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Organizador

SAÚDE DA MULHER

editora científica
Organizador

1ª EDIÇÃO

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2021 - GUARUJÁ - SP
Copyright© 2021 por Editora Científica Digital
Copyright da Edição © 2021 Editora Científica Digital
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Instituto Federal do Sul de Minas, Brasil
APRESENTAÇÃO
A área da Saúde da Mulher e do Recém-nascido ainda é carente de material bibliográfico de qualidade,
principalmente de experiências e vivências profissionais que tanto agregam no cotidiano do cuidado
em saúde. Esta obra constituiu-se a partir de um processo colaborativo entre professores, estudantes
e pesquisadores que se destacaram e qualificaram as discussões neste campo do conhecimento. Tem
como objetivo integrar ações interinstitucionais nacionais e internacionais com redes de pesquisa que
tenham a finalidade de fomentar a discussão acerca das políticas, programas e práticas assistenciais da
saúde da mulher e recém-nascido, por meio da produção e socialização de conhecimentos das diversas
profissões envolvidas na assistência à saúde. Agradecemos aos autores pelo empenho, disponibilidade
e dedicação para o desenvolvimento e conclusão dessa obra. Esperamos também que esta obra sirva de
instrumento aos profissionais de saúde na busca constante de aprimoramento e qualidade assistencial.

Prof. Dr. Rossano Sartori Dal Molin


SUMÁRIO
CAPÍTULO
01
A DINÂMICA DE MITOS E VERDADES NA PROMOÇÃO DA SAÚDE À MULHER CLIMATÉRICA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Linda Inêz Alves da Silva; Amanda de Lima Ferreira; Bruna Maciel Ribeiro da Silva; Deuziane de Jesus Sousa Luz; Elma de Sousa
Fontoura; Emilly Silva Araújo; Gustavo Gonçalves Pegoreth; João Paulo Oliveira de Sousa Costa; Taina Tatila Pereira da Luz; Vitor
Teles Rodrigues; Whatina Leite de Souza

DOI: 10.37885/210303777................................................................................................................................................................................... 16

CAPÍTULO
02
A EXPERIÊNCIA DO PARTO DE UM GRUPO DE MULHERES DE UMA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA DE SOROCABA/SP
Jhonata William Mergis Carnelós; Caroline de Oliveira Lima; Janie Maria de Almeida

DOI: 10.37885/210203174................................................................................................................................................................................... 27

CAPÍTULO
03
COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS PARA PRÁTICA DA ENFERMAGEM OBSTÉTRICA: REVISÃO INTEGRATIVA
Márcia Cordeiro da Cunha; Letícia Becker Vieira; Laura Leismann de Oliveira; Paola Melo Campos; Paula Cristina Barth Bellotto;
Helga Geremias Gouveia

DOI: 10.37885/210303907................................................................................................................................................................................. 44

CAPÍTULO
04
COMPORTAMENTO DA FORÇA MUSCULAR RESPIRATÓRIA, DA FORÇA DE PREENSÃO PALMAR E DA CAPACIDADE
FUNCIONAL ENTRE PUÉRPERAS E EM NULIGESTAS

Michele Saldanha; Eduarda Silveira; Maria Eduarda Lara de Oliveira; Marciele Silveira Hopp; Litiele Evelin Wagner; Solange Schio
Lanza; Jonathas Gauciniski; Dannuey Machado Cardoso; Patrícia Érika de Melo Marinho; Dulciane Nunes Paiva

DOI: 10.37885/210404120................................................................................................................................................................................... 61

CAPÍTULO
05
CONFLITOS E DILEMAS ÉTICOS VIVENCIADOS NA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA NO CONTEXTO HOSPITALAR
Elaine Guedes Fontoura; Analu Sousa de Oliveira; Marluce Nunes Alves Oliveira; Déborah de Oliveira Souza; Ayla Melo Cerqueira;

Íris Cristy da Silva e Silva; Thamara Arianny Ventin Amorim Oliveira de Assis; Lorraine Alves de Souza Santos; Maryana Carneiro de

Queiroz Ferreira; Vanessa Sena da Silva

DOI: 10.37885/210404356................................................................................................................................................................................. 69
SUMÁRIO
CAPÍTULO
06
CUIDADOS DE ENFERMAGEM À MULHER QUE REALIZA RADIOTERAPIA POR CÂNCER DE MAMA: UMA REVISÃO
INTEGRATIVA
Ana Claudia Miranda Tempone Pinto; Drª Thaís Vasconselos Amorim; Drª Andyara do Carmo Pinto Coelho Paiva; Suellen Fernanda
de Souza Viana; Rômulo Cândido Nogueira do Nascimento; Carolina de Oliveira Baumgratz

DOI: 10.37885/210203216.................................................................................................................................................................................. 86

CAPÍTULO
07
CÂNCER DE MAMA E FEMININO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA COM MULHERES EM TRATAMENTO NA ATENÇÃO TERCIÁRIA

Cidélia Carmem Sousa; Rita Piedade de Souza Paula; Ronaldo Sales de Araujo

DOI: 10.37885/210404195................................................................................................................................................................................ 102

CAPÍTULO
08
DILEMAS ÉTICOS VIVIDOS PELA EQUIPE DE SAÚDE NO CUIDADO À MULHER EM ABORTAMENTO INDUZIDO

Lorraine Alves de Souza Santos; Marluce Alves Nunes Oliveira; Ivanilza Carminha da Silva ; Elaine Guedes Fontoura; Maryana Carneiro
de Queiroz Ferreira; Analu Sousa de Oliveira; Ayla Melo Cerqueira; Íris Cristy da Silva e Silva; Déborah de Oliveira Souza; Thamara
Arianny Ventin Amorim Oliveira de Assis

DOI: 10.37885/210404340................................................................................................................................................................................ 114

CAPÍTULO
09
DO PRÉ-NATAL AO PUERPÉRIO: ARTICULAÇÕES COM A PRÁTICA

Carina Bortolato-Major; Francis Helber Possari Juliano; Rafael Davi Botelho; Carolina Fordellone Rosa Cruz

DOI: 10.37885/210404213.................................................................................................................................................................................133

CAPÍTULO
10
EFETIVIDADE DO PROGRAMA DE PREVENÇÃO E RASTREAMENTO DE CÂNCER DE MAMA NO MUNICÍPIO DE CAXIAS DO
SUL/RS

Júlia Nogara Jungs; Mérlim Fachini; Rossano Sartori Dal Molin

DOI: 10.37885/210504843................................................................................................................................................................................152
SUMÁRIO
CAPÍTULO
11
EPIDEMIOLOGIA E FATORES DE RISCO ASSOCIADOS AO CÂNCER DE OVÁRIO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
José Aderval Aragão; Fernanda Vieira Santos Moreira; Ana Monize Ribeiro Fonseca; Brunna Karolyne Souza Hora; Eduarda Santana
dos Santos; Marília Souza Alves Gois; Natália Araújo Barreto; Francisco Prado Reis
DOI: 10.37885/210404258............................................................................................................................................................................... 164

CAPÍTULO
12
EXAMES LABORATORIAIS PARA ACOMPANHAMENTO DO PRÉ-NATAL E A FISIOPATOLOGIA DA GESTAÇÃO: UMA REVISÃO
NARRATIVA
Andréa Fernanda Lomba Santos; Amanda Aparecida Silva Cruz; Mateus Flávio Sousa; Mayara Dumont Cunha; Carolina Pires Ferreira;
Isabela Cristina Moreira Souza; Fabiana Angélica de Paula; Helisamara Mota Guedes
DOI: 10.37885/210303919................................................................................................................................................................................ 180

CAPÍTULO
13
FUNCIONALIDADE E INCAPACIDADE DE LACTENTES DE RISCO NO PRIMEIRO ANO DE VIDA
Raissa Wanderley Ferraz de Abreu; Camila Resende Gâmbaro Lima; Nelci Adriana Cicuto Ferreira Rocha

DOI: 10.37885/210303939............................................................................................................................................................................... 196

CAPÍTULO
14
HIPERGLICEMIA NA GESTAÇÃO, PARTO A TERMO PRECOCE E HIPOGLICEMIA NEONATAL
Sávio Ferreira Camargo; Juliana Dantas Camargo; Jessione de Carvalho Lima Neto; Maria da Conceição de Mesquita Cornetta

DOI: 10.37885/210102924.................................................................................................................................................................................215

CAPÍTULO
15
IMPORTÂNCIA DE UM MANEJO CLÍNICO ADEQUADO EM GESTANTES SOROPOSITIVAS AO HIV: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
Emmanuel Victor Sousa França; Carliana Ingrid de Castro Silva; Lisandra Samara Verdegér Faustino; Damara Zayane Barros Freitas;
Maria Alexandra Pereira Souza; Karoline Maria Rodrigues Forte Sousa; Isadora Anízio Veríssimo de Oliveira; Renata Carol Evangelista
Dantas; Vilma Raquel Lima Ramalho de Holanda; Daysianne Pereira de Lira Uchoa
DOI: 10.37885/210404364............................................................................................................................................................................... 226

CAPÍTULO
16
INVESTIGAÇÃO DA ADEQUABILIDADE DAS CONSULTAS PRÉ-NATAIS NA CIDADE DE MACAPÁ
Brunna Sousa Nascimento; Ingrid Terezinha Carvalho Pinheiro; Jessica Santos Santana; Jalva Maria do Socorro Costa Vulcão

DOI: 10.37885/210303943............................................................................................................................................................................... 237


SUMÁRIO
CAPÍTULO
17
MULHERES EM IDADE FÉRTIL QUE BUSCAM TESTE RÁPIDO EM UMA POLICLÍNICA DE NITERÓI/RJ
Bianca Damasceno Barroso; André Luiz de Souza Braga; Maritza Consuelo Ortiz Sanchez; Pedro Ruiz Barbosa Nassar

DOI: 10.37885/210304038............................................................................................................................................................................... 252

CAPÍTULO
18
O CUIDADO EM SAÚDE MENTAL A MULHERES CLIMATÉRICAS NO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
Marcilene Batista de Holanda; Mabel Geane Ramalho Calado; Iandra Rodrigues da Silva; Dária Catarina Silva Santos; Pedro Camilo
Calado da Silva; Juliane da Silva Pereira; Silvana Cavalcanti dos Santos; Ana Carla Silva Alexandre; Alice Rodovalho de Souza e Silva;
Valquiria Farias Bezerra Barbosa
DOI: 10.37885/210303963............................................................................................................................................................................... 268

CAPÍTULO
19
O PAPEL DA ENFERMAGEM NO ACOMPANHAMENTO PUERPERAL DA MULHER COM SINAIS DE DEPRESSÃO PÓS-PARTO
Sthéfani Varela; Rossano Sartori Dal Molin

DOI: 10.37885/210504840............................................................................................................................................................................... 279

CAPÍTULO
20
OS AVANÇOS NO DIAGNÓSTICO DA ENDOMETRIOSE E A IMPORTÂNCIA DA SUA REALIZAÇÃO DE FORMA PRECOCE
José Aderval Aragão; Taynara Menezes Ramos; Vitoria Oliveira Reis; Rayssa Mirelle Santos Carvalho; Rafael Valença de Souza Santos;
Victória Hora Mendonça de Oliveira; Roberta Visniewski Ximenes; Francisco Prado Reis
DOI: 10.37885/210404216................................................................................................................................................................................ 290

CAPÍTULO
21
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA MORTALIDADE INFANTIL DE CAXIAS DO SUL/RS
Renata Pereira de Oliveira; Mérlim Fachini; Rossano Sartori Dal Molin

DOI: 10.37885/210504844............................................................................................................................................................................... 305

CAPÍTULO
22
PREMATURIDADE DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19 EM VIGÊNCIA DE MEDIDAS RESTRITIVAS: UMA REVISÃO
INTEGRATIVA
Iapunira Catarina Sant’Anna Aragão; Felipe Matheus Sant’Anna Aragão; Letícia Du Rocher Martins Teixeira; Paôla Cardoso; Pedro
Henrique Adário Marassi; Rafael dos Santos Reis; Clarisse Pereira Dias Drumond Fortes; Luciano Rodrigues Costa; José Aderval Aragão
DOI: 10.37885/210404243................................................................................................................................................................................315
SUMÁRIO
CAPÍTULO
23
REALIDADE DAS MULHERES PRIVADAS DE LIBERDADE NO CICLO GRAVÍDICO PUERPERAL NO SISTEMA PRISIONAL
BRASILEIRO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

Beatriz Fornazari Demarchi; Grace Pfaffenbach; Cristiane Pereira de Castro; Aline Bedin Zanatta

DOI: 10.37885/210404244............................................................................................................................................................................... 327

CAPÍTULO
24
RODA DE CONVERSA SOBRE SEXUALIDADE E PREVENÇÃO A GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA COM ALUNOS DE UMA ESCOLA
MUNICIPAL DO SUDESTE DO PARÁ: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA A PARTIR DA UTILIZAÇÃO DO ARCO DE MAGUEREZ

Bruna Maciel Ribeiro da Silva; Amanda de Lima Ferreira; Deuziane de Jesus Sousa Luz; Emilly Silva Araújo; Elma de Sousa Fontoura;
Gustavo Gonçalves Pegoreth; João Paulo Oliveira de Sousa Costa; Linda Inêz Alves da Silva; Vitor Teles Rodrigues; Diego Santhiago
Vieira Alves; Whatina Leite de Souza

DOI: 10.37885/210303734................................................................................................................................................................................ 344

CAPÍTULO
25
SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NAS CONSULTAS DE PRÉ-NATAL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
Elielza Guerreiro Menezes; Alice Peres Souto Pereira; Maria Luiza Carvalho de Oliveira; Sonia Rejane de Senna Frantz; Taycelli Luiza
de Oliveira Dias; Thiago Queiroz de Souza; Alessandrina Gomes Doval; Andreza Ramos Bessa Dantas; Nathalie Rezende Batalha
Gomes; Clarissa Alves Pinheiro

DOI: 10.37885/210303502............................................................................................................................................................................... 356

CAPÍTULO
26
TRAJETÓRIAS TERAPÊUTICAS DE MULHERES COM CÂNCER DO COLO DO ÚTERO: O ESTADO DA ARTE
Anna Flávia Silva do Nascimento; Andyara do Carmo Pinto Coelho Paiva; Fabíola Lisboa da Silveira Fortes; Elaine Miguel Delvivo Farão;
Thaís Vasconselos Amorim; Michelle Souza Nascimento

DOI: 10.37885/210303616................................................................................................................................................................................. 371

CAPÍTULO
27
USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS POR GESTANTES E PUÉRPERAS: PROBLEMAS ACARRETADOS À SAÚDE MATERNO-
INFANTIL

Karen Barcelos Lopes; Juliane Portella Ribeiro; Melissa Hartmann; Amanda do Rosário Tavares; Matheus dos Santos Rodrigues

DOI: 10.37885/210303863............................................................................................................................................................................... 387


SUMÁRIO
CAPÍTULO
28
VISÃO DAS MULHERES SOBRE A SÍFILIS NA GESTAÇÃO: SUBSÍDIOS PARA A ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM
Diana da Silva Gonçalves; Carla Luzia França Araújo; Vanessa Damasceno Bastos

DOI: 10.37885/210303992............................................................................................................................................................................... 404

CAPÍTULO
29
VIVÊNCIAS DO ENFERMEIRO NO CUIDADO AO RECÉM-NASCIDO DE ALTO RISCO: ESTUDO FENOMENOLÓGICO

Sueli Maria Refrande; Rose Mary Costa Rosa Andrade Silva; Eliane Ramos Pereira; Renata Carla Nencetti Pereira Rocha; Sérgio
Henrique da Silva Melo; Neusa Aparecida Refrande; Ricardo Raimundo dos Santos; Simone Henriques da Silveira; Rita de Cássia
Oliveira da Cunha; Maria Clara Rezende Cruz
DOI: 10.37885/210202958............................................................................................................................................................................... 422

SOBRE O ORGANIZADOR..................................................................................................................................... 437

ÍNDICE REMISSIVO..............................................................................................................................................438
01
A dinâmica de mitos e verdades
na promoção da saúde à mulher
climatérica: um relato de experiência

Linda Inêz Alves da Silva Gustavo Gonçalves Pegoreth


UEPA UEPA

Amanda de Lima Ferreira João Paulo Oliveira de Sousa Costa


UEPA UEPA

Bruna Maciel Ribeiro da Silva Taina Tatila Pereira da Luz


UEPA UEPA

Deuziane de Jesus Sousa Luz Vitor Teles Rodrigues


UEPA UEPA

Elma de Sousa Fontoura Whatina Leite de Souza


UEPA UEPA

Emilly Silva Araújo


UEPA

10.37885/210303777
RESUMO

Objetivo: o estudo objetiva apresentar a experiência dos acadêmicos de enfermagem da


Universidade do Estado do Pará- UEPA, na aplicação de uma ação educativa de mitos e
verdades sobre a menopausa e o climatério, com mulheres atendidas em uma Estratégia
de Saúde da Família (ESF) de um município do interior do Pará. Método: Trata-se de um
relato de experiência da aplicação da metodologia problematizadora do Arco de Maguerez
no contexto das Atividades Integradas em Saúde do curso de enfermagem da UEPA,
a partir da realização de rodas-de-conversa realizadas com dois grupos de mulheres
Resultados: As atividades foram realizadas em dois momentos, o primeiro houve expla-
nação de conceitos sobre o tema proposto e no segundo foi realizada uma dinâmica de
mitos e verdades para promover a interação entre as mulheres sobre a temática. Além
disso, foi abordado passos para uma boa alimentação saudável e também a entrega
de panfletos como forma de disseminação de conhecimento. Conclusão: A atividade
promovida contribuiu para uma melhor percepção das mulheres sobre o climatério e
menopausa e a troca de experiência ocorrida durante a roda de conversa e a dinâmica
de mitos e verdades colaboraram para uma visão realista acerca da necessidade de
promover educação em saúde da mulher de forma integral.

Palavras-chave: Climatério, Menopausa, Assistência Integral à Saúde da Mulher.

17
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

Por volta dos 35 e 40 anos, estendendo-se aos 65 anos, dá-se início a uma impor-
tante fase na vida da mulher, denominada climatério, um fenômeno endócrino decorrente
do esgotamento dos folículos ovarianos caracterizado por um estado de hipoestrogenismo
progressivo e que é marcado pela menopausa, a qual corresponde ao último ciclo menstrual
após 12 meses da sua ocorrência (ALVES et al., 2015; MELO; SILVA; GIOTTO, 2019).
Os sinais e sintomas potencialmente prejudiciais à saúde são desencadeados por meio
de manifestações transitórias, como a irregularidade menstrual, fogachos (mudança repen-
tina na temperatura corporal) e suores noturnos que ocorrem com bastante frequência; e as
manifestações não transitórias, com devido destaque para o ressecamento vaginal, sangra-
mentos, mudanças nos níveis de estrogênio e ganho de peso (BRASIL, 2016). Há também
uma diminuição da elasticidade da pele; aumento do colesterol e dos depósitos de gordura;
e intensificação da osteopenia que as tornam suscetíveis à osteoporose (BRASIL, 2008).
Durante esse período pode ocorrer a perda ou ganho ponderal, hipertensão arterial,
incontinência urinária, redução da libido e rejeição do parceiro relacionada, principalmente
à dispareunia que é a dor durante as relações sexuais gerada pela falta de lubrificação
vaginal que provoca insatisfação sexual. As alterações hormonais características da fase
climatérica também tornam a mulher mais suscetível a transtornos psíquicos que se mani-
festam através da mudança repentina de humor, cefaleia, insônia, nervosismo, depressão,
ansiedade, humor deprimido, sensação de inutilidade, dentre outros (ALVES et al., 2015;
BENETTI et al., 2019; BRASIL, 2016).
Fatores como hábitos alimentares, atividade física e de lazer, sexualidade, renda, as-
pectos profissionais e religiosos, atitudes e comportamentos do cotidiano também devem
ser considerados. Ademais, a interpretação do climatério e menopausa pela sociedade
ocidental como algo negativo também pode interferir na autoestima, pois um fenômeno fi-
siológico passa a ser entendido como perda de feminilidade, que engendra-se em medo do
envelhecimento e desequilíbrio biopsicossocial que se altera de tipo e intensidade e varia
de mulher para mulher (BENETTI et al., 2019; VIEIRA et al., 2018).
Segundo Melo; Silva; Giotto (2019), o climatério é um fenômeno que transforma a vida
da mulher de forma fisiológica, mas tem uma conotação patológica, pois esse processo
adaptativo também envolve a forma como a mulher se percebe e vai requerer autoaceitação
diante dos incontáveis tabus, preconceitos, fatores culturais e de desconhecimento que per-
meiam essa fase. Portanto, a falta de discussão sobre o assunto faz com que as mulheres
enfrentem o climatério de forma sigilosa e silenciosa, resultando em desinformação e busca
por auxílio de profissionais de saúde somente após manifestações clínicas que as afetam
de forma mais intensa (BENETTI et al. 2019).
18
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
O estudo realizado por Vieira, et al. (2018) com 16 mulheres de uma Unidade Básica
de Saúde (UBS) em um município do Paraná, constatou conflito de conhecimento sobre
climatério, o qual era confundido com a menopausa por 100% das mulheres. Leite et al.
(2012) notaram que baixos níveis de escolaridade podem ser uma barreira para o entendi-
mento do climatério, já que 55% das mulheres de 40 a 65 anos apresentaram grau de ensino
incompleto e apenas 15% tinham nível superior, contribuindo para um entendimento menos
preciso das alterações e sintomas.
Ademais, nota-se que há crenças e mitos em torno da menopausa e do climatério que
transcendem gerações e esses saberes não refletem de maneira positiva no bem-estar fe-
minino. Um dos mitos é o de que o desejo sexual torna-se inexistente na mulher climatérica
e a sociedade cria estereótipos sobre o papel da mulher, sobre o ser mãe e o ser esposa
e a mulher em si, torna-se incompreendida e vivencia momentos conflituosos no ambiente
social e familiar (SILVA et al., 2015).
Dessa forma, é fundamental a avaliação pelo profissional de saúde, que de maneira
holística vai identificar casos que necessitam de acompanhamento, visando a promoção
da saúde, diagnóstico precoce, tratamento imediato dos agravos e a prevenção de danos
(SILVA; SOUZA; ALVES, 2015). Para isso, o Ministério da Saúde criou o Manual de Atenção
Integral à Saúde da Mulher no Climatério/Menopausa dando atenção específica à saúde da
mulher nesta fase por meio de informações sobre sinais e sintomas dessa fase e diversas
formas de tratamento de abordagem não farmacológica e/ou farmacológica (BRASIL, 2008)
A abordagem da enfermagem na Unidade Básica de Saúde (UBS) pode ser feita por
meio de grupos focais, reuniões e entrevistas é essencial para o acolhimento e assistência
às mulheres no climatério (MELO; SILVA; GIOTTO, 2019). Mesmo sendo a principal porta
de entrada para o sistema público de saúde, seu foco ainda está mais voltado para a fase
reprodutiva da mulher, construindo uma lacuna na concessão de saúde à mulheres clima-
téricas, assim, são necessárias ações de educação em saúde com objetivo de informar,
debater, esclarecer mitos e verdades que circundam essa fase de vida da mulher.
Dessa forma, o presente relato tem por objetivo apresentar a experiência dos acadêmi-
cos de enfermagem da Universidade do Estado do Pará - UEPA, Campus VII, na aplicação
de uma ação educativa de mitos e verdades sobre a menopausa e o climatério, com mulheres
atendidas em uma Estratégia de Saúde da Família - ESF de um município do interior do Pará.

MÉTODO

Este estudo relata a vivência de discentes do curso de graduação de enfermagem na


realização de uma ação educativa acerca de uma dinâmica de mitos e verdades relacionados
à promoção da saúde da mulher no climatério, período que corresponde a transição da fase
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
reprodutiva para o período pós-menopausa. As atividades ocorreram nos dias 25 e 26 de
novembro de 2019, realizadas em dois encontros, em uma Estratégia de Saúde da Família
(ESF) de um município do interior do Pará.
O público alvo foi formado por mulheres de diferentes faixas etárias que aguardavam
atendimento na sala de espera da ESF; as quais foram convidadas à roda de conversa que
estava ocorrendo em local reservado que permitisse momentos de fala, sem constrangimen-
tos. Mediante aceitação, as mesmas foram acompanhadas ao local, onde puderam interagir
com as demais mulheres e os pesquisadores. Com o uso dessa abordagem em grupo, não
se pôde limitar a quantidade de mulheres e o alcance variou entre 8 a 10 mulheres em cada
encontro, dependendo da demanda do dia.
Optou-se por utilizar a metodologia da problematização com aplicação do Arco de
Maguerez porque possibilita a articulação entre a teoria e a prática. O Arco de Maguerez
foi elaborado na década de 70 do século XX e tornou-se público por Bordenave e Pereira
a partir de 1977 e é composto por cinco etapas distintas: observação da realidade, pontos-
-chave, teorização, hipóteses de solução e aplicação na realidade (COLOMBO; BERBEL,
2007; BORILLE, 2012)
A observação da realidade é o ponto de partida, que de maneira ampla procura-se
identificar o que deve ser trabalhado, investigado, corrigido ou aperfeiçoado, expondo refle-
xões do contexto em que o problema se insere. Os pontos-chave são os possíveis fatores e
determinantes do impasse que vão orientar a pesquisa. Teorização é a fase onde se discorre
sobre os pontos-chave por meio da obtenção de dados e busca bibliográfica que embasa o
ponto de vista do pesquisador. Tendo o problema em evidência, busca-se pelas hipóteses de
solução que podem ser a curto, médio e longo prazo. E por fim, a aplicação na realidade, que
exige um compromisso do pesquisador com a realidade, devendo manejar as propostas de
intervenção, colocando-as em prática com o objetivo de transformar a realidade (BORILLE,
2012; COLOMBO; BERBEL, 2007).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A aplicação da Metodologia Problematizadora

A escolha do tema se deu por observações em práticas de estágios em Estratégias de


Saúde da Família, de que a saúde da mulher é normalmente retratada na sua fase reprodu-
tiva, havendo uma baixa disseminação de informações sobre o climatério e a menopausa
nas ações educativas em saúde da mulher na Unidade Básica de Saúde e logo percebeu-
-se uma deficiência de conhecimento entre a população feminina, no que se refere aos

20
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
sinais, sintomas, cuidados com a alimentação, exercícios físicos e tratamentos indicados
para o climatério.
Dessa forma, a problemática referente à assistência de enfermagem à mulher no clima-
tério observada pelos discentes, contribuiu para o levantamento dos seguintes pontos-chave:
“Limitações do conhecimento das mulheres acerca dos cuidados em saúde no climatério” e
“Bem-estar psicológico e qualidade de vida das mulheres no climatério”.
Após levantamento teórico, surgiram as hipóteses de solução, que foram elaboradas
com foco na interação entre os acadêmicos e o público em questão com o intuito de fornecer
esclarecimento sobre a menopausa e o climatério, seus sinais e sintomas a nível fisiológico
e psicológico, mediando mudanças no estilo de vida, por meio de uma roda-de-conversa e
uso de dinâmica sobre os mitos e verdades na respectiva ESF onde se observou o problema.
A escolha dessa abordagem se deu porque possibilita a interação entre o pesquisador
e os participantes da pesquisa, não sendo uma abordagem fechada e diretiva em que se faz
perguntas em procura de respostas, mas sim, uma discussão na qual os participantes são
incentivados a emitirem opiniões sobre o tema de interesse (MELO; CRUZ, 2014). O instru-
mento de mitos e verdades sobre a menopausa do Ministério da Saúde, na forma de dinâmica,
auxiliou na conversação e possibilitou maiores esclarecimentos sobre o tema (BRASIL, 2018).
As atividades educativas foram realizadas em dois momentos; o público alvo eram mu-
lheres que se encontravam aguardando atendimento ou estavam acompanhando pessoas
na UBS, assim, o primeiro momento consistiu na distinção entre menopausa e climatério,
em seguida a realização da dinâmica de mitos e verdades.

A dinâmica de mitos e verdades sobre a menopausa

Para promover a interação entre as participantes, perguntas da dinâmica foram escritas


em papéis, dobrados e colocados em uma caixa que era repassada na roda e as mulheres
retiravam um papel, faziam a leitura da pergunta, todas respondiam se era mito ou verdade,
e na sequência, os pesquisadores falavam a resposta correta e o porquê, por conseguinte
abriu-se espaço para as integrantes exporem seus questionamentos. Ressalta-se que a
dinâmica foi primordial para o sucesso da ação educativa de promoção à saúde, uma vez
que através dessa atividade educativa o público alvo estabeleceu uma interação direta e
sanou suas dúvidas e compartilhou suas experiências.
As questões foram as seguintes: “A mulher sente mais calor?”, “Há alteração de hu-
mor?”, “O único tratamento possível é a reposição hormonal?”, “Depois da menopausa não
é possível engravidar?”, “Ela reduz a libido?”, “Menopausa só chega depois dos 50 anos?”,
“Mulher fica mais suscetível a algumas doenças?”, “A menopausa causa problemas como
insônia?”, “Depressão e ansiedade são comuns nessa fase?”, “O que fazer para amenizar
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
os sintomas?”, “É preciso se alimentar bem e praticar exercícios físicos?”, “A menopausa
altera a aparência de pele, unhas e cabelos?’’.
A primeira questão lida foi “a terapia de reposição hormonal (TRH) é o único tratamento
possível?”. As mulheres presentes negaram a colocação e expuseram que acreditam existir
outros meios. Assim, foi explicado que a TRH é indicada para as pacientes que apresen-
tam os sintomas de forma exacerbada, prejudicando a qualidade de vida, e que existem as
contra indicações de sua utilização como a pré-disposição ao câncer de mama. Além disso,
segundo Bella et al., (2016) a Terapia Hormonal (TH) tem sido utilizada até 10 anos após a
menopausa ou até os 60 anos de idade, a fim de reduzir os agravos referentes a diminuição
da produção natural dos hormônios.
A partir disso, foi explicado sobre os tratamentos alternativos como a fitoterapia alia-
da a adoção de hábitos de vida saudáveis. Um exemplo de planta medicinal que pode ser
utilizada é a cidreira, preparada na forma de chá. Dentre os seus benefícios encontra-se o
efeito calmante, diminuindo a irritabilidade sintomática do período e melhorando a qualidade
do sono (BRASIL, 2008).
Destacou-se a importância de manter uma alimentação equilibrada, rica em frutas,
verduras e legumes. As vitaminas e minerais encontradas nesses alimentos auxiliam no
bom funcionamento do organismo, combatendo o ganho de peso excessivo e prevenindo
agravos. As refeições principais (café da manhã, almoço e jantar) devem ser realizadas e em
momento oportuno. No intervalo entre elas, deve-se ingerir pequenas porções de alimentos,
preferencialmente frutas (BRASIL, 2016).
A prática regular de exercício físico combinada à alimentação saudável resulta em mui-
tos benefícios para o organismo, como redução no peso corporal, melhora da capacidade
cardiovascular e respiratória, ganho de massa óssea, a diminuição da pressão arterial em
hipertensas, melhora na tolerância à glicose e na ação da insulina e ainda auxilia na preven-
ção de doenças cardiovasculares e diabetes, câncer de cólon e de mama (BRASIL, 2008).
São recomendadas atividades de várias naturezas, dando prioridade aos exercícios
aeróbios (caminhada, natação, hidroginástica) e à musculação, desde que devidamente
orientados por profissionais da área (BRASIL, 2008). Além de melhorar o condicionamento, a
literatura apresenta a importância do exercício físico sobre os aspectos sociais, melhorando
a independência, a autonomia e contribuindo emocionalmente no fato de sentirem-se úteis
em sociedade, além de reduzir escores para depressão e ansiedade em indivíduos com
mais de 60 anos (SILVA, 2015).
A segunda indagação foi “depois da menopausa não é possível engravidar?”. O público
teve um grande desempenho nesta pergunta, pois a maioria afirmou ser verdadeira. Deste
modo, foi explanado que a menopausa consiste na última menstruação, caracterizando a
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
falência ovariana e, portanto, o organismo torna-se incapaz de gerar um feto. A menopausa
é definida após a ausência da menstruação por um período de 12 meses.
Foi questionado também sobre as alterações psicológicas durante o climatério. Uma
das participantes comentou sobre sentir estresse e mudança de humor repentina. Conforme
Freitas; Barbosa (2015), o climatério coincide, frequentemente, com eventos significativos
que podem interferir no estado emocional da mulher. Dentre outros, menciona-se a mudança
nos papéis sociais, que está diretamente relacionada à sensação de valor produtivo, quer
seja laboral, familiar ou comunitário, à autoimagem e à incerteza acerca da qualidade de
vida na velhice.
Com todas essas mudanças, as mulheres precisam se apoiar nos amigos, família e no
parceiro é um momento propício para conversas, compreensão, carinho e demonstração de
afeto, o que muitas vezes não acontece porque tanto a mulher e aqueles ao seu redor não
conseguem entender esse processo, acarretando estresse e ansiedade. Por isso é tão difícil
para a mulher compreender que o climatério/envelhecimento se trata de um processo natural
e que deve ser enfrentado com gratidão e veemente vontade de viver (SOARES et al., 2012).
Assim, apesar de o corpo feminino ser marcado pelo ciclo biológico-reprodutivo, a mu-
lher não pode ser reduzida à dimensão fisiológica. No climatério, as alterações hormonais,
são acompanhadas pela desvalorização estética do corpo e por toda uma sintomatologia
de intensidade variada, que surgem como sintoma depressivo e sinalizam o envelhecimento
inevitável. Nesta etapa, as mulheres se dão conta que a vida tem um fim. Trata-se de um
tempo vivido com muita contradição, pois diante da percepção do limite de tempo cronoló-
gico, certezas podem ruir e dúvidas aumentarem (BRASIL, 2008).
Um outro questionamento foi “A menopausa altera a aparência da pele, unhas e ca-
belos?”. À essa afirmativa nem todas as participantes responderam corretamente, pois
relataram ser mito. Diante disso, foi orientado que a menopausa é uma etapa da vida da
mulher marcada por várias mudanças físicas e emocionais, e entre essas transformações
corporais pode ser destacada a mudança da pele, cabelo e unhas, uma vez que o organis-
mo diminui a produção de estrogênio e consequentemente diminui os níveis de colágeno
no corpo, proteína que está encarregada pela elasticidade da pele. Desse modo, a pele fica
mais suscetível ao aparecimento de rugas, além de ficar com um aspecto mais fino. Essa
diminuição do estrogênio também provoca queda de cabelo excessiva e faz com que as
unhas se tornem mais finas e quebradiças (BRASIL, 2016).
A quinta questão abordada consistiu em: “A mulher reduz a libido?”. A maioria das
participantes julgou ser mito, o que não corrobora com a literatura, pois as transformações
corporais previstas nesse período acometem cerca de 60% a vida sexual das mulheres, o que
consequentemente pode causar um impacto sobre o desejo sexual da mesma. Além disso,
23
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
é válido destacar que uns dos principais fatores para a redução da libido é a secura vaginal,
que pode acarretar um grande desconforto ou sensação de ardor durante a penetração. Para
alívio dos sintomas, é indicado o uso de lubrificante íntimo à base de água (BRASIL, 2008).
A sexta indagação explanada foi: “A mulher nessa fase fica mais suscetível a algu-
mas doenças?”. As participantes expressaram dúvida em relação a esta afirmativa, de todo
modo, a mesma é verdadeira. Segundo o Ministério da Saúde, a carência estrogênica pode
acarretar uma maior probabilidade para se adquirir doenças cardiovasculares, osteoporose,
câncer de mama, bem como, ganho excessivo de massa abdominal, uma vez que após a
menopausa pode haver um aumento significativo de 20% da gordura corporal e, deste modo,
amplia o risco para as doenças cardiovasculares, devido também a diminuição dos níveis
de estradiol (BRASIL, 2016).
O último questionamento discutido constitui-se por: “A menopausa só chega depois
dos 50 anos?”. As integrantes afirmaram ser verdade, porém, de acordo com a literatura, a
falência ovariana pode ocorrer precocemente por volta dos 35 a 40 anos de forma natural
ou induzida, após procedimentos cirúrgicos que levam à parada da produção hormonal
ovariana. O esgotamento folicular inicia-se por meio de um processo contínuo de atresia,
se intensificando mais ainda próximo da menopausa até a total falência ovariana, causando
assim uma queda progressiva da secreção de estradiol, que levará a uma série de manifes-
tações sistêmicas (VIEIRA, 2018).

Como transformar a realidade?

Com o intuito de orientar sobre hábitos de vida saudáveis foram apresentados os Dez
passos para alimentação saudável em anexo no Manual de Atenção à Mulher no Climatério,
seguida de oferta de café da manhã rico em frutas regionais e de fácil acesso para adequar
a alimentação à realidade vivida por elas tais como a manga, melancia, abacaxi, mamão,
laranja e maçã. Somava-se à mesa o bolo de milho e sucos de acerola e abacaxi, além do
chá de erva cidreira.
Além disso, foi entregue um panfleto informativo sobre o que é o climatério a cada
mulher, no qual informava sobre o que é a menopausa e climatério, as manifestações, a
forma de lidar diariamente com os sintomas, opções de tratamento e guia de estilo de vida
saudável. Esse panfleto foi elaborado pelos pesquisadores, baseado no Protocolo de Atenção
Básica às Mulheres (BRASIL, 2016).

24
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
CONCLUSÃO

Diante do exposto, a atividade promovida pelos discentes contribuiu para uma melhor
percepção das mulheres sobre o climatério e menopausa, na qual foi possível esclarecer
mitos e crenças amplamente disseminados na sociedade e que corroboram negativamente
no cuidado à mulher climatérica. A aplicação do Arco de Maguerez na pesquisa também foi
de suma importância, especialmente no processo de sistematização do estudo e na escolha
das intervenções: roda de conversa e dinâmica de mitos e verdades.
Observou-se que algumas mulheres já possuíam um conhecimento científico sobre o
assunto, outras entendiam o tema só com o conhecimento popular, assim esse saber foi
aprimorado através da discussão. O caráter lúdico da dinâmica permitiu uma melhor interação
do grupo e impulsionou a troca de saberes. A troca de experiências ocorrida durante a roda
de conversa e a dinâmica de mitos e verdades colaboraram para uma visão realista acerca
da necessidade de promover educação para a saúde integral das mulheres.
É notável que a lacuna no conhecimento influencia diretamente no sucesso da qua-
lidade de vida das mulheres do climatério, sendo assim, é necessário que a cultura do co-
nhecimento baseado em evidências científicas se sobressaia em relação aos mitos que se
perpetuam na sociedade. Com as informações passadas de maneira prática e acessível,
subentende-se que os conhecimentos serão passados e compartilhados no meio onde as
mesmas convivem, de modo que as mulheres que participaram tornaram-se propagadoras
de conhecimento e agentes de transformação social.

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2357-707x.2018.v9.n2.108
26
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
02
A experiência do parto de um grupo
de mulheres de uma unidade de saúde
da família de Sorocaba/SP

Jhonata William Mergis Carnelós

Caroline de Oliveira Lima

Janie Maria de Almeida

10.37885/210203174
RESUMO

A vivência do parto e o nascimento de um filho representam um momento singular e


uma experiência marcante e significativa na vida de uma mulher e de sua família. Este
estudo, com abordagem qualitativa, tem o objetivo de investigar a experiência do par-
to de puérperas e conhecer o sentimento da mulher com a experiência da parturição.
Foram colaboradoras do estudo 12 puérperas com até 3 meses de pós-parto, cadas-
tradas em uma Unidade de Saúde da Família de Sorocaba/SP. A coleta de dados foi
realizada por meio de entrevista semiestruturada, guiada pelo Instrumento de Coleta de
Dados composto pelos dados sociodemográficos e obstétricos, e assinatura do Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os resultados obtidos foram através do
relato da experiência do parto de puérperas, sendo os dados posteriormente organizados
por meio do Discurso do Sujeito Coletivo.

Palavras-chave: Parto, Dor do Parto, Enfermagem, Acontecimentos que Mudam a Vida.

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

O nascimento de um filho, especialmente o primeiro, representa um marco na vida de


todos os envolvidos. Particularmente para a mãe, a gestação e o nascimento do bebê reper-
cutem profundamente nos planos físico, mental, emocional e social, e nenhum outro evento
na vida de um ser humano é tão complexo quanto o parto, pois ele envolve dor, sobrecarga
emocional, vulnerabilidade, possíveis danos físicos e até a morte, além de representar uma
mudança definitiva de papéis, incluindo a responsabilidade de cuidar e de promover o de-
senvolvimento de outro ser humano, totalmente dependente1.
A vivência do parto é, geralmente, um momento singular e uma experiência marcante
e significativa na vida de uma mulher, representa uma trajetória importante em sua vida e
de sua família. Durante anos, esse acontecimento e os sentimentos experienciados frente
ao nascimento de seu filho serão lembrados, nos mínimos detalhes, pela mulher que teve
a oportunidade de gerar e parir2.
A mulher guarda relação com a cultura, os valores e as crenças, que são fortes ele-
mentos que possuem em seu patrimônio cultural, repassados de geração a geração. Um dos
aspectos importantes que o exemplificam é a dor do parto, a qual muitas mulheres acreditam
que marca o início da maternidade, por aflorar o sentimento de ser mãe, pela proximidade do
encontro com seu filho esperado e imaginado por meses. Por isso, muitas mulheres afirmam
que a felicidade sentida com o nascimento de seu filho compensa todo o processo doloroso
do parto, e independente da paridade da mulher, a experiência de cada parto é única2,3,4.
Do ponto de vista emocional, o parto representa um processo de separação: dois
seres, até então unidos, precisam se separar. Na verdade, o parto é, por si só, um evento
de significância psicológica incontestável e não apenas o meio pelo qual as mulheres se
tornam mães, e o contato imediato com o filho após o nascimento mostra ser um dos fatores
associados a uma vivência positiva do parto5.
Para a mulher, o parto é a hora de pôr à prova sua competência feminina de gerar,
sua competência materna de cuidar e sua competência física de suportar as dores, resistir
à retaliação de seus órgãos genitais e, ainda, nutrir seu filho através da amamentação5,6.
O momento do parto e o potencial da mulher em reviver as etapas iniciais do desenvol-
vimento reativam emoções e formas de comunicação primitivas, em razão da sua condição
de fragilidade e regressão, e sua sensibilidade ficar aumentada, permitindo sua identificação
com o bebê, o que aproxima a vivência emocional da mãe da vivência emocional do bebê7.
O parto além de ter um potencial de transformar-se em uma situação traumática para
a mulher que dá à luz, na medida em que a obriga a lidar com sentimentos de perda e se-
paração do próprio filho, é um evento feminino por excelência, e é a mulher a atriz principal
nesse palco dos acontecimentos8.
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Além disso, a mulher se sente na obrigação de abandonar seu papel de filha e assumir
o de mãe e aprender a lidar com toda a pressão social do papel de ser mãe, mas o parto
também dá à mulher a oportunidade de reviver seu próprio nascimento e de renascer como
mulher, além de nascer como mãe6.
O parto, por sua natureza, não é um evento neutro – ele tem força para mobilizar gran-
des níveis de ansiedade, medo, excitação e expectativa e, por sua intensidade, pode ajudar
na reformulação da identidade da mulher, onde as memórias sobre o parto permanecem
vivas em nível cognitivo e psicológico, e continuam influenciando as percepções da mulher
sobre a experiência por muito tempo7.
Um aspecto relevante é relacionado à assistência baseada nos valores culturais, res-
peitando as práticas de saúde das mulheres e seus componentes familiares, a fim de que
as verdadeiras necessidades sejam atendidas, buscar um cuidado cultural não só à mãe e
ao filho, como também à família, partilhando os medos, as angústias e as realizações, lem-
brando sempre que a enfermeira tem grande papel a cumprir, intervindo diretamente junto
à parturiente no pré-parto e sala de parto, na assistência ao parto normal9.
Nesse sentido, o presente estudo se justifica por dar importância à experiência do parto
na perspectiva da mulher, que gerou e pariu. Recordar esses acontecimentos e sentimentos
experienciados frente ao nascimento de seu filho permite à mulher retomar e desenvolver
um protagonismo do parto em seu futuro reprodutivo.

Objetivos gerais

– Investigar a experiência do parto de puérperas/ mães com até 3 meses de pós-par-


to.
– Conhecer o sentimento da mulher com a experiência da parturição;
– Aperfeiçoar a formação e as habilidades do aluno na atenção à saúde da mulher.

METODOLOGIA

Estudo exploratório com abordagem qualitativa, descritivo, realizado com 12 puérperas


atendidas na Unidade Saúde da Família (USF) do interior do estado de São Paulo.

Cenário de estudo

O estudo foi realizado em uma Unidade de Saúde da Família de Sorocaba, a qual se


localiza na zona sul do município, assiste às pessoas que residem na sua área de abrangên-
cia, composta por 4 bairros onde são atendidas mais de 2.000 famílias nos programas de

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
hipertensos, diabéticos, de atenção à criança e atenção à mulher. O Programa de Atenção
ao Pré-Natal tem 60 gestantes por mês.

Sujeitos da pesquisa

Foram colaboradoras do estudo 12 puérperas até o 3º mês pós-parto atendidas no


Programa de Pré-Natal da Estratégia de Saúde da Família Vila Sabiá.

Critérios de Inclusão e Exclusão

Os critérios para inclusão foram as puérperas, com registro SISPRENATAL e que


aceitaram participar da pesquisa. As puérperas apresentaram até 3 meses de pós-parto.
Foram consideradas como critério de exclusão, puérperas com mais de 3 meses pós-parto.

Aspectos Éticos

O projeto foi aprovado na regulamentação da Resolução CNS n.°466/12- Diretrizes


e Normas Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos, parecer
de nº 1.025.519.

Coleta de Dados

A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista semiestruturada, guiada pelo
Instrumento de Coleta de Dados – ICD, durante os meses de setembro, outubro, novembro
e dezembro, composto por dados sociodemográficos das puérperas (idade, escolaridade,
ocupação) e variáveis obstétricas (paridade e tipo de parto).
A abordagem das puérperas ocorreu na USF e em suas residências, na qual houve a
explicação dos pesquisadores sobre a pesquisa, e solicitação da assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE. Os relatos/narrativas foram gravados por meio
de gravador de voz de dois celulares Samsung, seguindo a pergunta norteadora: “Fale-me
sobre a sua experiência deste parto. Como foi para você?”.
As entrevistas foram bem tranquilas, e as puérperas foram bem receptivas e dispos-
tas a relatar suas experiências. As entrevistas tiveram duração de aproximadamente 10
minutos, e seguiu com naturalidade, no qual não houve necessidade de muita intervenção
dos pesquisadores.

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Tratamento dos dados

Os relatos foram transcritos e analisados segundo a metodologia de Discurso do Sujeito


Coletivo - DSC (Lefèvre e Lefèvre, 2000)10 que é uma proposta de organização e tabulação
de dados qualitativos de natureza verbal, obtidos de depoimentos.
O Discurso do Sujeito Coletivo é uma modalidade de apresentação de resultados
de pesquisas qualitativas, que tem depoimentos como matéria prima, sob a forma de um
ou vários discursos-síntese escritos na primeira pessoa do singular, expediente que visa
expressar o pensamento de uma coletividade, como se esta coletividade fosse o emis-
sor de um discurso.
Esta técnica consiste em selecionar, de cada resposta individual a uma questão, as
Expressões-Chave, que são trechos mais significativos destas repostas. A essas Expressões-
Chaves correspondem “Ideias Centrais” que são a síntese do conteúdo discursivo manifes-
tado nas Expressões-Chave. Com o material das Expressões-Chave das “Ideias Centrais”
constroem-se discursos-síntese, na primeira pessoa do singular, que são os DSCs, no qual
o pensamento de um grupo ou coletividade aparece como se fosse um discurso individual.
No início utilizamos o software do DSC que foi adquirido pela Faculdade de Ciências
Médicas e da Saúde, disponibilizado no laboratório de informática da Faculdade, mas por
falta de informação e apoio técnico sobre o software não foi possível utilizá-lo. Desta forma
as etapas do DSC foram concluídas manualmente.
Após a transcrição das doze entrevistas, foram identificadas as Expressões-Chave
de cada, buscando os trechos mais significativos dos relatos, e em seguida elaboradas as
“Ideias Centrais” que formaram os discursos-síntese e, por fim, os DSCs.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram entrevistadas 12 puérperas, das quais foram investigados os dados sociode-


mográficos: escolaridade e profissão, e as variáveis obstétricas, paridade e tipo de parto
apresentados na Tabela 1 a seguir:

Tabela 1.Caracterização sociodemográfica e obstétrica das puérperas da ESF


SOROCABA 2016
IDADE Nº DE ENTREVISTADAS %
< 20 5 38,46
20 a 30 4 30,77
31 a 35 2 15,38
> 35 2 15,38
ESCOLARIDADE %
ENS. FUND. COMP. 0
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SOROCABA 2016
IDADE Nº DE ENTREVISTADAS %

ENS. FUND. INCOMP. 0


ENS. MÉDIO COMP. 8 61,54
ENS. MÉDIO INCOMP. 4 30,77
ENS. SUP. INCOMP. 1 7,69
ENS. SUP. INCOMP. 0
PROFISSÃO %
AUTÔNOMA 0
DESEMPREGADA 2 15,38
CARTEIRA ASSINADA 4 30,77
LAR 7 53,85
PARIDADE %
1 7 53,85
2 4 30,77
3 1 7,69
4 0 -
5 OU MAIS 1 7,69
PARTO %
NORMAL 9 69,23
CESÁREA 4 30,77
FÓRCEPS 0
TOTAL 12 100%

A faixa etária predominante entre as mães pesquisadas está na faixa de 17 a 37


anos. A maioria possui escolaridade com ensino médio completo, sendo que as mais jovens
ainda cursam. Poucas são as mães que possuem emprego com carteira assinada, o maior
percentual referiu ser “do lar”. A paridade dessas mulheres está em torno de 1 a 2 filhos,
enquanto 2 mulheres relataram ter 3 filhos e 5 filhos.
O tipo de parto prevalente foi o normal, realizado por 9 mulheres, e 4 cesáreas.
Este grupo de mulheres pesquisadas se caracteriza por adolescentes e jovens, com
ensino médio completo, do lar, primíparas e tiveram parto normal.
Em resposta às questões norteadoras das entrevistas, foram obtidos relatos sobre a
experiência do parto das mães no período de até 3 meses do pós-parto. Os DSCs construí-
dos a partir destas respostas e foram identificados pelas IC correspondentes e organizados
em temas, conforme se apresenta a seguir:

1. Dor no parto.
2. Sentimento do parto.
3. Atendimento da equipe no hospital.
4. Acompanhante durante o parto.
5. Intervenções.
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
6. Diferença entre um parto e outro.
7. O “vai-e-vem” até internar.
8. Complicações.

Os discursos formulados serão apresentados com a respectiva discussão.

DSC 1 – Dor no parto

“A dor maior que senti foi em casa, mas cheguei no hospital sentindo muita dor, e foi
uma dor infinita, mas no fim suportável. Fiquei um bom tempo esperando e as dores au-
mentaram, ninguém fez nada e não estava mais aguentando. Começou com dores fracas,
e foi piorando com o passar das horas, uma dor insuportável, pensei que ia morrer. A bolsa
rompeu e as contrações começaram de 5 em 5 minutos. Sofri com dor nos pontos após
alguns dias de cesárea. Senti muita dor, mas foi uma dor válida.”
O discurso construído com a fala da totalidade das mulheres expressou a dor no parto
como a primeira lembrança mais marcante dessa experiência, com referência a diversos
tipos de dor, variando em sua intensidade, experimentando extremos com momentos de
dor insuportável.
O parto normal, como um processo doloroso se apresenta como experiência tão antiga
quanto à própria existência humana. Determinado culturalmente, envolve aspectos emocio-
nais e físicos, e tem significado de experiência traumática para a mulher.
A dor do parto é identificada histórica e culturalmente como uma experiência inerente ao
processo de parturição, associada à ideia de sofrimento e um evento esperado pela maioria
das mulheres de diferentes culturas.24
Esse sentimento foi a principal queixa referida pelas mulheres: a dor no parto é, de
acordo com o artigo de Nilza Alves Marques et al. uma característica específica que envolve
aspectos fisiológicos, psicológicos e socioculturais, o que a diferencia de outros tipos de
dor, como dor aguda intermitente, que vem com a contração e aumenta de intensidade aos
poucos até atingir seu pico máximo. A sua intensidade pode variar de mulher para mulher
e de gestação para gestação ao longo do trabalho de parto até a expulsão do feto, sendo
que diversos fatores, entre eles, o limiar individual, o grau de relaxamento, o ambiente de
atendimento, a presença e apoio de familiares e de profissionais, dentre outros, podem
influenciar nessa variação.13
Já no artigo de Manuela Beatriz Velho et al. procedimentos dolorosos e inesperados
contribuem para a elevação dos níveis de dor, tais como a realização de amniotomias ou
administração de ocitocina, realizados para acelerar o trabalho de parto.3

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
A dor do parto é uma das dores mais severas que as mulheres experimentam durante a
sua vida e pode afetar as mães e a vida de outros membros da família em diversos aspectos,
como na parte física, mental, emocional e social, desde o planejamento familiar, expecta-
tiva da chegada do novo membro da família, até as alterações na rotina. Além disso, essa
dor pode ser uma causa de ansiedade e medo para a próxima gravidez. A importância da
presença do marido e outro membro da família para receber conforto físico e tranquilidade,
durante todas as fases do processo de trabalho de entrar na sala de parto reforça a segurança
e proporciona a sensação de conforto e bem-estar entre as puérperas, o que alivia a dor.18
Em um estudo realizado na área semiurbana da Índia, relata que a intensidade da dor
do parto é menor para as mulheres que possuem educação superior, provavelmente devido
ao aumento da incidência de intervenção neste grupo, como administração de medicamentos
para alívio da dor e analgesia. Para as mulheres que sofriam de dor de parto, a possibilidade
se dá por conta da falta de consciência e alfabetização. Pacientes com status social, maior
segurança emocional e empoderamento sexual são mais propensos a se preparar para o
parto do que aquelas que vêm da periferia.19

DSC 2 – Sentimento do parto

Senti alívio com o nascimento e medo depois, achando que o bebê poderia entrar em
óbito, por conta dos partos anteriores. Foi uma coisa muito boa, uma sensação inexplicável,
o meu olho se encheu de lágrima. Foi uma sensação única, a minha única reação foi o choro
quando vi a bebê pela primeira vez, foi gratificante. Não tem como explicar, é uma emoção
muito forte, uma coisa muito maravilhosa de ver o bebê logo após o parto, um momento
inexplicável. É amor mesmo.”
Cada mulher tem uma maneira diferente de expressar e demonstrar os seus sentimen-
tos, e viver o seu momento do parto, sendo ele de uma forma positiva ou negativa, e é nesse
sentido que as puérperas relataram ter tido sentimentos positivos com relação ao parto,
apesar dos momentos dolorosos mencionados. As puérperas demonstraram sentimentos
ambivalentes exemplificados por alívio e medo.
Algumas puérperas relatam que por causa da dor não sentem mais vontade de ter
outro filho, apesar da sensação única e emocionante que tiveram, o que mostra que para
essas puérperas, a dor é mais presente que o sentimento no momento do parto, o que leva
a uma experiência um tanto traumática e diferente do que pensavam.
Já para o restante delas, os sentimentos que tiveram com o nascimento de seus filhos
superaram qualquer tipo de trauma e dor sentidos em todo o processo até lá, mostrando que
para elas o único momento que importou foi ver seu bebê pela primeira vez.

