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1ª EDIÇÃO
científica digital
2023 - GUARUJÁ - SP
científica digital
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E61 Envelhecimento humano e contemporaneidade: tópicos atuais em pesquisa / Organizadores José Aderval Aragão, Rossano
Sartori Dal Molin, Maria Cristina Zago. – Guarujá-SP: Científica Digital, 2023.
E-BOOK
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Formato: PDF
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Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5360-368-4
DOI 10.37885/978-65-5360-368-4
1. Envelhecimento. 2. Saúde pública. I. Aragão, José Aderval (Organizador). II. Molin, Rossano Sartori Dal
(Organizador). III. Zago, Maria Cristina (Organizador). IV. Título.
2023
CDD 618.97
Índice para catálogo sistemático: I. Envelhecimento
Elaborado por Janaina Ramos – CRB-8/9166
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Esta obra constituiu-se a partir de um processo colaborativo entre professores,
estudantes e pesquisadores que se destacaram e qualificaram as discussões neste
espaço formativo. Resulta, também, de movimentos interinstitucionais e de ações
APRESENTAÇÃO
“O SUJEITO DA PSICANÁLISE NÃO ENVELHECE”, MAS O CORPO SIM: A CURA ENQUANTO CUIDADO
Talita Baldin; Dósila Machado da Silva
' 10.37885/230513071.................................................................................................................................................................................................. 13
Capítulo 02
' 10.37885/230512985................................................................................................................................................................................................. 33
Capítulo 03
' 10.37885/230513079................................................................................................................................................................................................. 51
Capítulo 04
' 10.37885/230513124................................................................................................................................................................................................. 66
Capítulo 05
' 10.37885/230513096................................................................................................................................................................................................. 85
Capítulo 06
' 10.37885/230513161.................................................................................................................................................................................................. 98
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 15
JOGO SÉRIO ANALÓGICO NA PESSOA COM DEMÊNCIA E RISCO DE QUEDA – FUNDAMENTOS PARA A
REABILITAÇÃO
Ana Maria Conceição Tomé; Marlene Rosa
O USO DE FILTRO SOLAR POR IDOSOS LIGADOS A UMA UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA BRASIL
Maria Carolina de Aquino Vieira
O USO DE FILTRO SOLAR POR IDOSOS LIGADOS A UMA UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA, BRASIL
Claudia Araújo; Maria Carolina Vieira
Capítulo 22
SNAQ 65+ COMO INSTRUMENTO DE TRIAGEM NUTRICIONAL APLICÁVEL EM IDOSOS: UMA REVISÃO
NARRATIVA
Samily Martins da Costa; Maria Leilah Monte Coelho Lourenço; Mariane Silveira Magalhães Fernandes; Jorge Luís Pereira Cavalcante
' 10.37885/230513125................................................................................................................................................................................................. 349
Talita Baldin
Universidade Federal Fluminense (UFF)
Faculdade Maria Thereza (FAMATH)
'10.37885/230513071
RESUMO
Este trabalho investiga a velhice à luz da psicanálise, apresentando uma aposta clínica
com a velhice pautada na compreensão de cura enquanto cuidado. Se a velhice é tomada
como momento de muitas perdas, inclusive do próprio desejo, fruto dos atravessamentos da
representação da velhice no contexto social. Se nela a velhice é coloca em lugar de menos
valia e despotencialização, a clínica psicanalítica com velhos é possível quando pautada na
retomada à condição desejante do sujeito.
O corpo que se vê
O corpo que se tem
O corpo que te faz sentir
Que te faz doer
Que te faz chorar
Que te faz sorrir
O corpo...
Instrumento de chegada e de saída
O que incorpora a vida e se esvai na morte, mas que entre estas duas pon-
tas se vive.
Vida no corpo
Vida que foge do corpo
Vida que imprime no corpo a angústia
Vida que transborda no corpo satisfeito
Vida! Corpo!
Segue a partir do biológico, enfrenta os percursos do mundo... e o que fica?
(Dósila Machado, abril, 2021)
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Envelhecimento Humano e Contemporaneidade: tópicos atuais em pesquisa - ISBN 978-65-5360-368-4 - Vol. X - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
escuta, e pelo próprio desejo, o analista oferece ao velho um espaço de construção e re-
construção, de apropriação de sua própria história.
DESENVOLVIMENTO
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A constituição do sujeito na psicanálise e o sujeito como aquele que não envelhece
Em Psicanálise, não há uma definição direta do sujeito como algo que é, mas como o
que se constitui, à medida que o homem é introduzido no social, através de outros sujeitos
que lhe sejam familiares e que ocupem as funções materna e paterna. Elia (2010) nos traz
esta concepção de sujeito tomando por contextualização o nascimento de um bebê, que
em desamparo inerente à sua condição humana de recém-nascido, ainda não é capaz de
nutrir-se ou mesmo de proteger sua existência, dependendo para tal, dos cuidados de ou-
tros. Quando o bebê chora, seu choro ainda é desprovido de sentido, de significação, e é a
resposta da mãe que fará com que o choro tenha um sentido. A mãe traz para esta relação
seus próprios componentes simbólicos, os seus próprios significantes1.
O sujeito, quase soberano ao nascer, é surpreendido no encontro com um outro sujeito
que lhe é desconhecido e este, ao lhe ditar uma linguagem, assinala também um lugar de
falta. Esta linguagem é compreendida por esta criança como algo confuso, sem sentido e
falho. O lugar da falta caracteriza o lugar do Outro, que para Lacan (1964/1985) representa a
cadeia do significante e a partir deste encontro fará emergir o sujeito. Esse Outro é a ordem
do inconsciente. De ordem simbólica, faz a diferenciação entre os pequenos outros da vida
do sujeito e a Lei, a Cultura, a Linguagem – o grande Outro.
Há entre a função materna e o bebê um encontro, que em um segundo momento
começará a fazer sentido e ser provido de significado, e então começam a se constituir a
mãe como o Outro e o bebê como um sujeito. O bebê apreende os significantes, aliena-se,
sendo o desejo da mãe e o desejo da mãe é como se fosse o seu. Depois, com a entrada
de novos significantes, começa a haver uma ruptura nesta alienação, surgindo a falta, e nela
se funda o inconsciente. “O significado dado ao encontro com o Outro depende, portanto, do
significante, é dele subsidiário, mas não é por ele totalmente determinado, exigindo o trabalho
de significação que é feito pelo sujeito” (ELIA, 2010: 42). Assim, é possível compreender o
significante como o que solicita ao sujeito a tarefa de constituir-se (ELIA, 2010).
A princípio, dependente do desejo e do investimento do Outro buscando superar a
falta de sentido, há um processo de alienação do bebê para com a mãe e como este ainda
está no processo de constituição apropria-se dos significantes maternos, até a chegada de
um outro significante, representado pelo pai ou quem ocupar a função de interdição, que
provocará um corte, uma separação. Temos então, um encadeamento destes significantes
1 Segundo Roudinesco (1998, p. 708) significante, na psicanálise, refere-se a um “elemento significativo do discurso (consciente ou
inconsciente) que determina os atos, as palavras e o destino do sujeito, à sua revelia e à maneira de uma nomeação simbólica. (...)
Termo introduzido por Ferdinand de Saussure (1857-1913) Retomado por Jacques Lacan como um conceito central em seu sistema
de pensamento”.
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e o sujeito criança começa a ser instituído. Neste sentido, “o inconsciente é o Outro, a outra
cena, é o lugar dos significantes e onde eles se articulam” (SBARDELOTTO et al, 2016,
p. 118) e esta articulação se dá com a entrada em cena de um outro significante. Este ter-
ceiro significante que tem a função de interdição é imprescindível para esta constituição,
possibilitando que o bebê se desprenda da posição de objeto de desejo da mãe e alcance
a soberania de satisfazer seus próprios desejos (SBARDELOTTO et al, 2016).
Segundo Leitão e Mendes (2018), o inconsciente pensado por Lacan não ocupa um
lugar físico no sentido biológico, mas se constitui como uma linguagem resultante de um
encontro de significantes. Neste sentido, tanto Freud quanto Lacan trazem uma concepção
de inconsciente como um lugar simbólico, que para Freud seria sinalizado como um lugar
psíquico dos conteúdos recalcados, enquanto que para Lacan, seria o lugar da linguagem,
da cadeia de significantes.
Conforme Lacan (1964/1985, p. 122): “O inconsciente é a soma dos efeitos da fala,
sobre um sujeito, nesse nível que o sujeito se constitui pelos efeitos do significante”. Assim,
ainda que a releitura da teoria freudiana feita por Lacan traga o surgimento do sujeito a
partir dos efeitos do significante, ainda o concebe como sujeito do inconsciente (LEITÃO;
MENDES, 2018). Ademais, Freud (1915/2010) nos diz que “os processos do sistema Ics são
atemporais; isto é, não são ordenados temporalmente, não são alterados pela passagem do
tempo, não têm relação nenhuma com o tempo” (p. 128), logo, é possível dizer que o sujeito
do inconsciente não envelhece.
A velhice na psicanálise
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Envelhecimento Humano e Contemporaneidade: tópicos atuais em pesquisa - ISBN 978-65-5360-368-4 - Vol. X - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
As mudanças corporais relativas à faixa etária não determinam o sujeito, tendo em
vista sua singularidade e o modo como cada um vivencia suas experiências, assim, o sujei-
to de que tratamos aqui neste trabalho é o sujeito da psicanálise, o sujeito do inconscien-
te, do desejo, e sua faixa etária não nos serve de indicativo para a velhice, pois segundo
(MUCIDA, 2004/2019, p. 29) “pode-se envelhecer, tornar-se mais idoso no sentido cronoló-
gico, sem passar pela velhice”. Ademais, “o envelhecimento constitui-se de diversas perdas
e desinvestimentos objetais, bem como de aquisições (investimentos objetais)” (MUCIDA,
2004/2019, p. 29).
A partir da concepção de que o idoso não existe enquanto conceito psíquico e que o
que tomamos por discussão é a percepção psicanalítica acerca do envelhecimento, a partir
daqui passamos a utilizar o termo velho, por ser mais representativo na nomeação daquele fim
de nomear a pessoa que envelheceu, independentemente da idade cronológica. Apontamos
isto porque a velhice possui diversas conceituações que variam de acordo com a cultura,
área de atuação profissional e, considerando a singularidade do sujeito.
Podemos dizer que cada um envelhece a seu próprio modo, conforme a resposta
que conseguiu devolver às questões que a cultura que é inserido lhe trouxe. Cada sujeito
apreende e responde ao mundo dentro de seu próprio arcabouço, ou seja, o que viveu em
sua família, o que foi possível observar no lidar social e ainda há de se considerar as políticas
e culturas vigentes no território deste sujeito. Envelhecer não se dá apenas pela senescên-
cia2, mas pode variar também de acordo com a estrutura psíquica e o contexto social em
que este sujeito está inserido. Segundo Goldfarb (1998), o corpo e o tempo se entrelaçam
no decorrer do envelhecimento e deste entrelace surge uma heterogeneidade da velhice.
A psicanálise nos assinala a singularidade do sujeito, traz nossa atenção “para o su-
jeito que fala e que ao falar, ressignifica sua própria história” (SILVA, 2018, p. 117). Pensar
neste sujeito singular é abordar o Um, ou seja, o sujeito que não some na multidão de idosos
(MUCIDA, 2004/2019). Segundo Mucida (2004/2019), a singularidade se inscreve desde
a infância, é construída ponto a ponto no decorrer da vida da pessoa, não obedecendo a
uma ordem cronológica, pois há rearranjos, conteúdos inconscientes que de algum modo
retornam em busca de algo significativo e satisfatório. Isto é singular, cada pessoa percebe
o mundo a partir de seus próprios significantes, embora inseridos no social a partir de outros
significantes, cada um tem sua maneira singular de envelhecer:
Cada um envelhece apenas de seu próprio modo, e não existe uma velhice
natural, mesmo que exista um corpo que envelhece e uma pessoa que se
torna mais idosa. Esse “destino pessoal” traçado na velhice é completamente
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singular, e cada um inscreverá determinada forma de gozar que lhe é própria.
Se a velhice é um destino singular a ser traçado por cada sujeito, ela não pode
ser reduzida à idade cronológica e, muito menos, à diminuição de determinadas
funções orgânicas (MUCIDA, 2004/2019, p. 40-1).
Freud (1932/1996) nos diz que a criança, por não ser ainda autossuficiente, passa por
perigos que vão sendo ajustados conforme se desenvolve, como o desamparo psíquico que
se ajusta à imaturidade inicial do ego, ou mesmo o medo pela perda de um objeto (amor)
que se ajusta a falta de auto suficiência dos primeiros anos, o perigo de ser castrado. Para
Freud (1932/1996), estas experiências de perigo vividas na infância deveriam ser suprimi-
das à medida do desenvolvimento e fortalecimento do ego, porém, por algum motivo não
são completamente dissolvidas, fazendo com que o sujeito permaneça infantilizado para
algumas situações como por exemplo, nunca se tornando independente do amor de outras
pessoas, o que pode trazer algumas complicações na velhice, como veremos mais adiante.
Por esta via, Lacan também retoma a infância a fim de demonstrar que de algum
modo o que foi vivido nela poderá trazer consequências à estruturação do sujeito. A partir
da mensagem escrita por ele à psicanalista Jenny Aubry intitulada Nota sobre a Criança
(COSTA, 2007, p. 67) nos diz que a criança poderá ocupar diferentes lugares no desejo do
Outro e “com as possíveis respostas que poderá dar a esse desejo, segundo Lacan, isso
terá consequências na sua estruturação como sujeito”. Ademais, para Mucida (2004/2019, p.
41) “na velhice, o infantil continuará também a impor seus efeitos sob pena do desamparo,
do perigo da perda do amor, da angústia relativa ao desejo do Outro e ao próprio desejo”.
Para ela, esses emaranhados de vivências podem circunscrever a velhice para cada sujeito.
A partir das considerações acima é possível constatar a velhice como algo singular, cada
pessoa se constituirá a partir das percepções do que por ela mesma foi experienciada. O en-
velhecimento, de algum modo, evidencia um corpo que nem sempre deseja ser descoberto,
mas que é percebido ao envelhecer, seja pelo olhar do Outro ou mesmo pelas percepções
do próprio sujeito, é inegável os efeitos que naturalmente são impressos no corpo à medida
que o adulto é longevo. Independente de conceituações acerca da velhice ou mesmo de
referenciais teóricos, não se pode negar as alterações orgânicas da senescência e que ela,
de forma gradativa ou mais acelerada, vai acontecer. Mesmo considerando o organismo e
suas mudanças biológicas decorrentes do desenvolvimento, podemos também compreender
o corpo como uma construção simbólica, e como tal, pode variar conforme a maneira que o
sujeito apreende suas vivências e também de acordo com o discurso social.
Para Françoise Dolto (1992 apud COSTA, 2007), esta relação com o corpo acontece
desde tenra idade, momento em que a criança já possui atividade representativa baseada
em trocas corporais, mesmo antes de sua constituição como sujeito:
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As palavras e os afetos, associados à vivência corporal e relacional, deixam
impressões somato-psíquicas a partir das quais se constituem os primeiros
referenciais, as primeiras imagens inconscientes do corpo. É o local de repre-
sentação das experiências relacionais, é o lugar da comunicação precoce.
[...] a fala é o organizador que permite o cruzamento do esquema corporal
(pré-consciente e consciente) com a imagem do corpo (inconsciente) (COSTA,
2007, p. 71).
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O envelhecimento é o encontro estranho de um corpo que se fragiliza com
uma instância que não se envelhece: o inconsciente. Um desencontro, na
verdade. Um desencontro que provoca um desajuste, que desperta sentimen-
tos ou emoções que até então não eram sentidas ou não percebidas. Assim
como o mal-estar é o que conduz o sujeito à análise, aqui esse desencontro
ou desajuste é o que convoca o sujeito a um reposicionamento diante de sua
existência (SILVA, 2018, p. 118).
Assim, o sujeito é resultado de um encontro, das trocas do mundo interno com o exte-
rior, que inauguram sua subjetividade e também criam os objetos de sua satisfação. Neste
sentido, um território que cada vez mais exalta a juventude, a beleza e o que é forte, torna-se
convidativo ao desvalor do velho e o deslocamento de seu lugar no social. À medida que
deixa este lugar desejante acontece o bloqueio de sua capacidade de elaborar perdas e o
sujeito sofre um declínio em sua afetividade (GOLDFARB,1998). Esta perda de lugar vivida
pelo sujeito no momento em que deixa de ser desejável para uma cultura ou sociedade,
pode fazer com que o próprio sujeito deixe de desejar o convívio, abandonando as relações
interpessoais. Isso que pode nos remeter ao desamparo pela perda do desejo próprio e do
Outro trazido por Mucida (2004/2019, p. 145): “a velhice nos traz o desamparo de forma in-
cisiva. Teme-se a velhice, já o dissemos, não a morte, já que o inconsciente a desconhece,
mas outra morte que escutamos na clínica - a morte do desejo”.
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sentido, o indivíduo não abre mão da satisfação que lhe é conhecida, porém nem sempre
pode mantê-la, como na condição da desidentificação social vivida pelo velho, que tenta
resgatar sua satisfação libidinal através do ideal do Eu. “O que ele projeta diante de si como
seu ideal é o substituto para o narcisismo perdido da infância, na qual ele era seu próprio
ideal” (Freud,1914/2010, p. 40).
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livrar de uma neurose. “No começo hesitara em tomá-los em tratamento, mas várias vezes
os próprios pacientes insistiam, já que tinham sido tratados por outros métodos sem resul-
tado algum” (GOLDFARB, 1998, s./p.). Os resultados desses tratamentos foram conside-
rados bem proveitosos para Abraham que os incluiu como casos bem-sucedidos de cura
(GOLDFARB, 1998).
Para Mucida (2004/2019) a prática psicanalítica se dá a partir da experiência da sin-
gularidade do sujeito, diferente da cultura que tende a formar grupos, como se neles fosse
possível uma homogeneidade, cabendo a observação de que a psicanálise dialoga com
outros saberes, e esta diversidade abre caminho à construção de laços, compreendendo
que na multiplicidade do grupo há vários sujeitos. Assim a análise segundo a autora não
é algo a ser indicado como se fosse possível uma homogeneidade e sim um instrumento,
um dispositivo sensível a particularidade de cada pessoa. Neste olhar para o singular, Silva
(2018, p. 119) nos diz que “a clínica freudiana pontua constantemente a importância da
singularidade. Nesse sentido, cada sujeito atendido implica uma clínica diferente, uma re-
invenção da psicanálise, pode-se dizer.” Silva (2018) nos alerta ainda que é a partir dessa
experiência singular que se pode conceber a ideia do que é estar velho.
Segundo Freud (1930/2010) o princípio do prazer sentencia o homem à busca da fe-
licidade e da realização, porém, a plenitude deste encontro chega a ser utópica, mas ainda
assim é incapaz de renunciar a esta busca, fazendo com que desenvolva outros meios
de alcançá-la, seja permanecendo incessantemente na busca pelo prazer ou evitando o
desprazer. Neste sentido podemos pensar a velhice como um momento em que a pessoa
se vê distanciada do desejo, do olhar do outro ou por si mesmo diante da verdade finita e
transitória da vida e neste momento muitas vezes é que se percebe que nenhuma única
estratégia poderá trazer uma completude, cabe ao sujeito sui generis, encontrar o que lhe
traz sentido e satisfação, o que o fará retomar a busca pelo prazer, investimento libidinal
que o sustenta na vida.
Na velhice é possível observar de forma mais evidente as perdas, seja do seu lugar
social, da referência juvenil de seu próprio corpo, ou mesmo a perda efetiva de pessoas em
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seu ciclo de relações, que podem fazer com que o velho se distancie do seu lugar desejante,
o que nos evoca a questão do desejo como elemento crucial à psicanálise com velhos. Assim,
Fink (2018) nos fala da importância do desejo do próprio analista como condição para que
a terapia prossiga, uma vez que o desejo do paciente por ora pode ou não existir, tendo em
vista também que nem sempre será possível observar pacientes chegarem à terapia com
um desejo genuíno por efetiva mudança ou pelo autoconhecimento que abre caminhos ao
processo de cura. Muitas vezes quando se aproxima este momento de descoberta, o pacien-
te resiste e começa a recuar, e aí é que a postura desejante do analista pode fazer toda a
diferença em sustentar a continuidade do processo terapêutico, pois “quando o analisando
resiste a saber e o analista não faz valer seu desejo, é impossível formular um novo saber”
(FINK, 2018, p. 18).
Este lugar desejante traz de volta o sujeito ao jogo da vida, um sentido que pode ser
reconstruído na relação transferencial que, segundo Maurano (2006, p. 16), “trata-se na
transferência de uma presença do passado, mas que é uma presença em ato”. O analisando
confere ao analista um lugar equivalente ao dos objetos valorosos que perpassam sua vida e
por meio dessa identificação transferencial é que o sujeito poderá desvelar suas expectativas,
deixar vir à tona de maneira mais fidedigna seus desejos. Assim, vemos que o inconsciente
abriga um passado que se atualiza no presente. Com esta relação transferencial, os conteú-
dos inconscientes recalcados vêm à tona e podem ser acolhidos pelo analista, trabalhados
e devolvidos ao analisando (MAURANO, 2006).
A presença marcante de cuidado é como uma bússola para a cura. Neste sentido,
Heidegger (2015) nos traz a reflexão da presença como consciência sustentada ao mesmo
tempo na transformação e na permanência onde há simultaneamente uma pluralidade de
concepções, o mundo externo não lhe oferta mais nada e a angústia surge não com algo,
mas por algo, e “na presença, a angústia revela o ser para o poder ser mais próprio, ou
seja, o ser livre para a liberdade de escolher e escolher a si mesma” (HEIDEGGER, 2015,
p. 254), a angústia de algum modo se presentifica e conduz o sujeito para novas perspec-
tivas e, ao mesmo tempo, à totalidade da presença. Para Heidegger (2015) a concepção
de presença é coexistente ao querer e desejar relativos em si mesmo, e esta é a presença
como cura. “A condição existencial de possibilidade de ‘uma preocupação com a vida’ e
dedicação” deve ser concebida como cura num sentido originário, ou seja, ontológico”3
(HEIDEGGER, 2015, p. 267).
3 Relativo ao próprio ser - Relativo a ontologia, ou seja: “estudo ou conhecimento dos seres e dos objetos enquanto eles mesmos, em
oposição ao estudo de suas aparências e atributos” (MICHAELIS, 2021, online).
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Falar de cura é também falar de cuidado, do cuidado como ação, que ganha sentido
à medida que se pratica e que se direciona ao outro, um cuidado em relação a algo ou al-
guém. Em Ser e Tempo a partir do ensaio de K. Burdach, Faust und die Sorge, Heidegger
apresenta a autointerpretação da presença como cura a partir da fábula de Higino que nos
expõe a cura no sentido de dedicação, cuidado, presença, conforme exposto no mito de
Cura. Na fábula, o homem origina-se na cura e esta lhe pertencerá enquanto viver, daí a
presença como cura contempla o sentido de se ter atenção, interesse, cuidado e dedicação
com a vida (HEIDEGGER, 2015).
Neste sentido de presença como cura, podemos nos remeter também à cura na análise,
conforme trazida por Silva (2018, p. 121), como “uma transformação do desejo”. Na velhice,
tendo em vista a perda do lugar desejante vivida pelo velho pelo desamparo, há o afasta-
mento em suas relações interpessoais ou mesmo a perda de afetos e lutos não elaborados,
os quais podem lhe chegar até mesmo pela constatação do declínio ou mudanças de suas
funções fisiológicas, considerando a estreita relação entre corpo e psique. “O corpo, princi-
palmente sua superfície, é um lugar do qual podem partir percepções internas e externas
simultaneamente” (FREUD, 1923/2011, p. 31).
Fazer a retomada do sujeito ao palco de seu próprio desejo e como ser desejante
no mundo, requer uma análise para além das questões e enfrentamentos explicitados na
velhice, um olhar para o sujeito do inconsciente, do desejo. O analista na relação transfe-
rencial visita os mais diversos instantes vividos pelo sujeito e mais que isso, as marcas do
que por ele foi vivido.
Em Novas Conferências Introdutórias à Psicanálise Freud (1933/2010, p. 194) nos apre-
senta o Eu como análogo ao sujeito, “o Eu é o sujeito por excelência” é capaz de apropriar-se
de si mesmo como objeto, direcionando para si o que investiria no objeto externo, ou seja,
o investimento retorna ao próprio corpo e além disso tem a capacidade de temporariamente
dividir-se em outras funções, direcionar se a outros objetos e depois unir-se novamente.
Esta versatilidade possível ao Eu pode indicar o caminho da análise com o velho, o
sujeito atemporal, não envelhece, mas sua vestimenta corpórea é submetida ao irreveren-
te desgaste do tempo biológico. Não só o sujeito, mas também o que há ao seu redor se
transforma, seus objetos relacionais assujeitados ao tempo em muito se perdem. À medida
que o indivíduo envelhece passa por diversas perdas, não há como escolher perder este ou
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aquele objeto de desejo, enquanto perde a si mesmo, vendo seu corpo modificar-se e por
vezes não corresponder ao seu próprio desejo (MUCIDA, 2004/2019).
Em A Transitoriedade, Freud (1916/2010) nos fala sobre a predisposição amorosa
inerente ao ser humano, a libido, que no início da vida é investida em seu próprio Eu.
Gradativamente esta libido começa a ser direcionada para objetos e estes de algum modo
são integrados ao próprio Eu. Se esse objeto é extinto ou perdido, a libido é mais uma vez
liberada e pode seguir dois caminhos: ser direcionada a outros objetos ou retornar provi-
soriamente ao Eu. Porém, este processo pode se dar de maneira muito dolorosa quando
a libido se prende a um objeto e não consegue deixá-lo, ou mesmo ser remanejada para
outros objetos disponíveis, acontecendo assim, o luto. Devido a capacidade da psique em
retroceder diante de processos dolorosos, o sujeito pode de maneira precoce experimentar
o luto ao se aperceber como finito e transitório (FREUD, 1916/2010).
Para Goldfarb (1998) a velhice é um momento de muitas perdas, tanto dos afetos,
quanto de objetos importantes ou de lugares simbólicos, fazendo com que fique prejudicada
a função regente do ideal do Eu: “então, no confronto entre o Eu ideal e a realidade cor-
poral, presentifica-se a incompletude, que como uma avalancha arrasta todas as imagens
narcísicas que foram constituintes do Eu” (GOLDFARB, 1998, p. 15). Para Goldfarb (1998),
estar ciente de sua fragilidade e do seu declínio, é como encerrar uma soberania à medida
que vê sucumbir seu próprio corpo e experimenta a própria finitude. O sujeito é convocado
a elaborar o luto de sua própria existência enquanto o Eu lhe preceitua uma continuidade.
Um caminho norteador para análise com velhos é a busca pela retomada deste dese-
jo, tendo em vista a versátil capacidade do sujeito em investir em si mesmo como objeto, o
que pode ser relevante diante da perda do objeto, porém, Freud (1917[1915] /2010, p. 173)
nos previne: “o ser humano não gosta de abandonar uma posição libidinal, mesmo quan-
do um substituto já se anuncia.” Para Freud esta dificuldade pode ser tão grande a ponto
de fazer com que o sujeito se afaste da realidade continuando fixado no objeto perdido e,
quanto mais adiado o direcionamento da libido para outro objeto, mais tempo permanecerá
dolorosa a lembrança do objeto perdido até que aconteça uma elaboração do luto (FREUD,
1917[1915]/2010).
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A ideia de finitude de sua própria vida e a solidão diante do desfazer de tantas relações
estabelecidas no decorrer da vida podem fazer com que a velhice seja um momento em que
o sujeito se torne mais suscetível à perda do desejo e que diante desses processos dolorosos
recue em seu investimento libidinal. Assim, torna-se imprescindível a busca pela retomada
ao caminho da condição desejante perante a vida e este manejo de cura pode ser possível
através do cuidado para além do diagnóstico, um cuidado pela presença e acolhimento,
compreendido como “uma relação intersubjetiva que se desenvolve em um tempo contínuo, e
que, além do saber profissional e das tecnologias necessárias, abre espaço para negociação
e a inclusão do saber, dos desejos e das necessidades do outro” (PEREIRA, 2008, p. 113).
O objeto perdido continua sendo alvo de investimento até que aos poucos aconteça uma
retração da libido e este é um processo lento e pungente onde a pessoa perde a habilidade
de designar um novo objeto. Com a ausência do objeto amado é necessário desfazer os
elos libidinais a eles direcionados, o que nem sempre é fácil, considerando-se a hesitação
para a escolha de um novo objeto. Há de se atentar na clínica psicanalítica para a seme-
lhante concepção de perda e desqualificação sentida no declínio do próprio corpo, com o
que ocorre no luto, onde o mundo se esvazia e se empobrece, o Eu é absorvido, provocando
um desinteresse (FREUD, 1917[1915]/2010).
É nesse ponto também que Freud nos apresenta uma diferença entre luto e melanco-
lia, onde no primeiro a perda é percebida, mas na segunda não, a perda é suprimida pela
consciência. A melancolia é “uma cessação do interesse pelo mundo exterior, perda da
capacidade de amar” (FREUD, 1917[1915]/2010, p. 172) e ainda uma significativa perda de
autoestima, o Eu se esvazia, se auto deprecia.
Ainda no quadro clínico descrito acima por Freud, a repressão e censura, antes dire-
cionada ao objeto, regressam ao próprio Eu. Há um embargo ao investimento no objeto, e
a libido desprendida do objeto é direcionada ao próprio Eu, toda hostilidade que tem para
consigo mesmo, na verdade é a que seria direcionada para a outra pessoa. Assim, perder o
objeto pode ganhar o peso equivalente a perda a si mesmo. Neste sentido, é possível perce-
bermos que há pelo objeto uma atração e ao mesmo tempo uma dificuldade de investimento
libidinal e deste modo “a identificação narcísica com o objeto se torna, então, substituto do
investimento amoroso” (FREUD, 1917[1915]/2010, p. 181).
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Com este movimento identificatório não seria necessária uma denegação da relação
amorosa, ainda que permaneça um desacordo com o objeto amado. Outra questão que nos
é trazida por Freud (1917[1915]/2010) quanto à melancolia é o automartírio. Já que não se
consegue abdicar do amor ao objeto, o ódio é direcionado ao objeto equivalente, no caso,
abriga-se na identificação narcísica, manifestando contra si mesmo a agressividade e o poder
destrutivo. “Portanto na melancolia travam-se inúmeras batalhas em torno do objeto, nas
quais ódio e amor lutam entre si, um para desligar a libido do objeto, o outro, para manter
essa posição de libido contra o ataque” (FREUD, 1917[1915]/2010, p. 191).
Assim, concluímos que no processo analítico o indivíduo é um sujeito, o sujeito
do inconsciente, do desejo, uma vez que ambos estão diretamente associados (SILVA,
2018). O saber inconsciente é o que determina a heterogeneidade, o que é singular e próprio
de cada um, assim como a velhice que tem um sentido diferente para cada indivíduo conforme
o que experimentou da vida e é nesse ponto de vista, compreendendo a singularidade do
sujeito, que se é possível conduzir o processo de subjetivação na velhice, contribuir para a
produção de sentido e retomada do desejo, em si mesmo, no mundo externo e que possa o
sujeito retomar sua participação como ator principal de sua própria história, ou seja, “criar na
vida os próprios sentidos que auxiliem o eu a romper com a possibilidade da autodestruição
subjetiva” (SILVA, 2018, p. 118).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Se Lacan nos aponta ser necessário ao psicanalista estar atento à subjetividade de sua
época, o envelhecimento populacional brasileiro nos convoca a pensarmos na especificidade
desta clínica. Entretanto, em se tratando de psicanálise, cuja aposta é na atemporalidade do
inconsciente, e sendo o sujeito justamente o do inconsciente, como falar em especificidade
do velho/velhice?
Nesse sentido nos é caro tomar o sujeito como de desejo desde o nascer até o morrer.
Neste percurso, entretanto, cada sujeito apreende o mundo do seu próprio modo, mesmo
que haja situações iguais, cada um terá sua própria percepção do evento, logo, à medida
que envelhece, o corpo denuncia algo que o inconsciente atemporal não dá conta e con-
forme a cultura, o contexto social e sua estrutura psíquica poderá buscar seu próprio modo
de conceber a velhice de seu corpo enquanto tenta ou não um ajuste às novas situações e
limitações que lhe começam ser impostas, tanto por possíveis mudanças em suas relações
interpessoais ou as alterações da senescência.
O sujeito é efeito do encontro do mundo interno com o seu exterior o que denota a
chance de que de acordo com a cultura que tende a excluir e inutilizar o que é velho em de-
trimento do novo, pode o sujeito sentir-se deslocado em sua condição desejante no mundo,
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podendo perder o desejo de investir em si mesmo, quando também percebe o desinvesti-
mento do meio externo o que pode causar grande sofrimento (FREUD, 1917[1915]/2010).
Pensando numa psicanálise possível a velhice percebemos que o sujeito atemporal não
envelhece, porém, de algum modo sofre os efeitos deste processo (MUCIDA, 2004/2019).
Segundo Freud (1923/2011) é a partir do corpo que assimilamos as impressões internas
e externas e neste sentido, quando há um desinvestimento do mundo externo em relação
ao sujeito, ou dele para com o mundo externo, a condição desejante que é característica
inerente ao inconsciente escapa e faz com que o sujeito passe por processos dolorosos,
seja pelo luto na percepção do corpo finito, seja pelas perdas de suas relações com lugares
ou objetos, ou mesmo pela melancolia, onde a angústia não permite sequer que o sujeito
reconheça o que perdeu, o que falta.
Assim, a busca por um sentido nem sempre é possível pelo sujeito sozinho, mas al-
cançável através da análise. Quando pela dor, pela falta de investimento libidinal, o sujeito
recua, a presença desejante do analista poderá contribuir para sustento e continuidade do
processo terapêutico. Há no processo analítico uma possibilidade de o sujeito retomar seu
lugar de desejo perante a vida tomando a transitoriedade como algo passivo de ser suportado
e mais que isso, ser compreendido como um momento único em que não precisamos abrir
mão do querer, da vontade, do desejo e neste sentido a psicanálise abre possibilidades para
esta retomada libidinal para com a própria vida. Na relação transferencial o analista começa
a ocupar o lugar do objeto perdido, abrindo caminho para que o sujeito possa deixar vir à
tona seus desejos e o que foi recalcado por ele é acolhido pelo analista e posto a trabalho
(MAURANO, 2006).
Neste sentido, a pesquisa bibliográfica contribuiu para nosso entendimento que é
possível sim tomar a cura como o cuidado. O cuidado como presença, considerando o in-
vestimento libidinal do analista, que é direcionado ao paciente, a escuta como acolhimento,
a relação transferencial capaz de sustentar o processo quando a falta for grande demais e a
dor insuportável para o sujeito. Temos aí uma cura possível à psicanálise através do cuidado.
REFERÊNCIAS
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Envelhecimento Humano e Contemporaneidade: tópicos atuais em pesquisa - ISBN 978-65-5360-368-4 - Vol. X - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
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Completas de Sigmund Freud. Vol. XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 1923[1922]/1996.
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HEIDEGGER, M. Ser e Tempo. 10. ed. Petrópolis, RJ: Vozes; Bragança Paulista, SP:
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02
A ANSIEDADE E O DESEMPENHO DAS FUNÇÕES
EXECUTIVAS PELA POPULAÇÃO IDOSA
INSTITUCIONALIZADA – UM ESTUDO PILOTO
USANDO O INSTRUMENTO MATRIZ
Adriana Dias
Faculdade de Medicina e Ciências Biomédicas
Universidade do Algarve
Marlene Rosa
Center for Innovative Care and Health Technology
Politécnico de Leiria
Dara Pincegher
Center for Innovative Care and Health Technology
Politécnico de Leiria
'10.37885/230512985
RESUMO
MÉTODOS
QDSC: composto por parâmetros sociodemográficos (idade, género, estado civil), da-
dos académicos e profissionais (habilitações literárias e profissão nos últimos 10 anos antes
da reforma) e caracterização da condição de saúde do indivíduo (principais problemas de
saúde conhecidos).
6CIT: desenvolvido por Brooke e Bullock (1999) e adaptado e validado para a população
portuguesa por Apóstolo e seus colaboradores (2017), consiste num instrumento breve e
simples de avaliação cognitiva, composto por 6 perguntas acessíveis e não-culturais. Com
recurso a um sistema de pontuação inversa, os resultados podem assumir valores de 0 a
28 (Paiva, 2013). Atendendo às habilitações literárias apresentadas, consideram-se pontos
de corte distintos, estabelecendo uma divisão entre os indivíduos que apresentam ou não
compromisso cognitivo (Apóstolo et al., 2017).
TPD: Desenvolvido originalmente por Thurstone (1941) e adaptado à população portu-
guesa por Rocha e Coelho (2008), o presente teste é composto por 60 elementos gráficos,
sendo cada um dos mesmos constituído por 3 desenhos esquemáticos de rostos com boca,
sobrancelhas e cabelo. Em cada elemento gráfico, duas das faces são iguais, enquanto uma
terceira apresenta diferenças em relação às demais, devendo o indivíduo determinar esta
última e assinalá-la. O objetivo do teste consiste em avaliar a capacidade do indivíduo em
encontrar, rápida e corretamente, as semelhanças e as diferenças existentes, bem como os
padrões estimulantes apresentados (Thurstone & Yela, 2019).
Neste âmbito, determina-se o Índice de Controlo de Impulsividade (ICI), que consiste
numa medida percentual, obtida a partir do quociente entre o Número Líquido de Respostas
Corretas e o Número Total de Respostas dadas pelo indivíduo. O mesmo pode assumir
valores compreendidos entre (- 100) e 100 e permite conhecer a eficiência do sujeito, afe-
rindo o nível de controlo de impulsividade do mesmo, no momento de execução do teste
(Thurstone & Yela, 2019).
Doseamento de Cortisol Salivar: De acordo com Guerreiro e seus colaboradores (2021),
o cortisol é considerado um dos mais significativos e fiáveis indicadores de ansiedade, na
medida em que a quantidade desta substância pode aumentar em poucos minutos após um
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evento de stress. Este consiste numa hormona glucocorticoide, sintetizada pelas glândulas
suprarrenais e ativada pelo eixo Hipotálamo-Hipófise-Suprarrenal, o qual se constituí como
a pedra basilar da resposta ao stress.
Relativamente ao cortisol salivar, o mesmo representa somente a fração bioativa,
sendo a sua concentração independente do fluxo salivar. O seu doseamento consiste num
método não invasivo, que prima pela simplicidade de colheita e pela elevada sensibilidade
e precisão, apresentando uma excelente aceitabilidade entre os pacientes (Júnior, 2012).
No que se refere aos intervalos de referência determinados para o cortisol salivar,
encontra-se alguma divergência no âmbito da literatura científica, tendo-se considerado
o estudo de Miller e seus colaboradores (2016), que, após revisão da literatura científica,
indicam como intervalos de referência: 0-0,736 µg/dL, no período entre as 06H00 e 10H00;
0-0,252 µg/dL, no período entre as 16H00-20H00; e 0-0,274 µg/dL, no período entre as
23H30 e 00H30 (as cited in Guerreiro et al., 2021).
Neste contexto, recorreu-se à utilização do kit Salivette, providenciado por um labora-
tório de análises clínicas parceiro, que se responsabilizou igualmente pelo processamento
e análise das amostras recolhidas, por meio da técnica de imunoensaio por eletroquimiolu-
miniscência (ECLIA).
Jogo MATRIZ: instrumento analógico de estimulação cognitiva, desenvolvido pela autora
Marlene Rosa e coautora Susana Lopes. O mesmo constitui-se como uma ferramenta de
avaliação, monitorização e reabilitação das FE em idosos, tendo a sua construção tido por
fundamento a Frontal Assessment Battery. O jogo em análise é composto por um conjunto
de 10 barras de Montessori, de cores e dimensões distintas, bem como por um dossier or-
ganizado segundo as 3 habilidades executivas principais.
Por sua vez, cada componente das FE é constituída por um número distinto de desafios,
bem como por grelhas de registo do desempenho da pessoa idosa nas diferentes atividades.
No âmbito do presente estudo, procedeu-se somente à aplicação do domínio de CI do
jogo MATRIZ. O mesmo é composto por desafios agrupados em 2 níveis de dificuldade,
nomeadamente, o primeiro nível, constituído por 10 fichas técnicas, nas quais é ilustrado o
conjunto de barras a utilizar no exercício. De seguida, é solicitado à pessoa idosa que as
selecione corretamente, a partir das 10 barras de Montessori de que dispõe, e que as orga-
nize, de modo a demarcar somente a área total da figura a cinza que lhe é apresentada na
ficha técnica (Figura 1).
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Figura 1. Fichas Técnicas do Nível I e II de Dificuldade da Habilidade de CI do jogo MATRIZ.
Relativamente ao segundo nível, este é composto por 10 fichas técnicas, nas quais é
ilustrada a totalidade das 10 barras de Montessori de que dispõe. Seguidamente, é-lhe apre-
sentada a ilustração de uma figura com as cores das barras trocadas, devendo o utilizador
apenas tomar atenção à dimensão, negligenciado a cor respetiva.
Análise Estatística
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distribuição é aproximadamente simétrica, pelo que se aplicou o Teste Não Paramétrico de
Wilcoxon, para comparar 2 grupos emparelhados.
Por oposição, para as variáveis dependentes “Pontuação Média nas Atividades do
jogo MATRIZ” e “Tempo Médio de Execução das Atividades do jogo MATRIZ”, a distribuição
é assimétrica, pelo que se aplicou o Teste Não Paramétrico dos Sinais, para comparar 2
grupos emparelhados. Por último, para avaliar o grau de correlação entre 2 variáveis, que
não apresentam uma distribuição normal dos dados, utilizou-se o coeficiente de Spearman.
RESULTADOS
n %
[70,74] 1 14,3
Idade [75,80] 2 28,6
[85,89] 4 57,1
Feminino 4 57,1
Género
Masculino 3 42,9
Viúvo 4 57,1
Estado Civil Casado 2 28,6
Divorciado 1 14,3
Ensino Básico Primário 4 57,1
Grau de Escola-
Ensino Médio 1 14,3
ridade
Ensino Superior 2 28,6
Especialista das Atividades Intelectuais e Científicas 2 28,6
Pessoal Administrativo 1 14,3
Profissão
Trabalhador dos Serviços Pessoais, de Proteção e Segurança e Vendedor 2 28,6
Trabalhador Não Qualificados 2 28,6
Doenças do Sistema Digestivo 1 14,3
Doenças do Sistema Musculoesquelético 3 42,9
Principal Proble-
Doenças dos Órgãos Sensoriais 1 14,3
ma de Saúde
Doenças do Sistema Nervoso 1 14,3
Doenças do Sangue ou dos Órgãos Hematopoiéticos 1 14,3
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Caracterização da Condição Cognitiva da Amostra
No âmbito da aplicação do 6CIT, a amostra obteve uma pontuação total média de 5,71
± 4,00, tendo a mesma assumido valores compreendidos entre 0 e 14, conforme apresentado
na Tabela 2. Considerando as pontuações totais obtidas e as habilitações literárias de cada
elemento, observa-se que 28,6% da amostra apresenta deterioração cognitiva.
Mínimo Máximo M DP
1. Em que ano estamos? 0 0 0 0
2. Em que mês estamos? 0 0 0 0
3. Que horas são (aproximadamente)? 0 0 0 0
Conte na ordem inversa de 20 para 1. 0 4 0,86 1,574
Diga os meses do ano na ordem inversa. 0 4 1,43 1,902
Repita a frase com o endereço/morada. 0 10 3,43 3,599
Pontuação Total 0 14 5,71 4,000
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A partir da análise da Tabela 3, observa-se que somente uma das observações rea-
lizadas, no intervalo da tarde, apresenta uma concentração de cortisol salivar superior ao
intervalo de referência considerado. Por conseguinte, 88,8% das amostras colhidas neste
período evidencia uma concentração de cortisol salivar adequada e, portanto, não compatível
com a vivência de níveis significativos de stress. Em suma, das 14 observações realizadas
ao longo da aplicação do presente estudo, verifica-se que 92,9% respeitam os intervalos
de referência considerados.
n %
[0 ; 0,184] 2 40,0
[0,185 ; 0,368] 2 40
Período da Manhã
[0,369 ; 0,552] 1 20
(Valor de Referência: 0-0,736 µg/dL)
[0,553 ; 0,736] 0 0,0
[0,737 ; 0,920] 0 0,0
Cortisol
Salivar [0 ; 0,063] 0 0,0
(µg/dL) [0,064 ; 0,126] 4 44,4
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Influência da aplicação do jogo MATRIZ na ansiedade experienciada pela amostra
Tabela 4. Teste de Wilcoxon para Análise Estatística Inferencial da Hipótese 1, no Âmbito da Aplicação da Habilidade de
CI do jogo MATRIZ.
Concentração de Cortisol Salivar Pós-Intervenção (atividades do nível I
da habilidade de CI do MECM)
Concentração de Cortisol Salivar Pré-Intervenção (ativi-
Significância ρ= 0,061 Teste Z= - 1,873
dades do nível I da habilidade de CI do MECM)
Concentração de Cortisol Salivar Pré-Intervenção (ativi-
Significância ρ= 0,600 Teste Z= - 0,524
dades do nível II da habilidade de CI do MECM)
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µg/dL, respetivamente); e a pontuação média nas atividades supracitadas do jogo MATRIZ,
obtida pelo grupo de indivíduos, intervencionados no intervalo da manhã e da tarde, com uma
concentração de cortisol salivar pré-intervenção inferior à mediana (0,195 µg/dL e a 0,077
µg/dL, respetivamente). Em suma, a hipótese 2 em análise é aceite (ρ=0,125 e ρ=0,077 >
ρ=0,05), em consonância com o apresentado na Tabela 5.
Tabela 5. Teste dos Sinais para Análise Estatística Inferencial da Hipótese 2, no Âmbito da Aplicação das Atividades do
Nível I e II de Dificuldade da Habilidade de CI do jogo MATRIZ.
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Tabela 6. Teste dos Sinais para Análise Estatística Inferencial da Hipótese 3, no Âmbito da Aplicação das Atividades do
Nível I e II de Dificuldade da Habilidade de CI do jogo MATRIZ.
Concentração de Cortisol Salivar
N M DP ρ
Pré-Intervenção
Tempo Médio de Execução das Atividades < 0,144 µg/dL 3 96,85 104,31
do Nível I de Dificuldade da Habilidade de 0,031
CI do MECM > 0,144 µg/dL 3 51,06 29,68
DISCUSSÃO
45
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com o esperado, na medida em que Portugal se constitui como o quarto país da OCDE com
maior número de pessoas com demência por cada mil habitantes (OECD, 2017).
A acrescer a este facto, de acordo com um estudo conduzido pela União das
Misericórdias Portuguesas, 90% dos idosos institucionalizados em lar manifestam altera-
ções cognitivas, sendo que 78% dos mesmos apresentam um quadro demencial (Carvalho,
2019). A discrepância encontrada entre a literatura científica e os resultados obtidos encon-
tra-se potencialmente associada à técnica de amostragem utilizada, tendo-se definido, a
priori, como critério de exclusão, a manifestação de défice cognitivo severo.
No que concerne à caracterização dos níveis de stress da amostra, verificou-se que
os indivíduos possuíam valores adequados de concentração de cortisol salivar em 92,9%
das avaliações realizadas, o que não é compatível com a vivência de níveis significativos
de stress, causados por agentes fisiológicos e/ou emocionais. Conclusões distintas são
apresentadas por Bryant, Jackson e Ames (2008), que ressalvam que, embora se observe
menor presença de quadros diagnósticos relativos a ansiedade, a sintomatologia subclínica é
tendencialmente superior nesta população. Gomes (2016) acrescenta ainda que a diminuição
das perspetivas sociais e o declínio da condição geral de saúde neste período contribuem
para uma baixa autoestima e para o desenvolvimento de doenças mentais.
Por outro lado, no que diz respeito à aplicação do TPD, os sujeitos obtiveram, em média,
um ICI de 56,28 pontos, o que corresponde a um adequado desempenho da habilidade de
CI. Os mesmos são, assim, capazes de executar a tarefa proposta de um modo reflexivo,
sem negligenciar a realização correta da atividade a favor da velocidade de execução.
Contudo, os resultados não se encontram em consonância com a evidência científica,
que enaltece uma redução da eficácia dos mecanismos inibitórios, com um aumento da
dificuldade na supressão dos estímulos irrelevantes (Lopes, 2019). Diamond (2013) refere
que as presentes alterações tendem a conduzir a um aumento do tempo requerido para
produzir uma resposta adequada e da dificuldade de inibição de estímulos visuais e auditi-
vos acessórios. Assim, o observado pode dever-se ao facto da amostra utilizada ser pouco
representativa da população em análise.
Relativamente à Hipótese 1, não se verificou uma diminuição estatisticamente signi-
ficativa da concentração de cortisol salivar após a intervenção, relativamente ao seu valor
inicial. Contudo, tal não nos permite inferir que a aplicação do MATRIZ não diminua conside-
ravelmente a ansiedade experienciada pela pessoa idosa institucionalizada, na medida em
que os indivíduos possuíam uma concentração de cortisol salivar pré-intervenção adequada
em 92,9% das observações realizadas. Por outro lado, a dimensão reduzida da amostra
poderá ter contribuído igualmente para os resultados obtidos, uma vez que, segundo Rocha
(2018), a aplicação de jogos contribuí para melhorar a qualidade de vida das pessoas idosas,
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diminuindo o stress, a angústia e a ansiedade. Por outro lado, a prática de atividades de
lazer promove a independência e a autonomia do indivíduo, contribuindo positivamente
para o bem-estar psicológico e para o desenvolvimento de uma visão mais positiva sobre si
próprio, dos outros e da vida (Tavares, 2007; Fleurí et al., 2013).
No que concerne à Hipótese 2 e 3, obtiveram-se resultados contrários, relativos à
influência de uma concentração de cortisol salivar pré-intervenção superior à mediana na
pontuação obtida e tempo médio de execução das atividades do MATRIZ. Contudo, tal não
nos permite inferir que a ansiedade experienciada não influencia o desempenho cognitivo
da pessoa idosa institucionalizada, considerando os motivos expostos anteriormente.
Derakshan e Eysenck (2009) apresentam resultados opostos, ressalvando que, por
meio da produção de efeitos nefastos ao nível do controlo da atenção, a ansiedade afeta as
funções cognitivas que se encontram dependentes deste, como o CI.
No que concerne à Hipótese 4, conclui-se que não existem diferenças estatisticamente
significativas entre a pontuação média obtida nos diferentes níveis de dificuldade da habilida-
de de CI, do jogo MATRIZ, pelas pessoas idosas. Deste modo, embora tal não se encontre
em consonância com a existência de tarefas de complexidade distinta entre os dois níveis
de dificuldade, importa ter presente a dimensão pouco representativa da amostra utilizada.
Por último, no que respeita à Hipótese 5, aferiu-se que a correlação entre a pontuação
média nas atividades da habilidade de CI do jogo MATRIZ e o ICI do TPD é moderada. Os re-
sultados obtidos evidenciam, assim, o potencial do jogo enquanto instrumento de avaliação
das funções executivas em idosos institucionalizados.
De acordo com a literatura científica, o jogo, além de se assumir como uma impor-
tante ferramenta de estimulação cognitiva, pode ser utilizado como um sistema de aferição
neuropsicológica, que permite superar as principais limitações associadas aos testes de
avaliação tradicionais (Valladares-Rodriguez et al., 2017; Noda, Shirotsuki & Nakao, 2019).
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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03
A IMPORTÂNCIA DA CAPACITAÇÃO DOS
PROFISSIONAIS DE SAÚDE NA PRESTAÇÃO DE
CUIDADOS AOS DOENTES COM NECESSIDADES
PALIATIVAS: REVISÃO SISTEMÁTICA DA
LITERATURA
©Autor(es) (ou seu(s) empregador(es)) e RIASE 2020. Reutilização permitida de acordo com CC BY-NC. Nenhuma reutilização comercial.
©Author(s) (or their employer(s)) and RIASE 2020. Re-use permitted under CC BY-NC. No commercial re-use.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98
'10.37885/230513079
RESUMO
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Em resposta a estes problemas a European Association for Palliative Care [EAPC], em
2004 criou uma task force com o objetivo de criar um conjunto de diretrizes para preparar os
enfermeiros para a prática de CP. O documento considerou que as preparações académicas
e clínicas dos enfermeiros deveriam ser estruturadas em três níveis. Recomendam que os
alunos devem ter contacto com o treino em CP, durante o curso base. Para os profissionais
que já estejam a exercer devem ser disponibilizados cursos pós-graduados. Apesar de, na
época, ter sido considerado um documento relevante e útil faltam estudos que demonstrem
a eficácia e o impacto do programa. Mais tarde foram criadas várias comissões que englo-
baram outros grupos profissionais, nomeadamente, médicos, psicólogos, assistentes sociais,
fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e capelões. Estes trabalhos permitiram reformular
os currículos académicos dos cursos de Medicina, Enfermagem, Psicologia e mais recen-
temente os de Serviço Social(5,6).
