendência de privilegiar as obrigações resultantes do endividamento público,
considerando que, em 2018, enquanto as despesas Correntes tiveram queda, o serviço da
dívida aumentou substancialmente, o que pode corroborar as pressuposições teóricas de
Minsky (1992) quanto às posições de financiamento, representando posições especulativas
ou ponzi, provenientes da insuficiência de fluxos de caixa capazes de cumprir com a ativi-
dade estatal no fornecimento de serviços e bens públicos e, ainda, honrar com os encargos
da dívida pública.
Apresenta-se a estatística descritiva das variáveis na Tabela 3.

Tabela 3. Estatística Descritiva (Valores reais em milhares).


Gastos Financeiros Gastos Financeiros
Tributos Demais Rec. Corr. Gastos Correntes
Amortiz. Juros
Máximo 55.367.607 27.279.654 97.023.233 6.848.772 4.374.071
Mínimo 39.699.078 16.910.882 53.398.978 910.475 1.485.979
Média 47.314.895 21.120.382 73.808.904 2.999.226 3.491.636
Mediana 48.071.032 19.767.788 73.400.355 2.422.223 3.603.547
Desvio-Padrão 5.490.741 3.664.490 13.844.140 1.841.607 765.494
Coef Var. 11,60% 17,35% 18,76% 61,40% 21,92%
Fonte: Elaborada pelos autores.

Realizando uma análise da estatística descritiva sobre os valores atualizados, é evi-


denciado que os Gastos Correntes apresentaram uma dispersão que variou de R$ 53,398
bilhões alcançando R$ 97,023 bilhões. A variável que mostrou a maior dispersão, todavia,
foram os gastos financeiros com amortização, apresentando, inclusive, um coeficiente de
variação de 61,40%. Tal dispersão foi motivada, em grande parte, pelo aumento nos gastos
com o juro da dívida a partir de 2017, e em 2018 o total de despesas com juros alcançou
quase três vezes o valor de 2016.
Complementando as análises estatísticas, foi elaborada uma matriz de correlação,
conforme mostra a Tabela 4.

Tabela 4. Matriz de correlação.


Gastos Financ. Gastos Financ.
Tributos Demais Rec. Corr. Gastos Correntes
Amortiz. Juros
Tributos 1,00
Demais Rec Corr 0,49 1,00
Desp. Correntes 0,81 0,71 1,00
Gastos Financ Amortiz. 0,21 0,26 0,22 1,00
Gastos Financ Juros - 0,28 - 0,31 - 0,58 0,03 1,00
Fonte: Elaborada pelos autores.

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Evidencia-se uma correlação positiva forte entre as variáveis Tributos e Despesas
Correntes. Tal resultado é esperado porque que a programação financeira dos governos se
faz por meio da arrecadação tributária, sendo, inclusive, determinada pela Lei 4.320/1964
e pela Lei Complementar 101/2000 – LRF. Foi, no entanto, apurada uma correlação forte,
mas negativa, entre as variáveis Tributo e Demais Receitas Correntes em relação à variável
gastos financeiros com juros. Ressalva-se que a matriz de correlação foi elaborada com
base nos valores das variáveis corrigidas. Reitera-se, ainda, que a análise de correlação
não é o procedimento mais indicado para analisar relações entre as variáveis e muito me-
nos causalidade, mas traz contribuições para uma ampliação nas inferências estatísticas a
serem formadas (SWEENEY; WILLIAMS; ANDERSON, 2013).
Também foi apurada correlação negativa forte entre Despesas Correntes e gastos
financeiros com juros, na ordem de -58%, correspondendo às expectativas de que quanto
maiores forem os gastos financeiros com juros menores serão os gastos correntes. Essa
posição pode ser justificada em razão de que os governos podem não cumprir com os com-
promissos totais do serviço da dívida, levando à sua rolagem, caso não realizem políticas
de austeridade fiscal, tendo em vista os compromissos com gastos no fornecimento de bens
e serviços públicos, folha de pessoal, além de saúde e educação, que têm mínimos consti-
tucionais a serem cumpridos. Ou, ainda, os governos se vêm forçados a realizar cortes nos
gastos correntes para arcar com obrigações financeiras, tendo em vista a pressão, dentre
outros, dos credores, agências de rating e governo central para cumprir com os compro-
missos assumidos da dívida pública e gerar confiança sobre a sustentabilidade da dívida.
Para a análise da posição de financiamento foi elaborada a Tabela 5 – Apuração dos
Índices de Fragilidade Financeira (IFF) – conforme a equação (2), sugeridas por Terra e
Ferrari Filho (2011). O método para a apuração do IFF é o mesmo para a apuração dos
Índices das Posições de Financiamento, conforme descrito no referencial teórico.

Tabela 5. Apuração dos índices de fragilidade financeira.

T + DRC – GC GFA + GFJ Posição Financ. IFF


2008 6.256.110.083,54 5.284.546.363,22 971.563.720,32 1,18
2009 1.256.382.036,27 5.764.032.848,41 - 4.507.650.812,14 0,22
2010 205.904.579,20 5.468.532.555,78 - 5.262.627.976,58 0,04
2011 - 6.333.032.763,39 6.280.332.110,14 -12.613.364.873,53 - 1,01
2012 - 10.367.086.500,62 8.812.328.664,57 -19.179.415.165,19 - 1,18
2013 - 3.649.016.571,82 10.353.041.300,38 -14.002.057.872,20 - 0,35
2014 - 3.591.275.264,18 7.281.683.390,45 -10.872.958.654,64 - 0,49
2015 - 10.304.402.616,36 7.813.979.082,49 -18.118.381.698,86 - 1,32
2016 - 14.204.869.858,65 3.107.812.612,45 -17.312.682.471,10 - 4,57
2017 - 19.857.083.211,78 4.658.194.335,15 -24.515.277.546,93 - 4,26
2018 1.478.477.707,71 6.574.997.588,04 - 5.096.519.880,33 0,22
Fonte: Elaborada pelos autores, adaptado de TERRA; FERRARI FILHO (2011).

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Comprovando a crise financeira que afeta o governo do Estado de Minas Gerais desde
2015, foram apurados índices de posição de financiamento especulativa nos anos de 2009
e 2010, evoluindo para uma posição de financiamento ponzi nos anos de 2011 a 2017.
Somente no ano de 2008 verifica-se uma posição de financiamento hedge. A condição
financeira do Estado foi deteriorando-se ao longo dos anos, conforme se depreende obser-
vando-se os índices, que seguiram uma tendência de queda até atingirem a situação ponzi.
Apesar de o IFF ter se mantido negativo nos anos de 2013 e 2014, nestes anos ocorreu um
aumento acima da variação do IGP-M tanto na arrecadação tributária quanto no grupo de
Demais Receitas Correntes. Este aumento foi superior à variação das Despesas Correntes
e dos encargos com juros da dívida pública, quebrando por dois períodos a tendência de
piora destes índices.
Em abril de 2015 o então secretário de Planejamento e Gestão do Estado de Minas
Gerais, Helvécio Magalhães, declarou que o Estado apresentava uma situação econômica
e financeira gravíssima (LISBOA, 2015). Segundo o secretário do governo à época, seriam
realizados corte de gastos como também restrição na capacidade de investimento. Sobre
as causas, comentou que estariam entre o custo da dívida pública para com a União e o
aumento dos gastos com pessoal desde 2007 (LISBOA, 2015). Essas afirmações do pró-
prio governo são corroboradas pelos índices de posição de financiamento apresentadas na
Tabela anterior. Destaca-se que nos anos de 2011 a 2017 a posição financeira apurada não
foi suficiente para sequer pagar as despesas correntes e de capital, excluindo o custo da
dívida e encargos financeiros.
As evidências deste estudo guardam relação com as considerações apresentadas
por Terra e Ferrari Filho (2020) ao analisarem os anos de 2000 a 2016 do governo federal
brasileiro. Estes autores apuraram posições de fragilidade, agravadas pela volatilidade das
despesas com juros combinando com um crescimento das Despesas Correntes em percen-
tual superior às Receitas Correntes.
Este impacto dos gastos com amortização e juros é evidenciado na Tabela 5 – Apuração
dos Índices de Fragilidade Financeira (IFF). Os resultados confirmam os apontamentos
teóricos de Minsky (1986, 1992) quanto ao agravamento da situação de fragilidade em ra-
zão dos comprometimentos em decorrência de financiamentos assumidos. Minsky (1992)
salienta que na posição ponzi os fluxos de caixa obtidos não são suficientes para honrar
com o compromisso da dívida, não quitando nem o principal nem os juros. Tal condição é
identificada nos anos de 2011 a 2017, quando os índices apurados foram negativos.
As restrições decorrentes desta fragilidade corroboram, ainda, considerações apresen-
tadas por Pellegrini (2012) e Mora (2016) quanto ao impacto dos compromissos dos Estados
brasileiros para com a União em razão da dívida destes, limites de comprometimento das

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receitas e do serviço da dívida em razão da LRF, principalmente em situações de queda na
atividade econômica.
Após a realização dos cálculos, da evidenciação das posições de financiamento, da
ligação com a realidade econômica do Estado e do referencial teórico, consideramos perti-
nente a utilização da Hipótese de Fragilidade Financeira, proposta por Minsky (1986, 1992)
e aplicada ao setor público de acordo com as contribuições de Terra e Ferrari Filho (2011,
2020). Reitera-se os benefícios deste método de apuração de posição financeira em razão
de agregar em seus cálculos o serviço da dívida e, ainda, apresentar posições em esca-
las variando de suficiência, moderada restrição ou completa insuficiência, ou seja, hedge,
especulativa e ponzi. A variável amortização da dívida não é agregada na apuração dos
resultados primário e nominal, à medida que na HFF é incluída. Tal agregação é pertinente,
posto que o compromisso da dívida pública representa uma saída de recursos que impacta
tanto no planejamento dos gastos correntes quanto nos investimentos, afetando, também,
a disponibilidade de caixa ou levando à rolagem da dívida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os estudos sobre a Hipótese de Fragilidade Financeira complementam as contribuições


de Keynes sobre a Teoria Geral, além de evidenciarem empiricamente os efeitos das inflações
e deflações decorrentes dos processos de financiamento dos investimentos e seus efeitos
na condição financeira das unidades econômicas, que afetam as economias capitalistas de
tempos em tempos (MINSKY, 1992).
Nesse sentido, Minsky demonstra que como as expectativas dos agentes econômicos
mudam de acordo com o estágio do ciclo econômico, as relações do balanço econômico-
-financeiro e contábil também se alteram ao longo desse mesmo ciclo. Assim, conforme
se desenvolve a relação entre os fluxos de receitas futuros que, posteriormente, se tor-
nam fluxos de caixa para as unidades econômicas, os compromissos financeiros contrata-
dos, que são parte intrínseca entre a atividade produtiva e a financiadora, repercutem na
condição financeira dos agentes, resultando nas posições de hedge, especulativa e ponzi
(MINSKY, 1986, 1992).
Neste artigo, aplicamos a HFF sobre a administração pública, especificamente na aná-
lise da fragilidade financeira do Estado de Minas Gerais, tendo por base as contribuições
de Terra e Ferrari Filho (2011, 2020), que inovaram ao trazer a hipótese de Minsky (1992)
aplicada ao setor público. Seguindo o modelo proposto por esses autores, foram levantadas
variáveis como tributos arrecadados, receitas de outras fontes, gastos correntes, gastos fi-
nanceiros com amortização e gastos financeiros com pagamento de juros. Os números foram
obtidos por meio do portal da Secretaria do Tesouro Nacional – STN (Siconfi) –, na parte de

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execução orçamentária dos Estados, tendo por base de dados o Balanço Orçamentário. O pe-
ríodo analisado foi de 2008 a 2018. A escolha do Estado de Minas Gerais e do período de
2008 a 2018 justifica-se em razão de abarcar a crise estadunidense de 2008 e seus reflexos
no mundo, além da crise fiscal nacional desencadeada a partir do ano de 2014.
Os resultados mostraram que, neutralizando os efeitos inflacionários, a arrecadação
tributária apresentou curva de crescimento na maioria dos anos, com queda somente no biê-
nio 2015-2016, o que vai ao encontro do reflexo da crise fiscal generalizada a partir de 2014,
a qual impactou todo o setor público e privado. Apesar, no entanto, de apurada queda dos
gastos correntes no ano de 2015 e do crescimento das receitas, os gastos correntes foram
superiores às receitas, gerando insuficiência de recursos de 2011 a 2017. A se considerar as
alegações de Lisboa (2015), o Estado de Minas Gerais apresentava uma situação econômica
e financeira gravíssima e que, entre as causas, estariam o custo da dívida pública para com
a União e o aumento dos gastos com pessoal desde 2007. Essa situação é ratificada pelos
índices de posição de financiamento apresentadas na Tabela 5, que evidenciam posição
financeira ponzi para o Estado nos anos de 2011 a 2017. Nos anos de 2009, 2010 e 2018,
Minas Gerais apresentou posição de financiamento especulativa.
Confirmando as proposições de Minsky (1992), em que argumenta que na posição
ponzi os fluxos de caixa obtidos não são suficientes para honrar com o compromisso da
dívida, analisando a HFF do Estado de Minas Gerais entre 2008 e 2018, nota-se que nos
anos de 2011 e 2017 a posição financeira apurada – ponzi –, não foi suficiente sequer para
pagar as despesas correntes, excluindo, ainda, o custo da dívida e encargos financeiros.
Consideramos, portanto, adequado o uso da Hipótese de Fragilidade Financeira pro-
posta por Minsky (1992) na análise da condição financeira do setor público, conforme as
contribuições de Terra e Ferrari Filho (2011, 2020). Tal método, ao ser aplicado empirica-
mente, confirmou sua base teórica, sendo instrumento de análise complementar para avaliar
a fragilidade financeira dos governos.
Recomendamos, para futuras pesquisas, a validação de variáveis como tributos arre-
cadados, receitas de outras fontes, gastos correntes, gastos financeiros com amortização
e gastos financeiros com pagamento de juros na apuração da HFF. De acordo com Minsky
(1992), a fragilidade se desenvolve pela relação entre o confronto dos fluxos de receitas
futuros, que posteriormente se tornam fluxos de caixa, e os compromissos financeiros con-
tratados. Sendo assim, a lacuna que permanece para a efetiva apuração da HFF é se podem
ser utilizadas as variáveis do Balanço Orçamentário ou se devem realizar-se projeções de
fluxos de caixas futuros, trazê-los a valor presente, confrontar os valores da dívida pública
e, assim, evidenciar a posição de financiamento do ente em análise.

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299
18
Evolução de cooperativas de coleta seletiva
de resíduos de equipamentos elétrico
e eletrônicos: uma análise a partir das
atribuições da audiência

Ana Carolina Simões Braga

Dimária Silva e Meirelles


Universidade Presbiteriana Mackenzie

'10.37885/220709454
RESUMO

Teve-se como objetivo central neste estudo compreender a incumbência da audiência no


processo de evolução de cooperativas de coleta seletiva de resíduos de equipamentos elé-
trico e eletrônicos. Para alcançar este objetivo foi feito uma revisão teórica sobre o conceito
audiência. Ancorado nos princípios que abalizam este conceito foi tecido o estudo de caso
Coopermiti. O estudo de caso foi construído em forma de narrativa constituída por even-
tos ao longo do tempo. Os eventos são fomentados, ora pelos membros organizacionais,
ora pelos agentes externos da audiência, mediante as atribuições que corroboram para o
desenvolvimento organizacional. Os dados são longitudinais, abrangendo um período de
coleta de dados primários de 25 (vinte e cinco) meses, iniciando em novembro de 2012 e
finalizando em dezembro de 2014. Foram realizadas no total 8 (oito) entrevistas do tipo
narrativa entre membros organizacionais e agentes externos da audiência da Coopermiti,
sendo complementadas com informações advindas de dados secundários. A análise de
dados foi a narrativa. Como resultado observou-se que, desde a sua fundação em 2009
até o final do ano de 2014 o processo evolutivo do sistema organizacional da Coopermiti foi
composto por eventos promovidos tanto por membros organizacionais como por agentes
externos da audiência, apresentando atribuições além das contempladas na teoria sobre o
conceito audiência.

Palavras-chave: Agentes Externos e Membros Organizacionais da Audiência, Cooperativa


de Coleta Seletiva de Resíduos de Equipamentos Elétrico e Eletrônicos, Evolução do Sis-
tema Organizacional.
INTRODUÇÃO

Na primeira década do novo milênio, a sociedade moderna vem enfrentando crises


de diversas naturezas; dentre elas, a crise ecológica. Ela é parametrizada tanto por carac-
terísticas de ordem material, relacionadas, sobretudo, ao meio-ambiente como de ordem
abstrata relativa aos padrões culturais institucionalizados.
De ordem material, a crise é constituída pela deterioração, degradação e exaus-
tão ambiental e tem fomentado catástrofes naturais sem precedentes (Siqueira; Morais,
2009). Em consonância com a natureza deste estudo destaca-se os resíduos sólidos que vêm
ganhando destaque por representar não somente um desperdício energético e de recursos
naturais, mas também a poluição do ambiente natural (Paula; et al., 2010).
Vários eventos patrocinados pela Organização das Nações Unidas vêm sendo realiza-
dos nos últimos 40 (quarenta) anos, cujos objetivos versam desde fomentar debates sobre
o tema desenvolvimento sustentável e temas correlatos, até desenvolver mecanismos para
o alcance do mesmo. Tais esforços se fazem notar no Brasil, na qual em agosto de 2010 foi
sancionada a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Dentre os princípios contemplados nesta
Lei destacam-se, a saber: i) gestão integrada para os resíduos sólidos; ii) logística reversa;
e iii) fomento para o desenvolvimento, quer seja de associações, quer seja de cooperativas
de coleta seletiva de resíduos sólidos (Brasil, 2010).
A coleta seletiva de resíduos sólidos ganha o seu devido destaque na Lei, pois au-
fere alguns aspectos sustentáveis, tais como: econômico, social e ambiental. No âmbito
econômico, a coleta seletiva tem sido uma estratégia de sobrevivência em muitos países
(Paula; et al., 2010). No âmbito social, possibilita a geração de novos postos de trabalho
e melhores condições de vida para os que vivem à margem da sociedade (Ferraza; et al.,
2006). No aspecto ambiental representa a diminuição dos impactos por meio da redução
na quantidade de resíduos sólidos a serem depositados no meio ambiente, e a redução na
extração de matéria-prima por meio dos processos de reciclagem e reutilização de materiais
usados (Waite, 1995).
A Lei sinaliza para o fomento de associações e cooperativas; entretanto, vários estudos
têm assinalado para poucas iniciativas de programas de coleta seletiva. A Pesquisa Nacional
de Saneamento Básico, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010),
informou que os primeiros programas de coleta seletiva e reciclagem no Brasil remontam à
década de 1980. Em 1989, foram identificados 58 (cinquenta e oito) programas. Esse nú-
mero salta para 451 (quatrocentos e cinquenta e um) em 2000 e 994 (novecentos e noventa
e quatro) em 2008.
O cenário é mais agravante para os programas de coleta seletiva de resíduos de equi-
pamentos elétrico e eletrônicos. Segundo a Secretária Nacional de Saneamento Ambiental

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(2012), existem no Brasil somente 18 (dezoito) programas de coleta seletiva de resíduos
de equipamentos elétrico e eletrônicos, sendo distribuídos, a saber: i) região Sudeste, com
nove programas; ii) região Sul apresenta cinco programas; e iii) região Nordeste, com quatro
programas. As regiões Norte e Centro-Oeste não possuem tais programas.
Mesmo com a presença da Lei, se faz notar que somente 18% dos municípios brasi-
leiros possuem programa de coleta seletiva, segundo o Ministério do Meio Ambiente (2015).
Esta realidade advém de diversos fatores que afetam o desenvolvimento e a implementação
deles, a saber: i) a ausência de capital que viabilize a formação de novas formas organizati-
vas (Medina, 2000; Paula; et al., 2010); ii) resistência por parte dos catadores em trabalhar
nos moldes estabelecidos, quer seja de cooperativas, quer seja de associações (Besen;
Ribeiro, 2014 ); iii) falta de participação da sociedade na seleção dos resíduos sólidos em
seus domicílios (Braga; Meirelles, 2013); e iv) falta de incentivos governamentais (Ribeiro;
Besen, 2007); entre outros.
Dentre os fatores apontados para o desenvolvimento e a implementação de cooperativas
de coleta seletiva destaca-se neste estudo a audiência. A audiência de modo geral é formada
por membros organizacionais e agentes externos que possuem uma relação de qualquer
natureza com a organização (Hsu; Hannan, 2005; Hannan, 2008; Negro; Koçak; Hsu, 2010;
Roberts; Simons; Swaminathan, 2010; Goldberg; Vashevko, 2013). Ela é responsável em
estabelecer os atributos que compõem a estrutura categórica e que, ao mesmo tempo tais
atributos servem para inspecionar e avaliar a organização parceira de uma respectiva cate-
goria (Hsu; Hannan 2005; Goldberg; Vashevko 2013).
Tais atributos são constituídos, ora por elementos de ordem formal, ora por elementos
de ordem simbólica constituintes do sistema organizacional (Kroezen; Heugens, 2012). Se o
papel da audiência é definir os atributos constituintes de uma estrutura categórica – ou
sistema organizacional –; então, ela é responsável pelo processo evolutivo das organiza-
ções. Com base nesses aspectos é que emerge a pergunta central deste trabalho: Como a
audiência atua no processo de evolução de cooperativas de coleta seletiva de resíduos de
equipamentos elétrico e eletrônicos? A resposta da pergunta central tem por objetivo princi-
pal compreender a incumbência da audiência no processo de evolução de cooperativas de
coleta seletiva de resíduos de equipamentos elétrico e eletrônicos.
Há contribuições teóricas e empíricas. A contribuição teórica é desenvolver o próprio
conceito audiência, visto que, pouco se tem discutido nos estudos organizacionais. A contri-
buição empírica é evidenciar o papel dos membros organizacionais e dos agentes externos
no desenvolvimento do sistema organizacional de uma cooperativa de coleta seletiva de
resíduos sólidos.

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O estudo adota o método qualitativo com a estratégia de pesquisa estudo de caso, na
abordagem de processos (Van de Ven, 2007). A coleta de dados se baseia em 8 (oito) entre-
vistas do tipo narrativa e dados secundários, sendo realizada em um período de 25 (vinte e
cinco) meses, iniciando em novembro de 2012 e finalizando em dezembro de 2014. A análise
de dados foi com base na análise de narrativas.
O artigo apresenta cinco seções, além desta introdução. A segunda seção contempla
o referencial teórico que abarca o conceito audiência. A terceira seção informa os procedi-
mentos metodológicos. A quarta seção expõe o estudo de caso tecido em forma de narrati-
va. A quinta seção exibe a conclusão, as contribuições e as limitações do estudo.

REFERENCIAL TEÓRICO

O referencial teórico desenvolvido neste estudo visa ser a lente pelo qual irá analisar
o problema de pesquisa (Van de Ven 2007) e foi construído com base nos princípios que
englobam o conceito audiência, discutido na subseção a seguir.

Audiência

A audiência não é considerada como um fenômeno de estudo, ou seja, não há uma


teoria que trabalhe com este conceito especificamente. Por outro lado, este conceito vem
sendo apreciado em estudos relacionados à identidade organizacional e o estabelecimento
de mercados, via categorização.
Albert e Whetten (1985) em seu estudo sobre identidade organizacional definiram a
audiência como um conjunto de membros (ou insiders) e não membros (ou outsiders). Esta
definição foi utilizada a posterior na ecologia organizacional, mais especificamente em estu-
dos concernentes ao estabelecimento de mercados, via categorização. Para estes autores,
os membros (ou insiders) são aqueles que estão dentro da organização e os não membros
(ou outsiders) são os que estão fora dos limites organizacionais, sendo denominados por
agentes externos (Polos; et al., 2002; Hannan, 2008; Negro; et al., 2010).
Dutton e Dukerich (1991) definiram a audiência não somente com base em sua loca-
lização em relação a uma organização, mas também o papel que ela exerce. Para estes
autores, a audiência de uma organização é composta por membros que são aqueles respon-
sáveis em estabelecer a identidade e a imagem organizacional e os não membros que são
aqueles responsáveis pela constituição da reputação organizacional. Já para os ecólogos
organizacionais o papel central da audiência consiste em controlar e dominar os recursos
materiais e simbólicos, que fomentam tanto o sucesso como a falência de uma organização
(Hsu; Hannan, 2005). Alvesson (1990) descreveu o papel da audiência, cujo os membros

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externos exercem uma influência na organização ao ponto da organização mudar as suas
práticas gerenciais.
Ahmadjan e Ednan (2013) apontaram que, grande parte da literatura tem focado nos
produtores e nos consumidores como os principais responsáveis pelo processo de desen-
volvimento de uma categoria existente ou na criação de uma nova categoria. Entretanto, na
perspectiva categórica, o desenvolvimento de uma categoria existente ou a criação de uma
nova categoria advém de conjunto de agentes externos da audiência (Negro; et al., 2010),
tais como: críticos, especialistas, analistas e teóricos (Carroll; Swaminathan, 2000; Lounsbury;
Rao, 2004; Hsu; Hannan, 2005; Hannan, 2008; Negro; et al., 2010; Ahmadjan; Ednan, 2013),
consumidores (Hsu; Hannan, 2005; Hannan, 2008; Roberts; et al., 2010; Goldberg; Vashevko,
2013), organizações líderes (Rao; et al., 2003), agências regulatórias e autoridades políticas
(Zhao, 2005; Hsu; Hannan, 2005; Negro; et al., 2010; Ahmadjan; Ednan, 2013).
Os consumidores influenciam o processo de especificação dos atributos que compõem
a estrutura categórica; na verdade, tais atributos possibilitam não somente estabelecer as
propriedades que compõem os produtos e os serviços ofertados mas também servem como
um instrumento a fim de avaliar os comportamentos e as ações organizacionais (Hsu; Hannan,
2005; Hannan, 2008; Roberts; et al., 2010; Goldberg; Vashevko, 2013).
Há também agentes específicos responsáveis em fomentar o surgimento de novas
categorias como por exemplo os órgãos governamentais regulatórios (Hsu; Hannan, 2005;
Negro; et al., 2010). As autoridades locais podem reconhecer oficialmente um sistema de
classificação - ou categorias - existente (Zhao, 2005), ou podem criar uma nova categoria,
estabelecendo um sistema de incentivo que fomente a adoção do design autorizado (Hsu;
Hannan, 2005; Ahmadjan; Ednan, 2013).
Ahmadjan e Ednan (2013) destacaram que os agentes externos políticos e agências
reguladoras possuem o poder de criar novas indústrias, por meio do estabelecimento de
novas categorias. Os agentes externos políticos e agências reguladoras não são somente
responsáveis pela criação, mas também pela evolução da indústria via incentivos. Este estudo
revela que as categorias criadas pelos agentes externos políticos e agências reguladoras
diferem qualitativamente das categorias criadas pelas agentes externos consumidores e
produtores. Enquanto, os agentes externos consumidores e produtores criam categorias a
partir de práticas e formas existentes, os agentes externos políticos e agências reguladoras
constroem com base nos discursos.
Para Carroll e Swaminathan (2000), os críticos e analistas exercem um poder em
potencial sobre os mercados. Segundo Kennedy (2009) e Negro, Hannan e Rao (2010) os
críticos, especialistas e analistas compõem o mercado mediado e são vistos fora do sistema
de interesses. Há mercados onde os críticos, especialistas e analistas são mais influentes

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como exemplo a indústria do vinho, nas quais exercem o papel de árbitro da qualidade e
que podem influenciar diretamente tanto os gostos da audiência como as demandas dos
produtos ofertados (Negro; et al., 2010).
Ainda, as empresas líderes de mercado podem criar um sistema de classificação, defi-
nindo elas mesmas e seus rivais (Rao; et al., 2003). Lounsbury e Rao (2004) argumentaram
que organizações poderosas visam preservar a estrutura categórica existente. O Quadro 1
a seguir informa de maneira sumarizada os principais agentes externos e membros organi-
zacionais da audiência e que, serviram como um guia durante a análise dos dados.

Quadro 1. Agentes externos e membros organizacionais que compõem a audiência.

Audiência Descrição Autor (es)


Carroll e Swaminathan (2000)
Lounsbury e Rao (2004)
Consumidores; Zhao (2005)
Críticos, especialistas e analistas; Hsu e Hannan (2005)
Autoridades governamentais e agên- Hannan (2008)
Agentes externos
cias reguladoras; Negro; Koçak e Hsu (2010)
Produtores líderes. Negro, Hannan e Rao (2010, 2011)
Roberts, Simons e Swaminathan (2010)
Ahmadjan e Ednan (2013)
Goldberg e Vashevko (2013)
Funcionários organizacionais; Alvesson (1990)
Membros organizacionais
Membros organizacionais; Gerentes. Dutton e Dukerich (1991)
Fonte: Elaborado pelas autoras.

A audiência, então, é responsável em definir os atributos que compõem um sistema


categórico (Goldberg; Vashevko 2013) e, consequentemente, o próprio sistema organiza-
cional da organização parceria a categoria.
Os atributos são utilizados a posterior como um mecanismo que possibilita a ela inspe-
cionar, avaliar e consumir os produtos e os serviços ofertados (Koçak; et al., 2009). Ao mes-
mo tempo, Kroezen e Heugens (2012) destacaram elementos de ordem formal e de or-
dem simbólica constituintes da identidade organizacional e, consequentemente do sistema
organizacional.
Os atributos definidos pela audiência que compõem a estrutura categórica – sistema
organizacional - é a base para o processo de identificação, ora dos membros organizacionais,
ora dos agentes externos. Após uma revisão nas literaturas sobre identidade no nível organi-
zacional e estudos sobre estabelecimento de mercados foi identificado uma série de atributos
a priori que compõem o sistema organizacional, sendo informados no Quadro 2 a seguir.

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Quadro 2. Atributos a priori do sistema organizacional.

Atributos Definição Autor (es)


Kroezen e Heugens (2012).
Modelo de negócios; Estratégias.

