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Danielle Mariam Araujo Santos

Willian Carboni Viana


(Orgs.)

AMAZÔNIa

editora

científica digital
1ª EDIÇÃO

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2022 - GUARUJÁ - SP
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EDITORA CIENTÍFICA DIGITAL LTDA


Guarujá - São Paulo - Brasil
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A489 Amazônia: tópicos atuais em ambiente, saúde e educação / Danielle Mariam Araujo Santos (Organizadora), Willian Carboni
Viana (Organizador). – Guarujá-SP: Científica Digital, 2022.
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Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5360-221-2
DOI 10.37885/978-65-5360-221-2
1. Amazônia. I. Santos, Danielle Mariam Araujo (Organizadora). II. Viana, Willian Carboni (Organizador). III. Título.

2022
CDD 918.11
Índice para catálogo sistemático: I. Amazônia
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Esta obra, apresenta produtos acadêmicos construídos a partir de pesquisas de
alunos, pesquisadores e professores, que buscam discutir a Amazônia, levando em
APRESENTAÇÃO

consideração estudos que abordam os tópicos atuais em ambiente, saúde e educação.


Resulta ainda, de ações e movimentos de instituições de ensino que incentivam a
pesquisa e a extensão em seus espaços formativos, nas mais diversas áreas.
Discutir a Amazonia, é antes de tudo entender suas especificidades e suas demandas,
e por isso, as pesquisas sobre a região se tornam cada vez mais relevantes.
A participação dos autores foi de extrema importância para a formação de um
conhecimento sobre este território tao vasto, e esperamos que estes artigos possam
ser fonte de pesquisa e sirva de instrumento didático-pedagógico para estudantes,
professores dos diversos níveis de ensino em seus trabalhos e demais interessados
pela temática.

Profa. Dra. Danielle Mariam Araujo dos Santos


Prof. Dr. Willian Carboni Viana
SUMÁRIO
CAPÍTULO 01
A IMPORTÂNCIA DO ENFERMEIRO NAS CIDADES AMAZÔNICAS: UM ESTUDO TEÓRICO SOBRE O PAPEL DO
PROFISSIONAL DIANTE DOS DESAFIOS REGIONAIS
Danielle Mariam Araújo dos Santos; Laila Fernanda dos Santos; Edione Teixeira de Carvalho

' 10.37885/221010659.......................................................................................................................................................................... 12

CAPÍTULO 02
DIÁLOGOS CONSTRUTIVOS: BIBLIOTECA DIGITAL DO POVO SATERÉ-MAWÉ: REVERBERANDO SABERES DA TRADIÇÃO
CULTURAL
Danielle Mariam Araújo dos Santos; Joelma Monteiro de Carvalho; Diana Ayla Silva da Costa

' 10.37885/220910340......................................................................................................................................................................... 24

CAPÍTULO 03
ESCOLA INDÍGENA E SUA DIMENSÃO NA PERSPECTIVA DO TURISMO ÉTNICO, AM-BRASIL
Zilmara Rocha da Silva; Joelma Monteiro de Carvalho; Danielle Marian Araújo dos Santos

' 10.37885/221010658.......................................................................................................................................................................... 36

CAPÍTULO 04
ESTUDO CLÍNICO E EPIDEMIOLÓGICO DA NEOPLASIA DE COLO UTERINO EM UM HOSPITAL PÚBLICO DO BAIXO
AMAZONAS
Flávia Karoline Souza da Silva; Geórgia Silvestri Traesel; Marcos Fraga Fortes

' 10.37885/220910253......................................................................................................................................................................... 52

CAPÍTULO 05
ESTUDOS CULTURAIS E MEDIAÇÕES NA COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA CONTEMPORÂNEA DA AMAZÔNIA
Maximiliano Martins Vicente; Kethleen Guerreiro Rebêlo

' 10.37885/220809884......................................................................................................................................................................... 71

CAPÍTULO 06
INTOXICAÇÃO EXÓGENA RELACIONADA A PRODUTOS AGROTÓXICOS NO ESTADO DO PARÁ
Letícia Cunha da Hungria; Adriely Coelho de Assunção; Yan Nunes Dias; Julliane Thais da Silva Silva; Priscila Pereira Sacramento;

Beatriz Cunha da Silva

' 10.37885/220909965........................................................................................................................................................................ 87
SUMÁRIO

CAPÍTULO 07
LEVANTAMENTO DA IMPLANTAÇÃO DO PLANO DE MANEJO NAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO BIOMA AMAZÔNIA
Josmar Almeida Flores; Cíntia Rosina Flores; Milyanne Mercado do Nascimento; Ana Christina Konrad; Odorico Konrad

' 10.37885/220709495......................................................................................................................................................................... 105


CAPÍTULO 08
MULHERES RURAIS: O PROTAGONISMO FEMININO NAS FEIRAS LIVRES DE SANTA MARIA RS
Thiago Kader Rajeh Ibdaiwi; Leandro da Silva Roubuste; Andrea Cristina Dorr; Melissa Medeiros Braz; Vanessa dos Santos Nogueira

' 10.37885/221110815........................................................................................................................................................................... 115


CAPÍTULO 09
O ALUNO COM ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO EM ESCOLA RIBEIRINHA NA AMAZÔNIA
José Adnilton Oliveira Ferreira; Cleuma Roberta de Souza Marinho; Elisângela Rodrigues da Silva

' 10.37885/220809840........................................................................................................................................................................ 132


CAPÍTULO 10
O CARÁ ROXO (DIOSCOREA TRIFIDA) EM UMA ABORDAGEM CTSA PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS
Klenicy Kazumy de Lima Yamaguchi; Helen de Oliveira Forero; Pedro Augusto Barroso de Sena; Tiago Maretti Gonçalves

' 10.37885/221010700.......................................................................................................................................................................... 154


CAPÍTULO 11
O CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA EM UMA ABORDAGEM CTSA NA MATEMÁTICA
Maria Silvanete Silva Dourado; Rondeneles Conceição Coelho Picanço; Gilbson Santos Soares; Rudinei Alves dos Santos; Vanessa
Pires Santos Maduro; Verônica Solimar dos Santos

' 10.37885/221010558.......................................................................................................................................................................... 165


CAPÍTULO 12
REDE ORGANIZACIONAL SOLIDÁRIA PARA COLETORES DE CASTANHA-DA-AMAZÔNIA
Felipe Pinheiro dos Santos; Rozangela Gomes Ferreira; Mariluce Paes-de-Souza; Diego Cristovão Alves de Souza Paes; Theophilo
Alves de Souza Filho

' 10.37885/220809826........................................................................................................................................................................ 175


SUMÁRIO

CAPÍTULO 13
SAÚDE DA MULHER INDÍGENA NO BRASIL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
Amanda de Cassia Azevedo Silva; André Luis Cândido Silva

' 10.37885/220809804........................................................................................................................................................................ 195

SOBRE OS ORGANIZADORES.............................................................................................................................. 211

ÍNDICE REMISSIVO.............................................................................................................................................. 212


01
A importância do enfermeiro nas cidades
amazônicas: um estudo teórico sobre o
papel do profissional diante dos desafios
regionais

Danielle Mariam Araújo dos Santos


Faculdade Venda Nova do Imigrante - FAVENI

Laila Fernanda dos Santos


Instituto Federal de Mato Grosso - IFMT

Edione Teixeira de Carvalho


Instituto Federal de Mato Grosso - IFMT

'10.37885/221010659
RESUMO

Este artigo apresenta uma análise sobre a importância do enfermeiro nas cidades amazô-
nicas enfatizando os problemas que este enfrenta a partir da realidade regional. O objetivo
do estudo foi discutir teoricamente qual a importância do enfermeiro no contexto amazônico,
e teve como metodologia um estudo teórico com base nas produções acadêmicas sobre o
tema, disponível em sites de pesquisa científica. Como principais resultados, se verificou
que o papel do enfermeiro é muito importante no cuidado de pacientes principalmente no
estado do Amazonas, onde há poucos profissionais de saúde, e ainda há conflitos na com-
preensão do papel do enfermeiro, quando não há médicos nas localidades, o que acaba por
causar uma pressão nesses profissionais. Conclui-se que os enfermeiros exercem um papel
importante principalmente na prevenção e no acompanhamento de tratamentos médicos nas
localidades de difícil acesso do estado.

Palavras-chave: Enfermagem, Amazonas, Pesquisa Acadêmica.


INTRODUÇÃO

Atualmente a distribuição dos profissionais de saúde no Brasil e principalmente nos


estados da Região Norte é bastante desigual. No caso do Amazonas, de acordo com o
site “A Crítica”, em notícia veiculada em 22/03/2018, a capital Manaus concentra 93% dos
médicos do estado. Nesta perspectiva, o interior do Amazonas chega a ter 0,4 médicos a
cada 1000 habitantes. Esses dados apontam para um déficit na quantidade de médicos na
região, o que leva a importância muito maior do papel da enfermagem, tendo em vista que
em muitos municípios, o enfermeiro é o único profissional de saúde que atua junto à popu-
lação do interior e nas comunidades mais longínquas.
Conforme dados disponibilizados no site do COFEN, em 01/11/2021, atuam no
Amazonas, 13.071, um número ainda insuficiente para atender a população, e muito menor
quando comparado a outras regiões.
Para Dolzane (2020, p. 01) “A acessibilidade aos serviços de saúde com respeito aos
princípios de integralidade, universalidade e equidade nas diferentes regiões do país ainda
constitui um desafio importante para a inclusão de todas as pessoas”.
Neste estudo pretendeu-se discutir teoricamente sobre a importância do enfermeiro
no contexto amazônico. A metodologia foi baseada em um estudo teórico de abordagem
qualitativa, com aproximação ao método dialético, e foi realizada através de levantamento
bibliográfico principalmente com base nas produções acadêmicas sobre o tema, disponível
em sites de pesquisa científica.
Entende-se que este estudo é importante por tratar do contexto regional amazônico, e
das suas peculiaridades no que diz respeito ao papel do profissional enfermeiro no estado, e
importância deste diante da falta da falta de outros profissionais de saúde e principalmente,
no papel de educação para uma melhor qualidade de vida e saúde da população do estado.

REFERENCIAL TEÓRICO

O perfil profissional do enfermeiro

O contexto pandêmico vivido pelo planeta nos últimos dois anos, trouxe à tona a impor-
tância dos profissionais de saúde e principalmente do enfermeiro, tanto nos hospitais quanto
no atendimento domiciliar. Este profissional juntamente com os outros profissionais das
equipes medicas, ganhou destaque pela luta contra o vírus e no cuidado com os pacientes.
Sobre o papel do enfermeiro, Oliveira (2021, p. 01) coloca que

Amazônia: tópicos atuais em ambiente, saúde e educação - ISBN 978-65-5360-221-2 - Vol. 1- Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
14
A força de trabalho de enfermagem é essencial na prestação de cuidados
integrados e centrados nas pessoas, exercendo papel fundamental na con-
secução das prioridades de saúde e no alcance das metas dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS). A importância de sua atuação vem sendo
reconhecida e ainda mais decisiva frente aos desafios enfrentados mundial-
mente num cenário de emergência internacional.

O trabalho do enfermeiro é muito especifico, e está relacionado aos cuidados ao pacien-


te e ainda o cumprimento da prescrição médica. No artigo 79, capítulo III do Código de Ética
dos Profissionais de Enfermagem (CEPE) (2017), fala sobre a proibição do Enfermeiro na
prescrição de medicamentos que não estejam estabelecidos em programas de saúde pública
e/ou em rotinas aprovadas em instituições de saúde, exceto em situações de emergência.
Quando o enfermeiro não cumpre este item, ele pode ser penalizado pelo Conselho
Regional de Enfermagem (COREN) ou pelo Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) a
depender da infração cometida.
Na atenção básica, o enfermeiro tem um importante papel que é realizar a educação
em saúde, de maneira continuada e permanente (PNAB, 2017), porém muitas vezes isso não
acontece devido ao quadro de profissionais em número insuficiente e ainda a alta demanda
de pacientes, sobretudo em locais de difícil acesso como acontece em relação á muitas
cidades e comunidades amazônicas.
A educação em saúde, por seu caráter instrutivo e profilático, poderia ser um elemen-
to importante na melhoria da qualidade de vida das populações ribeirinhas, e como fala
Fernandes e Backes (2010), é importante que o enfermeiro passe a desenvolver atividades
que resultem em práticas de educação em saúde, de modo a permitir que diálogo entre
profissionais e os indivíduos e famílias.

O papel do enfermeiro na Atenção Básica

Quando se trata das atividades realizadas pelo enfermeiro, há uma diversidade enor-
me, porém, dentre elas, a atuação na Atenção Básica é uma das mais importantes. Como
informa MENICUCCI TMG, (2014), o enfermeiro desenvolve diversas ações e atividades
que vão desde as assistenciais e preventivas, até as gerenciais, sendo ele um dos atores
principais desse cenário de saúde.
Já no Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, o enfermeiro atua na saúde
preventiva, como informa o documento

O profissional de enfermagem participa, como integrante da equipe de saúde,


das ações que visem satisfazer as necessidades de saúde da população e
da defesa dos princípios das políticas públicas de saúde e ambientais, que
garantam a universalidade de acesso aos serviços de saúde, integralidade da
assistência, resolutividade, preservação da autonomia das pessoas, participa-
ção da comunidade, hierarquização e descentralização políticoadministrativas
dos serviços de saúde. (BRASIL, 2007).

Amazônia: tópicos atuais em ambiente, saúde e educação - ISBN 978-65-5360-221-2 - Vol. 1- Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
15
Nas Unidades Básicas de Saúdes (UBS), este profissional atua na educação, geren-
ciamento e ainda, assistência de diversos grupos de saúde, como por exemplo, a saúde da
criança, saúde mulher, hipertensos e diabéticos, entre outras.
Dentre essas, como informa o artigo 11, do Exercício Profissional da Enfermagem,
uma das atribuições do enfermeiro é educação em saúde, cabendo-lhe como integrante da
equipe de saúde a educação visando à melhoria de saúde da população (BRASIL, 1986).
Ainda em relação á promoção da educação em saúde, Candeias (1997, p. 210), afir-
ma que “Entende-se por educação em saúde quaisquer combinações de experiências de
aprendizagem delineadas com vistas a facilitar ações voluntárias conducentes à saúde”
(CANDEIAS, 1997, p. 210), e nesta perspectiva, o enfermeiro auxilia através das visitas ás
famílias, no que concerne ás orientações necessárias a cada contexto especifico, e no caso
da Amazonia, este papel é ainda mais importante tendo em vista as dificuldades de acesso
a profissionais médicos.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A distribuição desigual dos enfermeiros nas regiões brasileiras

A distribuição dos profissionais de saúde pelo mundo é muito desigual, e no caso do


Brasil, é visível esta desigualdade no que diz respeito ao acesso a estes profissionais. Sobre
isto, Silveira (2014, p. 02) aponta que

Um dos dilemas atuais do setor saúde no mundo é a má distribuição de profis-


sionais de saúde entre áreas rurais e urbanas, e entre capitais e interior, com
destaque para os profissionais médicos. A elucidação deste problema e as
evidências sobre os caminhos possíveis para enfrentar este desafio motivaram
a formulação de recomendações por parte da Organização Mundial da Saúde
(OMS) para políticas de recrutamento e fixação de médicos em áreas rurais ou
remotas, com vistas ao aumento do acesso à saúde para essas populações.

Esta disparidade é ainda mais evidente quando vemos os números de profissionais nas
grandes cidades e no interior. Esta desigualdade acaba por refletir na qualidade de vida das
populações, sobretudo os moradores de cidades e comunidades de difícil acesso.
No gráfico abaixo (Gráfico 1), é possível ver ainda estas diferenças por região brasilei-
ra, e fica evidente que as regiões Sul e Sudeste agregam o maior número de profissionais.

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Gráfico 1. Distribuição da enfermagem por regiões brasileiras.

Fonte: https://apsredes.org/fotografia-da-enfermagem-no-brasil/(2018).

A região Norte apresenta um número significativamente baixo no que diz respeito a


concentração de enfermeiros. Neste gráfico é possível ver que os enfermeiros são cerca de
17% dos profissionais da equipe de enfermagem, o restante são técnicos de enfermagem,
Mais da metade dos enfermeiros (53,9%), técnicos e auxiliares de enfermagem (56,1%)
se concentram na Região Sudeste. Proporcionalmente à população, que representa 28,4%
dos brasileiros segundo o IBGE, a Região Nordeste apresenta a menor concentração de
profissionais, com 17,2% das equipes de enfermagem.
O memo autor, Silveira (2014, p. 02) coloca ainda que

No Brasil, além dessas mesmas disparidades entre os meios rural e urbano,


e capitais e interior, está bem estabelecida e mapeada a desigualdade na
distribuição de médicos e de escolas médicas entre as regiões, prevalecendo
uma concentração nas regiões Sudeste e Sul. Apesar de haverem sido rea-
lizados alguns programas de nível nacional para interiorização dos médicos,
como o Projeto Rondon, o Programa de Interiorização das Ações de Saúde e
Saneamento (Piass) e o Programa de Interiorização do Trabalho em Saúde
(Pits), essa má distribuição pouco se alterou em praticamente meio século
de iniciativas

As organizações em diversos segmentos, geridas por instituições privadas ou públicas,


precisam construir uma política de retenção de talentos, nas quais disponibilizam a seus
profissionais condições adequadas e atrativas para que o capital humano não apenas se
desenvolva como também permaneça como colaborador. (CHIAVENATO, 2010). A área de
profissionais de saúde, especificamente de enfermagem, não está alheia a este processo.
Na mesma linha de pensamento, ao observarmos os apontamentos de Silveira (2014)
as iniciativas de interiorização de profissionais de saúde, dentre eles os enfermeiros, nem

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sempre surtiram o efeito necessário para a diminuição das desigualdades regionais. Neste
caso, o Norte e o Nordeste ainda são as regiões com menores números destes profissionais.
O que nos leva a considerar que as organizações de saúde no norte do país, inclusive
às geridas pelo poder público precisam construir pontes de diálogo para a retenção dos
profissionais de enfermagem, com o olhar não para o amanhã, sim, para o agora.

A importância do enfermeiro no interior do Amazonas

O estado do Amazonas é o maior estado da federação com um território de 1.559.162


km² e uma densidade demográfica de 1,79 habitante por km². O estado possui ainda 62
municípios e tem como uma das suas características geográficas principais, uma rede hi-
drográfica e baixa densidade demográfica. O acesso na região ocorre geralmente por via
fluvial e aérea (RODRIGUES, 2016).
Na imagem abaixo (Imagem 1), é possível ver a rede hidrográfica da região, que é a
base do deslocamento da maioria da população, que usa o transporte fluvial para chegar
de um ponto ao outro.

Imagem 1. Região Hidrográfica do Amazonas e suas unidades hidrográficas.

Fonte: http://www.agg.ufba.br/panrh.pdf (2021).

As características geográficas do estado, e as dificuldades de acesso às cidades do


interior e principalmente às comunidades mais distantes, interfere na logística, acesso e
permanência de profissionais em diversas áreas. No caso dos enfermeiros, de acordo com
o COREN-AM (2012) de 1,19 enfermeiros/1.000 habitantes.
Sobre as dificuldades de acesso, Dolzane (2020, p. 04) coloca que

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A região amazônica é um desses lugares onde as áreas de difícil acesso cons-
tituem um desafio relevante para o desenvolvimento das políticas de saúde. A
questão do acesso não se limita a um problema local, mas refere-se também
a outras regiões do mundo, como em regiões de deserto, de montanhas e
florestas.

Estas dificuldades interferem na dinâmica dos atendimentos de saúde, na medida em


que limita e dificulta o acesso de profissionais às regiões mais remotas, mesmo que haja
disponibilidade de emprego. Esse acesso difícil, afasta a procura de muitos dos profissionais
enfermeiros, e é comum vermos as vagas de concursos e processos seletivos sem preen-
chimento nos municípios do estado.
Sobre o território amazônico, Schweickardt (et al., 2016) argumenta que é um espaço
que está em incessante processo de estruturação e de criação de modelos que possam
oferecer melhores condições de saúde, desse modo, é possível ver que a população que
convive numa dinâmica contínua, marcada por desigualdades sociais e diversidades cultu-
rais. O autor coloca ainda que este é um território vivo, onde o ciclo das águas administra
o ciclo da vida.
É justamente este ciclo das águas, que Ribeiro e Carneiro, (2016) apontam como um
dos principais elementos que implicam nas questões sanitárias, habitacionais, alimentares
e especialmente no acesso às comunidades.
Este contexto interfere no acesso da população, aos profissionais de saúde, e ainda,
como aponta Dolzane (2020), dificultam a fixação dos profissionais em áreas remoras. Em re-
lação aos atendimentos de média e alta complexidades estão centrados em Manaus, gerando
elevada demanda dos usuários na capital em busca de serviços especializados.
Em uma outra publicação de Almeida (2019, p. 04) onde traz no relato de experiencia,
uma abordagem do papel do enfermeiro no Amazonas, o autor relata que

Foi observado que é rotineiro por parte do Enfermeiro assumir atribuições


de outros profissionais, sobretudo atribuições médicas durante as consultas,
principalmente de demanda espontânea, seja no que se refere a prescrições
de medicamentos não previstas em protocolos, solicitações de exames e até
mesmo condutas de tratamento. Isso acontece por diversos fatores, onde
elenco o baixo número de Enfermeiros e Médicos, sobrecarga de atendimento
e profissionais médicos que se recusam muitas vezes, atender um número
maior de usuários que não esteja previsto.

O enfermeiro muitas vezes é o único profissional de nível superior em uma comunidade,


ou ainda, o único profissional de saúde. O que acaba fazendo com que assuma funções de
outros profissionais principalmente de médicos, e ainda, atenda uma demanda muito maior
do que é especificado no seu trabalho rotineiro.

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Desafios e possibilidades do papel do enfermeiro no contexto da Amazonia

Cada vez mais aumenta a demanda de profissionais de saúde no estado do Amazonas,


tendo em vista o crescimento da rede de transporte e o crescimento natural da população.
Outro fator que interfere neste aumento, é a migração de venezuelanos e haitianos nos úl-
timos 5 anos, causados por problemas internos em seus países. Neste caso, o enfermeiro
é um dos mais importantes profissionais na formação da rede de atenção básica para esta
população que nasce ou se desloca para as cidades amazônicas.
Como um dos principais desafios, Dolzane (2020, p. 03) afirma que

A região amazônica tem como maior desafio na produção dos serviços em


saúde o custeio da logística para deslocamento das equipes para a realização
das ações nos territórios. Apresenta como característica o enfrentamento das
distâncias através dos rios, lagos e paranás, que sofrem alterações e movi-
mentos pelo ciclo das águas (seca, enchente, vazante e cheia).

O deslocamento e permanência do profissional enfermeiro, tem sido um dos maio-


res desafios por conta da logística difícil que é enfrentada para chegar aos lugares mais
isolados. Muitos amazonenses estão excluídos do atendimento em saúde, devido á estas
condições de deslocamento. As populações ribeirinhas são as que mais sofrem, pois quanto
mais estão afastadas da zona urbana das cidades, mais são as dificuldades das equipes
de saúde atende-las.
Ainda sobre as dificuldades, Almeida (2019, p. 06) fala dos conflitos que os enfer-
meiros enfrentam na confusão em relação ao seu papel nas comunidades e na logística
de acesso a estas.

Apesar do Ministério da Saúde (MS) por meio da Política Nacional de Atenção


Básica (PNAB) (2017) delimitar as atribuições do Enfermeiro, esse profissio-
nal ainda encontra dificuldades no atendimento aos seus serviços, seja pela
concepção conflituosa de sua identidade ou não delimitação do seu espaço e
entendimento de suas atribuições, acabando por incorporar outras atribuições
de profissionais ausentes ou não, principalmente para suprimir as lacunas que
rotineiramente ocorrem no dia-a-dia da unidade de saúde.

E neste sentido, são os conflitos que estes profissionais enfrentam no seu cotidiano que
precisam ser bem orientados para que os moradores de pequenas cidades e comunidades,
não exijam mais do que a atuação correta do enfermeiro.
Como possibilidades diante da falta de medicamentos e equipamentos, podemos citar o
conhecimento que muitos profissionais enfermeiros tem desenvolvido em relação á utilização
do conhecimento tradicional em relação ao uso de plantas medicinais que são de mais fácil
acesso. (CORDEIRO PM, et al., 2019).

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No caso da região, vemos ainda que é comum que exerçam cargos de gestão, pois
estes geralmente são fixos nos municípios, constituem família e são mais próximos dos
gestores municipais, o que abre um leque de responsabilidade em relação á funções mais
amplas na gestão da saúde nestas pequenas cidades.
Outra importante dimensão do trabalho do enfermeiro que vem ganhando espaço no
estado, e sobretudo no interior, é o trabalho educativo do enfermeiro. Sobre isso, o parecer
CNE/CES nº 1.133/2001 estabelece que

nas competências e habilidades específicas do enfermeiro, atividades inseridas


na dimensão educar: atuar como sujeito no processo de formação de recursos
humanos; promover estilos de vida saudáveis, conciliando as necessidades
tanto dos seus clientes/pacientes quanto às de sua comunidade; compatibi-
lizar as características profissionais dos agentes da equipe de enfermagem
às diferentes demandas dos usuários; planejar e implementar programas de
educação e promoção à saúde, considerando a especificidade dos diferentes
grupos sociais e dos distintos processos de vida, saúde, trabalho e adoeci-
mento (BRASIL, 2001).

O fortalecimento das ações educativas, vem surtindo efeito nas cidades amazônicas,
pois os programas de atenção básica auxiliam na promoção da saúde e da mudança de vida
dos moradores, e o enfermeiro, nesta perspectiva, é uma das figuras centrais neste trabalho
amplo e permanente no estado do Amazonas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estado do Amazonas é considerado por muitos um grande vazio demográfico quan-


do comparado á outros estados brasileiros. Com menos de 2 habitantes por quilometro
quadrado, a distribuição espacial destes 4 milhões de moradores apresenta desafios con-
sideráveis no que diz respeito ao deslocamento e permanência de profissionais de saúde,
especialmente de enfermeiros.
Observou-se nas diversas produções literárias acessadas, que é comum a afirmação
de que, devido à falta de médicos, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas e etc, os enfer-
meiros acabam por sofrer pressões para assumir o papel de outros profissionais de saúde,
e ainda, a fazer o atendimento de muito mais pacientes do que sua carga diária estabelece,
pois a demanda é muito grande.
Porém além dos desafios, verificou-se que em muitas cidades do interior do Amazonas,
os enfermeiros ocupam lugar de gerencia de serviços e estabelecimentos de saúde, pois
este é na maioria das vezes, morador do município e conhece bem os problemas locais.
Há ainda as iniciativas de enfermeiros que buscam atender a população loca levando
em consideração os saberes tradicionais destes povos nativos e o desenvolvimento de

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pesquisa sobre os medicamentos naturais. As atividades de educação que este profissional
desenvolve, também é um importante fator de melhoria da qualidade de vida da população.
O papel do enfermeiro, diante disto, é cada vez mais importante nas cidades amazô-
nicas, diante da imensidão territorial da região e dos fatores de crescimento, sendo então,
o Amazonas, um campo ainda em crescimento e que carece da atuação do enfermeiro de
modo amplo e permanente.

REFERÊNCIAS
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do em 22/03/2018. Disponível em: https://www.acritica.com/channels/cotidiano/news/
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nal Collection Health | ISSN 2178-2091 REAS/EJCH | Vol.11(17) | e1419 | Página 1
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principais entraves. Disponível em: DOI: https://doi.org/10.25248/reas.e1419.2019.
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tembro de 2017. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), estabelecendo
a revisão de diretrizes para a organização da Atenção Básica, no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS). Diário Oficial da União: Brasília, DF, 22 set. 2017

5. ______. Lei n° 7.498/86, de 25 de junho de 1986. Dispõe sobre a regulamentação


do exercício da enfermagem. Rio de Janeiro: 1986. Disponível em: L7498 – Planalto
http://www.planalto.gov.br . Acesso em 25 dez 21.

6. ______. Decreto n.º 94.406, de 08 de junho de 1987. Regulamenta a Lei n.º 7.498/86,
que dispõe sobre o exercício da enfermagem, e dá outras providências. Brasília: 1987.
Disponível em . Planalto http://www.planalto.gov.br. Acesso em 25 dez 21.

7. ______. Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Resolução n° 311/2007, de 08


de fevereiro de 2007. Dispõe sobre a reformulação do código de ética dos profissionais
em enfermagem. Rio de Janeiro: 2007. Planalto http://www.planalto.gov.br . Acesso
em 25 dez 21.

8. ______. Parecer CNE/CES nº 1.133, de 7 de agosto de 2001. Diretrizes curriculares


nacionais das profissões da Saúde. Planalto http://www.planalto.gov.br . Acesso em
25 dez 21.

9. CANDEIAS Nelly Martins Ferreira. Conceitos de educação e de promoção em saúde:


mudanças individuais e mudanças organizacionais. Disponível em: https://www.
scielo.br/j/rsp/a/P9zNFfcwyJM3rzs5DFcQwqv/?lang=pt. Acesso em 25 dez 21.

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10. CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos
nas organizações, 3a edição, Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

11. COFEN. Relatório do departamento de tecnologia da informação e comunicação.


Relatório de pesquisa. Brasília: COFEN; 2014.

12. CONSELHO FEDERAL DE ENGERMAGEM. Enfermagem em números. Disponível


em: http://www.cofen.gov.br/enfermagem-em-numeros. Acesso em 25 dez 21.

13. CORDEIRO PM, et al. Efeito da Justicia acuminatissima, Sara Tudo do Amazo-
nas na Injúria Renal Aguda Isquêmica: estudo experimental. Rev Esc Enferm USP.
2019;53:e03487. Acesso em 25 dez 21

14. DOLZANE, Rozenila S.; Schweickardt, Júlio C. Provimento e fixação de profissionais


de saúde na atenção básica em contextos de difícil acesso: perfil dos profissionais
de saúde em municípios do Amazonas. Trabalho, Educação e Saúde, v. 18, n. 3, 2020,
e00288120, DOI: 10.1590/1981-7746-sol00288

15. MENICUCCI TMG. História da Reforma Sanitária brasileira e do Sistema Único de


Saúde: mudanças, continuidade e a agenda atual. História, Ciência, Saúde – Mangui-
nhos. 2014;(21) 1:77-92.

16. OLIVEIRA Ana Paula Cavalcante de; SOUZA, Wagner Villas Boas de. O Estado da
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https://www.scielo.br/j/rlae/a/nwPZbvkYp6GNLsZhFK7mGwd/?lang=pt Acesso em 25
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17. RIBEIRO, Patricio A.; CARNEIRO, Kassia K. C. A dinâmica da enchente e vazante


no município de Barreirinha/AM: impactos socioambientais e a intervenção das po-
líticas públicas. RELEM – Revista Eletrônica Mutações, Manaus, v. 7, n. 12, jan.-jun.
2016. Disponível em: https://periodicos.ufam.edu.br Acesso em 25 dez 21.

18. RODRIGUES, Fares F. A. (Org.). Amazonas 2000-2013. São Paulo: Editora Funda-
ção Perseu Abramo, 2016. (Estudos Estados Brasileiros). Disponível em: http://www.
sedecti.am.gov.br/. Acesso em 25 dez 21.

19. SILVEIRA, Rodrigo Pinheiro; PINHEIRO Roseni. Entendendo a necessidade de


médicos no interior da Amazônia – Brasil. Disponível em: https://www.scielo.br/j/
rbem/a/hVW4JjFSJHmxBkpTpCLmsgQ/?lang=pt. Acesso em 25 dez 21. https://
doi.org/10.1590/S0100-55022014000400006

20. SCHWEICKARDT, Júlio C. et al. Banco de dados PPSUS – Cenário da gestão do


trabalho em saúde: provimento e fixação de profissionais de saúde no Amazonas.
Manaus: Fiocruz , 2016,

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02
Diálogos construtivos: biblioteca digital do
povo Sateré-Mawé: reverberando saberes
da tradição cultural

Danielle Mariam Araújo dos Santos


Universidade do Estado do Amazonas - UEA

Joelma Monteiro de Carvalho


Universidade do Estado do Amazonas - UEA

Diana Ayla Silva da Costa


Universidade do Estado do Amazonas - UEA

'10.37885/220910340
RESUMO

Este trabalho é resultado do projeto de extensão, desenvolvido na Universidade Estadual do


Amazonas (PROGEX/UEA) realizado no período de maio de 2021 a abril de 2022, tem como
objetivo elaborar uma biblioteca digital a partir das produções científicas sobre o povo Sateré-
Mawé, por meio do rastreio de artigos, dissertações e teses nos sites Google Acadêmico
e Scielo e justapor no programa Zotero, visando selecionar e agrupar as publicações por
área temática em educação, saúde, turismo, disponibilizados aos usuários indígenas e não
indígenas o acesso por meio de link do Zotero, vinculado à conta do gmail. Em seguida, a
instalação do programa no computador e a organização para o estudo. Trata-se de uma pes-
quisa de cunho bibliográfico e aplicada ao campo. Os procedimentos metodológicos adotados
foram pesquisados por meio das palavras-chave. Apesar da proposta do projeto ser de criar
uma biblioteca digital, as práticas de campo foram realizadas em conjunto com os bolsistas,
com a realização de oficinas didáticas e sobre a organização administrativa. Participaram
das oficinas 15 comunitários, residentes na aldeia Sahú-Apé, localizada à margem do Rio
Ariaú, afluente do Rio Negro, no município de Iranduba, distante aproximadamente 38 km
de Manaus, capital do Estado do Amazonas. Como resultado, catalogou-se um acervo, em
que foram encontradas aproximadamente três mil publicações sobre a etnia. Como retorno
social, a elaboração da escrita de textos científicos e a socialização dos resultados na al-
deia. É relevante à pesquisa científica, bem como frisar os esforços investidos para resgatar
e reconhecer a importância da tradição do povo Sateré-Mawé, em variadas publicações.

Palavras-chave: Sateré-Mawé, Biblioteca Digital, Zotero.


INTRODUÇÃO

Estrabão já aconselhava a levar em consideração que os atributos de um lugar eles


são devidos à natureza, porque, pensava ele, eles são permanentes, enquanto os atributos
superpostos conhecem mudanças; de fato, hoje podemos corrigir que essas duas caracte-
rísticas estão propícias a mudar.
Mas também, acrescenta ele, está claro que é preciso levar em conta os atributos não
naturais que são destinados a permanecer e que transformam o trabalho do homem em
uma espécie de atributo natural de um lugar.
Diante dessa afirmação, podemos justificar a necessidade da biblioteca digital, para
além do conhecimento dos acadêmicos na universidade e população em geral, mas também
direcionado ao povo Sateré-Mawé, pois, essa pesquisa nasceu da dificuldade em encontrar
trabalhos acadêmicos reunidos em uma plataforma para facilitar o acesso e a discussão e
a produção de novos trabalhos.
A pesquisa objetivou criar uma biblioteca digital com ênfase nas produções científicas
sobre o povo Sateré-Mawé. Esta abrangeu as seguintes etapas: pesquisa bibliográfica de
artigos, dissertações e teses sobre o povo Sateré-Mawé no Google Acadêmico e Scielo.
Neste sentido, a estratégia foi criar um e-mail no Gmail com a identificação Sateré-Mawé,
e, logo após, a vinculação ao programa que permite ser uma ferramenta gratuita e fácil
para coletar, organizar, citar e compartilhar pesquisas com outros usuários criou-se pastas
temáticas como educação, saúde, economia e turismo.
Observamos que o programa ZOTERO é de fácil acesso e ele não precisa estar co-
nectado a rede de internet para abrir os arquivos, ou seja, mesmo sem conexão, pode ler
e editar os dados na plataforma. Contudo, para baixar os mesmos, neste momento sim, é
obrigatório a conexão com a internet. A pesquisa confirmou que há uma produção acadêmica
voltada para o povo sateré-mawé com o intuito de buscar, registrar e estudar. Servindo como
base para outros trabalhos direcionados para outras comunidades tradicionais. Portanto,
mesmo que os moradores que colaboraram com o desenvolvimento deste projeto ainda não
terem acessado por o programa, eles já se manifestaram com interesse e reconhecimento
da importância de manter armazenados com facilidade para acessar as produções acadê-
micas sobre a cultura, ritual, comida, música, tradição, educação e tantos outros aspectos
particulares a eles.

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REFERENCIAL TEÓRICO

Povos Tradicionais

As autoridades governamentais bem como a sociedade em geral conscientizam-se,


cada vez mais, que o conhecimento, as inovações e práticas das comunidades locais e
populações indígenas com estilo de vida tradicional e essencial para a conservação e uti-
lização sustentável da diversidade biológica vêm-se perdendo em proporções alarmantes.
O avanço da fronteira agrícola, a construção de hidrelétricas e estradas, além da es-
peculação imobiliária, são apontadas como as principais causas do desaparecimento dos
costumes e saberes tradicionais. E, adicionando a esses, o surgimento da pandemia da
COVID-19, observou-se mais descasos e abandonos com as comunidades locais. Sendo
essa combinação muito prejudicial para a aldeia Sahú-Apé que está localizada no município
de Iranduba, distante 38 Km da capital do Estado do Amazonas. Pois, a sua principal mola
econômica era o turismo ao seu território, e no mesmo, fazia a comercialização de ade-
reços com artesanato, pintura corporal usando a mistura de jenipapo com urucum, venda
de perfumes e remédios naturais todos produzidos com os elementos retirados na própria
comunidade e área adjacentes.
Diante do reconhecimento de que as sabedorias tradicionais são valiosas heranças
para a comunidade e culturas que os desenvolvem e os mantêm, além de, potencialmente,
representar fonte significativa de informações para as sociedades de todo mundo. O saber
oriundo do povo tradicional são objeto de conhecimento passado de forma oral e por re-
petição pelos outros indivíduos pertencentes à comunidade, a prática da domesticação e
uso, fonte de inspiração para mitos e rituais, e finalmente, sob forma de mercadoria para as
sociedades externas desses espaços geográficos.
Esse conceito inclui a preocupação com a vida social dos moradores da comunidade
Sahú-Apé, a ideia de conservação dos ecossistemas através do manejo racional do meio
ambiente e dos recursos naturais. Conforme o autor Barbosa (2008), o desenvolvimento
sustentável também sugere a promoção de atividades produtivas e rentáveis, mas desti-
nadas a melhorar a qualidade de vida e não somente a acumulação da produção, sendo
que, essas atividades sustentáveis devem apresentar uma relativa permanência no tempo.
Porém, o aspecto social inserido.
Os Sateré-Mawé, assim como outras comunidades tradicionais, ainda praticam o co-
nhecimento empírico, erroneamente chamado de senso comum ou, até mesmo, de vulgar,
ele é aquele saber adquirido pela própria pessoa na sua relação com o meio ambiente ou
com o meio social que está inserido, e é obtido por meio de interação contínua na forma de
ensaios e tentativas que resultam em erros e em acertos. Do ponto de vista da utilização

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de métodos e técnicas científicas, este tipo de conhecimento, mesmo quando consolidado
como convicção, cultura e tradição, é ametódico e assistemático (CERVO & BERVIAN, 2007).

A importância da pesquisa no Brasil

Os rumos da pesquisa científica no Brasil seguiram a passos lentos na trajetória de


sua história, conforme Figueiredo (2008). Somente a partir de 1808, no então Brasil colonial,
que, com a chegada da família portuguesa, foi iniciada a criação de instituições direcionadas
para a prática.
Ao longo desse tempo, a universidade, a pesquisa e o acesso ao conhecimento e à
produção de novas informações ainda estão passando por uma evolução a grandes passos.
Assim, neste trabalho podemos abordar, também, o entendimento sobre o desenvolvimento
da pesquisa, que, inicialmente, são necessárias fontes que permitam trazer informações
sobre aquilo que se deseja pesquisar. Pode-se, a partir deste ponto, reunir informações de
livros, teses, dissertações, monografias e artigos científicos. Com essas informações reuni-
das, dentro de um rigor científico, poderão firmar um determinado conhecimento.
Segundo Rampazzo (2002), os trabalhos científicos podem ser classificados em rela-
tórios, monografias, dissertações, teses, artigos científicos, seminários e resenhas. E, esses
foram os critérios usados para classificar na planilha, a qual foi feita ao longo da coleta, os
trabalhos acadêmicos. Seguindo esse caminho podemos afirmar o valor de, além de pes-
quisar, tornar possível a promoção e reunião dos documentos publicados na internet.

A plataforma ZOTERO

De acordo com o site do programa Zotero a proposta é ser uma ferramenta de código
aberto, ou seja, ele é gratuito para ser usado e livre para fazer alterações em seu código
para que ele faça o que você deseja.
Ele é baixado para o seu computador, e, após, o usuário vincula e edita os dados de
cada trabalho. Permitindo, compartilhar o link de permite visualizar toda a biblioteca criada e
organizada. Contudo, é interessante verificar se outros usuários podem alterar os atributos
adicionados aos trabalhos já inseridos na plataforma. Ou até mesmo apagá-los. É possível
no modo off-line abrir e ler e editar no programa. E, quando estiver conectado à internet,
atualizar todas as modificações.

METODOLOGIA

A presente pesquisa é classificada como exploratória e tem como objetivo proporcionar


maior familiaridade com o problema, ou seja, têm o intuito de torná-lo mais explícito. Sendo

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na maioria das pesquisas, segundo Rampazzo (2002), neste tipo envolve levantamento
bibliográfico, entrevista com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema
pesquisado e análise de exemplos que “estimulem a compreensão”, assumindo, assim, a
forma de pesquisa bibliográfica ou estudo de caso.
Segundo Gil (2010, p. 1), a metodologia da pesquisa “é requerida quando não se dis-
põe de informação suficiente para responder ao problema, ou então quando a informação
disponível se encontra em tal estado de desordem que não possa ser adequadamente re-
lacionada ao problema”. Para Severino (2016, p. 125) a pesquisa qualitativa é aquela que
“faz referência mais a seus fundamentos epistemológicos do que propriamente a especifi-
cidades metodológicas”.
A pesquisa teve como objetivo realizar o levantamento e o agrupamento de trabalhos
como teses, artigos, relatórios, periódicos, dentre outros publicados em anais, revistas científi-
cas, congressos e outros formatos nos sites scielo e google acadêmico sobre o conhecimento
e uso das tradições por populações tradicionais indígenas no Brasil, em exclusividade, os
Sateré-Mawé, e de organizar a documentação estudada de forma a torná-la acessível ao
público através da plataforma Zotero.
A pesquisa foi pensada a partir de uma necessidade sobre a dificuldade de encon-
trar organizado os trabalhos vinculados sobre os Sateré-Mawé. Como podemos observar,
há vários trabalhos publicados em outros estados e até em outro país. Mesmo sendo por
brasileiros, a divulgação sobre a comunidade Sateré-Mawé é extensa, mas não reflete a
importância do povo Sateré-Mawé.
A pesquisa foi realizada no período de maio de 2021 a abril de 2022 em Manaus no
Laboratório de Geografia (LABVIVO) e, no município de Iranduba, também no estado do
Amazonas, na aldeia Sahú-Apé, que tem como significado para a língua do tronco linguís-
tico Tupi, segundo Curt Nimuendaju (1948) Sateré-Mawé casco de tatu. A comunidade fica
localizada na estrada Manoel Urbano, Km 38.

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Figura 1. Localização da comunidade Sahu-Apé em relação a Manaus.

Fonte: Elaborado por Ferreira (2018) em escala de impressão A3.

Foi necessário dividir em etapas a realização das ações para serem executadas. Pois,
apesar da facilidade em manusear e se familiarizar com a interface do ZOTERO, ainda se
encontra barreiras no programa, e há a possibilidade de outros usuários sentirem as mes-
mas ou outras dificuldades.
Logo, na primeira etapa, pesquisou-se sobre os tipos de programas que oferecem a
mesma ou parecida funcionalidade de biblioteca digital. A segunda etapa foi fazer down-
loads de vários tipos de resultados da pesquisa utilizando a palavra-chave. E, na terceira,
foi criada uma planilha para organizar as leituras realizadas.
Após essa etapa, foi concretizada uma prática de campo na comunidade Sahú-Apé,
e a realização da palestra com a organização de cadernos administrativos com as informa-
ções da própria comunidade. Ao longo dessas etapas foram feitas leituras no laboratório e
a apresentação parcial.
A participação na atividade na comunidade Sahu Apé, envolveu alunos do curso de
Geografia, e ainda, colaboradores e comunidade Sateré, sendo nesta atividade, apresenta-
dos dados sobre as produções acadêmicas da etnia.

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A bolsista apresentou a plataforma verbalmente, tendo em vista que na comunidade
não possui espaço para reunião, e devido à chuva, havia caído a cobertura da cozinha, tendo
sido necessário reunir embaixo das árvores.
A bolsista falou sobre como se escreve sobre a comunidade, e que esta precisa apren-
der a registrar sua história, tendo como ferramenta, as atas e livros de visita, sendo pos-
sível assim, ter uma história e dados sobre quem visita a comunidade, e quais atividades
foram realizadas.
As dificuldades em relação à fortes chuvas, e à infraestrutura na comunidade, impedi-
ram que fossem realizadas mais visitas de campo, porém, foi enviada à professora, a tabela
com as produções de artigos para que esta pudesse acompanhar a produção acadêmica
sobre a etnia, e quando houver possibilidade, acessar aos links disponíveis dos artigos, para
conhecer sobre o que se escreve sobre o povo sateré.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Observou-se nas pesquisas que há publicação de trabalhos acadêmicos disponíveis em


revistas eletrônicas, web-palestras, Tcc, teses e dissertações, tanto no âmbito do território
brasileiro quanto em país estrangeiro, como um resumo de trabalho acadêmico de conclusão
de curso publicado em uma revista em Portugal. Não foi possível estimar um número absoluto
e nem afirmar se as produções acadêmicas estão em ascensão científica. Pois, a pesquisa
foi desenvolvida durante o período da pandemia da COVID-19 e nesse intervalo de tempo,
o estado, município e a própria universidade decretaram em vários momentos, limitações
sobre o acesso ao espaço universitário e, posteriormente, limitação na quantidade e tempo
de permanência de alunos no espaço do laboratório e biblioteca universitária.
Durante a realização da pesquisa de campo no município de Iranduba foi constatado
através dos depoimentos de jovens e adultos, nascidos e residentes na aldeia, que o aumento
das dificuldades financeira é causado pela ausência das parcerias, apoios e doações da
sociedade em geral e dos órgãos públicos e privados, embora esses mesmos declararam
que os indígenas e os saberes tradicionais são importantes.
Assim, verifica-se nos pensamentos dos moradores da comunidade Sahú-Apé um
posicionamento de não conformismo diante das dificuldades econômicas agravadas neste
período de pandemia e isolamento social e aumento do desemprego sentidos por tantos
brasileiros. Isso explica porque não foram visitados no espaço geográfico e nem contem-
plados por projetos para a elaboração e práticas políticas públicas na área de turismo (
Santos, et.al, 2019).
Logo, pode-se inferir que os números de visitantes e vendas de artesanatos, remédios
naturais e perfumes e pintura corporal sofreram uma queda muito brusca.

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Conhecer sobre sua etnia e sua história, é essencial no fortalecimento da cultura in-
dígena, e neste contexto, o projeto pode levar aos moradores, uma fonte de pesquisa, que
posteriormente quando forem resolvidas as questões de energia e internet, eles poderão
acessar e entender alguns processos de migração e formação de comunidades ao longo
da história (Carvalho, et.al, 2022).
No decorrer do projeto, foram feitas atividades no laboratório, com a formação de uma
biblioteca digital, que hoje está disponível em google drive, para acesso de alunos, profes-
sores, indígenas e comunidade em geral, como mostra a imagem 1.

Imagem 2. Biblioteca digital na Plataforma Zotero, com pesquisas sobre a produção acadêmica que trata do povo Sateré
Mawé.

Fonte: Autora (2022).

O acesso à produtos digitais ainda é uma barreira para os indígenas, tendo em vista
que muitas comunidades não possuem internet e nem mesmo energia. Neste caso, para
que este produto não ficasse obsoleto aos moradores da comunidade Sahu Apé, durante a
visita, foi disponibilizado o link para que estes pudessem acessar a plataforma pelo celular.
Assim, as novas tecnologias têm sido suporte em todas as esferas educacionais, “ao
se falar em novas tecnologias, na atualidade, estamos nos referindo, principalmente, aos
processos e produtos relacionados com os conhecimentos provenientes da eletrônica, da
microeletrônica e das telecomunicações. Essas tecnologias caracterizam-se por serem evo-
lutivas, ou seja, estão em permanente transformação” (KENSKI, 2012, p. 25).
Os alunos que participaram da palestra e das oficinas, são também bolsistas de outros
projetos e ainda, alunos que realizam pesquisas sobre geotecnologias, e que foram convi-
dados a participar das duas oficinas e da atividade de campo.
Nas duas visitas em que estivemos na comunidade, foram realizadas oficinas com o
objetivo de mostrar aos indígenas, como registrar as atividades que realizam, através de
atas, livro caixa e livro de visitas. Os materiais foram como livro de atas, livros caixa, livros de
visita, papel ofício, canetas, lápis, réguas e outros, foram doados pelas professoras orienta-
doras, e os moradores foram orientados quanto ao preenchimento e guarda destes recursos.
A imagem 2 abaixo, mostra a primeira visita realizada na comunidade no mês de se-
tembro de 2021, onde foi apresentada a plataforma Zotero, e já realizada a primeira etapa

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da oficina de registros, com a participação da Tuxaua da comunidade, a indígena MIdiã, e
outros jovens que se responsabilizaram de fazer estes registros.

