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PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE ESPAÇOS URBANOS: OS PÁTIOS E SUAS

EDIFICAÇÕES NA REGIÃO CENTRAL DA CIDADE DO RECIFE, PE

Neuvânia Curty Ghetti (1); Ravena Barbosa M. de Souza (2); Angélica Borges (3)

1. Química, Departamento Arte e Preservação, Universidade Federal do Rio de Janeiro e


Departamento de Arqueologia, Universidade Federal de Pernambuco-UFPE. E-mail:
curty.quimicarqueologica@gmail.com

2. Arquiteta, Departamento de Arqueologia, Universidade Federal de Pernambuco-UFPE. E-mail:


ravena.souza@hotmail.com

3. Conservadora- restauradora, LABOR- Laboratório de Restauração da Faculdade de Direito,


Universidade Federal de Pernambuco-UFPE. E-mail: angelicamsborges@gmail.com

INTRODUÇÃO

A preservação do patrimônio cultural tem como principal objetivo a afirmação de nossa


identidade como cidadãos e como membros de uma mesma sociedade, com comportamento,
crenças e outros valores comuns, espirituais e materiais. Partindo-se da ideia de que a
memória é parte constituinte da identidade, é através desta que o indivíduo (re)vivencia
experiências, dialogando com a sociedade a qual pertence. Muitas vezes essas experiências
contam com o suporte de espaços físicos que inerentemente carregam símbolos e significados
de uma determinada cultura.

Os bens que recebemos de nossos antepassados é significativo na medida em que nos


ajuda a contar a nossa história e a evidenciar os valores que nos caracterizam como uma
sociedade. Desta forma, um conjunto ou um monumento arquitetônico pode qualificar um
centro histórico e revelar os seus valores e costumes, trazendo o conhecimento e a forma com
que a sociedade foi se apropriando do espaço e ocupando-o.

O centro de uma cidade também pode se transformar, através dos usos, da


representação de culturas e da revalorização do patrimônio cultural no espaço. Dentro das
possibilidades do uso, o centro da cidade é o lugar de expressão dos conflitos, afrontamentos e
confrontações, além disso, também é local de manifestações individuais e coletivas na
apropriação do espaço público, revelando uma nova identidade para o local. Em muitos casos,
através de um monumento ou de um centro histórico recupera-se um momento histórico
importante da produção edilícia de um povo.

O aporte cultural, simbólico e de consumo destes testemunhos históricos se torna


essencial como motivo de um processo de preservação, porém sua compreensão pode parecer
mutilada sem o suporte físico que hierarquiza e explica a qualidade dos monumentos.
Podemos acrescentar que o desaparecimento dos referenciais mais significativos do espaço
urbano, tais como marcos arquitetônicos e paisagens, que não podem ser recuperados no
presente, faz com que o indivíduo perca a identificação com o meio onde habita e,
paulatinamente, com a sua própria história.

Segundo HARDOY (1992 apud GHETTI, 2004), o conhecimento e o contraste destas


situações constituem o começo de um caminho que conduz a um harmônico crescimento e
transformação das áreas históricas e as razões que se invocam para preservar e reabilitar estas
áreas têm agregado, nos últimos anos, motivos sociais, econômicos e ambientais. O valor das
obras arquitetônicas pode ser reconhecido para a elaboração de uma história, que segundo
sua orientação e amplitude podem ser uma história da arte, da arquitetura, da engenharia, dos
materiais, do urbanismo ou uma história da cultura, uma história social ou da paisagem
urbana. Dessa forma, quando preservamos um patrimônio histórico, estamos preservando
nossa própria história.

No mundo e no Brasil, muitas cidades e núcleos históricos, apesar de estarem


legalmente protegidos devido ao seu valor cultural, apresentam uma crescente degradação
das edificações, consequência da falta de manutenção, desuso, uso inadequado, uso intenso
ou predominância de restaurações ou reconstruções realizadas sem critérios adequados.

Segundo a Carta de Burra, 1980, em seu artigo 8º:


“a conservação de um bem exige a manutenção de um entorno visual apropriado, no
plano das formas, das escalas das cores, da textura, dos materiais, etc. Não deverá
ser permitida qualquer nova construção, nem quaisquer demolições ou
modificações, susceptíveis de causar prejuízo ao entorno. A introdução de
elementos estranhos ao meio circundante, que prejudiquem a apreciação ou fruição
do bem, deve ser proibida.’’

