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ECONOMIA ECOLÓGICA,
TERRITÓRIO E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
PERSPECTIVAS E DESAFIOS
editora
científica digital
1ª EDIÇÃO
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2022 - GUARUJÁ - SP
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Internacional (CC BY-NC-ND 4.0).
E19 Economia ecológica, território e desenvolvimento sustentável: perspectivas e desafios / Arleson Eduardo Monte Palma Lopes
(Organizador), Iná Camila Ramos Favacho de Miranda (Organizadora). – Guarujá-SP: Científica Digital, 2022.
E-BOOK
ACESSO LIVRE ON LINE - IMPRESSÃO PROIBIDA
Formato: PDF
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Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5360-211-3
DOI 10.37885/978-65-5360-211-3
1. Ecologia. 2. Sustentabilidade. I. Lopes, Arleson Eduardo Monte Palma (Organizador). II. Miranda, Iná Camila Ramos
Favacho de (Organizadora). III. Título.
2022
CDD 577
Índice para catálogo sistemático: I. Ecologia
Elaborado por Janaina Ramos – CRB-8/9166
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Esta obra intitulada “Economia Ecológica, território e desenvolvimento
sustentável: perspectivas e desafios” constituiu-se a partir de uma integração
APRESENTAÇÃO
' 10.37885/220809807......................................................................................................................................................................... 11
CAPÍTULO 02
TEORIA DA MOEDA MODERNA E ECONOMIA ECOLÓGICA: APROXIMAÇÕES POSSÍVEISISABELA PRADO
CALLEGARI
' 10.37885/220809780......................................................................................................................................................................... 27
CAPÍTULO 03
CONTROVERSAS METODOLÓGICAS DA ECONOMIA ECOLÓGICA
Arleson Eduardo Monte Palma Lopes; Martha Luiza Costa Vieira; Iná Camila Ramos Favacho de Miranda; Lidiane Caetano
de Mendonça Dias
' 10.37885/221010474.......................................................................................................................................................................... 39
CAPÍTULO 04
CARACTERIZAÇÃO GEOAMBIENTAL E PALEONTOLÓGICA NA SERRA DA CAPIVARA PIAUÍ-BRASIL: ANÁLISE A PARTIR
DE UMA AULA DE CAMPO
Juliana Oliveira Araújo; Adolfo Lincoln Silva; Adriele Pereira dos Reis; Alessandra Ramos Roxa; Andressa Quadros Silva; Ismael
Oliveira Silva; Jeovana Santos Melonio; Maely Sousa Nascimento; Marília Aguiar Anselmo; Rafaela de Jesus Melo de Oliveira Rego
' 10.37885/220910052......................................................................................................................................................................... 48
CAPÍTULO 05
DINÂMICAS DE COMERCIALIZAÇÃO ECOLÓGICA E DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL SUSTENTÁVEL NO VALE DO
RIBEIRA – PARANÁ
Cristiane Coradin; Valdir Frigo Denardin
' 10.37885/220910341.......................................................................................................................................................................... 63
CAPÍTULO 06
MAIN ADDITIVES USED IN SLURRY ACIDIFICATION: UTILIZATION - APPLICATION - SEPARATION TECHNOLOGIES
AND PROPOSED ADOPTIONS
João Baptista Chieppe Júnior
' 10.37885/220408666........................................................................................................................................................................ 83
SUMÁRIO
CAPÍTULO 07
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA ALTERNATIVA PARA O DESENVOLVIMENTO?
Arleson Eduardo Monte Palma Lopes; Vanessa do Nascimento Ferreira; Lidiane Caetano de Mendonça Dias
' 10.37885/220910308......................................................................................................................................................................... 91
CAPÍTULO 08
FATORES QUE INTERFEREM NA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS NO DESENVOLVIMENTO DA PEQUENA
MINERAÇÃO NA REGIÃO DE CARAJÁS-PA
João Sebastião Maia Alves; Miquéias da Costa Pinto
' 10.37885/220910288......................................................................................................................................................................... 99
CAPÍTULO 09
O COMPORTAMENTO DA BALANÇA COMERCIAL DO PARÁ EM TEMPOS DE PANDEMIA
Maurício Fernandes Dourado; Helen Rodrigues de Souza
'10.37885/220809807
RESUMO
Objetivo: Este trabalho objetiva analisar o ensino da Economia Ecológica e sua capacidade
de formulação de uma pedagogia própria. Como referência teórica se utiliza de trabalhos
produzidos por teóricos da educação superior, das ciências sociais e os principais teóricos do
campo recente da Economia Ecológica, no intuito de buscar chaves metodológicas, algumas,
em uso na experiência da Universidade Federal do Ceará. Métodos: A pesquisa analisou
qualitativamente elementos da experiência do único curso de graduação em Economia
Ecológica conhecido, a sua intencionalidade pedagógica, expressa no projeto de curso,
articulado com o debate sobre as finalidades da universidade. Resultado: A pedagogia
própria, ecossistêmica, em uma perspectiva biocêntrica necessita de um percurso histórico
que contenha elaboração teórica e prática dos sujeitos envolvidos, a recente proposição de
um bacharel em economia ecológica aponta para um horizonte de sociedades sustentáveis,
a partir de princípios de justiça ambiental e da perspectiva biocêntrica.
Economia Ecológica, território e desenvolvimento sustentável: perspectivas e desafios - ISBN 978-65-5360-211-3 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
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de preservação, proteção, manutenção como, também, de uma perspectiva ecossistêmica
que se integra em diferentes intensidades nas políticas públicas no decorrer da história.
Este artigo faz parte do percurso de reflexão sobre o ensino da Economia Ecológica e
da indagação sobre sua capacidade de formular uma pedagogia própria. Sendo assim, visita
teóricos da educação, das ciências sociais e clássicos da Economia Ecológica no intuito
de buscar chaves metodológicas, algumas já em uso, em curso na experiência do curso de
graduação da Universidade Federal do Ceará1 - UFC. Alguns trabalhos desenvolvidos no
interior da experiência cearense trazem um paralelo entre Educação Ambiental e Economia
Ecológica, apresentando uma linha do tempo na qual a história é um reconhecimento do
esforço coletivo para elaboração de constructos formativos no âmbito da educação, so-
ciedade e natureza. Destaca-se a Conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente
humano (1972), na qual a Educação Ambiental é referenciada como ferramenta de ensino
e na mesma Conferência se populariza o conceito de Desenvolvimento Sustentável (am-
plamente debatido no escopo teórico/prático da Economia Ecológica), sendo consolidada
no Relatório de Brundtland (1987). Já Em 1992, ocorreu a Conferência das Nações Unidas
sobre o meio ambiente e desenvolvimento, na qual foi lançada a Agenda 21, que teve como
um dos objetivos e metas a “Educação como forma de conscientização para as questões
de proteção ao meio ambiente”, estando “o capítulo 36 da Agenda, intitulado Promoção do
ensino, da conscientização e do treinamento” (CORDEIRO, 2022, p. 55). Em seguida, a
Sociedade Brasileira de Economia Ecológica foi criada como resultado de discussões no
bojo da Conferências das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, popu-
larmente conhecida por Rio-92, sediada no Rio de Janeiro, quando economistas, ecologistas
e estudiosos do Brasil se juntaram em uma série de encontros que explicitaram que pouco
se sabia sobre a “Economia do Meio Ambiente”.
A ausência de um conhecimento econômico, socioambiental e seus nexos sentida nas
ciências, também é lida como reflexo de um modelo de desenvolvimento que o propósito não
é a manutenção e preservação da vida, cujas consequências são catastróficas e atingem
de formas diferentes os grupos sociais que se encontram em situação de vulnerabilidade.
Vê-se, no desenvolvimento desta pesquisa, as potencialidades da emergência de uma pe-
dagogia ecossistêmica preenchendo lacunas do conhecimento na materialização de uma
práxis econômica/ecológica.
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Figura 01. Linha do Tempo Educação Ambiental x Economia Ecológica.
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do encontro destes dois campos, analisa-se a primeira experiência da Economia Ecológica
na educação formal, no âmbito do ensino superior no Brasil.
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Assim, é possível identificar no curso de Economia Ecológica da UFC, a práxis que
se apresenta desde o Projeto Político do Curso (PPC), perpassando pelas salas de aulas,
palestras, seminários, projetos de extensão, entre outras ações que furam o bloqueio da
alienação e preparam os sujeitos, em conjunto, para vivenciar com teoria e prática, o que se
acredita e o que se prega na formação do(a) economista ecológico. A Economia Ecológica,
interdisciplinar por natureza, atenta para a formação destes sujeitos coletivos ao entrelaçar
meio ambiente, sociedade e economia em um elo forte, que se contrapõe de forma enfática
aos ideais clássicos, optando por uma formação ativa, mergulhada no conflito entre para-
digmas, portanto, construtora de novos pilares teórico-práticos, como explicitados por Clóvis
Cavalcanti, a seguir:
Pensando nas urgências e novas fronteiras que esta é uma área de estudo que com-
preende a impossibilidade de romper com a alienação apenas pela teoria. Teoria e prática
estão intensamente interligadas na execução das atividades cotidianas, no movimento da
vida, nas transformações singelas na própria existência e história humana, a prática está
em ações diárias, assim, modifica-se o hoje pensando no amanhã.
A Economia Ecológica é incômoda pela via metodológica e pelo enfrentamento teórico
ao paradigma hegemônico da economia tradicional que insiste em apresentar-se como domi-
nante e único, que enxerga a natureza como fonte inesgotável fornecedora de matéria-prima
para a sustentação e manutenção do capitalismo. E é com esta dinâmica, que o ensino da
Economia Ecológica contribui para a formação de uma consciência ecossistêmica e anti-
capitalista, através da articulação entre teoria e prática e outros dualismos que impedem o
avanço do pensamento complexo, como campo/cidade, natureza e sociedade.
Na experiência cearense, o professor Fábio Maia Sobral costuma dizer que “o curso
de Economia Ecológica da UFC foi implantado, resta agora, construir o profissional”. Neste
intuito, aponta-se neste trabalho duas grandes demandas: a formulação das chaves metodo-
lógicas insurgentes sob os limites da institucionalidade e sob o capitalismo, e a construção
do espaço profissional sob os mesmos limites, mas querendo irromper na construção do
futuro. Para tal, utilizou-se modelos elaborados por Wolff (1993) na reflexão sobre a função
da Universidade, a partir de um exercício didático, apresentou-se os dilemas do profissional
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da Economia Ecológica ou da Bioeconomia, considerando três, das quatro formulações
sobre as finalidades da universidade, elaboradas por Wolff, que serão discutidos a seguir:
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Universidade como campo de treinamento para profissões liberais
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Opositores da profissionalização na graduação, normalmente, defendem a ideia de que,
nesse nível de formação, os estudantes devem ter contato com a Grande Tradição. “Estudos
interdisciplinares” e “orientação para a problematização” são formas reivindicadas por esses
opositores da especialização. A distinção do treinamento profissional não é o seu conteúdo,
mas a forma. Um meio termo deste debate no Brasil são os bacharelados interdisciplinares
que detém uma base inicial compartilhada por diferentes seguimentos profissionais que,
depois dos anos iniciais, desenvolvem subáreas de especialização profissional. Os cursos
superiores de Bacharelados Interdisciplinares devem possuir uma formação flexível, com
foco na interdisciplinaridade e no diálogo entre áreas do conhecimento, “assim, na medida
em que ampliamos a análise do campo conceitual da interdisciplinaridade surge a possibi-
lidade de explicitação de seu espectro epistemológico e praxeológico (FAZENDA, 2008, p.
94); e como resultado, espera-se que o formando seja um profissional capaz de atuar em
diferentes áreas de fronteira, e nas interfaces de diferentes disciplinas e campos do saber.
No curso de Economia Ecológica da UFC, está expresso na matriz curricular que a
formação do profissional em questão, enseja uma percepção do mundo na perspectiva ci-
dadã, com senso crítico e ético quando do exercício profissional. O projeto de curso destaca
a necessidade da compreensão dos processos históricos que têm conformado as ações
humanas voltadas para a produção de suas condições materiais de vida em sociedade,
junto ao desenvolvimento de capacidade analítica e de intervenção prática a ser adquirida
a partir de componentes curriculares teóricos, quantitativos e qualitativos.
A finalidade formativa deste profissional não aparenta, em nenhum momento, a con-
formação de treinamento a lógica de mercado profissional liberal, o qual tem participação
na crise civilizatória que nos assola.
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alienação, que camuflam os verdadeiros interesses e os destinos dos principais investimentos
que vão se traduzindo em matrizes curriculares, pautas de pesquisa, programas de pós-gra-
duação, como também em tabelas de progressão funcional de professores, que determinam
sua atuação na estrutura acadêmica. Este desenho de universidade é sedutor à primeira
vista, aparentemente, ele só comprimiria os objetivos de sua existência, que se mostra
retórica, se as instituições de ensino e pesquisa fossem cunhadas por um amplo processo
de participação popular. O ensino da Economia Ecológica, no contexto da multiversidade,
deve confrontar a racionalidade econômica predominante que se ampara nos aparelhos
ideológicos, na justificativa do próprio funcionamento das universidades e da pesquisa, são
instituições que integram a sociedade, mas que para se manterem, se fazem reprodutoras
e, assim, perpetuadoras do modelo de produção e consumo da sociedade vigente, e que
põem em risco a vida no planeta, sobretudo da espécie humana.
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O Projeto Pedagógico do Curso (PPC), tem um enfoque biocêntrico, com a perspec-
tiva metodológica interdisciplinar, a qual rompe com a metodologia especializada em uma
única área do conhecimento. Tal visão entra em confronto com a concepção existente na
formação em Ciências Econômicas, já que a Economia Tradicional, “cumpre um papel que
tem por finalidade justificar as ações antropogênicas orientadas pelo modo de produção e
de vida da sociedade capitalista que gera desigualdades sociais e econômicas em todo o
mundo” (OLIVEIRA, 2015, p. 11). O principal desafio do curso é sua natureza interdisciplinar,
pois em um ambiente conservador, como o das universidades, a quebra de paradigmas ou
pensamentos divergentes do status quo não são acolhidos com naturalidade.
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Ano Título do TCC Orientadores Alunos
Caracterização da Área de Proteção Ambiental do Delta do Parnaíba através de
Isabel Cristina da Silva Araújo Érika Roanna da Silva
geotecnologias
A contribuição do ecomuseu natural do mangue na construção de uma consci-
ência ambiental para a conservação do ecossistema manguezal da Sabiaguaba Francisco Casimiro Filho Iracema Maria dos Santos
no município de Fortaleza - CE
Gestão das Unidades de Conservação: os Planos de Manejo dos Parques Nacionais
Juliana Melo Barroso Ana Calynne Souza Silva
2020 de Ubajara-CE e de Jericoacoara-CE.