Setor. Baum e Singh (1996)


Limites organizacionais; Atributos físicos; Aparência
Van Tonder e Lessing (2003)
física; Estrutura; Processos organizacionais.
Procedência de insumos. Carroll e Wheaton (2009)
Formal
Profissionalização profissional;
Qualificação profissional; Bogaert, Boone e Carroll (2010)
Habilidades pessoais.
Modos de prestação de serviços. Kovács e Hannan (2010)
Negro, Hannan, Rao (2010, 2011)
Sistema produtivo. Roberts, Simons e Swaminathan (2011)
Carroll e Swaminathan (2002)
Artefatos e práticas que representam a cultura. Kroezen e Heugens (2012)
Qualidade dos insumos. Swaminathan (1995)
Simbólica Missão; Valores;; Ideologia; Crenças; Comporta-
Ashforth e Mael (1996)
mento organizacional; Normas
Filosofia de gestão; Função social; Símbolos. Van Tonder e Lessing (2003)
Fonte: Elaborado pelas autoras.

METODOLOGIA

Este estudo teve como objetivo geral compreender a incumbência da audiência no pro-
cesso de evolução de cooperativas de coleta seletiva de resíduos de equipamentos elétrico
e eletrônicos. Como objetivo especifico e que visa o alcance do objetivo geral foi: Identificar
os membros organizacionais e os agentes da audiência de cooperativas de coleta seletiva
de resíduos de equipamentos elétrico e eletrônicos, mediante as atribuições ocorridas ao
longo do seu processo evolutivo.
Este estudo adotou um viés paradigmático-interpretativista com o método de pesquisa
qualitativa (Patton, 2002), pois visa compreender em profundidade como a audiência atua
no processo de evolução de cooperativas de coleta seletiva de resíduos sólidos. Entra em
congruência com a abordagem de processos, pois possibilita a compreensão do processo
de mudança do fenômeno de estudo (Van de Ven, 2007).
Seguindo as prerrogativas de Marshall e Rossman (1999), a natureza exploratória
deste estudo advém de que o fenômeno a ser estudado é pouco conhecido, na verdade,
há uma ausência de estudos concernentes a audiência de cooperativas de coletiva seletiva
de resíduos de equipamentos elétrico e eletrônicos. Por fim, é uma pesquisa descritiva,
pois possibilita uma compreensão com base na natureza, características intrínsecas e nas
relações existentes entre os fenômenos (Cervan; Bervian, 2006). A pesquisa descritiva é
congruente com a perspectiva de processos, pois possibilita descrever uma sequência de
eventos que mudam ao longo do tempo (Van de Ven, 2007).

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A estratégia de pesquisa aqui adotada foi o estudo de caso único, a Coopermiti, estando
em consonância com a abordagem de processos (Van de Ven, 2007). Com o propósito de
obter a qualidade do estudo de caso, os procedimentos metodológicos foram desenvolvidos
com base em quatro critérios, a saber: validade do constructo, validade interna, validade ex-
terna e a confiabilidade (Donaire, 1997). As subseções a seguir informam os procedimentos
realizados neste estudo.

Escolha da empresa participante

A escolha da Coopermiti se baseou no critério de acessibilidade, visto que em 2012


foi realizado um estudo piloto para a confecção do artigo: Surgimento de Novas Formas
Organizacionais: Um estudo exploratório em cooperativas de coleta seletiva (Braga; Meirelles,
2013). Neste estudo, entendeu-se que o segmento de resíduos de equipamentos elétrico e
eletrônicos apresenta limites organizacionais estabelecidos quando comparado com outros
segmentos do setor. A Coopermiti é referência em seu segmento de atuação, apresentan-
do tanto Know-How como uma estrutura organizacional instituída. Ela é responsável pelo
processo de triagem de resíduos de equipamentos elétrico e eletrônicos, conforme a licença
fornecida pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (2015). Fundada em 1999,
na cidade de São Paulo e com atuação na grande São Paulo. A divulgação do nome desta
cooperativa se deve graças a assinatura do documento: Autorização para Divulgação.

Escolha dos sujeitos participantes

A descrição quanto ao procedimento de escolha dos sujeitos da pesquisa possibilita


aumentar a validade do constructo, segundo as orientações de Donaire (1997). Diante da
variedade de membros organizacionais e agentes externos em potencial contemplados no
referencial teórico deste estudo (ver o Quadro 1), estabeleceu como critério para o processo
de escolha o tempo das relações intraorganizacional e interorganizacional. Deu-se prefe-
rência para aqueles que possuíam maior tempo de relação, tendo por objetivo capturar em
maior detalhe o processo evolutivo do sistema organizacional, ao longo do tempo. O Quadro
3 informa a descrição de cada agente externo e membro organizacional participante desta
pesquisa e o tempo de relação.

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Quadro 3. Perfil da audiência participantes neste estudo.

Audiência Nomenclatura Definição Atuação Parceiro desde:


Agente externo E\A1 Fornecedor Setor de seguros 2012
Agente externo E\A2 Fornecedor Setor hospitalar 2012
Agente externos E\A3 Fornecedor Setor de distribuição 2011
Membro organizacional E\M1 ____ Fundador Desde o surgimento
Membro organizacional E\M2 ____ Área administrava Desde o surgimento
Membro organizacional E\M3 ____ Área administrativa 2014
Membro organizacional E\M4 ____ Área operacional 2011
Fonte: Elaborado pelas autoras.

Nível e unidade de análise

Neste estudo, o nível de análise é a organização, na qual as narrativas tecidas pe-


los membros organizacionais e agentes externos da audiência estão relacionadas à histó-
ria da Coopermiti.
Van de Ven (2007) destacou que os eventos são a unidade natural dos processos
sociais. Dessa forma, os eventos são os atores-chave que realizam a mudança ou o que
acontece com eles. Nesse sentido, a unidade de análise deste estudo é o evento, sendo este
configurado mediante as atribuições dos membros organizacionais e agentes externos da
audiência que fomentam o desenvolvimento do sistema organizacional, ao longo do tempo.

Coleta de dados

Segundo Creswell (2010) a coleta de dados qualitativos consiste tanto em estabelecer


as delimitações do estudo, como coletar informações por meio das mais variadas fontes
de evidência, tais como: observações, entrevistas, documentos e materiais visuais. Com o
objetivo de alcançar uma robustez do estudo de caso, foram utilizadas neste estudo duas
fontes de evidencia, a saber: entrevista pessoal e dados secundários. Garante a validade
do constructo (Donaire, 1997).

• Coleta de dados primários: a entrevista aplicada foi do tipo aberta, sendo mais
adequada para a finalidade exploratória deste estudo. O roteiro desenvolvido e apli-
cado na entrevista aberta foi do tipo narrativa, na qual consistiu em uma pergunta
gerativa, que fomentou o entrevistado a narrar, estando em conformidade com as
prerrogativas da abordagem de processos (Van de Ven, 2007). Ainda, buscando
atender aos princípios contemplados na abordagem de processos (Van de Ven,
2007), os dados são longitudinais, na qual a coleta de dados ocorreu em um perí-
odo de 25 (vinte e cinco) meses, iniciando em novembro de 2012 e finalizando em
dezembro de 2014.

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• Coleta de dados secundários: serviram de apoio as informações obtidas nas
entrevistas considerou os dados secundários, nas quais concernem manuais, in-
formativos, fotos e vídeos disponibilizados pela cooperativa; vídeos e entrevistas
realizadas pelas redes de televisão: Globo, RIT, Record, LBV, Ficais da Natureza,
Canaltech, Gazeta, Cultura, Negócios do Bem e Instituto Ressoar.

Todos esses materiais são compostos por narrativas, que contam a história do passado,
narram o presente e projetam o futuro (Czarniawska, 1998).

Tratamento e análise de dados

O processo de preparação de dados se baseou na transcrição (Lankshear; Knobel,


2008). Dessa forma, as entrevistas foram gravadas, com a permissão dos entrevistados, e
transcritas a seguir para a análise. As transcrições foram encaminhadas para os responden-
tes a fim de obter a precisão dos dados. Os dados foram organizados em pastas de acordo
com a sua natureza e guardados no Dropbox.
Para a análise de dados adotou-se a análise de narrativas, seguindo as prerrogativas
de Pentland (1999). Esta autora estabeleceu um quadro que relaciona as propriedades da
narrativa com possíveis indicadores para a teoria organizacional, conforme o Quadro 4.

Quadro 4. Propriedades da narrativa e relação com a teoria organizacional.

Propriedades da narrativa Propriedades análogas na teoria organizacional


Sequência Padrões de eventos
Ator focal Papel, redes sociais e demográficas
Voz Ponto de vista, relações sociais e poder
Contexto moral Valores culturais e pressupostos
Outros indicadores Outros aspectos do contexto
Fonte: Pentland (1999, p. 713).

No primeiro momento, foi feito a análise de narrativas individuais com base no modelo
de Pentland (1999). Esta análise consistiu na leitura e releitura dos dados brutos advindos
das entrevistas a luz do objetivo específico desse estudo; o mesmo método foi realizado na
análise dos dados secundários. A análise de imagens esta baseada no sentido conotativo,
cuja interpretação foi de acordo com a natureza deste estudo (Rodrigos, 2007). A seguir foi
confeccionado o estudo de caso Coopermiti em forma de narrativa. A narrativa Coopermiti
foi tecida com base nas narrativas individuais e nos dados brutos. A seguir apresenta-se o
estudo de caso Coopermiti.

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O CASO COOPERMITI

O estudo de caso Coopermiti foi construído por meio do cruzamento das análises de
narrativas individuais e documentos com os pressupostos teóricos discutido na seção dois
deste estudo. É apresentado em forma de narrativa, pois possibilitou identificar a evolução
do sistema organizacional ao longo tempo. Esta evolução é parametrizada por eventos
promovidos, ora por membros organizacionais, ora por agentes externos da audiência, me-
diante as suas atribuições que fomentaram a inclusão de atributos constituintes do sistema
organizacional; visto que, a unidade de análise na perspectiva processual é o evento. Os atri-
butos identificados a priori na teoria serviram como um guia, a princípio, pois esta pesquisa
é interpretativista. Foi adotado a estratégia indutiva para nomear os eventos, tendo como
base as informações que o representam.
Em visto disso, o processo evolutivo do sistema organizacional é marcado por oito
eventos, iniciando no final do ano de 2009 e finalizando no final do ano de 2014 e que serão
descritos a seguir.
1ª Evento “Fundação Coopermiti”. O desenvolvimento do projeto e a fundação da
Coopermiti ocorreu no final do ano de 2009. O estabelecimento de atributos organizacio-
nais é fortemente influenciado pelas características intrínsecas e a educação formal de seus
fundadores. Observa-se isso na definição do atributo de ordem formal como o contexto
e de ordem simbólica, a função da organização (Van Tonder; Lessing, 2003), conforme o
excerto abaixo.

“E nessa época eu tava, um dos trabalhos voluntários que eu fazia era ensinar
eletrônica para jovens, minha formação é técnica, ciência eletrônica, ciência
da comunicação (...)” (E\M1, 2014).

O contexto delimita o setor de atuação e a função social estabelece atributos de or-


dem formal concernentes as atividades do modelo de negócios (Kroezen; Heugens, 2012)
a serem realizadas, no caso aqui, as de ensino. Ao mesmo tempo, a Coopermiti é uma
cooperativa de reciclagem, os pressupostos existentes na Lei que regula este setor a defi-
nem como um centro de reciclagem, responsável pelas atividades de coleta, separação e
destinação. As atividades e a função social são contempladas em estudos sobre identidade
e estabelecimento de mercado, como atributos que demarcam uma respectiva organização.
Ao mesmo tempo a Lei estabelece atributos de ordem simbólica relativos aos valores
organizacionais (Ashforth; Mael, 1996), como o cooperativismo. Embora os fundadores não
sejam citados no conceito audiência, eles são fundamentais, pois exercem uma forte influên-
cia no processo de especificação de atributos de ordem simbólica – valores organizacionais

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-, a saber: ética, desenvolvimento humano, valorização do indivíduo e princípios da
sustentabilidade. Estes atributos podem, ou não, manter-se ao longo do tempo.
2ª Evento “Concretização do projeto Coopemiti”. Este evento aconteceu no início
de 2010 e constatou a presença de um agente externo, mais especificamente a Prefeitura
Municipal de São Paulo, na qual por meio de um sistema de incentivos representou a in-
clusão de atributos de ordem formal relativos, sobretudo, a aspectos físicos (Van Tonder;
Lessing, 2003) como o galpão e caminhões (ver Figura 1) e a redução na estrutura de
custos do modelo de negócios (Kroezen; Heugens, 2012) por meio da isenção de pagamento
de água, luz, aluguel e motoristas, conforme o excerto abaixo.

“(...) o apoio da Prefeitura de São Paulo que nos concede o galpão, a água, luz,
os caminhões para coletar os resíduos em São Paulo capital (...)” (E\M2, 2014).

Figura 1. Atributos físicos concedidos pela prefeitura do município de São Paulo.

Fonte: Elaborado pela autora a partir Repórter ECO (2013) e Lixo Eletrônico (2014).

Ao mesmo tempo, o convênio com a prefeitura é visto como uma parceria que legitima
a Coopermiti perante o mercado consumidor; em outras palavras, a parceria legitima as
práticas organizacionais (Kroezen; Heugens, 2012), em observância as falas dos entrevis-
tados quando dizem: “O ponto forte para nós é a parceira com a prefeitura da cidade de São
Paulo, porque quando falo que sou parceiro da prefeitura de São Paulo...a pessoa para me
escutar.” (E\M2, 2014) e “...ela tinha um contrato com a prefeitura, então, eu entendi, a gente
entendeu que era muito bom isso,...Uma empresa séria, se fosse uma cooperativa como
tem ai hoje em dia, eu acho que a prefeitura não ia colocar o nome dela, né. Então, assim,
a gente entendeu que era uma empresa que até a prefeitura viu que valia a pena fazer uma
parceria.” (E\A2, 2014). Há, então, o desenvolvimento de mais um valor organizacional
(Ashforth; Mael, 1996), o cumprimento dos requisitos de ordem legal.
Os órgãos públicos exercem o papel de criar e fomentar o desenvolvimento de novos
segmentos, via sistema de incentivos (Zhao, 2005; Hsu; Hannan, 2005; Negro; et al., 2010;
Ahmadjan; Ednan, 2013). Observa-se que este agente externo da audiência apresenta atri-
buições além das contempladas na teoria; no caso aqui, o convenio é visto como um parceiro

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interorganizacional – estrutura relacional do modelo de negócios (Kroezen; Heugens, 2012)
- que endossa as práticas organizacionais da Coopermiti perante o mercado.
3ª Evento “O Perfil empreendedor”. Este evento foi fomentado pelos cooperados
- membros organizacionais - e aconteceu no início do ano de 2010. A teoria da identidade
define os membros organizacionais da audiência como sendo aqueles que estão dentro
dos limites organizacionais (Albert; Whetten, 1985; Dutton; Dukerich, 1991), pouco se tem
discutido sobre eles em estudos de estabelecimentos de mercado.
Seguindo a narrativa, a Coopertimi no início do ano 2010 estava inapta para o operar,
conforme a fala do entrevisto E|M2 (2014) quando diz: “No início o galpão era vazio, não tinha
nada e recebemos as chaves, então, quem estava no início do projeto acabamos tirando
o dinheiro do próprio bolso para comprar bancada, ferramentas, bancar a coleta de alguns
eletrônicos com o carro particular, né, até vir o caminhão da prefeitura.”
É nesse momento que a característica persistência do perfil empreendedor de seus
fundadores se destaca. Assim, este evento é fomentado, mediante a investimentos com
capital próprio que viabilizou a aquisição de máquinas manuais (Van Tonder; Lessing,
2003) – atributos de ordem formal - a serem utilizados nos processos operacionais, viabili-
zando a operacionalização da Coopermiti.
4ª Evento “Uma ajudinha a mais” Embora em operação, a Coopermiti ao longo dos
anos de 2010 e 2011 possuía uma estrutura física laboral inadequada, representando tanto
um risco ocupacional como ineficiência operacional. Entretanto, em setembro de 2011 a
Coopermti deu um salto em sua estrutura física por meio de incentivos financeiros concedidos
pela Fundação Banco do Brasil. Este tipo de organização não é contemplado no conceito
audiência; entretanto, o considera como agente externo da audiência por fomentar a inclusão
de atributos de ordem formal que representaram em melhorias no sistema organizacional.

“Fundação Banco do Brasil, em 2011 nos apoiou financeiramente, (...) tivemos


dinheiro para comprar esta balança, né, de piso, empilhadeira, algumas gaiolas
para armazenar o resíduo e ferramentas pneumáticas com base de compressor
(...) acelerou o processo de desmontagem, descarrega do caminhão quando
chega uma grande quantidade, a empilhadeira nós ajudou bastante no trabalho,
até mesmo na movimentação de cargas internamente.” (E\M2, 2014; 2015)

A Figura 2 ilustra esta evolução evidenciando atributos físicos (Van Tonder; Lessing,
2003), tais como gaiolas, empilhadeira, ferramentas pneumáticas e balança. As gaiolas
viabilizaram a organização do espaço operacional e o armazenamento; a empilhadeira
utilizada para movimentação da carga dentro do galpão e que auxiliou os processos de des-
carregamentos; as ferramentas pneumáticas auxiliaram os processos de desmontagem;
por fim, as balanças que viabilizaram pesar com melhor precisão tudo que entra e que sai
da Coopermiti. Em consonância com a fala do entrevistado E\M4 (2014) “Hoje já tem um

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material apto para você pegar, chegar e concluir um serviço, “Ah, vou precisar... tem um
parafuso que é desse tamanho” – já tem aquela chave – como se diz? – aquela chave, que
é daquele tamanho, que já dá para você desparafusar. Então, quer dizer, as coisas já tão
bem mais... para a gente está bem mais fácil agora (...)”.

Figura 2. Máquinas e equipamentos advindos do apoio financeiro da Fundação Banco do Brasil

Fonte: Elaborada pela autora a partir da Cooperativa incentiva reciclagem de eletrônico (2012), Repórter ECO (2013), A reciclagem do
lixo eletrônico (2014) e Lixo Eletrônico (2014).

5ª Evento “Clientes que são parceiros” No final de 2011 a Coopermiti celebra uma
parceria comercial com a BETA Distribuidora. A Beta Distribuidora é considerada como um
agente externo da audiência, visto que este cliente por assim dizer utiliza os serviços presta-
dos pela Coopermiti, a coleta de resíduos de equipamentos elétrico e eletrônicos. No conceito
audiência, os consumidores consomem os produtos e serviços ofertados, especificam as
características de produtos e serviços, e avaliam as ações e comportamentos organizacio-
nais (Ahmadjan; Ednan, 2012).
Em observância aos trechos extraídos das entrevistas percebe-se que o papel desses
agentes não restringe aos dos contemplados na teoria (Ahmadjan; Ednan, 2010) mas tam-
bém são considerados como parceiros no processo de desenvolvimento via investimentos;
na caso aqui, a BETA Distribuidora realizou investimentos financeiros que possibilitaram a
adequação na segurança do trabalho e assessoramentos de ordem jurídica e opera-
cional que viabilizaram desenvolver competências de gestão de processos (Bogaert;
Boone; Carroll, 2010) e que, impactaram na evolução da Coopermiti. Essas observações
podem ser verificadas no excerto abaixo, e na Figura 3 a seguir.

“(...) numa parceria com a Coopermiti e disso a gente identificou uma série de
adequações que seriam necessárias (...), então, assim, a gente fez uma série
de investimentos para que a Coopermiti fizesse os ajustes necessários da
segurança do trabalho e uma série de outras coisas para a profissionalização
do trabalho da Coopermiti, (...)” (E\A3, 2014).

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Figura 3. Máquinas e equipamentos advindos da parceria comercial BETA Distribuidora.

Fonte: Elaborado pela autora a partir da Repórter ECO (2013).

6ª Evento “A reestruturação organizacional”. No final do ano de 2011 a Coopermiti


encontra-se insolvente economicamente. Em vista disso, o Fundador E\M1 assumi a direção
no início do ano de 2012 e inicia um processo de reestruturação organizacional. Dentre os
atributos apontados no processo de reestruturação organizacional devem-se destacar primei-
ro os de ordem formal, a saber: i) implementação do sistema integrado de gestão do meio
ambiente (ou SIGMA); ii) formalização dos processos operacionais e administrativos;
iii) mapeamento dos processos; iv) monitoramento dos processos; v) programas de
treinamentos; vi) socialização do conhecimento; e vii) rastreabilidade da destinação
final dos resíduos. Os atributos apontados nos itens i, ii, ii, iv, v e vi não são contemplados
a priori; entretanto, os consideram pois são constituintes do sistema organizacional. O item
vii rastreabilidade de destinação decorre do propósito de ser da Coopermiti, mas pode ser
comparado com a procedência de insumos, apontados por Carroll e Wheaton (2009).
Quanto aos atributos de ordem simbólica relacionados aos valores organizacionais
(Ashforth; Mael, 1996) nota-se que são desenvolvidos a partir do processo de reestruturação
organizacional, tais como: qualidade dos processos produtivos, desenvolvimento de
habilidades individuais, satisfação do cliente. O pleno exercício da filosofia de gestão
democrática (Van Tonder; Lessing, 2003), decorre após o fundador E\M1 assumir a direção,
isso evidencia um ponto a característica liderança de seu perfil empreendedor.
7ª Evento “A conquista” No ano de 2013 a Coopermiti obtém as certificações ISO’s
9001 e 14001. Este evento é pautado pela presença de agentes externos específicos, sobre-
tudo, relacionados a serviços de apoio; no caso aqui, a empresa de auditoria, compondo
mercado mediado, conforme assinala Kennedy (2009). Exerce o papel de árbitro da quali-
dade e que pode influenciar diretamente tanto os gostos da audiência como as demandas
dos produtos ofertados (Negro et al. 2010).
Essas certificações inferem que a Coopermiti está em consonância com padrões ad-
ministrativos e operacionais institucionalizados, é o mesmo que um diploma organizacional,
evidenciados nos excertos abaixo.

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“(...) certificações ISO 9001 em 2013, e a ISO 14001. São conquistas importan-
tíssimas, né, muita gente duvidou que fosse possível, né, porque é um projeto
social, porque a mão-de-obra não é qualificada, porque são pessoas de uma
situação social que não permite ter competência alguma, ou como escutei
de muita gente é tudo pião, então, este é o projeto, é um projeto que recicla
pessoas, e, ai de agora a diante seria o futuro. “ (E\M1, 2014)
“Outro período 2013, foi muito impactante e muito gratificante, nós conseguimos
ter a certificação ISO 9001 e 14001 (...)” (E\M2, 2015).

A empresa de auditória é considerada como um agente externo da audiência, pois


apresentou atribuições adicionais relativas a redução na estrutura de custos do modelo
de negócios (Kroezen; Heugens, 2012) da Coopemiti. A empresa de auditoria deixa de ser
um simples prestador de serviços e passa a ser um parceiro que coparticipa do desenvolvi-
mento da Coopermiti por meio de incentivos de ordem financeira, mediante as facilidades de
pagamento e descontos. Essas observações estão em consonância com o excerto abaixo.

“(...) as consultorias do ISO 9001 e 14001 (...) tudo isso é muito caro, esses
parceiros são muito importantes para mim, porque eles acreditaram no projeto
(...) a gente não paga o preço que o mercado paga por ela, é lógico que eu pago
o meu consultor, ninguém trabalha de graça, mas eu sei que ele não me cobra
o que ele cobra no mercado, tem uma certa doação deles, porque ele quer
participar, ele quer contribuir na construção de algo novo (...)” (E\M1, 2014).

8ª Evento “A capacidade inovativa”. Os membros organizacionais, quer seja do


nível administrativo, quer seja do nível operacional são os principais responsáveis pela ma-
nutenção das certificações ISO’s que ocorreu no ano de 2014. A capacidade inovativa da
Coopermiti está atrelada a melhorar e aproveitar os recursos internos disponíveis como tam-
bém as competências administrativas e técnicas existentes (Bogaert; Boone; Carroll, 2010).
Dentre as competências, destacam-se, a saber: i) competência administrativa ou habilidades
que possibilitam identificar uma estrutura organizacional eficiente; ii) competências técnicas
ou habilidades para desenvolver novos serviços e processos produtivos; e iii) competências
de transformação ou habilidades de mudar as competências existentes (E\M1, 2012; E\M3,
2014). As competências de transformação estão relacionadas à capacidade inovativa da
Coopermiti. Embora a capacidade inovativa não seja considerada na teoria a priori, ela é
considerada neste estudo como um elemento de ordem formal, pois é parte integrante do
capital humano do sistema organizacional.

“(...) esse processo de identificação, destinação, como certificar é knowhow


nosso, nós que construímos, não existia aonde pegar no mercado. O nosso
programa de treinamento para fazer essas triagens, também é uma tecnologia
nossa, não existia no mercado (...)” (E\M1, 2012)
“(...) para fazer a manutenção desse sistema. Então o que a norma diz: “Olha,
precisa ser feito”, legal, vamos fazer. Mas, assim, a gente sabe que é uma coisa
meio padrão para diversas empresas (...) para trazer para nossa realidade é

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outra coisa, né. (...) porque é um processo inverso, da (utilização) inversa. E..e
a gente tem que adequar com a nossa realidade (...)” (E\M3, 2014).

CONCLUSÃO

Teve-se como objetivo central, neste estudo, compreender a incumbência da audiência


no processo de evolução de cooperativas de coleta seletiva de resíduos de equipamentos
elétrico e eletrônicos. De acordo com o objetivo proposto, infere-se que a evolução do sis-
tema organizacional é mediante as atribuições realizadas pela audiência.
Em conformidade com as peculiaridades desse objetivo, apurou-se no objetivo espe-
cifico a identificação de membros organizacionais e agentes externos, mediante as atribui-
ções que fomentaram a inclusão de atributos de ordem formal e simbólica componentes do
sistema organizacional.
Os membros organizacionais da audiência no processo evolutivo do sistema organiza-
cional são aqueles que não estão somente dentro dos limites organizacionais mas também
contribuem por meio da inclusão de atributos de ordem formal e simbólica. O mesmo vale
para a identificação dos agentes externos.
As atribuições realizadas pela audiência e que impactaram na evolução organizacio-
nal, apresentam as mais variadas naturezas. Do lado dos membros organizacionais nota-se
que as características do perfil empreendedor dos fundadores foram fundamentais para a
definição de atributos tanto nos momentos iniciais como ao longo do tempo. É explicito que
a presença de fundadores na vida cotidiana da organização é de importância fundamental
para o desenvolvimento de projetos sociais. A profissionalização da Coopermiti é resultado
da qualificação no nível individual, sendo viabilizada pelo processo de reestruturação que
passara no ano de 2012; nota-se que isso só é possível por meio da internalização de valores
organizacionais pelos membros organizacionais de todos os níveis; visto que, a internalização
desenvolve um comprometimento afetivo e, consequentemente uma maior assiduidade dos
membros no alcance dos objetivos organizacionais.
Do lado dos agentes externos tanto confirmou os contemplados pelo conceito audiência
como identificou novos; no caso aqui, a Fundação Banco do Brasil. Identificou atribuições adi-
cionais que possibilitaram a evolução organizacional como foi o caso da Prefeitura Municipal
de São Paulo, sendo vista como uma parceira que endossa as práticas organizacionais da
Coopermiti perante ao mercado. A parceira comercial Beta Distribuidora não somente con-
trata serviços da Coopermiti mas realiza investimentos de ordem financeira e transferência
de Know How; nesta observa-se novos arranjos institucionais, na qual a organização passa
a coparticipar do processo evolutivo da organização; e, por fim, as empresas prestadoras de

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serviços de apoio, a auditória; observa-se que além de atribuições adicionais, esta parceria
evidencia para a maturidade organizacional da Coopermiti.
Este estudo apresenta contribuições teóricas e empíricas. A primeira concerne em fo-
mentar o desenvolvimento do conceito audiência; o segundo evidencia um caso de sucesso
no Brasil de cooperativas de coleta seletiva de resíduos sólidos, sendo auferida por novos
arranjos coparticipativos que configuram a audiência da organização.
Dentre as limitações desta pesquisa destaca-se para a estratégia de estudo de caso,
não podendo ser generalizada. A Coopermiti é um caso único e de sucesso. Em visto dis-
so, sugere pesquisas na abordagem de processos em outros segmentos deste setor, que
possibilite identificar o processo de evolução de cooperativas de coleta seletiva.

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19
Externalidade reversa: uma solução do
custo externo

Alexandre Magno de Melo Faria


Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT

Hélde Araujo Domingos


Universidade de Brasília - UnB

'10.37885/220709382
RESUMO

Este trabalho tem como objetivo refletir sobre as limitações da abordagem coaseana-pigou-
viana na solução das externalidades negativas. Após contextualização da necessidade de
integração de abordagens ecológicas e econômicas, apresenta-se uma proposta conceitual
complementar às abordagens econômicas convencionais. A “externalidade reversa” seria um
processo onde agentes recicladores difusos estariam revertendo parcialmente a formação
de entropia e os custos externos marginais gerados por agentes também difusos. A aborda-
gem conceitual difere em seis fundamentos da teoria tradicional e propõe uma nova forma
de analisar as ações de agentes capazes de reduzir a entropia e conter parcela dos custos
externos na economia de mercado. A proposta é apenas conceitual e não tem pretensão
de avançar em modelagem metodológica.

