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Arleson Eduardo Monte Palma Lopes

Iná Camila Ramos Favacho De Miranda


(Organizadores)

ECONOMIA ECOLÓGICA,
TERRITÓRIO E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
PERSPECTIVAS E DESAFIOS

editora

científica digital
1ª EDIÇÃO

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2022 - GUARUJÁ - SP
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Guarujá - São Paulo - Brasil
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E19 Economia ecológica, território e desenvolvimento sustentável: perspectivas e desafios / Arleson Eduardo Monte Palma Lopes
(Organizador), Iná Camila Ramos Favacho de Miranda (Organizadora). – Guarujá-SP: Científica Digital, 2022.
E-BOOK
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Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5360-211-3
DOI 10.37885/978-65-5360-211-3
1. Ecologia. 2. Sustentabilidade. I. Lopes, Arleson Eduardo Monte Palma (Organizador). II. Miranda, Iná Camila Ramos
Favacho de (Organizadora). III. Título.

2022
CDD 577
Índice para catálogo sistemático: I. Ecologia
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Esta obra intitulada “Economia Ecológica, território e desenvolvimento
sustentável: perspectivas e desafios” constituiu-se a partir de uma integração
APRESENTAÇÃO

colaborativa entre professores, estudantes e pesquisadores que buscam constantemente


fomentar as discussões atrelada a temática do livro. Resulta, também, de um processo
ligado ao incentivo à pesquisa que congrega pesquisadores das mais diversas áreas do
conhecimento a partir de uma perspectiva interdisciplinar. Tem como objetivo instigar uma
reflexão sobre as novas dinâmicas e desafios presentes na sociedade contemporânea
com a finalidade de promover a geração de novos conhecimentos e pesquisas.
Agradecemos aos autores pelo empenho, disponibilidade e dedicação para o
desenvolvimento e conclusão desta obra. Esperamos também que sirva de instrumento
didático-pedagógico para estudantes, professores dos diversos níveis de ensino em
seus trabalhos e demais interessados pela temática.

Arleson Eduardo Monte Palma Lopes


Iná Camila Ramos Favacho de Miranda
SUMÁRIO
CAPÍTULO 01
ECONOMIA ECOLÓGICA: O DESENVOLVIMENTO DE UMA PEDAGOGIA ECOSSISTÊMICA
Maria Inês Escobar da Costa; Maria Luciana Mendonça Sousa; Tainá Alana Olímpio Lopes; Francisco Casimiro Filho; Lunian
Fernandes Moreira

' 10.37885/220809807......................................................................................................................................................................... 11

CAPÍTULO 02
TEORIA DA MOEDA MODERNA E ECONOMIA ECOLÓGICA: APROXIMAÇÕES POSSÍVEISISABELA PRADO
CALLEGARI
' 10.37885/220809780......................................................................................................................................................................... 27

CAPÍTULO 03
CONTROVERSAS METODOLÓGICAS DA ECONOMIA ECOLÓGICA
Arleson Eduardo Monte Palma Lopes; Martha Luiza Costa Vieira; Iná Camila Ramos Favacho de Miranda; Lidiane Caetano
de Mendonça Dias

' 10.37885/221010474.......................................................................................................................................................................... 39

CAPÍTULO 04
CARACTERIZAÇÃO GEOAMBIENTAL E PALEONTOLÓGICA NA SERRA DA CAPIVARA PIAUÍ-BRASIL: ANÁLISE A PARTIR
DE UMA AULA DE CAMPO
Juliana Oliveira Araújo; Adolfo Lincoln Silva; Adriele Pereira dos Reis; Alessandra Ramos Roxa; Andressa Quadros Silva; Ismael
Oliveira Silva; Jeovana Santos Melonio; Maely Sousa Nascimento; Marília Aguiar Anselmo; Rafaela de Jesus Melo de Oliveira Rego

' 10.37885/220910052......................................................................................................................................................................... 48

CAPÍTULO 05
DINÂMICAS DE COMERCIALIZAÇÃO ECOLÓGICA E DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL SUSTENTÁVEL NO VALE DO
RIBEIRA – PARANÁ
Cristiane Coradin; Valdir Frigo Denardin

' 10.37885/220910341.......................................................................................................................................................................... 63

CAPÍTULO 06
MAIN ADDITIVES USED IN SLURRY ACIDIFICATION: UTILIZATION - APPLICATION - SEPARATION TECHNOLOGIES
AND PROPOSED ADOPTIONS
João Baptista Chieppe Júnior

' 10.37885/220408666........................................................................................................................................................................ 83
SUMÁRIO

CAPÍTULO 07
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA ALTERNATIVA PARA O DESENVOLVIMENTO?
Arleson Eduardo Monte Palma Lopes; Vanessa do Nascimento Ferreira; Lidiane Caetano de Mendonça Dias

' 10.37885/220910308......................................................................................................................................................................... 91
CAPÍTULO 08
FATORES QUE INTERFEREM NA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS NO DESENVOLVIMENTO DA PEQUENA
MINERAÇÃO NA REGIÃO DE CARAJÁS-PA
João Sebastião Maia Alves; Miquéias da Costa Pinto

' 10.37885/220910288......................................................................................................................................................................... 99
CAPÍTULO 09
O COMPORTAMENTO DA BALANÇA COMERCIAL DO PARÁ EM TEMPOS DE PANDEMIA
Maurício Fernandes Dourado; Helen Rodrigues de Souza

' 10.37885/221010423.......................................................................................................................................................................... 108

SOBRE OS ORGANIZADORES.............................................................................................................................. 119

ÍNDICE REMISSIVO.............................................................................................................................................. 120


01
Economia ecológica: o desenvolvimento de
uma pedagogia ecossistêmica

Maria Inês Escobar da Costa Francisco Casimiro Filho


Universidade Federal do Ceará - UFC Universidade Federal do Ceará - UFC

Maria Luciana Mendonça Sousa Lunian Fernandes Moreira


Universidade Federal do Ceará - UFC Universidade Federal do Ceará - UFC

Tainá Alana Olímpio Lopes


Universidade Federal do Ceará - UFC

'10.37885/220809807
RESUMO

Objetivo: Este trabalho objetiva analisar o ensino da Economia Ecológica e sua capacidade
de formulação de uma pedagogia própria. Como referência teórica se utiliza de trabalhos
produzidos por teóricos da educação superior, das ciências sociais e os principais teóricos do
campo recente da Economia Ecológica, no intuito de buscar chaves metodológicas, algumas,
em uso na experiência da Universidade Federal do Ceará. Métodos: A pesquisa analisou
qualitativamente elementos da experiência do único curso de graduação em Economia
Ecológica conhecido, a sua intencionalidade pedagógica, expressa no projeto de curso,
articulado com o debate sobre as finalidades da universidade. Resultado: A pedagogia
própria, ecossistêmica, em uma perspectiva biocêntrica necessita de um percurso histórico
que contenha elaboração teórica e prática dos sujeitos envolvidos, a recente proposição de
um bacharel em economia ecológica aponta para um horizonte de sociedades sustentáveis,
a partir de princípios de justiça ambiental e da perspectiva biocêntrica.

Palavras-chave: Educação Ecológica, Pedagogia Biocêntrica, Ensino Economia Ecológica.


INTRODUÇÃO

A inserção da Economia Ecológica no ensino superior ao nível de graduação vincula


uma multiplicidade de debates estimulantes, desde a função da Universidade, a dupla ter-
minalidade da educação brasileira cindida em classes, até o ensino de uma visão de mundo
biocêntrica. Retomando desde as iniciativas governamentais de uma educação ambiental,
Leonardi (2001) indica que, institucionalmente, a história do ensino relacionado ao meio
ambiente começa no século XVIII, quando Rousseau (1712- 1778) e mais tarde o educador
Freinet (1896-1966), no início do século XX, insistiam na eficácia do meio como estratégia
de aprendizagem. Educar para o meio foi um outro passo dessa abordagem que via a natu-
reza com um olhar novo, diferente de vê-la como algo a ser conquistado e dominado, como
fizeram na revolução industrial e como, o é, sob o capitalismo.
Na década de 60, houve a implantação das primeiras políticas governamentais volta-
das a educação ambiental no mundo. Em 1968 na Grã-Bretanha, surgiu o Conselho para
Educação Ambiental, na França e em países nórdicos foram aprovadas variadas interven-
ções nas políticas educacionais com perspectiva de uma educação ambiental. Em 1975, a
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), rea-
lizou em Belgrado, antiga Iugoslávia, o Seminário Internacional sobre Educação Ambiental
que teve, dentre as suas funções, criar e consolidar o Programa Internacional de Educação
Ambiental (PIEA), que se apresentava como interdisciplinar, intra e extraescolar (CORDEIRO,
2022; SÃO PAULO, 1994). Ainda segundo Cordeiro (2022) e Ramos (1996), em Tbilisi, na
Geórgia, dois anos após o Seminário que aconteceu em Belgrado, foi realizada a conferência
Intergovernamental sobre Educação Ambiental, sendo essa conferência considerada como
o marco da Educação Ambiental a nível mundial.
No mesmo ano, a UNESCO contabilizou 79 países, que de variadas formas, incluíram
a Educação Ambiental como componente curricular e que recomendavam a inclusão dos
aspectos sociais, culturais e econômicos ao estudo biofísico do meio ambiente. Segundo
Lopes (2021) a Educação Ambiental só se estabelece como área do conhecimento na
“Conferência de Educação” da Universidade de Keele, Grã-Bretanha, em 1965. Na sequência
histórica (figura 01), vê-se que a Economia Ecológica se estabelece como corrente teórica,
com a fundação da International Society for Ecological Economics (ISEE) em 1988, e com
a criação da revista Ecological Economics em 1989 (LEONARDI, 2001). A autora traça uma
linha do tempo que correlaciona marcos históricos entre a Educação Ambiental e a Economia
Ecológica, seu trabalho busca pontos de convergência entre os dois movimentos teóricos
que impulsionaram políticas públicas importantes relacionadas ao cuidado com o meio am-
biente e as relações entre natureza, economia e sociedade. Este cuidado se expressa ou
pode ser descrito através do reconhecimento dos serviços ecossistêmicos, da necessidade

Economia Ecológica, território e desenvolvimento sustentável: perspectivas e desafios - ISBN 978-65-5360-211-3 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
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de preservação, proteção, manutenção como, também, de uma perspectiva ecossistêmica
que se integra em diferentes intensidades nas políticas públicas no decorrer da história.
Este artigo faz parte do percurso de reflexão sobre o ensino da Economia Ecológica e
da indagação sobre sua capacidade de formular uma pedagogia própria. Sendo assim, visita
teóricos da educação, das ciências sociais e clássicos da Economia Ecológica no intuito
de buscar chaves metodológicas, algumas já em uso, em curso na experiência do curso de
graduação da Universidade Federal do Ceará1 - UFC. Alguns trabalhos desenvolvidos no
interior da experiência cearense trazem um paralelo entre Educação Ambiental e Economia
Ecológica, apresentando uma linha do tempo na qual a história é um reconhecimento do
esforço coletivo para elaboração de constructos formativos no âmbito da educação, so-
ciedade e natureza. Destaca-se a Conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente
humano (1972), na qual a Educação Ambiental é referenciada como ferramenta de ensino
e na mesma Conferência se populariza o conceito de Desenvolvimento Sustentável (am-
plamente debatido no escopo teórico/prático da Economia Ecológica), sendo consolidada
no Relatório de Brundtland (1987). Já Em 1992, ocorreu a Conferência das Nações Unidas
sobre o meio ambiente e desenvolvimento, na qual foi lançada a Agenda 21, que teve como
um dos objetivos e metas a “Educação como forma de conscientização para as questões
de proteção ao meio ambiente”, estando “o capítulo 36 da Agenda, intitulado Promoção do
ensino, da conscientização e do treinamento” (CORDEIRO, 2022, p. 55). Em seguida, a
Sociedade Brasileira de Economia Ecológica foi criada como resultado de discussões no
bojo da Conferências das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, popu-
larmente conhecida por Rio-92, sediada no Rio de Janeiro, quando economistas, ecologistas
e estudiosos do Brasil se juntaram em uma série de encontros que explicitaram que pouco
se sabia sobre a “Economia do Meio Ambiente”.
A ausência de um conhecimento econômico, socioambiental e seus nexos sentida nas
ciências, também é lida como reflexo de um modelo de desenvolvimento que o propósito não
é a manutenção e preservação da vida, cujas consequências são catastróficas e atingem
de formas diferentes os grupos sociais que se encontram em situação de vulnerabilidade.
Vê-se, no desenvolvimento desta pesquisa, as potencialidades da emergência de uma pe-
dagogia ecossistêmica preenchendo lacunas do conhecimento na materialização de uma
práxis econômica/ecológica.

1 Projeto Pedagógico do Curso de Economia Ecológica da Universidade Federal do Ceará https://prograd.ufc.br/pt/cursos-de-gradua�-


cao/economia-ecologica/ acesso em 21/05/2021

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Figura 01. Linha do Tempo Educação Ambiental x Economia Ecológica.

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121

Fonte: LOPES (2021).

A economia ecológica e a educação ambiental possuem pontos em comum que mar-


caram trajetórias históricas de ações públicas socioambientais organizadas localmente
e mundialmente que repercutem até os dias atuais. Crítica ao mainstream da economia,
a economia ecológica provoca a emergência de um campo do conhecimento complexo
em torno de um paradigma ecológico-econômico contra hegemônico, em uma formulação
biocêntrica, que reposiciona a Economia como um subsistema que faz parte de um macro
sistema que é o Planeta Terra, com seus limites biofísicos. Já a educação ambiental, surge
como abordagem teórico metodológica de ensino e educação das interações sociedade/
meio ambiente nas escolas, comunidades tradicionais e sociedade em geral. Na perspectiva

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do encontro destes dois campos, analisa-se a primeira experiência da Economia Ecológica
na educação formal, no âmbito do ensino superior no Brasil.

ECONOMIA ECOLÓGICA COMO EDUCAÇÃO EMANCIPADORA

O ensino da Economia Ecológica coloca em destaque a necessidade fundamental da


crítica ao modo de produção capitalista, a sua forma social de trabalho que aliena e mercan-
tiliza tudo e todos. Para conceituar alienação, Marx (1983) se utiliza da premissa da divisão
social do trabalho, na qual há separação entre aqueles que distribuem ordens e aqueles
que efetivamente executam o trabalho, sendo estes últimos, em sua maioria, movidos pela
necessidade de sobrevivência, fato esse observado desde a implementação do sistema
capitalista. Problematizar o processo de alienação por dentro da institucionalidade da edu-
cação superior é indagar-se de frente ao espelho cotidianamente. Considerando a história
das universidades brasileiras, seus compromissos de origem, suas relações com padrões
instituídos, vê-se atual, o antigo debate acerca das finalidades da universidade, especial-
mente em uma sociedade de classes que conta com a eficácia dos aparelhos hegemônicos
de alienação, o qual torna a tarefa de combater a alienação rotineira no ensino superior.
A educação pode reproduzir ou se insurgir alimentando o processo de auto emancipação
coletiva. Segundo Caldart (2021) mesmo que a alienação se expanda cada vez mais, sem-
pre haverá frestas, as quais podem se tornar espaços de resistência. Não enxergar outras
alternativas também faz parte do processo de alienação no qual estamos submetidos, sob
o capitalismo. Essa dinâmica percorre desde a educação familiar, passando pelo ensino
básico até o ambiente acadêmico, sendo todos visivelmente representados por matrizes
que coadunam neste mesmo sentido, que podem apresentar-se como reprodutores de um
modelo educacional alienador e condescendente com sistemas de opressão e/ou exploração
da mão de obra do proletariado. Contudo, tais processos são contraditórios e heterogêneos
em sua dimensão geral, deixando, assim, extensão para resistências.
“Libertar-se da alienação que funda o modo de produção capitalista e que se estende
da forma histórica do trabalho que a institui para o conjunto das dimensões da vida hu-
mana, é ao mesmo tempo objetivo e condição revolucionária.” (CALDART, 2021) Sobre
a formação de sujeitos coletivos, capazes de construir alternativas, como propõe Caldart
(2021), ao dizer que:

Intencionalizando movimentos de desalienação, é condição para formar sujei-


tos coletivos capazes de construir alternativas à forma de relações sociais de
produção que gera a alienação. Construção que alimenta o processo de auto
emancipação coletiva. [...] indique para as pessoas o caminho das transfor-
mações estruturais necessárias. Em síntese: não há como formar lutadores e
construtores sem de alguma forma “furar” o bloqueio da alienação.

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Assim, é possível identificar no curso de Economia Ecológica da UFC, a práxis que
se apresenta desde o Projeto Político do Curso (PPC), perpassando pelas salas de aulas,
palestras, seminários, projetos de extensão, entre outras ações que furam o bloqueio da
alienação e preparam os sujeitos, em conjunto, para vivenciar com teoria e prática, o que se
acredita e o que se prega na formação do(a) economista ecológico. A Economia Ecológica,
interdisciplinar por natureza, atenta para a formação destes sujeitos coletivos ao entrelaçar
meio ambiente, sociedade e economia em um elo forte, que se contrapõe de forma enfática
aos ideais clássicos, optando por uma formação ativa, mergulhada no conflito entre para-
digmas, portanto, construtora de novos pilares teórico-práticos, como explicitados por Clóvis
Cavalcanti, a seguir:

A crescente percepção de que o sistema ecológico de sustentação da vida


encontra-se cada vez mais ameaçado constitui, deveras, o ponto de partida da
reflexão que deu origem formal à economia ecológica. Há um enfrentamento
constante entre natureza e sociedade, meio ambiente e economia, com incer-
tezas, percalços, urgências e novas fronteiras. (CAVALCANTI, 2010)

Pensando nas urgências e novas fronteiras que esta é uma área de estudo que com-
preende a impossibilidade de romper com a alienação apenas pela teoria. Teoria e prática
estão intensamente interligadas na execução das atividades cotidianas, no movimento da
vida, nas transformações singelas na própria existência e história humana, a prática está
em ações diárias, assim, modifica-se o hoje pensando no amanhã.
A Economia Ecológica é incômoda pela via metodológica e pelo enfrentamento teórico
ao paradigma hegemônico da economia tradicional que insiste em apresentar-se como domi-
nante e único, que enxerga a natureza como fonte inesgotável fornecedora de matéria-prima
para a sustentação e manutenção do capitalismo. E é com esta dinâmica, que o ensino da
Economia Ecológica contribui para a formação de uma consciência ecossistêmica e anti-
capitalista, através da articulação entre teoria e prática e outros dualismos que impedem o
avanço do pensamento complexo, como campo/cidade, natureza e sociedade.

Formação dos profissionais em Economia Ecológica

Na experiência cearense, o professor Fábio Maia Sobral costuma dizer que “o curso
de Economia Ecológica da UFC foi implantado, resta agora, construir o profissional”. Neste
intuito, aponta-se neste trabalho duas grandes demandas: a formulação das chaves metodo-
lógicas insurgentes sob os limites da institucionalidade e sob o capitalismo, e a construção
do espaço profissional sob os mesmos limites, mas querendo irromper na construção do
futuro. Para tal, utilizou-se modelos elaborados por Wolff (1993) na reflexão sobre a função
da Universidade, a partir de um exercício didático, apresentou-se os dilemas do profissional

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da Economia Ecológica ou da Bioeconomia, considerando três, das quatro formulações
sobre as finalidades da universidade, elaboradas por Wolff, que serão discutidos a seguir:

• A Universidade como santuário do saber;


• A Universidade como campo de treinamento;
• A Universidade como agência de prestação de serviço;

Universidade como Santuário do Saber

A metáfora utilizada por Wolff é a da Torre de Marfim, na qual intelectuais se mantêm


afastados das coisas imediatas da ordem social. “As raízes históricas da erudição são ima-
gens de grande força: o estudo dos textos religiosos que floresceu na tradição hebraica,
cristã e islâmica do mundo antigo e medieval” (WOLFF, 1993, p 30); depois, uma tentativa
de releitura ou retificação do Novo e do Velho Testamento, aparecendo novas versões de
estudos e escritos antigos que surgem durante a Renascença dos séculos XIII, XIV, XV.
Para o autor, esse ideal de erudição produziu uma curiosa prole pedagógica no currículo
da graduação. Essa tradição é a herança intelectual do homem ocidental, no entanto, Wolff
demonstra deferência à erudição que faz ecoar vozes antigas, que produz a consciência da
raiz dos próprios pensamentos, os mais preciosos.
Já no Brasil, herdamos um histórico de criação de Universidades durante a ditadura,
que satisfez o desejo de prestígio de oligarcas locais que empregaram nelas seus apadri-
nhados, muitos desconheciam os critérios mínimos da atividade universitária. Encontramos
nas mais tradicionais dos grupos de faculdades que propiciam prestígio curricular ao docente
(CHAUÍ, 2003), estas lidas pela sociedade brasileira como santuários do saber, mas não um
saber no sentido da erudição, um saber que confere autoridade, esta que funda e delineia
o autoritarismo brasileiro.
A economia ecológica, neste contexto, é desafiada a investigar os clássicos, na origem
da organização das áreas do conhecimento, “ouvir as vozes antigas”, sob uma perspectiva
decolonial, no caminho contrário a economia neoclássica, desafiando-se a produzir em me-
nos tempo um conhecimento ilustrado, útil sem ser enciclopedista e propor de forma teórico/
prática uma formulação que unifique as ciências da natureza e humanidades. Dessa forma,
possuir um currículo crítico e emancipatório torna-se tarefa essencial na formação do(a)
economista ecológico, assim, “o projeto emancipatório pressupõe a fixidez das identidades
a serem emancipatórias e pressupõe um sujeito uno, centrado, capaz de se conscientizar,
se comprometer e atuar na defesa de conhecimentos e ações também emancipatórias”
(LOPES e MACEDO, 2011, p. 182). Esta matriz curricular é o desafio emancipatório, humano
e pedagógico da formação deste intelectual e profissional.

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Universidade como campo de treinamento para profissões liberais

O debate sobre conselhos, credenciamento profissional, atribuições específicas de


cada profissão, por vezes, soa como debate pequeno, de reserva de mercado, insignificante
perante a realidade da desigualdade na sociedade brasileira. No entanto, na história recente
do país, alguns profissionais, os quais não pensávamos que sua importância seria facilmente
questionada como historiadores, geógrafos e outros, foram considerados “desnecessários”
em uma conhecida reforma do Ensino Médio. E neste momento, se fez necessário grande
movimentação de segmentos profissionais fazendo pressão política e debatendo com a
sociedade a importância da defesa de determinados setores profissionais e de áreas do
conhecimento na formação de sujeitos que possam ler o mundo, antes da leitura da palavra
(FREIRE, 1989). A construção do profissional da economia ecológica “esbarra” no movimento
dialético de estar contido nos mecanismos de profissionalização do sistema capitalista, em
um contexto neoliberal à brasileira e ao mesmo tempo fazer parte do movimento de contes-
tação da ordem burguesa em que insere.
Para Wolff (1993) as faculdades de Direito e Medicina continuaram sendo as faculdades
profissionais mais importantes da universidade, como eram nos séculos XII e XIII. O ideal
desse modelo de universidade pressupõe a existência de um número de papéis ou catego-
rias ocupacionais socialmente definidas, com características semelhantes ao que pode ser
usualmente definido como profissão. A transformação de papéis ocupacionais em profis-
sões liberais é racionalizada com o aumento do componente técnico ou teórico do trabalho
moderno. Apesar dessa racionalização, muitas das “profissões” recentes não passam de
empregos que, por um acidente histórico, foram inseridas nas universidades. Esta crítica
leva a discussões acaloradas no Brasil, mas o autor questiona, especificamente, a universi-
dade americana. Para ele, há dúvidas se ela é um lugar apropriado à formação profissional;
no entanto, a universidade brasileira, fundada tardiamente, já nasce com este sentido de
profissionalização.
Um exemplo interessante é o curso de Agronomia que no Brasil, foi criado e regula-
mentado oficialmente 35 anos após o surgimento da primeira escola, através do Decreto
Presidencial No 8.319, de 20 de outubro de 1910. Cavallet (1999) destaca que o decreto que
regulamentou o ensino agronômico tinha 591 artigos e 10 anexos, seu principal objetivo foi
o de disciplinar a formação de mão-de-obra para a agricultura, ao destacar que:

Tratava desde o treinamento do simples prático, até o profissional de nível


superior. Muito diferente de preocupar-se com a formação profissional do En-
genheiro Agrônomo voltada ao desenvolvimento agrário, o decreto não deixava
dúvida sobre o papel deste profissional nas políticas de governo. “O ensino
agronômico visa a instrução técnica para o desenvolvimento das grandes
propriedades”. Não fazia qualquer menção às questões sociais do campo e a
agricultura familiar. (CAVALLET, 1999 p.105)

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Opositores da profissionalização na graduação, normalmente, defendem a ideia de que,
nesse nível de formação, os estudantes devem ter contato com a Grande Tradição. “Estudos
interdisciplinares” e “orientação para a problematização” são formas reivindicadas por esses
opositores da especialização. A distinção do treinamento profissional não é o seu conteúdo,
mas a forma. Um meio termo deste debate no Brasil são os bacharelados interdisciplinares
que detém uma base inicial compartilhada por diferentes seguimentos profissionais que,
depois dos anos iniciais, desenvolvem subáreas de especialização profissional. Os cursos
superiores de Bacharelados Interdisciplinares devem possuir uma formação flexível, com
foco na interdisciplinaridade e no diálogo entre áreas do conhecimento, “assim, na medida
em que ampliamos a análise do campo conceitual da interdisciplinaridade surge a possibi-
lidade de explicitação de seu espectro epistemológico e praxeológico (FAZENDA, 2008, p.
94); e como resultado, espera-se que o formando seja um profissional capaz de atuar em
diferentes áreas de fronteira, e nas interfaces de diferentes disciplinas e campos do saber.
No curso de Economia Ecológica da UFC, está expresso na matriz curricular que a
formação do profissional em questão, enseja uma percepção do mundo na perspectiva ci-
dadã, com senso crítico e ético quando do exercício profissional. O projeto de curso destaca
a necessidade da compreensão dos processos históricos que têm conformado as ações
humanas voltadas para a produção de suas condições materiais de vida em sociedade,
junto ao desenvolvimento de capacidade analítica e de intervenção prática a ser adquirida
a partir de componentes curriculares teóricos, quantitativos e qualitativos.
A finalidade formativa deste profissional não aparenta, em nenhum momento, a con-
formação de treinamento a lógica de mercado profissional liberal, o qual tem participação
na crise civilizatória que nos assola.