Uso de Geotecnologias na Avaliação de Impactos Ambientais da Carcinicultura
Isabel Cristina da Silva Araújo Emiliane de Sousa Pontes
Oligohalina
O perímetro Irrigado Jaguaribe-Apodi no Contexto do Neoextrativismo na Amé-
Carlos Américo Leite Moreira Luana Maria Rufaino Lopes
rica Latina
Indicadores de sustentabilidade de fácil e rápida determinação em dois agroe-
Isabel Cristina da Silva Araújo Icaro Andrade Leão
cossistemas na comunidade de São Domingos – CE
Fonte: LOPES, 2020.
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futuras retratem com solidez a confirmação, ou não, de determinadas tendências. Uma peda-
gogia ecossistêmica irá se consolidar a partir da ação dos sujeitos do processo educativo e
da articulação das teorias que irão inspirar sua prática. Dessa maneira, observou-se o vigor
das vivências educativas formadoras do(a) economista ecológico no percurso da graduação:
trabalhos de campo integrado, a luta política pela institucionalização do curso “na prática”, a
militância nos espaços de representação estudantil e docente nos colegiados, entre outras.
Indaga-se, ainda, sobre as matrizes pedagógicas destas experiências no interior do curso e
seu efeito no conjunto da universidade. Estas, que constituem a intencionalidade pedagógica
na formação do “sujeito ECOECO”, do (a) economista ecológico estão sendo formuladas e
aprofundadas ao mesmo tempo que as teorias/teóricos do paradigma clássico da economia
lutam para se manter hegemônicas/os.
A pedagogia é forjada na prática, o campo prático da economia ecológica é o conflito
humano de se perceber, também, a natureza; é, portanto, um campo de luta. Sendo um
projeto universitário, fatalmente observa-se dois elementos: a capacidade educativa da luta
(na formação de sujeitos sociais e na formação humana em uma perspectiva biocêntrica) e,
também, a “demonização da luta”, que é parte do processo de alienação, naturalizado nas
universidades sob diversas formas.
RESULTADOS
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Teoria da Moeda Moderna e Economia
Ecológica: aproximações possíveis
Callegari
Isabela Prado
RESUMO
Com a ascensão ao debate público da ideia de Novo Acordo Verde, atualmente ancorada na
macroeconomia Pós-Keynesiana e, notadamente, na Teoria da Moeda Moderna, e com a im-
plementação de diversos desses acordos por países centrais do capitalismo, faz-se necessário
discutir possíveis aproximações e atuais distanciamentos entre tal perspectiva macroeconô-
mica e a Economia Ecológica. Este artigo fornece um panorama desse debate, focando em
contradições epistemológicas e nas propostas de Garantia de Emprego e de estatização da
criação de moeda.
'10.37885/220809780
INTRODUÇÃO
O termo Novo Acordo Verde (ou em inglês, Green New Deal, GND) figura no âmbito
acadêmico e no debate político desde, pelo menos, meados de 1990, sendo popularizado
em 2007, quando o jornalista estadunidense Thomas Friedman trouxe o conceito à grande
mídia como sugestão aos candidatos à presidência nas eleições de 2008 naquele país. Com
a intensificação da crise financeira, a ideia foi sendo estruturada por teóricos e políticos e
se tornou uma pauta de ativistas e de membros do Partido Democrata, de modo que, anos
mais tarde, viria a ser uma das principais bandeiras desse partido.
A disseminação global da crise fez com que iniciativas semelhantes fossem adotadas
por Reino Unido e demandadas pelo European Green Party à União Europeia, resultando
também em recomendações do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (United
Nations Environment Programme - UNEP) para que ao menos 1% do PIB fosse destinado a
“investimentos verdes”. Assim, nesse primeiro momento, a ideia consistia na incorporação
de um pequeno percentual de investimentos em eficiência energética, energia renovável e
projetos ambientais aos pacotes de medidas anticíclicas, voltados à recuperação econômica
(MASTINI et al, 2021).
No entanto, já em 2010, as políticas de inspiração keynesiana foram abandonadas em
favor do ideário neoliberal, que forjou um consenso global em torno da austeridade fiscal,
aplicada tanto aos países centrais, quanto aos periféricos. Após o salvamento de grandes
bancos e empresas pelos governos nacionais, por meio de expressivas expansões mone-
tárias, foi impulsionada a narrativa de que a “consolidação fiscal” era necessária, devido a
um suposto risco de dominância fiscal e descontrole inflacionário. Isto é, observa-se que
a austeridade surge em resposta a certo esgotamento do modelo de acumulação vigente,
iniciado nos anos 1970, baseado em liberalização e especulação financeira. A austeridade
é, portanto, instrumento essencial para a expansão de novas fronteiras de acumulação, uma
vez que garante à burguesia a possibilidade de se apropriar de patrimônio público, ofertar
serviços privados à população, e se beneficiar da mudança na correlação de forças que de-
corre da desassistência social e da diminuição da renda disponível para os trabalhadores1.
Com a intensificação das múltiplas crises e desigualdades, movimentos sociais e ativistas
ao redor do mundo identificam a austeridade como fator institucional de manutenção das
opressões, bem como, a ameaça das mudanças climáticas e a escalada da destruição
ambiental forjam contestações de ambientalistas e, notavelmente, da juventude. No âmbito
1 Para um estudo detalhado da evolução do conceito de austeridade, das suas motivações e sua história política, ver Blyth (2017), e
para uma análise dos efeitos deletérios das políticas de austeridade no Brasil, ver Rossi et al (2018).
acadêmico, a disciplina de economia via uma crescente relevância e influência a Teoria da
Moeda Moderna (Modern Money Theory, MMT), diametralmente oposta às ideias que legiti-
mam a austeridade, e alicerçada nas contribuições de Keynes, nas Finanças Funcionais de
Abba Lerner, e em outros autores, como Hyman Minsky e Michal Kalecki (DALTO et al, 2020).
É neste contexto que se dá a campanha eleitoral de Bernie Sanders à presidência dos
Estados Unidos, em 2016, e o assunto do GND volta à cena, dessa vez atrelado explicita-
mente à MMT, devido à atuação de sua assessora econômica, Stephanie Kelton, proponente
dessa abordagem macroeconômica (CNBC, sem data; KELTON, 2020). O tema seguiu do-
minante no debate público, em reação ao neoliberalismo vigente e como uma possibilidade
de luta ambiental, ganhando aderência de ativistas e movimentos sociais, e impulsionando
respostas institucionais - tardias e ambiciosas -, às mudanças climáticas. O advento da
pandemia em 2020 adicionou evidências contrárias a ideologia da austeridade e dissemi-
nou questionamentos acerca das restrições auto-impostas ao orçamento público. Tal fator,
aliado à profunda crise econômica, tornou urgente e politicamente viável a expansão fiscal
e a implementação de GNDs em diversos países centrais, como Canadá e Austrália, além
dos Estados Unidos. Tais fatores históricos e políticos impulsionaram também a ideia se-
melhante de Big Push ambiental, que vinha sendo elaborada, para países periféricos, no
âmbito da Cepal2.
Observa-se, no plano teórico, um desenvolvimento correlato, refletindo os acontecimen-
tos políticos, uma vez que a disciplina da economia se vê impelida a dar novas respostas
às crises. Com isso, desde 2008, a aproximação de correntes da heterodoxia, como a Pós-
Keynesiana, a MMT e a Escola da Regulação francesa, com a Economia Ecológica vem
delineando o que se convencionou denominar macroeconomia ecológica (SVARTZMAN
et al, 2020). No entanto, é também a partir da crise de 2007-2008 que se revigora, dentro
da Economia Ecológica, o debate acerca do crescimento econômico, motivado não só pelo
cataclisma ecossistêmico decorrente da ação antrópica e pelo atingimento de limites biogeo-
físicos, como também pela ideia de que as crises poderiam ser oportunas a uma mudança
paradigmática. São fundamentais nesse contexto os trabalhos de Victor (2008) e Jackson
(2009), voltados à modelagem macroeconômica acerca da possibilidade de aumento de
bem-estar sem crescimento econômico, ambos bastante populares fora do âmbito acadêmico
(SAES & ROMERO, 2019).
2 A ideia de Big Push Ambiental para a América Latina está baseada no pensamento cepalino e busca a coordenação de políticas
macroeconômicas, que alavanquem investimentos para produzir um ciclo virtuoso de crescimento econômico. Com isso, espera-se
superar a heterogeneidade estrutural desses países, atingindo, ao mesmo tempo, o desenvolvimento sustentável, por meio de maior
e melhor crescimento, e redução de emissões de gases de efeito estufa (Gramkow, 2019).
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Entende-se aqui que a maior e mais evidente dificuldade nessa interlocução de abor-
dagens está justamente no tratamento da categoria crescimento econômico, passando por
outras questões epistemológicas. Para abordar esses pontos, o artigo está dividido em
outras três partes, além desta introdução. O tópico 2 é dedicado a apresentar alguns pro-
blemas relacionados à integração, que se avalia como pouco equilibrada, das abordagens
heterodoxas e a Economia Ecológica. O tópico 3 está voltado a propostas que podem gerar
convergências epistêmicas e práticas, especificamente entre a MMT e a Economia Ecológica,
nomeadamente, a proposta de estatização da criação de moeda e o Programa de Garantia
de Emprego. Em seguida, são apresentadas as considerações finais.
PARTINDO DE DESEQUILÍBRIOS
3 AKB ECOECO (2021) é o recente dossiê conjunto da Associação Keynesiana Brasileira e da Sociedade Brasileira de Economia
Ecológica, que busca um intercâmbio mútuo entre as escolas de pensamento, trazendo ao longo do texto a questão do crescimento
como central, inclusive comentando a possibilidade de decrescimento planejado.
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mais estrita em torno da heterodoxia econômica é profícua, uma vez que a modelagem ma-
temática interna à Economia Ecológica sempre esteve em grande medida influenciada pela
Economia Neoclássica, uma consequência do – ainda controverso4 - pluralismo metodológico.
Entretanto, a revisão metodológica de diversos modelos dentro da macroeconômica
ecológica, feita por Saes & Romeiro (2019), mostra que alguns adotam, mesmo que impli-
citamente, proposições da Economia Neoclássica, em contradição com a própria Economia
Ecológica, como a hipótese de que capital e natureza são até certo ponto substituíveis, algo
que insufla o otimismo tecnológico e a confiança na valoração ambiental e no mecanismo
de preços. Para além disso, observa-se que mesmo os modelos que seguem premissas
coerentes com a Economia Ecológica resultam, por diversas vezes, em uma matematização
simplificadora que não consegue incorporar de fato a radicalidade das premissas que assume.
Ou seja, o reconhecimento de limites planetários ao crescimento não pode ser represen-
tado pela simples adição de uma nova restrição econômica a modelos que foram construídos
dentro de um arcabouço que tem no crescimento econômico seu objetivo primordial. Essa
nova restrição não será capaz de dizer nada sobre a qualidade da produção, do processo
produtivo e do bem-estar da população, apenas informando que ao atingir determinado
limite, não há mais espaço para crescer, o que, dentro do capitalismo, significa recessão.
Assim, o referido desequilíbrio teórico resulta em manutenção da hegemonia do crescimento,
justamente porque é por ela determinado. Ainda que se reconheça os limites biogeofísicos
como um ponto central, se não forem abordados os imperativos capitalistas ao crescimento,
as análises estarão fadadas a modelos matemáticos descolados da realidade, ou que privi-
legiam respostas facilmente assimiláveis ao modo de produção, como valoração e criação
de mercados, ou ainda, irão perpetrar a lógica do “crescimento verde”.
A experiência global atual é um exemplo concreto e em larga escala, que evidencia, na
prática, o desequilíbrio teórico mencionado. Os GNDs, tributários da mesma aproximação
entre escolas, demonstram que as soluções assimiláveis são baseadas em expansões quan-
titativas, e só serão viáveis e viabilizadas com a pré-condição do crescimento, justamente
porque governos respondem a enormes imperativos de crescimento. Nesse cenário, a MMT
é proveitosa pois soluciona, ao mesmo tempo, a demanda por vultuosos investimentos para
uma transição energética, e para combater a crise econômica. De acordo com Svartzman
et al (2019, p. 1, tradução própria), “considerando os economistas ecológicos, todos eles
têm prestado particular atenção em como uma abordagem de moeda endógena oferecem
novos meios de acelerar e aumentar o volume de investimentos ‘verdes’”. No entanto, não
4 Para uma análise detalhada das diversas posições e controvérsias sobre a diretriz de pluralismo metodológico dentro da Economia
Ecológica, ver Saes & Romeiro (2018).
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se discute as variadas críticas à noção de “investimento verde” e nem se discute o conceito
de investimento em si, invariavelmente baseado em mensuração financeira.
Assim, o problema da posição hierarquicamente superior do crescimento sobre todo o
resto é que tais propostas não passam por nenhuma mediação (e nenhum debate popular)
sobre as reais causas das mudanças climáticas e da crise social e ambiental, nem sobre
o significado e possibilidade de uma transição energética ou sobre as consequências des-
sas supostas soluções. Mastini et al (2021) mostram como a ideia de transição energética,
por exemplo, é tecnicamente questionável e improvável. Historicamente, nunca ocorreram
transições energéticas, mas sim, adições energéticas, visto que as fontes de energia fóssil
seguiram sempre crescendo, mesmo com o desenvolvimento e o investimento massivo em
energias renováveis. Questiona-se também a viabilidade de diversas atividades com base
em energias renováveis, visto que o retorno energético dessas ainda é muito baixo. Ainda,
os combustíveis fósseis possibilitaram a expansão de atividades econômicas no capitalismo
justamente porque elas passaram a ocorrer de forma desterritorializada em relação à fonte
energética, algo fundamental para o modo de produção vigente.
Na mesma temática, muitos autores questionam a ideia de descolamento, que pressu-
põe a possibilidade de crescimento, com diminuição de emissões e uso de recursos, sendo
que todas as evidências apontam no sentido inverso. E por fim, tratando apenas da questão
energética, no debate sobre transição está sendo largamente ignorado o impacto já existente
das fontes de energia renováveis na pressão por extração mineral em países do Sul global,
sendo que as estimativas da Agência Internacional de Energia (IEA, 2021) alertam para uma
grande incompatibilidade entre as reservas minerais existentes e as ambições de transição.
A Economia Ecológica teria acúmulo para contribuir com essas questões, mas ela é
pouco assimilada no debate público e na teoria, precisamente porque é inconveniente e
impossível falar de limites nesse sistema econômico. Por outro lado, as teorias heterodoxas
em questão nascem dentro do capitalismo, disputando com a ortodoxia as premissas para o
seu gerenciamento, baseado – ainda que retoricamente - no crescimento. Assim, Svartzman
et al (2019) apontam algumas questões para a potencial síntese, com a incorporação da
ecologia política, da história ambiental e da economia institucional nesse debate.
