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científica digital

1ª EDIÇÃO

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2023 - GUARUJÁ - SP
científica digital

EDITORA CIENTÍFICA DIGITAL LTDA


Guarujá - São Paulo - Brasil
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Diagramação e arte 2023 by Editora Científica Digital


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E61 Envelhecimento humano e contemporaneidade: tópicos atuais em pesquisa / Organizadores José Aderval Aragão, Rossano
Sartori Dal Molin, Maria Cristina Zago. – Guarujá-SP: Científica Digital, 2023.
E-BOOK
ACESSO LIVRE ON LINE - IMPRESSÃO PROIBIDA

Formato: PDF
Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5360-368-4
DOI 10.37885/978-65-5360-368-4
1. Envelhecimento. 2. Saúde pública. I. Aragão, José Aderval (Organizador). II. Molin, Rossano Sartori Dal
(Organizador). III. Zago, Maria Cristina (Organizador). IV. Título.

2023
CDD 618.97
Índice para catálogo sistemático: I. Envelhecimento
Elaborado por Janaina Ramos – CRB-8/9166
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CORPO EDITORIAL

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Universidade Federal do Triângulo Mineiro
Esta obra constituiu-se a partir de um processo colaborativo entre professores,
estudantes e pesquisadores que se destacaram e qualificaram as discussões neste
espaço formativo. Resulta, também, de movimentos interinstitucionais e de ações
APRESENTAÇÃO

de incentivo à pesquisa que congregam pesquisadores das mais diversas áreas do


conhecimento e de diferentes Instituições de Educação Superior públicas e privadas de
abrangência nacional e internacional. Tem como objetivo integrar ações interinstitucionais
nacionais e internacionais com redes de pesquisa que tenham a finalidade de fomentar a
formação continuada dos profissionais da educação, por meio da produção e socialização
de conhecimentos das diversas áreas do Saberes.
Agradecemos aos autores pelo empenho, disponibilidade e dedicação para o
desenvolvimento e conclusão dessa obra. Esperamos também que esta obra sirva de
instrumento didático-pedagógico para estudantes, professores dos diversos níveis de
ensino em seus trabalhos e demais interessados pela temática.

José Aderval Aragão


Rossano Sartori Dal Molin
Maria Cristina Zago
SUMÁRIO
Capítulo 01

“O SUJEITO DA PSICANÁLISE NÃO ENVELHECE”, MAS O CORPO SIM: A CURA ENQUANTO CUIDADO
Talita Baldin; Dósila Machado da Silva

' 10.37885/230513071.................................................................................................................................................................................................. 13
Capítulo 02

A ANSIEDADE E O DESEMPENHO DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS PELA POPULAÇÃO IDOSA INSTITUCIONALIZADA


– UM ESTUDO PILOTO USANDO O INSTRUMENTO MATRIZ
Adriana Dias; Marlene Rosa; Dara Pincegher

' 10.37885/230512985................................................................................................................................................................................................. 33
Capítulo 03

A IMPORTÂNCIA DA CAPACITAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE NA PRESTAÇÃO DE CUIDADOS AOS


DOENTES COM NECESSIDADES PALIATIVAS: REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA
Rui Miguel Tavares Correia; Ana Maria Grego Dias Sobral Canhestro; Maria da Graça Fernandes Pedro

' 10.37885/230513079................................................................................................................................................................................................. 51
Capítulo 04

ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS, CULTURAIS E NUTRICIONAIS DE IDOSOS EM UM CENTRO DE REFERÊNCIA


E ASSISTÊNCIA SOCIAL
Victória Viana Magalhães; Maria Leilah Monte Coelho Lourenço; Suélli Maria Carneiro Prado; Jorge Luís Pereira Cavalcante

' 10.37885/230513124................................................................................................................................................................................................. 66
Capítulo 05

AVALIAÇÃO DA FRAGILIDADE EM IDOSOS HIPERTENSOS


Jaciara Aparecida Dias Santos; Andréia Christiane Amâncio Martins; Priscilla Pimenta Oliveira Aguiar; Samara Frantheisca Almeida
Barbosa; Patrícia Oliveira Silva; Brenda Gomes dos Santos; Marcelo Rocha Santos; Leonardo Lamêgo Cardoso; Jair Almeida Carneiro;
Fernanda Marques da Costa

' 10.37885/230513096................................................................................................................................................................................................. 85
Capítulo 06

CONCENTRAÇÕES DE CORTISOL SALIVAR DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS E NÃO INSTITUCIONALIZADOS


Tânia Adas Saliba; Ana Carolina Bernardes Machado; Erika Kiyoko Chiba; Nemre Adas Saliba; Suzely Adas Saliba Moimaz

' 10.37885/230513161.................................................................................................................................................................................................. 98
Capítulo 07

CRÍTICA À CONCEPÇÃO DE SAÚDE HEGEMÔNICA


Luisa Gabriel Costa

' 10.37885/230513142................................................................................................................................................................................................. 110


SUMÁRIO

Capítulo 08

DA VELHICE À TERCEIRA IDADE: O PERCURSO HISTÓRICO DAS IDENTIDADES ATRELADAS AO PROCESSO


DE ENVELHECIMENTO
Luna Rodrigues
' 10.37885/230512969................................................................................................................................................................................................. 120
Capítulo 09

EFETIVIDADE DOS PROGRAMAS PSICOEDUCACIONAIS NA PESSOA COM ESQUIZOFRENIA: REVISÃO


INTEGRATIVA DA LITERATURA
Marilinda Isabel Chavertana; Raul Alberto Carrilho; João Claudino Junceiro; Maria Conceição Pereira Ferreira
' 10.37885/230513194................................................................................................................................................................................................. 138
Capítulo 10

ENVELHE (SER): O IMPACTO DA SAÚDE BUCAL E CULTURA ALIMENTAR NA VELHICE


Ana Carolina Lusio Lopes
' 10.37885/230513130................................................................................................................................................................................................. 155
Capítulo 11

ENVELHECIMENTO SOCIAL – AUTOCONCEITO E SOCIEDADE: O EXEMPLO DO ESTEREÓTIPO DO CONDUTOR


SÉNIOR
Susana Cristina Ferreira Fernandes
' 10.37885/230513165................................................................................................................................................................................................. 167
Capítulo 12

¿EXISTE ASOCIACIÓN ENTRE LA EDAD DE APARICIÓN DE LOS SÍNTOMAS CLIMATÉRICOS Y PRESIONES


RESPIRATORIAS MÁXIMAS?
Ingrid Guerra Azevedo; Sabrina Gabrielle Gomes Fernandes Macêdo; Edgar Maximiliano Vásquez Carrasco; Saionara
Maria Aires da Câmara
' 10.37885/230613237................................................................................................................................................................................................. 187
Capítulo 13

EXPOSIÇÃO PORMENORIZADA DOS ÓBITOS POR DOENÇAS PARASITÁRIAS NEGLIGENCIADAS EM IDOSOS


BRASILEIROS
Vinícius José de Oliveira; Gabriella Dinair Mendonça de Assis; Bárbara Telles Piau; Ueverton Barbosa de Souza; Bruno Geiss
Kober; Fernanda Vianna Borges; Danniela Maria Oliveira Silva; Douglas Alves Pereira; João Paulo Martins do Carmo; César
Augusto França Abrahão
' 10.37885/230513196................................................................................................................................................................................................. 197
Capítulo 14

FATORES ASSOCIADOS AO ABANDONO DO TRATAMENTO DA TUBERCULOSE EM PACIENTES IDOSOS NA


REGIÃO NORTE DO BRASIL, ENTRE OS ANOS DE 2016 A 2019
Caio Lucas Lima Caires; Felipe Grigio Victoria; Rosângela do Socorro Pereira Ribeiro
' 10.37885/230412775.................................................................................................................................................................................................. 213
SUMÁRIO

Capítulo 15

FRAGILIDADE EM IDOSOS LONGEVOS: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS


Tahiana Ferreira Freitas; Fernanda Marques da Costa; Ronilson Ferreira Freitas; Ilana Carla Mendes Gonçalves; Daniela Márcia
Rodrigues Caldeira; Eryka Jovânia Pereira; Brenda Gomes dos Santos; Walker Henrique Viana Caixeta; Andréia Christiane Amâncio
Martins; Jair Almeida Carneiro

' 10.37885/230513171.................................................................................................................................................................................................. 222


Capítulo 16

JOGO SÉRIO ANALÓGICO NA PESSOA COM DEMÊNCIA E RISCO DE QUEDA – FUNDAMENTOS PARA A
REABILITAÇÃO
Ana Maria Conceição Tomé; Marlene Rosa

' 10.37885/230513033................................................................................................................................................................................................. 235


Capítulo 17

MEDICAMENTOS INAPROPRIADOS PARA IDOSOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA


Jhully Márcia Pereira Aires; Lunara Teles Silva; Denice do Lago Frota; Sara Ângela da Silva; Nathalie de Lourdes Souza Dewulf;
Flavio Marques Lopes

' 10.37885/230513160................................................................................................................................................................................................. 253


Capítulo 18

O USO DE FILTRO SOLAR POR IDOSOS LIGADOS A UMA UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA BRASIL
Maria Carolina de Aquino Vieira

' 10.37885/230513066................................................................................................................................................................................................. 271


Capítulo 19

O USO DE FILTRO SOLAR POR IDOSOS LIGADOS A UMA UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA, BRASIL
Claudia Araújo; Maria Carolina Vieira

' 10.37885/230513101.................................................................................................................................................................................................. 289


Capítulo 20

PESSOAS IDOSAS, FOTOGRAMETRIA E EQUILÍBRIO: UM ESTUDO BIBLIOMÉTRICO DA PRODUÇÃO


CIENTÍFICA DAS BASES DE DADOS BVS E SCIELO
Caroline Fagundes; Caroline Alves dos Santos

' 10.37885/230513116.................................................................................................................................................................................................. 307


Capítulo 21

PRESENÇA DO MEDO DE QUEDAS EM PESSOAS IDOSAS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA


Renan Nunes Aguiar; Carolina Milhim Barcellos; Daniel Vicentini de Oliveira; Ana Paula Oliveira Borges; Lilian Cristina
Gomes do Nascimento

' 10.37885/230513158................................................................................................................................................................................................. 315


SUMÁRIO

Capítulo 22

PREVALÊNCIA DE FRAGILIDADE E FATORES ASSOCIADOS EM IDOSOS LONGEVOS DO INTERIOR NORTE


DE PORTUGAL
Leonel São Romão Preto; Maria do Carmo Dias da Conceição; Telma Martins Figueiredo; Ilda Maria Morais Barreira; João Filipe
Barreira Preto; Jéssica Raquel Afonso Areias; André Filipe Morais Pinto Novo; Maria Eugénia Rodrigues Mendes
' 10.37885/230412785................................................................................................................................................................................................. 329
Capítulo 23

PROMOVENDO A INTEGRALIDADE ATRAVÉS DA REESTRUTURAÇÃO DO NÚCLEO DO IDOSO DE UM HOSPITAL


REGIONAL DE PERNAMBUCO
Vanessa de Barros e Silva Mazer; Fábio Gonçalves Viana Neto; Angélica Barbosa Arruda Patriota; Kátia Goretti Veloso Lins
' 10.37885/230513169................................................................................................................................................................................................. 338
Capítulo 24

SNAQ 65+ COMO INSTRUMENTO DE TRIAGEM NUTRICIONAL APLICÁVEL EM IDOSOS: UMA REVISÃO
NARRATIVA
Samily Martins da Costa; Maria Leilah Monte Coelho Lourenço; Mariane Silveira Magalhães Fernandes; Jorge Luís Pereira Cavalcante
' 10.37885/230513125................................................................................................................................................................................................. 349

SOBRE OS ORGANIZADORES.............................................................................................................................. 364

ÍNDICE REMISSIVO.............................................................................................................................................. 365


01
“O SUJEITO DA PSICANÁLISE NÃO ENVELHECE”,
MAS O CORPO SIM: A CURA ENQUANTO CUIDADO

Talita Baldin
Universidade Federal Fluminense (UFF)
Faculdade Maria Thereza (FAMATH)

Dósila Machado da Silva


Faculdade Maria Thereza (FAMATH)

'10.37885/230513071
RESUMO

Este trabalho investiga a velhice à luz da psicanálise, apresentando uma aposta clínica
com a velhice pautada na compreensão de cura enquanto cuidado. Se a velhice é tomada
como momento de muitas perdas, inclusive do próprio desejo, fruto dos atravessamentos da
representação da velhice no contexto social. Se nela a velhice é coloca em lugar de menos
valia e despotencialização, a clínica psicanalítica com velhos é possível quando pautada na
retomada à condição desejante do sujeito.

Palavras-chave: Velhice, Clínica Psicanalítica, Cuidado.


INTRODUÇÃO

O corpo que se vê
O corpo que se tem
O corpo que te faz sentir
Que te faz doer
Que te faz chorar
Que te faz sorrir
O corpo...
Instrumento de chegada e de saída
O que incorpora a vida e se esvai na morte, mas que entre estas duas pon-
tas se vive.
Vida no corpo
Vida que foge do corpo
Vida que imprime no corpo a angústia
Vida que transborda no corpo satisfeito
Vida! Corpo!
Segue a partir do biológico, enfrenta os percursos do mundo... e o que fica?
(Dósila Machado, abril, 2021)

Falar de velhice em psicanálise é tomar a ideia de sujeito do inconsciente que, atem-


poral, não envelhece. Para Freud (1915/2010) o inconsciente pode desligar-se do mundo
externo, da realidade e ocupar-se apenas do contentamento psíquico no ímpeto de atender
seus desejos, podendo deslocar seu investimento libidinal de um objeto para o outro. O in-
consciente não é submetido ao tempo, mas o corpo é suscetível às ações do tempo e embora
seja possível, às vezes, retardar os efeitos do tempo, não há como fugir por completo do
processo de envelhecer. Neste sentido Freud (1923/2010) nos traz a noção de corpo como
a estrutura capaz de emanar conjuntamente impressões internas e externas, logo, embora
em termos psíquicos não aconteça o envelhecimento, a estrutura corpórea do sujeito está
de algum modo submetida a influência temporal.
Este processo de envelhecimento muitas vezes põe o sujeito às margens, excluído
dos convites e do convívio, mas o que fica? Para a psicanálise há ainda o sujeito que se
constituiu desde a infância, mas que pode sucumbir à dor da exclusão em muito velada que
o despoja de sua própria soberania. À deriva em sua própria existência, seu lugar de ser
desejante, também é posto à prova. Neste sentido, a psicanálise surge como uma possibili-
dade de clínica com o velho pela via do cuidado, no acolhimento, na escuta e na presença,
que denotam o próprio desejo do analista que, segundo Fink (2018), é capaz de suster o
analisando durante o processo que poderá reconduzi-lo à condição desejante perante a vida.
Neste sentido, abordamos a velhice como algo singular, pois o sujeito é singular e se
constitui a partir das percepções do que por ele foi experienciado. A fim de contribuir para a
potência desse processo, nesta pesquisa investigamos a clínica psicanalítica e sua relação
com a cura possível na psicanálise, uma cura como cuidado, como ato. Pela presença e

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escuta, e pelo próprio desejo, o analista oferece ao velho um espaço de construção e re-
construção, de apropriação de sua própria história.

DESENVOLVIMENTO

O envelhecimento populacional no Brasil

A longevidade se refere ao número de anos vividos por um indivíduo ou a média que


as pessoas da mesma geração viverão e o envelhecimento populacional ocorre quando há
um aumento na quantidade de indivíduos na faixa etária considerada como começo da ve-
lhice (CARVALHO; GARCIA, 2003). Este limite é variável para cada sociedade e, no Brasil,
é considerado idoso a pessoa com idade igual ou superior a 60 anos, como previsto na Lei
Federal n.º 10.741 de 01 de outubro de 2003 que dispõe do Estatuto do Idoso (BRASIL, 2004).
É possível observar que o envelhecimento da população brasileira é relativamente
recente, tomando base tal limite etário em relação aos dados do IBGE. Esta mudança obser-
vada na longevidade da população brasileira que culminou num envelhecimento da mesma
ocorreu por dois fatores principais, a redução da mortalidade infantil e a queda nos níveis
de fecundidade (BRASIL, 2008). Efeito disso, é possível observar no Brasil um aumento
na população acima de 60 anos, estimando-se que em 2030 haja 41,5 milhões de pessoas
nesta faixa etária (BRASIL, 2015).
Neste sentido torna-se cada vez mais relevante e necessário que sejam desenvolvidos
estudos acerca do envelhecimento e suas especificidades. As concepções de envelheci-
mento variam de acordo com cada área e prática profissional sendo também influenciadas
pela cultura. Para Goldfarb (1998, p. 2) “cada sujeito tem sua velhice singular, as velhi-
ces são incontáveis” e falar da velhice é dizer da velhice que queremos e daquela que
também temos medo.
O envelhecer traz ao indivíduo necessidades inerentes a sua condição. Este cuidado
com o idoso perpassa as diversas esferas políticas, sociais e econômicas e é também influen-
ciado pela cultura que juntas incidem de forma direta ou indireta na qualidade de vida dos
indivíduos. Cada pessoa possui necessidades diferentes umas das outras, logo, o processo
de desenvolvimento e envelhecimento também se dará de forma diferente, criando uma
demanda por um entendimento também singular que possa contribuir para um atendimento
e acolhimento destas necessidades específicas daquele que envelhece.

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A constituição do sujeito na psicanálise e o sujeito como aquele que não envelhece

Em Psicanálise, não há uma definição direta do sujeito como algo que é, mas como o
que se constitui, à medida que o homem é introduzido no social, através de outros sujeitos
que lhe sejam familiares e que ocupem as funções materna e paterna. Elia (2010) nos traz
esta concepção de sujeito tomando por contextualização o nascimento de um bebê, que
em desamparo inerente à sua condição humana de recém-nascido, ainda não é capaz de
nutrir-se ou mesmo de proteger sua existência, dependendo para tal, dos cuidados de ou-
tros. Quando o bebê chora, seu choro ainda é desprovido de sentido, de significação, e é a
resposta da mãe que fará com que o choro tenha um sentido. A mãe traz para esta relação
seus próprios componentes simbólicos, os seus próprios significantes1.
O sujeito, quase soberano ao nascer, é surpreendido no encontro com um outro sujeito
que lhe é desconhecido e este, ao lhe ditar uma linguagem, assinala também um lugar de
falta. Esta linguagem é compreendida por esta criança como algo confuso, sem sentido e
falho. O lugar da falta caracteriza o lugar do Outro, que para Lacan (1964/1985) representa a
cadeia do significante e a partir deste encontro fará emergir o sujeito. Esse Outro é a ordem
do inconsciente. De ordem simbólica, faz a diferenciação entre os pequenos outros da vida
do sujeito e a Lei, a Cultura, a Linguagem – o grande Outro.
Há entre a função materna e o bebê um encontro, que em um segundo momento
começará a fazer sentido e ser provido de significado, e então começam a se constituir a
mãe como o Outro e o bebê como um sujeito. O bebê apreende os significantes, aliena-se,
sendo o desejo da mãe e o desejo da mãe é como se fosse o seu. Depois, com a entrada
de novos significantes, começa a haver uma ruptura nesta alienação, surgindo a falta, e nela
se funda o inconsciente. “O significado dado ao encontro com o Outro depende, portanto, do
significante, é dele subsidiário, mas não é por ele totalmente determinado, exigindo o trabalho
de significação que é feito pelo sujeito” (ELIA, 2010: 42). Assim, é possível compreender o
significante como o que solicita ao sujeito a tarefa de constituir-se (ELIA, 2010).
A princípio, dependente do desejo e do investimento do Outro buscando superar a
falta de sentido, há um processo de alienação do bebê para com a mãe e como este ainda
está no processo de constituição apropria-se dos significantes maternos, até a chegada de
um outro significante, representado pelo pai ou quem ocupar a função de interdição, que
provocará um corte, uma separação. Temos então, um encadeamento destes significantes

1 Segundo Roudinesco (1998, p. 708) significante, na psicanálise, refere-se a um “elemento significativo do discurso (consciente ou
inconsciente) que determina os atos, as palavras e o destino do sujeito, à sua revelia e à maneira de uma nomeação simbólica. (...)
Termo introduzido por Ferdinand de Saussure (1857-1913) Retomado por Jacques Lacan como um conceito central em seu sistema
de pensamento”.

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e o sujeito criança começa a ser instituído. Neste sentido, “o inconsciente é o Outro, a outra
cena, é o lugar dos significantes e onde eles se articulam” (SBARDELOTTO et al, 2016,
p. 118) e esta articulação se dá com a entrada em cena de um outro significante. Este ter-
ceiro significante que tem a função de interdição é imprescindível para esta constituição,
possibilitando que o bebê se desprenda da posição de objeto de desejo da mãe e alcance
a soberania de satisfazer seus próprios desejos (SBARDELOTTO et al, 2016).
Segundo Leitão e Mendes (2018), o inconsciente pensado por Lacan não ocupa um
lugar físico no sentido biológico, mas se constitui como uma linguagem resultante de um
encontro de significantes. Neste sentido, tanto Freud quanto Lacan trazem uma concepção
de inconsciente como um lugar simbólico, que para Freud seria sinalizado como um lugar
psíquico dos conteúdos recalcados, enquanto que para Lacan, seria o lugar da linguagem,
da cadeia de significantes.
Conforme Lacan (1964/1985, p. 122): “O inconsciente é a soma dos efeitos da fala,
sobre um sujeito, nesse nível que o sujeito se constitui pelos efeitos do significante”. Assim,
ainda que a releitura da teoria freudiana feita por Lacan traga o surgimento do sujeito a
partir dos efeitos do significante, ainda o concebe como sujeito do inconsciente (LEITÃO;
MENDES, 2018). Ademais, Freud (1915/2010) nos diz que “os processos do sistema Ics são
atemporais; isto é, não são ordenados temporalmente, não são alterados pela passagem do
tempo, não têm relação nenhuma com o tempo” (p. 128), logo, é possível dizer que o sujeito
do inconsciente não envelhece.

A velhice na psicanálise

No que tange às normativas conceituamos o indivíduo mais envelhecido como idoso,


a pessoa que atingiu idade a partir de 60, dando de certo modo ênfase maior à estrutura
biológica própria do discurso médico que parte de determinadas características para de-
finir a velhice e que é respaldada pelas normativas legais (como a Política Nacional e o
Estatuto do Idoso).
Entretanto, mesmo considerando a estrutura biológica do sujeito e como este poderá
lidar na relação com seu próprio corpo que envelhece ou mesmo o corpo do outro, tomemos
nesta pesquisa a referência conforme Silva (2018) que nos diz que o sujeito para a psicanálise
como é o sujeito do desejo, organizado por Freud através da concepção do inconsciente,
marcado e assinalado pela falta. Tomando as considerações de Freud e Lacan, Mucida
(2004/2019, p. 59) nos diz que é possível observar também os efeitos do simbólico na consti-
tuição do sujeito: “rugas, cabelos brancos etc., são significantes que por si só não significam
nada: só tomam sentido pela forma como se inscrevem na cadeia discursiva de cada sujei-
to.” Neste sentido, “a velhice é também efeito dos discursos” (MUCIDA, 2004/2019, p. 59).

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As mudanças corporais relativas à faixa etária não determinam o sujeito, tendo em
vista sua singularidade e o modo como cada um vivencia suas experiências, assim, o sujei-
to de que tratamos aqui neste trabalho é o sujeito da psicanálise, o sujeito do inconscien-
te, do desejo, e sua faixa etária não nos serve de indicativo para a velhice, pois segundo
(MUCIDA, 2004/2019, p. 29) “pode-se envelhecer, tornar-se mais idoso no sentido cronoló-
gico, sem passar pela velhice”. Ademais, “o envelhecimento constitui-se de diversas perdas
e desinvestimentos objetais, bem como de aquisições (investimentos objetais)” (MUCIDA,
2004/2019, p. 29).
A partir da concepção de que o idoso não existe enquanto conceito psíquico e que o
que tomamos por discussão é a percepção psicanalítica acerca do envelhecimento, a partir
daqui passamos a utilizar o termo velho, por ser mais representativo na nomeação daquele fim
de nomear a pessoa que envelheceu, independentemente da idade cronológica. Apontamos
isto porque a velhice possui diversas conceituações que variam de acordo com a cultura,
área de atuação profissional e, considerando a singularidade do sujeito.
Podemos dizer que cada um envelhece a seu próprio modo, conforme a resposta
que conseguiu devolver às questões que a cultura que é inserido lhe trouxe. Cada sujeito
apreende e responde ao mundo dentro de seu próprio arcabouço, ou seja, o que viveu em
sua família, o que foi possível observar no lidar social e ainda há de se considerar as políticas
e culturas vigentes no território deste sujeito. Envelhecer não se dá apenas pela senescên-
cia2, mas pode variar também de acordo com a estrutura psíquica e o contexto social em
que este sujeito está inserido. Segundo Goldfarb (1998), o corpo e o tempo se entrelaçam
no decorrer do envelhecimento e deste entrelace surge uma heterogeneidade da velhice.
A psicanálise nos assinala a singularidade do sujeito, traz nossa atenção “para o su-
jeito que fala e que ao falar, ressignifica sua própria história” (SILVA, 2018, p. 117). Pensar
neste sujeito singular é abordar o Um, ou seja, o sujeito que não some na multidão de idosos
(MUCIDA, 2004/2019). Segundo Mucida (2004/2019), a singularidade se inscreve desde
a infância, é construída ponto a ponto no decorrer da vida da pessoa, não obedecendo a
uma ordem cronológica, pois há rearranjos, conteúdos inconscientes que de algum modo
retornam em busca de algo significativo e satisfatório. Isto é singular, cada pessoa percebe
o mundo a partir de seus próprios significantes, embora inseridos no social a partir de outros
significantes, cada um tem sua maneira singular de envelhecer:

Cada um envelhece apenas de seu próprio modo, e não existe uma velhice
natural, mesmo que exista um corpo que envelhece e uma pessoa que se
torna mais idosa. Esse “destino pessoal” traçado na velhice é completamente

2 Alterações orgânicas (fisiológicas) do processo de envelhecimento (SBGG, 2021, online).

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singular, e cada um inscreverá determinada forma de gozar que lhe é própria.
Se a velhice é um destino singular a ser traçado por cada sujeito, ela não pode
ser reduzida à idade cronológica e, muito menos, à diminuição de determinadas
funções orgânicas (MUCIDA, 2004/2019, p. 40-1).

Freud (1932/1996) nos diz que a criança, por não ser ainda autossuficiente, passa por
perigos que vão sendo ajustados conforme se desenvolve, como o desamparo psíquico que
se ajusta à imaturidade inicial do ego, ou mesmo o medo pela perda de um objeto (amor)
que se ajusta a falta de auto suficiência dos primeiros anos, o perigo de ser castrado. Para
Freud (1932/1996), estas experiências de perigo vividas na infância deveriam ser suprimi-
das à medida do desenvolvimento e fortalecimento do ego, porém, por algum motivo não
são completamente dissolvidas, fazendo com que o sujeito permaneça infantilizado para
algumas situações como por exemplo, nunca se tornando independente do amor de outras
pessoas, o que pode trazer algumas complicações na velhice, como veremos mais adiante.
Por esta via, Lacan também retoma a infância a fim de demonstrar que de algum
modo o que foi vivido nela poderá trazer consequências à estruturação do sujeito. A partir
da mensagem escrita por ele à psicanalista Jenny Aubry intitulada Nota sobre a Criança
(COSTA, 2007, p. 67) nos diz que a criança poderá ocupar diferentes lugares no desejo do
Outro e “com as possíveis respostas que poderá dar a esse desejo, segundo Lacan, isso
terá consequências na sua estruturação como sujeito”. Ademais, para Mucida (2004/2019, p.
41) “na velhice, o infantil continuará também a impor seus efeitos sob pena do desamparo,
do perigo da perda do amor, da angústia relativa ao desejo do Outro e ao próprio desejo”.
Para ela, esses emaranhados de vivências podem circunscrever a velhice para cada sujeito.
A partir das considerações acima é possível constatar a velhice como algo singular, cada
pessoa se constituirá a partir das percepções do que por ela mesma foi experienciada. O en-
velhecimento, de algum modo, evidencia um corpo que nem sempre deseja ser descoberto,
mas que é percebido ao envelhecer, seja pelo olhar do Outro ou mesmo pelas percepções
do próprio sujeito, é inegável os efeitos que naturalmente são impressos no corpo à medida
que o adulto é longevo. Independente de conceituações acerca da velhice ou mesmo de
referenciais teóricos, não se pode negar as alterações orgânicas da senescência e que ela,
de forma gradativa ou mais acelerada, vai acontecer. Mesmo considerando o organismo e
suas mudanças biológicas decorrentes do desenvolvimento, podemos também compreender
o corpo como uma construção simbólica, e como tal, pode variar conforme a maneira que o
sujeito apreende suas vivências e também de acordo com o discurso social.
Para Françoise Dolto (1992 apud COSTA, 2007), esta relação com o corpo acontece
desde tenra idade, momento em que a criança já possui atividade representativa baseada
em trocas corporais, mesmo antes de sua constituição como sujeito:

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As palavras e os afetos, associados à vivência corporal e relacional, deixam
impressões somato-psíquicas a partir das quais se constituem os primeiros
referenciais, as primeiras imagens inconscientes do corpo. É o local de repre-
sentação das experiências relacionais, é o lugar da comunicação precoce.
[...] a fala é o organizador que permite o cruzamento do esquema corporal
(pré-consciente e consciente) com a imagem do corpo (inconsciente) (COSTA,
2007, p. 71).

Embora venhamos dando enfoque à existência psíquica e subjetiva, também no sen-


tido biológico, podemos dizer que o homem se desenvolve, passa por mudanças que mar-
cam sua existência.
Para Mucida (2004/2019) desde a infância, já nos primeiros anos, é como se de algum
modo as partes se juntassem buscando se estruturar a partir de uma imagem que lhe é
ofertada em suas primeiras relações. Na adolescência há um continuum deste crescimen-
to, marcado por mudanças corporais mais acentuadas que chegam a fazer emergir certo
desconforto, mas ainda assim, é um período de aspirações, expectativas. Na velhice, estas
expectativas declinam, revelando perdas corpóreas sinalizando uma mudança, não para
algo a se alcançar, mas para o que se perdeu em seu próprio corpo.
Para Simone de Beauvoir (1970/2018) a maneira com que se lida com as crianças e
os adolescentes já lhes demarca um lugar e a idade é comumente lembrada, seja por ob-
jeções, seja por demandas decorrentes da faixa etária, o que não costuma ocorrer quando
se trata de adultos, pois é como se estas implicações da idade não existissem. Projetados
para um futuro, os anos passam. Neste sentido, tornar-se velho e apropriar-se da própria
velhice é algo penoso, pois comumente consideramos a velhice estrangeira, como se de
algum modo ela nos tornasse outro(a) ao mesmo tempo que somos nós mesmos este ou-
tro(a). A autora nos diz que: “a velhice aparece mais claramente para os outros do que para
o próprio sujeito” (BEAUVOIR, 1970/2018, p. 298), o que quer dizer que quando se dá sem
conflitos pode passar despercebida, considerando as diversas maneiras de se amenizar o
declínio das funções corporais.
Ainda segundo Beauvoir (1970/2018, p. 295) “a velhice é o que acontece às pessoas
que ficam velhas; impossível encerrar essa pluralidade de experiências num conceito, ou
mesmo numa noção”. Porém, é algo que ao mesmo tempo ganha sentido quando se está em
relação, seja com sua própria imagem, com o que concebe de seu corpo ou conforme o que
lhe é devolvido, o resultado de suas relações interpessoais e também com a cultura. Deste
modo, a ideia de envelhecimento é apreendida pelo sujeito de acordo com que concebe do
olhar que lhe é direcionado pelo outro. Há a singularidade do sujeito, sua forma de apreender
as vivências, vai de encontro às concepções também apreendidas do outro e da cultura.

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O envelhecimento é o encontro estranho de um corpo que se fragiliza com
uma instância que não se envelhece: o inconsciente. Um desencontro, na
verdade. Um desencontro que provoca um desajuste, que desperta sentimen-
tos ou emoções que até então não eram sentidas ou não percebidas. Assim
como o mal-estar é o que conduz o sujeito à análise, aqui esse desencontro
ou desajuste é o que convoca o sujeito a um reposicionamento diante de sua
existência (SILVA, 2018, p. 118).

Assim, o sujeito é resultado de um encontro, das trocas do mundo interno com o exte-
rior, que inauguram sua subjetividade e também criam os objetos de sua satisfação. Neste
sentido, um território que cada vez mais exalta a juventude, a beleza e o que é forte, torna-se
convidativo ao desvalor do velho e o deslocamento de seu lugar no social. À medida que
deixa este lugar desejante acontece o bloqueio de sua capacidade de elaborar perdas e o
sujeito sofre um declínio em sua afetividade (GOLDFARB,1998). Esta perda de lugar vivida
pelo sujeito no momento em que deixa de ser desejável para uma cultura ou sociedade,
pode fazer com que o próprio sujeito deixe de desejar o convívio, abandonando as relações
interpessoais. Isso que pode nos remeter ao desamparo pela perda do desejo próprio e do
Outro trazido por Mucida (2004/2019, p. 145): “a velhice nos traz o desamparo de forma in-
cisiva. Teme-se a velhice, já o dissemos, não a morte, já que o inconsciente a desconhece,
mas outra morte que escutamos na clínica - a morte do desejo”.

Concluímos que o insuportável surge quando aumenta a distância entre a


pulsão de vida e pulsão de morte, e restando o domínio da pulsão de morte
só há uma saída: promover a subversão do sujeito pela dialética do desejo.
O desejo é aquilo que, faltando, permite que a falta não venha a faltar e, com
isso, pode provocar o movimento de vida que não existe sem o movimento da
morte (MUCIDA, 2004/2019, p. 146).

À medida que o indivíduo se vê distante do lugar antes ocupado na juventude, tem de


algum modo uma afetação em seu desejo, não sendo mais objeto de desejo de alguém, pode
levá-lo a tal angústia capaz de afastá-lo do narcisismo, caminhando a um desinvestimento
de si mesmo. Para Freud (1914/2010) esse investimento em si mesmo é parte constituinte
do indivíduo que o preserva, o desejo que ele recebe do meio é absorvido e direcionado
ao Eu. Quando esta relação desejante com o mundo externo é abalada, como resguardo
ao Eu, a si mesmo, há um retorno ao narcisismo primário, aquele vivido na infância quando
recebeu dos pais ou dos que ocuparam esta função o investimento que lhe cobria qualquer
imperfeição. Neste sentido, Freud (1914/2010, p. 15) nos diz: o narcisismo é o “complemento
libidinal do egoísmo do instinto de autoconservação, do qual justificadamente atribuímos
uma porção a cada ser vivo”.
Ao direcionar a si mesmo o investimento vivido em sua infância, o indivíduo encontra
seu Eu ideal, para onde o narcisismo é direcionado, de valor inestimável e perfeito. Neste

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sentido, o indivíduo não abre mão da satisfação que lhe é conhecida, porém nem sempre
pode mantê-la, como na condição da desidentificação social vivida pelo velho, que tenta
resgatar sua satisfação libidinal através do ideal do Eu. “O que ele projeta diante de si como
seu ideal é o substituto para o narcisismo perdido da infância, na qual ele era seu próprio
ideal” (Freud,1914/2010, p. 40).

A cura possível à psicanálise: de que cuidado se fala?

A clínica psicanalítica com o velho, pode ainda despertar alguns questionamentos,


como pontuado no texto pré-psicanalítico de Freud (1898/1996) quanto aos limites para
terapia psicanalítica com pessoas muito velhas, pois em decorrência da grande quantida-
de de material psíquico o trabalho analítico demandaria bastante tempo, indo de encontro
à finitude da vida, momento em que segundo ele, não se tem mais expectativas quanto à
saúde nervosa. Porém, devemos nos atentar que nesta mesma recomendação sobre a apli-
cabilidade da terapia psicanalítica, Freud deixa claro quanto a inviabilidade pontual àquele
momento quando nos diz: “a terapia psicanalítica não é, no momento, aplicável a todos os
casos” (FREUD, 1898/1996, p. 166).
Ademais, podemos constatar que naquela época a expectativa de vida era bem menor
que atualmente, onde, segundo dados demográficos do IBGE, em 2018 expectativa de vida
era em média 79,9 anos para mulheres e 72,8 anos para homens. Quanto à perspectiva
etária no início do século XX, Goldfarb (1998, s./p.) nos diz que era em torno de 50 ou 55
anos, portanto cabia aos indivíduos dessa idade “o papel social dos velhos. E a psicanálise
tinha ainda muito caminho a percorrer.” Outro aspecto a se considerar é que embora haja
muitos questionamentos acerca da clínica psicanalítica com velhos, é sabido que o sujeito
é o sujeito do inconsciente, e este não envelhece. Freud nos deixa em sua teoria o alerta
quanto à incompletude da Psicanálise e sua prontidão para mudança e assim nos diz:

A Psicanálise como Ciência Empírica. - A psicanálise não é, como as filosofias,


um sistema que parta de alguns conceitos básicos nitidamente definidos, pro-
curando apreender todo o universo com o auxílio deles, e, uma vez completo,
não possui mais lugar para novas descobertas ou uma melhor compreensão.
Pelo contrário, ela se atém aos fatos de seu campo de estudo, procura resol-
ver os problemas imediatos da observação, sonda o caminho à frente com o
auxílio da experiência, acha-se sempre incompleta e sempre pronta a corrigir
ou a modificar suas teorias (FREUD, (1923[1922]/1996, p. 165).

A exemplo de experiências bem-sucedidas da prática psicanalítica com pacientes


considerados velhos do ponto de vista etário podemos mencionar Karl Abraham, seguidor
de Freud e que em sua prática psicanalítica atendeu pessoas mais velhas. De início, evitou
o tratamento considerando que o paciente mais velho pudesse ter mais dificuldade em se

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livrar de uma neurose. “No começo hesitara em tomá-los em tratamento, mas várias vezes
os próprios pacientes insistiam, já que tinham sido tratados por outros métodos sem resul-
tado algum” (GOLDFARB, 1998, s./p.). Os resultados desses tratamentos foram conside-
rados bem proveitosos para Abraham que os incluiu como casos bem-sucedidos de cura
(GOLDFARB, 1998).
Para Mucida (2004/2019) a prática psicanalítica se dá a partir da experiência da sin-
gularidade do sujeito, diferente da cultura que tende a formar grupos, como se neles fosse
possível uma homogeneidade, cabendo a observação de que a psicanálise dialoga com
outros saberes, e esta diversidade abre caminho à construção de laços, compreendendo
que na multiplicidade do grupo há vários sujeitos. Assim a análise segundo a autora não
é algo a ser indicado como se fosse possível uma homogeneidade e sim um instrumento,
um dispositivo sensível a particularidade de cada pessoa. Neste olhar para o singular, Silva
(2018, p. 119) nos diz que “a clínica freudiana pontua constantemente a importância da
singularidade. Nesse sentido, cada sujeito atendido implica uma clínica diferente, uma re-
invenção da psicanálise, pode-se dizer.” Silva (2018) nos alerta ainda que é a partir dessa
experiência singular que se pode conceber a ideia do que é estar velho.
Segundo Freud (1930/2010) o princípio do prazer sentencia o homem à busca da fe-
licidade e da realização, porém, a plenitude deste encontro chega a ser utópica, mas ainda
assim é incapaz de renunciar a esta busca, fazendo com que desenvolva outros meios
de alcançá-la, seja permanecendo incessantemente na busca pelo prazer ou evitando o
desprazer. Neste sentido podemos pensar a velhice como um momento em que a pessoa
se vê distanciada do desejo, do olhar do outro ou por si mesmo diante da verdade finita e
transitória da vida e neste momento muitas vezes é que se percebe que nenhuma única
estratégia poderá trazer uma completude, cabe ao sujeito sui generis, encontrar o que lhe
traz sentido e satisfação, o que o fará retomar a busca pelo prazer, investimento libidinal
que o sustenta na vida.

Em nenhum desses caminhos podemos alcançar tudo que desejamos. No


sentido moderado em que é admitida como possível, a felicidade constitui
um problema da economia libidinal do indivíduo. Não há, aqui, um conselho
válido para todos; cada um tem que descobrir a sua maneira particular de ser
feliz. Fatores mais variados atuarão para influir em sua escolha. Depende de
quanta satisfação real ele pode esperar do mundo exterior e de até que ponto
é levado a fazer-se independente dele; e também, afinal, de quanta força ele
se atribui para modificá-lo conforme seus desejos. Já neste ponto a constitui-
ção psíquica do indivíduo, à parte das circunstâncias externas, será decisiva
(FREUD, 1930/2010, p. 40-1).

Na velhice é possível observar de forma mais evidente as perdas, seja do seu lugar
social, da referência juvenil de seu próprio corpo, ou mesmo a perda efetiva de pessoas em

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seu ciclo de relações, que podem fazer com que o velho se distancie do seu lugar desejante,
o que nos evoca a questão do desejo como elemento crucial à psicanálise com velhos. Assim,
Fink (2018) nos fala da importância do desejo do próprio analista como condição para que
a terapia prossiga, uma vez que o desejo do paciente por ora pode ou não existir, tendo em
vista também que nem sempre será possível observar pacientes chegarem à terapia com
um desejo genuíno por efetiva mudança ou pelo autoconhecimento que abre caminhos ao
processo de cura. Muitas vezes quando se aproxima este momento de descoberta, o pacien-
te resiste e começa a recuar, e aí é que a postura desejante do analista pode fazer toda a
diferença em sustentar a continuidade do processo terapêutico, pois “quando o analisando
resiste a saber e o analista não faz valer seu desejo, é impossível formular um novo saber”
(FINK, 2018, p. 18).
Este lugar desejante traz de volta o sujeito ao jogo da vida, um sentido que pode ser
reconstruído na relação transferencial que, segundo Maurano (2006, p. 16), “trata-se na
transferência de uma presença do passado, mas que é uma presença em ato”. O analisando
confere ao analista um lugar equivalente ao dos objetos valorosos que perpassam sua vida e
por meio dessa identificação transferencial é que o sujeito poderá desvelar suas expectativas,
deixar vir à tona de maneira mais fidedigna seus desejos. Assim, vemos que o inconsciente
abriga um passado que se atualiza no presente. Com esta relação transferencial, os conteú-
dos inconscientes recalcados vêm à tona e podem ser acolhidos pelo analista, trabalhados
e devolvidos ao analisando (MAURANO, 2006).
A presença marcante de cuidado é como uma bússola para a cura. Neste sentido,
Heidegger (2015) nos traz a reflexão da presença como consciência sustentada ao mesmo
tempo na transformação e na permanência onde há simultaneamente uma pluralidade de
concepções, o mundo externo não lhe oferta mais nada e a angústia surge não com algo,
mas por algo, e “na presença, a angústia revela o ser para o poder ser mais próprio, ou
seja, o ser livre para a liberdade de escolher e escolher a si mesma” (HEIDEGGER, 2015,
p. 254), a angústia de algum modo se presentifica e conduz o sujeito para novas perspec-
tivas e, ao mesmo tempo, à totalidade da presença. Para Heidegger (2015) a concepção
de presença é coexistente ao querer e desejar relativos em si mesmo, e esta é a presença
como cura. “A condição existencial de possibilidade de ‘uma preocupação com a vida’ e
dedicação” deve ser concebida como cura num sentido originário, ou seja, ontológico”3
(HEIDEGGER, 2015, p. 267).

3 Relativo ao próprio ser - Relativo a ontologia, ou seja: “estudo ou conhecimento dos seres e dos objetos enquanto eles mesmos, em
oposição ao estudo de suas aparências e atributos” (MICHAELIS, 2021, online).

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Falar de cura é também falar de cuidado, do cuidado como ação, que ganha sentido
à medida que se pratica e que se direciona ao outro, um cuidado em relação a algo ou al-
guém. Em Ser e Tempo a partir do ensaio de K. Burdach, Faust und die Sorge, Heidegger
apresenta a autointerpretação da presença como cura a partir da fábula de Higino que nos
expõe a cura no sentido de dedicação, cuidado, presença, conforme exposto no mito de
Cura. Na fábula, o homem origina-se na cura e esta lhe pertencerá enquanto viver, daí a
presença como cura contempla o sentido de se ter atenção, interesse, cuidado e dedicação
com a vida (HEIDEGGER, 2015).
Neste sentido de presença como cura, podemos nos remeter também à cura na análise,
conforme trazida por Silva (2018, p. 121), como “uma transformação do desejo”. Na velhice,
tendo em vista a perda do lugar desejante vivida pelo velho pelo desamparo, há o afasta-
mento em suas relações interpessoais ou mesmo a perda de afetos e lutos não elaborados,
os quais podem lhe chegar até mesmo pela constatação do declínio ou mudanças de suas
funções fisiológicas, considerando a estreita relação entre corpo e psique. “O corpo, princi-
palmente sua superfície, é um lugar do qual podem partir percepções internas e externas
simultaneamente” (FREUD, 1923/2011, p. 31).

O corpo é mediador entre a psique e o mundo, ou entre duas psiques, cons-


trói-se nessa relação e constrói suas causalidades; se o eco do próprio corpo
no mundo não encontra respostas adequadas, se o outro for surdo e cego a
dor (ou não tiver a resposta esperada) irá se operar uma desconexão relativa
com toda a história do sujeito (GOLDFARB, 1998, p. 28).

Fazer a retomada do sujeito ao palco de seu próprio desejo e como ser desejante
no mundo, requer uma análise para além das questões e enfrentamentos explicitados na
velhice, um olhar para o sujeito do inconsciente, do desejo. O analista na relação transfe-
rencial visita os mais diversos instantes vividos pelo sujeito e mais que isso, as marcas do
que por ele foi vivido.
Em Novas Conferências Introdutórias à Psicanálise Freud (1933/2010, p. 194) nos apre-
senta o Eu como análogo ao sujeito, “o Eu é o sujeito por excelência” é capaz de apropriar-se
de si mesmo como objeto, direcionando para si o que investiria no objeto externo, ou seja,
o investimento retorna ao próprio corpo e além disso tem a capacidade de temporariamente
dividir-se em outras funções, direcionar se a outros objetos e depois unir-se novamente.
Esta versatilidade possível ao Eu pode indicar o caminho da análise com o velho, o
sujeito atemporal, não envelhece, mas sua vestimenta corpórea é submetida ao irreveren-
te desgaste do tempo biológico. Não só o sujeito, mas também o que há ao seu redor se
transforma, seus objetos relacionais assujeitados ao tempo em muito se perdem. À medida
que o indivíduo envelhece passa por diversas perdas, não há como escolher perder este ou

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aquele objeto de desejo, enquanto perde a si mesmo, vendo seu corpo modificar-se e por
vezes não corresponder ao seu próprio desejo (MUCIDA, 2004/2019).
Em A Transitoriedade, Freud (1916/2010) nos fala sobre a predisposição amorosa
inerente ao ser humano, a libido, que no início da vida é investida em seu próprio Eu.
Gradativamente esta libido começa a ser direcionada para objetos e estes de algum modo
são integrados ao próprio Eu. Se esse objeto é extinto ou perdido, a libido é mais uma vez
liberada e pode seguir dois caminhos: ser direcionada a outros objetos ou retornar provi-
soriamente ao Eu. Porém, este processo pode se dar de maneira muito dolorosa quando
a libido se prende a um objeto e não consegue deixá-lo, ou mesmo ser remanejada para
outros objetos disponíveis, acontecendo assim, o luto. Devido a capacidade da psique em
retroceder diante de processos dolorosos, o sujeito pode de maneira precoce experimentar
o luto ao se aperceber como finito e transitório (FREUD, 1916/2010).
Para Goldfarb (1998) a velhice é um momento de muitas perdas, tanto dos afetos,
quanto de objetos importantes ou de lugares simbólicos, fazendo com que fique prejudicada
a função regente do ideal do Eu: “então, no confronto entre o Eu ideal e a realidade cor-
poral, presentifica-se a incompletude, que como uma avalancha arrasta todas as imagens
narcísicas que foram constituintes do Eu” (GOLDFARB, 1998, p. 15). Para Goldfarb (1998),
estar ciente de sua fragilidade e do seu declínio, é como encerrar uma soberania à medida
que vê sucumbir seu próprio corpo e experimenta a própria finitude. O sujeito é convocado
a elaborar o luto de sua própria existência enquanto o Eu lhe preceitua uma continuidade.

A morte é um pano de fundo sempre fugidio, irrepresentável, que constitui a


violência própria do ser temporal, ser para morte. O sujeito se configura nas
três dimensões do tempo: antes os obstáculos do presente, evoca o passado
em busca do sentido necessário e joga para o futuro as possibilidades de re-
paração; porém, se o futuro não mais existe, o sujeito se afunda em um futuro
de não ser que o arranca violentamente do campo do desejo (GOLDFARB,
1998, p. 15).

Um caminho norteador para análise com velhos é a busca pela retomada deste dese-
jo, tendo em vista a versátil capacidade do sujeito em investir em si mesmo como objeto, o
que pode ser relevante diante da perda do objeto, porém, Freud (1917[1915] /2010, p. 173)
nos previne: “o ser humano não gosta de abandonar uma posição libidinal, mesmo quan-
do um substituto já se anuncia.” Para Freud esta dificuldade pode ser tão grande a ponto
de fazer com que o sujeito se afaste da realidade continuando fixado no objeto perdido e,
quanto mais adiado o direcionamento da libido para outro objeto, mais tempo permanecerá
dolorosa a lembrança do objeto perdido até que aconteça uma elaboração do luto (FREUD,
1917[1915]/2010).

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A ideia de finitude de sua própria vida e a solidão diante do desfazer de tantas relações
estabelecidas no decorrer da vida podem fazer com que a velhice seja um momento em que
o sujeito se torne mais suscetível à perda do desejo e que diante desses processos dolorosos
recue em seu investimento libidinal. Assim, torna-se imprescindível a busca pela retomada
ao caminho da condição desejante perante a vida e este manejo de cura pode ser possível
através do cuidado para além do diagnóstico, um cuidado pela presença e acolhimento,
compreendido como “uma relação intersubjetiva que se desenvolve em um tempo contínuo, e
que, além do saber profissional e das tecnologias necessárias, abre espaço para negociação
e a inclusão do saber, dos desejos e das necessidades do outro” (PEREIRA, 2008, p. 113).
O objeto perdido continua sendo alvo de investimento até que aos poucos aconteça uma
retração da libido e este é um processo lento e pungente onde a pessoa perde a habilidade
de designar um novo objeto. Com a ausência do objeto amado é necessário desfazer os
elos libidinais a eles direcionados, o que nem sempre é fácil, considerando-se a hesitação
para a escolha de um novo objeto. Há de se atentar na clínica psicanalítica para a seme-
lhante concepção de perda e desqualificação sentida no declínio do próprio corpo, com o
que ocorre no luto, onde o mundo se esvazia e se empobrece, o Eu é absorvido, provocando
um desinteresse (FREUD, 1917[1915]/2010).
É nesse ponto também que Freud nos apresenta uma diferença entre luto e melanco-
lia, onde no primeiro a perda é percebida, mas na segunda não, a perda é suprimida pela
consciência. A melancolia é “uma cessação do interesse pelo mundo exterior, perda da
capacidade de amar” (FREUD, 1917[1915]/2010, p. 172) e ainda uma significativa perda de
autoestima, o Eu se esvazia, se auto deprecia.

No quadro clínico da melancolia, a insatisfação moral com o próprio Eu é


destacada relativamente a outras coisas: defeitos físicos, feiura, debilidade,
inferioridade social, muito mais raramente são objeto da autoavaliação; só
o empobrecimento ocupa lugar privilegiado entre os temores ou dizeres do
paciente (FREUD, 1917[1915]/2010, p. 179).

Ainda no quadro clínico descrito acima por Freud, a repressão e censura, antes dire-
cionada ao objeto, regressam ao próprio Eu. Há um embargo ao investimento no objeto, e
a libido desprendida do objeto é direcionada ao próprio Eu, toda hostilidade que tem para
consigo mesmo, na verdade é a que seria direcionada para a outra pessoa. Assim, perder o
objeto pode ganhar o peso equivalente a perda a si mesmo. Neste sentido, é possível perce-
bermos que há pelo objeto uma atração e ao mesmo tempo uma dificuldade de investimento
libidinal e deste modo “a identificação narcísica com o objeto se torna, então, substituto do
investimento amoroso” (FREUD, 1917[1915]/2010, p. 181).

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Com este movimento identificatório não seria necessária uma denegação da relação
amorosa, ainda que permaneça um desacordo com o objeto amado. Outra questão que nos
é trazida por Freud (1917[1915]/2010) quanto à melancolia é o automartírio. Já que não se
consegue abdicar do amor ao objeto, o ódio é direcionado ao objeto equivalente, no caso,
abriga-se na identificação narcísica, manifestando contra si mesmo a agressividade e o poder
destrutivo. “Portanto na melancolia travam-se inúmeras batalhas em torno do objeto, nas
quais ódio e amor lutam entre si, um para desligar a libido do objeto, o outro, para manter
essa posição de libido contra o ataque” (FREUD, 1917[1915]/2010, p. 191).
Assim, concluímos que no processo analítico o indivíduo é um sujeito, o sujeito
do inconsciente, do desejo, uma vez que ambos estão diretamente associados (SILVA,
2018). O saber inconsciente é o que determina a heterogeneidade, o que é singular e próprio
de cada um, assim como a velhice que tem um sentido diferente para cada indivíduo conforme
o que experimentou da vida e é nesse ponto de vista, compreendendo a singularidade do
sujeito, que se é possível conduzir o processo de subjetivação na velhice, contribuir para a
produção de sentido e retomada do desejo, em si mesmo, no mundo externo e que possa o
sujeito retomar sua participação como ator principal de sua própria história, ou seja, “criar na
vida os próprios sentidos que auxiliem o eu a romper com a possibilidade da autodestruição
subjetiva” (SILVA, 2018, p. 118).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Se Lacan nos aponta ser necessário ao psicanalista estar atento à subjetividade de sua
época, o envelhecimento populacional brasileiro nos convoca a pensarmos na especificidade
desta clínica. Entretanto, em se tratando de psicanálise, cuja aposta é na atemporalidade do
inconsciente, e sendo o sujeito justamente o do inconsciente, como falar em especificidade
do velho/velhice?
Nesse sentido nos é caro tomar o sujeito como de desejo desde o nascer até o morrer.
Neste percurso, entretanto, cada sujeito apreende o mundo do seu próprio modo, mesmo
que haja situações iguais, cada um terá sua própria percepção do evento, logo, à medida
que envelhece, o corpo denuncia algo que o inconsciente atemporal não dá conta e con-
forme a cultura, o contexto social e sua estrutura psíquica poderá buscar seu próprio modo
de conceber a velhice de seu corpo enquanto tenta ou não um ajuste às novas situações e
limitações que lhe começam ser impostas, tanto por possíveis mudanças em suas relações
interpessoais ou as alterações da senescência.
O sujeito é efeito do encontro do mundo interno com o seu exterior o que denota a
chance de que de acordo com a cultura que tende a excluir e inutilizar o que é velho em de-
trimento do novo, pode o sujeito sentir-se deslocado em sua condição desejante no mundo,
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podendo perder o desejo de investir em si mesmo, quando também percebe o desinvesti-
mento do meio externo o que pode causar grande sofrimento (FREUD, 1917[1915]/2010).
Pensando numa psicanálise possível a velhice percebemos que o sujeito atemporal não
envelhece, porém, de algum modo sofre os efeitos deste processo (MUCIDA, 2004/2019).
Segundo Freud (1923/2011) é a partir do corpo que assimilamos as impressões internas
e externas e neste sentido, quando há um desinvestimento do mundo externo em relação
ao sujeito, ou dele para com o mundo externo, a condição desejante que é característica
inerente ao inconsciente escapa e faz com que o sujeito passe por processos dolorosos,
seja pelo luto na percepção do corpo finito, seja pelas perdas de suas relações com lugares
ou objetos, ou mesmo pela melancolia, onde a angústia não permite sequer que o sujeito
reconheça o que perdeu, o que falta.
Assim, a busca por um sentido nem sempre é possível pelo sujeito sozinho, mas al-
cançável através da análise. Quando pela dor, pela falta de investimento libidinal, o sujeito
recua, a presença desejante do analista poderá contribuir para sustento e continuidade do
processo terapêutico. Há no processo analítico uma possibilidade de o sujeito retomar seu
lugar de desejo perante a vida tomando a transitoriedade como algo passivo de ser suportado
e mais que isso, ser compreendido como um momento único em que não precisamos abrir
mão do querer, da vontade, do desejo e neste sentido a psicanálise abre possibilidades para
esta retomada libidinal para com a própria vida. Na relação transferencial o analista começa
a ocupar o lugar do objeto perdido, abrindo caminho para que o sujeito possa deixar vir à
tona seus desejos e o que foi recalcado por ele é acolhido pelo analista e posto a trabalho
(MAURANO, 2006).
Neste sentido, a pesquisa bibliográfica contribuiu para nosso entendimento que é
possível sim tomar a cura como o cuidado. O cuidado como presença, considerando o in-
vestimento libidinal do analista, que é direcionado ao paciente, a escuta como acolhimento,
a relação transferencial capaz de sustentar o processo quando a falta for grande demais e a
dor insuportável para o sujeito. Temos aí uma cura possível à psicanálise através do cuidado.

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A ANSIEDADE E O DESEMPENHO DAS FUNÇÕES
EXECUTIVAS PELA POPULAÇÃO IDOSA
INSTITUCIONALIZADA – UM ESTUDO PILOTO
USANDO O INSTRUMENTO MATRIZ

Adriana Dias
Faculdade de Medicina e Ciências Biomédicas
Universidade do Algarve

Marlene Rosa
Center for Innovative Care and Health Technology
Politécnico de Leiria

Dara Pincegher
Center for Innovative Care and Health Technology
Politécnico de Leiria

'10.37885/230512985
RESUMO

Objetivo: Identificar a relação entre a ansiedade e o desempenho da habilidade de controlo


inibitório pela população idosa institucionalizada, avaliar a adequação dos níveis de dificul-
dade do instrumento MATRIZ e aferir o seu potencial na avaliação das funções executivas.
Métodos: Estudo-piloto quase experimental, com seleção de uma amostra de 7 idosos insti-
tucionalizados. Realização de 2 sessões, com avaliação dos níveis de stress (doseamento de
cortisol salivar), antes e após a aplicação do MATRIZ, bem como a condição cognitiva (Teste
de Declínio Cognitivo de 6 Itens), o desempenho da habilidade de controlo inibitório (Teste
de Perceção de Diferenças) e dados sociodemográficos e clínicos. Resultados: Verificou-
se a ausência de diferenças estatisticamente significativas entre a concentração de cortisol
salivar pré e pós-intervenção. Não se observaram diferenças significativas nas atividades
do MATRIZ, entre os indivíduos com uma concentração de cortisol salivar pré-intervenção
superior à mediana e os restantes elementos da amostra. Não se aferiram diferenças esta-
tisticamente significativas entre a pontuação média obtida em cada nível de dificuldade, da
habilidade de controlo inibitório do MATRIZ. No entanto, obteve-se correlação moderada
entre a pontuação média obtida no MATRIZ e o índice de controlo de impulsividade do Teste
de Perceção de Diferenças. Conclusão: Embora os resultados não evidenciem a relação
entre a ansiedade e o desempenho das funções executivas pela população idosa institu-
cionalizada, nem a adequação dos níveis de dificuldade do MATRIZ, importa considerar a
dimensão pouco representativa da amostra utilizada. Ressalva-se o potencial de utilização
do MATRIZ, enquanto instrumento de avaliação das funções executivas.

Palavras-chave: Ansiedade, Envelhecimento, Funções Executivas, Terapia de Recreação.


INTRODUÇÃO

O processo de envelhecimento assume um caráter heterogéneo, dinâmico, progressivo


e inexorável, envolvendo significativas transformações biopsicossociais. Relativamente à
dimensão neurobiológica, verifica-se diminuição do metabolismo cerebral, redução do fluxo
sanguíneo e modificações neuroquímicas (Gomes, 2016). Concomitantemente, as pessoas
idosas demonstram uma atrofia cerebral predominante nas regiões do córtex pré-frontal e
áreas subcortical e temporais médias, contribuindo para o declínio das Funções Executivas
(FE) (Fjell et al., 2014).
As FE consistem num conjunto de habilidades cognitivas primordiais que coordenam a
totalidade da atividade mental do indivíduo, assumindo-se como a pedra basilar da regulação
do comportamento, intelecto e emoção (Silva, 2017). As mesmas permitem ao sujeito avaliar
a eficiência e a adequação das suas ações, direcionar comportamentos a metas, abandonar
estratégias ineficazes em detrimento de outras mais apropriadas e resolver problemas de
modo autónomo (Barros, 2015).
Considerando os modelos concetuais propostos por Miyake e seus colaboradores
(2000) e Diamond (2013), as FE consistem numa entidade multifatorial, incluindo como
habilidades principais: o Controlo Inibitório (CI), a Memória de Trabalho e a Flexibilidade
Cognitiva. Cada uma destas habilidades envolve um conjunto diferente de comportamentos,
embora necessários para uma conduta adequada, apresentando diferentes trajetórias de
desenvolvimento, de acordo com a complexidade dos seus domínios (Pinto, 2008).
Relativamente ao CI, o mesmo consiste na capacidade de resistir à influência de uma
resposta dominante ou automática, que não se demonstra adequada à situação presente.
Observa-se uma redução da eficácia dos mecanismos inibitórios associada ao envelhecimen-
to cognitivo, sendo que, embora o foco na dimensão relevante do estímulo se mantenha ade-
quado, ocorre um aumento da dificuldade na inibição de aspetos irrelevantes (Lopes, 2019).
Por outro lado, importa ressalvar que o envelhecimento consiste igualmente num pe-
ríodo de adaptação e de aceitação das transformações e incapacidades que deste possam
resultar (Faria, 2021). A diminuição das perspetivas sociais e o declínio da condição geral de
saúde, bem como o decréscimo da autonomia, apresentam um potencial impacto negativo
na vida da população idosa, contribuindo para uma baixa autoestima e desenvolvimento de
estados de ansiedade e angústia (Gomes, 2016).
A influência da ansiedade sobre o desempenho cognitivo constitui-se como uma temá-
tica atual, embora controversa (Magalhães, 2013). Contudo, Bishop (2009) enaltece que a
mesma está associada ao aumento da ativação da amígdala e a uma redução do recruta-
mento das áreas corticais pré-frontais, necessárias à regulação top-down da atenção para
um desempenho eficiente da tarefa. Consequentemente, a habilidade de CI é prejudicada
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pela experiência de ansiedade, pelo que a vivência de níveis elevados de stress pode
contribuir para um agravamento do desempenho cognitivo da pessoa idosa (Derakshan
& Eysenck, 2009).
Neste âmbito, o presente estudo teve como objetivo geral identificar a relação entre a
ansiedade e o desempenho da habilidade de CI pela população idosa institucionalizada, por
meio da aplicação do jogo analógico de estimulação cognitiva MATRIZ. Simultaneamente,
pretendeu-se determinar os níveis de stress experienciados pela população idosa institucio-
nalizada, bem como avaliar a adequação dos níveis de dificuldade do domínio de CI do jogo
em causa e a validade da sua utilização, como instrumento de avaliação do desempenho
cognitivo das pessoas idosas institucionalizadas.
Relativamente às hipóteses definidas, considerou-se:

1. A aplicação do jogo MATRIZ diminuí a ansiedade experienciada pela pessoa idosa


institucionalizada;
2. A ansiedade experienciada não influencia a capacidade da pessoa idosa institucio-
nalizada em completar corretamente as atividades do jogo MATRIZ;
3. A ansiedade experienciada influencia o tempo de resposta da pessoa idosa institu-
cionalizada às atividades do jogo MATRIZ;
4. As atividades do nível II de dificuldade, do domínio de CI do jogo MATRIZ, são mais
complexas para a população idosa institucionalizada, do que as tarefas do nível I
de dificuldade, da habilidade de CI do jogo em causa;
5. A avaliação da habilidade de CI com o instrumento Teste de Perceção de Diferen-
ças correlaciona-se positivamente com a avaliação realizada por meio da aplicação
do jogo MATRIZ.

MÉTODOS

Procedeu-se ao desenvolvimento de um estudo-piloto, correlacional e quase-experimen-


tal, com desenho do tipo pré-teste e pós-teste sem grupo de controlo. Por meio de técnica de
amostragem não probabilística por conveniência, recorreu-se a uma amostra composta por
7 indivíduos idosos, sem deterioração cognitiva severa conhecida e institucionalizados numa
estrutura residencial portuguesa da região centro. Como critérios de exclusão, definiu-se que
os sujeitos não poderiam possuir défice visual grave ou alterações motoras significativas ao
nível dos membros superiores.
De modo a dar resposta aos objetivos anteriormente definidos, realizaram-se 2 ses-
sões por utente, tendo, cada uma das mesmas, assumido um caráter individual, com uma
duração aproximada de 30 minutos. A presente investigação decorreu durante 3 semanas,
ao longo do mês de março e de abril de 2023.
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O protocolo de avaliação envolveu a aferição dos níveis de stress, por meio do do-
seamento de cortisol salivar, antes e após aplicação do jogo MATRIZ, assim como da con-
dição cognitiva, através do Teste de Declínio Cognitivo de 6 Itens (6CIT), do desempenho
da habilidade de controlo inibitório, por meio do Teste de Perceção de Diferenças (TPD),
e das características sociodemográficas e clínica, através de um Questionário de Dados
Sociodemográficos e Clínicos (QDSC).

Instrumentos de Colheita de Dados

QDSC: composto por parâmetros sociodemográficos (idade, género, estado civil), da-
dos académicos e profissionais (habilitações literárias e profissão nos últimos 10 anos antes
da reforma) e caracterização da condição de saúde do indivíduo (principais problemas de
saúde conhecidos).
6CIT: desenvolvido por Brooke e Bullock (1999) e adaptado e validado para a população
portuguesa por Apóstolo e seus colaboradores (2017), consiste num instrumento breve e
simples de avaliação cognitiva, composto por 6 perguntas acessíveis e não-culturais. Com
recurso a um sistema de pontuação inversa, os resultados podem assumir valores de 0 a
28 (Paiva, 2013). Atendendo às habilitações literárias apresentadas, consideram-se pontos
de corte distintos, estabelecendo uma divisão entre os indivíduos que apresentam ou não
compromisso cognitivo (Apóstolo et al., 2017).
TPD: Desenvolvido originalmente por Thurstone (1941) e adaptado à população portu-
guesa por Rocha e Coelho (2008), o presente teste é composto por 60 elementos gráficos,
sendo cada um dos mesmos constituído por 3 desenhos esquemáticos de rostos com boca,
sobrancelhas e cabelo. Em cada elemento gráfico, duas das faces são iguais, enquanto uma
terceira apresenta diferenças em relação às demais, devendo o indivíduo determinar esta
última e assinalá-la. O objetivo do teste consiste em avaliar a capacidade do indivíduo em
encontrar, rápida e corretamente, as semelhanças e as diferenças existentes, bem como os
padrões estimulantes apresentados (Thurstone & Yela, 2019).
Neste âmbito, determina-se o Índice de Controlo de Impulsividade (ICI), que consiste
numa medida percentual, obtida a partir do quociente entre o Número Líquido de Respostas
Corretas e o Número Total de Respostas dadas pelo indivíduo. O mesmo pode assumir
valores compreendidos entre (- 100) e 100 e permite conhecer a eficiência do sujeito, afe-
rindo o nível de controlo de impulsividade do mesmo, no momento de execução do teste
(Thurstone & Yela, 2019).
Doseamento de Cortisol Salivar: De acordo com Guerreiro e seus colaboradores (2021),
o cortisol é considerado um dos mais significativos e fiáveis indicadores de ansiedade, na
medida em que a quantidade desta substância pode aumentar em poucos minutos após um

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evento de stress. Este consiste numa hormona glucocorticoide, sintetizada pelas glândulas
suprarrenais e ativada pelo eixo Hipotálamo-Hipófise-Suprarrenal, o qual se constituí como
a pedra basilar da resposta ao stress.
Relativamente ao cortisol salivar, o mesmo representa somente a fração bioativa,
sendo a sua concentração independente do fluxo salivar. O seu doseamento consiste num
método não invasivo, que prima pela simplicidade de colheita e pela elevada sensibilidade
e precisão, apresentando uma excelente aceitabilidade entre os pacientes (Júnior, 2012).
No que se refere aos intervalos de referência determinados para o cortisol salivar,
encontra-se alguma divergência no âmbito da literatura científica, tendo-se considerado
o estudo de Miller e seus colaboradores (2016), que, após revisão da literatura científica,
indicam como intervalos de referência: 0-0,736 µg/dL, no período entre as 06H00 e 10H00;
0-0,252 µg/dL, no período entre as 16H00-20H00; e 0-0,274 µg/dL, no período entre as
23H30 e 00H30 (as cited in Guerreiro et al., 2021).
Neste contexto, recorreu-se à utilização do kit Salivette, providenciado por um labora-
tório de análises clínicas parceiro, que se responsabilizou igualmente pelo processamento
e análise das amostras recolhidas, por meio da técnica de imunoensaio por eletroquimiolu-
miniscência (ECLIA).
Jogo MATRIZ: instrumento analógico de estimulação cognitiva, desenvolvido pela autora
Marlene Rosa e coautora Susana Lopes. O mesmo constitui-se como uma ferramenta de
avaliação, monitorização e reabilitação das FE em idosos, tendo a sua construção tido por
fundamento a Frontal Assessment Battery. O jogo em análise é composto por um conjunto
de 10 barras de Montessori, de cores e dimensões distintas, bem como por um dossier or-
ganizado segundo as 3 habilidades executivas principais.
Por sua vez, cada componente das FE é constituída por um número distinto de desafios,
bem como por grelhas de registo do desempenho da pessoa idosa nas diferentes atividades.
No âmbito do presente estudo, procedeu-se somente à aplicação do domínio de CI do
jogo MATRIZ. O mesmo é composto por desafios agrupados em 2 níveis de dificuldade,
nomeadamente, o primeiro nível, constituído por 10 fichas técnicas, nas quais é ilustrado o
conjunto de barras a utilizar no exercício. De seguida, é solicitado à pessoa idosa que as
selecione corretamente, a partir das 10 barras de Montessori de que dispõe, e que as orga-
nize, de modo a demarcar somente a área total da figura a cinza que lhe é apresentada na
ficha técnica (Figura 1).

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Figura 1. Fichas Técnicas do Nível I e II de Dificuldade da Habilidade de CI do jogo MATRIZ.

Relativamente ao segundo nível, este é composto por 10 fichas técnicas, nas quais é
ilustrada a totalidade das 10 barras de Montessori de que dispõe. Seguidamente, é-lhe apre-
sentada a ilustração de uma figura com as cores das barras trocadas, devendo o utilizador
apenas tomar atenção à dimensão, negligenciado a cor respetiva.

Procedimentos Formais e Éticos

Primeiramente, elaborou-se um protocolo de investigação, de acordo com as regras e


normas da Comissão Nacional de Proteção de Dados, e realizou-se um pedido de parecer
pela Comissão de Ética do Politécnico de Leiria, que aprovou o estudo apresentado. A acres-
cer a este facto, realizou-se um pedido de autorização formal à diretora técnica da instituição
residencial em causa, tendo a mesma autorizado a implementação do estudo.
Por último, elaborou-se um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que foi conce-
dido aos participantes do presente estudo. Assim, todas as pessoas idosas que optaram por
participar no estudo tomaram a sua decisão de forma intencional, voluntária e esclarecida.

Análise Estatística

Por meio de análise estatística descritiva, procedeu-se à caracterização sociodemo-


gráfica e clínica da amostra em estudo, bem como à descrição da sua condição cogniti-
va, dos níveis de stress por si experienciados e da sua capacidade de desempenho da
habilidade de CI.
Posteriormente, a partir da análise estatística inferencial, recorreu-se à utilização de
testes de hipóteses para estudar a relação entre a ansiedade e a aplicação do jogo MATRIZ,
bem como conhecer a adequação dos níveis de dificuldade do jogo em causa e definir a sua
validade como instrumento de avaliação da habilidade de CI.
De acordo com o Teste de Normalidade de Shapiro-Wilk, as variáveis dependentes
da presente investigação não apresentam distribuição normal. Relativamente ao estudo da
simetria da distribuição, observa-se que, para a variável dependente “Cortisol Salivar”, a

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distribuição é aproximadamente simétrica, pelo que se aplicou o Teste Não Paramétrico de
Wilcoxon, para comparar 2 grupos emparelhados.
Por oposição, para as variáveis dependentes “Pontuação Média nas Atividades do
jogo MATRIZ” e “Tempo Médio de Execução das Atividades do jogo MATRIZ”, a distribuição
é assimétrica, pelo que se aplicou o Teste Não Paramétrico dos Sinais, para comparar 2
grupos emparelhados. Por último, para avaliar o grau de correlação entre 2 variáveis, que
não apresentam uma distribuição normal dos dados, utilizou-se o coeficiente de Spearman.

RESULTADOS

Caracterização Sociodemográfica e Clínica da Amostra

A amostra em análise é composta por 7 pessoas idosas, sem deterioração cognitiva


severa conhecida, que se encontram institucionalizadas. Os mesmos apresentam idades com-
preendidas entre os 71 e os 87 anos, uma M de idades de 81,14 anos e um DP de 6,149 anos.
A acrescer a este facto, observa-se que o género feminino e o estado civil de viúvo
se assumem como os mais predominantes entre os participantes. Quando questionados
relativamente ao grau de escolaridade, compreende-se que a totalidade da amostra é alfa-
betizada (Tabela 1).

Tabela 1. Distribuição da Amostra quanto às Características Sociodemográficas e Clínicas.

n %
[70,74] 1 14,3
Idade [75,80] 2 28,6
[85,89] 4 57,1
Feminino 4 57,1
Género
Masculino 3 42,9
Viúvo 4 57,1
Estado Civil Casado 2 28,6
Divorciado 1 14,3
Ensino Básico Primário 4 57,1
Grau de Escola-
Ensino Médio 1 14,3
ridade
Ensino Superior 2 28,6
Especialista das Atividades Intelectuais e Científicas 2 28,6
Pessoal Administrativo 1 14,3
Profissão
Trabalhador dos Serviços Pessoais, de Proteção e Segurança e Vendedor 2 28,6
Trabalhador Não Qualificados 2 28,6
Doenças do Sistema Digestivo 1 14,3
Doenças do Sistema Musculoesquelético 3 42,9
Principal Proble-
Doenças dos Órgãos Sensoriais 1 14,3
ma de Saúde
Doenças do Sistema Nervoso 1 14,3
Doenças do Sangue ou dos Órgãos Hematopoiéticos 1 14,3

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Caracterização da Condição Cognitiva da Amostra

No âmbito da aplicação do 6CIT, a amostra obteve uma pontuação total média de 5,71
± 4,00, tendo a mesma assumido valores compreendidos entre 0 e 14, conforme apresentado
na Tabela 2. Considerando as pontuações totais obtidas e as habilitações literárias de cada
elemento, observa-se que 28,6% da amostra apresenta deterioração cognitiva.

Tabela 2. Caracterização da Amostra Face aos Resultados Obtidos no 6CIT.

Mínimo Máximo M DP
1. Em que ano estamos? 0 0 0 0
2. Em que mês estamos? 0 0 0 0
3. Que horas são (aproximadamente)? 0 0 0 0
Conte na ordem inversa de 20 para 1. 0 4 0,86 1,574
Diga os meses do ano na ordem inversa. 0 4 1,43 1,902
Repita a frase com o endereço/morada. 0 10 3,43 3,599
Pontuação Total 0 14 5,71 4,000

Caracterização dos Níveis de Stress Experienciados pela Amostra

De modo a determinar os níveis de stress experienciados pela população idosa ins-


titucionalizada, procedeu-se à análise estatística descritiva dos dados referentes ao do-
seamento de cortisol salivar pré-intervenção. Neste sentido, considerou-se a totalidade
das observações realizadas, independentemente do nível de dificuldade da atividade que
antecediam. A acrescer a este facto, considerando que as amostras de cortisol salivar fo-
ram colhidas em períodos distintos do dia, assumiu-se como premente analisar de forma
individual os dados referentes às avaliações realizadas no intervalo da manhã, assim como
os resultados relativos às aferições conseguidas no período da tarde.
Neste âmbito, observa-se que o valor médio de cortisol salivar no período da manhã,
considerando as 5 amostras colhidas, é de 0,253 ± 0,135 µg/dL, tendo a presente variável
assumido valores compreendidos entre 0,128 e 0,474 µg/dL. Tendo em conta que o inter-
valo de referência neste período é de 0-0,736 µg/dL, conclui-se que a totalidade dos indiví-
duos testados, no intervalo da manhã, apresenta uma concentração adequada de cortisol
salivar. Perante a ausência de um aumento da sua concentração, independentemente do
ritmo circadiano, infere-se a inexistência de um estímulo secundário, como o stress, entre
os sujeitos avaliados.
No que concerne ao período da tarde, tendo em conta as 9 avaliações realizadas,
verifica-se que o valor médio de cortisol salivar é de 0,162 ± 0,101 µg/dL. A acrescer a este
facto, a presente variável assume valores compreendidos entre 0,072 e 0,378 µg/dL, sendo
que 75% das amostras colhidas, no período da tarde, apresentam uma concentração de
cortisol salivar inferior a 0,229 µg/dL.

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A partir da análise da Tabela 3, observa-se que somente uma das observações rea-
lizadas, no intervalo da tarde, apresenta uma concentração de cortisol salivar superior ao
intervalo de referência considerado. Por conseguinte, 88,8% das amostras colhidas neste
período evidencia uma concentração de cortisol salivar adequada e, portanto, não compatível
com a vivência de níveis significativos de stress. Em suma, das 14 observações realizadas
ao longo da aplicação do presente estudo, verifica-se que 92,9% respeitam os intervalos
de referência considerados.

Tabela 3. Caracterização da Amostra Face aos Resultados de Doseamento de Cortisol Salivar.

n %
[0 ; 0,184] 2 40,0
[0,185 ; 0,368] 2 40
Período da Manhã
[0,369 ; 0,552] 1 20
(Valor de Referência: 0-0,736 µg/dL)
[0,553 ; 0,736] 0 0,0
[0,737 ; 0,920] 0 0,0
Cortisol
Salivar [0 ; 0,063] 0 0,0
(µg/dL) [0,064 ; 0,126] 4 44,4

Período da Tarde [0,127 ; 0,189] 2 22,2


(Valor de Referência: 0-0,252 µg/dL) [0,190 ; 0,252] 2 22,2
[0,253 ; 0,315] 0 0,0
[0,316 ; 0,378] 1 11,1

Caracterização do Desempenho da Habilidade de CI

No âmbito da aplicação do TPD, observa-se que os indivíduos em estudo apresen-


tam, em média, um ICI de 56,28 ± 35,489 pontos, tendo este parâmetro assumido valores
compreendidos entre 14,29 e 100 pontos. Por outro lado, 28,6% da amostra obteve um
ICI compreendido entre 76 e 100 pontos, valores, portanto, próximos da pontuação máxi-
ma possível neste item. Deste modo, conclui-se que a presente percentagem de sujeitos
demonstra um adequado controlo de impulsividade, sendo capaz de executar a tarefa pro-
posta de um modo reflexivo, sem negligenciar a realização correta da atividade a favor da
velocidade de execução.
Importa igualmente ressalvar que nenhum participante do estudo registou uma pon-
tuação reduzida no ICI, pelo que se infere que a globalidade da amostra não apresenta
um estilo impulsivo durante a realização da tarefa. Por conseguinte, a partir da análise dos
resultados obtidos no TPD, conclui-se que a amostra apresenta um adequado desempe-
nho da habilidade de CI, refletindo adequadamente aquando da elaboração de juízos de
semelhança/diferença.

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Influência da aplicação do jogo MATRIZ na ansiedade experienciada pela amostra

Perante a implementação da presente intervenção em 2 sessões distintas, consi-


derou-se adequado realizar análise estatística inferencial, de forma particularizada, por
meio da utilização dos dados colhidos em cada um dos momentos. Aplicou-se o Teste Não
Paramétrico de Wilcoxon, para comparar 2 grupos emparelhados, tendo-se concluído que
não existem diferenças estatisticamente significativas entre a concentração de cortisol salivar
pré-intervenção e a concentração de cortisol salivar pós-intervenção da população idosa
institucionalizada. Por conseguinte, a Hipótese 1: “A aplicação do jogo MATRIZ diminui a
ansiedade experienciada pela pessoa idosa institucionalizada” é rejeitada, de acordo com
o indicado na Tabela 4.

Tabela 4. Teste de Wilcoxon para Análise Estatística Inferencial da Hipótese 1, no Âmbito da Aplicação da Habilidade de
CI do jogo MATRIZ.
Concentração de Cortisol Salivar Pós-Intervenção (atividades do nível I
da habilidade de CI do MECM)
Concentração de Cortisol Salivar Pré-Intervenção (ativi-
Significância ρ= 0,061 Teste Z= - 1,873
dades do nível I da habilidade de CI do MECM)
Concentração de Cortisol Salivar Pré-Intervenção (ativi-
Significância ρ= 0,600 Teste Z= - 0,524
dades do nível II da habilidade de CI do MECM)

Influência da ansiedade experienciada no desempenho cognitivo da pessoa idosa


institucionalizada ao nível do jogo MATRIZ

Em consonância com a metodologia anteriormente adotada, considerou-se pertinente


testar a Hipótese 2: “A ansiedade experienciada não influencia a capacidade da pessoa ido-
sa institucionalizada em completar corretamente as atividades do jogo MATRIZ”, de forma
individualizada, através da utilização dos elementos colhidos em cada uma das 2 sessões.
Por conseguinte, considerando a variável dependente “Pontuação Média nas Atividades
do jogo MATRIZ”, aplicou-se o Teste Não Paramétrico dos Sinais, para comparar 2 gru-
pos emparelhados.
Deste modo, conclui-se que existem diferenças estatisticamente significativas entre a
pontuação média nas atividades do nível I de dificuldade da habilidade de CI, obtida pelo
conjunto de elementos com uma concentração de cortisol salivar pré-intervenção superior à
mediana (0,144 µg/dL), e a pontuação média nas atividades supracitadas do jogo MATRIZ,
obtida pelo grupo de indivíduos com uma concentração de cortisol salivar pré-intervenção
inferior à mediana. Destarte, a hipótese 2 em análise é rejeitada (ρ=0,031 < ρ=0,05).
Contrariamente, infere-se que não existem diferenças estatisticamente significativas
entre a pontuação média nas atividades do nível II de dificuldade da habilidade de CI, obtida
pelo conjunto de elementos intervencionados, no período da manhã e da tarde, com uma
concentração de cortisol salivar pré-intervenção superior à mediana (0,195 µg/dL e a 0,077

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µg/dL, respetivamente); e a pontuação média nas atividades supracitadas do jogo MATRIZ,
obtida pelo grupo de indivíduos, intervencionados no intervalo da manhã e da tarde, com uma
concentração de cortisol salivar pré-intervenção inferior à mediana (0,195 µg/dL e a 0,077
µg/dL, respetivamente). Em suma, a hipótese 2 em análise é aceite (ρ=0,125 e ρ=0,077 >
ρ=0,05), em consonância com o apresentado na Tabela 5.

Tabela 5. Teste dos Sinais para Análise Estatística Inferencial da Hipótese 2, no Âmbito da Aplicação das Atividades do
Nível I e II de Dificuldade da Habilidade de CI do jogo MATRIZ.

Concentração de Cortisol Salivar


N M DP ρ
Pré-Intervenção
Pontuação Média nas Atividades do Nível < 0,144 µg/dL 3 2,67 0,58
I de Dificuldade da Habilidade de CI do 0,031
MECM > 0,144 µg/dL 3 3,00 0,00

< 0,195 µg/dL 2 3,00 0,00


Avaliação no Perío-
Pontuação Média 0,125
do da Manhã
nas Atividades do > 0,195 µg/dL 2 2,67 0,47
Nível 1 de Dificul-
dade da habilidade < 0,077 µg/dL 2 2,67 0,47
Avaliação no Perío-
de CI do MECM 0,250
do da Tarde
> 0,077 µg/dL 1 3,00 0,00

No que concerne à Hipótese 3: “A ansiedade experienciada influencia o tempo de


resposta da pessoa idosa institucionalizada às atividades do jogo MATRIZ”, consideran-
do a variável dependente em análise “Tempo Médio de Execução das Atividades do jogo
MATRIZ”, procedeu-se à aplicação do Teste Não Paramétrico dos Sinais, para comparar 2
grupos emparelhados.
Respeitando a metodologia anteriormente adotada, conclui-se que existem diferenças
estatisticamente significativas entre o tempo médio de execução das atividades do nível I de
dificuldade da habilidade de CI, do conjunto de elementos com uma concentração de cortisol
salivar pré-intervenção superior à mediana (0,144 µg/dL), e o tempo médio de execução das
tarefas em causa do jogo, do grupo de indivíduos com uma concentração de cortisol salivar
pré-intervenção inferior à mediana (0,144 µg/dL). Por conseguinte, a hipótese em análise
é aceite (ρ=0,031 < ρ=0,05).
Por oposição, infere-se que não existem diferenças estatisticamente significativas
entre o tempo médio de execução das atividades do nível II de dificuldade da habilidade
de CI, do conjunto de elementos intervencionados, no período da manhã e da tarde, com
uma concentração de cortisol salivar pré-intervenção superior à mediana (0,195 µg/dL e a
0,077 µg/dL, respetivamente); e o tempo médio de execução das atividades em causa do
jogo, do grupo de indivíduos, intervencionados no intervalo da manhã e da tarde, com uma
concentração de cortisol salivar pré-intervenção inferior à mediana (0,195 µg/dL e a 0,077
µg/dL, respetivamente). Deste modo, a hipótese em análise é rejeitada (ρ=0,125 e ρ=0,077
> ρ=0,05), em consonância com o apresentado na Tabela 6.

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Tabela 6. Teste dos Sinais para Análise Estatística Inferencial da Hipótese 3, no Âmbito da Aplicação das Atividades do
Nível I e II de Dificuldade da Habilidade de CI do jogo MATRIZ.
Concentração de Cortisol Salivar
N M DP ρ
Pré-Intervenção
Tempo Médio de Execução das Atividades < 0,144 µg/dL 3 96,85 104,31
do Nível I de Dificuldade da Habilidade de 0,031
CI do MECM > 0,144 µg/dL 3 51,06 29,68

< 0,195 µg/dL 2 30,81 2,71


Tempo Médio Avaliação no Perío-
0,125
de Execução das do da Manhã
> 0,195 µg/dL 2 160,91 107,09
Atividades do Nível
II de Dificuldade da
< 0,077 µg/dL 2 95,20 99,27
Habilidade de CI do Avaliação no Perío-
0,250
MECM do da Tarde
> 0,077 µg/dL 1 72,33 0

Adequação dos Níveis de Dificuldade do Domínio de CI Jogo MATRIZ

Relativamente à Hipótese 4: “As atividades do nível II de dificuldade, do domínio


de CI do jogo MATRIZ, são mais complexas para a população idosa institucionalizada, do
que as tarefas do nível I de dificuldade, da habilidade de CI do jogo em causa”, aplicou-se
o Teste Não Paramétrico dos Sinais, para comparar 2 grupos emparelhados.
Por conseguinte, não existem diferenças estatisticamente significativas entre a pontua-
ção média obtida nas atividades do nível I de dificuldade (M=2,857; DP=0,378) e a pontua-
ção média obtida nas tarefas do nível II de dificuldade da habilidade de CI do jogo MATRIZ
(M=2,810; DP=0,325), pelo que a hipótese 4 é rejeitada (ρ=1,000 > ρ=0,05).

Validade de Utilização do Jogo MATRIZ como Instrumento de Avaliação do Desempenho


da Habilidade de CI

No que concerne à Hipótese 5: “A avaliação da habilidade de CI com o instrumento


TPD correlaciona-se positivamente com a avaliação realizada por meio da aplicação do
jogo MATRIZ”, procedeu-se à determinação do Coeficiente de Correlação de Spearman,
tendo-se aferido que a correlação entre as 2 variáveis em análise é moderada (rho= 0,540),
como indicado na Tabela 7.

Tabela 7. Correlação de Spearman.


