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ANÁLISE DO PLANO DE GESTÃO DOS JARDINS

HISTÓRICOS DE BURLE MARX NO RECIFE-PE: uma visão


de sustentabilidade e preservação do patrimônio cultural
urbano.
Zanzul Alexandre Pessoa
zap@discente.ifpe.edu.br
Marcos Moraes Valença
marcosvalenca@recife.ifpe.edu.br

RESUMO
Esta pesquisa tem como objetivo identificar a gestão do Plano de Gestão dos jardins
históricos de Burle Marx que foram caracterizados como jardins históricos, situados
na cidade do Recife-PE. Foram feitas abordagens qualitativas, exploratória e
descritivas sobre a implementação do plano de gestão no ano de 2019, através de
análise documental e observação nas reuniões do Comitê Burle Marx (as reuniões
que conseguimos acompanhar desde 2013). Os jardins são considerados a
reprodução artificial de um ambiente vegetado, com características arquitetônicas
ligadas às questões ambientais e sociais, a partir do olhar do projetista. Evoca a
relação homem-natureza atribuindo os aspectos regionais. Dentre estes, os jardins
históricos representam um monumento, algo que reproduz a história e a arte,
representadas através da arquitetura e da vegetação. Assim são os jardins históricos
de Burle Marx no Recife, dos quinze jardins projetados, seis são tombados pelo
IPHAN e neste artigo será explorada qual a relação do Plano de Gestão elaborado
pelo Comitê Burle Marx no ano de 2020, com a sustentabilidade e os Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável. Observou-se que o plano de gestão corrobora com os
ODS, em destaque com o ODS 11 – cidades e comunidades sustentáveis e o ODS
17 – parcerias e meios de implementação, mas também no conceito geral de
desenvolvimento sustentável, podendo incorporar dentro do plano de gestão metas e
indicadores específicos. O patrimônio cultural urbano que representa o legado de
Burle Marx fortalece a identidade da cidade do Recife e proporciona o conhecimento
e o bem estar para as futuras gerações, enaltecendo a integração do conceito de
patrimônio cultural urbano e sustentabilidade junto às suas implicações.

Palavras-chave: Patrimônio Cultural Urbano. Sustentabilidade. Praças. Burle Marx.

ABSTRACT

Instituto Federal de Pernambuco. Campus Recife. Curso de Especialização em Sustentabilidade


Urbana. 13 de julho de 2022.
This research aims to identify the management of the Management Plan of Burle
Marx's historic gardens that were characterized as historic gardens, located in the
city of Recife-PE. Qualitative, exploratory and descriptive approaches were made on
the implementation of the management plan in 2019, through document analysis and
observation at the Burle Marx Committee meetings (the meetings we have been able
to follow since 2013). The gardens are considered the artificial reproduction of a
vegetated environment, with architectural features linked to environmental and social
issues, from the designer's point of view. It evokes the man-nature relationship
attributing regional aspects. Among these, the historic gardens represent a
monument, something that reproduces history and art, represented through
architecture and vegetation. This is how the historic gardens of Burle Marx in Recife
are, of the fifteen designed gardens, six are listed by IPHAN and in this article will be
explored the relationship of the Management Plan prepared by the Burle Marx
Committee in the year 2020, with the sustainability and the Objectives of the
Sustainable development. It was observed that the management plan corroborates
the SDGs, in particular SDG 11 - sustainable cities and communities and SDG 17 -
partnerships and means of implementation, but also the general concept of
sustainable development, which can be incorporated into the development plan.
management specific goals and indicators. The urban cultural heritage that
represents the legacy of Burle Marx strengthens the identity of the city of Recife and
provides knowledge and well-being for future generations, praising the integration of
the concept of urban cultural heritage and sustainability along with its implications.

Keywords: Urban Cultural Heritage. Sustainability. Squares. Burle Marx.

esse já foram mais de 3 mil projetos


1. INTRODUÇÃO espalhados pelo Brasil e no mundo,
com destaque para o Parque do
Roberto Burle Marx foi um grande Flamengo, no Rio de Janeiro; o Parque
artista plástico, que se consolidou do Ibirapuera, em São Paulo; o Parque
como um dos maiores paisagistas do da Pampulha, em Belo Horizonte; os
mundo, entretanto para além disso, ele Jardins do Palácio da ALvorada, em
também foi pintor, desenhista, escultor, Brasília; os Jardins do Palácio do
litógrafo, serígrafo designer de joias, Itamaraty, em Brasília; o Parque Del
explorador botânico, arquiteto e Leste, em Caracas; o Jardim das
urbanista. Burle Marx iniciou seus Nações, na Áustria e a Praça Peru, na
estudos na Escola Nacional de Belas Argentina. Já no Recife podemos
Artes no Rio de Janeiro, na destacar o Jardim do Palácio do
oportunidade estudou com Cândido Campo das Princesas, a Praça do
Portinari, onde conviveu com Oscar Derby e a Praça Euclides da Cunha,
Niemeyer, Milton Roberto e Hélio mais conhecida como a praça do
Uchôa, grandes nomes da arquitetura Clube Internacional.
moderna. Seu primeiro grande projeto A partir das minhas experiências
foi em Recife, projetando a Praça de próprias, na participação e
Casa Forte, a pedido do amigo e institucionalização do Comitê Burle
arquiteto Lúcio Costa, em 1934 e após Marx no Recife, desde 2013, consegui