Imagem 3. Primeira visita na Comunidade Sahu Apé.

Fonte: SANTOS D. M. (2021).

A comunidade possui uma Associação (Imagem 4), e estes registros são muito im-
portantes, também para a pessoa jurídica, que está implementada. A construção de uma
história dos eventos que acontecem na comunidade, é importante para que não aconteçam
erros nas pesquisas realizadas por pessoas do mundo acadêmico.

Imagem 4. Imagem do slogan da Associação.

Fonte: https://www.facebook.com/ (2014). Acesso em 01 de maio de 2022.

Na segunda visita, foi feita uma verificação de como a comunidade registrou os meses
anteriores, as atividades que realizaram, e percebeu-se que pouco foi feito,

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Imagem 5. Segunda visita na comunidade Sahu-Apé.

Fonte: SANTOS D. M. (2022).

Foi explicado a eles, que nas pesquisas realizadas para a alimentação da plataforma
Zotero, ao ler os artigos, a aluna bolsista identificou que muitas das produções acadêmicas
tinham pouca ou quase nenhuma fala dos indígenas, e ainda, alguns eventos da comunidade
citados em produções diferentes, mostravam que havia contradições de datas e de locais
específicos, ou seja, a história dos Saterés, nem sempre é contada por eles mesmos, mui-
tas vezes é fruto da pesquisa superficial que não aborda de modo profundo e significativo a
história e a cultura da etnia, trazendo apenas o olhar do “homem branco”.
A construção desta biblioteca por meio da Plataforma Zotero possibilitará um acervo
documental de conhecimento não somente para os indígenas, mas para pesquisadores em
geral, principalmente os alunos da Universidade do Estado do Amazonas, o que já vem sendo
feito por alunos da Biologia, conforme relato destes, após o conhecimento da plataforma no
dia da apresentação parcial do projeto de extensão.
Para os indígenas, é uma fonte de pesquisa e compreensão de como os pesquisa-
dores entendem a dinâmica cultural e social do povo Sateré, e diante das incongruências,
poder escrever sua própria história. Além de retorno social dos estudos realizados junto
com os comunitários.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É fundamental realizar o inventário dos conhecimentos, usos e práticas das sociedades


tradicionais indígenas, pois, sem dúvida, são depositárias de parte considerável do saber
sobre a complexa diversidade em vários âmbitos medicinais, artísticos, moda, alimentar e
outros, e, hoje ainda em processos de reconhecimento por órgãos e sociedade como um todo.
Já que esse conhecimento não se restringe a um conceito pertencente ao mundo
natural, sendo também, uma manifestação da construção cultural e social. O respeito e o
gerenciamento dos saberes e práticas tradicionais devem ser objetos.

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O projeto de extensão realizado ao longo do período, trouxe uma gama de conheci-
mentos sobre a situação da comunidade, e ainda sobre a importância do registro da história
de um povo. Sendo assim, foi neste contexto, que a plataforma Zotero foi importante para
organizar e resguardar a produção acadêmica disponível em sites da internet, e assim, se
transformar em uma ferramenta que ultrapasse os muros das universidades, e chegue aos
protagonistas destes estudos.

REFERÊNCIAS
1. BARBOSA, E. B. Uma viagem pelo analfabetismo do Alto Solimões. Manaus: Edi-
ções Muiraquitã, 2008.

2. CARVALHO, Joelma et al. EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM COMUNIDADE INDÍGE-


NA: Diálogos e Saberes ancestrais, um relato de experiências em tempo de pandemia,
Manaus-Amazonas. Revista Extensão, v. 22, n. 1, p. 135-141, 2022.

3. CERVO, A. L. BERVIAN, P. A. Metodologia científica. 6 ed. São Paulo: Pearson


Prentice Hall, 2007.

4. DIEGUES, A. C. ARRUDA, R. S. V. Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil.


Brasília: Ministério do Meio Ambiente: USP, São Paulo, 2001.

5. FIGUEIREDO, N. M. A de. Método e metodologia na pesquisa científica. 3. ed. São


Caetano do Sul, SP: Yendis Editora, 2008. (p.63-65).

6. KENSKI, V. M. Novos Tempos de Formação.  In: Seminários de Pesquisa do PPGE-


duMat/UFMS. 08. 2019. Palestra online (1:20:57). Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=lyit7VP9ebU&t=411s Acesso em: 20.10.2021.

7. RAMPAZZO, L. Metodologia científica para alunos dos cursos de graduação e


pós-graduação. São Paulo: Brasiliense, 2002.

8. ROSENDAHL, Z. CORREA, R. L. Geografia: temas sobre cultura e espaço. Rio de


Janeiro: EdUERJ, 2005.

9. SANTOS, Danielle Mariam Araujo dos; CARVALHO, Joelma Monteiro de; TRICÁRICO,
Luciano Torres. Patrimônio imaterial e o turismo étnico em comunidade indígena, em
Iranduba, Amazonas. Turismo e Sociedade, Curitiba, v. 12, n. 3, p. 16-35, set-dez.
2019.

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03
Escola indígena e sua dimensão na
perspectiva do Turismo Étnico, Am-Brasil

Zilmara Rocha da Silva


Universidade do Estado do Amazonas - UEA

Joelma Monteiro de Carvalho


Universidade do Estado do Amazonas - UEA

Danielle Marian Araújo dos Santos


Universidade do Estado do Amazonas - UEA

'10.37885/221010658
RESUMO

Este artigo tem como objetivo analisar como as atividades turísticas dialogam com a edu-
cação em uma escola indígena, região metropolitana de Manaus-Amazonas. Trata-se de
um estudo de abordagem qualitativa, de cunho bibliográfico com estratégias da netnografia
e etnográfica, em período da COVID-19, nos meses de março a dezembro de 2020. A in-
quietação nasceu em saber como os comunitários realizam as atividades educacionais
durante a pandemia e como a tradição cultural se faz presente nas atividades da escola e
nas ações aos turistas. Para realizar tal levantamento aplicamos questionário via Google
Meet, Whatsapp, Google Forms e registros de fotográficos. A pesquisa buscou identificar,
as ações educacionais e turísticas, e de que maneira são realizadas as suas práticas em
relação às questões à economia, ao ecológico e à cultura. Atualmente, as escolas da rede
pública de ensino realizam atividades mediadas por tecnologias ou por meio de estudos
dirigidos para aquelas comunidades sem acesso à internet. Os resultados apontam que o
setor do turismo e educação foram os mais atingidos. Além que, não há estudos sobre os
impactos da pandemia dentro de contextos educacionais indígenas. Trazemos como pro-
postas a inclusão, de construção coletiva, de um folder informativo para ser usado a partir
da crise da saúde no planeta e no Amazonas.

Palavras-chave: Educação, Comunidade Indígena, Amazonas, Covid-19.


INTRODUÇÃO

No leito do rio Amazonas existem comunidades indígenas que praticam atividades para
a geração de renda por meio de vendas produtos oriundos da floresta como: bijuterias de
sementes dos frutos amazônicos, remédios com ervas nativas e produção artísticas cultu-
rais, com apreciação de rituais indígenas, como o ritual da tucandeira (CARVALHO, 2019).
Todas essas atividades ocorrem constantemente, na comunidade Sahu-Apé.
A necessidade em conhecer a cultura de um povo, nos faz compreender e valorizar
os pontos turísticos de um lugar. Essa afirmação como podemos tratar os pontos turísticos,
pois trazem uma memória histórica expressa nas arquiteturas tradicionais da capital amazo-
nense. Em busca dessa perspectiva, nasce o interesse de se aproximar a valorização dos
povos indígenas, sendo estes tão ameaçados, por atos diretos como tomada da posse de
suas terras ou indiretos por figuras públicas do governo Federal. Consideramos que expe-
riência do turismo étnico em comunidades indígenas da região metropolitana é um meio de
fortalecer, tanto o desenvolvimento econômico do local quanto a educação, cultura, como
a valorização da tradição cultural indígena.
O turismo no estado do Amazonas no ano de 2020 foi afetado diretamente por conta
da pandemia do vírus SARS-CoV-2, em que até o atual momento o mundo traça uma bata-
lha para contê-lo, entretanto, não apenas um setor estratégico para economia amazonense
como o turístico. O sistema de educação foi um setor, duramente afetado ao ter suas escolas
fechadas sem previsões de quando seriam reabertas, deixando certa de 85.802 mil estu-
dantes da educação básica, sem acesso às aulas até o momento que foram implementadas
metodologias alternativas para esta situação, como pautou o jornal Todahora.com.
Com o programa Aula em Casa, desenvolvido pelo governo do Estado do Amazonas em
parceria com a emissora de televisão Amazonas Sat e Águas Claras, o ensino foi transmitida
para capital e 27 municípios beneficiando, apenas 43,5% dos estudantes do Estado, como
aponta o levantamento do site todahora.com. Outra estratégia foi a utilização de ferramentas
digitais, como Google Meet, YouTube, Whatsapp e Zoom no ensino remoto.
A educação indígena foi também, uma das mais afetadas, isso inclui o objeto de es-
tudo deste projeto, a comunidade Sahu-Apé, situada no município de Iranduba, no estado
do Amazonas. A comunidade que sua principal fonte de renda, o turismo étnico, viu-se
em poucos meses a reclusão imposta pela pandemia afetar a economia dos comunitários,
sendo por meio da perda da arrecadação e a falta de infraestrutura para o ensino remo-
to na comunidade.
Ao tratar de assuntos dinâmicos como escola, turismo e povos indígenas, surgiu o in-
teresse de desenvolver um projeto onde foi possível interligar os três temas em um projeto
intitulado “Escola Indígena e Sua Dimensão na Perspectiva do Turismo Étnico”. O projeto

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tem como objetivo analisar de maneira dialética como a educação indígena foi afetada por
conta da pandemia, atingindo as atividades da cultura Sateré-Mawé, nas vivências da escola
da comunidade Sahu-Apé.
Este estudo, nos permitiu compreender a formação da comunidade Sahu-Apé e a
implementação do turismo étnico, as ações realizadas na escola indígena, com interface
nas atividades turísticas, por meio de produtos da tradição cultural. Bem como descrever os
impactos, relacionando o referencial teórico com os discursos dos entrevistados, possibili-
tando a reflexão sobre a importância das políticas públicas voltadas para as comunidades
indígenas, no período pandêmico.

HISTÓRIA E INOVAÇÃO DA COMUNIDADE SAHU-APÉ NO EMPODERAMENTO NA


EDUCAÇÃO E PARA O TURISMO ÉTNICO

A comunidade Sahu-Apé é composta por indígenas da etnia Sateré-Mawé, com base


com registros históricos, o povo é documentado a partir do século XVIII por escrituras feita
em missões de jesuítas que tinham como principal objetivo ocupar essas terras em nome
da coroa portuguesa e a catequização de indígenas, como aborda Lopes; Lombardi (2016,
p.24), “(...) através da imposição do ensino obrigatório em português da catequese e dos
aldeamentos.”. Nesses documentos é apresentado a extensão de ocupação dos originá-
rios Sateré-Mawé mantinham no estado do Amazonas. Breves, (2019, p.48) aponta que os
indígenas em estudo, residem do rio Tapajós ao Madeira, por terras ao norte como a ilha
Tupinambarana, hoje conhecido como o município de Parintins.
A exploração por parte da coroa portuguesa em terras amazonenses na retirada de
drogas do sertão, no século XIX exploração da borracha e a extração de pau-rosa, expansão
de fazendas e os garimpos no século XX em municípios como Maués, Barreirinha, Parintins
e Itaituba a comutar para redução de terras Sateré-Mawé, levando-os por esse e motivos
como, as guerras com etnias contrárias, perseguições por parte dos colonos e epidemia de
doenças ao deslocamento desse povo para centros urbanos em função principalmente do
fator econômico e consequentemente a diminuição de sua população ( CARVALHO, 2020).
Em função dos fatos citados, surge a criação de comunidades indígenas em terras
protegidas pelo órgão institucional que compete à proteção desses povos, a FUNAÍ, não
sendo o caso da comunidade objetivo de estudo do presente artigo. Segundo Santos (2010,
p.101,) “as comunidades são constituídas em função da territorialização em que utiliza arti-
fícios políticos” a exemplo ocorre com as comunidades Yapyrehyt, Waikiru, Inhã-Bé, Mawé,
Sahu-Apé e Waranã de etnia Sateré-Mawé.
A Comunidade Sahu-Apé está localizada rodovia AM – 070, no município do Iranduba,
região metropolitana de Manaus, próximo à Colônia do Limão, ao consultar informações sobre

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a demarcação da comunidade no site da Fundação Nacional do Índio – (FUNAI). De acordo
com Santos (2010, p.106) “a trajetória histórica da comunidade nasceu em função de uma
doação de terra do município de Manacapuru para os comunitários, tendo por volta, atual-
mente, 26 anos de sua fundação”.
A organização político-administrativa da comunidade teve como fundadora a líder Baku.
Ela era a tuxaua e pajé da comunidade, conforme, Dos Santos; Carvalho e Tricárico (2019) se
tornou a primeira Tuxaua mulher, sendo um avanço nas relações políticas nesse segmento,
como relatado pelos autores, a comunidade detém um pajé, Sr. Sahu, e dois líderes, Ismael
e João, conhecidos nos clãs Sateré-Mawé como Família Silva Freitas.
A Comunidade Sahu-Apé faz um trabalho dos seus principais pilares centrado na
Educação e Turismo. A educação é um instrumento de resistência em preservar a existên-
cia da língua materna Sateré-Mawé. Essa preocupação foi frisada pela Baku em entrevista
para Santos (2010), sendo a própria professora da língua na escola indígena da comuni-
dade. A escola indígena é importante instrumento na visitação à comunidade, sendo nela
palco de apresentações das crianças por meio de canto ou exposição de suas atividades
(DOS SANTOS, 2020). O turismo é a principal fonte de renda dos comunitários, no auge do
segmento hoteleiro por parte do Hotel Selva Ariaú. Segundo as lideranças, “a comunidade
recebia muitos turistas, de todos os cantos do mundo”, porém, com o fim das atividades, as
visitações, se tornaram, principalmente por universitários, estudantes do ensino fundamental
e médio da capital e pesquisadores.

PRÁXIS DOCENTES E ATIVIDADES ESCOLARES INDÍGENA DA COMUNIDADE

A educação dos povos indígenas no Brasil Colônia, por muitos anos ficou ao encar-
go da congregação Jesuíta, até o período denominado de pombalino, no qual Marquês
de Pombal tinha a tutela da então colônia. Neste período as políticas voltadas às escolas
indígenas e a educação oferecidas nestas estavam em “imposição do português, negação
da língua geral, no entanto, funcionaram práticas de resistências veladas”, acenou Souza
(2016, p.102). As escolas indígenas serão tratadas como ferramentas estatais para de-
senvolver um papel integralista dos povos remanescentes a partir da colonização até o
advento da República onde foi criado o Serviço de Proteção aos Indígenas (SPI), como
destacou Souza (2016).
No Brasil, a educação indígena é um desafio para elaboração de um ensino diferen-
ciado. Nesta busca, muitos povos elaboraram materiais didáticos, especialmente cartilhas,
na língua de cada povo, desenvolvendo programas e métodos de ensino em alfabetização e
promoveu a construção de escolas em algumas áreas indígenas, acenou Souza (2016). A li-
gação com a religião cristã está no centro da cultura indígena e tem resquícios da língua e

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com a tradição ancestral, que podem ser observados até hoje, como o nome da escola da
comunidade que, segundo Santos (2010), significa “ Deus Quis”. Outro fato perceptivo é a
relação que a comunidade tem com cristianismo, é a realização eventos e pregações.
Nos limites em que a Comunidade Sahu-Apé está situada, existe a Escola Municipal
Tupana Yporó. Santos (2010), relata que, a escola atende aos estudantes comunitários do
ensino fundamental. Na grade dos componentes curriculares da escola existe a matéria
de língua Sateré-Mawé, nesse espaço as crianças aprendem artes e atividades artesanais
lúdicas vinculadas diretamente com a cultura indígena Sateré-Mawé, além de música em
sua língua materna, no espaço foi criado um grupo de música indígena, intitulado Sahu-Hin
(DOS SANTOS, 2020).
O ensino oferecido na comunidade é somado com ensino regular oferecido pelo muni-
cípio, na sede de Iranduba, é um fato reafirmado pelo Secretário de Educação do Município
na pesquisa no ano de 2021, de acordo com secretário, as escolas do município têm em
seu componente curricular a matéria de ensino da língua materna, sendo um fator de in-
clusão para os estudantes de etnia indígena dessa região. A Constituição Federal de 1988
proporcionou aos povos indígenas o direito à valorização e aceitação das diversidades
culturais, tendo em vista o papel da escola indígena (RODRIGUES; LOMBARDI, 2016, p.
36), destacam “o papel da escola como mediadora das apropriações e das objetivações
historicamente construídas pela humanidade é imprescindível, sobretudo considerando que
o conhecimento se torna cada vez mais elaborado”.

TRADIÇÃO CULTURAL, IDENTIDADE E TERRITÓRIO NA EDUCAÇÃO E NO TURISMO

Os pilares da comunidade da Sahu-Apé podem ser adjetivados nos tópicos a seguir:


tradição, terra e identidade, nos limites em que a comunidade está estabelecida, existe a
preocupação em manter toda essência de ser um nativo da terra, praticando costumes pró-
prios da etnia Sateré-Mawé. O ritual da tucandeira, reforça a tradição e os valores sociais
e políticos. A manutenção da língua materna é repassada pelos idosos e pelos professores
Mawé e entre os integrantes da comunidade, por meio das aulas. A produção dos artesanatos
e de fármacos oriundos da floresta eram indutores para a atividade turística da comunidade.
A tradição do ritual da tucandeira ocorre quando crianças do sexo masculino atingem
a puberdade e iniciam a adolescência e sua vida adulta, na cultura indígena é uma forma
de expressa principalmente a identidade da etnia Sateré-Mawé, conforme Carvalho (2019).
Nessa cerimônia que ocorre com presença das autoridades da comunidade e integrantes
mais antigos e o jovem, em luvas feitas artesanalmente de cipó é inserido formigas tucan-
deiras. “o Sateré que passa pelo ritual demonstra sua resistência, ascende socialmente e
espera ser abençoado com saúde, virilidade e outros” (CARVALHO, 2019, p.70).

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Como abordado em tópicos anteriores, uma das preocupações em especiais da
Comunidade Sahu-Apé é pela existência e permanência de sua língua Sateré-Mawé, e essa
preservação ocorre principalmente em função da Escola Indígena na comunidade, onde é
ofertado tanto língua portuguesa, quanto Mawé, nas atividades turísticas é apresentado aos
visitantes os conhecimentos obtidos nas aulas e exposição de sua cultura aos turistas como
Santos (2010, p.96), pontua no parágrafo a seguir:

A escola indígena afirma a identidade cultural através da língua Sateré-Mawé.


É uma escola diferenciada baseada no modelo de educação escolar indíge-
na que coloca o bilinguismo como metodologia. É possível ver os desenhos,
cartazes, artesanatos, livros e cadernos utilizados pelas crianças em seu co-
tidiano escolar. É neste momento que o visitante pode ouvir músicas da sua
própria infância escolar traduzidas para a língua Mawé pela Professora Bacu
e cantadas pelas crianças (SANTOS, 2010).

CROQUIAÇÃO E ATRATIVOS TURÍSTICOS DA COMUNIDADE

O artesanato é uma fonte de renda em que fortalece a independência financeira e sendo


uma modalidade onde pode ser exposto traços de uma cultura, essa situação é aplicada à
realidade da Comunidade Sahu-Apé. Na comunidade, a subsistência dos comunitários ocor-
re em função da produção de adereços e bijuterias oriundos da floresta, esses artigos são
majoritariamente por sementes, onde são coloridos e preparados para exposição e compra
dos visitantes na comunidade. Para Santos (2010) a popularização de um artesanato de
origem da Comunidade Sahu-Apé, ganhou popularidade com valor afetivo e financeiro a
exemplo o anel de tucumã, popularizado desde o 2000, por jovens da cidade de Manaus.
Na etnia Sateré-Mawé existe uma organização sobre distribuição das atividades entre
homens e mulheres, onde o homem provém o alimento por meio da pesca ou caça e a mu-
lher dedica-se aos afazeres domésticos e agricultura. “Em alguns lugares as mulheres se
reúnem em associações para manter a identidade étnica, não aceitando os valores impos-
tos pela sociedade não indígena” (BREVES, 2019, p. 77). Além da venda de artesanatos,
a comunidade oferece aos visitantes a oportunidade de conhecer a Kunã (farmácia), onde
são preparados remédios, tônicos, chás com ervas ou raízes extraídas da floresta (DOS
SANTOS; CARVALHO; TRICÁRICO (2019) a visita na comunidade inicia-se pela Kunã, aonde
é apresentado aos visitantes todos os medicamentos que a comunidade oferece para venda
comercial. Para Santos (2010, p. 157) “Os principais procedimentos para promoção da saú-
de e da cura estão baseados nos princípios da cultura Sateré-Mawé, onde as doenças não
são exclusivamente físicas, mas interligadas às dimensões da vida espiritual e mental. (...)”.
Carvalho (2020) elaborou um roteiro etnoturístico, pois considerou que o turista neces-
sita compreender o trajeto para visitação na comunidade. O roteiro de visitação foi criado em

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função do grande fluxo de visitantes que costumavam frequentar a comunidade nos tempos
que os hotéis de selva na região. Com a queda desse segmento, automaticamente ocorre
desaceleração de visitações e consequentemente arrecadação na comunidade. O fluxo
reduzido cresceu em 2020, no período da pandemia, em decorrência da transmissibilidade
do vírus SARS-CoV-2, no final do ano de 2019, no Oriente, mais especificamente na China,
e em poucos meses, proliferando-se para todo o resto do planeta, tendo impactos na eco-
nomia mundial e em especial na Comunidade Sahu-Apé.

METODOLOGIA

A pesquisa trilhou pelo método científico dialético, de acordo com Sposito (1990, p.
20). Para o autor, o método dialético é aquele que procede pela refutação das opiniões do
senso comum, levando-os à contradição, para chegar então à verdade, fruto da razão. O ce-
nário pandêmico causado por um vírus respiratório o SARS-coV-2 fez com que medidas
fossem tomadas para que sua cadeia de propagação fosse quebrada, entre essas está o
distanciamento social e o sistema home office. Assim, foi por meio do uso dos equipamentos
de informática como computador, smartphone e rede de internet wi-fi e móvel foi possível
desenvolver a pesquisa e construir este artigo.
O distanciamento social impossibilitou as pesquisas de campo, sendo substituída pela
pesquisa participante, no qual é caracterizada pela relação pesquisador e objeto, e a diferença
entre empírico e científico. “Esta última tende a ser vista como uma atividade que privilegia
a manutenção do sistema vigente e a primeira como o próprio conhecimento derivado do
senso comum, que permitiu ao homem criar, trabalhar e interpretar” (GIL,2002, p. 56). Além
que, na pesquisa participante o componente político possibilita discutir o processo de inves-
tigação tendo por perspectiva a intervenção na realidade social (ROCHA, 2002).
Para o desenvolvimento desse estudo foi utilizado o método exploratório de natureza
qualitativa, do tipo bibliográfica e documental por vias digitais, que nos possibilitou navegar
e construir os constructos para este artigo. Para o levantamento dos dados usamos os re-
cursos digitais como aplicativos de comunicação: Google Meet, Whatsapp e Google Forms.
Por via das ferramentas Google Meet e Forms, respeitando as normas estabelecidas pelos
órgãos de Saúde, sem afetar os comunitários e os pesquisadores em função da pandemia.
Neste sentido, usamos estratégias netnográficas e etnográficas. Como recurso da coleta
dos dados aplicamos os instrumentos do formulário Google Forms, com doze perguntas
diagnósticas, as quais possibilitaram o desenvolvimento das reflexões pertinentes a proble-
mática ora apresentada.
Ao final construímos coletivamente, por meio de ferramenta digital Canva, a construção
de um folder informativo, contendo vocabulário, formas de saudações e a localização da

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comunidade, em língua Mawé e Portuguesa. Nesse folder informativo nomeado Guia CSA, foi
inserido um QR CODE gerado pela plataforma Google Earth, sobre acesso e local em estudo.

DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Com a crise sanitária, diante do contexto pandêmico, foram aplicadas medidas de


contenção à proliferação da COVID-19, mediante decretos governamentais, como restrição
de circulação, isolamento social obrigatório popularmente conhecido pelo o termo em inglês
lockdown, fechamento de atividade econômicas, educacionais, turísticas entre outras.
Nesse período foi necessária adaptação desses setores para que não houvesse total
estagnação do desenvolvimento, tendo uma forte migração para universo digital, essa fer-
ramenta foi o principal aliado na manutenção da economia e educação, escolas tiveram que
utilizar as mídias digitais e novas metodologias para da continuidade ao ano letivo e deter o
impacto da paralisia na educação, o mesmo ocorreu com setor econômico. Essa nova rea-
lidade não diferenciou povos, crenças, etnias ou classe econômica, expôs antigas e novas
mazelas brasileiras e a Comunidade Sahu-Apé não foi uma exceção nesse cenário, tendo
sua atividade de turismo étnico e educacional totalmente afetada.
Em função da pandemia, todos os resultados apresentados neste estudo foram realiza-
dos por meio de um formulário digitalizado respondido por um representante do poder execu-
tivo do município de Iranduba, o secretário da educação, sendo composto por doze perguntas
diagnósticas gerado na plataforma Google Forms e em entrevista realizada via plataforma
Google Meet com a líder da comunidade Sahu-Apé, a jovem Zelinda Da Silva Freitas Araújo
(2021) e a pesquisadora do curso de Engenharia de Produção, Vanessa Do Nascimento
Damasceno (2021).
Em entrevistas com o Secretário de Educação do Município de Iranduba, Senhor
Adailson Nascimento Souza (2020), foi possível chegar às seguintes pontuações: existem
atualmente uma média de 1 a cada 4 escolas para o ensino de indígenas no município. As es-
colas estão situadas na sede do município e utilizam em sua metodologia o emprego da
língua materna indígena Sateré-Mawé. A idade em que um comunitário Sahu-Apé aprende
o idioma Sateré-Mawé é variada.
De acordo com secretário, atualmente entre 20 a 50 estudantes indígenas ingressam
no sistema de educação do município. Em meio a pandemia todos esses estudantes, tanto
indígenas quanto não indígenas tiveram acesso às aulas remotas por meio de plataformas
digitais, sendo o Whatsapp, como a principal ferramenta.

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DIFICULDADES DE ACESSO À INTERNET: UMA NOVA EXCLUSÃO SOCIAL

Na comunidade indígena, as principais dificuldades para disseminação do ensino, no


período da pandemia, foram falta de recurso tecnológico, falta de acesso à internet, desco-
nhecimento das ferramentas digitais adequadas e falta de recursos para inserir créditos ao
celular. Como reflexo negativo, as abstenções de estudantes, tanto da sede do município
quanto na comunidade Sahu-Apé, nesse período ficaram por volta de 25 a 50%.
A infraestrutura é um dos pilares para assegurar educação de qualidade aos estudantes,
em entrevista a jovem professora Zelinda Da Silva Freitas Araújo Neta, 26 anos, conhecida
como Kiã, intermediária da Comunidade Sahu-Apé, ela atualmente, cumpri um papel de
porta-voz das necessidades da comunidade, e destaca que em sua jornada estudantil foi
realizada em escola sem metodologia indígena, sendo um ponto crucial para luta da es-
cola da comunidade. Zelinda Neta (2021) descreveu que a comunidade sofre “intolerância
e discriminação por servidores públicos em escolas públicas e até com membros de sua
família ao utilizar pintura na pele, nas salas de aula. Nosso orgulho é exaltar nossa crença
e herança ancestrais”.
Em função das fortes chuvas do período conhecido como inverno amazônico de 2020,
houve a retirada da cobertura de proteção da escola, tornando inacessível à prática do ensino
em formato híbrido para os estudantes da comunidade, contribuindo para abstenção desses
estudantes na realização de atividades e participação em aulas.
Para a professora a Secretária de Educação do Município de Iranduba tem atrasado em
contratação e remanejo de educadores para lecionarem na comunidade, pois segundo Kiã,
“os estudantes por residirem na comunidade, podem ter aula presencial, pelos professores
contratados, entretanto, devida as restrições para o enfrentamento à pandemia, as aulas
foram suspensas” (2021). Com a redução momentânea do contágio do vírus, o retorno de
atividades, foi prejudicada, com números expressivos de vidas ceifadas. No segundo pico
da doença em 2021 ao realizarem suas atividades em formato presencial, contribuiu para a
proliferação da doença na comunidade.
A inserção de tecnologias ao ensino é progressiva desde o início da era digital, entre-
tanto, no sistema público de educação esse avanço ocorre com lentidão e o reflexo desse
abandono é exposto com a crise sanitária do vírus SARS-CoV-2. Para o Secretário de
Educação do Município de Iranduba a falta de ferramentas digitais como computadores,
instalação de antenas para captação de sinal telefônico, instalação de rede wi-fi ou entrega
de chips de celulares para o acesso à internet de qualidade para a realização de aulas e
atividades online. Esses fatores causaram danos aos estudantes indígenas e não indígenas
do município elevando a evasão escolar, falta de motivação e abandono dos estudos.

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DA TRADIÇÃO CULTURAL AOS IMPACTOS ESCOLAR

De acordo UNICEF (2021) no relatório publicado em janeiro intitulado “Enfrentamento


da cultura do fracasso ao escolar”, por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(Pnad) (2020) foi possível detectar uma taxa de 3,8% superior à média nacional de 2% re-
ferente a não participação de estudantes de 6 à 17 anos em atividades presenciais, híbrido
ou remoto, representando um total de 1.380.891, além dos 4.125.429, no qual apontam não
ter participação em atividades escolares, mas estarem inseridos na escola. Assim, ao todo,
são 5,5 milhões de estudantes em período escolar sem educação no ano de 2020.
Os prejuízos causados pelas paralisações escolares em função da pandemia ainda
estão sendo mensurada na educação pública, na Comunidade Sahu-Apé a prática do exer-
cício da língua Sateré-Mawé é inserida nos lares da comunidade, entretanto as perdas aos
jovens referentes à aprendizagem de linguagens, ciências humanas, exatas e biológicas,
além da socialização são danos causados e ainda calculados por uma pandemia sem data
para acabar até o momento que esse artigo é desenvolvido.
Ao comentar sobre o turismo da Comunidade Sahu-Apé, o secretário pontua que, “a
principal fonte de renda dos comunitários neste período foi o auxílio emergencial oferecido
pelo Governo Federal e as visitações turísticas, nesse período ficaram totalmente suspen-
sas”. Como aspecto positivo, segundo Zelinda Neta (2021) destacou que o recebimento do
benefício social Bolsa Família por comunitários para subsistência, garantiu a alimentação dos
comunitários. Atualmente, nesse período sem atividade turística, os homens da comunidade
passam a noite e madrugada em atividades de pesca e de caça.

O TURISMO ÉTNICO: FORTALECIMENTO CULTURAL E GARANTIA DE RENDA

O turismo étnico realizado em comunidades em muitos casos acontece por intermédio


de agências de turismo local. Logo, a participação igualitária nos lucros arrecadado nas visitas
e na Comunidade Sahu-Apé nos anos anteriores antes da pandemia, é apontado a neces-
sidade de organização por parte da comunidade na prática do turismo (CARVALHO, 2020).
Em 2020, no Brasil, houve pagamento do auxílio emergencial, nesse período não
apenas os integrantes da Comunidade Sahu-Apé tiveram sua fonte de renda vinda por
meio dessa ajuda social, mas também cerca de 67 milhões de brasileiros, como apresenta
a Mendonça (2021). Esse recurso contribuiu para redução temporária da pobreza entre os
meses de maio e outubro de 2020 indo de 23% à 20,9% da população.
Como aspecto negativo, diante das narrativas dos entrevistados, a queda na arrecada-
ção gerada por falta de turistas e visitantes, afetou na venda do artesanato, das apresentações

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artísticas e culturais. Segundo Kiã (2021) “houve procura por uma fonte de renda fixa, pro-
vocando à procura de novo emprego, em outros ambientes, para além da comunidade”.

ESTRATÉGIAS E NOVAS ATIVIDADES TURÍSTICAS NA COMUNIDADE.

A sociedade planetária tem sofrido com a crise na saúde, em decorrência da pan-


demia. Os impactos são imensuráveis, principalmente para os dependem do setor do tu-
rismo. Os impactos “[...] são consequência de um processo complexo de interação entre
os turistas, as comunidades e os meios receptores” (RUSCHMANN, 2000, p. 34). Nesse
sentido, a professora Kiã Silva relatou que em função das paralisações das atividades turís-
ticas na comunidade, tiveram que buscar alternativas para sobrevivência das famílias que
residem na comunidade. O grupo realizou uma assembleia e decidiram realizarem a prática
da agricultura familiar. O novo projeto teve início em abril de 2021, período de várzea, que
segundo o morador Sateré-Mawé, João Silva (2021) “a terra se encontra com solo fértil,
apropriada para agricultura”. Essa agricultura está voltada para plantação de tubérculos e
frutas como melancia, feijão e outros alimentos, tendo parcerias com projetos sociais como
Mesa Brasil, ancorado na segurança familiar e financeira, com a venda desses alimentos,
até o fim da pandemia.
Os comunitários apostam que este novo ciclo ocorrerá até o retorno do setor turístico na
região. Para Leiton (2020) Cardozo (2020), os benefícios atrelados às boas práticas de con-
servação e desenvolvimento sustentável gera a valorização da comunidade remanescentes
dessas localidades e desenvolve o sentimento de procedimento do lugar aos comunitários,
semelhante as atividades realizadas na comunidade.
As práticas educacionais como exploração da área por meio de trilhas, com guias das
comunidades e jogos e atividades lúdicas são formas dinâmicas de aprendizagem no qual
proporciona maior interação entre comunidade e visitantes, objetivos pelos quais a comuni-
dade permanece em constante luta.

PROPOSTAS PÓS CRISE DA PANDEMIA

O cenário de investimentos turísticos e educacional, com a covid-19 mereceu outros


olhares para atender os clientes. A pós pandemia será repleto de novos costumes e mu-
danças de hábitos, com a inserção de ferramentas digitais. Logo, será de suma importância
inovar nos serviços, com possibilidade assegurar a relação com o cliente, na garantia da
praticidade e segurança, mantendo o ambiente livre de possíveis surtos na retomada do
setor mais afetado da pandemia, o turístico.

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De acordo com Villanueva (2006), a simiótica utiliza signos por meio de imagens que
promovem múltiplos significados e desperta no turista a escolhe do destino, “as imagens
divulgadas através de folders e sites devem favorecer a imagem do destino perante sua de-
manda”. Neste viés, como resultado, foi elaborado com os comunitários a construção de um
folder informativo fixo intitulado Guia CSA, em que consta informações sobre a Comunidade
Sahu-Apé, endereço e informações, com vocabulário de palavras nativas, com a tradução
para o português como uma forma de aprendizagem do idioma indígena da comunidade
Sahu-Apé além de uma forma de interação partindo da perspectiva de conhecer e não se
apropriar deste idioma. O guia consta com recurso de QR CODE no qual o visitante poderá
visualizar um mapa no Google Earth, em que constará cada ponto da Comunidade. Assim,
a visitação facilitará o acesso dos turistas até o destino. É uma estratégia a ser usado na
pandemia, a fim de quebrar da cadeia de proliferação do SARS-coV-2.
Outra estratégia foi a capacitação dos docentes da escola indígena, com uso e habili-
dades das ferramentas digitais. Os moradores necessitam de inclusão digital, como instrução
em utilizar software, aplicativos e o uso da internet para disseminação de conhecimento por
meio do ensino remoto. Consideramos que essas estratégias devem contemplar conheci-
mentos tradicionais em língua Sateré-Mawé para uma integração entre os falantes. Todas
as formas de inclusão contribuirão com os comunitários. A seguir figura da capa do guia.

Figura 1. Capa Guia CSA e QR CODE.

Fonte: Acervo da pesquisadora (2020).

Além da inserção dos equipamentos para prospectar as atividades turísticas, também


possibilitará a expansão das atividades econômicas, o turismo étnico. Essas ferramentas
permitirão expandir sua cultura e a experiência que a comunidade pode proporcionar aos
turistas da região metropolitana ou de demais localidades mundo afora.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do cenário educacional frente aos desafios da educação escolar indígena no


Estado do Amazonas, percebemos que durante a imersão na comunidade Sahu-Apé, a
mesma preza pela tradição cultural, tecendo interfaces com o turismo realizado no local.
Perante os resultados, percebemos que as atividades de valorização da cultura Sateré-
Mawé, são realizadas na escola da comunidade Sahu-Apé e integradas às atividades turís-
ticas, aliando a educação formal e informal. Ao mesmo tempo que a escola cumpre o papel
de ensinar, também se inserem nas atividades e ações voltadas para atender os turistas.
Com a pesquisa foi possível observar, através do discurso dos entrevistados, que as
atividades culturais, como apresentação do ritual, das narrativas históricas, lenda do guaraná,
pinturas corporais e os grafismos são atividades que despertam no turista o desejo em fazer
a imersão na cultura, conforme acenou Carvalho (2020). Além que, nas atividades escolares,
os estudantes reforçam a cultura praticando diariamente, a tradição cultural.
A partir das análises realizadas, foi possível perceber que a pandemia na comunidade
foi afetada diretamente, tanto nas questões da educação, como também, na realização do
turismo, pois as ações fazem parte da vida cultural dos comunitários. Detectamos que a
comunidade Sahu-Apé está perdendo parte de seu território por moradores do município,
os levando a ficar na porção que em períodos de chuvas e enchentes dos rios ficariam
submersas por conta das águas. Por não ser uma comunidade certificada pelo órgão de
proteção - Fundação Nacional do Índio – (FUNAI), os Sahu-Apé reivindicam seus direitos
constitucionais por segurança e seu direito à terra, sendo uma ameaça para o desenvolvi-
mento econômico e sustentável.
Sendo assim, se faz necessário estratégias de políticas públicas para prevenção de
extermínio da comunidade, frente ao contexto pandêmico. A falta de tecnologia e inovação é
uma ameaça que impacta os negócios educacionais e turísticos. Neste viés, sugerimos aos
órgãos governamentais, que possam traçar novas estratégias de inclusão com investimentos
em tecnologias, com ferramenta que possam desenvolver as atividades escolares, além de
fomentar as atividades turísticas, a fim de fortalecer a cultura e a garantia de fontes de renda.
Vale destacar que, a pesquisa aqui apresentada não pretende que as possibilidades se
esgotem neste artigo, mas sim que, a partir desta base, seja possível ampliar o universo de
investigação acerca da atividade educacional e turística na comunidade indígena Sahu-Apé.

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REFERÊNCIA
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04
Estudo clínico e epidemiológico da
neoplasia de colo uterino em um Hospital
Público do Baixo Amazonas

Flávia Karoline Souza da Silva


Universidade do Estado do Pará - UEPA

Geórgia Silvestri Traesel


Universidade do Estado do Pará - UEPA

Marcos Fraga Fortes


Universidade do Estado do Pará - UEPA

'10.37885/220910253
RESUMO

O câncer de colo uterino é um grande problema de saúde pública no Brasil e no mundo.


Essas altas taxas de incidência resultam da exposição frequente aos fatores de risco, como
o Papilomavírus humano (HPV), presente em mais de 99% dos casos. Esta neoplasia tem
alto potencial de prevenção secundária e de cura, podendo ser diagnosticada em fase assin-
tomática e inicial, a partir do rastreamento periódico por meio do exame Papanicolau. O pre-
sente trabalho teve como objetivo identificar o perfil clínico e epidemiológico das pacientes
com neoplasia de colo uterino submetidas a tratamento cirúrgico num hospital público do
Baixo Amazonas. Para isso, realizou-se uma pesquisa quantitativa, com caráter descritivo,
transversal e documental em todos prontuários das pacientes que realizaram tratamento
cirúrgico para o câncer de colo uterino no Hospital Regional do Baixo Amazonas de 2016
a 2019. Foram analisados ao todo 50 prontuários. A maioria (44%) tem entre 46 a 60 anos,
são pardas (50%), casadas (42%), possuem ensino fundamental incompleto (54%) e não
exercem trabalho fora de casa (34%). O tipo histológico predominante foi carcinoma, com
70% dos casos. Houve o total de 14 (28%) óbitos, com taxa de 56% de cura. Após realiza-
ção desta pesquisa com os levantamentos clínicos e epidemiológicos, observou-se que o
câncer de colo de útero ainda representa um problema de saúde no Pará e evidencia-se a
necessidade do comprometimento do Estado e dos profissionais da saúde com a continui-
dade da assistência à população.

Palavras-chave: Câncer. Colo, Útero, Cirurgia.


INTRODUÇÃO

O câncer de colo uterino é um grande problema de saúde pública no Brasil e no mundo,


estimam-se 16.370 casos novos para cada ano do biênio 2018-2019, com um risco estimado
de 15,43 casos a cada 100 mil mulheres (INCA, 2017). Na estimativa do Instituto Nacional de
Câncer, sem considerar os tumores de pele não melanoma, ocupa a terceira posição entre
os cânceres mais incidentes, no entanto, na Região Norte é o mais incidente (25,62/100 mil)
(ALVES et al., 2017). Já nas Regiões Nordeste (20,47/100 mil) e Centro-Oeste (18,32/100
mil) ocupa a segunda posição mais frequente, enquanto nas Regiões Sul (14,07/100 mil) e
Sudeste (9,97/100 mil) ocupa a quarta posição (INCA, 2017).
Essas altas taxas de incidência resultam da exposição frequente aos fatores de risco,
como o Papilomavírus humano (HPV), presente em mais de 99% dos casos, o tabagis-
mo, múltiplos parceiros sexuais, iniciação sexual precoce e a coinfecção pelo Vírus da
Imunodeficiência Humana (HIV) e pela Chlamydia trachomatis, principal agente causador da
doença inflamatória pélvica (SILVA et al., 2014; RODRIGUES et al., 2016). Além disso, falta
um sistema de rastreamento mais abrangente e com poucas limitações, como o praticado em
países desenvolvidos, onde a mortalidade por esta neoplasia reduziu-se exponencialmente
(GIRIANELLI; GAMARRA; SILVA, 2014; ALVES et al., 2017).
Geralmente, nos estádios iniciais, é uma neoplasia assintomática ou oligossintomática,
no entanto, quando as manifestações estão presentes dependem da localização e extensão
da doença, podendo ser referido secreção vaginal amarelada fétida e até sanguinolenta,
ciclos menstruais irregulares, sangramento pós-coital e dor em hipogástrio. Nos estádios
mais avançados, a dor hipogástrica é de maior intensidade, associada a anemia, lombalgia
e alterações urinárias e gastrintestinais, como hematúria e alterações do hábito intestinal
(FEBRASGO, 2017; BEREK, 2014).
Esta neoplasia tem alto potencial de prevenção secundária e de cura, podendo ser
diagnosticada em fase assintomática e inicial, a partir do rastreamento periódico por meio
do exame Papanicolau, que se associado ao tratamento da lesão intraepitelial poderá redu-
zir em 90% a evolução para o câncer (RODRIGUES et al., 2016; COSTA; SILVA; SOUZA,
2018). Não obstante, a cobertura nacional ainda é insuficiente, visto que, na avaliação da
qualidade do rastreamento do câncer de colo uterino no Brasil, 6,7% das pacientes nunca
haviam realizado o exame, já com relação à frequência de exame atrasado, isto é, reali-
zado há mais de 36 meses, foi de 11,2%, e a falta de orientações foi relatada por 19,2%
(BARCELOS et al., 2017).
Cabe ressaltar que ainda deve-se considerar a qualidade dos exames e o estadiamento
de diagnóstico, visto que são fatores importantíssimos na sobrevida das pacientes, princi-
palmente fora das capitais, onde o diagnóstico tardio esbarra na carência na quantidade e

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qualidade dos serviços (RODRIGUES et al., 2016; BARBOSA et al., 2016; ANDRADE et al.,
2018). Com os resultados da citologia oncótica, condutas deverão ser preconizadas, como
na citologia normal e nas alterações benignas, que devem seguir a rotina de rastreamento
citológico anual. Nas alterações pré-malignas, recomenda-se a repetição da citologia em seis
meses, para alterações malignas, a colposcopia é imediatamente indicada, e ao encontrar
lesão, recomenda-se a biópsia (BRITO-SILVA et al., 2014).
Após a realização da biópsia e estadiamento, o tratamento do câncer cervical é baseado
tanto na lesão primária quanto nos possíveis locais de disseminação, tendo como modali-
dades terapêuticas primárias a cirurgia, a radioterapia, a quimioterapia ou a quimiorradio-
terapia (BEREK, 2014; FEBRASGO, 2017). A cirurgia isolada é limitada às pacientes com
câncer invasivo em estádios I e IIa, já radioterapia pode ser utilizada em todos os estádios
de doença, sendo geralmente acompanhada por quimioterapia radiossensibilizante (BEREK,
2014; FEBRASGO, 2017).
Diante do exposto acerca da importância epidemiológica da neoplasia de colo uterino,
sua repercussão na qualidade de vida e na morbimortalidade das pacientes e pelo estudo
ser desenvolvido no interior da Região Norte, local com maior incidência da patologia, a
realização desta pesquisa poderá elucidar as variáveis epidemiológicas, clínicas e cirúrgicas
intrínsecas da região. Além disso, os resultados do estudo poderão servir como avaliação da
eficiência dos programas de rastreamentos praticados e do próprio serviço de ginecologia
oncológica do Baixo Amazonas.

METODOLOGIA

O estudo teve abordagem quantitativa e com caráter descritivo, pois, segundo Minayo
(2007) e Lakatos e Marconi (1986), considera-se quantitativo quando é possível traduzir
informações em números para classificá-las e analisá-las, isso requer o uso de recursos e
de técnicas estatísticas, e os resultados podem ser replicados. Essa foi a abordagem utili-
zada, pois houve necessidade de se assegurar a objetividade e credibilidade dos achados,
havendo também preocupação com a quantificação para o desenvolvimento do estudo
(LEOPARDI, 2002).
Também se caracterizou como documental, pois foi realizada a partir do banco de
prontuários do Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA) sobre câncer de colo de útero,
e como descritiva, visto que foram descritas as características de determinada população
(GIL, 2008). Para Rouquayrol (1994), estudo transversal é um estudo epidemiológico no
qual fator e efeito são observados num mesmo momento histórico e é o mais empregado.
O estudo foi realizado no Hospital Regional do Baixo Amazonas do Pará Dr. Waldemar
Penna (HRBA), localizado na Av. Sérgio Henn, 1364 - Diamantino, Santarém - PA, CEP

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68020-070. As visitas ao HRBA ocorreram com uma frequência de duas vezes por semana
(de acordo com a disponibilidade dos funcionários que trabalham no setor de arquivamento
destes prontuários), pelo turno da manhã e/ou tarde, sendo que a cada visita foram inves-
tigados em torno de cinco prontuários.
A amostra foi composta por todos os prontuários dos pacientes que realizaram trata-
mento cirúrgico para o câncer de colo uterino no referido hospital no período de janeiro de
2016 a dezembro de 2019, totalizando aproximadamente 50 prontuários.
Os critérios de inclusão adotados foram: prontuários de pacientes com mais de 18
anos; informações/dados de pacientes com diagnóstico de neoplasia de colo uterino pelo
histopatológico; dados das pacientes tratadas apenas cirurgicamente no HRBA de 2016 a
2019. Os critérios de exclusão foram utilizados os seguintes critérios de exclusão: prontuários
ilegíveis; prontuários de pacientes operados em outro hospital.
A coleta de dados se deu após o aceite pelo Comitê de ética e com aprovação do
projeto na Plataforma Brasil sob CAAE 18372319.4.0000.5168, obteve-se a permissão para
ter acesso ao setor de arquivamentos dos prontuários com identificação para o profissional
responsável pela guarda destes documentos, os pesquisadores lhe explicaram de forma
detalhada os objetivos deste estudo, assim como sua metodologia e eventuais riscos de
sua participação. O profissional, tendo compreendido as informações que lhe foram repas-
sadas e tendo concordado em colaborar com esta investigação, recebeu o Termo de Fiel
depositário (TFD – Apêndice A) e o Termo de Compromisso de Utilização de Dados (TCUD)
(Apêndice B) afirmando o compromisso dos pesquisadores. Com os prontuários em mãos,
os pesquisadores se direcionaram para uma sala reservada (dentro do próprio estabeleci-
mento) e passaram a transferir informações, como idade, etnia e manifestações clínicas, para
uma ficha de coleta (Apêndice D). É interessante enfatizar que todos os dados de natureza
pessoal que possam levar à identificação das pacientes não foram coletados.
A pesquisa foi realizada respeitando os aspectos éticos dos participantes de acordo
com a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde e respeitando a individualidade
étnica, social e moral, não sendo divulgada toda e qualquer informação obtida. A pesquisa
tem grande relevância científica e respeitou as normas da ABNT. O trabalho foi enviado
para a análise da plataforma Brasil onde obteve aprovação para iniciar as pesquisas no
HRBA. Foi realizada a entrega de uma via do TCLE, contendo contatos e locais em que
os pesquisadores podem ser encontrados. Além do TCLE, houve aplicação do Termo de
Fiel Depositário (TFD – Apêndice B) ao funcionário responsável pela guarda e proteção
dos dados que pretendem ser consultados pelos pesquisadores, assim como do Termo de
Compromisso de Uso de Dados (TCUD – Apêndice A), por meio do qual os pesquisadores
assumiram o compromisso de manter conduta ética ao manusear e acessar os dados em

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questão, garantindo a confidencialidade sobre os dados coletados e a privacidade de seus
conteúdos, tal como preconizam as Resoluções 466/12 e 510/16 do CNS.
Após o período de coleta das informações, todos os dados investigados foram transfe-
ridos para o Software Excel®, para sua futura organização e tabulação. A partir desta etapa,
foram realizadas as análises estatísticas descritivas por meio deste programa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram analisados ao total 50 prontuários de pacientes com diagnóstico de neoplasia


de colo uterino submetidas a tratamento cirúrgico no HRBA de 2016 a 2019. Com relação
à faixa etária, a maioria (44%) tem entre 46 a 60 anos. Apenas uma (2%) com idade entre
15 e 30 anos e três (6%) com mais de 76 anos (Tabela 1, Figura 1).
Esse achado vai de encontro ao preconizado pelo Instituto Nacional de Câncer, pois no
Brasil o câncer do colo do útero é raro em mulheres até 30 anos e o pico de sua incidência
se dá na faixa etária de 45 a 50 anos (INCA, 2019b).
Isso também tem relação com a exposição ao HPV, já que se observa que a doença pra-
ticamente inexiste nas mulheres que não iniciaram a atividade sexual, contudo, a possibilidade
da doença aumenta com o início precoce da atividade sexual, com o número de parceiros,
exposição às doenças sexualmente transmissíveis e o baixo poder aquisitivo (UICC, 1999).
Em estudo que avaliou a incidência do câncer no estado de Roraima em 2009, a
média de idade foi 49,2 anos, variando de 23 a 79 anos. A faixa etária dominante foi de
30 a 60 anos (48; 80%), seguida pela faixa etária de ≥60anos (9; 15%) e ≤30 anos (3; 5%)
(FONSECA et al., 2010).