Índice de Controlo de Impul-
N M DP ρ rho
sividade

Pontuação Média nas Atividades da < 57,14 4 2,71 0,39


0,211 0,540
Habilidade de CI do MECM > 57,14 3 3,00 0,00

DISCUSSÃO

Relativamente à caracterização cognitiva dos intervenientes, verificou-se que 28,6% da


amostra apresenta deterioração cognitiva. Os presentes dados não se encontram de acordo

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com o esperado, na medida em que Portugal se constitui como o quarto país da OCDE com
maior número de pessoas com demência por cada mil habitantes (OECD, 2017).
A acrescer a este facto, de acordo com um estudo conduzido pela União das
Misericórdias Portuguesas, 90% dos idosos institucionalizados em lar manifestam altera-
ções cognitivas, sendo que 78% dos mesmos apresentam um quadro demencial (Carvalho,
2019). A discrepância encontrada entre a literatura científica e os resultados obtidos encon-
tra-se potencialmente associada à técnica de amostragem utilizada, tendo-se definido, a
priori, como critério de exclusão, a manifestação de défice cognitivo severo.
No que concerne à caracterização dos níveis de stress da amostra, verificou-se que
os indivíduos possuíam valores adequados de concentração de cortisol salivar em 92,9%
das avaliações realizadas, o que não é compatível com a vivência de níveis significativos
de stress, causados por agentes fisiológicos e/ou emocionais. Conclusões distintas são
apresentadas por Bryant, Jackson e Ames (2008), que ressalvam que, embora se observe
menor presença de quadros diagnósticos relativos a ansiedade, a sintomatologia subclínica é
tendencialmente superior nesta população. Gomes (2016) acrescenta ainda que a diminuição
das perspetivas sociais e o declínio da condição geral de saúde neste período contribuem
para uma baixa autoestima e para o desenvolvimento de doenças mentais.
Por outro lado, no que diz respeito à aplicação do TPD, os sujeitos obtiveram, em média,
um ICI de 56,28 pontos, o que corresponde a um adequado desempenho da habilidade de
CI. Os mesmos são, assim, capazes de executar a tarefa proposta de um modo reflexivo,
sem negligenciar a realização correta da atividade a favor da velocidade de execução.
Contudo, os resultados não se encontram em consonância com a evidência científica,
que enaltece uma redução da eficácia dos mecanismos inibitórios, com um aumento da
dificuldade na supressão dos estímulos irrelevantes (Lopes, 2019). Diamond (2013) refere
que as presentes alterações tendem a conduzir a um aumento do tempo requerido para
produzir uma resposta adequada e da dificuldade de inibição de estímulos visuais e auditi-
vos acessórios. Assim, o observado pode dever-se ao facto da amostra utilizada ser pouco
representativa da população em análise.
Relativamente à Hipótese 1, não se verificou uma diminuição estatisticamente signi-
ficativa da concentração de cortisol salivar após a intervenção, relativamente ao seu valor
inicial. Contudo, tal não nos permite inferir que a aplicação do MATRIZ não diminua conside-
ravelmente a ansiedade experienciada pela pessoa idosa institucionalizada, na medida em
que os indivíduos possuíam uma concentração de cortisol salivar pré-intervenção adequada
em 92,9% das observações realizadas. Por outro lado, a dimensão reduzida da amostra
poderá ter contribuído igualmente para os resultados obtidos, uma vez que, segundo Rocha
(2018), a aplicação de jogos contribuí para melhorar a qualidade de vida das pessoas idosas,

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diminuindo o stress, a angústia e a ansiedade. Por outro lado, a prática de atividades de
lazer promove a independência e a autonomia do indivíduo, contribuindo positivamente
para o bem-estar psicológico e para o desenvolvimento de uma visão mais positiva sobre si
próprio, dos outros e da vida (Tavares, 2007; Fleurí et al., 2013).
No que concerne à Hipótese 2 e 3, obtiveram-se resultados contrários, relativos à
influência de uma concentração de cortisol salivar pré-intervenção superior à mediana na
pontuação obtida e tempo médio de execução das atividades do MATRIZ. Contudo, tal não
nos permite inferir que a ansiedade experienciada não influencia o desempenho cognitivo
da pessoa idosa institucionalizada, considerando os motivos expostos anteriormente.
Derakshan e Eysenck (2009) apresentam resultados opostos, ressalvando que, por
meio da produção de efeitos nefastos ao nível do controlo da atenção, a ansiedade afeta as
funções cognitivas que se encontram dependentes deste, como o CI.
No que concerne à Hipótese 4, conclui-se que não existem diferenças estatisticamente
significativas entre a pontuação média obtida nos diferentes níveis de dificuldade da habilida-
de de CI, do jogo MATRIZ, pelas pessoas idosas. Deste modo, embora tal não se encontre
em consonância com a existência de tarefas de complexidade distinta entre os dois níveis
de dificuldade, importa ter presente a dimensão pouco representativa da amostra utilizada.
Por último, no que respeita à Hipótese 5, aferiu-se que a correlação entre a pontuação
média nas atividades da habilidade de CI do jogo MATRIZ e o ICI do TPD é moderada. Os re-
sultados obtidos evidenciam, assim, o potencial do jogo enquanto instrumento de avaliação
das funções executivas em idosos institucionalizados.
De acordo com a literatura científica, o jogo, além de se assumir como uma impor-
tante ferramenta de estimulação cognitiva, pode ser utilizado como um sistema de aferição
neuropsicológica, que permite superar as principais limitações associadas aos testes de
avaliação tradicionais (Valladares-Rodriguez et al., 2017; Noda, Shirotsuki & Nakao, 2019).

CONCLUSÃO

O presente estudo pretendeu identificar a relação entre a ansiedade e o desempe-


nho das habilidades de CI pela população idosa institucionalizada, por meio da aplicação
do instrumento MATRIZ, bem como aferir a adequação dos seus níveis de dificuldade e a
validade de utilização do jogo em causa como instrumento de avaliação do desempenho
das FE pelos mesmos.
Embora os resultados não evidenciem a influência do desempenho cognitivo no MATRIZ
nos níveis de ansiedade experienciados pela população em causa, nem a influência da ansie-
dade no tempo de execução e na pontuação obtida nos desafios, estes devem ser analisados
com precaução, na medida em que a amostra possuía uma concentração de cortisol salivar
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pré-intervenção adequada, respeitando os intervalos de referência, em 92,9% das observa-
ções realizadas. Por outro lado, embora os resultados não demonstrem a adequação dos
níveis de dificuldade do MATRIZ, deve-se ter em consideração a dimensão pouco represen-
tativa da amostra utilizada, bem como a seleção da mesma por conveniência. Por último, de
enaltecer o potencial de utilização do MATRIZ, enquanto instrumento de avaliação das FE.
Em suma, considera-se que o presente estudo apresenta interesse científico, ainda
que a extrapolação dos resultados se encontre condicionada pelos motivos anteriormente
apresentados. Em estudos futuros, será relevante a utilização de amostras mais amplas e
heterogéneas, bem como a definição, como critério de inclusão, da vivência conhecida de
estados de ansiedade pelos participantes.

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03
A IMPORTÂNCIA DA CAPACITAÇÃO DOS
PROFISSIONAIS DE SAÚDE NA PRESTAÇÃO DE
CUIDADOS AOS DOENTES COM NECESSIDADES
PALIATIVAS: REVISÃO SISTEMÁTICA DA
LITERATURA

Rui Miguel Tavares Correia


Unidade de Cuidados na Comunidade Infante. ACES
Barlavento, Lagos, Portugal.

Ana Maria Grego Dias Sobral Canhestro


Escola Superior de Saúde. Instituto Politécnico de Beja,
Beja, Portugal.

Maria da Graça Fernandes Pedro


Unidade de Cuidados na Comunidade Rîbat. ACES
Barlavento, Aljezur, Portugal.

©Autor(es) (ou seu(s) empregador(es)) e RIASE 2020. Reutilização permitida de acordo com CC BY-NC. Nenhuma reutilização comercial.
©Author(s) (or their employer(s)) and RIASE 2020. Re-use permitted under CC BY-NC. No commercial re-use.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/230513079
RESUMO

Introdução: A falta de conhecimentos dos profissionais de saúde em Cuidados Paliativos


constitui uma das maiores barreiras no acesso dos doentes a estes cuidados. Aumentar a for-
mação e a capacitação dos profissionais é considerado pelas entidades internacionais como
um eixo prioritário de atuação, de modo a reduzir uma das maiores disparidades mundiais: a
desigualdade no acesso aos Cuidados Paliativos. O objetivo desta revisão é avaliar se a ca-
pacitação dos profissionais de saúde em Cuidados Paliativos contribui para um aumento das
competências na abordagem ao doente com necessidades paliativas e identificar que tipos
de programas de intervenção foram utilizados para promover essa capacitação. Métodos:
Foi realizada uma pesquisa nas bases de dados da PubMed e EBSCOhost (CINAHL plus
with full text, Medline with full text, MedicLatina e na ERIC), no período compreendido en-
tre 2016-2021. Foram encontrados 508 artigos tendo sido incluídos 6 artigos para revisão
final. Os artigos foram submetidos a avaliação da qualidade metodológica segundo as re-
comendações do Instituto Joanna Briggs. Resultados: Em todos os artigos os profissionais
foram submetidos a programas específicos de formação em Cuidados Paliativos e em todos
eles verificou-se aquisição de novos conhecimentos e competências com aplicação na prá-
tica clínica diária. Conclusão: Os programas de formação contribuíram para o aumento de
novas competências na abordagem ao doente/família com necessidades paliativas.

Palavras-chave: Cuidados Paliativos, Capacitação, Competências, Formação, Profis-


sionais de Saúde.
INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional é uma realidade global, que tem contribuído para o


aumento do número de doenças crónicas com forte impacto na qualidade de vida dos cida-
dãos. As previsões apontam para que em todo o mundo o envelhecimento populacional e
o aumento das doenças não transmissíveis aumentarão em mais de 100 milhões em 2060,
contribuindo assim para um aumento dos níveis de sofrimento desnecessário e maiores
necessidades de Cuidados Paliativos [CP](1).
As estimativas mundiais recentes referem que mais de 56,8 milhões de pessoas ne-
cessitam de CP. Destes, estima-se que 31,1 milhões de pessoas necessitem numa fase
precoce da doença e 25,7 milhões de pessoas precisam destes cuidados no último ano de
vida. Um dado preocupante é que estes cuidados, a nível mundial só chegam a 14% das
pessoas que precisam(2).
Este problema tende a agudizar-se, a carga de sofrimento grave relacionada com pro-
blemas de saúde que necessitarão destes cuidados duplicará de 2016 a 2060. Estima-se que
as mortes com problemas de saúde graves aumentarão de 45% para 47%, representando
22 milhões de mortes, um aumento de 87% em termos de sofrimento significando que mais
de 48 milhões de pessoas em todo o mundo morrerão em sofrimento grave(1).
Atualmente uma das maiores barreiras no acesso dos doentes a estes cuidados deve-se
aos profissionais de saúde, nomeadamente, os poucos conhecimentos revelados acerca do
seu conceito e do seu âmbito de atuação, bem como um conjunto de crenças e estigmas
acerca dos mesmos. Outra das conclusões a que os autores chegaram foi a falta de prepa-
ração dos profissionais de saúde em lidar com os doentes em fim de vida, as dificuldades
que estes apresentam em falar acerca da paliação e na obstinação terapêutica. Esta revisão
alerta para a importância da formação dos profissionais de saúde sobre CP, sendo prioritário
para que se consiga uma referenciação precoce dos doentes com necessidades paliativas(3).
No estudo acerca das percepções que os profissionais de cuidados de saúde primários
têm sobre as barreiras e os fatores facilitadores para a prestação de CP foram identificadas
como principais barreiras, a falta de competências e habilidades na gestão do controlo sin-
tomático, desconforto em falar sobre estes cuidados e o desconforto emocional em abordar
os temas relacionados com a morte e o morrer. Como fatores facilitadores os profissionais
indicaram: a necessidade de formação e de aumentar o grau de conhecimento nesta área
específica. Defendem que se deve melhorar a comunicação entre os profissionais, com as
equipas especializadas de CP, com os doentes e famílias e a necessidade de promover treino
básico aos profissionais de modo a contribuir para a melhoria da prestação de cuidados na
abordagem ao doente com necessidades paliativas(4).

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Em resposta a estes problemas a European Association for Palliative Care [EAPC], em
2004 criou uma task force com o objetivo de criar um conjunto de diretrizes para preparar os
enfermeiros para a prática de CP. O documento considerou que as preparações académicas
e clínicas dos enfermeiros deveriam ser estruturadas em três níveis. Recomendam que os
alunos devem ter contacto com o treino em CP, durante o curso base. Para os profissionais
que já estejam a exercer devem ser disponibilizados cursos pós-graduados. Apesar de, na
época, ter sido considerado um documento relevante e útil faltam estudos que demonstrem
a eficácia e o impacto do programa. Mais tarde foram criadas várias comissões que englo-
baram outros grupos profissionais, nomeadamente, médicos, psicólogos, assistentes sociais,
fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e capelões. Estes trabalhos permitiram reformular
os currículos académicos dos cursos de Medicina, Enfermagem, Psicologia e mais recen-
temente os de Serviço Social(5,6).
Em 2013 a EAPC desenvolveu um guia orientador sobre a educação em CP, onde
reafirma que todos os profissionais de saúde devem ser capazes de prestar CP adequados,
independentemente do contexto de saúde onde estão inseridos. Para tal é preciso desen-
volver aptidões através do treino, de modo a responder aos desafios e necessidades dos
doentes/famílias garantindo desta forma o mais elevado padrão de cuidados(6).
A World Health Organization [WHO] vem alertando para a necessidade destes cuidados
chegarem a um maior número de cidadãos. Em 2014 na sexagésima sétima Assembleia
Mundial da Saúde, apelou para a importância dos sistemas de saúde de cada país integra-
rem os CP como resposta ao sofrimento evitável. Defende que a formação básica nesta
área deve ser parte integrante dos cursos de Medicina e Enfermagem. Realçam ainda a
importância de promover o treino formativo e contínuo básico, intermédio e avançado aos
profissionais de saúde(7).
Atualmente a EAPC defende três níveis de educação: a abordagem paliativa, que en-
globa métodos e procedimentos de CP em contexto de cuidados gerais; CP gerais, indicado
para os profissionais que lidam com doentes com doenças potencialmente fatais; CP es-
pecializados, indicado para os profissionais que trabalham exclusivamente neste contex-
to específico(6).
Apesar dos organismos internacionais reconhecerem a importância da educação e
de treino existem poucos dados na literatura que permitam analisar o grau de eficácia dos
programas formativos como agente de mudança na prática diária dos profissionais de saúde,
razão pela qual se justifica a pertinência da temática.

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METODOLOGIA

A questão de investigação que esteve na base desta revisão sistemática foi: A capaci-
tação dos profissionais de saúde em CP contribui para o aumento das competências clínicas
na abordagem ao doente com necessidades paliativas?
Os objetivos a que nos propomos são: Identificar se a formação/capacitação dos pro-
fissionais de saúde em CP representa um aumento das competências destes e descrever
os tipos de programas de intervenção que foram utilizados para promover essa capacitação.
De modo a orientar a pesquisa aplicámos o método PI(C)O – População, Intervenção,
Comparação e Outcome, de acordo com o Systematic Review Resouce Package de Joanna
Briggs Institute [JBI](8). A população foi constituída por profissionais de saúde; intervenção –
capacitação dos profissionais através de programas de formação/treino em CP; comparação
– diferentes tipos de treino/formação; outcome - aumento de competências dos profissionais
de saúde na abordagem ao doente com necessidades paliativas e que tipos de intervenção
foram utilizados para promover essa capacitação.
Tendo por base a metodologia JBI definidos como critérios elegíveis para inclusão
nesta revisão: tipo de participantes - participantes com idade igual ou superior a 19 anos
e profissionais de saúde; tipo de intervenção – estudos que incluíam intervenção com a
respetiva avaliação do impacto dos programas formativos sobre a população estudada;
tipo de resultados – estudos que apresentassem qual o impacto dos programas formativos
que conduzem a uma melhoria da capacitação dos profissionais de saúde; tipo de estudos
– estudos quantitativos e qualitativos realizados entre 2016 e 2021, publicados em língua
inglesa, espanhola e portuguesa.
Excluíram-se os estudos em que o tipo de participantes - apresentavam idade inferior
a 19 anos e eram estudantes de Medicina e de Enfermagem; tipos de intervenção - excluí-
ram-se todos os estudos que não apresentavam qual o programa formativo implementado;
tipo de resultados – não ocorresse a avaliação do impacto dos programas de intervenção
realizados, assim como, a não descrição da forma como esse impacto foi monitorizado; tipo
de estudos – literatura cinzenta, livros, estudos empíricos, documentos oficiais, abstracts e
revisões narrativas.

Estratégia de pesquisa

A pesquisa foi realizada no 2 de abril de 2021. As bases de dados utilizadas para


responder à questão de investigação foram a PubMed (National Center for Biotechnology
Information) e na plataforma EBSCOhost, nomeadamente a CINAHL plus with full text, a
Medline with full text, a MedicLatina e a ERIC. Foram utilizados como limitadores: texto

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integral e de acesso livre, analisado por pares, data de publicação nos últimos 5 anos (2016-
2021), publicados em inglês, português e espanhol.
As palavras utilizadas foram validadas de acordo com a terminologia MeSH. Foram usa-
dos os descritores combinados com o operador boleano “AND” da seguinte forma: “Palliative
Care” AND “Training” AND “Health Personnel”. O processo de seleção dos artigos foi efe-
tuado por dois revisores.
O processo de seleção encontra-se representado no diagrama PRISMA flow
diagram (Figura 1).

Figura 1. PRISMA Flow Diagram do processo de seleção de artigos9.

Avaliação da qualidade metodológica

Após o processo de seleção, os seis artigos foram submetidos à avaliação metodo-


lógica, usando o instrumento de avaliação crítica padronizado do JBI - Checklist for Quasi-
Experimental Studies e Critical Appraisal Checklist for Cohort Studies. Todos os artigos
apresentaram uma qualidade moderada a elevada (tabela 1).

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Tabela 1. Avaliação da qualidade metodológica.

Avaliação de qualidade metodológica


Qualidade/recomendação
Estudo Nível de evidência JBI
metodológica JBI
A1. Weil, A. , et al. (2018)(10) Quase-experimental de métodos mistos 2b(16) 7
A2. Dehghani, F., et al. (2020)(11) Quase-experimental 2b(16) 7
A . Kolben, T., et al. (2018)
3 (12)
Quase-experimental 2d (16)
5
A4. Lefkowits, C., et al. (2019)(13) Quase-experimental 2b(16) 7
A . Brezis, M. et al. (2017)
5 (14)
Quase-experimental 2b (16)
8
A6. Henselmans, I., et al. (2019)(15) Randomizado controlado 1c(17) 10

RESULTADOS

Os dados dos artigos incluídos foram extraídos por dois revisores, recorrendo ao Joanna
Briggs Method for Systematic Review Research Quick Reference Guide(8). Os dados extraí-
dos encontram-se resumidos na tabela 2, com a identificação do estudo, objetivo do estudo,
número total de participantes, resultados e conclusões.
Os estudos incluídos nesta revisão decorreram maioritariamente em contexto europeu,
mais especificamente no Reino Unido (A1), Alemanha (A3), Israel (A5) e Holanda (A6). Os ou-
tros dois estudos ocorreram no Irão (A2) e nos Estados Unidos da América (A4). Dos seis
artigos elegíveis um foi realizado no ano de 2017 (A5), dois em 2018 (A1 e A3), dois em 2019
(A4 e A6) e um em 2020 (A2). Relativamente à orientação metodológica obtiveram-se cin-
co estudos quase-experimentais (A1, A2, A3, A4) – elevado nível de evidência e um estudo
randomizado controlado (A6) de elevado nível de evidência. No que se refere à qualidade
metodológica existe um estudo de qualidade moderada (A3) e cinco estudos (A1, A2, A4, A5 e
A6) de qualidade elevada.

57
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Tabela 2. Síntese de dados.

Resumo das características gerais dos estudos

Identificação do estudo Objetivo do estudo Número total de participantes Intervenções Resultados Desenho do estudo Conclusões
A1. A new approach to multi-pro- Investigar a eficácia de um pro- 57 participantes, dos quais 26 Treino de simulação sequencial Todos os participantes melhoraram Estudo de métodos mistos. O estudo mostrou benefício en-
fessional end of life care training grama de treino para melhorar médicos, 14 enfermeiros e 17 composto por três cenários ilus- os níveis de confiança perante os tre as disciplinas no uso do (SqS
using a sequential simulation (SqS a confiança dos profissionais de terapeutas. trativos dos cuidados hospitalares doentes em fim de vida. As diferen- Simulation™) como treino na
Simulation™) design: A mixed me- saúde e das equipas multidiscipli- prestados aos doentes em fim de ças foram consideradas altamente identificação e planeamento de
thods study. nares que prestam cuidados em vida. significativas para os médicos e sig- cuidados no final de vida.
fim de vida. nificativas para os terapeutas. Verificou-se uma melhoria geral
na confiança da equipa multipro-
fissional assim como permitiu de-
senvolver maiores conhecimen-
tos ao nível do planeamento
e metas, na comunicação e no
trabalho em equipa.
A2. Effect of palliative care trai- Determinar o efeito dos CP na 40 Participantes (enfermeiros) do Workshop em CP composto por Os resultados demonstraram que Estudo quantitativo O estudo concluiu que um pro-
ning on perceived self-efficacy of perceção da autoeficácia dos en- hospital Imam Jafar Sadegh. quatro sessões educacionais: existiu uma melhoria significativa grama de formação em CP tem
the nurses. fermeiros. I- Conceito, princípios e objetivos após a intervenção ao nível da au- o potencial de aumentar a per-
dos CP; toeficácia percebida, do apoio psi- ceção da autoeficácia dos enfer-
II- Controlo da dor; cossocial e na gestão dos sintomas. meiros.
III- Controlo de sintomas predo-
minantes em fim de vida:
IV- Comunicação em CP.
A3. Evaluation of an interdiscipli- Avaliar o efeito de uma formação 31 Participantes (médicos e en- Treino em CP composto por qua- Foi observada uma atitude mais Estudo quantitativo A formação interna melhora a
nary palliative care piloto em CP para oncologistas gi- fermeiros) do Hospital Universi- tro módulos: aspetos psicológicos positiva em relação aos CP. Os compreensão e a abordagem
Inhouse training for professionals necológicos. tário de Munique. da comunicação; tratamento da participantes sentiram-se mais interdisciplinar na gestão de pa-
in gynecological oncology. dor oncológica; diretivas anteci- competentes e com maiores conhe- cientes com doença avançada. É
padas de vontade; controlo de cimentos de todas as áreas paliati- um instrumento exequível e útil
sintomas frequentes no utente vas, permitindo dar uma resposta para melhorar as competências
de ginecologia com patologia diferente quando na presença de em CP dos especialistas em on-
oncológica. um doente paliativo. Os CP seriam cologia ginecológica.
iniciados mais cedo do que verifi-
cado até então.

58
Resumo das características gerais dos estudos

Identificação do estudo Objetivo do estudo Número total de participantes Intervenções Resultados Desenho do estudo Conclusões
A4. Gynecologic oncology provi- Desenvolver e testar o treino 20 Participantes (médicos). Workshop de habilidades de A proporção de participantes que Estudo quantitativo O workshop permitiu aos partici-
ders endorse practice-changing de habilidades de comunicação comunicação baseado em role- se sentiam mais do que “um pouco pantes receberem formação de
impact of communication skills (workshop) para oncologistas gi- playing com destaque para a preparados” melhorou significativa- alta qualidade para a mudança de
training. necológicos. transmissão de más noticias. mente em todas as áreas de comu- práticas. Os participantes relata-
nicação avaliadas. Um mês após o ram uma melhoria sustentada e
workshop, 93% usaram as técnicas estatisticamente significativa na
de comunicação pelo menos sema- preparação para lidar com tarefas
nalmente. As taxas de impacto de de comunicação desafiadoras. O
mudança de prática foram superio- treino de habilidades comunica-
res a 75%. cionais é viável, com altas taxas
de eficácia e com impacto na prá-
tica clínica. O estudo recomenda
que o workshop em comunicação
deve ser integrado no treino dos
oncologistas ginecológicos.
A5. What can we learn from simu- Desenvolver e executar um 1324 Profissionais de saúde (mé- Intervenção educacional baseada Os dados dos questionários de- Estudo qualitativo O treino baseado em simulação
lation-based training to improve workshop baseado em simulação dicos, enfermeiros, assistentes no treino de simulação em habili- monstraram falta de treino, conhe- é um método interessante e pro-
skills for end-of-life care? Insights para melhorar as competências sociais, psicólogos clínicos, nu- dades de comunicação. Os temas cimento e tempo, uso excessivo de missor para melhorar a qualidade
from a national project in Israel. dos profissionais nos cuidados tricionistas, fisioterapeutas) abordados foram a discussão so- tecnologia, incerteza nas tomadas dos cuidados em fim de vida.
em fim de vida. bre as preferências do doente em de decisão, pouca habilidade comu- Ao enfrentar situações de fim
fim de vida e da família; gestão nicacional e trabalho em equipa. de vida, médicos e enfermeiros
de conflitos entre os familiares e Os participantes reconheceram a usam a linguagem cognitiva com
com as equipas; conspiração do necessidade de melhorar as ha- muito mais frequência do que
silêncio. bilidades da escuta ativa, atenção expressões relacionadas com as
ao afeto e o trabalho em equipa. emoções, escuta ativa ou presen-
Referiram ainda que o workshop ça do silêncio. O treino pode ser
baseado em simulação melhorará valioso para induzir uma mudan-
os cuidados em fim de vida. ça cultural nos cuidados em fim
de vida.
A6. Training for Medical Oncolo- Analisar qual o efeito que o treino 31 Médicos oncologistas que tra- Treino baseado no modelo de O treino teve um efeito significativo Estudo quantitativo O estudo concluiu que o treino de
gists on Shared D ecision-Making tem sobre a tomada de decisão tavam de pacientes com tumores tomada de decisão partilhada. nas tomadas de decisão partilhada habilidades nas tomadas de deci-
About Palliative Chemotherapy: A partilhada, para médicos oncolo- metastáticos ou inoperáveis em Consistiu em técnicas de mudan- observado nas consultas simuladas são partilhada foi eficaz e muito
Randomized Controlled Trial. gistas, comparado com a prática departamentos de oncologia mé- ça de comportamentos, através (grupo experimental em compara- apreciado pelos participantes. As
padrão. dica na Holanda. da modelagem (vídeos sobre o ção com o grupo controlo). habilidades e as estratégias en-
tratamento sistémico paliativo) O treino melhorou os comporta- sinadas apoiam os oncologistas
e da prática (role-playing). mentos e as habilidades na trans- na prestação de cuidados centra-
missão de informações dos oncolo- dos no utente. Este estudo prova
gistas, nas habilidades relacionadas que treinar oncologistas médicos
com o antecipar/responder às emo- sobre o tratamento sistémico pa-
ções e a satisfação com a consulta. liativo é viável e melhora signifi-
cativamente as suas habilidades.

59
DISCUSSÃO

O principal objetivo desta revisão era encontrar estudos primários que avaliassem o
impacto dos programas formativos na prática diária dos profissionais de saúde em resposta
às necessidades paliativas dos utentes. É notória a preocupação existente em relação a esta
temática, uma vez que todos os estudos analisados concluíram a eficácia dos programas
formativos como resposta ao aumento das necessidades paliativas da população decorrente
do envelhecimento populacional.
Verificamos que todos os estudos, desenvolveram programas específicos de treino,
seja workshops ou treinos de simulação, variando entre a formação de curta duração, de
apenas 2 dias (A2 e A4), até programas de treino em que se verificou um acompanhamento
dos profissionais, 1 mês (A4), 3 meses (A3) ou 4 meses (A6) após a formação. Todos estes
estudos consideraram que a capacitação dos profissionais de saúde conduz a mudanças no
comportamento destes permitindo assim uma melhoria da qualidade dos cuidados prestados
aos doentes com necessidades paliativas.
No estudo A4, os profissionais pensavam que tinham uma preparação melhor do que de
facto tinham. Após a formação, os profissionais reconheceram que tinham muitas limitações
nas habilidades de comunicação com os doentes. Esta formação teve um impacto superior
a 75%, sendo que um mês depois verificou-se que essas novas aquisições foram utilizadas
com regularidade na prática clínica diária (93%). Estas conclusões vão ao encontro do estudo
realizado por Chang et al. (18) que concluiu que o grupo experimental submetido a formação
específica em CP apresentou uma resposta muito mais eficiente nos cuidados prestados
aos doentes em fase terminal do que o grupo de controlo que não teve acesso a nenhum
programa formativo. Já o estudo de Gunten et al. (19)
demonstrou que os profissionais de
saúde submetidos a formação prática em conjunto com suporte teórico melhoraram em cerca
de 10%, após quatro semanas, os seus conhecimentos e habilidades comunicacionais em
CP. Importa destacar o facto dos programas formativos se encontrarem direcionados para
uma vertente mais prática e não tanto teórica, tal facto, é sustentado pelo estudo de Fischer
et al.(20) que concluiu que disponibilizar unicamente uma abordagem teórica não teve um
efeito significativo na melhoria do conhecimento e na mudança de atitudes dos profissionais
de saúde em relação aos cuidados em fim de vida.
A maioria dos estudos desenvolveu o treino na gestão dos sintomas (A2, A3), e na co-
municação (A1, A4, A5, A6). Nenhum dos estudos dirigiu a sua intervenção para o desenvol-
vimento de estratégias que facilitassem aos profissionais a identificação das necessidades
paliativas dos utentes. Consideramos que este é um problema atual e transversal a todos
os profissionais de saúde. De acordo com o estudo de Innis et al.(21) sobre a capacidade dos
profissionais de Cuidados de Saúde Primários em identificarem pessoas com necessidades
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paliativas concluiu que apenas 14,3% conseguiram identificar corretamente. Um fator im-
portante tem a ver com a familiarização dos profissionais de saúde com a área dos CP,
fator esse que pode ser facilitador na identificação e posterior referenciação para as equi-
pas especializadas. O estudo recomenda a necessidade de formação dos profissionais de
Cuidados de Saúde Primários e a promoção da comunicação entre esses cuidados e as
equipas de CP. Consideramos que este problema, aliado à falta de conhecimentos poderá
estar na origem dos utentes não acederem a estes cuidados. Os que recebem acabam por
aceder numa fase muito tardia da doença. Tal facto pode ser explicado pelo estudo de Allsop
et al. (22) que estima que, no Reino Unido anualmente cerca de 90000 pessoas com doença
crónica, avançada e progressiva poderiam beneficiar de CP, no entanto acabam por não ter
acesso aos mesmos. O estudo de Capelas et al. (23) vai no mesmo sentido ao concluir que,
em Portugal, no ano de 2018 as estimativas apontavam para cerca de 110000 pessoas a
necessitarem de receber CP, no entanto, apenas 25570 utentes acederam a estes cuida-
dos. A taxa de acessibilidade a estes serviços situou-se apenas nos 25%.
Verificamos que em três estudos existiu um fator predominante em termos de formação
dirigida aos médicos oncologistas (A3, A4 e A6), tal parece-nos ser importante e indicador de
uma necessária reflexão sobre os cuidados prestados aos doentes oncológicos em fim de
vida. De acordo com o estudo de Martins-Branco et al.(24) realizado em Portugal, concluiu
que 7 em cada 10 doentes oncológicos que morrem num hospital público foram sujeitos a
tratamentos excessivamente agressivos durante o ultimo mês de vida, aumentando desta
forma o sofrimento no fim de vida. Este estudo remete-nos para a importância de uma ne-
cessária formação deste grupo profissional de modo a inverter a escala do sofrimento com
elevado impacto na má qualidade de vida e perda da dignidade humana.
Em trabalhos futuros, consideramos importante existirem estudos que avaliem o impacto
da formação/treino em CP nos profissionais dos Cuidados de Saúde Primários. Segundo a
WHO, a maioria das pessoas com necessidades paliativas encontram-se na comunidade,
sendo que muitas delas preferem ficar em suas casas na última fase da vida. Seria importante
analisar se a formação e o treino desses profissionais em contexto comunitário se tornaria
relevante como forma de contrariar uma das maiores disparidades mundiais, a desigualdade
no acesso aos CP(25).

CONCLUSÃO

A presente revisão sistemática permite responder afirmativamente à questão de in-


vestigação, ou seja, a capacitação dos profissionais em CP representa uma mais-valia na
resposta aos doentes com necessidades paliativas. Concluímos que os profissionais de
saúde ganham se receberem formação específica nesta área, nomeadamente em termos de
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confiança em lidar com este tipo de doentes/famílias, nas tomadas de decisão partilhadas,
na melhoria da autoeficácia, nas habilidades de comunicação e no planeamento de metas
e objetivos realistas a estabelecer com o utente/família. Foi perceptível uma melhor interio-
rização da filosofia destes cuidados, uma resposta mais eficaz na gestão dos sintomas e na
redução da obstinação terapêutica. Os profissionais ficaram mais despertos para iniciar uma
abordagem paliativa o mais precoce possível antecipando, se for o caso, as referenciações
para as equipas de CP, evidenciando-se assim os ganhos em saúde.
No que diz respeito aos programas de intervenção concluímos que o treino de simulação
foi extremamente importante para a aquisição de novas competências revelando-se eficaz
e viável, o que contribuiu para a qualidade dos cuidados em fim de vida. Verificou-se que o
treino simulado e posterior análise reflexiva grupal contribuiu para uma maior importância do
trabalho em equipa, fundamental na resposta aos desafios dos doentes/famílias com neces-
sidades paliativas. Devem ser feitos esforços para aumentar a oferta formativa nesta área.
Consideramos como limitação os estudos terem sido realizados apenas em contexto
hospitalar, seria importante incluir os Cuidados de Saúde Primários para perceber se os
ganhos seriam similares.
Ao nível da investigação consideramos importante existirem estudos adicionais sobre
esta temática que fortaleçam estes resultados, ou que identifiquem novas intervenções mais
eficazes a incluir na resposta aos doentes/famílias com necessidades paliativas.

Contributos dos autores

RC: Desenho do estudo, pesquisa bibliográfica, avaliação da qualidade metodológica


dos artigos, discussão e redação do artigo.
AC: Coordenação, revisão, análise, discussão e redação do artigo. MP: Revisão, aná-
lise e discussão.
Todos os autores leram e concordaram com a versão publicada do manuscrito.

Responsabilidades Éticas

Conflitos de Interesse: Os autores declararam não possuir conflitos de interesse.


Suporte Financeiro: O presente trabalho não foi suportado por nenhum subsídio ou
bolsa. Proveniência e Revisão por Pares: Não comissionado; revisão externa por pares.

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04
ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS, CULTURAIS E
NUTRICIONAIS DE IDOSOS EM UM CENTRO DE
REFERÊNCIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL

Victória Viana Magalhães


Centro Universitário Inta (UNINTA)

Maria Leilah Monte Coelho Lourenço


Centro Universitário Inta (UNINTA)

Suélli Maria Carneiro Prado


Centro Universitário Inta (UNINTA)

Jorge Luís Pereira Cavalcante


Centro Universitário Inta (UNINTA)

'10.37885/230513124
RESUMO

Objetivo: Caracterizar o perfil nutricional, socioeconômico e cultural de idosos assistidos


por um Centro de Referência e Assistência Social. Métodos: Estudo transversal, descriti-
vo, quantitativo, com 18 idosos, de um serviço de convivência, Sobral, Ceará. Aplicou-se
questionário socioeconômico e cultural; Mini Avaliação Nutricional; e aferição de peso, al-
tura, circunferência da panturrilha e índice de massa corpórea, todas analisados pelo teste
t-Student, Teste Exato de Fisher e Regressão de Poisson, intervalo de confiança de 95%
(p<0,05), e programa estatístico R versão 4.0.2. Pelo Recordatório 24 horas determinou-se
macronutrientes, energia e fibras. Resultados: Observou-se: predominância de idosas;
69,05±7,03 anos; baixa renda e escolaridade; 94,44% com uma ou mais enfermidades; 50%
com índice de massa corpórea; e 38% desnutridos ou em risco nutricional. Houve correla-
ção significante (p=0,03) entre idosos negros/pardos com obesidade/sobrepeso; e pequena
associação entre acompanhamento nutricional com menores índices de obesidade/sobre-
peso. A relação circunferência da panturrilha e índice de massa corpórea com obesidade
foi positiva para adiposidade sistêmica. Dieta hipocalórica, baixa ingestão de proteínas e
fibras foram prevalentes entre os participantes. Conclusão: As características socioeconô-
micas podem afetar diretamente o estado nutricional do idoso e educação alimentar poderá
melhorar a qualidade da longevidade, mantendo avaliação nutricional de forma contínua,
principalmente em idosos que vivem sob vulnerabilidade social.

Palavras- chave: Estado Nutricional, Fatores Socioeconômicos, Saúde do


Idoso, Envelhecimento.
INTRODUÇÃO

O envelhecer surge a partir do processo natural do desenvolvimento humano, é inerente


à vida e possui características específicas em cada indivíduo. O envelhecimento conduz
modificações biológicas, psicológicas e sociais ao organismo que ficam cada vez mais evi-
dentes com o passar do tempo. Dessa forma, essa circunstância altera a vida dos indivíduos,
as famílias, a demanda por políticas públicas e a distribuição de recursos na sociedade
(PEREZ; TOURINHO; CARVALHO JÚNIOR, 2016).
O processo do envelhecimento é percebível em sua complexidade e capacidade de
ser influenciada por diversos fatores, ou seja, é um fenômeno multidimensional. Observa-se
que garantir uma melhor qualidade de vida para essa população é urgente mediante a atual
situação demográfica do Brasil. Assim, é fundamental pensar na saúde, no acompanhamento
psicoemocional, na inserção social, na garantia dos direitos políticos etc. dessa população
(SILVEIRA; PASQUALOTTI; COLUSSI, 2012; PINHEIRO; AREOSA, 2019).
Segundo especialistas, os idosos são mais vulneráveis a sofrer problemas nutricionais
(GALIOT; TORRADO; GONI, 2015). Partindo do pressuposto que a nutrição é essencial para
a saúde da pessoa idosa, as alterações fisiológicas, sociais e psicológicas do envelhecimento
são diretamente afetadas por ela, interferindo dessa forma na ingestão alimentar e no estado
nutricional do idoso (AHMED; HABOUBI, 2010).
Com o passar da idade, a ingestão alimentar tende a ser irregulares devido a alterações
no apetite. A combinação das alterações fisiológicas no envelhecer ocorre com o declínio no
olfato e paladar, diminuição do impulso nervoso central e periférico para comer, atraso no
esvaziamento gástrico, condições patológicas (doenças neurológicas, poli farmácia, agenesia
dental) e fatores sociais (pobreza, solidão) (WYSOKIŃSKI et al., 2015).
O nível socioeconômico, a capacidade funcional ativa e a independência cotidiana do
idoso são muitas vezes os principais indicadores do estado nutricional (DIAS, 2017). Avaliar
o estado nutricional e seus determinantes nesse público é assegurar um rastreio precoce à
desnutrição e garantir estratégias interventivas eficientes para o idoso e para o sistema de
cuidados da saúde, promovendo qualidade de vida e longevidade (MASEDA et al., 2016).
Considerando a vulnerabilidade que vem afetando a sociedade brasileira e tornando as
famílias e indivíduos cada vez mais desamparados, os Centros de Referência e Assistência
Social (CRAS) representam um meio que o Estado usa para se responsabilizar e prestar
assistência na proteção e formação da família. Entre os indivíduos assistidos, o idoso é in-
cluído através da percepção de que possuem vulnerabilidades peculiares, por ser objeto de
políticas públicas e um público que, pelas limitações da própria faixa etária, é mais suscetí-
vel de sofrer discriminação, negligência, maus tratos, abandono, dentre outros. Portanto, é

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necessário vivenciar e conhecer os desafios e possibilidades dos serviços prestados pelos
CRAS para os idosos (ARAÚJO SILVA; CARVALHO; ALMEIDA, 2017).
Fundamentado nas afirmativas expostas, surgem as seguintes indagações: O estado
nutricional dos idosos que frequentam algum Serviço de Convivência e Fortalecimento de
Vínculos está equilibrado? Mesmo estando nos parâmetros antropométricos adequados,
eles correm risco de desnutrição ou estão desnutridos? Existe correlação entre a vida social,
econômica e o estado nutricional desses idosos?
Há diversos estudos (LAIA et al., 2015; CONFORTIN et al., 2016; FONSECA, 2017;
FONTENELLE et al., 2018) que avaliaram o estado nutricional de idosos, sejam em âmbito
hospitalar ou institucionalizados. Entretanto, são escassas as investigações que estabelecem
um modelo multinível para identificar a desnutrição, os fatores sociais, os aspectos alimen-
tares e a classificação nutricional dos idosos que são assistencializados pelos CRAS. Tal
informação é útil para orientar profissionais e gestores de saúde, na formulação de ações
que promovam uma educação alimentar e nutricional para esse público.
O objetivo deste estudo foi caracterizar o perfil nutricional de idosos e seus determi-
nantes socioeconômicos e culturais de um Centro de Referência e Assistência Social de
Sobral, Ceará, Brasil.

MÉTODOS

Tratou-se de um estudo transversal, descritivo, quantitativo realizado no Centro de


Referência e Assistência Social Mimi Marinho, localizado em Sobral, Ceará, Brasil. A pesquisa
foi executada em 18 idosos, ambos os sexos, independente do estado de enfermidade, parti-
cipantes cadastrados no grupo de terceira idade do CRAS Mimi Marinho e de suas reuniões
(segundas e sextas-feiras das 09:00 às 10:00); residentes nos bairros de abrangência do
centro; e com capacidade e disponibilidade em responder às perguntas. A amostra planejada
seria de 60 indivíduos, porém metade não estava frequentando o centro por causa de uma
reforma na sala, inviabilizando os encontros e a participação no estudo. Além disso, devido
ao momento pandêmico da Covid-19, todas as atividades foram paralisadas a partir de abril
de 2020, sem data de retorno. Portanto, isso também foi um fator que limitou a coleta de
dados, considerado os idosos como grupo de risco. Foram excluídos os idosos cadastrados,
mas que não compareceram às reuniões, seja por motivos de viagem ou mudança de bairro
no momento da coleta de dados.
Inicialmente, foi necessária a apresentação do projeto para o gestor do CRAS Mimi
Marinho que foi receptivo e autorizou a execução da investigação científica na unidade por
meio de uma carta de anuência. O segundo momento constou de uma palestra informal sobre
o estudo, explicitando os procedimentos a serem realizados, os objetivos, os benefícios que
poderiam ser alcançados aos idosos do centro; e a justificativa da escolha do referido local.
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Os idosos, após serem informados verbalmente sobre a pesquisa, formalizaram a partici-
pação após lerem, concordarem e assinarem o Termo de Consentimento Livre Esclarecimento
(TCLE). Esse documento foi adaptado às características do público-alvo, com linguagem
própria e aumento do tamanho de letra, facilitando a compreensão. No caso dos idosos
analfabetos, o TCLE foi lido e explicado pela pesquisadora assistente, de modo que eles
entendessem e autorizassem a participação por marcação impressa da digital no papel.
O TCLE foi impresso em duas vias, onde uma ficou com o integrante e o outro com a
pesquisadora assistente. Foi explicado que a qualquer momento os idosos poderiam desis-
tir de participar da investigação, de acordo com a Resolução nº 466/2012 sobre “Pesquisa
Envolvendo Seres Humanos” do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde
(BRASIL, 2013). Além disso, foi informado que a manutenção da privacidade e sigilo da
identidade foi mantida no decorrer do estudo.
A coleta dos dados foi realizada nos meses de janeiro e fevereiro de 2020 pela pesqui-
sadora assistente (estudante do Curso de Bacharelado em Nutrição do 9º período e formanda
do primeiro semestre de 2020), supervisionada pelo nutricionista-docente do mesmo curso.
Foram utilizados três formulários: um para as informações sobre as características socioe-
conômicas e culturais; outro para as medidas antropométricas; e o terceiro para a triagem
nutricional pela mini avaliação nutricional - Mini Nutritional Assessment - MNA® (Nestlé,
Vevey, Switzerland). Após haver a palestra geral e o recolhimento dos termos assinados, a
estudante iniciou a coleta de dados.
A aplicação da MNA seguiu o protocolo descrito no “Guia para completar a Mini
Avaliação Nutricional”, cujos parâmetros de referência adotados para classificar o risco nu-
tricional foram: estado nutricional normal (≥ 12 pontos); risco de desnutrição (8 a 11 pontos)
e desnutrição (≤ 7 pontos) (NESTLÉ NUTRITION INSTITUTE, 2009). Os dados socioeco-
nômico e cultural foram obtidos por meio do Questionário Brazil Old Age Schedule - BOAS,
desenvolvido pela Universidade Aberta da Terceira Idade para estudos comunitários na
população idosa (VERAS; DUTRA, 2008).
A avaliação antropométrica foi realizada somente no segundo encontro, evitando so-
brecarregar os idosos e deixá-los cansados com muitas atividades em um único dia. As va-
riáveis usadas foram peso, altura e circunferência da panturrilha. As técnicas aplicadas nas
determinações de peso e altura seguiram as normas recomendadas pelo Ministério da Saúde
e a circunferência da panturrilha conforme preconizado pela Organização Mundial da Saúde
– OMS (WORLD HEALTH ORGANIZATION - WHO, 1995) e Ministério da Saúde (BRASIL,
2011). Dessa forma, o peso foi aferido com a balança ligada e zerada antes do indivíduo
posicionar-se sobre o equipamento; o idoso ficou parado no centro do equipamento, com
o mínimo de roupa possível, descalço, ereto, com os pés juntos e os braços estendidos ao
longo do corpo; e a leitura foi realizada após o valor do peso estar fixado no visor. Já para
aferição da altura, o indivíduo ficou descalço e com a cabeça livre de adereços, no centro

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do equipamento; de pé, ereto, com os braços estendidos ao longo do corpo, com a cabeça
erguida, olhando para um ponto fixo na altura dos olhos; a cabeça foi posicionada no plano
de Frankfurt (margem inferior da abertura do orbital e a margem superior do meatos audi-
tivo externo permanecendo em uma mesma linha horizontal); as pernas ficaram paralelas
e os pés formaram um ângulo reto com as pernas; houve encoste dos calcanhares, das
panturrilhas, dos glúteos, das escápulas e parte posterior da cabeça (região do occipital) no
estadiômetro; a parte móvel do equipamento foi baixada, fixando-a contra a cabeça, com
pressão suficiente para comprimir o cabelo; e realizou-se a leitura da estatura, sem soltar a
parte móvel do equipamento (WHO, 1995; BRASIL, 2011).
A mensuração do peso e da altura foi suficiente para se obter o índice de massa cor-
pórea (IMC). Esta variável foi classificada de acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL,
2011) em: baixo peso (IMC < 22kg/m2; adequado ou eutrófico (IMC > 22 e < 27kg/m2); e
sobrepeso (IMC > 27kg/m2).
A circunferência da panturrilha (CP) é um importante preditor do estado nutricional
do idoso por correlacionar-se com a reserva de massa muscular, sendo mais preferível do
que a circunferência do braço em pacientes nesta faixa etária (VITOLO, 2015). Para isso,
utilizou-se o ponto de corte <31 cm, sendo considerado idoso desnutrido, com depleção da
capacidade funcional, risco de queda e surgimento de fraturas (WHO, 1995).
Os resultados obtidos através da antropometria foram tabulados em planilha do Microsoft
Office Excel 2018® (Redmond, Washington, United States of America). Os dados foram
expostos em estatísticas descritivas apresentadas em média, desvio padrão e porcenta-
gem. O equilíbrio do estado nutricional dos idosos (com ou sem risco de desnutrição) por meio
dos valores médios do IMC e da CP em comparação com os valores médios da literatura,
ou seja, o IMC conforme estipulado pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2011) e a CP pela
OMS (WHO, 1995), foi analisado através do teste t-student considerando um intervalo de
confiança (IC) de 95% (p<0,05).
Na estatística inferencial (LEVIN; FOX; FORDE, 2012) foi realizado o Teste Exato
de Fisher para verificar a associação entre as variáveis categóricas binárias. Para tanto,
as variáveis categóricas de múltiplas categorias (escolaridade, MAN, renda e etnia) foram
agrupadas em duas categorias - binária. Foram consideradas variáveis dependentes: IMC
(sobrepeso e obesidade) e circunferência panturrilha (desnutrição e sem risco), e variáveis
independentes: sexo (masculino e feminino), escolaridade (primário/sem e 1º/2º grau), MAN
(risco e normal/desnutrido), acompanhamento nutricional (sim e não), etnia (branco e preto/
pardo) e renda, que foi denominada de “menos de 1 salário-mínimo” (sim e não). valor de p
< 0,05 foi adotado para consideração de associação estatisticamente significante.
A regressão de Poisson foi realizada para obtenção da medida de associação razão
de prevalência (RP), na qual valores iguais a um, indica não existir associação entre as
variáveis. Valores menores que um, indica uma associação negativa, e maiores que um,

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indica uma associação positiva (MEDONHO et al., 2008). O programa estatístico R versão
4.0.2 (Free Software Foundation, Inc., Boston, United States of America) foi utilizado para
auxiliar nas análises.
O estudo foi executado após liberação de parecer favorável pelo Comitê de Ética do
Centro Universitário INTA - UNINTA (CEP/UNINTA), através do Certificado de Apresentação
para Apreciação Ética - CAAE nº 23942819.2.0000.8133 e do Parecer Consubstanciado nº
3.679.678/2019. O TCLE dos participantes do estudo descrevia as informações sobre a pes-
quisa e os direitos de cada participante, deixando claro que poderiam se retirar a qualquer
momento da pesquisa sem ônus, bônus ou penalidades, segundo consta na Resolução nº
466/2012, do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde.

RESULTADOS

A pesquisa desenvolvida conteve 18 idosos, destes 16 (89%) são do sexo feminino e


2 do sexo masculino (11%), ou seja, uma amostra é predominantemente feminina. A idade
variou entre 60 e 83 anos, tendo como média 69,05±7,03 anos.
Os resultados obtidos através do questionário socioeconômico e cultural estão dis-
postos na Tabela 1.

Tabela 1. Análise do perfil socioeconômico e cultural de idosos (n=18) que frequentam o SCFV do CRAS Mimi Marinho.
Sobral, Ceará, Brasil. 2020.

Variável Categoria N Percentual (%)


Feminino 16 89%
Gênero
Masculino 2 11%
Pardo 10 55,55%
Negro 3 16,67%
Raça
Branca 5 27,78%
Amarelo 0 0%
Nenhuma 7 38,89%
Primário 7 38,89%
Escolaridade 1º grau 2 11,11%
2º grau 2 11,11%
Superior 0 0%
0 2 11,11%
1 5 27,78%
2 5 27,78%
3 3 16,67%
Mora com quantas pessoas? 4 0 0%
5 0 0%
6 2 11,11%
7 0 0%
8 1 5,56%
Sozinha 2 11,11%
Esposo 3 16,67%
Filho 3 16,67%
Irmão/irmã 0 0%
Netos 2 11,11%
Mora com quem?
Filho + esposo 3 16,67%
Filho + esposo + neto 2 11,11%
Esposo + neto 1 5,55%
Filho + neto 1 5,55%
Irmão + neto 1 5,55%

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Variável Categoria N Percentual (%)
Sim 17 94,44%
Algum problema de saúde?
Não 1 5,56%
<10 anos 9 52,94%
Há quanto tempo tem a doença?
>10anos 8 47,05%
Sim 12 66,67%
Já teve acompanhamento nutricional?
Não 6 33,33%
Esse problema de saúde lhe atrapalha a de- Sim 7 38,89%
senvolver atividades? Não 11 61,11%
< SM* 5 27,78%
1 SM 13 72,22%
Média de renda mensal
1 a 2 SM 0 0%
3 ou mais SM 0 0%
1 2 11,11%
2 6 33,33%
3 4 22,22%
4 3 16,67%
Quantas pessoas vivem com esse dinheiro?
5 0 0%
6 0 0%
7 2 11,11%
9 1 5,55%
*SM=Salário-Mínimo.
Fonte: Autoria própria.

Cabe destacar a alta incidência de enfermidades nos idosos, onde apenas um parti-
cipante não possui nenhuma patologia. Dentre elas, as principais foram diabetes mellitus,
hipertensão, dislipidemia, cardiopatia, doenças ósseas, ansiedade e gastrite. As doenças
crônicas não transmissíveis (DCNT) foram predominantes, como demonstrado na Figura 1.

Figura 1. Diagrama de Venn: Doenças crônicas Não Transmissíveis e suas associações nos idosos frequentadores de SCFV
em Sobral, Ceará, Brasil. 2020.

Fonte: Autoria própria.

Dentre as patologias citadas, a hipertensão arterial é a que mais se destaca, onde


quatorze dos dezoito participantes possuem, sendo em sua maioria associada à outra pa-
tologia. As DCNT citadas na figura acima estão predominantemente associadas umas às

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outras, sendo 72,2% (n=13) dos idosos acometidos com duas ou mais comorbidades e
27,8% com apenas uma.
Os idosos investigados (n=18), apresentaram os seguintes resultados da MNA: 61,11%
apresentaram estado nutricional normal; 22,22% estavam sob risco nutricional; e apenas
16,67% foram considerados desnutridos. Já a classificação do estado nutricional, de acor-
do com o IMC dos participantes, apontou 50% eutróficos, 33,33% com sobrepeso, 11,11%
obesos e somente 5,55% com baixo peso.
Na avaliação da circunferência da panturrilha, percebeu-se que a maioria dos idosos
estava em condições adequadas (77,78% eutróficos contra 22,22% redução da massa
muscular esquelética), sem depleção da capacidade funcional ou risco de queda. Isso pode
se justificar analisando a capacidade funcional presente no questionário socioeconômico e
cultural, onde a maioria (61,11%) relatou não deixar de realizar atividades cotidianas.
As tabelas 2 e 3 demonstram as relações entre diversas variáveis socioeconômicas
com o IMC e a circunferência da panturrilha, respectivamente.

Tabela 2. Valores do teste exato de Fischer e regressão de Poison tendo o IMC como variável dependente.

IMC (Sobrepeso ou Obesidade)

Características Socioeconômicas Sim Não


RP valor-p
n % n %
Sexo
Masculino 0 0 2* 11,11
0,00 0,47
Feminino 8* 44,44 8 44,44
Escolaridade
Primário ou Sem 5 27,78 9* 50
0,47 0,27
1° ou 2° grau 3* 16,67 1 5,56
MAN
Risco 2 11,11 2 11,11
1,16 1
Normal/Desnutrido 6 33,33 8 44,44
Acomp. Nutr.
Sim 5 27,78 7* 38,89
0,83 1
Não 3* 16,67 3 16,67
Menos de 1 SM
Sim 4* 22,22 1 5,56
2,60 0,11
Não 4 22,22 9* 50
Etnia
Branco 0 0 5* 27,78
0,00 0,03**
Preto/Pardo 8* 44,44 5 27,78
Legenda: RP = Razão de Prevalência obtida através da Regressão de Poisson; Acomp. Nutr = acompanhamento nu-
tricional. Valor-p = valor da probabilidade associada do Teste Exato de Fisher. * = associação entre as categorias das
variáveis binárias. ** = Associação estatisticamente significante.
Fonte: Autoria própria (2020).

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Tabela 3. Valores do teste exato de Fisher e regressão de Poisson tendo a circunferência da panturrilha como variável
dependente.

Circunferência Panturrilha

Socioeconômico Desnutrição Sem risco


RP valor p
n % n %
Sexo
Masculino 0 0 2* 11,11 0,00 1
Feminino 2* 11,11 14 77,78
Escolaridade
Primário ou sem 2* 11,11 12 66,67 *** 1
1° ou 2° grau 0 0 4* 22,22
MAN
Risco 1* 5,56 3 16,67 3,5 0,40
Normal/Desnutrido 1 5,56 13* 72,22
Acomp. Nutr.
Sim 1 5,56 11* 61,11 0.50 1
Não 1* 5,56 5 27,78
Menos de 1 SM
Sim 0 0 5* 27,78 0,00 1
Não 2* 11,11 11 61,11
Etnia
Branco 0 0 5* 27,78 0,00 1
Preto/Pardo 2* 11,11 11 61,11
Legenda: RP = Razão de Prevalência obtida através da Regressão de Poisson; Acomp. Nutr = acompanhamento nu-
tricional. Valor-p = valor da probabilidade associada do Teste Exato de Fisher. * = associação entre as categorias das
variáveis binárias. *** = Não foram satisfeitas as exigências do teste para realização da análise.
Fonte: Autoria própria (2020).

Houve uma associação negativa de sexo com obesidade, ou seja, uma inclinação dos
homens não serem obesos/sobrepeso. Portanto, observou-se uma associação positiva do
sexo feminino com obesidade/sobrepeso, mas não foi estatisticamente significante.
Com relação a escolaridade, houve uma associação de pessoas com primário ou sem
escolaridade com não serem obesas. Logo, o maior nível de escolaridade associou-se com
obesidade/sobrepeso, mas não foi a nível de significância estatística.
Entre as variáveis MAN e obesidade/sobrepeso não houve associação, tendo em vis-
ta que o valor de RP se aproximou de 1 e o valor p do teste exato de Fisher foi igual a 1.
Porém, houve uma pequena associação de acompanhamento nutricional com os sujeitos
das pesquisas não serem obesos/sobrepeso, mas novos estudos são necessários. Além
disso o valor da estatística teste foi igual a 1.
Houve associação de renda mensal de menos de um salário-mínimo com obesidade/so-
brepeso, contudo não foi estatisticamente significante. Também houve associação de pessoas
negras/pardas com obesidade/sobrepeso, e tal associação foi estatisticamente significante.
Houve associação fraca da categoria “primário ou sem” da variável escolaridade,
com “desnutrição”, contudo tal associação não foi significativa, pode ter ocorrido ao acaso.

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Também houve associação de “risco” da variável MAN, com “desnutrição” da variável cir-
cunferência panturrilha, mas não foi estatisticamente significante.
Outra percepção é que houve associação de “sim” da variável acompanhamento nu-
tricional, com “sem risco” da variável circunferência panturrilha, contudo tal associação não
foi estatisticamente significante. Entretanto ocorreu associação negativa entre as variáveis
“menos de 1 salário-mínimo” e circunferência panturrilha, portanto uma tendência da categoria
“sim” da primeira variável associar-se com a categoria “sem risco” da variável circunferência
panturrilha, mas não foi estatisticamente significante, apontando que tal associação pode
ter ocorrido ao acaso. Mas, no que se refere a variável etnia, notou-se uma inclinação de
brancos não apresentarem risco, contudo não foi uma associação significativa.
A tabela 4 apresenta o resultado da relação média dos valores de IMC e CP com o padrão.

Tabela 4. Resultado dos testes t e valor de p das diferenças de médias das medidas antropométricas IMC (kg/m2) e CP
(cm) com as médias padrões de idosos que frequentam o SCFV do CRAS Mimi Marinho. Sobral, Ceará, Brasil. 2020.

Variáveis antropométricas* Padrão Teste t Valor de p


IMC
27,31 + 4,02 24,5 2,96 0,009
CP
33,96 + 3,29 31 3,82 0,001
Legenda *: média + desvio-padrão.
Fonte: Autoria própria (2020).

A média do IMC dos idosos não é compatível com o média de IMC eutrófico recomenda-
do, ou seja, há uma diferença estatisticamente significante. Assim, o IMC dos idosos pesqui-
sados não se encontra dentro do recomendado. A média da CP dos idosos não é compatível
com o média da CP eutrófica minimamente recomendada, ou seja, há uma diferença esta-
tisticamente significante. Assim, a CP dos idosos pesquisados é superior ao recomendado.

DISCUSSÃO

O estado nutricional impacta diretamente sobre o bem-estar físico e psicológico do


idoso, sendo a nutrição adequada um fator primordial em saúde e habilidade funcional nas
idades mais avançadas (VENTURINI et al., 2015). Além disso, o perfil socioeconômico e
cultural também exerce grande impacto nutricional, pois incide sobre o acesso à uma alimen-
tação adequada e influência nas escolhas alimentares. Portanto, caso haja a pretensão de
promover um estilo de vida saudável, com educação alimentar e nutricional, precisa-se levar
em consideração o ambiente que o indivíduo está inserido e suas circunstâncias (FERREIRA;
MONTEIRO; SIMÕES, 2018).

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Os CRAS estão inseridos especificamente em comunidades com maior vulnerabilida-
de social (SOUSA et al., 2020). Assim, os fatores socioeconômicos e culturais analisados
neste estudo refletem a realidade da comunidade atendida, pois a maioria dos indivíduos
possui baixa escolaridade e renda. Já no estudo desenvolvido por Macedo (2018), em Santa
Catarina e Rio Grande do Sul com 178 idosos frequentadores do CRAS, foi demonstrado que
19% recebiam até 1 salário-mínimo e 27% entre 2 e 3 salários-mínimos. Porém, ao analisar
o nível de escolaridade, esse autor percebeu que 34% dos idosos (n=60) possuía ensino
fundamental incompleto e 30% (n=52) tinha ensino médio completo, havendo também idosos
com nível superior completo, e, em sua minoria, analfabetos; podendo refletir na melhoria
da renda familiar. Vaz de Melo, Ferreira e Teixeira (2014), ao analisarem as condições de
vida dos idosos no Brasil, perceberam que um melhor poder aquisitivo é consequência de
um maior nível escolaridade. Na região Nordeste, há predominância de baixa renda entre
os idosos, podendo também justificar as diferenças encontradas com o estudo de Macedo
(2018). Os autores concluíram que a população idosa brasileira é predominantemente do
sexo feminino, apresenta baixa escolaridade e vive com renda domiciliar per capita de até
meio salário-mínimo. Assim, essa informação está em concordância com o presente estu-
do, onde 89% (n=11) dos idosos são mulheres, com baixa escolaridade e renda. Pereira;
Alvarez e Traebert (2011) avaliaram a contribuição das condições sociodemográficas para
a percepção da qualidade de vida em 141 idosos, com presença maior público feminino
(64,5%) e identificam que há associação da renda familiar inferior a três salários-mínimos
quando a escolaridade é inferior a oito anos de estudo. Este trabalho demonstrou também
a importância dos grupos de convivência como fator primordial para melhoria da percepção
de qualidade de vida dos idosos.
Quanto à prevalência de enfermidades, destacam-se as doenças crônicas não trans-
missíveis, sendo a hipertensão arterial (HA) e a diabetes mellitus (DM) as principais, com
82,36% e 58,82% respectivamente. Achados semelhantes também foram encontrados por
Oliveira, Ferreira e Guabiroba (2018) em idosos do CRAS em Mineiro - Goiás, apresen-
tando 78,6% dos idosos com HA e 14,3% com DM. A quantidade de idosos com DCNT
tem sido uma progressão gradual ao longo dos anos e possui alta capacidade de afetar
a qualidade de vida deste público. Isso se justifica devido à vulnerabilidade que a própria
velhice causa e a um estilo de vida inadequado ao longo da vida, sendo mais preocupante
quando se necessita mudar hábitos alimentares inadequados praticados ao longo da vida
(PORCIÚNCULA et al., 2014; SILVA et al., 2022). Nesse estudo, mesmo já acometidos com
DCNT, 66,67% (n=11) dos idosos já tinha procurado atendimento com nutricionista, sendo
um bom indicativo no controle e num melhor prognóstico de convivência com enfermidades
crônicas, onde o acompanhamento nutricional teve uma relação positiva em não ter risco

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nutricional e desenvolver obesidade ou sobrepeso. Outro detalhe foi a ocorrência em 72,3%
(n=13) da população aqui estudada de duas ou mais DCNT. Semelhante situação ocorreu
no estudo de Christofoletti et al. (2020) com 52.929 brasileiros acima de 18 anos. Eles iden-
tificaram que, entre os idosos, houve prevalência de simultaneidade de doenças em 76,8%
dos investigados. As DCNT de forma individual já levam a uma sobrecarga orgânica nos
sistemas corporais acometidos devido a alterações na fisiologia orgânica normal, deixando
o indivíduo mais suscetível ao aparecimento de outras doenças e debilitando o estado geral
de saúde (WHO, 2017). Sendo assim, a coexistência dessas enfermidades deve servir de
alerta para o sistema de saúde, pois haverá a necessidade cuidados mais intensos com a
saúde, especialmente relacionada à sobrevida desses pacientes após diagnóstico.
A avaliação do risco nutricional realizada através da MNA revelou que a maioria dos
idosos estava com estado nutricional normal, 25% sob risco de desnutrição e uma pequena
parte desnutrida. Esta situação é diferente do estudo realizado por Cardozo et al. (2017)
com 119 idosos atendidos por uma unidade pública de saúde (UPS), onde apenas 5%
(n=6) apresentaram desnutrição, 31,9% (n=38) com risco de desnutrição e 63% (n=75) em
eutrofia. Isso pode justificar-se pela melhor renda familiar, onde 63% (n=75) dos idosos
recebiam mais de 1 salário-mínimo, tendo uma relação positiva na diminuição do risco
nutricional. Já Mendes (2017) aplicou a MNA em 1286 idosos participantes de grupos de
convivência em Parintins-AM e obteve achados concordantes com este estudo, estando
os pesquisados, em sua maioria (83,1%) eutróficos, seguido de 16,6% (n=49) sob risco de
desnutrição e 0,3% (n=1) desnutridos. Estes resultados são bastante significativos porque
ocorreram no mesmo campo do atual estudo e, mesmo com menor amostra, obtiveram-se
semelhanças. No estudo de Pereira et al. (2015), eles avaliaram 359 idosos residentes de
uma instituição de longa permanência e constataram que 66,7% dos hospedados estavam
desnutridos ou sob risco nutricional. Estes resultados diferem do presente estudo, devido à
diferença dos campos de aplicação, porém também ressalta a importância de identificar o
risco ou a presença de desnutrição em idosos antes que cheguem à uma unidade hospitalar.
Os estudos Pereira et al. (2015) e Cardozo et al. (2017) também avaliaram o IMC dos
idosos assistidos, comparando com a desnutrição. No primeiro, ocorreu uma predominância
do sobrepeso com 54,6% (n=65); no outro, 44,3% (n=159) estavam com baixo peso. Essas
pesquisas são destoantes aos achados deste trabalho, onde metade da amostra apresentou
eutrofia, seguido de outro 1/3 com sobrepeso. Mesmo assim, apenas o IMC não é capaz de
rastrear o estado nutricional na terceira idade (OLIVEIRA; ANUNCIAÇÃO; COSTA, 2018),
sendo necessário que a triagem e os aspectos socioeconômicos sejam considerados.
Quando se associa o sobrepeso e a obesidade aos fatores socioeconômicos, acha-
dos semelhantes a esse estudo foram encontrados por Mendes (2017), onde a maioria dos

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idosos que frequentavam o serviço de convivência eram mulheres e tendiam à obesidade
e sobrepeso em 42,5% (n=179), além de ter mostrado correlação positiva do sexo feminino
com os maiores valores de IMC. Entende-se que o IMC é uma ferramenta antropométrica
muito utilizada para avaliação nutricional, mas sua aplicação em idosos é questionável, pois
não considera a mudança da distribuição de gordura na fisiologia do envelhecimento. Além
disso, as medidas antropométricas no idoso sofrem alterações devido o encurtamento das
vertebras e encurvamento das costas, diminuindo a altura e, consequentemente, elevando
os valores do IMC (VITOLO, 2015). Portanto, não deve ser o único parâmetro de avaliação
nutricional do idoso.
A literatura internacional (GONÇALVES FERREIRA et al., 2007; ZHANG; RODRIGUEZ-
MONGUIO, 2012; KELLEY et al., 2016) evidencia resultados em conformidade dos encontra-
dos na presente investigação, apresentando correlação entre a raça/etnia preta e hispânica
com a obesidade geral (IMC) ao avaliarem idosos e adultos. Estudo de Wang e Beydoun
(2007) também demonstrou associação da obesidade geral (IMC) e abdominal (CC) com a
raça/etnia negra, comparada à branca e à hispânica, em idosas (> 60 anos) norte-america-
nas. No atual estudo, os resultados foram estatisticamente significantes (p=0,003) de pessoas
negras/pardas tendendo à obesidade/sobrepeso. Estudo realizado por Freitas et al. (2019)
com 49 idosos frequentadores de um grupo de convivência em Montes Claros - MG tam-
bém obteve significância estatística (p=0,043) de mulheres negras/pardas apresentarem
obesidade/sobrepeso.
Complementando o peso e a altura como fatores antropométricos utilizados na ava-
liação de idosos, a circunferência da panturrilha (CP) torna-se essencial na verificação da
composição corporal do longevo, pois é capaz de correlacionar-se às reservas de massa
muscular, sendo esta medida considerada a mais sensível para estimar a proteína somática
em idosos (WHO, 1995). Ao avaliar a CP neste estudo, foi prevalente a eutrofia, com apenas
11,11% abaixo de 31 cm. Confirmando estes dados, Miranda e Paiva (2020), ao investigarem
idosos (n=101) pertencentes à uma organização não governamental - ONG, encontraram 8%
com a circunferência da panturrilha abaixo do ponto de corte e 92% indicando eutrofia. Cruz
(2016) elucidou que, ao avançar os anos, a tendência do ser humano é perder massa magra,
principalmente ao ultrapassar os 60 anos. Isso reflete diretamente na composição do peso
corporal com tendência a reduzir as medidas antropométricas, sendo de extrema importância
a avaliação contínua do estado nutricional nessa população. O teste t pôde constatar que
os idosos deste estudo apresentaram tanto o IMC quanto a CP acima da média, ou seja,
por estarem em sobrepeso/obesidade. eles podem possuir tendência de aumento do tecido
adiposo na região dos membros inferiores. Borges (2020) realizou um estudo buscando
correlacionar a CP com IMC e com massa gorda - MG, obtendo uma significância estatística

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entre ambas, ou seja, quanto maior a CP, maior o IMC e maior MG com p<0,001. Sendo
assim, esta circunferência também pode predizer acerca da adiposidade e da obesidade em
geral no indivíduo, entrando em concordância com os achados do presente estudo.

CONCLUSÃO

Os idosos, predominantemente mulheres, de baixa renda, pouca escolaridade e são


portadoras, em sua maioria, de mais de uma DCNT, possuem características nutricionais,
socioeconômicas e culturais importantes. Houve correlação estatisticamente significante
entre idosos negros/pardos com obesidade/sobrepeso; e uma pequena associação ao ter
realizado acompanhamento nutricional com menores índices de obesidade/sobrepeso. Devido
ao número amostral reduzido, há a necessidade de realização de novos estudos, principal-
mente multicêntricos, a fim de extrapolar esses achados para a população idosa em geral.
A circunferência da panturrilha, o IMC e a obesidade tenderam à adiposidade corporal,
em especial, quando os idosos em sobrepeso/obesidade tenderam a maior CP. A presença
um número significante de idosos com desnutrição ou risco nutricional puderam estar liga-
das às características socioeconômicas e culturais aqui identificadas, trazendo assim, uma
correlação entre baixo nível socioeconômico com presença de risco nutricional e desnutri-
ção. No entanto, a limitação em não se investigar os aspectos antropológicos e qualitativos
dos idosos serão objetos de outros estudos em idosos na atenção básica de saúde no Brasil.
A presença de certa conexão entre o estado nutricional e as práticas alimentares
saudáveis na saúde do idoso apresentada nesta pesquisa, apresenta a necessidade de
implementar medidas de intervenção usando educação alimentar e nutricional, visando a
melhoria da qualidade de vida dessa população. Com isso, a prevenção de um mal prog-
nóstico frente às DCNT ou, até mesmo, o não surgimento dessas enfermidades, colaborará
para uma sociedade humana com envelhecimento ativo.

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05
AVALIAÇÃO DA FRAGILIDADE EM IDOSOS
HIPERTENSOS

Jaciara Aparecida Dias Santos Brenda Gomes dos Santos


Universidade Estadual de Montes Claros Universidade Estadual de Montes Claros
(UNIMONTES) (UNIMONTES)

Andréia Christiane Amâncio Martins Marcelo Rocha Santos


Universidade Estadual de Montes Claros Universidade Estadual de Montes Claros
(UNIMONTES) (UNIMONTES)

Priscilla Pimenta Oliveira Aguiar Leonardo Lamêgo Cardoso


Universidade Estadual de Montes Claros Centro Universitário FIPMoc - Unifipmoc-Afya
(UNIMONTES)

Jair Almeida Carneiro


Samara Frantheisca Almeida Barbosa Centro Universitário FIPMoc - Unifipmoc-Afya
Universidade Estadual de Montes Claros
(UNIMONTES)
Fernanda Marques da Costa
Universidade Estadual de Montes Claros
Patrícia Oliveira Silva (UNIMONTES)
Universidade Estadual de Montes Claros
(UNIMONTES)

'10.37885/230513096
RESUMO

Objetivo: Identificar a existência de associação entre hipertensão e fragilidade em pessoas


idosas por meio instrumentos de avaliação geriátrica à luz da literatura. Métodos: Esta in-
vestigação delineou-se a partir de uma revisão integrativa da literatura. As estratégias de
busca ocorreram em outubro e novembro de 2021. Foi realizado um recorte temporal dos
artigos publicados de 2016 a 2022. Para o levantamento bibliográfico foram utilizados os
descritores: “idoso frágil”, “fragilidade”, “avaliação geriátrica”, “hipertensão”, “idosos”, “frail
elderly” e “hypertension”. Os critérios de inclusão foram: estudos com população acima de 60
anos de idade e que descrevam a existência de associação entre hipertensão e fragilidade,
periódicos publicados em revistas nacionais e internacionais; escritos em língua inglesa,
espanhola e portuguesa. Foi utilizado um formulário de elaboração própria como instrumen-
to de coleta de dados. Resultados: Foram selecionados 08 artigos, sendo o ano de 2018
com 37,5%. No The Journal of Hypertension foram publicados 37,5% artigos. A abordagem
transversal esteve presente em 87,5% das publicações. A associação da hipertensão arterial
com a fragilidade em idosos foi demonstrada em 75% estudos. Conclusão: A fragilidade
está associada a hipertensão em idosos, visto que há uma possível influência da fragilidade
na morbimortalidade da pessoa idosa.

Palavras-chave: Idoso Frágil, Avaliação Geriátrica, Hipertensão, Idosos.


INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional é conceituado como um processo linear, particular,


cumulativo e irremediável de declínio do organismo, que pode afetar a saúde física, mental
e quase sempre as questões familiar e social do indivíduo 1. Com a senectude da popula-
ção, ocorre também o aumento da prevalência de doenças crônicas, configurando como
um dos principais desafios á saúde entre os idosos, a hipertensão arterial sistêmica con-
figura como principal agravo. O que representa grandes problemas para a sociedade e o
sistema de saúde 2.
A população idosa, no ano de 2050, está projetada para mais do que o dobro, alcan-
çando mais de 1,5 bilhão de pessoas. Sendo que uma em cada seis pessoas terá 65 anos
ou mais em todo o mundo 3.
Neste contexto, conforme Moraes et al 4, para fins de saúde pública, o idoso pode ser
estratificado em: robusto, em risco de fragilização e frágil. Os idosos robustos são descritos
como aqueles com boa homeostase, independência e autonomia. Os indivíduos em risco
de fragilização são aqueles com limitação funcional, mas que apresentam autonomia e
preservação da independência. Por fim, os idosos tidos como frágeis apresentam declínio
funcional constituído e dependência para atividades de vida diária. Essas alterações estão
intrinsicamente relacionadas ao fenômeno da fragilidade 5.
A prevalência da fragilidade em idosos varia de 7% a 28%, sendo a maioria mulheres e
com o avançar da idade 6,7. Ser idoso frágil está associado a um risco aumentado de reso-
luções desfavoráveis, principalmente se associado a hipertensão arterial, pois a exposição
a anti-hipertensivos, em especial diuréticos, pode acarretar reduções mais significativas em
sua pressão arterial sistólica com consequente alterações posturais configurando um risco
aumentado de quedas e sequelas relacionadas, fator importante para fragilidade nessa faixa
etária 2. Assim, foram desenvolvidas diversas ferramentas de rastreio simples e rápidas,
que procuram identificar os idosos frágeis em diferentes contextos, apesar de não serem
padrão-ouro para avaliar a fragilidade 8.
Dentre os instrumentos, vale salientar, a Escala de Fragilidade de Edmonton (EFE),
que consiste em uma avaliação clínica de fácil manejo e aplicabilidade, até mesmo por
profissionais não geriatras ou gerontólogos. Leva em consideração dez domínios e sua
pontuação máxima é dezessete (maior grau de fragilidade). Dois domínios (mobilidade e
estado cognitivo). Os outros domínios avaliados são humor, independência funcional, uso
de medicamentos, suporte social, nutrição, autopercepção de saúde, continência, carga de
doença e qualidade de vida9.
No Brasil, foi desenvolvido também o Índice de Vulnerabilidade Clínico-Funcional-20
(IVCF-20), com vinte questões (quarenta pontos) distribuídas em 8 seções, incluindo idade,
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autopercepção da saúde, atividades de vida diária, cognição, humor, mobilidade, comuni-
cação e comorbidades múltiplas ou internação recente. Quanto maior a pontuação do idoso
no IVCF-20 pior/frágil será sua condição clínico-funcional 5.
Nessa perspectiva, o presente estudo justifica-se pela necessidade de uma reflexão
acerca da provável associação entre a fragilidade e a hipertensão em pessoas idosas pelos
instrumentos de avaliação geriátrica, uma vez que idosos hipertensos tendem a apresentar
maior fragilidade do que aqueles sem comorbidades, entretanto essa associação ainda não
foi descrita de forma suficiente na literatura. Dessa forma, este estudo tem como objetivo
identificar a existência de associação entre hipertensão e fragilidade em pessoas idosas por
meio instrumentos de avaliação geriátrica à luz da literatura.
Vale ressaltar que o estudo poderá contribuir para que o público acadêmico e os profis-
sionais da saúde possam encontrar nessa pesquisa uma síntese de estudos atuais e signifi-
cativos no meio científico determinantes para conhecer se há associação e os fatores asso-
ciados à fragilidade em idosos hipertensos por meio de instrumento de avaliação geriátrica.

MÉTODO

Esta investigação delineou-se a partir de uma revisão integrativa da literatura científica


que tem por objetivo agrupar, avaliar e sintetizar o resultado de pesquisas sobre um deter-
minado assunto, de forma organizada e sistemática, sendo utilizada para uma compreensão
mais abrangente dos estudos a respeito do tema proposto, funcionando como ferramenta
de síntese de trabalhos publicados e consagrados cientificamente 10.
As estratégias de busca eletrônica foram conduzidas por um pesquisador, nos meses
de outubro e novembro de 2021. Para o levantamento bibliográfico foram utilizadas bases
de dados científicas, buscaram-se, para o estudo, publicações científicas brasileiras e es-
trangeiras, na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), que contém as seguintes bases indexadas:
LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), SciELO (Scientific
Eletronic Library Online), MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrieval System On-
Line), Pubmed (U.S. National Library of Medicine) e IBECS (Índice Bibliográfico Español
en Ciencias de la Salud).
Foram utilizados Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e Medical Subject Headings
(MeSH): idoso frágil”, “fragilidade”, “avaliação geriátrica”, “hipertensão”, “idosos”, “frail el-
derly”, “hypertension”. Procurando ampliar ao máximo o resultado da busca os Descritores
foram combinados pelo operador booleano and. Para as buscas realizadas na BVS as com-
binações foram: “fragilidade” and “idosos” and “hipertensão”; “idoso frágil” and “hipertensão”;
“avaliação geriátrica” and “hipertensão” and “idoso frágil”. Para as buscas na Pubmed foram
utilizados os descritores combinados “frail elderly” and “hypertension”.
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Foi realizado um recorte temporal dos artigos publicados de 2016 a 2021. Inicialmente,
baseou-se nos títulos e resumos para análise dos artigos. Utilizaram-se os seguintes critérios
de inclusão: estudos que apresentaram como objeto de estudo a população acima de 60
anos de idade e que descrevam a existência de associação entre hipertensão e a fragilidade,
periódicos indexados publicados em revistas nacionais e internacionais; escritos em língua
inglesa, espanhola e portuguesa. Foram excluídos os artigos que avaliam a hipertensão e
fragilidade em crianças, adolescentes e adultos menores de 60 anos de idade e que tenham
outra comorbidade como foco principal. Foi utilizado um formulário de elaboração própria
como instrumento de coleta de dados.
A estratégia de busca eletrônica utilizada resultou em 343 estudos. Desses, 307 fo-
ram descartados, por apresentarem duplicidade de temas, bem como não condiziam com
a proposta do estudo em questão. Dos 36 artigos selecionados para leitura completa, 28
foram excluídos por serem artigos que não atingiram o objetivo do estudo, apresentaram
duplicidade e/ou não se adequaram aos critérios de inclusão. A seleção final, contou com
08 artigos, que foram lidos criteriosamente em sua íntegra e selecionados, por atenderem
rigorosamente aos critérios de inclusão, e seus conteúdos foram julgados suficientemente
esclarecedores e pertinentes para fazerem parte do presente estudo, conforme demons-
trado pelo fluxograma de Prisma (figura 1). A amostra do estudo foi representada em uma
tabela contemplando as seguintes variáveis: autor, ano, tipo de estudo, periódico, objetivo,
local do estudo, amostra e associação entre fragilidade e hipertensão em idosos por meio
de instrumentos de avaliação geriátrica (tabela 1).

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Figura 1. Fluxograma do processo de seleção dos artigos pulicados no período de 2016 a 2021.

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a análise dos dados descritos nos 08 artigos selecionados, foi elaborado um
instrumento para a coleta e apresentação dos dados, conforme demonstrado na tabela 1, a
qual apresenta as seguintes variáveis: autor, ano, tipo de estudo, periódico, objetivo, local
do estudo, amostra e associação entre fragilidade e hipertensão em idosos por meio de
instrumentos de avaliação geriátrica.

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Tabela 1. Características e resultados dos estudos inseridos na revisão integrativa
Autor e ano do
Tipo do estudo Periódico Objetivo e local do estudo N Resultados Conclusão
estudo
Anker D et al. Transversal The Journal of Clini- Avaliar a associação entre 3157 Indivíduos frágeis apresen- Em idosos frágeis, a pressão
(2019)11 cal Hypertension fragilidade e pressão arte- idosos taram PA substancialmente arterial pode estar associada
rial em idosos, na cidade de alterada em comparação com a piora da saúde e piores des-
Pequim – China. idosos não frágeis. Como a PA fechos. É fundamental realizar
alterada pode ser prejudicial o manejo correto dos níveis
entre pacientes idosos frágeis, pressóricos que são muito
os achados levantam questões complicados nessa população.
sobre o manejo adequado da
hipertensão.
Aprahamian I et Transversal The Journal of Clini- Avaliar a prevalência de hi- 619 idosos A prevalência de hipertensão A hipertensão apresentou um
al., (2018)12 cal Hypertension pertensão e uso de drogas e fragilidade foi de 67,3% e odds ratio de 1,77 para a fra-
anti-hipertensivas em ido- 14,8%, respectivamente, na gilidade (95% de confiança in-
sos robustos, pré-frágeis e amostra total. A hiperten- tervalo, 1,21–2,60; P = 0,002).
frágeis; e avaliar os fatores são foi mais prevalente nos A hipertensão foi mais preva-
associados ao estado de fra- grupos pré-frágeis (72,5%) e lente em idosos frágeis e foi
gilidade (ou seja, de robusta frágeis (83%) do que nos con- significativamente associada
a pré-frágil, pré-frágil para troles (51,7%). Hipertensão, à fragilidade.
fragilidade) em idosos hiper- atividade física, número de
tensos, em Jundiaí – Brasil. medicamentos prescritos e
desempenho cognitivo foram
significativamente associados
ao estado de fragilidade
Basile G et al. Transversal com Aging Clinical and Medir a fragilidade status em 56 idosos Uma correlação estatística O índice de fragilidade pode
(2016)13 análise docu- Experimental Re- pacientes mais velhos com inversamente significativa foi desempenhar um papel im-
mental search hipertensão e determinar o encontrada entre fragilidade portante no contexto clínico,
relações existentes entre os e idoso hipertenso - PA sistó- apoiando a identificação de
valores de pressão arterial e lica (r = -0,319, p = 0,016), PA indivíduos em risco e permi-
fragilidade, na Itália. sistólica ortostática (r = -0,408, tindo uma melhor prestação
p = 0,002), ortostática PA dias- de cuidados personalizados.
tólica (r = -0,299, p = 0,025) e
ortostática. Pressão de pulso (r
= -0,297, p = 0,026).
Coelho-Júnior HJ Transversal Experimental Ge- Investigar se a hipertensão 200 adul- Não foram observadas di- A hipertensão e a medicação
et al. (2021)14 rontology arterial e terapia anti-hiper- tos mais ferenças significativas nos anti-hipertensiva não foram
tensiva tem associação com velhos parâmetros hemodinâmicos, associados transversalmente
o estado de fragilidade em diagnóstico de hipertensão e ao estado de fragilidade em
idosos residentes na comu- terapia anti-hipertensiva entre idosos da comunidade pre-
nidade, em Campinas- Brasil os estados de fragilidade, inde- servados cognitivamente com
pendentemente da ferramen- baixa prevalência de comor-
ta de avaliação de fragilidade bidades, independentemente
utilizada da ferramenta utilizada para
identificação da fragilidade
Kang M et Transversal Scientific Reports Analisar a associação entre 4.352 A prevalência de hipertensão Considerando os desfechos
al.(2017)15 fragilidade e prevalência, tra- idosos foi maior em idosos frágeis cardiovasculares adversos as-
tamento e taxa de controle (67,8%) do que em pré-frágeis sociados à fragilidade, maior
da hipertensão em idosos, (60,8%) ou robustos (49,2%) atenção deve ser dada ao
na Coréia. (P < 0,001). Entre os hiper- controle da pressão arterial
tensos, idosos frágeis tiveram do idoso frágil.
maior probabilidade de serem
tratados do que idosos pré-frá-
geis ou robustos (P < 0,001),
mas a proporção de pacien-
tes com pressão arterial con-
trolada ( < 150/90 mmHg) foi
menor em idosos frágeis (P
= 0,005).

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Autor e ano do
Tipo do estudo Periódico Objetivo e local do estudo N Resultados Conclusão
estudo
Ma L et al. Transversal The Journal of Clini- Explorar a prevalência e fato- 1111 Duzentos e dezoito idosos fo- A fragilidade está associada
(2018)2 cal Hypertension res associados à fragilidade idosos ram considerados frágeis (taxa a pior função física e maior
em idosos com hipertensão de prevalência: 19,6%). Idosos mortalidade em idosos hiper-
e se a fragilidade poderia frágeis com hipertensão apre- tensos residentes na comuni-
identificar os pacientes que sentaram pior desempenho dade na China. Esses achados
estão em risco de aumento físico, pior função psicológica enfatizam a importância e a
da mortalidade, em Pequim e social, bem como piores há- necessidade de intervenção e
– China bitos de vida, em comparação prevenção da fragilidade em
com idosos não frágeis com idosos com hipertensão.
hipertensão. A fragilidade foi
associada a uma maior morta-
lidade em 8 anos.

Ma L et al. Transversal Journal of Hyper- Explorar o quadro epide- 1.240 A prevalência de fragilidade O presente estudo fornece a
(2020)16 tension miológico características e idosos foi significativamente maior primeira evidência sobre o es-
fatores relacionados à fra- em pacientes hipertensos do tado de fragilidade em idosos
gilidade em chineses mais que em controles normais. A chineses com hipertensão
velhos adultos com hiperten- prevalência de fragilidade em
são, em Pequi – China idosos com hipertensão foi de
13,8% na China.
Vetrano DL et al. Revisão sistemá- BMJ Open Revisar a associação entre 27 artigos Vinte e três estudos avaliaram A fragilidade é comum em pes-
(2018)17 tica e meta-a- hipertensão e fragilidade a associação transversal entre soas com hipertensão. Dada a
nálise em estudos observacionais, fragilidade e hipertensão: 13 possível influência da fragilida-
na Itália. deles relataram uma prevalên- de na relação risco-benefício
cia significativamente maior de do tratamento da hipertensão
fragilidade em participantes e sua alta prevalência, é impor-
hipertensos e 10 não encon- tante avaliar a presença dessa
traram associação significati- condição em pessoas com hi-
va. A prevalência agrupada de pertensão.
hipertensão em indivíduos frá-
geis foi de 72% (IC 95% 66% a
79%) e a prevalência agrupada
de fragilidade em indivíduos
com hipertensão foi de 14%
(IC 95% 12% a 17%).
Fonte: dados da pesquisa.