A universidade como prestadora de serviço

O modelo de universidade como agência de prestação de serviço, proposto por Wolff


(1993), dialoga com Clark Kerr em seu livro “Os usos da universidade”, no qual ela é vista
como um agregado de instituições reunidas para a realização de diferentes serviços tais
como ensino, pesquisa, consultoria, entre outros. Wolff destaca o conceito cunhado por Kerr
de “multiversidade”, que se estende em muitas direções, englobando múltiplos serviços, pro-
gramas de treinamento, em várias cidades, estados e até mesmo em outros países. Temos
neste simbólico desenho um perigoso propósito comercial que transforma a universidade,
a pesquisa, o ensino, em uma lucrativa cadeia de serviços.
A imagem do encastelamento das Instituições de Ensino Superior (IES), se dilui pela
multiversidade, no entanto, ela não está verdadeiramente aberta a população. Aparentemente,
ela se mostra a serviço da sociedade, mas como figura fictícia, fruto dos aparelhos de

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alienação, que camuflam os verdadeiros interesses e os destinos dos principais investimentos
que vão se traduzindo em matrizes curriculares, pautas de pesquisa, programas de pós-gra-
duação, como também em tabelas de progressão funcional de professores, que determinam
sua atuação na estrutura acadêmica. Este desenho de universidade é sedutor à primeira
vista, aparentemente, ele só comprimiria os objetivos de sua existência, que se mostra
retórica, se as instituições de ensino e pesquisa fossem cunhadas por um amplo processo
de participação popular. O ensino da Economia Ecológica, no contexto da multiversidade,
deve confrontar a racionalidade econômica predominante que se ampara nos aparelhos
ideológicos, na justificativa do próprio funcionamento das universidades e da pesquisa, são
instituições que integram a sociedade, mas que para se manterem, se fazem reprodutoras
e, assim, perpetuadoras do modelo de produção e consumo da sociedade vigente, e que
põem em risco a vida no planeta, sobretudo da espécie humana.

Rediscutir os cursos de economia ou construir a economia ecológica: a tese nordestina

A “tese” nordestina, especificamente cearense, é a da criação de um conteúdo e método


novo no ensino superior no campo de uma economia ecológica. O curso de bacharelado em
economia ecológica da UFC nasce a partir de reflexões sobre a questão ambiental no Brasil,
especialmente no Nordeste, uma das regiões mais sensíveis a problemas sócio- ambientais,
principalmente considerando-se os efeitos mais imediatos das mudanças climáticas. No ano
de 2010, uma equipe de professores do curso de Ciências Econômicas, da UFC, criou um
projeto de natureza interdisciplinar que tinha por objetivo a formação de um profissional
com capacidade para compreender causas, realizar diagnósticos e propor alternativas que
viessem mitigar as consequências dos processos econômicos sobre a sociedade e bios-
fera, o cerne da formação situava-se nas relações entre ambiente, sociedade e economia
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, 2017).
Abriu-se a perspectiva de um campo que integrasse práticas e conhecimento das áreas
de Agronomia, Biologia, Economia Política, Direito, Estatística, Geografia, História, Matemática
e Termodinâmica. A base de estudos girava em torno dos trabalhos de Georgescu-Roegen
(The Entropy Law and the Economic Process) e o survey editado por Krishnan et al. (1995)
que motivaram a levar adiante essa quebra de paradigmas em um ambiente inteiramente
refratário a uma mudança que se figurava com potencial ameaçador. O projeto foi enviado
para a aprovação do conselho do Centro de Ciências Agrárias (CCA), e para as instâncias
superiores da Universidade Federal do Ceará, em 2014. Tendo sido aprovado, deu-se início
a primeira turma do Curso de Bacharelado em Economia Ecológica no segundo semestre
de 2015 (OLIVEIRA, 2015).

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O Projeto Pedagógico do Curso (PPC), tem um enfoque biocêntrico, com a perspec-
tiva metodológica interdisciplinar, a qual rompe com a metodologia especializada em uma
única área do conhecimento. Tal visão entra em confronto com a concepção existente na
formação em Ciências Econômicas, já que a Economia Tradicional, “cumpre um papel que
tem por finalidade justificar as ações antropogênicas orientadas pelo modo de produção e
de vida da sociedade capitalista que gera desigualdades sociais e econômicas em todo o
mundo” (OLIVEIRA, 2015, p. 11). O principal desafio do curso é sua natureza interdisciplinar,
pois em um ambiente conservador, como o das universidades, a quebra de paradigmas ou
pensamentos divergentes do status quo não são acolhidos com naturalidade.

O Projeto aponta para a necessidade de que novas pedagogias sejam exer-


citadas de modo que docentes e discentes se sintam como parte importante
da construção coletiva de um processo de mudança cultural e percebam sua
importância como sujeitos atuantes. Isso implica em buscar formas para re-
lacionar esse novo campo teórico – ainda em construção, diga-se – com a
práxis, em situações reais, e atuar de forma inovadora em um contexto organi-
zacional, hierarquizado e desenhado para dar vazão a um modo de produção
e de vida que expõem uma fratura metabólica ameaçadora. É nesse sentido
que o Projeto chama à atenção para a necessidade de formação continuada
do corpo docente (OLIVEIRA, 2015, p. 12).

Tal dificuldade é constantemente relatada por discentes e docentes do curso. Embora


seja nítido o nível de desafio institucional, o curso tem apresentado respostas relevantes para
problemáticas ligadas às interações entre sociedade, economia e natureza, como podemos
observar nas temáticas dos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) dos discentes, entre
os anos de 2019 e 2020, como pode ser observado no quadro 1.

Quadro 1. Orientadores, Egressos e TCC.

Ano Título do TCC Orientadores Alunos


Potencial de áreas verdes do campus do Pici da Universidade Federal do Ceará: Rômulo Thiago Sales de
Fábio Maia Sobral
na perspectiva da Economia Ecológica Amorim
Patrícia Verônica
Mapeamento da criminalidade na cidade de Fortaleza/CE Jamilly Ferreira Oliveira
Pinheiro Sales Lima
Mapeamento das formas sustentáveis de usufruto do território do semiárido Ayêska Haisa Alexandre
Fábio Maia Sobral
2019 cearense de Lima
Extrativismo e neoextrativismo no Brasil: uma análise do modelo econômico Arthur Virgilius Braga Oli-
Carlos Américo Leite Moreira
brasileiro e seus impactos ao meio ambiente veira
As relações entre natureza, sociedade e economia na comunidade quilombola Adrianne Keyser de Sousa
Aécio Alves de Oliveira
do Cumbe-Ce Maia
Agroecologia: uma reflexão na perspectiva da Economia Ecológica Roberta Boscaini Zandavalli Marco Chrystian

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Ano Título do TCC Orientadores Alunos
Caracterização da Área de Proteção Ambiental do Delta do Parnaíba através de
Isabel Cristina da Silva Araújo Érika Roanna da Silva
geotecnologias
A contribuição do ecomuseu natural do mangue na construção de uma consci-
ência ambiental para a conservação do ecossistema manguezal da Sabiaguaba Francisco Casimiro Filho Iracema Maria dos Santos
no município de Fortaleza - CE
Gestão das Unidades de Conservação: os Planos de Manejo dos Parques Nacionais
Juliana Melo Barroso Ana Calynne Souza Silva
2020 de Ubajara-CE e de Jericoacoara-CE.
Uso de Geotecnologias na Avaliação de Impactos Ambientais da Carcinicultura
Isabel Cristina da Silva Araújo Emiliane de Sousa Pontes
Oligohalina
O perímetro Irrigado Jaguaribe-Apodi no Contexto do Neoextrativismo na Amé-
Carlos Américo Leite Moreira Luana Maria Rufaino Lopes
rica Latina
Indicadores de sustentabilidade de fácil e rápida determinação em dois agroe-
Isabel Cristina da Silva Araújo Icaro Andrade Leão
cossistemas na comunidade de São Domingos – CE
Fonte: LOPES, 2020.

Do ponto de vista curricular, o curso de bacharelado em Economia Ecológica da UFC,


possui a carga horária total de 3.200 horas/aula, sendo concluído no decorrer de 8 semestres
(4 anos), 26% das disciplinas ofertadas são optativas, na qual o estudante pode seguir na
linha que mais se identifica através das disciplinas ofertadas em todo o Campus. O curso
valoriza a sala de aula, mas demonstra ações práticas de conexão entre ensino, pesquisa
e extensão, através da formulação das disciplinas obrigatórias de “Trabalho de Campo
Integrado” (TCI), somando-se 5, sendo-as distribuídas entre o 2º ao 6º semestre, “durante
as quais se espera que o (a) estudante visite e investigue a realidade concreta de iniciativas
de impacto socioambiental com o objetivo de contribuir para a proposição de soluções que
aumentem sua eficiência ou apresentar propostas para a resolução de possíveis confli-
tos”. No discurso discente, a contribuição das experiências de campo integrado (TCI’s) têm
sido um diferencial formativo. Tais experiências de campo, normatizadas na matriz curricular
como componentes, instrumentalizam os docentes na construção de um diálogo novo com
os estudantes na formulação de hipóteses e nas leituras da realidade em diferentes territó-
rios. Este componente da matriz curricular proporciona que os estudantes sejam capazes
de relacionar o objeto de estudo com experiências únicas, bem como com outras esferas
do conhecimento e em diversos contextos.
Este é um forte desafio para o ensino superior, pois as universidades são vistas como
“porto seguro” para pessoas competentes em matéria de conhecimento livresco, mas inaptas
para interação social (HOOKS, 2013).
O diálogo não pode ser reduzido ao ato de depositar ideias de um sujeito no outro, nem
tampouco à simples troca de ideias; ele precisa possibilitar o desvelamento de aspectos não
perceptíveis numa primeira aproximação da realidade (FREIRE, 2005).
Ainda é cedo para a elaboração de uma pedagogia ecossistêmica como fruto da tra-
jetória da Economia Ecológica no formato nível superior e profissionalizante. Esta pesquisa
cumpre o caminho da investigação que acumula evidências e elementos para que pesquisas

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futuras retratem com solidez a confirmação, ou não, de determinadas tendências. Uma peda-
gogia ecossistêmica irá se consolidar a partir da ação dos sujeitos do processo educativo e
da articulação das teorias que irão inspirar sua prática. Dessa maneira, observou-se o vigor
das vivências educativas formadoras do(a) economista ecológico no percurso da graduação:
trabalhos de campo integrado, a luta política pela institucionalização do curso “na prática”, a
militância nos espaços de representação estudantil e docente nos colegiados, entre outras.
Indaga-se, ainda, sobre as matrizes pedagógicas destas experiências no interior do curso e
seu efeito no conjunto da universidade. Estas, que constituem a intencionalidade pedagógica
na formação do “sujeito ECOECO”, do (a) economista ecológico estão sendo formuladas e
aprofundadas ao mesmo tempo que as teorias/teóricos do paradigma clássico da economia
lutam para se manter hegemônicas/os.
A pedagogia é forjada na prática, o campo prático da economia ecológica é o conflito
humano de se perceber, também, a natureza; é, portanto, um campo de luta. Sendo um
projeto universitário, fatalmente observa-se dois elementos: a capacidade educativa da luta
(na formação de sujeitos sociais e na formação humana em uma perspectiva biocêntrica) e,
também, a “demonização da luta”, que é parte do processo de alienação, naturalizado nas
universidades sob diversas formas.

RESULTADOS

A experiência de ensino da Economia Ecológica tem premissas que buscam, como


elaborado por David Harvey, uma totalidade ecossistêmica,em movimento, composta por
processos que se co-desenvolvem de modo aberto, dialético, sem diluições, buscando a não
hierarquização de saberes, mas com motores de partida. Diferente das Ciências Econômicas,
a Economia Ecológica tem buscado heranças pedagógicas heterodoxas, populares, autôno-
mas, e estas contribuem para auto-organização estudantil e invenção de diferentes espaços
pedagógicos. A teoria e ousadia de Georgescu inspira a comunidade acadêmica na leitura
coletiva da realidade, permitindo o lapidar da intencionalidade educativa. O projeto pedagó-
gico do curso já é uma subversão das defesas do modo de ser capitalista, embora a forma
como o trabalho docente é organizado na universidade contribua para o processo de aliena-
ção e incompreensão da sua intencionalidade pedagógica. Uma pedagogia própria carece
de um percurso histórico que contenha elaboração teórica e prática dos sujeitos envolvidos,
o economista ecológico é um profissional em projeto e é um horizonte de sociedade.

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Economia Ecológica, território e desenvolvimento sustentável: perspectivas e desafios - ISBN 978-65-5360-211-3 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
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02
Teoria da Moeda Moderna e Economia
Ecológica: aproximações possíveis
Callegari
Isabela Prado

RESUMO

Com a ascensão ao debate público da ideia de Novo Acordo Verde, atualmente ancorada na
macroeconomia Pós-Keynesiana e, notadamente, na Teoria da Moeda Moderna, e com a im-
plementação de diversos desses acordos por países centrais do capitalismo, faz-se necessário
discutir possíveis aproximações e atuais distanciamentos entre tal perspectiva macroeconô-
mica e a Economia Ecológica. Este artigo fornece um panorama desse debate, focando em
contradições epistemológicas e nas propostas de Garantia de Emprego e de estatização da
criação de moeda.

Palavras-chave: Macroeconomia Ecológica, Novo Acordo Verde, Decrescimento,


Pós - Crescimento.

Artigo original publicado em: 2021


XIV Encontro Nacional da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/220809780
INTRODUÇÃO

O termo Novo Acordo Verde (ou em inglês, Green New Deal, GND) figura no âmbito
acadêmico e no debate político desde, pelo menos, meados de 1990, sendo popularizado
em 2007, quando o jornalista estadunidense Thomas Friedman trouxe o conceito à grande
mídia como sugestão aos candidatos à presidência nas eleições de 2008 naquele país. Com
a intensificação da crise financeira, a ideia foi sendo estruturada por teóricos e políticos e
se tornou uma pauta de ativistas e de membros do Partido Democrata, de modo que, anos
mais tarde, viria a ser uma das principais bandeiras desse partido.
A disseminação global da crise fez com que iniciativas semelhantes fossem adotadas
por Reino Unido e demandadas pelo European Green Party à União Europeia, resultando
também em recomendações do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (United
Nations Environment Programme - UNEP) para que ao menos 1% do PIB fosse destinado a
“investimentos verdes”. Assim, nesse primeiro momento, a ideia consistia na incorporação
de um pequeno percentual de investimentos em eficiência energética, energia renovável e
projetos ambientais aos pacotes de medidas anticíclicas, voltados à recuperação econômica
(MASTINI et al, 2021).
No entanto, já em 2010, as políticas de inspiração keynesiana foram abandonadas em
favor do ideário neoliberal, que forjou um consenso global em torno da austeridade fiscal,
aplicada tanto aos países centrais, quanto aos periféricos. Após o salvamento de grandes
bancos e empresas pelos governos nacionais, por meio de expressivas expansões mone-
tárias, foi impulsionada a narrativa de que a “consolidação fiscal” era necessária, devido a
um suposto risco de dominância fiscal e descontrole inflacionário. Isto é, observa-se que
a austeridade surge em resposta a certo esgotamento do modelo de acumulação vigente,
iniciado nos anos 1970, baseado em liberalização e especulação financeira. A austeridade
é, portanto, instrumento essencial para a expansão de novas fronteiras de acumulação, uma
vez que garante à burguesia a possibilidade de se apropriar de patrimônio público, ofertar
serviços privados à população, e se beneficiar da mudança na correlação de forças que de-
corre da desassistência social e da diminuição da renda disponível para os trabalhadores1.
Com a intensificação das múltiplas crises e desigualdades, movimentos sociais e ativistas
ao redor do mundo identificam a austeridade como fator institucional de manutenção das
opressões, bem como, a ameaça das mudanças climáticas e a escalada da destruição
ambiental forjam contestações de ambientalistas e, notavelmente, da juventude. No âmbito

1 Para um estudo detalhado da evolução do conceito de austeridade, das suas motivações e sua história política, ver Blyth (2017), e
para uma análise dos efeitos deletérios das políticas de austeridade no Brasil, ver Rossi et al (2018).
acadêmico, a disciplina de economia via uma crescente relevância e influência a Teoria da
Moeda Moderna (Modern Money Theory, MMT), diametralmente oposta às ideias que legiti-
mam a austeridade, e alicerçada nas contribuições de Keynes, nas Finanças Funcionais de
Abba Lerner, e em outros autores, como Hyman Minsky e Michal Kalecki (DALTO et al, 2020).
É neste contexto que se dá a campanha eleitoral de Bernie Sanders à presidência dos
Estados Unidos, em 2016, e o assunto do GND volta à cena, dessa vez atrelado explicita-
mente à MMT, devido à atuação de sua assessora econômica, Stephanie Kelton, proponente
dessa abordagem macroeconômica (CNBC, sem data; KELTON, 2020). O tema seguiu do-
minante no debate público, em reação ao neoliberalismo vigente e como uma possibilidade
de luta ambiental, ganhando aderência de ativistas e movimentos sociais, e impulsionando
respostas institucionais - tardias e ambiciosas -, às mudanças climáticas. O advento da
pandemia em 2020 adicionou evidências contrárias a ideologia da austeridade e dissemi-
nou questionamentos acerca das restrições auto-impostas ao orçamento público. Tal fator,
aliado à profunda crise econômica, tornou urgente e politicamente viável a expansão fiscal
e a implementação de GNDs em diversos países centrais, como Canadá e Austrália, além
dos Estados Unidos. Tais fatores históricos e políticos impulsionaram também a ideia se-
melhante de Big Push ambiental, que vinha sendo elaborada, para países periféricos, no
âmbito da Cepal2.
Observa-se, no plano teórico, um desenvolvimento correlato, refletindo os acontecimen-
tos políticos, uma vez que a disciplina da economia se vê impelida a dar novas respostas
às crises. Com isso, desde 2008, a aproximação de correntes da heterodoxia, como a Pós-
Keynesiana, a MMT e a Escola da Regulação francesa, com a Economia Ecológica vem
delineando o que se convencionou denominar macroeconomia ecológica (SVARTZMAN
et al, 2020). No entanto, é também a partir da crise de 2007-2008 que se revigora, dentro
da Economia Ecológica, o debate acerca do crescimento econômico, motivado não só pelo
cataclisma ecossistêmico decorrente da ação antrópica e pelo atingimento de limites biogeo-
físicos, como também pela ideia de que as crises poderiam ser oportunas a uma mudança
paradigmática. São fundamentais nesse contexto os trabalhos de Victor (2008) e Jackson
(2009), voltados à modelagem macroeconômica acerca da possibilidade de aumento de
bem-estar sem crescimento econômico, ambos bastante populares fora do âmbito acadêmico
(SAES & ROMERO, 2019).

2 A ideia de Big Push Ambiental para a América Latina está baseada no pensamento cepalino e busca a coordenação de políticas
macroeconômicas, que alavanquem investimentos para produzir um ciclo virtuoso de crescimento econômico. Com isso, espera-se
superar a heterogeneidade estrutural desses países, atingindo, ao mesmo tempo, o desenvolvimento sustentável, por meio de maior
e melhor crescimento, e redução de emissões de gases de efeito estufa (Gramkow, 2019).

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Entende-se aqui que a maior e mais evidente dificuldade nessa interlocução de abor-
dagens está justamente no tratamento da categoria crescimento econômico, passando por
outras questões epistemológicas. Para abordar esses pontos, o artigo está dividido em
outras três partes, além desta introdução. O tópico 2 é dedicado a apresentar alguns pro-
blemas relacionados à integração, que se avalia como pouco equilibrada, das abordagens
heterodoxas e a Economia Ecológica. O tópico 3 está voltado a propostas que podem gerar
convergências epistêmicas e práticas, especificamente entre a MMT e a Economia Ecológica,
nomeadamente, a proposta de estatização da criação de moeda e o Programa de Garantia
de Emprego. Em seguida, são apresentadas as considerações finais.

PARTINDO DE DESEQUILÍBRIOS

Em que pese o esforço contínuo em promover um diálogo entre a macroeconomia


heterodoxa e as contribuições da Economia Ecológica, refletido inclusive em iniciativas brasi-
leiras importantes3, observa-se uma dificuldade intrínseca em colocar em pé de igualdade as
escolas de pensamento, principalmente quando se consideram as visões e premissas mais
radicais internas à Economia Ecológica, como as do Pós-crescimento e do Decrescimento,
que questionam a busca pelo crescimento econômico em sua essência e em qualquer situa-
ção. Ou seja, existe uma dificuldade evidente em realizar de fato uma síntese, trabalhando
as contradições internas às escolas e entre elas, chegando a um todo coerente.
Partilha-se aqui do diagnóstico de Svartzman et al (2019) que, ao fazer uma extensa
revisão do desenvolvimento da macroeconomia ecológica, aponta alguns resultados positivos
tanto para a heterodoxia quanto para a Economia Ecológica, mas conclui que há um dese-
quilíbrio nítido, que privilegia a adoção de pressupostos pós-keynesianos ao tratamento do
meio-ambiente, e não incorpora na mesma medida as contribuições da Economia Ecológica
acerca das mudanças climáticas, da tecnologia, da necessidade de mudanças epistemo-
lógicas e, inclusive, acerca das implicações da realidade física para a moeda e o sistema
financeiro. Saes & Romeiro (2019) também salientam a ausência de elementos relevantes
da Economia Ecológica nessa nova abordagem.
Quanto aos pontos positivos, nota-se a incorporação de questões ambientais às abor-
dagens heterodoxas, o que era uma ausência indubitavelmente problemática. Assim como,
é exitoso prover os economistas ecológicos de um entendimento mais preciso da moeda, o
que constituía também uma fragilidade nessa área. Ressalta-se ainda que uma delimitação

3 AKB ECOECO (2021) é o recente dossiê conjunto da Associação Keynesiana Brasileira e da Sociedade Brasileira de Economia
Ecológica, que busca um intercâmbio mútuo entre as escolas de pensamento, trazendo ao longo do texto a questão do crescimento
como central, inclusive comentando a possibilidade de decrescimento planejado.

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mais estrita em torno da heterodoxia econômica é profícua, uma vez que a modelagem ma-
temática interna à Economia Ecológica sempre esteve em grande medida influenciada pela
Economia Neoclássica, uma consequência do – ainda controverso4 - pluralismo metodológico.
Entretanto, a revisão metodológica de diversos modelos dentro da macroeconômica
ecológica, feita por Saes & Romeiro (2019), mostra que alguns adotam, mesmo que impli-
citamente, proposições da Economia Neoclássica, em contradição com a própria Economia
Ecológica, como a hipótese de que capital e natureza são até certo ponto substituíveis, algo
que insufla o otimismo tecnológico e a confiança na valoração ambiental e no mecanismo
de preços. Para além disso, observa-se que mesmo os modelos que seguem premissas
coerentes com a Economia Ecológica resultam, por diversas vezes, em uma matematização
simplificadora que não consegue incorporar de fato a radicalidade das premissas que assume.
Ou seja, o reconhecimento de limites planetários ao crescimento não pode ser represen-
tado pela simples adição de uma nova restrição econômica a modelos que foram construídos
dentro de um arcabouço que tem no crescimento econômico seu objetivo primordial. Essa
nova restrição não será capaz de dizer nada sobre a qualidade da produção, do processo
produtivo e do bem-estar da população, apenas informando que ao atingir determinado
limite, não há mais espaço para crescer, o que, dentro do capitalismo, significa recessão.
Assim, o referido desequilíbrio teórico resulta em manutenção da hegemonia do crescimento,
justamente porque é por ela determinado. Ainda que se reconheça os limites biogeofísicos
como um ponto central, se não forem abordados os imperativos capitalistas ao crescimento,
as análises estarão fadadas a modelos matemáticos descolados da realidade, ou que privi-
legiam respostas facilmente assimiláveis ao modo de produção, como valoração e criação
de mercados, ou ainda, irão perpetrar a lógica do “crescimento verde”.
A experiência global atual é um exemplo concreto e em larga escala, que evidencia, na
prática, o desequilíbrio teórico mencionado. Os GNDs, tributários da mesma aproximação
entre escolas, demonstram que as soluções assimiláveis são baseadas em expansões quan-
titativas, e só serão viáveis e viabilizadas com a pré-condição do crescimento, justamente
porque governos respondem a enormes imperativos de crescimento. Nesse cenário, a MMT
é proveitosa pois soluciona, ao mesmo tempo, a demanda por vultuosos investimentos para
uma transição energética, e para combater a crise econômica. De acordo com Svartzman
et al (2019, p. 1, tradução própria), “considerando os economistas ecológicos, todos eles
têm prestado particular atenção em como uma abordagem de moeda endógena oferecem
novos meios de acelerar e aumentar o volume de investimentos ‘verdes’”. No entanto, não

4 Para uma análise detalhada das diversas posições e controvérsias sobre a diretriz de pluralismo metodológico dentro da Economia
Ecológica, ver Saes & Romeiro (2018).