Figura 1. Faixa etária dos indivíduos pesquisados.

Fonte: Silva e Traesel (2020).

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Os dados do presente estudo são similares aos do estudo de Soares et al. (2010), no
qual a faixa etária predominante foi de 45 a 55 anos.
Quanto ao levantamento das características individuais, o estudo identificou que a idade
do diagnóstico corroborou o que foi apresentado pelo Instituto Nacional do Câncer. O risco
de aparecimento de câncer invasor de colo do útero em mulheres de até 24 anos é muito
baixo e o rastreamento não é eficaz para detectá-lo. Por conseguinte, tratar estas lesões
antes dos 25 anos de idade provocaria um aumento importante de colposcopias e elevaria
o risco de morbidade obstétrica e neonatal associado à futura gestação, além disso, nesta
idade há grande probabilidade de a doença regredir. Ainda, mulheres na faixa etária entre
50 e 64 anos e com exame citopatológico normais apresentam redução de 84% do risco de
desenvolver um carcinoma invasor entre 65 e 83 anos (INCA; 2016).

Tabela 1. Características demográficas das pacientes com câncer do colo do útero submetidas a tratamento cirúrgico
em Santarém, 2016-2019.

VARIÁVEL NÚMERO DE CASOS %


Faixa etária
15 – 30 1 2
31 – 45 13 26
46 – 60 22 44
61 – 75 11 22
76 ou mais 3 6
Etnia
Branco 14 28
Pardo 25 50
Negro 10 20
Amarelo 1 2
Estado civil
Solteira 12 24
Casada 21 42
Viúva 4 8
União estável 7 14
Divorciada 5 10
Não declarado 1 2
Profissão
Do lar 17 34
Agricultora 11 22
Doméstica 5 10
Não declarado 4 8
Outras 13 26
Escolaridade
Analfabeta 1 2
Fundamental incompleto 27 54
Fundamental completo 8 16
Médio completo 10 20
Superior incompleto 2 4
Superior completo 2 4

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VARIÁVEL NÚMERO DE CASOS %
Procedência
Santarém 23 46
Outra cidade do Pará 25 50
Outro estado 2 4

Quanto à etnia das pesquisadas, metade se declara parda, 28% brancas e 20% negras,
conforme se observa na Figura 2, dados semelhantes aos achados por Thuler, Bergmann
e Casado (2012), em que 53,5% eram negras ou pardas.

Figura 2. Etnia dos indivíduos pesquisados.

Fonte: Silva e Traesel (2020).

Esses achados são discrepantes de pesquisa realizada na Paraíba em que se observou


que o maior índice de neoplasia de colo de útero ocorreu em mulheres brancas, com 92%
do total (LIMA et al., 2011).
Segundo Osório (2013), a cor da pele ou raça é tida como uma característica decla-
rada pelas pessoas de acordo com as seguintes opções: branca, preta, amarela, parda ou
indígena. Contudo, por não se fazer uma classificação biológica ou física com base no ge-
nótipo do indivíduo e sim levar em conta uma percepção de cada entrevistado, pode haver
controvérsias nos resultados apresentados. Isso pode embasar a teoria de que pode haver
diferenças no acesso aos serviços de saúde em função do nível socioeconômico, conside-
rando-se como referência a escolaridade e a cor da pele (ARAÚJO et al., 2009).
Quanto à variável estado civil, a maioria é casada (48%), sete (14%) estão em relacio-
namento estável e doze (24%) são solteiras. Um prontuário não informou este dado.
No trabalho intitulado “Perfil das pacientes com câncer do colo do útero no Brasil,
2000-2009: estudo de base secundária”, proposto por Thuler, Bergmann e Casado (2012),
com relação às características demográficas, observou-se o predomínio de mulheres de cor
parda (47,9%) e casadas (51,5%).

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Figura 3. Estado civil dos indivíduos pesquisados.

Fonte: Silva e Traesel (2020).

Podem-se observar dados divergentes do município de Santarém em comparação com


uma pesquisa feita em um município do Rio Grande do Sul, em que 30% das mulheres são
casadas e na mesma proporção apresentam-se as solteiras. Deste universo, as mulheres
viúvas, divorciadas e separadas somam 40%, ao passo que no presente estudo somam
apenas 18%. (SOARES et al., 2010).
Observou-se que 27 (54%) das pacientes analisadas não completaram o ensino fun-
damental, uma é analfabeta, dez (20%) completaram o ensino médio e 4 ingressaram na
faculdade, sendo que apenas 2 (4%) concluíram o ensino superior.

Figura 4. Escolaridade dos indivíduos pesquisados.

Fonte: Silva e Traesel (2020).

Esses dados são similares à pesquisa de Thuler, Bergmann e Casado (2012), em que
70% das pacientes tinham baixa escolaridade (fundamental incompleto ou menos). O mesmo

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foi visto nos resultados da pesquisa feita por Soares et al. (2010), que apontaram que a
escolaridade de 45% das entrevistadas está na faixa do ensino fundamental incompleto,
o que corresponde a dois/três anos de estudo do ensino fundamental, sendo que apenas
uma (5%) era analfabeta, o que vem ao encontro das referências bibliográficas consultadas.
Observou-se também baixa escolaridade em amostra de pesquisa feita em Roraima,
na qual todas as pacientes indígenas eram analfabetas (FONSECA et al., 2010).
Infere-se que a incidência de câncer de colo uterino torna-se maior em mulheres de
baixa escolaridade e de baixo nível socioeconômico devido à falta de conhecimento e às
dificuldades no acesso aos serviços de saúde e aos programas de prevenção e tratamento
eficazes (ROSA et al., 2009).
Com relação à profissão das pacientes, a maioria se dedica às atividades do lar (34%),
22% são agricultoras, 10% atuam como empregada doméstica, 13 (26%) se dedicam a outras
atividades e em quatro prontuários não foi encontrado esse dado. Na pesquisa de Fonseca
et al. (2010), 21 pacientes (35%) relataram exercer atividades profissionais até o momento
do adoecimento. Destas, apenas 10 (47,6%) possuíam empregos formais. A atividade mais
comum foi o emprego doméstico (12; 57,1%), enquanto que em Santarém 10% afirmaram
exercer esta profissão.
Na capital da Etiópia, estudo demonstrou que a maioria das pacientes era casada (51%)
e analfabeta (52%). Assim, os aspectos socioeconômicos como nível de escolaridade e ocu-
pação estão implicados na tomada de decisão das mulheres pela dependência econômica
do cônjuge, e acabam mais expostas à infecção pelo HPV por apresentarem dificuldades
para compreender os fatores de vulnerabilidade ao câncer cervical. E, consequentemente,
realizam com menor periodicidade o exame preventivo e apresentam-se menos conscientes
quanto aos agravos decorrentes da doença, aumentando a chance de diagnóstico tardio
(TADESSE, 2015).

Figura 5. Profissão dos indivíduos pesquisados.

Fonte: Silva e Traesel (2020).

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Com relação à ocupação, Soares et al. (2010) observaram que, das mulheres en-
trevistadas, quatro (20%) atuavam como empregadas domésticas e quatro (20%) como
trabalhadoras de serviços gerais, o que pode explicar o baixo poder aquisitivo referido nas
entrevistas. Ainda, 17 (34%) afirmaram não desenvolver atividades profissionais fora de
casa, muitas vezes tendo um ambiente mais restrito de relações, o que pode se constituir
um empecilho na geração de estratégias para lidar com as dificuldades advindas do câncer
de colo de útero.
Em relação à procedência, 23 (46%) pacientes são procedentes de Santarém, 25 (50%)
de outros municípios do Pará e duas (4%) de outro estado da federação. Isso demonstra a
capacidade do HRBA de atender pacientes de todo o oeste do Pará. O HRBA é tido como
hospital de referência no Norte do Brasil quando o assunto é tratamento de câncer, sendo
34% 22% 10% 26% 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 do lar agricultora doméstica outras 30 capaz
de atender a uma população estimada em mais de 1,1 milhão de pessoas residentes em 20
municípios do oeste do Pará (HRBA, 2020).
Quando se analisaram os fatores de risco implicados no câncer de colo uterino, 15 (30%)
pacientes afirmaram serem etilistas, 14 (28%) tabagistas e 11 (22%) etilistas e tabagistas.
Em um estudo feito no Instituto Brasileiro de Controle do Câncer para avaliar os fatores
preditores de qualidade de vida de mulheres com neoplasia de colo uterino, 56,4% eram não
fumantes, 27,5%, ex-fumantes e 22,8%, etilistas (FERNANDES; KIMURA, 2010). Estudos
demonstram um risco relativo de 2,3 para o câncer cervical invasivo em fumantes e de 1,7
para ex-fumantes (ROSA et al., 2009).
Conforme informações do INCA, as bebidas alcoólicas não devem ser consumidas, pois
favorecem o desenvolvimento de diversos tipos de câncer, sendo que essa recomendação
serve para todas as bebidas alcoólicas, pois o etanol tem o efeito cancerígeno sobre as cé-
lulas e, quando chega ao intestino, pode funcionar como solvente, facilitando a entrada de
outras substâncias carcinogênicas nas células. Além disso, o uso concomitante com tabaco
aumenta a probabilidade do surgimento de doenças desse grupo (INCA, 2019b).
Foram investigadas as comorbidades, e 17 (34%) mulheres referiram outras patolo-
gias, sendo que três (6%) pacientes tinham neoplasia de ovário, quatro (8%), câncer de
mama, seis (12%) eram diabéticas e 3, hipertensas, notando-se maior ocorrência do diabe-
tes dentre todas.
No trabalho realizado por Fernandes e Kimura (2010), presença de uma comorbidade
foi referida por 28,9%, enquanto que a maior parte (48,3%) não referiu nenhuma comorbi-
dade. A hipertensão arterial (43,6%) e o diabetes mellitus (21,3%) foram as doenças asso-
ciadas mais prevalentes.

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Um dado que chamou atenção foi de que seis mulheres (12%) nunca realizaram o
exame citopatológico.
Em Roraima, este índice foi maior, já que na amostra estudada 43 pacientes (71,6%)
relataram nunca terem realizado exames preventivos ginecológicos até o momento da sus-
peição clínica do câncer (FONSECA et al., 2010).
Esses achados permitem inferir que algumas mulheres do estudo não foram conscien-
tizadas da importância da realização do exame para a prevenção e detecção precoce do
câncer (HACKENHAAR, 2005).
Além disso, esses resultados apontam para a necessidade de se investigar outros mo-
tivos no contexto sociocultural destas mulheres que as levaram a apresentar baixa adesão a
31 um exame que se caracteriza pela facilidade de realização e acesso na rede de serviços
de saúde, bem como ser de baixo custo e indolor (INCA, 2005).
Fez-se também uma análise do tipo histológico da neoplasia. Este refere-se à carac-
terização da estrutura celular do tumor através de exame microscópico, cuja codificação
utiliza a Classificação Internacional de Doenças para Oncologia, sendo os tipos histológicos
agrupados em carcinomas, adenocarcinomas e outros (INCA, 2014).
O principal tipo histológico encontrado, segundo a classificação da OMS (Organização
Mundial da Saúde) é o carcinoma epidermoide (80%), seguido pelo adenocarcinoma (10%)
e por outras linhagens mais raras (tumores neuroendócrinos, linfomas, sarcomas e outros)
(PECORELLI, 2001), sendo que, para o adenocarcinoma, há incidência cada vez maior em
mulheres mais jovens, provavelmente pelo grande uso de contraceptivo hormonal (OLIVEIRA;
FERNANDES; GALVÃO, 2005).
Na presente pesquisa foram encontrados dados similares, com 70% das pacientes
tendo carcinoma epidermoide; 16%, adenocarcinoma e dois casos de leiomiossarcoma de
colo uterino. Dos carcinomas escamosos, 14 mulheres tiveram a forma invasiva; 13, o car-
cinoma moderadamente diferenciado e nove, in situ. Dos oito casos de adenocarcinoma,
seis foram invasivos dois, in situ e em quatro prontuários não foram encontrados dados a
respeito (Tabela 2).

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Tabela 2. Características clínicas das pacientes com câncer do colo de útero submetidas a tratamento cirúrgico em
Santarém de 2016 a 2019.

Variável Número de casos %


Sintomatologia
Sangramento vaginal 34 68
Dor pélvica 19 38
Dispaurenia 4 8
Leucorreia 5 10
Outros 12 24
Não declarado 2 4
Tipo histológico
Carcinoma epidermoide 35 70
Adenocarcinoma 8 16
Outros 2 4
Não descrito 4 8
Estadiamento
IA/IB 15 30
IIA/IIB 14 28
IIIA/IIIB 7 14
IV 2 4
Tipo de cirurgia
Histerectomia total 8 16
Histerectomia ampliada 40 80
Exanteração pélvica 5 10
Outras modalidades terapêuticas
Radioterapia 17 34
Radioterapia+quimioterapia 3 6
Radioterapia+braquiterapia 7 14
Radioterapia+quimioterapia+braquiterapia 1 2
Quimioterapia 1 2
Não descrito 5 10

Em pesquisa na Paraíba, a maioria da população estudada apresentou carcinoma


epidermoide invasor, correspondendo a 70% das pacientes, 15% apresentaram adenocar-
cinoma invasivo, seguido por 1 caso de carcinossarcoma (LIMA et al., 2011).
O tipo histológico predominante foi o carcinoma, tanto nas lesões in situ (98,7%) como
nas invasivas (88,0%), no estudo na população brasileira publicado na Revista Brasileira de
Cancerologia em 2012 (THULER; BERGMANN; CASADO, 2012).
Com relação ao estadiamento da doença na admissão, 15 (30%) pacientes foram
classificadas no estádio I; 14 (28%), no estágio II; sete (14%), no estádio III e 2 no estádio
IV. Diferentemente disso, na pesquisa de Thuler, Bergmann e Casado (2012), observou-se
predomínio de casos em estádio III (29,0%).
Uma pesquisa envolvendo 89 hospitais e sete serviços isolados de quimioterapia ou
radioterapia vinculados a um Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia
(CACON) mostrou que, a partir da análise de 29.263 casos de neoplasia do colo uterino

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atendidos entre 1995 a 2002, 45,5% das mulheres apresentavam o câncer do colo do útero
nos estádios III ou IV quando do diagnóstico (THULER; MENDONÇA, 2005).
Em estudo envolvendo 4.877 pacientes diagnosticados entre 1999 e 2004 em uma
instituição no Rio de Janeiro, observou-se que 28,0% dos casos de câncer invasor encon-
travam-se em estádio avançado (estádios III e IV) no momento do diagnóstico (CALAZAN;
LUIZ; FERREIRA, 2008).
Detectou-se um grande aumento no percentual de casos com estadiamento ignorado,
pois em 12 (24%) prontuários não foi possível encontrar essa informação. Sabe-se que o
preenchimento do estadiamento no prontuário médico do paciente com câncer é item obri-
gatório, tendo em vista que este dado é essencial na seleção e avaliação do tratamento a
ser realizado (INCA, 2010). Desta maneira, faz-se necessário conscientizar os médicos da
importância de registrar adequadamente essa informação.
Levando-se em consideração a manifestação clínica que motivou a busca pelo serviço
médico, 34 mulheres (68%) tiveram sangramento vaginal; 19 (38%) relataram dor pélvica;
quatro, dispaurenia; cinco, leucorreia abundante; 12 (24%), outras clínicas e duas não 33
referiram no prontuário, sendo que algumas pacientes apresentaram mais de uma queixa
no momento da consulta.
Com relação à sintomatologia, no trabalho de Rosa et al. (2009), 60% das pacientes
com carcinoma epidermoide invasor relataram sangramento vaginal, enquanto apenas 36%
das pacientes portadoras de adenocarcinoma invasivo apresentaram sangramento vaginal.
38% das portadoras de carcinoma epidermoide invasor e 18% das portadoras de adenocar-
cinoma invasivo referiram a dor pélvica (ROSA et al., 2009).
Todas as pacientes pesquisadas foram submetidas a cirurgia no HRBA, predominan-
do a histerectomia total ampliada em 40 (80%) mulheres, oito (16%) passaram apenas por
histerectomia total e cinco (10%), exenteração pélvica. Vale ressaltar que quatro pacientes
fizeram a exenteração pélvica e histerectomia total ampliada.
Segundo relato das mulheres com câncer de colo de útero pesquisadas no estudo rea-
lizado no Ambulatório de Ginecologia Oncológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina de Botucatu, interior de São Paulo, quanto ao tipo de tratamento a que foram sub-
metidas, teve predomínio o tratamento cirúrgico por histerectomia, com 32.3%, mas também
se evidenciou que a radioterapia e braquiterapia estiveram associadas a outros tipos de tra-
tamento, tais como quimioterapia, histerectomia e conização. Este último não foi mencionado
pelos médicos em suas descrições nos prontuários (CONDE; LEMOS; FERREIRA, 2018).
No HRBA, além da cirurgia, 17 (34%) fizeram radioterapia; três (6%), radioterapia e
quimioterapia com cisplatina; sete (14%), radioterapia e braquiterapia; uma (2%) fez radio-
terapia e quimioterapia associadas a braquiterapia; e uma (2%), somente quimioterapia.

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Estes dados diferem-se das informações contidas na pesquisa de Lima et al. (2011),
com relação ao tratamento, em 53% das pacientes foi utilizada a associação entre radiote-
rapia e braquiterapia seguidas por radioterapia exclusiva (19%); radioterapia, braquiterapia
e quimioterapia (11%); radioterapia e quimioterapia (7%); radioterapia e cirurgia (5%); ra-
dioterapia, braquiterapia, quimioterapia e cirurgia (2%).
Do total de mulheres diagnosticadas com neoplasia de colo de útero e que foram ope-
radas no HRBA, mais da metade, ou seja, 56% ficaram curadas. Apesar de ser a maioria,
esse dado reflete falhas na adesão ao exame preventivo, já que este câncer na fase inicial
apresenta cura em até 100% dos casos, todavia, no estádio invasor da doença a cura se
torna mais difícil, quando não impossível (KIERSZENBAUM, 2012).
Detectou-se recidiva de doença em 19 (38%) pacientes, sendo que 14 (28%) evoluíram
a óbito. Sabe-se que, em 2017, ocorreram 6.385 óbitos por esta neoplasia, representando
uma taxa bruta de mortalidade por este câncer de 6,17/100 mil mulheres(INCA, 2020).
O percentual de mortalidade encontrado neste trabalho foi pior que o da pesquisa de
Lima et al. (2011), na qual foi encontrada taxa de mortalidade em torno de 4,83%.
Comparando com a década de 30, houve um declínio no número de mortes por essa
neoplasia, relacionado principalmente, mas não exclusivamente, à realização do exame
preventivo de citologia oncótica, o exame de Papanicolau. No entanto, nos países em de-
senvolvimento, o câncer de colo uterino continua sendo uma das principais causas de morte
em mulheres (DIZ; MEDEIROS, 2009).

CONCLUSÕES

A neoplasia de colo uterino é um problema de saúde pública por sua alta taxa de
mortalidade e grande probabilidade de cura quando diagnosticada precocemente, sendo
passível de ser prevenida pela educação e informação da população.
Foram avaliados 50 casos de pacientes com diagnóstico de câncer do colo do útero
submetidas a tratamento cirúrgico no período de 2016 a 2019. Apresentaram maior predo-
mínio na faixa etária de 46 a 60 anos, com predomínio de mulheres de cor parda (50%),
com ensino fundamental incompleto (54%) e casadas (42%).
O estadiamento I e II foram os mais frequentes, com 58% dos casos, com 20% dos
casos de doença in situ e a maioria com tipo histológico classificado como carcinoma (70%).
Ao final do tratamento, 56% encontravam-se sem evidência de doença ou em remissão
completa, contudo, 28% foram a óbito.
Após realização desta pesquisa, com os levantamentos clínicos e epidemiológicos,
observou-se que o câncer de colo de útero ainda representa um problema de saúde pública,

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pois, apesar de ser uma patologia totalmente evitável e mesmo com todo o avanço, muitas
mulheres ainda não são totalmente orientadas sobre o problema.
Portanto, evidencia-se a necessidade do comprometimento do Estado e dos profis-
sionais da saúde com a continuidade da assistência à população nos diversos níveis de
atendimento, priorizando as ações preventivas e as ações assistenciais, nos diversos pontos
de atenção à saúde.

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05
Estudos culturais e mediações na
comunicação alternativa contemporânea
da Amazônia

Maximiliano Martins Vicente


UNESP

Kethleen Guerreiro Rebêlo


UNESP

'10.37885/220809884
RESUMO

O presente artigo realiza estudo exploratório, por meio de análises de conteúdos jornalísti-
cos veiculados em mídia alternativa contemporânea da Amazônia, tendo como base duas
matérias veiculadas no Portal Sátira, meio de comunicação online da cidade de Parintins/
AM. Para fundamentar nossa análise fizemos articulações com os Estudos Culturais da
New Left Inglesa e os estudos das Mediações (MARTÍN-BARBERO, 1997). A metodologia
utilizada se inspirou na análise do conteúdo proposta por Laurence Bardin. Os resultados
obtidos evidenciam que o Portal Sátira se encaixa no jornalismo alternativo por apresentar
conteúdos e personagens nem sempre ouvidos pela grande mídia e que se identificam com
as práticas populares.

Palavras-chave: Mídia Alternativa, Estudos Culturais, Mediações, Portal Sátira, Amazônia.


INTRODUÇÃO

Há alguns anos o jornalismo e a prática jornalística sofrem mudanças expressivas.


Tais transformações afetaram diretamente a estrutura das empresas de comunicação que
submeteram a produção jornalística à exploração da lógica do sistema capitalista, fazendo
com que o jornalismo fosse de algo ligado a responsabilidade social à um jornalismo de
mercado (PEREIRA, 2004). Na prática jornalística as mudanças vão desde as novas formas
de produção noticiosa, a rapidez das plataformas digitais e a crise da imprensa jornalística
enquanto negócio. A lógica comercial é adotada e o jornalismo acaba perdendo seu papel
crítico perante a sociedade. Os conteúdos veiculados de forma rápida são mais valorizados
do que os produzidos de forma elaborada e em profundidade (MARCONDES FILHO, 2000).
A imprensa jornalística passou a seguir essa lógica capitalista a partir da década de
1960, onde era desenvolvido um jornalismo que se assemelhava as linhas de uma produção
industrial. Técnicas jornalísticas eram adotadas de forma em que esse processo acelerava
inclusive a produção do jornal impresso, atendendo assim, os princípios mercadológicos.

O exercício cotidiano de empilhar o lead e a pirâmide invertida faz com que o


jornalista perca a sensibilidade e a percepção para sutilezas e os meandros
da realidade que envolvem a notícia e exercite mecânica e acriticamente uma
tarefa tão vital para a sociedade. O jornalista pós-moderno transformou-se
numa máquina de produção, de informação, um operário com demandas esti-
puladas e prazos de entrega a cumprir. O jornalista da era pós-moderna anula
o senso crítico e a capacidade de reflexão e permite-se o ato de submeter o
lead e a pirâmide invertida à lógica de mercado. (MARSHALL, 2003, p.32).

A referida lógica sistemática também atinge diretamente a estrutura do texto jornalístico,


uma vez que o resultado final deste acaba seguindo um caráter mais instrumental. Alinhado
aos interesses do mercado, o jornal passa a ser produzido como uma espécie de manual
da vida cotidiana e o jornalista assumindo o papel de um simples operário do sistema de
produção capitalista (PEREIRA, 2004).
Diante desse cenário, acredita-se ser importante pesquisar dinâmicas comunicacionais
que produzam conteúdos críticos, que veiculem notícias capazes de despertar no receptor
inúmeras possibilidades de interpretações e que vão contra a lógica comercial do jornalis-
mo. Assim sendo, acreditamos que a comunicação alternativa contemporânea - por ser um
segmento do jornalismo que defende a comunicação alinhada aos interesses da sociedade
e segue na contramão do poder vigente – sirva de aporte para o referido estudo, principal-
mente por ser um viés que não pensa o público como sujeito passivo, mas que entende que
o receptor também interpreta as mensagens recebidas de acordo com suas experiências
culturais e bagagem sociocognitiva.

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A comunicação alternativa torna-se então nosso ponto de partida no presente estudo.
Para contribuir de forma significativa, na tentativa de reafirmar que tal perspectiva possui
parâmetros de produção que promove reflexões, expõe diversos pontos de vistas sociais
e políticos, e principalmente, que serve como ponte para que debates sejam ampliados,
realizamos articulações com os Estudos Culturais da New Left Inglesa e com os Estudos
das Mediações para desenvolver pesquisa exploratória, por meio de análises de conteúdos
jornalísticos veiculados em mídia alternativa contemporânea na Amazônia.
Tomamos como referência, então, os preceitos dos Estudos Culturais e dos Estudos
das Mediações para analisar reportagens do Portal Sátira, veículo de comunicação alternativa
da cidade de Parintins/AM, que surgiu em 2016, fruto do trabalho de conclusão de curso de
um ex aluno do curso de jornalismo, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), cam-
pus Parintins. A referida mídia começou como um blog pessoal e tempos depois o criador,
Gabriel Ferreira, decidiu transformá-lo em um portal de notícias. O portal contém espaço
web multimidiático no âmbito do jornalismo digital e independente, que explora temáticas
da região amazônica de forma compromissada.
Utilizamos a metodologia da análise de conteúdo (BARDIN, 2009) e com base nas
características do Jornalismo Alternativo buscamos responder à questão: qual a concepção
de jornalismo defendida pelo Portal Sátira no que tange às características e especificidades
da prática jornalística?

COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA CONTEMPORÂNEA

Quando se fala de comunicação ou mídia alternativa nos remetemos, a priori, aos


tempos de chumbo da ditadura militar (1964-1985), período esse em que a comunicação
alternativa teve seu boom. Existem vários trabalhos que abordem a referida temática no
determinado período histórico, como por exemplo o de Elisangela Colodeti (2016) e José
Ismar Petrola Jorge Filho (2018). No entanto, o estudo que aqui se segue pretende abordar
esse viés do jornalismo, denominado de jornalismo alternativo, à luz da contemporaneidade
e pretende apresentar como tal possibilidade midiática sobrevive ao longo dos anos e como
está sendo desenvolvida, nesse caso, na Amazônia.
Durante o regime militar a imprensa e os jornalistas sofreram censuras, opressão,
torturas e várias outras formas de violências (KUCINSKI, 2001). Naquela época, a mídia
alternativa surgia desvinculada da grande imprensa, opositora dos militares, contestando e
publicando diversas denúncias. No entanto, movidos por vários questionamentos acerca do
atual cenário em que vivemos, fica a seguinte indagação: e hoje, ao que a mídia alternativa
contesta? A que resiste?

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Estudiosos contemporâneos da comunicação alternativa afirmam que tal perspectiva
pode ser definida de acordo com sua ideologia, já que esta, por consequências de suas
origens históricas, está alinhada a ideários de esquerda. Por este motivo, Dênis de Moraes
(2009) diz que a comunicação alternativa é “manifestação contra hegemônica, numa direção
anticapitalista e antineoliberal”. Já Gomes (2014) entende que os novos veículos da mídia
alternativa produzem “discursos e imaginários outros, às margens e quase sempre também
contrariamente aos poderosos interesses políticos e ideológicos da indústria cultural” (p.11).
No entanto, definir alternativo somente pelo viés ideológico pode ser enganador, princi-
palmente quando buscamos o histórico político do Brasil em que, no período de 2011-2016
os presidentes do país faziam parte do Partido dos Trabalhadores, partido esse alinhado à
esquerda (SILVA et al, 2013). Vale lembrar que, nessa época houveram incentivos a sites
e blogs para que fizessem contraponto a imprensa e ao poder vigente, o que coincide com
o papel da mídia alternativa.
Um ponto importante a se tocar na referida discussão relaciona-se as novas narra-
tivas comunicacionais postas em rede. As redes sociais da internet estão tomando conta
de espaços significativos na disseminação de informações. Como consequência, vivemos
atualmente uma onda de Fake News, em que o indivíduo visa curtidas, compartilhamentos e
principalmente o lucro (JORGE FILHO, 2018). Reiteramos o papel do jornalismo alternativo,
por ser um viés que, historicamente, não tem como objetivo principal a obtenção de lucro,
característica marcante dessa perspectiva comunicacional.
Portanto, a comunicação alternativa é também definida como uma narrativa jornalística
que propõe diferentes definições do que pode ou não ser considerado notícia, trazendo outros
enquadramentos, se diferenciando na escolha das fontes e permitindo que o receptor tenha
várias possibilidades de interpretações. A história das comunicações e das artes mostra
que sempre houve certas distribuições do sensível (RANCIÈRE, 2009), permitindo o que se
diga ou de que maneira seja dito, o que se configura como alternativas de entendimentos
e interpretações.

ARTICULAÇÕES

• ESTUDOS CULTURAIS

Os estudos críticos de comunicação e cultura de massa foram inaugurados pela Escola


de Frankfurt que também desenvolveu um primeiro modelo de estudos da cultura na socieda-
de capitalista (KELLNER, 2001). Os modelos de estudos culturais vão desde os neomarxistas
potencializados por Lukács, Gramsci, Bloch e a Escola de Frankfurt nos anos de 1930, até
os feministas e psicanalistas. O campo dos Estudos Culturais surgiu em 1964, através do

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Centre for Contemporary Cultural Studies (CCCS). As relações entre a cultura contempo-
rânea e a sociedade, isto é, suas formas culturais, instituições e práticas culturais, assim
como suas relações com a sociedade e as mudanças sociais, compunham o eixo principal
de observação do CCCS (ESCOSTEGUY, 2001)
Dentre os inúmeros pesquisadores que colaboraram com o referido campo de estu-
dos destaca-se Raymond Williams (1958) que além de ter participação significativa foi com
suas obras que passamos a ver discussões mais densas acerca da Cultura. Em The Long
Revolution (1961) o autor apresenta dois conceitos do termo, com duas ênfases diferentes,
desde a mais primitiva e idealista à uma deliberadamente antropológica, em que enfatiza o
aspecto de Cultura que se refere às práticas sociais. E nessa contextualização de conceitos
e ênfases que a teoria da cultura acabou sendo definida como “o estudo das relações entre
elementos em um modo de vida global (...), perpassada por todas as práticas sociais que
constitui a soma do inter-relacionamento das mesmas” (HALL, 2003, p.136).
Thompson (1963) resiste ao entendimento de cultura enquanto uma forma de vida glo-
bal, defendida por Williams. Este, por sua vez, sustenta que a cultura pode ser entendida en-
quanto um enfrentamento entre modos de vida diferentes. Já Hoggart (1957) apresenta pes-
quisa qualitativa defendendo um olhar de que na cultura popular não há apenas submissão,
mas também resistência. O autor exibe a vida cultural da classe trabalhadora, mostrando em
um tom nostálgico, a relação da cultura orgânica da referida classe (ESCOSTEGUY, 2001).
Nos propomos, apoiados em Stuart Hall (2003), desenvolver investigação de práticas
de resistências sociais/culturais/comunicacionais, olhando os objetos da comunicação como
Cultura. Assim o fizemos, devido ao pensamento de Hall também alinhar-se as convicções
democráticas e em observações da cena cultural contemporânea, sempre relacionando
cultura com estruturas sociais de poder.
Os estudos culturais nos auxiliaram a ver a comunicação como cultura, nesse caso,
cultura no jornalismo alternativo, manifestada nos elementos que expressam a forma de ser
de determinado povo (SIQUEIRA E SIQUEIRA, 2007), bem como o consumo dessa dinâmica
comunicacional. Vivian Vigar (2013) diz que “esse novo padrão de consumo se difere da
cultura de massa que é, essencialmente, homogênea, fruto da produção em escala indus-
trial, elaborada por poucos e consumida por muitos” (p. 8). Os estudos culturais, portanto,
constituem, de acordo com Williams (2011), o ramo da sociologia geral em que a sociologia
cultural preocupa-se com os processos sociais de toda a produção cultural, inclusive aquelas
formas de produção que podem ser designadas como ideologias.

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76
• ESTUDOS DAS MEDIAÇÕES

Pensando a comunicação com sua legitimidade intelectual, ou seja, entendendo a


comunicação como lugar estratégico em que se pensa a sociedade e onde o comunicador
assume o papel intelectual, é nosso ponto de partida nas discussões acerca dos estudos
das Mediações. O paradigma da mediação e da análise cultural aponta para o peso social
nos estudos e investigações do referido campo, reiterando a exigência de repensar a rela-
ção comunicação-sociedade e redefinindo a importância e responsabilidade do papel dos
comunicadores nessa dinâmica.
Nos apoiamos em Jesús Martín-Barbero e pensamos que

o eixo do debate deve se deslocar dos meios para as mediações, isto é, para
as articulações entre práticas de comunicação e movimentos sociais, para as
diferentes temporalidades e para a pluralidade de matrizes culturais (MAR-
TÍN-BARBERO, 1997, p.55).

Martín-Barbero nos mostra a necessidade de pensar a comunicação como uma proble-


mática fundamental para se compreender a interação do indivíduo na sociedade. Fazendo
contraponto ao que os primeiros investigadores dos estudos da recepção afirmavam, Martín-
Barbero defende ser fundamental levar em consideração os aspectos socioculturais e as
características do receptor, não apontando os meios de comunicação como centro principal
do processo, que busca saber apenas quais as maneiras escolhidas para manipular a au-
diência (CANCLINI, 2003). O pesquisador latino-americano “julga inaceitável os meios de
comunicação ignorarem os conflitos, as contradições, as formas de dominação e de trans-
formação do meio social” (DANTAS, 2008).
O estudo barberiano defende que o ser humano não é configurado um receptor passi-
vo, alheio a sua própria realidade e, por conseguinte, a mídia não delimita relação unilateral
entre um emissor dominante e receptor dominado. O modelo comunicacional afirma que
entre os dois polos há diversas trocas de intenções. Ou seja, as interpretações feitas das
mensagens recebidas têm influências dos repertórios dos conteúdos culturais e da vivência
individual do receptor. Retomando Ana Carolina Escosteguy, concordamos que:

A teoria em foco faz com que a comunicação assuma um sentido de práticas


sociais que podem abarcar o sentido de produção cultural. Na ordem geral de
tal proposta, pode-se dizer que não é possível compreender o que ocorre no
campo da comunicação apoiando-se apenas no que produzem os especialistas
da área (ESCOSTEGUY, 2001, p.187).

Com base no que fora exposto, pensamos que inserir os estudos das mediações
no trabalho nos fornece possibilidade de ampliar as análises e não centralizar a pesquisa

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unicamente nos meios, o que nos permite considerar a comunicação a partir da cultura po-
pular e alternativa. O ato de mediar significa estabelecer algum tipo de relação entre duas
partes, onde as mediações servem de ponte estratégica para que trocas de sentidos sejam
produzidas. Dentro dos aspectos de tais mediações podemos citar os Estruturais (clas-
se social, experiências, conhecimentos, etc.); Institucionais (trabalho, igreja, escola, etc.);
Conjunturais (como o indivíduo enxerga a vida, bagagem sócio cognitiva, etc.) e Tecnológicos
(cinema, televisão, etc.). Portanto, todas as mensagens fornecidas pelos meios não estão
ligadas unicamente com a lógica produtiva, mas também com os desejos do público receptor
e, todas as interpretações feitas pelo receptor são filtradas por suas mediações culturais
(MARTÍN-BARBERO, 1997).

PERCURSO METODOLÓGICO

A metodologia escolhida se inspira no modelo elaborado por Laurence Bardin que pro-
põe algumas fases bem diferenciadas e que passamos a explicitar. Na primeira, chamada
de Pré-análise, desenvolvemos a sistematização das ideias iniciais proposta pelo referen-
cial teórico escolhido para que fosse possível realizar estabelecimento de indicadores das
informações coletadas. É nesta fase que realizamos a leitura geral do material analisado e
o organizamos para atingir a sistematização, o que nos conduziu as sucessivas operações.
Esta primeira fase compreende a (1) Leitura Flutuante, onde temos o primeiro contato com
os documentos coletados, conhecemos o texto e demais informações que fizeram parte
da análise. Na (2) Escolha dos Documentos, definimos nosso corpus para posteriormente
realizarmos a (3) Formulação das hipóteses e objetivos e então (4) elaboramos nossos
indicadores, momento em que interpretamos os dados coletados. Ressaltamos que para
escolhermos os dados que foram analisados, obedecemos às orientações das regras de:
exaustividade, representatividade, homogeneidade e pertinência (BARDIN, 2009).
A segunda etapa de análise é a Exploração do Material, que consiste na construção
das operações de codificação, em que recortamos os textos em unidades de registros, de-
finimos as regras de contagem e classificamos e agregamos as informações em categorias
temáticas. Foi nessa fase que o texto de todo o material coletado foi recortado em unidades
de registro para então realizarmos a categorização. Tais categorias foram agrupadas inicial-
mente por temas, que geraram categorias intermediárias e que, por conseguinte, também
resultaram em categorias finais. Para isso, usamos o processo indutivo ou inferencial, em
que procuramos compreender o sentido de fala postos no conteúdo analisado, o que nos
levou a buscar significação da mensagem primeira.
O Tratamento dos Resultados é a terceira fase do método. Nela realizamos a inferência
e interpretação de todo o conteúdo contido no material coletado. As categorias existentes

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em cada apreciação nos possibilitaram realizar análise comparativa ressaltando os aspec-
tos semelhantes e os que foram entendidos como diferentes. De forma objetiva, podemos
dizer que para utilizar o método escolhido seguimos as seguintes fases: a) leitura geral do
material; b) codificação para formulação de categorias de análise; c) recorte do material;
d) estabelecimento de categorias temáticas; e) agrupamento das unidades de registro em
categorias comuns; f) agrupamento progressivo das categorias (iniciais – intermediárias –
finais); g) inferência e interpretação, respaldados no referencial teórico escolhido.

ANÁLISE DAS REPORTAGENS

Com base nas publicações do portal, feitas no primeiro semestre de 2018, especifi-
camente no período de janeiro à junho, notamos que apenas três reportagens foram pro-
pagadas. A primeira, intitulada “Futebol parintinense, do auge a queda”, foi publicada dia
15/02/2018; posteriormente, dia 05/05/2018, publicou-se “O nirvana dos venezuelanos: a
casa de acolhida Santa Catarina” e por fim, “Umbanda: a essência por trás do estereótipo”,
publicada dia 15/05/2018. Diante das opções de reportagens disponíveis que tínhamos,
optamos desenvolver análises na primeira e na última não só pela temática abordada, mas
também para observar e apontar as diferenças de como deu-se a produção de tais conteúdos
no início e no final do período em que optamos pelo recorte. Para a análise, organizamos as
reportagens de acordo com as seguintes categorias: interesse (local, nacional, internacional);
seção temática e vozes dos atores sociais exibidas nos conteúdos.

1. FUTEBOL PARINTINENSE, DO AUGE A QUEDA (José Brilhante)

A primeira reportagem analisada tem o esporte como tema, mais precisamente o local,
o futebol parintinense, portanto um tema de interesse local. A partir dos fundamentos dos
estudos culturais e das mediações, identificamos por meio da história de vida e experiências
culturais vividas pelos atores sociais envolvidos na narrativa - desde o principal fornecedor
das informações, o senhor Nilo Gama, ex jogador aposentado, ao veterano jornalista de
esporte, Flavio Luiz, bem como o próprio jornalista responsável pela reportagem analisada,
José Brilhante – que o futebol parintinense vive um período de declínio, como o próprio título
da reportagem menciona. Os personagens que vivenciaram os tempos áureos desse esporte
lamentam a atual situação e culpam a tecnologia e a globalização, o alcoolismo (mostrado
na reportagem como um problema causado pelos próprios “incentivadores” do esporte, uma
vez que escolhiam bebidas alcóolicas para pagar ou presentear os jogadores), e por fim,
também direcionam essa culpa ao Festival Folclórico de Parintins, justificando que a festa

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popular atrai maior entusiasmo do povo em participar da brincadeira dos bois e por receber
incentivos e verbas que o esporte não dispõe.
A reportagem fora escrita em alguns trechos com um tom humorístico, mas que vistos
de maneira mais detalhada expressam componentes importantes de uma prática de cultura
popular com o exercício de ações não contidas nas regras do esporte. Ainda fica evidente
que esse esporte perdeu para outro evento mais industrializado e comercializado como é o
Festival Folclórico de Parintins. O jornalista faz questão de contar a história apresentando
gírias e utilizando termos regionais para enriquecer a narração desta, o que nos remete no-
vamente a Martín-Barbero (1997) quando ele diz que é preciso (re)conhecer as mediações
histórico-culturais dessas possibilidades midiáticas e re-situá-las dentro do lugar estratégico
em que o campo da comunicação passou a exercer na formatação de novos modelos da
sociedade. Destacamos também que, no texto, o futebol é apresentado como uma mani-
festação não alienante, de conotação popular, narrado pelas vozes dos atores sociais que
vivenciaram aquele período.
Entendendo a comunicação como cultura (HALL, 2003), a reportagem em questão
nos possibilitou ver a referida prática como resistência social/cultural, pois vimos que as
inter-relações desses padrões foram vividas em um dado período, que contribuiu para que
suas estruturas de experiências fossem criadas. Fica claro, por meio das falas dos persona-
gens, perceber que as experiências vividas por aquelas pessoas proporcionaram bagagem
social/cultural. Por este motivo, lutam para que ainda possam ter espaços tanto na prática
de esporte e lazer, quanto nos espaços comunicacionais.
A narrativa foi escrita de forma acessível para mostrar desde o auge até à queda do
futebol parintinense. O tom humorístico é utilizado e aparece principalmente quando são
narradas as “histórias engraçadas” das partidas de futebol, como por exemplo no trecho em
que estas são relatadas:

Em dia de clássico as “cipoadas” de pião roxo estalavam na arquibancada em


momentos de dificuldade ou de placar inferior. As senhoras carolas durante a
semana, transformavam-se em defensoras e xingadoras de seus times. Tudo
era saudável, segundo Zezinho Farias, torcedor do Sul América.
Jogadores passavam por fatos inesquecíveis. Ao bater a lateral no momento
do jogo, torcedores da equipe oposta desferiam lambadas de cipó nas costas
do atleta, assim sendo uma forma de intimidação para o jogador. [...] Ouve
até desmaios propositais para retirar o goleiro do time adversário em um jogo
para desfavorecer a equipe contrária.

A falta de espaços públicos destinados a prática de esporte também é mencionada,


fato este que restringe o acesso das minorias e que acabam sendo prejudicadas e perma-
necendo à margem de uma participação social por serem excluídos e privados de espaço
para exercitar o esporte. O relato de um ex jogador confirma a afirmação. Wilson Cabral diz

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que, com o crescimento urbano da cidade, espaços que antes eram utilizados para a prática
da modalidade de forma gratuita e acessível foram retirados.

“A garotada se divertia tranquilo jogando bola. Hoje em dia pra você conseguir
um espaço no campo, na areia e no sintético, tudo é pago. E assim acabam
restringindo o futebol de Parintins”, explica. 

Para além da escolha em relatar um fato lamentável de forma leve, acredita-se que
fora seguida tal estrutura de produção para que os receptores das mensagens pudessem
melhor compreendê-la e assim dispor de mecanismos para ter diversas possibilidades de
interpretações. Reiteramos novamente o papel da comunicação alternativa, por dar vez e
voz as minorias, mas também fazer contraponto ao sistema vigente, fato este que podemos
observar quando na reportagem analisada são mencionadas duras críticas a prefeitura da
cidade, por ficar anos sem direcionar investimentos ao esporte local e também quando são
relatados os métodos de negociações dos presidentes dos times, em que uma pequena
classe da elite parintinense, composta por médicos, empresários e demais poderosos que
faziam parte da Associação da Liga Esportiva Parintinense de Futebol (Alepin) decidiam,
por interesses particulares, o resultado das votações de propostas.

2. UMBANDA: A ESSÊNCIA POR TRÁS DO ESTEREÓTIPO (Adriane Vasconcelos)

A segunda reportagem analisada tem como tema a religião, especificamente a


Umbanda. A narrativa carrega uma diversidade de informações onde são apresentados
um pequeno histórico da manifestação cultural na cidade de Parintins, suas características,
sessões, ritos e todo o preconceito sofrido pelos seus seguidos. A liberdade de escolha de
religião fica, portanto, tal como aparece na matéria, afetada por falta de respeito as crenças
individuais. O preconceito para com as religiões, principalmente as de matrizes afro-brasilei-
ras, consiste no juízo preconcebido que os indivíduos têm com base nas percepções sociais
negativas criadas destas. As escassezes de veiculação desses conteúdos nos meios de
comunicação, bem como a veiculação de forma tendenciosa e com estereótipos negativos,
contribuem significativamente para que atitudes discriminatórias ainda existam.
Nesse sentido, o jornalismo alternativo aborda conteúdos oriundos do jornalismo cul-
tural procurando formular esclarecimentos acerca da situação das mídias que tomam a
cultura como objeto, tendo como eixo (também) as experiências e gostos pessoais. O con-
ceito de cultura abordado aqui, por exemplo, parte do que Edward Burnett Tylor diz, no
século 19, em que:

[...] aquele complexo inteiro que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a


moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo
homem como membro da sociedade. (TYLOR, 1958, p. 1)

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Partimos do pressuposto de que tudo que envolve hábitos e aptidões humanas, desde a
produção de livros, o desenvolvimento de tecnologias, as relações sociais, até a fabricação de
mesas e automóveis, são produções culturais (SIQUEIRA e SIQUEIRA, 2007). Percebemos,
portanto, a importância da veiculação desses conteúdos nas mídias e entendemos cultura
nos estudos culturais alternativos de acordo com o seguinte conceito:

Nos cadernos culturais apareciam elementos que expressariam a forma de


ser de um povo. A dança seria uma dessas manifestações de um grupo social
que são únicas e não comparáveis. A ênfase de uma parte do jornal coo sendo
eminentemente cultural parece obedecer à mesma dicotomia entre civilização
e cultura para os intelectuais alemães. Assim, vão aparecer temas ligados às
artes, às letras, à filosofia, à religião, à dança, enfim, assuntos que valorizam
as realizações interiores e espirituais. (SIQUEIRA e SIQUEIRA, 2007)

Destacamos no texto o cuidado e respeito com que a temática fora abordada. Nesse
sentido podemos afirmar que o interesse da matéria, embora seja local, poderia servir para
outras regiões do país. Percebemos que a jornalista desenvolveu pesquisas prévias e apre-
sentou entrevistas com atores sociais. Destacamos novamente a importância que essas
vozes sejam ouvidas, que ocupem seus locais de fala para que elas mesmas representem
esse segmento pouco ouvido. Na reportagem em questão, notamos isso por meio das falas
da mãe-de-santo, Bena de Oxóssi.

