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ROSEMARY LAÍS GALATI

(Organizadora)

Alimentos
&
Alimentação
Animal

editora

científica digital
ROSEMARY LAÍS GALATI
(Organizadora)

Alimentos
&
Alimentação
Animal
1ª EDIÇÃO

editora

científica digital

2021 - GUARUJÁ - SP
editora

científica digital

EDITORA CIENTÍFICA DIGITAL LTDA


Guarujá - São Paulo - Brasil
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(eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG)

A411 Alimentos e alimentação animal / Organizadora Rosemary Laís Galati. – Guarujá, SP: Científica Digital, 2021.
E-BOOK
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Formato: PDF
Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader
Modo de acesso: World Wide Web
ISBN 978-65-5360-014-0
DOI 10.37885/978-65-5360-014-0

1. Nutrição animal. I. Galati, Rosemary Laís.

2021
CDD 636

Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422


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APRESENTAÇÃO
Esta obra constituiu-se a partir de um processo colaborativo entre docentes, estudantes e pesquisadores. Resulta,
também, de movimentos interinstitucionais e de ações de incentivo à pesquisa que congregam pesquisadores de diferentes
Instituições de ensino e pesquisa. O livro aborda alguns aspectos relacionados ao tema Alimentos e Alimentação, e instiga
profissionais na busca por melhorias na produção a partir do uso de alimentos tradicionais ou alternativos, com redução de
custos e obtenção de proteína animal de qualidade. Agradecemos aos autores pelo empenho, disponibilidade e dedicação
para o desenvolvimento e conclusão dessa obra. Esperamos que o livro Alimentos e Alimentação, seja apenas o primeiro
de muitos, e que sirva de instrumento didático-pedagógico para estudantes, professores dos diversos níveis de ensino
em seus trabalhos e demais interessados pela temática.

Rosemary Laís Galati


SUMÁRIO
CAPÍTULO 
01
ASPECTOS NUTRICIONAIS E MANEJO ALIMENTAR DO PIRARUCU (ARAPAIMA GIGAS)
Kárita Fernanda da Silva Lira; Luan Shinhiti Kajikawa; Sidney dos Santos Silva; Márcio Aquio Hoshiba

' 10.37885/210906287................................................................................................................................................................................... 12

CAPÍTULO 
02
CARACTERIZAÇÃO BROMATOLÓGICA DAS FOLHAS DA MIMOSA CAESALPINIIFOLIA BENTH (SABIÁ) NO ESTADO DO
MARANHÃO, BRASIL
Raimundo Morais dos Santos; Danilo Rodrigues Barros Brito; Christoph Gehring; Livio Martins Costa Júnior; Ellen Cristina Vale Silva;
Maria Elisabeth Detert; Dauana Mesquita Sousa; Helder Louvandini
' 10.37885/210805903...................................................................................................................................................................................25

CAPÍTULO 
03
FORAGE MANAGEMENT INTO BEEF CATTLE PRODUCTION HELPING TO FARM OWNER DECISIONS
Mariana Vieira Azenha; Fernando Ongaratto; Abmael da Silva Cardoso; Daniel Rume Casagrande; Eliéder Prates Romanzini; Bruno
Ramalho Vieira; Ricardo Andrade Reis; Ana Cláudia Ruggieri
' 10.37885/210705360................................................................................................................................................................................... 41

CAPÍTULO 
04
MINERAIS ORGÂNICOS NA NUTRIÇÃO DE SUÍNOS: UMA REVISÃO DE LITERATURA
Marcos Speroni Ceron; Carlos Augusto Rigon Rossi; Henrique da Costa Mendes Muniz; Vladimir de Oliveira; Alexandre de Mello
Kessler; Bruno Neutzling Fraga; Daniela Regina Klein; Michael Silveira Reis; Carlos Eduardo Botega
' 10.37885/210805882...................................................................................................................................................................................52

CAPÍTULO 
05
MONITORAMENTO DO NITROGÊNIO URÉICO NO LEITE: NUTRIÇÃO ANIMAL, QUALIDADE AMBIENTAL E DO LEITE
Luciana dos Reis Valadão; Karyne Oliveira Coelho; Edmar Soares Nicolau; Rodrigo Balduino Soares Neves

' 10.37885/210906099................................................................................................................................................................................. 68

CAPÍTULO 
06
PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR PARA A ALIMENTAÇÃO DE BOVINOS
Mauro Wagner de Oliveira; Christiano Nascif; Manoel Gomes Pereira; Thiago Camacho Rodrigues; Terezinha Bezerra Albino Oliveira;
Rogério Jacinto Gomes; Dalmo de Freitas Santos
' 10.37885/210805744................................................................................................................................................................................... 81
SUMÁRIO
CAPÍTULO 
07
QUALIDADE DAS FARINHAS DE ORIGEM ANIMAL UTILIZADAS EM RAÇÕES AVÍCOLAS: UM REFERENCIAL TEÓRICO
Cleriston Andrade Machado; Felipe Dilelis; Cristina Amorim Ribeiro de Lima

' 10.37885/210504811.................................................................................................................................................................................. 118


CAPÍTULO 
08
RAÇÃO PARA NÃO RUMINANTES EM UMA FÁBRICA SOB SERVIÇO DE INSPEÇÃO FEDERAL NO ESTADO DO MARANHÃO:
UMA ABORDAGEM PRODUTIVA

Karen Regina Silveiro Mousinho; Pedro Louzeiro Pavão; Marcelo de Abreu Falcão; Maria Inez Fernandes Carneiro; Hamilton Pereira
Santos; Danilo Cutrim Bezerra; Viviane Correa da Silva Coimbra; Nancyleni Pinto Chaves Bezerra

' 10.37885/211006392................................................................................................................................................................................ 140


CAPÍTULO 
09
RESÍDUO DE BISCOITO NA ALIMENTAÇÃO DE CODORNAS: UM REFERENCIAL TEÓRICO

Sandra Roseli Valerio Lana; Geraldo Roberto Quintão Lana; Ana Patrícia Alves Leão; Romilton Ferreira de Barros Júnior

' 10.37885/210705353.................................................................................................................................................................................153

SOBRE O ORGANIZADORA.................................................................................................................................. 162

ÍNDICE REMISSIVO.............................................................................................................................................. 163


01
Aspectos nutricionais e manejo
alimentar do pirarucu ( Arapaima
gigas)

Kárita Fernanda da Silva Lira


UFMT

Luan Shinhiti Kajikawa


UFMT

Sidney dos Santos Silva


UFMG

Márcio Aquio Hoshiba


UFMT

10.37885/210906287
RESUMO

O pirarucu (Arapaima gigas), considerado o maior peixe de escama de água doce, possui
características que atraem o seu consumo e consequentemente sua produção. No en-
tanto, um dos maiores entraves na criação dessa espécie é o custo elevado com ração,
principalmente devido a inclusão de alto teor de proteína de origem animal. Na literatura,
ainda são poucos os trabalhos que abordam as pesquisas realizadas na área, para que
assim possam ser desenvolvidas dietas balanceadas atendendo todas as exigências
do pirarucu em suas diferentes fases. Neste intuito, este trabalho tem como objetivo
apresentar um compilado de conhecimentos referentes a nutrição e a alimentação do
pirarucu, a fim de facilitar o entendimento dos hábitos alimentares da espécie e auxiliar o
desenvolvimento de pesquisas futuras. Ainda há grande carência de estudos que demons-
trem exigências de proteína, energia, aminoácidos, vitaminas, minerais e ácidos graxos
para as diferentes fases de desenvolvimento da espécie. Porém, é possível observar o
incremento de novas tecnologias na produção de pirarucu em cativeiro.

Palavras-chave: Dieta, Exigência Nutricional, Peixe Nativo, Piscicultura.

13
Alimentos e Alimentação Animal
INTRODUÇÃO

O Arapaima gigas, considerado o maior peixe de escama de água doce do mundo,


pertence à família Arapaimatidae, inserido na ordem dos Osteoglossiformes. É denomina-
do popularmente de pirarucu, palavra de origem indígena, sendo a união de “pira” (peixe)
e “urucu” (vermelho), em referência a coloração de suas escamas (FONTENELLE, 1948;
CARDOSO, 2015). É um peixe endêmico da Bacia Amazônica, podendo ser encontrado
tanto no Brasil como no Peru, Colômbia e Guiana (RIBEIRO, 2008).
O pirarucu pode alcançar de 2 a 3 metros de comprimento e pesar aproximadamente
200 quilos em ambiente natural (ONO et al., 2004). Em cativeiro pode chegar a pesar cer-
ca de 10 kg já no primeiro ano de cultivo, tendo um rendimento de carne de 57% do peso
vivo (IMBIRIBA, 2001). Além do alto rendimento de carcaça, possui características como a
ausência de espinhos intramusculares, textura firme, sabor suave e uma porcentagem de
proteína de 17,55% no lombo e 14,93% na costela, demostrando assim, sua alta qualidade
e saudabilidade (SOUSA et al., 2015). Outros atributos do pirarucu são: a presença de esca-
mas grandes, utilizadas para a produção de artesanatos e o couro que pode ser aproveitado
pela indústria de curtume.
O pirarucu é um peixe de águas “quentes”, tolera temperaturas entre 24 e 31ºC, alcan-
çando melhores resultados em águas com temperatura entre 28 e 30ºC (ITUASSÚ, 2002).
Sendo assim explicado o sucesso desta espécie na região norte do país, onde em 2019,
foi produzido em 2 051 estabelecimentos, representando 63,18% dos locais de produção
nacional (PEIXE BR, 2020).
A disseminação da criação dessa espécie apresenta um grande potencial devido as
suas características produtivas, a rusticidade apresentada pela capacidade de respiração
aérea advinda da bexiga natatória modificada em pulmão possibilitando que essa espécie
capture o ar atmosférico (IMBIRIBA, 2001; ONO e KEHDI, 2013). Além disso, mesmo sendo
uma espécie de hábito alimentar carnívoro, não costumam praticar o canibalismo, tendo
assim bons índices de sobrevivência de alevinos e fácil condicionamento ao arraçoamento
(IMBIRIBA, 1991; ONO et al., 2004).
Os principais entraves para a produção estão relacionados às dificuldades no domínio
da técnica de reprodução, o que dificulta o fornecimento regular de alevinos para abastecer
as estações de piscicultura, e o custo elevado com ração, principalmente devido a inclusão
de alto teor de proteína de origem animal (ONO, 2007; RIBEIRO, 2008).
Os custos com a alimentação em uma piscicultura podem chegar a 60% dos custos
totais (SCORVO-FILHO, 2010), por isso o conhecimento dos hábitos alimentares e exigência
nutricional da espécie podem melhorar os indicadores de desempenho zootécnico e diminuir
os custos com arraçoamento. Portanto, diante do exposto, este trabalho tem como objetivo
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Alimentos e Alimentação Animal
compilar conhecimentos referentes a nutrição e a alimentação do pirarucu (Arapaima gigas),
afim de facilitar o entendimento dos hábitos alimentares desta espécie e auxiliar a realização
de pesquisas futuras.

CARACTERÍSTICAS DA ESPÉCIE

A anatomorfologia e as características histológicas do trato digestivo do pirarucu são


semelhantes a outros teleósteos carnívoros e permitem a espécie ingerir, armazenar e di-
gerir grandes itens alimentares, conforme relatado por Rodrigues e Cargnin-Ferreira (2017)
ao analisar três classes de tamanho de juvenis de pirarucu comercial (peso médio de 3,33;
72,07 e 1.328,10 g). O desenvolvimento da morfologia e espessura do aparelho digestivo
aumentou conforme o tamanho do pirarucu, apresentando um coeficiente intestinal de 0,94
na classe I, 1,00 na classe II e 1,30 na classe III. O estômago em forma de J é bastante
musculoso e distensível, possuindo duas regiões anatomicamente e histologicamente dis-
tinguíveis: o corpus, região proximal caracterizada pelo maior tamanho e mucosa dobrada;
e a piloro, região distal, que é relativamente mais muscular e com dobras mais rasas.
Ao analisarem o conteúdo estomacal de juvenis de pirarucu, presentes no lago Quatro
Bocas em Araguaiana no estado de Mato Grosso, Oliveira et al. (2005) verificaram a presença
de detritos orgânicos, moluscos, crustáceos, insetos inteiros e pedaços de insetos. Também
foi observado o pequeno consumo de detritos vegetais, sementes e partículas inorgânicas
com porções de areia fina, demonstrando a capacidade dos indivíduos de capturar alimento
próximo ao fundo da coluna d’água. Além disso, os autores também verificaram que apenas
um dos peixes amostrados foi capaz de ingerir pequenos peixes.
Segundo Ono e Kehdi (2013), em sistemas de produção extensiva de pirarucu, a ali-
mentação adotada baseia-se em peixes forrageiros vivos de baixo valor comercial, resíduos
in natura de pescados e de animais terrestres, sendo esse modelo economicamente inviável,
além de apresentar uma série de restrições nos âmbitos sanitário e ambiental. No entanto,
vale ressaltar que esse cenário tem sido alterado devido a utilização de rações balanceadas
de alta qualidade.
Por se tratar de uma espécie de hábito alimentar carnívoro, o pirarucu em sua fase
inicial de desenvolvimento, necessita de um treinamento alimentar para que a transição entre
alimento úmido e seco aconteça de forma eficiente, sendo então adotadas estratégias como
a utilização de alimento vivo ou peixe moído (CAVERO, 2003; SOUZA, 2015).

15
Alimentos e Alimentação Animal
TREINAMENTO ALIMENTAR

O canibalismo entre os alevinos de pirarucu durante o condicionamento alimentar é


baixo quando comparado ao observado em outras espécies de peixes carnívoros, no en-
tanto, em condições de ausência de alimentos podem ocorrer agressões entre os indivíduos
(ONO et al., 2004).
Para realizar o treinamento dos alevinos de pirarucu, Cavero et al. (2003) testaram
dois tipos de alimentos vivos (náuplios de artêmia e zooplâncton) para animais com peso
médio de 1,5 g. Os peixes foram alimentados seis vezes ao dia, sendo realizada três fases
de treinamento: a primeira consistiu em fornecer o alimento vivo diluído em água, já na se-
gunda etapa, junto com o alimento vivo, introduziu-se gradativamente a ração (1; 2 e 3% da
biomassa dos peixes) e na terceira fase os peixes foram alimentados apenas com ração até
a saciedade. Os autores observaram alta sobrevivência, sendo 99% para os alimentados
com artêmia e 99,8% para aqueles alimentados com zooplâncton.
Outro treinamento alimentar foi realizado por Souza et al. (2015) com pirarucu com peso
médio de 15,8 g, no qual foram feitas substituições graduais da dieta a cada 2, 3, 4 e 5 dias.
Realizou-se o fornecimento exclusivamente de alimento úmido de alta palatabilidade (peixe
moído), com substituição gradual por dieta formulada seca. Os resultados obtidos permitiram
observar que o condicionamento à alimentação com dieta formulada seca promove maiores
taxas de crescimento específico quando realizado substituições graduais a cada 2 e 3 dias.

FREQUÊNCIA ALIMENTAR

A frequência alimentar é um importante indicador e deve-se ser determinada especifi-


camente para cada espécie, uma vez que se realizado em frequências maiores, pode onerar
de forma desvantajosa o sistema produtivo. Crescêncio (2005) analisou o desempenho de
peixes submetidos a alimentação diurna (9 e 15h), noturna (21 e 3h) e contínua (9; 15; 21
e 3h), e observou que os pirarucus alimentados continuamente, apresentaram maiores ga-
nhos de peso e biomassa, taxa de crescimento específico e consumo total. Enquanto que
os peixes alimentados apenas durante o período diurno e os que recebiam alimento apenas
a noite apresentaram ganho de peso semelhante, porém, a alimentação diurna apresentou
a melhor conversão alimentar.
Ao analisar a frequência alimentar de pirarucu, Rodrigues et al. (2019) recomendaram
que a alimentação fosse feita 3 a 4 vezes ao dia, após observarem que com essa frequência
alimentar, os animais apresentaram maior ingestão alimentar, maior crescimento muscular e
acúmulo de gordura corporal. Ainda neste mesmo trabalho, os autores também verificaram
que a alimentação apenas 1 vez ao dia pode resultar em comportamento hiperfágico.
16
Alimentos e Alimentação Animal
Já Medeiros et al. (2018), ao analisarem alevinos submetidos a três frequências ali-
mentares (2x/dia, 3x/dia e 4x/dia) durante 15 dias experimentais, não encontraram diferença
significativa entre os parâmetros de peso final, ganho de peso e conversão alimentar. O mes-
mo foi observado por Gandra et al. (2007) ao testarem a alimentação de juvenis de pirarucu
com peso médio inicial de 1.074,0 g, com fornecimento de ração todos os dias ou em dias
alternados, verificaram que os animais alimentados duas vezes ao dia obtiveram maior ga-
nho de peso e peso final. Pedrosa et al. (2018), também constataram que o fornecimento
de ração duas vezes ao dia é suficiente para a espécie, após avaliarem a alimentação até
saciedade aparente 2 vezes ao dia, alimentação até saciedade aparente 3 vezes ao dia e
alimentação em taxas fixas (2% do peso corporal/dia) 2 vezes ao dia.

TAXA DE ARRAÇOAMENTO

A taxa de arraçoamento deve ser controlada durante todo o ciclo de produção, pois os
animais devem se alimentar de forma que apresentem o melhor desempenho, sem haver
desperdícios. Por isso, a quantidade de alimento a ser fornecida leva em consideração a
porcentagem de peso vivo do animal sendo ajustada de acordo com o crescimento.
Segundo Rodrigues (2015), o pirarucu tem uma variação de 7 a 1% na taxa de arra-
çoamento, conforme demonstrado na Tabela 1.

Tabela 1. Taxa de alimentação para recria e engorda.

Peso (g) Dias de engorda Taxa de alimentação (%)


15- 100 30 7-5
100- 500 60 5-4
500- 1000 100 4-3
1000- 5000 235 3-2
5000 – 12000 420 2-1
Fonte: Adaptada de Rodrigues (2015).

Os dados acima corroboram com os encontrados por Cardoso (2015), que ao testaram
as taxas de arraçoamento de 4, 5, 6, 7 e 8% do peso vivo, em pirarucus com peso médio
inicial de 481,2 g e peso médio final de 1259,5g, concluíram que não houve diferenças
significativas entre as taxas de arraçoamento quanto as variáveis de desempenho, sendo
recomendado o arraçoamento com 4% de peso vivo devido aos menores custos. Enquanto
que para a fase adulta, Rodrigues (2015) recomenda que a taxa de arraçoamento permaneça
entre 0,5% e 1,0% do peso vivo do animal.

17
Alimentos e Alimentação Animal
EXIGÊNCIA EM PROTEÍNA BRUTA E ENERGIA

No experimento realizado por Ituassú (2002) foram testadas quatro rações com di-
ferentes níveis de proteína bruta (30; 36; 42 e 48%). Ao final do período experimental, os
autores verificaram que os animais alimentados com 48% obtiveram maior ganho de peso
(235,7 g) quando comparado com os animais alimentados com níveis de 42% (141,9g), 36%
(109,3g) e 30% de PB (119,3g).
Medeiros (2014) utilizou dietas contendo 37,4; 40,8; 43,9; 45,5 e 47,1% de proteína
bruta e 4036,385 kcal; 4411,808 kcal, 4551,015 kcal, 4870,216 kcal, 5021,143 kcal de energia
digestível, respectivamente, para alimentar pirarucus na fase de engorda com peso médio
inicial de 220 g. Após o período experimental, os autores observaram que a utilização de
37,4% de PB e 4036,385 kcal na ração proporcionou maior aproveitamento proteico, menor
custo de ração e menor concentração de gordura no filé.
Lopes (2015), avaliou o efeito de mudanças de manejo durante o período experimental.
Para isso, os animais com peso médio inicial de 500 g foram alimentados por 110 dias com
uma dieta contendo níveis de proteína bruta de 36; 38; 40; 42 e 45%, seguidos de redução
nos níveis de proteína bruta nas rações para 32; 34; 36 38 e 40%, respectivamente. Nesse
trabalho, os autores verificaram que os peixes alimentados com 40% de PB e posteriormente
com 36% PB, obtiveram maior ganho de peso (9076,67 g), peso final (9584,21 g) e compri-
mento final (101,50 cm), sendo os menores resultados zootécnicos obtidos para os animais
submetidos a dieta inicial com 45% de PB e em seguida com 40% de PB, com o ganho de
peso de 6714,33g e peso final de 7207,27g.
Castilho et al. (2012) também testou diferentes níveis de proteína bruta (36; 39; 42;
45 e 48%) na alimentação de pirarucus com peso médio de 68,75g, constatando que o
nível mínimo de proteína bruta na ração, responsável por proporcionar maior desempenho
zootécnico e condição fisiológica dos juvenis foi de 44,9% de PB. Da mesma forma, Del
Risco et al. (2008), utilizaram dietas testando níveis de proteína bruta de 35; 40 e 45% em
animais com peso médio inicial de 86,84 g e concluíram que o maior peso final foi obtido
nos animais alimentados com 40% de proteína bruta com 470,5 g, seguido dos animais ali-
mentados com 45% de PB (peso final = 454,4g) e os animais alimentados com 35% de PB (
peso final = 293,6g).
Ono et al. (2008). ao avaliarem juvenis com peso médio de 96,8 g submetidos a dietas
contendo duas fontes de energia não proteica (óleo de soja e gordura de aves) e quatro ní-
veis de proteína bruta (PB) e energia digestível (ED): 36,3% PB e 4021 kcal ED; 40,0% PB e
4022 kcal ED; 43,9% PB e 3965kcal ED; e 48,0% PB e 3858 kcal ED, verificaram maior
coeficiente de digestibilidade aparente da matéria seca, proteína bruta e extrativo não ni-
trogenado quando os peixes foram alimentados com ração contendo 36,3% de PB e 4021
18
Alimentos e Alimentação Animal
kcal de ED, seguido por 40% de PB e 4022 kcal de ED, e 48,0% de PB e 3858 kcal ED.
Enquanto que os tratamentos alimentados com óleo de soja apresentaram maior coeficien-
te de digestibilidade aparente do extrato etéreo (98,5%) quando comparado com o uso de
gordura de aves (97,7%).
A utilização de ingredientes não convencionais na dieta de pirarucu pode ser uma
alternativa para diminuição dos custos da ração. Neste contexto, as pesquisas visando a
utilização de óleos vegetais na dieta estende-se além do óleo de soja. A utilização mais
promissora é a do Ocimum basilicum, conhecido popularmente como manjericão-de-folha-
-larga. Esse composto na proporção de 2,0 mL/kg na dieta pode elevar no plasma, os níveis
de proteínas totais e albumina, sendo essa condição fisiológica um indicativo de melhora no
estado nutricional (CHUNG et al., 2020).
Outras pesquisas têm sido realizadas para tentar introduzir diferentes alimentos de
origem vegetal na dieta de pirarucu com o intuito de diminuir o custo da ração. Cipriano
et al. (2016) testou a substituição de 30% dos alimentos referência pelos ingredientes testes:
farinha de carne e osso (FCO), farinha de peixe (FP), farinha de penas hidrolisada (FPH),
farinha de subprodutos de aves (FSA), farelo de soja (FS) e farinha de glúten de milho
(FGM). Os resultados indicaram que o coeficiente de digestibilidade aparente da energia
bruta foi superior para ingredientes de origem animal (FSA 96,2%; FP 89,1%; FPH 83,3%
e FCO 75,4%), quando comparados aos valores obtidos para os ingredientes de origem
vegetal (FGM 59,8% e FS 58,0%). Dessa forma, é possível concluir que o pirarucu é capaz
de utilizar as fontes proteicas de origem vegetal, porém, tem preferência pelos ingredientes
de origem animal. De forma semelhante, Santos-Cipriano et al. (2015) observaram que o
pirarucu exibiu maior capacidade de utilização da proteína de milho e amido de milho, em-
bora a espécie não fosse capaz de digerir eficientemente a energia contida em nenhum dos
ingredientes testado.
Ramos (2019) avaliou a inclusão de milho, sorgo baixo tanino, quirera de arroz, fare-
lo de arroz desengordurado e farelo de trigo, adicionadas na proporção de 20% em uma
dieta referência com 54,96% de proteína bruta. O coeficiente de digestibilidade aparente
da matéria seca foi maior para a quirera de arroz (81,14%) e o menor resultado foi obtido
com a dieta contendo milho (70,15%). O coeficiente de digestibilidade aparente da energia
bruta foi maior para o milho (77,66%), seguido de quirera de arroz (68,5%), farelo de trigo
(57,35%), farelo de arroz desengordurado (56,68%) e sorgo baixo tanino (54,98%). Quanto
ao coeficiente de digestibilidade da proteína bruta, não houve diferença significativa, sendo
obtidos os seguintes resultados: quirera de arroz (80,23%), farelo de arroz desengordurado
(67,07%), sorgo (65,94%), milho (64,44%) e farelo de trigo (54,73%).

19
Alimentos e Alimentação Animal
Neste sentido, a Tabela 2. demonstra os valores recomendados segundo as pesquisas
para a exigência proteica do pirarucu.

Tabela 2. Exigência proteica do pirarucu.

Peso inicial (g) Proteína Bruta (%) Referências


68,75 44,9 CASTILO, (2012)
86,84 40,0 DEL RISCO et al., (2008)
120,00 48,0 ITUASSÚ, (2002)
200,00 37,4 MEDEIROS, (2014)
500,00 40,0 LOPES, (2015)
4441,66 36,0 LOPES, (2015)

PERFIL DE AMINOÁCIDOS

Rodrigues et al. (2017) estimaram o perfil de aminoácidos para ração de pirarucu com
base na composição de aminoácidos do tecido muscular, no qual sugere a porcentagem de
aminoácidos de acordo com os níveis de proteína (Tabela 3).

Tabela 3. Perfil de aminoácidos do tecido muscular estimada para ração contendo 40% e 45% de proteína bruta.

Exigência Pirarucu
Aminoácido essencial
40% 45%
Arginina 1,55 1,74
Histidina 0,47 0,53
Isoleucina 1,15 1,29
Leucina 2,15 2,42
Lisina 2,48 2,79
Metionina 0,74 0,84
Fenilalanina 1,11 1,25
Treonina 1,10 1,23
Triptofano 0,22 0,24
Valina 1,20 1,35
Fonte: RODRIGUES et al. (2017).

UTILIZAÇÃO DE ENZIMAS NAS DIETAS

O uso de enzimas exógenas na alimentação de pirarucu foi estudado por Cavero (2004),
no qual testou dietas contendo proteases, lipases e amilases, seguindo as proporções de
0,0; 0,1; 0,2; e 0,4%. As dietas com proteases e lipases, influenciaram positivamente no
desempenho zootécnico de juvenis de pirarucu, o qual o mesmo não foi observado para a
adição de amilase.
Em contrapartida, Alcântra, (2012) ao avaliar a adição de lipase e protease na ração
de pirarucu com substituição parcial de farinha de vísceras de aves e farinha de carne e

20
Alimentos e Alimentação Animal
ossos, concluiu que não houve incremento nos coeficientes de digestibilidade aparente dos
nutrientes das rações, assim como na digestibilidade destes ingredientes alternativos.
A adição de enzimas na dieta também foi observada no trabalho de Bordinhon (2004),
em que o coeficiente de digestibilidade indicou redução na capacidade de aproveitamento da
fração de carboidratos da farinha de trigo crua, entretanto, ao utilizar farinha de trigo cozida
houve melhora no coeficiente de digestibilidade, sendo maximizado com as dietas contendo
farinha de trigo cozida e suplementadas com amilase exógena.

UTILIZAÇÃO DE PROBIÓTICOS NA DIETA

A utilização de probiótico é uma tecnologia estudada para melhorar a saúde e o de-


sempenho dos animais. O probiótico é produzido a partir de microrganismos comuns da
microbiota intestinal da espécie. Em estudos de isolamento microbiano, foi identificado a
presença de diferentes espécies no trato gastrointestinal do pirarucu, sendo as principais:
Enterococcus faecalis, Lactococcus lactis, Weissella paramesenteroides, Staphylococcus
sp., Lactococcus e Enterococcus faecium (DO VALE PEREIRA et al., 2017).
A partir da identificação dos microrganismos benéficos existentes na flora gastrointesti-
nal dos peixes, é possível produzir os probióticos, como por exemplo, o avaliado por Do Vale
Pereira et al. (2019) que analisou pirarucus alimentados com uma dieta contendo L. lactis
subsp. lactis em 1 × 108 CFU − 1, outra dieta contendo E. faecium a 1 × 108 CFU − 1, e com
dieta não suplementada com probiótico. Ao final do estudo os pesquisadores observaram
que a utilização de probiótico contendo L. lactis subsp. Lactis aumentou a capacidade anti-
microbiana sérica in vitro de peixes contra Pseudomonas sp., demonstrando que a utilização
de probióticos específicos para o pirarucu é benéfica para a produção da espécie.

CONCLUSÃO

Ao compilar os dados, pode-se concluir que o pirarucu se desenvolve bem ao ser ali-
mentado em uma frequência de 2 vezes ao dia. Dependendo do peso do animal a taxa de
alimentação varia de 7 a 1%, com rações com porcentagem de proteína bruta de 36 a 48%.
O incremento de tecnologias como a adição de enzimas e a utilização de probióticos
específicos na ração podem auxiliar no melhor aproveitamento dos alimentos, principalmente,
os de origem vegetal os quais essa espécie tem um baixo coeficiente de digestibilidade e
assim contribuir para a redução nos custos de produção e difundir a produção da espécie.

21
Alimentos e Alimentação Animal
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Alimentos e Alimentação Animal
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24
Alimentos e Alimentação Animal
02
Caracterização bromatológica das
folhas da Mimosa caesalpiniifolia
benth (sabiá) no estado do Maranhão,
Brasil

Raimundo Morais dos Santos Ellen Cristina Vale Silva


IFMA UFMA

Danilo Rodrigues Barros Brito Maria Elisabeth Detert


IFMA EMA

Christoph Gehring Dauana Mesquita Sousa


UEMA UFMA

Livio Martins Costa Júnior Helder Louvandini


UFMA CENA/USP

10.37885/210805903
RESUMO

Este estudo teve como objetivo caracterizar bromatologicamente as folhas da espécie


Mimosa caesalpiniifolia no estado do Maranhão, Brasil, considerando locais de coleta,
épocas do ano e idade das plantas. As folhas foram coletadas em períodos seco e
chuvoso, em quatro municípios. As amostras foram secas à sombra e moídas poste-
riormente. Quanto aos teores de lignina, foram significantemente menores no início da
época chuvosa. Observou-se que os teores de FDA foram maiores no período seco. Não
houve diferença estatística entre as épocas do ano nas variáveis de matéria orgânica,
proteína bruta e matéria orgânica. Houve diferença significativa com maiores teores dos
fenóis totais e dos taninos totais, e tendências (p<0,10) de maior teor de matéria orgânica
na M. caesalpiniifolia de três anos de idade comparada com a de cinco anos de idade.
Observou-se efeito significativo para época seca apenas para folha quanto à matéria
orgânica, sendo encontrados valores superiores para o período chuvoso. As folhas apre-
sentaram teores de FDA e FDN elevados, em relação a efeitos sazonais, na época seca.
Quanto aos taninos condensados, apresentaram variação relevantes entre os quatros
municípios. Na época chuvosa observou-se melhor composição química das folhas da
planta. Conclui-se que o teor das variáveis bromatológicas da M. caesalpiniifolia variam
de acordo com o local e a época do ano no estado do Maranhão, Brasil.

Palavras-chave: Sazonalidade, Taninos Vegetais, Plantas Forrageiras.

26
Alimentos e Alimentação Animal
INTRODUÇÃO

Mimosa caesalpiniifolia é uma leguminosa arbórea nativa do Nordeste do Brasil, com


ocorrência nos estados do Piauí, Maranhão, Ceará e comum em regiões da Amazônia e na
Mata Atlântica, com grande potencial madeireiro, apícola e forrageiro (RIBASKI et al., 2003;
LORENZI, 2008). O conhecimento das potencialidades nutricionais e químicas de plantas
nativas através de estudos científicos proporciona incremento e fortalecimento dos saberes
das comunidades rurais, proporcionando a conservação dos recursos naturais e manutenção
da espécie em seu ecossistema, maximizando o seu uso e possibilitando o surgimento de
novas informações e uso dessa planta (LORENZI, 2008; SILVA et al., 2015).
Gonçalves et al. (2010) analisaram propriedades químicas e físicas da madeira
da M. caesalpiniifolia para mostrar o seu potencial de uso. No entanto, concluíram que
não é indicada para produção de celulose devido baixo teor de alfa-celulose e alto teor de
lignina. Todavia, considerando a M. caesalpiniifolia uma madeira de alta densidade e ao
confirmar que o alto teor de lignina e a alta densidade à madeira pode ser ótima opção para
a fabricação do carvão.
Também possui relevância na medicina caseira (Lorenzi, 2002; Maia, 2004), assim como
é uma planta que representa importante fonte de pólen e néctar para as abelhas (FIGUEIRÔA
et al., 2005). Suas flores são melíferas e por florescerem no período em que possui grande
escassez de flores, todo mel gerado é bastante específico e de alta qualidade (MAIA, 2004).
M. caesalpiniifolia também se caracteriza por sua habilidade de persistência e do seu
crescimento rápido em áreas degradadas e frequentemente queimadas, além da sua tole-
rância por secas (SANTIAGO et al., 2001). Contudo, segundo Araújo Filho (2002), o valor
nutritivo dessas plantas apresenta variações ao longo do ano, em função da fase do ciclo
fenológico, com o teor de proteína bruta (PB) e a digestibilidade in vitro da matéria seca
(DIVMS), decrescendo à medida que ocorre mudança da fase vegetativa (período chuvoso)
para a de restolho lenhoso (período seco). A flutuação estacional, ligada a fatores ambien-
tais, na disponibilidade e qualidade de fitomassa das leguminosas nativas do semiárido foi
descrita por diversos autores (VIANA e CARNEIRO, 1994; VASCONCELOS, 1997; ARAÚJO
FILHO et al., 1998).
A suplementação alimentar dos rebanhos no período da seca proporciona uma al-
ternativa alimentar de baixo custo. As folhas, verdes ou secas, assim como as vagens,
são excelentes forrageiras e possuem alto valor nutricional. Sua folhagem é considerada
valiosa fonte de alimento para grandes e pequenos ruminantes, principalmente durante a
longa estiagem do sertão semiárido, geralmente são coletados no período de abundância
de forragem (período chuvoso) para suplementar a dieta animal no período de estiagem

27
Alimentos e Alimentação Animal
(VASCONCELOS, 1989). Dentre estas, o sabiá (Mimosa caesalpiniifolia Benth.) pode re-
presentar até 70% do total da forragem consumida por ruminantes durante a estação das
chuvas (MENDES, 1989).
Estudos vêm sendo desenvolvidos, buscando espécies da região Nordeste do Brasil
com potencial taninífero (AZEVEDO et al., 2017). Taninos condensados são polifenóis pre-
sentes na maioria das leguminosas tropicais e estão associados a redução da ingestão e
digestibilidade da matéria seca, matéria orgânica, proteína e fibra. Considerando a necessi-
dade de caracterizar os taninos condensado, proteínas, fibras e fenóis presente em legumi-
nosas forrageiras nativas, assim como verificar a existência de variação estacional nesses
valores, este trabalho teve como objetivo caracterizar os taninos condensados, bem como
outras variáveis bromatológicas da espécie Mimosa caesalpiniifolia, identificando os efeitos
sazonais em quatro regiões do estado do Maranhão.

MÉTODO

Áreas amostrais

O experimento foi realizado nos períodos seco e chuvoso, com coletas realizadas nos
meses de janeiro, março, julho, outubro e novembro de 2018. O sabiá (Mimosa caesalpinii-
folia) foi coletado retirando-se a folha e o pecíolo, por tração manual, em diversas partes da
planta. Após a colheita, o material foi seco à sombra, e triturado em moinho com peneira de
1 mm de porosidade, para as análises bromatológicas.
A ONG Educação e Meio Ambiente (EMA) tem experimentado desde 2007 e posterior-
mente implantado de modo sistemático plantios de sabiá até agora em aproximadamente
200 ha, distribuídos em 11 assentamentos de 10 municípios do centro-norte do Maranhão,
na maioria em prestação de serviço ao INCRA. Plantios de sabiá foram realizados em duas
etapas: a primeira etapa de plantio, com 86 mil mudas de sabiá, no ano de 2012 (deno-
minadas no experimento plantas de 5 anos de idade), nos meses de janeiro e fevereiro,
período chuvoso no Maranhão, e a segunda etapa de plantio de 110 mil mudas de sabiá,
iniciou-se no ano de 2014 (denominadas plantas de 3 anos de idade), com início do período
chuvoso, mês de janeiro.
As coletas foram realizadas em áreas de Assentamento da Reforma Agrária do Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA do Maranhão. Os projetos de assen-
tamento onde ocorreram as coletas foram o PA (Projeto de Assentamento) Árvores Verde-
Município de Brejo, PA São José da Vitória - Município de Pirapemas, PA Olga Benário
- Município de Amarante e PAE (Projeto Agroextrativista do INCRA) Bacuri - Município de
Cajari, em áreas com plantios de sabiá que foram implantadas pelo INCRA-MA, através do
28
Alimentos e Alimentação Animal
Núcleo Ambiental do INCRA, com o apoio da ONG Associação Educação e Meio Ambiente
– EMA. A Figura 1 mostra os locais de coleta do sabiá no estado do Maranhão, para uma
melhor compreensão de distribuição na unidade federativa do Brasil em questão.

Figura 1. Locais de coleta da Mimosa caesalpiniifolia no estado do Maranhão, Brasil.