Palavras-chave: Externalidade Negativa, Abordagem Coaseana-Pigouviana, Exter-


nalidade Reversa.
AS ORIGENS DO DEBATE SOBRE EXTERNALIDADES

A gênese do debate sobre as externalidades pode ser encontrada na obra “Princípios


de Economia” de Alfred Marshall (1890), quando menciona um processo de formação de
economias externas. A abordagem está bem definida dentro da corrente neoclássica do
bem-estar, considerando o ethos dos agentes econômicos que maximizam seu benefício
em um mercado estabelecido.
A lógica de funcionamento da economia de mercado considera que os agentes buscam
decidir as melhores estratégias para seu próprio bem-estar, observando a utilidade que pode
ser alcançada ao demandar cesta de bens. As decisões individuais não incluiriam rebati-
mentos positivos ou negativos a terceiros agentes, mas tão somente um egoísmo capaz
de maximizar seus próprios benefícios. Para Varian (2015, p. 35), “o modelo econômico do
comportamento do consumidor é muito simples: as pessoas escolhem as melhores coisas
pelas quais podem pagar”.
Contudo, Marshall acreditava ser possível um declínio dos custos médios de produção
de uma empresa, gerado por economias externas à firma, mas internas à indústria. As ino-
vações técnicas e as trocas de informação poderiam gerar economias externas positivas,
quanto maior fosse o desenvolvimento geral da indústria. Aqui estaria sendo gerado um
impacto positivo a terceiros, não percebido ex ante a decisão - ou mesmo ex post.
O principal ponto de argumentação marshalliana se refere exatamente à redução dos
custos de operação das firmas em função do compartilhamento de informação e de um
mesmo mercado de trabalho, a partir da concentração espacial de uma determinada in-
dústria. As economias externas marshallianas não são geradas internamente nas firmas,
mas internamente à indústria. Quanto maior a concentração espacial e o compartilhamento
de informações, maiores os ganhos externos. Esse fenômeno é frequentemente referido
como externalidades de Marshall-Arrow-Romer. Há ainda uma segunda percepção deste
fenômeno, conhecido como economias de urbanização, que se refere à queda dos custos
de operação derivadas da concentração espacial de múltiplas e diversas atividades interde-
pendentes. Neste processo, as economias de urbanização são externas à firma e à indústria,
geradas em outras atividades correlatas, mas que rebaixam os custos gerais por interação
sistêmica. Tais economias são referidas como externalidades de Jacobs, em referência a
Jane Jacobs (2000).
A segunda abordagem que marcou profundamente o debate das externalidades surgiu
em Cambridge, com Arthur Cecil Pigou. Em sua obra A Economia do Bem-estar (1920), Pigou
desenvolve importantes contribuições às decisões econômicas para elevar o bem-estar de
uma coletividade. Uma de suas preocupações centrais baseava-se nas ações para elevar
a renda nacional. O deslocamento de recursos ineficientes seria uma das alternativas:

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Em geral, industriais estão interessados, não no social, mas no produto pri-
vado líquido de suas ações. Assunto discutido no capítulo V sobre custos de
movimento, o autointeresse tenderá a gerar uma igualdade no produto líquido
privado marginal de recursos investidos em diferentes formas. Mas, não ten-
derá a gerar uma igualdade nos produtos líquidos sociais marginais, exceto
quando produto líquido privado marginal e produto líquido social marginal são
idênticos. Quando há uma divergência entre esses dois tipos de produtos mar-
ginais líquidos, o autointeresse não irá tender a maximizar o produto nacional;
e, consequentemente, espera-se que determinados atos específicos de inter-
ferência nos processos econômicos normais não diminuam, mas aumentem
o produto (Pigou, 1962, p. 172).

Ao buscar explicações das economias externas, Pigou avança ao definir o produto social
líquido marginal e produto privado líquido marginal. A maximização do dividendo nacional
somente poderia ser alcançada quando houvesse identidade entre os dois produtos marginais
líquidos. Na presença de diferenças, Pigou acreditava na presença de externalidades que
estariam afetando os agentes econômicos a alcançar a maximização, mesmo em mercados
concorrenciais (PIGOU, 1962, p. 174). As soluções das externalidades poderiam incluir a
presença de multas, contratos restritivos, subsídios e impostos que o governo poderia im-
plementar para poder reequilibrar o produto marginal privado com o social.
Frank Hyneman Knight criticou duramente Pigou em seu artigo Some fallacies in the
interpretation of social cost (1924). Knight não concordava com o conceito de economias
externas e acreditava nas forças de mercado em se apropriar dos efeitos econômicos sub-
jacentes às flutuações dos custos de produção. Neste quadro analítico, Knight acreditava
no livre mercado para conduzir a economia a um estágio superior. Não seriam necessárias
ações de correção às externalidades.
O interessante artigo de Ronald Coase, The problem of social cost (1960) recuperou
o debate das externalidades. Para Coase o problema das externalidades não deveria ter
uma abordagem apenas marginalista como Pigou indicou, mas também nos seus efeitos
totais. Mesmo encontrando uma solução ao nível individual ao penalizar agentes pelos
efeitos negativos gerados, a correção poderia não produzir o melhor resultado ao nível agre-
gado: “O verdadeiro problema a ser resolvido é: A tem a permissão de produzir um dano
contra B ou B tem o direito de prejudicar A? A questão é como evitar o dano mais intenso”
(COASE, 1960, p. 2).
Coase (1960) lança uma nova percepção de solução, ao argumentar que as externalida-
des existem devido à ausência de mercado e direitos de propriedade bem definidos. Em sua
visão, o correto funcionamento do mercado conduziria a alocação final de recursos ao
mesmo nível, mesmo com externalidades e independente se o causador assume ou não
seus custos. Para Coase, a solução pigouviana de taxação, subsídios ou intervenção não
necessariamente elevaria o bem-estar da sociedade.

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Coase (1960) ainda argumenta que se deve buscar a solução ótima, pois acredita que
os benefícios em remover a externalidade devem ser maiores que os custos de transação
em promover o ajustamento. Assim, nem sempre a melhor solução é taxar o causador da
externalidade negativa para o ressarcimento do prejuízo. Uma negociação direta entre o
gerador da externalidade negativa e o prejudicado ou mesmo a definição clara dos direitos de
propriedade poderiam minimizar os custos de transação e elevar o benefício social gerado.
Por outro lado, quando as externalidades alcançam um número de agentes que tende
ao infinito, o problema e a solução se tornam complexos. Os custos de transação podem
ser proibitivos, os interesses e conflitos podem ser aguçados e os agentes podem não re-
conhecer as instâncias de solução. Quando os custos tendem ao infinito e os benefícios
sociais são mais módicos que o custo de transação, o Estado se torna uma peça chave na
resolução, bem na linha pigouviana.
Portanto, em conflitos mais localizados ou com direitos de propriedade bem estabe-
lecidos, a solução da negociação coasena com baixos custos de transação pode ser uma
alternativa à internalização das externalidades. Em uma arena ampliada, com externalidades
sistêmicas, elevado custo de transação e possíveis ações estratégicas, somente a atuação
de uma representação supraindividual como o Estado pode reduzir as externalidades com
custo de transação aceitável. Estas são, basicamente, as duas formas de enfrentar a pre-
sença de externalidades negativas.

AS DEFINIÇÕES CONTEMPORÂNEAS NOS LIVROS DE MICROECO-


NOMIA

Os manuais de microeconomia reservam às externalidades a seção de “falhas de


mercado”. Ali, junto com as assimetrias de informação, os bens públicos, os mercados in-
completos e o poder de mercado, as externalidades encontram guarida para se responder
aos “desvios” do mercado concorrencial neoclássico. A definição é relativamente simples e
muitas vezes contextualizada para exemplificar os efeitos de um benefício externo ou um
custo externo. Hunt (1981, p. 412) tem sua definição de externalidade:

Sempre que a utilidade para um indivíduo não seja uma questão puramente
pessoal, individual, quer dizer, sempre que a utilidade para uma pessoa seja
afetada pelo consumo de outras pessoas (ou pela produção das firmas), estes
efeitos interpessoais são chamados de “externalidades”.

A definição de Hunt associa o surgimento do debate sobre as externalidades com a


lição central deixada pelo utilitarismo. A busca pelo autointeresse acaba afetando demais
agentes econômicos, mesmo de forma despercebida. A definição é genérica e cabe tanto
para as externalidades positivas quanto negativas. Autores contemporâneos continuam

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reproduzindo as externalidades como falhas de mercado e em suas duas vertentes opos-
tas (positiva e negativa), tais como: Kreps (1990, p. 289), Mas-Colell, Whinston e Green
(1995, p.350), Pindyck e Rubinfeld (2002, p. 631-632), Daly e Farley (2004, p.226) e Mankiw
(2010, p. 195-196).
Quando as externalidades afetam gerações futuras, Daly e Farley (2004, p.226) adver-
tem da possibilidade de custos de transação infinitos entre gerações, sendo que o mercado
não tem mecanismos de autocorreção sem auxílio exógeno ao sistema de preços. Soma-se
a esse problema a informação imperfeita e a incerteza, dificultando equacionar os custos
marginais e os benefícios marginais quanto à probabilidade de seu comportamento. A dife-
rença marcante da abordagem de Daly e Farley é a percepção de longo prazo, sendo mais
abrangente que o referencial neoclássico que busca o equilíbrio de curto prazo.
Nos manuais de microeconomia também surgem as soluções às externalidades ne-
gativas. Um dos princípios usualmente adotados é do “poluidor pagador”, onde quem gera
o custo externo assume os efeitos negativos a terceiros. Neste contexto, as externalidades
podem ser mitigadas sem a presença do Estado, desde que os custos de transação não
sejam proibitivos e os envolvidos consigam chegar a um acordo. É comum achar a expressão
“solução coaseana” (STIGLITZ, 2003; MANKIW, 2010).
As soluções de externalidades sistêmicas normalmente envolvem o Estado, que in-
cluem taxação linear por nível de poluição, taxação por cotas de poluição, cotas de emissão
máxima, cotas de emissão negociáveis, subsídios, multas, proibições e zoneamento. Há um
mix de políticas que envolvem instrumentos econômicos e instrumentos de comando e con-
trole. Em adição, o Estado pode implementar instrumentos de comunicação social, quando
não pretende taxar ou regular demasiadamente um setor ou bem de consumo, mas mostrar
as consequências do consumo sobre a formação de externalidades negativas. É comum
achar a expressão “solução pigouviana” (STIGLITZ, 2003; MANKIW, 2010).
Importante destacar que a informação assimétrica pode mascarar uma externalidade,
enviando sinais enviesados ao mercado, como é o caso de produtos que produzem exter-
nalidades negativas em seus processos produtivos enquanto seus consumidores desconhe-
cem. Em tal quadro, os consumidores tomam decisões de compra que não seriam tomadas
caso houvesse informação completa. Os esquemas de certificação são opções eficientes
para sinalizar aos consumidores que determinadas firmas ou processos produtivos estão
internalizando as externalidades, totalmente ou parcialmente.
Outra situação é quando a sociedade não inclui valores altruísticos e de empatia. Mesmo
com informações suficientes sobre as externalidades causadas à sociedade, grupos de con-
sumidores decidem manter o nível de consumo, não afetando o mercado daquele produto
gerador de externalidades. Em geral, esse fenômeno ocorre quando os efeitos mais severos

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da externalidade ocorrem em uma localidade distante da qual o produto é consumido, sendo
os benefícios e os custos separados pelo espaço (ALIER, 2000).
Interessante que nos manuais de microeconomia os autores usam e, muitas vezes
abusam, da expressão “mão invisível” consagrada por Adam Smith (1996). A autorregulação
promovida pelo sistema de preços e o autointeresse seria como “um sistema de governança
descentralizada e a baixo custo”. Mas, não se encontra nos manuais a contrapartida que
chama a atenção para um processo que é definido Hunt (2008) como “pé invisível”. Se a mão
invisível organiza o sistema social, o pé invisível desorganiza. São antíteses de um mesmo
processo, a busca pela satisfação pessoal gerando benefícios e custos de forma entrelaçada.
Para Hunt (2008), o tratamento das externalidades é o calcanhar de Aquiles da eco-
nomia do bem-estar. Hunt assume que a externalidade ocorre quando a função utilidade de
um consumidor é afetada pela função utilidade de outro consumidor, ou a função produção
da firma é afetada por outra firma, ou mais importante, que a função individual de um agente
é afetada por outros agentes não diretamente conectados. Para a economia convencional,
exceto para uma externalidade isolada, o ótimo de Pareto pode ser alcançado. Mas, Hunt
não concebe a condição de subsidiar ou taxar uma externalidade isolada, pois teria um
efeito nulo ou neutro, pois estaria desconsiderando milhões de externalidades que estariam
ocorrendo ao mesmo tempo. A solução de uma externalidade não implicaria na solução do
ótimo de Pareto (HUNT, 2008, p.244).
Para Hunt, muitas ou quase todas as decisões dos agentes afetam, em algum grau,
o prazer ou felicidade de outros agentes. Somente uma abordagem extremista individual
poderia aceitar uma teoria econômica que considera a hipótese da existência de externa-
lidades isoladas. Assim, a solução taxa-subsídio Pigouviana seria uma fantasia, dada a
complexidade da presença de externalidades. A solução iria requerer milhões de taxas e
subsídios e o sistema teria rodadas infinitas para equalizar a internalização, sendo que não
levaria o sistema próximo do Pareto eficiente (HUNT, 2008, p.244-245).
Mas, para Hunt a mais reacionária ação dos economistas ortodoxos ocorreu na abor-
dagem Coaseana, quando não se podia mais ignorar a degradação ambiental nos Estados
Unidos, ao final da década de 1950 e início de 1960. A política de criar direitos de propriedade
para poluir o ambiente e depois comercializar livremente tais direitos foi a tônica. A questão
seria apenas uma ausência de direitos de propriedade e que, após resolvida essa pendência,
a lógica da maximização de benefícios levaria o sistema à alocação eficiente e à “poluição
ótima”. O Pareto ótimo poderia ser alcançado, mas com níveis de poluição ambiental. Neste
caso, apesar da equalização econômica, nada se garante que os níveis de poluição são
“ótimos” para a natureza.

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Em sua análise, Hunt critica que tal solução seria realmente capaz de solucionar a
questão das externalidades. Considera que em um modelo onde o agente maximiza seus
benefícios, o Estado estabelece direitos de propriedade e sempre novas deseconomias
externas são criadas, cada agente percebe rapidamente que sua decisão pode impor cus-
tos externos a terceiros, portanto a negociação no mercado de poluição sempre o deixará
em situação melhor. Podendo externalizar parte de seu custo à sociedade, o agente não
se restringe e cria o máximo de custo social que poderia impor a outros. Este seria o “pé
invisível” de Hunt, que significa que no sistema:

The “invisible foot” ensures us that in a free-market, capitalist economy each


person pursuing only his own good will automatically, and most efficiently, do
his part in maximizing the general public misery1 (HUNT, 2008, p.245).

Os agentes escolherão sistemas capazes de externalizar o máximo custo e garantir


benefícios líquidos privados, chutando com seu “pé invisível” a maior parcela possível de
sua responsabilidade2. A economia seria eficiente em promover a miséria (HUNT, 2008,
p.246). Assim, os incentivos para promover economias externas seriam mais fracos que
os incentivos em promover deseconomias externas. As soluções neoclássicas de taxação,
subsídios e direitos de propriedade seriam ineficientes, pois a abordagem ortodoxa é inca-
paz de analisar as forças sociais interdependentes, delimitar direitos de propriedades nos
campos da física e da biologia e fomentar um sistema de taxação racional que realmente
elimine as deseconomias externas (HUNT, 2008, p.246).
De certa forma, a posição de Hunt se alinha a de Garret Hardin (1968), na discussão
da maximização do benefício privado e minimização do custo, pelo processo de compar-
tilhamento de custos. Para Hardin, a “tragédia dos comuns” se baseia no livre acesso e a
demanda irrestrita de um recurso finito, que termina por condenar estruturalmente o recurso
por conta de sua superexploração. Cada agente busca tomar uma decisão a seu favor, mas
toda decisão envolve um custo compartilhado. Se o agente acrescenta uma unidade produtiva
a seu favor, mas o custo é dividido pela coletividade, racionalmente não haveria impeditivo
de tal ação. Mas, no limite os recursos alcançam a depleção e todos acabam em situação
pior que a inicial. O trabalho de Hardin foi criticado, pois ele foi considerado um apologista

1 Tradução livre: “O “pé invisível” nos garante que, em uma economia capitalista de livre mercado, cada pessoa que busca apenas seu
próprio bem fará automaticamente e com mais eficiência sua parte para maximizar a miséria pública em geral”.
2 De forma similar, Jacobs (1995) define o mesmo processo como “cotovelo invisível”. O cotovelo invisível golpeia e empurra no
caminho de terceiros agentes econômicos tudo aquilo que não se encontra diretamente implicado nas transações, gerando danos
involuntários ou não planejados. Essas ações de empurrar custos a outros agentes difusos, mesmo que imperceptíveis ao gerador
da externalidade, exclui das gerações futuras a omissão das consequências sociais e ambientais de tais transações no curto prazo.

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da privatização dos recursos comuns e da supressão de terras ancestrais coletivas, como
de indígenas e de populações marginalizadas em países subdesenvolvidos.
Elinor Ostrom discutiu a tragédia dos comuns por outra perspectiva, se posicionando
contra a solução única da regulação (a solução Pigouviana) ou privatização dos recursos
comuns (a solução Coaseana). Através da teoria dos jogos conseguiu perceber arranjos co-
letivos que criam contratos de uso compartilhado e responsável dos recursos comuns. O au-
tointeresse daqueles envolvidos no uso do recurso os move a construir contratos, muitas
vezes informais, para monitorar e denunciar infrações dos demais agentes e garantir o
cumprimento do contrato (OSTROM, 1990).
Em suma, as abordagens dos custos externos são controversas e não se tem con-
senso de sua solução ao nível sistêmico. A teoria econômica convencional se sustenta na
definição de que seriam falhas de mercado e que ajustes em setores específicos poderiam
garantir a alocação eficiente. Hunt rejeita essa posição e critica a estrutura de maximização
racional do benefício, que seria mais prejudicial à coletividade. Ostrom identifica soluções
para recursos comuns, mas a partir de ações coletivas organizadas e em espaços bem
delimitados. O debate continua e novas categorias analíticas precisam incorporar soluções
descentralizadas ao nível local, mas que tenham rebatimento sistêmico, com baixo custo
de transação, includentes do ponto de vista social, reduzida ação estratégica oportunista
e que integre as concepções econômicas com os limites biofísicos dos ecossistemas. Tal
integração poderia ocorrer com a aproximação da ciência econômica com a ecologia, acei-
tando incorporações da sociologia, antropologia, ciência política, geografia, história, física
e demais ciências para compor uma abordagem interdisciplinar.

O CONCEITO DE EXTERNALIDADE REVERSA

Na natureza existe uma “divisão funcional” de tarefas. Cerca de 0,6% da energia pri-
mária solar é convertida pelos autótrofos em matéria e energia química-biológica, a partir da
sua capacidade de sintetização. A base da biomassa terrestre depende dessa conversão,
que inclui condições edafoclimáticas ajustadas aos limites de sobrevivência das espécies
vegetais. Uma vez a energia solar transformada em biomassa vegetal, a cada ciclo vegetativo,
os herbívoros podem predar na natureza ou receber a energia fornecida por sistemas antro-
pogênicos. Os herbívoros podem ser predados ou fornecidos aos carnívoros na sequência
da cadeia alimentar. Os onívoros estão em um nível de consumo que inclui alimentar-se de
autótrofos e dos herbívoros e quaisquer outros tipos de biomassa.
Após o ciclo de vida de autótrofos, herbívoros, carnívoros e onívoros, forma-se uma
massa de energia e matérias de dejetos e estruturas não utilizáveis diretamente por essas
espécies citadas. Neste momento, entra o “serviço” dos decompositores saprofíticos, os

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fungos e as bactérias. Essas espécies microscópicas utilizam matérias mortas como subs-
trato de sua colonização e reprodução, sendo sua base alimentar. Ao utilizar dejetos como
matéria-prima, degradam as macro partículas em estruturas menores e liberam gases e água
de volta ao ambiente. Seu serviço é de reciclar nutrientes e disponibilizá-los novamente aos
ciclos biogeoquímicos. Após transformar os dejetos em micronutrientes, gases na atmosfera
e água nos diversos compartimentos, os autótrofos estariam aptos a utilizar tais estruturas
para reiniciar o processo de transformação química da energia solar em biomassa. Se os
autótrofos são o início da formação da biomassa, os decompositores são o final do ciclo, mas
ao mesmo tempo são as bactérias e fungos que garantem que não haja acúmulo de dejetos
e estruturas mortas bloqueando a disponibilidade de nutrientes para o ciclo da vida continuar.
De certa forma, os decompositores são reversores de algo que, a princípio, não tem
mais serventia ou uso. As sucatas de animais/vegetais e os dejetos de animais são, ao
mesmo tempo, o final e o início de ciclo da vida, sendo revertidas de matéria e energia
desorganizada pelos decompositores para que se tornem matéria-prima novamente. Desta
forma, a ação de throughput3 descrita por Daly (1991) é facilmente percebida na natureza.
Contudo, esse processo não é tão claro nos sistemas humanos. Para que a sustentabilidade
possa ser um processo mais concreto, Daly (1991) indica a necessidade de tratar os dejetos
como se matérias-primas fossem, como se estivesse inserindo uma “função decomposito-
ra” na sociedade. A “função autótrofa social” vem sendo estudada desde os clássicos, no
processo de criação do valor. As demais “funções” sociais também são mais perceptíveis,
considerando a economia política da distribuição dos recursos, ou “quem preda quem”.
Mas, a “função decompositora” muitas vezes não se reconhece ou se valoriza, algo como
o serviço dos decompositores na natureza, pois são microscópicos e de difícil visualização.
Neste sentido, acredita-se que existe na sociedade grupos que já executam o serviço de
decomposição, evitando ao menos parcialmente, o acúmulo de sucatas e dejetos na su-
perfície do sistema econômico e social. Esses grupos operam revertendo macroestruturas
desvalorizadas ou com pouco valor, disponibilizando novamente aos “sistemas autótrofos”
agregadores de maior valor econômico.
A reversibilidade inicial refere-se à ação de agentes econômicos identificados ou di-
fusos que, operando no mercado em busca de reter excedentes em uma racionalidade
de autointeresse, transformam a entropia sistêmica4 em matéria e energia organizadas

3 Conceito inicialmente proposto por Boulding (1966), throughput “é um fluxo de materiais e energia proveniente do ecossistema global,
usado pela economia, e disposto de volta ao ecossistema como resíduos” (Daly e Farley (2011, p.6). Ou ainda, nas palavras de Daly
(1991, p.7): “o fluxo de recursos naturais de baixa entropia (inputs) que sofre as transformações da produção e do consumo e volta à
natureza sob a forma de resíduos (outputs), seja para aí se acumularem, seja para ingressarem em ciclos biogeoquímicos e, através
da energia solar, voltarem a fazer parte de estruturas de baixa entropia que podem novamente ser úteis a economia”.
4 Entendido aqui como em Gonçalves e Gaspar (2012), como um processo de desorganização de sistemas (combustão, expansão,
dissolução), alterações de conteúdos energéticos (fusão, vaporização, filtração), mudanças de capacidades exergéticas (calor, traba-
lho, reação química), ou seja, quanto maior for a desordem de um sistema, maior será a sua entropia.

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novamente. A ideia de reversão parcial da entropia já foi debatida por Boulding (1966),
Georgescu-Roegen (1971; 2012), Daly (1977), Altvater (1996), Daly e Farley (2011) e outros,
mas o que se busca acrescentar nessa proposta é a possibilidade de reversão das externa-
lidades negativas a partir da reciclagem de materiais parcialmente desvalorizados do ponto
de vista material e energético por agentes diferentes daqueles causadores da poluição.
Ou seja, em um primeiro plano reverte-se a entropia a partir de uso de tecnologias
apropriadas. Se o sistema estiver operando acima da capacidade de suporte, a ação dos
agentes recicladores torna-se importante para reverter esse quadro e reconduzir o uso do
recurso ao máximo sustentável, mesmo que os agentes poluidores e recicladores não tenham
informações perfeitas sobre o limite sustentável do sistema em operação. Contudo, essa
reversão ou throughput discutido por Daly (1991) inclui também a redução de custos exter-
nos não percebidos inicialmente pelos agentes recicladores, contudo intrínseco aos agentes
difusos. Há aqui uma clara reversão de custos de terceiros e não dos agentes recicladores.
Posto que a sociedade assume parcial ou totalmente estes custos de forma difusa,
a ação deliberada de agentes também difusos pode atenuar a formação de novos custos
sociais e a sua acumulação na forma de passivo. Neste ponto, a reversibilidade da externa-
lidade negativa se inicia, processo aqui denominado de externalidade reversa. Ao se avan-
çar as taxas de recuperação de materiais, pode-se alcançar um ponto de estabilização dos
passivos ambientais, onde a reciclagem se torna circular em estado estacionário, sendo o
limite da reversibilidade, uma solução para os custos externos. Em uma posição ainda mais
interessante, a ação de recicladores poderia reduzir os passivos acumulados tendendo a
zero, podendo até criar ativos ambientais que poderiam gerar benefícios marginais externos
e difusos à sociedade. Desta forma, a externalidade reversa poderia se revelar como:

a) Circular: quando a taxa de recuperação da matéria e energia se iguala à taxa de


expansão da demanda de materiais, mantendo os níveis de extração em um mesmo
patamar; estaria alcançado aqui o estado estacionário de Daly (1991):

a. Exaurível: quando a recuperação de sucatas se equivale à geração de resíduos


correntes, ampliando o tempo de uso das jazidas no longo prazo, contém a polui-
ção de curto prazo e poupa recursos usados na extração;
b. Renovável: quando a recuperação estabiliza a extração de fontes biogeoquímicas
de curto prazo com capacidade de renovação; não garante que o sistema esteja
funcionando dentro da capacidade de suporte, mas evita a ampliação da extração
do recurso.

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b) Contracionista: quando a taxa de recuperação da matéria e energia supera a taxa
de expansão da demanda, reduzindo os níveis de extração do recurso:

a. Exaurível: quando a recuperação de sucatas está acima da geração de resíduos


correntes e avança sobre estoques de materiais inservíveis acumulados, amplian-
do de forma significativa o tempo de uso das jazidas no longo prazo, pois consegue
conter a extração;
b. Renovável: quando a recuperação estabiliza a extração de fontes biogeoquímicas
com capacidade de renovação e avança sobre estoques de recursos inservíveis
acumulados, ampliando os estoques de recursos biológicos; não garante que o
sistema esteja funcionando dentro da capacidade de suporte, mas reduz a extração
do recurso e propicia a formação de capital natural.

c) Mitigadora: quando a taxa de recuperação da matéria e energia é inferior à taxa de


expansão da demanda, não impedindo a elevação da extração, mas contendo parte
do potencial avanço de extração do recurso:

a. Exaurível: quando a recuperação de sucatas está abaixo da geração de resíduos


correntes, mas impede que o tempo de uso das jazidas seja trazido muito fortemen-
te para o curto prazo, contém a poluição de curto prazo e poupa recursos usados
na extração;
a. Renovável: quando a recuperação não impede a elevação da extração de fontes
biogeoquímicas de curto prazo com capacidade de renovação, mas impede a sua
expansão de forma mais vigorosa; não garante que o sistema esteja funcionando
dentro da capacidade de suporte, mas evita a ampliação da extração do recurso,
contendo ao menos parcialmente a perda de capital natural.

Essa proposta de conceituar um processo de recuperação de matéria e energia acu-


mulada de forma desorganizada, construindo um arcabouço teórico que emula o processo
natural de recuperação de sucatas e resíduos do metabolismo é uma tentativa de expandir
as lentes de entendimento de uma sociedade complexa e à beira da catástrofe ambien-
tal. A sociedade do século XXI precisa evoluir em todas as dimensões e acredita-se que
a teoria econômica convencional também se insere nessa necessidade de ajustamento.
Portanto, dada a necessidade de aperfeiçoamento da capacidade analítica da teoria eco-
nômica, este esforço intelectual busca oferecer ampliações na solução teórica da externa-
lidade negativa, apontando seis diferenças que a externalidade reversa teria em relação à
modelagem convencional.

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Uma primeira diferença dos modelos analíticos de Ronald Coase (1960) e Arthur Pigou
(1920) refere-se à diferença substancial dos agentes envolvidos e a solução. Coase sugere a
identificação de agentes poluidores e prejudicados e constrói uma solução de internalização
da externalidade pelos detentores da propriedade privada, com ausência de ação estratégica,
custos de transação infinitesimais e informações completas. O modelo pigouviano busca
internalizar as externalidades via taxação de agentes difusos, reconhecidamente poluidores,
aceitando ação estratégica possível e custos de transação consideráveis.
Na proposta deste artigo, a externalidade reversa se materializa na presença de agen-
tes privados difusos que operam no mercado, que acabam reduzindo custos externos de
outros agentes poluidores, internalizando o custo de operação de sistemas de reciclagem e
recuperação, que deveriam ser assumidos pelos poluidores (conforme o princípio do poluidor
pagador, um dos alicerces do direito ambiental5). A diferença substancial é que na externa-
lidade reversa a internalização do custo não ocorre pelo agente poluidor e não é derivado
de uma negociação poluidor-prejudicado ou de uma imposição de taxação. Note-se também
que a externalidade reversa se diferencia do conceito de externalidade positiva.
No caso da externalidade positiva, os agentes tendem a contrair ou limitar o investimento
e a alocação de recursos na presença de benefícios marginais líquidos externos, pois não
captam todo o excedente de seu esforço, esse ponto está bem definido no conceito nessa
abordagem dos benefícios externos marginais. No caso da externalidade reversa, os agentes
recicladores não tenderiam a reduzir ou limitar o investimento em seus empreendimentos na
presença de benefícios marginais externos a terceiros, pois reconhecem que tais processos
reforçam a lógica de funcionamento da reciclagem. Quanto maiores as taxas de recicla-
gem, controle de poluição e expansão do tempo de uso de recursos exauríveis, maiores as
possibilidades de negócio do empreendimento reciclador. Sendo os benefícios difusos, os
recicladores não percebem o excedente gerado aos demais agentes e o benefício marginal
não chega a constranger o investimento no empreendimento privado. Por essa razão, acre-
dita-se que a externalidade reversa não se comporta como um processo de externalidade
positiva, apesar de algumas semelhanças.
Na presença de externalidade reversa, a ação dos agentes econômicos é livre e se
baseia em forças de mercado, notadamente em sinalização de preços, na oportunidade de
negócios ou na possibilidade de reprodução social. Ao operar livremente no mercado, se
apoiando sobre os dejetos e sucatas de diversos sistemas produtivos, agora vistos como
throughput, agentes privados reduzem a entropia e custos sociais de curto e longo prazo
que estariam se acumulando sem a presença destes agentes recicladores sociais. Ao invés

5 Ver De Andrade Moreira, Lima e Moreira (2019).

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de acumular entropia em bolsões de resíduos, a operação da função decompositora de
agentes recicladores difusos atenuaria os custos de logística de coleta, a necessidade de
novos espaços para aterrar ou despejar os resíduos, mitigaria parcela da poluição causada
e reduziria a necessidade de novas matérias-primas virgens.
Assim, nosso entendimento de externalidade reversa seria o processo que deriva da
ação de agentes privados difusos6 operando em mercados de recuperação ou reciclagem
de materiais e energia, buscando o autointeresse e baseados na racionalidade do custo de
oportunidade do capital ou de sua reprodução social, que estariam reduzindo custos e/ou
gerando benefícios difusos de forma não captada em seus registros de receita bruta ou na
estrutura de custos de outros agentes difusos. De forma mais clara, os benefícios gerados
a outros agentes difusos pela redução da poluição ou contaminação não estariam sendo
captado diretamente pelo agente reciclador, o que seria uma clara geração de benefícios
externos, isto é, externalidade positiva, mas não impeditivos de manutenção ou expansão
do esforço em reciclar pelos agentes difusos, o que seria uma consequência limitadora do
conceito de externalidade positiva. Esse processo produz um vetor-invertido-negativo sobre
o custo externo de operação de outros agentes que não estaria sendo percebida de forma
direta pelo agente reciclador que reduz a desutilidade marginal, devido sua ação concorrer
diretamente para conter o custo social de poluição, de contaminação e de escassez de
matéria-prima original.
Uma segunda diferença na abordagem é que a externalidade reversa se distingue da
externalidade negativa porque na primeira, os agentes reconhecem a entropia como uma
oportunidade de negócios, enquanto na segunda abordagem os agentes reconhecem a en-
tropia como um custo a ser assumido, tanto em seu tratamento quanto em sua indenização
a agentes prejudicados. Na externalidade negativa o processo é de end of pipe, um quadro
de “pé invisível” e “cotovelo invisível” onde os agentes buscam se livrar ao máximo possível
de resolver o problema da poluição, tentando externalizar à sociedade, elevando o custo
social. Já na externalidade reversa, os agentes reduzem o custo social por usar os resíduos/
sucatas como fonte de matéria-prima aos seus empreendimentos, controlando a formação
de entropia com rebatimentos claros em outros sistemas produtivos e na vida social.
Na presença de agentes recicladores da poluição, operando livremente no mercado e
considerando os resíduos de outros empreendimentos como throughput, pode-se visualizar
a possibilidade de deslocamento da curva de custo marginal de poluição para a esquerda,
reduzindo a poluição ótima, mas mantendo o nível de produção social de bens e serviços,

6 Deve-se notar que agentes privados identificados como as empresas recicladoras geram externalidade positiva, enquanto o agente
com função autótrofa social ou chamada de “autótrofos sociais” (ou seja, o catador), comporta-se como um agente privado difuso
gerando externalidade reversa.