Durante as sessões, que são os cultos na umbanda, a mãe-de-santo coor-
dena as cantigas de acordo com os espíritos que são incorporados, além
da participação dos filhos-de-santo que também fazem esse processo de
transe mediúnico. “Nesse momento, não é possível saber quais espíritos
serão incorporados. Cada médium possui um orixá e guias que os auxiliam,
e dependendo do momento, qualquer um deles pode ser incorporado”, relata
Mãe Bena.
Na Umbanda há um conjunto de instrumentos que formam a música do terrei-
ro que são utilizados durante as sessões, são chamados de Engoma. Tradicio-
nalmente a base de toda engoma são os atabaques (tambores), considerados
sagrados que são cruzados pelas entidades, possuindo nomes de acordo com
seus tamanhos sendo eles: Rum, o maior Rumpi, o médio e Lê, o pequeno.

Achamos importante reiterar a legitimidade intelectual da comunicação, principalmente


por entendê-la como lugar estratégico para se pensar a sociedade e sua pluralidade cultural
e religiosa. Nesse sentido, o papel do comunicador torna-se indispensável nesse processo,
principalmente no que se refere a desmistificação de conceitos e lutas contra preconceitos.
Nossa análise cultural aponta aqui para o peso social nos estudos e investigações no cam-
po das Mediações Culturais, repensando a relação comunicação-sociedade e redefinindo a
importância e responsabilidade do papel dos comunicadores nessa dinâmica.

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O espaço que a Umbanda e outros assuntos pouco vistos na grande mídia ganham da
imprensa alternativa faz com que tais conteúdos sejam disseminados para que mais pessoas
tomem conhecimentos e quebrem estereótipos impostos historicamente, que acabaram
sendo enraizados. Por este motivo, reafirmamos o papel da comunicação alternativa na
contemporaneidade, pois esta serve de ponte estratégica para que debates críticos sejam
ampliados. Os noticiários sobre a região amazônica, por exemplo, na maioria das vezes, são
veiculados de forma exótica, sedutora. E é aí que o jornalismo alternativo então entra em
cena, com a possibilidade de levar conhecimentos acerca de diversidade cultural/religiosa
e outros inúmeros assuntos referentes, relevantes e próprios da Amazônia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da realização das análises, verificou-se que o Portal Sátira difunde mais infor-
mações de interesse local do que nacional e internacional, valorizando assim os fatos da
cidade, mantendo o público informado de assuntos que estão mais próximos a eles, dando
voz a setores nem sempre presentes na grande mídia. As temáticas difundidas nas duas
reportagens nos permitiram perceber que a comunicação alternativa contemporânea na
Amazônia sobrevive e mantém vivas as suas características históricas, trazendo em seus
conteúdos informações em profundidade, o que permite ao receptor ter inúmeras possibili-
dades de interpretações.
Com a análise, vimos a importância de dar espaço aos atores sociais - como o ex jo-
gador de futebol, Nilo Gama, e a mãe-de-santo, Bena de Oxóssi - para que suas histórias
sejam narradas a partir de suas experiências culturais vividas, fato este que contribui para
que tais mensagens sejam compreendidas e interpretadas pelos receptores de forma ampla.
Para sustentar a referida afirmação, trouxemos aqui o que o estudo barberiano propõe, em
que os conteúdos culturais veiculados são responsáveis, somados as vivências culturais,
pelos repertórios que cada indivíduo possui de narrar e interpretar a realidade.
Martín-Barbero estabelece, por meio do modelo comunicacional que propôs, um proces-
so de interação onde há um espaço de natureza representativa ou simbólica entre o emissor
e o receptor. Este é preenchido pela mensagem que pode ser configurada com múltiplas
variáveis. A partir dessa dinâmica, o autor explica como a mensagem será absorvida:

A verdadeira proposta do processo de comunicação e do meio não está nas


mensagens, mas nos modos de interação que o próprio meio – como muitos
dos aparatos que compramos e que trazem consigo seu manual de uso –
transmite ao receptor (MARTIN-BARBERO, 2002, p. 55).

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Nesse caso, percebemos a importância de ver essas histórias narradas a partir das
experiências de indivíduos que vivem diariamente tal realidade. Novamente contextualizamos
com o processo comunicacional da teoria das Mediações Culturais, uma vez que, os efeitos
causados por esta, diferente dos estudos tradicionais, está na propagação e produção de
elementos culturais que são condicionados pelas tecnologias de comunicação e trabalham
em harmonia com a sensibilidade e os meios de interpretação do indivíduo, que dotado de
sentido, passa a interpretar a mensagem a partir de sua bagagem sociocultural. Por isso:

Pensar os processos de comunicação neste sentido, a partir da cultura, significa


deixar de pensá-los a partir das disciplinas e dos meios. Significa romper com
a segurança proporcionada pela redução da problemática da comunicação à
das tecnologias (MARTÍN-BARBERO, 2000, p. 297).

Portanto, reafirmamos a importância de analisar a comunicação a partir da cultura,


posta no trabalho que aqui se segue a partir das implicações do pensamento barberiano,
em que pressupõe não centralizar a observação de forma uníssona dos meios, mas fazer
com que essa análise seja ampliada para as mediações, que servem como estratégias de
comunicação onde a partir da participação do indivíduo este representa não apenas a si
próprio, como também todo o seu entorno, gerando múltiplas trocas de sentidos e possibi-
lidades de interpretações.

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06
Intoxicação exógena relacionada a produtos
agrotóxicos no estado do Pará

Letícia Cunha da Hungria Julliane Thais da Silva Silva


Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA
Estado do Pará - EMATER

Priscila Pereira Sacramento


Adriely Coelho de Assunção Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - SENAR
Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA

Beatriz Cunha da Silva


Yan Nunes Dias Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA
Instituto Tecnológico Vale - ITV

'10.37885/220909965
RESUMO

Os agrotóxicos têm sido relacionados frequentemente à problemas de saúde pública e


ambiental, refletidos principalmente pelo uso e manejo inadequado desses materiais. Nos
últimos anos, houve um número considerável de notificações de intoxicações exógenas
associadas a tais substâncias químicas. Nesse contexto, o objetivo foi investigar e avaliar o
perfil epidemiológico das notificações de intoxicação exógena por produtos agrotóxicos, de
2011 a 2020, no Estado do Pará, norte do Brasil. Os dados foram obtidos na base nacional
do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), considerando cinco categorias
de agrotóxicos: de (1) uso agrícola, (2) doméstico, (3) saúde pública, (4) produto veterinário
e (5) raticida. No total, ocorreram 1.655 notificações, provocadas principalmente por agrotó-
xicos agrícolas e raticidas. As vítimas, em sua maioria, são do gênero masculino, com idade
entre 20 a 39 anos e residindo em zona urbana. O maior número das exposições ocorreu
fora do ambiente de trabalho e induzido pela categoria de agrotóxicos agrícolas. Em grande
parte dos casos houve cura sem sequela, enquanto a menor evoluiu para óbito pela intoxi-
cação. Há uma carência enorme de subsídios substanciais, resultantes do monitoramento
adequado deste tipo de risco químico, para execução de ações de proteção às populações
expostas aos agrotóxicos.

Palavras-chave: Agentes Tóxicos, Produtos Agrícolas, Taxa de Letalidade, Impactos na Saúde.


INTRODUÇÃO

Os agrotóxicos, conforme Lei Federal nº 7.802 de 1989, Constituição da República


Federativa do Brasil, regulamentada pelo Decreto nº 4.074 de 2002, são definidos como
produtos ou substâncias químicas destinadas ao controle de agentes patogênicos para
plantas e animais em ambiente urbano ou rural. No Brasil, o setor agrícola é o líder no uso
desses compostos químicos, em função da inclusão dos produtos como item fundamental
em pacotes tecnológicos na produção de alimentos (NEVES et al., 2020). Outros setores
também se destacam como a Saúde Pública, no combate aos vetores e doenças, na medicina
veterinária e no ambiente doméstico, no controle de insetos e pragas (CASSAL et al., 2014).
Entre 2005 e 2019, houve um crescimento exponencial do registro de agrotóxicos, pelo
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), um dos órgãos federais com-
petentes para avaliação e registro desses produtos no Brasil, classificando como agrotóxicos
cerca de 2.940 produtos, seja para uso agrícola, doméstico ou saúde pública (MAPA, 2019).
Coincidentemente, neste período, o Brasil consolidou sua liderança no ranking mundial do
consumo de agrotóxicos, desconsiderando-se fatores como extensão territorial, no ano de
2008, ampliando em mais de 190 % o mercado interno, com taxa de consumo que atingiu 12,5
quilos por hectare. Entre as macrorregiões do país, conforme Relatório Nacional de Vigilância
em Saúde e População Expostas a Agrotóxicos de 2018, a Região Norte do Brasil, neste
cenário, assumiu 2,5 % do total de agrotóxicos e afins comercializados (BRASIL, 2018a).
O aumento significativo do volume de venda de agrotóxicos, se aliado ao uso abusivo
dessas substâncias, especialmente pela fragilidade de fiscalização de seu uso no país, pro-
vocam maiores riscos ao meio ambiente e a saúde humana, considerando a alta atividade
biológica e o potencial de persistência, mobilidade e toxicidade dos agrotóxicos na água,
solo e ar (PORTILHO et al., 2015). Isto pode contribuir para que resíduos desses produtos
se acumulem no ambiente, aumentando as chances de exposição da população.
A exposição humana a agrotóxicos provoca efeitos à saúde que podem incluir alterações
subclínicas, intoxicações, manifestações em aparelhos e sistemas do corpo humano ou res-
postas mais lentas relacionadas a problemas neurocomportamentais, genéticos e até câncer
(TANNER et al., 2011; LIU; JIANG; GU, 2020). A severidade do agente tóxico na saúde do
indivíduo depende do tempo entre a exposição e o atendimento médico, a quantidade da
substância química absorvida, a toxicidade do produto ou ainda da reação e suscetibilidade
do organismo exposto, podendo ocasionar a morte do indivíduo (MAIA; SOUZA; FAUSTINO,
2019; NAKAJIMA et al., 2019). A intoxicação exógena, manifestação mais comum, ocorre
quando o indivíduo entra em contato com substâncias químicas, presentes no ambiente ou
de forma isolada, através da pele, inalação ou ingestão e, posteriormente, apresentem sinais
e sintomas clínicos de intoxicação e/ou alterações laboratoriais (DIVE, 2019).

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O perfil epidemiológico, a nível nacional, dos indivíduos mais fortemente afetados pela
exposição aos agrotóxicos comumente sugere os agricultores e trabalhadores de indústrias
fabricantes de agrotóxicos como os mais susceptíveis, considerando que ambos estão en-
volvidos diariamente com a manipulação e aplicação desses produtos (SOUZA et al., 2020).
Além disso, os agravos à saúde são frequentemente associados ao uso indisciplinado de
equipamentos de proteção individual (EPI’s) no momento da aplicação do produto e o ar-
mazenamento e descarte inadequado das embalagens (SILVA et al., 2005; FARIA; FASSA;
FACCHINI, 2007).
Contudo, admite-se que toda a população pode estar sujeita a exposição e/ou intoxica-
ção por agrotóxicos já que a contaminação pode ocorrer pela ingestão de água e alimentos
(INCA, 2019), se o uso de agrotóxicos estiver associado a modelos de agricultura que fazem
uso amplo e indiscriminado, o que fortalece a situação de insegurança para a saúde humana
(ALENCAR et al., 2013). De acordo com a análise de amostras coletadas em todos os esta-
dos brasileiros, exceto o Paraná, realizada em 2017 pelo Programa de Análise de Resíduos
de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa),
23 % de 14 alimentos consumidos cotidianamente pelos brasileiros estava contaminado por
agrotóxicos, isto é, foram consideradas insatisfatórias em relação à conformidade com o
Limite Máximo de Resíduos (LMR) (ANVISA, 2019).
O Ministério da Saúde em 2010, por meio da Portaria de nº 2.472, tornou obrigatório
o registro de casos suspeitos de intoxicação exógena por agrotóxicos à lista de notificação
compulsória em sistemas de base nacional. Dentre os bancos de dados disponíveis, o
Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), alimentado por profissionais do
Sistema de Vigilância Epidemiológica, permite o acesso às informações de casos em que
o indivíduo foi exposto a substâncias químicas e que apresentou sinais compatíveis com
intoxicação (BRASIL, 2016).
O registro dessas notificações consiste em item estratégico no processo de redução da
morbimortalidade do indivíduo exposto, servindo como fonte de informações básicas para
o monitoramento e a elaboração de ações para controle das ocorrências (TEIXEIRA et al.,
2014; SOUZA & ALMEIDA, 2019). Em uma revisão sistemática realizada em bases científicas
internacionais e nacionais, considerando o período de 2011 a 2017, Lopes & Albuquerque
(2018) registraram a inclusão de mais de 116 estudos sobre o impacto negativo da exposição
de agrotóxicos na saúde humana e/ou ambiental, e quase totalidade correspondeu a estudos
de revisão bibliográfica e poucos se referiram a estudos experimentais. Se neste mesmo
período, fossem investigados estudos dessa natureza para o estado do Pará, o resultado
seria zero. Portanto, o objetivo do estudo foi investigar e avaliar o perfil epidemiológico das

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ocorrências de intoxicação exógena por agrotóxicos, de 2011 a 2020, no Estado do Pará,
norte do Brasil.

MÉTODOS

Localidade do estudo

O Pará, situado na região norte do país, possui população estimada em 8,7 milhões de
habitantes aproximadamente, distribuídos em 144 municípios (IBGE, 2021). Cerca de 40 %
da economia do estado provém da atividade agropecuária (ADEPARÁ, 2017), sendo o Pará,
em 2014, considerado a décima quarta unidade federativa brasileira com maior volume de
comercialização de agrotóxicos e afins, com taxa de incidência de notificação de intoxica-
ções por agrotóxicos de 1,73 casos por 100 mil habitantes, no mesmo ano (BRASIL, 2018a).

Base de dados utilizada

Neste estudo, os dados foram obtidos em base nacional do Sistema de Informação de


Agravos de Notificação (SINAN), por meio do programa Tabnet (http://tabnet.datasus.gov.
br), um tabulador genérico do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde
(Datasus), do Ministério da Saúde. O banco de dados é alimentado e atualizado por se-
cretarias municipais de saúde, combinados a nível de estado e por fim consolidado na
base nacional, a partir de informações preenchidas em fichas de investigações de into-
xicações exógenas.

Variáveis analisadas

A partir da base foram selecionados cinco tipos de agrotóxicos: de (1) uso agrícola, (2)
uso doméstico, (3) de saúde pública, (4) produto veterinário e (5) raticida.
Em função dos agentes, foram consideradas sete variáveis da ficha de investigação:
(a) o município em que houve a notificação; (b) o gênero (masculino ou feminino); (c) a faixa
etária (< 1 ano, 1-4, 5-9, 10-14, 15-19, 20-39, 40-59, 60-64, 65-69, 70-79 ou > de 80 anos)
do indivíduo intoxicado; (d) a zona de residência do intoxicado (branco/não identificado;
zona urbana, zona rural e zona periurbana); (e) tipo de exposição (branco/não identificado,
sim ou não); (f) a circunstância (branco/não identificado, uso habitual, acidental, ambiental,
uso terapêutico, prescrição médica, erro de administração, automedicação, abuso, ingestão
de alimento, tentativa de suicídio, tentativa de aborto, violência/homicídio ou outra); (g) a
classificação final (branco/não identificado, intoxicação confirmada, só exposição, reação
adversa, outro diagnóstico ou síndrome de abstinência); (h) e a evolução dos casos (branco/

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não identificado, cura sem sequela, cura com sequela, óbito por intoxicação exógena, óbito
por outra causa ou perda de seguimento).
Ressalta-se que os dados podem sofrer alterações, mesmo de anos anteriores a esta
pesquisa, à medida que o sistema é alimentado e atualizado pelas secretarias municipais.

Análise estatística

Após a coleta, os dados foram organizados em planilhas dinâmicas do software


Microsoft Excel® e tratados através de ferramentas estatísticas oferecidas pelo programa,
tais como frequências relativas e percentuais (%) e médias, com posterior elaboração de
gráficos e tabelas para a realização de análise descritiva. Além disso, foram calculados os
indicadores a seguir:

• Incidência de notificações (ou taxa de incidência): é a forma mais comum de medir


e comparar a frequência das doenças em populações. Para isso, utilizou-se o nú-
mero total de casos notificados para cada município do estado, entre 2011 e 2020
e dividiu-se pelo total de habitantes (hab.) dos municípios correspondentes, com o
resultado multiplicado por 1000. Os resultados da equação foram expressos por mil
hab. Os dados populacionais foram obtidos de projeções intercensitárias do Institu-
to Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), utilizando-se a média da população
dos anos de 2010 e 2020.
• Taxa de letalidade por intoxicação: utilizou-se o número total de óbito por intoxica-
ção por agrotóxicos e dividiu-se pelo número total de casos notificados confirmados
no Pará, entre 2011 e 2020, com o resultado da divisão multiplicado por 100. Os
resultados da equação foram expressos em porcentagem (%).

RESULTADOS

No Estado do Pará, entre 2011 e 2020, foram notificados 1.655 casos de intoxicação
exógena, considerando as cinco categorias de agrotóxicos: agrícola, doméstico, de uso na
saúde pública, produto veterinário e raticida. O maior número de notificações da série foi
registrado em 2018, com 258 ocorrências, um salto de 3,1 vezes a mais que o total de notifica-
ções registradas em 2012 (93 ocorrências), ano de menor número de ocorrências (Figura 1).

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Figura 1. Evolução do número de notificações de intoxicação exógenas provocadas por cinco agentes tóxicos, de 2011 a
2020, no Estado do Pará, norte do Brasil.

Fonte: SINAN (2011-2020).

O total de notificações no Pará é relativamente inferior (0,2 notificações/mil hab.), se


comparado com o total de notificações registradas em outros estados como em São Paulo,
com 15.042 casos suspeitos (0,36 notificações/mil hab.) de intoxicações por agrotóxicos,
entre 2007 e 2015 (BRASIL, 2018), o Rio Grande do Sul, com 3.222 notificações (0,3 notifi-
cações/mil hab.), entre 2011 e 2018 (FREITAS; GARIBOTTI, 2020), Bahia com 2.803 casos
por agrotóxicos (0,21 notificações/mil hab.), entre 2007 e 2018 (SOUZA & ALMEIDA, 2019),
ou ainda Goiás entre 2005 e 2015, com total de 2.987 casos (0,5 notificações/mil hab.) so-
mente para agrotóxicos agrícolas (NEVES et al., 2020).
Por outro lado, há uma discussão, tanto a nível nacional quanto estadual, da possi-
bilidade de haver um grande número de subnotificações, o que evidenciaria a fragilidade
na identificação, diagnóstico e registro de casos de intoxicações. Segundo a Organização
Mundial de Saúde (OMS), para cada 1 caso de intoxicação por agrotóxicos notificado podem
existir mais 50 que não foram comunicados (CEQUINEL & RODRIGO, 2018).
Os agrotóxicos agrícolas foram os agentes tóxicos citados com maior frequência nas
fichas de investigação, com o total de 652 notificações (39,4 %), média de 65 intoxicações
anuais, seguido dos raticidas que corresponderam a 36,3 % das notificações (601 casos) e
os agrotóxicos domésticos, apontados como responsáveis por 15 % (248) dos casos (Figura
1). Os agrotóxicos de saúde pública e os produtos de uso veterinário provocaram 3,3 % e
6 % das intoxicações notificadas, respectivamente.
Dentre os produtos classificados como agrotóxicos os de uso agrícola, assim como
neste estudo, constituem o grupo de substâncias com maior índice de intoxicação em ou-
tros levantamentos (BATISTA et al., 2017; SOUZA & ALMEIDA, 2019; NERY et al., 2020).
Isto indica, portanto, que estes produtos merecem atenção especial quanto à relação com
a evolução dos casos de intoxicação, reforçando a ideia de que toda a população está

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exposta à contaminação não só pelo contato direto em ambientes de trabalho, mas também
pelo contato indireto relacionado à ingestão de água e alimentos contaminados (LOPES &
ALBUQUERQUE, 2018).
As ocorrências foram registradas em 99 municípios, do total de 144 do estado, com
concentração de 59,21 % (ou 980 notificações) dos casos em dez municípios paraenses
(Tabela 1). Dentre esses municípios, a maior parcela de notificações foi observada em
Marabá (15% ou 225 casos), seguido da capital Belém (12,8 % ou 192 casos), Santarém
(8,8 % ou 132 casos) e Tucuruí (7,7 % ou 116 casos). Segundo Ferreira & Figueiredo (2013),
quando políticas de saneamento básico são ineficientes para atender a alta demanda po-
pulacional, há tendência do fomento de condições de desenvolvimento e estabelecimento
de animais sinantrópicos, como os ratos que possuem altas taxas reprodutivas e de adap-
tação em ambientes diversos. Isto estimula a população a utilizar os raticidas na tentativa
de controlar essas pragas, e como resultado tem-se o uso indiscriminado e sem o uso de
ações integradas voltadas para os elementos socioambientais geradores de riscos. Neste
estudo, entre os dez principais municípios oito estão entre os vinte municípios paraenses
mais populosos (IBGE, 2021), e no caso da capital do estado do Pará, a cidade de Belém,
em 2020 foi considerada, em estudo do Instituto Trata Brasil, uma das 100 cidades mais
populosas do Brasil com um dos piores índices de atendimento total de esgoto (13,56 %)
(OLIVEIRA; SCAZUFCA; MARGULIES, 2020).
Quando se trata dos agentes tóxicos notificados com maiores frequências nesses dez
municípios, observa-se destaque dos raticidas (45,4 %) e os agrotóxicos agrícolas (31,5 %),
enquanto apenas 15,9 %; 5,6 % e 1,5 % das intoxicações foram induzidas por agrotóxicos
de uso doméstico, produto veterinário e saúde pública, nesta ordem.
É importante ressaltar que, quando admitida a relação da quantidade de notificações
com o tamanho populacional do município, é possível encontrar a incidência de intoxicações,
isto é, o número de casos relacionado proporcionalmente com a quantidade de habitantes,
por município, estimada pelo IBGE. Neste caso, dentre os dez municípios destacados, Santa
Luzia do Pará possui a maior taxa de incidência de pessoas intoxicadas no estado, com taxa
de 2,6 notificações/mil hab., seguido de Conceição do Araguaia (1,1 notificações/mil hab.)
e Tucuruí (1,09 notificações/mil hab) (Tabela 1).

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Tabela 1. Quantidades e incidências de notificações de intoxicações exógenas provocados por cinco categorias de
agrotóxicos, de 2011 a 2020, nos dez municípios paraenses, norte do Brasil, com maiores frequências de registros.

Agente tóxico
Município
Agrícola Doméstico Saúde Pública Produto Veterinário Raticida Total no hab.* incidência
Marabá 44 56 4 4 117 225 258.605 0,87
Belém 26 6 2 5 153 192 1.445.520 0,13
Santarém 26 27 3 15 61 132 300.530 0,44
Tucuruví 71 14 1 3 27 116 106.136 1,09
Tailândia 19 16 1 8 17 61 94.133 0,65
Redenção 20 2 0 5 31 58 80.559 0,72
Conceição do Araguaia 16 19 4 7 6 52 46.774 1,11
Santa Lucia do Pará 51 0 0 0 0 51 19.633 2,60
Paragominas 18 8 0 5 18 49 106.161 0,46
Castanhal 18 8 0 3 15 44 188.200 0,23
Total 309 156 15 55 445 980 - -
*Média entre o número de habitantes registrado pelo Censo do IBGE 2010 e 2020.
Fonte: SINAN (2011-2020).

De forma geral, há predominância de vítimas de intoxicações em pessoas do gê-


nero masculino (50,8 % ou 841 casos) em relação ao gênero feminino (49,1 % ou
813 casos), especialmente as decorrentes pela exposição aos agrotóxicos agrí-
cola (Figura 2). Proporções semelhantes prevalecem em estudos elaborados no
Distrito Federal (REBELO et al., 2011), Rio de Janeiro (CRUZ et al., 2013), Goiás (NEVES;
MENDONÇA; PÔSSAS, 2020) e Rio Grande do Sul (FREITAS; GARIBOTTI, 2020).

Figura 2. Distribuição do número de notificações de intoxicação exógenas por agrotóxicos, de acordo com o gênero, em
função de cinco agentes tóxicos, de 2011 a 2020, no estado do Pará, norte do Brasil.

Agrícola Doméstico Saúde Pública

231 20
110
138 35
421

Produto Veterinário Raticida

240
50 49
360

F M F M

Fonte: SINAN (2011-2020).

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A nível nacional identifica-se uma forte tendência de intoxicações em homens, em
função da maior atuação do gênero masculino em atividades rurais que envolvem o ma-
nuseio de agrotóxicos agrícolas, por exemplo (SOUZA; COSTA; RAMOS, 2016; BRASIL,
2018). As mulheres são por muitas vezes excluídas dessas atividades, sendo consideradas,
juntos com os idosos e crianças, o grupo de maior vulnerabilidade imunológica. No estado
do Pará, no entanto, 70,9 % das notificações, nos últimos dez anos, revelam que as pes-
soas intoxicadas residem na zona urbana, com a maior parcela das intoxicações originadas
por raticidas, enquanto 26,8 % residem em zona rural e são acometidas principalmente por
agrotóxicos agrícolas.
É válido salientar que uma parcela significativa das vítimas, neste estudo, foram mu-
lheres (49,1 %) e isto significa que as mesmas são atingidas pela atuação indireta nessas
atividades, como a lavagem de equipamentos e roupas utilizadas na pulverização por traba-
lhadores rurais (SOUZA & ALMEIDA, 2019). Além disso, quando avaliadas de forma isolada
as intoxicações provocadas por fontes como os agrotóxicos domésticos, agrotóxicos de saúde
pública e os raticidas, as mulheres são mais frequentemente afetadas (Figura 2). Em estudo
epidemiológico de intoxicação exógena realizado no estado do Maranhão (BATISTA et al.,
2017), os produtos de uso domiciliar e raticidas também foram identificados como agentes
causadores de intoxicação em mulheres. Isto pode estar relacionado com o desconheci-
mento desse grupo em relação ao potencial de contaminação desses produtos que entram
em contato diariamente em suas residências.
Em relação à idade dos indivíduos intoxicados, destacam-se as faixas etárias de 20
a 39 anos (41,6 %) e 40 a 59 anos (17,2 %), isto é, a fase jovem-adulto ativa na atividade
econômica, agrupando 58,8 % dos casos notificados (Tabela 2).

Tabela 2. Distribuição do número de notificações de intoxicações exógenas por agrotóxicos, considerando a faixa etária
em função de cinco categorias de agentes tóxicos, de 2011 a 2020, no estado do Pará, Brasil.

Agente tóxico
Faixa etária
Agrícola Doméstico Saúde Pública Produto Veterinário Raticida Total %
<1 ano 8 8 1 7 15 39 2,4
1a4 63 61 1 27 55 207 12,5
5a9 18 23 0 1 14 56 3,4
10 a 14 28 16 0 2 23 69 4,2
15 a 19 62 26 2 9 123 222 13,4
20 a 39 275 65 28 40 280 688 41,6
40 a 59 152 34 21 8 70 285 17,2
60 a 64 24 4 2 3 9 42 2,5
65 a 69 10 6 0 0 1 17 1,0
70 a 79 5 3 0 2 9 19 1,1
>80 7 2 2 0 2 11 0,7
Total 652 248 55 99 601 1655 -
Fonte: SINAN (2011-2020).

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Na primeira faixa de idade, os raticidas (280 casos) e os agrotóxicos agrícolas (275
casos) foram os agentes tóxicos mais sinalizados, enquanto em indivíduos entre 40 e 59
anos, os agrotóxicos agrícolas (152 casos) foram líderes isolados como fonte de intoxicação,
correspondendo a 53,3 % das notificações (Tabela 2). A fase adulta, entre a faixa de 20 a
49 anos, é comumente citada em estudos da mesma natureza (FREITAS & GARIBOTTI,
2020), como a mais afetada pela exposição. Souza & Almeida (2019), associam este fato
a falta de experiência e a imprudência em indivíduos de idades próximas a estas que, por
muitas vezes, se expõem a riscos desnecessários. Os mesmos autores sugerem ainda que
menores expressões de casos em idades mais avançada (acima de 60 anos) estão relacio-
nados à perda da habilidade motora e sensorial para exercer atividades que exijam agilidade.
Nota-se que no estado do Pará, 71,5 % dos casos investigados não estão relacionados
com a exposição em ambiente de trabalho, e quando há essa relação (15,8 %) os agrotóxi-
cos agrícolas são os principais agentes tóxicos (208 casos), sugerindo que os riscos estão
ultrapassando o ambiental laboral e atingindo as residências (Tabela 3).

Tabela 3. Condição da exposição e circunstância de intoxicações exógenas por agrotóxicos em função de cinco categorias
de agentes tóxicos, de 2011 a 2020, no estado do Pará, norte do Brasil.

Agente tóxico
Faixa etária
Agrícola Doméstico Saúde Pública Produto Veterinário Raticida Total %
Branco 56 29 2 10 113 210 12,7
Sim 208 21 17 6 9 261 15,8
Não 388 198 36 83 479 1.184 71,5
Circunstância Agrícola Doméstico Saúde Pública Produto Veterinário Raticida Total %
Branco 33 17 3 5 42 100 6,0
Uso habitual 121 24 8 5 4 162 9,8
Acidental 182 110 6 37 95 430 26,0
Ambiente 114 10 16 0 1 141 8,5
Uso terapêutico 1 1 0 0 0 2 0,1
Erro de administração 9 9 15 1 2 36 2,2
automedicação 1 2 0 0 3 6 0,4
Abuso 1 0 0 0 0 1 0,1
Ingestão de alimento 8 2 0 0 2 12 0,7
Tentativa de suicídio 157 70 5 44 440 716 43,3
Tentativa de aborto 2 1 0 0 1 4 0,2
Violência-homicidio 6 0 0 3 9 18 1,1
Outra 17 2 2 4 2 27 1,6
Total 652 248 55 99 601 1655 -
Fonte: SINAN (2011-2020).

Esta informação indica que, em muitos casos, há comportamento indisciplinado dos


indivíduos envolvidos com tais substâncias químicas quando se trata de separar o ambiente
de trabalho da residência ou a família e mão-de-obra (SOUZA & ALMEIDA, 2019). Em seus
estudos, Rosa et al. (2011) agruparam indivíduos vítimas de intoxicação sob três condições

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e níveis de exposição: 1) trabalhadores em contato direto e por maior tempo com os produtos
em ambientes que correspondem ao trabalho; 2) moradores que residem em comunidades
adjacentes a empreendimento agrícolas ou industriais consideradas “zonas de sacrifício”;
e 3) consumidores de forma geral que adquirem e ingerem alimentos contaminados. Isto é,
os agrotóxicos atingem a saúde coletiva e todos estão expostos, no entanto em condições
de maiores ou menores riscos.
Entre as circunstâncias das intoxicações, a exposição com intenção suicida (43,3 %)
costuma ser a maior causa e a forma de exposição acidental (26 %) a segunda, marcadas
pelo uso de agrotóxicos agrícolas e raticidas, respectivamente (Tabela 3). A alta prevalência
das tentativas de suicídios ou lesões autoprovocadas pela exposição a agrotóxicos fazem
parte de evidências científicas que associam distúrbios sobre o sistema nervoso, como
sintomas de ansiedade e depressão à exposição de inseticidas do tipo organofosforados
(REHNER et al., 2000; STALLONES & BESELER, 2002; ROSA et al., 2011; SOUZA &
ALMEIDA, 2019). A pesquisa de Araújo et al. (2007) aborda a relação direta existente entre
os anos de exposição ao agrotóxico com o desenvolvimento de distúrbios psiquiátricos,
sugerindo atenção especial do modelo e rede de atendimento psicossocial aos vitimados
submetidos a esta condição.
A exposição acidental, segunda maior circunstância neste estudo, pode ocorrer de di-
versas formas que vão desde a reutilização de frascos de produtos com composição tóxica
em ambientes domésticos ou rurais, que acometem especialmente crianças e idosos, até a
deriva de partículas de agrotóxicos para áreas fora do interesse ou residências adjacentes,
no momento da aplicação do produto em campo (NEVES et al., 2020).
De todas as notificações, 58,7 % (971 casos) das investigações confirmaram a intoxi-
cação, em 22,7 % (376 casos) concluíram que somente houve exposição sem alterações
clínicas no indivíduo e menos de 7 % (103 casos) está relacionado à outra causa ou possui
outro diagnóstico, havendo uma subnotificação de 12,4 % (205 casos) dos casos (Tabela
4). Quando confirmada, a notificação apontava principalmente os raticidas (423 casos) e os
agrotóxicos agrícolas (315 casos) como fontes da intoxicação exógena.
No que diz respeito ao acompanhamento realizado sobre a evolução dos casos notifi-
cados mostra-se que 75,4 % das pessoas vitimadas alcançaram cura sem sinais de sequela
e 1,8 % cura com sinais de sequela, enquanto apenas 2,7 % evoluíram para óbito, com a
intoxicação exógena como causa da morte, e todos foram induzidos, em sua maioria, por
agrotóxicos agrícolas, seguido dos raticidas (Tabela 4). No entanto, deve-se chamar aten-
ção para os casos sem diagnóstico conclusivo que prejudicaram a análise dos resultados,
fosse pela ausência de seguimento da investigação (0,2 %) ou desfecho ignorado (incom-
pletude) nas fichas (19,7 %), e que constituía uma parcela considerável das notificações,

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corroborando com informações a nível mundial e nacional, em que há um número altíssimo
de casos suspeitos sem o devido diagnóstico (BRASIL, 2018b).

Tabela 4. Classificação final e evolução das notificações de intoxicações exógenas por agrotóxicos em função de cinco
categorias de agentes tóxicos, de 2011 a 2020, no estado do Pará, norte do Brasil.

Agente tóxico
Faixa etária
Agrícola Doméstico Saúde Pública Produto Veterinário Raticida Total %
Branco 101 31 2 16 55 205 12,4
Intoxicação confirmada 315 143 42 48 423 971 58,7
Só exposição 187 57 7 29 96 376 22,7
Reação Adversa 43 16 4 6 22 91 5,5
Outro Diagnóstico 5 1 0 0 3 9 0,5
Síndrome de abstinência 1 0 0 0 2 3 0,2
Total 652 248 55 99 601 1655 -
Circunstância Agrícola Doméstico Saúde Pública Produto Veterinário Raticida Total %
Branco 127 43 7 24 125 326 19,7
Cura sem sequela 482 200 43 74 449 1248 75,4
Cura com sequela 18 3 4 0 4 29 1,8
Óbito por intoxicação exógena 13 2 1 1 18 45 2,7
Óbito por outra causa 2 0 0 0 1 3 0,2
Perda de seguimento 1 0 0 0 4 4 0,2
Total 252 248 55 99 601 1655 -
Fonte: SINAN (2011-2020).

A taxa de letalidade média por intoxicação proveniente dos cinco tipos de agentes tó-
xicos no Estado do Pará, no período avaliado, foi de 4,6 %. A investigação deste indicador
expressa à gravidade da intoxicação, sugerindo se há alto ou baixo risco de óbito quando
detectada em um indivíduo. O resultado pode ainda indicar a capacidade operacional e
a qualidade do serviço de saúde prestado ao paciente (BRASIL, 2018a). Sendo assim, a
gravidade e a dificuldade de tratamento quando identificadas as intoxicações refletem em
maior letalidade e isto se intensifica quando se trata de agentes extremamente tóxicos
(EDDLESTON, 2002; OKUYAMA; GALVÃO; SILVA, 2020).
No Pará, o maior número de casos que evoluíram para óbito, se avaliado cada tipo de
agente tóxico de forma isolada, foi induzido pela exposição de agrotóxicos agrícolas, com
taxa de letalidade de 7,3 %, seguido dos agentes tóxicos raticidas, agrotóxicos de saúde
pública, produtos veterinários e agrotóxicos domésticos, com taxas de 4,2 %; 2,4 %; 2,1 %
e 1,4 %, nesta ordem.
A dificuldade de acesso, principalmente de trabalhadores rurais, a centros de atendimen-
to médico-hospitalar é um dos principais motivos de caso de pessoas que foram vítimas de
acidentes graves pelo uso inadequado de agrotóxicos evoluírem para óbito, sem ter passado
por qualquer assistência médica e por conta dissohá ausência de registros de mortes dessa
natureza (KIRCHNER et al., 2013). Os tratamentos alternativos, sem acompanhamento do

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profissional da saúde, como a utilização de plantas medicinais também são citados como
indutores de agravos decorrentes das intoxicações por agrotóxicos (MENEGAT & FONTANA,
2010; SILVA; SILVA; GARCIA, 2018).
Estudos como este trazem uma reflexão produtiva no campo das ciências sobre a re-
lação entre o modelo de desenvolvimento, agrotóxicos e as implicações no setor da saúde,
incluindo na discussão a qualidade de vida da população e a sustentabilidade deste modelo
(JOBIM et al., 2010), mas também sobre a disciplina dos usuários na manipulação desses
produtos. As autoridades responsáveis pela elaboração e desenvolvimento das políticas
públicas, com destaque as políticas de saúde, necessitam enfatizar os perigos da exposi-
ção a esses tóxicos, bem como compreender e superar os desafios frente à confirmação de
agravos da saúde por agrotóxicos (ROSA et al., 2011). Assim como as políticas públicas do
setor agropecuário devem adotar o incentivo da utilização de modelos de produção agrícola
com redução do uso de agrotóxicos, como o uso de defensivos biológicos ou modelo de
agricultura orgânica.

CONCLUSÃO

Os produtos com características tóxicas têm uso crescente ao longo dos anos, desde
o uso no campo da agropecuária, combate a vetores chegando até as finalidades domésti-
cas. O número de notificações de vítimas diretas e indiretas de intoxicações exógenas por
essas substâncias acompanha esse crescimento e as pesquisas epidemiológicas, incluin-
do esta, sobre essas ocorrências no Brasil reforçam que ainda há várias lacunas a serem
preenchidas para atingir efetiva vigilância sobre as intoxicações, considerando inúmeros
fatores que vão desde a dimensão da população exposta aos pesticidas à dificuldade de
acessibilidade dos serviços de saúde. Além disso, existem evidências de inúmeros casos
de subnotificações ou diagnósticos equivocados, para o período de 2011 a 2020.
No estado do Pará, os casos investigados estão concentrados principalmente em
regiões metropolitanas do estado, fortalecendo a carência de subsídios substanciais, resul-
tantes do monitoramento adequado deste tipo de risco químico, para execução de ações
de proteção às populações expostas aos agrotóxicos.

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07
Levantamento da implantação do Plano de
Manejo nas Unidades de Conservação do
Bioma Amazônia

Josmar Almeida Flores Ana Christina Konrad


Universidade Federal de Rondônia - UNIR Universidade do Vale do Taquari - UNIVATES

Cíntia Rosina Flores Odorico Konrad


Universidade Federal de Rondônia - UNIR Universidade do Vale do Taquari - UNIVATES

Milyanne Mercado do Nascimento


Universidade Federal de Rondônia - UNIR

'10.37885/220709495
RESUMO

Com o escopo de proteger a diversidade biológica integrante dos biomas brasileiros a


Constituição Federal de 1988, determinou a criação de espaços territoriais especialmente
protegidos em todo território nacional, como forma de assegurar o direito de todos ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado. Após a criação das unidades de conservação há a
obrigatoriedade de implantação do respectivo plano de manejo em um prazo máximo de cinco
anos a partir da data da criação da unidade. O objetivo deste trabalho foi analisar os registros
referentes a implantação do Plano de Manejo nas Unidades de Conservações integrantes
do Bioma Amazônia, nas três esferas administrativas, incluindo os dois grupos classificató-
rios das Unidades de Conservação, Proteção Integral e Uso Sustentável. O estudo utilizou
para a sua consecução a pesquisa qualitativa e quantitativa, sendo que o levantamento
das informações foi realizado através da coleta dos dados nos relatórios das Unidades de
Conservação do Ministério do Meio Ambiente. Os dados foram analisados quanto á identifi-
cação das Unidades de Conservação que possuem o Plano de Manejo. A pesquisa constatou
que existem no Brasil 1883 Unidades de Conservação assim distribuídas: 887 federais; 763
estaduais; 183 municipais, sendo que a esfera federal destaca-se quanto á implantação de
Unidades de Conservação, perfazendo 48,4% do total das unidades. Verificou-se que 75,5%
das Unidades de Conservação que integram o Bioma Amazônia não possuem o respectivo
Plano de Manejo. O estudo concluiu que a ausência do plano de manejo impede o alcance
dos objetivos das unidades de conservação e a obediência à suas diretrizes.

Palavras-chave: Bioma Amazônia, Unidades de Conservação, Plano de Manejo.


INTRODUÇÃO

O Brasil possui sua biodiversidade dividida em seis biomas: Bioma Amazônia; Bioma
Caatinga; Bioma Cerrado; Bioma Mata Atlântica; Bioma Pampa; Bioma Pantanal, apresenta-
dos na tabela 1. Tais biomas podem ser definidos como um “[...] conjunto de vida constituído
pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com
condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, o que resulta em uma
diversidade biológica própria.” (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
– IBGE, 2014, p. 1). Para Coutinho (2006, p.18):

[...] considera-se que um bioma é uma área do espaço geográfico, com di-
mensões de até mais de um milhão de quilômetros quadrados, que tem por
características a uniformidade de um macroclima definido, de uma determi-
nada fitofisionomia ou formação vegetal, de uma fauna e outros organismos
vivos associados, e de outras condições ambientais, como a altitude, o solo,
alagamentos, o fogo, a salinidade, entre outros. Estas características todas lhe
conferem uma estrutura e uma funcionalidade peculiares, uma ecologia própria.

Tabela 1. Área dos biomas brasileiros.

Biomas Continentais Brasileiros Área Aproximada Km2 Área Total Brasil


Bioma Amazônia 4.196.943 49,29%
Bioma Caatinga 2.036.448 23,92%
Bioma Cerrado 1.110.182 13,04%
Bioma Mata Atlântica 844.453 9,92%
Bioma Pampa 176.496 2,07%
Bioma Pantanal 150.355 1,76%
Área total Brasil 8.514.877
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2014.

Com o escopo de proteger tal diversidade biológica integrante dos biomas brasileiros
a Constituição Federal (1988) determinou a criação de espaços territoriais especialmente
protegidos em todo território nacional, como forma de assegurar o direito de todos ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado. Nesse contexto, foi editada em 18 de julho do ano
de 2000 a Lei nº 9.985 que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza – SNUC estabeleceu critérios e normas para a criação, implantação e gestão das
unidades de conservação.
Até a promulgação da Lei do SNUC não existia, no ordenamento jurídico, nenhum pre-
ceito que estabelecesse, com precisão, o conceito de Unidade de Conservação, e esta falta
prejudicava a tutela que tais áreas reclamavam. (MILARÉ, 2013, p. 1206). Assim, encontra-se
definindo no artigo 2º, inciso I da Lei nº 9.985/00 o conceito de Unidades de Conservação:

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Art. 2o Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I - unidade de
conservação: espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo
as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legal-
mente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação
e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se
aplicam garantias adequadas de proteção; (BRASIL, 2000).

Portanto, para a configuração jurídico-ecológica de uma unidade de conservação deve


haver: relevância natural; o caráter oficial; a delimitação territorial; o objetivo conservacionista;
e o regime especial de proteção e administração. (MILARÉ, 2013, p. 1206).
Tais unidades de conservação dividem-se em grupos e categorias com finalidades
distintas (quadro 1), as de proteção integral visam a “manutenção dos ecossistemas livres
de alterações causadas por interferência humana, admitido apenas o uso indireto dos seus
atributos naturais;”, enquanto que as de uso sustentável preveem a “exploração do ambiente
de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos
ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos, de forma social-
mente justa e economicamente viável;” (BRASIL, 2000, p. 1).

Figura 1. Categorias das Unidades de Conservação: Proteção Integral e Uso Sustentável.

Fonte: Adaptado de: Lei nº 9.985, 2000.

Após a criação das unidades de conservação há a obrigatoriedade de implantação de


plano de manejo em unidades de conservação, devendo este ser elaborado em um prazo
de cinco anos a partir da data da criação da unidade (BRASIL, 2000). Para Milaré (2013, p.
1233) o “Plano de Manejo vem a ser o documento que mapeia e define regras de uso de
cada unidade [...].”, ou, na linguagem do legislador:

Art. 2o Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: [...] XVII - plano de
manejo: documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos
gerais de uma unidade de conservação, se estabelece o seu zoneamento e
as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos natu-
rais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da
unidade; (BRASIL, 2000).

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Assim, o Plano de Manejo consiste em verdadeiro regulamento destinado a disciplinar
as atividades a serem incentivadas, controladas, limitadas e proibidas em cada uma das
áreas delimitadas pelo zoneamento. (MILARÉ, 2013, p. 1234), sendo que sua obrigatoriedade
em tempo razoável decorre de sua importância fundamental para a tutela do bem ambiental
que a unidade de conservação objetiva proteger (BRASIL, 2009).
Ponderando a complexidade da implantação do Plano de Manejo e considerando as
questões que envolvem a sua elaboração, o Poder Executivo editou o Decreto nº 4.340/02,
que regulamenta a Lei nº 9.985/00, onde o Plano de Manejo encontra disposição em capí-
tulo próprio. Tal Decreto prevê em seu artigo 16 que “O Plano de Manejo aprovado deve
estar disponível para consulta do público na sede da unidade de conservação e no centro
de documentação do órgão executor.”.
Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi analisar os registros referentes a implan-
tação do Plano de Manejo nas Unidades de Conservações integrantes do Bioma Amazônia,
nas três esferas administrativas, quais sejam, federal, estadual e municipal, incluindo os dois
grupos classificatórios das Unidades de Conservação, Proteção Integral e Uso Sustentável.

MATERIAL E MÉTODOS

Espacialmente a pesquisa delimita-se a identificação dos Planos de Manejo nas


Unidades de Conservação integrantes do Bioma Amazônia, o qual é composto por oito
Estados, são eles Acre; Amapá; Amazonas; Mato Grosso; Maranhão; Rondônia; Roraima;
e Tocantins (figura 2), possuindo 49,29% do total da área do território brasileiro.

Figura 2. Mapa dos biomas brasileiros.

Fonte: Adaptado de: Programa de Monitoramento do Desmatamento dos Biomas Brasileiros por Satélite – PMDBBS, 2014.

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O estudo em questão utilizou para a sua consecução a pesquisa qualitativa e quantitati-
va, sendo que o levantamento das informações foi realizado através da coleta dos dados nos
através da coleta dos dados nos relatórios das Unidades de Conservação do Ministério do
Meio Ambiente, especificamente no Cadastro Nacional de Unidades de Conservações. Os da-
dos foram analisados quanto a identificação das Unidades de Conservação que tiveram
implantado o Plano de Manejo e quais já ultrapassaram o prazo de implantação, avaliando
quais as esferas administrativa possuem maior eficácia na gestão de tais unidades.
A pesquisa de cunho documental também será adotada para a compreensão das
principais leis e declarações que regem a criação, implantação e gestão das Unidades de
Conservação, bem como a elaboração do Plano de Manejo, a saber: a Lei nº 9.985/00 e
do Decreto nº 4.340/02. Os documentos descritos serão analisados à luz das implicações
quando da ausência da implantação do Plano de Manejo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Contemporaneamente o Brasil possui 1883 Unidades de Conservação distribuídas


em três esferas administrativas: 887 federais; 763 estaduais; 183 municipais. Tais unidades
estão fracionadas por biomas e recortes brasileiros (tabela 2), os quais são agrupados por
localização geografia, o que, de certa forma, corresponde a divisão das regiões brasileiras.

Tabela 2. Unidades de Conservação e Recortes Brasileiros por bioma e esfera administrativa.

Unidades de Conservação por Esfera Administrativa


Biomas Total por Bioma
Federal Estadual Municipal
Bioma Amazônia 164 135 8 307
Bioma Caatinga 72 44 0 116
Bioma Cerrado 177 153 10 340
Bioma Mata Atlântica 416 403 159 978
Bioma Pampa 12 4 2 18
Bioma Pantanal 13 8 0 21
Recorte Marinho 33 16 4 53
Totais 887 763 183 1833
Fonte: Adaptado de: Ministério do Meio Ambiente, 2014.

Visualiza-se que a esfera administrativa federal destaca-se quanto á implantação de


Unidades de Conservação, perfazendo sozinhas 48,4% do total das unidades brasileiras,
seguindo tem-se as estaduais com 41,6% das unidades e distante das esferas citadas encon-
tra-se as unidades municipais com apenas 10%. Embora haja discrepância entre o número de
Unidades de Conservação implantadas por cada ente a Constituição Federal de 1988 consa-
grou no artigo 23 o princípio do federalismo cooperativo, que fixou normas para a cooperação
entre os entes federativos: União, Estados, Distrito Federal e Municípios (MILARÉ, 2013).