Os autores ressaltam também as evidências crescentes de que as relações entre a
humanidade e a natureza são internas ao processo de acumulação, inclusive moldando o
padrão financeiro. Como exemplo, diversas análises relacionam o esgotamento da suficiência
norteamericana em petróleo ao fim da Era de Ouro do capitalismo, um modelo de desenvol-
vimento consumista altamente baseado nessa commodity. Tal fato gera a necessidade de
mudança no regime de acumulação, impulsionando liberalizações financeiras e a manutenção
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política do dólar sem lastro como moeda mundial, visando não sofrer os choques de importar
essa commodity essencial em outra moeda.
Com essas observações procurou-se mostrar que promover mais “investimentos ver-
des”, alicerçados em teorias de moeda endógena, não é apenas insuficiente, mas pode
também estar nos colocando na direção equivocada. É necessário questionar, tanto na aca-
demia quanto no debate público, a saída que nos é ofertada, de cima para baixo, baseada
em mais investimentos. Ainda, é necessário entender como a economia real se relaciona
em uma via de mão dupla com a própria institucionalidade da moeda, do sistema financeiro
e do regime de acumulação, e como isso torna o conhecimento da ecologia e das nossas
relações com o mundo físico fundamental em todos os aspectos.
CONSTRUINDO SÍNTESES
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Tal iniciativa já tem interlocução com o governo britânico, e está relacionada à Economia
Ecológica, reconhecendo a busca por crescimento econômico como uma tragédia, e bus-
cando desarmar justamente os referidos imperativos de crescimento contidos na nossa
atual criação de moeda, que além de tudo gera desigualdade pelo caráter rentista da dívida
(Barmes & Boait, 2020). O tema da democratização do sistema monetário e financeiro e da
eliminação dos bancos privados como intermediários em uma função pública tem ganhado
atenção de ativistas e instituições. Nos Estados Unidos, a iniciativa The Great Democracy
partilha de diagnóstico e propostas semelhantes, sob o argumento da democracia e da
eficiência (Ricks et al, 2018). Todas essas propostas para a criação soberana de moeda e
eliminação dos intermediários privados são totalmente condizentes com a MMT, que tam-
bém tem propostas para a criação de contas bancárias pessoais e de empresas diretamente
no Banco Central.
Com isso, o dinheiro seria criado exclusivamente por meio de gasto público e distri-
buído diretamente nas contas das pessoas físicas e jurídicas, de forma muito mais direcio-
nada, como por meio de renda básica universal e compras governamentais, por exemplo.
Atualmente, o nosso sistema financeiro empresta desproporcionalmente para as próprias
finanças, de modo que grande parte do dinheiro criado vai para especulação financeira,
imobiliária ou para a área de seguros. Assim, as ações propostas eliminariam importantes
imperativos de crescimento advindos do dinheiro criado com base em dívida e juros5, da
especulação promovida com a criação privada de dinheiro e do crédito direcionado de forma
centralizada e pouco estratégica (Barmes & Boait, 2020).
Por fim, o Programa de Garantia de Emprego, uma proposta da MMT, é amplamente
compatível com a busca por uma sociedade justa e ambientalmente harmônica, além de
ser uma estratégia macroeconômica que subverte por completo o combate à inflação com
desemprego, em favor do controle inflacionário por meio de estoques de emprego, onde
a âncora cambial é o salário (Dalto et al, 2020). Com relação a seus efeitos sociais e am-
bientais, o programa possibilita a democratização da produção, dos serviços e do próprio
trabalho, ao garantir emprego para todos, sob condições dignas e em ocupações úteis para
a comunidade ao entorno, o que reforça também os laços comunitários e a sensação de
pertencimento. Permite ainda retomar o controle democrático do processo que realmente
importa, o da produção, saindo da ficção neoliberal da soberania do consumidor6 e com
5 Existe uma controvérsia acerca da existência ou não de um imperativo de crescimento advindo dos juros. Enquanto autores da ma-
croeconomia ecológica, por meio de modelagem, comprovam a possibilidade teórica de se manter no estado estacionário (crescimen-
to zero) com dívidas e juros, autores da economia institucional mostram que os juros estão intimamente relacionados com a própria
expansão da acumulação capitalista, de modo que o imperativo de crescimento deriva de uma conjuntura favorável à acumulação e
não de uma possibilidade matemática (Barmes & Boaits, 2020).
6 Callegari (2021).
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isso, superando o imperativo de crescimento que advém de uma economia descentralizada,
movida por acumulação de um lado, e necessidade de vender sua força de trabalho para
sobreviver de outro.
O planejamento democrático é central para que o emprego seja destinado a processos
produtivos e produtos úteis e socialmente desejados, algo ambientalmente positivo duas
vezes, tanto pela oferta de bens e serviços em si, quanto pela eliminação de produtos e
serviços danosos que só seriam criados para atender à necessidade da acumulação e à
ideia moral de que a renda deve advir de qualquer trabalho que seja, independentemente
do que ele produza e sob quais condições. Além disso, os empregos podem estar direta-
mente relacionados ao desenvolvimento mais sustentável, como nas áreas de pesquisa e
tecnologia, planejamento, energias renováveis, economia circular e agroecologia.
Ainda, é fundamental investir na Economia de Cuidados, que abarca diversos trabalhos
já exercidos de forma não paga. Portanto, esse investimento, em uma área de baixo impacto
ambiental, teria o efeito adicional de liberar diversas pessoas da necessidade de trabalhar
em jornadas duplas e triplas, de cuidado e de trabalho formal, o que poderia contribuir para
uma desaceleração planejada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O artigo buscou uma interlocução entre as escolas heterodoxas, com foco principal
na MMT, e a Economia Ecológica, visando a elaboração de sínteses, que considerem o
potencial radical da Economia Ecológica e se beneficiem do entendimento do sistema mo-
netário e financeiro da MMT, bem como suas propostas que subvertem a lógica neoliberal
e neoclássica. Diversos autores dentro da Economia Ecológica apontam para a existência
de imperativos de crescimento dentro do capitalismo, em linha com o que aponta também
a Ecologia Marxista. Foi explorada aqui a necessidade de desarmar tais imperativos, caso
contrário qualquer elaboração teórica estará submetida invariavelmente a eles, ainda que
parta de premissas radicais ou questionadoras da busca pelo crescimento econômico infinito.
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03
Controversas metodológicas da economia
ecológica
Arleson Eduardo Monte Palma Lopes Iná Camila Ramos Favacho de Miranda
Universidade Federal do Pará - UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA
'10.37885/221010474
RESUMO
A discussão relacionada ao novo modo de olhar o sistema econômico surge a partir da cons-
tatação da exploração dos recursos naturais de forma desenfreada pelo sistema capitalista.
Nesse contexto, surge a Economia Ecológica utilizando os conceitos básicos apresentados
pela termodinâmica onde o sistema econômico faz parte de um subsistema do ecossistema.
Apesar da consolidação da Economia Ecológica, em termos metodológicos tal construto
teórico ainda enfrenta desafios no que se refere ao consenso metodológico a ser adotado
pelos defensores da Economia Ecológica.
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A Economia Ecológica é uma das abordagens mais recentes de pesquisa na ciência
da economia. Apesar da sua conotação remontar a questões ambientais do fim da década
de 60, essa corrente teórica só se consolidou no final da década de 80 com a fundação
da Internacional Society for Ecological Economics (ISEE). Esse construto teórico passa a
propor um novo modelo de interação entre o homem (sistema econômico) e natureza (meio
ambiente). Sua análise crítica ao modelo econômico atual, tendo como premissa conceitos,
princípios e ferramentas biofísicos-ecológicos (os sistemas socioeconômicos dependem dos
sistemas ecológicos, por outro lado, os sistemas ecológicos modificam e transformam seu
funcionamento) (FERNANDEZ, 2011). Nesse sentido, Andrade (2008, p. 18) ressalta que:
A Economia Ecológica perpassa por uma abordagem pluralista sobre a relação en-
tre o sistema econômico e meio ambiente ao compreender que este último atua como
organismo vivo e complexo capaz de suportar as atividades antrópicas. As atividades eco-
nômicas expandem o sistema econômico por meio do aumento da produção em escala,
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gerando custos de oportunidade em relação a deterioração do ecossistema (SANTOS,
2018). Segundo Santos (2018),
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Ecológica. Para o autor é importante deixar evidente a diferença de visão de mundo (ou
paradigma) da Economia Ecológica em relação aos outros campos de conhecimento e com-
preender as possíveis falhas da economia ortodoxa ao analisar a realidade.
Corroborando com as ideias Splash (2012), Lo (2014, p.2) destaca que:
Nesse cenário, Amazonas (2001) ressalta que a Economia Ecológica não descarta
em sua base metodológica os instrumentos e conceitos da economia convencional e da
ecologia convencional, utilizando-os sempre que pertinentes e necessários, mas aponta que
somente esses arcabouços são insuficientes para uma análise integrada, sendo necessário
a formulação de novos conceitos e instrumentos. O autor ainda enfatiza que a Economia
Ecológica é um campo pluralista transdisciplinar no qual encontra em determinado momentos
diversas (em certos aspectos divergentes) abordagens, ora se entrelaçando mais próximo
da economia, ora mais da ecologia.
Marques, Silva e Mata (2019) destacam que essa concepção metodológica é diver-
gente da disseminada pela ecologia convencional dominante no qual desassocia as ações
humanas nas pesquisas dos ecossistemas naturais. Os autores ainda chamam atenção
para a diferenciação entre a Economia Ecológica e a Economia Ambiental. Para a Economia
Ecológica existe uma relação de troca de energia e matéria do sistema econômico com
o meio ambiente.
Os estudos da Economia Ecológica buscam relacionar o sistema econômico com o meio
ambiente, esta reconhece a importância das Leis de Termodinâmica como balizadoras dos
processos de troca de energia e matéria, haja visto que o sistema econômico se estrutura
em tais processos para viabilizar a produção e consumo de bens (SANTOS, 2018). Ribeiro
(2020, p. 62) corrobora que
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Diante do exposto, a economia neoclássica, ao não considerar em seu modelo as re-
lações sociais e dependência da natureza para o seu desenvolvimento, estaria projetando
uma visão distorcida do mundo, no qual o sistema de preço extinguiria com o problema de
escassez por meio da substituição dos fatores produtivos e dos processos tecnológicos
(SAES; ROMEIRO, 2018). A Economia Ecológica faz uma crítica ao modelo mecanicista
adotado pela escola clássica que considerava a expansão da economia de forma infinita
sem levar em conta as limitações dos fatores ecológicos do ecossistema.
Amazonas (2001) afirma que a Economia Ecológica é relativamente nova e que vem
se expandindo rapidamente no meio acadêmico, abrindo vários espaços de pesquisa e
buscando ter uma estrutura analítica teórica, instrumentos e ferramentas sólidas. Para o
autor, a Economia Ecológica ainda tem grandes desafios pela frente, principalmente, no
que se refere a sua construção metodológica. Esse processo de construção irá demandar
um exponencial esforço entre os pesquisadores, organizações políticas, organizações não
governamentais e no meio empresarial.
Apesar da Economia Ecológica tecer críticas ao modelo mecanicista adotado pela eco-
nomia clássica, percebe-se que pelo fato de ser um campo de conhecimento relativamente
novo, ainda tem um árduo caminho para se percorrer, principalmente, no que se refere a
superação dessa indefinição metodológica por parte de seus defensores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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importância que a Economia Ecológica apresenta na atual conjuntura de exploração desen-
freada dos recursos naturais.
REFERÊNCIAS
1. AMAZONAS, Maurício de Carvalho. O que é economia ecológica. Sociedade Brasi-
leira de Economia Ecológica, v. 29, n. 11, p. 06, 2001.
11. RIBEIRO, A. R. Economia e meio ambiente. Análise, Jundiaí, v.15, n.1, Jan. – Jun.,
2020.
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14. SANTOS, I. A. Economia ecológica e políticas públicas: um olhar sobre o cerrado
brasileiro. Uberlândia, 2018. 98 f. Dissertação (Mestrado em Economia) – Programa de
Pós-Graduação em Economia, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2018.
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04
Caracterização geoambiental e
paleontológica na Serra da Capivara Piauí-
Brasil: análise a partir de uma aula de
campo
'10.37885/220910052
RESUMO
MATERIAL E MÉTODOS
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Capivara. Pesquisa descritiva quando há registro e descrição dos fatos observados sem
interferir neles.
Houve também conforme Prodanov e Freitas (2013), os seguintes procedimentos téc-
nicos: pesquisa bibliográfica: quando elaborada a partir de material já publicado, pesquisa
documental baseia-se em materiais que não receberam ainda um tratamento analítico ou
que podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa.
Já a pesquisa qualitativa é vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetivi-
dade do sujeito que não pode ser traduzido em números. No entanto, conforme Cordeiro e
Oliveira (2011, p. 03) a aula de campo é uma metodologia de ensino que contribui para uma
melhor compreensão dos conteúdos ao relacionar a teoria proposta em sala de aula com os
estudos e análises práticas da paisagem do ambiente.
Estes procedimentos auxiliaram na caraterização geoambiental do PNSC que elencou
as especificidades geológicas, geomorfológicas, hidroclimáticas pedológicas e fitoecológi-
cas, além da fauna predominante neste território. Ademais, contribuiu para o estudo dos
ambientes expostos nos museus.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
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Figura 1. Localização do Parque Nacional da Serra da Capivara.
Fonte: IBGE (2020/2015). MMA (2020). Org.: Araújo (2022). Geoprocessamento: Sousa (2022).
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e sua participação no mercado de trabalho em obras de infraestrutura, turismo ecológico e
cultural (BARROS et al., 2011).
A visita ao Museu do Homem Americano foi realizada no período noturno em 22 de
julho de 2022, por causa do horário de chegada no município de São Raimundo Nonato-
PI. A exposição permanente se inicia com uma visão da evolução dos hominídeos e a
apresentação das teorias de povoamento da América, seguida da vida do Homo sapiens
na região durante o Pleistoceno e o Holoceno. A presença do homem se ratifica com o
crânio de Zuzu, esqueleto com mais de 9.920 anos. (FUNDAÇÃO MUSEU DO HOMEM
AMERICANO-FUMDHAM,s.d), figura 3.