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Stern, Bruschweiler e Freeland (1999) destacam que o parto é uma experiência que
vem acompanhada por emoções e vivências inesquecíveis, muitas vezes impossíveis de
serem expressas em palavras. Para a maioria das mulheres, decorre por ser um even-
to demasiadamente primitivo e profundo, difícil de ser totalmente assimilado e traduzido.
Inegavelmente, o parto é uma experiência que exerce uma sobrecarga emocional sobre o
psiquismo materno, o que faz pensar que seja necessário um período de tempo para que a
experiência seja elaborada psicologicamente e traduzida em palavras.1
Sentimentos como ansiedade e medo associados ao trabalho de parto dificultam a
participação ativa da mulher no nascimento do seu filho. Além dos aspectos físicos e emo-
cionais, as variações culturais e as características pessoais influenciam a atitude das mu-
lheres na hora de dar à luz, por conta disso o parto é vivenciado de maneira distinta por
cada uma delas.20
O cuidado cultural deve ser empregado não só à mãe e ao filho, como também à família,
partilhando os medos, as angústias e as realizações, pois o nascimento do bebê e o contato
com a mãe imediatamente são considerados pelas puérperas a recompensa de todo o esfor-
ço empreendido, compensando sua vivência do processo doloroso ou traumático do parto.9

DSC 3 – Atendimento da equipe no hospital

Cheguei no hospital e já fui atendida, não tenho do que reclamar, tive todo o apoio que
precisava da equipe, me ensinaram e auxiliaram nos cuidados. Só não tive auxílio da equipe
para tomar banho e amamentar. Gostei do atendimento, foi muito bom, tirei a sensação de
medo do hospital. As enfermeiras sempre me atenderam bem, mas fiquei muito tempo espe-
rando no pré-parto e demoraram para me ver, e isso foi ruim. O problema foram os médicos
tirarem o conceito um do outro. O atendimento da equipe foi ótimo, os pediatras são bons,
mas um médico estragou o processo. Somente uma médica que foi excelente me ajudou
no parto, me passou tranquilidade. Fui mal atendida pelos médicos, mas as enfermeiras e
o anestesista me trataram bem.”
O discurso da maioria das puérperas sobre o atendimento da equipe de enferma-
gem e médica, citada algumas vezes, que tiveram durante a internação, foi satisfatório, no
qual foi ressaltada a importância da ajuda e apoio de alguns profissionais no momento do
trabalho de parto.
Os profissionais de saúde têm um papel importante no processo de parto e nascimento,
devendo colocar seu conhecimento a serviço do bem-estar da mulher e do bebê, reconhe-
cendo momentos críticos em que suas intervenções são necessárias para assegurar a saúde
de ambos (BRASIL, 2003).

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
De acordo com o MS, é importante que esses profissionais vejam o parto como um mo-
mento fisiológico e de protagonismo da mulher, sendo um evento feminino por excelência, e
é a mulher a atriz principal nesse palco dos acontecimentos, respeitando o seu significado e
garantindo à mulher o seu direito de ser mãe com humanidade e segurança (BRASIL, 2001).
Quando a equipe de enfermagem proporciona um ambiente acolhedor e cordial, sendo
receptiva com as parturientes, promove o acolhimento, que implica na atenção do profis-
sional à mulher, ouvindo suas queixas, preocupações, angústias e dúvidas, procurando dar
resolutividade às necessidades identificadas, ajudando a diminuir suas ansiedades e medos
relacionados ao parto (apud NASCIMENTO et al., 2010).
O cuidado humanizado e o conforto fazem do parto uma experiência singular. Uma
assistência em que prevaleça o respeito à dignidade e individualidade feminina, colabora
para o bem-estar físico e emotivo da parturiente, conduzindo a uma boa evolução do trabalho
do parto (apud MOURA et al., 2007).17

DSC 4 – Acompanhante no parto

“Fiquei preocupada do meu marido não poder entrar para assistir o parto, mas ele
acompanhou depois e foi muito importante ter ele do meu lado para poder ter a nossa fi-
lha. A melhor coisa que fizeram foi deixar alguém da família na hora do parto, porque me senti
segura. Minha mãe assistiu o parto, e foi bom ter um apoio, ainda mais que sou mãe solteira.”
A maioria das mulheres relatou a importância de ter um acompanhante no momento
do parto, no qual se sentiram mais seguras e melhores emocionalmente, demonstrando
estarem mais bem preparadas para o momento do parto com uma pessoa ao lado para dar
apoio e dividir o parto e nascimento de seus filhos.
O acompanhante proporciona suporte psicológico para a parturiente e pode represen-
tar uma maneira da mulher diminuir a sua ansiedade e levar o trabalho de parto de forma
mais tranquila (BRASIL, 2001). A participação do familiar no parto transmite segurança e
tranquilidade e reduz o medo (apud FRELLO; CARRARO, 2010).17
O pai do bebê pode ser considerado o acompanhante ideal para a mulher no proces-
so de parturição, devido a fatores como a formação de vínculo e a representação de laços
de família, uma vez que, ao acompanhar o nascimento do filho, ele estaria afirmando sua
paternidade, assim como valorizando seu papel.
A presença do pai na cena do parto, acompanhando a evolução do trabalho de parto e
parto da mulher, apoiando-a constantemente, tem consequências no desfecho do nascimento
do bebê: efeitos positivos na construção do vínculo entre o pai e o recém-nascido, assim
como estímulo à mulher no momento de parir, podendo dessa forma, diminuir intercorrências

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
durante o processo de nascimento o qual certamente será lembrado de forma marcante
na vida do casal.
A Lei no. 11.108, de 7 de abril de 2005, obriga os serviços de saúde da rede pública ou
conveniada ao Sistema Único de Saúde (SUS) a permitirem a presença do acompanhante
escolhido pela parturiente, durante todo o período de trabalho de parto, parto e puerpério
e a escolha do apoio do pai da criança durante estes eventos faz parte das propostas de
humanização da assistência. Quanto ao direito ao acompanhamento do processo de nasci-
mento, constatou-se a existência de uma população de pais e familiares que, na sua maioria,
embora orientada sobre os procedimentos durante o acompanhamento, desconhece o seu
direito legal e atrela a oportunidade de poder acompanhar o nascimento do seu ente querido
à mera benevolência da equipe médica.16

DSC 5 – Intervenções

“Tive indução no pré-parto com soro e comprimido, colocaram uma pílula por baixo pra
começar a contração. A médica rompeu minha bolsa para dilatar mais rápido, e me deu um
remédio para ajudar. Foi colocado antibiótico no soro por conta da bolsa ter rompido e na
hora do parto o médico realizou a manobra de Kristeller, rasgaram meu útero.”
A maioria das puérperas relatou algum tipo de intervenção obstétrica realizada antes,
durante ou depois do parto, o que foi primordial para marcar a experiência do parto que
tiveram, sendo uma recordação que muitas não têm felicidade em lembrar. A administra-
ção de ocitocina, por exemplo, relatada como “soro”, realizada para acelerar o trabalho de
parto, foi um dos principais pontos citados nas entrevistas, o que mostra que atualmente
as intervenções para agilizar o processo de parturição estão cada vez mais presentes em
nossa sociedade.
A classificação das práticas no parto normal traz claramente aquelas utilizadas de modo
inadequado, consideradas pelo Ministério da Saúde como prejudiciais ou ineficazes e que,
portanto, devem ser eliminadas ou reduzidas (BRASIL, 2001). Constata-se que a manobra
de Kristeller é uma prática realizada com frequência, o que prejudica a evolução fisiológica
do trabalho de parto, causando desconforto e mal estar.
De acordo com o artigo de Maria do Carmo Leal et. al. a persistência do uso de inter-
venções dolorosas e desnecessárias, tais como a episiotomia e a manobra de Kristeller,
demonstra que melhorias ainda são necessárias. Em seu estudo, o uso de ocitocina durante
o trabalho de parto foi mais frequente entre as usuárias do setor público e nas gestantes
de menor escolaridade, os mesmos grupos que apresentaram menor frequência do uso de
analgesia obstétrica, reforçando a prática do parto doloroso, que pode trazer como conse-
quência o temor do parto vaginal e o aumento do prestígio da cesariana entre as mulheres
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
brasileiras. As intervenções sofridas, tais como episiotomia, manobra de Kristeller e cesa-
riana, dão início a uma história reprodutiva marcada por cicatrizes e perda da integridade
do tecido perineal e uterino.11
Um dos aspectos mais impressionantes da prática obstétrica brasileira, segundo ainda
o artigo de Maria do Carmo Leal et. al. é a pressa em provocar o nascimento das crianças,
sem respeito à autonomia das mulheres no processo de parturição. O controle do tempo
e a imposição da dinâmica do trabalho de parto e parto explicam o índice excessivo de in-
tervenções, incluindo as cesarianas, fazendo com que a assistência ao parto no Brasil seja
focada na decisão do médico e não na dinâmica do corpo da mulher.11

DSC 6 – Diferença entre um parto e outro

“No primeiro parto cheguei ao hospital praticamente ganhando, e nesse parto demorou
1 dia, foi a única diferença de parto. A médica foi examinando para ver a melhor hora para
encaminhar para a cesárea. No anterior tinha convênio, a cesárea foi agendada. No primei-
ro parto que foi cesárea não senti dor, apesar de o bebê ter passado da hora e feito cocô.
Nesse parto que foi normal, senti muita dor e sofri bastante. Nos partos anteriores os bebês
não chegavam a viver nem uma hora, o máximo que um bebê chegou foi dez dias. Nesse
parto fiquei mais tranquila por ver que o bebê estava bem.”
Das doze puérperas, cinco são multíparas. O parto representa um momento único,
e a experiência de dar à luz é tão marcante que, durante anos, o evento e os sentimentos
experimentados durante o nascimento do bebê são lembrados nos mínimos detalhes, sejam
eles bons ou ruins, o que para mulheres multíparas é inevitável a não relação da experiência
do último parto com os anteriores.
E essa lembrança comparativa se torna como marco essencial na hora da decisão do
tipo de parto e, principalmente, na decisão de reviver essa experiência na continuidade da
família tendo mais filhos, pois a experiência pode se variar nos extremos: emocionante e
realizativa, ou traumática e frustrante, sendo ambas inesquecíveis.
Os relatos evidenciam que independente do tipo de parto, e o ambiente hospitalar,
nenhum parto é como outro, havendo diversos fatores emocionais e fisiológicos que influen-
ciarão e interferirão na experiência da puérpera.

DSC 7 – O vai e vem até internar

Estava indo todos os dias na maternidade porque não aguentava mais. Fui ao hospital
dez horas da noite pra ver se podia ficar, aá a médica falou pra voltar no outro dia, eu vim em-
bora chorando e eles falavam que era pra voltar depois, só que chegando em casa comecei a

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
sentir muita dor, que foi piorando. Retornei ao hospital duas e meia da manhã. Ela examinou
minha bolsa estourou. Na rede pública fui bem atendida, mas acho que estava na hora.”
O trabalho de parto é um processo em que ocorrem várias mudanças fisiológicas, va-
riando de mulher para mulher, sendo impossível determinar exatamente o seu início. Essas
mudanças geralmente seguem o processo de: fase latente, que é a fase inicial do primeiro
período do parto, dando início às contrações regulares; fase ativa, onde as contrações são
mais fortes e longas; e fase de transição, última parte do primeiro período, as contrações
ficam mais frequentes e a dilatação se completa.
No entanto, pode ocorrer um falso trabalho de parto com contrações irregulares sem
dilatação do colo do útero, a gestante busca o atendimento hospitalar com a expectativa
de que é chegada a hora do parto. E após consulta e exame obstétrico, verifica-se que não
há indícios do trabalho de parto, a gestante é dispensada do serviço hospitalar, e acaba
retornando para casa com o sentimento de angústia e medo.
Esse processo se deve à falta de informações e preparo durante o pré-natal, a gestante
deveria ser orientada sobre os sinais evolutivos do trabalho de parto, fazendo com que dimi-
nuíssem as buscas pelo atendimento hospitalar por ansiedade, preocupação e julgamento de
início de parturição, que acarreta em um constante vai-e-vem entre o hospital e a residência.

DSC 8 – Intercorrências

Logo que ele nasceu eu tive hemorragia, a placenta descolou, fiquei um bom tempo
na mesa, até eles fazerem todo o processo de limpar tudo. Me disseram “vou te dar uma
ajudinha” e nessa ajudinha eles me machucavam, tanto que fizeram até cortes do lado e não
foram dados pontos e nem nada. Me ajudaram, porque eu passei mal depois, perdi muito
sangue. Depois da briga com a minha sogra, comecei a sentir dor e comecei a sangrar,
quando fui tomar banho vi que estava aberta minha cesárea, estourou quatro pontos, ficou
horrível minha cesárea depois disso.”
As intercorrências obstétricas foram relatadas por metade das puérperas entrevistadas,
sendo que quatro tiveram parto normal e duas por cesárea. Embora as intercorrências não
tenham gerado prejuízos significativos ao recém-nascido, afetaram direta ou indiretamente
o pós-parto da puérpera. Nos relatos descritos, o de maior consideração é a presença de
hemorragia durante ou após o parto, no qual houve intervenção da equipe de saúde, con-
seguindo reverter a situação.
E segundo o artigo de Maria de Lourdes de Souza et. al. a hemorragia é a maior causa
evitável de morte materna no mundo e inclui hemorragia anteparto, durante o parto e he-
morragia pós-parto, e está associada ao tipo de monitoramento realizado durante o trabalho

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
de parto e no período pós-parto, resposta tardia à perda de sangue e falta de um banco de
sangue na maternidade.21
No artigo de Rosa Maria Soares Madeira Domingues et al. a visão médica abstrai a
gravidez do restante da experiência de vida da mulher, tratando-a como episódio médico
isolado. Os significados que as mulheres atribuem às experiências de gravidez e nascimento
são ignorados e seus sentimentos e sua satisfação com o cuidado são considerados menos
importantes do que sua segurança e a de seu bebê, o que as leva a ter uma experiência
negativa do parto, por conta desse tratamento que receberam dos profissionais que foram
responsáveis por um dos momentos mais importantes de suas vidas e que agora se tornou
uma lembrança traumática e ruim para elas.25
Este estudo proporcionou um aprimoramento dos conhecimentos prévios dos alunos
sobre a atenção à saúde da mulher e uma visão ampliada dos acontecimentos que envolvem
o parto, o que proporcionou maiores habilidades profissionais sobre o tema.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A vivência do parto representa para cada mulher um momento único e individual, e


durante anos o evento e os sentimentos experimentados durante o nascimento do bebê são
lembrados nos mínimos detalhes, seja ele de uma maneira positiva ou negativa, marcados
por uma mistura de sentimentos, como medo, ansiedade, alívio, gratidão, amor e lembranças
que estarão presentes até o final de suas vidas.
A dor, principal lembrança referida pelas mulheres, pode estar associada a sentimen-
tos como preocupação e ansiedade durante o parto, devido a ser o momento em que as
expectativas que a gestante tinha ao longo de meses acabam por tomar uma dimensão real,
confirmadora ou não das esperanças e temores que cercam o parto. A dor também está
ligada ao medo da morte.
O nascimento do bebê e o contato com a mãe imediatamente justificam todo o esforço
que a puérpera teve, vindo como uma recompensa, pois os sentimentos relatados durante
esse momento são difíceis de explicar somente com palavras, só quem vivencia consegue
explicar tamanho amor e gratidão.
Apesar de cada mulher ter uma experiência diferente, os relatos são convergentes em
alguns pontos, que para o momento do parto é bastante comum, como a dor, os sentimen-
tos vivenciados, a presença de um acompanhante, o auxílio da equipe de enfermagem e
médica, entre outros.

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
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43
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
03
Competências essenciais para prática
da enfermagem obstétrica: revisão
integrativa

Márcia Cordeiro da Cunha


HCPA

Letícia Becker Vieira


UFRGS

Laura Leismann de Oliveira


HCPA

Paola Melo Campos


HCPA

Paula Cristina Barth Bellotto


HCPA

Helga Geremias Gouveia


UFRGS

10.37885/210303907
RESUMO

Objetivo: Analisar através de uma revisão integrativa de literatura a produção de conhe-


cimento científico a respeito das competências essenciais para prática profissional da
enfermagem obstétrica. Método: Trata-se de uma revisão integrativa de literatura. Foram
buscados nas bases de dados LILACS e PUBMED os termos “competência profissional”
e “enfermagem obstétrica”, retornando um total de 352 artigos, desses, nove foram in-
cluídos na análise após revisão de critérios de inclusão. Resultados: grande parte dos
estudos relacionou maior competência profissional com experiências práticas variadas,
campos de formação com instrutores qualificados, onde a autonomia profissional pode ser
desenvolvida. Conclusões: Falta de competência profissional adequada aumenta riscos
para segurança do paciente, influencia de forma negativa na confiança pública na profis-
são e nos sistemas de saúde e ainda prejudica indicadores de qualidade na assistência
materna e neonatal. Parte da dificuldade para aprimoramento e atuação de enfermeiras
obstétricas se dá pela inserção insuficiente da profissional no parto e nascimento.

Palavras-chave: Enfermeira Obstétrica, Competência Profissional, Enfermagem Obstétrica.

45
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

A assistência obstétrica no Brasil nos últimos anos, mesmo impulsionada por políti-
cas públicas que pautam a humanização dos cuidados à mulher, ao recém-nascido e sua
família, ainda enfrenta dificuldades para superar o modelo medicalizado tradicional que his-
toricamente se estruturou no país (SENA et al, 2012). O modelo biomédico de assistência
obstétrica, aliado a utilização do conhecimento técnico de maneira pouco crítica, podem
contribuir para o aumento de riscos para mulheres e crianças durante o trabalho de parto e
nascimento e podem, até mesmo, serem fatores determinantes de morbimortalidade materna
e neonatal. A maioria dos países ocidentais, e entre eles inclui-se o Brasil, legitima o modelo
de assistência obstétrica e neonatal centrado na figura do médico, caracterizado pela visão
do nascimento como uma patologia. Nessa lógica de assistência medicalizada, o corpo da
mulher reduz-se numa máquina incompleta, na qual necessita de tecnologias sofisticadas,
quase sempre utilizadas sem devida avaliação acerca de sua segurança, para que consiga
parir (BRASIL, 2014).
A busca por um modelo assistencial que esteja voltado para a integralidade das neces-
sidades de saúde dos indivíduos e que supere as dificuldades causadas pela hegemonia do
modelo biomédico e tecnicista é um dos grandes desafios do sistema de saúde brasileiro
(FERTONANI et al, 2015). O que se constata, em estudos a respeito da atenção obstétrica
brasileira, é que evidências científicas isoladamente não servem para mudança no modelo
assistencial medicalizado e intervencionista ao parto de risco habitual (NARCHI, 2010), e
que para que isso ocorra, é necessária a reformulação dos espaços de saúde e que os re-
cursos tecnológicos sejam adequadamente alocados. Dentre as estratégias para mudança
do modelo assistencial em obstetrícia predominante, a formação e inclusão de profissionais
não-médicos na assistência ao parto vem sendo discutida ao longo dos anos.
Desde 1998, o Ministério da Saúde, junto às secretarias municipais e estaduais, vem
ampliando a destinação de recursos voltados para formação de enfermeiras obstétricas, a
fim de inserir essas profissionais na assistência ao parto (RIESCO; FONSECA, 2002). Os in-
vestimentos se justificam por experiências positivas de atuação dessas profissionais mun-
dialmente, não só com resultados positivos de satisfação com a assistência prestada, mas,
principalmente, quando se considera a redução de taxas de intervenções desnecessárias e
cesarianas (AMORIM; GUALDA, 2011).
Atualmente no Brasil existem duas modalidades reconhecidas de profissionais não-mé-
dicos que atuam na assistência ao parto: as obstetrizes (com formação por cursos de entrada
direta) e enfermeiras obstétricas (enfermeiras de formação com curso de especialização ou
residência em obstetrícia, ou na área materno-infantil ou ainda, aquelas que realizaram a
prova de certificação e titulação). Além desses, é comum ouvir o termo em inglês midwife, que
46
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
se refere a parteira profissional (CINTRA; RIESCO, 2019). Para fim de adaptação à realidade
brasileira a Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras (ABENFO) consi-
dera que o termo “parteira profissional” deve ser compreendido como sinônimo de enfermeira
obstétrica e obstetriz (ABENFO, 2002). A atuação dessas profissionais é amparada pela Lei
do Exercício Profissional de Enfermagem de 1986, que dispõe sobre a regulamentação do
exercício da enfermagem em território brasileiro e condiciona a atuação dessa profissional
a inscrição sob o Conselho Federal de Enfermagem (BRASIL, 1986).
A prática da enfermeira obstétrica na atenção ao parto, majoritariamente, é voltada à
valorização da mulher, tratando-a com respeito e fortalecendo a figura feminina no processo
de parir (CAUS et al, 2012). Considerando essa característica da assistência, o ambiente
hospitalar de atenção ao parto vem sofrendo reformulações, fundamentadas por políticas
públicas de saúde e recomendações internacionais que reforçam a inclusão de profissio-
nais não-médicos na assistência ao parto e voltam-se para perspectiva de humanização
da assistência (BRASIL, 2014). Quanto à formação desses profissionais para assistência
ao parto, há de se considerar a existência de competências internacionalmente propostas
para formação, que incluem a avaliação individual e de desempenho de organizações e
programas de formação profissional (KAK; BURKHALTER; COOPER, 2001). De acordo
com a Organização Mundial de Saúde (OMS), considera-se que o profissional que atende a
partos de forma segura deve ser treinado a partir de programas de educação que permitam
o desenvolvimento das habilidades necessárias para acompanhamento da gravidez, par-
tos normais e puerpério imediato (WHO, 2004). A Confederação Internacional de Parteiras
Profissionais (ICM) é uma organização não governamental que representa associações de
parteiras profissionais em 115 países mundialmente. Essa organização atua com a finali-
dade de atingir objetivos comuns no cuidado às mulheres e recém-nascidos, entre eles, a
qualificação da atenção ao nascimento. No ano de 2019 foi publicado um documento que
atualiza a relação de competências essenciais preconizadas mundialmente para a prática
da obstetrícia, descrevendo conhecimentos, habilidades e comportamentos profissionais
mínimos que devem ser desenvolvidos nos programas de educação para que o indivíduo
seja considerado uma parteira profissional certificada, conforme a definição da organização
(ICM, 2018; ICM, 2019).
Considerando o documento intitulado “Essential competencies for midwifery prac-
tice - 2019 update” pela ICM, podemos consultar as competências descritas e validadas
por especialistas em todo o mundo com a finalidade de servir de base para programas de
formação em enfermagem obstétrica, dar instruções claras sobre o exercício da profissão,
auxiliar professores com relação às destrezas necessárias a parteira profissional e servir

47
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
de marco regulatório para auxílio na tomada de decisão por gestores quanto a prática pro-
fissional (OPAS, 2013).
É importante considerar que a competência essencial se relaciona ao desempenho
desse profissional, mas não são sinônimos. O desempenho profissional se caracteriza pelas
ações do sujeito no seu contexto real de prática. Este desempenho é determinado pela ca-
pacidade adquirida de acordo com o alcance das competências da profissão (OPAS, 2013).
Dessa forma, as competências essenciais para prática da enfermagem obstétrica são
sensíveis aos diferentes cenários que essas profissionais atuam, sendo relevante conhecer
a produção científica dos últimos anos a respeito do que é esperado da enfermeira obstetra
mundialmente, e a relação desses estudos com diretrizes internacionais para prática da
profissão se torna relevante. O presente estudo tem o objetivo de analisar através de uma
revisão integrativa de literatura a produção de conhecimento científico no mundo a respeito
das competências essenciais para prática profissional da enfermagem obstétrica.

MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, conforme proposto por Mendes, Silveira
e Galvão, desenvolvida em seis etapas: estabelecimento da questão de pesquisa, busca na
literatura, categorização dos estudos encontrados (de acordo com os critérios de inclusão e
exclusão estabelecidos), avaliação dos estudos selecionados, interpretação dos resultados
e apresentação da revisão (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).
Os artigos foram buscados nas bases de dados eletrônicas: Literatura Latino Americana
e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e National Library of Medicine National Institutes
of Health (PubMed). As palavras-chave utilizadas para execução da busca por estudos
foram os Descritores em Ciência da Saúde (DeCS) da Bireme “competência profissional”,
“enfermeira obstétrica” ou “enfermagem obstétrica e os descritores MeSH (Medical Subject
Headings) “professional competence” e “midwifery”, além de termos relacionados. Foram
utilizados os operadores booleanos “and” e “or” para cruzamento dos termos na busca.
Os critérios de inclusão foram artigos originais de pesquisa, revisão ou reflexão, dispo-
níveis integralmente de forma eletrônica, publicados em qualquer idioma, entre os anos de
2011 e 2020 e que respondessem à questão norteadora: quais as competências essenciais
para prática da enfermagem obstétrica encontradas na literatura nos últimos 10 anos?
A coleta de dados se deu no mês de julho de 2020, retornou um total de 352 artigos,
desses, todos tiveram o título e resumo lidos para avaliar a pertinência com a questão nor-
teadora do estudo. Dos estudos incluídos na revisão, após leitura de título e resumo, 28
artigos foram lidos na íntegra, resultando na amostra final composta de nove artigos que
foram incorporados à análise, conforme figura 1.
48
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Figura 1. Diagrama da aplicação de filtros de pesquisa, limites e critérios de inclusão.

Para análise dos artigos incluídos na revisão foi criada uma ficha de extração de
dados com as variáveis: título, autoria, periódico e ano de publicação, objetivos, tipo de
estudo, amostra/população, local/campo de estudo, coleta de dados, resultados e conclu-
sões. No Quadro 1, as principais informações extraídas dos estudos primários incluídos na
revisão foram apresentadas.

Quadro 1. Síntese dos artigos incluídos na revisão integrativa, 2020.


Código do Ano/país/ Autores/ Objetivos/ Amostra/
Principais resultados
artigo base de dados Tipo de estudo método população
2019 Bangla- BOGREN, M. et al Avaliar a utilidade per- 17 educadores em O curso proporcionou melhora no conhecimento
desh PUBMED Exploratório, des- cebida por instrutores obstetrícia de 15 teórico e aquisição de habilidades práticas para
critivo, qualitativo em obstetrícia de um instituições em Ban- manejo do parto e emergências obstétricas.
A1
curso baseado em si- gladesh A incorporação de novas tecnologias no ensino
mulações para forma- de obstetrícia, utilizando metodologias ativas.
ção de midwives
2018 Etiópia GOSHU, M. et al Avaliar a competência 144 midwives de 57 A competência de midwives na região de Tigray
PUBMED Estudo transver- de midwives e fatores instituições da região na Etiópia foi baixa, sugerindo preocupações
sal, quantitativo associados ao cuidado de Tigray, Etiópia quanto à qualidade da assistência prestada a
A2
prestado durante par- mulheres e recém-nascidos na região.
to, nascimento e puer-
pério imediato
2018 África do N E T S H I SAU LU, Explorar as expec- 25 midwives com ex- Pouca demonstração de independência profissio-
Sul PUBMED M.S.; MAPUTLE, tativas de midwives periência de atuação nal das profissionais recém-graduadas.
M. S. experientes sobre a de pelo menos 5 anos Participação limitada na divisão de tarefas: mi-
Estudo explora- competência clínica nas instituições dwives acabam precisando supervisionar as
A3 tório, descritivo, de graduandos em colegas.
qualitativo obstetrícia durante a As profissionais recém-graduadas pareciam
atuação em serviços pouco comprometidas. A falta de competência
comunitários técnica foi destacada como fator prejudicial para
qualidade e eficiência do serviço.
2018 África do MPELI, M. R. Descrever a análise de 14 estudantes de obs- Apesar dos participantes se considerarem aptos
Sul PUBMED Estudo descritivo, narrativas de auto-ava- tetrícia para lidar com dilemas éticos em obstetrícia, a
qualitativo liação de estudantes competência ética propriamente dita foi limitada
de obstetrícia lidando nas narrativas.
A4
com dilemas éticos da O estudo recomenda que as instituições de for-
vida real mação em enfermagem devem incluir discussões
na formação de profissionais a respeito de teorias

49
morais.

Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar


Código do Ano/país/ Autores/ Objetivos/ Amostra/
Principais resultados
artigo base de dados Tipo de estudo método população
2017 Etiópia KIBWANA et al Explorar a percepção Um instrutor, um as- Deficiências do ambiente de aprendizado limi-
PUBMED Estudo descritivo, de instrutores a res- sistente de laborató- tam o desenvolvimento de competências centrais
qualitativo peito da adequação da rio e um preceptor de para a prática da parteria.
experiência de apren- cada um dos 32 pro- Sugere-se critérios de admissão aos programas
dizado dos estudantes gramas de formação mais rígidos, adaptação dos currículos a normas
A5
e a implicação para de parteiras e aneste- internacionais para avaliação de competências
alcance de maestria sistas na Etiópia profissionais, adaptação do currículo à realidade
em competências es- dos serviços.
senciais em obstetrícia Aumento do uso de simulação para assistência
ao parto.
2016 Gana LOHELA et al Avaliar a competência Três médicos, 38 mi- Sugere que outros profissionais, que não sejam
PUBMED Estudo transver- de profissionais de dwives, cinco médi- médicos ou midwives, parecem não prover cui-
sal, quantitativo saúde no atendimen- cos-assistentes, nove dado competente e de qualidade para manejo
to de emergências enfermeiras e nove de emergências obstétricas.
obstétricas, utilizando profissionais com O volume de atendimentos e maior carga de
A6 estudos de caso. formação diferencia- trabalho em atenção ao parto se relacionou a
da (profissionais de maior experiência e maior capacidade de atenção
saúde não médicos, adequada às emergências obstétricas.
parteiras tradicionais
e profissionais de ní-
vel técnico)
2015 Etiópia YIGZAW et al Gerar evidência sobre 484 estudantes de A performance média dos participantes foi insa-
PUBMED Estudo transver- a qualidade da edu- graduação em enfer- tisfatória e a maioria dos estudantes de institui-
sal, quantitativo cação em obstetrícia, magem obstétrica em ções públicas não dominavam as competências
avaliando a competên- 25 instituições públi- essenciais para prática segura e efetiva da obs-
A7 cia dos estudantes de cas da Etiópia tetrícia.
parteria no momento O desempenho para atendimento de emergên-
da graduação. cias obstétricas com vácuo extrator foram os mais
baixos.
O ambiente de aprendizado prático foi deficiente.
2014 Índia CHATURVEDI, S. Avaliar, utilizando es- 233 enfermeiras que Os participantes com treinamento específico para
PUBMED et al tudos de caso, se os atendem a partos em atenção ao parto, apesar de pontuações baixas,
Estudo transver- profissionais atenden- 73 instituições vin- tiveram melhor desempenho do que profissio-
sal, quantitativo do partos são compe- culadas ao programa nais generalistas. Os profissionais atuantes em
A8
tentes na prestação de Janani Surasksha Yo- instituições de maior complexidade também
cuidados a emergên- jana (JSY) pontuaram melhor, e aqueles que atuavam em
cias obstétricas. instituições com volume de partos maior do que
30 partos por mês.
2012 Brasil PARENTI, P. W. Identificar as compe- Dez enfermeiras que Para as enfermeiras trabalharem na perspectiva
LILACS et al tências que as enfer- prestam assistên- da competência dialógica, articulando habilida-
Estudo descritivo, meiras mobilizam na cia pré-natal a pelo des, conhecimento, e atitudes, a percepção do
qualitativo assistência pré-natal menos um ano, com entendimento do contexto de vida, a utilização
das adolescentes. faixa-etária entre 23 e de linguagem adequada e a comunicação inter-
A9 26 anos de idade pessoal efetiva devem ser incorporados em suas
ações.
A construção de protocolos assistenciais, deve
ser assumida pelas enfermeiras, adotando o re-
ferencial das competências como norteador da
mudança do modelo assistencial.

RESULTADOS

Dos nove artigos incluídos na análise, a maioria das produções eram procedentes
de países do continente africano (66,6%), seguido de artigos de países asiáticos (22,2%)
e um artigo brasileiro, produzido na América do Sul (11,1%). Quanto ao ano de publica-
ção, os estudos incluídos na revisão foram publicados entre os anos de 2012 e 2019, com
destaque ao ano de 2018 que concentrou três dos artigos incluídos na amostra. Quanto
ao idioma de publicação, oito artigos foram publicados em língua inglesa (88,8%) e um em
português. O único artigo publicado em português na busca realizada evidencia a escassez
50
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
de produção científica brasileira acerca do tema nos últimos 10 anos. Quanto à abordagem
dos estudos, cinco deles (55,5%) tinham abordagem qualitativa e quatro eram estudos
quantitativos, do tipo estudo transversal.

DISCUSSÃO

Dos estudos incluídos na revisão, cabe destacar a procedência dos artigos, na sua
grande maioria, desenvolvidos em países de baixa e média renda (A1-A8). A produção
científica emergente nesses países, nos últimos 20 anos, parece se justificar pela expan-
são dos sistemas de saúde locais, pela criação de programas para promoção de saúde
da mulher e do recém-nascido, bem como da necessidade de avaliação dos programas
desenvolvidos nesses países com o objetivo de reduzir a mortalidade materna e neonatal
(CHERSICH; MARTIN, 2017).
Quanto aos profissionais incluídos nos estudos, vale a discussão acerca de quem são
os profissionais capacitados mundialmente para a assistência ao parto. Uma scoping review
publicada em 2019, que objetivou identificar e mapear os profissionais considerados aptos a
assistir partos em países de baixa e média renda, evidenciou que existem mais de 100 profis-
sionais com diferentes formações e titulações que atuam no cenário do parto mundialmente.
Desses, 16% eram médicos, 16% eram enfermeiras generalistas e 16% eram midwives,
representando um grupo heterogêneo entre os países investigados, e até mesmo, dentro
de um mesmo país (HOBBS et al, 2019). Dos estudos incluídos na análise deste artigo, um
deles concluiu que outros profissionais, que não sejam médicos ou midwives, parecem não
prover cuidado competente e de qualidade para manejo de emergências obstétricas (A6).
No ano de 2018, a OMS, a ICM e outras organizações internacionais médicas e de
enfermagem declararam que o profissional apto a assistência ao parto deve ser, prioritaria-
mente, uma parteira profissional, enfermeira ou médico que tenha recebido educação formal e
treinado para desempenhar as habilidades necessárias à assistência ao nascimento, à mulher
e ao recém-nascido, de gestações não complicadas e que sejam capazes de referenciar a
serviços de maior complexidade no caso de intercorrências obstétricas (WHO, 2018). A fim
de minimizar as diferenças na formação desses profissionais, a declaração conjunta da
OMS e ICM ainda destaca que o foco de avaliação da formação deve ser o desempenho em
competências essenciais para prática da obstetrícia, além do reconhecimento de medidas
básicas de atenção a emergências obstétricas (HOBBS et al, 2019).
Em três dos estudos quantitativos incluídos nesta revisão, a competência técnica dos
profissionais que assistiam aos partos foi considerada insuficiente (A2, A7 e A8). Os pro-
fissionais que assistiam aos partos tiveram baixa competência no manejo de emergências
obstétricas, pouca habilidade para avaliação rápida da paciente no primeiro contato e pouco
51
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
domínio do uso de partograma e monitorização do progresso do trabalho de parto (A2 e
A8). A identificação, manejo e tomada de decisão apropriados na identificação de emer-
gências obstétricas no momento do parto é peça chave para o sucesso do cuidado à par-
turiente, diminuindo índices de mortalidade materna (CAMPBELL; GRAHAM, 2006). A mor-
talidade materna em países de baixa e média renda, especialmente, em países da África
Subsaariana e Ásia são responsáveis por mais da metade de todas as mortes relacionadas
a afecções perinatais no mundo (WHO, 2014). As maiores complicações obstétricas rela-
cionadas a morte materna são: hemorragias, infecções, distúrbios hipertensivos e o aborto
inseguro (WHO, 2014).
Um dos estudos destacou o baixo desempenho de parteiras profissionais para atendi-
mento de emergências obstétricas com vácuo extrator e no manejo de aborto por aspiração
manual intrauterina (A7). Pelo menos duas revisões sistemáticas conduzidas na última dé-
cada concluem que não há diferença significativa nos desfechos de situações de aborto em
primeiro trimestre manejados por profissionais médicos, ou não-médicos, como parteiras
profissionais capacitadas para isso (BARNARD et al, 2013; RENNER, BRAHMI, KAPP, 2013).
Considerando esses estudos, bem como a opinião de especialistas em enfermagem
obstétrica, a competência da enfermeira obstétrica no manejo de aborto foi reafirmada em
estudo publicado em 2018 (FULLERTON et al, 2018). Esta publicação impulsionou a inclusão
de competências relacionadas ao manejo de abortamento por midwives nas competências
da profissão na atualização do documento da ICM publicado em outubro de 2019 (ICM,
2019). No Brasil, a lei que regulamenta a atuação de enfermeiras obstetras não prevê atua-
ção direta e tomada de conduta a fim realizar esvaziamento uterino seguro em situações
de abortamento, mas a ausência de respaldo legal para atuação nesse contexto não exclui
a importância de inclusão dos profissionais da enfermagem no manejo multidisciplinar de
situação de perdas gestacionais (DOMINGOS; MERIGHI, 2010).
A formação de parteiras profissionais nos estudos incluídos na revisão parece sofrer
influência significativa do ambiente de aprendizado onde as práticas ocorrem (A3, A5 e A7).
Dentre as dificuldades encontradas destaca-se a falta de estrutura para formação dos pro-
fissionais, ausência de ambientes para simulações de práticas em obstetrícia e dificuldades
para garantir que os alunos participassem de situações reais como reanimação neonatal e
atenção ao parto, propriamente dito (A3, A5 e A7). A limitação das experiências na formação
em obstetrícia causou uma avaliação negativa dos estudantes em um dos estudos, conside-
rando o cenário de aprendizado limitado, prejudicando o desenvolvimento das habilidades
profissionais (A7).
Achados semelhantes em uma pesquisa que avaliou as expectativas de enfermeiras
quanto a especialização em enfermagem obstétrica na modalidade de residência no Brasil
52
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
evidenciam a percepção de que há uma dissociação entre teoria e prática na formação pro-
fissional (LIMA et al, 2015). O estudo brasileiro destaca o descontentamento dos profissio-
nais em formação com as oportunidades limitadas que encontram nos hospitais brasileiros
para desenvolver habilidades técnicas, inclusive com restrição de atendimento a partos
por enfermeiras nas instituições (LIMA et al, 2015). Um dos estudos da revisão destaca em
seus resultados como o número de partos atendidos pelos profissionais em formação, bem
como o volume de trabalho na instituição avaliada, se relaciona a melhor desempenho na
avaliação de competências profissionais (A6).
Ainda sobre o processo de formação de enfermeiras obstetras, um dos estudos des-
taca a importância do desenvolvimento da competência profissional como instrutores em
obstetrícia de professores e preceptores dos cursos de formação (A1). O aprimoramento
contínuo serve como subsídio para adquirir e compartilhar conhecimentos que vão apri-
morar a prática e ensino da obstetrícia (A1). Considerando o cenário brasileiro e o recente
Projeto de Aprimoramento e Inovação no Cuidado e Ensino em Obstetrícia e Neonatologia
(Apice ON), salienta-se a experiência dos profissionais que participaram de cursos de atua-
lização para o cuidado e gestão, com foco no parto e no nascimento (SANFELICE et al,
2020). Em um relato de experiência de profissionais participantes do projeto, foi demonstrada
a importância de qualificação técnica de profissionais já formadas, fato que contribuiu para
mudança do modelo de atenção ao parto, menos medicalizado e mais voltado à autonomia
da mulher. As ações de educação continuada realizadas no cenário prático de assistência
ao parto reforçaram a identificação profissional de enfermeiras obstetras, na medida que
permitiu a atualização de técnicas e práticas relacionadas à atenção ao parto (SANFELICE
et al, 2020) e puderam servir de subsídio para pensar mudanças nos cenários onde atuam.
Ainda sobre os resultados encontrados nos estudos incluídos na análise desta revisão,
cabe o comentário sobre questões de gênero relacionadas ao desempenho profissional de
enfermeiros obstetras. Resultados de escores relacionados às competências para assistência
ao parto foram maiores para participantes homens em pelo menos dois dos estudos citados
(A2 e A7). Os resultados mostraram que ser homem esteve associado a maiores escores
em competências específicas, incluindo avaliação rápida da paciente em triagem, coleta de
dados do histórico de saúde e obstétrico, exame físico, uso de partograma, assistência ao
parto, cuidados imediatos no pós-parto, julgamento clínico e tomada de decisão (A2). Apesar
de alguns estudos na literatura não terem evidenciado influência de gênero no desempenho
acadêmico de cursos de formação profissional para saúde (JOHNSON et al, 2013), ambos
estudos incluídos na revisão evidenciaram diferença significativa de desempenho masculino
relacionados às competências da parteira profissional. Ambos estudos foram desenvolvi-
dos na Etiópia, país onde há grande disparidade entre as oportunidades de educação para
53
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
homens e mulheres (A2 e A7), o que justifica pontos de corte para acesso aos cursos de
formação menores para mulheres, fato que, aparentemente, dificulta a permanência nos
cursos com desempenho satisfatório. Um estudo que avaliou fatores que influenciam a
atuação de homens na enfermagem em países em desenvolvimento foi encontrada relação
do trabalho do enfermeiro do sexo masculino com maior rapidez no avanço na carreira e
alcance de posições de chefia em tempo menor do que colegas mulheres que se asseme-
lhavam no conhecimento técnico da profissão (ZAMANZADEH et al, 2013). Paradoxalmente,
quando se considera o recorte histórico da enfermagem mundial, a profissão historicamente
feminina reserva ainda atualmente dificuldades de inserção de homens num ambiente ma-
joritariamente ocupado por mulheres (SALES et al, 2018).
Finalmente, dos resultados encontrados nos estudos na análise, cabem as competên-
cias relacionais da atuação como enfermeiras obstetras, que fogem aos requisitos técnicos
para prática da profissão, mas compõem a forma que as relações de trabalho e de cuidado
se dão. O destaque do estudo incluído é para competência dialógica da profissional (A9),
exigindo das profissionais adequação da linguagem utilizada para que o cuidado se torne
relevante as diferentes mulheres atendidas, com foco na comunicação interpessoal efetiva
e culturalmente sensível para melhora dos desfechos assistenciais, conforme preconizado
pela ICM (ICM, 2019).
Já considerando aspectos éticos da atuação da enfermeira obstetra, um dos estudos
destaca a necessidade de desenvolvimento de competência ética para atuação nas equipes
e, principalmente, com usuárias dos sistemas de saúde (A4). O estudo destaca a impor-
tância de que profissionais reflitam a respeito do código de ética e princípios profissionais
quando justificam ações na assistência ao parto, fortalecendo a autonomia da profissão
(A4). A literatura destaca como principais entraves ao desenvolvimento pleno de autonomia
do enfermeiro obstetra fatores como: déficits na formação, resistência do profissional médi-
co à atuação, incerteza quanto à prática profissional e desconhecimento da legislação que
respalda a prática profissional (MAGALHÃES; TAFFNER, 2020). A atuação do enfermeiro
de forma autônoma é potencial agente propulsor de cuidado humanizado no cenário do nas-
cimento (ALMEIDA et al, 2020), mas necessita de suporte de gestores para que o incentivo
e valorização do seu trabalho se reflita em apoio institucional para atuação da enfermagem
obstétrica de forma autônoma (AMORIM et al, 2019).

CONCLUSÃO

Permitir que profissionais sem competência essencial adequada atuem em seus cam-
pos de prática aumenta riscos para segurança do paciente, influencia de forma negativa na
confiança pública na profissão e nos sistemas de saúde mundialmente e ainda prejudica
54
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
indicadores de qualidade na assistência materna e neonatal (YIGZAW et al, 2015). Esses
fatores justificam a necessidade de fortalecimento de programas de formação profissional,
atualização de instrutores em obstetrícia e articulação de programas teóricos com oportuni-
dades práticas em obstetrícia que proporcionem o desenvolvimento de habilidades para a
atuação autônoma como enfermeiras obstetras.
O estabelecimento da legitimidade da atenção de enfermeiras obstetras ao parto de
risco habitual como competência essencial do profissional brasileiro ainda se configura como
um desafio para a assistência obstétrica no país. Parte desse desafio é consequência da
falta de autonomia de gestores nos serviços, que por vezes impossibilita a inserção da en-
fermeira obstétrica no parto e nascimento devido a obstáculos como questões financeiras,
administrativas, escassez de recursos humanos e relações de poder entre equipes médica
e de enfermagem desiguais. Soma-se a isso a falta de autonomia dos próprios profissionais
quanto ao exercício profissional de que são capazes.
Considerando os achados na revisão e o atual cenário de atuação de enfermeiras
obstétricas no Brasil, cabe a possibilidade de ampliação futura da atuação dessas profis-
sionais, seguindo o exemplo de países onde a atuação abrange o manejo em situações de
abortamento e realização de ultrassonografias, por exemplo.
Exemplo de atuação ampliada de enfermeiros obstetras no seu escopo de prática no
Brasil é a inserção de DIU de cobre, método contraceptivo de longa permanência que teve a
oferta ampliada no SUS e afirmada pelo Conselho Federal de Enfermagem no ano de 2010
como legítima ao enfermeiro (COFEN, 2010). Essa prática, consolidada em alguns serviços
pelo país, está em constante discussão acerca da legalidade, apesar de experiências posi-
tivas bem descritas na literatura, com altas taxas de satisfação das usuárias com o método,
taxas de complicações semelhantes aos dispositivos introduzidos por profissionais médicos
e pela contribuição para ampliação de oferta de métodos de planejamento reprodutivo dis-
poníveis nos serviços públicos de saúde (TRIGUEIRO et al, 2020). Além de ações pontuais
como a inserção do DIU de cobre pós-placentário e em ambiente ambulatorial.
Dentre as limitações deste estudo podemos considerar as características metodológicas
dos estudos incluídos na análise: estudos observacionais, na maioria de recorte transversal
ou qualitativos. Estes desenhos de pesquisas não permitem a generalização dos resultados,
apenas a geração de hipóteses a partir dos dados encontrados. Outra fragilidade do estudo
é a variedade de categorias profissionais envolvidas na assistência ao parto que compuse-
ram as amostras nos estudos analisados, marcando a heterogeneidade dos profissionais
envolvidos na assistência, bem como do processo de formação e avaliação dos mesmos.
A relevância desta revisão consiste na síntese de estudos produzidos nos últimos anos
que avaliam a competência profissional de enfermeiras obstétricas e permite a reflexão acerca
55
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
de programas vigentes de formação desses profissionais no país e no mundo. Os achados
dos estudos e a discussão com a produção científica a respeito desses resultados permi-
tem o levantamento de hipóteses sobre potencialidades e fragilidades do modo de formar
profissionais para atenção ao parto no Brasil, cabendo ainda a possibilidade de estudos
futuros que avaliem a situação atual de cursos de formação em enfermagem obstétrica, a
forma de avaliação de competência profissional utilizada nos diferentes cenários e quais as
implicações para assistência em cenário real da qualidade de formação desses profissionais.

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60
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
04
Comportamento da força muscular
respiratória, da força de preensão
palmar e da capacidade funcional
entre puérperas e em nuligestas

Michele Saldanha Solange Schio Lanza


Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul UFSM

Eduarda Silveira Jonathas Gauciniski


UNISC UNISC

Maria Eduarda Lara de Oliveira Dannuey Machado Cardoso


UNISC Centro de Ensino Superior Dom Alberto

Marciele Silveira Hopp Patrícia Érika de Melo Marinho


HSC UFPE

Litiele Evelin Wagner Dulciane Nunes Paiva


UFRGS UNISC

10.37885/210404120
RESUMO

Objetivo: Comparar a força de preensão palmar (FPP), força muscular respiratória (FMR)
e capacidade funcional (CF) entre puérperas de parto cesárea e nuligestas. Método:
Estudo transversal que avaliou mulheres com idade entre 16 e 35 anos admitidas na
maternidade do Hospital Santa Cruz, Santa Cruz do Sul - RS para parto cesárea (Grupo
Puérpera – GP) e nuligestas hígidas (Grupo Controle – GC). Após avaliação das caracte-
rísticas antropométricas foram aferidas a FPP por meio de dinamometria hidráulica manual
e a FMR (Pressão Inspiratória Máxima - PImax e Pressão Expiratória Máxima - PEmax) por
meio de manovacuometria digital. A CF foi avaliada através da escala Basic Activities of
Daily Living (BADL). Resultados: Avaliadas 30 mulheres (GC: n= 15 e GP: n= 15) com
média de idade de 23,8±4,6 anos e índice de massa corpórea (IMC) de 23,9±4,9 Kg/m2.
Houve redução da PImax (p<0,001; p= 0,002) e da PEmax (p<0,001; p<0,001) no GP em
relação ao GC quando comparadas as médias dos valores absolutos e preditos, respec-
tivamente. Evidenciada menor CF no GP em relação ao CG (p= 0,010), não tendo sido
observada diferença da FPP entre os grupos analisados. Conclusão: Puérperas de parto
cesárea apresentam menor força muscular respiratória e menor capacidade funcional
em relação às nuligestas.

Palavras- chave: Período Pós-Parto, Força Muscular, Dinamômetro de Força Muscular,


Capacidade Funcional.

62
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

Durante o período gestacional ocorrem alterações fisiológicas no corpo da mulher,


sendo que as mudanças no sistema respiratório merecem especial atenção, pois o mesmo
é requisitado para suprir as novas demandas metabólicas (SIDDIQUI et al., 2014; SANTOS
et al., 2016). A gestação ocasiona redução gradual da capacidade residual funcional e do
volume de reserva expiratório (LEIDECKER et al., 2016; ZAIRINA et al., 2016).
No puerpério imediato observam-se alterações endócrinas e biomecânicas, entretan-
to, o longo período de desuso dos músculos da cintura pélvica ocasiona flacidez e pode
resultar em disfunções no sistema respiratório (CASTR0-PARDIÑAS et al., 2017). O parto
cesáreo, além de causar dor intensa e desconforto após a intervenção cirúrgica, impede o
relaxamento e limita a posição no leito (SANTANA et al., 2014). As limitações funcionais
do parto cesáreo estão relacionadas ao quadro álgico intenso, que dificulta a recuperação
e se configura em obstáculo para a realização de atividades básicas de vida diária (ABVD)
(SANTANA et al., 2014; PEREIRA et al., 2017). Dessa forma, o presente capítulo discorre
sobre o comportamento da força muscular respiratória, da força muscular periférica e da
capacidade funcional em puérperas e em nuligestas.

OBJETIVO

Diante dos efeitos adversos ocasionados pelo parto cesárea, o presente capítulo visa
discorrer sobre o comportamento da força muscular respiratória, da força muscular periférica
e da capacidade funcional em puérperas e nuligestas.

