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ESTUDO DIRIGIDO: TÉCNICAS RETROSPECTIVAS

1. Patrimônio e patrimônio no Brasil

O conceito de patrimônio histórico refere-se a bens culturais e naturais que possuem


valor histórico, arquitetônico, científico, estético ou cultural para uma sociedade. Esses bens
são considerados importantes para a preservação da memória coletiva e identidade de uma
comunidade, região ou nação.
No Brasil, o patrimônio histórico é protegido e regulamentado pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), órgão ligado ao Ministério do Turismo. O
IPHAN é responsável pela identificação, proteção, preservação e promoção do patrimônio
cultural brasileiro. No país, o patrimônio histórico abrange diversos tipos de bens, como:
● Patrimônio Arquitetônico: Edifícios, casas, igrejas, palácios, pontes e outras
construções antigas que possuem valor histórico e arquitetônico;
● Patrimônio Urbanístico: Conjuntos urbanos, áreas históricas e centros históricos que
representam períodos importantes da história do Brasil;
● Patrimônio Arqueológico: Sítios arqueológicos, como ruínas de civilizações antigas,
pinturas rupestres, artefatos pré-colombianos, entre outros;
● Patrimônio Industrial: Estruturas, maquinários e instalações industriais históricas que
testemunham a evolução da indústria no país;
● Patrimônio Cultural Imaterial: Expressões culturais, como festas populares, danças,
rituais, culinária tradicional, técnicas artesanais, saberes e modos de fazer;
● Patrimônio Natural: Áreas naturais preservadas que possuem valor histórico, como
parques nacionais, reservas ambientais e sítios naturais de importância científica.
A proteção do patrimônio histórico no Brasil envolve ações de tombamento, registro,
inventário, fiscalização, incentivo à pesquisa e educação patrimonial. A preservação e
promoção desse patrimônio contribuem para a valorização da cultura brasileira, o turismo
cultural e a promoção da identidade nacional.

2. Patrimônio e preservação

Sendo o patrimônio histórico um campo de estudo e prática que busca preservar e


valorizar bens culturais e naturais que possuem significado histórico, cultural, estético ou
científico,esses bens são considerados importantes para a memória coletiva de uma
comunidade, região ou nação, e ajudam a compreender e apreciar a história e a identidade de
um local.

Portanto, a preservação do patrimônio histórico envolve ações de conservação,


restauração, pesquisa, documentação e promoção. É um processo multidisciplinar que requer
a colaboração de especialistas em história, arquitetura, arqueologia, antropologia, conservação,
entre outras áreas, sendo fundamental para garantir a salvaguarda e a transmissão das heranças
culturais de uma sociedade.
Existem diferentes aspectos e etapas envolvidos na preservação do patrimônio
histórico:
● Identificação e inventário: Identificar os bens de valor histórico presentes em uma
determinada área, por meio de pesquisas, levantamentos, estudos arqueológicos,
históricos e arquitetônicos para mapear e registrar o patrimônio existente;
● Conservação e restauração: A conservação visa garantir a preservação física dos bens
culturais, evitando sua deterioração e degradação. Já a restauração é um processo mais
complexo, que busca recuperar e reconstruir elementos danificados ou perdidos do
patrimônio, respeitando princípios éticos e científicos;
● Legislação e proteção: A criação de leis, normas e regulamentos é essencial para
proteger o patrimônio histórico de possíveis danos e ameaças. Essas medidas podem
incluir o tombamento, que é o reconhecimento oficial de um bem como patrimônio, e
a definição de diretrizes para sua preservação;
● Educação e conscientização: A conscientização da população é fundamental para
valorizar e preservar o patrimônio histórico. A educação patrimonial, por meio de
programas educativos, visitas guiadas e atividades interativas, busca sensibilizar as
pessoas sobre a importância do patrimônio e promover seu respeito e cuidado;
● Uso e sustentabilidade: O patrimônio histórico deve ser visto como um recurso vivo e
dinâmico, capaz de contribuir para o desenvolvimento sustentável das comunidades. O
estabelecimento de usos adequados e sustentáveis dos bens culturais pode garantir sua
valorização e a geração de benefícios sociais e econômicos.

A preservação do patrimônio histórico desempenha um papel crucial na manutenção da


identidade cultural, na promoção do turismo cultural e na construção de uma consciência
histórica coletiva. Além disso, contribui para a valorização da diversidade cultural, para a
pesquisa acadêmica e para o fortalecimento da coesão social. É um esforço contínuo que requer
a participação ativa de governos, comunidades locais, especialistas e da sociedade como um
todo.