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enxergar que o paisagista Burle Marx que, passado o tempo, passaram a ser
inseriu na cidade do Recife, uma denominados de praça. O
contribuição importante para fortalecer adensamento urbano levantou a
o sentimento de pertencimento e preocupação com a conservação dos
apropriação da cultura nacional, a espaços verdes na cidade, no lugar de
partir dos aspectos botânicos. Seus praças tínhamos agora residências e
jardins espalhados pela cidade do comércios, descaracterizando o
Recife, revelam uma verdadeira aula ambiente natural e colocando em risco
de amor ao Brasil e seus componentes a função ecológica dos jardins ou
culturais. Saber preservar esses praças. Tal preocupação foi exaltada
jardins para as futuras gerações é pela UNESCO, na Carta de Veneza em
colocar, desde já, a importância de sua 1964, e, em seguida, na Carta de
preservação, dialogar sobre a Florença em 1981. O Comitê
importância dos jardins é fundamental Internacional de Sítios e Jardins
para construir o sentimento de Históricos da UNESCO preocupou-se
pertencimento dos atores locais. Para em proteger os jardins considerados
ajudar nesse debate, trazemos aqui históricos e portanto patrimônio cultural
um conjunto de conceitos e (SÁ CARNEIRO, 2004).
contribuições da gestão pública A importância do patrimônio
municipal sobre o que são jardins e cultural urbano vem da necessidade de
como eles podem servir de ligação construir a identidade de uma
entre o público e a história da cidade. sociedade, considerando, entre outros
Um jardim une feições botânicas fatores, o sentimento de
e arquitetura, expressando as pertencimento, sua história, sensações
características regionais e o toque do e territorialidade. Patrimônio Cultural é
projetista, pode-se considerar o tudo aquilo que constitui um bem
ambiente que proporciona a relação do apropriado pelo homem, com suas
homem com a natureza para fins características únicas e particulares
contemplativos, sociais, econômicos e (FUNART; PINSKY, 2012), quando
religiosos. Sá Carneiro (2004) aborda a abordamos a questão da preservação
evolução dos jardins, quando dos espaços públicos, colocando a
apresenta a existência dos primeiros preservação como um ponto
jardins, com caráter privado vinculado importante para a construção da
a grandes áreas vegetadas, sendo identidade da sociedade, estamos
eles: o “Jardim do Palácio de Alhambra fortalecendo os laços para que a
na Espanha (1492), do Taj Mahal na geração atual e as futuras gerações
Índia (1632), do Parque de Friburgo possam aproveitar e conhecer sua
criado por Maurício de Nassau no história e assim, ajudar na construção
Recife (1642) ou do Jardim de de sua identidade.
Versalhes na França (1661)”. Os
jardins eram concebidos em áreas A concepção de
privadas a pedido de reis, monges, e sustentabilidade não pode ser
grandes latifundiários, com apelo para reducionista e aplicar-se
passeios públicos, e áreas de apenas ao
crescimento/desenvolvimento,
contemplação, retratando intervenções
como é predominante nos
com características naturais. tempos atuais. Ela deve cobrir
Já no século XX com a expansão todos os territórios da
urbana, os jardins começaram a realidade, que vão das
receber a denominação de parques, o pessoas, tomadas

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individualmente, às local com valor histórico, feito por


comunidades, à cultura, à muitas mãos, que traz uma
política, à indústria, às cidades oportunidade de conhecer a sua
e principalmente ao Planeta história e a história da sua cidade,
Terra com seus ecossistemas.
consolidando os valores de
Sustentabilidade é um modo
de ser e de viver que exige
sustentabilidade. Burle Marx foi um ser
alinhar as práticas humanas às humano que abordou o paisagismo de
potencialidades limitadas de forma artística, de valorização da
cada bioma e às necessidades vegetação brasileira, onde é possível
das presentes e das futuras observar que sua trajetória vem para
gerações ( BOFF, p. 18, 2016. fortalecer o país.
) Com isso abordamos, como
objetivo, identificar a gestão do Plano
A sustentabilidade traz um de Gestão dos jardins históricos de
conceito mais amplo, no qual integra Burle Marx que foram caracterizados
não só a questão da preservação em como jardins históricos, situados na
si, mas como ela se dá por várias cidade do Recife-PE. Já como questão
formas, sempre com uma integração da pesquisa, colocamos como se
de ações, não será uma ação isolada apresenta a relação entre a gestão dos
que fará da sustentabilidade uma ação jardins históricos com os Objetivos do
completa. Segundo ACOSTA p. 34, Desenvolvimento Sustentável,
2016: “A concepção – equivocada – do principalmente em conjunto com o
crescimento baseado em inesgotáveis ODS 11 – cidades e comunidades
recursos naturais e em um mercado sustentáveis e o ODS 17 – parcerias e
capaz de absorver tudo o que for meios de implementação, mas também
produzido não tem conduzido nem no conceito geral de desenvolvimento
conduzirá ao desenvolvimento. Pelo sustentável, podendo incorporar dentro
contrário.” do plano de gestão metas e
A construção do Plano de Gestão indicadores específicos.
dos Jardins Históricos de Burle Marx
teve início com a institucionalização do
Comitê Burle Marx, que, através da 2. DESENVOLVIMENTO
prefeitura do Recife-PE, elaborou um 2.1 OS JARDINS HISTÓRICOS
amplo debate com os agentes
públicos, privados e a sociedade civil Os jardins urbanos proporcionam
organizada, no qual foi possível um ambiente de bem estar e lazer,
organizar, através de reuniões contribuem para amenizar o calor,
periódicas, estudos, oficinas e funcionando como regulador de
audiência pública sobre a importância temperatura, filtrando a poluição
da preservação, manutenção e atmosférica, melhorando a qualidade
sustentabilidade das praças projetadas do ar e proporcionando beleza cênica.
pelo renomado paisagista. Entre eles, destacam-se os jardins
Acredito que a consolidação do históricos, que, segundo a Carta de
Plano de Gestão trará um novo olhar Florença que foi editada em 1981 pelo
ao sentimento dos usuários sobre Conselho Internacional de
pertencer ao meio ambiente que Monumentos e Sítios e pelo Comitê
envolve as praças, conhecer a história Internacional de Jardins Históricos, são
e entender que o local não é apenas e definidos como “uma composição
simplesmente uma praça, e sim um arquitetônica e vegetal que, do ponto