Deve-se dar particular atenção ao tratamento externo das edificações e seus atributos
originais, e a sua inserção no contexto histórico adquire, na maior parte dos casos, um caráter
polêmico, especialmente, ao se definir a configuração da fachada. Qualquer intervenção
realizada na edificação deve ter como objetivo revalorizar e recompor esteticamente seu
aspecto original, sem prejudicar seu caráter histórico.

Desta forma, chama-se a atenção para a importância da conservação e salvaguarda do


patrimônio arquitetônico dos centros históricos e áreas de preservação cultural das cidades.
Considerando a sua representatividade cultural, social ou arquitetônica, ou ainda a sua
importância funcional, torna-se desejável conservar ou recuperar determinados aspectos
dessas edificações, sejam estes atributos artísticos, históricos ou estruturais (FERREIRA e
GARCIA, 2016 apud LEITE et al 2017).
Segundo Dendía (2008 apud Leite et al 2017) a degradação das edificações é um
processo naturalmente inevitável e concordamos que esta degradação se torna mais
preocupante ainda quando se apresenta em edificações históricas, devido ao período em que
foram construídas e à ação impactante do ambiente em que se encontram expostas. Acrescido
a isto, é notável que, a falta de manutenção adequada muitas vezes, pode causar um problema
ainda maior no patrimônio, em muitos casos, permite que a degradação transforme
rapidamente em ruínas o patrimônio arquitetônico.

Na cidade do Recife, reconhecemos o espaço histórico dos Pátios nos bairros de Santo
Antônio e São José, no Centro como uma área especial, devido à presença marcante de um
casario, ou seja, um conjunto de edificações de estilo eclético.

Figura 1 – Pátio do Terço. Fonte: Drailton Gomes, 2018.

Neste espaço urbano central, os edifícios modernos e os prédios antigos, situados


próximos as amplas avenidas de tráfego intenso e as estreitas ruas de pedestres convivem e se
articulam. Esse cenário oferece uma documentação viva da história recifense e dos constantes
e brutais processos de urbanização que afetaram a cidade ao longo dos seus 477 anos.

Sem uma fiscalização adequada, o processo de urbanização contemporânea, acontece


à custa da degradação do patrimônio existente no centro da cidade. A realização de políticas
públicas com a criação de infraestrutura, alterações e criação de novos usos e funções dos
lugares, pode vir a ser uma solução para a requalificação das áreas centrais.
Nesse sentido, podemos destacar os 05 pátios que são percebidos como áreas de
fundamental importância para a construção cultural da cidade, sendo eles: Pátio São Pedro,
Pátio do Carmo, Pátio do Livramento, Pátio São José do Ribamar, Pátio do Terço. Estas áreas
são consideradas importantes, não somente por possuírem marcos e símbolos históricos ou
monumentos, já protegidos de longa data, mas também pela marcante presença de sobrados
e prédios de arquitetura eclética que povoam esta área.

Para, além disso, em tempos atuais, esses espaços configuram como espaços de
reconhecimento e representatividade, visto que neles acontecem encontros e atividades
culturais ligadas ao movimento negro – Terça Negra no Pátio de São Pedro – e a grupos
religiosos de matriz africana – Noite dos Tambores Silenciosos no Pátio do Terço.

Esses espaços resistiram a várias transformações pelas quais a cidade passou e,


ganham importância enquanto conjunto. Estas áreas apresentam características próprias em
relação aos seus usos, atividades, arquitetura e ambiência, com transições que podem se
apresentar ora tênues, ora bruscas.

Dentro desse contexto, este trabalho buscou analisar as manifestações patológicas


presentes nas fachadas das edificações que compõem os principais pátios do centro do Recife,
em Pernambuco. Foram realizadas visitas in loco tendo sido feito levantamento das
manifestações patológicas existentes nas fachadas e também registros fotográficos para
posterior análise quantitativa e discussão das possíveis causas.

Com base na metodologia proposta buscou-se identificar os danos e as suas possíveis


causas na busca pelas soluções dos problemas patológicos encontrados nas fachadas das
edificações que compõem os Pátios dessa área histórica do Recife.