Observou-se que o período com a maior quantidade de publicações foi o ano de 2018,
com 3(37,5%) artigos. Os anos de 2016/2017/2019/2020 e 2021 apresentaram cada um
1(12,5%) publicação. Assim, percebe-se que houve um aumento com consequente decrés-
cimo no número de estudos nos últimos anos. O que pode representar uma menor preocu-
pação com o tema com o passar dos anos, apesar do idoso hipertenso e com fragilidade
acarretar aumento nos gastos com saúde, bem como desfechos indesejáveis.
Com relação aos periódicos em que os estudos foram publicados, 3 (37,5%) foram
no The Journal of Hypertension. As revistas Aging Clinical and Experimental Research,
Experimental Gerontology, Scientific Reports, Journal of Hypertension e BMJ Open ob-
tiveram cada uma 1(12,5%) estudo selecionado. Todos os artigos foram publicados em
revistas internacionais, evidenciando que a literatura nacional apresenta material insuficien-
te acerca do tema.
O método utilizado para delinear os estudos selecionados, em sua maioria, contou com
a abordagem transversal com 7(87,5%) das publicações. O estudo transversal corresponde
a uma única medida em um determinado período de tempo, sem intervenção do pes-
quisador. Verificando as publicações de acordo com o país de origem, pode-se perceber
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que foram realizados 3(37,5%) estudos na China, seguida pela Itália e Brasil com 2(25%)
artigos e a Coreia 1(12,5%) estudo.
No que diz respeito, a avaliação da fragilidade os instrumentos utilizados com maior
frequência foram o CGA-FI (Comprehensive Geriatric Assessment frailtyindex) e a Frailty
index com 2 (25%) estudos cada. Nesse sentido, conforme Carneiro et al. 8 não há como
mensurar a fragilidade com um instrumento específico, já que não há um instrumento con-
siderado padrão-ouro.
A leitura dos resultados das pesquisas selecionadas nesta revisão, demonstrou relação
da hipertensão arterial com a fragilidade em idosos, sendo um fator bastante relevante. Dos
8 estudos elencados, 6(75%) apontam que existe uma relação estatisticamente significante
entre a hipertensão e um aumento da fragilidade no idoso, um estudo apresenta associação
incerta e outro não encontrou associação. A existência de associação entre hipertensão e
fragilidade em idosos pode ser ratificada pelo estudo de Ma et al. 2 desenvolvido na China
em que a prevalência de fragilidade em idosos hipertensos foi 19,6% superior aos estudos
anteriores desenvolvidos pelos autores. Kang et al. 15 corroboram ao afirmar que em seu
estudo a prevalência de fragilidade em idosos hipertensos é 67,8% maior do que em idosos
não hipertensos.
Entre os 1111 idosos residentes na China participante do estudo de Ma et al. 2, 218
idosos foram classificados como frágeis de acordo com os critérios da CGA-FI, destes a
fragilidade foi associada a uma maior mortalidade em 8 anos em pacientes com hiperten-
são, HR = 3,40 (IC 95%: 2,77-4,17). Ajustando para idade e sexo não houve alteração dos
achados, HR = 2,61 (IC 95%: 2.11-3.23). No estudo ocorrido em Jundiaí, no Brasil, com 619
idosos a prevalência de hipertensão foi de 67,3% na amostra total e foi maior entre os frágeis
(n = 78) (P <0,001) 12. A hipertensão está associada a um risco de 1,59 para surgimento
de fragilidade 16.
Na Itália, 56 idosos hipertensos, acompanhados no Hospital Geriátrico de Ambulatório
da Policlínica Universitária Hospital de Messina, 80% dos participantes com pressão ar-
terial sistólica (PAS) maior ou igual a 140 mmHg apresentaram um indice de fragilidade
maior em comparação com aqueles com PAS menor que 140 mmHg (0,34 ± 0,15 vs. 0,43
± 0,11, p = 0,006) 13.
Ratificando os estudos descritos, uma meta-análise de 21.906 idosos em nove coortes
demonstrou que idosos com fragilidade e pressão arterial sistólica inferior a 140 mm Hg não
foi associada a uma diferença na mortalidade em comparação com a pressão arterial sis-
tólica maior que 140 mmHg. No entanto, em pessoas mais velhas sem fragilidade, pressão
arterial sistólica inferior que 140 mmHg foi associado a um risco de morte 14% menor em
comparação com uma pressão arterial sistólica superior a 140 mm Hg 18.

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Neste sentido, existe relação direta e linear do aumento da pressão arterial com o
avançar da idade, em virtude do envelhecimento vascular. Observa-se que esse fator acar-
reta diversas alterações sistêmicas culminando com a fragilização do idoso quando não
controlada de forma adequada 19.
Um fator salientado por Oliveira et al. (2021) 5 que produz um alerta aos profissionais
de saúde, é a presença de um considerável percentual de idosos com níveis pressóricos
alterados que desconhecem essa situação.
Anker et al. 11, no entanto, afirmam que idosos frágeis com pressão arterial elevada
apresentam taxas de mortalidade mais baixas em comparação com idosos frágeis com pres-
são arterial baixa, já que pressão arterial baixa pode ocasionar quedas e declinio cognitivo
com consequente aumento da mortalidade.
A revisão sistemática e meta-analise desenvolvida na Itália corrobora ao demostrar
que em cada 10 publicações 7 apresentavam idosos frágeis portadores de hipertensão
arterial sistêmica, enquanto cerca de 1 em 7 idosos hipertensos apresentavam fragilida-
de. Concluíram que a associação entre fragilidade e idoso com hipertensão é inconclusiva,
já que os estudos longitudinais elencados apresentavam resultados conflitantes, bem como
os estudos transversais não apresentaram uma associação com estatística significativa 17.
Ademais, os estudos demonstraram ainda fatores associados a fragilidade em idosos
portadores de hipertensão, sendo o tema abordado em 3(37,5%) das 8 publicações. O es-
tudo de Ma et al.16 conduzido na China que contou com um total de 6867 idosos, dos quais
5.844 com critério de fragilidade pela CGA-FI. Os fatores associados a fragilidade foram
sexo feminino; morar em áreas rurais; idade mais avançada; menor nível de educação;bai-
xos salários; solteiro; mais de uma comorbidade; atividade física reduzida; perda auditiva
e depressão. A análise logística mostra idade mais avançada (HR = 2,869, P <0,001),
solteiro (HR = 1,386, P = 0,031), Diabetes Mellitus (HR = 2,389, P <0,001), Osteoporose
(HR = 4,839, P <0,001), perda auditiva (HR = 3,664, P <0,001), atividade reduzida (HR =
2,443, P <0,001), depressão (HR = 5,305, P <0,001) e comprometimento cognitivo (HR =
4,864, P <0,001) como fatores independentes relacionados com a fragilidade em participantes
idosos com idade mais avançada e com hipertensão.
Um número alto de medicamentos prescritos e baixo desempenho cognitivo são fa-
tores associados a hipertensão sendo significativamente associada a um maior status de
fragilidade 12. Vale lembrar que a polifarmácia, em especial, de anti-hipertensivos é um
fator importante, uma vez que os efeitos colaterais e as interações medicamentosas atuam
fragilizando as funções orgânicas com grande impacto na saúde do idoso 17.
Pacientes hipertensos que fazem uso de 3 ou 4 tipos diferentes de anti-hipertensi-
vos aumenta o risco de queda, lesões decorrentes e consequentemente fragilidade em

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comparação com aqueles que usam 0 a 2 tipos de medicamentos. Esses dados reforçam
a importância de avaliar a fragilidade no tratamento da hipertensão e, possivelmente, de
definir metas individuais de controle da pressão arterial para pessoas com fragilidade 3,17.
Portanto, diante dos resultados encontrados, percebe-se que a associação entre fragi-
lidade e hipertensão é uma condição muito comum entre a população idosa, que nos últimos
anos é mundialmente crescente, acarretando um desafio para a saúde pública. Dessa forma,
a identificação antecipada dos idosos portadores de hipertensão com tendência a fragilização
pode corroborar para que a equipe de saúde da ESF encontre formas de adotar medidas
protetoras para prevenir, adiar ou reaver a autonomia e independência desse grupo 1.
Algumas limitações foram percebidas durante a realização deste trabalho, como a in-
suficiência de estudos acerca do tema, bem como a dificuldade de identificação de artigos
que analisem a hipertensão de forma independente de outras comorbidades relacionada a
pessoa idosa. Há de forma majoritária a metodologia transversal que apresenta um nível de
evidência inferior para associar a fragilidade e a hipertensão, bem como os fatores associa-
dos, resultando em menor confiabilidade dos achados, o que limita a oportunidade de gerar
hipóteses a respeito de um nexo causal entre as condições de interesse 17.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo demonstrou que a fragilidade está associada a hipertensão arterial


sistemica em idosos, visto que a mesma está diretamente associada as alterações fisiologicas
que ocorrem com o envelhecimento, bem como configura-se como um problema de saúde
pública, além de influenciar na morbimortalidade dessa população. Os anti-hipertensivos
por meio dos efeitos colaterais e do efeito cumulativo de várias drogas também agravam a
fragilidade no idoso. Além disso, os estudos avaliados apresentam metodologia limitada ao
associar as referidas situações. Importante salientar que mais pesquisas devem ser desen-
volvidas acerca do tema com intuito de promover recomendações específicas e desenvolver
uma maior preocupação com os idosos fragéis e hipertensos, favorecendo o desenvolvimento
de ações que previnam e/ou promovam um melhor cuidado a essa população minimizando
desfechos desfavoráveis.

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06
CONCENTRAÇÕES DE CORTISOL SALIVAR
DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS E NÃO
INSTITUCIONALIZADOS

Tânia Adas Saliba


Universidade Estadual Paulista (UNESP)

Ana Carolina Bernardes Machado


Universidade Estadual Paulista (UNESP)

Erika Kiyoko Chiba


Universidade Estadual Paulista (UNESP)

Nemre Adas Saliba


Universidade Estadual Paulista (UNESP)

Suzely Adas Saliba Moimaz


Universidade Estadual Paulista (UNESP)

Artigo original publicado em: 2018


Revista Cubana de Estomatología
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/230513161
RESUMO

Objetivo: Determinar as concentrações de cortisol salivar de idosos institucionalizados e não


institucionalizados e verificar as condições de saúde bucal e dependência física. Métodos:
Estudo transversal, descritivo e analítico, com amostra composta por 80 indivíduos, sendo
45 institucionalizados e 35 não institucionalizados. Realizou-se exame clínico bucal para
avaliação de uso e necessidade de prótese dentária nos arcos superior e inferior. Também
foi realizada coleta salivar para análise da concentração de cortisol, marcador biológico do
nível de estresse. Resultados: A maioria dos idosos apresentou-se desdentado total, sen-
do 84,44% no grupo institucionalizado e 71,43% no grupo não institucionalizado. Os idosos
institucionalizados apresentaram menor índice de uso de próteses, quando comparados ao
grupo de idosos não institucionalizados (p=0,0013). A análise das concentrações de cortisol
salivar demonstrou diferenças significantes entre os grupos, com taxas mais elevadas no
grupo institucionalizado (p=0,0397). Maiores concentrações de cortisol salivar foram encon-
tradas em indivíduos que possuíam necessidades protéticas, com diferença estatisticamente
significante (p=0,0454). Conclusão: Os idosos institucionalizados apresentaram elevadas
concentrações de cortisol salivar, maior necessidade de uso de próteses e apresentaram-se
mais dependentes, quando comparados com o grupo não institucionalizado.

Palavras-chave: Envelhecimento, Hidrocortisona, Idoso, Instituição de Longa Permanência


Para Idosos, Saúde Bucal.
INTRODUÇÃO

Por todo o mundo a população idosa encontra-se em constante crescimento. Em 2050,


haverá cerca de 2 bilhões de pessoas idosas, sendo que 80 % dessa população estarão em
países em desenvolvimento, como o Brasil (WHO; 2002).
Envelhecer muitas vezes retrata solidão, submissão, comprometimento cognitivo e
funcional, assim sendo, o idoso necessita de ajuda para desempenhar suas atividades bá-
sicas. A assistência, na maioria das vezes, vem de algum membro da família sem preparo
ou qualificação para desempenhar o papel de cuidador, o que pode acarretar situações de
estresse (ROVIDA et al., 2013).
Um dos sentimentos mais presentes na vida do idoso institucionalizado é o de exclu-
são bem como o do sofrimento pelo abandono e a crença de que é um peso para a famí-
lia. A questão da institucionalização, da maneira como é feita e vivenciada pelos idosos,
causa-lhes a aflição de serem esquecidos e desamparados pela família e sociedade ge-
rando desespero e insegurança, podendo desencadear um quadro de depressão profunda
(CORDEIRO et al., 2015; GUTS et al., 2017; MORAES, 2016).
As Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) são, em geral, casas inadequa-
das às necessidades do idoso, não ofertam assistência social, cuidados básicos de higiene
e alimentação. Algumas delas além de dificultarem as relações interpessoais comunitárias
indispensáveis para o indivíduo idoso favorecem o isolamento, desocupação mental e física,
que impactam de maneira negativa na qualidade de vida, gerando condições de estresse
(IBGE, 2013). O estresse é uma variável influenciável por diversos fatores de ordem psico-
lógica, física, demográfica e social, relacionados à vida do idoso e manifesta-se quando um
indivíduo identifica que sua capacidade de adaptação não está de acordo comas exigências
do meio em que vive (SILVA; ENUMO, 2014; LAZARUS; DELONGIS, 1983). A ativação
do eixo Hipotálamo-Pituitária-Adrenal (HPA) é a principal forma de resposta endócrina ao
estresse, seja físico ou psicológico, e em função disso, ocorre produção e a liberação de
cortisol pelas glândulas suprarrenais. O processo de envelhecimento pode causar altera-
ções no eixo HPA, por exposição aos estímulos de fatores estressores no decorrer da vida
e alterações fisiológicas de regulação da atividade do eixo HPA (SILVA; ENUMO, 2014;
LAZARUS; DELONGIS, 1983; SARAIVA et al., 2015).
O cortisol é um marcador biológico de estresse que pode ser dosado por meio do san-
gue, urina ou saliva (SILVA; ENUMO, 2014). O cortisol salivar aumenta conforme o indivíduo é
exposto a fatores estressores. A dosagem de cortisol é um exame rápido, fácil, relativamente
barato, fidedigno que gera pouco incomodo ao indivíduo (LAZARUS; DELONGIS, 1983).
Condições insatisfatórias de saúde bucal podem ser destacadas como um fator estres-
sante durante o envelhecimento o que gera implicações de ordem física e psicológica na vida
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do idoso (GUTS et al., 2017). A condição de saúde bucal do idoso deve ser constantemente
avaliada, pois pode ter impacto direto em sua qualidade de vida (AGOSTINHO; CAMPOS;
SILVEIRA, 2015; GONZÁLEZ et al., 2014).
Considerando as necessidades que circundam o processo de envelhecimento, poucos
são os estudos que abordam a associação entre institucionalização e concentrações de
cortisol salivar, visando assim à melhoria das condições de saúde físicas e psicológicas da
população sênior.
Neste estudo, objetivou-se analisar as concentrações de cortisol salivar de idosos ins-
titucionalizados e não institucionalizados bem como verificar variáveis relacionadas à saúde
bucal e dependência física.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo transversal, descritivo e analítico, desenvolvido uma amostra


composta por 80 indivíduos idosos, sendo 45 institucionalizados e 35 não institucionalizados.
Os participantes do grupo “institucionalizado” foram selecionados de quatro instituições
de longa permanência para idosos de um município do estado de São Paulo, Brasil. As ILPI
participantes possuíam administração privada. Os números de idosos residentes e de cui-
dadores eram similares entre elas. Todas as ILPI apresentaram em sua estrutura física aco-
modações compartilhadas e áreas de convivência, áreas livres, jardins e pátios, e também
salas com televisores para recreação.
O grupo de idosos “não institucionalizado” foi composto por participantes de um pro-
grama social da terceira idade, promovido pelo departamento de esportes da Prefeitura
Municipal. Os participantes possuíam características semelhantes relacionadas à renda,
nível de escolaridade e moradia.
Os critérios de inclusão foram: idade igual ou superior a 60 anos, possuir cognição e
capacidade para colaborar durante a coleta de amostra salivar. Foram excluídos do estudo
idosos que faziam uso de medicamentos que alteram o fluxo salivar e os que não aceitaram
participar do estudo.
Entrevistas foram realizadas para conhecimento sobre características gerais da amostra
como: gênero, idade e acometimento de doenças sistêmicas.
Por meio de exame clínico bucal foram avaliados os seguintes indicadores de saúde
bucal: uso e necessidade de próteses, para os arcos superior e inferior, de todos os indivíduos
da amostra. O critério “prótese presente” foi considerado quando a pessoa fazia uso no mo-
mento do exame, conforme preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 1999).
Para mensurar as concentrações de cortisol, marcador biológico do estresse, foi rea-
lizada coleta de amostras salivares, no período da manhã, entre 8 h e 9 h, diretamente no
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tubo Salivette® (Sarstedt, Nümbrecht, Alemanha). Os idosos e/ou responsáveis asilares
foram orientados quanto aos procedimentos de coleta a não ingerirem alimentos ou escovar
os dentes pelo menos uma hora antes da coleta da saliva. Após a coleta, os tubetes foram
armazenados no freezer para manter a estabilidade da amostra a -20 °C. Após o descon-
gelamento e a centrifugação a 1000 × g por 2 min, a concentração do cortisol foi detectada
por meio do método de ELISA (LIMA et al., 2010). A coleta de saliva foi realizada por 2
pesquisadores previamente calibrados para a realização dessa atividade.
Os exames clínicos odontológicos foram executados por um único pesquisador, cirur-
gião-dentista treinado, durante um período de 4 meses.
A dependência funcional foi avaliada empregando-se o índice de Barthel que é um
instrumento de fácil aplicação com um alto grau de confiabilidade e validade, amplamente
utilizado. Seu escore é obtido por meio da soma de todos os pontos, onde é considerado
independente do indivíduo que atingir a pontuação total de 100 pontos. Pontuações abaixo
de 50 indicam dependência em atividades de vida diária. A versão utilizada permite avaliar
a independência funcional em dez tarefas: alimentação, banho, vestuário, higiene pessoal,
eliminações intestinais, eliminações vesicais, higiene íntima, passagem cadeira-cama, deam-
bulação e escadas (PINHEIRO et al., 2013).
Para análise dos dados foi empregado o programa BioEstat 5.0. Utilizou-se análise
estatística descritiva e testes estatísticos não paramétricos. A validade estatística das dife-
renças foi feita por meio do teste do qui-quadrado (χ²), quando os valores esperados foram
menores que 5, empregou-se o teste Exato de Fisher. Ambos os testes foram aplicados
adotando-se o nível de significância de 5 % (p< 0,05).
A presente pesquisa seguiu todos os princípios éticos da Declaração de Helsinque,
sendo preservada a confidencialidade das fontes de informações. Todos os voluntários
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para participar deste estudo e
o projeto foi submetido e aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa da Faculdade de
Odontologia de Araçatuba sob parecer FOA/01916-2011.

RESULTADOS

A Tabela 1 apresenta o perfil dos idosos participantes. No grupo institucionalizado,


a maioria era do gênero masculino (51,11%), com idade média de 76,7 anos (± 8,6) e no
grupo não institucionalizado o gênero feminino foi o mais frequente (65,71%) e a média de
idade de 70 anos (± 6,6).

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Tabela 1. Perfil sociodemográfico e condições bucais de idosos institucionalizados e não institucionalizados.
Institucionalizados n Não institucionalizados
Variáveis p valor
(%) n (%)
Amostra 45 35
Gênero
Masculino 23 (51,11) 12 (34,29)
Feminino 22 (48,89) 23 (65,71)
Doenças sistêmicas
Sim 40 (88,89) 25 (71,43)
0,0472a
Não 5 (11,11) 10 (28,57)
Condição dentária
Desdentados totais 38 (84,44) 22 (62,86)
Desdentados parciais 7 (15,56) 10 (28,57) 0,0360b
Dentados totais 0 (0,00) 3 (8,57)
Necessidade de prótese
Usa prótese/necessita 10 (22,22) 5 (14,29)
Usa prótese/não necessita 17 (37,78) 27 (77,14)
0,0008c
Não usa prótese/ necessita 18 (40,00) 2 (5,71)
Não usa prótese/ não necessita 0 (0,00) 1 (2,86)
Uso de prótese
Sim 27 (60,00) 32 (91,43) 0,0013d
Não 18 (40,00) 3 (8,57)  

a,b,c,d Diferença estatisticamente diferente.


Fonte: Autoria própria, 2023.

O grupo de idosos institucionalizados apresentou maior acometimento de doenças


sistêmicas (88,89%), quando comparado com o grupo não institucionalizado (71,43%), com
diferença estatisticamente significante (p< 0,005).
A maioria dos idosos apresentou-se desdentado total, sendo 84,44% no grupo institu-
cionalizado e 71,43% no grupo não institucionalizado (p=0,036). Os idosos institucionalizados
apresentaram menor índice de uso de próteses, quando comparados ao grupo de idosos
não institucionalizados (p=0,0013).
Do total de idosos institucionalizados 40% não utilizavam, porém necessitavam de al-
gum tipo de prótese; já no grupo de não institucionalizados, 77,14% faziam o uso próteses
e essas se encontravam satisfatórias (Tabela 1).
A análise das concentrações de cortisol salivar demonstrou diferenças significantes
entre os grupos, com taxas mais elevadas no grupo institucionalizado (p= 0,0397) (Tabela 2).

Tabela 2. Concentração de cortisol salivar de idosos institucionalizados e não institucionalizados

Concentração de cortisol salivar Institucionalizados (n) Não institucionalizados (n) p valor


Alta 27 12
Baixa 18 23 0,039a
Total 45 35  
a Diferença estatisticamente diferente.
Fonte: Autoria própria, 2023.

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Maiores concentrações de cortisol salivar foram encontradas em indivíduos que possuíam
necessidades protéticas com diferença estatisticamente significante (p= 0,0454) (Tabela 3).

Tabela 3. Relação entre concentração de cortisol salivar e necessidade de utilizar próteses dentárias, idosos
institucionalizados e não institucionalizados.

Necessidade de prótese
Concentração de cortisol salivar Total p valor
Sim Não
Alta 22 13 35
Baixa 17 28 45 0,0454a
Total 39 41 80  
a Diferença estatisticamente diferente.
Fonte: Autoria própria, 2023.

O grupo institucionalizado apresentou maior índice de dependência funcional quando


comparado com os indivíduos do grupo não institucionalizado (Tabela 4).

Tabela 4. Análise da dependência funcional por grupos de acordo com o índice de Barthel

Institucionalizados n (%) Não institucionalizados n (%)


Índice de Barthel (média ± dp) p valor
76,2 ± 23,30 98,0 ± 3,00
Dependência funcional
Independente 34 (75,55) 35 (100,00) 0,0010a
Dependente 11 (24,45) 0 (0,00)  
a Diferença estatisticamente diferente.
Fonte: Autoria própria, 2023.

DISCUSSÃO

Neste estudo sobre estresse e dependência em idosos institucionalizados e não ins-


titucionalizados verificou-se que idosos que vivem em instituições de longa permanência
possuem maiores níveis do marcador biológico de estresse na saliva quando comparados
com idosos que vivem na comunidade. Esse fato pode ser justificado devido ao abandono
familiar, falta de autonomia e o sentimento de solidão que tornam os idosos institucionaliza-
dos mais vulneráveis ao estresse, considerando que apoio emocional e o convívio familiar
fazem com que o processo de envelhecimento seja menos impactante (WHO, 2002; LIMA
et al., 2010; BAUMGARTNER; SHIMMEL; MULLER, 2015; GIL-MONTOYA et al., 2015).
A falta de estruturação de Programas Sociais para idosos brasileiros, que lhes permitam
continuar a viver em sociedade, gera impactos emocionais negativos. O despreparo social
para lidar com problemas dos idosos de forma adequada, muitas vezes condena o indivíduo
a viver em abrigos ou instituições de longa permanência para idosos, o que pode acarretar
em problemas como estresse crônico, diminuição da autoestima, sentimentos de isolamento
e angústia (KURIHARA et al., 2013).

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Idosos que residem em instituições de longa permanência apresentaram, neste estudo,
maior acometimento por doenças sistêmicas quando comparados aos idosos da comunidade,
o que reforça o fato de que condições de saúde e doença são influenciadas pelo espaço
social em que o indivíduo habita (GUTS et al., 2017; LINI; PORTELLA; DORING, 2016).
De acordo com a Organização Panamericana de Saúde, em 2025 a estimativa é de que
85% da população brasileira acima de 60 anos apresente ao menos uma patologia crônica
(OPAS, 1998). A prevalência de doenças crônicas aumenta incapacidades de ordem física
ou psicológica entre os idosos, sendo fator preponderante para a institucionalização, o que
pode afetar a qualidade de vida desses indivíduos (FERREIRA et al., 2014). O despreparo
para cuidar do idoso com algum tipo de doença ou limitação de ordem física ou psicológica
e falta de recursos econômicos são alguns dos fatores que levam a família a optar pela
institucionalização (ZAGONEL et al., 2017).
A saúde bucal atua diretamente na autoimagem do indivíduo e em sua qualidade de
vida. A perda de elementos dentais e próteses em más condições tem um impacto direto
no bem-estar psicológico e alterações emocionais, agindo negativamente sobre a dieta e
higiene oral do indivíduo (MELO et al., 2016; BRASIL, 2011).
O idoso brasileiro apresenta altas taxas de edentulismo devido á práticas odontológicas
mutiladoras frequentes no passado, mas que ainda permanecem fixadas no conceito onde
a dor é o único motivo para a procura de atendimento odontológico (ROVIDA et al., 2013;
BRASIL, 2011). Tal pensamento primário acerca dos cuidados de saúde bucal muitas vezes
acarreta prejuízos estéticos e funcionais para o indivíduo, pois o que poderia ser resolvido
com procedimentos simples transforma-se em algo complexo demandando tratamentos
amplos e de alto custo.
Dados do levantamento epidemiológico de saúde bucal SB Brasil 2010 demonstram
que apenas 7,3% da população idosa brasileira não necessita de prótese dentária e que
87,5% utiliza algum tipo de prótese (BRASIL, 2011). No presente estudo 99,8% dos partici-
pantes faziam uso de algum tipo de prótese dentária, tendo um alto índice de edentulismo,
o que tange achados literários (BRASIL, 2011). O grupo institucionalizado apresentou maior
índice de edentulismo, e reflete a precariedade da saúde bucal de idosos institucionalizados,
conforme já relatado na literatura (MOIMAZ et al., 2011). Tal fato pode estar relacionado
com os longos anos de demandas não atendidas em todos os níveis de atenção. A perda
de dentes tem íntima relação com o bem-estar físico e psicológico do indivíduo, afetando
suas relações sociais e atividades rotineiras (VAN DER PUTTEN et al., 2014).
A autonomia do indivíduo com relação ao uso de prótese muitas vezes prevalece;
experiências negativas vivenciadas no passado como: uso de próteses mal adaptadas que
lesionaram tecidos bucais causando desconforto ao falar ou mastigar pode levar o idoso a não

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utilizar prótese com receio de que os problemas enfrentados reincidam. O profissional ciente
de tais condições deve realizar estratégias para que o indivíduo faça o uso da prótese, pois
a reabilitação oral no idoso é uma importante forma de enfrentamento a fatores estressores
(ROVIDA et al., 2013; TEIXEIRA et al., 2015). O cuidado, higienização e acompanhamento
odontológico das próteses dentárias são essenciais para impedir problemas relacionados à
saúde bucal (MOIMAZ et al., 2011).
A dependência funcional pode ser definida como falta de habilidade física e mental do
indivíduo em realizar atividades rotineiras de maneira autônoma. Nesse estudo, observou-se
que idosos pertencentes a instituições de longa permanência possuíam maior dependência
funcional quando comparados aos não institucionalizados. Tal achado está de acordo com
dados da literatura que destacam a dependência como um dos fatores de risco para a insti-
tucionalização (MELO et al., 2016). Outro fator a ser enfatizado é que a própria dinâmica da
instituição pode colaborar para a dependência pois, muitas vezes, a necessidade de rápido
atendimento e serviço faz com que os cuidadores/enfermeiros executem atividades que os
idosos seriam capazes de realizarem sozinhos, com maior demanda de tempo, no entanto,
devido à escassez e despreparo do profissional essa é uma prática comum na maioria das
instituições (ROVIDA et al., 2013; CAMELO; GIATTI; BARRETO, 2016).
Com a redução da autonomia do idoso os cuidadores devem ser capacitados para
atuar de maneira efetiva nas atividades diárias dos internos. Ressalta-se também a ne-
cessidade de acompanhamento multidisciplinar para realização de ações de promoção de
saúde que aperfeiçoam a função cognitiva melhoram a qualidade de vida do indivíduo sênior
(MOIMAZ et al., 2011).
Muitas instituições de longa permanência não apresentam o número suficiente de
cuidadores e profissionais especializados, o que contribui para a dependência do idoso.
Atividades de estimulação física e psicológica com profissionais capacitados (psicólogos,
fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e educadores físicos), quando realizadas, atuam
de maneira positiva no bem-estar e na qualidade de vida do institucionalizado (MOIMAZ
et al., 2011). Neste estudo, ficou comprovada a relação positiva entre institucionalização e
dependência funcional.
A diminuição da independência pode gerar uma carga psicológica negativa e perda
da autoestima, também afeta a saúde bucal do idoso de maneira direta, onde o estado den-
tário e condições de saúde bucal de indivíduos dependentes são significantemente piores
quem em pessoas da mesma idade vivendo de maneira independente (BAUMGARTNER;
SCHIMMEL; MULLER, 2015).
Concentrações mais elevadas de cortisol salivar foram encontradas no grupo institu-
cionalizado quando comparados ao grupo não institucionalizado o que diverge do estudo de

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Kuriara et al. (2013) onde não houve diferenças significantes dos níveis de estresse entre
grupos; tal fato sugere a presença de variáveis estressoras e o modo com que cada idoso
enfrenta as questões relacionadas ao processo de envelhecimento e institucionalização.
Altas concentrações de cortisol apresentaram relação positiva com necessidade de pró-
tese dentária, ou seja, idosos com concentrações elevadas de cortisol salivar necessitavam
de próteses dentárias e os que não precisavam de próteses, seja por possuir dentes ou por
usarem próteses satisfatórias, apresentaram baixa concentração de cortisol salivar. A reabili-
tação bucal atua na função mastigatória fazendo com que o idoso tenha melhores condições
nutricionais, restabelece a fonação e a estética favorecendo as relações sociais, sendo uma
importante forma de enfrentamento a fatores estressores.
Salienta- se o impacto da reabilitação bucal na vida da pessoa idosa. O uso de pró-
teses em condições satisfatórias tem relação com menores concentrações de cortisol sali-
var, marcador biológico do estresse, e com a saúde bucal atuando consequentemente na
qualidade de vida do idoso. Políticas de saúde bucal que visem essa população podem
ajudar no processo de envelhecimento trazendo bem-estar e qualidade de vida. As institui-
ções de longa permanência para idosos devem focar em ações que visem à promoção de
saúde dos asilados.
Novos estudos podem ser feitos empregando-se técnicas de análises qualitativas para
aprofundamento de questões relacionadas ao estresse.

CONCLUSÃO

O estudo revelou que idosos institucionalizados apresentaram elevadas concentrações


de cortisol salivar, maior necessidade de uso de próteses e maior dependência física quando
comparados com o grupo não institucionalizado.

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CRÍTICA À CONCEPÇÃO DE SAÚDE HEGEMÔNICA

Luisa Gabriel Costa


(PUC-SP)

Artigo original publicado em: 2022


Rev. Longeviver - ISSN 2596-027X.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/230513142
RESUMO

A concepção de mundo ocidental no mundo globalizado organiza e orienta todo o pensa-


mento, produção de conhecimento, ações e práticas que compartilhamos, ou seja, como
percebemos o mundo. A biomedicina, por exemplo, é o fragmento cultural que norteia a visão
da sociedade sobre o que é saúde e doença, garantindo exclusividade a uma visão reducio-
nista, organicista e cientificista. Esta concepção de saúde-doença estabelece seus padrões
e problemáticas baseados um homem europeu e não considera subjetividades constituídas
fora desse padrão (GOES, 2019). A crise no campo da saúde é resultado de uma crise sis-
têmica que afeta toda a vida da sociedade contemporânea. A crise da saúde é inteiramente
análoga à crise sistêmica do mundo contemporâneo a partir de uma perspectiva ampliada
de saúde não como especialidade, mas como modos de viver no planeta. Santos (2002)
afirma que a experiência social em todo o mundo é muito mais ampla e variada do que o que
a tradição científica ou filosófica ocidental conhece e considera importante. Do desperdício
desta riqueza social é que se nutrem as ideias que proclamam que não há alternativa, que a
história chegou ao fim e, principalmente, de que trilhamos o único caminho possível. O convite
para nos abrirmos para outras epistemologias e cosmopercepções é também um convite
para outras jornadas que não estejam fadadas a dor e sofrimento e tampouco à ilusão de
não ser responsável pelo que se produz no mundo.

Palavras-chave: Concepção Hegemônica, Saúde, Pluralidade Epistemológica.


O processo de colonização do Brasil configurou-se como alicerce de um modelo de
sociedade exploratório e violento, no qual apenas uma etnia possui completa hegemonia
social, cultural, econômica e política. Os padrões de desenvolvimento dos países domi-
nantes, que hoje controlam a economia mundial, em sua maioria europeus, serviram de
modelo para a sociedade brasileira, enquanto os povos originários que aqui habitavam há
muito tempo, assim como seus costumes e tradições, foram silenciados, exterminados e
escravizados (LIMA, 2017).
Se nos primórdios da colonização os europeus relacionaram-se com os povos indíge-
nas com o objetivo de extermínio e escravização, posteriormente, o objetivo foi integrá-los à
sociedade e transformá-los em um igual (CALDEIRA, 2010), fato que, de maneira nenhuma
limitou a destruição desta população.
Este processo de assimilação estava presente na política nacional brasileira e legiti-
mava a violência dos povos europeus para com os povos indígenas e seu modo de vida,
apoiados em um discurso de salvação e caridade. Somente com a Constituição Brasileira
de 1988 foi reconhecido aos povos indígenas o direito à sua organização social, costumes,
línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente
ocupavam (CALDEIRA, 2010).
O reconhecimento de seus direitos, definitivamente, não lhes garantiu sua efetivação,
uma vez que a hegemonia cultural permeia todos os aspectos da vida social capitalis-
ta. A concepção de mundo ocidental no mundo globalizado organiza e orienta todo o pen-
samento, produção de conhecimento, ações e práticas que compartilhamos, ou seja, como
percebemos o mundo. A biomedicina, por exemplo, é o fragmento cultural que norteia a
visão da sociedade sobre o que é saúde e doença, garantindo exclusividade a uma visão
reducionista, organicista e cientificista. Esta concepção de saúde-doença estabelece seus
padrões e problemáticas baseados em um homem europeu e não considera subjetividades
constituídas fora desse padrão (GOES, 2019).
No modelo biomédico, fatores psicológicos, biológicos, ambientais e pessoais são re-
duzidos à ênfase nas anormalidades biológicas e o corpo é reduzido à sistemas corporais
e fragmentado em diversas partes menores, de modo que cada sistema é considerado se-
paradamente. O médico, um especialista, limita-se a sua área pessoal de atuação e perde
de vista a complexidade do ser que seria seu paciente. Este é meramente visto como um
corpo a ser consertado, uma engenharia danificada. Ao mesmo tempo, as determinações
causais que orientam a prática médica a partir desta concepção centralizam o ser individual
no processo de adoecimento, desconsiderando-se aspectos sociais, contextuais e modos de
vida para pensar o processo saúde doença. Isso porque a lógica desta ideologia norteadora

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da cultura atual é segmentária, individualizante e retira qualquer possibilidade de questiona-
mento diante dos modos de produção social, seja de capital ou de vida.
A crise no campo da saúde é resultado de uma crise sistêmica que afeta toda a vida
da sociedade contemporânea. A crise da saúde é inteiramente análoga à crise sistêmica do
mundo contemporâneo a partir de uma perspectiva ampliada de saúde não como especia-
lidade, mas como modos de viver no planeta. Este modo de viver não produz saúde, mas
doença. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta para 45% da população
mundial com insônias e distúrbios do sono, 30% com depressão e ansiedades patológicas,
além do crescente número de pessoas com câncer e doenças cardíacas, ambos configurados
como principais causas de morte, inclusive no Brasil. Nos últimos 30 anos, a classificação
internacional da doença aumentou para 55000 patologias (BARRETO, 2021). Esses núme-
ros nos obrigam a questionar: o que estamos produzindo no campo da saúde? Quais as
bases epistemológicas que alicerçam nossas práticas e relações e para qual caminho nos
levam? É possível que estejamos a produzir doença?
Jean-Claude Bernardet em “O corpo crítico” (2019) nos ajuda a pensar e aprofundar
na compreensão dessas bases que resultaram no modelo biomédico através da sua relação
com o capitalismo ao afirmar que

Laboratórios farmacêuticos, fabricantes de máquinas de ponta para diagnósti-


cos por imagem, dentre outras finalidades, e hospitais precisam da nossa “bio”
- o que não quer dizer “nossa vida” - para lucrar, sendo que a manutenção da
bio independe da qualidade de vida. Uma forma de resistência a essa ala do
capitalismo consistiria em privá-la da nossa bio, isto é, de sua fonte de riqueza.
[...] Raros são os médicos que aceitam essa discussão, porque a ideologia os
leva a pensar não no paciente, mas na sua cura.

Bernardet, octogenário, foi diagnosticado com câncer de próstata e, após algumas


tentativas de buscar saúde-cuidado dentro do sistema de saúde, liberta-se ao recusar um
tratamento violento e debilitante, encontrando barreiras institucionais e nas relações com
as pessoas próximas dele. Ele diz,

Aqueles não eram médicos do paciente, eram médicos do meu câncer, que os
preocupava mais que o portador do tumor. Eu mal os interessava (apesar da
amabilidade formal). Nenhum dos dois médicos chegou a me perguntar se eu
queria me tratar ou se preocupou com a minha visão, ou com a minha idade.
Também é possível dizer que são médicos de protocolo.

Bernardet nos evidencia que o modelo biomédico, ao relacionar-se com os indivíduos


de forma mercantil, não é capaz de promover o cuidado ao desconsiderar a singularidade a
partir de uma visão focada na cura do corpo. O sujeito ali presente é invisível, considerá-lo
seria uma perda de tempo e produtividade.

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O que seria, então, o cuidado? Ailton Krenak, líder indígena, ambientalista, filósofo, es-
critor e poeta brasileiro da etnia Krenaque, em sua participação no curso “Práticas Indígenas
de Produção de Cuidado”, traz as ideias de Boaventura de Sousa Santos e convida para
o exercício de busca pela pluralidade epistemológica do mundo como uma forma de nos
descolarmos de uma ontologia hegemônica cravada na ideia de “mundo limitado e refém da
crise e do dano”. Esta é a ideia, a perspectiva que garante a manutenção da cultura capita-
lista e biomédica ao perpetuar medo, passividade e ausência de autonomia, oferecendo à
população sua resposta e proteção.
Santos (2002) afirma que a experiência social em todo o mundo é muito mais ampla
e variada do que o que a tradição científica ou filosófica ocidental conhece e considera im-
portante. Do desperdício desta riqueza social é que se nutrem as ideias que proclamam que
não há alternativa, que a história chegou ao fim e, principalmente, de que trilhamos o único
caminho possível. A “sociologia do desastre”, como coloca Krenak, é resultado de um mundo
“abismado com a própria jornada”, cheio de novas doenças, doenças crônicas e pandemias
que se tornam o único cenário possível para o futuro da humanidade (KRENAK, 2021).
De acordo com Santos, para combater o desperdício da experiência, para tornar vi-
síveis as iniciativas e os movimentos alternativos e para lhes dar credibilidade, de pouco
serve recorrer à ciência social tal como conhecemos, ela é quem esconde e desacredita as
alternativas. Portanto, seria necessário propor um modelo diferente de racionalidade que
inclua outros saberes capazes não só de confrontar ideias, mas de propor alternativas. A “in-
dolência” da razão ocidental manifesta-se no modo como resiste à mudança das rotinas, e
como transforma interesses hegemônicos em conhecimentos verdadeiros (SANTOS, 2002).
Apesar da narrativa da “sociedade do desastre” acabar por garantir a manutenção das
relações de poder, por manter tudo em seu lugar, a partir da construção de uma “resposta”
de “proteção”, paliativa, aos danos causados pelo modo de vida extrativista, escravagista,
dominador, ela traz elementos essenciais e reais na compreensão da nossa situação pla-
netária. Estes elementos dizem sobre o que estamos, de fato, construindo enquanto cultura
hegemônica (o que, reforçando, não diz sobre todo o planeta): uma sociedade que caminha
para o desastre. Davi Kopenawa, xamã Yanomami, escreveu o livro “A queda do céu” anun-
ciando que a sociedade dos “homens mercadoria” que, “apesar de terem os olhos abertos,
não enxergam nada” (p. 474), caminha para a ruína, momento em que o céu desabará sobre
nós. Sobre o livro, Eduardo Viveiros de Castro, no prólogo, diz que

A queda do céu é um acontecimento científico incontestável, que levará, sus-


peito, alguns anos para ser devidamente assimilado pela comunidade antropo-
lógica. Mas espero que todos os seus leitores saibam identificar de imediato o
acontecimento político e espiritual muito mais amplo, e de muito grave significa-
ção, que ele representa. Chegou a hora, em suma; temos a obrigação de levar

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absolutamente a sério o que dizem os índios pela voz de Davi Kopenawa — os
índios e todos os demais povos ‘menores ’do planeta, as minorias extranacio-
nais que ainda resistem à total dissolução pelo liquidificador modernizante do
Ocidente. Para os brasileiros, como para as outras nacionalidades do Novo
Mundo criadas às custas do genocídio americano e da escravidão africana, tal
obrigação se impõe com força redobrada. Pois passamos tempo demais com o
espírito voltado para nós mesmos, embrutecidos pelos mesmos velhos sonhos
de cobiça e conquista e império vindos nas caravelas, com a cabeça cada vez
mais “cheia de esquecimento”,* imersa em um tenebroso vazio existencial, só
de raro em raro iluminado, ao longo de nossa pouco gloriosa história, por lam-
pejos de lucidez política e poética. Davi Kopenawa ajuda-nos a pôr no devido
lugar as famosas “ideias fora do lugar”, porque o seu é um discurso sobre o
lugar, e porque seu enunciador sabe qual é, onde é, o que é o seu lugar. Hora,
então, de nos confrontarmos com as ideias desse lugar que tomamos a ferro
e a fogo dos indígenas, e declaramos “nosso” sem o menor pudor; ideias que
constituem, antes de mais nada, uma teoria global do lugar, gerada localmente
pelos povos indígenas, no sentido concreto e etimológico desta última palavra.
Uma teoria sobre o que é estar em seu lugar, no mundo como casa, abrigo e
ambiente, oikos, ou, para usarmos os conceitos yanomami, hutukara e urihi
a: o mundo como floresta fecunda, transbordante de vida, a terra como um
ser que “tem coração e respira” (p. 468), não como um depósito de ‘recursos
escassos ’ocultos nas profundezas de um subsolo tóxico — massas minerais
que foram depositadas no inframundo pelo demiurgo para serem deixadas
lá, pois são como as fundações, os sustentáculos do céu —; mas o mundo
também como aquela outra terra, aquele ‘suprassolo ’celeste que sustenta
as numerosas moradas transparentes dos espíritos, e não como esse ‘céu
de ninguém’, esse sertão cósmico que os Brancos sonham — incuráveis que
são — em conquistar e colonizar. (2015, p. 15)

O convite para nos abrirmos para outras epistemologias e cosmopercepções é também


um convite para outras jornadas que não estejam fadadas a dor e sofrimento e tampouco
à ilusão de não ser responsável pelo que se produz no mundo. Krenak (2021) traz também
o pensamento do quilombola Nego Bispo para falar de um “movimento de confluências”.
Este movimento estaria relacionado a uma lógica cosmovisiva politeísta que se relaciona
de forma respeitosa, orgânica e biointerativa com todos os elementos vitais, transformando
divergências em diversidades e na diversidade atingindo a confluência de todas as nossas
experiências (BISPO, 2015).
O movimento de confluência contrapõe-se a negação, a constante confrontação e o con-
sequente desalento provocados pela concepção de mundo hegemônica que desterritorializa e
desnaturaliza a experiência de vida humana ao separá-la do mundo natural. Este movimento
é firmado no presente ao invocarmos a “experiência de vida produtora de vida” (KRENAK,
2021). Esta experiência refere-se à capacidade de cada pessoa produzir vida dentro de si,
através do desejo profundo de vida como uma potência de ação e construção de mundos.
É o que faz Bernardet (2019), que no relato de sua experiência, nos exemplifica esta
“experiência de vida produtora de vida” ao compartilhar que

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A doença é uma fonte de energia. A doença não é uma fonte de energia, fonte de energia
é o enfrentamento da doença.” Foi o que escrevi no meu livro a respeito da Aids, A Doença,
uma Experiência, publicado em meados da década de 90. Éramos então condenados a uma
morte em curto prazo. Naquele período, tive uma produção intensa e criativa. Uma atividade
frenética. Não porque precisasse aproveitar ao máximo o tempo que me restava, mas porque
a proximidade da morte me libertava. Deixei de lado as chatices da vida e fiquei extraor-
dinariamente estimulado. Não virar objeto da doença, recusar o papel de vítima. Dialogar
com a doença, viver a doença intensamente. [...] E agora? Ainda não conheço meu novo
câncer. O de 2016 já são águas passadas, embora sequelas do tratamento ainda estejam
ativas. Câncer número 2, eu ainda não sei quem você é, como dialogar com você, como
nós dois vamos nos relacionar, o que você me traz, que estímulos, que inquietações, Estou
aberto à suas propostas. [...] Vivo num clima de morte, respiro a morte. Não é o câncer.
Parte da sociedade quer acabar com o grupo social ao qual pertenço. A opressão me sufo-
ca. Há pessoas que negam o Renascimento e voltam para uma pretensa Idade Média total-
mente inventada, masculina, branca, cristã, despojada de todo espírito crítico - e guerreira.
A concepção hegemônica de saúde/vida difere radicalmente deste movimento de li-
berdade ao propor uma cultura de hiper higienização e medicamentosa (KRENAK, 2021).
Bispo afirma que

Os colonizadores [...] foram desterritorializados ao ouvir do seu Deus que as


ervas eram espinhosas e daninhas, que para se alimentarem tinham que co-
mer do suor do próprio corpo, ou seja, transformar os elementos da natureza
em produtos manufaturados e/ou sintéticos. Foi nesse exato momento que se
configurou a desterritorialização e a desnaturalização do povo cristão mono-
teísta, fazendo com que esses só se sentissem autorizados pelo seu Deus a
fazer uso dos produtos de suas artificialidades. (2015, p. 96)

E ainda

Isso fez com que esse povo desterritorializado, antinatural, eternamente casti-
gado e aterrorizado por seu Deus, sentisse a necessidade de se reterritorializar
em um território sintético. Para tanto, se espraiaram pelo mundo afora com
o intuito de invadir os territórios dos povos pagãos politeístas e descaracteri-
zá-los através de processos de manufaturamento para a satisfação das suas
artificialidades. (BISPO, 2015, p. 96)

Krenak (2021) explicita também que esta cultura promove o medo ao afirmar nossa
vulnerabilidade e incapacidade de ação diante do caos cósmico enquanto diagnostica todo
dano como enfermidade a ser medicalizada. Ocorre o sequestro de um bem natural que é
a capacidade intrínseca de cada um de produzir cuidado. Este bem comum, que é de to-
dos, é reservado aos profissionais de saúde que têm a tarefa de curar todos os doentes, de

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gerenciar e administrar a engenharia da saúde. A saúde torna-se uma mercadoria que pode
ser gestionada e contabilizada pelos humanos, em especial aqueles que especializarem-
-se neste campo enquanto a saúde deveria ser de toda a imensa constelação de pessoas
não especializadas.
A saúde não é experiência que alguns gerenciam, produto de engenharia, mas o fluxo da
experiência de viver com a terra. A terra é a fonte de vida, o ar, a água, o vento, o fogo. Não
é commodity a ser apropriada pelos humanos. A concepção de saúde hegemônica acredita
que podemos viver fora da terra e de tudo que é potência de vida. O afastamento da vida não
humana, que inclui os elementos da natureza, é dado por Krenak (2021) como razão primária
do adoecimento da humanidade. O bemestar é produzido dentro da experiência radical de
interdependência e hiper relação dos seres humanos e não humanos do planeta. O antro-
pocentrismo só pode ser combatido quando nos afetamos com o redor (KRENAK, 2021).
A hiper higienização é expressa nos cotidianos estéreis da cidade, em que a terra é
separada da vida e o fluxo vital plugado a complexos tecnológicos controlados por sistemas
alheios ao cotidiano e a simplicidade da vida. Como afirma Krenak (2021), “a vida não é in
vitro”. A separação cultura-natureza nos afasta cada vez mais de nós mesmos e do mara-
vilhamento do encontro que é a vida.
Tudo isto torna-se possível através do esquecimento/apagamento produzido pelo nos-
so modo hegemônico de viver e produzir saber-poder. A sociedade capitalista produz, em
sua lógica, o esquecimento de saberes ancestrais, saberes de mundos passados que lhe
antecedem. Estes saberes ancestrais, os quais os povos indígenas ainda têm presente em
suas vidas cotidianas, são o que conecta a produção de saber (e de vida) com as experiên-
cias não humanas. Este modo de estar no mundo, diferentemente do “autoconvencimento”,
permite a pluralidade epistemológica através do contato direto com as plantas e com a
natureza, mediado por um recurso, um saber, construído por aqueles que vieram antes de
nós (KRENAK, 2021).
Em contraposição a esta experiência de vida, está a mera “expressão”, o “misticismo”
decorrente da mediocridade de uma vida sem potência e sem relação a qual a sociedade
contemporânea está amarrada e necessita urgentemente ser libertada.
Porém, esta libertação só será possível a partir de uma abertura a novas produções
de vida, de relação, de saber e percepções de mundo.
A Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas preconiza a articulação
entre os conhecimentos tradicionais indígenas e a Biomedicina. Em tese, há em nossa política
pública o reconhecimento oficial da existência de outros sistemas de conhecimentos e de
outros modos de cuidados com a saúde. No entanto, sob a égide do pensamento científico
hegemônico, temos a tendência a identificar outras formas de conhecimentos e práticas como

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crendices, superstições ou fragmentos de um pensamento “menos evoluído”, cuja eficácia
é questionável” (CALDEIRA, 2010). Muito recentemente apenas, antropólogos brasileiros
começaram a conceituar a Medicina indígena e a Medicina popular como sistemas médi-
cos e não como vestígios de um passado folclórico, bem como relativizar a Biomedicina ao
analisá-la como um conhecimento produto de uma época, de processos sociais, históricos,
políticos e culturais como todo e qualquer conhecimento (LANGDON, 2004).
Poucos são os profissionais que reconhecem que a forma como cuidam da saúde é
apenas uma entre as várias formas (CALDEIRA, 2010). É essencial que os profissionais
de saúde desenvolvam uma competência cultural como parte de sua competência clínica,
relativizando o seu conhecimento e reconhecendo os diversos saberes que se apresentam
nas relações (PEREIRA, 2014). O conhecimento dos povos originários deve ser validado,
oficializado e este processo não é feito somente através de Políticas Públicas que reconhe-
çam seu direito à saúde, às terras, à vida, mas também na prática cotidiana dos serviços
de saúde oferecidos à esta população e, assim, na construção coletiva de uma sociedade
capaz de movimentos de confluência que permita a existência da diversidade e da diferença.

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DA VELHICE À TERCEIRA IDADE: O PERCURSO
HISTÓRICO DAS IDENTIDADES ATRELADAS AO
PROCESSO DE ENVELHECIMENTO

Luna Rodrigues
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)

Artigo original publicado em: 2008


História, Ciências, Saúde
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/230512969
RESUMO

Este artigo trata do surgimento histórico das noções de velhice e terceira idade como cate-
gorias identitárias atreladas ao processo de envelhecimento. A origem de tais noções está
na combinação complexa de fatores como saberes médicos e sociais, agentes de gestão,
movimentos políticos e interesses econômicos. Como velhice e terceira idade são identi-
dades etárias historicamente determinadas, analisam-se os fatores que determinaram sua
ascensão e sua legitimação. A velhice surge como categoria etária quando o corpo velho
é tomado como objeto de estudo e quando os sistemas de aposentadoria são implementa-
dos. A terceira idade aparece como categoria etária com a especialização dos agentes de
gestão do envelhecimento, o discurso reivindicador da gerontologia social e os interesses
da cultura do consumo. Essas categorias são postas em campo para identificar, definir e,
mais recentemente, transformar o processo de envelhecimento contemporâneo.

Palavras-chave: Identidade Etária, Envelhecimento, Terceira Idade.


INTRODUÇÃO

O acentuado envelhecimento da população é um tema que vem recebendo destaque


em diversos campos da cultura, gera debates e produz tanto inovações quanto desafios no
que se refere à gestão coletiva dos ‘problemas’ sociais. No campo dos estudos acadêmicos
sobre a velhice, esforços têm sido empreendidos com o intuito de analisar, problematizar
e propor novas formas de compreensão do envelhecimento. Esses esforços procedem
das mais diversas disciplinas, como psicologia, sociologia e antropologia, sem deixar de
mencionar a emergência de mais uma disciplina que almeja a integração dos discursos
especializados: a gerontologia.
Ao observar as manifestações culturais daqueles que envelhecem na contemporanei-
dade, identificamos mudanças significativas de hábitos, imagens, crenças e termos utilizados
para caracterizar esse período da vida. Além das tradicionais representações que atrelam
os momentos mais tardios da vida ao descanso, à quietude e à inatividade, surgem hábitos,
imagens e práticas que associam o processo de envelhecimento a atividade, aprendizagem,
flexibilidade, satisfação pessoal e vínculos amorosos e afetivos inéditos. O espectro de descri-
ções possíveis para o envelhecimento ampliou-se tanto que à ‘velhice’, tal como a conhece-
mos, se somou a ‘terceira idade’ e uma série de características inéditas que a acompanham.
A necessidade de compreender essa transformação que marca o envelhecimento con-
temporâneo nos estimula a refletir acerca das categorias identitárias e dos termos postos
em campo para descrever esse processo. Para tanto, procuro traçar o percurso histórico
das noções de velhice e de terceira idade e, desse modo, apreender os fatores que as origi-
naram e as características que, atualmente, respondem pela sua definição. Para recuperar
a origem dessas noções privilegio os estudos oriundos da sociologia e antropologia, de
modo a enfatizar os aspectos discursivos e imaginários envolvidos em suas delimitações.
Cabe destacar que, neste trabalho, nos deteremos nas representações do envelhecimento
produzidas no contexto de formação das chamadas sociedades ocidentais modernas, e nas
recentes inovações que a esta se somaram, não sendo possível discutir outras epistemolo-
gias e modos de envelhecer não hegemônicos.
Dessa perspectiva, o surgimento da velhice e da terceira idade pode ser entendido
como resultante de um processo complexo, que envolve a convergência de discursos po-
líticos, práticas sociais, interesses econômicos e disciplinas especializadas. A análise da
formação dessas noções nos põe diante de teias intricadas que unem saberes médicos,
agentes de gestão e especialistas. Além disso, as novas identidades etárias não só fazem
parte de nosso imaginário, como, em muitos aspectos, delimitam as possíveis descrições
que fazemos de nós mesmos e de nossas vidas.

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Categorias etárias e modernidade

O surgimento de categorias etárias relaciona-se intimamente com o processo de ordena-


mento social que teve curso nas sociedades ocidentais durante a época moderna. De acordo
com Hareven (1995), até o início do século XIX fatores demográficos, sociais e culturais
combinavam-se de tal modo que as sociedades pré-industriais não procediam à separação
nítida ou a especializações funcionais para cada idade. A diversidade de idades entre as
crianças de uma mesma família, a ausência da regulamentação de um tempo específico
para o trabalho e a coabitação de famílias extensas são apenas alguns dos fatores que, em
conjunto, não favoreciam a fragmentação do curso da vida em etapas determinadas.
A partir do século XIX surgem, gradativamente, diferenciações entre as idades e es-
pecialização de funções, hábitos e espaços relacionados a cada grupo etário. Têm início a
segmentação do curso da vida em estágios mais formais, as transições rígidas e uniformes
de um estágio a outro e a separação espacial dos vários grupos etários. Desse modo, o
reconhecimento da velhice como uma etapa única é parte tanto de um processo histórico
amplo – que envolve a emergência de novos estágios da vida como infância e adolescên-
cia –, quanto de uma tendência contínua em direção à segregação das idades na família e
no espaço social.
Segue na mesma direção a obra do historiador Philippe Ariès (1978) acerca do surgi-
mento da categoria ‘infância’. Esse trabalho é considerado paradigmático no campo dos estu-
dos sobre o envelhecimento, visto ser um dos mais difundidos exemplos de estudo histórico
sobre a construção social de uma etapa da vida. Segundo Ariès, a ideia de infância como
período distinto da idade adulta, com suas particularidades, seus espaços, seus hábitos e
comportamentos determinados, resulta de transformações na esfera familiar e da distinção
entre os espaços público e privado, que culminaram em novas relações de intimidade e
privacidade na família. Tal perspectiva, que atrela o surgimento da categoria infância ao da
família moderna, inspira os estudos históricos sobre outras categorias etárias, como a velhice.
A estabilização das categorias etárias deu-se ao longo do século XIX, de modo que, no
século XX, pôde-se observar maior uniformidade no interior dos grupos etários, marcação
razoavelmente precisa da transição entre diferentes idades e institucionalização de ritos de
passagem, como o ingresso na escola e na universidade e a aposentadoria (Hareven, 1995).
Essa estabilização favoreceu a formação de identidades etárias que passaram a definir, por
meio de características de conduta, crenças, hábitos corporais e ideais de satisfação, a ex-
periência de ‘habitar’ cada uma dessas etapas da vida. De fato, ser criança, adolescente ou
adulto constitui grande parte da identidade dos sujeitos modernos. A crescente institucionali-
zação das etapas da vida e o processo de identificação dos sujeitos com as categorias etárias
atingiram praticamente todas as esferas da vida social, fazendo-se presentes no espaço

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familiar, no domínio do trabalho, nas instituições do Estado, no mercado de consumo e nas
esferas de intimidade. Neste artigo, enfoco os aspectos que propiciaram o surgimento discur-
sivo e imaginário da noção de velhice. Fatores como o próprio envelhecimento populacional
e o crescimento demográfico, a despeito de sua inegável relevância, não serão abordados.1

O surgimento da velhice: senescência e improdutividade

Adoto como hipótese, neste artigo, a suposição que articula o surgimento da velhice
ao processo de modernização das sociedades ocidentais. Ela está presente em muitos
estudos (Blaikie, 1999; Debert, 1999; Katz, 1995, 1996) que indicam que as transforma-
ções históricas inerentes ao processo de modernização não só atingiram a periodização
da vida, a diferenciação entre as suas etapas e a sensibilidade que passou a caracterizar
cada uma delas, como também, e fundamentalmente, provocaram a própria compreensão
do curso da vida como uma instituição social relevante (Debert, 1999). Defendem também
esses estudos que provavelmente teria ocorrido uma transição de uma cultura cuja forma
de organização não designava função relevante à idade cronológica, para outra em que a
idade passou a ser um fator fundamental para a distinção social, destacando-se como cate-
goria e como modelo de identidade para os sujeitos. Similarmente, Katz (1995, 1996), autor
que se baseia na conceituação foucaultiana de sociedade disciplinar, supõe que a história
da velhice se relaciona intimamente com a história do curso moderno de vida. Para Katz a
velhice surge como produção discursiva a partir da inserção dos sujeitos na série moderna
de disciplinamento, sendo sobretudo resultado do investimento do discurso médico sobre
o corpo envelhecido.
A noção de velhice como etapa diferenciada da vida surgiu no período de transição entre
os séculos XIX e XX. Uma série de mudanças específicas e a convergência de diferentes
discursos acabaram reordenando o curso da vida e gerando condições para o surgimento da
velhice. Dois fatores se destacam como fundamentais e determinantes: a formação de novos
saberes médicos que investiam sobre o corpo envelhecido e a institucionalização das apo-
sentadorias. A geriatria e a gerontologia foram os saberes emergentes que se debruçaram,
respectivamente, sobre o corpo velho e sobre os aspectos sociais da velhice, determinando
em grande parte o estabelecimento desta como categoria social. A geriatria só viria a se firmar
como saber científico e especialidade médica no século XX, mas Katz (1995) identifica um
saber pré-geriátrico que ele classifica como ‘discurso sobre a senescência’. Remontando às
transformações ocorridas na medicina nos séculos XVIII e XIX, descritas por Foucault (1998)

1 Para uma descrição mais detalhada dessa linha de análise ver, por exemplo, o texto de Debert (1998), “A antropologia e o estudo dos
grupos e das categorias de idade”.

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em “O nascimento da clínica”, Katz indica o aparecimento de uma forma de compreender a
doença que toma o corpo como alvo do olhar médico e como sede das transformações que
caracterizam a patologia. O resultado é a determinação do corpo envelhecido.
A partir de então, a medicina moderna reconstrói o corpo com base na anatomia
patológica, buscando o micro nível dos tecidos e das células para explicar o processo de
degeneração do corpo. Gradualmente a velhice passa a ser entendida como um estado
fisiológico específico, cujas principais características se agrupam sob o signo da senescên-
cia. Os trabalhos de Jean- Martin Charcot (1825–1893), François Broussais (1772–1838)
e, especialmente, Marie François Xavier Bichat (1771–1802) seriam representativos desse
discurso que determinou o reconhecimento do corpo envelhecido, sua identificação com um
corpo em decomposição e o consenso de que a definição dessas características é tarefa
própria do olhar e do saber médicos.
O discurso sobre a senescência desbancou as concepções renascentistas acerca da
morte, dos limites da longevidade e da velhice. A morte era entendida como um obstáculo a
ser superado e a longevidade, principalmente nos casos excepcionais de centenários, como
um evento tanto fantástico e mágico quanto revelador da racionalidade própria do corpo
humano. A velhice, a longevidade e a morte eram estudadas a partir de questionamentos
médico- filosóficos. A partir do surgimento da medicina moderna, tende-se a estudar a velhice
e o processo de envelhecimento como problemas clínicos, certezas biológicas e processos
invariáveis. A morte passou a ser vista, então, como resultado de doenças específicas da
velhice; a longevidade possui limites biológicos insuperáveis; a velhice é a etapa necessária
da vida na qual o corpo se degenera.
Tal discurso sobre a senescência deu origem à geriatria, o saber médico que tem o
corpo velho como objeto específico de estudo. A disciplina surgiu por volta de 1910, com o
trabalho do médico norte-americano Ignatz Nascher, o primeiro fisiologista a estabelecer as
bases clínicas para a identificação da velhice. Por meio da observação do corpo dos velhos,
Nascher formulou as características biológicas da velhice – a degeneração do corpo –, con-
ceituou o tratamento médico a ser dispensado aos velhos e introduziu na literatura médica o
termo geriatria (Hareven, 1995). A diferenciação científica entre a velhice e as outras etapas
da vida estava, então, realizada; era possível identificá-la por meio do saber médico.
A geriatria não só distingue a velhice das outras etapas da vida, mas também a define
como decadência física. Laslett (1991) destaca a importância e a pregnância, em termos de
imaginário cultural, da metáfora médica da velhice, cuja principal consequência foi produzir
a identificação entre velhice e doença. O discurso geriátrico atual empreendeu uma tentativa
de desfazer essa associação, mas Laslett sugere que esse processo é controverso e acaba
encontrando resistências no próprio modo de funcionamento do saber médico. Citando um

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caso específico, o autor sugere que permanece em debate a definição de Alzheimer, que
para alguns autores seria uma doença degenerativa que acomete o cérebro de velhos e, para
outros, seria o próprio processo de degeneração, portanto de envelhecimento, do cérebro.
Desde o seu surgimento, a metáfora médica da velhice passou a exercer acentuada
influência social, definindo não somente o envelhecimento físico como também as repre-
sentações sobre a experiência de envelhecer. A aceitação e a justificação de tal metáfora
incidiram sobre a percepção dos sujeitos, que passaram a recorrer ao discurso médico para
definir a si mesmos e a sua experiência. De fato, a definição médica da velhice disseminou-
-se para outros campos de saber e determinou amplamente o seu espectro no imaginário
cultural, alimentando os discursos do Estado, a formulação de políticas assistenciais e a
formação de outras disciplinas como a gerontologia.
O surgimento da gerontologia como disciplina especializada é mais complexo e difuso
do que o da geriatria.2 Segundo Katz (1996), o termo teria sido cunhado em 1913 por Elie
Metchnikoff, um médico discípulo de Charcot, mas se limitava ao campo das intervenções
médicas que prolongassem a vida. Ao longo do século XX, os saberes populares, a demo-
grafia e as ciências sociais contribuíram para estabelecer a gerontologia como disciplina
científica e para configurá-la como área de saber multidisciplinar. Também colaboraram
para sua formação a sociologia e a psicologia, ao direcionar o olhar especializado para os
chamados aspectos psicossociais da velhice. Além do corpo envelhecido, objeto da geriatria,
os hábitos, as práticas, as necessidades sociais e psicológicas dos velhos seriam agora alvo
de um saber especializado, que incluía novos aspectos em sua definição e tornava mais
complexa a categoria velhice.
A ampliação do olhar das disciplinas especializadas sobre a velhice também se relaciona
com o processo de institucionalização da aposentadoria, o segundo fator que destaco como
fundamental para o surgimento dessa categoria. Fruto do processo de industrialização, a
criação de pensões foi uma resposta às modificações e aos problemas sociais surgidos ao
longo dos séculos XIX e XX. Com base no contexto francês, Lenoir (1979) realiza minuciosa
análise do impacto gerado pela institucionalização das aposentadorias e pelo consequente
aparecimento de agentes de gestão, na definição da velhice como categoria etária diferen-
ciada e, posteriormente, na definição da terceira idade. No decorrer da segunda metade do
século XIX, a velhice começou a ser objeto do discurso de legisladores sociais, dando ensejo

2 Debert (1999) adota uma perspectiva diversa acerca do surgimento da geriatria e da gerontologia. A autora supõe que a geriatria
surge no interior da gerontologia, adquire gradualmente legitimidade e destaca- se como disciplina especializada apenas a partir dos
anos 60. No entanto, considero a articulação, feita por Katz (1995), entre geriatria, medicina moderna e ‘discurso sobre a senescên-
cia’ suficientemente clara para identificar o início do século XX como o período de surgimento da geriatria, de sua independência
como disciplina e mesmo de sua ascendência sobre a formação da gerontologia.

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à criação de instituições específicas, como as caixas de aposentadoria para a velhice, e à
especialização progressiva de determinados hospícios em asilo para velhos.
Ainda que os primeiros sistemas de aposentadoria tenham sido criados a partir do século
XVIII – especificamente os de funcionários civis e militares –, a questão das pensões não
constituía tema de interesse coletivo até que as primeiras gerações de operários começaram
a envelhecer. As primeiras discussões políticas sobre a criação da Caisse Nationale francesa
datam de 1850, quando surgiram dúvidas sobre o tratamento a ser dispensado aos incapa-
zes de trabalhar e garantir o próprio sustento. A velhice dos trabalhadores foi assimilada à
invalidez, ou seja, à incapacidade de produzir. Desse ponto de vista, a velhice passava a ser
confundida com todas as formas de invalidez que atingiam a classe trabalhadora, passando
a ser utilizada para identificar todos aqueles que, ao fim de sua vida, não estão mais aptos
para o trabalho. Essa lógica que atrela velhice e invalidez inspirou a criação dos sistemas
de aposentadoria pelos chefes de empresa. Trata-se do estabelecimento de estratégias que
visam assegurar aos patrões a manutenção da disciplina e da rentabilidade dos trabalhadores.
Os sistemas de aposentadoria surgiram como parte de um espectro mais amplo de
preocupações que tomavam conta do cenário francês desde a segunda metade do século
XIX e que diziam respeito à contenção do ‘perigo social’ representado pela massa de tra-
balhadores. As caixas de aposentadoria e os sistemas de seguro incluem-se na estratégia
formulada pela política francesa cujo propósito era responder ao que era considerado o
grande problema social da época. Ainda assim, Lenoir (1979) destaca que o nascimento
desses sistemas de proteção social não deve ser atribuído somente aos interesses capita-
listas dos patrões, visto que a movimentação política de certos setores dos trabalhadores e
as disputas de legitimidade entre as classes dominantes– burguesia industrial e aristocracia
conservadora – também influenciaram o debate.3
As consequências da institucionalização dos sistemas de aposentadoria foram a cria-
ção de agentes especializados na gestão da velhice; a transferência da responsabilidade
das famílias para esses novos agentes; e a consolidação da velhice como categoria etária.
Mas outra consequência foi fundamental para a definição da emergente identidade etária
da velhice: a associação inequívoca entre velhice e invalidez. De fato, em um momento no
qual a capacidade e a posição do indivíduo no trabalho delimitam muito sua identidade, ser
aposentado é ser efetivamente inválido, incapaz e ocioso. Tem início então uma associação
entre velhice e incapacidade que só recentemente vem sendo desfeita.
Laslett (1991) destaca a proximidade entre as imagens relacionadas à velhice, surgi-
das em diferentes campos no início do século XX, e a explica em função da apropriação da

3 Sobre a dinâmica dos diferentes atores do processo de formação das instituições de aposentadoria, ver Lenoir,1979.

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metáfora médica por parte de legisladores e formuladores de políticas assistenciais. As cam-
panhas pelos direitos à aposentadoria utilizaram intensamente as definições depreciativas da
velhice oriundas do discurso geriátrico, tomando-as como estratégia para reivindicar a insta-
lação de políticas de atenção à velhice. O discurso gerontológico também estava implicado
com o processo de institucionalização das aposentadorias e contribuiu para a ampliação do
debate sobre os direitos dos aposentados com a inclusão de aspectos sociais, psicológicos
e culturais no rol das reivindicações políticas.
Ainda que a identidade entre velhice e invalidez seja a consequência da institucionaliza-
ção das aposentadorias que mais se solidificou no imaginário cultural, seu estabelecimento
contribuiu para a caracterização da velhice como categoria política. O aposentado não é
somente o sujeito incapaz para o trabalho, mas também o sujeito de direitos, detentor de
privilégios sociais legítimos, cujo reconhecimento lhe permite reivindicar benefícios em nome
de uma categoria. A invalidez pode ser uma característica pejorativa e estigmatizante, mas
ao mesmo tempo dá ensejo a um novo posicionamento subjetivo para a velhice. Katz (1996)
aponta essa duplicidade trazida pela aposentadoria:

“Se o movimento em torno das pensões/aposentadorias diferenciou o velho


como especial, carente, dependente e improdutivo, ele também politizou essa
parcela da população, criando uma posição de subjetividade radical, desde
a qual uma pessoa pode exigir seus direitos sob o status do idoso” (p.67).4

Ao estabelecimento da velhice como categoria social, marcada pelos signos da dege-


neração física e da invalidez, como também pela legitimidade conferida por direitos espe-
cíficos, seguiu-se um período no qual a sua importância social cresce consideravelmente.
Groisman (1999) e Debert (1999) destacam as décadas de 60 e 70 como o segundo período
mais marcante para a história da velhice, quando esta passa a problema coletivo e adquire
visibilidade social. Tal fato é explicado, pelo discurso gerontológico, como resultado direto
do aumento demográfico da população de velhos. Porém, ainda que tal aumento seja, sem
dúvida, um dado importante na história da velhice, não explica totalmente a caracterização
desta como problema socialmente relevante.
Debert (1999) chama esse processo de ‘socialização do envelhecimento’ e considera a
contribuição de outros fatores para a construção da velhice como problema social. A institucio-
nalização generalizada das aposentadorias e, principalmente, as consequências econômicas
que a ela se seguiram são consideradas elementos fundamentais para a transformação da
velhice em questão coletiva. A universalização dos sistemas de aposentadoria incidiu sobre

4 Traduzido por mim do original em inglês.

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a estrutura das empresas privadas, das famílias e, sobretudo, do Estado, que passou a se
responsabilizar por um contingente muito maior de sujeitos.5
Lenoir (1979) identifica a generalização dos sistemas de aposentadoria como o fator
responsável pela modificação dos regimes de cuidado da velhice na França, entre 1945 e
1960. Aparecem então novas instituições, promovendo a distinção entre aquelas especiali-
zadas na gestão da velhice e as dirigidas ao cuidado da indigência. O sistema hospitalar, a
seguridade social e a assistência passam a adotar regulamentos e serviços específicos de
atenção à velhice, separando-os espacial e legalmente do cuidado destinado à miséria. Tal
processo de distinção entre velhice e indigência aprofunda a autonomia da primeira, que se
estabelecera até então de forma fragmentada. Por outro lado, a organização e a unificação
dos discursos especializados se confundem com a aparição, por volta da década de 60, da
noção de terceira idade.

O surgimento da terceira idade: especialização, engajamento e consumo

O surgimento da categoria ‘terceira idade’ é considerado, pela literatura especializada,


uma das maiores transformações por que passou a história da velhice. De fato, a modifica-
ção da sensibilidade investida sobre a velhice acabou gerando uma profunda inversão dos
valores a ela atribuídos: antes entendida como decadência física e invalidez, momento de
descanso e quietude no qual imperavam a solidão e o isolamento afetivo, passa a significar
o momento do lazer, propício à realização pessoal que ficou incompleta na juventude, à
criação de novos hábitos, hobbies e habilidades e ao cultivo de laços afetivos e amorosos
alternativos à família.
Há poucos estudos históricos sobre o surgimento da categoria terceira idade, especial-
mente quando os comparamos à bibliografia acerca da história da categoria velhice. O surgi-
mento recente daquela noção – que aparece nos cenários francês e inglês por volta de 1950
mas é legitimada somente na década de 80 – pode justificar a ausência de estudos mais sis-
temáticos sobre a sua formação e as suas condições históricas de possibilidade. Ainda assim
é possível identificar alguns fatores que se relacionam com o surgimento dessa categoria e
representam influências, favorecimentos ou tendências que acompanham a sua formação.
Laslett (1991) considera o aumento da longevidade e qualidade de vida – resultantes do
avanço das tecnologias médicas – e o surgimento das aposentadorias como os dois principais
fatores que, em conjunto, garantem o ingresso dos sujeitos na terceira idade. No entanto,
se a nossa intenção se dirige ao entendimento da terceira idade como uma categoria social

5 Peixoto (1998) destaca que, no caso da França, a responsabilidade do Estado no cuidado à velhice foi parte do processo de organi-
zação pós-revolução, no qual o Estado assumiu diversas funções que até então cabiam apenas ao grupo familiar.

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historicamente construída, cuja inserção no espaço público dá ensejo a novas formações
identitárias, parece necessário identificar os fatores que permitiram, influenciaram ou favore-
ceram sua origem e sua legitimidade no imaginário cultural. Destaco como hipótese para o
surgimento da terceira idade a generalização e a reorganização dos sistemas de aposenta-
doria, a substituição dos termos de tratamento da velhice, o discurso da gerontologia social
e os interesses da cultura do consumo.
Ao analisar especificamente o cenário francês, Lenoir (1979) tributa à nova organi-
zação dos agentes de gestão da velhice o surgimento da noção de terceira idade. Como
dito anteriormente, até a metade do século XX as instituições e os discursos destinados
ao cuidado da velhice encontravam-se fragmentados e desorganizados. No período que
tem início por volta de 1945 e culmina na década de 60, discursos e práticas que tomam a
velhice como objeto passam por aperfeiçoamento e unificação, com a elaboração de uma
‘política da velhice’, o desenvolvimento da gerontologia e a aparição da noção de terceira
idade. Os sistemas de aposentadoria se estendem a todas as classes de trabalhadores,
reorganizando os agentes de gestão da velhice, o que corresponde à ampliação do tema
como problema social e à substituição gradativa de assistência e asilo pelas caixas de apo-
sentadoria e pelos centros de geriatria.
A associação entre velhice e indigência é desfeita e surge uma nova categoria, a ‘ter-
ceira idade’. Para Lenoir (1979), a terceira idade é antes uma nova categoria etária entre a
maturidade e a velhice, do que uma negação desta. A autonomia da nova categoria torna-se
visível por meio dos pares de opostos que surgem no espaço social durante a reorganiza-
ção dos agentes especializados: terceira idade em contraposição à velhice, aposentadoria
ativa em contraposição à aposentadoria passiva, casa de repouso em contraposição a asilo,
gerontologia em contraposição à assistência social. No entanto, essa nova representação
não teria se difundido como identidade etária se sua capacidade descritiva não encontrasse
correspondência nos anseios e nas demandas que surgiam no cotidiano dos sujeitos.
Durante as décadas de 1960 e 1970, as camadas médias urbanas começaram a aden-
trar no universo da aposentadoria, visto que sua inserção nas cadeias produtivas se realizou
posteriormente à inserção dos trabalhadores menos qualificados. Esse grupo social possuía
hábitos sociais e culturais específicos, aspirações e necessidades de consumo sofisticadas,
que passaram a ser atendidas por novas agências especializadas. Com o objetivo de ar-
regimentar clientela, as caixas de aposentadoria passaram a oferecer, além de vantagens
financeiras, serviços específicos como clubes, férias programadas, alojamentos especiais,
atividades de lazer e grupos de convivência.
Para que houvesse consonância entre as demandas crescentes e as ofertas dos ser-
viços especializados, requisitou-se o conhecimento de especialistas de ciências humanas

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que pudessem identificar e descrever com mais precisão as condições de vida e os desejos
desses sujeitos. As necessidades psicológicas e culturais passaram a ganhar destaque,
estimulando o surgimento das universidades e dos espaços de convivência específicos
para a terceira idade.6 Tais especialistas contribuíram para a consolidação de um estilo de
vida específico, baseado em um repertório de condutas e em uma linguagem inéditos que
influíram na formação da nova identidade etária.
A relação entre o surgimento da noção de terceira idade e as classes médias é espe-
cificamente analisada por Lenoir (1979), que considera haver uma identidade nada casual
entre as principais características desse grupo e as imagens que compõe a identidade da
terceira idade. As classes médias acumulam fatores que aceleram o envelhecimento de seus
membros: estão, mais do que qualquer outro grupo social, predispostas a recorrer ao conheci-
mento e à intervenção de especialistas; e cultivam o individualismo e a intimidade psicológica
que favorecem o investimento dos sujeitos em identidades específicas. Essas características
fazem dela o grupo da população mais ‘interessado’ na invenção da terceira idade.
A designação ‘velho’ não é mais adequada para nomear esses ‘jovens senhores’ e seu
novo estilo de vida. Surge, desse modo, a denominação ‘idoso’, mais respeitosa e distintiva
das camadas médias. Peixoto (1998) analisa a passagem do uso de ‘velho’ para ‘idoso’,
tanto na França como no Brasil, e mostra a transformação do uso público das expressões
relacionadas ao envelhecimento. O termo ‘velho’ estava fortemente associado aos sinais de
decadência física e incapacidade produtiva, sendo utilizado para designar de modo pejorativo
sobretudo os velhos pobres. A partir da década de 60, o termo começa a desaparecer da
redação dos documentos oficiais franceses, que passam a substituí-lo por ‘idoso’, menos es-
tereotipado. Ao mesmo tempo, o estilo de vida das camadas médias começa a se disseminar
para todas as classes de aposentados, que passam a assimilar as imagens de uma velhice
associada à arte do bem viver. Surge o termo ‘terceira idade’ que torna pública, estabiliza e
legitima a nova sensibilidade investida sobre os jovens e respeitados aposentados. Parece
claro a contribuição decisiva dessa nova denominação para a criação e difusão de uma nova
e positiva imagem da velhice.7
Ao comentar o cenário brasileiro, Peixoto (1998) argumenta que a introdução da noção
de terceira idade representa uma importação das denominações adotadas pelas políticas

6 Na França, a primeira universidade destinada à terceira idade foi inaugurada em Toulouse, em 1973. Em 1979, data de publicação do
referido estudo, contabilizavam-se mais de trinta universidades desse tipo. Segundo Lenoir (1979), as universidades para a terceira
idade propõem a combinação entre atividades acadêmicas e atividades de lazer e convivência, situando-se de forma ambígua entre
a ‘formação’ e o ‘entretenimento’.
7 Laslett (1991) acredita que o termo troisième âge já tenha adquirido conotação pejorativa no cenário francês, substituindo diretamen-
te o termo ‘velho’ e assumindo as antigas imagens depreciativas que a ele estavam atreladas. Segundo o autor, esse seria o futuro
mais provável do termo third age. No entanto não encontrei tal suposição no trabalho de outros autores.

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públicas francesas, sendo o termo ‘velho’ gradativamente substituído por ‘idoso’ nos docu-
mentos oficiais. Entretanto, as ambiguidades próprias à nossa realidade fizeram com que
certas imagens ganhassem sentidos mais sutis, tanto que o termo ‘velho’ parece se manter
e é comumente utilizado para designar pessoas velhas de classes populares, enquanto
‘idoso’, mais respeitoso, é utilizado para aqueles de camadas médias e superiores.
Além da generalização das aposentadorias e da substituição dos termos de tratamento
da velhice, dois outros fatores se destacam como fundamentais para o surgimento da cate-
goria terceira idade: o discurso engajado da gerontologia social e a cultura do consumo, cuja
interconexão é analisada por Featherstone e Hepworth (1995). Os autores identificam os
mesmos temas que compõem o discurso especializado e acadêmico da gerontologia social
nas imagens da velhice que aparecem nos meios ingleses de comunicação, sendo notável
a proximidade entre as suposições sobre o ‘envelhecimento positivo’, presentes na mídia,
e as reivindicações oficiais da gerontologia.8
Como dito anteriormente, a gerontologia cresce em importância a partir das exigências
das políticas e das instituições de aposentadoria, e fundamenta seus principais pressupostos
na metáfora médica da velhice, fornecida pela geriatria. As primeiras teorias sociais sobre o
envelhecimento, formuladas nos momentos iniciais da gerontologia, tinham como objetivo
oferecer explicações e analisar a percepção negativa da velhice. A teoria do desengajamen-
to consistia na suposição de que a incapacidade para o trabalho retira da velhice qualquer
possibilidade de atividade social, o que conduziria os sujeitos a estados de solidão e exclu-
são. A teoria da atividade, por sua vez, supunha que um envelhecimento positivo poderia
ser atingido se os sujeitos se mantivessem ativos, conservassem os mesmos hábitos da
vida adulta e desempenhassem papéis sociais relevantes (Blaikie, 1999). Ambas as teorias
foram posteriormente criticadas, mas interessa apontar o desenvolvimento da teoria da
atividade, que deu ensejo, ainda que com muitas mudanças, às formulações mais recentes
da gerontologia social.
Featherstone e Hepworth, (1995) sugerem que o argumento central da gerontologia
social está fundamentado na compreensão do envelhecimento como uma construção social
particularmente atrelada a uma imagem negativa, cuja alteração pode ceder espaço para
uma imagem positiva do mesmo processo. Seguindo a teoria do construtivismo social, os
gerontólogos passaram a advogar a desconstrução radical e o deslocamento das imagens
negativas do envelhecimento, assim como a elaborar um imaginário positivo para a velhice.
Para tanto seria necessário um novo discurso, suficientemente consistente, que pudesse

8 Featherstone e Hepworth (1995) preferem utilizar o termo ‘envelhecimento positivo’ para se referirem às imagens positivas da velhice
surgidas no Reino Unido por volta da década de 1960. Não faço distinção entre envelhecimento positivo e terceira idade, visto que a
identidade desta é exatamente constituída por tais imagens.

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desfazer a associação entre velhice e signos estigmatizantes como doença, desabilidade,
‘desengajamento’ e declínio.
Dois temas foram considerados fundamentais no processo de construção do enve-
lhecimento positivo, constituindo-se como objetivos da literatura especializada: o ataque
crítico à crença de que a velhice é essencialmente uma doença e a criação de uma nova
identidade para a velhice. O primeiro deles significava, de fato, a desconstrução da metáfora
médica formulada pelo saber geriátrico. Para a gerontologia social, o envelhecimento normal
compreenderia uma série de processos biológicos que não resultam necessariamente em
sérios prejuízos físicos ou mentais para os sujeitos. A partir dessa lógica, os problemas que
aparecem na velhice podem ser atribuídos a patologias clínicas específicas, para as quais há
ou haverá tratamento médico, como a doença de Alzheimer, e aos efeitos do próprio estigma
da velhice, que poderiam ser superados por meio de políticas e programas de reinserção
social, de educação e de sensibilização popular.
O segundo objetivo da gerontologia social foi a criação de uma nova e positiva identi-
dade para a velhice, cuja elaboração compreendia formas de comportamento associadas a
idades e ritos de passagem inovadores, ambos distantes da noção tradicional e estática de
uma velhice homogênea e indiferenciada. Tal estratégia se compatibilizava com o principal
argumento das teorias da construção social: se a identidade negativa da velhice é resulta-
do de determinadas condições culturais, uma outra pode ser ativamente construída uma
vez desfeita a antiga imagem da velhice. Essa identidade seria fruto da articulação entre
diferentes práticas, hábitos e linguagens, interpretados a partir de um ponto de vista espe-
cífico. A gerontologia não só corrobora como passa a estimular a adoção do novo estilo de
vida da terceira idade, divulgando os benefícios que seriam decorrentes do engajamento
dos sujeitos nesse ‘novo modo de envelhecer’.
A hipótese sobre a relação entre discurso gerontológico e noção de terceira idade pode-
ria ser contraposta a uma série de estudos que indicam a adoção, por parte da gerontologia,
das metáforas depreciativas da velhice como argumento para reivindicações políticas. Debert
(1999) entende esse impasse como um duplo movimento que estaria em curso no interior do
discurso gerontológico: se, por um lado, a gerontologia denuncia a ‘conspiração do silêncio’
– maneira pela qual Simone de Beauvoir classificava a resposta social dada à velhice nas
sociedades modernas, com o intuito de mobilizar a sociedade para a situação de abandono
e estimular o cuidado à velhice –, por outro lado, passa a divulgar a possibilidade concreta
de ‘invenção’ de uma nova identidade a partir da simples adesão ao novo estilo de vida.
Houve diversos processos de troca, conexão e fertilização entre as imagens do enve-
lhecimento reivindicadas pela gerontologia social e aquelas que circulavam na mídia devido a
interesses econômicos. Featherstone e Hepworth (1995) observam semelhança considerável

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entre as imagens positivas da velhice veiculadas pela cultura do consumo e as imagens
difundidas pela gerontologia. A tarefa de construção da ‘terceira idade’ ou do ‘envelheci-
mento positivo’ disseminou-se além do discurso profissional e acadêmico de uma disciplina
especializada, tornando-se um tema de grande relevância nos meios de comunicação.
Para Featherstone e Hepworth (1995) a ‘indústria do envelhecimento’ – modo pelo
qual Thomas Cole identifica a sensibilidade crescente dos agentes de marketing para o
potencial dos novos mercados de meia-idade e idade avançada – é uma força importante
por trás da emergência da noção de terceira idade. Até então esse grupo não dispunha de
recursos financeiros suficientes para parecer atraente aos planejadores de estratégias de
consumo. Desse modo, o grupo de sujeitos acima dos cinquenta anos era percebido como
financeiramente incapaz, e a ele não se tributava o desejo de engajamento a um estilo de
vida baseado em práticas de consumo, restrito aos mais jovens. O quadro começa a se
alterar com o surgimento das primeiras gerações de aposentados da classe média, cujo
potencial de consumo é rapidamente percebido pelos estrategistas de marketing. Aqueles
que estão acima dos cinquenta anos passam a ser reconhecidos como o único grupo nas
sociedades ocidentais com recursos financeiros disponíveis e ainda inexplorados, ou seja,
não vinculados a hábitos específicos de consumo.
Esses desenvolvimentos estão intimamente relacionados à institucionalização do pla-
nejamento das aposentadorias, que sucedeu no Reino Unido a partir de 1950. Os interesses
comerciais privados, sobretudo após 1980, aproveitaram-se do vácuo deixado pelas políticas
públicas e exerceram notável influência na reconstrução de imagens positivas sobre o período
de saída do trabalho. O reconhecimento e investimento dos agentes comerciais e financeiros
ajudaram a delinear o novo contorno do que é a velhice, consolidando a conexão entre o
planejamento da aposentadoria, a noção de terceira idade e a cultura do consumo. A cone-
xão fica clara na estratégia de Jeff Ostroff, um expert norte-americano em marketing. Ostroff
define sua ação como soft sell, uma combinação de recomendações para o consumo de bens
e serviços com informações e aconselhamento sobre o enriquecimento e o ‘empoderamento’
da nova velhice (Featherstone, Hepworth, 1995). Feathersone e Hepworth (p.33) chamam
a atenção para a ambigüidade subjacente aos interesses econômicos e às estratégias de
marketing que tomam como alvo os sujeitos da terceira idade:

Ainda que, em certo sentido, a lógica do soft sell explore as esperanças e


aspirações das pessoas mais velhas – particularmente, o ‘sonho’ de uma
aposentadoria idílica, que é um legado persistente de nosso passado vitoriano,
ao mesmo tempo, essas imagens comercializadas promovem uma perspec-
tiva anti-envelhecimento, colaborando com a causa da terceira idade em um
mundo que se torna velho.