MÉTODO

Estudo transversal que avaliou puérperas de parto cesárea admitidas em uma mater-
nidade de hospital escola do interior do Sul do Brasil e nuligestas. O estudo foi aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Santa Cruz do Sul (nº 684.701) em
conformidade com a Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde e os indivíduos
assinaram o Termo de Consentimento Pós-Informado.
O Grupo Puérpera (GP) foi constituído por mulheres primíparas e multíparas que esta-
vam no puerpério imediato do parto cesáreo (até 48 horas de pós-parto), que tivessem gerado
recém-nascido vivo, parto único ou gemelar, tempo gestacional entre 36 a 41 semanas e
faixa etária entre 18 e 35 anos. O Grupo Controle (GC) foi composto por nuligestas hígidas
na mesma faixa etária do GP. Foram excluídas mulheres com histórico de tabagismo ou que

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
tivessem desenvolvido patologias pulmonares antes e/ou durante a gestação, portadoras de
coagulopatias ou de doenças hematológicas e que geraram natimortos.
Foram aferidas a pressão arterial sistólica (PAS) e a pressão arterial diastólica (PAD)
pelo método auscultatório (PREMIUM®, modelo ESFHS50, Brasil), sendo a frequência cardía-
ca (FC) avaliada por palpação direta da artéria radial direita. A saturação periférica de oxigênio
(SpO2) foi aferida através da oximetria de pulso (Oxy Control Geratherm® – Alemanha) e a
frequência respiratória (FR) através da contagem do número de incursões respiratórias por
minuto. Os dados foram expressos em valores absolutos.

Características Antropométricas

A massa corporal, a estatura e, posteriormente, o cálculo do Índice de Massa Corporal


(IMC) foram estimados segundo Chumlea, Roche e Steinbaugh (1985) (CHUMLEA, et al.,
1985). Para tal, foram aferidas a altura do joelho, circunferência da panturrilha, circunferên-
cia do braço (Sanny Medical® modelo SN-4010, Brasil) e a dobra cutânea subescapular
(Cescorf®, Brasil).

Força Muscular Respiratória (FMR)

Avaliada por meio de manovacuometria digital (MDI modelo MVD300, Globalmed®,


Brasil). Tal teste possibilitou avaliar a pressão inspiratória máxima (PImax), aferida a partir do
volume residual (VR) e a pressão expiratória máxima (PEmax), obtida a partir da capacidade
pulmonar total (CPT), sendo estes testes realizados contra válvula ocluída e em decúbito
dorsal à 45º. Foi utilizado coxim na região da cicatriz cirúrgica para conferir maior segu-
rança durante a execução dos testes. Ressalta-se que no GC, os testes foram realizados
sob as mesmas condições posturais. Foram obtidas três medidas da FMR, com intervalo
de repouso de um (01) minuto entre as mesmas, segundo adaptação das normativas da
American Thoracic Society (ATS/ERS, 2002). Valores preditos adotados segundo Neder
et al. (NEDER et al., 1999).

Força de Preensão Palmar

Avaliada por meio de dinamômetro hidráulico (Jamar®, Sammons Preston, Rolyon,


Bolingbrook, EUA) com a voluntária em sedestação, com cotovelo fletido a 90º, antebraço
em posição neutra e extensão de punho em cerca de 30º, seguido recomendações do The
American Society of Hand Therapists (BOHANNON et al., 2006). Foram obtidas três medidas
e registrado o valor médio para cada membro analisado, com valores expressos de forma
absoluta e predita (BOHANNON et al., 2006).
64
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Capacidade Funcional

Avaliada pela escala Basic Activities of Daily Living (KATZ et al., 1963), que inclui
atividades como banhar-se, vestir-se, ir ao banheiro, transferências, continência e alimenta-
ção. As atividades foram avaliadas quanto ao grau de dependência ou independência em toda
sua execução, desde seu princípio até sua conclusão. Para a realização da tarefa soma-se
um ponto na escala e, caso contrário, pontua-se com zero. Ao final, somam-se os valores
atribuídos a cada atividade e a voluntária é classificada como ‘independente’, ‘parcialmente
dependente’ e ‘totalmente dependente”.

Análise estatística

Para análise dos resultados foi utilizado o programa Statistical Package for Social
Sciences (SPSS 23.0, EUA). A normalidade dos dados foi avaliada por meio do teste de
Shapiro-Wilk e os dados descritos em média e desvio padrão. As variáveis foram compara-
das entre os grupos por meio do teste t Student não pareado (p<0,05).

RESULTADOS

A amostra avaliada foi composta por 30 mulheres (GC: n = 15; GP: n = 15) com média
de idade de 23,8±4,6 anos e IMC de 23,9±4,9 kg/m2. Na Tabela 1 são evidenciados os si-
nais vitais e os dados antropométricos dos grupos analisados, em que os mesmos diferiram
quanto à estatura estimada, IMC estimado e SpO2.

Tabela 1. Características antropométricas e sinais vitais dos grupos analisados.

Variáveis GC (n = 15) GP (n = 15) P

Dados antropométricos
Massa corporalestimada (kg) 55,69±13,29 62,99±12,24 0,129
Estaturaestimada (cm) 160,21±5,25 154,46±5,92 0,009*
IMCestimado (kg/m2) 21,61±4,55 26,26±4,19 0,007*
Sinais Vitais
PAS (mmHg) 116,67±11,75 118,67±9,15 0,346
PAD (mmHg) 74,67±9,90 74,00±11,21 0,152
FC (bpm) 80,00±8,19 87,73±13,23 0,642
SpO2 (%) 98,33±0,72 97,07±1,16 0,010*
GP: Grupo puérperas; GC: Grupo controle; PAS: Pressão arterial sistólica; PAD: Pressão arterial diastólica; FC: Frequência
cardíaca SpO2: Saturação periférica de oxigênio; IMC: Índice de Massa Corporal. Valores expressos em média ± desvio
padrão (p<0,05).

A média dos valores absolutos e em percentual do predito da PImax e PEmax diferiram


entre os grupos, sendo evidenciada redução das pressões respiratórias estáticas no GP em
relação ao GC (Figura 1). Enquanto no GP, os valores mínimos e máximos da PImax foram
65
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
de -18 e -67 cmH2O e da PEmax foi de 18 a 49 cmH2O, no GC foram evidenciados valores de
-53 a -84 cmH2O (PImax) e de 63 a 93 cmH2O (PEmax).

Figura 1. Pressão inspiratória máxima e pressão expiratória máxima entre os grupos analisados.

Não foi observada diferença entre a FPP avaliada e a predita intragrupo, bem como en-
tre os grupos analisados (p= 0,296). Houve diferença entre os grupos quanto à CF (p=0,010),
sendo constatado que 76,7% da amostra de puérperas permaneceu classificada como ‘in-
dependente’, 20% ‘parcialmente dependente’ e 3,3% ‘totalmente dependente’.

DISCUSSÃO

O estudo evidenciou que puérperas de parto cesárea apresentam redução da força


muscular respiratória em relação às nuligestas. As diferenças entre os grupos observadas
na SpO2, estatura e IMC estimados não apresentam relevância clínica, pois se encontram
dentro dos valores de normalidade e não interferiram nos desfechos avaliados. Ressalta-se
que entre as principais dificuldades encontradas pelas puérperas se encontram dor perineal,
diástase do reto abdominal, dor na coluna e sínfise púbica, além de problemas nos tratos
urinário e gastrointestinal. Nos casos de puérperas submetidas à cesárea, as consequências
pós-operatórias são mais evidentes no sistema respiratório, podendo ocorrer dor intensa
durante a tosse e difícil expectoração, causada pela limitação advinda da incisão cirúrgica
(PARK et al., 2017).
Segundo Kraychete et al. (2016), no período pós-operatório imediato, a ativação de
nociceptores, a inflamação e as lesões de estruturas nervosas causam dor intensa no local
da incisão cirúrgica, que se intensifica durante a tosse e respiração, estando presente em
6 a 18% das mulheres que realizam parto cesárea e em 4 a 10% das que realizam parto

66
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
normal (KRAYCHETE et al., 2016). No presente estudo, empregando-se a mesma metodo-
logia, quando comparadas as pressões respiratórias estáticas com os valores de referência
para a população feminina brasileira na mesma faixa etária, constatou-se valores de FMR
reduzida no GP em relação às nuligestas.
Há escassez de relatos na literatura sobre o comportamento da FPP em puérpe-
ras. A redução da FPP causa redução da capacidade de execução das ABVD, podendo gerar
limitações significativas. Ainda, a FPP se apresenta como um indicador da função motora
e da condição geral de saúde (EICHINGER et al., 2015). A CF se refere à potencialidade
para desempenhar as ABVD independentemente. Em nosso estudo, constatou-se que as
puérperas permaneceram independentes no momento imediatamente após o parto cesárea.
Como limitações da presente pesquisa, podem ser citadas a possível interferência da
capacidade de entendimento dos testes realizados pelas voluntárias na medida das pressões
respiratórias e da FPP. Outro aspecto a ser considerado é o reduzido tamanho amostral,
o que pode ter limitado o poder da análise estatística. A escassez de dados na literatura
sobre o comportamento da força muscular respiratória e da preensão palmar em puérperas
de parto cesárea impossibilitou a análise comparativa com os resultados de outros autores.

CONCLUSÃO

Foi evidenciado que no puerpério imediato as mulheres ainda sofrem com as modifi-
cações oriundas da gestação, como a redução da força muscular respiratória. Sugere-se
seguimento do estudo para estabelecer valores de referência da força muscular respiratória,
da força de preensão palmar e da capacidade funcional para as puérperas.

REFERÊNCIAS
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
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68
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
05
Conflitos e dilemas éticos vivenciados
na violência obstétrica no contexto
hospitalar

Elaine Guedes Fontoura Íris Cristy da Silva e Silva


UEFS UEFS

Analu Sousa de Oliveira Thamara Arianny Ventin Amorim Oliveira


UEFS de Assis
UEFS
Marluce Nunes Alves Oliveira
UEFS Lorraine Alves de Souza Santos
UEFS
Déborah de Oliveira Souza
UEFS Maryana Carneiro de Queiroz Ferreira
UEFS
Ayla Melo Cerqueira
UEFS Vanessa Sena da Silva
UEFS

10.37885/210404356
RESUMO

Objetivo: Compreender os conflitos e dilemas éticos vivenciados pelos enfermeiros na


situação de violência obstétrica. Método: trata-se de um estudo qualitativo. A coleta de
dados foi realizada através de uma entrevista semiestruturada com cinco enfermeiras do
centro obstétrico de uma instituição hospitalar pública do interior da Bahia, no período
de novembro de 2019 a janeiro do ano de 2020. O projeto foi aprovado pelo Comitê de
Ética da Universidade Estadual de Feira de Santana com parecer nº 2.227.332. Para
a análise foi utilizada a análise de conteúdo de Bardin, onde emergiram quatro catego-
rias: Situações de Violência Obstétrica, Estratégias de cuidado na violência obstétrica,
Conflito ético e Dilema ético. Resultados: As enfermeiras do centro obstétrico vivenciam
frequentemente situações conflituosas que exigem uma tomada de decisão, e afirmam
não terem vivenciado situações com dilemas éticos. Conclui-se que a resolução das
situações conflituosas e dilemáticas está fundamentada não só no conhecimento, mas
também na autonomia da enfermeira.

Palavras-chave: Ética, Enfermeiros, Violência, Obstetrícia, Centro Obstétrico.

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

Diante dos recentes avanços tecnológicos e científicos, surgem inúmeros desafios


no campo da ética, o que corrobora no surgimento de dilemas e conflitos no ambiente de
trabalho. No contexto hospitalar, os enfermeiros são constantemente confrontados para a
tomada de decisões éticas (NORA et al., 2016).
De acordo com (PEREIRA et al., 2017, p. 1392) “Os conflitos éticos envolvem dis-
cordâncias entre o certo e errado, desavença de opiniões, e, por conseguinte interferem
no curso do trabalho”. Diferente dos conflitos, “um dilema configura-se quando os agentes
se encontram diante de escolhas morais difíceis, isto é, duas ações impossíveis de serem
realizadas ao mesmo tempo [...]” (OLIVEIRA; SANTA ROSA, 2016, p. 42).
Diante de situações dilemáticas e conflituosas, a ética, cuja raiz etimológica, deriva
do grego ethos, e que passa a significar através de Heidegger, comportamento, costumes,
hábito e caráter. Tem como função orientar a conduta humana, libertando-a do preconceito,
da arrogância e da violência (PEDRO, 2014).
O termo violência foi definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o uso
da força e do poder, de maneira intencional, contra si mesmo, outra pessoa, um grupo ou
uma comunidade, podendo resultar em lesão, morte, dano psíquico, alterações do desen-
volvimento ou privações. Quando se trata de violência obstétrica, refere-se a “qualquer ato
ou intervenção desnecessária para com a mãe ou bebê realizado pelos profissionais da área
da saúde” (MATOSO, 2018, p.48).
A violência obstétrica proporciona de maneira indireta ou direta à apropriação inade-
quada dos processos corporais e reprodutivos das mulheres. Expressa-se em tratamento
desumano, abuso da patologização dos processos fisiológicos, além do uso inadequado e
desnecessário da tecnologia científica, o que reflete na perda de autonomia da parturiente,
diante do desrespeito aos seus diretos, impactando de maneira negativa na sua qualidade
de vida (SAUAIA; SERRA, 2016).
Na prática hospitalar o enfermeiro costuma se deparar com situações de negligência,
como a violência obstétrica, propiciando o surgimento de conflitos e dilemas éticos, que
quando não são resolvidos, corroboram para o surgimento do sofrimento moral, situação
caracterizada, pela incapacidade de realizar a ação correta a ser seguida, devido a razões
e circunstâncias que ultrapassam a sua competência (DALMOLIN et al., 2014).
Portanto, é de suma importância que os conflitos e dilemas éticos vivenciados pelos
enfermeiros frente à situações de violência obstétrica, reflitam em um cuidado intersubjetivo e
integral no que tange os cuidados obstétricos, de acordo com o seu dever profissional e ético.
Os enfermeiros obstetras, que tem como uma de suas funções o cuidado e a assistên-
cia integral a mulher gestante, antes durante e após o trabalho de parto. Diante do exposto,
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
emergiu a pergunta de investigação: Como os enfermeiros vivenciam conflitos e dilemas
éticos na situação de violência obstétrica? E como objetivo: Compreender os conflitos e
dilemas éticos vivenciados pelos enfermeiros na situação de violência obstétrica.

MÉTODO

Esta pesquisa está inserida no projeto Conflitos e dilemas éticos vividos no cuidado
da equipe de saúde no contexto hospitalar, Resolução CONSEPE 016/2018, cujo objetivo
é compreender a percepção da equipe de saúde sobre conflitos e dilemas éticos vividos no
cuidado da equipe de saúde no contexto hospitalar.
Para Minayo (2011, p.14), a metodologia consiste no “caminho do pensamento e prática
exercida na abordagem da realidade”. Para a autora a importância das teorias, métodos e
técnicas, bem como a criatividade e experiência do pesquisador como atributos indispen-
sáveis para a investigação.
Foi realizada uma pesquisa qualitativa descritiva, por trabalhar com um universo de
significados e oferecer a oportunidade do pesquisador de entender e explorar as questões
relacionadas a pessoa e sua prática.
O estudo foi desenvolvido no Centro Obstétrico (CO), com cinco enfermeiras de um
hospital especializado, público, situado no interior da Bahia. A coletada de dados com os
enfermeiros da unidade de CO aconteceu entre novembro de 2019 e janeiro de 2020 por
meio de uma entrevista semiestruturada, gravada.
Foram utilizados os seguintes critérios de inclusão: ser enfermeiro do CO, estar traba-
lhando na assistência a mulher em processo parturitivo no CO; estar em atividade no CO há
no mínimo por três meses.
O primeiro contato foi com a enfermeira Coordenadora do setor de CO, que possibilitou
o acesso aos enfermeiros. A autonomia dos participantes e declaração de interesse em par-
ticipar do estudo foram mantidas. Após conhecimento das informações fornecidas, leitura e
compreensão das informações constantes no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) que foi assinado para a realização da entrevista.
As entrevistas foram realizadas em um local reservado e livre de interrupções, onde as
participantes se sentiam confortáveis. As mesmas foram agendadas individualmente, con-
forme a disponibilidade dos enfermeiros do CO que desejaram participar. Cada entrevista
teve uma duração de aproximadamente 10 minutos.
Teve como questão norteadora: Comente a sua compreensão sobre conflito e dile-
ma ético relacionado com a violência obstétrica? E questões de aproximação: Fale-me
sobre uma situação de acompanhamento da mulher em situação de violência obstétrica?

72
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Comente sobre que estratégias utiliza para proporcionar cuidados à mulher em situação de
violência obstétrica?
As entrevistas foram transcritas na íntegra. A confidencialidade e o anonimato foram
assegurados mediante uso de pseudônimos (enfermeiro 1; enfermeiro 2; enfermeiro 3;
enfermeiro 4; enfermeiro 5) conforme a ordem em que aconteceu a entrevista. Para a con-
cretização do processo de análise foi utilizado análise de conteúdo de Bardin como modo
de revelar a síntese da estrutura das categorias empíricas. A análise de conteúdo é um
“conjunto de técnicas de análise das comunicações” (BARDIN, 2016, p. 37). Para o autor,
será um único instrumento, marcado com uma grande disparidade de formas e adaptável a
um vasto campo de aplicação.
A análise dos dados obedeceu à seguinte ordem cronológica, segundo Bardin
(2016): A pré-análise constituída pela fase de organização propriamente dita que corres-
pondeu a um período de intuições, com o objetivo de tornar operacionais e sistematizar
as ideias iniciais, de maneira a conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento das
operações sucessivas, num plano de análise. Terá início com a escolha dos documentos
que serão submetidos à análise com a intenção de fundamentar a o referencial teórico e a
interpretação final.
Na etapa seguinte, exploração do material, fase de análise propriamente dita.
Considerada longa e fastidiosa, consiste essencialmente em operações de codificação
(saber a razão por que analisa, e explicitá-la de modo que se possa saber como analisar).
(BARDIN, 2016, p. 133). A classificação dos dados foi operacionalizada através da leitura
exaustiva e repetida dos textos, pois através desse exercício foi feita uma apreensão das
estruturas de relevância a partir dos documentos pesquisados. Nessas estruturas estão
contidas as ideias do autor, e com isso foram identificadas as áreas temáticas. A análise
dos dados possibilitou uma reflexão sobre o material empírico e analítico, de forma que o
mesmo foi decomposto em categorias empíricas. Onde foi utilizado para análise dos valores
éticos e a legislação de Enfermagem.
Na última etapa da análise de conteúdo, tratamento dos resultados, a inferência e
a interpretação, foram realizadas as inferências e interpretações a propósitos dos ob-
jetivos propostos.
No segundo momento de análise, utilizou-se o Método de Análise de Problemas Morais,
proposto por Gracia (2007), que utiliza como base de análise para os conflitos e dilemas éticos
o modelo principialista de Beauchamp e Childress, com o intuito de resolvê-los, propondo
estratégias para a tomada de decisões. O método proposto por Gracia (2007), propõe enu-
merar e definir as situações éticas para posteriormente analisá-los separadamente, partindo
das reflexões da ontologia, deontologia, teologia e da justificação.
73
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Assim o Método de Análise de Problemas Morais está distribuído nas seguintes fases:
1ª fase: O sistema de referência moral pautado em um olhar ontológico vê os seres humanos
como iguais que devem ser respeitados e valorizados em sua individualidade (OLIVEIRA;
SANTA ROSA, 2014).
2ª fase: O esboço moral deontológico, está relacionado o cumprimento da lei, enten-
dido como um sistema de possibilidades onde se tenta explicar a realidade moral partindo
de uma construção da razão (FERRER; ALVAREZ, 2005).
Nos casos descritos pelos enfermeiros, foram observadas as implicações relativas
à deontologia, isto é, as regras que tendem a impor respostas para os conflitos e dilemas
vivenciados no cuidado a mulher em situação de violência obstétrica, frente a tomada de
decisões do enfermeiro, analisados à luz dos princípios da bioética, autonomia, beneficência,
não maleficência e justiça.
3º fase: A experiência moral teleológica, partindo dos aspectos objetivos e subjetivos da
experiência moral, o ideal é alcançar uma vida boa, virtuosa e feliz, frente a uma avaliação de
um ato moral é considerado a consequência de sua ação (OLIVEIRA; SANTA ROSA, 2016).
Essa fase está relacionada à norma e a teoria de valores que corporificam os fins de
uma ação, trata basicamente da relação entre meio e fim, da avaliação do fim e dos meios
necessários para alcançá-lo (OLIVEIRA; SANTA ROSA, 2014).
4º fase: Por fim a Justificação, onde acontece a análise das consequências da expe-
riência moral, consiste em comprovar que a opção feita está em conformidade com valores
e princípios vivenciados pela pessoa, para isso observa-se quatro etapas: Comparar o caso
com a regra; comprovar se é possível justificar uma exceção à regra no caso concreto, con-
siderando as consequências objetivas e subjetivas; contrasta a decisão inicial com o sistema
de referência; e, por fim, tomada de decisão (SILVA et al., 2016).
O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de
Feira de Santana, CAAE: nº 71618817.6.0000.0056. Os procedimentos adotados na pes-
quisa estão em conformidade com as orientações éticas previstas na Resolução 466/12, do
Conselho Nacional de Saúde, a qual apresenta normas regulamentadoras e diretrizes de
pesquisas envolvendo seres humanos (BRASIL, 2013).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

As entrevistas foram realizadas com 05 enfermeiras que atuam no CO de um Hospital


maternidade do interior da Bahia, com no mínimo três meses de experiência. A idade das
entrevistadas variou entre 27 a 38 anos, dentre elas a profissional com maior tempo de
formação tem nove anos de formada e a com menor tempo tem três anos. Todas são espe-
cialistas em obstetrícia, duas delas não possuem outro vínculo empregatício. A percepção
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
das profissionais acerca dos conflitos e dilemas éticos em situações de violência obstétrica
revelada nos discursos de diferentes formas, encontram-se organizadas em quetro ca-
tegorias a seguir.

CATEGORIA 1 - SITUAÇÕES DE VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA

A primeira categoria sobre as situações de violência obstetrícia tem duas subcate-


gorias realização de intervenções desnecessárias durante o trabalho de parto e a falta de
informações da parturiente.
Com o sucessivo avanço das tecnologias, o parto passa a ser visto como um evento
patológico, que necessita de intervenção médica no âmbito hospitalar. Onde o atual modelo
de assistência obstétrica, denominado tecnocrático, faz com que a parturiente deixe de ser a
protagonista do próprio parto, e torne-se vulnerável a agressões (físicas, emocionais, verbais),
e as intervenções desnecessárias que se travestem de boas práticas (BRANDT et al., 2018).
O profissional de enfermagem exerce um importante papel durante os períodos de
pré-parto, parto e pós-parto, proporcionado à parturiente uma assistência humanizada. Em si-
tuações de violência obstétrica, é comum que a paciente se sinta com medo e insegura.
Portanto, cabe a equipe de enfermagem, oferecer suporte psicológico a mulher, através de
uma escuta qualificada, sem julgamentos, possibilitando que ela compartilhe suas emoções,
e a criação de um elo entre enfermeira e paciente. E a partir daí, prestar as orientações
necessárias (OLIVEIRA; SILVA, 2019).

I. Realização de intervenções desnecessárias durante o trabalho de parto

A violência obstétrica se revela quando um profissional obstetra medicaliza o parto,


mesmo este sendo considerado um evento fisiológico, quando a parturiente perde a sua
autonomia e tem os seus diretos violentados, através de procedimentos invasivos, danosos
a integridade física e emocional da mulher. Nesse cenário é comum a realização de práticas
mecanizadas, fragmentadas e desumanizadas (LEAL et al., 2018).
Essa questão de violência obstétrica é uma questão que depende muito do entendimen-
to de vários profissionais, tem profissional que não vai entender como violência obstétrica
. Exemplo uma manobra de Kristeller, mas que naquele contexto as vezes foi necessário
fazer, mas aí você entra em discordância com a equipe, ou você concorda ou não, e aí acaba
gerando esses conflitos, e a gente vai discutir sobre isso depois que passou a situação E3.
Presenciar um obstetra realizando manobra de Kristeller durante o parto e acusando
a gestante de que se o bebê não nascer, seria culpa dela, que não estava fazendo a força
correta [...] E4.

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Eu tive recentemente uma paciente que tava em um período expulsivo muito prolon-
gado, e porque eu trabalho na sala de parto, [...] com duas horas de dilatação completa, e
uma hora de período expulsivo [...] fizemos várias coisas com ela, agachou, subiu, desceu,
colocou de quatro apoios, tentou várias coisas e não conseguiu, como já tinha um tempo,
apesar do BCF (batimentos cardio fetais) tá o tempo todo bom, mas já tinha um tempo
considerável, dentro do limite de que eu poderia esperar, eu acionei a equipe médica pra
dar um suporte, na verdade a minha sugestão foi um fórceps de alivio, porque a paciente
tava exausta, não tinha mais condição, e a cabeça do bebê não tinha progressão nenhuma,
apesar de já estar ali na vulva, aí foi quando eu acionei, o médico veio, fez uma episio, fez
Kristeller, fez um monte de coisas E5.
Os relatos demonstram que as profissionais de Enfermagem não concordam com a
realização de procedimentos invasivos no momento do parto, a exemplo da manobra de
Kristeller, que mesmo sendo uma prática desaconselhada no ambiente hospitalar ainda
ocorre com frequência, com a finalidade de acelerar a expulsão do bebê durante o parto.
Constitui-se como um método que desrespeita a integridade física da parturiente, expondo a
mãe e o recém-nascido a riscos de complicações a saúde, como lesões nos órgãos internos,
hematomas, fraturas, entre outros, além de gerar violência psicológica à gestante (LEAL
et al., 2018; SAUAIA, SERRA, 2016).
Além de exemplificar uma situação de violência obstétrica, a enfermeira E4, relatou a
sua atitude diante de uma situação como essa.
[...] Informei ao mesmo que se ele permanecesse fazendo a manobra, que eu não fi-
caria na sala, pedi desculpas a paciente e me retirei, depois escrevi um relatório e entreguei
na ouvidoria E4.
Ao se manifestar contra a realização da manobra, a enfermeira E4 retirou-se da sala
onde estava acontecendo parto, e relatou o ocorrido na ouvidoria, para que fossem tomadas
as devidas providências. A atuação do enfermeiro na advocacia do paciente ainda é uma
prática incomum no Brasil, porém esta é uma atitude importante, que emerge como uma
obrigação moral do profissional de Enfermagem, e que se configura como uma estratégia
de enfrentamento não só da violência obstétrica, mas de todas as situações onde paciente
tem os seus direitos violados (OLIVEIRA; PENNA, 2017).
A violência descrita, se configura devido a imposição de uma intervenção danosa à
integridade física e emocional das parturientes no CO, além de ser um desrespeito a auto-
nomia feminina. Sendo a manobra de Kristeller, no campo feminista e obstétrico, uma prática
violenta e violadora de direitos (SILVA, et al., 2015; LEAL, et al., 2018).

II. Falta de informação da parturiente

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Nesses relatos as enfermeiras obstetras (E4 e E5) retratam que muitas pacientes não
conseguem reconhecer situações de violência obstétrica, devido à ausência de informa-
ção. Portanto, compreendem que todos os procedimentos os quais estão sendo submeti-
das, irão ajudar a salvar a vida dela e a do bebê, tendo a figura do médico como um herói
(LEAL et al., 2018).
É um tema que abrange muito conflito e dilema ético, devido a mulher enfrentar o pro-
blema da sua autonomia ser negada, devido uma relação médico-paciente onde ele acredita
que é dotado de conhecimento E4.
É complicado, porque a gente entra numa situação que assim, nesse caso mesmo
depois que ela pariu, depois que ela sofreu tudo isso, as pacientes não se reconhecem
como sendo violentadas, ela acabou agradecendo, endeusando o médico, dando graças
a Deus ele foi um anjo que salvou ela, que ela estava sofrendo muito, que não conseguia
parir, já tinha avisado que ela não ia conseguir parir e só conseguiu com a ajuda dele, então
a paciente acaba vendo você como a parte ruim da história, alguém que tá querendo forçar
que ela parisse e ela não tinha condições de parir, aí veio lá um médico, empurrou a barriga
dela e resolveu toda a situação E5.
Portanto, há uma dificuldade de reconhecimento pelas parturientes da vivência da
violência obstétrica, tratando-se de uma questão complexa e influenciada por diversos fato-
res. O reconhecimento do direito das mulheres à escolha e recusa informada e de não serem
submetidas a intervenções não consentidas é recente, e ainda não faz parte da cultura dos
profissionais obstetras ou das mulheres (LANSKY et al., 2019).

CATEGORIA 2 - ESTRATÉGIAS DE CUIDADO À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA

A segunda categoria sobre as estratégias de cuidado à mulher em situação de vio-


lência com duas subcategorias assistência e orientação à parturiente e divergências com
a equipe médica.
O processo de cuidar é imprescindível no trabalho da equipe de enfermagem. Cabe
a enfermeira obstetra ao se deparar com uma mulher em situação de VO, desenvolver es-
tratégias para prestar os cuidados necessários as suas necessidades sociais, psicológicas,
físicas e emocionais, saber ouvi-las e orienta-las, estabelecendo uma relação de troca, que
favorece a confiança entre profissional e paciente (SILVA et al., 2016).

I. Assistência e orientação à parturiente


Sendo a enfermeira a profissional de saúde mais próxima da parturiente, faz parte da
sua assistência informá-la sobre os procedimentos realizados. Em situações de violência

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
obstétrica, é importante que a profissional de enfermagem relate para a paciente o ocorrido,
destaque os seus direitos e oriente-as a buscá-los (ALVARENGA; KALIL, 2016).
É válido ressaltar que a Organização Mundial de Saúde (OMS) retrata a enfermagem
obstétrica como a categoria profissional mais apta para que haja a mudança das práticas
de violência e a consolidação de uma assistência obstétrica segura, pautada nos princípios
éticos e bioéticos (MOURA et al., 2018).
Quando a mulher, a gestante, no caso, ela está calada, [...]chorosa, tem medos, medos
[...] avaliação, de não conseguir parir, etc. Existe uma equipe multiprofissional, [...] procura
detectar [...] o tipo de problema ela está passando naquele momento, pra poder direcionar
o especialista na atuação [...] E2.
Orientei a paciente, expliquei pra ela que aquilo ali se tratava de uma violência obsté-
trica e que ela poderia recorrer, poderia procurar os direitos dela E3.
Acolhimento, informação e apoio E4.
Em suas falas, as enfermeiras E2, E3 e E4 destacaram a orientação como ação es-
sencial da sua assistência a mulher em situação de violência obstétrica, além de informa-lá
sobre o ocorrido e incentivá-la a buscar os seus direitos.
A informação e a orientação adequadas fazem parte de uma assistência com funções
qualificadas e educativas, permitindo que a partir do conhecimento a mulher se empodere e
seja capaz de tomar as rédeas da situação (LEAL et al., 2018; ALVARENGA, KALIL, 2016).
[...] eu tento prestar a minha assistência de Enfermagem mesmo, não deixar a paciente
desassistida, mas muitas vezes a gente é vista dessa forma, como alguém que estava ali
prestando um cuidado que talvez no entendimento dela não é adequado, e também eu gosto
de orientar as pacientes, conversar [...], explicar, explico o que é que ela pode fazer, aonde
ela pode ir, o que é que ela pode procurar, a unidade tem ouvidoria, a unidade tem direção,
a unidade tem sempre alguém que responde pela direção seja de dia ou de noite, então
explico para ela que ela sofreu uma violência e que se ela se sentiu violentada, ela pode
procurar na unidade a ouvidoria e prestar uma queixa, tanto na enfermaria também quando
a ouvidoria passa para conversar com as pacientes para saber como foi o atendimento ela
pode relatar o ocorrido com ela sem nenhum prejuízo de assistência E5.
[...] não cabe a mim julgar a conduta de colega e nem de equipe nenhuma, mas expli-
co pra ela, acho que ela tem todo direito de entender o que é que é a violência obstétrica e
depende do que aconteceu, não sei te dizer, mas se eu to recebendo uma mulher que me
relata que foi vítima de violência obstétrica o mínimo que eu vou dizer pra ela é que ela pro-
cure os direitos dela, que ela vá até a defensoria pública, a ouvidoria do hospital para que
ela consiga ter respostas diante da situação que ela viveu, e lógico que ela precisa passar
por acompanhamento psicológico E3.
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Os relatos das profissionais E3 e E5 desvelam que as mesmas orientam as pacientes
a buscarem os seus direitos no âmbito da justiça, citando não só a ouvidoria do hospital,
mas também a defensoria pública.
A E3 ressalta que mesmo diante da VO, não julgou a conduta de nenhum profis-
sional, porém buscou esclarecer o ocorrido para a paciente e a ajudou com a informa-
ções necessárias.
Sendo o cuidado o foco central da Enfermagem, deverá se configurar na interação,
no contato com a paciente, no resgate do cuidado humano. Para resgatá-lo é importante o
desenvolvimento de uma relação recíproca e interdependente, propiciando condições de
crescimento e aprendizado para o seu reestabelecimento (NASCIMENTO et al., 2017).

II. Divergência com a equipe médica

O trabalho de assistência ao parto é coletivo, realizado por uma equipe multiprofissional


habilitada e capacitada para a prestação e desenvolvimento de todas as atividades neces-
sárias nos períodos de pré-parto, parto e pós-parto (OLIVEIRA; PENNA, 2017).
Quando se trata da postura do médico obstetra, a literatura aponta um comportamento
egocêntrico, onde reproduzem a postura de seu poder inquestionável e da medicalização
do parto, tornando-se o ator principal do parto, em que a parturiente se torna coadjuvante
(OLIVEIRA, PENNA, 2017).
Diante de algumas situações o enfermeiro obstetra sempre entra em discussão com a
equipe médica, [...] alguns não concordam com o parto humanizado E1.
A minha conduta diante dessa situação: eu continuo prestando a assistência de enfer-
magem a paciente, mas eu saio de cena em relação a questão obstétrica e deixo bem claro
para a equipe que eu não concordo, eu não faço Kristeller, não fiz a episio também porque
na minha avaliação não era uma episio, tanto que a episio foi feita e o bebê só nasceu vinte
minutos depois, depois de tanto ele empurrar, mas não era o períneo da mulher que estava
segurando o bebê, então a episio não era necessária, no meu ponto de vista nesse caso foi
uma violência obstétrica, porque não tinha necessidade nenhuma de ter cortado para poder
o bebê sair, tanto que ficou vinte minutos ela cortada e nada, não se resolvia, eu continuo
na cena por questão da assistência de enfermagem, já que eu sou a única enfermeira do
setor, eu não posso sair de cena, mas eu também não ajudo, e eu presto assistência de
enfermagem a paciente e deixo claro a equipe que eu não concordo com aquela conduta,
e escrevo em prontuário o que foi realizado e quem foi que realizou E5.
Segundo a enfermeira E1 alguns médicos não concordam com a prática do parto hu-
manizado, e comportamentos como esses são comuns no CO, geram a fragmentação do
cuidado, impossibilitam uma assistência de qualidade e propiciam o surgimento de conflitos
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
e dilemas éticos, onde a equipe de enfermagem diverge com a equipe médica. E a enfer-
meira E5 ressalta que ao discordar da conduta do médico obstetra, ela opta por deixar de
intervir durante o parto, mas continua prestando a assistência de enfermagem a paciente,
relatando a posteriori a situação ocorrida no prontuário.
Logo, percebe-se que o discurso biomédico hegemônico, foca seus argumentos na
noção de risco do parto vaginal, onde justifica o excesso de procedimentos como impres-
cindíveis à boa prática obstétrica, em que a capacidade de escolha sobre o parto passar a
ser exclusividade médica. E o enfermeiro obstetra, por possuir uma formação que visa uma
assistência humanizada, e que respeita a fisiologia do parto, apesar de discordar da postura
médica, continua assistindo a paciente (PALHARINI, 2017; SILVA et al., 2015).

CATEGORIA 3 CONFLITO ÉTICO

A categoria conflito ético foi composta por duas subcategorias a compreensão de con-
flito e os conflitos entre a equipe multiprofissional.
O conflito pode ser compreendido “como a quebra da ordem, uma experiência ne-
gativa, gerada por erro ou falha” (AMESTOY et al., p.80, 2014). Percebe-se que o conflito
no CO surge na rotina das relações interdisciplinares entre a equipe de saúde, e costuma
estar relacionado a diferentes opiniões sobre ações realizadas durante o parto, principal-
mente entre a equipe médica e equipe de Enfermagem.
I Compreensão sobre o conflito
Ao abordarem a compreensão sobre o conflito, as enfermeiras se expressaram de for-
ma equivocada em determinados momentos. Elas vivenciam conflitos por estarem frente a
diferentes possibilidades e pelo ambiente do CO ser dinâmico que atende a procedimentos
complexo exigindo dos mesmos escolhas rápidas, a fim de evitar danos a paciente e ao bebê.
Conflito trata-se de um impacto, de uma ação que envolve a todos E4.
Conflito são essas coisinhas que acontecem no dia a dia, que você tenta resolver ques-
tões e que tenta que fique melhor para todo mundo né, são os conflitos do dia a dia mesmo,
e que com uma boa conversa, um bom diálogo a gente acaba resolvendo E3.
Conflito [...] questão pessoal, questão de discordância de conduta E5.
[...] conflitos acontecem, e de maneira ética, a base de protocolos, a gente acaba re-
solvendo essas questões E2.
A enfermeira E5 destaca que o conflito é uma questão pessoal e de discordância de
conduta, apesar do conflito envolver situações de discordância entre o certo e o errado, ele
não é considerado uma questão pessoal. E as enfermeiras E3 e E4 não souberam atribuir o
significado da palavra conflito de modo claro e de fácil compreensão, devido à insegurança
na hora de se expressarem.
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Portanto, como a enfermeira E2 traz no seu relato, faz-se necessário o aprimoramen-
to do conhecimento teórico da equipe de enfermagem sobre o assunto, para que saibam
identificar situações conflituosas e resolve-las com respaldo nos princípios da ética e da
bioética, tendo como base o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (OLIVEIRA;
SANTA ROSA, 2016).
II Conflitos entre a equipe multiprofissional
O trabalho na área da saúde é complexo, por isso é comum o aparecimento de conflitos
entre as diversas categorias profissionais. Entrar em conflito é algo inerente ao ser humano,
visto que cada indivíduo possui suas concepções, crenças, atitudes, senso de ética, moral,
costumes, etc. É comum que ocorra a divergência de opiniões, e muitas vezes, a situação
conflituosa foi necessária para a construção de novos conceitos (LEAL et al., 2018).
[...] se tem alguma situação de conflito a gente tenta negociar entre a equipe, nunca é
uma coisa autoritária, uma coisa assim: eu mando, você obedece, eu decido, você obedece,
não, é uma coisa que é feita em conjunto E3.
[...] as vezes a gente tem uma discordância de conduta da equipe, do médico por
exemplo, o médico prescreve uma medicação que a gente acha que não é o momento de
introduzir aquela medicação para a paciente e aí eu acho que o conflito está direcionado a
isso, as vezes a gente tem uma discordância E5.
Em sua fala a enfermeira E5 desvela que a discordância entre os profissionais da
equipe é algo que acontece algumas vezes. A exemplo do médico obstetra que ao agir de
acordo com o discurso médico hegemônico, toma decisões egocêntricas e sem o apoio da
equipe de saúde, principalmente a equipe de Enfermagem.
A enfermeira E3 retrata em sua fala a maneira como a equipe de saúde do CO costu-
mam resolver as situações conflituosas, através de uma tentativa de negociar em conjunto
com todos os profissionais envolvidos. Ressaltando que a resolução dos conflitos influencia
positivamente a organização do trabalho e favorece a construção de objetivos comuns,
intensificando a articulação entre os profissionais e a atuação da equipe multiprofissional
(SANTOS et al., 2016).

CATEGORIA 4 - DILEMA ÉTICO

A categoria sobre o dilema ético foi composta por duas subcategorias conhecimento
sobre o dilema e ação da enfermeira frente a um dilema ético.
Os dilemas ocorrem quando emerge uma situação em que há duas opções de escolha,
e ambas ferem os princípios éticos. No dilema ético o profissional de enfermagem vivencia
uma situação limite, a qual impõe o desafio de ser obrigado a escolher entre dois, e somente
dois, incompatíveis cursos de ação (OLIVEIRA, SANTA ROSA, 2015; NORA et al., 2016).
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
I. Conhecimento sobre dilema
Os dilemas éticos permeiam rotineiramente a prática dos profissionais da equipe obs-
tétrica. Portanto, a capacidade de reconhecimento de um dilema é essencial, pois só assim
a equipe de Enfermagem poderá subsidiar a tomada de decisões (OLIVEIRA et al., 2017).
Dilema ético é uma linha muito tênue do que você precisa fazer e o que você pode
fazer, dentro da enfermagem a gente tenta sempre trabalhar da melhor forma possível,
respeitando aqueles nossos princípios de ética, respeitando o nosso cliente, respeitando
sempre a nossa equipe E3.
Dilema é mais quando envolve alguma coisa que é mais crítica e você acaba expondo
os dois lados da situação E5.
Dilema ético [...] é uma questão mais profunda, mais detalhada, porque as vezes você
tá diante de uma situação em que você precisa, não condiz com aquilo que você concorda,
não condiz com aquilo que a sua profissão te ensina, e o que você aprendeu, e quando você
vem pra vivência, pra prática, é completamente diferente daquilo que você tá acostumado E3.
Dilema ético é quando inflige regras que irão impactar na pessoa ou sociedade E4.
Dilema tá mais relacionado a uma questão quando a gente não tem bem uma resolução
[...] fica numa situação que expõe tanto um lado quanto o outro, e não tem aquela coisa bem
definida do que você vai fazer E5.
Observa-se que as enfermeiras já vivenciaram situações de dilemas éticos e as mes-
mas têm diferentes concepções sobre o seu significado. Para a enfermeira E3, o dilema é
uma questão mais profunda e caracteriza-se como uma linha tênue entre aquilo que você
precisa fazer e aquilo que pode fazer. A enfermeira E5 compartilha de um pensamento
parecido com o da sua colega de trabalho, e compreende o dilema como uma situação
onde não há uma resolução ética, pois, expõe ambos os lados envolvidos. Enquanto que a
enfermeira E4 desvela que o dilema ético acontece quando o profissional inflige regras que
irão causar impactos, seja em uma única pessoa, ou na sociedade de modo geral.
O reconhecimento de um dilema, configura-se como um passo importante na cons-
trução de profissionais éticos, visto que por diversas vezes situações dilemáticas passam
despercebidas ou são confundidas com conflitos. Assim sendo, apesar de demonstrarem
compreensão sobre o conceito do dilema, as enfermeiras do CO devem aprimorar o seu
discernimento, para que se sintam mais seguras na identificação e na resolução de um di-
lema (OLIVEIRA; SANTA ROSA, 2016).

II. Ação da enfermeira diante de um dilema.

Para a prevenção desses dilemas éticos por parte da equipe de enfermagem, é


necessário o desenvolvimento da autonomia e o conhecimento do Código de Ética dos
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Profissionais de Enfermagem, a fim de prestar uma assistência com responsabilidade e
ética (OLIVEIRA et al., 2017).
[...] Eu por exemplo nunca passei por nenhum conflito, nenhum dilema ético, tá. Mas
creio eu que se um dia eu passasse, seria algo bem difícil de resolver, porque uma coisa é
o que você aprende, outra coisa é o que você vivencia, então são situações completamente
diferentes e que precisa tentar dentro de um contexto mais correto possível, tentar resolver,
mas são questões assim bem... Falar sobre isso é complicado. E3.
Em sua fala a enfermeira E3 revela nunca ter vivenciado uma situação conflituosa ou
dilemática, mas afirma que se estivesse inserida numa situação de dilema ético, tentaria
resolver da maneira mais correta possível, ou seja pautada nos princípios éticos que per-
meiam a profissão.
Pois, a resolução dos dilemas que permeiam o cotidiano da profissão perpassa pela
identificação do mesmo, e por uma análise ética, onde faz- se importante um posicionamento
de forma crítica e reflexiva para que a tomada de decisão seja subsidiada por princípios e
valores éticos (SILVA, et al., 2018).

CONCLUSÃO

Este estudo possibilitou conhecer os conflitos e dilemas éticos vivenciados em situação


de violência obstétrica pelos enfermeiros de um hospital maternidade do interior da Bahia.
Ao tecer considerações sobre os resultados encontrados, pode-se inferir que devido ao
aumento da tecnologia na área da obstetrícia, o parto passou a se configurar como evento
patológico e medicalizado, com intervenções desnecessárias, que cerceiam a autonomia
da mulher, e que se caracterizam como violência obstétrica.
Neste cenário é comum que ocorram divergências entre a equipe multiprofissional,
principalmente com a equipe médica, devido ao discurso biomédico hegemônico, que por
conveniência opta por práticas segmentadas e medicalizadas, que ferem a integridade física,
emocional e psicológica da parturiente.
Situações como essas tornam-se ainda mais frequentes em hospitais públicos, onde
a falta de informação da parturiente é um fator que contribui para a prática da violência obs-
tétrica. No entanto, diante de uma situação de violência obstétrica a equipe de enfermagem
obstetra do hospital, busca assistir a paciente de forma qualificada e educativa, tendo a
orientação como uma estratégia importante para o enfrentamento da violência obstétrica.
Conclui- se que a resolução das situações conflituosas e dilemáticas está fundamentada
não só no conhecimento teórico, mas também na autonomia da enfermeira.

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
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85
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
06
Cuidados de enfermagem à mulher
que realiza radioterapia por câncer
de mama: uma revisão integrativa

Ana Claudia Miranda Tempone Pinto


UFJF

Drª Thaís Vasconselos Amorim


UFJF

Drª Andyara do Carmo Pinto Coelho


Paiva
UFJF

Suellen Fernanda de Souza Viana


UFJF

Rômulo Cândido Nogueira do


Nascimento
UFJF

Carolina de Oliveira Baumgratz


UFJF

10.37885/210203216
RESUMO

A radioterapia é um dos métodos utilizados para o tratamento do câncer de mama e


devido aos efeitos dessa terapia, torna-se necessário o cuidado de enfermagem para
amenizar os danos físicos e emocionais das mulheres envolvidas. Esse estudo teve
por objetivo analisar as perspectivas do cuidado de enfermagem à mulher que reali-
za radioterapia para câncer de mama por meio de uma revisão integrativa. A busca
ocorreu no mês de Agosto de 2020, nas bases de dados Scientific Electronic Library
Online; Base de Dados de Enfermagem; National Center for Biotechnology Information
e Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature. Foram utilizados os Palavras-
chave: “Cuidados de enfermagem”, “Radioterapia” e “Neoplasias da mama”, sendo incluí-
dos artigos de pesquisa nacional e internacional em português, inglês e espanhol, dos
últimos 10 anos. A amostra final foi constituída de 10 artigos que permitiram a análise e
discussão das perspectivas dos cuidados de Enfermagem diante da fadiga, radiodermite,
ansiedade e depressão. Os resultados mostraram a importância do cuidado à mulher
que realiza a radioterapia para o câncer de mama e que apresenta efeitos colaterais du-
rante o tratamento. Dentre as implicações para a prática de enfermagem, as evidências
apresentadas sensibilizam os enfermeiros sobre a importância da temática e enfatizam
o desenvolvimento de ações que englobem o cuidado biopsicossocioespiritual. Essas
intervenções podem ser úteis no apoio às práticas clínicas, objetivando a qualificação
do cuidado no planejamento de ações estratégicas e na melhoria da qualidade de vida
das mulheres que realizam radioterapia para o câncer de mama.

Palavras-chave: Radioterapia, Cuidados de Enfermagem, Câncer de Mama.

87
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

O câncer é um importante problema de saúde pública que ocasiona cerca de seis mi-
lhões de óbitos anualmente, representando aproximadamente 12% das causas de morte no
mundo (INCA, 2020). Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de mama é
a segunda neoplasia mais comum em mulheres, sendo estimado para o Brasil 66.280 casos
novos para cada ano do triênio 2020-2022. Esse valor corresponde a um risco estimado de
61,61 casos novos a cada 100 mil mulheres (INCA, 2020).
Diante dos dados epidemiológicos e visando dentre outros aspectos, a “necessidade de
redução da mortalidade e da incapacidade causadas por câncer, por meio de ações de promo-
ção da saúde, prevenção, detecção precoce e tratamento oportuno”, foi elaborada em 2013,
a Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer (PNPCC) (BRASIL, 2013, p.129).
Conforme descreve a PNPCC, o tratamento deve ser feito nas Unidades de Assistência
de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON) e nos Centros de Assistência de Alta
Complexidade em Oncologia (CACON), ambos em nível terciário. Essas unidades devem
estar capacitadas para assegurar a qualidade da assistência, realizar o diagnóstico, deter-
minar o estadiamento, acompanhamento e tratamento (BRASIL, 2013).
Em se tratando de terapias para o câncer de mama de uma forma geral, tem-se a qui-
mioterapia, hormonioterapia, cirurgia e radioterapia (LEAL; CUBERO; DEL GIGLIO, 2010;
NICOLUSSI; SAWADA, 2011). A radioterapia (RT) utiliza feixes de radiações ionizantes,
sendo que o número de sessões depende do tipo de tumor, estado de saúde geral do pa-
ciente e a técnica de radiação utilizada (BRASIL, 2015; HABIBULLAH et al., 2018).
Entre as vantagens da RT, se enquadram a fácil e rápida aplicação, eficiência e efe-
tividade locais. Por outro lado, a terapia possibilita efeitos colaterais como lesões na pele,
fadiga, dor, problemas gastrointestinais, fibrose e danos às estruturas normais subjacentes,
com diminuição da qualidade de vida em geral (HABIBULLAH et al., 2018).
Além dos efeitos da RT que afetam diretamente a dimensão física, deve-se levar em
conta as repercussões sociais e emocionais como medo, estresse, ansiedade, alteração da
imagem corporal e sinais de depressão. Logo, o conhecimento e valorização das singularida-
des, possibilita que os profissionais de saúde norteiem suas ações para além das questões
técnicas, entrevendo a dimensão existencial para cuidar de modo abrangente (HABIBULLAH
et al., 2018; PAIVA et al., 2019).
Devido a esses impactos, compete aos profissionais de enfermagem, em especial ao
enfermeiro que atua na radioterapia, a prevenção, tratamento e reabilitação dirigidos às
pessoas submetidas à radiação. Para isso, a consulta de enfermagem se torna importante
de modo a avaliar a história, impacto da doença e do tratamento para todos os envolvidos
(SOUZA et al., 2017).
88
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
No momento da consulta, devem estar presentes atitudes de acolhimento, escuta e
apoio, atreladas à atenção biopsicossocioespiritual, tornando-se alicerces para o enfrenta-
mento da doença em atendimento aos preceitos humanísticos da Enfermagem, bem como
as premissas da política, princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). Assim,
o olhar pautado na dimensão subjetiva da mulher incentiva a expressão de sentimentos, fa-
zendo com que o enfermeiro seja capaz de acolher e auxiliá-la de uma maneira mais efetiva
nessa fase desafiadora da vida (MORENO, 2010; PAIVA et al., 2019).
Por todas essas considerações, torna-se relevante a investigação do conhecimento
produzido por enfermeiros acerca do cuidado de enfermagem à mulher que realiza radio-
terapia por câncer de mama.

DESENVOLVIMENTO

Metodologia

O presente estudo utilizará a revisão integrativa da literatura, que consiste na análise


simultânea e síntese de pesquisa experimental e quase-experimental, ou combinação de
dados de literatura teórica e empírica. Esse tipo de revisão colabora para a tomada de de-
cisão e na melhoria da prática clínica, acarretando discussões sobre métodos e resultados
de pesquisas e determina quais estudos possuem lacunas que precisam ser preenchidas
(MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).
A revisão de literatura é um método que possibilita a integração de diversas metodo-
logias e é considerada um alicerce para a prática baseada em evidência em enfermagem
(WHITTERMORE; KANFL, 2005). Esse tipo de revisão tem o potencial de construir co-
nhecimento de forma fundamentada para os enfermeiros realizarem uma prática clínica de
qualidade. Além disso, facilita a utilização do conhecimento científico, tornando os resultados
de estudos mais acessíveis, pois em um único estudo o profissional tem acesso a diversas
pesquisas sintetizadas. (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).
Como esse método analisa um amplo número de estudos, é necessário percorrer seis
etapas para facilitar sua síntese, sendo elas: Identificação do tema e seleção da hipótese;
Amostragem ou busca na literatura; Categorização dos estudos; Avaliação dos estudos;
Interpretação dos estudos e Síntese do conhecimento (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).
No contexto deste estudo, que é o de analisar o conhecimento produzido por enfermeiros a
respeito do cuidado à mulher que realiza radioterapia para câncer de mama, a revisão integrativa
auxiliou a sintetizar as evidências que a enfermagem oferece no plano biopsicossocioespiritual
à atenção a mulher que realiza a radioterapia, levando em conta o quão importante é a estabi-
lidade da mulher para uma melhor progressão durante o tratamento.
89
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
A temática dessa revisão foi a mulher que realiza radioterapia para câncer de mama,
tendo como pergunta norteadora: “Quais são as perspectivas do cuidado de enfermagem à
mulher que realiza radioterapia para câncer de mama?”
Para a construção da pergunta adequada para a resolução da questão clínica pesqui-
sada, utilizou-se a estratégia PICO – com “P” correspondendo à população (mulheres com
câncer de mama); “I” à intervenção (radioterapia); “C” à comparação (não se aplica, pois
não é um estudo comparativo) e “O” à outcomes, correspondendo aos resultados (cuida-
dos de enfermagem).
As buscas foram realizadas em agosto/2020 nas bases Scientific Electronic Library
Online (SciELO); Base de dados de Enfermagem (BDENF); National Center for Biotechnology
Information (PubMed) e Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL),
por meio da combinação dos descritores e dos boleanos AND e OR.
Nas bases de dados SciELO e BDENF a busca foi realizada pelos descritores “Cuidados
de enfermagem”, “Radioterapia” e “Neoplasias da mama”. Nas bases PubMed e CINAHL foi
aplicado (“Nursing care” OR “Nursing”) AND “Breast cancer” AND “Radiotherapy”.
A seleção teve como critérios de inclusão artigos de pesquisa nacional e internacional
em português, inglês e espanhol, com recorte temporal de 2010-2020 e que possuíssem
texto completo disponível. Excluíram-se as publicações de artigos de revisão, relatos de
experiência, teses e dissertações.
Inicialmente, foram identificadas 638 publicações cujos títulos e resumos foram lidos,
bem como avaliados os critérios de inclusão e exclusão estabelecidos, sendo excluídas
622 publicações.
Ao final, foram selecionadas 16 publicações para leitura na íntegra visando garantir
maior confiabilidade e validação do material selecionado a partir dos textos que respondiam
à questão de interesse, que possuíam adequação metodológica e com discussão consis-
tente da temática proposta. Finalizada essa etapa de pré-seleção e seleção do material, 10
publicações compuseram a amostra final dessa revisão e foram identificadas com códigos
alfanuméricos (E1 a E10) (Figura 1).