Em 2013 a EAPC desenvolveu um guia orientador sobre a educação em CP, onde
reafirma que todos os profissionais de saúde devem ser capazes de prestar CP adequados,
independentemente do contexto de saúde onde estão inseridos. Para tal é preciso desen-
volver aptidões através do treino, de modo a responder aos desafios e necessidades dos
doentes/famílias garantindo desta forma o mais elevado padrão de cuidados(6).
A World Health Organization [WHO] vem alertando para a necessidade destes cuidados
chegarem a um maior número de cidadãos. Em 2014 na sexagésima sétima Assembleia
Mundial da Saúde, apelou para a importância dos sistemas de saúde de cada país integra-
rem os CP como resposta ao sofrimento evitável. Defende que a formação básica nesta
área deve ser parte integrante dos cursos de Medicina e Enfermagem. Realçam ainda a
importância de promover o treino formativo e contínuo básico, intermédio e avançado aos
profissionais de saúde(7).
Atualmente a EAPC defende três níveis de educação: a abordagem paliativa, que en-
globa métodos e procedimentos de CP em contexto de cuidados gerais; CP gerais, indicado
para os profissionais que lidam com doentes com doenças potencialmente fatais; CP es-
pecializados, indicado para os profissionais que trabalham exclusivamente neste contex-
to específico(6).
Apesar dos organismos internacionais reconhecerem a importância da educação e
de treino existem poucos dados na literatura que permitam analisar o grau de eficácia dos
programas formativos como agente de mudança na prática diária dos profissionais de saúde,
razão pela qual se justifica a pertinência da temática.
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METODOLOGIA
A questão de investigação que esteve na base desta revisão sistemática foi: A capaci-
tação dos profissionais de saúde em CP contribui para o aumento das competências clínicas
na abordagem ao doente com necessidades paliativas?
Os objetivos a que nos propomos são: Identificar se a formação/capacitação dos pro-
fissionais de saúde em CP representa um aumento das competências destes e descrever
os tipos de programas de intervenção que foram utilizados para promover essa capacitação.
De modo a orientar a pesquisa aplicámos o método PI(C)O – População, Intervenção,
Comparação e Outcome, de acordo com o Systematic Review Resouce Package de Joanna
Briggs Institute [JBI](8). A população foi constituída por profissionais de saúde; intervenção –
capacitação dos profissionais através de programas de formação/treino em CP; comparação
– diferentes tipos de treino/formação; outcome - aumento de competências dos profissionais
de saúde na abordagem ao doente com necessidades paliativas e que tipos de intervenção
foram utilizados para promover essa capacitação.
Tendo por base a metodologia JBI definidos como critérios elegíveis para inclusão
nesta revisão: tipo de participantes - participantes com idade igual ou superior a 19 anos
e profissionais de saúde; tipo de intervenção – estudos que incluíam intervenção com a
respetiva avaliação do impacto dos programas formativos sobre a população estudada;
tipo de resultados – estudos que apresentassem qual o impacto dos programas formativos
que conduzem a uma melhoria da capacitação dos profissionais de saúde; tipo de estudos
– estudos quantitativos e qualitativos realizados entre 2016 e 2021, publicados em língua
inglesa, espanhola e portuguesa.
Excluíram-se os estudos em que o tipo de participantes - apresentavam idade inferior
a 19 anos e eram estudantes de Medicina e de Enfermagem; tipos de intervenção - excluí-
ram-se todos os estudos que não apresentavam qual o programa formativo implementado;
tipo de resultados – não ocorresse a avaliação do impacto dos programas de intervenção
realizados, assim como, a não descrição da forma como esse impacto foi monitorizado; tipo
de estudos – literatura cinzenta, livros, estudos empíricos, documentos oficiais, abstracts e
revisões narrativas.
Estratégia de pesquisa
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integral e de acesso livre, analisado por pares, data de publicação nos últimos 5 anos (2016-
2021), publicados em inglês, português e espanhol.
As palavras utilizadas foram validadas de acordo com a terminologia MeSH. Foram usa-
dos os descritores combinados com o operador boleano “AND” da seguinte forma: “Palliative
Care” AND “Training” AND “Health Personnel”. O processo de seleção dos artigos foi efe-
tuado por dois revisores.
O processo de seleção encontra-se representado no diagrama PRISMA flow
diagram (Figura 1).
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Tabela 1. Avaliação da qualidade metodológica.
RESULTADOS
Os dados dos artigos incluídos foram extraídos por dois revisores, recorrendo ao Joanna
Briggs Method for Systematic Review Research Quick Reference Guide(8). Os dados extraí-
dos encontram-se resumidos na tabela 2, com a identificação do estudo, objetivo do estudo,
número total de participantes, resultados e conclusões.
Os estudos incluídos nesta revisão decorreram maioritariamente em contexto europeu,
mais especificamente no Reino Unido (A1), Alemanha (A3), Israel (A5) e Holanda (A6). Os ou-
tros dois estudos ocorreram no Irão (A2) e nos Estados Unidos da América (A4). Dos seis
artigos elegíveis um foi realizado no ano de 2017 (A5), dois em 2018 (A1 e A3), dois em 2019
(A4 e A6) e um em 2020 (A2). Relativamente à orientação metodológica obtiveram-se cin-
co estudos quase-experimentais (A1, A2, A3, A4) – elevado nível de evidência e um estudo
randomizado controlado (A6) de elevado nível de evidência. No que se refere à qualidade
metodológica existe um estudo de qualidade moderada (A3) e cinco estudos (A1, A2, A4, A5 e
A6) de qualidade elevada.
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Tabela 2. Síntese de dados.
Identificação do estudo Objetivo do estudo Número total de participantes Intervenções Resultados Desenho do estudo Conclusões
A1. A new approach to multi-pro- Investigar a eficácia de um pro- 57 participantes, dos quais 26 Treino de simulação sequencial Todos os participantes melhoraram Estudo de métodos mistos. O estudo mostrou benefício en-
fessional end of life care training grama de treino para melhorar médicos, 14 enfermeiros e 17 composto por três cenários ilus- os níveis de confiança perante os tre as disciplinas no uso do (SqS
using a sequential simulation (SqS a confiança dos profissionais de terapeutas. trativos dos cuidados hospitalares doentes em fim de vida. As diferen- Simulation™) como treino na
Simulation™) design: A mixed me- saúde e das equipas multidiscipli- prestados aos doentes em fim de ças foram consideradas altamente identificação e planeamento de
thods study. nares que prestam cuidados em vida. significativas para os médicos e sig- cuidados no final de vida.
fim de vida. nificativas para os terapeutas. Verificou-se uma melhoria geral
na confiança da equipa multipro-
fissional assim como permitiu de-
senvolver maiores conhecimen-
tos ao nível do planeamento
e metas, na comunicação e no
trabalho em equipa.
A2. Effect of palliative care trai- Determinar o efeito dos CP na 40 Participantes (enfermeiros) do Workshop em CP composto por Os resultados demonstraram que Estudo quantitativo O estudo concluiu que um pro-
ning on perceived self-efficacy of perceção da autoeficácia dos en- hospital Imam Jafar Sadegh. quatro sessões educacionais: existiu uma melhoria significativa grama de formação em CP tem
the nurses. fermeiros. I- Conceito, princípios e objetivos após a intervenção ao nível da au- o potencial de aumentar a per-
dos CP; toeficácia percebida, do apoio psi- ceção da autoeficácia dos enfer-
II- Controlo da dor; cossocial e na gestão dos sintomas. meiros.
III- Controlo de sintomas predo-
minantes em fim de vida:
IV- Comunicação em CP.
A3. Evaluation of an interdiscipli- Avaliar o efeito de uma formação 31 Participantes (médicos e en- Treino em CP composto por qua- Foi observada uma atitude mais Estudo quantitativo A formação interna melhora a
nary palliative care piloto em CP para oncologistas gi- fermeiros) do Hospital Universi- tro módulos: aspetos psicológicos positiva em relação aos CP. Os compreensão e a abordagem
Inhouse training for professionals necológicos. tário de Munique. da comunicação; tratamento da participantes sentiram-se mais interdisciplinar na gestão de pa-
in gynecological oncology. dor oncológica; diretivas anteci- competentes e com maiores conhe- cientes com doença avançada. É
padas de vontade; controlo de cimentos de todas as áreas paliati- um instrumento exequível e útil
sintomas frequentes no utente vas, permitindo dar uma resposta para melhorar as competências
de ginecologia com patologia diferente quando na presença de em CP dos especialistas em on-
oncológica. um doente paliativo. Os CP seriam cologia ginecológica.
iniciados mais cedo do que verifi-
cado até então.
58
Resumo das características gerais dos estudos
Identificação do estudo Objetivo do estudo Número total de participantes Intervenções Resultados Desenho do estudo Conclusões
A4. Gynecologic oncology provi- Desenvolver e testar o treino 20 Participantes (médicos). Workshop de habilidades de A proporção de participantes que Estudo quantitativo O workshop permitiu aos partici-
ders endorse practice-changing de habilidades de comunicação comunicação baseado em role- se sentiam mais do que “um pouco pantes receberem formação de
impact of communication skills (workshop) para oncologistas gi- playing com destaque para a preparados” melhorou significativa- alta qualidade para a mudança de
training. necológicos. transmissão de más noticias. mente em todas as áreas de comu- práticas. Os participantes relata-
nicação avaliadas. Um mês após o ram uma melhoria sustentada e
workshop, 93% usaram as técnicas estatisticamente significativa na
de comunicação pelo menos sema- preparação para lidar com tarefas
nalmente. As taxas de impacto de de comunicação desafiadoras. O
mudança de prática foram superio- treino de habilidades comunica-
res a 75%. cionais é viável, com altas taxas
de eficácia e com impacto na prá-
tica clínica. O estudo recomenda
que o workshop em comunicação
deve ser integrado no treino dos
oncologistas ginecológicos.
A5. What can we learn from simu- Desenvolver e executar um 1324 Profissionais de saúde (mé- Intervenção educacional baseada Os dados dos questionários de- Estudo qualitativo O treino baseado em simulação
lation-based training to improve workshop baseado em simulação dicos, enfermeiros, assistentes no treino de simulação em habili- monstraram falta de treino, conhe- é um método interessante e pro-
skills for end-of-life care? Insights para melhorar as competências sociais, psicólogos clínicos, nu- dades de comunicação. Os temas cimento e tempo, uso excessivo de missor para melhorar a qualidade
from a national project in Israel. dos profissionais nos cuidados tricionistas, fisioterapeutas) abordados foram a discussão so- tecnologia, incerteza nas tomadas dos cuidados em fim de vida.
em fim de vida. bre as preferências do doente em de decisão, pouca habilidade comu- Ao enfrentar situações de fim
fim de vida e da família; gestão nicacional e trabalho em equipa. de vida, médicos e enfermeiros
de conflitos entre os familiares e Os participantes reconheceram a usam a linguagem cognitiva com
com as equipas; conspiração do necessidade de melhorar as ha- muito mais frequência do que
silêncio. bilidades da escuta ativa, atenção expressões relacionadas com as
ao afeto e o trabalho em equipa. emoções, escuta ativa ou presen-
Referiram ainda que o workshop ça do silêncio. O treino pode ser
baseado em simulação melhorará valioso para induzir uma mudan-
os cuidados em fim de vida. ça cultural nos cuidados em fim
de vida.
A6. Training for Medical Oncolo- Analisar qual o efeito que o treino 31 Médicos oncologistas que tra- Treino baseado no modelo de O treino teve um efeito significativo Estudo quantitativo O estudo concluiu que o treino de
gists on Shared D ecision-Making tem sobre a tomada de decisão tavam de pacientes com tumores tomada de decisão partilhada. nas tomadas de decisão partilhada habilidades nas tomadas de deci-
About Palliative Chemotherapy: A partilhada, para médicos oncolo- metastáticos ou inoperáveis em Consistiu em técnicas de mudan- observado nas consultas simuladas são partilhada foi eficaz e muito
Randomized Controlled Trial. gistas, comparado com a prática departamentos de oncologia mé- ça de comportamentos, através (grupo experimental em compara- apreciado pelos participantes. As
padrão. dica na Holanda. da modelagem (vídeos sobre o ção com o grupo controlo). habilidades e as estratégias en-
tratamento sistémico paliativo) O treino melhorou os comporta- sinadas apoiam os oncologistas
e da prática (role-playing). mentos e as habilidades na trans- na prestação de cuidados centra-
missão de informações dos oncolo- dos no utente. Este estudo prova
gistas, nas habilidades relacionadas que treinar oncologistas médicos
com o antecipar/responder às emo- sobre o tratamento sistémico pa-
ções e a satisfação com a consulta. liativo é viável e melhora signifi-
cativamente as suas habilidades.
59
DISCUSSÃO
O principal objetivo desta revisão era encontrar estudos primários que avaliassem o
impacto dos programas formativos na prática diária dos profissionais de saúde em resposta
às necessidades paliativas dos utentes. É notória a preocupação existente em relação a esta
temática, uma vez que todos os estudos analisados concluíram a eficácia dos programas
formativos como resposta ao aumento das necessidades paliativas da população decorrente
do envelhecimento populacional.
Verificamos que todos os estudos, desenvolveram programas específicos de treino,
seja workshops ou treinos de simulação, variando entre a formação de curta duração, de
apenas 2 dias (A2 e A4), até programas de treino em que se verificou um acompanhamento
dos profissionais, 1 mês (A4), 3 meses (A3) ou 4 meses (A6) após a formação. Todos estes
estudos consideraram que a capacitação dos profissionais de saúde conduz a mudanças no
comportamento destes permitindo assim uma melhoria da qualidade dos cuidados prestados
aos doentes com necessidades paliativas.
No estudo A4, os profissionais pensavam que tinham uma preparação melhor do que de
facto tinham. Após a formação, os profissionais reconheceram que tinham muitas limitações
nas habilidades de comunicação com os doentes. Esta formação teve um impacto superior
a 75%, sendo que um mês depois verificou-se que essas novas aquisições foram utilizadas
com regularidade na prática clínica diária (93%). Estas conclusões vão ao encontro do estudo
realizado por Chang et al. (18) que concluiu que o grupo experimental submetido a formação
específica em CP apresentou uma resposta muito mais eficiente nos cuidados prestados
aos doentes em fase terminal do que o grupo de controlo que não teve acesso a nenhum
programa formativo. Já o estudo de Gunten et al. (19)
demonstrou que os profissionais de
saúde submetidos a formação prática em conjunto com suporte teórico melhoraram em cerca
de 10%, após quatro semanas, os seus conhecimentos e habilidades comunicacionais em
CP. Importa destacar o facto dos programas formativos se encontrarem direcionados para
uma vertente mais prática e não tanto teórica, tal facto, é sustentado pelo estudo de Fischer
et al.(20) que concluiu que disponibilizar unicamente uma abordagem teórica não teve um
efeito significativo na melhoria do conhecimento e na mudança de atitudes dos profissionais
de saúde em relação aos cuidados em fim de vida.
A maioria dos estudos desenvolveu o treino na gestão dos sintomas (A2, A3), e na co-
municação (A1, A4, A5, A6). Nenhum dos estudos dirigiu a sua intervenção para o desenvol-
vimento de estratégias que facilitassem aos profissionais a identificação das necessidades
paliativas dos utentes. Consideramos que este é um problema atual e transversal a todos
os profissionais de saúde. De acordo com o estudo de Innis et al.(21) sobre a capacidade dos
profissionais de Cuidados de Saúde Primários em identificarem pessoas com necessidades
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paliativas concluiu que apenas 14,3% conseguiram identificar corretamente. Um fator im-
portante tem a ver com a familiarização dos profissionais de saúde com a área dos CP,
fator esse que pode ser facilitador na identificação e posterior referenciação para as equi-
pas especializadas. O estudo recomenda a necessidade de formação dos profissionais de
Cuidados de Saúde Primários e a promoção da comunicação entre esses cuidados e as
equipas de CP. Consideramos que este problema, aliado à falta de conhecimentos poderá
estar na origem dos utentes não acederem a estes cuidados. Os que recebem acabam por
aceder numa fase muito tardia da doença. Tal facto pode ser explicado pelo estudo de Allsop
et al. (22) que estima que, no Reino Unido anualmente cerca de 90000 pessoas com doença
crónica, avançada e progressiva poderiam beneficiar de CP, no entanto acabam por não ter
acesso aos mesmos. O estudo de Capelas et al. (23) vai no mesmo sentido ao concluir que,
em Portugal, no ano de 2018 as estimativas apontavam para cerca de 110000 pessoas a
necessitarem de receber CP, no entanto, apenas 25570 utentes acederam a estes cuida-
dos. A taxa de acessibilidade a estes serviços situou-se apenas nos 25%.
Verificamos que em três estudos existiu um fator predominante em termos de formação
dirigida aos médicos oncologistas (A3, A4 e A6), tal parece-nos ser importante e indicador de
uma necessária reflexão sobre os cuidados prestados aos doentes oncológicos em fim de
vida. De acordo com o estudo de Martins-Branco et al.(24) realizado em Portugal, concluiu
que 7 em cada 10 doentes oncológicos que morrem num hospital público foram sujeitos a
tratamentos excessivamente agressivos durante o ultimo mês de vida, aumentando desta
forma o sofrimento no fim de vida. Este estudo remete-nos para a importância de uma ne-
cessária formação deste grupo profissional de modo a inverter a escala do sofrimento com
elevado impacto na má qualidade de vida e perda da dignidade humana.
Em trabalhos futuros, consideramos importante existirem estudos que avaliem o impacto
da formação/treino em CP nos profissionais dos Cuidados de Saúde Primários. Segundo a
WHO, a maioria das pessoas com necessidades paliativas encontram-se na comunidade,
sendo que muitas delas preferem ficar em suas casas na última fase da vida. Seria importante
analisar se a formação e o treino desses profissionais em contexto comunitário se tornaria
relevante como forma de contrariar uma das maiores disparidades mundiais, a desigualdade
no acesso aos CP(25).
CONCLUSÃO
Responsabilidades Éticas
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04
ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS, CULTURAIS E
NUTRICIONAIS DE IDOSOS EM UM CENTRO DE
REFERÊNCIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL
'10.37885/230513124
RESUMO
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necessário vivenciar e conhecer os desafios e possibilidades dos serviços prestados pelos
CRAS para os idosos (ARAÚJO SILVA; CARVALHO; ALMEIDA, 2017).
Fundamentado nas afirmativas expostas, surgem as seguintes indagações: O estado
nutricional dos idosos que frequentam algum Serviço de Convivência e Fortalecimento de
Vínculos está equilibrado? Mesmo estando nos parâmetros antropométricos adequados,
eles correm risco de desnutrição ou estão desnutridos? Existe correlação entre a vida social,
econômica e o estado nutricional desses idosos?
Há diversos estudos (LAIA et al., 2015; CONFORTIN et al., 2016; FONSECA, 2017;
FONTENELLE et al., 2018) que avaliaram o estado nutricional de idosos, sejam em âmbito
hospitalar ou institucionalizados. Entretanto, são escassas as investigações que estabelecem
um modelo multinível para identificar a desnutrição, os fatores sociais, os aspectos alimen-
tares e a classificação nutricional dos idosos que são assistencializados pelos CRAS. Tal
informação é útil para orientar profissionais e gestores de saúde, na formulação de ações
que promovam uma educação alimentar e nutricional para esse público.
O objetivo deste estudo foi caracterizar o perfil nutricional de idosos e seus determi-
nantes socioeconômicos e culturais de um Centro de Referência e Assistência Social de
Sobral, Ceará, Brasil.
MÉTODOS
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do equipamento; de pé, ereto, com os braços estendidos ao longo do corpo, com a cabeça
erguida, olhando para um ponto fixo na altura dos olhos; a cabeça foi posicionada no plano
de Frankfurt (margem inferior da abertura do orbital e a margem superior do meatos audi-
tivo externo permanecendo em uma mesma linha horizontal); as pernas ficaram paralelas
e os pés formaram um ângulo reto com as pernas; houve encoste dos calcanhares, das
panturrilhas, dos glúteos, das escápulas e parte posterior da cabeça (região do occipital) no
estadiômetro; a parte móvel do equipamento foi baixada, fixando-a contra a cabeça, com
pressão suficiente para comprimir o cabelo; e realizou-se a leitura da estatura, sem soltar a
parte móvel do equipamento (WHO, 1995; BRASIL, 2011).
A mensuração do peso e da altura foi suficiente para se obter o índice de massa cor-
pórea (IMC). Esta variável foi classificada de acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL,
2011) em: baixo peso (IMC < 22kg/m2; adequado ou eutrófico (IMC > 22 e < 27kg/m2); e
sobrepeso (IMC > 27kg/m2).
A circunferência da panturrilha (CP) é um importante preditor do estado nutricional
do idoso por correlacionar-se com a reserva de massa muscular, sendo mais preferível do
que a circunferência do braço em pacientes nesta faixa etária (VITOLO, 2015). Para isso,
utilizou-se o ponto de corte <31 cm, sendo considerado idoso desnutrido, com depleção da
capacidade funcional, risco de queda e surgimento de fraturas (WHO, 1995).
Os resultados obtidos através da antropometria foram tabulados em planilha do Microsoft
Office Excel 2018® (Redmond, Washington, United States of America). Os dados foram
expostos em estatísticas descritivas apresentadas em média, desvio padrão e porcenta-
gem. O equilíbrio do estado nutricional dos idosos (com ou sem risco de desnutrição) por meio
dos valores médios do IMC e da CP em comparação com os valores médios da literatura,
ou seja, o IMC conforme estipulado pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2011) e a CP pela
OMS (WHO, 1995), foi analisado através do teste t-student considerando um intervalo de
confiança (IC) de 95% (p<0,05).
Na estatística inferencial (LEVIN; FOX; FORDE, 2012) foi realizado o Teste Exato
de Fisher para verificar a associação entre as variáveis categóricas binárias. Para tanto,
as variáveis categóricas de múltiplas categorias (escolaridade, MAN, renda e etnia) foram
agrupadas em duas categorias - binária. Foram consideradas variáveis dependentes: IMC
(sobrepeso e obesidade) e circunferência panturrilha (desnutrição e sem risco), e variáveis
independentes: sexo (masculino e feminino), escolaridade (primário/sem e 1º/2º grau), MAN
(risco e normal/desnutrido), acompanhamento nutricional (sim e não), etnia (branco e preto/
pardo) e renda, que foi denominada de “menos de 1 salário-mínimo” (sim e não). valor de p
< 0,05 foi adotado para consideração de associação estatisticamente significante.
A regressão de Poisson foi realizada para obtenção da medida de associação razão
de prevalência (RP), na qual valores iguais a um, indica não existir associação entre as
variáveis. Valores menores que um, indica uma associação negativa, e maiores que um,
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indica uma associação positiva (MEDONHO et al., 2008). O programa estatístico R versão
4.0.2 (Free Software Foundation, Inc., Boston, United States of America) foi utilizado para
auxiliar nas análises.
O estudo foi executado após liberação de parecer favorável pelo Comitê de Ética do
Centro Universitário INTA - UNINTA (CEP/UNINTA), através do Certificado de Apresentação
para Apreciação Ética - CAAE nº 23942819.2.0000.8133 e do Parecer Consubstanciado nº
3.679.678/2019. O TCLE dos participantes do estudo descrevia as informações sobre a pes-
quisa e os direitos de cada participante, deixando claro que poderiam se retirar a qualquer
momento da pesquisa sem ônus, bônus ou penalidades, segundo consta na Resolução nº
466/2012, do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde.
RESULTADOS
Tabela 1. Análise do perfil socioeconômico e cultural de idosos (n=18) que frequentam o SCFV do CRAS Mimi Marinho.
Sobral, Ceará, Brasil. 2020.
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Variável Categoria N Percentual (%)
Sim 17 94,44%
Algum problema de saúde?
Não 1 5,56%
<10 anos 9 52,94%
Há quanto tempo tem a doença?
>10anos 8 47,05%
Sim 12 66,67%
Já teve acompanhamento nutricional?
Não 6 33,33%
Esse problema de saúde lhe atrapalha a de- Sim 7 38,89%
senvolver atividades? Não 11 61,11%
< SM* 5 27,78%
1 SM 13 72,22%
Média de renda mensal
1 a 2 SM 0 0%
3 ou mais SM 0 0%
1 2 11,11%
2 6 33,33%
3 4 22,22%
4 3 16,67%
Quantas pessoas vivem com esse dinheiro?
5 0 0%
6 0 0%
7 2 11,11%
9 1 5,55%
*SM=Salário-Mínimo.
Fonte: Autoria própria.
Cabe destacar a alta incidência de enfermidades nos idosos, onde apenas um parti-
cipante não possui nenhuma patologia. Dentre elas, as principais foram diabetes mellitus,
hipertensão, dislipidemia, cardiopatia, doenças ósseas, ansiedade e gastrite. As doenças
crônicas não transmissíveis (DCNT) foram predominantes, como demonstrado na Figura 1.
Figura 1. Diagrama de Venn: Doenças crônicas Não Transmissíveis e suas associações nos idosos frequentadores de SCFV
em Sobral, Ceará, Brasil. 2020.
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outras, sendo 72,2% (n=13) dos idosos acometidos com duas ou mais comorbidades e
27,8% com apenas uma.
Os idosos investigados (n=18), apresentaram os seguintes resultados da MNA: 61,11%
apresentaram estado nutricional normal; 22,22% estavam sob risco nutricional; e apenas
16,67% foram considerados desnutridos. Já a classificação do estado nutricional, de acor-
do com o IMC dos participantes, apontou 50% eutróficos, 33,33% com sobrepeso, 11,11%
obesos e somente 5,55% com baixo peso.
Na avaliação da circunferência da panturrilha, percebeu-se que a maioria dos idosos
estava em condições adequadas (77,78% eutróficos contra 22,22% redução da massa
muscular esquelética), sem depleção da capacidade funcional ou risco de queda. Isso pode
se justificar analisando a capacidade funcional presente no questionário socioeconômico e
cultural, onde a maioria (61,11%) relatou não deixar de realizar atividades cotidianas.
As tabelas 2 e 3 demonstram as relações entre diversas variáveis socioeconômicas
com o IMC e a circunferência da panturrilha, respectivamente.
Tabela 2. Valores do teste exato de Fischer e regressão de Poison tendo o IMC como variável dependente.
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Tabela 3. Valores do teste exato de Fisher e regressão de Poisson tendo a circunferência da panturrilha como variável
dependente.
Circunferência Panturrilha
Houve uma associação negativa de sexo com obesidade, ou seja, uma inclinação dos
homens não serem obesos/sobrepeso. Portanto, observou-se uma associação positiva do
sexo feminino com obesidade/sobrepeso, mas não foi estatisticamente significante.
Com relação a escolaridade, houve uma associação de pessoas com primário ou sem
escolaridade com não serem obesas. Logo, o maior nível de escolaridade associou-se com
obesidade/sobrepeso, mas não foi a nível de significância estatística.
Entre as variáveis MAN e obesidade/sobrepeso não houve associação, tendo em vis-
ta que o valor de RP se aproximou de 1 e o valor p do teste exato de Fisher foi igual a 1.
Porém, houve uma pequena associação de acompanhamento nutricional com os sujeitos
das pesquisas não serem obesos/sobrepeso, mas novos estudos são necessários. Além
disso o valor da estatística teste foi igual a 1.
Houve associação de renda mensal de menos de um salário-mínimo com obesidade/so-
brepeso, contudo não foi estatisticamente significante. Também houve associação de pessoas
negras/pardas com obesidade/sobrepeso, e tal associação foi estatisticamente significante.
Houve associação fraca da categoria “primário ou sem” da variável escolaridade,
com “desnutrição”, contudo tal associação não foi significativa, pode ter ocorrido ao acaso.
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Também houve associação de “risco” da variável MAN, com “desnutrição” da variável cir-
cunferência panturrilha, mas não foi estatisticamente significante.
Outra percepção é que houve associação de “sim” da variável acompanhamento nu-
tricional, com “sem risco” da variável circunferência panturrilha, contudo tal associação não
foi estatisticamente significante. Entretanto ocorreu associação negativa entre as variáveis
“menos de 1 salário-mínimo” e circunferência panturrilha, portanto uma tendência da categoria
“sim” da primeira variável associar-se com a categoria “sem risco” da variável circunferência
panturrilha, mas não foi estatisticamente significante, apontando que tal associação pode
ter ocorrido ao acaso. Mas, no que se refere a variável etnia, notou-se uma inclinação de
brancos não apresentarem risco, contudo não foi uma associação significativa.
A tabela 4 apresenta o resultado da relação média dos valores de IMC e CP com o padrão.
Tabela 4. Resultado dos testes t e valor de p das diferenças de médias das medidas antropométricas IMC (kg/m2) e CP
(cm) com as médias padrões de idosos que frequentam o SCFV do CRAS Mimi Marinho. Sobral, Ceará, Brasil. 2020.
A média do IMC dos idosos não é compatível com o média de IMC eutrófico recomenda-
do, ou seja, há uma diferença estatisticamente significante. Assim, o IMC dos idosos pesqui-
sados não se encontra dentro do recomendado. A média da CP dos idosos não é compatível
com o média da CP eutrófica minimamente recomendada, ou seja, há uma diferença esta-
tisticamente significante. Assim, a CP dos idosos pesquisados é superior ao recomendado.
DISCUSSÃO
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Os CRAS estão inseridos especificamente em comunidades com maior vulnerabilida-
de social (SOUSA et al., 2020). Assim, os fatores socioeconômicos e culturais analisados
neste estudo refletem a realidade da comunidade atendida, pois a maioria dos indivíduos
possui baixa escolaridade e renda. Já no estudo desenvolvido por Macedo (2018), em Santa
Catarina e Rio Grande do Sul com 178 idosos frequentadores do CRAS, foi demonstrado que
19% recebiam até 1 salário-mínimo e 27% entre 2 e 3 salários-mínimos. Porém, ao analisar
o nível de escolaridade, esse autor percebeu que 34% dos idosos (n=60) possuía ensino
fundamental incompleto e 30% (n=52) tinha ensino médio completo, havendo também idosos
com nível superior completo, e, em sua minoria, analfabetos; podendo refletir na melhoria
da renda familiar. Vaz de Melo, Ferreira e Teixeira (2014), ao analisarem as condições de
vida dos idosos no Brasil, perceberam que um melhor poder aquisitivo é consequência de
um maior nível escolaridade. Na região Nordeste, há predominância de baixa renda entre
os idosos, podendo também justificar as diferenças encontradas com o estudo de Macedo
(2018). Os autores concluíram que a população idosa brasileira é predominantemente do
sexo feminino, apresenta baixa escolaridade e vive com renda domiciliar per capita de até
meio salário-mínimo. Assim, essa informação está em concordância com o presente estu-
do, onde 89% (n=11) dos idosos são mulheres, com baixa escolaridade e renda. Pereira;
Alvarez e Traebert (2011) avaliaram a contribuição das condições sociodemográficas para
a percepção da qualidade de vida em 141 idosos, com presença maior público feminino
(64,5%) e identificam que há associação da renda familiar inferior a três salários-mínimos
quando a escolaridade é inferior a oito anos de estudo. Este trabalho demonstrou também
a importância dos grupos de convivência como fator primordial para melhoria da percepção
de qualidade de vida dos idosos.
Quanto à prevalência de enfermidades, destacam-se as doenças crônicas não trans-
missíveis, sendo a hipertensão arterial (HA) e a diabetes mellitus (DM) as principais, com
82,36% e 58,82% respectivamente. Achados semelhantes também foram encontrados por
Oliveira, Ferreira e Guabiroba (2018) em idosos do CRAS em Mineiro - Goiás, apresen-
tando 78,6% dos idosos com HA e 14,3% com DM. A quantidade de idosos com DCNT
tem sido uma progressão gradual ao longo dos anos e possui alta capacidade de afetar
a qualidade de vida deste público. Isso se justifica devido à vulnerabilidade que a própria
velhice causa e a um estilo de vida inadequado ao longo da vida, sendo mais preocupante
quando se necessita mudar hábitos alimentares inadequados praticados ao longo da vida
(PORCIÚNCULA et al., 2014; SILVA et al., 2022). Nesse estudo, mesmo já acometidos com
DCNT, 66,67% (n=11) dos idosos já tinha procurado atendimento com nutricionista, sendo
um bom indicativo no controle e num melhor prognóstico de convivência com enfermidades
crônicas, onde o acompanhamento nutricional teve uma relação positiva em não ter risco
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nutricional e desenvolver obesidade ou sobrepeso. Outro detalhe foi a ocorrência em 72,3%
(n=13) da população aqui estudada de duas ou mais DCNT. Semelhante situação ocorreu
no estudo de Christofoletti et al. (2020) com 52.929 brasileiros acima de 18 anos. Eles iden-
tificaram que, entre os idosos, houve prevalência de simultaneidade de doenças em 76,8%
dos investigados. As DCNT de forma individual já levam a uma sobrecarga orgânica nos
sistemas corporais acometidos devido a alterações na fisiologia orgânica normal, deixando
o indivíduo mais suscetível ao aparecimento de outras doenças e debilitando o estado geral
de saúde (WHO, 2017). Sendo assim, a coexistência dessas enfermidades deve servir de
alerta para o sistema de saúde, pois haverá a necessidade cuidados mais intensos com a
saúde, especialmente relacionada à sobrevida desses pacientes após diagnóstico.
A avaliação do risco nutricional realizada através da MNA revelou que a maioria dos
idosos estava com estado nutricional normal, 25% sob risco de desnutrição e uma pequena
parte desnutrida. Esta situação é diferente do estudo realizado por Cardozo et al. (2017)
com 119 idosos atendidos por uma unidade pública de saúde (UPS), onde apenas 5%
(n=6) apresentaram desnutrição, 31,9% (n=38) com risco de desnutrição e 63% (n=75) em
eutrofia. Isso pode justificar-se pela melhor renda familiar, onde 63% (n=75) dos idosos
recebiam mais de 1 salário-mínimo, tendo uma relação positiva na diminuição do risco
nutricional. Já Mendes (2017) aplicou a MNA em 1286 idosos participantes de grupos de
convivência em Parintins-AM e obteve achados concordantes com este estudo, estando
os pesquisados, em sua maioria (83,1%) eutróficos, seguido de 16,6% (n=49) sob risco de
desnutrição e 0,3% (n=1) desnutridos. Estes resultados são bastante significativos porque
ocorreram no mesmo campo do atual estudo e, mesmo com menor amostra, obtiveram-se
semelhanças. No estudo de Pereira et al. (2015), eles avaliaram 359 idosos residentes de
uma instituição de longa permanência e constataram que 66,7% dos hospedados estavam
desnutridos ou sob risco nutricional. Estes resultados diferem do presente estudo, devido à
diferença dos campos de aplicação, porém também ressalta a importância de identificar o
risco ou a presença de desnutrição em idosos antes que cheguem à uma unidade hospitalar.
Os estudos Pereira et al. (2015) e Cardozo et al. (2017) também avaliaram o IMC dos
idosos assistidos, comparando com a desnutrição. No primeiro, ocorreu uma predominância
do sobrepeso com 54,6% (n=65); no outro, 44,3% (n=159) estavam com baixo peso. Essas
pesquisas são destoantes aos achados deste trabalho, onde metade da amostra apresentou
eutrofia, seguido de outro 1/3 com sobrepeso. Mesmo assim, apenas o IMC não é capaz de
rastrear o estado nutricional na terceira idade (OLIVEIRA; ANUNCIAÇÃO; COSTA, 2018),
sendo necessário que a triagem e os aspectos socioeconômicos sejam considerados.
Quando se associa o sobrepeso e a obesidade aos fatores socioeconômicos, acha-
dos semelhantes a esse estudo foram encontrados por Mendes (2017), onde a maioria dos
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idosos que frequentavam o serviço de convivência eram mulheres e tendiam à obesidade
e sobrepeso em 42,5% (n=179), além de ter mostrado correlação positiva do sexo feminino
com os maiores valores de IMC. Entende-se que o IMC é uma ferramenta antropométrica
muito utilizada para avaliação nutricional, mas sua aplicação em idosos é questionável, pois
não considera a mudança da distribuição de gordura na fisiologia do envelhecimento. Além
disso, as medidas antropométricas no idoso sofrem alterações devido o encurtamento das
vertebras e encurvamento das costas, diminuindo a altura e, consequentemente, elevando
os valores do IMC (VITOLO, 2015). Portanto, não deve ser o único parâmetro de avaliação
nutricional do idoso.
A literatura internacional (GONÇALVES FERREIRA et al., 2007; ZHANG; RODRIGUEZ-
MONGUIO, 2012; KELLEY et al., 2016) evidencia resultados em conformidade dos encontra-
dos na presente investigação, apresentando correlação entre a raça/etnia preta e hispânica
com a obesidade geral (IMC) ao avaliarem idosos e adultos. Estudo de Wang e Beydoun
(2007) também demonstrou associação da obesidade geral (IMC) e abdominal (CC) com a
raça/etnia negra, comparada à branca e à hispânica, em idosas (> 60 anos) norte-america-
nas. No atual estudo, os resultados foram estatisticamente significantes (p=0,003) de pessoas
negras/pardas tendendo à obesidade/sobrepeso. Estudo realizado por Freitas et al. (2019)
com 49 idosos frequentadores de um grupo de convivência em Montes Claros - MG tam-
bém obteve significância estatística (p=0,043) de mulheres negras/pardas apresentarem
obesidade/sobrepeso.
Complementando o peso e a altura como fatores antropométricos utilizados na ava-
liação de idosos, a circunferência da panturrilha (CP) torna-se essencial na verificação da
composição corporal do longevo, pois é capaz de correlacionar-se às reservas de massa
muscular, sendo esta medida considerada a mais sensível para estimar a proteína somática
em idosos (WHO, 1995). Ao avaliar a CP neste estudo, foi prevalente a eutrofia, com apenas
11,11% abaixo de 31 cm. Confirmando estes dados, Miranda e Paiva (2020), ao investigarem
idosos (n=101) pertencentes à uma organização não governamental - ONG, encontraram 8%
com a circunferência da panturrilha abaixo do ponto de corte e 92% indicando eutrofia. Cruz
(2016) elucidou que, ao avançar os anos, a tendência do ser humano é perder massa magra,
principalmente ao ultrapassar os 60 anos. Isso reflete diretamente na composição do peso
corporal com tendência a reduzir as medidas antropométricas, sendo de extrema importância
a avaliação contínua do estado nutricional nessa população. O teste t pôde constatar que
os idosos deste estudo apresentaram tanto o IMC quanto a CP acima da média, ou seja,
por estarem em sobrepeso/obesidade. eles podem possuir tendência de aumento do tecido
adiposo na região dos membros inferiores. Borges (2020) realizou um estudo buscando
correlacionar a CP com IMC e com massa gorda - MG, obtendo uma significância estatística
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entre ambas, ou seja, quanto maior a CP, maior o IMC e maior MG com p<0,001. Sendo
assim, esta circunferência também pode predizer acerca da adiposidade e da obesidade em
geral no indivíduo, entrando em concordância com os achados do presente estudo.
CONCLUSÃO
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05
AVALIAÇÃO DA FRAGILIDADE EM IDOSOS
HIPERTENSOS
'10.37885/230513096
RESUMO
MÉTODO
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Figura 1. Fluxograma do processo de seleção dos artigos pulicados no período de 2016 a 2021.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para a análise dos dados descritos nos 08 artigos selecionados, foi elaborado um
instrumento para a coleta e apresentação dos dados, conforme demonstrado na tabela 1, a
qual apresenta as seguintes variáveis: autor, ano, tipo de estudo, periódico, objetivo, local
do estudo, amostra e associação entre fragilidade e hipertensão em idosos por meio de
instrumentos de avaliação geriátrica.
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Tabela 1. Características e resultados dos estudos inseridos na revisão integrativa
Autor e ano do
Tipo do estudo Periódico Objetivo e local do estudo N Resultados Conclusão
estudo
Anker D et al. Transversal The Journal of Clini- Avaliar a associação entre 3157 Indivíduos frágeis apresen- Em idosos frágeis, a pressão
(2019)11 cal Hypertension fragilidade e pressão arte- idosos taram PA substancialmente arterial pode estar associada
rial em idosos, na cidade de alterada em comparação com a piora da saúde e piores des-
Pequim – China. idosos não frágeis. Como a PA fechos. É fundamental realizar
alterada pode ser prejudicial o manejo correto dos níveis
entre pacientes idosos frágeis, pressóricos que são muito
os achados levantam questões complicados nessa população.
sobre o manejo adequado da
hipertensão.
Aprahamian I et Transversal The Journal of Clini- Avaliar a prevalência de hi- 619 idosos A prevalência de hipertensão A hipertensão apresentou um
al., (2018)12 cal Hypertension pertensão e uso de drogas e fragilidade foi de 67,3% e odds ratio de 1,77 para a fra-
anti-hipertensivas em ido- 14,8%, respectivamente, na gilidade (95% de confiança in-
sos robustos, pré-frágeis e amostra total. A hiperten- tervalo, 1,21–2,60; P = 0,002).
frágeis; e avaliar os fatores são foi mais prevalente nos A hipertensão foi mais preva-
associados ao estado de fra- grupos pré-frágeis (72,5%) e lente em idosos frágeis e foi
gilidade (ou seja, de robusta frágeis (83%) do que nos con- significativamente associada
a pré-frágil, pré-frágil para troles (51,7%). Hipertensão, à fragilidade.
fragilidade) em idosos hiper- atividade física, número de
tensos, em Jundiaí – Brasil. medicamentos prescritos e
desempenho cognitivo foram
significativamente associados
ao estado de fragilidade
Basile G et al. Transversal com Aging Clinical and Medir a fragilidade status em 56 idosos Uma correlação estatística O índice de fragilidade pode
(2016)13 análise docu- Experimental Re- pacientes mais velhos com inversamente significativa foi desempenhar um papel im-
mental search hipertensão e determinar o encontrada entre fragilidade portante no contexto clínico,
relações existentes entre os e idoso hipertenso - PA sistó- apoiando a identificação de
valores de pressão arterial e lica (r = -0,319, p = 0,016), PA indivíduos em risco e permi-
fragilidade, na Itália. sistólica ortostática (r = -0,408, tindo uma melhor prestação
p = 0,002), ortostática PA dias- de cuidados personalizados.
tólica (r = -0,299, p = 0,025) e
ortostática. Pressão de pulso (r
= -0,297, p = 0,026).
Coelho-Júnior HJ Transversal Experimental Ge- Investigar se a hipertensão 200 adul- Não foram observadas di- A hipertensão e a medicação
et al. (2021)14 rontology arterial e terapia anti-hiper- tos mais ferenças significativas nos anti-hipertensiva não foram
tensiva tem associação com velhos parâmetros hemodinâmicos, associados transversalmente
o estado de fragilidade em diagnóstico de hipertensão e ao estado de fragilidade em
idosos residentes na comu- terapia anti-hipertensiva entre idosos da comunidade pre-
nidade, em Campinas- Brasil os estados de fragilidade, inde- servados cognitivamente com
pendentemente da ferramen- baixa prevalência de comor-
ta de avaliação de fragilidade bidades, independentemente
utilizada da ferramenta utilizada para
identificação da fragilidade
Kang M et Transversal Scientific Reports Analisar a associação entre 4.352 A prevalência de hipertensão Considerando os desfechos
al.(2017)15 fragilidade e prevalência, tra- idosos foi maior em idosos frágeis cardiovasculares adversos as-
tamento e taxa de controle (67,8%) do que em pré-frágeis sociados à fragilidade, maior
da hipertensão em idosos, (60,8%) ou robustos (49,2%) atenção deve ser dada ao
na Coréia. (P < 0,001). Entre os hiper- controle da pressão arterial
tensos, idosos frágeis tiveram do idoso frágil.
maior probabilidade de serem
tratados do que idosos pré-frá-
geis ou robustos (P < 0,001),
mas a proporção de pacien-
tes com pressão arterial con-
trolada ( < 150/90 mmHg) foi
menor em idosos frágeis (P
= 0,005).
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Autor e ano do
Tipo do estudo Periódico Objetivo e local do estudo N Resultados Conclusão
estudo
Ma L et al. Transversal The Journal of Clini- Explorar a prevalência e fato- 1111 Duzentos e dezoito idosos fo- A fragilidade está associada
(2018)2 cal Hypertension res associados à fragilidade idosos ram considerados frágeis (taxa a pior função física e maior
em idosos com hipertensão de prevalência: 19,6%). Idosos mortalidade em idosos hiper-
e se a fragilidade poderia frágeis com hipertensão apre- tensos residentes na comuni-
identificar os pacientes que sentaram pior desempenho dade na China. Esses achados
estão em risco de aumento físico, pior função psicológica enfatizam a importância e a
da mortalidade, em Pequim e social, bem como piores há- necessidade de intervenção e
– China bitos de vida, em comparação prevenção da fragilidade em
com idosos não frágeis com idosos com hipertensão.
hipertensão. A fragilidade foi
associada a uma maior morta-
lidade em 8 anos.
Ma L et al. Transversal Journal of Hyper- Explorar o quadro epide- 1.240 A prevalência de fragilidade O presente estudo fornece a
(2020)16 tension miológico características e idosos foi significativamente maior primeira evidência sobre o es-
fatores relacionados à fra- em pacientes hipertensos do tado de fragilidade em idosos
gilidade em chineses mais que em controles normais. A chineses com hipertensão
velhos adultos com hiperten- prevalência de fragilidade em
são, em Pequi – China idosos com hipertensão foi de
13,8% na China.
Vetrano DL et al. Revisão sistemá- BMJ Open Revisar a associação entre 27 artigos Vinte e três estudos avaliaram A fragilidade é comum em pes-
(2018)17 tica e meta-a- hipertensão e fragilidade a associação transversal entre soas com hipertensão. Dada a
nálise em estudos observacionais, fragilidade e hipertensão: 13 possível influência da fragilida-
na Itália. deles relataram uma prevalên- de na relação risco-benefício
cia significativamente maior de do tratamento da hipertensão
fragilidade em participantes e sua alta prevalência, é impor-
hipertensos e 10 não encon- tante avaliar a presença dessa
traram associação significati- condição em pessoas com hi-
va. A prevalência agrupada de pertensão.
hipertensão em indivíduos frá-
geis foi de 72% (IC 95% 66% a
79%) e a prevalência agrupada
de fragilidade em indivíduos
com hipertensão foi de 14%
(IC 95% 12% a 17%).
Fonte: dados da pesquisa.
Observou-se que o período com a maior quantidade de publicações foi o ano de 2018,
com 3(37,5%) artigos. Os anos de 2016/2017/2019/2020 e 2021 apresentaram cada um
1(12,5%) publicação. Assim, percebe-se que houve um aumento com consequente decrés-
cimo no número de estudos nos últimos anos. O que pode representar uma menor preocu-
pação com o tema com o passar dos anos, apesar do idoso hipertenso e com fragilidade
acarretar aumento nos gastos com saúde, bem como desfechos indesejáveis.
Com relação aos periódicos em que os estudos foram publicados, 3 (37,5%) foram
no The Journal of Hypertension. As revistas Aging Clinical and Experimental Research,
Experimental Gerontology, Scientific Reports, Journal of Hypertension e BMJ Open ob-
tiveram cada uma 1(12,5%) estudo selecionado. Todos os artigos foram publicados em
revistas internacionais, evidenciando que a literatura nacional apresenta material insuficien-
te acerca do tema.
O método utilizado para delinear os estudos selecionados, em sua maioria, contou com
a abordagem transversal com 7(87,5%) das publicações. O estudo transversal corresponde
a uma única medida em um determinado período de tempo, sem intervenção do pes-
quisador. Verificando as publicações de acordo com o país de origem, pode-se perceber
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que foram realizados 3(37,5%) estudos na China, seguida pela Itália e Brasil com 2(25%)
artigos e a Coreia 1(12,5%) estudo.
No que diz respeito, a avaliação da fragilidade os instrumentos utilizados com maior
frequência foram o CGA-FI (Comprehensive Geriatric Assessment frailtyindex) e a Frailty
index com 2 (25%) estudos cada. Nesse sentido, conforme Carneiro et al. 8 não há como
mensurar a fragilidade com um instrumento específico, já que não há um instrumento con-
siderado padrão-ouro.
A leitura dos resultados das pesquisas selecionadas nesta revisão, demonstrou relação
da hipertensão arterial com a fragilidade em idosos, sendo um fator bastante relevante. Dos
8 estudos elencados, 6(75%) apontam que existe uma relação estatisticamente significante
entre a hipertensão e um aumento da fragilidade no idoso, um estudo apresenta associação
incerta e outro não encontrou associação. A existência de associação entre hipertensão e
fragilidade em idosos pode ser ratificada pelo estudo de Ma et al. 2 desenvolvido na China
em que a prevalência de fragilidade em idosos hipertensos foi 19,6% superior aos estudos
anteriores desenvolvidos pelos autores. Kang et al. 15 corroboram ao afirmar que em seu
estudo a prevalência de fragilidade em idosos hipertensos é 67,8% maior do que em idosos
não hipertensos.
Entre os 1111 idosos residentes na China participante do estudo de Ma et al. 2, 218
idosos foram classificados como frágeis de acordo com os critérios da CGA-FI, destes a
fragilidade foi associada a uma maior mortalidade em 8 anos em pacientes com hiperten-
são, HR = 3,40 (IC 95%: 2,77-4,17). Ajustando para idade e sexo não houve alteração dos
achados, HR = 2,61 (IC 95%: 2.11-3.23). No estudo ocorrido em Jundiaí, no Brasil, com 619
idosos a prevalência de hipertensão foi de 67,3% na amostra total e foi maior entre os frágeis
(n = 78) (P <0,001) 12. A hipertensão está associada a um risco de 1,59 para surgimento
de fragilidade 16.
Na Itália, 56 idosos hipertensos, acompanhados no Hospital Geriátrico de Ambulatório
da Policlínica Universitária Hospital de Messina, 80% dos participantes com pressão ar-
terial sistólica (PAS) maior ou igual a 140 mmHg apresentaram um indice de fragilidade
maior em comparação com aqueles com PAS menor que 140 mmHg (0,34 ± 0,15 vs. 0,43
± 0,11, p = 0,006) 13.
Ratificando os estudos descritos, uma meta-análise de 21.906 idosos em nove coortes
demonstrou que idosos com fragilidade e pressão arterial sistólica inferior a 140 mm Hg não
foi associada a uma diferença na mortalidade em comparação com a pressão arterial sis-
tólica maior que 140 mmHg. No entanto, em pessoas mais velhas sem fragilidade, pressão
arterial sistólica inferior que 140 mmHg foi associado a um risco de morte 14% menor em
comparação com uma pressão arterial sistólica superior a 140 mm Hg 18.
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Neste sentido, existe relação direta e linear do aumento da pressão arterial com o
avançar da idade, em virtude do envelhecimento vascular. Observa-se que esse fator acar-
reta diversas alterações sistêmicas culminando com a fragilização do idoso quando não
controlada de forma adequada 19.
Um fator salientado por Oliveira et al. (2021) 5 que produz um alerta aos profissionais
de saúde, é a presença de um considerável percentual de idosos com níveis pressóricos
alterados que desconhecem essa situação.
Anker et al. 11, no entanto, afirmam que idosos frágeis com pressão arterial elevada
apresentam taxas de mortalidade mais baixas em comparação com idosos frágeis com pres-
são arterial baixa, já que pressão arterial baixa pode ocasionar quedas e declinio cognitivo
com consequente aumento da mortalidade.
A revisão sistemática e meta-analise desenvolvida na Itália corrobora ao demostrar
que em cada 10 publicações 7 apresentavam idosos frágeis portadores de hipertensão
arterial sistêmica, enquanto cerca de 1 em 7 idosos hipertensos apresentavam fragilida-
de. Concluíram que a associação entre fragilidade e idoso com hipertensão é inconclusiva,
já que os estudos longitudinais elencados apresentavam resultados conflitantes, bem como
os estudos transversais não apresentaram uma associação com estatística significativa 17.
Ademais, os estudos demonstraram ainda fatores associados a fragilidade em idosos
portadores de hipertensão, sendo o tema abordado em 3(37,5%) das 8 publicações. O es-
tudo de Ma et al.16 conduzido na China que contou com um total de 6867 idosos, dos quais
5.844 com critério de fragilidade pela CGA-FI. Os fatores associados a fragilidade foram
sexo feminino; morar em áreas rurais; idade mais avançada; menor nível de educação;bai-
xos salários; solteiro; mais de uma comorbidade; atividade física reduzida; perda auditiva
e depressão. A análise logística mostra idade mais avançada (HR = 2,869, P <0,001),
solteiro (HR = 1,386, P = 0,031), Diabetes Mellitus (HR = 2,389, P <0,001), Osteoporose
(HR = 4,839, P <0,001), perda auditiva (HR = 3,664, P <0,001), atividade reduzida (HR =
2,443, P <0,001), depressão (HR = 5,305, P <0,001) e comprometimento cognitivo (HR =
4,864, P <0,001) como fatores independentes relacionados com a fragilidade em participantes
idosos com idade mais avançada e com hipertensão.
Um número alto de medicamentos prescritos e baixo desempenho cognitivo são fa-
tores associados a hipertensão sendo significativamente associada a um maior status de
fragilidade 12. Vale lembrar que a polifarmácia, em especial, de anti-hipertensivos é um
fator importante, uma vez que os efeitos colaterais e as interações medicamentosas atuam
fragilizando as funções orgânicas com grande impacto na saúde do idoso 17.