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Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios: [...]
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, ar-
tístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios
arqueológicos; [...]
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas
formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; (BRASIL, 1988).

A Lei nº 9.985/00 disciplina sobre a competência para criação de Unidades de


Conservação nas esferas administrativas federais, estaduais e municipais, nesse sentido o
artigo 6º prevê as competências de gestão e atribuições do Sistema Nacional de Unidades
de Conservação da Natureza, dispondo que serão órgãos executores os estes federativos.

Art. 6o O SNUC será gerido pelos seguintes órgãos, com as respectivas atri-
buições: [...] III - órgãos executores: o Instituto Chico Mendes e o Ibama, em
caráter supletivo, os órgãos estaduais e municipais, com a função de imple-
mentar o SNUC, subsidiar as propostas de criação e administrar as unidades
de conservação federais, estaduais e municipais, nas respectivas esferas de
atuação (BRASIL, 2000).

Especificamente, quanto ao Bioma Amazônia (tabela 3) constatou-se que, do total de


307 Unidades de Conservação que integram o Bioma Amazônia, 75,5% não possuem o
respectivo Plano de Manejo, e assim, apenas 24,5% cumprem o disposto na Lei nº 9.985/00
quanto a sua implantação no prazo máximo de cinco anos da criação da respectiva unidade.

Tabela 3. Plano de Manejo nas Unidades de Conservação do Bioma Amazônia.

Esfera Administrativa Possui Plano de Manejo Não possui Plano de Manejo


Esfera Federal 35 129
Esfera Estadual 27 108
Esfera Municipal 1 7
Totais 63 244
Fonte: Adaptado de: Ministério do Meio Ambiente, 2014.

A não existência do Plano de Manejo possui implicações previstas nas normas regula-
mentadoras das Unidades de Conservação, assim há um real prejuízo tanto a própria unidade
como em maior grau para as populações residentes na respectiva unidade, considerando
que é o documento técnico mediante o qual se estabelece as normas que devem regula-
mentar o uso da área e o manejo dos recursos naturais, incluindo a exploração comercial
de produtos e sub-produtos. Para Machado (205, p. 796) “O plano de manejo, na prática,
será a lei interna das unidades de conservação.”.

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Quadro 1. Implicações da ausência do Plano de Manejo.

Norma Implicação da ausência do Plano de Manejo

- Art. 27. As unidades de conservação devem dispor de um Plano de Manejo. [...]


○ § 1o O Plano de Manejo deve abranger a área da unidade de conservação, sua zona de amor-
tecimento e os corredores ecológicos, incluindo medidas com o fim de promover sua integração
à vida econômica e social das comunidades vizinhas.
Lei nº 9.985/00 ○§ 4o O Plano de Manejo poderá dispor sobre as atividades de liberação planejada e cultivo
de organismos geneticamente modificados nas Áreas de Proteção Ambiental e nas zonas de
amortecimento das demais categorias de unidade de conservação [...].
Art. 28. São proibidas, nas unidades de conservação, quaisquer alterações, atividades ou modalidades
de utilização em desacordo com os seus objetivos, o seu Plano de Manejo e seus regulamentos.
- Art. 26.  A partir da publicação deste Decreto, novas autorizações para a exploração comercial de
produtos, subprodutos ou serviços em unidade de conservação de domínio público só serão per-
Decreto nº 4.340/02
mitidas se previstas no Plano de Manejo, mediante decisão do órgão executor, ouvido o conselho
da unidade de conservação.

Fonte:Adaptado de: Lei nº 9.985, 2000 e Decreto nº 4.340, 2002.

A inexistência de plano de manejo alude na carência do principal instrumento de plane-


jamento e de gestão ambiental, inviabilizando assim, a consecução dos objetivos alvitrados
quando da criação da unidade de conservação. Portanto, segundo Brasil (2009, p. 16) “[...]
pode-se afirmar que a falta do plano de manejo se traduz na ausência do principal instru-
mento de gestão da unidade de conservação, o que implica uma atuação funcional limitada,
parcial e insuficiente.”.
Analisando os artigos 4º e 5º da Lei nº 9.985/00, que definem os objetivos e diretrizes
das Unidades de Conservação, verifica-se que tais dispositivos revelam que tanto os ob-
jetivos quanto as diretrizes das unidades de conservação giram em torno de duas ações
primordiais, quais sejam, a preservação do meio ambiente e o uso sustentável dos recursos
naturais, sendo que estas devem ser obrigatoriamente disciplinadas pelo plano de manejo,
portanto, a ausência do plano de manejo impede o alcance dos objetivos das unidades de
conservação e a obediência à suas diretrizes (BRASIL, 2009).

CONCLUSÕES

A pesquisa constatou que existem no Brasil 1883 Unidades de Conservação distribuí-


das em três esferas administrativas: 887 federais; 763 estaduais; 183 municipais, sendo
que a esfera administrativa federal tem se destacado quanto á implantação de Unidades de
Conservação, perfazendo sozinha 48,4% do total das unidades brasileiras, o que demonstra a
discrepância do número de Unidades de Conservação implantadas por entes políticos, pois a
Lei nº 9.985/00 dispõe que quanto a competência para criação de Unidades de Conservação
as três esferas administrativas, federais, estaduais e municipais, serão órgãos executores.
Verificou-se quanto ao Bioma Amazônia constatou-se, que 75,5% do total das Unidades
de Conservação que integram o Bioma Amazônia não possuem o respectivo Plano de Manejo,

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ou seja, apenas 24,5% cumprem o disposto na Lei nº 9.985/00 quanto a implantação do
Plano de Manejo no prazo máximo de cinco anos após a criação da respectiva unidade.
O estudo concluiu que os conteúdos dos dispositivos legais analisados revelam que
tanto os objetivos quanto as diretrizes das unidades de conservação giram em torno de
duas ações primordiais: a preservação do meio ambiente e o uso sustentável dos recursos
naturais, sendo que estas devem ser obrigatoriamente disciplinadas pelo plano de manejo,
portanto, a ausência do plano de manejo impede o alcance dos objetivos das unidades de
conservação e a obediência à suas diretrizes.

REFERÊNCIAS
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1988. Acesso em 7 de mar. 2014. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
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2. ______. Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do


Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras provi-
dências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm>. Acesso
em: 14 de ago. 2012.

3. ______. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I,
II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conser-
vação da Natureza e dá outras providências. Acesso em 20 de fev. 2014. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9985.htm>.

4. ______. Ministério Público Federal (Procuradoria da República de Guaratinguetá/SP).


Inquérito Civil Público n° 1.34.029.000070/2009-52. Autor: Ministério Público Federal.
Réu: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Guaratinguetá, 13
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5. ______. Ministério do Meio Ambiente. Cadastro nacional de Unidades de Conser-


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6. COUTINHO, Leopoldo Magno. O conceito de bioma. Acta Bot. Bras. [online]. 2006,
vol.20, n.1, pp. 13-23. ISSN 0102-3306.

7. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Mapa de biomas


e de vegetação. Acesso em 8 de mar. 2014. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/
home/presidencia/noticias/21052004biomashtml.shtm>.

8. MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 13ª ed. São Paulo:
Editora Malheiros.

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10. PROGRAMA DE MONITORAMENTO DO DESMATAMENTO DOS BIOMAS BRA-
SILEIROS POR SATÉLITE – PMDBBS. Apresentação. Acesso em 8 de mar. 2014.
Disponível em: <http://siscom.ibama.gov.br/monitorabiomas/index.htm>.

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08
Mulheres rurais: o protagonismo feminino
nas feiras livres de Santa Maria RS

Thiago Kader Rajeh Ibdaiwi Melissa Medeiros Braz


Faculdade SOBRESP Universidade Federal de Santa Maria - UFSM

Leandro da Silva Roubuste Vanessa dos Santos Nogueira


Universidade Federal de Santa Maria - UFSM Faculdade SOBRESP

Andrea Cristina Dorr


Universidade Federal de Santa Maria - UFSM

'10.37885/221110815
RESUMO

O presente estudo tem como objetivo verificar a produção de conhecimentos nas áreas hu-
manas e sociais sobre as questões de gênero no contexto rural, a partir de uma percepção
crítica. Tendo em vista que a preocupação teórica com o gênero como uma categoria analítica
só emergiu no fim do século XX e estava ausente nas principais abordagens da teoria social
formuladas até o século XVIII e o começo do século XX, como destacam os estudos feitos
por Scott (1995). Cabe destacar que muitas vezes as mulheres são estereotipadas. Nesse
cenário, o Estado tem uma relação ambivalente com as mulheres, considerando aspectos
fragmentados da vida e da sociedade, em alguns casos são pobres e vulneráveis, em outros
são apenas mães responsáveis pela sobrevivência das crianças ou ainda somente cidadãs
com alguns direitos, mas raramente de modo amplo e com todas essas variáveis. Assim foram
realizadas sete (7) entrevistas com mulheres que trabalham em uma feira livre na cidade
de Santa Maria-RS. Ao analisarmos a temática de gênero no contexto rural, busca-se um
posicionamento não só ético ou político, busca-se compreender o que está faltando, que é
uma forma de conceber a “realidade social” em termos de gênero, levando em consideração
a heterogeneidade e a diversidade, bem como a singularidades presentes nos contextos
rurais. Assim, o presente estudo pretende-se aprofundar os conhecimentos dos contextos
rurais em suas especialidades, de modo compreender as condições e os estilos de vida das
mulheres no contexto rural. Em síntese, o estudo foi realizado a partir de um levantamento
de campo com mulheres que vivem no contexto rural e que possuem atividades comerciais,
nesse caso que trabalham em conjunto com seus familiares em feiras livres, visando analisar
suas condições de trabalho e seu estilo de vida.

Palavras-chave: Mulheres, Gênero, Contexto Rural, Desigualdades.


INTRODUÇÃO

Vivenciamos uma sociedade com grupos divididos por questões políticas, religiosas
e morais e ao mesmo tempo que luta por reconhecimento e desenvolve mecanismos de
cooperação social e desenvolvimento de políticas públicas baseadas em equidade (RAWLS,
2003). Nesse movimento histórico, coexistem e sobrevivem a busca e o entendimento de
sociedade estável de bem viver, as representações sociais e uma memória coletiva que
atravessa a história da nossa sociedade marcada pela violência.
Nesse cenário de violência, no âmbito do contexto rural, ao pensar o ser mulher no
campo busca-se na categoria de gênero referência para compreender a constituição da
mulher no contexto rural a partir das seguintes perguntas: como é produzida essa violência?
Como vem sendo mantida ao longo da história? Como é possível reverter esse cenário de
violência? Esses questionamentos são um convite para mobilizar saberes, produzir sentido
e buscar alternativas para qualificar a vida das mulheres campesinas.
Tendo em vista que a preocupação teórica com o gênero como uma categoria analítica
que só emergiu no fim do século XX e estava ausente nas principais abordagens da teoria
social formuladas até o século XVIII e o começo do século XX como destacam os estudos
feitos por Scott (1995), pode-se considerar que as questões de gênero oportunizam “[...] um
meio de decodificar o significado e de compreender as complexas conexões entre várias
formas de interação humana.” (SCOTT, 1995, p. 88).  A intenção é demarcar o lugar de onde
se está falando, dada a vasta produção teórica referente a essa temática.
“Entende-se que gênero é uma construção social que, no senso comum, confunde-se
com sexo biológico e com uma representação binária entre homem-mulher, feminino-mascu-
lino, feminismo-machismo, azul-rosa, sexo frágil-sexo forte e afins. Diante desse cenário, é
imperativo, então, contrapor-se a esse tipo de argumentação pauta em dicotomias. É neces-
sário demonstrar que não são propriamente as características sexuais que definem gênero,
mas a forma como essas características são representadas ou valorizadas, aquilo que se diz
ou se pensa sobre elas que vai constituir, efetivamente, o que é feminino ou masculino em
uma dada sociedade e em um dado momento histórico. Para que se compreenda o lugar e
as relações de homens e mulheres numa sociedade, importa observar não exatamente seus
sexos, mas sim tudo o que socialmente se construiu sobre os sexos (LOURO, 2009, p. 21).”
Ao considerar “[...] que as palavras têm história, ou melhor, que elas fazem história, o
conceito de gênero […] está ligado diretamente à história do movimento feminista contem-
porâneo” (LOURO, 2009, p. 14). As questões de gênero se apresentam hoje com diversas
vertentes, indo do materialismo-histórico às tecnologias de gênero, passando por uma ética
do cuidado. Tais questões nos fazem pensar se lutamos por um mundo onde todos tenham
os mesmos direitos ou o direito de ser diferente, especialmente o de viver plenamente com

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a sua singularidade. Para refletir a questão de gênero, recorre-se às indagações feitas por
Louro (2009): se as diferentes instituições e práticas sociais são constituídas pelos gêne-
ros (e também os constituem), isso significa que essas instituições e práticas não somente
“fabricam” os sujeitos como também são, elas próprias, produzidas (ou engendradas) por
representações de gênero, bem como por representações étnicas, sexuais, de classe, etc. 
Diante desse contexto, o presente ensaio tem como problemática de estudo responder
ao seguinte questionamento: quais são as condições e os estilos de vida das mulheres no
contexto rural? Tal problema nos remete aos objetivos do estudo, que versam: (1) analisar
as condições e os estilos de vida das mulheres no contexto rural, com base nas percepções
das feirantes entrevistadas; (2) identificar as condições de trabalho e valorização; e (3) des-
crever a importância da mulher no contexto rural. 
O ser humano é um ser cultural que se dá na relação com outros seres e atribui sig-
nificados à sua atuação no mundo. Neste sentido, o ser humano é um ser que se produz
e é produzido na cultura. Tendo isto em mente, os estudos de gênero não procuram negar
os fatores biológicos, mas afirmar que a biologia não pode servir como fator que define o
destino social de todas as pessoas em uma determinada sociedade.

Mercado de trabalho, cultura e gênero

Nas seções que se resenham a seguir, falamos sobre o lugar, o espaço no qual obser-
varemos o gênero se constituindo e sendo constituído por terceiros, o mercado de trabalho;
assim, avançamos para os Estudos Culturais, na forma de um dispositivo de compreensão
da produção de gênero a partir dos movimentos de comportamento e aculturação. Ao passo
que estabelecemos o lugar e a cultura das quais intentamos à observação do gênero femi-
nino em atividade, passamos a definir gênero, cuja composição epistemológica baseia-se
nos elementos norteadores das seções: lugar e cultura.

A entrada e o crescimento da mulher no mercado formal de trabalho

Desde o início da civilização, as mulheres sempre ocuparam papeis de subordinação


social, sofrendo discriminações e sendo exploradas, muitas vezes trabalhando para além
de seus limites físicos em casa e no trabalho, recebendo salários menores que o dos ho-
mens (NASCIMENTO,2011). De acordo com Nascimento (2011), várias questões sociais
despontaram após a Revolução Industrial do século XVIII, principalmente a proposição de
que se fosse preservada a dignidade das pessoas no mercado de trabalho. Contudo, se-
gundo o autor, de 1970 aos dias atuais, o período de flexibilização das leis trabalhistas vem
surgindo gradativamente.

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Segundo explica Nascimento (2011), depois da Revolução Industrial, os efeitos do
capitalismo e das condições sociais foram sentidos com mais intensidade, trazendo o em-
pobrecimento dos trabalhadores, com famílias atingidas pela mobilização da mão de obra
da mulher nas fábricas. Com isso, as diferenças entre as classes sociais foram observadas
“de tal modo que o pensamento humano não relutou em afirmar a existência de uma séria
perturbação ou problema social” (NASCIMENTO, 2011, p. 34).
Durante o processo de industrialização, o trabalho feminino se tornou preferência pelos
empresários, pelo baixo custo da sua mão de obra. Isso mostra que, embora a mulher estives-
se contribuindo de forma positiva no mercado de trabalho, ainda assim ela era desvalorizada
tanto na sociedade quanto nas relações de trabalho, acentuando as desigualdades de gênero.
Sobre essas desigualdades, Araújo e Mourão (2012) destacam que a discriminação
da mulher no mercado de trabalho ocorre de várias maneiras, dentre estas: a desigualdade
no acesso ao emprego; desigualdade quanto às oportunidades de trabalho, na formação
profissional e em relação ao assédio moral sofrido nos ambientes de trabalho, onde as
mulheres são com frequência as principais vítimas. As autoras também indagam que esses
preconceitos ocorrem quando as mulheres se inserem em atividades e profissões que são
consideradas tipicamente masculinas.
Considerando que historicamente a sociedade tenha se caracterizado como predomi-
nantemente machista, ganhar destaque profissional sempre foi muito difícil para as mulhe-
res, pois além de todos os preconceitos quanto a sua capacidade no trabalho, ainda tinham
que lidar com as comparações com o gênero masculino. A reivindicação das mulheres por
oportunidades iguais no mercado de trabalho, por melhores salários e, acima de tudo, por
respeito, é antiga, mas ainda não totalmente alcançada devido à herança de um sistema
patriarcal, no qual a mulher é naturalmente caracterizada por enfrentar dificuldades para
trabalhar e ganhar seu próprio dinheiro.
No entanto, novos tempos chegaram e as lutas por direitos iniciados no século passa-
do pelas mulheres que acreditavam em seus potenciais começam aos poucos a consentir
que as mulheres hoje conquistem seu lugar no mundo do trabalho. Mesmo com a falta de
incentivos, o público feminino é cada vez mais crescente no mercado de trabalho e vem
se tornando mais competitivo. Além de as mulheres se mostrarem mais empenhadas, se
destacando no que fazem, elas também possuem como característica natural, uma maior
sensibilidade e comprometimento, maior empatia e vontade de ajudar, características que
se tornam um diferencial para o sucesso (FERNANDES; CAMPOS; SILVA,2013).
A primeira lei de proteção à mulher no mercado de trabalho teve seu início a partir do
Decreto n. 21.417-A, de 1932. Com o passar dos anos, foram surgindo leis no Brasil com o
objetivo de proteger a mulher trabalhadora, para que esta mulher tivesse mais segurança

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no seu trabalho e tendo consciência de que seus direitos seriam devidamente garantidos.
Segundo Nascimento (2011), antigamente as mulheres eram obrigadas a se submeter aos
homens, e não existia uma lei exclusivamente para elas - como qualquer cidadão, elas podiam
trabalhar como empregadas a partir dos 14 anos. Aos 18 anos a mulher adquiria capacidade
plena e não precisava mais de autorização de um responsável para trabalhar. O art. 446
da CLT concedia ao responsável entre 18 e 21 anos a rescisão do seu contrato de traba-
lho quando lhe acarretasse prejuízos de ordem física e moral, como também precisava da
autorização do marido a mulher casada. Mas tal dispositivo foi anulado pela lei 7.855 de
1989, ao revogar parte da CLT sobre o trabalho da mulher, afastou a proibição legal da sua
atividade em ambiente insalubre, com periculosidade, a jornada noturna, o trabalho na cons-
trução civil e em minas e subsolo, com o que a política tutelar foi substituída pela isonomia
de tratamento legal com o homem.
Atualmente, pela nossa Constituição Federal em seu art. 5°, inciso I, homens e mulhe-
res são iguais em seus direitos e deveres. A Lei do Trabalho, em seu capitulo III, estabelece
normas específicas para a proteção à mulher, do art. 372 ao art. 400, tais como: nos anúncios
de emprego, é proibido fazer referência à sexo, cor, idade ou situação familiar, exceto quando
for imprescindível para a natureza da atividade; são proibidas revistas íntimas, exames ou
solicitação de atestados com o intuito de comprovar gravidez ou esterilidade, tanto na ad-
missão como para a permanência no emprego; com relação ao conforto e higienização nos
locais de trabalho, os mesmos devem dispor de bancos, vestuários e armários individuais.
Nos locais em que trabalham até 30 mulheres, é obrigatório ter um local apropriado onde
seja permitido amamentar o filho até os 06 meses de idade, e a mulher terá direito a dois
descansos de meia hora cada um, durante a jornada de trabalho.
Quanto aos locais de trabalho, o art. 390, CLT (1943) traz a seguinte informação: “Ao
empregador é vedado empregar a mulher em serviço que demande o emprego da força
muscular superior a 20 (vinte) quilos, para o trabalho contínuo, ou 25 (vinte e cinco) quilos
para trabalho ocasional”. Já a Constituição de 1988 em seu art. 5°, dispõe do seguinte: é livre
o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais
que a lei estabelecer. Neste sentido, entende-se que toda a mulher desde que respeitado o
exposto na constituição federal, pode atuar em qualquer área de trabalho.
Com relação à proteção à maternidade, é garantida a licença de 120 dias, também
sendo facultado à gestante o rompimento do contrato de trabalho se for prejudicial a sua
gestação. Esse afastamento dará início a licença à maternidade, tendo direito ao salário pago
pelo Instituto Nacional de Previdência Social (INSS) (COLOCAR REF da CLT). Em caso
de aborto espontâneo, comprovado por atestado médico, a mulher terá direito ao descanso

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remunerado de 2 semanas. Martinez (2017) argumenta que a licença maternidade é regida
por regras trabalhistas e o salário maternidade por regras previdenciárias.
Segundo Barros (2010), a discriminação não ocorre somente devido à maternidade. Ela
é decorrente também de um preconceito de origem cultural, em que ainda a mulher é vista
como alguém frágil e inferior ao homem. A autora afirma também que, na medida em que
se diminua o preconceito cultural, também ele diminuirá nas relações de trabalho. A legisla-
ção brasileira, em relação à proteção ao trabalho feminino, tem como foco maior proteger a
maternidade, como se o legislador presumisse que a maternidade é algo previsível e indis-
pensável na vida da mulher. Além disso, pode-se interpretar que não é só o Estado e sim a
sociedade que ainda enxerga a criação dos filhos unicamente responsabilidade da mulher.

Produção cultural e mulher

Stuart Hall, um dos autores que analisam os estudos culturais, afirma que a importância
de tais estudos está relacionada com a crítica à cultura tradicional, elitista e segregacionista,
que emerge desse campo de análise. Segundo Costa, Silveira e Sommer (2003), para os
estudos culturais: as sociedades capitalistas são lugares da desigualdade no que se refere a
etnia, gênero, gerações e classes, sendo a cultura o locus central em que são estabelecidas
e contestadas tais distinções. É na esfera cultural que se dá a luta pela significação, na qual
os grupos subordinados procuram fazer frente à imposição de significados que sustentam
os interesses dos grupos mais poderosos.
A partir dessa visão, os autores alertam que “[...] a cultura não pode mais ser conce-
bida como acumulação de saberes ou processo estético, intelectual ou espiritual” (COSTA;
SILVEIRA; SOMMER, 2003, documento on-line), concepção de cultura vigente do século
XVIII até o século XX. A partir do século XXI, houve uma expansão de tudo o que estava
associado à cultura, que passou, então, a ser compreendida como um vasto campo, que
afeta e é constituído por todos aspectos da vida social, conforme apontam Costa, Silveira
e Sommer (2003).
É nesse emaranhado cultural que devem ser colocadas as discussões sobre as desi-
gualdades, baseadas em diferenças de classe social, raça, gênero e orientação sexual, que
estão cada vez mais presentes nos debates atuais. Enfatizando essa ideia, Silva (1999, p.
14) argumenta que “[...] as relações de gênero moldam os sujeitos sociais que compõem
o cenário da diversidade sexual e são categorias de análise que devem ser levados aos
diversos espaços públicos a fim de fomentar discussões e debates a respeito dos mesmos”.
Corroborando a ideia de que as relações de gênero delineiam os sujeitos sociais, Silva
(1999, p. 133) situa a produção de gênero na esfera cultural como: 

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[...] um campo de produção de significados no qual os diferentes grupos so-
ciais, situados em posições diferenciais de poder, lutam pela imposição de
seus significados à sociedade mais ampla. [...] A cultura é um campo onde se
define não apenas a forma que o mundo deve ter, mas também a forma como
as pessoas e os grupos devem ser.

As diferenças que a cultura confere em relação ao gênero são abordadas por Silva
(2013), que aponta que, desde o nascimento, meninos e meninas são direcionados(as)
para uma determinada posição, com respectivas funções. Ou seja, a produção do gênero
acontece mediante práticas sociais, que, por sua vez, recebem um significado. Tais práticas
obedecem a um padrão de comportamento que os gêneros devem seguir de acordo com a
sua cultura. Os papéis sociais de meninos e meninas começam em casa, mas seguem na
escola, onde ambos convivem, mas possuem diferentes espaços territoriais. Por exemplo,
os espaços lúdicos cobrem a função de determinar quais atividades pertencem ao menino
e quais pertencem à menina.
A autora oferece duas respostas plausíveis para essa questão. Na primeira, afirma
que o gênero da escola é feminino “[...] porque é, primordialmente, um lugar de atuação de
mulheres - elas organizam e ocupam o espaço, elas são as professoras; a atividade escolar
é marcada pelo cuidado, pela vigilância e pela educação, tarefas tradicionalmente femininas”
(LOURO, 2009, p. 88). Na segunda resposta, defende que “[...] a escola é masculina, pois ali
se lida, fundamentalmente, com o conhecimento - e esse conhecimento foi historicamente
produzido pelos homens” (LOURO, 2009, p. 89).
Nas várias formas de interação humana, cabe destacar que muitas vezes, as mulheres
são estereotipadas. Nesse cenário o Estado tem uma relação ambivalente com as mulheres,
considerando aspectos fragmentados da vida e da sociedade, em alguns casos são pobres
e vulneráveis, em outros são apenas mães responsáveis pela sobrevivência das crianças
ou ainda somente cidadãs com alguns direitos, mas raramente de modo amplo e com todas
essas variáveis. As atividades relacionadas ao trabalho não são desconectadas das tarefas
domésticas e da esfera reprodutiva e de maternidade (ANZORENA, 2017). 
O relatório “O Progresso das Mulheres no Mundo 2019-2020: Famílias em um mundo
em mudança”, organizado pela ONU Mulheres, nos diz que aproximadamente a cada cinco
mulheres, uma sofreu alguma violência física ou sexual de seus companheiros nos últimos
12 meses. (ONU, 2020). O relatório destaca sobre o Brasil a relevância do trabalho da mulher
na agricultura, sendo que muitas vezes seu trabalho passa despercebido. Nesse sentido,
o documento descreve a utilização de diário de bordo, utilizado pelas mulheres do campo
para descrever seu trabalho, essa atividade tem refletido no reconhecimento do trabalho,
elas puderam usar os diários de bordo para obter o DAP (Declaração de Aptidão ao Pronaf).

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Carvalho (2019), destaca que: “A violência contra a mulher é um fenômeno social com-
plexo, persistente, atravessado por múltiplas dimensões, sejam elas sociais, culturais, simbó-
licas, psicológicas, entre outras” (CARVALHO, 2019, p.166). Sobre as mulheres no contexto
rural a autora nos diz que: “O movimento de reconhecer as mulheres como trabalhadoras
rurais é bem recente e ainda é muito marcado por tensões que fazem emergir as vulnerabi-
lidades as quais elas se encontram submetidas no meio rural.” (CARVALHO, 2019, p.167).
A violência contra mulheres no contexto rural é atravessada por esferas entrelaçadas
e complexas. Uma dessas esferas é a questão econômica, sobre essa questão pode-se
pensar que: “[...] a pobreza econômica não pode ser automaticamente ligada à produção
da violência” (BUENO; LOPES, 2018. p. 03). 
Entende-se que somente a redistribuição de renda não garante o reconhecimento do
outro, do entendimento da dignidade da pessoa humana independente de gênero. Nesse
sentido: “A luta contra a pobreza material de uma parte da população deve sempre acompa-
nhar a luta contra a pobreza espiritual e moral de outras partes dela” (PINZANI, 2012, p. 98). 
Cynthia Sarti argumenta que reduzimos a categoria pobreza de modo polarizado quan-
do realizamos uma distinção entre “nos” e “eles”, entre a classe média e os pobres. Para a
autora, a pobreza representa “[...} uma categoria relativa. Qualquer tentativa de confiná-la
a um único eixo de classificação, ou a um único registro, reduz seu significado social e sim-
bólico” (SARTI, 2007, p. 42). Nesse sentido: 

[...] mulheres rurais pobres potencialmente possuem menores possibilidades de


exercício da cidadania, de luta pelos seus direitos, verificada, por exemplo, na
ausência ou limitações da autonomia financeira para sustentar-se ou mesmo
em percorrer as enormes distâncias entre as suas residências e os serviços
estatais de atenção, acolhimento e controle social, raros no interior dos estados,
sendo predominantemente urbanos. (BUENO; LOPES, 2018. p. 05). 

Metodologia

Este capítulo tem a finalidade de descrever os procedimentos metodológicos adotados


para alcançar o objetivo proposto, que é analisar as condições e os estilos de vida das mu-
lheres no contexto rural, com base nas percepções das feirantes entrevistadas na cidade
de Santa Maria – RS. A pesquisa classifica-se, quanto aos seus objetivos, como descritiva,
devido a proposta de descrever características de determinada população ou fenômeno ou
estabelecimento das relações entre as variáveis (GIL, 2002).
Os estudos descritivos têm como objetivo investigar a natureza do fenômeno estuda-
do, sua forma e características. Desta forma, o pesquisador busca conhecer e interpretar a
realidade sem interferir no seu andamento (MARCONI; LAKATOS, 2000). Segundo Andrade
(2006), neste tipo, os fatos são analisados, registrados, classificados e interpretados, sem

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que o pesquisador interfira neles, ou seja, deve ser estudado e não manipulado pelo investi-
gador. O autor afirma também que uma característica da pesquisa descritiva é a técnica pa-
dronizada da coleta de dados, realizada por meio de entrevistas questionários e observação.
Em relação à abordagem do problema, a pesquisa de natureza qualitativa é a mais
indicada, pois é possível fazer análises mais profundas quanto ao fenômeno estudado, tes-
tandocaracterísticas não observadas por meio de um estudo quantitativo (RAUPP, BEUREN,
2003). De acordo com Michel (2015), na pesquisa qualitativa, a finalidade não é mostrar
opiniões ou pessoas, o objetivo é explorar o espectro de opiniões e as diferentes represen-
tações sobre o assunto em estudo.
A pesquisa foi realizada na cidade de Santa Maria- RS, onde foram entrevistadas 7
(sete) mulheres que estão inseridas no contexto rural e que exercem atividades econômicas
em conjunto com seus afazeres domésticos. Assim, para este estudo foi utilizada a amostra-
gem não-probabilística por conveniência, em que a seleção dos sujeitos da população de-
corre do julgamento do entrevistador ou do pesquisador (MATTAR, 2005). Segundo Vergara
(2005), esse procedimento é utilizado para estudos onde seus resultados não permitem uma
generalização estatística para a população, não definida em sua totalidade nesta pesquisa
em função da dificuldade do acesso.
Dessa forma, foram selecionadas sete mulheres de forma aleatórias as quais concorda-
ram a participar da entrevista. Para resguardar suas identidades, as mulheres tiveram seus
nomes substituídos por uma sequência alfanumérica conforme descrito nos resultados. Para
a coleta de dados foi utilizado um roteiro semiestruturado de entrevistas, elaborado em duas
partes: Parte I, contendo 07 questões de perfil das entrevistadas, como idade, escolaridade,
estado civil, entre outras; e Parte II, contendo 4 questões abertas que abordam os fatores
sobre relacionados a condições de trabalho e o estilo de vida.
As entrevistas foram gravadas e transcritas com a permissão das entrevistadas, para
posteriormente catalogar e selecionar as falas conforme o necessário. Após estes procedi-
mentos, foi realizado o tratamento e interpretação dos dados, por meio da análise de conteúdo
como estratégia de análise de dados. Segundo Bardin (2011, p.47), a análise de conteúdo
é um “conjunto de técnicas de análise das comunicações, que procura obter procedimentos
sistemáticos e objetivos para a descrição do conteúdo das mensagens”.
Bardin (2011) indica que a utilização da análise de conteúdo tem três fases funda-
mentais: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados – a inferência e a
interpretação. A primeira fase, a pré-análise, pode ser identificada como a fase de organi-
zação, um esquema de trabalho que deve ser preciso, com procedimentos bem definidos,
porém, flexíveis. A segunda parte, a fase de exploração do material, consiste numa etapa
que vai possibilitar ou não a riqueza das interpretações, e nela são escolhidas as unidades

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de codificação, classificação, categorização. A terceira fase do processo está destinada ao
tratamento dos resultados, onde o pesquisador procura resultados significativos e válidos,
devendo ir além do conteúdo dos documentos (BARDIN, 2011).

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 

A primeira etapa da análise dos dados compreende a descrição e análise do perfil das
07 mulheres feirantes. A média geral de idade encontrada entre as entrevistadas foi de 38
anos, sendo a mínima de 26 anos e a máxima de 53 anos.
As demais variáveis (Escolaridade, Estado Civil, Tempo que Trabalha nas Feiras, Carga
Horária e Número de Filhos) podem ser visualizadas na Tabela 1.
Tempo que traba- Dias da Semana que
Entrev Idade Escolaridade Estado Civil Religião Filhos
lha em feiras trabalha em feiras
Ensino Méd.
F1 36 União estável 5 anos 4 dias Católica 1 filho
Incompleto
Ensino Méd.
F2 31 Casada 3 anos 5 dias Católica 2 filhos
Completo
Ensino Sup.
F3 26 União estável 2 nos 2 dias Católica Nenhum
Incompleto
Ensino Méd.
F4 34 União estável 5 anos 4 dias Católica 2 filhos
Completo
Ensino Fund.
F5 53 Casada 11 anos 6 dias Católica 4 filhos
Completo
Ensino Méd.
F6 46 Casada 9 anos 4 dias Espirita 4 filhos
Completo
Ensino Méd.
F7 44 Casada 4 anos 5 dias Católica 2 filhos
Completo
Média 38.57 - - 5,57 4,28 1,17

A primeira parte da entrevista foi referente aos dados de perfil das entrevistadas (Tabela
1). A Parte II do roteiro de entrevistas teve como objetivo elencar os fatores sobre as con-
dições de trabalho e a valorização de seu trabalho. Na primeira questão, as entrevistadas
foram questionadas sobre suas condições de trabalho e suas rotinas. Os resultados podem
ser analisados em suas falas:

“trabalhar com o que a gente foi acostumada a ver nossos pais fazendo é
muito gratificante, mesmo que o trabalho seja puxado na propriedade é muito
gratificante ver que nossos produtos são elogiados pelos compradores. A vida
rural é muito diferente da cidade, mas gosto muito, não me vejo trabalhando
em outro local, já trabalho na feira há mais de cinco anos (Feirante 1)”.

As territorialidades que perpassam o ser feirante estão no tempo e espaço da feira


marcadas por saberes e práticas que advêm das práticas familiares, conforme é percebido na
fala da feirante. Porém as adversidades, as quais as mulheres feirantes, passam, necessitam

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de um olhar mais atendo das políticas públicas, a falta de uma infraestrutura adequada é
fortemente levantada em suas falas.

“não é fácil ser feirante, ficamos expostos na rua, no calor ou no frio e muitos
clientes não valorizam o esforço do produtor rural, só querem preço baixo e
não sabem como é difícil a vida rural. Aprendi com meu marido que me trouxe
para trabalhar com ele nas feiras aqui em Santa Maria (Feirante 2)”.

Embora constatado que as mulheres estão na feira comercializando há muitos anos,


esse “estar” quase não é notado nas pesquisas acadêmicas e, dessa forma, trazer a mulher
como sujeito da pesquisa é um mecanismo de superação dessa invisibilidade histórica a
qual permeia a forma de ser e estar das mulheres feirantes. Kuhn (2010, p.1) afirma que
“Escrever uma história das mulheres em muitos aspectos implica falar em ‘invisibilidade’.”

“nossas condições de trabalho nas feiras não são favoráveis, existem locais que
não possuem infraestrutura adequada, aqui mesmo na praça dos bombeiros,
quando precisamos ir ao banheiro temos que pedir em bares ou no quartel
para usarmos. Nossos governantes precisam ver com outros olhos o nosso
papel na sociedade, pois sem o trabalho do produtor rural não há alimentos.
Apesar de todos esses fatores gosto muito do que faço (Feirante 3)”.

“fácil não é nossas condições de trabalho, mas é preciso, muitos não sabem
de todos as dificuldades que passamos para estar aqui as 7h da manha com
tudo organizado, e nem sempre conseguir vender tudo que se produz, sendo
necessário tentar ficar mais tempo para vender o máximo que dá (Feirante 4)”.

A sociabilidade construída na feira é uma forma de criar laços de afetividade revelada


pela observação de seus cotidianos, como revela a fala de uma das feirantes: “meu marido
sempre vinha sozinho para as feiras, mas com o aumento das vendas tive que vir acompa-
nhar ele, eu fico em uma feira e ele em outra, não é fácil lidar com a lida da casa e com a
feira, mas precisamos, pois os filhos não quiseram seguir esse caminho, sou muito feliz em
conversar com as pessoas, já fiz muitas amizades aqui na feira (Feirante 5)”.

“eu adoro esse movimento todo, participo de duas feiras, fico terça e sexta
aqui (bombeiros) e segunda e quinta em outras feiras, sempre organizo minhas
coisas para facilitar meu tempo aqui na feira, converso com um com outro e
assim vou vendendo meus produtos, tem gente que não gosta de ficar em
baixo das barracas, eu já adoro, fiz muita amizade com meus clientes e eles
me motivam a vir sempre (Feirante 6)”.

“eu acompanho meu filho mais velho, pois o trabalho é pesado para uma
pessoa só, assim ajudo ele, as condições dos locais não são muito boas não,
tem dias que precisamos limpar a praça antes de montar as coisas, muita
sujeira (Feirante 7)”.

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De acordo com Aguiar e Carvalho (2017) os trabalhadores feirantes desenvolvem suas
atividades em condições de trabalho que os tornam vulneráveis a impactos sociais, econô-
micos, psicológicos e físicos inerentes à atividade informal que desempenham. A atividade
de feirante teve origem no século IX na Europa, nos mercados locais organizados com a
finalidade de suprir a população com produtos de primeira necessidade (PIRENNE, 1936).
Em sua gênese, a busca pela atividade de feirante consistia em legado familiar, que,
no século XXI, passou a acontecer como alternativa ao desemprego, e como forma de com-
plementação da renda familiar. Em que pese sua importância socioeconômica e cultural,
as feiras livres, em geral, apresentam problemas relativos a saneamento deficiente, falta
de estrutura física adequada, no que se refere à dimensão espacial e equipamentos de
uso coletivo, comercialização de produtos não permitidos, falta de segurança, entre outros
(COUTINHO,2006).
A inserção da mulher em um espaço que, por muito tempo foi considerado masculi-
no, fez com que a mulher assumisse dois papeis, trabalhando fora de casa e cuidando da
casa, sendo sobrecarregada com dupla jornada de trabalho. A profissionalização feminina e
masculina não ocorre da mesma forma, pois o homem procura o trabalho com sua principal
atividade, enquanto a mulher determina sua carreira tentando encaixar a vida familiar, seus
sonhos e objetivos. (SOUZA; CORVINO; LOPES, 2012).
É possível perceber que boa parte das entrevistadas sente sua rotina cansativa e
algumas delas ainda possuíam filhos menor de idade ou familiares que necessitam de seu
apoio, exercendo dupla jornada de trabalho. Silva (2013) diz que as mulheres sofrem dia-
riamente com uma rotina estressante lidando com o trabalho empresarial e o cuidado com
a casa, pois se dedicam ao trabalho e quando chegam em casa elas ainda tem que lidar
com as tarefas domésticas.
Ainda, algumas entrevistadas relataram que seus empregos eram fonte de conflitos
(F1) ou que não se sentiam devidamente remuneradas pelas suas atribuições (F2 e F3).

“Minha rotina é tensa, cuido da casa, dos filhos e ajudo no cultivo em nossa
propriedade, não sobra muito tempo para outras atividades, estou sempre
envolvida com alguma coisa, mas tem que ser assim, senão não conseguimos
oferecer algo melhor pros nossos filhos (F2)”.

Além dos dias de feira, as tarefas da casa são bem puxadas, acordo bem cedo senão
não dou conta de tudo não. Minha filha de dezesseis anos também ajuda na lida da casa e
os mais velhos ajudam o pai (F6)”.
Segundo o estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) (NAÇÕES UNIDAS
BRASIL, 2018), as mulheres são mais propensas a estarem desempegadas do que os ho-
mens, e na maior parte dos países elas possuem menos chance de estarem participando

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do mercado de trabalho. De acordo com o relatório “Perspectivas sociais e de emprego no
mundo: tendências para mulheres 2018”, a taxa global de participação das mulheres no
trabalho em 2018ficou em 48,5%, 26,5 pontos abaixo da taxa dos homens. Além disso, a
taxa de desemprego global das mulheres em 2018 ficou em 6%, aproximadamente 0,8 ponto
percentual maior do que a taxa dos homens (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2018).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve como objetivo geral identificar as condições de trabalho e os


estilos de vidas das mulheres rurais que exercem atividades remuneradas em feiras livres na
cidade de Santa Maria – RS. Os dados da pesquisa revelaram que a totalidade das mulheres
entrevistadas são casadas ou com união estável, todas possuem filhos e acompanham seus
maridos nas feiras, para incrementar a renda familiar.
As maiores queixas das entrevistas estão relacionadas as condições dos locais onde
são realizadas as feiras livres, a falta de infraestrutura afeta diretamente suas condições
físicas e psicológicas. Além do excesso de trabalho, o que fica evidente em suas falas.
Conciliar os afazeres domésticos (o cuidado com a casa, alimentação dos filhos e de-
mais membros da família) com as atividades laborais exercidas nas feiras, requer dessas
mulheres um condicionamento físico e mental muito bom. Pois suas rotinas são densas e re-
querem sempre atenção, e mesmo assim ainda há uma grande desvalorização em seu papel.
Elas são feirantes, mães, esposas, donas de casa e empreendedoras, pois buscam
constantemente formas de melhorar suas rotinas, mesmo cansadas não se entregam facil-
mente. É possível verificar em seus depoimentos muita felicidade apesar de tanto cansaço,
são mulheres que buscam seus espaços e melhores condições para seus filhos. São exem-
plos de batalhadoras que mesmo com as intemperes do tempo, da infraestrutura conseguem
erguer a cabeça e continuar dia a dia.
Fica evidente que ainda existem muitas lacunas a serem preenchidas, sejam elas pelo
machismo ainda predominante na sociedade, seja pelo excesso de atividades ou principal-
mente por falta de políticas públicas que possam estimular ainda mais a participação dessas
mulheres em nossa sociedade.
A revista Mulheres Empreendedora traz que é importante discutir a questão dos desa-
fios do empreendedorismo feminino, para que as novas mulheres encontrem um ambiente
cada vez mais favorável as suas iniciativas (OSÓRIO, 2016). Isso é um trabalho que requer
respeito, empatia e valorização da mulher em todos os espaços da nossa sociedade.
A mulher vem desenvolvendo um importante papel na sociedade com sua inclusão
crescente no mercado de trabalho. De acordo com dados do IPEA - Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (2019) a quantidade de mulheres inseridas no mercado de trabalho

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entre 17 e 70 anos de idade passou de 56,1% em 1992 para 61,6% em 2015, com uma
projeção de elevação dessa taxa em 2030 para 64,3%, sendo que esta representa 2,7
p.p. superior à de 2015 e 8,2 p.p. à de 1992. (IPEA, 2019, p. 10). Com essa tendência de
crescimento pode-se dizer que a mulher tende a romper cada vez mais os paradigmas dos
estereótipos de gênero e visa imprimir marcas expressivas na sua identidade ingressando
no mundo dos negócios.
Ainda que a mulher enfrente diversos tipos de ameaças pelo fato de “ser mulher”, ela
tem ocupado espaços e se destacado em seu ambiente de trabalho. Nas feiras livres e de
mercado, elas encontraram uma forma de fazer negócio e enfrentar limites conquistando o
respeito das pessoas.
Encontramos largamente em nossa literatura, discussões sobre a invisibilidade dada
às competências femininas e o processo de transformação dessas em ideologias das fra-
gilidades e da sujeição culturalmente imposta. Não obstante, a ideia de vulnerabilidade
estimulada pelo patriarcalismo social, para além das agruras cotidiana enfrentadas pelas
mulheres, em algumas situações, fora metamorfoseado como esteio ao abrigo germinan-
te dos vários modos de resistência que no ser feminino eclodiram como energias para a
construção das identidades e territorialidades, dentre as quais encontramos aqui nas feiras
livres de Santa Maria – RS.

REFERÊNCIAS
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cultivares, variedades, raças e recursos silvestres. Cultivar, p. 21-26, 2017.

2. ANDRADE, M. M. Introdução a metodologia do trabalho científico. 5. ed. São Paulo:


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09
O aluno com altas habilidades/superdotação
em escola ribeirinha na Amazônia

José Adnilton Oliveira Ferreira


Universidade de Brasília - UNB

Cleuma Roberta de Souza Marinho


Universidade da Amazônia - UNAMA

Elisângela Rodrigues da Silva


Universidade Federal do Amapá - UNIFAP

'10.37885/220809840
RESUMO

Neste estudo investigou-se a inclusão de um aluno com altas habilidades/superdotação em


escola ribeirinha na Amazônia Amapaense. Para tanto realizou-se uma pesquisa baseada
na abordagem qualitativa, a partir da seguinte questão de pesquisa: Como tem se dado a
inclusão escolar de um aluno com altas habilidades/superdotação em uma escola ribeirinha
no município de Mazagão no Estado do Amapá? A pesquisa teve como objetivo geral analisar
o processo de inclusão de alunos com altas habilidades/superdotação do 1º ao 5º ano do
Ensino Fundamental. O lócus da pesquisa foi uma Escola ribeirinha localizada no município
de Mazagão no Estado do Amapá. Para a coleta dos dados foram realizadas entrevistas
semiestruturadas, observação e registro fotográfico. Os participantes da referida pesquisa
foram um professor da turma do aluno com altas habilidades/superdotação, um professor
do Atendimento Educacional Especializado, um aluno com altas habilidades/superdotação,
um coordenador pedagógico e o diretor da escola. Os dados coletados foram analisados a
partir da análise de conteúdo, considerando a definição da categoria apriorística: inclusão
escolar, assim como outras categorias intermediárias e categorias finais que no caso são as
não apriorísticas que emergiram do referencial teórico adotado na pesquisa e da investigação
empírica. Os resultados apontaram que existem dificuldades no processo de inclusão deste
público relacionadas a vários aspectos como a formação de professores e de toda equipe
escolar, de infraestrutura, de organização das salas de aula, entre outros, bem como, de-
monstraram a importância de pesquisas neste universo para o fortalecimento de questões
teórico-práticas relativas à inclusão.

Palavras-chave: Inclusão Escolar, Altas Habilidades/Superdotação, Amazônia Amapaense,


Educação Ribeirinha.
INTRODUÇÃO

O contexto da investigação científica quanto à área de altas habilidades/superdotação


(AH/S) infelizmente demonstra muita escassez na Educação do Brasil, embora os precursores
da área tenham pesquisado e divulgado seus trabalhos a partir das décadas de 1920-1930.
No caso, Europa e América do Norte, o tema Altas Habilidades/Superdotação (AH/S) já
esteja sendo pesquisado desde os finais do século XIX, no Brasil, já se passaram mais de 80
anos desde sua primeira abordagem pelos pesquisadores e as investigações neste campo
ainda são bastante escassas. Altas habilidades/superdotação é uma área recente de estudo,
mas durante todo esse período de falta de investimentos na área, muitos talentos podem ter
sido perdidos, desestimulados e encobertos. Tornam-se então pertinentes novas pesquisas
como forma de contribuir para um correto atendimento a tais alunos (PEREZ, 2003).
É necessário pensar que, para desenvolver um trabalho pedagógico com os alunos
visando prover as potencialidades, estimulando e orientando as habilidades, é preciso cap-
tar o que eles diferenciam como estimulante, ouvir atentamente o que eles expressam
como interesse, inclinação e gosto, e encaminhar para esta direção, garantindo o envol-
vimento do aluno.
A opção por investigar a inclusão do aluno com altas habilidades/superdotação no
processo educacional em uma escola do campo, dá-se pelos poucos estudos referentes à
temática, assim como as condições de trabalho do professor, o acesso à escola pelos alunos
e as especificidades regionais, econômicas, sociais e culturais que caracterizam as escolas
do campo na Amazônia Amapaense.
A partir dessas indagações temos a seguinte questão de pesquisa: Como tem se dado
a inclusão escolar de um aluno com altas habilidades/superdotação em uma escola ribeirinha
da Amazônia Amapaense?
Para responder a ela definimos como objetivo geral: Analisar o processo de inclusão
de um aluno com altas habilidades/superdotação em uma Escola ribeirinha no município de
Mazagão no Estado do Amapá.
Por conseguinte temos como objetivos específicos: Conhecer a estrutura física e pe-
dagógica da escola, assim como aspectos relacionados ao processo de ensino aprendiza-
gem do aluno com altas habilidades/superdotação; Verificar as metodologias empregadas
pelos professores no processo de ensino aprendizagem do aluno com altas habilidades/
superdotação; Identificar as práticas de inclusão/exclusão do aluno com altas habilidades/
superdotação realizadas na escola; e, Observar o aluno com altas habilidades/superdotação
nas suas interações sociais com os demais alunos em sala de aula.
Este estudo busca trazer contribuições teóricas e práticas significativas para entender/
compreender se ocorre o processo de inclusão. As contribuições teóricas referem-se às

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descobertas feitas a partir da investigação da prática pedagógica do professor e da estrutura
física e pedagógica da escola para atender os alunos com AH/S. No tocante às contribuições
práticas, essas descobertas poderão subsidiar mudança na prática docente, bem como,
sugerir melhorias na estrutura física e no projeto político pedagógico da escola e também
contribuir, de maneira científica, com o meio acadêmico.
Nas Conclusões buscamos relacionar alguns pontos levantados durante toda a investi-
gação partindo do problema de pesquisa, as hipóteses e os objetivos buscando desenvolver
algumas considerações e encaminhamentos para questão da inclusão do aluno com AH/S
na escola pesquisada mediante as análises e discussões dos resultados da pesquisa.