Fonte: Núcleo Geoambinetal UEMA).

O PA Arvores Verdes - Comunidade Escalvados, fica localizado na cidade de Brejo-MA,


possuindo as seguintes coordenadas geográficas: W 42° 43’ 07.8”, GPS S 03° 45’ 28.9”,
UTM W 753361, UTM S 9584288. Situado a 76 metros de altitude, Brejo tem as seguintes
coordenadas geográficas: Latitude: 3° 41’ 7’’ Sul, Longitude: 42° 45’ 4’’ Oeste.
O PA São José da Vitória - Comunidade Vitória, em Pirapemas –MA, possui as seguin-
tes coordenadas geográficas: GPS W 44° 09’ 59.3” GPS S 03° 48’ 28.8”, UTM W 592550,
UTM S 9579050. O município se estende por 688,8 km². A cidade de Pirapemas está situada
a 35 metros de altitude, tendo as seguintes coordenadas geográficas: Latitude: 3° 43’ 40’’
Sul, Longitude: 44° 13’ 24’’ Oeste.
O PA Bacuri - Comunidade Bacuri em Cajari-MA possui as seguintes coordenadas geo-
gráficas: GPS W 45° 07’ 15.2” GPS S 03° 22’ 46.3” UTM W 486571, UTM S 9626455. Cajari

29
Alimentos e Alimentação Animal
é um município brasileiro do estado do Maranhão , situado a 3 metros de altitude, tendo as
seguintes coordenadas geográficas: Latitude: 3° 18’ 11’’ Sul, Longitude: 44° 53’ 5’’ Oeste.
A Comunidade Olga Benário, PA Olga Benário em Amarante do Maranhão-MA, pos-
sui as seguintes coordenadas geográficas GPS MAP 64 GARMIN UTM w 0342936, UTM s
9373702. Amarante do Maranhão, situado a 242 metros de altitude, tem as seguintes coor-
denadas geográficas: Latitude: 5° 34’ 8’’ Sul, Longitude: 46° 44’ 16’’ Oeste.

Coletas amostrais

As folhas da M. caesalpiniifolia foram coletadas em Janeiro, Março, Julho (período


chuvoso) e Outubro e Novembro (período seco) em todas as comunidades das áreas amos-
trais, correspondente ao início e final da época chuvosa e começo da época seca. Em cada
plantio de sabiá com área de 10 ha de tamanho, foram escolhidos 10 pontos amostrais
dispersos aproximadamente equidistante e abrangendo árvores de diferentes tamanhos,
para formar uma amostra foliar composta. Nestes pontos foram coletadas 5 a 10 kg de
folhas verdes (nem juvenis, nem senescentes) em diferentes alturas das árvores. Foram
coletadas somente folhas sadias (sem sinais de ataque por pragas ou doenças). As coletas
foram realizadas pela tarde, e transportadas para o Instituto Federal do Maranhão (IFMA),
campus Maracanã, localizado no município de São Luís. As amostras ficaram em um galpão
para secagem a sombra com temperatura inferior a 40 ºC por sete dias e posteriormente
passaram por trituração.

Análises bromatológicas

As análises bromatológicas foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal do


Centro de Energia Nuclear na Agricultura/USP. As amostras foram secas e enviadas para
quantificação de taninos e demais variáveis bromatológicas. As extrações de fenóis totais
e taninos totais seguiram metodologias padrão descritas por Makkar (2000) e de tanino
condensado, de acordo com Porter et al. (1986) pelo método do HCl-Butanol. Matéria seca
(Método 934.01; AOAC, 2011), matéria orgânica (método 942.05; AOAC, 2011), fibra bruta
(método de Weende AOAC 978.10), gordura (método de Weende), proteína bruta (método
920.87; AOAC, 2011) e fibra (fibra em detergente neutro-FDN, fibra em detergente ácido-FDA
e a lignina detergente ácida – LDA) (VAN SOEST, 1994).

Análises Estatísticas

Inicialmente foi avaliada a distribuição dos dados (i) visualmente via histogramas e (ii)
via testes contra normalidade de distribuição dos dados Kolmogorov-Smirnov e Lilliefor’s.
30
Alimentos e Alimentação Animal
Foi constatado que todas as variáveis seguiram normalidade, permitindo análises paramé-
tricas dos dados.
Para averiguar possíveis efeitos da sazonalidade foi efetuada uma ANOVA (análise
de variância) entre as quatro datas amostrais, e em caso de significância aplicado o teste
de Tukey com valor de significância de p<0,05, considerando também tendências de até
p<0,10. Para averiguação do possível efeito da idade foi efetuado teste-t com os mesmos
critérios de significância. Também puderam ser investigadas possíveis correlações entre as
variáveis, visualmente também averiguando possíveis impactos sazonais ou de localização
(entre municípios).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Variação sazonal

Dos compostos analisados, foi observado na Figura 2 que os teores de lignina foram
significativamente menores no início da época chuvosa em relação ao início da época seca,
resultados que condizem com Lima (2015) que, ao analisar compostos estruturais: fibras,
lignina e celulose, notou que apenas a concentração de celulose variou entre as estações
seca e chuvosa, atingindo valores maiores na estação chuvosa. No entanto, Fukushima e
Hatfield (2003) afirmam que a oferta de forragens verdes em pastagens tropicais sofre direta-
mente as consequências das variações sazonais do clima e consequentemente a produção
de massa verde tende a ser menor na época seca.

31
Alimentos e Alimentação Animal
Figura 2. Efeito da sazonalidade no teor de lignina (g/Kg MS) em folhas de Mimosa caesalpiniifolia nos quatro municípios
do Maranhão, ano de 2018.

Lignina*
66
0
a
64
0

62
0

60
0 a
b
58
0

56
0 a
b
Lignina *

54
0

52
0 b
50
0

48
0

46
0

44
0
Mean
42
0 Mean
±SE
Jan Mar Jul N
ov
Mean
±SD
C
oleta
Ausência de letras comuns indica diferença estatística entre épocas seguindo o teste de Tukey
a p<0,05.

Na Figura 3, observam-se a análise de fibras extraídas por detergente ácido (FDA) nas
folhas de sabiá coletadas dos quatro municípios.

Figura 3. Efeito da sazonalidade no teor de fibras extraídos por detergente ácido (g/kg MS) em folhas da Mimosa
caesalpiniifolia nos quatro municípios do Maranhão, ano de 2018.

FDAom*
84
0
a
82
0

80
0

78
0

76
0
FDA om *

74
0 b b
72
0
b
70
0

68
0

66
0

64
0
Mean
62
0 Mean
±SE
Jan Mar Jul N
ov
Mean
±SD
C
oleta
Ausência de letras comuns indica diferença estatística entre épocas seguindo o teste de Tukey
a p<0,05.
32
Alimentos e Alimentação Animal
Constatou-se teores significativamente maiores no auge da época seca do que na época
chuvosa. Observou-se diferença significativa para fibra em detergente neutro (FDN) das folhas
conforme a Figura 4, ocorrendo valores superiores para época seca. Independentemente
do local de colheita da planta, maiores valores foram observados no período seco para fibra
em detergente ácido (FDA).
Os valores encontrados para FDN e FDA foram superiores aos relatados por Vieira
et al. (2005), que encontraram valores de 44,39 e 39,05% de FDN para época chuvosa e
seca, respectivamente e 25,80 e 21,83% de FDA para época chuvosa e seca, respectiva-
mente. Os valores das fibras variam em função das partes das plantas, e isso pode explicar
as diferenças encontradas nas folhas. Outros fatores como idade da planta, precipitação e
complexo tanino podem contribuir com essas variações.

Figura 4. Efeito da sazonalidade no teor de fibras extraídos por detergente neutro (g/kg MS) em folhas da Mimosa
caesalpiniifolia nos quatro municípios do Maranhão, ano de 2018.
aFDN
om*
86
0
a
84
0 a
b
82
0

80
0 b
a
b
78
0

76
0
aFDNom *

74
0

72
0

70
0

68
0

66
0

64
0

62
0
Mean
60
0 Mean
±SE
Jan Mar Jul N
ov
Mean
±SD
C
oleta
Ausência de letras comuns indica diferença estatística entre épocas seguindo o Teste de Tukey
a p<0,05.

A Figura 5 mostra a variação sazonal do teor de taninos condensados nas folhas de


sabiá coletadas dos quatro municípios. Não houve variação sazonal significativa entre as
épocas amostrais.

33
Alimentos e Alimentação Animal
Figura 5. Efeito da sazonalidade no teor de taninos condensados em folhas da Mimosa caesalpiniifolia nos quatro
municípios do Maranhão, ano de 2018.

T
anino
scon
densados**(p<0,084
)
18
0

16
0

14
0

12
0
Taninos condensados **

10
0

80

60

40

20

Mean
-20 Mean
±SE
Jan Mar Jul N
ov
Mean
±SD
C
oleta
ANOVA não detectou diferenças significativas entre épocas (p=0,08). ** Valores expressos em
equivalente grama de leucocianidina / kg de matéria seca.

Também não houve diferenças significativas entre as épocas amostrais nas variáveis
de matéria orgânica e proteína bruta.

Efeito da idade da Mimosa caesalpiniifolia

Na Tabela 1, verificaram-se diferenças relacionadas à idade do plantio de sabiá. Houve


diferença significativa com maiores teores dos fenóis totais e dos taninos totais, e tendências
(p<0,10) de maior teor de matéria orgânica no sabiá de três anos de idade comparado com
o sabiá de cinco anos de idade. As outras variáveis bromatológicas não foram afetadas pela
idade do sabiá. Estudos de Monteiro et al. (2005) afirmam que o nível máximo de compos-
tos fenólicos foi encontrado em folhas jovens e, durante a maturação o conteúdo decresce
rapidamente. Os autores evidenciaram que os taninos mostram padrões de sazonalidade
distintos. Silva (2011) relatou que os resultados obtidos da Mimosa caesalpiniifolia podem
ser explicados pelas características genéticas da espécie, visto que é uma planta que pode
ser encontrada em diversas regiões do país. Ela mostrou bom desenvolvimento nas condi-
ções da Zona da Mata, indicando que não foram apenas as condições pluviométricas que
favoreceu a alta produção de matéria seca. A alta capacidade de renovação dos tecidos,
no período de 70 dias, resultou nas altas produções observadas para as plantas de Sabiá.

34
Alimentos e Alimentação Animal
Tabela 1. Médias das variáveis bromatológicas das folhas da Mimosa caesalpinifolia e três e de cinco anos de idade, no
estado do Maranhão, ano de 2018.
Idade Idade
Variável Valor de P
(3 anos) (5 anos)
Matéria Orgânica (g/kg MS) 942,6 926,5 0,094356

Proteína Bruta (g/kg MS) 201,3 208,6 0,706559

Fibra em Detergente Neutro (g/kg MS) 758,2 784,9 0,379521

Fibra em Detergente Ácido (g/kg MS) 715,0 707,7 0,784023

Lignina (g/kg MS) 540,4 520,1 0,481047

Fenóis Totais* 138,3 65,9 0,009414

Taninos Totais* 118,4 56,1 0,009543


* Valores expressos em equivalente grama de ácido tânico / kg de MS Valor de significância (teste-t) entre idades (todas
as áreas e épocas juntas).

TEORES DE TANINOS CONDENSADOS RELACIONADOS AO LOCAL


E PERÍODO DO ANO

A Tabela 2 mostra a concentração dos taninos condensados nos diferentes locais de


estudo, demonstrando alta variação entre locais e época do ano. Os resultados mais eleva-
dos se mostram na segunda e terceira coleta que foram realizadas nos meses de março e
julho, época chuvosa e seca, respectivamente. Normalmente, o mês de março é o período
com intensas chuvas no estado do Maranhão, enquanto julho, normalmente é o mês que
finda o período chuvoso, ocorrendo poucas chuvas.

Tabela 2. Concentração dos taninos condensados das folhas da Mimosa caesalpiniifolia em diferentes municípios e
épocas do ano de 2018 no estado do Maranhão

Município Período Taninos condensados*

Amarante Chuvoso 0,76


Amarante Chuvoso 50,55
Amarante Seco 18,54
Amarante Seco 28,44
Brejo Chuvoso 15,86
Brejo Chuvoso 58,49
Brejo Seco -
Brejo Seco 39,29
Cajari Chuvoso 13,04
Cajari Chuvoso 58,14
Cajari Seco 146,11
Cajari Seco 60,51
Pirapemas Chuvoso 6,58
Pirapemas Chuvoso 88,3
Pirapemas Seco 127,57
Pirapemas Seco 49,99
*Valores expressos em equivalente grama de leucocianidina / kg de matéria seca.

Guimarães Beelen et al. (2006) observaram que os taninos condensados presentes


na M. casaelpiinifolia são principalmente constituídos de prodelfinidina, sendo a relação
35
Alimentos e Alimentação Animal
prodelfinidina: procianidina de 90:20 nas fases de vegetação plena e floração, diminuindo
para 40:50 na fase de frutificação. Almeida et al. (2006) não encontraram diferenças entre
épocas para teor de tanino e Araújo Filho et al. (2002) encontraram variação do teor de ta-
nino nas diferentes fases fenológicas da planta, sendo os valores de tanino observados por
esses autores mais altos do que os observados em nosso trabalho. A quantidade e o tipo
de taninos sintetizados pelas plantas variam consideravelmente dependendo da espécie,
do cultivo, do estrato e das condições ambientais. Geralmente, a concentração é maior em
espécies que prosperam em solos pobres em fertilidade, tal como ocorre nas regiões tropicais
e subtropicais (OTERO e HIDALGO, 2004). Simon et al. (1999) e Teixeira (1990) relatam
sobre variações do teor de taninos que mostram que há diferenças quando as plantas são
coletadas e analisadas em períodos distintos.
Polifenóis de baixo peso molecular e elagitaninos foram analisados em HPLC, por Simon
et al. (1999), em quatro espécies de carvalho (Quercus robus L., Q. petraea Liebl., Q. pyre-
naica Wild. e Q. faginea Lam.), obtidos do extrato da madeira. As coletas foram realizadas
antes e depois de um ano e, durante este processo, as concentrações de polifenóis de
baixo peso molecular aumentaram e a concentração de elagitaninos, dímeros e monôme-
ros, diminuíram. Com estes dados, os autores deduziram que a sazonalidade natural afeta
a composição química devido a processos de desidratação e maturação e as alterações
químicas foram similares nas quatro espécies.
Ressalta-se do mesmo modo a distinção de taninos entre espécies de gênero vegetal
semelhante, de forma que essa variabilidade influi na atividade biológica dos taninos (Kahiya
et al., 2003). Alonso Díaz et al. (2011) relataram que é necessário ainda a definição de outros
aspectos envolvidos para uma melhor caracterização, tais como o estrato da planta, idade
e estado fisiológico.

EFEITO DA ÉPOCA DO ANO E LOCAL DA COLETA

Na Tabela 3 estão expressos os resultados entre as variáveis bromatológicas de acor-


do com o local da coleta da planta e a época do ano. Notam-se valores mais elevados no
mês de julho, no final do período chuvoso na região. Os resultados referentes aos teores
médios de PB, FDN e FDA, concordam com os relatos feitos por Araújo Filho et al. (2002) e
Guimarães-Beelen et al. (2006), que observaram que com o avanço da estação seca ocorre
diminuição no teor de PB e aumento da fração fibrosa da planta.
Quanto a quantidade de taninos nas folhas, observou-se maior valor para a época seca,
e quando esses valores encontrados são inferiores a 2%, Poncet e Remond (2002) afirmaram
que a digestibilidade da proteína não é afetada por concentrações de tanino abaixo de 2%.

36
Alimentos e Alimentação Animal
Tabela 3. Média das variáveis bromatológicas das folhas da Mimosa caesalpiniifolia em diferentes municípios e épocas
do ano de 2018 no estado do Maranhão.
FDA Fenóis Taninos conden-
Municípios Período MS MO * PB * FDN* Lignina *
* totais ** sados ***
Amarante Chuvoso 894,74 937,66 238,17 840,82 704,87 473,83 0,76
Amarante Chuvoso 905,7 926,97 213,6 788,06 702,27 600,85 79,61 50,55
Brejo Chuvoso 871,11 930,21 197,49 813,33 705,03 488,8 15,86
Brejo Chuvoso 907,19 911,96 158,91 706,77 702,3 541,79 93,48 58,49
Cajari Chuvoso 830,4 962,69 220,72 805,75 714,07 483,91 13,04
Cajari Chuvoso 913,9 924,39 227,33 759,89 725,1 542,73 109,53 58,14
Pirapemas Chuvoso 835,52 940,4 164,62 792,25 728,88 526,09 6,58
Pirapemas Chuvoso 911,12 930,63 226,32 733,46 658,82 506,36 155,08 88,3
Amarante Seco 890,85 925,78 322,75 781,41 708,84 532,33 47,15 18,54
Amarante Seco 870,8 903,88 193,45 800,58 728,56 521,92 46,97 28,44
Brejo Seco - - - - - - - -
Brejo Seco 856,44 952,43 192,29 841,09 820,48 638,63 62,47 39,29
Cajari Seco 919,1 953,76 211,44 712,3 651,37 515,43 183,44 146,11
Cajari Seco 879,45 934,53 201,41 837,8 822,49 624,96 94,6 60,51
Pirapemas Seco 928,82 944,24 163,18 607,73 663,89 554,57 194,12 127,57
Pirapemas Seco 881,4 950,38 195,29 816,37 755,58 569,32 93,03 49,99
* Valores expressos em g/kg de matéria seca
** Valores expressos em equivalente grama de ácido tânico / kg de matéria seca
*** Valores expressos em equivalente grama de leucocianidina / kg de matéria seca

CONCLUSÃO

Com base nos resultados obtidos pode-se concluir que, de modo geral, as folhas
da M. caesalpiniifolia apresentaram teores de FDA e FDN elevados, em relação aos efeitos
sazonais, na época seca. Quanto as concentrações dos taninos condensados nos diferen-
tes locais de estudo, apresentaram-se mais elevados nas coletas realizadas nos meses de
março e julho de 2018. Não houve diferenças significativas entre os efeitos sazonais quanto
as análises de matéria orgânica, de proteína bruta e de matéria mineral. Em relação aos
resultados obtidos sobre a idade da M. caesalpiniifolia, os taninos e a matéria orgânica se
apresentaram em maior valor na idade de três anos. As outras variáveis bromatológicas não
foram afetadas pela idade do sabiá. No entanto, notou-se que na época chuvosa observa-se
melhor composição química da planta, ou seja, a M. caesalpiniifolia apresenta uma compo-
sição química mais adequada no período chuvoso.

37
Alimentos e Alimentação Animal
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Alimentos e Alimentação Animal
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40
Alimentos e Alimentação Animal
03
Forage management into beef cattle
production helping to farm owner
decisions

Mariana Vieira Azenha Eliéder Prates Romanzini


Premix Company FCAV/Unesp

Fernando Ongaratto Bruno Ramalho Vieira


Nutripura Company
Ricardo Andrade Reis
Abmael da Silva Cardoso FCAV/Unesp
FCAV/Unesp
Ana Cláudia Ruggieri
Daniel Rume Casagrande FCAV/Unesp
UFLA

10.37885/210705360
ABSTRACT

The purpose of this research was to evaluate how different grazing sward heights (15,
25, 35 cm) change the frequency of tiller visitation, morphogenesis, structural characte-
ristics, tillering dinamic of palisadegrass (Urochloa brizantha) managed under continuous
stocking. Método: The experimental design adopted was randomized blocks with three
treatments: 15, 25 and 35 cm and four replicates (paddocks) and year (2007/2008 and
2008/2009) was used as blocking factor. The results desmonstrates that each increment
of 1 cm in sward height led to an increase of 0.09 days for tiller visits, 0.18 days for
phyllochron, 0.85 days for leaf life span, 0.035 for number of leaves, 4.48 mm for leaf
size, 0.0030 for tillers survival. In addition, each increment 1 cm in sward height caused
a decrease in leaf appearence rate by 0.0006 mm/leaf/tiller, tiller density in 74.71 tillers/
m², 0.0030 in tiller mortality. Varying grazing sward height from 15 up to 35 cm, directly
affected the frequency of tiller visitation as well as morphogenesis and structural variables
of palisadegrass under continuous stocking, the height of 25 cm a indicates for handling
in continuous stocking.

Key-Words: Canopy, Defoliation, Morphogenesis, Tillering.

42
Alimentos e Alimentação Animal
INTRODUCTION

Pastures are the main component of ruminant diets and the most economical food source
in livestock systems. The ingestive behavior of cattle is affected by the canopy structure and
forage density, so understanding the plant-animal interaction caused by defoliation events
allows the adoption of target management heights, which do not compromise the plant and
animal development.. Although Brazil has vast pasture areas, many are in a state of degra-
dation due to the lack of information for the adequate grazing management. The control of
grazing height is a pratical low-cost method to manage tropical pastures. Sward height is one
of the most efficient methods that can be applied to control pasture production and animal
performance. The use of sward height as a management strategy can result in variations in
frequency of tiller visitation (i.e. defoliation), structural characteristics of the canopy and nu-
tritional value (REIS et al., 2016), mainly due to the effect on ingestive behavior of herbivores
(VIEIRA et al., 2017). Thus, certain heights of grazing management can decrease perennial
and lead to pasture degradation. Variables such as frequency of tiller visitation, tiller density,
leaf appearance and tiller rate, among others, can be used as indicators of the effect of gra-
zing on plant regrowth and production (SALES et al., 2014; SANTANA et al., 2017) as well
as animal’s ingestive behavior. The hypothesis of this study is that different grazing heights
of palisadegrass (15, 25 and 35 cm) affect the frequency of visitation of tillers and therefo-
re the morphogenesis variables, canopy structure and dynamics of palisadegrass tillering.
Therefore, this study aims to evaluate the impact of increasing grazing sward heights on
frequency tiller visitation, morphogenesis and structural variables and the tillering dynamics
of palisadegrass managed under continuous grazing.

METHOD

The experiment was conduced between November 2007 and March 2009 at the School
of Agricultural and Veterinarian Sciences - Unesp, Department of Animal Sciences, located in
Jaboticabal-SP, at 21º15’22’’ south latitude and 48º18’58’’ west longitude and 600 m altitude.
The pastures of Urochloa brizantha cv. Marandu (palisadegrass) were established in 2005.
The climate of the region is tropical of the Aw type, mesothermal with humid summer and dry
winter, according to the Köppen classification. The average values of temperature, accumu-
lated precipitation was collected from the Agroclimatological Station, Department of Exact
Sciences, FCAV/Unesp (Table 1). All procedures have been Conducted in accordance with the
guidelines set out by the Brazilian College of Animal Experimentation (COBEA) in the Code
of Practice for the Care and Use of Animals for Experimental Purposes and were reviewed
and approved by the Animal Ethics Committee of the Sao Paulo State University (CEBEA).
43
Alimentos e Alimentação Animal
The soil was classified as dystrophic oxisol, clayey texture (EMBRAPA, 2018). The
results of the soil nutritent analysis were pH (CaCl2) = 5.0; organic matter (OM) = 19.3 g/
dm3; phosphorus (P) = 7.3 mg/dm3; potassium (K) = 1.7 mg/dm3; calcium (Ca) = 13.6 mg/
dm3; magnesium (Mg) = 9.3 mg/dm3; potential acidity (H + Al) = 26.0 mg/dm3; sum of bases
(SB) = 24.7 mg/dm3; base saturation (V) = 49.0%. In November of 2007, 250 kg/ha of the
formula 20:05:20 (N-P2O5-K2O) was applied and, in the same month of 2008,150 kg/ha of
the formula 8:28:16 (N-P2O5-K2O). The nitrogen fertilizations were carried out in December
of 2007; January, February, December of 2008; and February of 2009 when 100, 150, 100,
100 and 150 kg/ha of urea were used, respectively.
The experiment was conducted in an area of 12 hectares divided into twelve paddocks
(experimental unit), ranging from 0.7 to 1.3 ha, plus an adjacent area for the maintenance of
regulating animals. The treatments were 15, 25 and 35 cm of average sward height of the
palisadegrass, managed under continuous stocking and variable stocking rate. The sward
height was monitored using a graduated ruler and measuring 100 points per paddock every
five to six days. Seven Nellore heifers (Bos taurus indicus) were maintained with an initial
average weight of 200 kg, with sward height regulating animals being added or removed. The
stocking rate was calculated by adding the weight of all cattle in each paddock and dividing
by 450 kg, which corresponds to one animal unity (AU; Table 1).
The identification of palisadegrass tillers (72 tillers/height) was done at three represen-
tative points of the canopy height in each paddock and identified with iron piles. In each point,
6 tillers were selected approximately 40 cm apart and identified with colored plastic threads.
The process of tiller identification was repeated every 28 days.
The frequency of tiller visitation was obtained by the equation: frequency of tiller visitation
= number of touches/(number of possible touches × duration of the evaluation). The expanded
leaves were measured from its ligula. Leaves going through senescence were measured only
at the green part of the leaf blade. Were considered going through senescence only leaves
with a maximum of 50% of the leaf blade senescent. The leaf appearance rate (leaf/day)
was calculated by dividing the number of leaves that appeared in the evaluated period by the
number of leaves evaluated duration of evaluation (days). Phyllochron was calculated as the
inverse of the leaf appearance rate. The leaf life span (days) was calculated by multiplying
the number of live leaves per tiller × phyllochron. The rate of leaf elongation and stems (mm/
tiller/day) and leaf senescence rate (mm/tiller/day) were calculated using the ratio between
two consecutive evaluations. The final length of the leaves was proportional to the average
size of all the expanded and integral leaves in each evaluation period, the number of live
leaves (expanded/elongating) in each tiller was also counted.

44
Alimentos e Alimentação Animal
To collect the tiller population pattern, three 20 cm diameter polyvinyl chloride rings were
used per paddock, attached to the soil by staples. The first tillers were marked with colored
plastic rings before the beginning of the first grazing cycle. On that occasion, all palisade-
grass tillers within the area delimited by the rings were marked with single-colored plastic
thread, named the first generation of tillers (G0). During subsequent month, the first tillers
were counted again, and the new tillers were marked with different colored plastic threads
and named second generation tillers (G1), and so on, the next generations being counted
at the beginning of each month. cycle, until the end of the period of use of palidadegrass,
totaling four generations (G0, G1, G2 and G3).
Tiller appearance (TAP), mortality and survival (TSP) rates were obtained for each tiller
generation. The rate of tiller appearance, in each generation, was obtained by counting the
new tillers that appeared between two consecutive evaluations. The survival rate of each
generation of tillers was obtained by the difference between the population existing at the time
of counting and the population existing in the previous count, the values being calculated as
a percentage. The mortality rate was estimated from the survival rates, subtracting from 100.
With the sum of the number of tillers belonging to each generation, it was possible to deter-
mine the density of tillers in each generation (tillers/m2). The stability index (IE) of the tiller’s
population was obtained according to Bahmani et al. (2003), where: IE = TSP × (1 + TAP).
The forage mass was determined by the double sampling method (SOLLENBERGER
and CHERNEŶ, 1995). Forage biomass data was regressed over sward height measurements
every 28 days. The sward height was measured at nine points per experimental unit using
an ascending plate. The sward height measurements were taken at average height (n = 3),
highest height (n = 3) and lowest height (n = 3). At each of the nine points, the forage inside
the ascending dish (0.25 m2) was harvested at the ground level, identified, and weighed.
Pasture samples were dried in an oven with air circulation at 55ºC for 72 hours and weighed
again. After obtaining the data for height and mass of green forage and DM, linear regression
was determined to calculate the forage mass.
The experimental design used was complete randomized blocks with three treatments
(heights), four repetitions (paddocks) and years (2007/2008 and 2008/2009) considered as
a blocking factor. Data was checked for normality and subjected to analysis of variance by
the mixed procedure of the SAS® statistical program. The statistical model used considered
the fixed effect of the treatments (heights) and the random effects of the residue and the
years. A covariance structure selection test was performed, using the Akaike information
criterion (AIC) to indicate the model that best represented the data, which were analyzed in
the SAS® program. The assumptions of the analysis were evaluated (Homoscedasticity test:
Box Cox, error normality tests: Cramer von-Mises, model selection criteria: AIC). Tukey’s test
45
Alimentos e Alimentação Animal
at 5% was used to compare treatments. The variables were subjected to regression analysis,
using the different heights as explaratory variable, and applying a polynomial function to the
second order. In the regression analysis, the selection of the models was based on the sig-
nificance of the linear and quadratic coefficients, using the Student t-Test, at 5% probability.

RESULTS AND DISCUSSION

Environmental conditions, mean temperature and cumulative rainfall (Table 1), did not
limit forage development.

Table 1. Temperature, precipitation, and rain of December to April in the years 2007/2008 and 2008/2009.

Maximum1 Minimum1 Mean1 Precipitation2 ND3

2007

December 31.5 20.0 24.8 204.4 13

2008

January 29.2 20.1 23.5 325.0 22


January 30.3 19.8 23.9 302.7 20
March 29.6 18.8 23.2 108.4 14
April 28.8 18.1 22.3 131.4 13
December 31.0 19.1 24.3 278.9 14
2009
January 29.7 19.8 23.9 238.0 18
January 31.2 20.6 23.8 190.0 16
March 31.0 20.2 24.7 217.9 16
April 29.5 17.2 24.4 70.8 5
Data obtained from the Department of Ciências Exatas of FCAV/Unesp Jaboticabal, located 500 m from the experimental area. 1
Temperature in degrees Celsius (ºC); 2 millimeters (mm); 3 number of days.

Source: Authors.

The frequency of tiller visitation was fitted to the linear equation (Ŷ = 9.51 + 0.09x, P =
0.0026; r² = 0.99) in relation to the grazing sward heights. The resuts shows that each 1 cm
increment in sward height will lead to an increase of 0.09 visitation days. According to Tesk
et al. (2018) the number of animals per area and their needs for nutrients will determine the
frequency of visitation (Table 2). It would be expected that swards grazed at shorter heights
would have higher frequency of tiller visitation due to the greater stocking rate, however the
results seems to indicate that the increases in frequency of tiller visitation, as sward height
increases, may be related to the increase in forage digestibility (GOMES et al., 2018).

46
Alimentos e Alimentação Animal
Table 2. Stocking rate of Palisadegrass managed at different heights (15, 25 and 35cm) during the 2007/08 and 2008/09
(rain season).

Stocking rate1

Heights (cm)
Year CV2 Published article
15 25 35
2007/08 5.6 4.3 3.7 12.5 Casagrande et al., 2011
2008/09 5.5 4.2 3.4 7.9 Vieira et al., 2017
1
Animal unit (450 kg of body weight), 2 Coefficient of variation (%).

Source: Authors.

The leaf appearance rate was fitted to a negative linear relationship, which predicts that
each increase of 1 cm in sward height would lead to a decrease in the leaf appearance rate
by 0.0006 tiller/leaf/day. The other morphogenesis variables, number of leaves and final leaf
length were fitted to positive linear relationship. The results shows that each increase in 1 cm
in sward height would lead to an increase of 0.18 days the phyllochron, 0.10 leaves/tillers the
rate of leaf expansion, 0.85 days a leaf life duration, 0.0154 mm/leaf/tiller at the stem elonga-
tion rate, 0.035 the number of leaves per tiller and at 4.48 mm/leaf/tiller the final leaf length.
The leaf appearance rate assess the frequency that a leaf follows the path along the
pseudo stem till its emergence. Swards grazed at greater heights have bigger pseudo stem
and therefore a lower appearance rate and a greater phylochron (SALES et al., 2014). The
results obtained in this study for leaf elongation rate, stem elongation rate, final leaf length
and number of leaves per tiller seems to be affected by the frequency of visitation to tiller
and stocking rate used to maintain the management heights. This increase in the values of
these variables indicates that there was a sub-pasture, allowing the canopy to have more
leaves and larger leaves, a consequence of the higher elongation rate, and also a higher
elongation of stems, even with the increased frequency of tiller visits. This increase in the
frequency of visitation is due to the effect of the decrease in the nutritional values of higher
canopies (KUNRATH et al., 2019).
In this study, the leaf’s life span, leaf senescence rate and stem elongation rate increa-
sed with increasing sward height. These are undesirable characteristics for palisadegrass,
which indicates that there is a height where there is a balance in plant production. Leaf life
span (LLS) is the morphogenesis variable that determines the balance between leaf tissue
development and death. When working with short grazing intervals in relation to the average
time of LLS, the pasture efficiency of use will be optimized. However, if the intervals between
grazing events are longer than the useful life of the leaves, a greater amount of leaf tissue
will senescence before the beginning of the next grazing cycle causing a reduction in grazing
efficiency (GASTAL and LEMAIRE, 2015).

47
Alimentos e Alimentação Animal
The tiller appearance rate (0.32 ± 0.02) and the stability index (0.96 ± 0.01 tiller) were
not affected by changes in sward heights. The tiller mortality rate and population density were
fitted to a negative linear relationship, while the tiller survival rate fitted to a postivive linear
relationship. The results suggestes that increasing the sward height by 1 cm would cause a
decrease in tiller mortality by 0.0030 and the density by 74.71 tillers/m² and the tiller survival
would increase by 0.0030.
A factor of great importance in determining the tiller appearance rate is the frequency
of tiller visitation during grazing, especially under conditions of severe grazing compared to
lenient grazing (MATTHEW et al., 2000). Even at the height of 35 cm, where the visitation of
tillers was greater, this variable was not altered, demonstrating the stability (value close to
1.00) in the emission of tillers during the season (SANTANA et al., 2017). The values close
to 1.0, of the tillers stability index indicate stable tillers density, in which the number of tillers
practically does not vary, despite being the result of a dynamic balance (BAHMANI et al.,
2003; SOUSA et al., 2013 ). The similarity in population density and tiller stability index is
probably related to the low incidence of light at the base of the canopy, which negatively
affects tillering (MATTHEW et al., 2000). This lower incidence of light is due to the greater
amount of forage mass which limits the passage of light to the lower strata of the pasture
and thus does not stimulate tillering (SANTANA et al., 2017). Higher swards, in which the
number of leaves and their length are greater and where there is more frequency of visitation,
the survival rate of these tillers is higher, as there are better conditions for them to establish
themselves (SANTANA et al., 2017).

Table 3. Regression of morphogenesis variables and number of Palisadegrass leaves managed under different heights
(15, 25, 35 cm) during the 2007/08 and 2008/09 (rain season).

Variable Equation r² CV4 SEM5

Appearance rate1 Ŷ= 0.0985 – 0.0006x 0.99 22.19 0.0019

Phyllochron2 Ŷ = 8.87 + 0.18x 0.97 29.96 0.42

Elongation rate3 Ŷ = 6.62 + 0.10x 0.72 27.34 0.25

Leaf life span2 Ŷ = 37.90 + 0.85x 0.99 18.38 1.14

Senescence rate3 Ŷ = 0.75 + 0.14 0.88 29.71 0.13

Number of leaves Ŷ = 3.34 + 0.035x 0.99 12.12 0.05

Final sheet length3 Ŷ=49.50 + 4.48x 0.99 15.78 2.63


leaf/tiller/day; 2days; ³mm/leaf/tiller; 4 Coefficient of variation; 5 Standard error mean.
1

Source: Authors.

The forage mass was fitted to a positive linear relationship (Ŷ = 2066.2 + 209.6x; P =
0.0001; r² = 0.98). The results shows that would be expected that the increase of 1 cm in
the sward height will lead to an increase in forage mass of 209.6 kg/ha. At greater sward
heights, leaf life span, pseudo stem elongation rate and lower defoliation frequency leads
48
Alimentos e Alimentação Animal
to greater production of forage mass, leaves and stems (JANUSCKIEWICZ et al., 2019;
VIEIRA et al., 2017).

Table 4. Regression equations for the tillering variables of Palisadegrass managed under different heights (15, 25, 35 cm)
during the 2007/08 and 2008/09 (rain season).

Variable Equation r² CV2 SEM3

Tiller population density1 Ŷ = 5903.4 – 74.71x 0.94 18.97 156.28

Tiller survival rate1 Ŷ = 0.65 + 0.0030x 0.66 12.65 0.0094

Tiller mortality rate 1


Ŷ = 0.34 – 0.0030x 0.66 33.64 0.0094
1 tiller/tiller/m²; 2 Coefficient of variation; 3 Standard error mean.

Source: Authors

The results indicate that grazing palisadegrass grass at 25 cm in a continuous stocking


method would not compromise ingestive behavior (VIEIRA et al., 2017) allowing high avera-
ge daily gain and production per hectare (REIS et al., 2013) and lower methane emissions
per kilogram produced (BARBERO et al., 2015). At that time, desirable characteristics of
morphogenesis variables (appearance of leaves, phyllochron, leaf life span) and canopy
structural (rate of survival and mortality of tillers, forage mass, leaf/stem ratio) are combined.
Santana et al. (2017) pointed out that the optimum sward grazing height would be between
20 and 30cm for both continuous and intermittent stocking. Other research groups have de-
veloped studies on the effect of different sward grazing heights on palisadegrass grass and
recommended the the height of 30 cm as the most appropriate for palisadegrass grass when
ranging from 25 to 35 cm (FIALHO et al., 2012; EUCLIDES et al., 2014; EUCLIDES et al.,
2019). The height of 25 cm was the management criterion for palisadegrass grass in conti-
nuous stocking (DELEVATTI et al., 2019) which applied different doses of nitrogen (urea; 0,
90, 180, 270 kg N/ha/year), allowing an average gain of 0.925g/day and a linear increase in
the stocking rate of 3.3, 4.6, 5.8 and 6.5 AU/ha, without compromising the canopy structure.