Pacientes hipertensos que fazem uso de 3 ou 4 tipos diferentes de anti-hipertensi-
vos aumenta o risco de queda, lesões decorrentes e consequentemente fragilidade em
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comparação com aqueles que usam 0 a 2 tipos de medicamentos. Esses dados reforçam
a importância de avaliar a fragilidade no tratamento da hipertensão e, possivelmente, de
definir metas individuais de controle da pressão arterial para pessoas com fragilidade 3,17.
Portanto, diante dos resultados encontrados, percebe-se que a associação entre fragi-
lidade e hipertensão é uma condição muito comum entre a população idosa, que nos últimos
anos é mundialmente crescente, acarretando um desafio para a saúde pública. Dessa forma,
a identificação antecipada dos idosos portadores de hipertensão com tendência a fragilização
pode corroborar para que a equipe de saúde da ESF encontre formas de adotar medidas
protetoras para prevenir, adiar ou reaver a autonomia e independência desse grupo 1.
Algumas limitações foram percebidas durante a realização deste trabalho, como a in-
suficiência de estudos acerca do tema, bem como a dificuldade de identificação de artigos
que analisem a hipertensão de forma independente de outras comorbidades relacionada a
pessoa idosa. Há de forma majoritária a metodologia transversal que apresenta um nível de
evidência inferior para associar a fragilidade e a hipertensão, bem como os fatores associa-
dos, resultando em menor confiabilidade dos achados, o que limita a oportunidade de gerar
hipóteses a respeito de um nexo causal entre as condições de interesse 17.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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06
CONCENTRAÇÕES DE CORTISOL SALIVAR
DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS E NÃO
INSTITUCIONALIZADOS
'10.37885/230513161
RESUMO
MÉTODOS
RESULTADOS
102
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Tabela 1. Perfil sociodemográfico e condições bucais de idosos institucionalizados e não institucionalizados.
Institucionalizados n Não institucionalizados
Variáveis p valor
(%) n (%)
Amostra 45 35
Gênero
Masculino 23 (51,11) 12 (34,29)
Feminino 22 (48,89) 23 (65,71)
Doenças sistêmicas
Sim 40 (88,89) 25 (71,43)
0,0472a
Não 5 (11,11) 10 (28,57)
Condição dentária
Desdentados totais 38 (84,44) 22 (62,86)
Desdentados parciais 7 (15,56) 10 (28,57) 0,0360b
Dentados totais 0 (0,00) 3 (8,57)
Necessidade de prótese
Usa prótese/necessita 10 (22,22) 5 (14,29)
Usa prótese/não necessita 17 (37,78) 27 (77,14)
0,0008c
Não usa prótese/ necessita 18 (40,00) 2 (5,71)
Não usa prótese/ não necessita 0 (0,00) 1 (2,86)
Uso de prótese
Sim 27 (60,00) 32 (91,43) 0,0013d
Não 18 (40,00) 3 (8,57)
103
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Maiores concentrações de cortisol salivar foram encontradas em indivíduos que possuíam
necessidades protéticas com diferença estatisticamente significante (p= 0,0454) (Tabela 3).
Tabela 3. Relação entre concentração de cortisol salivar e necessidade de utilizar próteses dentárias, idosos
institucionalizados e não institucionalizados.
Necessidade de prótese
Concentração de cortisol salivar Total p valor
Sim Não
Alta 22 13 35
Baixa 17 28 45 0,0454a
Total 39 41 80
a Diferença estatisticamente diferente.
Fonte: Autoria própria, 2023.
Tabela 4. Análise da dependência funcional por grupos de acordo com o índice de Barthel
DISCUSSÃO
104
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Idosos que residem em instituições de longa permanência apresentaram, neste estudo,
maior acometimento por doenças sistêmicas quando comparados aos idosos da comunidade,
o que reforça o fato de que condições de saúde e doença são influenciadas pelo espaço
social em que o indivíduo habita (GUTS et al., 2017; LINI; PORTELLA; DORING, 2016).
De acordo com a Organização Panamericana de Saúde, em 2025 a estimativa é de que
85% da população brasileira acima de 60 anos apresente ao menos uma patologia crônica
(OPAS, 1998). A prevalência de doenças crônicas aumenta incapacidades de ordem física
ou psicológica entre os idosos, sendo fator preponderante para a institucionalização, o que
pode afetar a qualidade de vida desses indivíduos (FERREIRA et al., 2014). O despreparo
para cuidar do idoso com algum tipo de doença ou limitação de ordem física ou psicológica
e falta de recursos econômicos são alguns dos fatores que levam a família a optar pela
institucionalização (ZAGONEL et al., 2017).
A saúde bucal atua diretamente na autoimagem do indivíduo e em sua qualidade de
vida. A perda de elementos dentais e próteses em más condições tem um impacto direto
no bem-estar psicológico e alterações emocionais, agindo negativamente sobre a dieta e
higiene oral do indivíduo (MELO et al., 2016; BRASIL, 2011).
O idoso brasileiro apresenta altas taxas de edentulismo devido á práticas odontológicas
mutiladoras frequentes no passado, mas que ainda permanecem fixadas no conceito onde
a dor é o único motivo para a procura de atendimento odontológico (ROVIDA et al., 2013;
BRASIL, 2011). Tal pensamento primário acerca dos cuidados de saúde bucal muitas vezes
acarreta prejuízos estéticos e funcionais para o indivíduo, pois o que poderia ser resolvido
com procedimentos simples transforma-se em algo complexo demandando tratamentos
amplos e de alto custo.
Dados do levantamento epidemiológico de saúde bucal SB Brasil 2010 demonstram
que apenas 7,3% da população idosa brasileira não necessita de prótese dentária e que
87,5% utiliza algum tipo de prótese (BRASIL, 2011). No presente estudo 99,8% dos partici-
pantes faziam uso de algum tipo de prótese dentária, tendo um alto índice de edentulismo,
o que tange achados literários (BRASIL, 2011). O grupo institucionalizado apresentou maior
índice de edentulismo, e reflete a precariedade da saúde bucal de idosos institucionalizados,
conforme já relatado na literatura (MOIMAZ et al., 2011). Tal fato pode estar relacionado
com os longos anos de demandas não atendidas em todos os níveis de atenção. A perda
de dentes tem íntima relação com o bem-estar físico e psicológico do indivíduo, afetando
suas relações sociais e atividades rotineiras (VAN DER PUTTEN et al., 2014).
A autonomia do indivíduo com relação ao uso de prótese muitas vezes prevalece;
experiências negativas vivenciadas no passado como: uso de próteses mal adaptadas que
lesionaram tecidos bucais causando desconforto ao falar ou mastigar pode levar o idoso a não
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utilizar prótese com receio de que os problemas enfrentados reincidam. O profissional ciente
de tais condições deve realizar estratégias para que o indivíduo faça o uso da prótese, pois
a reabilitação oral no idoso é uma importante forma de enfrentamento a fatores estressores
(ROVIDA et al., 2013; TEIXEIRA et al., 2015). O cuidado, higienização e acompanhamento
odontológico das próteses dentárias são essenciais para impedir problemas relacionados à
saúde bucal (MOIMAZ et al., 2011).
A dependência funcional pode ser definida como falta de habilidade física e mental do
indivíduo em realizar atividades rotineiras de maneira autônoma. Nesse estudo, observou-se
que idosos pertencentes a instituições de longa permanência possuíam maior dependência
funcional quando comparados aos não institucionalizados. Tal achado está de acordo com
dados da literatura que destacam a dependência como um dos fatores de risco para a insti-
tucionalização (MELO et al., 2016). Outro fator a ser enfatizado é que a própria dinâmica da
instituição pode colaborar para a dependência pois, muitas vezes, a necessidade de rápido
atendimento e serviço faz com que os cuidadores/enfermeiros executem atividades que os
idosos seriam capazes de realizarem sozinhos, com maior demanda de tempo, no entanto,
devido à escassez e despreparo do profissional essa é uma prática comum na maioria das
instituições (ROVIDA et al., 2013; CAMELO; GIATTI; BARRETO, 2016).
Com a redução da autonomia do idoso os cuidadores devem ser capacitados para
atuar de maneira efetiva nas atividades diárias dos internos. Ressalta-se também a ne-
cessidade de acompanhamento multidisciplinar para realização de ações de promoção de
saúde que aperfeiçoam a função cognitiva melhoram a qualidade de vida do indivíduo sênior
(MOIMAZ et al., 2011).
Muitas instituições de longa permanência não apresentam o número suficiente de
cuidadores e profissionais especializados, o que contribui para a dependência do idoso.
Atividades de estimulação física e psicológica com profissionais capacitados (psicólogos,
fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e educadores físicos), quando realizadas, atuam
de maneira positiva no bem-estar e na qualidade de vida do institucionalizado (MOIMAZ
et al., 2011). Neste estudo, ficou comprovada a relação positiva entre institucionalização e
dependência funcional.
A diminuição da independência pode gerar uma carga psicológica negativa e perda
da autoestima, também afeta a saúde bucal do idoso de maneira direta, onde o estado den-
tário e condições de saúde bucal de indivíduos dependentes são significantemente piores
quem em pessoas da mesma idade vivendo de maneira independente (BAUMGARTNER;
SCHIMMEL; MULLER, 2015).
Concentrações mais elevadas de cortisol salivar foram encontradas no grupo institu-
cionalizado quando comparados ao grupo não institucionalizado o que diverge do estudo de
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Kuriara et al. (2013) onde não houve diferenças significantes dos níveis de estresse entre
grupos; tal fato sugere a presença de variáveis estressoras e o modo com que cada idoso
enfrenta as questões relacionadas ao processo de envelhecimento e institucionalização.
Altas concentrações de cortisol apresentaram relação positiva com necessidade de pró-
tese dentária, ou seja, idosos com concentrações elevadas de cortisol salivar necessitavam
de próteses dentárias e os que não precisavam de próteses, seja por possuir dentes ou por
usarem próteses satisfatórias, apresentaram baixa concentração de cortisol salivar. A reabili-
tação bucal atua na função mastigatória fazendo com que o idoso tenha melhores condições
nutricionais, restabelece a fonação e a estética favorecendo as relações sociais, sendo uma
importante forma de enfrentamento a fatores estressores.
Salienta- se o impacto da reabilitação bucal na vida da pessoa idosa. O uso de pró-
teses em condições satisfatórias tem relação com menores concentrações de cortisol sali-
var, marcador biológico do estresse, e com a saúde bucal atuando consequentemente na
qualidade de vida do idoso. Políticas de saúde bucal que visem essa população podem
ajudar no processo de envelhecimento trazendo bem-estar e qualidade de vida. As institui-
ções de longa permanência para idosos devem focar em ações que visem à promoção de
saúde dos asilados.
Novos estudos podem ser feitos empregando-se técnicas de análises qualitativas para
aprofundamento de questões relacionadas ao estresse.
CONCLUSÃO
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07
CRÍTICA À CONCEPÇÃO DE SAÚDE HEGEMÔNICA
'10.37885/230513142
RESUMO
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da cultura atual é segmentária, individualizante e retira qualquer possibilidade de questiona-
mento diante dos modos de produção social, seja de capital ou de vida.
A crise no campo da saúde é resultado de uma crise sistêmica que afeta toda a vida
da sociedade contemporânea. A crise da saúde é inteiramente análoga à crise sistêmica do
mundo contemporâneo a partir de uma perspectiva ampliada de saúde não como especia-
lidade, mas como modos de viver no planeta. Este modo de viver não produz saúde, mas
doença. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta para 45% da população
mundial com insônias e distúrbios do sono, 30% com depressão e ansiedades patológicas,
além do crescente número de pessoas com câncer e doenças cardíacas, ambos configurados
como principais causas de morte, inclusive no Brasil. Nos últimos 30 anos, a classificação
internacional da doença aumentou para 55000 patologias (BARRETO, 2021). Esses núme-
ros nos obrigam a questionar: o que estamos produzindo no campo da saúde? Quais as
bases epistemológicas que alicerçam nossas práticas e relações e para qual caminho nos
levam? É possível que estejamos a produzir doença?
Jean-Claude Bernardet em “O corpo crítico” (2019) nos ajuda a pensar e aprofundar
na compreensão dessas bases que resultaram no modelo biomédico através da sua relação
com o capitalismo ao afirmar que
Aqueles não eram médicos do paciente, eram médicos do meu câncer, que os
preocupava mais que o portador do tumor. Eu mal os interessava (apesar da
amabilidade formal). Nenhum dos dois médicos chegou a me perguntar se eu
queria me tratar ou se preocupou com a minha visão, ou com a minha idade.
Também é possível dizer que são médicos de protocolo.
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O que seria, então, o cuidado? Ailton Krenak, líder indígena, ambientalista, filósofo, es-
critor e poeta brasileiro da etnia Krenaque, em sua participação no curso “Práticas Indígenas
de Produção de Cuidado”, traz as ideias de Boaventura de Sousa Santos e convida para
o exercício de busca pela pluralidade epistemológica do mundo como uma forma de nos
descolarmos de uma ontologia hegemônica cravada na ideia de “mundo limitado e refém da
crise e do dano”. Esta é a ideia, a perspectiva que garante a manutenção da cultura capita-
lista e biomédica ao perpetuar medo, passividade e ausência de autonomia, oferecendo à
população sua resposta e proteção.
Santos (2002) afirma que a experiência social em todo o mundo é muito mais ampla
e variada do que o que a tradição científica ou filosófica ocidental conhece e considera im-
portante. Do desperdício desta riqueza social é que se nutrem as ideias que proclamam que
não há alternativa, que a história chegou ao fim e, principalmente, de que trilhamos o único
caminho possível. A “sociologia do desastre”, como coloca Krenak, é resultado de um mundo
“abismado com a própria jornada”, cheio de novas doenças, doenças crônicas e pandemias
que se tornam o único cenário possível para o futuro da humanidade (KRENAK, 2021).
De acordo com Santos, para combater o desperdício da experiência, para tornar vi-
síveis as iniciativas e os movimentos alternativos e para lhes dar credibilidade, de pouco
serve recorrer à ciência social tal como conhecemos, ela é quem esconde e desacredita as
alternativas. Portanto, seria necessário propor um modelo diferente de racionalidade que
inclua outros saberes capazes não só de confrontar ideias, mas de propor alternativas. A “in-
dolência” da razão ocidental manifesta-se no modo como resiste à mudança das rotinas, e
como transforma interesses hegemônicos em conhecimentos verdadeiros (SANTOS, 2002).
Apesar da narrativa da “sociedade do desastre” acabar por garantir a manutenção das
relações de poder, por manter tudo em seu lugar, a partir da construção de uma “resposta”
de “proteção”, paliativa, aos danos causados pelo modo de vida extrativista, escravagista,
dominador, ela traz elementos essenciais e reais na compreensão da nossa situação pla-
netária. Estes elementos dizem sobre o que estamos, de fato, construindo enquanto cultura
hegemônica (o que, reforçando, não diz sobre todo o planeta): uma sociedade que caminha
para o desastre. Davi Kopenawa, xamã Yanomami, escreveu o livro “A queda do céu” anun-
ciando que a sociedade dos “homens mercadoria” que, “apesar de terem os olhos abertos,
não enxergam nada” (p. 474), caminha para a ruína, momento em que o céu desabará sobre
nós. Sobre o livro, Eduardo Viveiros de Castro, no prólogo, diz que
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absolutamente a sério o que dizem os índios pela voz de Davi Kopenawa — os
índios e todos os demais povos ‘menores ’do planeta, as minorias extranacio-
nais que ainda resistem à total dissolução pelo liquidificador modernizante do
Ocidente. Para os brasileiros, como para as outras nacionalidades do Novo
Mundo criadas às custas do genocídio americano e da escravidão africana, tal
obrigação se impõe com força redobrada. Pois passamos tempo demais com o
espírito voltado para nós mesmos, embrutecidos pelos mesmos velhos sonhos
de cobiça e conquista e império vindos nas caravelas, com a cabeça cada vez
mais “cheia de esquecimento”,* imersa em um tenebroso vazio existencial, só
de raro em raro iluminado, ao longo de nossa pouco gloriosa história, por lam-
pejos de lucidez política e poética. Davi Kopenawa ajuda-nos a pôr no devido
lugar as famosas “ideias fora do lugar”, porque o seu é um discurso sobre o
lugar, e porque seu enunciador sabe qual é, onde é, o que é o seu lugar. Hora,
então, de nos confrontarmos com as ideias desse lugar que tomamos a ferro
e a fogo dos indígenas, e declaramos “nosso” sem o menor pudor; ideias que
constituem, antes de mais nada, uma teoria global do lugar, gerada localmente
pelos povos indígenas, no sentido concreto e etimológico desta última palavra.
Uma teoria sobre o que é estar em seu lugar, no mundo como casa, abrigo e
ambiente, oikos, ou, para usarmos os conceitos yanomami, hutukara e urihi
a: o mundo como floresta fecunda, transbordante de vida, a terra como um
ser que “tem coração e respira” (p. 468), não como um depósito de ‘recursos
escassos ’ocultos nas profundezas de um subsolo tóxico — massas minerais
que foram depositadas no inframundo pelo demiurgo para serem deixadas
lá, pois são como as fundações, os sustentáculos do céu —; mas o mundo
também como aquela outra terra, aquele ‘suprassolo ’celeste que sustenta
as numerosas moradas transparentes dos espíritos, e não como esse ‘céu
de ninguém’, esse sertão cósmico que os Brancos sonham — incuráveis que
são — em conquistar e colonizar. (2015, p. 15)
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A doença é uma fonte de energia. A doença não é uma fonte de energia, fonte de energia
é o enfrentamento da doença.” Foi o que escrevi no meu livro a respeito da Aids, A Doença,
uma Experiência, publicado em meados da década de 90. Éramos então condenados a uma
morte em curto prazo. Naquele período, tive uma produção intensa e criativa. Uma atividade
frenética. Não porque precisasse aproveitar ao máximo o tempo que me restava, mas porque
a proximidade da morte me libertava. Deixei de lado as chatices da vida e fiquei extraor-
dinariamente estimulado. Não virar objeto da doença, recusar o papel de vítima. Dialogar
com a doença, viver a doença intensamente. [...] E agora? Ainda não conheço meu novo
câncer. O de 2016 já são águas passadas, embora sequelas do tratamento ainda estejam
ativas. Câncer número 2, eu ainda não sei quem você é, como dialogar com você, como
nós dois vamos nos relacionar, o que você me traz, que estímulos, que inquietações, Estou
aberto à suas propostas. [...] Vivo num clima de morte, respiro a morte. Não é o câncer.
Parte da sociedade quer acabar com o grupo social ao qual pertenço. A opressão me sufo-
ca. Há pessoas que negam o Renascimento e voltam para uma pretensa Idade Média total-
mente inventada, masculina, branca, cristã, despojada de todo espírito crítico - e guerreira.
A concepção hegemônica de saúde/vida difere radicalmente deste movimento de li-
berdade ao propor uma cultura de hiper higienização e medicamentosa (KRENAK, 2021).
Bispo afirma que
E ainda
Isso fez com que esse povo desterritorializado, antinatural, eternamente casti-
gado e aterrorizado por seu Deus, sentisse a necessidade de se reterritorializar
em um território sintético. Para tanto, se espraiaram pelo mundo afora com
o intuito de invadir os territórios dos povos pagãos politeístas e descaracteri-
zá-los através de processos de manufaturamento para a satisfação das suas
artificialidades. (BISPO, 2015, p. 96)
Krenak (2021) explicita também que esta cultura promove o medo ao afirmar nossa
vulnerabilidade e incapacidade de ação diante do caos cósmico enquanto diagnostica todo
dano como enfermidade a ser medicalizada. Ocorre o sequestro de um bem natural que é
a capacidade intrínseca de cada um de produzir cuidado. Este bem comum, que é de to-
dos, é reservado aos profissionais de saúde que têm a tarefa de curar todos os doentes, de
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gerenciar e administrar a engenharia da saúde. A saúde torna-se uma mercadoria que pode
ser gestionada e contabilizada pelos humanos, em especial aqueles que especializarem-
-se neste campo enquanto a saúde deveria ser de toda a imensa constelação de pessoas
não especializadas.
A saúde não é experiência que alguns gerenciam, produto de engenharia, mas o fluxo da
experiência de viver com a terra. A terra é a fonte de vida, o ar, a água, o vento, o fogo. Não
é commodity a ser apropriada pelos humanos. A concepção de saúde hegemônica acredita
que podemos viver fora da terra e de tudo que é potência de vida. O afastamento da vida não
humana, que inclui os elementos da natureza, é dado por Krenak (2021) como razão primária
do adoecimento da humanidade. O bemestar é produzido dentro da experiência radical de
interdependência e hiper relação dos seres humanos e não humanos do planeta. O antro-
pocentrismo só pode ser combatido quando nos afetamos com o redor (KRENAK, 2021).
A hiper higienização é expressa nos cotidianos estéreis da cidade, em que a terra é
separada da vida e o fluxo vital plugado a complexos tecnológicos controlados por sistemas
alheios ao cotidiano e a simplicidade da vida. Como afirma Krenak (2021), “a vida não é in
vitro”. A separação cultura-natureza nos afasta cada vez mais de nós mesmos e do mara-
vilhamento do encontro que é a vida.
Tudo isto torna-se possível através do esquecimento/apagamento produzido pelo nos-
so modo hegemônico de viver e produzir saber-poder. A sociedade capitalista produz, em
sua lógica, o esquecimento de saberes ancestrais, saberes de mundos passados que lhe
antecedem. Estes saberes ancestrais, os quais os povos indígenas ainda têm presente em
suas vidas cotidianas, são o que conecta a produção de saber (e de vida) com as experiên-
cias não humanas. Este modo de estar no mundo, diferentemente do “autoconvencimento”,
permite a pluralidade epistemológica através do contato direto com as plantas e com a
natureza, mediado por um recurso, um saber, construído por aqueles que vieram antes de
nós (KRENAK, 2021).
Em contraposição a esta experiência de vida, está a mera “expressão”, o “misticismo”
decorrente da mediocridade de uma vida sem potência e sem relação a qual a sociedade
contemporânea está amarrada e necessita urgentemente ser libertada.
Porém, esta libertação só será possível a partir de uma abertura a novas produções
de vida, de relação, de saber e percepções de mundo.
A Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas preconiza a articulação
entre os conhecimentos tradicionais indígenas e a Biomedicina. Em tese, há em nossa política
pública o reconhecimento oficial da existência de outros sistemas de conhecimentos e de
outros modos de cuidados com a saúde. No entanto, sob a égide do pensamento científico
hegemônico, temos a tendência a identificar outras formas de conhecimentos e práticas como
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crendices, superstições ou fragmentos de um pensamento “menos evoluído”, cuja eficácia
é questionável” (CALDEIRA, 2010). Muito recentemente apenas, antropólogos brasileiros
começaram a conceituar a Medicina indígena e a Medicina popular como sistemas médi-
cos e não como vestígios de um passado folclórico, bem como relativizar a Biomedicina ao
analisá-la como um conhecimento produto de uma época, de processos sociais, históricos,
políticos e culturais como todo e qualquer conhecimento (LANGDON, 2004).
Poucos são os profissionais que reconhecem que a forma como cuidam da saúde é
apenas uma entre as várias formas (CALDEIRA, 2010). É essencial que os profissionais
de saúde desenvolvam uma competência cultural como parte de sua competência clínica,
relativizando o seu conhecimento e reconhecendo os diversos saberes que se apresentam
nas relações (PEREIRA, 2014). O conhecimento dos povos originários deve ser validado,
oficializado e este processo não é feito somente através de Políticas Públicas que reconhe-
çam seu direito à saúde, às terras, à vida, mas também na prática cotidiana dos serviços
de saúde oferecidos à esta população e, assim, na construção coletiva de uma sociedade
capaz de movimentos de confluência que permita a existência da diversidade e da diferença.
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08
DA VELHICE À TERCEIRA IDADE: O PERCURSO
HISTÓRICO DAS IDENTIDADES ATRELADAS AO
PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
Luna Rodrigues
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
'10.37885/230512969
RESUMO
Este artigo trata do surgimento histórico das noções de velhice e terceira idade como cate-
gorias identitárias atreladas ao processo de envelhecimento. A origem de tais noções está
na combinação complexa de fatores como saberes médicos e sociais, agentes de gestão,
movimentos políticos e interesses econômicos. Como velhice e terceira idade são identi-
dades etárias historicamente determinadas, analisam-se os fatores que determinaram sua
ascensão e sua legitimação. A velhice surge como categoria etária quando o corpo velho
é tomado como objeto de estudo e quando os sistemas de aposentadoria são implementa-
dos. A terceira idade aparece como categoria etária com a especialização dos agentes de
gestão do envelhecimento, o discurso reivindicador da gerontologia social e os interesses
da cultura do consumo. Essas categorias são postas em campo para identificar, definir e,
mais recentemente, transformar o processo de envelhecimento contemporâneo.
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Categorias etárias e modernidade
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familiar, no domínio do trabalho, nas instituições do Estado, no mercado de consumo e nas
esferas de intimidade. Neste artigo, enfoco os aspectos que propiciaram o surgimento discur-
sivo e imaginário da noção de velhice. Fatores como o próprio envelhecimento populacional
e o crescimento demográfico, a despeito de sua inegável relevância, não serão abordados.1
Adoto como hipótese, neste artigo, a suposição que articula o surgimento da velhice
ao processo de modernização das sociedades ocidentais. Ela está presente em muitos
estudos (Blaikie, 1999; Debert, 1999; Katz, 1995, 1996) que indicam que as transforma-
ções históricas inerentes ao processo de modernização não só atingiram a periodização
da vida, a diferenciação entre as suas etapas e a sensibilidade que passou a caracterizar
cada uma delas, como também, e fundamentalmente, provocaram a própria compreensão
do curso da vida como uma instituição social relevante (Debert, 1999). Defendem também
esses estudos que provavelmente teria ocorrido uma transição de uma cultura cuja forma
de organização não designava função relevante à idade cronológica, para outra em que a
idade passou a ser um fator fundamental para a distinção social, destacando-se como cate-
goria e como modelo de identidade para os sujeitos. Similarmente, Katz (1995, 1996), autor
que se baseia na conceituação foucaultiana de sociedade disciplinar, supõe que a história
da velhice se relaciona intimamente com a história do curso moderno de vida. Para Katz a
velhice surge como produção discursiva a partir da inserção dos sujeitos na série moderna
de disciplinamento, sendo sobretudo resultado do investimento do discurso médico sobre
o corpo envelhecido.
A noção de velhice como etapa diferenciada da vida surgiu no período de transição entre
os séculos XIX e XX. Uma série de mudanças específicas e a convergência de diferentes
discursos acabaram reordenando o curso da vida e gerando condições para o surgimento da
velhice. Dois fatores se destacam como fundamentais e determinantes: a formação de novos
saberes médicos que investiam sobre o corpo envelhecido e a institucionalização das apo-
sentadorias. A geriatria e a gerontologia foram os saberes emergentes que se debruçaram,
respectivamente, sobre o corpo velho e sobre os aspectos sociais da velhice, determinando
em grande parte o estabelecimento desta como categoria social. A geriatria só viria a se firmar
como saber científico e especialidade médica no século XX, mas Katz (1995) identifica um
saber pré-geriátrico que ele classifica como ‘discurso sobre a senescência’. Remontando às
transformações ocorridas na medicina nos séculos XVIII e XIX, descritas por Foucault (1998)
1 Para uma descrição mais detalhada dessa linha de análise ver, por exemplo, o texto de Debert (1998), “A antropologia e o estudo dos
grupos e das categorias de idade”.
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em “O nascimento da clínica”, Katz indica o aparecimento de uma forma de compreender a
doença que toma o corpo como alvo do olhar médico e como sede das transformações que
caracterizam a patologia. O resultado é a determinação do corpo envelhecido.
A partir de então, a medicina moderna reconstrói o corpo com base na anatomia
patológica, buscando o micro nível dos tecidos e das células para explicar o processo de
degeneração do corpo. Gradualmente a velhice passa a ser entendida como um estado
fisiológico específico, cujas principais características se agrupam sob o signo da senescên-
cia. Os trabalhos de Jean- Martin Charcot (1825–1893), François Broussais (1772–1838)
e, especialmente, Marie François Xavier Bichat (1771–1802) seriam representativos desse
discurso que determinou o reconhecimento do corpo envelhecido, sua identificação com um
corpo em decomposição e o consenso de que a definição dessas características é tarefa
própria do olhar e do saber médicos.
O discurso sobre a senescência desbancou as concepções renascentistas acerca da
morte, dos limites da longevidade e da velhice. A morte era entendida como um obstáculo a
ser superado e a longevidade, principalmente nos casos excepcionais de centenários, como
um evento tanto fantástico e mágico quanto revelador da racionalidade própria do corpo
humano. A velhice, a longevidade e a morte eram estudadas a partir de questionamentos
médico- filosóficos. A partir do surgimento da medicina moderna, tende-se a estudar a velhice
e o processo de envelhecimento como problemas clínicos, certezas biológicas e processos
invariáveis. A morte passou a ser vista, então, como resultado de doenças específicas da
velhice; a longevidade possui limites biológicos insuperáveis; a velhice é a etapa necessária
da vida na qual o corpo se degenera.
Tal discurso sobre a senescência deu origem à geriatria, o saber médico que tem o
corpo velho como objeto específico de estudo. A disciplina surgiu por volta de 1910, com o
trabalho do médico norte-americano Ignatz Nascher, o primeiro fisiologista a estabelecer as
bases clínicas para a identificação da velhice. Por meio da observação do corpo dos velhos,
Nascher formulou as características biológicas da velhice – a degeneração do corpo –, con-
ceituou o tratamento médico a ser dispensado aos velhos e introduziu na literatura médica o
termo geriatria (Hareven, 1995). A diferenciação científica entre a velhice e as outras etapas
da vida estava, então, realizada; era possível identificá-la por meio do saber médico.
A geriatria não só distingue a velhice das outras etapas da vida, mas também a define
como decadência física. Laslett (1991) destaca a importância e a pregnância, em termos de
imaginário cultural, da metáfora médica da velhice, cuja principal consequência foi produzir
a identificação entre velhice e doença. O discurso geriátrico atual empreendeu uma tentativa
de desfazer essa associação, mas Laslett sugere que esse processo é controverso e acaba
encontrando resistências no próprio modo de funcionamento do saber médico. Citando um
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caso específico, o autor sugere que permanece em debate a definição de Alzheimer, que
para alguns autores seria uma doença degenerativa que acomete o cérebro de velhos e, para
outros, seria o próprio processo de degeneração, portanto de envelhecimento, do cérebro.
Desde o seu surgimento, a metáfora médica da velhice passou a exercer acentuada
influência social, definindo não somente o envelhecimento físico como também as repre-
sentações sobre a experiência de envelhecer. A aceitação e a justificação de tal metáfora
incidiram sobre a percepção dos sujeitos, que passaram a recorrer ao discurso médico para
definir a si mesmos e a sua experiência. De fato, a definição médica da velhice disseminou-
-se para outros campos de saber e determinou amplamente o seu espectro no imaginário
cultural, alimentando os discursos do Estado, a formulação de políticas assistenciais e a
formação de outras disciplinas como a gerontologia.
O surgimento da gerontologia como disciplina especializada é mais complexo e difuso
do que o da geriatria.2 Segundo Katz (1996), o termo teria sido cunhado em 1913 por Elie
Metchnikoff, um médico discípulo de Charcot, mas se limitava ao campo das intervenções
médicas que prolongassem a vida. Ao longo do século XX, os saberes populares, a demo-
grafia e as ciências sociais contribuíram para estabelecer a gerontologia como disciplina
científica e para configurá-la como área de saber multidisciplinar. Também colaboraram
para sua formação a sociologia e a psicologia, ao direcionar o olhar especializado para os
chamados aspectos psicossociais da velhice. Além do corpo envelhecido, objeto da geriatria,
os hábitos, as práticas, as necessidades sociais e psicológicas dos velhos seriam agora alvo
de um saber especializado, que incluía novos aspectos em sua definição e tornava mais
complexa a categoria velhice.
A ampliação do olhar das disciplinas especializadas sobre a velhice também se relaciona
com o processo de institucionalização da aposentadoria, o segundo fator que destaco como
fundamental para o surgimento dessa categoria. Fruto do processo de industrialização, a
criação de pensões foi uma resposta às modificações e aos problemas sociais surgidos ao
longo dos séculos XIX e XX. Com base no contexto francês, Lenoir (1979) realiza minuciosa
análise do impacto gerado pela institucionalização das aposentadorias e pelo consequente
aparecimento de agentes de gestão, na definição da velhice como categoria etária diferen-
ciada e, posteriormente, na definição da terceira idade. No decorrer da segunda metade do
século XIX, a velhice começou a ser objeto do discurso de legisladores sociais, dando ensejo
2 Debert (1999) adota uma perspectiva diversa acerca do surgimento da geriatria e da gerontologia. A autora supõe que a geriatria
surge no interior da gerontologia, adquire gradualmente legitimidade e destaca- se como disciplina especializada apenas a partir dos
anos 60. No entanto, considero a articulação, feita por Katz (1995), entre geriatria, medicina moderna e ‘discurso sobre a senescên-
cia’ suficientemente clara para identificar o início do século XX como o período de surgimento da geriatria, de sua independência
como disciplina e mesmo de sua ascendência sobre a formação da gerontologia.
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à criação de instituições específicas, como as caixas de aposentadoria para a velhice, e à
especialização progressiva de determinados hospícios em asilo para velhos.
Ainda que os primeiros sistemas de aposentadoria tenham sido criados a partir do século
XVIII – especificamente os de funcionários civis e militares –, a questão das pensões não
constituía tema de interesse coletivo até que as primeiras gerações de operários começaram
a envelhecer. As primeiras discussões políticas sobre a criação da Caisse Nationale francesa
datam de 1850, quando surgiram dúvidas sobre o tratamento a ser dispensado aos incapa-
zes de trabalhar e garantir o próprio sustento. A velhice dos trabalhadores foi assimilada à
invalidez, ou seja, à incapacidade de produzir. Desse ponto de vista, a velhice passava a ser
confundida com todas as formas de invalidez que atingiam a classe trabalhadora, passando
a ser utilizada para identificar todos aqueles que, ao fim de sua vida, não estão mais aptos
para o trabalho. Essa lógica que atrela velhice e invalidez inspirou a criação dos sistemas
de aposentadoria pelos chefes de empresa. Trata-se do estabelecimento de estratégias que
visam assegurar aos patrões a manutenção da disciplina e da rentabilidade dos trabalhadores.
Os sistemas de aposentadoria surgiram como parte de um espectro mais amplo de
preocupações que tomavam conta do cenário francês desde a segunda metade do século
XIX e que diziam respeito à contenção do ‘perigo social’ representado pela massa de tra-
balhadores. As caixas de aposentadoria e os sistemas de seguro incluem-se na estratégia
formulada pela política francesa cujo propósito era responder ao que era considerado o
grande problema social da época. Ainda assim, Lenoir (1979) destaca que o nascimento
desses sistemas de proteção social não deve ser atribuído somente aos interesses capita-
listas dos patrões, visto que a movimentação política de certos setores dos trabalhadores e
as disputas de legitimidade entre as classes dominantes– burguesia industrial e aristocracia
conservadora – também influenciaram o debate.3
As consequências da institucionalização dos sistemas de aposentadoria foram a cria-
ção de agentes especializados na gestão da velhice; a transferência da responsabilidade
das famílias para esses novos agentes; e a consolidação da velhice como categoria etária.
Mas outra consequência foi fundamental para a definição da emergente identidade etária
da velhice: a associação inequívoca entre velhice e invalidez. De fato, em um momento no
qual a capacidade e a posição do indivíduo no trabalho delimitam muito sua identidade, ser
aposentado é ser efetivamente inválido, incapaz e ocioso. Tem início então uma associação
entre velhice e incapacidade que só recentemente vem sendo desfeita.
Laslett (1991) destaca a proximidade entre as imagens relacionadas à velhice, surgi-
das em diferentes campos no início do século XX, e a explica em função da apropriação da
3 Sobre a dinâmica dos diferentes atores do processo de formação das instituições de aposentadoria, ver Lenoir,1979.
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metáfora médica por parte de legisladores e formuladores de políticas assistenciais. As cam-
panhas pelos direitos à aposentadoria utilizaram intensamente as definições depreciativas da
velhice oriundas do discurso geriátrico, tomando-as como estratégia para reivindicar a insta-
lação de políticas de atenção à velhice. O discurso gerontológico também estava implicado
com o processo de institucionalização das aposentadorias e contribuiu para a ampliação do
debate sobre os direitos dos aposentados com a inclusão de aspectos sociais, psicológicos
e culturais no rol das reivindicações políticas.
Ainda que a identidade entre velhice e invalidez seja a consequência da institucionaliza-
ção das aposentadorias que mais se solidificou no imaginário cultural, seu estabelecimento
contribuiu para a caracterização da velhice como categoria política. O aposentado não é
somente o sujeito incapaz para o trabalho, mas também o sujeito de direitos, detentor de
privilégios sociais legítimos, cujo reconhecimento lhe permite reivindicar benefícios em nome
de uma categoria. A invalidez pode ser uma característica pejorativa e estigmatizante, mas
ao mesmo tempo dá ensejo a um novo posicionamento subjetivo para a velhice. Katz (1996)
aponta essa duplicidade trazida pela aposentadoria:
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a estrutura das empresas privadas, das famílias e, sobretudo, do Estado, que passou a se
responsabilizar por um contingente muito maior de sujeitos.5
Lenoir (1979) identifica a generalização dos sistemas de aposentadoria como o fator
responsável pela modificação dos regimes de cuidado da velhice na França, entre 1945 e
1960. Aparecem então novas instituições, promovendo a distinção entre aquelas especiali-
zadas na gestão da velhice e as dirigidas ao cuidado da indigência. O sistema hospitalar, a
seguridade social e a assistência passam a adotar regulamentos e serviços específicos de
atenção à velhice, separando-os espacial e legalmente do cuidado destinado à miséria. Tal
processo de distinção entre velhice e indigência aprofunda a autonomia da primeira, que se
estabelecera até então de forma fragmentada. Por outro lado, a organização e a unificação
dos discursos especializados se confundem com a aparição, por volta da década de 60, da
noção de terceira idade.
5 Peixoto (1998) destaca que, no caso da França, a responsabilidade do Estado no cuidado à velhice foi parte do processo de organi-
zação pós-revolução, no qual o Estado assumiu diversas funções que até então cabiam apenas ao grupo familiar.
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historicamente construída, cuja inserção no espaço público dá ensejo a novas formações
identitárias, parece necessário identificar os fatores que permitiram, influenciaram ou favore-
ceram sua origem e sua legitimidade no imaginário cultural. Destaco como hipótese para o
surgimento da terceira idade a generalização e a reorganização dos sistemas de aposenta-
doria, a substituição dos termos de tratamento da velhice, o discurso da gerontologia social
e os interesses da cultura do consumo.
Ao analisar especificamente o cenário francês, Lenoir (1979) tributa à nova organi-
zação dos agentes de gestão da velhice o surgimento da noção de terceira idade. Como
dito anteriormente, até a metade do século XX as instituições e os discursos destinados
ao cuidado da velhice encontravam-se fragmentados e desorganizados. No período que
tem início por volta de 1945 e culmina na década de 60, discursos e práticas que tomam a
velhice como objeto passam por aperfeiçoamento e unificação, com a elaboração de uma
‘política da velhice’, o desenvolvimento da gerontologia e a aparição da noção de terceira
idade. Os sistemas de aposentadoria se estendem a todas as classes de trabalhadores,
reorganizando os agentes de gestão da velhice, o que corresponde à ampliação do tema
como problema social e à substituição gradativa de assistência e asilo pelas caixas de apo-
sentadoria e pelos centros de geriatria.
A associação entre velhice e indigência é desfeita e surge uma nova categoria, a ‘ter-
ceira idade’. Para Lenoir (1979), a terceira idade é antes uma nova categoria etária entre a
maturidade e a velhice, do que uma negação desta. A autonomia da nova categoria torna-se
visível por meio dos pares de opostos que surgem no espaço social durante a reorganiza-
ção dos agentes especializados: terceira idade em contraposição à velhice, aposentadoria
ativa em contraposição à aposentadoria passiva, casa de repouso em contraposição a asilo,
gerontologia em contraposição à assistência social. No entanto, essa nova representação
não teria se difundido como identidade etária se sua capacidade descritiva não encontrasse
correspondência nos anseios e nas demandas que surgiam no cotidiano dos sujeitos.
Durante as décadas de 1960 e 1970, as camadas médias urbanas começaram a aden-
trar no universo da aposentadoria, visto que sua inserção nas cadeias produtivas se realizou
posteriormente à inserção dos trabalhadores menos qualificados. Esse grupo social possuía
hábitos sociais e culturais específicos, aspirações e necessidades de consumo sofisticadas,
que passaram a ser atendidas por novas agências especializadas. Com o objetivo de ar-
regimentar clientela, as caixas de aposentadoria passaram a oferecer, além de vantagens
financeiras, serviços específicos como clubes, férias programadas, alojamentos especiais,
atividades de lazer e grupos de convivência.
Para que houvesse consonância entre as demandas crescentes e as ofertas dos ser-
viços especializados, requisitou-se o conhecimento de especialistas de ciências humanas
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que pudessem identificar e descrever com mais precisão as condições de vida e os desejos
desses sujeitos. As necessidades psicológicas e culturais passaram a ganhar destaque,
estimulando o surgimento das universidades e dos espaços de convivência específicos
para a terceira idade.6 Tais especialistas contribuíram para a consolidação de um estilo de
vida específico, baseado em um repertório de condutas e em uma linguagem inéditos que
influíram na formação da nova identidade etária.
A relação entre o surgimento da noção de terceira idade e as classes médias é espe-
cificamente analisada por Lenoir (1979), que considera haver uma identidade nada casual
entre as principais características desse grupo e as imagens que compõe a identidade da
terceira idade. As classes médias acumulam fatores que aceleram o envelhecimento de seus
membros: estão, mais do que qualquer outro grupo social, predispostas a recorrer ao conheci-
mento e à intervenção de especialistas; e cultivam o individualismo e a intimidade psicológica
que favorecem o investimento dos sujeitos em identidades específicas. Essas características
fazem dela o grupo da população mais ‘interessado’ na invenção da terceira idade.
A designação ‘velho’ não é mais adequada para nomear esses ‘jovens senhores’ e seu
novo estilo de vida. Surge, desse modo, a denominação ‘idoso’, mais respeitosa e distintiva
das camadas médias. Peixoto (1998) analisa a passagem do uso de ‘velho’ para ‘idoso’,
tanto na França como no Brasil, e mostra a transformação do uso público das expressões
relacionadas ao envelhecimento. O termo ‘velho’ estava fortemente associado aos sinais de
decadência física e incapacidade produtiva, sendo utilizado para designar de modo pejorativo
sobretudo os velhos pobres. A partir da década de 60, o termo começa a desaparecer da
redação dos documentos oficiais franceses, que passam a substituí-lo por ‘idoso’, menos es-
tereotipado. Ao mesmo tempo, o estilo de vida das camadas médias começa a se disseminar
para todas as classes de aposentados, que passam a assimilar as imagens de uma velhice
associada à arte do bem viver. Surge o termo ‘terceira idade’ que torna pública, estabiliza e
legitima a nova sensibilidade investida sobre os jovens e respeitados aposentados. Parece
claro a contribuição decisiva dessa nova denominação para a criação e difusão de uma nova
e positiva imagem da velhice.7
Ao comentar o cenário brasileiro, Peixoto (1998) argumenta que a introdução da noção
de terceira idade representa uma importação das denominações adotadas pelas políticas
6 Na França, a primeira universidade destinada à terceira idade foi inaugurada em Toulouse, em 1973. Em 1979, data de publicação do
referido estudo, contabilizavam-se mais de trinta universidades desse tipo. Segundo Lenoir (1979), as universidades para a terceira
idade propõem a combinação entre atividades acadêmicas e atividades de lazer e convivência, situando-se de forma ambígua entre
a ‘formação’ e o ‘entretenimento’.
7 Laslett (1991) acredita que o termo troisième âge já tenha adquirido conotação pejorativa no cenário francês, substituindo diretamen-
te o termo ‘velho’ e assumindo as antigas imagens depreciativas que a ele estavam atreladas. Segundo o autor, esse seria o futuro
mais provável do termo third age. No entanto não encontrei tal suposição no trabalho de outros autores.
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públicas francesas, sendo o termo ‘velho’ gradativamente substituído por ‘idoso’ nos docu-
mentos oficiais. Entretanto, as ambiguidades próprias à nossa realidade fizeram com que
certas imagens ganhassem sentidos mais sutis, tanto que o termo ‘velho’ parece se manter
e é comumente utilizado para designar pessoas velhas de classes populares, enquanto
‘idoso’, mais respeitoso, é utilizado para aqueles de camadas médias e superiores.
Além da generalização das aposentadorias e da substituição dos termos de tratamento
da velhice, dois outros fatores se destacam como fundamentais para o surgimento da cate-
goria terceira idade: o discurso engajado da gerontologia social e a cultura do consumo, cuja
interconexão é analisada por Featherstone e Hepworth (1995). Os autores identificam os
mesmos temas que compõem o discurso especializado e acadêmico da gerontologia social
nas imagens da velhice que aparecem nos meios ingleses de comunicação, sendo notável
a proximidade entre as suposições sobre o ‘envelhecimento positivo’, presentes na mídia,
e as reivindicações oficiais da gerontologia.8
Como dito anteriormente, a gerontologia cresce em importância a partir das exigências
das políticas e das instituições de aposentadoria, e fundamenta seus principais pressupostos
na metáfora médica da velhice, fornecida pela geriatria. As primeiras teorias sociais sobre o
envelhecimento, formuladas nos momentos iniciais da gerontologia, tinham como objetivo
oferecer explicações e analisar a percepção negativa da velhice. A teoria do desengajamen-
to consistia na suposição de que a incapacidade para o trabalho retira da velhice qualquer
possibilidade de atividade social, o que conduziria os sujeitos a estados de solidão e exclu-
são. A teoria da atividade, por sua vez, supunha que um envelhecimento positivo poderia
ser atingido se os sujeitos se mantivessem ativos, conservassem os mesmos hábitos da
vida adulta e desempenhassem papéis sociais relevantes (Blaikie, 1999). Ambas as teorias
foram posteriormente criticadas, mas interessa apontar o desenvolvimento da teoria da
atividade, que deu ensejo, ainda que com muitas mudanças, às formulações mais recentes
da gerontologia social.
Featherstone e Hepworth, (1995) sugerem que o argumento central da gerontologia
social está fundamentado na compreensão do envelhecimento como uma construção social
particularmente atrelada a uma imagem negativa, cuja alteração pode ceder espaço para
uma imagem positiva do mesmo processo. Seguindo a teoria do construtivismo social, os
gerontólogos passaram a advogar a desconstrução radical e o deslocamento das imagens
negativas do envelhecimento, assim como a elaborar um imaginário positivo para a velhice.
Para tanto seria necessário um novo discurso, suficientemente consistente, que pudesse
8 Featherstone e Hepworth (1995) preferem utilizar o termo ‘envelhecimento positivo’ para se referirem às imagens positivas da velhice
surgidas no Reino Unido por volta da década de 1960. Não faço distinção entre envelhecimento positivo e terceira idade, visto que a
identidade desta é exatamente constituída por tais imagens.
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desfazer a associação entre velhice e signos estigmatizantes como doença, desabilidade,
‘desengajamento’ e declínio.
Dois temas foram considerados fundamentais no processo de construção do enve-
lhecimento positivo, constituindo-se como objetivos da literatura especializada: o ataque
crítico à crença de que a velhice é essencialmente uma doença e a criação de uma nova
identidade para a velhice. O primeiro deles significava, de fato, a desconstrução da metáfora
médica formulada pelo saber geriátrico. Para a gerontologia social, o envelhecimento normal
compreenderia uma série de processos biológicos que não resultam necessariamente em
sérios prejuízos físicos ou mentais para os sujeitos. A partir dessa lógica, os problemas que
aparecem na velhice podem ser atribuídos a patologias clínicas específicas, para as quais há
ou haverá tratamento médico, como a doença de Alzheimer, e aos efeitos do próprio estigma
da velhice, que poderiam ser superados por meio de políticas e programas de reinserção
social, de educação e de sensibilização popular.
O segundo objetivo da gerontologia social foi a criação de uma nova e positiva identi-
dade para a velhice, cuja elaboração compreendia formas de comportamento associadas a
idades e ritos de passagem inovadores, ambos distantes da noção tradicional e estática de
uma velhice homogênea e indiferenciada. Tal estratégia se compatibilizava com o principal
argumento das teorias da construção social: se a identidade negativa da velhice é resulta-
do de determinadas condições culturais, uma outra pode ser ativamente construída uma
vez desfeita a antiga imagem da velhice. Essa identidade seria fruto da articulação entre
diferentes práticas, hábitos e linguagens, interpretados a partir de um ponto de vista espe-
cífico. A gerontologia não só corrobora como passa a estimular a adoção do novo estilo de
vida da terceira idade, divulgando os benefícios que seriam decorrentes do engajamento
dos sujeitos nesse ‘novo modo de envelhecer’.
A hipótese sobre a relação entre discurso gerontológico e noção de terceira idade pode-
ria ser contraposta a uma série de estudos que indicam a adoção, por parte da gerontologia,
das metáforas depreciativas da velhice como argumento para reivindicações políticas. Debert
(1999) entende esse impasse como um duplo movimento que estaria em curso no interior do
discurso gerontológico: se, por um lado, a gerontologia denuncia a ‘conspiração do silêncio’
– maneira pela qual Simone de Beauvoir classificava a resposta social dada à velhice nas
sociedades modernas, com o intuito de mobilizar a sociedade para a situação de abandono
e estimular o cuidado à velhice –, por outro lado, passa a divulgar a possibilidade concreta
de ‘invenção’ de uma nova identidade a partir da simples adesão ao novo estilo de vida.
Houve diversos processos de troca, conexão e fertilização entre as imagens do enve-
lhecimento reivindicadas pela gerontologia social e aquelas que circulavam na mídia devido a
interesses econômicos. Featherstone e Hepworth (1995) observam semelhança considerável
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entre as imagens positivas da velhice veiculadas pela cultura do consumo e as imagens
difundidas pela gerontologia. A tarefa de construção da ‘terceira idade’ ou do ‘envelheci-
mento positivo’ disseminou-se além do discurso profissional e acadêmico de uma disciplina
especializada, tornando-se um tema de grande relevância nos meios de comunicação.
Para Featherstone e Hepworth (1995) a ‘indústria do envelhecimento’ – modo pelo
qual Thomas Cole identifica a sensibilidade crescente dos agentes de marketing para o
potencial dos novos mercados de meia-idade e idade avançada – é uma força importante
por trás da emergência da noção de terceira idade. Até então esse grupo não dispunha de
recursos financeiros suficientes para parecer atraente aos planejadores de estratégias de
consumo. Desse modo, o grupo de sujeitos acima dos cinquenta anos era percebido como
financeiramente incapaz, e a ele não se tributava o desejo de engajamento a um estilo de
vida baseado em práticas de consumo, restrito aos mais jovens. O quadro começa a se
alterar com o surgimento das primeiras gerações de aposentados da classe média, cujo
potencial de consumo é rapidamente percebido pelos estrategistas de marketing. Aqueles
que estão acima dos cinquenta anos passam a ser reconhecidos como o único grupo nas
sociedades ocidentais com recursos financeiros disponíveis e ainda inexplorados, ou seja,
não vinculados a hábitos específicos de consumo.
Esses desenvolvimentos estão intimamente relacionados à institucionalização do pla-
nejamento das aposentadorias, que sucedeu no Reino Unido a partir de 1950. Os interesses
comerciais privados, sobretudo após 1980, aproveitaram-se do vácuo deixado pelas políticas
públicas e exerceram notável influência na reconstrução de imagens positivas sobre o período
de saída do trabalho. O reconhecimento e investimento dos agentes comerciais e financeiros
ajudaram a delinear o novo contorno do que é a velhice, consolidando a conexão entre o
planejamento da aposentadoria, a noção de terceira idade e a cultura do consumo. A cone-
xão fica clara na estratégia de Jeff Ostroff, um expert norte-americano em marketing. Ostroff
define sua ação como soft sell, uma combinação de recomendações para o consumo de bens
e serviços com informações e aconselhamento sobre o enriquecimento e o ‘empoderamento’
da nova velhice (Featherstone, Hepworth, 1995). Feathersone e Hepworth (p.33) chamam
a atenção para a ambigüidade subjacente aos interesses econômicos e às estratégias de
marketing que tomam como alvo os sujeitos da terceira idade:
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O entrelaçamento desses diversos fatores, especialmente a especialização dos agentes
de gestão envolvidos na organização das aposentadorias, o discurso engajado da gerontolo-
gia social e os interesses e as características da cultura do consumo parecem ter contribuído
de forma decisiva para o aparecimento da noção de terceira idade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Acerca da relação estabelecida no imaginário cultural entre as identidades da velhice
e da terceira idade, considera-se haver poucos elementos que nos permitam defini-la com
precisão e, desse modo, responder às perguntas formuladas. Apenas uma observação não
pode estar ausente dos debates que tomam as identidades relacionadas ao envelhecimento
como objeto: se a ascensão das imagens positivas que compõem a terceira idade produzirem,
como consequência de sua extrema valorização, a exclusão da possibilidade de vivenciar o
envelhecimento por meio da quietude, do descanso e da inatividade – características mais
próximas da descrição da velhice, certamente perderemos diversidade no que se refere
aos modos de vida e aos caminhos de satisfação dos sujeitos. Nesse sentido, aposta-se na
coexistência entre as referidas identidades etárias no imaginário cultural, de modo a ampliar
tanto as descrições quanto as possibilidades de experiência satisfatória dos sujeitos.