O LEVANTAMENTO PARA O DIAGNÓSTICO DO ESTADO DE CONSERVAÇÃO

O estudo de conservação dos pátios nos bairros São José e Santo Antônio no Recife
baseou-se inicialmente em um breve levantamento histórico dos pátios, seguido de uma
pesquisa nas documentações existentes no Arquivo da DPPC (Diretoria de Preservação do
Patrimônio Cultural) da cidade o Recife, com a finalidade de identificar e quantificar o total de
imóveis presentes dos polígonos tombados de cada pátio. De posse desses dados,
procedeu-se com o levantamento arquitetônico e fotográfico das fachadas, preenchimento in
loco de um formulário de identificação de danos. Por fim, elaborou-se os mapas gráficos de
danos presentes na fachada principal dos 183 imóveis analisados.
AS FACHADAS

As fachadas constituem o elemento característico da área e podemos dizer que a


tipologia espacial juntamente com as edificações e elementos arquitetônicos expressivos
indicam claramente a necessidade de preservação e conservação dessas áreas, principalmente
no que diz respeito às inadequadas e frequentes adaptações às novas funções relacionadas à
demanda do comércio.

As edificações estão integradas com regularidade formando conjuntos que compõem


estes espaços urbanos tornando-os os mais significativos da área central do Recife, além de
encontrarmos nesses espaços, o suporte adequado para valorização e preservação do
patrimônio histórico e paisagístico da cidade.

A LEITURA

Para a análise, foram considerados dois tipos de leituras:

Leitura Vertical: A leitura vertical informa sobre a edificação isolada e permite avaliar o seu
grau de degradação, ou seja, permite localizar os elementos danificados, no nível de
detalhamento proposto (localizar o problema numa platibanda, ou nos ornatos, no
embasamento, ombreira e verga, etc; e também podendo identificar o tipo de material
afetado.

Figura 02 – Imóvel 646, Pátio do Carmo. Fonte: Souza, 2018.


Leitura horizontal: As informações obtidas de cada edificação em uma visão panorâmica,
permite inferir sobre o grau de descaracterização ou de valorização indicando a sua extensão –
distribuída ou concentrada em determinados trechos. Possibilita também uma visão mais
ampla acerca dos principais fatores e degradação presentes em cada pátio.

Figura 03 – Imóvel 04 ao 48, Pátio de São Pedro. Fonte: Souza, 2018.

O MACRO-AMBIENTE E AS FACHADAS

O levantamento foi realizado no munícipio de Recife que se localiza na latitude


08º01’S, longitude 34º51’W, no estado do Pernambuco e possui um clima tropical litorâneo
quente e úmido, estando a uma altitude de 4 m. Apresenta as seguintes características
climáticas: precipitação pluviométrica média anual 1804 mm, temperatura média anual em
torno de 25,8 ºC, (PREFEITURA DO RECIFE 2018; CLIMATE, 2018).

A fachada de uma edificação apresenta nas suas linhas gerais o aspecto das diversas
partes de um edifício. Desta forma, destacamos uma matriz de análise em que os diversos
elementos arquitetônicos e seus danos agrupam-se nas três partes básicas da edificação:
Embasamento, Corpo e Coroamento.

● Elementos de embasamento: Ombreira, Verga e Sacada (Consolo).

● Elementos do corpo: Sacada (Guarda Corpo) e Verga.

● Elementos do coroamento: Arquitrave, Friso (cimalha), Cornija e Platibanda.

Destaca-se que em alguns elementos que indicam funções de comunicação e


simbólicas e que denunciam a cultura da época como o tratamento dos vãos, o tipo de
revestimento, a forma e posição dos ornatos, etc, recebem a maioria das modificações
indicando claramente a mudança de contexto cultural. Mediante esses deslocamentos
verifica-se a perda de significação de elementos arquitetônicos pela mudança de sua função
aparente. Elementos acrescidos: Marquises, Toldos, Placas/anúncio.
A IDENTIFICAÇÃO VISUAL DE DANOS

A representação gráfica produzida é elaborada para utilização como suporte às


intervenções de conservação no patrimônio edificado, sendo uma comunicação visual que
objetiva evidenciar as relações fundamentais entre o bem imóvel, seu uso, seu entorno e os
danos, registrando a diversidade, a hierarquização e as evidências quantitativas e qualitativas
que serão transcritas pelas relações visuais apresentadas.