CONCLUSION

Grazing palisadegrass at different sward heights (15, 25, 35 cm) alter the frequency
of tiller visitation, as well as the morphogenesis variables, tillering and forage mass of pali-
sadegrass. Based on the results on this study and the literature available, we conclude that
grazing palisadegrass at 25 cm (range 20 a 30 cm) of sward height to be most suitable in
order to favor plant and animal production under a continous grazing system.

49
Alimentos e Alimentação Animal
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51
Alimentos e Alimentação Animal
04
Minerais orgânicos na nutrição de
suínos: uma revisão de literatura

Marcos Speroni Ceron Bruno Neutzling Fraga


UNIFENAS UNIPAMPA

Carlos Augusto Rigon Rossi Daniela Regina Klein


UFSM UFSM

Henrique da Costa Mendes Muniz Michael Silveira Reis


UFSM UNIFENAS

Vladimir de Oliveira Carlos Eduardo Botega


UFSM UNIFENAS

Alexandre de Mello Kessler


UFRGS

10.37885/210805882
RESUMO

Os minerais são elementos essenciais para composição das dietas, uma vez que exercem
várias funções essenciais no organismo dos suínos, estando disponíveis no mercado nas
formas orgânica e inorgânica. Os minerais orgânicos são elementos de alta estabilidade,
solubilidade e disponibilidade biológica, sendo constituídos por íons metálicos adsorvidos
por substâncias orgânicas (aminoácidos, peptídeos ou polissacarídeos). Com isso, esses
minerais são mais biodisponíveis em relação aos inorgânicos, resultando em menores
taxas de excreção pelos suínos, agregando sustentabilidade ao sistema suinícola de pro-
dução. Assim, o objetivo desta revisão de literatura é abordar de maneira prática-científica
os principais minerais orgânicos utilizados na nutrição de suínos.

Palavras-chave: Alimentação, Quelato, Sustentabilidade.

53
Alimentos e Alimentação Animal
INTRODUÇÃO

A literatura científica possui catalogados 96 elementos minerais, porém, destes, ape-


nas 16 são considerados nutricionalmente essenciais, os quais desempenham diversas
funções metabólicas no organismo animal, atuando nos sistemas imunológicos, respiratório,
reprodutivo, além da formação esquelética, entre outras utilidades (ESPÍNDOLA, 2016).
São classificados segundo suas necessidades dietéticas em macrominerais (g.dia–1) e mi-
crominerais (mg.dia–1), onde na forma orgânica por estarem associados a outras moléculas
(estas sim orgânicas), possuem maior biodisponibilidade em relação a fontes inorgânicas,
favorecendo a aplicabilidade do conceito de nutrição de precisão, em relação aos minerais
(Mc DONALD et al., 2002; ESPÍNDOLA, 2016).
O conceito da nutrição de precisão pode ser considerado uma técnica inovadora nos
últimos anos de pesquisas em suínos, visando melhorar a eficiência de utilização dos princi-
pais nutrientes pelo animal sendo eles proteína, carboidratos, lipídeos, vitaminas e minerais.
Sabe-se que o desbalanço da quantidade de minerais na dieta pode resultar em problemas
no crescimento, reprodução e saúde dos suínos (NRC, 2012).
Tratando-se exclusivamente de minerais, a maioria das exigências obtidas nas refe-
rências literárias foram mensuradas com animais com baixo melhoramento genético, sendo
muitas delas estimadas de forma empírica (RUTZ e MURPHY, 2009), o que, segundo Leeson
(2008), pode funcionar, porém, corre-se o risco de déficits, excesso e até mesmo interações
adversas entre minerais as quais podem resultar tanto em redução do desempenho quanto
aumento dos níveis nas excreções. Além disso, a determinação empírica das exigências
nutricionais em microminerais tem sido essencialmente realizada com fontes inorgânicas de
baixa biodisponibilidade, como óxidos e sulfatos, o que superestima as necessidades diárias
no caso de ser usada fonte mais disponível como os minerais orgânicos.
A melhora do metabolismo e do desempenho dos animais monogástricos e a redução
da contaminação ambiental por minerais inorgânicos (McCartney, 2008) pode ser obtida
pelo uso de minerais orgânicos. Esses são obtidos pela ligação de íons metálicos a uma
molécula orgânica o que resulta em estruturas mais estáveis e com elevada biodisponibili-
dade mineral (AAFCO, 2000). O objetivo desta revisão de literatura foi abordar de maneira
prática-científica os principais minerais orgânicos utilizados na nutrição de suínos.

54
Alimentos e Alimentação Animal
DESENVOLVIMENTO

Zinco:

O zinco (Zn), às vezes classificado como metal de transição ainda que estritamente


não seja, possui massa atômica de 65,4 u e apresenta-se nos tecidos de origem vegetal
e animal, com maior concentração no fígado, pele e pelos. Atua como cofator na consti-
tuição de várias enzimas corporais e está envolvido no processo de multiplicação celular
(SAKOMURA et al., 2014).
O zinco inorgânico na forma de óxido (ZnO) é muito utilizado para o controle de diar-
reia (Escherichia coli) e como promotor de crescimento em leitões pós-desmame, devido
ao seu baixo custo (GAUDRÉ e QUINOU, 2009). A suplementação de zinco proporciona
efeitos benéficos ao sistema imunológico dos animais, pois possui propriedades anti-infla-
matórias. No entanto, a absorção de Zn inorgânico varia conforme idade, componentes da
dieta e estado fisiológico animal (FURLAN e POZZA, 2014). O zinco orgânico possui maior
biodisponibilidade em relação à sua forma inorgânica, podendo ser encontrado quelatado a
aminoácidos como o zinco-lisina e zinco-metionina, ou complexado a proteína parcialmente
hidrolisada ou polissacarídeos (RUTZ e MURPHY, 2009).
A substituição parcial ou total do zinco inorgânico pelo orgânico pode trazer bene-
fícios ao desempenho dos animais e reduzir a excreção de nutrientes (CARLSON et al.,
2004). A substituição gradual do zinco inorgânico por níveis menores de zinco-metionina
(ZnMet) não apresentou efeitos negativos sobre o desempenho e a digestibilidade dos
nutrientes em leitões recém-desmamados (XIE, 2019). Nesse estudo, a suplementação de
50 mg.kg–1 de ZnSO4 + 25 mg.kg–1 de ZnMet em dieta a base de milho e farelo de soja para
leitões melhorou a digestibilidade do zinco e, consequentemente, o sistema imunológico na
fase mais crítica da produção.
O fornecimento de altas doses (200 e 2.500 mg.kg–1) do quelato zinco-glutamato em
curto prazo (7 dias), reduziram a colonização por Escherichia coli no intestino de leitões
recém-desmamados (MAZZONI et al. 2010), sendo também observado maior altura de vilo-
sidade e profundidade de cripta no duodeno, o que pode favorecer o processo de absorção
dos nutrientes pelos animais.

Cobre

O cobre (Cu) é um metal de transição, com massa atômica de 63,5 u, apresenta-se em


estado sólido à temperatura ambiente. Este micromineral é necessário para o crescimento
ósseo e formação de algumas enzimas cúpricas como: citrocomo-oxidase, amina-oxidase,

55
Alimentos e Alimentação Animal
catalase, peroxidase, ceruloplasmina, lactase, uricase, tirosinase e dismutase-superóxido
(SAKOMURA, 2014). Além disso, está associado ao metabolismo do ferro e na síntese de
hemoglobina (BERTECHINI, 2014).
O cobre inorgânico (sulfato de cobre) é muito utilizado como promotor de crescimento
para suínos devido ao seu baixo custo, possui efeito antimicrobiano e causa aumento nos
níveis de RNAm para hormônio do crescimento (BERTECHINI, 2014). Além disso, no pós-
-abate os animais apresentam redução na quantidade de gordura na carcaça e aumento da
quantidade de ácidos graxos insaturados (AMER e ELLIOT, 1973; PETTIGREW e ESNAOLA,
2001). Contudo, a absorção intestinal do Cu é relativamente baixa e varia conforme a fonte
utilizada, assim o uso indiscriminado pode causar problemas ao meio ambiente (RUTZ e
MURPHY, 2009). Desta maneira, recomenda-se o uso de fontes orgânicas devido à maior
absorção e retenção nos tecidos corporais.
O uso do complexo quitosana-cobre (CS-Cu), na dieta de leitões desmamados melhora
a morfologia do intestino delgado ao aumentar a altura das vilosidades e da relação altura
de vilosidade/profundidade de cripta (XIAOJING, 2017). O CS-Cu pode aumentar a quan-
tidade de nutrientes prontamente disponíveis para absorção intestinal e, assim, melhorar o
desenvolvimento e a regeneração das vilosidades intestinais. Desta maneira, a integridade
intestinal contribui para o aumento da saúde intestinal ao reduzir a apoptose das células
epiteliais do íleo e a incidência de diarreia.
O fornecimento de Cu orgânico pode melhorar o crescimento e a conversão alimentar
de suínos nas fases de creche, crescimento e terminação (ÁLVAREZ, 2019). Efeito atribuído
à ação antimicrobiana do Cu melhora a absorção dos nutrientes à nível intestinal (RUTZ
e MURPHY, 2009).
Existem evidências que a suplementação de quelato de Cu (80 mg.kg–1) em substitui-
ção ao CuSO4 (4 e 160 mg.kg–1) causou aumento (P <0,05) no peso de carcaça e profun-
didade de lombo. Álvarez et al. (2019) observaram que a suplementação com proteinato
de Cu causou aumento (P <0,05) na área de olho de lombo em fêmeas, redução (P<0,05)
na espessura de toucinho em machos castrados e aumento (P <0,05) nos rendimentos dos
cortes primários e na qualidade da carne. As melhorias observadas nas características de
carcaça ocorrem porque o Cu é responsável por estimular o hormônio do crescimento, atuar
como regulador da lipólise e favorecer a deposição de proteína (KRISHNAMOORTHY et al.,
2016; ZHOU et al., 1994). Além disso, o Cu atua como cofator da enzima citocromo oxidase
que é essencial na produção de ATP na cadeia respiratória (LIM e PAIK, 2006). Portanto, a
maior biodisponibilidade do Cu orgânico favorece a produção do ATP na célula e mantém
a integridade das proteínas musculares, melhorando a qualidade da carne.

56
Alimentos e Alimentação Animal
Na perspectiva ambiental, a substituição do Cu inorgânico (CuSO4) por análogos or-
gânicos pode ser benéfica. Em leitões na fase de creche, a suplementação com proteinato
de Cu (100 mg.kg–1) permitiu reduzir (P <0,05) a ingestão, aumentar (P <0,05) a absorção e
a retenção corporal Cu, além de reduzir (P <0,05) a excreção (VEUM 2004). Nas fases de
crescimento e terminação, nas quais os suínos produzem grande quantidade de dejetos, o
uso de Cu orgânico permite reduzir excreção de Cu (LIU et al., 2016), sem comprometer o
desempenho dos animais.

Ferro

O ferro (Fe) é um metal de transição com massa atômica de 55,8 u, sendo o quarto
elemento mais abundante na crosta terrestre. É um mineral importante para o organismo do
animal ao constituir a hemoglobina, mioglobina, citrocomo, succinato-desidrogenase, oxidase
e oxigenase. O Fe também é necessário para a mineralização adequada do tecido ósseo
a fim de proteger a medula espinhal e é um cofator das enzimas envolvidas na síntese dos
neurotransmissores (SPENCER e PALMER, 2012).
A suplementação de ferro na forma inorgânica, com o uso de sulfato ferroso (FeSO4),
geralmente é feita nas primeiras semanas de vida dos leitões quando há deficiência. A anemia
ferropriva em leitões provém da baixa reserva de Fe corporal no recém-nascido associada
a baixa concentração deste mineral no leite da porca (ABCS, 2014).
O Fe orgânico, quelato ou complexado à aminoácidos ou polissacarídeos, é quimica-
mente mais estável e utiliza os mesmos mecanismos de absorção de proteína e polissaca-
rídeos o que o torna mais biodisponível (RUTZ e MURPHY, 2009; CHABAEV et al., 2020).
Pesquisas indicam que a suplementação de porcas com Fe orgânico no terço final
da gestação, período onde ocorre maior desenvolvimento dos tecidos maternos e cres-
cimento dos fetos, pode ser eficaz para melhorar o peso ao nascer das leitegadas (WAN
et al., 2018). Isso ocorre porque o fornecimento de Fe orgânico pode melhorar a absorção
de Fe intestinal, e consequentemente aumentar a transferência de Fe via placenta aos fetos
(NOVAIS et al., 2016). O uso de Fe e outros minerais proteinados (Cu, Mn e Zn) em porcas
gestantes e lactantes, causa aumento do peso dos leitões ao nascimento e desmame, bem
como aumentou os níveis de Fe no leite (LIANXIANG et al., 2020). Os autores justificam
que maior biodisponibilidade do Fe orgânico favorece a passagem do mineral através da
placenta e da glândula mamária aumentando o crescimento pré e pós-natal. Nesse estudo,
o uso de mineral orgânico permitiu redução de 20% nos requerimentos nutricionais de Fe,
Cu, Mn e Zn, aproximadamente, causando redução da presença desses microminerais nas
fazes das matrizes. No entanto, os efeitos sobre desempenho reprodutivo das porcas ainda

57
Alimentos e Alimentação Animal
são inconsistentes na literatura, variando conforme a fonte de mineral inorgânico utilizada
(NOVAIS et al., 2016; WAN et al., 2018).
A suplementação de leitões lactentes com o complexo metal-aminoácido, em substi-
tuição ao sulfato de ferro contribuiu para redução da mortalidade e na incidência de diarreia
(GRELA et al., 2005). Já para leitões recém-desmamados, tanto o uso de FeSO4, quan-
to Fe-Gly, causaram aumento (P <0,05) na concentração de Fe nos tecidos musculares
e melhorias na integridade do epitélio intestinal, quando comparados ao grupo controle
(ZHUO et al., 2019).

Selênio

O Selênio (Se) é um elemento químico com massa atômica de 79 (78,96) u, a utiliza-


ção do selênio (Se) na alimentação humana e animal desperta a atenção de pesquisadores
por ser um micromineral essencial que quando ingerido em altas concentrações se torna
altamente tóxico (GIERUS, 2007; PUTAROV, 2010; CALVO et al., 2017). O interesse pri-
mário pelo Se ocorreu devido ao seu efeito tóxico, mas em 1957 Schwarz e Foltz descobri-
ram Se também é um elemento traço essencial e as pesquisas passaram a se concentrar
no papel metabólico e nas consequências de sua deficiência. Dada a baixa disponibilidade
do selênio em forrageiras, cereais e grãos proteicos, a suplementação desse mineral em
animais de produção é uma prática comum desde 1970. Durante as últimas décadas, estudos
sugerem que a forma de selênio ofertada na dieta determina sua eficiência e as exigências
nutricionais dos animais (FONTINHAS, 2021).
O Se pode se apresentar na natureza em duas categorias: orgânica e inorgâni-
ca. A maior contribuição para o consumo de Se é via dieta e tipicamente é encontrada em
cereais, carnes, ovos e leite, onde a sua concentração varia amplamente entre as fontes.
Nos tecidos vegetais a concentração dependerá da região geográfica e do nível e disponi-
bilidade do Se encontrado no solo (NRC, 2006; PUTAROV, 2010). Para os tecidos animais,
a concentração de Se dependerá da quantidade ingerida presente na dieta (TODD, 2006).
Algumas plantas e microrganismos são capazes de substituir o enxofre (S) dos aminoácidos
cisteína e metionina por Se inorgânico, transformando-os em fontes orgânicas: a selenocis-
teína (SeCis) e selenometionina (SeMet).
Enquanto que a forma predominante de suplemento de selênio para animais é o se-
lenito de sódio inorgânico, a principal forma natural é a L-selenometionina, um análogo de
selênio do aminoácido metionina (JACQUES, 2001).
A absorção de Se está diretamente ligada à sua forma química como biocomplexo
ou inorgânica. A forma biocomplexada mais utilizada na suinocultura é a selenometionina
(principal forma de selênio nas leveduras) por possuir absorção semelhante à da metionina
58
Alimentos e Alimentação Animal
(BURK et al., 2003). A selenometionina ingerida é absorvida no intestino delgado por meio
do sistema de transporte de aminoácidos sódio dependente, ou seja, por transporte ativo
(SCHRAUZER, 2000), enquanto que a forma inorgânica é absorvida por meio de difusão
simples (BERTECHINI, 2014).
A absorção de Se por fontes biocomplexadas e inorgânicas são distintas, porém todo
o Se absorvido é convertido a seleneto inorgânico e seleneto de hidrogênio (H2Se) antes
da incorporação específica da selenocisteína no sítio ativo das selenoproteínas (DANIELS,
1996). Schrauzer (2000), afirma que a selenometionina que não é prontamente metabolizada
incorpora-se em tecidos com alta síntese proteica, como músculos esqueléticos, eritrócitos,
pâncreas, fígado, rim, estômago e mucosa intestinal. E por fim, o selenito de sódio em ex-
cesso é excretado (OLIVEIRA et al., 2014).
A principal característica que torna o Se um elemento bastante estudado é o seu po-
tencial antioxidante que combate os radicais livres relacionados à oxidação das membranas
celulares. É importante ressaltar que a vitamina E previne a formação de peróxidos enquanto
o Se combate os peróxidos formados que são radicais livres extremamente danosos às
células (BERTECHINI et al., 2014). Esta ação ocorre pela ativação da enzima glutationa
peroxidase (GSH-Px) em conjunto com outras enzimas não selenadas (superóxido dismu-
tase e catalase) que constituem o sistema primário de defesa antioxidante (LI et al., 2017).
As selenoproteínas possuem atividades enzimáticas aprimoradas pela incorporação es-
pecífica de selênio por meio da selenocisteína (COULOIGNER et al., 2015). São conhecidas
pelo menos 25 selenoproteínas comuns para animais e humanos dentre elas estão as glu-
tationa peroxidases, tioredoxina redutases e iodotironina deiodinases (CHANG et al., 2017).
O Se atua também na regulação dos níveis dos hormônios tireoideanos, por meio da
enzima iodotironina deiodinase responsável por catalisar a reação de conversão de T4 em
T3, sua forma ativa (NRC, 2006). Outra função do Se está relacionada com a manutenção
do sistema imunológico, segundo Cao et al. (2014), uma ingestão adequada do micromine-
ral garante uma melhor função imune e uma deficiência pode ocasionar uma depleção nos
mecanismos de defesa.
A deficiência de Se induz o estresse oxidativo, inflamação e apoptose celular, além de
causar distúrbios estruturais e funcionais nos tecidos dos animais como: músculos, fígado,
sistema imunológico, rim, pâncreas e tireoide (DALIA et al., 2017). As principais doenças
que acometem os animais domésticos nutricionalmente deficientes em Se são a distrofia
muscular, a diátese exsudativa, o fígado necrótico e as doenças cardíacas (Zarczynska et al.,
2013; Cao et al., 2014), além do comprometimento reprodutivo pela perda da integridade
funcional dos espermatozóides.

59
Alimentos e Alimentação Animal
Estudos para avaliar o impacto do Se na nutrição de reprodutores suínos abrangem
os benefícios na puberdade, melhoria da libido, do vigor sexual e no desenvolvimento e
manutenção das glândulas endócrinas (CLOSE e COLE, 2001). A partir disso, sabe-se que
dietas inadequadas para reprodutores suínos reduzem a motilidade espermática e aumentam
as anormalidades morfológicas, principalmente as relacionadas à peça intermediária com
menor concentração de ATP e menor atividade da enzima glutationa peroxidase (GPx) nas
mitocôndrias (MARIN-GUZMAN et. al., 1997). Portanto, machos que consomem dietas com
baixo teor de selênio produzem células espermáticas com baixa motilidade e anormalidades
aumentadas (HANSEN e DEGUCHI, 1996). Além disso, o selênio é um micromineral essen-
cial necessário para o crescimento embrionário, biossíntese de testosterona e participa na
formação e desenvolvimento de espermatozóides (BEHNE et al., 1996).
A suplementação com selênio orgânico ajuda no aumento do número de doses semi-
nais e reduz o custo médio da dieta por dose seminal (SPEIGHT et al., 2012). Reprodutores
suplementados selênio orgânico, quando comparado com aqueles que recebiam selênio
inorgânico na dieta, apresentaram uma concentração espermática significativamente maior
(SPEIGHT et al., 2012), e também maior número de espermatozoides totais por ejaculado
(MARIN-GUZMAN et. al., 1997; MARTINS et al., 2015).
O mecanismo pelo qual o selênio aumenta o número das doses seminais ainda é ampla-
mente desconhecido, no entanto, alguns mecanismos moleculares foram propostos. O selênio
desempenha um papel na regulação da proliferação e diferenciação das células germinativas
no testículo. Por isso, sugere-se que seu papel não é limitado apenas como antioxidante
(GSH-Px) ou como componente estrutural da bainha mitocondrial do esperma (SHALINI e
BANSAL, 2006). Foi demonstrado que, além de estar envolvido na formação das células
espermáticas, o selênio também é necessário no metabolismo normal da testosterona e na
manutenção de morfologia testicular.
As formas de selênio disponíveis para a nutrição animal são classificadas em três ge-
rações distintas (L-SeMet, OH-SeMet e Zn-L-SeMet). A última geração ou produtos puros se
destacam na suplementação animal por apresentar resultados positivos comparados às ge-
rações anteriores. Todos os aditivos de terceira geração apresentam como característica co-
mum o selênio (Se) disponível sob a forma de selenometionina (SeMet) (FONTINHAS, 2021).
A principal vantagem em suplementar os animais com SeMet frente às fontes inor-
gânicas é que, devido à similaridade química entre a metionina e a SeMet, essa última é
absorvida e metabolizada como uma molécula de metionina. Essa característica leva à
formação de um depósito inespecífico de Se em cadeias de aminoácidos corporais (i.e.
proteínas corporais), que pode ser utilizado posteriormente pelos animais de maneira mais
eficiente e segura. Por outro lado, todas as outras formas de Se não criam depósitos de Se e,
60
Alimentos e Alimentação Animal
portanto, qualquer excesso é excretado imediatamente pelos animais, evitando sua toxici-
dade (FONTINHAS, 2021).
Dada a diversidade de opções disponíveis, a comunidade científica buscou maneiras de
avaliar a eficácia destes diferentes aditivos. Admite-se, no entanto, que a melhor maneira de
avaliar a bioeficácia das formas puras de SeMet é pela comparação da deposição de Se nos
tecidos animais, sendo a deposição em músculos a referência mais utilizada. Jachacz et al.,
(2017), publicaram uma meta-análise com a compilação de 13 estudos diferentes, onde se
concluiu que quando suplementadas a mesma dose, L-SeMet e OH-SeMet apresentaram
a mesma eficiência.

Manganês

O manganês (Mn) é um metal de transição, com massa atómica de 54,9 u e apresen-


ta-se em estado sólido à temperatura ambiente. De acordo com Leeson e Summers (2001),
quem primeiro demonstrou que o manganês era elemento essencial para nutrição animal
foi Kemmeres e colaboradores em 1931. O manganês está envolvido na síntese da matriz
orgânica da cartilagem epifisial, pois ativa as enzimas glicosiltransferases necessárias para
a síntese de sulfato de condroitina que compõe a molécula de proteoglicana da cartilagem
e zonas de crescimento (LEACH, 1986). O manganês também é necessário para a fosfori-
lação oxidativa na mitocôndria, para síntese de ácidos graxos e incorporação de acetato no
colesterol (LEESON e SUMMERS, 2001).
O manganês está envolvido na manutenção do tecido conjuntivo, no crescimento ós-
seo, nas funções reprodutivas e no metabolismo de carboidratos e lipídios como cofator
da enzima piruvato carboxilase, além de diversas outras (APPLE et al., 2005; KIEFER,
2005). A deficiência deste mineral acarreta em prejuízos ao crescimento, desenvolvimento
do esqueleto e função reprodutora. É possível observar alterações no ciclo estral, reabsorção
fetal, redução da secreção láctea e nascimento de leitões fracos e com ataxia (COMINETTI
e COZZOLINO, 2009; MORENO et al., 2012).
Componente da enzima superóxido dismutase mitocondrial (SOD), o manganês é
responsável pela correta metabolização dos radicais livres nas mitocôndrias, sendo essen-
cial para a síntese de sulfato de condroitina, um componente dos mucopolissacarídeos da
matriz orgânica dos ossos (NRC, 2012). O manganês exerce papel importante na função
imunológica por interagir com a atividade de neutrófilos e macrófagos (FURLAN e POZZA,
2014; MATEOS et al., 2005). Outras funcionalidades deste mineral seriam para a fosforila-
ção oxidativa na mitocôndria, para a síntese de ácidos graxos e incorporação de acetato no
colesterol (LEESON e SUMMERS, 2001).

61
Alimentos e Alimentação Animal
A ativação da enzima superóxido dismutase pelo manganês desencadeia a quebra
de radicais livres e, consequentemente, pode proporcionar uma redução nos valores das
substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico em cortes de carne suína, auxiliar na prevenção
da descoloração da carne na prateleira. Quando em deficiência há aumento na deposição
de gordura (FURLAN e POZZA, 2014).
O manganês possui baixa absorção e, portanto, sua excreção relativa nas fezes é con-
siderada alta (FURLAN e POZZA, 2014). Talvez, isso decorra da baixa biodisponibilidade nos
principais alimentos (LEESON e SUMMERS, 2001). Alguns fatores afetam positivamente a
absorção como a deficiência de ferro (Fe), enquanto que altos níveis de cálcio (Ca) e fósforo
(P) prejudicam (HILL e SPEARS, 2001).
A absorção e excreção parecem ser dependentes da formação de um quelato natural
especialmente com sais biliares e mudanças marcantes têm sido notadas na distribuição
do manganês no organismo com o uso de quelatos artificiais (LEESON E SUMMERS,
2001). O manganês é encontrado em pequena quantidade na maioria dos tecidos, em níveis
de 2 a 4ppm nos ossos, fígado, hipófise, glândulas mamárias, rins, pâncreas e nos músculos
em níveis de 1ppm (ANDRIGUETTO et al., 2002).
As exigências de manganês para suínos são baixas, a recomendação média é de
4,11mg.kg–1 de ração para suínos dos 35 aos 135 quilogramas (NRC, 2012). Ammermam
et al. (1995), observaram que a disponibilidade relativa para o Mn-metionina e Mn-proteinato
foram 120 e 110%, respectivamente, quando comparado com o sulfato de manganês. As fon-
tes proteicas vegetais contêm normalmente de 30 a 50 mg.kg–1 de manganês e as fontes de
origem animal entre 5 e 15 mg kg–1 (HILL e SPEARS, 2001). Além disso, esse mineral traço
é altamente concentrado nas camadas exteriores dos grãos, isto significa que a inclusão de
farelo dos alimentos pode aumentar o manganês dietético (SUTTLE, 2010). Porém, Baker
(2001), sugere que no milho, soja, farelo de trigo e farinha de peixe o manganês deve ser
considerado praticamente indisponível para frangos e suínos, enquanto que no farelo de
arroz a biodisponibilidade é mínima.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Afirma-se que perante o conceito de nutrição de precisão, não se trata mais da quanti-
dade de determinado nutriente, mas sim sua eficiência de utilização pelo organismo animal.
Com o uso de minerais orgânicos na alimentação dos suínos, busca-se uma fonte mineral
com maior biodisponibilidade, sendo encontrado em produtos biossintéticos, ou combinados
com aminoácidos, polissacarídeos, entre outras formas, a fim de melhorar o desempenho
animal e reduzir a carga poluente ocasionada pelo excesso de minerais indisponíveis ao
metabolismo animal que são excretados através dos dejetos.
62
Alimentos e Alimentação Animal
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67
Alimentos e Alimentação Animal
05
Monitoramento do nitrogênio uréico
no leite: nutrição animal, qualidade
ambiental e do leite

Luciana dos Reis Valadão


UEG

Karyne Oliveira Coelho


UEG

Edmar Soares Nicolau


UFG

Rodrigo Balduino Soares Neves


UEG

10.37885/210906099
RESUMO

O excesso de proteína na dieta, quando não aproveitada pelo animal é convertida em


amônia no rúmen, e através da parede ruminal a amônia é transferida para a corrente
sanguínea e devido a sua toxicidade, o fígado à transforma em ureia, a qual é excretada
na urina. A quantificação do Nitrogênio Uréico no Leite (NUL) é uma ferramenta utilizada
para indicar o status nutricional das vacas, dessa forma quando os níveis de NUL estão
elevados em um rebanho, pode ser reflexo do pouco aproveitamento da proteína die-
tética, sendo que a avaliação dos níveis de NUL tem se mostrado uma técnica rápida,
pouco invasiva, e eficiente para monitorar a nutrição das vacas em lactação. Observou-
se por meio da revisão da literatura que a análise de NUL é uma importante ferramenta
que permite adequar o nível proteico das dietas, o que contribui para a redução dos
custos com alimentação, redução das excreções de nitrogênio no ambiente decorrentes
do excesso de proteína dietética, além de perdas reprodutivas e melhor qualidade dos
alimentos disponibilizados ao consumidor.

Palavras-chave: Ureia, Proteína, Nutrição Animal, Exigência, Sustentabilidade.

69
Alimentos e Alimentação Animal
INTRODUÇÃO

O Brasil, segundo a Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), é o


terceiro maior produtor mundial do setor leiteiro. O leite está entre os seis primeiros produtos
mais importantes da agropecuária brasileira, com produção de mais de 30 bilhões de litros
anuais. 98% dos municípios do país desenvolvem a atividade, predominando pequenas e
médias propriedades, empregando aproximadamente 4 milhões de pessoas (MAPA, 2020).
Cita-se que a produtividade sempre foi um fator primordial na atividade leiteira, porém
no cenário atual o que dita às regras no mercado do leite não é apenas produção a quali-
dade é fator determinante para a aceitação do produto e estabelecimento do preço a ser
pago pelo mesmo.
Sabe-se que a proteína na dieta tem grande importância para o desempenho produ-
tivo de vacas em lactação. Tanto dietas com níveis proteicos deficientes quanto em ex-
cesso geram impacto negativo sobre a atividade leiteira (MEYER, 2003; PACHECO et al.,
2020). A concentração de nitrogênio uréico no leite (NUL) se propõe como um indicador para
o monitoramento da nutrição proteica de vacas em lactação, permitindo ajustar o conteúdo
de proteína e energia da dieta, reduzir de custo de alimentação e aumentar de desempenho
produtivo do rebanho.
O NUL também está diretamente ligado à quantidade de nitrogênio que é liberado
na urina, desta forma, além de auxiliar na verificação dos níveis proteicos da dieta, tem
importante papel no controle da quantidade de nitrogênio que é liberada pelos animais via
urinária. Uma vez que este é um elemento contaminante ao meio ambiente e apenas 35%
do nitrogênio consumido é secretado no leite, o restante pela urina e fezes (CHASE, 1994).
Desta forma, o monitoramento do NUL é de extrema importância para o ponto de vista
ambiental, permitindo reduzir o teor de nitrogênio excretado pelos animais no ambiente, no
âmbito tecnológico, altos níveis de NUL resultam em leite com menores teores de proteína
verdadeira, o monitoramento e adequação do mesmo contribuirão de forma positiva no
rendimento e qualidade dos lácteos, nutricionalmente possibilitará o fornecimento de dietas
com níveis proteicos adequados aos rebanhos e menos onerosas ao produtor, desta forma
o conhecimento sobre o NUL se faz necessário para o profissional da áreas de agrárias e
para o produtor rural.

70
Alimentos e Alimentação Animal
REVISÃO DA LITERATURA

Nitrogênio Uréico do Leite

De acordo com Walstra e Jenness (1984) o leite apresenta além das proteínas e
peptídeos, uma fração de compostos nitrogenados não-proteicos (NNP) como a ureia, a
creatina e a creatinina que perfazem aproximadamente 5% do total de nitrogênio do leite,
em contrapartida o nitrogênio proteico representa 95%.
O nitrogênio uréico representa a porção de nitrogênio no leite na forma de ureia. O nível
de NUL segue os níveis de Nitrogênio Uréico Plasmátivo (NUP), com atraso de uma a duas
horas, desta forma o NUL reflete o nível de nitrogênio sanguíneo nas últimas 12 horas em
que o leite foi produzido (PERES, 2001).
Peres (2001) explica que alta concentração de proteína bruta (PB) na dieta, de modo
especial Proteína Degradável no Rúmen (PDR) está positivamente associada com maior
degradação de proteína e concentração de amônia ruminal. Quando a concentração de
amônia no rúmen excede a capacidade de captura e utilização pela microbiota ruminal, a
mesma é absorvida pela parede do rúmen e transportada ao fígado, por meio do sistema
porta e então transformada em ureia, o que eleva o teor de nitrogênio uréico no plasmático
(NUP). A concentração de ureia equilibra-se rapidamente aos fluidos corporais, incluindo o
Leite (NUL), o que resulta em alta correlação com o NUP, o excesso de nitrogênio além de
ser liberado no leite também é excretado na urina e fezes.
Rebanhos que apresentam altos níveis de NUL são indicativos de que as vacas não
utilizam a proteína de forma eficiente, ao invés disso, excretam grande quantidade de nitro-
gênio na urina. Rebanhos com baixo NUL indica uso extremamente eficiente da proteína
da dieta ou uma possível deficiência protéica. A determinação de NUL é uma análise re-
lativamente simples. Níveis de NUL muito abaixo de 10 mg/dL (média de rebanho) reflete
ou uma deficiência de proteína na dieta ou alta eficiência no aproveitamento da PDR, com
pleno aproveitamento de amônia disponível às bactérias. Por outro lado, níveis de NUL de
15 mg/dL podem indicar excesso de proteína degradável na dieta sem ajustar com uma
fonte adequada de carboidrato (CHO) (FERNANDES e SENO, 2009).

Quadro 1. Valores referenciais de nitrogênio uréico no leite (NUL) de acordo com diferentes autores.

Fonte NUL mg/dL


Moore e Varga (1996) 10 a 14
Jonker et al. (1998) 10 a 16
Peres (2001) 12 a 18
Meyer (2003) 10 a 16
Fernandes e Seno (2009) 10 a 15

71
Alimentos e Alimentação Animal
Como demonstrado no Quadro 1, estudos propõem valores de NUL considerados nor-
mais, aqueles que não sejam inferiores a 10 mg/dL e nem superiores a 18 mg/dL. Valores
inferiores ou superiores aos citados podem indicar inadequado manejo nutricional

Métodos de análise de nitrogênio uréico no leite

A análise NUL é uma alternativa que vem se difundindo na bovinocultura leiteira


(MEYER, 2003). De acordo com Magalhães (2003) geralmente análises de NUL são reali-
zadas com auxílio de equipamentos automatizados pelos métodos de calorimetria enzimática,
feita por meio de urease, por métodos enzimáticos potenciométricos, onde a amônia que é
produzida é detectada por eletrodos, ou por espectrofotometria em infravermelho. Tais equi-
pamentos permitem rapidez no processo de análise e fornecem resultados muito precisos.
O método de determinação laboratorial da ureia no leite (NUL) realizada por metodo-
logia enzimática, baseia-se na reação de Berthelot. Primeiramente a amostra é coletada e
transportada para um reservatório automaticamente e mantida a 40ºC, onde é adicionada
a enzima urease que durante a reação libera amônia e dióxido de carbono. Tempo após
a incubação, a adição de uma solução de corante e um ativador, forma um complexo de
coloração verde. A intensidade da cor é proporcional à concentração de amônia a qual é
determinada espectrofotometricamente. Para a leitura é adicionado um catalisador no co-
rante para acelerar a reação, melhorando a sensibilidade do método. O uso de instrumento
de alta precisão dispensa a utilização de diluições. Os resultados são expressos em mg/dL
(AOAC, 1994 citado por MEYER, 2003; FAGAN, 2010; BOTARO et al., 2011; CONTI, 2011).

Fatores que afetam o nitrogênio uréico no leite

A composição do leite está susceptível a alterações, uma vez que vários fatores liga-
dos ao manejo, genética e estado nutricional podem afetar os constituintes básicos do leite
(SANTOS e FONSECA, 2007). Fatores genéticos influenciam na composição do leite de
modo lento, enquanto que os ligados ao manejo e a nutrição podem proporcionar alterações
de forma mais rápida e econômica (GONZÀLEZ, 2004).
No que se refere à nutrição animal diversos fatores podem influenciar no aumento de
nitrogênio uréico no plasma e por consequência no leite. O aumento da ingestão de proteí-
na e/ou aumento da proporção de PDR são fatores que resultam em maior proporção de
proteína dietética sendo convertida em amônia (NRC, 1989).
Fernandes e Seno (2009) relataram que os teores de proteína da dieta e a degrada-
bilidade diferentes das mesmas, tem efeitos sobre a produção de leite e as concentrações
de NUL e do NUP. Tanto a deficiência de proteína quanto os excessos de proteína não de-
gradável no rúmen (PNDR) e ou PDR trazem desvantagem em relação à dieta ajustada às 72
Alimentos e Alimentação Animal
exigências do NRC (1989), que recomenda de 35 a 40% da proteína bruta (PB) total, como
não degradável no rúmen. Duas dietas com o mesmo teor de proteína, porém com degrada-
bilidade diferente, resultam em diferentes produções de leite como também diferentes teores
de NUL e NNP, o que afeta o teor da caseína e menor rendimento do queijo (Tabela 1).

Tabela 1. Formulação de dietas e efeitos no nitrogênio uréico plasmático (PUN), no nitrogênio uréico do leite (NUL), NNP
(nitrogênio não protéico) do leite e na produção de leite.