Segundo Barros et al. (2011), o Parque Nacional Serra da Capivara tem uma diversi-
dade de paisagens resultantes de fatores diversos, ambientais, culturais, ecológicos e turísti-
cos. O Parque apresenta outras especificidades que lhe confere significância e importância,
tais como: potencial para construção de polo de desenvolvimento de abrangência nacional
e internacional; zona de fronteiras (geológica, ecológica e cultural) com flora e fauna típicas
da caatinga e onde foram detectados importantes sítios arqueológicos das Américas, e
Vocação para proteção da natureza e do patrimônio cultural.
O contexto geológico do PNSC situa-se no encontro de três grandes províncias
Estruturais da Plataforma Sul-americana, definidas por Almeida et al. (1977) citado por
Barros et al. (2011): Borborema, São Francisco e Parnaíba, região limítrofe dos estados do
Piauí, Pernambuco e Bahia. As duas primeiras províncias são constituídas de rochas pré-
-cambrianas que formam o embasamento da Província Parnaíba, representada por rochas
sedimentares não-deformadas da cobertura fanerozoica.
Sobre os patrimônios Paleontológicos e Arqueológicos, observam-se registros do ho-
mem e de animais pré-históricos em terrenos piauienses, nos inúmeros sítios paleontológicos
e arqueológicos distribuídos em quase todo o estado, destacando-se na atividade geoturística
do Piauí, (FERREIRA,2010).
Segundo Ferreira (2010), o patrimônio paleontológico do Piauí guarda registros fósseis
desde o Paleozoico, período inicial da estruturação e formação da Bacia do Parnaíba, até
a sua constituição final no Cretáceo e Neógeno, que apresentou condições de preservar
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fósseis de árvores e animais como os trilobitas braquiópodes e muitos outros registros da
vida pretérita, figura 4.
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Figura 5. Preguiça Gigante.
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De acordo com Lima e Brandão (2010), as formações geológicas são Cabeças,
Pimenteiras e Serra Grande, figura 8. A primeira apresenta aspecto arenoso, estruturas
sedimentares tipo sigmoidal com diamictitos, em ambiência nerítica com influência perigla-
cial, com a predominância de arenitos médios a finos, por vezes grosseiros, pouco argilo-
sos. Apresentam também siltitos laminados e folhelhos micáceos de coloração arroxeada
e avermelhada, oriundos da deposição de um sistema nerítico plataformal, em regime de
maior energia deposicional, ocorrido no final do Devoniano (Neofrasniano/Eoframeniano),
baseado no escasso conteúdo de microfósseis.
A segunda conforme Lima e Brandão (2010), alterna entre estratos pouco espessos de
arenitos finos, argilosos, subangulosos, cinza a avermelhados, com folhelhos cinza-escuros
a marrom-avermelhados, micáceos, com delgadas intercalações de siltitos. Sua porção
inferior é mais arenosa, cinza-clara, com lâminas de siltitos e folhelhos cinza a averme-
lhados. A paleofauna de braquiópodos, pelecípodos e trilobitas e peixes encontrados nos
folhelhos da seção superior da formação confirmam o ambiente francamente marinho para
esses depósitos.
A última, perspectiva de Lima e Brandão (2010), abrange as formações Ipu, Tianguá e
Jaicós, revisões baseadas em estudos de fósseis de quitinozoários e acritarcas o posicionam
no Siluriano. Marca o início da sedimentação da Bacia do Parnaíba, com a deposição de
um pacote de arenitos conglomeráticos e conglomerados na base, passando a arenitos de
granulação mais fina no topo, intercalados com siltitos, folhelhos e argilitos.
Fonte: IBGE (2019/2018). MMA (2020). Org.: Araújo (2022). Geoprocessamento: Sousa (2021).
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Conforme Barros et al. (2011) a geomorfologia, figura 9, é formada por planaltos are-
níticos situam-se a oeste do Parque Nacional e constituem chapadas do reverso da cuesta,
atingindo altitude de 630 m. As cuestas foram modeladas em rochas areníticas e conglo-
merativas do Grupo Serra Grande.
Segundo Barros et al. (2011) os planaltos são relevos de degradação em rochas se-
dimentares, de superfícies mais elevadas, formas tabulares e amplitude de relevo de 20
a 50 metros. Os vales encaixados, são relevos de degradação de morfologia acidentada,
com vertentes retilíneas a côncavas, sulcadas, declivosas, com sedimentação de colúvios
e depósitos de tálus.
Fonte: IBGE (2019).CPRM (2014). MMA (2020). Org.: Araújo (2022). Geoprocessamento: Sousa (2021).
De acordo com Barros et al. (2011) os arenitos maciços dessa formação são cortados
por vales ou cânions profundos de vertentes abruptas nas quais são encontrados abrigos
ou sítios arqueológicos com pinturas e gravuras rupestres. O modelado do relevo apresen-
ta formas diversificadas em pirâmides, colunas ou torres (Boqueirão da Pedra Furada e
Serra Branca), lâminas e camadas paralelas (Sítio do Meio), perfurações ou bioturbações
(Boqueirão da Pedra Furada), figura 10.
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Figura 10. Pedra Furada – Parque Nacional da Serra da Capivara.
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Figura 11. Vegetação do Parque Nacional da Serra da Capivara.
Fonte: IBGE (2019/2018). MMA (2020). Org.: Araújo (2022). Geoprocessamento: Sousa (2021).
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Figura 13. Urubu-rei no Museu da Natureza.
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aparecimento da espécie humana, com as formações rochosas vizualizadas no PNSC e
com as amostras dos fósseis nos museus.
CONCLUSÃO
Em Janeiro de 2022, o PNSC foi o único destino brasileiro apontado na lista de viagem
do jornal de renome internacional “The New York Times”, que evidenciou as descobertas
arqueológicas, os museus e a beleza cênica do bioma caatinga, segundo site jornalísti-
co G1 Piauí (2022).
Com a caracterização geoambiental esboçou-se as particularidades ambientais do
PNSC, o que corroborou sua Geodiversidade, nas palavras de Silva (2008, p.264) é [...] uma
variedade de ambientes, composição, fenômenos e processos geológicos que dão origem
às paisagens, rochas, minerais, águas, fósseis, solos, clima e outros depósitos superficiais
que propiciam o desenvolvimento da vida na Terra [...].
Também se observou as contribuições do Museu do Homem Americano, que salienta
os vestígios deixados por nossos antepassados e as teorias da origem humana. No Museu
da Natureza, constatou-se por meios das exposições em painéis a trajetória geológica da
Terra desde do surgimento dos primeiros seres vivos até os seres mais evoluídos, em con-
dições climáticas diversas.
Acredita-se que a aula de campo ao Parque Nacional da Serra da Capivara contem-
plando as visitas aos museus do Homem Americano e da Natureza tenham sido uma expe-
riência exitosa, para fins de aplicabilidade dos conteúdos da disciplina de Fundamentos de
Geologia e Paleontologia, como também averiguar as diversas possibilidades de trabalhos
em nível de mestrado e doutorado, correlacionando as disciplinas cursadas ou não pelos
alunos do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Maranhão – Campus Caxias.
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REFERÊNCIAS
1. BARROS, José Sidiney; FERREIRA, Rogério Valença; PEDREIRA, Augusto J; Niède
GUIDON, Niède. Geoparque Serra da Capivara (PI): proposta.CPRM:2011. Disponível
em: https://rigeo.cprm.gov.br/handle/doc/17165. Acesso em: 15 jul.2022.
9. SILVA, Cassio Roberto da. Geodiversidade do Brasil: conhecer o passado para en-
tender o presente e prever o futuro. Rio de Janeiro, CPRM. 2008.
10. SITE MEIO NORTE. Piauí: descubra mais sobre os atrativos do Museu da Natureza.
Disponível em: https://www.meionorte.com/curiosidades/piaui-descubra-mais-sobre-
-os-atrativos-do-museu-da-natureza-393836. Acesso em: 20 jul 2022.
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Dinâmicas de comercialização ecológica
e desenvolvimento territorial sustentável
no Vale do Ribeira – Paraná
Cristiane Coradin
Universidade Federal do Paraná - UFPR
'10.37885/220910341
RESUMO
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capacidade produtiva e regenerativa dos agroecossistemas locais, alterações nas relações
de mercados e êxodo rural.
Além disso, é relevante destacar que os três municípios mais próximos à capital do
Paraná, Curitiba, quais sejam: Bocaiúva do Sul, Rio Branco do Sul e Itaperuçu, têm abaste-
cido a cidade de Curitiba diariamente com mão-de-obra pouco especializada, servindo como
municípios “dormitórios” de milhares de trabalhadores urbanos, os quais migram todos os
dias para trabalhar na cidade de Curitiba.
Para o Deser (2008) e Bianchini (2010), essa perspectiva hegemônica de desenvolvi-
mento adotada no Vale do Ribeira Paraná tem se mostrado equivocada. O território apresenta
um dos mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano do Paraná e do Brasil - a média
dos sete municípios do território é de 0.682, enquanto no país é de 0.772 e no estado 0.787
(IPARDES, 2007). No entanto, desde os anos 1990 algumas modificações começaram a
ser observadas nesse território, na busca por alternativas de produção, de comercialização
e de desenvolvimento rural.
Em busca de alternativas de reprodução social de sua condição camponesa, nos
anos 1990 os camponeses localizados na região metropolitana de Curitiba, em específico
do Vale do Ribeira, começaram a construir processos de transição ou de conversão eco-
lógica da agricultura, como alternativa de recriação de suas condições camponesas desde
bases ecológicas.
Os processos de ecologização do Vale do Ribeira foram parcialmente estudados por
(BRANDENBURG e FERREIRA, 2012; PADILHA E BRANDENBURG, 2012). Estes autores
demonstraram que nos anos 1990 os camponeses então vinculados à Associação para o
Desenvolvimento da Agroecologia (AOPA) e à Rede Ecovida1, optaram pela venda de seus pro-
dutos ecológicos a grandes redes de comercialização varejista em Curitiba. No entanto, essa
alternativa se mostrou inviável ao longo do tempo, estimulando-os a buscar novas soluções.
Tal como apontado por Brandenburg e Ferreira (2012), a comercialização tem sido um
dos principais limitantes dos processos de conversão agroecológica dos agricultores fami-
liares2. Nos anos 1990 observaram-se retrocessos, tendo em vista que alguns agricultores
desistiram do processo de conversão agroecológica. Outros, por sua vez, buscaram cons-
tituir novos mercados varejistas em Curitiba. Frente a tais adversidades, a opção coletiva
1 Rede Ecovida é uma organização social de certificação ecológica participativa que, desde os anos de 1990 vem sendo construída
no sul do Brasil por agricultores familiares. Se constitui como uma Rede de Certificação e, ao mesmo tempo com uma organização
social que, através de metodologias participativas, possibilita trocas de experiências, solidariedade, cooperação.
2 Agricultura familiar aqui é compreendida como uma categoria política, que guarda traços de permanências e transformações, desde
uma gênese que se situa nas formações sociais dos campesinatos heterogêneos brasileiros (WANDERLEY, 2003; NEVES, 2007).
O uso deste termo, sob o aspecto político, pode ser justificado, por tornar categorias sociais de agricultores historicamente subordi-
nados a relações econômicas de exploração e de submissão, como [..] “sujeitos de direitos consagrados” [...] (NEVES, 2007, p.15.)
visando à construção de relações sociais que assegurem maior autonomia e liberdade (PLOEG, 2008).
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adotada por esses camponeses e agricultores familiares foi investir na construção social de
circuitos curtos agroalimentares de base ecológica territorialmente situados. (PADILHA e
BRANDENBURG, 2012; BRANDENBURG e FERREIRA 2012).
O texto que se apresenta segue na esteira de outros elaborados pela autora (CORADIN,
2012, 2014), e tem como objetivo avançar na compreensão teórico-empírica de alternativas
emergentes de agricultura, ruralidades, territorialidades e sociabilidades de desenvolvimento
no Vale do Ribeira.
MÉTODO
Figura 1. Mapa do Estado do Paraná (à esquerda) e dos Municípios do Vale do Ribeira-PR– território 101 (à direita).
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apreender a totalidade de uma situação e, para tal, sugerem o uso de técnicas de coleta
de informações variadas como observações, entrevistas, documentos, dados quantitati-
vos, entre outros.
As entrevistas e a pesquisa participante, por sua vez, permitem a “[...] inserção do pes-
quisador no ambiente natural de ocorrência do fenômeno e de sua interação com a situação
investigada.” (PERRUZO, 2009, p. 125). Para Poupart (2012, p. 216-217) a entrevista seria
indispensável “[...] como instrumento que permite elucidar suas condutas na medida em
que estas só podem ser interpretadas, considerando-se a própria perspectiva dos atores,
ou seja, o sentido que eles mesmos conferem às suas ações.
Em 2013 foram realizadas observações de campo e 27 entrevistas qualitativas se-
miestruturadas na CRQ Córrego das Moças – Município de Adrianópolis, das quais, duas
realizadas com mediadores de organizações quilombolas territoriais e regionais, sete com
mediadores locais de órgãos de assistência técnica e extensão rural, e dezoito com agricul-
tores quilombolas (homens, mulheres e jovens), com o objetivo de compreender o processo
de inclusão dos quilombolas no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
Durante 2015 e início de 2016, através do Programa de Desenvolvimento Territorial
Sustentável – Secretaria de Desenvolvimento Territorial – Ministério do Desenvolvimento
Agrário, a primeira autora, como assessora técnica e pesquisadora participante, realizou
novas incursões mensais a campo abrangendo o conjunto dos sete municípios do Vale do
Ribeira Paraná, tendo visitado comunidades camponesas e quilombolas, participado de
reuniões de planejamento e execução de políticas e programas territoriais.
No ano de 2015 procedeu-se a técnica de grupo focal com cinco agricultores - media-
dores ecológicos territoriais - que vivem em Cerro Azul e atuam no território do Vale. O ob-
jetivo foi compreender as relações entre a formação da Rede Ecovida, o circuito de trocas
ecológicas e a participação desses atores em mercados institucionais, feiras livres e na
criação de novos mercados ecológicos.
Essas opções metodológicas possibilitaram aos autores realizar aproximação entre
entrevista e observação, valendo-os do papel de mediadores dos diálogos estabelecidos
entre os entrevistados. Gondim (2002) destaca que os sujeitos participantes da pesquisa
encontram no Grupo Focal liberdade de expressão, que é favorecida pelo ambiente, levando
a uma participação efetiva.
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atores sociais na comercialização de produtos ecológicos para grandes redes varejistas da
cidade de Curitiba. Nos anos 2000, a transição agroecológica desses camponeses foi po-
tencializa pela sua inserção em mercados institucionais, tais como o Programa de Aquisição
de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
Depois de décadas de ausências sistemáticas da atuação do Estado na promoção do
desenvolvimento rural desses municípios, a partir de meados dos anos 2000, a identificação
da condição do desenvolvimento rural do Vale do Ribeira favoreceu com que esse território
se tornasse objeto de diversos Projetos de Desenvolvimento Territorial, sendo classificado
como um dos oito “Territórios de Cidadania3” do Paraná, passando a receber estímulos pú-
blicos específicos, a partir da execução de projetos e programas especificamente elaborados
e ‘adaptados’ às condições regionais.