De acordo com Tinoco (2009), toda representação gráfica implica uma forma de ver e
conceber a realidade, a qual é tratada cientificamente através da opção pessoal de
determinados pressupostos teóricos e metodológicos. Nesse sentido, de acordo com Lacerda
(2012), as imagens, como formas de registro de ação e de informação, são portadoras de
materialidade e de recursos de expressão distintos.

Segundo Redini e Silva (2018), os mapas de danos são recursos de identificação e


valoração de um bem, sobretudo para garantir a sua salvaguarda e de acordo com Tirello e
Correa (2012 apud Redini e Silva, 2018), são instrumentos para interpretação do estado de
conservação macro de um edifício, por meio de representações gráficas, permitindo reunir
informações (quantidade, tipologias e intensidade de alterações) fundamentais para a
categoria de diagnóstico de um bem cultural.

As autoras destacam que o Mapa de danos ainda possibilita, a partir das análises de
danos e patologias, que os técnicos e profissionais especializados possam determinar normas e
procedimentos de conservação e restauro mais adequados a serem executados na edificação.

AS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS- OS DANOS E SUAS CAUSAS

De acordo com Matos e Lima (2006 apud Leite et al, 2017) a fachada é o elemento que
permanece exposto a ação das intempéries, das ações antrópicas e sofre impactos de ordem
física e físico-química estando sujeita a deterioração devido às incidências atmosféricas. As
degradações verificadas nas fachadas ocorrem devido a presença de um conjunto de fatores
que interagem de modo associado e íntimo. Resumidamente, estes podem ser reunidos em
Fatores Extrínsecos e Fatores Intrínsecos de degradação.

Os Fatores Extrínsecos são as condições ambientais que ocorrem de modo


independente da natureza dos materiais que constituem as fachadas. Podem ser naturais bem
como antropológicos, decorrentes da ação do homem, seja no uso, na manutenção das
edificações, na realização de intervenções inadequadas, além de vandalismo nas fachadas. Os
Fatores Intrínsecos incluem, basicamente, aqueles relacionados à natureza dos materiais, aí
incluídas as suas características físicas e químicas. Para uma correta avaliação dos fatores
geradores das patologias nas fachadas dos edifícios, é necessário:
● Estudar as condições ambientais – Fatores extrínsecos,
● Conhecer as características intrínsecas dos diversos materiais que compõem as
fachadas;
● Identificar o possível uso de técnicas e materiais inadequados nas intervenções como o
uso inadequado de elementos de fixação de placas, uso de argamassas a base de
cimento e outros.

As manifestações patológicas em fachadas resultantes da influência dos fenômenos


atmosféricos vão desde um comprometimento estético sem maiores riscos, passando por
fissuras, infiltrações e manchamentos mais acentuados, chegando até os casos mais críticos de
descolamentos e desplacamentos dos revestimentos (FREITAS, CARASEK e CASCUDO, 2014
apud LEITE et al, 2017).

Os Fatores Ambientais Antropológicos, decorrentes da ação do homem se mostram de


modo muito intenso na área em estudo, por ser esta uma área característica da intervenção
humana pelo intenso uso e frequentação de pessoas, trabalhadores e transeuntes. Os fatores
ambientais de degradação de origem antropológica têm origem desde a escolha e uso do
material a ser empregado nas intervenções até a execução das próprias ações de manutenção
e restauração, muitas vezes inadequadas realizada muitas vezes por profissionais não
especializados nesse tipo de serviço.

Este excesso de frequentação e uso implica geralmente em danos que se manifestam


em indicadores de alteração como rupturas, perda de matéria, vandalismo (grafitismo/
pichações), entre outros. Os fatores ambientais antropológicos mais observados na área em
estudo são: os Fatores de Tensão, os Fatores de Incompatibilidade e os Fatores de Uso.