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se discute as variadas críticas à noção de “investimento verde” e nem se discute o conceito
de investimento em si, invariavelmente baseado em mensuração financeira.
Assim, o problema da posição hierarquicamente superior do crescimento sobre todo o
resto é que tais propostas não passam por nenhuma mediação (e nenhum debate popular)
sobre as reais causas das mudanças climáticas e da crise social e ambiental, nem sobre
o significado e possibilidade de uma transição energética ou sobre as consequências des-
sas supostas soluções. Mastini et al (2021) mostram como a ideia de transição energética,
por exemplo, é tecnicamente questionável e improvável. Historicamente, nunca ocorreram
transições energéticas, mas sim, adições energéticas, visto que as fontes de energia fóssil
seguiram sempre crescendo, mesmo com o desenvolvimento e o investimento massivo em
energias renováveis. Questiona-se também a viabilidade de diversas atividades com base
em energias renováveis, visto que o retorno energético dessas ainda é muito baixo. Ainda,
os combustíveis fósseis possibilitaram a expansão de atividades econômicas no capitalismo
justamente porque elas passaram a ocorrer de forma desterritorializada em relação à fonte
energética, algo fundamental para o modo de produção vigente.
Na mesma temática, muitos autores questionam a ideia de descolamento, que pressu-
põe a possibilidade de crescimento, com diminuição de emissões e uso de recursos, sendo
que todas as evidências apontam no sentido inverso. E por fim, tratando apenas da questão
energética, no debate sobre transição está sendo largamente ignorado o impacto já existente
das fontes de energia renováveis na pressão por extração mineral em países do Sul global,
sendo que as estimativas da Agência Internacional de Energia (IEA, 2021) alertam para uma
grande incompatibilidade entre as reservas minerais existentes e as ambições de transição.
A Economia Ecológica teria acúmulo para contribuir com essas questões, mas ela é
pouco assimilada no debate público e na teoria, precisamente porque é inconveniente e
impossível falar de limites nesse sistema econômico. Por outro lado, as teorias heterodoxas
em questão nascem dentro do capitalismo, disputando com a ortodoxia as premissas para o
seu gerenciamento, baseado – ainda que retoricamente - no crescimento. Assim, Svartzman
et al (2019) apontam algumas questões para a potencial síntese, com a incorporação da
ecologia política, da história ambiental e da economia institucional nesse debate.
Os autores ressaltam também as evidências crescentes de que as relações entre a
humanidade e a natureza são internas ao processo de acumulação, inclusive moldando o
padrão financeiro. Como exemplo, diversas análises relacionam o esgotamento da suficiência
norteamericana em petróleo ao fim da Era de Ouro do capitalismo, um modelo de desenvol-
vimento consumista altamente baseado nessa commodity. Tal fato gera a necessidade de
mudança no regime de acumulação, impulsionando liberalizações financeiras e a manutenção

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política do dólar sem lastro como moeda mundial, visando não sofrer os choques de importar
essa commodity essencial em outra moeda.
Com essas observações procurou-se mostrar que promover mais “investimentos ver-
des”, alicerçados em teorias de moeda endógena, não é apenas insuficiente, mas pode
também estar nos colocando na direção equivocada. É necessário questionar, tanto na aca-
demia quanto no debate público, a saída que nos é ofertada, de cima para baixo, baseada
em mais investimentos. Ainda, é necessário entender como a economia real se relaciona
em uma via de mão dupla com a própria institucionalidade da moeda, do sistema financeiro
e do regime de acumulação, e como isso torna o conhecimento da ecologia e das nossas
relações com o mundo físico fundamental em todos os aspectos.

CONSTRUINDO SÍNTESES

Dado o desequilíbrio aqui identificado, que resulta da simples adição de elementos


ambientais às abordagens heterodoxas, sem maiores mediações, avalia-se que não há uma
incompatibilidade fundamental entre as diversas linhas teóricas expostas e que, portanto,
uma síntese pode ser atingida. Com relação à MMT, há que se desmistificar de pronto a
ideia equivocada de que ela é uma teoria à serviço da expansão desenfreada de déficits,
dívidas e moeda, ou que ela é uma recomendação genérica disso. A teoria explica como
funciona o sistema monetário e financeiro com moedas fiduciárias e em contextos de sobe-
rania monetária, com algumas propostas políticas derivadas disso.
Embora haja evidentemente uma orientação para o crescimento econômico, uma con-
ciliação poderia estabelecer novos objetivos valorativos, mantendo o entendimento correto
do sistema monetário moderno e das implicações da soberania monetária. O ponto central
é atacar os imperativos de crescimento estabelecidos pelo sistema capitalista. Dentro desse
sistema, as estratégias que barram o crescimento provocam efeitos deletérios socialmente.
Por isso as iniciativas de Decrescimento e de forma mais abrangente, Pós-Crescimento,
versam sobre a superação dos imperativos que nos obrigam a crescer sob pena de pa-
decer socialmente.
A iniciativa Positive Money aborda alguns desses imperativos no sistema monetário
e financeiro. A financeirização gera investimentos especulativos que necessitam de cresci-
mento real para se realizarem, sob pena de gerar crises econômicas, mas uma economia
financeirizada não consegue crescer, e nesse sentido, está fadada a gerar suas próprias
crises. Por outro lado, combatendo a financeirização, os investimentos tendem a se rever-
ter em produção, crescimento e acumulação, o que é um problema ambiental. O desafio é
estabelecer uma economia não financeirizada e não atrelada ao crescimento econômico.

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Tal iniciativa já tem interlocução com o governo britânico, e está relacionada à Economia
Ecológica, reconhecendo a busca por crescimento econômico como uma tragédia, e bus-
cando desarmar justamente os referidos imperativos de crescimento contidos na nossa
atual criação de moeda, que além de tudo gera desigualdade pelo caráter rentista da dívida
(Barmes & Boait, 2020). O tema da democratização do sistema monetário e financeiro e da
eliminação dos bancos privados como intermediários em uma função pública tem ganhado
atenção de ativistas e instituições. Nos Estados Unidos, a iniciativa The Great Democracy
partilha de diagnóstico e propostas semelhantes, sob o argumento da democracia e da
eficiência (Ricks et al, 2018). Todas essas propostas para a criação soberana de moeda e
eliminação dos intermediários privados são totalmente condizentes com a MMT, que tam-
bém tem propostas para a criação de contas bancárias pessoais e de empresas diretamente
no Banco Central.
Com isso, o dinheiro seria criado exclusivamente por meio de gasto público e distri-
buído diretamente nas contas das pessoas físicas e jurídicas, de forma muito mais direcio-
nada, como por meio de renda básica universal e compras governamentais, por exemplo.
Atualmente, o nosso sistema financeiro empresta desproporcionalmente para as próprias
finanças, de modo que grande parte do dinheiro criado vai para especulação financeira,
imobiliária ou para a área de seguros. Assim, as ações propostas eliminariam importantes
imperativos de crescimento advindos do dinheiro criado com base em dívida e juros5, da
especulação promovida com a criação privada de dinheiro e do crédito direcionado de forma
centralizada e pouco estratégica (Barmes & Boait, 2020).
Por fim, o Programa de Garantia de Emprego, uma proposta da MMT, é amplamente
compatível com a busca por uma sociedade justa e ambientalmente harmônica, além de
ser uma estratégia macroeconômica que subverte por completo o combate à inflação com
desemprego, em favor do controle inflacionário por meio de estoques de emprego, onde
a âncora cambial é o salário (Dalto et al, 2020). Com relação a seus efeitos sociais e am-
bientais, o programa possibilita a democratização da produção, dos serviços e do próprio
trabalho, ao garantir emprego para todos, sob condições dignas e em ocupações úteis para
a comunidade ao entorno, o que reforça também os laços comunitários e a sensação de
pertencimento. Permite ainda retomar o controle democrático do processo que realmente
importa, o da produção, saindo da ficção neoliberal da soberania do consumidor6 e com

5 Existe uma controvérsia acerca da existência ou não de um imperativo de crescimento advindo dos juros. Enquanto autores da ma-
croeconomia ecológica, por meio de modelagem, comprovam a possibilidade teórica de se manter no estado estacionário (crescimen-
to zero) com dívidas e juros, autores da economia institucional mostram que os juros estão intimamente relacionados com a própria
expansão da acumulação capitalista, de modo que o imperativo de crescimento deriva de uma conjuntura favorável à acumulação e
não de uma possibilidade matemática (Barmes & Boaits, 2020).
6 Callegari (2021).

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isso, superando o imperativo de crescimento que advém de uma economia descentralizada,
movida por acumulação de um lado, e necessidade de vender sua força de trabalho para
sobreviver de outro.
O planejamento democrático é central para que o emprego seja destinado a processos
produtivos e produtos úteis e socialmente desejados, algo ambientalmente positivo duas
vezes, tanto pela oferta de bens e serviços em si, quanto pela eliminação de produtos e
serviços danosos que só seriam criados para atender à necessidade da acumulação e à
ideia moral de que a renda deve advir de qualquer trabalho que seja, independentemente
do que ele produza e sob quais condições. Além disso, os empregos podem estar direta-
mente relacionados ao desenvolvimento mais sustentável, como nas áreas de pesquisa e
tecnologia, planejamento, energias renováveis, economia circular e agroecologia.
Ainda, é fundamental investir na Economia de Cuidados, que abarca diversos trabalhos
já exercidos de forma não paga. Portanto, esse investimento, em uma área de baixo impacto
ambiental, teria o efeito adicional de liberar diversas pessoas da necessidade de trabalhar
em jornadas duplas e triplas, de cuidado e de trabalho formal, o que poderia contribuir para
uma desaceleração planejada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O artigo buscou uma interlocução entre as escolas heterodoxas, com foco principal
na MMT, e a Economia Ecológica, visando a elaboração de sínteses, que considerem o
potencial radical da Economia Ecológica e se beneficiem do entendimento do sistema mo-
netário e financeiro da MMT, bem como suas propostas que subvertem a lógica neoliberal
e neoclássica. Diversos autores dentro da Economia Ecológica apontam para a existência
de imperativos de crescimento dentro do capitalismo, em linha com o que aponta também
a Ecologia Marxista. Foi explorada aqui a necessidade de desarmar tais imperativos, caso
contrário qualquer elaboração teórica estará submetida invariavelmente a eles, ainda que
parta de premissas radicais ou questionadoras da busca pelo crescimento econômico infinito.

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23. TEMPER, L.; BLISS, S. A Green New Deal for an Ecological Economy. Blog Degrowth.
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24. VICTOR, P. A. Managing without growth: slower by design, not disaster. Northampton,
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25. VILELLA, C.; CONCEIÇÃO, D. Reflexões preliminares sobre um Programa de Garantia


de Empregos para o Brasil. Instituto de Finanças Funcionais para o Desenvolvimento
(IFFD). Policy Note n. 1. Brasil, junho de 2021.

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03
Controversas metodológicas da economia
ecológica

Arleson Eduardo Monte Palma Lopes Iná Camila Ramos Favacho de Miranda
Universidade Federal do Pará - UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA

Martha Luiza Costa Vieira Lidiane Caetano de Mendonça Dias


Universidade Federal do Pará - UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA

'10.37885/221010474
RESUMO

A discussão relacionada ao novo modo de olhar o sistema econômico surge a partir da cons-
tatação da exploração dos recursos naturais de forma desenfreada pelo sistema capitalista.
Nesse contexto, surge a Economia Ecológica utilizando os conceitos básicos apresentados
pela termodinâmica onde o sistema econômico faz parte de um subsistema do ecossistema.
Apesar da consolidação da Economia Ecológica, em termos metodológicos tal construto
teórico ainda enfrenta desafios no que se refere ao consenso metodológico a ser adotado
pelos defensores da Economia Ecológica.

Palavras-chave: Economia Ecológica, Pluralismo Metodológico, Controversas Metodológicas.


INTRODUÇÃO

A Economia Ecológica parte da intenção de que o procedimento econômico é também


um procedimento físico e, em consequência, as relações físicas não podem ser desprezadas
dos modelos de atuação da economia. Os elementos biofísicos (energia e matéria-prima) são
imprescindíveis para o funcionamento da economia, contudo são imemoriais nas análises
econômicas quando não se faz a necessária vinculação entre sistema econômico e ambiente
natural (CAVALCANTI, 2004). Ponderando-se a relevância de tal conjectura e a composição
da corrente da Economia Ecológica no mundo, procuramos neste ensaio teórico discutir as
controvérsias metodológicas existentes na economia ecológica.
O progresso do estudo sobre Economia Ecológica no Brasil iniciou-se a partir de livros,
artigos científicos, monografias e teses, bem como do ingresso aos dados e informações
disponibilizados eletronicamente no site da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica
(SBEE), especialmente nos boletins da instituição e anais dos encontros que ocorrem bie-
nalmente. Considerando a atual conjuntura, este ensaio teórico vem com o seguinte ques-
tionamento: existem controversas metodológicas no arcabouço teórico-metodológico da
economia ecológica?
Assim, os julgamentos e as direções da Economia Ecológica e do pluralismo metodoló-
gico não foram, em geral, seguidos de alterações no campo da metodologia. Os devaneios
ficaram concentrados entre favoráveis ou desfavoráveis, sem a devida cautela à significa-
ção e às diversas acepções de pluralismo metodológico. Com o objetivo de apresentar as
controversas metodológicas existentes na Economia Ecológica dividimos o artigo em três
partes. Na seção 2, apresentamos uma breve discussão da origem e conceitos vinculados
à Economia Ecológica. Em seguida, apresentamos os elementos apontados pela literatura
sobre as controversas metodológicas existentes na Economia Ecológica (seção 3) e as
considerações finais (seção 4).

BREVE PANORAMA DA ORIGEM E CONCEITOS DA ECONOMIA ECOLÓGICA

A Economia Ecológica surge a partir dos conceitos apresentados na termodinâmica


onde o sistema econômico não é considerado de forma isolada e que seu crescimento está
diretamente ligado aos sistemas ecológicos. A termodinâmica enumera alguns conceitos
que serviram de base para a Economia Ecológica, a saber: (i) conservação de energia; (ii)
sistemas (isolado, fechado e aberto); (iii) entropia; (iv) energia livre; (v) termodinâmica não-li-
near; (vi) auto-organização; e (vii) estruturas dissipativas. todos esses conceitos relacionados
à termodinâmica que surgiram no período da industrialização deram a economia um novo
olhar sobre o funcionamento das engrenagens do sistema econômico.

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A Economia Ecológica é uma das abordagens mais recentes de pesquisa na ciência
da economia. Apesar da sua conotação remontar a questões ambientais do fim da década
de 60, essa corrente teórica só se consolidou no final da década de 80 com a fundação
da Internacional Society for Ecological Economics (ISEE). Esse construto teórico passa a
propor um novo modelo de interação entre o homem (sistema econômico) e natureza (meio
ambiente). Sua análise crítica ao modelo econômico atual, tendo como premissa conceitos,
princípios e ferramentas biofísicos-ecológicos (os sistemas socioeconômicos dependem dos
sistemas ecológicos, por outro lado, os sistemas ecológicos modificam e transformam seu
funcionamento) (FERNANDEZ, 2011). Nesse sentido, Andrade (2008, p. 18) ressalta que:

Além disso, a economia ecológica vislumbra a economia como um subsistema


de um ecossistema global maior – finito e materialmente fechado, embora
aberto ao fluxo de energia solar –, o qual impõe limites ao crescimento físico
do sistema econômico. Além desse reconhecimento explícito, os economistas
ecológicos centram seus esforços no entendimento da dinâmica subjacente aos
processos naturais e econômicos, na tentativa de compreender as interfaces
existentes entre essas duas dinâmicas, conferindo, assim, um caráter holístico
e integrado nas análises dos problemas ambientais.

Diante do exposto, a Economia Ecológica é um construto teórico transdisciplinar que


tem como objetivo estudar a economia como um subsistema de ecossistemas físico, global e
finito. Ou seja, os estudos voltados para Economia Ecológica buscam evidenciar a dicotomia
entre crescimento da economia e a conservação ambiental (SALLES; FERREIRA, 2021;
MARQUES; SILVA; MATA, 2019).
Segundo Belosevich (2017), a Economia Ecológica surge em um contexto de pu-
jança das discussões relacionadas aos limites ambientais sobre o crescimento econômi-
co. Os desdobramentos voltados à discussão resultaram na crítica ao modelo convencional
de Desenvolvimento Sustentável, uma vez que, coloca em segundo plano os trade-offs entre
os aspectos ambiental, social e econômico, principalmente ao não considerar as limitações
biofísicas dos ecossistemas. Assim, se faz necessário a discussão relacionada às contro-
vérsias metodológicas que surgiram dentro do arcabouço teórico da Economia Ecológica
que será abordado a seguir.

ECONOMIA ECOLÓGICA: EXISTEM CONTROVERSAS METODOLÓGICAS?

A Economia Ecológica perpassa por uma abordagem pluralista sobre a relação en-
tre o sistema econômico e meio ambiente ao compreender que este último atua como
organismo vivo e complexo capaz de suportar as atividades antrópicas. As atividades eco-
nômicas expandem o sistema econômico por meio do aumento da produção em escala,

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gerando custos de oportunidade em relação a deterioração do ecossistema (SANTOS,
2018). Segundo Santos (2018),

Esta abordagem reconhece que a interação do sistema econômico vai além


da extração e devolução de recursos ao meio ambiente na medida em que a
evolução do sistema econômico encontra nos recursos naturais finitos e na
capacidade de absorção de rejeito seus limites derradeiros (SANTOS, 2018,
p. 20).

Em aspectos metodológicos, a discussão da economia ecológica ocorreu a partir do


estudo seminal de Georgescu-Roegen em 1971, intitulado “The entropy law and economic
process” no qual teve como objetivo demonstrar que a expansão econômica estava atrelada
aos limites biofísicos da Terra (MARQUES; SILVA; MATA, 2019; SAES; ROMEIRO, 2018).
Georgescu-Roegen é reconhecido como o “pai” da Economia Ecológica, o economista, foi
o primeiro a aplicar a lei (Entropia) da termodinâmica de forma rigorosa.
Saes e Romeiro (2018) enfatizam que os economistas ecológicos defendem uma po-
sição favorável ao pluralismo metodológico, contudo, tais contribuições desse pluralismo
têm variações entre os pesquisadores. Os autores destacam que os argumentos tecidos
em direção ao chamado pluralismo crítico ou estruturado estão alicerçados nos estudos
metodológicos implementados pelos economistas Bruce Caldwell, Tony Lawson e Sheila
Dow. Corroborando com as ideias dos autores Saes e Romeiro (2018), Andrade (2008) des-
tacam que em aspectos metodológicos a Economia Ecológica adota em seu escopo uma
abordagem pluralista no qual busca integrar a contribuição de várias perspectivas teóricas
visando enfrentar a problemática ambiental.
Norgaard (1989) defende que os sistemas complexos só podem ser explicados e
analisados por meio da adoção da diversidade metodológica e que a Economia Ecológica
tem como objeto analisar um sistema que vai além do que a economia e ecologia procuram
explicitar e nesse sentido uma multiplicidade metodológica se faz adequada, sendo neces-
sário evitar eliminar as pressões por uma metodologia padrão.
Saes e Romeiro (2018) enfatizam que mesmo com a consolidação da Economia
Ecológica como campo de saber, os ecologistas ainda não tem um consenso da adoção do
pluralismo como o enfoque central na Economia Ecológica. Os autores ressaltam a existên-
cia de pesquisadores que defendem a adoção de um modelo pré-analatíco próprio para tal
teoria. Essa indefinição metodológica entre os ecologistas têm gerado uma vasta discussão
relacionada ao percurso metodológico a ser adotado como escopo da Economia Ecológica.
Splash (2012) destaca a necessidade de um olhar ontológico e um modelo epistemo-
lógico adequado para a Economia Ecológica, onde se faz necessário rejeitar o pluralismo
metodológico que foi incorporado e defendido desde o início do surgimento da Economia

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Ecológica. Para o autor é importante deixar evidente a diferença de visão de mundo (ou
paradigma) da Economia Ecológica em relação aos outros campos de conhecimento e com-
preender as possíveis falhas da economia ortodoxa ao analisar a realidade.
Corroborando com as ideias Splash (2012), Lo (2014, p.2) destaca que:

Se a economia ecológica é vista como um oposto ideológico da economia


neoclássica, precisaria de uma estratégia metodológica seletiva em vez de
manter a diversidade metodológica. A manutenção da diversidade pode cor-
roer a base de suas críticas heterodoxas ao exigir abertura às alternativas
ortodoxas. A economia ecológica tem mostrado dificuldade em sustentar seus
compromissos pluralistas de longa data enquanto busca cada vez mais uma
diferenciação clara de seu “inimigo” monolítico (tradução nossa).

Nesse cenário, Amazonas (2001) ressalta que a Economia Ecológica não descarta
em sua base metodológica os instrumentos e conceitos da economia convencional e da
ecologia convencional, utilizando-os sempre que pertinentes e necessários, mas aponta que
somente esses arcabouços são insuficientes para uma análise integrada, sendo necessário
a formulação de novos conceitos e instrumentos. O autor ainda enfatiza que a Economia
Ecológica é um campo pluralista transdisciplinar no qual encontra em determinado momentos
diversas (em certos aspectos divergentes) abordagens, ora se entrelaçando mais próximo
da economia, ora mais da ecologia.
Marques, Silva e Mata (2019) destacam que essa concepção metodológica é diver-
gente da disseminada pela ecologia convencional dominante no qual desassocia as ações
humanas nas pesquisas dos ecossistemas naturais. Os autores ainda chamam atenção
para a diferenciação entre a Economia Ecológica e a Economia Ambiental. Para a Economia
Ecológica existe uma relação de troca de energia e matéria do sistema econômico com
o meio ambiente.
Os estudos da Economia Ecológica buscam relacionar o sistema econômico com o meio
ambiente, esta reconhece a importância das Leis de Termodinâmica como balizadoras dos
processos de troca de energia e matéria, haja visto que o sistema econômico se estrutura
em tais processos para viabilizar a produção e consumo de bens (SANTOS, 2018). Ribeiro
(2020, p. 62) corrobora que

Como para a economia tradicional é importante ter instrumentos de análi -


se precisos e leis gerais com validade universal, incorporou da mecânica o
princípio de que os movimentos são reversíveis, assim não há passado nem
futuro (uma abstração do tempo histórico). No entanto, na natureza, a irre-
versibilidade dos processos é o que mais adequadamente se observa pelas
leis da termodinâmica, e em especial, a segunda lei que diz que a entropia do
universo aumenta e que a qualidade da energia num sistema isolado tende
a se degradar.

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Diante do exposto, a economia neoclássica, ao não considerar em seu modelo as re-
lações sociais e dependência da natureza para o seu desenvolvimento, estaria projetando
uma visão distorcida do mundo, no qual o sistema de preço extinguiria com o problema de
escassez por meio da substituição dos fatores produtivos e dos processos tecnológicos
(SAES; ROMEIRO, 2018). A Economia Ecológica faz uma crítica ao modelo mecanicista
adotado pela escola clássica que considerava a expansão da economia de forma infinita
sem levar em conta as limitações dos fatores ecológicos do ecossistema.
Amazonas (2001) afirma que a Economia Ecológica é relativamente nova e que vem
se expandindo rapidamente no meio acadêmico, abrindo vários espaços de pesquisa e
buscando ter uma estrutura analítica teórica, instrumentos e ferramentas sólidas. Para o
autor, a Economia Ecológica ainda tem grandes desafios pela frente, principalmente, no
que se refere a sua construção metodológica. Esse processo de construção irá demandar
um exponencial esforço entre os pesquisadores, organizações políticas, organizações não
governamentais e no meio empresarial.
Apesar da Economia Ecológica tecer críticas ao modelo mecanicista adotado pela eco-
nomia clássica, percebe-se que pelo fato de ser um campo de conhecimento relativamente
novo, ainda tem um árduo caminho para se percorrer, principalmente, no que se refere a
superação dessa indefinição metodológica por parte de seus defensores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diversos estudos relacionados à temática da Economia Ecológica tem se solidificado


no ambiente acadêmico ganhando um caráter multidisciplinar devido sua relevância para a
sociedade. Contudo, cabe destacar que a indefinição metodológica por parte dos economis-
tas ecológicos acaba gerando implicações significativas nos levando às seguintes reflexões:
existe de fato uma única metodologia capaz de explicar a complexidade do sistema econô-
mico? Será que um modelo pré-analítico metodológico defendido por alguns economistas
ecológicos seria capaz de resolver ou apontar caminhos para solucionar a crise ambiental
e/ou as problemáticas do desenvolvimento sustentável?
As respostas a essas reflexões talvez possam nos apontar possíveis caminhos para
solucionar esse impasse metodológico existente na Economia Ecológica. O presente ensaio
teórico visa contribuir na discussão atrelada às controvérsias metodológicas da Economia
Ecológica, buscando identificar os possíveis elementos que destacam a importância da
adoção do pluralismo metodológico e/ou um modelo pré-analítico.
Nesse sentido, ressalta-se que este ensaio teórico não teve como objetivo esgotar a
discussão sobre a temática, pois, compreendemos que esse impasse não é algo trivial e
está longe de chegar ao fim. Contudo, tal reflexão se faz necessária e emergente devido a

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importância que a Economia Ecológica apresenta na atual conjuntura de exploração desen-
freada dos recursos naturais.

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leira de Economia Ecológica, v. 29, n. 11, p. 06, 2001.

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pinas, (14): 1-31, ago.-dez. 2008.

3. BELOSEVICH, P. R. S. O relato integrado sob a ótica da economia ecológica:


uma análise multimétodo. São Paulo, 2017. 215 f. Dissertação (Mestrado em Ciência
Ambiental) – Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental, Instituto de Energia
e Ambiente da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.

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& Sociedade, São Paulo, v. 7, n. 1, jan-jun. 2004.

5. FERNANDEZ, B. P. M. Ecodesenvolvimento, desenvolvimento sustentável e economia


ecológica: em que sentido representam alternativas ao paradigma de desenvolvimento
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7. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. São


Paulo: Atlas, 2008.

8. LO, A. The Problem of Methodological Pluralism in Ecological Economics. MPRA Paper


No. 49543, posted 14 Jan. 2014.

9. MARQUES, M. D.; SILVA, R. d. O.; MATA, H. T. d. C. Meio ambiente, inovações


tecnológicas e crescimento econômico: uma análise sob a perspectiva da economia
ambiental e economia ecológica. Cadernos do Desenvolvimento, Rio de Janeiro, v.
14, n. 25, p. 109-128, jul.-dez. 2019.

10. NORGAARD, R. B. The case for methodological pluralism. Ecological Economics,


v. 1, p. 37 - 57, 1989.

11. RIBEIRO, A. R. Economia e meio ambiente. Análise, Jundiaí, v.15, n.1, Jan. – Jun.,
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12. SAES, B. M.; ROMEIRO, A. R. O debate metodológico na economia ecológica: inde-


finição ou pluralismo? Nova Economia, v. 28, n. 1, p. 127 - 153, 2018.