90
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Figura 1. Fluxo da informação com as diferentes fases de uma revisão, segundo recomendação PRISMA.

Fonte: A autora (2020) adaptado de Galvão, Pansani e Harrad (2015).

O nível de evidência das publicações foi analisado com base na classificação propos-
ta pela Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ), que descreve seis níveis de
evidências: nível 1, metanálise de múltiplos estudos controlados; nível 2, estudo individual
com delineamento experimental; nível 3, estudo com delineamento quase-experimental
como estudo sem randomização com grupo único pré e pós-teste, séries temporais ou ca-
so-controle; nível 4, estudo com delineamento não-experimental como pesquisa descritiva
correlacional e qualitativa ou estudos de caso; nível 5, relatório de casos ou dado obtido de
forma sistemática, de qualidade verificável ou dados de avaliação de programas; nível 6,
opinião de autoridades respeitáveis baseada na competência clínica ou opinião de comi-
tês de especialistas, incluindo interpretações de informações não baseadas em pesquisas
(STETLER et al., 1998).

RESULTADOS

Das 10 publicações incluídas nessa revisão, observou-se que 20% delas foram publi-
cadas nos últimos três anos – 2018 (10%) e 2019 (10%), 40% em 2010 e 40% entre 2011 e
2014. Em relação ao idioma, 91% foram em inglês e 9% em português. Houve diversidade
91
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
em relação ao local de origem dos estudos. Destaca-se que 50% eram dos Estados Unidos
da América, 30 % do Brasil, 10% da China e 10% da Suécia.
Em relação à abordagem metodológica, 80% dos estudos foram de abordagem quan-
titativa e 20%, qualitativa. Quanto ao nível de evidência, 20% das publicações foram classi-
ficadas como de nível 2 (estudo individual com delineamento experimental), 30% em nível
3 (estudo com delineamento quase-experimental como estudo sem randomização com
grupo único pré e pós-teste, séries temporais ou caso-controle) e 50% como nível 4 (estudo
com delineamento não-experimental como pesquisa descritiva correlacional e qualitativa ou
estudos de caso).
Para melhor identificação das publicações que compõem esta revisão, construiu-se um
quadro sintetizando as informações pertinentes para o estudo: título, ano, país, objetivos e
método/nível de evidência (Quadro 1).

Quadro 1. Composição da amostra final de artigos dessa revisão integrativa


Delineamento e
Estudo Ano/País Objetivos Nível de evidência
(NE)
Examinar a ocorrência e a carga dos efeitos colaterais ao
E1 longo do tempo no período após a radioterapia adjuvante
Quantitativo, prospec-
Adjuvant radiotherapy of women with bre- 2010 pós-cirúrgica em mulheres com câncer de mama e explorar
tivo exploratório.
ast cancer- information, support and side- Suécia as experiências das mulheres com as informações forne-
NE: III
-effects. cidas e a necessidade de apoio para lidar com os efeitos
colaterais.
E2 Determinar se a fadiga atensional auto-relatada era di-
Differences in self-reported attentional ferente em pacientes com câncer de mama e câncer de Quantitativo, trans-
2011
fatigue between patients with breast and próstata antes da radioterapia (RT), e para determinar as versal, descritivo.
EUA
prostate cancer at the initiation of radiation relações entre a fadiga atensional e outros sintomas nesses NE: IV
therapy. dois grupos.
E3 Examinar como a fadiga atensional mudou desde o mo-
Quantitativo, longitu-
Predictors of the trajectories of self-repor- 2010 mento da simulação até quatro meses após a conclusão da
dinal, descritivo.
ted attentional fatigue in women with breast EUA terapia de radiação (RT) e investigar se variáveis específicas
​​
NE: III
cancer undergoing radiation therapy. previram níveis iniciais e trajetórias de fadiga atensional.
E4
Avaliar a acurácia das características definidoras do diag- Quantitativo, trans-
Accuracy of the defining characteristics of 2018
nóstico de enfermagem: fadiga em mulheres com câncer versal.
the nursing diagnosis for fatigue in women Brasil
de mama em radioterapia. NE: IV
under radiotherapy.
Comparar um programa de exercícios não tradicional de
E5 12 semanas praticado em casa com os cuidados habituais Quantitativo, experi-
2013
Effects of Nia Exercise in Women Receiving sobre fadiga, qualidade de vida (QV), capacidade aeróbia mental.
EUA
Radiation Therapy for Breast Cancer. e flexibilidade dos ombros em mulheres com câncer de NE: II
mama submetidas à radioterapia.
E6
A Prospective Randomized, Placebo-Control- Comparar a eficácia de três produtos de cuidados da pele Quantitativo, experi-
2010
led Skin Care Study in Women Diagnosed diferentes versus um placebo na redução profilática da in- mental.
EUA
With Breast Cancer Undergoing Radiation cidência de reações cutâneas induzidas por radioterapia. NE: II
Therapy.
E7
Examinar a ansiedade e a depressão e seus efeitos na qua- Quantitativo, descriti-
Anxiety, depression and quality of life among 2010
lidade de vida (QV) de pacientes com câncer de mama em vo, transversal.
Chinese breast cancer patients during adju- China
quimioterapia ou radioterapia. NE: IV
vant therapy.
E8 Apreender vivências de mulheres com câncer de mama, Qualitativo, descritivo,
2014
Experiences of women with breast cancer integrantes de grupo de apoio e ações realizadas para mi- transversal.
Brasil
and actions to reduce stress. nimizar o estresse. NE: IV
E9 Quantitativo, Quase-
2012 Avaliar o impacto das imagens guiadas em pacientes sub-
Outcomes of Guided Imagery in Patients Re- experimental
EUA metidas a radioterapia para câncer de mama

92
ceiving Radiation Therapy for Breast Cancer. NE: III

Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar


Delineamento e
Estudo Ano/País Objetivos Nível de evidência
(NE)
Compreender o significado direlaxamento com imagi-
E10 nação guiada para mulheres com câncer de mama, bus-
O significado de uma terapia integrativa de 2019 cando investigar, também, como as pacientes visualizam Qualitativo, descritivo
relaxamento guiado para mulheres com cân- Brasil o câncer e seu sistema imunológico durante as sessões NE: IV
cer de mama. de relaxamento com imaginação guiada e se sentem após
sua realização.

O quadro 2 ilustra de modo sintético a distribuição dos artigos com os principais resul-
tados encontrados.

Quadro 2. Estudos da amostra final com os principais resultados

Estudo Principais resultados

Os cuidados de enfermagem se concentram em torno da prevenção e tratamento dos efeitos colaterais desde o primeiro dia de radio-
E1 terapia, sendo necessário observar e analisar todos os sintomas da paciente, além de considerar outros tratamentos administrados em
conjunto com a radioterapia (por exemplo, quimioterapia)
Intervenções de Enfermagem devem ser direcionadas à ansiedade e a depressão (principalmente nas mulheres com câncer de mama),
E2
já que esses sintomas se mostraram fortemente relacionados com a fadiga atensional.
Os enfermeiros necessitam ter conhecimento sobre preditores individuais (peso, idade, comorbidades, profissão, entre outros) para
E3
identificar pacientes com maior risco de desenvolver níveis elevados de fadiga atensional.
Diagnósticos de enfermagem precisos permitem traçar um plano de ação direcionado às reais necessidades dos pacientes. O diagnóstico
de fadiga esteve presente em 21,9% das mulheres. A característica que apresentou maior sensibilidade foi “Capacidade prejudicada em
E4
manter o nível usual de atividade física”, enquanto “Capacidade prejudicada em manter rotinas habituais” e “Falta de interesse pelo
ambiente circundante” apresentaram maior especificidade.
Ao comparar placebo com a técnica de exercícios Neuromuscular Integrative Action (NIA), constataram que os cuidados de enfermagem
E5 para as mulheres submetidas à radioterapia para câncer de mama devem ser pautados em NIA, já que esse tipo de exercício pode
ajudar a prevenir ou reduzir a fadiga.
Comparando a eficácia de três produtos de cuidados da pele versus um placebo, utilizados profilaticamente na redução da incidência
de reações cutâneas induzidas por radioterapia, não foi constatado eficácia em relação ao placebo. Com isso, as mulheres devem ser
E6
orientadas sobre como lidar com a reação na pele e os enfermeiros devem considerar as preferências pessoais, facilidade de aplicação,
risco de reação cutânea intensificada e custo, quando da indicação de soluções.
Os enfermeiros devem atentar-se sobre a importância de integrar à avaliação, considerações de cunho emocional e psíquico, aumentan-
E7 do a sensibilidade na prática para identificar grupos de pacientes de alto risco, tendo em vista que tais questões tem efeito prejudicial
sobre a qualidade de vida.
Constatou-se o quanto a vivência do câncer causa sofrimento, portanto, cabe ao enfermeiro ser criterioso e sensível para apreender
E8
as vivências das mulheres, sabendo que cada uma é única e reage de forma diferente.
Para o melhor atendimento de enfermagem às pacientes com câncer de mama, devem ser incorporadas práticas de oncologia integrativa,
E9 levando em conta que os resultados deste estudo ilustram o impacto positivo da imaginação guiada medida por meio de parâmetros
subjetivos e objetivos.
O relaxamento com imaginação guiada possibilita a compreensão do ser-no-mundo durante as reflexões proporcionadas, sendo possível
E10
verificar a importância do oferecimento da terapia pelo enfermeiro nos cuidados à mulher com câncer de mama.

A partir da síntese dos resultados, seguiu-se à análise e discussão das perspectivas do


cuidado de enfermagem à mulher que realiza radioterapia por câncer de mama, através da
categoria: Cuidados de Enfermagem diante da fadiga, radiodermite, ansiedade e depressão.

Cuidados de Enfermagem diante da fadiga, radiodermite, ansiedade e depressão

O enfermeiro possui um papel fundamental na qualidade de vida da paciente com


câncer, já que participa em todas as modalidades de assistência, necessitando obter conhe-
cimento técnico-cientifico na área de oncologia, habilidades no relacionamento interpessoal
e capacidade para avaliar as tecnologias em saúde quanto ao custo benefício, aspectos de
segurança, efetividade e impacto social com ênfase nos aspectos éticos. Além disso, torna-se
93
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
relevante compreender o contexto em que a experiência de adoecimento é vivenciada e o
tempo em que as etapas do processo de diagnóstico e tratamento foram desenvolvidas, a
fim de oferecer uma melhor assistência (DEBUS et al., 2018; MARTINS et al., 2018).
A implementação da assistência de enfermagem na radioterapia se torna um alicerce
essencial, já que leva à uma assistência padronizada, documentada e registrada das orienta-
ções fornecidas na consulta de enfermagem. O enfermeiro deve promover a integralidade do
cuidado, humanização do atendimento, planejar, organizar, supervisionar, executar e avaliar
todas as atividades de enfermagem; promover e difundir medidas de saúde preventivas e
curativas através da educação em saúde às pacientes e familiares (ARAÚJO et al., 2014;
BRASIL, 2008; SOUZA et al., 2017).
De acordo com Sjo¨valle colaboradores (2010), as mulheres que realizam radioterapia
por câncer de mama apresentam vários efeitos colaterais durante o tratamento que ainda
podem ser encontrados semanas após o término, sendo os de maior impacto a radioder-
mite, fadiga e dor. Diante disso, os cuidados de enfermagem se direcionam à prevenção e
tratamento desses efeitos.
Entre os diagnósticos de enfermagem mais frequentes associados à terapia com ra-
diação estão a integridade da pele prejudicada relacionada a efeitos da radiação sobre o
epitélio e as células basais; fadiga relacionada a efeitos sistêmicos da radioterapia e conforto
alterado relacionado à dano das glândulas sebáceas e sudoríparas secundário à radiação;
ansiedade relacionada a radioterapia prescrita e conhecimento insuficiente sobre tratamentos
e autocuidado (CARPENITO-MOYET, 2011).
Pacientes submetidas ao tratamento de radioterapia desenvolvem a radiodermite, o
que pode causar desconforto, dor e dificuldade em realizar atividades da vida diária, além
de interferir na qualidade de vida das mulheres. Devido a isso, Gosselin (2010) em seu es-
tudo buscou analisar o uso de coberturas como Aquaphor, Biafine e RadioCare versus um
placebo na redução profilática da incidência de reações cutâneas induzidas por radioterapia,
porém, as coberturas não obtiveram resultados significativos. Dessa forma, pesquisas adi-
cionais em enfermagem são necessárias para estudar outas coberturas visando melhores
resultados sobre a radiodermite.
O cuidado com a pele deve ser realizado desde o primeiro dia de tratamento, já que
a prevenção de reação cutânea e edema do braço podem minimizar a dor, aumentar a
mobilidade e, com isso, reduzir a fadiga. Além disso, os enfermeiros devem encorajar os
pacientes a manterem o autocuidado, seguindo as instruções fornecidas durante e após a
radioterapia (SJO¨VALL et. al., 2010).
Levando em conta o índice de mulheres com fadiga devido à radioterapia por câncer
de mama, um estudo teve como objetivo identificar as características definidoras (CDs) mais
94
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
prevalentes em mulheres com esse diagnóstico, de modo a contribuir para a construção de
um plano de intervenção direcionado para as reais necessidades das pacientes. A CD com
maior sensibilidade foi a “capacidade prejudicada para manter o nível habitual de atividade
física”, enquanto “capacidade prejudicada para manter as rotinas habituais” e “desinteresse
quanto ao ambiente que o cerca” apresentaram maior especificidade (ROCHA et al., 2018;
SJO¨VALL et al., 2010).
No âmbito de intervenção para reduzir a fadiga encontra-se o controle de energia,
alcançada por meio de atividades para avaliar a condição fisiológica do paciente quanto
a deficiências que resultem em fadiga no contexto de idade e desenvolvimento e usando
instrumentos validados para medi-la, por exemplo. Considerando os resultados esperados,
tem-se a conservação de energia, nível de fadiga e repouso (BULECHECK et al., 2016;
MOORHEAD et al., 2016).
De acordo com Reis e colaboradores (2013), outro suporte para as mulheres com
fadiga é o programa de exercícios não tradicionais conhecido como NIA (Neuromuscular
Integrative Action), a qual engloba uma abordagem corpo-mente-espírito. Dessa forma, os
enfermeiros poderiam incluir NIA como suporte para as mulheres submetidas à radioterapia
de mama como parte de um plano abrangente para prevenir ou reduzir a fadiga.
Segundo Merriman et al. (2011), as pacientes com câncer de mama relataram níveis
significativamente mais elevados de fadiga atensional do que os homens com câncer de
próstata, sendo o maior nível de fadiga relacionado à ansiedade, depressão, distúrbios do
sono e fadiga física. Os níveis mais altos de fadiga atensional foram associados a mulheres
jovens, desempregadas, ansiosas e com comorbidades. Os níveis mais baixos em mulheres
com maior índice de massa corporal.
O conhecimento dos enfermeiros sobre os preditores e a realização de interven-
ções direcionadas à ansiedade e depressão tornam-se importantes para identificar os pa-
cientes em risco de níveis mais elevados de fadiga atensional (MERRIMAM et al., 2010;
MERRIMAM et al., 2011).
De acordo com So e colaboradores (2010), a ansiedade e a depressão possuem efeitos
prejudiciais na qualidade de vida em mulheres submetidas à terapia adjuvante para câncer
de mama. Diante disso, os enfermeiros necessitam aumentar a conscientização sobre a
importância de integrar a avaliação de sintomas psíquicos aos procedimentos de avaliação
de enfermagem e aumentar sua sensibilidade na prática para identificação de grupos de
alto risco de pacientes submetidos à radioterapia (FROHLICH et al., 2014; SO et al., 2010).
Objetivando compreender ações realizadas para amenizar o estresse, Frohlich e co-
laboradores (2014) pôde concluir em seu estudo, que a maioria das mulheres realizavam

95
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
atividade física, tinham hábitos de vida saudáveis, participavam de grupo de apoio, e pos-
suíam assistência psicológica, apoio familiar, social e dos amigos.
No contexto de intervenções de enfermagem que beneficiam a redução da ansiedade,
o uso do telefone como estratégia para o manejo do sintoma para as pacientes em tratamen-
to radioterápico, mostrou-se eficaz. Outra ação dos enfermeiros citada como relevante é a
criação de manual educativo utilizado como guia de orientações para subsidiar a assistência
de enfermagem na radioterapia (CRUZ et al., 2017; STAMM et al., 2018).
O uso da imaginação guiada revelou melhora estatisticamente significativa, com dimi-
nuições na frequência respiratória e na frequência de pulso, na pressão arterial sistólica e
diastólica. A temperatura da pele aumentou, indicando maior fluxo capilar periférico secun-
dário a uma diminuição na resposta simpática. A maioria das participantes (86%) descre-
veram as sessões de imagens guiadas como úteis e 100% disseram que recomendariam a
intervenção a outras pessoas (SERRA et al., 2012).
O significado do relaxamento com imaginação guiada também possibilitou a com-
preensão da mulher durante as reflexões proporcionadas, sendo possível verificar o impacto
positivo da imaginação guiada medida por meio de parâmetros subjetivos e objetivos. Sendo
assim, melhorar o atendimento geral para pacientes com câncer de mama apoia a incor-
poração dessa oncologia integrativa na prática (SERRA et al., 2018; TONETI et al., 2019).
O cuidado à mulher com câncer de mama se constitui em um desafio para a equipe de
enfermagem, e deve ser realizado de maneira integrada e participativa. Dessa forma, cabe
ao enfermeiro ser sensível para apreender as vivências das mulheres, ciente de que cada
uma delas é única e reage de uma maneira distinta (FROHLICH et al., 2014; SO et. al, 2010).

CONCLUSÃO / CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao analisar as perspectivas do cuidado de enfermagem à mulher que realiza radiote-


rapia por câncer de mama, constatou-se que os enfermeiros desenvolveram diagnósticos
de enfermagem para o planejamento de ações direcionados às reais necessidades das
pacientes; cuidados para a prevenção e tratamento da fadiga, através de intervenções de
enfermagem direcionadas à ansiedade e depressão e; analisaram preditores individuais de
modo a identificar mulheres com maior risco de fadiga. Diante à radiodermite, um estudo
apontou resultados sem significância estatística, sendo um sinal de alerta, já que essa reação
pode estar presente em mulheres que realizam radioterapia.
No âmbito subjetivo, mostrou-se importante o profissional aumentar a sensibilidade na
prática, integrar a avaliação de manifestações de cunho emocional e utilizar a imaginação
guiada para as mulheres com ansiedade e depressão.

96
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Dentre as implicações para a prática de enfermagem, as evidências apresentadas
sensibilizam os enfermeiros sobre a importância da temática e enfatizam o desenvolvimento
de ações que englobem o cuidado biopsicossocioespiritual. Essas intervenções podem ser
úteis no apoio às práticas clínicas, objetivando a qualificação do cuidado no planejamento
de ações estratégicas, e na melhoraria da qualidade de vida das mulheres que realizam
radioterapia para o câncer de mama.

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101
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
07
Câncer de mama e feminino: um
relato de experiência com mulheres
em tratamento na atenção terciária

Cidélia Carmem Sousa


FHEMIG

Rita Piedade de Souza Paula


FHEMIG

Ronaldo Sales de Araujo


FHEMIG/PUC-MINAS

10.37885/210404195
RESUMO

Este trabalho aborda um estudo retrospectivo interdisciplinar em conformidade com as


boas práticas de pesquisa na saúde pública brasileira. Ele é um desdobramento teórico,
nos escopos da Educação Artística, da Psicologia e da Terapia Ocupacional, a partir de
uma intervenção realizada no evento “Outubro Rosa” em um hospital público na cidade
de Belo Horizonte/MG. O objetivo da intervenção foi proporcionar um espaço de reflexão
para pacientes em tratamento de câncer de mama, a partir da confecção de uma peça de
sutiã enquanto símbolo do feminino. Utilizou-se os seguintes instrumentos metodológicos:
questionário, exposição oral / roda de conversa e ateliê de costura, com a participação de
23 pacientes voluntariamente movidas por interesse particular sobre o tema abordado.
Percebeu-se como resultado uma interatividade entre as pacientes e que cada uma se
serviu daquele espaço para dialogar sobre a concretude do corpo, suas medidas, ajus-
tes, limitações, escolhas e, consequentemente, sobre os efeitos subjetivos em cada uma
delas. E, como um efeito recorrente entre todas: a ressignificação do momento vivido
no tratamento oncológico.

Palavras-chave: Câncer de Mama, Feminino, Corpo, Mastectomia.

103
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

O Hospital Alberto Cavalcanti (HAC), da Fundação Hospitalar do Estado de Minas


Gerais (FHEMIG), na cidade de Belo Horizonte, é credenciado como Unidade de Assistência
de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON) desde 2008.
Um dos tipos de doença que, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca, 2020), mais
ocorre em mulheres em nosso país é o câncer de mama, que é abordado no HAC através
de ações e estratégias que visam ofertar um tratamento para as pacientes. O acolhimento
das mulheres é feito rotineiramente pelo serviço multiprofissional da instituição, que aposta
na realização de um tratamento assistencial das suas necessidades em função de seus
agravos biológicos, psicológicos e sociais.
A campanha mundial criada na década de 90 denominada “Outubro Rosa”, cujo obje-
tivo foi incentivar a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer de mama, contou com a
adesão do HAC através da participação da equipe hospitalar, dos voluntários e dos pacien-
tes. Em 2019, nas comemorações do “Outubro Rosa” no HAC, coordenadas pelo Ambulatório
de Especialidades, foram construídos estandes pela equipe multiprofissional. Naquele mo-
mento, vislumbrou-se a realização de uma intervenção pela Terapia Ocupacional, fruto de
um resultado de indagações em sua clínica. Muitas mulheres que eram atendidas traziam
questionamentos nas sessões acerca da importância do uso, doméstico e social, do sutiã,
como elemento que compõe o vestuário feminino.
Tais questões apontadas oriundas da clínica foi o que nos motivou a conhecer a produ-
ção artesanal do sutiã, uma peça que está presente no cotidiano e no discurso das mulhe-
res atendidas no ambulatório do HAC. Acreditou-se que, assim, seria possível pensar uma
analogia entre o desconhecido do corpo no tratamento e a produção do sutiã, como uma
peça que vela o corpo mas que pode também desvelar este corpo até então desconhecido.
Nesse contexto, social e institucional, foi realizada uma intervenção que visava o aco-
lhimento das pacientes através de uma escuta de suas demandas afetivas e pragmáticas
no que se refere à confecção e ao uso do sutiã como uma peça de vestuário do universo
feminino. A aposta na intervenção era integrar a concepção de corpo/mente, frequentemente
dualizada pela cultura, bem como abrir um espaço de reflexão sobre os efeitos do câncer de
mama para as pacientes, em especial no que se refere à feminilidade. Diante disso, tentou-se
responder à seguinte questão: como problematizar uma prática hospitalar que considere o
protagonismo das pacientes no tratamento contra o câncer de mama?

104
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
MÉTODOS

Nas ações do “Outubro Rosa”, a Terapia Ocupacional estabeleceu uma parceria com
uma educadora artística, servidora do HAC. Decidiu-se por fazer uma intervenção de costura
denominada “Sutiã: versatilidades da peça”. Segundo Othero e Silva (2010), em uma equipe
interdisciplinar, a avaliação e o planejamento da intervenção são feitos de maneira conjunta,
havendo troca de informações entre os membros por meio de reuniões formais e regulares,
priorizando-se as necessidades e estabelecendo alocação de recursos. E continuam:

Uma área enriquece o conhecimento sobre a outra e o resultado é a construção


de um saber mais complexo e menos fragmentado, que buscará trazer mais
nexos para o trabalho proposto, há uma percepção discutida sob diferentes
pontos de vista (...). Vale ressaltar que atuar em equipe é um desafio, pois
significa agir sem a obrigatoriedade de um esquema hierárquico, mas com
ações planejadas e executadas seguindo uma “ética” e organização própria
da equipe. (Othero & Silva, 2010, p. 56-57)

A intervenção interdisciplinar foi escolhida para construir um diálogo entre profissionais


e pacientes a partir da produção daquela peça de vestuário via costura artesanal, visando
os seguintes objetivos: ofertar a produção de uma peça artesanal de sutiã feita por uma
paciente do HAC e, a partir desta intervenção, favorecer a promoção de um espaço que
autorize a verbalização da subjetividade a partir do diagnóstico do câncer de mama e o
tratamento no hospital; criar um espaço de reflexão sobre o corpo feminino no tratamento
oncológico; estabelecer um paralelo entre a confecção do sutiã com as etapas do tratamento
oncológico, fomentando a criatividade e a desmistificação do câncer mama; e valorizar a
construção feita por uma paciente durante a intervenção, denotando o seu protagonismo
na subjetivação e a responsabilização sobre o seu tratamento. A intervenção interdisciplinar
contou com a participação de 23 pacientes voluntariamente movidas por interesse particular
sobre o tema abordado.
Os instrumentos empregados, escolhidos por se acreditar estarem em conformidade
com as boas práticas profissionais de pesquisa na saúde pública brasileira, foram utiliza-
dos para favorecer a compreensão dos objetivos da intervenção, sendo eles: aplicação de
questionário, exposição oral / roda de conversa e ateliê de costura. Segue uma descrição
de cada um deles.

Questionário

De acordo com Melo e Bianchi (2015), o questionário é um conjunto de questões elabo-


rado com a finalidade de gerar os dados necessários para se atingir os objetivos. Adotou-se
um questionário constituído por uma série ordenada de cinco perguntas claras e objetivas,
105
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
do tipo fechado, a serem respondidas pelas pacientes (cuja identificação era facultativa),
com opções de escolha entre “sim” ou “não”. As perguntas eram: 1- Você já viu a produção/
confecção de um sutiã?; 2- Você já ouviu a história do sutiã?; 3- Você usa sutiã?; 4-Você
conhece o modelo adequado para seus seios?; 5- Você conhece as próteses para sutiã?

Exposição oral / Roda de conversa

Durante a intervenção, inicialmente foi abordada a história da peça do sutiã, especial-


mente o desenvolvimento na indústria têxtil, os tamanhos e a sua aplicabilidade. Após a
exposição oral e a apresentação de textos que ilustrava a temática, foi então oferecido um
espaço de roda conversa para interação de todas.

As Rodas de Conversa consistem em um método de participação coletiva de


debate acerca de determinada temática em que é possível dialogar com os
sujeitos, que se expressam e escutam seus pares e a si mesmos por meio do
exercício reflexivo. (Moura & Lima, 2014. p. 101)

A partir disso, a intervenção foi ilustrada com a apresentação do trabalho da Organização


Não Governamental (ONG) “Costurando o Bem”, que confecciona e doa próteses mamárias
externas para pacientes do HAC.

Ateliê de costura

No espaço onde aconteceu o evento foram instalados alguns elementos decorativos


que remetessem à ideia de um ateliê de costura, tais como linhas coloridas, moldes, réguas,
manequim, fita métrica, tesouras e a escultura de um torso de mulher, construído a partir da
reciclagem de grampos, numa tentativa de remeter à ideia de reconstrução, de um refazimen-
to, e de propor uma ressignificação do momento vivido pelas pacientes diante da doença.
Tais elementos tiveram importância não apenas como enfeite, mas, sobretudo, com o
propósito de criar uma ambiência que estimulasse a interação das participantes. Segundo
Bestetti (2014, p. 602), “Quando falamos em ambiência, pensamos em humanização por meio
do equilíbrio de elementos que compõem os espaços, considerando fatores que permitam
o protagonismo e a participação”.
Levando isso em consideração, convidou-se uma das pacientes, que já exercia o ofí-
cio da costura, para confeccionar um sutiã durante a intervenção. Isso foi pensado como
um efeito dos atendimentos clínicos com a terapeuta ocupacional, pois essa paciente havia
aprendido a fazer a peça de sutiã depois de ser acometida pelo câncer de mama. É interes-
sante lembrar aqui as palavras de Carlo e Luzo (2004, p. 65):

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
A Terapia Ocupacional é um campo de saberes e práticas que busca cons-
truir com os sujeitos atendidos uma área de exploração de necessidades e
um levantamento detalhado de questões apresentadas pelos sujeitos, o que
implica uma ressignificação, complexificação de possibilidades e de entrada
no circuito social.

Ao final, foi confeccionada por uma paciente uma peça de sutiã, cuja fotografia está
apresentada adiante. A confecção da peça proporcionou à paciente uma forma de demonstrar
para as demais participantes, através de seu fazer e de sua fala, a superação diante das
perdas sofridas no processo de adoecimento pelo câncer de mama. Com isto, buscou-se
também provocar uma reflexão sobre a execução de novas atividades, empreendedoras
ou não, que pudessem fomentar uma ressignificação em suas vidas. Mais adiante apresen-
tar-se-á também uma tabela que demonstra as etapas do processo de produção do sutiã
durante a intervenção.

Figura 1. Sutiã Produzido na Intervenção

Figura 2. Etapas do Processo de Produção do Sutiã

ETAPA MÁQUINA DESCRIÇÃO


É o início do processo, após o molde e o corte. Nesta
1. Montagem Reta
etapa, o tecido é costurado no bojo e nas laterais.
Nesta etapa, o elástico é costurado na parte inferior
2. Elástico na base Pespontadeira
do sutiã.
O elástico colocado na base é rebatido e as alças
3. Rebate do elástico Pespontadeira
são inseridas.
Nesta etapa, o viés é costurado na parte inferior do
4. Viés Pespontadeira
bojo do sutiã.
5. Elástico na cava e lateral Pespontadeira O elástico é costurado na cava e na lateral do sutiã.
6. Fecho Zig-zag O fecho é costurado no sutiã.
São retirados da peça os fiapos de linha e pedaços
7. Arremate Feito manualmente com o uso de tesoura
de viés que ficaram durante a confecção do sutiã.
Fonte: adaptado de Nascimento, 2015.

107
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
DISCUSSÕES

Na clínica da Terapia Ocupacional é recorrente a percepção de que as pacientes aten-


didas no ambulatório hospitalar adotam alterações de vestuário e postural após o diagnósti-
co: eliminam os decotes, utilizam roupas com menos variáveis de cores e adotam posturas
menos ergonômicas. Observou-se a presença de assimetria de ombros ou uma postura
cifótica como uma estratégia particular para tentar lidar com a nova realidade, um corpo
marcado pela doença oncológica.
As pacientes que foram submetidas a cirurgias de retiradas total ou parcial da mama, a
mastectomia, muitas das vezes estabelecem uma relação de desconforto e/ou estranhamento
no uso do sutiã. Não raro, são novas adequações no que tange à liberdade de movimentos,
estética e na execução de tarefas domésticas ou laborais. Levou-se em conta esta realidade
ao ser desenvolvido o método para a intervenção. Cidreira (2005, p. 13) salienta que “(...)
nada mais arraigado em nossa própria cultura do que o ato de vestir o corpo”.
Diante de um diagnóstico de câncer de mama, geralmente há efeitos na vida da pa-
ciente acometida pela doença. Isso a convoca, a partir de uma provável mudança estética
no seu corpo, a uma possível reflexão sobre o seu cotidiano. Parece que o desconhecimento
do próprio corpo em relação às suas formas, medidas e características pessoais pode pas-
sar então a ser problematizado, pensado e refletido diante de um tratamento oncológico.
Conforme observado na clínica, uma das mudanças que foi percebida passou justamente
pela relação das pacientes com seu próprio corpo e como, consequência, pela relação
com o uso do sutiã.
Diante disso, pensou-se então na paciente inserida no universo profissional e/ou do-
méstico diante dos apelos sociais que convidam ao consumo de peças íntimas tão comuns
em nossa sociedade. Se pensarmos nas próteses externas como recursos estéticos hoje
dotados de um fino acabamento, também se verifica que o mercado comercial já dispõe de
sutiãs para este segmento de consumidoras. Isso nos leva a refletir sobre a responsabilida-
de ética ao ofertarmos a inclusão da subjetividade na clínica exercida com essas pacientes
acometidas pelo câncer de mama.

Do caótico ao cosmético

Ao enfrentar uma doença como o câncer de mama, a mulher pode vivenciar inúmeros
desafios, começando pelo início do tratamento médico em tempo hábil. Segundo a Sociedade
Brasileira de Mastologia (SBM, 2019), cerca de 60% dos casos chegam ao tratamento em es-
tágio avançado, principalmente as pacientes atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Conforme é preconizado pela Lei nº 12.732/12, o início do tratamento deverá ocorrer
no máximo em sessenta dias, sendo ofertado à mulher participar de procedimentos médicos
necessários para uma aposta na sua melhora clínica. Nesse contexto, é recorrente o temor
com relação às prováveis mudanças no corpo e na vida, tais como dor, efeitos colaterais por
medicamentos, perda de cabelos e, em muitos casos, a retirada total ou parcial da mama.
Percebe-se, então, que as mudanças mencionadas se misturam a um turbilhão de novas sen-
sações, o que foi testemunhado pela terapeuta ocupacional durante os atendimentos clínicos.
Nesse contexto hospitalar para o atendimento com pacientes oncológicos, o uso tera-
pêutico das artes pode ser um coadjuvante aos tratamentos médicos convencionais, pois:

Por meio do criar em arte e do refletir sobre os processos e trabalhos artísti-


cos resultantes, pessoas podem ampliar o conhecimento de si e dos outros,
aumentar sua autoestima, lidar melhor com sintomas, estresse e experiências
traumáticas, desenvolver recursos físicos, cognitivos, emocionais e desfrutar
do prazer vitalizador do fazer artístico. (Ciornai, 2005, p. 8)

Diante disso, aposta-se que experienciar processos que concedam a participação artísti-
ca ao tratamento oncológico pode levar a uma mudança na qualidade de vida e, como um dos
efeitos dessa mudança, a um protagonismo no tratamento oncológico. Nessa perspectiva, o
HAC tem aberto suas portas aos voluntariados formados por artistas, artesãos e oficineiros,
entre outros grupos, que transmitem seus saberes e fazeres, tendo como exemplo a paciente
que fez a demonstração da confecção do sutiã. Belzega (2003, p. 1) diz que “A arte é bela
e aprazível. Quando as manifestações artísticas acontecem em hospitais, esses generosos
adjetivos têm um significado especial porque humanizam um ambiente, geralmente inóspito,
além de promover o bem-estar de pacientes e daqueles que trabalham com doenças”.
Desta forma, pensou-se ser possível, através da participação das pacientes em ativida-
des de artes, dentro ou fora das unidades assistenciais onde são realizados os tratamentos,
promover ressignificações dessa etapa da vida que poderia ter um efeito de aprendizado e
o início de uma nova fase. Neste contexto, as informações, aliadas à troca de experiências
e à busca pela qualidade de vida podem ressignificar o momento de tratamento oncológico
de forma particular em cada paciente.

O seio como um símbolo do feminino

A teoria psicanalítica oferece uma abordagem vasta e completa para pensar o feminino.
Sigmund Freud postulou que a eleição do sexo e do parceiro amoroso não é determinada
pela anatomia, mas depende da posição assumida por cada um. Portanto, o feminino é
considerado como uma posição subjetiva.

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Diante disso, no contexto hospitalar com pacientes oncológicos, o tratamento do câncer
pode envolver a retirada total ou parcial da mama afetada, o que pode levar a um impacto
físico, social e psíquico nas pacientes. Relatos sobre os efeitos da mastectomia sobre o corpo
e sobre a sexualidade são frequentes na clínica hospitalar. Freud (1914/1996) considerou
que uma perturbação física ou mental ocasiona uma diminuição da autoestima, podendo
acarretar até mesmo uma incapacidade de amar e um empobrecimento do eu. Uma cirurgia
mutiladora como a mastectomia não opera somente sobre o órgão doente, mas tem efeitos
subjetivos sobre o feminino, pois o seio, culturalmente, tem um valor imaginário, é um sím-
bolo da feminilidade e instrumentaliza o exercício do desejo.
No escopo da psicanálise a imagem pode ser tomada como um véu, e até mesmo
como um espetáculo que chama a ver, como, por exemplo, uma produção de uma peça de
sutiã, que provoca o olhar. A doença coloca em cena a imperfeição do corpo, na medida em
que revela a fragilidade e a temporalidade da carne. As diferentes figuras do feminino se
constituem a partir da tensão existente entre o singular de uma mulher e o ideal cultural que
se propõe para todas, de uma forma genérica. Cada mulher lança mão de múltiplas facetas
extraídas da cultura em diferentes épocas da história para se localizar no campo das identi-
ficações sexuais. Assim, a cultura oferece figuras ideais para a identificação das mulheres.
Esse ideal feminino, que se constitui em cada época, indica a imagem que deve ser
alcançada para contornar a inquietante busca sobre o que é ser mulher. Na Antiguidade
clássica, encontrava-se a figura das guerreiras, as sacerdotisas, as deusas, as místicas;
na Idade Média, as virgens e religiosas, que permaneceram através dos tempos, destacan-
do-se a mulher como objeto de troca na sociedade feudal; na Contemporaneidade, há as
facetas variáveis da mulher nos dias atuais: mãe, profissional bem-sucedida e independente
e, utilizando-se um termo mais atual e que traduz toda a capacidade de autonomia e auto-
ridade, empoderada.
Portanto, por esta breve reflexão, pode-se inferir que há diversas versões do feminino
e de seu poder que se multiplicam na história. Desta forma, também a temática sobre o seio
não constitui um assunto simples. Acompanha, culturalmente, as transições e valores que a
sociedade impõe. Assim, hoje, diante de um corpo marcado pela doença oncológica, cada
paciente pode ressignificar seu feminino, pode pensar sobre o “ser feminino” através, por
exemplo, de uma peça do vestuário que diz sobre o “ser mulher”: o sutiã.

RESULTADOS

Ao levar em conta que uma das funções do uso do sutiã estaria relacionado ao pudor,
ao adorno e à proteção, as pacientes foram convidadas a refletir sobre como cada uma

110
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
pode se servir do sutiã no seu uso diário e na subjetivação do seu feminino durante o tra-
tamento oncológico.
Percebeu-se que a intervenção não apresentou riscos biológicos, mentais e/ou éticos.
Tendo em vista a ativa participação das pacientes através das suas narrativas e o fato do
material utilizado para a confecção do sutiã já ter sido preparado pelos autores deste artigo,
não houve nenhum tipo de imprevistos e/ou acidentes com as participantes da interven-
ção. A condução realizada pela terapeuta ocupacional e pela educadora artística no momento
da intervenção foi pautada no cuidado, no acolhimento e na preservação de informações
pessoais dos participantes sob uma ética profissional.
A confecção de uma peça de sutiã por uma paciente, realizada no momento da in-
tervenção, foi demostrada para as participantes como uma superação diante das perdas
sofridas no processo de adoecimento pelo câncer de mama. Com isto, buscou-se também
provocar uma reflexão sobre a execução de novas atividades, empreendedoras ou não, que
pudessem fomentar uma ressignificação em suas vidas.

Desfecho primário

A partir de uma análise quantitativa das informações coletadas com o questionário,


observou-se que uma das pacientes, que é costureira, apontou que nunca tinha visto a con-
fecção de um sutiã. Em relação à história do sutiã, dezoito pacientes responderam que não
tinham um conhecimento prévio. Já em relação ao uso da peça, houve unanimidade e todas
as vinte e três participantes responderam que a usavam. Quatorze participantes não conhe-
ciam o modelo adequado de sutiã em relação às suas características físicas. E, por último,
dezesseis participantes não conheciam os dispositivos estéticos como a prótese para o sutiã.

Desfecho secundário

Percebe-se que a maioria das mulheres não conheciam a produção do sutiã, mesmo
sendo a peça frequentemente utilizada em seu cotidiano. Embora a resposta quanto ao
uso do sutiã tenha sido unânime, é importante salientar que essas mesmas mulheres não
conheciam a história da peça e, também, não conheciam o modelo adequado de sutiã. Isso
pode nos remeter à etimologia da palavra “sutiã”, que remete à função de sustentador de
seios. Mas sustentar o quê? A feminilidade de cada participante, poder-se-ia dizer.
O método da exposição oral e da roda de conversa foi fundamental para a familiari-
zação e inferências no universo do feminino. Houve, naquele contexto, a oportunidade de
problematização de ideias socialmente cristalizadas em relação ao belo, ao adequado, ao
normal, com entradas para outras formas de pensar o próprio corpo e a vida de cada uma
delas. Observou-se, durante a exposição oral e na roda de conversa, um alcance importante 111
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
no grau de concentração, participação e caráter lúdico proporcionado pela oportunidade de
confecção do sutiã.
Já no espaço ambientado do ateliê de costura, a aposta foi trazer a produção, o fazer,
como forma de apropriar-se das noções de concretude do corpo: medidas, ajustes, recursos
da modelagem e tecidos; interferindo na autoestima da paciente. Nesse momento, obser-
vou-se antagonismos como fora/dentro, público/privado, com/sem, oculto/aparente relacio-
nados ao vestuário, o que possibilitou analogias com o corpo nas dimensões de integridade/
mutilação e normal/patológico.
A aproximação com o trabalho interdisciplinar também mostrou como alcançar os efeitos
de um tratamento ampliado através da oferta de uma intervenção às pacientes atendidas na-
quele serviço de saúde. Pode-se considerar que as variáveis estimularam a reflexão proposta
nos objetivos na ambientação, na interação entre as participantes e no fazer propriamente
dito. Observar as etapas, compartilhar possibilidades da criação da peça de sutiã, vivenciar
o tempo para confecioná-la, nos reforça a finalidade da intervenção: um espaço de reflexão
sobre o momento que as pacientes estão vivendo diante do tratamento oncológico no HAC.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Utilizando-se da intervenção realizada no “Outubro Rosa” sobre a confecção do sutiã,


a Terapia Ocupacional foi um instrumento de desvelamento da temática do feminino, repre-
sentado pelo início, meio e fim da produção do sutiã. A participação na intervenção realizada,
o conhecimento da produção e da história do sutiã foram de grande aprendizado com forte
conotação afetiva, o que gerou desdobramentos de forma particular para cada paciente e
como um efeito recorrente entre todas: uma ressignificação no autocuidado.
Se pensarmos no sentido dos objetivos apresentados durante a proposição deste
trabalho, consideramos uma experiência exitosa. O simbolismo do uso da linha e da agu-
lha na atividade de costura permitiu, assim, elaborações a partir das emoções vivenciadas
pelas pacientes no diagnóstico e no tratamento. Tudo isso balizando o zig-zag do corpo em
suas idas e vindas institucionais, arrematando o enredo da vida com o seu protagonismo
no tratamento oncológico.
Ao final da intervenção, as participantes verbalizaram suas percepções acerca da ati-
vidade realizada, e uma delas revelou a iniciativa de “fazer um Outubro Rosa na minha casa
a partir do que vivi aqui com vocês”. E, como afirmou a paciente que confeccionou a peça:
“Encontrei uma equipe que sempre me acolheu com carinho, me curei totalmente e resolvi
que iria ajudar no que pudesse. Hoje fui monitora na oficina de sutiãs da equipe de Terapia
Ocupacional do hospital. A vaidade é importante neste caso. E nunca desistir, é claro”.

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
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noticias/acesso-respeito-com-o-cancer-de-mama/
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
08
Dilemas éticos vividos pela equipe
de saúde no cuidado à mulher em
abortamento induzido

Lorraine Alves de Souza Santos Analu Sousa de Oliveira


UEFS UEFS

Marluce Alves Nunes Oliveira Ayla Melo Cerqueira


UEFS UEFS

Ivanilza Carminha da Silva Íris Cristy da Silva e Silva


UEFS UEFS

Elaine Guedes Fontoura Déborah de Oliveira Souza


UEFS UEFS

Maryana Carneiro de Queiroz Ferreira Thamara Arianny Ventin Amorim Oliveira


UEFS de Assis
UEFS

10.37885/210404340
RESUMO

A equipe de saúde pode confrontar-se com dilemas éticos, principalmente, no cuida-


do à mulher em abortamento induzido. Temática que abrange preconceitos, valores e
posturas, podendo influenciar na tomada de decisão no cuidado à mulher. Pesquisa
qualitativa, objetiva: compreender os dilemas éticos vividos pela equipe no cuidado à
mulher em abortamento, identificar ações da equipe no cuidado à mulher e estabelecer
medidas preventivas de dilemas éticos. Este estudo é vertente do projeto “Conflitos e
dilemas éticos vividos no cuidado da equipe de saúde no contexto hospitalar”. Pesquisa
realizada no centro obstétrico de um hospital especializado, público, em Feira de Santana-
BA, 2018. Participaram da pesquisa sete profissionais de saúde. Critérios de inclusão:
seis meses atuando no centro obstétrico e estar em atividade laboral durante a coleta
de dados. Os dados foram analisados na proposta de Análise de Conteúdo de Bardin.
Emergiram as categorias: compreensão da equipe de saúde sobre dilemas éticos; o que
leva a mulher a realizar abortamento; acolher a mulher em processo de abortamento; ética
no cuidado a mulher em processo de abortamento. Os resultados apontaram dilemas
éticos como frente a uma situação na tomada de decisão. Para os participantes a situação
financeira pode ocasionar o aborto e o relacionamento conjugal conturbado. Deve existir
respeito e acolhimento à mulher pós-abortamento por se tratar de momento delicado,
respeitar os princípios éticos, não julgar a mulher e promover dignidade. Conclui-se que
os dilemas éticos vivenciados no cuidado a mulher em processo de abortamento, estão
relacionados ao estigma, valores e princípios morais inerentes e impactam negativamente
na assistência, é preciso olhar sensível e acolhimento.

Palavras-chave: Ética, Equipe de Assistência ao Paciente, Aborto Induzido.

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

No contexto social em que estamos inseridos percebemos a necessidade que ações


éticas estejam presentes no nosso cotidiano, especialmente no que concerne ao cuidado
ao ser humano. Para Verona e Silva (2017, p. 2), “Ética pode ser entendida como um estu-
do ou um pensar sobre uma conduta humana que pode ser: científica, filosófica, teológica,
cultural e, propriamente dita, sobre as ações humanas”. Dessa forma, podemos inferir que
a ética conduz a pessoa nortear suas ações e ser refletida por meio de condutas humanas.
No exercício profissional, a equipe de saúde, pode confrontar-se com dilemas éticos
na sua prática, principalmente no que concerne ao abortamento induzido, pois o mesmo é
considerado uma temática que abarca preconceitos, valores e posturas pessoais que podem
influenciar no processo de tomada de decisão no cuidado à mulher que está vivenciando
essa situação. Dessa forma, o abortamento é um tema polêmico na realidade brasileira,
envolto por opiniões divergentes, relacionadas a aspectos éticos, culturais, sociais, políticos
econômicos e religiosos, presente em todas as classes sociais e, defendido por grupos,
principalmente àqueles de caráter feminista.
O dilema é vivenciado no cotidiano das relações interpessoais, seja na vida pessoal
ou profissional, o que exige uma tomada de decisão que pode vir a gerar um conflito nas
relações, porém nem todos os dilemas são dilemas éticos, traz consigo uma carga de respon-
sabilidade moral e ética relacionada à ética e os valores que se assume (OLIVEIRA, 2012).
De acordo com o Ministério da Saúde (MS) o “Abortamento é a interrupção da gravidez
até a 20ª ou 22ª semana e com produto da concepção pesando menos que 500g. Aborto é o
produto da concepção eliminado no abortamento” (BRASIL, 2011, p. 29). O abortamento se
caracteriza como espontâneo que pode ocorrer devido a intercorrências durante a gravidez,
e induzido ou provocado neste caso usa-se de meios onde se força o aborto (BRASIL, 2011).
Pesquisas realizadas pelo Instituto Guttmacher e a Organização Mundial da Saúde
(OMS) concluem que ocorreram no mundo entre os anos de 2010 e 2014 cerca de 35 abor-
tos, por 1000 mulheres em idade reprodutiva ao ano, neste mesmo período 25% do número
de gravidez terminou em aborto, frente a isso estima-se que, em cada ano ocorreram 56
milhões de abortos induzidos, outro dado a ser levado em consideração é que o aborta-
mento é mais recorrente em países em desenvolvimento onde as condições são menos
favoráveis, o acesso a saúde e a educação são restritos (SEDGH et al., 2016). Conforme
Santos, Andreoni e Silva (2012), os dados apresentados pela OMS a respeito da mortalida-
de materna por aborto inseguro, em torno de 13%, possibilitou reflexão quanto ao cuidado
promovido a essas mulheres, principalmente em situação de risco. Os autores complemen-
tam que o quantitativo de abortos inseguros tem aumentado entre as mulheres em idade
reprodutiva, podendo esta tendência permanecer, a não ser que, o direito ao aborto seguro
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
seja conquistado e as medidas contraceptivas sejam acessíveis e melhoradas (SANTOS;
ANDREONI; SILVA, 2012).
Para a legislação brasileira o aborto é uma prática ilegal, que penaliza as pessoas que
praticarem e/ou permitirem, a única exceção são os casos de estupro comprovado e em si-
tuação de risco à vida da mãe, de acordo o artigo 128, do Código Penal Brasileiro (BRASIL,
2008). Importante ressaltar que a lei nº 4360/04, aprovada em 12 de abril de 2012, acatou
o aborto em caso de anencefalia (BRASIL, 2012).
O abortamento induzido embora seja discriminado, é considerado uma prática recorrente
no nosso país, pesquisa realizada por Diniz, Medeiros e Madeiro (2017, p. 659) revelou que
no Brasil “no ano de 2015 ocorreram cerca de meio milhão de abortos”. Percebemos que os
números são alarmantes e tem revelado como um forte fator de morbimortalidade materna,
se configurando como grande problema de saúde pública, que carece de políticas eficazes
nesse foco, que venham a minimizar os agravos de tal situação.
O aborto é uma prática realizada em todas as classes sociais, embora os processos
de morbimortalidade sejam mais frequentes em classes menos favorecidas, devido à falta
de acesso a bens e a informação, que torna o procedimento ainda mais arriscado (DINIZ;
MEDEIROS; MADEIRO, 2017). Para Bitencourt e Santos (2013, p. 982), “estes são come-
tidos em casa, com instrumentos sem nenhum preparo estéril, e/ou procedimentos sem
técnicas assépticas”.
Se observa que as mulheres procuram os setores de saúde com problemas devido a
complicações do processo de abortamento e, muitas vezes tardiamente, podendo evoluir
a óbito. Para Silva e Araújo (2016, p. 21), “A mulher vítima do aborto, seja espontâneo ou
provocado, não está apenas correndo risco de vida, mas de sequelas físicas, como perda
do útero, ovários, perfuração uterina, perfuração da bexiga e intestino, podendo ficar ex-
posta a infecções”.
Ao procurar o setor de saúde para tratamento do processo de abortamento, geralmente
essas mulheres são acolhidas pelos profissionais da equipe de saúde, que por vezes podem
sentir-se despreparados para lidar com tais situações. Cuidar da mulher em processo de
abortamento induzido pode ser uma questão complexa para o profissional de saúde, visto
que, essa é uma situação que envolve questões éticas, políticas, religiosas e culturais que
podem influenciar de forma direita ou indireta na atenção prestada. Nesse sentido, o profis-
sional em sua prática, está vulnerável a vivenciar dilemas éticos frente ao cuidado à mulher
em processo de abortamento induzido. Corroborado por Mortari, Martini e Vargas (2012,
p. 918) que “[...] Os nossos valores, a cultura, a religião e o princípio da profissão acabam
refletindo em nossas falas na tentativa de evitar um crime”. De acordo com Gesteira, Diniz e
Oliveira (2008, p. 451) os profissionais proferem julgamentos acerca do aborto, “[...] mesmo
117
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
nos casos previstos em lei, ou seja, quando a mulher já tenha passado pelo processo judicial,
com sentença favorável à interrupção da gravidez, esta prática continua sendo considerada,
pelas profissionais de enfermagem, como crime”.
O MS, por meio da norma técnica de atenção humanizada ao abortamento, preco-
niza que o atendimento as mulheres em processo de abortamento seja ele espontâneo,
ou induzido, deve ser realizado com qualidade e respeito à pessoa na sua integralida-
de (BRASIL, 2011).
A motivação para desenvolver esta pesquisa surgiu a partir da experiência vivenciada no
Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas e Estudos em Saúde (NIPES) - Universidade Estadual
de Feira de Santana (UEFS), no projeto “Conflitos e dilemas éticos vividos no cuidado da
equipe de saúde no contexto hospitalar” (OLIVEIRA; FONTOURA, 2017). Subsidiou ainda
este estudo por ministrar o componente curricular “Ética e exercício na enfermagem”, que traz
como uma de suas temáticas o aborto e possibilita a reflexão sobre as questões éticas que
o envolve, com isso pensamos desenvolve-lo tendo como objeto dilemas vividos pela equipe
de saúde frente a prática do aborto. A partir daí emergiu o questionamento: Como a equipe
de saúde vivencia os dilemas éticos frente ao cuidado a mulher com abortamento induzido?
Este estudo justifica-se pela escassez de pesquisas na temática sobre essa perspectiva
de dilemas éticos em bases de dados nacionais. Para realização de embasamento da pes-
quisa acessamos o banco de dados da Scientific Eletronic Library Online (SciELO), Biblioteca
Virtual em Saúde (BVS) e PubMed utilizando as palavras- chave: Aborto; Abortamento; equipe
de saúde e abortamento; Dilemas éticos frente o aborto. Optamos por pesquisar publicações
brasileiras produzidas nos últimos cinco anos (2014-2019) que abordassem a respeito do
objeto deste estudo. Encontramos 18 publicações: SciELO (15), BVS (1) e PubMed (2). Vale
salientar que os estudos encontrados não correspondiam ao nosso objetivo.
A pesquisa tem relevância por possibilitar compreender aspectos importantes no que
concerne as questões éticas e os valores pessoais que envolvem o cuidado a mulher frente
a prática do aborto induzido, bem como contribuir com o profissional de saúde na análise e
reflexão sobre como vivenciar os dilemas éticos e, a partir daí, priorizar ações que respeitem
a vida e construção de um pensamento e postura social humanizada e acolhedora.

