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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS URBANOS E REGIONAIS
MESTRADO EM ESTUDOS URBANOS E REGIONAIS DA UFRN

A gestão dos centros históricos e os instrumentos urbanísticos sob a


perspectiva da produção de teses e dissertações no Brasil, uma revisão
sistemática.

Texto apresentado à disciplina de Produção do Conhecimento e


Metodologia de Pesquisa como atividade avaliativa.

Professora Dra. Raquel Maria Da Costa Silveira

Aluno: Francisco Caio Bezerra de Queiroz

Resumo: Todas as manifestações culturais necessitam de preservação e


manutenção para que todas as pessoas possuam acesso a estas, uma vez que
fazem parte da memória de um povo. Para tal, é necessário que uma política de
preservação seja estruturada e posta em prática, com seus instrumentos e
normativas. Diante disso, o presente trabalho tem por objetivo elencar quais
instrumentos urbanísticos são mencionados em teses e dissertações brasileiras
a respeito do gerenciamento de centros históricos. Para isso, realizou-se uma
revisão bibliográfica sistemática em 12 documentos selecionados a partir da
Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações – BDTD. Foi possível
identificar a maior aplicação do tombamento nas pesquisas estudadas, bem
como outros instrumentos que tratam sobre o potencial construtivo.

Palavras-chave: Centros Históricos; Instrumentos Urbanos; Revisão


Sistemática
INTRODUÇÃO

As cidades evoluem conforme o passar do tempo e as suas atividades


diárias. As ações de planejamento devem corresponder a tais demandas e
promover uma cidade com equidade. Apesar desse desejo, as cidades
brasileiras possuem diversas problemáticas, sendo uma delas a preservação do
seu patrimônio histórico-cultural. Tal preocupação com a salvaguarda desses
bens, iniciou-se ainda no século XV, entendida como elementos de
rememorações. Mais tarde, associados aos fortes sentimentos nacionalistas ao
redor do mundo, ganharam espaço no debate político e social (CHOAY, 2001).
Inicialmente eram considerados apenas bens monumentais como detentores de
valor significativo à preservação, posteriormente outros bens, conjuntos e
manifestações imateriais foram incluídos no rol da salvaguarda.

Todas as manifestações culturais necessitam de preservação e


manutenção para que todas as pessoas possuam acesso a estas, uma vez que
fazem parte da “memória coletiva, visto a sua perpetuação temporal” (SANTOS;
FERREIRA, 2019, p.1). Tal memória, resultado da expressão de um dado grupo
em um espaço, é responsável por possibilitar rememorações aos seus membros,
que quando associados, constroem a imagem onde se é possível reconhecer um
fato ou época da história desse grupo (HALBWACHS, 2006), ou seja, também
funcionam como elementos investigativos para compreensão de fatos passados.
A política de preservação destes bens no Brasil foi marcada por uma
institucionalização tardia e insuficiente. Nas ultimas décadas recebeu maior
notoriedade devido as ações da política urbana como um todo.

Diante do exposto, o presente trabalho tem por objetivo elencar quais


instrumentos urbanísticos são mencionados em teses e dissertações brasileiras
a respeito do gerenciamento de centros históricos. Não se busca o esgotamento
de todas as definições técnicas dos instrumentos, nem explicar cada um e sua
fundamentação teórica. Para isso, o mesmo apresenta inicialmente um resgate
histórico sobre o processo de estruturação e consolidação da politica de
preservação patrimonial, seus instrumentos e órgãos, posteriormente demonstra
seu processo metodológico para obtenção das informações, a apresentação e
discussão, e as considerações finais.
A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE PRESERVAÇÃO NO BRASIL E
SEUS INSTRUMENTOS

A estruturação de uma política de preservação patrimonial no Brasil é


fortemente influenciada por ações no contexto internacional. A caráter de
síntese, pode-se sitar a Carta de Atenas, Carta de Veneza e a Recomendação
de Nairobi, como os principais documentos internacionais que permearam as
primeiras discussões sobre salvaguarda no contexto nacional. Ambos os
documentos foram resultado de conferências e encontros internacionais com
personalidades, pesquisadores e teóricos sobre os temas relacionados ao
patrimônio.