Nesse novo cenário, apoiados pelos recursos que obtiveram por meio de políticas
públicas direcionadas para a promoção do desenvolvimento territorial sustentável do Vale
do Ribeira, os camponeses locais, tanto convencionais quanto aqueles em processo de
transição agroecológica, vislumbraram novas possibilidades para impulsionar a produção e
a comercialização de seus produtos agropecuários.
No âmbito da transição para sistemas agroalimentares de base ecológica, evidên-
cias de campo apontaram a introdução de práticas sócio-técnicas de base ecológica, tais
como recuperação da fertilidade do solo, diversificação produtiva e alimentar, enriqueci-
mento da biodiversidade e conservação dos recursos hídricos. Essas ações constituem a
dimensão agronômica e ecológica de conversão agroecológica, tal como concebidos por
(GLIESSMAN,2000; KHATOUNIAN, 2001).
A conversão agroecológica, tal como compreendida por Gliessman (2000) e Khatounian
(2001), preconiza a transformação das racionalidades dos agricultores para a adoção de
um pensar e praticar agricultura complexa. Nessa perspectiva os agricultores passam a
racionalizar e substituir o uso de insumos químicos, a observar, compreender e manejar
os fluxos energéticos da propriedade, recuperar a fertilidade orgânica do solo, otimizar
recursos internos da propriedade, reduzir a dependência econômica, culminando com a
certificação orgânica.
3 Criado em 2008, o programa foi uma estratégia de desenvolvimento regional sustentável e garantia de direitos sociais voltado às regi-
ões mais pobres do país. A base do programa era a integração das ações do Governo Federal e dos governos estaduais e municipais,
em planos desenvolvidos nos territórios, com o protagonismo da sociedade. Cada território tinha seu Colegiado Territorial composto
pelas três esferas governamentais e pela sociedade, que se reunia em assembleias abertas à participação dos interessados e de-
terminava um plano de desenvolvimento e uma agenda pactuada de ações para todo o ano. Os territórios foram definidos de acordo
com as características econômicas e ambientais de cada região, formando conjuntos de municípios com identidade e coesão social,
cultural e geográfica. Maiores que o município e menores que o estado, os territórios demonstravam de forma mais nítida as condi-
ções de vida dos grupos sociais, das atividades econômicas e das instituições de cada localidade, o que facilitava o planejamento de
ações governamentais para o desenvolvimento dessas regiões (PERSEU ABRAMO, 2018).
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Os esforços realizados por esses camponeses desde os anos 1990, intensificados
nos anos 2000 por meio das políticas públicas, refletem perspectivas de construção social
de mercados, entendidos como processos portadores de estratégias econômicas que são
mediadas por relações sociais, subjetividades e culturas, e [...] “adequada à realidade dos
agentes econômicos de pequeno porte [...]” (MALUF e WILKINSON, 1999, apud MALUF ,
2004, p. 06), as quais podem ser entendidas como a criação de circuitos curtos e regionais
de comercialização, correspondendo, dessa forma, às novas demandas urbanas em expan-
são. Segundo Maluf (2004, p. 7-8):
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ecológicas de Curitiba. Em 2004 se inseriram nos mercados institucionais, operacionalizando
um projeto de PAA.
Antes de ingressar no PAA, os cultivos agrícolas ecológicos dos camponeses vin-
culados à Associação Sertaneja basicamente contemplavam ponkan, laranja, mandioca
e feijão. A partir desse projeto de PAA, houve ampliação e diversificação produtiva, de
modo que as famílias começaram a produzir também milho verde, batata doce, abóbora e
pepino. Em 2005, os agricultores vinculados à Associação Sertaneja e à Cooperativa de
Agricultores Familiares de Cerro Azul (COOPAFI), operaram um projeto de R$ 200.000,00,
atendendo 80 famílias; nesse ínterim, as feiras ecológicas de Curitiba continuaram e ex-
pandiram-se, com duas novas feiras semanais. Também em 2010, 08 famílias se filiaram à
AOPA, e começaram a operar o PNAE, processo que envolveu famílias certificadas como
ecológicas ou em processo de certificação. Nesse período os camponeses que participaram
desses projetos relataram que houve incentivo à diversificação da produção, segundo eles
havia garantia de preço e comercialização. Aumentou-se a produção de hortaliças, mandioca
e frutas (uva, pêssego, caqui, banana, além da ponkan e laranja).
Em Adrianópolis, a partir do ano de 2009, cinco das sete CRQ desse município come-
çaram acessar o PAA na modalidade compra direta com doação simultânea. Em 2009, foram
20 famílias, através da Coopafi, integrando o cinturão Cerro Azul-Adrianópolis; em 2010, 58
famílias, pela Associação dos Remanescentes de Quilombos do Bairro Sete Barras (vigente
2010/2011). No final do ano de 2012 (vigência 2012/2013), foi aprovado outro projeto para
124 famílias, sendo 59 quilombolas, com total de 180.000 Kg de alimentos, entre as quais
verduras, frutas e legumes comercializados semanalmente para escolas de Adrianópolis.
Para esse município, também se observou ampliação da diversificação produtiva, com a
introdução de olerícolas aos sistemas tradicionais de agricultura quilombola, baseados no
cultivo de roçado (milho, feijão e mandioca). Em campo as famílias destacaram melhoria na
diversidade e qualidade da alimentação familiar, e ampliação da geração de renda familiar,
principalmente para mulheres e jovens quilombolas, o que segundo elas, contribuiu para
positivação de suas identidades quilombolas como “trabalhadores” (CORADIN, 2014).
Com relação ao PNAE, a inclusão desses grupos remanescentes de quilombos iniciou
em 2012, através da construção do circuito de trocas do Vale do Ribeira, escoando principal-
mente banana ecológica por meio da AOPA. A partir de 2013, o PAA foi interrompido manten-
do-se somente as entregas do PNAE. Essa interrupção do PAA gerou redução da diversidade
de produtos produzidos, situação que começa a se alterar somente a partir 2015. Em Rio
Branco do sul, Itaperuçu, Bocaiúva do Sul e Tunas, também houve integração ao PAA e
PNAE no mesmo período (2008-2010), tanto em nível municipal, quanto em nível territo-
rial e estadual. Em Rio Branco do Sul e Itaperuçu foram cerca 300 famílias de agricultores
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beneficiadas em 2012, através da Associação do Conselho Agrícola de Rio Branco do Sul
(ACARS) e da Associação de Produtores na Agricultura Familiar de Itaperuçu (APRAFI).
Entre os anos de 2008 e 2010 foi criado um circuito territorializado de comercialização
direta denominado “circuito de trocas do Vale do Ribeira”, como mecanismo de integração
do conjunto desses pequenos circuitos territoriais que vinham sendo operados de forma
fragmentada. Coordenado pela AOPA (integrante da Rede Ecovida), esse circuito territorial
de comercialização ecológica possibilitou a criação de uma dinâmica agroalimentar ecológica
territorial, que colocou em conexão diversos grupos ecológicos certificados do Vale com os
mercados institucionais do território local e da cidade de Curitiba, articulando tanto mercados
institucionais, quanto feiras livres e mais recentemente, também grupos de consumo.
A criação desse circuito de trocas do Vale possibilitou otimizar custos com infraestru-
tura logística e também a ampliação de fluxos de interações sociais e coletivas entre esses
atores locais, fortalecendo laços sociais de solidariedades camponesas, entendidas como
capacidade de ajuda mútua e de reciprocidade, tal como abordadas por Sauborin (2009).
Essa solidariedade camponesa territorial, segundo os mediadores locais, tem sido funda-
mental para a ampliação do número de famílias camponesas certificadas nesse território.
Uma vez iniciado, esse processo possibilitou a ampliação do número de famílias certi-
ficadas orgânicas, passando de 32 em 1990 para 245 em 2015. Dessa forma, observou-se
que a construção social do circuito curto territorializado do Vale do Ribeira pelos camponeses
locais, a partir de suas cooperativas e associações locais, potencializou o dinamismo das
economias locais, em articulação com a ampliação da capacidade de inclusão sociopro-
dutiva, vinculada a transformação ecológica dos sistemas produtivos locais. Além disso, a
partir desse contexto, novas formas de comercialização também começaram a ser criadas
a partir de 2015, tais como: pequenas feiras livres locais nos municípios do Vale, e entrega
de cestas de produtos ecológicos em domicílios em Curitiba, a exemplo dos agricultores
camponeses associados à AOPA e à Associação Sertaneja de Cerro Azul e de Bocaiúva
do Sul. Reforçando, dessa forma, a construção de uma perspectiva de desenvolvimento
territorial sustentável.
No que diz respeito ao PNAE, os anos 2013 e 2014 foram períodos de reajuste e reor-
ganização dos grupos participantes. O PNAE, via AOPA, comercializou em 2011 para 64
escolas estaduais em Pinhais. Em 2012, 164 escolas, e em 2015, são 280 escolas estaduais,
abrangendo tanto a capital Curitiba quanto os municípios do primeiro (fronteiriços a Curitiba)
quanto do segundo (próximos de Curitiba) “cinturão verde” de Curitiba.
Tal como citado por Maluf (2004), a dimensão socioespacial apresenta significativa
relevância na comercialização agroalimentar, envolvendo os processos de constituição e
de ressignificação dos territórios. O território, tal como definido por Pecqueur (2005, p. 13)
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não se define somente pelas condições ambientais ou produtivas, mas pelas relações so-
ciais dos atores:
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REDES SOCIAIS E GOVERNANÇA TERRITORIAL
Para tornar possível a abertura, manutenção e ampliação desses circuitos curtos ter-
ritorializados, bem como dinamizar essa estratégia de promoção do desenvolvimento terri-
torial sustentável, emergiu no Vale a necessidade de criação de uma forma de governança
territorial, um “novo bloco socioterritorial”, composto pelos diversos atores sociais presen-
tes no território.
[...] afirma-se que esta resulta de relações de poder que se efetivam pela atua-
ção dos diversos atores/agentes nas diferentes redes de poder socioterritoriais,
reafirmando a necessidade de emergência e constituição de um novo bloco
histórico local, que prefere chamar bloco socioterritorial, capaz de definir os
novos rumos para o desenvolvimento do território ou região, como condição
para a implementação de novas práticas, preferentemente mais democrático-
-participativas (DALLABRIDA e BECKER, 2003, p. 74-74).
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[...] um conjunto de elementos que fazem parte da estrutura social e da cultura,
como as normas de reciprocidade, os padrões de associativismo, os hábitos
de confiança e cooperação entre as pessoas, as relações que ligam segmen-
tos variados da sociedade. Em sentido mais restrito pode-se entender capital
social como a “[...] habilidade de criar e sustentar associações voluntárias’
(PUTNAM, 2000, p. 177).
A presença de capital social torna possível atingir os objetivos almejados pelos atores
locais, superando a condição de território-palco para território-ator (DALLABRIDA e BECKER,
2003) ou território socialmente construído (PECQUEUR, 2005). Delgado, Bonnal e Leite
(2007) afirmam que esses espaços não são neutros, mais sim permeados por relações de
poder, em que agrupamentos políticos, agentes individuais e/ou coletivos disputam capitais,
projetos e propostas políticas entre si4.
De acordo com levantamento de dados realizado em 2015, pode-se constatar que dois
projetos de Proinf operados no Vale tiveram recorte específico direcionado à estruturação
da comercialização ecológica, com enfoque na infraestrutura logística para estruturação de
circuito de trocas do Vale, representando cerca de 30% do total de recursos destinados pelo
governo Federal ao PROINF. Na disputa de interesses entre os atores que compõem esse
espaço de governança territorial, assumido como espaço de discussão e encaminhamento
de projetos associados aos programas institucionais de comercialização (PAA e PNAE),
identificou-se que o campesinato local, organizado em associações e cooperativas locais,
regionais e territoriais, bem como em redes de agricultores familiares e ecológicos, conseguiu
conquistar recursos para fortalecimento do circuito ecológico do Vale do Ribeira.
Como resultado, se identificou um caráter mais funcional que ontológico nessa estrutura
de governança, observa-se que a mesma foi fundamental para possibilitar a criação e amplia-
ção do circuito ecológico de trocas do Vale do Ribeira Paraná, fortalecendo a ecologização
e a diversificação agroalimentar territorial, em conexão com a capital Curitiba.
No entanto, as últimas observações a campo realizadas mostraram fragilidades e
baixa capacidade, tanto do poder público quanto das organizações de agricultura familiar
atuantes no território em dar sequência ao processo de governança territorial. A partir de
2016 constatou-se que as práticas de governança territorial se fragilizaram em decorrência
do encerramento do Programa Territórios da Cidadania e do Fórum de Desenvolvimento
Territorial. Isso gerou um vazio institucional territorial e ao mesmo tempo uma fragmenta-
ção das ações territoriais. O processo de governança territorial deixou de ser realizado pela
associação dos blocos de atores públicos e da sociedade civil no espaço do Fórum, para
4 O principal meio de acesso a recursos financeiros era proveniente do Programa de Apoio a Projetos de Infraestrutura e Serviços em
Territórios Rurais (PROINF).
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acontecer de forma fragmentada, de acordo com relações de proximidade de objetivos entre
os atores locais, sejam eles públicos ou da sociedade civil.
Associado a isso, com a crise dos mercados institucionais, principalmente do PAA,
percebeu-se redução da participação e capacidade de geração de renda, principalmente
para aquelas categorias sociais menos capitalizadas, com recorte racial (negros), de gênero
(mulheres) e geracional (jovens). São principalmente essas categoriais sociais que têm tido
as maiores dificuldades para conseguir criar e gerenciar a construção de novos mercados,
e que vinham sendo beneficiárias das políticas públicas operacionalizadas no plano territo-
rial. A situação de desmantelamento das políticas públicas (SABOURIN et. al., 2020), em
curso no Brasil a partir de 2016, reflete-se no contexto do território do Vale do Ribeira Paraná,
e fragiliza a capacidade de dinamização dessa estratégia de promoção do desenvolvimento
territorial sustentável.
Tal como referido no início desse texto, o Vale do Ribeira tem sido representado histori-
camente como um território que ficou alheio aos principais ciclos de acumulação de capital do
Estado do Paraná (BIANCHINI, 2010). Ao mesmo tempo é o território do Estado do Paraná
com o maior número de comunidades negras certificadas e reconhecidas (GTCM, 2006).