OBJETIVO GERAL

Compreender os dilemas éticos vividos pela equipe de saúde no cuidado a mulher em


abortamento induzido.

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
OBJETIVOS ESPECÍFICOS

– Identificar ações da equipe de saúde no cuidado à mulher em processo de aborta-


mento induzido.
– Estabelecer medidas para prevenção de dilemas éticos no cuidado à mulher em
abortamento induzido.

MATERIAIS E MÉTODOS

De acordo Gil (2008, p. 8) “pode-se definir um método como um caminho para se chegar
a um determinado fim. E método cientifico como o conjunto de procedimentos intelectuais
e técnicos adotados para se atingir o conhecimento”. Enquanto para Minayo (2011, p. 14),
a metodologia consiste no “caminho do pensamento e prática exercida na abordagem da
realidade”. As teorias, métodos e técnicas, bem como a criatividade e experiência do pes-
quisador são atributos indispensáveis para a investigação (MINAYO, 2010).
Este estudo, recorte do Projeto de Pesquisa intitulada “CONFLITOS E DILEMAS
ÉTICOS VIVIDOS NO CUIDADO DA EQUIPE DE SAÚDE NO CONTEXTO HOSPITALAR”,
que tem Resolução do Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (CONSEPE) da
Universidade Estadual de Feira de Santana, nº 016/2018, e tem como objetivo compreender
os dilemas éticos vividos pela equipe de saúde no cuidado a mulher em abortamento indu-
zido e como objeto de estudo dilemas éticos no cuidado à mulher em abortamento induzido.
Importante ressaltar que são questões polêmicas que envolvem os princípios éticos e legais
e consideramos oportuna a investigação de tal temática.
Para compreensão dos dilemas éticos optamos por realizar a pesquisa qualitativa
descritiva, por trabalhar com um universo de significados e oferecer a oportunidade do pes-
quisador de entender e explorar as questões relacionadas a pessoa e sua prática.
A pesquisa qualitativa proporciona trabalhar com questões mais particulares; ela se
preocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificado (MINAYO, 2011). O que
significa que este tipo de pesquisa envolve um universo de significados, motivos, aspirações,
crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos
processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.
De acordo Martins e Bicudo (2005) a pesquisa qualitativa se preocupa com o específico
e o individual de cada situação, buscando compreender os fenômenos estudados. A com-
preensão dos fenômenos se dá a partir da análise das descrições que são interpretadas de
modo detalhado, onde o subjetivo é levado em consideração (MARTINS; BICUDO, 2005).

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
O estudo foi desenvolvido no Centro Obstétrico (CO), de um hospital especializado,
público, situado no município de Feira de Santana-BA, localizada há apenas 107 km da
capital do estado, Salvador.
Para atendimento as parturientes, o CO possui quatro salas, sendo três em sistema de
pré-parto, parto e puerpério, e uma com leitos obstétricos comuns que são adaptados para
assistência ao parto. Essa unidade também conta com uma sala para cuidados imediatos e
mediatos ao recém-nascido, uma sala destinada a partos operatórios, posto de enfermagem,
e uma sala de recuperação pós-anestésica com três leitos semi-intensivos.
No que concerne à atenção as puérperas, a instituição possui quatro enferma-
rias: A, B, C, e D. A enfermaria A, destina-se as gestantes com risco obstétrico, mulheres
em processo de abortamento e gestantes em trabalho de parto prematuro dentre outras
condições de risco, a enfermaria B a puérperas cirúrgicas, os recém-nascidos, e puérperas
com infecção de feridas operatória. As enfermarias C e D são destinadas as mulheres em
pós-parto vaginal e recém-nascidos, e as mulheres com infecção puerperal.
Os participantes da pesquisa foram sete (07) profissionais de saúde que atuam no
CO, de uma instituição pública, no município de Feira de Santana-BA, especializada em
atendimento à mulher. Os critérios de inclusão foram: participantes com mais de seis meses
atuando no CO e que estivessem em plena atividade laboral durante a coleta de dados.
O primeiro contato foi com o coordenador do CO, a fim de promover o encontro com
os demais profissionais e em seguida realizar as entrevistas. Após o aceite, foi agendado
dia, hora e local de acordo a disponibilidade de cada participante.
As entrevistas foram realizadas individualmente, em horários e locais sugeridos pelos
próprios participantes. Antes de entrevista foi feito a leitura do Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (TCLE), com duas vias e foi assinado pelos participantes e autoras da pesquisa.
No primeiro momento foram obtidas informações para caracterização do participante
como: idade; sexo; titulação; tempo de formação; tempo de atuação em CO, carga horária de
trabalho (semanal); outros vínculos empregatícios; outros setores de atuação; capacitação
e aperfeiçoamento; especialização em CO.
A entrevista foi norteada por quatro questões: Comente a sua compreensão sobre dile-
ma ético; relate-me uma situação onde você vivenciou um dilema diante de um abortamento;
como realiza o cuidado à mulher em abortamento induzido?; como pode prevenir dilemas
éticos no cuidado à mulher em abortamento induzido?
As entrevistas foram transcritas na íntegra. A confidencialidade e o anonimato fo-
ram assegurados mediante uso da primeira letra da profissão enfermeira (Enf), Técnico de
Enfermagem (TecEnf) e Médico (M), seguidas da ordem das entrevistas.

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Para a concretização do processo de análise foi utilizado a análise do conteúdo de
Bardin, como modo de revelar a síntese da estrutura das categorias empíricas.
A análise dos dados obedeceu à seguinte ordem cronológica, segundo Bardin
(2016): A pré-análise constituída pela fase de organização propriamente dita que corres-
ponde a um período de intuições, com o objetivo de tornar operacionais e sistematizar
as ideias iniciais, de maneira a conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento das
operações sucessivas, num plano de análise. Teve início com a escolha dos documentos
que foram submetidos à análise com a intenção de construir a fundamentação teórica e a
interpretação final.
Na etapa seguinte, exploração do material, fase de análise propriamente dita.
Considerada longa e fastidiosa, consiste essencialmente em operações de codificação
(saber a razão porque analisa, e explicitá-la de modo que se possa saber como analisar)
(BARDIN, 2016). A classificação dos dados foi operacionalizada através da leitura exaustiva
e repetida dos textos, para através desse exercício fazer uma apreensão das estruturas de
relevância a partir dos documentos pesquisados. Nessas estruturas estão contidas as ideias
do autor, e com isso serão identificadas as áreas temáticas. A análise dos dados permitiu
fazer uma reflexão sobre o material empírico e analítico, de forma que será decomposto em
categorias empíricas.
A última etapa da análise de conteúdo, tratamento dos resultados, as inferências e
interpretações foram realizadas a propósito dos objetivos propostos.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual de Feira de
Santana, CAAE nº 71618817.6.0000.0053. Ela segue as recomendações do CONSEPE.
A resolução nº 446/2012 incorpora, sob a ótica do indivíduo e das coletividades, referen-
ciais da bioética, tais como, autonomia, não maleficência, beneficência, justiça e equidade,
dentre outros, e visa a assegurar os direitos e deveres que dizem respeito aos participantes
da pesquisa, à comunidade científica e ao Estado (BRASIL, 2012).
Foi assegurado o princípio da autonomia, após serem explicados aos participantes
os objetivos da pesquisa e os passos para sua realização, deixando livre a escolha de sua
participação. Além disso, foi disponibilizado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE), para garantia dos seus direitos e segurança. Também foi comunicado sobre sua
liberdade em desistir em qualquer etapa da pesquisa. Após a compreensão dos participantes
o TCLE foi assinado por eles e as autoras para a realização da pesquisa.
Para assegurar o máximo de benefício e menor exposição a riscos foram seguidos
os princípios da beneficência e não maleficência. As entrevistas foram realizadas de forma
individual para não haver constrangimentos. Os possíveis riscos relacionados à participação
referem-se ao receio de tratar dos assuntos propostos, por abordar questões sobre o processo
121
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
de abortamento induzido, que pode trazer à tona preconceitos, desconfortos, como também
relembrar momentos que foram desagradáveis, e o constrangimento frente à pesquisadora.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As participantes da pesquisa foram sete (07) profissionais da equipe de saúde, dentre


essas 3 enfermeiras, 3 técnicas de enfermagem e uma médica, sendo todas do sexo femini-
no. A idade das participantes variou entre trinta a quarenta e seis anos; o tempo de atuação
em CO entre seis meses a dez anos; com jornada de trabalho de vinte e quarenta horas
semanais. Quatro dessas profissionais têm mais de um vínculo empregatício e as demais
atuam somente na instituição em que foi realizado o estudo. No que diz respeito à especia-
lização, apenas três tem especialização em Obstetrícia, uma encontra-se em andamento e
as outras não tem especialização.
A partir da análise dos dados, foi possível identificar quatro categorias relacionadas aos
dilemas éticos vivenciados no cuidado à mulher em processo de abortamento: compreen-
são da equipe de saúde sobre dilemas éticos; o que leva a mulher a realizar abortamento
induzido; acolher a mulher em processo de abortamento; ética no cuidado à mulher em
processo de abortamento.

Compreensão da equipe de saúde sobre dilemas éticos

Nesta categoria, estão presentes as situações relacionadas à compreensão das parti-


cipantes acerca de dilemas. Para elas, o dilema diz respeito à situação que precisa decidir,
mas fica na dúvida de qual posição tomar, se a legal ou a decisão em que não é observado
os princípios éticos.

[...] é quando você tem algum conceito, [...], por motivo religioso, ou por motivo
social, alguma vivência que te leva a pensar se você vai ou não fazer [...]
alguma coisa. (M1)

Dilema é quando a gente acha que fica na dúvida, entre fazer o que é
correto, o que é legal ser correto, o fazer o que nós como humanos gos-
taríamos de fazer independente das leis. (Enf3)

Para Oliveira e Santa Rosa (2016), os dilemas emergem quando a pessoa se encontra
diante de duas escolhas que nenhuma das duas são ideais. Consoante à afirmação, os rela-
tos das participantes indicam que estão relacionados a uma dúvida, incerteza, considerando
os princípios éticos da profissão, valores morais e religiosos, proporcionando dificuldade em
decidir sobre “o que será melhor fazer” para a paciente.

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Entendemos que ao se tratar de uma temática estigmatizada, como é o aborto, pode
emergir sentimentos repulsivos no momento da assistência, permitindo que as ações não
estejam conforme o que é preconizado nos princípios éticos, a exemplo realização de cui-
dados de maneira mecanicista, indigna ou até mesmo atraso no atendimento.
Em estudo realizado por Madeiro e Rufino (2017), fica evidente tratamentos inapropria-
dos na assistência à mulher em processo de abortamento induzido, havendo negligência para
atender, procedimentos realizados sem explicação, discriminação e ameaças de denúncia.
No relato da TecEnf1, podemos perceber a existência dos dilemas éticos durante a
assistência, visto que os protocolos institucionais devem ser seguidos e por conta disso
inferimos que os dilemas estão associados ao momento da tomada de decisão frente ao
cuidado a mulher em aborto provocado.

[...] é uma dúvida que a gente pode ter em determinada situação, né? [...] não
podemos ter esse dilema, essa dúvida de uma situação, no caso aqui o abor-
tamento, que a gente segue protocolos, normas, rotinas. [...]. Então, o dilema
pra mim é isso essa dúvida, essa incerteza. (TecEnf1)

Podemos evidenciar que os profissionais de saúde vivenciam os dilemas éticos quando


realizam a assistência a mulher em processo de abortamento, entretanto, sentem dúvidas
no momento de tomar decisão quanto a assistência, no que concerne seguir o que é legal
ou seguir os impulsos independente das leis.
De acordo Pitilin, Banazeski, Bedin e Gasparin (2016) a mulher ao passar por processo
de abortamento necessita de assistência multidisciplinar, incluindo atendimento psicossocial
(caso a mesma aceite), podendo ser explanado pela equipe sobre questões pertinentes
como a maternidade, a vontade de ser mãe, sexualidade, importância da anticoncepção,
planejamento familiar, escuta sobre seus sentimentos e sua compreensão sobre aborto.
Dessa forma, a mulher poderá sentir-se acolhida, segura em verbalizar seus sentimentos
diante da situação, além de possibilitar reflexão sobre prevenção e realizar práticas futuras.
Por conta disso, percebe-se a necessidade de ampliar o cuidado, resultando em assistência
mais humana e também preventiva a novos episódios.

O que leva a mulher a realizar abortamento induzido

Nesta categoria, as participantes revelam o que pode levar a mulher a realizar o abor-
tamento induzido.
Refletir sobre os motivos que levaram a mulher realizar o abortamento, geralmente gera
julgamentos e revolta entre os trabalhadores de saúde. Cada pessoa apresenta vivências
diferentes, assim como princípios, valores e opiniões. No momento em que se depara com

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
situações estigmatizadas como o abortamento induzido pode se deixar levar por sentimentos
repulsivos, resultando em um mau atendimento.
Todavia, quando nos comprometemos cuidar de alguém devemos despir-nos de pre-
conceitos e buscar cumprir com dignidade ao que nos predispomos, como a promoção da
assistência de qualidade.
Nessa perspectiva, percebemos nos depoimentos de TecEnf2 e Enf.2 que seus olhares
se ampliam acerca de diversas situações que podem levar a mulher na interrupção da gravidez.

[...] ela provocou o aborto porque muitas vezes não tem condições de criar o
filho, aí ela mesmo provocou. (TecEnf2)

[...] ela tem como dá comida pros filhos? Ela apanha dentro de casa? O ma-
rido é dela? Foi um relacionamento extraconjugal? Ela teve um caso com um
homem que tem outro caso que não é o dela? E o medo que ela tem? (Enf.2)

Conforme pesquisa realizada por Angelim, Costa, Freitas e Abrão (2015) são várias as
situações que podem incentivar na decisão da mulher em abortar, seja por estar em relações
afetivas conflituosas ou instáveis, questões familiares, assim como preocupações quanto a
questão de desenvolvimento pessoal, ou seja, interferência ou abandono dos estudos devido
gestação, sem contar com as condições financeiras, que pode ser razão forte nessa situação.
Na fala da Enf3, é percebida a fragilidade emocional que a mulher apresenta e que inde-
pende do seu querer ou não, interromper a gravidez. Com isso, podemos concluir que tomar
a decisão de realizar o abortamento não é algo agradável e nem satisfatório, e pode surgir
sentimentos negativos (medo, angústia, culpa, dentre outros), decorrentes da sua escolha.
Portanto, faz-se necessário ter empatia, boa receptividade e respeitar a decisão da mulher.

[...] eu acredito que em grande parte está com o psicológico abalado, né?.
Porque ninguém vai ter uma atitude dessas sem está mexendo com o
emocional, alguns porque não querem, outros porque as vezes o parceiro
não quer, [...] (Enf3)

Para Santos e Silveira (2017), existe a necessidade de analisar a questão do aborto a


partir da vertente da saúde pública, inclusive ter em mente os problemas que refletem sobre
a mulher e seus familiares. Permanecer com o julgamento positivo ou negativo sobre o ato
de abortar pode inviabilizar encontrar soluções para melhorar a situação, principalmente
das mulheres pobres e que os recursos básicos de saúde (contracepção), assim como a
informação são inacessíveis.
De acordo Bezerra, Ribeiro e Waterkamp (2016), é relevante pensar sobre o fortale-
cimento da autonomia feminina em buscar por conscientização e garantia de seus direitos,

124
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
possibilitando a construção de cidadania, auxiliando em melhor compreensão sobre saúde
da mulher, bem como quanto aos seus direitos reprodutivos.
Infelizmente, os profissionais de saúde por muitas vezes diante dessas situações com-
plicadas, no que diz respeito ao cuidado à mulher em processo de abortamento, deixam
emergir sentimentos relacionados aos seus valores morais, ofertando assistência precária:
realizadas somente a partir das necessidades físicas, desconsiderando assim o emocio-
nal e espiritual.

Acolher a mulher em processo de abortamento

Ao levarmos em consideração que a equipe de enfermagem assiste diuturnamente o


paciente, tem como obrigação, não apenas os cuidados com o corpo da pessoa enferma,
mas devendo também respeitar as condições socioculturais da qual a pessoa pertence e
promover essa assistência da maneira humana, principalmente a mulher pós-abortamento.
Nesta categoria os participantes desvelam sobre o respeito e acolhimento que
deve ser promovido à mulher pós-abortamento, por se tratar de um momento delicado
na vida da mesma.

Uma mulher que faz um aborto de quatro semanas porque a menstruação


atrasou, não tem ciência, ela acha que não é uma vida, [...], nosso papel
aqui é somente atender ela, acolher, como mulher e como pessoa, não
os valores dela, [...]. (Enf2)

[...] Essa paciente precisa realmente de um outro olhar, um olhar holístico,


um olhar diferente. (Enf3)

Nos discursos dos participantes Enf2 e Enf3 ficou evidente que a assistência precisa
ir além das técnicas, abrangendo o nosso lado “humano”, imaginando-se estar no lugar e
refletir “e se fosse comigo, como gostaria de ser tratada?”. É preciso tratar as pacientes de
forma holística e respeitosa, principalmente aqueles em condições mais delicadas como são
o caso de mulheres pós-aborto.
Conforme Silva e colaboradores (2016) ainda que existam códigos de ética para os pro-
fissionais de saúde a serem seguidos, nos quais estabelecem os direitos e deveres de cada
um, leva-se em consideração também o modo de prestar assistência à pessoa hospitalizada,
no que diz respeito a individualidade de cada ser, promovendo o cuidado de forma holística.
Para Enf1, o cuidado deve ser realizado respeitado o lado humano e o cientifico, isto
é, o profissional precisa ter igualdade em suas ações no que concerne a humanização e o
conhecimento técnico cientifico.

[...], o cuidado tem que ser igual, não tem nada de técnico, não tem nada de
125
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
relação a cientifico que mude, em relação a paciente que provocou ou não,
[...]. (Enf1)

Percebemos que podem existir profissionais despreparados para lidar com essa rea-
lidade, mostrando-se preconceituosos e impondo julgamentos inadequados ao momento
do cuidado a mulher em processo de abortamento induzido. Por se tratar de uma realidade
frequente, Rodrigues e colaboradores (2017) observaram em estudo realizado que devido
ao aumento do quantitativo de abortamentos, associado aos riscos de morte, vem a ser
importante seguir o roteiro de ações, em especial a equipe de enfermagem, na assistência
as mulheres que abortaram, utilizando um protocolo que oriente esses profissionais na pro-
dução do cuidado.
De acordo Santos e Brito (2016), o MS elaborou norma técnica, direcionada a aten-
ção humanizada para mulheres em situação de abortamento, preconizando respeito à in-
dividualidade e integralidade na assistência. Dessa forma, ao seguir essa norma, existe a
possibilidade de melhorias no atendimento dessas mulheres, proporcionando confiança e
segurança durante sua estadia na instituição de saúde.
Como sugestão, torna-se interessante pensar no desenvolvimento de ações de edu-
cação em saúde para essas mulheres, promovidas por profissionais atuantes na área, tanto
em maternidades como em unidades de saúde, explicando sobre aborto e o estigma, obje-
tivando esclarecimentos e criação de vínculos, melhorando talvez a angústia e a culpa de
quem já vivenciou.

Ética no cuidado à mulher em processo de abortamento

Nesta categoria se aborda o cuidado à mulher pós-abortamento, no que diz respeito


como deve ser levado em conta questões importantes como: igualdade no atendimento;
observar os princípios éticos, o ato de não emitir juízo de valor sobre a escolha da mulher,
promovendo o cuidado dignificado.

E assim, eu trato da mesma forma como qualquer outra paciente, [...], a


gente tem que ser ético, em qualquer circunstância, provocado ou não, a
gente tem que ser ético. (TecEnf2)

O relato de TecEnf2, demonstra entendimento quanto as atitudes igualitárias, respeitan-


do a ética e não julgando à escolha da mulher, independentemente da situação. Ainda que
se tenham pensamentos contrários diante das circunstâncias, deve-se ter em mente que a
pessoa está sofrendo de alguma maneira e o que não deve ser feito é ser colocada “no tribu-
nal da inquisição”, com comentários ofensivos, muito menos demorar a prestar assistência.

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Para Carvalho Filha e colaboradores (2017), na realização da assistência humanizada,
deve-se levar em conta além dos princípios jurídicos e éticos, o respeito, individualidade e
dignidade da pessoa, sem ter quaisquer comportamentos limitados ou discriminatórios ao
deparar-se com a mulher que provocou o aborto.

[...] os dilemas sempre vão ocorrer, cada profissional tem um ponto de vista,
tem uma vivência [...], mas tem que tentar entender o que há por trás de
tudo isso, [...] eu tenho que fazer o melhor para ela, naquela situação. (M1)

A fala de M1, complementa o relato de TecEnf2, ao reforçar a existência do dile-


ma e mesmo assim buscar fazer o que é melhor para a mulher. Nesse contexto, possi-
bilita reflexão, que além de seguir o que é preconizado pelo CÓDIGO DE ÉTICA DOS
PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM (CEPE) (2017), quanto ao respeito aos direitos huma-
nos no que concerne à vida, à saúde, à liberdade, à igualdade, à dignidade e a ser tratada
sem distinção de classe social ou condição social. Ademais deve desenvolver a compaixão,
lado “humano” e compadecer-se com a dor do outro.
Para Santos et al. (2019), as mulheres que induziram aborto muitas vezes sentem- se
culpadas de terem tomado tal atitude, algumas apresentam conhecimento sobre o estigma do
assunto, e, aquelas que são hospitalizadas por medo da repreensão não dividem a situação
com suas famílias. Os autores ainda reforçam que as pessoas com as quais, às vezes, com-
partilham sua situação é a equipe de saúde que, geralmente não oferecem devida atenção
dessa necessidade, ignorando e somente cumprem a obrigação de oferecer assistência ao
corpo (SANTOS et al., 2019),
De acordo Santana, Santos e Pérez (2015) quaisquer pessoas devem ter a individuali-
dade, não somente pelos procedimentos realizados, mas também em gestos simples como
informar e escutar, ressaltando que é preciso a valorização dos aspectos sociais, espirituais
e morais que cada pessoa hospitalizada apresenta. Portanto, o cuidado estende-se para
além da ética, técnicas, também pela forma que se age perante ao outro, e, possivelmente
assim torna-se viável promover um cuidado integral, humano e ético.

Prevenção dos dilemas éticos

Nesta categoria, as participantes revelam acerca da prevenção de dilemas éticos no


intuito de promover assistência de qualidade.

Muito treino e muita conversa, porque os dilemas sempre vão ocorrer, cada
profissional tem um ponto de vista, tem uma vivência e um por que aceita
ou não aceita, mas tentar entender que por traz de tudo isso, dos dilemas,
também tem o paciente, e... eu tenho que fazer o melhor para ela, naquela
situação. (M1)
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Primeiro tem que ter conhecimento do caso, não do caso da paciente, mas
conhecimento do que é, o que é um aborto induzido? Assim ter rodas de
conversa, se ter palestras [...]. (Enf2)

[...] você tem que estar ciente das normas e rotinas da unidade pra que
não exista esse dilema dentro da unidade. Então, você tem que estar ciente
ali de tudo de todas as circunstâncias da rotina da unidade, para que não
haja esse dilema com a paciente, e você venha a tratar todas da mesma
forma. (TecEnf2)

Os participantes M1, Enf2 e TecEnf2 revelam que os dilemas éticos podem ser preve-
nidos a partir do entendimento sobre a temática, reflexões por meio de rodas de conversas,
palestras, além do conhecimento de normas e rotinas da unidade, a fim de que as mulheres
sejam cuidados com equidade.
Os posicionamentos são bastante pertinentes, pois por mais que as profissionais te-
nham noção a respeito do código de ética de suas profissões, ainda existe a necessidade
de fortalecer o conhecimento, capacitações e treinamentos na área em que atuam.
Para Campos, Sena e Silva (2017), se reconhecida as dificuldades na promoção da
educação permanente, vez que existe a necessidade de refletir a respeito da construção
coletiva, visando coparticipação, ampliando a compreensão acerca da realidade, bem como
o estímulo ao aprendizado cotidiano nas instituições de saúde. Dessa forma, a educação
permanente precisa ser considerada como estratégia impulsionadora de progressos, pos-
sibilitando que os trabalhadores de saúde realizem autocrítica sobre sua prática e também
perante a sociedade (CAMPOS; SENA; SILVA, 2017).

Eu acho que tinha que ser separado, se aqui pudesse, né? Mas aqui o movi-
mento é grande e também impede de fazer essas coisas. [...]. [...] um olhar
de respeito de carinho, nesse momento (Enf3)

Na fala de Enf3, emergiu pensamento acerca de mudança na organização das en-


fermarias, colocando as mulheres que provocaram aborto junto com outras com a mesma
situação, vez que necessitam de respeito e consideração. Assim, ficou evidente o que tange
a complexidade dessa situação, faz-se necessário o respeito e a dignidade dessas mulheres.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os profissionais de saúde vivenciam dilemas éticos no cuidado a mulher em pro-


cesso de abortamento, e diante da situação buscam atende-la de maneira respeitosa,
ética e acolhedora.
O estudo mostrou que a compreensão dos profissionais da equipe de saúde sobre dile-
mas éticos diz respeito às incertezas, dúvidas sobre o agir diante as situações vivenciadas,
128
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
mas que devem ser observados os princípios éticos, bem como realizar assistência à mulher
sem deixar que os seus valores interfiram e que seja respeitada a ética profissional.
Os motivos que podem levam a mulher a realizar abortamento induzido são: condi-
ções financeiras que impossibilitam deixar que a gravidez siga o transcurso normal com o
nascimento da criança; as relações afetivas; estigma da equipe de saúde em relação ao
abortamento; valores e princípios que levam a ações negativas na assistência. Assim, deve
ser respeitando os princípios éticos e um olhar sensível e acolhedor a mulher.
Para as participantes do estudo, a prevenção dos dilemas éticos no cuidado a mulher
em processo de abortamento induzido, pode se por meio de capacitações, rodas de conversa
abordando a temática com os profissionais de saúde.
Como limitações do estudo, elencamos poucas pesquisas com esta temática e dificul-
dade de realizar as entrevistas, visto a alta demanda e as atribuições da equipe de saúde
no centro obstétrico.
Recomendamos que a equipe de saúde se conscientize sobre a importância de as-
sistência integral e acolhedora, utilização de protocolos que oriente sobre a importância
da escuta à mulher em processo de abortamento, assim como orientações a respeito de
planejamento familiar e pós-alta hospitalar.
Concluímos que os profissionais de saúde devem ser incentivados pela instituição, para
seguir o protocolo do MS, que estabelece o cuidado pautado na integralidade e individualidade
da mulher pós-aborto, buscando não emitir juízo de valor e assisti-la da forma humanizada.

REFERÊNCIAS
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
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132
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
09
Do pré-natal ao Puerpério: articulações
com a prática

Carina Bortolato-Major
UENP

Francis Helber Possari Juliano


Hospital SãO Luiz

Rafael Davi Botelho


Hospital Santa Marcelina

Carolina Fordellone Rosa Cruz


UENP

10.37885/210404213
RESUMO

A assistência pré-natal requer uma equipe de saúde multiprofissional integrada, articulada


e comprometida com a saúde da mulher e do recém-nascido. O pré-natal deve ser iniciado
o quanto antes possível e necessita ser conduzido conforme um protocolo assistencial
que inclui a história clínica, exame físico, exames complementares e condutas. O obje-
tivo é propor um protocolo de assistência multiprofissional a saúde da mulher desde o
pré-natal ao puerpério e aleitamento materno. Trata-se de uma revisão narrativa da lite-
ratura. Realizou-se uma busca não sistematizada. Os materiais selecionados foram lidos
e os resultados organizados em cinco categorias temáticas. O protocolo inclui aspectos
relevantes da prática multiprofissional. O pré-natal precisa de consultas denominadas
de primeira e consultas de acompanhamento, as quais devem ser rigorosas e avaliam
aspectos da saúde materna e fetal. Em relação a assistência durante o trabalho de par-
to, considera-se imperativo a articulação de uma ampla equipe multiprofissional como
médicos, enfermeiras obstetras, doulas, médicos da família, anestesistas e obstetras/
ginecologistacas, conforme a necessidade individual de cada gestante. Todos estes
profissionais são de extrema importância neste momento, e atuam como facilitadores do
processo de parto, sendo ele normal ou parto cesáreo. Após o nascimento do recém-nas-
cido, a mulher entra em um quadro de extrema importância, o puerpério, em que o corpo
inicia a recuperação da sua anatomia e funções habituais. Nesta fase inicia a secreção
do colostro, e até o terceiro dia após o parto acontece a descida do leite, acontecimentos
fisiológicos que permitem a amamentação de forma natural. A amamentação deve ser
incentivada nos primeiros minutos de vida do recém-nascido, a menos que haja alguma
contra indicação clínica ou patológica. Nesse processo, a paciente deve ser sempre o
objetivo principal de uma equipe multiprofissional de saúde, e esta deve assistir integral-
mente a mulher e o recém-nascido.

Palavras-chave: Saúde da Mulher, Recém-Nascido, Equipe Multidisciplinar.

134
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

A gestação é um processo fisiológico que ocasiona no organismo feminino um con-


junto de modificações. A atenção materno-infantil tem sido colocada como um campo que
requer prioridade, primordialmente ao que diz respeito aos cuidados com a mulher no pe-
ríodo gestacional.
O objetivo do pré-natal é fornecer um criterioso planejamento de assistência à gestante
a fim de promover o diagnóstico precoce de complicações relacionadas à gestação, parto e
puerpério, entre as quais as síndromes hipertensiva, diabetes e gestação, e os fenômenos
tromboembólicos se destacam como as principais e culminam não só em sérias complica-
ções maternas como também em partos prematuros nos quais os recém-nascidos requerem
cuidados especiais tendo em vista a insuficiente maturidade de várias funções vitais que
determinam o risco de morte e as perturbações no desenvolvimento neurofuncional.
A atuação da equipe multiprofissional torna possível a realização de uma assistência
integral, fazendo com que as necessidades da gestante sejam atendidas de forma específica
objetivando o melhor resultado.
Em termos de saúde pública, um bom planejamento da assistência pré-natal, envol-
vendo a captação da paciente, orientação e atendimento propriamente dito, tende a resul-
tar em bons resultados neonatais que diminuem a demanda acentuada dos berçários e
unidades neonatais sobrecarregados de modo geral na assistência pública de nosso país
nos dias de hoje.
Para a obtenção dos resultados desejados, a competência social se faz importante no
ambiente organizacional, ao invés da qualificação técnica única e exclusiva, tendo a figura
da equipe multiprofissional fundamental importância em cada uma de suas esferas, agindo
de forma responsável a fim de reconhecer, mobilizar, integrar, transferir conhecimentos,
recursos, habilidades que agreguem valor social inerente à própria equipe, culminando no
que se espera do atendimento desejado à gestante.
É importante mencionar o Programa Saúde da Família (PSF) ou, atualmente conhecido
como Estratégia Saúde da Família (ESF), que foi criado no País oficialmente pelo Ministério
da Saúde (MS) na década de 90 e inspirado em outros países, adquirindo suas próprias
características (VANDERLEI; FRIAS, 2015).
Esta estratégia é um eixo estruturante da Atenção Primária a Saúde, no contexto do
Sistema Único de Saúde (SUS), pois, incorpora e reafirma os princípios básicos do mesmo:
universalização, descentralização, integralidade e participação da comunidade, tendo caráter
substitutivo por tratar-se da desfocalização da atenção curativa e práticas convencionais de
assistência por um processo de trabalho baseado no conceito de promoção da saúde (DIAS;
CUNHA; AMORIM, 2005).
135
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
E nesse contexto, a equipe de saúde atua ativamente no pré-natal e no acompanha-
mento do puerpério, a qual é composta por uma equipe multiprofissional:Médico, Enfermeiro,
Técnicos de Enfermagem e Agentes Comunitários de Saúde. A estratégia Saúde da família
procura prestar um atendimento de qualidade, integral e humanitário em Unidades Básicas,
reorganizando a prática assistencial em novas bases e critérios, garantindo a equidade como
também acesso universal aos serviços prestados.
Dentre os sistemas de atendimento à gestante, a Estratégia Saúde da Família repre-
senta o que se espera de uma equipe multiprofissional, no qual as atividades envolvendo a
captação, agendamento, consulta, exames, orientação, e possibilitando quando necessário
ainda a avaliação psicológica e assistência social permitindo a visão holística biopsicosso-
cial da gestante.
Os profissionais envolvidos dentro do programa e na Unidade Básica de Saúde vão
desde o agente de saúde proveniente da própria comunidade, enfermeiro e/ou enfermeiro
obstetra no atendimento de pré-consulta e consulta, assistente social no manejo à continui-
dade no pré-natal e avaliação do ambiente familiar da paciente, o psicólogo na avaliação
e tratamento de distúrbios emocionais tão frequentes na gestação e puerpério, e o médico
como assistente às consultas pré-natais de risco habitual, intermediário e alto risco.
Além destes, outros profissionais também devem ser envolvidos de acordo com as ne-
cessidades específicas de cada paciente, ainda em atendimento básico, como o odontólogo
na assistência odontológica que não deve ser evitada ou atrasada devido à gestação devido
a possíveis complicações cardiológicas decorrentes de focos dentários; o nutricionista na
orientação da adequada alimentação ou manejo alimentar, principalmente em doenças como
o diabetes, a hipertensão e estados carenciais; e/ou o fisioterapeuta para as gestantes com
sequelas neurológicas ou limitações físicas de ordem osteoarticular frequentes em doenças
autoimunes do tecido conjuntivo.
Tendo em vista a promoção da saúde materno-infantil, a importância da humanização da
assistência por uma equipe multiprofissional no ciclo gravídico-puerperal, e por se considerar
as articulações com as práticas durante este período, foi proposta a escrita desse capítulo.

OBJETIVO

Propor um protocolo de assistência multiprofissional a saúde da mulher desde o pré-


-natal ao puerpério e aleitamento materno.

136
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão narrativa que buscou descrever e discutir aspectos relativos ao
pré-natal, assistência multiprofissional no parto, pós-parto, puerpério e aleitamento materno.
Foi realizada uma busca não sistematizada em bases de dados como Scielo e Lilacs,
além de consulta a literatura cinzenta que incluiu protocolos nacionais, livros e diretrizes
acerca da temática.
Os materiais foram selecionados de acordo com o objetivos, posteriormente lidos na
íntegra e os resultados organizados em categorias temáticas: atendimento pré-natal, assis-
tência básica e roteiro de consulta pré-natal (roteiro da primeira consulta pré-natal e roteiro
das consultas subsequentes), assistência à gestante durante o trabalho de parto, assistência
à mãe durante o puerpério, amamentação e aleitamento materno.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Atendimento pré-natal

O atendimento pré-natal deve ser organizado para atender as reais necessidades de


toda a população de gestantes de toda a sua área de atuação, por meio da utilização de
conhecimentos técnico-científicos e dos meios e recursos adequados e disponíveis. Além
disso, deve proporcionar facilidade e continuidade no acompanhamento do pré-natal e res-
posta positiva das ações de saúde sobre a saúde materna e perinatal.
O início do pré-natal deve se dar o quanto antes possível, preferencialmente já no pri-
meiro trimestre, permitindo que as ações preventivas e terapêuticas possam ser iniciadas
tão logo quanto necessárias. O envolvimento da comunidade e dos profissionais de saúde
é fundamental para que isso ocorra, o que pode ser facilitado por meios de comunicação,
visitas domiciliares, atividades de educação junto a comunidade.
Para a aderência ao seu acompanhamento pré-natal, a gestante deve perceber que
os profissionais estão preparados para fornecer o atendimento necessário com uma visão
integral de assistência à saúde da mulher. A instituição deve possuir eficiência na organização
de seu atendimento, a fim de manter a captação das pacientes que só permanecerão caso
tenham suas expectativas atendidas, garantindo assim o controle periódico do pré-natal.
A estrutura física da instituição deve ser funcional e adequada ao atendimento possuindo
todo o equipamento necessário ao atendimento ginecológico e obstétrico, bem como agradá-
vel para a paciente e ao profissional. Deve ainda permitir o acesso aos exames laboratoriais
obrigatórios e especializados conforme a possibilidade e pertinência. E por fim contar com
um serviço de referência e contra-referência de acordo com o nível de complexidade de
137
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
atendimento à paciente capaz de atender as necessidades desta paciente com fluidez no
processo, garantindo assim a adequação do atendimento ao período gestacional.

– O material utilizado ao atendimento com fins de controle e estatístico, a fim de ava-


liar o atendimento e identificar problemas no processo de atendimento e necessida-
des populacionais, deve constituir-se de:
– Ficha de atendimento perinatal (prontuário): no qual serão registrados os dados
referentes ao pré-natal, parto e puerpério.
– Cartão da gestante: fundamental ao registro das informações da gestante, devendo
ser mantido com a mesma para controle e atendimento junto a referência e contra-
-referência.
– Mapa de registro diário: Controle das atividades prestadas na instituição.

Assistência básica e roteiro de consulta pré-natal

Segundo o Ministério da Saúde, a assistência pré-natal deve-se dar por meio do aco-
lhimento, ações educativas e preventivas, detecção precoce de risco, estabelecimento
do vínculo entre a equipe de saúde, gestante e família, e do acesso ao serviço de saú-
de (BRASIL, 2006).
O objetivo do acompanhamento pré-natal é assegurar o desenvolvimento da gesta-
ção, permitindo o parto de um recém-nascido saudável, sem impacto para a saúde ma-
terna, inclusive abordando aspectos psicossociais e as atividades educativas e preventi-
vas (BRASIL,2013).
A frequência de toda a gestante ao pré-natal é fundamental para a obtenção dos re-
sultados desejados, ou seja, a diminuição da morbimortalidade materno-fetal e neonatal.
Ainda assim, em muitas regiões do Brasil a morbimortalidade continua alta mesmo com a
frequência pré-natal elevada, nos levando a refletir nas deficiências do atendimento pré-natal.
Cabe ao profissional ou ainda à equipe multiprofissional responsável reconhecer e aprimorar
o atendimento da sua esfera de atendimento.
Conforme orientação da Organização Mundial da Saúde o número de consultas não
deve ser inferior a seis, sendo abaixo deste número o atendimento considerado deficien-
te. As consultas devem ser iniciadas o mais precoce possível e deverão seguir o roteiro
sugerido que se segue abaixo:

• Roteiro da primeira consulta pré-natal

I. História Clínica

138
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
√ Identificação: nome; idade; cor; naturalidade; procedência; endereço atual;
unidade de referência.
√ Dados socioeconômicos: grau de instrução; profissão/ocupação; estado civil/
união; número e idade de dependentes (avaliar sobrecarga de trabalho do-
méstico); renda familiar; pessoas da família com renda; condições de moradia
(tipo, nº de cômodos); condições de saneamento (água, esgoto, coleta de lixo);
distância da residência até a unidade de saúde;
√ Antecedentes familiares: hipertensão arterial; diabetes mellitus; doenças con-
gênitas; gemelaridade; câncer de mama e/ou do colo uterino; hanseníase;
tuberculose e outros contatos domiciliares (anotar a doença e o grau de pa-
rentesco); doença de Chagas; parceiro sexual portador de infecção pelo HIV.
√ Antecedentes pessoais: hipertensão arterial crônica; cardiopatias, inclusive
doença de Chagas; diabetes mellitus; doenças renais crônicas; anemias; dis-
túrbios nutricionais (desnutrição, sobrepeso, obesidade); epilepsia; doenças da
tireoide e outras endocrinopatias; malária; viroses (rubéola, hepatite); alergias;
hanseníase, tuberculose ou outras doenças infecciosas; portadora de infecção
pelo HIV (em uso de retrovirais? quais?); infecção do trato urinário; doenças
neurológicas e psiquiátricas; cirurgia (tipo e data); transfusões de sangue.
√ Antecedentes ginecológicos: ciclos menstruais (duração, intervalo e regula-
ridade); uso de métodos anticoncepcionais prévios (quais, por quanto tempo
e motivo do abandono); infertilidade e esterilidade (tratamento); doenças se-
xualmente transmissíveis (tratamentos realizados, inclusive pelo parceiro);
doença inflamatória pélvica; cirurgias ginecológicas (idade e motivo); mamas
(alteração e tratamento); última colpocitologia oncótica (papanicolau ou “pre-
ventivo”, data e resultado).
√ Sexualidade: início da atividade sexual (idade da primeira relação); dispareunia
(dor ou desconforto durante o ato sexual); prática sexual nesta gestação ou
em gestações anteriores; número de parceiros da gestante e de seu parceiro,
em época recente ou pregressa; uso de preservatives masculino ou feminino
(uso correto? uso habitual?).
√ Antecedentes obstétricos: número de gestações (incluindo abortamentos, gra-
videz ectópica, gestação molar); número de partos (domiciliares, hospitalares,
vaginais espontâneos, fórceps, cesáreas – indicações); número de abortamen-
tos (espontâneos, provocados, causados por DST, complicados por infecções,
curetagem pós-abortamento); número de filhos vivos; idade na primeira ges-
tação; intervalo entre as gestações (em meses); isoimunização Rh; número
de recém-nascidos: pré-termo (antes da 37ª semana de gestação), pós-termo
(igual ou mais de 42 semanas de gestação); número de recém-nascidos de
baixo peso (menos de 2.500g) e com mais de 4.000g; mortes neonatais pre-
coces: até sete dias de vida (número e motivo dos óbitos); mortes neonatais
tardias: entre sete e 28 dias de vida (número e motivo dos óbitos); natimortos
(morte fetal intra-útero e idade gestacional em que ocorreu); recém-nascidos
com icterícia, transfusão, hipoglicemia, exsangüineotransfusões; intercorrên-
cias ou complicações em gestações anteriores (especificar); complicações
nos puerpérios (descrever); história de aleitamentos anteriores (duração e
motivo do desmame).
√ Gestação atual: data do primeiro dia/mês/ano da última menstruação – DUM
(anotar certeza ou dúvida); peso prévio e altura; sinais e sintomas na gestação
em curso; hábitos alimentares; medicamentos usados na gestação; internação
139
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
durante esta gestação;
√ Hábitos: fumo (número de cigarros/dia), álcool e drogas ilícitas; ocupação
habitual (esforço físico intenso, exposição a agentes químicos e físicos poten-
cialmente nocivos, estresse); aceitação ou não da gravidez pela mulher, pelo
parceiro e pela família, principalmente se for adolescente.

II. Exame Físico

√ Geral: determinação do peso e da altura; medida da pressão arterial; inspe-


ção da pele e das mucosas; palpação da tireoide e de todo o pescoço, região
cervical e axilar (pesquisa de nódulos ou outras anormalidades); ausculta
cardiopulmonar; determinação da frequência cardíaca; exame do abdômen;
exame dos membros inferiores; pesquisa de edema (face, tronco, membros).
√ Específico (gineco-obstétrico): exame de mamas (realizar orientações para o
aleitamento materno em diferentes momentos educativos, principalmente se
for adolescente. Nos casos em que a amamentação estiver contra-indicada,
como por exemplo entre às gestantes portadoras de HIV , orientar a mulher
quanto à inibição da lactação (mecânica e/ou química) e para a aquisição da
fórmula infantil); palpação obstétrica e identificação da situação e apresenta-
ção fetal; medida da altura uterina; ausculta dos batimentos cardíacos fetais;
inspeção dos genitais externos.
√ Exame especular: inspeção dos genitais externos e das paredes vaginais; ins-
peção do conteúdo vaginal; inspeção do colo uterino; coleta de material para
exame colpocitológico (preventivo de câncer), e para a pesquisa de infecção
por clamídia e gonococo, se houver sinais de inflamação e corrimento cervical
mucopurulento; toque vaginal (se necessário).

III. Exames Complementares

√ Na primeira consulta solicitar: dosagem de hemoglobina e hematócrito (Hb/


Ht); grupo sangüíneo e fator Rh; sorologia para sífilis (VDRL): repetir próximo
à 30ª semana; glicemia em jejum: repetir próximo à 30ª semana; exame su-
mário de urina (Tipo I): repetir próxima à 30ª semana; sorologia anti-HIV, com
o consentimento da mulher após o “aconselhamento pré-teste”; sorologia para
hepatite B (HBsAg, de preferência próximo à 30ª semana de gestação); soro-
logia para toxoplasmose (IgM para todas as gestantes e IgG, quando houver
disponibilidade para realização).
√ Exames adicionais (se necessário): protoparasitológico: solicitado na primeira
consulta, sobretudo para mulheres de baixa renda; bacterioscopia da secreção
vaginal e cultura para estreptococus: em torno da 36ª semana de gestação,
particularmente nas mulheres com antecedente de prematuridade e morte
neonatal; sorologia para rubéola; urocultura para o diagnóstico de bacteriúria
assintomática, em que exista disponibilidade para esse exame.
√ Ultra-sonografia obstétrica de rotina:

– Precoce (obstétrico inicial): para adequada datação da gestação;


140
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
– Morfológico do primeiro trimestre:realizado entre 11 a 14 semanas de gestação a
com fim de rastreamento de cromossomopatias;
– Morfológico do Segundo trimestre:realizado entre 20 a 24 semanas com fins de
avaliação do desenvolvimento morfo-funcional fetal e determinação de estratégias
de atendimento neonatal ao feto com anomalias anatômicas; dopplerfluxometria
das artérias uterinas a fim de identificar as possíveis pacientes com risco para pré-
-eclâmpsia;

Obstétrico:sempre que possível pelo menos um exame com 28 e outro com 32 sema-
nas a fim de avaliar o crescimento estimado fetal e avaliação do liquido amniótico, ou em
qualquer época na qual haja suspeita destas alterações, podendo ser ainda complementado
com a dopplerfluxometria a depender da alteração;

√ Investigação de HIV/Aids: o diagnóstico da infecção pelo HIV, no período pré-


-concepcional ou no início da gestação, possibilita melhor controle da infecção
materna e melhores resultados na profilaxia da transmissão vertical desse
vírus. Por esse motivo, este teste deve ser oferecido, com aconselhamento
pré e pós-teste, para todas as gestantes, na primeira consulta do pré-natal,
independentemente de sua aparente situação de risco para o HIV.
√ Aconselhamento pré-teste HIV/Adis:

– O profissional deve avaliar os conhecimentos da gestante sobre a infecção pelo


HIV/Aids e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) e informá-la sobre o
que ela não sabe, especialmente acerca de seu agente etiológico, meios de trans-
missão, sobre a diferença entre ser portador da infecção e desenvolver a Síndrome
da Imunodeficiência Adquirida (Aids), sobre os conceitos “vulnerabilidade” e “situa-
ções de risco acrescido”, e sua importância na exposição ao risco para a infecção
pelo HIV, em ocasião recente ou pregressa;
– Explicar o que é o teste anti-HIV, como é feito, o que mede, suas limitações, expli-
cando o significado dos resultados negativo, indeterminado e positivo;
– Explicar os benefícios do diagnóstico precoce na gravidez, tanto para a mãe, quan-
to para o bebê, reforçando as chances de reduzir a transmissão vertical pelo acom-
panhamento especializado e as medidas profiláticas durante a gestação, no parto e
no pós-parto, e o controle da infecção materna;
– Garantir o caráter confidencial e voluntário do teste anti-HIV. Durante todo esse pro-
cesso, a gestante deverá ser estimulada a expressar seus sentimentos e dúvidas
em relação a essas informações.

IV. Condutas
141
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
√ Cálculo da idade gestacional e data provável do parto;
√ Avaliação nutricional;
√ Fornecimento de informações necessárias e respostas às indagações da mu-
lher ou da família;
√ Orientação sobre sinais de riscos e assistência em cada caso;
√ Referência para atendimento odontológico;
√ Encaminhamento para imunização antitetânica (vacina dupla viral), quando a
gestante não estiver imunizada;
√ Referência para serviços especializados na mesma unidade ou unidade de
maior complexidade, quando indicado (mesmo com referência para serviço
especializado, a mulher deverá continuar sendo acompanhada, conjuntamente,
na unidade básica).

• Roteiro das consultas subsequentes

√ Revisão da ficha pré-natal;


√ Anamnese atual sucinta;
√ Verificação do calendário de vacinação.

I. Controles maternos

√ Cálculo e anotação da idade gestacional;


√ Determinação do peso para avaliação do índice de massa corporal (IMC).
Anotar no gráfico e observar o sentido da curva para avaliação do estado
nutricional;
√ Aferição da pressão arterial (observar a aferição da PA com técnica adequada);
√ Palpação obstétrica e medida da altura uterina. Anotar no gráfico e observar
o sentido da curva para avaliação do crescimento fetal;
√ Pesquisa de edema;
√ Verificação dos resultados dos testes para sífilis (VDRL e confirmatório, sempre
que possível) e, no caso de resultado positivo, o esquema terapêutico utiliza-
do (na gestante e em seu parceiro), além do resultado dos exames (VDRL)
realizados mensalmente para o controle de cura;
√ Avaliação dos outros resultados de exames laboratoriais.

II. Controles fetais

√ Ausculta dos batimentos cardíacos;


√ Avaliação dos movimentos percebidos pela mulher e/ou detectados no exa-
me obstétrico.

III. Condutas

√ Interpretação dos dados de anamnese, do exame obstétrico e dos exames


laboratoriais com solicitação de outros, se necessários;
142
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
√ Tratamento de alterações encontradas, ou encaminhamento, se necessário;
√ Prescrição de suplementação de sulfato ferroso (60mg de ferro elementar/dia)
e ácido fólico (5mg/dia);
√ Orientação alimentar;
√ Acompanhamento das condutas adotadas em serviços clínicos especializa-
dos (a mulher referenciada ao serviço especializado deverá continuar sendo
acompanhada pela equipe da atenção básica);
√ Realização de ações e práticas educativas individuais e em grupos (os gru-
pos educativos para adolescentes devem ser exclusivos dessa faixa etária,
abordando temas de interesse do grupo. Recomenda-se dividir os grupos em
faixas de 10-14 anos e de 15-19 anos, para obtenção de melhores resultados);
√ Agendamento de consultas subsequentes.