Dietas
Indicadores
A B C D E
PB(%) 12,2 15,2 15,5 16,4 17,6
PNDR1 80 100 120 100 120
PDR2 80 100 80 120 120
Leite (kg/dia) 23,6 26,4 24,4 25,2 26,0
PUN (mg/dL) 8,2d 14,8c 16,5b 17,8b 20,7a
NUL (mg/dL) 5,6d 14,8c 16,5b 17,8b 20,7ª
NNP do leite (g/100g N total) 28,7 c
33,9 b
35,6 b
36,8 b
39,8a
1
Proteína não degradável no rúmen (% de recomendação do NRC, 1989). 2Proteína degradável no rúmen (% de
recomendação do NRC, 1989). A,b,c,d (p<0,05).

Fonte: ROSELER et al. (1993) apud FERNANDES e SENO (2009).

Fontaneli (2001) ressalta que a proteína não degradável poderá ter efeito positivo desde
que seja complementar a proteína microbiana. Se o perfil aminoacídico for inferior ao neces-
sário para a síntese de proteína no leite, o efeito pode ser negativo. Conti (2011) verificou
que o NNP foi influenciado pelo teor de PB da dieta, sendo maior para as dietas com 16%
de PB em relação as dietas com 14,5% de PB. Houve interação entre a fonte nitrogenada e
o teor de proteína bruta da dieta para a PB e proteína verdadeira do leite.
A produção de leite com alta concentração de NUL é indicativo de excesso de PB na
dieta, o que onera o custo alimentar e reduz a eficiência produtiva (MEYER, 2003). Dietas
com quantidade inadequada de energia podem ocasionar excesso de amônia ruminal, de-
sencadeando aumento da concentração de NUP associado à redução na concentração de
proteína no leite (NRC, 1989).
As dietas que continham ureia como fonte nitrogenada principal foi mais eficiente, com
menor excreção de NUL (Figura 1).

73
Alimentos e Alimentação Animal
Figura 1. Interação entre a fonte nitrogenada e o teor de proteína bruta da dieta sobre o NUL.

Fonte: CONTI, 2011. *Farelo de soja (FS).

A utilização de dietas com alto teor de proteína, com grande fração de rápida degra-
dação ruminal sem o adequado suporte de energia faz com que haja um aumento do NNP
no leite, o que pode ser aferido pela presença elevada de ureia no leite. O teor de NUL é
altamente relacionado com o de ureia no sangue que, por sua vez, reflete o excesso de
proteína degradável no rúmen ou a falta de glicídios fermentescíveis no rúmen (PERES,
2001). O Quadro 2 resume situações que podem alterar o NUL.
Silva e Veloso (2011) justificaram que essa redução da proteína do leite é em função
do efeito de diluição, por causa do aumento da produção total de leite, mas a principal ra-
zão estaria ligada à menor disponibilidade de aminoácidos na glândula mamária. O teor de
proteína do leite tem grande correlação com a síntese de proteína microbiana, uma vez que
esta apresenta alto valor biológico, é rica em aminoácidos essenciais para o ruminante, com
perfil aminoacídico semelhante ao da proteína do leite e com menor custo de produção.

Quadro 2. Fatores que afetam o valor de nitrogênio uréico no leite (NUL).

Proteína do leite % NUL baixo (<12) NUL ótimo (12-18) NUL alto (>18)
Deficiência de: Deficiência de: - Excesso de:
- PB - PB - PB
- Proteína solúvel - CHO não estruturais - Proteína solúvel
< 3,0% - Proteína degradável - Aminoácidos - Proteína degradável.
- Deficiência de:
- CHO não estruturais
- Desbalanço de AA
Adequação de AA. Balanço de AA - Excesso de:
Deficiência de: Balanço de CHO - Proteína solúvel
- Proteína solúvel - Proteína degradável. -
>3,2 %
- Proteína degradável. Deficiência de:
Excesso de: - CHO não estruturais
- CHO não estruturais
Nitrogênio Uréico no leite (NUL); Proteína Bruta (PB); Carboidrato (CHO); aminoácido (AA).

Fonte: FONTANELI (2001).

74
Alimentos e Alimentação Animal
Conti (2011) ressalta que as dietas devem favorecer a máxima síntese de proteína
microbiana. Em dietas desbalanceadas ou com excesso de PB ou PDR há aumento da
concentração de compostos de origem proteica no leite, que apesar de incrementar a PB do
leite, não favorecem o rendimento dos produtos lácteos, por não causar aumento da pro-
teína verdadeira.
A adição de gordura geralmente leva a uma redução no teor de proteína do leite em
torno de 0,1 a 0,3 unidades percentuais, ou cerca de 0,07% para cada 450g de gordura
adicionada. Uma explicação encontrada para tal fato é que os microrganismos do rúmen
não são aptos para a utilização da gordura como fonte de energia para o seu desenvolvi-
mento afetando a síntese de proteína microbiana e, consequentemente, o fornecimento de
aminoácidos para a composição da proteína do leite (FONTANELI, 2001).
De acordo com Meyer et al. (2006) entre os fatores não-nutricionais, a produção de leite
e a concentração de proteína do leite são os que mais se correlacionam com as concentra-
ções de NUL. Para aumento de 1 kg na produção de leite, há um aumento de 0,1054 mg/
dL na concentração de NUL, podendo utilizar deste parâmetro como indicador de avaliação
nutricional em vacas em lactação.
Botaro et al. (2011) avaliaram o efeito da raça Holandês, Jersey e Girolando; Contagem
de Células Somática (CCS) e período do ano sobre a composição e frações proteicas do
leite. Observou que os teores de NUL no leite diferiram entre as raças estudadas apre-
sentando maior média entre os animais da raça Holandês (11,76%), conforme demons-
trados na Tabela 2.
Doska et al. (2012) afirmaram que vacas leiteiras de alta produção apresentam maiores
valores de NUL, quando comparadas a vacas de menor produção. Esta relação positiva é
explicada devido ao alto teor de PB na dieta de vacas de alta produção, resultando em maior
liberação de amônia e assim elevação dos teores de NUL.
Gonzalez et al. (2004) e Martins et al. (2006) verificaram diferença para os teores de
proteína total e verdadeira para as estações do ano, com maiores médias durante primavera
e o verão e não constataram efeito do período do ano sobre o teor de NUL. Tais resultados
diferiram dos encontrados por Botaro et al. (2011) onde não observaram efeito das estações
do ano sobre os teores de proteína bruta e verdadeira, porém, houve efeito sobre o NUL
com maior média nos meses de verão e outono.
Por outro lado, Hojman et al. (2005) constataram que a estação do ano tem efeito sig-
nificativo no teor de NUL, sendo maiores nas estações mais quentes, primavera e verão, e
menores nos meses mais frios, outono e inverno. Fagan et al. (2010) também constataram
que os fatores ambientais das estações do ano causaram variação na produção e compo-
sição do leite, assim como nos valores de NUL.
75
Alimentos e Alimentação Animal
De acordo com Silveira et al. (2013) maiores valores de NUL ocorreram nas estações
mais quentes do ano, aos quais correspondem a primavera e verão. Porém, variação nos
valores de NUL por estação, podem decorrer do perfil nutricional de cada experimento.
Regiões onde há maior disponibilidade de gramíneas de inverno, que são muito ricas em
PB, acabam aumentando os valores de NUL nesta estação.

Tabela 2. Médias de nitrogênio uréico no leite, proteína total, proteína verdadeira e nitrogênio não-proteico do leite de
acordo com a Raça, contagem de células somáticas (CCS) e estação do ano.

Raça
Componente
Holandês (n=146) Jersey (n=59) Girolando (n=264)
NUL 2 (mg/dL) 11,76 a 9,43b 9,17b
Proteína total (%) 3,21 b
3,38a
3,22b
Proteína Verdadeira (%) 3,06b 3,25a 3,07b
Nitrogênio não-proteico (%) 0,152 a
0,133 b
0,139b
Classe de células somáticas (x103 células/mL) n=286

<280 281-500 501-780 >781


Proteína total (%) 3,19 3,21 3,25 3,21
Proteína Verdadeira (%) 3,03 3,07 3,11 3,07
Nitrogênio não-proteico (%) 0,152 0,141 0,141 0,140
Período do ano (n=284)

Primavera Verão Outono Inverno


Proteína total (%) 3,23 3,22 3,24 3,20
Proteína Verdadeira (%) 3,11 3,08 3,08 3,06
Nitrogênio não-proteico (%) 0,12 c
0,15 ab
0,16a
0,14b
Médias seguidas por letras iguais, na mesma coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%.

Fonte: Adaptado de Botaro et al. (2011).

Meyer et al. (2006) relataram que a CCS influenciou as concentrações de NUL, os quais
diminuíram em 0,29 mg/dL a cada aumento de uma unidade de CCS. Porém os resultados
de Botaro et al. (2011) se diferiram, a CCS não influenciou nas frações nitrogenadas apesar
da mastite também ser responsável pelo aumento das concentrações de NNP, em especial
os teores de NUL.
Meyer et al. (2006) observaram que dentre os componentes do leite, a concentração
de proteína foi o que mais explicou a variabilidade de NUL. A cada aumento de uma unidade
percentual de proteína, sólidos totais, lactose e gordura do leite, observaram-se decréscimos
na concentração de NUL, sendo assim, altas concentrações de NUL causam diminuição
dos sólidos do leite.

Ureia: meio ambiente e aspectos tecnológicos

A produção animal tem sido identificada como uma das principais fontes de poluição
ambiental, devido excessivo volume de dejetos que são lançados no meio ambiente sem
76
Alimentos e Alimentação Animal
tratamento (DANADIO e BOGA, 2005). Magalhães (2003) destacou que o nitrogênio apre-
senta importância em locais de produção animal intensa. Os dejetos dos animais contribuem
para a poluição do ambiente, especialmente, em função do nitrogênio, que convertido em
amônia é volatilizada para o ar, assumindo importância na contaminação do mesmo e para
o efeito estufa. Os nitratos que se incorporam no solo podem ser perdidos por lixiviação, o
que gera um impacto ambiental negativo, afetando os lençóis freáticos.
Bergner (2009) citou que a compreensão do metabolismo do nitrogênio depende da
digestão e absorção do nitrogênio na forma de proteína, peptídeos e aminoácidos, da síntese
de proteína, da excreção do nitrogênio via fezes via urina e nas inter-relações entre os pro-
dutos da excreção e dos mecanismos de controle da biossíntese da proteína. Jonker et al.
(1998) ressaltaram que os teores de NUL e NUP são base para se efetuar ajustes visando
evitar desperdícios por perdas urinárias de nitrogênio, que geram prejuízos à produção ani-
mal e em consequência contaminação ambiental.
O aumento dos teores de NUL também repercute de forma negativa na tecnologia
de produção dos derivados, quando em altas concentrações determina menor rendimento
industrial na produção de queijos, uma vez que parte da proteína verdadeira formada pela
caseína e proteínas do soro são substituídas pelo nitrogênio não proteico (CORASSIM e
GRATÃO, 2006; GRANDE e SANTOS, 2010).
Gustafsson e Palmquist (1993) em seus estudos constataram que no processo de fa-
bricação de queijos cujo leite possuía teores mais elevados de NUL, gastava-se maior tempo
no processo de coagulação, além da diminuição da qualidade do produto final.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A qualidade é fator determinante para a cadeia produtiva; para o produtor ela é res-
ponsável por melhor preço a ser pago pelo leite, e para a indústria é sinônimo de lácteos
com qualidade e rendimento. Leite de baixa qualidade causa perdas ao setor, representa
um risco à segurança alimentar, impossibilita a conquista de mercados mais lucrativos e
compromete a credibilidade da cadeia (DÜRR, 2005).
O NUL é uma importante ferramenta frente a três âmbitos, nutricional, tecnológico e
ambiental. Nutricionalmente permite monitorar os teores proteicos das dietas, repercutindo
em menores teores de nitrogênio liberados principalmente via urinária, minimizando prejuízos
econômicos e ambientais.
No ponto de vista tecnológico, leite com altos índices de NUL possui menores teores de
proteína verdadeira o que compromete o rendimento industrial e a qualidade dos derivados,
alterando as características sensoriais de lácteos fermentados, portanto, conhecer o perfil
e a associação deste parâmetro as características produtivas de vacas leiteira mestiças
77
Alimentos e Alimentação Animal
auxiliará o setor na intervenção e adoção de medidas corretivas, visando a melhoria dos
índices de produção e qualidade do leite.

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80
Alimentos e Alimentação Animal
06
Produção de cana-de-açúcar para a
alimentação de bovinos

Mauro Wagner de Oliveira


CECA/UFAL

Christiano Nascif
SENAR-MG

Manoel Gomes Pereira

Thiago Camacho Rodrigues


PDPL/Viçosa-MG

Terezinha Bezerra Albino Oliveira


CECA/UFAL

Rogério Jacinto Gomes


EMATER-MG

Dalmo de Freitas Santos


CECA/UFAL

10.37885/210805744
RESUMO

A cana-de-açúcar cultivada na maioria das pequenas propriedades rurais, especial-


mente nas de agricultura familiar, é destinada principalmente aos bovinos, sendo tam-
bém usada para monogástricos e alimentação humana. A facilidade do cultivo, a alta
produção de forragem por unidade de área e manutenção da qualidade bromatológica,
durante os meses mais secos do ano, são algumas características que contribuem para
o grande uso desta gramínea na alimentação de bovinos nas pequenas propriedades
rurais. Em grande parte destas propriedades, o cultivo da cana-de-açúcar é realizado
nas áreas menos férteis e de mecanização mais difícil. Nestas, o corte e o transporte
da cana-de-açúcar demandam grande quantidade de horas de recursos humanos e,
estes constituem isoladamente o item de maior percentual de custo e de desgaste físico
dos agricultores nessa cultura. Em canaviais mais produtivos, o rendimento do corte é
maior e tanto o desgaste do agricultor quanto os custos são proporcionalmente menores.
Neste capítulo, são descritas técnicas gerenciais e agrícolas adotadas pelos autores na
implantação e condução de canaviais de alta produtividade, destinados à alimentação
de bovinos, em pequenas propriedades rurais do centro-sul do Brasil. São discutidas
as características bromatológicas da cana-de-açúcar, avaliação da fertilidade do solo,
calagem, gessagem, adubação verde, plantio de variedades mais produtivas, adubação
química, uso de dejetos de bovinos e de cama de aviário na adubação das rebrotas,
avaliação do estado nutricional do canavial, balanço de nutrientes no sistema solo-planta
e produção e qualidade da forragem.

Palavras-chave: Pecuária, Agricultura Familiar, Forragicultura, Sustentabilidade, Cicla-


gem de Nutrientes.

82
Alimentos e Alimentação Animal
INTRODUÇÃO

A cana-de-açúcar tem sido uma forrageira bastante utilizada nas pequenas proprie-
dades rurais do centro-sul do Brasil, principalmente durante os meses mais secos do ano.
Dentre os principais fatores que contribuem para o uso da cana-de-açúcar na alimentação
de bovinos podem-se citar: grande produção de forragem por unidade de área; facilidade
de cultivo, pois quando está madura, mantém sua qualidade bromatológica; tem baixo custo
relativo por unidade de matéria seca produzida; é semi-perene; apresenta maior flexibilida-
de quanto às épocas de plantio e de corte, em comparação com as culturas anuais, o que
facilita o gerenciamento da atividade; podendo ser uma das fontes de energia de menor
custo. Devido a essas características essa forrageira é um volumoso de grande interesse,
tanto para a alimentação de novilhas quanto para vacas de pequena à média produtividade
(OLIVEIRA et al., 2007; VALADARES FILHO et al., 2008; OLIVEIRA et al., 2021).
Outra característica vantajosa da cana-de-açúcar é ausência de período crítico de
deficiência hídrica tão definido como o do milho, cultura mais utilizada para a produção
de forragem de alto valor bromatológico. A planta do milho é muito sensível ao déficit de
água no solo, principalmente na fase de enchimento de grãos, e, às vezes, os veranicos
que acontecem no centro-sul do Brasil, no final de dezembro - início de janeiro, influenciam
negativamente na produtividade e no valor bromatológico da forragem de milho destinada à
ensilagem, uma vez que o percentual de grãos na massa a ser ensilada será menor. Em anos
que ocorrem déficits hídricos mais acentuados na cultura do milho, a cana-de-açúcar é ain-
da mais utilizada como forrageira substituta na alimentação do rebanho bovino (OLIVEIRA
et al., 2007; SILVA et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2019).
A forma mais comum de utilizar a cana-de-açúcar na alimentação dos bovinos nas
pequenas propriedades rurais é o corte diário, com posterior picagem e fornecimento aos
animais. O deslocamento até ao canavial, o corte diário e o transporte da cana-de-açúcar
até ao local de picagem, geralmente é feito com carroça à tração animal ou cangalhas, bem
como a distribuição nos cochos de alimentação dos animais demandam grande quantidade
de horas de recursos humanos e estes constituem isoladamente o item de maior percentual
de custo e de desgaste físico dos agricultores que usam a cana como forrageira. Assim, é
necessário um bom planejamento na instalação do canavial de forma a se ter alta produtivi-
dade no ciclo de cana-planta e pequenos decréscimos nos cortes subsequentes. Outro item
de grande importância para aumentar o rendimento do trabalhador no corte, e evitar picadas
de animais peçonhentos é manter a cultura da cana-de-açúcar livre de plantas daninhas.
Quando a cultura é mantida livre de plantas daninhas até aos 40 dias após início da rebrota,
o próprio sombreamento da cana-de-açúcar controla a emergência e o desenvolvimento de
plantas invasoras (OLIVEIRA et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2019). Na Figura 1, é mostrado
83
Alimentos e Alimentação Animal
um contraste entre um canavial de alta produtividade, com excelente controle de plantas
daninhas, e outro de baixa produtividade e controle deficiente de plantas daninhas.

Figura 1. Contraste entre canavial de alta produtividade, com excelente controle de plantas daninhas, e o de baixa
produtividade e controle deficiente de plantas daninhas.

CARACTERÍSTICAS BROMATOLÓGICAS DA CANA-DE-AÇÚCAR

A cana-de-açúcar é constituída basicamente de carboidratos estruturais: celulose,


hemicelulose, pectina e lignina (que compõem a parede celular) e o conteúdo celular (prin-
cipalmente os açúcares e, em menor quantidade, minerais e proteínas). A cana-de-açúcar
quando colhida madura tem altos teores de açúcares e moderado teor de fibra insolúvel em
detergente neutro (FDN), constituída pela celulose, hemicelulose e lignina. A utilização dos
constituintes da cana-de-açúcar pelos bovinos é contrastante, uma vez que os açúcares
são rapidamente fermentados no rúmen e, consequentemente, de fácil aproveitamento pelo
animal. A pectina mesmo sendo um componente estrutural da parede celular também é de
digestão rápida. Por outro lado, a celulose, a hemicelulose e a lignina têm digestão mais
lenta e dependem totalmente da atividade enzimática dos microrganismos do trato gastroin-
testinal dos ruminantes (VAN SOEST, 1994; COSTA et al., 2004; MEDEIROS et al., 2015;
BORGES et al., 2016).
O teor de FDN da cana-de-açúcar se equipara ao de uma boa silagem de milho,
cerca de 55%, contudo, a digestibilidade da FDN da cana é aproximadamente metade da
84
Alimentos e Alimentação Animal
digestibilidade da FDN da silagem de milho. Para a silagem do milho têm sido relatados
valores de digestibilidade da FDN de 42%, enquanto para a digestibilidade da FDN da cana-
-de-açúcar esses valores são de aproximadamente 23,0% (CORREA et al., 2003). A baixa
digestibilidade da FDN da cana-de-açúcar está relacionada à alta concentração de lignina
e à sua ligação com a hemicelulose e celulose, o que dificulta a ação dos microrganismos
do rúmen sobre estes carboidratos estruturais. Essa baixa digestibilidade da FDN da ca-
na-de-açúcar é um dos fatores que interferem negativamente no desempenho de animais
alimentados exclusivamente com cana (SILVA et al., 2007).
Na Figura 2, é mostrada a partição da matéria natural da cana-de-açúcar. Quando a
cana-de-açúcar está madura os colmos representam, em média, de 83 a 87% da matéria
natural, assim, em uma tonelada de forragem tem-se de 830 a 870 kg de colmos indus-
trializáveis e, de 130 a 170 kg de folhas verdes + folhas secas + ponteiros. Geralmente a
cana-de-açúcar é cortada nos meses mais secos do ano e tem 28 a 33% de matéria seca,
sendo que os carboidratos solúveis, incluindo os açúcares, constituem 40 a 43% desta ma-
téria seca. Por exemplo, considerando uma cana-de-açúcar com 30% de matéria seca: em
100 kg de cana-de-açúcar, têm-se 30 kg de matéria seca e 12,0 a 12,9 kg de carboidratos
solúveis (OLIVEIRA et al., 2007; VALADARES FILHO et al., 2008).

Figura 2. Valores médios da partição da matéria natural da cana-de-açúcar, quando madura.

Conforme mostrado na Figura 2, os colmos industrializáveis são de 83 a 87% da matéria


natural da biomassa aérea da cana-de-açúcar. Desta forma, há grande influência dos colmos
industrializáveis na digestibilidade da biomassa aérea da cana-de-açúcar. A cana-de-açú-
car é uma forrageira que apresenta baixos teores de proteína, variando de 1,5 a 4,4% na
matéria seca (15 a 44 g de proteína bruta por kg de matéria seca), sendo mais comuns, em
canaviais bem nutridos, teores de proteína da ordem de 3%. Uma alternativa para elevar os
teores de proteína bruta da cana-de-açúcar seria aumentar a dose de adubação nitrogenada.
Entretanto, em estudos conduzidos pelos autores deste capítulo, em Mercês-MG, com as
variedades de cana-de-açúcar RB835486, RB855536 e RB867515, verificou-se que, mes-
mo sob alta adubação nitrogenada (300 kg de N ha–1) e fornecimento adequado dos outros
nutrientes, o teor de proteína bruta da biomassa aérea (colmos industrializáveis + folhas
secas + folhas verdes + ponteiros) destas variedades de cana-de-açúcar aumentou pouco,
85
Alimentos e Alimentação Animal
não ultrapassando a 4,4%. Teores máximos desta mesma ordem de grandeza são citados
por Salas et al. (1992), com doses de adubação nitrogenada também de 300 kg de N ha–1.
Nussio et al. (2008) ao citarem a composição química de amostras de cana-de-açúcar ana-
lisadas no Laboratório de Bromatologia da ESALQ/USP, relatam valor máximo de 4,43% de
proteína bruta na biomassa aérea da cana-de-açúcar. Tanto nos estudos conduzidos em
Mercês-MG, quanto nos relatados por Salas et al. (1992), a produtividade do canavial é que
foi muito influenciada pelo aumento da adubação nitrogenada.
Outra limitação bromatológica da cana-de-açúcar são os baixos teores de minerais
principalmente fósforo, cálcio e enxofre. Devido a esses baixos teores de proteína e minerais
é necessária a suplementação com minerais e fontes de nitrogênio, sendo usual a utiliza-
ção da mistura de ureia + sulfato de amônio numa relação de 9:1, empregando-se, após
período de adaptação dos animais, 1,0 kg da mistura para cada 100 kg de biomassa aérea
da cana-de-açúcar picada (cana + ureia a 1,0%). A adição de uma fonte de enxofre melho-
ra a síntese de proteína microbiana no rúmen, especialmente os aminoácidos sulfurados
metionina, cistina e cisteína, aumentando o fluxo de proteína microbiana e o suprimento de
aminoácidos no intestino delgado, repercutindo em melhor desempenho animal.
A cana-de-açúcar adicionada de ureia pode ser usada com sucesso na recria, em
vacas não lactantes, em vacas em lactação com menor demanda nutricional e em baixas
inclusões na dieta de vacas de maior produtividade. A complementação da cana com uma
fonte de nitrogênio não proteico, como a ureia, mantém as características de uma dieta de
baixo custo e possibilita a melhora acentuada nos teores de proteína dessa gramínea. Em di-
versos estudos foi constatado que, em função de suas características, alimentos utilizados
na formulação de dietas à base de cana-de-açúcar deveriam ser ricos em proteína não
degradável no rúmen e apresentar amido com baixa degradabilidade ruminal.
A inclusão de fontes de proteína não degradável no rúmen resulta em maior consumo
voluntário de matéria seca, maior digestibilidade da matéria seca e, consequentemente, maior
desempenho animal. O fornecimento de ureia visa atender diretamente à necessidade da
microflora ruminal por nitrogênio, enquanto fontes de proteína não degradável têm a função
de atender às necessidades de proteína do animal. Como suplementação proteica, é comum
a utilização de farelos cujo teor de proteína bruta pode variar de 13%, a exemplo do farelo
de arroz, com 46%, como no caso do farelo de soja (CORREA et al., 2003; NUSSIO et al.,
2008; VALADARES FILHO et al., 2008; BORGES et al., 2016).

PLANEJAMENTO E CUSTO DE IMPLANTAÇÃO DO CANAVIAL

Na implantação e condução do canavial nas pequenas propriedades rurais podem-se


utilizar diversas tecnologias, mas as escolhidas e recomendadas são as que maximizam o
86
Alimentos e Alimentação Animal
uso dos insumos, da terra e dos recursos humanos, com consequentes reduções de custos
operacionais e com incrementos na produtividade do sistema de produção, dessa forma,
contribuindo para a preservação do meio ambiente (OLIVEIRA et al., 2007; OLIVEIRA et al.,
2019). Os autores têm orientado os pequenos produtores rurais a adotarem práticas que re-
cuperem e mantenham a fertilidade dos solos, reciclem nutrientes, diminuam a compactação
e o selamento da camada superficial do solo, associadas às outras práticas que permitam
alta produtividade na cana-planta e pequenos decréscimos nos ciclos posteriores (OLIVEIRA
et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2018a; OLIVEIRA et al., 2021).
Dentre as práticas recomendadas para a melhoria das propriedades físicas do terreno
está o rompimento das camadas adensadas ou compactadas do solo. Este rompimento ou
descompactação resulta em menor resistência ao aprofundamento do sistema radicular e,
por outro lado, aumenta a condutividade hidráulica e a capacidade de retenção de água no
solo, facilita as trocas gasosas, resultando em maior eficiência na absorção e utilização dos
nutrientes (MARSCHNER, 1995; OLIVEIRA et al., 2019). Como exemplo, cita-se na Tabela
1 os resultados de características físicas e hídricas de um Latossolo Vermelho distroférrico
(“Latossolo Roxo distrófico”), em uma área de solo não compactado, comparativo ao de uma
área compactada. A cana-de-açúcar cultivada no solo compactado apresentava-se com defi-
ciência hídrica apenas três a quatro dias após a ocorrência de chuva (VITTI e MAZZA, 2002).
Observa-se pela análise da Tabela 1 que, embora os valores de densidade tenham se
modificados apenas de 1,0 g cm–3 para 1,17 g cm–3 (17%), a macroporosidade do solo foi
reduzida, de 14% e 24% no solo sem compactação, para 6% e 14% no solo compactado,
respectivamente para as profundidades de 0 a 10 cm e 10 a 30 cm. Para a macroporosidade
a redução foi da ordem de 50%, o que determinou reduções muito semelhantes na água
disponível, uma vez que quantidades de água ao redor de 340 a 400 L/m3 (34 a 40 mm/10
cm de solo) na área sem compactação, reduziram-se para 165 a 256 L/m3 (16,5 a 25,6 mm/
10 cm de solo) no solo compactado (VITTI e MAZZA, 2002).

Tabela 1. Características físicas e hídricas de um Latossolo Vermelho Distroférrico, em áreas de solo compactado ou sem
compactação: alterações na macroporosidade, na capacidade de campo (C.C.), no ponto de murcha permanente (PMP)
e água disponível (A.D.) para a cana-de-açúcar.

Profundidade Densidade % de argila Porosidade (%) C.C. PMP A.D.


3 3
(cm) (g/cm ) no solo Macro Micro Total litros de água/m de solo
.----------------------------------------------------------- Solo sem compactação -----------------------------------------------.
10 1,00 60 14 48 62 595 251 344
30 0,97 63 24 46 70 683 281 402
.----------------------------------------------------------------- Solo compactado ---------------------------------------------------.
10 1,17 61 6 51 57 468 303 165
30 1,12 62 14 46 60 519 263 256
Fonte: Vitti e Mazza (2002).

87
Alimentos e Alimentação Animal
Outro efeito negativo da compactação, além de diminuir a água disponível devido a
redução da macroporosidade, é o aumento da resistência do solo ao desenvolvimento do
sistema radicular da cana-de-açúcar, que repercutirá negativamente tanto na absorção de
água quanto na absorção de nutrientes, conforme citado anteriormente. Dessa forma, a com-
pactação ou adensamento na camada de 0 a 35-40 cm, que é a camada com maior fertilida-
de, interfere negativamente na eficiência de aproveitamento dos nutrientes fornecidos pelos
corretivos e fertilizantes. Vitti e Mazza (2002) ressaltam ainda que o grau de influência da
compactação na produtividade da lavoura apresenta elevada correlação com o ano agrícola,
em função da distribuição das chuvas. Em anos agrícolas com boa distribuição de chuvas,
ocorre redução da resistência oferecida pelo solo ao desenvolvimento do sistema radicular.
Por outro lado, nos anos com distribuição irregular de chuvas, aumenta a dependência da
água disponível, retida a baixas tensões e relacionada à macroporosidade do solo (VITTI e
MAZZA, 2002; DEMATTÊ, 2020).
Há relatos na literatura mostrando alta correlação entre a evapotranspiração e a quan-
tidade de luz interceptada pela planta, bem como entre a evapotranspiração e a fixação do
CO2 atmosférico e com a expansão das células. A pressão de água contra a parede celular
(“pressão de tugor”) é a força que expande as células em crescimento. Boyer (1970), num
estudo clássico com plantas de milho, mostrou que quando o potencial hídrico da folha
diminuiu de -0,30 MPa para -1,0 MPa a fixação do CO2 atmosférico reduziu em 25%. Para
melhor entendimento dessas tensões hídricas podemos citar, comparativamente, a pressão
de calibração de um pneu de automóvel. Quando o pneu é calibrado a 30 libras por polegada
quadrada, esta pressão equivale a 0,21 MPa. A fixação do CO2 atmosférico pelas folhas do
milho no potencial hídrico de -0,30 MPa foi de 50 mg de CO2/dm2 por hora, valor de mesma
ordem de grandeza dos observados para a cana-de-açúcar, na fase máxima de crescimen-
to, sob suprimento adequado de água, nutrientes, luz e temperatura oscilando em torno de
30°C. Em relação a expansão das células da folha do milho, Boyer (1970) constatou redução
exponencial quando o potencial hídrico da folha diminui de -0,20 MPa para -1,0 MPa, sendo
que no potencial hídrico de -1,0 MPa não houve expansão das células da folha do milho.
Na Figura 3, é mostrada a disponibilidade de água no solo em função da força (tensão)
com que essa água é retida pelas partículas do solo. Os valores apresentados são valores
médios e podem variar em função do tipo de solo e da planta cultivada. A água higroscópi-
ca é aquela fortemente retida nas partículas do solo com uma tensão superior a -3,1 MPa,
sendo removida apenas quando o solo é seco a 105 °C. A água capilar é a retida nos poros
capilares e microcapilares. Nesta faixa de retenção, há dois extremos importantes para as
plantas cultivadas: a capacidade de campo e o ponto de murcha permanente. A capacidade
de campo é a quantidade máxima de água que um solo pode reter depois que toda a água
88
Alimentos e Alimentação Animal
gravitacional percolou. O ponto de murcha permanente é quando as plantas não conse-
guem absorver mais a água do solo, devido à alta tensão que é retida pelas partículas do
solo. A água gravitacional é retida passageiramente no solo, pois devido a força da gravidade
irá percolar no solo, indo para os lençóis freáticos (MARENCO e LOPES, 2013).

Figura 3. Disponibilidade de água no solo em função da força (tensão) que é retida pelas partículas do solo.

Fonte: Adaptado de Marenco e Lopes (2013).

A redução da macroporosidade causa, além dos malefícios citados anteriormente,


grande alteração na difusão de gases no solo e, em caso de compactação severa, pratica-
mente não há ar entre as partículas do solo, prevalecendo então condições de anaerobio-
se, extremamente prejudiciais ao crescimento do sistema radicular da cana-de-açúcar e à
absorção de nutrientes (DEMATTÊ, 2020). Nessas condições de deficiência de oxigênio no
sistema radicular, a síntese de fitohormônios como a citocinina e giberelina também diminui.
Marschner (1995) relata estudo no qual foi avaliado a influência da pressão parcial de oxigê-
nio no entorno das raízes de plantas de cevada, sobre a absorção do fósforo e do potássio.
Foi considerado como 100% o valor de absorção de fósforo e potássio na pressão parcial
de oxigênio de 20,0%. Verificaram-se reduções na absorção do P e do K de 25% e 44%,
respectivamente, quando a pressão parcial de oxigênio reduziu para 5,0%. Estas reduções
na absorção do P e do K foram ainda maiores na pressão parcial de oxigênio de 0,5%: 63%
para o fósforo e 70% para o potássio.
Geralmente, há camadas adensadas ou compactadas em áreas de implantação de
canavial com histórico de muito trânsito de máquinas e implementos agrícolas ou nas áreas
anteriormente sob pastagens. Estas camadas adensadas ou compactadas precisam ser
rompidas. Às vezes o pequeno produtor tem dificuldade para alugar um trator de maior
89
Alimentos e Alimentação Animal
potência, com o subsolador, assim quando não for possível a subsolagem, recomenda-se
uma aração mais profunda do terreno, com arado de disco, por ocasião do preparo do solo.
Na Tabela 2, estão citados os principais itens de custos para a implantação de um
hectare de cana-de-açúcar na região centro-sul do Brasil. Os itens listados referem-se ao
plantio de “cana-de-ano e meio”, precedida pelo cultivo de crotalária juncea. Contudo, como
será discutido mais à frente, em algumas situações o pequeno produtor rural talvez tenha
que fazer o plantio da “cana de ano”. Na atualidade, o custo médio de implantação de 1,0
hectare de canavial oscila ao redor de R$7.000,00, sendo os itens de maior dispêndio as
mudas de cana, os fertilizantes e os corretivos de acidez do solo, que juntos totalizam cerca
de 55% dos custos da implantação do canavial.

Tabela 2. Principais itens de custos para a implantação de um hectare de cana-de-açúcar sugerido pelos autores para
pequenas propriedades rurais do centro-sul do Brasil.

1
Unidade Preço Unitário Quantidade Preço Total Participação
Item de custo
(R$) (R$) %
A)  Consumo
Calcário t
Gesso t
Semente de crotalária juncea kg/ha
Adubos kg
Mudas de cana t
Inseticida químico L ou kg
Herbicidas L ou kg
Formicida L ou kg
Inseticida biológico L
Subtotal (A)
B)   Serviço
Aluguel da terra ha
Análise de solos amostra
Aração h/m
Semeadura da crotalária juncea h/m
Incorporação da crotalária ao solo
Sulcagem para o plantio da cana h/m
Aplicação do adubo no sulco de plantio h/m ou d/H
Distribuição e picagem das mudas d/H
Aplicação de inseticida sobre as mudas h/h ou d/H
Cobertura das mudas h/m ou d/H
Aplicação de herbicidas h/m ou d/H
Aplicação de formicida d/H
Aplicação do inseticida d/H
Subtotal (B)
Custo Total de Implantação do canavial (A+B)
1
- t: tonelada, kg/ha: quilogramas por hectare, L: Litros, kg: Quilograma, h/m: horas máquina, d/H: dias trabalho por homem,
amostra: valor do serviço para análise química do solo.

A área a ser plantada com a cana-de-açúcar irá depender da produtividade esperada


e da demanda de forragem do produtor. Na Tabela 3, é apresentada uma simulação da
produtividade do canavial em 14 cenários, que combinam altas e médias produtividades
no ciclo de cana-planta, associadas aos baixos, médios ou aos altos decréscimos de pro-
dutividade ao longo de sete ciclos (sete cortes). Pela análise desta tabela, observa-se que,
para alimentar um rebanho equivalente a 25 animais adultos, durante 365 dias, consumindo
20 kg de matéria natural por animal/dia, são necessários 1,63 hectare de um canavial que
apresenta alta produtividade na cana-planta e cerca de 10% de decréscimo nos ciclos sub-
sequentes (Cenário 1).
90
Alimentos e Alimentação Animal
Tabela 3. Simulação de área de um canavial necessário para alimentar o equivalente a 25 animais adultos, consumindo
20 kg de matéria natural por animal/dia e alimentados durante 365 dias por ano, em função da produtividade da cana-
planta e estabilidade de produção em sete cortes.

.---------------------- Cortes ---------------------. Área do Área


Cenários Decréscimo de 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º Média Canavial (%)
produtividade (ha)*
(%) .---------------- t de matéria natural por ha-------------.

1 10,0 150 135 122 109 98 89 80 112 1,63 100


2 15,0 150 128 108 92 78 67 57 97 1,88 115

3 10,0 120 108 97 87 79 71 64 89 2,04 125


4 15,0 120 102 87 74 63 53 45 78 2,35 144
5 17,5 120 99 82 67 56 46 38 72 2,52 154
6 20,0 120 96 77 61 49 39 31 68 2,69 165

7 10,0 110 99 89 80 72 65 58 82 2,23 137


8 15,0 110 94 79 68 57 49 41 71 2,56 157
9 17,5 110 91 75 62 51 42 35 66 2,75 169
10 20,0 110 88 70 56 45 36 29 62 2,94 180

11 10,0 100 90 81 73 66 59 53 75 2,45 150


12 15,0 100 85 72 61 52 44 38 65 2,82 173
13 17,5 100 83 68 56 46 38 32 60 3,02 185
14 20,0 100 80 64 51 41 33 26 56 3,23 198

Por outro lado, para um canavial de produtividade média na cana-planta e alto de-
créscimo nos ciclos subsequentes (Cenário 14) são necessários cerca de 3,3 hectares de
cana. Em canaviais com produtividade média inferior a 60 toneladas de matéria natural por
hectare, cerca de 50 t de colmos industrializáveis, pois, além de diminuir o rendimento da terra
e da mão-de-obra, o controle químico de plantas daninhas geralmente é pouco eficiente, uma
vez que a cultura não sombreia totalmente o solo, permitindo a emergência e o crescimento
de plantas invasoras. Então, por ocasião do corte manual desta cana, o trabalhador estará
mais exposto a picadas de cobras e escorpiões, conforme citado anteriormente.

