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RESUMO
Esta pesquisa tem como objetivo identificar a gestão do Plano de Gestão dos jardins
históricos de Burle Marx que foram caracterizados como jardins históricos, situados
na cidade do Recife-PE. Foram feitas abordagens qualitativas, exploratória e
descritivas sobre a implementação do plano de gestão no ano de 2019, através de
análise documental e observação nas reuniões do Comitê Burle Marx (as reuniões
que conseguimos acompanhar desde 2013). Os jardins são considerados a
reprodução artificial de um ambiente vegetado, com características arquitetônicas
ligadas às questões ambientais e sociais, a partir do olhar do projetista. Evoca a
relação homem-natureza atribuindo os aspectos regionais. Dentre estes, os jardins
históricos representam um monumento, algo que reproduz a história e a arte,
representadas através da arquitetura e da vegetação. Assim são os jardins históricos
de Burle Marx no Recife, dos quinze jardins projetados, seis são tombados pelo
IPHAN e neste artigo será explorada qual a relação do Plano de Gestão elaborado
pelo Comitê Burle Marx no ano de 2020, com a sustentabilidade e os Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável. Observou-se que o plano de gestão corrobora com os
ODS, em destaque com o ODS 11 – cidades e comunidades sustentáveis e o ODS
17 – parcerias e meios de implementação, mas também no conceito geral de
desenvolvimento sustentável, podendo incorporar dentro do plano de gestão metas e
indicadores específicos. O patrimônio cultural urbano que representa o legado de
Burle Marx fortalece a identidade da cidade do Recife e proporciona o conhecimento
e o bem estar para as futuras gerações, enaltecendo a integração do conceito de
patrimônio cultural urbano e sustentabilidade junto às suas implicações.
ABSTRACT
enxergar que o paisagista Burle Marx que, passado o tempo, passaram a ser
inseriu na cidade do Recife, uma denominados de praça. O
contribuição importante para fortalecer adensamento urbano levantou a
o sentimento de pertencimento e preocupação com a conservação dos
apropriação da cultura nacional, a espaços verdes na cidade, no lugar de
partir dos aspectos botânicos. Seus praças tínhamos agora residências e
jardins espalhados pela cidade do comércios, descaracterizando o
Recife, revelam uma verdadeira aula ambiente natural e colocando em risco
de amor ao Brasil e seus componentes a função ecológica dos jardins ou
culturais. Saber preservar esses praças. Tal preocupação foi exaltada
jardins para as futuras gerações é pela UNESCO, na Carta de Veneza em
colocar, desde já, a importância de sua 1964, e, em seguida, na Carta de
preservação, dialogar sobre a Florença em 1981. O Comitê
importância dos jardins é fundamental Internacional de Sítios e Jardins
para construir o sentimento de Históricos da UNESCO preocupou-se
pertencimento dos atores locais. Para em proteger os jardins considerados
ajudar nesse debate, trazemos aqui históricos e portanto patrimônio cultural
um conjunto de conceitos e (SÁ CARNEIRO, 2004).
contribuições da gestão pública A importância do patrimônio
municipal sobre o que são jardins e cultural urbano vem da necessidade de
como eles podem servir de ligação construir a identidade de uma
entre o público e a história da cidade. sociedade, considerando, entre outros
Um jardim une feições botânicas fatores, o sentimento de
e arquitetura, expressando as pertencimento, sua história, sensações
características regionais e o toque do e territorialidade. Patrimônio Cultural é
projetista, pode-se considerar o tudo aquilo que constitui um bem
ambiente que proporciona a relação do apropriado pelo homem, com suas
homem com a natureza para fins características únicas e particulares
contemplativos, sociais, econômicos e (FUNART; PINSKY, 2012), quando
religiosos. Sá Carneiro (2004) aborda a abordamos a questão da preservação
evolução dos jardins, quando dos espaços públicos, colocando a
apresenta a existência dos primeiros preservação como um ponto
jardins, com caráter privado vinculado importante para a construção da
a grandes áreas vegetadas, sendo identidade da sociedade, estamos
eles: o “Jardim do Palácio de Alhambra fortalecendo os laços para que a
na Espanha (1492), do Taj Mahal na geração atual e as futuras gerações
Índia (1632), do Parque de Friburgo possam aproveitar e conhecer sua
criado por Maurício de Nassau no história e assim, ajudar na construção
Recife (1642) ou do Jardim de de sua identidade.