Assistência à Gestante durante o trabalho de parto

Uma ampla variedade de profissionais médicos, como enfermeiros obstetras, doulas,


médicos da família, anestesistas e obstetras/ginecologistas podem estar envolvidos no
processo de parto da mulher. É necessária uma comunicação próxima entre esses profis-
sionais para criar um ambiente de segurança e cuidado centrado na paciente (HUTCHISON;
MAHDY, HUTCHISON, 2021).
É de extrema importância, neste momento da gravidez, que a equipe multiprofissional
esteja preparada para acolher a paciente da maneira mais agradável possível. Lembrando
que o parto nada mais é do que o desfecho fisiológico de todo o processo natural da gravi-
dez, e devemos tratar e orientar a parturiente com respeito e dignidade, sempre dissolvendo
dúvidas e mostrando a importância da participação de todos os envolvidos neste processo.
O trabalho de parto pode ser definido como contrações uterinas eficientes e rítmi-
cas capazes de modificar o colo uterino, promovendo dilatação e esvaecimento cervical
(SANTOS et al, 2010).
Em um dado momento, a paciente pode ser internada com o diagnóstico de trabalho de
parto baseado neste conceito, sendo acompanhada no hospital desde o início da fase ativa
do trabalho de parto, ou seja, dilatação cervical de 4 cm ou mais associado a contrações
uterinas efetivas, até sua alta hospitalar já na fase de puerpério.
Na admissão, a gestante deve ser tranquilizada e orientada quanto ao parto e à assistên-
cia da equipe de saúde. Ela deve e tem o direito de saber o nome e a função de cada profis-
sional do hospital, a fim de facilitar a interação das pessoas envolvidas no processo de parto.
O serviço de saúde que a gestante está internada deve oferecer um quarto adaptado
às necessidades do procedimento a ser realizado, ou seja, camas adequadas para o re-
pouso e posicionamento da paciente para o parto. Um espaço que possibilite circulação de
pessoas e deambulação da paciente, com aparelhagem específica (banquinhos, bolas e
“cavalinhos”) que podem favorecer uma evolução natural do trabalho de parto. O banheiro
143
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
deve ser próximo ou, de preferência, uma suíte para higienizações frequentes da parturiente
e banhos de imersão, propiciando um maior relaxamento e bem-estar, assim como oferecer
trocas de roupas e lençóis tanto quanto achar-se necessário.
A doula é de extrema importância neste momento. Baseia-se na presença de uma
acompanhante, além do marido ou outra pessoa da escolha da paciente, geralmente leiga,
não fundamentada ou especializada na área da saúde, que voluntariamente está à disposi-
ção da equipe para ajudar a gestante da forma mais conveniente, acalmando e orientando a
mesma, ajudando nas trocas e banhos, ou mesmo sua presença física no recinto já acalma
a paciente e favorece seu trabalho de parto.
Estudos clínicos de significância estatística provam que a participação da doula facilita
o trabalho de parto, incluindo o aumento do parto normal espontâneo, menor duração do
trabalho de parto e redução do parto cesáreo e parto vaginal instrumental e do uso de qual-
quer analgesia, além de redução dos sentimentos negativos relacionados a experiência do
parto (KOZHIMANNIL et al., 2016; HODNETT et al., 2012).
Os técnicos e auxiliares de enfermagem devem receber a gestante de forma cordial
e apropriada, informando seu papel e suas funções para a paciente. Durante aferições de
pressão, sinais vitais como temperatura, frequência cardíaca, saturação de oxigênio, fre-
quência respiratória e pressão arterial, devem ser obtidos e analisados ​​quanto a quaisquer
anormalidades, além de punção venosa periférica, e explicar o porquê destas medidas para
a paciente. Uma mãe esclarecida dos procedimentos de rotina do hospital fica mais calma
e colaborativa durante sua internação.
O enfermeiro obstetra deve apresentar-se à paciente e criar uma relação de cumplicida-
de com a mesma. O vínculo estabelecido gera confiança na equipe e aumenta a colaboração
da gestante, que começa a visualizar o parto realmente como evento natural, diminuindo
anseios e medos previamente criados, mais por informações negativas desconhecidas
que não tiveram boas experiências durante seu parto ou pelas experiências passadas da
própria gestante.
O enfermeiro obstetra está intimamente envolvida no monitoramento e cuidado das
parturientes, se responsabiliza pelo registro do pré-natal da paciente, incluindo história obs-
tétrica, história cirúrgica, história médica, dados laboratoriais e de imagem. Além disso, tem
competência para administrar os medicamentos durante o trabalho de parto, como a ocitocina
(se for do desejo da parturiente), monitora os sinais vitais continuamente, os escores de dor,
a progressão do parto e saúde fetal, além de reconhecer precocemente qualquer alteração
e comunicar o médico em caso de anormalidades.
O médico participa como um facilitador do processo, assim como de outros da equipe,
não apenas pré-julgando a paciente como parto normal ou parto cesáreo, mas sim de exercer
144
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
seu papel de interventor do nascimento apenas quando se fizer necessário, ressaltando para
a mãe a naturalidade e fisiologia da situação, do trabalho de parto. Ele se atém a história de
alguma doença, exame físico e clínico, e pode solicitar um monitoramento cardiotocográfico
contínuo para assegurar o bem estar fetal, e realizar m exame obstétrico minucioso para
avaliação da medida de dilatação e apagamento cervical.
A medida da dilatação cervical é feita localizando o orifício cervical externo e afastando
os dedos em forma de “V” e estimando a distância em centímetros entre os dois dedos. O
apagamento é medido estimando-se a porcentagem restante do comprimento do colo mais
fino em comparação com o colo não apagado. Durante o exame cervical, a confirmação da
apresentação da parte fetal também é necessária. A ultrassonografia à beira do leito pode ser
empregada para confirmar a apresentação e a posição da apresentação fetal (HUTCHISON;
MAHDY, HUTCHISON, 2021).
Entretanto, para que o resultado seja efetivo, a equipe de saúde precisa estar em
sintonia, com boa comunicação e interligação adequada entre os diversos profissionais
anteriormente pontuados. Esta ação será determinante na promoção e desfecho final sa-
tisfatório do trabalho de parto. Um estudo de coorte retrospectivo canadense realizado com
1238 mulheres descobriu que uma abordagem de equipe interprofissional para cuidados
obstétricos demonstrou melhores resultados para as pacientes, diminuindo taxas de cesa-
rianas e o tempo de internação das mulheres (HARRIS et al, 2012).
Supondo uma paciente em trabalho de parto que inicie um quadro de distocia funcional,
caracterizada por contração inapropriada para dilatação e esvaecimento cervical. Deve ser
examinada e avaliada tanto pela enfermeira obstetra quanto pelo médico de plantão, a fim
de iniciarmos medidas que dissolvam o quadro e permitam a continuação da evolução. Caso
não ocorra essa comunicação, pelos auxiliares, técnicos de enfermagem ou pelo enfermeiro,
perderemos tempo precioso para acionarmos medidas que corrijam o quadro e colocaremos
o futuro obstétrico da paciente em risco, com uma possível conversão do parto normal para
operação cesariana, que poderia ser evitada.
O médico de plantão geralmente tende a minimizar a gravidade da situação quando
é chamado para avaliação de pacientes, mas isso não o permite deixar de examinar ou
simplesmente elaborar uma conduta e ministrá-la via telefone, por exemplo, baseando-se
na premissa de uma solicitação da equipe desnecessária ou sem importância. É nessas
horas que se deve deixar de lado a conveniência de ligar e passar condutas e levar a sério
seu trabalho. Muitas situações de conflito na equipe podem ser evitadas com o aumento do
zelo médico pela sua função.
Por exemplo, o papel de um profissional responsável pelos sinais vitais pode evitar uma
eclâmpsia (convulsões durante a gestação, sem outra causa diagnosticada previamente,
145
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
associada a aumento de níveis pressóricos) informando o médico quando a pressão arterial
da paciente estiver acima do aceitável.
Outro caso: durante o período expulsivo (dilatação total), a enfermeira obstetra res-
ponsável pela paciente deve solicitar a presença do médico de plantão assim que achar
necessário, mesmo que a finalização do parto possa demorar. A correta avaliação do bem-
-estar materno-fetal, neste momento, pode diminuir complicações obstétricas, principalmente
porque quanto mais profissionais habilitados ao lado caso, menor a chance de intercor-
rências no evento.
Claro que essa não é uma via de mão única, assim como a equipe precisa do médico,
ele também depende da equipe. Infelizmente, a cultura médica propagada pelos mais expe-
rientes e acaba contaminando os mais novos na profissão, ou seja, os médicos recém-for-
mados acham natural e correto o tratamento inadequado ou por vezes mal educado a ser
dado para a equipe de saúde, com a falsa ideia de que, trabalhando deste modo, ele não
vai ser chamado sem um motivo realmente necessário, e que os funcionários só passarão
a respeitá-lo quando o mesmo for rude e grosseiro.
Chegamos a um ponto em que devemos pensar coletivamente, pois não consegui-
remos finalizar o processo de parto de forma adequada e segura. Toda equipe deve se
responsabilizar durante toda a internação e desfecho de cada caso; o cuidado não pode
ficar centrado em apenas um profissional, seja este o médico ou a enfermeira. A equipe tem
responsabilidade coletiva, deve se comportar pensando em como todos podem ajudar na
evolução de suas pacientes, de que forma cada um exerce uma ação e, somadas, resultem
num denominador comum: o sucesso do parto.

Assistência à mãe durante o puerpério

Após a experiência do parto, a paciente defronta-se com um quadro irreversível, de


responsabilidade, mas de extrema satisfação: o puerpério, onde o corpo recupera sua ana-
tomia e funções habituais, e a amamentação.
Quando a mulher passa de gestante à puérpera, acontecem modificações em seu
corpo secundárias a adaptação da nova fase.
O útero apresenta involução de sua forma e tamanho, atingindo a cicatriz umbilical após
o parto, com regressão ao redor de 1 cm ao dia, diminuindo gradativamente até seu volu-
me normal. Ocorre de forma mais rápida se a mãe amamentar, e isso acaba por ocasionar
uma queixa comum da paciente: cólicas abdominais. É um mecanismo fisiológico chamado
reflexo útero-mamárico, apresentando juntamente sangramento genital.
O trajeto de parto (vulva e vagina) fica edemaciado e friável, trazendo desconforto
à mãe. O mesmo pode-se dizer da incisão abdominal da operação cesariana, com dor
146
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
local e saída de secreção serosa pela ferida operatória, secundária à incisão do tecido ce-
lular subcutâneo.
A loquiação (sangramento uterino pós-parto) é um evento comum e tem fases espe-
cíficas, de acordo com o tempo do parto: lóquios sanguíneos (até o quinto dia), semelhante
à menstruação, serossanguíneos (até o décimo dia) e seroso. Importante lembrar o cheiro
característico, mas, quando fétido, pode significar quadro infeccioso.
As mamas aumentam de tamanho e começam a secretar uma substância insípida,
diferente do leite materno: o colostro, que já deve ser apresentado ao recém-nascido logo
após o nascimento. A descida do leite ocorre entre o primeiro e terceiro dias após o parto,
mas, incentivando-se a amamentação precoce, a sucção estimula a liberação de prolactina
e ocitocina, com produção e liberação de leite13.
A responsabilidade de orientação para a equipe de saúde fica a cargo do médico e do
enfermeiro responsável, onde todos devem saber as etapas fisiológicas desta fase da mãe,
assim como a identificação de sinais e sintomas patológicos, para o atendimento adequado
e tratamento correto.
Supondo um atendimento ou visita domiciliar em uma puérpera onde o auxiliar de
enfermagem identifica algum fator de risco para complicação do puerpério: febre, saída de
secreção purulenta pela ferida operatória ou genital, mudança repentina e não fisiológica na
loquiação, queixa da paciente de dor abdominal tipo cólica não relacionada à amamenta-
ção, etc. É de extrema importância seu comprometimento com a puérpera e a comunicação
de seu achado à equipe, para que possamos elaborar um plano terapêutico que melhor
aborda a paciente.
O mesmo comportamento esperamos do médico responsável, orientando e delegando
de forma clara e objetiva as ações da equipe multiprofissional do caso, para que a terapêutica
prescrita seja aplicada corretamente.
Consequentemente, explicamos a naturalidade do processo para a mãe que, ansiosa,
pode achar que algo de errado está acontecendo. A orientação pode ser feita por qual-
quer profissional da equipe, ou então convoca-se uma reunião das puérperas da área de
abrangência, via posto de saúde, com o intuito de orientação e atendimento multidisciplinar,
otimizando o tempo.
Nesse momento é crucial a boa relação entre as mães e a toda a equipe, pois assim
podemos estimular o aleitamento precoce e adequado, que é recomendada por um mínimo de
seis meses exclusiva, e por até dois anos de idade, favorecendo o vínculo afetivo entre a pa-
ciente e seu filho e contribuindo para um ótimo desenvolvimento neuropsicomotor da criança.

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Amamentação e Aleitamento materno

A amamentação é uma prática natural que possui diversos benefícios ao binômio mãe e
filho à curto e longo prazo, especialmente estabelece um vínculo afetivo entre eles. Os prin-
cipais benefícios para a criança envolvem um melhor desenvolvimento intelectual e bucal,
prevenção de obesidade, doenças cardíacas, contagiosas e alérgicas, alívio de cólicas, evita
diarreias, e um estabelecimento do peso ideal. As vantagens da amamentação se esten-
dem à puérpera com a prevenção do câncer de útero e mama, menor risco de hemorragia
pós-parto e ainda possibilita menores custos financeiros (BRAGA et al., 2020; CIAMPO e
CIAMPO, 2018; ROCHA et al.,2018; BRASIL, 2015).
O leite materno possui todos os nutrientes essenciais para a vida do bebê, evita mortes
infantis por diarreias, infecções respiratórias e outras causas, diminui o risco de alergias,
hipertensão, colesterol alto, diabetes (BRASIL, 2018).
Além disso, a amamentação é a maneira natural e mais saudável de alimentar um bebê.
Nenhum substituto do leite pode competir com o leite materno em termos de nutrientes,
anticorpos, ligações afetivas e estimulação. As vantagens da amamentação se manifestam
desde o primeiro contato do bebê com o seio da mãe e beneficiando o binômio e a relação
entre eles (UNICEF, 2020).
A Organização Mundial da Saúde (OMS), recomenda a amamentação exclusiva durante
os seis primeiros meses e complementada até os dois anos de idade ou mais. A decisão de
amamentar é uma decisão pessoal, sujeita a muitas influências, resultantes da socialização
de cada mulher. O estabelecimento da lactação, está diretamente interligado as práticas
hospitalares durante trabalho de parto, parto e pós-parto e contribuem para um aleitamento
materno de sucesso (WHO, 2017).
No entanto, muitos países não seguem essas recomendações. No Brasil, a prevalência
do Aleitamento materno exclusivo (AME) diminui drasticamente com o passar do tempo e
varia muito de acordo com as regiões. Numerosos fatores têm sido relacionados positiva e
negativamente com o início e a duração do AME. Destacam-se especialmente os associados
ao social e cultural, visto que o aleitamento materno (AM) não é um comportamento instintivo
(SUAREZ-COTELO et al.,2019).
Além da influência dos fatores sociais e culturais relacionados à diminuição da taxa
de amamentação, algumas mães também enfrentam problemas mamários durante o pro-
cesso de amamentação, sendo os mais frequentes: ingurgitamento mamário, fissuras ma-
milares e mastite.
Em conjunto com a falta de informações/orientações, gravidez na adolescência, baixa
escolaridade materna, falta de apoio/incentivo de familiares e amigos, necessidade de a

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
mãe trabalhar fora do lar e uso precoce de fórmulas lácteas e bicos artificiais, podem levar
à um desmame precoce (ORSO et al.,2016).
Desta forma os profissionais de saúde e principalmente o enfermeiro deve acompanhar
e orientar as mulheres durante as consultas de pré-natal e no puerpério, a fim de evitar as
complicações durante a amamentação.
É essencial que os profissionais de saúde sejam capacitados frequentemente e que nas
Estratégia Saúde da Família (ESF) e/ou unidades de saúde existam programas de educação
permanente em saúde. Além disso, os profissionais devem ter conhecimento das principais
intercorrências mamárias e demais complicações enfrentadas pelas mães durante a pratica
de amamentação para intervir precocemente (NORONHA et al., 2017).
Destaca-se à necessidade de conscientizar e incentivar a equipe de saúde sobre a
importância de orientar as gestantes e puérperas sobre amamentação e dar a apoio durante
à sua prática, levando sempre em consideração às particularidades de cada mulher e de sua
família, para que assim às dúvidas sobre aleitamento materno possam ser minimizadas e
às dificuldades com a prática de amamentação melhoradas. Vale ressaltar a importância da
rede de apoio às puérperas, principalmente quando elas necessitarem retornar ao trabalho.
O apoio à amamentação é, portanto, essencial para a saúde e desenvolvimento das
crianças, das mães e da sociedade. A provisão de salas de amamentação no local de trabalho
e a presença de ambientes apropriados de amamentação são intervenções de baixo custo
que podem contribuir para melhorara significativa da amamentação, o aumento da produ-
tividade no trabalho e a retenção de funcionários. Os Governos, empresas, sociedade civil
e famílias podem trabalhar juntos para proteger e facilitar esta prática e garantir o sucesso
da amamentação (UNICEF, 2020).
E por fim para assegurarmos a excelência na assistência do binômio mãe e filho durante
à amamentação é fundamental que seja estabelecida uma rede de apoio tanto profissional
quanto familiar e social, a fim de assegurar uma amamentação tranquila e bem sucedida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A paciente deve ser sempre o objetivo principal de uma equipe multiprofissional de


saúde, estabelecendo quais métodos e de que forma a abordagem será realizada, de acordo
com suas necessidades.
Todas as pessoas da equipe devem ser ouvidas. Nunca devemos sobrepujar as von-
tades de apenas uma pessoa na equipe. O grau de importância de todos os profissionais
da equipe deve ser o mesmo, pois às vezes resolvem-se problemas com uma observação
por vezes despretensiosa, que pode melhorar o desfecho da paciente e do parto normal.
A equipe multiprofissional deve agir com um único objetivo: o de ajudar.
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Para reflexão

Em uma maternidade, no setor do berçário, por um certo período de tempo observou-se


um aumento da mortalidade neonatal, aparentemente sem causa aparente ou diagnosticada
por médicos, utilizando-se de armas terapêuticas à disposição, como cultura de secreção e
exames de imagem e laboratório, sem, contudo, chegar a uma conclusão satisfatória.
O ambiente deste berçário era de derrota. Um lugar que para os pais representa a
esperança e o sucesso diante da adversidade, para os funcionários tornou-se um ambiente
de angústia e incertezas.
Tendo a consciência do clima adverso que estava trabalhando, uma funcionária da
limpeza, com humildade e educação, procurou a enfermeira responsável do setor, e quis
apenas tentar contribuir para ajudar e mudar essa situação.
Ela observou que os panos de limpeza do setor ficavam muito próximos às mamadeiras
administradas ao recém-natos, e achou que se fizessem uma separação adequada, talvez
pudesse ajudar na alimentação das crianças.
Mudança feita, e a taxa de mortalidade diminuiu sensivelmente, graças à vontade de
nossa funcionária muito observadora e, o principal: comprometida em ajudar.

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atencao_pre_natal_baixo_risco.pdf

151
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
10
Efetividade do programa de prevenção
e rastreamento de câncer de mama
no município de Caxias do Sul/RS

Júlia Nogara Jungs

Mérlim Fachini

Rossano Sartori Dal Molin

10.37885/210504843
RESUMO

Objetivo: avaliar a efetividade do programa de rastreamento do câncer de mama entre


os anos de 2007 a 2017 no Município de Caxias do Sul. Método: estudo quantitativo re-
trospectivo com abordagem descritiva, analisada base de dados secundários do programa
oficial de rastreamento do câncer de mama (VIGIMAMA). Resultados: verificou-se que
num total de 2.343 mulheres submetidas ao sistema de rastreamento oficial do município
apenas 1.083 dessas mulheres diagnosticadas com câncer de mama foram encaminhadas
ao tratamento dentro do prazo de 60 dias preconizado pela lei nº 12.732/2012 equivalen-
do a 46,22% dos casos. Conclusão: a realização de mais pesquisas, com enfoque na
efetividade dos programas de rastreamento do câncer de mama no prazo de 60 dias do
diagnóstico ao tratamento preconizado pela lei nº 12.732 de novembro de 2012, agregaria
aos órgãos de saúde com intuito de aprimorar a efetividade dos rastreamentos diminuindo
a morbimortalidade entre as mulheres com a doença.

Palavras-chave: Diagnóstico, Neoplasia da Mama, Papel do Profissional de Enfermagem,


Classificação, Prevenção e Controle.

153
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 (cem) doenças que têm em
comum o crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e órgãos,
podendo espalhar-se (metástase) para outras regiões do corpo. Entre os tipos de cânceres
que mais acometem as mulheres, podemos destacar o câncer de mama e o câncer de colo
do útero. O câncer de mama é uma doença causada pela multiplicação de células anormais
na mama, que formam um tumor. Há vários tipos de câncer de mama. Alguns tipos têm
desenvolvimento rápido, enquanto outros são mais lentos.1
Alguns fatores predispostos contribuem para o desenvolvimento do câncer de mama,
entre eles podemos destacar: idade, ambiente, comportamento, história reprodutiva, hor-
mônios, genes e hereditariedade. Casos de câncer de mama podem ser reduzidos se as
pessoas adotarem hábitos de vida mais saudáveis, tais como: atividade física, uma alimen-
tação saudável e com todos os nutrientes que o corpo precisa, manter o índice de massa
corporal conforme estatura, evitar consumo de bebidas alcoólicas e amamentar.2
A detecção pelo Sistema Único de Saúde (SUS) do câncer de mama é feita por meio
de programas de rastreamento, que recebem todas as mamografias de mulheres entre 50
e 69 anos. Conforme preconiza o Ministério da Saúde (MS), nessa faixa etária é feito o exa-
me de 2 em 2 anos, regularidade que também se aplica àquelas que possuem algum dos
fatores predispostos com indicação do profissional de saúde. Após a descoberta do câncer,
inicia-se o tratamento, respeitando o tipo e o grau de gravidade que ele possui. 3
Os programas de rastreamento são de extrema importância, uma vez que oportunizam
o diagnóstico precoce, conferindo à população feminina um maior e mais rápido acesso ao
tratamento adequado, diminuindo os índices de morte pela doença. Nesse sentido, o pre-
sente trabalho se faz relevante, uma vez que pretende avaliar a efetividade de um programa
de rastreamento de câncer de mama. Posto isso, a questão norteadora deste estudo é: o
programa de rastreamento de câncer de mama vigente no Município de Caxias do Sul é
efetivo, considerando o tempo entre diagnostico e consulta?
Tendo em vista esses pressupostos, bem como compreendendo a relevância do tema,
a motivação deste trabalho fundamenta-se na necessidade de analisar a efetividade do re-
ferido programa quando do rastreamento e prevenção do câncer de mama.
O presente artigo tem como objetivo avaliar a efetividade do programa de rastreamento
do câncer de mama entre os anos de 2007 a 2017 no Município de Caxias do Sul, esta-
belecer qual a faixa etária de maior prevalência entre as pacientes com exames alterados,
identificar qual o principal tipo de tratamento estabelecido diante do diagnóstico de câncer
de mama, determinar qual o tipo mais prevalente de lesão – BI-RADS, estimar o tamanho

154
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
de lesão mais prevalente nos exames alterados e descrever a atuação do enfermeiro nos
programas de rastreamento de câncer de mama.

MÉTODO

O presente estudo se classifica como uma pesquisa quantitativa retrospectiva com


abordagem descritiva.
O estudo foi desenvolvido na Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Caxias do Sul.
Este município tem uma população estimada de 504 mil habitantes.4
Foram exames realizados no programa de rastreamento, de usuárias residentes em
Caxias do Sul, no qual se utilizou de dados tabulados do programa oficial de rastreamento
do câncer de mama VIGIMAMA desenvolvido pela secretaria de saúde de Caxias do Sul
com intuito de monitorar pacientes que desenvolveram a doença. A pesquisa foi realizada
a partir da análise de dados secundários no período de 2007-2017 do programa de rastrea-
mento de Caxias do Sul.
Nesse banco de dados constam informações referentes ao número de exames reali-
zados, incluindo o número de exames que apresentam alterações, tipos de alteração e pro-
cedimentos a que as pacientes foram submetidas. A análise de dados foi feita por meio da
estatística descritiva e os resultados foram apresentados em números absolutos e relativos.
Por se tratar de um banco de dados secundários, sem a possibilidade de identificação
das pacientes, o presente projeto não foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em
Pesquisa. No entanto, os pesquisadores solicitaram ao responsável pelo núcleo técnico da
SMS a autorização para a realização da pesquisa (Apêndice B), bem como foi assinado
pelas pesquisadoras um termo de confidencialidade (Apêndice C), garantindo o sigilo das
informações e o uso exclusivo para fins acadêmicos.

RESULTADOS

No estudo foi identificado um total de 2.343 clientes submetidas ao sistema de ras-


treamento (VIGIMAMA) do câncer de mama no município de Caxias do Sul, sendo 1.083
dessas clientes encaminhadas ao tratamento do câncer de mama dentro do prazo de 60
dias preconizado pela lei nº 12.732 de novembro do ano 2012 equivalendo a 46,22% dos
casos, 1.073 dessas pacientes equivalendo a 45,8% dos casos, não foram submetidas a
tratamento dentro do prazo preconizado por múltiplos fatores, dentre esses fatores está o
tratamento na rede privada, e 187 clientes que equivalem a 7,98% dos casos com dados
inconsistentes no programa de rastreio.
Os dados do Gráfico 1 representam a faixa etária das clientes do programa de rastreio
do câncer de mama de Caxias do Sul. Neste estudo, foi possível notar que as pacientes
155
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
entre a idade 36-55 anos tiveram uma prevalência de 52% de casos de câncer de mama
equivalendo a 545 clientes.

Gráfico 1. Distribuição das clientes submetidas ao VIGIMAMA por faixa etária.

Fonte: próprio autor.

O Gráfico 2 apresenta os dados sobre os tratamentos que as clientes se submeteram,


o mais prevalente entre elas foi a biopsia associada equivalendo ao percentual de 16% entre
todas as 1.058 clientes, como foi analisado podemos notar que 52% dessas clientes estavam
com os dados inconclusivos, sendo assim não podendo ser mensurado corretamente essa
porcentagem dos tratamentos.

Gráfico 2. Distribuição das clientes submetidas ao VIGIMAMA por tratamento.

Fonte: próprio autor.

156
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Na análise do Gráfico 3 podemos identificar o grau de complexidade do câncer de
mama pelos tipos de BI-RARDS, o grau que possui mais prevalecia é o 4 equivalendo a
81% do total de 1.058 clientes.

Gráfico 3. Distribuição das clientes submetidas ao programa VIGIMAMA por BI-RARDS

Fonte: próprio autor.

O Gráfico 4 apresenta a análise dos dados sobre o tamanho dos nódulos que as clien-
tes possuíam, o mais prevalente entre elas foi o tamanho de 0,1-1,5 equivalendo a 10%
do total de 1058 clientes, podemos notar que 70% dessas clientes estavam com os dados
inconclusivos, sendo assim não conseguimos mensurar corretamente essa porcentagem
dos tamanhos dos nódulos.

Gráfico 4. Distribuição das clientes submetidas ao programa VIGIMAMA por tamanho dos nódulos cancerígenos.

Fonte: próprio autor.

157
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
DISCUSSÃO

Sabe-se que o programa de rastreamento do câncer de mama funciona de forma


preventiva e sistematizada, cujo o principal objetivo é diagnosticar o câncer em estágios
iniciais, uma das principais medidas disponíveis pelo sistema SUS que atua na diminuição
da morbimortalidade causa pela doença, no município de Caxias do Sul existe um programa
desenvolvido para esse monitoramento dessas pacientes que desenvolveram câncer de
mama, com o objetivo de diminuir a morbimortalidade causada pelo desfecho que o câncer
de mama acarreta nessas pacientes, leva o nome de VIGIMAMA.
Neste contexto, o presente artigo realizou um estudo com base em dados secundários
do programa oficial (VIGIMAMA) disponibilizados pela Secretária da Saúde do município de
Caxias do Sul, conforme a análise dos resultados verificamos que a efetividade garantida
por lei referente ao prazo de 60 dias entre a confirmação do diagnóstico e o tratamento do
câncer de mama nas clientes atendidas pelo programa de rastreamento VIGIMAMA instituído
no sistema SUS do município de Caxias do Sul, foi efetivo em 46,22% dos casos da doença
no período de 2007-2017, ou seja, outras 45,8% ficaram descobertas pelo sistema de ras-
treamento disponível no município por múltiplos fatores que foi impossibilitado ser analisado.
Decorrido cinco anos após a sua vigência, a lei que instituiu prazo máximo de 60 dias
do diagnostico ao tratamento do câncer (Lei 12.732 de novembro de 2012) não é cumprida,
segundo o ministério da saúde, o tempo médio é 81 dias, os índices de tratamento com
maior demora para cumprimento do prazo são os realizados para câncer de mama e de
próstata, com isso o ministério da saúde verifica possibilidades de melhora nos programas
de rastreamentos disponibilizados pelo governo.5
A mamografia é um método de imagem básico e imprescindível no diagnóstico de
câncer de mama e é reconhecido como técnica de rastreamento, por permitir sua detecção
precoce e consequente redução da taxa de mortalidade por esta doença.
O rastreamento do câncer de mama, cujo principal objetivo é diagnosticar a enfermi-
dade em estágios iniciais, é uma das principais medidas disponíveis para diminuição dessa
morbimortalidade. Nesse contexto, a mamografia – principal método para rastreio – mostrou,
em estudos estatísticos de ensaios clínicos randomizados, redução de ao menos 15% na
mortalidade pela doença.6
Com relação a faixa etária dos dados analisados pude notar que a que possuiu maior
prevalência de casos de câncer de mama foi de 36-55 anos, conforme diretrizes do minis-
tério da saúde referente a detecção do câncer de mama a faixa etária de predisposição
para desenvolver câncer de mama é entre 50-69 anos, ou seja, quanto maior a idade mais
predisposição ao câncer de mama existe, para minimizar a descoberta tardia do câncer nes-
ses pacientes foi estabelecido pelo ministério da saúde a realização de mamografia a cada
158
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
dois anos, e as pacientes são estimuladas a conhecer seu corpo, pois caso houver alguma
alteração, essa paciente saberá sinalizar o profissional da saúde para que ele possa pedir
o exame adequado para cada situação e faixa etária.1
Os sinais e sintomas do Câncer de Mama, que não devem ser ignorados incluem:
alterações do tamanho ou forma da mama; a vermelhidão, inchaço, calor ou dor na pele da
mama, nódulo ou caroço na mama, que está sempre presente e não diminui de tamanho,
inchaço e nódulos frequentes nas ínguas das axilas, assimetria entre as duas mamas, como,
por exemplo, uma muito maior que a outra, presença de um sulco, como se fosse um afun-
damento de uma parte da mama, endurecimento da pele da mama, semelhante à casca de
laranja, coceira frequente na mama ou no mamilo, formação de crostas ou feridas na pele
junto do mamilo, liberação de líquido pelo mamilo, especialmente sangue, inversão súbita
do mamilo e veia facilmente observada e crescente.7
O achado de nódulo palpável na mama ou no rastreamento mamográfico é fator de
impacto emocional para a maioria das pacientes, em parte pelo maior acesso às informa-
ções e campanhas de conscientização sobre o câncer de mama, cujo tratamento apresenta
efeitos negativos na imagem pessoal e na sexualidade.8
O tratamento mais predominante foi a biopsia associada a mastectomia ou setorectomia,
a biopsia inicial tem como objetivo a obtenção de material suficiente para o diagnóstico, sendo
a conduta menos invasiva, evitando procedimentos de excisão cirúrgica desnecessários em
lesões benignas para que não aconteça uma degradação estética na paciente. 9
Os tipos de mastectomia mais comum em tratamentos do câncer de mama são: mas-
tectomia radical que consiste na remoção total da mama incluindo a pele, músculos peitorais
maior e menor, associada a esvaziamento axilar completo, mastectomia radical modificada
consiste na remoção total da mama e linfonodos axilares nível I e II, preservando o músculo
maior e menor do peitoral.10
Mastectomia poupadora de pele pode ser realizada a partir de uma incisão no limite
externo da aréola. Esse tipo de abordagem permite também o acesso aos linfonodos axila-
res e a reconstrução do seio na mesma intervenção cirúrgica, oferecendo maior qualidade
estética. A mastectomia poupando o complexo mamilo areolar se caracteriza por preservar
a derme e epiderme do mamilo, porém os ductos maiores são removidos.9 Setorectomia
consiste na retirada de um setor da mama na qual está presente o tumor com uma margem
de tecido sadio.11 Utiliza-se atualmente o sistema BI-RADS® (Breast Imaging Reporting and
Data System®), principal referencial para a padronização e uniformização da prática mamo-
gráfica. Tendo em vista a importância e grande aplicabilidade deste sistema nos dias atuais.
Existindo a seguinte classificação 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 0 que é inconclusivo. Podemos verificar que
nesse estudo os BI-RADS com mais prevalência são o 4 são achados mamários suspeitos
159
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
para malignidade com subclassificações 4a=suspeita baixa, 4b= suspeita intermediária e
4c= suspeita moderada com estudo histopatológico como conduta e o 5 que são achados
mamários altamente suspeitos para malignidade com a conduta para ser realizado biopsia
ou cirurgia de imediato.12
O profissional de enfermagem exerce papel importante na prevenção da doença, de-
senvolvendo ações relacionadas ao rastreamento e detecção precoce do câncer de mama
e assistência de enfermagem às mulheres, orientando e informando quanto à importância
do exame preventivo, e ampliando o autoconhecimento e o autocuidado do público femini-
no. O controle do câncer de mama representa um dos grandes desafios para a saúde no
Brasil, o que torna evidente a necessidade de políticas públicas voltadas para o diagnóstico
precoce envolvendo não somente os profissionais de saúde, como também sensibilizando
as próprias mulheres quanto ao papel fundamental do autoexame. O papel da enferma-
gem é de suma importância na saúde pública, levando a prevenção, promoção e recupe-
ração da saúde.13
O enfermeiro é um profissional fundamental nessa etapa de diagnóstico precoce, pois
sabe orientar as mulheres quanto à realização correta do autoexame das mamas, como
também atua de forma significativa no programa de rastreamento de seu serviço. Importante
destacar que negligenciar alguma das etapas de rastreamento influencia negativamente
em todo o processo, uma vez que, diagnosticado precocemente, o câncer tem muito mais
chances de cura.14
Acredita-se que o papel do enfermeiro na prevenção e rastreamento do câncer de
mama é de extrema importância, pois na consulta de enfermagem há a formação do vínculo
com a paciente, conseguindo assim realizar o exame físico com intuito de observar se há
algo diferente nas mamas ou abaixo da axila. E também pode-se realizar um trabalho de
educação em saúde orientando e ensinando a importância do autoconhecimento das mamas
realizado corretamente em casa como forma de prevenção e explicando a importância da
mamografia para o diagnóstico correto caso detecte uma anormalidade quando realizado o
autoconhecimento das mamas, ou quando a paciente já se encontra em idade preconizada
pelo ministério da saúde para a realização da mamografia.
Conforme legislação número 7.498/86, decreto regulamentador 94.406/87 e instrução
normativa de Caxias do Sul nº 11/2017 o profissional de enfermagem poderá prescrever ma-
mografia de rastreamento, cuja as pacientes possuírem alguma anormalidade no momento
do exame clinico das mamas, se possuírem a idade preconizada pelo ministério da saúde
ou havendo indicação de risco elevado pra obter a neoplasia da mama sendo justificado
pelo profissional de saúde no momento da consulta, possibilitando o diagnóstico precoce da

160
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
neoplasia e tratamento correto para cada caso individualmente, diminuindo assim os índices
de morbimortalidade em pacientes que desenvolvem a neoplasia.

CONCLUSÕES

O presente estudo apresenta algumas limitações, inerentes ao uso de dados secun-


dários da base do VIGIMAMA, tais como, fragilidade na coleta de informações sobre as
pacientes, dados insuficientes, pacientes que não possuíam informações suficientes se
fizeram ou não o acompanhamento de todo processo pelo programa de rastreamento, fi-
cando “perdidas” no sistema sem essas informações que são de extrema importância para
conseguirmos mensurar a efetividade do programa no município de Caxias do Sul.
Os profissionais de enfermagem são de extrema importância nesse processo de saúde –
doença, pois realizam um trabalho de educação e saúde, identificado fragilidades na usuária,
fatores que podem vir a predispor a desenvolver o câncer de mama. Abordando-a com mais
cordialidade no momento do exame estático das mamas realizado nas consultas de enfer-
magem, explicando o porquê da realização pela própria mulher no seu domicilio. Na hora da
descoberta do câncer de mama, mantendo a mulher mais tranquila, informando as condutas
que serão tomadas a partir daquele momento e frisando a importância da mulher continuar
o acompanhamento pelo sistema único de saúde ou se a mulher preferir migrar para rede
privada, mas sempre mantendo um vínculo com a usuária para que ela confie no funcio-
namento do sistema de rastreamento do câncer de mama e nos profissionais da saúde.
Concluiu-se que, é necessária a realização de mais pesquisas, com enfoque na efetividade
dos programas de rastreamento do câncer de mama no prazo de 60 dias do diagnóstico ao
tratamento preconizado pela lei nº 12.732 de novembro de 2012, com isso agregaria co-
nhecimento aos órgãos de saúde com intuito de aprimorar a efetividade dos rastreamentos
diminuindo a morbimortalidade das pacientes que desenvolvem essa patologia.

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
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162
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
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163
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
11
Epidemiologia e fatores de risco
associados ao câncer de ovário: uma
revisão integrativa

José Aderval Aragão Eduarda Santana dos Santos


UFS/UNIT UNIT

Fernanda Vieira Santos Moreira Marília Souza Alves Gois


UNIT UNIT

Ana Monize Ribeiro Fonseca Natália Araújo Barreto


UNIT UNIT

Brunna Karolyne Souza Hora Francisco Prado Reis


UNIT UNIT

10.37885/210404258
RESUMO

O câncer de ovário é o oitavo câncer mais incidente entre as mulheres no mundo e


possui a maior taxa de mortalidade entre as neoplasias ginecológicas. Devido a sua
prevalência e desenvolvimento silencioso, torna-se importante discorrer sobre o perfil
epidemiológico e os fatores de risco dessa neoplasia. Possibilitando, assim, o desenvol-
vimento de medidas preventivas e a sua detecção precoce. Desse modo, observando a
alta taxa de mortalidade por câncer de ovário, o presente estudo buscou reconhecer os
fatores de risco que implicam no desenvolvimento dessa neoplasia, com o objetivo de
contribuir com dados sobre como prevenir, para sua prevenção, reduzir sua incidência
e prever um melhor prognóstico. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, feita
em abril de 2021, utilizando artigos indexados na base de dados do Pubmed/Medline
a respeito do tema. Foi possível verificar que o aumento dos fatores de risco do câncer
levou ao aumento da incidência e mortalidade do câncer de ovário. Vários fatores afetam
a ocorrência desse câncer, sendo o fator genético um dos mais importantes. Destacam-
se também os fatores de riscos modificáveis relacionados ao estilo de vida e aos fatores
ambientais. A gravidez, lactação e os anticoncepcionais orais representam fatores de
redução do risco dessa doença. Ao final, concluímos que embora alguns fatores de
riscos sejam inalteráveis, o foco naqueles evitáveis pode
​​ reduzir o risco de câncer de
ovário. Ademais, mais estudos são necessários para explorar o papel de fatores de risco
controversos na ocorrência desta neoplasia.

Palavras- chave: Câncer de Ovário, Fatores de Risco, Epidemiologia, Estilo de Vida,


Hormônios Gonadais.

165
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

O câncer de ovário é o oitavo tipo de câncer mais incidente entre as mulheres no mun-
do. No Brasil, ocupa a segunda posição e sua incidência varia de acordo com a localização
territorial (INCA, 2019). Embora a incidência seja maior em países desenvolvidos, a taxa de
mortalidade tende a ser inversa (MOMENIMOVAHED et al., 2019). Ademais, devido ao seu
caráter silencioso, possui uma elevada mortalidade, sendo responsável por 4,2% de toda a
mortalidade por câncer entre as mulheres (FERLAY et al., 2021). Essa elevada frequência
de morte pode estar relacionada com o tipo de célula ovariana atingida, onde o epitelial é o
mais incidente e também de pior prognóstico (MOMENIMOVAHED et al., 2019).
Embora o risco de uma mulher desenvolver um câncer de ovário seja maior naquelas
com histórico familiar desse tipo de câncer ou de mama, cerca de 10% dos casos tem um
componente genético. Esses casos, em regra, estão relacionados a um risco maior de mu-
tações gênicas. Fatores genéticos mostram-se fortes para predisporem ao surgimento do
câncer ovariano, principalmente aqueles associados às mutações dos genes breast cancer
1 e 2 - BRCA1 e BRCA2 (TEIXEIRA et al., 2018). Além da susceptibilidade genética, hábi-
tos de vida e exposições a fatores ambientais podem influenciar no desenvolvimento de um
câncer de ovário. Do ponto de vista ginecológico, taxas hormonais, infertilidade, doenças
infecciosas do aparelho genital feminino, histórico prévio de neoplasias também são adicio-
nados aos múltiplos fatores de riscos que podem favorecer a manifestação do câncer de
ovário (USSET et al., 2016).
Desse modo, observando a alta taxa de mortalidade por câncer de ovário, o presente
estudo buscou reconhecer os fatores de risco que implicam no desenvolvimento dessa neo-
plasia, com o objetivo de contribuir com dados sobre como prevenir, para sua prevenção,
reduzir sua incidência e prever um melhor prognóstico.

MATERIAIS E MÉTODOS

Estratégia de pesquisa: A base de dados eletrônica PubMed/MEDLINE foi utilizada


para a pesquisa de estudos relevantes que investigaram dados epidemiológicos e fatores de
risco associados ao câncer de ovário. No início da pesquisa, 4.736 artigos foram encontrados
após o uso dos seguintes descritores: ovarian neoplasms; epidemiology; risk factors; syste-
matic review; integrative review, sendo que o operador booleano “AND” foi aplicado para os
três primeiros descritores e o operador booleano “NOT” aplicado para os dois últimos. Após
a aplicação dos filtros (publicados nos últimos 5 anos, nos idiomas português e inglês) foram
selecionados 896 artigos, destes, 2 foram excluídos por estarem duplicados e outros 693
foram descartados por não atenderem ao tema. Foram selecionados 201 artigos para verificar
166
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
a elegibilidade para a pesquisa por meio da leitura do texto na íntegra. Ao final da leitura, 72
artigos foram escolhidos para o estudo e 129 artigos excluídos após a aplicação dos critérios
de inclusão/exclusão. Os resultados da busca estão representados no fluxograma 01.
Critérios de Inclusão e Exclusão: Os critérios de inclusão foram os seguintes: es-
tudos publicados nos últimos 5 anos que abordassem epidemiologia e os fatores de risco
do câncer de ovário, incluídos apenas estudos com texto completo disponível nos idiomas
português e inglês, que contemplassem o objetivo específico da presente revisão. Foram
excluídos artigos repetidos, e aqueles que não atendiam ao tema específico.

Fluxograma 01. Processo de seleção dos artigos

RESULTADOS E DISCUSSÃO

EPIDEMIOLOGIA

O câncer de ovário é o oitavo tipo de câncer mais incidente entre as mulheres no mundo
e a segunda neoplasia ginecológica mais comum no Brasil, atrás apenas do câncer de colo
de útero. Em 2020, foram notificados 313.959 casos de câncer de ovário, que correspondem
167
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
a 3,4% de todos os casos de câncer em mulheres (FERLAY et al., 2021). De acordo com
dados da Surveillance Epidemiology, and End Results Program (SEER, 2019), aproxima-
damente 1,3% das mulheres nos Estados Unidos (EUA) serão diagnosticadas com essa
neoplasia em algum momento de suas vidas.
No Brasil, a incidência do câncer de ovário varia conforme as diferentes regiões; descon-
siderando os tumores de pele não melanoma, o câncer de ovário é o sétimo mais frequente
nas Regiões Nordeste e Norte, com um risco estimado de 5,67/100 mil e de 3,28/100 mil,
respectivamente. Nas Regiões Sudeste (7,01/100 mil) e Centro-Oeste (5,09/100 mil), ocupa
a oitava posição e, na Região Sul (7,06/100 mil), a nona (INCA, 2019).
No mundo, sua incidência é maior entre os países desenvolvido e com alto Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH). As maiores taxas de incidência estimadas foram observadas
nos países europeus (centro e norte) e na América do Norte (BRAY et al., 2018). No entanto,
devido às diferenças no acesso aos serviços diagnósticos e terapêuticos, a mortalidade da
neoplasia de ovário tem um padrão diferente, sendo maior na Índia e em mulheres africanas
(MOMENIMOVAHED et al., 2019).
O câncer de ovário é uma neoplasia que apresenta alta mortalidade, ocupando o quin-
to lugar em mortes por câncer entre as mulheres. Nos Estados Unidos é responsável por
mais mortes do que qualquer outro câncer do sistema reprodutor feminino (FERLAY et al.,
2021). Isso é resultado de seu caráter assintomático na maioria dos casos, o que faz com
que seja diagnosticado com mais frequência em estágio avançado, tornando-o assim como
o câncer de malignidade ginecológica mais letal (ZHANG et al., 2019). Em 2020, 207.252
mortes em todo mundo ocorreram devido ao câncer de ovário, representando 4,2% de toda
a mortalidade relacionada ao câncer entre as mulheres (FERLAY et al., 2021).

TIPOS HISTOLÓGICOS DO CÂNCER DE OVÁRIO

Entre as neoplasias ovarianas malignas, as de origem epitelial são as mais frequentes


(90% dos casos) e são classificadas conforme o tipo celular: seroso, mucinoso, endome-
trióide, de células claras, de células transicionais e indiferenciados. Os carcinomas serosos
são os mais comuns, correspondem à aproximadamente 70% dos carcinomas do ovário e
são divididos em dois subtipos: alto grau e baixo grau (MOMENIMOVAHED et al., 2019).
Já os não epiteliais, representam menos de 10% de todos os cânceres de ovário, po-
dendo ser originados de células germinativas ou de células estromais. São menos invasivos,
e possuem uma incidência relativamente alta em mulheres jovens (principalmente os de
células germinativas), e são altamente tratáveis por quimioterapia, com grande progresso
nas últimas décadas (LA VECCHIA, 2017).

168
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
FATORES DE RISCO PARA O CÂNCER DE OVÁRIO

RELACIONADOS AO ESTILO DE VIDA

Dentre os fatores de risco relacionados ao estilo de vida, destaca-se a obesidade. O au-


mento do risco pode ser explicado pelas maiores taxas de conversão de precursores an-
drogênicos do estradiol, por meio de aumento da atividade da enzima aromatase no tecido
adiposo. O estrogênio atua como um mitogênico nas células epiteliais ovarianas, e sua ele-
vação tem sido relacionada com o desenvolvimento do câncer epitelial de ovário (RENEHAN
et al., 2008; CRAIG et al., 2016).
Também as adipocitocinas, incluindo as interleucinas (IL), IL-5, IL-6, IL-10, IL-12, IL-13,
leptina, proteína C reativa (PCR), interferon-gama (IFN-γ), proteína quimiotáctica de mono-
citos-1 (MCP-1) e o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), tem sido de grande importância
na mediação das respostas imunes de indivíduos obesos, e estão associadas à ocorrência
de diversos tipos de neoplasias, especialmente do câncer de ovário (CRAIG et al., 2016).
O estudo britânico, Million Women Study, acompanhou 1,2 milhão de mulheres por
câncer de ovário, com idade entre 50 a 64 anos, por 5,4 anos para incidência e 7,0 anos
para mortalidade. Esse estudo demonstrou que mulheres com índice de massa corporal
(IMC) maior que 25 (IMC> 25) tiveram uma incidência maior de câncer epitelial de ovário
quando comparadas com mulheres com IMC normal. Foi ainda relatado que a obesidade
também esteve associada a uma diminuição na sobrevida geral e especificamente de mu-
lheres com câncer de ovário (REEVES et al., 2007). Tendo sido concluído que esse fator de
risco contribuiu também para um acúmulo contínuo de risco ao longo da vida, favorecendo
o desenvolvimento de outras doenças associadas.
RENEHAN et al., (2008), verificaram que a maior relação cintura-quadril (RCQ) também
estava associada ao aumento de risco do câncer de ovário. Inferiram então, que a RCQ pode
fornecer uma estimativa mais precisa da adiposidade visceral verdadeira e, portanto, do risco
de câncer relacionado à obesidade. No entanto, poucos estudos relatam essa medida para
permitir uma análise abrangente dessa associação.
Diferente da obesidade, foi demonstrado em uma meta-análise com 34 estudos, que a
prática de atividade física, é inversamente proporcional ao risco de desenvolver câncer de
ovário. Outrossim, foi observado que a prática de atividade física de moderada intensidade
por pelo menos duas horas por semana é mais eficaz para a redução desse risco. Em con-
trapartida, o tempo sentado por dia, quando maior que 3 horas, aumenta o risco de desen-
volver a doença (LEE, 2019).
Ainda relacionado ao estilo de vida, vários estudos têm sido conduzidos explorando a
associação entre fatores dietéticos e câncer de ovário com resultados inconsistentes. Em um
169
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
estudo de caso-controle, de base populacional no Canadá, mostrou que o risco dessa doen-
ça está associado a uma maior ingestão de gordura e este risco é reduzido pelo consumo
de vegetais, suplemento vitamínico, beta-caroteno e vitaminas do complexo B (PAN et al.,
2004). Embora haja evidências crescentes ligando a inflamação à carcinogênese ovariana,
até o momento não houve pesquisa sobre o papel que o potencial inflamatório desempenha
como fator de risco (SHIVAPPA et al., 2016).
Em relação a vitamina D, foi relatado que uma diminuição nos níveis séricos de concen-
tração de hidroxivitamina D (25(OH)D) aumenta também o risco de câncer epitelial de ovário
em cerca de 30% em mulheres com ancestrais europeus, bem como uma maior associação
ao carcinoma seroso de alto grau (ONG, et al., 2021).
Quanto a hipótese da relação com o consumo de álcool pela supressão da metilação
de ácido desoxirribonucleico (DNA) derivados de leucócitos e sua influência no desenvol-
vimento, e na progressão do câncer epitelial de ovário (CEO), é que a metilação do DNA
mensageiro (DNAm) pode atuar como um importante mediador causal do consumo de álcool
no desenvolvimento do câncer. Porém, até o presente, nenhum marcador epigenético foi
identificado, nem há evidência direta desses locais de metilação associados à ocorrência
do câncer. Embora o efeito causal direto do consumo de álcool sobre o risco seja difícil de
ser estabelecido, é possível que o consumo de álcool modifique os níveis de DNAm, o que
pode afetar ainda mais o risco de CEO (WU, et al., 2018).
Embora tenha diminuído o número de mulheres fumantes, na maior parte do mundo
ocidental, este hábito ainda é comum em diversos países sul americanos. E como o tabagis-
mo é considerado um dos fatores de risco no desenvolvimento do câncer epitelial de ovário,
sua associação com tumores ovarianos mucinoso é muito forte, porém nenhuma associação
tem sido com o tipo seroso (LOMBARDI, et al., 2011). Será necessário em futuros estudos
investigar melhor a ligação potencial entre tabagismo e câncer de ovário. Isso deverá levar
a produzir uma melhor avaliação da exposição dos individuos ao tabagismo, observando
um maior número de participantes, o que possivelmente permitirá obter melhorar o conhe-
cimento e a capacidade para detecção de associações dentro dos demais histotipos padrão
de câncer epitelial de ovário como os mucinosos, endometrióides e o de células claras de
ovário (PRAESTEGAARD, et al., 2017).

AMBIENTAIS E SOCIAIS

Fatores de riscos ambientais influenciam na maioria dos cânceres. No câncer de ovário


não é diferente. O ar poluído em áreas industriais, tem aumentado o risco de neoplasias de
ovário em mulheres que habitam nas proximidades dessas áreas. AYUSO-ÁLVAREZ et al.,
(2020), analisaram e determinaram que no raio de distância de até 5 quilômetros (Km) de
170
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
proximidade às instalações industriais, seria capaz de tornar um risco de desenvolver câncer
de ovário e causar um número significativo de mortes.
Indústrias específicas de produtos químicos ou explosivos estavam associadas a uma
maior mortalidade para este tipo de câncer, visto que funcionários que trabalhavam em fá-
bricas de papel e celulose compartilharam um risco maior de câncer de ovário (LANGSETH
et al., 1999; SOSKOLNE, et al., 2010; HANCHETTE et al., 2018).
Sobre os fatores sociais, existe uma maior prevalência do câncer entre mulheres que são
isoladas socialmente do que mulheres mais inclusas. Este fato pode ser explicado pela razão
de que mulheres que são incluídas socialmente são mais motivadas a adquirir comportamen-
tos saudáveis, como evitar o tabagismo e o alcoolismo (TRUDEL-FITZGERALD et al., 2019).
A exposição ao estresse é considerado outro fator de risco muito relevante, para a ocor-
rência do câncer de ovário, o estresse foi identificado como um acelerador do crescimento
tumoral. Nesses modelos, foi indicado que o efeito carcinogênico do estresse estava envolvido
com a ligação entre catecolaminas e os receptores β-adrenérgicos. A noradrenalina, ligada
a esses receptores, é capaz de ativar a inflamação e angiogênese em tumores ovarianos.
Ademais, o estresse ativa vias de sinalização que reduzem a apoptose, ao mesmo tempo
que aumenta o tamanho do tumor (KANG et al., 2016; ROBERTS et al., 2019).
Mulheres com ansiedade, depressão e principalmente transtorno de estresse pós-trau-
mático (TEPT) estão associadas a um maior risco de câncer de ovário (HUANG et al., 2015;
POOLE, et al., 2016). Em um estudo de coorte longitudinal, com 26 anos de seguimento,
onde foram utilizados dados do Nurses Health Study II, realizado de 1989 a 2015 com 54.710
mulheres, foi observado um risco duas vezes maior de câncer de ovário nas mulheres com
sintomas elevados de TEPT, em comparação àquelas que nunca foram expostas a eventos
traumáticos (ROBERTS et al., 2019).