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de vista da história ou da arte, um verdadeiro marco no paisagismo


apresenta um interesse público”, da cidade e do país.
considerado portanto como um O conceito do Bem Viver
monumento. A Carta ainda define os apresentado por Acosta (2016p.33),
jardins históricos como “uma questiona justamente “o conceito
composição de arquitetura cujo o eurocêntrico de bem-estar''. É uma
material é principalmente vegetal, proposta de luta que enfrenta a
portanto vivo e como tal, perecível e colonialidade do poder.” O que Burle
renovável” (CARTA DE FLORENÇA, Marx apresenta em seus projetos são
1981). justamente esses questionamentos, de
Ainda de acordo com a Carta de que o nosso país possui uma trajetória
Juiz de Fora, os jardins históricos são histórica e referências tão ricas e
os sítios e paisagens agenciados pelo próprias, que devem ser apropriadas
homem, onde a natureza e a história pelos brasileiros.
são elementos vivos e dinâmicos em Os jardins históricos de Burle
constante mudança, onde possam Marx exploram a valorização da flora
surgir acontecimentos inesperados, brasileira, com riqueza de diversidade
logo as ações sempre poderão vir a de suas plantas e o olhar do
ser diferentes das iniciais. No geral, um paisagista. Destaca-se que foram 15
jardim histórico possui elementos praças projetadas na cidade, que
culturais e históricos que necessitam permitiram ações envolvendo o poder
de preservação para manter sua público, a sociedade, empresas
identidade inicial, o paisagista assume privadas e demais atores que vivem no
uma tarefa artística que utiliza entorno das praças, garantindo desde
elementos botânicos e estruturais a importância da preservação da flora
diferenciados. existente até a relação
No início do século XX, meados homem-natureza. Anunciamos as
de 1934, começam a surgir os jardins Praças de: Casa Forte; Euclides da
de Burle Marx no Recife, com o intuito Cunha, na Madalena; República e
de valorizar o nosso país e suas Jardim Campo Princesas, no bairro de
características, um país cheio de Santo Antônio; Derby; Salgado Filho,
diversidade, onde ele apresenta em frente ao Aeroporto Internacional
através da elaboração de cada Jardim dos Guararapes; Faria Neves, em
Histórico (SÁ CARNEIRO, 2007). Cada frente ao Horto de Dois Irmãos; Pinto
jardim foi pensado em fortalecer o Damaso, na Várzea; Entroncamento,
nacionalismo, a valorização da cultura nas Graças; Chora Menino, no
e flora brasileira – diferentemente de Paissandu; Maciel Pinheiro, na Boa
uma visão eurocêntrica que valoriza a Vista; Dezessete, em Santo Antônio;
cultura do Norte global. O legado Artur Oscar, conhecida como Arsenal,
deixado pelo paisagista Burle Marx no Bairro do Recife; o Jardim da
para a cidade do Recife é reconhecido Capela da Jaqueira; o Largos da Paz,
internacionalmente, tal valorização ao em Afogados; e o Largo das Cinco
passo que enaltece a riqueza local e Pontas, no bairro de São José.
torna a cidade mais atrativa aos Santos (1994 p. 36), afirmou com
turistas, aumenta a responsabilidade bastante felicidade, que “o lugar é a
de sua preservação, conservação e extensão do acontecer solidário,
divulgação por parte do poder público entendendo-se por solidariedade a
e sociedade civil, pois ele representa obrigação de se viver junto. O lugar é
então o lócus do coletivo”. Nesta

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discussão, objetivamos apresentar recursos ambientais, incluindo as