13. SALLES, A. O. T.; FERREIRA, M. B. M. Instituições, desenvolvimento econômico e


sustentabilidade: uma proposta de diálogo entre a economia ecológica e o pensamen-
to cepalino. Cadernos do Desenvolvimento, Rio de Janeiro, v. 16, n. 29, p. 39-75,
maio-ago. 2021

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14. SANTOS, I. A. Economia ecológica e políticas públicas: um olhar sobre o cerrado
brasileiro. Uberlândia, 2018. 98 f. Dissertação (Mestrado em Economia) – Programa de
Pós-Graduação em Economia, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2018.

15. SPASH, C. L. New foundations for ecological economics. Ecological Economics, v.


77, p. 36 - 47, 2012.

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04
Caracterização geoambiental e
paleontológica na Serra da Capivara Piauí-
Brasil: análise a partir de uma aula de
campo

Juliana Oliveira Araújo Ismael Oliveira Silva


Instituto Federal do Maranhão Campus Caxias Instituto Federal do Maranhão Campus Caxias

Adolfo Lincoln Silva Jeovana Santos Melonio


Instituto Federal do Maranhão Campus Caxias Instituto Federal do Maranhão Campus Caxias

Adriele Pereira dos Reis Maely Sousa Nascimento


Instituto Federal do Maranhão Campus Caxias Instituto Federal do Maranhão Campus Caxias

Alessandra Ramos Roxa Marília Aguiar Anselmo


Instituto Federal do Maranhão Campus Caxias Instituto Federal do Maranhão Campus Caxias

Andressa Quadros Silva Rafaela de Jesus Melo de Oliveira Rego


Instituto Federal do Maranhão Campus Caxias Instituto Federal do Maranhão Campus Caxias

'10.37885/220910052
RESUMO

O presente artigo tem por objetivo elencar as particularidades geoambientais e paleontológi-


cas da área que abrange o Parque Nacional da Serra da Capivara, e os museus do Homem
Americano e da Natureza, obtidas após realização de aula de campo com alunos do Curso de
Licenciatura em Ciências Biológicas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Maranhão – Campus Caxias. Procedimentos metodológicos foram: método indutivo, pes-
quisas descritiva, bibliográfica, documental e aula de campo. Os resultados mostraram as
características geoambientais, paleontológicas do parque e dos museus. A aula de campo
serviu enquanto mecanismo motivacional para alunos e professores durante o processo de
ensino-aprendizagem, além de proporcionar conhecimento científico para os alunos.

Palavras-chave: Aula de Campo, Biologia, Geologia, Paleontologia, Serra da Capivara.


INTRODUÇÃO

A aula de campo é um mecanismo que auxilia no processo de formação de futuros


profissionais enquanto estratégia de atualização dos conhecimentos adquiridos no transcor-
rer de quaisquer cursos, aguça o desenvolvimento científico e atua como fator motivacional
para alunos e professores durante o processo de ensino-aprendizagem.
Logo, realizou-se entre os dia 22 e 23 de julho de 2022 aula de campo ao Parque
Nacional Serra da Capivara (PNSC), Museu do Homem Americano e Museu da Natureza
localizados nos municípios de São Raimundo Nonato/PI e Coronel José Dias/PI, com 11
discentes do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Maranhão – Campus Caxias, referente à disciplina de Fundamentos
de Geologia e Paleontologia para fortalecer a relação entre a teoria e a prática no processo
de ensino-aprendizagem.
De acordo com Guimarães (2009) a Geologia é a ciência do planeta Terra, sua origem,
sua história, seus materiais, seus processos e a dinâmica de como ele se modifica, examina
diversos produtos naturais, como minerais, rochas, formas de relevo, formas de vida atuais
e do passado, elaborando teorias para explicar como eles se formaram e como estão se
modificando, a exemplo da Teoria das Placas Tectônicas. Enquanto a Paleontologia recebe
influência de várias ciências como a Botânica e a Ecologia, é composta pela Biologia para
perceber os restos ou vestígios de organismos e a Geologia pois estes materiais encon-
tram-se nas rochas, os chamados fósseis.
Para tanto, este artigo objetiva elencar as particularidades geoambientais e paleon-
tológicas da área que abrange o Parque Nacional da Serra da Capivara, e os museus do
Homem Americano e da Natureza, obtidas após realização de aula de campo com alunos
do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia do Maranhão – Campus Caxias.
O texto segue estruturado em três seções: a primeira abordará o contexto da geo-
logia e paleontologia, a segunda os procedimentos utilizados para alcançar a finalidade
deste artigo e a terceira apontará as características geoambientais e paleontológicas do
PNSC e dos museus.

MATERIAL E MÉTODOS

Os processos metodológicos que nortearam este artigo foram, conforme Prodanov e


Freitas (2013), método indutivo parte da generalização, do particular para uma questão mais
ampla, dos Territórios de Desenvolvimento do estado do Piauí para estudar o da Serra da

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Capivara. Pesquisa descritiva quando há registro e descrição dos fatos observados sem
interferir neles.
Houve também conforme Prodanov e Freitas (2013), os seguintes procedimentos téc-
nicos: pesquisa bibliográfica: quando elaborada a partir de material já publicado, pesquisa
documental baseia-se em materiais que não receberam ainda um tratamento analítico ou
que podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa.
Já a pesquisa qualitativa é vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetivi-
dade do sujeito que não pode ser traduzido em números. No entanto, conforme Cordeiro e
Oliveira (2011, p. 03) a aula de campo é uma metodologia de ensino que contribui para uma
melhor compreensão dos conteúdos ao relacionar a teoria proposta em sala de aula com os
estudos e análises práticas da paisagem do ambiente.
Estes procedimentos auxiliaram na caraterização geoambiental do PNSC que elencou
as especificidades geológicas, geomorfológicas, hidroclimáticas pedológicas e fitoecológi-
cas, além da fauna predominante neste território. Ademais, contribuiu para o estudo dos
ambientes expostos nos museus.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Caracterização da área de estudo

O Parque Nacional Serra da Capivara é Patrimônio Mundial da Organização das Nações


Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) desde 1991, por abranger em seu
território as tradições culturais ou civilizações já extintas identificadas pelos vestígios encon-
trados na forma de armas, utensílios, fogueiras, sepulturas, cerâmicas, gravuras e pinturas
rupestres (BARROS et al., 2011).
Criado pelo Decreto Nº 83.548, de 5 de junho de 1979, situando-se entre as chapadas
da Serra da Capivara e a planície da depressão do rio São Francisco com 129.953 hectares
de área e 214,23 km de perímetro e localizado no sudeste do estado do Piauí, figura 1,
nos municípios de São Raimundo Nonato, João Costa, Brejo do Piauí e Coronel José Dias
(BARROS et al., 2011).

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Figura 1. Localização do Parque Nacional da Serra da Capivara.

Fonte: IBGE (2020/2015). MMA (2020). Org.: Araújo (2022). Geoprocessamento: Sousa (2022).

O Parque possui 1.223 sítios de pinturas e gravuras rupestres cadastrados, figura


2, reconhecido como patrimônio nacional com inscrição no Livro de Tombo Arqueológico,
Etnográfico e Paisagístico, em 1993, reforçou sua relevância cultural, (BARROS et al., 2011).

Figura 2. Pinturas Rupestres no Sítio Boqueirão da Pedra Furada.

Foto: Nascimento (2022).

Em 1973 iniciaram-se as pesquisas na região por uma cooperação científica binacio-


nal (Franca-Brasil). Em 1986 foi criada, em São Raimundo Nonato, a Fundação Museu do
Homem Americano (FUMDHAM), uma entidade científica sem fins lucrativos e responsável
pela preservação do patrimônio em parceria com os ministérios do Meio Ambiente e da
Cultura, (BARROS et al., 2011).
A FUNDHAM, criada com o objetivo de gerir o Museu e o Parque, definiu no seu plano
de manejo políticas de inclusão social e ações de proteção ambiental criando projetos de
desenvolvimento do turismo sustentável que contemplam a educação das comunidades locais

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e sua participação no mercado de trabalho em obras de infraestrutura, turismo ecológico e
cultural (BARROS et al., 2011).
A visita ao Museu do Homem Americano foi realizada no período noturno em 22 de
julho de 2022, por causa do horário de chegada no município de São Raimundo Nonato-
PI. A exposição permanente se inicia com uma visão da evolução dos hominídeos e a
apresentação das teorias de povoamento da América, seguida da vida do Homo sapiens
na região durante o Pleistoceno e o Holoceno. A presença do homem se ratifica com o
crânio de Zuzu, esqueleto com mais de 9.920 anos. (FUNDAÇÃO MUSEU DO HOMEM
AMERICANO-FUMDHAM,s.d), figura 3.

Figura 3. Crânio de Zuzu no Museu do Homem Americano.

Foto: Roxa (2022).

Segundo Barros et al. (2011), o Parque Nacional Serra da Capivara tem uma diversi-
dade de paisagens resultantes de fatores diversos, ambientais, culturais, ecológicos e turísti-
cos. O Parque apresenta outras especificidades que lhe confere significância e importância,
tais como: potencial para construção de polo de desenvolvimento de abrangência nacional
e internacional; zona de fronteiras (geológica, ecológica e cultural) com flora e fauna típicas
da caatinga e onde foram detectados importantes sítios arqueológicos das Américas, e
Vocação para proteção da natureza e do patrimônio cultural.
O contexto geológico do PNSC situa-se no encontro de três grandes províncias
Estruturais da Plataforma Sul-americana, definidas por Almeida et al. (1977) citado por
Barros et al. (2011): Borborema, São Francisco e Parnaíba, região limítrofe dos estados do
Piauí, Pernambuco e Bahia. As duas primeiras províncias são constituídas de rochas pré-
-cambrianas que formam o embasamento da Província Parnaíba, representada por rochas
sedimentares não-deformadas da cobertura fanerozoica.
Sobre os patrimônios Paleontológicos e Arqueológicos, observam-se registros do ho-
mem e de animais pré-históricos em terrenos piauienses, nos inúmeros sítios paleontológicos
e arqueológicos distribuídos em quase todo o estado, destacando-se na atividade geoturística
do Piauí, (FERREIRA,2010).
Segundo Ferreira (2010), o patrimônio paleontológico do Piauí guarda registros fósseis
desde o Paleozoico, período inicial da estruturação e formação da Bacia do Parnaíba, até
a sua constituição final no Cretáceo e Neógeno, que apresentou condições de preservar

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fósseis de árvores e animais como os trilobitas braquiópodes e muitos outros registros da
vida pretérita, figura 4.

Figura 4. Fósseis dos Trilobitas no Museu da Natureza.

Foto: Reis (2022).

O Museu da Natureza foi construído numa região de grande concentração de sítios


arqueológicos, propõe ao visitante uma viagem multissensorial, através de uma narrativa
apresentada no decorrer da exposição, que mostra a criação do universo e os impactos climá-
ticos nas constantes transformações da fauna e da flora. (FUNDAÇÃO MUSEU DO HOMEM
AMERICANO-FUMDHAM,s.d).
Além de visita realizada ao Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), em
22 de julho de 2022, período noturno, realizou-se visita ao Museu da Natureza no período
vespertino em 23 de julho de 2022.
Conforme Site Meio Norte (2020), inaugurado em 18 de dezembro de 2018, o Museu
da Natureza é o primeiro edifício circular em estrutura metálica no Brasil, que busca por
meio de compartimentação das salas mostrar a evolução das transformações geológicas e
paleontológicas do planeta. Abriga 12 salas dispostas em espiral onde o visitante desfruta
do conhecimento de todo o processo histórico da natureza da região, do surgimento do
universo, passando pela era do gelo, fósseis de animais gigantes, figura 5, e a vegetação
local. Assim o museu se torna didático, interativo, fornece informações e experiências lúdicas
para os visitantes.

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Figura 5. Preguiça Gigante.

Foto: Araújo (2022).

Dentre as atividades desenvolvidas no museu destacam-se: o filme exibido num espiral


no teto do museu, narrado pela Maria Bethânia ao relatar a história do universo e também
as intervenções humanas, figura 6. A outra é o simulador de asa delta, espaço que contem
óculos de realidades virtuais para recriar um voo livre sobre a área de localização do museu,
(SITE MEIO NORTE, 2020).

Figura 6. Filme em espiral sobre a história do universo e as intervenções humanas.

Foto: Anselmo (2022).

A sala “ O infinito da biodiversidade”, figura 7, coloca o visitante em contato com as


mudanças climáticas e diferentes espécies de animais que habitaram a região no período
glacial, (SITE MEIO NORTE, 2020).

Figura 7. Sala Infinito da Biodeiversidade.

Foto: Melonio (2022).

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De acordo com Lima e Brandão (2010), as formações geológicas são Cabeças,
Pimenteiras e Serra Grande, figura 8. A primeira apresenta aspecto arenoso, estruturas
sedimentares tipo sigmoidal com diamictitos, em ambiência nerítica com influência perigla-
cial, com a predominância de arenitos médios a finos, por vezes grosseiros, pouco argilo-
sos. Apresentam também siltitos laminados e folhelhos micáceos de coloração arroxeada
e avermelhada, oriundos da deposição de um sistema nerítico plataformal, em regime de
maior energia deposicional, ocorrido no final do Devoniano (Neofrasniano/Eoframeniano),
baseado no escasso conteúdo de microfósseis.
A segunda conforme Lima e Brandão (2010), alterna entre estratos pouco espessos de
arenitos finos, argilosos, subangulosos, cinza a avermelhados, com folhelhos cinza-escuros
a marrom-avermelhados, micáceos, com delgadas intercalações de siltitos. Sua porção
inferior é mais arenosa, cinza-clara, com lâminas de siltitos e folhelhos cinza a averme-
lhados. A paleofauna de braquiópodos, pelecípodos e trilobitas e peixes encontrados nos
folhelhos da seção superior da formação confirmam o ambiente francamente marinho para
esses depósitos.
A última, perspectiva de Lima e Brandão (2010), abrange as formações Ipu, Tianguá e
Jaicós, revisões baseadas em estudos de fósseis de quitinozoários e acritarcas o posicionam
no Siluriano. Marca o início da sedimentação da Bacia do Parnaíba, com a deposição de
um pacote de arenitos conglomeráticos e conglomerados na base, passando a arenitos de
granulação mais fina no topo, intercalados com siltitos, folhelhos e argilitos.

Figura 8. Geologia do Parque Nacional da Serra da Capivara.

Fonte: IBGE (2019/2018). MMA (2020). Org.: Araújo (2022). Geoprocessamento: Sousa (2021).

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Conforme Barros et al. (2011) a geomorfologia, figura 9, é formada por planaltos are-
níticos situam-se a oeste do Parque Nacional e constituem chapadas do reverso da cuesta,
atingindo altitude de 630 m. As cuestas foram modeladas em rochas areníticas e conglo-
merativas do Grupo Serra Grande.
Segundo Barros et al. (2011) os planaltos são relevos de degradação em rochas se-
dimentares, de superfícies mais elevadas, formas tabulares e amplitude de relevo de 20
a 50 metros. Os vales encaixados, são relevos de degradação de morfologia acidentada,
com vertentes retilíneas a côncavas, sulcadas, declivosas, com sedimentação de colúvios
e depósitos de tálus.

Figura 9. Relevo do Parque Nacional da Serra da Capivara.

Fonte: IBGE (2019).CPRM (2014). MMA (2020). Org.: Araújo (2022). Geoprocessamento: Sousa (2021).

De acordo com Barros et al. (2011) os arenitos maciços dessa formação são cortados
por vales ou cânions profundos de vertentes abruptas nas quais são encontrados abrigos
ou sítios arqueológicos com pinturas e gravuras rupestres. O modelado do relevo apresen-
ta formas diversificadas em pirâmides, colunas ou torres (Boqueirão da Pedra Furada e
Serra Branca), lâminas e camadas paralelas (Sítio do Meio), perfurações ou bioturbações
(Boqueirão da Pedra Furada), figura 10.

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Figura 10. Pedra Furada – Parque Nacional da Serra da Capivara.

Foto: Oliveira Silva (2022).

A região do Geoparque Serra da Capivara proposto está inserida na Bacia Hidrográfica


do Rio Parnaíba, formada por oito sub-raciais e abrange os estados do Maranhão, Piauí
e Ceará, com os rios Piauí e Canindé, afluentes da margem direita do rio Parnaíba mais
diretamente relacionados a área do Parque, (BARROS et al., 2011).
O rio Piauí, principal rio da região e seus afluentes, não tem caudal suficiente para
garantir um escoamento permanente. Durante todo o ano, ficando a maioria dos meses do
ano com leito completamente seco. O riacho do Olho d’Agua da Cota e a única linha d’água
perene, encontrando-se fora do limite do parque, (BARROS et al., 2011).
A rede de drenagem é fortemente condicionada as litologias da área e ao clima se-
mi-árido, caracterizada por regime irregular intermitente. Na área do Parque nenhum rio
importante é permanente, (BARROS et al., 2011).
Os solos da região são rasos, pouco espessos, jovens, pedregosos, influenciados
pelo material de origem, formam-se a partir de alteração dos gnaisses, finitos, mármores,
quartzitos, xistos, arenitos, sítios e folhelhos (BARROS et al., 2011).
Segundo Barros et al. (2011) predominam os latossolos ricos em alumínio e distrófi-
cos, textura média a argilosa suportando fisionomias de caatinga e de transição caatinga/
cerrado, e podzólicos vermelho-amarelos (argissolos) de textura média a argilosa, fase
pedregosa e não-pedregosa sobre os quais desenvolve-se uma vegetação de transição
floresta/caatinga, figura 11.

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Figura 11. Vegetação do Parque Nacional da Serra da Capivara.

Fonte: IBGE (2019/2018). MMA (2020). Org.: Araújo (2022). Geoprocessamento: Sousa (2021).

No território do Parque Nacional Serra da Capivara cerca de 75% da cobertura vegetal


corresponde ao bioma Caatinga e 15 % stocks de vegetação de cerrado, figura 12.

Figura 12. Vegetação Caatinga.

Foto: Reis (2022).

A fauna do Parque Nacional Serra da Capivara apresenta uma grande diversidade de


espécies, algumas endêmicas da Caatinga e outras de ampla distribuição geográfica presen-
tes no Cerrado e Amazônia, outras já ameaçadas de extinção como a arara-vermelha (Ara
chlorptera) e o urubu-rei (Sarcoramphus papa), figura 13, com registro de 57 espécies de
mamíferos, 208 espécies de aves, 36 de repteis, 17 de anfíbios e um número desconhecido
de Invertebrados, (BARROS et al., 2011).

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Figura 13. Urubu-rei no Museu da Natureza.

Foto: Rego (2022).

A caça e extração de madeira de modo indiscriminado contribuem, ao longo de déca-


das, para uma diminuição considerável do número de espécies responsáveis por manter o
equilíbrio ecológico da região, (BARROS et al., 2011).
Da lista de espécies encontradas nos sítios arqueológicos e paleontógicos do Parque
Nacional Serra da Capivara constam os fósseis: Palaeolama major (lhama Fóssil), Hippidion
bonaerensis (cavalo americano), Eremotherium lundi (preguiça gigante), Catonix cuvieri
(preguiça gigante de menor porte), [...] e Smilodon Populator (tigre-de-dentes‐de‐sabre),
(BARROS et al., 2011).
Na aula de campo vizualizou-se algumas espécies de animais tais como o Mocó -
Kerodon rupestris (A) e a lagartixa Tropidurus helenae (B), figura 14.

Figura 14. Mosaico da Fauna do Parque Nacional da Serra da Capivara.

Fotos: A- Mocó (Araújo, 2022). B- Lagartixa (Quadros Silva, 2022).

Estas características geoambientais reforçam a importância da preservação e con-


servação da fauna, flora e dos patrimônios geomorfológicos e paleontológicos do Parque
Nacional Serra da Capivara tão conhecido por sua diversidade biológica e cultural. Ademais,
as visitas ao museus do Homem Americano e da Natureza contribuíram para esclarecer os
processos de formação geológica e paleontológica desde o surgimento do universo até o

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aparecimento da espécie humana, com as formações rochosas vizualizadas no PNSC e
com as amostras dos fósseis nos museus.

CONCLUSÃO

Em Janeiro de 2022, o PNSC foi o único destino brasileiro apontado na lista de viagem
do jornal de renome internacional “The New York Times”, que evidenciou as descobertas
arqueológicas, os museus e a beleza cênica do bioma caatinga, segundo site jornalísti-
co G1 Piauí (2022).
Com a caracterização geoambiental esboçou-se as particularidades ambientais do
PNSC, o que corroborou sua Geodiversidade, nas palavras de Silva (2008, p.264) é [...] uma
variedade de ambientes, composição, fenômenos e processos geológicos que dão origem
às paisagens, rochas, minerais, águas, fósseis, solos, clima e outros depósitos superficiais
que propiciam o desenvolvimento da vida na Terra [...].
Também se observou as contribuições do Museu do Homem Americano, que salienta
os vestígios deixados por nossos antepassados e as teorias da origem humana. No Museu
da Natureza, constatou-se por meios das exposições em painéis a trajetória geológica da
Terra desde do surgimento dos primeiros seres vivos até os seres mais evoluídos, em con-
dições climáticas diversas.
Acredita-se que a aula de campo ao Parque Nacional da Serra da Capivara contem-
plando as visitas aos museus do Homem Americano e da Natureza tenham sido uma expe-
riência exitosa, para fins de aplicabilidade dos conteúdos da disciplina de Fundamentos de
Geologia e Paleontologia, como também averiguar as diversas possibilidades de trabalhos
em nível de mestrado e doutorado, correlacionando as disciplinas cursadas ou não pelos
alunos do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Maranhão – Campus Caxias.

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REFERÊNCIAS
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GUIDON, Niède. Geoparque Serra da Capivara (PI): proposta.CPRM:2011. Disponível
em: https://rigeo.cprm.gov.br/handle/doc/17165. Acesso em: 15 jul.2022.

2. CORDEIRO, Joel Maciel Pereira; OLIVEIRA, Aldo Gonçalves. A aula de campo em


geografia e suas contribuições para o processo de ensino-aprendizagem na escola.
Geografia (Londrina). Disponível em: https://www.uel.br/revistas/uel/index.php/geo-
grafia/article/view/7416/10649. Acesso em 14 out. 2022.

3. FERREIRA, Rogério Valença. Geoturismo e Unidades de Conservação. In: PFALTZ-


GRAFF, Pedro Augusto dos Santos; TORRES, Fernanda Soares de Miranda; BRAN-
DÃO, Ricardo de Lima. Geodiversidade do estado do Piauí. Recife: CPRM, 2010.
Disponível em: https://rigeo.cprm.gov.br/handle/doc/16772. Acesso em: 13 jul.2022.

4. FUNDAÇÃO MUSEU DO HOMEM AMERICANO-FUMDHAM. Museus. Disponível em:


http://fumdham.org.br/museus/#post-1191. Acesso em: 10 jul.2022.

5. G1 PIAUÍ. Serra da Capivara é único destino brasileiro apontado em lista de via-


gem em 2022 do jornal “The New York Times”Disponível em: https://g1.globo.com/
pi/piaui/noticia/2022/01/11/jornal-americano-the-new-york-times-aponta-serra-da-capi-
vara-como-um-dos-52-destinos-para-viagem-em-2022.ghtml Acesso em 14 out. 2022.

6. GUIMARĂES, Gilson Burigo. Geologia aplicada ao ensino de geografia. Ponta Gros-


sa : UEPG/NUTEAD, 2009.

7. LIMA, Enjolras de A. M. BRANDÃO, Ricardo de Lima. Geologia.in: PFALTZGRAFF,


Pedro Augusto dos Santos. TORRES, Fernanda Soares de Miranda. BRANDÃO, Ricar-
do de Lima. (org.). Geodiversidade do estado do Piauí (org.). Recife: CPRM, 2010.

8. PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani César de. Metodologia do traba-


lho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2. ed. Novo
Hamburgo: Feevale,2013.

9. SILVA, Cassio Roberto da. Geodiversidade do Brasil: conhecer o passado para en-
tender o presente e prever o futuro. Rio de Janeiro, CPRM. 2008.

10. SITE MEIO NORTE. Piauí: descubra mais sobre os atrativos do Museu da Natureza.
Disponível em: https://www.meionorte.com/curiosidades/piaui-descubra-mais-sobre-
-os-atrativos-do-museu-da-natureza-393836. Acesso em: 20 jul 2022.

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05
Dinâmicas de comercialização ecológica
e desenvolvimento territorial sustentável
no Vale do Ribeira – Paraná

Cristiane Coradin
Universidade Federal do Paraná - UFPR

Valdir Frigo Denardin


Universidade Federal do Paraná - UFPR

'10.37885/220910341
RESUMO

O Vale do Ribeira se apresenta historicamente como um imaginário de um território que fi-


cou alheio aos principais ciclos de acumulação de capital do Estado do Paraná. No entanto,
transformações socioprodutivas estão em curso, mobilizando processos de transição agroe-
cológica e de desenvolvimento territorial sustentável. O presente estudo tem como objetivo
contribuir com a qualificação de interpretações possíveis para entendimento dos processos
de desenvolvimento do Vale do Ribeira, desde bases descoloniais e do desenvolvimento
territorial sustentável, com ênfase na análise das dinâmicas de comercialização ecológica,
fenômenos significativos observados a partir dos anos 1990.