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O entrelaçamento desses diversos fatores, especialmente a especialização dos agentes
de gestão envolvidos na organização das aposentadorias, o discurso engajado da gerontolo-
gia social e os interesses e as características da cultura do consumo parecem ter contribuído
de forma decisiva para o aparecimento da noção de terceira idade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao elaborar o percurso histórico das noções de velhice e terceira idade, privilegiou-se


certos fatores na análise, especialmente aqueles oriundos dos campos da sociologia e da
antropologia. Desse modo, foi possível apresentar uma perspectiva de análise, reconheci-
damente parcial, inclinada a compreendê-las como formações discursivas que participam
do imaginário social. Observou-se como a formação dessas categorias etárias resulta de
diversas transformações na vida coletiva, cuja confluência culmina no surgimento de expe-
riências, hábitos e imagens antes inexistentes.
Para que uma categoria etária desse tipo se estabeleça como recurso efetivo para a
formação das identidades pessoais, também é necessário que adquira legitimidade, se solidi-
fique e dissemine no imaginário cultural, de modo a tornar-se referência para muitos sujeitos.
São esses processos pelos quais parecem ter passado as categorias em análise: a velhice,
por volta da virada do século XX; e a terceira idade, nas últimas décadas do mesmo século.
Tendo analisado o surgimento histórico das noções de velhice e de terceira idade, po-
de-se questionar a relação entre as referidas identidades: a terceira idade teria substituído
por completo a identidade da velhice, ou ambas coexistiriam no imaginário cultural contem-
porâneo? A terceira idade pode efetivamente ser entendida como uma nova identidade, ou
trata-se de uma reformulação da antiga identidade da velhice? Seriam duas vias possíveis
e simultâneas do envelhecimento na contemporaneidade, ou identidades que se sucedem
temporalmente, relativas a períodos diferentes da vida – a terceira idade ao da atividade e
da produtividade e a velhice ao do descanso e do declínio físico? De que modo são atra-
vessadas pelos marcadores sociais de gênero, raça, classe?
No que se refere à diferenciação entre as duas noções e identidades, penso ser possível
mostrá-la com relativa clareza. As características de cada identidade etária e o percurso que
ambas percorreram até firmarem-se no imaginário cultural demonstram sua independência.
São termos cuja formação é bastante específica e diferenciada, estando associados a mo-
mentos históricos, saberes médicos e sociais, movimentos políticos e interesses também
distintos. No entanto podemos ainda nos perguntar se são efetivamente utilizados pelos
sujeitos para fazer referência a vivências diferentes, ou se, no cotidiano, se misturam e
entrelaçam de forma inesperada.

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Acerca da relação estabelecida no imaginário cultural entre as identidades da velhice
e da terceira idade, considera-se haver poucos elementos que nos permitam defini-la com
precisão e, desse modo, responder às perguntas formuladas. Apenas uma observação não
pode estar ausente dos debates que tomam as identidades relacionadas ao envelhecimento
como objeto: se a ascensão das imagens positivas que compõem a terceira idade produzirem,
como consequência de sua extrema valorização, a exclusão da possibilidade de vivenciar o
envelhecimento por meio da quietude, do descanso e da inatividade – características mais
próximas da descrição da velhice, certamente perderemos diversidade no que se refere
aos modos de vida e aos caminhos de satisfação dos sujeitos. Nesse sentido, aposta-se na
coexistência entre as referidas identidades etárias no imaginário cultural, de modo a ampliar
tanto as descrições quanto as possibilidades de experiência satisfatória dos sujeitos.

REFERÊNCIAS

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09
EFETIVIDADE DOS PROGRAMAS
PSICOEDUCACIONAIS NA PESSOA COM
ESQUIZOFRENIA: REVISÃO INTEGRATIVA DA
LITERATURA

Marilinda Isabel Chavertana


Unidade Local de Saúde do Norte Alenteano (EPE)

Raul Alberto Carrilho


Instituto Politecnico de Portalegre

João Claudino Junceiro


Instituto Politecnico de Portalegre

Maria Conceição Pereira Ferreira


Unidade Local de Saúde do Norte Alenteano (EPE)

Artigo original publicado em: 2020


REVISTA IBERO-AMERICANA DE SAÚDE E ENVELHECIMENTO
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/230513194
RESUMO

Introdução: O cuidado ao indivíduo com esquizofrenia deve confluir num plano de tratamento
multidisciplinar e centrado na pessoa, podendo incluir intervenções de âmbito psicoeduca-
tivo o que torna imprescindível identificar quais os ganhos originados por esta abordagem
terapêutica. Objetivo: Identificar quais os ganhos decorrentes da psicoeducação na pes-
soa com esquizofrenia Metodologia: Revisão Integrativa da Literatura a partir da Pergunta
de Partida “Quais os benefícios da psicoeducação para as pessoas com esquizofrenia?”
(Método PIO). Pesquisa efetuada na base dados B-on e na plataforma EBSCOhost Web,
considerando estudos redigidos em língua portuguesa, espanhola a inglesa, publicados entre
2015-2019. As palavras-chave/descritores foram validadas no DeCS e MeSH. Utilizou-se o
caracter booleano “and” para auxiliar a pesquisa. Resultados: Na pesquisa inicial obtive-
ram-se 316 artigos não duplicados tendo sido selecionados cinco artigos que avaliam pro-
gramas psicoeducacionais para a pessoa com esquizofrenia. Conclusão: Todos os estudos
selecionados revelaram resultados positivos das intervenções psicoeducativas, permitindo
agrupar os resultados em 6 categorias: Conhecimento, Adesão terapêutica, Gestão da doen-
ça, Sentimentos e emoções, Interações sociais e Repercussões nos cuidadores principais.

Palavras-chave: Conhecimento, Educação, Enfermagem, Esquizofrenia.


INTRODUÇÃO

A palavra esquizofrenia etimologicamente, deriva do grego, resultando a junção de


“skhizo” (dividir) e “phren” que significa mente (TOWNSEND, 2011) . De acordo com Liberman
et al, em 2005, a esquizofrenia define-se tradicionalmente como sendo uma perturbação
mental grave, complexo e de curso crónico e heterogéneo (SILVA et al., 2019). Segundo
Tandon et al. em 2008, e Harey e Bellack, em 2009, apesar dos avanços extraordinários
no tratamento da esquizofrenia, os mesmos são insuficientes para evitar que esta doença
seja entendida como uma das primeiras 10 causas de incapacidade no mundo (SILVA
et al., 2019). Na perspetiva de Silverstein e Bellack, em 2008, a pessoa com esquizofrenia
pode ser afetada por grave deterioração funcional, estigma associado à doença, dificulda-
des psicossociais, má qualidade de vida, fracasso profissional e a dependência familiar e
social (SILVA et al., 2019). De acordo com Bjork et al. em 2018, os efeitos não desejáveis
da medicação antipsicótica, a falta de atividade física, a dieta e os hábitos tabágicos signifi-
cativos são fatores precipitantes para o aparecimento de comorbilidades (QUEIRÓS et al.,
2019). Os utentes com esquizofrenia apresentam uma taxa de mortalidade por acidente e
doença natural superior às outras pessoas (QUEIRÓS et al., 2019). Embora se entenda a
etiologia da esquizofrenia como multifatorial, reconhece-se que vários fatores precipitam o
aparecimento desta patologia, nomeadamente fatores psicossociais e biológicos, fatores
hereditários e fatores ambientais. Aparentemente a incidência desta patologia também se
relaciona com nascimentos nos meses de inverno, urbanidade, migração, consumo de subs-
tâncias, várias hipóteses associadas a neurotransmissores, perturbações do neurodesen-
volvimento, condições inflamatórias, relacionamentos familiares patológicos e padrões de
comunicação interpessoal aberrantes (QUEIRÓS et al., 2019). Há indícios que revelam uma
maior incidência em indivíduos do sexo masculino, surgindo as primeiras manifestações da
doença normalmente na parte final da adolescência ou no início da vida adulta (QUEIRÓS
et al, 2019: AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION1, 2002; BRITO, 2006). Segundo
Saraiva e Cerejeira, em 2014, nos doentes do sexo masculino as primeiras manifestações
evidenciam-se geralmente entre os 15 e os 25 anos e, no caso do sexo feminino, observa-
-se um primeiro pico entre os 25 e 30 anos e um segundo pico mais tarde na idade adulta
(QUEIRÓS et al., 2019). É imperativo reconhecer a importância da deteção e tratamento
precoces. A anamnese de um portador de esquizofrenia revela frequentemente que a pes-
soa evidencia mudanças no comportamento habitual, meses ou anos antes do início dos
sintomas psicóticos do quadro agudo (LOUZÃ,2007). Desta forma o período de tempo que
dista entre os primeiros sintomas o diagnóstico e a intervenção é considerável. O diagnós-
tico e intervenções tardias originam maior perda cognitiva, deterioração da autonomia e de
funcionalidade e frequentemente maior prejuízos.
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É comum que o curso da esquizofrenia se caraterize por repetidas exacerbações da
doença (geralmente por sintomas positivos), apresentando o utente remissões e recaídas,
originando vários internamentos (QUEIRÓS et al, 2019) . As recaídas são frequentes, mesmo
após sucesso terapêutico, sendo este facto exacerbado pela falta de adesão à terapêuti-
ca, comum nos doentes com esquizofrenia. Cada vez que ocorre uma recaída da doença
assiste-se a uma deterioração no nível funcional prévio do doente (QUEIRÓS et al, 2019)
. O prognóstico no utente com esquizofrenia caracteriza-se por uma grande heterogeneidade,
havendo fatores preditores de bom e mau prognóstico. O tratamento baseia-se numa abor-
dagem multidisciplinar e visão longitudinal (QUEIRÓS et al, 2019) . De acordo com Saraiva
e Cerejeira, em 2014, Figueira et al, em 2014, Taylor et al, em 2015 e Castle e Buckley, em
2015, considerando as diferentes fases da doença, o tratamento deve centra-se nos domínios
biológico, psicológico e social do indivíduo, na busca do seu melhor funcionamento e na pre-
venção do declínio cognitivo (QUEIRÓS et al, 2019) . O inegável progresso a que se assiste a
nível farmacológico assume particular relevância no tratamento do utente com esquizofrenia.
Apesar do desenvolvimento na área da farmacologia, não se deve ostracizar outras inter-
venções passíveis de ser realizadas com repercussões positivas na vida das pessoas com
esquizofrenia. Existem alguns tratamentos específicos direcionados à adesão à terapêutica,
à ansiedade social, ao treino de competências sociais e à abordagem do uso de drogas que
têm eficácia comprovada nesta população (QUEIRÓS et al, 2019) . Uma das abordagens
não farmacológicas mais difundidas no tratamento da pessoa com esquizofrenia é a psicoe-
ducação, que coloca o sujeito no cerne de toda a intervenção, estabelecendo com ele uma
relação profunda, direcionada essencialmente às suas inquietações, dúvidas e sentimentos,
percebendo-o como um ser em constante desenvolvimento e atualização (MARQUES,2019).
Assim o individuo percebe as suas potencialidades por meio de um programa de interven-
ção estruturado, que favorece a sua participação nas tomadas de decisão e estimula a sua
autonomia (MARQUES,2019). A American Psychiatric Association (2019) recomenda que
os utentes com esquizofrenia usufruam de psicoeducação, enfatizando que a psicoeduca-
ção transmite empatia e respeito pelo indivíduo, estimulando a esperança, a segurança, a
resiliência e o empoderamento da pessoa com esquizofrenia (AMERICAN PSYCHIATRIC
ASSOCIATION 2,,2019). A implementação de programas psicoeducativos direcionados a
pessoas com esquizofrenia visa o desenvolvimento de competências e recursos pessoais
necessários para gerir de forma adequada a sua doença e as implicações da mesma.
É essencial que o profissional de saúde, nomeadamente o enfermeiro, perceba que tem
um papel fundamental como facilitador na aquisição de diferentes ferramentas que possibi-
litam ao utente suprimir algumas carências de conhecimentos a diferentes níveis. A maioria
dos planos psicoeducativos incidem em temáticas centradas na explicitação da doença, no

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que consiste, as causas e evolução da mesma, aspetos referentes ao tratamento e terapêu-
tica farmacológica, aquisição de competências que promovam habilidades sociais, resolução
de problemas, identificação de sinais de alerta e adesão ao tratamento. Esta ideia está de
acordo com a perspetiva de Passadas e Manso, em 2015, que afirmam que os programas
psicoeducacionais devem facultar informações sobre os sintomas, etiologia, tratamento e
curso da doença, procurando melhorar a adesão à medicação e a perceção da pessoa em
relação à doença mental, incentivando as pessoas e familiares a se comprometerem ativa
e criticamente com o tratamento (PASADA et al,2015) . Também a American Psychiatric
Association, em 2019, exalta que geralmente os programas de psicoeducação incluem infor-
mações relevantes sobre diagnóstico, sintomas, intervenções psicossociais, medicamentos e
efeitos colaterais, além de informações sobre stresse e enfrentamento, planos de crise, sinais
de alerta precoce e prevenção de suicídio e recaída, podendo incluir temáticas referentes
ao suicídio e estratégias de gestão da doença (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION
2,2019). De acordo com as normas de orientação clínica para a gestão da esquizofrenia
e perturbações associadas emanadas pelo Royal Australian and New Zealand College of
Psychiatrists, em 2016, os programas de psicoeducação para pessoas com esquizofrenia
incrementam a adesão ao tratamento e originam melhores resultados, melhor gestão das
subsequentes recidivas, menores taxas de readmissão e maior sensação de bem-estar
(GALLETLY et al, 2016) . Diversas organizações reconhecidas como referência na área da
Saúde Mental recomendam nas suas diretrizes de tratamento da pessoa esquizofrenia a
psicoeducação como intervenção terapêutica, reconhecendo os benefícios da sua implemen-
tação (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION 2,2019; GALLETLY et al, 2016) . É por isso
fundamental que o enfermeiro especialista em enfermagem de saúde mental e psiquiátrica
reconheça os resultados das intervenções psicoeducativas, estando as mesmas previstas
no regulamento das suas competências específicas (ORDEM DOS ENFERMEIROS1, 2018)
e nos Enunciados Descritivos do Regulamento dos Padrões de Qualidade dos Cuidados
Especializados em Enfermagem de Saúde Mental (ORDEM DOS ENFERMEIROS2, 2011) .

METODOLOGIA

Considerando o objetivo geral deste estudo optou-se por elaborar uma revisão integra-
tiva da literatura uma vez que este método de investigação possibilita a incorporação das
evidências na prática clínica, sustentando a tomada de decisão na metodologia de análise da
investigação relevante, com vista à melhoria da prática, contribuindo para o aprofundamento
do conhecimento do tema investigado e identificar lacunas do conhecimento que precisam
ser preenchidas com a realização de novos estudos (MENDES et al,2008) . Procedeu-se
à revisão integrativa da literatura a partir de uma pergunta de partida (Método PIO) (THE
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JOANNA BRIGGS INSTITUTE1, 2015) , assumindo-se como população a pessoa com es-
quizofrenia e a psicoeducação como intervenção. O resultado a aferir foram os benefícios
da psicoeducação (nas pessoas com esquizofrenia). Desta forma elaborou-se a seguinte
pergunta PIO orientadora: “Quais os benefícios da psicoeducação para as pessoas com
esquizofrenia?” A presente revisão integrativa da literatura tem como objetivo identificar os
ganhos decorrentes da psicoeducação na pessoa com esquizofrenia, demonstrando se a
implementação de programas de psicoeducação se traduz em benefícios para a pessoa
acometida por esta entidade nosológica. Os descritores são “schizophrenia, knowledge,
education, nursing”, tendo sido validados no DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) e no
MeSH (Medical Subject Headings). A pesquisa foi realizada durante os meses de novembro
e dezembro de 2019, considerando estudos publicados entre 2015 e 2019 e os critérios de
inclusão foram os seguintes: Tipos de Estudos: desenho experimental; desenho quasi-ex-
perimental; desenho observacional-analítico; estudos observacionais; estudos descritivos;
estudos qualitativos; Participantes: utentes adultos, de ambos os géneros, diagnosticados
com esquizofrenia ou distúrbio esquizoafetivo, hospitalizados ou em contexto comunitário;
Contexto: sessões presenciais individuais ou em grupo, em estabelecimento de saúde ou
outro local propicio à realização das sessões; aceitam-se intervenções em contexto hospitalar
e ambulatorial e considera-se o recurso a meios de implementação variados como novas
tecnologias, filmes, folhetos entre outros; Intervenções: as intervenções dos estudos devem
considerar programas e projetos psicoeducacionais direcionados à pessoa com esquizofrenia
(poderá incluir também os cuidadores, desde que o utente também participe).
Aplicam-se também critérios de exclusão sendo excluídos os estudos que: foram pu-
blicados antes de 2015; não se refiram à população adulta; não se enquadrem nos ob-
jetivos da revisão; não respondam à pergunta de partida; não explicitem resultados/con-
clusões; sejam revisões integrativas da literatura; obtenham menos de 50% de respostas
“Sim” após aplicação da Critical Appraisal Tool JBI correspondente.(THE JOANNA BRIGGS
INSTITUTE2,2017) A aplicação da Critical Appraisal Tool JBI ((THE JOANNA BRIGGS
INSTITUTE2,2017) permite também a uniformização de critérios de análise dos estudos ava-
liados pelos diferentes investigadores, facilitando a resolução de algumas divergências que
possam surgir. Uma vez que esta revisão da literatura pretende incidir apenas na literatura
mais recente definiram-se os limites temporais descritos. Estratégias de Pesquisa Os artigos
foram selecionados a partir da base dados B-on e plataforma EBSCOhost Web (nas bases de
dados científicas CINAHL Complete, MEDLINE Complete, Nursing & Allied Health Collection:
Comprehensive, Cochrane Database of Systematic Reviews, Cochrane Methodology Register,
MedicLatina). A pesquisa incidiu nos descritores “schizophrenia, knowledge, education, nu-
rsing”. Restringiu-se a pesquisa utilizando o carácter booleano “AND” (tabela 1). Devido ao

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elevado número de artigos sem qualquer relação com a temática abordada, obtidos ao pesqui-
sar os descritores em todo o texto, e a consequente impossibilidade de analisar todos esses
documentos optou-se por cingir a pesquisa aos descritores presentes no título dos artigos.

Tabela 1. Termos a pesquisar nas bases de dados.

Na base de dados B-on procuraram-se artigos com texto integral, analisados pelos
pares, em língua portuguesa, inglesa e espanhola, com data de publicação de 2015 a 2019.
Para restringir a pesquisa determinou-se que os descritores deveriam figurar no título dos
artigos. Com a utilização desta base de dados obteve-se 128 artigos, dos quais 2 foram
selecionados para a revisão integrativa. Na plataforma EBCOhost Web como critérios de
pesquisa definiram-se: Intervalo de pesquisa 2015-2019; Idioma inglês, espanhol ou portu-
guês; Schizofrenia no título; Texto completo; Participantes: All adults. Esta pesquisa remeteu
325 artigos, 3 dos quais foram incluídos no estudo. Na pesquisa efetuada a partir da base
dados B-on e da plataforma EBSCOhost Web surgiram 316 artigos não duplicados. Após a
aplicação dos critérios de inclusão e a leitura do título e resumo foram eliminados 269 arti-
gos, sendo elegíveis para o estudo 47 artigos. A leitura completa destes artigos permitiu a
reavaliação de enquadramento nos objetivos da revisão, reavaliação da resposta à pergunta
de partida e aplicação das respetivas Critical Appraisal Tools JBI (15) levando à exclusão
de 38 artigos. Dos 9 artigos restantes 4 foram descartados durante a extração dos dados.
Este processo culminou com a seleção de cinco artigos para inclusão na revisão. Todas
estas etapas estão representadas no fluxograma de pesquisa abaixo representado (figura 1).

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Figura 1. Desenvolvimento da pesquisa e seleção da amostra com base no algoritmo PRISMA.

A análise incidiu essencialmente em estudos controlados randomizados, estudos qua-


si-experimentais e estudos de pesquisa qualitativa. De modo a auxiliar a análise definiram-se
previamente quais os dados relevantes a extrair durante a seleção dos estudos utilizados
na revisão, sendo colhidas informações acerca dos autores, data de publicação, tipo de es-
tudo, participantes (número, média de idade, género), intervenções, resultados e principais
conclusões. Os dados foram extraídos por um pesquisador, sendo a sua revisão efetuada
pelos restantes. Os dados extraídos foram agrupados em quadros e posteriormente compa-
rados entre si. Os níveis de evidência enumerados na tabela 2 e a qualidade metodológica
dos estudos selecionados foram avaliados com base nos Níveis de evidência JBI (THE
JOANNA BRIGGS INSTITUTE1, 2015) e Critical Appraisal Tools JBI (THE JOANNA BRIGGS
INSTITUTE2,, 2017).

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Tabela 2. Classificação dos artigos incluídos por níveis de evidência JBI.

RESULTADOS

Possível constatar que os estudos selecionados são maioritariamente de países do


continente asiático (60%), sendo os restantes europeus (40%), todos eles redigidos em
língua inglesa (100%) sendo prevalentes os estudos controlados randomizados (40%) e os
estudos quais-experimentais (40%). A maioria dos artigos selecionados foi publicada nos
últimos três anos (60%). As populações são diversas, constituídas por pessoas adultas, com
idade superior a 18 anos. Os programas psicoeducacionais podem ser individuais ou em
grupo, podendo ser desenvolvidos em conjunto com membros da família ou outros indivíduos
envolvidos na vida do utente (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION 2, 2019). Todos
os programas analisados decorrem em grupo, sendo que a maioria inclui apenas indivíduos
diagnosticados com esquizofrenia ou distúrbio esquizoafetivo (60%) referindo-se os restan-
tes estudos também aos cuidadores (40%). As amostras são compostas maioritariamente

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por indivíduos de ambos os géneros (80%), mas num estudo apenas são incluídos indiví-
duos do género feminino (20%). Evidencia-se que a maioria dos estudos decorreu em con-
texto ambulatorial (80%), tendo um deles sido implementado em serviço de internamento
(20%). Geralmente a psicoeducação é implementada nível ambulatorial, mas elementos de
programas de psicoeducação poderão ser incluídos nos cuidados em ambiente hospitalar
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION 2, 2019). Todos os estudos procuraram iden-
tificar quais os efeitos da implementação de programas psicoeducativos (100%), referindo
a maioria (80%) a participação de enfermeiros nas intervenções. A análise dos estudos
permitiu agrupar os resultados em seis categorias: Conhecimento, Adesão Terapêutica,
Gestão da Doença, Sentimentos e Emoções, Interações Sociais e Repercussões nos cui-
dadores principais.

DISCUSSÃO

A implementação de programas de psicoeducação integrados num tratamento mul-


tidimensional da esquizofrenia está recomendado em guidelines de várias entidades idó-
neas e reconhecidas, nomeadamente nas emanadas pela American Psychiatric Association
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION 2 , 2019) e “Royal Australian and New Zealand
College of Psychiatrists (GALLETLY et al., 2016) .
Todos os estudos selecionados, de alguma forma, revelaram resultados positivos das
intervenções psicoeducativas, independentemente do tipo, dos conteúdos, da forma como
foi efetuada ou mesmo da duração e número de sessões. Este facto vai de encontro ao
defendido por Aho-Mustonen (2011) que assume que atualmente a psicoeducação repre-
senta um componente essencial no tratamento abrangente para clientes com esquizofrenia,
devendo todos eles ser beneficiados por programas de psicoeducação (AHO-MUSTONEN ,
2011). A maioria dos artigos evidenciam que a psicoeducação se revelou eficaz no aumento
dos conhecimentos acerca da doença (AL-HADIHASAN1, et al., 2017; KRYSHTAL, 2017;
MATSUDA et al., 2016; AL-HADIHASAN2, et al., 2015; VON MAFFEI et al., 2015) e que os
programas psicoeducativos permitem melhorar os conhecimentos sobre esquizofrenia das
pessoas diagnosticadas com esquizofrenia e dos cuidadores primários (AL-HADIHASAN 2,
et al., 2015). Uma vez que os conhecimentos provenientes das sessões psicoeducativas
permitem diferenciar os sintomas da esquizofrenia dos efeitos colaterais dos medicamentos
ou sintomas de outras doenças (AL-HADIHASAN1, et al., 2017), o incremento de conhe-
cimentos promove a redução dos níveis de ansiedade e stress no doente associados com
sintomas da doença (AL-HADIHASAN1, et al., 2017) e promove a melhoria da capacidade de
incorporar as habilidades aprendidas na gestão de sintomas de doença (AL-HADIHASAN1,
et al., 2017). Alguns estudos evidenciam que usufruir da intervenção psicoeducativa se
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associa à redução da gravidade dos sintomas no pós-tratamento e no acompanhamento
aos três meses após intervenção (AL-HADIHASAN 2, et al., 2015). Comprovou-se a redu-
ção dos sintomas psicopatológicos negativos, positivos e gerais em pacientes com esqui-
zofrenia (KRYSHTAL, 2017). Por outro lado consta-se que o aumento do conhecimento e
compreensão da esquizofrenia e a potencial natureza hereditária da doença instigou alguma
preocupação (AL-HADIHASAN1, et al., 2017), no entanto quaisquer danos mínimos resul-
tantes da psicoeducação parecem ser superados pelo potencial de benefícios em resul-
tados importantes centrados no utente, como melhorias na função global e reduções nas
taxas de recaída (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION 2, 2019). Há evidência que
a psicoeducação origina um aumento significativo do insight (VON MAFFEI et al, 2015) e
melhora a consciencialização dos participantes sobre a doença (AL-HADIHASAN 2, et al.,
2015). Os clientes com esquizofrenia são considerados um grupo de alto risco para não
adesão à medicação, o que aumenta o risco de recaída e de problemas sociais, entre outros
(AL-BATRAN, 2015). A adesão e a percepção das doenças melhoram com intervenções
psicoeducativas como no estudo de von Maffei, et al. (VON MAFFEI et al., 2015). Há evi-
dência de uma melhor aceitação e participação dos utentes nos regimes de tratamento,
incluindo medicamentos e consultas (AL-HADIHASAN1, et al., 2017). É consensual que
fornecer psicoeducação a utentes com esquizofrenia se revela eficaz na melhoria da adesão
à medicação (AL-HADIHASAN1, et al., 2017; KRYSHTAL, 2017; AL-HADIHASAN2, et al.,
2015; VON MAFFEI et al., 2015). A psicoeducação pode mudar a maneira como os indi-
víduos com esquizofrenia percecionam os medicamentos antipsicóticos (MATSUDA et al.,
2016). A resistência dos utentes à medicação antipsicótica diminui à medida que os mesmos
se tornam mais conscientes das melhorias relacionadas com a medicação (MATSUDA et al.,
2016). A intervenção psicoeducativa oferece uma combinação de informações que abrangem
componentes cognitivos, psicomotores e comportamentais essenciais para mudar atitudes
(AL-HADIHASAN 2, et al., 2015) , verificando-se alterações na atitude negativa face ao uso
de medicamentos (AL-HADIHASAN1, et al., 2017). Um dos estudos demonstra que embora
o programa psicoeducativo implementado tenha melhorado a aceitação de medicamentos
em utentes com esquizofrenia, não houve um aumento do seu conhecimento sobre a doença
ou os efeitos dos medicamentos (MATSUDA et al., 2016). Como defende Enciso (2018) não
se procura apenas a redução dos sintomas que os utentes com esquizofrenia apresentam,
surgindo outros objetivos, como o aumento da autonomia, qualidade de vida, bem-estar
pessoal e participação em torno do conceito de recuperação pessoal, ajudando o utente a
gerir a sua própria doença através da aquisição de conhecimento sobre ela, administrando
sua própria vida sem ajuda constante (ENCISO, 2018). Alguns dos artigos selecionados
demonstram que os programas psicoeducativos promovem uma melhor gestão da doença

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por parte do individuo com esquizofrenia uma vez que melhora a capacidade de utilizar os
conhecimentos acerca da doença em situações da vida real (AL-HADIHASAN1, et al., 2017)
e incrementa a capacidade para lidar com os processos associados à vida diária de forma
mais eficaz (AL-HADIHASAN1, et al., 2017; AL-HADIHASAN2, et al., 2015). Percebe-se
também uma maior motivação do utente para procurar tratamento (AL-HADIHASAN1, et al.,
2017). Verifica-se que a psicoeducação aumenta o reconhecimento da importância do tra-
tamento para prevenir recaídas (AL-HADIHASAN1,, et al., 2017) e a capacidade de detetar
precocemente sinais de alerta de recaída (AL-HADIHASAN1, et al., 2017; AL-HADIHASAN2,
et al., 2015). Embora a taxa de hospitalização por recidiva se tenha revelado inferior com a
psicoeducação (AL-HADIHASAN1, et al., 2017; AL-HADIHASAN2, et al., 2015), há um estudo
que aponta que nem a frequência nem a duração dos (re)internamentos no hospital mudou
significativamente após a intervenção psicoeducativa (VON MAFFEI et al., 2015), no entanto
os mesmos autores referem que a esquizofrenia geralmente tem um curso crónico, tornando
as readmissões uma necessidade e se ocorrerem voluntariamente e no início de uma recaída,
podem ser entendidas como um sucesso, enfatizando que os participantes do estudo tinham
mais qualidade de vida percebida e estavam mais satisfeitos com sua saúde (VON MAFFEI
et al., 2015). A evidência científica também aponta benefícios da psicoeducação a nível
dos sentimentos e emoções vivenciadas pela pessoa com esquizofrenia. Além de transmitir
empatia e respeito pelo indivíduo, a psicoeducação estimula a esperança, a segurança, a
resiliência e o empoderamento (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION 2, 2019).
Segundo um dos estudos analisados após implementação do programa psicoedu-
cativo assiste-se à dissipação do medo e culpa do utente, à redução de stress e ansie-
dade e observa-se melhoria nas habilidades de enfrentamento (AL-HADIHASAN1, et al.,
2017). Esta estratégia de tratamento também reduz o envolvimento emocional excessivo
(AL-HADIHASAN 2, et al., 2015), contribui para o desenvolvimento da espiritualidade (AL-
HADIHASAN1, et al., 2017) e promove a diminuição do estigma (AL-HADIHASAN 2, et al.,
2015), potenciando a satisfação dos utentes com a sua saúde e desempenho (VON MAFFEI
et al., 2015). Há evidência que a psicoeducação promove uma maior qualidade de vida
dos utentes (KRYSHTAL, 2017; VON MAFFEI et al, 2015) bem como aos seus cuidadores
principais (AL-HADIHASAN 2, et al., 2015). Os efeitos da psicoeducação nas interações
sociais também são positivos sendo evidente a melhoria das habilidades de comunicação
(AL-HADIHASAN 2, et al., 2015), benefícios ao nível de funcionamento social e melhoria a
nível de comportamento disfuncional na comunidade e na disfunção no desempenho dos
papéis sociais na sociedade (KRYSHTAL, 2017). As intervenções psicoeducativas reper-
cutem-se positivamente também na relação com os serviços de saúde mental uma vez que
melhoram o relacionamento entre a pessoa diagnosticada com esquizofrenia e cuidadores

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primários com profissionais de saúde mental (AL-HADIHASAN 2, et al., 2015) e promove a
melhoria no funcionamento dos utentes no hospital (KRYSHTAL, 2017). A implementação de
programas psicoeducativos também se reflete na melhoria da capacidade de comunicação
dos cuidadores primários, no desenvolvimento de habilidades e estratégias para os mesmos
lidarem com a doença, aumento da consciencialização, o reconhecimento de stressores e
melhor gestão de situações stressantes (AL-HADIHASAN1, et al., 2017). Após as sessões
de psicoeducação verifica-se uma melhoria da interação entre utentes e cuidadores (AL-
HADIHASAN1, et al., 2017), aquisição de novas habilidades por parte dos cuidadores para
lidar com acontecimentos perturbadores e aumento da confiança do cuidador na gestão de
comportamentos inesperados ou desafiadores do utente (AL-HADIHASAN 2, et al., 2015),
aumento da capacidade dos cuidadores na prevenção de problemas numa fase precoce
(AL-HADIHASAN1, et al., 2017) e melhoria da supervisão da toma dos medicamentos an-
tipsicóticos (AL-HADIHASAN 2, et al., 2015) . Segundo um dos estudos a psicoeducação
promove ainda uma maior redução da carga familiar (AL-HADIHASAN 2, et al., 2015).
Alguns dos cuidadores atribuíram o aumento do nível de conhecimento de esquizofrenia
com a autoconfiança para se relacionar com a comunidade (AL-HADIHASAN1, et al., 2017).
Todos estes aspetos validam a importância da participação dos cuidadores em atividades
psicoeducativas. Importa também destacar que em quatro dos cinco estudos selecionados o
Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica assume um papel
de destaque na implementação de programas psicoeducativos (AL-HADIHASAN1, et al 2017;
VON MAFFEI et al., 2015; MATSUDA et al., 2016), reafirmando a psicoeducação como uma
intervenção da sua área específica de competências. A psicoeducação assume-se como
intervenção psicoterapêutica do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Mental
e Psiquiátrica (ORDEM DOS ENFERMEIROS3, 2018), sendo este fato evidenciado pelo pre-
sente estudo, que apresenta como principal limitação a escassez de bibliografia selecionada.

CONCLUSÃO

Após a análise dos artigos selecionados durante a fase de pesquisa foi possível encon-
trar respostas para a pergunta PIO que motivou esta revisão integrativa da literatura, sendo
assim possível atingir os objetivos propostos para a sua elaboração. De acordo com os resul-
tados obtidos conclui-se que a implementação de programas psicoeducacionais direcionados
à pessoa com esquizofrenia se apresenta como estratégia terapêutica efetiva, traduzindo-se
em ganhos para a pessoa diagnosticada com esquizofrenia e seus cuidadores. Os bene-
fícios mais evidenciados nos estudos em análise são aumento de conhecimentos sobre a
doença, maior conhecimento dos sintomas antecedentes a crises, diminuição da gravidade
dos sintomas, maior adesão ao tratamento proposto, melhoria da capacidade em lidar com a
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esquizofrenia e gerir a sua doença, melhoria da gestão do stress, diminuição de recaídas e
reinternamentos e o impacto positivo nas interações e habilidades sociais. Os efeitos positivos
nos cuidadores e na relação doente/cuidador também estão amplamente documentados na
bibliografia selecionada. Os estudos analisados relevam que a psicoeducação promove o
autoconhecimento e autonomia permitindo à pessoa diagnosticada com esquizofrenia uma
maior responsabilidade, participação mais ativa na tomada de decisão e na gestão da própria
vida. O diagnóstico, planeamento, implementação e avaliação de intervenções psicoeducati-
vas enquanto intervenções autónomas de Enfermagem, por parte do Enfermeiro Especialista
em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, exalta a necessidade de se estudar esta
temática. A presente revisão integrativa da literatura pretende promover a qualidade dos
cuidados de especializados de enfermagem à pessoa com esquizofrenia, incidindo sobre a
evidência científica mais recente. Os resultados obtidos reafirmam a contemporaneidade e
pertinência da temática em estudo na área da Saúde Mental e Psiquiátrica. Um dos aspetos
que relevam a importância deste estudo na prática especializada de enfermagem é a cons-
tatação da participação de Enfermeiros Especialistas nesta área do cuidado em quatro dos
cinco artigos selecionados, havendo evidência da sua importância no planeamento, elabo-
ração, implementação e avaliação de intervenções psicoeducativas independentemente da
distribuição geográfica dos artigos analisados. Esta conclusão está de acordo com a reali-
dade portuguesa, validando a perspetiva que esta intervenção faz parte das competências
específicas do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, tal
como se define no Regulamento n.º 515/2018: Regulamento de Competências Específicas
do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, publicado em
Diário da República n.º 515/2018, 2.ª Série. N.º 151 de 7 de agosto de 2018 nos Enunciados
Descritivos do Regulamento dos Padrões de Qualidade dos Cuidados Especializados em
Enfermagem de Saúde Mental e Padrão de Documentação de Enfermagem de Saúde Mental
e Psiquiátrica. A principal limitação identificada prende-se com o escasso número de artigos
encontrados que respeitem os critérios de inclusão e exclusão, sendo apenas cinco estudos
selecionados para esta revisão. Importa também referir a escassez de bibliografia em língua
portuguesa remetida pela pesquisa efetuada com os descritores escolhidos. Consideramos
que a pesquisa se cingir a um intervalo temporal relativamente curto e a pesquisa dos des-
critores ser efetuada apenas a nível do título acentuam esta escassez de resultados, porém
estas opções metodológicas justificam-se pelos motivos anteriormente descritos. De futuro
sugere-se a elaboração de estudos nas quais estas limitações sejam transpostas.

Responsabilidades Éticas

Conflitos de Interesse: Os autores declaram não possuir conflitos de interesse.

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Suporte Financeiro: O presente trabalho não foi suportado por nenhum subsídio
o bolsa ou bolsa.
Proveniência e Revisão por Pares: Não comissionado; revisão externa por pares.
Ethical Disclosures Conflicts of interest: The authors have no conflicts of in-
terest to declare.
Financing Support: This work has not received any contribution grant or scholarship.
Provenance and Peer Review: Not commissioned; externally peer reviewed

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ENVELHE (SER): O IMPACTO DA SAÚDE BUCAL
E CULTURA ALIMENTAR NA VELHICE

Ana Carolina Lusio Lopes


Universidade de São Paulo (USP)

'10.37885/230513130
RESUMO

É de suma importância compreender o envelhecimento como um processo natural ineren-


te a todos os seres vivos, determinado por alterações e implicações na saúde de forma
subjetiva e heterogénea, já que depende do estilo e curso de vida de cada indivíduo. Esse
conceito é ainda mais relevante diante do cenário atual do envelhecimento populacional e
entendimento de suas consequências sob as áreas da organização econômica, política e
social. As alterações relacionadas ao avanço da idade são multifatoriais, que a longo prazo,
criam uma tendência progressivamente crescente de gastos com assistência médica dos
idosos. Isso naturalmente impõe a necessidade maior de se trabalhar com todas as reservas
em conjunto, a fim de as potencializar e melhorar os aspetos mais afetados. Dentre essas
alterações, a nutrição e a saúde bucal desempenham um papel proeminente e decisivo na
manutenção do bem-estar e saúde do idoso. Estas influenciadas, por sua vez, pela cultura
alimentar e consequente interação social na velhice, já que estão correlacionadas com o
significado de comer e uma multiplicidade de sentidos sobre esse ato para cada indivíduo.
Isso evidencia a importância da atuação do profissional e criação de programas preventivos
e educativos para que as barreiras encontradas sejam prevenidas dentro do possível, rea-
bilitadas e adaptadas, a fim de tornar todas essas ações mais humanizadas, competentes,
de qualidade e que transmitam a importância da velhice, tratando-a como deve ser, uma
extraordinária conquista da humanidade.

Palavras-chave: Cultura, Envelhecimento, Interação, Saúde Bucal.


INTRODUÇÃO

É de fundamental importância compreender o envelhecimento ao longo de toda a


vida (lifespan), o qual é determinado por alterações biológicas, psicológicas e sociais, que
devem ser compreendidas e exploradas de forma satisfatória para que se mantenham em
desenvolvimento contínuo durante todo o processo (BALTES e BALTES, 1990). Em outros
termos, este é um processo natural, de diminuição progressiva da reserva funcional dos
indivíduos (senescência). Ou seja, está associado ao acúmulo de uma grande variedade de
danos moleculares e celulares, que com o tempo, esse dano leva a uma perda gradual das
reservas fisiológicas, um aumento do risco de contrair doenças, declínio geral da capacidade
intrínseca do indivíduo e consequente risco de morte. Essas mudanças naturais advindas do
processo, em condições normais, não costumam provocar qualquer problema, no entanto,
em condições de sobrecarga, aumenta o risco de uma condição patológica que requeira
assistência. Por isso, não devemos interpretar o envelhecimento natural e a velhice como
sinônimo de doença, mas sim nos atentarmos às condições que os indivíduos são expostos
durante o processo (Ministério da Saúde, 2006). Com isso, o desafio é conseguir contribuir
para a potencialização e adaptação do indivíduo frente às limitações que possam ocorrer, no
intuito de garantir a vivência do ciclo de vida, principalmente no fim, de uma forma autônoma
e com uma qualidade de vida digna.
Um modelo capaz de abranger essa compreensão, uma vez que discute os processos
que as pessoas utilizam para alcançar seus objetivos pessoais, é o modelo de Baltes e Baltes
(1990), através da teoria de seleção, otimização e compensação (Teoria SOC). Segundo a
qual, os ganhos e as perdas evolutivas são decorrentes da interação entre os recursos da
pessoa com os recursos do ambiente, de modo interdependente. Cada indivíduo irá delinear
suas estratégias como forma de adaptação na escolha de metas e ações para concretizá-las
e assim alcançar seus objetivos. Por isso a capacidade de resiliência de cada um deve ser
respeitada em todos os seus aspectos (DE ALMEIDA, 2013).
A explicação do porquê o envelhecimento ocorre é uma solução para o enigma de longa
data do papel da senescência na natureza. Por isso, foram criadas teorias explicativas que
tentam organizar os fatos, dando-lhes uma ordem temporal e estabelecendo potenciais rela-
ções de causa-efeito. As teorias do envelhecimento biológico são divididas em duas grandes
partes, as Teorias evolucionistas, que explicam o “porquê” do envelhecimento, e as Teorias
fisiológicas, que explicam “como” ocorre este processo. As teorias evolucionistas são con-
tra as teorias programadas (fisiológicas), defendendo que os organismos são programados
para sobreviver e não para morrer. Esta alega que o envelhecimento é um artefato induzido
pelo ambiente protetor em que os indivíduos estão inseridos. Já, as Teorias fisiológicas
são expressas em duas vertentes, as teorias estocásticas (não programadas) e as teorias
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programadas, na qual a principal diferença é representada pelo fato de as variações inte-
rindividuais na idade de morte são muito superiores às variações temporais interindividuais
de fenómenos ontogénicos programados (GAVRILOVA et al., 2012). Em suma, indepen-
dentemente da versão tomada para explicar esse processo é fato que o envelhecimento
biológico é uma propriedade e não um fenómeno. Expressa um fator inevitável, de natureza
multifatorial, com uma grande variabilidade interindividual e acima de tudo, é irreversível.
Na atualidade, esses conceitos são extremamente relevantes e valorosos, pois há
uma sensibilização mais aguda sobre envelhecimento populacional e suas consequências,
já que há um aumento da expectativa de vida e aumento significativo da população idosa
mundialmente. A expectativa de vida global média atual é em torno de 73 anos e espera-se
que a média de idade no ano de 2050 seja em torno de 77 anos, tanto para homens como
mulheres (WHO, 2019). Em todo o mundo, a população com 60 anos ou mais está a crescer
mais rapidamente do que nos restantes grupos etários mais jovens. O número de idosos, está
a expandir a uma taxa de cerca de 3% ao ano, passando de 962 milhões em 2017 (13% da
população global) para 2,1 bilhões em 2050 e 3,1 bilhões em 2100. O número de pessoas
com 80 anos ou mais deverá triplicar até 2050 passando de 137 milhões, em 2017, para 425
milhões. Esse aumento não se deve apenas à diminuição da mortalidade infantil, mas também
à diminuição global das taxas de mortalidade em idades mais altas, devido à melhoria nos
acessos a cuidados primários (WHO, 2019). Em suma, essa expansão acarreta uma série
de implicações que afetam as diferentes áreas da organização econômica, política e social,
ao receberem uma pressão crescente das demandas observadas (SAAD, 2016). Com isso,
a forma como essa questão vem sendo enfrentada pelos países, depende da maneira com
que cada sociedade lida com o envelhecimento na forma de processo (DEBERT, 2016).

DESENVOLVIMENTO

A promoção da qualidade de vida nesse processo é determinada pela manutenção da


saúde em seu maior nível possível, em todos os aspectos da vida humana: físico, social,
funcional, psíquico e espiritual, abrangendo sempre a percepção pessoal de quem se está
investigando (WHOQOL GROUP, 1995). Dado esse cenário, o envelhecimento e a velhice
vem se tornando o foco, principalmente da atenção da saúde, devido ao impacto dessas
múltiplas demandas no sistema organizacional.
É de extrema importância esclarecer que essa qualidade de vida deve ser construída
ao longo do envelhecimento, e não somente na velhice, já que ela depende do curso de vida,
estratégias e ponto de vista de cada um (CESCHIN, ALQUATI e XIMENES, 2012). Dessa
forma, têm-se em vista as mudanças fisiológicas, psicológicas e sociais decorrentes da idade,

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de maneira subjetiva e heterogênea. Estas influenciadas diretamente e/ou indiretamente por
fatores internos e externos, como herança genética e fatores ambientais (WENZEL, 2006).

Alterações multifatoriais: Intrínsecas e Extrínsecas

Sob a perspetiva das alterações intrínsecas naturais do envelhecimento, caracteriza-


-se por alterações nos diversos sistemas do corpo, as quais os indivíduos podem ou não
apresentar, como no sistema musculoesquelético, cardiovascular, respiratório, nervoso,
reprodutor, imunológico, digestório, sensorial, e outros que os integram. Assim, sob a pers-
petiva dos fatores extrínsecos, sabe-se que alguns fatores podem influenciar diretamente
na saúde do idoso, podendo ser de risco, como a pobreza, má alimentação, sedentarismo,
estresse, tabagismo, poluição atmosférica e maus hábitos em geral. Entre estes, a nutrição
desempenha um papel proeminente, já que o estado nutricional é um dos fatores mais im-
portantes na manutenção da saúde. Este que, afetado pelas diversas alterações do organis-
mo e influenciado pelos possíveis maus hábitos, pode afetar uma variedade de processos
degenerativos relacionados à idade e ser um risco significativo de morbidade e mortalidade
(WENZEL, 2006; MACHADO, COELHO e COELHO, 2010).
Essas alterações relacionadas ao avanço da idade, a longo prazo, leva à diminuição da
funcionalidade e aumento da suscetibilidade a doenças crónicas (cardiovasculares, pulmo-
nares, metabólicas e neoplasias), o que está na base do desenvolvimento de incapacidade
e morte prematura no idoso. Além da mudança do padrão de morbidade, há uma tendência
progressivamente crescente de gastos com assistência médica dos idosos. Estes estão
sujeitos a uma tripla carga de doenças de forma multifatorial, sendo elas: o aumento do ris-
co de doenças crônicas não transmissíveis, doenças infeciosas e violência de forma geral,
provocando, muitas vezes, a perda da autonomia, maior consumo de medicamentos e até
mesmo maiores índices de internações hospitalares entre os idosos (RECH, 2006). Isso
acarreta uma maior necessidade de atendimento de saúde da população que envelhece e
que vive, cada vez mais, até idades mais avançadas. Naturalmente tornam-se usuários mais
assíduos dos serviços de saúde de forma mais prolongada e contínua, já que essa maior
suscetibilidade a doenças aumenta o consumo de medicamentos e índices de internações
hospitalares de longa duração, o que exige intervenções mais custosas.
Assim sendo, a organização do sistema deve priorizar e assegurar uma eficiente aten-
ção integral à saúde da população idosa a longo prazo, enfatizando o envelhecimento saudá-
vel baseado no paradigma da capacidade funcional, abordada de maneira multidimensional,
a fim de garantir a capacidade de se manter as habilidades físicas e mentais necessárias
para uma vida independente e autônoma (RECH, 2006; VERAS, 2009). Para tanto, é crucial
trabalhar com todas as reservas em conjunto, como a reserva cognitiva, social, funcional,

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psíquica e vincular. À vista disso, vale ressaltar que esse envelhecimento saudável res-
paldado em uma boa qualidade de vida é um estado individual, ou seja, depende de uma
autoavaliação, interpretação, autopercepção e autodeterminação de cada um, já que saúde/
doença não é um estado estático. Todos devem respeitar a resiliência e autonomia de cada
indivíduo, para que este possa gerenciar sua própria vontade, livre de influências alheias,
apenas baseada na liberdade de escolha e tomada de decisão.

Saúde bucal na velhice

Devido principalmente ao maior acesso à informação, pode-se considerar que cada vez
mais os indivíduos têm uma maior consciência de que um estilo de vida saudável influencia na
qualidade do envelhecimento, e como resultado, isso tem aumentado as ações e as práticas
mais saudáveis, como o exercício físico e a melhor qualidade da dieta (TRAMONTINO, 2017).
Um dos fatores que representa a melhora desse quadro é a promoção e ingestão de
nutrientes, já que este é um aspecto que está vinculado também com a questão da fragilidade
na velhice, caso não seja adequado. É interessante ressaltar neste ponto que, fragilidade
independe de doença e não é sinônimo de dependência. A ingestão adequada depende
de múltiplos fatores, principalmente biológicos e sociais, ligados à saúde bucal, a qual é
considerada precária na população idosa brasileira, revelando a falta de cuidado ao longo
de toda a vida (Ministério da Saúde, 2004). Essa precariedade se relaciona com questões
culturais, socioeconômicas e dependência do sistema de saúde público, devido à falta de
recursos e informações voltados a esse público. A saúde bucal e as funções de mastigação
e deglutição inter-relacionam-se. A deglutição necessita de uma harmonia com a mastigação
eficiente, e esta depende da saúde bucal com relação à saúde dos dentes. É necessário que
estes sejam naturais e sadios ou no caso de próteses, estas sejam bem adaptadas, para
assim não haver o risco da mudança de hábitos alimentares e/ou problemas digestivos que
interfiram no estado nutricional do idoso e consequentemente na qualidade de vida deste
(CARDOSO e BUJES, 2010).
Dentre todas as alterações naturais advindas do envelhecimento, fazem parte destas
também as modificações das funções do Sistema Estomatognático, no qual ocorrem trans-
formações bioquímicas que trazem prejuízos ao processo digestório, o que afeta ainda mais
os aspectos já citados sobre a saúde bucal e as funções de mastigação e deglutição, já que a
cavidade oral também envelhece. Algumas das alterações desse sistema são caracterizadas
pela perda do tônus muscular, perda da elasticidade, diminuição da ação da língua e movi-
mentos orais, modificação na produção de saliva, diminuição do paladar e da sensibilidade
orofacial, juntamente com a lentidão psicomotora, diminuição da capacidade funcional, perda
natural da memória recente, diminuição da força na mastigação e perda dentária (destruição

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do esqueleto facial) e/ou utilização de prótese mal adaptada. Todas essas afetam de forma
geral o sistema estomatognático (como exemplo, ao dificultar a propulsão e a boa coesão
do bolo alimentar), e os órgãos fonoarticulatórios, influenciando diretamente na mastigação,
deglutição e na fala. Essas modificações estruturais juntamente com as mudanças sociais
e psicológicas, principalmente em relação à falta de interação social, podem ocasionar
consequências no idoso, como a perda da vontade de comer e perda do prazer no ato de
alimentar-se. Isso pode causar diretamente danos ao estado nutricional deste, aumentando
os riscos de vulnerabilidade e/ou fragilidade.
Isso ressalta a importância da participação social do idoso, já que influencia na au-
topercepção de qualidade de vida ao longo do processo de envelhecimento, tanto benéfi-
cos para o combate ao isolamento, como para melhora da saúde. O apoio social facilita o
enfrentamento e adaptação frente às crises e mudanças que este está sujeito ao longo do
processo e auxilia na manutenção da autoestima do indivíduo (COBB, 1976; STROEBE e
STROEBE, 1995). Ressalta-se que, a participação dos idosos ativamente nas comunidades
se dá de maneira livre e espontânea, evitando maiores julgamentos que possam piorar o
quadro natural vulnerável e de bem-estar do idoso.
Para reverter ou diminuir os riscos ligados ao estado nutricional dos indivíduos que
envelhecem, na intenção de facilitar a ingestão de alimentos nesses casos, a estratégia de
adaptação é respaldada na atenção à assistência e rede social e uma mudança na dieta
dos idosos, dando a preferência por alimentos menos consistentes e mais pastosos. Essa
mudança na dieta, por outro lado, pode provocar a atrofia da musculatura mastigatória e
repercussão na estética facial, já que não é estimulada corretamente. Isso, juntamente com
a perda dentária ou má adaptação da prótese interferem no prazer de comer e na autoestima
do idoso, a qual pode acometer também um declínio do nível de higiene oral e um aumento
da incidência de doenças bucais. Dessa maneira, é extremamente importante que os profis-
sionais em conjunto promovam uma boa saúde bucal, em relação à adaptação da prótese,
a qual aumenta a adaptação para a fala e alimentação, resultando num melhor bem-estar
físico, psíquico e clínico (CARDOSO e BUJES, 2010). Essas adaptações, juntamente com
o respetivo apoio social, também auxiliam no estímulo ao idoso para realizar as tarefas que
ainda consegue executar, no intuito de preservar essas ações (potencialização) e diminuir
o risco do aumento da dependência.

Cultura alimentar na velhice – Interação social

As mudanças e adaptações ao longo do envelhecimento estão correlacionadas com


o significado de comer e uma multiplicidade de sentidos sobre esse ato para cada indiví-
duo. Os hábitos alimentares possuem elementos simbólicos que fazem parte da tradição e

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costumes de cada um, sendo a comida um marco de identidade cultural e social (ALMEIDA,
GUIMARÃES e FREITAS, 2009). A comida pode ser considerada a materialidade da cultura,
da religiosidade e identidade, no qual representa o modo do indivíduo sentir-se alimentado
(DA MATTA, 1986). No caso, percebe-se que algumas pessoas quando chegam à fase da
velhice têm a tendência de relacionarem e estabelecerem um vínculo desse ato de comer com
o gosto, ânimo, afetividade e prazer de recordar o passado. Este que, por sua vez, remete à
comida saudável e à liberdade da juventude em relação ao poder da escolha do alimento sem
necessitar de adaptações na dieta devido às complicações ligadas à velhice. Um exemplo
representativo do vínculo criado com o alimento é o caso do idoso que possui uma doença
que necessita de restrição alimentar e mesmo assim não a respeita. Este prefere arriscar-
-se, pois opta por continuar a comer determinados alimentos que fazem parte de sua vida
e o fazem feliz e completo, ao lhe remeter lembranças ou sentimentos de satisfação. Essa
liberdade na tomada de decisão é bastante relevante para manter a autonomia do idoso,
já que a situação em que o indivíduo se apresenta depende da interpretação e motivação
dele, pois neste caso, deu-se mais importância ao fato de aprimorar-se e superar-se como
sujeito, e não apenas manter-se vivo.
O autocuidado segue princípios culturais, influenciado por crenças sociais, espirituais e
valorativas na forma de lidar com a saúde/doença e do ato de cuidar. Segundo Boff (1999),
em sua maioria, este ato baseia-se em um conceito que considera a saúde “um estado
de bem-estar total, corporal, espiritual e social e não apenas a inexistência de doença e
fraqueza”, que no caso é irreal, pois não é possível uma existência sem dor e sem morte.
Porém, é possível criar uma interpretação da existência/envelhecimento como um processo
essencialmente benigno, não patológico, mas ameaçado por agravos biopsicossociais. Esses
princípios são peculiares de cada família, principal fonte de suporte social e de cuidado do
idoso, transmitido de geração em geração por meio de símbolos, linguagem, práticas e ri-
tuais (RODRIGUES, 2013).
É importante destacar a importância da interação social do idoso de forma geral, já que
influencia na autopercepção de qualidade de vida ao longo do processo de envelhecimento,
sendo benéficos para o combate ao isolamento e até mesmo a melhora na saúde. Um simples
contato físico não é suficiente para que se tenha essa interação, ela deve ser construída ao
longo de todo o processo, a qual modifica o comportamento dos indivíduos envolvidos. Desde
o nascimento, os indivíduos são incluídos em uma sociedade, e com o tempo aprendem a
viver nela, apenas depende de cada indivíduo saber como se relacionar. Todos dependem
de contato social, desde os mais jovens até os mais velhos, isso é essencial na vida de qual-
quer ser humano. Todos possuem uma extrema necessidade de viver em sociedade, que é
tão importante quanto se alimentar e se relacionar, é um alimento para a alma. A obtenção

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de comportamentos sociais envolve um processo de aprendizagem durante toda a vida,
sendo que na velhice as habilidades sociais dependem do estabelecimento e manutenção
do contato social e do ato de lidar com os comportamentos preconceituosos contra a ve-
lhice, que são demonstrados por evitar contato, reações agressivas e proteção excessiva
(CARNEIRO & FALCONE, 2004).
Dessa forma, a intergeracionalidade surge como uma importante ferramenta na pro-
moção do convívio social que proporciona melhora na qualidade de vida do idoso. Porém,
a falta de convívio entre gerações resulta no desconhecimento e consequentemente um
distanciamento reforçado por estereótipos que impedem a aproximação entre as pessoas.
Isso tem uma relação com a Teoria das Trocas, que ao se aplicar no envelhecimento é visto
que a diminuição nas interações sociais entre os jovens e os idosos ocorre pois estes têm
menos recursos para ajudar em situações de troca entre gerações, os idosos têm pouco
para trocar na visão dos mais jovens (Carneiro & Falcone, 2004). Não surpreende, portanto,
os inúmeros conflitos geracionais e preconceito etário presentes no cotidiano da sociedade
atual, que se reflete no forte contraste do imaginário social que confere aos jovens qualidades,
como força e atividade, e reserva aos velhos as perdas e as carências, como a fragilidade
e a passividade.
Outra evidência de valorização do jovem é a ideia de que esta fase é associada ao
trabalho e o velho é ligado à aposentadoria, pelo fato de não ser mais produtivo na socie-
dade marcada pelo trabalho. Isso o afasta das decisões políticas e sociais direcionadas a
ele, que são de direito de todos os cidadãos, ou seja, “cidadania recusada”. A questão é
que o direito existe, mas é disfarçado e ocultado, já que quem decide não pede e se quer
respeita as opiniões dos mais velhos. Esses indivíduos passam a não ter mais o direito de
serem ouvidos e não valorizados quanto às suas opiniões sobre as atividades a desenvol-
ver, grau de autonomia e o que é ser velho. Toda essa mentalidade faz com que os idosos
não se sintam pertencentes à comunidade e sociedade, e por isso buscam cada vez mais
ações que o tornam jovens, rejuvenescidos, e que de certa forma o afastam da ideia de
“morte” (GARCIA, 2015).
Diante desse quadro, é necessária a elaboração de propostas e desenvolvimento
de ações que promovam as relações sociais, combatendo o isolamento, juntamente com
a aproximação intergeracional, dado que essa convivência acarreta uma grande troca de
experiências no nível intelectual, cultural e moral, impactando diretamente e indiretamente
na saúde do idoso.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

É de fundamental importância que a sociedade em geral, principalmente os profissionais


de saúde que lidam mais diretamente com a saúde dos idosos, estejam integrados, atentos,
preocupados e informados em relação a todas as mudanças advindas do envelhecimento,
para que estas barreiras encontradas sejam prevenidas dentro do possível, reabilitadas e
adaptadas da melhor maneira possível. Além de serem evitadas generalizações e descasos
quanto a história de vida e bem-estar individual. Deve-se existir essa preocupação, ainda
mais que o aumento da procura por instituições de longa permanência para idosos (ILPI) é
um fator existente na realidade atual brasileira. Esse impacto da institucionalização causa
transformações multifatoriais no idoso, principalmente a nível psicológico (estresse) e social
(solidão), tornando assim o idoso mais fragilizado frente à situação em que se encontra em
sua totalidade (CARDOSO, OLCHIK e TEIXEIRA, 2016).
Com relação à alimentação, os profissionais devem receber as informações necessá-
rias para que entendam sua importância biopsicossocial, juntamente com a conscientização
da relevância da saúde bucal, já que existe uma falsa ideia de normalidade para a perda
dentária com a idade (preconceito). Como exemplo, o caso de idosos que perdem peso
devido à perda dentária ou má adaptação da prótese ou pacientes que quando internados
recusam-se a comer a comida do hospital, levando assim ao aumento da fragilidade destes.
Dessa forma, cabe aos profissionais de saúde, incluindo o gerontólogo capaz de integrar
a equipe interdisciplinar, evitar danos ao estado nutricional do idoso, de forma que ajuste
uma dieta específica para cada tipo de indivíduo e oriente o paciente de modo claro e ob-
jetivo sobre a importância de cada procedimento realizado, para que o idoso se sinta cada
vez mais acolhido. Junto a isso, atentar-se às questões relacionadas à interdependência
entre qualidade de vida e suporte social no âmbito do envelhecimento, na necessidade de
se realizar intervenções com um olhar e atuação interdisciplinar e multidimensional. Existe
também a necessidade de programas preventivos e educativos voltados para a saúde bucal,
no qual auxiliem esses profissionais de forma integral para a melhora da qualidade de vida
dos indivíduos.
O cuidado do idoso tem de ser percebido em seu sentido mais amplo, como indica Boff
(1999), enquanto um modo de ser essencial, natural e constituinte do ser humano. “Sem o
cuidado, ele deixa de ser humano (...) desestrutura-se, definha-se, perde o sentido, morre”.
Isso evidencia a relevância das equipes multidimensionais na atenção biopsicossocial ao
idoso e as medidas preventivas que devem ser incentivadas por estas, como a prática de
AF, redução do tempo sedentário e alimentação adequada e saudável, para tentar reduzir a
ocorrência e prevalência dos agravos da composição corporal e amenizar os efeitos negativos
sobre a capacidade funcional e a saúde geral dos idosos. Logo, o objetivo final é tornar todas
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essas ações mais humanizadas, competentes, de qualidade e que transmitam a importância
da velhice, tratando-a como deve ser, uma extraordinária conquista da humanidade. Ela não
pode ser ignorada, nem menosprezada, mas sim contemplada, e ainda mais, exaltada. A ve-
lhice é experiência, vivência e aprendizado. É paciência e compreensão. Uma dádiva!

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ENVELHECIMENTO SOCIAL – AUTOCONCEITO E
SOCIEDADE: O EXEMPLO DO ESTEREÓTIPO DO
CONDUTOR SÉNIOR

Susana Cristina Ferreira Fernandes


Núcleo de Investigação do Instituto Politécnico da
Maia (N2i)

'10.37885/230513165
RESUMO

Este trabalho aborda alguns aspetos do envelhecimento social, associados a conceitos de


autoimagem da pessoa mais velha e da imagem que o sénior projeta na sociedade. Apesar
das pessoas mais velhas, não serem vistas da mesma forma em diferentes sociedades e
culturas, é nas regiões urbanas onde se verifica maior predominância de alguns estereótipos
associados à idade. Em contraposição é, também, nas cidades que os seniores mais en-
contram atividades e recursos para um envelhecimento ativo. Com o aumento da esperança
média de vida, muitos indivíduos estão mais saudáveis e ativos até idades mais avançadas,
pelo que a ideia da idade biológica não define per si o envelhecimento. Apesar do aumento
verificado na esperança média de vida, a maioria das pessoas não se prepara para enve-
lhecer, e tende mesmo a contrariar as evidências do seu próprio envelhecimento. Este texto
pretende ser uma introdução para uma reflexão (mais profunda) sobre o envelhecimento e
como nós, indivíduos únicos, inseridos numa sociedade complexa e multicultural, percecio-
namos o nosso envelhecimento e o dos outros. Na cultura social, é comum a construção da
identidade do sénior por contraposição à identidade do jovem, propiciando o surgimento de
estereótipos associados à idade. Por exemplo, existe um estereótipo associado à imagem
do condutor mais velho, que remete para incapacidades na condução que, na generalidade
das situações, deve ser indagado por não corresponder à verdade. A “autorregulação da
condução”, típica nos seniores, é sinónimo de experiência, prudência e autoconhecimento,
e faz evitar situações desafiantes e perigosas no trânsito.

Palavras-chave: Envelhecimento Social, Modos de Envelhecimento, Autoimagem do Sénior,


Condutor Sénior, Estereótipo.
INTRODUÇÃO

O conceito de envelhecimento tem assumido várias conotações ao longo dos tem-


pos. Desta forma, é possível encontrar diferentes conotações para designar as pessoas de
mais idade, desde: o “ancião respeitável” – advindo dos raros patriarcas com experiência
acumulada e valorizada; o “velho“ – que caracteriza tudo o que está gasto e degradado,
passando pelo “idoso“ – significado de pleno na idade, termo mais respeitoso, destinado,
em geral, às camadas mais ricas da população; o individuo de “terceira idade“ – a partir da
noção de produção (em que a primeira etapa compreende a fase de preparação, a segunda
de produtividade e a terceira de aposentadoria ou reforma). A terceira idade ou reforma, é
entendida, muitas vezes, não só como ócio, inutilidade, inatividade, mas também como o
seu oposto, dando a ideia de uma etapa destinada a novas oportunidades e prazeres, a uma
segunda vocação, ao descanso e, principalmente, ao privilégio do presente, da qualidade do
momento da vida, do desfrute do tempo vivido: uma espécie de “idade extra” ou de “idade
de lucro” (NEGREIROS, 2003).
Segundo a Organização Mundial de Saúde (WHO, 2002, 2005, 2011, 2011a), a terceira
idade tem início entre os 60 e os 65 anos. Todavia, esta é uma idade instituída para efeitos
de investigação, uma vez que o processo de envelhecimento depende de três classes de
fatores principais: biológicos, psíquicos e sociais. São estes fatores que podem preconizar o
envelhecimento, acelerando ou restaurando o aparecimento e a instalação de doenças e de
sintomas característicos da idade madura (ANICA et al., 2014; BORGES & COIMBRA, 2010).
Não se justifica, portanto, utilizar eufemismos para apelidar as pessoas com mais de 60 anos,
porque a expressão “velho” não é depreciativa (podendo, inclusivamente, ser carinhosa: “meu
velho”, como dizem os brasileiros), como afirma ZIMERMAN (2000, p.10). No entanto, em
Portugal, a denominação “velho” tem alguma conotação depreciativa, pelo que preferimos
o termo “idoso” ou, mais simpático ainda, o termo “sénior” (NEGREIROS, 2003). Em língua
espanhola são apelidados frequentemente de “pessoas maiores”, ou simplesmente “maio-
res” (RAMOS, 2014).
Os vocábulos mais usados são de origem latina e grega. Termos latinos: velho (do latim
vétulus, diminutivo de vetus), ancião (do latim medieval antianus, através do provençal ancian
e do francês ancien), idoso (o que tem muita idade, do latim aetas), sénior (do latim sénior,
mais velho, de sénex, donde deriva também senescência, senilidade, senado). Podemos
usar ainda a expressão “adulto idoso” (adultum é o tempo supino do verbo latino adoléscere,
crescer; supõe-se que o adulto já terminou a sua fase de crescimento). Vocábulos derivados
do grego são: geronte (de gérôn-ontos, donde deriva gerontologia) (RAMOS, 2014).
Todavia, com o significativo aumento da expectativa de vida, o envelhecimento tem
sido crescentemente adiado para uma “quarta idade”, à qual se associa a tradicional imagem
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de “decadência” e de “perda de capacidades físicas e psicossociais”. Portanto, no cenário
atual, há uma clara tendência para a distinção entre “jovens idosos” – sexagenários-sep-
tuagenários saudáveis e ativos – e “idosos velhos” – octogenários em diante, mais frágeis
e dependentes (NEGREIROS, 2003).
Quando se aborda o envelhecimento é natural, em primeira instância, estabelecer
uma referência entre a idade cronológica e a idade biológica (saúde ou doença de vários
órgãos e aparelhos, dependente da situação citológica, etc.). De facto, os seres humanos
experienciam ritmos diferentes de envelhecimento biológico, ao longo da idade cronológica,
podendo existir envelhecimento precoce – denominado de “progeria”, com indivíduos a apre-
sentarem doenças típicas do envelhecimento em idades mais precoces, e outros indivíduos,
em contraposição, cheios de robustez – “agerasia” (DICIONÁRIO MÉDICO, 2018). Contudo,
na abordagem do envelhecimento do ser humano é, ainda, importante enfatizar a idade
psicológica (entusiasmo ou depressão, expectativas ou desilusões), a social (expectativas
e preconceitos dos familiares e da sociedade em geral) e, por último, a cultural (nas socie-
dades africanas e orientais, o velho atinge o cume do prestígio, enquanto nas sociedades
ocidentais e de produção, o velho é desconsiderado) (FERREIRA, 2009).
Segundo PAULO TEIXEIRA (2006), o “relacionamento das pessoas mais velhas com o
mundo caracteriza-se pelas dificuldades adaptativas, tanto emocionais quanto fisiológicas, a
sua performance ocupacional e social, o pragmatismo, a dificuldade para aceitação do novo,
as alterações nas escalas de valores e a disposição geral para o relacionamento objetal”.
Parece-nos fácil compreender que, ao longo da nossa experiência de vida em sociedade, no
trato com pessoas de diferentes idades, existem formas distintas de envelhecer. O processo
de envelhecimento envolve, inevitavelmente, o comprometimento progressivo de certos aspe-
tos físicos e cognitivos (ANICA et al., 2014), e é também gerador de mudanças psicológicas,
culturais e sociais, que importam conhecer através da investigação. Conhecer os seniores
implica um campo de investigação alargado e multidisciplinar, quer ao nível físico, quer ao
nível psíquico, social e comportamental, englobando, designadamente, estudos sobre o:
i) envelhecimento corpóreo ou físico (perda progressiva da capacidade do corpo para se
renovar e consequências associadas); ii) envelhecimento psicológico e cognitivo (transfor-
mação dos processos sensoriais, percetuais, cognitivos, da vida afetiva dos indivíduos, das
expectativas, das motivações, etc.) e; iii) envelhecimento social (influência que o indivíduo
e a sociedade exercem um sobre o outro: ao nível da saúde, do rendimento económico,
do trabalho, do lazer, da família, dos comportamentos enquadrados em determinado meio,
da autoimagem, dos papéis sociais e da adaptação a situações de mudança na vivência)
(FERNANDES, SUSANA C. F., 2019).

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Segundo SCHNEIDER & IRIGARAY (2008), a relação entre os aspetos cronológicos,
biológicos, psicológicos e culturais é fundamental na categorização de um indivíduo como ve-
lho ou não. A pessoa mais velha, na maioria das vezes, é definida como idosa quando chega
aos 60 anos, independentemente do seu estado biológico, psicológico e social. Entretanto,
o conceito de idade é multidimensional e não é uma boa medida do desenvolvimento hu-
mano. A idade e o processo de envelhecimento possuem outras dimensões e significados
que extrapolam as dimensões da idade cronológica.
Os modos do envelhecimento, podem ser resumidos e observados através do esquema
da Figura 1. Esta abordagem unifica conhecimentos fundamentais para a caracterização
do envelhecimento.

Figura 1. Modos de envelhecimento.

Fonte: FERNANDES, SUSANA C. F. (2019).

ENVELHECIMENTO SOCIAL

SIMONE DE BEAUVOIR (1990) define a velhice como um conceito abstrato, uma ca-
tegoria socialmente atribuída que serve para referir o período da vida em que as pessoas
“ficam velhas”. Segundo SILVA (2006) esta definição revela um olhar holístico que visa
favorecer condições para uma mudança de perspetiva em torno do fenómeno do envelheci-
mento, especialmente porque as diferenças individuais coexistem no envelhecimento, o que
traduz uma denegação da tendência da sociedade moderna em homogeneizá-la num único
grupo etário normativamente iniciada aos 65 anos de idade. O envelhecimento, enquanto
processo natural do ciclo vida de qualquer pessoa, deve ser vivido de uma forma saudável
e autónoma durante o maior tempo possível. Concomitantemente, é necessário permitir aos

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seniores o desenvolvimento e envolvimento na vida social, económica, cultural, espiritual e
civil, para que este envelhecimento se processe de forma ativa (AZEVEDO, 2015).
Socialmente, ser sénior significa na maioria das vezes estar excluído de “lugares so-
ciais”, como é exemplo o “mercado de trabalho” (sistema produtivo da economia de determi-
nado país). Estar excluído do sistema produtivo, em termos sociais, quase que define, por si
só, o “ser velho” (SILVA, 2006). Todavia, não deve ser descurado o papel contributivo que os
seniores podem prestar no seio da família ou do seu agregado familiar (como: acompanhar
os netos à escola, confecionar refeições, entre muitas outras formas colaborativas), e da
comunidade local (como: fazer voluntariado, visitar amigos e familiares, e com isso aumentar
a rede de apoio social) (AFONSO, 2015).
FERNANDES (2001) definiu o “envelhecimento social” como sendo um processo de
desvalorização económica do saber e da experiência dos indivíduos a partir dos 50 anos,
que os destinava para situações de “salário sem trabalho”, excluindo-os socialmente de
participar na vida ativa, apesar de estarem fisicamente aptos. Ditosamente, esta visão de
FERNANDES (2001) – caracteristicamente do mercado de trabalho em Portugal – tem vindo
a mudar nos últimos anos, com muitas empresas a apostar em perfis seniores e experien-
tes (com maior sabedoria, experiência adquirida e credibilidade perante clientes), quer nas
grandes empresas do sector da consultoria e auditoria, quer na indústria (MATEUS, 2018,
abril 7). Não obstante, a idade da reforma ou aposentadoria (atualmente iniciada com mais
de 67 anos, em muitos países europeus), tornou-se uma “ferramenta de controlo social” e
indutor de um olhar simbólico de “inutilidade” – de alguém excluído do mercado profissional
que usufrui de um salário (reforma) (CABRAL & FERREIRA, 2014, p.43). Para SILVA (2006)
a reforma é encarada como um acontecimento da vida condicionado pelo registo biográfico
dos saberes individuais, pelos quadros de referência adotados nas práticas e nas estratégias
do quotidiano de cada indivíduo. Na cultura portuguesa, ainda subsiste uma imagem este-
reotipada dos “reformados”, como se tratando de um conjunto de indivíduos que usufruem
do tempo de ócio, reunidos em “grupos”, em parques e jardins, que conversam entre si e
jogam cartas (Figura 2) (JN, 2013, outubro 16).

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Figura 2. Seniores reunidos em espaço público.

Fonte: http://assufmg.blogspot.com/2012/03/geracao-dos-veteranos-geracao.html

Porém, a ideia de que os seniores são imóveis está a mudar, sobretudo nos espaços
urbanos. A atitude das atuais e futuras gerações de seniores tende a ser mais ativa e sau-
dável, comparativamente às gerações anteriores, também em resultado de políticas para a
promoção social e da qualidade de vida do sénior, que passam pela adoção de hábitos e
estilos de vida mais saudáveis (como são exemplo as práticas regulares de exercício físico
– Figura 3) (BOUSQUET et al., 2015). Apesar das possíveis perdas físicas e cognitivas,
comuns durante o envelhecimento, o sénior mantém as suas necessidades psicossociais,
muito embora se possam verificar algumas perdas ao nível social. A conservação de ativi-
dades em sociedade exerce forte influência no nível de satisfação dos indivíduos e contribui
para o autoconceito positivo de envelhecimento (RODRIGUES et al., 2018).

Figura 3. Seniores a praticarem exercício físico.

Fonte: https://www.lasvegaspilatesyoga.com/classes/senior-yoga/

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O processo de envelhecimento está relacionado não só aos fatores biológicos e psicos-
sociais, como também ao contexto cultural e sócio histórico no qual o indivíduo está inserido
e ao qual se tem de adaptar (BALTES & SINGER, 2001).
A Organização Mundial de Saúde avançou, em 2002, com o conceito de envelhecer,
o “envelhecimento ativo” que surge na sequência do fomento do envelhecimento saudável.
Presentemente, este conceito tende a ser mais abrangente, estendendo-se, para além da
saúde, aos aspetos socioeconómicos, psicológicos e ambientais, integrados num modelo
multidimensional que explica os resultados do envelhecimento (WHO, 2002). Deste modo, um
envelhecimento para ser considerado “bem-sucedido”, “satisfatório” ou “ativo” não depende,
exclusivamente, de fatores como a sorte e o património genético, mas também de ações
e responsabilidade individuais, da saúde, dos padrões comportamentais e de afetos, das
amizades e dos contextos da vida, do tempo socioeconómico e histórico, e da experiência
nos adventos da vida, num balanço constante entre os fatores da pessoa e do meio social
envolvente (RODRIGUES et al., 2018; CABRAL & FERREIRA, 2014; RIBEIRO & PAÚL,
2012). Através de políticas de “envelhecimento ativo”, pretende-se alcançar uma sociedade
para todas as idades. Na verdade, garantir a manutenção da autonomia e independência
das gerações seniores, bem como de uma transição suave da comunidade para ambientes
de cuidados de longo prazo, que representam objetivos fundamentais da presente (e da fu-
tura) agenda política mundial. Avanços em anos de vida saudável, melhorando o bem-estar
dos seniores, pelo prolongamento da vida ativa, constitui um incentivo para o crescimento
económico e, mais importante, para a diminuição da pressão sobre os sistemas de saúde
e de assistência social (SALAZAR-BARAJAS et al., 2018; TOBIAS, 2017; UNECE, 2013).
Espera-se, portanto, que através do “envelhecimento ativo” as pessoas continuem
a participar do mercado formal de trabalho, bem como a participar de outras atividades
produtivas não pagas (tais como a prestação de cuidados aos membros da família e do
voluntariado), a ter vidas saudáveis, independentes e seguras à medida que envelhecem.
A estratégia europeia, sugere um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo, e
recomenda aos Estados-Membros a implementação de estratégias eficazes para o enve-
lhecimento ativo (LIOTTA et al., 2018; UNECE, 2013).
Noutros quadros de referência encontramos, ainda, classificações para o envelheci-
mento como o “envelhecimento ótimo” (BALTES, P.B. & BALTES, M.M., 1990) ou “envelhe-
cimento bem-sucedido” (RIBEIRO al., 2009; ROWE & KAHN, 1998), no que corresponde
à definição de padrões de sucesso. O conceito de envelhecimento bem-sucedido tem uma
forte influência cultural e é referido, como consequência do envelhecimento saudável, ativo e
produtivo, mas também com a considerada “boa qualidade de vida” durante o envelhecimento
(RIBEIRO al., 2009). Neste contexto, e conforme demonstra FERNANDES, SUSANA C. F.

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(2019), a utilização do automóvel pessoal representa, para um grande grupo de condutores
seniores, a superação de necessidades da vivência e bem-estar, e contribui para o “enve-
lhecimento ativo”.

A autoimagem do sénior

Apesar do aumento verificado na esperança média de vida, a maioria das pessoas não
se prepara para envelhecer, e tende mesmo em abjurar as evidências do seu próprio enve-
lhecimento. «As pessoas não se preparam para a aposentadoria, quanto mais para ficarem
velhas» (NETTO, 2002, p.41). Há, portanto, uma negação do próprio envelhecimento, uma
recusa em pensá-lo ou planeá-lo. Uma forte razão para esta recusa, é a imagem negativa
e pejorativa associada ao velho e à velhice, que foi construída ao longo dos tempos e de
modo generalizado na sociedade.
As atitudes da sociedade em relação às pessoas mais velhas são, geralmente, pou-
co positivas e, em parte, responsáveis pela imagem que os seniores têm de si próprios,
bem como das condições e das circunstâncias que envolvem o processo de envelhecimen-
to. O envelhecimento é tido como uma “doença incurável”, como um declínio inevitável, e
que todas as intervenções empreendidas para a prevenir são voltadas ao fracasso quando,
na realidade, o processo de envelhecer deveria ser encarado como um processo normal
que faz parte da vida de qualquer ser humano (NETTO, 2002, p.41).
A palavra “velho” é, comummente, rejeitada no contexto social – “não se quer acreditar
ser velho” – porque a esta palavra se associa uma representação de “menosprezo social”,
bem como uma imagem negativa da pessoa. Geralmente, poucas pessoas gostam da palavra
“velho/a” ou tão pouco de serem apelidadas de “velho/a”, por considerarem ofensivo. É co-
mum ouvir-se dizer “que velhos são os trapos”. Nesta atitude transparece a diferença entre
“ser velho” e “envelhecer”. Ou seja, o “ser velho” é dado pela imagem que têm do “outro”,
que não querem para si, e o “envelhecer”, por sua vez, é dado pela perceção que têm do
auto-envelhecimento, cujo processo é visto como amadurecimento, numa maneira de estar
ativa (SILVA, 2006).
De uma forma geral, as pessoas não se sentem velhas e não pensam na velhice. Assim,
é percebida uma atitude de fuga ao pensamento sobre a própria velhice, porque nesta está
a representação de decrepitude e de eventual incapacidade. No sentido figurado, “a velhice
é algo que só acontece aos outros” (SILVA, 2006).
A representação social da velhice e do envelhecimento, que até aqui se apresentou
como um acontecimento que tem lugar no corpo e na mente individual, ainda que com refe-
rência ao meio ambiente social, ganha dimensão e complexidade à medida que se avança
nos estudos sociais, sobretudo quando se trata de “exclusão social” (CERQUEIRA, 2010;

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SILVA, 2006). CERQUEIRA (2010) refere que a nível social, por vezes, se atribuí ao próprio
sénior a culpa pela criação de condições de vida com sentimentos de exclusão. Facto que
se deve, segundo o autor, ao tipo de conversas que promovem: “só falam em doenças”,
“não têm objetivos”, “não evoluem com a sociedade”, ficam com as “ideias estagnadas”
e “só convivem com pessoas iguais”. É essa atitude de “desinteresse pela vida”, em que
“não esperam mais nada, somente a morte”, que alegadamente legitima os outros – os não
velhos – para a sua atitude de «“não há paciência para aturar os velhos”». Associado à
imagem de velhice está o sentimento de “solidão” pessoal (no sentido de “estar fechado na
sua concha”, “esperar que nasça e anoiteça”), a que se acrescenta o isolamento por parte
dos outros (“estar desamparado”, “ser abandonado pelos outros”, “ninguém se lembra dele”
e “não ter companhia da família ou dos amigos”) e a inatividade social (o “fim da vida ativa”).
Este sentimento de exclusão da vida relacional apresenta-se como imagem típica da velhice,
não sendo, porém, qualidade ou caraterística necessariamente integrante. Significa isto, que
se tal exclusão se verifica com frequência, esta deve-se, às próprias pessoas e à sua atitu-
de perante a própria velhice (SILVA, 2013; FREITAS, 2011; CERQUEIRA, 2010). A família
pode, com concisão, ser considerada o habitat natural da pessoa humana. Com efeito, o
papel da família, é importante em qualquer estágio da vida e torna-se particularmente rele-
vante para o sénior (FONSECA, 2012, p. 96). A Figura 4, satiriza uma família contemporâ-
nea, que no uso excessivo de meios digitais, promovem um quase “isolamento social” pela
ausência de comunicação. Na imagem (região à esquerda) pode observar-se um sénior,
melancólico, a olhar pela janela para o exterior da habitação. Apesar do valor que o sénior
atribuí à família (expressa pelo retrato, no centro da sala, da mesma figura) é notório um
“sentimento de exclusão”.

Figura 4. Família digital (Rocío Muñoz, Peru in tema livre).

Fonte: PortoCartoon XX 20th 2018 World Festival, Museu da Imprensa – Tema da exposição: Limpar o Planeta. Imagem recolhida
durante exposição pública no ISMAI – Instituto Universitário da Maia, julho de 2018.

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Na cultura social, é comum a construção da identidade do sénior por contraposição à
identidade do jovem e, consequentemente, tem-se por contraposição as características e
qualidades geralmente imputadas aos jovens: atividade, força, memória, beleza, potência
e produtividade e, naturalmente, o antónimo destas em relação aos seniores. Como re-
sultado, aspetos sociais conduzem a “uma imagem de envelhecimento” depreciativa, que
se projeta na autoimagem do sénior, traduzindo-se na negação do “ser-se velho”. Existe,
inclusivamente, a evidência de que os seniores tendem a não reconhecer em si mesmos,
certas dificuldades ou limitações do envelhecimento normal (MOLNAR et al., 2013). Com
efeito, muitos seniores tendem a sentir-se “jovens” aprisionados “num corpo fisicamente
envelhecido” (FERREIRA, 2006).

A imagem social do sénior

O desconhecimento do processo de envelhecimento leva, muitas vezes, a falsas per-


ceções que, à força de serem transmitidas, acabam por isolar os seniores, chegando mesmo
a contribuir para acelerar o seu processo de envelhecimento. Estas atitudes negativas e
estereótipos depreciativos dos seniores existem em todos os estratos sociais (NETTO, 2002;
CHAMPAGNE & FRENETTE, 1984, p.272).
A representação social do sénior pode construir-se através de valores simbólicos,
que acompanham o indivíduo ao longo da sua trajetória de vida, o que significa que cada
indivíduo é o produto de um processo dinâmico de socialização, o qual implica a interação
das dimensões da vida humana, familiar, escolar e trabalho. Cada sénior tem vivências em
campos distintos que interagem com as disposições e posições de cada um, donde emerge
o estilo de vida e a perceção do mundo (BOURDIEU, 1989 apud VELOSO, 2015). Os meios
de comunicação, quando divulgam informação sobre um individuo sénior, difundem tradi-
cionalmente a imagem de uma “pessoa encurvada (subjugada), de bengala, quase cega,
surda e gagá” (NETTO, 2002, p.41). Esta imagem social do sénior é transmitida de modo
recorrente em diferentes meios, espaços e lugares, como se pode comprovar pela repre-
sentação icónica dos seniores (Figura 5).

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Figura 5. Ícones de pessoas seniores.

Fonte: https://www.vectorstock.com/royalty-free-vector/elderly-people-icons-vector-19163625.

NETTO (2002, p.42) acrescenta que «além do receio de tanta senilidade e decrepi-
tude, as pessoas não aceitam o envelhecimento, devido também à falta de uma “razão de
ser” da velhice, por não encontrarem um papel para si mesmas na sociedade, sendo que
muitos seniores apresentam dificuldades em desempenhar um estilo de vida ativo, mesmo
com saúde muito boa».
De acordo com ARIÈS (1986, apud NEGREIROS, 2003), a velhice parece estar a
desaparecer do mundo contemporâneo. O termo “velho” como substantivo só subsiste com
sentido carregado de ambiguidade: estigmatizante-pejorativo ou efetivo-protetor. A ideia
tecnológica de conservação e embelezamento coloca-se no lugar da conceção biológica e
moral da velhice. A noção de “velho sábio” é destinada aos poucos que vivendo mais, passa-
vam a sua valiosa experiência aos mais jovens. Todavia, esta noção vem sendo substituída
pela ideia de que “quem é sábio não envelhece”, sobretudo quando beneficiam de padrões
socioeconómicos mais abastados.
Do ponto de vista sociológico, as fronteiras do envelhecimento têm variado significati-
vamente ao longo dos tempos. Portanto, coloca-se a questão de saber: como se reconstrói
a identidade na velhice, numa sociedade em rápidas mudanças – com stress, angústias,
padrões socioculturais em mutação, riscos de perdas de saúde e de assistência social e mé-
dica – e em que as condições de vida são variáveis consoante os níveis de rendimento, e em
que por vezes não são asseguradas as expectativas e as vontades individuais dos seniores?