O modelo de desenvolvimento adotado no Vale participa de uma perspectiva de acumu-
lação neoextrativista hegemônica, que atualiza e intensifica ações extrativistas de economias,
um estilo de acumulação primitiva, que se atualiza e se intensifica nos atuais contextos de
crise contemporânea de acumulação global de capital (BRANDÃO, 2010).
Esse modelo de acumulação tem aprofundado conflitos e injustiças socioambientais no
Brasil, colocando os conflitos socioambientais pela apropriação de recursos na centralidade
das ações dos atores, que colocam por um lado populações tradicionais, camponesas, e por
outro, como geradores desses conflitos, o próprio Estado, investidores, empresas minera-
doras, latifúndios com reflorestamento, especulação imobiliária, entre outros (ACSELRAD,
2009; PORTO, PACHECO e LEROY, 2013).
O processo de construção dos circuitos curtos agroalimentares agroecológicos do Vale
do Ribeira Paraná, na medida em que favoreceu a dinamização das economias locais, que
gerou condições de inclusão socioprodutiva e ampliou as capacidades de reprodução social
da condição camponesa das agriculturas tradicionais dos sujeitos desse território e que, ao
mesmo tempo, gerou a transformação ecológica dos sistemas de produção locais, mobilizou
recursos em ativos territoriais, e com isso dinamizou a construção de uma perspectiva de
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desenvolvimento territorial sustentável (PECQUER, 2005), em contraponto a essa perspectiva
hegemônica excludente que desvaloriza saberes e fazeres das comunidades tradicionais.
A associação entre programas públicos, agentes do poder público e atores da sociedade
civil engajados em uma governança compartilhada, focados na reconstrução agroalimentar
ecológica do Vale, embora insuficiente, se mostrou uma alternativa viável para aquele con-
texto neoextrativista, capaz de mobilizar a construção de uma perspectiva de desenvolvi-
mento territorial sustentável, que “[...] designa todo processo de mobilização dos atores que
eleva à elaboração de uma estratégia de adaptação aos limites externos, na base de uma
identificação coletiva com uma cultura e um território” (PECQUEUR, 2005, p. 12).
No atual contexto de desmantelamento das políticas públicas brasileiras (SABORIN
et al., 2020), essa estratégia está em inflexão, o que incita à busca pela construção de no-
vas reflexões, que nos levam a aproximações com perspectivas teóricas descolonizadoras.
Quijano (2014) esclarece que a colonialidade do poder se baseia no domínio do tra-
balho, das subjetividades e das identidades, produz des-humanidades, cujos padrões são
distribuídos globalmente e controlados desde os países do norte global. A colonialidade do
poder se constitui e se mantém com base na dominação racial. Essa subalternização racial
atua como produtora de desumanidades. Lugones (2004) complexifica essa noção, introdu-
zindo o conceito de colonialidade de Gênero. Segundo ela:
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Ao retomar o olhar para o Vale, através dessas lentes descolonais, esclarece-se por-
que ainda hoje o Vale é representado como um território de atraso, bem como todas as
dificuldades enfrentadas na superação do mesmo como território-palco, bem como porque
identifica-se que foi justamente sobre as mulheres negras e menos capitalizadas a recaírem
as principais consequências do desmantelamento das políticas públicas voltadas à promoção
do desenvolvimento territorial sustentável outrora operacionalizadas do Vale.
As experiências de campo aqui analisadas evidenciam a reprodução social e a persis-
tência dessa lógica colonialista de desenvolvimento do território, na medida em que eviden-
cia-se que são principalmente as mulheres negras e menos capitalizadas que tem ficado de
fora dos atuais rearranjos de mercados em curso nesse território. Outrossim, como resistência
coletiva e descolonizadora, identificou-se que mesmo com tais fragilidades, foram justamen-
te essas mulheres negras e menos capitalizadas que continuaram a produzir ecológico e
que, apoiadas por outras mulheres camponesas de redes agroecológicas, tem sustentado
a construção dos circuitos curtos agroalimentares de base ecológica do Vale.
Dessa forma, identifica-se que, para que a estratégia de desenvolvimento territorial sus-
tentável outrora mobilizada pelo incentivo de políticas públicas específicas pudesse continuar
em um contexto de desmantelamento das políticas públicas, foi relevante o diálogo desse
referencial teórico com estudos descoloniais, a fim de possibilitar visibilizar as ausências
culturais, históricas e estruturais profundas que geram nesse território as desigualdades
sociais constitutivas dos limites de um modelo pautado no crescimento econômico, no Vale
do Ribeira. Em um território cuja formação social se deu com base na formação de um cam-
pesinato negro e indígena, associado a relações patriarcais, não visibilizar desigualdades de
gênero, classe e raça de modo transversal limita e constrange estratégias de desenvolvimento
territorial sustentável. Outrossim, esses dados apontam para a relevância das solidariedades
femininas, negras e camponesas em redes sociais familiares e ecológicas, como capacida-
des de mobilizar recursos em ativos territoriais, e sustentar a construção dos circuitos curtos
agroalimentares ecológicos territorializados na atualidade como estratégia viável.
Dessa forma, compreende-se que o diálogo entre a abordagem decolonial e a aborda-
gem do desenvolvimento territorial sustentável, se torna relevante. Para isso, sugere-se a
transformação de recursos em ativos territoriais de modo articulado com a interseção raça,
gênero e natureza, como processos dialógicos de promoção de novos ativos e novas ações
de governança territorial. Visto desde bases interculturais críticas, a valorização dos recursos
territoriais e sua transformação em ativos, bem como a promoção do capital social se dão
em associação à valorização ontológica étnico-racial, de gênero e da natureza. Dessa forma,
capacidades socioculturais colaborativas entre humanos que possuem construções étnico
raciais e de gênero específicas são chamadas em relações de diálogo de saberes (LEFF,
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2014) à recriação desses universos territoriais, e com as naturezas não humanas da Terra,
favorecendo emergências territoriais descolonizadoras e emancipatórias. Esse processo
implica o reconhecimento e a internalização dessa lógica de construção territorial tanto pelos
poderes e atores públicos, quanto à necessária internalização dessa perspectiva ontológica
intercultural crítica às lógicas reprodutivas das organizações e redes de agricultura fami-
liar, camponesa e ecológicas atuantes no território. Insiste-se, o processo de reconstrução
agroalimentar ecológica do Vale, se mostrou como possibilidade real e alternativa frente ao
modelo de produção hegemônica, que aporta desigualdades e injustiças socioambientais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
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06
Main additives used in slurry acidification:
Utilization - application - separation
technologies and proposed adoptions
'10.37885/220408666
ABSTRACT
The world population is expected to grow by around 15% in numbers over the next 30 years
from an estimated 7.8 billion people to 9.2 billion by 2050. The biggest concern is how to
increase food production without increasing impacts of agriculture and livestock on the en-
vironment. Animal manure generated in this context is a rich source of organic matter and
nutrients for agricultural production, but mismanagement has negative impacts on planet
earth, causing emissions of greenhouse gases and pollutants. In this sense, this work aims
to present a literature review showing the main additives used in slurry acidification, their
uses and applications, the characteristics of mud separation techniques (solid-liquid) and the
existing adoptions for the correct and effective use by the farmer of the existing technology
and the proper use of organic matter (animal waste), thereby contributing to the reduction of
the environmental impact of the atmosphere.
Livestock production has increased greatly in the last century in response to the gro-
wing world population (Bouwman et al., 2012), (figures 1 and 2). The increase in demand for
livestock products has led to the intensification and industrialization of specialized livestock
operations (Steinfeld et al., 2006).
One of the relevant direct and unavoidable consequences of these intensified opera-
tions is the production of large volumes of manure, namely liquid slurry. Globally, manure
accounted for a total of 28% of greenhouse gas emissions from rangeland management,
pasture fertilizer and land wide application (FAO, 2018). However, this animal manure when
used properly, can be a source of nutrients that can replace mineral fertilizers.
2
Billion Animal / Year
1,5
0,5
0
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Source: (ubclfs-wmc.landfood.ub.ca).
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Changes in Global Number
2010 - 2016
Figura 2. Changes in global number population world 2010-2016.
7,4
Billion Population
Source: (Population Division of the Department of Economic and Social Affairs of the United Nation).
One of the major challenges of the 21st century is how to increase food produc-
tion without increasing the negative impacts that agriculture can have on the environ-
ment (FAO, 2018).
Historically, livestock production and agriculture were closely linked: animal manure was
used as a source of organic matter and nutrients for agricultural production. However, due
to the availability of mineral fertilizers in recent years to increase crop yield (Cordell et al.,
2009), the dependence of slurry as fertilizer has declined dramatically. Today, mineral fertili-
zers are expensive because of the energy needed to produce them and the P sources have
been exhausted. Phosphorus is a limited resource and natural sources must be depleted in
the next 60 - 130 years (Cordell et al., 2009).
On the other hand, slurry usually contains more P than N and a pulp application based
on crop N needs may lead to excess P in soil farms (Szogi et al., 2018). This is when mud
is used as a source of nutrients for crops: areas with concentrated livestock production and
limited arable land have a surplus of nutrients, while non-livestock areas maintain a nu-
trient deficit. Thus, the distribution and disposal of animal slurry has become a problem and
these slurry must be transported from intensive livestock production units to areas where
nutrients are scarce.
Poor management of slurry has significant negative impacts on the environment.
Excessive nutrient load, mainly nitrogen (N) and phosphorus (P), causes contamination of
surface water and groundwater through runoff and leaching. As a consequence, there is a
direct loss of biodiversity, eutrophication, increase of noxious algal forests, hypoxia and fish
deaths (Bouwman et al., 2012).
In addition, slurry is an important source of gaseous emissions (notably NH3 emissions)
that affect the health of humans and animals, causing eutrophication, acid rain and contributing
to global warming (EEE, 2013; Hristov et al., 2013 ). In addition to negative environmental
impacts on the environment, nutrient losses reduce the fertilizer value of the suspensions,
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which, if properly treated, could be a valuable source for farmers. In addition, grumpy emis-
sions are also produced from untreated slurry that have a major impact on human and social
well-being (Schiffman, 1998).
Improving or combining existing treatment technologies or creating new ones may be
possible to reclaim and reuse the valuable animal manure product that, over the years, has
been transformed into a so-called waste of animals.
Many techniques have been developed in recent years to deal with excess slurry pro-
duced in concentrated areas (Petersen et al., 2008). In practice, this results in the storage of
slurry during the time when it can not be applied to land or transported off the farm. In Europe,
storage time varies from 4 to 9 months (Steinfeld et al., 2010), and during this period, if slurry
is not properly treated, large amounts of gaseous emissions are released into the atmosphere
(Dinuccio et al., 2008).
In this sense, this work aims to present a literature review showing the main additives
used in the acidification of slurry, their uses and applications, the characteristics of mud se-
paration techniques (solid-liquid) and the existing adoptions for the correct and effective use
of existing technology and the proper use of organic matter (animal waste), thereby helping
to reduce the environmental impact of the atmosphere.
Composting was proposed as a practical and economical way to recycle animal manure
at farm and community levels (Nolan et al., 2011). Through composting, (figure 3) manure
or mud can be transformed into organic fertilizer, reducing the volume, odor and moisture
content and contributing to the elimination of pathogenic microorganisms, allowing the safe
transfer of excess nutrients to manure to other areas (Onwosi et al., 2019).
Source: (fix.com).
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2013). In Europe, this management varies among countries, regions and farms depending
on the type of animal, housing design and manure collection system (Oenema et al., 2007a).
The main difference between the manure types (Figures 4 and 5) is the consistency
given partially to the total solids content (TS). However, other aspects such as bedding or
rainwater should be considered (Hamilton, 2013).
Source: (quora.com).
Figure 5. Total solids content of manure (dotted line shows manure as excreted) (Adapted from Hamilton, 2013).
Manure management systems that produce solid manure in Europe account for 20% to
30%, while the rest is handled as pulp that is stored in wells under the animals or in external
tanks (Oenema et al., 2007a). There is great variability in cattle manure, with pulp being
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the most abundant type of manure, with a proportion over 65% in many countries, and pig
manure is collected mainly as slurry in most European countries (Burton & Turner, 2003 ).
Table 1 shows the characterization of manure for a variety of animal categories published
by Christensen & Sommer (2013). The composition of manure varies considerably between
animals and countries (Burton & Turner, 2003). Part of this variability is due to differences
in production technique, housing and water storage and dilution systems (Burton & Turner,
2003; Petersen et al., 2019).
FINAL CONSIDERATIONS
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Desenvolvimento sustentável: uma
alternativa para o desenvolvimento?
'10.37885/220910308
RESUMO
A discussão a respeito do modelo de desenvolvimento que deve ser adotado por uma
nação vem sendo alvo de debate ao longo de séculos. O objetivo desse ensaio teórico é
discutir como o desenvolvimento sustentável pode ser uma alternativa para alavancar o
desenvolvimento de forma sustentável. Ao longo da discussão é possível identificar que: 1)
o desenvolvimento sustentável agrega dimensões que até então não eram consideradas
pelas teorias e/ou modelos antecedentes; 2) a dimensão ambiental deu ao desenvolvimen-
to um cunho de caráter de subsistema do ecossistema, ou seja, o desenvolvimento está
intimamente ligado à capacidade dos recursos naturais disponíveis; 3) dentro da discussão
de desenvolvimento sustentável, a dimensão cultura passa a ser incorporada no modelo de
desenvolvido; e 4) o equilíbrio entre as dimensões (econômica, social, ambiental e cultural)
dão ao desenvolvimento sustentável a prerrogativa de uma alternativa de desenvolvimento a
longo prazo. Portanto, o desenvolvimento sustentável pode ser considerado uma alternativa
de desenvolvimento a ser adotada a longo prazo por agregar parâmetros econômicos e não
econômicos em seu escopo.
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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA ALTERNATIVA PARA O
DESENVOLVIMENTO?
Desde a publicação do seminal livro “A Riqueza das Nações” de Adam Smith durante o
período da Revolução Industrial e de Friedrich List “Sistema Nacional de Economia Política”
a discussão sobre o desenvolvimento capitalista ou qual melhor modelo de desenvolvimento
vem sendo foco de calorosa discussão ao longo dos últimos séculos.
O debate acerca do desenvolvimento sustentável surge na década de 1980 pela então
conhecida WWF (Word Wide Fund for Nature) no qual apontou vários objetivos que tinha
como intuito a conservação do meio ambiente com a finalidade considerar a capacidade
dos ecossistemas e as necessidades das gerações futuras visando sustentar o desenvol-
vimento (MOLINA, 2019). Em 1992 ocorreu no Rio de Janeiro a Conferência das Nações
Unidas, também conhecida como Rio 92 que teve como objetivo discutir a adoção de um
novo modelo de desenvolvimento devido aos grandes impactos ambientais que estavam
sendo gerados pelo desenvolvimento capitalista. A inserção do desenvolvimento sustentável
como uma alternativa de superar as práticas de degradação ambiental causada pelo modelo
de desenvolvimento capitalista vigente surge no Relatório Brundtland.