Palavras-chave: Agroecologia, Comercialização Ecológica, Desenvolvimento Territo-


rial Sustentável.
INTRODUÇÃO

As práticas de comercialização têm sido apontadas em diversos estudos rurais con-


temporâneos como um dos principais limitantes da construção de processos de transição
agroecológica e de ecologização de agricultores familiares. Em anos recentes, vários es-
tudos têm sido realizados na busca pela compreensão de processos de comercialização
ecológica e de como eles têm impactado diferentes dimensões da sustentabilidade e do
desenvolvimento rural.
A pesquisa foi elaborada com o intuito de compreender as relações entre dinâmicas de
comercialização ecológica, transição agroecológica e desenvolvimento territorial sustentável
no Vale do Ribeira Paraná. Com base em pesquisa de campo e bibliográfica, procurou-se
retratar as condições sobre o território do Vale do Ribeira no Paraná, a fim de responder ao
objeto de pesquisa e levar estas contribuições para o campo científico.
O Vale representa a região de mais antiga colonização do Estado do Paraná, cuja eco-
nomia territorial é composta pela reprodução social de condições camponesas e familiares
culturalmente plurais. Apesar de ter se mantido à margem dos principais ciclos econômicos
do Estado do Paraná (BIANCHINI, 2010), a partir dos anos 1970, a dinâmica produtiva
ocorreu com base na introdução do cultivo florestal de espécies exóticas – especialmente
pinus – e também pela instalação de diversas mineradoras, principalmente para a produção
de cimento. Além dessas atividades, observa-se a mobilidade diária de força de trabalho
para a capital Curitiba, o que alimenta o setor de comércio e serviços locais. De acordo com
estudos do Departamento de Estudos Socioeconômicos Rurais (DESER, 2008) e também de
Valter Bianchini (2010), o predomínio de relevo acidentado, montanhoso, limitou a adoção
de agricultura mecanizada intensiva, condicionando esse território à adaptação e manejo
mínimo do solo, mantendo um tipo de agricultura e de campesinato específico e historica-
mente construído.
Esse tipo de agricultura foi estudado por Lourival Fidelis (2011) e é entendido como uma
“Agricultura Tradicional Camponesa”, praticada por caboclos e remanescentes de quilombos
do Vale, composta por sistemas de produção baseados na roçada, amontoa e queimada da
mata primária e secundária em regeneração, ou da derrubada e queima da mata fechada,
local em que os agricultores instalam roças de milho, mandioca, feijão, arroz, abóbora, e
outras culturas, abandonando a região assim que a produtividade declina, retornando a esta
área anos após, quando da melhoria das condições do solo.
De acordo com as entrevistas de campo, observou-se que esses sistemas de produção
sofreram forte impacto entre os anos 1960-1990, com processos de concentração fundiária
territorial, pela aquisição de terras por empresas produtoras pinus, o que gerou a redução da

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capacidade produtiva e regenerativa dos agroecossistemas locais, alterações nas relações
de mercados e êxodo rural.
Além disso, é relevante destacar que os três municípios mais próximos à capital do
Paraná, Curitiba, quais sejam: Bocaiúva do Sul, Rio Branco do Sul e Itaperuçu, têm abaste-
cido a cidade de Curitiba diariamente com mão-de-obra pouco especializada, servindo como
municípios “dormitórios” de milhares de trabalhadores urbanos, os quais migram todos os
dias para trabalhar na cidade de Curitiba.
Para o Deser (2008) e Bianchini (2010), essa perspectiva hegemônica de desenvolvi-
mento adotada no Vale do Ribeira Paraná tem se mostrado equivocada. O território apresenta
um dos mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano do Paraná e do Brasil - a média
dos sete municípios do território é de 0.682, enquanto no país é de 0.772 e no estado 0.787
(IPARDES, 2007). No entanto, desde os anos 1990 algumas modificações começaram a
ser observadas nesse território, na busca por alternativas de produção, de comercialização
e de desenvolvimento rural.
Em busca de alternativas de reprodução social de sua condição camponesa, nos
anos 1990 os camponeses localizados na região metropolitana de Curitiba, em específico
do Vale do Ribeira, começaram a construir processos de transição ou de conversão eco-
lógica da agricultura, como alternativa de recriação de suas condições camponesas desde
bases ecológicas.
Os processos de ecologização do Vale do Ribeira foram parcialmente estudados por
(BRANDENBURG e FERREIRA, 2012; PADILHA E BRANDENBURG, 2012). Estes autores
demonstraram que nos anos 1990 os camponeses então vinculados à Associação para o
Desenvolvimento da Agroecologia (AOPA) e à Rede Ecovida1, optaram pela venda de seus pro-
dutos ecológicos a grandes redes de comercialização varejista em Curitiba. No entanto, essa
alternativa se mostrou inviável ao longo do tempo, estimulando-os a buscar novas soluções.
Tal como apontado por Brandenburg e Ferreira (2012), a comercialização tem sido um
dos principais limitantes dos processos de conversão agroecológica dos agricultores fami-
liares2. Nos anos 1990 observaram-se retrocessos, tendo em vista que alguns agricultores
desistiram do processo de conversão agroecológica. Outros, por sua vez, buscaram cons-
tituir novos mercados varejistas em Curitiba. Frente a tais adversidades, a opção coletiva

1 Rede Ecovida é uma organização social de certificação ecológica participativa que, desde os anos de 1990 vem sendo construída
no sul do Brasil por agricultores familiares. Se constitui como uma Rede de Certificação e, ao mesmo tempo com uma organização
social que, através de metodologias participativas, possibilita trocas de experiências, solidariedade, cooperação.
2 Agricultura familiar aqui é compreendida como uma categoria política, que guarda traços de permanências e transformações, desde
uma gênese que se situa nas formações sociais dos campesinatos heterogêneos brasileiros (WANDERLEY, 2003; NEVES, 2007).
O uso deste termo, sob o aspecto político, pode ser justificado, por tornar categorias sociais de agricultores historicamente subordi-
nados a relações econômicas de exploração e de submissão, como [..] “sujeitos de direitos consagrados” [...] (NEVES, 2007, p.15.)
visando à construção de relações sociais que assegurem maior autonomia e liberdade (PLOEG, 2008).

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adotada por esses camponeses e agricultores familiares foi investir na construção social de
circuitos curtos agroalimentares de base ecológica territorialmente situados. (PADILHA e
BRANDENBURG, 2012; BRANDENBURG e FERREIRA 2012).
O texto que se apresenta segue na esteira de outros elaborados pela autora (CORADIN,
2012, 2014), e tem como objetivo avançar na compreensão teórico-empírica de alternativas
emergentes de agricultura, ruralidades, territorialidades e sociabilidades de desenvolvimento
no Vale do Ribeira.

MÉTODO

A presente pesquisa tem caráter qualitativo e foi realizada no território do Vale do


Ribeira Paraná. Situado no leste do Estado do Paraná, o Vale do Ribeira ocupa 21,5% de
toda a Bacia Hidrográfica do Rio Ribeira de Iguape, sendo composto por sete municípios
(Doutor Ulisses, Cerro Azul, Rio Branco do Sul, Itaperuçu, Bocaiúva do Sul, Tunas do Paraná
e Adrianópolis). A figura abaixo mostra a localização desse território:

Figura 1. Mapa do Estado do Paraná (à esquerda) e dos Municípios do Vale do Ribeira-PR– território 101 (à direita).

Fonte: SDT/MDA (2012).

Para compreender as dinâmicas sociais em curso, foi realizada pesquisa bibliográfica,


observações de campo e entrevistas semi-estruturadas, realizadas em 2013, 2015 e 2016.
Priorizou-se a associação dessas três ferramentas metodológicas com vistas à triangulação
de informações a fim de possibilitar a construção de análises sociais complexas dos fenô-
menos observados, tal como sugere (CELLARD,2012).
A pesquisa bibliográfica compreende, segundo Stumpf (2009, p. 51), o “conjunto de
procedimentos que visa identificar informações bibliográficas, selecionar os documentos
pertinentes ao tema estudado [...] para que sejam posteriormente utilizados na redação de
um trabalho acadêmico”.
Na mesma perspectiva, Duarte (2009) e Yin (2010) mencionam que a análise de uma
experiência, um caso, deve reunir informações numerosas e detalhadas, que permitam

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apreender a totalidade de uma situação e, para tal, sugerem o uso de técnicas de coleta
de informações variadas como observações, entrevistas, documentos, dados quantitati-
vos, entre outros.
As entrevistas e a pesquisa participante, por sua vez, permitem a “[...] inserção do pes-
quisador no ambiente natural de ocorrência do fenômeno e de sua interação com a situação
investigada.” (PERRUZO, 2009, p. 125). Para Poupart (2012, p. 216-217) a entrevista seria
indispensável “[...] como instrumento que permite elucidar suas condutas na medida em
que estas só podem ser interpretadas, considerando-se a própria perspectiva dos atores,
ou seja, o sentido que eles mesmos conferem às suas ações.
Em 2013 foram realizadas observações de campo e 27 entrevistas qualitativas se-
miestruturadas na CRQ Córrego das Moças – Município de Adrianópolis, das quais, duas
realizadas com mediadores de organizações quilombolas territoriais e regionais, sete com
mediadores locais de órgãos de assistência técnica e extensão rural, e dezoito com agricul-
tores quilombolas (homens, mulheres e jovens), com o objetivo de compreender o processo
de inclusão dos quilombolas no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
Durante 2015 e início de 2016, através do Programa de Desenvolvimento Territorial
Sustentável – Secretaria de Desenvolvimento Territorial – Ministério do Desenvolvimento
Agrário, a primeira autora, como assessora técnica e pesquisadora participante, realizou
novas incursões mensais a campo abrangendo o conjunto dos sete municípios do Vale do
Ribeira Paraná, tendo visitado comunidades camponesas e quilombolas, participado de
reuniões de planejamento e execução de políticas e programas territoriais.
No ano de 2015 procedeu-se a técnica de grupo focal com cinco agricultores - media-
dores ecológicos territoriais - que vivem em Cerro Azul e atuam no território do Vale. O ob-
jetivo foi compreender as relações entre a formação da Rede Ecovida, o circuito de trocas
ecológicas e a participação desses atores em mercados institucionais, feiras livres e na
criação de novos mercados ecológicos.
Essas opções metodológicas possibilitaram aos autores realizar aproximação entre
entrevista e observação, valendo-os do papel de mediadores dos diálogos estabelecidos
entre os entrevistados. Gondim (2002) destaca que os sujeitos participantes da pesquisa
encontram no Grupo Focal liberdade de expressão, que é favorecida pelo ambiente, levando
a uma participação efetiva.

CIRCUITOS CURTOS AGROALIMENTARES AGROECOLÓGICOS

No Vale do Ribeira os processos de transição agroecológica da agricultura tradicional


camponessa iniciou nos anos 1990, com espaço apoio público e sérias dificuldades de se
fortalecer, em virtude de condições degradantes de comercialização experienciadas por esses

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atores sociais na comercialização de produtos ecológicos para grandes redes varejistas da
cidade de Curitiba. Nos anos 2000, a transição agroecológica desses camponeses foi po-
tencializa pela sua inserção em mercados institucionais, tais como o Programa de Aquisição
de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
Depois de décadas de ausências sistemáticas da atuação do Estado na promoção do
desenvolvimento rural desses municípios, a partir de meados dos anos 2000, a identificação
da condição do desenvolvimento rural do Vale do Ribeira favoreceu com que esse território
se tornasse objeto de diversos Projetos de Desenvolvimento Territorial, sendo classificado
como um dos oito “Territórios de Cidadania3” do Paraná, passando a receber estímulos pú-
blicos específicos, a partir da execução de projetos e programas especificamente elaborados
e ‘adaptados’ às condições regionais.
Nesse novo cenário, apoiados pelos recursos que obtiveram por meio de políticas
públicas direcionadas para a promoção do desenvolvimento territorial sustentável do Vale
do Ribeira, os camponeses locais, tanto convencionais quanto aqueles em processo de
transição agroecológica, vislumbraram novas possibilidades para impulsionar a produção e
a comercialização de seus produtos agropecuários.
No âmbito da transição para sistemas agroalimentares de base ecológica, evidên-
cias de campo apontaram a introdução de práticas sócio-técnicas de base ecológica, tais
como recuperação da fertilidade do solo, diversificação produtiva e alimentar, enriqueci-
mento da biodiversidade e conservação dos recursos hídricos. Essas ações constituem a
dimensão agronômica e ecológica de conversão agroecológica, tal como concebidos por
(GLIESSMAN,2000; KHATOUNIAN, 2001).
A conversão agroecológica, tal como compreendida por Gliessman (2000) e Khatounian
(2001), preconiza a transformação das racionalidades dos agricultores para a adoção de
um pensar e praticar agricultura complexa. Nessa perspectiva os agricultores passam a
racionalizar e substituir o uso de insumos químicos, a observar, compreender e manejar
os fluxos energéticos da propriedade, recuperar a fertilidade orgânica do solo, otimizar
recursos internos da propriedade, reduzir a dependência econômica, culminando com a
certificação orgânica.

3 Criado em 2008, o programa foi uma estratégia de desenvolvimento regional sustentável e garantia de direitos sociais voltado às regi-
ões mais pobres do país. A base do programa era a integração das ações do Governo Federal e dos governos estaduais e municipais,
em planos desenvolvidos nos territórios, com o protagonismo da sociedade. Cada território tinha seu Colegiado Territorial composto
pelas três esferas governamentais e pela sociedade, que se reunia em assembleias abertas à participação dos interessados e de-
terminava um plano de desenvolvimento e uma agenda pactuada de ações para todo o ano. Os territórios foram definidos de acordo
com as características econômicas e ambientais de cada região, formando conjuntos de municípios com identidade e coesão social,
cultural e geográfica. Maiores que o município e menores que o estado, os territórios demonstravam de forma mais nítida as condi-
ções de vida dos grupos sociais, das atividades econômicas e das instituições de cada localidade, o que facilitava o planejamento de
ações governamentais para o desenvolvimento dessas regiões (PERSEU ABRAMO, 2018).

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Os esforços realizados por esses camponeses desde os anos 1990, intensificados
nos anos 2000 por meio das políticas públicas, refletem perspectivas de construção social
de mercados, entendidos como processos portadores de estratégias econômicas que são
mediadas por relações sociais, subjetividades e culturas, e [...] “adequada à realidade dos
agentes econômicos de pequeno porte [...]” (MALUF e WILKINSON, 1999, apud MALUF ,
2004, p. 06), as quais podem ser entendidas como a criação de circuitos curtos e regionais
de comercialização, correspondendo, dessa forma, às novas demandas urbanas em expan-
são. Segundo Maluf (2004, p. 7-8):

Os circuitos regionais de produção, distribuição e consumo de alimentos for-


mam-se no âmbito das regiões no interior do país ou no entorno dos núcleos
urbanos de pequena e média dimensão. Além dos produtores agrícolas, estes
circuitos são integrados por cooperativas ou associações de pequenos agri-
cultores constituídas para beneficiar ou processar as matérias-primas agrí-
colas, e por empreendimentos urbanos industriais e comerciais, também de
pequeno porte, ligados à transformação, distribuição e consumo de produtos
alimentares. [...] Nos circuitos regionais está incluída, ainda, a venda direta aos
consumidores realizadas pelos próprios agricultores. Apesar do critério para
delimitar os circuitos regionais ser, em primeira instância, geográfico pois ele
se baseia na proximidade física entre os agentes, o desenvolvimento de tais
circuitos é uma resultante de processos socioespaciais (MALUF, 2004, p. 7-8).

Os dados de campo possibilitam traçar análises do detalhamento das experiências


de integração à compras institucionais para os municípios de Cerro Azul e de Adrianópolis,
sendo que, para os demais municípios, as informações coletadas ao longo de 2015 e 2016,
foram de abrangência territorial, envolvendo os sete municípios do Vale do Ribeira. De for-
ma didática, a experiência de integração desses municípios a mercados agroalimentares
ecológicos pode ser compreendida em dois “cinturões verdes” principais. Um primeiro, mais
afastado da capital Curitiba, que envolve o município de Cerro Azul e Adrianópolis, e em
outro, mais próximo da capital, Rio Branco do Sul, Bocaiúva do Sul, Tunas e Itaperuçu.
O primeiro cinturão verde é composto predominantemente por camponeses e quilom-
bolas que vivem de atividades agrícolas, pecuária, produção de leite, olerícolas e agricultura
de subsistência diversificada. O segundo, por sua vez, abriga municípios considerados ‘dor-
mitórios’ de trabalhadores assalariados urbanos, que migram todos os dias para trabalhar
na cidade de Curitiba. Nesses municípios ainda há uma parcela minoritária de habitantes
que são camponeses e agricultores familiares.
No que diz respeito ao cinturão Cerro Azul – Adrianópolis, a Associação Sertaneja
representa uma experiência pioneira de inserção em mercados institucionais no Vale. Ela
está localizada no município de Cerro Azul, fundada em 1998, sendo constituída por 32
famílias certificadas como orgânicas. Desde 2002 essas famílias comercializam nas feiras

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ecológicas de Curitiba. Em 2004 se inseriram nos mercados institucionais, operacionalizando
um projeto de PAA.
Antes de ingressar no PAA, os cultivos agrícolas ecológicos dos camponeses vin-
culados à Associação Sertaneja basicamente contemplavam ponkan, laranja, mandioca
e feijão. A partir desse projeto de PAA, houve ampliação e diversificação produtiva, de
modo que as famílias começaram a produzir também milho verde, batata doce, abóbora e
pepino. Em 2005, os agricultores vinculados à Associação Sertaneja e à Cooperativa de
Agricultores Familiares de Cerro Azul (COOPAFI), operaram um projeto de R$ 200.000,00,
atendendo 80 famílias; nesse ínterim, as feiras ecológicas de Curitiba continuaram e ex-
pandiram-se, com duas novas feiras semanais. Também em 2010, 08 famílias se filiaram à
AOPA, e começaram a operar o PNAE, processo que envolveu famílias certificadas como
ecológicas ou em processo de certificação. Nesse período os camponeses que participaram
desses projetos relataram que houve incentivo à diversificação da produção, segundo eles
havia garantia de preço e comercialização. Aumentou-se a produção de hortaliças, mandioca
e frutas (uva, pêssego, caqui, banana, além da ponkan e laranja).
Em Adrianópolis, a partir do ano de 2009, cinco das sete CRQ desse município come-
çaram acessar o PAA na modalidade compra direta com doação simultânea. Em 2009, foram
20 famílias, através da Coopafi, integrando o cinturão Cerro Azul-Adrianópolis; em 2010, 58
famílias, pela Associação dos Remanescentes de Quilombos do Bairro Sete Barras (vigente
2010/2011). No final do ano de 2012 (vigência 2012/2013), foi aprovado outro projeto para
124 famílias, sendo 59 quilombolas, com total de 180.000 Kg de alimentos, entre as quais
verduras, frutas e legumes comercializados semanalmente para escolas de Adrianópolis.
Para esse município, também se observou ampliação da diversificação produtiva, com a
introdução de olerícolas aos sistemas tradicionais de agricultura quilombola, baseados no
cultivo de roçado (milho, feijão e mandioca). Em campo as famílias destacaram melhoria na
diversidade e qualidade da alimentação familiar, e ampliação da geração de renda familiar,
principalmente para mulheres e jovens quilombolas, o que segundo elas, contribuiu para
positivação de suas identidades quilombolas como “trabalhadores” (CORADIN, 2014).
Com relação ao PNAE, a inclusão desses grupos remanescentes de quilombos iniciou
em 2012, através da construção do circuito de trocas do Vale do Ribeira, escoando principal-
mente banana ecológica por meio da AOPA. A partir de 2013, o PAA foi interrompido manten-
do-se somente as entregas do PNAE. Essa interrupção do PAA gerou redução da diversidade
de produtos produzidos, situação que começa a se alterar somente a partir 2015. Em Rio
Branco do sul, Itaperuçu, Bocaiúva do Sul e Tunas, também houve integração ao PAA e
PNAE no mesmo período (2008-2010), tanto em nível municipal, quanto em nível territo-
rial e estadual. Em Rio Branco do Sul e Itaperuçu foram cerca 300 famílias de agricultores

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beneficiadas em 2012, através da Associação do Conselho Agrícola de Rio Branco do Sul
(ACARS) e da Associação de Produtores na Agricultura Familiar de Itaperuçu (APRAFI).
Entre os anos de 2008 e 2010 foi criado um circuito territorializado de comercialização
direta denominado “circuito de trocas do Vale do Ribeira”, como mecanismo de integração
do conjunto desses pequenos circuitos territoriais que vinham sendo operados de forma
fragmentada. Coordenado pela AOPA (integrante da Rede Ecovida), esse circuito territorial
de comercialização ecológica possibilitou a criação de uma dinâmica agroalimentar ecológica
territorial, que colocou em conexão diversos grupos ecológicos certificados do Vale com os
mercados institucionais do território local e da cidade de Curitiba, articulando tanto mercados
institucionais, quanto feiras livres e mais recentemente, também grupos de consumo.
A criação desse circuito de trocas do Vale possibilitou otimizar custos com infraestru-
tura logística e também a ampliação de fluxos de interações sociais e coletivas entre esses
atores locais, fortalecendo laços sociais de solidariedades camponesas, entendidas como
capacidade de ajuda mútua e de reciprocidade, tal como abordadas por Sauborin (2009).
Essa solidariedade camponesa territorial, segundo os mediadores locais, tem sido funda-
mental para a ampliação do número de famílias camponesas certificadas nesse território.
Uma vez iniciado, esse processo possibilitou a ampliação do número de famílias certi-
ficadas orgânicas, passando de 32 em 1990 para 245 em 2015. Dessa forma, observou-se
que a construção social do circuito curto territorializado do Vale do Ribeira pelos camponeses
locais, a partir de suas cooperativas e associações locais, potencializou o dinamismo das
economias locais, em articulação com a ampliação da capacidade de inclusão sociopro-
dutiva, vinculada a transformação ecológica dos sistemas produtivos locais. Além disso, a
partir desse contexto, novas formas de comercialização também começaram a ser criadas
a partir de 2015, tais como: pequenas feiras livres locais nos municípios do Vale, e entrega
de cestas de produtos ecológicos em domicílios em Curitiba, a exemplo dos agricultores
camponeses associados à AOPA e à Associação Sertaneja de Cerro Azul e de Bocaiúva
do Sul. Reforçando, dessa forma, a construção de uma perspectiva de desenvolvimento
territorial sustentável.
No que diz respeito ao PNAE, os anos 2013 e 2014 foram períodos de reajuste e reor-
ganização dos grupos participantes. O PNAE, via AOPA, comercializou em 2011 para 64
escolas estaduais em Pinhais. Em 2012, 164 escolas, e em 2015, são 280 escolas estaduais,
abrangendo tanto a capital Curitiba quanto os municípios do primeiro (fronteiriços a Curitiba)
quanto do segundo (próximos de Curitiba) “cinturão verde” de Curitiba.
Tal como citado por Maluf (2004), a dimensão socioespacial apresenta significativa
relevância na comercialização agroalimentar, envolvendo os processos de constituição e
de ressignificação dos territórios. O território, tal como definido por Pecqueur (2005, p. 13)

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não se define somente pelas condições ambientais ou produtivas, mas pelas relações so-
ciais dos atores:

[...] nessa perspectiva, o território é o resultado de um processo de constru-


ção pelos atores. O território não é postulado, é constatado a posteriori. [...] É
necessário, portanto, entender que o território é, ao mesmo tempo, um ‘envol-
vente’ (‘contenant’, o que contém) e o resultado de um processo de elaboração
de um conteúdo (PECQUEUR, 2005, p. 13).

A construção social de circuitos curtos territoriais de comercialização, ao mesmo tempo


em que é mobilizada, mobiliza o território, promovendo nele modificações socioespaciais,
ambientais e culturais. De acordo com Maluf (2004, p. 08):

A proximidade física não é suficiente para gerar relações sistemáticas e sinér-


gicas entre os agentes econômicos instalados numa determinada região, re-
lações que constituem condição para a conformação dos referidos circuitos
regionais. Estas relações são construídas por processos que refletem as formas
sociais de ocupação do território, as opções de estratégia dos agentes econô-
micos envolvidos e as ações públicas voltadas para promover as atividades
econômicas locais e regionais (MALUF, 2004., p. 8).

Além disso, os estudos de Fidelis (2011) ao analisar processos de ecologização de


quilombolas do Vale, os estudos de Brandenburg e Ferreira (2012) sobre ecologização em
Rio Branco do Sul e os estudos Rodrigues (2013) sobre a Cooperafloresta indicam que a
transformação de arranjos agroalimentares também ocorre de forma indissociável dos pro-
cessos de transformação das subjetividades dos sujeitos sociais em envolvidos. Brandenburg
e Ferreira (2012) argumentam que a transformação desses arranjos agroalimentares tem
possibilitado a reconstrução de relações simbólicas e materiais entre humanos e natureza,
desconstruindo visões de mundo dicotômicas e instrumentais, que separam humanos da
natureza (LEFF, 2014), possibilitando a emergência de racionalidades socioambientais, que
reconectam humanos e natureza como co-criadores e mantenedores das ecologias dessas
territorialidades situadas.
Desse modo, infere-se que a construção de circuitos curtos agroalimentares de base
ecológica, envolvendo atores sociais do Vale do Ribeira em feiras livres, mercados institu-
cionais e grupos de consumo, estimulam o fortalecimento de uma perspectiva de desenvol-
vimento territorial sustentável, na medida em que dinamizam as economias locais, recriam
condições de reprodução social do campesinato local, e que possibilitam a transformação
ecológica dos sistemas produtivos. Esses processos são acompanhados da transformação
das racionalidades desses sujeitos sociais, possibilitando a construção de uma racionalida-
de socioambiental.

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REDES SOCIAIS E GOVERNANÇA TERRITORIAL

Para tornar possível a abertura, manutenção e ampliação desses circuitos curtos ter-
ritorializados, bem como dinamizar essa estratégia de promoção do desenvolvimento terri-
torial sustentável, emergiu no Vale a necessidade de criação de uma forma de governança
territorial, um “novo bloco socioterritorial”, composto pelos diversos atores sociais presen-
tes no território.

[...] afirma-se que esta resulta de relações de poder que se efetivam pela atua-
ção dos diversos atores/agentes nas diferentes redes de poder socioterritoriais,
reafirmando a necessidade de emergência e constituição de um novo bloco
histórico local, que prefere chamar bloco socioterritorial, capaz de definir os
novos rumos para o desenvolvimento do território ou região, como condição
para a implementação de novas práticas, preferentemente mais democrático-
-participativas (DALLABRIDA e BECKER, 2003, p. 74-74).