O exemplo da imagem social do condutor sénior

Devido à negação do próprio envelhecimento, muitos seniores tendem a não admitir


possíveis comprometimentos e declínios nos estados de saúde à medida que envelhecem.
Por conseguinte, não é tão pouco frequente que, alguns condutores seniores cometam alguns
erros durante a condução e os neguem. Comparativamente aos condutores mais jovens, os
seniores são identificáveis pelas atitudes de autorregulação que adotam enquanto conduzem,

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para deste modo evitar situações em que a probabilidade de errar é maior. Socialmente,
muitos seniores são observados a conduzir com velocidades muito reduzidas (sobretudo em
situações consideradas desafiadoras, tais como: ambientes noturnos, estradas muito movi-
mentadas, etc.), a realizar um elevado número de manobras para estacionar, revelando assim
dificuldades, entre muitas outras situações. Estas mudanças comportamentais na condução,
embora possam não ter implicações sobre a segurança dos outros utilizadores da estrada,
contribuem para a imagem social menos favorável dos condutores seniores (ROSENBLOOM
& SANTOS, 2014; EBY & MOLNAR, 2014, 2012). A imagem social menos positiva e os
estereótipos associados aos condutores seniores são reforçados em diferentes formas de
comunicação (Figura 6 e 7) e, sobretudo, entre as faixas de condutores mais jovens.

Figura 6. Anúncio de T-shirt: sátira ao condutor sénior.

Fonte: https://www.redbubble.com/people/cautionsign/works/3113195-senior-.

Figura 7. Sátira ao modo de conduzir da mulher sénior.

Fonte: (à esquerda) http://carinsurance.arrivealive.co.za/more-should-be-done-to-avoid-elderly-driver.(à direita) http://www.


circulaseguro.pt/condutor-e-ocupantes/os-condutores-seniores-dificuldade-deixarem-conduzir

JANSUWAN et al. (2013), são percussores de um estudo que avaliou as necessidades


de transporte nos indivíduos considerados socialmente de “baixa mobilidade” usando, para
o efeito, três vertentes de análise: i) as características das viagens; ii) o apoio social em ter-
mos de assistência ao transporte e; iii) a acessibilidade do transporte público. Os resultados

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deste estudo revelam que os indivíduos mais velhos continuam ativos, móveis e fazem
viagens muito frequentemente. O mesmo estudo também revela uma dependência muito
maior dos veículos particulares pelos seniores, assim como nos indivíduos de baixos rendi-
mentos. Simultaneamente, sugere que os indivíduos portadores de algum tipo de deficiência
(leve a moderada) – no entanto ativos e a trabalhar – existe uma dependência maior do
transporte público face ao automóvel particular (embora o número de viagens seja signifi-
cativamente baixo).
Os condutores seniores são, por vezes, estigmatizados no seu ambiente social e na
comunidade, e socialmente considerados indivíduos de “baixa mobilidade”, com menor adap-
tabilidade ao transporte (tal como sucede com indivíduos portadores de deficiência e, ainda,
com os indivíduos de baixo status social) (JANSUWAN et al., 2013; EBY & MOLNAR, 2009).
Em Portugal, por várias décadas, o microcarro foi associado ao sénior (e às classes
sociais de baixa literacia) que não podiam tirar a carta de condução para au­tomóveis ligeiros,
por não saberem ler (LABRADOR, 2016, julho 18). Os microcarros leves sempre se apre-
sentaram no mercado com elevado custo de aquisição, se comparados com outros tipos de
veículos, facto que os tornou popularmente conhecidos por “papa-reformas” (adquiridos por
pensionistas e cujas poupanças eram provenientes do subsídio das reformas). Estes quadri-
móveis ligeiros para transporte de passageiros, são considerados muito pouco confortáveis,
mas também muito pouco seguros, em especial para os utilizadores seniores. Em caso de
acidente grave, nesta categoria de veículos, «o resultado é quase sempre ferimentos graves
ou a morte certa» (LABRADOR, 2016, julho 18, p.2), não obstante a velocidade limitada a
um máximo de 50 km/h para utilização limitada ao espaço urbano. As consequências da
menor segurança destes veículos em caso de acidente, tornou-os também conhecidos por
“mata-velhos” (LABRADOR, 2016, julho 18). Em 2005, o Código da Estrada, em Portugal, foi
alterado e passou a estabelecer a titularidade da Carta de Condução da categoria B1 para a
condução dos quadriciclos, em resultado do aumento da sinistralidade rodoviária envolvendo
estes veículos. Passou, portanto, a ser obrigatória formação em escola de condução e, com
isso, muitos seniores deixaram de adquirir “mata-velhos”. Atualmente, estes veículos são
sobretudo utilizados por jovens entre os 16 e os 18 anos de idade, apesar da European New
Car Assessement Program (EuroNCAP) advertir para o seu muito baixo nível de segurança
em caso de acidente (LABRADOR, 2016, julho 18; GOMES et al. 2013, setembro 6).
Com os indivíduos tendencialmente a envelhecer de modo dissemelhante (sem cor-
relação direta com a idade cronológica) é natural que os seniores pretendam manter uma
imagem positiva e ativa perante a sociedade. Esta parece ser, aliás, uma das razões pelas
quais os seniores não pretendem um automóvel especificamente projetado “à sua imagem”
e “necessidades”. Segundo HELFENSTEIN (2012), existe uma vontade em transmitir uma

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imagem “jovem”, “ativa”, “livre”, “sedutora”, “de poder” e de “status social” (Figura 8). A pro-
jeção dessa imagem favorável traduz-se, naturalmente, nas escolhas que as faixas etá-
rias seniores e pré-seniores (50 ou mais anos) fazem ao nível das marcas e dos modelos
automóveis aquando da aquisição de novos veículos. A indústria automóvel reconhece
que, atualmente, são os indivíduos destas faixas etárias quem mais compra novos veículos
(FERNANDES, SUSANA C. F., 2019).

Figura 8. Mulheres seniores desfrutam de viagem de automóvel.

Fonte: http://www.autosnov.sk/babicke-namerali-160-kmh-na-useku-s-80-tkou/

Na sociedade contemporânea existe uma forte dependência cultural estabelecida pelo


sentido de pertença do automóvel e que extrapolam as reais necessidades de mobilidade.
Para muitos indivíduos, «ter carro ainda é símbolo de status» social. Em alguns casos «que-
rem mostrar aos vizinhos que podem ter e financiar um carro» (CRUZ, 2016, dezembro,7).
Este tema assume elevada importância social, se tivermos em conta o aumento da
duração e da frequência das viagens de automóvel entre os seniores ao longo dos últimos
anos, com tendência a evidenciar-se ainda mais (OECD/ITF, 2014). Se para muitos indiví-
duos a condução automóvel é tida como um modo essencial e primário de mobilidade e um
fator vital de independência, qualidade de vida, bem-estar e autoconceito de felicidade dos
seniores (SIREN & HAUSTEIN, 2014; MOLNAR & EBY, 2009) importa, que esta seja uma
opinião partilhada e aceite socialmente.
A condução automóvel é, cada vez mais, parte integrante da vida humana, e muito
particularmente nos países desenvolvidos, proporcionando a tão desejada autonomia e
outros benefícios psicossociais. Com mais tempo para o lazer, os seniores podem iniciar
novas atividades, visitar os amigos e a família com maior frequência e viajar mais. Tal
como os condutores de qualquer idade, os seniores utilizam regularmente os seus veículos.
Portanto, conduzir é uma parte importante de se ficar independente e de manter o contato
e o desempenho social dos seniores (MOLNAR et al., 2014, 2013; MOLNAR & EBY, 2009;
ROSENBLOOM, 2014).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em comparação com as gerações anteriores, atualmente, os seniores são mais ativos


e móveis, e em maior proporção com habilitação válida para conduzir. No envelhecimento,
a manutenção da autonomia está intrinsecamente associada ao conceito de qualidade de
vida. Portanto, uma forma de se procurar quantificar a qualidade de vida do sénior consiste
em avaliar o grau de autonomia com que este desempenha as funções do dia-a-dia, condição
que o torna independente dentro do seu contexto socioeconómico e cultural. A condução
do automóvel pessoal assume, assim, um papel fundamental no acesso às oportunidades
que favorecem uma vida independente e plena de participação na sociedade sendo, por
esse motivo, também o meio de transporte preferencial entre os seniores. Existe uma vi-
são, um tanto ao quanto estigmatizante e generalizada na sociedade, de que os seniores
deveriam deixar de conduzir a partir de certa idade e, consequentemente, procurar meios
alternativos de transporte. Ora, a idade cronológica não é determinante nas capacidades de
condução dos indivíduos seniores, tanto mais que esta constitui uma visão redutora dos reais
impactos da inibição de conduzir sobre esta liberdade individual (sem profunda evidência
de impedimentos) e que, muito possivelmente, traria tantos outros problemas sociais, per
si tão preocupantes quanto a própria segurança rodoviária. O direito à tomada de decisão
autónoma apresenta-se como uma visão central na promoção do “envelhecimento ativo” e
da “vida independente”, mesmo na presença de declínios físicos e cognitivos. A autonomia,
caracterizada pela capacidade de tomar decisões livres, consistentes com valores e crenças
individuais, é fundamental ao bem-estar psicológico dos seniores, mesmo quando estes a
percecionam de modo diferente e tomam decisões diferentes (comparativamente às atitudes
esperadas por gerações mais jovens), nos eventos da vida pessoal e social (como os modos
de encarar a vivência pessoal e em comunidade). A inibição de conduzir é, frequentemente,
vista como um problema pessoal, centrado na capacidade individual do condutor. Uma visão
mais realista da inibição de conduzir nos seniores reconhece que esta tem implicações fa-
miliares e societárias de longo alcance. Importa mudar a imagem social do sénior e da sua
forma de conduzir um automóvel.

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¿EXISTE ASOCIACIÓN ENTRE LA EDAD DE
APARICIÓN DE LOS SÍNTOMAS CLIMATÉRICOS
Y PRESIONES RESPIRATORIAS MÁXIMAS?

Ingrid Guerra Azevedo


Universidad Católica de Temuco

Sabrina Gabrielle Gomes Fernandes


Macêdo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Edgar Maximiliano Vásquez Carrasco


Escuela de Terapia Ocupacional, Facultad de Psicolo-
gía, Universidad de Talca

Saionara Maria Aires da Câmara


Universidade Federal do Rio Grande do Norte

'10.37885/230613237
RESUMEN

Objetivo: Evaluar asociaciones entre las presiones respiratorias máximas (PRM) y el inicio
de los síntomas climatéricos en mujeres de Brasil y Chile. Métodos: Estudio observacional
transversal, donde se incluyeron mujeres de 41-80 años, residentes de Temuco (Chile) y
Santa Cruz (Brasil), divididas en grupos según la edad de inicio de los síntomas climatéri-
cos (<46 y ≥ 46 años). Las PRM se evaluaron a través de un pimómetro digital. Se realizó
un análisis de regresión linear para evaluar las asociaciones entre la presión inspiratoria y
el inicio de los síntomas climatéricos. Resultados: Un total de 60 mujeres compusieron la
muestra, edad media 56,7 años. Aproximadamente 42% de la muestra presentó síntomas
climatéricos antes de los 46 años. Las PRM no están asociados a la edad del inicio de los
síntomas climatéricos, ya que las mujeres con edad temprana de los síntomas no presen-
taron diferencias en los valores de PRM (p>0,05). Conclusión: Las PRM no están asocia-
dos a la edad temprana de inicio de los síntomas climatéricos en mujeres del Noreste de
Brasil y Sur de Chile.

Palabras-clave: Climaterio, Menopausia, Envejecimiento, Presiones Respiratorias Máximas.


INTRODUCCIÓN

Durante largos períodos de tiempo en su vida las mujeres experimentan cambios hor-
monales importantes (1-3). Los niveles hormonales endógenos varían según la menarquia,
la fase menstrual, la irregularidad menstrual, el embarazo, la lactancia o la proximidad a la
menopausia (1).
La transición menopáusica se caracteriza por la disminución de las concentraciones de
estrógeno y progesterona, en combinación con la hormona foliculoestimulante y hormona
luteinizante elevadas (1,4), y esta secuencia de prominentes los cambios hormonales tienen
consecuencias para salud (5-7). La menopausia natural (MN) se considera cuando este
evento sucede entre los 45 y 55 años, y menopausia temprana (MT), cuando se desarrolla
antes a los 45 años de edad (3).
Ambos eventos, tanto la MN como la MT, se relacionan a alteraciones en la capacidad
física femenina (7) y en marcadores cardiovasculares (8), independente de fatores de riesgo
tradicionales, lo que indica que los cambios hormonales menopáusicos afectan críticamente
las enfermedades cardiovasculares (8).
Desde que el hipoestrogenismo presenta efectos sistémicos, la salud respiratoria y la
función pulmonar también siguen impactadas en mujeres que atraviesan la transición meno-
páusica (3-5). De acuerdo con Real et al., (2008) (4), fue posible observar una disminución
en la función pulmonar en mujeres posmenopáusicas en comparación con aquellas que aún
tenían la menstruación regular.
A pesar de las evidencias que señalan relaciones entre la función pulmonar (FP) y la
MT, la asociación entre ambas aún son escasas y poco consistentes (4,9,10). Adicionalmente,
poco se investiga acerca de la relación entre la menopausia - sea temprana, sea natural - con
la fuerza de la musculatura respiratoria. La disminución de la fuerza muscular respiratoria
se asocia con la disminución de la movilidad en las personas mayores, independiente de
la fuerza de las extremidades inferiores y la práctica de actividad física (11,12), además de
relacionarse con una disminución del equilibrio en mujeres entre 41-80 años de edad (13).
De esta manera, desde que no se comprende bien la relación entre la transición me-
nopáusica y la salud pulmonar, incluyendo la fuerza muscular respiratoria, el objetivo de
este estudio fue evaluar si existe asociación entre la fuerza muscular respiratoria, evaluada
a través de las presiones respiratorias máximas, y el inicio de los síntomas climatéricos en
mujeres del Noreste de Brasil y del Sur de Chile.

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METERIALES Y MÉTODOS

Se realizó un estudio observacional, de corte transversal, en una ciudad del noreste


de Brasil (Santa Cruz, Rio Grande do Norte), y en la ciudad de Temuco (La Araucanía). Ese
estudio es parte de un estudio mayor, lo cual tuvo el objetivo inicial de evaluar la relación entre
variables reproductivas femeninas y la fuerza muscular respiratoria (Câmara et al., 2015).
La muestra fue de tipo conveniencia, y los sujetos fueron invitados a participar a tra-
vés de campañas en los centros de salud, centros de mayores y hospitales de ambas las
ciudades. Fueron incluidas participantes entre 41-80 años de edad, residentes en las co-
munidades (no institucionalizadas), de Santa Cruz y Temuco, que ya presentaban síntomas
climatéricos a la fecha de la evaluación. Las participantes fueron excluidas si presentaban:
deterioro cognitivo, definido como cuatro o más errores en la escala de orientación de la
prueba cognitiva de Leganés, considerado indicativo de no poder completar los protocolos
de estudio (14), incapacidad de realizar las maniobras de presiones respiratorias máximas
(15). Totalizaron 60 mujeres avaliadas.

Procedimientos y medidas

Todos los procedimientos de evaluación fueron realizados por investigadores pre-


viamente entrenados y llevados a cabo en laboratorios del centro de investigación de la
Facultad de Ciencias de la Salud do Trairi (Santa Cruz, Rio Grande do Norte, Brasil) y en el
Laboratorio de Evaluación Respiratoria de la Facultad de Ciencias de La Salud (Universidad
Católica de Temuco). Ambos los laboratorios estaban acondicionados específicamente
para protocolo del estudio aplicado a las participantes (cuestionario y toma de las presiones
respiratorias máximas).
El cuestionario y procedimientos evaluativos fueron todos estandarizados. A través de
un cuestionario estructurado, las voluntarias fueron evaluadas por datos sociodemográficos
tales como edad, educación, ingresos familiares, hábitos de vida y historia reproductiva
(edad de aparición de síntomas climatéricos). Luego, la variable ‘edad’ fue categorizada en:
41-60 años y 61-80 años15; la variable ‘años de estudio’ en ‘0-7 años y ≥ 8 años’ (15), y la
variable de aparición de los dichos síntomas fueron categorizadas en 2 grupos: <46 años
de edad o ≥ 46 años de edad (3).
Todas las participantes fueron evaluadas por entrevistadores capacitados (kinesiólogos/
as y estudiantes de Kinesiología) del Departamento de Procesos Terapéuticos - Universidad
Católica de Temuco y de la Universidad Federal del Rio Grande del Norte.
La PIM se evaluó utilizando un pimómetro digital MVD 300® (-300 a +300 cmH20)
(Globalmed®, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil), con las voluntarias en sedente y

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con ambos los pies apoyados en suelo. Las participantes fueron instruidas sobre los pro-
cedimientos, y los resultados fueron evaluados en sus valores absolutos. Para obtener la
presión inspiratoria máxima (PIM), se les solicitó que realizasen una espiración máxima
(cerca del volumen residual), seguida de una inspiración máxima (cerca de la capacidad
pulmonar total). Ya para la presión espiratoria máxima (PEM), se les pidió una inspiración
máxima (cerca de la capacidad pulmonar total) seguida de una espiración máxima (cerca
del volumen residual). Para cada evaluación se consideró el valor máximo obtenido en un
máximo de cinco pruebas, y que este valor no fuera superior al 10% entre las tres mejores
pruebas, según directriz internacional de validación de las pruebas (ATS/ERS, 2002) (16).

Aspectos Éticos

El estudio recibió la aprobación del Comité de Ética e Investigación de la Universidad


Federal del Río Grande del Norte (No.1875802) y del Comité de Ética e Investigación de la
Universidad Católica de Temuco (No. 35/21-15.07.2021).
Todas las participantes fueron informadas de los objetivos y procedimientos del estudio
en el primer contacto y firmaron la hoja de consentimiento informado previo a la recogida de
datos, cuando fueron informadas acerca de la confidencialidad de la información y protección
de sus derechos.

Análisis estadísticos

Los valores se almacenaron en una base de datos y los análisis estadísticos se reali-
zaron por medio del programa Statistical Package for Social Science (SPSS) versión 22.0
(IBM, Chicago, IL, USA). La prueba de Kolmogorov-Smirnov fue utilizada para evaluar la
normalidad de la distribución de variables. Las variables continuas se expresaron como
media y desviación estándar (DE).
Las variables continuas fueron analizadas utilizando el t-test de Student. Se realizó un
modelo de regresión linear para evaluar la asociación entre la edad del inicio de los síntomas
del climaterio y la PIM, ajustados por covariables (edad y años de estudio) (p<0,20). La regre-
sión linear fue generada solamente para PIM, dado que para el análisis bivariado se obtuvo
diferencia estadísticamente significativa solamente para esta variable (p = 0,04), lo que no
sucedió para PEM (p = 0,39). Un nivel de significación de 5% y un intervalo de confianza
(IC) de 95% fueron adoptados para todos los análisis.

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RESULTADOS

Un total de 60 mujeres compusieron la muestra de este estudio transversal, siendo 26


de Chile y 34 de Brasil. No hubo exclusión entre las participantes que atendieron a los crite-
rios de inclusión. La edad promedio de la muestra fue de 56,7 años (DE 6,7) y un promedio
de 12,4 años de escolaridad (DE 6,0) – Tabla 1.
Aproximadamente 42% de la muestra (n=25) presentaron síntomas climatéricos antes
de los 46 años, es decir, considerado temprano. De ellas, solamente 3 estaban en el grupo
de mujeres entre 61-80 años de edad. La PIM se asoció a la edad del inicio de los síntomas
climatéricos en el análisis bivariado (con un valor de p=0,04), ya que las mujeres con edad
temprana de aparición de los síntomas del climaterio presentaron valores más altos de MIP,
siendo de 116,00 cmH2O, mientras el grupo de mujeres con aparición de los síntomas ≥ 46
años presentaron promedio de MIP de 94,71 cmH2O – Tabla 2.
Sin embargo, en la regresión linear, después de ajustar el análisis por covariables (edad
y años de escolaridad), los valores de PIM no se asociaron a la edad de aparición de los
síntomas del climaterio (β = 20,18; IC 95%: - 1,15:41,51; p=0,06) – tabla 3.

DISCUSIÓN

El presente estudio tuvo como objetivo investigar posible asociación entre las PRM y
el inicio de los síntomas del climaterio en mujeres del Noreste de Brasil y del Sur de Chile.
Los resultados de esta investigación sugieren que no hay asociación estadísticamente sig-
nificativa entre la edad que aparecen los síntomas climatéricos y las PRM en mujeres entre
41 y 80 años, residentes en las ciudades de Santa Cruz (Brasil) y de Temuco (Chile).
En el análisis bivariado, las mujeres que relataron haber presentado el inicio de los
síntomas con edad temprana, es decir, antes de los 46 años de edad, presentaron valores
de PIM más altos que las que relataron haber tenido sus primeros síntomas a los 46 o más
tarde. Sin embargo, cuando estas variables fueron controladas por la edad, no hubo asocia-
ción entre la PIM e la edad de aparición de los síntomas climatéricos (p > 0,05).
La transición a la menopausia es un proceso disruptivo que puede durar más de una
década y causa síntomas en la mayoría de las mujeres (17). Desde que nuestro objetivo fue
evaluar la asociación de las PRM con el inicio de los síntomas climatéricos, puede ser que la
falta de relación entre las variables esté justificada por ello, dado que el marco utilizado para
los análisis fue el inicio de los síntomas. Es posible que las alteraciones respiratorias del inicio
de los síntomas no sean suficientemente fuertes para evidenciar alteraciones en las PRM.
Ya es conocido que la menopausia temprana ejerce fuerte influencia sobre la capacidad
funcional (velocidad de la marcha, fuerza de agarre y limitación funcional autoinformada)

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(6). Sin embargo, la literatura sigue siendo escasa, conflictiva y poco contundente cuando
se trata de estudiar la relación de la MT con variables de la salud respiratoria (18,19).
El conocimiento de los primeros signos y síntomas de la transición a la menopausia,
por parte de los profesionales de la salud, es importante para que estén preparados a ofrecer
tratamiento para mitigar estos síntomas, los cuales alcanzan a la mayoría de las mujeres
que están en dicha transición (17). En se tratando de la salud respiratoria, especialmente de
la fuerza muscular inspiratoria y espiratoria, conocer el comportamiento de esa musculatura
durante el proceso de perimenopausia puede direccionar la asistencia de profesionales ki-
nesiólogos y educadores físicos, ofreciendo fortalecimiento específico a esta musculatura.
Este estudio presenta limitaciones. El tamaño de la muestra evaluada es considera-
do poco representativo para las poblaciones de mujeres entre 41-80 años de las ciudades
de Santa Cruz, en el Noreste de Brasil, y de Temuco, ubicada en el Sur de Chile. Además
de ello, la variable del inicio de los síntomas del climaterio es considerada subjetiva y fue
evaluada según autoreporte, a través de cuestionario estructurado por los investigadores.
Adicionalmente, solamente mujeres residentes en la comunidad fueron evaluadas, o sea,
las mujeres institucionalizadas no hicieron parte de la muestra. Sin embargo, desde nuestro
conocimiento, esta es la primera investigación acerca de la posible relación entre las PRM
y los síntomas climatéricos en poblaciones de la América Latina.
Se sugiere más investigaciones acerca del tema, ya que son escasos los estudios. Se su-
giere evidenciar las posibles asociaciones entre la fuerza muscular respiratoria y el apareci-
miento de los síntomas de la menopausia, objetivando a un mayor conocimiento de la salud
respiratoria en las mujeres. Eso podrá ofrecer intervenciones asertivas y personalizadas para
este público, lo cual durante la perimenopausia sufre implicaciones sistémicas.
Las presiones respiratorias máximas no están asociadas a la edad temprana de inicio
de los síntomas climatéricos en mujeres residentes en la comunidad del Noreste de Brasil y
del Sur de Chile. Sin embargo, se sugieren nuevas investigaciones acerca del tema.

Financiamiento

Los autores declaran haber realizado el artículo con recursos propios.

Conflicto de interés:

Los autores declaran no tener ningún conflicto de intereses.

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Tabla 1. Características de la muestra.

Variables n Media DE
Edad (años) 60 56,7 6,7
Años de escolaridad (años) 60 12,4 6,0
PIM (CmH2O) 60 103,6 41,2
PEM (CmH2O) 60 126,2 48,0
Início de los sintomas climatéricos (años de edad) 60 45,6 6,8
n = números de participantes en la muestra; DE = desviación estándar; cmH2O = centímetros de agua, PIM = presión inspi-
ratória máxima; PEM = presón espiratoória máxima.

Tabla 2. Media de las PRM de acuerdo con las características de la muestra (n=60).

Variables PIM (cmH2O) PEM (cmH2O)

Media (DE) Valor de p* Media (DE) Valor de p*


Edad (años) 0,32 0,20
41-60 106,10 129,95
61-80 92,36 109,39
Años de escolaridad (años) 0,85 0,85
0-7 101,76 123,98
≥8 104,08 126,79
Início de los sintomas climatéricos (años de edad) 0,04
<46 116,00 132,55 0,39
≥ 46 94,71 121,63
PIM = presión inspiratória máxima; DE = desviación estándar; cmH2O = centímetros de agua.
*Valor de p para Teste T de Student.

Tabla 3. Modelos de regresión lineal para evaluar la asociación entre PIM y edad de aparición de los sintomas climatéricos.

IC 95%

β Valor de p LI LS
Intercepto 86,86 <0.001 61,84 111,87
Início de los sintomas climatéricos (años de edad)
< 46 20,18 0,061 -1,15 41,51
≥ 46 0
Edad (años)
41-60 10,18 0,456 -16,99 37,36
61-80 0
IC = intervalo de confianza; LI = limite inferior; LS = limite superior; β = valor de beta.

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13
EXPOSIÇÃO PORMENORIZADA DOS ÓBITOS POR
DOENÇAS PARASITÁRIAS NEGLIGENCIADAS EM
IDOSOS BRASILEIROS

Vinícius José de Oliveira Fernanda Vianna Borges


Universidade Federal de Uberlândia Universidade Federal de Uberlândia

Gabriella Dinair Mendonça de Assis Danniela Maria Oliveira Silva


Universidade Federal de Uberlândia Universidade Federal de Uberlândia

Bárbara Telles Piau Douglas Alves Pereira


Universidade Estadual de Goiás Universidade Federal de Uberlândia

Ueverton Barbosa de Souza João Paulo Martins do Carmo


Universidade Estadual de Goiás Universidade Estadual de Goiás

Bruno Geiss Kober César Augusto França Abrahão


Centro Universitário Avantis  Instituto Catarinense de Pós-Graduação

'10.37885/230513196
RESUMO

Objetivo: Explanar os aspectos epidemiológicos de óbitos relacionados à doença de Chagas,


as leishmanioses e a esquistossomose na população geriátrica brasileira. Métodos: Trata-se
de um estudo epidemiológico, ecológico, de desenho misto, incluindo a descrição de ten-
dência temporal e padrões espaciais da mortalidade por doença de Chagas (DC), leishma-
nioses (LS) e esquistossomose (EQ) no Brasil entre os anos de 2000 e 2021. Foram anali-
sadas informações das declarações de óbitos disponíveis no Sistema de Informações sobre
Mortalidade (SIM). A coleta de dados foi realizada entre janeiro e março de 2023. Foram
extraídos os números brutos de óbitos por ano, variáveis sociodemográficas (sexo, raça,
escolaridade, faixa etária detalhada e estado civil), instituição em que ocorreu o óbito e
distribuição geográfica. Resultados: Foram registrados 80.435 óbitos na população idosa
brasileira. A doença de Chagas foi a mais prevalente (89.24%), seguida pela esquistosso-
mose (8.63%) e leishmanioses (2.12%). A DC foi a causa de óbito mais prevalente na região
Sudeste, e LC e EQ na região Nordeste. Os óbitos foram provenientes de indivíduos com
baixa escolaridade e em situação conjugal. O sexo masculino foi o mais afetado pela DC e
LC, e o sexo feminino na EQ. Em relação à cor/raça, a DC acometeu mais pessoas brancas,
enquanto nas demais doenças em pessoas pardas. Sobre a faixa etária, as vítimas estavam
entre 60 e 69 anos, com exceção da DC que vitimou indivíduos entre 70 e 79 anos. Quase
100% dos óbitos aconteceram em hospitais. Conclusão: É notória a preocupante incidência
de óbitos na população de idosos, devido às complicações causadas pelas doenças estu-
dadas. Compreender os padrões epidemiológicos dessas doenças é de suma importância
para orientar políticas públicas de saúde, buscando o desenvolvimento de estratégias de
prevenção e intervenção específicas, voltadas para essa população vulnerável.

Palavras-chave: Meio Ambiente, Medicina Preventiva e Saúde Pública, Parasitoses,


Vigilância em Saúde.
INTRODUÇÃO

O Brasil é díspar em diversos aspectos. As características socioeconômicas deste


país são modificadas e quando o assunto é sua estrutura etária ele vem experimentando
um processo gradativo de envelhecimento, em função da queda da fecundidade e da mor-
talidade, em consonância com a população mundial (REIS, NORONHA e WAJNMAN, 2016;
CASTRO et al., 2019). De acordo com Castiglioni (2006) o processo de uma situação de
baixo crescimento populacional ou estabilização, ou crescimento negativo, em que natalidade
e mortalidade são baixas, contribui para o envelhecimento populacional.
A diminuição da população jovem e a ampliação da população idosa geram desfechos
sob diversos aspectos, principalmente demográficos, socioeconômicos e em relação às
demandas de saúde (MELO et al., 2022). Neste contexto, as doenças “típicas da velhice”
— crônicas e/ou degenerativas — ocupam uma posição intensa entre as enfermidades
mais comuns (OLIVEIRA, 2015). Entretanto, as doenças infecciosas e parasitárias apossam
lugar de destaque entre as doenças tropicais negligenciadas (DTNs) que acometem essa
população (SOUZA, GRALA e VILLELA, 2021).
Em meio as DTNs que acometem os longevos, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
elenca a doença de Chagas (DC), as leishmanioses, a dengue, as helmintíases transmitidas
pelo solo e a esquistossomose, como aquelas que os profissionais de saúde pública devem
ter atenção redobrada (WERNECK, HASSELMANN e GOUVÊA, 2011).
Dados epidemiológicos do Brasil retratam o acometimento de pessoas na faixa etária
geriátrica por doenças negligenciadas. Entre eles têm-se 7.55% das notificações de leishma-
niose visceral entre 2007 e 2020 (OLIVEIRA et al., 2022a), 13.43% das notificações de
tuberculose entre os anos de 2002 e 2021 (OLIVEIRA et al., 2022b), 11% das notificações
de DC aguda entre 2007 e 2021 (BRASIL, 2023a), 9.92% dos casos de dengue entre 2014
e 2023 (BRASIL, 2023a), 8.81% das ocorrências de esquistossomose entre 2007 e 2022
(BRASIL, 2023a), entre outras.
Das enfermidades supracitadas, apenas a dengue no Brasil apresenta campanhas con-
tínuas direcionadas para o público de combate a epidemias (ARAUJO, MOREIRA e AGUIAR,
2012). Em contrapartida, as demais não possuem tal visibilidade e os recursos disponibiliza-
dos para campanhas são escassos (ARAUJO, MOREIRA e AGUIAR, 2012). Em face à pro-
blemática exposta, compreender os seus aspectos epidemiológicos é de extrema importância
para a redução dos seus impactos na qualidade de vida e ser possível desenvolver estratégias
preventivas e intervencionistas direcionadas, promovendo um envelhecimento saudável.
Assim, o objetivo dessa pesquisa é explanar os aspectos epidemiológicos de óbitos rela-
cionados a doença de Chagas, as leishmanioses e a esquistossomose no território nacional.

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MÉTODOS

A pesquisa que concebeu este capítulo apresenta características de um estudo epi-


demiológico, ecológico, de desenho misto, incluindo a descrição de tendência temporal e
padrões espaciais da mortalidade por doenças parasitárias negligenciadas no Brasil entre
os anos de 2000 e 2021.
Ela visou caracterizar, do ponto de vista da saúde pública, as características clínicas
e sociais das vítimas de doenças parasitárias negligenciadas no Brasil, sendo estudas a
doença de Chagas, as leishmanioses e a esquistossomose. A escolha das respectivas
doenças deu-se em virtude de sua alta prevalência no país, da disponibilidade de dados,
somado ao fato de que estas são aguardentes na faixa etária dos idosos (SOUZA, GRALA
e VILLELA, 2021).
Segundo a Organização Mundial da Saúde, o indivíduo idoso é aquele cuja idade seja
igual ou superior a 60 anos. O mesmo entendimento está presente na Política Nacional do
Idoso, instituída pela Lei Federal n.º 8.842, publicada em 1994, e na Lei n.º 10.741 de 2003,
referente ao Estatuto do Idoso (MACHADO, 2019). 
Como estratégia metodológica foram analisadas as informações das declarações de óbi-
tos disponíveis no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) (BRASIL, 2023b). O SIM
é um sistema utilizado para coletar, registrar e analisar dados relacionados a óbitos, forne-
cendo informações essenciais para monitorar e planejar políticas de saúde (SENNA, 2009).
Pesquisas envolvendo apenas dados de domínio público que não identificam os participantes
não necessitam de aprovação por parte dos Comitês de Ética em Pesquisa brasileiros.
A coleta de dados foi realizada entre janeiro e março de 2023. Foram extraídos os
números brutos de óbitos por ano, variáveis sociodemográficas (sexo, raça, escolaridade,
faixa etária detalhada e estado civil), instituição em que ocorreu o óbito e distribuição geográ-
fica. As variáveis foram transferidas para o TabWin 4.15®, analisadas no GraphPad Prism
6® e apresentadas em formato de figuras e tabelas.

RESULTADOS

A mortalidade pelas doenças negligenciadas estudadas neste trabalho, causadas por


protozoários e helmintos, somaram 80.435 óbitos na população idosa brasileira. A doença
de Chagas foi a mais prevalente representando 89.24% dos casos, seguida pela esquis-
tossomose com 8.63% e leishmanioses com 2.12%. A figura 1 retrata o número de óbitos
registados no SIM durante o período estudado.

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Figura 1. Óbitos por DTNs registrados na população idosa brasileira entre 2000 e 2021.

Fonte: Elaboração própria com dados do SIM (BRASIL, 2023b).

A tabela 1 detalha a distribuição geográfica dos óbitos estudados conforme as regiões


do território brasileiro. A doença de Chagas foi a causa de óbito mais prevalente na região
Sudeste, e as leishmanioses e a esquistossomose na região Nordeste.

Tabela 1. Distribuição geográfica dos óbitos das respectivas DTNs por região brasileira.

Região Doença de Chagas Leishmanioses Esquistossomose


Região Norte 1.172 182 39
Região Nordeste 13.241 756 4.803
Região Sudeste 36.216 476 1.939
Região Sul 4.024 35 48
Região Centro-Oeste 17.129 261 114
TOTAL 71.782 1.710 6.943
Fonte: Elaboração própria com dados do SIM (BRASIL, 2023b).

Na análise das variáveis sociodemográficas foi possível identificar que as doenças estu-
dadas apresentam um perfil específico das vítimas, conforme descrito na tabela 2. Os óbitos
foram provenientes de indivíduos com baixa escolaridade e em situação conjugal. O sexo
masculino foi o mais afetado na doença de Chagas e na leishmaniose, e o sexo feminino
na esquistossomose. Em relação à cor/raça, a doença de Chagas acometeu mais pessoas
brancas, enquanto nas demais doenças foram as pessoas pardas. Sobre a faixa etária, as
vítimas mais frequentes estavam entre 60 e 69 anos, com exceção da doença de Chagas
que vitimou indivíduos entre 70 e 79 anos.

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Tabela 2. Características sociodemográficas das vítimas dos óbitos estudados.

Sexo Chagas Leishmaniose Esquistossomose


Masculino 37.222 1.168 3.241
Feminino 34.558 542 3.701
Ignorado/branco 2 — 1
Cor/raça
Branca 33.575 487 2.472
Preta 7.777 196 426
Amarela 306 18 23
Parda 25.082 880 3.396
Indígena 60 11 11
Ignorado/branco 4.982 118 615
Escolaridade
Analfabeto 19.286 546 1.742
1 a 3 anos 18.520 423 1.630
4 a 7 anos 9.604 214 857
8 a 11 anos 2.573 100 401
12 anos ou mais 694 27 147
Ignorado/branco 21.105 400 2.166
Faixa etária
60 a 69 anos 25.232 655 2.876
70 a 79 anos 26.809 647 2.577
80 anos e mais 19.741 408 1.490
Estado civil
Solteiro 9.979 301 1.274
Casado 30.214 767 2.967
Viúvo 22.157 377 1.679
Separado 3.129 76 236
Outro 880 38 90
Ignorado/branco 5.423 151 697
Fonte: Elaboração própria com dados do SIM (BRASIL, 2023b).

Por fim, todos os óbitos estudados nesta pesquisa aconteceram, em sua grande maioria,
em estabelecimentos hospitalares.

DISCUSSÃO

Buscando promover o entendimento especializado para os leitores sobre as DTNs es-


tudadas, a discussão abordará as características intrínsecas de cada doença e interpretará
os dados epidemiológicos dos óbitos da população idosa com base na literatura vigente.

Doença de Chagas

O médico mineiro Carlos Chagas, há mais de um século, revolucionou a ciência médica


ao descrever uma nova doença, a tripanossomíase americana ou doença de Chagas —
homenagem ao cientista (CHAGAS, 1909). A Doença de Chagas (DC) é classificada como

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antropozoonose, cujo agente etiológico é o protozoário Tripanosoma cruzi e como vetor o
inseto triatomíneo hematófago (subfamília Triatominae), conhecido como “barbeiro” no Brasil
(GOMES et al., 2020).
A doença de Chagas é considerada um dos principais problemas de saúde pública
na América Latina, apresentando limitações médico-sociais para controle da epidemia no
Brasil. A Organização Mundial de Saúde estimou que em 2015 a prevalência da doença
era em torno era de 6 a 7 milhões de pessoas em todo o mundo, com concentração maciça
dos casos na América Latina (DIAS et al., 2015). No cenário das doenças infecciosas e
parasitárias, a DC ocupa o segundo lugar entre as causas mais recorrentes de mortalidade
em idosos brasileiros (MARTINS-MELO, CASTRO e WERNECK, 2021).
As variáveis ​​sociais das vítimas estudadas foram consistentes com outros estudos.
Motta et al. (2014) mostraram que o sexo masculino é predominante nas mortes por DC. O tra-
balho de Martinez et al. (2021) constataram que em 60% dos casos fatais as vítimas eram
do sexo masculino, 57.96% pardas e idosos entre 70 e 79 anos foram os mais acometidos.
Silva e cols. (2019) mostraram que 59.2% dos que morreram de DC eram do sexo masculino,
37.4% eram pardos e 56.4% tinham mais de 60 anos. E no estudo de Souza et al. (2021)
55.05% são homens, 96.5% têm mais de 40 anos.
Quando se trata de saúde, os homens tendem a não procurar prontamente o sistema
de saúde por perceberem o autocuidado como uma prática feminina e um fato sociocultural
(MORAES et al., 2017). Como resultado, eles são propensos a doenças, especialmente doen-
ças crônicas, levando ao aumento da morbimortalidade (GOMES et al., 2007; MARTINEZ
et al., 2021). No caso da DC, o sexo masculino é mais suscetível à infecção devido à exposi-
ção a ambientes com maior exposição a vetores de doenças (TEIXEIRA e OLIVEIRA, 2015).
Os dados sobre a escolaridade dos falecidos são semelhantes ao estudo de Martinez
et al. (2021) e Martins-Melo et al. (2021), pois os menos escolarizados são as principais
vítimas das mortes por DC. Uma explicação para isso é que essas pessoas exercem suas
atividades laborais em áreas rurais ou com condições menos favoráveis, tornando a popu-
lação mais acessível aos barbeiros vetores (FLORES, 2019; MARTINS-MELO et al., 2021;
Martinez et al., 2021). Portanto, entende-se que o nível de escolaridade representa um
determinante social de saúde protetora, uma vez que maior escolaridade está associada a
menores chances de morrer por doença de Chagas.
A mortalidade descrita por Martins-Mello et al. (2021) e Souza et al. (2021) demons-
traram o maior número de óbitos na região sudeste do Brasil, dados que convergem para
os descritos neste capítulo. A alta taxa de mortalidade na região pode ser explicada pela
migração maciça da população de áreas rurais endêmicas para centros urbanos nas últimas
três décadas (DIAS, 2013).

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A progressão clínica da doença em idosos com Chagas pode ser mais grave devido
a fatores como o envelhecimento do sistema imunológico e a presença de comorbidades
pré-existentes. A infecção crônica por T. cruzi pode levar a alterações cardíacas, gastroin-
testinais e neurológicas, sendo a disfunção cardíaca a principal causa de morbimortalidade
nesses indivíduos. Nos idosos, a deterioração das estruturas cardíacas associada à cardio-
miopatia chagásica pode resultar em insuficiência cardíaca congestiva, arritmias graves e
distúrbios de condução, contribuindo para um aumento do risco de óbito (PÉREZ-MOLINA
e MOLINA, 2018).
Diante disso, é importante desenvolver e fortalecer políticas de saúde que foquem no
acompanhamento e tratamento dos pacientes com DC, visando reduzir a progressão da
doença e os efeitos negativos na velhice nos infectados (MARTINEZ et al., 2021).

Leishmanioses

As leishmanioses são um grupo de doenças causadas pelo protozoário intracelular


obrigatório do gênero Leishmania (classe Kinetoplastida, família Trypanosomatidae). Ela é
transmitida para humanos através da picada de fêmeas de flebotomíneos infectadas, sendo
Lutzomyia longipalpis o vetor de importância no continente americano (CRUZ et al., 2021;
WHO, 2022). A forma clínica mais evidente da doença é a leishmaniose visceral, causada,
no Novo Mundo, pela espécie L. infantum (GRIENSVEN e DIRO, 2012).
A apresentação zoonótica da leishmaniose detém os cães (Canis lupus familiaris)
como os principais reservatórios urbanos, que transmitem os protozoários para os vetores
e consequentemente para os humanos. Já na forma antrópica a transmissão é perpetuada
entre os humanos através da picada do vetor infectado, tornando-os hospedeiros ocasio-
nais (WHO, 2022).
O grupo das leishmanioses é endêmico em 83 países, sendo os países com maior
número de casos registrados o Brasil, a China, a Etiópia, a Índia, a Quênia, a Somália, o
Sudão, o Iêmen, entre outros. O Brasil é um dos países com o maior número de casos anuais,
sendo o que mais apresenta casos na América Latina (CRUZ et al., 2021; WHO, 2022).
Mesmo diante de pouquíssimos estudos sobre a mortalidade por leishmanioses na
população longeva, Mahmud et al. (2020) reiteram que os casos de leishmaniose em idosos
têm aumentado no cenário brasileiro. Embora pouco divulgado, é frequente o aumento da
proporção daqueles que vão a óbito pelo agravo. Na pesquisa realizada no período de 2013
a 2017, 20.3% dos indivíduos foram a óbito e eles encontraram forte relação da idade com o
aumento do coeficiente de letalidade, chegando a 46.87% em 2016 (MAHMUD et al., 2020).
Oliveira et al. (2022a) encontrou 3.417 óbitos por leishmaniose no Brasil entre 2007 e 2020,
sendo 22.65% deles em idosos.

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O predomínio das mortes por leishmanioses nos homens, descrito por alguns autores
(LEITE e ARAÚJO, 2013; SOUZA et al., 2021) e corroborando com os dados deste estudo, é
fruto da maior frequência de suas atividades em áreas de risco, sejam elas de lazer, práticas
laborais ou moradia, que os predispõem a contrair a infecção pela exposição ao contato com
o flebótomo infectado (RODRIGUES et al., 2017; VASCONCELOS et al., 2022).
Os dados de letalidade por faixa etária são semelhantes à tendência que o Brasil tem
apresentado nas últimas décadas, principalmente, pacientes com faixa etária de 50 anos
ou mais (BRASIL, 2011). A população geriátrica apresenta diminuição da capacidade de
resposta imunológica, contribuindo para o agravamento da infecção. Além disso, o conheci-
mento dos profissionais de saúde que associam a leishmaniose a um agravo prevalente na
infância, diminuindo as suspeitas em idosos é um fator relevante no contexto do diagnóstico
adequado (LEITE e ARAÚJO, 2013).
Indivíduos pardos representaram a maior proporção dos óbitos no Brasil. Essa popula-
ção exibe vulnerabilidades devido ao impacto da iniquidade sobre os inúmeros determinantes
sociais de saúde. Elas são compostas pela segurança, a instabilidade econômica, a moradia
e as condições de trabalho dos pacientes (ESTRELA et al., 2020). Além disso, o tratamento
é caro, acarretando o consumo de boa parte da renda anual dos infectados, impactando
negativamente na qualidade de vida e disseminação da doença (OKWOR e UZONNA, 2016).
Associado a isso, fatores como a falta de saneamento básico, condições de moradia
precária e coleta irregular de lixo das regiões endêmicas favorecem a sobrevivência e per-
manência dos vetores (COSTA et al., 2005). Para Leite et al. (2015) o contexto que envol-
ve a desigualdade social pode explicar uma maior carga global de doenças infecciosas e
parasitárias, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Tal informação corrobora com a
alta mortalidade encontrada nesta pesquisa na região Nordeste, como também encontrado
por Souza et al. (2021).
Finalmente, pôde-se inferir que pessoas com menor nível de escolaridade são mais
propensas a adquirir a infecção. Em regiões não atendidas por projetos ou ações de pre-
venção ligados às zoonoses, a contaminação da população é maior (SANTOS, 2017;
PEDRASSANI et al., 2019), comprovando que a falta de informação e a inexistência e/ou
ineficácia de programas e ações preventivas são as maiores causas de disseminação de
zoonoses (CASTRO et al., 2016).

Esquistossomose

A esquistossomose, popularmente conhecida como “barriga d’água”, é uma doença


parasitária causada por trematódeos platelmintos do gênero Schistosoma que tem como
hospedeiro o caramujo do gênero Biomphalaria (BARBOSA et al., 2014). Atualmente, as três

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espécies mais comuns de Schistosoma que parasitam os seres humanos são S. mansoni
e S. japonicum, que causam a esquistossomose intestinal, e S. haematobium, que causa a
esquistossomose urogenital (COLLEY et al., 2014).
A esquistossomose é transmitida através do contato as larvas do parasita em água doce
contaminada. A doença pode causar uma série de sintomas, incluindo febre, dor abdominal,
diarreia, sangue na urina, levando a complicações a longo prazo como doença hepática e
renal crônica (HOLANDA et al., 2020).
É uma doença tropical negligenciada que afeta mais de 200 milhões de pessoas em
todo o mundo, principalmente na África Subsaariana, mas também afeta comunidades no
Oriente Médio, na América do Sul e no Caribe, na China, no Sudeste Asiático e nas Filipinas
(COLLEY et al., 2014; WHO, 2023).
Silva Sousa et al. (2021) encontraram resultados divergentes de nosso em seu estudo
sobre o sexo das vítimas de óbitos, em que 100% da amostra era composta por indivíduos
do sexo masculino. Neste capítulo, a prevalência de mortes acometeu mulheres.
As mulheres estão suscetíveis a contrair a infecção pela realização de atividades
domésticas como lavar roupas, louça e tomar banho em regiões de lagos contaminados.
Ademais, países com baixa estrutura sanitária e alto acesso ao uso de lagos, rios e nascentes
contaminados com os parasitas predispõem trabalhadores como pescadores e agricultores
a alto risco de infecção (WHO, 2023; ADENOWO et al. 2015).
Com relação à variável escolaridade, achado do presente estudo para a doença de
Chagas e esquistossomose, corrobora com outras publicações (FRIAS et al., 2010; OLIVEIRA
et al., 2019), nas quais o nível de escolaridade foi um dos campos com o maior índice de
ausência de preenchimento. Essa realidade impacta no entendimento dos fatores sociais
que influenciam na predisposição dos indivíduos a se infectarem.
Reconhece-se que os adultos são os mais afetados pelas consequências da cronici-
dade da doença (ADENOWO, et al. 2015). Oliveira et al. (2018) identificou que 53.9% dos
óbitos registrados em Pernambuco entre 2005 e 2013 foram de pessoas acima dos 70 anos.
Souza et al. (2021) determinaram uma porcentagem acima de 90% dos óbitos para vítimas
acima de 40 anos.
O Brasil é um país de clima tropical, com altas temperaturas e regiões com habitats
aquáticos, tornando-se um ambiente favorável para a reprodução e habitat de caramujos
e, consequentemente, a disseminação da infecção para os humanos. Nesse contexto, é
possível entender por que as regiões de maior prevalência de óbitos no país sejam a região
Nordeste e Sudeste, devido a fatores climáticos e pluviométricos, geralmente coincidentes
com o final do período chuvoso (MARTINS et al., 2019).

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A ocorrência dessa parasitose acaba agravando a situação de pobreza da região ao
ocorrer em locais com baixa visibilidade e apoio do poder político, onde há pouco interesse
das empresas farmacêuticas em produzir vacinas, embora existam muitos estudos já elen-
cados (COLLEY et al., 2014; SOUZA et al., 2022).

CONCLUSÃO

Os resultados desta pesquisa revelaram a preocupante incidência de óbitos na popula-


ção de idosos, devido às complicações causadas pela doença de Chagas, as leishmanioses
e a esquistossomose. Compreender os padrões epidemiológicos dessas doenças é de suma
importância para orientar políticas públicas de saúde, buscando o desenvolvimento de es-
tratégias de prevenção e intervenção específicas, voltadas para essa população vulnerável.
Isso inclui a promoção de campanhas de conscientização sobre a importância da pre-
venção e do diagnóstico precoce, o fortalecimento da capacidade dos serviços de saúde
para o manejo adequado dessas doenças em idosos, e a implementação de programas de
educação em saúde direcionados aos idosos e seus cuidadores.
Além disso, é necessário ampliar o acesso aos medicamentos e tratamentos adequados,
bem como garantir a sustentabilidade das políticas de controle dessas doenças. A colabo-
ração entre diferentes setores da sociedade, incluindo governos, profissionais de saúde,
pesquisadores e organizações não governamentais, é fundamental para alcançar o objetivo
de promover um envelhecimento saudável e reduzir a morbimortalidade associada a essas
doenças negligenciadas.
Por fim, mesmo que o SIM represente a fonte de dados mais confiável do país, a litera-
tura revela que ainda existem obstáculos para o preenchimento correto das declarações de
óbito, portanto, há um limite para a qualidade dos dados. Nesse sentido, é preciso incentivar
constantemente a melhoria da qualidade do preenchimento desses registros, diminuindo os
campos com dados inconsistentes, ignorados e vazios, conscientizando os profissionais en-
volvidos nessa ação (FRIAS, SZWARCWALD e LIRA, 2014; OLIVEIRA et al., 2019). Dessa
forma, o SIM poderá apoiar de forma mais efetiva os processos decisórios em questões
de saúde pública.

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FATORES ASSOCIADOS AO ABANDONO DO
TRATAMENTO DA TUBERCULOSE EM PACIENTES
IDOSOS NA REGIÃO NORTE DO BRASIL, ENTRE
OS ANOS DE 2016 A 2019

Caio Lucas Lima Caires


(UNITPAC)

Felipe Grigio Victoria

Rosângela do Socorro Pereira Ribeiro

'10.37885/230412775
RESUMO

A tuberculose é dos maiores agravos da saúde pública brasileira, especialmente na região


Norte, em virtude das condições de aspecto social insalubre. O abandono ao tratamento
dessa doença, não só prejudica a qualidade de vida dos indivíduos, como também permeia
a transmissibilidade do bacilo, dificultando o seu controle epidemiológico. Os idosos são um
dos principais grupos de risco nesse cenário. Por isso, o presente estudo tem por objetivo
analisar o perfil epidemiológico dos indivíduos com mais de 65 anos que abandonaram o
tratamento para tuberculose, na macrorregião Norte do Brasil, no período de 2016 a 2019.
Trata-se de um estudo descritivo simples baseado em dados do DATASUS. O resultado
mostrou 4278 idosos no período e uma taxa de abandono ao tratamento maior que 5%,
principalmente entre os homens, pardos, nos estados do PA e AM, além da presença de
vários determinantes sociais. Nesse contexto, o abandono do tratamento da tuberculose é
um problema de saúde pública ainda evidente na região Norte, o que pode se relacionar a
aspectos de cunho social, como baixa escolaridade, pobreza e dificuldade de acesso ao tra-
tamento. Fica claro que essa problemática deve ser encarada com a relevância necessária,
para assim ampliar a atenção dada aos idosos. Por isso, conhecer o perfil desses pacientes
e as características envolvidas no processo de evasão ao tratamento, devem ser fatores
cruciais no cotidiano dos serviços de saúde, principalmente na atenção básica.

Palavras-chave: Idoso, Tratamento, Tuberculose.


INTRODUÇÃO

A tuberculose (TB) é uma doença infecciosa e contagiosa, intimamente ligada a con-


dições de aspecto social insalubre, como miséria, desnutrição, baixa escolaridade e su-
perpopulação. Dessa forma, a doença se configura como uma das principais causas de
adoecimento e morte nos países subdesenvolvidos (BRASIL, 2017).
Em 2017, estima-se que 10 milhões de pessoas adoeceram por tuberculose (TB) e
que a doença tenha causado 1,3 milhão de mortes no mundo, o que mantém a TB entre as
10 principais causas de morte no planeta (OMS, 2018).
Assim, desde 1993 é referida pela Organização Mundial da Saúde como Emergência
Mundial, sendo destacada como área prioritária em muitos países³. No Brasil, possui incidên-
cia e prevalência elevadas, com ênfase, nas regiões de maior apelo social, como o Norte e
Nordeste. Em 2019 foram notificados 73.746 novos registros de TB no país, com maior taxa
de incidência na região norte, com 51,2 casos para cada 100.000 habitantes (BRASIL, 2020).
A TB é uma doença infecciosa e transmissível que pode comprometer os pulmões ou
outras partes do corpo como meninges, ossos, rins, pleura e linfonodos, seu principal agente
etiológico é o Mycobacterium tuberculosis.
No contexto geral, é uma doença que depende muito do sistema imunológico para
conter sua disseminação e evitar formas extrapulmonares e depende do perfil clínico do
paciente, fato que amplia a importância do tratamento dessa doença na população idosa.
Em 1950, os idosos somavam 240 milhões de pessoas. Porém, em 2050, espera-se
uma população mundial de idosos de 1 bilhão e 900 milhões de indivíduos o que aumenta
o risco e exposição a esses indivíduos (IBGE, 2010).
Nos últimos anos pesar da carga, a incidência global da doença está diminuindo cerca
de 1,4% ao ano desde 2000, muito disso graças às ações organizadas para esse fim, como
a descoberta dos casos, o tratamento, e as medidas preventivas como a quimioprofilaxia e
a vacinação BCG (BRASIL, 2011).
Contudo, o abandono ao tratamento da tuberculose é um de seus principais problemas,
principalmente nas populações mais vulneráveis, como os idosos, o que remonta a neces-
sidade de se estudar as condições sociais e epidemiológicas associadas a esse cenário.
A tuberculose possui implicações sociais e epidemiológicas relevantes para sua pre-
venção e controle, sendo o diagnóstico precoce e o tratamento imediato indispensáveis para
diminuir a sua incidência, uma vez que a maior fonte de infecção consiste em indivíduos
doentes sem tratamento, ou naqueles com tratamento ineficaz que permanecem bacilíferos,
mantendo a cadeia de transmissão - como aqueles que abandonam o tratamento. Estima-se
que um indivíduo infectado possa contaminar, em média outros dez, o que para os idosos

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que muitas vezes vivem em aglomerações, como em casas de apoio e asilos pode ser
desfavorável (PARÁ, 2018).
O objetivo do presente estudo é analisar o perfil epidemiológico dos indivíduos com
mais de 65 anos que abandonaram o tratamento para tuberculose, na macrorregião Norte
do Brasil, no período de 2016 a 2019. De forma a determinar algumas características desses
pacientes, bem como analisar as possíveis causas, ou fatores relacionados a não-adesão
ou evasão ao tratamento da tuberculose (SILVA, 2018).

MÉTODOS

O presente trabalho trata-se de um estudo descritivo simples. O desenvolvimento des-


te teve como base dados coletados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação
(SINAM) por meio da base eletrônica do DATASUS. A coleta ocorreu mediante instrumento
contendo as características epidemiológicas e sociodemográficas dos indivíduos portado-
res de tuberculose, e com mais de 65 anos, residentes na região Norte do Brasil entre os
anos de 2016 e 2019.
Para análise foram consideradas as variáveis: faixa etária, sexo, raça, formas da tu-
berculose, condições de vulnerabilidade social, comorbidades, confirmação laboratorial e
situação de encerramento.

RESULTADOS

O estudo mostrou que no período, 4278 pessoas tiveram diagnóstico para tuberculose
na região. Nesse contexto, a taxa de abandono ao tratamento ficou em 5,5 % (n=233) dos
casos. Com relação a dados sociodemográficos e clínicos gerais encontrados, a maioria dos
pacientes eram do sexo masculino 62% (n=146), 72% (n-167) do total eram de cor parda 72%.

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Figura 1. Evasão ao tratamento da tuberculose, por raça e sexo, na região norte do Brasil, de 2016 a 2019, por valores totais.

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação, 2020.

Tabela 1. Descrição dos casos de abandono de tratamento para tuberculose segundo: Idade, sexo, raça, zona de moradia,
escolaridade, forma da doença e exame de HIV, Beneficente do governo, população em situação de rua região norte,
Brasil, 2016 a 2019.

Desfecho Abandono n %
Feminino 87 37,3
Sexo
Masculino 146 62,7
Branca 24 10,3
Preta 15 6,4
Parda 167 71,7
Raça/Cor
Indígena 17 7,3
Amarela 1 0,4
Igm/Branco 9 3,9
Urbana/Periurbana 184 79
Zona de
Rural 45 19,3
Moradia
Ign/Branco 4 1,7
Analfabeto 69 29,6
0-4 Anos de estudos 67 28,7
Escolaridade 5-8 Anos de estudos 34 14,6
8<+ anos de estudos 24 10,3
Ign/Branco 39 16,8
Pulmonar 206 88,4
Forma de
Extrapulmonar 22 9,4
Tuberculose
Pulmonar + Extrapulmonar 5 2,2
Positivo 35 1,3
Exame de
Negativo 198 52,8
HIV
Não realizado 107 45,9
Sim 35 15
Beneficente
Não + 198 85
do Governo
Ign/Branco
Sim 6 2,6
População em situação
Não + 227 97,4
de rua
Ign/Branco
Total
Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação, 2020.

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Os estados do Amazonas 43% (n=100) e Pará 42% (n=98) apresentaram a maior
prevalência de evasão ao tratamento na região.

Figura 2. Evasão ao tratamento da tuberculose, por estado da macrorregião Norte do Brasil, de2016 a 2019, por valores
totais.

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação, 2020.

Entre as características clínicas, a forma pulmonar foi a mais presente 88% (n=88).
Observa-se que o grupo de evasão ao tratamento possui taxas, mais elevadas para fatores
como etilismo com 17% (n=40), uso de drogas ilícitas 3% (n=7) e tabagismo com 20% (n=47)
do que o grupo de pacientes curados e até, a população geral do estudo. População que teve
taxas como 8,1% (n=349) para etilismo, 0,9% (n=39) para uso de drogas ilícitas e 14,1% (n=
605) para tabagismo. Com relação ao diabetes melitus, 15% (n=31) dos pacientes do grupo
de abandono tinham a condição enquanto para o grupo no grupo geral esse valor foi de
19,3% (m=826), já entre o grupo de pacientes curados 19,9% (n=481) tinham diabetes. 120

Figura 3. Diabetes Mellitus, etilismo, tabagismo, drogas ilícitas e doença mental em pacientes de mais de 65 anos com
diagnóstico de tuberculose, pacientes que abandonaram o tratamento e pacientes curados na macrorregião Norte do
Brasil, de 2016 a 2019, por valores relativos.

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação, 2020.

O índice de cura para os que seguiram tratamento, ficou em 56% O abandono do tra-
tamento da tuberculose é um problema de saúde pública que embora tenha diminuído nos
últimos por todo o Brasil, incluindo a região Norte, ainda se encontra presente, o que pode

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se relacionar a aspectos de cunho social, como baixa escolaridade, pobreza e dificuldade
de acesso ao tratamento. A prevalência maior em indivíduos do sexo masculino e de cor
parda também foi evidenciada em outras pesquisas9.

Figura 4. Evasão ao tratamento da tuberculose, por região do Brasil por ano, de2016 a 2019, por valores totais.

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação, 2020.

DISCUSSÃO

Nessa pesquisa foi constatado que a maioria dos pacientes evoluiu com cura, em
detrimento dos casos de abandono ao tratamento e óbitos exclusivos por tuberculo-
se. O estabelecimento dos homens como maioria dos casos é evidencia em outras literatu-
ras (BRASIL, 2020).
Os estados que apresentaram as maiores taxas de abandono ao tratamento foram
o Pará e Amazonas. Nesse contexto, as taxas de incidência de TB, encontradas podem
estar relacionadas à presença crescente de áreas populacionais carentes nos municípios
que compõem, esses estados, incluindo a cidade de Belém, o que favorece o aumento da
incidência11. Tais achados podem ser decorrentes da própria dinâmica da vida nas cidades,
que por um lado pode apresentar maior facilidade de acesso aos programas e serviços de
saúde, mas por outro detém os desafios da elevada densidade demográfica, das alterações
ambientais e das relações sociais que se apresentam como fatores de risco à saúde das
pessoas (LIMA, 2017).
Quanto a apresentação clínica, a forma pulmonar foi a mais prevalente, o que corrobora
o perfil também encontrado do Programa Nacional de Controle da Tuberculose, uma vez
que essa é a forma mais prevalente em idosos no país (BRASIL, 2020).
Em relação as condições associadas ao abandono do tratamento, a situação socioe-
conômica é relevante, uma vez que a baixa quantidade de informações, o acesso precário a
saúde, a má adesão aos medicamentos, a dificuldade de transporte e alimentação, dificultam

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o controle da doença, por isso todo estudo que contemple o abandono ao tratamento de
determinada doença deve considerar os aspectos sociais que possam estar envolvidos.
Muitos pacientes abandonam o tratamento porque dependem de seus cuidadores para
realizá- lo de forma adequada, e estes por muitas vezes são negligentes em relação a saúde
e qualidade de vida de seus anciãos. Além disso, muitas pessoas também abandonam o
tratamento por dificuldade de seguimento nas unidades de saúde, devido aos efeitos co-
laterais e não adequação a medicação ou por melhora dos sintomas e, por isso acreditam
que houve cura, ou por revolta com a doença, uma vez que a TB causa nos indivíduos um
impacto próprio do adoecer e o peso subjetivo que a doença tem para cada um parece estar
relacionado a momentos de tensão, ansiedade e medo (PEREIRA, 1999).
Por outro lado, alguns agravos associados como o tabagismo, doença mental, uso de
drogas ilícitas e alcoolismo são fatores que colaboram, ou até mesmo induzem ao abandono
do tratamento. Por fim, no que concerne aos idosos, por este grupo ser mais vulnerável e de-
pender em muitos casos, dos cuidados de terceiros, podem não seguir o tratamento de forma
adequada por negligência ou ineficiência do cuidador, o que retarda o tratamento e portanto
a cura do paciente, por isso talvez haja necessidade de avaliar o tratamento supervisionado
como forma de reduzir a evasão e aumentar a qualidade de vida dos idosos infectados.

CONCLUSÃO

Fica claro que a problemática do abandono ao tratamento da tuberculose nos pacien-


tes idosos deve ser encarada com a relevância necessária pelos profissionais, serviços e
gestores da saúde, para assim ampliar a atenção dada a esse grupo.
Por isso, conhecer o perfil desses pacientes e as determinantes sociais envolvidas no
processo de evasão ao tratamento, devem ser fatores cruciais para o cotidiano dos serviços
de saúde, principalmente na atenção básica.
Assim, tais informações podem ser úteis para elaborar estratégias que criem um índice
de abandono mínimo, reduzindo também os riscos de resistência aos fármacos e a falência
dos esquemas de tratamento, uma vez que o objetivo do tratamento não é apenas a cura,
mas a redução da transmissão do bacilo e concomitante controle dos novos casos da doença.

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WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global Tuberculosis Report 2018. Geneva: WHO; 2018.
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GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ. Secretaria de Saúde do Estado do Pará. Boletim de


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SILVA, M. E. N. D. et al. Aspectos gerais da tuberculose: uma atualização sobre o agente


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SILVA, P, D. B. Tuberculose no Tocantins: perfil epidemiológico dos casos de retratamento


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de Saúde Coletiva, Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal da Bahia, Salvador,
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BASTA, P. C. sociais e tuberculose: análise segundo raça/cor, Mato Grosso do Sul.


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LIMA, S. S.; VALLINOTO, A. C. R.; MACHADO, L. F. A.; ISHAK, M. O. G.; ISHAK, R. Análise
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PEREIRA, W. S. B.; LIMA, C. B. Tuberculose: Sofrimento e Ilusões no Tratamento Inter-


rompido. Rev Bras Enferm 1999;52(2):303-18.

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FRAGILIDADE EM IDOSOS LONGEVOS:
PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS

Tahiana Ferreira Freitas Eryka Jovânia Pereira


Universidade Estadual de Montes Claros Faculdade de Saúde Ibituruna (FASI)
(UNIMONTES)

Brenda Gomes dos Santos


Fernanda Marques da Costa Universidade Estadual de Montes Claros
Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES)
(UNIMONTES)

Walker Henrique Viana Caixeta


Ronilson Ferreira Freitas Centro Universitário FIPMoc (Unifipmoc-Afya)
Universidade Federal do Amazonas (UFAM)

Andréia Christiane Amâncio Martins


Ilana Carla Mendes Gonçalves Universidade Estadual de Montes Claros
Faculdade de Saúde Ibituruna (FASI) (UNIMONTES)

Daniela Márcia Rodrigues Caldeira Jair Almeida Carneiro


Universidade Estadual de Montes Claros Centro Universitário FIPMoc (Unifipmoc-Afya)
(UNIMONTES)

Artigo original publicado em: 2022


International Journal of Development Research - ISSN 2230-9926 .
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/230513171
RESUMO

Objetivo: Identificar, por meio de uma revisão sistemática da literatura, a prevalência e


os fatores associados à fragilidade em idosos longevos. Métodos: Trata-se de um estudo
bibliográfico, do tipo revisão sistemática da literatura, de estudos publicados nos idiomas
português, inglês e espanhol, por meio da estratégia PICO, em quatro bases de dados,
MEDLINE/PUBMED, Scielo, Ebsco e Science Direct realizada de abril a maio de 2022.
Resultados: A seleção resultou em três estudos, sendo dois estudos transversais e um
estudo de coorte prospectivo. A prevalência de fragilidade entre os idosos longevos variou
de 12,4% a 64,7%. Quanto aos fatores associados, os estudos apresentaram associações
entre a fragilidade e o sexo, aumento da idade, hospitalização nos últimos 12 meses, re-
sidência em instituição de longa permanência, condições crônicas, dislipidemias, doenças
metabólicas, depressão, demência, deficiências visuais e auditivas, incapacidade para ≥ 2
atividades de vida diária, e quedas. Conclusão: foi possível observar alta prevalência de
fragilidade em idosos longevos. Evidenciou-se associação entre a fragilidade e variáveis
sociodemográficas, clínicas e condições de saúde.

Palavras-chave: Idosos Longevos, Saúde do Idoso, Fragilidade, Prevalência.


INTRODUÇÃO

Com o aumento da expectativa de vida, a população idosa vem crescendo rapidamente


em todo o mundo (Mathers et al., 2015; Neumann; Albert, 2018). E de acordo as estimativas
da Organização Mundial da Saúde (2021), o número de pessoas com 80 anos ou mais deve
triplicar entre 2020 e 2050, chegando a quase meio bilhão em todo o mundo. Esse ganho na
expectativa de vida tem sido impulsionado por avanços na saúde pública, desenvolvimento
socioeconômico, saneamento, educação pública e assistência à saúde. No entanto, ainda
existe uma pressão sobre o sistema de saúde para lidar com o desafio do envelhecimento
(Hoogendijk et al., 2019).
Com o decorrer dos anos ocorrem fisiologicamente ou patologicamente declínio em vá-
rios sistemas, impactando na capacidade homeostática e resultando em condições negativas
como a fragilidade (Silva et al., 2020). A fragilidade é uma síndrome biológica caracterizada
por uma série de condições clínicas relacionadas à idade que mostram a deterioração da
força e mau funcionamento fisiológico (Dent et al., 2019; Wang et al., 2021). Quanto mais
avançada a idade maior a chance de se tornar funcionalmente vulnerável (Hoogendijk et al.,
2019; Feitosa et al., 2020; Silva et al., 2020). No entanto, quando se trata de avaliar a fragili-
dade em idosos longevos existe uma dificuldade em obter respostas, com isso, a fragilidade
entre a população longeva permanece pouco investigada (Wang et al., 2021).
Estudo realizado com idosos atendidos na Unidade Básica de Saúde em uma cidade
no Nordeste do Brasil observou que os idosos de 70 a 90 anos apresentaram-se mais frá-
geis do que aqueles em outras faixas etárias, com 31% na faixa etária de 70 a 79 anos e
34% na faixa etária de 80 a 90 anos, sendo estes últimos, considerados idosos longevos
(Feitosa et al., 2020). Carneiro et al., (2020) compararam a fragilidade de idosos através dos
instrumentos Edmonton Frail Scale (EFS) e Índice de Vulnerabilidade Clínico-Funcional-20
(IVCF-20) e observaram que em ambos os instrumentos os idosos com 80 ou mais anos,
apresentam maiores chances de fragilidade. No estudo de Wang et al., (2021), 13.859
idosos foram estratificados por idade, e identificaram uma prevalência de fragilidade entre
os jovens (≤ 79 anos), octogenários, nonagenários e centenários de 4,8%, 19,4%, 39,9%
e 59,0%, respectivamente, demonstrando que com o avançar da idade, a prevalência da
fragilidade, aumenta.
Todos os idosos são susceptíveis a desenvolver fragilidade, embora os níveis de risco
sejam maiores em idosos longevos, e/ou entre aqueles com comorbidades, baixa posição
socioeconômica, e estilo de vida sedentário. Sendo que o estilo de vida e os fatores de risco
clínicos são potencialmente modificáveis por intervenções específicas e ações preventivas
(Hoogendijk et al., 2019; Silva et al., 2020).

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Considerando que a maioria dos estudos sobre fragilidade, possui amostra de idosos
predominantemente jovens (≤ 79 anos), se faz necessário ampliar os conhecimentos relacio-
nados à fragilidade em idosos longevos, a fim de melhorar o entendimento dos fatores predi-
tores, bem como identificar a manifestação da fragilidade nesta população. Neste contexto,
o presente estudo objetivou identificar, por meio de uma revisão sistemática da literatura, a
prevalência e os fatores associados à fragilidade em idosos longevos.

MÉTODOS

Trata-se de uma revisão sistemática da literatura de estudos transversais e/ou longitudi-


nais de base populacional, com o objetivo de identificar a prevalência e os fatores associados
à fragilidade em idosos longevos.
A coleta de dados foi realizada nos meses de abril e maio de 2022, norteada pela
indagação: ‘Qual a prevalência de fragilidade em idosos longevos e os fatores associa-
dos?’. Realizou-se busca sistemática em bases de dados eletrônicas: Medical Literature
Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE/PUBMED), Scientific Electronic Library
Online (SCIELO), Business Source Complete (Ebsco) e Science Direct. Além dos bancos
de dados descritos, também foram utilizados artigos identificados nas listas de referência
de outras revisões ou estudos originais relacionados ao tópico.
Os critérios de inclusão foram artigos originais, que avaliaram a fragilidade em idosos
com idade ≥ 80 anos, publicados entre 2017 e 2022 nas línguas português, inglês e espa-
nhol. Foram excluídos da revisão os artigos que não apresentavam no título a combinação
de pelo menos dois dos descritores utilizados na busca. E que incluíam em sua amostra
indivíduos com idade inferior a 80 anos, de forma a responder o objetivo do estudo que foi
avaliar prevalência de fragilidade em idosos longevos (≥ 80 anos). Artigos de revisão, dis-
sertações, teses, capítulos e livros também não foram incluídos.
Para a seleção dos artigos, utilizou-se uma combinação dos seguintes termos: fragilida-
de, idosos longevos e prevalência, combinados entre si pelos operadores booleanos “AND”
e “OR”. Todos esses termos foram identificados no título ou nos resumos dos artigos usando
a estratégia PICO. PICO representa um acrônimo para Paciente, Intervenção, Comparaçã
o e “Outcomes” (desfecho) (Santos; Pimenta; Nobre, 2007), trata-se de uma estratégia que
utiliza da medicina/prática baseada em evidências e, portanto, espera-se que os títulos dos
artigos sejam claros em todos ou alguns desses itens deste acrônimo (AKOBENG, 2005).
Foram utilizados recursos adicionais de acordo com a disponibilidade do banco de dados
[por exemplo, Medical Subject Headings (MeSH)] para amplificar a pesquisa. As estratégias
de busca foram realizadas através da combinação dos descritores na língua inglesa e seus
correspondentes em português e espanhol: “Frailty”, “Frail Elderly”, “Aged”, “Prevalence”,
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associated factors, para combinação dos descritores e termos utilizados para rastreamento
das publicações.

RESULTADOS

Foram examinados 1413 estudos, destes, 192 se repetiam entre as bases de dados,
sendo incluídos 1221 estudos. Após a leitura do título, foram excluídos 862 artigos, perma-
necendo para a análise, 359 estudos. Após esta etapa, foi realizada a leitura do resumo dos
artigos e 307 foram excluídos por não responderem adequadamente à pergunta PICO, e a
partir disso, foram incluídos 52 artigos para a leitura na íntegra. Ao final, foram analisados
nesta revisão sistemática, 3 artigos, que atenderam todos os critérios elegíveis para a cons-
trução do estudo (Figura 1).
Com relação ao delineamento dos estudos incluídos, dois estudos eram transversais
(Sousa et al., 2018; Herr et al., 2018) e um estudo de coorte prospectivo (Hajek et al.,
2020), que atenderam aos critérios de inclusão previamente estabelecidos. Os estudos
analisados foram publicados em três periódicos distintos. Dois estudos publicados em uma
revista avaliada pelo qualis CAPES na área de gerontologia; e um estudo em revista da
área de enfermagem.
No que se referem ao idioma dos artigos selecionados, um estava em português, e
duas publicações na língua inglesa. No tamanho das amostras, houve variação quantitativa
de 243 a 1253 idosos longevos.
Quanto aos países de origem dos estudos, Sousa et al., (2018) avaliaram idosos usuá-
rios da Atenção Básica de Saúde no Nordeste do Brasil. Herr et al., (2018) avaliaram cente-
nários da França, Suécia, Suíça e Dinamarca, enquanto Hajek et al., (2020) estimaram a pre-
valência e os fatores associados à fragilidade em idosos da Atenção Primária da Alemanha.
Em dois dos estudos (Sousa et al., 2018; Herr et al., 2018) a síndrome da fragilidade foi
identificada de acordo com os cinco critérios propostos por Fried et al., (2001), conhecidos
como fenótipos de fragilidade: 1) Perda de peso não intencional; 2) Exaustão avaliada por
autorrelato de fadiga; 3) Diminuição da força de preensão manual; 4) Baixo nível de atividade
física; e 5) Diminuição da velocidade da marcha. Os idosos foram classificados em frágil,
pré-frágil e não frágil. No estágio frágil, o idoso que apresentava três ou mais componentes do
fenótipo; no estágio pré-frágil, apresentava um ou dois componentes do fenótipo; e não-frágil
quando o idoso não apresentava nenhum dos componentes (Fried et al. 2001). Apenas o
estudo de Sousa et al. (2018) realizou a junção das categorias pré-frágil e não frágil.
No estudo de Hajek et al., (2020) a fragilidade foi avaliada através da Escala de
Fragilidade Clínica, desenvolvida por um grupo de pesquisadores canadenses sobre saú-
de e envelhecimento (Rockwood et al., 2005). A escala consiste na somatória de déficits
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observados em diferentes medidas de sinais, sintomas, incapacidade funcional, morbidades,
medidas laboratoriais (Kulminski et al., 2006; Rockwood et al., 2007).
A Escala de Fragilidade Clínica, varia de 1 (muito em forma) a 7 (severamente frágil),
sendo: (1) Muito em forma – robusto; (2) Bem – sem doença ativa; (3) Bem, com comorbi-
dade tratada; (4) Aparentemente vulneráveis ​​– embora não francamente dependentes; (5)
Levemente frágil – com dependência limitada dos outros para Atividades de Vida Diárias
(AVDs); (6) Moderadamente frágil – é necessária ajuda com atividades instrumentais e não
instrumentais da vida diária. (7) Severamente frágil – completamente dependente de outros
para as atividades de vida diária, ou doentes terminais (Rockwood et al., 2005).
Com base na leitura dos artigos selecionados, foi possível identificar a prevalência
e os fatores significativamente associados à fragilidade em idosos longevos. O quadro 1
apresenta para cada estudo incluído na revisão, a prevalência de fragilidade e os fatores
associados a essa condição.
A prevalência de fragilidade entre os idosos longevos variou de 12,4% a 64,7%. Quanto
aos fatores associados, os estudos apresentaram associações entre a fragilidade e variáveis
sociodemográficas: sexo, aumento da idade e residir em instituição de longa permanência;
variáveis clínicas: aumento de condições crônicas, dislipidemias, doenças metabólicas,
depressão, demência e deficiência auditiva; e as condições de saúde: hospitalização nos
últimos 12 meses, incapacidade para ≥ 2 AVD e quedas.

Quadro 1. Características dos estudos, prevalência de fragilidade e os fatores associados.


Desenho Amostra Tipo de análise/
Autor (Ano) Periódico Prevalência Fatores associados Desfechos
do Estudo (n) Teste estatístico
Infere-se que variáveis
clínicas interferem no
desenvolvimento da
síndrome da fragilidade
- Hospitalização nos últi-
física em idosos longevos
mos 12 meses (OR = 2,50;
Análise Multiva- usuários da atenção bási-
Rev. Latino- p = 0,045);
Sousa et al., riada/ Regressão ca de saúde. A eleição de
-Am. Transversal 243 14,8% - Dislipidemia (OR = 0,32;
(2018) Logística um modelo de regressão
Enfermagem p = 0,058);
de fragilidade física cons-
- Doença metabólica (OR
titui-se como o primeiro
= 1,99; p = 0,028).
passo na elaboração de
condutas clínicas de ava-
liação de idosos longevos
na Atenção Primária.

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Desenho Amostra Tipo de análise/
Autor (Ano) Periódico Prevalência Fatores associados Desfechos
do Estudo (n) Teste estatístico
- Sexo masculino (OR =
0.85; p ≤ 0,001);
- Residência em institui-
ção de longa permanên-
cia (RP = 1.06; p ≤ 0,05); Chegar aos 100 anos
- Depressão (OR = 1.08; raramente vai sem fragi-
p ≤ 0,05); lidade – quase um terço
Análise Multiva- - Demência (OR = 0.91; p dos centenários eram
Herr et al., riada/ Regressão ≤ 0,01); mesmo “muito frágeis”.
Gerontology Transversal 1.253 64,7%
(2018) Logística - Deficiência visual (OR = Associações esperadas
1.06; p ≤ 0,05); foram encontradas com
- Deficiência auditiva (OR gênero, depressão, que-
= 1.07; p ≤ 0,01); das, incapacidade e defi-
- Incapacidade para ≥ ciências sensoriais.
2 AVD (RP = 1.27; p ≤
0,001);
- Quedas (OR = 1.13; p =
>0,01).
1º momento
Os resultados do estudo
12.4% mode-
enfatizam particularmen-
rado
- Aumento da idade (β = te a importância do en-
1º momen- 0,4% Severo
0,23; p < 0,001); velhecimento, condições
to (n = 451) Análise multiva- 2º momento
- Demência (β = 0,84; p crônicas, e demência por
Hajek et al Coorte 2º momen- riada/ Regressão 16.0% mode-
Gerontology <0,01); fragilidade. As interven-
(2020) prospectivo to (n = 462) Linear rado
- Aumento de condições ções que visam prevenir
3º momen- 0,7% Severo
crônicas (β = 0,03; p = ou adiar, por exemplo, a
to (n = 388) 3º momento
0,058). demência também pode
17.0% mode-
ajudar a retardar ou pre-
rado
venir a fragilidade.
1,8% Severo

DISCUSSÃO

Este estudo de revisão avaliou a prevalência de fragilidade em idosos longevos e


identificou fatores sociodemográficos, clínicos e condições de saúde que influenciam nas
estimativas de prevalência entre os idosos. A prevalência de fragilidade variou de 12,4%
a 64,7%. Menor prevalência de fragilidade foi observada no estudo de Hajek et al., (2020)
quando se utilizou Escala de Fragilidade Clínica (Rockwood et al., 2005), em um estudo
de coorte prospectivo, quando comparado aos demais estudos com desenho transversal
e utilização do fenótipos de fragilidade de Fried et al., (2001). Neste contexto, observa-se
que o método de avaliação da fragilidade mostrou afetar significativamente a prevalência de
fragilidade, o que é consistente com os resultados encontrados em uma revisão sistemática
realizada com estudos transversais e prospectivos do Brasil com amostras de idosos não
institucionalizados com 60 anos ou mais (Melo et al., 2020).
Entre as variáveis sociodemográficas associadas à fragilidade de idosos longevos, o
sexo, aumento da idade e residir em instituição de longa permanência foram associados à
fragilidade em idosos longevos. Com relação ao sexo, os achados do estudo de Herr et al.,
(2018), e que foi incluído nesta revisão, concluiu que existe associação significativa entre
a fragilidade e o sexo masculino. Entretanto, estudos realizados com idosos da Coreia do
Sul (Wu et al., 2018) e China (Jung et al., 2020) concluíram que a prevalência de fragilidade

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foi significativamente maior em mulheres do que em homens, contradizendo os achados
de Herr et al., (2018). Neste contexto, a literatura reforça que há uma maior prevalência
de fragilidade em idosos do sexo feminino, e que isso pode ser explicado pela maior perda
fisiológica de massa muscular com o envelhecimento, além de que as mulheres são mais
propensas ao desenvolvimento de sarcopenia, que é um risco intrínseco para a fragilidade
(Liberalesso et al., 2017).
A fragilidade mostrou-se mais prevalente à medida que as pessoas envelhecem, o que
já está bem consolidado na literatura, já que com o aumento da idade, ocorre um declínio
acelerado da reserva fisiológica e dos mecanismos homeostáticos. Com isso ocorre a per-
da contínua da força e da resistência aeróbica, o que causa diminuição da independência
funcional e torna o idoso frágil (Fhon et al., 2018; Feitosa et al., 2020; Wang et al., 2021).
Além disso, após os 80 anos, as pessoas acumulam déficits e tornam-se mais vulneráveis​​
a resultados adversos à saúde. Estudos realizados por Feitosa et al., (2020) e Wang et al.,
(2021) corroboram com os achados do presente estudo, de que com o avançar da idade,
aumenta-se também a fragilidade, visto que os resultados apontaram que idosos com faixa
etária maior apresentaram-se mais frágil, quando comparado aos mais novos. Corroborando,
uma revisão sistemática mostrou que a prevalência de fragilidade na faixa etária de 80 - 84
anos e ≥ 85 anos foi de 29,8% e 34,0%, respectivamente, o que praticamente dobrou a taxa,
quando comparado a indivíduos com faixa etária entre 70 - 74 anos (14,4%) e 75 - 79 anos
(19,2%) (Para et al., 2022).
Observou-se também que a fragilidade foi associada a idosos que residem em insti-
tuições de longa permanência (Herr et al., 2018). Idosos frágeis e pré-frágeis têm aproxi-
madamente 5 e 3 vezes mais chances de serem institucionalizados, respectivamente, em
comparação com aqueles que não são frágeis (Kojima, 2018). A prevalência de fragilidade
entre idosos da comunidade é de aproximadamente 10% (Collard et al., 2012) enquanto que
as taxas em idosos residentes em instituições de longa permanência, a fragilidade chega
a até 50% dos institucionalizados (Kojima, 2015). Essa associação pode estar relacionada
a condições clínicas dos idosos, que também foram associadas à fragilidade neste estudo.
A presença de condições crônicas, dislipidemias, doenças metabólicas, depressão, de-
mência e deficiências sensoriais foram associadas a fragilidade em idosos longevos (Sousa
et al., 2018; Herr et al., 2018; Hajek et al., 2020). Apesar da presença de doenças crônicas
não ser acompanhada de fragilidade, ela predispõe o idoso ao aumento da vulnerabilidade
clínico-funcional (Oliveira et al., 2021). Evidências mostram que idosos com perda de interes-
se em atividades antes prazerosas, e alterações de humor passam a ter estados depressivos,
uma vez que a depressão está associada à dependência e perda de autonomia (Vaughan;
Corbin; Goveas, 2015; Oliveira et al., 2021), levando o idoso à um quadro de fragilidade.

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Estudo recente realizado por Ward et al., (2022) observou que a fragilidade foi associada
a um aumento substancial no risco de demência independente do risco genético; e quase
metade da relação entre comportamentos de estilo de vida saudável e risco de demência foi
mediada pela fragilidade. Kojima (2018) corrobora com uma revisão sistemática, mostrando
que a fragilidade está associada a piores funções cognitivas e a predizer comprometimento
cognitivo leve e demência incidentes.
Quanto à associação entre a fragilidade e deficiências sensoriais (visual e auditiva)
pode ser explicado pelo aumento do risco de quedas, incapacidade, e institucionalização
entre pessoas com deficiências sensoriais (Linard et al., 2016; Campos et al., 2022). Estudos
mostram associações independentes e combinadas da deficiência visual e auditiva com a
fragilidade em idosos (Liljas et al., 2017a; Liljas et al., 2017b; Zhao et al., 2022).
No que tange as condições de saúde relacionados à fragilidade, verificou-se asso-
ciação com hospitalização nos últimos 12 meses, incapacidade para ≥ 2 AVDs e quedas.
Ficar internado em ambiente hospitalar pode expor o idoso a outras doenças, ocorrência de
eventos adversos que podem debilitar ainda mais sua saúde e estado funcional com conse-
quentes incapacidades para AVDs e quedas (Herr et al., 2018). Indicadores de fragilidade
não apenas predizem incapacidade para AVDs quando estão relacionados em um fenótipo
de fragilidade, mas também são independentes um do outro (Vermeulen et al., 2011).
A população idosa é comumente estudada em diversas áreas do conhecimento, uma
vez que essa faixa etária é propícia para o desenvolvimento de eventos relacionados à ida-
de, incluindo a fragilidade. Apesar dos achados da presente revisão trazer um panorama
importante da prevalência da fragilidade em idosos longevos, é importante destacar como
uma limitação metodológica do presente estudo a não comparação da fragilidade com os
difrentes instrumentos disponíveis para avaliar esse desfecho, e nem com a população de
idosos mais jovens, uma vez que os estudos aqui analisados tratam dessa temática ex-
clusivamente em população de idosos longevos (≥ 80 anos) – de qualquer forma, estudos
sobre fragilidade concentram-se muitas vezes em idosos mais jovens e não os longevos
(Carneiro et al., 2017; Duarte et al., 2018; Grden et al., 2019; Oliveira et al., 2022). Dessa
maneira, destaca-se a importância dos resultados aqui apresentados no panorama nacional
e internacional no que diz respeito às particularidades da fragilidade em idosos, e os deta-
lhes de avaliação na população idosa longeva, elucidando a complexidade do fenômeno e
chamando atenção para a necessidade da atenção e cuidado aos idosos longevos, afim de
melhorar a qualidade de vida desse grupo populacional.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio desta revisão foi possível observar alta prevalência de fragilidade em idosos
longevos. Evidenciou-se associação entre a fragilidade e variáveis sociodemográficas, clí-
nicas e condições de saúde.
Observou-se uma escassez de estudos nos últimos cinco anos, que avalie a fragilidade
de idosos com mais de 80 anos. Nesse sentido, recomenda-se a realização de futuros tra-
balhos na busca de resultados mais robustos que dê subsídio a intervenções para prevenir
ou reduzir a fragilidade em idosos longevos.