DA EXCLUSÃO À INCLUSÃO

A concepção de uma escola acolhedora para todos fundamenta-se, entre outros marcos,
na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 (ONU, 2015) especificamente no
seu artigo 26º incisos I e II, que dispõe que todo ser humano tem direito à instrução, que a
instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e
do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. Nesse
período amplia-se o crescimento de movimentos sociais que lutam por uma sociedade mais
democrática, entre outros, fortalecendo as críticas ao modelo homogeneizador escolar e as
práticas de segregação e categorização de estudantes vigente até então.
Por volta da década de 1970, uma proposta educacional denominada “Integração”, pro-
tagonizou um movimento de integração social dos indivíduos que apresentavam deficiência,
até então alijados do sistema de ensino, cujo objetivo era inseri-los em ambientes escola-
res. A partir de então, o conceito de normalização estende-se por toda a Europa e América do
Norte. É no Canadá que se pública, em 1972, o primeiro livro acerca deste princípio, sendo
seu autor Wolfensberger, que define este princípio como o uso dos meios normalizantes
do ponto de vista cultural, para estabelecer e/ou manter comportamentos e características
pessoais o mais normalizante possível, e o mais próximo daqueles oferecidos à pessoa
sem deficiência. Porém, com uma concepção de normalidade que deveria ser buscada para
que os alunos pudessem, aos poucos, participar do convívio social. “Tal proposta focava no
sujeito com deficiência à necessidade de mudança e não se preocupava de forma efetiva
com a mudança do ambiente para lidar com as diferenças” (SASSAKI, 1997).
A inclusão, em educação, traz consigo um objetivo, que é aceitar a diferença na escola
e possibilitar a todos os estudantes o acesso ao conhecimento. A escola inclusiva parte de
princípios distintos da proposta da integração, que foi caracterizada no final do século XX,
para estimular a aceitação da sociedade, posta em prática nas escolas regulares que somente
recebia o aluno, sem a preocupação em realizar modificações na estrutura do sistema como

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um todo. Dessa forma, cresce o interesse por uma escola inclusiva, que atenda a todos de
maneira equânime.

Esse princípio foi documentado pela primeira vez em 1979 no México, porém,
o movimento pela inclusão que representou um grande avanço na Educa-
ção Especial, iniciou-se nos Estados Unidos em 1981 na Assembleia Geral
das Nações Unidas, que culminou com a criação de setores específicos para
cuidar dessas questões nos ministérios públicos de vários países, no qual
foi estabelecido o ano internacional das pessoas portadoras de deficiências
(CHICON, 1999. s/p).

A partir deste marco, a inclusão escolar deve buscar verdadeiramente uma educação
de qualidade para todos e tem como objetivo. Reconhecer, acolher e respeitar as diferen-
ças no ambiente escolar e possibilitar o acesso, a permanência e a aprendizagem de todos
os alunos na escola, sendo necessário o rompimento com o pressuposto da integração,
que preconizava o direito da pessoa com deficiência ao espaço comum da vida em socie-
dade, mas este não previa a mudança no ambiente escolar efetivamente para o trabalho
com as diferenças.
Contrapondo-se ao paradigma da integração, a inclusão escolar manifesta-se em
uma estrutura que deve considerar os pressupostos do que é a valorização, participação e
aceitação de pessoas que possuem necessidades específicas, considerando-as em suas
diferenças, suas características individuais e os seus reais interesses, reconhecendo-os
como parte do grupo, respeitando suas diferenças e colaborando de maneira positiva para
a superação de seus desafios. Ao contrário da integração, a inclusão escolar tem em vista
a participação de todos os alunos numa estrutura que considera as características, os inte-
resses e os direitos de cada um.
A Constituição Federal de 1988, (BRASIL, 1988), por meio do artigo 205, garante o
direito à educação a todos os indivíduos. Quando a constituição se refere ao termo “todos
os indivíduos”, subtende-se que não há distinção. No artigo 206 é ressaltada a igualdade
de condições para acesso e permanência na escola. Observa-se então que, a Constituição
garante a todos o direito objetivo de educação sem distinção de raça, sexo, cor, origem
ou deficiência.
Reforçando a ideia de inclusão em uma educação escolar para todos, podemos citar
a importância da Declaração Mundial de Educação para Todos, elaborada em Jomtien,
(BRASIL, 1990) na Tailândia, a qual evidencia promover as transformações do sistema
educacional, com intuito de assegurar o acesso e permanência de todos na escola, para que
se possam sanar os altos índices de crianças, adolescentes e jovens sem escolarização.
De acordo com Werneck (2000) o conceito de educação inclusiva surge em 1994 na
Conferência Mundial de Necessidades Educativas Especiais: Acesso e Qualidade, resultando

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na Declaração de Salamanca, (UNESCO, 1994, p. 10) “com o objetivo de fornecer diretrizes
básicas para a formulação e reforma de políticas e sistemas educacionais de acordo com o
movimento de inclusão social”. Esta declaração é considerada um dos principais documentos
que visam à inclusão social.
No entanto, para que tal processo se efetive é preciso que sejam identificadas as de-
mandas que o aluno apresenta em sua interação no ambiente escolar, e proporcionar-lhe
as condições necessárias para sua aprendizagem. A Declaração de Salamanca (UNESCO,
1994, p. 10) deixa claro esse aspecto quando afirma que “todas as crianças [...] têm direito
fundamental à educação e que a elas deve ser dada a oportunidade de obter e manter um
nível aceitável de conhecimentos”. Na Declaração de Salamanca ficou estabelecido que:

Toda criança tem direito fundamental à educação, e deve ser dada a oportu-
nidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem e toda criança
possui características, interesses, habilidades e necessidades de aprendiza-
gens que são únicas. Qualquer pessoa portadora de deficiência tem o direito
de expressar seus desejos com relação à sua educação, tanto quanto estes
possam ser realizados. Pais possuem o direito inerente de serem consultados
sobre a forma de educação mais apropriada às necessidades, circunstâncias
e aspirações de suas crianças (BRASIL, 2006. p. 33).

O princípio básico da Declaração de Salamanca é que a escola comum é um espaço


determinante para o combate à exclusão e a discriminação, visando romper com as bar-
reiras programáticas, possibilitando a efetivação das atitudes inclusivas, proporcionando a
equiparação de oportunidades dentro do contexto escolar.
Embora a ideia de uma escola para todos, sem nenhuma forma de discriminação, por
princípio deva considerar as características individuais dos alunos e, portanto, promover
respostas para contemplá-las, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96
(BRASIL, 1996) preconiza que a população considerada da Educação Especial e que, por-
tanto, tem acesso ao atendimento educacional especializado, definindo em seu Artigo 58, “a
educação especial como modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na
rede regular de ensino, para os educandos com deficiência, transtornos globais do desenvol-
vimento e altas habilidades ou superdotação”. Continuando em seu artigo 59 que os sistemas
de ensino devem assegurar aos alunos currículo, métodos, recursos e organização para
atender as suas necessidades, assegura também a terminalidade específica àqueles que não
atingiram o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude das deficiên-
cias; e assegura a aceleração dos superdotados para conclusão do programa escolar. Define
também, dentre as normas para a organização da educação básica, no artigo 24 inciso V, a
“possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante a verificação do aprendizado” e

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“[...] oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado,
seus interesses, condições de vida e trabalho, mediante cursos e exames” (art. 37).
A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
(BRASIL, 2008) conceitua a Educação Especial como modalidade transversal aos níveis,
etapas e outras modalidades de ensino, além de estabelecer como público alvo da Educação
Especial (PAEE) alunos com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação. Tal política disponibiliza o atendimento educacional especializado
- AEE e os recursos próprios desse atendimento, orientando os alunos e professores quanto
à utilização dos mesmos nas turmas comuns do ensino regular.
A Resolução CNE/CEB, nº 4 (BRASIL, 2009), no seu artigo 4º, considera pú-
blico-alvo do AEE:

I – Alunos com deficiência: aqueles que têm impedimentos de longo prazo de natureza
física, intelectual, mental ou sensorial.
II – Alunos com transtornos globais do desenvolvimento: aqueles que apresentam um
quadro de alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento nas re-
lações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras. Incluem-se nessa definição
alunos com autismo clássico, síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno de-
sintegrativo da infância (psicoses) e transtornos invasivos sem outra especificação.
III – Alunos com altas habilidades/superdotação: aqueles que apresentam um poten-
cial elevado e grande envolvimento com as áreas do conhecimento humano, isoladas
ou combinadas: intelectual, liderança, psicomotora, artes e criatividade.

Para outras características de diferenças que também requerem ações específicas


da escola, a resolução acima citada prevê que a Educação Especial deve atuar na escola
para possibilitar as respostas necessárias, que não se limite o processo inclusivo apenas
aos alunos público alvo educação especial, mas, principalmente, a todos os sujeitos que
foram e ainda são historicamente excluídos que vivem na invisibilidade dentro de uma so-
ciedade excludente.
Outro documento histórico, relevante que reforça a ideia de uma escola para todos é
a Declaração de Incheon, (UNESCO, 2015) elaborada na Correia do Sul/2015, que cha-
ma a atenção dos países para assegurar a educação inclusiva e equitativa da qualidade
educacional, dessa forma promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para
todos. Com essa visão, transformadora e universal de educação, buscam abordar os de-
safios globais da educação. A citada Declaração é inspirada por uma visão humanista da
educação, com base nos direitos humanos e na dignidade, na justiça social, na inclusão, na
proteção, na diversidade cultural, linguística e étnica, na responsabilidade e na prestação

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de contas compartilhadas, e reafirma que a educação é um bem público, um direito humano
fundamental e a base que garante a efetivação de outros direitos.
A Declaração de Incheon (2015) coloca o que é essencial para a paz, a tolerância,
a realização humana e o desenvolvimento sustentável. Reconhece a educação como ele-
mento-chave para se atingir o pleno emprego e a erradicação da pobreza e, reafirma a
necessidade de concentrar nossos esforços no acesso, na equidade e na inclusão, bem
como na qualidade e nos resultados da aprendizagem e no contexto de uma abordagem de
educação ao longo da vida.
Partindo desta breve reflexão e da seguinte afirmação de Carmo (2000, p.18) “a inclusão
é um assunto que deve ser refletido e investigado com muita precisão, já que a sociedade
pode estar criando uma nova modalidade: a de excluídos dentro da inclusão” é preciso que
reorganize a escola para que haja o processo de ensino-aprendizagem no que tange à in-
clusão escolar dos alunos da Educação Especial de forma realmente efetiva.

EDUCAÇÃO RIBEIRINHA: Desafios e Perspectivas frente à Inclusão

Segundo Molina e Freitas (2011) “Educação do Campo originou-se no processo de


luta dos movimentos sociais camponeses que lutam pela construção de uma sociedade sem
desigualdades e com justiça social”. A Educação Ribeirinha está inserida como uma das
modalidades da Educação do Campo, em que essa luta por educação faz parte de suas
estratégias de resistência que objetivam manter seus territórios de vida, trabalho e identi-
dade e surgiu como reação ao histórico conjunto de ações educacionais que mantiveram
precário o quadro de escolarização no campo e também contribuíram para aprofundar as
desigualdades sociais no território campesino.
A Educação Ribeirinha é um assunto que, nas últimas décadas, tem granjeado rele-
vante importância como uma forma de garantir o direito à educação da população ribeirinha.
Esta modalidade educacional é oriunda dos movimentos sociais de homens e mulheres que
consideram sua realidade social, econômica e política. Ou seja, ao discutir as mazelas da
população ribeirinha, inevitavelmente aborda-se a questão da Educação do Campo, nesse
movimento as lutas sociais por uma educação de qualidade devem ser consideradas.
O conceito de Educação do Campo que engloba a Ribeirinha é algo relativamente novo,
mas está em evidência, exatamente porque a corrente ideológica que ele busca é marcada
por contradições sociais bastante fortes. Caldart (2010) explica que a Educação do Campo
surgiu em certo momento e seu contexto histórico configura-se como sendo um movimento
de combate ao descaso imposto ao povo do campo (ausência de políticas para a educação
e de projetos de melhoria para a vida no campo) em que a Educação Ribeirinha faz parte.

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Cotidiano na educação ribeirinha tem várias peculiaridades como o transporte dos
alunos pelo rio no casco que é a canoa que chamam de casco, pois, é feito de madeira, não
é qualquer madeira que dá para fazer o casco, tem que ser uma resistente à água e que
não seja muito pesada. Conforme a foto 1 de acordo com Almeida (2010) o casco é como a
bicicleta do ribeirinho no rio, lago ou igarapé; ele o utiliza para pescar, passear, caçar, para
o lazer, visitar parentes, amigos, levar o filho para escola (como mostra a foto) e para fazer
outras atividades cotidianas.

Foto 1. Ribeirinho levando o filho para a escola no casco.

Fonte: Edielso M. M. Almeida, 2010.

Para entender a vida de um povo ribeirinho, primeiro é preciso saber que o Rio tem
papel vital na organização social, cultural, religiosa e econômica dos mesmos. Os rios são as
ruas, estradas, rodovias por onde se navega para ir à escola, à cidade e a outros lugares; do
rio se retira o peixe, o camarão, a lagosta, a água para beber, fazer comida, higiene pessoal
e da casa (ALMEIDA, 2016). Neste estudo, fizemos uma abordagem histórica referente à
constituição da população que vive às margens dos rios na Amazônia para, posteriormente,
situar a população amazônica.
O povo brasileiro, de acordo com Ribeiro (2006), é resultado do encontro do coloni-
zador com os índios e negros africanos, que deram origem a um povo mestiço, com traços
culturais distintos de suas matrizes formadoras.

A sociedade e a cultura brasileira são conformadas como variantes da versão


lusitana da tradição civilizatória europeia ocidental, diferenciadas por coloridos
herdados dos índios americanos e dos negros africanos. O Brasil emerge,
assim, como um renovo mutante, remarcado de características próprias, mas
atado geneticamente à matriz portuguesa, cujas potencialidades insuspeitadas
de ser e de crescer só aqui se realizariam plenamente (RIBEIRO, 2006, p. 18).

O brasileiro é marcado por características próprias, como afirma o autor, é um povo em


que a diversidade é o aspecto fundamental; para isso, a imigração, principalmente europeia,

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árabe e japonesa, bem como os vieses ecológico e econômico contribuiu significativamen-
te. O ecológico gerou paisagens humanas distintas nas quais as condições ambientais
obrigaram a adaptações como é o caso do sertão nordestino e da Amazônia, por exemplo.
Dentre as diversas identidades da Amazônia podemos focar neste estudo a vida ca-
bocla, considerada típica da Amazônia. Destacamos algumas imagens do modo de vida
cabocla e das características da realidade do ribeirinho da Amazônia nas fotos 2 e 5, que
retratam seu cotidiano e sua atividade econômica.

Foto 2. Realidade Ribeirinha – vivem às margens dos rios da Amazônia.

Fonte: Arquivos da pesquisa.

Foto 3. Ribeirinhos pescando – A pesca da subsistência.

Fonte: Arquivo da pesquisa.

A partir do contexto das imagens anteriores, pode-se entender um pouco do seu modo
de vida, onde a origem da população ribeirinha está atrelada ao processo de povoamento
da Amazônia. Segundo Bezerra Neto (2013), a apropriação pelos portugueses desta região
envolveu as diversas etnias indígenas, por meio de variadas estratégias de dominação,
assim como os colonizadores europeus e os escravos oriundos da África. Para o autor, “a
mestiçagem envolvia diversos segmentos sociais e étnicos da Colônia. A constituição de

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mocambos formados por índios, africanos, colonos brancos e mestiços de todos os tons
constituiu-se exemplo desta realidade” (p. 34).
Sobre este assunto afirma Rodrigues (2004, p. 23): “O biótipo característico do ribei-
rinho amazônida e seu modo de vida [...] são frutos da mescla de indivíduos de etnias e
culturas diferentes, que conformaram o processo histórico de formação territorial e popula-
cional”. Já Ribeiro (2006), ao abordar o processo de ocupação e constituição das populações
da Amazônia, conclui que a formação cultural deste povo está fundada nas mesmas matrizes
básicas citadas anteriormente pela migração oriunda do Nordeste ao final do século XIX e
no período de 1943 a 1945, motivada pela batalha da borracha.

As migrações nordestinas para a Amazônia sempre estiveram ligadas às


questões de conflitos no campo, coincidindo com os períodos de seca, e os
pequenos agricultores são os que primeiro sentem os efeitos da mesma. Além
de ser a maioria da população rural sertaneja, ela não tinha alternativa a não
ser migrar (SILVA, 2000, p. 48).

As classes multisseriadas espelham a diversidade e a heterogeneidade da população


campesina, atendendo crianças e jovens, com níveis de aprendizagem diferenciados, em
séries distintas em um único espaço. Tal fato demonstra a importância de se identificar os
saberes e as práticas dos docentes desta modalidade de ensino, visando superar as situa-
ções adversas encontradas no processo de ensino, que decorrem das condições de trabalho
docente e formação.
É comum encontrar os professores lecionando em turmas do 1º ao 5º ano, até mesmo
conjuntamente com alunos da Educação Infantil. “As classes multisseriadas são espaços
marcados predominantemente pela heterogeneidade, ao reunirem grupos com diferenças de
sexo, de idade, de interesses, de domínio de conhecimentos, de níveis de aproveitamento,
etc” (HAGE, 2005, p. 6).
Os acanhados programas criados no Brasil voltados para a Educação do Campo fo-
ram elaborados sem a participação de seu objeto direto, a população do campo (pequenos
agricultores, quilombolas, indígenas, pescadores, camponeses, assentados e reassentados,
ribeirinhos, povos de florestas, caipiras, lavradores, roceiros), sem que tivesse sua partici-
pação de forma direta e decisiva.

ALUNOS COM ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO: conceituação

O termo altas habilidades/superdotação faz referência a uma pessoa que possui habi-
lidade significativamente acima da média. Segundo estimativa da Organização Mundial de
Saúde (OMS/2014) existem de 3,5 a 5% de pessoas com AH/S no conjunto da população
universal. Definem-se altas habilidades/superdotação pela seguinte argumentação: [...], os

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termos “pessoas com altas habilidades” e “superdotação” são mais apropriados para designar
aquela criança ou adolescente que demonstra sinais ou indicações de habilidade superior em
alguma área do conhecimento, quando comparada aos seus pares (BRASIL, 2007, p. 27).
É importante descrever sobre a conceituação adotada para essa pesquisa, preconizada
nos dispositivos legais que utilizam terminologias que variam, tais como: altas habilidades
ou superdotação por estar em consonância com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional Nº 9394 (BRASIL, 1996), que foi alterada pela Lei Nº 12.796, em 4 de abril de 2013
(BRASIL, 2013a).
Anteriormente a essa mudança, a nomenclatura utilizada na legislação, e que ainda
aparece em muitas publicações é altas habilidades/superdotação, que será adotada frequen-
temente nesse estudo, por estar de acordo com a Política Nacional da Educação Especial
na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008).

MÉTODO

Diante deste contexto realizou-se a pesquisa partindo da seguinte questão problema:


Como tem se dado a inclusão escolar do aluno com AH/S em uma escola ribeirinha da
Amazônia Amapaense? O lócus da pesquisa foi uma escola ribeirinha1 pertencente ao
sistema de ensino do município de Mazagão no Estado do Amapá.
O problema e os objetivos propostos para a pesquisa levaram-nos a desenvolver uma
pesquisa de campo que se norteia por uma abordagem qualitativa. Dentre os tipos de pes-
quisa qualitativa, optou-se pelo Estudo de Caso, por compreender que atende aos objetivos
definidos neste estudo, que visam saber como se efetiva, de fato, a inclusão escolar de
alunos com AH/S no 3° ano do ensino fundamental I em uma escola ribeirinha no município
de Mazagão no Estado do Amapá.
A pesquisa qualitativa propicia o contato direto do pesquisador com o ambiente pes-
quisado. Na visão de Ludke e André (1986), “o estudo de caso é sempre bem delimitado,
devendo ter seus contornos claramente definidos no desenrolar do estudo”. [...] O interesse
incide naquilo que ele tem de único, de particular, mesmo que, posteriormente, venham a
ficar evidentes certas semelhanças com outros casos ou situações. O estudo de caso qua-
litativo possui, segundo André (2003, p. 18) as seguintes características: “desenvolve-se
numa situação natural, é rico em dados descritivos, tem um plano aberto e flexível e focaliza
a realidade de forma complexa e contextualizada”. Este tipo de pesquisa necessita de uma
imersão no contexto.

1 Escolas situadas às margens de rios, lagos ou igarapés.

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A pesquisa qualitativa na abordagem do estudo de caso necessitou do contato direto
por um período de tempo considerável para que se pudesse ter a vivência com o ambiente
investigado. Nesse período o investigador aplicou técnicas necessárias para a produção
de dados, considerando que Bogdan e Biklen (1994, p.48) nos afirmam que investigadores
qualitativos “frequentam os locais de estudo porque se preocupam com o contexto. Entendem
que as ações podem ser observadas no seu ambiente natural de ocorrência”.

PROCEDIMENTOS ÉTICOS

A pesquisa foi submetida à avaliação pelo Comitê de Ética da UNESP via Plataforma
Brasil com o Título: INCLUSÃO ESCOLAR? O ALUNO COM ALTAS HABILIDADES/
SUPERDOTAÇÃO EM ESCOLA RIBEIRINHA NA AMAZÔNIA da Instituição Proponente:
Faculdade de Ciências e Letras - UNESP - Campus Araraquara. Através da CAAE:
56083816.8.0000.5400 com a Situação do Parecer: Aprovado. Todos os participantes assi-
naram o termo de consentimento livre esclarecido (APÊNDICE 1º, 2º, 3º, 4º e 5º) em que cons-
tam todas as informações relacionadas à pesquisa e firmam o compromisso ético do estudo.

PARTICIPANTES

Os participantes da pesquisa foram um professor da turma em que estuda o aluno


com AH/S, o aluno com AH/S, o professor do AEE, o coordenador pedagógico e o diretor
da escola. A pesquisa previa a participação dos pais do aluno com AH/S, mas os mesmos
não concordaram em participar. No quadro a seguir são apresentadas as características
dos participantes da pesquisa.

Quadro 01. Caracterização dos participantes da pesquisa.


Experiência com Classes Formação
Participantes Tempo Magistério Especialização
Multisseriadas Educação Superior
Diretor 01 02 anos 02 anos Pedagogia Ensino religioso
Coordenador 01 01 ano 01 ano Pedagogia Gestão Escolar
Professor C Metodologia da Língua
02 anos 02 anos Pedagogia
(sala comum) Portuguesa
Professor AEE 06 anos 06 anos Pedagogia Não tem*
Aluno Idade/Sexo Série/ano Área/Identificação de AH/S Área-Interesse do aluno
Pedro (nome fictício) ** 08 anos/Masculino 3º Ano do E. F Lógica-matemática Robótica
Fonte: Arquivo da Pesquisa/Dados coletados nas entrevistas.

As seguintes observações conforme os asteriscos: *O professor do AEE não possui


especialização na área da Educação Especial que é comum nas escolas ribeirinhas da
Amazônia em virtude da falta de profissionais. **O referido aluno foi avaliado e identificado
em março de 2016 pelo Centro de Atividades de Alunos com AH/S em Macapá – AP, mas
não consta no Censo Escolar/INEP da referida escola pesquisada (BRASIL, 2016).

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INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

Pesquisas qualitativas, conforme Alves-Mazzotti (2002, p.163) “são multimetodológicas,


isto é, usam uma grande variedade de procedimentos e instrumentos para coleta de dados”.
Assim sendo, para a produção dos dados foram realizadas entrevistas semiestruturadas,
a observação in loco da prática pedagógica do professor da sala de aula regular e do AEE
e a fotografia.
Além da aplicação dos roteiros de entrevistas, fizemos a observação por meio dos
roteiros da prática pedagógica no cotidiano da sala de aula e do atendimento educacional
especializado da escola, com registro de diário de campo. Alves-Mazzotti (2002, p. 164)
elenca as vantagens atribuídas à observação enquanto técnica para produção de dados:

[...] a) permite checar na prática a sinceridade de certas respostas que, às ve-


zes, são dadas só para causar boa impressão; b) permite identificar comporta-
mentos não intencionais ou inconscientes e explorar tópicos que os informantes
não se sentem à vontade para discutir; c) permite o registro do comportamento
em seu contexto temporal-espacial.

Utilizou-se o registro fotográfico do contexto no qual se desenvolve a prática pedagógica


dos professores do aluno com AH/S. A fotografia produz um tipo de imagem que serve muito
bem como mediadora da realidade: uma forma de capturar os objetos e tornar desnecessária
a sua presença. Por ela, é possível conhecer lugares ou pessoas sem sair do lugar.
Wolff (2005) corrobora que existe certa maleabilidade entre os limites do objeto e
seu retrato e, embora tomemos a fotografia como o próprio objeto, é preciso que exista
também a diferenciação do que é fotografia e o que é realidade: estas não devem se as-
semelhar tanto para que a fotografia represente algo, seja uma referência, uma alusão ao
objeto. Em outras palavras, quando se trata da fotografia, tomamo-la como o objeto real,
mas sabemos que não o é.
Em relação aos professores e a escola investigada, realizamos a observação analítica
da prática pedagógica com dois (02) professores da pesquisa, no caso um da sala de aula
regular, e outro do atendimento educacional especializado (AEE) e com aluno AH/S.
As observações foram realizadas do início do mês de setembro, prosseguindo em outu-
bro e novembro de 2016, reiniciando em fevereiro, março, abril, e até o final do mês de maio
de 2017 com uma média de um encontro de observação por mês com duração de 03 (três
horas) diárias na sala de aula do professor regular, verificação e investigação da estrutura
física, administrativa e pedagógica e do professor do AEE, totalizando 07 encontros em um
período de 07 meses de pesquisa na escola campo. Para preservar o anonimato dos cinco
participantes, optamos por identificá-los como: Diretor. 01; Coordenador. 01; Professor. Sala
de aula Comum; Professor. AEE; Aluno nome fictício de Pedro.

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APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A partir dos dados definimos as categorias não apriorísticas: Formação continuada


sobre altas habilidades/superdotação; Acesso à escola, estrutura física, administrativa e
pedagógica da escola; Prática pedagógica em classes multisseriadas e interação social.
Procurou-se estabelecer um diálogo entre essas categorias finais e o referencial teórico.
Trabalhou-se com as falas dos sujeitos, no sentido de dar visibilidade aos seus discursos,
suas teorias, suas práticas, seus valores e costumes que emergiram na pesquisa de campo.

FORMAÇÃO CONTINUADA SOBRE AH/S

A seguir damos visibilidade à primeira categoria não apriorística, que é sobre a


“Formação continuada dos profissionais” que atuam na escola ribeirinha pesquisada, con-
siderando que a mesma deve ser pensada de forma macro não somente pelo professor de
sala de aula comum ou do atendimento educacional especializado, mas, necessariamente,
por todos profissionais da educação. Nesse caso, pensando em formação para os professo-
res que atuam ou atuarão na Educação Especial, parece-nos que os professores se formam
sem a devida preparação para o atendimento aos alunos com AH/S que estão nas escolas.
Entende-se que a formação continuada dos profissionais sobre AH/S, engloba um es-
pectro amplo de conhecimentos e habilidades frente ao processo de inclusão escolar desses
alunos. Os programas de capacitação devem reconhecer a importância da subjetividade e da
identificação desses sujeitos, isso implica, necessariamente, reconhecer um amplo contexto
de habilidades humanas, em consequência, definir propostas de atendimento, por meio de
programas de enriquecimento curricular, cujos processos de seleção não sejam restritos
somente a testes objetivos.

ACESSO À ESCOLA, ESTRUTURA FÍSICA, ADMINISTRATIVA E PEDAGÓGICA

A segunda categoria final, descrita como categoria não apriorística, “O Acesso à escola,
estrutura física, administrativa e pedagógica” e de que forma se mostram como implicadores
no processo de inclusão escolar dos alunos com AH/S em escolas ribeirinhas da Amazônia.
Cabe aqui retratar algumas informações contidas no roteiro de observação da es-
trutura física da escola investigada, para dialogar com as falas dos sujeitos da pesquisa e
reiterar as dificuldades encontradas no contexto da pesquisa. Como forma de conhecer a
instituição observou-se o espaço físico da escola e do seu entorno. Esta parte refere-se à
estrutura e organização física da instituição. Observação da parte externa do prédio, sua
fachada e adjacências.

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A estrutura do prédio é muito antiga em sua maior parte de madeira a escola
é limpa e arejada, mas é visível a precariedade da estrutura física que está
gasta pelo tempo, tem adaptações, necessitando urgentemente de uma refor-
ma no prédio que não tem climatização e sua instalação elétrica e hidráulica é
improvisada”. A fachada é antiga, tem uma rampa que desce para o rio, onde
os barcos ancoram. A escola localiza-se em área ribeirinha um pouco longe
do centro comercial de Mazagão. Descrevendo a parte interna, as portas e
janelas são bem antigas, com venezianas, seu terreno é pequeno não possui
quadra poliesportiva. (Roteiro de observação da estrutura física)

A foto 16 a seguir refere-se à imagem da frente parcial da escola ribeirinha pesquisada,


a foto 17 mostra a dificuldade de acesso pelo rio.

Foto 16. Frente parcial da escola ribeirinha pesquisada.

Fonte: Arquivo da Pesquisa.

Foto 17. Acesso para o Rio Mazagão.

Fonte: Arquivo da pesquisa.

As dificuldades da realidade das escolas ribeirinhas na Amazônia são inúmeras, pri-


meiramente por serem geograficamente isoladas, uma longe da outra e o acesso para essas
escolas nas comunidades ribeirinhas de Mazagão é praticamente quase todo pelo rio. No caso
da escola pesquisada só se consegue nesse porto, visto na foto anterior, é extremamente
difícil por se tratar de região Amazônica e a mobilidade das pessoas da zona urbana e até
mesmo dos ribeirinhos nos igarapés, rios e a mata torna-se fator dificultador.

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PRÁTICA PEDAGÓGICA EM CLASSES MULTISSERIADAS E INTERAÇÃO SOCIAL

Em continuidade à análise apresentou-se a categoria final “Prática pedagógica em


classes multisseriadas e interação social” em que está explicitada a forma como os ribei-
rinhos atuam, transformam e criam uma realidade que também os transforma e direciona
suas maneiras de agir e pensar, pois, ao transformar o ambiente na sua interação social,
sofrem os efeitos de sua própria transformação. Ainda referente à sua prática pedagógica
para o AEE com AH/S perguntou-se para o professor do AEE sobre: Ambiente do AEE e
da sala de aula comum e a demanda de atividades de ensino, experiências exploratórias, e
conseguiu-se a seguinte resposta:

Ambiente AEE e sala comum: Bem o caso do PEDRO, mostra-se produtivo na


sala, ele tem uma grande facilidade em Matemática mas dificuldade em outras
áreas mas ele já avançou bastante, mas devemos sensibilizar o professor do
ensino regular que é uma guerreira já que trabalha com classes multisseria-
das com crianças com tantas diferenças de idade e de escolaridade, então
é um grande desafio ainda ter um altas habilidades em sala, ainda com toda
essa precarização da escola, entendendo que tenhamos comprometimento
profissional mas devemos cobrar mais estrutura e recursos para desenvolver
o processo de ensino aprendizagem como um todo. (Professor AEE)

Demanda das atividades de ensino: Claro que devemos trabalhar o conhecimento que o
aluno tem, no caso do PEDRO utilizamos as fichas de atividades e o trabalho com o professor
da sala de aula regular onde trabalhamos com o enriquecimento curricular. (Professor AEE)
De acordo com as respostas do Professor AEE nas interrogações sobre Avaliação,
ambiente AEE e sala comum e as demandas de ensino no caso do aluno PEDRO, perce-
be-se a importante participação do Centro de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação
no diagnóstico e o apoio aos profissionais da escola pesquisada, já que esses professores
não dispõem dos recursos e dos materiais para o referido atendimento ao aluno com AH/S
e, a precariedade da realidade da classe multisseriada da escola do campo é impeditivo
para que se realize um trabalho pedagógico de qualidade com essas crianças da Educação
Especial, principalmente na prática com o aluno Pedro.

CONCLUSÕES

A análise de dados da investigação como um todo, por meio de teorizações pro-


gressivas, aponta que existem inúmeras discrepâncias entre o que se estabelece em ter-
mos legais mediante a política educacional da Educação Especial na perspectiva inclusiva
(BRASIL, 2008) e a realidade es­colar da escola ribeirinha estudada. Se, por um lado, no
contexto investigado são cumpri­dos alguns aspectos formais da legislação, por outro, ficam

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questionamentos quanto ao fato da escola pesquisada estar contribuindo efetivamente para
o pleno desenvolvimento do aluno com AH/S e atuando como suporte ao ensino inclusivo.
Os resultados referentes à análise da realidade inves­tigada mostram que essas dis-
crepâncias são impeditivas para que a escola em questão cumpra formalmente os requisi-
tos legais estabelecidos para a cons­trução de uma educação inclusiva, então elencamos
alguns elementos tais como a inexistência do papel/função da sala de AEE ou de recursos
multifuncionais, não ocorrendo verdadeiramente o trabalho de Atendimento Educacional
Especializado que não é desenvolvido em virtude de diversos fatores como falta de estrutura
física, administrativa, recursos humanos e pedagógicos que a Secretaria de Educação não
viabiliza para a escola em questão.
Cabe mencionar também o fato de não existir o professor especializado, que tenha a
formação apropriada para realização do atendimento educacional especializado, sendo que
a referida escola apresenta apenas um (01) aluno com AH/S. Os dados mostram que a sala
improvisada do AEE na referida escola campo da pesquisa apresenta-se fora de condições
e dos padrões para realização do trabalho pedagógico com alunos com AH/S.
O aluno Pedro com AH/S foco da pesquisa está matriculado regularmente no 3ºano
do ensino fundamental I, frequentando a sala de aula multisseriada, mas não ocorrem ver-
dadeiramente implementações e ações edu­cacionais inclusivas, nem qualquer trabalho
que o reconheça em suas reais potencialidades por falta de capacitação dos profissionais
da escola que não têm a devida formação para o trabalho com AH/S, impossibilitando as
práticas inclusivas e dificultando o trabalho pedagógico que não possibilita as ferramentas
de adaptações curriculares individuais para o AEE, fazendo com que essas dificuldades
provoquem a falta de acompanhamento pedagógico especifico para o aluno com AH/S.
Dessa forma, a partir dos resultados obtidos na entrevista e das observações da pes-
quisa, pode-se dizer que existe a necessidade urgente de refletir sobre os fundamentos
teóricos e práticos adotados em sala de aula multisseriadas da escola campo de pesquisa
sobre o enfoque de alunos com AH/S. Valendo dizer que a escola investigada e os profis-
sionais não estão em consonância com os processos de ensino e de aprendizagem para o
aluno que apresenta características de AH/S.

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O cará roxo (Dioscorea trifida) em uma
abordagem CTSA para o ensino de Ciências

Klenicy Kazumy de Lima Yamaguchi Pedro Augusto Barroso de Sena


Universidade Federal do Amazonas - UFAM Universidade Federal do Amazonas - UFAM

Helen de Oliveira Forero Tiago Maretti Gonçalves


Universidade Federal do Amazonas - UFAM Universidade Federal de São Carlos - UFSCAR

'10.37885/221010700
RESUMO

Objetivo: Apresentar o uso do tubérculo Amazônico cará roxo em uma abordagem Ciência-
Tecnologia-Sociedade e Ambiente (CTSA) para o ensino de Ciências. Métodos: Foi elabora-
do uma sequência didática utilizando o cará roxo nas quatro vertentes. 1) A composição do
cará roxo e a aplicação no ensino de Ciências como indicador ácido/base; 2) As tecnologias
envolvidas no processo de obtenção e beneficiamento; 3) A aplicação e a importância so-
cial desse turbérculo e 4) O meio ambiente e a sustentabilidade que envolvem o cará roxo.
Resultados: O uso do cará roxo e as atividades propostas envolvem experimento, refle-
xão cultural, social e econômica com o tema, utilizando a contextualização e a valorização
dos conhecimentos regionais dos alunos. Conclusão: O uso sustentável de uma matéria
prima amazônica poderá contribuir de forma significativa para o aprendizado e a formação
crítica dos alunos.

Palavras-chave: Dioscorea Trifida, Ensino de Ciências, Contextualização, Amazônia.


INTRODUÇÃO

O cará roxo (Discorea trifida) é um tubérculo muito popular na região amazônica.


Pertencente à família Dioscoreaceae, o gênero Dioscorea possui cerca de 600 espécies, das
quais 15 são descritas como medicinais e 50 são cultivadas para alimentação humana. Esse
gênero é popularmente conhecido na região Norte/Nordeste do Brasil sendo comumente
consumido como fonte de carboidratos no café da manhã ou como acompanhamento nas
refeições (SOARES, 2006).
Há várias formas de consumo e preparo, sendo mais comum o preparo através do
cozimento. Esse tubérculo é importante não somente na alimentação, como também para
a economia da região, visto que há muitos produtores locais, cujo cará é o principal produto
comercializado (ROCHA, 2020).
O cará-roxo é um tubérculo de formato arredondado, ovalado com coloração da polpa
roxa (figura 1), cujos tamanhos variam de 10 a 30 centímetros e pesam entre 50 e 4,500
g (CASTRO et al. 2012). Na composição química, destaca-se por ser fonte de vitaminas
como A, C, e complexo B, além de amido, carboidratos, proteínas, fósforo e cálcio, sendo
destacado por essas características nutritivas (OLIVEIRA et al. 2007). A planta é uma trepa-
deira com caule longo e volumoso, que requer cultivo tutorado para o bom desenvolvimento
e produção da planta. Diferentes materiais ou formas de tutoramento podem ser utilizados,
dependendo da disponibilidade e do custo local.

Figura 1. Tubérculo cará roxo.

Fonte: Dados primários, 2022.

O nome popular remete a sua intensa coloração roxa ocasionado pela composição
química rica em antocianinas, pigmentos responsáveis pela coloração de diversas raízes,
folhas e frutos de variam de vermelho intenso até o roxo. Devido as suas características

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químicas e biológicas, o cará tem sido amplamente analisado quanto ao seu uso como
corante natural e testado para atividades biológicas, como antioxidante, anti-inflamatória
(COSTA et al. 2019; MOLLICA et al., 2013; PANIAGUA-ZAMBRANA, 2020).
A Amazônia é um celeiro de matérias primas que podem oportunizar a aplicação
e contextualização no ensino, tornando os conteúdos estudados em sala de aula mais
significativo para os alunos. Nesse sentido, diversos autores vêm trazendo a abordagem
Ciência-Tecnologia-Sociedade-Ambiente (CTSA) como uma estratégia para contemplar a
relação do ensino com a vivência e formação cidadã dos alunos, tendo como foco o desen-
volvimento das inter-relações entre esses elementos (MAESTRELLI, LORENZETTI, 2021;
BOUZON et al., 2018).
O uso da abordagem CTSA nas aulas de ciências pode contribuir com o desenvolvi-
mento do pensamento crítico dos alunos, despertando o interesse pela pesquisa científica e
pelo avanço tecnológico e social que norteia a humanidade, a sociedade e o meio ambiente
(BAZZO et al., 2018).
Verifica-se que o ensino de Ciências deve oportunizar a discussão, problematização e
desenvolvimento do aluno para o conhecimento das questões socioambientais relacionadas
ao contexto sociocultural em que ele está inserido (SILVA; ANDRADE, 2020). Nesse senti-
do, o objetivo deste capítulo é apresentar o uso do tubérculo Amazônico cará roxo em uma
abordagem Ciência-Tecnologia-Sociedade e Ambiente (CTSA) para o ensino de Ciências.

APRESENTAÇÃO

A sequência didática apresenta abordagem qualitativa, descritiva e investigativa. Para


tanto, utiliza-se o cará roxo para dar significado de forma interdisciplinar para a aprendiza-
gem, formação crítica e cidadã dos alunos, em quatro momentos didáticos, conforme pode
ser observado no quadro 1.

Quadro 1. Sequência didática sobre o uso de cará-roxo em uma abordagem CTSA.

Etapas Abordagem Metodologia Conteúdo Duração


A aplicação e a importância social
A Sociedade Aula expositiva dialogada 1 aula (30-40 min)
desse tubérculo
Composição do cará roxo e a aplicação
B Ciência Prática experimental no ensino de Ciências como indicador 2 aulas (80-100 min)
ácido/base
Pesquisa científica e As tecnologias envolvidas no processo
C Tecnologia 1 aula (30-40 min)
debates de obtenção e beneficiamento
Uso de tecnologia de infor- O meio ambiente e a sustentabilidade
D Ambiente 1 aula (30-40 min)
mação e comunicação que envolvem o cará roxo.
Fonte: dados primários (2022).

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A presente atividade pode se configurar como uma boa ferramenta para abordagem
dos conteúdos citados e

APLICAÇÃO DA TEMÁTICA CARÁ ROXO NO ENSINO DE CIÊNCIAS


EMUMA ABORDAGEM CTSA

Propõem-se a sequência didática para alunos do 9ª ano do Ensino Fundamental, mas


que pode ser adaptado para o ensino de química no Ensino Médio. A exposição investi-
gativa tem o intuito de trazer uma problemática sobre a aplicação de uma matéria prima
Amazônica no ensino. Entre os conteúdos trabalhados, destaca-se o conteúdo de ácidos e
bases, sustentabilidade, economia regional e aspectos nutricionais.

A) Sociedade

Para iniciar a sequência, pode-se começar com a problematização da realidade social


e a importância do cará na região Amazônica. A discussão dessa temática poderá contem-
plar situações de caráter social, tecnológico e ambiental. Nesse sentido, o professor poderá
discorrer de forma ampla sobre o percurso metodológico que será realizado e a importância
da situação em estudo.
A cultura do cará roxo apresenta grande importância socioeconômica para a agricul-
tura familiar brasileira, principalmente no Norte e Nordeste do Brasil, principalmente para
os Estados do Amazonas, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Bahia e Maranhão, sendo um
negócio agrícola muito promissor dado a excelente qualidade nutritiva e energética de seus
tubérculos e pelo uso na alimentação humana e potencial industrial (SANTOS, 2022).
Os conteúdos específicos trabalhados em sala de aula deverão nortear a situação em
estudo e poderão evoluir para uma discussão mais aprofundada. O professor poderá mediar
uma roda de conversa instigando a participação dos discentes e valorizando as informações
repassadas por eles A seguir são apresentadas as questões norteadoras que podem ser
utilizadas como ponto de partida (quadro 2).

Quadro 2. Questões norteadoras para a abordagem CTSA utilizando cará roxo.

Questão Objetivo

Você conhece cará roxo? Averiguar o conhecimento prévio dos discentes


Você saberia informar a importância do cará roxo para a região Ama- Promover uma reflexão sobre a importância da matéria prima para a
zônica? região Amazônica
Você saberia informar as possibilidades de aplicação/uso do cará roxo? Incitar a discussão sobre o uso de cará roxo e as tecnologias envolvidas
Fonte: dados primários (2022).

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A partir das questões citadas, o professor abrirá espaço para que os alunos possam
expor seus conhecimentos básicos, popular e as hipóteses. Após, pode-se ter uma explana-
ção sobre a importância do uso de tubérculos para a região Amazônica e para a população.

B) Ciências

Iniciando, pode-se ter a apresentação da descrição científica do cará roxo, o nome,


as substâncias químicas, vitaminas, macro e micromoléculas descritas na literatura e as
atividades biológicas que já foram testadas e que os dados estão disponíveis em artigos,
resumos e capítulos científicos. Em especial, pode-se enfatizar a classe de antocianinas,
que confere a coloração roxa nesse tubérculo e em outras matérias primas vegetais, como
o açaí, o repolho roxo, a cebola roxa e outros.
Por meio dessa etapa, pode-se fazer a relação com o conteúdo ácidos e bases e o uso
de indicador. A seguir é apresentada uma prática experimental utilizando materiais alter-
nativos e de fácil acesso, relacionando os conteúdos de Ciências e questões do cotidiano.
Essa prática é descrita por Peres et al. (2022), no entanto, foi modificada ao utilizar materiais
frescos e solvente hidroalcoolico.

PRÁTICA EXPERIMENTAL – USO DE CARÁ ROXO COMO INDICADOR


ÁCIDO E BASE

Materiais

– 3g de Cará-roxo;
– 30 mL de Álcool 70%;
– 30 mL de água destilada
– Almofariz e pistilo;
– Faca de cozinha;
– Filtro de papel;
– Funil;
– Frasco de vidro âmbar;
– Proveta;
– Materiais para ser testado, como por exemplo, água sanitária, sabão, detergente,
pasta de dente, vinagre, soda caústica diluída, suco de limão, entre outros.

Procedimento

Primeiramente o cará-roxo deve ser cortado em fatias finas;

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Logo em seguida, utiliza-se o almofariz e pistilo para iniciar a maceração. Obs.: caso
não haja almofariz e pistilo, o cará roxo deve ficar imerso na solução de álcool e água por
cerca de 30 minutos para extração dos pigmentos.
Após alguns minutos com o produto macerado, deve-se acrescentar os solventes,
água destilada e álcool 70%.
Em seguida, a mistura deve ser agitada e inicia-se o processo de filtração, utilizando
um funil e filtro de papel.
O conteúdo filtrado deve ser armazenado em um frasco de vidro âmbar.
Para a realização do teste do indicador de pH, utiliza-se as substâncias que se deseja
avaliar. Adiciona-se 3 ml de cada substância em um frasco.
Em seguida, com um conta gotas, adiciona-se 0,5 mL (cerca de 10 gotas) do indicador
cará roxo em cada amostra que será analisada.
Após serem agitados, será foi possível observar os resultados. Na figura 2 pode-se
visualizar as colorações correspondentes a um exemplo de substância ácida, básica e neutra.

Figura 2. Uso de cará roxo como indicador ácido e base. A) indicador com solução de ácida (vinagre). B) Indicador com
solução neutra (água). C) Indicador com solução básica (água sanitária).

A B C

Fonte: Dados primários, 2022.

C) Tecnologia

Para a aplicação da abordagem tecnológica, pode-se ter a apresentação das tecno-


logias relacionados ao cará roxo na obtenção, preparo, beneficiamento e aplicação nas
indústrias. Verifica-se que há uma demanda para utilização desse tubérculo como alimento
humano e animal, corante e pesquisas relacionadas a capacidade antioxidante e antiinfla-
matória. No trabalho de Tavares (2019) o cará foi utilizado de forma exitosa como alterna-
tiva para alimentação de suínos. Além disso, outros autores citam a possibilidade de uso
na indústria de alimentos como ingrediente para panificação, doces e alimentos em geral.
Para essa etapa os alunos poderão utilizar para pesquisar livros didáticos diversos,
trabalhos científicos disponíveis na literatura e busca em sites confiáveis relacionados a apli-
cação de cará roxo e suas tecnologias relacionados aos métodos de conservação, técnicas
de manejo, propagação e uso tecnológico.

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Em acréscimo, o professor pode disponibilizar trabalhos previamente encontrados
sobre o tema para facilitar o trabalho dos discentes.

D) Ambiente

A conservação do cará roxo faz-se necessário tendo em vista que os dados sobre esse
tubérculo podem ser importantes no plano da evolução vegetal, conservação ambiental e
sustentabilidade por ser um produto alimentício que o cultivo que não agride a natureza, além
de ser uma hortaliça pode contribuir com a renda de indivíduos pertencentes a agricultura
familiar (RAMOS et al., 2014).
Para Azevedo (1997), o cultivo do ocorre com relativa facilidade, sem a necessidade
de produtos tóxicos para a manutenção e poucos ou nenhuma suscetibilidade a pragas e
doenças. Assim, o cultivo ocorre com fácil manejo e considerável rendimento agrícola.
Dessa forma, o professor poderá utilizar a relação do tema com a sustentabilidade,
bioma, alimentação e preservação do meio ambiente. Como ferramenta, poderá ser dispo-
nibilizado vídeos e uso de TICs.