No Vale do Ribeira Paraná o processo de governança territorial se constituiu durante


os anos 2000 com dois blocos de atores principais, por um lado os poderes públicos mu-
nicipais, estaduais e federais, vinculados a Programas, recursos financeiros e Projetos de
Desenvolvimento Territorial, e por outro, com organizações da sociedade civil, representadas
principalmente por Redes, Cooperativas, Associações de agricultores familiares, camponeses
e de Remanescentes de Quilombos.
Dentre as organizações da sociedade civil, destaca-se a presença da Rede Ecovida
como a principal certificadora e mobilizadora dos processos de ecologização da agricultura
do Vale, o que pode ser descrito nos estudos de Brandenburg e Ferreira (2012), Rodrigues
(2013) e Coradin (2014), respaldadas pelas observações em campo desta pesquisa.
Nesse bloco, merece destaque o Fórum de Desenvolvimento Territorial Sustentável do
Vale como ator chave no processo de governança territorial. Nesse espaço esses diversos
atores territoriais puderam participar, disputar e construir estratégias dirigidas à promoção
do Desenvolvimento Territorial. Esse espaço de discussão foi constituído no ano 2002 e
assumido pela Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT) em 2003, no âmbito do
Programa Nacional de Desenvolvimento de Territórios Rurais (PTDRS, 2011).
Os autores Dallabrida e Becker (2003, p. 75), com base em Boisier (1998), mencionam
dois requisitos básicos para que se possa efetivar o que eles denominam de “[...] ‘interven-
ções territoriais inteligentes’ com possibilidade de êxito [...]”, são elas: “[...] a construção de
um novo conhecimento e a construção do poder político local/regional”. As intervenções
territoriais dependem das condições locais e da formação de capitais sociais, sendo estes:

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[...] um conjunto de elementos que fazem parte da estrutura social e da cultura,
como as normas de reciprocidade, os padrões de associativismo, os hábitos
de confiança e cooperação entre as pessoas, as relações que ligam segmen-
tos variados da sociedade. Em sentido mais restrito pode-se entender capital
social como a “[...] habilidade de criar e sustentar associações voluntárias’
(PUTNAM, 2000, p. 177).

A presença de capital social torna possível atingir os objetivos almejados pelos atores
locais, superando a condição de território-palco para território-ator (DALLABRIDA e BECKER,
2003) ou território socialmente construído (PECQUEUR, 2005). Delgado, Bonnal e Leite
(2007) afirmam que esses espaços não são neutros, mais sim permeados por relações de
poder, em que agrupamentos políticos, agentes individuais e/ou coletivos disputam capitais,
projetos e propostas políticas entre si4.
De acordo com levantamento de dados realizado em 2015, pode-se constatar que dois
projetos de Proinf operados no Vale tiveram recorte específico direcionado à estruturação
da comercialização ecológica, com enfoque na infraestrutura logística para estruturação de
circuito de trocas do Vale, representando cerca de 30% do total de recursos destinados pelo
governo Federal ao PROINF. Na disputa de interesses entre os atores que compõem esse
espaço de governança territorial, assumido como espaço de discussão e encaminhamento
de projetos associados aos programas institucionais de comercialização (PAA e PNAE),
identificou-se que o campesinato local, organizado em associações e cooperativas locais,
regionais e territoriais, bem como em redes de agricultores familiares e ecológicos, conseguiu
conquistar recursos para fortalecimento do circuito ecológico do Vale do Ribeira.
Como resultado, se identificou um caráter mais funcional que ontológico nessa estrutura
de governança, observa-se que a mesma foi fundamental para possibilitar a criação e amplia-
ção do circuito ecológico de trocas do Vale do Ribeira Paraná, fortalecendo a ecologização
e a diversificação agroalimentar territorial, em conexão com a capital Curitiba.
No entanto, as últimas observações a campo realizadas mostraram fragilidades e
baixa capacidade, tanto do poder público quanto das organizações de agricultura familiar
atuantes no território em dar sequência ao processo de governança territorial. A partir de
2016 constatou-se que as práticas de governança territorial se fragilizaram em decorrência
do encerramento do Programa Territórios da Cidadania e do Fórum de Desenvolvimento
Territorial. Isso gerou um vazio institucional territorial e ao mesmo tempo uma fragmenta-
ção das ações territoriais. O processo de governança territorial deixou de ser realizado pela
associação dos blocos de atores públicos e da sociedade civil no espaço do Fórum, para

4 O principal meio de acesso a recursos financeiros era proveniente do Programa de Apoio a Projetos de Infraestrutura e Serviços em
Territórios Rurais (PROINF).

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acontecer de forma fragmentada, de acordo com relações de proximidade de objetivos entre
os atores locais, sejam eles públicos ou da sociedade civil.
Associado a isso, com a crise dos mercados institucionais, principalmente do PAA,
percebeu-se redução da participação e capacidade de geração de renda, principalmente
para aquelas categorias sociais menos capitalizadas, com recorte racial (negros), de gênero
(mulheres) e geracional (jovens). São principalmente essas categoriais sociais que têm tido
as maiores dificuldades para conseguir criar e gerenciar a construção de novos mercados,
e que vinham sendo beneficiárias das políticas públicas operacionalizadas no plano territo-
rial. A situação de desmantelamento das políticas públicas (SABOURIN et. al., 2020), em
curso no Brasil a partir de 2016, reflete-se no contexto do território do Vale do Ribeira Paraná,
e fragiliza a capacidade de dinamização dessa estratégia de promoção do desenvolvimento
territorial sustentável.

DECOLONIALIDADE E DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL: UM DIÁ-


LOGO EM CONSTRUÇÃO

Tal como referido no início desse texto, o Vale do Ribeira tem sido representado histori-
camente como um território que ficou alheio aos principais ciclos de acumulação de capital do
Estado do Paraná (BIANCHINI, 2010). Ao mesmo tempo é o território do Estado do Paraná
com o maior número de comunidades negras certificadas e reconhecidas (GTCM, 2006).
O modelo de desenvolvimento adotado no Vale participa de uma perspectiva de acumu-
lação neoextrativista hegemônica, que atualiza e intensifica ações extrativistas de economias,
um estilo de acumulação primitiva, que se atualiza e se intensifica nos atuais contextos de
crise contemporânea de acumulação global de capital (BRANDÃO, 2010).
Esse modelo de acumulação tem aprofundado conflitos e injustiças socioambientais no
Brasil, colocando os conflitos socioambientais pela apropriação de recursos na centralidade
das ações dos atores, que colocam por um lado populações tradicionais, camponesas, e por
outro, como geradores desses conflitos, o próprio Estado, investidores, empresas minera-
doras, latifúndios com reflorestamento, especulação imobiliária, entre outros (ACSELRAD,
2009; PORTO, PACHECO e LEROY, 2013).
O processo de construção dos circuitos curtos agroalimentares agroecológicos do Vale
do Ribeira Paraná, na medida em que favoreceu a dinamização das economias locais, que
gerou condições de inclusão socioprodutiva e ampliou as capacidades de reprodução social
da condição camponesa das agriculturas tradicionais dos sujeitos desse território e que, ao
mesmo tempo, gerou a transformação ecológica dos sistemas de produção locais, mobilizou
recursos em ativos territoriais, e com isso dinamizou a construção de uma perspectiva de

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desenvolvimento territorial sustentável (PECQUER, 2005), em contraponto a essa perspectiva
hegemônica excludente que desvaloriza saberes e fazeres das comunidades tradicionais.
A associação entre programas públicos, agentes do poder público e atores da sociedade
civil engajados em uma governança compartilhada, focados na reconstrução agroalimentar
ecológica do Vale, embora insuficiente, se mostrou uma alternativa viável para aquele con-
texto neoextrativista, capaz de mobilizar a construção de uma perspectiva de desenvolvi-
mento territorial sustentável, que “[...] designa todo processo de mobilização dos atores que
eleva à elaboração de uma estratégia de adaptação aos limites externos, na base de uma
identificação coletiva com uma cultura e um território” (PECQUEUR, 2005, p. 12).
No atual contexto de desmantelamento das políticas públicas brasileiras (SABORIN
et al., 2020), essa estratégia está em inflexão, o que incita à busca pela construção de no-
vas reflexões, que nos levam a aproximações com perspectivas teóricas descolonizadoras.
Quijano (2014) esclarece que a colonialidade do poder se baseia no domínio do tra-
balho, das subjetividades e das identidades, produz des-humanidades, cujos padrões são
distribuídos globalmente e controlados desde os países do norte global. A colonialidade do
poder se constitui e se mantém com base na dominação racial. Essa subalternização racial
atua como produtora de desumanidades. Lugones (2004) complexifica essa noção, introdu-
zindo o conceito de colonialidade de Gênero. Segundo ela:

Proponho o sistema moderno colonial de gênero como uma lente através da


qual aprofundar a teorização da lógica opressiva da modernidade colonial,
seu uso de dicotomias hierárquicas de lógica categorial. Quero enfatizar que
a lógica categorial dicotômica e hierárquica é central para o pensamento ca-
pitalista e colonial moderno sobre raça, gênero e sexualidade. (LUGONES,
2014. p. 935).

Gênero, dessa forma, é constituído e constitui a colonialidade do poder, tal como


constrói e é construído por raça. Visualizar e compreender essa intersecção demanda, por
um lado, entender quais são as relações constitutivas da produção de desigualdades de
gênero em contextos coloniais, e por outro lado, colocá-las em relação com a produção da
ideia de raça. Lugones (2014) ainda destaca a hierarquia dicotômica entre humano e não
humano como a dicotomia central da modernidade. A essa dicotomia, acompanha a repro-
dução moderna da dicotomia hierarquizante entre humanos/natureza e homens/mulheres.
Além disso, Leff (2014) argumenta que esse processo de dominação só pode se dar
em conjunto com a construção de racionalidades dicotômicas que separam humanos e na-
tureza, tornando-a passível de dominação, expropriação e exploração por meio da violência.
Nessa esteira, no âmbito do Brasil, Porto, Pacheco e Leroy (2013), identificam que são as
populações tradicionais, mulheres e jovens, populações mais impactadas com conflitos e
injustiças socioambientais no Brasil.

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Ao retomar o olhar para o Vale, através dessas lentes descolonais, esclarece-se por-
que ainda hoje o Vale é representado como um território de atraso, bem como todas as
dificuldades enfrentadas na superação do mesmo como território-palco, bem como porque
identifica-se que foi justamente sobre as mulheres negras e menos capitalizadas a recaírem
as principais consequências do desmantelamento das políticas públicas voltadas à promoção
do desenvolvimento territorial sustentável outrora operacionalizadas do Vale.
As experiências de campo aqui analisadas evidenciam a reprodução social e a persis-
tência dessa lógica colonialista de desenvolvimento do território, na medida em que eviden-
cia-se que são principalmente as mulheres negras e menos capitalizadas que tem ficado de
fora dos atuais rearranjos de mercados em curso nesse território. Outrossim, como resistência
coletiva e descolonizadora, identificou-se que mesmo com tais fragilidades, foram justamen-
te essas mulheres negras e menos capitalizadas que continuaram a produzir ecológico e
que, apoiadas por outras mulheres camponesas de redes agroecológicas, tem sustentado
a construção dos circuitos curtos agroalimentares de base ecológica do Vale.
Dessa forma, identifica-se que, para que a estratégia de desenvolvimento territorial sus-
tentável outrora mobilizada pelo incentivo de políticas públicas específicas pudesse continuar
em um contexto de desmantelamento das políticas públicas, foi relevante o diálogo desse
referencial teórico com estudos descoloniais, a fim de possibilitar visibilizar as ausências
culturais, históricas e estruturais profundas que geram nesse território as desigualdades
sociais constitutivas dos limites de um modelo pautado no crescimento econômico, no Vale
do Ribeira. Em um território cuja formação social se deu com base na formação de um cam-
pesinato negro e indígena, associado a relações patriarcais, não visibilizar desigualdades de
gênero, classe e raça de modo transversal limita e constrange estratégias de desenvolvimento
territorial sustentável. Outrossim, esses dados apontam para a relevância das solidariedades
femininas, negras e camponesas em redes sociais familiares e ecológicas, como capacida-
des de mobilizar recursos em ativos territoriais, e sustentar a construção dos circuitos curtos
agroalimentares ecológicos territorializados na atualidade como estratégia viável.
Dessa forma, compreende-se que o diálogo entre a abordagem decolonial e a aborda-
gem do desenvolvimento territorial sustentável, se torna relevante. Para isso, sugere-se a
transformação de recursos em ativos territoriais de modo articulado com a interseção raça,
gênero e natureza, como processos dialógicos de promoção de novos ativos e novas ações
de governança territorial. Visto desde bases interculturais críticas, a valorização dos recursos
territoriais e sua transformação em ativos, bem como a promoção do capital social se dão
em associação à valorização ontológica étnico-racial, de gênero e da natureza. Dessa forma,
capacidades socioculturais colaborativas entre humanos que possuem construções étnico
raciais e de gênero específicas são chamadas em relações de diálogo de saberes (LEFF,

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2014) à recriação desses universos territoriais, e com as naturezas não humanas da Terra,
favorecendo emergências territoriais descolonizadoras e emancipatórias. Esse processo
implica o reconhecimento e a internalização dessa lógica de construção territorial tanto pelos
poderes e atores públicos, quanto à necessária internalização dessa perspectiva ontológica
intercultural crítica às lógicas reprodutivas das organizações e redes de agricultura fami-
liar, camponesa e ecológicas atuantes no território. Insiste-se, o processo de reconstrução
agroalimentar ecológica do Vale, se mostrou como possibilidade real e alternativa frente ao
modelo de produção hegemônica, que aporta desigualdades e injustiças socioambientais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desde os anos 1990 identifica-se um processo de ecologização da agricultura tradi-


cional camponesa e familiar do Vale do Ribeira. Esses processos têm sido promovidos por
redes e organizações sociais quilombolas e da agricultura familiar, as quais têm criado novas
perspectivas de comercialização, dentro e para além desse território, atuando na construção
de novas dinâmicas de comercialização no Vale do Ribeira.
A construção social das novas dinâmicas de comercialização ecológica foram potencia-
lizadas a partir dos anos 2000, por meio ação do setor público e sociedade civil, e envolvem
construções sociais de mercados territoriais, tais como feiras livres, mercados institucionais
e grupos de consumo, culminando com a construção do circuito territorial de comercialização
do Vale do Ribeira.
Esses processos favorecem a construção de perspectivas de desenvolvimento territorial
sustentável, na medida em que tem qualificado condições de reprodução social da condi-
ção camponesa, dinamizado as economias locais e gerado a transformação ecológica dos
sistemas produtivos locais, favorecendo a redução de desigualdades sociais, juntamente
com a valorização das identidades étnico-raciais e de gênero dos atores que participam
dessas experiências.
Por fim, para estudos futuros, sugere-se associar às abordagens teóricas de desenvol-
vimento territorial com abordagens decoloniais, como forma internalizar desigualdades de
gênero, classe e raça, como categorias transversais da produção de exclusões do desen-
volvimento pautado, equivocadamente, no mero crescimento econômico no território. Visto
desde uma perspectiva descolonizadora, isso implica reconhecer, valorizar identidades,
capitais e ativos ecológicos e interculturais presentes nesse território, como recursos/ativos
e caminhos para construção de perspectivas de desenvolvimento territorial sustentável com
caráter descolonizador e emancipatório.

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06
Main additives used in slurry acidification:
Utilization - application - separation
technologies and proposed adoptions

João Baptista Chieppe Júnior


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Goiás - Inhumas

'10.37885/220408666
ABSTRACT

The world population is expected to grow by around 15% in numbers over the next 30 years
from an estimated 7.8 billion people to 9.2 billion by 2050. The biggest concern is how to
increase food production without increasing impacts of agriculture and livestock on the en-
vironment. Animal manure generated in this context is a rich source of organic matter and
nutrients for agricultural production, but mismanagement has negative impacts on planet
earth, causing emissions of greenhouse gases and pollutants. In this sense, this work aims
to present a literature review showing the main additives used in slurry acidification, their
uses and applications, the characteristics of mud separation techniques (solid-liquid) and the
existing adoptions for the correct and effective use by the farmer of the existing technology
and the proper use of organic matter (animal waste), thereby contributing to the reduction of
the environmental impact of the atmosphere.

Keywords: Slurry, Acidification, Additives.


INTRODUCTION

Livestock production has increased greatly in the last century in response to the gro-
wing world population (Bouwman et al., 2012), (figures 1 and 2). The increase in demand for
livestock products has led to the intensification and industrialization of specialized livestock
operations (Steinfeld et al., 2006).
One of the relevant direct and unavoidable consequences of these intensified opera-
tions is the production of large volumes of manure, namely liquid slurry. Globally, manure
accounted for a total of 28% of greenhouse gas emissions from rangeland management,
pasture fertilizer and land wide application (FAO, 2018). However, this animal manure when
used properly, can be a source of nutrients that can replace mineral fertilizers.

Source: (You et al, 2017 ).


Changes in Global Number of Livestock
2010number
Figure 1. Changes in global - 2016
of Livestock 2010-2016.

2
Billion Animal / Year

1,5

0,5

0
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Cattle Pigs Sheep Goats

Source: (ubclfs-wmc.landfood.ub.ca).

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Changes in Global Number
2010 - 2016
Figura 2. Changes in global number population world 2010-2016.

7,4

Billion Population / Year


7,3
7,2
7,1
7
6,9
6,8
6,7
1 2 3 4 5 6 7

Billion Population

Source: (Population Division of the Department of Economic and Social Affairs of the United Nation).

One of the major challenges of the 21st century is how to increase food produc-
tion without increasing the negative impacts that agriculture can have on the environ-
ment (FAO, 2018).
Historically, livestock production and agriculture were closely linked: animal manure was
used as a source of organic matter and nutrients for agricultural production. However, due
to the availability of mineral fertilizers in recent years to increase crop yield (Cordell et al.,
2009), the dependence of slurry as fertilizer has declined dramatically. Today, mineral fertili-
zers are expensive because of the energy needed to produce them and the P sources have
been exhausted. Phosphorus is a limited resource and natural sources must be depleted in
the next 60 - 130 years (Cordell et al., 2009).
On the other hand, slurry usually contains more P than N and a pulp application based
on crop N needs may lead to excess P in soil farms (Szogi et al., 2018). This is when mud
is used as a source of nutrients for crops: areas with concentrated livestock production and
limited arable land have a surplus of nutrients, while non-livestock areas maintain a nu-
trient deficit. Thus, the distribution and disposal of animal slurry has become a problem and
these slurry must be transported from intensive livestock production units to areas where
nutrients are scarce.
Poor management of slurry has significant negative impacts on the environment.
Excessive nutrient load, mainly nitrogen (N) and phosphorus (P), causes contamination of
surface water and groundwater through runoff and leaching. As a consequence, there is a
direct loss of biodiversity, eutrophication, increase of noxious algal forests, hypoxia and fish
deaths (Bouwman et al., 2012).
In addition, slurry is an important source of gaseous emissions (notably NH3 emissions)
that affect the health of humans and animals, causing eutrophication, acid rain and contributing
to global warming (EEE, 2013; Hristov et al., 2013 ). In addition to negative environmental
impacts on the environment, nutrient losses reduce the fertilizer value of the suspensions,

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which, if properly treated, could be a valuable source for farmers. In addition, grumpy emis-
sions are also produced from untreated slurry that have a major impact on human and social
well-being (Schiffman, 1998).
Improving or combining existing treatment technologies or creating new ones may be
possible to reclaim and reuse the valuable animal manure product that, over the years, has
been transformed into a so-called waste of animals.
Many techniques have been developed in recent years to deal with excess slurry pro-
duced in concentrated areas (Petersen et al., 2008). In practice, this results in the storage of
slurry during the time when it can not be applied to land or transported off the farm. In Europe,
storage time varies from 4 to 9 months (Steinfeld et al., 2010), and during this period, if slurry
is not properly treated, large amounts of gaseous emissions are released into the atmosphere
(Dinuccio et al., 2008).
In this sense, this work aims to present a literature review showing the main additives
used in the acidification of slurry, their uses and applications, the characteristics of mud se-
paration techniques (solid-liquid) and the existing adoptions for the correct and effective use
of existing technology and the proper use of organic matter (animal waste), thereby helping
to reduce the environmental impact of the atmosphere.

Slurry (Variability in effluent composition)

Composting was proposed as a practical and economical way to recycle animal manure
at farm and community levels (Nolan et al., 2011). Through composting, (figure 3) manure
or mud can be transformed into organic fertilizer, reducing the volume, odor and moisture
content and contributing to the elimination of pathogenic microorganisms, allowing the safe
transfer of excess nutrients to manure to other areas (Onwosi et al., 2019).

Figure 3. Use animal manure as garden fertilizer.

Source: (fix.com).

Manure is recycled in countries where livestock waste is regulated by a nutrient manage-


ment plan because it is usually the least cost option with environmental benefit (Hristov et al.,

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2013). In Europe, this management varies among countries, regions and farms depending
on the type of animal, housing design and manure collection system (Oenema et al., 2007a).
The main difference between the manure types (Figures 4 and 5) is the consistency
given partially to the total solids content (TS). However, other aspects such as bedding or
rainwater should be considered (Hamilton, 2013).

Figure 4. Manufacturing process of the manure organic fertilizer.

Source: (quora.com).

Figure 5. Total solids content of manure (dotted line shows manure as excreted) (Adapted from Hamilton, 2013).

Manure management systems that produce solid manure in Europe account for 20% to
30%, while the rest is handled as pulp that is stored in wells under the animals or in external
tanks (Oenema et al., 2007a). There is great variability in cattle manure, with pulp being

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the most abundant type of manure, with a proportion over 65% in many countries, and pig
manure is collected mainly as slurry in most European countries (Burton & Turner, 2003 ).
Table 1 shows the characterization of manure for a variety of animal categories published
by Christensen & Sommer (2013). The composition of manure varies considerably between
animals and countries (Burton & Turner, 2003). Part of this variability is due to differences
in production technique, housing and water storage and dilution systems (Burton & Turner,
2003; Petersen et al., 2019).

Table 1. Characteristics of animal manure.


Animal Manure Dry matter Total P Total N TAN
category category (g kg-1 slurry) (g kg-1 dry matter) (g kg-1 dry matter) (g kg-1 dry matter)
Sows slurry 23 +- 15 42+- 18 165 +- 61 114 +- 75
Fatteners slurry 60 +- 26 30 +- 10 112 +- 32 77 +- 26
Dairy cows slurry 77 +- 21 11 42 +- 24 22 +- 10
Dairy cows FYM 211 +- 33 23 +- 7 133 +- 30 25 +- 17
Dairy cows deep litter 418 +- 174 4 +- 3 22 +- 8 6 +- 5
Beef catle solid manure 231 +- 207 - 106 +- 123 11 +- 12
Source: FYM: Farmyard manure.

FINAL CONSIDERATIONS

The implementation of manure treatment technologies in practice is, however, limited


and dispersed regionally in the EU. Less than 10% of total livestock manure (excluding gra-
zing animal excrement) was processed in the EU-27 in 2010, with large variations between
countries (Foged et al., 2017a).

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07
Desenvolvimento sustentável: uma
alternativa para o desenvolvimento?

Arleson Eduardo Monte Palma Lopes


Universidade Federal do Pará - UFPA

Vanessa do Nascimento Ferreira


Universidade Federal do Pará - UFPA

Lidiane Caetano de Mendonça Dias


Universidade Federal do Pará - UFPA

'10.37885/220910308
RESUMO

A discussão a respeito do modelo de desenvolvimento que deve ser adotado por uma
nação vem sendo alvo de debate ao longo de séculos. O objetivo desse ensaio teórico é
discutir como o desenvolvimento sustentável pode ser uma alternativa para alavancar o
desenvolvimento de forma sustentável. Ao longo da discussão é possível identificar que: 1)
o desenvolvimento sustentável agrega dimensões que até então não eram consideradas
pelas teorias e/ou modelos antecedentes; 2) a dimensão ambiental deu ao desenvolvimen-
to um cunho de caráter de subsistema do ecossistema, ou seja, o desenvolvimento está
intimamente ligado à capacidade dos recursos naturais disponíveis; 3) dentro da discussão
de desenvolvimento sustentável, a dimensão cultura passa a ser incorporada no modelo de
desenvolvido; e 4) o equilíbrio entre as dimensões (econômica, social, ambiental e cultural)
dão ao desenvolvimento sustentável a prerrogativa de uma alternativa de desenvolvimento a
longo prazo. Portanto, o desenvolvimento sustentável pode ser considerado uma alternativa
de desenvolvimento a ser adotada a longo prazo por agregar parâmetros econômicos e não
econômicos em seu escopo.

Palavras-chave: Alternativa de Desenvolvimento, Desenvolvimento Sustentável, Equi-


líbrio Econômico.
INTRODUÇÃO

O debate acerca do desenvolvimento não é trivial, ao longo de séculos diversos es-


tudiosos se propuseram a estudar o fenômeno do desenvolvimento. Van Bellen (2004, p.
67) afirma que:

O final do século XX presenciou o crescimento da consciência da sociedade


em relação à degradação do meio ambiente decorrente do processo de desen-
volvimento. O aprofundamento da crise ambiental, juntamente com a reflexão
sistemática sobre a influência da sociedade neste processo, conduziu a um
novo conceito - o de desenvolvimento sustentável. Este conceito alcançou um
destaque inusitado a partir da década de 1990, tornando-se um dos termos
mais utilizados para se definir um novo modelo de desenvolvimento.

Diante do exposto, o desenvolvimento sustentável é conceituado como o processo


de expansão da autonomia substantiva dos indivíduos em circunstâncias que estimulem a
conservação e regeneração dos recursos fornecidos pelos ecossistemas à sociedade. Ele
é constituído de um conjunto de fatores determinantes, mas que sua execução depende de
forma singular de uma visão estratégica entre seus fomentadores (ABRAMOVAY, 2010).
O trabalho traz a seguinte reflexão: considerando a atual conjuntura, a adoção das
práticas de desenvolvimento sustentável pode ser uma alternativa para alavancar o desen-
volvimento? Tal reflexão parte do pressuposto que até então, os modelos de desenvolvimento
adotado não tem conseguido equilibrar os diversos fatores e contextos que surgem na so-
ciedade contemporânea. O objetivo desse ensaio teórico é discutir como o desenvolvimento
sustentável pode ser uma alternativa para alavancar o desenvolvimento de forma sustentável.
Nesse contexto, o artigo visa contribuir para formação de insights que ofereçam sub-
sídios para pesquisadores, acadêmicos, governo e sociedade sobre o papel do desenvol-
vimento sustentável no sistema econômico, haja vista, que o desenvolvimento sustentável
tem feito uma ruptura com as teorias tradicionais de desenvolvimento que não consideravam
em seu arcabouço a limitação dos recursos naturais, a questão cultural e nem os impactos
desses fatores a longo prazo no desenvolvimento. Além disso, o trabalho visa fortalecer
a discussão acerca de como o desenvolvimento sustentável pode ser uma alternativa de
desenvolvimento, pois, o mesmo agrega em seu escopo fatores econômicos, sociais, am-
bientais e culturais que balizam a adoção do desenvolvimento sustentável a longo prazo em
diversos contextos e/ou cenários distintos e alavanca a economia local.
Portanto, o presente ensaio teórico alicerçou-se na discussão acerca dos elementos que
compõem o desenvolvimento sustentável e como isso pode ser uma alternativa de adoção
de desenvolvimento a longo prazo. Logo em seguida, apresenta-se as considerações finais
com as principais reflexões da discussão.