Os trabalhos de conservação e/ou restauração mal planejados e mal executados podem ter
como consequências, por exemplo, procedimentos de limpeza inadequados, a introdução de
sais solúveis através de rejuntamento com cimento tipo Portland ou outros produtos, a
inserção de elementos em ferro que se oxidam e dilatam, fraturando a alvenaria, o uso de
resinas que se oxidam e amarelecem modificando a coloração original da cantaria ou ainda
endurecendo o revestimento superficial que termina por quebrar-se e desprender-se,
ocasionando perdas do suporte.
A descaracterização de uma fachada com a eliminação de alguns de seus componentes
e a troca de materiais com composição e porosidade distintas das do material original podem
criar zonas de acumulação de umidades que trazem consigo problemas com sais e a
proliferação de algas, musgos, fungos e bactérias e até o crescimento de plantas superiores na
cobertura das edificações. O uso de tintas, vernizes e tintas à base de soluções betuminosas,
ou de spray, compostos principalmente por corantes/pigmentos ou tendo como veículo
resinas afetam a porosidade dos revestimentos, dificultando procedimentos de limpeza
posteriores.

PRINCIPAIS CAUSAS DAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS NAS FACHADAS

VARIAÇÃO TÉRMICA E HIDRÁULICA


As variações térmicas do ambiente exercem influência sobre os processos físicos e
químicos de degradação das estruturas e a magnitude e frequência das oscilações térmicas
juntamente com a porosidade e condutibilidade térmica dos materiais construtivos com as
variações de temperatura e umidade, podem alterar os acabamentos, uma vez que provocam
uma dilatações e contrações, ocasionando as gretas e fissuras. Os fatores térmicos e
hidráulicos estão relacionados fundamentalmente com os indicadores de alteração de rupturas
e deformações.

CONTAMINAÇÃO ATMOSFÉRICA
A contaminação atmosférica decorrente de processos de poluição decorrentes da
ocupação humana é o fator mais grave relacionado com a alteração dos materiais construtivos
e com a agravante da impossibilidade de eliminação.
Os contaminantes mais importantes são os gases: anidrido sulfuroso (SO​2​), anidrido
carbônico (CO​2​), óxidos de nitrogênio (NOx), amoníaco (NH​3​) e os aerossóis de ácidos, sais,
metais e partículas carbônicas. Também devem ser levados em conta os contaminantes
secundários, gerados por reação dos primários e pela ação conjunta de vários agentes, já que
ambos efeitos podem ser graves. Exemplos são, dos primeiros, os ácidos sulfúrico e nítrico, e
dos segundos, a presença de umidade.
Está relacionada com a maior parte dos danos, mas destacam-se os depósitos,
decoesões e descamamentos.

AÇÃO DAS INTEMPÉRIES


A chuva chega à superfície das fachadas de distintas formas: por penetração,
percolação e jatos. Embora traga ao material, a corrosão, perdas de matéria e formação de
sais, a chuva exerce geralmente uma ação benéfica de lavagem sobre as superfícies a ela
expostas. A umidade higroscópica busca constantemente o equilíbrio entre a superfície e o ar
adjacente. A capilaridade provoca uma umidade ascendente desde o subsolo, que alcança uma
altura que depende da estrutura porosa do material construtivo, do conteúdo de água crítico
do mesmo, do conteúdo de água do terreno e da velocidade de evaporação das paredes.

A água presta ajuda a outros agentes, sem a qual não seriam efetivos, como os agentes
biológicos, por exemplo. De acordo com Matos e Lima (2006 apud Leite et al, 2017), a
incidência do vento nas edificações é dependente de uma série de fatores, que vão desde o
formato da edificação, sua altura até as condições do entorno.

A maior ou menor incidência de chuvas e a umidade relativa do ambiente influenciam


na disponibilidade de água para que as reações de deterioração possam acontecer. Segundo
Milito (2009 apud Leite et al, 2017), a infiltração de água através de alicerces, lajes, cobertura
mal impermeabilizadas ou argamassas de assentamento magras manifesta-se por manchas de
umidade, acompanhada ou não pela formação de eflorescência ou vesículas.

Souza (2008 apud LEITE et al,2017) destaca ainda que a umidade é fator essencial para o
aparecimento de eflorescências, ferrugens, mofo, bolores, perda de pinturas e de rebocos,
danos que acometem os elementos arquitetônicos que compõem as fachadas dos imóveis dos
Pátios estudados no Recife.

PRINCIPAIS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS QUE AFETAM AS FACHADAS

● FISSURAS
De acordo com Freitas, Carasek e Cascudo (2014 apud Leite et al, 2017), as fissuras são
indícios de diversos problemas ocorridos em fachadas. As estruturas antes de entrarem em
colapso apresentam um estado de fissuração, que permite o trabalho de correção. Nas
fachadas, as fissuras têm formas variadas, e assim, pode ser diagnosticado o problema para as
devidas correções necessárias. As mesmas podem se apresentar na forma horizontal, em
forma de mapa e geométricas.