REFERÊNCIAS
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BLAIKIE, Andrew. Ageing and popular culture. Cambridge: Cambridge University Press.
1999
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Barros, Myriam Moraes Lins de (Org.). Velhice ou terceira idade? Rio de Janeiro: FGV.
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LASLETT, Peter. A fresh map of life: the emergence of the third age. Cambridge: Harvard
University Press. 1991
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EFETIVIDADE DOS PROGRAMAS
PSICOEDUCACIONAIS NA PESSOA COM
ESQUIZOFRENIA: REVISÃO INTEGRATIVA DA
LITERATURA
'10.37885/230513194
RESUMO
Introdução: O cuidado ao indivíduo com esquizofrenia deve confluir num plano de tratamento
multidisciplinar e centrado na pessoa, podendo incluir intervenções de âmbito psicoeduca-
tivo o que torna imprescindível identificar quais os ganhos originados por esta abordagem
terapêutica. Objetivo: Identificar quais os ganhos decorrentes da psicoeducação na pes-
soa com esquizofrenia Metodologia: Revisão Integrativa da Literatura a partir da Pergunta
de Partida “Quais os benefícios da psicoeducação para as pessoas com esquizofrenia?”
(Método PIO). Pesquisa efetuada na base dados B-on e na plataforma EBSCOhost Web,
considerando estudos redigidos em língua portuguesa, espanhola a inglesa, publicados entre
2015-2019. As palavras-chave/descritores foram validadas no DeCS e MeSH. Utilizou-se o
caracter booleano “and” para auxiliar a pesquisa. Resultados: Na pesquisa inicial obtive-
ram-se 316 artigos não duplicados tendo sido selecionados cinco artigos que avaliam pro-
gramas psicoeducacionais para a pessoa com esquizofrenia. Conclusão: Todos os estudos
selecionados revelaram resultados positivos das intervenções psicoeducativas, permitindo
agrupar os resultados em 6 categorias: Conhecimento, Adesão terapêutica, Gestão da doen-
ça, Sentimentos e emoções, Interações sociais e Repercussões nos cuidadores principais.
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que consiste, as causas e evolução da mesma, aspetos referentes ao tratamento e terapêu-
tica farmacológica, aquisição de competências que promovam habilidades sociais, resolução
de problemas, identificação de sinais de alerta e adesão ao tratamento. Esta ideia está de
acordo com a perspetiva de Passadas e Manso, em 2015, que afirmam que os programas
psicoeducacionais devem facultar informações sobre os sintomas, etiologia, tratamento e
curso da doença, procurando melhorar a adesão à medicação e a perceção da pessoa em
relação à doença mental, incentivando as pessoas e familiares a se comprometerem ativa
e criticamente com o tratamento (PASADA et al,2015) . Também a American Psychiatric
Association, em 2019, exalta que geralmente os programas de psicoeducação incluem infor-
mações relevantes sobre diagnóstico, sintomas, intervenções psicossociais, medicamentos e
efeitos colaterais, além de informações sobre stresse e enfrentamento, planos de crise, sinais
de alerta precoce e prevenção de suicídio e recaída, podendo incluir temáticas referentes
ao suicídio e estratégias de gestão da doença (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION
2,2019). De acordo com as normas de orientação clínica para a gestão da esquizofrenia
e perturbações associadas emanadas pelo Royal Australian and New Zealand College of
Psychiatrists, em 2016, os programas de psicoeducação para pessoas com esquizofrenia
incrementam a adesão ao tratamento e originam melhores resultados, melhor gestão das
subsequentes recidivas, menores taxas de readmissão e maior sensação de bem-estar
(GALLETLY et al, 2016) . Diversas organizações reconhecidas como referência na área da
Saúde Mental recomendam nas suas diretrizes de tratamento da pessoa esquizofrenia a
psicoeducação como intervenção terapêutica, reconhecendo os benefícios da sua implemen-
tação (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION 2,2019; GALLETLY et al, 2016) . É por isso
fundamental que o enfermeiro especialista em enfermagem de saúde mental e psiquiátrica
reconheça os resultados das intervenções psicoeducativas, estando as mesmas previstas
no regulamento das suas competências específicas (ORDEM DOS ENFERMEIROS1, 2018)
e nos Enunciados Descritivos do Regulamento dos Padrões de Qualidade dos Cuidados
Especializados em Enfermagem de Saúde Mental (ORDEM DOS ENFERMEIROS2, 2011) .
METODOLOGIA
Considerando o objetivo geral deste estudo optou-se por elaborar uma revisão integra-
tiva da literatura uma vez que este método de investigação possibilita a incorporação das
evidências na prática clínica, sustentando a tomada de decisão na metodologia de análise da
investigação relevante, com vista à melhoria da prática, contribuindo para o aprofundamento
do conhecimento do tema investigado e identificar lacunas do conhecimento que precisam
ser preenchidas com a realização de novos estudos (MENDES et al,2008) . Procedeu-se
à revisão integrativa da literatura a partir de uma pergunta de partida (Método PIO) (THE
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JOANNA BRIGGS INSTITUTE1, 2015) , assumindo-se como população a pessoa com es-
quizofrenia e a psicoeducação como intervenção. O resultado a aferir foram os benefícios
da psicoeducação (nas pessoas com esquizofrenia). Desta forma elaborou-se a seguinte
pergunta PIO orientadora: “Quais os benefícios da psicoeducação para as pessoas com
esquizofrenia?” A presente revisão integrativa da literatura tem como objetivo identificar os
ganhos decorrentes da psicoeducação na pessoa com esquizofrenia, demonstrando se a
implementação de programas de psicoeducação se traduz em benefícios para a pessoa
acometida por esta entidade nosológica. Os descritores são “schizophrenia, knowledge,
education, nursing”, tendo sido validados no DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) e no
MeSH (Medical Subject Headings). A pesquisa foi realizada durante os meses de novembro
e dezembro de 2019, considerando estudos publicados entre 2015 e 2019 e os critérios de
inclusão foram os seguintes: Tipos de Estudos: desenho experimental; desenho quasi-ex-
perimental; desenho observacional-analítico; estudos observacionais; estudos descritivos;
estudos qualitativos; Participantes: utentes adultos, de ambos os géneros, diagnosticados
com esquizofrenia ou distúrbio esquizoafetivo, hospitalizados ou em contexto comunitário;
Contexto: sessões presenciais individuais ou em grupo, em estabelecimento de saúde ou
outro local propicio à realização das sessões; aceitam-se intervenções em contexto hospitalar
e ambulatorial e considera-se o recurso a meios de implementação variados como novas
tecnologias, filmes, folhetos entre outros; Intervenções: as intervenções dos estudos devem
considerar programas e projetos psicoeducacionais direcionados à pessoa com esquizofrenia
(poderá incluir também os cuidadores, desde que o utente também participe).
Aplicam-se também critérios de exclusão sendo excluídos os estudos que: foram pu-
blicados antes de 2015; não se refiram à população adulta; não se enquadrem nos ob-
jetivos da revisão; não respondam à pergunta de partida; não explicitem resultados/con-
clusões; sejam revisões integrativas da literatura; obtenham menos de 50% de respostas
“Sim” após aplicação da Critical Appraisal Tool JBI correspondente.(THE JOANNA BRIGGS
INSTITUTE2,2017) A aplicação da Critical Appraisal Tool JBI ((THE JOANNA BRIGGS
INSTITUTE2,2017) permite também a uniformização de critérios de análise dos estudos ava-
liados pelos diferentes investigadores, facilitando a resolução de algumas divergências que
possam surgir. Uma vez que esta revisão da literatura pretende incidir apenas na literatura
mais recente definiram-se os limites temporais descritos. Estratégias de Pesquisa Os artigos
foram selecionados a partir da base dados B-on e plataforma EBSCOhost Web (nas bases de
dados científicas CINAHL Complete, MEDLINE Complete, Nursing & Allied Health Collection:
Comprehensive, Cochrane Database of Systematic Reviews, Cochrane Methodology Register,
MedicLatina). A pesquisa incidiu nos descritores “schizophrenia, knowledge, education, nu-
rsing”. Restringiu-se a pesquisa utilizando o carácter booleano “AND” (tabela 1). Devido ao
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elevado número de artigos sem qualquer relação com a temática abordada, obtidos ao pesqui-
sar os descritores em todo o texto, e a consequente impossibilidade de analisar todos esses
documentos optou-se por cingir a pesquisa aos descritores presentes no título dos artigos.
Na base de dados B-on procuraram-se artigos com texto integral, analisados pelos
pares, em língua portuguesa, inglesa e espanhola, com data de publicação de 2015 a 2019.
Para restringir a pesquisa determinou-se que os descritores deveriam figurar no título dos
artigos. Com a utilização desta base de dados obteve-se 128 artigos, dos quais 2 foram
selecionados para a revisão integrativa. Na plataforma EBCOhost Web como critérios de
pesquisa definiram-se: Intervalo de pesquisa 2015-2019; Idioma inglês, espanhol ou portu-
guês; Schizofrenia no título; Texto completo; Participantes: All adults. Esta pesquisa remeteu
325 artigos, 3 dos quais foram incluídos no estudo. Na pesquisa efetuada a partir da base
dados B-on e da plataforma EBSCOhost Web surgiram 316 artigos não duplicados. Após a
aplicação dos critérios de inclusão e a leitura do título e resumo foram eliminados 269 arti-
gos, sendo elegíveis para o estudo 47 artigos. A leitura completa destes artigos permitiu a
reavaliação de enquadramento nos objetivos da revisão, reavaliação da resposta à pergunta
de partida e aplicação das respetivas Critical Appraisal Tools JBI (15) levando à exclusão
de 38 artigos. Dos 9 artigos restantes 4 foram descartados durante a extração dos dados.
Este processo culminou com a seleção de cinco artigos para inclusão na revisão. Todas
estas etapas estão representadas no fluxograma de pesquisa abaixo representado (figura 1).
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Figura 1. Desenvolvimento da pesquisa e seleção da amostra com base no algoritmo PRISMA.
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Tabela 2. Classificação dos artigos incluídos por níveis de evidência JBI.
RESULTADOS
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por indivíduos de ambos os géneros (80%), mas num estudo apenas são incluídos indiví-
duos do género feminino (20%). Evidencia-se que a maioria dos estudos decorreu em con-
texto ambulatorial (80%), tendo um deles sido implementado em serviço de internamento
(20%). Geralmente a psicoeducação é implementada nível ambulatorial, mas elementos de
programas de psicoeducação poderão ser incluídos nos cuidados em ambiente hospitalar
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION 2, 2019). Todos os estudos procuraram iden-
tificar quais os efeitos da implementação de programas psicoeducativos (100%), referindo
a maioria (80%) a participação de enfermeiros nas intervenções. A análise dos estudos
permitiu agrupar os resultados em seis categorias: Conhecimento, Adesão Terapêutica,
Gestão da Doença, Sentimentos e Emoções, Interações Sociais e Repercussões nos cui-
dadores principais.
DISCUSSÃO
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por parte do individuo com esquizofrenia uma vez que melhora a capacidade de utilizar os
conhecimentos acerca da doença em situações da vida real (AL-HADIHASAN1, et al., 2017)
e incrementa a capacidade para lidar com os processos associados à vida diária de forma
mais eficaz (AL-HADIHASAN1, et al., 2017; AL-HADIHASAN2, et al., 2015). Percebe-se
também uma maior motivação do utente para procurar tratamento (AL-HADIHASAN1, et al.,
2017). Verifica-se que a psicoeducação aumenta o reconhecimento da importância do tra-
tamento para prevenir recaídas (AL-HADIHASAN1,, et al., 2017) e a capacidade de detetar
precocemente sinais de alerta de recaída (AL-HADIHASAN1, et al., 2017; AL-HADIHASAN2,
et al., 2015). Embora a taxa de hospitalização por recidiva se tenha revelado inferior com a
psicoeducação (AL-HADIHASAN1, et al., 2017; AL-HADIHASAN2, et al., 2015), há um estudo
que aponta que nem a frequência nem a duração dos (re)internamentos no hospital mudou
significativamente após a intervenção psicoeducativa (VON MAFFEI et al., 2015), no entanto
os mesmos autores referem que a esquizofrenia geralmente tem um curso crónico, tornando
as readmissões uma necessidade e se ocorrerem voluntariamente e no início de uma recaída,
podem ser entendidas como um sucesso, enfatizando que os participantes do estudo tinham
mais qualidade de vida percebida e estavam mais satisfeitos com sua saúde (VON MAFFEI
et al., 2015). A evidência científica também aponta benefícios da psicoeducação a nível
dos sentimentos e emoções vivenciadas pela pessoa com esquizofrenia. Além de transmitir
empatia e respeito pelo indivíduo, a psicoeducação estimula a esperança, a segurança, a
resiliência e o empoderamento (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION 2, 2019).
Segundo um dos estudos analisados após implementação do programa psicoedu-
cativo assiste-se à dissipação do medo e culpa do utente, à redução de stress e ansie-
dade e observa-se melhoria nas habilidades de enfrentamento (AL-HADIHASAN1, et al.,
2017). Esta estratégia de tratamento também reduz o envolvimento emocional excessivo
(AL-HADIHASAN 2, et al., 2015), contribui para o desenvolvimento da espiritualidade (AL-
HADIHASAN1, et al., 2017) e promove a diminuição do estigma (AL-HADIHASAN 2, et al.,
2015), potenciando a satisfação dos utentes com a sua saúde e desempenho (VON MAFFEI
et al., 2015). Há evidência que a psicoeducação promove uma maior qualidade de vida
dos utentes (KRYSHTAL, 2017; VON MAFFEI et al, 2015) bem como aos seus cuidadores
principais (AL-HADIHASAN 2, et al., 2015). Os efeitos da psicoeducação nas interações
sociais também são positivos sendo evidente a melhoria das habilidades de comunicação
(AL-HADIHASAN 2, et al., 2015), benefícios ao nível de funcionamento social e melhoria a
nível de comportamento disfuncional na comunidade e na disfunção no desempenho dos
papéis sociais na sociedade (KRYSHTAL, 2017). As intervenções psicoeducativas reper-
cutem-se positivamente também na relação com os serviços de saúde mental uma vez que
melhoram o relacionamento entre a pessoa diagnosticada com esquizofrenia e cuidadores
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primários com profissionais de saúde mental (AL-HADIHASAN 2, et al., 2015) e promove a
melhoria no funcionamento dos utentes no hospital (KRYSHTAL, 2017). A implementação de
programas psicoeducativos também se reflete na melhoria da capacidade de comunicação
dos cuidadores primários, no desenvolvimento de habilidades e estratégias para os mesmos
lidarem com a doença, aumento da consciencialização, o reconhecimento de stressores e
melhor gestão de situações stressantes (AL-HADIHASAN1, et al., 2017). Após as sessões
de psicoeducação verifica-se uma melhoria da interação entre utentes e cuidadores (AL-
HADIHASAN1, et al., 2017), aquisição de novas habilidades por parte dos cuidadores para
lidar com acontecimentos perturbadores e aumento da confiança do cuidador na gestão de
comportamentos inesperados ou desafiadores do utente (AL-HADIHASAN 2, et al., 2015),
aumento da capacidade dos cuidadores na prevenção de problemas numa fase precoce
(AL-HADIHASAN1, et al., 2017) e melhoria da supervisão da toma dos medicamentos an-
tipsicóticos (AL-HADIHASAN 2, et al., 2015) . Segundo um dos estudos a psicoeducação
promove ainda uma maior redução da carga familiar (AL-HADIHASAN 2, et al., 2015).
Alguns dos cuidadores atribuíram o aumento do nível de conhecimento de esquizofrenia
com a autoconfiança para se relacionar com a comunidade (AL-HADIHASAN1, et al., 2017).
Todos estes aspetos validam a importância da participação dos cuidadores em atividades
psicoeducativas. Importa também destacar que em quatro dos cinco estudos selecionados o
Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica assume um papel
de destaque na implementação de programas psicoeducativos (AL-HADIHASAN1, et al 2017;
VON MAFFEI et al., 2015; MATSUDA et al., 2016), reafirmando a psicoeducação como uma
intervenção da sua área específica de competências. A psicoeducação assume-se como
intervenção psicoterapêutica do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Mental
e Psiquiátrica (ORDEM DOS ENFERMEIROS3, 2018), sendo este fato evidenciado pelo pre-
sente estudo, que apresenta como principal limitação a escassez de bibliografia selecionada.
CONCLUSÃO
Após a análise dos artigos selecionados durante a fase de pesquisa foi possível encon-
trar respostas para a pergunta PIO que motivou esta revisão integrativa da literatura, sendo
assim possível atingir os objetivos propostos para a sua elaboração. De acordo com os resul-
tados obtidos conclui-se que a implementação de programas psicoeducacionais direcionados
à pessoa com esquizofrenia se apresenta como estratégia terapêutica efetiva, traduzindo-se
em ganhos para a pessoa diagnosticada com esquizofrenia e seus cuidadores. Os bene-
fícios mais evidenciados nos estudos em análise são aumento de conhecimentos sobre a
doença, maior conhecimento dos sintomas antecedentes a crises, diminuição da gravidade
dos sintomas, maior adesão ao tratamento proposto, melhoria da capacidade em lidar com a
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esquizofrenia e gerir a sua doença, melhoria da gestão do stress, diminuição de recaídas e
reinternamentos e o impacto positivo nas interações e habilidades sociais. Os efeitos positivos
nos cuidadores e na relação doente/cuidador também estão amplamente documentados na
bibliografia selecionada. Os estudos analisados relevam que a psicoeducação promove o
autoconhecimento e autonomia permitindo à pessoa diagnosticada com esquizofrenia uma
maior responsabilidade, participação mais ativa na tomada de decisão e na gestão da própria
vida. O diagnóstico, planeamento, implementação e avaliação de intervenções psicoeducati-
vas enquanto intervenções autónomas de Enfermagem, por parte do Enfermeiro Especialista
em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, exalta a necessidade de se estudar esta
temática. A presente revisão integrativa da literatura pretende promover a qualidade dos
cuidados de especializados de enfermagem à pessoa com esquizofrenia, incidindo sobre a
evidência científica mais recente. Os resultados obtidos reafirmam a contemporaneidade e
pertinência da temática em estudo na área da Saúde Mental e Psiquiátrica. Um dos aspetos
que relevam a importância deste estudo na prática especializada de enfermagem é a cons-
tatação da participação de Enfermeiros Especialistas nesta área do cuidado em quatro dos
cinco artigos selecionados, havendo evidência da sua importância no planeamento, elabo-
ração, implementação e avaliação de intervenções psicoeducativas independentemente da
distribuição geográfica dos artigos analisados. Esta conclusão está de acordo com a reali-
dade portuguesa, validando a perspetiva que esta intervenção faz parte das competências
específicas do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, tal
como se define no Regulamento n.º 515/2018: Regulamento de Competências Específicas
do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, publicado em
Diário da República n.º 515/2018, 2.ª Série. N.º 151 de 7 de agosto de 2018 nos Enunciados
Descritivos do Regulamento dos Padrões de Qualidade dos Cuidados Especializados em
Enfermagem de Saúde Mental e Padrão de Documentação de Enfermagem de Saúde Mental
e Psiquiátrica. A principal limitação identificada prende-se com o escasso número de artigos
encontrados que respeitem os critérios de inclusão e exclusão, sendo apenas cinco estudos
selecionados para esta revisão. Importa também referir a escassez de bibliografia em língua
portuguesa remetida pela pesquisa efetuada com os descritores escolhidos. Consideramos
que a pesquisa se cingir a um intervalo temporal relativamente curto e a pesquisa dos des-
critores ser efetuada apenas a nível do título acentuam esta escassez de resultados, porém
estas opções metodológicas justificam-se pelos motivos anteriormente descritos. De futuro
sugere-se a elaboração de estudos nas quais estas limitações sejam transpostas.
Responsabilidades Éticas
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Suporte Financeiro: O presente trabalho não foi suportado por nenhum subsídio
o bolsa ou bolsa.
Proveniência e Revisão por Pares: Não comissionado; revisão externa por pares.
Ethical Disclosures Conflicts of interest: The authors have no conflicts of in-
terest to declare.
Financing Support: This work has not received any contribution grant or scholarship.
Provenance and Peer Review: Not commissioned; externally peer reviewed
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ENVELHE (SER): O IMPACTO DA SAÚDE BUCAL
E CULTURA ALIMENTAR NA VELHICE
'10.37885/230513130
RESUMO
DESENVOLVIMENTO
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de maneira subjetiva e heterogênea. Estas influenciadas diretamente e/ou indiretamente por
fatores internos e externos, como herança genética e fatores ambientais (WENZEL, 2006).
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psíquica e vincular. À vista disso, vale ressaltar que esse envelhecimento saudável res-
paldado em uma boa qualidade de vida é um estado individual, ou seja, depende de uma
autoavaliação, interpretação, autopercepção e autodeterminação de cada um, já que saúde/
doença não é um estado estático. Todos devem respeitar a resiliência e autonomia de cada
indivíduo, para que este possa gerenciar sua própria vontade, livre de influências alheias,
apenas baseada na liberdade de escolha e tomada de decisão.
Devido principalmente ao maior acesso à informação, pode-se considerar que cada vez
mais os indivíduos têm uma maior consciência de que um estilo de vida saudável influencia na
qualidade do envelhecimento, e como resultado, isso tem aumentado as ações e as práticas
mais saudáveis, como o exercício físico e a melhor qualidade da dieta (TRAMONTINO, 2017).
Um dos fatores que representa a melhora desse quadro é a promoção e ingestão de
nutrientes, já que este é um aspecto que está vinculado também com a questão da fragilidade
na velhice, caso não seja adequado. É interessante ressaltar neste ponto que, fragilidade
independe de doença e não é sinônimo de dependência. A ingestão adequada depende
de múltiplos fatores, principalmente biológicos e sociais, ligados à saúde bucal, a qual é
considerada precária na população idosa brasileira, revelando a falta de cuidado ao longo
de toda a vida (Ministério da Saúde, 2004). Essa precariedade se relaciona com questões
culturais, socioeconômicas e dependência do sistema de saúde público, devido à falta de
recursos e informações voltados a esse público. A saúde bucal e as funções de mastigação
e deglutição inter-relacionam-se. A deglutição necessita de uma harmonia com a mastigação
eficiente, e esta depende da saúde bucal com relação à saúde dos dentes. É necessário que
estes sejam naturais e sadios ou no caso de próteses, estas sejam bem adaptadas, para
assim não haver o risco da mudança de hábitos alimentares e/ou problemas digestivos que
interfiram no estado nutricional do idoso e consequentemente na qualidade de vida deste
(CARDOSO e BUJES, 2010).
Dentre todas as alterações naturais advindas do envelhecimento, fazem parte destas
também as modificações das funções do Sistema Estomatognático, no qual ocorrem trans-
formações bioquímicas que trazem prejuízos ao processo digestório, o que afeta ainda mais
os aspectos já citados sobre a saúde bucal e as funções de mastigação e deglutição, já que a
cavidade oral também envelhece. Algumas das alterações desse sistema são caracterizadas
pela perda do tônus muscular, perda da elasticidade, diminuição da ação da língua e movi-
mentos orais, modificação na produção de saliva, diminuição do paladar e da sensibilidade
orofacial, juntamente com a lentidão psicomotora, diminuição da capacidade funcional, perda
natural da memória recente, diminuição da força na mastigação e perda dentária (destruição
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do esqueleto facial) e/ou utilização de prótese mal adaptada. Todas essas afetam de forma
geral o sistema estomatognático (como exemplo, ao dificultar a propulsão e a boa coesão
do bolo alimentar), e os órgãos fonoarticulatórios, influenciando diretamente na mastigação,
deglutição e na fala. Essas modificações estruturais juntamente com as mudanças sociais
e psicológicas, principalmente em relação à falta de interação social, podem ocasionar
consequências no idoso, como a perda da vontade de comer e perda do prazer no ato de
alimentar-se. Isso pode causar diretamente danos ao estado nutricional deste, aumentando
os riscos de vulnerabilidade e/ou fragilidade.
Isso ressalta a importância da participação social do idoso, já que influencia na au-
topercepção de qualidade de vida ao longo do processo de envelhecimento, tanto benéfi-
cos para o combate ao isolamento, como para melhora da saúde. O apoio social facilita o
enfrentamento e adaptação frente às crises e mudanças que este está sujeito ao longo do
processo e auxilia na manutenção da autoestima do indivíduo (COBB, 1976; STROEBE e
STROEBE, 1995). Ressalta-se que, a participação dos idosos ativamente nas comunidades
se dá de maneira livre e espontânea, evitando maiores julgamentos que possam piorar o
quadro natural vulnerável e de bem-estar do idoso.
Para reverter ou diminuir os riscos ligados ao estado nutricional dos indivíduos que
envelhecem, na intenção de facilitar a ingestão de alimentos nesses casos, a estratégia de
adaptação é respaldada na atenção à assistência e rede social e uma mudança na dieta
dos idosos, dando a preferência por alimentos menos consistentes e mais pastosos. Essa
mudança na dieta, por outro lado, pode provocar a atrofia da musculatura mastigatória e
repercussão na estética facial, já que não é estimulada corretamente. Isso, juntamente com
a perda dentária ou má adaptação da prótese interferem no prazer de comer e na autoestima
do idoso, a qual pode acometer também um declínio do nível de higiene oral e um aumento
da incidência de doenças bucais. Dessa maneira, é extremamente importante que os profis-
sionais em conjunto promovam uma boa saúde bucal, em relação à adaptação da prótese,
a qual aumenta a adaptação para a fala e alimentação, resultando num melhor bem-estar
físico, psíquico e clínico (CARDOSO e BUJES, 2010). Essas adaptações, juntamente com
o respetivo apoio social, também auxiliam no estímulo ao idoso para realizar as tarefas que
ainda consegue executar, no intuito de preservar essas ações (potencialização) e diminuir
o risco do aumento da dependência.
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costumes de cada um, sendo a comida um marco de identidade cultural e social (ALMEIDA,
GUIMARÃES e FREITAS, 2009). A comida pode ser considerada a materialidade da cultura,
da religiosidade e identidade, no qual representa o modo do indivíduo sentir-se alimentado
(DA MATTA, 1986). No caso, percebe-se que algumas pessoas quando chegam à fase da
velhice têm a tendência de relacionarem e estabelecerem um vínculo desse ato de comer com
o gosto, ânimo, afetividade e prazer de recordar o passado. Este que, por sua vez, remete à
comida saudável e à liberdade da juventude em relação ao poder da escolha do alimento sem
necessitar de adaptações na dieta devido às complicações ligadas à velhice. Um exemplo
representativo do vínculo criado com o alimento é o caso do idoso que possui uma doença
que necessita de restrição alimentar e mesmo assim não a respeita. Este prefere arriscar-
-se, pois opta por continuar a comer determinados alimentos que fazem parte de sua vida
e o fazem feliz e completo, ao lhe remeter lembranças ou sentimentos de satisfação. Essa
liberdade na tomada de decisão é bastante relevante para manter a autonomia do idoso,
já que a situação em que o indivíduo se apresenta depende da interpretação e motivação
dele, pois neste caso, deu-se mais importância ao fato de aprimorar-se e superar-se como
sujeito, e não apenas manter-se vivo.
O autocuidado segue princípios culturais, influenciado por crenças sociais, espirituais e
valorativas na forma de lidar com a saúde/doença e do ato de cuidar. Segundo Boff (1999),
em sua maioria, este ato baseia-se em um conceito que considera a saúde “um estado
de bem-estar total, corporal, espiritual e social e não apenas a inexistência de doença e
fraqueza”, que no caso é irreal, pois não é possível uma existência sem dor e sem morte.
Porém, é possível criar uma interpretação da existência/envelhecimento como um processo
essencialmente benigno, não patológico, mas ameaçado por agravos biopsicossociais. Esses
princípios são peculiares de cada família, principal fonte de suporte social e de cuidado do
idoso, transmitido de geração em geração por meio de símbolos, linguagem, práticas e ri-
tuais (RODRIGUES, 2013).
É importante destacar a importância da interação social do idoso de forma geral, já que
influencia na autopercepção de qualidade de vida ao longo do processo de envelhecimento,
sendo benéficos para o combate ao isolamento e até mesmo a melhora na saúde. Um simples
contato físico não é suficiente para que se tenha essa interação, ela deve ser construída ao
longo de todo o processo, a qual modifica o comportamento dos indivíduos envolvidos. Desde
o nascimento, os indivíduos são incluídos em uma sociedade, e com o tempo aprendem a
viver nela, apenas depende de cada indivíduo saber como se relacionar. Todos dependem
de contato social, desde os mais jovens até os mais velhos, isso é essencial na vida de qual-
quer ser humano. Todos possuem uma extrema necessidade de viver em sociedade, que é
tão importante quanto se alimentar e se relacionar, é um alimento para a alma. A obtenção
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de comportamentos sociais envolve um processo de aprendizagem durante toda a vida,
sendo que na velhice as habilidades sociais dependem do estabelecimento e manutenção
do contato social e do ato de lidar com os comportamentos preconceituosos contra a ve-
lhice, que são demonstrados por evitar contato, reações agressivas e proteção excessiva
(CARNEIRO & FALCONE, 2004).
Dessa forma, a intergeracionalidade surge como uma importante ferramenta na pro-
moção do convívio social que proporciona melhora na qualidade de vida do idoso. Porém,
a falta de convívio entre gerações resulta no desconhecimento e consequentemente um
distanciamento reforçado por estereótipos que impedem a aproximação entre as pessoas.
Isso tem uma relação com a Teoria das Trocas, que ao se aplicar no envelhecimento é visto
que a diminuição nas interações sociais entre os jovens e os idosos ocorre pois estes têm
menos recursos para ajudar em situações de troca entre gerações, os idosos têm pouco
para trocar na visão dos mais jovens (Carneiro & Falcone, 2004). Não surpreende, portanto,
os inúmeros conflitos geracionais e preconceito etário presentes no cotidiano da sociedade
atual, que se reflete no forte contraste do imaginário social que confere aos jovens qualidades,
como força e atividade, e reserva aos velhos as perdas e as carências, como a fragilidade
e a passividade.
Outra evidência de valorização do jovem é a ideia de que esta fase é associada ao
trabalho e o velho é ligado à aposentadoria, pelo fato de não ser mais produtivo na socie-
dade marcada pelo trabalho. Isso o afasta das decisões políticas e sociais direcionadas a
ele, que são de direito de todos os cidadãos, ou seja, “cidadania recusada”. A questão é
que o direito existe, mas é disfarçado e ocultado, já que quem decide não pede e se quer
respeita as opiniões dos mais velhos. Esses indivíduos passam a não ter mais o direito de
serem ouvidos e não valorizados quanto às suas opiniões sobre as atividades a desenvol-
ver, grau de autonomia e o que é ser velho. Toda essa mentalidade faz com que os idosos
não se sintam pertencentes à comunidade e sociedade, e por isso buscam cada vez mais
ações que o tornam jovens, rejuvenescidos, e que de certa forma o afastam da ideia de
“morte” (GARCIA, 2015).
Diante desse quadro, é necessária a elaboração de propostas e desenvolvimento
de ações que promovam as relações sociais, combatendo o isolamento, juntamente com
a aproximação intergeracional, dado que essa convivência acarreta uma grande troca de
experiências no nível intelectual, cultural e moral, impactando diretamente e indiretamente
na saúde do idoso.
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11
ENVELHECIMENTO SOCIAL – AUTOCONCEITO E
SOCIEDADE: O EXEMPLO DO ESTEREÓTIPO DO
CONDUTOR SÉNIOR
'10.37885/230513165
RESUMO
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Segundo SCHNEIDER & IRIGARAY (2008), a relação entre os aspetos cronológicos,
biológicos, psicológicos e culturais é fundamental na categorização de um indivíduo como ve-
lho ou não. A pessoa mais velha, na maioria das vezes, é definida como idosa quando chega
aos 60 anos, independentemente do seu estado biológico, psicológico e social. Entretanto,
o conceito de idade é multidimensional e não é uma boa medida do desenvolvimento hu-
mano. A idade e o processo de envelhecimento possuem outras dimensões e significados
que extrapolam as dimensões da idade cronológica.
Os modos do envelhecimento, podem ser resumidos e observados através do esquema
da Figura 1. Esta abordagem unifica conhecimentos fundamentais para a caracterização
do envelhecimento.
ENVELHECIMENTO SOCIAL
SIMONE DE BEAUVOIR (1990) define a velhice como um conceito abstrato, uma ca-
tegoria socialmente atribuída que serve para referir o período da vida em que as pessoas
“ficam velhas”. Segundo SILVA (2006) esta definição revela um olhar holístico que visa
favorecer condições para uma mudança de perspetiva em torno do fenómeno do envelheci-
mento, especialmente porque as diferenças individuais coexistem no envelhecimento, o que
traduz uma denegação da tendência da sociedade moderna em homogeneizá-la num único
grupo etário normativamente iniciada aos 65 anos de idade. O envelhecimento, enquanto
processo natural do ciclo vida de qualquer pessoa, deve ser vivido de uma forma saudável
e autónoma durante o maior tempo possível. Concomitantemente, é necessário permitir aos
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seniores o desenvolvimento e envolvimento na vida social, económica, cultural, espiritual e
civil, para que este envelhecimento se processe de forma ativa (AZEVEDO, 2015).
Socialmente, ser sénior significa na maioria das vezes estar excluído de “lugares so-
ciais”, como é exemplo o “mercado de trabalho” (sistema produtivo da economia de determi-
nado país). Estar excluído do sistema produtivo, em termos sociais, quase que define, por si
só, o “ser velho” (SILVA, 2006). Todavia, não deve ser descurado o papel contributivo que os
seniores podem prestar no seio da família ou do seu agregado familiar (como: acompanhar
os netos à escola, confecionar refeições, entre muitas outras formas colaborativas), e da
comunidade local (como: fazer voluntariado, visitar amigos e familiares, e com isso aumentar
a rede de apoio social) (AFONSO, 2015).
FERNANDES (2001) definiu o “envelhecimento social” como sendo um processo de
desvalorização económica do saber e da experiência dos indivíduos a partir dos 50 anos,
que os destinava para situações de “salário sem trabalho”, excluindo-os socialmente de
participar na vida ativa, apesar de estarem fisicamente aptos. Ditosamente, esta visão de
FERNANDES (2001) – caracteristicamente do mercado de trabalho em Portugal – tem vindo
a mudar nos últimos anos, com muitas empresas a apostar em perfis seniores e experien-
tes (com maior sabedoria, experiência adquirida e credibilidade perante clientes), quer nas
grandes empresas do sector da consultoria e auditoria, quer na indústria (MATEUS, 2018,
abril 7). Não obstante, a idade da reforma ou aposentadoria (atualmente iniciada com mais
de 67 anos, em muitos países europeus), tornou-se uma “ferramenta de controlo social” e
indutor de um olhar simbólico de “inutilidade” – de alguém excluído do mercado profissional
que usufrui de um salário (reforma) (CABRAL & FERREIRA, 2014, p.43). Para SILVA (2006)
a reforma é encarada como um acontecimento da vida condicionado pelo registo biográfico
dos saberes individuais, pelos quadros de referência adotados nas práticas e nas estratégias
do quotidiano de cada indivíduo. Na cultura portuguesa, ainda subsiste uma imagem este-
reotipada dos “reformados”, como se tratando de um conjunto de indivíduos que usufruem
do tempo de ócio, reunidos em “grupos”, em parques e jardins, que conversam entre si e
jogam cartas (Figura 2) (JN, 2013, outubro 16).
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Figura 2. Seniores reunidos em espaço público.
Fonte: http://assufmg.blogspot.com/2012/03/geracao-dos-veteranos-geracao.html
Porém, a ideia de que os seniores são imóveis está a mudar, sobretudo nos espaços
urbanos. A atitude das atuais e futuras gerações de seniores tende a ser mais ativa e sau-
dável, comparativamente às gerações anteriores, também em resultado de políticas para a
promoção social e da qualidade de vida do sénior, que passam pela adoção de hábitos e
estilos de vida mais saudáveis (como são exemplo as práticas regulares de exercício físico
– Figura 3) (BOUSQUET et al., 2015). Apesar das possíveis perdas físicas e cognitivas,
comuns durante o envelhecimento, o sénior mantém as suas necessidades psicossociais,
muito embora se possam verificar algumas perdas ao nível social. A conservação de ativi-
dades em sociedade exerce forte influência no nível de satisfação dos indivíduos e contribui
para o autoconceito positivo de envelhecimento (RODRIGUES et al., 2018).
Fonte: https://www.lasvegaspilatesyoga.com/classes/senior-yoga/
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O processo de envelhecimento está relacionado não só aos fatores biológicos e psicos-
sociais, como também ao contexto cultural e sócio histórico no qual o indivíduo está inserido
e ao qual se tem de adaptar (BALTES & SINGER, 2001).
A Organização Mundial de Saúde avançou, em 2002, com o conceito de envelhecer,
o “envelhecimento ativo” que surge na sequência do fomento do envelhecimento saudável.
Presentemente, este conceito tende a ser mais abrangente, estendendo-se, para além da
saúde, aos aspetos socioeconómicos, psicológicos e ambientais, integrados num modelo
multidimensional que explica os resultados do envelhecimento (WHO, 2002). Deste modo, um
envelhecimento para ser considerado “bem-sucedido”, “satisfatório” ou “ativo” não depende,
exclusivamente, de fatores como a sorte e o património genético, mas também de ações
e responsabilidade individuais, da saúde, dos padrões comportamentais e de afetos, das
amizades e dos contextos da vida, do tempo socioeconómico e histórico, e da experiência
nos adventos da vida, num balanço constante entre os fatores da pessoa e do meio social
envolvente (RODRIGUES et al., 2018; CABRAL & FERREIRA, 2014; RIBEIRO & PAÚL,
2012). Através de políticas de “envelhecimento ativo”, pretende-se alcançar uma sociedade
para todas as idades. Na verdade, garantir a manutenção da autonomia e independência
das gerações seniores, bem como de uma transição suave da comunidade para ambientes
de cuidados de longo prazo, que representam objetivos fundamentais da presente (e da fu-
tura) agenda política mundial. Avanços em anos de vida saudável, melhorando o bem-estar
dos seniores, pelo prolongamento da vida ativa, constitui um incentivo para o crescimento
económico e, mais importante, para a diminuição da pressão sobre os sistemas de saúde
e de assistência social (SALAZAR-BARAJAS et al., 2018; TOBIAS, 2017; UNECE, 2013).
Espera-se, portanto, que através do “envelhecimento ativo” as pessoas continuem
a participar do mercado formal de trabalho, bem como a participar de outras atividades
produtivas não pagas (tais como a prestação de cuidados aos membros da família e do
voluntariado), a ter vidas saudáveis, independentes e seguras à medida que envelhecem.
A estratégia europeia, sugere um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo, e
recomenda aos Estados-Membros a implementação de estratégias eficazes para o enve-
lhecimento ativo (LIOTTA et al., 2018; UNECE, 2013).
Noutros quadros de referência encontramos, ainda, classificações para o envelheci-
mento como o “envelhecimento ótimo” (BALTES, P.B. & BALTES, M.M., 1990) ou “envelhe-
cimento bem-sucedido” (RIBEIRO al., 2009; ROWE & KAHN, 1998), no que corresponde
à definição de padrões de sucesso. O conceito de envelhecimento bem-sucedido tem uma
forte influência cultural e é referido, como consequência do envelhecimento saudável, ativo e
produtivo, mas também com a considerada “boa qualidade de vida” durante o envelhecimento
(RIBEIRO al., 2009). Neste contexto, e conforme demonstra FERNANDES, SUSANA C. F.
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(2019), a utilização do automóvel pessoal representa, para um grande grupo de condutores
seniores, a superação de necessidades da vivência e bem-estar, e contribui para o “enve-
lhecimento ativo”.
A autoimagem do sénior
Apesar do aumento verificado na esperança média de vida, a maioria das pessoas não
se prepara para envelhecer, e tende mesmo em abjurar as evidências do seu próprio enve-
lhecimento. «As pessoas não se preparam para a aposentadoria, quanto mais para ficarem
velhas» (NETTO, 2002, p.41). Há, portanto, uma negação do próprio envelhecimento, uma
recusa em pensá-lo ou planeá-lo. Uma forte razão para esta recusa, é a imagem negativa
e pejorativa associada ao velho e à velhice, que foi construída ao longo dos tempos e de
modo generalizado na sociedade.
As atitudes da sociedade em relação às pessoas mais velhas são, geralmente, pou-
co positivas e, em parte, responsáveis pela imagem que os seniores têm de si próprios,
bem como das condições e das circunstâncias que envolvem o processo de envelhecimen-
to. O envelhecimento é tido como uma “doença incurável”, como um declínio inevitável, e
que todas as intervenções empreendidas para a prevenir são voltadas ao fracasso quando,
na realidade, o processo de envelhecer deveria ser encarado como um processo normal
que faz parte da vida de qualquer ser humano (NETTO, 2002, p.41).
A palavra “velho” é, comummente, rejeitada no contexto social – “não se quer acreditar
ser velho” – porque a esta palavra se associa uma representação de “menosprezo social”,
bem como uma imagem negativa da pessoa. Geralmente, poucas pessoas gostam da palavra
“velho/a” ou tão pouco de serem apelidadas de “velho/a”, por considerarem ofensivo. É co-
mum ouvir-se dizer “que velhos são os trapos”. Nesta atitude transparece a diferença entre
“ser velho” e “envelhecer”. Ou seja, o “ser velho” é dado pela imagem que têm do “outro”,
que não querem para si, e o “envelhecer”, por sua vez, é dado pela perceção que têm do
auto-envelhecimento, cujo processo é visto como amadurecimento, numa maneira de estar
ativa (SILVA, 2006).
De uma forma geral, as pessoas não se sentem velhas e não pensam na velhice. Assim,
é percebida uma atitude de fuga ao pensamento sobre a própria velhice, porque nesta está
a representação de decrepitude e de eventual incapacidade. No sentido figurado, “a velhice
é algo que só acontece aos outros” (SILVA, 2006).
A representação social da velhice e do envelhecimento, que até aqui se apresentou
como um acontecimento que tem lugar no corpo e na mente individual, ainda que com refe-
rência ao meio ambiente social, ganha dimensão e complexidade à medida que se avança
nos estudos sociais, sobretudo quando se trata de “exclusão social” (CERQUEIRA, 2010;
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SILVA, 2006). CERQUEIRA (2010) refere que a nível social, por vezes, se atribuí ao próprio
sénior a culpa pela criação de condições de vida com sentimentos de exclusão. Facto que
se deve, segundo o autor, ao tipo de conversas que promovem: “só falam em doenças”,
“não têm objetivos”, “não evoluem com a sociedade”, ficam com as “ideias estagnadas”
e “só convivem com pessoas iguais”. É essa atitude de “desinteresse pela vida”, em que
“não esperam mais nada, somente a morte”, que alegadamente legitima os outros – os não
velhos – para a sua atitude de «“não há paciência para aturar os velhos”». Associado à
imagem de velhice está o sentimento de “solidão” pessoal (no sentido de “estar fechado na
sua concha”, “esperar que nasça e anoiteça”), a que se acrescenta o isolamento por parte
dos outros (“estar desamparado”, “ser abandonado pelos outros”, “ninguém se lembra dele”
e “não ter companhia da família ou dos amigos”) e a inatividade social (o “fim da vida ativa”).
Este sentimento de exclusão da vida relacional apresenta-se como imagem típica da velhice,
não sendo, porém, qualidade ou caraterística necessariamente integrante. Significa isto, que
se tal exclusão se verifica com frequência, esta deve-se, às próprias pessoas e à sua atitu-
de perante a própria velhice (SILVA, 2013; FREITAS, 2011; CERQUEIRA, 2010). A família
pode, com concisão, ser considerada o habitat natural da pessoa humana. Com efeito, o
papel da família, é importante em qualquer estágio da vida e torna-se particularmente rele-
vante para o sénior (FONSECA, 2012, p. 96). A Figura 4, satiriza uma família contemporâ-
nea, que no uso excessivo de meios digitais, promovem um quase “isolamento social” pela
ausência de comunicação. Na imagem (região à esquerda) pode observar-se um sénior,
melancólico, a olhar pela janela para o exterior da habitação. Apesar do valor que o sénior
atribuí à família (expressa pelo retrato, no centro da sala, da mesma figura) é notório um
“sentimento de exclusão”.
Fonte: PortoCartoon XX 20th 2018 World Festival, Museu da Imprensa – Tema da exposição: Limpar o Planeta. Imagem recolhida
durante exposição pública no ISMAI – Instituto Universitário da Maia, julho de 2018.
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Na cultura social, é comum a construção da identidade do sénior por contraposição à
identidade do jovem e, consequentemente, tem-se por contraposição as características e
qualidades geralmente imputadas aos jovens: atividade, força, memória, beleza, potência
e produtividade e, naturalmente, o antónimo destas em relação aos seniores. Como re-
sultado, aspetos sociais conduzem a “uma imagem de envelhecimento” depreciativa, que
se projeta na autoimagem do sénior, traduzindo-se na negação do “ser-se velho”. Existe,
inclusivamente, a evidência de que os seniores tendem a não reconhecer em si mesmos,
certas dificuldades ou limitações do envelhecimento normal (MOLNAR et al., 2013). Com
efeito, muitos seniores tendem a sentir-se “jovens” aprisionados “num corpo fisicamente
envelhecido” (FERREIRA, 2006).
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Figura 5. Ícones de pessoas seniores.
Fonte: https://www.vectorstock.com/royalty-free-vector/elderly-people-icons-vector-19163625.
NETTO (2002, p.42) acrescenta que «além do receio de tanta senilidade e decrepi-
tude, as pessoas não aceitam o envelhecimento, devido também à falta de uma “razão de
ser” da velhice, por não encontrarem um papel para si mesmas na sociedade, sendo que
muitos seniores apresentam dificuldades em desempenhar um estilo de vida ativo, mesmo
com saúde muito boa».
De acordo com ARIÈS (1986, apud NEGREIROS, 2003), a velhice parece estar a
desaparecer do mundo contemporâneo. O termo “velho” como substantivo só subsiste com
sentido carregado de ambiguidade: estigmatizante-pejorativo ou efetivo-protetor. A ideia
tecnológica de conservação e embelezamento coloca-se no lugar da conceção biológica e
moral da velhice. A noção de “velho sábio” é destinada aos poucos que vivendo mais, passa-
vam a sua valiosa experiência aos mais jovens. Todavia, esta noção vem sendo substituída
pela ideia de que “quem é sábio não envelhece”, sobretudo quando beneficiam de padrões
socioeconómicos mais abastados.
Do ponto de vista sociológico, as fronteiras do envelhecimento têm variado significati-
vamente ao longo dos tempos. Portanto, coloca-se a questão de saber: como se reconstrói
a identidade na velhice, numa sociedade em rápidas mudanças – com stress, angústias,
padrões socioculturais em mutação, riscos de perdas de saúde e de assistência social e mé-
dica – e em que as condições de vida são variáveis consoante os níveis de rendimento, e em
que por vezes não são asseguradas as expectativas e as vontades individuais dos seniores?
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para deste modo evitar situações em que a probabilidade de errar é maior. Socialmente,
muitos seniores são observados a conduzir com velocidades muito reduzidas (sobretudo em
situações consideradas desafiadoras, tais como: ambientes noturnos, estradas muito movi-
mentadas, etc.), a realizar um elevado número de manobras para estacionar, revelando assim
dificuldades, entre muitas outras situações. Estas mudanças comportamentais na condução,
embora possam não ter implicações sobre a segurança dos outros utilizadores da estrada,
contribuem para a imagem social menos favorável dos condutores seniores (ROSENBLOOM
& SANTOS, 2014; EBY & MOLNAR, 2014, 2012). A imagem social menos positiva e os
estereótipos associados aos condutores seniores são reforçados em diferentes formas de
comunicação (Figura 6 e 7) e, sobretudo, entre as faixas de condutores mais jovens.
Fonte: https://www.redbubble.com/people/cautionsign/works/3113195-senior-.
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deste estudo revelam que os indivíduos mais velhos continuam ativos, móveis e fazem
viagens muito frequentemente. O mesmo estudo também revela uma dependência muito
maior dos veículos particulares pelos seniores, assim como nos indivíduos de baixos rendi-
mentos. Simultaneamente, sugere que os indivíduos portadores de algum tipo de deficiência
(leve a moderada) – no entanto ativos e a trabalhar – existe uma dependência maior do
transporte público face ao automóvel particular (embora o número de viagens seja signifi-
cativamente baixo).
Os condutores seniores são, por vezes, estigmatizados no seu ambiente social e na
comunidade, e socialmente considerados indivíduos de “baixa mobilidade”, com menor adap-
tabilidade ao transporte (tal como sucede com indivíduos portadores de deficiência e, ainda,
com os indivíduos de baixo status social) (JANSUWAN et al., 2013; EBY & MOLNAR, 2009).
Em Portugal, por várias décadas, o microcarro foi associado ao sénior (e às classes
sociais de baixa literacia) que não podiam tirar a carta de condução para automóveis ligeiros,
por não saberem ler (LABRADOR, 2016, julho 18). Os microcarros leves sempre se apre-
sentaram no mercado com elevado custo de aquisição, se comparados com outros tipos de
veículos, facto que os tornou popularmente conhecidos por “papa-reformas” (adquiridos por
pensionistas e cujas poupanças eram provenientes do subsídio das reformas). Estes quadri-
móveis ligeiros para transporte de passageiros, são considerados muito pouco confortáveis,
mas também muito pouco seguros, em especial para os utilizadores seniores. Em caso de
acidente grave, nesta categoria de veículos, «o resultado é quase sempre ferimentos graves
ou a morte certa» (LABRADOR, 2016, julho 18, p.2), não obstante a velocidade limitada a
um máximo de 50 km/h para utilização limitada ao espaço urbano. As consequências da
menor segurança destes veículos em caso de acidente, tornou-os também conhecidos por
“mata-velhos” (LABRADOR, 2016, julho 18). Em 2005, o Código da Estrada, em Portugal, foi
alterado e passou a estabelecer a titularidade da Carta de Condução da categoria B1 para a
condução dos quadriciclos, em resultado do aumento da sinistralidade rodoviária envolvendo
estes veículos. Passou, portanto, a ser obrigatória formação em escola de condução e, com
isso, muitos seniores deixaram de adquirir “mata-velhos”. Atualmente, estes veículos são
sobretudo utilizados por jovens entre os 16 e os 18 anos de idade, apesar da European New
Car Assessement Program (EuroNCAP) advertir para o seu muito baixo nível de segurança
em caso de acidente (LABRADOR, 2016, julho 18; GOMES et al. 2013, setembro 6).
Com os indivíduos tendencialmente a envelhecer de modo dissemelhante (sem cor-
relação direta com a idade cronológica) é natural que os seniores pretendam manter uma
imagem positiva e ativa perante a sociedade. Esta parece ser, aliás, uma das razões pelas
quais os seniores não pretendem um automóvel especificamente projetado “à sua imagem”
e “necessidades”. Segundo HELFENSTEIN (2012), existe uma vontade em transmitir uma
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imagem “jovem”, “ativa”, “livre”, “sedutora”, “de poder” e de “status social” (Figura 8). A pro-
jeção dessa imagem favorável traduz-se, naturalmente, nas escolhas que as faixas etá-
rias seniores e pré-seniores (50 ou mais anos) fazem ao nível das marcas e dos modelos
automóveis aquando da aquisição de novos veículos. A indústria automóvel reconhece
que, atualmente, são os indivíduos destas faixas etárias quem mais compra novos veículos
(FERNANDES, SUSANA C. F., 2019).
Fonte: http://www.autosnov.sk/babicke-namerali-160-kmh-na-useku-s-80-tkou/
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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¿EXISTE ASOCIACIÓN ENTRE LA EDAD DE
APARICIÓN DE LOS SÍNTOMAS CLIMATÉRICOS
Y PRESIONES RESPIRATORIAS MÁXIMAS?