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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA ALTERNATIVA PARA O
DESENVOLVIMENTO?

Desde a publicação do seminal livro “A Riqueza das Nações” de Adam Smith durante o
período da Revolução Industrial e de Friedrich List “Sistema Nacional de Economia Política”
a discussão sobre o desenvolvimento capitalista ou qual melhor modelo de desenvolvimento
vem sendo foco de calorosa discussão ao longo dos últimos séculos.
O debate acerca do desenvolvimento sustentável surge na década de 1980 pela então
conhecida WWF (Word Wide Fund for Nature) no qual apontou vários objetivos que tinha
como intuito a conservação do meio ambiente com a finalidade considerar a capacidade
dos ecossistemas e as necessidades das gerações futuras visando sustentar o desenvol-
vimento (MOLINA, 2019). Em 1992 ocorreu no Rio de Janeiro a Conferência das Nações
Unidas, também conhecida como Rio 92 que teve como objetivo discutir a adoção de um
novo modelo de desenvolvimento devido aos grandes impactos ambientais que estavam
sendo gerados pelo desenvolvimento capitalista. A inserção do desenvolvimento sustentável
como uma alternativa de superar as práticas de degradação ambiental causada pelo modelo
de desenvolvimento capitalista vigente surge no Relatório Brundtland.

O corpus do conceito de Desenvolvimento Sustentável encontra-se amparado


pelo Relatório Brundtland, documento oficial da ONU com mais de 30 anos de
publicação. Esse documento é amplamente referenciado por apresentar um
conceito de Desenvolvimento Sustentável plástico o suficiente para possibili-
tar sua utilização por diferentes atores e setores da sociedade (SUGAHARA;
RODRIGUES, 2019, p. 31).

Desde a apresentação do Relatório de Brundtland as economias mundiais começaram


a discutir e repensar o seu modelo de desenvolvimento, uma vez que, o desenvolvimento
sustentável chama atenção para três dimensões econômica, social e ambiental no qual os
países precisam desenvolver um equilíbrio entre essas dimensões para que possam lograr
de uma economia mais sustentável a longo prazo e garantir o direito de usufruto das ge-
rações futuras.
Nascimento (2012) destaca que ao se definir apenas três dimensões para o desen-
volvimento sustentável acaba-se deixando de lado as dimensões do poder e política. Para
o autor, o desenvolvimento sustentável passa assim a não compreender a existência de
conflitos de interesse ou estrutura de poder. Contudo, cabe ressaltar que as decisões sobre
desenvolvimento permeiam por uma estrutura de poder e pelo campo político, haja vista que
nem sempre os países têm interesse incomum (NASCIMENTO, 2012). Apesar da crítica
tecida pelo autor sobre as limitações das dimensões do desenvolvimento sustentável e o
reconhecimento que a dimensão do poder e política está atrelada às decisões relacionadas

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ao desenvolvimento, não é intenção dos autores adentrar no aprofundamento de tal discus-
são, uma vez que não é o cerne da questão a ser desenvolvida.
Barbosa (2008) apresenta como ocorre a interseção entre as dimensões (econômi-
ca, social e ambiental) que compõem o desenvolvimento sustentável, incluindo questões
relacionadas à justiça socioambiental, inclusão social e ecoeficiência, conforme demons-
trado na figura 1.

Figura 1. Interseção das dimensões do desenvolvimento sustentável.

Fonte: Barbosa (2008, p. 5).

Nesse contexto, o desenvolvimento sustentável não deve ser visto apenas como um
slogan imbricado por questões políticas. As degradações ambientais que tem avançado de
forma colossal devido ao consumo em massa estimulado pelo atual modelo de desenvol-
vimento, assim, o desenvolvimento sustentável pode ser uma alternativa de proposta de
desenvolvimento que atenda os anseios da sociedade (BARBOSA, 2008).
Segundo Meneguzzo, Chaicouski e Meneguzzo (2009, p. 515), “o desenvolvimento
sustentável apresenta-se como um projeto destinado a erradicar a pobreza, satisfazer as
necessidades básicas, melhorar a qualidade de vida da população e promover a conserva-
ção ambiental”. Os autores destacam que o desenvolvimento sustentável tem a educação
ambiental como premissa básica de melhoria da qualidade de vida, por meio da conscien-
tização das pessoas sobre a importância da preservação ambiental.
Lopes et al (2017) ressaltam que os desafios do desenvolvimento sustentável estão
atrelados a suplantação dos entraves atuais, sejam em aspectos econômicos, sociais, am-
bientais e culturais, além de garantir a conservação de ecossistemas. Os autores desta-
cam que tais desafios devem ser superados nos aspectos econômicos, sociais, culturais
e ambientais que não eram acoplados no modelo desenvolvimentista vigente até os anos

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70. Ou seja, o desenvolvimento sustentável agregou em seu escopo parâmetros econômicos
e não econômicos, o que não era considerado pelos modelos antecedentes.
Em busca de uma alternativa para superar as questões emblemáticas sobre o desen-
volvimento, Mendonça (2019) destaca que cada vez mais tem sido implementado projetos de
cunho governamental visando difundir práticas sustentáveis ao redor do mundo. Governos
nacionais, locais e entidades internacionais têm buscado desenvolver programas atrelados
ao desenvolvimento sustentável ou projetos de Lei em diversos setores.
Mendonça (2019) ainda ressalta que tem se observado a reconstrução de cidades com
o intuito de atender às demandas de mercadorias, escoamento de produção, alocação das
indústrias e a utilização dos recursos da natureza para suprir o sistema capitalista. Nesse
sentido, se faz necessário a redefinição de um novo modelo das forças produtivas de ges-
tão para as cidades, incluindo como requisito básico nesse processo de reconfiguração a
sustentabilidade como força motriz, sendo sensível ao alinhamento entre a produção de
grande escala e a preservação da natureza.
Cavalcanti (2018) afirma que muitas das vezes para que ocorra o desenvolvimento
sustentável é necessário a adoção de políticas públicas dispendiosas e o acesso a tecno-
logias de ponta. Assim, para os países de terceiro mundo com graves problemas sociais e
econômicos encontram barreiras para alcançar este desenvolvimento. O fato é que a cada
vez mais, os países necessitam repensar seu modelo de desenvolvimento e uma das alter-
nativas pode ser a adoção do desenvolvimento sustentável, pois o mesmo busca fazer um
equilíbrio de um modelo econômico sustentável.
Em relação a sustentabilidade, Barbosa (2008) ao examinar o trabalho de Sachs (1993)
apresenta diversos construtos relacionados a sustentabilidade, a saber: (i) sustentabilidade
ecológica no qual se refere ao escopo de base física do processo e está intimamente ligada a
conservação dos recursos naturais; (ii) sustentabilidade ambiental relacionada à capacidade
de manutenção do ecossistema; (iii) sustentabilidade social está ligado ao desenvolvimento
com o intuito de melhoria da qualidade de vida das pessoas; (iv) sustentabilidade política
refere-se ao processo de lapidação da cidadania visando garantir os direitos individuais ao
desenvolvimento; e (v) sustentabilidade econômica está atrelado a gestão de forma eficiente
dos recursos de modo geral, caracterizado pelo processo contínuo de investimento do setor
público e privado.
Todos esses construtos apresentados estão diretamente ligados ao escopo do desenvol-
vimento sustentável, fazendo com que tal modelo seja uma alternativa de adoção de desen-
volvimento por agregar elementos essenciais para a sobrevivência da população e acima de
tudo garantir uma qualidade de vida de modo igualitário para todos. “É por isto que, no caso
da sustentabilidade, definida como uma configuração possível das interações entre dinâmicas

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naturais e usos, torna-se fundamental a questão dos critérios utilizados e de sua pertinência
para vários tipos de atores sociais” (RAYNAUT; ZANONI; LANA, 2018, p. 286). O termo
sustentabilidade incorporado ao desenvolvimento deu ao novo modelo (desenvolvimento
sustentável) uma perspectiva que vai além de elementos normativos e econômicos.
Nesse cenário, Van Bellen (2004) ressalta que existe um leque de ferramentas ou sis-
temas que tem como finalidade mensurar o grau de sustentabilidade do desenvolvimento,
porém, o autor chama atenção para o pouco se tem conhecimento dos aspectos teóricos e
práticos dessas ferramentas. O fato é, que o desconhecimento dessas ferramentas muitas
das vezes trazem uma visão errônea relacionada aos benefícios que podem ser gerados
com a adoção do desenvolvimento sustentável como modelo de desenvolvimento.
Em síntese, o desenvolvimento sustentável é um modelo de desenvolvimento que busca
superar os desafios latentes que tem gerado uma segregação entre países pobres (subde-
senvolvidos) e ricos (desenvolvidos) advindo de uma exploração desenfreada, principalmente
do recursos naturais, pelos modelos de desenvolvimentos adotados ao longo de séculos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estudos relacionados ao desenvolvimento sustentável tem se solidificado cada vez mais


ganhando um caráter multidisciplinar devido sua relevância para a sociedade. Contudo, cabe
destacar que uma análise isolada em relação ao desenvolvimento sustentável, sem conside-
rar todos os fatores que permeiam tal modelo pode gerar uma visão errônea do fenômeno.
O presente ensaio teórico visa contribuir na discussão atrelada ao desenvolvimento
sustentável, identificando os elementos que destacam a importância de sua adoção no pro-
cesso de desenvolvimento. Apesar da literatura apresentar um conjunto de fatores benéficos
às práticas sustentáveis, percebe-se que tal modelo ainda encontra barreiras, principalmente,
em países com grande desequilíbrio econômico e social.
Diante disso, pode-se identificar ao longo da discussão que: 1) o desenvolvimento
sustentável agrega dimensões que até então não eram consideradas pelas teorias e/ou
modelos antecedentes; 2) a dimensão ambiental deu ao desenvolvimento um cunho de ca-
ráter de subsistema do ecossistema, ou seja, o desenvolvimento está intimamente ligado à
capacidade dos recursos naturais disponíveis; 3) dentro da discussão de desenvolvimento
sustentável, a dimensão cultura passa a ser incorporada no modelo de desenvolvido; e 4)
o equilíbrio entre as dimensões (econômica, social, ambiental e cultural) dão ao desenvol-
vimento sustentável a prerrogativa de uma alternativa de desenvolvimento a longo prazo.
Nesse sentido, ressalta-se que este ensaio teórico não teve como objetivo esgotar a
discussão sobre a temática, pois, sabemos que existem diversas correntes do pensamen-
to econômico que trazem em seu escopo tal discussão com visões diferentes. Contudo,

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compreendemos que a reflexão se faz necessária e emergente devido ao cenário de de-
gradação ambiental e esgotamento dos recursos naturais que vem ocorrendo nos últimos
séculos devido a exploração desenfreada por parte do sistema capitalista dominante.
Futuramente, recomenda-se que sejam realizadas pesquisas com o intuito de mensurar
os benefícios da adoção do desenvolvimento sustentável como modelo de desenvolvimento
considerando suas múltiplas dimensões e visões, pois, isso enriquecerá a literatura existente,
além de trazer novos insights relacionados à temática.

REFERÊNCIAS
1. ABRAMOVAY, R. Desenvolvimento sustentável: qual a estratégia para o Brasil? Novos
estudos CEBRAP, n. 87, p. 97 - 113, 2010.

2. BARBOSA, G. S. O desafio do desenvolvimento sustentável. Revista Visões, v. 1, n.


4, Jan/Jun., 2008.

3. CAVALCANTI, R. P. Desenvolvimento sustentável: uma análise a partir da perspectiva


dos BRICS. Rev. Secr. Trib. Perm. Revis. v.6, n.11, Asunción, 2018.

4. LOPES, A. E. et al. Do ecodesenvolvimento ao desenvolvimento sustentável: a traje-


tória de conflitos e desafios para o meio ambiente. ForSci.: r. cient. IFMG, Formiga,
v. 5, n. 2, e00314, out., 2017.

5. MENDONÇA, L. M. d. O conceito de desenvolvimento sustentável: ressignificação


pela lógica de acumulação de capital e suas práticas. Espaço e Economia, Ano VIII,
n. 15, 2019.

6. MENEGUZZO, I. S.; CHAICOUSKI, A.; MENEGUZZO, P. M. Desenvolvimento sus-


tentável: desafios à sua implantação e a possibilidade de minimização dos problemas
socioambientais. Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient., v. 22, janeiro a julho de 2009.

7. MOLINA, M. C. G. Desenvolvimento sustentável: do conceito de desenvolvimento aos


indicadores de sustentabilidade. RMGC –Revista Metropolitana de Governança
Corporativa, v. 4, n. 1, 2019.

8. NASCIMENTO, E. P. d. Trajetória da sustentabilidade: do ambiental ao social, do social


ao econômico. Estudos Avançados, [S. l.], v. 26, n. 74, 2012.

9. RAYNAUT, C.; ZANONI, M.; LANA, P. d. C. O desenvolvimento sustentável regional: o


que proteger? Quem desenvolver? Desenvolv. Meio Ambiente, v. 47, Edição especial:
25 anos do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento, p.
275-289, outubro 2018.

10. SUGAHARA, C. R.; RODRIGUES, E. L. Desenvolvimento sustentável: um discurso em


disputa. Desenvolvimento em Questão, [S. l.], v. 17, n. 49, p. 30–43, 2019.

11. VAN BELLEN, H. M. Desenvolvimento sustentável: uma descrição das principais fer-
ramentas de avaliação. Ambiente & Sociedade, v. 7, n. 1, p. 67 - 87, 2004.

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08
Fatores que interferem na implementação
de políticas públicas no desenvolvimento da
pequena mineração na região de Carajás-
PA

João Sebastião Maia Alves


Universidade Federal do Pará - UFPA

Miquéias da Costa Pinto


Universidade Federal do Pará - UFPA

'10.37885/220910288
RESUMO

Objetivou-se demonstrar os fatores que interferem na implementação de políticas públicas no


desenvolvimento da pequena mineração. Verificou-se no decorrer da discussão que existem
poucas ações por parte da gestão pública, e nenhum projetos de apoio logístico para es-
coamento da produção para o desenvolvimento da pequena mineração. Há necessidade de
foco estratégico por parte da administração pública municipal para auxiliar na regularização
fundiária e legalização das operações existentes, ampla visão para incentivos de modelos de
escala de produção verticalizada. Conclui-se que a importância dos procedimentos adminis-
trativos fica evidenciado como ferramenta de apoio na gestão pública em ações de arranjos
produtivos com projetos sustentáveis e inovadores para fortalecer e dar sustentabilidade a
economia regional e geração de empregos, especialmente nos processos de legalização
da pequena mineração na região.

Palavras-chave: Pequena Mineração, Desenvolvimento Sustentável, Regulação Mineral.


INTRODUÇÃO

A mineração é definida como a atividade de extração de minerais que possuem valor


econômico, sendo de suma importância da atividade para o desenvolvimento da humanida-
de, pois propiciou a fabricação de utensílios e ferramentas essenciais para a sobrevivência
humana (NUNES, 2010, p. 48). Lima e Teixeira (2006), a mineração é um dos eixos da
economia brasileira, contribui para a geração de empregos, rendas e no crescimento da
exportação do país, a extração mineral, é uma atividade que necessita de infraestrutura
local e dos serviços de uma região.
Silva, Boava e Macedo (2016) alertam sobre as escolhas de custo-benefício que a
atividade de extração mineral são significativas para as regiões que dependem dessa ati-
vidade. Segundo eles, alguns agentes públicos nessas regiões, consideram os impactos
ambientais um custo baixo a se arcar visando o desenvolvimento. Como exemplo, a região
de Carajás, na Amazônia legal, principalmente os municípios de Parauapebas, Canaã dos
Carajás, Marabá e Curionópolis que ficam localizados na maior província mineral do País,
que é uma das mais importantes do planeta, a Província Mineral de Carajás, e suas produ-
ções minerais contribuem com bilhões de reais anualmente e para pauta de exportações,
geração de emprego e desenvolvimento regional.
As escolhas de agentes públicos pelo custo-benefício, da atividade de extração mi-
neral, centrada na grande mineração, permite políticas em detrimento do desenvolvimento
da pequena. Para melhor entender a dificuldade de implementação de políticas públicas
no desenvolvimento de pequena mineração na região, citamos Coelho (2015), que nas
suas pesquisas relata que Parauapebas é município do Estado do Pará de emancipação
relativamente recente, ainda nos anos 1988, que apresenta características peculiares. Tais
peculiaridades derivam de suas próprias dotações naturais. Afinal, a história do município
se confunde com a exploração de minérios no Brasil, tendo em vista Parauapebas estar
localizada na região.
Segundo fontes do Instituto Brasileiro Geografia e Estatística – IBGE (2019),
Parauapebas possui o segundo maior Produto Interno Bruto (PIB) do Estado do Pará a pre-
ços correntes sendo a atividade industrial do município, em seu valor adicionado, também a
preços correntes, a primeira do Estado e a 19º do País (comparado a 5.570 municípios) – a
despeito de possuir a 173º população do Brasil. Um município cuja atividade industrial extra-
tivista representa o seu centro de gravidade econômica, em dimensões superlativas dentro
de seu Estado e País. Embora esses dados sejam expressivos pela indústria extrativista,
o município de Parauapebas, assim como os demais municípios da região de Carajás, não
consegue diversificar ou verticalizar suas atividades por não aplicarem políticas públicas

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mais efetivas para o desenvolvimento de suas riquezas, a exemplo de políticas voltadas
para pequena mineração.
Inegavelmente, trata-se de uma riqueza importante. Porém, ao mesmo tempo em
que os minérios projetam, e, por si mesmo, induzem atividades econômicas relevantes no
município, também descortinam desafios consideráveis. Pois, se por um lado, a dotação de
recursos naturais é atrativa para constituir epicentro da atividade econômica municipal, por
outro lado, trata-se de fatores escassos e limitados, os quais compelem que a sua estratégia e
gestão públicas empenhem-se em transformar essas vantagens comparativas em vantagens
competitivas, capazes de impor dinâmicas econômicas pujantes, que sejam criadoras de
valor, com repercussão em produtividade, crescimento e desenvolvimento (PORTER, 1989).
Diante disso, o trabalho vem com o seguinte questionamento: Considerando a evolução
das formas e práticas da Administração pública brasileira, quais fatores dificultam a implemen-
tação de políticas públicas no desenvolvimento de pequena mineração na região de Carajás?
A partir de tal reflexão, denota-se que a implementação de políticas públicas nos mu-
nicípios nem sempre é efetivada, conforme seus formuladores planejam, são inúmeros os
exemplos que interferem nas implementações de políticas públicas, que não saem do projeto.
Ham e Hill (1993) e Lotta (2008), definem que uma política pública é constituída em quatro
fases distintas, essas fases algumas vezes não apresentem delimitações para torna-las
de forma rígidas, podendo as suas ações serem dinâmicas, por poderem se mesclar e se
sobreporem. No início as agendas são delimitadas, especialmente quando as pautas são
definidas de acordo com as demandas sociais, políticas ou econômicas, sobre a qual agem
distintos interesses socioeconômicos.

FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO DA PEQUENA MINERAÇÃO NA


REGIÃO DE CARAJÁS -PA

Estudos do ICMBIO - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (2016),


apontam que os municípios da região de Carajás são marcados por diversidade geológica
que fazem com que a economia se apresente alicerçada predominantemente na mineração,
devido à singularidade de seus recursos minerais. A exploração significou elevados investi-
mentos, principalmente pela companhia Vale, através de seus projetos de extração mineral.
A dinâmica econômica dos municípios interage com os segmentos terciários (comércio
e serviços) e os secundários (indústria de mineração), sendo que comércio e serviços são
os grandes agregadores de mão-de-obra e a indústria de mineração a grande geradora de
riqueza no município. O dinamismo crescente da extração mineral na região, nos últimos
anos, se reflete tanto no aumento do volume de extração dos minérios e receitas, através

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do CFEM, como pela implantação de novos projetos em mineração, que representam novos
recursos na economia local, principalmente comércio e prestação de serviços.
O ICMBIO, baseado nas informações do Departamento Nacional de Produção Mineral
-DNPM (2016, p. 57) destaca a distribuição de concentração de solicitações de pesquisa
mineral em Parauapebas, seguida de Água Azul do Norte, respectivamente 51,5% e 35,9%.
Referente ao total de solicitações 57,5% são requerimentos de pesquisa e 30,1% autorização
de pesquisa. Juntas estas categorias representam 88,6%.
Até 2017, os Alvarás de Pesquisa, Portarias de Lavra, Registros de Licença e de
Extração, entre outros, a liberação dos processos de requerimento minerais foram de res-
ponsabilidade do Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM, Órgão responsável
pela outorga de diretos minerários de 1969 a 2010, foram protocolados 4.580 requerimentos
de pesquisa mineral nos municípios da Região da Floresta Nacional de Carajás.
No município de Parauapebas onde o minério jorra de seu subsolo, e a quantidade
de área requeridas é maior que a região em Carajás. Os registros cadastrais da Agencia
Nacional de Mineração – ANM, destaca o número de empresas e processos registrados nos
principais municípios, onde se observa, que a área requerida, constantes dos processos
minerários, são quase cinco vezes superiores à área territorial dos municípios.
Os registros existentes dos Processos Minerais, em sua forma e complexidade exigida
da administração pública, impede, por razões legais e burocráticas, a participação efetiva da
pequena mineração na região, mas, em especial, a utilização da PLG – Permissão de Lavra
Garimpeira. O ferro, cobre, manganês, bauxita estão concentrados em poucas empresas,
especialmente as grandes empresas, que, através dos registros de processos minerários,
mas apenas o ferro, cobre e o manganês conseguem superar todas as barreiras burocráticas
impostas a pequena mineração.
As rochas graníticas da região de Carajás estão representadas por suítes arqueanas, in-
cluindo os granitos e dioritos da Suíte Plaquê (2.74 bilhões de anos) e por raros granitos alca-
linos mais jovens (2.57 bilhões de anos) e por intrusões paleoproterozóicas, formadas por gra-
nitos anorogênicos de idade estimados em 1.88 bilhões de anos (DALL’AGNOL et al., 1994).
Os grandes depósitos de ferro da Serra dos Carajás estão associados à sequência
vulcano-sedimentar do Grupo Grão Pará, pertencente ao Supergrupo Itacaiúnas descrito
inicialmente por (BEISIEGEL et al., 1973). Este Grupo é constituído por rochas vulcânicas,
com intercalações de formações ferríferas. O minério de ferro de Carajás foi originado a
partir dos mecanismos de alteração intempérica (laterização), que provocaram essencial-
mente uma dessilicificação (lixiviação supergênica da sílica) das formações ferríferas e um
enriquecimento residual da hematita. A espessura da zona de alteração varia entre 100 e
400 m (DARDENNE; SCHOBBENHAUS, 2003).

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Importa ressaltar o mineral ouro, que tem como principal requerimento para exploração
a PLG, que pode dar grande mobilidade e geração de emprego e renda. É consabido da
importância deste mineral na região de Carajás e no Estado do Pará. No entanto, ao ana-
lisar os dados registrados no Pará e no Brasil, evidencia-se a urgência de alterações que
possam viabilizar o crescimento econômico tão necessário a atividade mineral. Em análise
perfunctória, verifica-se que o estado do Pará é o 7º nas exportações brasileiras de Ouro,
com apenas 20.857 kg para o período de 2015 a 2021. De igual forma o sistema Carajás é
irrelevante nesta condição.
Necessário e imperioso registrar os casos graves em ocorrência sobre os minerais
manganês e cobre. Estas atividades, em sua grande maioria, estão totalmente na ilegalidade,
por falta de oportunidade analítica e de estudos severos sobre os processos registrados na
ANM. Com isto a centralização em poucas empresas minerárias, leva a micro e pequenas
empresas na busca ilegal de exploração mineral, quando poderia ser mitigada com ações
próprias auxiliares dos municípios, em todas as fases operacionais, tanto na fiscalização da
atividade mineral, quanto da atividade do meio ambiente.
No entanto, o que leva os mineradores a cometer esses casos graves, é pela falta de
estrutura administrativa mais próxima de onde acontece a mineração e também de política
efetiva em ocorrência sobre os minerais, especialmente de manganês e cobre.
As deficiências da Agência são decorrentes de longos anos de uma herança patrimo-
nialista da administração pública central, que sem o devido aprimoramento que a atividade
requer, levam a vários entraves como por exemplo o acumulo de requerimentos e de pro-
cessos sobre posto na mesma área requerida.
Neste contexto surge no município de Parauapebas a criação da Secretaria Municipal
de Mineração, Energia, Ciências e Tecnologia no qual foi concebida visando a melhoria do
modelo de gestão e das políticas públicas municipais para incentivo ao desenvolvimento
econômico mineral sustentável, que se faz necessária tendo em vista a história e os desa-
fios impostos pela grande dependência da extração mineral do município. A partir de uma
proposta de gestão pública inovadora para o município, com objetivo de melhorar os seus
indicadores socioeconômicos e ambientais.
A questão para o desenvolvimento da pequena mineração é muito relevante, pois, para
intervir na sociedade com objetivo de promover ações que culminem em resultados efetivos
na melhoria da vida dos cidadãos dos municípios.
Não basta o poder público mobilizar seus recursos para quaisquer demandas. Mas é
fundamental ter uma clara e empírica definição dos problemas públicos mais relevantes,
para, em seguida, formular marco estratégico aderente à realidade diagnosticada, com
ações coerentes, articuladas e monitoradas, com suporte metodológico de implementação,

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acompanhamento e avaliação com foco específico que irá direcionar as ações que pro-
movam atender as necessidades de fomento da economia do município, com implantação
de mecanismos de estrutura operacional para ação de desenvolvimento do setor mineral,
potencializando ações locais, com vistas a garantir nas atividades de exploração econômica
qualificada de recursos naturais, com respeito aos princípios de proteção ambiental e de
equilíbrio ecológico dos ecossistemas, de forma compatível com os princípios do desenvol-
vimento sustentável com equidade para as atuais e as futuras gerações.
A Secretaria Municipal de Mineração, Energia, Ciência e Tecnologia - SEMMECT,
foi criada por meio da Lei nº 4.485 de 20 de março de 2012, com a tarefa de promover e
desenvolver novas matrizes econômicas capazes de diversificar as fontes de arrecadação
municipal, implementando novos rumos ao desenvolvimento, em especial com relação às
áreas de mineração, energia, ciência e tecnologia e garantindo pauta diversificada de tributos
para a sustentação futura do município.
A partir de incentivo que possam incrementar o desenvolvimento econômico munici-
pal, atendendo sua missão em formular e desenvolver políticas de médio e longo prazo que
possam contribuir para que o setor mineral seja um alicerce de desenvolvimento sustentá-
vel do Município nos próximos anos, e coordenar as ações que asseguram o suprimento,
a universalização, a confiabilidade e a qualidade do fornecimento de insumos energéticos
visando o desenvolvimento econômico sustentável do Município.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho buscou analisar a capacidade do setor minerário para implementar a


concorrência na outorga do título minerário, seja na fase de pesquisa ou de lavra, bem como
sugerir qual o modelo de outorga que mitigaria ao máximo as falhas de mercado reveladas
no setor, evitando acúmulos de requerimentos nas repartições públicas no setor minerário
e assim desburocratizar o processo de outorga e/ou concessão de exploração mineral na
região de Carajás fazendo com o progresso e desenvolvimento na região.
Ante tais fatos registrados e comprovados, há que dar urgência a reformulações legais
e administrativas que se propõe, como segue:
a) Resolução ANM nº 71 de 14/05/2021, para a concessão de Acordo de Cooperação
Técnica, em conformidade com a Lei nº 13.848/2019, Art. 34, seja firmado com o município
de Parauapebas, afim de ser cooperador efetivo nos temas fiscalizatórios da exploração mi-
neral, da arrecadação decorrente da mesma e auxiliar operacional nas análises preliminares
de todos os processos minerários, com a supervisão e decisão final da ANM.