● BIOCROSTA
Esses agentes biológicos produzem uma alteração que pode ser constatada
macroscopicamente na superfície de diferentes materiais, sendo consequência do
desenvolvimento de microorganismos pertencentes ao grupo dos fungos, dos liquens e dos
musgos. Assim, como para todos os organismos vivos, as condições ambientais podem afetar
o seu desenvolvimento tendo a umidade como um fator essencial para seu crescimento,
resultando a degradação do suporte. A atividade biológica vem sempre acompanhada de
umidade​, ​que proporciona o meio adequado para outros mecanismos atuarem.

● VEGETAÇÃO
As colônias de vegetação parasitária atuam na corrosão dos materiais construtivos e
são propiciadas pela presença de umidade e de luz adequadas, constituem-se sob ou na
superfície das alvenarias, revestimentos e das coberturas. Essas colônias de vegetação
parasitária se nutrem dos sais e matérias orgânicas que extraem do próprio material a que se
fixam.
No caso do desenvolvimento de vegetação parasitária nos revestimentos é originada com
facilidade pela presença de umidade, em conjugação com a radiação solar que serve de fonte
de energia, a vegetação se desenvolve onde encontra um substrato adequado ao seu
crescimento.

● EFLORESCÊNCIA
Os sais podem ter origem na própria constituição das alvenarias, nas argamassas,
ascender do solo com a água por capilaridade, ser aportados por aerossóis atmosféricos, ou de
reações do revestimento com os componentes do ar. Os sais solúveis são nocivos, e sua ação
se deve à criação de tensões, ao crescerem nos poros ou ao formar hidratos a partir do sal
anidro. Os sais pouco solúveis mais frequentes são carbonatos e sulfato cálcico, cujas ações
são menos nocivas que as dos solúveis. A eflorescência de forma prática, apresenta-se como
manchas esbranquiçadas que aparecem na parte superficial do revestimento. Destaca-se que o
processo de eflorescência é estritamente químico.

● DESCASCAMENTO DA PINTURA E DESTACAMENTO


Leite et al (2017), corrobora a ideia de que a perda de aderência é um processo
causado por falhas ou rupturas na interface entre as camadas do revestimento ou entre a base
e o substrato. Essa perda de aderência ocorre quando as tensões que surgem ultrapassam a
capacidade de aderência das ligações. Estas tensões podem vir da presença de sais solúveis.

● GRAFITISMO/PICHAÇÃO
Trata-se de uma alteração superficial que afeta fundamentalmente o aspecto exterior
do revestimento da fachada manifestando-se superficialmente, provocando alteração da
coloração e manchamentos.

ANÁLISE E DISCUSSÃO
Após análise dos dados coletados em campo, através de inspeção visual das fachadas
das edificações, constatou-se a presença das seguintes manifestações patológicas:
● Danos relacionados aos fatores ambientais: Fissuras/Trincas, eflorescência, biocrosta,
vegetação, descascamento da pintura e destacamento, sujidades, corrosão/oxidação.
● Danos relacionados aos fatores antropológicos: Uso de material incompatível; fiação e
tubulação expostas; acréscimos (toldos, placas e marquises), grafitismo/ pichação;
falta de manutenção- perda de matéria (ornatos, guarda-corpo, revestimentos).

Para melhor entendimento de como estão afetadas as fachadas das edificações em


seus respectivos pátios, apresentaremos de forma quantitativa o grau de comprometimento
das fachadas em relação aos danos identificados e as manifestações patológicas serão
apresentadas em um panorama apresentado a seguir:

FISSURAS/TRINCAS
Este tipo de manifestação patológica esteve presente em 42 % das fachadas dos
imóveis estudadas.

BIOCROSTA
A biocrosta apresentou-se em 97% das fachadas analisadas, essa manifestação
patológica foi evidenciada principalmente na parte superior (platibanda e beiral) e em detalhes
arquitetônicos. Notou-se a presença de pombos, como agentes que proporcionam a presença
de microorganismos que juntamente com a umidade, desencadeiam esse tipo de alteração
que é visto em forma de manchas marrons, pretas e esverdeadas.