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sem perda de bem-estar. Além de reduzir a entropia no sistema, os agentes recicladores
promovem uma poupança de materiais ainda não explorados, alargando o tempo de utili-
zação das jazidas ou recursos renováveis. Pode não representar uma solução completa da
geração de entropia, mas a presença desses agentes propicia ganhos de tempo até que
outro arranjo institucional socioambiental se estabeleça como novo paradigma.
Em uma terceira diferença, a internalização da externalidade pela ação reversa não
implicaria em oferta além do ponto de eficiência econômica, pois os custos externos que
estariam sendo impostos à sociedade são revertidos por agentes privados, na base da
pirâmide socioambiental. Esta é uma diferença importante em relação à solução de inter-
nalização clássica, que implica em redução da produção e o ajustamento do excesso pro-
dutivo. Conforme Daly e Farley (2004, p.222), com a presença de externalidade negativa
os agentes produtores levam a atividade longe demais de onde seria o ponto eficiente de
Pareto, mas com a presença de externalidade reversa, os custos externos são parcialmente
ou totalmente absorvidos pelo sistema produtivo, impedindo que a solução seja o corte da
produção econômica, a geração de desemprego e redução de pagamento de impostos.
Somente se a produção estiver acima da capacidade de suporte ecológico, deve-se buscar
reduzir a escala de produção e levar o uso energético-material ao nível sustentável. Caso
contrário, se a produção ainda estiver dentro do limite máximo de uso dos recursos, não
seriam necessárias a redução e a perda de produção material, mas garantir e estimular a
presença do fenômeno da externalidade reversa.
Neste caso, a criação de taxação ou negociação para que o poluidor internalize sua
externalidade não chega a gerar uma redução da produção. Isso ocorre porque parcela do
custo externo estaria sendo revertida pelos agentes recicladores e o agente poluidor incor-
reria em menores custos de taxação ou na negociação. Parcela ou totalidade dos custos
marginais de poluição do agente poluidor estaria sendo absorvidas pelos agentes recicladores
que reconhecem a poluição como throughput e não como um custo.
Uma quarta diferença na abordagem da externalidade é que nessa proposta, a rever-
sibilidade inicia como uma abordagem ecológico-econômica, pois a primeira variável a ser
identifica a ser revertida é a entropia. Uma vez percebida a reversão da entropia gerada,
parte-se para uma integração com as variáveis econômicas que sinalizam aos agentes a
oportunidade de mercado. Nas abordagens coasena-pigouviana, tem-se a preocupação de
internalizar o custo externo, buscando encontrar o ponto econômico de “poluição ótima”,
mas não se aborda a questão da entropia e do ponto de limite da capacidade de suporte
biológico e físico. Aqui percebe-se que a ação mais relevante é manter o sistema energéti-
co-material dentro de limites seguros de funcionamento e que o mercado pode auxiliar na
solução do equilíbrio entre oferta de sintropia e geração de entropia. De forma mais clara,

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este modelo teórico busca atrelar as abordagens ecológico-energético com o econômico,
com objetivo de encontrar equilíbrio no uso dos recursos naturais e na alocação eficiente
de recursos econômicos, enquanto a abordagem tradicional equaliza a poluição apenas do
ponto de vista econômico.
Uma quinta diferença refere-se à importância dos agentes econômicos envolvi-
dos. Na presença de externalidade reversa, percebe-se que os recicladores são atores
sociais normalmente desvalorizados, que estão à margem da economia, não tem poder de
mercado e muitas vezes na informalidade e quase invisíveis. Operam na base do sistema,
coletando sucatas e dejetos descartados. A externalidade reversa pode se atrelar a uma
visão de base social, elevando a importância dos pequenos “excluídos”, que trabalham como
decompositores sociais, varrendo o lixo da superfície e reciclando a entropia do metabo-
lismo econômico e social, sem o reconhecimento da sociedade. A ação de grupos sociais
recicladores se equivale ao capital como ação estabilizadora do sistema, como a elevação
do capital constante e tecnológico como resposta à entropia crescente, que neste caso, tem
função similar aos recicladores. Ou seja, pode-se equiparar a ação mitigadora dos recicla-
dores, mesmo que informais, ao mesmo nível de importância social do capital produtivo.
Este debate não está incluído nas soluções coaseana e pigouviana e oxigena o debate por
inserir de forma central a questão social.
Em adição, uma sexta diferença a abordagem de solução seria em relação aos arranjos
coletivos de Elinor Ostrom. Aqui a solução não passa por delimitar os recursos comuns ex
ante e formular contratos, mesmo que informais. A solução descentralizada e individualiza-
da de agentes econômicos não pressupõe um arranjo formal. Atores sociais podem ope-
rar isoladamente e observando seu autointeresse, mas quando se posicionam na “função
decompositora socio metabólica”, acabam gerando efeitos positivos no tecido social e nos
ecossistemas circundantes. Neste sentido, os custos de transação para organizar o sistema
reciclador seriam reduzidos ou até infinitesimais. Não são necessários grandes acordos e
contratos complexos, mas apenas garantia de condições mínimas de operação e sinalização
clara de preços de mercado.

Entre a mão invisível e o pé invisível: usando a cabeça visível

Na estrutura atual, o trabalho dos recicladores não alcança um “valor social” equipara-
do ao capital produtivo e financeiro, porque o capital natural que ele recupera (a sucata de
capital natural) não é mensurado corretamente e por isso o trabalho de recicladores não é
reconhecido, muitas vezes visto como “desnecessário”, “desvalorizado” ou “indigente” (como
os catadores de rua). Contudo, sua ação recupera parcela do excedente que estaria sendo

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depositado como resíduo em aterros e sumidouros de sucatas. O debate ainda não evoluiu
o suficiente para caracterizar como este tipo de excedente é recuperado.
Que valor teria esse excedente? O sistema capitalista se apropria do excedente do
trabalho, mas após a produção e circulação, o valor recuperado pelos recicladores da sucata
de capital natural ainda representa excedente de trabalho ou um tipo de capital natural resi-
dual? O reciclador consegue reter parcela desse excedente? O valor que recebe é parcela
do excedente recuperado ou apenas o valor do trabalho alocado? Aqui surgem questões
de fundo que podem subsidiar políticas de garantia ao excedente de valor recuperado das
sucatas e dejetos, como forma de reduzir a exploração no valor recuperado pela ação dos
recicladores. Uma proposta de trabalho seria a criação de um pacote mínimo de incentivos
para fortalecer o processo e garantir valor de referência dos bens recicláveis como um sis-
tema similar à garantia de preços de commodities e de remuneração mínima de produtores
e trabalhadores. Seria uma proposta socioambiental e econômica, pois recupera sucata de
capital natural, evita ampliar a exploração de capital natural intacto, gera valor excedente e
distribui renda para grupos sociais de maior vulnerabilidade.
A ampliação do fenômeno das externalidades reversas e sua presença de forma sis-
têmica em uma sociedade pode gerar efeitos importantes em escala crescente. Ações de
agentes individuais agregando-se podem rebater ao nível macroeconômico. Por exemplo,
o fenômeno da externalidade reversa gerada por agentes econômicos difusos pode reduzir
o custo de operação do sistema de coleta, tratamento e armazenamento de resíduos que é
assumido pela coletividade, geralmente através de orçamento público. Os recursos poupados
pelo Estado podem ser alocados em outros sistemas geradores de externalidade positiva,
como educação, ciência, tecnologia e saúde coletiva.
De forma ampliada, a externalidade reversa pode reduzir parcela da poluição e da
escassez absoluta e relativa de recursos naturais e matéria-prima, reduzindo o gap entre
a utilidade marginal e a desutilidade marginal do crescimento econômico7, considerando a
escala máxima de uso dos recursos naturais. Neste caso, a externalidade reversa ocorreria
até o ponto onde os custos marginais são totalmente revertidos por agentes recicladores,
trazendo o sistema ao limite da capacidade sustentável. Deste ponto em diante, inicia a
geração de benefícios marginais.
Sem a presença dos recicladores sociais o limite de funcionamento do sistema se-
ria abreviado, elevando a ação social como condição para manter a estrutura produtiva
atual. A externalidade reversa poderia ser estimulada em mercados que seja possível trans-
formar entropia em throughput, criando oportunidades de empregos, geração de excedente

7 Sobre desutilidade marginal do crescimento econômico, ver Daly e Farley (2004; 2011).

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e rebatimentos no controle da entropia e na expansão do tempo de utilização do capital na-
tural. De outra forma, a externalidade reversa poderia gerar um tempo extra para encontrar
outros arranjos institucionais, sociais e produtivos mais sustentáveis e construir cenários
mais favoráveis a um sistema generalizado de reciclagem.
Mais do que acreditar na mão invisível com a criação de mercados de poluição ou sim-
plesmente aceitar o pé invisível, e o resultado fatídico da falência total do sistema, acredita-se
na posição do meio, assim como Veiga (2005; 2010), que acredita sempre em encontrar
soluções fora dos extremismos. Existem milhares de agentes econômicos, atores sociais ou
simplesmente trabalhadores que buscam a sua solução cotidiana para a sobrevivência na
recuperação de valor de sucatas e dejetos do metabolismo social. Sua ação não é altruísta
com os demais agentes poluidores, não operam com arranjos contratuais, não tem ação
estratégica e não contam com direitos de propriedade sobre as sucatas. Coletam o que
o “pé invisível” chutou para fora do sistema, mas ao invés de perceber as sobras/dejetos
como um resíduo desvalorizado, as veem como uma fonte de recursos para capturar um
excedente econômico. Na verdade, quanto maior a força do “pé”, maiores as possibilidades
de recuperação de valor pelos recicladores. A solução ortodoxa e a de Elinor Ostrom não
incluem a reversibilidade de entropia através do trabalho e esforço de milhões de recicladores
sociais difusos. Podemos pensar em rejeitar a mão invisível e o pé invisível como posições
estabelecidas e propor o uso da cabeça visível, algo mais racional e ecológico que acreditar
somente em processos mais obscuros e de grande dificuldade de implementação.

Notas Conclusivas

Este artigo buscou uma reflexão sobre as limitações da abordagem de Ronald Coase
e Arthur Cecil Pigou na solução das externalidades negativas. Acredita-se que a solução
neoclássica convencional não busca integrar as limitações ecológicas à dinâmica econômica,
necessitando de atualizações.
Neste esforço procurou-se apresentar uma proposta conceitual complementar às
abordagens econômicas convencionais. A “externalidade reversa” seria um processo onde
agentes recicladores difusos estariam revertendo parcialmente a formação de entropia e os
custos externos marginais gerados por agentes também difusos.
O conceito de externalidade reversa incorpora seis importantes diferenças em relação
à solução neoclássica, ofertando à comunidade acadêmica e à sociedade uma nova forma
de analisar as ações de agentes capazes de reduzir a entropia e conter parcela dos custos
externos na economia de mercado. A proposta é apenas conceitual e não tem pretensão de
avançar em modelagem metodológica. Esse não é um passo final e definitivo, pelo contrário.

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Acredita-se que é apenas o primeiro passo na direção de se complexificar e sistematizar
uma solução teórica de externalidades negativas de forma mais holística e atualizada.

Os limites da proposta

Uma fragilidade que essa abordagem pode gerar ao nível social seria a formação de
um processo de lock-in na tecnologia utilizada, posto que pode ser parcialmente recuperada
e ampliado o tempo de uso da matéria-prima. Em um quadro de ausência ou baixa taxa de
agentes recicladores, as fontes de recursos naturais poderiam ser mais rapidamente exauri-
das, criando pressões para inovações tecnológicas superarem a estabelecidas. Ou mesmo,
a escassez de matéria-prima poderia motivar a utilização de tecnologias de fundo com maior
custo de entrada ou funcionamento. Ou seja, em um contexto de múltiplas interações dinâ-
micas, a presença da externalidade reversa pode apoiar a mitigação de custos externos de
curto prazo, mas podem também bloquear ou atrasar a implantação de um novo paradigma
tecnológico. Os planejadores devem estar atentos a possíveis tecnologias que venham a
superar uma estrutura com elevada geração de custos externos que necessitem de agentes
recicladores para manter em funcionamento tais empreendimentos.
Outro desafio da proposta é avançar em uma modelagem metodológica que incorpore
análise matemática e gráfica, ampliando o entendimento e as possibilidades de aplicação
do conceito de externalidade reversa. Ao se operacionalizar o conceito com métodos de
abordagem e procedimento, os argumentos a favor de sua implementação se tornam mais
robustos e de grande difusão no espaço.

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20
Influência da Concorrência e Renda Media
das Famílias na Variação do Preço de Venda
nas Empresas de Nampula

Lee Cheng Arune Chin Ching Vim


Universidade Católica de Moçambique

'10.37885/220809725
RESUMO

Em Moçambique existem 42.884 empresas, das quais 95% são classificadas em pequenas
e medias empresas, investidas por empresários locais. A importância das empresas é re-
conhecida pelo seu papel fundamental na redução da pobreza, através da criação de novos
postos de trabalhos e na geração de rendas a população. As áreas de emprego procuram
progressivamente melhorar as suas tarefas para conseguir benefício competitivo, portanto
precisam conhecer as exigências do mercado, preocupando-se em transformar conheci-
mento em valor e ainda controlar os factores externos que possam  intervir no sistema de
custos das organizações. O trabalho confrontou os preços de venda de 4 (quatro) produtos
em empresas diferentes. Logo depois verificou-se os factores de família de produtos e índi-
ce de renda nas diferentes zonas da cidade de Nampula. Conclui que os preços  padecem
alterações em todas as empresas de venda, constatando que o maior preço não condiz
com os locais de maior índice de renda, naturalmente determinado pelo factor concorrência.
Onde o índice de renda é mais alto e a competição de maior preço visa a ser inferior. Esta
estratégia independentemente do negócio é baseada nomeadamente em um pré-estudo,
dos clientes, dos concorrentes e do local em que se quer idealizar o negócio.

Palavras-chave: Concorrência, Preços de Venda, Renda das Famílias.


INTRODUÇÃO

Segundo Mussagy (2021), A economia informal em grande parte dos países da Africa
Subsariana representa uma larga porção do produto interno bruto (PIB) e contribui grande-
mente para resolver os problemas do desemprego e da pobreza urbana. A Africa Subsariana
é a região com as economias mais informais do mundo. Pelo peso que ela representa na
produção nacional, a economia informal tem sido um tema de grande importância na esfera
politica, económica e social.
A necessidade crescente de conquistar mercados, aumentar as exportações e optimizar
as importações, a fim de alcançar números favoráveis na balança comercial que ofereçam
melhores condições aos balanços de pagamentos, defrontam-se com alguns problemas,
ainda que se disponham de produtos e existam mercados capazes de realizar negocia-
ções (Daemon, 1998).
Moçambique é um país com vários empreendedores, a economia encontra-se em
crescimento, o sector de mercado continua num intenso desenvolvimento, e está cada vez
mais depende das empresas que por sua vez estão mais preocupadas, no que refere-se
aos seus interesses e objectivos.
As estratégias de preços de venda, de mercadorias têm em vista benefícios competi-
tivos de grande importância para os negócios onde as mesmas são separação de acordo
com os requisitos e procedimentos do mercado externo, da competição e dos consumidores.
Determinar uma construção de preços de venda dos produtos de maneira certa é pri-
mordial para as empresa que desejam alcançar a vitória, assim como conseguir entender as
causas externas que influenciam na  estruturação das mesmas. Consequentemente deve
existir uma estabilidade entre o preço pretendido pelos clientes e os valores que a empresa
está a facultar.
O trabalho tem como objectivo entender os factores externos do mercado que manipu-
lam a variação de preços de venda de 3 (três) lojas na cidade de Nampula. Analisando os
dados do  lucro e preço, confrontando com indicadores sócios económicos locais. Entender
através das amostras a grande importância, pois o mercado está cada vez mais rigoroso,
onde os compradores procuram não só por qualidade, mas por preços equilibrados com a
qualidade dos produtos.

REVISÃO DA LITERATURA

Em séculos passados, os negócios eram movidos por recursos naturais e para a ob-
tenção e controle desses recursos foram travadas grandes guerras.
Chiavenato (2009), afirma que:

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‘‘Com a crescente globalização dos negócios e a gradativa exposição à forte concor-
rência mundial, a palavra de ordem passou a ser produtividade, qualidade e compe-
titividade’’.

Hoje o primordial para as empresas, é a  conclusão final que vai a procura de um mais
correto modelo de concorrer no mercado, de maneira de alcançar o melhor performance e
um alto grau de excelência na  fornecimento de seus trabalhos.
Kootler (2000) ressalta que o posicionamento de um produto no mercado deve levar
em conta os aspectos tangíveis do produto, preço, praça e custo.
Neste contexto o autor confirma que os custos de estabelecida de uma empresa sejam
exemplos de forma de actuar da mesma assim, quanto mais organizado for o controlo, me-
lhores resultados serão obtidos. Desta forma, justifica a razão dos administradores terem a
obrigação de receber informações associados, e essas precisam ser rápidas e confiáveis.
Assim sendo percebe-se que, as organizações, encaixadas num ambiente económico de
mercado determinado por grande concorrência, precisam centralizar maiores empenhos no
planeamento e manejo das suas fontes de produção, causas de custos e receitas.
Bruni (2006), afirma ainda que os preços podem ser vistos como consequência, em
que oferta-se um produto ou serviço baseado nos já existentes, utilizando o preço da con-
corrência, e ainda administrando para incorrer em gastos e impostos menores que o mesmo,
assim almejando um diferencial para os consumidores finais.
Para Santos (1091), os preços dos concorrentes é um dos factores essênciais da es-
tratégia de preços, pois, a análise dos concorrentes é um ponto de referência que auxilia a
organização a determinar os seus preços de venda.
Portanto, os consumidores podem optar por mais de um fornecedor, assim tendo a
chance de escolher pela opção de maior valor. É significativo que a empresa pesquise o
comportamento e posicionamento dos concorrentes na área de actuação da mesma, para
que possa planear uma estratégia melhor.
Alves (2003) afirma que a variação sempre gera custos. Para Leandro (2008, citado
por Slack, 2002):

as atitudes tomadas para lidar com a variação, uma vez presentes no processo,
aumentam os custos. Por outro lado, as atitudes tomadas para reduzir as fontes
de variabilidade diminuirão custos e aumentarão a qualidade dos produtos ou
serviços, ou seja, quanto maior o trabalho para reduzir tanto quanto possível
essa variabilidade, menores serão os custos devidos à variação (p.98).

Alves (2003) conclui que para um negócio manter ou melhorar a qualidade e produ-
tividade são fundamentais o desenvolvimento e uso adequado de métodos quantitativos e
técnicas estatísticas, nomeadamente.

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345
METODOLOGIA

Segundo Gil (2002), o estudo de caso consiste no estudo profundo e exaustivo de um


ou de poucos objectos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado.
De acordo com Yin (2001), o estudo de caso é escolhido ao se examinarem aconteci-
mentos contemporâneos, mas quando não se podem manipular comportamentos relevantes.
O presente trabalho baseou-se em procedimentos de estudo de caso. O estudo tem
como amostra total 3 (três) lojas determinado suficiente para ser efeito a recolha de dados.
A recolha de dados foi elaborada através de pesquisa documental fornecida pelas
próprias lojas, os mesmos, foram tratados e organizados com uso do software Microsoft
Office (ferramentas Word e Excel). Na organização de dados estatísticos, utilizam-se as
tabelas e os gráficos.

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

A economia formal de Moçambique é caracterizada por muitas ligações ao sector in-


formal e a precaridade de dados sobre o sector informal em Moçambique, é uma realidade,
não obstante sua importância e o envolvimento da população neste sector. Segundo Keegan
(2003), os preços podem variar para atender às condições da concorrência local, bem como
diferir os canais de distribuição.
Para a efectivação desta pesquisa, utilizou-se como dados o preço médio de venda,
das principais famílias de produtos, de 3 (três) lojas em estudo, localizadas na Zona Central,
Bairro dos Poetas e Bairro de Muhaivire, da cidade de Nampula.
Consultado um universo de vinte famílias de cada bairro da cidade de Nampula che-
gou-se a conclusão que a renda média de cada família dos diferentes bairros é:

Tabela 1. Representação do índice de renda das famílias.

Índice de Renda Zona Central Bairro dos Poetas Bairro de Muhaivire

35 000.00Mt 25 000.00Mt 15 000.00Mt

Tabela 2. Representação dos produtos e os seus valores.

Família de produtos Zona Central Bairro dos Poetas Bairro de Muhaivire


Refrigerantes 45.00Mt 60.00Mt 75.00Mt
Agua mineral 15.00Mt 16.00Mt 20.00Mt
Lacticínios (Atum) 75.00Mt 100.00Mt 150.00Mt
Produtos de limpeza 100.00Mt 120.00Mt 130.00Mtm

Conforme a tabela 2, as pessoas do Bairro de Muhaivire que possuem o menor poder


aquisitivo e o maior preço médio de venda, ainda possui o menor número de concorrentes,

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revelando que os factores que estão actuando na alteração de preços, são os índices de
concorrência, como também a localização geográfica em que os mesmos se encontram.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Reforça-se a ideia que o factor que afecta a alternância do preço médio de venda, é à
concorrência dado que na zona Central de Nampula existem maiores números de lojas em
relação aos bairros. Pois, de acordo com os dados adquiridos chega-se a conclusão que
as lojas que se encontram em locais com menor índices de renda, apresentam os melhores
resultados em relação aos preços de venda dos produtos.
Factores estes, que podem estar ligados à baixa concorrência do segmento nos bairros
de baixo índice de renda.
Conclui-se que os indicadores como índice de renda no sector de mercado de venda,
não são preponderantes para ganho de preço de venda quando comparados com o nível
de concorrência. Dando assim a possibilidade aos consumidores um maior comparativo de
preço e variedades, aumentado a sua escolhas de quais lojas irão comprar.

REFERÊNCIAS
1. Alves,C. (2003). Gráficos de Controle CUSUM: Um Enfoque Dinâmico para a Análise
Estatística de Processos (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Santa
Catarina, Brasil. Recuperado de http://qualimetria.paginas.ufsc.br
2. Bruni,A.L. (2006). A administração de custos, preços e lucro. São Paulo, Brasil: Atlas.
3. Chisvenato,I. (2009). Recursos Humanos. O capital humano das organizações. Rio de
Janeiro, Brasil: Elsevier.
4. Daemon, D. (1998). Marketing Internacional. Rio de Janeiro. Editora Fundação Getúlio
Vargas.
5. Gil, Antonio Carlos. (2002). Como elaborar projetos de pesquisa. (4.ªed.). São Paulo:
Ed. Atlas.
6. Keegan,W. (2003). Princípios de Marketing Global. São Paulo, Brasil: Saraiva Editora.
7. Kootler, P. (2000). Administração de Marking. São Paulo. Novo Milênio Editora.
8. Mussagy,I.H (2021). ECONOMIA DE MOCAMBIQUE E OS DESAFIOS DA NOVA CRI-
SE. Maputo, Mocambique.
9. Santos,J.José, (1991). Formação de Preços e do Lucro. São Paulo, Brasil: Atlas.
10. Slack,N& Johnston.R. (2002). Administração da Produção. São Paulo. Atlas.
11. Yin, R. K. (2001). Estudo de caso: planejamento e métodos. (2.ªed.). Porto Alegre:
Bookman.

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21
Instrumentos urbanísticos: Outorga
Onerosa e Transferência do Direito de
Construir

Maria Heloísa de Lima Moraes Morué


Universidade Federal de Goiás - UFG

Simone do Nascimento Costa


Universidade Federal de Goiás - UFG

Daniela Rosim
Universidade Federal de Goiás - UFG

'10.37885/220809881
RESUMO

O Estatuto da Cidade estabelece revisão do Plano Diretor dos municípios em até 10 anos
após sua última edição. Diante desta obrigação, estudar a aplicação dos instrumentos ur-
banísticos utilizados pós aprovação do Plano Diretor é primordial para identificação da real
eficácia dos mesmos no planejamento e controle de uso e ocupação do solo, conforme
determina o Estatuto. Este trabalho busca apresentar como foi feita a aplicação dos instru-
mentos Outorga Onerosa do Direito de Construir e Transferência do Direito de Construir
no município de Goiânia nos últimos 10 anos, após a publicação da LC 171/2007 – Plano
Diretor e avaliar as consequências dos mesmos no planejamento da cidade. O objetivo é
verificar se a legislação pertinente ao tema está de acordo como o que preconiza o Estatuto
da Cidade e o Plano Diretor e quais as consequências do uso desses instrumentos na ocu-
pação de Goiânia.

Palavras-chave: Estatuto da Cidade, Instrumentos Urbanísticos, Outorga Onerosa e Trans-


ferência do Direito de Construir.
INTRODUÇÃO

As mudanças urbanísticas introduzidas no cenário nacional após a aprovação do


Estatuto da Cidade (Lei Nº 10.257, de 10 de julho de 2001), alteraram significativamente
tanto o direito urbanístico, que respaldou essas mudanças legais, quanto a visão de planeja-
mento, gerando um novo desenho para as cidades brasileiras. A nova lei tem como objetivo
apoiar o município, que tem se empenhado no enfrentamento das graves questões urbanas,
afetadas diretamente na vida dos habitantes das cidades.
Uma grande novidade trazida pelo Estatuto é o fato de que todos os princípios e direi-
tos estabelecidos na Constituição foram traduzidos em diversos instrumentos, mecanismos,
processos e recursos nele apresentados. Através dele, o princípio da função social da pro-
priedade passou a ter efeitos jurídicos concretos para o território das cidades, através dos
Planos Diretores, das leis de zoneamento, de delimitação de áreas de urbanização prioritária,
nas quais a retenção especulativa de imóveis urbanos deve ser combatida por instrumen-
tos de intervenção urbana passíveis de aplicação e monitoramento, como, por exemplo, o
imposto progressivo e o direito de preempção.
Importante destacar que o Estatuto não estabelece uma correlação direta entre trans-
formações urbanas e instrumentos. Cabe a cada município escolher, regulamentar e aplicar
os instrumentos conforme a estratégia de desenvolvimento urbano desejada. Assim, uma
determinada transformação urbana pretendida depende da aplicação de um conjunto de ins-
trumentos de maneira coordenada e integrada no território. Desse modo, a regulamentação
dos instrumentos deve ser feita dentro de uma estratégia de desenvolvimento urbano para
sua efetiva aplicação e deve estar expressa no Plano Diretor. Colocado à disposição dos
administradores municipais, essa nova ferramenta possibilita a atuação do poder público
no sentido de reduzir as desigualdades sociais além de permitir a organização das cidades.
Amparado nas determinações do Estatuto da Cidade, o município de Goiânia aprova
seu Plano Diretor em 2007, através da Lei Complementar Nº 171/2007. Com o objetivo de
induzir o desenvolvimento urbano e a redistribuição à coletividade dos benefícios decorren-
tes do processo de urbanização, apresenta em seus artigos 147, 150 e 157,158 os instru-
mentos de outorga onerosa do direito de construir - OODC e de transferência do direito de
construir – TDC.
Esses instrumentos foram posteriormente regulamentados através de leis específicas,
quais sejam: Lei Nº 8.618/2008 que regulamenta a outorga onerosa e Lei Nº 8.761/2009 que
regulamenta a transferência do direito de construir.
O modo como Goiânia decidiu implantar esses instrumentos está de acordo com o
que rege o Estatuto da Cidade? A utilização dos mesmos ocorreu conforme a intenção
do planejamento?

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O objetivo desse trabalho é analisar a emissão de Outorga Onerosa e de Transferência
do Direito de Construir no Município de Goiânia nos últimos 10 anos de vigência do plano dire-
tor, com o enfoque na forma de como foram consolidadas as ações definidas pela legislação.
O presente trabalho encontra-se divido da seguinte maneira: além da seção introdu-
tória, apresentamos outras três seções descritas, a seção da conclusão e a da bibliogra-
fia. Na seção 2 apresentamos as referências teóricas e legais que nortearam o estudo dos
instrumentos urbanísticos aqui apresentados. Na seção 3 apresentamos a metodologia
adotada e os dados obtidos, objetivando a apresentação dos dados trabalhados. Na seção
4 apresentamos as discussões referentes aos dados coletados.