Efetivamente as ações para a preservação patrimonial no Brasil iniciaram


a partir do ano de 1936 (FERREIRA, 2010), estabelecidas dentro do movimento
modernista aglutinado na semana de 1922, associado ao sentimento
nacionalista pela busca de uma identidade e cultura nacional, com forte apego
ao regional e local, para o estabelecimento da noção do “ser brasileiro”
(FONSECA, 2005; SIMÃO, 2006). Vale salientar que ações de preservação já
eram executadas, mas de forma pontual e desconexa de uma política, como
exemplo pode-se citar a elevação da malha urbana da cidade de Ouro Preto à
monumento nacional no ano de 1933 (NATIVA E DOS REIS, 2017). Mais tarde,
com o advento do Estado-Novo, as ações de preservação foram incluídas nas
ações do Estado, marcando os primeiros passos para a sua institucionalização
(VELLOSO, et. al., 2007). A constituição de 1934 é resultado disso, trazendo em
seu artigo 10 a responsabilidade do governo em resguardar o seu patrimônio
histórico e cultural (BRASIL, 1934).

Como efeito, o primeiro órgão de serviço de salvaguarda do patrimônio foi


criado, por meio do Decreto-Lei nº 25/1937. O SPHAN, Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, que atualmente corresponde a autarquia
denominada IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,
regulamentou o primeiro instrumento de salvaguarda: o tombamento. Instituiu o
livro do tombamento, definido por Xavier e Campos (2017) como

o meio pelo qual o Poder Público intervém na propriedade privada como


intuito de proteger o patrimônio histórico e cultural do país com a finalidade
de preservação da identidade do local, ou seja, em busca de um interesse
coletivo (XAVIER E CAMPOS, 2017, p.11).
O livro do tombo se configurava como o registro das manifestações
culturais, históricas e artísticas, sendo ao todo quatro livros: Livro do Tombo
Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, Livro do Tombo Histórico, Livro do
Tombo das Belas Artes, Livro do Tombo das Artes Aplicadas (BRASIL, 1937). A
criação de tal órgão e dos seus instrumentos marcaram a efetivação dos
aparatos técnicos para a preservação patrimonial no país (BRAGA et. al., 2003).
Apesar dos avanços, tal política era limitada, suas ações eram restritas ao bem
material edificado. Tal cenário foi modificado a partir do ano de 1975, com a
criação do Centro Nacional de Referências Culturais – CNRC, esse órgão deu
ênfase ao patrimônio imaterial, a cultura viva, o saber popular e o debate
conceitual sobre a cultura nacional, bem como estruturou ferramentas para a
catalogação da cultura popular, através dos inventários e de pesquisas
(MESQUITA E PIEROTTE, 2018; FONSECA, 2005).

A partir da década de 1980, as ações voltadas a preservação patrimonial


foram ampliadas, justificadas pela redemocratização que ocorria no país. As
reinvindicações e manifestações populares intensificaram e mudaram a postura
sobre o patrimônio nacional, pois agora, a sociedade se tornou parte importante
do processo de produção cultural e da elaboração de políticas associadas a ela
(MARINS, 2016; MESQUITA; PIEROTTE, 2018). Como aglutinação destas
manifestações culturais, a constituição de 1988 alargou as conceituações sobre
patrimônio cultural, abarcando agora “os bens de natureza material e imaterial,
[...] individuais ou em conjuntos, portadores de referência à identidade, à ação,
à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira” (BRASIL,
1988) e devem receber proteção do Estado. A partir desse momento, várias
conferências ao redor do país foram realizadas e resultaram em algumas
recomendações, como a Carta de Bagé, Carta de Fortaleza e a Chancela da
Paisagem Cultural. Mais tarde, em 2000, é criado o Programa Nacional do
Patrimônio Imaterial, por meio do Decreto nº 3.551/2000, que lançou outros
quatro livros de registro: Livro de Registro dos Saberes, Livro de Registro das
Celebrações, Livro de Registro das Formas de Expressão e Livro de Registro
dos Lugares (BRASIL, 2000).