algumas reflexões a respeito do águas jurisdicionais, com
patrimônio cultural urbano e a características naturais relevantes,
sustentabilidade, a partir do Plano de instituídos pelo Poder Público”;
Gestão dos Jardins Históricos de Burle Unidade de Conservação da Paisagem
Marx na cidade do Recife, destacando (UCP) – “é o recorte do território que
contornos historicamente construídos revela significativa relação entre o sítio
em torno dessa categoria. natural e os valores materiais e
A sustentabilidade busca conciliar imateriais, consolidados ao longo do
os interesses de preservação e tempo e expressos na identidade do
continuidade, e são estas contribuições Recife. E, por fim, as Unidades de
que vamos apresentar neste artigo, Equilíbrio Ambiental (UEA), onde estão
tendo em vista que a preservação das inseridos os Jardins Históricos de Burle
praças, não são só para a atualidade, Marx.
mas também para a valorização da
história da cidade. Auxiliar a As Unidades de Equilíbrio
compreensão para a população de que Ambiental - UEA, são espaços
as praças possuem um valor histórico, inseridos na malha urbana,
ajuda a fortalecer os valores locais, o geralmente vegetados,
necessários à preservação das
sentimento de pertencimento do
condições de amenização
processo de cuidado de/para a cidade climática, cuja função é manter
e acende o debate sobre a qualidade ou elevar a qualidade
de vida que perpassa por ambientes ambiental e paisagísticas da
de lazer. cidade, de forma a melhorar as
condições de saúde pública e
do bem-estar da coletividade,
2.2 LEGISLAÇÃO DO MUNICÍPIO DO podendo destinar-se à prática
RECIFE PARA CONTRIBUIÇÃO DA de atividades contemplativas,
PRESERVAÇÃO DOS JARDINS culturais, recreativas,
HISTÓRICOS esportivas, ecoturísticas, de
convivência o de lazer. (Lei
Municipal do Recife nº
Em 2014, a Prefeitura do Recife 18.014/2014)
instituiu o Sistema Municipal de
Unidades Protegidas (SMUP), que No Artigo 23ª podemos encontrar
estabelece as normas gerais e como são constituídas as categorias
requisitos básicos para a criação, das Unidades de Equilíbrio Ambiental,
implantação e gestão das referidas que apresenta o termo Jardim
unidades e de suas categorias Histórico, como sendo uma UEA.
específicas, através da Lei Municipal nº Após a criação do SMUP, seis
18.014 do ano de 2014, que classifica praças projetados por Burle Marx
as unidades protegidas em quatro obtiveram tombamento provisório, em
categorias: Jardim Botânico (JB) - 2015, pelo Instituto do Patrimônio
“unidade protegida, constituída, no Histórico e Artístico Nacional (Iphan),
todo ou em parte, por coleções de sendo elas: Praça Euclides da Cunha,
plantas vivas, cientificamente no bairro da Madalena; a de Casa
reconhecidas, organizadas, Forte; a do Derby; a da República com
documentadas e identificadas”; jardim do Campo das Princesas, no
Unidades de Conservação da Natureza bairro de Santo Antônio; a Salgado
(UCN) - “são espaços territoriais e seus

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Filho, em frente ao Aeroporto do


Guararapes; e a Faria Neves, em Dois Roberto Burle Marx nasceu em 4
Irmãos. de agosto de 1909 na cidade de São
Em 2016, o Decreto Municipal nº Paulo, estudou na Escola Nacional de
29.537 classificou como jardins Belas Artes no Rio de Janeiro, onde
históricos de Burle Marx os 15 espaços chegou ainda criança. Entre os anos
públicos localizados na cidade, de 1928 e 1929 morou na Alemanha,
conforme seu art 1º: onde teve contato com diversos
artistas e conheceu a estufa do Jardim
Ficam classificados como Botânico de Dahlem, na cidade de
Jardins Históricos de Burle Berlim, e detinha a vegetação
Marx os 15 (quinze) espaços brasileira. Em 1934, já de volta ao
públicos vegetados (praças, Brasil, assume o cargo de diretor do
jardins, largos e áreas verdes)
departamento de parques e jardins do
projetados pelo paisagista
Roberto Burle Marx,
Recife e inicia um profundo estudo
especificados no Anexo Único botânico sobre a vegetação do norte
deste Decreto, os quais do país, utilizando em seus projetos
passam a integrar a categoria paisagísticos (BELTRAME et al, 2016).
específica de Unidades de
Equilíbrio Ambiental - UEA do
Sistema Municipal de
Unidades Protegidas do Recife
- SMUP Recife, na modalidade
prevista no artigo 23, II da Lei
Municipal nº 18.014, de 2014
(RECIFE, 2016).

O Decreto cria também a


Comissão Técnica, coordenada pela
Secretaria de Meio Ambiente e
Sustentabilidade, e que tem como
objetivo elaborar o Plano de Gestão e
Conservação dos Jardins Históricos de
Burle Marx, buscando sua proteção e
conservação. Figura 1. Roberto Burle Marx. Fonte:
No ano de 2008 o Laboratório da Google Imagens.
Paisagem da UFPE, em conjunto com
a Associação Brasileira de Arquitetos O Jardim de Casa Forte foi seu
Paisagistas e do Commitee on primeiro projeto, inaugurado em 1935,
Historical Gardens and Cultural e abriu o leque para uma série de
Landscapes (órgão britânico que projetos paisagísticos inspirados no
presta consultoria a UNESCO) entram movimento modernista com a
com o pedido de tombamento junto ao valorização da cultura e da identidade
Conselho Consultivo do Patrimônio nacional, alicerçados em três pilares: a
Cultural do Iphan, que concede o título higiene (preservando o pulmão
definitivo em 2015. coletivo da cidade), a educação
(proporcionando aos moradores do
2.3 O PINTOR E PAISAGISTA entorno distinguir o que era fauna local
ROBERTO BURLE MARX da exótica, criando assim uma relação

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próxima) e a arte (proporcionando um de manejo individual, em conjunto com


conjunto lógico, de equilíbrio). Entre o poder público, universidades e
suas marcas, a exaltação às águas de sociedade civil (composta por
Recife, os estudos botânicos a moradores, associações,
representação da caatinga, marca de empreendedores, empresários,
Pernambuco, representando os autônomos, adotantes das praças,
aspectos regionais e arquitetura escolas, órgãos públicos) do entorno
moderna. de cada jardim histórico. Por fim, com o
Após ganhar medalha de ouro de acúmulo das informações nas etapas
pintura do Salão da Escola Nacional anteriores e a validação em consulta
de Belas Artes, no Rio de Janeiro, em pública a redação do documento
1940, iniciou os trabalhos com técnico “Plano de Gestão Participativa
arquitetos da Escola Carioca. É para os Jardins Históricos de Burle
responsável pela construção de mais Marx no Recife”.
de mil jardins em diferentes lugares, Como resultado da primeira etapa
espalhados pelo mundo. Faleceu aos foram identificadas as áreas de
85 anos, em 4 de junho de 1994, no atuação necessárias para a
Rio de Janeiro (FLORIANO, 2007). conservação dos jardins históricos,
com as ações prioritárias para
2.4 O PLANO DE GESTÃO: JARDINS posterior propositura dos programas,
HISTÓRICOS DE BURLE MARX ações e atividades.