A UTILIZAÇÃO DOS INSTRUMENTOS URBANÍSTICOS DE ACORDO


COM O ESTATUTO DA CIDADE, PLANO DIRETOR E LEIS ESPECÍFICAS

Os instrumentos aqui tratados (Outorga Onerosa do Direito de Construir - OODC e


Transferência do Direito de Construir – TDC) foram claramente apresentados no Estatuto
da Cidade no inciso sobre os institutos jurídicos e políticos. Sua utilização permite variadas
formas de intervenção social sobre o livre uso da propriedade privada (como desapropriação,
tombamento, instituição de unidades de conservação, edificação ou utilização compulsórias
e direito de preempção) e também a regularização fundiária das ocupações de interesse
social (através da concessão de direito real de uso, concessão de uso especial para fins de
moradia, usucapião especial de imóvel urbano, direito de superfície, legitimação da posse).
Embora sejam instrumentos distintos, guardam fundamentos comuns, baseados no
entendimento do conceito de Solo Criado. Historicamente as bases teóricas desses instru-
mentos, no plano nacional, foram estabelecidas pela Carta de Embu, na década de 70, com
a denominação de solo criado.

Solo criado será toda edificação acima do coeficiente único, quer envolva
ocupação de espaço aéreo, quer a de subsolo.

Ambos tratam de concessão emitida pelo município para a criação de pisos artificiais
acima da área do terreno, ou seja, acima do coeficiente de aproveitamento básico, dentro do
limite máximo de densidade fixado pelo plano diretor, mediante uma contrapartida financei-
ra. A finalidade é restaurar o equilíbrio urbano, garantindo um desenvolvimento sustentável
ao município, bem como melhores condições a todos os habitantes.
Segundo Ana Maria Furbino em O estatuto da cidade comentado, “a outorga onerosa
do direito de construir é um instrumento voltado à indução do desenvolvimento urbano, per-
mitindo, por exemplo, que o Poder Público incentive o adensamento de determinadas áreas
da cidade em detrimento de outras, como forma de promover o melhor aproveitamento da

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infraestrutura instalada, além de possibilitar a recuperação para a coletividade da valoriza-
ção imobiliária gerada por ações públicas. O instrumento ainda permite, indiretamente, a
arrecadação de recursos pelo governo local”.
Nesse sentido, ele deixa de ser um instrumento meramente arrecadador e passa a
ser também uma forma de induzir o desenvolvimento urbano, dificultando ou facilitando o
adensamento de áreas de acordo com os objetivos da política urbana. Uma forma de fazer
isso é limitar os estoques de área construída a serem disponibilizados para o mercado,
oferecendo-os apenas naquelas áreas cujo crescimento deve ser incentivado, e preservan-
do áreas que não devem ser adensadas em curto prazo (tais como as áreas de expansão
urbana, frequentemente exploradas precocemente pelos loteadores por causa do seu baixo
custo relativo).

Figura 1. Ilustração esquemática do funcionamento do instrumento.

Fonte:http://urbanidades.arq.br/imagens/2007/OutorgaOnerosadoDireitodeConstruir_D608/5outorga.jpg. Acessado dia 22 de junho


de 2017 às 09h e 07m.

De acordo com o Caderno Técnico de Regulamentação e Implementação da OODC


do Ministério das Cidades:

“Cabe delimitar a abrangência da OODC, que deve sempre estar contida


entre dois critérios: o critério do Coeficiente de Aproveitamento - CA básico,
que define a utilização autorizada para todos os terrenos urbanos sem o pa-
gamento de contrapartida, e o limite máximo de aproveitamento, que define
a maior utilização permitida para o terreno, a partir de critérios urbanísticos.”

“A possibilidade do exercício de direitos de construção adicionais ao definido


pelo coeficiente de aproveitamento básico aumenta a densidade construtiva
das áreas onde esses direitos adicionais sejam expressamente autorizados e,
por isso, depende da capacidade de infraestrutura instalada ou prevista nessas
áreas. Os limites máximos de aproveitamento dos terrenos urbanos devem ser
sempre definidos a partir deste critério (Art. 28, § 3º), ou seja, somente as áreas
adequadamente servidas de infraestrutura, ou onde esta infraestrutura esteja
prevista, poderão ser passíveis da atribuição de direitos construtivos adicionais
àquele definido pelo coeficiente de aproveitamento básico. Se esta condição
prévia estiver atendida, então outros critérios e parâmetros urbanísticos podem
ser acionados para a definição de limites máximos de edificabilidade para as
diferentes zonas urbanas

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Para o município de Goiânia, este instrumento já está estabelecido desde 1994, através
do artigo 26 da Lei Complementar Nº 031/94:
Art. 26. A licença para construir além do coeficiente de aproveitamento não oneroso
será concedida, observados os limites contidos das tabelas constantes do Anexo I, desta
Lei, mediante pagamento pelo interessado de um valor monetário calculado de acordo com
aplicação da seguinte tabela...
O Plano Diretor - LC Nº 171/2007 estabelece os princípios gerais para o assunto:

Art. 146. O Município poderá outorgar onerosamente o exercício do direito de


construir, mediante contrapartida financeira de preço público, bens, obras ou
serviço, a serem prestadas pelo beneficiário, conforme disposições dos artigos
28, 29, 30 e 31 da Lei Federal nº 10.257/01 – Estatuto da Cidade, de acordo
com os critérios e procedimentos definidos nesta Lei e demais legislações
pertinentes, quando for o caso.
Art. 147. As áreas passíveis de Outorga Onerosa do Direito de Construir são
aquelas onde o direito de construir poderá ser exercido acima do permitido
pela aplicação do Coeficiente de Aproveitamento Básico não oneroso, mediante
contrapartida financeira.
Art. 149. O impacto na infraestrutura, nos serviços públicos e no meio am-
biente, resultante da concessão da Outorga Onerosa do Direito de Construir
adicional, deverá ser monitorado permanentemente pelo órgão de planeja-
mento municipal.
Art. 150. A Outorga Onerosa do Direito de Construir será concedida median-
te o pagamento pelo beneficiário, de uma contrapartida financeira de preço
público...

Lei específica para o assunto é a de Nº 8.618/2008, que “regulamenta a concessão


da Outorga Onerosa do Direito de Construir prevista na Lei Complementar n.º 171, de 29
de maio de 2007”.

Art. 1º A Outorga Onerosa do Direito de Construir, para fins do disposto no


art. 146 e seguintes da Lei Complementar n.º 171/2007, consiste no direito
de construir acima do Coeficiente de Aproveitamento Básico adotado pelo
Município, mediante contrapartida a ser prestada pelo beneficiário.
§ 1º A contrapartida de que trata o caput deste artigo, poderá ser prestados
através de pagamento de preço público, bens, obras ou serviços, conforme
disposto neste regulamento.
§ 2º A contrapartida poderá ser prestada diretamente pelo beneficiário ou
por terceiro, por ele indicado, sendo que eventual inadimplência por parte do
terceiro indicado, responderá por ele o beneficiário.
Art. 2º Para o cálculo da contrapartida financeira a ser oferecida quando da
Outorga Onerosa do Direito de Construir, considera-se tabela de Preço Público
o valor Referencial do Custo Unitário Básico de Construção (CUB) constante
da Tabela elaborada pelo Sindicato da Indústria da Construção no Estado de
Goiás – SINDUSCON-GO.
Art. 3º A contrapartida financeira do valor da outorga onerosa será efetuada
em moeda corrente, podendo ser parcelada, em até 05 (cinco) vezes, paga tri-
mestralmente, sendo o primeiro pagamento efetuado no ato de sua concessão.
Art. 4º Para o pagamento do valor da outorga onerosa, através de contrapartida

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em bens, obras ou serviços, o beneficiário poderá, após análise da conveniên-
cia pelo Órgão Municipal de Planejamento, celebrar Termo de Compromisso,
como forma de transação, observando, para tanto, o disposto no art. 154 da
Lei Complementar Municipal 171/2007.

Conforme afirmado por Aluízio Pires de OLIVEIRA e Paulo César Pires CARVALHO, a
construção acima do limite máximo permitido gera uma sobrecarga urbanística e um ônus ao
Poder Público – vez que é necessário fazer com que energia elétrica, saneamento, transporte
público e áreas de lazer estejam igualmente disponíveis a todos os cidadãos e que as ruas
e calçadas estejam transitáveis – sendo que a forma onerosa de adquirir esse direito de
construir é um meio de equilibrar esse ônus com o particular. Seria “a aplicação do princípio
da justa distribuição de ônus e encargos, assim como do direito a cidades sustentáveis”1.
Mas, de acordo com os autores, não é a realização dessa paridade de ônus entre Poder
Público e particular a principal vantagem dessa limitação ao direito de criar solo e sim que,

[...] a arrecadação que a Administração terá com a outorga onerosa possibilita


a promoção do equilíbrio entre o crescimento e os serviços, aparelhando o
Poder Público com meios econômicos de regularização fundiária, saneamento
básico, programas habitacionais de direito à moradia. Viabiliza que aqueles efe-
tivamente mais afortunados, se efetuarem o aproveitamento excessivo, sejam
proporcionalmente onerados em favor dos menos favorecidos. Esta é a razão
de o art. 31 da Lei destinar os recursos à correção das distorções do art. 26.2

A TDC, por sua vez, consiste em um mecanismo pelo qual o poder público municipal
faculta ao proprietário de imóvel urbano, a exercer em outro local, ou alienar, o direito de
construir até um parâmetro básico definido por lei urbanística que não possa ser exercido
no terreno de origem, total ou parcialmente, em face de interesses públicos legalmente
definidos. Visa então compensar os proprietários de imóveis que tenham o seu potencial
construtivo reduzido em benefício da preservação do patrimônio ambiental ou paisagístico.
Neste caso, autoriza-se o exercício do direito de construir em outro imóvel.

A transferência do direito de construir - TDC é uma faculdade dada ao pro-


prietário de imóvel urbano, privado ou público, de exercer em outro local, ou
alienar, mediante escritura pública, o direito de construir previsto no plano
diretor, conjugando o interesse público com o particular sem despesas ao
erário público.

1 OLIVEIRA, Aluísio Pires de; CARVALHO, Paulo César Pires. Estatuto da Cidade: anotações à Lei 10.257, de 10.07.2001. Curitiba:
Editora Juruá, 2002. p. 145 e ss.
2 OLIVEIRA, Aluísio Pires de; CARVALHO, Paulo César Pires. Estatuto da Cidade: anotações à Lei 10.257, de 10.07.2001. Curitiba:
Editora Juruá, 2002. p. 147

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Figura 2. Desenho explicativo sobre potencial do terreno.

Fonte: http://abeiradourbanismo.blogspot.com.br/2014/09/transferencia-do-direito-de-construir.html. Acessado em 22 de junho de


2017 às 11h e 56m.

O pressuposto da transferência é que, embora se impeça o exercício do direito de


construir em determinado imóvel, haja infraestrutura disponível no local de origem. Essa
infraestrutura será então utilizada por outro imóvel, sem prejuízo para a qualidade de vida
de seu entorno. Pode-se concluir, portanto, que o índice resultante não poderá exceder ao
coeficiente de aproveitamento máximo previsto no plano diretor (PINTO, 2002).
Em síntese, nas palavras de Oliveira, “a transferência do direito de construir poderá
trazer forte impacto no mercado imobiliário, dando origem à propriedade virtual. Assim, o
proprietário impedido de exercer seu direito no próprio imóvel, poderá construir em outro
local, podendo os empreendedores imobiliários adquirir o direito de construir de proprietários
que não possuam ou não queiram exercer o direito defluente de lei. Inaugura-se uma nova
moeda de circulação no mercado e com valor econômico: o direito de construir”.
A utilização da TDC encontra-se bem instruída no Estatuto da Cidade, que apresenta
os critérios básicos de onde deverá ser aplicado instrumento:

– Imóveis necessários para fins de implantação de equipamentos urbanos e comuni-


tários;
– Preservação, quando o imóvel for considerado de interesse histórico, ambiental,
paisagístico, social ou cultural;
– Servir a programas de regularização fundiária, urbanização de áreas ocupadas por
população de baixa renda e habitação de interesse social.

Art. 35. Lei municipal, baseada no plano diretor, poderá autorizar o proprietário
de imóvel urbano, privado ou público, a exercer em outro local, ou alienar,
mediante escritura pública, o direito de construir previsto no plano diretor ou

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em legislação urbanística dele decorrente, quando o referido imóvel for con-
siderado necessário para fins de:
I – implantação de equipamentos urbanos e comunitários;
II – preservação, quando o imóvel for considerado de interesse histórico, am-
biental, paisagístico, social ou cultural; III – servir a programas de regularização
fundiária, urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda e
habitação de interesse social.
§ 1º A mesma faculdade poderá ser concedida ao proprietário que doar ao
Poder Público seu imóvel, ou parte dele, para os fins previstos nos incisos I
a III do caput.
§ 2º A lei municipal referida no caput estabelecerá as condições relativas à
aplicação da transferência do direito de construir.

No município de Goiânia este importante instrumento também já vinha sendo utilizado


desde a Lei Complementar Nº 031/1994:

Art. 30. O Poder Executivo poderá autorizar o proprietário de imóvel consi-


derado de interesse histórico ou cultural a exercer em outro local ou alienar,
mediante escritura pública, o direito de construir igual a uma vez a área do
respectivo terreno.

A Lei Complementar Nº 171/2007 expandiu a aplicação do instrumento, baseado nas


premissas do Estatuto da Cidade.

Art. 157. Fica autorizado ao proprietário de imóvel urbano, privado ou público,


a exercer em outro local ou alienar, mediante escritura pública, o direito de
construir quando o referido imóvel for considerado para fins de:
I - implantação de equipamentos urbanos e comunitários;
II - preservação, quando o imóvel for considerado de interesse histórico, am-
biental, paisagístico, social ou cultural;
III - servir a programas de regularização fundiária, urbanização de áreas ocu-
padas por população de baixa renda e habitação de interesse social.

Direcionou também a localidade das áreas que poderão receber este potencial cons-
trutivo, inclusive delimitando sua transferência.

Art. 158. As áreas receptoras do potencial construtivo, objeto de Transferên-


cia do Direito de Construir, estarão localizadas na unidade territorial definida
como Áreas Adensáveis, exclusivamente nas áreas pertencentes aos Eixos
de Desenvolvimento e áreas objeto de aplicação de projeto diferenciado de
urbanização, integrantes da Macrozona Construída.
§ 1º Fica estabelecido como potencial máximo a ser transferido por unidade
imobiliária, o equivalente a 25% da altura do edifício a ser implantado no
imóvel receptor.

A conceituação e aplicação do instrumento encontra-se definida na Lei nº 8.761/09, a


qual trata especificamente da TDC. Além desta lei, outras leis posteriores ampliaram tanto
o potencial gerador de TDC quanto sua aplicação, a saber:

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1 - A Lei Complementar Nº 181/08 expande a aplicação de TDC para as faixas das
áreas para ampliação do sistema viário e faculta sua aplicação na substituição da OODC
além do já previsto como pagamento do potencial máximo de 25%.

§ 1º Fica facultada a aplicação da Transferência do Direito de Construir – TDC,


sobre a área objeto da complementação do sistema viário, nos termos de
legislação própria.
§ 2º A TDC, de que trata o parágrafo anterior poderá ser utilizada em substi-
tuição ao instrumento da Outorga Onerosa do Direito de Construir – OODC,
além do potencial máximo equivalente a 25% da altura do edifício conforme
estabelecido no art. 158 da Lei Complementar nº 171/2007.

Assim, com a LC Nº 181/2008 – Lei dos Vazios Urbanos, o instrumento passa a ser
liberado com a finalidade de conseguir áreas para a implantação dos corredores (§1º) e
como “moeda” no pagamento de outorga onerosa (§2º).
2 - A Lei Complementar Nº 246/2013 (alteração da LC 171/2007 - Plano Diretor) fa-
culta a aplicação de TDC nas áreas do PUAMA e excetua as áreas de desaceleração da
aplicação de TDC.

Art. 133 (...)


§ 1º Fica garantido o disciplinamento especial, estabelecido em lei específica,
para as áreas integrantes do Programa Urbano Ambiental Macambira Anicuns
– PUAMA.
§ 2º Fica facultada a aplicação da TDC sobre as áreas integrantes do Progra-
ma Urbano Ambiental Macambira Anicuns - PUAMA, nos termos de legislação
específica, exceto na Área de Desaceleração de Densidade.

Dessa forma estabelecem-se dois tipos de “coeficientes” previstos na nossa legislação:


o coeficiente de aproveitamento básico não oneroso, equivalente ao potencial dado pela
unidade imobiliária do imóvel em qualquer local da cidade, e o coeficiente de aproveitamento
máximo, alcançado através do instrumento da OODC em conjunto com a TDC.
Identifica-se, portanto, que os dois instrumentos aqui apresentados são diferentes em
seu modo de liberação, mas constituem um único princípio: o de permitir alterações no solo
urbano (com relação a cheios e vazios), para que a cidade possa crescer e se adaptar às
constantes transformações de maneira organizada e planejada.

(METODOLOGIA) OS INSTRUMENTOS E O MUNICÍPIO DE GOIÂNIA

Em sua concepção, a utilização do solo criado visa o equilíbrio de densidade entre as


áreas construídas e as áreas livres disponíveis na cidade. Para a criação das áreas livres,
esse preceito prevê a doação dos terrenos ao poder público, sendo os direitos construtivos
transferidos para outros terrenos.

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A OODC é um instrumento através do qual o poder público concede ao particular,
mediante contrapartida, o direito de construir acima de um patamar comum de construção
atribuído aos terrenos urbanos, o coeficiente de aproveitamento (CA) básico, até os limites
urbanísticos máximos. A TDC, por sua vez, consiste em um mecanismo pelo qual o poder
público municipal faculta ao proprietário de imóvel urbano, a exercer em outro local, ou
alienar, o direito de construir até um parâmetro básico definido por lei urbanística que não
possa ser exercido no terreno de origem, total ou parcialmente, em face de interesses pú-
blicos legalmente definidos.
Em sua origem, os instrumentos tinham como objetivo “equalizar” os preços dos terre-
nos, evitando que os índices urbanísticos causassem supervalorização de algumas áreas
(onde era possível verticalizar) e desvalorização de outras (onde não era possível vertica-
lizar), podendo definir coeficientes diferenciados de acordo com as características de cada
zona e com os objetivos definidos para elas.
Para a avaliação da aplicação dos instrumentos no município de Goiânia, foram utiliza-
dos dados da Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Habitação, através do Fundo
Municipal de Desenvolvimento Urbano – FMDU, responsável pela emissão do documento
da outorga onerosa e do Comitê de Uso e Ocupação do Solo, responsável pela emissão
dos pareceres de TDC.

A outorga onerosa do direito de construir - OODC

Ao definirmos o potencial básico construtivo do lote, limitado pela área de sua unidade
imobiliária, estamos claramente impondo limitações urbanísticas para construções em um
determinado local da cidade. O instrumento da OODC vem exatamente cobrir essa lacuna
que a legislação urbanística impôs e conferir ao proprietário do imóvel a possibilidade de
construir mais do que está estipulado. E de que forma ele exerce esse direito? A legislação
prevê a contrapartida tanto financeira como prestação de obras ou serviços públicos, sen-
do mais habitual a contrapartida financeira. Isso permite que o Poder Público invista, por
exemplo, no ordenamento urbano e no sistema viário, comumente entraves urbanísticos
típicos das grandes cidades.
Para a avaliação da emissão e aplicação da OODC foram levantados a quantidade
total de pareceres emitidos e os valores recebidos através deles pelo FMDU desde o ano
de 2008 (ano de publicação da lei específica de OODC) até o ano de 2016. Através desses
documentos puderam ser identificados os bairros de utilização do instrumento, inclusive a
metragem quadrada que estava sendo utilizada individualmente por cada empreendimento.
Essa informação nos permite identificar quais as áreas que foram mais ocupadas/adensadas

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ao longo do território e ainda qual a arrecadação do município para utilização no planeja-
mento da cidade. O resultado da tabulação dos dados segue abaixo:

Gráfico 01. Outorga onerosa concedida por ano.

Fonte: Gerência do Fundo Municipal de Desenvolvimento Urbano – SEPLANH, 2017.

Gráficos 2 a 10. Outorga onerosa concedida por bairro em cada ano.

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Fonte: Gerência do Fundo Municipal de Desenvolvimento Urbano – SEPLANH, 2017.

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Analisando as liberações de OODC feitas pelo município, observa-se uma diluição de
sua aplicação em parte da macrozona construída, sem que a mesma gerasse adensamentos
significativos. Os locais de maior utilização são principalmente aqueles situados em áreas
adensáveis por direcionamento do próprio Plano Diretor (principalmente os Setores Bueno,
Marista e Jardim América).
Avaliando os gráficos apresentados, foram observadas as seguintes características:

1. O período de maior emissão de OODC foram os anos de 2009 a 2012, período em


que o instrumento se consolida.
2. Avaliando os bairros com maior utilização do instrumento, constata-se que até 2010
a utilização da outorga onerosa se deu para projetos protocolados para análise à
luz da legislação anterior à LC 171/2007, sendo sua utilização não direcionada
aos eixos de desenvolvimento e às unidades territoriais previstas pelo atual Plano
Diretor;
3. No período de 2010 a 2016, sua aplicação foi direcionada principalmente às áreas
adensáveis propostas pelo Plano Diretor.
4. Após 2012 houve um decréscimo considerável na emissão de outorga onerosa.
Isso ocorreu após a publicação da LC Nº 246/2013, que permitiu o pagamento de
outorga onerosa com títulos adquiridos através de TDC.
A transferência do direito de construir - TDC

Para a avaliação do instrumento de TDC foram levantados todos os pareceres e “cré-


ditos” emitidos desde a aprovação da lei específica. Foram identificadas as áreas objeto
de doação (aquelas impedidas de alcançar todo o seu potencial), e os locais de interesse
do mercado imobiliário para uso do instrumento. Foi possível perceber quais as unidades
territoriais mais se densificaram e qual o índice atingido por cada empreendimento, através
da metragem quadrada utilizada. Os dados levantados foram processados em um sistema
denominado “Tableau”, desenvolvido especialmente pela Prefeitura para tratamentos de
dados municipais.
De acordo com os dados tabulados até o mês de junho/2017, foram emitidos 512
pareceres transferindo o direito de construir de uma área para outra, com as seguintes
características:

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Gráfico 11. Tipo de área doada. Gráfico 12. Tipo de uso para a aplicação do instrumento.

Fonte: Comitê de Uso e Ocupação do Solo – SEPLANH, 2017.

Gráfico 13. Exemplo de utilização da TDC/bairro. Gráficos 14. Utilização da TDC/uso.

Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Habitação – SEPLANH, 2017.


Fonte: Comitê de Uso e Ocupação do Solo.

• Em análise às liberações de TDC emitidas pelo município, é possível perceber que


a aplicação do instrumento no município acontece em duas fases distintas. Uma
até 2008, onde sua função se restringia ao que rege o Estatuto da Cidade e outra
de 2008 até os dias atuais, onde a aplicação do instrumento foi direcionada para
alguns fins específicos:
• Era de interesse do município a aquisição de faixas de áreas para a complementa-
ção do sistema viário junto aos corredores exclusivos e preferenciais, para que fos-
sem efetivados os eixos de desenvolvimento propostos pelo Plano Diretor. Assim
sendo, foi incentivada sua troca com um índice de pagamento bem elevado: a cada
metro quadrado doado recebia-se cinco metros quadrados para aplicação acima do
potencial máximo e vinte metros quadrados para substituição de OODC.
• Era também de interesse do município a implantação do Parque Urbano Ambiental
Macambira Anicuns – PUAMA, parque linear com 24km de extensão, e para que
fosse possível sua realização seria necessária a desapropriação de diversas áreas
ao longo do córrego Macambira e ribeirão Anicuns. Foi então incentivada a doação
das áreas necessárias com pagamento através do instrumento de TDC, em pro-
porções menores que a dos corredores: a cada metro quadrado doado recebia-se

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cinco metros quadrados em TDC, para utilização acima do potencial máximo.

Entretanto, foram identificadas pelo mercado imobiliário algumas potencialidades para


utilização desta lei não prevista quando da elaboração da mesma. Alguns exemplos:

• Diversas áreas doadas como reserva do sistema viário para os corredores estavam
localizadas em áreas afastadas do centro, onde a implantação dos mesmos ainda
demanda tempo. Há áreas em que ainda não há nem a via aberta. Isso gerou a
concentração de grande quantidade de metros quadrados em TDC no mercado.
• A liberação para utilização do instrumento como substituição ao pagamento da ou-
torga onerosa para o município abriu o mercado para a venda desses “créditos” em
TDC a preço menor que o instrumento de outorga onerosa gerado pelo município,
causando uma concorrência com o próprio município. Com grande quantidade de
TDC no mercado, passou a ser mais vantajosa a aquisição de TDC que a de outor-
ga onerosa, mesmo sendo seu pagamento trimestral.

A UTILIZAÇÃO EM CONJUNTO DOS DOIS INSTRUMENTOS

O instrumento de gestão urbanística TDC se distingue do instrumento OODC no trâmite


realizado pelo recurso oriundo da sobrevalorização de lotes de terreno beneficiados pelo
aumento de potencial construtivo. Na Outorga Onerosa, o recurso é destinado a obras e ser-
viços públicos ainda não especificados, via Fundos Municipais de Desenvolvimento Urbano,
componentes dos Orçamentos Municipais. Na Transferência, o recurso é destinado a obras
e serviços de interesse públicos previamente definidos, por intermédio dos próprios agentes
privados que atuam no mercado imobiliário. Vista desde as zonas de destino, a Transferência
do Direito de Construir não é, pois, senão uma espécie de Outorga Onerosa “terceirizada”.
Em algumas cidades, a Transferência do Direito de Construir coexiste, pois, com a
Outorga Onerosa do Direito de Construir no mesmo âmbito urbano.
Como pôde ser percebida, a legislação de Goiânia permite o uso em conjunto dos
instrumentos de OODC e TDC. Enquanto complementares, se apoiam como auxiliares no
equilíbrio do planejamento urbano.
Entretanto, a partir da LC Nº 246/2013, que permitiu o pagamento de outorga atra-
vés de títulos de TDC, os dois instrumentos passam a ser “concorrentes” em termos de
arrecadação, o que acaba prejudicando sua real eficácia. Conforme dados obtidos pela
Secretária Municipal de Planejamento Urbano e Habitação, a partir de 2013 deixou-se de
recolher grandes montantes monetários que seriam revertidos ao FMDU, fazendo com que
a arrecadação do referido fundo ficasse bastante comprometida.

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Uma vez que os dois instrumentos poderiam ser usados para o mesmo fim e entenden-
do que a “moeda” outorga onerosa tem cálculo de valor estipulado em lei e que a TDC tem
seu valor regulado por quem a detém, para a venda imediata da moeda TDC, seu valor de
mercado passou a ser cada vez mais baixo, enfraquecendo a compra de outorga. Assim, os
custos finais de “títulos” de OODC e de TDC para o incorporador passam a ser diferentes,
apesar de aplicáveis às mesmas localizações urbanas. Pôde então ser observada uma mi-
gração dos empreendedores para a compra de TDC, o que gerou uma diminuição drástica
na receita do FMDU.
No entanto, é importante ressaltar que a emissão de “créditos” de TDC foi extrema-
mente importante para alguns projetos urbanos. Temos como exemplo o pagamento de
desapropriações para implantação de equipamentos urbanos, como é o caso do PUAMA e
das faixas destinadas a ampliação dos corredores viários, viabilizando assim parte da política
urbana proposta pelo Município.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

São de grande importância para o município a utilização dos instrumentos de outorga


onerosa e transferência do direito de construir.
A OODC tem se mostrado bastante eficiente e explorada pelo mercado imobiliário e pela
construção civil de Goiânia, haja vista a quantidade de unidades habitacionais viabilizadas
através de sua aplicação, principalmente aquelas direcionadas para as áreas adensáveis
da cidade distribuídas ao longo dos eixos de desenvolvimento, corredores viários, conforme
preconizado pelo Plano Diretor.
A TDC também tem se mostrado um importante aliado para que sejam viabilizados di-
versos projetos de planejamento, em função da amplitude de locais em que pode ser aplicada.
Alguns ajustes são necessários e urgentes, e o cenário atual converge favoravelmente
para que essas mudanças aconteçam de forma imediata.
A revisão do atual Plano Diretor do Município deve prever alterações significativas
na aplicação dos instrumentos. Uma primeira proposta de alteração deve ser na forma
de utilização da TDC restringindo a substituição total da OODC pela TDC, prevista na Lei
Complementar nº 181/ 2008 - Vazios Urbanos, objetivando equilibrar a arrecadaçáo do
Municipio a partir desse instrumento de OODC. Outra açáo imediata deve ser a revisáo
dos indices aplicados para a TDC, objetivando novamente, equalizar a valoraçáo das areas
passiveis de originar TDC.

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REFERÊNCIA
1. BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal,
1988.

2. BRASIL, Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Estatuto da Cidade. Regulamenta os


arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana
e dá outras providências. In: Diário Oficial da União, Brasília, 11 jul. 2001.

3. GOIÂNIA. Lei Complementar Nº 031 de 29 de dezembro de 1994. Lei de Zoneamento


de Goiânia. Diário Oficial do Município de Goiânia, n. 1320 de 29 de dezembro de 1994.

4. GOIÂNIA. Lei Complementar n° 171, de 29 de maio de 2007. Plano Diretor de Goiânia.


Diário Oficial do Município de Goiânia, n. 4147 de 26 de junho de 2007

5. MARINS, Vinicius. O Estatuto da Cidade e a constitucionalização do Direito Urbanístico.


Jus navigandi, Teresina, a. 8, n. 223, fev. 2004. Disponível em http://www1.jus.com.
br/doutrina/texto.asp?id=4806. Acesso em: 20 ago. 2017.

6. MUCAI, Tosshio. O estatuto da cidade: anotações à Lei n. 10.257, de 10 de julho de


2001, São Paulo: Saraiva, 2001.

7. PINTO, Victor Carvalho. Avaliando o estatuto da cidade. II Congresso Brasileiro de


Direito Urbanístico, Porto Alegre: Evangraf, 2002.

8. SOUZA, Marcelo Lopes de. Mudar a cidade: uma introdução crítica ao planejamento e


à gestão urbana .2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
9. OLIVEIRA, Régis Fernandes de. Comentários ao Estatuto da Cidade. São Paulo: Edi-
tora Revista dos Tribunais: 2002.

10. SANTIN, Janaína Rigo, MARANGON, Elizete Gonçalves de. O estatuto da cidade e os
instrumentos de política urbana para proteção do patrimônio histórico: outorga onerosa e
transferência do direito de construir. São Paulo 2008. Disponível em http://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-90742008000200006&lng=en&nrm=iso&tlng=-
pt a. Acesso em: 22 set. 2017.