GENÉTICOS

O fator de risco mais importante para câncer de ovário é uma história familiar de câncer
de mama ou de ovário (TORRE, et al., 2018). Os resultados de um estudo caso-controle, na
Itália, mostraram que o risco de câncer de ovário aumenta em mulheres com histórico familiar
de mãe ou irmã com câncer de mama, útero ou ovário. O risco dessa neoplasia também
aumentou em mulheres com história familiar de câncer de estômago, intestino, pulmão e
linfomas (NEGRI, et al., 2003).
As variantes são herdadas de forma autossômica dominante, mais frequentemente
associadas à mutação do BRCA1 e BRCA2. A prevalência dessas mutações, na população
em geral varia de 1/400 a 1/800, mas pode chegar a 1/40 em mulheres judias de Ashkenazi

171
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
(WALKER, et al., 2019). Esse risco aumenta ao longo da vida, podendo variar de 31-59%
no BRCA1 e de 6-18% no BRCA2 (TEIXEIRA, et al., 2018).
Desse modo, o risco de câncer de ovário começa a aumentar acima do risco populacio-
nal após os 40 anos em mulheres com BRCA1 e após os 50 anos em mulheres com BRCA2
(WALKER, et al., 2019). Além disso, uma série de estudos também avaliaram a prevalência
das variantes BRCA1 e BRCA2 da linha germinativa no câncer de ovário. Em um estudo
realizado no leste da Inglaterra (estudo GTEOC), a prevalência de câncer de ovário foi maior
entre os tipos de origem serosa de alto grau, já o endometrióide foi baixo, aumentando para
12% em mulheres diagnosticadas com idade inferior a 70 anos, e caiu para 1% em ≥ 70
anos (MORGAN, et al., 2019).
Todavia, uma possível correlação genótipo-fenótipo foi relatada. Mutações nas regiões
centrais parecem estar associadas a uma maior incidência de câncer de ovário e foram
denominadas “regiões de cluster de câncer de ovário” (RCCO). Ainda não está claro se é
pela posição de mutação ou por uma interação entre risco genético e ambiental (TEIXEIRA,
et al., 2018). Em outro estudo, FRIEBEL, et al., (2014), relataram que a história familiar do
câncer de ovário estava associada com aumento dos riscos em familiares com BRCA1,
no entanto, não era mais significativa após tomar a posição da mutação em consideração.
Para mulheres, com história familiar de BRCA2, esse era um preditor de risco para câncer
de ovário independentemente da posição de mutação.
Outrossim, foi observado uma associação entre a presença do câncer de ovário e a
síndrome de Lynch, que também envolve a predisposição autossômica dominante a câncer
colorretal, câncer de endométrio e outros. Essas situações ocorrem devido a uma mutação
hereditária em um dos quatro genes de reparo de incompatibilidade (mutL homólogo 1- MLH1;
mutS homólogo 2 - MSH2; mutS homólogo 6 - MSH6 e segregação pós-meiótica 2 - PMS2),
sendo MSH2 e MLH1 as mais comuns nesses indivíduos (HELDER-WOOLDERINK, et al.,
2016). Em alguns casos, está ligado a deleções germinativas no gene EPCAM (Molécula
de Adesão Celular Epitelial), que indiretamente silenciam o gene MSH2 (FERRAZ, et al.,
2014). Os subtipos mais comuns de câncer de ovário nessas pessoas são os cânceres de
ovário endometrióide e de células claras (MOMENIMOVAHED, et al., 2019).

HORMONAIS

Atualmente, o uso de anticoncepcionais orais (ACOs) é muito bem frequente entre as


mulheres de idade reprodutiva. Na pós-menoapusa, a terapia hormonal (TH) também mostra
benefícios para reduzir sintomas do climatério. O uso de terapias hormonais em relação ao
risco de câncer de ovário depende do tipo de terapia e da sua duração (SHAFRIR et al.,
2017; LEE et al., 2020).
172
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
A terapia com ACOs é considerada um fator protetivo para a neoplasia de ovário. A re-
dução do risco é cerca de 30% em comparação com mulheres que nunca usaram (BERAL
et al., 2008; SHAFRIR et al., 2017). A teoria mais aceita para explicar o motivo deste risco
reduzido é a hipótese da ovulação. No momento da ovulação, ocorre a ruptura do folículo
com sua liberação. Dessa maneira, o ovário sofre um trauma que mais tarde leva a sua
cicatrização, expondo os ovários e as tubas uterinas a fatores hormonais e inflamatórios,
condições estas que aumentam a possibilidade de acontecer uma mutação e originar uma
malignidade. Assim, quando a paciente está em uso de ACOs, a progesterona, isoladamen-
te, inibe a secreção de hormônio luteinizante (LH), cujo pico, é necessário para que ocorra
a rotura folicular, logo, ela sozinha é capaz de impedir a ovulação. Enquanto o estrógeno,
individualmente, age impedindo a secreção do hormônio folículo estimulante (FSH) e con-
sequentemente, impossibilita a formação do folículo dominante. O estrogênio sozinho não é
capaz de impedir a ovulação, porém quando combinado a progesterona, ele potencializa a
ação desta que possuem um efeito sinérgico na inibição da ovulação (SHAFRIR et al., 2017).
Há outros mecanismos indiretos que podem influenciar no menor risco de câncer de
ovário, como é o caso a redução da produção de andrógenos pelo uso de ACOs, e estes
estão associados a um aumento de risco de câncer de ovário (RISCH, 1998; SHAFRIR et al.,
2017). Estudos afirmam que a duração do uso de ACOs é inversamente proporcional ao
risco de neoplasia ovariana (LEE et al., 2016; SHAFRIR et al., 2017). Em uma análise de
45 estudos de coorte e caso-controle, realizado por SHAFRIR et al., (2017), estes autores
constataram que o uso de ACOs por 10-14 anos, implicaria em uma redução de 45% no
risco de câncer de ovário em comparação com aquelas mulheres que não usavam, enquanto
as que faziam uso de ACOs por 15 anos ou mais essa redução foi de 58% (BERAL et al.,
2008; SHAFRIR et al., 2017).
Com relação à terapia isolada com estrógeno (TE), utilizada na pós-menopausa, esta
provoca um maior risco da neoplasia de ovário, especificamente nos tipos histológicos sero-
sos e endometrióides. Embora o mecanismo exato para tal ocorrência ainda não esteja muito
esclarecido, os estrogênios têm sido considerados como principal etiologia na carcinogênese
ovariana (LEE et al., 2016). Por exemplo, o carcinoma seroso tipo celular se prolifera nos
períodos de maiores influências estrogênicas durante o ciclo menstrual, e esta proliferação
aumenta o risco de mutações e de futuras malignidades (LEE et al., 2016; GEORGE et al.,
2012). In vitro, o estradiol também mostrou aumentar a proliferação de células canceríge-
nas do ovário (NASH et al., 1989; LEE et al., 2016). Uma análise feita em 2126 mulheres,
sendo 906 com carcinoma de ovário, incluindo também dez estudos de caso-controle de
base populacional do Ovarian Cancer Association Consortium (OCAC), cujo o objetivo era
avaliar fatores de risco em comparação com os grupos controles, concluíram que o uso
173
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
de TE por longa duração (10 anos ou mais) aumentava o risco de câncer em quatro vezes
(LEE et al., 2016).
Outro grupo de hormônios cujo envolvimento é especulado na carcinogênese ovariana,
são os andrógenos. Sobre eles, estudos associam esta relação com seu potencial de estimu-
lar um aumento na proliferação celular e redução da apoptose (RISCH, 1998; EDMONDSON,
et al., 2002). Em uma análise de estudos de coorte, foi verificado que níveis mais elevados
de testosteronas estavam associados a um aumento do risco de câncer de ovário para os
subtipos histológicos endometrióides e mucinosos (OSE et al., 2017; TRABERT et al., 2019).
Em vista disso, é possível concluir que os hormônios de influenciam de formas distintas
em cada subtipo histológico do câncer ovariano, circunstância que apoia a hipótese de existir
diferentes etiologias para cada subtipo (LOKKEGAARD et al., 2018).

REPRODUTIVOS

A tendência mundial relacionada ao aumento da incidência de câncer de ovário pode


ter múltiplas etiologias, que atuam por meio de múltiplos mecanismos com diferentes mag-
nitudes. Sendo assim, ao examinar as correlações de câncer de ovário com a fertilidade,
foi constatado que a baixa fertilidade influência negativamente para esse risco (YOU et al.,
2018), aumentando em mulheres que ovulam menos ao longo da vida, seja, pela própria
infertilidade ou no uso de ACOs no controle da natalidade.
Outro fator protetivo envolvido no câncer de ovário é a paridade. Em um estudo realiza-
do com um total de 1.144.762 mulheres, algumas delas nulíparas ou com gestação prévia,
foi observado um excesso de risco geral de 24% de câncer de ovário entre as mulheres
nulíparas em comparação com as mulheres com apenas um filho (GAITSKELL et al., 2018).
Dessa forma, as hipóteses que permeiam esses fatos incluem as possibilidades de que a
gravidez atue interrompendo o ambiente pró-inflamatório da ovulação incessante modificando
o ambiente hormonal ou eliminando as células pré-malignas do ovário.
Em relação a duração da gravidez, foi observado que o parto prematuro, na última
gravidez de uma mulher, estava associado a um risco aumentado de câncer de ovário, ou
seja, quanto mais curta a gravidez, mais forte a associação (SKÖLD et al., 2018).

DOENÇAS GINECOLÓGICAS

É sugerido que os tumores ovarianos benignos podem atuar como precursores do


câncer ovariano. Essa hipótese é fortalecida pela ocorrência de ambos compartilharem os
mesmos fatores de risco na sua etiologia (JORDAN, et al., 2007; GULERIA, et al., 2019).
GULERIA, et al., (2019) apontaram que, as mulheres com tumores ovarianos benignos, não
tinham risco aumentado de câncer epitelial de ovário, contudo, possuíam duas vezes mais 174
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
riscos de adquirir câncer de ovário do tipo mucinoso. Este risco se mantém independen-
temente da idade da paciente e permanece por até 20 anos após o diagnóstico do tumor
ovariano benigno.
Em um estudo de caso-controle, foi constatado que mulheres com cistos ovarianos
benignos que não foram removidos, também estavam associadas a um risco aumentado de
carcinoma ovariano (ROSSING, et al., 2008; GULERIA, et al., 2019). Sobre os outros sub-
tipos histológicos, não foi observada nenhuma relação clara, apenas no caso de mulheres
jovens com diagnóstico de tumores benignos que compartilham com maior risco de câncer
de ovário do tipo seroso (GULERIA, et al., 2019).
Os mecanismos envolvidos na possibilidade de transição de tumores benignos para
malignos não são muito bem esclarecidos, mas existe uma teoria propondo que, assim
como em outras zonas de transição, como a zona gastresofágica, as áreas de transição do
epitélio ovariano para o tubário, também representa uma zona de alta suscetibilidade para
desenvolvimento de neoplasias (AUERSPERG, et al., 2008; GULERIA, et al., 2019).
Infecções e inflamação são fatores etiológicos bem estabelecidos para vários tipos de
câncer e estima-se que contribuam para o desenvolvimento de até 25% de todos os casos
de câncer em todo o mundo. A Doença Inflamatória Pélvica (DIP) é uma inflamação induzida
por infecção do trato genital superior, incluindo o útero, as trompas de Falópio, os ovários e
o peritônio pélvico, causada por patógenos ascendentes do trato genital inferior. De acordo
com o estudo de coorte de base populacional em 1.318.929 mulheres na Dinamarca durante
os anos de 1978-2012, para investigar a associação entre DIP e risco de câncer de ovário,
concluíram que havia um risco estatisticamente significativo de câncer de ovário seroso entre
mulheres com DIP (RASMUSSEN et al., 2017).
Outros fatores de riscos estão associados ao câncer de ovário, como é o caso síndrome
dos ovários policísticos (SOP) (HARRIS et al., 2018), da endometriose que é caracterizada
pela presença de tecido endometrial fora da cavidade uterina. Sua relação com o câncer de
ovário, remete ao fato de que o diagnóstico de endometriose em idade avançada (≥45 anos)
está associado a um risco aumentado de carcinoma epitelial de ovário entre mulheres com
endometriose (HE et al., 2017).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O câncer de ovário é um dos principais cânceres ginecológicos e mata muitas mulheres


em todo o mundo, com taxa de mortalidade maior nos países subdesenvolvidos. Ademais,
o aumento dos fatores de risco relacionados ao câncer, culminou no aumento da incidência
e mortalidade do câncer de ovário.

175
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Os estudos citados após esta revisão integrativa mostraram que vários fatores afe-
tam a ocorrência do câncer de ovário, dos quais fatores genéticos, ambientais e de estilo
de vida estão entre os mais importantes. Outros fatores, como gravidez, lactação e uso
de anticoncepcionais orais, desempenham um papel na redução do risco dessa doença.
Contudo, existem fatores que ainda são controversos, a exemplo do álcool e do tabagismo,
necessitando, portanto, de estudos mais aprofundados.
Por fim, considerando a relevância do câncer de ovário na saúde da mulher, o reco-
nhecimento desses fatores de riscos é de suma importância para a redução da incidência
e da alta taxa de mortalidade. Embora alguns fatores de risco não possam ser alterados, o
foco em fatores de risco evitáveis ​​poderão reduzir o risco de câncer de ovário.

REFERÊNCIAS
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
12
Exames laboratoriais para
acompanhamento do pré-natal e
a fisiopatologia da gestação: uma
revisão narrativa

Andréa Fernanda Lomba Santos Carolina Pires Ferreira


UFVJM UFVJM

Amanda Aparecida Silva Cruz Isabela Cristina Moreira Souza


UFVJM UFVJM

Mateus Flávio Sousa Fabiana Angélica de Paula


UFVJM UFVJM

Mayara Dumont Cunha Helisamara Mota Guedes


UFVJM UFVJM

10.37885/210303919
RESUMO

A assistência de qualidade durante o pré-natal é de grande importância, pois com ela po-
de-se evitar complicações materno-fetais e até mesmo o óbito. A assistência no pré-natal
é realizada na rede de Atenção Primária à Saúde que é considerada a porta de entrada
das gestantes aos serviços de pré-natal. Esta rede busca acolher a mulher, garantindo o
bem-estar durante e após a gestação. O estudo teve como objetivo abordar os exames
laboratoriais solicitados durante o pré-natal, com ênfase na fisiopatologia e implicações
materno-fetais. Trata-se de uma revisão narrativa, onde foram analisados estudos pu-
blicados nas línguas portuguesa e inglesa. Foram descritos segundo a fisiopatologia,
parâmetros, indicação e implicação materna os seguintes exames: ABO/RH, coombs
indireto, hemograma, eletroforese de hemoglobina, glicemia, teste oral de tolerância
a glicose, VDRL, anti-HIV, toxoplasmose, HbsAg, urina rotina e urocultura, anti-CMV,
anti-HCV e cultura de streptococos. Concluiu-se que os exames laboratoriais são ferra-
mentas importantes na detecção precoce de patologias que podem gerar complicações
para mãe e o bebê. Assim, torna-se fundamental que a equipe multiprofissional tenha
conhecimento acerca da fisiopatologia desses agravos, para que complicações futuras
possam ser evitadas.

Palavras- chave: Atenção Primária à Saúde, Cuidado pré-Natal, Exames e Diagnósti-


cos Laboratoriais.

181
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

A realização dos exames laboratoriais durante a gestação é considerada oportuna para


prevenir, identificar e corrigir as anormalidades que possam afetar a gestante e seu feto,
assim como instituir o tratamento de doenças já existentes ou que possam ocorrer durante
a gestação. A assistência pré-natal de qualidade contribui para desfechos mais favoráveis e
permite a detecção e o tratamento oportuno de afecções, além de controlar possíveis com-
plicações para a saúde da mulher e do bebê, auxiliando na redução da morbimortalidade
materna e neonatal (LIVRAMENTO et al., 2019).
Estudo realizado em Belo Horizonte nos cartões de pré-natal encontrou baixa frequência
de registros dos exames laboratoriais do primeiro, segundo e terceiro trimestres. Os exames
do primeiro trimestre que obtiveram frequência igual ou maior que 50% de registros comple-
tos foram: urina rotina (57,8%), glicemia jejum (61,9%), HBsAg (57,6%), Anti-HIV (57,6%),
VDRL (60,4%), hemograma (52,7%), ABO-Rh (61,4%) e toxoplasmose (58,8%). Nenhum
exame registrado no terceiro trimestre obteve frequência igual ou maior que 50% de registro
completo (CAMARGOS et al., 2021).
Estudo com cartões de pré-natal realizado no Vale do Jequitinhonha-MG encontrou
elevada cobertura de exames laboratoriais no primeiro trimestre com índices acima de 80%
e redução na prevalência de realização destes exames no terceiro trimestre (próximo a
40%), sobretudo para os exames hemograma, glicemia de jejum, urocultura, sorologia para
toxoplasmose, e HBSAG (REIS et al., 2021).
Atualmente, os manuais disponíveis do Ministério da Saúde destacam quando realizar
os exames e os seus valores de referência, porém ainda possuem uma abordagem rasa
sobre a fisiopatologia da doença. Diante disto, surgiu a necessidade de criar um referencial
téorico para os profissionais de saúde que destaque a importância dos exames laborato-
riais de acordo com a fisiopatologia da gestante. Acreditamos que a solicitação de exames
laboratoriais e os registros tendem a aumentar se o profissional de saúde conseguir fazer
esta associação.
Diante disto, o estudo objetivou abordar os exames laboratoriais solicitados durante o
pré-natal, com ênfase na fisiopatologia e implicações materno-fetal.

DESENVOLVIMENTO

Trata-se de uma revisão da literatura do tipo revisão narrativa. Para o desenvolvimento


desse artigo, foram incluídos na análise estudos publicados nas línguas portuguesa e inglesa
encontrados nas plataformas: Scielo, BVS Biblioteca Virtual em Saúde, PubMed e Google
Acadêmico. Além disso, para complementar a pesquisa foram utilizados documentos do
Ministério da Saúde, manuais e protocolos.
182
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Os manuais e notas técnicas da assistência ao pré-natal tem apresentado ajustes no
seu conteúdo ao longo dos anos, apresentando diferentes mudanças no que se refere aos
exames laboratoriais. Algumas regiões fazem as adaptações de acordo com a realidade
local. Este artigo segue a Nota Técnica para organização da Rede de Atenção à Saúde,
com foco na Atenção Primária à Saúde e na Atenção Ambulatorial Especializada (BRASIL,
2019) recomendado para a região do Vale do Jequitinhonha/Minas Gerais.
Abaixo está detalhado cada exame, fisiopatologia, parâmetros e implica-
ções materno-fetal.

Hemograma

Durante a gravidez, alterações sanguíneas como o aumento da massa eritrocitária e


do volume plasmático e diminuição plaquetária, podem acontecer de forma fisiológica no
corpo da mulher e decorrente dessas mudanças há também diminuição da hemoglobina
e hematócrito. Além disso, observa-se um aumento da necessidade de ferro a partir do 2º
trimestre de gestação. (AREIA et al., 2019; FAILACE; FERNANDES, 2015). Condições
como essas e outras alterações devem ser analisadas, pois podem desencadear eventos
patológicos, como uma anemia grave, que podem levar a abortamento espontâneo, parto
prematuro, entre outros.
É de grande importância que os valores indicados no hemograma da gestante se-
jam avaliados corretamente, atentando-se para possíveis alterações. Este exame deve ser
solicitado durante o 1º, 2º e 3º trimestre de gestação, mesmo que não apresentem altera-
ções. (BRASIL, 2019). Os valores de referência de um hemograma ideal para mulheres
acima de 12 anos são:

Tabela 1. Valores de referência do hemograma completo.

Exames/Idade 12 – 18 anos Acima de 18 anos


Hemácias (mm³) 4.100.000 – 5.100.000 3.800.000 – 5.200.000
Hemoglobina (g/dL) 12,0 – 16,0 12,0 – 16,0
Hematócrito (%) 36,0 – 46,0 35,0 – 47,0
HCM (pg) 25,0 – 35,0 26,0 – 34,0
VCM (fL) 78,0 – 100,0 80,0 – 100,0
CHCM (%) 31,0 – 37,0 32,0 – 36,0
RDW (%) 11,6 – 14,6 11,6 – 14,6
Leucócitos (mm³) 4.500 – 13.000 4.000 – 11.000
Segmentados (mm³) 1.800 – 8.000 2.000 – 7.000
Bastonetes (mm³) 0 – 500 0 – 5000
Eosinófilos (mm³) 2 – 500 2 – 500
Basófilos (mm³) 0 – 100 0 – 100
Linfócitos (mm³) 1.200 – 5.200 1.000 – 3.000
Monócitos (mm³) 100 – 1.000 300 – 1.000
Plaquetas (mm³) 140.000 – 450.000 140.000 – 500.000
Fonte: RODRIGUES et al., 2020.
183
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
A anemia é uma das condições que podem ser analisadas pelo hemograma e é de
grande importância que ela não aconteça para que a gravidez seja de qualidade. Ela é ca-
racterizada pelos valores de hemoglobina (Hb) abaixo de 11 g/dL e hematócrito (Hct) abaixo
de 33% no 1º e no 3º trimestres. Já no 2º trimestre os valores são de Hb abaixo de 10,5 g/
dL e Hct abaixo de 32%. Caso a Hb esteja abaixo de 8 g/dL a anemia é considerada grave
(AREIA et al., 2019; BRASIL, 2019).
Deve-se atentar para os casos encontrados de gestantes anêmicas, pois essa con-
dição pode resultar na redução da resistência do corpo da mulher contra infecções e tam-
bém as chances de hemorragias antes, durante e após o parto, elevando assim o risco de
mortalidade materna. Portanto, sabendo-se que mesmo em casos de anemia fisiológica, o
desenvolvimento de um quadro patológico pode surgir e resultar em futuras complicações,
o diagnóstico e tratamento, assim como métodos profiláticos contra a anemia devem ser
considerados durante toda a gestação (MONTENEGRO; SANTOS; REZENDE-FILHO, 2015).

Sistema ABO/Fator Rh

Existem diferentes tipos de sangue humano sendo eles: A, B, AB e O que também são
conhecidos por Sistema ABO. Além deste sistema, existe o Fator Rh (antígeno D) que pode ou
não estar presente na superfície das hemácias. Durante a gravidez, caso a mãe seja Rh ne-
gativo e o bebê Rh positivo (herdado do pai), é recomendado a injeção de imunoglobuli-
na Rh para que não haja riscos para o bebê (MAYO CLINIC, 2020; RODRIGUES et al., 2020).
A tabela abaixo exemplifica as possibilidades da presença ou não do fator Rh no sangue
da mãe e do bebê e quais precauções devem ser tomadas.

Tabela 2. Fator Rh na gravidez e suas precauções.

Fator Rh da mãe Fator Rh do pai Fator Rh do bebê Precauções


Positivo Positivo Positivo -
Negativo Negativo Negativo -
Positivo Negativo Positivo ou Negativo -
Negativo Positivo Positivo ou Negativo Injeção de Imunoglobulina Rh
Fonte: MAYO CLINIC, 2020.

É importante a realização dos exames e das precauções, pois incompatibilidades como


essa podem causar a anemia hemolítica fetal, mais conhecida como eritroblastose fetal.
Nesta condição, com o bebê Rh positivo e a mãe Rh negativo, a puérpera pode iniciar pro-
dução de anticorpos contra os antígenos Rh resultando em hemólise, condição que causará
a anemia fetal (DULAY, 2019).
A eritroblastose fetal ocorre quando a destruição dos eritrócitos é maior que a produ-
ção e pode se apresentar de maneira leve a moderada, que se manifestará pelo aumento
184
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
de bilirrubina nas primeiras 24 horas de vida, ou da forma grave que pode se manifestar
por edema, derrame pleural ou do pericárdio, entre outras comorbidades, correndo assim
grande risco de vida (HAAS et al., 2015).

Coombs Indireto

O teste de Coombs Indireto é um método utilizado para a identificação de anticorpos


irregulares (RAI) presentes no plasma da grávida. Este exame deve ser realizado caso a
mulher seja fator Rh negativo e testado no primeiro trimestre da gravidez (CUNHA et al.,
2020; RODRIGUES et al., 2020).
Quando este teste tem resultado positivo, é detectado anticorpos anti Rh em mulheres
que são Rh negativo. Esses anticorpos são essenciais para o desenvolvimento da doença
hemolítica do recém nascido, a eritroblastose fetal (RODRIGUES et al., 2020).
Gestantes que recebem o resultado positivo do Coombs Indireto devem ser avaliadas
com cautela e encaminhadas ao pré-natal de alto risco para análise da intensidade da he-
mólise causada no feto. Considerando um resultado negativo, o Coombs Indireto deve ser
repetido mensalmente após a 24ª semana gestacional. É importante programar a imunoglo-
bulina anti-D em até 72 horas pós-parto ou após interrupção da gestação (BRASIL, 2019;
RODRIGUES et al., 2020).

Eletroforese de hemoglobina

A eletroforese de hemoglobina é o exame capaz de detectar o traço de anemia falci-


forme em adultos, assim como diagnosticar doenças da hemoglobina C, S-C e E, além de
diferenciar as talassemias (BRASIL, 2013).
Devido a isso, é orientado no pré-natal a realização deste exame para todas as ges-
tantes, visto que na mulher com anemia falciforme a placenta pode reduzir o volume por
causa da diminuição do fluxo sanguíneo devido a vaso-oclusão, o que gera intercorrências
no feto, principalmente a restrição do crescimento intrauterino (BRASIL, 2019; 2009).
A interpretação do exame de eletroforese na gestação está representada na tabela abaixo.

Tabela 3. Interpretação dos resultados do exame de eletroforese de hemoglobina.


Hb AA é padrão normal;
Hb A com qualquer variante é gestante sem doença falciforme;
Hb AS é traço falciforme;

Hb SS, HbSC, Hb Sβ+ tal, Hb Sβ0tal ou Hb SD Punjab refere-se a presença da doença falciforme.
Fonte: BRASIL, 2019.

Além disso, a gravidez pode agravar a anemia e as crises álgicas, acarretar infecções
do trato urinário, complicações pulmonares, pré-eclâmpsia e até óbito materno. Em relação 185
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
às complicações fetais podem ocorrer partos prematuros, sofrimento fetal durante o processo
do parto, além de elevação da taxa de mortalidade perinatal (BRASIL, 2009).

Glicemia de jejum e teste oral de intolerância à glicose

Durante a gestação, inúmeras mudanças hormonais ocorrem no corpo da mulher a


fim de promover o desenvolvimento saudável do feto. Após o primeiro trimestre, a placenta
começa a produzir grandes quantidades do Hormônio Lactogênio Placentário (hPL). Este
hormônio causa uma resistência à insulina, que é responsável pela captação da glicose e
transporte para dentro da célula, causando uma hiperglicemia materna. O pâncreas, por
sua vez, promove um aumento da produção e secreção da insulina para compensar este
quadro. Entretanto, em algumas mulheres, esse mecanismo não funciona de forma adequa-
da, e o quadro de hiperglicemia persiste, causando o Diabetes Mellitus Gestacional (DMG)
(GOLBERT; CAMPOS, 2008).
O DMG é caracterizado por elevação dos níveis de glicose no sangue, normalmente
em decorrência dos efeitos dos hormônios da gestação. Alguns fatores de risco podem con-
tribuir para o desenvolvimento da doença, tais como obesidade, ganho excessivo de peso
na gestação, histórico familiar de diabetes, idade acima de 25 anos, quadros passados de
intolerância à glicose, gestação múltipla, histórico de hipertensão, síndrome metabólica e
ovários policísticos (MARTINS, 2019).
O exame de glicemia em jejum deve ser solicitado na primeira consulta de pré-natal e
tem como principal objetivo o rastreamento do diabetes gestacional preexistente, e a pre-
venção das complicações relacionadas a esta doença. (BRASIL, 2013).
O teste oral de tolerância à glicose (TOTG) é solicitado quando o resultado do exame
de glicemia em jejum está normal, ou seja, < 92 mg/dL, pois a mulher pode desenvolver a
resistência à insulina ao longo da gestação. Se a gestante estiver com idade gestacional entre
20 e 28 semanas, deverá realizar o TOTG entre a 24ª e 28ª semana; porém se estiver com
idade gestacional acima de 28 semanas, deverá realizar o TOTG imediatamente. O objetivo
do exame é o rastreamento do DMG (BRASIL, 2019). O teste deverá ser realizado durante
esse período, pois é nesse momento que grandes quantidades do hPL estão sendo produ-
zidas (GOLBERT; CAMPOS; 2008). Após a realização do exame, é necessário atentar-se
aos seguintes resultados:

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Tabela 4. Interpretação dos resultados do teste de glicemia em jejum.
Glicemia < 92 mg/dL Normal
Deve prosseguir com o rastreamento. Encaminhar para cuidado de pré-
Glicemia entre 92-125 mg/dL
-natal de alto risco.

Glicemia >126 mg/dL Encaminhar para cuidado de pré-natal de alto risco.

Fonte: BRASIL, 2019

Tabela 5. Interpretação dos resultados do teste oral de intolerância glicose.


√ Glicemia em jejum < 92mg/dL;
√ 1 hora < 180mg/dL; Deve-se manter o pré-natal de rotina e programar os
√ 2 horas < 153mg/dL; próximos exames
• após ingestão de 75g de glicose
• Glicemia em jejum entre 92 e 125mg/dL;
•1 hora ≥180mg/dL; Confirmado diagnóstico de DMG; encaminhar gestante
• 2 horas ≥153- 199mg/dL; para acompanhamento no pré-natal de alto risco.
• após ingestão de 75g de glicose
• Glicemia em Jejum for ≥ 126mg/dL; Confirmação do Diabetes Mellitus com diagnóstico na
•2 horas ≥ 200mg/dL; gravidez; encaminhar gestante para cuidado no pré-
• após ingestão de 75g de glicose -natal de alto risco.
Fonte: BRASIL, 2019

Se não tratado de forma adequada, o DMG provoca graves problemas tanto à mãe,
quanto ao bebê. A hiperglicemia persistente pode causar uma pré-eclâmpsia, desenvol-
vimento de intolerância à glicose permanente, e consequentemente de diabetes após a
gestação. Para o bebê, os riscos são macrossomia fetal, que gera complicações durante o
parto; polidrâmnio, que é o acúmulo de líquido amniótico – acima de 2.000 ml; hipoglicemia
neonatal, sofrimento respiratório, policitemia e hipocalcemia (BRASIL, 2013).

Teste rápido de sífilis e VDRL

A Sífilis é causada por uma bactéria gram-negativa, anaeróbia facultativa, denominada


Treponema pallidum. A transmissão ocorre por via sexual, sendo frequentemente denomi-
nada sífilis adquirida, ou por via transplacentária da mãe para o feto, sendo denominada
sífilis congênita (REIS et al., 2020).
O Ministério da Saúde (MS) recomenda iniciar a investigação para sífilis por um teste
treponêmico como o teste rápido que permitindo a detecção dos anticorpos específicos an-
ti-T. pallidum no soro ou sangue total. No entanto, o diagnóstico é confirmado por um teste
não treponêmico, como o VDRL (Venereal Disease Research Laboratory) ou o RPR (Rapid
Plasma Reagin). Durante a gestação, o tratamento deve ser iniciado com apenas um teste
reagente, treponêmico ou não treponêmico, sem aguardar o resultado do segundo teste (REIS
et al., 2020; ARRUDA; RAMOS, 2020). Conforme o alto índice de risco de acometimento
fetal durante a gravidez é necessário realizar o teste VDRL ou RPR duas vezes, uma na
primeira consulta ou no 1º trimestre e outra no 3º, para detectar infecção próxima ou no final
da gravidez. A realização do teste para sífilis (VDRL, RPR) no início do 3º trimestre (28ª - 30ª
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
semanas) possibilita o tratamento até 30 dias antes do parto, o tempo necessário para que
o recém-nascido seja tratado intraútero (ARRUDA; RAMOS, 2020; SUTO et al.,2016).
A tabela abaixo exemplifica a interpretação que deve ser realizada a partir dos resul-
tados dos testes.

Tabela 6. Interpretação dos resultados dos exames Sífilis.

Não Treponêmico Treponêmico Interpretação Monitoramento


Reagente Reagente Diagnóstico de sífilis VDRL Mensal
Reagente
Desnecessário Diagnóstico de sífilis VDRL Mensal
≥ 1:16
Indica falso-reagente no teste principalmente nos
Reagente Não reagente VDRL Trimestral
casos em que titulação for menor ou igual a 1:4.
Indica ausência de infecção ou período de incubação
Não reagente Não reagente VDRL Trimestral
(janela imunológica) de sífilis recente.
Fonte: BRASIL, 2019

O método mais efetivo para o controle da sífilis congênita baseia-se em uma assistência
organizada e de qualidade para toda gestante durante o pré-natal. É de extrema importân-
cia a inclusão do parceiro no pré-natal para o tratamento do mesmo para que não ocorra
reinfecção da gestante e a ineficácia do tratamento (ARRUDA et al., 2020).
As implicações da sífilis durante a gravidez estão relacionadas com as situações do
estágio gestacional, estágio da infecção e desenvolvimento do sistema imunológico fetal.
Diante desse quadro, as manifestações ocorrem por meio de abortamentos, natimortos,
morte perinatal e pode causar outras sequelas como a cegueira, surdez, retardo mental e
deformidades físicas (SUTO et al., 2016).

Teste rápido para HIV

O vírus da imunodeficiência hu­mana (HIV) é uma infecção sexualmente transmissível


(IST). A transmissão vertical do HIV ocorre durante a gestação, no momento em que acontece
a passagem do vírus da mãe para o bebê, seja no trabalho de parto propriamente dito ou na
amamentação, e quando não realizadas as intervenções profiláticas corretamente acomete
cerca de 25% das gestantes. É importante que o diagnóstico da infecção seja realizado no
início da gestação, para obter os melhores resultados direcionados ao controle da infecção
materna e, consequentemente, os melhores resultados de profilaxia da transmissão vertical
desse vírus (ACOSTA; GONÇALVES; BARCELLOS, 2016).
Para a realização do diagnóstico da infecção pelo HIV, utilizam-se de forma voluntária
e confidencial os testes rápidos, que devem ser realizados em dois diferentes tipos de teste
em paralelo, para toda amostra coletada; e aos testes sorológicos (ELISA e confirmatório)
também indicados na rotina do pré-natal. É preconizado a realização da testagem para o

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
HIV na primeira consulta de pré-natal (1º trimestre) e no 3º trimestre da gestação (PREVIAT;
VIEIRA; BARBIERI, 2019).

Tabela 7. Interpretação dos resultados dos exames HIV.


Teste rápido ou sorologia
Interpretação Monitoramento
anti-HIV
Realizar o cuidado com o pré-natal
Positivo Diagnóstico de HIV
de alto risco.
Não exclui a infecção pelo HIV, possuía a possibilida- Continuar com o monitoramento de
Negativo
de de janela imunológica. rotina do pré-natal.
Fonte: BRASIL, 2019

Após o diagnóstico positivo para a infecção pelo HIV é necessário realizar o aconse-
lhamento pós-teste, e orientar a gestante sobre a importância de usar antirretrovirais para
prevenir a transmissão vertical e de evitar a amamentação. Nos testes sorológicos o apare-
cimento de anticorpos detectáveis ocorre num período de 6 a 12 semanas após a infecção
inicial, este intervalo é denominado janela imunológica (SILVA; VALENÇA; SILVA, 2017).
Ressalta-se que a testagem rápida anti-HIV é uma ação que contribui para a identifica-
ção do estado sorológico e início imediato do tratamento com antirretrovirais principalmente
durante a gestação, contribuindo assim para que as pessoas infectadas atinjam a carga viral
indetectável. O diagnóstico e o tratamento precoce da gestante resulta em um nascimento
saudável do bebê e a principal forma de prevenção para essa infecção é a prática de sexo
seguro, com o uso de preservativo (SILVA; VALENÇA; SILVA, 2017).
As práticas de testagem e aconselhamento possuem um lugar de destaque nos pro-
gramas de prevenção. Uma assistência ao pré-natal e puerperal de qualidade e humani-
zada ocorre por meio de inclusão de condutas acolhedoras e do fácil acesso a serviços
de saúde, com ações que integrem todos os níveis da atenção: promoção, prevenção e
assistência à saúde da gestante e do recém-nascido (PREVIAT; VIEIRA; BARBIERI, 2019;
SOUZA et al., 2020).

Toxoplasmose, IgM e IgG

A toxoplasmose é uma zoonose de alta prevalência no Brasil nos últimos anos, de


acordo com as literaturas. É uma doença que apresenta diferentes formas de transmissão,
sendo a principal pela ingestão do oocisto (esporozoítos) esporulado. Outra via de trans-
missão é a congênita, sendo que na gestante a doença pode ser assintomática, no entan-
to há possibilidade de ser transmitida verticalmente (OLIVEIRA et al., 2020; WALCHER;
COMPARSI; PEDROSO, 2016).
De acordo com a literatura, no Brasil a incidência de toxoplasmose congênita varia
entre 4 a 10 casos para cada 10 mil nascidos vivos. A taxa de transmissão ao feto é de 14%
189
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
no primeiro trimestre e de 60% no terceiro trimestre. Já a gravidade, tende a ser maior nas
infecções adquiridas no começo da gestação. A taxa de transmissão varia entre 50% a 60%
em mães não tratadas e entre 20% a 30% nas que receberam tratamento durante a gesta-
ção. Devido a isso, os exames sorológicos para a detecção da toxoplasmose são solicitados
desde o início do pré-natal (1º trimestre), para que assim ocorra a identificação da gestante
e o diagnóstico, prevenindo as complicações da toxoplasmose congênita (OLIVEIRA et al.,
2020; SÃO PAULO, 2020).
O exame é feito pela detecção laboratorial dos anticorpos IgG e IgM para toxoplasmo-
se. O anticorpo IgM pode permanecer positivo por longo tempo após um quadro de infecção
aguda, já o anticorpo IgG refere-se à uma infecção que ocorreu previamente. Deve-se sem-
pre considerar sorologias realizadas previamente à gestação na interpretação dos exames
atuais (SÃO PAULO, 2020; AVELAR, 2015).

Tabela 8. Interpretação dos resultados do teste de IgM e IgG de toxoplasmose.

IgG IgM Interpretação Condutas


Não rea- Gestante com infecção prévia ou
Reagente Não há necessidade de repetir o exame.
gente toxoplasmose crônica
Solicitar teste de avidez de IgG. Em caso avidez alto e IG <
Gestante com infecção recente ou
16 semanas, possivelmente a infecção antes da gravidez. Em
Reagente Reagente toxoplasmose aguda – confirmar
caso de baixa avidez e IG < 16 semanas, possível ter adquirido
com teste de avidez de IgG
durante a gestação, deve-se iniciar o tratamento.
Orientar quanto as medidas de prevenção da doença.
Não rea- Não rea- Gestante suscetível (nunca foi
Realizar o monitoramento do pré-natal, com programação dos
gente gente infectada)
exames subsequentes até o momento do parto.
Fonte: BRASIL, 2019.

As gestantes que desenvolvem toxoplasmose, independentemente da idade gestacio-


nal, devem ser tratadas até o fim da gestação com um coquetel de antibióticos. No caso do
neonato com toxoplasmose, sintomático ou não, este também deve ser tratado com medi-
cação por um tempo determinado (SÃO PAULO, 2020).
Caso exista a doença, porém sem tratamento, existem repercussões importantes para
o desenvolvimento do neonato como: restrição de crescimento intrauterino, morte fetal, pre-
maturidade e/ou manifestações clínicas e sequelas como microftalmia, lesões oculares, mi-
crocefalia, hidrocefalia, calcificações cerebrais, pneumonite, hepatoesplenomegalia, erupção
cutânea e retardo mental (OLIVEIRA et al., 2020; WALCHER; COMPARSI; PEDROSO, 2016).

Teste rápido para Hepatite B

A hepatite viral B é uma doença infecciosa, causada pelo vírus DNA Hepadnaviridae,
caracterizada por inflamação no fígado. Pode ser aguda ou crônica, sendo que pessoas
que desenvolvem a fase crônica da doença podem evoluir para um carcinoma hepatoce-
lular. A transmissão da hepatite pode ocorrer de três formas: sexual, através de contato
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
direto com secreções e fluidos contendo o vírus; parenteral, através de compartilhamento
de objetos contaminados (seringas, alicates de unha, agulhas e outros materiais perfuro-
cortantes) e vertical, que acontece da mãe para o bebê durante o parto ou período perinatal
(FARIAS et al., 2020).
A sorologia para hepatite B é um exame fundamental para a gestante, e deve ser rea-
lizado no período pré-concepcional, na primeira consulta do pré-natal durante o 1º trimestre
de gestação (BRASIL, 2019).
A tabela abaixo exemplifica a interpretação dos resultados da sorologia para
Hepatite B (HbsAg).

Tabela 9. Interpretação dos resultados do teste rápido de Hepatite B.


HBsAg negativo Orientar quanto a vacinação contra a Hepatite B e manter pré-natal para monitoramento.
Encaminhar para o pré-natal de alto risco e serviços especializados para IST/AIDS e também agendar
HBsAg positivo administração de imunoglobulina.
Deve-se ressaltar a importância da vacinação do bebê logo após o parto.
Fonte: Brasil, 2019

A hepatite B é considerada um grave problema de saúde pública, pois a maioria dos


recém-nascidos que a contraem desenvolve a forma crônica da doença. Desse modo, tor-
na-se essencial um pré-natal de qualidade para diagnóstico precoce, evitando assim a
contaminação do bebê e possíveis complicações no futuro (CASTANÕN; CABRAL, 2019).
Os bebês que contraem a hepatite têm chance superior a 90% de desenvolver a fase
crônica da doença, e por isso devem receber a imunoprofilaxia – 1ª dose da vacina contra
hepatite B e imunoglobulina anti-hepatite B, se possível nas primeiras 12 horas após o nas-
cimento (FARIAS et al., 2020).

Urina tipo I e Urocultura

Na gestação ocorrem modificações anatômicas e fisiológicas no corpo da mulher que


propiciam a ocorrência de infecções do trato urinário nas gestantes. A dilatação do trato
urinário e aumento do tamanho do útero podem levar a obstrução parcial do ureter e ge-
rar uma condição de estase do fluxo urinário, o que consequentemente gera um cresci-
mento bacteriano e a própria infecção (PAGNONCELI; COLACITE, 2016; SILVA; SOUSA;
VITORINO, 2019).
É possível observar na fase gravídica, que a urina da gestante possui um pH mais
alcalino, o que é um ambiente favorável para o crescimento bacteriano residente no sis-
tema urinário. Além disso, o hiperestrogenismo gestacional pode contribuir para a entrada
de certas cepas de Escherichia Coli. Por fim, durante esse período ocorrem as alterações
imunológicas nas quais levam a queda da imunidade celular, ocasionando que essa gestante

191
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
esteja mais exposta às infecções e a disseminação sistemática bacteriana (PAGNONCELI;
COLACITE, 2016; SILVA; SOUSA; VITORINO 2019).
Os exames de urocultura e urina tipo I devem ser realizados no 1º e 3ª trimestres da
gestação, pois representa risco importante de pielonefrite aguda que está relacionado à
prematuridade (BRASIL, 2019).
O exame de urina tipo I apresenta as seguintes informações: cor, densidade, aspec-
to, presença de leucócitos, bactérias, sangue, glicose, urobilinogênio, bilirrubina, nitrito, e
sedimentos urinários. Em seguida, a urocultura é o padrão ouro, ou seja, é o exame que
realmente define o diagnóstico da infecção urinária, que é confirmado pelo crescimento de
microrganismos na amostra (PAGNONCELI; COLACITE, 2016; SILVA; SOUSA; VITORINO,
2019). A tabela abaixo refere-se a interpretação do exame de Urina tipo I:

Tabela 10. Interpretação dos resultados do exame de Urina tipo I.

Características Resultado normal


Aspecto Limpo
Amarelo-Claro
Cor Amarelo-Cítrico
Amarelo-Escuro
Densidade Específica 1,005 a 1,025 com ingestão hídrica normal
4,5 a 8,0; o pH em uma pessoa média é de 5 a 6 aproximada-
pH
mente
Volume 600 a 2.500 m\l\24h; média de 1.200 m\l\24h
Odor Pode variar devido a infecções, excreção renal de medicamentos
Glicose, cetonas, sangue, proteínas, bilirrubina, nitrito, esterase leuco-
Negativo
citária
Urobilinogênio 0,5 - 4,0 mg\dia
Cilindros Negativos Cilindros Hialinos ocasionais
Hemácias Ausentes ou raras
Cristais Ausentes (nenhum)
Leucócitos Ausentes ou raros
Poucas; cilindros hialinos 0 a 1\ cpa (campo de pequeno au-
Células epiteliais
mento)
Fonte: WALLACH; WILLIAMSON; SNYDER, 2013.

Em seguida, a urocultura é o padrão ouro, ou seja, é o exame que define o diagnóstico


da infecção urinária, que é confirmado pelo crescimento de microrganismos na amostra,
sendo positiva quando apresentar valor de 100.000 unidades formadoras de colônias (UFC)
por ml de urina. Valores entre 100 a 10.000 UFC/ml podem significar uma infecção de urina
positiva em pessoas sintomáticas (PAGNONCELI; COLACITE, 2016; SILVA, et. al.; 2019).
Se a infecção urinária não for corretamente tratada, pode provocar complicações para
a grávida, tais como: anemia, bacteremia, choque séptico, complicações locais como abs-
cesso renal ou perianal, obstrução renal, insuficiência respiratória aguda e insuficiência re-
nal. Também ocasionam complicações perinatais que englobam a restrição do crescimento
uterino, baixo peso do recém-nascido ao nascimento, ruptura prematura de membranas
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
amnióticas, paralisia cerebral/retardo mental, trabalho de parto prematuro e parto pré-termo,
óbito perinatal e mortalidade fetal (PAGNONCELI; COLACITE, 2016; SILVA, et. al.; 2019).
Quando obtiver os resultados de Proteinúria, piúria/bacteriúria/leucocitúria, cilindrúria
e hematúria seguir condutas apresentadas no quadro abaixo:

Tabela 11. Condutas após interpretação dos exames.

Resultado Interpretação da Conduta


• “Traços”: repetir o exame em 15 dias. Em caso de proteinúria persistente deve-se
encaminhar para o pré-natal de alto risco.
Proteinúria (associada às síndromes hipertensivas da
• “Traços” e hipertensão e/ou edema ou “Maciça”: encaminhar para o pré-natal
gestação e doença renal)
de alto risco.
• Monitorar a pressão arterial.
• Solicitar urocultura e iniciar tratamento empírico.
• Urocultura positiva: iniciar tratamento específico.
• Urocultura negativa: suspender o tratamento, e manter o monitoramento de
Piúria, bacteriúria e leucocitúria (associada à ITU)
rotina do pré-natal.
• Persistência de cistite ou pielonefrite deve-se encaminhar para o pré-natal de
alto risco.
Cilindrúria (associada a lesão renal) • Avaliação clínica e encaminhar para o pré-natal de alto risco.
• Se associada à piúria, considerar hipótese de infecção urinária.
• Se isolada, avaliar sangramento vaginal e repetir exame em 15 dias, caso per-
Hematúria
sistência da hematúria sem sangramento vaginal encaminhar para o pré-natal de
alto risco.
Fonte: BRASIL, 2019.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos achados, foi possível constatar que uma assistência de qualidade durante
o pré-natal contribui para a detecção precoce e prevenção da morbimortalidade materna e
neonatal. Dessa forma, os exames laboratoriais têm papel fundamental, pois por meio destes
é possível identificar possíveis intercorrências materno-fetal.
Deste modo, fica evidenciada a importância tanto da equipe multidisciplinar quanto da
gestante, conhecerem a fisiopatologia das doenças, para que assim possam complementar
seu conhecimento, realizar e registrar os exames de forma adequada.

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195
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
13
Funcionalidade e incapacidade de
lactentes de risco no primeiro ano
de vida

Raissa Wanderley Ferraz de Abreu


UFSCar

Camila Resende Gâmbaro Lima


UFSCar

Nelci Adriana Cicuto Ferreira Rocha


UFSCar

10.37885/210303939
RESUMO

Introdução: A funcionalidade é derivada de uma interação positiva, dinâmica e multidire-


cional entre os componentes biopsicossociais de estrutura e função do corpo, atividade e
participação sob a influência de fatores contextuais (ambientais e pessoais). Incapacidade
por sua vez, refere-se as interações negativas entre esses componentes. O modelo
biopsicossocial possibilita uma visão holística das condições de saúde, destacando os
lactentes que apresentam risco para atraso no desenvolvimento. Objetivos: verificar
criticamente o que a literatura aborda sobre a funcionalidade e incapacidade de lactentes
de risco e a relação com os fatores ambientais que os cercam. Métodos: Foram levan-
tados estudos a respeito de riscos biológicos e/ou ambientais no período peri e pós natal
imediato, ou seja, riscos advindos da mãe e/ou do lactente e do contexto em que estão
inseridos. A partir disso, foram extraídas informações sobre: a) Lactentes considerados
de risco para atraso no desenvolvimento e/ ou lesão cerebral: aspectos conceituais e
deficiências; b) Atividades e participação de lactentes de risco no primeiro ano de vida e a
influência de fatores ambientais, com base na estrutura organizacional dos componentes
da CIF, no primeiro ano de vida. Resultados: Os estudos indicaram possíveis deficiên-
cias de estrutura e função do corpo como, alterações no crescimento cerebral, tônus e
força muscular. Ainda, a presença de limitações de atividade e restrição de participação.
Assim, destacam-se o atraso na aquisição e refinamento de capacidades motoras, me-
nor manipulação de brinquedos e interesse em brinquedos novos, assim como a menor
interação com membros da família e do envolvimento em atividades diárias. Os fatores
ambientais também podem desempenhar o papel de facilitadores ou barreiras para a
funcionalidade dessas crianças, tais como fatores sócio econômicos, culturais e atitudi-
nais advindas dos pais e pessoas que convivem com o lactente, bem como, o ambiente
físico. Considerações finais: Lactentes de risco biológico no primeiro ano de vida, podem
apresentar limitações na funcionalidade. Assim, destaca-se a importância de um olhar
biopsicossocial nesta fase da vida, de maior plasticidade neural, onde as intervenções
devem ser guiadas com base nas incapacidades e barreiras ambientais relevantes.

Palavras-chave: CIF, Lactentes de Risco, Participação, Funcionalidade.