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ao desenvolvimento, não é intenção dos autores adentrar no aprofundamento de tal discus-
são, uma vez que não é o cerne da questão a ser desenvolvida.
Barbosa (2008) apresenta como ocorre a interseção entre as dimensões (econômi-
ca, social e ambiental) que compõem o desenvolvimento sustentável, incluindo questões
relacionadas à justiça socioambiental, inclusão social e ecoeficiência, conforme demons-
trado na figura 1.
Nesse contexto, o desenvolvimento sustentável não deve ser visto apenas como um
slogan imbricado por questões políticas. As degradações ambientais que tem avançado de
forma colossal devido ao consumo em massa estimulado pelo atual modelo de desenvol-
vimento, assim, o desenvolvimento sustentável pode ser uma alternativa de proposta de
desenvolvimento que atenda os anseios da sociedade (BARBOSA, 2008).
Segundo Meneguzzo, Chaicouski e Meneguzzo (2009, p. 515), “o desenvolvimento
sustentável apresenta-se como um projeto destinado a erradicar a pobreza, satisfazer as
necessidades básicas, melhorar a qualidade de vida da população e promover a conserva-
ção ambiental”. Os autores destacam que o desenvolvimento sustentável tem a educação
ambiental como premissa básica de melhoria da qualidade de vida, por meio da conscien-
tização das pessoas sobre a importância da preservação ambiental.
Lopes et al (2017) ressaltam que os desafios do desenvolvimento sustentável estão
atrelados a suplantação dos entraves atuais, sejam em aspectos econômicos, sociais, am-
bientais e culturais, além de garantir a conservação de ecossistemas. Os autores desta-
cam que tais desafios devem ser superados nos aspectos econômicos, sociais, culturais
e ambientais que não eram acoplados no modelo desenvolvimentista vigente até os anos
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70. Ou seja, o desenvolvimento sustentável agregou em seu escopo parâmetros econômicos
e não econômicos, o que não era considerado pelos modelos antecedentes.
Em busca de uma alternativa para superar as questões emblemáticas sobre o desen-
volvimento, Mendonça (2019) destaca que cada vez mais tem sido implementado projetos de
cunho governamental visando difundir práticas sustentáveis ao redor do mundo. Governos
nacionais, locais e entidades internacionais têm buscado desenvolver programas atrelados
ao desenvolvimento sustentável ou projetos de Lei em diversos setores.
Mendonça (2019) ainda ressalta que tem se observado a reconstrução de cidades com
o intuito de atender às demandas de mercadorias, escoamento de produção, alocação das
indústrias e a utilização dos recursos da natureza para suprir o sistema capitalista. Nesse
sentido, se faz necessário a redefinição de um novo modelo das forças produtivas de ges-
tão para as cidades, incluindo como requisito básico nesse processo de reconfiguração a
sustentabilidade como força motriz, sendo sensível ao alinhamento entre a produção de
grande escala e a preservação da natureza.
Cavalcanti (2018) afirma que muitas das vezes para que ocorra o desenvolvimento
sustentável é necessário a adoção de políticas públicas dispendiosas e o acesso a tecno-
logias de ponta. Assim, para os países de terceiro mundo com graves problemas sociais e
econômicos encontram barreiras para alcançar este desenvolvimento. O fato é que a cada
vez mais, os países necessitam repensar seu modelo de desenvolvimento e uma das alter-
nativas pode ser a adoção do desenvolvimento sustentável, pois o mesmo busca fazer um
equilíbrio de um modelo econômico sustentável.
Em relação a sustentabilidade, Barbosa (2008) ao examinar o trabalho de Sachs (1993)
apresenta diversos construtos relacionados a sustentabilidade, a saber: (i) sustentabilidade
ecológica no qual se refere ao escopo de base física do processo e está intimamente ligada a
conservação dos recursos naturais; (ii) sustentabilidade ambiental relacionada à capacidade
de manutenção do ecossistema; (iii) sustentabilidade social está ligado ao desenvolvimento
com o intuito de melhoria da qualidade de vida das pessoas; (iv) sustentabilidade política
refere-se ao processo de lapidação da cidadania visando garantir os direitos individuais ao
desenvolvimento; e (v) sustentabilidade econômica está atrelado a gestão de forma eficiente
dos recursos de modo geral, caracterizado pelo processo contínuo de investimento do setor
público e privado.
Todos esses construtos apresentados estão diretamente ligados ao escopo do desenvol-
vimento sustentável, fazendo com que tal modelo seja uma alternativa de adoção de desen-
volvimento por agregar elementos essenciais para a sobrevivência da população e acima de
tudo garantir uma qualidade de vida de modo igualitário para todos. “É por isto que, no caso
da sustentabilidade, definida como uma configuração possível das interações entre dinâmicas
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naturais e usos, torna-se fundamental a questão dos critérios utilizados e de sua pertinência
para vários tipos de atores sociais” (RAYNAUT; ZANONI; LANA, 2018, p. 286). O termo
sustentabilidade incorporado ao desenvolvimento deu ao novo modelo (desenvolvimento
sustentável) uma perspectiva que vai além de elementos normativos e econômicos.
Nesse cenário, Van Bellen (2004) ressalta que existe um leque de ferramentas ou sis-
temas que tem como finalidade mensurar o grau de sustentabilidade do desenvolvimento,
porém, o autor chama atenção para o pouco se tem conhecimento dos aspectos teóricos e
práticos dessas ferramentas. O fato é, que o desconhecimento dessas ferramentas muitas
das vezes trazem uma visão errônea relacionada aos benefícios que podem ser gerados
com a adoção do desenvolvimento sustentável como modelo de desenvolvimento.
Em síntese, o desenvolvimento sustentável é um modelo de desenvolvimento que busca
superar os desafios latentes que tem gerado uma segregação entre países pobres (subde-
senvolvidos) e ricos (desenvolvidos) advindo de uma exploração desenfreada, principalmente
do recursos naturais, pelos modelos de desenvolvimentos adotados ao longo de séculos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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compreendemos que a reflexão se faz necessária e emergente devido ao cenário de de-
gradação ambiental e esgotamento dos recursos naturais que vem ocorrendo nos últimos
séculos devido a exploração desenfreada por parte do sistema capitalista dominante.
Futuramente, recomenda-se que sejam realizadas pesquisas com o intuito de mensurar
os benefícios da adoção do desenvolvimento sustentável como modelo de desenvolvimento
considerando suas múltiplas dimensões e visões, pois, isso enriquecerá a literatura existente,
além de trazer novos insights relacionados à temática.
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Fatores que interferem na implementação
de políticas públicas no desenvolvimento da
pequena mineração na região de Carajás-
PA
'10.37885/220910288
RESUMO
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mais efetivas para o desenvolvimento de suas riquezas, a exemplo de políticas voltadas
para pequena mineração.
Inegavelmente, trata-se de uma riqueza importante. Porém, ao mesmo tempo em
que os minérios projetam, e, por si mesmo, induzem atividades econômicas relevantes no
município, também descortinam desafios consideráveis. Pois, se por um lado, a dotação de
recursos naturais é atrativa para constituir epicentro da atividade econômica municipal, por
outro lado, trata-se de fatores escassos e limitados, os quais compelem que a sua estratégia e
gestão públicas empenhem-se em transformar essas vantagens comparativas em vantagens
competitivas, capazes de impor dinâmicas econômicas pujantes, que sejam criadoras de
valor, com repercussão em produtividade, crescimento e desenvolvimento (PORTER, 1989).
Diante disso, o trabalho vem com o seguinte questionamento: Considerando a evolução
das formas e práticas da Administração pública brasileira, quais fatores dificultam a implemen-
tação de políticas públicas no desenvolvimento de pequena mineração na região de Carajás?
A partir de tal reflexão, denota-se que a implementação de políticas públicas nos mu-
nicípios nem sempre é efetivada, conforme seus formuladores planejam, são inúmeros os
exemplos que interferem nas implementações de políticas públicas, que não saem do projeto.
Ham e Hill (1993) e Lotta (2008), definem que uma política pública é constituída em quatro
fases distintas, essas fases algumas vezes não apresentem delimitações para torna-las
de forma rígidas, podendo as suas ações serem dinâmicas, por poderem se mesclar e se
sobreporem. No início as agendas são delimitadas, especialmente quando as pautas são
definidas de acordo com as demandas sociais, políticas ou econômicas, sobre a qual agem
distintos interesses socioeconômicos.
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do CFEM, como pela implantação de novos projetos em mineração, que representam novos
recursos na economia local, principalmente comércio e prestação de serviços.
O ICMBIO, baseado nas informações do Departamento Nacional de Produção Mineral
-DNPM (2016, p. 57) destaca a distribuição de concentração de solicitações de pesquisa
mineral em Parauapebas, seguida de Água Azul do Norte, respectivamente 51,5% e 35,9%.
Referente ao total de solicitações 57,5% são requerimentos de pesquisa e 30,1% autorização
de pesquisa. Juntas estas categorias representam 88,6%.
Até 2017, os Alvarás de Pesquisa, Portarias de Lavra, Registros de Licença e de
Extração, entre outros, a liberação dos processos de requerimento minerais foram de res-
ponsabilidade do Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM, Órgão responsável
pela outorga de diretos minerários de 1969 a 2010, foram protocolados 4.580 requerimentos
de pesquisa mineral nos municípios da Região da Floresta Nacional de Carajás.
No município de Parauapebas onde o minério jorra de seu subsolo, e a quantidade
de área requeridas é maior que a região em Carajás. Os registros cadastrais da Agencia
Nacional de Mineração – ANM, destaca o número de empresas e processos registrados nos
principais municípios, onde se observa, que a área requerida, constantes dos processos
minerários, são quase cinco vezes superiores à área territorial dos municípios.
Os registros existentes dos Processos Minerais, em sua forma e complexidade exigida
da administração pública, impede, por razões legais e burocráticas, a participação efetiva da
pequena mineração na região, mas, em especial, a utilização da PLG – Permissão de Lavra
Garimpeira. O ferro, cobre, manganês, bauxita estão concentrados em poucas empresas,
especialmente as grandes empresas, que, através dos registros de processos minerários,
mas apenas o ferro, cobre e o manganês conseguem superar todas as barreiras burocráticas
impostas a pequena mineração.
As rochas graníticas da região de Carajás estão representadas por suítes arqueanas, in-
cluindo os granitos e dioritos da Suíte Plaquê (2.74 bilhões de anos) e por raros granitos alca-
linos mais jovens (2.57 bilhões de anos) e por intrusões paleoproterozóicas, formadas por gra-
nitos anorogênicos de idade estimados em 1.88 bilhões de anos (DALL’AGNOL et al., 1994).
Os grandes depósitos de ferro da Serra dos Carajás estão associados à sequência
vulcano-sedimentar do Grupo Grão Pará, pertencente ao Supergrupo Itacaiúnas descrito
inicialmente por (BEISIEGEL et al., 1973). Este Grupo é constituído por rochas vulcânicas,
com intercalações de formações ferríferas. O minério de ferro de Carajás foi originado a
partir dos mecanismos de alteração intempérica (laterização), que provocaram essencial-
mente uma dessilicificação (lixiviação supergênica da sílica) das formações ferríferas e um
enriquecimento residual da hematita. A espessura da zona de alteração varia entre 100 e
400 m (DARDENNE; SCHOBBENHAUS, 2003).
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Importa ressaltar o mineral ouro, que tem como principal requerimento para exploração
a PLG, que pode dar grande mobilidade e geração de emprego e renda. É consabido da
importância deste mineral na região de Carajás e no Estado do Pará. No entanto, ao ana-
lisar os dados registrados no Pará e no Brasil, evidencia-se a urgência de alterações que
possam viabilizar o crescimento econômico tão necessário a atividade mineral. Em análise
perfunctória, verifica-se que o estado do Pará é o 7º nas exportações brasileiras de Ouro,
com apenas 20.857 kg para o período de 2015 a 2021. De igual forma o sistema Carajás é
irrelevante nesta condição.
Necessário e imperioso registrar os casos graves em ocorrência sobre os minerais
manganês e cobre. Estas atividades, em sua grande maioria, estão totalmente na ilegalidade,
por falta de oportunidade analítica e de estudos severos sobre os processos registrados na
ANM. Com isto a centralização em poucas empresas minerárias, leva a micro e pequenas
empresas na busca ilegal de exploração mineral, quando poderia ser mitigada com ações
próprias auxiliares dos municípios, em todas as fases operacionais, tanto na fiscalização da
atividade mineral, quanto da atividade do meio ambiente.
No entanto, o que leva os mineradores a cometer esses casos graves, é pela falta de
estrutura administrativa mais próxima de onde acontece a mineração e também de política
efetiva em ocorrência sobre os minerais, especialmente de manganês e cobre.
As deficiências da Agência são decorrentes de longos anos de uma herança patrimo-
nialista da administração pública central, que sem o devido aprimoramento que a atividade
requer, levam a vários entraves como por exemplo o acumulo de requerimentos e de pro-
cessos sobre posto na mesma área requerida.
Neste contexto surge no município de Parauapebas a criação da Secretaria Municipal
de Mineração, Energia, Ciências e Tecnologia no qual foi concebida visando a melhoria do
modelo de gestão e das políticas públicas municipais para incentivo ao desenvolvimento
econômico mineral sustentável, que se faz necessária tendo em vista a história e os desa-
fios impostos pela grande dependência da extração mineral do município. A partir de uma
proposta de gestão pública inovadora para o município, com objetivo de melhorar os seus
indicadores socioeconômicos e ambientais.
A questão para o desenvolvimento da pequena mineração é muito relevante, pois, para
intervir na sociedade com objetivo de promover ações que culminem em resultados efetivos
na melhoria da vida dos cidadãos dos municípios.
Não basta o poder público mobilizar seus recursos para quaisquer demandas. Mas é
fundamental ter uma clara e empírica definição dos problemas públicos mais relevantes,
para, em seguida, formular marco estratégico aderente à realidade diagnosticada, com
ações coerentes, articuladas e monitoradas, com suporte metodológico de implementação,
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acompanhamento e avaliação com foco específico que irá direcionar as ações que pro-
movam atender as necessidades de fomento da economia do município, com implantação
de mecanismos de estrutura operacional para ação de desenvolvimento do setor mineral,
potencializando ações locais, com vistas a garantir nas atividades de exploração econômica
qualificada de recursos naturais, com respeito aos princípios de proteção ambiental e de
equilíbrio ecológico dos ecossistemas, de forma compatível com os princípios do desenvol-
vimento sustentável com equidade para as atuais e as futuras gerações.