11. BARROS, Ana Maria Furbino Bretas CARVALHO, Celso Santos MONTANDON Daniel
Todtmann. O Estatuto da Cidade Comentado Organizadores Celso Santos Carvalho,
Anaclaudia Rossbach. São Paulo: Ministério das Cidades: Aliança das Cidades, 2010.
120 p. Disponível em: https://fundamentosarqeurb.files.wordpress.com/2013/01/esta-
tuto-comentado.pdf. Acesso em: 22 set. 2017.

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Main incentives and barriers to effectiveness
of governance in brazilian science and
technology parks

Milton Correia Sampaio Filho


Universidade Federal da Bahia - UFBA

Maria Ângela da Costa Lino Franco


Sampaio
Faculdade Baiana de Direito e Gestão

Jair Nascimento Santos


Uneb/UNIFACS

'10.37885/220408615
STRUCTURED SUMMARY

Studies on Technological Science Parks [STPs] in operation in the world are congruent in
the primary strategies of economic growth and secondary objectives of economic develop-
ment. The research investigated barriers and incentives for the effectiveness of governance
in Brazilian STPs. Key effectiveness criteria (trust, number of participants, consensus on the
objectives and essential competences of integrated management) in opposition to the gover-
nance typology in interorganizational networks generate the recommendation that managers
in a network with shared governance establish an administrative organization of trilateral
Network Administrative Organization (tNOA) oriented to specific network governance activities.
Diverging from these guidelines, Brazilian STPs (a) aren’t a set of multilateral arrangements
and interdependence agreements between the company and stakeholders; (b) don’t have
a shared governance, (c) don’t guarantee value generation in a balanced way between the
market view and the social view. Possible causes found: the heterogeneity of characteristics
among the organizations that make up the STP, the lack of consensus on common objec-
tives, pressure forces and influences that affect relationships of trust, non-compliance with
standards. It is recommended that strategic decision makers and managers avoid criteria
such as mimicry, copying without adapting others’ models and personal preferences, which
limit the effectiveness of the results.

Keywords: Regional Economic Development, Governance, Effectiveness, Science and


Technology Parks.
INTRODUCTION

Studies on Science and Technology Parks [STPs] in operation around the world are
congruent in the desired impact as a strategy of regional economic growth (primary results)
and regional economic development (secondary results) objectives. They also emphasize
that three main expected outcomes with their implementation: (a) Creation of new jobs in new
industries; (b) Interest in getting involved in the high technology market and (c) Creation of
synergies between companies and industries are somehow the cause of a high failure rate.
STPs are complex interorganizational networks composed of actors such as organized
civil society, governments and higher education institutions and / or research centers. They
require highly complex synergistic relationships to deal with consolidation and maintenance
instabilities. It requires a continuous process of negotiation and alignment of interests between
all the actors involved otherwise, there is context for a destabilized network and possible
damage to the expected results. The more heterogeneous the (public, private, social) actors
in the network are, the more descentralized the network may be. The actor-builder of the
network must be very persuasive, offer greater incentives and be able to facilitate socioeco-
nomic and political interactions with and between other actors.
Governance of interorganizational networks tend to consider the network itself as the
main object of analysis, institutional arenas of interaction that provide rules, norms, routines
and discourses that structure the actors’ actions and create patterns of interaction, mere
consequences of such strategy.
Santos (2003, p.334) points out that organizational networks function as a strategic
tool with two facets: if on the one hand they offer the promise of balance and stability to the
participants, on the other they limit the movement of their accession rules and other commit-
ments. In this context, network components attract attention or redirect those who try to act
or are acting in dissonance with what has been established by the network, thus limiting the
flexibility required for adaptation and survival in a dynamic environment.
The exploratory qualitative research presented in this paper investigated the knowled-
ge gap involving the effectiveness of the governance of Brazilian PCTs, oriented to the key
research problem: What are the main barriers and incentives for the effectiveness of gover-
nance in Brazilian technological science parks?
It is observed that despite the academic interest in the development of projects, im-
plementation and operation of PCTs and studies produced on this topic, either on cases
with superior performance (such as the Stanford Industrial Park that led to the formation of
Silicon Valley) , whether on recommendations of critical factors for performance and possible
induction to regional development, there are still important gaps and few studies regarding
its governance and management.

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The scarcity of field researches mapping the Brazilian reality leads to the purpose,
instigates as objective of the present research to present a reflection on the governance in
Brazilian Technological Science Parks and to understand the possible barriers and incentives
for the effectiveness of the governance in Brazilian technological science parks.
The introduction presents the problematizing context that motivated the research. The
mapping on the governance typology in interorganizational networks met the academic in-
terest from a multidisciplinary theoretical perspective of the properties and processes in
the organizational relations and their reflexes of expected economic development from the
STPs seen as networks. The mapped criteria guided the collection and analysis of field data
reported in the research methodology. The results of the analysis and the recommendations
for continuing the work were documented, based on the listed research references.

GOVERNANCE IN INTERORGANIZATIONAL NETWORKS

Networks can be analyzed from the theoretical perspective of Social Sciences or Political
Science (formulation of public policies) or Organizational and Interorganizational Studies
(Applied Social Sciences). It can be understood as a metaphor, a method or an analytical
tool. (Kenis & Schneider, 1991; Galaskiewicz & Wasserman, 1994; Faulkner & Rond, 2000;
Kilduff & Tsai, 2003; Monge & Contractor, 2003; Santos, 2003; Galaskiewicz, 2007). Due to
the characteristics of the present research, the study and conceptualization of networks was
adopted in the view of Organizational and Interorganizational Studies. Networks are unders-
tood as vehicles for providing services and implementing research. An effective exercise of
a policy oriented towards issues of coordination of actors that make up the network, inter-
connection of complex services and effectiveness of mechanisms to obtain results through
the creation and supply of products.
Networks can be broadly defined as “a set of nodes and the set of loops that represent
some relationship or lack of relationship between nodes”, whose content of the relationships
between nodes is “limited only by the researcher’s imagination” (Brass et al. , 2004, p. 795),
including in its proposal a variety of forms of cooperation, such as joint ventures, strategic
alliances, partnerships and consortia.
Networks can be seen as constellations of organizations that come together through
the establishment of social contracts or agreements (for example, provision of health servi-
ces through referral systems) instead of legally binding contracts. Although legally binding
contracts may exist within a network, the organization of the relationship is based primarily
on the social (Alter & Hage, 1993; Barringer & Harrison, 2000; Jones, Hesterly & Borgatti,
1997; Oliver, 1990).

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The present research adopts a definitive statement based on the research by Kilduff
and Tsai (2003): network is a form of governance, a network is composed of three or more
organizations linked by multilateral ties in general formally established (and not by chance),
managed (governed) in order to facilitate the achievement of a common goal. Provan and
Fish (2007) points out that the properties evaluated for networks as a whole are adaptations
of the properties of organizational networks and their processes: (a) structure; (b) develop-
ment; (c) results and (d) governance
The general structure of a network and the positioning of each organization influences
the management of information and knowledge with its members (Lipparini & Lomi, 1999). The
density of connections tends to increase over time (Venkatraman & Lee, 2004). Connection
density and centralization cannot be maximized simultaneously, although centralization fa-
cilitates integration and coordination (Provan & Milward, 1995). The effectiveness of the
network as a whole can be explained through the intense integration of subnets (or cliques, in
layman’s language). The structure of relations between members shows strong dependence
on their governance decisions. (Provan & Sebastian, 1998)
The development of the network can be stimulated by the use of resources, rules and
standards (Sydow & Windeler, 1998). Rules and norms depend on knowledge of the me-
chanisms, meanings, goals and values of all the organizations that compose it (Lipparini &
Lomi, 1999; van Raak & Paulus, 2001).
Networks are mechanisms of social insertion, management and governance (Grabher
& Powell, 2004, Jones, Hesterly and Borgatti, 1997). The relationships between their or-
ganizations are maintained informally through the network structure (Coleman, 1990) and
results-oriented rules of reciprocity and trust (Alter & Hage, 1993). The same relationships
are formally established through contracts, rules and regulations (Coleman, 1990; Kogut,
2000), not necessarily affecting the network (of activities) as a whole.
Governance is a critical factor that influences the previous three. Networks can be a
superior mode of governance, but a better understanding of how they are governed is nee-
ded. A dominant core (governance) in the network can play a central leadership role in the
development, implementation and continuous improvement of these results-oriented rules
and practices, reflecting the environment in which they are located (Hendry et al., 1999).
Interorganizational networks studies, governance is adapted to the context in which
organizations operate and has its concept changed according to the context, evolving to a
broader view of the economy. It allows expanding questions about why and under what con-
ditions an organization should choose to form a network instead of the hierarchical or market
structure. Concomitantly, it increases its degree of complexity. Clarke (2004), Machado Filho
(2011) and Smith (2012).

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Governance involves developing the rules of the business game inherent in the network,
the rules for decision making, monitoring, control, definition of incentives and sanctions for
the network as a whole and its participants. It is a high-level, strategic administration that
demands not only a set of cognitive skills of objective procedural practices of planning, or-
ganizing, directing, coordinating and controlling communication, selecting participants, sti-
mulating innovation, learning and offering services to participants, but also and mainly to the
socio-emotional competences for the leadership of the interpersonal relationships involved
in these processes. The implementation of these rules oriented to effectiveness of the col-
lective is the responsibility of tactical-operational managers who also need to present such
socio-emotional skills. (Clarke, 2004; Machado Filho, 2011; Smith, 2012)
Governance typology has undergone adaptations according to the prevailing economic
characteristics, starting with (a) the Agency Theory in an industrial economy, passing through
(b) the Stakeholder Theory a service economy and adapting to the (c) Stewardship Theory in
the knowledge economy (Clarke, 2004; Machado Filho, 2011; Smith, 2012), as detailed below:

a) The Agency Theory: the dominant model in industrial economics, governance is


understood as an alternative way of managing economic activities, an interaction
between market and hierarchy, as an instrument through which a order is achie-
ved by different agents in an incomplete contractual relationship, resolving eventual
conflicts, to enable the achievement of common gains (Williamson, 1975, 1985,
1991, 1994, 1996);
b) The Stakeholder Theory: complements the Agency’s Theory approach by expanding
the view of the service economy environment. In this approach, the organization is
a set of multilateral arrangements and agreements of interdependence between the
enterprise and its stakeholders and its governance is concerned with stabilizing the
balance between social and economic objectives and between individual and col-
lective objectives (Freeman, 1984; Friedman & Miles, 2002; Blattberg, 2004; Clarke,
2004);
c) Stewardship Theory deconstructs the division between agents and principals and
the importance of their conflicts of interest: employees, managers, executives and
the company’s CEO constantly seek the best for them and for themselves, individual
and collective interests are totally intertwined, managers can choose whether to act
as agents or principals. From the perspective of Stewardship Theory, governance in
interorganizational networks (formed by independent organizations and, in general,
are essentially cooperative ventures) is characterized as the design of the structu-
re and elements of internal organization and coordination of the networks. Thus,
human and relational attributes and consequently trust are critical factors of this

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approach. Governance is oriented towards generating value for the organization as
a whole and not only for shareholders (Barney, 1986, 1990, 1991; Barney & Hester-
ly, 2008; Donaldson, 1990a, 1990b; Donaldson & Davis, 1991; Davis, Schoorman
& Donaldson, 1997). The Stewardship Theory, among the three approaches, is the
one that is closest to the reality of the functioning of a network. It is also the most
criticized for the disbelief in the total alignment of individual and collective interests,
thus requiring more specific rules and monitoring.

Three basic models of governance in interorganizational networks have been identi-


fied: (a) shared governance, (b) governance with a leading organization and (c) governance
through a network administrative organization or trilateral governance.

a) Shared governance is the simplest model. Groups of organizations work collectively


as a network and do not have a formal and exclusive management structure. Gover-
nance takes place through meetings of company representatives or even informally,
through the actions of those who are interested in the success of the network. The
effectiveness of this governance model is based exclusively on the involvement and
commitment of the participating organizations, being themselves responsible for
managing the network’s internal relationships and with external actors. There is no
formal and distinct administrative entity, although certain administrative and coor-
dination activities can be carried out by a group of participants. The strong point is
the inclusion and involvement of all partners, as well as the flexibility and responsi-
veness of the network to the needs of the participants. The problem with this model
is that, although it has a strong ideological appeal (due to the idea of ​​participation),
it is generally not very efficient because it depends on actors who have many other
resources and time commitments in their own organizations. The objectives and ne-
eds of these actors may even conflict with the objectives of the network. For these
reasons, the shared governance model is generally difficult to maintain, being more
likely to operate in networks with few members and involving mutually dependent
organizations, with complementary and compatible objectives. Shared governance
can work in smaller groups, where there is greater social control and participants
can demand participation and commitment from each other. Even so, the chances
of opportunistic behavior and the appearance of hitchhikers are more likely to oc-
cur. In larger groups, shared governance tends to be even more inefficient, unless
there are control and coordination mechanisms in place and effectively applied by
the participants themselves or by the established managers. (Provan, 1994, Park,
1996, Olson, 1999, Provan & Kenis, 2008);

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b) Lead organization model: occurs in vertical, customer-supplier relationships, where
there is a larger and more powerful organization and a set of smaller and weaker
firms. The model can also occur in horizontal multilateral networks, when an orga-
nization has sufficient resources and legitimacy to exercise a leadership position.
In this structure, network members share at least some common goals, while main-
taining individual goals. The key activities and decisions are coordinated by one of
the members, who acts as the leader and manager of the network, facilitating the
activities of the participants in their efforts to achieve the objectives of the network.
The strength of this governance model is the efficiency and legitimacy provided by
the leading organization. A limitation is the fact that this organization can try to im-
pose its own agenda and dominate the other participants in the network, causing
resentment and resistance. This can also lead participants to a loss of interest in the
goals of the network, focusing exclusively on their individual goals, ruining the viabi-
lity of the network. (Provan, 1994, Park, 1996, Olson, 1999, Windeler, 2003, Provan
& Kenis, 2008);
c) Network administrative organization model (NAO) or trilateral governance arises
as a consequence of the inefficiency of networks with shared governance and the
problems of domination and resistance of networks with leading organizations. A
separate management entity composed of professional agents is created with the
aim of managing the network and its activities, monitoring the behavior of the par-
ties, managing the collective decision-making process, coordinating and sustaining
the network. Such an entity is not a new firm or agency, established to manufacture
its own goods or offer its services, but an integrated management office. The cen-
tral - or central management of the network - coordinates and directs the efforts of
members towards collective goals. Network affiliated organizations relinquish con-
trol over certain activities in favor of the entity set up to manage the network. In
return, they hope that this entity, which is more loyal to the collective than to the
individual goals of the members, will minimize the complexity of the network and
reduce environmental uncertainty. The network central has decision-making power
to some extent and monitors the cooperative activities of members, imposing sanc-
tions when necessary. However, the survival of the network’s central office depends
on the collective support of its members, giving it legitimacy (Olson, 1999; Park,
1996; Provan & Kenis, 2008).

When comparing the Theories of Governance with the typology of governance in networ-
ks, it is understood that by the characteristics of the Agency Theory and Stakholder Theory,
both more oriented to corporations (for-profit), there is little of the concept of interorganizational

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networks. However, it is possible to have work structures and guidelines oriented to transient
and hybrid internal and external networks, modified as the relations become more complex.

CRITICAL FACTORS FOR CHOOSING THE TYPE OF GOVERNANCE


OF INTER-ORGANIZATIONAL NETWORKS

Studies on the governance adaptability exercise (structure and guidelines) guide mana-
gers to follow four key or critical criteria for the effectiveness of network governance forms.
Their structures and work guidelines oriented to transient or hybrid internal and external
networks would need to be adapted to their operating context, as explained below:

a) Trust: understood as a willingness to accept vulnerability based on positive expecta-


tions about the intentions or behavior of others. The recommendation to managers
is to understand the distribution (density of relationships) and reciprocity of trust
between members of the network. The bonds or connections of trust must be stren-
gthened so that perceptions of trust are shared between members of the network.
(Powell, 1990; Larson, 1992; McEvily, Perrone & Zaheer, 2003; Edelenbos & Klijn,
2007);
b) Size (number of participants): understood as the number of nodes or number of re-
lationships (network participants). Corresponds to the number of interorganizational
connections. The recommendation to managers is to understand that a fundamen-
tal problem with the governance of any network is that the needs and activities of
various organizations must be met and coordinated, increasing the complexity with
increasing connections. The problem becomes particularly critical with geographic
distance, although it can be alleviated by the use of information and communication
technologies. (Storper & Christopherson, 1987, Staber, 1998, Forsyth, 1999, Faer-
man, McCaffrey & Van Slyke, 2001, Burn, 2004);
c) Consensus on the results: understood as the alignment between the actors of the
network oriented to a consensus of goals of the network as a whole. It demands
the definition and communication of the mission, vision of the future and values, in
addition to the strategic objectives and expected behavior. The recommendation to
managers is to make these connections and manage conflicts between interests of
the network as a whole and individual interests specific to each node in the network.
(Perrow, 1961, 1986, Van de Vem, 1976, Park, 1996, Monge & Contractor, 2003,
Powell et al., 2005, Graddy & Chen, 2006);
d) Nature of the task (or essential competences of the network): understood as compe-
tencies (knowledge, skills and attitudes) to resolve three basic and inherent tensions

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in the network: (a) network efficiency x inclusion of new participants in the decision-
-making process; (b) internal x external legitimacy and (c) flexibility of operations
x stability of results. The recommendation to managers is to prioritize at least the
three basic tensions as they are the most frequent in the network as a whole. These
are critical environmental concerns or aspects to be considered for effective gover-
nance of interorganizational networks. (Powell, 1990, Provan & Milward, 1995, Hu-
man & Provan, 2000, Agranoff & McGuire, 2003, McEvily, Perrone & Zaheer, 2003,
Huxham & Vangen, 2005, Kapucu & Van Wart, 2006).

Provan and Kenis (2008) concluded that:

a) Shared governance model: tend to have high-density trusts, due to the small num-
ber of participating actors involved. This would generate a high level of consensus
on common goals. It would also require a low level of competences (network ef-
ficiency x inclusion of new participants in the decision-making process; internal x
external legitimacy; flexibility of operations x stability of results);
b) Lead organization model: due to the moderate number of participating actors and
the high concentration of decision-making, would tend to present low density rela-
tionships of trust. This would generate a low level of consensus on common goals. It
would also require a moderate level of competences (network efficiency x inclusion
of new participants in the decision-making process; internal x external legitimacy;
flexibility of operations x stability of results);
c) A trilateral governance model or Network administrative organization model (NAO):
due to the moderate to high number of participating actors and the monitoring by the
members of the OAR, would tend to present relations of trust of moderate density.
This would generate a high level of consensus on common goals. It would also re-
quire a high level of competences (network efficiency x inclusion of new participants
in the decision-making process; internal x external legitimacy; flexibility of opera-
tions x stability of results);

The contrast of the key effectiveness criteria suggested by the literature (trust, number
of nodes or participants, consensus on objectives and essential competencies of integrated
management) with the governance typology in interorganizational networks recommends that
the managers of interorganizational networks mix structures and guidelines of transitional or
hybrid work: Provan and Kenis (2008) (OLSON, 1999; PARK, 1996; PROVAN; KENIS, 2008),

a) Managers of organizations in a network with shared governance can, for example,


institute a trilateral NOA to deal with specific aspects and activities, while partially

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maintaining shared governance so that there remains a minimum level of involve-
ment and participation network actors in decisions. Although more effective, accor-
ding to empirical research, the governance of a network through the trilateral NOA
can become extremely complex when the number of participants increases;
b) The governance of a leading organization tends to be less effective than that of a
trilateral NOA, as its managers will need to split between their activities and the ma-
nagement of the network;
c) OAR-trilateral governance is dedicated exclusively to the governance of the ne-
twork. It may be modest, consisting of only one individual, or it may be a more com-
plex organizational form, with executives and support staff operating in a network
office. In this governance structure, partner organizations and groups can interact
and work with each other, but key activities and decisions are coordinated through
a separate entity.

RESEARCH METHODOLOGY

The exploratory field research strategy adopted by Sampaio Filho (2015) was that of
multiple case studies (Yin, 1984; Yin, 1993; Stake, 1978; Stake, 2000; Bryman, 2004; George
and Bennett, 2005; Gerring, 2007).
In this exploratory research, in the face of the scarcity of scientific articles or reports
on the Brazilian reality of governance in STPs, the triangulation method was used for the
collection and subsequent analysis of field data in order to increase the reliability of the
study. Qualitative interviews, document analysis and on-site observations were used. Such
qualitative methods are chosen to provide access to complex issues that are generally not
covered by quantitative methods (Buckley, Dwyer and Jackson, 2009).
Ninety-four (94) active STPs in Brazil in 2015, only eight (8) allowed access and dis-
closure of data analysis after the first contact to request research permission, provided their
identities were preserved: four from the southeast region, three from the south region, one
from the northeast region (Sampaio Filho, 2015).
The documentary analysis allows to contrast the information and knowledge acquired
in the interviews. Observations are based on formal and informal conversations with mana-
gement and network participants. Contrast the information collected in the interviews, the
documents accessed and the interactions observed.
One of the problems and limitations of establishing a close dialogue with professionals
is that, if the distance between the researcher and the professionals is insufficient, there is a
risk of influencing the result (Sørensen & Torfing, 2011), raising ethical questions on paper
and relationships between researcher and actors. In traditional research, the boundaries

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between the researcher and the people involved in the research are clear, while with the new
interactive research, these boundaries are more blurred.
One of the intentions of interviewing various STP actors was to incorporate different
organizational levels to better understand how governance is perceived and managed in
the context of the STP. Albuquerque’s recommendation was adopted (2009): the interviews
were conducted at the chosen STPs, questioning each interviewee who could contribute
to the research. The chain approach was used with a random sample of participants (local
network design).
The type of qualitative interview chosen for this study is semi-structured, as it makes
it possible to ask open-ended questions and order them according to the dynamics of the
interview session (Kvale & Brinkmann, 2009). 40 interviews were carried out (an average
of five per STP), involving strategic, tactical managers, operational managers of companies
installed in the STPs.
After the interview stage, as it was a non-probabilistic sample, no statistical quantitative
tabulation was performed. A qualitative analysis of the extracts of the interviews was carried
out. Access to data through the interviews allowed an analysis based on the praxis related
to governance and management, in the real context of the STPs studied, from the conflict
experience to the difficulties posed for the execution of governance by the managers. The
analyzes were coded according to the concepts mentioned in the theory and in order to
respond to the formulation of the problem. This means that the knowledge and information
collected is related to how the governance processes were established, how the training of
the main manager took place and how the STP was structured and managed in the case
studies. The data coding was repeated several times to adjust the results of the case studies
to the theoretical formulation and problem.
After conducting the interviews, a qualitative analysis of the excerpts of the interviews
was carried out. Access to data through the interviews allowed an analysis based on the praxis
related to governance and management, in the real context of the STPs studied, from the ex-
perience of the conflict to the difficulties posed for the execution of governance by managers.

ANALYSIS OF RESULTS

The analysis of the field data, for the Brazilian STPs of the case study shows a worrying
scenario, presented in this topic as a result of the analysis of the interviews, documentation
and on-site visit.
Brazilian STP actors do not recognize the existence of governance to guide strategic,
tactical and operational actions. Due to the lack of common objectives, the agency theory is
the one that presents itself most in the exercise of governance management: each organization

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with its representative stakeholder establishing the guidelines: science parks with the univer-
sity, technology parks with companies.
Results perceived in STPs are oriented to its main stakeholders: production of science
and commercialization of technology. There are expected objectives for each stakeholder.
These same objectives are not accompanied by metrics (established performance indicators,
measurement method) on goals to be achieved in a given period, either quantitative (how
much to do) or qualitative (how to behave or the degree of satisfaction of the beneficiaries).
Even without specific literature cited in the survey, this monitoring process gap is out of line
with the best governance practices.
Apparently, the argument of being inducers of regional development is more political,
detached with communication and practices internal and external to the STPs. They involve
the difficulty or lack of identification of Brazilian STPs’ priorities and capabilities as an instru-
ment of public policy. An integrated job creation action is not explained, out of line with the
literature; establishment of new companies; facilitating the interaction between universities
and companies located in the parks and promoting the diffusion of new or high technologies
in favor of the development of the region where they operate.
Nothing was found about common objectives, which amalgamate the specific objectives
in a single strategic platform. There is an absence of performance indicators that validate the
various impacts arising from the implementation of STPs in Brazil.
The possibility of low return of scientific, economic, social and environmental results
from the STP as a whole is great since they admit not intentionally working collaboratively.
Charging for specific results leads to resistance to networking.
As the STP initiatives involve the contribution of considerable public and private finan-
cial resources, the absence of evidence of performance takes on a worrying shape. There
are no counterparts to the discourse, metrics that monitor the return on economic and social
investment of STPs.
The dependence on the contribution of public resources that STP projects demons-
trate cannot be justified as to the return on this investment, whether economic, social
or environmental.
The discourse on governance and STP, after analyzing its content, presents orientations
of instrumental rationality: it proposes, applies, defends and reinforces the use of successful
models, sells an idea of structures
​​ and relationships that can be guaranteed by agreements,
contracts, covenants. With all the heterogeneity of the actors involved in the Brazilian STPs,
with the overlapping of functional charges (administrative, political, economic and social)
with tactical and operational performance criteria not fully pre-established and in the face of

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governance guidelines that do not have common objectives for STPS as a whole, managers
tend to execute governance in an excessively bureaucratic bias.
The absence of a culture of networking, an arena of conflicts arising from the hetero-
geneity of actors involved in a STP, the absence of a continuous cognitive, socio-emotio-
nal qualification, oriented to negotiate these conflicts can lead to an ineffective execution
(effectiveness understood by the conjunction of efficiency in the use of the intellectual and
emotional energy of those involved and the effectiveness of the results obtained in line with
the defined strategies).
Governance in Brazilian STPs is developed or proposed by councils and committees.
The practice of a governance office is still incipient. The agents participating in governance,
in their role as strategic decision makers, in an incomplete contractual relationship, intend to
present guidelines lacking performance indicators to plan, formulate and implement policies,
aimed at guaranteeing the generation of value for specific stakeholders.
When in PTs, the guidelines are for the generation of new products and customers for
startups, incubators and the condominiums of companies, keeping alignment with the Agency
Theory. When in PCs, the guidelines are for generating patents in research centers, keeping
alignment with Stakeholder Theory.
The governance of Brazilian STPs does not have economic, social and political implica-
tions for the management of the STP as a whole and the most comprehensive impacts in the
region where it operates. The same actors involved in strategic decisions act in institutional
relations. Thus, the formation of an interorganizational network is not characterized.
Brazilian STPs are not a set of multilateral arrangements and agreements of interde-
pendence between the enterprise and its stakeholders. They do not have a shared gover-
nance, direction and monitoring of results through the distribution of rights and responsi-
bilities among actors such as the Board, managers and other stakeholders. Thus, they do
not guarantee the generation of value in a balanced way between the market view (for the
business and the respective distribution to shareholders) and the social view (with all the
publics of society that impact and are impacted by operations, involving aspects of the envi-
ronment and social responsability). This directly influences the ability of agents participating
in operational management to plan and fulfill functions. oriented to dominant stakeholders
on boards and committees.

CONCLUSIONS

The empirical research allowed to infer that the low effectiveness of governance (without
qualitative or quantitative performance indicators to measure it) has as possible cause the
tensions between the instrumental rationality prevailing in the governance guidelines and the

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substantive rationality present in its practice. Tensions are characterized by elements such
as heterogeneity of characteristics between the organizations that make up the STP, lack of
consensus on common objectives, pressure forces and influences that affect relationships
of trust, non-conformity with personal and organizational standards and preferences.
The access and study permission initially performed on the ninety-four (94) active STPs
in Brazil, of which only eight (8) gave permission, proved to be another severe and paradoxi-
cal limitation. In an innovation-intensive and knowledge-intensive business cycle, it is silent
on requests for access to public information, highlighting points for improvement, at least on
the governance transparency criterion.
The multiple case studies do not represent a sample whose results would be generaliza-
ble to a population, a statistical generalization, conclusive, but it allows generating well-foun-
ded considerations, since the STPS that allowed access are highly relevant in their regions.
According to the arguments about how STP projects are sold, the most adherent type
of governance would be that of the Stewardship Theory.
At the beginning of this research, it was understood that STPs are made up of actors
from organized civil society, governments (different spheres) and higher education institutions
and/or research centers. They could form an interorganizational network in which governance
can play a strategic role in highly complex synergistic relationships in coping with consolida-
tion and maintenance instabilities.
Governance performance may explain why some STP projects in operation around the
world are considered to induce economic growth (primary results) and regional development
(secondary results), while others are not. The situation of Brazilian STPs in operation moti-
vated the field research. Even with stimulus from public policies and support associations,
nothing has been mapped about the dissemination of these primary or secondary results.
The lack of common goals for STPs as a whole, the mix of understandings of governance
and management can negatively affect the implementation of its principles of transparency
(disclousure); fairness; accountability and corporate responsibility (compliance).
Brazilian STPs, regardless of location or level of development achieved, are presented
more as a political argument for the implementation of a physical structure to support com-
panies, better land use (real estate developments) than as possible drivers of sustainable
economic growth and development via better university-business-government interaction.
It was found that leadership relationships led by the government and / or companies
can negatively influence the performance of the STP as a whole. Participants’ perception of
personalization as an aggregating (or disaggregating) element of value was also verified,
depending on the integration of cognitive, social and emotional competences aligned with
socially recognized values.

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Empirical research allows us to infer that the main barrier is the non-introjection of the
concept, principles and practices of governance. Without clear strategic guidance, commu-
nicated and periodically reviewed, the results obtained are less effective or better, nor can
they be classified as effective. The stability of the STP and relations is compromised.
Acting to reverse this scenario is understood as the biggest stimulus, a complex and
stimulating challenge: implementing a governance structure and guidelines in an environment
where its actors confuse governance with management.
Following Eastern thought, in a crisis, many see potential dangers (barriers). Few, more
prepared and perceptive, will see hidden opportunities (stimuli).
The questions about inflexibility in the criteria for joining new tenants in the STPs are
unused opportunities to explain the strategic guidelines of the STPs and to insert the exis-
tence and relevance of governance in the view of the world of the actors.
Articulation and flexibility actions in organizational learning can and should follow the
same philosophy. The operational actions justified by the governance guidelines would be the
main incentive to welcome and recognize a cooperative and collaborative work environment.
Even with specific objectives that may involve profitability, shared and duly justified common
objectives can lead to broader growth and development results.