O Plano de Gestão é uma


ferramenta com base nas Cartas de
Florença (1981) e de Juiz de Fora
(2010), que apresenta como objetivo o
gerenciamento dos jardins históricos
de Burle Marx, um conjunto de
intervenções urbanas com um
arcabouço jurídico definido para sua
proteção. A estratégia do Plano é
implementar um modelo de gestão que Figura 2. áreas de atuação e ações prioritárias.
una o Poder Público, a sociedade civil Fonte: Prefeitura do Recife, 2019.
e a academia na busca pela
manutenção, conservação e O Plano de Gestão destaca a
recuperação das praças. importância de utilização de um
O Plano foi elaborado de forma inventário, levando em consideração
participativa utilizando duas as características históricas, artísticas
estratégias: o levantamento de dados, e ecológicas. Neste caso o plano
com consulta ao inventário elaborado utilizou o Inventário dos Jardins de
pelo laboratório da paisagem da Burle Marx (Jardins Públicos),
Universidade Federal de Pernambuco publicado em 2017. Além do
e outros documentos técnicos, a Inventário, o plano utilizou os anexos
segunda etapa reuniu através de do Decreto Municipal 26.537/2016
seminários temáticos, oficinas e onde se encontram as fichas
audiência pública a sociedade para cadastrais dos 15 jardins históricos de
consulta pública, garantindo o caráter Burle Marx no Recife e por fim o plano
participativo e democrático, com ainda utilizou os conteúdos das
objetivo também de elaborar um plano oficinas realizadas em 2018.

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Os jardins localizados nos pontos Sagrado Coração de Jesus no Bairro


em destaque na figura 01 representam de Casa Forte. O Jardim conta com
a matéria prima utilizada na primeira uma área de 14.148,47m². Acompanha
estratégia de elaboração do plano, o projeto urbanístico da cidade do
assim como o detalhamento de cada Recife, com três espaços bem
ponto nas figuras de 02 a 07. desenhados, abordando espelhos
d’água, que além de retratar a marca
da capital pernambucana, tem o
critério educativo, trazendo uma
amostragem da vegetação amazônica
com as vitórias régias. Sempre
enaltecendo sua marca utilizando
como tripé, a higiene, a educação e a
arte, o jardim de Casa Forte resguarda
ainda o rigor simétrico dos paisagistas
europeus.

Praça Euclides da Cunha

Figura 5 Praça Euclides da Cunha, Fonte:


Prefeitura do Recife, 2019.

Ainda em 1935, Burle Marx se


inspira no livro “Os Sertões” de
Euclides da Cunha para realizar o
Figura 3: Localização dos Jardins Históricos de
projeto do Jardim Histórico da Praça
Burle Marx tombados pelo Iphan. Fonte:
Laboratório da Paisagem/UFPE Euclides da Cunha, popularmente
conhecida como Praça do
Praça de Casa Forte Internacional, está localizada na
RPA-4, Zona Oeste da cidade, Rua
Benfica, em frente ao Clube
Internacional do Recife, Bairro da
Madalena. A Praça conta com uma
área de 6.254,35 m². Nele o paisagista
utiliza a vegetação do semiárido,
Figura 4 Praça de Casa Forte. Fonte: retratando a caatinga pernambucana.
Prefeitura do Recife, 2019.
A praça que no ano de 1970 ganhou a
estátua de um vaqueiro produzida pelo
Foi o primeiro jardim da carreira
artista plástico Aberlado da Hora, era
pública de Burle Marx, projetado em
considerada por Burle Marx o seu
1935. O Jardim de Casa Forte,
primeiro projeto fundamentalmente
popularmente conhecido como Praça
brasileiro.
da Vitória Régia, está localizada na
RPA-3, Zona Norte da cidade, Avenida
Praça da República e Jardim do
17 de Agosto, em frente à Paróquia
Campo das Princesas

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a Praça do Derby, popularmente


