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ENTORNO DE BENS PATRIMONIAIS: DESAFIOS E PERSPECTIVAS DA

PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO EDIFICADO FORTALEZENSE

Diego de Andrade Reis Oliveira Amora

Estudante do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo e Design da


Universidade Federal do Ceará (PPGAU+D/UFC); email: arq.diegoamora@gmail.com

INTRODUÇÃO
Existentes desde o fim dos setecentos, as políticas públicas de preservação do
patrimônio passaram a dar enfoque às áreas de entorno em nível internacional apenas
no fim do primeiro terço do século passado. O conceito de área de entorno está inserido
em diversas normativas e convenções, não existindo, porém, uma padronização quando
da aplicação prática do seu entendimento.
Algumas legislações estrangeiras de preservação do patrimônio optam por adotar
critérios objetivos de distância, por exemplo, delimitando quem são considerados
vizinhos e pertencentes à área de entorno, os imóveis localizados a uma determinada
distância da edificação a ser protegida. Segundo Fonseca (2017), a delimitação das
poligonais de entorno em países como a França, por exemplo, é definida pela área
envoltória com um raio de quinhentos metros de distância a partir do bem patrimonial.
No Brasil, diversos esforços foram feitos para que os órgãos de controle e tutela do
patrimônio cultural tivessem uma atuação significativa frente ao ritmo acelerado de
desenvolvimento, urbanização e ação do mercado imobiliário que transformam os
cenários urbanos de nossas médias e grandes cidades.
Fortaleza conta atualmente com órgãos de tutela e gestão do Patrimônio Cultural
Edificado nas três diferentes esferas de organização e atuação. Na esfera municipal, a
responsabilidade é da Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (Secultfor), através
da Coordenação do Patrimônio Histórico-Cultural (CPHC). Na esfera estadual esta
função está sob responsabilidade da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará
(SecultCE), através da Coordenadoria do Patrimônio Cultural e Memória (COPAM). Por
fim, na esfera federal, a tutela e gestão do Patrimônio Cultural Edificado é de
responsabilidade da Superintendência Estadual do Instituto Nacional do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
A proteção do Patrimônio Cultural Edificado na cidade se dá de forma mais abrangente
e efetiva através do instrumento do tombamento, que é um ato administrativo regulado
pelo Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937 e tratado como principal ferramenta
e instrumento de preservação do patrimônio nas legislações municipal, estadual e
federal. Cada uma delas traz ritos e deliberações definidas por legislações próprias. No
caso do município, o instrumento legal é a lei 9.347 de 11 de março de 2008, na esfera
estadual, o instrumento legal é a lei 13.465 de 05 de maio de 2004 e no âmbito federal,
o próprio decreto 25/37 e as diversas portarias e legislações complementares feitas pelo
IPHAN.
Cada ente federativo age conforme sua atribuição específica, não sendo
verdadeiramente conhecidos e delimitados os limites e das atribuições de cada um
deles. Há atualmente um entendimento e um acerto de conduta dos órgãos de tutela e
gestão do Patrimônio Cultural que tendem a agir de forma pactuada e em bloco,
juntamente com outras instituições da sociedade civil organizada e os órgãos de
controle como o Ministério Público, por exemplo.
Mesmo com diversas instituições e mecanismos de controle das intervenções no
entorno de bens patrimoniais, o que se observa é uma extrema dificuldade na proteção
destas áreas. Como consequência, é notória e crescente a ameaça não apenas à
integridade do bem tombado, mas na capacidade de minimizar os efeitos negativos das
interferências e conflitos causados pela construção desordenada de estruturas
contemporâneas que podem descaracterizar e descontextualizar o bem patrimonial,
diminuindo seu valor e interferindo na maneira em que é assimilado.

OBJETIVOS
O presente artigo tem como objetivo analisar as Poligonais de Entorno de bens com
reconhecidos valores histórico-culturais, tombados isoladamente ou em conjunto no
município de Fortaleza, sua relação com os principais instrumentos de planejamento e
controle urbano e sua utilização enquanto ferramenta de proteção do Patrimônio
Edificado.