ESCOLHA DA VARIEDADE DE CANA-DE-AÇÚCAR

A escolha correta da variedade é uma tecnologia muito importante e de baixo custo para
o produtor. Atualmente, dispõem-se de vários cultivares de cana com boas características
agronômicas e zootécnicas, tais como: alta resposta à melhoria da fertilidade do solo; cres-
cimento ereto e resistência ao tombamento, o que facilita a colheita; alta produtividade de
colmos e de sacarose; vigor das rebrotas; resistência às pragas e doenças; e, boa digestibili-
dade da matéria seca (MACEDO JÚNIOR et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2007; VALADARES
FILHO et al., 2008; OLIVEIRA et al., 2019). Na Tabela 4, são apresentadas algumas carac-
terísticas de sete variedades de cana-de-açúcar cultivadas no centro-sul do Brasil.

91
Alimentos e Alimentação Animal
Tabela 4. Características agroindustriais, morfológicas e de tolerância às doenças, de sete variedades de cana-de-açúcar
cultivadas no centro-sul do Brasil.

------------------------------------------------Variedade --------------------------------------------------------
Característica
RB835054 RB855536 RB867515 RB928064 RB975201 SP80-1816 SP80-3280
1
Produtividade Alta Alta Alta Alta Alta Alta Alta
Maturação Precoce Média Média Tardia Tardia Média Média
2
Sacarose Alto Alto Alto Médio Médio Alto Alto
3
Colheita Abr-Nov Jun-Nov Jun-Set Set-Nov Ago - Nov Jun-Set Jun-Set
4
Solos Média Média Baixa Alta Média Média Média
5
Rebrotas Boa Excelente Boa Boa Boa Excelente Boa
6
Perfilhamento Médio Excelente Médio Muito bom Médio Muito bom Muito bom
7
Tombamento Frequente Pouco Pouco Pouco Frequente Pouco Raro
8
Despalha Fácil Média Fácil Média Fácil Média Fácil
9
Joçal Não Não Não Sim Não Sim Não
Florescimento Ausente Ausente Médio Ausente Ausente Ausente Presente
Chochamento Ausente Ausente Médio Ausente Ausente Pouco Sim
10
Sens. Herbic. Alta Média Baixa Baixa Baixa Média Média
11
Carvão Resist. Interm. Resist. Resist. Resist. Interm. Interm.
11
Ferrugem Suscep. Resist. Resist. Resist. Resist. Resist. Resist.
11
Estr. Verm. Resist. Interm. Suscep. Resist. Interm. Resist. Resist.
11
Escaldadura Resist. Interm. Resist. Resist. Resist. Resist. Resist.
1
Produtividade: Produção, por hectare, de colmos industrializáveis e de biomassa (Alta, Média ou Baixa).
2
Sacarose: Teor de sacarose.
3
Colheita: Meses recomendados para a colheita da cana destinada à produção de açúcar mascavo e rapadura.
4
Solos: Exigência em fertilidade de solos (Alta, Média ou Baixa).
5
Rebrotas: vigor da brotação das rebrotas sob condições de pisoteio por máquinas ou veículos a tração animal. 6Perfilhamento:
refere-se a velocidade de crescimento e sombreamento do solo minimizando a mato-competição. 7Tombamento dos colmos: está
relacionado ao hábito de crescimento da planta o qual varia de ereto a decumbente; mesmo os cultivares de colmos eretos podem
vir a tombar em condições de elevada produtividade.
8
Despalha: Despalha das folhas secas ou aderência da bainha ao colmo.
9
Joçal: Presença ou não de joçal.
10
Sens. Herbic.; Sensibilidade a alguns herbicidas.
11
Doenças da parte aérea das plantas. Estr. Verm.: Estrias vermelhas. Resist.:Resistente; Interm.: Intermediária; Suscep.: Susceptível.

Fontes: Silveira, L. C. I. Informação pessoal, Oliveira et al. (2019).

Os autores deste capítulo têm recomendado aos pequenos produtores o plantio de


duas ou três variedades, bem adaptadas à região e ao sistema de produção adotado pelo
produtor, sempre implementando medidas para manter ou elevar a fertilidade do solo, bem
como realizar o corte da variedade de cana na época mais indicada. Definidas as varieda-
des a serem plantadas, é necessário certificar-se da qualidade das mudas, devendo ser
escolhidas preferencialmente aquelas provenientes de viveiros, de boa sanidade, com idade
variando entre 8 e 10 meses, de primeiro ou no máximo segundo corte. É importante também
confirmar a sanidade da muda quanto a doenças, pragas e mistura de outros cultivares.
Das variedades citadas na Tabela 4, a RB855536, a RB867515 e a SP801816, junta-
mente com a RB835486, têm sido as mais estudadas na alimentação de bovinos. Alguns
produtores têm preferência pela SP801816 devido ao fato desta variedade tombar muito
pouco, mas a SP801816 se mantém ereta devido ao maior teor de lignina e ao maior per-
centual de casca em relação os colmos, uma vez que na maioria das lavouras, mesmo nas
mais nutridas, esta variedade tem colmos finos. A RB835486 é a variedade que apresentou
92
Alimentos e Alimentação Animal
isoladamente, na quase totalidade dos estudos (RODRIGUES et al., 2001; MELO et al.,
2006; BONOMO et al., 2009), a maior digestibilidade da matéria seca e da fibra insolúvel em
detergente neutro (FDN). Contudo, com muita frequência, nos canaviais mais produtivos, esta
variedade tomba, dificultando o corte manual. Como citado inicialmente, o corte manual da
cana-de-açúcar é uma das atividades mais onerosas e desgastantes no uso desta forrageira
para a alimentação animal. Além disso, a RB835486 é susceptível à ferrugem, devendo-se
evitar o plantio de cana de ano e o corte tardio, depois de agosto. Por esses motivos, a
RB855536 e a RB867515 têm sido as variedades mais recomendadas pelos autores para
o plantio em pequenas propriedades, visando a alimentação de bovinos.
Na Figura 4, é mostrada a taxa de acúmulo de matéria seca na parte aérea de quatro
variedades de cana-de-açúcar: RB835486, RB855536, RB8675115 e SP801816. O estudo,
conduzido em blocos ao acaso com cinco repetições, foi instalado em solo de textura média,
no município de Mercês, MG, com coordenadas -21,260232 de latitude, longitude - 43,298827
e altitude de 503 m. O solo tinha sido corrigido anteriormente com a aplicação de 6,0 t de
calcário dolomítico e 3,0 t de gesso agrícola por hectare, seguindo-se recomendações des-
critas por Oliveira et al. (2007) e Raij (2011b).
Em agosto do ano anterior ao plantio da cana-de-açúcar, foram coletadas amostras de
solo e verificou-se saturação por bases na camada de 0 a 20 cm e 20 a 40 cm, respectiva-
mente, de 72% e 46%. Os teores de fósforo e de potássio na camada de 0 a 20 cm foram,
respectivamente, de 17 e 73 mg dm–3. No início de outubro, logo após as primeiras chuvas,
o solo foi arado e gradeado e, posteriormente, semeou-se a crotalária juncea. No início de
fevereiro, quando a crotalária estava na fase de grãos farináceos, mas ainda sem viabilida-
de para germinação, incorporou-se a leguminosa ao solo com grade aradora. O acúmulo
de matéria seca na parte aérea da crotalária juncea oscilou em torno de 15 t ha–1 e o de
nitrogênio foi da ordem de 300 kg por hectare. Cerca de dez dias após a incorporação da
crotalária juncea, sulcou-se o solo e plantou-se a cana-de-açúcar. A adubação química,
constituída apenas de fósforo, foi aplicada no fundo do sulco de plantio, na dose de 100 kg
de fósforo por hectare (o equivalente a 229 kg de P2O5 por hectare). O controle de plantas
daninhas foi químico, usando herbicida pré-emergente. No início de outubro, logo após
as primeiras chuvas, aplicou-se na entrelinha da cana-de-açúcar 200 kg de potássio por
hectare (o equivalente a 240 kg de K2O por hectare). A adubação potássica foi aplicada em
setembro, apenas para favorecer o fluxo de caixa, uma vez que o cloreto de potássio pode
ser aplicado em cobertura, devido a sua alta solubilidade.

93
Alimentos e Alimentação Animal
Figura 4. Acúmulo de matéria seca na parte aérea de quatro variedades de cana, plantadas em fevereiro e colhidas em
julho do ano subsequente. Estudo conduzido no município de Mercês, Zona da Mata Mineira.

60

t de matéria seca por hectare


50

40

30

20

10

0
F M A S D F A J

RB867515 RB855536 SP801816 RB835486

As avaliações do acúmulo de matéria seca foram realizadas nos meses de abril, se-
tembro e dezembro do ano de plantio da cana-de-açúcar e, em fevereiro, abril e julho do
ano subsequente. Como mostrado na figura 4, a RB8555536 e a RB867515 produziram
cerca de 5 t de matéria seca a mais que RB835486 e a SP801816, o que corresponde a
aproximadamente 15 t de forragem por hectare. O percentual médio de colmos na forragem
dessas variedades foi de 85%, logo a RB8555536 e a RB857515 produziram 12 t de colmos
industrializáveis a mais que as outras duas variedades.
Outras variáveis, além da produtividade, têm sido consideradas na escolha das va-
riedades de cana-de-açúcar destinadas à alimentação de bovinos. Uma delas é a relação
entre a fibra insolúvel em detergente neutro (FDN) e a sacarose aparente no caldo dos col-
mos industrializáveis e, esta variável, é um indicador da qualidade bromatológica. No setor
sucroalcooleiro a sacarose aparente no caldo dos colmos industrializáveis é designada
incorretamente de “Pol”. Conforme citado anteriormente, a FDN é constituída pela celulose,
hemicelulose e lignina. Assim, desconsiderando a pectina, molécula que une as células
vegetais, é solúvel no detergente neutro e tem alta digestibilidade no rúmen, a FDN é uma
medida da massa da parede celular das plantas em relação aos demais constituintes da cé-
lula. Outra variável muito utilizada na avaliação da qualidade bromatológica da cana-de-açú-
car é a relação entre FDN e os sólidos solúveis dos colmos industrializáveis, designado de
“Brix”. Brix (símbolo °Bx) é uma escala numérica que mede a quantidade de sólidos solúveis
em uma solução açucarada. Esta escala é uma homenagem ao matemático e engenheiro
alemão Adolf Ferdinand Wenceslaus Brix (1798-1870), que a propôs.
Nas avaliações a seguir utilizaremos a expressão “Brix” e “sacarose aparente” para
nos referirmos, respectivamente, a concentração de sólidos solúveis e a concentração de
sacarose no caldo dos colmos industrializáveis da cana. A sacarose é aparente, porque na
análise realizada por polarimetria alguns compostos orgânicos presentes no caldo da cana
94
Alimentos e Alimentação Animal
podem desviar a luz polarizada no mesmo ângulo que a sacarose. Contudo, quando a análise
é realizada até 72 horas após o corte da cana, os resultados da análise do caldo da cana
por polarimetria tem acima de 95% de concordância com os determinados por cromatogra-
fia líquida de alta eficiência (“HPLC”, em inglês), o método é referência, mas de alto custo
analítico. Na Tabela 5 estão apresentados os teores de FDN, FDA, Brix, sacarose aparente
e relações FDN/ Brix e FDN/sacarose aparente das quatro variedades de cana-de-açúcar,
citadas na figura 4, no estudo conduzido em Mercês, MG.

Tabela 5. Teores de fibra insolúvel em detergente neutro (FDN) e fibra insolúvel em detergente ácido (FDA) na matéria
seca da parte aérea, teores de sólidos solúveis (Brix) e sacarose aparente no caldo dos colmos industrializáveis (Sac. Apar.)
das quatro variedades de cana, plantadas em fevereiro e colhidas em julho do ano subsequente, no estudo conduzido
no município de Mercês, Zona da Mata Mineira.

.-- FDN --. .-- FDA --. Brix Sac. Apar. Pureza
Variedade FDN/Brix FDN/Sac. Apar.
.-- % na MS cana --. .-- % no caldo dos colmos --.
RB835486 42,69 a 26,75 a 22,50 a 20,46 a 90,97 b 1,90 a 2,09 a
RB855536 46,28 a 29,01 a 22,41 a 20,30 a 90,60 b 2,07 a 2,28 b
RB867515 46,82 a 29,31 a 22,39 a 20,04 a 89,49 a 2,09 a 2,34 b
SP801816 53,56 b 33,31 b 22,38 a 20,15 a 90,05 a 2,39 b 2,66 c
Média geral 47,34 29,59 22,42 20,24 90,28 2,11 2,34
C.V. (%) 6,22 8,27 2,91 2,80 1,20 6,53 6,34
Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5%.

Observa-se que a variedade SP801816 teve maior teor de FDN e FDA que as RB835486,
RB855536 e RB867515. Em relação ao Brix e a sacarose aparente no caldo, não houve
diferença entre as variedades, sendo que todas apresentaram alta concentração de Brix e
sacarose aparente, indicativo que estavam maduras. A pureza do caldo, valor percentual da
sacarose aparente em relação ao total de sólidos solúveis (sacarose aparente/Brix x 100),
situou-se acima de 90%, havendo diferença estatística entre as variedades, devido ao baixo
coeficiente de variação (1,20%), mas para a alimentação animal estas diferenças na pureza
do caldo podem ser desconsideradas.
A relação FDN/sacarose aparente da RB835486 foi a menor das quatro variedades,
reforçando resultados de estudo conduzidos por Rodrigues et al. (2001), Melo et al. (2006)
e Bonomo et al. (2009) nos quais a RB835486 se destacou isoladamente das demais va-
riedades quanto a menor relação FDN/ sacarose aparente. A relação FDN/sacarose apa-
rente expressa qual é a massa da parede celular de toda a forragem em relação a massa
de sacarose dos colmos industrializáveis, assim, quanto menor essa relação mais energia
facilmente digestível o animal consumirá. Além disso, há correlação negativa entre o teor
de FDN da forragem da cana-de-açúcar e consumo de forragem pelo bovino. Maior teor
de FDN na variedade de cana-de-açúcar resulta também em maior tempo de retenção da

95
Alimentos e Alimentação Animal
forragem no rúmen (maior tempo de passagem), menor ingestão de novos alimentos e,
consequentemente, menor produtividade animal.
Nos estudos conduzidos por Rodrigues et al. (2001), foi observado que a relação FDN/
sacarose aparente correlacionou-se negativamente (r= -0,85) com a digestibilidade in vitro da
matéria seca da parte aérea de 18 variedades de cana-de-açúcar, colhidas aos 12 meses de
idade. Thiago (2008) também observou que a digestibilidade in vitro da matéria seca da parte
aérea apresentou relação inversa com a FDN/sacarose aparente e FDN/Brix, tendo obtido
coeficiente de correlação de -0,6755 e -0,6940, respectivamente, ambos com significância a
0,1%. Na escolha de variedades com maior valor bromatológico, caso diversas variedades
de cana-de-açúcar apresentem relação FDN/Brix semelhantes, deve-se optar pelas varie-
dades com menor FDN. Assim, das variedades apresentadas na Tabela 4, a RB835486, a
RB855536 e a RB867515 seriam as escolhidas, lembrando, contudo, que a RB835486 tem
menor potencial produtivo, maior tombamento e susceptibilidade a doenças foliares.

IMPLANTAÇÃO DO CANAVIAL

Nas pequenas propriedades do centro-sul do Brasil os plantios de cana-de-açúcar, sem


irrigação, são realizados basicamente em duas épocas: início do período chuvoso (setembro
a outubro) e final do período chuvoso: fevereiro a março. O canavial implantado no início
do período chuvoso poderá ser colhido a partir de abril-maio do ano seguinte e, por isto, é
designado de “cana de ano”, mas, para o plantio de fevereiro a março a colheita ocorrerá
cerca de 15 a 18 meses após, sendo conhecida como “cana de ano e meio” (OLIVEIRA
et al., 2019; OLIVEIRA et al., 2021).
Os autores têm recomendado o plantio de “cana de ano” em solos mais férteis, de re-
levos mais suaves e menos erosivos, pois, há chuvas muito intensas nesse período. Devido
a cana-de-açúcar iniciar a fase de crescimento máximo a partir de janeiro, quando começa
a diminuir a disponibilidade hídrica e térmica, o suprimento de nutrientes não deverá ser um
fator limitante ao desenvolvimento da planta, para que possam ser obtidas produtividades
de biomassa superiores a 120 t de matéria natural por hectare. Entretanto, o plantio de
“cana de ano e meio” tem sido recomendado para os solos de relevos mais acidentados e
de menor fertilidade, uma vez que a cana permanecerá crescendo no campo por mais tem-
po e a fase de crescimento máximo, como mostrado na Figura 4, coincide com as épocas
de maior disponibilidade hídrica e luminosa, o que resulta tanto em maior recobrimento do
solo pela folhagem da cana-de-açúcar, quanto em maior taxa fotossintética e acúmulo de
matéria seca. Outras duas grandes vantagens do plantio da “cana de ano e meio” são, a
possibilidade do cultivo de crotalária juncea antecedendo ao plantio da cana e a obtenção

96
Alimentos e Alimentação Animal
de mudas pelo sistema do Método Interrotacional Ocorrendo Simultaneamente, designado
de MEIOSI (OLIVEIRA et al., 2019; OLIVEIRA et al., 2021).

AVALIAÇÃO DA FERTILIDADE DO SOLO, CALAGEM E GESSAGEM

A cana-de-açúcar, por produzir grande quantidade de massa, extrai e acumula, con-


sequentemente, grande quantidade de nutrientes do solo. Em avaliações realizadas pelos
autores em pequenas propriedades da zona da Mata Mineira, verificou-se que para uma
produção de 120 toneladas de forragem por hectare, cerca de 100 t de colmos industriali-
záveis, o acúmulo de nutrientes na parte aérea da planta é da ordem de 150, 40, 180, 90,
50 e 40 kg de N, P, K, Ca, Mg e enxofre, respectivamente. No caso dos micronutrientes:
ferro, manganês, zinco, cobre e boro, os acúmulos na biomassa da parte aérea, também
para uma produção de 120 t, são por volta de 8,0; 3,0; 0,6; 0,4; e, 0,3 kg, respectivamente.
Devido a essa alta remoção de nutrientes, deve-se conhecer a capacidade de forne-
cimento de nutrientes pelo solo para, se necessário, complementá-la com adubações e, se
constatada a presença de elementos em níveis tóxicos, reduzir sua concentração pela cala-
gem e gessagem. Normalmente, avaliam-se a disponibilidade de nutrientes e a presença de
elementos em níveis tóxicos no solo pela análise química da camada arável, sendo também
de grande valia o histórico da área, sobretudo as adubações realizadas e, se houve ou não,
ocorrência de sintomas de deficiência ou de toxidez nos cultivos anteriores (OLIVEIRA et al.,
2007; RAIJ, 2011a; OLIVEIRA et al., 2019).
Usualmente, coletam-se amostras de solo das camadas de 0 a 20 e de 20 a 40 cm de
profundidade. Os resultados da análise da camada de 0 a 20 cm têm sido utilizados para
calcular a adubação e a calagem e, os da camada de 20 a 40 cm, para os cálculos da ne-
cessidade de gessagem. Devido as áreas serem pequenas, os autores deste capítulo têm
orientado aos produtores a coletarem as amostras de solo usando cavadeira e pá reta, pois,
o uso da pá reta diminui a variabilidade dos índices de fertilidade do solo. Mais detalhes
sobre os procedimentos de amostragem, variabilidade amostral, secagem de amostras e
comparação entre extratores químicos podem ser obtidos em Oliveira et al. (2018b).
Os solos da região centro-sul são, em sua grande maioria, naturalmente ácidos, apre-
sentando baixa saturação por cátions básicos, como cálcio, magnésio e potássio. A defi-
ciência desses cátions básicos, associada aos altos teores de alumínio, ferro e manganês,
tem sido prejudicial ao crescimento do sistema radicular e, consequentemente, de toda a
cana-de-açúcar (OLIVEIRA et al., 2007). Por esses motivos, a calagem e a gessagem são
importantes práticas usualmente recomendadas pelos autores. Vários materiais têm sido
usados como corretivos da acidez de solos, sendo os mais empregados os calcários do-
lomíticos, porém, usam-se também os calcários calcíticos, magnesianos e os silicatos de
97
Alimentos e Alimentação Animal
cálcio e magnésio, designados de escórias de siderurgias. Nessas escórias, o teor de óxido
de magnésio oscila em torno de 8%, enquanto os calcários calcíticos possuem teores de
MgO inferiores a 5%, os magnesianos entre 6 e 12% e os dolomíticos acima de 12%. A efi-
ciência desses produtos na correção da acidez do solo depende, dentre outros fatores, da
sua granulometria, da distribuição uniforme no campo e da disponibilidade hídrica do solo
(OLIVEIRA et al., 2007; RAIJ, 2011a; OLIVEIRA et al., 2018a).
O método de análise de solo que utiliza o acetato de cálcio para a determinação do H+ +
Al+3 é muito usado no centro-sul do Brasil. Esse extrator subestima demasiadamente a
quantidade de H+ + Al+3, resultando em subestimativa da capacidade de troca catiônica a
pH 7,0 e, consequentemente, da dose de calcário a ser a aplicada (ERNANI e ALMEIDA,
1986; KAMINSKI et al. 2002; OLIVEIRA et al., 2004; OLIVEIRA et al., 2018a). Por esses
motivos, os autores têm recomendado elevar de 1,5 a 2,0 vezes a quantidade de calcário a
ser aplicado. Para a cana-de-açúcar cultivada nas pequenas propriedades, a recomenda-
ção é elevar a saturação por bases (V) a 60%. Raij (2011 b) cita seis estudos conduzidos
com cana-de-açúcar nos quais foram comparadas as doses recomendadas de calcário e
gesso com as doses desses insumos para a produtividade máxima econômica. O preço do
calcário e do gesso equivaleu-se ao de 2,0 t de colmos industrializáveis, valor relativo muito
alto para calcário e o gesso. O resultado econômico, apresentado na Tabela 6, foi altamen-
te lucrativo para todos os casos, quando se compara as doses recomendadas de calcário
e gesso e as doses desses insumos para a produtividade máxima econômica, reforçando
que as recomendações oficiais de calagem e gessagem estão subestimadas. Para alcançar
a produtividade máxima, as doses de calcário e de gesso devem ser duas vezes maiores
que as recomendadas (OLIVEIRA et al., 2007; RAIJ, 2008; RAIJ, 2011b; OLIVEIRA et al.,
2018a). A quantidade de calcário (QC) a ser usada, quando se emprega o método de satu-
ração por base, é calculada pela seguinte expressão (Eq.1):
QC (t ha–1) = [(60 – V) x T] ÷ PRNT (Eq. 1) , sendo V = saturação por bases atual do
solo; T = capacidade de troca catiônica a pH 7,0; e PRNT = poder relativo de neutralização
total do corretivo utilizado.

98
Alimentos e Alimentação Animal
Tabela 6. Doses de calcário e de gesso calculadas com bases nas recomendações oficiais, comparativamente às doses
que permitiram alcançar a produtividade máxima econômica, considerando uma relação de troca de 2,0 t de colmos
industrializáveis para cada tonelada de calcário ou de gesso.
2
Tipo de PRNT do Dose de Dose de Dose adequada Aumento de produção Custo do calcário e
1 1 3
solo calcário calcário gesso Calcário Gesso em quatro anos do gesso
(%) .----------------- t por hectare ----------------. .- t de colmos industrializáveis por hectare -.
LVE 63 2,5 1,0 4,0 2,0 76 12
LVA 77 5,3 1,4 10,0 6,0 72 32
LR 73 4,1 0,0 0,0 0,0 12 0
LVA 69 1,6 0,0 3,0 4,0 44 14
LVA 61 1,6 1,1 1,8 4,8 120 13
LVE 52 9,8 3,5 10,0 10,0 76 40
1
Dose de calcário e de gesso baseada nas recomendações oficiais; 2Dose de calcário e de gesso para alcançar
a produtividade máxima; 3Incluindo os custos de compra, transporte e aplicação.
Fonte: Raij (2008).

Em relação ao tipo de calcário, recomenda-se o dolomítico quando o teor de magné-


sio na camada de 0 a 20 cm for inferior a 0,40 cmolc/dm3 de solo (OLIVEIRA et al., 2007;
OLIVEIRA et al., 2018a). No entanto, se o teor de magnésio na camada de 0 a 20 cm for
maior que 0,40 cmolc/dm3 de solo, a orientação é para utilizar aquele corretivo que tenha o
menor preço por tonelada de PRNT na lavoura. Dessa forma, inclui-se um fator econômico
na tomada de decisão quanto ao tipo de calcário a ser empregado. Quanto ao gesso, seu
uso tem sido recomendado com base nos resultados da análise química da camada de
20 a 40 cm. O gesso tem sido aplicado quando os teores de cálcio são menores que 0,40
cmolc/dm3 de solo ou a saturação por alumínio (m%) é maior que 20%. A dose usualmente
recomendada é de um terço da dose de calcário. Um exemplo: supondo-se que a quan-
tidade de calcário a ser aplicada é de 4,5 t/hectare, então a dose de gesso será de 1,5 t/
hectare. O calcário e o gesso são misturados para posterior aplicação ao solo. A aplicação
de gesso levará à melhoria do ambiente radicular das camadas abaixo da arável, efeito que
perdura por vários anos, por esse motivo não é necessária a reaplicação anual do gesso
(OLIVEIRA et al., 2007; RAIJ, 2011b; OLIVEIRA et al., 2018a).
Quando o pequeno produtor rural tiver dificuldade para adquirir o gesso deve-se optar
pela aplicação do superfosfato simples como fonte de fósforo, uma vez que esse fertilizante
contém sulfato de cálcio. Em pesquisa conduzida por Morelli et al. (1992), estudou-se do-
ses de calcário e gesso, em cana-de-açúcar cultivada em solos de textura média e baixa
capacidade de troca catiônica, tendo-se constatado muito boa relação entre os teores de
cálcio no solo e o crescimento do sistema radicular. Aos 27 meses após o início do estudo,
verificou-se no tratamento que recebeu a aplicação de 2,8 t de gesso por hectare a maior
produção de biomassa e de colmos industrializáveis. Pela análise do solo constatou-se re-
lação entre o cálcio trocável e o sistema radicular da cana: a 150 cm de profundidade o Ca+2
era de 0,60 cmolc/dm3 e a massa de raízes de 1,1 g/ dm3. Diversos autores têm relatado que,
em condições de baixa disponibilidade de cálcio no solo, as raízes da cana concentram-se
99
Alimentos e Alimentação Animal
na camada de 0 a 30 cm de profundidade; entretanto, no estudo conduzido por Morelli et al.
(1992), citados na Tabela 7, cerca de 50% da massa do sistema radicular encontrava-se
na camada de 51 a 150 cm.

Tabela 7. Teores de cálcio no solo e o crescimento do sistema radicular da cana-de-açúcar, em solo que recebeu aplicação
de calcário e de gesso.

Camada Cálcio trocável Massa de raíz % do sistema


-3 -3
(cm) .--- (cmol cdm ) ---. .----- (g dm ) ----. radicular
0 a 25 2,10 4,4 29,93
26 a 50 1,37 3,0 20,41
51 a 75 0,90 2,4 16,33
76 a 100 0,82 2,0 13,61
101 a 125 0,70 1,8 12,24
126 a 150 0,60 1,1 7,48
Fonte: Adaptado de Morelli et al. (1992).

Nas pequenas propriedades, geralmente a distribuição da mistura calcário + gesso


é manual. Um método recomendado para esses pequenos produtores tem sido demarcar,
um quadrado ou retângulo com a própria mistura de calcário + gesso e, nessa área, aplicar
um volume correspondente à dose recomendada. Por exemplo: supondo-se que a dose re-
comendada tenha sido de 6.000 kg (4.500 kg de calcário + 1.500 kg de gesso, por hectare)
e a densidade da mistura calcário + gesso seja de 1,25 kg/L, então devem ser aplicados
4.800 L da mistura por hectare ou 0,48 L da mistura/m2. Uma das opções para o pequeno
produtor distribuir manualmente o calcário + gesso, seria demarcar, com a própria mistura,
áreas de 25 m2 e, nelas, aplicar 12,0 L de calcário + gesso. Após a aplicação do calcário
+ gesso, geralmente faz-se uma aração e uma gradagem para a incorporação dos produ-
tos ao solo. Na grande maioria das pequenas propriedades rurais, tem-se recomendado a
subsolagem, para a descompactação dos solos ou rompimento de camadas compactadas,
após aração e gradagem (Figura 5).

Figura 5. Subsolador utilizado para romper camadas compactadas do solo em uma área destinada ao plantio da cana-
de-açúcar. A subsolagem foi realizada após a incorporação do calcário e do gesso.

100
Alimentos e Alimentação Animal
A recomendação de subsolagem é com base no histórico de uso da área, no trânsito
de máquinas, de implementos e de animais, na observação visual de presença de crostas
na superfície do terreno, presença de ervas indicadoras e sistema radicular superficial da
vegetação natural. Embora possa ser um ônus a mais para o pequeno produtor, a presen-
ça de camadas adensadas ou compactadas tem consequências maléficas na absorção de
água, nutrição mineral, no desenvolvimento da lavoura e na longevidade do canavial (VITTI
e MAZZA, 2022; OLIVEIRA et al, 2019). Conforme citado anteriormente, às vezes o pequeno
produtor tem dificuldade para alugar um trator de maior potência, com o subsolador, assim
quando não for possível a subsolagem, recomenda-se uma aração mais profunda do terreno,
com arado de disco, por ocasião do preparo do solo.
Os teores de cálcio e de magnésio do solo diminuem ao longo dos ciclos da cana-
-de-açúcar, tanto pela remoção de bases pelas colheitas da cana quanto pela acidificação
causada pelos adubos nitrogenados. Os autores deste capítulo têm recomendado realizar
a calagem nas áreas de rebrota quando se constatar saturação por bases inferior a 50%
na camada de 0 a 20 cm. A aplicação do corretivo deverá ser em área total, procedendo
posteriormente uma leve incorporação do corretivo na entrelinha da cana-de-açúcar usando
grade ou uma capinadeira à tração animal.

ADUBAÇÃO VERDE EM ÁREAS DE PLANTIO DE “CANA DE ANO


MEIO”

No item “Implantação do canavial”, foi comentado que uma das vantagens do plantio da
“cana de ano e meio” é a possibilidade de uma adubação verde antecedendo ao plantio da
cana-de-açúcar. Dentre as principais características desejáveis de uma planta a ser utilizada
como adubo verde podem-se destacar: possibilidade de mecanização desde a semeadura
até a colheita de sementes; capacidade de se associar às bactérias fixadoras do nitrogênio
do ar atmosférico; crescimento rápido para controlar plantas daninhas; possuir mecanismos,
ou sintetizar compostos, que auxiliem no controle de pragas como, por exemplo, nematoides
e doenças; ausência de sementes dormentes; sistema radicular vigoroso e profundo que
auxilie na reciclagem de nutrientes das camadas mais profundas e na descompactação dos
solos, pois o uso intensivo do solo com práticas convencionais, como a excessiva mecani-
zação, tem reduzido a matéria orgânica e causado compactação desses solos (OLIVEIRA
et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2019; OLIVEIRA et al.; 2021).
Outro aspecto a ser considerado é o fornecimento de substrato orgânico e mineral para
os micro-organismos do solo, assim, a adubação verde também contribui para a melhoria da
qualidade biológica do terreno. Diversas leguminosas possuem essas características, mas, de
modo geral, há preferência pela crotalária juncea na região centro-sul do Brasil. Em estudos
101
Alimentos e Alimentação Animal
conduzidos pelos autores deste capítulo, na região da zona da Mata Mineira, a adubação
verde com crotalária juncea, antecedendo ao plantio da “cana de ano e meio”, resultou em
aumento de produção nos ciclos de cana-planta e primeira rebrota, que, somados, oscila-
ram de 23 a 31 t de forragem por hectare. Numa análise de vários anos, os custos dessa
adubação verde variaram, em preços equivalentes, de 7,5 a 14 t de forragem por hectare,
assim, o aumento de produtividade cobriu com folga os custos do cultivo da leguminosa.
Deve-se considerar ainda que, há estudos em que o aumento de produtividade da cana-de-
-açúcar devido a adubação verde com crotalária juncea foi maior: Mascarenhas et al. (1994),
em estudos conduzidos por vários anos em Sales Oliveira, estado de São Paulo, relatam
aumentos de produtividade de forragem variando em 32 a 50 t por hectare. Mais detalhes
sobre a adubação verde podem ser obtidos em Oliveira et al. (2021).

SULCAGEM, ADUBAÇÃO E PLANTIO DA CANA-DE-AÇÚCAR

A sulcagem do solo para o plantio da cana-de-açúcar é realizada após a aração e gra-


dagem do terreno para a incorporação do calcário e do gesso ou, depois da incorporação da
crotalária juncea, no caso do plantio da “cana de ano e meio”. Normalmente essa sulcagem
é realizada com sulcadores-adubadores que abrem o sulco e simultaneamente adubam.
Quando não se dispõem desse implemento, pode-se empregar o arado de aivecas ou de dis-
cos, utilizando apenas um disco, sulcando-se sempre que possível em nível. Uma alternativa
para o pequeno produtor rural é a sulcagem com arado a tração animal e, se for necessário,
faz-se manualmente um acerto no sulco usando enxada valetadeira. A sulcagem deverá ser
realizada o mais próximo possível da distribuição das mudas e do plantio, para conservar a
umidade do solo, em dias secos ou evitar o assoreamento dos sulcos, em dias chuvosos.
O espaçamento entre sulcos tem oscilado de 0,90 a 1,40 m, variando em função
da distância entre os pneus da carroça ou do implemento que transitará na lavoura, da
topografia, da fertilidade do solo e do tipo de cultivo. Em áreas mais férteis são adotados
espaçamentos mais largos para evitar que a cana afine e futuramente possa tombar com
os ventos. Entretanto, em solos de menor fertilidade e menos adubados, mais inclinados ou
quando são utilizados cultivares de menor capacidade de perfilhamento, devem-se adotar
espaçamentos mais estreitos para permitir melhor distribuição espacial das plantas, cobertura
mais uniforme do solo e aumento de produtividade (OLIVEIRA et al., 2019).
Os principais adubos químicos utilizados na cultura da cana-de-açúcar e a concentração
de macronutrientes nesses fertilizantes, estão listados na Tabela 8. Infelizmente, ainda se
expressam os valores de concentração de fósforo e de potássio dos fertilizantes em P2O5 e
K2O, um resquício da química do século 19, quando ainda se incineram os materiais para
a análise química.
102
Alimentos e Alimentação Animal
Tabela 8. Principais adubos químicos utilizados na cultura da cana-de-açúcar e a concentração de macronutrientes nesses
fertilizantes.