Outro ponto importante resultado da Constituição Federal (CF) de 1988,


são os artigos 182 e 183, referentes a política urbana, que impactaram
diretamente nas ações sobre o gerenciamento das cidades e,
consequentemente, dos centros históricos. Estes artigos são regulamentados
mais tarde pelo Estatuto da Cidade, por meio da Lei nº 10.275 de 10 de julho de
2001, que traz consigo diversos instrumentos urbanísticos para auxiliar na
gestão urbana. Alguns destes instrumentos são passíveis de aplicação nos
contextos de preservação patrimonial, entre eles, o Imposto Predial Territorial
Urbano Progressivo no tempo, que é um

imposto sobre a valorização imobiliária, o direito de preferência na aquisição


de imóveis urbanos, a desapropriação por interesse social ou utilidade, a
discriminação de terras públicas, os regimes especiais de proteção
urbanística e preservação ambiental, a isenção do IPTU, a concessão do
direito real de uso, [e] o próprio instrumento do tombamento (SILVA, 2005,
p.34).

Os avanços da instrumentalização da preservação foram notórios a partir


da CF de 1988. Vale destacar que as ações aqui relatadas são aquelas cuja a
amplitude é nacional. A CF de 88 deu mais poder as instancias municipais e há
nesse espectro legislativo inúmeras ações institucionais isoladas em vários
municípios brasileiros, sobretudo aqueles que possuem vasto repertório de
patrimônio cultural (SILVA, 2005).

MÉTODO

O presente trabalho se trata de uma revisão bibliográfica sistemática. Para


Atallah e Castro (1998), esse tipo de revisão se caracteriza como um método de
análise de um conjunto de dados simultâneos. Os autores colocam ainda que tal
mecanismo é suficiente para fornecer inferências sobre um dado assunto: se
uma revisão sistemática existe sobre um dado assunto e oferece evidências, um
pesquisador pode pautar suas decisões a partir dela; não existente uma revisão
sistemática, mas havendo conhecimentos elaborados sobre o tema, mesmo que
com resultados inconsistentes, tal mecanismo também oferece resultados
sólidos para a compreensão do tema em questão. Por esse motivo, revisões
sistemáticas são estudos secundários, pois os estudos primários são sua base
de dados (GALVÃO E PEREIRA, 2014). Esse método de revisão se diferencia
dos demais por apresentar rigorosidade em seu trajeto metodológico (GALVÃO;
SAWADA; TREVISAN, 2004). Diferentemente da revisão narrativa, a revisão
sistemática
é uma investigação científica menos dispendiosa, é um artigo de investigação
com métodos sistemáticos pré-definidos para identificar sistematicamente
todos os documentos relevantes publicados e não publicados para uma
questão de investigação, avalia a qualidade desses artigos, extrai os dados e
sintetiza os resultados. (DONATO E DONATO, 2019, p.1).

Os métodos de revisão sistemáticas são variados. Em síntese, para


Galvão e Ricarte (2019), eles possuem as seguintes etapas: 1) delimitação da
questão; 2) definição da base de dados; 3) elaboração da estratégia de busca;
4) seleção e sistematização dos dados e 5) inferências. A Figura 01 demonstra
o fluxo de atividades metodológicas e elementos associados.

Figura 01 – Fluxograma metodológico

Delimitação Elaboração Seleção e


Definição
da questão da sistematiza
da base de Inferências
de estratégia ção dos
dados
pesquisa de busca dados

Fonte: Autores (2022) com base em Galvão e Ricarte (2019)

Para o presente trabalho, a delimitação da questão de pesquisa partiu da


necessidade de compreender quais instrumentos urbanísticos estavam
relacionados com as produções acadêmicas a respeito da preservação e
salvaguarda de centros históricos. Como base de dados, fora definido a
Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações - BDTD, uma vez que
apresentam um vasto acervo das produções acadêmicas no contexto nacional.
Com mais de 129 instituições cadastradas, 562.786 dissertações, 213.730 teses
e 776.515 documentos. Foi considerado apenas teses e dissertações, sem
delimitação temporal, ou seja, toda e qualquer produção que estivesse
disponível pelo portal, e se relacionasse com o tema, foi considerada.

Como estratégia de busca, foram utilizados os próprios mecanismos de


pesquisa existentes na plataforma. Utilizando a busca avançada, foram usados
os descritores “CENTRO HISTÓRICO” e “INSTRUMENTO URBANÍSTICO”, com
abrangência em todos os campos e correspondência em todos os termos, a
Figura 02 mostra uma captura de tela da configuração da busca avançada no
site.
Figura 02 – Configuração da busca avançada na BDTD

Fonte: Autores (2022) a partir da BDTD (2022).