3. As relações do modernismo com a temática de patrimônio

As relações entre o modernismo e a temática do patrimônio histórico são complexas e


marcadas por tensões. O movimento modernista, que surgiu no final do século XIX e se
desenvolveu ao longo do século XX, propôs uma ruptura com as tradições do passado,
defendendo a experimentação, a inovação e a busca por uma estética contemporânea.
No contexto do patrimônio histórico, o modernismo muitas vezes entrou em conflito
com a preservação de edifícios e monumentos antigos, que eram vistos como representantes de
uma estética ultrapassada e de um sistema social e cultural obsoleto. Para os modernistas, a
ênfase estava na criação de uma nova arquitetura e urbanismo, que atendesse às necessidades
da sociedade moderna e refletisse sua identidade e aspirações.
Esse conflito ficou evidente nas décadas de 1920 e 1930, quando vários projetos
modernistas propuseram a demolição de construções históricas para abrir caminho para a
arquitetura moderna. Um exemplo notório é o caso do Plano de Renovação de Paris, proposto
pelo arquiteto Le Corbusier, que previa a demolição de partes significativas da cidade histórica
em nome de uma reconstrução moderna.
No entanto, ao longo do tempo, surgiram vozes dentro do movimento modernista que
defendem a preservação do patrimônio histórico como parte integrante da cultura e identidade
de uma sociedade. Alguns arquitetos modernistas começaram a reconhecer o valor intrínseco
dos edifícios antigos e a defender sua integração criativa com as novas construções. Um
exemplo é o arquiteto italiano Gio Ponti, que defendeu a importância da conservação e
restauração dos edifícios históricos em suas obras.
Posteriormente, o movimento da preservação histórica ganhou força, e novas
abordagens surgiram, como a valorização das camadas históricas da cidade, o planejamento
urbano sensível à preservação e a integração harmoniosa entre a arquitetura contemporânea e
o patrimônio histórico.
Atualmente, a relação entre o modernismo e a temática do patrimônio histórico é mais
complexa e variada. A preservação de edifícios modernistas também se tornou objeto de
atenção e discussão, uma vez que muitos desses edifícios são considerados marcos
arquitetônicos e culturais importantes do século XX.
Em resumo, o modernismo inicialmente representou uma postura crítica em relação ao
patrimônio histórico, buscando romper com as tradições do passado. No entanto, ao longo do
tempo, surgiram abordagens mais equilibradas que reconhecem a importância da preservação
do patrimônio histórico como parte integrante da cultura e identidade de uma sociedade,
inclusive no contexto do modernismo arquitetônico.