-------------- Concentração de Nutrientes (%) ----------------


Adubo
N P K Ca Mg S
Ureia 45,0 ------- ------- ------- ------- --------
Sulfato de amônio 21,0 ------- ------- ------- ------- 23,0
Nitrato de cálcio 13 a 15 ------- ------- 17 a 19 ------- --------
Nitrato de amônio 34,0 ------- ------- ------- ------- -------
Superfosfato simples ------- 7,8 a 9,2 18 a 20 ------- 12,0
Superfosfato triplo ------- 18,3 a 20,9 ------- 8 a 10 ------- 1 a2
Fosfato monoamônio (MAP) 9 a 11 21,8 a 23,6 ------- ------- ------- --------
Fosfato diamônio (DAP) 16 a 18 18,3 a 20,0 ------- 20 a 22 ------- --------
Termosfosfato Yoorin ------- 7,8 a 8,7 ------- ------- --------
Cloreto de potássio ------- ------- 50 a 51 ------- ------- --------
Sulfato de potássio ------- ------- 41 a 43 ------- ------- 17 a 18

Nos adubos fosfatados citados na tabela, o fósforo está na forma de H3PO4 porque a ro-
cha fosfatada, geralmente a hidroxiapatita [(Ca10(OH)2(PO4)6] ou a fluorapatita [(Ca10F2(PO4)6]
são solubilizadas com ácidos (sulfúrico ou fosfórico), originando o H3PO4 e alguns outros
produtos, dentre eles o gesso agrícola. Para transformar os valores de P e K, citados na
Tabela 8, em P2O5 e K2O, é necessário multiplicar por 2,29 e 1,2, respectivamente.
Para a cana-planta recomendam-se apenas adubação fosfatada e potássica, pois,
em estudos conduzidos pelos autores do capítulo, constatou-se ausência de resposta da
cana à adubação nitrogenada. Essa baixa ou ausente resposta da cana-planta à adubação
é generalizada para os solos cultivados com cana-de-açúcar no Brasil (OLIVEIRA et al.,
2007). A ausência de resposta da cana-planta à adubação nitrogenada deve-se à mine-
ralização da matéria orgânica do solo e à maior eficiência nutricional do sistema radicular
da cana-planta, comparativamente às rebrotas (OLIVEIRA et al., 2007; OLIVEIRA et al.,
2018a). Em relação à mineralização da matéria orgânica do solo, pode-se recorrer aos es-
tudos conduzidos nos tabuleiros costeiros de Pernambuco, nordeste do Brasil, por Salcedo
et al. (1985) para reforçar essa afirmação. Salcedo e colaboradores quantificaram a minera-
lização do carbono e do nitrogênio em um Podzólico vermelho-amarelo, latossólico arenoso,
ao longo do ciclo da cana-planta, amostrando o solo antes do plantio e, aos 3, 6, 11 e 16
meses após, nas profundidades de 0 a 20; 20 a 40 e de 40 a 60 cm.
Os teores de carbono total foram de 6,7; 4,1 e 3,4 g kg–1, enquanto que, para o N total,
obtiveram-se valores de 0,7; 0,4 e 0,3 g kg–1. Foi constatado que, as quantidades estimadas
do N potencialmente mineralizável foram de 139 e 132 kg por hectare, para as profundidades
de 0 a 20 e 20 a 60 cm respectivamente, com uma constante de mineralização de 0,074 por
semana. Salcedo et al. (1985) citam ainda que, apesar do solo estudado ser considerado de
baixa fertilidade, pelos resultados obtidos, pode-se afirmar que as quantidades de N orgânico
mineralizado seriam suficientes para satisfazer as necessidades da cana-planta.
103
Alimentos e Alimentação Animal
A absorção e o metabolismo do nitrogênio são muito influenciados pela disponibili-
dade endógena de fósforo (RUFTY et al., 1990; OLIVEIRA et al., 2007; OLIVEIRA et al.,
2018). Em plantas com suprimento adequado de P ocorre aumento na absorção do nitrato
da solução do solo; há maior translocação de nitrato das raízes para a parte aérea, aumen-
tando o acúmulo de aminoácidos em folhas e raízes (RUFTY et al., 1990; OLIVEIRA et al.,
2007). Oliveira et al. (2007) citam pesquisas conduzidas no estado de Minas Gerais, nas
quais verificaram-se que o aumento da dose de adubação fosfatada, aplicada no sulco de
plantio, repercutiu em maiores acúmulos de N na biomassa da parte aérea da cana-planta,
tendo-se observado que, para cada quilograma de P aplicado, houve aumento de cerca de
um quilograma de N nessa biomassa. Esses resultados são decorrentes dos efeitos das
alterações causadas na absorção e no metabolismo do N, conforme citado por Rufty et al.
(1990) e Oliveira et al. (2018a).
Diferentemente da cana-planta, há alta resposta das rebrotas a adubação nitrogenada.
Assim, é necessário adubar as rebrotas com nitrogênio, podendo-se adotar o critério de adu-
bação de restituição do nitrogênio removido pela colheita da cana. Nos estudos conduzidos
pelos autores, os teores de proteína bruta de canaviais bem nutridos têm oscilado de 2,6 a
3,2% (26 a 32 g de proteína bruta por kg de matéria seca). Em média a proteína bruta tem
16% de nitrogênio, assim a remoção de N pela colheita da parte aérea da cana-de-açúcar
oscila de 4,16 a 5,12 g de N por kg de matéria seca de forragem. Supondo que uma rebrota
tenha produtividade de 135 t de forragem por hectare, com 30% de matéria seca, então ha-
verá remoção de nitrogênio variando de 168 a 207 kg de N por hectare. Nesse caso, poderia
ser recomendada adubação nitrogenada variando de 170 a 210 kg de N por hectare. Se a
fonte do adubo nitrogenado for ureia, há necessidade de enterrio no solo, para evitar perdas
por volatilização. Para fontes amoniacais ou nítricas, não há necessidade de incorporação
ao solo ou enterrio.
A recomendação de adubação fosfatada e potássica para a cana-planta é baseada
nos resultados da análise de solo, na camada de 0 a 20 cm, e na expectativa de produti-
vidade do canavial (Tabelas 9 a 13). A maior dose de fósforo deve ser aplicada no fundo
do sulco de plantio. Essa aplicação, a uma profundidade maior, aumenta a absorção do
nutriente pela cana, uma vez que a disponibilidade hídrica da subsuperfície varia menos
que na superfície. A mobilidade do fósforo no solo é pequena e sua difusão é influenciada
por diversos fatores, com destaque para: precipitação por cátions como o ferro, alumínio e
cálcio; conteúdo volumétrico de água no solo; adsorção do fósforo pelos coloides do solo;
complexidade da estrutura do meio; compactação do solo; distância a percorrer até atingir
as raízes e o teor do elemento no solo (NOVAIS e SMITH, 1999).

104
Alimentos e Alimentação Animal
Tabela 9. Classes de fertilidade do solo considerando os teores de argila, o fósforo e o potássio extraídos com Mehlich.

Teor de argila Classificação do Fósforo Disponível


-1
(g kg ) Baixo Médio Alto
-3
.------------- mg dm ---------------.
0 a 150 Menor que 20 20 a 30 Acima de 30
150 a 350 Menor que 15 15 a 20 Acima de 20
350 a 600 Menor que 10 10 a 15 Acima de 15
600 a 1.000 Menor que 5 5 a 10 Acima de 10
Classificação do Potássio Disponível
Baixo Médio Alto
-3
.------------- mg dm ---------------.
Menor que 40 41 a 90 Acima de 90
Em geral, são registrados valores muito baixos de transporte de fósforo, devido a sua
forte interação com os coloides do solo, principalmente em solos muito intemperizados e,
segundo Novais e Smith (1999), pode-se estimar que o transporte é em média de 0,013mm
por dia. Se houve aplicação de gesso no solo deve-se optar pelo uso de superfosfato triplo,
para diminuir os custos de implantação do canavial, uma vez que o kg de fósforo originário
do superfosfato triplo é mais barato que o do superfosfato simples.

Tabela 10. Doses de fósforo sugeridas para a adubação da cana-planta, baseando-se na disponibilidade do fósforo extraído
com Mehlich e na expectativa de produção de forragem (matéria natural).

Classe de Fertilidade do Solo


Expectativa de Produção de Forragem no
-1 Baixa Média Alta
Ciclo de Cana-Planta (t ha ) -1
.---- Dose de P (kg ha )* -----.
Menos de 100 80 ------- -------
100 a 150 90 70 50
150 a 180 100 80 60
Maior que 180 120 90 70
* Para transformar P em P2O5, multiplica-se o valor desejado por 2,29.

O fósforo aplicado por ocasião do plantio da cana assegura, na maioria das vezes,
suprimento adequado do elemento para a cana-planta e para a primeira rebrota, devendo-
-se utilizar formulações contendo P na adubação das rebrotas posteriores. Antecedendo
a adubação fosfatada das rebrotas, deve-se analisar o solo na camada de 0 a 20 cm, e,
caso a saturação por bases (V) seja inferior a 50%, recomenda-se, primeiramente, realizar
uma calagem para elevar V para 60%. A ausência de alumínio trocável na solução do solo
aumenta a eficiência da adubação fosfatada, especialmente por não haver formação de fos-
fato de alumínio, tanto no solo quanto dentro das raízes das plantas, uma vez que o fosfato
de alumínio é um composto de baixa solubilidade. Caso a saturação por bases seja maior
que 50% e o teor de P, extraído com Melhich, seja menor que 10 mg dm–3, recomenda-se
a adubação fosfatada da rebrota.
105
Alimentos e Alimentação Animal
Tabela 11. Doses de fósforo sugeridas para a adubação da cana-planta, baseando-se na disponibilidade do fósforo extraído
com resina de troca iônica e na expectativa de produção de forragem (matéria natural).
-3
Fósforo Extraído (mg dm )
Expectativa de Produção de Forragem
-1 0 a6 7 a 17 16 a 40 > 40
no Ciclo de Cana-Planta (t ha ) -1
.-------- Dose de P (kg ha )* ------.
Menos de 100 80 44 30 20
100 a 150 90 55 40 26
Mais de 150 100 66 45 35
Para transformar P em P2O5, multiplica-se o valor desejado por 2,29.
Fonte: adaptado de Raij (1997).

A dose de fósforo utilizada na adubação das rebrotas pode ser baseada na restituição
do P removido pela colheita; nesse caso, para cada t de matéria natural devem-se aplicar de
200 a 300 g de P. Caso, por exemplo, a produção de forragem (matéria natural) da rebrota
tenha sido de 135 t por hectare, devem ser aplicados de 27 a 40 kg de P por hectare. O adubo
fosfatado deverá ser aplicado juntamente com o N e o K. A adubação N-P-K das rebrotas
poderá ser realizada simultaneamente com a operação de cultivo da entrelinha. Em pequenas
propriedades, a sulcagem da entrelinha da cana com arado de tração animal para posterior
adubação tem apresentado bons resultados. O adubo N-P-K é aplicado no sulco aberto na
entrelinha da cana e, posteriormente, coberto com terra, usando-se novamente implemento
de tração animal.
A adubação potássica da cana é realizada no plantio e após cada corte da cana, devido
ao fato de o potássio se deslocar no perfil do solo. Essa adubação se baseia nos resultados
da análise de solo da camada de 0 a 20 cm e na produtividade que se deseja obter. Nas
Tabelas 12 e 13, são apresentadas as recomendações para adubação potássica da cana-
-planta e das rebrotas, tendo como extrator o Melhich ou a resina de troca iônica.

Tabela 12. Sugestão de doses de potássio para a adubação da cana, baseando-se na disponibilidade do potássio extraído
com Mehlich e na expectativa de produção de matéria natural.

Classe de Fertilidade do Solo


Expectativa de Produção de Forragem no
-1 Baixa Média Alta
Ciclo da Cana-Planta (t ha ) -1
.---- Dose de K (kg ha )* -----.
Menos de 90 120 ------ -------
90 a 120 140 120 120
120 a 150 160 140 140
150 a 180 180 160 160
Mais de 180 200 180 180
* Para transformar K em K2O, multiplica-se o valor desejado por 1,20.
Fonte: Oliveira et al. (2007).

106
Alimentos e Alimentação Animal
Tabela 13. Sugestão de doses de potássio para a adubação da cana, baseando-se na disponibilidade do potássio extraído
com resina de troca iônica e na produtividade esperada.
-3
K Extraído com Resina (mmolc dm )
Expectativa de Produção de Forragem
-1 0 a 0,7 0,8 a 1,5 1,6 a 3,0 3,1 a 6,0 > 6,0
no Ciclo da Cana-Planta (t ha ) -1
.-------------- Dose de K (kg ha )* --------------.
Menos de 100 120 100 60 60 0
100 a 150 160 140 100 80 0
Mais de 150 200 160 120 100 0
* Para transformar K em K2O, multiplica-se o valor desejado por 1,20.
Fonte: adaptado de Raij, 1997.

A dose de K a ser aplicada nas rebrotas pode-se basear na restituição do potássio re-
movido pela colheita, à semelhança do sugerido para as adubações nitrogenada e fosfatada.
Esse método foi adotado pelos autores e tem sido recomendado com excelentes resultados
agronômicos e financeiros. Embora a absorção e a remoção de potássio variem entre os
cultivares de cana-de-açúcar, pode-se considerar que para cada t de forragem colhida (ma-
téria natural) há, em média, uma remoção de l,5 kg de potássio. Não há necessidade de se
parcelar o potássio utilizado nas adubações das rebrotas, devido às possíveis perdas por
lixiviação (OLIVEIRA et al., 2007). Nos estudos conduzidos pelos autores do capítulo, não
foram verificadas perdas de K por lixiviação, resultados confirmados por Sampaio e Salcedo
(1991) que também observaram que as perdas de K, por percolação abaixo de 100 cm de
profundidade, foram de 9,0 kg ha–1, totalmente compensados pelo aporte de K provindos da
água da chuva, 18 kg por ha.
Em relação ao plantio da cana, recomenda-se densidade de gemas oscilando de 12
a 15 gemas por metro de sulco, gastando-se em média de 12 a 14 t de mudas por hectare.
Conforme citado anteriormente, as mudas de cana-de-açúcar devem ser de boa qualidade,
escolhendo-se preferencialmente aquelas provenientes de viveiros, de boa sanidade, de
primeiro ou, no máximo, segundo corte. É importante também confirmar a sanidade da muda
quanto às doenças, pragas e mistura de outros cultivares. A disposição das canas dentro do
sulco deve, preferencialmente, ser orientada no sentido de pé com ponta cruzado com um
colmo ao lado do outro. Em seguida, picam-se os colmos em toletes de duas ou três gemas,
os quais são, posteriormente, cobertos com camada de terra variando de 5,0 a 8,0 cm, não
devendo ser superior a 10 cm de espessura. Normalmente, a prática cultural que sucede ao
plantio da cana-de-açúcar é a aplicação de herbicidas para o controle de plantas daninhas.

CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS

As plantas daninhas competem com a cultura da cana-de-açúcar, durante a fase


de crescimento, por água, luz, nutrientes, podendo exsudar compostos de ação fitotóxica
107
Alimentos e Alimentação Animal
(alelopatia) e hospedar pragas e doenças (SOUZA, 1985; PROCÓPIO et al., 2003, OLIVEIRA
et al., 2007). A cana-de-açúcar apresenta metabolismo C4, o que a torna relativamente mais
competitiva na assimilação do CO2 atmosférico e no uso de nutrientes, porém diversas plantas
daninhas são da mesma família da cana e, portanto, apresentam o mesmo metabolismo.
Por ocasião da colheita, a presença de plantas daninhas continua a causar prejuízos, pois,
quando o corte da cana é realizado manualmente e sem a queima prévia, a presença de
mato diminui o rendimento do trabalhador e o torna mais vulnerável às picadas de cobras
e escorpiões. A longevidade do canavial, também, diminui quando não se realiza um con-
trole eficiente das plantas daninhas. Mantendo-se a cultura livre de matocompetição até o
fechamento das entrelinhas, o sombreamento do solo assegura, na maioria das vezes, uma
colheita da cana sem a presença de plantas daninhas.
Há várias formas de se controlar as plantas daninhas, entretanto, as associações mais
comuns são de métodos culturais, com os mecânicos e os químicos (PROCÓPIO et al.,
2003, OLIVEIRA et al., 2007). Os métodos culturais são práticas que visam tornar a cultura
da cana mais competitiva em relação às plantas daninhas e englobam a redução de espa-
çamentos de plantio; cultivos intercalares ou rotação de cultura com soja, amendoim, milho
e adubos verdes; e, o uso de variedades de alto perfilhamento que sombreiam o solo mais
rapidamente (PROCÓPIO et al., 2003; OLIVEIRA et al., 2007). Em pesquisas conduzidas
pelos autores deste capítulo, em áreas densamente infestadas com capim marmelada,
a semeadura de crotalária juncea por ocasião da reforma do canavial teve grande efeito
supressor, devido ao sombreamento causado no capim, reduzindo o número de sementes
produzidas pela gramínea.
O método químico tem sido o mais utilizado pelos pequenos produtores (Figura 6),
havendo no mercado herbicidas que são utilizados na pré-emergência do mato ou na pós-
-emergência, com as plantas daninhas em estágios iniciais ou muito desenvolvidas.

108
Alimentos e Alimentação Animal
Figura 6. O uso de herbicidas que mantém a cultura livre de matocompetição até o fechamento das entrelinhas, o que
assegura, na maioria das vezes, uma colheita da cana-de-açúcar sem a presença de plantas daninhas.

No controle mecânico utilizam-se arados e grades por ocasião da reforma do canavial


e este método é de grande eficiência, dependendo da umidade do solo, da radiação solar e
das espécies predominantes na área. Para o controle de mato na entrelinha da cana podem
ser usados cultivadores à tração animal. A capina manual, outrora utilizada como principal
método de controle, hoje se restringiu a catação e pequenas áreas. O cultivo mecânico
apresenta limitações especialmente por não controlar o mato da linha da cana e, mesmo
para o mato da entrelinha, sua eficiência pode ser grandemente diminuída, dependendo das
condições climáticas e das plantas infestantes, como algumas do gênero brachiaria, que se
multiplicam de forma vegetativa.
A seguir são descritas considerações sobre alguns herbicidas utilizados na cultura da
cana-de-açúcar e, na Tabela 14, consta o nome comercial de alguns desses herbicidas.
Ametryne: Recomendado para a fase pré ou pós-emergência inicial em aplicação iso-
lada ou em misturas com outros herbicidas (diuron, 2,4-D, tebuthiuron, clomazone, MSMA
e outros). Esse herbicida causa pequena toxicidade à cultura da cana-de-açúcar. O período
efetivo de controle ou efeito residual é cerca de 70 a 100 dias. É eficaz no controle de capim
colchão (Digitaria horizontalis), capim marmelada (Brachiaria plantaginea), capim pé de
galinha (Eleusine indica), beldroega (Portulaca oleracea), caruru (Amaranthus spp), picão
preto (Bidens pilosa) e carrapicho-de-carneiro (Acanthospermum hispidum). As dosagens
têm variado de 3,0 a 5,0 litros por hectare. As doses menores são para solos mais leves
ou aplicação em solo úmido, indicando-se as doses maiores para solos pesados ou aplica-
ção em solos secos.

109
Alimentos e Alimentação Animal
Tabela 14. Principais herbicidas utilizados na cultura da cana-de-açúcar e épocas de aplicação em relação à emergência
das plantas daninhas.

Mecanismo de ação Época de aplicação Herbicida (Marca comercial)


Destruidores de membrana
Oxyfluorfen Pré ou pós-emergência Goal
Sulfentrazona Pré-emergência Boral e Solara
Inibidores de fotossíntese
Ametrina Pré ou pós-emergência Ametrina, Gesapax, Herbipax e Metrimex
Atrazina Pré ou pós-emergência Atrazinax, Gesaprim, Atrazina Nortox
Atrazina + Simazina Pré ou pós-emergência Extrazin, Triamex, Primatop e Herbimix
Diuron Pré ou pós-emergência Karmex, Diuron Nortox
Ametrina + Diuron Pré ou pós-emergência Ametron
Hexazinone + Diuron Pré ou pós-emergência Velpar K e Advance
Metribuzin Pré ou pós-emergência Sencor
Simazina Pré-emergência Gesatop
Tebuthiuron Pré-emergência Combine, Tebuthiuron
Inibidores de mitose e crescimento inicial
Alachor Pré-emergência Laço
Pendimethalin Pré-emergência Herbadox
Trifluralin Pré-emergência Trifluralina Nortox, Treflan e Premerlin
Inibidores da respiração
MSMA Pós- emergência Daconate, Dessecan
Inibidores da síntese de aminoácidos
Flazasulfuron Pré ou pós-emergência Katana
Glifosato Pós- emergência Glifosato, Roundup, Trop
Halosulfurona Pós- emergência Sempra
Imazapic Pré ou pós-emergência Plateau
Imazapyr Pré ou pós-emergência Arsenal, Contain e Chopper
Trifloxysulfuron +ametrina Pós- emergência Krismar
Inibidores da síntese de pigmentos
Clomazone Pré-emergência Gamit
Isoxaflutole Pré-emergência Provence
Clomazone + Ametrina Pré-emergência Sinerge, Ranger
Reguladores de crescimento
2,4 D Pré ou pós-emergência DMA
Dicamba Pré ou pós-emergência Banvel 480
Picloran + 2,4 D Pré ou pós-emergência Dontor

2,4-D: Recomendado para aplicação em pós-emergência, misturado ou não com outros


herbicidas (Diuron, MSMA, tebuthiuron, ametryne e outros). O período efetivo de controle é
cerca de 25 a 40 dias. É eficaz somente no controle de dicotiledôneas. As dosagens variam
de 0,8 a 1,5 litro por hectare.
Diuron: Recomendado em pré ou em pós-emergência inicial do mato em aplicação
isolada ou em misturas com outros herbicidas (2,4-D, tebuthiuron, MSMA e outros). Apresenta
efeito residual de 150 a 180 dias. É eficaz no controle de capim colchão (Digitaria horizon-
talis), capim marmelada (Brachiaria plantaginea), capim pé de galinha (Eleusine indica),
beldroega (Portulaca oleracea), caruru (Amaranthus spp), picão preto (Bidens pilosa) e
carrapicho-de-carneiro (Acanthospermum hispidum). As dosagens têm variado de 1,8 L/ha
(Diuron 500) a 3,2 L/ha (Karmex GRDA).
Em condições de muita umidade. Tem amplo espectro de controle e efeito residual de
90 a 120 dias. Para o Advance e o Velpar K as doses têm variado de 2,2 a 2,8 e, 1,5 a 2,7
kg/ha, respectivamente.

110
Alimentos e Alimentação Animal
MSMA: Recomendado em pós-emergência tardia do mato em jato dirigido. Causa
elevada toxicidade à cultura da cana-de-açúcar. Tem sido muito utilizado em misturas com
outros herbicidas (diuron, 2,4-D, tebuthiuron, ametryne, Velpar K e outros). É eficaz no con-
trole de diversas gramíneas anuais e perenes, bem como da tiririca quando esta apresenta
cerca de 4 a 8 folhas. Para o MSMA 790, recomendam-se doses variando de 0,5 a 0,87 L/ha.
Tebuthiuron. Recomendado em pré-emergência, inclusive para aplicação em solo
seco. Em pós-emergência não há eficiência do produto. Sua persistência no solo é grande,
com efeito residual entre 12 a 15 meses. Não deve ser utilizado nas áreas que se pretende
reformar o canavial e realizar rotação de cultura com soja, amendoim e feijão. Apresenta
elevado espectro de controle, sendo eficiente para controle de diversas dicotiledôneas e
gramíneas, exceto o capim-colchão (Digitaria horizontalis).
Diuron + Hexazinone: São comercializados com os nomes de Advance e Velpar K. O
Advance é mais usado em cana-planta e o Velpar K nas rebrotas, sendo aplicados em pré
ou em pós-emergência inicial, em solo com umidade. Esses herbicidas causar toxicidade à
cultura, especialmente em solos arenosos.

ADUBAÇÃO DAS REBROTAS COM DEJETO DE BOVINOS OU CAMA


DE AVIÁRIO

Os dejetos de bovino e a cama de aviário são os resíduos orgânicos mais utilizadas na


adubação da cana-de-açúcar, nas pequenas propriedades rurais. A utilização desses adubos
orgânicos é uma forma de diminuir os custos de produção, reciclar nutrientes e melhorar as
propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. A eficiência dos dejetos de bovino e a
cama de aviário na nutrição mineral da cana-de-açúcar depende da composição química
do dejeto, da quantidade aplicada e de fatores ambientais, especialmente da temperatura e
da umidade. A análise química dos dejetos de bovinos permite calcular a quantidade des-
ses resíduos que devem ser aplicados no solo, visando repor os nutrientes removidos pela
colheita da cana-de-açúcar.
Na Tabela 15, são mostrados os resultados das análises químicas de dejetos de vacas
leiteiras, de pequenas propriedades da zona da Mata Mineira, alimentadas com diferentes
volumosos e quantidades de ração concentrada. Considerando apenas a remoção do nitro-
gênio, fósforo e potássio pela colheita de 150 toneladas de forragem (colmos + ponteiros
+ folhas) há remoção de nutrientes da ordem de 150, 45 e 225 kg de N, P e K, respectiva-
mente. A relação K/N da forragem é de 1,5, bem superior à dos dejetos de bovinos. Dessa
forma, se o canavial estiver sendo adubado com dejetos de bovinos há necessidade de
complementar a adubação com potássio, visando repor os nutrientes removidos com a
colheita da cana-de-açúcar.
111
Alimentos e Alimentação Animal
Tabela 15. Porcentagem de matéria seca no dejeto de vacas leiteiras (% de MS no dejeto) e de nitrogênio (N), fósforo
(P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S) na matéria seca de dejetos de vacas leiteiras, alimentadas com
diferentes volumosos e quantidades de ração concentrada.

Alimentação N P K Ca Mg S
% de MS no Relação
Ração Concentrada -1
Volumoso dejeto .-------- g kg de matéria seca de dejetos --------. K/N
(kg/vaca/dia)
Pastagem 9 14,1 19,4 14,4 12,0 13,9 7,1 3,5 0,62
Silagem de milho 8 13,9 23,6 10,0 10,4 10,5 5,1 3,1 0,44
Silagem de milho 10 11,7 21,1 10,9 11,2 11,6 4,5 3,4 0,53
Silagem de milho 12 12,9 24,1 11,2 11,7 12,3 4,6 3,6 0,48
Média 13,1 22,0 11,6 11,3 12,0 5,3 13,6 0,52

Em um estudo conduzido por Oliveira (OLIVEIRA, M.W., dados não publicados) em


pequena propriedade rural, no município de Mercês, Estado de Minas Gerais, avaliou-se o
uso de dejetos de vacas leiteiras na adubação da cana-de-açúcar, comparativamente à adu-
bação química. O solo, de textura média, recebeu aplicação de 6,0 t de calcário dolomítico
e 3,0 t de gesso, baseando-se na análise de solo e seguindo-se recomendação de Oliveira
et al. (2007) e Raij (2011a). Por ocasião do plantio da cana-de-açúcar, todas as parcelas
receberam aplicação de 100 kg de P e 250 kg de K por hectare, devido aos baixos teores
de fósforo e de potássio desse solo. O estudo iniciou-se após a colheita da cana-planta,
sendo constituído de duas fontes de nutrientes: 1) Dejetos de vacas leiteiras e, 2) Adubação
química com ureia e cloreto de potássio. O delineamento experimental utilizado foi o de
blocos ao acaso, com sete repetições. Foram avaliados nos ciclos de primeira e segunda
rebrotas, o estado nutricional, a produção e a qualidade da forragem e a produção de colmos
industrializáveis da variedade de cana-de-açúcar RB867515.
Tanto na adubação da cana de primeira rebrota quanto na de segunda rebrota foram
aplicadas as mesmas quantidades de nutrientes: 220 kg de nitrogênio e 250 kg de potássio
ha–1, independentemente de a adubação ser química ou orgânica. Na adubação química
foram utilizados ureia e cloreto de potássio, enquanto na adubação orgânica houve neces-
sidade de complementação com cloreto de potássio devido a relação N: K no dejeto ser
de 1,78: 1,0, quando a desejada é de 1,0:1,0 a 1,0:1,2 (OLIVEIRA et al., 2007). Em média,
cerca de 50% do potássio usada na adubação orgânica foi proveniente do fertilizante quími-
co. A quantidade de dejetos de vacas leiteiras aplicada oscilou em torno de 12 t de matéria
seca por hectare por ano.
Em relação ao estado nutricional das plantas, constatou-se que não houve efeito de
ciclo ou do tipo de adubação sobre os teores de macro e micronutrientes no terço do limbo
da folha +3. Por esse motivo, na Figura 7, estão apresentados os valores médios, dos dois
ciclos e dos dois tipos de adubação. Verificou-se que as plantas estavam bem nutridas, com
base nas faixas de concentração de nutrientes citadas Oliveira et al. (2007) e Raij (2011).

112
Alimentos e Alimentação Animal
Figura 7. Valores médios dos teores de macro e micronutrientes na folha +3 da cana-de-açúcar variedade RB867515,
comparativamente aos valores mínimos e máximos citados por autores brasileiros.
25 250
Teor Mínimo
Teor de nutrientes na folha +3 (g kg-1)

Teor de nutrientes na folha +3 (mg kg-1)


Teor Mínimo Adubação química

20 Adubação química 200 Dejeto de vacas leiteiras


Dejeto de vacas leiteiras Teor Máximo
Teor Máximo
15 150

10 100

5 50

0 0
P Mg S Ca K N B Cu Fe Mn Zn

O acúmulo médio de matéria natural na biomassa aérea da cana-de-açúcar foi de 134 t


por hectare no ciclo de primeira rebrota e de 126 t no ciclo de segunda rebrota, não havendo
efeito significativo de ciclo. O percentual de colmos na matéria natural da biomassa aérea
foi cerca de 85% e o percentual de matéria seca na biomassa aérea oscilou em torno de
30%, porém, estes percentuais não foram influenciados por tipo de adubação e, ou ciclo da
cana-de-açúcar. Os ciclos e os tipos de adubação também não tiveram efeito na qualidade
bromatológica da forragem. Na biomassa seca da parte aérea, o teor médio de proteína foi
de 29,4 g por kg de matéria seca, enquanto que para a fibra insolúvel em detergente neutro
(FDN), fibra insolúvel em detergente ácido (FDA) e lignina obtiveram-se médias de 466,
246 e 41 g por kg de matéria seca. Embora tenha sido avaliado apenas dois ciclos, pelos
resultados obtidos nesse estudo, pode-se concluir que a adubação com dejetos de vacas
leiteiras teve o mesmo efeito da adubação química no estado nutricional das plantas, na
produção e na qualidade da forragem da cana-de-açúcar.
A cama de aviário é mais uma alternativa de adubação orgânica para a cana-de-açúcar.
Nos últimos anos, esse resíduo teve demanda e preço diminuídos pela proibição do seu uso
na alimentação de bovinos. A concentração de nutrientes na cama de aviário é influenciada
pelo material usado para cobrir o piso do aviário de frangos de corte e, a grande maioria
dos avicultores da região da zona da Mata Mineira opta pelo uso de casca de arroz, casca
de café, capim napier, maravalha e sabugo de milho. Na Tabela 16, são apresentados os
teores de nutrientes de cinco camas de aviário, coletadas na região, depois de utilizadas
em um lote de frango de corte (48 dias em média), na densidade de 15 aves/m2. Assim, a
cama de aviário pode ser um adubo orgânico alternativo à fertilização química, devendo-se,
à semelhança dos dejetos bovinos, complementar a adubação com potássio, visto que na
cama de aviário a relação média do K/N é de 0,80.

113
Alimentos e Alimentação Animal
Tabela 16. Nutrientes na matéria seca (g kg–1 de MS) de cinco camas de aviário, nas quais foram utilizados diferentes
materiais para cobrir o piso do aviário de frangos de corte.

Cama de aviário N P K Ca Mg S
-1
.-------------------- g kg de MS -----------------------.
Casca de arroz 34,7 a 15,9 b 26,8 b 25,7 a 6,2 a 16 ab
Casca de café 32,8 a 14,4 b 28,9 ab 25,0 a 5,5 b 15 b
Capim napier 34,8 a 15,1 b 23,3 c 25,5 a 6,0 a 15 b
Maravalha 30,9 a 13,7 b 24,4 c 25,8 a 5,7 b 14 b
Sabugo 34,2 a 18,6 a 29,7 a 28,3 a 6,7 a 18 a
Média 33,5 15,5 26,6 26,1 6,0 15,0
CV (%) 10,60 12,20 10,00 6,60 8,20 10,10
Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si pelo teste de
Tukey a 5%.
Fonte: SOUZA et al. (2012).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cana-de-açúcar é uma cultura de alto potencial produtivo que responde muito bem
à melhoria das propriedades físico-químicas e biológicas do solo. Devido a esse alto po-
tencial produtivo, há grande remoção de nutrientes por ocasião da colheita e, devem ser
implementadas ações para assegurar a restituição deste elemento ao solo, com o objetivo
de manter ou elevar a fertilidade do terreno. As tecnologias recomendadas pelos autores
aos pequenos produtores rurais para a implantação e condução de canaviais têm resultado
em alta produtividade no ciclo de cana-planta e pequenos decréscimos nos cortes subse-
quentes. Além disso, as técnicas propostas maximizaram o uso dos insumos, da terra e de
recursos humanos, com consequentes reduções de custos operacionais.

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117
Alimentos e Alimentação Animal
07
Qualidade das farinhas de origem
animal utilizadas em rações avícolas:
um referencial teórico

Cleriston Andrade Machado

Felipe Dilelis
UFRRJ

Cristina Amorim Ribeiro de Lima


UFRRJ

10.37885/210504811
RESUMO

A avicultura no Brasil é uma atividade de grande importância econômica na agropecuária


devido ao seu rápido desenvolvimento tecnológico e às diversas pesquisas e investimen-
tos que tem envolvido a produção animal ao longo dos anos. Os principais ingredientes
utilizados em dietas avícolas são de fonte vegetal, entretanto, não seria viável aumentar
o volume de produção agrícola em função da criação das aves, principalmente pelo
crescimento acelerado da avicultura. Desta forma, outras fontes alimentícias, como as
de origem animal, passaram a ser pesquisadas e exploradas com o intuito de fornecer
para as aves, uma alimentação de menor custo e com a mesma qualidade. Os resíduos
gerados por abatedouros, de aves, suínos, ou bovinos, por exemplo, originam uma grande
quantidade de coprodutos e estes podem ser transformados em farinhas e incorporados
nas dietas, para melhor aproveitamento. Assim, torna-se possível reduzir os custos das
rações e, simultaneamente minimizar o impacto ambiental causado pela atividade pecuá-
ria, uma vez que tais resíduos deixam de ser descartados. Por fim, como no Brasil esses
coprodutos são produzidos em grande escala e por diferentes indústrias, são necessários
estudos sobre a qualidade microbiológica e a composição bromatológica dessas maté-
rias-primas, garantindo que estes produtos estarão adequados para utilização nas dietas
dos animais. Frente ao exposto, o presente trabalho tem por objetivo reunir informações
científicas para uma abordagem mais detalhada sobre a qualidade dos ingredientes de
origem animal que são utilizados nas formulações de rações avícolas.

Palavras-chave: Avicultura, Ingredientes, Qualidade, Rações, Subprodutos.

119
Alimentos e Alimentação Animal
INTRODUÇÃO

A proteína é o nutriente mais caro na formulação de rações para aves, assim como o
fósforo é o terceiro nutriente mais caro para ser suprido. A busca por alimentos alternativos
ao milho e farelo de soja para reduzir os custos produtivos, especialmente devido à alta e
escassez das fontes de fósforo não-fítico como também a flutuação de preços do farelo
de soja, viabilizaram o uso de subprodutos de origem animal na dieta de aves. Soma-se a
esse fator a alta da produção de produtos cárneos no Brasil, e consequentemente grande
disponibilidade de subprodutos de origem animal para utilização na formulação de rações.
Para cada tonelada de carne preparada para consumo humano, cerca de 300 kg são
descartados como não comestíveis, e deste total, 200 kg são destinados como farinhas de
origem animal (LESSON & SUMMERS, 1997).
As farinhas de subprodutos animais podem ser definidas como produtos não comes-
tíveis, resultantes do processamento de resíduos de animais, que atendam ao padrão de
qualidade em relação a aspectos higiênico-sanitários e nutricionais.
Devido as características do material, bem como sua forma de obtenção, existe grande
variabilidade na composição destes ingredientes, sejam elas físicas, químicas ou microbio-
lógicas. A variabilidade dificulta a utilização na formulação de rações, levando a utilização
de alta margem de segurança pelos nutricionistas. Ademais, contaminação microbiológica
pode causar sérios danos à cadeia produtiva devido à inserção de patógenos na criação.
O objetivo com este referencial teórico é reunir informações publicadas previamente
sobre a caracterização dos produtos de origem animal, bem como dados sobre a compo-
sição química, qualidade nutricional e microbiológica destas matérias-primas usados em
dietas avícolas.

DESENVOLVIMENTO

Ingredientes de origem animal utilizados na alimentação de aves

A principal fonte de nutrientes para alimentação avícola são os ingredientes de origem


vegetal, entretanto, com a rapidez com que a avicultura se desenvolve, compete com o vo-
lume de produção agrícola no mundo para a alimentação humana. Logo, faz-se necessário
explorar e utilizar outros recursos alimentícios que sejam fonte nutricional de qualidade e
que não sejam utilizados pelo homem em sua alimentação (AHMAD et al., 2017).
Nas dietas de frangos de corte, cerca de 25% dos custos de produção correspondem
as fontes proteicas. Sendo assim, fontes alternativas, como as farinhas de origem animal,

120
Alimentos e Alimentação Animal
têm sido utilizadas com objetivo de reduzir os custos de produção, porém sem interferir no
desempenho produtivo dos animais (OLIVEIRA, 2018).
Entende-se por farinha de origem animal os resíduos de abatedouros não destinados ao
consumo humano, resultantes de um processamento que atenda a um padrão de identidade
e qualidade preestabelecido, nos aspectos higiênico sanitários, tecnológicos e nutricionais,
podendo ser utilizadas na alimentação de animais não ruminantes (BRASIL, 2008).
Uma alternativa para reduzir os custos de produção é o uso dos subprodutos oriundos
dos abatedouros, tais como a farinha de carne e ossos e a farinha de víscera de aves, tendo
em vista que esses produtos são fonte de proteína e de fósforo e desta forma, podem subs-
tituir parcialmente ou totalmente alguns dos ingredientes de alto custo, como por exemplo, o
farelo de soja e o fosfato bicálcico (SCHEUERMANN et al., 2007). Além de que, a utilização
desses resíduos contribui para redução do impacto que seria causado no meio ambiente,
já que este tipo de matéria, quando descartado na natureza, atrai insetos e pode ser fonte
de nutriente para microrganismos, que consequentemente contaminam fontes de água por
lixiviação e polui o ar, devido a emissão de gases nocivos (FAO, 2011).
Para caracterizar os alimentos de origem animal, primeiramente deve ser realizada a
obtenção e padronização dos mesmos. De acordo com Compêndio Brasileiro de Nutrição
Animal (2013), as farinhas de origem animal, que por sua vez podem ser utilizadas na ali-
mentação de aves, são definidas da seguinte forma:
Farinha de penas hidrolisadas (FPH): é o produto resultante da cocção, sob pressão, de
penas limpas e não decompostas, obtidas no abate de aves, sendo permitida a participação
de sangue desde que a sua inclusão não altere significativamente a composição da FPH.
Farinha de vísceras (FV): é o produto resultante da cocção, prensagem e moagem de
vísceras de aves, sendo permitida a inclusão de cabeças e pés. Não deve conter penas,
exceto aquelas que podem ocorrer não intencionalmente, e nem resíduos de incubatórios
e de outras matérias estranhas à sua composição. Não deve apresentar contaminação
com casca de ovo.
Farinha de penas e vísceras (FPV): é o produto resultante das penas limpas e não de-
compostas, hidrolisadas sob pressão e misturadas com resíduos do abate (vísceras, pescoço
e pés de aves abatidas) cozidos, prensados para extração do óleo e moído. É permitida a
participação de carcaças e sangue desde que a sua inclusão não altere significativamente
a composição estipulada.
Farinha de resíduo de incubatório (FRI): é o produto resultante da cocção, secagem
e moagem da mistura de cascas de ovos, ovos inférteis e não eclodidos, pintos não viáveis
e os descartados, removida ou não a gordura por prensagem.