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16
JOGO SÉRIO ANALÓGICO NA PESSOA COM
DEMÊNCIA E RISCO DE QUEDA – FUNDAMENTOS
PARA A REABILITAÇÃO

Ana Maria Conceição Tomé


Universidade do Algarve - Escola Superior de Saúde

Marlene Rosa
Instituto Politécnico de Leiria - Escola Superior de
Saúde
ciTechCare - Center for Innovative Care and Health
Technology

'10.37885/230513033
RESUMO

A evolução demográfica a nível mundial coloca o envelhecimento populacional como um de-


safio para as autoridades. A prevenção da perda de qualidade de vida, dependência funcional
e deterioração da capacidade física intrínseca existente até à morte e a sua forte relação
com o risco de queda e demência são, portanto, prioridades de intervenção. A definição de
estratégias preventivas efetivas dirigidas ao perfil individual do idoso e da comunidade em
que se insere, torna-se emergente. Apesar de o exercício ser uma estratégia identificada
como efetiva, apresenta algumas limitações entre a população idosa (ex, reduzida ade-
são). Um envelhecimento mais saudável depende de estratégias que demonstram a sua
efetividade e potencial terapêutico e preventivo em domínios e determinantes de saúde,
com destaque para o jogo sério analógico. O jogo sério analógico tem demonstrado efeitos
positivos, passiveis de transpor para a vida real ao nível do desempenho funcional físico e
cognitivo, capacidade funcional, mobilidade e independência funcional, relacionadas com
aumento da participação, menor risco de queda e aumento da integridade e prevenção de
deterioração de capacidade cognitiva. A demonstração da sua eficácia deve ser bem esta-
belecida, para que os diferentes protagonistas possam beneficiar da sua utilização de forma
concreta e objetiva.

Palavras-chave: Demência, Envelhecimento, Gamificação, Jogo Sério, Risco de Queda.


INTRODUÇÃO

A evolução demográfica a nível mundial mostra uma sociedade progressivamente mais


envelhecida em todos os países desenvolvidos. Estima-se que o crescimento da população
idosa a nível mundial, apresente uma taxa de cerca de 3% ao ano. A Europa, regista, por
exemplo, a maior percentagem de pessoas com 60 ou mais anos de idade (25%) (ONU,
2023). O envelhecimento populacional revela-se, um desafio emergente em saúde pública
e um dos mais significativos para as sociedades, quer ao nível económico, político e social
(ONU, 2023; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2008). Entende-se porque os problemas
relacionados com o envelhecimento estão no centro das atenções das autoridades, e que
as principais recomendações se dirijam essencialmente ao envelhecimento com qualidade
e à promoção do bem-estar e da saúde, à medida que se envelhece (ONU, 2023).
De entre os fatores preocupantes relacionados com o envelhecimento, destacam-se as
quedas e a demência, duas entidades altamente prevalentes na população idosa, predispo-
nentes de perda de qualidade de vida, dependência funcional e deterioração da capacidade
física intrínseca existente até à morte. No sentido de dar resposta a essa problemática, tor-
na-se urgente repensar estratégias sustentáveis e centradas na pessoa, com especial foco
nos fatores precipitantes de um envelhecimento menos saudável, tais como a incapacidade
funcional, o risco de queda e a demência (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2015). A ati-
vidade física e o exercício físico estão entre as recomendações estratégicas para um en-
velhecimento saudável (RUDNICKA et al., 2020; WHO, 2002). Apesar da sua importância,
estas estratégias revelam frequentemente frágil adesão entre a população idosa. (LEE et al.,
2022). Tendo em conta o fator crítico na adesão ao exercício, mas considerando as suas
vantagens na promoção de um envelhecimento ativo, nos últimos anos tem surgido evidência
dos benefícios da utilização do jogo como estratégia terapêutica promotora de exercício,
com elevados níveis motivadores na sua prática, (DOUMAS et al., 2021; DRUMMOND;
HADCHOUEL; TESNIÈRE, 2017; GAUTHIER et al., 2019; NAKAO, 2019).
Esta revisão narrativa, surge com o propósito de refletir sobre a problemática do enve-
lhecimento e determinantes mais prevalentes na saúde, qualidade de vida e bem-estar do
idoso e sobre a utilização do jogo como estratégia protetora de condicionantes em saúde,
come destaque para o risco de queda e a demência.

DESENVOLVIMENTO

O processo de envelhecer envolve um conjunto de evoluções naturais associadas


a declínio progressivo e inevitável ao nível físico, fisiológico e mental (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2008, 2015). O declínio multissistémico fisiológico associado ao

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envelhecimento, agrega, muitas vezes, multimorbilidades, com consequente perda de qua-
lidade de vida, restrição na participação, diminuição da função cognitiva e física, diminuição
da capacidade funcional e mobilidade funcional, com perda de massa e força muscular, dimi-
nuição do equilíbrio e da capacidade de marcha que potenciam o risco de queda (CHODZKO-
ZAJKO et al., 2009; OSOBA et al., 2019; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2015).

O ENVELHECIMENTO E O RISCO DE QUEDA

O risco de quedas aumenta progressivamente com a idade e as quedas nos idosos


representam a principal causa de morte acidental, morbilidade e incapacidade na população
idosa (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2008). As quedas, podem levar a deterioração
da qualidade de vida, ansiedade, depressão, restrição nas atividades diárias, diminuição da
mobilidade, memória, autonomia no autocuidado, isolamento social devido a perda de con-
tacto e relações pessoais e sociais, assim como a dificuldades de integração na sociedade,
aumento do consumo de medicamentos e dos serviços médicos e maior dependência (DGS,
2006; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2008). Para além disso, um idoso que sofra uma
queda, não só sofre as consequências negativas dessa queda, como tem risco aumentado
de queda a um ano (SALARI et al., 2022). Dado o seu impacto económico e no estado de
saúde do individuo, impõem-se o desenvolvimento de estratégias efetivas de prevenção de
quedas (KAMNARDSIRI et al., 2021).
Segundo a Organização Mundial de Saúde, uma queda é um evento súbito que leva
uma pessoa ao chão de forma repentina e inadvertida (WORLD HEALTH ORGANIZATION,
2008). Pode ser consequência de diversos fatores, como interação medicamentosa, fa-
tores ambientais e pessoais, onde se incluem as alterações visuais, percetivas, controlo
postural, perda de equilíbrio, declínio físico com fraqueza muscular, declínio emocional e
cognitivo (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2015). Uma queda implica e relaciona-se
não só com as consequências adversas diretas (exemplo das fraturas), mas também com
as consequências indiretas (como por exemplo o imobilismo), que devem ser consideradas
de forma atenta na planificação e prestação de cuidados de saúde por todos os envolvidos,
desde o sector político ao setor de prestação de cuidados (SALARI et al., 2022). Os fatores
ambientais e intrínsecos do idoso, como variabilidade do ambiente externo (incluindo pre-
sença de barreiras arquitetónicas), perturbações no sistema visual e vestibular, estabilidade
postural, calçado, diminuição de força muscular, são identificados como fatores de risco
para a queda, passiveis de prevenção e minimização do seu impacto (OSOBA et al., 2019;
SALARI et al., 2022). A intervenção será tanto mais efetiva quanto direcionada para esses
fatores e perfil individual do idoso e da comunidade em que se insere (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2008).
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A promoção de um envelhecimento saudável que permita a manutenção da capacidade
funcional e bem-estar, o aumento do nível de atividade física (pelo menos 150 minutos de
atividade aeróbia de intensidade moderada, 2 a 3 vezes de prática de exercícios de fortaleci-
mento e 3 ou mais dias de traino de equilíbrio), são parte das recomendações facilitadoras da
participação do idoso em diversas atividades. Estas recomendações ajudarão a manter um
nível de funcionalidade favorecedor de um envelhecimento mais saudável, associado a menor
risco de queda e suas complicações (TAYLOR, 2014; WORLD HEALTH ORGANIZATION,
2008). A integração em atividades físicas e cognitivas (que incluam treino de equilíbrio),
complementadas com componente educativa, capacitam os idosos e famílias e contribuem
para diminuir a incidência de incapacidade e dependência, incluindo as relacionadas com a
função física como a velocidade da marcha (KURITA; DOI; SHIMADA, 2020; OSOBA et al.,
2019), com consequente benefício na redução do risco de queda, incapacidade e depen-
dência (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2008).
Em paralelo com o risco de queda, as doenças crónicas e a demência são identificadas
como impactantes na incapacidade e diminuição da participação social e familiar, enaltecen-
do a sua importância no panorama da saúde publica nacional e internacional (RUDNICKA
et al., 2020; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2015).

Envelhecimento e demência

Dado que o envelhecimento é um dos fatores de risco mais importantes para a demên-
cia, o panorama demográfico mundial torna, portanto, expetável um aumento do número de
casos de demência (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2015, 2017). A demência correspon-
de à sétima causa de morte e uma das principais causas de incapacidade e dependência nos
idosos em todo o mundo. Define-se como uma síndrome, que pode ter origem em diversas
outras condições clínicas e que, se caracteriza pela destruição celular do sistema nervoso
e consequente deterioração da função cognitiva, muitas vezes associado a alterações de
controlo emocional, comportamento e motivação (WHO, 2023). A Organização Mundial de
Saúde estima que, mais de 55 milhões de pessoas sofrem de demência em todo o mundo e
que 91% de todas as demências se encontram entre os idosos e que, a demência contribui
com mais de 11,9% dos anos vividos com incapacidade nas pessoas acima dos 60 anos
(WHO, 2023; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2017). No panorama da saúde mental, as
demências têm um impacto significativo a nível físico, psicológico, social e económico, não
só para as pessoas com demência, mas para toda a sua família, cuidadores e sociedade em
geral. Em paralelo com o risco de queda, afeta de forma significativa os anos perdidos com
qualidade de vida na população acima dos 60 anos de idade. Considerando, a grandeza
das perdas pessoais, familiares, sociais e económicas envolvidas, para as quais não existe

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cura, é urgente minimizar o seu impacto, globalmente, aumentando o suporte ao indivíduo,
familiares e cuidadores (WHO, 2023; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2015).
A demência não corresponde a uma evolução natural integrante do processo de en-
velhecer, mas sim um declínio e diminuição da capacidade cognitiva cerebral, com prejuízo
da função mental, particularmente das funções de memória, linguagem, cognição, controlo
emocional, perceção e pensamento/raciocínio que interferem na capacidade para desem-
penhar atividades diárias (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2015, 2017). É, portanto,
uma perturbação na saúde mental. Sendo que a saúde mental é uma função intrínseca com
valor essencial para o ser humano se conectar com o mundo que o rodeia, fazer escolhas,
desenvolver-se, relacionar-se e adaptar-se (inclusive, emocionalmente), é uma área consi-
derada como um direito humano fundamental. De facto, a demência é uma perturbação que
condiciona essa integridade (WHO, 2022).
Apesar de não ser exclusiva nas pessoas idosas, a demência é uma das principais
causas de dependência nessa população. Os seus fatores causais não se conhecem na
totalidade. No entanto, conhecem-se alguns fatores que aumentam o risco de alguns tipos
de demência. São exemplo disso: os fatores de risco cardiovascular, inatividade física,
obesidade, dietas desequilibradas, uso de tabaco ou álcool, diabetes, baixa escolaridade,
depressão, inatividade cognitiva e isolamento (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2017).
A Organização Mundial de Saúde recomenda o desenvolvimento de ações globais
políticas e estratégicas para a demência que incluam: considerar a demência como um
problema major de saúde pública; aumentar o conhecimento, entendimento, investigação e
inovação acerca da demência; reduzir o risco de demência; aumentar o suporte e cuidado no
diagnóstico e tratamento e aos cuidados de pessoas com demência; desenvolver sistemas
de informação para a demência. Defende ainda o estabelecimento de programas e políticas
de ação conjuntas, direcionados à redução do risco de doenças crónicas relacionadas e
seus fatores de risco, através essencialmente da promoção da atividade física e de uma
dieta equilibrada (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2017).
Sabe-se que a atividade física pode contribuir para melhorar a função cognitiva e reduzir
a deterioração cognitiva de alguns tipos de demência (WORLD HEALTH ORGANIZATION,
2017). A atividade física moderada é apontada como estratégia para manter equilíbrio fun-
cional, autonomia e contatos sociais, fundamentais para um envelhecimento ativo e sau-
dável (DGS, 2006, 2017; RUDNICKA et al., 2020). Existem, no entanto, algumas barreiras
e condicionantes à manutenção do nível de atividade física recomendado para este grupo
populacional, relacionadas com a capacidade cognitiva, déficit de atenção, memória, controlo
emocional e motivacional, que devem ser alvo de intervenção especifica (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2017). A utilização do jogo com propósito sério surge como uma estratégia

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forte para ultrapassar algumas das barreiras ao incremento da atividade física, entre os
idosos, para além do seu efeito positivo a longo prazo, na prevenção, avaliação e tratamen-
to de alterações à função cognitiva e mental, onde se inclui a demência (FITZGERALD;
RATCLIFFE, 2020; NING et al., 2020).

O jogo como estratégia terapêutica

Até à data, existem poucos jogos sérios específicos para terapia, testados e descritos
na literatura científica. Muitos dos que existem referem-se a utilizações digitais. Contudo, e
porque os jogos analógicos não necessitam da interface internet e promovem a interação
social, têm ganho visibilidade como estratégia motivacional de aprendizagem. Na verdade,
a evidência atual tem demonstrado o domínio dos jogos analógicos desenhados com o
propósito específico do ensino e aprendizagem, ou seja, tem demonstrado a sua adequa-
ção como ambiente formal e informal de aprendizagem e daí a sua denominação de “jogo
sério” (BAYECK, 2020).
A estrutura de um jogo sério, inclui uma componente motivacional forte, relacionada
com interação, envolvimento e feedback constantes (auditivo, visual, táctil ou proprioceptivo,
dependendo do jogo utilizado), assim como processos de resolução de problemas e atenção
constantes, contribuindo para facilitar a transposição das competências adquiridas e/ou trei-
nadas no jogo para a realidade, com elevada aceitação (FITZGERALD; RATCLIFFE, 2020).
O conceito de gamificação e de jogo com intuito sério, são muitas vezes descritos de
forma comum (WHITE; MARTIN; WHITE, 2022). Contudo, a terminologia “jogo sério” refe-
re-se a um jogo concebido para a aprendizagem e ensino, e cujo objetivo vai para além do
entretenimento. Especificamente no campo dos cuidados de saúde, o jogo sério é muitas
vezes utilizado em contextos de terapia/tratamento, recuperação e reabilitação (AMENGUAL
ALCOVER; JAUME-I-CAPÓ; MOYÀ-ALCOVER, 2018; BAYECK, 2020); e, o conceito de
“gamificação” refere-se à utilização de componentes, elementos ou estrutura de jogo, num
contexto de não jogo, de forma a estimular-se determinados comportamentos, relaciona-
dos com adesão, motivação e participação, por exemplo, em contextos de terapia (WOOD;
REINERS, 2014).
Apesar de muitos estudos se focarem em utilizações gamificadas digitais, o formato ou
estrutura do jogo pode assumir diferentes configurações e utilizar diferentes dispositivos. Por
exemplo, o termo “jogo analógico” engloba todos os jogos não digitais, tais como os jogos
de mesa, incluindo os jogos de tabuleiro (BAYECK, 2020). Os jogos de tabuleiro são um dos
exemplos de jogo analógico utilizado com propósito sério e são definidos, genericamente,
como um jogo que utiliza um tabuleiro, marcado de modo particular, onde se coloca, move
ou remove peças, de formas especificas (NODA; SHIROTSUKI; NAKAO, 2019; SOUSA;

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BERNARDO, 2019). Os jogos sérios analógicos, do tipo jogo de tabuleiro e jogo de mesa,
são jogos fortemente relacionados com a cultura de jogo tradicional, comuns entre os ido-
sos (WIEMEYER; KLIEM, 2012). Existem diferentes tipos de jogos analógicos de tabuleiro,
usualmente utilizados tanto em contexto de terapia como lúdico, incluindo dinâmicas de ro-
le-playing, jogos de cartas, jogos de guerra/batalha e “eurogames”. São exemplos de jogos
de tabuleiro comuns o xadrez, Monopoly, Go, Dandgens & Dragons, Magic Maze e Shogi,
que podem ou não ser utilizados em terapia ou como entretenimento (NODA; SHIROTSUKI;
NAKAO, 2019; SOUSA; BERNARDO, 2019).
Existe, no entanto, uma nova geração de jogo – o jogo sério digital -, que inclui dife-
rentes interfaces, que permitem incorporar todo o corpo no movimento e controlo do jogo.
São exemplos disso, os “jogos externos” (exergames). Contudo, o jogo digital poderá não
ser de fácil utilização e adaptação às características individuais, experiências e condições
físicas, entre a população idosa, quer pelas interfaces de utilização, quer pelas dificuldades
no acesso à tecnologia. A sua utilização envolve ainda recursos com maior investimento
económico e manutenção técnica, o que poderá condicionar a sua utilização em terapia e
reabilitação (WIEMEYER; KLIEM, 2012). As recomendações de desenvolvimento de soluções
digitais adaptadas à população idosa, referem-se à necessidade de se criarem instrumentos
de jogo que contribuam para a redução das dificuldades e incapacidades, que sejam de fácil
utilização e potenciem a adesão à terapia (WHITE; MARTIN; WHITE, 2022).
Devido à saturação na utilização das interfaces digitais e à necessidade de recurso à
internet, os jogos de tabuleiro começam a insurgir-se, perante os digitais, por não necessita-
rem dessas interfaces (BAYECK, 2020). O que parece mediar o sucesso da utilização de um
jogo é a sua estrutura, conteúdo e o design adequado ao objetivo e ao formato e adequação
ao utilizador a que se propõe (FITZGERALD; RATCLIFFE, 2020).
Independentemente do formato utilizado, o recurso ao jogo como estratégia terapêu-
tica, demonstra resultados positivos em diferentes domínios da saúde, por colocar o utili-
zador em situações de desafio e procura de soluções que desenvolvem competências de
resolução de problemas da vida diária (FITZGERALD; RATCLIFFE, 2020). Por exemplo,
comparado com a terapia convencional, a realização de exercício através do jogo permite
treinar tarefas especificas em diferentes graus de dificuldade, ajustados à condição física
e conforto do paciente com feedback em tempo real aumentando também a aceitação da
terapia (LING et al., 2017).
Do ponto de vista do formato de utilização, os jogos de tabuleiro podem ser utilizados
sem a necessidade de linguagem, o que será uma vantagem para populações idosas com
demência, que perdem muitas vezes a sua capacidade de se expressar verbal e linguistica-
mente, mas que mantem a sua capacidade de comunicar pelas emoções e comportamentos

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(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2015). A utilização do jogo permite a interação e de-
senvolvimento de componentes de performance física (força muscular, equilíbrio, interação)
e cognitiva (atenção, concentração, memória) associadas a feedback constante, o que lhes
confere um cariz terapêutico forte e recomendado como sistemas de suporte à aprendizagem,
fundamental nos processos de terapia e reabilitação com pessoas idosas e com demência
(NAKAO, 2019; NODA; SHIROTSUKI; NAKAO, 2019).
Muitas vezes, os jogos utilizados em contexto de terapia são jogos comerciais, disponí-
veis no mercado e que não foram desenvolvidos e adaptados com o intuito de ser utilizados
como recurso terapêutico. Estes jogos podem não reunir critérios e características especificas
e necessárias para o processo terapêutico. Por este motivo, a escolha do jogo a utilizar em
contexto de reabilitação requer uma atenção cuidada (SOARES et al., 2016). Por outro lado,
os jogos com intuito sério devem ser concebidos com esse propósito e considerar não só os
objetivos terapêuticos como também a interatividade, repetição, formulação de estratégias
motoras orientadas para um objetivo e sentido estimulante, sem perdas no seu caráter lúdi-
co(SOARES et al., 2016). O design, construção e validação de um jogo sério deve, portanto,
incorporar as recomendações dos profissionais envolvidos no processo terapêutico, como é
o caso do fisioterapeuta, e incluir as caraterísticas necessárias e desejadas para cumprir o
objetivo a que se propõe (AMENGUAL ALCOVER; JAUME-I-CAPÓ; MOYÀ-ALCOVER, 2018).
Verifica-se, portanto, que o desenvolvimento de um jogo com propósito sério é com-
plexo e implica o cumprimento de pelo menos dois pressupostos base: o motivacional e o
educacional. É fundamental conjugar a convergência motivacional intrínseca (o indivíduo
deve estar motivado para jogar) e extrínseca (motivação para atingir determinado objeti-
vo). Do ponto de vista do sistema do jogo, este deve permitir o processo de aprendizagem
e treinar as competências a que se propõe, quer ao nível da resolução de problemas, inte-
gração de informação visual, verbal e auditiva, quer fornecendo feedback contínuo; desta
forma, facilitando a consolidação da aprendizagem com a memorização a longo prazo. Estas
componentes devem ser possíveis de integrar e transpor para alcançar o objetivo do jogo e
permitir o desenvolvimento de competências ao nível das diferentes componentes educativas,
incluindo as funções executivas, da atenção, foco e concentração, mediante o fornecimento
das respetivas instruções e orientações(DRUMMOND; HADCHOUEL; TESNIÈRE, 2017).
O desenvolvimento de um jogo sério deve ter o seu utilizador como foco do design
e considerar diferentes níveis de dificuldade, complexidade e estímulo, assim como de
feedback. Por exemplo, a complexidade pode progredir no grau de dificuldade física (velo-
cidade do movimento, distância, duração, base de suporte) ou exigência cognitiva (número
e tipo de estímulo, complexidade das regras do jogo, níveis de dificuldade cognitiva). A in-
terface do jogo deve também ser desenvolvida a pensar no seu propósito e população a

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que se destina, que deve reconhecer no jogo um instrumento benéfico e importante para si
(KAMNARDSIRI et al., 2021).

Potencial do jogo sério em diferentes componentes de saúde relacionados com risco


de queda e/ou demência

Existem atualmente, diversos estudos que se referem à utilização do jogo em diferentes


construtos da saúde dos idosos, que influenciam e incluem as componentes física e cog-
nitiva. De modo genérico, a utilização do jogo e componentes de jogo (gamificação), com
idosos, têm demonstrado o seu benefício ao nível da capacidade funcional, risco de queda
e declínio cognitivo (GAUTHIER et al., 2019; KOIVISTO; MALIK, 2021; WHITE; MARTIN;
WHITE, 2022). Existe ainda demonstração especifica de utilizações analógicas, sob a for-
ma de “jogo de tabuleiro”, com evidência de vantagens e benefícios (CESARI et al., 2005;
DUTRA; CABRAL; CARVALHO, 2016; FITZGERALD; RATCLIFFE, 2020; GAUTHIER et al.,
2019; KOIVISTO; MALIK, 2021; NODA; SHIROTSUKI; NAKAO, 2019; ROSA et al., 2017;
SOUSA; BERNARDO, 2019; WHITE; MARTIN; WHITE, 2022). Especificamente, em relação
ao risco de queda, quando comparada com intervenção convencional, utilizando exercício,
a utilização do jogo sob o formato de “exergame” demonstra mais redução no risco de que-
da (SMD=−0.29, 95% CI − 0.51 to − 0.07, P = 0.009, I2 = 2%) e mais ganhos no equilíbrio
dinâmico (SMD = − 0.19, 95% CI − 0.35 to − 0.03, P = 0.02, I2 = 0%) subentendendo-se
que a intervenção com “jogo externo” é uma estratégia promissora na melhoria do equilíbrio
dinâmico, controlo postural e redução de risco de quedas e de quedas, em idosos saudáveis
(CHEN et al., 2021). Por outro lado, os efeitos produzidos por vídeo-jogos ativos, demonstram
também efeitos positivo na função física e motora, em indivíduos idosos na comunidade, em
parâmetros como a velocidade da marcha e o desempenho do teste Timed-up-and-Go (2.05:
95%CI: –1.11, 5.21 e –0.15: 95%CI: –2.13, 1.82, respetivamente) (SULEIMAN-MARTOS
et al., 2022), indicadores gold standard para avaliação de risco de queda, perda de equilíbrio,
mobilidade, marcha e déficit cognitivo (CESARI et al., 2005; DUTRA; CABRAL; CARVALHO,
2016; ROSA et al., 2017; SHUMWAY-COOK; BRAUER; WOOLLACOTT, 2000) .
De forma genérica, a utilização do jogo (de tabuleiro) na terapia, tem demonstrado
um aumento nos benefícios do tratamento ou no efeito terapêutico, principalmente em pa-
cientes menos motivados (como é o caso da população idosa) ou envolvidos na terapia,
por exemplo, ao nível de compromisso e de foco nas tarefas terapêuticas, (AMENGUAL
ALCOVER; JAUME-I-CAPÓ; MOYÀ-ALCOVER, 2018; DOUMAS et al., 2021; DRUMMOND;
HADCHOUEL; TESNIÈRE, 2017; FITZGERALD; RATCLIFFE, 2020; GAUTHIER et al.,
2019; KAMNARDSIRI et al., 2021; NAKAO, 2019; NING et al., 2020; NODA; SHIROTSUKI;
NAKAO, 2019; RIJK et al., 2016).

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A utilização do jogo de tabuleiro tem ainda demonstrado efeitos positivos e modificações
clinicamente importantes, passiveis de se transpor para o desempenho na vida real como
por exemplo ao nível do desempenho em funções executivas (d = 0.88, 95% CI [-0.19 to
1.95], Z = 1.82, P = 0.068) e ao nível comportamental (alimentar) (d* = 0.28, 95% CI [0.06–
0.50] ) (GAUTHIER et al., 2019) - aspetos fundamentais na população idosa e fortemente
relacionadas com os domínios da cognição, ou seja, fundamentais para indivíduos com
declínio cognitivo ou demência. A intervenção com jogo parece, também, ser um excelente
aliado nos programas de educação para a saúde e nas componentes da função cognitivo
comportamental, em situação de demência (NAKAO, 2019). Sabe-se ainda que a utilização
do jogo com intuito sério, na reabilitação após acidente vascular cerebral (comparado com
terapia convencional) permite melhoria significativas na função motora e atividade e partici-
pação do membro superior (SMD=0.47; 95% CI=0.24 para 0.70; P<0.0001; SMD=0.25; 95%
CI=0.05 para 0.46; P=0.02 e SMD = 0.66; 95% CI=0.29 para 1.03; P=0.0005, respetivamen-
te) aspetos essenciais e preditores de melhor capacidade funcional, mobilidade funcional e
independência no idoso e relacionadas com menor risco de queda (DOUMAS et al., 2021;
DUNSKY; AYALON; NETZ, 2011; LEONG et al., 2015; SAYER; KIRKWOOD, 2015).
O jogo permite, ainda, treinar componentes complexas ao nível da função do membro
superior (como a pratica de tarefa-especifica, essencial para a realização de tarefas domés-
ticas e indicador de independência funcional), fundamentais para a realização das tarefas
envolvendo força de todo o tronco e membro superior e nível de capacidade funcional do
idoso, essenciais e relacionados com o risco de queda, pois indivíduos com maior capaci-
dade funcional apresentam menor risco de queda (DOUMAS et al., 2021; MOORHOUSE;
ROCKWOOD, 2012; RIJK et al., 2016; VERGARA et al., 2019). Um outro estudo, realizado
com um jogo de tabuleiro, desenhado especificamente para a população idosa, demonstra
ainda que, o jogo de tabuleiro tem um papel importante e complementar na na reabilita-
ção funcional do membro superior de idosos, com ganhos estatisticamente significativos
(p<0,01), comparativamente com terapia convencional, ao nível da coordenação e força de
preensão (NEVES ROSA et al., 2021), construto essencial na manutenção da capacidade
funcional e independência para as atividades diárias, protetora do risco de queda e asso-
ciada a menor progressão de declínio cognitivo (demência) (SAYER; KIRKWOOD, 2015;
SYDDALL et al., 2017).
A evidência atual sugere, ainda, que intervenções gamificadas e baseadas no jogo,
são benéficas para a população idosa em diferentes domínios - exercício e atividade física,
função cognitiva, saúde mental (depressão, motivação, adesão à terapia, memória, auto-e-
ficácia da reabilitação e competência percebida) (KOIVISTO; MALIK, 2021). Por exemplo,
a utilização do jogo de tabuleiro apresenta bons resultados, no treino de funções cognitivas,

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(Cohens’s (d) antes e após a intervenção (0.04 - 2.60 e 1.14 − 0.02 respetivamente) e na
atividade física ((d) 0.06 - 0.65) (Noda et al., 2019). Outro exemplo onde a utilização do jogo
ou componente gamificada revela efeitos positivos é na motivação para aderir à terapia fí-
sica e cognitiva (fundamentais para independência funcional (KAMNARDSIRI et al., 2021).
Também ao nível da saúde mental, o jogo permite ganhos importantes, por exemplo
por permitirem a criação de novos modelos de intervenção, mais apelativos, acessíveis, in-
terativos e menos estigmatizante, com efeitos a longo prazo, o que potencia a sua utilização
(BAGHAEI et al., 2022).

Linhas de Investigação Futuras

A discussão encetada com esta revisão narrativa, expõe e remete para uma refle-
xão forte sobre temas emergentes de estudo em futuras investigações. Algumas ques-
tões de investigação despertadas com esta discussão parecem-nos prementes no contexto
do envelhecimento e da pessoa idosa com risco de queda e declínio cognitivo/demência.
Referimo-nos a questões como: que estratégias existem e podem ser utilizados para treinar
capacidades físicas, capacidade funcional e saúde mental? Pode o jogo ser uma dessas
estratégias? O que se sabe sobre a validade e efetividade desses jogos? Que fatores in-
fluenciam a performance nesses jogos?
De facto, no que se refere aos jogos analógicos de tabuleiro, são necessários mais estu-
dos que nos permitam conhecer melhor o potencial de aprendizagem através do ambiente de
aprendizagem/ensino através do jogo, em áreas especificas como a motivação, pensamento
critico e adesão à aprendizagem (BAYECK, 2020). Para além disso, especialmente para
populações com declínio da função cognitiva, são necessários mais estudos que permitam
perceber de que forma se pode um jogo adaptar a populações com diferentes característi-
cas e de que forma a capacidade que uma pessoa tem para entender o próprio jogo poderá
influenciar no seu potencial e resultados de intervenção (VITA-BARRULL et al., 2022).
Apesar de a evidência, até agora, ser encorajadora no que se refere à utilização de
componentes de jogo, em diferentes “outcomes” na população idosa, persiste a necessidade
de mais estudos, com medidas mais estruturadas, que demonstrem e ajudem a perceber
quais os mecanismos que potenciam esses benefícios (WHITE; MARTIN; WHITE, 2022).
Não obstante a evidência de que o jogo deve ser utilizado como terapia, deverão ser alvo
de futuras investigação, as especificações e características do jogo em função da pessoa,
dose, duração e seleção dos pacientes, que podem beneficiar com cada jogo ou aspetos
do jogo. Adicionalmente, deve ser profundamente estudada e clarificada a relação entre
a atividade física e função/capacidade física e cognitiva (KURITA; DOI; SHIMADA, 2020).

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Em estudos futuros será importante avaliar a importância de se padronizar os jogos
sérios como estratégia terapêutica, de forma a que o jogo possa ser considerado uma fer-
ramenta válida na implementação de diferentes programas de promoção da saúde da pes-
soa idosa, contribuindo para: avaliação e rastreio de capacidade funcional, risco de queda
e capacidade cognitiva/demência da pessoa idosa, treino das competências relacionadas
com a marcha (fundamentais para a prevenção de quedas),incluindo componentes visuais
e as perturbações cognitivas, assim como contribuir para a educação, formação e apoio dos
seus cuidadores formais e informais (OSOBA et al., 2019).
A intervenção no domicílio e comunidade e não apenas em ambiente institucional, é
ainda fundamental ser explorada, no sentido de perceber de que forma se pode influenciar
nos diferentes fatores de risco internos e externos, a que cada o individuo está exposto
(BUSTAMANTE-TRONCOSO et al., 2020) e que condicionam a função física e cogniti-
va do indivíduo.
Perceber a diferença entre a terapia com jogo, individualmente ou em grupo
(para promoção da interação social), deve tambémser considerada em estudos futuros
(KAMNARDSIRI et al., 2021).
Apesar de haver alguns estudos utilizando jogos sérios, muitos referem-se a jogos
digitais ou realidade virtual. Persiste, contudo, a necessidade de se entender quais as es-
tratégias de desenvolvimento e conceptualização de um jogo com o propósito terapêutico e
a sua relação com resultados clínicos.
O desenvolvimento de evidência cientifica baseada em estudos fortes é essencial. É ne-
cessária a demonstração cientifica e a criação de evidência forte, com estudos longitudinais
robustos, com instrumentos válidos e fiáveis que demonstrem o papel de estratégias de
intervenção utilizando o jogo e componentes de jogo, de forma personalizada e adequa-
da às especificidades da população idosa, onde, particularmente o risco de queda e o
declínio cognitivo (associado a demência) são muito importantes (CORDES et al., 2019;
KOIVISTO; MALIK, 2021).
A demonstração da eficácia geral dos jogos de tabuleiro com propósito sério, deve, de
facto ser bem estabelecida, para que os diferentes protagonistas (profissionais de saúde,
pacientes, estudantes e membros da comunidade) possam beneficiar dessa utilização de
forma concreta e objetiva (GAUTHIER et al., 2019). Por outro lado, diferenciar diferentes
possibilidades de utilização de estratégias de jogo e de diferentes tecnologias e formatos
e a forma como cada um consegue influenciar o bem-estar social, suporte aos idosos e
aos familiares e cuidadores, é essencial para se poderem criar recomendações e modelos
orientadores de intervenção (KOIVISTO; MALIK, 2021).

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CONCLUSÃO

Perante a evolução demográfica a nível mundial, a definição de estratégias preventivas


efetivas é emergente. A não atuação de forma concertada por todos os responsáveis, des-
de decisores políticos, investigadores e profissionais, conduzirá a uma enorme proporção
de idosos mais dependentes, em resultado das quedas e da demência (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2008, 2017).
A WHO defende a adoção de estratégias, intervenções e programas que reconheçam
os direitos, necessidades, preferências e contributos dos idosos. Como a maior parte dos
fatores que impactam no risco de queda se relacionam com o ambiente pessoal e social, é
fundamental criar políticas de intervenção a esse nível, de forma a construir um ambiente pes-
soal, social e comunitário mais apropriado aos idosos (SALARI et al., 2022). É fundamental
fomentar a consciencialização da importância da prevenção de quedas nos idosos, entre os
idosos, familiares, jovens, comunidade, entidades governamentais, prestadores de cuidados,
comunicação social, promover a prevenção dos fatores de risco para as quedas, identificar
e implementar intervenções realísticas e efetivas ((WORLD HEALTH ORGANIZATION,
2008). É crucial proteger a saúde mental, promover e prevenir a demência e suas condi-
cionantes de forma a que, a população idosa tenha oportunidade de viver mais anos com
qualidade, de forma produtiva e construtiva, no seio da sua família e comunidade (WHO,
2022). A prática regular de atividade física com diferentes componentes, são um meio eficaz
de reduzir risco de queda (THOMAS et al., 2019). Complementarmente, a utilização do jogo
ou componentes de jogo, aumentam os ganhos em saúde ao nível do domínio fisiológico,
mental e cognitivo, entre a população idosa, com a vantagem de ser uma experiência mais
agradável (KOIVISTO; MALIK, 2021; VIEIRA et al., 2021).
Um jogo sério terapêutico deverá ser educacional e ser capaz de integrar o design com
o propósito e funcionalidade especifica a que se propõe e ser desafiante e motivador para
os jogadores (BAYECK, 2020; NAKAO, 2019).
O potencial do jogo com propósito sério ao nível das dimensões fisiológicas, psicoló-
gicas, sociais e sensório-motoras, evidenciado na literatura nos últimos anos, revela-se um
fator agregador da sua importância como estratégia terapêutica, a esse nível (FITZGERALD;
RATCLIFFE, 2020; WIEMEYER; KLIEM, 2012).

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MEDICAMENTOS INAPROPRIADOS PARA IDOSOS:
UMA REVISÃO DA LITERATURA

Jhully Márcia Pereira Aires


Universidade Federal de Goiás (UFG)

Lunara Teles Silva


Universidade Federal de Goiás (UFG)

Denice do Lago Frota


Universidade Federal de Goiás (UFG)

Sara Ângela da Silva


Universidade Federal de Goiás (UFG)

Nathalie de Lourdes Souza Dewulf


Universidade Federal de Goiás (UFG)

Flavio Marques Lopes


Universidade Federal de Goiás (UFG)

'10.37885/230513160
RESUMO

Medicamentos potencialmente inapropriados (MPI) são aqueles que oferecem um risco maior
de efeitos adversos superior aos benefícios que podem oferecer ao idoso. Estes medica-
mentos ainda apresentam uma alta taxa de prescrição mesmo havendo muitas evidências
dos resultados negativos que podem oferecer. Perante a necessidade de se reestruturar o
sistema de saúde, para atender à crescente população de idosos, e diante do impacto que
os medicamentos potencialmente inapropriados podem causar, estudos envolvendo o uso
desses medicamentos por essa população são de grande relevância para a sociedade civil e
científica. O conhecimento sobre o assunto pode contribuir para o desenvolvimento de novos
protocolos de atendimento e segurança do paciente idoso. Destaca-se que esta temática é
de extrema relevância para o setor de saúde pública, para a melhoria da qualidade de vida e
segurança dos idosos. Assim, monitorar o uso de MPI para idosos é uma importante estraté-
gia, pois a prescrição apropriada constitui-se em um dos fatores mais relevantes para o uso
racional dos medicamentos, fazendo-se necessário, aos profissionais de saúde, conhecer e
analisar o perfil farmacoterapêutico dos idosos quanto ao uso desses medicamentos.Cuida

Palavras-chave: Farmacoterapia, Envelhecimento Humano, Cuidado.


ENVELHECIMENTO POPULACIONAL, DOENÇAS CRÔNICAS E CON-
SUMO DE MEDICAMENTOS

Com o avançar dos anos temos vivenciado um intenso processo de envelhecimento da


população mundial. No Brasil, conforme dados do Censo demográfico, realizado em 2010, o
número de idosos era de 24.964.474 milhões e, em Goiânia, era de 124.682 mil. Os dados
do Censo demográfico iniciado em 2022 ainda não estão disponíveis (IBGE, 2010).
Em 2022, o número de idosos, com 65 anos de idade ou mais, no mundo era de 771
milhões. Assim, representa aproximadamente 10% da população mundial. A previsão é que
em 2030 esse número chegue a 994 milhões e, em 2050, a 1,6 bilhão de pessoas (UNITED
NATIONS, 2022). A população mundial de idosos a cima dos 80 anos de idade ou mais
chegou a 143 milhões em 2019, demonstrando que o número total de idosos a partir dos
80 anos está aumentando ainda mais rápido do que os de 65 anos (UNITED NATIONS,
2015; UNITED NATIONS, 2019). A expectativa de vida nas últimas décadas teve um salto
de 11 anos e agora a população brasileira pode esperar viver até os 73,5 anos ou mais.
(IBGEa, 2017) Entretanto, com a pandemia de COVID-19, estima-se que a expectativa de
vida mundial tenha reduzido 1,7 anos de 2019 para 2021. Em 2021, a estimativa era de 71
anos de idade. A queda na expectativa de vida teve variação nos países devido a forma de
lidar com a pandemia, em termos de prevenção e tratamento (UNITED NATIONS, 2022).
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), realizada
em 2017, o país continua em acelerado processo de envelhecimento. O número de idosos
foi acrescido em 4,8 milhões, desde 2012, o que corresponde a um aumento de 18%, po-
dendo ultrapassar os 30 milhões de idosos no Brasil. Ressalta-se que atualmente, 56% da
população de idosos são do sexo feminino (IBGEb, 2017).
Este salto da expectativa de vida e do envelhecimento traz consigo novas exigências,
se constituindo em um importante desafio para a saúde pública. Este novo cenário demo-
gráfico tem construído também um novo cenário epidemiológico, marcado pela redução da
mortalidade por doenças transmissíveis e a ascendência da mortalidade decorrente das
doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) (VIANA et al., 2015).
As DCNT representam a principal fonte de carga das doenças e são responsáveis por
um grande número de óbitos. Com a rápida e impactante transição demográfica e o aumento
de idosos na pirâmide populacional é possível observar um progressivo aumento dessas
doenças e do maior consumo de medicamentos por essa população. Entre essas doenças
as mais prevalentes são: diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares, depressão,
demência, doenças renais, pulmonares e câncer, em virtude do prolongamento de vida
das células (OLIVEIRAa et al., 2016; SILVA et al, 2017). Um estudo realizado com base na
Pesquisa Nacional de Acesso, uso e promoção do uso racional de medicamentos (PNAUM),

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de 2014, constatou que no Brasil 93% dos idosos fazem o uso crônico de pelo menos um
medicamento e 18% utilizam cinco ou mais. Segundo essa pesquisa, os idosos que possuem
mais doenças crônicas são os que mais utilizam medicamentos (RAMOS et al., 2016).
As condições crônicas se constituem em um importante fator de risco a saúde do
paciente geriátrico. Tanto pela gravidade, mas também pelo aumento da ocorrência dos
tratamentos farmacológicos múltiplos e as reações adversas. Além disso, muitos idosos
chegam a consumir mais que sete medicamentos simultaneamente. (GOULART, 2011;
CICOLINI et al., 2016)
O uso concomitante de cinco ou mais medicamentos é denominado como polifarmácia
(HOVSTADIUS e PETERSSON, 2012). Há uma correlação entre o número de fármacos
administrados e o risco aumentado de reações adversas. Quando se toma apenas dois me-
dicamentos, o risco pode ser de apenas 2%, Porém quando se utiliza cinco ou mais, esse
risco aumenta em 50% (CONSTANTINO e FIGUEIREDO, 2015). Essas reações podem
se manifestar como: confusão mental, quedas e declínio funcional (HAO, OMAR e TOHIT,
2018). Desta forma, o uso de vários medicamentos precisa ser bem monitorado, pois contribui
para uma maior exposição do idoso aos medicamentos potencialmente inapropriados (MPI),
ao surgimento das potenciais interações medicamentosas (PIM) e à ocorrência de reações
adversas, o que pode ainda contribuir com a não adesão ao tratamento (HOVSTADIUS e
PETERSSON, 2012; KIRCHMAYER et al., 2016).
Quando se decide por um regime terapêutico espera-se que a cura, melhora dos sin-
tomas ou retardo da doença sejam os resultados obtidos. Porém, isso é complexo de se
conseguir em pacientes idosos pela presença das multimorbidades e da polifarmácia. Nos
casos de polifarmácia pode ocorrer a duplicação de classes terapêuticas, o que eleva os
custos do tratamento com medicamentos desnecessários e as chances de se ter uma reação
adversa e PIM (KIRCHMAYER et al., 2016; 26 CASTEL-BRANCO et al., 2013).
Devido ao fato da polifarmácia estar relacionada ao surgimento de reações adversas,
surge um risco aumentado de ocorrer as chamadas prescrições cascatas ou iatrogênicas.
Essas prescrições ocorrem quando um efeito adverso surge e um novo medicamento é
prescrito para tratar o surgimento dessa nova situação clínica, principalmente quando o
paciente é assistido por médicos diferentes e não ocorre a conciliação terapêutica. Nos
casos de polifarmácia a equipe multidisciplinar, principalmente o farmacêutico, no momento
da dispensação do medicamento, deve orientar o paciente, pois esse contato direto com o
paciente é relevante para garantir a sua segurança e racionalizar o uso do medicamento,
evitando maiores complicações médicas, hospitalizações e até mesmo o óbito do paciente
(SARMENTO, LEAL e MONTEIRO, 2017).

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O paciente polimedicado deve ser bem assistido, pois em muitos casos a polimedicação
é de extrema importância para que todos os seus problemas de saúde sejam tratados de
forma eficiente. Em virtude do seu alto potencial de causar reações ao paciente, ela foi eleita
como uma das categorias prioritárias do Terceiro Desafio Global de Segurança do Paciente
(uma estratégia profissional conjunta que objetiva prevenir erros de prescrição relacionados
à polifarmácia) (WHO, 2017).

MEDICAMENTOS POTENCIALMENTE INAPROPRIADOS PARA IDOSOS

Um medicamento é considerado como potencialmente inapropriado quando oferece


um risco aumentado para efeitos adversos que superam os benefícios que pode oferecer
ou por apresentar redução da sua eficácia. São medicamentos que devem ser evitados por
idosos na maioria das circunstâncias ou em situações específicas (AGS, 2015; AGS, 2023).
Pode-se considerar como MPI também quando há alternativas equivalentes ou mais
efetivas, mas que oferecem menores riscos para tratar a mesma condição clínica. Quando
um medicamento é utilizado em uma dose excessivamente grande ou por um longo período
de tempo a sua utilização também se torna inapropriada (BEERS et al., 1991; AGS, 2015;
AGS, 2023). O conceito de MPI compreende também a combinação entre os medicamen-
tos, duplicação de classes terapêuticas, interações medicamento-doença, subprescrição
de medicamentos ou omissão de terapia, sendo assim também consideradas prescrições
inapropriadas (BEERS et al., 1991; AGS, 2015; AGS, 2023; GNJIDIC e JOHNELL, 2013).
A terapia medicamentosa do idoso é significativamente influenciada pelas alterações
farmacocinéticas e farmacodinâmicas que ocorrem devido às modificações fisiológicas na-
turais do processo de senescência. A diminuição do transporte ativo e biodisponibilidade de
alguns fármacos, diminuição do metabolismo de primeira passagem, alteração do número e
da afinidade dos receptores tornam os idosos mais sensíveis às ações dos medicamentos e
propícios às reações adversas e à toxicidade. Por exemplo, devido ao clearance reduzido,
há uma maior concentração plasmática dos fármacos, o que pode proporcionar uma res-
posta farmacológica mais intensa. Assim, muitos medicamentos se tornam inapropriados
(FASTBOM e JOHNELL, 2015). Assim, para avaliar se um medicamento é potencialmente
inapropriado para idosos, deve-se levar em conta a condição de saúde da pessoa, a dose
e o tempo de uso do medicamento (FORGERINI e SCHIAVO, 2023).
A prevalência do uso de MPI é elevada entre os idosos, como aponta um estudo rea-
lizado em Araraquara (SP) com idosos atendidos na atenção primária. Este apontou que
um entre quatro idosos faz uso de ao menos um MPI (HUFFERNBAECHER, VARALLO e
MASTROIANNI, 2012). Outro estudo, realizado com idosos atendidos em um Centro de
Referência em Atenção à Saúde da Pessoa Idosa (CRASPI) no Centro-Oeste do Brasil,
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identificou que 87,9% da amostra apresentava ao menos um MPI prescrito (AIRES et al.,
2020). Uma revisão sistemática, realizada nas principais bases de dados, avaliou 19 es-
tudos provenientes dos Estados Unidos, Canadá, China, Taiwan, Japão, Arábia Saudita,
Paquistão, China, Chile, Itália, Holanda e Croácia. A prevalência média de MPI em idosos
nos artigos desta revisão, foi de 65% (28,7 – 95,3%) (PRAXEDES et al., 2021). Assim, é
de extrema importância que equivalentes terapêuticos seguros sejam incluídos nas listas
de medicamentos essenciais (HUFFERNBAECHER, VARALLO e MASTROIANNI, 2012).

MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA FARMACOTERAPIA

Racionalizar o uso de MPI é uma estratégia eficaz para reduzir muitos dos problemas
relacionados aos medicamentos em idosos. Existem métodos explícitos que são utilizados
para identificar estes medicamentos de alto risco: são listas de medicamentos classificados
como potencialmente inapropriados que foram elaboradas por painéis de especialistas e
baseados em estudos de evidência (AGS, 2012).
A farmacoterapia do idoso pode ter sua adequabilidade verificada por meio de instru-
mentos baseados em critérios implícitos ou explícitos. Os critérios implícitos consideram o
estado geral do paciente para avaliar a qualidade da farmacoterapia. Também considera a
escolha e as necessidade do paciente. Os instrumentos são apresentados na forma de per-
guntas abertas sobre os medicamentos em uso (FORGERINI e SCHIAVO, 2023). O método
implícito mais conhecido é o Medication Appropriateness Index (MAI), que consiste em 10
perguntas que possibilitam a classificação do medicamento em três categorias, sendo elas:
A(apropriado), B(marginalmente apropriado) e C(inapropriado) (KAUFMANN et al., 2014).
Os métodos explícitos são listas de medicamentos classificados como potencialmente
inapropriados que se baseiam em critérios determinados de maneira mais rígida, desenvolvi-
dos por meio das técnicas de consenso, revisões e evidências feitas por experts, tornando-se
instrumentos eficientes para avaliar as prescrições geriátricas (ISMP, 2018). Neste caso, os
instrumentos são apresentados na forma de uma lista direta de MPI, pois tem objetivo de
identificar o MPI de forma rápida, sem considerar o estado geral do paciente (FORGERINI
e SCHIAVO, 2023). Assim, a aplicação dos critérios explícitos é importante para avaliar a
prescrição de medicamentos, principalmente quando não se tem acesso a todas as informa-
ções a respeito do estado clínico do paciente. Portanto, há grande relevância nos estudos
farmacoepidemiológicos e servem também como ferramenta de educação aos profissionais
(CASSONI et al., 2014).
Uma revisão sistemática, elaborada com o objetivo de identificar instrumentos disponí-
veis para avaliar a segurança das prescrições à população idosa, encontrou quinze instru-
mentos, a saber: Critérios de Beers, de 1991, e suas versões atualizadas de 1997, 2003; o
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Medication Appropriateness Index (MAI) desenvolvido por Hanlon et al., em 1992; o Lipton
(Lipton et al., 1993); os McLeod criteria (McLeod et al., 1997); HEDIS method (Pugh et al.,
2006), Norwegian quality indicators for prescribing (Brekke et al., 2008), Swedish quality
indicators of prescription (Johnell, Fastbom, 2008), o Improving Prescribing in the Elderly
Tool (IPET) (Naugler et al.,2000), o French list of inappropriate drugs (Laroche et al., 2007),
o Norwegian list of inappropriate drugs (Straand, Rokstad, 1999), o Screening Tool to Alert
doctors to the Right Treatment (START) (Barry et al.,2007), o Zhan criteria (Zhan et al.,
2001), e o Screening Tool of Older Persons’ Potentially Inappropriate Prescriptions (STOPP)
(Gallagher, O’Mahony, 2008). De acordo com essa revisão nenhum estudo ainda determinou
qual o padrão-ouro entre os instrumentos (VARALLO, DE OLIVEIRA e MASTROIANNI, 2014).
As listas mais conhecidas e utilizadas mundialmente para avaliar as prescrições de
idosos são os Critérios de Beers e STOPP. O primeiro, tem aplicabilidade bem documentada
e conta com atualizações de grande relevância pela American Geriatrics Society (AGS), feita
com base em importantes evidências sobre segurança de medicamentos para pacientes
geriátricos, oferecendo um elevado nível de confiabilidade (LAVAN et al. 2017). A última
atualização foi publicada em 2023 (AGS, 2023). Já o segundo instrumento exige mais deta-
lhes clínicos sobre o paciente, para que possa ser realizada a verificação dos medicamentos
prescritos, possuindo assim boa aplicação em revisões mais abrangentes da prescrição ao
idoso (LAVAN et al. 2017). Com base nestes dois importantes instrumentos de rastreio, em
2016 foi publicado o Consenso Brasileiro de Medicamentos Potencialmente Inapropriado
para Idosos elaborado por Oliveira et al (OLIVEIRAb et al., 2016).
Evitar o uso de MPI por idosos é uma relevante ação de saúde pública. Porém, vale
ressaltar que o fato de um medicamento ser caracterizado como inapropriado não implica na
proibição absoluta do seu uso. Deve-se levar em consideração o risco-benefício da prescri-
ção, a disponibilidade e o acesso às alternativas terapêuticas, pois estas prescrições exigem
monitoramento dos efeitos ao paciente (OLIVEIRAb et al., 2016). Resultados de uma revisão
sistemática demonstram ainda que, no Brasil, o fato de a maioria dos idosos serem assisti-
dos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), exige que as listas de medicamentos essenciais
devem ser atualizadas. De acordo com o estudo realizado, essas listas compreendem MPI
e não possuem equivalentes terapêuticos mais seguros para os mesmos, o que confirma a
necessidade de monitorar o uso destes medicamentos pois nem sempre é possível evitá-los
(VARALLO, DE OLIVEIRA, MASTROIANNI, 2014).
Em 1991, Mark Beers, geriatra americano, e colaboradores, apresentaram preocupação
com a qualidade da prescrição, segurança do paciente idoso institucionalizado, inexistência
de critérios adequados de análise e adequação da terapia. Então, este grupo formulou e
validou uma lista com 19 MPI e 11 medicamentos com dosagem, frequência de uso e tempo

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de tratamento inapropriado. Surgiu assim, pela primeira vez, o conceito de MPI caracteriza-
do pelo fato que alguns medicamentos causavam mais riscos que benefícios aos idosos e
raramente a prescrição destes seria apropriada. Se um medicamento for usado em doses
excessivamente grandes ou por longa duração, seu uso também pode se tornar inapropriado
(BEERS et al., 1991).
Essa versão de Beers 1991 estabelecia duas categorias de classificação: 1)
Medicamentos ou classe de medicamentos que deveriam ser evitados e usados somente
em situações raras; 2) Medicamentos que a dose, frequência de uso e tempo de tratamento
não deveriam ser excedidos (BEERS, 1997).
Em 1997 Beers atualizou e expandiu os critérios explícitos criados em 1991, bem como
o conceito de uso de MPI para idosos. A lista passou a abordar medicamentos que não
possuíam evidências quanto a sua eficácia, interação medicamentosa e interação medica-
mento-doença. Nesta versão os medicamentos foram enquadrados em três categorias: 1)
Medicamentos que devem ser evitados em idosos; 2) Medicamentos que excedem o limite
máximo de dose diária; 3) Medicamentos que devem ser evitados em idosos com determi-
nadas doenças crônicas. Esta lista era composta por 28 MPI e 35 outros que podem causar
interação medicamento-doença (BEERS, 1997).
Os Critérios de Beers foram atualizados em 2003 com a retirada dos medicamentos
que não eram mais comercializados nos Estados Unidos. A versão de 2003 possuía 48 me-
dicamentos ou classes que o uso deveria ser evitado e acrescentou cinco novas situações
clínicas que os medicamentos deveriam ser especificamente evitados (FICK et al., 2003).
Em 2012 uma nova atualização foi publicada pela AGS que assumiu o compromisso de
atualizar estes critérios. Nesta versão, constavam 53 medicamentos divididos em três cate-
gorias: 1) Medicamentos potencialmente inapropriados e classes para evitar em idosos; 2)
Medicamentos potencialmente inapropriados que devem ser evitados em idosos com certas
doenças e síndromes que os medicamentos listados podem exacerbar; 3) Medicamentos
para serem usados ​​com cautela (AGS, 2012).
A versão do Critério de Beers, publicada em outubro de 2015, contêm a atualização das
listas publicadas em 2012 e mais três listas adicionais: Lista de interações medicamentosas
que devem ser evitadas em idosos; Medicamentos que devem ser evitados ou ter sua dose
reduzida em idosos com disfunção renal; e Interações Medicamentosas. Ainda, apresentou
uma lista com medicamentos com forte propriedade anticolinérgica (AGS, 2015).
Em relação às listas, a versão publicada em 2019 não sofreu alterações quando com-
parada a de 2015 (AGS, 2019). A última atualização foi publicada pela AGS em 2023.
Assim como todas as demais atualizações, foi realizada a atualização por painelistas. Esta

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atualização manteve as listas já existentes e inseriu uma síntese de recomendações rela-
cionada ao uso de anticoagulantes (AGS, 2023).
Estudos realizados em diversas regiões no Brasil utilizando os Critérios de Beers,
demonstram que o índice de utilização de medicamentos potencialmente inapropriados
para idosos ainda é alto, variando de 26,20% (em São Paulo) a 44,70% (em Minas Gerais)
(CASSONI et al., 2014). Um estudo de Aires e colaboradores, realizado no Centro Oeste,
publicado em 2020, identificou uso de MPI em 56,90% dos casos de idosos, quando anali-
sados pelo Critério de Beers (AIRES et al., 2020).
Gallagher et al. (2008), publicaram na Irlanda a primeira versão do dos Critérios STOPP,
com a finalidade de sanar as limitações apresentadas pelos critérios de Beers, tais como:
incluir medicamentos que possuíam evidência de riscos em certas condições e adequar a
lista aos medicamentos disponíveis no seu país. Estes critérios formulados são listas de
medicamentos categorizados de acordo com os sistemas fisiológicos, sendo o STOPP com-
posto por 65 MPI (GALLANGHER et al., 2008).
Em 2015 foi publicada a versão 2 dos Critérios STOPP com a finalidade de adicionar
novos critérios, excluindo os obsoletos e sem evidências, e, com essa atualização, a segunda
versão ficou composta por 80 critérios (O’MAHONY et al., 2015).
Os Critérios de Beers e STOPP possuem algumas semelhanças e algumas indicações
em comum, porém é importante que sejam utilizados de forma complementar e combinada
no processo de escolha da prescrição medicamentosa. Como exemplo, é possível apresen-
tar: os critérios de STOPP alertam sobre o uso dos bisfosfonatos orais devido as disfunções
pépticas que podem causar/agravar; alertam, também, sobre a metformina devido ao risco
de ocasionar a acidose lática. Ambos medicamentos não estão inclusos nos Critérios de
Beers (GALVÃO et al, 2015).
Diante da inexistência de instrumentos nacionais ou adaptados para avaliar a adequa-
ção das prescrições de pacientes idosos, em 2016, Oliveira e colaboradores validaram os
Critérios de Beers 2012 e STOPP 2008 com a finalidade de obter critérios nacionais para
rastrear medicamentos inapropriados para idosos. Desenvolveram, assim, o Consenso
Brasileiro de Medicamentos Potencialmente Inapropriados para Idosos, composto por um
total de 118 critérios, dos quais: 43 critérios de medicamentos que devem ser evitados in-
dependente da condição clínica e 75 que devem ser evitados em determinadas condições
clínicas/doenças (OLIVEIRAb et al, 2016).
É de importante relevância ter instrumentos de avaliação adaptados para o cenário
brasileiro para que os medicamentos estejam de acordo com os comercializados no país.
Outro fator que justifica ter listas adequadas refere-se à distinção de disponibilidade dos me-
dicamentos, nível socioeconômico e regulamentações de cada local (OLIVEIRAb et al, 2016).

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Estudos realizados que utilizaram os Critérios de Beers e STOPP apontaram diferenças
entre os dois na identificação dos MPI, o que motiva o seu uso combinado (OLIVEIRAb et al,
2016). Nos Critérios STOPP e do Consenso Brasileiro de MPI, por exemplo, os inibidores
da bomba de prótons (IBP) devem ser evitados por mais de 8 semanas independente de
qualquer condição. Já os Critérios de Beers definem o uso dos IBP por mais de 8 semanas
como apropriado somente para tratar casos de esofagite erosiva, esofagite de Barrett, con-
dições hipersecretórias patológicas, tratamento de manutenção ou em casos de uso crônico
de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e/ou corticosteroides (AGS, 2023, OLIVEIRAb
et al, 2016,39 O’MAHONNY et al, 2015).
Estas listas de MPI representam mais que meras listas de conferência. Elas objetivam
proporcionar uma melhora na qualidade e segurança das prescrições, ajudando a prevenir
reações adversas e desfechos indesejáveis. Estudos realizados demonstram a redução
dos casos de delírio e quedas quando a utilização destas ferramentas foram implantadas
na rotina clínica (BRUNETTI et al, 2019).
Os Critérios de Beers são efetivos não somente por identificar os MPI, mas, principal-
mente, quando direcionam os profissionais e os pacientes sobre as razões pelas quais estes
medicamentos recebem essa classificação e as situações em que seu uso pode ser mais
crítico ou não. Os critérios explícitos devem ser utilizados de forma a se complementarem
e são pontos de partida para os prescritores e farmacêuticos na avaliação abrangente para
definir qual farmacoterapia é a mais benéfica (STEINMAN et al, 2015).

COMPLEXIDADE DA FARMACOTERAPIA

O fato de os idosos serem acometidos por múltiplas doenças crônicas acarreta em


um manejo terapêutico mais complexo, exigindo a utilização de muitos medicamentos e
variadas formas de manuseio. Estudos mostram que cerca de 40% dos idosos utilizam de
5 a 9 medicamentos por dia e que 10% chegam a consumir mais que 10. Isto muitas vezes
pode contribuir para a não adesão ao tratamento devido à dificuldade de lidar com muitos
medicamentos e pela falta de recursos (AGUIRRE et al, 2017).
A complexidade da farmacoterapia consiste em múltiplas características do regime
terapêutico prescrito, incluindo a forma farmacêutica, o número de diferentes medicamentos
no esquema, o número de doses por dia, unidades de dosagem, o número total de doses
por dia, as relações da dose com a alimentação e as instruções adicionais (GEORGE et al,
2004; MELCHIORS, CORRER e FERNÁNDEZ-LLIMOS, 2007).
A avaliação da complexidade da farmacoterapia e a sua associação com prescrições
inadequadas é uma prática cada vez mais necessária na população idosa, pois a simplificação

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do esquema terapêutico melhora a adesão, trazendo benefícios clínicos e melhoria da qua-
lidade de vida dos idosos (RIGONI et al., 2015).
Regimes terapêuticos complexos, embora as vezes necessários, podem contribuir
para uma maior exposição aos erros de dosagem e administração, ocasionando desfechos
desfavoráveis, tais como: reações adversas, hospitalizações e readmissão hospitalar, por
isso esses regimes precisam ser bem monitorados (WIMMER et al., 2016).
Quanto mais complexo em número e requisitos especiais (triturar, diluir, dissolver pós,
comprimidos, dias, doses alternadas, duas formas farmacêuticas diferentes, entre outras
instruções dadas pelo profissional), torna-se mais fácil para o idoso errar no momento de
administrar o medicamento, se desinteressar pelo tratamento e, consequentemente, não
ter o seu problema de saúde resolvido ou até mesmo agravado devido ao risco de falha
terapêutica (MARGARIDA e SOFIA, 2014). Faz-se necessário avaliar a complexidade dos
regimes terapêuticos com objetivo de otimizar a terapia do idoso de forma a melhorar os
seus resultados de saúde (ALVES-CONCEIÇÃO et al., 2018).
Para determinar a complexidade farmacoterapêutica, em 2004, foi elaborado um instru-
mento de quantificação da complexidade, o Medication Regimen Complexity Index (MRCI),
originalmente na língua inglesa (GEORGE et al., 2004). Em 2007 foi validado na versão
brasileira, o Índice de Complexidade da Farmacoterapia (ICFT), e este índice, assim como
o original, é dividido em três seções: A (informações sobre formas farmacêuticas); B (infor-
mações sobre a frequência de administração do medicamento); C (informações adicionais,
como horários específicos, uso do medicamento com alimentos). Cada seção tem uma pon-
tuação crescente com o aumento da complexidade, sendo o índice de complexidade total
obtido pela soma das três seções (MELCHIORS, CORRER e FERNÁNDEZ-LLIMOS, 2007).
Maiores pontuações do ICFT foram associadas ao risco aumentado da necessidade
de atendimentos de emergência e hospitalização, por isso os esquemas complexos devem
ser monitorados. No entanto, nem sempre o grande número de medicamentos configura em
uma pontuação elevada, o que demostra que o instrumento vai além da simples quantifica-
ção da quantidade de medicamentos, pois as pontuações de cada seção apontam onde o
regime pode estar sendo complexo. É interessante que os profissionais sejam orientados a
adotar esta ferramenta a fim de poder orientar melhor os pacientes idosos e, assim, sempre
que possível, simplificar o regime a fim de garantir a adesão ao tratamento e segurança ao
paciente (MARGARIDA e SOFIA, 2014).

SEGURANÇA DO PACIENTE

Os medicamentos são prescritos com o objetivo de que seus benefícios superem seus
eventos adversos, proporcionem a recuperação, melhoria da qualidade de vida e bem-estar
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ao paciente. No entanto, estes medicamentos são muitas vezes identificados como fato-
res significativos e determinantes de morbimortalidade pelo grande impacto de seus even-
tos adversos no estado de saúde do paciente quando prescritos de forma inapropriada
(BÜRKLE et al., 2013).
A utilização de medicamentos inapropriados por idosos se constitui em um importante
problema de saúde pública, pois a sua prevalência varia entre 12 a 60%. Estes se constituem
como fatores de risco para a ocorrência de reações adversas e, consequentemente, para
o aumento do número de hospitalizações, mortalidade, não adesão ao tratamento e com o
aumento dos gastos com saúde (FASTBOM e JOHNELL, 2015).
O paciente geriátrico percorre um caminho extenso entre os níveis de saúde e espe-
cialidades médicas e, assim, a reconciliação terapêutica, o acompanhamento farmacotera-
pêutico e uma adequada dispensação se fazem necessários na tramitação entre os níveis
de cuidado. Deve-se analisar se o fármaco é potencialmente inapropriado e estar atento
às características clínicas particulares de cada idoso. É preciso tomar providências para
aumentar a segurança do paciente geriátrico, empregando ações de saúde que envolvam
os diversos profissionais, assim como criar medidas regulamentares como a elaboração de
formulários e sistemas de informática que possam unir a prescrição à dispensação, com aler-
tas que possam ser emitidos e alternativas seguras sugeridas (MOSCA e CORREIA, 2012).
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a segurança do paciente se
refere à redução dos riscos de danos desnecessários, relacionados à assistência em saúde
até um nível aceitável. É a base fundamental de sustentação do cuidado, envolvendo todos
os profissionais e processos ligados à assistência ao paciente (WHO, 2009).
O uso concomitante de medicamentos por idosos, embora em muitos casos imprescin-
dível para que todos os problemas de saúde sejam manejados, pode causar sérios danos
devido ao seu potencial de risco para o paciente. Por isso a polifarmácia tornou-se uma das
três categorias de prioridade do Terceiro Desafio Global de Segurança do Paciente, que
trouxe como tema a “Medicação sem danos” (em inglês, “Medication Without Harm”) com
a meta de reduzir danos ocasionados pelo medicamento em decorrência principalmente do
uso múltiplo (WHO, 2017).
A utilização de MPI exige uma prescrição criteriosa, uma abordagem sistemática por
parte do prescritor, sendo reforçada pelos farmacêuticos e outros responsáveis pelo cuidado
para otimizar o uso dos medicamentos (SCOTTI et al, 2015).
O Terceiro Desafio Global de Segurança ao Paciente - Medicação sem danos, tem
como principais objetivos minimizar danos evitáveis relacionados ao uso de medicamentos;
fortalecer sistemas de monitoramento para detecção desses problemas; e, ainda, envolver
países membros que devem instituir políticas e medidas públicas adequadas, inserir os

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profissionais, pacientes e seus cuidadores/familiares na decisão do tratamento e no reco-
nhecimento dos problemas relacionados ao medicamento. A meta era reduzir em 50% os
danos severos causados por medicamentos nos cinco anos seguintes à publicação, promo-
vendo melhorias em todos os estágios da medicação, desde os processos de produção à
prescrição, dispensação e monitoramento de uso (WHO, 2017). Atualmente, em 2023, não
foram encontrados dados sobre os resultados das medidas propostas.
Diante da relevância dos eventos adversos à saúde e da prioridade de se garantir a
segurança dos pacientes, desenvolver mecanismos de organização dos sistemas e servi-
ços de saúde no país se tornou necessário e, por isso, o Brasil, por meio do Ministério de
Estado da Saúde instituiu o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), por
meio da Portaria Nº 529, de 1º de Abril 2013 (DOU de 02/04/2013). O PNSP visa estimular
a qualificação do cuidado nos estabelecimentos de saúde do país, promovendo e apoiando
as ações direcionadas à segurança do paciente nos diversos níveis de atenção e gestão à
saúde, impulsionando a gestão de riscos e dos Núcleos de Segurança do Paciente (NSP)
nas instituições de saúde (Art.2º PNSP) (BRASIL, 2013).
Em 2013, com intuito de atuar na garantia da segurança do paciente, a Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (ANVISA) publicou a Resolução da Diretoria Colegiada - RDC Nº 36,
de 25 de Julho de 2013, para orientar as instituições de saúde quanto a instalação dos NSP,
instituir as ações para a promoção da segurança do paciente e a melhoria da qualidade nos
serviços de saúde. De acordo com esta RDC, os NSP são instâncias do serviço de saúde
criados para promover e apoiar a implementação de ações voltadas para à segurança do
paciente. Os NSP devem elaborar o Plano de Segurança do Paciente em Serviços de Saúde
(PSP) que deve estabelecer estratégias, ações de gestão de risco, segurança na prescrição,
uso e administração de medicamentos, entre outras ações (MS, 2013).
Outro importante fator a ser considerado quanto à segurança do paciente geriátrico
são as iatrogenias. Estas se constituem em qualquer tipo de modificação no estado de
saúde do paciente por meio das práticas de cuidado, realizada por qualquer profissional de
saúde, que possam ocasionar maiores complicações ao paciente em virtude de sua inter-
venção. Os pacientes geriátricos são mais suscetíveis a esse evento, pois são atendidos
sem que as particularidades da senescência e senilidade sejam consideradas e, por fim,
acabam sendo atendidos como qualquer paciente adulto (SILVA, OLIVEIRA e MAIA, 2018).
Uma nova estratégia de segurança quanto ao uso de medicamentos em idosos, cha-
mada de desprescrição, tem sido implantada a fim de reduzir os riscos de danos e também
tem sido utilizada para reduzir a polifarmácia e/ou minimizar seus danos. É um processo
de identificação, descontinuação de medicamentos desnecessários, sem eficiência e po-
tencialmente inapropriados, envolvendo o profissional e os pacientes. Essa nova estratégia

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deve respeitar os riscos e benefícios do medicamento, comorbidades, expectativa de vida e
sempre que possível, os fatores de preferência do paciente quanto ao tratamento, de modo
a favorecer sua adesão ao mesmo (SCOTTI et al, 2015).
A desprescrição de MPI tem sido fundamental para incentivar a busca de conhecimen-
tos e estratégias para assegurar uma terapia segura e monitorada aos idosos. No Canadá,
cerca de 60% dos idosos utilizam algum MPI, os custos decorrentes dessas prescrições
representam milhões de dólares devido ao grande número de quedas, fraturas, hospitaliza-
ções, confusão, cascatas iatrogênicas, demência e morte por lesões induzidas por elas. Esse
processo de desprescrição é planejado e envolve a redução ou suspensão do medicamento
que possa causar danos ou deixar de gerar benefícios (TANNENBAUM et al., 2017).
Para a adequação dos regimes medicamentosos cada prescrição deve ser revisada,
e assim identificar os MPI que podem ser interrompidos ou as melhores alternativas dispo-
níveis, para então decidir o esquema mais adequado e adaptado as condições do idoso, a
estratégia de monitoramento e suporte ao paciente, a fim de melhorar a segurança e eficácia
do tratamento (HAO, OMAR e TOHIT, 2018).

REFERÊNCIAS
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O USO DE FILTRO SOLAR POR IDOSOS LIGADOS
A UMA UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA
BRASIL

Maria Carolina de Aquino Vieira

Artigo original publicado em: 2018


Revista Kairós-Gerontologia - ISSN 3176-901X.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/230513066
RESUMO

O estudo realizou-se com 14 idosos de uma universidade do Vale do Paraíba, estado de São
Paulo, Brasil, objetivando investigar a frequência diária de uso do filtro solar; investigar qual
o conhecimento interiorizado acerca do uso contínuo e adequado, e se eles se consideram
suficientemente informados sobre proteção solar. Os resultados mostram que esses idosos
fazem uso frequente e adequado do filtro solar, justo por terem recebido orientação segura
de profissionais da saúde sobre a fotoproteção. Consideram eles dispor de conhecimentos
suficientes sobre o assunto, dentre outros quanto à regularidade de aplicação do fotoprote-
tor, inclusive em dias sem sol aparente e, mesmo antes de rápidas exposições, evitando-se
exposição em horários críticos de radiação. Ainda que se tenha considerado uma falha a
baixa frequência, no decorrer do dia, de reaplicação do filtro solar na pele, pelos idosos,
estes reconhecem que, de fato, seu uso deve ser visto como o mecanismo mais eficiente
para proteção da pele dos efeitos nocivos do sol, além do recomendado uso de óculos com
proteção UV. Por fim, registre-se que os estudos de fotoproteção precisam continuar, a fim
de se encontrarem e publicizarem novas ferramentas, especialmente para uma maior pro-
teção da fragilizada pele dos idosos, inclusive para a discussão sobre novos componentes
nos produtos e divulgação dos avanços tecnológicos que surgirem nessa área.

Palavras-chave: Fotoproteção da Pele, Filtro Solar, Radiação UV, Idosos.


INTRODUÇÃO

Muito se sabe, atualmente, sobre os benefícios dos raios solares para a saúde humana.
Eles são transmissores diretos de vitamina D, nutriente essencial para o bom funcionamen-
to do organismo, que atua no metabolismo de insulina, regulação de minerais, no sistema
imunológico, cardiovascular e músculo-esquelético, entre outras funções, sendo absorvi-
dos,em grande parte,pelo organismo através da luz solar (Oliveira, et al., 2014). No entanto,
o excesso de exposição aos raios solares ultravioletas (UV) é uma das maiores causas de
alterações cutâneas no organismo humano, como eritemas, edemas, hiperpigmentação,
fotoenvelhecimento e, a principal delas,a neoplasia (o câncer de pele) (Bardini, Lourenço,
Fissmer, 2012; Rizzati, Schneider, D’Orsi, 2011; Costa, 2017). O câncer de pele é conse-
quência da mutação do DNA humano e do processo inflamatório resultante da exposição
cumulativa aos raios UV (Bardini, Lourenço, Fissmer, 2012), sendo o tipo “não melanoma”
o mais frequente no Brasil (Rizzatti, Schneider, D’Orsi, 2011) e correspondente a 25% do
total de tumores malignos registrados no país, devido ao fato de a população se expor ao
sol de forma irracional e não fazer uso adequado dos “fotoprotetores” (Gonzaga, Nazari,
Bonessi, Andreotti, & Jorge, 2012).
A fotoproteção consiste em um conjunto de fatores que visam a amenizar os efeitos dos
raios UV sobre a pele, por meio do uso de equipamentos protetores como roupas, bonés,
guarda-sol (Gonzaga,Nazari, Bonessi, Andreotti, & Jorge, 2012; Rizzatti, Schneider, & D’Orsi,
2011) e, principalmente, com o uso do fotoprotetor tópico (filtro solar)que contém moléculas
ativas que absorvem ou refletem o UV, reduzindo a penetração dos raios ultravioletas solares
na pele, o que pode impedir o envelhecimento precoce da pele (Gonzaga,Nazari, Bonessi,
Andreotti, & Jorge, 2012).
O processo de envelhecimento da pele é concomitante ao processo de envelhecimento
cronológico do ser humano, e o maior número de alterações fisiológicas do tecido cutâneo
ocorrem durante a fase da terceira idade (Dutra,et al., 2013; Garbaccio, Ferreira, Pereira,
2016), e, por isso, ressalta-se que tal público requer maiores atenções em relação ao cui-
dado com sua pele.
Durante o processo de envelhecimento, o idoso apresenta inúmeras modificações
fisiológicas em seu tecido cutâneo, como uma barreira epitelial mais fraca contra fatores
externos, termorregulação insuficiente para lidar com o calor, diminuição da elasticidade,
entre outras (Garbaccio, Ferreira, Pereira, 2016), alterações que tornam sua pele mais
vulnerável e que sofre com fatores externos,como a luz solar. Somado ao processo natural
de envelhecimento cutâneo que acomete a população idosa, encontram-se os hábitos de
vida da velhice, como exposição ao sol pela manhã ou até mesmo o trabalho exposto ao
sol, segundo estudos realizados em Florianópolis por Rizzatti, Schneider e D’Orsi (2011),
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costumes que expõem a população idosa a altos índices de radiação UV e culminam no
envelhecimento dermatológico da pele.
O envelhecimento da pele, do ponto de vista dermatológico, segundo Garbaccio,
Ferreira e Pereira (2016, p. 46),

é causado por dois fenômenos distintos (intrínsecos e extrínsecos). O fenô-


meno intrínseco está relacionado aos efeitos cronológicos e genéticos na pele
e nos tecidos adjacentes, que se tornam desidratados, ásperos e flácidos. O
fenômeno extrínseco está vinculado a hábitos de vida e fatores ambientais.

Isso significa que os raios UV apresentam-se como potenciais comprometedores ex-


trínsecos da saúde da pele do idoso, posto que são considerados como os principais fatores
externos desencadeadores de neoplasias cutâneas e que se encontram em inúmeros fatores
ambientais, aos quais o segmento idoso se expõe diariamente(Cortez, et al., 2016). É, por-
tanto, de suma importância o uso dos fotoprotetores por esse público, sendo a fotoproteção
tópica apresentada como uma das mais eficazes, visto que permite a prevenção e diminuição
dos efeitos deletérios na saúde do idoso em seus diversos sistemas, inclusive o tegumentar
– que já se encontra fragilizado devido à idade avançada (Dutra,et al., 2013).
Para que a população idosa faça uso contínuo do filtro solar de forma eficiente,e tome
conhecimento sobre a eficácia de sua proteção, faz-se necessária uma competente orien-
tação preventiva,acerca da importância da fotoproteção tópica, no combate ao câncer de
pele (Gonzaga, Nazari, Bonessi, Andreotti, & Jorge, 2012).
Uma efetiva orientação deve ser feita sobre como realizara aplicação do filtro, a quan-
tidade a ser aplicada, os horários ideais de aplicação, as condições de armazenamento
(Cortez, et al., 2016), e sobreo fator de proteção solar (FPS) adequado a cada tipo de pele
- que deve ser de valor mínimo 15 (Rizzatti, Schneider, & D’Orsi, 2011).
No entanto, por meioda análise da literatura, sabe-se que muitos idosos ainda não
tomaram o devido conhecimento e preparo,acerca da importância e da aplicação do filtro
solar. Aplicação que deve ser diária,feita de modo correto, e incluir até mesmo os rápidos
períodos de exposição aguda ao sol (Bardini, Lourenço, & Fissmer, 2012).
Há falta de orientação adequada por parte de especialistas no assunto acerca do uso
corre todos protetores solares (Cortez,et al., 2016), assim como há falta de campanhas
educativas públicas e de o barateamento dos produtos,de modo que possibilite que todas
as pessoas os utilizem de forma habitual (Bardini, Lourenço, & Fissmer, 2012), assim como
de sua importância para uma vida saudável da pele.
A falta de orientação adequada deve ser vista como um entrave à saúde pública, visto
que a orientação acerca da relação entre sol e câncer de pele e a aplicação de filtros solares
é um dos assuntos de prevenção primária na saúde que deveria ser levada a todos (Bardini,

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Lourenço, & Fissmer, 2012), visando a reduzir a morbidade e aumentar a sobrevida das
pessoas(Rizzatti, Schneider, & D’Orsi, 2011),antes mesmo do aparecimento de doenças.
A orientação inadequada pode acarretar na afetação precoce da população idosa
por doenças de pele como o câncer, que, além de comprometer drasticamente a saúde do
próprio paciente, acarreta ainda altos custos ao Sistema Único de Saúde (SUS), fatos que
corroboram ainda mais a importância de medidas preventivas para que a população adquira
hábitos que evitem o surgimento de neoplasias e outras doenças de pele (Cortez, et al., 2016).
Segundo Dutra,et al.(2013), um grande número de idosos sequer conhece os termos “fo-
toenvelhecimento” e “fotoproteção”, o que evidencia ainda mais a falta de informação acerca
dos malefícios da exposição exagerada aos raios solares e os métodos de proteção a eles.
A despeito de toda essa problemática, segundo Godinho, Hossy, Niemeyer-Corbellini
e Ramos-e-Silva (2017, p. 244), as pessoas em geral vêm ficando a par do valor dos filtros
solares, como responsáveis por promover fotoproteção à sua pele,contra as,cada vez mais
potentes, radiações-ultravioleta; enfim, da necessidade imprescindível da fotoproteção,
sendo que, de fato,
o uso do protetor solar tem-se tornado hábito crescente nas últimas décadas. Um dado
que corrobora esse fato é o aumento de cerca de sete vezes na comercialização desses
produtos entre 1992 e 2002. A cada dia as pessoas se tornam mais conscientes da impor-
tância da fotoproteção na prevenção do fotoenvelhecimento e de lesões pré-malignas e
malignas foto induzidas.
Com base nisso, a indústria mundial, inclusive a brasileira,vem oferecendo um número
crescente de fotoprotetores com formulações diversas, adequadas a cada tipo de pele,e in-
vestindo na produção desses novos filtros solares, assim como fornecendo as informações
necessários para o uso, o que facilita a escolha e a adequação do fotoprotetor solara cada
idade ou geração.
Justamente tendo em vista a fotoproteção relativamente à geração longeva, é que o
objetivo deste estudo foi identificar se os frequentadores de uma instituição particular de
ensino do Vale do Paraíba, mais propriamente em um curso de acolhimento a idosos,se
estes fazem uso adequado do filtro solar e se possuem conhecimento acerca da importância
de um uso regular e orientado desse fotoprotetor.

METODOLOGIA

O estudo possui natureza descritiva, quantitativa e exploratória, realizado com idosos


de uma Instituição de Ensino Superior,localizada no Vale do Paraíba, frequentadores do
curso conhecido por FATI, Faculdade da Terceira Idade. A população do estudo foide 16

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idososentre61 até 86 anos de idade, sendo todos os participantes do sexo feminino, dado
que a frequência do curso se dá, quase na sua totalidade, por senhoras idosas.
Antecedendo a coleta de dados, o projeto de pesquisa foi encaminhado ao Comitê de
Ética e Pesquisa (CEP) do Centro Universitário Teresa D’Ávila, de forma a respeitar os pre-
ceitos éticos de pesquisa que envolvem seres humanos,de acordo com a lei466/12, sendo
aprovado pelo parecer número 2.567.475.
O instrumento para a coleta de dados consistiu em um questionário contendo 23 ques-
tões de múltipla escolha, envolvendo questões sobre: a idade da participante; sua cidade de
residência; etnia na qual se considerava inserida; presença ou não de histórico pessoal ou
familiar de câncer de pele; presença ou não de histórico familiar de outros tipos de câncer;
quadro presente ou passado de alergia a algum filtro solar; principal meio de divulgação por
onde tomou nota da importância da proteção solar; se já recebeu orientações gerais sobre
os filtros solares por parte de profissionais da saúde; se já participou de,ou observou, alguma
campanha pública que tratasse da importância do filtro solar; se tem conhecimento ou não
do termo “fotoproteção”; conhecimento ou não do termo “fotoenvelhecimento”; conhecimento
ou não da associação existente entre exposição solar e risco de câncer de pele; classifi-
cação do conhecimento acerca do uso adequado do filtro solar e seus benefícios à saúde
(classificados em “excelente”, “bom”, “regular” e “ruim”); acessibilidade ao preço dos filtros
solares disponíveis no mercado; se a aplicação do filtro solar é realizada em dias nublados
também ou apenas em dias ensolarados; principais regiões do corpo onde realiza a aplica-
ção; se o filtro solar é utilizado antes de exposições rápidas ou apenas antes de exposições
prolongadas ao sol; frequência de reaplicação; horários mais frequentes de exposição ao
sol no período da manhã e da tarde; qual o FPS mais utilizado; e quais os critérios levados
em conta ao adquirir algum filtro solar no mercado.
Foi oferecido a cada uma das participantes o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, sendo excluídas do estudo aquelas que não concordaram com o termo, ou
não se dispuseram a participar da pesquisa. Após a aplicação do questionário, as respostas
marcadas pelos participantes foram devidamente tabuladas em uma planilha Excel para a
análise dos dados. Os coeficientes média, mediana e moda foram calculados, a fim de es-
tabelecer os conceitos prevalentes entre os participantes envolvidos.
O estudo não envolveu qualquer tipo de risco para as participantes, visto que teve como
objetivo investigar e informar se haveria o uso adequado do filtro solar em alunos de curso
destinado ao acolhimento de idosos em universidade. A presenta apenas caráter informativo,
sem envolver experiências novas de aplicação de algum produto na pele.

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RESULTADOS

Os idosos envolvidos no estudo eram todos do sexo feminino, com uma média de idade
de 72 anos, todos habitantes da cidade de Lorena, SP.
Participaram 16 (100%) idosas sendo que 14 (87,5%) delas preencheram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), com duas delas (12,5%) não aderindo a esse
documento,quando tiveram seus dados afastados da pesquisa.
No que diz respeito às questões étnicas e aos antecedentes de saúde das participan-
tes, 12 (86%) delas declararam-se de etnia branca, sendo que uma (7%) declarou-se negra
e uma (7%), parda.
Sobre o histórico pessoal de câncer de pele, 13 (93%) idosas relataram não o apresen-
tar; 12 (86%) não apresentaram históricos de câncer de pele envolvendo familiares; enove
(64%) declararam ter ocorrências familiares de outros tipos de câncer.
Na questão referente à alergia atual,ou a quadros passados de alergia a algum filtro
solar, 12 (92,3%) participantes declararam não possuir,ou nunca ter apresentado,nenhum
tipo de alergia.
Em relação às perguntas envolvendo a divulgação sobre o assunto e os conhecimentos
sobre o uso do filtro solar, 11 (83%) participantes disseram obter conhecimento acerca da
importância do uso do fotoprotetor por meio de informações adquiridas de profissionais da
saúde, sendo que sete (54%) relataram já ter recebido as orientações adequadas sobre o
uso correto do filtro solar e detalhamentos sobre eles (condições de armazenamento, quan-
tidade ideal a ser aplicada, entre outros pontos) de especialistas da área.
De acordo com a média geral, sete (54%) disseram não ter feito parte,ou visto acon-
tecer,nenhuma campanha pública sobre a importância do uso do filtro solar. Também sete
(54%) declararam conhecer o termo “fotoproteção”, e oito (62,5%) desconheciam o termo
“fotoenvelhecimento”.
A associação entre a exposição exagerada ao sole o risco de câncer de pele era
conhecida por 13 (100% delas, dado que uma das 14 participantes não respondeu a essa
questão).Cinco (45,4%) classificaram o conhecimento geral acerca do uso adequado do
filtro solar como “regular”; e cinco (45,4%) como“bom”.
Em relação aos preços dos filtros solares no mercado, oito (61,5%) participantes clas-
sificaram os preços como acessíveis a elas.
Já na última parte do questionário, que diz respeito sobre a rotina de uso e os modos
de aplicação do protetor solar,12 (86%) relataram fazer uso tanto em dias nublados,quanto
em dias ensolarados; e13 (100% das que responderam, dado que uma das 14 participan-
tes não respondeu a essa questão),disseram aplicar principalmente na região do rosto,

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seguido de braços, o que assinalado por nove (69%) participantes; e colo, assinalado por
sete (54%) participantes.
Em relação aos períodos em que aplicam o filtro solar na pele, 12(92,3%das 13 que
responderam a essa questão) participantes disseram usar o filtro solar tanto antes de expo-
sições rápidas,quanto antes de exposições mais prolongadas ao sol, sendo que seis (43%)
disseram reaplicar o filtro solar mais de uma vez ao dia.
Sobre os horários de maior exposição ao sol, sete (50%) idosas referiram o horário das
10h,no período da manhã; cinco(35,5%),o horário das16h; e cinco (35,5%) ao das17h,no
período da tarde. O FPS mais utilizado foi o denumeração50, usado por cinco (36%) parti-
cipantes; e 60, usado também por cinco (36%) participantes.
Os critérios julgados como mais utilizados para a escolha do filtro solar foram a reco-
mendação por especialistas, sendo observada por oito (57%) idosas,e o FPS adequado para
cada tipo de pele, critério levado em conta também por oito (57%) idosas.