conhecida como Parque do Derby, está
localizada na RPA-1, Zona Central da
cidade, Avenida Governador Carlos de
Lima Cavalcanti e Avenida Agamenon
Figura 6 Praça da República e Jardim do Magalhães, no Bairro do Derby. A
Campo das Princesas. Fonte: Prefeitura do Praça conta com uma área de
Recife, 2019. 26.900,71 m². Respeitando as
características iniciais, o paisagista
Construída inicialmente em 1637 coloca sua marca através de grupos de
e conhecida como Parque de Friburgo árvores em arranjos livres em vários
de Maurício de Nassau, a praça não pontos da praça e da ornamentação de
resistiu ao tempo e acabou virando um palmeiras de diferentes espécies
descampado. Entre os anos de 1840 vindas diretamente do Jardim Botânico
até 1926, passou por várias do Rio de Janeiro.
intervenções, até que, em 1937, Burle
Marx realiza uma reforma na Praça da Praça Ministro Salgado Filho
República e no Jardim do Campo das
Princesas, localizada na RPA-1, Zona
Central da cidade, Avenida Rio Branco,
no Bairro de Santo Antônio. A Praça da
República conta com uma área de Figura 8 Praça Ministro Salgado Filho. Fonte:
23.134,40 m² e o Jardim do Campo Prefeitura do Recife, 2019.
das Princesas tem área de 18.344,50
m², totalizando 41.478,9 m². Mantendo
as esculturas clássicas e as palmeiras Projetada em 1957, a Praça
imperiais, além disso, utilizou outras Ministro Salgado Filho, popularmente
espécies vegetais para realizar a conhecida como Praça do Aeroporto,
reforma necessária, acrescentou uma está localizada na RPA-6, Zona Sul
fonte luminosa transformando-se assim da cidade, Avenida Marechal
num jardim monumental. Mascarenhas de Moraes, Bairro da
Imbiribeira, em frente ao Aeroporto
Praça do Derby Internacional dos Guararapes. A
Praça conta com uma área de
15.678,90 m². Foi concebida como
uma unidade plástica demonstrando
uma marca exuberante com uma
vegetação imponente e beleza cênica
Figura 7 Praça do Derby,. Fonte: Prefeitura do que despertava atenção. Mais uma
Recife, 2019. vez a presença de espelhos d’água
penetrando por entre a vegetação e
uma combinação botânica cuidadosa,
Originalmente construída em permitindo a interação da praça com
1888 para abrigar a Sociedade a arquitetura do entorno e a relação
Esportiva Derby Clube de com as pessoas. Esta praça vem
Pernambuco, o espaço passou por num momento em que o paisagista
várias mudanças de características e Burle Marx está em sua segunda fase
uso, até que em 1937, Burle Marx de artística, pois nela são
inicia a reforma do que viria a se tornar evidenciadas as linhas e curvas

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descontraídas que o paisagista ● Marcos técnicos e valores


elabora no espelho d’água, caminho, preestabelecidos nas cartas
canteiros seguindo um ritmo patrimoniais de Florença e Juiz
cadenciado pela continuidade de Fora;
estruturadora da exuberante ● Os Jardins Históricos são um
vegetação. patrimônio social;
● Os Jardins Históricos como local
Praça Faria Neves de relações da sociedade e
econômicas;
● Compreender que os Jardins
Históricos possuem
vulnerabilidade espaciais e
sociais;
Figura 9 Praça Faria Neves. Fonte: Prefeitura ● Os Jardins Históricos devem ser
do Recife, 2019. gerenciados com ampla
participação.

Em 1958, no governo do prefeito A metodologia empregada na


Pelópidas da Silveira, Burle Marx construção do Plano de Gestão foi
projetou a Praça Faria Neves, também fundamentada no planejamento
conhecida como Praça de Dois Irmãos, participativo, atuando como uma
está localizada na RPA-3, Zona Norte ferramenta de planejamento urbano e
da cidade, Avenida Dois Irmãos, Bairro ambiental, em conjunto com o poder
de Dois Irmãos em frente ao Parque público e a sociedade civil, sendo
Estadual de Dois Irmãos. A Praça baseada em dois aspectos: a consulta
conta com uma área de 8.600 m². pública e o fazer técnico que envolve o
Contemplada pelo Programa de conhecimento científico e os agentes
Construção de Praças e Parques do estado envolvidos.
Públicos, além da vegetação que tinha Na primeira etapa, das
o aspecto acolhedor e trazia os consultas públicas, realizadas em
aspectos da Mata de Dois Irmãos, a 2018, foram realizados seminários
praça também contava com um temáticos onde foram abordadas as
brinquedo de concreto idealizado pelo seguintes questões:
paisagista para a diversão da
criançada. A denominação da Praça foi ● O papel dos órgãos públicos na
em homenagem a José Pedro Faria manutenção e vigilância dos
Neves, pesquisador, taxidermista e Jardins Históricos;
professor de história natural, estudioso ● A utilização dos Jardins
da flora e da fauna da mata de Dois Históricos (atividades
Irmãos. recreativas, comércio e
serviços)
O objetivo do Plano de Gestão é ● Participação social na gestão
ser um orientador de ações públicas e dos Jardins Históricos;
da sociedade para manutenção e ● Educação
preservação dos Jardins Históricos Ambiental/Patrimonial.
com fundamentação nas seguintes
premissas: A segunda etapa foi a elaboração
do documento técnico, intitulado
Oficina Participativa para a Elaboração

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do Plano de Gestão dos Jardins atuação: a manutenção, a utilização, a