RECOMMENDATIONS

Due to the difficulties inherent in data collection, this research was limited in scope to the
study of multiple cases (eight STPs). Multiple case studies do not represent a sample whose
results would be generalizable to a population, a statistical generalization. But it allows ge-
nerating theoretical propositions from a particular set of results, which are applicable to other
contexts, in a replication strategy, either by recording the criteria for choosing multiple cases
or by the details of the interactive research with triangulation of the collected data performed.
Strategic decision makers and managers of interorganizational networks (networks seen
as a whole) should use the practice of benchmarking, which is most recommended because
it requires contextual adaptation. The literature itself points out that such decision makers,
as they are usually government policy implementers, tend to use criteria such as mimicry,
copying without adapting others’ models, past experience and even personal preference.
This limits the effectiveness of results.
Strategic decision-makers would need to be qualified to adapt to dynamism. They could
guarantee the achievement of results and the effectiveness of networks. There is no rule of
use, but a perception of the degree of adaptability.
The adoption of foreign models is still recommended. Adopting models involves copying
processes and learning working techniques. The effectiveness of this qualification may have

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an effect on behaviors and interpersonal and interorganizational relationships through princi-
ples and guidelines based on clear, communicated strategies, constructed in a participatory
manner, simple operations and procedures.
The exercise of governance and management of STPs is the result of the decisions of
its own actors, who are responsible for instituting managers, establishing the degree of au-
tonomy, creating rules and protocols that control the actions of the actors themselves. They
could include in the governance guidelines criteria for recruitment, selection and continued
qualification for cognitive, social (interpersonal relationships) and emotional (behavioral) skills.
Oriented to a continuous cycle of negotiation of strategies, tactics and operations.
The burden of designing and establishing a STP involves the articulation and maintenan-
ce of partnerships - collaboration between the actors: academic research institutions, gover-
nments (in the various spheres - federal, state, municipal), non-governmental organizations,
international organizations, private sector organizations, local communities. In addition to these
partnerships, it is also important to establish governance rules and protocols, the presence
and presence of qualified managers, both from the STP and from participating organizations.
This research can give rise to proposals to expand the knowledge of Social Science
about STPs: how to work the guidelines and actions of governance so that they are unders-
tood as a new form of organization no longer exclusively controlled by central units, but also
distributed in the interaction of different actors?
Another collaboration is outlined by Political Science’s view of STPs: How to establish
arenas of negotiation, political channels complementary to traditional government channels
for the establishment of common objectives through better interaction between different actors
(government, public administrations and organizations of interest)?
There is a tendency, an evolution of classical approaches, to no longer consider deve-
lopment as static. On the contrary, an amalgamation of processes, techniques and people,
of factors that condition the evolution of society so that it remains continuous, with desirable
results. The important thing is not its final state, but the execution, the walking. Such a scenario
of complexity implies the interpretation of development as a process that has three strongly
correlated components: survival, adaptation and learning. Survival as the ability of society to
present discernible patterns or structures over time. Adaptation as the changes that society
undergoes in order to increase the probability of its survival based on its capacity to learn.
Learning as the ability to adapt your knowledge to new problem situations.
It is expected that the discussions and propositions arising from the theory-empiricism
contrast of this study contribute to the better effectiveness of STPs. That strategies and ope-
rations can be successfully executed by leading managers recruited and selected by the set
of cognitive-social-emotional (behavioral) skills and not just by protocol criteria.

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23
O cultivo da castanha portuguesa como
fator de desenvolvimento sustentável do
Turismo

Carlos Armando Benedusi Luca Marcelo Habice da Motta


UNITAU Fazenda Portal da Luz

Márcia Azeredo José Luís Gomes da Silva


APREOESP UNITAU

'10.37885/220709509
RESUMO

Este estudo tem como objetivo discutir a relevância da Política Pública do Turismo, como
fator de desenvolvimento sustentável. Das dimensões da sustentabilidade a preservação
da natureza e a cultura da região que permitiram formar um conceito de Micro Rede, no
qual os encadeamentos produtivos verticais, à montante e à jusante, desenvolveram bens
e serviços. As ações de sensibilização possibilitaram participação e inserção da comuni-
dade local com a constituição de uma associação, além do surgimento de novos postos de
trabalho. O resultado final está nas politicas publicas de desenvolvimento da região com
programas de capacitação, voltados à população, melhoria na infraestrutura e serviços, além
da criação de mercado para os produtos agrícolas.

Palavras-chave: Desenvolvimento Regional, Arranjo Produtivo Local, Sustentabilidade,


Cadeia de Valor, Castanha Portuguesa.
VETOR DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

O aprimoramento do conceito de desenvolvimento sustentável foi sendo lapidado des-


de 1971 no Painel de Founex, com a noção de ecodesenvolvimento sendo que a comissão
Brundtland define desenvolvimento sustentável como aquele que atende ás necessidades
do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem às suas
próprias necessidades.
Porém, convém ressaltar que o conceito de desenvolvimento sustentável é puro bom
senso, mas é extremamente complexo e controvertido quando é aplicado em nosso dia a
dia, pois de acordo com Lemos (apud Vieira 2009), o desenvolvimento sustentável possui
uma dimensão cultural, política e exige a participação democrática de todos na tomada de
decisões para as mudanças que são necessárias.
Com referência aos recursos naturais distinguem-se os renováveis dos não renová-
veis, sendo que para estes últimos deveria ser usada tecnologia alternativa desenvolvida
em tempo hábil para substituí-los quando começassem a ficar escassos.
A sustentabilidade possui várias dimensões as quais são enfatizadas por Silva e Luca
(2017) no Quadro 01:

Quadro 01. Sustentabilidade.

Dimensões de Sustentabilidade Objetivos


Social Reduzir a diferença existente entre os padrões de vida dos ricos e pobres.
Econômica Reduzir as diferenças regionais.
Ambiental Propiciar condições para que a natureza absorva e recupere-se das agressões antrópicas.
Espacial – Geográfica Melhorar o ambiente urbano.
Política Propiciar a construção da cidadania plena a todos os indivíduos.
Cultural Modernizar-se sem romper com a identidade cultural
Ecológica Preservar o potencial do capital natural na produção de recursos renováveis.
Fonte: Autores (2019).

Visando ações de desenvolvimento sustentável é adquirir uma cultura, uma atitude e


principalmente desenvolver ações ligadas à sustentabilidade tem-se:

Exploração dos recursos vegetais de florestas e matas de forma controlada, garantindo o replantio sempre que necessário

Preservação total de áreas verdes não destinadas á exploração econômica


Ações que visem o incentivo à produção e consumo de alimentos orgânicos, pois estes não agridem a natureza além de serem benéficos
à saúde dos seres humanos
Exploração dos recursos minerais (petróleo, carvão, minérios) de forma controlada, racionalizada e com planejamento

Uso de fontes de energia limpas e renováveis (eólica, geotérmica e hidráulica) para diminuir o consumo de combustíveis fósseis;

Criação de atitudes pessoais e empresariais voltada para a reciclagem de resíduos sólidos


Desenvolvimento da gestão sustentável nas empresas para diminuir o desperdício de matéria-prima e desenvolvimento de produtos
com baixo consumo de energia
Atitudes voltadas para o consumo controlado de água, evitando ao máximo o desperdício.

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Entretanto, o conceito de Desenvolvimento Sustentável expresso por autores como
Hirschman (2000) o qual a trajetória de um projeto estaria sobre tudo, determinada por for-
ças externas que o pressiona, agindo sobre planejadores e administradores, com maior ou
menor sucesso a eventos que não podem controlar nem frequentemente prever.
A característica do projeto ou uma simples tarefa permite ao administrador deixá-lo
escolhendo as técnicas de otimização por ele utilizadas as quais indicam a que proporções
e pressões estão sujeitos os próprios indivíduos que decidem. Continuando a sua linha de
pensamento, Hirschmann (2000) expressa sua teoria de localização afirmando que os inves-
timentos determinados e não determinados na esfera dos investimentos públicos consistem
em explorar alguns recursos na cadeia produtiva e de serviços

CADEIA PRODUTIVA E SERVIÇOS SUSTENTÁVEL

Morvan (1985) define filière como “Cadeia (filière) é uma sequência de operações que
conduzem à produção de bens. Sua articulação é amplamente influenciada pela fronteira
de possibilidades ditadas pela tecnologia e é definida pelas estratégias dos agentes que
buscam a maximização dos seus lucros. As relações entre os agentes são de interdepen-
dência ou complementaridade e são determinadas por forças hierárquicas. Em diferentes
níveis de análise, a cadeia é um sistema mais ou menos capaz de assegurar sua própria
transformação.”
Nessa linha de pensamento Zylbersztajn (2000) ressalta que o conceito de filières ou
cadeias não privilegia a variável preço no processo de coordenação do sistema e focaliza
especialmente aspectos distributivos do produto industrial. De acordo com Silva e Luca
(2017) o estudo da cadeia produtiva e serviços têm como finalidade mapear as etapas por
onde os insumos sofrem transformação. Constituem as várias operações integradas em
unidades e interligadas, desde a extração à distribuição, ou seja, abrange todos os agentes
econômicos envolvidos na produção, distribuição e consumo.
A cadeia produtiva de serviços é, portanto, o conjunto de componentes interativos, in-
cluindo os sistemas produtivos, fornecedores de insumos e serviços (Cadeia de Suprimentos)
indústrias de processamento e transformação, agentes de distribuição e comercialização,
além de consumidores finais. Para um melhor entendimento a cadeia de suprimentos é
composta pelo que os autores denominam de três outras cadeias que incluem num todo a
estrutura, os fornecedores e os clientes assim detalhados: - cadeia interna- composta por
fluxos de materiais e informações internos de uma organização: - cadeia imediata: compos-
ta por fornecedores e clientes diretos da primeira camada e dos seus fluxos integrados de
materiais e informações; cadeia total: - composta por todos os fornecedores e clientes e

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suas cadeias imediatas, com seus respectivos fluxos, sendo que os fornecedores e clientes
de segunda camada são próximos da cadeia imediata.
Para que toda essa complexidade venha a ser bem realizada tem-se a logística, que
também faz parte da cadeia produtiva e serviços tendo a importância de planejar, imple-
mentar e controlar, de maneira eficiente e efetiva, os fluxos de estoque dos produtos, dos
serviços e das informações relativas a estas atividades, desde o ponto de origem até o ponto
de consumo, com o propósito de atender aos requisitos do cliente. As atividades logísticas
estão divididas em dois tipos, a saber: - principais - que reúnem o transporte, manutenção
de estoques, processamento de pedidos e distribuição; - secundárias (porém não menos
importantes): que reúnem o sistema de armazenagem, manuseio de materiais, embalagem,
suprimentos, planejamento, sistema de informação etc.
Ainda, segundo Silva e Luca (2017) a cadeia de serviços compõe o estudo da cadeia
produtiva e vários autores definem as características dessas empresas, como empresas espe-
cializadas em fazer a gestão. Estas buscam no mercado empresas cujo core business passa
a ser a gestão dos Arranjos Produtivos Local, buscando prestadores e distribuindo serviços.
Dessa forma a satisfação do cliente cria nessas empresas de gestão a necessidade
de ser sustentável econômica e socialmente, evitando que parte preciosa e significativa da
satisfação seja consumida em burocracia.

ARRANJO PRODUTIVO LOCAL SUSTENTÁVEL - BASE COMUNITÁRIA

O Arranjo Produtivo Local (APL) - Base Comunitária é uma atividade produtiva deri-
vada de fatores naturais e históricos, concentrando no mesmo território micro e pequenas
empresas de subsistência (setor informal) com base familiar, baixa competência técnica
comercial e gerencial produzindo atividades terciárias para a cadeia produtiva do turismo,
segundo Coriolano (2009). A comunidade é a base do APL - Base Comunitária.
A comunidade pode ser definida como sendo um grupo de pessoas com seu estilo de
vida próprio, com suas tradições, culturas, histórias e costumes. Assim, as atividades produ-
tivas direcionam suas aspirações de desenvolvimento em determinado espaço geográfico,
interagindo intensamente entre si.
O Arranjo Produtivo Local pode ser entendido como um empreendimento coletivo, em
que em uma dada territorialidade social, política e econômica desencadeia a cooperação e
competição, entre os micro e pequenos autores. O APL Base Comunitária tal como o Turismo
no Espaço Rural se inspira na perspectiva da economia solidária que apregoa a possibilidade
de existir solidariedade na economia e direitos iguais, entre aqueles que se associam para
financiar, produzir, comerciar ou consumir mercadorias (Singer, 2002).

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Essa linha de pensamento vem de encontro ao conceito de Micro Rede onde ocorrem
encadeamentos produtivos verticais à montante (para trás) e à jusante (para frente), reforçan-
do a relação entre fornecedor-produtor (situação montante) e a relação vertical entre forne-
cedor-distribuidor, provocando encadeamentos produtivos. Sendo o APL Base Comunitária
uma atividade produtiva local permite que seus integrantes, com seus conhecimentos ad-
quiridos no dia a dia, possam aplicar esse conhecimento tácito no desenvolvimento de uma
identidade territorial (marcas) enfatizando sua cultura e os hábitos de uma sociedade local.

TURISMO NO ESPAÇO RURAL

Capucha (1996) ressalta que uma dimensão rural passa sobretudo pela reorganização
do sector agrícola no sentido da concentração e racionalização das explorações, da qual
a Política Agrícola comum constitui um bom exemplo. Esse exemplo revela ainda atuais
funções do setor agrícola, transformado em indústria de base das “cadeias alimentares”
Tais regiões rurais revelam por estas razões, certas dificuldades em continuar a preen-
cher algumas das funções externas que tradicionalmente lhes têm competido, como: a re-
serva de força de trabalho para alimentar outros setores produtivos, o fornecimento de bens
alimentares e de componente, com contributos a montante e a jusante da atividade agrícola,
o processo de acumulação.
O autor ainda destaca a estratégia de desenvolvimento das regiões rurais deprimidas ou
em crise que implica políticas de conciliação da eficácia econômica com políticas de proteção
social e promoção da igualdade de oportunidades e justiça redistributiva. Esta estratégia
não pode deixar de dedicar grande atenção à integração das zonas rurais em contextos
mais vastos, bem como o desenvolvimento de redes e laços relacionais fortes para procurar
posições mais vantajosas no exercício de influência nos centros de poder.
Capucha (1996) orienta sobre as opções estratégicas e ressalta que o turismo rural é
uma alternativa para as regiões rurais desfavorecidas apenas se permitir a preservação e
melhoria das suas vantagens comparativas, como a qualidade ambiental e a tradição só-
cio-cultural, elencadas no Quadro 3.

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Quadro 3. Estratégia de Desenvolvimento de Regiões Rurais.
→ Recolocar e repensar as funções do espaço rural;
→ Proteção de cenários e paisagens;
→ Reserva de terras;
→ Conservação de equilíbrios ecológicos;
→ Defesa do patrimonio genético;
→ Combate a desertifiação;
Principais Estratégias → Preservação e renovação da herança cultural.
Com isso, teremos:
→ Criação de “Massa Crítica” no plano ecológico, económico e da visibilidade – com introdução de projetos
individuais e agregando Bancos e Investidores;
→ Criação de empresas e reconversão de explorações agrícolas – integrando as atividades turísticas, melhorando
os produtos e serviços, com suas promoções, inovação na produção artesanal de qualidade;
→ Criação de equipes pluridisciplinares para fornecimento de apoio técnico e cognitivo – redes de projetos locais;
→ Plano valorativo – persuadir os poderes públicos e agentes privados.
Fonte: Adaptado de Capucha (1996).

Navarro (2001) salienta que desenvolvimento rural, referindo-se às análises sobre


programas já realizados pelo Estado (em seus diferentes níveis) visando alterar facetas do
mundo rural a partir de objetivos previamente definidos, pode se referir também à elaboração
de uma “ação prática” para o futuro. Esta visa implantar uma estratégia de desenvolvimento
rural para um período vindouro. Assim, existiriam diversas metodologias de construção de
tal estratégia, bem como um amplo debate sobre seus objetivos e prioridades principais.
Roque & Vivan (1999) realçam que a percepção para um melhor aproveitamento do
ambiente rural permite a introdução de novas atividades que garantam outras fontes de renda
para o produtor e, conforme o caso, a agregação de valores aos seus produtos.
De acordo com Silva (2007), o Turismo no Espaço Rural serviços de hospedagem em
solares e casas apalaçadas, em quintas onde se desenvolvem inclui atividades agrícolas,
em casas rústicas e, ainda, em hotéis rurais e parques de campismo rurais. Estes serviços
de hospedagem encontram-se repartidos por sete categorias, legalmente definidas: turismo
de habitação, turismo rural, turismo de aldeia, agroturismo, casas de campo, hotéis rurais
e parques de campismo rurais. Ainda Silva (2007), define TER – Turismo no Espaço Rural
como o “conjunto de atividades, serviços de alojamento e animação a turistas, em empreen-
dimento de natureza familiar, realizados e prestados (...) em zonas rurais.
Desta forma, a exploração do turismo no espaço rural é vista como uma das alternativas
possibilitando observar o surgimento de um novo tipo de proprietários de terra. Esta geração
de produtores, agora denominados empresários do setor rural, também se configuram como
estrategistas, que participam da procura por metodologias administrativas com o objetivo de
criar programas e projetos originais para o meio. Com isso, estimula-se o agricultor a buscar
atividades não-agrícolas, para superar os problemas comuns e constantemente comentados
do setor, sejam relacionados aos altos custos de produção, interferências de fatores climá-
ticos, desvalorização das terras e as baixas taxas de retorno sobre investimentos.
Cunha (2006) ainda relaciona as razões que levaram o turismo a ser o impulsionador
do desenvolvimento rural, elencadas no Quadro 4:

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Quadro 4. Fatores Impulsionadores do Desenvolvimento Rural.
→ O turismo é função das especificidades de cada região e só é viável quando existem valores locais que garantem
uma vocação turística.
→ O turismo opera uma transferência de rendimentos das regiões mais desenvolvidas para as menos desenvolvidas
e pode ocasionar uma exportação de bens e serviços do interior da região.
→ O turismo a nível das regiões mais interiores e deprimidas, obriga e justifica o lançamento de infraestruturas e
de equipamento social que servem não só os turistas, mas também a população local.
Principais Estratégias
→ O turismo contribui para a dinamização e modernização da produção local ao apoiar a arte e o artesanato
local, entre outros setores.
→ O turismo permite o aproveitamento de instalações e equipamentos abandonados ou obsoletos garantindo-
-lhes uma nova função.
→ O turismo rural pode contribuir para a diversificação das atividades ligadas à exploração agrícola e para a criação
de novos postos de trabalho.
Fonte: Adaptado de Cunha 2006.

Para um desenvolvimento duradouro Hummelbrunner (1994), propõe uma estratégia


centrada em três eixos fundamentais, relacionadas no quadro demonstrativo:

→ Um eixo territorial, que obriga a partir de territórios bem definidos, cujas especificidades orientação as
escolhas estratégicas operadas por atores locais e regionais dotados de mecanismos de apoio aos projetos de
desenvolvimento, de cooperação e de regulação dos interesses locais, bem como de mediação com o exterior;
→ A procura de soluções para a renovação e animação dos tecidos econômicos com base em atividades eco-
nômicas respeitadoras do ambiente, tais como as que utilizem tecnologias não poluentes, produzam produtos
naturais e, tanto quanto possível, de origem local;
→ A criação de estruturas de formação e qualificação para o desenvolvimento e o ambiente e o desenvolvimento
de sistemas de transferência de saberes.
Principais Estratégias O ambiente pode oferecer reais oportunidades econômicas, tais como:
→ A valorização da agricultura;
→ A valorização dos produtos locais;
→ A valorização de produtos energéticos locais e renováveis;
→ Criação e desenvolvimento de sistemas de recolha e tratamento de lixos e detritos domésticos e agrícolas,
melhoria da qualidade;
→ Redução de custos com aproveitamento de desperdícios;
→ Renovação de aldeias e outras obras de infraestruturação com efeitos na construção civil e nos serviços
arquitetônicos.
Fonte: Adaptado de Hummelbrunner 1994.

TURISMO NO ESPAÇO RURAL DA CASTANHA PORTUGUESA

Matos e Gerry (2003) justificam em seu artigo que o aumento da área de plantio, da
produção, das exportações, da qualidade e a tendência global para o aumento do consumo
deste fruto foram entre outros, aspectos a considerar no estudo desenvolvido sobre a cadeia
de valor e o sistema de comercialização da mais importante região portuguesa na produção
de castanha, nomeadamente a Terra Fria Transmontana (PT). (Figura 1)

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Figura 1. Região de Vizeu (PT) – Rota da Terra Transmontana.

Fonte: Consulado Portugal – São Paulo (2020).

De acordo com Matos e Gerry (2003) caracterizar a fileira da castanha, é explorar


os seus constrangimentos e potencialidades, identificar e distribuir os atores pelos elos
da cadeia de valor, perceber como agem os protagonistas nos distintos elos do sistema
de comercialização, analisar as suas estratégias, a criação e a retenção de valor em cada
elo. A agro transformação é preferencialmente orientada para o uso em natureza ou culi-
nário (assada, cozida, pelada e britada), sendo que apenas uma pequena parte é utilizada
na indústria. A castanha portuguesa há muito se impõe no mercado internacional sendo um
dos frutos privilegiados, que permitem a Portugal um saldo na Balança Comercial de frutos,
bastante favorável.
A imagem da castanha como produto natural atualmente é um dos mais importantes
fatores da influência no consumo. Mediante isso, Borges (2015) enfatiza que a Denominação
de Origem Protegida (DOP) designa um produto agrícola ou um género alimentício originário
de uma região, local ou país. A qualidade ou características do produto devem-se essencial
ou exclusivamente ao meio geográfico, aos fatores naturais e humanos. A produção, trans-
formação e elaboração devem ocorrer nessa mesma área geográfica.
O consumo ao natural está mais ligado à tradição e cultura dos países com rendimentos
baixos. Portugal e Espanha têm por tradição o consumo do fruto na sua forma “paleolítica”,
cozido ou assado, ressaltam Matos e Gerry (2003).
Para Gittinger (1982, apud Matos 2003), a comercialização é um processo que vai
acrescentando valor aos produtos ao longo do tempo, do espaço e da forma, através do
armazenamento, transporte e processamento dos mesmos. Lindon (2000 apud Matos 2003)
evidencia que o circuito de distribuição é o itinerário percorrido por um produto ou serviço,
desde o estágio da produção ao consumo. Este canal de distribuição é formado por uma
categoria de intermediários do mesmo tipo, que para os grossistas constitui um canal, porém
sendo outro para as cadeias de supermercados e hipermercados, conforme fluxo.

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Fluxo - Circuitos de Comercialização.

Fonte: Matos e Gerry (2003).

Nesses circuitos que o poder negocial dos produtores é reforçado quando os “magus-
teiros” vêm comprar a castanha à origem, quando os grossistas fazem a concentração do
fruto em grandes quantidades para exportar para o Brasil, quando os frutos possuem gran-
de calibre e quando a oferta é escassa. Assim, os autores Matos e Gerry (2003) destacam
que por esses motivos, o produtor também tem algum poder de negociação na época da
exportação para o Brasil, pois sabem que os grossistas locais têm interesse em satisfazer
contratos internacionais de grande volume.

TURISMO RURAL NO MUNICÍPIO DE SÃO BENTO DO SAPUCAÍ –


SERRA DA MANTIQUEIRA

Tulik (2000) ressalta que desenvolver um empreendimento rural, Arranjo Produtivo Local
(APL) significa fazê-lo progredir o que implica melhoria dos serviços, aumento da demanda
e diversificação da oferta. Ela enfatiza que a formulação de estratégias, em geral, assume
duplo sentido. Pode ter a ideia de um plano, isto é, direção ou caminho a seguir (refere-se a
estratégia pretendida, ou olhar para a frente), ou de um padrão, isto é, um comportamento

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consistente ao longo do tempo (indica a estratégia realizada, ou olhar o comportamento do
passado). Enfim, a escolha de uma estratégia envolve objetivos bem definidos e prioridades
estabelecidas em função dos interesses do empresário rural.
Teixeira (1998) tem um olhar do turismo como um dinamizador da economia na região,
ou seja, a importância das atividades não agrícolas para o meio rural, mas não somente
quanto aos empregos e à renda das unidades familiares isoladamente, mas sim num sentido
mais amplo, de desenvolvimento local. Uma relevância deve ter as atividades que sejam
capazes de dinamizar a economia local.

TURISMO RURAL NO MUNICÍPIO

A Estância Climática do município de São Bento do Sapucaí situa-se a leste do


Estado de São Paulo, denominado de cone leste paulista, em pleno contraforte da Serra
da Mantiqueira. Ela é constituída por cadeia montanhosa e se estende por três estados do
Brasil: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro possuindo uma forte participação no eixo
econômico entre São Paulo e Rio de Janeiro. Integra o ecossistema da Mata Atlântica que
possui uma das maiores biodiversidades do planeta a apenas 100 km da cidade de São Paulo.
A palavra Mantiqueira se origina do tupi-guarani e significa de uma forma poética
“Serra que chora”, assim denominada pelos índios que habitavam a região, devido à gran-
de quantidade de nascentes e riachos encontrados em suas encostas, porém, a palavra,
segundo alguns dicionários, significa de fato, “gota de chuva” (de amana = chuva e tiquira =
gota). O município de São Bento do Sapucaí tem uma população estimada de 10.831 habi-
tantes (IBGE-2013), com uma área territorial de 253,045 km2 e seu Bioma pertence à Mata
Atlântica. O município é constituído dos seguintes bairros: Bairro do Quilombo, Paiol Grande,
Três Córregos, do Pinheiro, do Serrano, do Monjolinho, do Sítio, Cantagalo, Campista, Campo
Monteiro, Caracol, Centro, Dias, Jd. dos Cisnes, Jd. Santa Tereza, Jd. Santa Terezinha, José
da Rosa, Paiol Velho, Parque dos Lagos. Vila Baú, Vila Nossa Senhora Aparecida (Figura 2).

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Figura 2. Municípios que compõe a Serra da Mantiqueira.

Os índices econômicos do município São Bento do Sapucaí - (3548609) segundo IBGE


(2020), podem ser observados na Tabela 1.

Tabela 1. Índices econômicos.

ÍNDICES ECONÔMICOS 2017


PIB 196.195,22 (R$ x1000)
IMPOSTOS 9.655,96 (R$ x1000)
PIB per capita 18.007,82
AGROPECUÁRIA 28.556,15 (R$ x1000)
INDÚSTRIA 11.286,55 (R$ x1000)
ADMINISTRAÇÃO 40.249,94 (R$ x1000)
SERVIÇOS 106.446,62 (R$ x1000)
Fonte: IBGE (2020).

TURISMO RURAL – SÃO BENTO DO SAPUCAÍ

O projeto tem como fim o incentivo aos segmentos capazes de promover a geração de
emprego e renda para a comunidade local. Os pontos importantes deste Projeto implantado
no Bairro do Cantagalo, pode ser visualizado no Quadro 03.

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Quadro 03. Projeto de Política Pública Turismo Rural.
Pontos Importantes: Desenvolvimento Local
Etapas:
→ Diagnóstico das características locais
→ Compromisso com o projeto
→ Palestras de sensibilização para o turismo
→ Viagens de estudo/intercâmbio
→ Diagnósticos participativos nas propriedades rurais de roteiros
→ Constituição de uma associação
→ Ações de sensibilização - Novas atividades.
Destacam-se:
→ Programa de capacitação para o artesanato desenvolvido por uma profissional contratada pela prefeitura
e voluntários, incentivando as mulheres da comunidade a terem uma ocupação e, com isto, receberem um
Política Pública retorno financeiro.
→ Capacitações realizadas para o cultivo de frutas, turismo rural pedagógico, monitoria rural e artesanato.
Plantio de árvores como início da arborização do centro do bairro.
→ Campanha Bairro Limpo.
→ Abertura de empreendimentos de hospedagem e alimentação.
→ Organização de caderno de normas para os meios de hospedagem, alimentação, agências, lazer e ponto de
venda.
→ Manutenção e sinalização das trilhas existentes.
→ Elaboração e execução de proposta padronizada para placas indicativas e informativas no bairro e entorno.
→ Matérias institucionais na TV, Rádio e Jornais da Região.
→ Comercialização de peças artesanais em espaço oferecido pela prefeitura.
→ Constituição da Associação do Bairro.
→ Inserção no roteiro Caminho da Fé.
Fonte: Autores 2019.

1 - Implantação

O trabalho de implantação do turismo foi pensado e planejado para ser um instrumento


valioso na promoção do desenvolvimento desta região considerada à margem do cresci-
mento econômico pela própria comunidade. Todo o processo ressaltou ao longo das ações
a importância da conservação, manutenção e valorização do patrimônio histórico, cultural
e natural da região. Também mostrou os benefícios resultantes para a população local,
como melhorias na infraestrutura e nos serviços oferecidos, além de criar mercado para os
produtos agrícolas.

2 - Infraestrutura

No quesito infraestrutura o bairro contou com melhoria constante do acesso e já está


com projeto pronto para a captação e tratamento da água e esgoto, mas infelizmente ainda
não foi efetivado. Ações voltadas para a saúde pública também foram desenvolvidas cons-
tantemente pela Equipe da Secretaria Municipal de Saúde e Saneamento, tendo sido parte
desta problemática levantada a partir dos trabalhos de implantação do turismo.

3 - Sensibilização

As ações de sensibilização realizadas também foram extremamente relevantes para a


participação e inserção da comunidade no desenvolvimento das atividades turísticas, a qual
passou a enxergar o rico patrimônio cultural e ambiental do seu meio rural como possibilidade

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de gerar emprego e renda de forma sustentável. Mesmo em caráter preliminar, a comunida-
de foi mobilizada a incrementar e criar atividades no espaço rural reconhecendo o grande
potencial deste segmento, no sentido da valorização e fortalecimento da agricultura familiar.
Além disso, fortaleceu o associativismo entre os indivíduos envolvidos no processo ficando
claro que a participação, a capacidade de organização são fatores chave para o sucesso
de projetos de desenvolvimento comunitário sustentável.