DISCUSSÃO

A prevalência, no presente estudo,de idosas de etnia branca evidencia a ne-


cessidade que estas têm de aplicar o filtro solar regularmente,visto que, segundo
Oliveira,et al.(2014), quanto menor a pigmentação da pele, menor a concentração de me-
lanina. Consequentemente,maiores serão os índices de radiações solares no organismo.
Resultados desse mesmo estudode Oliveira, realizado com 600 indivíduos – entre eles, 552
(92%) brancos, 31 (5,2%) pretos e 17 (2,8%) pardos - confirmaram a notável associação
existente entre a cor da pele branca com o maior número de relatos de danos provocados
pelo sol,do que em indivíduos pretos e pardos.
Gonzaga, Nazari, Bonessi, Andreotti eJorge (2012), assim como Rizzatti (2011),tam-
bém evidenciaram que indivíduos de pele mais clara apresentam maiores propensões de
apresentar doenças de pele,quando expostos ao sol de maneira descuidada.
Somado a esse fato,também deve considerar-se o processo natural de envelhecimen-
to da pele, que tornam o idoso mais vulnerável aos fatores externos,devido a sua barreira
epitelial normalmente mais fragilizada do que em pessoas mais jovens (Garbaccio, Ferreira,
& Pereira, 2016). A soma de fatores fenotípicos que facilitam efeitos nocivos do sol a um
tecido cutâneo já frágil ressalta o fato de que o público idoso requer maiores atenções em
relação ao cuidado com sua pele.
Um fator de grande importância, que também deve ser levado em conta ao analisar a
predisposição de um indivíduo a apresentar neoplasias de pele é o histórico familiar positivo
para essa doença, visto que fatores hereditários contribuem para a multiplicação de células
cancerígenas, quando estas são expostas à radiação solar intensa. Estudos de Oliveira, et al.
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(2014) revelaram a associação existente entre indivíduos brancos com histórico familiar de
câncer de pele e os casos adquiridos com a exposição exagerada ao sol, evidenciando-se
uma relação de 97,4% entre o histórico familiar positivo para o câncer de pele em pessoas
brancas que se expõem ao solde forma exagerada.
Além do histórico familiar,é importante salientar que os indivíduos com história pre-
gressa própria de câncer de pele também apresentam riscos para adquirir a doença, visto
que o histórico pessoal de câncer de pele é também um fator de risco por tornar a pele mais
fragilizada em relação às radiações solares(Vitor, et al., 2008).
Ainda que mais propensos a adquirir o câncer de pele, os indivíduos brancos e com
histórico de câncer familiar e/ou pessoal podem apresentar quadros de alergia a alguns tipos
de filtros solares, posto que apresentam baixa taxa de melanina como barreira que protege
a pele contra alguns dos compostos químicos presentes no fotoprotetor.
Em vista disso, Balogh, et al. (2011) concluíram que alguns fatores alergênicos antes
utilizados na fabricação dos filtros solares foram comumente retirados da sua composição, a
fim de reduzir os casos de fotoalergia por contato, fato que culminou em aparecimento cada
vez mais raro de dermatites causadas por algum filtro solar. A retirada de alguns compostos
químicos explica a quantidade cada vez menor de indivíduos que não apresentam nenhum
caso de alergia a filtros solares, contribuindo para uma maior procura da população,pelo
fato de o produto não oferecer riscos à saúde de nenhum comprador.
Para quea população tenha conhecimento acerca da proteção solar e faça uso corre-
to e adequado dos filtros solares, é importante ressaltar a necessidade de transmitir ade-
quadamente informações ao público em relação à proteção solar. O agente transmissor
das informações deve embasar todo o conhecimento a ser passado em bases científicas
consistentes para este fim, posto que fornecem informações mais seguras para serem for-
necidas ao público.
Seria interessante, portanto, que esses conhecimentos viessem via profissionais da
área da saúde especializados na área estética, de forma a orientar os indivíduos de forma
concisa e adequada, uma vez que apresentam embasamento científico e teórico mais pre-
parado para tratar do assunto,além de possuir bagagens de estudos mais aprofundados
sobre o tema, inclusive quanto a diferenças de uma geração a outra.
Resultados de estudos de Cortez, et al. (2016), realizados com 30 profissionais da
área da saúde envolvendo tecnólogos e técnicos em estética, fisioterapeutas e educadores
físicos,que trabalhavam em clínicas, centros de estética ou salões de beleza,eque atuam
na área de estética facial, demonstraram que os profissionais declararam orientar seus pa-
cientes acerca dos riscos e benefícios da exposição solar e do uso adequado do filtro. Esses
resultados demonstram o interesse desses profissionais na hora de transmitir informações

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corretas ao público, de forma a garantir um uso correto do fotoprotetor e prevenir futuras
complicações de pele.
Uma vez que as informações são transmitidas de forma confiável e adequada ao pú-
blico, por meio de profissionais devidamente capacitados, deve-se garantir, portanto,que os
cuidados relacionados ao modo de aplicação do produto no corpo e manutenção deste no
dia a dia foram adequadamente transmitidos.
Para transmitir as informações corretas ao público idoso, no entanto, deve-se levar em
conta a adequação da linguagem do profissional ao entendimento desse público específico,
de forma a estabelecer maiores vínculos com opúblico-alvo e garantir o entendimento deste
sobre o assunto tratado.
A adequação das informações transmitidas ao público idoso foi tratada por Garbaccio,
Ferreira e Pereira (2016), quando esses autores, além de considerarem a importância de se
explicar sobre os cuidados no manuseio do filtro solar de forma correta, julgaram importante
também adequar a transmissão de informações à realidade cultural do público idoso, para
que estas sejam efetivas e proporcionem saúde e bem-estar.
Os autores, que realizaram pesquisa diretamente com um público idoso, demonstra-
ram que muitos deles apresentavam resultados insatisfatórios em relação ao autocuidado
com a pele devido a informaçõesmal-compreendidas. A falta de compreensão adequada
resulta na falta de condutas que poderiam ser tomadas para retardar o envelhecimento da
pele do idoso, e o aparecimento de possíveis doenças do tecido epitelial. Faz-se necessá-
rio, portanto, ter em vista as peculiaridades do público idoso no momento de abordar cada
assunto, adequando a linguagem e os termos utilizados,afim de transmitir as informações
de forma clara, uma vez que alguns aspectos presentes na linguagem de jovens e adultos
nem sempre são reconhecidos pelo idosos à primeira vista.
Fazendo uso de forma adequada de orientação em saúde,ao público ao qual ela se
destina, verifica-se que uma alternativa viável para a realização de tal orientação aos cidadãos
acerca das peculiaridades do filtro solar,é a realização de campanhas públicas e eventos
que tratem sobre o assunto, uma vez que realizações desse porte conseguem atingir um
grande número de pessoa são mesmo tempo,e que podem sensibilizar,de forma consisten-
te,a população em relação à necessidade de se proteger dos raios solares.
Um estudo realizado na Austráliapor Vitor, et al. (2008)ressaltou a importância da rea-
lização de campanhas públicas sobreo assunto fotoproteção, evidenciando o impacto que
esses eventos conseguem causar no cotidiano dos indivíduos que deles participam.
Dada a posição geográfica do continente australiano, conhecido por receber intensa
radiação solar, os índices de câncer de pele são extremamente elevados, fato que motivou
a realização de campanhas e ações públicas por longos anos,com o intuito de sensibilizar

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a população quanto a importância da proteção às radiações solares. Como resultado das
campanhas realizadas, observou-se notável redução da exposição de indivíduos ao sol,
culminando também em menores casos de neoplasias de pele, corroborando a importância
da realização desse tipo de evento por parte dos órgãos de saúde.
Além disso, afim de ressaltar a importância das campanhas públicas,a Sociedade
Brasileira de Dermatologia (SBD) promoveu, no ano de 2012, a Campanha Nacional de
Prevenção ao Câncer da Pele (CNPCP),como divulgado por Bardini, Lourenço e Fissmer
(2012), na qual médicos dermatologistas examinaram gratuitamente a população,e orien-
tavam sobre hábitos de exposição ao sol, em postos de atendimentos na maioria dos
estados do país.
A iniciativa e a divulgação dos riscos da exposição solar pela mídia tendem a aumentar a
consciência do problema entre os brasileiros criando, pouco a pouco, um ambiente favorável
a iniciativas de prevenção cada vez mais precoces. No entanto, segundo os autores, apenas
14,7% declararam ter participado da campanha contra o câncer de pele realizada pela SDB,
resultado que demonstra que nem todos abraçaram a ideia de fazer parte do evento, não
demonstrando interesse em conhecer mais sobre o assunto. É importante salientar que, além
da realização de campanhas públicas, é necessário que estas consigam motivar o cidadão,
levando-o para participar dos eventos, de forma a adquirir o conhecimento necessário sobre
as temáticas que são disponibilizadas pelos órgãos de saúde.
Em relação aos assuntos a serem tratados nas campanhas públicas que são realizadas,
ressalta-se que estes devem visar a não somente abordar os termos popularmente conheci-
dos e já mencionados em propagandas sobre protetores solar, mas também alguns termos
mais técnicos relacionados a esse assunto da proteção solar. Com base na literatura, dois
termos técnicos destacaram-se por nem sempre serem de conhecimento do público idoso,
sendo eles o termo “fotoproteção” e “fotoenvelhecimento”.
A fotoproteção consiste no conjunto de fatores e medidas que podem ser tomados pelo
indivíduo,afim de protegê-lo do excesso de raios solares, enquanto o fotoenvelhecimento
consiste na exposição crônica aos raios solares, ocasionando alterações senis diversas e
susceptibilidade do indivíduo a neoplasias benignas ou malignas (Dutra, et al., 2013).Os
referidos conceitos permitem concluir que um complementa o outro,e, segundo Dutra, et al.
(2013), ambos são frequentemente abordados em propagandas que divulgam os filtros
solares. A falta de conhecimento dos termos, no entanto, pode fazer com o processo de
transmissão de conhecimento à população idosa seja prejudicado, interferindo na compreen-
são dos indivíduos sobre a atuação do filtro solar como fotoprotetor que impede o processo
de fotoenvelhecimento. Os termos mais técnicos devem ser abordados por profissionais da

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área da saúde de forma a clarificar as informações a esse público e garantir uma rotina de
uso mais eficaz do filtro solar.
Outro aspecto do assunto da fotoproteção que deve ser divulgado ao público durante
a transmissão das informações em campanhas públicas é a associação existente entre a
exposição ao sol e as maiores chances de aparecimento de quadros de câncer de pele. O co-
nhecimento dessa associação é fundamental para a sensibilização do público quanto ao
assunto, uma vez que o câncer consiste em um problema de saúde que acomete cada vez
maiores partes da população e que apresenta meios de tratamento delicados e agressivos.
Bardini, Lourenço e Fissmer (2012) realizaram estudos com 116 pacientes idosos do
setor de Dermatologia do Ambulatório Médico de Especialidades de Santa Catarina, com a
finalidade de evidenciar se esses pacientes estavam conscientes da associação entre ex-
posição ao sol e aparecimento de câncer de pele. Os pacientes foram questionados quanto
ao conhecimento, e o resultado do estudo demonstrou que 81% dos pacientes conheciam
a associação entre o sol e as doenças de pele relacionadas à exposição solar, o que revela
que muitos idosos já dispunham do devido conhecimento sobre a importância de se prevenir
a exposições excessivas ao sol como meio de combate ao câncer de pele.
Acerca da fotoproteção, é necessário orientar os participantes quanto à importância de
realizar a aplicação do filtro solar não só em dias aparentemente ensolarados, mas também
em dias mais nublados, visto que as radiações solares também se encontram presentes
mesmo sem o sol aparente.
Um estudo de Garbaccio, Ferreira e Pereira (2016), realizado com idosos moradores
de Arcos, município do Centro-Oeste de Minas Gerais, tratou dessa questão com esse
público. O estudo, no entanto, constatou,em seus resultados,que 89,2% dos idosos referiu
não aderir ao produto em dias sem sol aparente, o que revela um fato preocupante, já que
a pele do idoso requer maiores cuidados,devido aos processos fisiológicos que a tornam
normalmente enfraquecida.
Além do uso do filtro solar em dias nublados e ensolarados, deve-se preconizar que
os indivíduos devem fazer uso, além de antes de exposições prolongadas ao sol, também
antes de exposições por curto períodos de tempo, uma vez que, de acordo com Rizzatti,
Schneider e D’Orsi (2011), a exposição aos raios ultravioletas em curtos períodos também
colaboram para a acumulação progressiva de radiação ao longo da vida, podendo resultar
em quadros de câncer de pele.
Em relação ao tempo de exposição, Garbaccio, Ferreira e Pereira (2016) relatam que
o tempo ideal recomendado ao público idoso é de 10 a 20 minutos de 5% da superfície
corpórea, tempo este necessário para que a vitamina D seja sintetizada pelo organismo.

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Somada à frequência com a qual deve-se aplicar o filtro solar, deve-se inferir que os
locais corretos de aplicação desse cosmético são de suma importância na hora de se prote-
ger contra o sol, dado que certas regiões corporais exigem maiores cuidados por apresen-
tarem maior sensibilidade aos raios solares. Deve-se ressaltar que a pele do rosto e colo
são suscetíveis a maiores radiações por dois motivos importantes: 1) por localizarem-se na
parte superior do organismo, fato que os coloca mais próximo dos raios do sol; e 2) pelo
fato de estas regiões apresentarem o tecido epitelial mais sensível em relação às outras
regiões do corpo.
Estudo de Garbaccio, Ferreira e Pereira (2016),realizado com uma população idosa
do Centro-Oeste de Minas Gerais, entretanto, constatou que certas regiões do rosto são
por vezes pouco protegidas por esse público, como regiões do pescoço, couro cabeludo,
pavilhão auricular, olhos e testa, locais também sensíveis ao excesso de radiação solar.
Assim, a Associação Americana de Dermatologia preconiza que o uso de acessórios
sugere uma boa alternativa para promover a proteção desses locais do corpo, como bonés,
viseiras, óculos de sol e roupas com tecidos de fibra firmemente tecidas e de coloração es-
cura (pois apresentam naturalmente maior capacidade de proteção aos raios ultravioletas).
Outro fato importante acerca do uso do filtro solar é que se deve e levar em conta a sua
reaplicação durante o dia, que, como Garbaccio, Ferreira e Pereira (2016) demonstraram,
deve ser periódica, regular,para que haja a real efetividade do produto na pele.
Em relação ao intervalo de tempo entre cada reaplicação, segundo Cortez, et al. (2016),
esta deve ser realizada de 2 a 3 horas, e com 20 a 30 minutos de antecedência à exposição
ao sol, o que culminaria em aproximadamente quatro reaplicações durante o dia. A reapli-
cação faz-se necessária,uma vez que o indivíduo pode apresentar episódios como expo-
sição ao suor ou à água, que podem comprometer a capacidade do produto de proteger
consistentemente o corpo contra as radiações solares. O conhecimento dos idosos acerca
dessa importância da reaplicação poderia ser adquirido através de maiores repercussões
em massa do assunto.
A aplicação e reaplicação do filtro solar na pele, no entanto, permitem impactos mais
positivos quando, somado a esses fatores, o indivíduo evita expor-se ao sol em horários nos
quais a incidência dos raios solares é mais intensa e prejudicial à pele. Os horários conside-
rados como os mais críticos, com base na literatura de Garbaccio, Ferreira e Pereira (2016)
são aqueles compreendidos entre as 10h da manhã e as 16h da tarde, quando a radiação
UVB é mais intensa.
Ainda na visão dos autores, no entanto, caso haja exposição ao sol durante esses horá-
rios vistos como mais críticos, torna-se necessário, além do filtro solar, o uso de equipamentos

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que tragam a proteção necessária ao sol intenso como chapéus, óculos escuros, viseiras,
guarda-sol e boné.
Ainda sobre os horários mais críticos de exposição ao sol, Vitor, et al. (2008) concluem
que, durante o período compreendido entre as 10h e 16h,os raios ultravioletas atuam como
carcinogênios completos, corroborando a importância da prevenção à exposição solar des-
cuidada nesse período.
Os profissionais da saúde também devem orientar os participantes,durante as campa-
nhas,em relação aos fatores que devem ser preconizados na hora da escolha de um filtro
solar, ressaltando principalmente a importância de atentar-se ao FPS.
Com base na literatura, preconiza-se que FPS de valor mínimo de 15 é capaz de
fornecer proteção eficaz (Cortez, et al., 2016). É de senso comum na população,hoje em
dia,que, quanto maiores os valores de FPS, maior a proteção fornecida para combater os
efeitos dos raios solares na pele.
Entretanto, estudos deVitor,et al.(2008) colocaram em dúvida esse conhecimento acerca
do FPS. Os resultados apontaram para um certo “paradoxo fotoprotetor”,ao observarem que
aproximadamente 62,8% dos usuários de fatores altos de proteção solar sofreram algum
tipo de dano devido à exposição solar. Essa observação sugere que indivíduos usuários de
filtros solares com altos valores de FPS poderiam estar mais propensos às queimaduras
solares quando comparados aos que fazem uso de menores valores. Além disso, Cortez,
et al. (2016) concluíram que o filtro com FPS 25 bloqueia 96% da radiação solar, mostrando
que o uso de formulações com fatores de proteção superiores nem sempre é necessário,
pois o produto pode se tornar mais sensibilizante, devido aos constituintes da sua formula-
ção. Frente a isso, forma-se uma conclusão de certa forma duvidosa,em relação à proteção
solar eficaz fornecida pelos filtros solares de alto valor de FPS.
A recomendação de especialistas da área da saúde é de que o valor de FPS mais
adequado varia de acordo com o tom de pele, e que é um dos critérios que devem ser obser-
vados no momento de adquirir algum filtro solar no mercado,para oferecer proteção eficaz a
cada pele. Essa posição dos especialistas pôde ser demonstrada através de resultados de
Cortez, et al. (2016), quando especialistas da área da estética revelaram que os profissionais
que estudam sobre a pele analisam não só o FPS, mas também os ativos presentes em sua
composição, sua textura na pele,e a marca, orientando que a qualidade do fotoprotetor é
determinada pelo valor do FPS e por meio das características físico-químicas da formulação.
Tais características garantem que o produto se espalhe melhor e apresente boa resistência
à água, maximizando o seu efeito protetor.
O conhecimento satisfatório e a aplicação adequada do filtro solar regularmente na
pele é de suma importância, portanto, para a preservação do envelhecimento precoce desse

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tecido. No entanto, quando se trata do acesso aos fotoprotetores no Brasil, observa-se que
muitos desses produtos apresentam preços elevados no mercado, fato que pode apresentar
certo impasse na hora da aquisição do produto pela população.
Estudos de Rizzatti, Schneider e D’Orsi (2011) constataram esse fato, o que impede que
a população de menor renda consiga fazer uso do filtro solar no dia a dia, pois, segundo os
autores, no Brasil, o filtro solar ainda é um produto de alto custo por receber a classificação
de cosmético, e que,por isso,tem seu preço elevado,devido a taxações impostas, tornando
o produto inacessível à população de menor renda.
Em vista dos altos preços, para garantir o acesso ao filtro solar de todos,os profissionais
da saúde responsáveis por ministrar as campanhas públicas poderiam propor meios que
visassem a pressionar as indústrias e o mercado,para abaixarem o preço dos filtros solares
no Brasil, de forma a torná-los mais acessíveis a todas as camadas da população.
Um exemplo de sensibilização pública que culminou com a redução de preços dos
filtros solares pôde ser observada na Austrália há mais de 20 anos, como demonstrado por
Rizzatti, Schneider e D’Orsi (2011). Conhecido como “SunSmart”, o objetivo do programa
australiano foi de pressionar o governo para a diminuição dos preços do filtro solar,junto a
campanhas de conscientização da população em relação a seu uso, resultando em uma
diminuição significativa dos preços,após a pressão popular.
Assim sendo, a transmissão correta, abrangente e adequada de informações ao público
idoso acercados termos relacionados ao assunto da fotoproteção,pode contribuir, portanto,
para um maior esclarecimento sobre o assunto, aumentando o nível de conhecimento da
população acerca desse tema.
É de suma importância que todo o indivíduo, após receber as orientações gerais sobre o
filtro solar, tenha a consciência de que tomou nota adequadamente de toda informação aele
transmitida, e que julgue seu próprio nível de conhecimento sobre o assunto–classificando
se os conceitos a ele transmitidos foram satisfatórios ou não.
A prevalência da classificação do próprio conhecimento como “regular” e “bom”, no
presente estudo,demonstra que o público idoso julga ter tomado nota ao menos das con-
dições mínimas de uso adequado do filtro solar,culminado em uso adequado do cosmé-
tico no dia a dia.
Garbaccio, Ferreira e Pereira (2016) demonstraram que a avaliação do autoconheci-
mento acerca do uso do filtro solar pelo próprio indivíduo reflete como fator que demonstra
se as informações recebidas pelos idosos foram competentes e precisas, permitindo o uso
correto do fotoprotetor.

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CONCLUSÃO

A área da fotoproteção, especialmente no caso das pessoas idosas, vem recebendo,


nos últimos anos, um olhar mais cuidadoso por parte dos estudiosos do envelhecimento e
da velhice, verificando-se aumento da pesquisa e novas investigações, por exemplo, sobre
o câncer de pele e sobre o envelhecimento cutâneo, devido principalmente às preocupações
em nível mundial sobre a diminuição da camada de ozônio e sobre as mudanças climáticas
sofridas pelo nosso planeta.
A observação dos resultados encontrados neste estudo permite concluir que os idosos
participantes fazem uso frequente de filtro solar, posto que não apresentam nenhum tipo de
impedimento ao uso recorrente desse protetor, como quadros alérgicos ou que preços altos
possam inviabilizar esse recurso.
A aplicação do produto na pele vem sendo realizada também em dias sem sol apa-
rente,tal como é recomendado, e antes de rápidas exposições, além de esses participantes
idosos evitarem expor-se ao sol em horários mais críticos de radiação. De fato, o uso do
protetor solar é o mecanismo mais utilizado para proteger a pele dos efeitos nocivos causados
pelo sol. Foi considerado também como essencial o uso de óculos com proteção UV para
proteger os olhos, o que garante ser uma boa estratégia a ser assumida pelos idosos.
Embora tenha sido considerado uma falha, no uso do fotoprotetor, a baixa frequência
de reaplicação desse produto na pele,durante o dia,por esses participantes idosos, pôde-se
verificar que os conhecimentos acerca do assunto da fotoproteção pode-se dizer que têm
sido adequados, posto que os participantes deste estudo declararam ter recebido orienta-
ções advindas de especialistas da área da saúde. Orientações estas que trataram do uso
efetivo do protetor solar, das formas corretas de armazenamento do produto, do FPS ideal
para cada tipo de pele,e dos critérios que devem ser levados em conta na hora da escolha/
aquisição de um fotoprotetor.
Desse modo, o autoconhecimento acerca do assunto da fotoproteção foi considerado
satisfatório na percepção das participantes deste estudo, que o classificaram como “regu-
lar”e “bom”, corroborando os resultados positivos acerca do uso do filtro solar demonstrados
neste estudo. Como limitação deste estudo, o que poderá ser realizado em uma próxima
pesquisa, é a inclusão de participantes do sexo masculino.
Por fim, é de se registrar que os estudos nesta área da fotoproteção precisam conti-
nuar,a fim de se encontrarem e publicizarem novas ferramentas, especialmente para uma
maior proteção da fragilizada pele dos idosos,inclusive para a discussão e divulgação de
novos avanços tecnológicos que surgirem nessa área.

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O USO DE FILTRO SOLAR POR IDOSOS LIGADOS
A UMA UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA,
BRASIL

Claudia Araújo
(UNIFATEA)

Maria Carolina Vieira


(UNIFATEA)

Artigo original publicado em: 2018


Revista Kairós-Gerontologia - ISSN 1516-2567.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/230513101
RESUMO

O estudo realizou-se com 14 idosos de uma universidade do Vale do Paraíba, estado de São
Paulo, Brasil, objetivando investigar a frequência diária de uso do filtro solar; investigar qual
o conhecimento interiorizado acerca do uso contínuo e adequado, e se eles se consideram
suficientemente informados sobre proteção solar. Os resultados mostram que esses idosos
fazem uso frequente e adequado do filtro solar, justo por terem recebido orientação segura
de profissionais da saúde sobre a fotoproteção. Consideram eles dispor de conhecimentos
suficientes sobre o assunto, dentre outros quanto à regularidade de aplicação do fotoprote-
tor, inclusive em dias sem sol aparente e, mesmo antes de rápidas exposições, evitando-se
exposição em horários críticos de radiação. Ainda que se tenha considerado uma falha a
baixa frequência, no decorrer do dia, de reaplicação do filtro solar na pele, pelos idosos,
estes reconhecem que, de fato, seu uso deve ser visto como o mecanismo mais eficiente
para proteção da pele dos efeitos nocivos do sol, além do recomendado uso de óculos com
proteção UV. Por fim, registre-se que os estudos de fotoproteção precisam continuar, a fim
de se encontrarem e publicizarem novas ferramentas, especialmente para uma maior pro-
teção da fragilizada pele dos idosos, inclusive para a discussão sobre novos componentes
nos produtos e divulgação dos avanços tecnológicos que surgirem nessa área.

Palavras-chave: Fotoproteção de Pele, Filtro Solar, Radiação UV, Idosos.


INTRODUÇÃO

Muito se sabe, atualmente, sobre os benefícios dos raios solares para a saúde humana.
Eles são transmissores diretos de vitamina D, nutriente essencial para o bom funcionamen-
to do organismo, que atua no metabolismo de insulina, regulação de minerais, no sistema
imunológico, cardiovascular e músculo-esquelético, entre outras funções, sendo absorvidos,
em grande parte, pelo organismo através da luz solar (Oliveira, et al., 2014). No entanto,
o excesso de exposição aos raios solares ultravioletas (UV) é uma das maiores causas de
alterações cutâneas no organismo humano, como eritemas, edemas, hiperpigmentação,
fotoenvelhecimento e, a principal delas, a neoplasia (o câncer de pele) (Bardini, Lourenço,
Fissmer, 2012; Rizzati, Schneider, D’Orsi, 2011; Costa, 2017). O câncer de pele é conse-
quência da mutação do DNA humano e do processo inflamatório resultante da exposição
cumulativa aos raios UV (Bardini, Lourenço, Fissmer, 2012), sendo o tipo “não melanoma”
o mais frequente no Brasil (Rizzatti, Schneider, D’Orsi, 2011) e correspondente a 25% do
total de tumores malignos registrados no país, devido ao fato de a população se expor ao
sol de forma irracional e não fazer uso adequado dos “fotoprotetores” (Gonzaga, Nazari,
Bonessi, Andreotti, & Jorge, 2012).
A fotoproteção consiste em um conjunto de fatores que visam a amenizar os efeitos
dos raios UV sobre a pele, por meio do uso de equipamentos protetores como roupas, bo-
nés, guarda-sol (Gonzaga, Nazari, Bonessi, Andreotti, & Jorge, 2012; Rizzatti, Schneider,
& D’Orsi, 2011) e, principalmente, com o uso do fotoprotetor tópico (filtro solar) que contém
moléculas ativas que absorvem ou refletem o UV, reduzindo a penetração dos raios ultra-
violetas solares na pele, o que pode impedir o envelhecimento precoce da pele (Gonzaga,
Nazari, Bonessi, Andreotti, & Jorge, 2012).
O processo de envelhecimento da pele é concomitante ao processo de envelhecimento
cronológico do ser humano, e o maior número de alterações fisiológicas do tecido cutâneo
ocorrem durante a fase da terceira idade (Dutra, et al., 2013; Garbaccio, Ferreira, Pereira,
2016), e, por isso, ressalta-se que tal público requer maiores atenções em relação ao cui-
dado com sua pele.
Durante o processo de envelhecimento, o idoso apresenta inúmeras modificações
fisiológicas em seu tecido cutâneo, como uma barreira epitelial mais fraca contra fatores
externos, termorregulação insuficiente para lidar com o calor, diminuição da elasticidade,
entre outras (Garbaccio, Ferreira, Pereira, 2016), alterações que tornam sua pele mais vul-
nerável e que sofre com fatores externos, como a luz solar. Somado ao processo natural
de envelhecimento cutâneo que acomete a população idosa, encontram- se os hábitos de
vida da velhice, como exposição ao sol pela manhã ou até mesmo o trabalho exposto ao
sol, segundo estudos realizados em Florianópolis por Rizzatti, Schneider e D’Orsi (2011),
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costumes que expõem a população idosa a altos índices de radiação UV e culminam no
envelhecimento dermatológico da pele.
O envelhecimento da pele, do ponto de vista dermatológico, segundo Garbaccio,
Ferreira e Pereira (2016, p. 46),

é causado por dois fenômenos distintos (intrínsecos e extrínsecos). O fenô-


meno intrínseco está relacionado aos efeitos cronológicos e genéticos na pele
e nos tecidos adjacentes, que se tornam desidratados, ásperos e flácidos. O
fenômeno extrínseco está vinculado a hábitos de vida e fatores ambientais.

Isso significa que os raios UV apresentam-se como potenciais comprometedores ex-


trínsecos da saúde da pele do idoso, posto que são considerados como os principais fatores
externos desencadeadores de neoplasias cutâneas e que se encontram em inúmeros fatores
ambientais, aos quais o segmento idoso se expõe diariamente (Cortez, et al., 2016). É, por-
tanto, de suma importância o uso dos fotoprotetores por esse público, sendo a fotoproteção
tópica apresentada como uma das mais eficazes, visto que permite a prevenção e diminuição
dos efeitos deletérios na saúde do idoso em seus diversos sistemas, inclusive o tegumentar
– que já se encontra fragilizado devido à idade avançada (Dutra, et al., 2013).
Para que a população idosa faça uso contínuo do filtro solar de forma eficiente, e tome
conhecimento sobre a eficácia de sua proteção, faz-se necessária uma competente orien-
tação preventiva, acerca da importância da fotoproteção tópica, no combate ao câncer de
pele (Gonzaga, Nazari, Bonessi, Andreotti, & Jorge, 2012).
Uma efetiva orientação deve ser feita sobre como realizar a aplicação do filtro, a quan-
tidade a ser aplicada, os horários ideais de aplicação, as condições de armazenamento
(Cortez, et al., 2016), e sobre o fator de proteção solar (FPS) adequado a cada tipo de pele
- que deve ser de valor mínimo 15 (Rizzatti, Schneider, & D’Orsi, 2011).
No entanto, por meio da análise da literatura, sabe-se que muitos idosos ainda não
tomaram o devido conhecimento e preparo, acerca da importância e da aplicação do filtro
solar. Aplicação que deve ser diária, feita de modo correto, e incluir até mesmo os rápidos
períodos de exposição aguda ao sol (Bardini, Lourenço, & Fissmer, 2012).
Há falta de orientação adequada por parte de especialistas no assunto acerca do uso
correto dos protetores solares (Cortez, et al., 2016), assim como há falta de campanhas
educativas públicas e deo barateamento dos produtos, de modo que possibilite que todas
as pessoas os utilizem de forma habitual (Bardini, Lourenço, & Fissmer, 2012), assim como
de sua importância para uma vida saudável da pele.
A falta de orientação adequada deve ser vista como um entrave à saúde pública, visto
que a orientação acerca da relação entre sol e câncer de pele e a aplicação de filtros solares
é um dos assuntos de prevenção primária na saúde que deveria ser levada a todos (Bardini,

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Lourenço, & Fissmer, 2012), visando a reduzir a morbidade e aumentar a sobrevida das
pessoas (Rizzatti, Schneider, & D’Orsi, 2011), antes mesmo do aparecimento de doenças.
A orientação inadequada pode acarretar na afetação precoce da população idosa
por doenças de pele como o câncer, que, além de comprometer drasticamente a saúde do
próprio paciente, acarreta ainda altos custos ao Sistema Único de Saúde (SUS), fatos que
corroboram ainda mais a importância de medidas preventivas para que a população adquira
hábitos que evitem o surgimento de neoplasias e outras doenças de pele (Cortez, et al., 2016).
Segundo Dutra, et al. (2013), um grande número de idosos sequer conhece os termos
“fotoenvelhecimento” e “fotoproteção”, o que evidencia ainda mais a falta de informação acer-
ca dos malefícios da exposição exagerada aos raios solares e os métodos de proteção a eles.
A despeito de toda essa problemática, segundo Godinho, Hossy, Niemeyer- Corbellini
e Ramos-e-Silva (2017, p. 244), as pessoas em geral vêm ficando a par do valor dos filtros
solares, como responsáveis por promover fotoproteção à sua pele, contra as, cada vez mais
potentes, radiações-ultravioleta; enfim, da necessidade imprescindível da fotoproteção,
sendo que, de fato,

o uso do protetor solar tem-se tornado hábito crescente nas últimas décadas.
Um dado que corrobora esse fato é o aumento de cerca de sete vezes na
comercialização desses produtos entre 1992 e 2002. A cada dia as pessoas
se tornam mais conscientes da importância da fotoproteção na prevenção do
fotoenvelhecimento e de lesões pré- malignas e malignas fotoinduzidas.

Com base nisso, a indústria mundial, inclusive a brasileira, vem oferecendo um número
crescente de fotoprotetores com formulações diversas, adequadas a cada tipo de pele, e
investindo na produção desses novos filtros solares, assim como fornecendo as informações
necessários para o uso, o que facilita a escolha e a adequação do fotoprotetor solar a cada
idade ou geração.
Justamente tendo em vista a fotoproteção relativamente à geração longeva, é que o
objetivo deste estudo foi identificar se os frequentadores de uma instituição particular de
ensino do Vale do Paraíba, mais propriamente em um curso de acolhimento a idosos, se
estes fazem uso adequado do filtro solar e se possuem conhecimento acerca da importância
de um uso regular e orientado desse fotoprotetor.

METODOLOGIA

O estudo possui natureza descritiva, quantitativa e exploratória, realizado com idosos


de uma Instituição de Ensino Superior, localizada no Vale do Paraíba, frequentadores do
curso conhecido por FATI, Faculdade da Terceira Idade.

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A população do estudo foi de 16 idosos entre 61 até 86 anos de idade, sendo todos
os participantes do sexo feminino, dado que a frequência do curso se dá, quase na sua
totalidade, por senhoras idosas.
Antecedendo a coleta de dados, o projeto de pesquisa foi encaminhado ao Comitê
de Ética e Pesquisa (CEP) do Centro Universitário Teresa D’Ávila, de forma a respeitar os
preceitos éticos de pesquisa que envolvem seres humanos, de acordo com a lei 466/12,
sendo aprovado pelo parecer número 2.567.475.
O instrumento para a coleta de dados consistiu em um questionário contendo 23 ques-
tões de múltipla escolha, envolvendo questões sobre: a idade da participante; sua cidade de
residência; etnia na qual se considerava inserida; presença ou não de histórico pessoal ou
familiar de câncer de pele; presença ou não de histórico familiar de outros tipos de câncer;
quadro presente ou passado de alergia a algum filtro solar; principal meio de divulgação por
onde tomou nota da importância da proteção solar; se já recebeu orientações gerais sobre os
filtros solares por parte de profissionais da saúde; se já participou de, ou observou, alguma
campanha pública que tratasse da importância do filtro solar; se tem conhecimento ou não
do termo “fotoproteção”; conhecimento ou não do termo “fotoenvelhecimento”; conhecimento
ou não da associação existente entre exposição solar e risco de câncer de pele; classifi-
cação do conhecimento acerca do uso adequado do filtro solar e seus benefícios à saúde
(classificados em “excelente”, “bom”, “regular” e “ruim”); acessibilidade ao preço dos filtros
solares disponíveis no mercado; se a aplicação do filtro solar é realizada em dias nublados
também ou apenas em dias ensolarados; principais regiões do corpo onde realiza a aplica-
ção; se o filtro solar é utilizado antes de exposições rápidas ou apenas antes de exposições
prolongadas ao sol; frequência de reaplicação; horários mais frequentes de exposição ao
sol no período da manhã e da tarde; qual o FPS mais utilizado; e quais os critérios levados
em conta ao adquirir algum filtro solar no mercado.
Foi oferecido a cada uma das participantes o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, sendo excluídas do estudo aquelas que não concordaram com o termo, ou
não se dispuseram a participar da pesquisa. Após a aplicação do questionário, as respostas
marcadas pelos participantes foram devidamente tabuladas em uma planilha Excel para a
análise dos dados. Os coeficientes média, mediana e moda foram calculados, a fim de es-
tabelecer os conceitos prevalentes entre os participantes envolvidos.
O estudo não envolveu qualquer tipo de risco para as participantes, visto que teve como
objetivo investigar e informar se haveria o uso adequado do filtro solar em alunos de curso
destinado ao acolhimento de idosos em universidade. Apresenta apenas caráter informativo,
sem envolver experiências novas de aplicação de algum produto na pele.

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RESULTADOS

Os idosos envolvidos no estudo eram todos do sexo feminino, com uma média de idade
de 72 anos, todos habitantes da cidade de Lorena, SP.
Participaram 16 (100%) idosas sendo que 14 (87,5%) delas preencheram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), com duas delas (12,5%) não aderindo a esse
documento, quando tiveram seus dados afastados da pesquisa.
No que diz respeito às questões étnicas e aos antecedentes de saúde das participan-
tes, 12 (86%) delas declararam-se de etnia branca, sendo que uma (7%) declarou-se negra
e uma (7%, parda.
Sobre o histórico pessoal de câncer de pele, 13 (93%) idosas relataram não o apre-
sentar; 12 (86%) não apresentaram históricos de câncer de pele envolvendo familiares; e
nove (64%) declararam ter ocorrências familiares de outros tipos de câncer.
Na questão referente à alergia atual, ou a quadros passados de alergia a algum filtro
solar, 12 (92,3%) participantes declararam não possuir, ou nunca ter apresentado, nenhum
tipo de alergia.
Em relação às perguntas envolvendo a divulgação sobre o assunto e os conhecimentos
sobre o uso do filtro solar, 11 (83%) participantes disseram obter conhecimento acerca da
importância do uso do fotoprotetor por meio de informações adquiridas de profissionais da
saúde, sendo que sete (54%) relataram já ter recebido as orientações adequadas sobre o
uso correto do filtro solar e detalhamentos sobre eles (condições de armazenamento, quan-
tidade ideal a ser aplicada, entre outros pontos) de especialistas da área.
De acordo com a média geral, sete (54%) disseram não ter feito parte, ou visto acon-
tecer, nenhuma campanha pública sobre a importância do uso do filtro solar.
Também sete (54%) declararam conhecer o termo “fotoproteção”, e oito (62,5%) des-
conheciam o termo “fotoenvelhecimento”.
A associação entre a exposição exagerada ao sol e o risco de câncer de pele era
conhecida por 13 (100% delas, dado que uma das 14 participantes não respondeu a essa
questão). Cinco (45,4%) classificaram o conhecimento geral acerca do uso adequado do
filtro solar como “regular”; e cinco (45,4%) como “bom”.
Em relação aos preços dos filtros solares no mercado, oito (61,5%) participantes clas-
sificaram os preços como acessíveis a elas.
Já na última parte do questionário, que diz respeito sobre a rotina de uso e os modos
de aplicação do protetor solar, 12 (86%) relataram fazer uso tanto em dias nublados, quanto
em dias ensolarados; e 13 (100% das que responderam, dado que uma das 14 participan-
tes não respondeu a essa questão), disseram aplicar principalmente na região do rosto,

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seguido de braços, o que assinalado por nove (69%) participantes; e colo, assinalado por
sete (54%) participantes.
Em relação aos períodos em que aplicam o filtro solar na pele, 12 (92,3% das 13 que
responderam a essa questão) participantes disseram usar o filtro solar tanto antes de expo-
sições rápidas, quanto antes de exposições mais prolongadas ao sol, sendo que seis (43%)
disseram reaplicar o filtro solar mais de uma vez ao dia.
Sobre os horários de maior exposição ao sol, sete (50%) idosas referiram o horário
das 10h, no período da manhã; cinco (35,5%), o horário das 16h; e cinco (35,5%) ao das
17h, no período da tarde.
O FPS mais utilizado foi o de numeração 50, usado por cinco (36%) participantes; e
60, usado também por cinco (36%) participantes. Os critérios julgados como mais utilizados
para a escolha do filtro solar foram a recomendação por especialistas, sendo observada
por oito (57%) idosas, e o FPS adequado para cada tipo de pele, critério levado em conta
também por oito (57%) idosas.

DISCUSSÃO

A prevalência, no presente estudo, de idosas de etnia branca evidencia a necessidade


que estas têm de aplicar o filtro solar regularmente, visto que, segundo Oliveira, et al. (2014),
quanto menor a pigmentação da pele, menor a concentração de melanina.
Consequentemente, maiores serão os índices de radiações solares no organismo.
Resultados desse mesmo estudo de Oliveira, realizado com 600 indivíduos – entre eles, 552
(92%) brancos, 31 (5,2%) pretos e 17 (2,8%) pardos - confirmaram a notável associação
existente entre a cor da pele branca com o maior número de relatos de danos provocados
pelo sol, do que em indivíduos pretos e pardos.
Gonzaga, Nazari, Bonessi, Andreotti e Jorge (2012), assim como Rizzatti (2011), tam-
bém evidenciaram que indivíduos de pele mais clara apresentam maiores propensões de
apresentar doenças de pele, quando expostos ao sol de maneira descuidada.
Somado a esse fato, também deve considerar-se o processo natural de envelhecimen-
to da pele, que tornam o idoso mais vulnerável aos fatores externos, devido a sua barreira
epitelial normalmente mais fragilizada do que em pessoas mais jovens (Garbaccio, Ferreira,
& Pereira, 2016). A soma de fatores fenotípicos que facilitam efeitos nocivos do sol a um
tecido cutâneo já frágil ressalta o fato de que o público idoso requer maiores atenções em
relação ao cuidado com sua pele.
Um fator de grande importância, que também deve ser levado em conta ao analisar a
predisposição de um indivíduo a apresentar neoplasias de pele é o histórico familiar positivo
para essa doença, visto que fatores hereditários contribuem para a multiplicação de células
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cancerígenas, quando estas são expostas à radiação solar intensa. Estudos de Oliveira, et al.
(2014) revelaram a associação existente entre indivíduos brancos com histórico familiar de
câncer de pele e os casos adquiridos com a exposição exagerada ao sol, evidenciando-se
uma relação de 97,4% entre o histórico familiar positivo para o câncer de pele em pessoas
brancas que se expõem ao sol de forma exagerada.
Além do histórico familiar, é importante salientar que os indivíduos com história pre-
gressa própria de câncer de pele também apresentam riscos para adquirir a doença, visto
que o histórico pessoal de câncer de pele é também um fator de risco por tornar a pele mais
fragilizada em relação às radiações solares (Vitor, et al., 2008).
Ainda que mais propensos a adquirir o câncer de pele, os indivíduos brancos e com
histórico de câncer familiar e/ou pessoal podem apresentar quadros de alergia a alguns tipos
de filtros solares, posto que apresentam baixa taxa de melanina como barreira que protege
a pele contra alguns dos compostos químicos presentes no fotoprotetor.
Em vista disso, Balogh, et al. (2011) concluíram que alguns fatores alergênicos antes
utilizados na fabricação dos filtros solares foram comumente retirados da sua composição, a
fim de reduzir os casos de fotoalergia por contato, fato que culminou em aparecimento cada
vez mais raro de dermatites causadas por algum filtro solar. A retirada de alguns compostos
químicos explica a quantidade cada vez menor de indivíduos que não apresentam nenhum
caso de alergia a filtros solares, contribuindo para uma maior procura da população, pelo
fato de o produto não oferecer riscos à saúde de nenhum comprador.
Para que a população tenha conhecimento acerca da proteção solar e faça uso cor-
reto e adequado dos filtros solares, é importante ressaltar a necessidade de transmitir ade-
quadamente informações ao público em relação à proteção solar. O agente transmissor
das informações deve embasar todo o conhecimento a ser passado em bases científicas
consistentes para este fim, posto que fornecem informações mais seguras para serem for-
necidas ao público.
Seria interessante, portanto, que esses conhecimentos viessem via profissionais da
área da saúde especializados na área estética, de forma a orientar os indivíduos de forma
concisa e adequada, uma vez que apresentam embasamento científico e teórico mais pre-
parado para tratar do assunto, além de possuir bagagens de estudos mais aprofundados
sobre o tema, inclusive quanto a diferenças de uma geração a outra.
Resultados de estudos de Cortez, et al. (2016), realizados com 30 profissionais da
área da saúde envolvendo tecnólogos e técnicos em estética, fisioterapeutas e educadores
físicos, que trabalhavam em clínicas, centros de estética ou salões de beleza, e que atuam
na área de estética facial, demonstraram que os profissionais declararam orientar seus pa-
cientes acerca dos riscos e benefícios da exposição solar e do uso adequado do filtro. Esses

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resultados demonstram o interesse desses profissionais na hora de transmitir informações
corretas ao público, de forma a garantir um uso correto do fotoprotetor e prevenir futuras
complicações de pele.
Uma vez que as informações são transmitidas de forma confiável e adequada ao pú-
blico, por meio de profissionais devidamente capacitados, deve-se garantir, portanto, que
os cuidados relacionados ao modo de aplicação do produto no corpo e manutenção deste
no dia a dia foram adequadamente transmitidos.
Para transmitir as informações corretas ao público idoso, no entanto, deve-se levar em
conta a adequação da linguagem do profissional ao entendimento desse público específico,
de forma a estabelecer maiores vínculos com o público-alvo e garantir o entendimento deste
sobre o assunto tratado.
A adequação das informações transmitidas ao público idoso foi tratada por Garbaccio,
Ferreira e Pereira (2016), quando esses autores, além de considerarem a importância de se
explicar sobre os cuidados no manuseio do filtro solar de forma correta, julgaram importante
também adequar a transmissão de informações à realidade cultural do público idoso, para
que estas sejam efetivas e proporcionem saúde e bem- estar.
Os autores, que realizaram pesquisa diretamente com um público idoso, demonstra-
ram que muitos deles apresentavam resultados insatisfatórios em relação ao autocuidado
com a pele devido a informações mal-compreendidas. A falta de compreensão adequada
resulta na falta de condutas que poderiam ser tomadas para retardar o envelhecimento da
pele do idoso, e o aparecimento de possíveis doenças do tecido epitelial. Faz-se necessá-
rio, portanto, ter em vista as peculiaridades do público idoso no momento de abordar cada
assunto, adequando a linguagem e os termos utilizados, a fim de transmitir as informações
de forma clara, uma vez que alguns aspectos presentes na linguagem de jovens e adultos
nem sempre são reconhecidos pelo idosos à primeira vista.
Fazendo uso de forma adequada de orientação em saúde, ao público ao qual ela
se destina, verifica-se que uma alternativa viável para a realização de tal orientação aos
cidadãos acerca das peculiaridades do filtro solar, é a realização de campanhas públicas
e eventos que tratem sobre o assunto, uma vez que realizações desse porte conseguem
atingir um grande número de pessoas ao mesmo tempo, e que podem sensibilizar, de forma
consistente, a população em relação à necessidade de se proteger dos raios solares.
Um estudo realizado na Austrália por Vitor, et al. (2008) ressaltou a importância da
realização de campanhas públicas sobre o assunto fotoproteção, evidenciando o impacto
que esses eventos conseguem causar no cotidiano dos indivíduos que deles participam.
Dada a posição geográfica do continente australiano, conhecido por receber intensa
radiação solar, os índices de câncer de pele são extremamente elevados, fato que motivou

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a realização de campanhas e ações públicas por longos anos, com o intuito de sensibilizar
a população quanto a importância da proteção às radiações solares. Como resultado das
campanhas realizadas, observou-se notável redução da exposição de indivíduos ao sol,
culminando também em menores casos de neoplasias de pele, corroborando a importância
da realização desse tipo de evento por parte dos órgãos de saúde.
Além disso, a fim de ressaltar a importância das campanhas públicas, a Sociedade
Brasileira de Dermatologia (SBD) promoveu, no ano de 2012, a Campanha Nacional de
Prevenção ao Câncer da Pele (CNPCP), como divulgado por Bardini, Lourenço e Fissmer
(2012), na qual médicos dermatologistas examinaram gratuitamente a população, e orien-
tavam sobre hábitos de exposição ao sol, em postos de atendimentos na maioria dos
estados do país.
A iniciativa e a divulgação dos riscos da exposição solar pela mídia tendem a aumentar a
consciência do problema entre os brasileiros criando, pouco a pouco, um ambiente favorável
a iniciativas de prevenção cada vez mais precoces. No entanto, segundo os autores, apenas
14,7% declararam ter participado da campanha contra o câncer de pele realizada pela SDB,
resultado que demonstra que nem todos abraçaram a ideia de fazer parte do evento, não
demonstrando interesse em conhecer mais sobre o assunto. É importante salientar que, além
da realização de campanhas públicas, é necessário que estas consigam motivar o cidadão,
levando-o para participar dos eventos, de forma a adquirir o conhecimento necessário sobre
as temáticas que são disponibilizadas pelos órgãos de saúde.
Em relação aos assuntos a serem tratados nas campanhas públicas que são realizadas,
ressalta-se que estes devem visar a não somente abordar os termos popularmente conheci-
dos e já mencionados em propagandas sobre protetores solar, mas também alguns termos
mais técnicos relacionados a esse assunto da proteção solar. Com base na literatura, dois
termos técnicos destacaram-se por nem sempre serem de conhecimento do público idoso,
sendo eles o termo “fotoproteção” e “fotoenvelhecimento”.
A fotoproteção consiste no conjunto de fatores e medidas que podem ser tomados pelo
indivíduo, a fim de protegê-lo do excesso de raios solares, enquanto o fotoenvelhecimento
consiste na exposição crônica aos raios solares, ocasionando alterações senis diversas e
susceptibilidade do indivíduo a neoplasias benignas ou malignas (Dutra, et al., 2013). Os re-
feridos conceitos permitem concluir que um complementa o outro, e, segundo Dutra, et al.
(2013), ambos são frequentemente abordados em propagandas que divulgam os filtros
solares. A falta de conhecimento dos termos, no entanto, pode fazer com o processo de
transmissão de conhecimento à população idosa seja prejudicado, interferindo na compreen-
são dos indivíduos sobre a atuação do filtro solar como fotoprotetor que impede o processo
de fotoenvelhecimento. Os termos mais técnicos devem ser abordados por profissionais da

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área da saúde de forma a clarificar as informações a esse público e garantir uma rotina de
uso mais eficaz do filtro solar.
Outro aspecto do assunto da fotoproteção que deve ser divulgado ao público durante
a transmissão das informações em campanhas públicas é a associação existente entre a
exposição ao sol e as maiores chances de aparecimento de quadros de câncer de pele. O co-
nhecimento dessa associação é fundamental para a sensibilização do público quanto ao
assunto, uma vez que o câncer consiste em um problema de saúde que acomete cada vez
maiores partes da população e que apresenta meios de tratamento delicados e agressivos.
Bardini, Lourenço e Fissmer (2012) realizaram estudos com 116 pacientes idosos do
setor de Dermatologia do Ambulatório Médico de Especialidades de Santa Catarina, com a
finalidade de evidenciar se esses pacientes estavam conscientes da associação entre ex-
posição ao sol e aparecimento de câncer de pele. Os pacientes foram questionados quanto
ao conhecimento, e o resultado do estudo demonstrou que 81% dos pacientes conheciam
a associação entre o sol e as doenças de pele relacionadas à exposição solar, o que revela
que muitos idosos já dispunham do devido conhecimento sobre a importância de se prevenir
a exposições excessivas ao sol como meio de combate ao câncer de pele.
Acerca da fotoproteção, é necessário orientar os participantes quanto à importância de
realizar a aplicação do filtro solar não só em dias aparentemente ensolarados, mas também
em dias mais nublados, visto que as radiações solares também se encontram presentes
mesmo sem o sol aparente.
Um estudo de Garbaccio, Ferreira e Pereira (2016), realizado com idosos moradores
de Arcos, município do Centro-Oeste de Minas Gerais, tratou dessa questão com esse pú-
blico. O estudo, no entanto, constatou, em seus resultados, que 89,2% dos idosos referiu
não aderir ao produto em dias sem sol aparente, o que revela um fato preocupante, já que
a pele do idoso requer maiores cuidados, devido aos processos fisiológicos que a tornam
normalmente enfraquecida.
Além do uso do filtro solar em dias nublados e ensolarados, deve-se preconizar que
os indivíduos devem fazer uso, além de antes de exposições prolongadas ao sol, também
antes de exposições por curto períodos de tempo, uma vez que, de acordo com Rizzatti,
Schneider e D’Orsi (2011), a exposição aos raios ultravioletas em curtos períodos também
colaboram para a acumulação progressiva de radiação ao longo da vida, podendo resultar
em quadros de câncer de pele.
Em relação ao tempo de exposição, Garbaccio, Ferreira e Pereira (2016) relatam que
o tempo ideal recomendado ao público idoso é de 10 a 20 minutos de 5% da superfície
corpórea, tempo este necessário para que a vitamina D seja sintetizada pelo organismo.

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Somada à frequência com a qual deve-se aplicar o filtro solar, deve-se inferir que os
locais corretos de aplicação desse cosmético são de suma importância na hora de se prote-
ger contra o sol, dado que certas regiões corporais exigem maiores cuidados por apresen-
tarem maior sensibilidade aos raios solares. Deve-se ressaltar que a pele do rosto e colo
são suscetíveis a maiores radiações por dois motivos importantes: 1) por localizarem-se na
parte superior do organismo, fato que os coloca mais próximo dos raios do sol; e 2) pelo
fato de estas regiões apresentarem o tecido epitelial mais sensível em relação às outras
regiões do corpo.
Estudo de Garbaccio, Ferreira e Pereira (2016), realizado com uma população idosa
do Centro-Oeste de Minas Gerais, entretanto, constatou que certas regiões do rosto são
por vezes pouco protegidas por esse público, como regiões do pescoço, couro cabeludo,
pavilhão auricular, olhos e testa, locais também sensíveis ao excesso de radiação solar.
Assim, a Associação Americana de Dermatologia preconiza que o uso de acessórios
sugere uma boa alternativa para promover a proteção desses locais do corpo, como bonés,
viseiras, óculos de sol e roupas com tecidos de fibra firmemente tecidas e de coloração es-
cura (pois apresentam naturalmente maior capacidade de proteção aos raios ultravioletas).
Outro fato importante acerca do uso do filtro solar é que se devee levar em conta a sua
reaplicação durante o dia, que, como Garbaccio, Ferreira e Pereira (2016) demonstraram,
deve ser periódica, regular, para que haja a real efetividade do produto na pele.
Em relação ao intervalo de tempo entre cada reaplicação, segundo Cortez, et al. (2016),
esta deve ser realizada de 2 a 3 horas, e com 20 a 30 minutos de antecedência à exposição
ao sol, o que culminaria em aproximadamente quatro reaplicações durante o dia. A reapli-
cação faz-se necessária, uma vez que o indivíduo pode apresentar episódios como expo-
sição ao suor ou à água, que podem comprometer a capacidade do produto de proteger
consistentemente o corpo contra as radiações solares. O conhecimento dos idosos acerca
dessa importância da reaplicação poderia ser adquirido através de maiores repercussões
em massa do assunto.
A aplicação e reaplicação do filtro solar na pele, no entanto, permitem impactos mais
positivos quando, somado a esses fatores, o indivíduo evita expor-se ao sol em horários nos
quais a incidência dos raios solares é mais intensa e prejudicial à pele. Os horários conside-
rados como os mais críticos, com base na literatura de Garbaccio, Ferreira e Pereira (2016)
são aqueles compreendidos entre as 10h da manhã e as 16h da tarde, quando a radiação
UVB é mais intensa. Ainda na visão dos autores, no entanto, caso haja exposição ao sol
durante esses horários vistos como mais críticos, torna-se necessário, além do filtro solar,
o uso de equipamentos que tragam a proteção necessária ao sol intenso como chapéus,
óculos escuros, viseiras, guarda-sol e boné.

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Ainda sobre os horários mais críticos de exposição ao sol, Vitor, et al. (2008) concluem
que, durante o período compreendido entre as 10h e 16h, os raios ultravioletas atuam como
carcinogênios completos, corroborando a importância da prevenção à exposição solar des-
cuidada nesse período.
Os profissionais da saúde também devem orientar os participantes, durante as campa-
nhas, em relação aos fatores que devem ser preconizados na hora da escolha de um filtro
solar, ressaltando principalmente a importância de atentar-se ao FPS.
Com base na literatura, preconiza-se que FPS de valor mínimo de 15 é capaz de
fornecer proteção eficaz (Cortez, et al., 2016). É de senso comum na população, hoje em
dia, que, quanto maiores os valores de FPS, maior a proteção fornecida para combater os
efeitos dos raios solares na pele.
Entretanto, estudos de Vitor, et al. (2008) colocaram em dúvida esse conhecimento
acerca do FPS. Os resultados apontaram para um certo “paradoxo fotoprotetor”, ao obser-
varem que aproximadamente 62,8% dos usuários de fatores altos de proteção solar sofre-
ram algum tipo de dano devido à exposição solar. Essa observação sugere que indivíduos
usuários de filtros solares com altos valores de FPS poderiam estar mais propensos às
queimaduras solares quando comparados aos que fazem uso de menores valores. Além
disso, Cortez, et al. (2016) concluíram que o filtro com FPS 25 bloqueia 96% da radiação
solar, mostrando que o uso de formulações com fatores de proteção superiores nem sempre
é necessário, pois o produto pode se tornar mais sensibilizante, devido aos constituintes da
sua formulação. Frente a isso, forma-se uma conclusão de certa forma duvidosa, em relação
à proteção solar eficaz fornecida pelos filtros solares de alto valor de FPS.
A recomendação de especialistas da área da saúde é de que o valor de FPS mais
adequado varia de acordo com o tom de pele, e que é um dos critérios que devem ser obser-
vados no momento de adquirir algum filtro solar no mercado, para oferecer proteção eficaz a
cada pele. Essa posição dos especialistas pôde ser demonstrada através de resultados de
Cortez, et al. (2016), quando especialistas da área da estética revelaram que os profissionais
que estudam sobre a pele analisam não só o FPS, mas também os ativos presentes em sua
composição, sua textura na pele, e a marca, orientando que a qualidade do fotoprotetor é
determinada pelo valor do FPS e por meio das características físico-químicas da formulação.
Tais características garantem que o produto se espalhe melhor e apresente boa resistência
à água, maximizando o seu efeito protetor.
O conhecimento satisfatório e a aplicação adequada do filtro solar regularmente na
pele é de suma importância, portanto, para a preservação do envelhecimento precoce desse
tecido. No entanto, quando se trata do acesso aos fotoprotetores no Brasil, observa-se que

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muitos desses produtos apresentam preços elevados no mercado, fato que pode apresentar
certo impasse na hora da aquisição do produto pela população.
Estudos de Rizzatti, Schneider e D’Orsi (2011) constataram esse fato, o que impede que
a população de menor renda consiga fazer uso do filtro solar no dia a dia, pois, segundo os
autores, no Brasil, o filtro solar ainda é um produto de alto custo por receber a classificação
de cosmético, e que, por isso, tem seu preço elevado, devido a taxações impostas, tornando
o produto inacessível à população de menor renda.
Em vista dos altos preços, para garantir o acesso ao filtro solar de todos, os profissio-
nais da saúde responsáveis por ministrar as campanhas públicas poderiam propor meios
que visassem a pressionar as indústrias e o mercado, para abaixarem o preço dos filtros
solares no Brasil, de forma a torná-los mais acessíveis a todas as camadas da população.
Um exemplo de sensibilização pública que culminou com a redução de preços dos
filtros solares pôde ser observada na Austrália há mais de 20 anos, como demonstrado por
Rizzatti, Schneider e D’Orsi (2011). Conhecido como “SunSmart”, o objetivo do programa
australiano foi de pressionar o governo para a diminuição dos preços do filtro solar, junto
a campanhas de conscientização da população em relação a seu uso, resultando em uma
diminuição significativa dos preços, após a pressão popular. Assim sendo, a transmissão
correta, abrangente e adequada de informações ao público idoso acerca dos termos relacio-
nados ao assunto da fotoproteção, pode contribuir, portanto, para um maior esclarecimento
sobre o assunto, aumentando o nível de conhecimento da população acerca desse tema.
É de suma importância que todo o indivíduo, após receber as orientações gerais sobre
o filtro solar, tenha a consciência de que tomou nota adequadamente de toda informação a
ele transmitida, e que julgue seu próprio nível de conhecimento sobre o assunto – classifi-
cando se os conceitos a ele transmitidos foram satisfatórios ou não.
A prevalência da classificação do próprio conhecimento como “regular” e “bom”, no
presente estudo, demonstra que o público idoso julga ter tomado nota ao menos das con-
dições mínimas de uso adequado do filtro solar, culminado em uso adequado do cosmé-
tico no dia a dia.
Garbaccio, Ferreira e Pereira (2016) demonstraram que a avaliação do autoconheci-
mento acerca do uso do filtro solar pelo próprio indivíduo reflete como fator que demonstra
se as informações recebidas pelos idosos foram competentes e precisas, permitindo o uso
correto do fotoprotetor.

CONCLUSÃO

A área da fotoproteção, especialmente no caso das pessoas idosas, vem recebendo,


nos últimos anos, um olhar mais cuidadoso por parte dos estudiosos do envelhecimento e
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da velhice, verificando-se aumento da pesquisa e novas investigações, por exemplo, sobre
o câncer de pele e sobre o envelhecimento cutâneo, devido principalmente às preocupações
em nível mundial sobre a diminuição da camada de ozônio e sobre as mudanças climáticas
sofridas pelo nosso planeta.
A observação dos resultados encontrados neste estudo permite concluir que os idosos
participantes fazem uso frequente de filtro solar, posto que não apresentam nenhum tipo de
impedimento ao uso recorrente desse protetor, como quadros alérgicos ou que preços altos
possam inviabilizar esse recurso.
A aplicação do produto na pele vem sendo realizada também em dias sem sol aparente,
tal como é recomendado, e antes de rápidas exposições, além de esses participantes idosos
evitarem expor-se ao sol em horários mais críticos de radiação. De fato, o uso do protetor
solar é o mecanismo mais utilizado para proteger a pele dos efeitos nocivos causados pelo
sol. Foi considerado também como essencial o uso de óculos com proteção UV para proteger
os olhos, o que garante ser uma boa estratégia a ser assumida pelos idosos.
Embora tenha sido considerado uma falha, no uso do fotoprotetor, a baixa frequência
de reaplicação desse produto na pele, durante o dia, por esses participantes idosos, pôde-se
verificar que os conhecimentos acerca do assunto da fotoproteção pode- se dizer que têm
sido adequados, posto que os participantes deste estudo declararam ter recebido orienta-
ções advindas de especialistas da área da saúde. Orientações estas que trataram do uso
efetivo do protetor solar, das formas corretas de armazenamento do produto, do FPS ideal
para cada tipo de pele, e dos critérios que devem ser levados em conta na hora da escolha/
aquisição de um fotoprotetor.
Desse modo, o autoconhecimento acerca do assunto da fotoproteção foi considerado
satisfatório na percepção das participantes deste estudo, que o classificaram como “regular”
e “bom”, corroborando os resultados positivos acerca do uso do filtro solar demonstrados
neste estudo. Como limitação deste estudo, o que poderá ser realizado em uma próxima
pesquisa, é a inclusão de participantes do sexo masculino.
Por fim, é de se registrar que os estudos nesta área da fotoproteção precisam continuar,
a fim de se encontrarem e publicizarem novas ferramentas, especialmente para uma maior
proteção da fragilizada pele dos idosos, inclusive para a discussão e divulgação de novos
avanços tecnológicos que surgirem nessa área.

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PESSOAS IDOSAS, FOTOGRAMETRIA E
EQUILÍBRIO: UM ESTUDO BIBLIOMÉTRICO DA
PRODUÇÃO CIENTÍFICA DAS BASES DE DADOS
BVS E SCIELO

Caroline Fagundes
Universidade Feevale

Caroline Alves dos Santos


Universidade Feevale

'10.37885/230513116
RESUMO

No envelhecimento observa-se diminuição das funções dos tecidos que revestem as articu-
lações resultando em desvios posturais contribuindo para a queda na pessoa idosa. Sendo
assim, essa pesquisa teve por objetivo identificar os estudos existentes sobre a temática
pessoas idosas, fotogrametria e equilíbrio. O método utilizado foi uma revisão sistemática e
bibliométrica das bases de dados Biblioteca Virtual da Saúde (BVS) e Scielo. Num primeiro
momento, os descritores pessoas idosas, fotogrametria e equilíbrio foram inseridos no campo
de busca avançada das bases de dados citadas e em seguida, uma nova busca foi realiza-
da com os seguintes termos elderly, photogrammetry e balance. Com os termos pessoas
idosas, fotogrametria e equilíbrio foram encontradas 10 publicações na BVS e 0 no Scielo
e com os descritores elderly, photogrammetry e balance foram listadas 12 publicações na
BVS e 1 no Scielo, totalizando 23 publicações. Destes, 8 publicações foram descartadas
por ser o mesmo artigo científico encontrado nas duas bases de dados, três por não ter
relação com o tema escolhido e uma por não ser artigo científico. Ao final dessa pesquisa
é possível afirmar que a fotogrametria é um instrumento não invasivo, acessível e eficaz na
análise da postura estática e do equilíbrio em pessoas idosas. Além disso, destaca-se que
pesquisas relacionadas a postura estática são de extrema importância, pois, a partir desses
estudos será possível desenvolver medidas de prevenção e/ou correção dessas alterações.

Palavras-chave: Equilíbrio, Fotogrametria, Pessoa Idosas, Postura Estática, Quedas.


INTRODUÇÃO

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, as


pessoas com 60 anos ou mais representavam 10,79% da população. Em apenas sete anos
o número de pessoas idosas aumentou, correspondendo a 14,6% dos cidadãos do país e
estima-se que em 2030 esses indivíduos poderão representar 18,61% dos brasileiros (IBGE,
2010; IBGE, 2013; IBGE, 2018).
Com o avançar dos anos ocorrem mudanças nos tecidos que envolvem as articulações
resultando em desvios posturais. Em pessoas idosas, as alterações da postura estática podem
interferir nas oscilações corporais e dificultar a manutenção do equilíbrio estático e da marcha
segura, favorecendo o indivíduo à queda (Bandeira et al., 2010; Gasparotto et al., 2012).
A queda na velhice pode resultar em incapacidade funcional e isolamento social re-
duzindo a qualidade de vida das pessoas idosas e de seus familiares e/ou cuidadores.
Esses são fatores que estão associados ao aumento do risco para mortalidade, morbidade,
incapacidade física e cognitiva, inatividade e depressão (D’orsil et al., 2011; Medeiros et al.,
2014; Pinto e Neri, 2013).
Os desalinhamentos da postura estática podem ser avaliados de várias maneiras e
dentre elas pode-se citar a fotogrametria associada a softwares. Além de ser uma técnica
não invasiva e eficiente, sua aplicação é menos complexa e o custo é menor, sendo de fácil
acessibilidade e aplicabilidade (Bandeira et al., 2010; Fagundes et al., 2018).
Sendo assim, essa pesquisa teve como objetivo identificar os estudos existentes sobre
a temática pessoa idosas (60 anos ou mais), fotogrametria e equilíbrio.

MÉTODO

Esse estudo consistiu em uma revisão sistemática da literatura, que teve por objetivo
detectar possíveis lacunas de investigação nos estudos presentes. De acordo com Sonego e
Echeveste (2016) esse procedimento consiste em identificar, avaliar e interpretar um objeto
em particular. Ou seja, através desse método é possível constatar onde pouco ou nenhum
estudo foi realizado e onde novas pesquisas são necessárias (Busalim e Hussim, 2016;
Petticrew e Roberts, 2008).
Já as revisões bibliométricas ou bibliometria têm como objetivo apresentar dados quan-
titativos e estatísticos da documentação escrita, visando analisar as suas características.
Esse tipo de pesquisa tem como principal finalidade explanar o panorama de um determi-
nado campo de conhecimento, disciplina ou tema, como por exemplo, mapear a produção
de artigos de um campo do saber, as comunidades acadêmicas dedicadas à pesquisa em
questão, as redes de pesquisadores que analisam o assunto e a produtividade dos periódicos.

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Nesse sentido, associar a revisão sistemática da literatura a bibliometria permite agrupar as-
pectos quantitativos e qualitativos, possibilitando assim definir as características do assunto
pesquisado (Albach, 2015; Ribeiro et al., 2015).
Dessa maneira, num primeiro momento, os descritores pessoas idosas, fotogrametria e
equilíbrio foram inseridos no campo de busca avançada da base de dados Biblioteca Virtual
da Saúde (BVS) e Scielo no dia 29 de novembro de 2022. Em seguida, uma nova busca foi
realizada com os termos elderly, photogrammetry e balance. Essas bases de dados foram
escolhidas por proporcionar acesso livre às produções técnicas e científicas na área da saúde.
Como critério de inclusão definiu-se que foram selecionados apenas os artigos cientí-
ficos publicados em revistas científicas.

RESULTADOS

Com os termos pessoas idosas, fotogrametria e equilíbrio foram encontradas 10 pu-


blicações na BVS e 0 no Scielo e com os descritores elderly, photogrammetry e balance
foram listadas 12 publicações na BVS e 1 no Scielo, totalizando 23 publicações. Destas, oito
publicações foram descartadas por ser o mesmo artigo científico encontrado nas duas bases
de dados, três por não ter relação com o tema escolhido e uma por não ser artigo científico.

Tabela 1. Artigos encontrados na BVS e Scielo com os descritores pessoas idosas, fotogrametria e equilíbrio.

Autores Título
Fuentes-Márquez et al. (2018) Balance ability and posture in postmenopausal women with chronic pelvic pain
Rum et al. (2017) Upper body accelerations during planned gait termination in young and older women
Camargo et al. (2016) Efeito do método pilates na postura e no equilíbrio dinâmico de idosas
Comparison of static balance of elderly women through two methods: computerized photogram-
Oliveira et al. (2015)
metry and accelerometer
The effect of spinal curvature on the photogrammetric assessment on static balance in elderly
Drzał-Grabiec et al. (2014)
women
Iunes et al. (2014) Self-care associated with home exercises in patients with type 2 diabetes
Grimpampi et al. (2013) Estimate of lower trunk angles in pathological gaits using gyroscope data
Drzal-Grabiec et al. (2012) Changes in body posture of women and men over 60 years of age
Effect of global postural rehabilitation program on spatiotemporal gait parameters of parkinsonian
Vitale et al. (2012)
patients: a three-dimensional motion analysis study
Efeitos das alterações posturais e de equilíbrio estático nas quedas de pessoa idosas institucio-
Aikawa et al. (2006)
nalizados
Templates of the cartilage layers of the patellofemoral joint and their use in the assessment of
Cohen et al. (2003)
osteoarthritic cartilage damage

DISCUSSÃO

No envelhecimento ocorre a redução da elasticidade dos tecidos que recobrem as


articulações, resultando na limitação de movimentos e desvios posturais, sendo as articu-
lações mais comumente afetadas a coluna vertebral, o quadril e os joelhos. Com relação à

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coluna vertebral, umas das principais alterações percebidas na velhice é a acentuação das
curvaturas, sendo visíveis nos planos sagital, frontal e/ou transverso (Burke et al., 2010).
De acordo com Fagundes et al. (2018) o método considerado padrão-ouro para avaliar
desvios na coluna vertebral é o ângulo de Cobb, obtido através de radiografia. No entanto,
esse não é o melhor método para avaliação frequente da coluna vertebral, pois, além de ter
um custo elevado em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, ainda expõe o sujeito
à radiação que é nociva à saúde, incluindo o risco de câncer (Bandeira et al., 2010; Ferreira
et al., 2011; Legaye, 2012; Ribeiro et al., 2017; Sedrez e Candotti, 2013; Vacari et al., 2013).
Nesse sentido, com o avanço da tecnologia surge a fotogrametria. Esse instrumento é
considerado um recurso acessível, pois necessita apenas de equipamentos básicos, como
uma câmara digital fotográfica e um computador. Esse método quantitativo de análise postural
permite uma avaliação global da postura sendo possível quantificar as alterações encontradas
e obter dados mais confiáveis, fidedignos e objetivos quando comparados àqueles obtidos
a partir da observação visual (Teixeira, 2017; Fagundes et al., 2018).
Nesse sentido, Mota et al. (2013) e Teixeira (2017) afirmam que a fotogrametria é um
instrumento importante para a mensuração de possíveis alterações posturais presentes nas
pessoas idosas, pois permite mensurações precisas. Baraúna et al. (2004) concordam com
esses achados, pois em seu estudo, realizado com pessoas idosas, a fotogrametria mos-
trou-se um instrumento de fácil aplicação e capaz de avaliar o equilíbrio quantitativamente,
ou seja, com maior fidedignidade.
Em pessoas idosas, os desequilíbrios posturais estáticos podem limitar a mobilidade,
interferindo nas oscilações corporais, dificultando a manutenção do equilíbrio estático e da
marcha segura, aumentando assim, a chance desses indivíduos caírem (Fagundes et al.,
2022). A queda na pessoa idosa pode resultar em incapacidade funcional, limitando a pessoa
idosa nas suas atividades diárias e nas relações sociais, influenciando de maneira negativa
a qualidade de vida desta faixa etária (Aikawa et al., 2006; D’orsil et al., 2011; Pinto e Neri,
2013; Medeiros et al., 2014).

CONCLUSÃO

Sendo assim, ao final desse estudo é possível afirmar que a fotogrametria é um ins-
trumento não invasivo, acessível e eficaz na análise da postura estática e do equilíbrio em
pessoas idosas. Além disso, destaca-se que pesquisas relacionadas à postura estática são
de extrema importância, pois, a partir desses estudos será possível desenvolver medidas
de prevenção e/ou correção dessas alterações.

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Considera-se como limitação e sugestão da presente pesquisa a utilização de diferen-
tes bases de dados e palavras-chave a fim de apresentar novas informações sobre o tema
abordado no presente estudo.

Agradecimento

Essa pesquisa foi financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de


Nível Superior (CAPES).

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PRESENÇA DO MEDO DE QUEDAS EM PESSOAS
IDOSAS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA
LITERATURA

Renan Nunes Aguiar


Universidade de Franca

Carolina Milhim Barcellos


Universidade de Franca

Daniel Vicentini de Oliveira


Universidade de Franca

Ana Paula Oliveira Borges


Universidade de Franca

Lilian Cristina Gomes do Nascimento


Universidade de Franca

'10.37885/230513158
RESUMO

Objetivo: Realizar uma revisão integrativa da literatura a respeito do medo de cair em


pessoas idosas. Métodos: A busca inicial identificou 1959 resultados, dentre os quais nove
artigos foram selecionados para compor esta revisão por terem atendidos os critérios de
inclusão e exclusão. Resultados: Os resultados indicaram que alguns fatores preditores de
quedas podem ser modificados; e que intervenções isoladas ou combinadas com distintos
protocolos, podem proporcionar melhora do medo de quedas. Destaca-se que o medo de
cair pode limitar as atividades funcionais das pessoas idosas, sendo um fator que influência
negativamente a qualidade de vida dessa população. Conclusão: Esses fatos apontam
para a necessidade de maior atenção e plena arguição do medo de quedas pela equipe
multidisciplinar, visando proporcionar uma profilaxia das quedas.

Palavras-chave: Acidentes por Quedas, Desempenho Físico Funcional, Idoso, Promoção


da Saúde, Serviços de Saúde Para Idosos.
INTRODUÇÃO

O envelhecimento é inevitável a todos os seres vivos e é constituído de um processo


biológico e natural, cujo os indivíduos sofrem deterioração em diversos sistemas corporais,
com declínios biológicos e psicológicos (BRANDÃO; ZATT, 2015). No decorrer desse proces-
so podem surgir diversas etiologias que ocasionam complicações no dia a dia das pessoas
idosas, sendo que um envelhecimento patológico é caracterizado como um envelhecimento
senil (senilidade) e um envelhecimento com alterações orgânicas, morfológicas e funcionais
advindas do processo de envelhecimento caracteriza-se como um envelhecimento senes-
cente (senescência) (CIOSAK et al., 2011).
A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2005) considera pessoa idosa, em países
desenvolvidos, pessoas com idade igual ou superior a 65 anos e em países em desenvolvi-
mento, como o Brasil, pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. Também é possível
estratificar as pessoas idosas por distintas faixas etárias, sendo pré-idoso de 55 a 60 anos,
idoso jovem de 60 a 69 anos, idoso de 70 a 79 anos, e velhice avançada e octogenário
indivíduos com idade igual ou superior a 80 anos (ROSSET et al., 2011). Apesar da idade
cronológica ser um fator preditivo do envelhecimento, as peculiaridades individuais, o estilo de
vida, a presença concomitante de doenças crônicas e o ambiente em que cada pessoa vive,
influência de forma diferente no processo de envelhecimento (FECHINE; TROMPIERI, 2015).
Dentre as distintas alterações perceptíveis nas pessoas idosas advindas do processo
de envelhecimento, encontra-se a fraqueza muscular, o declínio da velocidade de contra-
ção muscular, diminuição da amplitude de movimento, da mobilidade, da acuidade visual,
auditiva e alterações posturais, influenciando a mobilidade funcional e o equilíbrio postural
(MYRA et al., 2016). Devido a esses declínios, as quedas na população idosa são frequentes
e inerentes a possíveis complicações, como consequências físicas, hospitalizações, lesões,
declínios da qualidade de vida, diminuição da capacidade funcional e aquisição do medo de
futuras quedas (RESENDE et al., 2017).
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2016 cerca de 8%
da população brasileira eram de pessoas idosas, podendo esse número chegar a 11,5 %
em 2025 (BRASIL, 2016). Entre as pessoas idosas brasileiras, aproximadamente 28% caem
uma vez ao ano, e 13% desses, possuem quedas recorrentes, ocasionando síndromes pós-
-quedas, como ptofobia, dependência, morbimortalidade, redução da autonomia e declínio
da qualidade de vida (VIEIRA et al., 2018). A projeção para o ano de 2050 é que aproxima-
damente um a cada três pessoas idosas terá uma ou mais quedas durante o período de um
ano, refletindo assim, a necessidade de discussão e formulação de estratégias que visem
minimizar este problema de saúde, tão presente na população idosa (ANTES et al., 2013).

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Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi realizar uma revisão integrativa da
literatura a respeito do medo de quedas em idosos senescentes.

MÉTODOS

Design do estudo

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura que possuiu como pergunta norteadora
“O que os estudos têm revelado sobre o medo de quedas em pessoas idosas que não seja
advindo de patologias pré-existentes?”, elaborada de acordo com a estratégia population or
problem/população ou problema, variables/variáveis e outcomes/resultados (PVO).
Para o levantamento das produções acerca da temática do medo de quedas em pes-
soas idosas, foram consultadas três bases de dados: Scientific Electronic Library Online
(Scielo), Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (Medline) e Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs). Em todas as bases de dados
realizou-se a aplicação de duas estratégias de pesquisa, sendo as seguintes estratégias:

• Estratégia 1 (E1): “Medo” AND “Quedas” AND “Pessoa idosa”


• Estratégia 2 (E2): “Medo” AND “Quedas” AND “Idoso”

Critérios de inclusão e exclusão

Foram selecionados artigos científicos publicados no período de 2016 a 2022, no


idioma inglês e português, que tivessem publicação no formato de artigo original, acesso
na íntegra, que abordassem exclusivamente a população idosa e que tivessem como tema
central o medo de quedas. Sendo excluídos artigos duplicados, estudos que tinham o medo
de quedas como consequência de alguma complicação (como Doença de Parkinson, fra-
turas, Acidente Vascular Encefálico, Diabetes Mellitus, alterações biomecânicas, visuais e
cognitivas), artigos com pessoas idosas hospitalizadas ou institucionalizadas e estudos que
somente abordavam às quedas e não o medo de quedas.

Procedimentos da revisão

O levantamento dos artigos nas bases de dados ocorreu no mês de dezembro de


2022, sendo realizada inicialmente a leitura dos títulos e resumos dos artigos identificados
e posteriormente foi realizada a seleção dos estudos com base na pergunta norteadora, nos
critérios de inclusão e exclusão previamente estabelecidos. Após realizada a constatação de
adequação dos artigos e a sua elegibilidade, foi realizado a leitura dos estudos na íntegra.

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Os principais dados extraídos dos artigos referentes ao medo de quedas em pessoas
idosas foram sintetizados em uma planilha, contendo as seguintes informações: autoria,
ano de publicação, país de realização do estudo, amostragem e método do estudo. Foi
realizada essa sistematização com o intuito de facilitar as análises críticas e descritivas das
produções elegidas.
Para análise do risco de viés realizou-se uma avaliação da qualidade metodológica dos
artigos com o Checklist for Analytical Cross Sectional Studies. Esse instrumento é composto
de oito questões: Q.1) Os critérios para inclusão na amostra foram claramente definidos?;
Q.2) Os sujeitos do estudo e a configuração foram descritos detalhadamente?; Q.3) A expo-
sição foi medida de maneira válida e confiável?; Q.4) Os critérios objetivos e padronizados
foram usados para medir a condição?; Q.5) Os fatores de confusão foram identificados?;
Q.6) Estratégias para lidar com fatores de confusão foram declaradas?; Q.7) Os resultados
foram medidos de maneira válida e confiável?; Q.8) A análise estatística apropriada foi usa-
da? (JOANNA BRIGGS INSTITUTE, 2016).
Esse Checklist pode possuir uma pontuação máxima de oito pontos, sendo que quan-
do o estudo atende ao critério previsto, a questão recebe um ponto. O risco de viés é con-
siderado Baixo quando a pontuação do estudo atinge mais de 70% da pontuação “sim”,
Moderado quando o estudo atinge 50% a 69% pontuação “sim” e Alto quando o estudo
alcança até 49% de pontuação “sim”. Um estudo com uma pontuação maior é considerado
detentor de uma melhor qualidade metodológica e com baixo risco de viés (JOANNA BRIGGS
INSTITUTE, 2016).

RESULTADOS

O levantamento bibliográfico realizado nas três bases de dados com as duas estraté-
gias de pesquisa, localizou um total de 1959 artigos científicos. Dentre esses, 1445 foram
excluídos por não atenderem aos critérios de inclusão. Após, foi aplicado os critérios de
exclusão, realizado a leitura do título e do resumo excluindo 501 artigos. Nessa etapa de
seleção também foram excluídos quatro artigos que já constaram na primeira estratégia de
busca. Assim, nove artigos foram elegíveis para compor esta revisão integrativa da literatura.
Esse processo de busca e seleção encontra-se apresentado na figura 1.

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Figura 1. Estratégias de seleção dos artigos.

Legenda: E1= Estratégia 1; E2= Estratégia 2.


Fonte: Próprio autor.

Cada artigo abordou de forma distinta a temática de quedas em pessoas idosas, seja
realizando estudos com intervenção ou revisões da literatura.
Dentre os estudos elegidos dois se caracterizavam como estudos longitudinais
(DRUMMOND; LOURENÇO; LOPES (2020); AUAIS et al. (2017)), três estudos transver-
sais (GOTTSCHALK et al. (2020); ROMLI et al. (2020); BJERK et al. (2018)), três revisões
sistemáticas com meta-análise (WEBER et al. (2020); LIU et al. (2018); KUMAR et al. (2016))
e um ensaio clínico randomizado (KWOK; PUA (2016)).
No quadro 1 é possível observar informações extraídas dos artigos, estes represen-
tados em ordem cronológica de publicação, observando também a análise metodológica
realizada dos artigos elegidos, sendo que cinco artigos apresentaram baixo risco de viés,
quatro artigos risco moderado e nenhum artigo apresentou risco alto de viés.

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Quadro 1. Características dos artigos elegidos.
Amostra / Idade dos
Autores (ano) Objetivo(s) Resultados Conclusão Risco de viés
participantes
Drummond; 393 participantes / 65 Avaliar a incidência e per- O medo de cair ocorreu em 33,5% O medo de cair é uma condição 75% (6 pontos)
Lourenço; Lopes anos ou mais sistência do medo de cair e foi persistente em 71,3%. Os fa- frequente e persistente. Muitos
(2020) em idosos e os fatores de tores de risco para medo persis- fatores relacionados ao medo
risco clínicos / funcionais e tente foram: uso de mais de sete persistente não mostraram
psicossociais relacionados medicamentos, história de uma associação com a incidência
ao estilo de vida. ou duas quedas, velocidade de do medo, enfatizando a neces-
caminhada reduzida, deficiência sidade de estratégias focadas
auditiva, deficiência cognitiva, em reduzir os fatores de risco
sintomas depressivos e autoava- que podem estar associados à
liação de saúde ruim ou muito cronificação do medo de cair.
ruim.
Gottschal et al. 309 participantes / 70 Examinar a associação O medo de cair moderado ou O medo de quedas influenciou 62,5% (5
(2020) anos ou mais entre o medo de cair e a alto foi prevalente em 66% da negativamente os escores da pontos)
qualidade de vida relacio- amostra. Após o ajuste para qualidade de vida relacionada
nada à saúde. covariáveis, o medo de cair foi à saúde.
negativamente associado com a
qualidade de vida.

Romli et al. (2020) 1489 participantes / Avaliar a associação entre A maioria (76,4%) dos participan- Educação sobre os perigos do- 75% (6 pontos)
55 anos ou mais riscos domésticos e medo tes possuiu o medo de quedas. A mésticos a partir da perspectiva
de cair em residentes na história de quedas não teve asso- de interação pessoa-ambiente
comunidade com idade ciação com o medo de quedas (p pode encorajar o gerenciamen-
igual ou superior a 55 = 0,868), mas o medo de quedas to de riscos domésticos e redu-
anos. teve relação com a limitação das zir o medo de quedas.
atividades diárias (p < 0,001). Os
perigos domésticos eram menos
prováveis (p = 0,023) e problemas
funcionais eram mais prováveis (p
< 0,001) estar associado a um alto
grau de medo de quedas.
Weber et al. 37 artigos / NA Quantificar os efeitos de Artigos que abordaram a com- Intervenções mente-corpo 75% (6 pontos)
(2020) várias intervenções men- paração com grupos de controle envolvendo movimentos me-
te-corpo envolvendo movi- sem exercício foram observados ditativos pode servir como uma
mentos meditativos sobre em todos os resultados (todos oportunidade promissora para
resultados psicológicos p valores ≤ 0,007), além de um melhorar os domínios da saú-
relevantes de subdomínio de qualidade de vida de psicológica, como qualidade
saúde (ou seja, qualidade (p = 0,15). No Tai Chi Chuan foi de vida, sintomas depressivos,
de vida, sintomas depres- significativo para benefício na medo de quedas e qualidade
sivos, medo de cair e qua- qualidade de vida ( p = 0,03). do sono em idosos. Portanto,
lidade do sono) em idosos essas formas de exercícios po-
sem transtornos mentais. dem representar potenciais
medidas preventivas em rela-
ção ao aumento dos transtor-
nos mentais na velhice.
Bjerk et al. (2018) 155 participantes / Determinar as associações Uma pontuação mais alta na O medo de cair é um importan- 75% (6 pontos)
Acima de 67 anos entre qualidade de vida re- Escala Internacional de Quedas, te indicador para a qualidade
lacionada à saúde, medo foi significativamente associada de vida relacionada à saúde
de queda e função física a uma pontuação mais baixa em em idosos que caem receben-
em idosos que recebem quase todas as subescalas do SF- do cuidados domiciliares. Esta
cuidados domiciliares. 36, caracterizando uma qualidade associação é independente de
de vida reduzida. Idade mais alta medidas físicas. Uma melhor
foi significativamente associada a função física está significativa-
escores mais altos em função fí- mente associada a uma qua-
sica, saúde geral, saúde mental e lidade de vida relacionada à
resumo do componente mental. saúde física mais elevada.