LIMITAÇÕES E RECOMENDAÇÕES FUTURAS

Apesar das grandes possibilidades de uso e o fácil acesso ao cará roxo, essa legu-
minosa é pouco explorada na área de ensino e as pesquisas científicas e uso industrial
ainda estão em amadurecimento. Na elaboração da sequência didática proposta busca-se
estabelecer relações entre a valorização dos conhecimentos dos alunos sobre a matéria
prima selecionada e trazer a contextualização como forma de valorizar os dados obtidos e
significar o conhecimento escolar nos aspectos pedagógicos.
As quatro etapas categorizadas conforme a abordagem CTSA reúnem a possibilidade
de formação dos alunos de forma ampla, desenvolvendo os aspectos intelectuais e sociais.
Segundo a Base Nacional Curricular Comum (BNCC) (BRASIL, 2018), faz-se necessário
que o indivíduo possa ser ativo no processo de construção do seu conhecimento.
Ainda, espera-se que os alunos possam ser capazes de serem os agentes transfor-
madores da sociedade que estão inserido, tanto no aspecto econômico, social, tecnológico,
quanto ambiental. Nessa perspectiva, os elementos pedagógicos propostos corroboram com
os objetivos propostos nas legislações de ensino.
As relações da abordagem CTSA utilizando o cará roxo apresentam um caráter inter-
disciplinar, podendo ser trabalhado em parceria e comunhão com outras disciplinas, como
matemática, português, geografia, história entre outras.

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A prática experimental, além da abordagem prática científica, apresenta-se como estra-
tégia para despertar o interesse para o desenvolvimento de jovens cientistas, relacionando o
conhecimento científico materiais do cotidiano e de fácil acesso. Além disso, a descrição do
tubérculo, os aspectos nutricionais e biológicos que podem ser apresentados relacionado ao
ensino de substância ácidas e básicas fortalecem o conhecimento científico e são importantes
para o estabelecimento das relações entre os aspectos sociais, tecnológicos e ambientais.
Finalmente, como a contextualização, na perspectiva construtiva da compreensão da
realidade social em que essa temática ode ser aplicada, procura-se valorizar não somente
os conteúdos escolares, mas oportunizar a reflexão sobre a sociedade, suas interligações
com a tecnologia e o meio ambiente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta didática do uso do cará roxo em uma abordagem CTSA contempla a nature-
za interdisciplinar do conhecimento científico, social, tecnológico e ambiental, contribuindo de
forma considerável para a aprendizagem e formação de cidadãos críticos e reflexivos. A im-
plementação dessa proposta pelos professores do ensino básico apresenta a vantagem de
utilizar um produto natural, comum, de fácil acesso e com materiais alternativos em uma
sequência didática que poderá contribuir com o desenvolvimento social e intelectual dos
alunos de forma ampla.
Assim, a abordagem CTSA é importante para que sejam criados ambientes e momen-
tos que possam ser ricos em aprendizagem e que valorizem a pesquisa e aproximem as
inovações didáticas, tecnológicas e sociais, sendo uma proposta educativas que contribui
para o despertar, a motivação, o interesse e o cuidado com a sustentabilidade na Amazônia,
pautando-se no juízo crítico e sentido de responsabilidade.

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17. TAVARES, W. L. da S. Farinha de Cará-roxo (Dioscorea trifida, L.) na alimentação de
suínos na fase de terminação. 2019. 61 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal)
- Universidade Federal do Amazonas, Manaus (AM), 2019.

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O consumo de energia elétrica em uma
abordagem CTSA na Matemática

Maria Silvanete Silva Dourado Rudinei Alves dos Santos


Instituto Federal do Pará - IFPA Instituto Federal do Pará - IFPA

Rondeneles Conceição Coelho Picanço Vanessa Pires Santos Maduro


Instituto Federal do Pará - IFPA Instituto Federal do Pará - IFPA

Gilbson Santos Soares Verônica Solimar dos Santos


Instituto Federal do Pará - IFPA Instituto Federal do Pará - IFPA

'10.37885/221010558
RESUMO

O presente trabalho aborda o relato de experiência realizada com os alunos do 1º ano do


Ensino Médio do Colégio Álvaro Adolfo da Silveira na disciplina de matemática. Apresenta,
como objetivo principal, a reflexão sobre consumo consciente de energia elétrica e sua relação
com o meio ambiente na busca da compreensão dos conceitos matemáticos existentes na
proposta supracitada. Oportunizou ao aluno analisar o consumo de energia elétrica da sua
residência, assim possibilitando a inserção destes no contexto social sob a ótica da aborda-
gem CTSA (Ciência Tecnologia Sociedade e Ambiente). Tal estratégia de ensino propiciou
aos discentes, reflexões acerca do consumo consciente da energia elétrica, ao mesmo
tempo provocando nos sujeitos envolvidos o pensamento crítico sobre o meio ambiente e
sustentabilidade. Assim, a intervenção metodológica pode servir como instrumento de ensino
aprendizagem, pois abordou o tema interdisciplinar ligando a situação socioeconômica do
aluno ao seu ambiente escolar.

Palavras-chave: CTSA, Sustentabilidade, Energia Elétrica.


INTRODUÇÃO

No período compreendido entre o aparecimento dos primeiros estudos CTS em edu-


cação no Brasil, nas décadas de 70 e 80 (KRASILCHIK, 1996), e o presente momento,
diversos trabalhos têm sido publicados envolvendo o movimento CTS na área de ensino
de Ciências. Tais trabalhos ressaltam aspectos teóricos, citando experiências educativas a
outros enfoques de pesquisa para os alunos do ensino médio.
Trazer novas tendências educacionais à sala de aula é essencial ao aprendizado do
aluno, pois este deve adaptar-se a essa realidade transformando-a numa educação contex-
tualizada. Essa educação CTSA tem como principal finalidade formar cidadãos para atuar na
sociedade científica a partir de uma concepção pessoal desse modo científico, no contexto
social, ambiental e tecnológico. Tal movimento, é também caracterizado como interdisciplinar
e refere-se a uma educação cidadã preocupada com os aspectos socioeconômicos e am-
bientais. Ao associar o ensino das ciências no movimento CTSA, ocorre a integração entre
os recursos e estratégias dando sentido às situações reais, proporcionando aos alunos um
aprendizado próximo à sua sensibilidade (MOURA, SÁ e RABELO, 2015).
A abordagem CTSA considera o entendimento de questões ambientais, qualidade de
vida, economia, sustentabilidade e aspectos tecnológicos quanto à natureza da Ciência,
assim como discussões sobre opiniões e valores, implicando uma ação democrática.
Zeidler e Keefer (2003) enfatizam que a incorporação do conceito de ambiente tende
a tornar mais explícitas as conexões existentes entre as dimensões da Ciência e um amplo
espectro social e cultural. Santos e Mortimer (2002) consideram que essa perspectiva tem
trazido contribuições importantes para a educação ao questionar o estatuto da ciência e da
tecnologia diante dos atuais desafios relacionados ao desenvolvimento e à sustentabilida-
de. Dado que o objetivo principal da educação numa abordagem CTSA é o de possibilitar
o conhecimento científico para os estudantes, auxiliando-os “a construir conhecimentos,
habilidades e valores necessários para tomar decisões responsáveis sobre questões de
Ciência e Tecnologia na sociedade e atuar na solução de tais questões”.
Esses estudos contextualizados são capazes de tornar o aprendizado mais atrativo
e prático, estimulando o aluno a aprender de maneira social. Seguindo este propósito, foi
escolhido trabalhar com uma ferramenta conhecida por todos os alunos: a conta de ener-
gia elétrica, a fim de tornar o ensino dos conteúdos matemáticos em algo mais dinâmico
e participativo.
Dentro dessa perspectiva, mostrou-se que a matemática é um estudo ou processo
de construção do conhecimento e que vai além com a utilização de situações do cotidiano
substituindo assim a metodologia tradicional de ensino por novas abordagens que proporcio-
nem aos alunos um ensino significativo, permitindo que eles participassem das discussões,

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fizessem comentários e críticas e buscassem construir seu próprio conhecimento de forma
autônoma, de modo a adquirir uma ação social responsável.
O projeto de ensino de matemática através da leitura e interpretação da conta de energia
elétrica foi feito com alunos do 1º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Álvaro Adolfo da
Silveira tem por objetivo a reflexão sobre o consumo consciente da energia elétrica e sua
relação com o meio ambiente, ao mesmo tempo, promover aos alunos uma compreensão
ambiental no movimento CTSA.

Campo de ação

A experiência relatada ocorreu no Colégio Estadual de Ensino Médio Álvaro Adolfo


da Silveira, localizada em Santarém estado do Pará. O colégio atende 1548 alunos do
ensino médio, da Educação de Jovens e Adultos e da educação Especial, segundo da-
dos da SEDUC- PA.
O Colégio Álvaro Adolfo atualmente tem em seu corpo técnico 65 professores, 03 ser-
ventes, 02 merendeiras, 02 vigias. Seu espaço físico é constituído de alimentação escolar
para os alunos; água filtrada, energia da rede pública, fossa, lixo destinado à coleta perió-
dica, acesso à Internet,16 salas de aulas utilizadas, 187 funcionários, sala de diretoria, sala
de professores, laboratório de ciências, sala de recursos multifuncionais para Atendimento
Educacional Especializado (AEE), quadra de esportes descoberta, cozinha, biblioteca, ba-
nheiro dentro do prédio, banheiro adequado à alunos com deficiência ou mobilidade reduzida,
dependências e vias adequadas a alunos com deficiência ou mobilidade reduzida, sala de
secretaria, refeitório, pátio coberto, área verde, equipamentos de TV, DVD, antena parabólica,
impressora, aparelho de som, projetor multimídia (Datashow) e câmera fotográfica/filmadora.
O Colégio Álvaro Adolfo da Silveira é um educandário tradicional em Santarém e que
com seu corpo docente proporciona a seus alunos um ensino de qualidade voltado à for-
mação cultural, humana e social.

METODOLOGIA DA AÇÃO

A atividade foi desenvolvida junto a uma turma de primeira série do ensino médio. Essa
turma contém 27 alunos, sendo dois deficientes auditivos, e dois deficientes intelectuais, na
faixa etária de 15 a 19 anos. E para desenvolvimento das atividades foram usadas 05 aulas
de 45 minutos cada.
Durante o 2º bimestre esses alunos realizaram atividades com exercícios e resolu-
ções de problema e que as mesmas abordavam situações problemas contextualizadas
ao seu cotidiano.

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Daí, em todas as atividades houve o envolvimento no estudo introdutório das funções,
onde o aluno deveria escrever passo a passo a resolução de cada questão proposta. Dessa
forma, o aluno construía reflexões sobre o problema e o professor orientava quanto ao ra-
ciocínio e o uso de estratégias para uso consciente de energia elétrica.
Para a realização da atividade, foi feita uma palestra sobre o consumo de energia
elétrica e as fontes de energia sob o enfoque do movimento CTSA (Ciência Tecnologia
Sociedade e Ambiente), após a palestra a turma foi dividida em 05 grupos, sendo 3 grupos
com 5 integrantes e 2 grupos com 6 integrantes. Em cada grupo, propomos que eles indi-
cassem três pessoas que gerenciaram o grupo, são eles: um presidente, um secretário e
um apresentador em que cada um exercerá uma função no seu grupo.
O presidente foi o responsável por incentivar os demais membros a participarem da
atividade e fazendo discussões caso seja necessária, o secretário irá realizar as devidas
anotações caso ocorra no grupo para posterior ler aos demais membros. Já o apresentador
deverá divulgar os resultados à turma feitos, bem como a conscientização ambiental acerca
do tema proposto.
Nessa proposta metodológica ressaltamos a manipulação desses procedimentos para
construir um resultado crítico e social do uso das fontes de energia. Assim, podem ser as-
sociados estudos envolvendo as relações CTSA, apropriando-se desses referenciais no
ensino de ciências implica o delineamento de uma concepção de educação científica que
extrapole a abordagem restrita à explicitação de modelos teóricos, isenta de análise de as-
pectos de construção e de utilização de conhecimentos científicos. Demanda a superação
de perspectiva da prática científica isenta de implicações sociais, ambientais e subjetivas.
Aponta para a inserção dos sujeitos em processos dialógicos de questionamento, crítica, e
de proposições de alternativas, criatividade, em situações controversas envolvendo Relações
CTSA. Agrega o envolvimento argumentativo desses indivíduos. Para que se procedam
situações analíticos e propositivos nessas situações e extrapolam domínios disciplinares
e posições individualistas; demandam estratégias complexas de ponderação de riscos e
benefícios, em âmbitos local e global (BORTOLETTO e CARVALHO, 2009; ZEIDLER e
KEEFER, 2003; ZOLLER, 1992).
Ao lançarmos a proposta do tema energia elétrica, verificamos através de breves
conversas, que houve um envolvimento dos alunos com o tema e a partir daí trouxemos
para uma análise curricular. Nessas conversas, houve a identificação de preocupações,
mas, também, passividade e distanciamento, sobre produção de energia elétrica. Santos e
Mortimer (2000) afirmam que no contexto brasileiro, no âmbito educacional, pode-se utilizar
como tema as fontes energéticas em todos os seus aspectos. Nestes termos, foi sugerido
essa temática, sob a perspectiva CTSA, pela busca da compreensão de que a ciência não

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está indiferente à nenhuma realidade e que traz sentido a esta pesquisa. É compreensível
que ao reduzir o consumo de energia elétrica como, ao desligar os aparelhos elétricos da
tomada, entre outros, só teríamos muito mais a ganhar quanto consumidor e, ganharíamos
duplamente pois, com essa atitude com certeza estaríamos preservando as fontes ener-
géticas de uma dificuldade, o que inibiria alguns dos acréscimos como as “tais bandeiras
tarifárias” que por sua vez aumentam os valores nas contas de energia, além de termos a
clareza sobre o consumo consciente.
O presente projeto se deu em três dias, num total de cinco aulas de 45 minutos, con-
forme discriminamos abaixo.
No primeiro dia foram usadas duas aulas de 45 minutos com uma palestra sobre as
fontes de energia bem como o uso consciente de energia elétrica e após a turma foi dividida
em cinco grupos com 05 ou 06 alunos e posteriormente aplicado teste sobre o tema envolvido.
No segundo dia foram usadas duas aulas de 45 minutos onde os grupos já formados
na aula anterior foram submetidos a avaliar quatro contas de energia elétrica de uma deter-
minada pessoa. Durante a atividade os alunos registraram em folhas próprias as dificuldades
com o manuseio das contas, porém com uma breve intervenção pedagógica ele começaram
a fazer a leitura correta e os registros de consumo mensal foram registrados através de
gráficos de linhas.
No terceiro dia foi utilizada somente uma aula. Cada grupo socializou (Figura 3) com
os colegas suas conclusões, mediante a apresentação dos gráficos estatísticos elaborados
a partir da análise da conta de energia elétrica e, posteriormente surgiram soluções para
um consumo consciente de energia em suas residências.
A abordagem CTSA pressupõe considerar o entendimento de questões ambientais,
qualidade de vida, economia e aspectos industriais da tecnologia em relação à falibilidade
e natureza da Ciência, assim como discussões sobre opiniões e valores, implicando uma
ação democrática. Zeidler e Keefer (2003) consideram que a incorporação do conceito de
ambiente tende a tornar mais explícitas as conexões existentes entre as dimensões da
Ciência e um amplo espectro social e cultural. De acordo com Carvalho (2005),

[...] um dos principais desafios desta chamada ênfase CTSA é a exploração


de questões sócio-ambientais à luz de suas relações com a ciência e com a
tecnologia. Nesta vertente, o desafio principal reside em considerar as pos-
síveis relações entre impactos ambientais e seus principais causadores que,
normalmente, são os “produtos” dos artefatos científico-tecnológicos, os quais
se mostram em forma de processos industriais, transporte, construções etc
(p. 70).

A conta de energia é um item presente nas residências de todas as famílias e por mui-
tadas vezes o aluno não consegue enxergar o quão importante a matemática é sobre esta

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conta tão rotineira. A matemática é parte fundamental deste faturamento e trazer conteúdos
para serem trabalhados em sala de aula e aplicados a este tipo de situação- problema torna a
aula mais prazerosa e estimulante. Skovsmose (1994) defende que a Matemática é utilizada
para formatar a realidade, segundo ele, parte da realidade social é expressa por intermédio
de modelos matemáticos, usando moldes matemáticos que são constituídos ou construídos
sem intenções predeterminadas, portanto, não podem ser considerados neutros, já que são
produtos de algum tipo de interesse, alicerçando decisões e promovendo interferências no
contexto social.
Nessa perspectiva o enfoque CTS segundo Pinheiro (2005, p.29) é entendido como:

um campo de trabalho que se volta tanto para a investigação acadêmica como


para as políticas públicas. Baseia-se em novas correntes de investigação em
filosofia e sociologia da ciência, podendo aparecer como forma de reivindicação
da população para atingir uma participação mais democrática nas decisões
que envolvem o contexto científico-tecnológico ao qual pertence. Para tanto, o
enfoque CTS busca entender os aspectos sociais do desenvolvimento tecno-
científ ico, tanto nos benefícios que esse desenvolvimento possa estar trazen-
do, como também as consequências sociais e ambientais que poderá causar.

A Matemática como sendo uma ciência torna-se tão importante quanto a tecnologia
pois, é percebido que ciência e tecnologia se complementam uma à outra e, que ambas
andam de mãos dadas, é o que nos mostra o movimento CTSA que tem como uma das
suas finalidades expandir a compreensão, foi a partir de análises à uma conta rotineira de
energia elétrica que ocorreu a promoção da aprendizagem sob o enfoque tecnologia, ciência
e meio ambiente. Visto que ao integrar o aluno neste ambiente investigativo, envolvendo-o
em atividades acerca destas reflexões críticas desperta os seus conhecimentos científicos
e se desenvolve estudos em prol do progresso da humanidade de maneira consciente e
participativa, na qual somos convidados a ter atitudes consideradas positivas.
Segundo a BNCC do Ensino Médio p. 102, enfatiza que o aluno deve articular conheci-
mentos matemáticos ao propor e/ou participar de ações para investigar desafios do mundo
contemporâneo e tomar decisões éticas e socialmente responsáveis, com base na análise
de problemas de urgência social, como os voltados a situações de saúde, sustentabilidade,
das implicações da tecnologia no mundo do trabalho, entre outros, recorrendo a conceitos,
procedimentos e linguagens próprios da Matemática.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Com essas atividades ocorreram situações envolvendo situações reais com o objetivo de
propor um aprendizado sobre os conceitos de função afim através da modelagem matemática.

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Diante disso pode se destacar alguns pontos da avaliação docente; sobre os pontos
positivos destaca-se que muitos deles reconheceram na atividade prática como sendo uma
das atividades para analisar nas contas de energia conceitos como relação de dependência
que há entre o consumo de kwh e o valor a pagar mais tributos, impostos e tarifas, através
das observações dos gráficos contidos nas contas de energia.

“A partir de observações sucessivas aos fenômenos naturais, o homem per-


cebeu que alguns deles seguiam princípios constantes, e então havia a pos-
sibilidade de descrever esses fenômenos por meio de expressões matemá-
ticas. Esse fato levou a utilização da Matemática como uma ferramenta para
sistematizar as observações possibilitando o desenvolvimento de modelos
que representassem as leis naturais, ou mesmo situações problemáticas do
cotidiano que necessitavam de soluções” (STOCCO e DINIZ, 2010).

Destacam-se como alguns pontos negativos na aplicação do trabalho a dificuldade


encontrada pelos alunos em esboçar gráficos, pois eles tiveram dúvidas quanto a descrição
correta dos eixos x e y das coordenadas cartesianas, gerando assim um gráfico formado por
segmentos de retas. Peça (2008) afirma que o recurso da linguagem gráfica torna possível a

organização de dados coletados, utilizando números ao descrever fatos, pro-


movendo na prática escolar a interdisciplinaridade e a conexão entre diversos
assuntos, facilitando assim, a comparação entre eles, especialmente para
estabelecer conclusões ao apresentar a síntese do levantamento de dados
de forma simples e dinâmica.

Daí, verificamos que tal atividade realizadas pelos discente foi de forma prática e envol-
veu todos os alunos na reorganização dos conhecimentos a partir das atividades propostas
objetivando uma consciência ambiental e sustentável com a energia, proporcionando assim
uma melhor qualidade de vida.
A atividade proporcionou ainda reflexão e mudança de atitude, acrescentando-lhes
alguns aspectos formativos como saber se informar; ser capaz de se comunicar, de argu-
mentar, de compreender, de agir e de elaborar críticas ou propostas; de defrontar-se com
problemas, compreendê-los e enfrentá-los; participar socialmente, de forma prática e solidá-
ria; fazer escolhas e proposições; participar de um convívio social que lhes dê oportunidade
de se realizarem como cidadãos; tomar gosto pelo conhecimento, aprender a aprender e
especialmente adquirir uma atitude de permanente aprendizado (BRASIL, 1999).

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10. MIRANDA, Amanda Drzewinski de – amanda.miranda@pop.com.br; PINHEIRO, Nilcéia


Aparecida Maciel – nilceiaamp@gmail.com; SILVEIRA, Rosemari Monteiro Castilho Fo-
ggiatto -castilho@utfpr.edu.br; Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR,

11. PPGECT; COSTA, Jaqueline de Morais – j.moraiscosta@hotmail.com UTFPR. Educa-


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12. KRASILCHIK, M. Formação de professores e ensino de Ciências: tendências nos anos


90. In: -MENEZES, L. C. (Org.) Formação continuada de professores de Ciências. OEI/
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13. MOURA, Gabriela Tavares de; SÁ, Roberto Araújo; RABELO, Josinês Barbosa. O
Ensino de CTSA numa Perspectiva de Educação Crítica. II CONEDU - Congresso
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ticos Utilizando Dados Interdisciplinares. Professora de Matemática da Rede Pública
Estadual de Ensino do Paraná, graduada em Ciências e Matemática, especialização
em Metodologia do Ensino Fundamental e Médio. Concluinte do PDE - PROGRAMA
DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - 2008. Orientação: Profª. MSc. Simone
Crocetti – UTFPR.

15. PINHEIRO, N. A. M. Educação crítico – reflexiva para um ensino médio científico


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16. SANTOS, W. L. P.; MORTIMER, E. F. Uma análise dos pressupostos teóricos da abor-
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17. SKOVSMOSE, O. Educação matemática crítica: A questão da democracia. Papirus.


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18. STOCCO, Katia Cristina Smole; DINIZ, Maria Ignez de Souza Vieira. Matemática:
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20. ZOLLER, U. The Technology/Education Interface: STES Education for All. Canadian
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Rede organizacional solidária para
coletores de Castanha-da-Amazônia

Felipe Pinheiro dos Santos Diego Cristovão Alves de Souza Paes


TJRO/UNIR CEDSA/UNIR

Rozangela Gomes Ferreira Theophilo Alves de Souza Filho


IFRO/UNIR CEDSA/UNIR

Mariluce Paes-de-Souza
PPGA/UNIR

'10.37885/220809826
RESUMO

A existência de redes e estruturas multicêntricas, as quais englobam atores e organizações


diversificadas tem requerido observação cada vez mais frequente. E quando se envolve uma
atividade extrativista de subsistência do caboclo amazônico, bem como da castanha e da
própria floresta, os vínculos e redes assumem relevância para a manutenção do equilíbrio
e repulsa da entropia do ambiente. Este estudo tem como objetivo analisar a rede orga-
nizacional solidária dos coletores de Castanha-da-Amazônia em um distrito do município
de Porto Velho/RO, e como objetivo específico, busca descrever essa rede organizacional
solidária e propor alternativas para fortalecer os vínculos entre os coletores de Castanha-
da-Amazônia de um distrito de Porto Velho/RO e os demais elos da rede. O aporte teórico
sobre redes organizacionais solidários, economia solidária e cooperação sustentou a pes-
quisa. Como procedimento metodológico utilizou-se a ferramenta Publishor Perish para
verificar os estudos mais citados que englobam o tema deste trabalho, e ainda, pesquisa
de campo com entrevista semi-estruturada. Os resultados demonstram que a existência de
uma rede organizacional solidária possibilitaria aos coletores de Castanha-da-Amazônia
empoderamento coletivo, o que ocasionaria maior barganha durante a negociação com os
atravessadores, e consequentemente, estenderia essa rede para toda a cadeia de valor da
castanha, beneficiando de maneira direta toda a coletividade envolvida.

Palavras-chave: Amazônia, Castanha da Amazônia, Redes Organizacionais Solidárias.


INTRODUÇÃO

O agrupamento de espécies é representado por bandos, cardumes, alcateias ou qual-


quer outro tipo de coletivo. E no que se refere ao envolvimento de indivíduos com outras
pessoas ou organizações, as respectivas redes de relacionamento aumentam em função
de vínculos constantes, os quais precisam ser realimentados e initerruptamente fortalecidos
para serem mantidos.
Tem-se observado cada vez mais frequente a existência de redes e estruturas mul-
ticêntricas, as quais englobam atores e organizações diversificadas, porém vinculadas ao
estabelecimento e manutenção de um mesmo objetivo, com formas de gestão compatíveis
entre si (FLEURY, 2002). Nesse viés, a organização passa a ser compreendida como um
potencial ator devido aos relacionamentos interorganizacionais (FREEMAN, 2003; FASSIN,
2009; ERPEN, 2013; MAIA, 2008), que sobressaem o ambiente para adquirir transações
macro sistêmico.
Para as organizações, sejam formais ou informais, que lidam com o ambiente amazô-
nico, não se apresenta grande diferença entre as relações de indivíduos com indivíduos e
indivíduos com organizações. No entanto, quando se envolve uma atividade extrativista de
subsistência do caboclo amazônico, bem como da castanha e da própria floresta, os vínculos
e redes assumem relevância para a manutenção do equilíbrio e repulsa da entropia.
A importância de obter entendimento e compreensão do conceito de redes organi-
zacionais solidárias se ocasiona não somente pela disseminação do seu significado nos
relacionamentos interorganizacionais, mas também por acreditar que o estabelecimento
dessas estruturas multicêntricas sociais resulta em progresso coletivo que beneficiaria eco-
nomicamente os coletores de castanha e toda a cadeia de valor, além de potencializar a
sustentabilidade para com o ambiente em que se encontram.
Considerando essa tessitura, indaga-se: De que forma uma rede organizacional soli-
dária beneficia os coletores de Castanha-da-Amazônia em um distrito do município de Porto
Velho? Para responder esta questão tem-se como objetivo geral analisar a rede organiza-
cional solidária dos coletores de Castanha-da-Amazônia em um distrito do município de
Porto Velho/RO, e de maneira mais específica, busca descrever essa rede organizacional
solidária e propor alternativas para fortalecer os vínculos entre os coletores de Castanha-
da-Amazônia de um distrito de Porto Velho/RO e os demais elos da rede.

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REFERENCIAL TEÓRICO

Redes Organizacionais Solidárias

As pessoas usaram vagamente a ideia de redes sociais durante mais de um século


para representar conjuntos complexos de relacionamentos entre os membros dos sistemas
sociais, do interpessoal ao internacional (WASSERMAN e FAUST, 1994). O Autor relata
que em 1954, J. A. Barnes começou a usar o termo sistematicamente para denotar padrões
de laços, conceitos tradicionalmente usados pelo público comum, e aqueles usados pelos
cientistas: grupos limitados (tribos,famílias) e categorias sociais (sexo,etnia).
Jacobi (2000) enfatiza que quando os diversos e multifacetados atores sociais se mobili-
zam em torno de temas que afetam o dia a dia, há um reforço na colaboração e solidariedade,
os quais se tornam instrumentos eficazes para a ação e experimentação de novos métodos
de resolução de problemas. Segundo o autor, o engajamento desses atores está geralmente
associado a questões concretas, imediatas, ou que afetam elevados valores éticos.
Para Balestrin e Vargas (2004, p.2) “a configuração em rede promove ambiente favo-
rável ao compartilhamento de informações, de conhecimentos, de habilidades e de recursos
essenciais para os processos de inovação”. Corroborando com essa ideia, Neto e Truzzi
(2004, p.2) afirmam que “o grande número de fusões, aquisições, coproduções, alianças
estratégicas e joint ventures mostra a importância da perspectiva das redes para explicar a
nova estrutura de relações entre os atores econômicos”.
Wasserman e Faust (1994) conceituam uma rede social como:

Uma estrutura social composta por indivíduos (ou organizações) chamados


“nós”, que estão vinculados (ligados) por um ou mais tipos específicos de inter-
dependência, como amizade, parentesco, interesse comum, troca financeira,
antipatia, relações sexuais ou relações de crenças, conhecimentos ou prestígio.
A análise da rede social considera as relações sociais em termos de teoria da
rede, consistindo de nós e laços (também Bordas, links ou conexões). Os nós
são os atores individuais dentro das redes, e os laços são os relacionamentos
entre os atores. As estruturas gráficas resultantes são muitas vezes muito
complexas. Pode haver muitos tipos de laços entre os nós (WASSERMAN e
FAUST, 1994, p. 4).

O autor salienta que pesquisas em vários campos acadêmicos mostraram que as redes
sociais operam em muitos níveis, os quais podem incluir desde as famílias até o nível das
nações. Essas redes desempenham um papel determinante na forma com a qual os proble-
mas são resolvidos, as organizações funcionam e o nível em que os indivíduos envolvidos
sucedem em conseguir seus objetivos (WASSERMAN e FAUST, 1994).
Diversos autores concordam que ainda não há um consenso no que diz respeito à
conceituação do termo redes. O amplo escopo conceitual do termo rede proporcionou seu

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interesse por crescente número de pesquisadores na área de ciências sociais (BALESTRIN
e VARGAS, 2004).
Nesse sentido, Olave e Neto (2001) ressaltam que:

Embora a composição de redes, alianças e de novas formas organizacionais


esteja sendo vista como uma estratégia dos dirigentes das firmas face à tur-
bulência e complexidade do ambiente organizacional, não existe uniformidade
de conceitos para defini-las (OLAVE e NETO, 2001, p. 2).

Fleury (2002) explica que o termo rede tem sido utilizado entre diversas disciplinas,
dentre as quais a psicologia social, que elenca características estruturais relacionadas ao
tamanho, densidade, composição, dispersão, homogeneidade e funcionamento. Coadunando
com o autor, Neto e Truzzi (2004, p. 2) afirmam que: “atualmente, o conceito de redes é
utilizado por vários campos de estudos como a antropologia, a Ciência Política, a Sociologia
e os Estudos Organizacionais”. Para os autores, não há como negar a abrangência e a
subjetividade do termo redes. De acordo com Balestrin (2010, p.3) “o mundo ainda não vive
o apogeu da sociedade em rede, descrita por Castells (1999); mas alguns fatos recentes
demonstram sua ascensão”. Em nenhum outro momento a cooperação e as redes receberam
tanto interesse quanto atualmente (BALESTRIN, 2010).

Cooperativismo e Rede de Colaboração Solidária

Os socialistas utópicos foram os idealizadores primitivos do cooperativismo revolu-


cionário, enquanto mais especificamente na Inglaterra, e nos Estados Unidos, as aldeias
cooperativistas foram estabelecidas no século XIX. Contudo, grande destaque recebeu o
conceito de solidarismo e voluntarismo através da representatividade que teve a queda do
muro de Berlim (LECHAT, 2002), o que faz entender que tais significados são atemporais
e permeiam pelos relacionamentos humanos.
Mance (2005) corrobora com o horizonte temporal ao relatar que, no término dos anos
1990, a integração solidária metamorfoseou a economia solidária em uma possibilidade de
desenvolvimento sustentável com base nos sistemas de redes solidárias. Lechat (2002)
afirma que os fenômenos sociais não têm uma nascente específica, mas resulta de uma
dialética histórica entre inúmeras variáveis.
As redes de colaboração solidária estão se mostrando como um caminho coletivo
pelo qual se poderá superar a sociedade estritamente capitalista, evidenciando a justiça e
a solidariedade como valores basilares (SCHNORR, 2004).
Em consonância com os autores citados, os integrantes de uma rede se unem em torno
de um objetivo comum. Nesse sentido, torna-se imprescindível a presença de ações colabo-
rativas e solidárias entre os participantes. Em um nível mais atomizado, depreende- se que

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nas redes existe enorme heterogeneidade entre atores, recursos e instituições, mas Fleury
(2002) argumenta que essa diversidade se conecta pela existência de elementos comuns,
gerando flexibilização, integração e interdependência.
Schnorr (2004) ressalta que o maior desafio ainda é obter uma compreensão da com-
plexidade que o significado do termo rede abrange, considerando que novos atores entrantes
encontram formas inovadoras de organização (FLEURY, 2002), as quais evoluem consoante
seus ambientes (OLIVEIRA, 2009). Ou seja, a rede requer então compatibilidade entre os
componentes dentro de um ambiente de mobilização contínua de recursos devido ao entorno
social e político (FLEURY, 2002).
Gray e Wood (1991) definem colaboração como um processo, através do qual, diferen-
tes partes, vendo diferentes aspectos de um problema podem, construtivamente, explorar
suas diferenças e, procurar limitadas visões. Para os autores, a colaboração ocorre quando
um grupo de stakeholders, com domínio de um problema, se interage, usando divisão de
papéis, normas e estruturas, com o intuito de agir ou decidir questões relacionadas ao pro-
blema (GRAY e WOOD, 1991).
Lechat (2002) exclama que solidariedade advém de “uma deformação da palavra latina
solidum que, entre os jurisconsultos romanos, servia para designar a obrigação que pesava
sobre os devedores quando cada um era responsável pelo todo, in solidum”.
Tem se observado que o desdobramento de empreendimentos solidários está ocorrendo
de maneira tão extensa que a rede a qual interliga os diversos vértices dessa malha estão
concedendo à economia solidária uma perspectiva de produção tida como não capitalista
(GAIGER, 2006), afastando o conceito de valor como relevância determinada por um único
ser e o ampliando para uma significação oriunda da comunidade.
Para Mance (2001), as redes solidárias não são utopias. Ele afirma que essa realidade
já está presente em inúmeros lugares, nas práticas mais diversas centradas na solidarie-
dade, que visam promover as liberdades responsáveis e enfrentam as diversas formas de
opressão, exclusão e injustiças. Prossegue:

Na construção da democracia horizontal, trata-se de avançar no fortalecimento


e expansão de redes solidárias, na criação de novas redes com esse caráter,
na sua integração colaborativa com outras tantas em âmbitos locais, regionais
e globais, acolhendo as diversidades que não reneguem as liberdades públicas
e privadas eticamente exercidas. Em seu atual estágio de organização e cres-
cimento essas redes demonstram o potencial de superar estruturas opressivas
e excludentes das sociedades contemporâneas (MANCE, 2001, p. 14).

Segundo o autor, a maioria das organizações que trabalha nesse campo necessita
encadear as conexões necessárias para que a sinergia gerada por essa integração seja
potencializada. Continua afirmando que: “O avanço coletivo dessa consciência [...] capaz

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de fazer emergir essa nova consistência é, todavia, parte integrante do próprio processo em
curso da revolução das redes” (MANCE, 2001, p. 14).

Redes Organizacionais Solidárias e Economia Solidária

Para Gaiger (2006) o fenômeno da economia solidária guarda semelhanças com a eco-
nomia camponesa. Neste sentido, Lechat (2002) acredita que esse conceito estava imerso
no significado de economia informal ou popular. Não obstante, resta nítido que o surgimento
de uma rede solidária é um processo natural (REIS, 2014), o que não quer dizer que seja
uma rede com interconexões mundiais em que a economia dita as regras.
Busca-se, então, interligar empreendimento solidário em uma dinâmica de retroalimen-
tação, crescimento síncrono, autossustentável e oposta ao capitalismo, construindo uma nova
formação social e diminuindo a necessidade de transações comerciais com organizações
capitalistas tradicionais (MANCE, 2005; SCHNORR, 2004; AMORIM ET AL, 2013).
Reorganizar socialmente as ações de produção, comércio, consumo, finanças, servi-
ços e desenvolvimento tecnológico é o objetivo principal da economia solidária (MANCE,
2005). Por isso o autor afirma que as práticas que envolvem economia solidária enfatizam
a participação coletiva, a cooperação, a autogestão, a democracia, a autossustentação, a
promoção de desenvolvimento humano e da equidade de gênero.
Com esse entendimento Gaiger (2006) ressalta que o espírito solidário se distingue
da racionalidade capitalista - que não é solidária e inclusiva - e da solidariedade popular
comunista - desprovida dos instrumentos adequados a um desempenho socioeconômico
que não seja circunscrito e marginal.
Percebe-se uma unidade entre o uso e a posse dos meios de produção. O labor consor-
ciado beneficia o próprio trabalhador, possibilitando um entendimento mais amplo do sistema
produtivo, em que o valor agregado pelo operário se transforma em qualidade de vida para
o próprio produtor. Esse horizonte permite uma economia voluntária - não dependente - aos
beneficiários das redes solidárias (LECHAT, 2002).
Neste contexto Schnorr (2004) explica que toda atividade de organização, produção e
consumo, por exemplo, contribui para qualificar a rede como um todo, melhorando a capa-
cidade de mobilização. Mesmo assim, o vínculo solidário indubitavelmente sofre variação,
podendo alcançar desde exclusivamente os indivíduos até a socialização dos meios de
produção de uma cooperativa pautada na autogestão (GAIGER, 2006).
Mance (2005) também relata que o objetivo de redes de economia solidária busca
integralizar empreendimento solidário de comércio, produção, serviços e consumo, além
de integrar as mais diversas organizações sociais, reinvestindo coletivamente para que se

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possa fortalecer as existentes e criar organizações, remodelando solidariamente tanto as
cadeias produtivas quanto toda a cadeia de valor.
Logo, a economia solidária pode ser então ação com capacidade o suficiente para fazer
emergir novas oportunidades de inserção social, responsabilidade, ajuda mútua, fortalecimen-
to do desenvolvimento local de forma autossustentável, e claro, equidade e fortalecimento
(SILVA ET AL, 2013).
Desse ponto de vista, pauta-se a economia solidária na existência de atores desiguais
economicamente (LECHAT, 2002), haja vista a imprescindibilidade do meio onde a cadeia-
-rede é caracterizada pelo entrelaçamento de atores distintos, mas envolvidos uns com os
outros e pelos laços de solidariedade de todo o sistema.

Cooperação e Redes Organizacionais Solidárias

Considerando o contexto de cooperação e das redes organizacionais solidárias Gaiger


(2006) salienta que a autogestão e a cooperação são acompanhadas por uma reconciliação
entre o trabalhador e as forças produtivas que ele detém e utiliza, explicitando a ascensão do
proletariado no atendimento de suas necessidades elementares, porém, ainda insuficiente
para promover a integralidade entre as relações hierárquicas da sociedade.
No entendimento de Olave e Neto (2001) a cooperação oferece a possibilidade de
dispor de tecnologias e reduzir os custos de transação relativos ao processo de inovação,
aumentando a eficiência econômica e, por consequência, aumentando a competitivida-
de. As cooperações podem ser observadas e vivenciadas tanto em redes coletivas quanto
em territórios empresariais. A esse respeito, Neto (1999) corrobora:

Em síntese, pode-se constatar que a cooperação se torna necessária quando


as empresas, ou mesmo as pessoas individualmente, têm um desafio que não
pode ser atendido por elas sozinhas. A necessidade de aumentar a flexibilidade,
qualidade, velocidade e número de entregas confiáveis, faz com que se possa
pensar no potencial de promoção das redes de cooperação inter-empresas e
das cooperativas, de uma forma geral (NETO, 1999, p. 108).

Devido a essa necessidade de ajuda mútua existente numa rede, a qual pode ser
elencada com um de seus aspectos mais importantes, a cooperação torna-se vital para a
consecução de suas atividades. Balestrin e Vargas (2004) citam as principais características
de uma rede de cooperação: (1) são integradas por firmas situadas geograficamente próxi-
mas; (2) os atores integrantes operam em segmento específico de mercado; (3) as relações
entre as firmas são horizontais e cooperativas, prevalecendo mútua confiança; (4) a rede
é formada por indeterminado período de tempo; e (5) a coordenação da rede é exercida a
partir de mínimos instrumentos contratuais que garantam regras básicas de governança.

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Em conformidade Gaiger (2006), enfatiza dizendo que as novas experiências populares
de autogestão e cooperação econômica representariam a emergência de um novo modo
de organização do trabalho e das atividades econômicas em geral, se não fossem pessoas
que buscam a maximização de rendimentos e redução de gastos através de ações cole-
tivas porque entendem que a colaboração pode catalisar o viés econômico em benefício
estritamente individual.
Há, contudo seres que detêm comportamentos sociais e não esperam retribuição
(FERNANDES, 2014). Assim, acredita-se na probabilidade de ascensão e desenvolvimento
de redes organizacionais solidárias, alicerçando-se no pensamento compartilhado de que a
cooperação e a solidariedade ainda são valores de alguns seres humanos.
Infere-se que o viés solidário, e não competitivo, de redes faz com que a ação coletiva
engrandeça a ação do indivíduo de maneira recíproca (SCHNORR, 2004), amadurecendo
relações horizontais que favorecem o diálogo até mesmo com o Estado e seus atores polí-
ticos tidos como representantes da coletividade (FLEURY, 2002).
Nesse contexto, Schnorr (2004) elenca a autopoiese, a intensividade, a extensividade,
a diversidade, a integralidade, o fluxo de valor, o fluxo de informação, o fluxo de matérias, a
agregação e a realimentação como propriedades básicas de redes de colaboração solidá-
ria, representando, em suma, um constructo social em que o amadurecimento das relações
coletivas faz surgir tais características de modo natural.
Além disso, as redes de cooperação solidárias tendem a representar uma nova pers-
pectiva de luta nos movimentos sociais para a transformação da coletividade através da
geração de novos eixos de produção e consumo, promovendo o crescimento orgânico da
economia solidária (MANCE, 2005; SCHNORR, 2004).

Redes Organizacionais Solidárias em um Viés Sustentável

Observa-se que o comércio solidário e o comércio justo internacional podem catalisar a


economia solidária, desde que as redes organizacionais tenham pontos de interligação com
grupos de aquisição e consumo solidários e preveja o consumo crítico como oportunidade, o
que está de acordo com o caráter transnacional descrito por Fleury (2002), cujas transações
comerciais ultrapassam os limites fronteiriços.
O que se almeja é um processo cíclico em que a distribuição de riqueza potencialize o
consumo solidário e a criação de novos empreendimentos comunitários, alcançando um equi-
líbrio dinâmico, cenário o qual esboça o paradigma da abundância descrito por Mance (2005).
Para Mance (2005), a solidariedade econômica em estratégias de rede tem se mostrado
a melhor forma de gerar soluções coletivas de sustentabilidade, tendo em vista que essas
experimentações de dignidade e equidade engrandecem o enfoque cognitivo e humano do

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indivíduo (GAIGER, 2006), fazendo com que a compreensão de conceitos sustentáveis seja
materializada em ações comunitárias.
O que se apresenta, então, é a capacidade que o solidarismo detém para converter
a essência elementar de uma nova racionalidade econômica, na qual os rendimentos ex-
trapolam o viés econômico (GAIGER, 2006) e consequentemente abarcam espaços am-
bientais e sociais.
Nesse contexto, a perspectiva estrutural considera o posicionamento do ator dentro da
rede, além da capacidade de influenciar e ser influenciado, além de focar na densidade, na
centralidade e na conectividade (FERNANDES, 2014). De outro modo, a força do elo estabe-
lecido e a sua intensidade diz respeito à perspectiva relacional de análise de redes, eviden-
ciando a confiança entre os agentes, no sentido coletivo (FERNANDES, 2014; REIS, 2014).
Isto remete a discussão de laços de confiança e redes organizacionais solidárias,
considerando que um conjunto de empreendimentos aglomerados socialmente indiscuti-
velmente possui ligações - diretas ou indiretas - entre alguns membros da rede, sendo que
a quantidade de conexões de um determinado ator especifica o nível de centralidade que
este possui perante a rede (REIS, 2014). Depreende-se que a escala de centralidade que
um indivíduo ou organização possui, revela uma posição estratégica para esse ator perante
o seu ambiente (ERPEN, 2013; REIS, 2014).
Souza Filho et al (2014) entendem que os empreendimentos comunitários estarão
rodeados por stakeholders, stakewatchers e stakekeepers, o que indica relações de tro-
cas e formação de laços. Esses laços representam uma série de interesses egocêntricos
orientados de modo holístico para o coletivo, então, um nível mínimo de entrelaçamento,
alicerçado em relações de confiança, torna-se imprescindível para o funcionamento efetivo
da rede (TAUILE, 2002).
Diante disso, realizar um bom diagnóstico do ambiente em que a rede está inserida
é imprescindível para que a rede interconecte os vértices com as arestas adequadas a
sua dimensão estrutural a fim de que se tenha maior conectividade e intensidade entre os
atores e recursos. Além disso, Tauile (2002) clarifica que a identificação de um mínimo de
interesses comuns por parte dos agentes que compõem a rede solidária pode alavancar
seu esforço coletivo.
As relações de confiança, a similaridade de comportamentos e a submissão dos atores
às mesmas normas evidenciam a densidade das redes e o nível de consenso no sistema
social (FERNANDES, 2014; REIS, 2014), ratificando a importância de um elo confiável entre
agentes inter-relacionados. Erpen (2013) afirma assim que a confiança entre os agentes
econômicos dentro dos clusters deve ser enfatizada pela sua relevância em uma rede.

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Seguindo esse pensamento, Fernandes (2014) afirma que a confiança induz à coo-
peração, e a cooperação gera confiança. A ligação ocasionada por algum ator entre redes
distintas apresenta o nível de intermediação, o qual geralmente está atribuído ao agente, e
raramente de um cluster componente da rede (REIS, 2014). Ou seja, por mais comunitária
que seja a rede, o indivíduo ganha força ao representar a coletividade na qual ele faz parte.
Até mesmo os espaços econômicos das fatias de mercado referente às organizações
solidárias são fortalecidos pelo estabelecimento de laços de confiança e pela prática de tro-
cas entre as empresas e seus clientes (GAIGER, 2006). Nesse ambiente multi-relacional, a
rede organizacional solidária se configura por expressar um conjunto de empreendimentos
econômicos solidários (PAES-DE-SOUZA ET AL, 2013).
Além disso, a globalização em sua essência exige laços sociais fortes e dinâmicos, o
que torna possível verificar que a formação de cadeias produtivas em rede impacta a capa-
cidade de competição e possibilidade de inserir-se em mercados nacionais e de exportação
(AMORIM ET AL, 2013; SILVA ET AL, 2013), uma vez que a crescente diferenciação do tecido
social cria novos processos de coordenação organizacional específicos (FLEURY, 2002).
Neto (1999) entende que as tradicionais relações conflituosas, cederam espaço para
as relações baseadas na confiança, a qual é de fundamental importância no mundo dos
negócios, pois todas as transações econômicas envolvem risco, tanto no sentido de fraudes,
quanto em relação aos imprevistos dos acontecimentos futuros. Riscos estes que, se não
controlados, podem atrapalhar a concretização de negócios que poderiam trazer benefícios
a todas as partes envolvidas.

Redes Organizacionais Solidárias e suas Interconexões

Para a organização manter-se competitiva, a legitimidade da questão social adquire


importância fundamental, o que confere existência e validade aos empreendimentos sociais
no ambiente da rede (AMORIM, 2013). Depreende-se que a preocupação coletiva se torna
um atributo qualificador no mercado local e mundial.
Em congruência, Mance (2005) aponta que conforme as redes locais de economia
solidária crescem e se interligam nacional e internacionalmente, a cooperativa - como re-
união de indivíduos e elemento da rede - reorganiza o ambiente, estabelecendo relações
verticalizadas, formando verdadeiras cadeias de produção, ou horizontalizadas - formando
redes, de acordo com Amorim et al (2013).
Cabe destacar que a articulação de uma cadeia produtiva depende das estratégias dos
atores que almejam maximizar os seus retornos, especificando relações de interdependên-
cia, complementariedade e consequentemente orientadas por forças hierárquicas (SOUZA
FILHO ET AL, 2014). Compondo-se de atores variados que agregam valor fundamental

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em cada vértice da cadeia produtiva, amplia-se, segundo Amorim et al (2013), para uma
cadeia de valor com princípios alicerçados no reconhecimento, conhecimento e colabora-
ção (FLEURY, 2002).
Empreendimento solidário com base na associação de trabalhadores e com um mo-
delo de gestão cooperativo destacam a alternativa encontrada para alguns grupos sociais
de baixa renda, fortemente atingidos pelo quadro de desocupação estrutural e pelo empo-
brecimento (GAIGER, 2006).
Nos empreendimentos solidários os proletários empregam o capital, enquanto no sis-
tema capitalista o capital emprega os trabalhadores (GAIGER, 2006). O reconhecimento
representado pela aceitação de estar em rede, o conhecimento do ator o qual se está em
constante relacionamento e a colaboração mútua não representam o capitalismo, mas sim
o solidarismo cooperativo.
Compreende-se, então a imprescindibilidade, não de dois, mas de somente um caminho
tanto para a ida quanto para o retorno de conceitos e práticas, de inputs e outputs relaciona-
dos - construindo essa malha de tecidos sociais chamada de redes solidárias, possibilitando
ao campo organizacional estruturado responder às incertezas do entorno (AMORIM, 2013).
Apesar de todo esse contexto isonômico de maturidade social e solidarismo, Gaiger
(2006) salienta que o pensamento cooperativo ainda não está distribuído em toda a rede
organizacional, declarando o caráter incompleto da emancipação do trabalho solidário.
Entretanto, percebe-se o amadurecimento e o compartilhamento dos conceitos relacionados
à solidariedade perante os membros de todos os agrupamentos, sejam em países orientais
ou em comunidades coletoras de castanha.