121
Alimentos e Alimentação Animal
Farinha de carne e ossos bovina (FCOB): é produzida em graxarias por coleta de resí-
duos ou em frigoríficos a partir de ossos e tecidos, após a desossa completa da carcaça de
bovinos, moídos, cozidos, prensados para extração de gordura e novamente moídos. Não
deve conter sangue, cascos, chifres, pêlos, conteúdo estomacal a não ser os obtidos invo-
luntariamente dentro dos princípios de boas práticas de fabricação (BPF). Não deve conter
matérias estranhas. Deve ter no mínimo 4 % de fósforo (P) e o cálcio não deve exceder a
2,2 vezes o nível de P e a proteína deve ter solubilidade em pepsina superior a 86%.
Farinha de carne e ossos suína (FCOS): é produzida em graxarias por coleta de resí-
duos ou em frigoríficos a partir de ossos e tecidos, após a desossa completa da carcaça de
suínos, moídos, cozidos, prensados para extração de gordura e novamente moídos. Não deve
conter sangue, unhas, pêlos, conteúdo estomacal a não ser os obtidos involuntariamente
dentro dos princípios de BPF. Não deve conter matérias estranhas. Deve ter no mínimo 4
% de fósforo (P) e o cálcio não deve exceder a 2,2 vezes o nível de P.
Farinha de carne bovina, suína ou mista (FC): é o produto oriundo do processamento
industrial de tecidos de bovinos e/ou suínos, sem ossos. A farinha de carne é obtida se-
melhantemente a FCOB, FCOS e FCOM, mas o nível de fósforo será não superior a 4% e
terá 55 % de PB.
Farinha de ossos calcinada (FOC): é o produto obtido após coleta de ossos e proces-
sados em graxarias ou em frigoríficos a partir de ossos oriundos da desossa da carcaça de
qualquer espécie animal, moídos, queimados com ar abundante e novamente moídos. Deve
conter no mínimo 15% de fósforo.
Farinha de sangue (FS): é o produto resultante do processo de cozimento e secagem
do sangue fresco. A farinha de sangue convencional é produzida de sangue fresco, sem
cerdas, urina e conteúdo digestivo, exceto em quantidades que podem ser admitidas nas
boas práticas de processamento.
Farinha integral de peixe (FIP): é o produto obtido de peixes inteiros e/ou cortes de
peixes de várias espécies, não decomposto, com ou sem extração de óleo, tendo sido seco
e moído. Não deve conter mais do que 10% de umidade e o teor de Cloreto de Sódio (NaCl)
deve ser indicado.
Farinha residual de peixe (FP): é o produto obtido de cortes e/ou partes de peixes de
várias espécies (cabeças, rabo, pele, escamas, vísceras e barbatanas) não decomposto,
com ou sem extração de óleo, tendo sido seco e moído. Não deve conter mais do que 10%
de umidade e o teor de NaCl deve ser indicado.

122
Alimentos e Alimentação Animal
Dados de produção de farinhas de origem animal e seu uso em dietas avícolas

De acordo com o boletim SINDIRAÇÕES (2020), em 2019 a produção de rações aví-


colas foi destaque no país com um aumento expressivo de sua produção, sendo a avicultura
responsável por produzir 51,22% do total de todos os segmentos do setor agropecuário.
Atualmente, o Brasil é um dos principais países produtores de proteína animal do mun-
do, destacando as produções de carnes bovina, suína e de aves. Além disto, vale destacar
que o processo de produção é feito de forma a contribuir para o desenvolvimento sustentá-
vel das cadeia produtivas, visto que o aproveitamento dos resíduos de abate dos animais,
tais como, ossos, vísceras, sangue, penas, escamas, aparas de carne e gordura e outras
partes do animal não utilizadas para o consumo humano que causariam impacto ambiental,
sanitário e econômico, são processadas e transformadas, podendo ser aproveitadas como
coprodutos por outras indústrias, principalmente a de produção animal, que é responsável
pelo consumo de aproximadamente 56% do produto deste mercado (Figura 1) (ABRA, 2019).

Figura 1. Mercado consumidor de coprodutos de origem animal.

Fonte: ABRA (2019).

Dentre os coprodutos gerados pela indústria, tem-se as farinhas, que são utiliza-
das em sua maior parte na formulação de rações como matérias-primas de grande qua-
lidade (Figura 2).

123
Alimentos e Alimentação Animal
Figura 2. Mercado consumidor de farinhas de origem animal.

Fonte: ABRA (2019).

Processo produtivo das farinhas de origem animal

O processamento das farinhas de origem animal pode ser por dois sistemas básicos,
pelos de frigoríficos com produção própria ou por um sistema de coleta de resíduos por pro-
cessadores independentes. O processo básico de produção, descrito por Bellaver (2005),
consiste em retirar os excessos de água dos resíduos não comestíveis do abate, picar e/
ou triturar, levá-los aos digestores para cocção com ou sem pressão, retirar a gordura do
produto por prensagem ou drenagem e moer o resíduo sólido na forma de farinha com es-
pecificações de granulometria variáveis.
A partir de 2008, a cocção com pressão tornou-se obrigatória para todos os tipos de
farinhas, pois foi proibido o uso de resíduos destinados à alimentação animal sem passarem
pelo tratamento térmico, com a função principal de eliminar microrganismos patogênicos
ou não. O aquecimento para farinhas segue o estabelecido pela Instrução Normativa (IN)
34, na qual a temperatura não pode ser inferior a 133ºC, durante pelo menos 20 minutos,
sem interrupção, a uma pressão absoluta não inferior a 3 bar, produzida por vapor saturado
(BRASIL, 2008). Além disso, a norma oficial estabelece que as matérias primas devam ser
processadas dentro de 24 horas após o abate dos animais, seja nos frigoríficos com fabri-
cação própria ou nos processadores independentes.
O processo geral de produção de farinhas animais pode ser visualizado conforme o
esquema mostrado nas Figuras 3, 4 e 5.
124
Alimentos e Alimentação Animal
Figura 3. Fluxograma geral do processamento de resíduos de abatedouros ou de resíduos coletados para a fabricação
de farinhas de carne e ossos e sebo.

Fonte: BELLAVER (2002)

Figura 4. Fluxograma geral do processamento de resíduos de abatedouros avícolas para fabricação de farinhas de vísceras,
de penas ou de sangue.

Fonte: BELLAVER, 2001

125
Alimentos e Alimentação Animal
Figura 5. Fluxograma geral do processamento de resíduos de abatedouros piscícola para fabricação de farinha de peixe
e óleo de peixe.

Fonte: HIGUCHI (2015)

Ao observar os fluxogramas e entender como funciona o processo de fabricação das


farinhas de origem animal pode-se perceber como a heterogeneidade dos resíduos, bem
como as variáveis intrínsecas aos processos aos quais os materiais são submetidos são
capazes de influenciar o coproduto final.

Controle de qualidade de farinhas de origem animal

O controle da qualidade das matérias primas e subprodutos é um dos pontos principais


para obtenção de farinhas de boa qualidade, já que ingredientes de baixa qualidade conse-
quentemente irão gerar uma ração de má qualidade (BELLAVER, 2001). Segundo Albino
e Silva (1996), a variação dos valores de energia das farinhas de origem animal pode ser
em função das diferentes qualidades da matéria prima, bem como dos métodos utilizado no
processamento. Para melhorar a qualidade desses ingredientes, faz-se o uso de ferramentas
de controle e padronização, com destaque para o Programa de Análise de Perigos e Pontos
Críticos de Controle (APPCC), muito utilizado na indústria de alimentos. Com a utilização do
APPCC, a empresa elabora relatórios periódicos e permite a constante supervisão de agentes
fiscalizadores. Além de assegurar ao consumidor a qualidade prometida (BELLAVER, 2001).
As variações na composição das farinhas de origem animal são muito frequentes
e podem afetar a qualidade do produto final, seja a ração animal, ou o coproduto em si
(SCHEUERMANN e ROSA, 2007). Dentre os fatores que influenciam a qualidade das farinhas
126
Alimentos e Alimentação Animal
de origem animal, os de maior importância são a umidade, alta temperatura e tempo no
digestor, moagem, excesso de gordura, contaminações, tempo entre o sacrifício e o proces-
samento da farinha, proteína bruta, acidez, índice de peróxidos e contaminação microbiana
(BELLAVER, 2009).
Para a determinação dos indicativos de qualidade das farinhas de origem animal várias
análises podem ser realizadas, que podem ser divididas em análises físico-químicas e aná-
lises microbiológicas. Parâmetros para avaliação da qualidade de alguns desses produtos
estão descritos na Tabela 1.

Tabela 1. Parâmetros de avaliação de qualidade de farinhas de origem animal

Parâmetro Unidade FCO1 FPH² FV² FS²


Umidade (máx) (%) 8 10 8 10
Proteína bruta (min) (%) 36-55 80 56 80
Extrato etéreo (min) (%) 8 2 10 2
Matéria mineral (max) (%) 28-45 4 13 4,5
Cálcio (max) (%) 9,5-16 - 5 0,3
Fósforo (min) (%) 4,5-7,5 - 1,5 0,25
Dig. em pepsina (min) (%) 70 40 60 70
Acidez (máx) mgNaOH/g 3 2 6 -
Índice de peróxido (máx) meq/1000g 5 10 10 -
Salmonella Ausente em 25g Ausente Ausente Ausente Ausente
FCO = farinha de carne e ossos; FPH = farinha de penas hidrolisada; FV = farinha de vísceras; FS = farinha de sangue.
¹Souza (2005); ²Butolo (2002)

Análises de qualidade físico-químicas

A grande variabilidade da composição das farinhas de origem vegetal pode gerar di-
ficuldades para nutricionistas ao formularem dietas avícolas. Conhecer o valor nutricional
do ingrediente a ser utilizado é de extrema importância para nutrir adequadamente os ani-
mais. Os indicativos de qualidade físico-químicos auxiliam na decisão dos valores nutricionais
a serem utilizados na matriz nutricional destes ingredientes.
Dentre as análises básicas a serem realizadas podem-se citar a determinação do
conteúdo em matéria seca, proteína bruta, extrato etéreo, matéria mineral, cálcio, fósforo,
digestibilidade em pepsina, acidez e índice de peróxido. Essas análises dependem de rotinas
laboratoriais complexas, onerosas e demoradas. Fábricas de ração têm apostado no uso da
tecnologia Nirs (Near-Infrared Spectroscopy) para facilitar a caracterização da amostra. Esta
tecnologia permite estimar alguns destes parâmetros com rapidez e segurança em alguns
poucos segundos (LIMA, 2016).
Algumas considerações podem ser feitas em relação às análises físico-químicas e a
qualidade das farinhas de origem animal (FOA):
Umidade: FOA que possuam umidade acima de 8% tem grande facilidade em se de-
compor, em permitir aumento na população microbiana e acidificar. No entanto, umidade 127
Alimentos e Alimentação Animal
muito baixa está, em geral, associada à queima do produto. A queima poderia estar asso-
ciada ao desgaste do equipamento, excessivo tempo de retenção e/ou mau funcionamento
de manômetros e termômetros (BUTOLO, 2002). Assim, uma FOA de boa qualidade deve
conter de X a Y% de umidade.
Extrato etéreo: a diversidade de tipos de equipamentos para extração de gordura faz
com que haja variação acentuada no nível de gordura residual na farinha e não é raro o
uso de produto em discordância com os valores considerados nas formulações o que causa
desbalanceamento do cálcio e fósforo (BUTOLO, 2002).
Proteína bruta: o teor de proteína bruta das farinhas que levam ossos é inversamente
proporcional ao nível de mineral contido no processo. Da mesma forma, a umidade e a gor-
dura aumentadas, causam redução na proteína (BUTOLO, 2002).
Matéria mineral, cálcio e fósforo: são indicativos da quantidade proporção carne: os-
sos presentes na farinha. Impactam no nível de proteína das farinhas, sendo inversamente
proporcionais. Quando farinhas de carne apresentam relações de Cálcio/Fósforo superior
a 2,25, normalmente são encontradas por análise de microscopia e spot test, fontes de
cálcio não pertencentes ao produto (ex.: Calcário), o que traz então preocupações quanto a
qualidade do produto. Podem estar presentes como simples contaminantes ou como adul-
terantes (SOUZA, 2005).
Digestibilidade in vitro da proteína em pepsina: Por meio desta análise procura-se
estimar a digestibilidade da proteína in vivo. Para a farinha de carne e ossos, apesar de
muitas recomendações afirmarem ser desejável que a digestibilidade da proteína em pepsina
a 0,002% seja acima de 30%, 90% das amostras têm apresentado valores acima de 60%,
e 75% das amostras valores acima de 70%. A presença em excesso de fâneros (cascos e
chifres) e outros contaminantes ocasionam redução da digestibilidade da proteína em pep-
sina, reduzindo consequentemente o seu valor nutricional (SOUZA, 2005).
Acidez: a enzima lipase é produzida por bactérias, assim acidez elevada quase sempre
está associada à população bacteriana também elevada (BELLAVER, 2001). Pode indicar
também a ocorrência de hidrólise das gorduras, normalmente por meio de rancidez hidrolíti-
ca, que gera a presença de ácidos graxos livres. Como esta análise é realizada na amostra
integral, outros fatores que ocasionem a presença de ácidos podem ser os responsáveis
pela acidez elevada, como o tratamento do lote com soluções ácidas (SOUZA, 2005).
Índice de peróxidos: a formação de peróxidos em farinhas de origem animal ocorre
devido à oxidação das ligações duplas dos ácidos graxos insaturados presentes na gordura
das farinhas. Este processo tem como resultado a formação de radicais livres, aldeídos e
cetonas. Valores elevados de índice de peróxido refletem na rancificação e na palatabili-
dade do produto, que quando incorporados na ração podem ocasionar a destruição das
128
Alimentos e Alimentação Animal
vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) (SOUZA, 2005). Fatores como temperatura, presença
de enzimas, incidência de luz, e íons metálicos podem influenciar na formação de radicais
livres. Portanto, é importante impedir o início da formação de radicais livres, que poderá
ser feito pelo manejo adequado de produção e armazenamento das farinhas. Substâncias
antioxidantes naturais e sintéticas podem ser incorporadas para diminuir a oxidação dos
ácidos graxos das farinhas (BELLAVER, 2001).

Análises de qualidade microbiológica

O controle microbiológico de ingredientes de origem animal destinado à alimentação


animal é de grande importância, pois a ingestão de matéria-prima contaminada por micror-
ganismos pode causar sérios danos aos animais que os ingerem (MURRY et al., 2004),
ou mesmo se tornar um problema de saúde pública humana. A qualidade microbiológica
destes ingredientes depende basicamente da contaminação da matéria-prima, da conta-
minação final do produto e das condições de armazenamento. As farinhas de subprodutos
constituem um ambiente favorável à proliferação de microrganismos, tanto durante a etapa
de processamento quanto na etapa de armazenamento, portanto, todas as operações de
processamento, incluindo o acondicionamento, devem ser realizadas sem demoras inúteis
e em condições que excluam contaminação, deterioração e proliferação de microrganismos
(CORADI et al., 2013).
A prática empregada para produtos alimentares na determinação da qualidade higiênica
dos alimentos é a determinação de organismos indicativos. Em relação aos microrganis-
mos representativos da qualidade sanitária, o Ministério da Agricultura através da Instrução
Normativa nº34, de 28 de maio de 2008 (BRASIL, 2008), que regulamenta a Inspeção
Higiênico Sanitária e Tecnológica do Processamento de Resíduos de Origem Animal, esta-
belece que devem estar previstas análises periódicas para garantir a ausência de Salmonella
sp. em 25g do produto acabado. As análises devem ser realizadas em laboratório do próprio
estabelecimento ou em laboratório terceirizado, desde que tenham um sistema de garantia
da qualidade e metodologias reconhecidas internacionalmente.
A salmonela tem seletividade para diferentes espécies animais e apresenta resistência
à variabilidade das condições ambientais (RAMIREZ et al., 2005). Oliveira e colaboradores
(2003), ao avaliarem pontos críticos de contaminação por Salmonella sp., no processo de
produção de farelo de vísceras, observaram que o tratamento térmico utilizado no processa-
mento industrial é capaz de eliminar as bactérias em farinha de vísceras, mas a contaminação
pode ocorrer novamente durante as fases de resfriamento e armazenamento.
Entre as principais doenças causadas pelas salmonelas, pode-se destacar a salmone-
lose aviária (DAVIES et al., 2004). Elas podem causar pulorose em aves jovens, tifo aviário
129
Alimentos e Alimentação Animal
em aves adultas e paratifo aviário em aves adultas e jovens. O processo de contaminação
por esta espécie bacteriana na cadeia de produção avícola envolve a transmissão vertical
(via ovo, que desencadeia no nascimento de pintos infectados), e por transmissão horizon-
tal, transmitida pelo ambiente ou rações, além da transmissão via animais que possam ser
reservatórios da bactéria, como os roedores e insetos.
Análise de Salmonella sp.: Deve ser realizada em 25 g de amostra, na técnica padrão.
Primeiro a amostra deve ser homogeneizada em 225 mL de solução peptonada pré-enri-
quecida e incubada por 24 horas a 37 °C. Após a incubação, 1 mL da solução deve ser
transferido para tubos contendo 9 mL de meio enriquecido seletivo (caldo selenito cistina e
caldo tetrationato) e incubado por 24 horas a 37 °C. Após esse período, o material deve ser
transferido para placas contendo meio Ramback, sendo novamente incubada a 37 °C por 24
horas. A confirmação de Salmonella sp. é realizada pela presença de colônias vermelhas na
placa. Há também no mercado ampla variedade de kits de teste rápidos para salmonelose.
Killner (2008) avaliou o emprego de diferentes kits para determinação de salmonelose, que
quando comparados à metodologia padrão variaram de 42,3 a 100% de detecção, sendo
que todos apresentaram resultados falso-positivos e falso-negativos. Os métodos rápidos
(kits) foram indicados pelo autor para uso apenas como triagem.
Ademais, as salmonelas não são os únicos patógenos que podem estar presente em
farinhas de origem animal. A legislação Brasileira do Ministério da Agricultura (BRASIL,
2003) que aprovava o Regulamento Técnico sobre as Condições Higiênico Sanitárias e de
Boas Práticas de Fabricação para estabelecimentos que processam resíduos de animais
destinados à alimentação animal, estabelecia que o produto colhido após o tratamento tér-
mico não deveria conter bactérias patogênicas e esporos termorresistentes, especificando
“ausência de Clostridium perfringens”, além da ausência de salmonela, porém foi atualizada
pela IN 34 de 2008.
Dentre as afecções causadas pelos diferentes tipos de toxinas do Clostridium per-
fringens pode-se citar, colite pseudomembranosa (ROOD, 1998), carbúnculo sintomático
(GOMES et al., 2008), gangrena gasosa (AWAD, 2001) e enterite necrótica (ESTEVES,
2005). A enterite necrótica aviária é uma enterotoxemia aguda, que se apresenta em forma clí-
nica ou subclínica (VAN IMMERSEEL et al., 2004), causada por C. perfringens. Em infecções
subclínicas, nota-se redução na absorção dos nutrientes, consequentemente, menor ganho
de peso, diminuição da taxa de crescimento e piora na conversão alimentar (SCHOCKEN-
ITURRINO e ISHI, 2000), afetando o desempenho produtivo e a economicidade da atividade.
As bactérias do gênero Staphylococcus também se incluem na lista de potenciais
contaminantes de ingredientes de origem animal, tendo como origem a matéria prima ou
o manipulador dos alimentos (FRAZIER e WESTHOFF, 2000). Os maiores problemas que
130
Alimentos e Alimentação Animal
causam são devidos à formação de toxinas (BERGDOLL, 1990). Uma vez formadas as to-
xinas, que são enteroxinas termoestáveis, elas não são removíveis. Portanto, por exemplo,
em rações, a peletização não interfere no processo de descontaminação, causando gran-
des possibilidades de intoxicações das aves, quando alimentadas com ração contaminada
(BERGDOLL, 1990).
A avaliação de outros grupos de microrganismos é tida como indicativo da qualidade
microbiológica dos ingredientes. A presença de coliformes nas farinhas de origem animal
fornece informações sobre a ocorrência de contaminação fecal, sobre a provável presença
de patógenos, além de indicar condições sanitárias inadequadas durante o processamento,
produção e armazenamento (CORADI, 2013). A presença de fungos também é um problema,
em função da produção de micotoxinas, que quando presentes nas dietas das aves causam
uma série de problemas clínicos e econômicos para o setor avícola (CARDOSO et al., 2016).
Coradi et al. (2013) propuseram a utilização de alguns parâmetros estabelecidos para
alimentos, de acordo com a ANVISA (ANVISA RDC nº.12, 2001), para a avaliação da qua-
lidade microbiológica das farinhas de origem animal, como descrito na Tabela 2.

Tabela 2. Parâmetros de qualidade microbiológica de ingredientes de origem animal baseados no regulamento técnico
sobre padrões microbiológicos para alimentos.

Tipos de microrganismos Bom Aceitável Inaceitável

Salmonella sp. (CFU.g-1) - Ausente Presente

Staphylococcus sp. (CFU.g-1) <10 3


10 a 10
3 5
>105

Coliformes totais (MPN.g-1) <103 103 a 105 >105

Mesófilos totais (NMP.g-1) <106 106 a 107 >107

Fungos (CFU.g-1) <104 104 a 105 >105


Fonte: Adaptado de Coradi et al. (2013).

Qualidade nutricional das farinhas de origem animal

É imprescindível que as FOA sejam padronizadas na sua qualidade para evitar que
ocorra interferência em seu valor nutricional, bem como na qualidade do produto que será
produzido a partir do coproduto (DOZIER et al., 2003). Devido a prática comum da utilização
dos coprodutos de origem animal, nas formulações de dietas, faz-se necessário a realização
de estudos que analisem o valor nutricional de tais ingredientes, de forma que se conheça
sua composição bromatológica e energética efetiva, reduzindo assim a inclusão limitada des-
ses produtos nas dietas formuladas. Sendo assim, análises rápidas e sensoriais tornam-se
indispensáveis e devem ser realizadas no momento do recebimento dos coprodutos (PENZ
JR. et. al, 2005).
Higuchi (2015) avaliou duas farinhas de peixes, e observou que a farinha patinga (FPA)
o continha maiores teores de matéria seca, matéria mineral, carboidratos, energia, cálcio e
131
Alimentos e Alimentação Animal
fósforo quando comparadas a farinha de pintado real (FPR). O teor de proteína bruta encon-
trado foi de 59,74% para a FPR e de 50,32% para FPA. Quando comparados os aminoácidos
essenciais, a FPR continha maiores teores de isoleucina (4,16 g/100g PB) e treonina (5,61
g/100g PB), enquanto a FPA continha maior teor de cistina (0,45 g/100g PB) e prolina (7,46
g/100g PB), que são aminoácidos não essenciais.
A composição nutricional de 2.090 amostras de farinha de vísceras foi analisada por
Fernandes (2016). Nenhuma das amostras em estudo apresentou resultado positivo para
as análises de Índice de peróxido e Teste de Éber, indicando assim que, não houve dete-
rioração da matéria-prima durante o processo produtivo. Além disto, as variáveis como cor,
odor e textura apresentaram características normais no processo de fabricação de farinha
de vísceras. Os valores encontrados para matéria seca variaram de 3,82 a 8,15%, proteína
bruta de 56,83 a 64,19%, enquanto os teores de extrato etéreo apresentaram variação de
10,10 a 19,58%, estando todas as análises dentro da faixa média encontrados no NRC
(Nutrient Requirements of Pouttry, 1994).
Giongo (2017) avaliou 50 amostras de farinha de carne e ossos de dois fornecedo-
res. Em todas as amostras foram realizadas análises em aparelho NIRS para composição
centesimal, teste de Éber e acidez. Os valores obtidos para umidade variaram de 2,20 a
5,84%, com uma média de 4,14%. Todas as amostras apresentaram umidade abaixo do
limite máximo tolerável (8%). Para matéria mineral ou cinzas foram encontrados valores
em média de 30,45% para o fornecedor A e de 28,12% para o fornecedor B. Todas as
amostras, de ambos os fornecedores, apresentaram teor de gordura dentro dos padrões (8
a 16%). A média percentual de proteína bruta foi de 51,19%, não havendo diferença entre
os fornecedores, sendo o teor mínimo recomendado de 46% de PB. As concentrações de
fósforo ficaram dentro do esperado (mín. 2,5%), para todas as amostras. Já, os resultados
do teste de Éber demonstrou que apenas uma das amostras estudadas estava em processo
de decomposição por ação de enzimas produzidas por microrganismos, ou seja, resultado
positivo. Nenhuma das amostras apresentou índice de acidez acima do permitido, o que
indicou que são farinhas que não sofreram deterioração de suas gorduras.
Por último, é importante caracterizar os coprodutos a fim de reduzir a diversidade de
informações que podem ser encontradas em diversas tabelas nutricionais (ANFAR, 1998;
BELLAVER, 2002; BUTOLO, 2002; ROSTAGNO et al., 2005). Entretanto, se cada indústria
mantivesse seus próprios dados de análises para padronizar seus produtos, dados próprios
de composição nutricional seriam gerados. Logo, seria necessário realizar apenas ajustes nas
formulações, conforme diferentes lotes de coprodutos fossem incluídos (MURAKAMI, 2018).

132
Alimentos e Alimentação Animal
Qualidade microbiológica de farinhas de origem animal produzidas no Brasil

A presença de microrganismos patogênicos em ingredientes utilizados nas dietas


avícolas pode ser um risco e causar prejuízo à atividade econômica, bem como podem
acarretar problemas de saúde humana, sendo a salmonelose uma das principais zoonoses
para a saúde pública em todo o mundo (LOURENÇO et al. 2004). Consumo de produtos
avícolas contaminados tem sido descrito como uma das fontes de contaminação humana
(SHINOHARA et al., 2008).
Os alimentos para as aves podem ser uma fonte de contaminação direta ou indire-
ta. É uma fonte direta quando o ingrediente está contaminado com microrganismos, ou
indireta quando a contaminação da ração acontece no misturador ou durante o processo
de alimentação (MACIOROWSKI et al., 2004).
A ubiquidade dos microrganismos é facilitada por algumas práticas em plantas comer-
ciais, como presença de insetos e roedores, padrão de higiene dos funcionários e da indústria,
forma de armazenamento, entre outros. A presença de Salmonela sp. tem sido relatada em
camundongos (HENZLER & OPTIZ, 1992), ratos (SCHURENBERGER et al. 1968), insetos
(LETELLIER, 1999) e no solo (FOSTER,1995). Além disso, a bactéria pode ter um alto tempo
de sobrevivência no ambiente, como demonstrado pelo estudo de Kohler (1993), que relatou
presença de Salmonela sp. no ambiente em uma fábrica de farinha de carne e ossos que
havia encerrado as operações há 18 meses. O fato agravante da introdução da salmonela
em silos, equipamentos e nas linhas de processamento de fábricas de ração é a capacidade
dessa bactéria de formar biofilmes, que a protege contra ações de desinfetantes e favorece
seu desenvolvimento e permanência no interior do sistema de produção (VESTBY, 2009).
Portanto, é de fundamental importância a aplicação de metodologias de controle de
boas práticas de fabricação e APPCC (SCAPIN, 2011). Além disto, outras técnicas podem
ser aplicadas para aumentar o controle da contaminação microbiológica das farinhas de
origem animal, como processos físicos (HA et al., 1997; MAZUTTI et al. 2010) e químicos
(HA et al., 2000; CARDOZO, 2012).
Devido aos fatores acima explicitados, o monitoramento da qualidade de farinhas de
origem animal é uma preocupação de diversos pesquisadores e das indústrias, sendo alvo
de trabalhos que investigam a qualidade microbiológica de farinhas de origem animal pro-
duzidas em abatedouros e processadores nacionais.
Oliveira et al. (2009), realizaram um estudo para determinar a composição química,
física e microbiológica de 10 diferentes farinhas de carne e ossos comercializadas no oeste do
Paraná, obtidas nas indústrias de processamento ou em revendedores que atuam na região.
Constataram que 10% das farinhas analisadas foram positivas para o índice de peróxido, e
que 20% apresentavam contaminação por salmonela. Por meio da técnica de microscopia
133
Alimentos e Alimentação Animal
observaram a presença, em diferentes graus, de pelos, colágeno, cascos/chifres e conteúdo
ruminal nas 10 farinhas avaliadas.
A presença de Salmonella sp. foi constatada em farinhas de carne e ossos (47% das
60 amostras avaliadas), farinhas de pena e sangue (8% das 60 amostras avaliadas) e farinha
de vísceras (13,3% das amostras avaliadas) por Cardozo (2011). Foram detectados também
contaminações por C. perfringens, 36, 55 e 26% para as mesmas farinhas, respectivamente.
Das 180 amostras avaliadas, oriundas do estado de São Paulo, 39% estavam contaminadas
por C. perfringens e 22% por Salmonella sp.
Coradi et al. (2013) avaliaram a qualidade microbiológica de amostras de farinha de
vísceras (248), farinhas de carne e ossos (224) e farinha de penas (216), de uma fábrica
de rações localizada no estado de Minas Gerais que recebia suprimentos de 8 unidades
processadoras das farinhas. Detectaram salmonela em 72% das farinhas de vísceras, 80%
das farinhas de penas e 71% nas farinhas de carne e ossos. Além disso, foram encontrados
Staphylococcus sp., coliformes, bactérias mesófilas e fungos na maior parte das farinhas.
A contaminação por C. perfringens de farinhas de penas e sangue, vísceras e carne
ossos oriundas da região de Campinas e Votuporanga, foram avaliadas por Casagrande e
colaboradores (2013), que relataram a presença deste microrganismo em 17,5% das farinhas
de carne e ossos, 20% nas farinhas de penas e vísceras e 10% nas farinhas de vísceras
avaliadas. No total 60 amostras foram avaliadas, sendo 20 de cada ingrediente. Richardson
(2008) relatou a presença de C. perfringens em 38,5% dos ingredientes de origem animal
e de 31% na farinha de peixes.
Em trabalho recente, 70 amostras de farinhas de origem animal foram avaliadas por
Engel et al. (2017). Os autores encontraram percentuais de contaminação de 10% por
Salmonella sp., 11% por Escherichia coli e 32% por bactérias mesófilas, sendo 47% livre
de contaminação. Das farinhas contaminadas, 76% estavam contaminadas por um único
patógeno, 21% por dois, e apenas 3% pelos três tipos de microrganismos determinados.
Apesar do conhecimento e obrigatoriedade da implementação de BPF e APPCC, além
do possível uso de aditivos químicos ou métodos físicos disponíveis, para diminuir a conta-
minação por patógenos nas farinhas de origem animal, observa-se que ainda há muita con-
taminação, inclusive para Salmonella sp., que de acordo com as normas do MAPA (BRASIL,
2008), deveriam estar ausentes no produto para comercialização.

CONCLUSÃO OU CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização das farinhas de origem animal na nutrição animal pode representar uma
grande economicidade no setor avícola, pois são fontes ricas em fósforo e/ou proteína bruta e
aminoácidos essenciais, além de o processamento dos coprodutos dar destino aos resíduos
134
Alimentos e Alimentação Animal
dos abatedouros, reduzindo o impacto ambiental da atividade. A grande variabilidade da
composição química e da qualidade microbiológica são entraves à sua utilização. O avanço
da tecnologia NIR nas fábricas de rações e o desenvolvimento de kits de análises micro-
biológicas rápidas podem permitir a tomada de decisão pelos nutricionistas de forma mais
acertada. Parte das farinhas produzidas em território nacional carecem de qualidade mi-
crobiológica, sendo as análises de indicativos da qualidade microbiológica de fundamental
importância para detecção de erros nos processos relacionados à produção das farinhas
de origem animal.

REFERÊNCIAS
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139
Alimentos e Alimentação Animal
08
Ração para não ruminantes em uma
fábrica sob serviço de inspeção
federal no estado do Maranhão: uma
abordagem produtiva

Karen Regina Silveiro Mousinho Hamilton Pereira Santos


UEMA UEMA

Pedro Louzeiro Pavão Danilo Cutrim Bezerra


UEMA UEMA

Marcelo de Abreu Falcão Viviane Correa da Silva Coimbra


AGED – MA UEMA

Maria Inez Fernandes Carneiro Nancyleni Pinto Chaves Bezerra


UEMA UEMA

10.37885/211006392
RESUMO

Objetivou-se realizar uma abordagem produtiva sobre as etapas de fabricação de ração


para não ruminantes em uma fábrica sob Serviço de Inspeção Federal localizada no
estado do Maranhão. Para o alcance do objetivo, o estudo foi dividido em duas fases:
(i) pesquisa bibliográfica com a utilização de dados secundários obtidos de referencial
teórico; e, (ii) pesquisa de campo, fundamentada em cinco visitas técnicas à fábrica para
observação e compressão do processo produtivo e registros fotográficos para análise do
processo. A segunda fase do estudo foi realizada para avaliar as condições de produção
do estabelecimento fabricante em consonância com a Instrução Normativa n° 4/2007. Com
os procedimentos adotados foi possível acompanhar a recepção e armazenamento dos
ingredientes e da matéria-prima, funcionamento do moinho, dosagem, misturador, reser-
vatório da mistura, ensaque, armazenamento e expedição. A empresa busca apresentar
o melhor custo benefício com a realização de monitoramento dos processos. Para isso,
implementa controle de qualidade nas operações rotineiras executadas durante o pro-
cesso de elaboração das rações, por meio da aplicação dos procedimentos operacionais
padronizados e das boas práticas de fabricação que somados garantem processamento
correto e qualidade final do produto. Pontua-se para a necessidade de realização de
análises microbiológicas e bromatológicas da matéria-prima e ingredientes, treinamentos
e capacitações periódicas dos colaboradores e implementação de rastreabilidade do
produto acabado por meio do estoque de cada lote ou partida produzida. Conclui-se que
a empresa utiliza técnicas de controle de qualidade na produção com baixo custo, boa
qualidade e aceitação no mercado em consonância com a legislação brasileira.

Palavras-chave: Alimentação Animal, Gestão da Qualidade, Procedimento Operacional


Padrão, Segurança de Alimentos.

141
Alimentos e Alimentação Animal
INTRODUÇÃO

O Brasil configura no cenário mundial como um dos maiores fabricantes de rações e


suplementos para a nutrição animal. A produção brasileira de rações alcançou no primeiro
semestre do ano de 2019, aproximadamente 33,9 milhões de toneladas, um aumento de 2,7
% em relação ao primeiro semestre de 2018 (SINDERAÇÕES, 2019). Em uma análise mais
atual, mesmo com a pandemia do Sars-Cov-2 que se instaurou no ano de 2020, o Sindicato
Nacional da Indústria de Alimentação Animal realizou levantamento e constatou que o ano
foi encerrado com um crescimento de quase 5 % e uma produção total de 81,1 milhões de
toneladas de sal mineral e rações (SINDERAÇÕES, 2020).
A ração é o insumo com maior peso sobre o custo da produção e, a depender da espécie
animal, pode representar até 70 % do total dos custos. Este insumo deve ser adquirido com
regularidade definida para que não haja interrupção da produção (SIDONIO et al., 2012).
Desta forma, produtores se preocupam cada vez mais com a qualidade do produto adquiri-
do e as empresas fabricantes devem estar atentas ao controle de qualidade da produção.
Logo, a fábrica de ração é um importante elo da cadeia produtiva e qualquer erro em uma
ou mais etapas da fabricação pode acarretar prejuízos econômicos expressivos. Embora
pareça simples, este tipo de estabelecimento apresenta variados pontos críticos que po-
dem impactar negativamente a qualidade ou mesmo a quantidade das rações produzidas
(BALDISSERA, 2009).
Os programas de qualidade implementados na indústria animal são essenciais para
garantir a produção de alimentos seguros. Por controle de qualidade, entende-se um conjunto
de procedimentos implementados com o objetivo de verificar e assegurar a conformidade da
matéria prima, do ingrediente, rótulo e da embalagem, dos produtos intermediário e acabado,
às especificações estabelecidas (BRASIL, 2007). Os programas de gestão da qualidade,
possibilitarão que a empresa diminua a ocorrência e recorrência de erros, aumente o ren-
dimento, a capacidade, a execução da produção e a melhoria de serviços e produtos em
consonância com as características para as quais foram desenvolvidos. Portanto, realizar
um adequado controle de qualidade pressupõe acrescentar, planejar, fabricar e vender um
produto de qualidade, que siga aos requisitos mercadológicos (NOGUEIRA, 2018).
A gestão da qualidade no processo de fabricação de ração tem início no projeto da
fábrica e deve ser extensiva para a construção e instalação dos equipamentos, seleção dos
fornecedores de ingredientes, comercialização das fórmulas de rações, monitoramento da
qualidade dos ingredientes, pesagem correta, armazenagem, particularidades da moagem,
pré-mistura de concentrados e suplementos vitamínicos, mistura dos alimentos, verificação
da ração pronta, manutenção e limpeza dos equipamentos além, da higienização geral da
fábrica (OLIVEIRA, 2014).
142
Alimentos e Alimentação Animal
No contexto do controle de qualidade, cita-se as Boas Práticas de Fabricação (BPF)
que são “procedimentos higiênicos, sanitários e operacionais aplicados em todo o fluxogra-
ma de produção, desde a obtenção dos ingredientes e matérias-primas até a distribuição
do produto final, com o objetivo de garantir a qualidade, conformidade e segurança dos
produtos destinados à alimentação animal” (BRASIL, 2007). Os colaboradores responsáveis
pela qualidade, na fábrica de ração, devem possuir treinamento e conhecimento sobre as
BPF, com vistas a identificação dos perigos que interferem na inocuidade e qualidade dos
produtos destinados à nutrição animal e determinar as medidas de controle (BEUS, 2017).
Nesse sentido, considerando a importância do setor de nutrição animal para o Brasil
objetivou-se com o estudo realizar uma abordagem produtiva sobre as etapas de fabricação
de ração para não ruminantes em uma fábrica sob Serviço de Inspeção Federal localizada
no estado do Maranhão.