'10.37885/230613237
RESUMEN
Objetivo: Evaluar asociaciones entre las presiones respiratorias máximas (PRM) y el inicio
de los síntomas climatéricos en mujeres de Brasil y Chile. Métodos: Estudio observacional
transversal, donde se incluyeron mujeres de 41-80 años, residentes de Temuco (Chile) y
Santa Cruz (Brasil), divididas en grupos según la edad de inicio de los síntomas climatéri-
cos (<46 y ≥ 46 años). Las PRM se evaluaron a través de un pimómetro digital. Se realizó
un análisis de regresión linear para evaluar las asociaciones entre la presión inspiratoria y
el inicio de los síntomas climatéricos. Resultados: Un total de 60 mujeres compusieron la
muestra, edad media 56,7 años. Aproximadamente 42% de la muestra presentó síntomas
climatéricos antes de los 46 años. Las PRM no están asociados a la edad del inicio de los
síntomas climatéricos, ya que las mujeres con edad temprana de los síntomas no presen-
taron diferencias en los valores de PRM (p>0,05). Conclusión: Las PRM no están asocia-
dos a la edad temprana de inicio de los síntomas climatéricos en mujeres del Noreste de
Brasil y Sur de Chile.
Durante largos períodos de tiempo en su vida las mujeres experimentan cambios hor-
monales importantes (1-3). Los niveles hormonales endógenos varían según la menarquia,
la fase menstrual, la irregularidad menstrual, el embarazo, la lactancia o la proximidad a la
menopausia (1).
La transición menopáusica se caracteriza por la disminución de las concentraciones de
estrógeno y progesterona, en combinación con la hormona foliculoestimulante y hormona
luteinizante elevadas (1,4), y esta secuencia de prominentes los cambios hormonales tienen
consecuencias para salud (5-7). La menopausia natural (MN) se considera cuando este
evento sucede entre los 45 y 55 años, y menopausia temprana (MT), cuando se desarrolla
antes a los 45 años de edad (3).
Ambos eventos, tanto la MN como la MT, se relacionan a alteraciones en la capacidad
física femenina (7) y en marcadores cardiovasculares (8), independente de fatores de riesgo
tradicionales, lo que indica que los cambios hormonales menopáusicos afectan críticamente
las enfermedades cardiovasculares (8).
Desde que el hipoestrogenismo presenta efectos sistémicos, la salud respiratoria y la
función pulmonar también siguen impactadas en mujeres que atraviesan la transición meno-
páusica (3-5). De acuerdo con Real et al., (2008) (4), fue posible observar una disminución
en la función pulmonar en mujeres posmenopáusicas en comparación con aquellas que aún
tenían la menstruación regular.
A pesar de las evidencias que señalan relaciones entre la función pulmonar (FP) y la
MT, la asociación entre ambas aún son escasas y poco consistentes (4,9,10). Adicionalmente,
poco se investiga acerca de la relación entre la menopausia - sea temprana, sea natural - con
la fuerza de la musculatura respiratoria. La disminución de la fuerza muscular respiratoria
se asocia con la disminución de la movilidad en las personas mayores, independiente de
la fuerza de las extremidades inferiores y la práctica de actividad física (11,12), además de
relacionarse con una disminución del equilibrio en mujeres entre 41-80 años de edad (13).
De esta manera, desde que no se comprende bien la relación entre la transición me-
nopáusica y la salud pulmonar, incluyendo la fuerza muscular respiratoria, el objetivo de
este estudio fue evaluar si existe asociación entre la fuerza muscular respiratoria, evaluada
a través de las presiones respiratorias máximas, y el inicio de los síntomas climatéricos en
mujeres del Noreste de Brasil y del Sur de Chile.
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METERIALES Y MÉTODOS
Procedimientos y medidas
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con ambos los pies apoyados en suelo. Las participantes fueron instruidas sobre los pro-
cedimientos, y los resultados fueron evaluados en sus valores absolutos. Para obtener la
presión inspiratoria máxima (PIM), se les solicitó que realizasen una espiración máxima
(cerca del volumen residual), seguida de una inspiración máxima (cerca de la capacidad
pulmonar total). Ya para la presión espiratoria máxima (PEM), se les pidió una inspiración
máxima (cerca de la capacidad pulmonar total) seguida de una espiración máxima (cerca
del volumen residual). Para cada evaluación se consideró el valor máximo obtenido en un
máximo de cinco pruebas, y que este valor no fuera superior al 10% entre las tres mejores
pruebas, según directriz internacional de validación de las pruebas (ATS/ERS, 2002) (16).
Aspectos Éticos
Análisis estadísticos
Los valores se almacenaron en una base de datos y los análisis estadísticos se reali-
zaron por medio del programa Statistical Package for Social Science (SPSS) versión 22.0
(IBM, Chicago, IL, USA). La prueba de Kolmogorov-Smirnov fue utilizada para evaluar la
normalidad de la distribución de variables. Las variables continuas se expresaron como
media y desviación estándar (DE).
Las variables continuas fueron analizadas utilizando el t-test de Student. Se realizó un
modelo de regresión linear para evaluar la asociación entre la edad del inicio de los síntomas
del climaterio y la PIM, ajustados por covariables (edad y años de estudio) (p<0,20). La regre-
sión linear fue generada solamente para PIM, dado que para el análisis bivariado se obtuvo
diferencia estadísticamente significativa solamente para esta variable (p = 0,04), lo que no
sucedió para PEM (p = 0,39). Un nivel de significación de 5% y un intervalo de confianza
(IC) de 95% fueron adoptados para todos los análisis.
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RESULTADOS
DISCUSIÓN
El presente estudio tuvo como objetivo investigar posible asociación entre las PRM y
el inicio de los síntomas del climaterio en mujeres del Noreste de Brasil y del Sur de Chile.
Los resultados de esta investigación sugieren que no hay asociación estadísticamente sig-
nificativa entre la edad que aparecen los síntomas climatéricos y las PRM en mujeres entre
41 y 80 años, residentes en las ciudades de Santa Cruz (Brasil) y de Temuco (Chile).
En el análisis bivariado, las mujeres que relataron haber presentado el inicio de los
síntomas con edad temprana, es decir, antes de los 46 años de edad, presentaron valores
de PIM más altos que las que relataron haber tenido sus primeros síntomas a los 46 o más
tarde. Sin embargo, cuando estas variables fueron controladas por la edad, no hubo asocia-
ción entre la PIM e la edad de aparición de los síntomas climatéricos (p > 0,05).
La transición a la menopausia es un proceso disruptivo que puede durar más de una
década y causa síntomas en la mayoría de las mujeres (17). Desde que nuestro objetivo fue
evaluar la asociación de las PRM con el inicio de los síntomas climatéricos, puede ser que la
falta de relación entre las variables esté justificada por ello, dado que el marco utilizado para
los análisis fue el inicio de los síntomas. Es posible que las alteraciones respiratorias del inicio
de los síntomas no sean suficientemente fuertes para evidenciar alteraciones en las PRM.
Ya es conocido que la menopausia temprana ejerce fuerte influencia sobre la capacidad
funcional (velocidad de la marcha, fuerza de agarre y limitación funcional autoinformada)
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(6). Sin embargo, la literatura sigue siendo escasa, conflictiva y poco contundente cuando
se trata de estudiar la relación de la MT con variables de la salud respiratoria (18,19).
El conocimiento de los primeros signos y síntomas de la transición a la menopausia,
por parte de los profesionales de la salud, es importante para que estén preparados a ofrecer
tratamiento para mitigar estos síntomas, los cuales alcanzan a la mayoría de las mujeres
que están en dicha transición (17). En se tratando de la salud respiratoria, especialmente de
la fuerza muscular inspiratoria y espiratoria, conocer el comportamiento de esa musculatura
durante el proceso de perimenopausia puede direccionar la asistencia de profesionales ki-
nesiólogos y educadores físicos, ofreciendo fortalecimiento específico a esta musculatura.
Este estudio presenta limitaciones. El tamaño de la muestra evaluada es considera-
do poco representativo para las poblaciones de mujeres entre 41-80 años de las ciudades
de Santa Cruz, en el Noreste de Brasil, y de Temuco, ubicada en el Sur de Chile. Además
de ello, la variable del inicio de los síntomas del climaterio es considerada subjetiva y fue
evaluada según autoreporte, a través de cuestionario estructurado por los investigadores.
Adicionalmente, solamente mujeres residentes en la comunidad fueron evaluadas, o sea,
las mujeres institucionalizadas no hicieron parte de la muestra. Sin embargo, desde nuestro
conocimiento, esta es la primera investigación acerca de la posible relación entre las PRM
y los síntomas climatéricos en poblaciones de la América Latina.
Se sugiere más investigaciones acerca del tema, ya que son escasos los estudios. Se su-
giere evidenciar las posibles asociaciones entre la fuerza muscular respiratoria y el apareci-
miento de los síntomas de la menopausia, objetivando a un mayor conocimiento de la salud
respiratoria en las mujeres. Eso podrá ofrecer intervenciones asertivas y personalizadas para
este público, lo cual durante la perimenopausia sufre implicaciones sistémicas.
Las presiones respiratorias máximas no están asociadas a la edad temprana de inicio
de los síntomas climatéricos en mujeres residentes en la comunidad del Noreste de Brasil y
del Sur de Chile. Sin embargo, se sugieren nuevas investigaciones acerca del tema.
Financiamiento
Conflicto de interés:
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Tabla 1. Características de la muestra.
Variables n Media DE
Edad (años) 60 56,7 6,7
Años de escolaridad (años) 60 12,4 6,0
PIM (CmH2O) 60 103,6 41,2
PEM (CmH2O) 60 126,2 48,0
Início de los sintomas climatéricos (años de edad) 60 45,6 6,8
n = números de participantes en la muestra; DE = desviación estándar; cmH2O = centímetros de agua, PIM = presión inspi-
ratória máxima; PEM = presón espiratoória máxima.
Tabla 2. Media de las PRM de acuerdo con las características de la muestra (n=60).
Tabla 3. Modelos de regresión lineal para evaluar la asociación entre PIM y edad de aparición de los sintomas climatéricos.
IC 95%
β Valor de p LI LS
Intercepto 86,86 <0.001 61,84 111,87
Início de los sintomas climatéricos (años de edad)
< 46 20,18 0,061 -1,15 41,51
≥ 46 0
Edad (años)
41-60 10,18 0,456 -16,99 37,36
61-80 0
IC = intervalo de confianza; LI = limite inferior; LS = limite superior; β = valor de beta.
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EXPOSIÇÃO PORMENORIZADA DOS ÓBITOS POR
DOENÇAS PARASITÁRIAS NEGLIGENCIADAS EM
IDOSOS BRASILEIROS
'10.37885/230513196
RESUMO
199
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MÉTODOS
RESULTADOS
200
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Figura 1. Óbitos por DTNs registrados na população idosa brasileira entre 2000 e 2021.
Tabela 1. Distribuição geográfica dos óbitos das respectivas DTNs por região brasileira.
Na análise das variáveis sociodemográficas foi possível identificar que as doenças estu-
dadas apresentam um perfil específico das vítimas, conforme descrito na tabela 2. Os óbitos
foram provenientes de indivíduos com baixa escolaridade e em situação conjugal. O sexo
masculino foi o mais afetado na doença de Chagas e na leishmaniose, e o sexo feminino
na esquistossomose. Em relação à cor/raça, a doença de Chagas acometeu mais pessoas
brancas, enquanto nas demais doenças foram as pessoas pardas. Sobre a faixa etária, as
vítimas mais frequentes estavam entre 60 e 69 anos, com exceção da doença de Chagas
que vitimou indivíduos entre 70 e 79 anos.
201
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Tabela 2. Características sociodemográficas das vítimas dos óbitos estudados.
Por fim, todos os óbitos estudados nesta pesquisa aconteceram, em sua grande maioria,
em estabelecimentos hospitalares.
DISCUSSÃO
Doença de Chagas
202
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antropozoonose, cujo agente etiológico é o protozoário Tripanosoma cruzi e como vetor o
inseto triatomíneo hematófago (subfamília Triatominae), conhecido como “barbeiro” no Brasil
(GOMES et al., 2020).
A doença de Chagas é considerada um dos principais problemas de saúde pública
na América Latina, apresentando limitações médico-sociais para controle da epidemia no
Brasil. A Organização Mundial de Saúde estimou que em 2015 a prevalência da doença
era em torno era de 6 a 7 milhões de pessoas em todo o mundo, com concentração maciça
dos casos na América Latina (DIAS et al., 2015). No cenário das doenças infecciosas e
parasitárias, a DC ocupa o segundo lugar entre as causas mais recorrentes de mortalidade
em idosos brasileiros (MARTINS-MELO, CASTRO e WERNECK, 2021).
As variáveis sociais das vítimas estudadas foram consistentes com outros estudos.
Motta et al. (2014) mostraram que o sexo masculino é predominante nas mortes por DC. O tra-
balho de Martinez et al. (2021) constataram que em 60% dos casos fatais as vítimas eram
do sexo masculino, 57.96% pardas e idosos entre 70 e 79 anos foram os mais acometidos.
Silva e cols. (2019) mostraram que 59.2% dos que morreram de DC eram do sexo masculino,
37.4% eram pardos e 56.4% tinham mais de 60 anos. E no estudo de Souza et al. (2021)
55.05% são homens, 96.5% têm mais de 40 anos.
Quando se trata de saúde, os homens tendem a não procurar prontamente o sistema
de saúde por perceberem o autocuidado como uma prática feminina e um fato sociocultural
(MORAES et al., 2017). Como resultado, eles são propensos a doenças, especialmente doen-
ças crônicas, levando ao aumento da morbimortalidade (GOMES et al., 2007; MARTINEZ
et al., 2021). No caso da DC, o sexo masculino é mais suscetível à infecção devido à exposi-
ção a ambientes com maior exposição a vetores de doenças (TEIXEIRA e OLIVEIRA, 2015).
Os dados sobre a escolaridade dos falecidos são semelhantes ao estudo de Martinez
et al. (2021) e Martins-Melo et al. (2021), pois os menos escolarizados são as principais
vítimas das mortes por DC. Uma explicação para isso é que essas pessoas exercem suas
atividades laborais em áreas rurais ou com condições menos favoráveis, tornando a popu-
lação mais acessível aos barbeiros vetores (FLORES, 2019; MARTINS-MELO et al., 2021;
Martinez et al., 2021). Portanto, entende-se que o nível de escolaridade representa um
determinante social de saúde protetora, uma vez que maior escolaridade está associada a
menores chances de morrer por doença de Chagas.
A mortalidade descrita por Martins-Mello et al. (2021) e Souza et al. (2021) demons-
traram o maior número de óbitos na região sudeste do Brasil, dados que convergem para
os descritos neste capítulo. A alta taxa de mortalidade na região pode ser explicada pela
migração maciça da população de áreas rurais endêmicas para centros urbanos nas últimas
três décadas (DIAS, 2013).
203
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A progressão clínica da doença em idosos com Chagas pode ser mais grave devido
a fatores como o envelhecimento do sistema imunológico e a presença de comorbidades
pré-existentes. A infecção crônica por T. cruzi pode levar a alterações cardíacas, gastroin-
testinais e neurológicas, sendo a disfunção cardíaca a principal causa de morbimortalidade
nesses indivíduos. Nos idosos, a deterioração das estruturas cardíacas associada à cardio-
miopatia chagásica pode resultar em insuficiência cardíaca congestiva, arritmias graves e
distúrbios de condução, contribuindo para um aumento do risco de óbito (PÉREZ-MOLINA
e MOLINA, 2018).
Diante disso, é importante desenvolver e fortalecer políticas de saúde que foquem no
acompanhamento e tratamento dos pacientes com DC, visando reduzir a progressão da
doença e os efeitos negativos na velhice nos infectados (MARTINEZ et al., 2021).
Leishmanioses
204
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O predomínio das mortes por leishmanioses nos homens, descrito por alguns autores
(LEITE e ARAÚJO, 2013; SOUZA et al., 2021) e corroborando com os dados deste estudo, é
fruto da maior frequência de suas atividades em áreas de risco, sejam elas de lazer, práticas
laborais ou moradia, que os predispõem a contrair a infecção pela exposição ao contato com
o flebótomo infectado (RODRIGUES et al., 2017; VASCONCELOS et al., 2022).
Os dados de letalidade por faixa etária são semelhantes à tendência que o Brasil tem
apresentado nas últimas décadas, principalmente, pacientes com faixa etária de 50 anos
ou mais (BRASIL, 2011). A população geriátrica apresenta diminuição da capacidade de
resposta imunológica, contribuindo para o agravamento da infecção. Além disso, o conheci-
mento dos profissionais de saúde que associam a leishmaniose a um agravo prevalente na
infância, diminuindo as suspeitas em idosos é um fator relevante no contexto do diagnóstico
adequado (LEITE e ARAÚJO, 2013).
Indivíduos pardos representaram a maior proporção dos óbitos no Brasil. Essa popula-
ção exibe vulnerabilidades devido ao impacto da iniquidade sobre os inúmeros determinantes
sociais de saúde. Elas são compostas pela segurança, a instabilidade econômica, a moradia
e as condições de trabalho dos pacientes (ESTRELA et al., 2020). Além disso, o tratamento
é caro, acarretando o consumo de boa parte da renda anual dos infectados, impactando
negativamente na qualidade de vida e disseminação da doença (OKWOR e UZONNA, 2016).
Associado a isso, fatores como a falta de saneamento básico, condições de moradia
precária e coleta irregular de lixo das regiões endêmicas favorecem a sobrevivência e per-
manência dos vetores (COSTA et al., 2005). Para Leite et al. (2015) o contexto que envol-
ve a desigualdade social pode explicar uma maior carga global de doenças infecciosas e
parasitárias, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Tal informação corrobora com a
alta mortalidade encontrada nesta pesquisa na região Nordeste, como também encontrado
por Souza et al. (2021).
Finalmente, pôde-se inferir que pessoas com menor nível de escolaridade são mais
propensas a adquirir a infecção. Em regiões não atendidas por projetos ou ações de pre-
venção ligados às zoonoses, a contaminação da população é maior (SANTOS, 2017;
PEDRASSANI et al., 2019), comprovando que a falta de informação e a inexistência e/ou
ineficácia de programas e ações preventivas são as maiores causas de disseminação de
zoonoses (CASTRO et al., 2016).
Esquistossomose
205
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espécies mais comuns de Schistosoma que parasitam os seres humanos são S. mansoni
e S. japonicum, que causam a esquistossomose intestinal, e S. haematobium, que causa a
esquistossomose urogenital (COLLEY et al., 2014).
A esquistossomose é transmitida através do contato as larvas do parasita em água doce
contaminada. A doença pode causar uma série de sintomas, incluindo febre, dor abdominal,
diarreia, sangue na urina, levando a complicações a longo prazo como doença hepática e
renal crônica (HOLANDA et al., 2020).
É uma doença tropical negligenciada que afeta mais de 200 milhões de pessoas em
todo o mundo, principalmente na África Subsaariana, mas também afeta comunidades no
Oriente Médio, na América do Sul e no Caribe, na China, no Sudeste Asiático e nas Filipinas
(COLLEY et al., 2014; WHO, 2023).
Silva Sousa et al. (2021) encontraram resultados divergentes de nosso em seu estudo
sobre o sexo das vítimas de óbitos, em que 100% da amostra era composta por indivíduos
do sexo masculino. Neste capítulo, a prevalência de mortes acometeu mulheres.
As mulheres estão suscetíveis a contrair a infecção pela realização de atividades
domésticas como lavar roupas, louça e tomar banho em regiões de lagos contaminados.
Ademais, países com baixa estrutura sanitária e alto acesso ao uso de lagos, rios e nascentes
contaminados com os parasitas predispõem trabalhadores como pescadores e agricultores
a alto risco de infecção (WHO, 2023; ADENOWO et al. 2015).
Com relação à variável escolaridade, achado do presente estudo para a doença de
Chagas e esquistossomose, corrobora com outras publicações (FRIAS et al., 2010; OLIVEIRA
et al., 2019), nas quais o nível de escolaridade foi um dos campos com o maior índice de
ausência de preenchimento. Essa realidade impacta no entendimento dos fatores sociais
que influenciam na predisposição dos indivíduos a se infectarem.
Reconhece-se que os adultos são os mais afetados pelas consequências da cronici-
dade da doença (ADENOWO, et al. 2015). Oliveira et al. (2018) identificou que 53.9% dos
óbitos registrados em Pernambuco entre 2005 e 2013 foram de pessoas acima dos 70 anos.
Souza et al. (2021) determinaram uma porcentagem acima de 90% dos óbitos para vítimas
acima de 40 anos.
O Brasil é um país de clima tropical, com altas temperaturas e regiões com habitats
aquáticos, tornando-se um ambiente favorável para a reprodução e habitat de caramujos
e, consequentemente, a disseminação da infecção para os humanos. Nesse contexto, é
possível entender por que as regiões de maior prevalência de óbitos no país sejam a região
Nordeste e Sudeste, devido a fatores climáticos e pluviométricos, geralmente coincidentes
com o final do período chuvoso (MARTINS et al., 2019).
206
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A ocorrência dessa parasitose acaba agravando a situação de pobreza da região ao
ocorrer em locais com baixa visibilidade e apoio do poder político, onde há pouco interesse
das empresas farmacêuticas em produzir vacinas, embora existam muitos estudos já elen-
cados (COLLEY et al., 2014; SOUZA et al., 2022).
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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14
FATORES ASSOCIADOS AO ABANDONO DO
TRATAMENTO DA TUBERCULOSE EM PACIENTES
IDOSOS NA REGIÃO NORTE DO BRASIL, ENTRE
OS ANOS DE 2016 A 2019
'10.37885/230412775
RESUMO
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que muitas vezes vivem em aglomerações, como em casas de apoio e asilos pode ser
desfavorável (PARÁ, 2018).
O objetivo do presente estudo é analisar o perfil epidemiológico dos indivíduos com
mais de 65 anos que abandonaram o tratamento para tuberculose, na macrorregião Norte
do Brasil, no período de 2016 a 2019. De forma a determinar algumas características desses
pacientes, bem como analisar as possíveis causas, ou fatores relacionados a não-adesão
ou evasão ao tratamento da tuberculose (SILVA, 2018).
MÉTODOS
RESULTADOS
O estudo mostrou que no período, 4278 pessoas tiveram diagnóstico para tuberculose
na região. Nesse contexto, a taxa de abandono ao tratamento ficou em 5,5 % (n=233) dos
casos. Com relação a dados sociodemográficos e clínicos gerais encontrados, a maioria dos
pacientes eram do sexo masculino 62% (n=146), 72% (n-167) do total eram de cor parda 72%.
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Figura 1. Evasão ao tratamento da tuberculose, por raça e sexo, na região norte do Brasil, de 2016 a 2019, por valores totais.
Tabela 1. Descrição dos casos de abandono de tratamento para tuberculose segundo: Idade, sexo, raça, zona de moradia,
escolaridade, forma da doença e exame de HIV, Beneficente do governo, população em situação de rua região norte,
Brasil, 2016 a 2019.
Desfecho Abandono n %
Feminino 87 37,3
Sexo
Masculino 146 62,7
Branca 24 10,3
Preta 15 6,4
Parda 167 71,7
Raça/Cor
Indígena 17 7,3
Amarela 1 0,4
Igm/Branco 9 3,9
Urbana/Periurbana 184 79
Zona de
Rural 45 19,3
Moradia
Ign/Branco 4 1,7
Analfabeto 69 29,6
0-4 Anos de estudos 67 28,7
Escolaridade 5-8 Anos de estudos 34 14,6
8<+ anos de estudos 24 10,3
Ign/Branco 39 16,8
Pulmonar 206 88,4
Forma de
Extrapulmonar 22 9,4
Tuberculose
Pulmonar + Extrapulmonar 5 2,2
Positivo 35 1,3
Exame de
Negativo 198 52,8
HIV
Não realizado 107 45,9
Sim 35 15
Beneficente
Não + 198 85
do Governo
Ign/Branco
Sim 6 2,6
População em situação
Não + 227 97,4
de rua
Ign/Branco
Total
Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação, 2020.
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Os estados do Amazonas 43% (n=100) e Pará 42% (n=98) apresentaram a maior
prevalência de evasão ao tratamento na região.
Figura 2. Evasão ao tratamento da tuberculose, por estado da macrorregião Norte do Brasil, de2016 a 2019, por valores
totais.
Entre as características clínicas, a forma pulmonar foi a mais presente 88% (n=88).
Observa-se que o grupo de evasão ao tratamento possui taxas, mais elevadas para fatores
como etilismo com 17% (n=40), uso de drogas ilícitas 3% (n=7) e tabagismo com 20% (n=47)
do que o grupo de pacientes curados e até, a população geral do estudo. População que teve
taxas como 8,1% (n=349) para etilismo, 0,9% (n=39) para uso de drogas ilícitas e 14,1% (n=
605) para tabagismo. Com relação ao diabetes melitus, 15% (n=31) dos pacientes do grupo
de abandono tinham a condição enquanto para o grupo no grupo geral esse valor foi de
19,3% (m=826), já entre o grupo de pacientes curados 19,9% (n=481) tinham diabetes. 120
Figura 3. Diabetes Mellitus, etilismo, tabagismo, drogas ilícitas e doença mental em pacientes de mais de 65 anos com
diagnóstico de tuberculose, pacientes que abandonaram o tratamento e pacientes curados na macrorregião Norte do
Brasil, de 2016 a 2019, por valores relativos.
O índice de cura para os que seguiram tratamento, ficou em 56% O abandono do tra-
tamento da tuberculose é um problema de saúde pública que embora tenha diminuído nos
últimos por todo o Brasil, incluindo a região Norte, ainda se encontra presente, o que pode
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se relacionar a aspectos de cunho social, como baixa escolaridade, pobreza e dificuldade
de acesso ao tratamento. A prevalência maior em indivíduos do sexo masculino e de cor
parda também foi evidenciada em outras pesquisas9.
Figura 4. Evasão ao tratamento da tuberculose, por região do Brasil por ano, de2016 a 2019, por valores totais.
DISCUSSÃO
Nessa pesquisa foi constatado que a maioria dos pacientes evoluiu com cura, em
detrimento dos casos de abandono ao tratamento e óbitos exclusivos por tuberculo-
se. O estabelecimento dos homens como maioria dos casos é evidencia em outras literatu-
ras (BRASIL, 2020).
Os estados que apresentaram as maiores taxas de abandono ao tratamento foram
o Pará e Amazonas. Nesse contexto, as taxas de incidência de TB, encontradas podem
estar relacionadas à presença crescente de áreas populacionais carentes nos municípios
que compõem, esses estados, incluindo a cidade de Belém, o que favorece o aumento da
incidência11. Tais achados podem ser decorrentes da própria dinâmica da vida nas cidades,
que por um lado pode apresentar maior facilidade de acesso aos programas e serviços de
saúde, mas por outro detém os desafios da elevada densidade demográfica, das alterações
ambientais e das relações sociais que se apresentam como fatores de risco à saúde das
pessoas (LIMA, 2017).
Quanto a apresentação clínica, a forma pulmonar foi a mais prevalente, o que corrobora
o perfil também encontrado do Programa Nacional de Controle da Tuberculose, uma vez
que essa é a forma mais prevalente em idosos no país (BRASIL, 2020).
Em relação as condições associadas ao abandono do tratamento, a situação socioe-
conômica é relevante, uma vez que a baixa quantidade de informações, o acesso precário a
saúde, a má adesão aos medicamentos, a dificuldade de transporte e alimentação, dificultam
219
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o controle da doença, por isso todo estudo que contemple o abandono ao tratamento de
determinada doença deve considerar os aspectos sociais que possam estar envolvidos.
Muitos pacientes abandonam o tratamento porque dependem de seus cuidadores para
realizá- lo de forma adequada, e estes por muitas vezes são negligentes em relação a saúde
e qualidade de vida de seus anciãos. Além disso, muitas pessoas também abandonam o
tratamento por dificuldade de seguimento nas unidades de saúde, devido aos efeitos co-
laterais e não adequação a medicação ou por melhora dos sintomas e, por isso acreditam
que houve cura, ou por revolta com a doença, uma vez que a TB causa nos indivíduos um
impacto próprio do adoecer e o peso subjetivo que a doença tem para cada um parece estar
relacionado a momentos de tensão, ansiedade e medo (PEREIRA, 1999).
Por outro lado, alguns agravos associados como o tabagismo, doença mental, uso de
drogas ilícitas e alcoolismo são fatores que colaboram, ou até mesmo induzem ao abandono
do tratamento. Por fim, no que concerne aos idosos, por este grupo ser mais vulnerável e de-
pender em muitos casos, dos cuidados de terceiros, podem não seguir o tratamento de forma
adequada por negligência ou ineficiência do cuidador, o que retarda o tratamento e portanto
a cura do paciente, por isso talvez haja necessidade de avaliar o tratamento supervisionado
como forma de reduzir a evasão e aumentar a qualidade de vida dos idosos infectados.
CONCLUSÃO
220
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15
FRAGILIDADE EM IDOSOS LONGEVOS:
PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS
'10.37885/230513171
RESUMO
224
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Considerando que a maioria dos estudos sobre fragilidade, possui amostra de idosos
predominantemente jovens (≤ 79 anos), se faz necessário ampliar os conhecimentos relacio-
nados à fragilidade em idosos longevos, a fim de melhorar o entendimento dos fatores predi-
tores, bem como identificar a manifestação da fragilidade nesta população. Neste contexto,
o presente estudo objetivou identificar, por meio de uma revisão sistemática da literatura, a
prevalência e os fatores associados à fragilidade em idosos longevos.
MÉTODOS
RESULTADOS
Foram examinados 1413 estudos, destes, 192 se repetiam entre as bases de dados,
sendo incluídos 1221 estudos. Após a leitura do título, foram excluídos 862 artigos, perma-
necendo para a análise, 359 estudos. Após esta etapa, foi realizada a leitura do resumo dos
artigos e 307 foram excluídos por não responderem adequadamente à pergunta PICO, e a
partir disso, foram incluídos 52 artigos para a leitura na íntegra. Ao final, foram analisados
nesta revisão sistemática, 3 artigos, que atenderam todos os critérios elegíveis para a cons-
trução do estudo (Figura 1).
Com relação ao delineamento dos estudos incluídos, dois estudos eram transversais
(Sousa et al., 2018; Herr et al., 2018) e um estudo de coorte prospectivo (Hajek et al.,
2020), que atenderam aos critérios de inclusão previamente estabelecidos. Os estudos
analisados foram publicados em três periódicos distintos. Dois estudos publicados em uma
revista avaliada pelo qualis CAPES na área de gerontologia; e um estudo em revista da
área de enfermagem.
No que se referem ao idioma dos artigos selecionados, um estava em português, e
duas publicações na língua inglesa. No tamanho das amostras, houve variação quantitativa
de 243 a 1253 idosos longevos.
Quanto aos países de origem dos estudos, Sousa et al., (2018) avaliaram idosos usuá-
rios da Atenção Básica de Saúde no Nordeste do Brasil. Herr et al., (2018) avaliaram cente-
nários da França, Suécia, Suíça e Dinamarca, enquanto Hajek et al., (2020) estimaram a pre-
valência e os fatores associados à fragilidade em idosos da Atenção Primária da Alemanha.
Em dois dos estudos (Sousa et al., 2018; Herr et al., 2018) a síndrome da fragilidade foi
identificada de acordo com os cinco critérios propostos por Fried et al., (2001), conhecidos
como fenótipos de fragilidade: 1) Perda de peso não intencional; 2) Exaustão avaliada por
autorrelato de fadiga; 3) Diminuição da força de preensão manual; 4) Baixo nível de atividade
física; e 5) Diminuição da velocidade da marcha. Os idosos foram classificados em frágil,
pré-frágil e não frágil. No estágio frágil, o idoso que apresentava três ou mais componentes do
fenótipo; no estágio pré-frágil, apresentava um ou dois componentes do fenótipo; e não-frágil
quando o idoso não apresentava nenhum dos componentes (Fried et al. 2001). Apenas o
estudo de Sousa et al. (2018) realizou a junção das categorias pré-frágil e não frágil.
No estudo de Hajek et al., (2020) a fragilidade foi avaliada através da Escala de
Fragilidade Clínica, desenvolvida por um grupo de pesquisadores canadenses sobre saú-
de e envelhecimento (Rockwood et al., 2005). A escala consiste na somatória de déficits
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observados em diferentes medidas de sinais, sintomas, incapacidade funcional, morbidades,
medidas laboratoriais (Kulminski et al., 2006; Rockwood et al., 2007).
A Escala de Fragilidade Clínica, varia de 1 (muito em forma) a 7 (severamente frágil),
sendo: (1) Muito em forma – robusto; (2) Bem – sem doença ativa; (3) Bem, com comorbi-
dade tratada; (4) Aparentemente vulneráveis – embora não francamente dependentes; (5)
Levemente frágil – com dependência limitada dos outros para Atividades de Vida Diárias
(AVDs); (6) Moderadamente frágil – é necessária ajuda com atividades instrumentais e não
instrumentais da vida diária. (7) Severamente frágil – completamente dependente de outros
para as atividades de vida diária, ou doentes terminais (Rockwood et al., 2005).
Com base na leitura dos artigos selecionados, foi possível identificar a prevalência
e os fatores significativamente associados à fragilidade em idosos longevos. O quadro 1
apresenta para cada estudo incluído na revisão, a prevalência de fragilidade e os fatores
associados a essa condição.
A prevalência de fragilidade entre os idosos longevos variou de 12,4% a 64,7%. Quanto
aos fatores associados, os estudos apresentaram associações entre a fragilidade e variáveis
sociodemográficas: sexo, aumento da idade e residir em instituição de longa permanência;
variáveis clínicas: aumento de condições crônicas, dislipidemias, doenças metabólicas,
depressão, demência e deficiência auditiva; e as condições de saúde: hospitalização nos
últimos 12 meses, incapacidade para ≥ 2 AVD e quedas.
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Desenho Amostra Tipo de análise/
Autor (Ano) Periódico Prevalência Fatores associados Desfechos
do Estudo (n) Teste estatístico
- Sexo masculino (OR =
0.85; p ≤ 0,001);
- Residência em institui-
ção de longa permanên-
cia (RP = 1.06; p ≤ 0,05); Chegar aos 100 anos
- Depressão (OR = 1.08; raramente vai sem fragi-
p ≤ 0,05); lidade – quase um terço
Análise Multiva- - Demência (OR = 0.91; p dos centenários eram
Herr et al., riada/ Regressão ≤ 0,01); mesmo “muito frágeis”.
Gerontology Transversal 1.253 64,7%
(2018) Logística - Deficiência visual (OR = Associações esperadas
1.06; p ≤ 0,05); foram encontradas com
- Deficiência auditiva (OR gênero, depressão, que-
= 1.07; p ≤ 0,01); das, incapacidade e defi-
- Incapacidade para ≥ ciências sensoriais.
2 AVD (RP = 1.27; p ≤
0,001);
- Quedas (OR = 1.13; p =
>0,01).
1º momento
Os resultados do estudo
12.4% mode-
enfatizam particularmen-
rado
- Aumento da idade (β = te a importância do en-
1º momen- 0,4% Severo
0,23; p < 0,001); velhecimento, condições
to (n = 451) Análise multiva- 2º momento
- Demência (β = 0,84; p crônicas, e demência por
Hajek et al Coorte 2º momen- riada/ Regressão 16.0% mode-
Gerontology <0,01); fragilidade. As interven-
(2020) prospectivo to (n = 462) Linear rado
- Aumento de condições ções que visam prevenir
3º momen- 0,7% Severo
crônicas (β = 0,03; p = ou adiar, por exemplo, a
to (n = 388) 3º momento
0,058). demência também pode
17.0% mode-
ajudar a retardar ou pre-
rado
venir a fragilidade.
1,8% Severo
DISCUSSÃO
228
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foi significativamente maior em mulheres do que em homens, contradizendo os achados
de Herr et al., (2018). Neste contexto, a literatura reforça que há uma maior prevalência
de fragilidade em idosos do sexo feminino, e que isso pode ser explicado pela maior perda
fisiológica de massa muscular com o envelhecimento, além de que as mulheres são mais
propensas ao desenvolvimento de sarcopenia, que é um risco intrínseco para a fragilidade
(Liberalesso et al., 2017).
A fragilidade mostrou-se mais prevalente à medida que as pessoas envelhecem, o que
já está bem consolidado na literatura, já que com o aumento da idade, ocorre um declínio
acelerado da reserva fisiológica e dos mecanismos homeostáticos. Com isso ocorre a per-
da contínua da força e da resistência aeróbica, o que causa diminuição da independência
funcional e torna o idoso frágil (Fhon et al., 2018; Feitosa et al., 2020; Wang et al., 2021).
Além disso, após os 80 anos, as pessoas acumulam déficits e tornam-se mais vulneráveis
a resultados adversos à saúde. Estudos realizados por Feitosa et al., (2020) e Wang et al.,
(2021) corroboram com os achados do presente estudo, de que com o avançar da idade,
aumenta-se também a fragilidade, visto que os resultados apontaram que idosos com faixa
etária maior apresentaram-se mais frágil, quando comparado aos mais novos. Corroborando,
uma revisão sistemática mostrou que a prevalência de fragilidade na faixa etária de 80 - 84
anos e ≥ 85 anos foi de 29,8% e 34,0%, respectivamente, o que praticamente dobrou a taxa,
quando comparado a indivíduos com faixa etária entre 70 - 74 anos (14,4%) e 75 - 79 anos
(19,2%) (Para et al., 2022).
Observou-se também que a fragilidade foi associada a idosos que residem em insti-
tuições de longa permanência (Herr et al., 2018). Idosos frágeis e pré-frágeis têm aproxi-
madamente 5 e 3 vezes mais chances de serem institucionalizados, respectivamente, em
comparação com aqueles que não são frágeis (Kojima, 2018). A prevalência de fragilidade
entre idosos da comunidade é de aproximadamente 10% (Collard et al., 2012) enquanto que
as taxas em idosos residentes em instituições de longa permanência, a fragilidade chega
a até 50% dos institucionalizados (Kojima, 2015). Essa associação pode estar relacionada
a condições clínicas dos idosos, que também foram associadas à fragilidade neste estudo.
A presença de condições crônicas, dislipidemias, doenças metabólicas, depressão, de-
mência e deficiências sensoriais foram associadas a fragilidade em idosos longevos (Sousa
et al., 2018; Herr et al., 2018; Hajek et al., 2020). Apesar da presença de doenças crônicas
não ser acompanhada de fragilidade, ela predispõe o idoso ao aumento da vulnerabilidade
clínico-funcional (Oliveira et al., 2021). Evidências mostram que idosos com perda de interes-
se em atividades antes prazerosas, e alterações de humor passam a ter estados depressivos,
uma vez que a depressão está associada à dependência e perda de autonomia (Vaughan;
Corbin; Goveas, 2015; Oliveira et al., 2021), levando o idoso à um quadro de fragilidade.
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Estudo recente realizado por Ward et al., (2022) observou que a fragilidade foi associada
a um aumento substancial no risco de demência independente do risco genético; e quase
metade da relação entre comportamentos de estilo de vida saudável e risco de demência foi
mediada pela fragilidade. Kojima (2018) corrobora com uma revisão sistemática, mostrando
que a fragilidade está associada a piores funções cognitivas e a predizer comprometimento
cognitivo leve e demência incidentes.
Quanto à associação entre a fragilidade e deficiências sensoriais (visual e auditiva)
pode ser explicado pelo aumento do risco de quedas, incapacidade, e institucionalização
entre pessoas com deficiências sensoriais (Linard et al., 2016; Campos et al., 2022). Estudos
mostram associações independentes e combinadas da deficiência visual e auditiva com a
fragilidade em idosos (Liljas et al., 2017a; Liljas et al., 2017b; Zhao et al., 2022).
No que tange as condições de saúde relacionados à fragilidade, verificou-se asso-
ciação com hospitalização nos últimos 12 meses, incapacidade para ≥ 2 AVDs e quedas.
Ficar internado em ambiente hospitalar pode expor o idoso a outras doenças, ocorrência de
eventos adversos que podem debilitar ainda mais sua saúde e estado funcional com conse-
quentes incapacidades para AVDs e quedas (Herr et al., 2018). Indicadores de fragilidade
não apenas predizem incapacidade para AVDs quando estão relacionados em um fenótipo
de fragilidade, mas também são independentes um do outro (Vermeulen et al., 2011).
A população idosa é comumente estudada em diversas áreas do conhecimento, uma
vez que essa faixa etária é propícia para o desenvolvimento de eventos relacionados à ida-
de, incluindo a fragilidade. Apesar dos achados da presente revisão trazer um panorama
importante da prevalência da fragilidade em idosos longevos, é importante destacar como
uma limitação metodológica do presente estudo a não comparação da fragilidade com os
difrentes instrumentos disponíveis para avaliar esse desfecho, e nem com a população de
idosos mais jovens, uma vez que os estudos aqui analisados tratam dessa temática ex-
clusivamente em população de idosos longevos (≥ 80 anos) – de qualquer forma, estudos
sobre fragilidade concentram-se muitas vezes em idosos mais jovens e não os longevos
(Carneiro et al., 2017; Duarte et al., 2018; Grden et al., 2019; Oliveira et al., 2022). Dessa
maneira, destaca-se a importância dos resultados aqui apresentados no panorama nacional
e internacional no que diz respeito às particularidades da fragilidade em idosos, e os deta-
lhes de avaliação na população idosa longeva, elucidando a complexidade do fenômeno e
chamando atenção para a necessidade da atenção e cuidado aos idosos longevos, afim de
melhorar a qualidade de vida desse grupo populacional.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio desta revisão foi possível observar alta prevalência de fragilidade em idosos
longevos. Evidenciou-se associação entre a fragilidade e variáveis sociodemográficas, clí-
nicas e condições de saúde.
Observou-se uma escassez de estudos nos últimos cinco anos, que avalie a fragilidade
de idosos com mais de 80 anos. Nesse sentido, recomenda-se a realização de futuros tra-
balhos na busca de resultados mais robustos que dê subsídio a intervenções para prevenir
ou reduzir a fragilidade em idosos longevos.
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16
JOGO SÉRIO ANALÓGICO NA PESSOA COM
DEMÊNCIA E RISCO DE QUEDA – FUNDAMENTOS
PARA A REABILITAÇÃO
Marlene Rosa
Instituto Politécnico de Leiria - Escola Superior de
Saúde
ciTechCare - Center for Innovative Care and Health
Technology
'10.37885/230513033
RESUMO
DESENVOLVIMENTO
237
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envelhecimento, agrega, muitas vezes, multimorbilidades, com consequente perda de qua-
lidade de vida, restrição na participação, diminuição da função cognitiva e física, diminuição
da capacidade funcional e mobilidade funcional, com perda de massa e força muscular, dimi-
nuição do equilíbrio e da capacidade de marcha que potenciam o risco de queda (CHODZKO-
ZAJKO et al., 2009; OSOBA et al., 2019; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2015).
Envelhecimento e demência
Dado que o envelhecimento é um dos fatores de risco mais importantes para a demên-
cia, o panorama demográfico mundial torna, portanto, expetável um aumento do número de
casos de demência (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2015, 2017). A demência correspon-
de à sétima causa de morte e uma das principais causas de incapacidade e dependência nos
idosos em todo o mundo. Define-se como uma síndrome, que pode ter origem em diversas
outras condições clínicas e que, se caracteriza pela destruição celular do sistema nervoso
e consequente deterioração da função cognitiva, muitas vezes associado a alterações de
controlo emocional, comportamento e motivação (WHO, 2023). A Organização Mundial de
Saúde estima que, mais de 55 milhões de pessoas sofrem de demência em todo o mundo e
que 91% de todas as demências se encontram entre os idosos e que, a demência contribui
com mais de 11,9% dos anos vividos com incapacidade nas pessoas acima dos 60 anos
(WHO, 2023; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2017). No panorama da saúde mental, as
demências têm um impacto significativo a nível físico, psicológico, social e económico, não
só para as pessoas com demência, mas para toda a sua família, cuidadores e sociedade em
geral. Em paralelo com o risco de queda, afeta de forma significativa os anos perdidos com
qualidade de vida na população acima dos 60 anos de idade. Considerando, a grandeza
das perdas pessoais, familiares, sociais e económicas envolvidas, para as quais não existe
239
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cura, é urgente minimizar o seu impacto, globalmente, aumentando o suporte ao indivíduo,
familiares e cuidadores (WHO, 2023; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2015).
A demência não corresponde a uma evolução natural integrante do processo de en-
velhecer, mas sim um declínio e diminuição da capacidade cognitiva cerebral, com prejuízo
da função mental, particularmente das funções de memória, linguagem, cognição, controlo
emocional, perceção e pensamento/raciocínio que interferem na capacidade para desem-
penhar atividades diárias (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2015, 2017). É, portanto,
uma perturbação na saúde mental. Sendo que a saúde mental é uma função intrínseca com
valor essencial para o ser humano se conectar com o mundo que o rodeia, fazer escolhas,
desenvolver-se, relacionar-se e adaptar-se (inclusive, emocionalmente), é uma área consi-
derada como um direito humano fundamental. De facto, a demência é uma perturbação que
condiciona essa integridade (WHO, 2022).
Apesar de não ser exclusiva nas pessoas idosas, a demência é uma das principais
causas de dependência nessa população. Os seus fatores causais não se conhecem na
totalidade. No entanto, conhecem-se alguns fatores que aumentam o risco de alguns tipos
de demência. São exemplo disso: os fatores de risco cardiovascular, inatividade física,
obesidade, dietas desequilibradas, uso de tabaco ou álcool, diabetes, baixa escolaridade,
depressão, inatividade cognitiva e isolamento (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2017).
A Organização Mundial de Saúde recomenda o desenvolvimento de ações globais
políticas e estratégicas para a demência que incluam: considerar a demência como um
problema major de saúde pública; aumentar o conhecimento, entendimento, investigação e
inovação acerca da demência; reduzir o risco de demência; aumentar o suporte e cuidado no
diagnóstico e tratamento e aos cuidados de pessoas com demência; desenvolver sistemas
de informação para a demência. Defende ainda o estabelecimento de programas e políticas
de ação conjuntas, direcionados à redução do risco de doenças crónicas relacionadas e
seus fatores de risco, através essencialmente da promoção da atividade física e de uma
dieta equilibrada (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2017).
Sabe-se que a atividade física pode contribuir para melhorar a função cognitiva e reduzir
a deterioração cognitiva de alguns tipos de demência (WORLD HEALTH ORGANIZATION,
2017). A atividade física moderada é apontada como estratégia para manter equilíbrio fun-
cional, autonomia e contatos sociais, fundamentais para um envelhecimento ativo e sau-
dável (DGS, 2006, 2017; RUDNICKA et al., 2020). Existem, no entanto, algumas barreiras
e condicionantes à manutenção do nível de atividade física recomendado para este grupo
populacional, relacionadas com a capacidade cognitiva, déficit de atenção, memória, controlo
emocional e motivacional, que devem ser alvo de intervenção especifica (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2017). A utilização do jogo com propósito sério surge como uma estratégia
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forte para ultrapassar algumas das barreiras ao incremento da atividade física, entre os
idosos, para além do seu efeito positivo a longo prazo, na prevenção, avaliação e tratamen-
to de alterações à função cognitiva e mental, onde se inclui a demência (FITZGERALD;
RATCLIFFE, 2020; NING et al., 2020).
Até à data, existem poucos jogos sérios específicos para terapia, testados e descritos
na literatura científica. Muitos dos que existem referem-se a utilizações digitais. Contudo, e
porque os jogos analógicos não necessitam da interface internet e promovem a interação
social, têm ganho visibilidade como estratégia motivacional de aprendizagem. Na verdade,
a evidência atual tem demonstrado o domínio dos jogos analógicos desenhados com o
propósito específico do ensino e aprendizagem, ou seja, tem demonstrado a sua adequa-
ção como ambiente formal e informal de aprendizagem e daí a sua denominação de “jogo
sério” (BAYECK, 2020).
A estrutura de um jogo sério, inclui uma componente motivacional forte, relacionada
com interação, envolvimento e feedback constantes (auditivo, visual, táctil ou proprioceptivo,
dependendo do jogo utilizado), assim como processos de resolução de problemas e atenção
constantes, contribuindo para facilitar a transposição das competências adquiridas e/ou trei-
nadas no jogo para a realidade, com elevada aceitação (FITZGERALD; RATCLIFFE, 2020).
O conceito de gamificação e de jogo com intuito sério, são muitas vezes descritos de
forma comum (WHITE; MARTIN; WHITE, 2022). Contudo, a terminologia “jogo sério” refe-
re-se a um jogo concebido para a aprendizagem e ensino, e cujo objetivo vai para além do
entretenimento. Especificamente no campo dos cuidados de saúde, o jogo sério é muitas
vezes utilizado em contextos de terapia/tratamento, recuperação e reabilitação (AMENGUAL
ALCOVER; JAUME-I-CAPÓ; MOYÀ-ALCOVER, 2018; BAYECK, 2020); e, o conceito de
“gamificação” refere-se à utilização de componentes, elementos ou estrutura de jogo, num
contexto de não jogo, de forma a estimular-se determinados comportamentos, relaciona-
dos com adesão, motivação e participação, por exemplo, em contextos de terapia (WOOD;
REINERS, 2014).
Apesar de muitos estudos se focarem em utilizações gamificadas digitais, o formato ou
estrutura do jogo pode assumir diferentes configurações e utilizar diferentes dispositivos. Por
exemplo, o termo “jogo analógico” engloba todos os jogos não digitais, tais como os jogos
de mesa, incluindo os jogos de tabuleiro (BAYECK, 2020). Os jogos de tabuleiro são um dos
exemplos de jogo analógico utilizado com propósito sério e são definidos, genericamente,
como um jogo que utiliza um tabuleiro, marcado de modo particular, onde se coloca, move
ou remove peças, de formas especificas (NODA; SHIROTSUKI; NAKAO, 2019; SOUSA;
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BERNARDO, 2019). Os jogos sérios analógicos, do tipo jogo de tabuleiro e jogo de mesa,
são jogos fortemente relacionados com a cultura de jogo tradicional, comuns entre os ido-
sos (WIEMEYER; KLIEM, 2012). Existem diferentes tipos de jogos analógicos de tabuleiro,
usualmente utilizados tanto em contexto de terapia como lúdico, incluindo dinâmicas de ro-
le-playing, jogos de cartas, jogos de guerra/batalha e “eurogames”. São exemplos de jogos
de tabuleiro comuns o xadrez, Monopoly, Go, Dandgens & Dragons, Magic Maze e Shogi,
que podem ou não ser utilizados em terapia ou como entretenimento (NODA; SHIROTSUKI;
NAKAO, 2019; SOUSA; BERNARDO, 2019).
Existe, no entanto, uma nova geração de jogo – o jogo sério digital -, que inclui dife-
rentes interfaces, que permitem incorporar todo o corpo no movimento e controlo do jogo.
São exemplos disso, os “jogos externos” (exergames). Contudo, o jogo digital poderá não
ser de fácil utilização e adaptação às características individuais, experiências e condições
físicas, entre a população idosa, quer pelas interfaces de utilização, quer pelas dificuldades
no acesso à tecnologia. A sua utilização envolve ainda recursos com maior investimento
económico e manutenção técnica, o que poderá condicionar a sua utilização em terapia e
reabilitação (WIEMEYER; KLIEM, 2012). As recomendações de desenvolvimento de soluções
digitais adaptadas à população idosa, referem-se à necessidade de se criarem instrumentos
de jogo que contribuam para a redução das dificuldades e incapacidades, que sejam de fácil
utilização e potenciem a adesão à terapia (WHITE; MARTIN; WHITE, 2022).
Devido à saturação na utilização das interfaces digitais e à necessidade de recurso à
internet, os jogos de tabuleiro começam a insurgir-se, perante os digitais, por não necessita-
rem dessas interfaces (BAYECK, 2020). O que parece mediar o sucesso da utilização de um
jogo é a sua estrutura, conteúdo e o design adequado ao objetivo e ao formato e adequação
ao utilizador a que se propõe (FITZGERALD; RATCLIFFE, 2020).
Independentemente do formato utilizado, o recurso ao jogo como estratégia terapêu-
tica, demonstra resultados positivos em diferentes domínios da saúde, por colocar o utili-
zador em situações de desafio e procura de soluções que desenvolvem competências de
resolução de problemas da vida diária (FITZGERALD; RATCLIFFE, 2020). Por exemplo,
comparado com a terapia convencional, a realização de exercício através do jogo permite
treinar tarefas especificas em diferentes graus de dificuldade, ajustados à condição física
e conforto do paciente com feedback em tempo real aumentando também a aceitação da
terapia (LING et al., 2017).
Do ponto de vista do formato de utilização, os jogos de tabuleiro podem ser utilizados
sem a necessidade de linguagem, o que será uma vantagem para populações idosas com
demência, que perdem muitas vezes a sua capacidade de se expressar verbal e linguistica-
mente, mas que mantem a sua capacidade de comunicar pelas emoções e comportamentos
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(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2015). A utilização do jogo permite a interação e de-
senvolvimento de componentes de performance física (força muscular, equilíbrio, interação)
e cognitiva (atenção, concentração, memória) associadas a feedback constante, o que lhes
confere um cariz terapêutico forte e recomendado como sistemas de suporte à aprendizagem,
fundamental nos processos de terapia e reabilitação com pessoas idosas e com demência
(NAKAO, 2019; NODA; SHIROTSUKI; NAKAO, 2019).