METODOLOGIA

Primeiramente, utilizou-se da ferramenta Publish or Perish para verificar os estudos


mais citados que englobam o tema deste trabalho. Realizou-se a pesquisa informando o
tema Redes Organizacionais e Solidárias no campo All of the Words, então os dados foram
exportados para o software Excel a fim de filtrar os resultados, bem como verificar estatis-
ticamente os dados resultantes da pesquisa.
Com os dados consolidados no Excel, filtrou-se somente os trabalhos disponíveis em
PDF, no campo type excluiu-se as citações, os resultados em formato html e doc, além de
desconsiderar os livros e as os tipos que não tinham preenchimento específico, ressaltando
que essa exclusão buscou os resultados com maior possibilidade de acesso integral.
Tendo em vista a regionalidade deste estudo e sua respectiva congruência com o
Programa de Pós-graduação em Administração da Universidade Federal de Rondônia (PPGA/
UNIR), buscou-se nas dissertações disponíveis no sítio eletrônico do referido programa as

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quais contenham em seu título uma das três palavras-base do tema deste trabalho - Redes
Organizacionais Solidárias - seja no plural ou singular.
Cabe ressaltar que a delimitação das dissertações do PPGA se orienta ainda por Kuhn
(2006) ao destacar a importância de conhecer as crenças e os paradigmas que são com-
partilhados por uma determinada comunidade científica, o que tende a direcionar o discurso
dessa comunidade, sem, todavia, uniformizá-lo.
Percebeu-se que alguns autores ganhavam evidência entre os trabalhos, os quais
foram buscados e analisados para compor este artigo almejando entender pensamentos
originários a respeito da temática Redes Organizacionais e Solidárias.
Para coleta de dados fez-se pesquisa de campo sendo realizada entrevista semies-
truturada almejando delimitar o cenário das respostas para contribuir diretamente com a
consecução dos objetivos da pesquisa, como também possibilitar aos entrevistados o es-
tabelecimento de interligações entre assuntos e contextos a fim de não atrofiar o horizonte
dos respondentes.
Cabe evidenciar que foram entrevistados o representante de uma entidade governamen-
tal local responsável por planejar, coordenar e executar programas de assistência técnica e
extensão rural, a líder dos coletores de castanha da Amazônia no distrito em questão e um
coletor de castanha que possui outras atividades extrativistas, atribuindo-lhes as letras A, B
e C, respectivamente.
Os respondentes e os pesquisadores estavam organizados em um formato de mesa
redonda onde os entrevistados foram informados de que as indagações realizadas e expostas
para manifestação visavam aos objetivos específicos de descrever a rede organizacional
solidária existente entre os coletores de castanha da Amazônia de um distrito de Porto
Velho/RO e propor alternativas para fortalecer os vínculos e elos da rede. A entrevista foi
gravada e transcrita para melhor interpretação por parte dos pesquisadores, salientando a
aquiescência dos respondentes em participar da entrevista e a permissão para gravação.
Entretanto, percebeu-se que o anonimato ofereceria um ambiente mais livre para manifes-
tação dos entrevistados, preservando a identificação a fim de colher dados os mais reais e
sinceros possíveis sobre a realidade estudada.
Trata-se, portanto, de uma pesquisa básica no que diz respeito à natureza por não se
pretender como finalidade um resultado concretamente aplicado, e sim contribuir através da
produção de conhecimento para os demais estudos. Orientando-se ainda por Siena (2007),
pode-se considerar como uma pesquisa essencialmente bibliográfica com características de
um estudo de caso no que tange aos procedimentos, de abordagem qualitativa e em relação
aos objetivos infere-se aspectos estritos de pesquisa exploratória por buscar aprofundar
informações relativas ao tema.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para atingir ao objetivo geral de analisar a rede organizacional solidária existente na


realidade investigada, apresentar-se os resultados relativos à descrição e à proposta de alter-
nativas para o fortalecimento dos laços entre os componentes dessa rede, sendo necessário
evidenciar que a realização das entrevistas foi realizada em novembro de 2016, próximo
ao pico de coleto da castanha da Amazônia, acreditando-se que esse cenário sensibilizou
os respondentes.

Rede Organizacional Solidária de Coletores de Castanha-da-Amazônia

Em um primeiro momento, fez-se necessário verificar qual o ponto da cadeia da


Castanha-da-Amazônia e até qual etapa ocorria dentro das áreas do munícipio de Porto
Velho/RO, indagando-se aos entrevistados onde se dava a origem dessa cadeia. Observou-
se então que o início dessa rede realmente acontece com os coletores de castanha, os quais
adentram na floresta para retirar os ouriços ou seja no segmento primário da cadeia produtiva.
Todos os respondentes afirmaram que os coletores são os atores iniciais na rede da
Castanha-da-Amazônia, e posteriormente explicaram que após a coleta, a castanha é ven-
dida em latas, que são precificadas de acordo com os compradores locais. Nesse momento,
os entrevistados B e C ressaltaram a relação de dependência entre os compradores locais
e os coletores, principalmente dos castanheiros que vivem exclusivamente da castanha.
Essa dependência foi evidenciada pelo fato da fonte de renda exclusiva, oriunda da
coleta da Castanha-da-Amazônia, uma vez esses coletores tomam dinheiro emprestado dos
compradores para pagarem no próximo período de coleta da castanha, demonstrando uma
dependência de dois quadrimestres durante o ano, considerando que a safra da castanha
acontece entre os meses de novembro a fevereiro.
A quantia de dinheiro é contabilizada de acordo com o preço da lata, mas no momen-
to de pagar o empréstimo, todos os entrevistados deixaram claro que os coletores pagam
montantes superiores ao que fora tomado emprestado. Porém, o respondente C declarou
que essa sujeição aos compradores não é recorrente para os coletores que têm outra fonte
de renda, sejam em atividades comerciais ou extrativistas.
Infere-se que esses compradores locais são atravessadores, que Erpen (2013) defi-
ne como pessoas que vão ao encontro dos produtores e coletores de castanha, tanto nas
Reservas Extrativistas como nas áreas indígenas e compram suas produções muitas vezes
antes da coleta e por vezes quando são procurados na cidade. Através das colocações do
respondente B extrai-se que a situação continua de acordo com a pesquisa de Erpen (2013),

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de que os coletores que procuram os compradores - fenômeno que explicita o manuseio dos
atravessadores para com a produção dos castanheiros.
O entrevistado A destacou que as relações são prejudiciais para os coletores de cas-
tanha, os quais saem em desvantagem, mas não se manifestou grandes apontamentos.
Percebeu-se que a entidade governamental não atua diretamente na negociação ou regu-
lação de tais transações, contudo, este ponto não foi relatado pelos coletores de castanha,
que demonstravam, na verdade, grande empatia com o agente estatal.
Depreendeu-se de pronto, que existe uma rede interorganizacional, necessária para a
efetivação das transações comerciais, mas que não estão baseadas em relação que ambos
saem ganhando e muito menos pautadas na confiança mútua, não estando em consonância
com o referencial teórico e conceitual de que uma rede organizacional solidária evidencia
a justiça e a solidariedade como valores basilares. Lembra-se o que Jacobi (2000) enfatiza
sobre os multifacetados atores sociais sobre a mobilização em torno das questões do dia
a dia, pode contribuir para desenvolver a colaboração e desenvolver o espírito solidário.
Esta postura pode reforçar o engajamento dos atores a partir do entendimento de questões
concretas, imediatas, ou que afetam elevados valores éticos.
A ausência de uma rede solidária foi corroborada pelo relato do respondente B de que
um vizinho possuía uma propriedade com inúmeras castanheiras, mas que não permitia
coletor algum entrar para colher as castanhas, e nem mesmo realizava a coleta dos ouriços.
Ainda ressaltou, que em seu ponto de vista, isso era falta de perspectiva, e que grande parte
dos coletores de castanha, bem como outros extrativistas, detinham um determinado grau
de miopia no que se refere ao aproveitamento das oportunidades.
Neste sentido descrever uma rede organizacional solidária deve ser de maneira simples
pois a rede interorganizacional existente está pautada em uma relação comercial entre os
coletores de Castanha-da-Amazônia e os atravessadores, não contendo interferência da
entidade estatal, muito menos união dos coletores para barganha de melhores preços nas
latas da castanha. O que corresponde ao que preconiza Wasserman e Faust (1994) quando
diz que uma estrutura social composta por indivíduos ou organizações estão vinculados por
um ou mais tipos específicos de interdependência, como amizade, parentesco, interesse
comum, troca financeira, antipatia, relações sexuais ou relações de crenças, conhecimentos
ou prestígio. Portanto, analisar a rede social considera as relações sociais em termos de
teoria da rede, consistindo de nós e laços, onde os nós são os atores individuais dentro das
redes, e os laços são os relacionamentos entre os atores.

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189
Proposta para fortalecer os vínculos cooperativos entre os Coletores

Considerando a inexistência de uma rede organizacional solidária entre os coletores


de castanha e os demais atores envolvidos nessa cadeia, a primeira alternativa para for-
talecimento de vínculos seria a criação dessa rede de colaboração solidária. Mas como se
daria essa criação?
Um questionamento que os entrevistados responderam sugerindo alternativas para
melhorar e fortalecer a relação entre os coletores consigo mesmos e entre os coletores com
os demais agentes. Depreende-se que essa inclinação demonstrada pelos entrevistados
pressupõe um ambiente favorável para relações de confiança e crescimento mútuo.
No entanto, citaram um caso de um atravessador que teve prejuízo em adiantar di-
nheiro para determinados coletores porque tais castanheiros venderam a produção para
outros compradores, e não pagaram o empréstimo tomado. Cabe destacar que os respon-
dentes evidenciaram que, apesar desse prejuízo, o atravessador já obteve bastante lucro
nesse negócio, e que essa situação de prejuízo somente ocorrera pela confiança depositada
em tais coletores.
Ao tempo em que se infere um desejo por relações ganha-ganha, a desconfiança
permeia o ambiente destes coletores de castanha da Amazônia, seja pela realidade de ex-
ploração por parte dos compradores e atravessadores ou pelo pouco empoderamento social
e econômico que os castanheiros detêm. Contudo, esse sentimento de exploração não foi
tão ressaltado pelo respondente C, o que deu a entender que o fato de sua renda também
se originar de outras atividades não o deixava tão vulnerável perante os atravessadores.
Dessa forma, uma alternativa colocada para o fortalecimento dos coletores de castanha
e suas redes seria um auxílio governamental que suprisse as necessidades básicas no pe-
ríodo em que não há produção de castanha, segundo o entrevistado B. Enquanto, de acordo
com o respondente C, a confiança seria estabelecida se os atravessadores comprassem a
castanha por um preço mais justo e não irrisório.
Para o entrevistado A, os vínculos serão fortalecidos somente quando os coletores de
castanha formarem cooperativas e barganharem perante os atravessadores os preços que
estão dispostos a vender os ouriços coletados.
Infere-se que os coletores almejam por alternativas mais assistencialistas de cunho
governamental, e quanto maior é a dependência financeira dos atravessadores, maior se
apresenta o clamor por medidas que concedam aos castanheiros renda para a subsistên-
cia. Por outro lado, o representando estatal acredita que o fortalecimento dos castanheiros
somente emanaria deles próprios, mediante associações e cooperativas.
Apesar de os respondentes passearem por cenários distintos no que tange às alterna-
tivas de fortalecimento dos vínculos, todos acreditam na cooperação como uma medida que

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beneficiará tanto os coletores de castanha, quanto os atravessadores e, consequentemente,
auxiliará o Estado, uma vez que a interação entre os indivíduos cria oportunidades para
distribuição de conhecimentos e troca de informações, segundo Reis (2014).
Percebe-se, então, que a entidade governamental deve ser o meio pelo qual os coletores
e os atravessadores trocarão informações entre si, e que estas representam as necessidades
e anseios de cada um, para que assim a rede organizacional solidária seja criada e mantida,
beneficiando todos os atores que por ela serão abarcados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o objetivo geral de analisar a rede organizacional solidária dos coletores de cas-
tanha da Amazônia em um distrito do município de Porto Velho/RO foi possível observar
que não existe uma rede pautada no solidarismo, mas sim um entrelaçamento oriundo das
transações comerciais existentes, não havendo preocupação dos demais indivíduos e com
os impactos advindos dessas relações.
No que se refere ao objetivo específico de descrever a rede existente, realizou-se a
pormenorização da rede interorganizacional presente na realidade estudada, a qual apa-
rentemente se apresenta sem conceder a importância necessária a valores como ética,
transparência e equidade.
Em contraponto, depreende-se que redes organizacionais solidárias são interconexões
entre os mais variados atores, sejam eles indivíduos ou organizações, que buscam conceder
poder à solidariedade e ao voluntarismo para que sejam criados caminhos mais isonômicos
em direção à ascensão econômica e social, nos quais a desigualdade se torna ferramenta
para o crescimento, e não empecilho.
Referente ao segundo objetivo específico, depreende-se que em um primeiro momento
deve ser criada uma rede organizacional solidária para que os próprios relacionamentos
sejam fortalecidos através da confiança e do amadurecimento do entendimento de que o
constructo social se faz mais importante para que os indivíduos alcancem seus próprios an-
seios. Além disso, políticas governamentais devem regular o comércio e demais transações
visando manter um equilíbrio entre os coletores e atravessadores.
Por derradeiro, uma rede organizacional solidária possibilitaria aos coletores de casta-
nha da Amazônia um empoderamento coletivo, o que ocasionaria maior barganha durante a
negociação com os atravessadores, e consequentemente, estenderia essa rede para toda a
cadeia de valor da castanha, em que o cooperativismo proporcionaria a alavancagem social
dos menos favorecidos e a conscientização de todos os envolvidos nesse processo extrati-
vista, tanto para a conservação das relações econômicas, como também para as relações
sociais, e em favor principalmente do meio-ambiente.

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13
Saúde da mulher indígena no Brasil: uma
revisão integrativa

Amanda de Cassia Azevedo Silva


FAPI

André Luis Cândido Silva


SESA/PR

'10.37885/220809804
RESUMO

As mulheres indígenas sofrem inúmeras discriminações, concernentes ao gênero e etnia,


afetando a qualidade de vida, a exposição de riscos, as taxas de morbimortalidade e ocor-
rência de violências. Objetivo: Conhecer o processo saúde-doença das mulheres indígenas
no Brasil. Método: Revisão integrativa com pesquisa nas bases de dados ScieLO, PUBMED
e BVS utilizando três descritores em ciências da saúde (DeCS) nos idiomas português, es-
panhol e inglês. Foram utilizadas as seguintes combinações “saúde indígena AND mulheres
AND Brasil”. Os critérios de inclusão foram artigos em português, inglês e espanhol, que
abordassem a relação entre saúde e mulheres indígenas no Brasil. Resultados: Identificou-se
129 publicações e, após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados,
ao final, 16 artigos. A partir dos artigos selecionados foram extraídos 03 eixos: Morbidades,
Violência e Tradição ou aspectos culturais. Conclusão: Obstáculos culturais, geográficos,
socioeconômicos e linguísticos redundam em repercussões negativas para a saúde da
mulher indígena como: infecções sexualmente transmissíveis, violências e aumento da
morbimortalidade. Portanto, verifica-se indolências na atenção à essas mulheres. É urgente
a concepção de políticas públicas e a concretização das já vigentes, visando a melhoria da
saúde das mulheres indígenas, e a busca por equidade, considerando as diferenças cultu-
rais desses povos.

Palavras-chave: Saúde Indígena, Mulheres, Brasil.


INTRODUÇÃO

O Brasil possui mais de 305 povos indígenas, com uma população de 896.917 pessoas,
o que equivale a 0,47% da população brasileira (IBGE, 2010). Quanto a composição por
gênero, há um equilíbrio entre homens e mulheres.
A ampla visão de saúde, que teve como marco referencial o preâmbulo da Constituição
da Organização Mundial de Saúde (OMS,1946) anuncia o conceito de saúde como “o comple-
to bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou outros agravos”.
A Constituição Federal, introduz o direito à saúde entre os direitos fundamentais sociais
no art. 6°, e no art. 196 assegura ser “garantido mediante políticas sociais e econômicas que
visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário
às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 1988).
A concepção indígena de saúde-doença, constata uma noção que se alicerça em fe-
nômenos e relações diferentes dos princípios biomédicos ocidentais, exigindo uma grande
sensibilidade dos profissionais de saúde, dirigida para uma atuação capacitada em gerir
essas complexas diferenças (SARTORI, LEIVAS, 2017). O processo saúde-doença pode
ser concebido como “resultado do tipo de relação individual e coletiva que se estabelece
com as demais pessoas e com a natureza” (LUCIANO, 2006, p.173).
Circunstâncias culturais, históricas e socioeconômicas, promovem a violação ao direito
à saúde, derivando em diversas desigualdades entre as minorias. As mulheres abarcam
esse grupo, e encaram dificuldades quanto à garantia direitos, em especial no que se refere
à saúde sexual e reprodutiva (ORTIZ, 2019).
Ser mulher indígena é ser duplamente minoria, por gênero e etnia. Essa constatação
impacta na qualidade de vida, nas taxas de morbidade e mortalidade, e no acesso aos ser-
viços de saúde (ABRITTA, 2021). Tais fatos resgatam um contexto social, cultural e histórico
concernentes por lutas de poder (ORTIZ, 2019), demonstrado no Brasil pelo patriarcado,
com uma formação social onde homens mantêm poder, e as mulheres sequer dispõem de
liberdade sobre seus próprios corpos ou sua saúde, mas as aproximam da exclusão políti-
ca, social e econômica favorecendo um lugar permanente de discriminação estrutural, com
vulnerabilidade a variados atos de violência (ABRITTA, 2021).
A carência de efetivas políticas públicas agrava as iniquidades sociais e sanitárias
neste grupo populacional. Uma deficitária informação, aliada a estilos de vida hespéricos
anexados às populações indígenas, acarretam o desenvolvimento de variadas morbidades,
particularmente as infecções sexualmente transmissíveis (IST). Um exemplo é a prevalência,
1,82%, de sífilis entre as mulheres indígenas no Brasil (ORTIZ, 2019; ABRITTA et al, 2021;
ROMERO et al, 2019).

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A partir do cenário caracterizado por variados fatores que implicam na vulnerabilida-
de social em ser mulher e indígena, questiona-se: Quais são as evidências disponíveis na
literatura científica em relação a saúde da mulher indígena no Brasil? Dessa forma, obje-
tivou-se delinear o estado da arte referente ao conhecimento científico sobre o processo
saúde-doença das mulheres indígenas no Brasil, a fim de estruturar a publicação pertinente
a essa temática no país.
O tema possui relevância no contexto atual devido aos desafios enfrentados pelos povos
indígenas brasileiros, sobretudo pelas mulheres. Além de viverem séculos na invisibilidade,
esses povos, foram dizimados por doenças introduzidas pelos invasores colonizadores,
dentre elas: gripe, varíola, sarampo, e agora, a Covid-19. Faltam aos povos indígenas siste-
mas de saneamento básico nas aldeias, oferta de água potável em quantidade e qualidade,
e a garantia da produção de alimentos saudáveis nas aldeias (PANKARARU et al, 2019).
Concatenado a isso, as mulheres indígenas defrontam-se com inúmeros e incansáveis tipos
de discriminação histórica, produzindo flagrante exposição a violações de direitos huma-
nos. São diversas as barreiras que as mulheres indígenas enfrentam, como as escassas
oportunidades ao mercado de trabalho, dificuldades geográficas e econômicas no alcance
a serviços de saúde e educação, acesso restrito a programas e serviços sociais, altas taxas
de analfabetismo, baixa participação no processo político e marginação social (CIDH, 2017).
O estudo pretende contribuir com a temática de saúde das mulheres indígenas asso-
ciada a questões de educação em saúde, e identificação por meio dos estudos já existentes,
de potencialidades e desafios encontrados na literatura atual.

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa, método que evidencia lacunas do conhecimento


de determinado conteúdo (Ercole et al, 2014). Foram seguidas seis etapas (MENDES et al,
2008), a fim de garantir precisão metodológica do estudo: 1) elaboração da questão de
pesquisa; 2) definição dos critérios de busca na literatura; 3) definição dos dados a serem
categorização; 4) avaliação dos estudos incluídos; 5) interpretação dos resultados; e 6)
apresentação da síntese do conhecimento.
Para direcionar a busca, foi elaborada a questão de pesquisa utilizando a estratégia
PICo (População, Interesse e Contexto): P - Mulheres; I – Saúde da População Indígena; Co -
Brasil. Tal acrônimo possibilita o alcance de uma busca efetiva a partir da elaboração de
uma questão de pesquisa esclarecedora (LOCKWOOD et al, 2020) o que permitiu formular
a seguinte questão norteadora: “Como encontra-se a saúde das mulheres indígenas no
Brasil, de acordo com as publicações científicas?”.

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A busca dos artigos foi feita entre fevereiro e maio de 2022, utilizando três descritores
em ciências da saúde (DeCS) nas bases de dados BVS, SciELO e PubMed nos idiomas
português, espanhol e inglês. As bases de dados escolhidas possuem grande relevância na
área da saúde por hospedarem evidências expressivas para melhoria da prática em saúde.
Foram usadas as seguintes combinações nas três bases de dados: “saúde indígena AND
mulheres AND Brasil”, “Salud de Poblaciones Indígenas AND mujeres AND Brasil”, “Health
of Indigenous Peoples AND women AND Brazil”. A análise dos dados seguiu critérios de
inclusão baseados no tema proposto pela presente pesquisa: (1) artigos com texto completo
disponível; (2) realizados no Brasil; (3) publicados nos idiomas inglês, português e espanhol
e (4) que abordassem a saúde da mulher indígena. Foi estabelecido um limite temporal de
5 anos, de 2017 a 2022, possibilitando maior delineamento do estudo. Foram excluídos
os estudos repetidos, artigos que não estavam publicados na íntegra, teses, dissertações,
monografias e artigos com fuga da abordagem temática.
Para demonstração da coleta e seleção dos artigos foi utilizado o fluxograma baseado
na recomendação PRISMA, conforme sugerido pelo Preferred Reporting Items for Systematic
Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) (MOHER et al, 2014) de acordo com o esquema
mostrado na Figura 1.

Figura 1. Fluxograma de Seleção dos Artigos.

Fonte: adaptado de Moher et al, 2009.

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RESULTADO

A aplicação dos descritores resultou na localização de 129 artigos nas três bases de
dados online: 10 na base SciELO, 111 na PubMed, e 8 na base BVS. Após aplicação dos
critérios de inclusão e exclusão previamente estabelecidos, foram selecionados um total de
16 artigos na amostra final (Quadro 1). Após a leitura final, esses artigos foram categoriza-
dos em três eixos temáticos, com base no tema predominante em cada estudo: 1) Agravos
à saúde e morbidades; 2) Violência; e 3) Tradição e Aspectos culturais.

Quadro 01. Relação dos artigos selecionados para revisão nas bases de dados SciELO, PubMed e BVS, publicados entre
2017 e 2022 no Brasil.
PERIÓDICO E BASE QUALIS
AUTORIA METODOLOGIA/OBJETIVO EIXO TEMÁTICO
DE DADOS CAPES
Psicol. Conoc. Estudo de prevalência, quantitativo.
GRUBER et al, Soc., Montevideo Agravos à saúde e
2021 B4
Determinar a prevalência de IST na população indígena do Alto Rio morbidades
Scielo
Solimões.
Public Health
Estudo descritivo, quantitativo
COIMBRA et al, Nutr. England Agravos à saúde e
A1
2021 Avaliar o estado nutricional das mulheres indígenas de 14 a 49 anos morbidades
PUBMED
no Brasil.
Ethn Health.
Estudo descritivo, qualitativo.
BORGES et al, England Agravos à saúde e
A1
2021 Estimar a incidência de câncer de base populacional entre popula- morbidades
PUBMED
ções indígenas do Estado do Acre, Amazônia Ocidental brasileira.
Int J Environ Res
Public Health. Ba- Estudo quantitativo, transversal.
BASTA et al, sel, Switzerland Agravos à saúde e
A2
2021 Apresentar os principais resultados de uma análise integrada e mul- morbidades
PUBMED tidisciplinar dos parâmetros de saúde e avaliar os níveis de exposição
ao mercúrio (HG) em populações indígenas na Amazônia brasileira.
Revista De Enfer-
Estudo descritivo, de natureza qualitativa.
magem Da UFSM
NÓBREGA et al, Agravos à saúde e
B1 Analisar o modo como a prevenção da infecção pelo vírus da imu-
2020 morbidades
BVS nodeficiência humana (HIV) se configura sob o olhar de mulheres da
etnia potiguara.
Rev. bras. promoç.
saúde (Impr.) Qualitativo, relato de experiência.
SOUZA et al, Fortaleza Tradição e Aspectos
B2
2020 culturais
Descrever a vivência prática de uma ação de educação em saúde com
BVS
mulheres indígenas sobre os cânceres de mama e cervical.
Revista Brasileira
de Epidemiologia Estudo qualitativo, transversal.
[online]
PEREIRA et al,
B2 Caracterizar o perfil das violências, das vítimas e dos prováveis Violência
2020
autores das violências perpetradas contra adolescentes, bem como
Scielo
descrever o percentual de municípios notificantes por unidade da
Federação.
PLoS One, São
BARBOSA et al, Estudo quantitativo, transversal.
Francisco/EUA Agravos à saúde e
2020 A2
Determinar a prevalência e fatores associados à infecção por Tricho- morbidades
PUBMED
monas vaginalis (TV) em mulheres indígenas brasileiras.
Cadernos de
DIAS-SCO- Estudo etnográfico qualitativo.
Saúde Pública Tradição e Aspectos
PEL; SCOPEL, A3
Analisar as práticas relativas à menstruação entre os Munduruku do culturais
2019 Scielo
Amazonas.

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200
PERIÓDICO E BASE QUALIS
AUTORIA METODOLOGIA/OBJETIVO EIXO TEMÁTICO
DE DADOS CAPES
OLIVEIRA et al, Sex., Salud Soc. Estudo qualitativo.
Tradição e Aspectos
2019 A1 Discutir o papel das parteiras nesse contexto, as práticas e as técnicas
Scielo culturais
tradicionais em uma região do Amazonas.
Saúde debate, Rio Qualitativo, revisão de literatura.
de Janeiro
Reunir subsídios para: capacitar os profissionais de saúde da atenção
básica e as parteiras que assistem mulheres e crianças menores de
SILVA et al], cinco anos para exercerem a vigilância alimentar e nutricional nos Agravos à saúde e
2019 B2 serviços de saúde; monitorar e avaliar a intervenção em telessaúde morbidades
Scielo no que diz respeito à adequação nutricional da população assistida
e ao aprimoramento de práticas assistenciais e contribuir para ela-
boração de cardápios baseados em práticas alimentares saudáveis,
respeitando a diversidade cultural, e que sejam ambiental, cultural,
econômica e socialmente sustentáveis.
Epidemiol. Serv.
Estudo quantitativo, descritivo.
Saúde, Brasília
ESTIMA et al, Agravos à saúde e
B2 Descrever as mortes de mulheres em idade reprodutiva e materna
2019 morbidades
Scielo entre indígenas do estado de Pernambuco, Brasil, no período de 2006
a 2012.
Cadernos de
BORGES et al, Saúde Pública
Estudo quantitativo, observacional descritivo.
2019 [online]. Rio de Agravos à saúde e
Janeiro A3
Scielo morbidades
Estimar a mortalidade por câncer em povos indígenas no Estado do
Scielo
Acre, Brasil.
Cadernos de Saú-
GARNELO et al, de Pública [online] Estudo quantitativo, transversal.
Rio de Janeiro Agravos à saúde e
2019 A3
morbidades
Avaliar a atenção pré-natal de mulheres indígenas com idades entre
Scielo
14-49 anos, com filhos menores de 60 meses no Brasil.
Rev. Saúde Pública
Mato Grosso do Revisão integrativa.
Sul (Online) Não
LIMA et al, 2018
possui Compreender as crenças, tradições e práticas acerca da saúde repro-
qualis dutiva, em especial, sobre a iniciação sexual, gravidez, parto e puer-
BVS
pério nas comunidades indígenas do Brasil, de acordo com pesquisas
publicadas entre os anos de 1989 e 2016.
Revista Brasileira
PÍCOLI et al, de Saúde Materno Estudo epidemiológico quantitativo.
Infantil Agravos à saúde e
2017 B2
morbidades
Analisar o perfil epidemiológico dos óbitos maternos segundo raça/
Scielo
cor em Mato Grosso do Sul.
Fonte: Autoria Própria (2022).

Quanto a base de dados, foram encontrados 9 periódicos científicos na Scielo, 4 na


PUBMED e 3 na BVS. O Qualis se concentrou em B2, com 5 artigos. Outros Qualis verifica-
dos, foram A1 (n=3), A2 (n=2), A3 (n=3), B1 (n=1), B4 (n=1), e sem classificação qualis (n=1).
O Qualis Periódicos possui 8 classificações: A1, A2, B1, B2, B3, B4, B5 e C, com A1 sendo
a classificação mais elevada que um periódico pode receber, e C, tendo a pontuação zero,
ou de menor evidência (BRASIL, 2017).
As metodologias utilizadas foram a quantitativa, em 8 artigos, mas também foram em-
pregados os métodos qualitativos (n=8), sendo 1 desses etnográficos, 2 revisões de literatura
e 1 relato de experiência. Quanto ao ano de publicação, foram identificados 4 em 2021, 4
em 2020, 6 em 2019,1 em 2018, 1 em 2017.

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201
Os periódicos selecionados abarcam as seguintes revistas científicas: Psicol. Conoc.
Soc. (Montevidel); Public Health Nutr. (England), Ethn Health (England), Int J Environ Res
Public Health (Basel, Switzerland); Revista De Enfermagem Da UFSM (Rio Grande do Sul);
Rev. bras. promoç. saúde (Impr.) (Fortaleza); Revista Brasileira de Epidemiologia [online]
(Brasília); Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil (Recife); Rev. Saúde Pública Mato
Grosso do Sul; PLoS One (São Francisco/EUA); Epidemiol. Serv. Saúde, (Brasília); Sex.,
Salud Soc (Rio de Janeiro). Destaca-se Cadernos de Saúde Pública [online] (Rio de Janeiro),
com 3 publicações.
Os resultados obtidos foram esmiuçados a partir da classificação em três eixos, depen-
dendo do conteúdo abordado em cada artigo: 1) Agravos à saúde e morbidades, ao expor
enfermidades e situações de dano à salubridade; 2) Violência, ao debater diferentes abusos
à mulher indígena; e 3) Tradição e aspectos culturais, ao denotar situações estruturadas na
ancestralidade, cultura, crenças e rituais indígenas.

Agravos à saúde e morbidades

A alta a prevalência de IST entre a população indígena do Alto Rio Solimões e sua
significativa subnotificação, apontam para negligência relacionada ao estudo e ao cuidado
desses povos. A maior prevalência de IST em mulheres indígenas se deu expressivamente
do município de Nova Itália e da etnia Tikuna (GRUBER et al, 2021).
No caso de Trichomonas vaginalis (TV), existe alta prevalência encontrada na popula-
ção indígena, que se compara a populações altamente vulneráveis (presos, profissionais do
sexo e mulheres em regiões com baixos níveis socioeconômicos), além de parecer existir
um subdiagnóstico dessa infecção (BARBOSA et al, 2020).
O HIV é outra doença infecto contagiosa encontrada nos estudos, e também uma
IST. As mulheres potiguaras, embora reconheçam os meios de prevenção da doença, têm
dificuldade para praticar sexo protegidas. Isso, por conta de desigualdades social e de gê-
nero, que afetam as mulheres como um todo (NÓBREGA et al, 2020).
Dessa forma, se reconhece uma incontestável vulnerabilidade dessas mulheres às
IST. Em consequência, é prudente progredir na realização de políticas voltadas para edu-
cação sexual e ações preventivas, e o desenvolvimento de pesquisas que destaquem os
contextos sociais e culturais, assim como o empoderamento dessas mulheres a atitudes
adequadas de cuidado e proteção. Outra ação imprescindível é a capacitação dos profis-
sionais de saúde, que inclua conhecimentos mais intensos sobre as especificidades dessas
mulheres (GRUBER et al, 2021; NÓBREGA et al, 2020; BARBOSA et al, 2020).
Mais uma alta prevalência, é para o excesso de peso e para a obesidade nas mu-
lheres indígenas de 14 a 49 anos. Essa morbidade relaciona-se a determinantes sociais,

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como os indicadores socioeconômicos, condições de vida integradas ao mercado e menor
dependência da produção local de alimentos, assim como aumento da idade e paridade
(COIMBRA et al, 2021). Neste sentido, é preciso ter em conta os resultados de políticas
públicas já implementadas, objetivando melhorar a segurança alimentar e nutricional, além
da realização de estudos que monitorem mudanças na situação nutricional da população
indígena, a fim de gerar estatísticas confiáveis, representativas e constantes, acerca das
condições de saúde das minorias étnicas (COIMBRA et al, 2021).
Os cânceres de colo uterino foram altamente incidentes entre a população indígena
brasileira da Amazônia Ocidental em comparação às mulheres não indígenas. E mesmo
com uma baixa frequência do câncer de mama, apenas o fato de estar presente entre as
mulheres indígenas indica um cenário de transição epidemiológica complexo nesses povos
(BORGES et al, 2019).
Neoplasias passíveis de prevenção, como câncer cervical, e relacionadas ao subde-
senvolvimento, como estômago e fígado, corresponderam a cerca de 49,4% dos óbitos entre
indígenas (BORGES et al, 2019). A mortalidade por câncer cervical, estômago, fígado e
leucemias esteve acima de 30% entre as mulheres indígenas (BORGES et al, 2019).
Deve existir atenção à necessidade de estruturação dos programas de controle do
câncer cervical, além do diagnóstico e tratamento adequado para as neoplasias obser-
vadas em mulheres indígenas adultas e idosas, pois os cânceres de mama e do colo do
útero têm arrebatado muitas vidas, mesmo que se tratem de doenças preveníveis e com
exames preventivos ofertados na Atenção Primária à Saúde (SOUZA et al, 2020). Ressalta-
se a importância da adequação dos serviços às necessidades das populações indígenas,
abrangendo programas de educação em saúde tangentes ao rastreamento, diagnóstico e
tratamento oncológico, “culturalmente sensíveis e em trabalho de parceria com as comuni-
dades” (BORGES et al, 2019, p. 10).
Tão preocupante quanto as já citadas enfermidades, a exposição crônica ao mercúrio
tem causado efeitos nocivos às comunidades indígenas, significativamente em grupos vul-
neráveis da população, como mulheres em idade fértil. É relevante atentar para as propostas
de “interrupção da mineração ilegal nessas áreas e desenvolver um plano de gestão de
riscos que vise garantir a saúde, os meios de subsistência e os direitos humanos dos povos
indígenas da Bacia Amazônica” (BASTA et al, 2021, p.7).
Existe ainda, resultados bastante desfavoráveis para mortalidade materna, de mulheres
em idade reprodutiva (ESTIMA et al, 2019) e indicadores para o pré-natal (GARNELO et al,
2018). Foram identificadas:

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Iniquidades sociais e sanitárias, inclusive quando as mulheres indígenas são
comparadas com segmentos da população brasileira com alta vulnerabilidade
social e deficiência de cobertura de atenção à saúde. Os baixos percentuais
de assistência à saúde apontados para as mulheres da Região Norte como
um todo, incidem também nas minorias étnicas, contribuindo para as grandes
lacunas encontradas na oferta de ações do pré-natal às mulheres indígenas
(GARNELO et al, 2018, p.10).

Verificou-se também, uma subnotificação das mortes de mulheres indígenas em idade


reprodutiva, embora as mortes maternas ainda representem relevante causa de óbito na
população estudada (ESTIMA et al, 2019).
O risco de óbito de mulheres indígenas maior quando comparadas às brancas. “A razão
da mortalidade materna específica foi elevada entre as mulheres indígenas, 651,8 óbitos
por 100 mil nascidos vivos, respectivamente, na faixa etária entre 30 a 39 anos” (PÍCOLI
et al, 2017, p.739).
Na busca por opções de controle do problema podem ser citadas: a possibilidade de
utilização de estratégias, como o aprimoramento de sistemas de informação, que permitiriam
complementar dados, entre eles a raça/cor (indígena) (ESTIMA et al, 2019); aprimoramento
da qualidade do cuidado ofertado e de seus registros; aumento do uso das cadernetas de
gestante e a adoção de fichas perinatais para a produção de dados fiéis de ações executadas
no contexto da saúde das mulheres indígenas (GARNELO et al, 2018).
Quando a mortalidade materna é analisada como um evento sentinela, pode identi-
ficar as precariedades dos atendimentos, a fim de promover ações em tempo hábil, e que
qualifiquem a atenção à saúde a esse grupo populacional (PÍCOLI et al, 2017).

Violência

Um discurso da Ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, em abril


de 2022, retrata o trágico e delicado período que assombra as populações indígenas, prin-
cipalmente as mulheres desses povos:

[...]uma menina de 12 anos, indígena, teria sido estuprada até a morte em


ataque de garimpeiros na comunidade de Aracaçá, região de Waikás, na Terra
Yanomami, em Roraima[...]A violência e a barbárie praticada contra os indíge-
nas estão ocorrendo há 500 anos, não diferente da violência que vem ocor-
rendo, especialmente contra as mulheres no Brasil, de uma forma crescente.
Parece que a civilização tem significado apenas para um grupo de homens.
[...] O feminicídio no Brasil vem mostrando a média de quatro mulheres mortas
a cada dia. As mulheres indígenas são massacradas sem que a sociedade
e o Estado tomem as providências eficientes para que se chegue à era dos
direitos humanos para todos, não como privilégio de parte da sociedade [...]
(STF, 2022, online).

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Apesar de apenas um artigo (PEREIRA et al, 2020) sobre violência ter sido selecio-
nado para esta revisão integrativa, cabe ressaltar a extrema importância em desvelar seus
dados ao “caracterizar o perfil das violências, das vítimas das violências perpetradas contra
adolescentes, bem como descrever o percentual de municípios notificantes por unidade da
Federação” (PEREIRA et al, 2020, p. 21). Os autores asseveram que a violência sexual
ocorreu preponderantemente no sexo feminino, sendo prevalente entre 10 e 14 anos, nas
raças/cores indígena, negra e amarela, quando perpetrada de forma repetitiva, no domicílio.
Vivemos contemporaneamente a um cenário de intensificação de violências contra os
povos indígenas e especificamente contra as mulheres. Apenas em agosto de 2021 foram
assassinadas uma adolescente do povo Kaingang, do Rio Grande do Sul, e uma criança
de 11 anos do povo Guarani Kaiowá, do Mato Grosso do Sul. Para além da falta de dados
específicos da violência contra as mulheres indígenas, seja a étnica ou de gênero, as mu-
lheres são as mais impactadas pelas invasões de suas terras (HAJE, 2022).
Dada a sórdida natureza desses agravos, essas violências criam notáveis danos à
saúde mental, física, sexual e reprodutiva. Trata-se de um problema difícil e multifatorial e
exige intervenções de toda sociedade civil, e intersetorialidade estatal.
Salienta-se a escassez de estudos sobre essa temática, já que se constitui de assunto
concreto e constante na sociedade atual, o que ressoa com maior ruído em minorias em
direitos e étnicas. Faz-se necessário maior sensibilidade e um olhar diligente à essa barbárie
de raiz histórica, cultural e patriarcal.

Tradição e conjectura cultural

Há semelhanças entre as crenças e práticas tradicionais indígenas, e também diver-


sas singularidades em cada etnia que precisam ser levadas em consideração pelos profis-
sionais de saúde e pelas políticas públicas (LIMA et al, 2018). Os autores afirmam um efeito
nocivo da falta de competência cultural dos profissionais da saúde e seu impacto na adesão
e eficácia dos tratamentos.
As diversas práticas tradicionais dos povos indígenas, envolvem o ser e o poder, cren-
ças, costumes, rituais e práticas particulares de cada comunidade. Tais práticas dialogam
com todos os acontecimentos da vida, e no caso da mulher indígena, podem ser citadas a
alimentação/nutrição, menarca, parto/nascimento e tratamento de enfermidades.
Em relação a práticas de cuidado em saúde, ações de educação em saúde para mu-
lheres indígenas sobre cânceres de mama e de colo uterino demonstram que é comum o
uso de plantas nas suas práticas de saúde, como fitoterápicos, na forma de garrafadas e
chás (SOUZA et al, 2020).

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Os Munduruku da Terra Indígena Kwatá-Laranjal, Amazonas, valorizam os laços so-
ciais e a participação no universo de relações cosmológicas, semelhante a outros povos
indígenas. Isso difere da noção biomédica de corpo excessivamente reducionista e mate-
rialista, que surge como obstáculo à promoção da atenção diferenciada. Os saberes e prá-
ticas emergem por meio de experiências coletivas repassadas entre gerações de mulheres
(DIAS-SCOPEL et al, 2019).
Nota-se que a cultura é indissociável da saúde para as indígenas, e desse modo,
verifica-se que a culturalidade pode se apresentar como um obstáculo para a saúde das
mulheres indígenas quando profissionais dessa área não utilizam uma abordagem alicerçada
no diálogo e no encontro das duas formas de saber (ABRITTA et al, 2021).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo de realizar uma revisão integrativa destacando a saúde da mulher indígena no


Brasil deve colaborar para a melhoria da abordagem, com a prestação da assistência e das
orientações de profissionais de saúde à mulher indígena. Foram verificados através dos estu-
dos abordados, diferentes problemas relacionados à saúde das mulheres estudadas, como:
mortalidade materna, IST, e doenças infecto contagiosas, neoplasias, efeitos da exposição
ao mercúrio, violência, além de questões respaldadas na cultura e tradição de seus povos.
Pondera-se que a saúde não está dissociada do sistema cultural e social, mas sim
é parte dele. Assim, sustenta-se, um cenário no qual o processo saúde-doença não pode
ser analisado de forma isolada das questões sociais, culturais e demais dimensões da vida
social do ser humano. O profissional de saúde deve agregar sua prática aos valores e co-
nhecimentos de cada povo, respeitando tradições e crenças. Portanto, é relevante que as
particularidades de cada grupo social sejam analisadas e valorizadas para que ocorra uma
abordagem sanitária mais efetiva, respeitando assim o princípio da equidade.
Conclui-se que a saúde da mulher indígena é negligenciada devido às barreiras cul-
turais, geográficas, socioeconômicas e linguísticas, o que torna imprescindível conhecer
a cultura dessas mulheres, as enfermidades que mais as acometem, a dinâmica social e
cultural, suas tradições, rituais e o modo que manejam o processo saúde-doença, para con-
ciliação das práticas de cuidado. Acentua-se a importância da execução de políticas públicas
já vigentes, assim como a implantação e implementação de novas políticas para combater
a desigualdade no acesso à saúde e promoção da equidade no cuidado fundamentado na
interculturalidade.
Alerta-se para a escassez de estudos relativos à saúde da mulher indígena, precipua-
mente com ênfase na violência sofrida por essas mulheres. Espera-se que esta pesquisa
possa contribuir para o conhecimento e fomentar novos trabalhos que protagonizem a mulher

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indígena, em suas diversas vertentes, além do processo saúde-doença, para o empodera-
mento e concessão de seu espaço de vivência, fala e práticas, com pleno respeito aos seus
direitos humanos e culturais.

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210
SOBRE OS ORGANIZADORES

Danielle Mariam Araujo Santos


outora em Turismo pela UNIVALI, através do Doutorado Interinstitucional junto á Universidade
Estadual do Amazonas UEA, Mestra em Ciências do Ambiente, professora Assistente na
Universidade do Estado do Amazonas (UEA) na área de Ensino de Geografia e coordenadora do
Programa Residência Pedagógica - Geografia UEA. Atuou em 2008 como Secretária de Educação
no município de Manacapuru, e em 2006-2007 como Coordenadora Municipal do Programa
de Compensações Ambientais do Gasoduto Coari-Manaus, pela Secretaria de Estado de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Há 18 anos atua na assessoria para elaboração de
projetos de captação de recursos para empresas e terceiro setor. Faz parte do Grupo de Pesquisa
PLAGET - Planejamento e Gestão do Espaço Turístico.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8179689636484146

Willian Carboni Viana


Doutor em Geografia (Geografia Humana) pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Mestre em Arqueologia pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro - UTAD e Instituto
Politécnico de Tomar - IPT (Erasmus Mundus). Especialista em Docência no Ensino Superior pela
Faculdade de Educação São Luís - FESL. Licenciado e Bacharel em Geografia pela Universidade
do Extremo Sul Catarinense - UNESC. Possui experiência de atuação nas áreas de Geografia
Econômica, Social e Cultural, e Arqueologia da Paisagem. Pesquisador colaborador do Laboratório
de Arqueologia Pública Paulo Duarte da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e
do International Centre for the Study of the Preservation and Restoration of Cultural Property
(ICCROM).
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2232281100381836

Amazônia: tópicos atuais em ambiente, saúde e educação - ISBN 978-65-5360-221-2 - Vol. 1- Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
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ÍNDICE REMISSIVO

A D
Altas Habilidades/Superdotação: 133, 134, 148 Desigualdades: 67, 116

Amazonas: 13, 14, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, Dioscorea Trifida: 154, 155, 163, 164
27, 29, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 49, 50, 51, 52, 53,
55, 68, 74, 109, 154, 158, 163, 164, 198, 199, 204, E
205, 207
Educação: 23, 37, 40, 41, 44, 45, 51, 101, 130,
Amazônia: 23, 51, 71, 72, 74, 83, 87, 105, 106, 131, 133, 134, 136, 137, 138, 139, 142, 143, 144,
107, 109, 110, 111, 112, 132, 133, 134, 140, 141, 146, 148, 149, 150, 151, 152, 153, 163, 167, 172,
142, 143, 144, 146, 147, 150, 152, 155, 157, 162, 173, 205, 207
174, 175, 176, 186, 187, 188, 189, 190, 191, 192,
198, 201, 205 Educação Ribeirinha: 133, 139, 150, 153

Enfermagem: 13, 15, 16, 22, 23, 68, 69, 102, 198,
Amazônia Amapaense: 133, 134, 143 200, 206, 207

B Ensino de Ciências: 163

Biblioteca Digital: 25, 32 Estudos Culturais: 71, 72, 130

Bioma Amazônia: 105, 106, 107, 109, 110, 111, G


112
Gênero: 116, 130, 131
Brasil: 14, 16, 17, 23, 28, 29, 35, 36, 40, 46, 47, 50,
51, 53, 54, 56, 57, 59, 62, 67, 68, 69, 70, 75, 88, 89, I
91, 93, 94, 95, 96, 97, 99, 100, 102, 103, 104, 106,
107, 110, 112, 113, 119, 122, 130, 134, 140, 142, Inclusão Escolar: 133
144, 151, 152, 153, 156, 158, 162, 163, 166, 173,
191, 192, 193, 194, 195, 196, 197, 198, 199, 202,
M
204, 205, 206, 207 Mediações: 72, 74, 77, 82, 84, 85

C Mídia Alternativa: 72

Câncer: 53, 54, 57, 58, 62, 68, 69, 70, 102 Mulheres: 69, 115, 116, 122, 128, 129, 130, 194,
196, 205, 206
Castanha da Amazônia: 175, 191
P
Cirurgia: 53
Pesquisa Acadêmica: 13
Colo: 53, 70
Plano de Manejo: 105, 106, 108, 109, 110, 111,
Comunidade Indígena: 37 112, 113

Contexto Rural: 116 Portal Sátira: 72, 74, 83

Contextualização: 155 R
Covid-19: 37, 50, 51, 196 Redes Organizacionais Solidárias: 175, 177,
180, 181, 182, 184, 186
CTSA: 155, 157, 158, 161, 162, 163, 165, 166, 167,
168, 169, 170, 172 S

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ÍNDICE REMISSIVO

Sateré-Mawé: 24, 25, 26, 27, 29, 39, 40, 41, 42, 44,
46, 47, 48, 49, 50

Saúde Indígena: 194

T
Taxa de Letalidade: 92

U
Unidades de Conservação: 105, 106, 107, 108,
109, 110, 111, 112, 113

Útero: 53, 70

Z
Zotero: 25, 28, 29, 32, 34, 35

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editora

científica digital

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