MÉTODO

O Maranhão integra, juntamente, com Tocantins, Piauí e Bahia o Matopiba, região que
congrega o bioma cerrado dos referidos Estados e responde por muito da produção brasileira
de fibras e grãos. O Matopiba, que até recentemente não era considerado forte na tradição
agrícola, desperta atenção por sua produtividade crescente. No agronegócio maranhense, os
grãos de soja e milho se destacam como produtos importantes e constituem matérias-primas1
para a elaboração de ração animal. Nesse sentido, solicitou-se formalmente da gerência
responsável pelo controle de qualidade da fábrica, a liberação para o acompanhamento do
processo de fabricação das rações produzidas na empresa.
Com base nos procedimentos técnicos adotados, a pesquisa é do tipo bibliográfica e
pesquisa de campo. Quanto ao problema investigado, apresenta natureza qualitativa com
uma análise exploratória e descritiva. Para o alcance do objetivo da pesquisa foram rea-
lizados os seguintes procedimentos metodológicos, divididos em duas fases: (i) pesquisa
bibliográfica com a utilização de dados secundários obtidos de referencial teórico disponível
sobre a temática proposta; e, (ii) pesquisa de campo, fundamentada em cinco visitas téc-
nicas à fábrica de ração para observação e compressão do processo produtivo e registros
fotográficos para melhor análise deste.
A segunda fase do estudo foi direcionada para avaliar as condições produtivas do
estabelecimento fabricante de ração destinada à alimentação animal em consonância com

1 Matérias-primas: toda substância que, para ser utilizada como ingrediente, necessita ser submetida a tratamento ou transformação

143
de natureza física, química ou biológica (BRASIL, 2007).

Alimentos e Alimentação Animal


as Instruções Normativas (INs) N° 4 de 23 de fevereiro de 2007 (BRASIL, 2007) e N° 15 de
26 de maio de 2009 (BRASIL, 2009a).

RESULTADOS

A fábrica de ração está situada em área urbana de trânsito intenso do município de São
José de Ribamar, estado do Maranhão. Dispõe de um quadro constituído por 10 colaborado-
res do sexo masculino, sendo: (i) um (01) responsável técnico (RT) graduado em Medicina
Veterinária; (ii) um (01) gerente de produção e controle de qualidade com graduação em
Zootecnia; e, (iii) oito (08) colaboradores envolvidos diretamente na produção.
A empresa foi construída em um galpão único com área total de 371 m2, onde se
encontra uma ala para recebimento da matéria-prima (Figura 01 A), ala de estocagem de
matéria-prima, ala de produção, ala de produtos acabados, ala de expedição de ensacados
(Figura 01 B), todas elas separadas por demarcação de chão e identificadas por placas no
interior do galpão.

Figura 1. Fábrica de ração para não ruminantes sob serviço de inspeção federal no estado do Maranhão: (A) ala de
recebimento de matéria-prima; (B) ala de expedição de produto final.

Fonte: Acervo dos autores.

A área física é constituída por teto de fibrocimento, paredes de tijolos desprovidas de


revestimento, piso de material resistente ao trânsito e impacto, janelas teladas. O piso é de
fácil drenagem, limpeza e higienização (Figura 2).

144
2 Fabricante: estabelecimento que se destina à elaboração de produtos para alimentação animal.

Alimentos e Alimentação Animal


Figura 2. Ala de produto acabado da fábrica de ração para não ruminantes sob serviço de inspeção federal no estado do
Maranhão, com identificação da área física (teto, paredes e chão).

Fonte: Acervo dos autores.

Quanto à matéria-prima, os ingredientes utilizados são o milho (oriundo dos municípios


de Buriticupu e Balsas, ambos do estado do Maranhão), farelo de soja (com origem nos es-
tados do Maranhão e Tocantins), fosfato bicálcio (de origem Marroquina), torta de palmiste
(estado do Pará), calcário calcítico (estado do Ceará), cloreto de sódio (provenientes dos
estados do Ceará e Rio Grande do Norte), vitaminas (A, D, E, K e do complexo B), micro
minerais (cobre, manganês e zinco), aminoácidos (lisina e metionina), aditivos tecnológicos
e aditivos promotores (antimicrobianos, anticoccidianos e enzima fitase) - os últimos pro-
venientes do estado de São Paulo. Todos os macro e micro ingredientes são registrados
no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), excetuados aqueles dis-
pensados de registros constantes no Artigo (art.) 2° da IN Nº 51, de 3 de agosto de 2020
(BRASIL, 2020).
As matérias-primas e ingredientes são adquiridos de fornecedores legalizados e na
recepção da fábrica são avaliadas as condições de transporte e dos entregadores a partir
de inspeções visuais. Quanto à documentação, confere-se a nota fiscal e as condições de
embalagens, data de validade e vencimento além do lote de todos os ingredientes. Estas
últimas são anotadas em formulário específico denominado check-list recebimento de ma-
téria-prima e embalagens.
Os ingredientes e matérias-primas chegam na fábrica a granel ou ensacados em suas
embalagens originais (Figura 3). Os primeiros passam por um processo de classificação de
acordo com o controle de qualidade e são posteriormente armazenados em silos. Já, os
ensacados são identificados quanto a data de produção, lote, validade e quantidade, arma-
zenados sobre pallets de madeira, em local seco, protegidos de luz solar direta, equidistantes
30 centímetros da parede, porém o local é pouco arejado e quente. Os ingredientes líquidos
são descarregados e armazenados em tanques específicos ou em minicontainers de 1.000 145
Alimentos e Alimentação Animal
litros. Matérias-primas reprovadas no recebimento são identificadas e segregadas até ser
definido seu destino que, normalmente, é a devolução ao fornecedor.

Figura 3. Matéria-prima armazenada em suas embalagens originais na fábrica de ração para não ruminantes sob serviço
de inspeção federal do estado no Maranhão.

Fonte: Acervo dos autores.

Na fábrica de ração emprega-se a gestão de estoque PEPS, ou seja, o primeiro produto


a entrar é primeiro a sair. Quanto à produção, esta acontece por demanda em que primeiro
há o recebimento do pedido e, posteriormente, o processo de fabricação. A capacidade
produtiva da fábrica equivale a 8.000 kg/hora e 20 toneladas/dia. Mas, o estabelecimento
produz, atualmente, 39 toneladas/dia.
A fábrica possui apenas uma linha de produção e em cada “batida” (tipo de produção
recarregável) são produzidos aproximadamente 2.000 kg de ração. Nessa linha são produ-
zidas as rações fareladas para animais não ruminantes de diferentes formulações, totalizan-
do 37 produtos. Destes, 20 são para frangos e 17 para suínos. As formulações são feitas
pelo RT da empresa, fundamentado em tabelas de exigências nutricionais, adicionadas a
elas níveis de qualidade.
Na fábrica, implementa-se uma ordem fixa de produção em que são considerados os
ingredientes utilizados e a sensibilidade da espécie e categorias, da seguinte forma: primei-
ramente são produzidas as formulações para aves e, posteriormente para suínos. E quanto
a categoria, das fases iniciais às finais.
Anterior à produção, os colaboradores responsáveis pelo controle de qualidade veri-
ficam os seguintes pontos críticos de controle (PCC): (i) higienização geral da fábrica; (ii)
higienização do misturador; (iii) granulometria da peneira do moinho; (iv) preparação dos

146
Alimentos e Alimentação Animal
micronutrientes separadamente3 ; e, (v) seleção das embalagens e rotulagem4 . Quaisquer
não conformidades constatadas nesses quesitos são anotadas e realizadas as medidas
corretivas no check-list de controle de higiene ambiental e superfícies.
Quanto ao processo de produção, excetuada as etapas supracitadas (recebimento e
armazenamento dos ingredientes), este é composto por outras etapas que se inicia com a
seleção da fórmula e a quantidade a ser produzida, podendo ser sumarizada da seguinte
forma: (i) limpeza da matéria-prima milho; (ii) moagem; (iii) dosagem; (iv) mistura; (v) empa-
cotamento e estocagem do produto acabado; e, (vi) expedição (Figura 4).

Figura 4. Fluxograma de produção de ração farelada em fábrica de ração para não ruminantes sob serviço de inspeção
federal no estado do Maranhão.

Fonte: Elaborador pelos autores

O milho cai por gravidade do silo de armazenamento na máquina de limpeza vibratória


para a separação das impurezas antes da moagem do mesmo. Na sequência, as matérias-
-primas são moídas em moinho tipo martelo de aço temperado. Após a moagem, estes são
direcionados por meio de rosca transportadora tubular para o silo de armazenagem com
capacidade total de três toneladas, dividido em três compartimentos de dimensões iguais
com registro de gavetas por acionamento manual, para serem pesados de acordo com a
necessidade na inclusão das formulações.
A dosagem é a etapa de produção caracterizada por pesagem das matérias-primas, de
forma manual. Na sequência, todas são direcionados para o misturador. Neste equipamento

3 Preparação dos micronutrientes: fracionados manualmente e cada produto é pesado com concha individual, identificado e encami-
nhado para a linha de produção.
4 Rotulagem: processo realizado com rotuladora manual. A fábrica trabalha com diferentes sacarias e rótulos que possuem em comum:

147
datas de fabricação e vencimento, lote, modo de utilizar e níveis de garantia de qualidade do produto.

Alimentos e Alimentação Animal


vertical duplo helicoidal, permanecem por 420 segundos para obtenção de uma mistura
homogênea. Após esse período, a mistura é conduzida por rosca transportadora tubular de
aço carbono para o silo de recepção de produto acabado para ser ensacada e encaminha-
da para expedição.
As rações acabadas são direcionas para a ensacadeira, onde são pesados em sacos
de 20kg, 30kg ou 40kg, depositados em pallets de madeira para estocagem ou expedição
(Figura 2). O controle do carregamento do produto acabado se inicia na portaria da empre-
sa em que colaboradores recebem a nota fiscal do motorista para a anotação de dados na
lista de ordem de chegada. A entrada só é permitida após a liberação do funcionário que
orienta os motoristas sobre as BPF. E, o destino do produto acabado são municípios do
estado do Maranhão, entre eles São Bernardo, Caixas, Timom e aqueles integrantes da
Baixada maranhense.
Na fábrica avaliada, constatou-se a existência do Manual de BPF e procedimentos
operacionais padronizados - POPs5 aprovados, datados e assinados pela direção da em-
presa e pelo responsável do controle de qualidade, são eles: qualificação de fornecedores;
matéria-prima e embalagens; higienização de instalações, equipamentos e utensílios; higiene
e saúde dos colaboradores; potabilidade da água e higienização de reservatório; prevenção
de contaminação cruzada; manutenção e calibração de equipamentos e instrumentos; con-
trole integrado de pragas; e, controle de resíduos e efluentes.
A origem da água utilizada na fábrica é um poço artesiana e o controle da potabilidade
é realizada anualmente. Para controle de qualidade do produto acabado é realizada se-
mestralmente análise microbiológica em que os parâmetros bolores e leveduras e teste de
homogeneidade são avaliados. Quanto aos colaboradores, estes são submetidos a exames
ocupacionais no Serviço Social da Indústria (Sesi).

DISCUSSÃO

Conforme estabelecido na IN N° 15/2009 (BRASIL, 2009a), o estabelecimento que


fabrica, fraciona, importa, exporta e comercializa rações, suplementos, premix, núcleos,
alimentos para animais de companhia, ingredientes e aditivos para alimentação animal deve
ser registrado no MAPA. Os empreendimentos devem seguir a IN N° 4/2007 que define os
procedimentos básicos de higiene e de BPF para alimentos fabricados e industrializados
para o consumo dos animais (BRASIL, 2007). As vistorias, fiscalizações e auditorias para

5 Procedimentos Operacionais Padronizados – POPs: descrição pormenorizada e objetiva de instruções, técnicas e operações rotinei-
ras a serem utilizadas pelos fabricantes de produtos destinados à alimentação animal, visando à proteção, à garantia de preservação

148
da qualidade e da inocuidade das matérias-primas e produto final e a segurança dos manipuladores (BRASIL, 2007).

Alimentos e Alimentação Animal


verificação do atendimento das empresas à legislação brasileira são realizadas por au-
ditores federais.
O estabelecimento avaliado está registrado no MAPA há sete anos, na atividade fabri-
cante e categoria ração. Quanto à localização do mesmo, destaca-se a adequação parcial
do estabelecimento à IN nº 4/2007, ou seja, está situado em zona afastada de área de riscos
de inundações e alojamento de pragas, distante de outras atividades industriais isentas de
odores indesejáveis e contaminantes. Mas, pontua-se sobre a possibilidade da existência
de odores indesejáveis (fumaça) oriundos de veículos.
Quanto às instalações, estas são de material sólido, porém, não sanitariamente ade-
quadas (teto e paredes), por não serem lisas, impermeáveis e laváveis, com facilitação ao
acúmulo de poeira e possibilidade de contaminação cruzada entre as alas da fábrica. Mas,
possuem fluxo unidirecional das operações, desde a chegada das matérias-primas até a
expedição do produto final, com a identificação das alas por placas e separação das mesmas
por demarcação de chão.
A política da empresa é trabalhar com fornecedores cadastrados e idôneos e, por isso,
apenas inspeções visuais são realizadas no recebimento das matérias-primas e ingredientes.
Menezes (2018) pontua que o estabelecimento não deve aceitar matéria-prima ou ingre-
diente que contenha, micro-organismos, substância tóxicas ou estranhas e parasitas que
não podem ser reduzidas a níveis aceitáveis. Sob essa perspectiva e com a não realização
de análises bromatológicas e microbiológicas da carga recebida, segundo um plano de
amostragem previamente estabelecido pelo controle de qualidade da empresa, é impossí-
vel garantir a total idoneidade dos materiais recebidos. Pontua-se que a gestão de estoque
PEPS (primeiro que entra, primeiro que sai), implementada na empresa, evita perdas por
vencimento da mercadoria e integra uma ferramenta importante do controle de qualidade.
A programação da produção, na empresa, não mantém um estoque de produtos aca-
bados já que este é feito sob encomenda. Mas, pondera-se que a capacidade de produção
atual excede a produção real da fábrica nos quesitos mão-de-obra, maquinário e dimen-
sionamento da fábrica. Dos Santos e Valadares (2013) inferem que o controle no processo
produtivo inclui o movimento dos materiais no interior das fábricas, englobando as seguintes
atividades: descarga de materiais, inspeção de recebimento e transporte até os almoxarifados
e/ou linha de produção, controle dos materiais nos almoxarifados, solicitação de materiais
de estoques, movimento de materiais no interior das áreas de produção, deslocamentos dos
produtos acabados da linha de produção para a expedição ou para a paletização, carrega-
mento de caminhões (ou outro meio de transporte) para a expedição dos produtos acabados.
Logo, a programação e controle da produção são etapas de grande importância para uma

149
Alimentos e Alimentação Animal
organização produtiva já que qualquer operação requer planos e controle a fim de que os
objetivos sejam alcançados, nos prazos e com qualidade de produtos.
A fábrica avaliada atende a IN n° 17, de 07 de abril de 2008 (BRASIL, 2008) que proíbe
a fabricação de produtos destinados a ruminantes e monogástricos na mesma planta. E, cons-
tatou-se uma ordem fixa de produção das diferentes formulações, no estabelecimento, le-
vando em consideração os ingredientes, aditivos, produtos veterinários e a sensibilidade das
espécies. Importante mencionar que a sequência adotada na empresa reduz a possibilidade
de contaminação cruzada. Adicionalmente, concernente à embalagem, rotulagem e propa-
ganda dos produtos destinados à alimentação animal, todos estão adequados a IN n° 22 de
2 de junho de 2009, a qual disciplina normas específicas sobre o assunto (BRASIL, 2009b).
Constatou-se a observância das BPF e dos POPs nas operações rotineiras realiza-
das em todo o processo de fabricação das rações, que convergem para o processamento
adequado e a qualidade final do produto com vistas a apresentar o melhor custo benefício,
mediante o monitoramento dos processos. Mas, pondera-se sobre a importância de trei-
namentos aos colaboradores, não apenas quando da admissão no estabelecimento, mas,
de forma periódica e sistemática. Ademais, destaca-se a importância da conscientização
das análises da matéria-prima e da rastreabilidade. Esta última constitui-se de informações
essenciais sobre o produto, desde a matéria-prima, perpassando pelo transporte, até o con-
sumidor final, ou seja, engloba o controle de todas as fases de produção. Logo, na empresa
avaliada, deve ser realizada a rastreabilidade do produto acabado por meio do estoque de
cada lote ou partida produzida.

CONCLUSÕES

Conclui-se que a empresa utiliza técnicas de controle de qualidade na produção da


ração farelada para não ruminantes (frangos e suínos), com baixo custo, boa qualidade e
aceitação no mercado em consonância com a legislação brasileira.

REFERÊNCIAS
1. BALDISSERA, A. V. Pontos críticos no processo de fabricação e peletização para frangos
de corte. 2009. 54 f. Monografia (Graduação em Zootecnia) – Universidade Federal de Mato
Grosso, Cuiabá, 2009.

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(Graduação em Zootecnia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2017.

150
Alimentos e Alimentação Animal
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de fevereiro de 2007. Aprovar o regulamento técnico sobre as condições higiênico-sanitárias
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alimentação animal e o roteiro de inspeção, constantes dos anexos. Diário Oficial [da] Repú-
blica Federativa do Brasil, Brasília, DF, 01 de março de 2000. Disponível em https://www.gov.
br/agricultura/pt-br/assuntos/insumos-agropecuarios/insumos-pecuarios/alimentacao-animal/
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4. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 17, de


07 de abril de 2008. Proíbe em todo o território nacional a fabricação, na mesma planta, de
produtos destinados à alimentação de ruminantes e de não-ruminantes, exceto os estabele-
cimentos que atenderem aos requisitos estipulados. Diário Oficial [da] República Federativa
do Brasil, Brasília, DF, 08 de abril de 2008. Disponível em http://www3.servicos.ms.gov.br/
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de maio de 2009a. Regulamentar o registro dos estabelecimentos e dos produtos destinados
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gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/insumos-agropecuarios/insumos-pecuarios/alimentacao-ani-
mal/arquivos-alimentacao-animal/legislacao/instrucao-normativa-no-15-de-26-de-maio-de-2009.
pdf. Acesso em: 01 mar. 2021.

6. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 22 de


02 de junho de 2009b. Regulamentar a embalagem, rotulagem e propaganda dos produtos
destinados à alimentação animal. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília,
DF, 04 de junho de 2009. Disponível em https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=78101.
Acesso em: 01 mar. 2021.

7. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 51, de 03


de agosto de 2020. Estabelece os critérios e procedimentos para a fabricação, fracionamento,
importação e comercialização dos produtos dispensados de registro para uso na alimentação
animal. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 05 de agosto de 2020.
Disponível em https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/instrucao-normativa-n-51-de-3-de-agosto-
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8. DOS SANTOS, I. M.; VALADARES, C. M. Análise do planejamento e controle da produção


(PCP): O caso de uma fábrica de ração no município de Rio Verde/GO. Revista Organização
Sistêmica, v. 3, n. 2, p. 1-56, 2013.

9. MENEZES, R. G. D. Boas práticas de fabricação (BPF) como ferramenta de controle de quali-


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Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2018.

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2014.

12. SIDONIO, L. et al. Panorama da aquicultura no Brasil: desafios e oportunidades. BNDES


Setorial, v. 35, p. 421-463, 2012.
151
Alimentos e Alimentação Animal
13. SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DE ALIMENTAÇÃO ANIMAL. Boletim de SINDIRA-
ÇÕES. 2019. Disponível em https www.siderações.org.br. Acesso em: 01 mar. 2021.

14. SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DE ALIMENTAÇÃO ANIMAL. O setor de alimentação


animal – desafios, oportunidades e muito a ser feito! 2020. Disponível em https//sindiracoes.
org.br/o-setor-de-alimentacao-animal-desafios-oportunidades-e-muito-a-ser-feito/. Acesso em:
01 mar. 2021.

152
Alimentos e Alimentação Animal
09
Resíduo de biscoito na alimentação
de codornas: um referencial teórico

Sandra Roseli Valerio Lana


UFAL

Geraldo Roberto Quintão Lana


UFAL

Ana Patrícia Alves Leão


UFLA

Romilton Ferreira de Barros Júnior


UFPB

10.37885/210705353
RESUMO

A coturnicultura ganha espaço no Brasil e no mundo devido ao baixo investimento, curto


ciclo de produção e alta produtividade. Assim como os outros segmentos da produção
animal, a alimentação corresponde a cerca de 70% do custo de produção. E é nesse
sentido que pesquisas vêm sendo desenvolvidas com o intuito de viabilizar o uso de
produtos descartados (subprodutos) pela indústria de processamento de alimentos para
humanos, na ração animal. Dentre esses subprodutos, se destaca os resíduos de pani-
ficação, mais especificamente, o biscoito. O objetivo deste capítulo é discorrer sobre a
composição nutricional e alternativas de uso de resíduos de biscoito na alimentação de
codornas. Os resíduos de biscoito apresentam composição nutricional, como proteínas,
energia e minerais que evidenciam a possibilidade de utilização deste na alimentação
animal. No entanto, são necessárias mais pesquisas que permitam uma padronização
da inclusão deste nas dietas de codornas de corte e de postura nas diferentes fases de
produção. O resíduo de biscoito pode substituir parcial ou totalmente o milho na dieta de
codornas sem afetar o desempenho das aves, bem como resultar em benefícios econô-
micos quando disponível na região.

Palavras-chave: Alimentos Alternativos, Coturnicultura, Subprodutos da Panificação.

154
Alimentos e Alimentação Animal
INTRODUÇÃO

A avicultura é um dos principais segmentos do agronegócio mundial. Esse setor se


destaca, principalmente, pela rapidez no que diz respeito a produção de proteína animal –
carnes e ovos. Dentre os segmentos da avicultura, a criação de codornas ganha espaço no
Brasil e no mundo devido ao baixo investimento, curto ciclo de produção e alta produtivida-
de (Gonzaga et al., 2020). Oliveira, Santos e Cunha (2014) consideram que o aumento na
procura por produtos diferenciados para o consumo humano é um dos fatores que também
impulsionam o avanço da coturnicultura. No entanto, os custos com alimentação, que cor-
respondem a cerca de 70% do custo de criação, são um dos fatores que afetam a produção
avícola, bem como a produção animal como um todo.
Nos últimos anos tem-se observado um crescente interesse na busca de produtos
considerados alternativos para a alimentação animal. O aumento no preço dos alimentos,
tradicionalmente utilizados, como o milho e o farelo de soja são um dos principais fatores
que impulsionam a procura por subprodutos da indústria em geral. Muitos alimentos ou sub-
produtos que são descartados pela indústria e podem ser potenciais poluentes ambientais,
apresentam composição nutricional que permite uma substituição total ou parcial do milho e
da soja na alimentação de aves. Antes da inclusão desses alimentos é preciso que estudos
sejam conduzidos para se avaliar a composição nutricional e como estes são aproveitados –
digeridos, absorvidos e metabolizados – pelos animais. Além do mais, é preciso considerar
a disponibilidade e o custo de aquisição desses produtos.
Dentre esses subprodutos pode-se citar os resíduos da indústria de processamento
de alimentos. Os alimentos – pães, biscoitos, pastelaria, dentre outros – cuja base principal
é o trigo, principal cereal para consumo humano, registram os maiores desperdícios no
setor de alimentos (Lukanov, Pavlova e Genchev, 2021; Alcantara et al., 2021). E em vis-
ta de evitar seu desperdício são desenvolvidas pesquisas com o objetivo de utiliza-los na
alimentação animal.
O objetivo deste capítulo é discorrer sobre a composição nutricional e alternativas de
uso de resíduos de biscoito na alimentação de codornas de corte e de postura.

DESENVOLVIMENTO

COTURNICULTURA

A cadeia produtiva de aves no Brasil modernizou-se e continua buscando formas de


melhorar ainda mais o desempenho do setor, devido à necessidade de redução de custos e

155
Alimentos e Alimentação Animal
aumento de produtividade, tentando com isso não perder competitividade em nível mundial
(HOSSEINI et al., 2017).
A coturnicultura é um ramo da avicultura que está em crescente expansão. Associados
aos avanços tecnológicos nas cadeias de produção, esse segmento deixa de ser uma ati-
vidade de subsistência e passa a ser uma atividade econômica rentável que atrai a aten-
ção de produtores por precisar de pequenos espaços para ser implantada, precocidade
(35 – 42 dias), alta produtividade (cerca de 300 ovos/ano), facilidade de manejo e rápido
retorno financeiro.
A produção de codornas é uma atividade que está se expandindo e duas linhagens de
codornas são principalmente utilizadas no Brasil, a Coturnix japonica e a Coturnix coturnix,
para produção de ovos e carne, respectivamente. Estudos mostram que a carne e os ovos
de codorna são conhecidos por sua alta qualidade proteica, alto valor biológico e baixo teor
calórico (CRUVINEL et al., 2021).
O interesse por produtos diferenciados e de qualidade, a mudança de hábitos alimenta-
res da população em geral são fatores que contribuem para o aumento na produção dessas
aves. Os ovos de codorna podem ser usados como petiscos, bem como servidos em self
service, já a carne de codorna apresenta sabor forte e exótico (OLIVEIRA et al., 2014) o que
atrai o interesse dos consumidores por essas proteínas.
Como acontece na avicultura geral, para se alcançar o máximo potencial genético das
codornas é preciso que condições de manejo, ambiente e nutrição sejam atendidas. No que
diz respeito a alimentação dessas aves, o milho e a soja são os ingredientes básicos,
responsáveis por atender as demandas energéticas e proteicas, respectivamente, das co-
dornas (Tabela 1).

Tabela 1. Exigências nutricionais de energia metabolizável e proteína bruta total de codornas japonesas na fase inicial
e de crescimento.

Fase Inicial Fase de Crescimento


Energia Metabolizável (kcal/kg) 2900 2900
Proteína Bruta Total (%) 24,36 23,01
Fonte: Adaptado de Rostagno et al. (2017).

ALIMENTOS ALTERNATIVOS PARA CODORNAS

Na coturnicultura, os gastos com alimentação representam cerca de 60 a 75% dos


custos totais (BARROS JÚNIOR et al., 2020). As criações distantes das regiões produtoras
destes insumos estão mais suscetíveis às oscilações de mercado (SANTOS et al., 2017).
Deste modo, a nutrição é uma área que merece destaque na produção animal, visto que, é
um dos fatores determinantes para atingir bons índices zootécnicos. É necessário conhecer
os alimentos utilizados, sua aplicação na alimentação animal, composição bromatológica
156
Alimentos e Alimentação Animal
dos alimentos, efeitos dos alimentos na fisiologia digestiva, de modo que os ingredientes
contenham todos os nutrientes necessários a manutenção e produção das aves, permi-
tindo assim a expressão satisfatória do seu potencial genético (OLIVEIRA et al., 2014;
CULLERE et al., 2016).
Conforme Fernandes et al. (2016), é fundamental a busca por alimentos alternativos
que possam substituir parcial ou totalmente os ingredientes que mais oneram na dieta, a fim
de reduzir os custos de produção sem comprometer o desempenho zootécnico e a qualidade
da carne. Para que um alimento seja considerado alternativo, o mesmo deve seguir o pré-
-requisito de estar disponível em uma determinada região, por um período, em quantidade
que possa permitir uma troca significativa com aquele alimento convencionalmente utilizado,
além de atender as exigências nutricionais requeridas pelo animal.
Alimentos industrializados que se destinam ao consumo humano e que, por algum moti-
vo, são descartados constituem uma categoria que desperta atenção do nutricionista animal,
como os resíduos oriundos da indústria de massas (ALCANTARA et al., 2021). O destino
adequado dos resíduos pode ser uma via para redução dos danos ambientais decorrentes
do processamento, sendo uma das alternativas, sua aplicação na alimentação de não-rumi-
nantes, pois, muitos destes resíduos agroindustriais, possuem teores de energia e proteína
significantes para a nutrição.

RESÍDUOS DA INDÚSTRIA DE PANIFICAÇÃO

O principal interesse na busca por alimentos alternativos é reduzir os custos de pro-


dução com alimentação animal, e que estes, consequentemente, também possibilitem um
aumento nas margens de lucros do segmento. Dentre eles, tem crescido o interesse dos
pesquisadores por alimentos industrializados que são destinados ao consumo humano, mas
por algum motivo - estarem quebrados, queimados, amassados e fora do prazo de validade
- são descartados (VOLPATO et al., 2015).
Pães e biscoitos são exemplos dos resíduos de panificação que vem despertando o
interesse dos produtores para inclusão destes na alimentação animal. No entanto, é preciso
considerar que por esta ser uma categoria composta por diferentes tipos – por exemplo,
doces, salgados, recheados, etc – se faz necessário conhecer a composição química dos
mesmos antes de sua inclusão.
Avaliando a utilização de resíduos de panificação – mistura de diferentes tipos de pães,
bolos, biscoitos – Al-Ruqaie et al. (2011) concluíram que estes podem substituir 100% do
milho em dietas para frangos de corte, e destacaram ainda que o uso desses coprodutos
traz benefícios para os panificadores e avicultores.

157
Alimentos e Alimentação Animal
Edache et al. (2017) concluíram que resíduos de panificação podem substituir com-
pletamente o milho na alimentação de codornas e também favorecem o peso vivo e a por-
centagem de coxa e moela. Lukanov et al. (2021) consideram que substituir até 10% do
trigo na ração de codornas por resíduos extrusados de panificação resulta em benefícios
econômicos a produção.

COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DO RESÍDUO DE BISCOITO

Os resíduos de biscoitos são considerados como alimento energético e são consti-


tuídos de matérias-primas como farinha de trigo, milho, açúcar, óleo vegetal, entre outras
(VOLPATO et al., 2014). Por ter um alto valor energético e não possui nenhum fator an-
tinutricional esses resíduos são considerados alternativas viáveis para substituir o milho
(ADEYEMO et al., 2013).
No entanto antes de sua inclusão, é preciso avaliar a sua composição química que
varia de acordo com a origem, matérias primas usadas, processamento e armazenamen-
to. É possível observar ainda, a partir do levantamento das composições químicas, que as
porcentagens do resíduo do biscoito são relativamente aproximadas a do milho (Tabela 2).
Destaca-se ainda que o biscoito apresenta principalmente, maior extrato etéreo (EE) e ener-
gia metabolizável (EM) para aves, derivado dos ingredientes utilizados em sua fabricação.

Tabela 2. Composição química de resíduos de biscoito e do milho.

MS (%) PB (%) EE (%) FB (%) Cinzas (%) EM (kcal/kg)


Adeyemo et al. (2013) 89,27 5,25 11,01 1,05 1,00 -
Apata et al. (2010) 91,73 9,64 2,78 10,05 6,85 -
Aghdam Shahryar et al. (2012)¹ 92,00 12,60 4,05 2,55 2,20 3300
Gonzaga et al. (2020) 87,45 9,37 17,00 - 1,12 3833
Odunsi et al. (2007) 89,40 9,60 6,18 1,70 6,50 3145
Omoikhoje et al. (2017) 92,40 7,87 10,16 - 1,62 -
Rostagno et al. (2017) 92,50 8,69 8,28 1,70 1,31 4010
Shittu et al. (2016) 90,04 19,25 3,64 4,16 7,06 2797
Volpato et al. (2015) RBT² 92,24 6,26 12,40 - 1,06 4494
Volpato et al. (2015) RBS³ 91,92 3,10 22,80 - 2,78 5232
Média 90,8 9,1 9,8 3,5 2,6 3830
Milho - Rostagno et al. (2017) 92,6 8,8 4,0 1,5 1,3 3464
¹Resíduo de biscoito + farinha de wafer. ²Resíduo de biscoito de trigo doce. ³Resíduo de biscoito de trigo salgado.

Na literatura são encontrados alguns trabalhos cujo objetivo é avaliar o uso de resíduos
de panificação, e dentre eles, o resíduo de biscoito na alimentação de leitões (VOLPATO
et al., 2015), frangos de corte (EPAO et al., 2017) e codornas (LUKANOV et al., 2021;
GONZAGA et al., 2020; ODUNSI et al., 2007). Odunsi et al. (2007) avaliaram a composição
do resíduo de biscoito e do milho, e constatam maior conteúdo de proteína bruta (PB) no
resíduo de biscoito (9,6% de PB) em comparação ao milho (9,1% de PB), e para o extrato
158
Alimentos e Alimentação Animal
etéreo (EE), essa diferença foi mais acentuada, onde o resíduo de biscoito apresentou 6,8%
de EE e o milho 3,8% de EE.
Em comparação ao milho, pode-se destacar ainda o elevado conteúdo mineral do
resíduo de biscoito, o que, de acordo com Odunsi et al. (2007) pode favorecer a espessura
de casca de ovos.

RESÍDUO DE BISCOITO PARA CODORNAS

O custo dos resíduos de biscoitos é relativamente baixo em comparação com o


milho. Diversos estudos mostram sua eficácia na alimentação animal sem efeito adver-
so no desempenho.
Gonzaga et al. (2020) avaliaram a inclusão parcial do resíduo de biscoito tipo wafer
na dieta de codornas de corte em substituição ao milho e concluíram que o biscoito pode
ser incluído em até 20% sem comprometer o desempenho produtivo e o rendimento de
carcaça das codornas. Os autores destacaram ainda um menor custo de produção com o
biscoito, bem como um maior retorno financeiro. Do mesmo modo, Santos (2014) conside-
ra que resíduos de biscoito tipo cream cracker pode ser incluídos em até 20% na dieta de
codornas de corte.
Aghdam Shahryar et al. (2012) avaliaram o desempenho e rendimento de carcaça de
frangos de corte alimentados com dietas compostas por níveis crescentes de resíduo de
biscoito (8, 16 e 24%) e concluíram que é possível a substituição do milho em 24%. Adeyemo
et al. (2013) e Omoikhoje et al. (2017) afirmaram que o resíduo de biscoito pode ser incluído
em até 50% sem comprometer o desempenho e carcaça dos frangos.
Com a substituição total do milho por resíduo de biscoito, Odunsi et al. (2007), cons-
tataram maior consumo diário de ração (o que pode estar associado à maior palatabili-
dade do resíduo em comparação às outras fontes avaliadas), e maior produção diária de
ovos. Os autores ainda destacaram maior espessura de casca de ovos provenientes de
codornas alimentadas com resíduo de biscoito em comparação aquelas alimentadas com
sorgo ou milheto, o que é de interesse na cadeia produtiva, uma vez que ovos de cascas
finas são mais propensos a quebras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resíduos de biscoito apresentam composição nutricional, como proteínas, energia e


minerais que evidenciam a possibilidade de utilização deste na alimentação animal. No en-
tanto, são necessárias mais pesquisas que permitam uma padronização da inclusão deste
nas dietas de codornas de corte e de postura nas diferentes fases de produção. O resíduo
159
Alimentos e Alimentação Animal
de biscoito pode substituir parcial ou totalmente o milho na dieta de codornas sem afe-
tar o desempenho das aves, bem como resultar em benefícios econômicos quando dis-
ponível na região.

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Alimentos e Alimentação Animal
SOBRE O ORGANIZADORA

Rosemary Laís Galati


Possui graduação em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1999) e doutorado em Zootecnia
também pela mesma Instituição de ensino superior (2004). É docente no Departamento de Zootecnia e Extensão Rural
pertencente à Faculdade de Agronomia e Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso (Cuiabá/MT). Na graduação, ministra
Bromatologia Zootécnica, Alimentos e Alimentação, Bases da Nutrição Animal e Tópicos Especiais: construindo o trabalho de
conclusão. É colaboradora no Programa de Pós-graduação em Ciência Animal. Tem experiência na área de Zootecnia, com ênfase
em Análise e Avaliação de Alimentos para Animais. Na Pós-graduação, ministra as disciplinas Análise de Alimentos e Métodos
Nutricionais em Ruminantes. Atua principalmente nos temas: bovinos, biodiesel, composição corporal, confinamento, coprodutos
da agroindústria, impacto ambiental, síntese microbiana, produção de gases e técnicas in vitro e in situ de avaliação de alimentos.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/3931401847742610

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ÍNDICE REMISSIVO

A S
Alimentação: 24, 53, 66, 135, 141, 142 Sazonalidade: 26

Alimentação Animal: 141 Sustentabilidade: 53, 80

Avicultura: 119 T
C Taninos Vegetais: 26

Canopy: 51 U
D Ureia: 76, 78

Defoliation: 50

Dieta: 13

E
Exigência: 13, 20, 22, 23, 92

Exigência Nutricional: 13

I
Ingredientes: 120, 135

N
Nutrição Animal: 63

P
Pecuária: 70, 136, 145, 151

Peixe Nativo: 13

Piscicultura: 13, 23

Plantas Forrageiras: 40

Proteína: 20, 35, 71, 74, 76, 79, 127, 128, 135,
156

Q
Qualidade: 24, 80, 115, 116, 118, 131, 133, 135,
136

Quelato: 53

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