A busca foi realizada no dia 27 de junho de 2022, resultando em 75


documentos. A partir desse momento, foram aplicados três critérios de exclusão.
O primeiro critério de exclusão utilizado foi a remoção do corpus de documentos
repetidos, resultando ao final em 73 documentos, sendo 57 dissertações e 16
teses. Nesse momento todos os documentos foram baixados da internet,
armazenados localmente e enumerados de 1 a 73. O segundo critério foi, ao ler
os títulos das produções, remover aqueles que não apresentassem relação
direta com o tema, resultando em 14 itens, sendo destes, 12 dissertações e 2
teses. O terceiro e ultimo critério de exclusão foi, ao adentrar mais
especificamente nas abordagens das pesquisas a partir da leitura do resumo,
excluir aquelas produções que não estivessem relacionadas aos instrumentos
urbanos a respeito do gerenciamento de centros históricos, ao final, resultou-se
em 10 dissertações e 2 teses, sendo este o corpus de estudo deste trabalho. O
Quadro 01 mostra as produções selecionadas.

Quadro 01 – Documentos selecionados para o corpus final.

CÓDIGO Título Autor Tipo


O direito urbanístico brasileiro e sua
Eder Donizete da
1 aplicabilidade na preservação de centros Tese
Silva
históricos.
Instrumentos urbanísticos de proteção ao
patrimônio cultural: uma abordagem jurídica Flávia Michelon
3 Dissertação
sobre a transferência do direito de construir Cocco
em Santa Maria – RS.
Brasília: espaço, patrimônio e gestão
6 Carlos Madson Reis Dissertação
urbana
O espaço do patrimônio na “Cidade-
Moisés Julierme
7 modelo”: instrumentos, práticas e conflitos Dissertação
Stival Soares
no Centro Antigo de Curitiba.
A legislação urbanística e as dificuldades Jesonias da Silva
12 Tese
de preservação da arquitetura modernista Oliveira
nos bairros de Petrópolis e Tirol, em
Natal/RN – uma análise dos planos
diretores de 1984 a 2007.
Do tombamento à chancela: o
estabelecimento do bairro Rio da Luz como Felipe Côrte Real
18 Dissertação
paisagem cultural brasileira e seu contexto de Camargo
urbanístico (Jaraguá do Sul 2007-2013)
Do Largo das Mercês à Praça Visconde do
Rio Branco: um estudo de gestão do Tatiana Carepa
36 Dissertação
patrimônio histórico em Belém do Pará, Roffé Borges
1941-2011
Patrimônio cultural de Cachoeira do Sul e o
Luciane Vianna
37 estado de conservação de suas fachadas Dissertação
Herter
frontais
A transferência de potencial construtivo:
Dulcilei de Souza
39 incentivo a conservação dos edifícios Dissertação
Cipriano
protegidos na área central de São Paulo (?)
Verticalização e tombamento no bairro da Ana Carolina Nader
42 Dissertação
Bexiga: materialização em tensão Scripilliti
Patrimônio cultural, políticas urbanas e de
Letícia Mourão
43 preservação: os casos de Diamantina e Dissertação
Cerqueira
Tiradentes - MG
Aplicação do Estatuto da Cidade em
Celia Regina
49 Salvador no século XXI: o discurso e a Dissertação
Sganzerla Santana
prática

Fonte: Autores (2022).

Finalizadas as estratégias de busca e seleção de materiais para compor


o corpus, foi iniciado a sistematização dos dados contidos nas pesquisas. Para
isso, utilizou-se uma planilha1. Os campos utilizados para a síntese dos trabalhos
a partir dessa ferramenta foram: código2, título, ano de publicação, autor,
formação, tipo3, objetivo, metodologia, tópicos selecionados para leitura e
instrumentos urbanos a respeito do gerenciamento de centros históricos
identificados a partir da leitura dos tópicos selecionados. O primeiro passo para
se preencher a planilha foi a consulta do sumário e a seleção de tópicos
relevantes ao tema para a leitura. Foi estabelecido como obrigatória a leitura da
introdução e considerações finais de todos os trabalhos que constituíam o corpus
final da presente pesquisa. Em alguns casos, fora necessário complementar a
leitura com tópicos dos resultados e discussão. O Quadro 02 mostra quais
tópicos foram lidos em cada um dos 12 documentos base.