Muitas vezes, os jogos utilizados em contexto de terapia são jogos comerciais, disponí-
veis no mercado e que não foram desenvolvidos e adaptados com o intuito de ser utilizados
como recurso terapêutico. Estes jogos podem não reunir critérios e características especificas
e necessárias para o processo terapêutico. Por este motivo, a escolha do jogo a utilizar em
contexto de reabilitação requer uma atenção cuidada (SOARES et al., 2016). Por outro lado,
os jogos com intuito sério devem ser concebidos com esse propósito e considerar não só os
objetivos terapêuticos como também a interatividade, repetição, formulação de estratégias
motoras orientadas para um objetivo e sentido estimulante, sem perdas no seu caráter lúdi-
co(SOARES et al., 2016). O design, construção e validação de um jogo sério deve, portanto,
incorporar as recomendações dos profissionais envolvidos no processo terapêutico, como é
o caso do fisioterapeuta, e incluir as caraterísticas necessárias e desejadas para cumprir o
objetivo a que se propõe (AMENGUAL ALCOVER; JAUME-I-CAPÓ; MOYÀ-ALCOVER, 2018).
Verifica-se, portanto, que o desenvolvimento de um jogo com propósito sério é com-
plexo e implica o cumprimento de pelo menos dois pressupostos base: o motivacional e o
educacional. É fundamental conjugar a convergência motivacional intrínseca (o indivíduo
deve estar motivado para jogar) e extrínseca (motivação para atingir determinado objeti-
vo). Do ponto de vista do sistema do jogo, este deve permitir o processo de aprendizagem
e treinar as competências a que se propõe, quer ao nível da resolução de problemas, inte-
gração de informação visual, verbal e auditiva, quer fornecendo feedback contínuo; desta
forma, facilitando a consolidação da aprendizagem com a memorização a longo prazo. Estas
componentes devem ser possíveis de integrar e transpor para alcançar o objetivo do jogo e
permitir o desenvolvimento de competências ao nível das diferentes componentes educativas,
incluindo as funções executivas, da atenção, foco e concentração, mediante o fornecimento
das respetivas instruções e orientações(DRUMMOND; HADCHOUEL; TESNIÈRE, 2017).
O desenvolvimento de um jogo sério deve ter o seu utilizador como foco do design
e considerar diferentes níveis de dificuldade, complexidade e estímulo, assim como de
feedback. Por exemplo, a complexidade pode progredir no grau de dificuldade física (velo-
cidade do movimento, distância, duração, base de suporte) ou exigência cognitiva (número
e tipo de estímulo, complexidade das regras do jogo, níveis de dificuldade cognitiva). A in-
terface do jogo deve também ser desenvolvida a pensar no seu propósito e população a
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que se destina, que deve reconhecer no jogo um instrumento benéfico e importante para si
(KAMNARDSIRI et al., 2021).
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A utilização do jogo de tabuleiro tem ainda demonstrado efeitos positivos e modificações
clinicamente importantes, passiveis de se transpor para o desempenho na vida real como
por exemplo ao nível do desempenho em funções executivas (d = 0.88, 95% CI [-0.19 to
1.95], Z = 1.82, P = 0.068) e ao nível comportamental (alimentar) (d* = 0.28, 95% CI [0.06–
0.50] ) (GAUTHIER et al., 2019) - aspetos fundamentais na população idosa e fortemente
relacionadas com os domínios da cognição, ou seja, fundamentais para indivíduos com
declínio cognitivo ou demência. A intervenção com jogo parece, também, ser um excelente
aliado nos programas de educação para a saúde e nas componentes da função cognitivo
comportamental, em situação de demência (NAKAO, 2019). Sabe-se ainda que a utilização
do jogo com intuito sério, na reabilitação após acidente vascular cerebral (comparado com
terapia convencional) permite melhoria significativas na função motora e atividade e partici-
pação do membro superior (SMD=0.47; 95% CI=0.24 para 0.70; P<0.0001; SMD=0.25; 95%
CI=0.05 para 0.46; P=0.02 e SMD = 0.66; 95% CI=0.29 para 1.03; P=0.0005, respetivamen-
te) aspetos essenciais e preditores de melhor capacidade funcional, mobilidade funcional e
independência no idoso e relacionadas com menor risco de queda (DOUMAS et al., 2021;
DUNSKY; AYALON; NETZ, 2011; LEONG et al., 2015; SAYER; KIRKWOOD, 2015).
O jogo permite, ainda, treinar componentes complexas ao nível da função do membro
superior (como a pratica de tarefa-especifica, essencial para a realização de tarefas domés-
ticas e indicador de independência funcional), fundamentais para a realização das tarefas
envolvendo força de todo o tronco e membro superior e nível de capacidade funcional do
idoso, essenciais e relacionados com o risco de queda, pois indivíduos com maior capaci-
dade funcional apresentam menor risco de queda (DOUMAS et al., 2021; MOORHOUSE;
ROCKWOOD, 2012; RIJK et al., 2016; VERGARA et al., 2019). Um outro estudo, realizado
com um jogo de tabuleiro, desenhado especificamente para a população idosa, demonstra
ainda que, o jogo de tabuleiro tem um papel importante e complementar na na reabilita-
ção funcional do membro superior de idosos, com ganhos estatisticamente significativos
(p<0,01), comparativamente com terapia convencional, ao nível da coordenação e força de
preensão (NEVES ROSA et al., 2021), construto essencial na manutenção da capacidade
funcional e independência para as atividades diárias, protetora do risco de queda e asso-
ciada a menor progressão de declínio cognitivo (demência) (SAYER; KIRKWOOD, 2015;
SYDDALL et al., 2017).
A evidência atual sugere, ainda, que intervenções gamificadas e baseadas no jogo,
são benéficas para a população idosa em diferentes domínios - exercício e atividade física,
função cognitiva, saúde mental (depressão, motivação, adesão à terapia, memória, auto-e-
ficácia da reabilitação e competência percebida) (KOIVISTO; MALIK, 2021). Por exemplo,
a utilização do jogo de tabuleiro apresenta bons resultados, no treino de funções cognitivas,
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(Cohens’s (d) antes e após a intervenção (0.04 - 2.60 e 1.14 − 0.02 respetivamente) e na
atividade física ((d) 0.06 - 0.65) (Noda et al., 2019). Outro exemplo onde a utilização do jogo
ou componente gamificada revela efeitos positivos é na motivação para aderir à terapia fí-
sica e cognitiva (fundamentais para independência funcional (KAMNARDSIRI et al., 2021).
Também ao nível da saúde mental, o jogo permite ganhos importantes, por exemplo
por permitirem a criação de novos modelos de intervenção, mais apelativos, acessíveis, in-
terativos e menos estigmatizante, com efeitos a longo prazo, o que potencia a sua utilização
(BAGHAEI et al., 2022).
A discussão encetada com esta revisão narrativa, expõe e remete para uma refle-
xão forte sobre temas emergentes de estudo em futuras investigações. Algumas ques-
tões de investigação despertadas com esta discussão parecem-nos prementes no contexto
do envelhecimento e da pessoa idosa com risco de queda e declínio cognitivo/demência.
Referimo-nos a questões como: que estratégias existem e podem ser utilizados para treinar
capacidades físicas, capacidade funcional e saúde mental? Pode o jogo ser uma dessas
estratégias? O que se sabe sobre a validade e efetividade desses jogos? Que fatores in-
fluenciam a performance nesses jogos?
De facto, no que se refere aos jogos analógicos de tabuleiro, são necessários mais estu-
dos que nos permitam conhecer melhor o potencial de aprendizagem através do ambiente de
aprendizagem/ensino através do jogo, em áreas especificas como a motivação, pensamento
critico e adesão à aprendizagem (BAYECK, 2020). Para além disso, especialmente para
populações com declínio da função cognitiva, são necessários mais estudos que permitam
perceber de que forma se pode um jogo adaptar a populações com diferentes característi-
cas e de que forma a capacidade que uma pessoa tem para entender o próprio jogo poderá
influenciar no seu potencial e resultados de intervenção (VITA-BARRULL et al., 2022).
Apesar de a evidência, até agora, ser encorajadora no que se refere à utilização de
componentes de jogo, em diferentes “outcomes” na população idosa, persiste a necessidade
de mais estudos, com medidas mais estruturadas, que demonstrem e ajudem a perceber
quais os mecanismos que potenciam esses benefícios (WHITE; MARTIN; WHITE, 2022).
Não obstante a evidência de que o jogo deve ser utilizado como terapia, deverão ser alvo
de futuras investigação, as especificações e características do jogo em função da pessoa,
dose, duração e seleção dos pacientes, que podem beneficiar com cada jogo ou aspetos
do jogo. Adicionalmente, deve ser profundamente estudada e clarificada a relação entre
a atividade física e função/capacidade física e cognitiva (KURITA; DOI; SHIMADA, 2020).
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Em estudos futuros será importante avaliar a importância de se padronizar os jogos
sérios como estratégia terapêutica, de forma a que o jogo possa ser considerado uma fer-
ramenta válida na implementação de diferentes programas de promoção da saúde da pes-
soa idosa, contribuindo para: avaliação e rastreio de capacidade funcional, risco de queda
e capacidade cognitiva/demência da pessoa idosa, treino das competências relacionadas
com a marcha (fundamentais para a prevenção de quedas),incluindo componentes visuais
e as perturbações cognitivas, assim como contribuir para a educação, formação e apoio dos
seus cuidadores formais e informais (OSOBA et al., 2019).
A intervenção no domicílio e comunidade e não apenas em ambiente institucional, é
ainda fundamental ser explorada, no sentido de perceber de que forma se pode influenciar
nos diferentes fatores de risco internos e externos, a que cada o individuo está exposto
(BUSTAMANTE-TRONCOSO et al., 2020) e que condicionam a função física e cogniti-
va do indivíduo.
Perceber a diferença entre a terapia com jogo, individualmente ou em grupo
(para promoção da interação social), deve tambémser considerada em estudos futuros
(KAMNARDSIRI et al., 2021).
Apesar de haver alguns estudos utilizando jogos sérios, muitos referem-se a jogos
digitais ou realidade virtual. Persiste, contudo, a necessidade de se entender quais as es-
tratégias de desenvolvimento e conceptualização de um jogo com o propósito terapêutico e
a sua relação com resultados clínicos.
O desenvolvimento de evidência cientifica baseada em estudos fortes é essencial. É ne-
cessária a demonstração cientifica e a criação de evidência forte, com estudos longitudinais
robustos, com instrumentos válidos e fiáveis que demonstrem o papel de estratégias de
intervenção utilizando o jogo e componentes de jogo, de forma personalizada e adequa-
da às especificidades da população idosa, onde, particularmente o risco de queda e o
declínio cognitivo (associado a demência) são muito importantes (CORDES et al., 2019;
KOIVISTO; MALIK, 2021).
A demonstração da eficácia geral dos jogos de tabuleiro com propósito sério, deve, de
facto ser bem estabelecida, para que os diferentes protagonistas (profissionais de saúde,
pacientes, estudantes e membros da comunidade) possam beneficiar dessa utilização de
forma concreta e objetiva (GAUTHIER et al., 2019). Por outro lado, diferenciar diferentes
possibilidades de utilização de estratégias de jogo e de diferentes tecnologias e formatos
e a forma como cada um consegue influenciar o bem-estar social, suporte aos idosos e
aos familiares e cuidadores, é essencial para se poderem criar recomendações e modelos
orientadores de intervenção (KOIVISTO; MALIK, 2021).
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CONCLUSÃO
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MEDICAMENTOS INAPROPRIADOS PARA IDOSOS:
UMA REVISÃO DA LITERATURA
'10.37885/230513160
RESUMO
Medicamentos potencialmente inapropriados (MPI) são aqueles que oferecem um risco maior
de efeitos adversos superior aos benefícios que podem oferecer ao idoso. Estes medica-
mentos ainda apresentam uma alta taxa de prescrição mesmo havendo muitas evidências
dos resultados negativos que podem oferecer. Perante a necessidade de se reestruturar o
sistema de saúde, para atender à crescente população de idosos, e diante do impacto que
os medicamentos potencialmente inapropriados podem causar, estudos envolvendo o uso
desses medicamentos por essa população são de grande relevância para a sociedade civil e
científica. O conhecimento sobre o assunto pode contribuir para o desenvolvimento de novos
protocolos de atendimento e segurança do paciente idoso. Destaca-se que esta temática é
de extrema relevância para o setor de saúde pública, para a melhoria da qualidade de vida e
segurança dos idosos. Assim, monitorar o uso de MPI para idosos é uma importante estraté-
gia, pois a prescrição apropriada constitui-se em um dos fatores mais relevantes para o uso
racional dos medicamentos, fazendo-se necessário, aos profissionais de saúde, conhecer e
analisar o perfil farmacoterapêutico dos idosos quanto ao uso desses medicamentos.Cuida
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de 2014, constatou que no Brasil 93% dos idosos fazem o uso crônico de pelo menos um
medicamento e 18% utilizam cinco ou mais. Segundo essa pesquisa, os idosos que possuem
mais doenças crônicas são os que mais utilizam medicamentos (RAMOS et al., 2016).
As condições crônicas se constituem em um importante fator de risco a saúde do
paciente geriátrico. Tanto pela gravidade, mas também pelo aumento da ocorrência dos
tratamentos farmacológicos múltiplos e as reações adversas. Além disso, muitos idosos
chegam a consumir mais que sete medicamentos simultaneamente. (GOULART, 2011;
CICOLINI et al., 2016)
O uso concomitante de cinco ou mais medicamentos é denominado como polifarmácia
(HOVSTADIUS e PETERSSON, 2012). Há uma correlação entre o número de fármacos
administrados e o risco aumentado de reações adversas. Quando se toma apenas dois me-
dicamentos, o risco pode ser de apenas 2%, Porém quando se utiliza cinco ou mais, esse
risco aumenta em 50% (CONSTANTINO e FIGUEIREDO, 2015). Essas reações podem
se manifestar como: confusão mental, quedas e declínio funcional (HAO, OMAR e TOHIT,
2018). Desta forma, o uso de vários medicamentos precisa ser bem monitorado, pois contribui
para uma maior exposição do idoso aos medicamentos potencialmente inapropriados (MPI),
ao surgimento das potenciais interações medicamentosas (PIM) e à ocorrência de reações
adversas, o que pode ainda contribuir com a não adesão ao tratamento (HOVSTADIUS e
PETERSSON, 2012; KIRCHMAYER et al., 2016).
Quando se decide por um regime terapêutico espera-se que a cura, melhora dos sin-
tomas ou retardo da doença sejam os resultados obtidos. Porém, isso é complexo de se
conseguir em pacientes idosos pela presença das multimorbidades e da polifarmácia. Nos
casos de polifarmácia pode ocorrer a duplicação de classes terapêuticas, o que eleva os
custos do tratamento com medicamentos desnecessários e as chances de se ter uma reação
adversa e PIM (KIRCHMAYER et al., 2016; 26 CASTEL-BRANCO et al., 2013).
Devido ao fato da polifarmácia estar relacionada ao surgimento de reações adversas,
surge um risco aumentado de ocorrer as chamadas prescrições cascatas ou iatrogênicas.
Essas prescrições ocorrem quando um efeito adverso surge e um novo medicamento é
prescrito para tratar o surgimento dessa nova situação clínica, principalmente quando o
paciente é assistido por médicos diferentes e não ocorre a conciliação terapêutica. Nos
casos de polifarmácia a equipe multidisciplinar, principalmente o farmacêutico, no momento
da dispensação do medicamento, deve orientar o paciente, pois esse contato direto com o
paciente é relevante para garantir a sua segurança e racionalizar o uso do medicamento,
evitando maiores complicações médicas, hospitalizações e até mesmo o óbito do paciente
(SARMENTO, LEAL e MONTEIRO, 2017).
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O paciente polimedicado deve ser bem assistido, pois em muitos casos a polimedicação
é de extrema importância para que todos os seus problemas de saúde sejam tratados de
forma eficiente. Em virtude do seu alto potencial de causar reações ao paciente, ela foi eleita
como uma das categorias prioritárias do Terceiro Desafio Global de Segurança do Paciente
(uma estratégia profissional conjunta que objetiva prevenir erros de prescrição relacionados
à polifarmácia) (WHO, 2017).
Racionalizar o uso de MPI é uma estratégia eficaz para reduzir muitos dos problemas
relacionados aos medicamentos em idosos. Existem métodos explícitos que são utilizados
para identificar estes medicamentos de alto risco: são listas de medicamentos classificados
como potencialmente inapropriados que foram elaboradas por painéis de especialistas e
baseados em estudos de evidência (AGS, 2012).
A farmacoterapia do idoso pode ter sua adequabilidade verificada por meio de instru-
mentos baseados em critérios implícitos ou explícitos. Os critérios implícitos consideram o
estado geral do paciente para avaliar a qualidade da farmacoterapia. Também considera a
escolha e as necessidade do paciente. Os instrumentos são apresentados na forma de per-
guntas abertas sobre os medicamentos em uso (FORGERINI e SCHIAVO, 2023). O método
implícito mais conhecido é o Medication Appropriateness Index (MAI), que consiste em 10
perguntas que possibilitam a classificação do medicamento em três categorias, sendo elas:
A(apropriado), B(marginalmente apropriado) e C(inapropriado) (KAUFMANN et al., 2014).
Os métodos explícitos são listas de medicamentos classificados como potencialmente
inapropriados que se baseiam em critérios determinados de maneira mais rígida, desenvolvi-
dos por meio das técnicas de consenso, revisões e evidências feitas por experts, tornando-se
instrumentos eficientes para avaliar as prescrições geriátricas (ISMP, 2018). Neste caso, os
instrumentos são apresentados na forma de uma lista direta de MPI, pois tem objetivo de
identificar o MPI de forma rápida, sem considerar o estado geral do paciente (FORGERINI
e SCHIAVO, 2023). Assim, a aplicação dos critérios explícitos é importante para avaliar a
prescrição de medicamentos, principalmente quando não se tem acesso a todas as informa-
ções a respeito do estado clínico do paciente. Portanto, há grande relevância nos estudos
farmacoepidemiológicos e servem também como ferramenta de educação aos profissionais
(CASSONI et al., 2014).
Uma revisão sistemática, elaborada com o objetivo de identificar instrumentos disponí-
veis para avaliar a segurança das prescrições à população idosa, encontrou quinze instru-
mentos, a saber: Critérios de Beers, de 1991, e suas versões atualizadas de 1997, 2003; o
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Medication Appropriateness Index (MAI) desenvolvido por Hanlon et al., em 1992; o Lipton
(Lipton et al., 1993); os McLeod criteria (McLeod et al., 1997); HEDIS method (Pugh et al.,
2006), Norwegian quality indicators for prescribing (Brekke et al., 2008), Swedish quality
indicators of prescription (Johnell, Fastbom, 2008), o Improving Prescribing in the Elderly
Tool (IPET) (Naugler et al.,2000), o French list of inappropriate drugs (Laroche et al., 2007),
o Norwegian list of inappropriate drugs (Straand, Rokstad, 1999), o Screening Tool to Alert
doctors to the Right Treatment (START) (Barry et al.,2007), o Zhan criteria (Zhan et al.,
2001), e o Screening Tool of Older Persons’ Potentially Inappropriate Prescriptions (STOPP)
(Gallagher, O’Mahony, 2008). De acordo com essa revisão nenhum estudo ainda determinou
qual o padrão-ouro entre os instrumentos (VARALLO, DE OLIVEIRA e MASTROIANNI, 2014).
As listas mais conhecidas e utilizadas mundialmente para avaliar as prescrições de
idosos são os Critérios de Beers e STOPP. O primeiro, tem aplicabilidade bem documentada
e conta com atualizações de grande relevância pela American Geriatrics Society (AGS), feita
com base em importantes evidências sobre segurança de medicamentos para pacientes
geriátricos, oferecendo um elevado nível de confiabilidade (LAVAN et al. 2017). A última
atualização foi publicada em 2023 (AGS, 2023). Já o segundo instrumento exige mais deta-
lhes clínicos sobre o paciente, para que possa ser realizada a verificação dos medicamentos
prescritos, possuindo assim boa aplicação em revisões mais abrangentes da prescrição ao
idoso (LAVAN et al. 2017). Com base nestes dois importantes instrumentos de rastreio, em
2016 foi publicado o Consenso Brasileiro de Medicamentos Potencialmente Inapropriado
para Idosos elaborado por Oliveira et al (OLIVEIRAb et al., 2016).
Evitar o uso de MPI por idosos é uma relevante ação de saúde pública. Porém, vale
ressaltar que o fato de um medicamento ser caracterizado como inapropriado não implica na
proibição absoluta do seu uso. Deve-se levar em consideração o risco-benefício da prescri-
ção, a disponibilidade e o acesso às alternativas terapêuticas, pois estas prescrições exigem
monitoramento dos efeitos ao paciente (OLIVEIRAb et al., 2016). Resultados de uma revisão
sistemática demonstram ainda que, no Brasil, o fato de a maioria dos idosos serem assisti-
dos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), exige que as listas de medicamentos essenciais
devem ser atualizadas. De acordo com o estudo realizado, essas listas compreendem MPI
e não possuem equivalentes terapêuticos mais seguros para os mesmos, o que confirma a
necessidade de monitorar o uso destes medicamentos pois nem sempre é possível evitá-los
(VARALLO, DE OLIVEIRA, MASTROIANNI, 2014).
Em 1991, Mark Beers, geriatra americano, e colaboradores, apresentaram preocupação
com a qualidade da prescrição, segurança do paciente idoso institucionalizado, inexistência
de critérios adequados de análise e adequação da terapia. Então, este grupo formulou e
validou uma lista com 19 MPI e 11 medicamentos com dosagem, frequência de uso e tempo
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de tratamento inapropriado. Surgiu assim, pela primeira vez, o conceito de MPI caracteriza-
do pelo fato que alguns medicamentos causavam mais riscos que benefícios aos idosos e
raramente a prescrição destes seria apropriada. Se um medicamento for usado em doses
excessivamente grandes ou por longa duração, seu uso também pode se tornar inapropriado
(BEERS et al., 1991).
Essa versão de Beers 1991 estabelecia duas categorias de classificação: 1)
Medicamentos ou classe de medicamentos que deveriam ser evitados e usados somente
em situações raras; 2) Medicamentos que a dose, frequência de uso e tempo de tratamento
não deveriam ser excedidos (BEERS, 1997).
Em 1997 Beers atualizou e expandiu os critérios explícitos criados em 1991, bem como
o conceito de uso de MPI para idosos. A lista passou a abordar medicamentos que não
possuíam evidências quanto a sua eficácia, interação medicamentosa e interação medica-
mento-doença. Nesta versão os medicamentos foram enquadrados em três categorias: 1)
Medicamentos que devem ser evitados em idosos; 2) Medicamentos que excedem o limite
máximo de dose diária; 3) Medicamentos que devem ser evitados em idosos com determi-
nadas doenças crônicas. Esta lista era composta por 28 MPI e 35 outros que podem causar
interação medicamento-doença (BEERS, 1997).
Os Critérios de Beers foram atualizados em 2003 com a retirada dos medicamentos
que não eram mais comercializados nos Estados Unidos. A versão de 2003 possuía 48 me-
dicamentos ou classes que o uso deveria ser evitado e acrescentou cinco novas situações
clínicas que os medicamentos deveriam ser especificamente evitados (FICK et al., 2003).
Em 2012 uma nova atualização foi publicada pela AGS que assumiu o compromisso de
atualizar estes critérios. Nesta versão, constavam 53 medicamentos divididos em três cate-
gorias: 1) Medicamentos potencialmente inapropriados e classes para evitar em idosos; 2)
Medicamentos potencialmente inapropriados que devem ser evitados em idosos com certas
doenças e síndromes que os medicamentos listados podem exacerbar; 3) Medicamentos
para serem usados com cautela (AGS, 2012).
A versão do Critério de Beers, publicada em outubro de 2015, contêm a atualização das
listas publicadas em 2012 e mais três listas adicionais: Lista de interações medicamentosas
que devem ser evitadas em idosos; Medicamentos que devem ser evitados ou ter sua dose
reduzida em idosos com disfunção renal; e Interações Medicamentosas. Ainda, apresentou
uma lista com medicamentos com forte propriedade anticolinérgica (AGS, 2015).
Em relação às listas, a versão publicada em 2019 não sofreu alterações quando com-
parada a de 2015 (AGS, 2019). A última atualização foi publicada pela AGS em 2023.
Assim como todas as demais atualizações, foi realizada a atualização por painelistas. Esta
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atualização manteve as listas já existentes e inseriu uma síntese de recomendações rela-
cionada ao uso de anticoagulantes (AGS, 2023).
Estudos realizados em diversas regiões no Brasil utilizando os Critérios de Beers,
demonstram que o índice de utilização de medicamentos potencialmente inapropriados
para idosos ainda é alto, variando de 26,20% (em São Paulo) a 44,70% (em Minas Gerais)
(CASSONI et al., 2014). Um estudo de Aires e colaboradores, realizado no Centro Oeste,
publicado em 2020, identificou uso de MPI em 56,90% dos casos de idosos, quando anali-
sados pelo Critério de Beers (AIRES et al., 2020).
Gallagher et al. (2008), publicaram na Irlanda a primeira versão do dos Critérios STOPP,
com a finalidade de sanar as limitações apresentadas pelos critérios de Beers, tais como:
incluir medicamentos que possuíam evidência de riscos em certas condições e adequar a
lista aos medicamentos disponíveis no seu país. Estes critérios formulados são listas de
medicamentos categorizados de acordo com os sistemas fisiológicos, sendo o STOPP com-
posto por 65 MPI (GALLANGHER et al., 2008).
Em 2015 foi publicada a versão 2 dos Critérios STOPP com a finalidade de adicionar
novos critérios, excluindo os obsoletos e sem evidências, e, com essa atualização, a segunda
versão ficou composta por 80 critérios (O’MAHONY et al., 2015).
Os Critérios de Beers e STOPP possuem algumas semelhanças e algumas indicações
em comum, porém é importante que sejam utilizados de forma complementar e combinada
no processo de escolha da prescrição medicamentosa. Como exemplo, é possível apresen-
tar: os critérios de STOPP alertam sobre o uso dos bisfosfonatos orais devido as disfunções
pépticas que podem causar/agravar; alertam, também, sobre a metformina devido ao risco
de ocasionar a acidose lática. Ambos medicamentos não estão inclusos nos Critérios de
Beers (GALVÃO et al, 2015).
Diante da inexistência de instrumentos nacionais ou adaptados para avaliar a adequa-
ção das prescrições de pacientes idosos, em 2016, Oliveira e colaboradores validaram os
Critérios de Beers 2012 e STOPP 2008 com a finalidade de obter critérios nacionais para
rastrear medicamentos inapropriados para idosos. Desenvolveram, assim, o Consenso
Brasileiro de Medicamentos Potencialmente Inapropriados para Idosos, composto por um
total de 118 critérios, dos quais: 43 critérios de medicamentos que devem ser evitados in-
dependente da condição clínica e 75 que devem ser evitados em determinadas condições
clínicas/doenças (OLIVEIRAb et al, 2016).
É de importante relevância ter instrumentos de avaliação adaptados para o cenário
brasileiro para que os medicamentos estejam de acordo com os comercializados no país.
Outro fator que justifica ter listas adequadas refere-se à distinção de disponibilidade dos me-
dicamentos, nível socioeconômico e regulamentações de cada local (OLIVEIRAb et al, 2016).
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Estudos realizados que utilizaram os Critérios de Beers e STOPP apontaram diferenças
entre os dois na identificação dos MPI, o que motiva o seu uso combinado (OLIVEIRAb et al,
2016). Nos Critérios STOPP e do Consenso Brasileiro de MPI, por exemplo, os inibidores
da bomba de prótons (IBP) devem ser evitados por mais de 8 semanas independente de
qualquer condição. Já os Critérios de Beers definem o uso dos IBP por mais de 8 semanas
como apropriado somente para tratar casos de esofagite erosiva, esofagite de Barrett, con-
dições hipersecretórias patológicas, tratamento de manutenção ou em casos de uso crônico
de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e/ou corticosteroides (AGS, 2023, OLIVEIRAb
et al, 2016,39 O’MAHONNY et al, 2015).
Estas listas de MPI representam mais que meras listas de conferência. Elas objetivam
proporcionar uma melhora na qualidade e segurança das prescrições, ajudando a prevenir
reações adversas e desfechos indesejáveis. Estudos realizados demonstram a redução
dos casos de delírio e quedas quando a utilização destas ferramentas foram implantadas
na rotina clínica (BRUNETTI et al, 2019).
Os Critérios de Beers são efetivos não somente por identificar os MPI, mas, principal-
mente, quando direcionam os profissionais e os pacientes sobre as razões pelas quais estes
medicamentos recebem essa classificação e as situações em que seu uso pode ser mais
crítico ou não. Os critérios explícitos devem ser utilizados de forma a se complementarem
e são pontos de partida para os prescritores e farmacêuticos na avaliação abrangente para
definir qual farmacoterapia é a mais benéfica (STEINMAN et al, 2015).
COMPLEXIDADE DA FARMACOTERAPIA
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do esquema terapêutico melhora a adesão, trazendo benefícios clínicos e melhoria da qua-
lidade de vida dos idosos (RIGONI et al., 2015).
Regimes terapêuticos complexos, embora as vezes necessários, podem contribuir
para uma maior exposição aos erros de dosagem e administração, ocasionando desfechos
desfavoráveis, tais como: reações adversas, hospitalizações e readmissão hospitalar, por
isso esses regimes precisam ser bem monitorados (WIMMER et al., 2016).
Quanto mais complexo em número e requisitos especiais (triturar, diluir, dissolver pós,
comprimidos, dias, doses alternadas, duas formas farmacêuticas diferentes, entre outras
instruções dadas pelo profissional), torna-se mais fácil para o idoso errar no momento de
administrar o medicamento, se desinteressar pelo tratamento e, consequentemente, não
ter o seu problema de saúde resolvido ou até mesmo agravado devido ao risco de falha
terapêutica (MARGARIDA e SOFIA, 2014). Faz-se necessário avaliar a complexidade dos
regimes terapêuticos com objetivo de otimizar a terapia do idoso de forma a melhorar os
seus resultados de saúde (ALVES-CONCEIÇÃO et al., 2018).
Para determinar a complexidade farmacoterapêutica, em 2004, foi elaborado um instru-
mento de quantificação da complexidade, o Medication Regimen Complexity Index (MRCI),
originalmente na língua inglesa (GEORGE et al., 2004). Em 2007 foi validado na versão
brasileira, o Índice de Complexidade da Farmacoterapia (ICFT), e este índice, assim como
o original, é dividido em três seções: A (informações sobre formas farmacêuticas); B (infor-
mações sobre a frequência de administração do medicamento); C (informações adicionais,
como horários específicos, uso do medicamento com alimentos). Cada seção tem uma pon-
tuação crescente com o aumento da complexidade, sendo o índice de complexidade total
obtido pela soma das três seções (MELCHIORS, CORRER e FERNÁNDEZ-LLIMOS, 2007).
Maiores pontuações do ICFT foram associadas ao risco aumentado da necessidade
de atendimentos de emergência e hospitalização, por isso os esquemas complexos devem
ser monitorados. No entanto, nem sempre o grande número de medicamentos configura em
uma pontuação elevada, o que demostra que o instrumento vai além da simples quantifica-
ção da quantidade de medicamentos, pois as pontuações de cada seção apontam onde o
regime pode estar sendo complexo. É interessante que os profissionais sejam orientados a
adotar esta ferramenta a fim de poder orientar melhor os pacientes idosos e, assim, sempre
que possível, simplificar o regime a fim de garantir a adesão ao tratamento e segurança ao
paciente (MARGARIDA e SOFIA, 2014).
SEGURANÇA DO PACIENTE
Os medicamentos são prescritos com o objetivo de que seus benefícios superem seus
eventos adversos, proporcionem a recuperação, melhoria da qualidade de vida e bem-estar
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ao paciente. No entanto, estes medicamentos são muitas vezes identificados como fato-
res significativos e determinantes de morbimortalidade pelo grande impacto de seus even-
tos adversos no estado de saúde do paciente quando prescritos de forma inapropriada
(BÜRKLE et al., 2013).
A utilização de medicamentos inapropriados por idosos se constitui em um importante
problema de saúde pública, pois a sua prevalência varia entre 12 a 60%. Estes se constituem
como fatores de risco para a ocorrência de reações adversas e, consequentemente, para
o aumento do número de hospitalizações, mortalidade, não adesão ao tratamento e com o
aumento dos gastos com saúde (FASTBOM e JOHNELL, 2015).
O paciente geriátrico percorre um caminho extenso entre os níveis de saúde e espe-
cialidades médicas e, assim, a reconciliação terapêutica, o acompanhamento farmacotera-
pêutico e uma adequada dispensação se fazem necessários na tramitação entre os níveis
de cuidado. Deve-se analisar se o fármaco é potencialmente inapropriado e estar atento
às características clínicas particulares de cada idoso. É preciso tomar providências para
aumentar a segurança do paciente geriátrico, empregando ações de saúde que envolvam
os diversos profissionais, assim como criar medidas regulamentares como a elaboração de
formulários e sistemas de informática que possam unir a prescrição à dispensação, com aler-
tas que possam ser emitidos e alternativas seguras sugeridas (MOSCA e CORREIA, 2012).
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a segurança do paciente se
refere à redução dos riscos de danos desnecessários, relacionados à assistência em saúde
até um nível aceitável. É a base fundamental de sustentação do cuidado, envolvendo todos
os profissionais e processos ligados à assistência ao paciente (WHO, 2009).
O uso concomitante de medicamentos por idosos, embora em muitos casos imprescin-
dível para que todos os problemas de saúde sejam manejados, pode causar sérios danos
devido ao seu potencial de risco para o paciente. Por isso a polifarmácia tornou-se uma das
três categorias de prioridade do Terceiro Desafio Global de Segurança do Paciente, que
trouxe como tema a “Medicação sem danos” (em inglês, “Medication Without Harm”) com
a meta de reduzir danos ocasionados pelo medicamento em decorrência principalmente do
uso múltiplo (WHO, 2017).
A utilização de MPI exige uma prescrição criteriosa, uma abordagem sistemática por
parte do prescritor, sendo reforçada pelos farmacêuticos e outros responsáveis pelo cuidado
para otimizar o uso dos medicamentos (SCOTTI et al, 2015).
O Terceiro Desafio Global de Segurança ao Paciente - Medicação sem danos, tem
como principais objetivos minimizar danos evitáveis relacionados ao uso de medicamentos;
fortalecer sistemas de monitoramento para detecção desses problemas; e, ainda, envolver
países membros que devem instituir políticas e medidas públicas adequadas, inserir os
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profissionais, pacientes e seus cuidadores/familiares na decisão do tratamento e no reco-
nhecimento dos problemas relacionados ao medicamento. A meta era reduzir em 50% os
danos severos causados por medicamentos nos cinco anos seguintes à publicação, promo-
vendo melhorias em todos os estágios da medicação, desde os processos de produção à
prescrição, dispensação e monitoramento de uso (WHO, 2017). Atualmente, em 2023, não
foram encontrados dados sobre os resultados das medidas propostas.
Diante da relevância dos eventos adversos à saúde e da prioridade de se garantir a
segurança dos pacientes, desenvolver mecanismos de organização dos sistemas e servi-
ços de saúde no país se tornou necessário e, por isso, o Brasil, por meio do Ministério de
Estado da Saúde instituiu o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), por
meio da Portaria Nº 529, de 1º de Abril 2013 (DOU de 02/04/2013). O PNSP visa estimular
a qualificação do cuidado nos estabelecimentos de saúde do país, promovendo e apoiando
as ações direcionadas à segurança do paciente nos diversos níveis de atenção e gestão à
saúde, impulsionando a gestão de riscos e dos Núcleos de Segurança do Paciente (NSP)
nas instituições de saúde (Art.2º PNSP) (BRASIL, 2013).
Em 2013, com intuito de atuar na garantia da segurança do paciente, a Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (ANVISA) publicou a Resolução da Diretoria Colegiada - RDC Nº 36,
de 25 de Julho de 2013, para orientar as instituições de saúde quanto a instalação dos NSP,
instituir as ações para a promoção da segurança do paciente e a melhoria da qualidade nos
serviços de saúde. De acordo com esta RDC, os NSP são instâncias do serviço de saúde
criados para promover e apoiar a implementação de ações voltadas para à segurança do
paciente. Os NSP devem elaborar o Plano de Segurança do Paciente em Serviços de Saúde
(PSP) que deve estabelecer estratégias, ações de gestão de risco, segurança na prescrição,
uso e administração de medicamentos, entre outras ações (MS, 2013).
Outro importante fator a ser considerado quanto à segurança do paciente geriátrico
são as iatrogenias. Estas se constituem em qualquer tipo de modificação no estado de
saúde do paciente por meio das práticas de cuidado, realizada por qualquer profissional de
saúde, que possam ocasionar maiores complicações ao paciente em virtude de sua inter-
venção. Os pacientes geriátricos são mais suscetíveis a esse evento, pois são atendidos
sem que as particularidades da senescência e senilidade sejam consideradas e, por fim,
acabam sendo atendidos como qualquer paciente adulto (SILVA, OLIVEIRA e MAIA, 2018).
Uma nova estratégia de segurança quanto ao uso de medicamentos em idosos, cha-
mada de desprescrição, tem sido implantada a fim de reduzir os riscos de danos e também
tem sido utilizada para reduzir a polifarmácia e/ou minimizar seus danos. É um processo
de identificação, descontinuação de medicamentos desnecessários, sem eficiência e po-
tencialmente inapropriados, envolvendo o profissional e os pacientes. Essa nova estratégia
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deve respeitar os riscos e benefícios do medicamento, comorbidades, expectativa de vida e
sempre que possível, os fatores de preferência do paciente quanto ao tratamento, de modo
a favorecer sua adesão ao mesmo (SCOTTI et al, 2015).
A desprescrição de MPI tem sido fundamental para incentivar a busca de conhecimen-
tos e estratégias para assegurar uma terapia segura e monitorada aos idosos. No Canadá,
cerca de 60% dos idosos utilizam algum MPI, os custos decorrentes dessas prescrições
representam milhões de dólares devido ao grande número de quedas, fraturas, hospitaliza-
ções, confusão, cascatas iatrogênicas, demência e morte por lesões induzidas por elas. Esse
processo de desprescrição é planejado e envolve a redução ou suspensão do medicamento
que possa causar danos ou deixar de gerar benefícios (TANNENBAUM et al., 2017).
Para a adequação dos regimes medicamentosos cada prescrição deve ser revisada,
e assim identificar os MPI que podem ser interrompidos ou as melhores alternativas dispo-
níveis, para então decidir o esquema mais adequado e adaptado as condições do idoso, a
estratégia de monitoramento e suporte ao paciente, a fim de melhorar a segurança e eficácia
do tratamento (HAO, OMAR e TOHIT, 2018).
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O USO DE FILTRO SOLAR POR IDOSOS LIGADOS
A UMA UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA
BRASIL
'10.37885/230513066
RESUMO
O estudo realizou-se com 14 idosos de uma universidade do Vale do Paraíba, estado de São
Paulo, Brasil, objetivando investigar a frequência diária de uso do filtro solar; investigar qual
o conhecimento interiorizado acerca do uso contínuo e adequado, e se eles se consideram
suficientemente informados sobre proteção solar. Os resultados mostram que esses idosos
fazem uso frequente e adequado do filtro solar, justo por terem recebido orientação segura
de profissionais da saúde sobre a fotoproteção. Consideram eles dispor de conhecimentos
suficientes sobre o assunto, dentre outros quanto à regularidade de aplicação do fotoprote-
tor, inclusive em dias sem sol aparente e, mesmo antes de rápidas exposições, evitando-se
exposição em horários críticos de radiação. Ainda que se tenha considerado uma falha a
baixa frequência, no decorrer do dia, de reaplicação do filtro solar na pele, pelos idosos,
estes reconhecem que, de fato, seu uso deve ser visto como o mecanismo mais eficiente
para proteção da pele dos efeitos nocivos do sol, além do recomendado uso de óculos com
proteção UV. Por fim, registre-se que os estudos de fotoproteção precisam continuar, a fim
de se encontrarem e publicizarem novas ferramentas, especialmente para uma maior pro-
teção da fragilizada pele dos idosos, inclusive para a discussão sobre novos componentes
nos produtos e divulgação dos avanços tecnológicos que surgirem nessa área.
Muito se sabe, atualmente, sobre os benefícios dos raios solares para a saúde humana.
Eles são transmissores diretos de vitamina D, nutriente essencial para o bom funcionamen-
to do organismo, que atua no metabolismo de insulina, regulação de minerais, no sistema
imunológico, cardiovascular e músculo-esquelético, entre outras funções, sendo absorvi-
dos,em grande parte,pelo organismo através da luz solar (Oliveira, et al., 2014). No entanto,
o excesso de exposição aos raios solares ultravioletas (UV) é uma das maiores causas de
alterações cutâneas no organismo humano, como eritemas, edemas, hiperpigmentação,
fotoenvelhecimento e, a principal delas,a neoplasia (o câncer de pele) (Bardini, Lourenço,
Fissmer, 2012; Rizzati, Schneider, D’Orsi, 2011; Costa, 2017). O câncer de pele é conse-
quência da mutação do DNA humano e do processo inflamatório resultante da exposição
cumulativa aos raios UV (Bardini, Lourenço, Fissmer, 2012), sendo o tipo “não melanoma”
o mais frequente no Brasil (Rizzatti, Schneider, D’Orsi, 2011) e correspondente a 25% do
total de tumores malignos registrados no país, devido ao fato de a população se expor ao
sol de forma irracional e não fazer uso adequado dos “fotoprotetores” (Gonzaga, Nazari,
Bonessi, Andreotti, & Jorge, 2012).
A fotoproteção consiste em um conjunto de fatores que visam a amenizar os efeitos dos
raios UV sobre a pele, por meio do uso de equipamentos protetores como roupas, bonés,
guarda-sol (Gonzaga,Nazari, Bonessi, Andreotti, & Jorge, 2012; Rizzatti, Schneider, & D’Orsi,
2011) e, principalmente, com o uso do fotoprotetor tópico (filtro solar)que contém moléculas
ativas que absorvem ou refletem o UV, reduzindo a penetração dos raios ultravioletas solares
na pele, o que pode impedir o envelhecimento precoce da pele (Gonzaga,Nazari, Bonessi,
Andreotti, & Jorge, 2012).
O processo de envelhecimento da pele é concomitante ao processo de envelhecimento
cronológico do ser humano, e o maior número de alterações fisiológicas do tecido cutâneo
ocorrem durante a fase da terceira idade (Dutra,et al., 2013; Garbaccio, Ferreira, Pereira,
2016), e, por isso, ressalta-se que tal público requer maiores atenções em relação ao cui-
dado com sua pele.
Durante o processo de envelhecimento, o idoso apresenta inúmeras modificações
fisiológicas em seu tecido cutâneo, como uma barreira epitelial mais fraca contra fatores
externos, termorregulação insuficiente para lidar com o calor, diminuição da elasticidade,
entre outras (Garbaccio, Ferreira, Pereira, 2016), alterações que tornam sua pele mais
vulnerável e que sofre com fatores externos,como a luz solar. Somado ao processo natural
de envelhecimento cutâneo que acomete a população idosa, encontram-se os hábitos de
vida da velhice, como exposição ao sol pela manhã ou até mesmo o trabalho exposto ao
sol, segundo estudos realizados em Florianópolis por Rizzatti, Schneider e D’Orsi (2011),
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costumes que expõem a população idosa a altos índices de radiação UV e culminam no
envelhecimento dermatológico da pele.
O envelhecimento da pele, do ponto de vista dermatológico, segundo Garbaccio,
Ferreira e Pereira (2016, p. 46),
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Lourenço, & Fissmer, 2012), visando a reduzir a morbidade e aumentar a sobrevida das
pessoas(Rizzatti, Schneider, & D’Orsi, 2011),antes mesmo do aparecimento de doenças.
A orientação inadequada pode acarretar na afetação precoce da população idosa
por doenças de pele como o câncer, que, além de comprometer drasticamente a saúde do
próprio paciente, acarreta ainda altos custos ao Sistema Único de Saúde (SUS), fatos que
corroboram ainda mais a importância de medidas preventivas para que a população adquira
hábitos que evitem o surgimento de neoplasias e outras doenças de pele (Cortez, et al., 2016).
Segundo Dutra,et al.(2013), um grande número de idosos sequer conhece os termos “fo-
toenvelhecimento” e “fotoproteção”, o que evidencia ainda mais a falta de informação acerca
dos malefícios da exposição exagerada aos raios solares e os métodos de proteção a eles.
A despeito de toda essa problemática, segundo Godinho, Hossy, Niemeyer-Corbellini
e Ramos-e-Silva (2017, p. 244), as pessoas em geral vêm ficando a par do valor dos filtros
solares, como responsáveis por promover fotoproteção à sua pele,contra as,cada vez mais
potentes, radiações-ultravioleta; enfim, da necessidade imprescindível da fotoproteção,
sendo que, de fato,
o uso do protetor solar tem-se tornado hábito crescente nas últimas décadas. Um dado
que corrobora esse fato é o aumento de cerca de sete vezes na comercialização desses
produtos entre 1992 e 2002. A cada dia as pessoas se tornam mais conscientes da impor-
tância da fotoproteção na prevenção do fotoenvelhecimento e de lesões pré-malignas e
malignas foto induzidas.
Com base nisso, a indústria mundial, inclusive a brasileira,vem oferecendo um número
crescente de fotoprotetores com formulações diversas, adequadas a cada tipo de pele,e in-
vestindo na produção desses novos filtros solares, assim como fornecendo as informações
necessários para o uso, o que facilita a escolha e a adequação do fotoprotetor solara cada
idade ou geração.
Justamente tendo em vista a fotoproteção relativamente à geração longeva, é que o
objetivo deste estudo foi identificar se os frequentadores de uma instituição particular de
ensino do Vale do Paraíba, mais propriamente em um curso de acolhimento a idosos,se
estes fazem uso adequado do filtro solar e se possuem conhecimento acerca da importância
de um uso regular e orientado desse fotoprotetor.
METODOLOGIA
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idososentre61 até 86 anos de idade, sendo todos os participantes do sexo feminino, dado
que a frequência do curso se dá, quase na sua totalidade, por senhoras idosas.
Antecedendo a coleta de dados, o projeto de pesquisa foi encaminhado ao Comitê de
Ética e Pesquisa (CEP) do Centro Universitário Teresa D’Ávila, de forma a respeitar os pre-
ceitos éticos de pesquisa que envolvem seres humanos,de acordo com a lei466/12, sendo
aprovado pelo parecer número 2.567.475.
O instrumento para a coleta de dados consistiu em um questionário contendo 23 ques-
tões de múltipla escolha, envolvendo questões sobre: a idade da participante; sua cidade de
residência; etnia na qual se considerava inserida; presença ou não de histórico pessoal ou
familiar de câncer de pele; presença ou não de histórico familiar de outros tipos de câncer;
quadro presente ou passado de alergia a algum filtro solar; principal meio de divulgação por
onde tomou nota da importância da proteção solar; se já recebeu orientações gerais sobre
os filtros solares por parte de profissionais da saúde; se já participou de,ou observou, alguma
campanha pública que tratasse da importância do filtro solar; se tem conhecimento ou não
do termo “fotoproteção”; conhecimento ou não do termo “fotoenvelhecimento”; conhecimento
ou não da associação existente entre exposição solar e risco de câncer de pele; classifi-
cação do conhecimento acerca do uso adequado do filtro solar e seus benefícios à saúde
(classificados em “excelente”, “bom”, “regular” e “ruim”); acessibilidade ao preço dos filtros
solares disponíveis no mercado; se a aplicação do filtro solar é realizada em dias nublados
também ou apenas em dias ensolarados; principais regiões do corpo onde realiza a aplica-
ção; se o filtro solar é utilizado antes de exposições rápidas ou apenas antes de exposições
prolongadas ao sol; frequência de reaplicação; horários mais frequentes de exposição ao
sol no período da manhã e da tarde; qual o FPS mais utilizado; e quais os critérios levados
em conta ao adquirir algum filtro solar no mercado.
Foi oferecido a cada uma das participantes o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, sendo excluídas do estudo aquelas que não concordaram com o termo, ou
não se dispuseram a participar da pesquisa. Após a aplicação do questionário, as respostas
marcadas pelos participantes foram devidamente tabuladas em uma planilha Excel para a
análise dos dados. Os coeficientes média, mediana e moda foram calculados, a fim de es-
tabelecer os conceitos prevalentes entre os participantes envolvidos.
O estudo não envolveu qualquer tipo de risco para as participantes, visto que teve como
objetivo investigar e informar se haveria o uso adequado do filtro solar em alunos de curso
destinado ao acolhimento de idosos em universidade. A presenta apenas caráter informativo,
sem envolver experiências novas de aplicação de algum produto na pele.
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RESULTADOS
Os idosos envolvidos no estudo eram todos do sexo feminino, com uma média de idade
de 72 anos, todos habitantes da cidade de Lorena, SP.
Participaram 16 (100%) idosas sendo que 14 (87,5%) delas preencheram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), com duas delas (12,5%) não aderindo a esse
documento,quando tiveram seus dados afastados da pesquisa.
No que diz respeito às questões étnicas e aos antecedentes de saúde das participan-
tes, 12 (86%) delas declararam-se de etnia branca, sendo que uma (7%) declarou-se negra
e uma (7%), parda.
Sobre o histórico pessoal de câncer de pele, 13 (93%) idosas relataram não o apresen-
tar; 12 (86%) não apresentaram históricos de câncer de pele envolvendo familiares; enove
(64%) declararam ter ocorrências familiares de outros tipos de câncer.
Na questão referente à alergia atual,ou a quadros passados de alergia a algum filtro
solar, 12 (92,3%) participantes declararam não possuir,ou nunca ter apresentado,nenhum
tipo de alergia.
Em relação às perguntas envolvendo a divulgação sobre o assunto e os conhecimentos
sobre o uso do filtro solar, 11 (83%) participantes disseram obter conhecimento acerca da
importância do uso do fotoprotetor por meio de informações adquiridas de profissionais da
saúde, sendo que sete (54%) relataram já ter recebido as orientações adequadas sobre o
uso correto do filtro solar e detalhamentos sobre eles (condições de armazenamento, quan-
tidade ideal a ser aplicada, entre outros pontos) de especialistas da área.
De acordo com a média geral, sete (54%) disseram não ter feito parte,ou visto acon-
tecer,nenhuma campanha pública sobre a importância do uso do filtro solar. Também sete
(54%) declararam conhecer o termo “fotoproteção”, e oito (62,5%) desconheciam o termo
“fotoenvelhecimento”.
A associação entre a exposição exagerada ao sole o risco de câncer de pele era
conhecida por 13 (100% delas, dado que uma das 14 participantes não respondeu a essa
questão).Cinco (45,4%) classificaram o conhecimento geral acerca do uso adequado do
filtro solar como “regular”; e cinco (45,4%) como“bom”.
Em relação aos preços dos filtros solares no mercado, oito (61,5%) participantes clas-
sificaram os preços como acessíveis a elas.
Já na última parte do questionário, que diz respeito sobre a rotina de uso e os modos
de aplicação do protetor solar,12 (86%) relataram fazer uso tanto em dias nublados,quanto
em dias ensolarados; e13 (100% das que responderam, dado que uma das 14 participan-
tes não respondeu a essa questão),disseram aplicar principalmente na região do rosto,
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seguido de braços, o que assinalado por nove (69%) participantes; e colo, assinalado por
sete (54%) participantes.
Em relação aos períodos em que aplicam o filtro solar na pele, 12(92,3%das 13 que
responderam a essa questão) participantes disseram usar o filtro solar tanto antes de expo-
sições rápidas,quanto antes de exposições mais prolongadas ao sol, sendo que seis (43%)
disseram reaplicar o filtro solar mais de uma vez ao dia.
Sobre os horários de maior exposição ao sol, sete (50%) idosas referiram o horário das
10h,no período da manhã; cinco(35,5%),o horário das16h; e cinco (35,5%) ao das17h,no
período da tarde. O FPS mais utilizado foi o denumeração50, usado por cinco (36%) parti-
cipantes; e 60, usado também por cinco (36%) participantes.
Os critérios julgados como mais utilizados para a escolha do filtro solar foram a reco-
mendação por especialistas, sendo observada por oito (57%) idosas,e o FPS adequado para
cada tipo de pele, critério levado em conta também por oito (57%) idosas.
DISCUSSÃO
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corretas ao público, de forma a garantir um uso correto do fotoprotetor e prevenir futuras
complicações de pele.
Uma vez que as informações são transmitidas de forma confiável e adequada ao pú-
blico, por meio de profissionais devidamente capacitados, deve-se garantir, portanto,que os
cuidados relacionados ao modo de aplicação do produto no corpo e manutenção deste no
dia a dia foram adequadamente transmitidos.
Para transmitir as informações corretas ao público idoso, no entanto, deve-se levar em
conta a adequação da linguagem do profissional ao entendimento desse público específico,
de forma a estabelecer maiores vínculos com opúblico-alvo e garantir o entendimento deste
sobre o assunto tratado.
A adequação das informações transmitidas ao público idoso foi tratada por Garbaccio,
Ferreira e Pereira (2016), quando esses autores, além de considerarem a importância de se
explicar sobre os cuidados no manuseio do filtro solar de forma correta, julgaram importante
também adequar a transmissão de informações à realidade cultural do público idoso, para
que estas sejam efetivas e proporcionem saúde e bem-estar.