4. Institucionalização da preservação

O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) teve o início de seu


funcionamento em 1936, por determinação de Getúlio Vargas, presidente da época, dirigida ao
Ministro da educação e saúde pública, Gustavo Capanema. No entanto, o órgão só foi criado
de fato em janeiro de 1937, pela lei nº 378 e incorporado ao Ministério da Educação e Saúde
(MES). Nesse mesmo ano, o Decreto nº 25 regulamentou o ato de tombamento de bens móveis
e imóveis ao órgão.
Com o propósito de valorizar, preservar, conservar e dar visibilidade ao patrimônio
nacional, o contexto de criação do SPHAN se deu num momento em que o país passava por
ideais modernistas e pela instauração do Estado Novo. Dessa forma, em meio a conjuntura
daquela época, os intelectuais modernistas tinham essa preocupação de preservar a arte
colonial.
Mario de Andrade é um nome importante para esse desenvolvimento visto que,
publicou diversos textos sobre o assunto. Em meio a esse cenário, o poder público cria
Inspetorias Estaduais de Monumentos Históricos em Minas Gerais, Bahia e em Pernambuco,
na década de 1920, como forma de atender as demandas do modernistas.
Com a instalação do Estado Novo, o ideário do patrimônio passou a ser integrado no
processo e assim, Mário de Andrade fez um projeto de criação de um órgão voltado para
preservação, a pedido do ministro Gustavo Capanema.
Inicialmente, sob a direção de Rodrigo M. F. de Andrade, o Sphan se estruturou em
duas divisões, sendo a Divisão de Estudos e Tombamento (DET) e a Divisão de Conservação
e Restauração (DCR). Ainda, segundo Fonseca (ano), esse projeto tinha uma concepção de
patrimônio avançada para seu tempo, com alguns preceitos da Carta de Veneza, de 1964.
A equipe contava ainda com outros nomes do modernismo como Lúcio Costa, Oscar
Niemeyer, Carlos Drummond de Andrade, Alcides da Rocha Miranda e Manuel Bandeira.
Além disso, vale mencionar que foram identificados os primeiros bens a ser inscritos nos Livros
do Tombo, resultando num total de 235 bens tombados no ano seguinte a fundação do Sphan.
5. Perspectivas de futuro
Com essas reflexões e conceitos a respeito de patrimônio e suas temáticas, pode-se fazer
algumas considerações. A começar que, após 10 anos o SPHAN torna-se DPHAN para depois
ser renomeado como IPHAN que é o órgão atual.
Em meio a esses processos, órgãos de escala municipal e estadual também são criados
pelo país como forma de continuar e qualificar a preservação dos bens. Com o passar do tempo,
os ideais modernistas (muitas vezes portando um caráter funcionalista), vão sendo discutidos e
as questões de preservação vão passando por modificações.
Dessa forma, a “cultura do patrimônio” que ainda é identificável (PINHEIRO, 2006),
juntamente aos monumentos arquitetônicos e urbanísticos deixam de ser vistos somente como
bens artísticos ou históricos, ganhando também contexto sócio-econômico. Nessa
contextualização, pode-se exemplificar as atividades turísticas, que fomentam contato direto
com o público e os patrimônios preservados.
Pode-se dizer ainda que não há preservação sem utilização. Intervenções, por mais
conservativas que sejam, dificilmente serão feitas sem qualquer alteração. Assim, a
preservação de um monumento concilia a restauração, que é o resgate e a volorização do
edifício como bem cultural e a revitalização, que busca transformar esse bem em patrimônio
vivo (LYRA, 2016).
A função desses órgãos, desde os federais aos municipais, é a de impor limitações para
que não haja a descaracterização dos bens protegidos, além de promover condições para
destinação do uso dos edifícios e a requalificação de áreas degradadas.
GLOSSÁRIO

IPHAN: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional;


Conservação: conjunto de medidas permanentes para impedir que os objetos de valor, como
monumentos e obras de arte, se deteriorem com o tempo;
Restauração: restabelecimento de áreas degradadas; recuperação; reparação;
Plano de renovação de Paris: plano que incluía demolição de prédios antigos e construção de
outros novos, além da renovação urbana pela construção de ruas e outros. Conhecido também
como Plano Hausmann;
SPHAN: Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional;
Tombamento: conjunto de ações realizadas pelo poder público com o objetivo de preservar,
por meio da aplicação de legislação específica, bens de valor histórico, cultural, arquitetônico,
ambiental e também de valor afetivo para a população;
Preservação: série de ações cujo objetivo é garantir a integridade e a perenidade de algo;
defesa, salvaguarda, conservação;
Revitalização: consiste na refuncionalização estratégica de áreas dotadas de patrimônio, ou
seja, de objetos antigos que permaneceram inalterados no processo de transformação do espaço
urbano, de forma a promover uma nova dinâmica urbana baseada na diversidade econômica e
social;
Requalificação: fazer uma intervenção, geralmente através de obras, para alterar ou melhorar.
REFERÊNCIAS

Dicionário do Patrimônio Cultural: Revitalização - IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico


e Artístico Nacional. Disponível em:
<http://portal.iphan.gov.br/dicionarioPatrimonioCultural/detalhes/58/revitalizacao#:~:text=A
%20revitaliza%C3%A7%C3%A3o%20consiste%20na%20refuncionaliza%C3%A7%C3%A
3o>.

FONSECA, Maria Cecília Londres. O patrimônio em processo: Trajetória da política


federal de preservação no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Editoria UFRJ, 2005. 296 p.
LYRA, Cyro Corrêa. Preservação do patrimônio edificado : a questão do uso. Brasília, DF:
Iphan, 2016. 308 p.
Memorial da Democracia - Arte e história ganham instituição. Disponível em:
<http://memorialdademocracia.com.br/card/getulio-baixa-decreto-instituindo-o-servico-do-
patrimonio-historico-e-artistico-nacional>. Acesso em: 29 maio. 2023.

PINHEIRO, Maria Lucia Bressan. Origens da Noção de Preservação do Patrimônio Cultural


no Brasil. Revista de pesquisa em arquitetura e urbanismo, São Paulo, p. 5-14, 2006.
REZENDE, M. et al. Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN). [s.l: s.n.].
Disponível em:
<http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Servi%C3%A7o%20do%20Patrim%C3
%B4nio%20Hist%C3%B3rico%20e%20Art%C3%ADstico%20Nacional.pdf>.

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