VEGETAÇÃO
A vegetação superior foi evidenciada em 43% dos imóveis. Essa anomalia nessas
estruturas é causada pela presença de umidade alta e insolação que são características
climáticas típicas do Recife, os pombos também podem estar influenciando com o transporte
de sementes.

EFLORESCÊNCIA
A eflorescência foi observada em 5% das fachadas. Essa anomalia é vista em forma de
manchas brancas. A provável causa dessa manifestação patológica nas fachadas é a junção de
sais solúveis que podem ter vindo dos materiais incompatíveis como o cimento acrescido às
paredes porosas e a presença de umidade. Cabe ressaltar que a baixa incidência desse dano é
decorrente da aplicação de revestimentos cerâmicos no embasamento das edificações,
encobrindo sua manifestação.
DESCASCAMENTO DA PINTURA E DESTACAMENTOS
O descascamento da pintura fez-se presente em 76% das edificações, atrelado ao
descascamento está presente o destacamento do reboco das paredes. Notou-se também o
destacamento de partes dos detalhes construtivos. Esse dano pode ter sido causado pelo
excesso de umidade advindo de infiltrações que causam expansão das camadas de
revestimento da parede.

A partir dos dados apresentados, temos a definição de níveis de comprometimento da


integridade das fachadas que compõem os Pátios na região central da cidade do Recife. Esta
elaboração poderá subsidiar as ações de conservação e restauração para a priorização das
ações, investimentos e políticas para a preservação nestas áreas de valor histórico-cultural da
cidade.

A classificação de cada grau de comprometimento, está associada com a pontuação


acumulada nos formulários de identificação de Danos:
B. Grau I (0 – 29 pontos): Danos leves;
C. Grau II (30 – 69 pontos): Danos de intensidade média;
D. Grau III (70 – 100 pontos): Danos profundos.

A partir do processamento dos dados constatou-se que no Pátio de São Pedro 7% dos
imóveis apresentam-se com as fachadas em Grau I, 49% em Grau II e 44% em Grau III. No Pátio
do Carmo, 10% das edificações apresentam-se com as fachadas em Grau I, 45% em Grau II e
45% em Grau III. No Pátio do Livramento, 10% das fachadas encontram-se em Grau I, 63% em
Grau II e 27% em Grau III.

No Pátio do Terço, 10% do casario apresenta-se com as fachadas em Grau I, 56% em


Grau II e 28% em Grau III. No Pátio São José do Ribamar, 25% das edificações apresentam-se
com as fachadas em Grau I, 44% em Grau II e 31% em Grau III.
No total de 181 fachadas analisadas, 13% das edificações apresentam-se com as
fachadas em Grau I de comprometimento com intensidade leve, 52% em Grau II, intensidade
média, e 35% em Grau III, intensidade profunda.

RECOMENDAÇÕES/DIRETRIZES PARA A PRESERVAÇÃO

Uma vez constatado o nível de degradação de uma edificação e suas partes, seja nos
elementos estruturais ou decorativos, o problema que sempre se coloca é o de escolher o
tratamento adequado para cada dano ou conjunto de dados apresentado, ou seja:
● Conservar o elemento afetado, intervindo de forma adequada a deter o processo de
degradação;
● Substituir o elemento afetado por um outro que mantenha as mesmas funções e
características do anterior e, dependendo do grau de comprometimento, a mesma
forma que deve ser obtida após análise no projeto original de materiais, técnicas e
formas.

No caso das edificações que compõem os Pátios do Recife, onde as fachadas foram
parcialmente preservadas, seria interessante substituir o autêntico degradado ou as partes
transformadas por um similar da mesma forma e, na medida do possível, com o mesmo
material e a mesma técnica.

Recomenda-se a contratação de empresa especializada em serviços de projeto e


execução de conservação e restauração das edificações. Com equipe apta para sanar
problemas graves, como: trincas, fissuras, fissuras profundas, afundamento de pisos, anomalia
nas prumadas das paredes, ou outros danos. Deve-se consultar o DPPC que pode atender a
qualquer solicitação, seja dos técnicos, seja dos usuários no sentido de orientar as
intervenções para que estas não causem danos ou descaracterizem os imóveis.

REFERÊNCIAS

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GHETTI, N. Curty. ​A degradação da pedra natural através do uso dos objetos arquitetônicos e espaços
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