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Amostra / Idade dos
Autores (ano) Objetivo(s) Resultados Conclusão Risco de viés
participantes
Liu et al. (2018) Seis artigos / NA Realizar uma revisão siste- Quatro estudos utilizaram inter- Sugere-se que as intervenções 50% (4 pontos)
mática com meta-análise venções baseadas em grupo e de Terapia Cognitivo Compor-
avaliando os efeitos da dois adotaram intervenção indi- tamental possuem efeitos ime-
Terapia Cognitivo Compor- vidual. O período de intervenção diatos e de retenção de até 12
tamental na redução do variou de 4 a 20 semanas, e o meses na redução do medo de
medo de cair e na melho- número e a duração do contato cair e efeito pós-intervenção
ra do equilíbrio em idosos face a face variaram. Os compo- de seis meses na melhora do
que vivem na comunidade. nentes principais da intervenção equilíbrio.
da Terapia Cognitivo Comporta-
mental incluíram reestruturação
cognitiva, estabelecimento de
metas pessoais e promoção de
atividades físicas.
Auais et al. (2017) 1841 participantes / Examinar a associação do A pontuação total média geral O medo de cair é um impor- 50% (4 pontos)
65 a 74 anos medo de cair com a mobi- da Avaliação do Espaço de Vida tante fator psicológico que está
lidade do espaço vital (ou foi de 68,7. A análise de regres- associado à redução do espaço
seja, a área espacial pela são linear múltipla demonstrou de vida de idosos em diferentes
qual uma pessoa se move uma relação de escala de medo contextos sociais e culturais,
diariamente) de idosos de quedas com mobilidade no e a força dessa associação é
residentes na comunidade espaço vital, mesmo após o específica do local. Abordar o
de cinco locais diferentes. ajuste para fatores de confusão medo de cair entre os idosos
funcionais, clínicos e sociodemo- ajudaria a melhorar sua mobili-
gráficos. dade nas comunidades locais, o
que, por sua vez, melhoraria a
participação social e a qualida-
de de vida relacionada à saúde.
Kumar et al. 30 artigos / NA Determinar o efeito das A maioria dos estudos era de pa- Intervenções de exercícios pro- 87,5% (7
(2016) intervenções de exercícios íses de alta renda (Austrália = 8, vavelmente reduzem o medo pontos)
sobre o medo de cair em EUA = 7). Períodos de interven- de cair em um grau pequeno a
pessoas idosas que vivem ção (<12 semanas = 22; 13-26 moderado imediatamente após
na comunidade. semanas = 7; > 26 semanas = 7) a intervenção em idosos que vi-
e frequência de exercícios (1-3 vem na comunidade.
vezes / semana = 32; ≥4 vezes /
semana = 4) variou entre os estu-
dos. O medo de cair foi medido
por questões de um único item
e escalas que medem as quedas,
equilíbrio e preocupação ou pre-
ocupações em cair. Meta-análises
mostraram um efeito pequeno a
moderado de intervenções de
exercícios na redução do medo
de cair imediatamente após a
intervenção.
Kwok; Pua (2016) 80 participantes / 60 O estudo compara os efei- Na semana 13, entre as interven- Após a conclusão de um pro- 50% (4 pontos)
anos ou mais tos de um programa de ções, o efeito das mudanças na grama de exercícios com o
exercícios Nintendo Wii e escala de eficácia de quedas não Nintendo Wii, observou uma
uma intervenção de exer- atingiu significância estatística (p aparente redução do medo de
cícios padrão baseada em = 0,07 pontos) na semana 24, o quedas quando comparados a
academia sobre o medo de grupo Wii mostrou estatistica- idosos alocados no grupo que
cair, força dos joelhos, fun- mente efeitos de escala sobre o receberam apenas exercícios
ção física e taxa de quedas grupo de ginástica (diferença = de força convencionais.
em idosos. 0,8 pontos, P = 0,01).
Legenda: NA – Não se aplica.
Fonte: Próprio autor.

Na tabela 1 é possível observar a análise metodológica realizada dos artigos elegidos,


sendo que cinco artigos apresentaram baixo risco de viés, quatro artigos risco moderado e
nenhum artigo apresentou risco alto de viés.

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Tabela 1. Risco de viés avaliado pela ferramenta “JBI Critical Appraisal Checklist for Analytical Cross Sectional Studies”.

Autores Q.1 Q.2 Q.3 Q.4 Q.5 Q.6 Q.7 Q.8 %sim/risco
Drummond;
Lourenço; Lopes √ √ √ √ -- -- √ √ 75% (6 pontos)
(2020)
Gottschalk et al.
-- √ √ √ √ I -- √ 62,5% (5 pontos)
(2020)
Romli et al.
-- √ √ √ √ √ -- √ 75% (6 pontos)
(2020)
Weber et al.,
√ √ √ √ -- -- √ √ 75% (6 pontos)
(2020)
Bjerk et al.
√ √ √ √ -- -- √ √ 75% (6 pontos)
(2018)
Liu et al. (2018) √ √ -- √ -- -- I √ 50% (4 pontos)
Auais et al.
-- √ √ √ -- -- I √ 50% (4 pontos)
(2017)
Kumar et al.
√ √ √ √ -- √ √ √ 87,5% (7 pontos)
(2016)
Kwok; Pua (2016) √ √ I √ -- -- -- √ 50% (4 pontos)
Nota. Q.1) Os critérios para inclusão na amostra foram claramente definidos?; Q.2) Os sujeitos do estudo e a configuração foram
descritos detalhadamente?; Q.3) A exposição foi medida de maneira válida e confiável?; Q.4) Os critérios objetivos e padronizados
foram usados para medir a condição?; Q.5) Os fatores de confusão foram identificados?; Q.6) Estratégias para lidar com fatores de
confusão foram declaradas?; Q.7) Os resultados foram medidos de maneira válida e confiável?; Q.8) A análise estatística apropriada
foi usada?; I - Incerto; √ - Sim; -- - Não; NA – Não se Aplica.

DISCUSSÃO

Verificou-se a presença de resultados incipientes acerca de pesquisas direcionadas a


investigar o medo de quedas na população idosa senescente, pois dentro de uma amostra
de quase dois mil artigos, a grande maioria dos pesquisadores abordaram a população idosa
acometida por doenças e/ou as quedas. Sendo encontrado poucos estudos (nove artigos)
com foco no medo de quedas na população idosa sem acometimento de patologias, assim
ressalta-se a necessidade de demandar mais discussões e explanações para promover
saúde da população idosa caracterizada com um envelhecimento saudável.
Devido ao envelhecimento demográfico da humanidade faz se necessárias políticas
públicas que atentem aos direitos da população idosa, como a Lei nº 10741/2003 que instituiu
o Estatuto do Idoso. Especificando no Capítulo IV, artigo 15 do Estatuto do Idoso, o mesmo,
assegura que a atenção integral da saúde da pessoa idosa deve ocorrer de forma universal
e igualitária provendo a prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo
a atenção especial às patologias que afetam preferencialmente à população idosa, sendo
assim, este estudo propôs a investigar a abordagem das pesquisas sobre a temática do
medo de quedas em pessoas idosas, por ser um fator relevante e influenciador na qualidade
de vida, sendo necessária a sua arguição (BRASIL, 2003).
A qualidade de vida pode ser percebida como uma concepção relacionada ao fato de
se sentir bem, poder viver bem e aproveitar o que a vida lhe oferece (BRANDÃO; ZATT,
2015). Os autores Gottschalk et al. (2020) realizaram um estudo com 309 pessoas idosas

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visando analisar a associação entre o medo de quedas e a qualidade de vida. Foi observado
que 66% das pessoas idosas apresentavam o medo de quedas moderado ou alto, sendo um
preditor que influenciou negativamente a qualidade de vida dos participantes, destacando
que o medo de quedas influencia negativamente a vida da pessoa idosa, promovendo uma
diminuição da sua qualidade de vida.
Esse declínio da qualidade de vida advindo do medo de quedas, provoca na equipe
multidisciplinar, que oferece assistência às pessoas idosas, a necessidade de atenção e
identificação aos fatores que ocasionaram o ato de cair, bem como o medo das quedas.
Diante isso, os autores Drummond, Lourenço e Lopes (2020) realizaram um estudo que
visava identificar a incidência, a persistência do medo de quedas e os fatores de riscos das
quedas em 393 pessoas idosas. Identificaram que o medo de quedas estava presente em
33,5% e foi observado que esses participantes possuíam mais de um fator preditor para o
risco de quedas, como a história de uma ou duas quedas, o uso de mais de sete medicamen-
tos, deficiência auditiva, velocidade de caminhada reduzida, deficiência cognitiva, sintomas
depressivos e autoavaliação de saúde ruim ou muito ruim.
Complementando, Romli et al. (2020) realizaram uma avaliação dos riscos domésticos
frente ao medo de quedas. Nesse estudo participaram 1489 pessoas idosas, e foi constatado
que o medo de quedas estava limitando as atividades diárias (p<0,001) e que um alto grau
do medo de quedas estava menos provável aos acidentes domésticos (p=0,023) e mais
prováveis aos distúrbios funcionais (p<0,001).
Dentre os fatores de riscos verificados frente aos achados da presente revisão, é
possível caracteriza-los em externos (medicamentos) ou internos (história de uma ou duas
quedas, deficiência auditiva, velocidade de caminhada reduzida, deficiência cognitiva, sinto-
mas depressivos, autoavaliação de saúde ruim ou muito ruim e medo de quedas). Embora
alguns fatores de riscos para as quedas não possam ser alterados, diversos são passíveis
de intervenção.
Para que as pessoas idosas tenham um atendimento universal conforme preconiza-
do no Estatuto do Idoso (BRASIL, 2016) é imprescindível uma equipe multidisciplinar para
educar, aconselhar, informar e conscientizar sobre os fatores que podem influenciar no ato
de cair, implementando programas de profilaxia e estratégias que visem reduzir às quedas
na população idosa (SHARIF et al., 2018).
É possível observar na revisão de literatura de Weber et al. (2020) que as interven-
ções mente-corpo possuem benefícios preventivos para as pessoas idosas. Esses autores
realizaram uma revisão sistemática com meta-análise da literatura analisando os efeitos de
intervenções mente-corpo (Tai Chi Chuan, Qigong, Yoga e Pilates). Compuseram essa re-
visão 37 ensaios clínicos randomizados, certificando que essas intervenções influenciaram

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positivamente os domínios do medo de quedas, podendo representar potenciais medidas
preventivas ao aumento dos riscos de quedas.
Em um estudo semelhante, Kumar et al. (2016) realizaram uma revisão sistemática com
meta-análise que analisou 30 estudos com o propósito de determinar o efeito das interven-
ções de exercícios sobre o medo de quedas em pessoas idosas. Os estudos tiveram como
intervenções o Tai Chi Chuan, Yoga, treino de equilíbrio, treinamento de força e resistência,
sendo que os autores constataram que as intervenções com exercícios físicos reduzem o
medo de quedas.
Essas práticas integrativas e complementares fornecem aos seus praticantes subsí-
dios e formas de prevenção de possíveis comorbidades como hipertensão arterial, diabetes
mellitus, dislipidemias e hipercolesterolemia, reduzindo as possíveis iatrogenias e os custos
no sistema público de saúde. As práticas integrativas e complementares em saúde são re-
gulamentadas pela Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde
(PICS) ampliando as ações de saúde da atenção primária e reduzindo os custos da atenção
secundária e terciária (BRASIL, 2006)
Bem como, Liu et al. (2018) realizaram uma revisão sistemática com meta-análise com
o propósito de avaliar os efeitos da terapia cognitiva comportamental na redução do medo
de quedas e na melhora do equilíbrio em idosos. Esses autores selecionaram seis estudos
para comporem a sua revisão, sendo que quatro estudos utilizaram intervenções em grupo
e dois adotaram intervenção individual. Os autores destacam que seu estudo é a primeira
revisão sistemática com meta-análise da terapia cognitiva comportamental que aborda a
temática da redução do medo de quedas e da melhora do equilíbrio nas pessoas idosas.
Observaram que os seus resultados são sugestivos de que as intervenções com a terapia
cognitiva comportamental têm efeitos imediatos e a longo prazo de até 12 meses na redução
do medo de quedas e efeito de seis meses pós-intervenção na melhora do equilíbrio.
Como visto, a terapia cognitivo-comportamental e os exercícios físicos sejam eles
associados ou não a prática de exercícios que requeiram complexos cognitivos é benéfica
para as pessoas idosas, proporcionando ganho da autoconfiança funcional, diminuição do
medo de quedas e dos acidentes domésticos, sendo que a elaboração de intervenções
com enfoque nas pessoas idosas acometidas por algum tipo de doença, proporciona, uma
melhora da qualidade de vida.
Visando ampliar a visão sobre intervenções tradicionais, a tecnologia vem ganhando
destaque não somente no mercado financeiro, mas também no campo da saúde com a apli-
cação de jogos durante as consultas. Os autores Kwok e Pua (2016) utilizaram a gameterapia
em seu estudo para comparar uma intervenção com programas de exercícios baseados em
realidade aumentada (não imersiva) a uma intervenção com exercícios convencionais de

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fortalecimento frente o medo de quedas. Após as 80 pessoas idosas receberem suas pré-
-determinadas intervenções, os autores evidenciaram que não ocorreram diferenças signifi-
cativas entre as intervenções, sendo apresentado que ambas intervenções foram benéficas.
As tecnologias que antes eram responsáveis por oferecerem entretenimento e serem
ferramentas de trabalho, atualmente além dessas funções, as tecnologias estão sendo em-
pregadas no campo da medicina como forma de diagnósticos e de intervenções. Intervenções
realizadas com auxílio de equipamentos tecnológicos despertam o interesse da pessoa idosa,
pois em muitas das vezes esses indivíduos não tiveram vivências com as tecnologias, sendo
algo novo para os mesmos.
As aplicações das intervenções podem ocorrer tanto em clínicas, consultórios e em
ambientes domiciliares, como realizado no estudo de Bjerk et al. (2018). Os autores reali-
zaram uma análise da relação da qualidade de vida relacionada a saúde e o medo de cair
em 155 pessoas idosas que recebiam cuidados domiciliares. Observaram que uma melhor
função física está associada a uma melhor qualidade de vida e que uma qualidade de vida
mais alta está substancialmente relacionada a um nível mais baixo do medo de quedas.
Muitas pessoas idosas, devido ao seu medo de cair, limitam as suas atividades diárias
ao seu âmbito domiciliar, diminuindo a sua interação social, ocasionando consequências
negativas para a sua vida, cabe então a equipe multidisciplinar adaptar suas intervenções
à realidade domiciliar do indivíduo, possuindo como prognóstico a independência funcional
e o seu retorno à vida social.
Diante disso, Auais et al. (2017) realizaram um estudo com 1841 pessoas idosas com
objetivo de examinar a associação do medo de quedas com a mobilidade no espaço vital,
ou seja, o espaço em que a pessoa se move no seu dia a dia. Identificaram que o medo de
quedas é um fator psicológico importante e que está relacionado com a redução do espaço
vital, devendo a temática do medo de quedas ser abordada, para auxiliar as pessoas idosas
a melhorarem a sua mobilidade, bem como sua participação social.
Completando Auais et al. (2017), os autores Aguiar, Lopes e Souza (2019) afirmam que
a mobilidade e o equilíbrio estão diretamente ligados à propensão da ocorrência de futuras
quedas, ficando evidente a necessidade da plena discussão e elaboração de estratégias
que abordem o aperfeiçoamento da mobilidade, para que assim, diminua os fatores de risco
para o ato de cair.
As quedas nas pessoas idosas é um fato corriqueiro, já caracterizado como um pro-
blema de saúde pública, sendo imprescindível a atuação de uma equipe multidisciplinar na
população idosa, visando atender os princípios do Estatuto do Idoso. Devendo-se assim,
possuir intervenções multifatoriais para a redução dos riscos de cair, principalmente para
evitar o surgimento do medo de quedas.

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CONCLUSÃO

No contexto geral dos artigos analisados por esta revisão integrativa da literatura, a
temática do medo de quedas na população idosa se mostrou bem definida e explanada.
Foi observado que o medo de quedas é um fator de risco para a ocorrência de no-
vas quedas, sendo um fator intrínseco, mas que com a aplicação de intervenções seja
de cunho mente-corpo, cognitivo e/ou exercícios físicos podem proporcionar a redução
do medo de quedas.
Também se evidenciou que existe uma relação direta entre o medo de quedas e a
qualidade de vida, ou seja, quanto menor o medo de quedas melhor é a qualidade de vida.
É possível destacar que toda a equipe multidisciplinar possui o seu papel fundamental
quando diz respeito ao medo de quedas, cada profissional proporcionando de forma distinta
e complementar os seus saberes, seguindo assim, os preceitos estabelecidos no Estatuto
do Idoso para um atendimento universal e igualitário.
Os resultados da presente revisão integrativa da literatura podem ser úteis aos pesqui-
sadores que buscam informações sobre a temática do medo de quedas, mas não se exclui
a necessidade de novos estudos, ressaltando a sua importância, sobretudo os estudos
transversais, longitudinais e em específico na população brasileira.

Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de


Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.

REFERÊNCIAS

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22
PREVALÊNCIA DE FRAGILIDADE E FATORES
ASSOCIADOS EM IDOSOS LONGEVOS DO
INTERIOR NORTE DE PORTUGAL

Leonel São Romão Preto João Filipe Barreira Preto


Instituto Politécnico de Bragança Santa Casa da Misericórdia de Montalegre

Maria do Carmo Dias da Conceição Jéssica Raquel Afonso Areias


Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro Unidade Local de Saúde do Nordeste

Telma Martins Figueiredo André Filipe Morais Pinto Novo


Câmara Municipal de Alfândega da Fé Instituto Politécnico de Bragança

Ilda Maria Morais Barreira Maria Eugénia Rodrigues Mendes


Unidade Local de Saúde do Nordeste Instituto Politécnido de Bragança

'10.37885/230412785
RESUMO

Objetivo: Avaliar a prevalência de fragilidade, e os fatores a ela associados, em pessoas ido-


sas com 80 ou mais anos, residentes em áreas rurais do interior norte de Portugal. Métodos:
Estudo de natureza quantitativa, de tipo observacional e transversal que avaliou 120 idosos
longevos recorrendo aos critérios de fragilidade de Fried. Na avaliação multidimensional
recolheram-se dados sociodemográficos e clínicos. Foram aplicados os seguintes instru-
mentos: Índice de Comorbidade de Charlson (ICC), Índice de Barthel (IB) e Escala Lawton
e Brody (ELB) e Mini Nutritional Assessment (MNA). Resultados: Os 120 idosos que parti-
ciparam no estudo (86,2±4,1 anos) eram maioritariamente mulheres (68,3%). A fragilidade
foi prevalente em 55,8% dos idosos e a pré-fragilidade em 38,3% , associando-se ao uso de
meios auxiliares de marcha e dificuldades de audição. Os idosos fragilizados tomavam um
maior número de medicamentos, apresentavam maior comorbidade, apresentavam maior
dependência para realizar atividades básicas e instrumentais de vida diária e possuíam um
maior risco de desnutrição. Conclusão: É fundamental prevenir e gerir a fragilidade, não
apenas tendo em conta causas fisiopatológicas tratáveis, mas também intervindo em pilares
importantes como a atividade física e os problemas dietéticos e nutricionais.

Palavras-chave: Envelhecimento, Idoso Fragilizado, Idoso de 80 Anos ou Mais,


Comunidades Rurais.
INTRODUÇÃO

A síndrome de fragilidade é definida como um estado clinicamente reconhecível de


vulnerabilidade em múltiplos sistemas fisiológicos, os quais perderam a capacidade de
enfrentar com sucesso os fatores de stress a que diariamente são sujeitos (FRIED, et al.,
2001). A fragilidade é cada vez mais entendida como uma síndrome geriátrica, (distinta de
incapacidade e comorbidade), que resulta da redução de energia e da capacidade de re-
serva, potenciando riscos e resultados adversos em saúde e passível de ser remediada ou
prevenida (XUE, 2011).
A literatura sugere a existência de quatro fatores principais que contribuem para a
fragilidade: (i) fatores genéticos; (ii) doença subclínica e sequelas de patologias agudas ou
trauma; (iii) estilos de vida/ meio ambiente; (iv) e envelhecimento (STRANDBERG, et al.,
2011). Para além destes fatores a fragilidade tende a aumentar com a presença de comor-
bidades, presença de deficit cognitivo e institucionalização (LEE., 2022).
No contexto demográfico europeu observamos uma realidade marcada pelo envelhe-
cimento populacional, sendo que em Portugal existem 151 pessoas com mais de 65 anos
de idade por cada 100 jovens, o que prioriza o correto diagnóstico das situações de saúde
do idoso, como por exemplo a condição de fragilidade da pessoa idosa (PRETO., 2018).
De acordo o anteriormente descrito, e tendo em conta que a fragilização dos idosos é
incrementada com o aumento da idade, desenvolvemos um estudo que teve como objetivo
proncipal avaliar a prevalência de fragilidade, e os fatores a ela associados, em pessoas
com 80 ou mais anos de idade residentes em áreas rurais do interior norte de Portugal.

MÉTODOS

Tipo de estudo

Este estudo é de natureza quantitativa, de tipo observacional e transversal.

Amostra e coleta de dados

A investigação foi levada a cabo em três concelhos do interior norte de Portugal


(Alfândega da Fé, Macedo de Cavaleiros e Murça) situados na província de Trás-os-Montes
e Alto Douro, onde, segundo os censos de 2021, existe uma população residente de 1666
pessoas com 80 ou mais anos, nos três municípios referidos. Por amostragem não-probabi-
lística participaram no estudo 120 idosos, os quais foram avaliados pela equipe de investiga-
ção com protocolo estandardizado, em espaços disponibilizados pelas juntas de freguesia.
Como critérios de exclusão, excetuámos do estudo os idosos com deficit cognitivo grave
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(após rastreio pelo Breve Questionário Portátil sobre o Estado Mental) e aqueles que não
possuíam capacidade para a marcha.

Variáveis em estudo

A entrevista, por formulário estruturado, abordou questões sociodemográficas (sexo,


idade, estado civil e escolaridade) e clínicas (presença de comorbidades, capacidade funcio-
nal para a execução de atividades básicas/ instrumentais de vida diária, estado nutricional
e fenótipo de fragilidade).
A presença de comorbidades foi avaliado pelo Índice de Comorbidade de Charlson
(ICC), ajustado por idade (CHARLSON, et al., 1994). A capacidade para a realização de
atividades básicas de vida diária foi avaliada pelo Índice de Barthel (IB), e as atividades
instrumentais através da Escala de Lawton e Brody (ELB).
O estado nutricional dos idosos foi calculado pelo Mini Nutricional Assessment (MNA).
A variável fragilidade foi avaliada com base no fenótipo de fragilidade de Fried (FRIED,
et al., 2001). O protocolo avalia cinco critérios de fragilidade, designadamente: (i) Perda
de peso não-intencional no último ano; (ii) Fadiga; (iii) Baixo nível de atividade física; (iv)
Diminuição da velocidade da marcha; (v) Diminuição da força de preensão manual. De acordo
com o modelo de Fried, a ausência destes critérios classifica os participantes como idosos
robustos ou não-frágeis. A presença de um ou dois critérios classifica como pré-fragilidade
e a presença de três ou mais critérios classifica como idosos frágeis (FRIED, et al., 2001).

Procedimentos éticos e estatísticos

Foram seguidas todas as diretrizes éticas recomendadas, designadamente os princí-


pios constantes na Declaração de Helsinque. Os idosos participaram no estudo de forma
livre e esclarecida assinando consentimento informado. O protocolo de estudo foi subme-
tido ao Comité de Ética em Pesquisa de um centro de investigação, sediado em Coimbra
(UICISA: E) e aprovado sob parecer 318/12-2015.
A análise descritiva e inferencial da informação foi feita por meio do programa IBM
SPSS Software, Versão 28.0.

RESULTADOS

Participaram na investigação 120 idosos com mais de 80 anos de idade, sendo que
destes 55,8% eram frágeis, 38,3% eram pré-frágeis e apenas 5,8% eram robustos. A pre-
valência de fragilidade foi assim de 55,8% na amostra em estudo.

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A maioria dos idosos era do sexo feminino (68,3%), e a média de idade foi
de 86,2±4,1 anos.
A fragilidade prevaleceu em 58,5% das mulheres e em 50% dos homens (Tabela 1).
Observamos uma associação entre o perfil de fragilidade e o uso de meios auxiliares de
marcha (p=0,018) e entre fragilidade e problemas de audição (p=0,033).

Tabela 1. Condições sociodemográficas e de saúde. Associação ao perfil de fragilidade.

Não-frágil Pré-frágil Frágil Total


p
n (%) n (%) n (%) n (%)
Sexo
Feminino 4 (4,9) 30 (36,6) 48 (58,5) 82 (100,0)
0,622
Masculino 3 (7,9) 16 (42,1) 19 (50,0) 38 (100,0)
Auxiliares de marcha
Sim 3 (5,7) 13 (24,5) 37 (69,8) 53 (100,0)
0,018
Não 4 (6,0) 33 (49,3) 30 (44,8) 67 (100,0)
Problemas de visão
Sim 3 (3,3) 35 (38,0) 54 (58,7) 92 (100,0)
0,080
Não 4 (14,3) 11 (39,3) 13 (46,4) 28 (100,0)
Problemas de audição
Sim 2 (2,8) 23 (32,4) 46 (64,8) 71 (100,0)
0,033
Não 5 (10,2) 23 (46,9) 21 (42,9) 49 (100,0)
Quedas último ano
Sim 1 (1,6) 11 (28,2) 27 (69,2) 39 (100,0)
0,107
Não 6 (7,4) 35 (43,2) 40 (49,4) 81 (100,0)
p- Significância, teste Qui-quadrado.

Como se denota pela tabela 2 a idade média dos participantes rondou os 86 anos,
existindo diferenças de médias, com significância estatística, entre as várias categorias da
variável fragilidade (p<0,05).
Em termos médios, os participantes do estudo consumiam cinco medicamentos diá-
rios, sendo esse número mais elevado nos idosos fragilizados (p<0,05). Do mesmo modo,
e como se pode verificar pelos valores médios do ICC, os idosos fragilizados apresentavam
mais comorbidades (p<0,05).
Relativamente às atividades básicas (IB) e instrumentais de vida diária (ELB), a análise
dos valores médios pelas categorias da variável fragilidade, indica que os idosos frágeis,
apresentam uma maior dependência funcional para a realização das suas atividades quo-
tidianas (p<0,05).
Os valores médios da triagem nutricional do MNA, sugerem que os idosos mais fragi-
lizados apresentam maior risco de desnutrição (p<0,05).

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Tabela 2. Valores médios amostrais e entre níveis de fragilidade.

Amostra em Não-frágil Pré-frágil Frágil


p
estudo M ± DP M ± DP M ± DP
Idade (anos) 86,2 ± 4,1 83,8 ± 2,9 85,4 ± 2,9 87,0 ± 4,7 <0,005
Medicamentos 5,2 ± 3,0 3,6 ± 2,1 3,8 ± 2,2 6,2 ± 3,1 <0,005
IMC (Kg/m2) 25,3 ± 3,8 27,0 ± 4,7 25,4 ± 4,3 25,0 ± 3,3 0,430
ICC 5,4 ± 1,7 4,3 ± 0,8 4,9 ± 1,3 5,9 ± 1,9 <0,05
IB 85,2 ± 18,9 95,7 ± 4,5 92,9 ± 4,5 78,8 ± 23,0 <0,005
ELB 11,7 ± 4,5 14,3 ± 3,4 13,9 ± 2,5 9,9 ± 4,8 <0,005
MNA 11,1 ± 2,4 13,1 ± 1,1 12,1 ± 1,7 10,2 ± 2,5 <0,005
p- Significância do teste de análise de variância (ANOVA); M- Média; DP- Desvio Padrão; IMC- Índice de Massa corporal; ICC- Índice de Comor-
bidade de Chalson; IB- Índice de Barthel; ELB- Escala de Lawton e Brody; MNA- Mini Nutricional Assessment.

DISCUSSÃO

No nosso estudo encontrámos uma prevalência de fragilidade de 55,8%. A fragilidade


na população idosa tem sido objeto de vários estudos, os quais sugerem um intervalo amplo
de valores para a prevalência que oscila entre os 4% e os 59,1% (COLLARD, et al., 2012).
Sabe-se que a fragilidade, como síndrome geriátrica, aumenta correlacionada com a idade,
sobretudo em idosos octogenários, nonagenários ou centenários, com o deterioro da condi-
ção física e do estado de saúde. Um estudo realizado no Brasil relatou 65,2% de fragilidade,
entre indivíduos com 80 anos ou mais de idade (CARNEIRO, et al., 2017).
Na presente investigação observamos uma associação entre o perfil de fragilidade e o
uso de meios auxiliares de marcha. Estudos prévios demonstram associações entre fragilida-
de e níveis mais baixos de força muscular nos membros inferiores (ABIZANDA, et al., 2012).
Os achados do nosso trabalho sugerem que os idosos fragilizados apresentavam
mais comorbidades, em linha com as evidências de outros estudos (SANTOS, et al., 2023;
PRETO, et al., 2018). Sabe-se que a probabilidade de surgimento de déficits biológicos e
doenças aumenta durante o processo de envelhecimento e a literatura enfatiza a diminui-
ção de qualidade de vida relacionada com a saúde e a alta prevalência de doenças cróni-
cas em pessoas muito idosas (STRANDBERG, et al., 2011). Recentemente, uma revisão
sistemática com meta-análise (48 estudos; n = 78.122 participantes) demonstrou que a
multimorbidade duplica o risco de fragilidade em pessoas idosas que vivem na comunidade
(VETRANO, et al., 2018).
A fragilidade, em nossos participantes, foi associada a maior dependência para realizar
atividades básicas e instrumentais de vida diária, em linha com os resultados de estudos
prévios (COVENTRY, et al., 2020; SANTOS, et al., 2023).
Os resultados do nosso estudo mostram uma associação entre maus resultados da
triagem nutricional feita pelo MNA e síndrome de fragilidade. De acordo com a teoria da
fragilidade fenotípica o estado nutricional pode influenciar dois critérios específicos de fragi-
lidade: a perda de peso e a fadiga/exaustão (FRIED, et al., 2001). A boa nutrição e a dieta
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equilibrada são determinantes da saúde humana. Com o processo de envelhecer ocorrem
alterações fisiológicas, como por exemplo a redução do número de papilas gustativas, a
perda parcial da dentição, a diminuição de secreção salivar e outras alterações hormonais
que afetam o metabolismo e potenciam um maior risco nutricional. Uma revisão sistemática
da literatura feita com base em 32 artigos concluiu que a desnutrição é um fator de risco
significativo para a desenvolvimento da síndrome de fragilidade e que, por outro lado, uma
dieta moderadamente hiperproteica combinada com suplementação de cálcio e vitami-
na D contribuía para a prevenção desta síndrome geriátrica (ARTAZA-ARTABE, et al; 2016).

Limitações do estudo

A principal limitação do presente estudo prende-se com o modelo de amostragem não


probabilístico seguido, o que dificulta a projeção e extrapolação de resultados para a popu-
lação total de idosos longevos do contexto geográfico de pesquisa.

CONCLUSÃO

Caraterizada pelo declínio da função em múltiplos órgãos e sistemas que perderam


a sua capacidade de adaptação, homeostasia e perda de reservas fisiológicas a síndrome
de fragilidade está intimamente associada ao envelhecimento. Apesar da necessidade de
entendermos melhor a sua relevância clínica, a literatura demostra a alta prevalência da
fragilidade em residências geriátricas e idosos longevos que residem na comunidade.
No presente estudo encontrámos uma prevalência de idosos fragilizados de 55,8%.
Estes idosos exibiam um perfil marcado por elevada idade, eram predominantemente do
sexo feminino e apresentavam problemas sensoriais, nomeadamente dificuldade auditiva.
Necessitavam também de meios auxiliares de marcha, consumiam um maior número de
medicamentos diários e tinham uma elevada comorbidade. A avaliação por nós realizada
concluiu que os idosos frágeis apresentavam maior dependência básica e instrumental e
um maior risco de desnutrição.
O rastreio da fragilidade deverá ser implementado, por rotina, na avaliação multidimen-
sional do idoso, nos campos da geriatria e gerontologia, recorrendo a instrumentos objetivos
já testados para a sua avaliação, pois o seu diagnóstico é fundamental ao planeamento de
intervenções em saúde.
À luz da evidência atual, o treinamento físico, cognitivo e os aspetos nutricionais, pa-
recem constituir-se como pilares na prevenção e gestão desta síndrome.

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Agradecimentos

Expressamos os nossos agradecimentos a todos os idosos que aceitaram participar


no estudo e às autarquias e entidades municipais pela colaboração prestada.

REFERÊNCIAS

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comorbidity index. Journal of Clinical Epidemiology, v.47, n. 11, p. 1245-1251, 1994.

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COVENTRY, P; et al. Frailty and depression predict instrumental activities of daily living
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STRANDBERG, T.; PITKÄLÄ, K.; TILVIS, R. Frailty in older people. European Geriatric
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23
PROMOVENDO A INTEGRALIDADE ATRAVÉS DA
REESTRUTURAÇÃO DO NÚCLEO DO IDOSO DE
UM HOSPITAL REGIONAL DE PERNAMBUCO

Vanessa de Barros e Silva Mazer

Fábio Gonçalves Viana Neto

Angélica Barbosa Arruda Patriota

Kátia Goretti Veloso Lins

Artigo original publicado em: 2020


Estud. interdiscipl. envelhec.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais Lei 9610/98

'10.37885/230513169
RESUMO

Introdução: O crescimento da população idosa é um fenômeno observado mundialmente. Diante des-


sa realidade devem ser criadas ações e estratégias para enfrentamento das principais necessidades
dessa população levando em consideração a integralidade. O presente estudo teve como objetivo
promover uma melhor assistência aos usuários do Núcleo do Idoso de um Hospital Regional através
da construção de um instrumento de avaliação multiprofissional, reorganização do fluxo dos atendi-
mentos e criação da sala de espera como espaço para educação em saúde. Metodologia: Trata-se
de uma pesquisa de intervenção baseada na metodologia de pesquisa--ação e teve como amostra os
profissionais que compõem o Núcleo do Idoso do HRDM. A intervenção foi realizada em três etapas:
a elaboração do instrumento de avaliação multiprofissional, estruturação do fluxo de atendimentos
e criação da sala de espera. Resultados e discussão: O instrumento de avaliação foi classificado
como satisfatório pelos profissionais reforçando a importância desse tipo de ferramenta. Ao todo foram
realizadas 11 salas de espera abordando diversos temas. As intervenções utilizadas para estruturação
do fluxo de atendimentos favoreceram a continuidade e direcionalidade das ações interferindo direta-
mente a qualidade do serviço ofertado ao usuário. Conclusão: o presente estudo alcançou o objetivo
proposto através da criação do instrumento de avaliação, da estruturação do fluxo de atendimentos
e da criação da sala de espera. A elaboração de estratégias para garantir um olhar integral à saúde
do idoso é um desafio e a utilização das tecnologias em saúde surge com o intuito de promover uma
melhor assistência ao usuário.

Palavras-chave: Envelhecimento, Saúde do Idoso, Integralidade em Saúde, Educação em


Saúde, Assistência Centrada no Paciente.
INTRODUÇÃO

O crescimento da população idosa é um fenômeno observado mundialmente e este


se deve ao processo de transição demográfica e epidemiológica (DA CRUZ; CAETANO;
LEITE, 2010; FERREIRA; YOSHITOME, 2010). No Brasil, essas transições iniciaram por
volta de 1940, devidas principalmente à substituição das doenças transmissíveis por doenças
não transmissíveis e o predomínio da morbidade ao invés da mortalidade (CHAIMOWICZ,
2009). Segundo análise realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
em 2016, a população idosa representa 11,5% da população total brasileira, sendo o sexto
país do mundo em taxa de envelhecimento populacional (DA CRUZ; CAETANO; LEITE,
2010). Diante deste quadro e tendo em vista o crescimento da população idosa no Brasil, foi
criada a Política Nacional de Saúde do Idoso em 1999, através da Portaria n.º 1395, sendo
reformulada em 2006 através da Portaria n.º 2528.
A criação de ações e estratégias para enfrentamento das principais necessidades da
população idosa se configura como um desafio denso e árduo, pois a desarticulação do
sistema dificulta uma lógica de assistência pautada na integralidade (DA CRUZ; CAETANO;
LEITE, 2010; MENDES, 2012). As equipes de saúde devem estar preparadas para atuar de
maneira tal que consigam identificar as necessidades do idoso de uma forma integral a fim
de oferecer o cuidado essencial. Para isso, é necessário entender que as complexidades de
suas demandas vão além de complicações crônicas e agudas, o que exige acompanhamento
contínuo de uma equipe multiprofissional de saúde (REMOR et al., 2011).
Pensando em estratégias para efetivação da Política Nacional de Saúde do Idoso
(BRASIL, 2017), a Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco criou em agosto de 2016,
o Núcleo do Idoso no Hospital Regional Dom Moura (HRDM), no município de Garanhuns/PE.
Esse equipamento é de fundamental importância para a V Região de Saúde, pois funciona
como referência para os 21 municípios que dela fazem parte. De acordo com o DATASUS
em senso realizado no ano de 2012 a população de idosos da V Regional é de 61.651, re-
presentando 11,89% da população total dessa região (BRASIL, 2012).
O Núcleo do Idoso surgiu com o objetivo promover um serviço qualificado e multipro-
fissional composto por médico, enfermeira, fisioterapeuta, nutricionista, assistente social e
psicóloga. Os atendimentos acontecem uma vez por semana e os idosos são acompanha-
dos por toda a equipe multiprofissional. Para ingressar no Núcleo o idoso precisa ter idade
maior que 65 anos e apresentar pelo menos três comorbidades. Desde a sua implantação
até o mês de fevereiro do ano corrente, já foram realizados cerca de 357 atendimentos das
categorias supracitadas, e, no momento, 136 idosos são acompanhados.
Diante disso, o presente estudo teve como objetivo contribuir para uma melhor assis-
tência aos usuários do Núcleo do Idoso do HRDM, através da construção de um instrumento
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de avaliação multiprofissional, reorganização do fluxo dos atendimentos e criação da sala
de espera como espaço para educação em saúde.

MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo foi realizado no Núcleo do Idoso do HRDM. Trata-se de um projeto de interven-


ção baseado na metodologia de pesquisa-ação. Esse tipo de metodologia tem como principal
característica a aproximação do pesquisador e dos profissionais envolvidos com o objetivo de
transformar alguma realidade (BALDISSERA, 2001). A presente pesquisa foi aprovada pelo
Comitê de Ética da Autarquia Educacional de Belo Jardim (CAAE: 79946217.1.0000.5189
e Parecer n.º: 2.470.504). A amostra do estudo foi formada pelos profissionais que compõe
o Núcleo do Idoso do HRDM e como critério de exclusão os profissionais que se recusas-
sem a participar da pesquisa. A intervenção foi realizada em três etapas, conforme fluxo-
grama da Figura 1.

Figura 1. Fluxograma das etapas do estudo

Fonte: Elaborada pelos autores.

Todas as etapas ocorreram de forma concomitante e para realização das mesmas fo-
ram realizadas reuniões com a equipe do Núcleo, encontros individuais com os profissionais
e levantamento bibliográfico. As reuniões com toda a equipe foram planejadas para serem
realizadas mensalmente bem como os encontros individuais com os profissionais. As ações
da sala de espera, momento em que os usuários aguardam os atendimentos dos profis-
sionais, oram avaliadas através da mensuração da quantidade de ações que deveriam ter
sido realizadas e as que de fato foram realizadas. A avaliação do instrumento de avaliação
multiprofissional e da estruturação do fluxo foi realizada através de um questionário de sa-
tisfação direcionado aos profissionais.
Esse questionário foi construído baseado no modelo de verificação de Likert. O mesmo
contendo seis afirmativas (quatro referentes ao instrumento de avaliação e dois referentes
ao fluxo): 1. O instrumento de avaliação é de fácil preenchimento; 2. A linguagem utilizada
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no instrumento é clara e objetiva; 3. O conteúdo do instrumento de avaliação é satisfatório;
4. O instrumento de avaliação é útil na rotina da minha prática profissional; 5. A utilização do
guia de atendimentos ajudou a melhorar o fluxo e 6. A presença de um profissional guiando
os usuários ajudou a melhorar o fluxo. Os dados coletados foram avaliados por meio de
análise descritiva, que, segundo Silvestre (2007), é utilizada com o objetivo de organizar e
descrever os dados. Para isso, foram construídos gráficos, tabelas e fluxogramas, através
do programa Microsoft Excel 2010.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa foi realizada no período de setembro de 2017 a fevereiro de 2018. Todos


os integrantes do Núcleo aceitaram participar, totalizando uma amostra de seis indivíduos
(um médico, uma enfermeira, um fisioterapeuta, uma psicóloga, um assistente social e uma
nutricionista). Inicialmente, foi realizada uma reunião com a equipe multiprofissional objeti-
vando uma explanação e discussões sobre as intervenções. Esse momento serviu como um
espaço para a promoção de uma integração inicial entre o pesquisador e os profissionais.
Além disso, elencaram-se discussões a respeito da pesquisa e qual a melhor maneira de
conduzi-la de forma que fosse uma intervenção relevante para o grupo.
Para a efetivação de todas as etapas foram realizadas reuniões entre a equipe e o
pesquisador e encontros individuais com os profissionais do Núcleo. Entretanto, houve
dificuldades em realizar reuniões de forma periódica e conseguir a participação de toda a
equipe, devido à limitação da disponibilidade de alguns integrantes do grupo. Durante os
seis meses do estudo, houve quatro reuniões entre a equipe, contudo, nenhuma teve a
presença de todos os profissionais.
Em estudo realizado por Peduzzi et al. (2011), foi demonstrada a dificuldade na reali-
zação de reuniões de equipe, principalmente devido aos diferentes turnos de trabalho dos
profissionais e à pouca disponibilidade de tempo. A presente pesquisa corrobora com os
achados do autor supramencionado, onde foi possível perceber que a rotina sobrecarre-
gada e as diversas atribuições que os profissionais possuíam dificultaram a continuidade
desses espaços de partilha de conhecimentos e construção de mudanças. Esses espaços
de encontro entre os profissionais devem ter como objetivo o planejamento para se alterar
alguma realidade. Segundo Campos, Faria e Santos (2010), o planejamento surge através
da necessidade de se alcançar algum objetivo e deve ser realizado principalmente quando
se almeja um propósito complexo que precisa da interação de diferentes áreas profissionais,
como é o caso do Núcleo do Idoso.
Para criação da sala de espera, momento em que os usuários esperam para serem
atendidos, foi construído um cronograma junto à equipe com a sequência dos profissionais
342
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que realizariam as salas durante os dias de atendimento em cada mês. Esse cronograma
foi seguido durante os seis meses e no total ocorreram 11 salas de espera, 100% do que
havia sido planejado, com uma média de 9,4 participantes por sala, como mostra a Tabela 1.

Tabela 1. Ações de educação em saúde na sala de espera do Núcleo do Idoso do Hospital Regional Dom Moura durante
o ano de 2017 e 2018.
Profissional Número de
Data Tema
responsável participantes
10/11/2017 Benefício de Presta ‹o Continuada Assistente Social 9
17/11/2017 Mitos e verdades sobre alimentação saudável Nutricionista 6
27/11/2017 Importância do exercício e suas particularidades Fisioterapeuta 7
01/12/2017 Autocuidado e qualidade de vida Psicóloga 10
08/12/2017 Importância da hidrata ‹o Nutricionista 9
15/12/2017 Violência contra o idoso Assistente Social 15
22/12/2017 Orientações ergonômicas Fisioterapeuta 12
Depressão, isolamento, solidão e falta de cuidado
02/02/2018 Psicóloga 12
consigo mesmo para uma qualidade de vida
09/02/2018 Carnaval Nutricionista 7
16/02/2018 Envelhecimento Assistente Social 7
Artrite, artrose e osteoporose: particularidades e
23/02/2018 Fisioterapeuta 10
maneiras de aliviar os sintomas
Fonte: Elaborada pelos autores.

A sala de espera se configura como um espaço de reflexão que estimula a proximidade


da população ao serviço, provocando a construção de dúvidas, críticas e opiniões sobre
diversos assuntos inclusive relacionados ao envelhecimento e para tal deve-se utilizar de
metodologias que introduzam o usuário em todo o processo (ASSIS et al., 2007; COMBINATO
et al., 2010). Durante a realização das salas de espera desta pesquisa, os profissionais utili-
zaram metodologias ativas a fim de estimular a participação de todos. Esse tipo de metodolo-
gia é caracterizado pela utilização da problematização como estratégia para aprendizagem,
fazendo com que o indivíduo reflita e possa ressignificar suas descobertas e assim exercitar
a liberdade e autonomia na realização de escolhas (FREITAS et al., 2015). Durante esses
momentos foi observado como essa população necessita de ações de educação em saúde,
pois apresentam demandas complexas que muitas vezes são identificadas durante esses
momentos, como, por exemplo, a presença de mais de uma comorbidade de saúde junto
à vulnerabilidade social, relações fragilizadas dentro de suas residências e com a rede de
saúde, falta de conhecimento acerca de seus direitos, entre outros. Diante desse contexto,
a presença de uma equipe multiprofissional torna-se indispensável.
A Tabela 1 mostra os temas que foram abordados nas salas de espera durante os
seis meses do estudo e esses resultados entram em consonância com pesquisa realizada
por Mallmann e colaboradores (2015), que trazem como principais temas a serem abor-
dados para educação em saúde com idosos a promoção da saúde principalmente através
da realização de exercícios físicos, alimentação saudável e orientações quanto ao apoio
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social. Apesar da maioria das salas de espera terem ocorrido com um tema já predefinido é
importante destacar que muitas vezes durante a sua realização o tema foi moldado a partir
das demandas que surgiam dos usuários. Observamos ainda na Tabela 1 que as salas de
espera foram realizadas por quatro categorias de profissionais e a equipe era comporta por
seis. Tal fato ocorreu devido às limitações de disponibilidade destes profissionais por conta
dos seus atendimentos nos dias que ocorreram as salas de espera.
Para além dos resultados quantitativos, observamos as reações dos idosos durante
esses momentos. No decorrer de todas as salas os usuários se mostraram interessados nas
temáticas e contribuíram de forma ativa para a realização das mesmas. Relataram a impor-
tância desses momentos para seu processo de envelhecimento, pois foi possível a aquisição
de novos conhecimentos através das trocas de experiências vivenciadas. Desenvolvida a
partir da identificação de problemas do cotidiano profissional, a educação permanente procura
levar em consideração os conhecimentos e as experiências pré-existentes das equipes e
dos usuários, além do conhecimento técnico, com o objetivo de transformar as práticas em
saúde (LOPES et al., 2007). Esse dispositivo funciona aproximando o cotidiano do profissional
do SUS com as necessidades da população promovendo a construção de políticas locais e
formação e produção de conhecimentos necessários para formulação de políticas públicas
de saúde, favorecendo o poder deliberativo da população através do fortalecimento de sua
participação (LOPES et al., 2007).
Durante a elaboração do instrumento de avaliação multiprofissional (Apêndice A),
foram discutidos aspectos relevantes para cada profissão, que deveriam estar contidos
no mesmo, como, por exemplo, escalas de avaliação de funcionalidade e de depressão.
Para construção do instrumento cada categoria profissional elaborou um trecho e, no fim,
eles foram sintetizados em um único instrumento e assim durante o processo de avaliação
cada um preenchia sua parte e tinha acesso às informações dos outros profissionais. Após
a construção do instrumento, baseado nos domínios preconizados pela Organização Pan-
Americana da Saúde (MORAES, 2012) e com a contribuição de todas as categorias profis-
sionais, ele foi apresentado à toda equipe do Núcleo do Idoso, através de uma reunião, para
apreciação de todos e possíveis alterações, e em seguida passou a ser utilizado durante os
atendimentos aos usuários.
Para avaliação desse instrumento os profissionais responderam um questionário de
satisfação construído de acordo com a escala de Likert, onde foi atribuída uma pontuação
para cada alternativa: um ponto para “discordo totalmente”, dois pontos para “discordo par-
cialmente”, três pontos para “não concordo nem discordo”, quatro pontos para “concordo
parcialmente” e cinco pontos para “concordo totalmente”.

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A Figura 2 mostra o gráfico com a média das respostas dos profissionais referentes
a cada item do questionário de avaliação. Pode-se observar que nos itens referentes ao
preenchimento e conteúdo do instrumento (questões 1 e 3), a maioria das respostas ficou
entre “concordo parcialmente” e “concordo totalmente”, já os itens referentes à linguagem e
à contribuição da ficha para a prática profissional (questões 2 e 4) apresentaram a pontuação
máxima referente a “concordo totalmente”. Esses resultados demonstram que houve um
grau de satisfação positivo dos profissionais em relação ao instrumento.

Figura 2. Gráfico referente à média da resposta dos profissionais para o Questionário de Avalia ‹o do Instrumento criado.

Fonte: Elaborada pelos autores.

A avaliação multiprofissional do idoso é uma ferramenta importante, pois considera


os múltiplos diagnósticos em saúde a que os idosos estão sujeitos e descobre problemas
que geralmente não são abordados de forma adequada, necessitando do envolvimento dos
profissionais, do idoso e da família (MORAES, 2012; RODRIGUES et al., 2015). Durante a
construção do instrumento de avaliação, os profissionais do Núcleo tiveram a oportunidade
de adequá-lo à realidade de suas rotinas elaborando uma ficha de fácil preenchimento que
pudesse diagnosticar e quantificar as dificuldades dos idosos para, a partir disso, estabelecer
um planejamento individualizado.
A demanda da estruturação do fluxo surgiu a partir da necessidade de se organizar os
atendimentos da equipe multiprofissional para que os idosos fossem atendidos por todos
da equipe. Para isso, foi criado um Guia de Atendimentos Individual contendo o nome de
todas as categorias profissionais que atendem no Núcleo e esses nomes eram destacados
à medida que o usuário fosse atendido por cada categoria. Dessa forma era possível saber
quais profissionais atenderam o idoso e quais ainda faltavam. Associado a isso, a pesqui-
sadora auxiliou o fluxo através do acompanhamento desses Guias junto aos usuários, pois

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foi observado e pontuado pelos profissionais a necessidade de uma pessoa de apoio para
garantir o seguimento do mesmo.
Os resultados referentes às respostas dos profissionais em relação às intervenções
realizadas para organizar o fluxo de atendimentos estão demonstrados na Figura 2. Todos
os profissionais pontuaram concordo totalmente para as duas questões referentes ao fluxo
(questões 5 e 6) afirmando que a utilização do guia de atendimentos e a presença de um
profissional guiando os usuários ajudou a melhorar o fluxo.
Roese e Gerhardt (2008) definem fluxos de utilização de serviços como uma busca
por um atendimento ou a trajetória percorrida pelo usuário, estando diretamente relacio-
nado a todos os esforços realizados para se conseguir uma resolutividade. O emprego de
instrumentos que favoreçam os fluxos garante a direcionalidade e continuidade das ações
interferindo diretamente na qualidade do serviço ofertado ao usuário além de melhorar os
processos de trabalho (WERNECK; FARIA; CAMPOS, 2009). Durante as intervenções para
o fluxo foi possível observar a participação de todos os profissionais nesse processo e uma
consequente melhoria da qualidade dos atendimentos por conta da sua organização.
Segundo Oliveira e Cutolo (2012), a integralidade não significa totalidade quando le-
vamos em consideração a complexidade do processo saúde-doença, e se configura no mo-
mento em que os profissionais estão em contato com os usuários, interagindo e procurando
um território em comum com o objetivo de favorecer o contato com o mesmo. Esse princípio
não exclui o conhecimento sobre as doenças, mas proporciona uma visão mais abrangente
sobre as necessidades do sujeito, sendo realizada quando se procura um estabelecimento
de uma relação com o usuário promovendo um cuidar compromissado, baseado em res-
ponsabilidade e confiança (OLIVEIRA; CUTOLO, 2012).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A criação de estratégias para garantir a integralidade da atenção à saúde para o idoso


é um desafio, o presente estudo alcançou o objetivo proposto através da criação de um ins-
trumento de avaliação multidisciplinar do idoso, da estruturação do fluxo de atendimentos e
da criação da sala de espera. A partir dessas intervenções foi possível observar uma melhora
na qualidade nos atendimentos dos usuários no Núcleo do Idoso. Estudos que utilizam a
metodologia da pesquisa-ação são de extrema importância, pois possuem a capacidade de
mudar alguma realidade e para isso deve haver o comprometimento de todos os envolvi-
dos. Durante a execução do trabalho, pode-se pontuar como uma limitação a dificuldade,
em alguns momentos, do comprometimento de todos os profissionais, como foi discutido
anteriormente no tocante as reuniões.

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O cuidado segundo Cecílio e Merhy (2003, p. 2) “é um somatório de pequenos cuidados
parciais que vão se complementando, de maneira mais ou menos consciente e negociada,
entre os vários cuidadores” e para geri-lo é necessário a utilização das tecnologias de saúde
(leves, leve-duras e duras). Durante a pesquisa, foi possível observar a utilização dessas
tecnologias com o objetivo de promover uma melhor assistência ao usuário a partir de um
olhar pautado no cuidado integral.

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24
SNAQ 65+ COMO INSTRUMENTO DE TRIAGEM
NUTRICIONAL APLICÁVEL EM IDOSOS: UMA
REVISÃO NARRATIVA

Samily Martins da Costa


Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura Municipal
de Sobral (SMS/PMS)

Maria Leilah Monte Coelho Lourenço


Centro Universitário Inta (UNINTA) )

Mariane Silveira Magalhães Fernandes


Centro Universitário Inta (UNINTA)

Jorge Luís Pereira Cavalcante


Centro Universitário Inta (UNINTA)

'10.37885/230513125
RESUMO

O envelhecimento é um processo natural em que ocorrem mudanças fisiológicas graduais,


irreversível e não patológicas. Diante dessas mudanças, é fundamental avaliar a condição
de risco nutricional, em espacial, do idoso por meio de ferramentas específicas como a
Short Nutritional Assessment Questionnaire 65+ (SNAQ 65+), considerada padrão-ouro
para determinar a desnutrição em idosos na comunidade. Dentro desse contexto, o objetivo
desta pesquisa foi apresentar o estado da arte da aplicabilidade da SNAQ 65 + em ido-
sos. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica do tipo revisão narrativa, realizada em artigos
das bases de dados Scielo e PubMed com obras científicas contendo os termos ‘idosos’
e ‘SNAQ 65+’, publicadas de 2012 a 2020 sem restrição de idiomas. A narrativa foi dívida
em capítulos que consistem em uma sequência lógica para todo o desenvolvimento do
estudo. Foi observado que a ferramenta possui grande especificidade quando aplicada na
população idosa de comunidades diferentes. Também pôde-se notar que a ferramenta teria
veracidade quando aplicada em idosos institucionalizados, hospitalizados e em reabilitação.
Além disso, o estudo mostrou que a SNAQ 65+ contém itens relacionados ao diagnóstico
da sarcopenia. Conclui-se que essa ferramenta de triagem nutricional realmente tem uma
boa aplicabilidade na população idosa, além de contribuir para uma identificação precoce
de risco nutricional ou desnutrição.

Palavras-chave: Envelhecimento, Saúde do Idoso, Triagem, Desnutrição.


INTRODUÇÃO

O envelhecimento é um fenômeno natural inevitável decorrente do passar dos anos em


que ocasiona desgaste e diminuição funcional, fisiológica, orgânica e cognitiva. O indivíduo
no Brasil é considerado idoso com a faixa etária de 60 anos ou mais, sendo essa, uma po-
pulação crescente no país. Conforme estimado e divulgado em 2018 pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística - IBGE, existiam 30,2 milhões de brasileiros idosos, ocorrendo
uma grande modificação na pirâmide etária brasileira. O crescimento da população idosa
provoca muitos desafios para saúde pública, pois, consequentemente ao crescimento dela,
há o aumento na procura por atendimentos em serviços públicos de saúde (CIOSAK, 2011;
PINHEIRO; AREOSA, 2018).
A Atenção Primária à Saúde para a população idosa é de suma importância, pois ela
promove ações para um envelhecimento ativo e saudável, por meio das práticas preventivas
de doenças comuns nesses indivíduos, visando uma qualidade de vida e garantindo a auto-
nomia e direito à saúde. Esse direito da população idosa à saúde é garantido pela Política
Nacional de Saúde da Pessoa Idosa – PNSPI, tendo como finalidade proporcionar a essa
população uma vida mais digna com dependência e desenvolvimento da autonomia. O PNSPI
contribui na concretização dos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde – SUS, be-
neficiando os idosos na qualidade de um atendimento especializado (ARAÚJO et al., 2014).
O envelhecimento com presença de patologia é comum em idosos, pois trata-se de
uma faixa etária vulnerável e suscetível às Doenças Crônicas Não Transmissíveis – DCNT,
resultantes de estilo de vida e de uma má alimentação progressiva. Além das DCNT uma
das principais preocupações do sistema de saúde está relacionada a alterações no estado
nutricional, pois é um dos principais agravantes dos quadros patológicos em idosos. Assim
surge a importância de avaliação nutricional nessa população, a fim de prevenir os agravos
e doenças (NEUMANN et al., 2014).
A triagem nutricional detecta a presença de desnutrição ou o seu risco. Tal ferramenta
tem sido recomendada, nacional e internacionalmente, com o objetivo de avaliar efeitos
físicos e fisiológicos adversos do paciente. Já a avaliação nutricional classifica o estado
do indivíduo e identifica riscos de doenças relacionadas. No Brasil, o monitoramento do
estado nutricional é realizado pelo Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional- SISVAN
utilizado nos usuários da atenção básica à saúde em todos os ciclos de vida (LIMA et al.,
2016; DIAS et al., 2011).
O Curto Questionário de Avaliação Nutricional 65+ (Short Nutritional Assessment
Questionnaire 65+ - SNAQ65+ - Anexo A) é uma ferramenta de triagem foi desenvolvida
para os idosos e validada por holandeses, possuindo uma boa reprodutibilidade devido a
fácil e rápida aplicação, baixo custo, considerada padrão-ouro para determinar a desnutrição
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em idosos na comunidade e sendo inédita no Brasil, pois não existem estudo utilizando-a
no país (WIJNHOVEN et al., 2012).
Tendo em vista a grande recorrência de desnutrição na população idosa, a importância
nessa faixa etária de uma identificação precoce da desnutrição e a grande especificidade
da triagem SNAQ 65+ em idosos, surgiu o seguinte questionamento: A SNAQ 65+ poderá
ser aplicada na população idosa fora do local de onde foi desenvolvida? Com base nesse
questionamento, a presente pesquisa se desenvolve avaliando o “estudo da arte” sobre o
Curto Questionário de Avaliação Nutricional 65+.
O objetivo geral deste estudo foi realizar um levantamento bibliográfico sobre a apli-
cabilidade da ferramenta de triagem nutricional SNAQ 65 + em idosos. Já os objetivos
secundários foram: a) avaliar o “estudo da arte” sobre a aplicabilidade da SNAQ 65+; e b)
comparar está ferramenta frente às outras ferramentas aplicáveis na avaliação do risco
nutricional em idosos.
O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica do tipo narrativa. A revisão
narrativa é adequada para descrever o “estudo da arte” em curto espaço de tempo sobre
determinado assunto, tendo como base de dados estudos publicados em artigos, livros,
sites, noticiários ou revistas (ROTHER, 2007).
A pesquisa foi realizada no período de março de 2020 a junho de 2020 através de
banco de dados eletrônicos, Scientífic Eletronic Library On-line (Scielo), Medical Literature
Analysis and Retrieval System online (MEDLINE)/PubMed e site com assuntos relacionados
a saúde do idoso e o Curto Questionário de Avaliação Nutricional 65+ (SNAQ 65+).
O “estudo da arte” na pesquisa se deu no período 2011 a 2020, desde a elabora-
ção da SNAQ 65+ aos dias atuais. Os descritores usados na pesquisa foram: “Idosos”,
“Desnutrição”, “Triagem”, “Comunidade”, “SNAQ 65+”, “Envelhecimento”, “Sarcopenia”,
“Avaliação Nutricional”, “Aged”, “Malnutrition”, “Triage” e “Commynity”.
Foram incluídas no estudo publicações com artigos originais, artigos de revisão e anais
de congresso no idioma português, holandês, inglês e espanhol. Sendo descartados aquelas
publicadas antes do ano 2011 e publicações repedidas nas bases de dados.

DESENVOLVIMENTO

Envelhecimento ativo e patológico

O envelhecimento é um processo em que ocorre a diminuição funcional do organismo


humano, sendo considerado como realidade variável entre indivíduos. Esse ciclo de vida é
decorrente de múltiplos fatores, desde os fatores biológicos, genéticos e ambientais, até os
fatores culturais, de vivência, tipo de classe social e estilo de vida. Portanto, compreende-se

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que os processos e fatores antecedentes sejam determinantes para a condições atuais do
idoso (PEDONE, 2019).
A velhice normal ou senescência fisiológica é caracterizada pela perda progressiva
funcional com conjunto de alterações psicológica, biológica e funcional própria do envelhe-
cimento, com ausência de patologia. Para um envelhecimento com ausência de patologia, o
sistema de saúde juntamente com o PNSPI, promove para os idosos o envelhecimento ativo,
com objetivo de permitir um bem-estar físico, mental e social. Essa iniciativa proporciona
a participação e inclusão dos idosos na sociedade, compreendendo suas necessidades e
cuidados adequados à saúde. Tal processo visa aumentar a perspectiva e qualidade de vida
dessa população (TÁNNUS et al., 2016; TALLMANN, 2011).
O envelhecimento patológico ou senilidade também contém alterações fisiológicas,
porém com a presença da doença decorrente ou não do estilo de vida do idoso. Os principais
fatores de risco para idosos com presença de doença é o estresse, tabagismo, obesidade,
etilismo e uma nutrição inadequada, comprometendo ainda mais à saúde deles. Portanto,
é de grande importância para o envelhecimento patológico a atenção primaria à saúde,
para o tratamento de doença, avaliação do estado nutricional, possibilitando a prevenção
de agravos das doenças nos indivíduos idosos (TALLMANN, 2011; ARAÚJO et al., 2014).

Desnutrição e Sarcopenia em idosos

O estado nutricional e saúde do idoso é uma das principais preocupações do sistema


de saúde no Brasil, pois essa faixa etária é considerada mais vulnerável à doença. Diante
dessa realidade, há necessidade de um maior monitoramento do estado nutricional dessa
população, pois uma vez que o estado nutricional está debilitado pode ocorrer danos sé-
rios à saúde, como surgimento de desnutrição, hipertensão, diabetes mellitus, entre outras
DCNT, podendo também ocorrer infecções e mortalidade decorrente do estado nutricional.
Assim, torna-se fundamental a APS para idosos na promoção e prevenção dos agravos de
doenças relacionadas ao estado nutricional (NEUMANN et al., 2014).
A desnutrição nos idosos é definida pelo estado nutricional deficiente, caracterizada
pela ingestão alimentar insuficiente e baixo apetite, ocorrendo a perda do tecido muscular
e gordura, consequentemente a perda de peso grave. Nos idosos, a desnutrição causa um
estado de fragilidade e dependência, contribui para o desenvolvimento de morbidades e
aumento do risco de mortalidade. A desnutrição em idosos é multifatorial, tais fatores en-
volvidos são: ausência de dentição, dificuldade em deglutir, perda de apetite, dificuldade em
fazer uma ingestão alimentar de forma independente, ingestão alimentar reduzida, distúrbios
digestivos, doenças crônicas, baixo nível econômico, isolamento social, institucionalização,
insegurança alimentar e depressão (SARGENTO et al., 2014; SOARES, 2018).

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A desnutrição pode ter causas primárias ou secundárias, a primária surge quando o
consumo de alimentos é inadequado ou insuficiente e de baixa qualidade nutricional. Já na
secundária a desnutrição está relacionada a doenças subjacentes que alteram o processo
de absorção e/ou metabolismo do indivíduo. Entre as principais condições patológicas tipica-
mente associadas a perda de peso, encontra-se a caquexia, a anorexia, hipermetabolismo/
hipercatabolismo e a sarcopenia (DUARTE, 2017).
Por sua vez, a sarcopenia é definida pelo Grupo de Trabalho Europeu sobre Sarcopenia
em Pessoas Idosas como síndrome caracterizada pela perda progressiva e generalizada
de massa muscular esquelética associada a perda de força, com um risco de incapacidade
física, resultante do aumento nos riscos de quedas, fraturas e morte em idosos. Embora
seja encontrada principalmente em idosos, também pode se desenvolver em adultos jovens.
Sendo assim, a sarcopenia pode ser classificada em primária, quando ocorre exclusiva-
mente pelo processo de envelhecimento, e secundária quando se pode evidenciar uma ou
mais causas (relacionadas à inatividade, doenças ou nutrição) para o seu desenvolvimento
(GARIBALLA; ALESSA, 2013; CRUZ-JENTOFT et al., 2019).
No diagnóstico da sarcopenia a força tem papel principal, pois quando detectado a baixa
força muscular, a baixa qualidade muscular e baixo desempenho físico, considera-se sua
presença. Conforme estas alterações, a sarcopenia pode ser classificada em seus estágios.
Sendo o primeiro estágio denominado de pré-sarcopenia, onde ocorre apenas a perda de
massa muscular. O estágio de sarcopenia é combinação de perda muscular com perda de
função, com comprometimento da força muscular ou do desempenho muscular. E por fim,
estágio avançado ou severo, ocorre quando a perda de massa muscular é acompanhada
de perda da força e do desempenho muscular (CRUZ-JENTOFT et al., 2019).

Triagem e Avaliação do estado nutricional

A triagem nutricional tem o objetivo detectar a presença de desnutrição e risco desnu-


trição, para que sejam instituídas medidas de intervenção nutricional mais precocemente em
tempo hábil. Esse instrumento em sido recomendada, nacional e internacionalmente, com o
objetivo de avaliar efeitos físicos e fisiológicos adversos do paciente e pode ser aplicada por
qualquer membro da equipe multidisciplinar ou profissional da saúde treinado para aplicação
de triagem. Após aplicação, o paciente identificado com risco nutricional deve ser encaminha-
do para a avaliação do estado nutricional e planejamento dietoterápico (DIAS et al., 2011).
A avaliação nutricional é realizada pelo profissional nutricionista com o objetivo de es-
timar, identificar riscos aumentados para complicações e diagnosticar o estado nutricional
do indivíduo. Tipicamente é utilizado o método convencional clínico para avaliação nutri-
cional na APS, pois dispõe de maior praticidade na aplicação, precisão nos resultados e

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baixo custo na utilização. Também facilitando para um melhor tratamento dietoterápico aos
pacientes diagnosticados com deficiência ou distúrbio nutricional e monitoramento destes
(LIMA et al., 2016).
Por fim, o monitoramento do estado nutricional é uma das prioridades da atenção à
saúde do idoso, utilizando-se de indicadores para avaliar o impacto da doença e intercorrên-
cias que afetam na qualidade de vida do indivíduo idoso. O SISVAN é utilizado nos usuários
atenção básica à saúde em todos os ciclos de vida, promovendo ações de alimentação
saudável, controle de distúrbios nutricionais, inserindo nos atendimentos rotineiros avalia-
ção antropométrica, consumo alimentar, monitoramento do estado nutricional do paciente,
diagnosticando e prevenindo os riscos nutricionais (SANTOS et al., 2012; BRASIL, 2015).

Short Nutritional Assessment Questionnaire 65+ (SNAQ 65+)

O Curto Questionário de Avaliação Nutricional 65+ tradução de Short Nutritional


Assessment Questionnaire 65+ (Anexo A) é uma ferramenta de rastreio desenvolvida e
validada por holandeses no ano de 2012, com intuito de avaliar risco de desnutrição e o
estado nutricional em pacientes idosos de ambos os sexos da comunidade com 65 anos ou
mais (WIJNHOVEN et al., 2012).
A ferramenta de triagem consiste em quatro passos de aplicação da triagem para clas-
sificação do estado nutricional do paciente. Esses passos são denominados respectivamente
pelos itens: perda de peso, circunferência da parte superior do braço, apetite e funcionalida-
de e política do tratamento. Em cada uma dessas etapas há questionários com perguntas
simples baseadas na literatura recente de risco de subnutrição, direcionando o avaliador um
diagnóstico nutricional do paciente. Os itens de cada etapa foram selecionados conforme a
relação deles com à desnutrição ou risco para desnutrição. Os passos supracitados estão
explicados por meio da Figura 1.

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Figura 1. Fluxograma da aplicação da SNAQ 65+.

No primeiro passo (Perda de peso), o participante será questionado se houve perda


involuntária de 4kg ou mais nos últimos 6 meses. Caso a resposta for “Sim”, o idoso apre-
sentará risco de desnutrição (pular para o passo 4), se a resposta for “Não”, continue a
triagem (passar para o passo 2) e casos em que o paciente não tem ideia dessa perda de
peso serão feitas perguntas simples, como “A roupa fica mais larga?” ou “O relógio fica mais
largo no pulso? “, facilitando para paciente e melhorando o resultado da triagem nutricional.
No segundo passo (circunferência do braço) será realizada a aferição do braço. É orien-
tado ao idoso que posicione a parte superior do braço esquerdo em um ângulo de 90º com a
palma da mão para dentro, posteriormente o aplicador (profissional treinado) irá determinar
o ponto médio entre o acrômio e o olecrano, utilizando uma fita métrica inelástica e marque

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com uma caneta. Com o braço relaxado ao longo do corpo será mensurado a circunferên-
cia do braço no ponto médio em que foi determinado e registrado o valor em centímetros.
Caso o valor mensurado for < 25cm é indicativo de desnutrição (pular para o passo 4), já
em valores >25cm continuar a pesquisa (seguir para o passo 3).
No terceiro passo (apetite e funcionalidade), o paciente será mais uma vez questiona-
do. A primeira pergunta é se o indivíduo “Teve um apetite reduzido na semana anterior?”
caso a resposta for “Sim” provável risco de desnutrição, já se a resposta for “Não”, não terá
risco. A segunda pergunta é se o indivíduo “Consegue subir e descer uma escada de 15
degraus sem descansar?” caso a resposta for “Sim” é considerado sem risco de desnutrição,
em casos que a resposta for “Não” é indicativo a risco de desnutrição. Mesmo que o paciente
não consiga subir e descer os 15 degraus, será feito outras perguntas como: “Consegue
andar durante 5 minutos sem descansar?” ou se o mesmo for dependente de cadeira de
rodas a pergunta será “Consegue empurrar a sua cadeira de rodas durante 5 minutos sem
descansar?”, caso ambas as respostas forem “Não” indicará risco de desnutrição, e se a
resposta for “Sim”, o idoso sem risco para desnutrição.
Antes de passar para o quarto passo serão analisados rapidamente todos os dados
colhidos, em que indicará se um idoso está sem risco para desnutrição ou com risco de des-
nutrição ou desnutrido. Por fim, durante o quarto passo (política de tratamento), em caso de
nenhuma desnutrição estabelecida no paciente, não será tomada nenhuma ação. Havendo
o risco de desnutrição, irá ser fornecido orientações sobre as consequências da desnutrição
e a importância de uma boa nutrição, aconselhando nas escolhas de alimentos saudáveis
e se necessário suplementações. O paciente que apresentar desnutrição será orientado a
consultar o médico, o nutricionista e se necessário o dentista.
A SNAQ 65+ é considerada de boa reprodutibilidade, fácil e rápida aplicação, baixo
custo, pois não necessita de equipamentos pesados e caros e sendo considerada padrão-
-ouro para determinar a desnutrição em idosos na comunidade, prevenindo os riscos de
mortalidade causado pela desnutrição. Apesar da ferramenta ser de fácil aplicação, a mesma
deve ser aplicada pelo profissional de saúde treinado, pois diminuindo a possibilidade de
falsos diagnósticos nutricional (WIJNHOVEN et al., 2012).
No ano de 2012, foi realizado um estudo observacional transversal utilizando a SNAQ
65+ para diagnóstico de desnutrição em idosos residentes na comunidade holandesa, pri-
meira publicação utilizando a SNAQ 65+ após sua validação. No estudo foram examinadas
três amostras, a primeira dispôs de 1267 indivíduos, o qual fez parte do Estudo Longitudinal
sobre Envelhecimento em Amsterdã, tradução de Longitudinal Aging Study Amsterdam
(LASA). A segunda amostra foi realizada com 814 indivíduos em atendimento domiciliar e

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a terceira com 1878 pacientes durante a campanha anual de vacinação contra influenza
(SCHILP et al., 2012).
Observou-se no estudo a predominância de desnutrição foi mais elevada na amostra
com indivíduos em atendimento domiciliar (35%), seguido da amostra de clínica geral (12%)
na campanha de vacinação anual contra influenza e LASA (11%). Também pode se observar
nas amostras a prevalência de desnutrição conforme o aumento da idade. Também relata
os benefícios da ferramenta SNAQ 65+ para diagnóstico nutricional de forma fácil, rápido
e de baixo custo. E concluiu afirmando que o índice encontrado de desnutrição em idosos
residentes na comunidade holandesa foi relativamente alto, tendo predominância nos pa-
cientes em atendimento domiciliar. Reconheceu-se que o rastreamento da desnutrição é
importante para iniciar o tratamento em tempo hábil, prevenindo o agravamento do estado
nutricional e evitar risco de mortalidade em pacientes idosos (SCHILP et al., 2012).
Em 2013 a SNAQ 65+ foi aplicada no estudo randomizado que tinha como objetivo
determinar os efeitos de um tratamento dietético em idosos desnutridos, indivíduos da co-
munidade em atenção primária. O estudo foi realizado pela nutrição em cuidados primários
na região de Amsterdã, na Holanda. Onde a SNAQ 65+ foi utilizada na primeira fase de
recrutamento do estudo, aplicada por enfermeiros e pesquisadores treinados da atenção
primária em 3.591 idosos acima de 65 anos não institucionalizados. Tendo como intuito
identificar os idosos com desnutrição para participarem do estudo (SCHILP et al., 2013).
O ensaio randomizado foi realizado de forma paralela, na qual 146 recrutados foram
divididos em dois grupos selecionados aleatoriamente para o grupo intervenção (n= 72)
foram encaminhados para acompanhamento nutricional com nutricionistas treinados) e o
grupo controle (n= 74) receberam os cuidados habituais e não foram acompanhados pelo
nutricionista). O acompanhamento foi durante 3 meses e 6 meses do estudo, não encontra-
ram grandes resultados no tratamento nutricional após o tempo de acompanhamento nos
itens, peso corporal, desempenho físico e força de preensão manual. Mas foi observado o
efeito do tratamento no ganho de peso em idosos ativos, quando comparados aos idosos
inativos. O estudo concluiu que o acompanhamento nutricional específico para essa faixa
etária é importante, porém os resultados seriam vistos se o acompanhamento fosse reali-
zado com colaboração de uma equipe multidisciplinar no tratamento (SCHILP et al., 2013).
Em 2014 foi publicado um estudo de revisão sistemática avaliando capacidade das
ferramentas de rastreamento de desnutrição existentes para identificar o risco de inanição,
sarcopenia e caquexia. Os critérios para avaliar a inanição nas ferramentas era a presença
dos itens relacionados à perda de apetite ou falta ou ingestão dietética reduzida, perda de
peso durante um período especificado e o uso do índice de massa corporal (IMC). Na sarco-
penia foram itens relacionados a funcionalidade, desempenho físico, força muscular e massa

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muscular. Já na caquexia foram avaliados nas ferramentas os itens relacionados a perda de
peso não intencional, diminuição da força muscular, anorexia, fadiga, índice de massa livre
de gordura e bioquímica anormal na presença de doença subjacente (HEALY et al., 2014).
No estudo foram avaliadas 31 ferramentas de triagem, destas somente 20 apresentaram
itens adequados para diagnosticar inanição, 3 para sarcopenia (Mini Avaliação Nutricional
- MNA, Mini Avaliação Auto-Administrada - SelfMNA e o Curto Questionário de Avaliação
Nutricional 65+ - SNAQ 65+) e nenhuma tiveram capacidade de triar caquexia. O estudo
conclui que é necessário um futuro desenvolvimento de uma ferramenta de triagem para
desnutrição que apresente a capacidade de avaliar os riscos para inanição, sarcopenia e
caquexia (HEALY et al., 2014).
No ano de 2016 foi publicado um estudo de revisão narrativa, tendo como objetivo
identificar ferramentas de triagem nutricional na literatura que tinham maior especificidade
e sensibilidade para identificar desnutrição proteica-energética no cenário de reabilitação
com idosos. No estudo foram selecionas 10 ferramentas de triagem nutricional, na qual
foram avaliadas quanto a sua especificidade e sensibilidade nos pacientes em reabilitação.
Apenas 4 das ferramentas (MST- Ferramenta de Triagem de Desnutrição, MUST- Ferramenta
Universal de Avaliação Nutricional, SNAQ- Curto Questionário de Avaliação Nutricional e
SNAQ 65+) atingiram os valores estabelecidos pelo estudo. O estudo conclui relatando
que a ferramenta de triagem MST tem forte eficácia, mas que o MUST, SNAQ e SNAQ 65+
também poderia ser apropriado para uso como ferramentas de triagem nutricional na reabi-
litação (MARSHALL, 2016).
Ainda em 2016, foi publicado um estudo transversal na Holanda sobre fatores associa-
dos ao risco de desnutrição em idosos residentes na comunidade com atendimento domici-
liar. No estudo foi utilizado SNAQ 65+ para triar 936 idosos acima 65 anos, as triagens foram
realizadas por enfermeiros da assistência domiciliar e nutricionistas treinados. Na triagem
502 idosos foram considerados sem risco nutricional, 74 apresentaram risco para desnutri-
ção, 274 apresentaram desnutrição e 86 indivíduos com triagens incompletas (VAN DER
POLS-VIJLBRIEF et al., 2016).
Foram avaliados fatores demográficos, social, financeiro, estilo de vida, doença, cuida-
dos psicológicos, função física, ingestão de alimentos e apetite e função oral, que poderiam
estar associados a desnutrição nos indivíduos avaliados. O estudo concluiu relatando que
a desnutrição é multifatorial e enfatizou que são necessários maiores cuidados ao público
idoso da atenção primaria e secundário para diminuição da desnutrição (VAN DER POLS-
VIJLBRIEF et al., 2016).
No ano de 2017 foi publicado um resumo científico sobre desnutrição em idosos,
objetivando a importância preventiva-terapêutica e intervenção nutricional. Na qual citou a

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SNAQ 65+ como uma Triagem nutricional periódica na população idosa, usando escalas
validadas que identifica o risco nutricional e / ou a desnutrição. Concluindo que triagem e a
avaliação nutricional são consideradas elementos-chave na prevenção e tratamento precoce
em desnutrição nos idosos (LÓPEZ, 2017).
Ainda no ano de 2017 o Acordo Nacional de Cooperação em Cuidados Primários
tradução de Landelijke Eerstelijns Samenwerkingsafspraak (LESA). A LESA fornece di-
retrizes para a colaboração entre clínicos gerais, nutricionistas e enfermeiros na detecção
precoce, diagnóstico e prestação de cuidados a pacientes adultos com risco nutricional ou
desnutrição na atenção primária. Relatou no estudo como identificar um paciente com risco
nutricional e/ou desnutridos utilização a ferramenta SNAQ 65+ e explicando como interpre-
ta-la (DIJKSTRA, 2017).
Em 2019 foi publicado um estudo que tinha como objetivo identificar a prevalência e
determinantes da desnutrição em idosos holandeses residentes na comunidade utilizando
duas ferramentas de triagem on-line. Utilizaram um site com informações gerais sobre ali-
mentação saudável para envelhecimento saudável e autoteste, na qual foi criado em 2017
por um grupo holandês. O site fornece duas ferramentas para avaliar o risco de desnutrição:
Idosos na Comunidade Avaliação de riscos para alimentação e nutrição, versão II tradução
Seniors in the Community: Risk evaluation for eating and nutrition, Version II (SCREEN II),
uma ferramenta para avaliar risco nutricional e uma versão modificada do SNAQ 65+, uma
ferramenta para avaliar o risco de desnutrição. Ambas as ferramentas podem ser preenchi-
das pelo participante ou pelo seu cuidador (BORKENT, 2019).
A versão modifica da SNAQ 65+ (DUTCH MALNUTRITION STEERING GROUP, 2019)
em que foi utilizada no site substituiu a circunferência do braço para uso IMC, pois analisaram
o quanto difícil era um idoso medir a circunferência do braço. No entanto, o uso de dados
autorrelatados para obtenção do IMC podem não serem confiáveis, pois podem ocorrer uma
subestimação de peso e superestimação de altura em idosos. No estudo a prevalência ge-
ral de fatores de risco nutricionais foi de 84,1%, e o aumento do risco de desnutrição foi de
56,8%. Participantes com idade ≥85 obtiveram pior pontuação em quase todos os itens da
SCREEN II e o SNAQ65 +. O estudo concluiu que a triagem nutricional utilizando a internet
podem contribuir para a identificação e prevenção precoces desnutrição em adultos e idosos
de forma mais rápida, prática e acessível (BORKENT, 2019).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se observar que quando se iniciou o trabalho de pesquisa constatou-se que a des-
nutrição em pessoas idosas é recorrente e multifatorial, tornando-se importante a identificação

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da desnutrição em tempo hábil, para que assim evite agravamento da saúde delas. Por isso
foi visto a importante de estudar sobre uso da SNAQ 65+ em triagem nutricional de idosos.
No estudo constatou-se que o objetivo geral foi atendido, pois efetivamente o trabalho
conseguiu realizar o levantamento bibliográfico sobre a aplicabilidade da ferramenta de tria-
gem nutricional SNAQ 65 + em idosos, através de buscas nas bases de dados. Os objetivos
específicos também foram atendidos, pois foram avaliados os estudos desde a elaboração
aos dias atuais e a aplicabilidade da SNAQ 65+ em cada um destes estudos, a qual também
possuíam comparações da mesma frente às outras ferramentas aplicáveis na avaliação do
risco nutricional em idosos.
A pesquisa partiu de uma hipótese sobre à aplicabilidade da SNAQ 65+ na população
idosa fora do local onde ela foi desenvolvida. Durante o trabalho verificou-se que os estudos
utilizando a SNAQ 65+ confirmaram que a ferramenta realmente tem uma boa aplicabilidade
nesta população, além de ser de fácil e rápida execução, é uma ferramenta de baixo custo
e que contribui para uma identificação precoce do risco nutricional ou desnutrição.
Diante da metodologia proposta em uma pesquisa narrativa, percebeu-se que o trabalho
poderia ter sido realizado com mais estudos. Porém, como há poucas publicações sobre a
SNAQ 65+, isso foi uma das limitações na pesquisa, além de não ter sido encontrado ne-
nhum artigo ou investigação utilizado a SNAQ 65+ no Brasil.
Torna-se necessário futuras pesquisas com a SNAQ 65+, pois ela é uma ferramenta
nova e pouco explorada. Será que a SNAQ 65+ tem veracidade quando utilizada em outros
países fora do continente Europeu? Como seriam os resultados aplicando-a em idosos de
países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos? Tais questionamentos poderão ser res-
pondidos através de novos estudos.

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SOBRE OS ORGANIZADORES

José Aderval Aragão


Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de Sergipe (1987) e Mestrado em Cir
Vascular Cardíaca Torácica e Anestesiologia pela Universidade Federal de São Paulo (2004) e
Doutorado em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (2009). Atualmente é Professor
Titular da Universidade Federal de Sergipe e ex-Professor Titular da Escola de Medicina da
Universidade Tiradentes. Membro da Academia Sergipana de Medicina, Academia Sergipana
de Letras e da Academia Sergipana de Educação. Membro Titular da Sociedade Brasileira
de Angiologia e Cirurgia Vascular. Membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores
(SOBRAMES) - Regional Sergipe. ex-Presidente da Sociedade Médica do Estado de Sergipe
(SOMESE). Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Anatomia Humana, atuando
principalmente nos seguintes temas: Ansiedade e Depressão, Trauma, Anatomia, Saúde materno-
infantil, Estudo Estrutural de Veias e Tendão, bem como em Cirurgia Vascular.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/6911783083973582

Rossano Sartori Dal Molin


Possui Graduação em Enfermagem, Especialização em Enfermagem Obstétrica, Especialização
em Gestão do Trabalho Pedagógico, Especialização em Anatomia Funcional, MBA em Gestão de
Instituições de Ensino Superior, sendo esse último com estágio na University of Turku na Finlândia,
onde desenvolveu estudos acerca da pedagogia da inovação e o uso de indicadores na gestão
universitária. Especialização em Pedagogia Empresarial e Educação Corporativa e Especialização
em Gestão em Saúde. Mestrado em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul - UFRGS, na linha de pesquisa intitulada Estudos e Práticas da Saúde da Mulher, Criança e
Adolescente. Doutorado em Pediatria e Saúde da Criança pela Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul - PUCRS, onde desenvolveu pesquisas na temática da asma infantil. Têm
experiência em enfermagem, especialmente na área da saúde da mulher, recém-nascido, criança,
fundamentos de enfermagem, saúde coletiva e gestão. Ainda, experiência em gestão de serviços
de saúde e gestão pedagógica, assim como processos educacionais, construção de currículos
e projetos de cursos, nos diferentes níveis de formação profissional. Atualmente é professor da
FSG Centro Universitário, na área da Saúde da Mulher e da Criança, Coordenador de Ensino
e Pesquisa do Hospital Pompéia de Caxias do Sul e Diretor da Escola de Saúde do Hospital
Pompéia - ESHP.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2340234461009114

Maria Cristina Zago


Possui graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Mestra e
Doutora em psicologia pelo Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Psicologia do Centro
de Ciências da Vida. Sua atuação é de orientação psicanalítica e grupanalítica (Psicoterapia de
Grupo de Base Analítica). Docente UNIFAAT (graduação e pós-graduação.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/7484149895594038

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Envelhecimento Humano e Contemporaneidade: tópicos atuais em pesquisa - ISBN 978-65-5360-368-4 - Vol. X - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
ÍNDICE REMISSIVO

A Esquizofrenia: 138, 139, 152, 153

Ansiedade: 31, 33 Estado Nutricional: 81, 82

Assistência Centrada no Paciente: 339 F


Avaliação Geriátrica: 86 Farmacoterapia: 254, 263

C Filtro Solar: 272, 290

Capacitação: 52 Formação: 52

Climaterio: 188 Fotogrametria: 308

Competências: 52, 151, 153 Fotoproteção da Pele: 272

Comunidades Rurais: 330 Fotoproteção de Pele: 290

Concepção Hegemônica: 111 Fragilidade: 87, 95, 222, 223, 226, 227, 228, 231,
336
Conhecimento: 139, 147, 208, 209
H
Cuidado: 32, 114, 254
Hipertensão: 86, 91
Cuidados Paliativos: 52
I
Cultura: 17, 48, 161, 165, 268
Idoso: 16, 18, 30, 81, 86, 200, 214, 223, 318, 323,
D 324, 326, 327, 328, 330, 339, 340, 341, 342, 343,
344, 346, 362
Demência: 48, 50, 228
Idoso Frágil: 86
Desnutrição: 75, 81, 352, 353, 359, 362
Idoso Fragilizado: 330
E
Idosos: 49, 50, 83, 86, 92, 100, 105, 109, 184, 223,
Educação: 49, 50, 81, 83, 118, 139, 166, 183, 184, 229, 259, 261, 272, 290, 352, 360
185, 211, 314, 321, 339, 347, 348
Idosos Longevos: 223
Educação em Saúde: 339, 347, 348
Integralidade em Saúde: 339
Enfermagem: 49, 54, 55, 64, 82, 83, 96, 107, 139,
142, 150, 151, 153, 154, 183, 227, 233, 251, 269, Interação: 161
328, 336, 347, 348, 361, 362, 363
J
Envejecimiento: 188
Jogo Sério: 235
Envelhecimento: 32, 48, 49, 83, 96, 165, 166, 167,
183, 185, 186, 210, 211, 239, 250, 254, 255, 328, M
330, 339, 343, 347, 348, 352, 357, 362, 363
Meio Ambiente: 198
Envelhecimento Humano: 254, 328, 348, 362
Menopausia: 188, 195
Equilíbrio: 308
Modos de Envelhecimento: 171

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Envelhecimento Humano e Contemporaneidade: tópicos atuais em pesquisa - ISBN 978-65-5360-368-4 - Vol. X - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
ÍNDICE REMISSIVO

P
Parasitoses: 198

Pessoa Idosas: 308

Pluralidade Epistemológica: 111

Postura Estática: 308

Presiones Respiratorias Máximas: 188

Prevalência: 74, 75, 83, 223, 227, 232, 233, 329,


347

Profissionais de Saúde: 52, 59

Q
Quedas: 228, 308, 318, 321, 328, 333

R
Radiação UV: 272, 290

S
Saúde: 31, 32, 40, 49, 51, 54, 60, 61, 62, 64, 70,
71, 72, 81, 84, 88, 95, 96, 101, 105, 109, 111, 113,
117, 118, 119, 120, 138, 142, 143, 150, 151, 153,
154, 157, 160, 165, 166, 169, 174, 183, 184, 186,
198, 199, 200, 203, 208, 209, 210, 211, 212, 215,
221, 222, 223, 224, 226, 231, 232, 233, 235, 238,
239, 240, 249, 257, 259, 264, 265, 266, 267, 268,
269, 270, 275, 287, 293, 305, 308, 310, 312, 313,
314, 317, 318, 325, 327, 328, 329, 339, 340, 344,
347, 348, 349, 351, 361, 363

Saúde Bucal: 160

Saúde do Idoso: 223, 339, 340

T
Tratamento: 214, 221

Triagem: 352, 354, 359, 360, 362

Tuberculose: 214, 217, 219, 221

V
Velhice: 136, 137, 183, 184, 185, 186

Vigilância em Saúde: 198

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