Históricos de Burle Marx no Recife, gestão e a educação patrimonial.
onde foram abordados os seguintes
objetos de discussão: 2.5 O PLANO DE GESTÃO NO
CONTEXTO DOS OBJETIVOS DO
● Criar um Mapa Falado dos DESENVOLVIMENTO
Jardins Históricos de Burle Marx SUSTENTÁVEL (ODS)
no Recife;
● Identificar as pressões e Segundo a Organização das
ameaças existentes à Nações Unidas para a Educação,
integridade destes logradouros, Ciência e a Cultura (Unesco), todo o
para determinar suas processo de preservação ocorre com o
vulnerabilidades; objetivo de viabilizar projetos que
● Identificar as forças de cada ajudem a manter vivo o patrimônio
agente e as oportunidades dos cultural. A busca pela preservação do
Jardins Históricos de Burle Marx patrimônio cultural passa pela
no Recife, para determinar suas construção de uma identidade da
potencialidades; sociedade de determinado território. A
● Identificar os pactos de construção da identidade de um povo
responsabilidades que podem se constitui de vários elementos e a
ser estabelecidos por cada sustentabilidade vem com o conceito
agente no gerenciamento dos de garantir que a atual e as futuras
Jardins Históricos de Burle Marx gerações possam desfrutar desse
no Recife, para determinar as patrimônio, que neste caso, se
atribuições que cada um deverá constitui do patrimônio construído
assumir nas atividades pelas mãos do homem.
implementadoras da gestão; Segundo Capute (2016) existe
● Definir, de forma induzida, as um desafio a ser enfrentado pelos
atividades necessárias em cada defensores do patrimônio cultural: o de
eixo temático trabalhado: tentar criar e utilizar indicadores
utilização e manutenção das culturais relacionados com indicadores
praças, segurança e vigilância, das outras dimensões da
gestão participativa e educação sustentabilidade.
patrimonial e ambiental. É possível identificar a relação
entre patrimônio cultural e
A terceira etapa do Plano de sustentabilidade na Conferência
Gestão foi construir uma minuta para Nacional das Nações Unidas, em
apresentação, discussão e validação 1972, onde foi elaborada a Declaração
através de consultas públicas e de Estocolmo. Nesta conferência foi
também através de uma audiência solicitado à Unesco a criação de uma
pública, onde o Comitê Burle Marx, a convenção para a proteção do
sociedade civil e demais atores patrimônio cultural e natural, sendo em
envolvidos aperfeiçoaram e validaram seguida publicado por esta
a construção do documento. organização a Convenção Sobre a
Após esse processo de Proteção do Patrimônio Mundial,
construção, o Plano de Gestão, tendo Cultural e Natural, ou Recomendação
como guarda-chuva a conservação, de Paris, após essa publicação foram
chegou a quatro áreas prioritárias de vários os esforços e ações (e ainda
são) para conseguir unir os interesses

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em torno da preservação e da preocupação com o patrimônio


sustentabilidade, com os interesses histórico, cultural e ambiental,
públicos e privados. promovendo uma relação educativa e
Durante décadas, vários conservacionista dos aspectos e
movimentos e fóruns internacionais elementos ali explorados. Com o
foram construídos para debater ações objetivo de pactuar um modelo de
sobre sustentabilidade. Em 2015, gestão compartilhada, enfatizando a
líderes mundiais reunidos na cidade de necessidade de parcerias para a
Nova Iorque, se comprometeram com salvaguarda dos jardins históricos,
uma agenda para o desenvolvimento garantindo a conservação do
sustentável que une 17 Objetivos para patrimônio ambiental. Destaca-se a
o Desenvolvimento Sustentável (ODS), preocupação com a sustentabilidade
com 169 metas relacionadas entre si, o em todas as dimensões: social,
documento intitulado “Transformando o cultural, econômica e ambiental, dando
Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o vida às praças espalhadas pela cidade,
Desenvolvimento Sustentável” traça integrando a natureza às pessoas.
caminhos para a erradicação da Os ODS são ações articuladas,
pobreza, combate a fome e fomento à indissociáveis e complementares entre
agricultura sustentável, saúde e bem si, e destaca-se a relação direta do
estar, educação de qualidade, Plano de Gestão com os ODS 11
igualdade de gênero, água potável e cidades e comunidades sustentáveis e
saneamento, energia limpa, trabalho o ODS 17 Parcerias e meios de
decente e crescimento econômico, implementação. Na concepção do
indústria, inovação e infraestrutura, agenda 2030 para alcançar uma
redução das desigualdades, cidades e cidade inclusiva, segura, resiliente e
comunidades sustentáveis, ação sustentável é necessário “fortalecer
contra mudança global do clima, vida esforços para proteger e salvaguardar
na água e na terra, paz e justiça e o patrimônio cultural e natural do
parcerias (ONU, 2020b). mundo”, “proporcionar o acesso
A agenda 2030 representa um universal a espaços públicos seguros,
pacto planetário para a conservação inclusivos, acessíveis e verdes,
do patrimônio natural e cultural, seu particularmente para as mulheres e
foco na sustentabilidade enaltece a crianças, pessoas idosas e pessoas
necessidade de preservar o meio com deficiência até 2030” e “apoiar
ambiente para que as gerações futuras relações econômicas, sociais e
possam suprir suas necessidades. E é ambientais positivas entre áreas
dentro deste contexto que se destaca a urbanas, periurbanas e rurais,
relação do Plano de Gestão dos jardins reforçando o planejamento nacional e
históricos de Burle Marx com os ODS, regional de desenvolvimento” (ONU,
traçando programas e metas para a 2015).
manutenção do meio ambiente, e das Também é possível encontrar,
políticas socioeconômicas, prezando mais especificamente falando sobre o
pelo bem estar coletivo alicerçado nas caso da preservação dos Jardins
premissas dos 5 P’s (Pessoas, Históricos de Burle Marx, algumas
Planeta, Paz, Prosperidade e ações já iniciadas como a educação
Parcerias). ambiental sobre o descarte dos
O plano de gestão enquadra-se resíduos sólidos para os atores do
bem no conceito da agenda 2030, entorno e transeuntes das praças,
exaltando em seu conceito a como o tópico de número 12 que trata