Versalhes na França (1661)”. Os
jardins eram concebidos em áreas A concepção de
privadas a pedido de reis, monges, e sustentabilidade não pode ser
grandes latifundiários, com apelo para reducionista e aplicar-se
passeios públicos, e áreas de apenas ao
crescimento/desenvolvimento,
contemplação, retratando intervenções
como é predominante nos
com características naturais. tempos atuais. Ela deve cobrir
Já no século XX com a expansão todos os territórios da
urbana, os jardins começaram a realidade, que vão das
receber a denominação de parques, o pessoas, tomadas
fortalecer cada vez mais os laços com público e abre um espaço de diálogo
o território. A cidade do Recife, assim com a sociedade civil, para que todos
como outros locais, tem sua história sintam pertencentes ao conceito de
construída por várias mãos e Burle preservação e utilização dos espaços
Marx fez questão de colocar essa de forma sustentável. Porém vale
conexão quando coloca a flora dos destacar que o Plano não finda em si
mais variados cantos do país para nas soluções para a organização dos
comp or as paisagens dos jardins Jardins, ele carece de constantes
históricos que se espalham pela consultas e atualizações, pois vivemos
cidade. Cada praça, um jardim, uma num mundo onde a tecnologia e as
história, sempre de forma holística, informações são aprimoradas a cada
contando a história e valorizando o dia.
Brasil. Acredito que conseguir dar
A preservação e sustentabilidade consequência ao Plano de Gestão
desses jardins históricos também se também é um desafio que não envolve
dão de forma integrada, envolvendo só o poder público, é uma questão de
conceitos, ações, academia e a educação patrimonial e preservação
sociedade do entorno. O conceito de que se apresenta como demanda tanto
preservação e sustentabilidade estão para a academia, quanto para a
em constante debate, passando por sociedade civil. Inclusive coloco como
atualizações de acordo com as sugestão para futuras pesquisas quais
mudanças que ocorrem no mundo, os reflexos da criação do plano de
cada geração enxerga de forma manejo poderia ser analisado, tanto no
diferente as necessidades e isso faz aspecto da sustentabilidade, quanto
com que órgãos de proteção de numa visão ambiental e/ou de
direitos e garantias evoluam e passem preservação.
a enxergar fatos e acontecimentos Tratar os Jardins Históricos de
atuais que acabam sendo de extrema Burle Marx como história viva da
importância. Cidade do Recife, coloca-se como
Por isso, fortalecer e debater dever a todos, o sentimento de
iniciativas que envolvem a preservação pertencimento, de coletividade. Os
e a sustentabilidade é garantir que as Jardins Históricos se apresentam como
futuras gerações possam fazer esse a valorização da história e cultura
mesmo debate, porém com mais brasileira, Burle Marx traz esse
conteúdo, acesso à informação e conceito de forma visionária em suas
preservando a nossa história para que elaborações paisagísticas. No Recife,
a afirmação da nossa identidade seja além das quinze praças públicas, o
de forma continuada e nosso paisagista ainda assina mais 24 obras
patrimônio preservado. entre espaços públicos e privados na
O Plano de Gestão dos Jardins cidade, Burle Marx é considerado um
Históricos de Burle Marx traz um paisagista com uma das maiores
retrato de um amplo debate entre o expressões do urbanismo nacional.
poder público, a academia e a
sociedade civil, que traz orientações
sobre o manejo de cada Jardim,
orientações de soluções para o poder
REFERENCIAS
ACOSTA, Alberto O bem viver : uma oportunidade para imaginar outros mundos
/ Alberto Acosta ; tradução de Tadeu Breda.– São Paulo : Autonomia Literária,
Elefante, 2016. 264 p.
BELTRAME, A. R., GROSSELI, S., PARIS, B. C., ROPELATTO, A. R., & ANJOS, M.
F. D. OS JARDINS DE BURLE MARX E AS VANGUARDAS EUROPEIAS. Anais do
14º Encontro Científico Cultural Interinstitucional - 2016 1 ISSN 1980-7406
FUNARI, P. P.; PINSKY, J. Turismo e Patrimônio Cultural. 5 ed, 130 p., 2001.
ONU – Organização das Nações Unidas do Brasil. Os Objetivos de
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Acesso em 21 set. 2020a.