1Foi adaptada uma planilha de levantamento bibliográfico fornecida pela Professora Raquel
Maria da Costa Silveira, na disciplina de Produção do Conhecimento e Metodologia de Pesquisa,
do Curso de Pós-graduação em Estudos Urbanos e Regionais – PPEUR, da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte – UFRN;
2 O código corresponde ao número que o documento recebeu ao ser baixado da internet;
3 O tipo diz respeito ao formato de documento, se tese ou dissertação;
Quadro 02 – Itens selecionados para a leitura.

CÓDIGO ITENS SELECIONADOS PARA A LEITURA


1 Resumo, Introdução e Considerações Finais
Resumo, Introdução, 1.3 Panorama da situação do Patrimônio Cultural edificado
3 na legislação brasileira, 1.4 Estatuto da Cidade e patrimônio cultural e
Considerações Finais
Resumo, Introdução, Capítulo 2: Gestão urbana e centros históricos e
6
Considerações Finais
7 Resumo, Introdução, Considerações Finais
Resumo, Introdução, 2.1 O Distanciamento entre as Políticas de Planejamento
12
Urbano e a Preservação na Prática, Considerações Finais
18 Resumo, Introdução e Considerações Finais
Resumo, Introdução, Considerações sobre patrimônio cultural e instrumentos
36
legais de proteção e Conclusão
Resumo, Introdução, Patrimônio Cultural: História da Preservação, Resultados e
37
Discussão e Conclusão
Resumo, Introdução, Capítulo 4: A transferência de potencial construtivo como
39
incentivo a preservação do patrimônio e Considerações Finais
Resumo, Introdução, 3.1 - A revisão dos instrumentos de política urbana pós-
42 tombamento: plano diretor de 2002, Plano Regional da Sé de 2004, Zoneamento
de 2004 - A materialização do Bexiga e Considerações Finais
Resumo, Introdução, Políticas Urbanas de Preservação no Brasil e
43
Considerações Finais
Resumo, Introdução, 4.1.2 Instrumentos: objetivos e dificuldades para aplicação
49
e Conclusões
Fonte: Autores (2022).

Os tópicos selecionados foram lidos e sistematizados na tabela


mencionada. Ainda, foi necessária uma pesquisa externa em outras bases de
dados, como currículo lattes, para identificar a formação dos autores. Por último
foram elencados quais instrumentos urbanos a respeito do gerenciamento de
centros históricos são citados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com a realização do percurso metodológico mencionado foi possível


identificar que, no que se refere a temporalidade, as obras possuem um recorte
que compreende de 2005 a 2019, essa temporalidade expressa que a plicação
os instrumentos urbanísticos como um todo, é resultado do advento do Estatuto
da Cidade, uma vez que este dinamizou e normatizou a aplicação em todo o
território nacional. Com predominância de autores entre profissionais da
arquitetura e urbanismo (10), advogado (1) e historiador (1), é possível
demonstrar que a concentração da produção do conhecimento a respeito da
temática ocorre na área de ciências socias aplicadas. O Quadro 03 mostra os
instrumentos urbanísticos encontrados na leitura dos tópicos selecionados.
Quadro 03 – Instrumentos urbanísticos encontrados a partir da leitura.