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sobre “assegurar padrões de produção Diante da análise descritiva


e consumo sustentáveis”, nos eixos colocamos as características do objeto
12.8 que diz: de estudo; explicativa, onde
apresentamos os devidos
Até 2030, garantir que as esclarecimentos acerca da proposta de
pessoas, em todos os lugares, sustentabilidade e defesa do
tenham informação relevante e patrimônio e fortalecimento da cultura
conscientização para o nacional; qualitativa que segundo
desenvolvimento sustentável e
Marconi e Lakatos (2004 p. 269), se
estilos de vida em harmonia
com a natureza” e no eixo 12.b
preocupam em analisar e interpretar
“Desenvolver e implementar aspectos mais profundos,
ferramentas para monitorar os descrevendo a complexidade do
impactos do desenvolvimento comportamento humano e fornece-se
sustentável para o turismo análise mais detalhada sobre as
sustentável, que gera investigações, hábitos, atitudes,
empregos, promove a cultura e tendências de comportamento.
os produtos locais” (ONU, Complementando o sentido
2020a). metodológico, Cecília Minayo (2010)
destaca que é importante
No tocante às condições de primeiramente conhecer os termos
parcerias, no ODS 17 destacam-se os estruturantes das pesquisas
indicadores “Aumentar a coerência das qualitativas. Sua matéria prima é
políticas para o desenvolvimento composta por um conjunto de
sustentável” e “Incentivar e promover substantivos cujos sentidos se
parcerias públicas, público-privadas e complementam: experiência, vivência,
com a sociedade civil eficazes, a partir senso comum e ação. E o movimento
da experiência das estratégias de que informa qualquer abordagem ou
mobilização de recursos dessas análise se baseia em três verbos:
parcerias” (ONU, 2015), além dos compreender, interpretar e dialetizar.
indicadores que tratam da mobilização Além disso, utilizamos fontes
de recursos entres agentes públicos e secundárias de pesquisa que para
privados. Lakatos e Marconi (1991, 2005)
“abrange toda bibliografia já tornada
3. METODOLOGIA pública em relação ao tema de
estudo, desde publicações avulsas,
Como procedimento metodológico boletins, jornais, revistas, livros,
para esta pesquisa foram feitas pesquisas, monografias, teses,
análises documentais, teóricas, material cartográfico, etc.” como a
exploratórias, descritivas, além da consulta a documentos referentes à
observação durante as reuniões do legislação local e literaturas sobre o
Comitê Burle Marx. À nossa pesquisa tema de pesquisa.
utilizamos, primeiramente, a análise da
importância e do processo dos Jardins
Históricos, do Patrimônio Urbano e 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
como eles se envolvem num ambiente
sustentável com características A sociedade é formada através
próprias, que valorizam a identidade e de uma identidade, de sua história e
cultura nacional. vivência. Proporcionar locais públicos
com qualidade de convivência faz

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fortalecer cada vez mais os laços com público e abre um espaço de diálogo
o território. A cidade do Recife, assim com a sociedade civil, para que todos
como outros locais, tem sua história sintam pertencentes ao conceito de
construída por várias mãos e Burle preservação e utilização dos espaços
Marx fez questão de colocar essa de forma sustentável. Porém vale
conexão quando coloca a flora dos destacar que o Plano não finda em si
mais variados cantos do país para nas soluções para a organização dos
comp or as paisagens dos jardins Jardins, ele carece de constantes
históricos que se espalham pela consultas e atualizações, pois vivemos
cidade. Cada praça, um jardim, uma num mundo onde a tecnologia e as
história, sempre de forma holística, informações são aprimoradas a cada
contando a história e valorizando o dia.
Brasil. Acredito que conseguir dar
A preservação e sustentabilidade consequência ao Plano de Gestão
desses jardins históricos também se também é um desafio que não envolve
dão de forma integrada, envolvendo só o poder público, é uma questão de
conceitos, ações, academia e a educação patrimonial e preservação
sociedade do entorno. O conceito de que se apresenta como demanda tanto
preservação e sustentabilidade estão para a academia, quanto para a
em constante debate, passando por sociedade civil. Inclusive coloco como
atualizações de acordo com as sugestão para futuras pesquisas quais
mudanças que ocorrem no mundo, os reflexos da criação do plano de
cada geração enxerga de forma manejo poderia ser analisado, tanto no
diferente as necessidades e isso faz aspecto da sustentabilidade, quanto
com que órgãos de proteção de numa visão ambiental e/ou de
direitos e garantias evoluam e passem preservação.
a enxergar fatos e acontecimentos Tratar os Jardins Históricos de
atuais que acabam sendo de extrema Burle Marx como história viva da
importância. Cidade do Recife, coloca-se como
Por isso, fortalecer e debater dever a todos, o sentimento de
iniciativas que envolvem a preservação pertencimento, de coletividade. Os
e a sustentabilidade é garantir que as Jardins Históricos se apresentam como
futuras gerações possam fazer esse a valorização da história e cultura
mesmo debate, porém com mais brasileira, Burle Marx traz esse
conteúdo, acesso à informação e conceito de forma visionária em suas
preservando a nossa história para que elaborações paisagísticas. No Recife,
a afirmação da nossa identidade seja além das quinze praças públicas, o
de forma continuada e nosso paisagista ainda assina mais 24 obras
patrimônio preservado. entre espaços públicos e privados na
O Plano de Gestão dos Jardins cidade, Burle Marx é considerado um
Históricos de Burle Marx traz um paisagista com uma das maiores
retrato de um amplo debate entre o expressões do urbanismo nacional.
poder público, a academia e a
sociedade civil, que traz orientações
sobre o manejo de cada Jardim,
orientações de soluções para o poder

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Que Dispõe sobre a classificação como Jardins Históricos de Burle Marx dos
espaços públicos vegetados do Recife que especifica, integrando-os ao Sistema
Municipal de Unidades Protegidas do Recife - SMUP Recife, instituído pela Lei
Municipal nº 18.014, de 09 de maio de 2014.

PREFEITURA DO RECIFE. Lei Municipal nº 18.014 de 09 de maio de 2014. Que


institui o Sistema Municipal de Unidades Protegidas - SMUP Recife e dá outras
providências.

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