Os autores, que realizaram pesquisa diretamente com um público idoso, demonstra-
ram que muitos deles apresentavam resultados insatisfatórios em relação ao autocuidado
com a pele devido a informaçõesmal-compreendidas. A falta de compreensão adequada
resulta na falta de condutas que poderiam ser tomadas para retardar o envelhecimento da
pele do idoso, e o aparecimento de possíveis doenças do tecido epitelial. Faz-se necessá-
rio, portanto, ter em vista as peculiaridades do público idoso no momento de abordar cada
assunto, adequando a linguagem e os termos utilizados,afim de transmitir as informações
de forma clara, uma vez que alguns aspectos presentes na linguagem de jovens e adultos
nem sempre são reconhecidos pelo idosos à primeira vista.
Fazendo uso de forma adequada de orientação em saúde,ao público ao qual ela se
destina, verifica-se que uma alternativa viável para a realização de tal orientação aos cidadãos
acerca das peculiaridades do filtro solar,é a realização de campanhas públicas e eventos
que tratem sobre o assunto, uma vez que realizações desse porte conseguem atingir um
grande número de pessoa são mesmo tempo,e que podem sensibilizar,de forma consisten-
te,a população em relação à necessidade de se proteger dos raios solares.
Um estudo realizado na Austráliapor Vitor, et al. (2008)ressaltou a importância da rea-
lização de campanhas públicas sobreo assunto fotoproteção, evidenciando o impacto que
esses eventos conseguem causar no cotidiano dos indivíduos que deles participam.
Dada a posição geográfica do continente australiano, conhecido por receber intensa
radiação solar, os índices de câncer de pele são extremamente elevados, fato que motivou
a realização de campanhas e ações públicas por longos anos,com o intuito de sensibilizar
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a população quanto a importância da proteção às radiações solares. Como resultado das
campanhas realizadas, observou-se notável redução da exposição de indivíduos ao sol,
culminando também em menores casos de neoplasias de pele, corroborando a importância
da realização desse tipo de evento por parte dos órgãos de saúde.
Além disso, afim de ressaltar a importância das campanhas públicas,a Sociedade
Brasileira de Dermatologia (SBD) promoveu, no ano de 2012, a Campanha Nacional de
Prevenção ao Câncer da Pele (CNPCP),como divulgado por Bardini, Lourenço e Fissmer
(2012), na qual médicos dermatologistas examinaram gratuitamente a população,e orien-
tavam sobre hábitos de exposição ao sol, em postos de atendimentos na maioria dos
estados do país.
A iniciativa e a divulgação dos riscos da exposição solar pela mídia tendem a aumentar a
consciência do problema entre os brasileiros criando, pouco a pouco, um ambiente favorável
a iniciativas de prevenção cada vez mais precoces. No entanto, segundo os autores, apenas
14,7% declararam ter participado da campanha contra o câncer de pele realizada pela SDB,
resultado que demonstra que nem todos abraçaram a ideia de fazer parte do evento, não
demonstrando interesse em conhecer mais sobre o assunto. É importante salientar que, além
da realização de campanhas públicas, é necessário que estas consigam motivar o cidadão,
levando-o para participar dos eventos, de forma a adquirir o conhecimento necessário sobre
as temáticas que são disponibilizadas pelos órgãos de saúde.
Em relação aos assuntos a serem tratados nas campanhas públicas que são realizadas,
ressalta-se que estes devem visar a não somente abordar os termos popularmente conheci-
dos e já mencionados em propagandas sobre protetores solar, mas também alguns termos
mais técnicos relacionados a esse assunto da proteção solar. Com base na literatura, dois
termos técnicos destacaram-se por nem sempre serem de conhecimento do público idoso,
sendo eles o termo “fotoproteção” e “fotoenvelhecimento”.
A fotoproteção consiste no conjunto de fatores e medidas que podem ser tomados pelo
indivíduo,afim de protegê-lo do excesso de raios solares, enquanto o fotoenvelhecimento
consiste na exposição crônica aos raios solares, ocasionando alterações senis diversas e
susceptibilidade do indivíduo a neoplasias benignas ou malignas (Dutra, et al., 2013).Os
referidos conceitos permitem concluir que um complementa o outro,e, segundo Dutra, et al.
(2013), ambos são frequentemente abordados em propagandas que divulgam os filtros
solares. A falta de conhecimento dos termos, no entanto, pode fazer com o processo de
transmissão de conhecimento à população idosa seja prejudicado, interferindo na compreen-
são dos indivíduos sobre a atuação do filtro solar como fotoprotetor que impede o processo
de fotoenvelhecimento. Os termos mais técnicos devem ser abordados por profissionais da
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área da saúde de forma a clarificar as informações a esse público e garantir uma rotina de
uso mais eficaz do filtro solar.
Outro aspecto do assunto da fotoproteção que deve ser divulgado ao público durante
a transmissão das informações em campanhas públicas é a associação existente entre a
exposição ao sol e as maiores chances de aparecimento de quadros de câncer de pele. O co-
nhecimento dessa associação é fundamental para a sensibilização do público quanto ao
assunto, uma vez que o câncer consiste em um problema de saúde que acomete cada vez
maiores partes da população e que apresenta meios de tratamento delicados e agressivos.
Bardini, Lourenço e Fissmer (2012) realizaram estudos com 116 pacientes idosos do
setor de Dermatologia do Ambulatório Médico de Especialidades de Santa Catarina, com a
finalidade de evidenciar se esses pacientes estavam conscientes da associação entre ex-
posição ao sol e aparecimento de câncer de pele. Os pacientes foram questionados quanto
ao conhecimento, e o resultado do estudo demonstrou que 81% dos pacientes conheciam
a associação entre o sol e as doenças de pele relacionadas à exposição solar, o que revela
que muitos idosos já dispunham do devido conhecimento sobre a importância de se prevenir
a exposições excessivas ao sol como meio de combate ao câncer de pele.
Acerca da fotoproteção, é necessário orientar os participantes quanto à importância de
realizar a aplicação do filtro solar não só em dias aparentemente ensolarados, mas também
em dias mais nublados, visto que as radiações solares também se encontram presentes
mesmo sem o sol aparente.
Um estudo de Garbaccio, Ferreira e Pereira (2016), realizado com idosos moradores
de Arcos, município do Centro-Oeste de Minas Gerais, tratou dessa questão com esse
público. O estudo, no entanto, constatou,em seus resultados,que 89,2% dos idosos referiu
não aderir ao produto em dias sem sol aparente, o que revela um fato preocupante, já que
a pele do idoso requer maiores cuidados,devido aos processos fisiológicos que a tornam
normalmente enfraquecida.
Além do uso do filtro solar em dias nublados e ensolarados, deve-se preconizar que
os indivíduos devem fazer uso, além de antes de exposições prolongadas ao sol, também
antes de exposições por curto períodos de tempo, uma vez que, de acordo com Rizzatti,
Schneider e D’Orsi (2011), a exposição aos raios ultravioletas em curtos períodos também
colaboram para a acumulação progressiva de radiação ao longo da vida, podendo resultar
em quadros de câncer de pele.
Em relação ao tempo de exposição, Garbaccio, Ferreira e Pereira (2016) relatam que
o tempo ideal recomendado ao público idoso é de 10 a 20 minutos de 5% da superfície
corpórea, tempo este necessário para que a vitamina D seja sintetizada pelo organismo.
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Somada à frequência com a qual deve-se aplicar o filtro solar, deve-se inferir que os
locais corretos de aplicação desse cosmético são de suma importância na hora de se prote-
ger contra o sol, dado que certas regiões corporais exigem maiores cuidados por apresen-
tarem maior sensibilidade aos raios solares. Deve-se ressaltar que a pele do rosto e colo
são suscetíveis a maiores radiações por dois motivos importantes: 1) por localizarem-se na
parte superior do organismo, fato que os coloca mais próximo dos raios do sol; e 2) pelo
fato de estas regiões apresentarem o tecido epitelial mais sensível em relação às outras
regiões do corpo.
Estudo de Garbaccio, Ferreira e Pereira (2016),realizado com uma população idosa
do Centro-Oeste de Minas Gerais, entretanto, constatou que certas regiões do rosto são
por vezes pouco protegidas por esse público, como regiões do pescoço, couro cabeludo,
pavilhão auricular, olhos e testa, locais também sensíveis ao excesso de radiação solar.
Assim, a Associação Americana de Dermatologia preconiza que o uso de acessórios
sugere uma boa alternativa para promover a proteção desses locais do corpo, como bonés,
viseiras, óculos de sol e roupas com tecidos de fibra firmemente tecidas e de coloração es-
cura (pois apresentam naturalmente maior capacidade de proteção aos raios ultravioletas).
Outro fato importante acerca do uso do filtro solar é que se deve e levar em conta a sua
reaplicação durante o dia, que, como Garbaccio, Ferreira e Pereira (2016) demonstraram,
deve ser periódica, regular,para que haja a real efetividade do produto na pele.
Em relação ao intervalo de tempo entre cada reaplicação, segundo Cortez, et al. (2016),
esta deve ser realizada de 2 a 3 horas, e com 20 a 30 minutos de antecedência à exposição
ao sol, o que culminaria em aproximadamente quatro reaplicações durante o dia. A reapli-
cação faz-se necessária,uma vez que o indivíduo pode apresentar episódios como expo-
sição ao suor ou à água, que podem comprometer a capacidade do produto de proteger
consistentemente o corpo contra as radiações solares. O conhecimento dos idosos acerca
dessa importância da reaplicação poderia ser adquirido através de maiores repercussões
em massa do assunto.
A aplicação e reaplicação do filtro solar na pele, no entanto, permitem impactos mais
positivos quando, somado a esses fatores, o indivíduo evita expor-se ao sol em horários nos
quais a incidência dos raios solares é mais intensa e prejudicial à pele. Os horários conside-
rados como os mais críticos, com base na literatura de Garbaccio, Ferreira e Pereira (2016)
são aqueles compreendidos entre as 10h da manhã e as 16h da tarde, quando a radiação
UVB é mais intensa.
Ainda na visão dos autores, no entanto, caso haja exposição ao sol durante esses horá-
rios vistos como mais críticos, torna-se necessário, além do filtro solar, o uso de equipamentos
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que tragam a proteção necessária ao sol intenso como chapéus, óculos escuros, viseiras,
guarda-sol e boné.
Ainda sobre os horários mais críticos de exposição ao sol, Vitor, et al. (2008) concluem
que, durante o período compreendido entre as 10h e 16h,os raios ultravioletas atuam como
carcinogênios completos, corroborando a importância da prevenção à exposição solar des-
cuidada nesse período.
Os profissionais da saúde também devem orientar os participantes,durante as campa-
nhas,em relação aos fatores que devem ser preconizados na hora da escolha de um filtro
solar, ressaltando principalmente a importância de atentar-se ao FPS.
Com base na literatura, preconiza-se que FPS de valor mínimo de 15 é capaz de
fornecer proteção eficaz (Cortez, et al., 2016). É de senso comum na população,hoje em
dia,que, quanto maiores os valores de FPS, maior a proteção fornecida para combater os
efeitos dos raios solares na pele.
Entretanto, estudos deVitor,et al.(2008) colocaram em dúvida esse conhecimento acerca
do FPS. Os resultados apontaram para um certo “paradoxo fotoprotetor”,ao observarem que
aproximadamente 62,8% dos usuários de fatores altos de proteção solar sofreram algum
tipo de dano devido à exposição solar. Essa observação sugere que indivíduos usuários de
filtros solares com altos valores de FPS poderiam estar mais propensos às queimaduras
solares quando comparados aos que fazem uso de menores valores. Além disso, Cortez,
et al. (2016) concluíram que o filtro com FPS 25 bloqueia 96% da radiação solar, mostrando
que o uso de formulações com fatores de proteção superiores nem sempre é necessário,
pois o produto pode se tornar mais sensibilizante, devido aos constituintes da sua formula-
ção. Frente a isso, forma-se uma conclusão de certa forma duvidosa,em relação à proteção
solar eficaz fornecida pelos filtros solares de alto valor de FPS.
A recomendação de especialistas da área da saúde é de que o valor de FPS mais
adequado varia de acordo com o tom de pele, e que é um dos critérios que devem ser obser-
vados no momento de adquirir algum filtro solar no mercado,para oferecer proteção eficaz a
cada pele. Essa posição dos especialistas pôde ser demonstrada através de resultados de
Cortez, et al. (2016), quando especialistas da área da estética revelaram que os profissionais
que estudam sobre a pele analisam não só o FPS, mas também os ativos presentes em sua
composição, sua textura na pele,e a marca, orientando que a qualidade do fotoprotetor é
determinada pelo valor do FPS e por meio das características físico-químicas da formulação.
Tais características garantem que o produto se espalhe melhor e apresente boa resistência
à água, maximizando o seu efeito protetor.
O conhecimento satisfatório e a aplicação adequada do filtro solar regularmente na
pele é de suma importância, portanto, para a preservação do envelhecimento precoce desse
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tecido. No entanto, quando se trata do acesso aos fotoprotetores no Brasil, observa-se que
muitos desses produtos apresentam preços elevados no mercado, fato que pode apresentar
certo impasse na hora da aquisição do produto pela população.
Estudos de Rizzatti, Schneider e D’Orsi (2011) constataram esse fato, o que impede que
a população de menor renda consiga fazer uso do filtro solar no dia a dia, pois, segundo os
autores, no Brasil, o filtro solar ainda é um produto de alto custo por receber a classificação
de cosmético, e que,por isso,tem seu preço elevado,devido a taxações impostas, tornando
o produto inacessível à população de menor renda.
Em vista dos altos preços, para garantir o acesso ao filtro solar de todos,os profissionais
da saúde responsáveis por ministrar as campanhas públicas poderiam propor meios que
visassem a pressionar as indústrias e o mercado,para abaixarem o preço dos filtros solares
no Brasil, de forma a torná-los mais acessíveis a todas as camadas da população.
Um exemplo de sensibilização pública que culminou com a redução de preços dos
filtros solares pôde ser observada na Austrália há mais de 20 anos, como demonstrado por
Rizzatti, Schneider e D’Orsi (2011). Conhecido como “SunSmart”, o objetivo do programa
australiano foi de pressionar o governo para a diminuição dos preços do filtro solar,junto a
campanhas de conscientização da população em relação a seu uso, resultando em uma
diminuição significativa dos preços,após a pressão popular.
Assim sendo, a transmissão correta, abrangente e adequada de informações ao público
idoso acercados termos relacionados ao assunto da fotoproteção,pode contribuir, portanto,
para um maior esclarecimento sobre o assunto, aumentando o nível de conhecimento da
população acerca desse tema.
É de suma importância que todo o indivíduo, após receber as orientações gerais sobre o
filtro solar, tenha a consciência de que tomou nota adequadamente de toda informação aele
transmitida, e que julgue seu próprio nível de conhecimento sobre o assunto–classificando
se os conceitos a ele transmitidos foram satisfatórios ou não.
A prevalência da classificação do próprio conhecimento como “regular” e “bom”, no
presente estudo,demonstra que o público idoso julga ter tomado nota ao menos das con-
dições mínimas de uso adequado do filtro solar,culminado em uso adequado do cosmé-
tico no dia a dia.
Garbaccio, Ferreira e Pereira (2016) demonstraram que a avaliação do autoconheci-
mento acerca do uso do filtro solar pelo próprio indivíduo reflete como fator que demonstra
se as informações recebidas pelos idosos foram competentes e precisas, permitindo o uso
correto do fotoprotetor.
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CONCLUSÃO
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C3%A3o-do.
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O USO DE FILTRO SOLAR POR IDOSOS LIGADOS
A UMA UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA,
BRASIL
Claudia Araújo
(UNIFATEA)
'10.37885/230513101
RESUMO
O estudo realizou-se com 14 idosos de uma universidade do Vale do Paraíba, estado de São
Paulo, Brasil, objetivando investigar a frequência diária de uso do filtro solar; investigar qual
o conhecimento interiorizado acerca do uso contínuo e adequado, e se eles se consideram
suficientemente informados sobre proteção solar. Os resultados mostram que esses idosos
fazem uso frequente e adequado do filtro solar, justo por terem recebido orientação segura
de profissionais da saúde sobre a fotoproteção. Consideram eles dispor de conhecimentos
suficientes sobre o assunto, dentre outros quanto à regularidade de aplicação do fotoprote-
tor, inclusive em dias sem sol aparente e, mesmo antes de rápidas exposições, evitando-se
exposição em horários críticos de radiação. Ainda que se tenha considerado uma falha a
baixa frequência, no decorrer do dia, de reaplicação do filtro solar na pele, pelos idosos,
estes reconhecem que, de fato, seu uso deve ser visto como o mecanismo mais eficiente
para proteção da pele dos efeitos nocivos do sol, além do recomendado uso de óculos com
proteção UV. Por fim, registre-se que os estudos de fotoproteção precisam continuar, a fim
de se encontrarem e publicizarem novas ferramentas, especialmente para uma maior pro-
teção da fragilizada pele dos idosos, inclusive para a discussão sobre novos componentes
nos produtos e divulgação dos avanços tecnológicos que surgirem nessa área.
Muito se sabe, atualmente, sobre os benefícios dos raios solares para a saúde humana.
Eles são transmissores diretos de vitamina D, nutriente essencial para o bom funcionamen-
to do organismo, que atua no metabolismo de insulina, regulação de minerais, no sistema
imunológico, cardiovascular e músculo-esquelético, entre outras funções, sendo absorvidos,
em grande parte, pelo organismo através da luz solar (Oliveira, et al., 2014). No entanto,
o excesso de exposição aos raios solares ultravioletas (UV) é uma das maiores causas de
alterações cutâneas no organismo humano, como eritemas, edemas, hiperpigmentação,
fotoenvelhecimento e, a principal delas, a neoplasia (o câncer de pele) (Bardini, Lourenço,
Fissmer, 2012; Rizzati, Schneider, D’Orsi, 2011; Costa, 2017). O câncer de pele é conse-
quência da mutação do DNA humano e do processo inflamatório resultante da exposição
cumulativa aos raios UV (Bardini, Lourenço, Fissmer, 2012), sendo o tipo “não melanoma”
o mais frequente no Brasil (Rizzatti, Schneider, D’Orsi, 2011) e correspondente a 25% do
total de tumores malignos registrados no país, devido ao fato de a população se expor ao
sol de forma irracional e não fazer uso adequado dos “fotoprotetores” (Gonzaga, Nazari,
Bonessi, Andreotti, & Jorge, 2012).
A fotoproteção consiste em um conjunto de fatores que visam a amenizar os efeitos
dos raios UV sobre a pele, por meio do uso de equipamentos protetores como roupas, bo-
nés, guarda-sol (Gonzaga, Nazari, Bonessi, Andreotti, & Jorge, 2012; Rizzatti, Schneider,
& D’Orsi, 2011) e, principalmente, com o uso do fotoprotetor tópico (filtro solar) que contém
moléculas ativas que absorvem ou refletem o UV, reduzindo a penetração dos raios ultra-
violetas solares na pele, o que pode impedir o envelhecimento precoce da pele (Gonzaga,
Nazari, Bonessi, Andreotti, & Jorge, 2012).
O processo de envelhecimento da pele é concomitante ao processo de envelhecimento
cronológico do ser humano, e o maior número de alterações fisiológicas do tecido cutâneo
ocorrem durante a fase da terceira idade (Dutra, et al., 2013; Garbaccio, Ferreira, Pereira,
2016), e, por isso, ressalta-se que tal público requer maiores atenções em relação ao cui-
dado com sua pele.
Durante o processo de envelhecimento, o idoso apresenta inúmeras modificações
fisiológicas em seu tecido cutâneo, como uma barreira epitelial mais fraca contra fatores
externos, termorregulação insuficiente para lidar com o calor, diminuição da elasticidade,
entre outras (Garbaccio, Ferreira, Pereira, 2016), alterações que tornam sua pele mais vul-
nerável e que sofre com fatores externos, como a luz solar. Somado ao processo natural
de envelhecimento cutâneo que acomete a população idosa, encontram- se os hábitos de
vida da velhice, como exposição ao sol pela manhã ou até mesmo o trabalho exposto ao
sol, segundo estudos realizados em Florianópolis por Rizzatti, Schneider e D’Orsi (2011),
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costumes que expõem a população idosa a altos índices de radiação UV e culminam no
envelhecimento dermatológico da pele.
O envelhecimento da pele, do ponto de vista dermatológico, segundo Garbaccio,
Ferreira e Pereira (2016, p. 46),
292
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Lourenço, & Fissmer, 2012), visando a reduzir a morbidade e aumentar a sobrevida das
pessoas (Rizzatti, Schneider, & D’Orsi, 2011), antes mesmo do aparecimento de doenças.
A orientação inadequada pode acarretar na afetação precoce da população idosa
por doenças de pele como o câncer, que, além de comprometer drasticamente a saúde do
próprio paciente, acarreta ainda altos custos ao Sistema Único de Saúde (SUS), fatos que
corroboram ainda mais a importância de medidas preventivas para que a população adquira
hábitos que evitem o surgimento de neoplasias e outras doenças de pele (Cortez, et al., 2016).
Segundo Dutra, et al. (2013), um grande número de idosos sequer conhece os termos
“fotoenvelhecimento” e “fotoproteção”, o que evidencia ainda mais a falta de informação acer-
ca dos malefícios da exposição exagerada aos raios solares e os métodos de proteção a eles.
A despeito de toda essa problemática, segundo Godinho, Hossy, Niemeyer- Corbellini
e Ramos-e-Silva (2017, p. 244), as pessoas em geral vêm ficando a par do valor dos filtros
solares, como responsáveis por promover fotoproteção à sua pele, contra as, cada vez mais
potentes, radiações-ultravioleta; enfim, da necessidade imprescindível da fotoproteção,
sendo que, de fato,
o uso do protetor solar tem-se tornado hábito crescente nas últimas décadas.
Um dado que corrobora esse fato é o aumento de cerca de sete vezes na
comercialização desses produtos entre 1992 e 2002. A cada dia as pessoas
se tornam mais conscientes da importância da fotoproteção na prevenção do
fotoenvelhecimento e de lesões pré- malignas e malignas fotoinduzidas.
Com base nisso, a indústria mundial, inclusive a brasileira, vem oferecendo um número
crescente de fotoprotetores com formulações diversas, adequadas a cada tipo de pele, e
investindo na produção desses novos filtros solares, assim como fornecendo as informações
necessários para o uso, o que facilita a escolha e a adequação do fotoprotetor solar a cada
idade ou geração.
Justamente tendo em vista a fotoproteção relativamente à geração longeva, é que o
objetivo deste estudo foi identificar se os frequentadores de uma instituição particular de
ensino do Vale do Paraíba, mais propriamente em um curso de acolhimento a idosos, se
estes fazem uso adequado do filtro solar e se possuem conhecimento acerca da importância
de um uso regular e orientado desse fotoprotetor.
METODOLOGIA
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A população do estudo foi de 16 idosos entre 61 até 86 anos de idade, sendo todos
os participantes do sexo feminino, dado que a frequência do curso se dá, quase na sua
totalidade, por senhoras idosas.
Antecedendo a coleta de dados, o projeto de pesquisa foi encaminhado ao Comitê
de Ética e Pesquisa (CEP) do Centro Universitário Teresa D’Ávila, de forma a respeitar os
preceitos éticos de pesquisa que envolvem seres humanos, de acordo com a lei 466/12,
sendo aprovado pelo parecer número 2.567.475.
O instrumento para a coleta de dados consistiu em um questionário contendo 23 ques-
tões de múltipla escolha, envolvendo questões sobre: a idade da participante; sua cidade de
residência; etnia na qual se considerava inserida; presença ou não de histórico pessoal ou
familiar de câncer de pele; presença ou não de histórico familiar de outros tipos de câncer;
quadro presente ou passado de alergia a algum filtro solar; principal meio de divulgação por
onde tomou nota da importância da proteção solar; se já recebeu orientações gerais sobre os
filtros solares por parte de profissionais da saúde; se já participou de, ou observou, alguma
campanha pública que tratasse da importância do filtro solar; se tem conhecimento ou não
do termo “fotoproteção”; conhecimento ou não do termo “fotoenvelhecimento”; conhecimento
ou não da associação existente entre exposição solar e risco de câncer de pele; classifi-
cação do conhecimento acerca do uso adequado do filtro solar e seus benefícios à saúde
(classificados em “excelente”, “bom”, “regular” e “ruim”); acessibilidade ao preço dos filtros
solares disponíveis no mercado; se a aplicação do filtro solar é realizada em dias nublados
também ou apenas em dias ensolarados; principais regiões do corpo onde realiza a aplica-
ção; se o filtro solar é utilizado antes de exposições rápidas ou apenas antes de exposições
prolongadas ao sol; frequência de reaplicação; horários mais frequentes de exposição ao
sol no período da manhã e da tarde; qual o FPS mais utilizado; e quais os critérios levados
em conta ao adquirir algum filtro solar no mercado.
Foi oferecido a cada uma das participantes o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, sendo excluídas do estudo aquelas que não concordaram com o termo, ou
não se dispuseram a participar da pesquisa. Após a aplicação do questionário, as respostas
marcadas pelos participantes foram devidamente tabuladas em uma planilha Excel para a
análise dos dados. Os coeficientes média, mediana e moda foram calculados, a fim de es-
tabelecer os conceitos prevalentes entre os participantes envolvidos.
O estudo não envolveu qualquer tipo de risco para as participantes, visto que teve como
objetivo investigar e informar se haveria o uso adequado do filtro solar em alunos de curso
destinado ao acolhimento de idosos em universidade. Apresenta apenas caráter informativo,
sem envolver experiências novas de aplicação de algum produto na pele.
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RESULTADOS
Os idosos envolvidos no estudo eram todos do sexo feminino, com uma média de idade
de 72 anos, todos habitantes da cidade de Lorena, SP.
Participaram 16 (100%) idosas sendo que 14 (87,5%) delas preencheram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), com duas delas (12,5%) não aderindo a esse
documento, quando tiveram seus dados afastados da pesquisa.
No que diz respeito às questões étnicas e aos antecedentes de saúde das participan-
tes, 12 (86%) delas declararam-se de etnia branca, sendo que uma (7%) declarou-se negra
e uma (7%, parda.
Sobre o histórico pessoal de câncer de pele, 13 (93%) idosas relataram não o apre-
sentar; 12 (86%) não apresentaram históricos de câncer de pele envolvendo familiares; e
nove (64%) declararam ter ocorrências familiares de outros tipos de câncer.
Na questão referente à alergia atual, ou a quadros passados de alergia a algum filtro
solar, 12 (92,3%) participantes declararam não possuir, ou nunca ter apresentado, nenhum
tipo de alergia.
Em relação às perguntas envolvendo a divulgação sobre o assunto e os conhecimentos
sobre o uso do filtro solar, 11 (83%) participantes disseram obter conhecimento acerca da
importância do uso do fotoprotetor por meio de informações adquiridas de profissionais da
saúde, sendo que sete (54%) relataram já ter recebido as orientações adequadas sobre o
uso correto do filtro solar e detalhamentos sobre eles (condições de armazenamento, quan-
tidade ideal a ser aplicada, entre outros pontos) de especialistas da área.
De acordo com a média geral, sete (54%) disseram não ter feito parte, ou visto acon-
tecer, nenhuma campanha pública sobre a importância do uso do filtro solar.
Também sete (54%) declararam conhecer o termo “fotoproteção”, e oito (62,5%) des-
conheciam o termo “fotoenvelhecimento”.
A associação entre a exposição exagerada ao sol e o risco de câncer de pele era
conhecida por 13 (100% delas, dado que uma das 14 participantes não respondeu a essa
questão). Cinco (45,4%) classificaram o conhecimento geral acerca do uso adequado do
filtro solar como “regular”; e cinco (45,4%) como “bom”.
Em relação aos preços dos filtros solares no mercado, oito (61,5%) participantes clas-
sificaram os preços como acessíveis a elas.
Já na última parte do questionário, que diz respeito sobre a rotina de uso e os modos
de aplicação do protetor solar, 12 (86%) relataram fazer uso tanto em dias nublados, quanto
em dias ensolarados; e 13 (100% das que responderam, dado que uma das 14 participan-
tes não respondeu a essa questão), disseram aplicar principalmente na região do rosto,
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seguido de braços, o que assinalado por nove (69%) participantes; e colo, assinalado por
sete (54%) participantes.
Em relação aos períodos em que aplicam o filtro solar na pele, 12 (92,3% das 13 que
responderam a essa questão) participantes disseram usar o filtro solar tanto antes de expo-
sições rápidas, quanto antes de exposições mais prolongadas ao sol, sendo que seis (43%)
disseram reaplicar o filtro solar mais de uma vez ao dia.
Sobre os horários de maior exposição ao sol, sete (50%) idosas referiram o horário
das 10h, no período da manhã; cinco (35,5%), o horário das 16h; e cinco (35,5%) ao das
17h, no período da tarde.
O FPS mais utilizado foi o de numeração 50, usado por cinco (36%) participantes; e
60, usado também por cinco (36%) participantes. Os critérios julgados como mais utilizados
para a escolha do filtro solar foram a recomendação por especialistas, sendo observada
por oito (57%) idosas, e o FPS adequado para cada tipo de pele, critério levado em conta
também por oito (57%) idosas.
DISCUSSÃO
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resultados demonstram o interesse desses profissionais na hora de transmitir informações
corretas ao público, de forma a garantir um uso correto do fotoprotetor e prevenir futuras
complicações de pele.
Uma vez que as informações são transmitidas de forma confiável e adequada ao pú-
blico, por meio de profissionais devidamente capacitados, deve-se garantir, portanto, que
os cuidados relacionados ao modo de aplicação do produto no corpo e manutenção deste
no dia a dia foram adequadamente transmitidos.
Para transmitir as informações corretas ao público idoso, no entanto, deve-se levar em
conta a adequação da linguagem do profissional ao entendimento desse público específico,
de forma a estabelecer maiores vínculos com o público-alvo e garantir o entendimento deste
sobre o assunto tratado.
A adequação das informações transmitidas ao público idoso foi tratada por Garbaccio,
Ferreira e Pereira (2016), quando esses autores, além de considerarem a importância de se
explicar sobre os cuidados no manuseio do filtro solar de forma correta, julgaram importante
também adequar a transmissão de informações à realidade cultural do público idoso, para
que estas sejam efetivas e proporcionem saúde e bem- estar.
Os autores, que realizaram pesquisa diretamente com um público idoso, demonstra-
ram que muitos deles apresentavam resultados insatisfatórios em relação ao autocuidado
com a pele devido a informações mal-compreendidas. A falta de compreensão adequada
resulta na falta de condutas que poderiam ser tomadas para retardar o envelhecimento da
pele do idoso, e o aparecimento de possíveis doenças do tecido epitelial. Faz-se necessá-
rio, portanto, ter em vista as peculiaridades do público idoso no momento de abordar cada
assunto, adequando a linguagem e os termos utilizados, a fim de transmitir as informações
de forma clara, uma vez que alguns aspectos presentes na linguagem de jovens e adultos
nem sempre são reconhecidos pelo idosos à primeira vista.
Fazendo uso de forma adequada de orientação em saúde, ao público ao qual ela
se destina, verifica-se que uma alternativa viável para a realização de tal orientação aos
cidadãos acerca das peculiaridades do filtro solar, é a realização de campanhas públicas
e eventos que tratem sobre o assunto, uma vez que realizações desse porte conseguem
atingir um grande número de pessoas ao mesmo tempo, e que podem sensibilizar, de forma
consistente, a população em relação à necessidade de se proteger dos raios solares.
Um estudo realizado na Austrália por Vitor, et al. (2008) ressaltou a importância da
realização de campanhas públicas sobre o assunto fotoproteção, evidenciando o impacto
que esses eventos conseguem causar no cotidiano dos indivíduos que deles participam.
Dada a posição geográfica do continente australiano, conhecido por receber intensa
radiação solar, os índices de câncer de pele são extremamente elevados, fato que motivou
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a realização de campanhas e ações públicas por longos anos, com o intuito de sensibilizar
a população quanto a importância da proteção às radiações solares. Como resultado das
campanhas realizadas, observou-se notável redução da exposição de indivíduos ao sol,
culminando também em menores casos de neoplasias de pele, corroborando a importância
da realização desse tipo de evento por parte dos órgãos de saúde.
Além disso, a fim de ressaltar a importância das campanhas públicas, a Sociedade
Brasileira de Dermatologia (SBD) promoveu, no ano de 2012, a Campanha Nacional de
Prevenção ao Câncer da Pele (CNPCP), como divulgado por Bardini, Lourenço e Fissmer
(2012), na qual médicos dermatologistas examinaram gratuitamente a população, e orien-
tavam sobre hábitos de exposição ao sol, em postos de atendimentos na maioria dos
estados do país.
A iniciativa e a divulgação dos riscos da exposição solar pela mídia tendem a aumentar a
consciência do problema entre os brasileiros criando, pouco a pouco, um ambiente favorável
a iniciativas de prevenção cada vez mais precoces. No entanto, segundo os autores, apenas
14,7% declararam ter participado da campanha contra o câncer de pele realizada pela SDB,
resultado que demonstra que nem todos abraçaram a ideia de fazer parte do evento, não
demonstrando interesse em conhecer mais sobre o assunto. É importante salientar que, além
da realização de campanhas públicas, é necessário que estas consigam motivar o cidadão,
levando-o para participar dos eventos, de forma a adquirir o conhecimento necessário sobre
as temáticas que são disponibilizadas pelos órgãos de saúde.
Em relação aos assuntos a serem tratados nas campanhas públicas que são realizadas,
ressalta-se que estes devem visar a não somente abordar os termos popularmente conheci-
dos e já mencionados em propagandas sobre protetores solar, mas também alguns termos
mais técnicos relacionados a esse assunto da proteção solar. Com base na literatura, dois
termos técnicos destacaram-se por nem sempre serem de conhecimento do público idoso,
sendo eles o termo “fotoproteção” e “fotoenvelhecimento”.
A fotoproteção consiste no conjunto de fatores e medidas que podem ser tomados pelo
indivíduo, a fim de protegê-lo do excesso de raios solares, enquanto o fotoenvelhecimento
consiste na exposição crônica aos raios solares, ocasionando alterações senis diversas e
susceptibilidade do indivíduo a neoplasias benignas ou malignas (Dutra, et al., 2013). Os re-
feridos conceitos permitem concluir que um complementa o outro, e, segundo Dutra, et al.
(2013), ambos são frequentemente abordados em propagandas que divulgam os filtros
solares. A falta de conhecimento dos termos, no entanto, pode fazer com o processo de
transmissão de conhecimento à população idosa seja prejudicado, interferindo na compreen-
são dos indivíduos sobre a atuação do filtro solar como fotoprotetor que impede o processo
de fotoenvelhecimento. Os termos mais técnicos devem ser abordados por profissionais da
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área da saúde de forma a clarificar as informações a esse público e garantir uma rotina de
uso mais eficaz do filtro solar.
Outro aspecto do assunto da fotoproteção que deve ser divulgado ao público durante
a transmissão das informações em campanhas públicas é a associação existente entre a
exposição ao sol e as maiores chances de aparecimento de quadros de câncer de pele. O co-
nhecimento dessa associação é fundamental para a sensibilização do público quanto ao
assunto, uma vez que o câncer consiste em um problema de saúde que acomete cada vez
maiores partes da população e que apresenta meios de tratamento delicados e agressivos.
Bardini, Lourenço e Fissmer (2012) realizaram estudos com 116 pacientes idosos do
setor de Dermatologia do Ambulatório Médico de Especialidades de Santa Catarina, com a
finalidade de evidenciar se esses pacientes estavam conscientes da associação entre ex-
posição ao sol e aparecimento de câncer de pele. Os pacientes foram questionados quanto
ao conhecimento, e o resultado do estudo demonstrou que 81% dos pacientes conheciam
a associação entre o sol e as doenças de pele relacionadas à exposição solar, o que revela
que muitos idosos já dispunham do devido conhecimento sobre a importância de se prevenir
a exposições excessivas ao sol como meio de combate ao câncer de pele.
Acerca da fotoproteção, é necessário orientar os participantes quanto à importância de
realizar a aplicação do filtro solar não só em dias aparentemente ensolarados, mas também
em dias mais nublados, visto que as radiações solares também se encontram presentes
mesmo sem o sol aparente.
Um estudo de Garbaccio, Ferreira e Pereira (2016), realizado com idosos moradores
de Arcos, município do Centro-Oeste de Minas Gerais, tratou dessa questão com esse pú-
blico. O estudo, no entanto, constatou, em seus resultados, que 89,2% dos idosos referiu
não aderir ao produto em dias sem sol aparente, o que revela um fato preocupante, já que
a pele do idoso requer maiores cuidados, devido aos processos fisiológicos que a tornam
normalmente enfraquecida.
Além do uso do filtro solar em dias nublados e ensolarados, deve-se preconizar que
os indivíduos devem fazer uso, além de antes de exposições prolongadas ao sol, também
antes de exposições por curto períodos de tempo, uma vez que, de acordo com Rizzatti,
Schneider e D’Orsi (2011), a exposição aos raios ultravioletas em curtos períodos também
colaboram para a acumulação progressiva de radiação ao longo da vida, podendo resultar
em quadros de câncer de pele.
Em relação ao tempo de exposição, Garbaccio, Ferreira e Pereira (2016) relatam que
o tempo ideal recomendado ao público idoso é de 10 a 20 minutos de 5% da superfície
corpórea, tempo este necessário para que a vitamina D seja sintetizada pelo organismo.
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Somada à frequência com a qual deve-se aplicar o filtro solar, deve-se inferir que os
locais corretos de aplicação desse cosmético são de suma importância na hora de se prote-
ger contra o sol, dado que certas regiões corporais exigem maiores cuidados por apresen-
tarem maior sensibilidade aos raios solares. Deve-se ressaltar que a pele do rosto e colo
são suscetíveis a maiores radiações por dois motivos importantes: 1) por localizarem-se na
parte superior do organismo, fato que os coloca mais próximo dos raios do sol; e 2) pelo
fato de estas regiões apresentarem o tecido epitelial mais sensível em relação às outras
regiões do corpo.
Estudo de Garbaccio, Ferreira e Pereira (2016), realizado com uma população idosa
do Centro-Oeste de Minas Gerais, entretanto, constatou que certas regiões do rosto são
por vezes pouco protegidas por esse público, como regiões do pescoço, couro cabeludo,
pavilhão auricular, olhos e testa, locais também sensíveis ao excesso de radiação solar.
Assim, a Associação Americana de Dermatologia preconiza que o uso de acessórios
sugere uma boa alternativa para promover a proteção desses locais do corpo, como bonés,
viseiras, óculos de sol e roupas com tecidos de fibra firmemente tecidas e de coloração es-
cura (pois apresentam naturalmente maior capacidade de proteção aos raios ultravioletas).
Outro fato importante acerca do uso do filtro solar é que se devee levar em conta a sua
reaplicação durante o dia, que, como Garbaccio, Ferreira e Pereira (2016) demonstraram,
deve ser periódica, regular, para que haja a real efetividade do produto na pele.
Em relação ao intervalo de tempo entre cada reaplicação, segundo Cortez, et al. (2016),
esta deve ser realizada de 2 a 3 horas, e com 20 a 30 minutos de antecedência à exposição
ao sol, o que culminaria em aproximadamente quatro reaplicações durante o dia. A reapli-
cação faz-se necessária, uma vez que o indivíduo pode apresentar episódios como expo-
sição ao suor ou à água, que podem comprometer a capacidade do produto de proteger
consistentemente o corpo contra as radiações solares. O conhecimento dos idosos acerca
dessa importância da reaplicação poderia ser adquirido através de maiores repercussões
em massa do assunto.
A aplicação e reaplicação do filtro solar na pele, no entanto, permitem impactos mais
positivos quando, somado a esses fatores, o indivíduo evita expor-se ao sol em horários nos
quais a incidência dos raios solares é mais intensa e prejudicial à pele. Os horários conside-
rados como os mais críticos, com base na literatura de Garbaccio, Ferreira e Pereira (2016)
são aqueles compreendidos entre as 10h da manhã e as 16h da tarde, quando a radiação
UVB é mais intensa. Ainda na visão dos autores, no entanto, caso haja exposição ao sol
durante esses horários vistos como mais críticos, torna-se necessário, além do filtro solar,
o uso de equipamentos que tragam a proteção necessária ao sol intenso como chapéus,
óculos escuros, viseiras, guarda-sol e boné.
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Ainda sobre os horários mais críticos de exposição ao sol, Vitor, et al. (2008) concluem
que, durante o período compreendido entre as 10h e 16h, os raios ultravioletas atuam como
carcinogênios completos, corroborando a importância da prevenção à exposição solar des-
cuidada nesse período.
Os profissionais da saúde também devem orientar os participantes, durante as campa-
nhas, em relação aos fatores que devem ser preconizados na hora da escolha de um filtro
solar, ressaltando principalmente a importância de atentar-se ao FPS.
Com base na literatura, preconiza-se que FPS de valor mínimo de 15 é capaz de
fornecer proteção eficaz (Cortez, et al., 2016). É de senso comum na população, hoje em
dia, que, quanto maiores os valores de FPS, maior a proteção fornecida para combater os
efeitos dos raios solares na pele.
Entretanto, estudos de Vitor, et al. (2008) colocaram em dúvida esse conhecimento
acerca do FPS. Os resultados apontaram para um certo “paradoxo fotoprotetor”, ao obser-
varem que aproximadamente 62,8% dos usuários de fatores altos de proteção solar sofre-
ram algum tipo de dano devido à exposição solar. Essa observação sugere que indivíduos
usuários de filtros solares com altos valores de FPS poderiam estar mais propensos às
queimaduras solares quando comparados aos que fazem uso de menores valores. Além
disso, Cortez, et al. (2016) concluíram que o filtro com FPS 25 bloqueia 96% da radiação
solar, mostrando que o uso de formulações com fatores de proteção superiores nem sempre
é necessário, pois o produto pode se tornar mais sensibilizante, devido aos constituintes da
sua formulação. Frente a isso, forma-se uma conclusão de certa forma duvidosa, em relação
à proteção solar eficaz fornecida pelos filtros solares de alto valor de FPS.
A recomendação de especialistas da área da saúde é de que o valor de FPS mais
adequado varia de acordo com o tom de pele, e que é um dos critérios que devem ser obser-
vados no momento de adquirir algum filtro solar no mercado, para oferecer proteção eficaz a
cada pele. Essa posição dos especialistas pôde ser demonstrada através de resultados de
Cortez, et al. (2016), quando especialistas da área da estética revelaram que os profissionais
que estudam sobre a pele analisam não só o FPS, mas também os ativos presentes em sua
composição, sua textura na pele, e a marca, orientando que a qualidade do fotoprotetor é
determinada pelo valor do FPS e por meio das características físico-químicas da formulação.
Tais características garantem que o produto se espalhe melhor e apresente boa resistência
à água, maximizando o seu efeito protetor.
O conhecimento satisfatório e a aplicação adequada do filtro solar regularmente na
pele é de suma importância, portanto, para a preservação do envelhecimento precoce desse
tecido. No entanto, quando se trata do acesso aos fotoprotetores no Brasil, observa-se que
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muitos desses produtos apresentam preços elevados no mercado, fato que pode apresentar
certo impasse na hora da aquisição do produto pela população.
Estudos de Rizzatti, Schneider e D’Orsi (2011) constataram esse fato, o que impede que
a população de menor renda consiga fazer uso do filtro solar no dia a dia, pois, segundo os
autores, no Brasil, o filtro solar ainda é um produto de alto custo por receber a classificação
de cosmético, e que, por isso, tem seu preço elevado, devido a taxações impostas, tornando
o produto inacessível à população de menor renda.
Em vista dos altos preços, para garantir o acesso ao filtro solar de todos, os profissio-
nais da saúde responsáveis por ministrar as campanhas públicas poderiam propor meios
que visassem a pressionar as indústrias e o mercado, para abaixarem o preço dos filtros
solares no Brasil, de forma a torná-los mais acessíveis a todas as camadas da população.
Um exemplo de sensibilização pública que culminou com a redução de preços dos
filtros solares pôde ser observada na Austrália há mais de 20 anos, como demonstrado por
Rizzatti, Schneider e D’Orsi (2011). Conhecido como “SunSmart”, o objetivo do programa
australiano foi de pressionar o governo para a diminuição dos preços do filtro solar, junto
a campanhas de conscientização da população em relação a seu uso, resultando em uma
diminuição significativa dos preços, após a pressão popular. Assim sendo, a transmissão
correta, abrangente e adequada de informações ao público idoso acerca dos termos relacio-
nados ao assunto da fotoproteção, pode contribuir, portanto, para um maior esclarecimento
sobre o assunto, aumentando o nível de conhecimento da população acerca desse tema.
É de suma importância que todo o indivíduo, após receber as orientações gerais sobre
o filtro solar, tenha a consciência de que tomou nota adequadamente de toda informação a
ele transmitida, e que julgue seu próprio nível de conhecimento sobre o assunto – classifi-
cando se os conceitos a ele transmitidos foram satisfatórios ou não.
A prevalência da classificação do próprio conhecimento como “regular” e “bom”, no
presente estudo, demonstra que o público idoso julga ter tomado nota ao menos das con-
dições mínimas de uso adequado do filtro solar, culminado em uso adequado do cosmé-
tico no dia a dia.
Garbaccio, Ferreira e Pereira (2016) demonstraram que a avaliação do autoconheci-
mento acerca do uso do filtro solar pelo próprio indivíduo reflete como fator que demonstra
se as informações recebidas pelos idosos foram competentes e precisas, permitindo o uso
correto do fotoprotetor.
CONCLUSÃO
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20
PESSOAS IDOSAS, FOTOGRAMETRIA E
EQUILÍBRIO: UM ESTUDO BIBLIOMÉTRICO DA
PRODUÇÃO CIENTÍFICA DAS BASES DE DADOS
BVS E SCIELO
Caroline Fagundes
Universidade Feevale
'10.37885/230513116
RESUMO
No envelhecimento observa-se diminuição das funções dos tecidos que revestem as articu-
lações resultando em desvios posturais contribuindo para a queda na pessoa idosa. Sendo
assim, essa pesquisa teve por objetivo identificar os estudos existentes sobre a temática
pessoas idosas, fotogrametria e equilíbrio. O método utilizado foi uma revisão sistemática e
bibliométrica das bases de dados Biblioteca Virtual da Saúde (BVS) e Scielo. Num primeiro
momento, os descritores pessoas idosas, fotogrametria e equilíbrio foram inseridos no campo
de busca avançada das bases de dados citadas e em seguida, uma nova busca foi realiza-
da com os seguintes termos elderly, photogrammetry e balance. Com os termos pessoas
idosas, fotogrametria e equilíbrio foram encontradas 10 publicações na BVS e 0 no Scielo
e com os descritores elderly, photogrammetry e balance foram listadas 12 publicações na
BVS e 1 no Scielo, totalizando 23 publicações. Destes, 8 publicações foram descartadas
por ser o mesmo artigo científico encontrado nas duas bases de dados, três por não ter
relação com o tema escolhido e uma por não ser artigo científico. Ao final dessa pesquisa
é possível afirmar que a fotogrametria é um instrumento não invasivo, acessível e eficaz na
análise da postura estática e do equilíbrio em pessoas idosas. Além disso, destaca-se que
pesquisas relacionadas a postura estática são de extrema importância, pois, a partir desses
estudos será possível desenvolver medidas de prevenção e/ou correção dessas alterações.
MÉTODO
Esse estudo consistiu em uma revisão sistemática da literatura, que teve por objetivo
detectar possíveis lacunas de investigação nos estudos presentes. De acordo com Sonego e
Echeveste (2016) esse procedimento consiste em identificar, avaliar e interpretar um objeto
em particular. Ou seja, através desse método é possível constatar onde pouco ou nenhum
estudo foi realizado e onde novas pesquisas são necessárias (Busalim e Hussim, 2016;
Petticrew e Roberts, 2008).
Já as revisões bibliométricas ou bibliometria têm como objetivo apresentar dados quan-
titativos e estatísticos da documentação escrita, visando analisar as suas características.
Esse tipo de pesquisa tem como principal finalidade explanar o panorama de um determi-
nado campo de conhecimento, disciplina ou tema, como por exemplo, mapear a produção
de artigos de um campo do saber, as comunidades acadêmicas dedicadas à pesquisa em
questão, as redes de pesquisadores que analisam o assunto e a produtividade dos periódicos.
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Nesse sentido, associar a revisão sistemática da literatura a bibliometria permite agrupar as-
pectos quantitativos e qualitativos, possibilitando assim definir as características do assunto
pesquisado (Albach, 2015; Ribeiro et al., 2015).
Dessa maneira, num primeiro momento, os descritores pessoas idosas, fotogrametria e
equilíbrio foram inseridos no campo de busca avançada da base de dados Biblioteca Virtual
da Saúde (BVS) e Scielo no dia 29 de novembro de 2022. Em seguida, uma nova busca foi
realizada com os termos elderly, photogrammetry e balance. Essas bases de dados foram
escolhidas por proporcionar acesso livre às produções técnicas e científicas na área da saúde.
Como critério de inclusão definiu-se que foram selecionados apenas os artigos cientí-
ficos publicados em revistas científicas.
RESULTADOS
Tabela 1. Artigos encontrados na BVS e Scielo com os descritores pessoas idosas, fotogrametria e equilíbrio.
Autores Título
Fuentes-Márquez et al. (2018) Balance ability and posture in postmenopausal women with chronic pelvic pain
Rum et al. (2017) Upper body accelerations during planned gait termination in young and older women
Camargo et al. (2016) Efeito do método pilates na postura e no equilíbrio dinâmico de idosas
Comparison of static balance of elderly women through two methods: computerized photogram-
Oliveira et al. (2015)
metry and accelerometer
The effect of spinal curvature on the photogrammetric assessment on static balance in elderly
Drzał-Grabiec et al. (2014)
women
Iunes et al. (2014) Self-care associated with home exercises in patients with type 2 diabetes
Grimpampi et al. (2013) Estimate of lower trunk angles in pathological gaits using gyroscope data
Drzal-Grabiec et al. (2012) Changes in body posture of women and men over 60 years of age
Effect of global postural rehabilitation program on spatiotemporal gait parameters of parkinsonian
Vitale et al. (2012)
patients: a three-dimensional motion analysis study
Efeitos das alterações posturais e de equilíbrio estático nas quedas de pessoa idosas institucio-
Aikawa et al. (2006)
nalizados
Templates of the cartilage layers of the patellofemoral joint and their use in the assessment of
Cohen et al. (2003)
osteoarthritic cartilage damage
DISCUSSÃO
310
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coluna vertebral, umas das principais alterações percebidas na velhice é a acentuação das
curvaturas, sendo visíveis nos planos sagital, frontal e/ou transverso (Burke et al., 2010).
De acordo com Fagundes et al. (2018) o método considerado padrão-ouro para avaliar
desvios na coluna vertebral é o ângulo de Cobb, obtido através de radiografia. No entanto,
esse não é o melhor método para avaliação frequente da coluna vertebral, pois, além de ter
um custo elevado em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, ainda expõe o sujeito
à radiação que é nociva à saúde, incluindo o risco de câncer (Bandeira et al., 2010; Ferreira
et al., 2011; Legaye, 2012; Ribeiro et al., 2017; Sedrez e Candotti, 2013; Vacari et al., 2013).
Nesse sentido, com o avanço da tecnologia surge a fotogrametria. Esse instrumento é
considerado um recurso acessível, pois necessita apenas de equipamentos básicos, como
uma câmara digital fotográfica e um computador. Esse método quantitativo de análise postural
permite uma avaliação global da postura sendo possível quantificar as alterações encontradas
e obter dados mais confiáveis, fidedignos e objetivos quando comparados àqueles obtidos
a partir da observação visual (Teixeira, 2017; Fagundes et al., 2018).
Nesse sentido, Mota et al. (2013) e Teixeira (2017) afirmam que a fotogrametria é um
instrumento importante para a mensuração de possíveis alterações posturais presentes nas
pessoas idosas, pois permite mensurações precisas. Baraúna et al. (2004) concordam com
esses achados, pois em seu estudo, realizado com pessoas idosas, a fotogrametria mos-
trou-se um instrumento de fácil aplicação e capaz de avaliar o equilíbrio quantitativamente,
ou seja, com maior fidedignidade.
Em pessoas idosas, os desequilíbrios posturais estáticos podem limitar a mobilidade,
interferindo nas oscilações corporais, dificultando a manutenção do equilíbrio estático e da
marcha segura, aumentando assim, a chance desses indivíduos caírem (Fagundes et al.,
2022). A queda na pessoa idosa pode resultar em incapacidade funcional, limitando a pessoa
idosa nas suas atividades diárias e nas relações sociais, influenciando de maneira negativa
a qualidade de vida desta faixa etária (Aikawa et al., 2006; D’orsil et al., 2011; Pinto e Neri,
2013; Medeiros et al., 2014).
CONCLUSÃO
Sendo assim, ao final desse estudo é possível afirmar que a fotogrametria é um ins-
trumento não invasivo, acessível e eficaz na análise da postura estática e do equilíbrio em
pessoas idosas. Além disso, destaca-se que pesquisas relacionadas à postura estática são
de extrema importância, pois, a partir desses estudos será possível desenvolver medidas
de prevenção e/ou correção dessas alterações.