CÓDIGO INSTRUMENTOS URBANÍSTICO ENCONTRADOS A PARTIR DA LEITURA


• Tombamento
• Desapropriação • Regimes especiais
• Servidão administrativa • Isenção do IPTU
1 • Limitação de uso • Concessão do direito real de uso
• IPTU Progressivo • Plano diretor
• Direito de preferência na aquisição • Leis Orgânicas Municipais
de imóveis
• Transferência do direito de construir
• Inventário
• Plano Diretor
• Registro
• Lei de Uso e Ocupação do Solo
3 • Vigilância
• Outorga Onerosa do Direito de
• Tombamento
Construir
• Desapropriação.
• Operações Urbanas Consorciadas
• Tombamento
6
• Fundo específico de Financiamento
• Plano Diretor
• Tombamento
7
• Plano de Revitalização
• Ordenamento do Uso do Solo
• Taxa de adensamento
• Desmembramento e • Desapropriação com pagamento de
remembramento títulos
• Outorga onerosa do direito de • Direito de preempção
12
construir • Operações urbanas consorciadas
• Parcelamento, edificação ou • Transferência do direito de construir
utilização compulsória Plano diretor
• IPTU progressivo no tempo
• Plano diretor
18
• Tombamento
• Tombamento
36
• Inventário
• Inventário
37
• Tombamento
• Transferência de Potencial
Construtivo
• Plano Diretor
• Zoneamento
• Outorga Onerosa do Direito de
39 • Coeficiente de Aproveitamento
Construir
• Tombamento
• Isenção do IPTU
• Normas de zoneamento, uso e
ocupação do solo
• Plano Diretor
• Plano Regional de Desenvolvimento
• Parcelamento, edificação e
• Tombamento
Utilização compulsórios
• Zoneamento
• IPTU Progressivo
42 • Lei de Uso e Ocupação do Solo
• Desapropriação com pagamento em
• Coeficientes de aproveitamento
títulos
• Operações urbanas consorciadas
• Transferência do direito de construir
• Outorga Onerosa do Direito de
Construir
• Plano Diretor • Outorga onerosa do direito de
• Lei do Parcelamento, Ocupação e construir
43 Uso do Solo Urbano • IPTU Progressivo
• Lei orgânica • Desapropriação com pagamento em
• Código de Posturas títulos da dívida
• Transferência do direito de construir • Usucapião
• Area de Diretrizes Especiais • Concessão de uso especial para
• Zoneamento fins de moradia
• Tombamento
• Plano Diretor
• Direito de superfície
• Parcelamento, edificação ou
• Outorga onerosa do direito de
utilização compulsórios
49 construir
• IPTU Progressivo
• Direito de preempção
• Desapropriação com pagamento em
• Tombamento
títulos
Fonte: Autores (2022).

Pode-se observar uma diversidade de instrumentos da política urbana no


gerenciamento dos centros históricos. O Gráfico 01 mostra a ocorrência dos
instrumentos nas pesquisas lidas.

Gráfico 01 – Ocorrência dos instrumentos urbanísticos no corpus lido.

Fonte: Autores (2022).


A predominância do tombamento nas pesquisas lidas (11 das 12
pesquisas citaram o instrumento) demonstra que, por ser um dos primeiros
instrumentos promulgados a tratar sobre a salvaguarda do patrimônio, apresenta
maior aplicabilidade nas situações de gerenciamento dos centros históricos. O
plano diretor, logo em seguida, com 9 citações, demonstra que a abrangência da
lei municipal, quando existente, abarca as questões relacionadas a salvaguarda.
Outros instrumentos como a outorga onerosa do direito de construir e a
transferência de potencial construtivo, exprimem os ajustes jurídicos necessários
para garantir o uso do centro histórico e evitar consequentes esvaziamentos,
uma vez que permitem explorar os potenciais construtivos existentes na área.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi possível apreender como se deu o processo de estruturação da


política de preservação patrimonial no Brasil e a consolidação dos seus
instrumentos, bem como o reflexo das políticas urbanas nesse contexto.
Aglutinado por normativas federais, as iniciativas municipais foram relevantes
para a construção da salvaguarda dos bens de valores histórico-artísticos-
culturais.

Com a leitura do corpus selecionado, foi possível identificar a variedade


de instrumentos que são utilizados no gerenciamento de centros históricos, bem
como entender que o instrumento de tombamento se consolidou como o principal
mecanismo da politica de preservação no Brasil, justificada por uma
institucionalização ocorrida há mais tempo do que os demais. Outros
instrumentos que versam sobre o potencial construtivo também apresentaram
considerável ocorrência, o que apontam para notável preocupação com uso do
solo e as questões de exploração da valia urbana nos centros históricos. Desta
maneira, o trabalho atinge seus objetivos, uma vez que elenca todos os
instrumentos citados na amostra estudada.

Como proposição futura, a pesquisa pode aprofundar-se na aplicação de


tais instrumentos, afim de compreender quais dificuldades e/ou entraves foram
identificados e quais foram empregadas, caso tenham sido superados. Ainda,
pode investigar a efetividade de tais instrumentos, sua construção e os
resultados já colhidos nas gestões que os aplicaram.
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e Crescimento Urbano. Revista Vianna Sapiens, [S. l.], v. 4, n. 2, p. 33, 2017.
Disponível em: https://www.viannasapiens.com.br/revista/article/view/89.
Acesso em: 5 ago. 2021.

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