4 - Capacitação

As parcerias construídas com instituições e empresas contratadas para a execução


de ações específicas demonstraram que os investimentos em ações de capacitação são
sempre importantes para a construção de qualquer destino turístico.

CULTIVO DA CASTANHA PORTUGUESA NA SERRA DA MANTIQUEIRA

A região em estudo, que se localiza na serra da Mantiqueira, abriga quatro dos dez picos
culminantes do Brasil sendo conhecida também conhecida como “O Himalaya Brasileiro”. É a
mais extensa das Áreas de Proteção Ambiental – APA, já declarada pelo governo brasileiro
abrangendo o corpo principal da Serra da Mantiqueira o qual se estende do Parque Estadual
Serra do Papagaio, ao norte do Parque Nacional de Itatiaia, no Estado de Minas Gerais, até
a Pedra do Baú, ao sul do Parque Estadual de Campos do Jordão, no Estado de São Paulo.
A APA da Serra da Mantiqueira protege ecossistemas de encosta da Mata Atlântica
que garantem sua estabilidade geológica preservando mananciais aquíferos com grande
significado social, abrigando também campos de altitude geneticamente importantes.
O caminho até São Bento do Sapucaí, distante cerca de 185km da capital paulista está
localizado nas divisas dos Estados de São Paulo e Minas Gerais, sendo o município cercado
por araucárias, cachoeiras, e topografia montanhosa com farta vegetação que proporciona
um clima ameno com temperatura média de 17° C e, por conta de suas condições climáticas
e geográficas, São Bento do Sapucaí foi oficialmente reconhecida como Estância Climática.
É nesse belo e agradável cenário que se encontra o Núcleo de Produção de Mudas
(NPM), do Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes (DSMM), da, do atual CDRS –
Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável, anterior (CATI), da Secretaria de
Agricultura e Abastecimento (SAA) do Estado de São Paulo. Fundado em 16 de agosto
de 1832, foi em 1944 que o governo do Estado de São Paulo adquiriu o imóvel agrícola
no município de São Bento do Sapucaí, onde hoje está instalado o Núcleo. (publicacoes@
cati.sp.gov.br).

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De acordo com Bueno e Pio (2018) o cultivo e consumo da castanha no Brasil ocorreu
no município de São Bento do Sapucaí, no final da década de 60, quando o Sr. Giuseppe
Sadun reflorestou sua fazenda com eucalipto, pínus e castanheiras, como terceira opção, que
para ele lembravam a sua Toscana, infância e juventude, segundo o Sr. Marcelo H. Motta,
atual proprietário da Fazenda Portal da Luz. Plantou cerca de 1.000 mudas. Na época, ele
decidiu experimentar as variedades trazidas do Japão, que foram introduzidas pelo agrônomo
Keiji Matsumoto, de São Paulo. Assim metade de seu cultivo foi composto por árvores de
produção precoce, ou seja, a colheita inicia-se a partir de meados de novembro. O pomar era
conduzido pelo funcionário da CATI, o Sr. Alvarino Ribeiro de Paula, que também ajudou a
implantar outros castanhais na região, inclusive no Núcleo de Produção de Mudas São Bento
do Sapucaí. Na década de 80, o Engenheiro Agrônomo Takanoli Tokunaga, então diretor do
Núcleo de Produção de Mudas, iniciou uma série de atividades com o objetivo de produzir
mudas de qualidade e gerar tecnologia adaptada às condições, para o cultivo das castanhas.
Na rede de comercialização, o sistema agroindustrial (Figura 1) passou a exigir atributos
de qualidade em alguns produtos com uma qualidade específica, dificultando o suprimento
pela via tradicional de mercado, sendo necessário aprimorar a forma de comercialização
nos contratos com os fornecedores.

Figura 1. Fluxo de Informações no Sistema Agroindustrial.

Fonte: Zylbersztajn & Neves (2000).

CASTANHAS PORTUGUESAS – FAZENDA PORTAL DA LUZ

A castanha portuguesa é um alimento consumido em todo o mundo há muitos anos,


não apenas por seu sabor característico, mas também por suas propriedades nutricionais
que podem ser muito benéficas ao nosso organismo. Abundante no hemisfério norte, esta
castanha é muito consumida na Ásia e no Mediterrâneo. Existem provas de que a castanha
portuguesa, conhecida no Brasil com essa denominação, começou a ser cultivada na China
há mais de 6 mil anos!
Entre as suas propriedades, encontramos fibras, proteínas e nutrientes, como vitami-
na C, vitaminas do complexo B e minerais essenciais, capazes de melhorar a saúde digestiva,

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regular o diabetes, fortalecer os ossos, diminuir a pressão sanguínea, prevenir doenças crô-
nicas, respiratórias, cardíacas, melhorar a função cerebral, cognitiva e o funcionamento da
tireóide. Contribui para o fortalecimento do sistema imunológico, podendo ajudar na perda
de peso, por oferecer ótima sensação de saciedade logo depois de consumida. Além disso
traz inúmeros benefícios durante a gestação.
No hemisfério norte, o ciclo da castanha se encerra em outubro estendendo-se no
máximo para o começo de novembro. Então, no final do verão, durante o outono e inverno
ocorre o consumo da castanha que se identificou como uma fruta de Natal – herança ibéri-
ca que recebemos.
Passado o Natal, especialmente porque a fruta era até recentemente importada e,
portanto, caro o consumo no Brasil virtualmente cessava. Mas, como a produção nacional
inicia-se em novembro e dependendo da espécie estende-se até abril, ao produtor nacional
resta apenas o caminho de achar saídas para estimular o consumo após o período de festas.
A industrialização da castanha parece ser a única possibilidade sendo utilizada de
outras formas, como: farinhas, doces e cervejas que estão na mira dos produtores.

Cadeia Produtiva e Suprimentos do Produto

No estudo ora em foco, a cadeia produtiva da Castanha Portuguesa pode ser verificada
no fluxo na Figura 3:

Figura 3. Cadeia produtiva da Castanha Portuguesa.

Fonte: Autores 2020.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Matos e Gerry (2003) concluem que um fator importante nessa complexa engrenagem
do sistema de comercialização da castanha, os “agentes de controle do destino”, distribuem-
-se por vários elos da cadeia de valor incorporando diferentes serviços e funções (dentro
da cadeia produtiva e serviços), que vão desde os produtores, ajuntadores, armazenistas-
-exportadores, ‘magusteiros’ aos agentes de controle no destino, consolidando a Rota da
Terra Fria Transmontana.
O elo comum entre as vertentes do arranjo produtivo local e os produtores é o objetivo
de desenvolver uma agricultura ecologicamente (sustentável) equilibrada e socialmente justa,
além de economicamente viável, sendo que os principais indicadores para estratégias de
desenvolvimento sustentável na agricultura devem ser: Produtividade, Estabilidade, Equidade.
Bueno e Pio (2018) destacam que o potencial mercadológico da castanha deve ser
percebido pelos empresários brasileiros de frutas como fonte rentável. A produção brasileira
das principais espécies frutíferas de clima temperado é insuficiente para atender à demanda
interna, gerando uma crescente necessidade de importação de frutas que podem ser produ-
zidas no Brasil. Os autores ainda evidenciam que o estímulo à produção interna de castanha
deve ser realizado com base em estudos que abordem todos os segmentos da cadeia pro-
dutiva do produto, desde o material genético até o processamento e a comercialização, de
forma a proporcionar importantes elementos para o desenvolvimento sustentável da atividade.
Porém, alguns aspectos devem ser considerados no cultivo de castanhas como: • be-
nefícios ecológicos, por se tratar de uma planta de porte arbóreo e resistente; • expressivo
valor comercial de seus produtos, castanhas e madeira; • possibilidade de substituição de
grãos nutritivos, em determinadas condições onde não é possível cultivar milho.
Os autores Cunha (2006), Capucha (1996) e Hummelbrunner (1994) ressaltam pontos
importantes para o desenvolvimento do turismo rural de uma região, tais como:

→ A participação dos atores locais e definição de estratégias;


→ Identificação da especialidade de cada região;
→ Análise da infraestrutura necessária para sua implantação;
→ Valorização da agricultura e meio ambiente;
→ Criação de equipes pluridisciplinares.

O ciclo de vida de Tecnologias, ressalta Waack (2000), deve contribuir também na


cadeia produtiva, como um dos elementos básicos na gestão tecnológica, mas ressalta
que as tecnologias possuem ciclos de vida definidos. Da mesma forma, o conceito de valor
deve ser incluído na cadeia de suprimentos como cadeia de valor que é estabelecida por

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um conjunto de atividades criadoras de valor, desde as fontes de matérias-primas básicas,
passando por fornecedores de componentes e indo até o produto final entregue nas mãos
do consumidor, assim como, na APL – Base Comunitária como cadeia de valor.
Capucha (1996) valoriza a inovação por permitir evitar a imitação dos centros de turis-
mo já existentes e aproveitar ao máximo os recursos locais, valorizando-os e estimulando
o investimento e persuadindo os poderes públicos e os agentes privados.
O Turismo implantado no município de São Bento do Sapucaí, representa o desen-
volvimento de uma região cujas parcerias construídas com instituições realizaram ações de
capacitação as quais foram importantes para a construção do destino turístico. As ações
de sensibilização realizadas também foram essenciais para a participação e inserção da
comunidade local.
Economicamente a maioria dos produtores pratica uma agricultura de baixa escala e
de subsistência, utilizando para consumo próprio e venda em mercados locais.
O projeto realizado no município de São Bento do Sapucaí, observa-se relevantes
decisões de política pública ocorrida, tais como:

→ Elaboração de um diagnóstico das características da região;


→ Participação de atores locais na definição das estratégias;
→ Constituição de uma associação;
→ Reativação do cultivo de frutas e consolidação do turismo rural;
→ Desenvolvimento de novas atividades com novos postos de trabalho

Finalizando, a gestão de tecnologia aproxima-se dos conceitos de marketing e co-


municação sendo dependente do estabelecimento de forte integração com o mercado e,
portanto, de transações com os diversos elos da cadeia produtiva da Castanha Portuguesa.

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24
Reinserção do Capim Santa Fé no
agroecossistema Mbyá Guarani, em terras
reconquistadas no sul do Rio Grande do
Sul

Cecile Follet
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS

Gabriel Collares Poester


Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS

Gilson Laone Pereira


Pontifícia Universidade Católica - PUC - RS

Artigo original publicado em: 2022


Brazilian Journal of Animal and Environmental Research - ISSN 2595-573X.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/220709307
RESUMO

No âmbito do programa de compensação ambiental da duplicação da BR 116, as comu-


nidades Mbyá Guarani, acampadas nas margens desta rodovia, reconquistaram terras,
oito áreas de antigas fazendas na região Sul do Estado do Rio Grande Sul entre Guaíba e
Pelotas. Frente às condições de degradação ambiental e erosão ecológica dessas áreas,
uma das grandes prioridades das lideranças é restaurar condições de vegetação e fauna mais
favoráveis à produção e reprodução física e cultural das comunidades, com maior biodiver-
sidade, alimentos, caça, pesca, lenha, matérias primas para construção e artesanato... Com
este objetivo, o presente relato apresenta a experiência de transplante de mudas de Capim
Santa Fé (Panicum prionites) nas áreas reconquistadas, como forma de adquirir autonomia
para a construção das casas, assim como, resgatar tradições culturais e conhecimentos
ancestrais. A coleta das mudas foi realizada em 2018 na área da estação experimental da
UFRGS no município de Eldorado do Sul/RS e em 2019 em duas áreas quilombolas em
Canguçu/RS e Viamão/RS. No primeiro ano a experiência permitiu conhecer melhor a planta
e as técnicas adequadas para o plantio. No segundo ano, além de aprimorar este conheci-
mento, a experiência proporcionou trocas de conhecimentos e saberes entre comunidades
de etnias diferentes, mas com características de luta e sobrevivência parecidas.

Palavras-chave: Capim Santa Fé, Agorssistema Mbyá Guarani, Autonomia Sustentável.


APRESENTAÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO

No modo de vida Mbyá Guarani, Mbyá reko, todas as atividades que, na cultura oci-
dental foram segmentarizadas, acontecem junto, numa relação material e temporal especí-
fica. As diferentes gerações convivem, a educação das mais novas acontecendo de forma
contínua e intensa neste convívio. O conhecimento assim gerado e a força das práticas
espirituais permitiram que o povo Mbyá sobrevivesse ao genocídio e possa ser capazes até
hoje de reconstituir, mesmo em espaços reduzidos e a princípio degradados, as condições
de vida e de reprodução física e cultural para suas comunidades.
Essa experiência insere-se dentro do Programa de Apoio às Comunidades Indígenas
Mbyá-Guarani no Âmbito das Obras de Duplicação da Rodovia BR-116/RS, entre os mu-
nicípios de Guaíba e Pelotas / RS, tendo como objetivo geral de mitigar e compensar os
impactos do empreendimento, cumprindo as determinações estabelecidas pela legislação
brasileira. O Departamento Nacional de Infra-estrutura e Transporte / DNIT é responsável
pela execução das ações definidas no Plano Básico Ambiental / Componente Indígena (PBA/
CI), com o acompanhamento da Fundação Nacional do Índio / FUNAI, e contratou para isso
a Fundação de Apoio a Pesquisa e Extensão Universitária, FAPEU. Dentro do PBA, são
executados oito subprogramas dando apoio às lideranças guarani: articulação (apoio aos
encontros e logística), fundiário (aquisição de terra), gestão territorial e ambiental, atividades
produtivas (agricultura de autoconsumo, extrativismo, apicultura, piscicultura, avicultura,
meliponicultura), casas de artesanato e centros culturais, reestruturação e construção de
casas, fomento (distribuição de cestas básicas), comunicação.
O programa iniciou em 2013 e proporcionou num primeiro período a compra de oito
propriedades, contabilizando um total de 800 hectares, desapropriadas e destinadas para
oito comunidades Mbyá-Guarani nos municípios de Canguçu, Camaquã, Barra do Ribeiro,
Mariana Pimentel e Guaíba. Estas terras são todas pequenas fazendas tradicionais onde
se produzia fumo, arroz, batata doce, grão, etc., e se criava gado, ovelhas, cavalos e pei-
xes... Já perderam muitas das características dos territórios originais Guarani, grande parte
delas já desmatadas e com infra-estruturas adequadas a sistemas de produção agropecuá-
rios coloniais e pós-coloniais.
O programa prevê encontros mensais das lideranças Guarani para acompanhar, ava-
liar e decidir a continuidade das ações de cada um dos oito subprogramas. Os encontros
acontecem na sua maioria de forma fechada e em língua Guarani, porém no final de cada
um deles, temos oportunidade de ouvir os relatos e demandas importantes para a conti-
nuidade das atividades. Uma das principais prioridades das comunidades Mbyá, discutida
na ocasião destes encontros, está sendo recuperar os espaços e territórios reconquistados
para ter acesso a uma abundância de recursos naturais permitindo de um lado o sustento

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413
das famílias (caça, pesca, mel, agricultura, colheita, material para artesanato e construções,
etc.) e do outro, o ensino dos saberes tradicionais para as gerações mais novas, através
da vivência junto à natureza.
Neste sentido, um dos esforços é a procura de material genético (sementes e mudas
de espécies nativas na sua maioria, ou outras exóticas de interesse das comunidades) para
ser multiplicado nas aldeias e fornecer às famílias alimentos e materiais para seu sustento.
Para implantação e reprodução deste material, foram estudados junto às comunidades,
sistemas agroflorestais diversificados e adaptados às condições socioambientais.
O Capim Santa Fé, Panicum prionites, espécie nativa do pampa gaúcho, encontra-se
nas áreas úmidas (banhados, beiras de rios) e é usado tradicionalmente pelos Guarani e
por outras populações tradicionais do Estado, como cobertura das casas de habitação e
casas de reza (opy), porém tem se tornado raro nos campos gaúchos, eliminado dos campos
nativos pelos pecuaristas, quando os campos nativos não foram eliminados, eles mesmo,
pelo agronegócio.

DESENVOLVIMENTO DA EXPERIÊNCIA

Frente à demanda das lideranças Guarani por Capim Santa Fé para construir seus
telhados, a primeira iniciativa foi a busca por fechos de Capim. Num primeiro momento,
foram comprados os fechos de uma propriedade privada de Rio Pardo/RS. Porém o custo
de compra e transporte deste material se torna em médio e longo prazo inviável frente a
dinâmica de construção das comunidades. Por isso, lideranças, agentes ambientais e equipe
técnica do programa decidiram experimentar reintroduzir a espécie nos territórios Mbyá-
Guarani do Sul do Estado.
Em 2018, entramos em contato com a direção da estação experimental agronômica
da universidade federal do Rio Grande do Sul, UFRGS. A estação possui uma área total de
1560 ha com extensas partes de campos nativos preservados onde há ocorrência de capim
Santa Fé. A estação abriu suas portas aos representantes Mbyá-Guarani que acamparam no
local e organizaram um mutirão para coleta das mudas. Foram coletadas em torno de 2000
mudas que foram divididas e plantadas em 10 aldeias nos municípios de Barra do Ribeiro,
Mariana Pimentel, Camaquã e Canguçu.
As áreas para plantio das mudas foram escolhidas por cada comunidade a partir das
orientações e experiências dos mais velhos sobre o manejo da planta. Esse processo permitiu
verificar tanto a importância do saber tradicional sobre as características e o manejo da planta
pelas comunidades Mbyá, quanto à determinação das mesmas em experimentar diversas
formas de plantio e garantir a multiplicação da espécie nas terras indígenas da região.

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Figura 1. Coleta das mudas na EEA/UFRGS – 12 de abril de 2018.

Em 2019, as comunidades demonstraram interesse em repetir a experiência e ampliar


os plantios. Desta vez, procuramos ir mais longe, ou seja, não somente coletar mudas,
mas também proporcionar trocas de saberes e conhecimentos sobre o tema. Neste sentido
buscamos mudas em comunidades tradicionais do Estado, as quais também preservam
a espécie e fazem uso do material. Os intercâmbios aconteceram no Quilombo Cerro das
Velhas em Canguçu / RS e no Quilombo Anastácia em Viamão / RS.
O quilombo Cerro das Velhas em Canguçu foi demarcado dentro de uma antiga fa-
zenda, cujas donas, duas irmãs sem filhos, abrigavam nela famílias fugindo da condição
de escravidão. Na morte das irmãs, a área ficou par as famílias ali refugiadas. O Capim
Santa Fé ocupando as áreas úmidas do território era preservado e usado como material de
construção para a cobertura das casas.

Figura 2. Coleta das mudas no Cerro das Velhas, Canguçu /RS.

O quilombo Anastácia é localizado no município de Viamão/RS, na beira do rio Gravataí,


no Banhado Grande, onde há extensas áreas inundáveis e banhados, protegidas em função
do papel regulador destas áreas para a vazão do rio Gravataí. O Quilombo herda seu nome
da Senhora Anastácia, avó ou bisavó de muitos dos moradores, e que liderou a organização
do espaço de refúgio e resistência contra a escravidão.

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Figura 3. Coleta das mudas no Quilombo Anastácia, Viamão/RS.

Desafios

Frente à demanda persistente por Capim Santa Fé das comunidades Guarani o


Ministério Público autorizou a coleta e o transporte das mudas para nossas experiências,
apesar das restrições legais relacionadas ao material vegetal nativo no Estado. O trans-
plante de mudas de Panicum prionites é inusitado na região. Porém contamos com nosso
conhecimento em biologia de gramíneas, com o conhecimento dos Guarani mais velhos,
que guardam ainda a memória do uso da planta e com o conhecimento geral sobre os ecos-
sistemas de banhados no Sul do Estado.
Após orientações técnicas gerais, as comunidades escolheram as áreas de plantio e
acompanhamos o desenvolvimento junto às comunidades. As mudas para sobreviver tiveram
que enfrentar algumas condições adversas (frio, seca, pisoteio de animais, competição com
outras espécies), apresentando um resultado irregular, conforme as condições climáticas
do ano, a escolha do local e infra-estruturas disponíveis.
Técnicas de transplante e adubação permitem acelerar os processos de restauração
de vegetação naturais, porém será necessário esperar anos de cuidados e preservação para
chegar ao objetivo de auto-suficiência para construção das casas de moradia e de rezas.

RESULTADOS ALCANÇADOS

Dez comunidades Mbyá Guarani, localizadas nos municípios de Guaíba, Barra do


Ribeiro, Camaquã e Canguçu foram beneficiadas com mudas, somando um total de perto de
4000 mudas. As mudas plantadas em 2018 que sobreviveram ao transplante já perfilharam
e estão formando moitas, várias plantas já produziram sementes. Logo essas comunidades
estarão auto-suficientes em mudas podendo transplantar o capim dentro da própria aldeia
e distribuir mudas para mais comunidades. Pensamos que em 10 a 15 anos já poderemos
iniciar o corte para cobrir as primeiras casas de reza. Com o tempo teremos ilhas preservadas

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416
de capim Santa Fé no Sul do Estado, oferecendo possibilidades de repovoamento desta
espécie nos banhados da região Sul.
Se bem sucedida, esta experiência oferece também potencial de gerar renda, ao exem-
plo de aldeia Granja Vargas em Palmares do Sul/RS que após ter iniciado o plantio de
mudas, em torno de 20 anos atrás, está comercializando fechos e mudas, oportunizando
renda para a comunidade.

Figura 4. Mudas de Santa Fé plantadas em abril 2018, Figura 5. Setembro 2019. Agente ambiental mostrando e
estado de desenvolvimento em outubro 2018. explicando para as crianças a importância da experiência.

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SOBRE OS ORGANIZADORES

Auristela Correa Castro


Professora Substituta do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Oeste do
Pará -2022. (2) Doutoranda em Sociedade, Natureza e Desenvolvimento da Universidade Federal
do Oeste do Pará-UFOPA em parceria com a Universidade Federal de Goiás-UFG, aprovada
em 1º lugar da turma de 2020/2.Bolsista CNPQ. Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em
Cidades, Territórios e Identidades (PPGCITI), área: Estudos Sociais e suas Humanidades na
Linha de Pesquisa Políticas Públicas, Movimentos Sociais e Territórios, da Universidade Federal
do Pará no Campus de Abaetetuba/PA.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/7429395441168502

Dennis Soares Leite


Possui graduação em Fisioterapia pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Acadêmico de
Engenharia de Produção na Universidade Estadual Paulista. Formação em Saúde Pública pela
Faculdade do Método de São Paulo (FAMEESP). Formação em Fisioterapia em dor orofacial pela
Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP). Formação em Ambientes
do Trabalho e suas repercussões para a saúde do trabalhador pela Fundacentro/São Paulo.
Aperfeiçoamento em Salud del Trabajador pela Universidad Nacional de Lanús (UNLa/Argentina).
Lattes: http://lattes.cnpq.br/4205979645558904

Marcelo da Fonseca Ferreira da Silva


Licenciatura plena em Matemática pela Escola de Ensino Superior Fabra, Graduado em Tecnólogo
em Gestão Pública pela Universidade Anhanguera - Uniderp, Graduado em Pedagogia pela UNAR.
Mestre em Políticas Públicas e Desenvolvimento Local da Escola Superior de Ciências da Santa
Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM). Especialista em Gestão de Trânsito (FACULDADE
FACEC), Especialista em Direito, Educação e Segurança no Trânsito (FACULDADE LUSO
CAPIXABA), Especialista em Inteligência Policial (FACULDADE FACUMINAS), Especialista em
Gestão Prisional (FACULDADE ÚNICA). Especialista em Educação. Atualmente sou servidor
do Governo do Estado do Espírito Santo, professor de pós-graduação, docente da cadeira de
legislação de trânsito e política da ASSINTRAN.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8256025812096945

Alex Guimarães Sanches


Engenheiro Agrônomo (Universidade Federal do Pará, PA). Mestre em Agronomia/Fitotecnia
(Universidade Federal do Ceará, CE). Doutor em Agronomia/Produção Vegetal (Universidade
Estadual Paulista ‘’Júlio de Mesquita Filho’’ FCAV/UNESP, Campus de Jaboticabal - SP). Atuando
nas seguintes linhas: Fisiologia e bioquímica vegetal, Fisiologia de Pós-colheita (qualidade físico-
química, processamento mínimo, metabolismo oxidativo e de vitamina C, compostos bioativos,
manejo de pragas e doenças de grãos e frutas armazenadas), Tecnologia de Alimentos (animal
e vegetal), Fruticultura (produção de mudas, estaquia, enxertia, alporquia).
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2372153782028484

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418
SOBRE OS ORGANIZADORES

Diogo da Silva Cardoso


Áreas de interesse: metageografia, geografias comparativo-indiciárias e as quatro dimensões
da espacialidade humana | cosmopolitismos alternativos, paisagens vernaculares e culturas
organizacionais | espaço público, economia criativa e cooperativismo como eixos possíveis de
reorganização do mundo pós-eurocêntrico e pós-anglo-saxão | metodologias ativas e alternação
dos saberes e espaços educativos (formal, não formal, informal e incidental) | Educação Patrimonial,
Educação Ambiental, Educação Científica e Educação Cooperativista como “caixas de ferramentas”
para estruturação e potencialização dos processos educativos/culturais e do desenvolvimento local.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8373939501005087

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419
ÍNDICE REMISSIVO

A Concorrência: 342, 343

Adaptação: 201, 224, 236, 237 Cooperativa: 231, 232, 301, 314, 319

Agentes Externos: 301, 306 Crescimento: 207, 221, 264, 271, 272

Agorssistema Mbyá Guarani: 412 Cuiabá: 86, 87, 155, 156, 158, 159, 162, 163, 164,
165, 166, 168, 169, 170, 171, 172, 173, 220
Agricultura Orgânica: 28, 48
D
Algodão: 207, 215, 216
Desenvolvimento Regional: 49, 50, 121, 133,
Ambiente: 18, 48, 49, 109, 111, 153, 171, 180, 203, 182, 183, 188, 241, 264, 389, 406, 409, 410
206, 220, 222, 228, 299, 303, 406, 407
Desenvolvimento Regional Inteligente: 174, 175
Arranjo Produtivo Local: 267, 268, 389, 392, 397
Desenvolvimento Rural: 62, 408
Assentamentos Rurais: 62
Desenvolvimento Sustentável: 108, 109, 157,
Ativos Territoriais: 95, 107 172, 242, 264, 270, 275, 276, 277, 340, 341, 391,
409, 410
Autonomia Sustentável: 412
Desenvolvimento Urbano e Regional: 95
B
Desigualdade de Renda: 246, 259, 260, 261, 262
Bioma: 78, 84, 88, 89, 90, 92, 229, 243, 398
Direito de Construir: 348, 349, 351, 353, 356, 357,
C 363

Cadeia de Serviços: 264, 408 Diversidade Vegetal: 222

Cadeia de Suprimentos: 52, 53, 59, 391 Diversificação da Produção: 28, 49

Cadeia de Valor: 389 E


Cadeia Produtiva: 264, 403, 408 Effectiveness: 367

Cana-de-Açúcar: 207, 215, 216 Enfermeiros e Enfermeiras: 122, 129

Capim Santa Fé: 411, 412, 414, 415, 416 Espaço Geográfico: 137, 153

Castanha Portuguesa: 389, 403, 405, 406 Estatuto da Cidade: 349, 350, 351, 353, 354, 355,
356, 362, 365
Cerrado Amapaense: 222, 223, 227, 228, 229,
230, 231, 232, 233, 234, 235, 236, 237, 238, 239, Evolução do Sistema Organizacional: 301
240
Externalidade Reversa: 322
Cidades: 26, 91, 93, 109, 136, 153, 162, 168, 175,
179, 180, 181, 182, 187, 320, 352, 365 F
Cidades Inteligentes: 175 Fisioterapeutas: 122, 130

Circunstâncias: 253 Florestas Urbanas: 93

Coco Verde: 172 Fragilidade Financeira: 281

Tópicos Atuais em Desenvolvimento Regional e Urbano - ISBN 978-65-5360-195-6 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
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ÍNDICE REMISSIVO

G Pecuária: 163, 206, 207, 215, 216, 224, 236, 237,


242
Gestão: 28, 48, 49, 52, 53, 75, 93, 108, 109, 111,
153, 172, 173, 201, 202, 203, 242, 279, 295, 299, Planejamento: 59, 93, 242, 243, 259, 260, 261,
319, 366, 405, 406, 407, 410 262, 264, 295, 354, 358, 362, 363, 410

Gestão da Agricultura Familiar: 28 Pluriatividade: 28, 49, 50, 410

Governança Territorial: 95, 108, 109 Preços de Venda: 343

Governance: 187, 367, 368, 369, 370, 371, 372, R


373, 374, 379, 380, 385
Regiões de Aprendizagem: 175
I
Regiões Geográficas Imediatas: 205
Indicadores de Localização e Especialização:
205 Regiões Inteligentes: 175, 188

Índice de Oportunidade Humana: 245, 246, 249, Regional Economic Development: 367
250, 251, 253, 254, 255, 256, 257, 258, 262
Renda das Famílias: 343
Instrumentos Urbanísticos: 349
Resíduos: 58, 168, 171, 302, 318, 320
J
S
Juventude Rural: 62
Science and Technology Parks: 367, 368
L
Setor Público: 281
Laguna: 49, 134, 135, 136, 137, 138, 139, 140,
141, 142, 143, 144, 145, 147, 148, 150, 151, 152, Soja: 207, 215, 216, 217, 232, 241, 244
153, 154
Sustentabilidade: 52, 53, 59, 108, 110, 111, 173,
M 203, 241, 264, 298, 318, 341, 389, 390, 408

Médicos e Médicas: 122 Sustentabilidade Econômica: 52, 53

Membros Organizacionais: 301, 303, 306, 307, T


308, 309, 311, 313, 316, 317
Técnicos e Técnicas em Enfermagem: 122, 130
Microrregião de Blumenau: 122, 128, 129, 130
Território: 59, 109, 110, 201, 243, 271, 408
Milho: 207, 215, 216, 217, 232
Turismo: 264, 266, 277, 388, 389, 392, 394, 400,
Minas Gerais: 48, 87, 89, 201, 224, 262, 280, 281, 405, 406, 407, 408, 409, 410
283, 290, 291, 295, 296, 297, 386, 398, 401

Minsky: 280, 281, 282, 283, 285, 286, 288, 290,


291, 293, 295, 296, 297

Mudanças Climáticas: 93

O
Organização: 32, 62, 147, 157, 302, 400, 406, 407,
410

Outorga Onerosa: 348, 349, 351, 353, 357, 363

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