311
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Considera-se como limitação e sugestão da presente pesquisa a utilização de diferen-
tes bases de dados e palavras-chave a fim de apresentar novas informações sobre o tema
abordado no presente estudo.
Agradecimento
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21
PRESENÇA DO MEDO DE QUEDAS EM PESSOAS
IDOSAS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA
LITERATURA
'10.37885/230513158
RESUMO
317
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Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi realizar uma revisão integrativa da
literatura a respeito do medo de quedas em idosos senescentes.
MÉTODOS
Design do estudo
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura que possuiu como pergunta norteadora
“O que os estudos têm revelado sobre o medo de quedas em pessoas idosas que não seja
advindo de patologias pré-existentes?”, elaborada de acordo com a estratégia population or
problem/população ou problema, variables/variáveis e outcomes/resultados (PVO).
Para o levantamento das produções acerca da temática do medo de quedas em pes-
soas idosas, foram consultadas três bases de dados: Scientific Electronic Library Online
(Scielo), Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (Medline) e Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs). Em todas as bases de dados
realizou-se a aplicação de duas estratégias de pesquisa, sendo as seguintes estratégias:
Procedimentos da revisão
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Os principais dados extraídos dos artigos referentes ao medo de quedas em pessoas
idosas foram sintetizados em uma planilha, contendo as seguintes informações: autoria,
ano de publicação, país de realização do estudo, amostragem e método do estudo. Foi
realizada essa sistematização com o intuito de facilitar as análises críticas e descritivas das
produções elegidas.
Para análise do risco de viés realizou-se uma avaliação da qualidade metodológica dos
artigos com o Checklist for Analytical Cross Sectional Studies. Esse instrumento é composto
de oito questões: Q.1) Os critérios para inclusão na amostra foram claramente definidos?;
Q.2) Os sujeitos do estudo e a configuração foram descritos detalhadamente?; Q.3) A expo-
sição foi medida de maneira válida e confiável?; Q.4) Os critérios objetivos e padronizados
foram usados para medir a condição?; Q.5) Os fatores de confusão foram identificados?;
Q.6) Estratégias para lidar com fatores de confusão foram declaradas?; Q.7) Os resultados
foram medidos de maneira válida e confiável?; Q.8) A análise estatística apropriada foi usa-
da? (JOANNA BRIGGS INSTITUTE, 2016).
Esse Checklist pode possuir uma pontuação máxima de oito pontos, sendo que quan-
do o estudo atende ao critério previsto, a questão recebe um ponto. O risco de viés é con-
siderado Baixo quando a pontuação do estudo atinge mais de 70% da pontuação “sim”,
Moderado quando o estudo atinge 50% a 69% pontuação “sim” e Alto quando o estudo
alcança até 49% de pontuação “sim”. Um estudo com uma pontuação maior é considerado
detentor de uma melhor qualidade metodológica e com baixo risco de viés (JOANNA BRIGGS
INSTITUTE, 2016).
RESULTADOS
O levantamento bibliográfico realizado nas três bases de dados com as duas estraté-
gias de pesquisa, localizou um total de 1959 artigos científicos. Dentre esses, 1445 foram
excluídos por não atenderem aos critérios de inclusão. Após, foi aplicado os critérios de
exclusão, realizado a leitura do título e do resumo excluindo 501 artigos. Nessa etapa de
seleção também foram excluídos quatro artigos que já constaram na primeira estratégia de
busca. Assim, nove artigos foram elegíveis para compor esta revisão integrativa da literatura.
Esse processo de busca e seleção encontra-se apresentado na figura 1.
319
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Figura 1. Estratégias de seleção dos artigos.
Cada artigo abordou de forma distinta a temática de quedas em pessoas idosas, seja
realizando estudos com intervenção ou revisões da literatura.
Dentre os estudos elegidos dois se caracterizavam como estudos longitudinais
(DRUMMOND; LOURENÇO; LOPES (2020); AUAIS et al. (2017)), três estudos transver-
sais (GOTTSCHALK et al. (2020); ROMLI et al. (2020); BJERK et al. (2018)), três revisões
sistemáticas com meta-análise (WEBER et al. (2020); LIU et al. (2018); KUMAR et al. (2016))
e um ensaio clínico randomizado (KWOK; PUA (2016)).
No quadro 1 é possível observar informações extraídas dos artigos, estes represen-
tados em ordem cronológica de publicação, observando também a análise metodológica
realizada dos artigos elegidos, sendo que cinco artigos apresentaram baixo risco de viés,
quatro artigos risco moderado e nenhum artigo apresentou risco alto de viés.
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Quadro 1. Características dos artigos elegidos.
Amostra / Idade dos
Autores (ano) Objetivo(s) Resultados Conclusão Risco de viés
participantes
Drummond; 393 participantes / 65 Avaliar a incidência e per- O medo de cair ocorreu em 33,5% O medo de cair é uma condição 75% (6 pontos)
Lourenço; Lopes anos ou mais sistência do medo de cair e foi persistente em 71,3%. Os fa- frequente e persistente. Muitos
(2020) em idosos e os fatores de tores de risco para medo persis- fatores relacionados ao medo
risco clínicos / funcionais e tente foram: uso de mais de sete persistente não mostraram
psicossociais relacionados medicamentos, história de uma associação com a incidência
ao estilo de vida. ou duas quedas, velocidade de do medo, enfatizando a neces-
caminhada reduzida, deficiência sidade de estratégias focadas
auditiva, deficiência cognitiva, em reduzir os fatores de risco
sintomas depressivos e autoava- que podem estar associados à
liação de saúde ruim ou muito cronificação do medo de cair.
ruim.
Gottschal et al. 309 participantes / 70 Examinar a associação O medo de cair moderado ou O medo de quedas influenciou 62,5% (5
(2020) anos ou mais entre o medo de cair e a alto foi prevalente em 66% da negativamente os escores da pontos)
qualidade de vida relacio- amostra. Após o ajuste para qualidade de vida relacionada
nada à saúde. covariáveis, o medo de cair foi à saúde.
negativamente associado com a
qualidade de vida.
Romli et al. (2020) 1489 participantes / Avaliar a associação entre A maioria (76,4%) dos participan- Educação sobre os perigos do- 75% (6 pontos)
55 anos ou mais riscos domésticos e medo tes possuiu o medo de quedas. A mésticos a partir da perspectiva
de cair em residentes na história de quedas não teve asso- de interação pessoa-ambiente
comunidade com idade ciação com o medo de quedas (p pode encorajar o gerenciamen-
igual ou superior a 55 = 0,868), mas o medo de quedas to de riscos domésticos e redu-
anos. teve relação com a limitação das zir o medo de quedas.
atividades diárias (p < 0,001). Os
perigos domésticos eram menos
prováveis (p = 0,023) e problemas
funcionais eram mais prováveis (p
< 0,001) estar associado a um alto
grau de medo de quedas.
Weber et al. 37 artigos / NA Quantificar os efeitos de Artigos que abordaram a com- Intervenções mente-corpo 75% (6 pontos)
(2020) várias intervenções men- paração com grupos de controle envolvendo movimentos me-
te-corpo envolvendo movi- sem exercício foram observados ditativos pode servir como uma
mentos meditativos sobre em todos os resultados (todos oportunidade promissora para
resultados psicológicos p valores ≤ 0,007), além de um melhorar os domínios da saú-
relevantes de subdomínio de qualidade de vida de psicológica, como qualidade
saúde (ou seja, qualidade (p = 0,15). No Tai Chi Chuan foi de vida, sintomas depressivos,
de vida, sintomas depres- significativo para benefício na medo de quedas e qualidade
sivos, medo de cair e qua- qualidade de vida ( p = 0,03). do sono em idosos. Portanto,
lidade do sono) em idosos essas formas de exercícios po-
sem transtornos mentais. dem representar potenciais
medidas preventivas em rela-
ção ao aumento dos transtor-
nos mentais na velhice.
Bjerk et al. (2018) 155 participantes / Determinar as associações Uma pontuação mais alta na O medo de cair é um importan- 75% (6 pontos)
Acima de 67 anos entre qualidade de vida re- Escala Internacional de Quedas, te indicador para a qualidade
lacionada à saúde, medo foi significativamente associada de vida relacionada à saúde
de queda e função física a uma pontuação mais baixa em em idosos que caem receben-
em idosos que recebem quase todas as subescalas do SF- do cuidados domiciliares. Esta
cuidados domiciliares. 36, caracterizando uma qualidade associação é independente de
de vida reduzida. Idade mais alta medidas físicas. Uma melhor
foi significativamente associada a função física está significativa-
escores mais altos em função fí- mente associada a uma qua-
sica, saúde geral, saúde mental e lidade de vida relacionada à
resumo do componente mental. saúde física mais elevada.
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Amostra / Idade dos
Autores (ano) Objetivo(s) Resultados Conclusão Risco de viés
participantes
Liu et al. (2018) Seis artigos / NA Realizar uma revisão siste- Quatro estudos utilizaram inter- Sugere-se que as intervenções 50% (4 pontos)
mática com meta-análise venções baseadas em grupo e de Terapia Cognitivo Compor-
avaliando os efeitos da dois adotaram intervenção indi- tamental possuem efeitos ime-
Terapia Cognitivo Compor- vidual. O período de intervenção diatos e de retenção de até 12
tamental na redução do variou de 4 a 20 semanas, e o meses na redução do medo de
medo de cair e na melho- número e a duração do contato cair e efeito pós-intervenção
ra do equilíbrio em idosos face a face variaram. Os compo- de seis meses na melhora do
que vivem na comunidade. nentes principais da intervenção equilíbrio.
da Terapia Cognitivo Comporta-
mental incluíram reestruturação
cognitiva, estabelecimento de
metas pessoais e promoção de
atividades físicas.
Auais et al. (2017) 1841 participantes / Examinar a associação do A pontuação total média geral O medo de cair é um impor- 50% (4 pontos)
65 a 74 anos medo de cair com a mobi- da Avaliação do Espaço de Vida tante fator psicológico que está
lidade do espaço vital (ou foi de 68,7. A análise de regres- associado à redução do espaço
seja, a área espacial pela são linear múltipla demonstrou de vida de idosos em diferentes
qual uma pessoa se move uma relação de escala de medo contextos sociais e culturais,
diariamente) de idosos de quedas com mobilidade no e a força dessa associação é
residentes na comunidade espaço vital, mesmo após o específica do local. Abordar o
de cinco locais diferentes. ajuste para fatores de confusão medo de cair entre os idosos
funcionais, clínicos e sociodemo- ajudaria a melhorar sua mobili-
gráficos. dade nas comunidades locais, o
que, por sua vez, melhoraria a
participação social e a qualida-
de de vida relacionada à saúde.
Kumar et al. 30 artigos / NA Determinar o efeito das A maioria dos estudos era de pa- Intervenções de exercícios pro- 87,5% (7
(2016) intervenções de exercícios íses de alta renda (Austrália = 8, vavelmente reduzem o medo pontos)
sobre o medo de cair em EUA = 7). Períodos de interven- de cair em um grau pequeno a
pessoas idosas que vivem ção (<12 semanas = 22; 13-26 moderado imediatamente após
na comunidade. semanas = 7; > 26 semanas = 7) a intervenção em idosos que vi-
e frequência de exercícios (1-3 vem na comunidade.
vezes / semana = 32; ≥4 vezes /
semana = 4) variou entre os estu-
dos. O medo de cair foi medido
por questões de um único item
e escalas que medem as quedas,
equilíbrio e preocupação ou pre-
ocupações em cair. Meta-análises
mostraram um efeito pequeno a
moderado de intervenções de
exercícios na redução do medo
de cair imediatamente após a
intervenção.
Kwok; Pua (2016) 80 participantes / 60 O estudo compara os efei- Na semana 13, entre as interven- Após a conclusão de um pro- 50% (4 pontos)
anos ou mais tos de um programa de ções, o efeito das mudanças na grama de exercícios com o
exercícios Nintendo Wii e escala de eficácia de quedas não Nintendo Wii, observou uma
uma intervenção de exer- atingiu significância estatística (p aparente redução do medo de
cícios padrão baseada em = 0,07 pontos) na semana 24, o quedas quando comparados a
academia sobre o medo de grupo Wii mostrou estatistica- idosos alocados no grupo que
cair, força dos joelhos, fun- mente efeitos de escala sobre o receberam apenas exercícios
ção física e taxa de quedas grupo de ginástica (diferença = de força convencionais.
em idosos. 0,8 pontos, P = 0,01).
Legenda: NA – Não se aplica.
Fonte: Próprio autor.
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Tabela 1. Risco de viés avaliado pela ferramenta “JBI Critical Appraisal Checklist for Analytical Cross Sectional Studies”.
Autores Q.1 Q.2 Q.3 Q.4 Q.5 Q.6 Q.7 Q.8 %sim/risco
Drummond;
Lourenço; Lopes √ √ √ √ -- -- √ √ 75% (6 pontos)
(2020)
Gottschalk et al.
-- √ √ √ √ I -- √ 62,5% (5 pontos)
(2020)
Romli et al.
-- √ √ √ √ √ -- √ 75% (6 pontos)
(2020)
Weber et al.,
√ √ √ √ -- -- √ √ 75% (6 pontos)
(2020)
Bjerk et al.
√ √ √ √ -- -- √ √ 75% (6 pontos)
(2018)
Liu et al. (2018) √ √ -- √ -- -- I √ 50% (4 pontos)
Auais et al.
-- √ √ √ -- -- I √ 50% (4 pontos)
(2017)
Kumar et al.
√ √ √ √ -- √ √ √ 87,5% (7 pontos)
(2016)
Kwok; Pua (2016) √ √ I √ -- -- -- √ 50% (4 pontos)
Nota. Q.1) Os critérios para inclusão na amostra foram claramente definidos?; Q.2) Os sujeitos do estudo e a configuração foram
descritos detalhadamente?; Q.3) A exposição foi medida de maneira válida e confiável?; Q.4) Os critérios objetivos e padronizados
foram usados para medir a condição?; Q.5) Os fatores de confusão foram identificados?; Q.6) Estratégias para lidar com fatores de
confusão foram declaradas?; Q.7) Os resultados foram medidos de maneira válida e confiável?; Q.8) A análise estatística apropriada
foi usada?; I - Incerto; √ - Sim; -- - Não; NA – Não se Aplica.
DISCUSSÃO
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visando analisar a associação entre o medo de quedas e a qualidade de vida. Foi observado
que 66% das pessoas idosas apresentavam o medo de quedas moderado ou alto, sendo um
preditor que influenciou negativamente a qualidade de vida dos participantes, destacando
que o medo de quedas influencia negativamente a vida da pessoa idosa, promovendo uma
diminuição da sua qualidade de vida.
Esse declínio da qualidade de vida advindo do medo de quedas, provoca na equipe
multidisciplinar, que oferece assistência às pessoas idosas, a necessidade de atenção e
identificação aos fatores que ocasionaram o ato de cair, bem como o medo das quedas.
Diante isso, os autores Drummond, Lourenço e Lopes (2020) realizaram um estudo que
visava identificar a incidência, a persistência do medo de quedas e os fatores de riscos das
quedas em 393 pessoas idosas. Identificaram que o medo de quedas estava presente em
33,5% e foi observado que esses participantes possuíam mais de um fator preditor para o
risco de quedas, como a história de uma ou duas quedas, o uso de mais de sete medicamen-
tos, deficiência auditiva, velocidade de caminhada reduzida, deficiência cognitiva, sintomas
depressivos e autoavaliação de saúde ruim ou muito ruim.
Complementando, Romli et al. (2020) realizaram uma avaliação dos riscos domésticos
frente ao medo de quedas. Nesse estudo participaram 1489 pessoas idosas, e foi constatado
que o medo de quedas estava limitando as atividades diárias (p<0,001) e que um alto grau
do medo de quedas estava menos provável aos acidentes domésticos (p=0,023) e mais
prováveis aos distúrbios funcionais (p<0,001).
Dentre os fatores de riscos verificados frente aos achados da presente revisão, é
possível caracteriza-los em externos (medicamentos) ou internos (história de uma ou duas
quedas, deficiência auditiva, velocidade de caminhada reduzida, deficiência cognitiva, sinto-
mas depressivos, autoavaliação de saúde ruim ou muito ruim e medo de quedas). Embora
alguns fatores de riscos para as quedas não possam ser alterados, diversos são passíveis
de intervenção.
Para que as pessoas idosas tenham um atendimento universal conforme preconiza-
do no Estatuto do Idoso (BRASIL, 2016) é imprescindível uma equipe multidisciplinar para
educar, aconselhar, informar e conscientizar sobre os fatores que podem influenciar no ato
de cair, implementando programas de profilaxia e estratégias que visem reduzir às quedas
na população idosa (SHARIF et al., 2018).
É possível observar na revisão de literatura de Weber et al. (2020) que as interven-
ções mente-corpo possuem benefícios preventivos para as pessoas idosas. Esses autores
realizaram uma revisão sistemática com meta-análise da literatura analisando os efeitos de
intervenções mente-corpo (Tai Chi Chuan, Qigong, Yoga e Pilates). Compuseram essa re-
visão 37 ensaios clínicos randomizados, certificando que essas intervenções influenciaram
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positivamente os domínios do medo de quedas, podendo representar potenciais medidas
preventivas ao aumento dos riscos de quedas.
Em um estudo semelhante, Kumar et al. (2016) realizaram uma revisão sistemática com
meta-análise que analisou 30 estudos com o propósito de determinar o efeito das interven-
ções de exercícios sobre o medo de quedas em pessoas idosas. Os estudos tiveram como
intervenções o Tai Chi Chuan, Yoga, treino de equilíbrio, treinamento de força e resistência,
sendo que os autores constataram que as intervenções com exercícios físicos reduzem o
medo de quedas.
Essas práticas integrativas e complementares fornecem aos seus praticantes subsí-
dios e formas de prevenção de possíveis comorbidades como hipertensão arterial, diabetes
mellitus, dislipidemias e hipercolesterolemia, reduzindo as possíveis iatrogenias e os custos
no sistema público de saúde. As práticas integrativas e complementares em saúde são re-
gulamentadas pela Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde
(PICS) ampliando as ações de saúde da atenção primária e reduzindo os custos da atenção
secundária e terciária (BRASIL, 2006)
Bem como, Liu et al. (2018) realizaram uma revisão sistemática com meta-análise com
o propósito de avaliar os efeitos da terapia cognitiva comportamental na redução do medo
de quedas e na melhora do equilíbrio em idosos. Esses autores selecionaram seis estudos
para comporem a sua revisão, sendo que quatro estudos utilizaram intervenções em grupo
e dois adotaram intervenção individual. Os autores destacam que seu estudo é a primeira
revisão sistemática com meta-análise da terapia cognitiva comportamental que aborda a
temática da redução do medo de quedas e da melhora do equilíbrio nas pessoas idosas.
Observaram que os seus resultados são sugestivos de que as intervenções com a terapia
cognitiva comportamental têm efeitos imediatos e a longo prazo de até 12 meses na redução
do medo de quedas e efeito de seis meses pós-intervenção na melhora do equilíbrio.
Como visto, a terapia cognitivo-comportamental e os exercícios físicos sejam eles
associados ou não a prática de exercícios que requeiram complexos cognitivos é benéfica
para as pessoas idosas, proporcionando ganho da autoconfiança funcional, diminuição do
medo de quedas e dos acidentes domésticos, sendo que a elaboração de intervenções
com enfoque nas pessoas idosas acometidas por algum tipo de doença, proporciona, uma
melhora da qualidade de vida.
Visando ampliar a visão sobre intervenções tradicionais, a tecnologia vem ganhando
destaque não somente no mercado financeiro, mas também no campo da saúde com a apli-
cação de jogos durante as consultas. Os autores Kwok e Pua (2016) utilizaram a gameterapia
em seu estudo para comparar uma intervenção com programas de exercícios baseados em
realidade aumentada (não imersiva) a uma intervenção com exercícios convencionais de
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fortalecimento frente o medo de quedas. Após as 80 pessoas idosas receberem suas pré-
-determinadas intervenções, os autores evidenciaram que não ocorreram diferenças signifi-
cativas entre as intervenções, sendo apresentado que ambas intervenções foram benéficas.
As tecnologias que antes eram responsáveis por oferecerem entretenimento e serem
ferramentas de trabalho, atualmente além dessas funções, as tecnologias estão sendo em-
pregadas no campo da medicina como forma de diagnósticos e de intervenções. Intervenções
realizadas com auxílio de equipamentos tecnológicos despertam o interesse da pessoa idosa,
pois em muitas das vezes esses indivíduos não tiveram vivências com as tecnologias, sendo
algo novo para os mesmos.
As aplicações das intervenções podem ocorrer tanto em clínicas, consultórios e em
ambientes domiciliares, como realizado no estudo de Bjerk et al. (2018). Os autores reali-
zaram uma análise da relação da qualidade de vida relacionada a saúde e o medo de cair
em 155 pessoas idosas que recebiam cuidados domiciliares. Observaram que uma melhor
função física está associada a uma melhor qualidade de vida e que uma qualidade de vida
mais alta está substancialmente relacionada a um nível mais baixo do medo de quedas.
Muitas pessoas idosas, devido ao seu medo de cair, limitam as suas atividades diárias
ao seu âmbito domiciliar, diminuindo a sua interação social, ocasionando consequências
negativas para a sua vida, cabe então a equipe multidisciplinar adaptar suas intervenções
à realidade domiciliar do indivíduo, possuindo como prognóstico a independência funcional
e o seu retorno à vida social.
Diante disso, Auais et al. (2017) realizaram um estudo com 1841 pessoas idosas com
objetivo de examinar a associação do medo de quedas com a mobilidade no espaço vital,
ou seja, o espaço em que a pessoa se move no seu dia a dia. Identificaram que o medo de
quedas é um fator psicológico importante e que está relacionado com a redução do espaço
vital, devendo a temática do medo de quedas ser abordada, para auxiliar as pessoas idosas
a melhorarem a sua mobilidade, bem como sua participação social.
Completando Auais et al. (2017), os autores Aguiar, Lopes e Souza (2019) afirmam que
a mobilidade e o equilíbrio estão diretamente ligados à propensão da ocorrência de futuras
quedas, ficando evidente a necessidade da plena discussão e elaboração de estratégias
que abordem o aperfeiçoamento da mobilidade, para que assim, diminua os fatores de risco
para o ato de cair.
As quedas nas pessoas idosas é um fato corriqueiro, já caracterizado como um pro-
blema de saúde pública, sendo imprescindível a atuação de uma equipe multidisciplinar na
população idosa, visando atender os princípios do Estatuto do Idoso. Devendo-se assim,
possuir intervenções multifatoriais para a redução dos riscos de cair, principalmente para
evitar o surgimento do medo de quedas.
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CONCLUSÃO
No contexto geral dos artigos analisados por esta revisão integrativa da literatura, a
temática do medo de quedas na população idosa se mostrou bem definida e explanada.
Foi observado que o medo de quedas é um fator de risco para a ocorrência de no-
vas quedas, sendo um fator intrínseco, mas que com a aplicação de intervenções seja
de cunho mente-corpo, cognitivo e/ou exercícios físicos podem proporcionar a redução
do medo de quedas.
Também se evidenciou que existe uma relação direta entre o medo de quedas e a
qualidade de vida, ou seja, quanto menor o medo de quedas melhor é a qualidade de vida.
É possível destacar que toda a equipe multidisciplinar possui o seu papel fundamental
quando diz respeito ao medo de quedas, cada profissional proporcionando de forma distinta
e complementar os seus saberes, seguindo assim, os preceitos estabelecidos no Estatuto
do Idoso para um atendimento universal e igualitário.
Os resultados da presente revisão integrativa da literatura podem ser úteis aos pesqui-
sadores que buscam informações sobre a temática do medo de quedas, mas não se exclui
a necessidade de novos estudos, ressaltando a sua importância, sobretudo os estudos
transversais, longitudinais e em específico na população brasileira.
Agradecimentos
REFERÊNCIAS
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nível em: http://dx.doi.org/10.5335/rbceh.v13i1.4868. Acesso em: 19 set. 2021.
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22
PREVALÊNCIA DE FRAGILIDADE E FATORES
ASSOCIADOS EM IDOSOS LONGEVOS DO
INTERIOR NORTE DE PORTUGAL
'10.37885/230412785
RESUMO
MÉTODOS
Tipo de estudo
Variáveis em estudo
RESULTADOS
Participaram na investigação 120 idosos com mais de 80 anos de idade, sendo que
destes 55,8% eram frágeis, 38,3% eram pré-frágeis e apenas 5,8% eram robustos. A pre-
valência de fragilidade foi assim de 55,8% na amostra em estudo.
332
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A maioria dos idosos era do sexo feminino (68,3%), e a média de idade foi
de 86,2±4,1 anos.
A fragilidade prevaleceu em 58,5% das mulheres e em 50% dos homens (Tabela 1).
Observamos uma associação entre o perfil de fragilidade e o uso de meios auxiliares de
marcha (p=0,018) e entre fragilidade e problemas de audição (p=0,033).
Como se denota pela tabela 2 a idade média dos participantes rondou os 86 anos,
existindo diferenças de médias, com significância estatística, entre as várias categorias da
variável fragilidade (p<0,05).
Em termos médios, os participantes do estudo consumiam cinco medicamentos diá-
rios, sendo esse número mais elevado nos idosos fragilizados (p<0,05). Do mesmo modo,
e como se pode verificar pelos valores médios do ICC, os idosos fragilizados apresentavam
mais comorbidades (p<0,05).
Relativamente às atividades básicas (IB) e instrumentais de vida diária (ELB), a análise
dos valores médios pelas categorias da variável fragilidade, indica que os idosos frágeis,
apresentam uma maior dependência funcional para a realização das suas atividades quo-
tidianas (p<0,05).
Os valores médios da triagem nutricional do MNA, sugerem que os idosos mais fragi-
lizados apresentam maior risco de desnutrição (p<0,05).
333
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Tabela 2. Valores médios amostrais e entre níveis de fragilidade.
DISCUSSÃO
Limitações do estudo
CONCLUSÃO
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Agradecimentos
REFERÊNCIAS
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23
PROMOVENDO A INTEGRALIDADE ATRAVÉS DA
REESTRUTURAÇÃO DO NÚCLEO DO IDOSO DE
UM HOSPITAL REGIONAL DE PERNAMBUCO
'10.37885/230513169
RESUMO
MATERIAIS E MÉTODOS
Todas as etapas ocorreram de forma concomitante e para realização das mesmas fo-
ram realizadas reuniões com a equipe do Núcleo, encontros individuais com os profissionais
e levantamento bibliográfico. As reuniões com toda a equipe foram planejadas para serem
realizadas mensalmente bem como os encontros individuais com os profissionais. As ações
da sala de espera, momento em que os usuários aguardam os atendimentos dos profis-
sionais, oram avaliadas através da mensuração da quantidade de ações que deveriam ter
sido realizadas e as que de fato foram realizadas. A avaliação do instrumento de avaliação
multiprofissional e da estruturação do fluxo foi realizada através de um questionário de sa-
tisfação direcionado aos profissionais.
Esse questionário foi construído baseado no modelo de verificação de Likert. O mesmo
contendo seis afirmativas (quatro referentes ao instrumento de avaliação e dois referentes
ao fluxo): 1. O instrumento de avaliação é de fácil preenchimento; 2. A linguagem utilizada
341
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no instrumento é clara e objetiva; 3. O conteúdo do instrumento de avaliação é satisfatório;
4. O instrumento de avaliação é útil na rotina da minha prática profissional; 5. A utilização do
guia de atendimentos ajudou a melhorar o fluxo e 6. A presença de um profissional guiando
os usuários ajudou a melhorar o fluxo. Os dados coletados foram avaliados por meio de
análise descritiva, que, segundo Silvestre (2007), é utilizada com o objetivo de organizar e
descrever os dados. Para isso, foram construídos gráficos, tabelas e fluxogramas, através
do programa Microsoft Excel 2010.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tabela 1. Ações de educação em saúde na sala de espera do Núcleo do Idoso do Hospital Regional Dom Moura durante
o ano de 2017 e 2018.
Profissional Número de
Data Tema
responsável participantes
10/11/2017 Benefício de Presta ‹o Continuada Assistente Social 9
17/11/2017 Mitos e verdades sobre alimentação saudável Nutricionista 6
27/11/2017 Importância do exercício e suas particularidades Fisioterapeuta 7
01/12/2017 Autocuidado e qualidade de vida Psicóloga 10
08/12/2017 Importância da hidrata ‹o Nutricionista 9
15/12/2017 Violência contra o idoso Assistente Social 15
22/12/2017 Orientações ergonômicas Fisioterapeuta 12
Depressão, isolamento, solidão e falta de cuidado
02/02/2018 Psicóloga 12
consigo mesmo para uma qualidade de vida
09/02/2018 Carnaval Nutricionista 7
16/02/2018 Envelhecimento Assistente Social 7
Artrite, artrose e osteoporose: particularidades e
23/02/2018 Fisioterapeuta 10
maneiras de aliviar os sintomas
Fonte: Elaborada pelos autores.
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A Figura 2 mostra o gráfico com a média das respostas dos profissionais referentes
a cada item do questionário de avaliação. Pode-se observar que nos itens referentes ao
preenchimento e conteúdo do instrumento (questões 1 e 3), a maioria das respostas ficou
entre “concordo parcialmente” e “concordo totalmente”, já os itens referentes à linguagem e
à contribuição da ficha para a prática profissional (questões 2 e 4) apresentaram a pontuação
máxima referente a “concordo totalmente”. Esses resultados demonstram que houve um
grau de satisfação positivo dos profissionais em relação ao instrumento.
Figura 2. Gráfico referente à média da resposta dos profissionais para o Questionário de Avalia ‹o do Instrumento criado.
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foi observado e pontuado pelos profissionais a necessidade de uma pessoa de apoio para
garantir o seguimento do mesmo.
Os resultados referentes às respostas dos profissionais em relação às intervenções
realizadas para organizar o fluxo de atendimentos estão demonstrados na Figura 2. Todos
os profissionais pontuaram concordo totalmente para as duas questões referentes ao fluxo
(questões 5 e 6) afirmando que a utilização do guia de atendimentos e a presença de um
profissional guiando os usuários ajudou a melhorar o fluxo.
Roese e Gerhardt (2008) definem fluxos de utilização de serviços como uma busca
por um atendimento ou a trajetória percorrida pelo usuário, estando diretamente relacio-
nado a todos os esforços realizados para se conseguir uma resolutividade. O emprego de
instrumentos que favoreçam os fluxos garante a direcionalidade e continuidade das ações
interferindo diretamente na qualidade do serviço ofertado ao usuário além de melhorar os
processos de trabalho (WERNECK; FARIA; CAMPOS, 2009). Durante as intervenções para
o fluxo foi possível observar a participação de todos os profissionais nesse processo e uma
consequente melhoria da qualidade dos atendimentos por conta da sua organização.
Segundo Oliveira e Cutolo (2012), a integralidade não significa totalidade quando le-
vamos em consideração a complexidade do processo saúde-doença, e se configura no mo-
mento em que os profissionais estão em contato com os usuários, interagindo e procurando
um território em comum com o objetivo de favorecer o contato com o mesmo. Esse princípio
não exclui o conhecimento sobre as doenças, mas proporciona uma visão mais abrangente
sobre as necessidades do sujeito, sendo realizada quando se procura um estabelecimento
de uma relação com o usuário promovendo um cuidar compromissado, baseado em res-
ponsabilidade e confiança (OLIVEIRA; CUTOLO, 2012).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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O cuidado segundo Cecílio e Merhy (2003, p. 2) “é um somatório de pequenos cuidados
parciais que vão se complementando, de maneira mais ou menos consciente e negociada,
entre os vários cuidadores” e para geri-lo é necessário a utilização das tecnologias de saúde
(leves, leve-duras e duras). Durante a pesquisa, foi possível observar a utilização dessas
tecnologias com o objetivo de promover uma melhor assistência ao usuário a partir de um
olhar pautado no cuidado integral.
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SNAQ 65+ COMO INSTRUMENTO DE TRIAGEM
NUTRICIONAL APLICÁVEL EM IDOSOS: UMA
REVISÃO NARRATIVA
'10.37885/230513125
RESUMO
DESENVOLVIMENTO
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que os processos e fatores antecedentes sejam determinantes para a condições atuais do
idoso (PEDONE, 2019).
A velhice normal ou senescência fisiológica é caracterizada pela perda progressiva
funcional com conjunto de alterações psicológica, biológica e funcional própria do envelhe-
cimento, com ausência de patologia. Para um envelhecimento com ausência de patologia, o
sistema de saúde juntamente com o PNSPI, promove para os idosos o envelhecimento ativo,
com objetivo de permitir um bem-estar físico, mental e social. Essa iniciativa proporciona
a participação e inclusão dos idosos na sociedade, compreendendo suas necessidades e
cuidados adequados à saúde. Tal processo visa aumentar a perspectiva e qualidade de vida
dessa população (TÁNNUS et al., 2016; TALLMANN, 2011).
O envelhecimento patológico ou senilidade também contém alterações fisiológicas,
porém com a presença da doença decorrente ou não do estilo de vida do idoso. Os principais
fatores de risco para idosos com presença de doença é o estresse, tabagismo, obesidade,
etilismo e uma nutrição inadequada, comprometendo ainda mais à saúde deles. Portanto,
é de grande importância para o envelhecimento patológico a atenção primaria à saúde,
para o tratamento de doença, avaliação do estado nutricional, possibilitando a prevenção
de agravos das doenças nos indivíduos idosos (TALLMANN, 2011; ARAÚJO et al., 2014).
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A desnutrição pode ter causas primárias ou secundárias, a primária surge quando o
consumo de alimentos é inadequado ou insuficiente e de baixa qualidade nutricional. Já na
secundária a desnutrição está relacionada a doenças subjacentes que alteram o processo
de absorção e/ou metabolismo do indivíduo. Entre as principais condições patológicas tipica-
mente associadas a perda de peso, encontra-se a caquexia, a anorexia, hipermetabolismo/
hipercatabolismo e a sarcopenia (DUARTE, 2017).
Por sua vez, a sarcopenia é definida pelo Grupo de Trabalho Europeu sobre Sarcopenia
em Pessoas Idosas como síndrome caracterizada pela perda progressiva e generalizada
de massa muscular esquelética associada a perda de força, com um risco de incapacidade
física, resultante do aumento nos riscos de quedas, fraturas e morte em idosos. Embora
seja encontrada principalmente em idosos, também pode se desenvolver em adultos jovens.
Sendo assim, a sarcopenia pode ser classificada em primária, quando ocorre exclusiva-
mente pelo processo de envelhecimento, e secundária quando se pode evidenciar uma ou
mais causas (relacionadas à inatividade, doenças ou nutrição) para o seu desenvolvimento
(GARIBALLA; ALESSA, 2013; CRUZ-JENTOFT et al., 2019).
No diagnóstico da sarcopenia a força tem papel principal, pois quando detectado a baixa
força muscular, a baixa qualidade muscular e baixo desempenho físico, considera-se sua
presença. Conforme estas alterações, a sarcopenia pode ser classificada em seus estágios.
Sendo o primeiro estágio denominado de pré-sarcopenia, onde ocorre apenas a perda de
massa muscular. O estágio de sarcopenia é combinação de perda muscular com perda de
função, com comprometimento da força muscular ou do desempenho muscular. E por fim,
estágio avançado ou severo, ocorre quando a perda de massa muscular é acompanhada
de perda da força e do desempenho muscular (CRUZ-JENTOFT et al., 2019).
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baixo custo na utilização. Também facilitando para um melhor tratamento dietoterápico aos
pacientes diagnosticados com deficiência ou distúrbio nutricional e monitoramento destes
(LIMA et al., 2016).
Por fim, o monitoramento do estado nutricional é uma das prioridades da atenção à
saúde do idoso, utilizando-se de indicadores para avaliar o impacto da doença e intercorrên-
cias que afetam na qualidade de vida do indivíduo idoso. O SISVAN é utilizado nos usuários
atenção básica à saúde em todos os ciclos de vida, promovendo ações de alimentação
saudável, controle de distúrbios nutricionais, inserindo nos atendimentos rotineiros avalia-
ção antropométrica, consumo alimentar, monitoramento do estado nutricional do paciente,
diagnosticando e prevenindo os riscos nutricionais (SANTOS et al., 2012; BRASIL, 2015).
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Figura 1. Fluxograma da aplicação da SNAQ 65+.
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com uma caneta. Com o braço relaxado ao longo do corpo será mensurado a circunferên-
cia do braço no ponto médio em que foi determinado e registrado o valor em centímetros.
Caso o valor mensurado for < 25cm é indicativo de desnutrição (pular para o passo 4), já
em valores >25cm continuar a pesquisa (seguir para o passo 3).
No terceiro passo (apetite e funcionalidade), o paciente será mais uma vez questiona-
do. A primeira pergunta é se o indivíduo “Teve um apetite reduzido na semana anterior?”
caso a resposta for “Sim” provável risco de desnutrição, já se a resposta for “Não”, não terá
risco. A segunda pergunta é se o indivíduo “Consegue subir e descer uma escada de 15
degraus sem descansar?” caso a resposta for “Sim” é considerado sem risco de desnutrição,
em casos que a resposta for “Não” é indicativo a risco de desnutrição. Mesmo que o paciente
não consiga subir e descer os 15 degraus, será feito outras perguntas como: “Consegue
andar durante 5 minutos sem descansar?” ou se o mesmo for dependente de cadeira de
rodas a pergunta será “Consegue empurrar a sua cadeira de rodas durante 5 minutos sem
descansar?”, caso ambas as respostas forem “Não” indicará risco de desnutrição, e se a
resposta for “Sim”, o idoso sem risco para desnutrição.
Antes de passar para o quarto passo serão analisados rapidamente todos os dados
colhidos, em que indicará se um idoso está sem risco para desnutrição ou com risco de des-
nutrição ou desnutrido. Por fim, durante o quarto passo (política de tratamento), em caso de
nenhuma desnutrição estabelecida no paciente, não será tomada nenhuma ação. Havendo
o risco de desnutrição, irá ser fornecido orientações sobre as consequências da desnutrição
e a importância de uma boa nutrição, aconselhando nas escolhas de alimentos saudáveis
e se necessário suplementações. O paciente que apresentar desnutrição será orientado a
consultar o médico, o nutricionista e se necessário o dentista.
A SNAQ 65+ é considerada de boa reprodutibilidade, fácil e rápida aplicação, baixo
custo, pois não necessita de equipamentos pesados e caros e sendo considerada padrão-
-ouro para determinar a desnutrição em idosos na comunidade, prevenindo os riscos de
mortalidade causado pela desnutrição. Apesar da ferramenta ser de fácil aplicação, a mesma
deve ser aplicada pelo profissional de saúde treinado, pois diminuindo a possibilidade de
falsos diagnósticos nutricional (WIJNHOVEN et al., 2012).
No ano de 2012, foi realizado um estudo observacional transversal utilizando a SNAQ
65+ para diagnóstico de desnutrição em idosos residentes na comunidade holandesa, pri-
meira publicação utilizando a SNAQ 65+ após sua validação. No estudo foram examinadas
três amostras, a primeira dispôs de 1267 indivíduos, o qual fez parte do Estudo Longitudinal
sobre Envelhecimento em Amsterdã, tradução de Longitudinal Aging Study Amsterdam
(LASA). A segunda amostra foi realizada com 814 indivíduos em atendimento domiciliar e
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a terceira com 1878 pacientes durante a campanha anual de vacinação contra influenza
(SCHILP et al., 2012).
Observou-se no estudo a predominância de desnutrição foi mais elevada na amostra
com indivíduos em atendimento domiciliar (35%), seguido da amostra de clínica geral (12%)
na campanha de vacinação anual contra influenza e LASA (11%). Também pode se observar
nas amostras a prevalência de desnutrição conforme o aumento da idade. Também relata
os benefícios da ferramenta SNAQ 65+ para diagnóstico nutricional de forma fácil, rápido
e de baixo custo. E concluiu afirmando que o índice encontrado de desnutrição em idosos
residentes na comunidade holandesa foi relativamente alto, tendo predominância nos pa-
cientes em atendimento domiciliar. Reconheceu-se que o rastreamento da desnutrição é
importante para iniciar o tratamento em tempo hábil, prevenindo o agravamento do estado
nutricional e evitar risco de mortalidade em pacientes idosos (SCHILP et al., 2012).
Em 2013 a SNAQ 65+ foi aplicada no estudo randomizado que tinha como objetivo
determinar os efeitos de um tratamento dietético em idosos desnutridos, indivíduos da co-
munidade em atenção primária. O estudo foi realizado pela nutrição em cuidados primários
na região de Amsterdã, na Holanda. Onde a SNAQ 65+ foi utilizada na primeira fase de
recrutamento do estudo, aplicada por enfermeiros e pesquisadores treinados da atenção
primária em 3.591 idosos acima de 65 anos não institucionalizados. Tendo como intuito
identificar os idosos com desnutrição para participarem do estudo (SCHILP et al., 2013).
O ensaio randomizado foi realizado de forma paralela, na qual 146 recrutados foram
divididos em dois grupos selecionados aleatoriamente para o grupo intervenção (n= 72)
foram encaminhados para acompanhamento nutricional com nutricionistas treinados) e o
grupo controle (n= 74) receberam os cuidados habituais e não foram acompanhados pelo
nutricionista). O acompanhamento foi durante 3 meses e 6 meses do estudo, não encontra-
ram grandes resultados no tratamento nutricional após o tempo de acompanhamento nos
itens, peso corporal, desempenho físico e força de preensão manual. Mas foi observado o
efeito do tratamento no ganho de peso em idosos ativos, quando comparados aos idosos
inativos. O estudo concluiu que o acompanhamento nutricional específico para essa faixa
etária é importante, porém os resultados seriam vistos se o acompanhamento fosse reali-
zado com colaboração de uma equipe multidisciplinar no tratamento (SCHILP et al., 2013).
Em 2014 foi publicado um estudo de revisão sistemática avaliando capacidade das
ferramentas de rastreamento de desnutrição existentes para identificar o risco de inanição,
sarcopenia e caquexia. Os critérios para avaliar a inanição nas ferramentas era a presença
dos itens relacionados à perda de apetite ou falta ou ingestão dietética reduzida, perda de
peso durante um período especificado e o uso do índice de massa corporal (IMC). Na sarco-
penia foram itens relacionados a funcionalidade, desempenho físico, força muscular e massa
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muscular. Já na caquexia foram avaliados nas ferramentas os itens relacionados a perda de
peso não intencional, diminuição da força muscular, anorexia, fadiga, índice de massa livre
de gordura e bioquímica anormal na presença de doença subjacente (HEALY et al., 2014).
No estudo foram avaliadas 31 ferramentas de triagem, destas somente 20 apresentaram
itens adequados para diagnosticar inanição, 3 para sarcopenia (Mini Avaliação Nutricional
- MNA, Mini Avaliação Auto-Administrada - SelfMNA e o Curto Questionário de Avaliação
Nutricional 65+ - SNAQ 65+) e nenhuma tiveram capacidade de triar caquexia. O estudo
conclui que é necessário um futuro desenvolvimento de uma ferramenta de triagem para
desnutrição que apresente a capacidade de avaliar os riscos para inanição, sarcopenia e
caquexia (HEALY et al., 2014).
No ano de 2016 foi publicado um estudo de revisão narrativa, tendo como objetivo
identificar ferramentas de triagem nutricional na literatura que tinham maior especificidade
e sensibilidade para identificar desnutrição proteica-energética no cenário de reabilitação
com idosos. No estudo foram selecionas 10 ferramentas de triagem nutricional, na qual
foram avaliadas quanto a sua especificidade e sensibilidade nos pacientes em reabilitação.
Apenas 4 das ferramentas (MST- Ferramenta de Triagem de Desnutrição, MUST- Ferramenta
Universal de Avaliação Nutricional, SNAQ- Curto Questionário de Avaliação Nutricional e
SNAQ 65+) atingiram os valores estabelecidos pelo estudo. O estudo conclui relatando
que a ferramenta de triagem MST tem forte eficácia, mas que o MUST, SNAQ e SNAQ 65+
também poderia ser apropriado para uso como ferramentas de triagem nutricional na reabi-
litação (MARSHALL, 2016).
Ainda em 2016, foi publicado um estudo transversal na Holanda sobre fatores associa-
dos ao risco de desnutrição em idosos residentes na comunidade com atendimento domici-
liar. No estudo foi utilizado SNAQ 65+ para triar 936 idosos acima 65 anos, as triagens foram
realizadas por enfermeiros da assistência domiciliar e nutricionistas treinados. Na triagem
502 idosos foram considerados sem risco nutricional, 74 apresentaram risco para desnutri-
ção, 274 apresentaram desnutrição e 86 indivíduos com triagens incompletas (VAN DER
POLS-VIJLBRIEF et al., 2016).
Foram avaliados fatores demográficos, social, financeiro, estilo de vida, doença, cuida-
dos psicológicos, função física, ingestão de alimentos e apetite e função oral, que poderiam
estar associados a desnutrição nos indivíduos avaliados. O estudo concluiu relatando que
a desnutrição é multifatorial e enfatizou que são necessários maiores cuidados ao público
idoso da atenção primaria e secundário para diminuição da desnutrição (VAN DER POLS-
VIJLBRIEF et al., 2016).
No ano de 2017 foi publicado um resumo científico sobre desnutrição em idosos,
objetivando a importância preventiva-terapêutica e intervenção nutricional. Na qual citou a
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SNAQ 65+ como uma Triagem nutricional periódica na população idosa, usando escalas
validadas que identifica o risco nutricional e / ou a desnutrição. Concluindo que triagem e a
avaliação nutricional são consideradas elementos-chave na prevenção e tratamento precoce
em desnutrição nos idosos (LÓPEZ, 2017).
Ainda no ano de 2017 o Acordo Nacional de Cooperação em Cuidados Primários
tradução de Landelijke Eerstelijns Samenwerkingsafspraak (LESA). A LESA fornece di-
retrizes para a colaboração entre clínicos gerais, nutricionistas e enfermeiros na detecção
precoce, diagnóstico e prestação de cuidados a pacientes adultos com risco nutricional ou
desnutrição na atenção primária. Relatou no estudo como identificar um paciente com risco
nutricional e/ou desnutridos utilização a ferramenta SNAQ 65+ e explicando como interpre-
ta-la (DIJKSTRA, 2017).
Em 2019 foi publicado um estudo que tinha como objetivo identificar a prevalência e
determinantes da desnutrição em idosos holandeses residentes na comunidade utilizando
duas ferramentas de triagem on-line. Utilizaram um site com informações gerais sobre ali-
mentação saudável para envelhecimento saudável e autoteste, na qual foi criado em 2017
por um grupo holandês. O site fornece duas ferramentas para avaliar o risco de desnutrição:
Idosos na Comunidade Avaliação de riscos para alimentação e nutrição, versão II tradução
Seniors in the Community: Risk evaluation for eating and nutrition, Version II (SCREEN II),
uma ferramenta para avaliar risco nutricional e uma versão modificada do SNAQ 65+, uma
ferramenta para avaliar o risco de desnutrição. Ambas as ferramentas podem ser preenchi-
das pelo participante ou pelo seu cuidador (BORKENT, 2019).
A versão modifica da SNAQ 65+ (DUTCH MALNUTRITION STEERING GROUP, 2019)
em que foi utilizada no site substituiu a circunferência do braço para uso IMC, pois analisaram
o quanto difícil era um idoso medir a circunferência do braço. No entanto, o uso de dados
autorrelatados para obtenção do IMC podem não serem confiáveis, pois podem ocorrer uma
subestimação de peso e superestimação de altura em idosos. No estudo a prevalência ge-
ral de fatores de risco nutricionais foi de 84,1%, e o aumento do risco de desnutrição foi de
56,8%. Participantes com idade ≥85 obtiveram pior pontuação em quase todos os itens da
SCREEN II e o SNAQ65 +. O estudo concluiu que a triagem nutricional utilizando a internet
podem contribuir para a identificação e prevenção precoces desnutrição em adultos e idosos
de forma mais rápida, prática e acessível (BORKENT, 2019).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se observar que quando se iniciou o trabalho de pesquisa constatou-se que a des-
nutrição em pessoas idosas é recorrente e multifatorial, tornando-se importante a identificação
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da desnutrição em tempo hábil, para que assim evite agravamento da saúde delas. Por isso
foi visto a importante de estudar sobre uso da SNAQ 65+ em triagem nutricional de idosos.
No estudo constatou-se que o objetivo geral foi atendido, pois efetivamente o trabalho
conseguiu realizar o levantamento bibliográfico sobre a aplicabilidade da ferramenta de tria-
gem nutricional SNAQ 65 + em idosos, através de buscas nas bases de dados. Os objetivos
específicos também foram atendidos, pois foram avaliados os estudos desde a elaboração
aos dias atuais e a aplicabilidade da SNAQ 65+ em cada um destes estudos, a qual também
possuíam comparações da mesma frente às outras ferramentas aplicáveis na avaliação do
risco nutricional em idosos.
A pesquisa partiu de uma hipótese sobre à aplicabilidade da SNAQ 65+ na população
idosa fora do local onde ela foi desenvolvida. Durante o trabalho verificou-se que os estudos
utilizando a SNAQ 65+ confirmaram que a ferramenta realmente tem uma boa aplicabilidade
nesta população, além de ser de fácil e rápida execução, é uma ferramenta de baixo custo
e que contribui para uma identificação precoce do risco nutricional ou desnutrição.
Diante da metodologia proposta em uma pesquisa narrativa, percebeu-se que o trabalho
poderia ter sido realizado com mais estudos. Porém, como há poucas publicações sobre a
SNAQ 65+, isso foi uma das limitações na pesquisa, além de não ter sido encontrado ne-
nhum artigo ou investigação utilizado a SNAQ 65+ no Brasil.
Torna-se necessário futuras pesquisas com a SNAQ 65+, pois ela é uma ferramenta
nova e pouco explorada. Será que a SNAQ 65+ tem veracidade quando utilizada em outros
países fora do continente Europeu? Como seriam os resultados aplicando-a em idosos de
países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos? Tais questionamentos poderão ser res-
pondidos através de novos estudos.
REFERÊNCIAS
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SOBRE OS ORGANIZADORES
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ÍNDICE REMISSIVO
Capacitação: 52 Formação: 52
Concepção Hegemônica: 111 Fragilidade: 87, 95, 222, 223, 226, 227, 228, 231,
336
Conhecimento: 139, 147, 208, 209
H
Cuidado: 32, 114, 254
Hipertensão: 86, 91
Cuidados Paliativos: 52
I
Cultura: 17, 48, 161, 165, 268
Idoso: 16, 18, 30, 81, 86, 200, 214, 223, 318, 323,
D 324, 326, 327, 328, 330, 339, 340, 341, 342, 343,
344, 346, 362
Demência: 48, 50, 228
Idoso Frágil: 86
Desnutrição: 75, 81, 352, 353, 359, 362
Idoso Fragilizado: 330
E
Idosos: 49, 50, 83, 86, 92, 100, 105, 109, 184, 223,
Educação: 49, 50, 81, 83, 118, 139, 166, 183, 184, 229, 259, 261, 272, 290, 352, 360
185, 211, 314, 321, 339, 347, 348
Idosos Longevos: 223
Educação em Saúde: 339, 347, 348
Integralidade em Saúde: 339
Enfermagem: 49, 54, 55, 64, 82, 83, 96, 107, 139,
142, 150, 151, 153, 154, 183, 227, 233, 251, 269, Interação: 161
328, 336, 347, 348, 361, 362, 363
J
Envejecimiento: 188
Jogo Sério: 235
Envelhecimento: 32, 48, 49, 83, 96, 165, 166, 167,
183, 185, 186, 210, 211, 239, 250, 254, 255, 328, M
330, 339, 343, 347, 348, 352, 357, 362, 363
Meio Ambiente: 198
Envelhecimento Humano: 254, 328, 348, 362
Menopausia: 188, 195
Equilíbrio: 308
Modos de Envelhecimento: 171
365
Envelhecimento Humano e Contemporaneidade: tópicos atuais em pesquisa - ISBN 978-65-5360-368-4 - Vol. X - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
ÍNDICE REMISSIVO
P
Parasitoses: 198
Q
Quedas: 228, 308, 318, 321, 328, 333
R
Radiação UV: 272, 290
S
Saúde: 31, 32, 40, 49, 51, 54, 60, 61, 62, 64, 70,
71, 72, 81, 84, 88, 95, 96, 101, 105, 109, 111, 113,
117, 118, 119, 120, 138, 142, 143, 150, 151, 153,
154, 157, 160, 165, 166, 169, 174, 183, 184, 186,
198, 199, 200, 203, 208, 209, 210, 211, 212, 215,
221, 222, 223, 224, 226, 231, 232, 233, 235, 238,
239, 240, 249, 257, 259, 264, 265, 266, 267, 268,
269, 270, 275, 287, 293, 305, 308, 310, 312, 313,
314, 317, 318, 325, 327, 328, 329, 339, 340, 344,
347, 348, 349, 351, 361, 363
T
Tratamento: 214, 221
V
Velhice: 136, 137, 183, 184, 185, 186
366
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