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b) Seja criada a possibilidade de consórcio entre os municípios do Sistema Carajás,
para melhor qualificação técnica exigida afim de possibilitar maior dinâmica operacional de
todos os municípios.
c) Propõe-se Projeto de Lei, em que para alterar a Lei n° 7.805, de 18 de julho de
1989, que cria o regime de permissão de lavra garimpeira, para autorizar a permissão de
lavra minerária em área onerada por requerimento de pesquisa ou autorização de pesquisa.
d) Participar da composição da subcomissão ou grupos de trabalho para auxiliar no
desenvolvimento de políticas do Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Mineração
Artesanal e em Pequena Escala, conforme dispõe o Decreto Presidencial nº 214 10.966,
de 11 de fevereiro 2022.
Entende-se imperativo análise técnica de todos os dados juntados, para que haja,
efetivamente, ações importantes no caminho da legalização da exploração mineral, com
foco determinado para a solução dos micros, pequenas e médias empresas, afim de que
se encontre o caminho definitivo do desenvolvimento e da geração de empregos e rendas.
Carajás, também é produtora de água mineral e possuí reserva de gemas e de grande
produção de minerais industriais e agregados para construção civil, isso reforça a importância
da mineração para a economia da região.
A elaboração do trabalho foi possível perceber a importância dos procedimentos ad-
ministrativos para identificar que a gestão pública deixa a desejar seus resultados em mais
investimentos em pesquisa, e a necessidade tecnologia e um plano de logística mais eficien-
te e que atenda as exigências de sustentabilidade para o escoamento da produção. A in-
fraestrutura de transporte eficiente também é essencial para o avanço para pequena mi-
neração da região.
A gestão pública pode apoiar o pequeno minerador em ações de combate e de recu-
peração de áreas degradas pela extração ilegal, reduzir o prazo de início da operação dos
projetos minerais que geralmente vem de longos anos na ilegalidade. Promover alterações
em procedimentos com projeto de lei e programa de incentivo ao setor com normas que
efetivamente dê solução dos impactos ambientais e reparos nas operações.
Apoiar a criação da central de atendimento ao minerador e cooperativas arranjos tecno-
lógicos para o desenvolvimento e melhoria nos processos com a legalização dos pequenos
mineradores até então sem apoio institucional e, ainda sem solução mais efetiva devido o
recente debate sobre o novo Código Mineral que pouco avançou a eventuais propostas de
mudança, como as dos procedimentos de outorga e direito minerário, que dá insegurança
jurídica à pequena mineração brasileira. Nessa direção, a administrador público dá um
passo importante na elaboração de projetos sustentáveis e inovadores para fortalecer e dar
sustentabilidade a economia regional e geração de empregos no município.

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Brasileira de Geociências, v. 4, p. 215-242, 1973.

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Marabá –PA: Editorial iGuama, 2015.

4. DARDENNE, M. A.; SCHOBBENHAUS, C. Depósitos minerais no tempo geológico e


épocas metalogenéticas. In: BIZZI, L. A. et al (Org.). Geologia, Tectônica e Recursos
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na Univ. Federal de Pernambuco – UFPE – 25 a 28 de julho de 2006.

9. LOTTA, Gabriela. Propostas para uma agenda de transformações: a economia solidária


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Anais. Salvador: UFBA, 2008.
10. NUNES, P. H. F. Mineração, meio ambiente e desenvolvimento sustentável: aspectos
jurídicos e socioeconômico. Disponível em: http://egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/
anexos/26164-26166-1-PB.pdf. Acesso: 07 de março de 2022.

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12. SECRETARIA DE MINERAÇÃO, ENERGIA, CIENCIA E TECNOLOGIA DE PARAUAPE-


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de Parauapebas. Acesso em 12 de abril de 2022.

13. SILVA, G.; BOAVA, D.; MACEDO, F. Refugiados de bento rodrigues: estudo fenome-
nológico sobre o desastre de mariana. 2016, MG. In: Anais do Congresso Brasileiro
de Estudos Organizacionais, 2016.

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09
O comportamento da balança comercial
do Pará em tempos de pandemia

Maurício Fernandes Dourado


Universidade Federal do Pará - UFPA

Helen Rodrigues de Souza


Secretaria de Estado de Educação do Pará

'10.37885/221010423
RESUMO

Este artigo objetiva analisar as variações observadas na balança comercial do Estado do


Pará à luz do comportamento do comércio externo do país. Após breve discussão teórica
sobre o tema da economia brasileira, apresenta-se a evolução da balança comercial paraense
dos últimos cinco anos. O artigo conclui que a dinâmica da balança comercial do estado do
Pará tem crescimento constante e fortemente baseado em bens primários com destaque
para os produtos minerais, enquanto as importações foram dominadas por produtos de maior
intensidade tecnológica.

Palavras-chave: Pará, Balança Comercial, Exportação, Importação.


INTRODUÇÃO

No mundo globalizado em que se vive os países compram e vendem produtos e ser-


viços de que precisam para fomentar seu processo de crescimento interno. Essa relação
de compra e venda é registrada pela balança comercial de cada país, que contabiliza tudo
o que entra e tudo o que sai em termos reais. Neste sentido, ficam registrados os valores
monetários dos fluxos de entrada e saída de divisas, ou seja, a contabilização ocorre em
moeda, normalmente em dólares americanos.
Quando são contabilizados esses valores é possível observar três condições. Balança
comercial superavitária, quando o valor das exportações é maior que o valor das importa-
ções. Balança comercial deficitária, quando o valor das importações é maior que o valor das
exportações e Balança comercial equilibrada, quando os valores de importação e exportação
são equivalentes.
Normalmente o desempenho da balança comercial está intimamente relacionado há
alguns fatores tais como taxa de câmbio e nível de protecionismo existente. (MATTEI, ROSA,
2021). A taxa de câmbio influencia na medida em que o valor da moeda local está mais
valorizada ou desvalorizada em relação ao dólar. Assim, quando US$ 1,00 está custan-
do R$ 10,00, por exemplo, significa dizer que para cada dólar gasto precisa-se de R$ 10,00.
Logo, conclui-se a desvalorização do real ante ao dólar. Nestes casos os produtos brasileiros
ficariam mais “baratos” no comércio internacional, isso em tese, ajudaria nas exportações.
Por outro lado, se o preço do real estiver mais próximo do preço do dólar isso significa a
valorização da moeda local proporcionando a importação de mercadorias, na medida em
que estas estariam mais acessíveis ao mercado local.
O grau de protecionismo está relacionado as restrições impostas pelos governos com
o objetivo de proteger o mercado local, pois criam uma barreira, geralmente tarifária, que
encarecem os produtos importados para o mercado interno dando condições de competição
com os produtos nacionais.
Neste sentido, este artigo analisa o comportamento da balança comercial do estado
do Pará no período de 2016 a 2020 à luz do comércio externo brasileiro, com o objetivo de
compreender os impactos da pandemia do novo coronavírus nas transações comerciais
do Estado com o resto do mundo. Para tanto, além desta breve introdução, este artigo é
composto por mais três seções. A segunda parte faz uma breve revisão da literatura sobre
o comércio exterior do país com o resto do mundo, a terceira faz uma análise aprofundada
sobre a balança comercial do estado do Pará. Por fim, na quarta seção são apresentadas
as considerações finais.

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O DESEMPENHO DA BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA

O Brasil passou por diversos momentos distintos na última década com destaque
para três deles: o pós-crise financeira mundial de 2008 e 2009, os anos de crise política de
2014-2016 e a lenta recuperação financeira do período 2017-2019. (MATTEI, ROSA, 2021).
Estes eventos representaram grandes mudanças no comércio mundial com consequências
drásticas para muitas nações.
No caso brasileiro percebe-se um processo de comoditização da economia, causado
em parte pela forte demanda mundial por produtos primários que ocasionou um “boom” nos
preços desses produtos no mercado internacional. Grande parte dessa demanda foi impul-
sionada pelo crescimento constante da China.
Apesar de o Brasil ter se tornado um dos maiores exportadores de comodities do pla-
neta, a participação do país no mercado mundial vem caindo no ranking dos maiores expor-
tadores. Em 2010 o país detinha 1,32% do comércio mundial, diminuindo sua participação a
1,19% em 2019, com isso o país ocupa a posição 27ª no ranking. As primeiras posições são
ocupadas por China, Estados Unidos, Alemanha, Japão e Holanda (MATTEI, ROSA, 2021).
Ao analisar as importações brasileiras no comércio mundial Mattei e Rosa (2021) afir-
mam que a participação do país também foi reduzida de 1,23% em 2010 para 0,91% em
2019. Com isso, o Brasil figura na 28ª posição do ranking global de importações.
Por outro lado, quando se analisa os dados da balança comercial brasileira com o resto
do mundo os números são animadores. O país tem apresentado superávits nos últimos 5
anos. Em média, esses valores chegam a US$ 45,7 bilhões de US$-FOB anuais. No Gráfico
1 é possível observar que a balança comercial brasileira estava em crescimento até 2018,
período em que começou a declinar nos valores negociados. Em 2017 as exportações
tiveram aumento de 19,8% em relação a 2016, em 2018 o aumento foi de 7,9%, mas em
2019 a queda foi de 4,6% e em 2020 com o advento da pandemia da Covid-19 a queda nas
exportações foi de 5,4%. Já nas importações o impacto em 2020 foi bem maior atingindo
retração de 14,6% no volume de negócios.

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Gráfico 1. Balança comercial brasileira 2016-2020 em bilhões de US$-FOB.

Fonte: Brasil, 2021. Elaborado pelo autor.

A Imagem 1 mostra os quatro maiores parceiros comerciais do Brasil no ano de 2020.


Nela é possível perceber que a China é o maior deles com volume de negócios no valor de
70 bilhões de US$-FOB de exportações e 34,6 bilhões de US$-FOB de importações, com
isso o saldo comercial da balança ficou superavitário em 35,4 bilhões de US$-FOB. Esse
valor representa três vezes mais que o valor negociado com os Estados Unidos no mesmo
período para as exportações.

Imagem 1. Balança comercial brasileira em 2020 em Bilhões de US$-FOB .

Fonte: FazComex, 2021.

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COMPORTAMENTO DA BALANÇA COMERCIAL PARAENSE

A balança comercial paraense dos últimos 5 anos se difere um pouco da balança co-
mercial nacional na medida em que apresenta saldo comercial bem mais atrativo, pois as
exportações são bem maiores que as importações em todos os cenários. Isso é ocasionado
pela forte presença dos produtos minerais que elevam os valores exportados. A liderança
do Brasil como exportador mineral deve-se muito ao estado do Pará que possui duas das
maiores jazidas da região, a de Oriximiná com bauxita e a de Serra dos Carajás, com o ferro
manganês. O estado fica atrás apenas do estado de Minas Gerais. Esses polos minerais
tem sido o motor de crescimento da região norte do país. (BATISTA, 2021).
O Gráfico 2 apresenta a evolução da balança comercial paraense no período de 2016 a
2020. Nele é possível observar a variação das exportações, importações e do saldo comer-
cial que nada mais é que a diferença entre as importações e as exportações. Desta forma,
ao subtrair as importações das exportações tem-se o saldo da balança comercial paraense
para o período. Observa-se que a balança comercial do Estado do Pará tem se mantido
superavitária nos últimos 5 anos. Em 2020, o superávit da balança comercial do Pará foi
de US$ 19,4 bilhões de US$-FOB o que representa um aumento de 16,83% se comparado
com o ano de 2019.

Gráfico 2. Exportações, Importações e Saldo Comercial Anual, Pará (2016-2020, FOB em Bilhões US$).

Fonte: Brasil, 2021. Elaborado pelo autor.

Apesar da pandemia do novo coronavírus as exportações tiveram um aumento de


15,5% em relação a 2019. Esse crescimento, em grande parte, foi por conta da retomada
do crescimento da China, que foi um dos primeiros países a sair da crise ocasionada pela
pandemia. Por outro lado, as importações tiveram uma retração de 2,1% no mesmo período.

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No Gráfico 3 é possível observar, de forma mensal, a evolução das importações e
exportações, bem como a evolução do saldo da balança comercial no período de 2016 a
2020. Pode-se notar que houve aumento bastante significativo no volume de negócios no
período. Em 2016 o Pará exportou US$ 10,5 bilhões de US$-FOB com o resto do mundo,
em 2020 esse valor quase dobrou, passando para US$ 20,6 bilhões de US$-FOB, isso re-
presenta aumento de 96,1% nas exportações.

Gráfico 3. Exportações, Importações e Saldo Comercial Mensal, Pará (2016-2020, FOB em Bilhões US$).

Fonte: Brasil, 2021. Elaborado pelo autor.

Quando se analisa o Gráfico 4, logo abaixo, onde é demonstrada a composição das


exportações paraense referente ao ano de 2020 percebe-se que 87% de tudo que foi expor-
tado está concentrado em quatro categorias de produtos. São eles minério de ferro e seus
concentrados com 68% das exportações, minério de cobre e seus concentrados com 9,4%,
alumina com 5,9% e soja com 3,7%.
Percebe-se que o estado é um grande exportador de recursos minerais não renová-
veis ocupando as 3 primeiras posições do ranking das exportações com produtos minerais,
sendo seguido pela soja em quarto lugar. Cabe mencionar que a soja foi um dos produtos
mais exportados pelo Brasil em 2020, fato que tem contribuído com o superávit da balança
comercial brasileira nos últimos anos.
Quando se observa a evolução das exportações paraense no período de 2016 a 2020
percebe-se algumas informações relevantes, conforme expresso na Tabela 1. O destaque
fica para a exportação do minério de ferro que teve crescimento de 191% no período, pas-
sando de 4,8 bilhões de US$-FOB em 2016 para 14 bilhões de US$-FOB em 2020. Outro
ponto importante foi o crescimento nas exportações de soja que saltaram 130,3% no período.

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Gráfico 4. Composição das Exportações do Pará em 2020.

Fonte: Brasil, 2021. Elaborado pelo autor.

Na Tabela 2 são apresentados os dez países que mais compraram produtos paraense,
juntos eles representaram mais de 80% de tudo que foi exportado pelo estado no ano de
2020. Analisando a tabela é possível comparar o desempenho dessas nações no período
de 2016 e 2020. O destaque ficou para o forte crescimento das exportações para a China
que saltou de 3,5 bilhões de US$-FOB em 2016 para 11,8 bilhões de US$-FOB em 2020,
representando uma variação positiva de 237% e mantendo sua hegemonia como maior im-
portador dos produtos do estado. A segunda maior variação positiva ficou com a Malásia que
saltou da sétima posição em 2016 onde estava com volume de importação em 423 Milhões
de US$-FOB para a segunda posição do ranking em 2020 onde importou 1,39 bilhões de
US$-FOB, isso representa crescimento de 229% no período analisado.

Tabela 1. Cinco seções de produtos com maior participação nas exportações do Pará (2016-2020).

2016 (Bilhões de US$ 2020 (Bilhões de US$ Participação nas expor- Variação Percentu-
Ordem Produto
-FOB) -FOB) tações 2020 (%) al (2016-2020)

1 Minério de ferro e seus concentrados 4,80 14,00 68,0 191,7


2 Minério de cobre e seus concentrados 1,50 1,90 9,4 26,7
Alumina (óxido de alumínio), exceto corindo
3 1,30 1,20 5,9 -7,7
artificial
4 Soja 0,33 0,76 3,7 130,3
5 Demais produtos - Indústria Extrativa 0,60 0,52 2,5 -13,3
Fonte: Brasil, 2021. Elaborado pelo autor.

Diante dos dados expostos fica fácil perceber que as exportações do estado do Pará
seguem projeção de crescimento no período analisado e foram muito beneficiadas no ano
de 2020 mesmo com o advento da pandemia da Covid. Isso pode ser explicado, em parte
pela pauta de exportação baseada em produtos primários. A desvalorização do real face
ao dólar também contribuiu com esse cenário na medida em que torna o produto brasileiro
mais atrativo no comércio internacional.

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Tabela 2. Ranking dos 10 países de destino das exportações paraense (2016-2020).

País 2016 - Valor FOB (US$) 2020 - Valor FOB (US$) Variação Percentual (2016-2020)

China 3.512.293.974,00 11.847.731.785,00 237


Malásia 423.279.354,00 1.390.947.869,00 229
Japão 693.223.961,00 708.446.430,00 2
Alemanha 533.655.021,00 618.848.626,00 16
Noruega 434.420.355,00 556.717.030,00 28
Canadá 459.712.455,00 391.356.936,00 -15
Coreia do Sul 342.034.682,00 360.797.080,00 5
Países Baixos (Holanda) 472.565.874,00 354.197.063,00 -25
Estados Unidos 379.107.252,00 324.251.180,00 -14
Espanha 140.955.466,00 284.228.303,00 102
Fonte: Brasil, 2021. Elaborado pelo autor.

No Gráfico 5, é possível analisar a composição das importações paraense no ano de


2020. Nota-se que 57% de tudo que é importado pelo estado está concentrado em cinco
categorias de produtos, são eles: óleos combustíveis de petróleo com 19%, adubos ou ferti-
lizantes químicos com 12%, elementos químicos inorgânicos com 10%, veículos automóveis
com 8,1% e instalação e equipamentos de engenharia com 7,8%.

Gráfico 5. Composição das Importações, Pará em 2020.

Fonte: Brasil, 2021. Elaborado pelo autor.

Na Tabela 3 são descritos os dez países que mais venderam para o estado do Pará
no período de 2016 e 2020. Na primeira colocação continuam os Estados Unidos com cres-
cimento de 60,6% em comparação com o ano de 2016. O destaque fica com a Rússia que
saltou da oitava posição em 2016 para a segunda posição em 2020, crescimento de 363%
no período. Outro destaque positivo foi a o crescimento de 197,8% nas negociações com
o Canadá que saltou da décima posição em 2016 para a sétima posição em 2020. O ponto

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negativo fica com a redução de 61% das importações oriundas da China, apesar disso, o
país continua na terceira posição do ranking.

Tabela 3. Os 10 primeiros países de origem das importações paraense (2016-2020).

País 2016 - Valor FOB (US$) 2020 - Valor FOB (US$) Variação Percentual (2016-2020)
Estados Unidos 416.265.541,00 668.363.226,00 60,6
Rússia 17.180.659,00 79.559.299,00 363,1
China 131.941.567,00 51.306.162,00 -61,1
Argentina 36.874.785,00 41.777.891,00 13,3
Espanha 37.955.353,00 40.974.213,00 8,0
Colômbia 41.292.791,00 39.205.842,00 -5,1
Canadá 10.674.968,00 31.792.628,00 197,8
Alemanha 161.994.426,00 30.527.404,00 -81,2
Japão 13.566.451,00 26.203.691,00 93,2
Chile 30.530.975,00 23.318.415,00 -23,6
Fonte: Brasil, 2021. Elaborado pelo autor.

Nos últimos 5 anos o estado do Pará tem aumentado sua participação na balança co-
mercial brasileira com forte atuação de bens primários ao mesmo tempo em que contribui
para o desenvolvimento da região na medida em que gera emprego e renda advindos dessa
comercialização com o resto do mundo.
No Gráfico 5 pode-se observar que o estado fica em primeiro lugar no ranking de saldo
da balança comercial brasileira, isso significa que o estado exporta bem mais do que im-
porta, mas também mostra a importância do estado para o país. Já no ranking dos maiores
exportadores do país o Pará fica em quarto lugar, atrás apenas de São Paulo, Minas Gerais
e Rio de Janeiro respectivamente.

Gráfico 5. Ranking de saldo da balança comercial brasileira por estado em 2020.

Fonte: Brasil, 2021. Elaborado pelo MDIC.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No mundo globalizado em que se vive as relações comerciais entre as nações está cada
vez mais presente. Nesse processo, as regiões buscam recursos para crescer e desenvolver
suas respectivas nações. No caso deste estudo, pode-se perceber que a balança comercial
do estado do Pará difere bastante da balança comercial do Brasil. Nesta as oscilações são
mais perceptíveis enquanto que naquela a série histórica demonstra franco crescimen-
to. No entanto, é importante notar que o fato de o estado comercializar seus recursos naturais
não garante necessariamente o desenvolvimento de seu povo, principalmente quando se
analisa a sustentabilidade do negócio. Desta forma, cabe analisar até que ponto o superávit
da balança comercial paraense realmente gera valor e sustentabilidade para os paraenses.

REFERÊNCIAS
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em 15 de abril de 2021.

4. ______. Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Comex Stat, 2020.


Disponível em: http://comexstat.mdic.gov.br/pt/geral/31686. Acesso: 09/04/2021.

5. ______. Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.Comex Stat, 2020. Dis-


ponível em: http://comexstat.mdic.gov.br/pt/municipio/31687. Acesso: 09/04/2021

6. MATTEI, Lauro. ROSA, Matheus. O comportamento da balança comercial de Santa


Catarina em tempos de pandemia. Revista do Núcleo de Estudos de Economia
Catarinense – NECAT. Florianópolis, Santa Catarina. Ano 8, nº. 15, Jan-Jun/2019.
Disponível em: http://www.nexos.ufsc.br/index.php/revistanecat/article/view/4657. Aces-
so em: 03 de abril de 2021.

Economia Ecológica, território e desenvolvimento sustentável: perspectivas e desafios - ISBN 978-65-5360-211-3 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
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SOBRE OS ORGANIZADORES

Arleson Eduardo Monte Palma Lopes


Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido
- UFPA. Mestre em Economia Aplicada pela Universidade Federal do Pará - UFPA (2021), possui
MBA em Gestão de Projetos e MBA em Gestão Pública pelo Centro Universitário Leonardo Da
Vinci - UNIASSELVI (2020), Especialização em Docência do Ensino Superior pela Faculdade
da Região Serrana - Farese (2020), Especialização em Gestão da Tecnologia da Informação -
UFPA (2018), Bacharelado em Administração - UFPA (2016). Foi Tutor Presencial no Curso de
Bacharelado em Administração Pública Modalidade a Distancia no município de Salinópolis-PA
ofertado pela UFPA em parceria com a Universidade Aberta do Brasil. Foi Tutor Externo no Centro
Universitário Leonardo Da Vinci - Uniasselvi - Polo Salinópolis. Sou Servidor público da UFPA,
no cargo de Assistente em Administração. Atualmente é Professor-Tutor a distancia no Curso
de Bacharelado em Administração Pública Modalidade a Distancia - UFPA/ bolsa CAPES. Tem
experiência em consultoria empresarial, gestão de projetos e docência no ensino superior.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9050632281453817

Iná Camila Ramos Favacho de Miranda


Doutoranda em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável pela UFPA - Universidade
Federal do Pará. Mestre em Economia Aplicada pela UFPA - Universidade Federal do Pará.
Graduada em Direito pela Universidade Federal do Pará. Graduada em Contabilidade pelo Instituto
de Estudos Superiores da Amazônia. Atualmente é professora na SECTET - Secretaria de Ciência,
Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2346560941461405

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ÍNDICE REMISSIVO

A R
Agroecologia: 24, 68, 83 Regulação Mineral: 102

Alternativa de Desenvolvimento: 94 S
B Serra da Capivara: 50, 51, 52, 53, 54, 55, 58, 59,
60, 61, 62, 63, 64
Balança Comercial: 112, 114
Slurry: 89
Biologia: 23, 51, 52

C
Controversas Metodológicas: 42

D
Decrescimento: 30, 33, 36

Desenvolvimento Sustentável: 16, 44, 96, 102,


109

Desenvolvimento Territorial: 70, 71, 76, 77

E
Economia Ecológica: 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20,
22, 23, 24, 25, 26, 27, 29, 30, 32, 33, 34, 35, 37, 38,
39, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48
G
Geologia: 51, 52, 58, 63, 64, 109

M
Macroeconomia Ecológica: 30

N
Novo Acordo Verde: 30, 31

P
Paleontologia: 51, 52, 63

Pará: 41, 93, 101, 103, 105, 106, 110, 111, 112,
115, 116, 117, 118, 119, 120

Pequena Mineração: 102

Pluralismo Metodológico: 42

Pós-Crescimento: 36

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1ª EDIÇÃO

editora

científica digital

2022 - GUARUJÁ - SP

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