A Secretaria Municipal de Mineração, Energia, Ciência e Tecnologia - SEMMECT,
foi criada por meio da Lei nº 4.485 de 20 de março de 2012, com a tarefa de promover e
desenvolver novas matrizes econômicas capazes de diversificar as fontes de arrecadação
municipal, implementando novos rumos ao desenvolvimento, em especial com relação às
áreas de mineração, energia, ciência e tecnologia e garantindo pauta diversificada de tributos
para a sustentação futura do município.
A partir de incentivo que possam incrementar o desenvolvimento econômico munici-
pal, atendendo sua missão em formular e desenvolver políticas de médio e longo prazo que
possam contribuir para que o setor mineral seja um alicerce de desenvolvimento sustentá-
vel do Município nos próximos anos, e coordenar as ações que asseguram o suprimento,
a universalização, a confiabilidade e a qualidade do fornecimento de insumos energéticos
visando o desenvolvimento econômico sustentável do Município.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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b) Seja criada a possibilidade de consórcio entre os municípios do Sistema Carajás,
para melhor qualificação técnica exigida afim de possibilitar maior dinâmica operacional de
todos os municípios.
c) Propõe-se Projeto de Lei, em que para alterar a Lei n° 7.805, de 18 de julho de
1989, que cria o regime de permissão de lavra garimpeira, para autorizar a permissão de
lavra minerária em área onerada por requerimento de pesquisa ou autorização de pesquisa.
d) Participar da composição da subcomissão ou grupos de trabalho para auxiliar no
desenvolvimento de políticas do Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Mineração
Artesanal e em Pequena Escala, conforme dispõe o Decreto Presidencial nº 214 10.966,
de 11 de fevereiro 2022.
Entende-se imperativo análise técnica de todos os dados juntados, para que haja,
efetivamente, ações importantes no caminho da legalização da exploração mineral, com
foco determinado para a solução dos micros, pequenas e médias empresas, afim de que
se encontre o caminho definitivo do desenvolvimento e da geração de empregos e rendas.
Carajás, também é produtora de água mineral e possuí reserva de gemas e de grande
produção de minerais industriais e agregados para construção civil, isso reforça a importância
da mineração para a economia da região.
A elaboração do trabalho foi possível perceber a importância dos procedimentos ad-
ministrativos para identificar que a gestão pública deixa a desejar seus resultados em mais
investimentos em pesquisa, e a necessidade tecnologia e um plano de logística mais eficien-
te e que atenda as exigências de sustentabilidade para o escoamento da produção. A in-
fraestrutura de transporte eficiente também é essencial para o avanço para pequena mi-
neração da região.
A gestão pública pode apoiar o pequeno minerador em ações de combate e de recu-
peração de áreas degradas pela extração ilegal, reduzir o prazo de início da operação dos
projetos minerais que geralmente vem de longos anos na ilegalidade. Promover alterações
em procedimentos com projeto de lei e programa de incentivo ao setor com normas que
efetivamente dê solução dos impactos ambientais e reparos nas operações.
Apoiar a criação da central de atendimento ao minerador e cooperativas arranjos tecno-
lógicos para o desenvolvimento e melhoria nos processos com a legalização dos pequenos
mineradores até então sem apoio institucional e, ainda sem solução mais efetiva devido o
recente debate sobre o novo Código Mineral que pouco avançou a eventuais propostas de
mudança, como as dos procedimentos de outorga e direito minerário, que dá insegurança
jurídica à pequena mineração brasileira. Nessa direção, a administrador público dá um
passo importante na elaboração de projetos sustentáveis e inovadores para fortalecer e dar
sustentabilidade a economia regional e geração de empregos no município.
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REFERÊNCIAS
1. AGENCIA NACIONAL DE MINERAÇÃO – ANM. Disponível em: https://www.gov.br/
anm/pt-br. Acesso em 15 de abril de 2022.
5. Ham, C.; Hill, M. The policy process in the modern capitalist state. Harvester Whe-
atsheaf, Londres, 1993.
13. SILVA, G.; BOAVA, D.; MACEDO, F. Refugiados de bento rodrigues: estudo fenome-
nológico sobre o desastre de mariana. 2016, MG. In: Anais do Congresso Brasileiro
de Estudos Organizacionais, 2016.
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09
O comportamento da balança comercial
do Pará em tempos de pandemia
'10.37885/221010423
RESUMO
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O DESEMPENHO DA BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA
O Brasil passou por diversos momentos distintos na última década com destaque
para três deles: o pós-crise financeira mundial de 2008 e 2009, os anos de crise política de
2014-2016 e a lenta recuperação financeira do período 2017-2019. (MATTEI, ROSA, 2021).
Estes eventos representaram grandes mudanças no comércio mundial com consequências
drásticas para muitas nações.
No caso brasileiro percebe-se um processo de comoditização da economia, causado
em parte pela forte demanda mundial por produtos primários que ocasionou um “boom” nos
preços desses produtos no mercado internacional. Grande parte dessa demanda foi impul-
sionada pelo crescimento constante da China.
Apesar de o Brasil ter se tornado um dos maiores exportadores de comodities do pla-
neta, a participação do país no mercado mundial vem caindo no ranking dos maiores expor-
tadores. Em 2010 o país detinha 1,32% do comércio mundial, diminuindo sua participação a
1,19% em 2019, com isso o país ocupa a posição 27ª no ranking. As primeiras posições são
ocupadas por China, Estados Unidos, Alemanha, Japão e Holanda (MATTEI, ROSA, 2021).
Ao analisar as importações brasileiras no comércio mundial Mattei e Rosa (2021) afir-
mam que a participação do país também foi reduzida de 1,23% em 2010 para 0,91% em
2019. Com isso, o Brasil figura na 28ª posição do ranking global de importações.
Por outro lado, quando se analisa os dados da balança comercial brasileira com o resto
do mundo os números são animadores. O país tem apresentado superávits nos últimos 5
anos. Em média, esses valores chegam a US$ 45,7 bilhões de US$-FOB anuais. No Gráfico
1 é possível observar que a balança comercial brasileira estava em crescimento até 2018,
período em que começou a declinar nos valores negociados. Em 2017 as exportações
tiveram aumento de 19,8% em relação a 2016, em 2018 o aumento foi de 7,9%, mas em
2019 a queda foi de 4,6% e em 2020 com o advento da pandemia da Covid-19 a queda nas
exportações foi de 5,4%. Já nas importações o impacto em 2020 foi bem maior atingindo
retração de 14,6% no volume de negócios.
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Gráfico 1. Balança comercial brasileira 2016-2020 em bilhões de US$-FOB.
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COMPORTAMENTO DA BALANÇA COMERCIAL PARAENSE
A balança comercial paraense dos últimos 5 anos se difere um pouco da balança co-
mercial nacional na medida em que apresenta saldo comercial bem mais atrativo, pois as
exportações são bem maiores que as importações em todos os cenários. Isso é ocasionado
pela forte presença dos produtos minerais que elevam os valores exportados. A liderança
do Brasil como exportador mineral deve-se muito ao estado do Pará que possui duas das
maiores jazidas da região, a de Oriximiná com bauxita e a de Serra dos Carajás, com o ferro
manganês. O estado fica atrás apenas do estado de Minas Gerais. Esses polos minerais
tem sido o motor de crescimento da região norte do país. (BATISTA, 2021).
O Gráfico 2 apresenta a evolução da balança comercial paraense no período de 2016 a
2020. Nele é possível observar a variação das exportações, importações e do saldo comer-
cial que nada mais é que a diferença entre as importações e as exportações. Desta forma,
ao subtrair as importações das exportações tem-se o saldo da balança comercial paraense
para o período. Observa-se que a balança comercial do Estado do Pará tem se mantido
superavitária nos últimos 5 anos. Em 2020, o superávit da balança comercial do Pará foi
de US$ 19,4 bilhões de US$-FOB o que representa um aumento de 16,83% se comparado
com o ano de 2019.
Gráfico 2. Exportações, Importações e Saldo Comercial Anual, Pará (2016-2020, FOB em Bilhões US$).
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No Gráfico 3 é possível observar, de forma mensal, a evolução das importações e
exportações, bem como a evolução do saldo da balança comercial no período de 2016 a
2020. Pode-se notar que houve aumento bastante significativo no volume de negócios no
período. Em 2016 o Pará exportou US$ 10,5 bilhões de US$-FOB com o resto do mundo,
em 2020 esse valor quase dobrou, passando para US$ 20,6 bilhões de US$-FOB, isso re-
presenta aumento de 96,1% nas exportações.
Gráfico 3. Exportações, Importações e Saldo Comercial Mensal, Pará (2016-2020, FOB em Bilhões US$).
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Gráfico 4. Composição das Exportações do Pará em 2020.
Na Tabela 2 são apresentados os dez países que mais compraram produtos paraense,
juntos eles representaram mais de 80% de tudo que foi exportado pelo estado no ano de
2020. Analisando a tabela é possível comparar o desempenho dessas nações no período
de 2016 e 2020. O destaque ficou para o forte crescimento das exportações para a China
que saltou de 3,5 bilhões de US$-FOB em 2016 para 11,8 bilhões de US$-FOB em 2020,
representando uma variação positiva de 237% e mantendo sua hegemonia como maior im-
portador dos produtos do estado. A segunda maior variação positiva ficou com a Malásia que
saltou da sétima posição em 2016 onde estava com volume de importação em 423 Milhões
de US$-FOB para a segunda posição do ranking em 2020 onde importou 1,39 bilhões de
US$-FOB, isso representa crescimento de 229% no período analisado.
Tabela 1. Cinco seções de produtos com maior participação nas exportações do Pará (2016-2020).
2016 (Bilhões de US$ 2020 (Bilhões de US$ Participação nas expor- Variação Percentu-
Ordem Produto
-FOB) -FOB) tações 2020 (%) al (2016-2020)
Diante dos dados expostos fica fácil perceber que as exportações do estado do Pará
seguem projeção de crescimento no período analisado e foram muito beneficiadas no ano
de 2020 mesmo com o advento da pandemia da Covid. Isso pode ser explicado, em parte
pela pauta de exportação baseada em produtos primários. A desvalorização do real face
ao dólar também contribuiu com esse cenário na medida em que torna o produto brasileiro
mais atrativo no comércio internacional.
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Tabela 2. Ranking dos 10 países de destino das exportações paraense (2016-2020).
País 2016 - Valor FOB (US$) 2020 - Valor FOB (US$) Variação Percentual (2016-2020)
Na Tabela 3 são descritos os dez países que mais venderam para o estado do Pará
no período de 2016 e 2020. Na primeira colocação continuam os Estados Unidos com cres-
cimento de 60,6% em comparação com o ano de 2016. O destaque fica com a Rússia que
saltou da oitava posição em 2016 para a segunda posição em 2020, crescimento de 363%
no período. Outro destaque positivo foi a o crescimento de 197,8% nas negociações com
o Canadá que saltou da décima posição em 2016 para a sétima posição em 2020. O ponto
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negativo fica com a redução de 61% das importações oriundas da China, apesar disso, o
país continua na terceira posição do ranking.
País 2016 - Valor FOB (US$) 2020 - Valor FOB (US$) Variação Percentual (2016-2020)
Estados Unidos 416.265.541,00 668.363.226,00 60,6
Rússia 17.180.659,00 79.559.299,00 363,1
China 131.941.567,00 51.306.162,00 -61,1
Argentina 36.874.785,00 41.777.891,00 13,3
Espanha 37.955.353,00 40.974.213,00 8,0
Colômbia 41.292.791,00 39.205.842,00 -5,1
Canadá 10.674.968,00 31.792.628,00 197,8
Alemanha 161.994.426,00 30.527.404,00 -81,2
Japão 13.566.451,00 26.203.691,00 93,2
Chile 30.530.975,00 23.318.415,00 -23,6
Fonte: Brasil, 2021. Elaborado pelo autor.
Nos últimos 5 anos o estado do Pará tem aumentado sua participação na balança co-
mercial brasileira com forte atuação de bens primários ao mesmo tempo em que contribui
para o desenvolvimento da região na medida em que gera emprego e renda advindos dessa
comercialização com o resto do mundo.
No Gráfico 5 pode-se observar que o estado fica em primeiro lugar no ranking de saldo
da balança comercial brasileira, isso significa que o estado exporta bem mais do que im-
porta, mas também mostra a importância do estado para o país. Já no ranking dos maiores
exportadores do país o Pará fica em quarto lugar, atrás apenas de São Paulo, Minas Gerais
e Rio de Janeiro respectivamente.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
No mundo globalizado em que se vive as relações comerciais entre as nações está cada
vez mais presente. Nesse processo, as regiões buscam recursos para crescer e desenvolver
suas respectivas nações. No caso deste estudo, pode-se perceber que a balança comercial
do estado do Pará difere bastante da balança comercial do Brasil. Nesta as oscilações são
mais perceptíveis enquanto que naquela a série histórica demonstra franco crescimen-
to. No entanto, é importante notar que o fato de o estado comercializar seus recursos naturais
não garante necessariamente o desenvolvimento de seu povo, principalmente quando se
analisa a sustentabilidade do negócio. Desta forma, cabe analisar até que ponto o superávit
da balança comercial paraense realmente gera valor e sustentabilidade para os paraenses.
REFERÊNCIAS
1. BALANÇA COMERCIAL DE 2020. FazComex. 06 de janeiro de 2021. Disponível em:
https://www.fazcomex.com.br/blog/balanca-comercial-de-2020/. Acesso em 25/04/2021.
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SOBRE OS ORGANIZADORES
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ÍNDICE REMISSIVO
A R
Agroecologia: 24, 68, 83 Regulação Mineral: 102
Alternativa de Desenvolvimento: 94 S
B Serra da Capivara: 50, 51, 52, 53, 54, 55, 58, 59,
60, 61, 62, 63, 64
Balança Comercial: 112, 114
Slurry: 89
Biologia: 23, 51, 52
C
Controversas Metodológicas: 42
D
Decrescimento: 30, 33, 36
E
Economia Ecológica: 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20,
22, 23, 24, 25, 26, 27, 29, 30, 32, 33, 34, 35, 37, 38,
39, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48
G
Geologia: 51, 52, 58, 63, 64, 109
M
Macroeconomia Ecológica: 30
N
Novo Acordo Verde: 30, 31
P
Paleontologia: 51, 52, 63
Pará: 41, 93, 101, 103, 105, 106, 110, 111, 112,
115, 116, 117, 118, 119, 120
Pluralismo Metodológico: 42
Pós-Crescimento: 36
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editora
científica digital
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