METODOLOGIA
Neste artigo está proposto um caminho que parte do conhecimento e do entendimento
da importância da preservação e conservação do Patrimônio Cultural Edificado, não
apenas como objeto isolado, mas inserido em um contexto urbano que ofereça um
cenário de preservação, com condições harmoniosas da relação do entorno com o Bem
patrimonial que o comporta e que não deturpe os diversos valores reconhecidos destes
bens, promovendo no solo urbano as condições favoráveis de usufruto e preservação.
Faremos um breve panorama de como se caracteriza o Patrimônio Cultural Edificado
da cidade de Fortaleza atualmente, apresentando também os órgãos de tutela e gestão
do patrimônio presentes na cidade, suas legislações e os Bens patrimoniais que são de
responsabilidade de cada um deles, especializando e buscando perceber as relações
deste conjunto com o território, fazendo referência às suas delimitações e
vulnerabilidades.
Em seguida, apresentaremos como os principais instrumentos de planejamento urbano
da cidade, o Plano Diretor Participativo e a Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do
Solo buscam tratar o Patrimônio Cultural Edificado e suas zonas de entorno, mostrando
como se dão suas determinações, seus zoneamentos, objetivos, índices e parâmetros
urbanísticos.

PRINCIPAIS RESULTADOS E CONTRIBUTOS ESPERADOS


Ao final do trabalho, buscaremos fazer uma análise da efetivação destes instrumentos,
mais precisamente do Plano Diretor Participativo e da Lei de Parcelamento, Uso e
Ocupação do Solo, afim de discutir se a legislação e as ações práticas propostas pelo
plano no tocante ao Patrimônio Cultural Edificado estão, de alguma forma, corroborando
para um cenário de preservação e conservação dos Bens patrimoniais existentes e suas
zonas de entorno.
Assim, pretendemos contribuir com a elucidação de lacunas e ausências, fazendo com
que os entornos dos bens patrimoniais possam fazer parte de uma política mais eficaz
de preservação do Patrimônio Cultural Edificado fortalezense.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os desafios são muitos, como muitos são os exemplos de cidades mundo a fora que se
desenvolveram e ganharam expressão não copiando modelos e referências alheias,
mas buscando a valorização de suas culturas e do seu patrimônio edificado como meio
de perpetuar uma imagem de cidades que estão inseridas no contexto global de novas
soluções e de programas arrojados e tecnológicos, mas que carregam e preservam
elementos que aguçam a curiosidade e atraem o interesse de todos. O patrimônio
cultural é uma grande ferramenta e uma grande oportunidade para tal aspiração.

Palavras-chave: Patrimônio Cultural; Poligonal de Entorno; Fortaleza.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. DECRETO Nº 25, de 30 de novembro de 1937. Organiza a proteção do
patrimônio histórico e artístico nacional, Brasília, 1937.
CASTRO, Sonia Rabello. O Estado na preservação de bens culturais: o tombamento.
Rio de Janeiro: IPHAN, 2009.
CABREIRA, Cristiane V.; RIBEIRO, Rosina T.; KRAUSE. Cláudia B. Critérios métodos
e parâmetros de atuação no entorno e de bens tombados isolados pelo instituto do
patrimônio Histórico e artístico nacional: a visibilidade em questão. PARC Pesquisa em
Arquitetura e Construção, Campinas (SP) v. 4, n. 1, p. 34- 45, abril. 2013.
CEARÁ. Lei n°13.465, de 05 de maio de 2004. Dispõe Sobre a Proteção ao Patrimônio
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n. 084, caderno 1/2, p. 1, 06 mai., 2004
FONSECA, Maria Cecília Londres. O Patrimônio em processo: trajetória da política
federal de preservação no Brasil / Maria Cecília Londres Fonseca. 4 ed. Ver. Ampl. Rio
de Janeiro: Editora UFRJ, 2017.
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Diretor Participativo do Município de Fortaleza e dá outras providências. Diário Oficial
do Município. Fortaleza, CE, n. 14.020, p. 1, 13 mar., 2009.
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Patrimônio Histórico-Cultural e Natural do município de Fortaleza, por meio do
tombamento ou registro, cria o Conselho Municipal de proteção ao Patrimônio Histórico-
Cultural (COMPHIC) e dá outras providências. Diário Oficial do Município. Fortaleza,
CE, n. 13.787, p. 1, 11 mar., 2008.
FORTALEZA. Lei Complementar n° 0236, de 11 de agosto de 2017. Dispõe sobre o
parcelamento, o uso e a ocupação do solo no Município de Fortaleza, e adota outras
providências. Diário Oficial do Município. Fortaleza, CE, n. 16.078, p. 1, 11 ago., 2017.
MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. A cidade como bem cultural. Áreas envoltórias e
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In: Patrimônio: Atualizando o Debate. São Paulo: IPHAN, 2006.
MOTTA, Lia; THOMPSON, Analucia. Entorno de bens tombados. Rio de Janeiro:
IPHAN/ DAF/ Copedoc, 2010.

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