197
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

A Organização Mundial de Saúde (OMS) elaborou um conjunto de classificações para


se referir a dados estatísticos e informações relacionados à saúde da população mundial,
de maneira padronizada e universal, com intuito de favorecer a comunicação entre profis-
sionais e serviços de saúde em todo o mundo. Esse conjunto foi denominado como “Família
de Classificações Internacionais” (FCI) (WHO, 2021).
A Classificação Internacional de Doenças (CID) trata-se de uma ferramenta clínica
diagnóstica que se baseia no modelo biomédico de saúde. Assim, considera a doença
como fator único, linear e unidirecional para a incapacidade, enfatizando a identificação das
consequências da doença e das anormalidades do desenvolvimento (OMS, 2003). Ela foi
atualizada em 18 de junho de 2018, com a sigla CID-11 (WHO, 2018), em formato digital e
está em preparo para implementação (https://icd.who.int/browse11/l-m/en).
O modelo social de incapacidade/deficiência veio mostrar que os problemas de saúde
vivenciados pelo indivíduo, não são unicamente responsabilidade dele, podendo ser circuns-
tâncias criadas socialmente, sendo essas responsáveis pela dificuldade plena de integração
do indivíduo na sociedade. Do mesmo modo do modelo biomédico, esse conceito apresenta
também uma relação linear, entre o indivíduo e os problemas criados pela sociedade. Assim,
para que ocorram mudanças ambientais, necessárias para facilitação da plena participação
de pessoas com incapacidades/ deficiências em todos os âmbitos sociais, é preciso formu-
lação de propostas ideológicas, por meio de políticas públicas (OMS, 2003).
A Classificação Internacional de Deficiências, Incapacidades e Desvantagens (CIDID),
que apesar da visão unidirecional, veio para suplementar a CID a respeito da consequência
de uma determinada doença sobre a saúde do indivíduo. Nela, existe uma visão negativa
(deficiências, incapacidades, desvantagens/ restrições) a respeito do processo saúde -
doença, de forma a não possibilitar a existência dos aspectos de integridade biológica, de
capacidades e desempenho do indivíduo (WHO, 2001).
Entretanto, esses dois modelos biomédicos (CID e CIDID) e o social não abrangem
na totalidade a complexidade da condição de saúde do indivíduo. Segundo Palisano et al.
(2017), a saúde é definida como o conjunto de capacidades que o indivíduo desenvolve ao
longo da vida, que permita-o interagir com sucesso nos diversos âmbitos – biológico, mental
e social, de forma a promover o seu maior potencial e bem-estar. Dessa forma, pode-se
dizer que a saúde é um processo dinâmico, multidirecional, dependente de experiências, de
preferências individuais e do contexto ambiental. Diante desse conceito de saúde, a OMS
reformulou a CIDID e a sua segunda versão ficou conhecida como Classificação Internacional
de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) (WHO, 2001), e a versão para crianças e
jovens foi lançada em 2007, apresentando categorias mais específicas para o crescimento e
198
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
o desenvolvimento infantil. Assim, a CIF tem como proposta um modelo ampliado de saúde,
considerando uma visão biopsicossocial (WHO, 2001).
A CIF integra três modelos de saúde descritos anteriormente, porém, tem como confi-
guração uma relação dinâmica e multidirecional entre os componentes de saúde, oferecen-
do uma perspectiva ampla e promovendo uma comunicação inter profissional padronizada
(OMS, 2003; ÜSTÜN et al., 2003). Os componentes são divididos em 3 seções – estrutura
e função do corpo, atividade e participação sob a influência de fatores contextuais. Estrutura
e função do corpo está relacionada com a anatomia corporal e a fisiologia dos sistemas,
e alterações em seus domínios são denominadas de deficiências. Atividade consiste nas
ações ou tarefas que o indivíduo consegue realizar, e dificuldades nesse componente são
identificadas como limitações. Por fim a participação é caracterizada pelo envolvimento/
engajamento do indivíduo no ambiente cotidiano e alterações negativas em seus domínios
são denominados de restrição de participação (WHO, 2011).
O modelo da CIF também contempla os fatores contextuais, por meio dos domínios
pessoais e ambientais. Os fatores pessoais dizem respeito ao próprio indivíduo, são con-
siderações relacionadas as suas preferências e estilo de vida, além da inerência da idade
e do sexo. Esses fatores não são explicitados e classificados na CIF, por abrangerem
características amplas e diversificadas do indivíduo e, portanto, de difícil controle (WHO,
2001). Os fatores ambientais, por sua vez são classificados pelos domínios físico, social e
atitudinal. Esses fatores podem pertencer ao ambiente imediato do indivíduo, bem como ao
ambiente social, que se expressa por meio de regras, direitos, deveres, serviços e políticas
públicas (OMS, 2003). As influências desses fatores ambientais podem ser positivas (facili-
tadores) ou negativas (barreiras), podendo impactar na funcionalidade ou na incapacidade
do indivíduo (LEONARDI et al., 2006; WHO, 2001). Assim, identificar quais fatores afetam o
indivíduo, pode proporcionar informações úteis para a realização de adaptações necessárias
para favorecer o seu desempenho (OMS, 2013).
Referente ao modelo biopsicossocial, a funcionalidade é descrita como uma interação
positiva entre os componentes de saúde, ou seja, o indivíduo ser capaz de realizar suas
atividades e participar em um ambiente facilitador, com as funções fisiológicas e estruturais
preservadas.. Ao contrário, a incapacidade demonstra as limitações em realizar atividades,
restrições de participação e presença de deficiências, que articulam com um ambiente res-
tritor (SCHNEIDERT et al., 2003).
Sob a ampla visão da CIF sobre funcionalidade e incapacidade, as limitações em
realizar atividades e restrições na participação ao longo da vida podem estar presentes em
lactentes com fatores de riscos biológicos, uma vez que que esses riscos são preditores de
deficiências. Além disso, fatores ambientais podem ampliar as limitações de funcionalidade
199
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
(SACCANI et al., 2013). Diante desse entendimento, o modelo biopsicossocial de saúde
apresenta-se como prioridade para nortear o acompanhamento longitudinal e integral da
criança, com intuito de detectar precocemente os riscos para atraso no seu desenvolvimento.
Dessa forma, a estrutura da CIF tem sido vantajosamente utilizada na prática clínica
baseada em evidências (OSTENSJO et al., 2004; SANTOS et al., 2011; TSENG et al., 2011),
como um modelo biopsicossocial a ser utilizado para direcionar avaliações em diversas
populações. Dentre essas populações, destacam-se os lactentes com risco para atraso no
desenvolvimento (RIGTER et al., 2012; HWANG et al., 2014).
Assim, o objetivo da presente revisão crítica é analisar e sintetizar as evidências a
respeito da funcionalidade e da incapacidade da população de risco para atraso no desen-
volvimento e verificar a relação com os fatores ambientais nesses processo multidirecio-
nal segundo a CIF.

METODOLOGIA

A revisão crítica da literatura buscou artigos sem determinar um período de tempo.


Foram levantados artigos a respeito de riscos biológicos e/ou ambientais no período peri e
pós natal imediato, ou seja, riscos advindos da mãe e/ou do lactente e do contexto em que
estão inseridos. Estudos relevantes de acordo com o tema e com objetivo de sintetizar dados
a respeito da população de interesse (lactentes de risco), dos componentes que poderiam
ser acometidos e como eles poderiam ser expressos em termos de deficiências de estru-
tura e função do corpo, limitações de atividades e restrição de participação, da influência
de fatores ambientais sobre esses componentes, e dos recursos de avaliação específicos
disponíveis para verificar o desenvolvimento motor desses lactentes. Foram extraídas in-
formações sobre: a) Lactentes considerados de risco para atraso no desenvolvimento e/ ou
lesão cerebral: aspectos conceituais e deficiências; b) Atividades e participação de lactentes
de risco no primeiro ano de vida e a influência de fatores ambientais, com base na estrutura
organizacional dos componentes da CIF, no primeiro ano de vida.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Lactentes considerados de risco para atraso no desenvolvimento e/ ou lesão cerebral:


aspectos conceituais e deficiências

Ao longo do tempo, a taxa de 5mortalidade infantil reduziu consideravelmente no Brasil,


sendo essa queda relacionada às melhorias nas condições educacionais, avanços tecnoló-
gicos e assistenciais na saúde. (VICTORA et al., 2011). Junto a isso, o perfil causal dessa
200
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
taxa foi modificado com o passar do tempo, ou seja, foi notado um número decrescente de
óbitos por desnutrição, por doenças respiratórias e infecciosas e um aumento desses devido
a prematuridade, asfixia perinatal e infecções no período neonatal. Apesar de ainda ser alta
a TMI, muito se modificou em relação aos cuidados clínicos, como consequência positiva,
aumentaram de forma expressiva a sobrevida desses lactentes (FIGUEIRAS et al., 2005;
FRIAS et al., 2013). Porém, esses lactentes mantiveram-se mais susceptíveis a desenvol-
verem atrasos no desenvolvimento quando comparados aos lactentes que nasceram sem
riscos (SALT & REDSHAW, 2006; HACK, 2007).
Os fatores de risco para atraso no desenvolvimento podem ser biológicos e/ ou ambien-
tais, advindos da mãe e/ ou do lactente e do contexto em que eles estão inseridos. Em muitos
casos, os riscos de diferentes domínios estão associados, resultando assim em um impacto
acumulativo (FORMIGA & LINHARES, 2011). O impacto negativo será proporcional ao nú-
mero de fatores instalados, quanto mais fatores presentes, maior a probabilidade de atraso
no desenvolvimento e/ou riscos para lesões cerebrais (COSTA et al., 2014).
Os diversos fatores de risco biológicos e ambientais podem ocorrer no período pré-con-
cepcional, pré-natal, peri/ pós-natal (WOCADLO & REIGER, 2007; DATAR & JACKNOWITZ,
2009; SACCANI & VALENTINI, 2012). Os riscos pré-concepcionais estão interligados com
os abortos naturais, histórico de natimortos, famílias de baixo status socioeconômico, casos
de fertilização e/ ou inseminação assistida, múltiplas gestações e por alterações disfuncio-
nais na quantidade de cópias gênicas (CUNHA et al., 2004; NOVAK et al., 2017; MORGAN
et al., 2018). Os riscos pré-natais estão relacionados a saúde materna e ligados a exposição
ambiental que possam acometer o feto. Tais riscos podem ser derivados da ausência no
acompanhamento pré-natal (SCHOEPS, et al., 2007), de gravidez gemelar (MIURA, 1997),
infecções, ruptura prévia da placenta, hemorragias, doenças maternas, feto do sexo mascu-
lino e abuso de substâncias tóxicas (SUVANAND et al., 1997; BEAINO et al., 2010; NOVAK
et al., 2017; MORGAN et al., 2018; SHEPERD et al., 2018).
Os riscos perinatais e pós-natais, por sua vez, incluem problemas durante o par-
to instrumentado, cirurgia cesariana (NANDI et al., 2015; OLIVEIRA et al., 2015), sinais
de hipoxemia (índice de Apgar no 5° minuto < 7), convulsões, icterícia, infecções agu-
das do neonato (MORGAN et al., 2018; NOVAK et al. 2017; SHEPERD et al., 2018), ne-
cessidade de apoio ventilatório (BEAINO et al., 2010), de reanimação cardiorrespiratória
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012), de internação hospitalar em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal (UTIN) (CHAUDHARI, 2011; MADLINGER- LEWIS et al., 2014), período prolonga-
do de hospitalização (FORMIGA et al., 2017), cirurgias cardíacas e/ou neurológicas, quase
afogamento, indícios de quase morte súbita (CANS et al., 2004; MORGAN et al., 2018), e
episódio de acidente vascular encefálico (MCINTYRE, et al., 2011). Além disso, a idade
201
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
gestacional (IG) baixa, ou seja, menor que 28 semanas de gestação, configura um lactente
de alto risco (PINEDA et al., 2018) ou ainda IG alta, ou seja, acima de 42 semanas de ges-
tação, caracterizando risco para morbidade/mortalidade perinatal (BRASIL, 2010). Ainda,
baixo peso ao nascer, enfatizando o aumento dos riscos para valores abaixo de 1.500g
(MIRANDA, et al., 2003).
Segundo Tyson et al. (2008), a combinação de fatores de risco como a baixa IG, a
utilização de corticosteroides pré-natais, o sexo, a multiparidade e o baixo peso ao nascer,
apresentam a melhor preditividade para disfunções no desenvolvimento. Assim, ao passo
que a IG e o peso ao nascer diminuem, associados com os efeitos deletérios de lesões
cerebrais severas, da necessidade de ventilação mecânica prolongada, da presença de
retinopatia nível III ou na presença de displasia broncopulmonar, os riscos para atrasos no
desenvolvimento (STOINSKA & GADZINOWSKI, 2011) ou para lesão neurológica como a
paralisia cerebral (PC) aumentam (LOCATELLI et al., 2010).
O Ministério da Saúde considera que, para o lactente ser considerado de risco, deve
apresentar ao menos um dos seguintes critérios: baixo peso ao nascer, passagem pela
UTIN, prematuridade, idade materna inferior a 18 anos, escolaridade materna baixa, residir
em localidade de risco e presença de história de óbitos na família de crianças com idade
inferior a 5 anos (BRASIL, 2012).
Esses riscos para atraso no desenvolvimento podem ser expressos por meio da pre-
sença de deficiências, quando relacionadas ao domínio de estrutura e função do corpo.
Estudos encontraram frequentemente a presença de ecodensidades nas regiões do lobo
frontal, occipital e nos gânglios da base; de hemorragia intraventricular e de isquemia ar-
terial (DIXON & BEJAR, 1989; BEAINO et al., 2010, FLUSS et al., 2017), vistas por exame
de ultrassonografia tanto na população a termo que foi exposta aos efeitos das drogas no
período pré-natal, em população de pré-termos (extremos e muito prematuros), bem como
em lactentes que sofreram um acidente vascular encefálico. Associado às deficiências nas
estruturas e funções cerebrais, a aplicação do exame neurológico clínico permite a detecção
de outras deficiências como, alterações no crescimento cerebral, identificadas pelo perímetro
cefálico, no tônus e na força muscular, nos reflexos primitivos, na qualidade dos movimen-
tos espontâneos, na presença de assimetrias corporais, bem como em alterações visuais
e auditivas. Tudo isso pode comprometer o desenvolvimento geral do lactente (ODDING
et al., 2006; BADR et al., 2009; BEAINO et al., 2010; ROMEO et al., 2016; FORMIGA et al.,
2017; MORGAN et al., 2018).
O comprometimento pode ser reduzido quando a detecção das deficiências e limita-
ções de atividades são reconhecidas precocemente. Para isso é recomendado o uso de
instrumentos de avaliação padronizados, tanto para avaliação neurológica, quanto para
202
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
identificação de capacidades e de desempenho. Há evidências de que, a ressonância nu-
clear magnética (BADR et al., 2009), o General Movements Assessment (GMAs) antes dos
5 meses de idade corrigida (BOSANQUET et al., 2013) e o Hammersmith Infant Neurological
Examination (HINE) entre 3 e 24 meses (ROMEO et al., 2016), apresentam alta sensibilidade
na identificação de lesão cerebral. Esses instrumentos de avaliação são os mais preditivos
de risco para PC.
Em conformidade, existem escalas validadas para a população de lactentes de risco
biológico que verificam a presença de disfunções no comportamento motor que podem estar
relacionadas com a presença de lesão cerebral (HEINEMAN et al., 2008) e a presença ou
ausência de atraso no desenvolvimento motor grosso. A Infant Motor Profile (IMP) é uma
avaliação medida por meio de vídeos, que se propõe a mensurar a qualidade das capaci-
dades motoras grossa e fina (variação, adaptabilidade, simetria, fluência e desempenho) a
partir dos 3 meses até os 18 meses e idade cronológica ou de idade corrigida no caso dos
lactentes prematuros. Porém, para lactentes atípicos ou em risco de atraso, pode-se ultra-
passar essa faixa etária (HEINEMAN et al., 2008).
Alguns dos domínios do IMP são indicadores importantes de integridade do sistema
nervoso central e do desenvolvimento motor, como é o caso da variação, ou seja, do reper-
tório motor que o lactente apresenta e o domínio da adaptabilidade (HADDERS- ALGRA,
2010; HEINEMAN et al., 2011; HADDERS-ALGRA, 2018). A adaptabilidade refere-se às
estratégias mais adequadas para realizar uma determinada atividade, mediante as mudanças
ambientais. Por fim, também destaca-se a perda de fluência do movimento para a predição
do desenvolvimento atípico (HADDERS-ALGRA et al., 2004). Esse instrumento apresenta
validade de constructo (HEINEMAN et al., 2010), bem como uma possibilidade otimista de
validade preditiva para a detecção de PC (HEINEMAN et al., 2011), alta confiabilidade inter
examinadores (TVETEN et al., 2020) e boa validade concorrente no domínio de desempe-
nho, quando comparada a Alberta Infant Motor Scale (AIMS) (AZIMREZAEI et al., 2019;
HEINEMMAN et al., 2013). Apesar dessas características psicométricas descritas, o IMP
ainda não apresenta tradução, validação e curvas de referência para a população brasileira.
A Alberta Infant Motor Scale por sua vez, avalia a capacidade motora grossa, por
meio de movimentos antigravitacionais e descarga de peso em posturas específicas (prono,
supino, sentado, em pé), de lactentes recém-nascidos até a fase da marcha independente.
Apresenta validação para a população canadense (PIPER et al., 1992) e para a população
brasileira (VALENTINI & SACCANI, 2012; GONTIJO et al., 2020). Além disso, apresenta boa
confiabilidade intra e inter observador (VALENTINI & SACCANI, 2012; PIPER te al., 1992).
A AIMS e o IMP possuem em comum a capacidade de avaliar o mesmo constructo
de capacidades motoras, porém, o IMP, além de verificar essas capacidades por meio do
203
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
domínio de desempenho, verifica a qualidade do comportamento motor (variação, adap-
tabilidade, simetria e fluência), além de avaliar a capacidade de realizar tarefas manuais
(HEINEMAN et al., 2013). Dessa forma, ambas podem ser usadas em paralelo, visto que
seus itens se complementam.
A partir das consequências que os fatores de riscos biológicos podem causar no com-
ponente de estrutura e função do corpo e da abordagem de instrumentos para detecção
precoce de lesão cerebral e/ ou de atraso no desenvolvimento motor, salienta-se no pró-
ximo tópico, as evidências a respeito da repercussão dos riscos biológicos nas atividades
(capacidades motoras) e na participação de lactentes no primeiro ano de vida. Além disso,
o impacto que os fatores ambientais exercem nessa inter-relação.

Atividades e Participação de lactentes de risco no primeiro ano de vida e a influência


de fatores ambientais

Os riscos biológicos que podem conduzir as deficiências em estruturas e funções


corporais podem estar relacionados às limitações de atividade e restrição de participação.
Estudos identificaram que lactentes prematuros moderados, muito prematuros e/ ou com
lesão cerebral apresentaram atraso na aquisição e no refinamento das principais capacidades
motoras grossas no primeiro ano de vida, quando comparados aos lactentes a termo. Essas
limitações são observadas por meio da ineficiência do controle cervical (DUSING et al., 2014),
do alcance manual (THUN-HOHENSTEIN et al., 1991; FALLANG et al., 2005; TOLEDO &
TUDELLA, 2008; GUIMARÃES, et al., 2013; DUSING et al., 2014), dificuldades em manter
posturas corporais (BARTLETT & FANNING, 2003; PIN et al., 2009; HADDERS-ALGRA,
2013; FORMIGA et al., 2017), nas transferências de posturas (FORMIGA et al., 2017), na
mobilidade como a marcha (PIN et al., 2009), na percepção e exploração de objetos, tais
como, no menor interesse/ inspeção de objetos quando estão brincando com a mãe (LANDRY
& CHAPIESKY, 1988), no menor interesse em brinquedos novos (SIGMAN & SCHULMAN,
1976), na menor quantidade de movimentos de dedilhamento e movimentos de rotação de
objetos (RUFF et al., 1984), menor ocorrência de comportamentos de manipulação (LOBO
et al., 2015), menor quantidade de tempo explorando objetos (KOPP & VAUGHN, 1982;
RUFF et al., 1984; LOBO et al., 2015), na maior dificuldade em realizar atividades bimanuais
e na variabilidade reduzida de comportamentos motores como, segurar, bater e balançar
objetos (LOBO et al., 2015).
Entretanto, referente a variabilidade de movimentos durante a realização de atividades
motoras grossas e finas em lactentes de risco biológico, foram encontrados poucos estudos
que avaliassem a quantidade desses comportamentos, bem como estudos que analisas-
sem por meio de instrumentos específicos a qualidade (variação, adaptabilidade, simetria e
204
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
fluência) dessas atividades (HEINEMAN et al., 2008; HEINEMAN et al., 2011; HEINEMAN
et al., 2013; HECKER et al., 2016; AZIMREZAEI et al., 2019). Em um estudo realizado com
lactentes a termo e prematuros, de 4 a 12 meses de idade, foi verificado que menores valo-
res de variação de movimentos e de desempenho funcional estavam correlacionados com a
maior predição do lactente em desenvolver disfunções neurológicas como a PC (HEINEMAN
et al., 2011). Por outro lado, ainda é limitado o número de estudos que demonstram resulta-
dos referentes a variação e a adaptabilidade de movimentos relacionados às capacidades
manuais - exploração de mais de um objeto ao mesmo tempo, às estratégias para apreender
um objeto pequeno (pinça), ou relacionados as estratégias posturais escolhidas para buscar
um brinquedo por exemplo. Essa capacidade de selecionar a melhor forma para realizar
determinada atividade pode ser um indicador importante para alterações no desenvolvimento
(HADDERS-ALGRA, 2010).
Ressalta-se que a maioria dos estudos que avaliaram a variação, adaptabilidade, si-
metria e fluência das capacidades motoras tinham como objetivo investigar a confiabilidade
intra e inter examinadores do instrumento de avaliação (HEINEMAN et al., 2008; HEINEMAN
et al., 2013; HECKER et al., 2016; AZIMREZAEI et al., 2019; TVETEN ET AL., 2020), assim
como a validade concorrente (HEINEMAN et al., 2008; HEINEMAN et al., 2013; AZIMREZAEI
et al., 2019) e a validade preditiva (HEINEMAN et al., 2011; TVETEN ET AL., 2020), e não de
caracterizar as capacidades motoras em lactentes de risco. Além disso, não analisaram como
os fatores ambientais (estímulos recebidos, condições específicas do ambiente, presença de
brinquedos, restrições sociais) poderiam impactar as capacidades motoras, nos domínios de
variação, adaptabilidade, simetria, fluência e desempenho, em lactentes de risco biológico
no primeiro ano de vida. Isso será de grande importância, uma vez que essa identificação
precoce poderá direcionar estratégias de intervenções, considerando o contexto ambiental.
Em paralelo com as atividades, a participação é um domínio da funcionalidade que
deve ser investigado precocemente. Albrecth & Khetani. (2017) identificaram menores índices
participativos no ambiente da casa de lactentes e crianças de 0-5 anos (idade média de 3,1
anos), no qual a maioria deles apresentavam diagnóstico clínico, ou seja, alguma doença
que levava ao atraso no desenvolvimento. A amostragem heterogênea quanto a idade dos
participantes e diagnósticos clínicos, gerou a impossibilidade de extrapolar os resultados
da participação mensurados pela Young Children’s Participation and Environment Measure
(YC-PEM) para lactentes no primeiro ano de vida, que apresentavam algum risco biológico
para atraso, porém, sem diagnóstico clínico.
Os fatores ambientais foram associados ao desenvolvimento motor (SACCANI et al.,
2013 e a participação (ALBRECTH & KHETANI, 2017), podendo assim impactar na fun-
cionalidade. Estudos têm identificado que fatores ambientais podem estar correlacionados
205
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
aos domínios sociais, como o status socioeconômico, famílias de baixo poder aquisitivo e
mães com baixa escolaridade, que tendem à apresentar um ambiente domiciliar com poucas
oportunidades de experiências para os seus filhos, sejam eles lactentes típicos ou em risco
de atrasos motores na primeira infância (HALPERN et al., 2000; LIMA et al., 2004; SANTOS
et al., 2009; SACCANI et al., 2013). Segundo Tacke e colaboradores (2015) lactentes típicos
com faixa etária de 6-12 meses, que faziam parte de um núcleo familiar com baixas con-
dições financeiras apresentaram estratégias limitadas de exploração, quando comparados
aos lactentes de alto poder aquisitivo. Isso indica que esses lactentes tendem a receber
menos estímulos, menos oportunidades de exploração de brinquedos e do ambiente, bem
como de se locomover livremente no solo (TACKE et al., 2015; CLEARFIELD et al., 2014).
Esses fatores podem ser barreiras para o desenvolvimento motor no primeiro ano de vida,
e podem ainda ter repercussões a longo prazo (BRADLEY et al., 2001). Em adição, Santos
et al. (2009) em um estudo com crianças na primeira infância, sem serem consideradas de
risco biológico, mostraram que esses lactentes de até 3 anos de idade, provenientes de
famílias com baixo poder financeiro e com baixa escolaridade parental apresentaram maior
probabilidade de desenvolverem atrasos motores. Diante disso, percebe-se uma relevância
em novos estudos que verifiquem o impacto que o status socioeconômico (renda, nível de
escolaridade e ocupação) podem causar sobre a variação e adaptabilidade de movimentos
de lactentes de risco biológico e sobre a participação no primeiro ano de vida.
Diante dos fatores ambientais atitudinais, foram encontrados estudos que relataram
as relações/interações parentais mais limitadas quando relacionadas aos lactentes de risco
biológico (12-18 meses de idade), como uma barreira para o desenvolvimento motor e cog-
nitivo (BADR, 2001; BADR et al., 2009; BAUMANN et al., 2019). Para o domínio de apoio e
relacionamentos, as limitações de movimentação no ambiente domiciliar foram encontradas
quando os lactentes de até 18 meses de idade eram carregados no colo por longos perío-
dos, prejudicando a aquisição e aprimoramento de novas atividades motoras (SACCANI
et al., 2013). Por fim, o número de crianças que residiam na mesma casa foi visto como um
fator negativo para o desenvolvimento motor de lactentes prematuros e a termo de até 18
meses (SACCANI et al., 2013), pois os pais tinham muitas obrigações para com seus filhos,
limitando-os de uma atenção adequada individual, que garantissem os cuidados básicos
apropriados a cada um deles. Além disso, esses fatores podem privar momentos recreativos
de qualidade, reduzindo as oportunidades de experiências e de uma boa interação, o que
pode impactar negativamente às capacidades motoras (ALMEIDA & VALENTINI, 2010).
Além disso, fatores associados aos domínios físicos do ambiente podem ser barreiras
para o desenvolvimento, como os estímulos excessivos oriundos da UTIN (ex: som elevado,
luz com alto brilho) (CHAUDHARI, 2011), repetidas intervenções clínicas (SMITH, et al.,
206
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
2011). Além disso, o ambiente da creche foi considerado uma barreira para lactentes de
risco biológico no 1° ano de vida (SACCANI et al., 2013; SANTOS et al., 2013) bem como,
para lactentes em sua maioria típicos na faixa de 12 a 17 meses de vida (SOUZA et al.,
2010). A permanência desses lactentes em berços, limitavam a exploração do ambiente pelo
lactente e restringia a interação com outras crianças (BRASIL, 2007). No mais, os fatores
ambientais físicos também podem contribuir para o desenvolvimento das capacidades mo-
toras grossa e fina do lactente, tais como, o número de brinquedos disponíveis e o espaço
dentro do ambiente domiciliar, para os lactentes a termo e prematuros de até 18 meses de
vida (SACCANI et al., 2013). A oferta de brinquedos foi preditora para as pontuações da AIMS
(CAÇOLA et al., 2011). Assim, a diversidade de brinquedos adequados a idade foram vistos
como positivo para o desenvolvimento (BRADLEY & CORWYN, 2005; WALKER et al., 2007).
Diante disso, é evidenciado a importância do ambiente domiciliar para o desenvolvimento
das capacidades motora grossa de lactentes típicos e de risco biológico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Referente a funcionalidade e incapacidades de lactentes de risco biológico, nota- se


que lactentes com risco biológico para atraso no desenvolvimento podem apresentar defi-
ciências de estrutura e função do corpo, limitações de atividades e restrição da sua parti-
cipação. Ainda, a literatura traz evidências de que os fatores ambientais podem facilitar ou
dificultar a atividades e a participação, dependendo do impacto destes no dia-a-dia. Porém,
apesar de amplas pesquisas nessas áreas, percebe-se que ainda existem perguntas a
serem respondidas.
Nota-se limitações de estudos que avaliem a variação e a adaptabilidade de movimen-
tos sobre as capacidades motoras nessa população, e que verifiquem a participação em
casa desses lactentes, assim como o impacto de fatores ambientais sobre as capacidades
motoras e participação no 1° ano de vida. Dessa forma, destaca-se a importância de um
olhar biopsicossocial nesta fase da vida, de maior plasticidade neural, onde as intervenções
devem ser guiadas com base nas incapacidades e barreiras ambientais relevantes.

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214
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
14
Hiperglicemia na gestação, parto a
termo precoce e hipoglicemia neonatal

Sávio Ferreira Camargo

Juliana Dantas Camargo

Jessione de Carvalho Lima Neto

Maria da Conceição de Mesquita


Cornetta

10.37885/210102924
RESUMO

O parto a termo precoce, quando comparado ao termo pleno e termo tardio, tem sido
associado a maior morbidade neonatal, com possíveis repercussões negativas de saúde
a longo prazo. A hipoglicemia neonatal pode resultar em déficits neurológicos. O objetivo
do estudo foi examinar a associação entre parto a termo precoce e hipoglicemia neonatal
em mulheres com hiperglicemia na gestação. 258 mulheres (30,8 ± 6,4 anos) com parto
a termo e hiperglicemia na gestação participaram do estudo. A hipoglicemia neonatal
foi estabelecida por registro inferior a 45 mg/dl nas primeiras 24 horas de vida. A idade
gestacional no parto foi estabelecida por ultrassonografia. A amostra foi dividida em dois
grupos: i) mulheres com parto a termo precoce (n = 163); ii) mulheres com parto a termo
não precoce (n = 95). Os testes Qui-quadrado e Exato de Fisher, além da regressão
logística, foram utilizados para análise de associação. O nível de significância de 5% foi
adotado. Houve associação entre parto a termo precoce e maior ocorrência de hipogli-
cemia neonatal (RC = 2,88; IC 95%: 1,19–6,96). Em conclusão, neonatos de mulheres
com hiperglicemia na gestação e parto a termo precoce apresentaram maior ocorrência
de hipoglicemia que seus pares nascidos a termo não precoce, o que sugere um fator de
risco do parto a termo precoce em mulheres com gestação complicada por hiperglicemia.

Palavras-chave: Hiperglicemia na Gestação, Hipoglicemia Neonatal, Parto a Termo.

216
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

O parto a termo precoce (entre 37 semanas e 38 semanas e 6 dias)1 , quando compa-


rado aos períodos de termo pleno (entre 39 semanas e 40 semanas e 6 dias) e termo tardio
(entre 41 semanas e 41 semanas e 6 dias)1 , tem sido associado a maior morbidade neonatal
e elevação de custos hospitalares, com possíveis repercussões negativas de saúde a longo
prazo, como maior predisposição a obesidade/sobrepeso, hiperlipidemia, diabetes mellitus
tipo 2 e internações por problemas endócrino-metabólicos2,3. O ambiente intrauterino hiper-
glicêmico provoca alterações epigenéticas na prole2–4. As dimensões dessas mudanças na
expressão gênica, no entanto, ainda não foram completamente esclarecidas4–6 .
A prevalência de hiperglicemia na gestação tem apresentado constante elevação nas
últimas décadas, atingindo 15,8% das gestações de nascidos vivos em 20197. O hiperin-
sulinismo fetal induzido pela hiperglicemia materna faz aumentar o risco da hipoglicemia
neonatal5,8–10, pois o fluxo contínuo de glicose se extingue, reduzindo bruscamente o subs-
trato energético disponível para o neonato10 . Destaca-se que a hipoglicemia neonatal pode
resultar em déficits neurológicos a longo prazo11,12 . Por outro lado, o parto a termo pleno e
tardio, especialmente em mulheres com hiperglicemia na gestação, ajuda a prevenir a hi-
poglicemia neonatal13, devido a um maior grau de amadurecimento fisiológico do organismo
fetal ao nascimento2,3 .
Estudos prévios evidenciaram que o parto a termo não precoce está associado a menor
prevalência de hipoglicemia neonatal2,14 . No entanto, os estudos que examinam a relação
entre os diferentes períodos do parto a termo e hipoglicemia neonatal em mulheres com
hiperglicemia na gestação são bastante escassos15,16 , o que motivou o objeto do presente
estudo, que foi investigar a associação entre idade gestacional no parto a termo de mulheres
com hiperglicemia e hipoglicemia neonatal .

METODOLOGIA

Desenho do estudo, cenário e participantes

Este estudo transversal é relatado de acordo com a declaração STROBE17 . Foi reali-
zado em uma maternidade-escola vinculada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte
entre novembro de 2017 e fevereiro de 2019, após a aprovação do Comitê de Ética local
(Número do Protocolo: 73252017.3.0000.5292). Duzentas e cinquenta e oito (258) puérperas
com hiperglicemia na gestação foram selecionadas por conveniência (Figura 1). O recru-
tamento ocorreu em até 48h após o parto, momento no qual autorizaram a utilização de
seus dados por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e foram
217
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
entrevistadas. Os critérios de inclusão foram: i) diagnóstico de diabetes tipo 1, tipo 2 ou ges-
tacional (DMG), de acordo com os critérios de diagnóstico da Organização Mundial de Saúde
de 201816, que estabelecem que a DMG deve ser diagnosticada a qualquer momento da
gravidez se pelo menos um dos seguintes indicadores forem atendidos: a) glicose plasmática
em jejum 5,1–6,9 mmol/l (92–125 mg/dl), b) glicose plasmática de 1 hora ≥ 10,0 mmol/l (180
mg/dl) após carga oral de glicose de 75g, c) glicose plasmática de 2 horas 8,5–11,0 mmol/l
(153–199 mg/dl) após carga oral de glicose de 75g; ii) parto a termo. Os critérios de exclu-
são foram: i) gestação múltipla; ii) uso regular de corticoides durante a gravidez; iii) falta de
acesso aos dados necessários para completar o instrumento de coleta.

Figura 1. Fluxograma da amostra do estudo.

Procedimentos

Todas as participantes foram submetidas aos seguintes procedimentos: i) aplicação de


formulário elaborado pelo pesquisador principal, incluindo as informações maternas: idade,
acompanhamento pré-natal, peso pré-gestacional, altura, gestações e partos anteriores (na
entrevista); ii) coleta de informações do prontuário e da caderneta de pré-natal sobre diag-
nóstico de diabetes, infecção do trato urinário, hipertensão arterial, insulinoterapia, idade
gestacional (IG) no parto, tipo de parto, peso ao nascer, glicemia neonatal, ocorrência de
desconforto respiratório e icterícia (até uma semana após a entrevista).
218
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
O índice de massa corporal (IMC) foi calculado pela divisão da massa corporal, em
quilogramas, pelo quadrado da estatura, em metros. A obesidade pré-gestacional foi definida
pelo índice igual ou superior a 3018 .

Idade gestacional no parto

A IG foi determinada por ultrassonografia, segundo estabelecem Henriques et at., 201919


, com base no primeiro exame registrado no prontuário. A classificação das participantes foi
baseada nas definições do American College of Obstetricians and Gynecologists1 : termo
precoce, entre 37 e 38 semanas e 6 dias; termo pleno, entre 39 e 40 semanas e 6 dias; e
termo tardio, entre 41 semanas e 41 semanas e 6 dias. As mulheres foram alocadas em dois
grupos, conforme a IG no parto a termo: i) termo precoce, entre 37 e 38 semanas e 6 dias; ii)
termo não precoce, englobando termo pleno e termo tardio, entre 39 e 41 semanas e 6 dias.

Hipoglicemia neonatal

A investigação da hipoglicemia neonatal foi realizada pela medição da glicemia capilar,


de acordo com as diretrizes para hipoglicemia, estabelecidas pela Sociedade Brasileira de
Pediatria20 . A classificação da hipoglicemia (sim vs não) foi determinada pela ocorrência
de pelo menos um registro abaixo do ponto de corte nas primeiras 24 horas de vida, de
acordo com o protocolo clínico de hipoglicemia neonatal de 2019 do Hospital de Clínicas da
Universidade Federal do Triângulo Mineiro (HC-UFTM)21 . O ponto de corte utilizado foi de
45 mg/dl, em observância ao que estabelece a Sociedade Brasileira de Pediatria20 .

Análise Estatística

O teste de Shapiro-Wilk foi aplicado para verificar a normalidade das variáveis con-
tínuas. O teste foi aplicado em cada grupo de interesse: parto a termo precoce (sim vs
não). A análise descritiva das variáveis que evidenciaram distribuição normal foi realizada pela
média e desvio-padrão (Média ± DP). Para variáveis sem distribuição normal em qualquer
um dos grupos, utilizou-se a mediana e os percentis 25 e 75. Para as variáveis categóricas,
a análise foi realizada por meio de frequências absolutas e relativas.
O teste t para amostras independentes foi utilizado para as variáveis contínuas que
apresentaram normalidade. O teste de Levene foi aplicado para verificação da homogenei-
dade de variâncias. Utilizou-se o teste não paramétrico de Mann-Whitney para comparar as
diferenças entre as distribuições das variáveis que não apresentaram normalidade. O teste
Qui-quadrado foi utilizado para analisar a associação entre o período do parto a termo e as
variáveis de natureza categórica – obesidade pré-gestacional, diagnóstico de DM, tipo de
219
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
DM, comorbidades maternas: infecção do trato urinário, hipertensão crônica e hipertensão
gestacional, insulinoterapia, tipo de parto e desfechos neonatais (hipoglicemia, desconforto
respiratório, macrossomia e icterícia). Nas situações em que as células das tabelas apresen-
taram frequências esperadas inferiores a cinco, aplicou-se o teste exato de Fisher. O coe-
ficiente Phi (φ) foi utilizado para analisar a força da associação entre a ocorrência de parto
a termo precoce e hipoglicemia. Na análise multivariada, as associações entre PTP e des-
fechos neonatais foram realizadas por meio da regressão logística, e os resultados foram
reportados pelas razões de chances (RC) e seus respectivos intervalos a 95% de confiança
(IC 95%). Todos os modelos multivariados foram ajustados para as variáveis independentes
que apresentaram valor de p inferior a 0,10 na análise bivariada. O nível de significância de
5% foi adotado para todas as análises. O software utilizado foi o SPSS (Statistical Package
for the Social Sciences, Chicago, EUA), versão 25.

RESULTADOS

A Tabela 1 mostra as características das participantes de acordo com o status do parto


a termo (n = 258). Foram observadas diferenças entre os grupos parto a termo precoce e
parto a termo não precoce nas variáveis idade, IMC (pré-gestacional e ao final da gestação)
e insulinoterapia (p < 0,05).

Tabela 1. Fatores maternos e fetais de puérperas diabéticas com parto a termo precoce ou a termo não precoce (n = 258)

Parto a termo precoce


Variáveis p
Sim Não
n, % 163 (63%) 95 (37%)
IG, semanas 38,0 (37,2 – 38,2) 39,2 (39,0 – 40,0) < 0,001
Idade, anos 31,78 ± 6,45 29,24 ± 6,01 0,002
IMC, kg/m2
Pré-gestacional 33,0 (28,0 – 38,0) 29,5 (26,9 – 33,3) 0,001
Ao final da gestação 36,0 (31,2 – 40,0) 33,2 (30,0 – 37,3) 0,010
Obesidade pré-gestacional 109 (66,9%) 48 (51,1%) 0,012
Diagnóstico de DM, n (%)
Pré-gestacional 21 (12,9%) 13 (13,7%) 0,854
Gestacional 142 (87,1%) 82 (86,3%)
Tipo de DM, n (%)
Gestacional 136 (83,4%) 82 (86,3%) 0,396
Tipo I 3 ( 1,8%) 0 ( 0,0%)
Tipo II 24 (14,7%) 13 (13,7%)
Comorbidade, n (%)
Infecção do trato urinário 72 (44,2%) 42 (44,2%) 0,999
Hipertensão crônica 27 (16,6%) 12 (12,6%) 0,395
Hipertensão gestacional 49 (30,1%) 23 (24,2%) 0,312
Insulinoterapia 60 (36,8%) 21 (21,1%) 0,008
Tipo de parto, n (%) 0,376
220
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Parto a termo precoce
Variáveis p
Sim Não
Cesárea 108 (66,3%) 68 (71,6%)
Vaginal 55 (33,7%) 27 (28,4%)
Peso ao nascer, g 3.449,74 ± 533,33 3.564,92 ± 525,21 0,109
Glicemia neonatal, mg/dl 55 (48 – 63) 56 (50 – 62) 0,327
Os dados contínuos estão expressos em Média ± DP.
Os dados categóricos estão expressos em frequência absoluta (n) e relativa (%).
Valores em negrito indicam significância em p < 0,05. Abreviações: Idade Gestacional (IG); Índice de Massa Corporal
(IMC); Diabetes Mellitus (DM); Desvio-padrão (DP).

A Tabela 2 apresenta a ocorrência de desfechos neonatais negativos de acordo com o


status do parto a termo. O grupo parto a termo precoce apresentou maior ocorrência de hipo-
glicemia neonatal (p < 0,05). Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas
entre os grupos nos desfechos macrossomia, icterícia e desconforto respiratório (p > 0,05).

Tabela 2. Principais desfechos neonatais de puérperas diabéticas com parto a termo precoce ou a termo não precoce
Razão de chances (IC Razão de chances (IC
Termo precoce
Variáveis total p1 95%) 95%)
Sim Não Não ajustada Ajustada2
n, %3 258 163 (63%) 95 (37%)
Hipoglicemia 40 (15,5%) 33 (20,2%) 7 (7,4%) 0,0064 3,19 (1,35 – 7,54) 2,88 (1,19 – 6,96)
Desconforto respi-
60 (23,3%) 43 (26,4%) 17 (17,9%) 0,120 1,64 (0,88 – 3,09) 1,52 (0,79 – 2,92)
ratório
Macrossomia 52 (20,2%) 28 (17,2%) 24 (25,3%) 0,118 0,61 (0,33 – 1,14) 0,41 (0,20 – 0,81)
Icterícia 17 (6,6%) 13 (8,0%) 4 (4,2%) 0,240 1,97 (0,62 – 6,23) 1,30 (0,39 – 4,37)
1
Significância da diferença entre os grupos pelo teste Qui-quadrado de Pearson ou Exato de Fisher.
2
Regressão logística ajustada para idade, insulinoterapia e IMC materno ao final da gestação.
3
Os dados estão expressos em frequência absoluta (n) e relativa (%).
4
ɸ = 0,172.
Valores em negrito indicam significância em p < 0,05.
Abreviações: Intervalo de Confiança (IC).

Houve associação significante entre parto a termo precoce e hipoglicemia, χ2 (1) =


7,597, p < 0,05 (RC = 2,88; IC 95%: 1,19 – 6,96). Esta associação foi significativa, φ = 0,172,
p < 0,05, apresentando um tamanho de efeito pequeno (Tabela 2).

DISCUSSÃO

Pesquisas que investigam a associação entre desfechos negativos de saúde e período


do parto a termo em mulheres com hiperglicemia na gestação são escassos6 . O principal
achado do presente estudo identificou que neonatos de mulheres com hiperglicemia na
gestação nascidos a termo precoce apresentaram maior ocorrência de hipoglicemia em
comparação com seus pares nascidos a termo não precoce (pleno e tardio).
A caracterização da amostra evidenciou diferença significativa entre os grupos para
obesidade e uso de insulina, com maiores ocorrências no grupo termo precoce. Trata-se
de resultados esperados, uma vez que ambas as variáveis estão fortemente associadas a
maiores concentrações de glicemia materna5,9,22 , situação na qual as principais diretrizes
221
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
obstétricas indicam a realização do parto de maneira precoce, como forma de reduzir a
possibilidade de óbito intrauterino23,24 .
O parto a termo precoce tem sido associado a maior ocorrência de desfechos negativos
de saúde neonatal, em oposição aos períodos do termo pleno e tardio, em gestações tanto
de risco habitual quanto de alto risco25–27 . Nossas descobertas sugerem que essa associa-
ção se estende à hipoglicemia neonatal em mulheres com hiperglicemia na gestação, o que
significa que a realização do parto a termo não precoce parece proporcionar uma chance
maior de status de glicemia neonatal saudável que o parto a termo precoce. Isto se explica
pela menor maturidade fetal no parto a termo precoce e essas informações podem auxiliar
na decisão obstétrica do parto eletivo, a fim de proporcionar, quando possível, menores
chances de hipoglicemia neonatal.
O American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) e a Society for
Maternal-Fetal Medicine (SMFM), em gestações complicadas por diabetes, recomendam
a realização do parto antes das 39 semanas de gestação apenas nos casos de diabetes
pré-gestacional com complicações vasculares, controle inadequado da glicose ou natimor-
to anterior23 . De fato, o parto eletivo em gestações prematuras ou a termo precoce deve
ser reservado para situações em que os riscos fetais ou maternos sejam maiores que os
possíveis problemas neonatais devido à maturidade fetal insuficiente como um todo28 .
Nossos achados reforçam a influência positiva do parto a termo não precoce para o resul-
tado clínico de importante desfecho perinatal em mulheres com hiperglicemia na gestação:
a hipoglicemia neonatal.
A hipoglicemia neonatal é uma entidade clínica relativamente comum, com incidência
de 5 a 15% em recém-nascidos saudáveis, sendo 50% deles assintomáticos20 . Trata-se
de um desfecho desfavorável extremamente relevante do ponto de vista de saúde pública,
apresentando alta morbimortalidade, podendo provocar danos graves ao sistema nervoso
central, como infarto de artéria cerebral média e hemorragias intraparenquimatosas, que,
por sua vez, resultam em problemas como prejuízo do desenvolvimento cognitivo, convul-
sões29 paralisia cerebral e surdez30 . Todavia, esta é uma situação de fácil rastreamento e
tratamento20,21 , sendo, por isso, fundamental a orientação dos cuidados médicos.
Quanto às implicações clínicas dos nossos achados, estes indicam que, nos casos de
parto realizado no período do termo precoce, seja observada especial atenção à ocorrência
de hipoglicemia neonatal, oportunizando sua detecção precoce e correção, como forma de
evitar maiores danos aos filhos de mães diabéticas.
Este estudo apresenta algumas limitações que devem ser mencionadas. A generali-
zação de nossos achados deve ser interpretada com cautela, devido à inclusão de amostra
recrutada em um único centro de referência para mulheres com hiperglicemia na gestação.
222
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Além disso, não foi realizada separação das participantes por tipo de diabetes e não foi in-
vestigado o nível de controle glicêmico durante a gestação. Portanto, sugere-se que estudos
futuros sejam realizados com a observância destes dois fatores.

CONCLUSÃO

Neonatos de mulheres com hiperglicemia na gestação e parto a termo precoce apresen-


taram maior ocorrência de hipoglicemia que seus pares nascidos a termo não precoce, o que
sugere um fator de risco do parto a termo precoce em mulheres com gestação complicada
por hiperglicemia. Esses achados sugerem que a decisão obstétrica sobre o momento ideal
para o parto eletivo em mulheres com hiperglicemia deve considerar a diferença entre os
períodos do parto a termo, a fim de favorecer a glicemia neonatal saudável.

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar


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225
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
15
Importância de um manejo clínico
adequado em gestantes soropositivas
ao HIV: uma revisão integrativa

Emmanuel Victor Sousa França Karoline Maria Rodrigues Forte Sousa


UNIFIP UNIFIP

Carliana Ingrid de Castro Silva Isadora Anízio Veríssimo de Oliveira


UNIFIP UNIFIP

Lisandra Samara Verdegér Faustino Renata Carol Evangelista Dantas


UNIFIP UNIFIP

Damara Zayane Barros Freitas Vilma Raquel Lima Ramalho de Holanda


UNIFIP UNIFIP

Maria Alexandra Pereira Souza Daysianne Pereira de Lira Uchoa


UNIFIP UNIFIP

10.37885/210404364
RESUMO

A gestação é um período de incertezas, no qual a mulher precisa tomar ainda mais


cuidado com as consequências de infecções. Uma das mais preocupantes é a infecção
pelo vírus do HIV, que põe em risco a qualidade de vida de mãe e filho pela transmissão
vertical (TV). Assim, é imprescindível a adoção de manejo clínico que favoreça a saúde
desse binômio, sendo o objetivo desse trabalho compreender a importância do manejo
clínico adequado pelos profissionais de saúde para gestantes soropositivas. Realizou-
se uma revisão integrativa nas bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde e Scielo,
utilizando os Palavras-chave “saúde reprodutiva”, “AIDS”, “HIV” e “gestantes”. Filtrou-se
por publicações de 2015 a 2020, nos idiomas inglês e português. A amostra final de 8
artigos mostrou que a equipe de saúde precisa avaliar a evolução clínica da paciente,
proporcionar apoio psicológico e informações sobre HIV/aids e as formas de transmis-
são e tratamento. Entretanto, viu-se que mulheres soropositivas, sem acompanhamento
adequado, podem engravidar, de forma inesperada ou planejada. Essa relação da forma
preconizada permite desenvolver consultas regulares para o tratamento antirretroviral
profilático, objetivando negativar a carga viral. A escolha do tipo de parto também é fator
determinante para o desfecho profilático, sendo mais recomendada a cesárea eletiva.
Diante disso, torna-se essencial que o profissional de saúde saiba promover suporte ade-
quado as gestantes, as possibilitando se reconhecer como sujeitos da promoção de sua
saúde e de seu filho para, junto a equipe de saúde, aplicar as profilaxias antirretrovirais
para manter-se saudável e evitar a TV.

Palavras-chave: HIV, AIDS, Saúde Reprodutiva, Gestantes.

227
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

A síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) é uma doença crônica infecciosa cau-


sada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Atualmente, uma parcela considerável dos
diagnósticos de casos de infecção retroviral na população feminina se dá durante o período
gestacional, sendo o maior número durante o pré-natal, seguido de diagnóstico durante o
parto e após o nascimento do bebê (BICK et al., 2018). Nesse contexto, a mulher deve ser
informada do risco de transmissão vertical do HIV e das medidas adotadas para preveni-la.
Segundo Bertagnoli e Figueiredo (2017), existe uma enorme dificuldade para a distri-
buição do poder nas relações de gênero, que atua como elemento estruturante da vulnera-
bilidade ao HIV. Ainda, em seu estudo, os autores relataram que a maioria das gestantes
soropositivas ao HIV se reconhecem como vítimas da ação de seus parceiros, que são vistos
como culpados pelo contágio. Dessa forma, é necessário analisar todo o histórico dessas
gestantes, haja vista que a dificuldade na relação de confiança com seus parceiros pode
agravar ainda mais as dificuldades vividas pelas mulheres.
Gestantes portadoras de HIV vivenciam muitas angústias ao terem que assimilar a
gravidez ao risco de contaminar o feto que se desenvolve no seu ventre, sendo essa a maior
preocupação das gestantes. Nessa perspectiva, é comum que a grávida fantasie incapa-
citações e riscos à integridade do bebê, essas fantasias podem desencadear angústias e
pensamentos de abandono do filho, haja vista que a mãe se vê como provedora da criança,
mas incapaz de vê-la crescer (BASTOS et al., 2019).
Além dos aspectos psicológicos vividos pela mãe durante a gestação, vê-se que crian-
ças infectadas pelo HIV têm diferentes desfechos clínicos, a depender de fatores de risco
sociais, quais sejam: desnutrição e doenças infecciosas. Esses fatores podem comprometer
o desenvolvimento infantil, dificultando a evolução física, cognitiva, emocional e cultural da
criança (BICK et al., 2018). Assim, torna-se imprescindível a adoção de um manejo clínico
que possa favorecer a saúde da gestante e da sua criança.
O seguinte estudo propõe compreender a importância do manejo clínico adequado pelos
profissionais de saúde para gestantes soropositivas. Uma abordagem sobre essa questão
torna-se importante porque a infecção pelo HIV apresenta riscos à saúde e à relação do
binômio materno-fetal, e manejos clínicos adequados voltados para essa discussão pode
auxiliar em um processo gestacional com menos dificuldades.

228
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
DESENVOLVIMENTO

Metodologia

O presente estudo trata-se de um Revisão Integrativa da Literatura, uma vez que este
método permite sintetizar resultados de estudo primários de modo a consolidar achados
significativos no contexto da pesquisa (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010).
A priori foi definida a questão norteadora <Compreender a importância do manejo clí-
nico adequado pelos profissionais de saúde para gestantes soropositivas>, posteriormente
realizou-se consulta aos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), foram definidos para a
pesquisa os seguintes termos: “saúde reprodutiva”, AIDS, HIV e gestantes.
A busca foi realizada na plataforma Biblioteca Virtual em Saúde Brasil (BVS-BRASIL)
com os descritores “saúde reprodutiva”, AIDS, HIV, encadeados pelo operador booleano
AND, filtrados por artigos de 2017 a 2021 nos idiomas inglês e português, assunto principal
saúde reprodutiva, obtendo-se 34; e na Scientific Electronic Library Online (SCIELO) com os
descritores gestantes AND HIV, aplicados os filtros publicações de 2017 a 2021, no idioma
português, resultando em 19 artigos.
Por fim os artigos foram lidos integralmente e excluídos os que não se relacionavam
satisfatoriamente com o tema.

Fluxograma 1. Processo de seleção dos artigos a partir das palavras-chave

Fonte: Autoria própria, 2021.

229
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
No primeiro quadro (Quadro 1) foram citados os artigos utilizados, o ano de publicação,
o periódico e os temas centrais de cada trabalho.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Conforme o quadro 1, constata-se que a maioria dos artigos foi publicada em 2018
(37,5 %; n=3) e no periódico Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil (25 %; n=2). Além
disso, destacou-se que a maior parte dos trabalhos possuía gestantes com HIV como tema
central (50 %; n=4).

Quadro 1. Categorização dos artigos selecionados durante a análise

N° Autor (es) Ano Temas centrais Periódico


1 Basto et al. 2019 Gestantes com HIV Revista Bioética
2 Bertagnoli e Figueiredo 2017 Gestantes com HIV Psicologia: Ciência e Profissão
Gestantes com HIV e crianças expostas Revista Brasileira de Saúde Materno
3 Bick et al. 2018
ao HIV Infantil
Revista Brasileira de Saúde Materno
4 Brandão et al. 2016 Transmissão vertical do HIV
Infantil
Notificação da infecção pelo HIV em
5 Domingues et al. 2018 Revista de Saúde Pública
gestantes
6 Medeiros et al. 2018 Gestantes com HIV Sexualidad, Salud y Sociedad
7 Silva et al. 2019 Maternidade e HIV Revista Brasileira de Enfermagem
8 Villela et al. 2017 Mulheres com HIV Ciência & Saúde Coletiva
Fonte: Dados de pesquisa, 2021.

Os contextos de aquisição da infecção, embora distintos, são permeados por histó-


rias de amor, de pressão dos parceiros por sexo e/ou para o sexo sem preservativo, como
também por desinformação sobre a infecção pelo HIV/aids e a necessidade de proteção.
Situações como a circunstância de realização do diagnóstico, a sua aceitação, o seu com-
partilhamento com pessoas próximas e a busca de apoio variam com o tempo de convivência
com o HIV. Outras situações, em especial no que se refere a saber como se deu a infecção,
parecem alterar-se menos, pois, tanto mulheres diagnosticadas há mais de 10 anos quanto
as que recém se infectaram têm dificuldade de saber como ou com quem se deu a infecção.
(VILLELA e BARBOSA, 2017)
No Brasil, entre os anos de 1980 e 2017, foram notificados, à Coordenação Nacional de
Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) e Aids do Ministério da Saúde, 882.710 casos
de Aids (576.245 ocorreram em homens e 306.444 em mulheres). Para mais, desde o ano
2000, a maior ocorrência de notificações no SINAN (Sistema de Informação de Agravos
de Notificação) corresponde às gestantes com idades entre 20 a 24 anos. Os níveis de
escolaridade apresentam um predomínio de mulheres com ensino fundamental incompleto,
o que indica o pouco acesso às informações para prevenção da transmissão vertical (TV).
(BICK et al., 2018) 230
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Em estudo realizado por Brandão et al. (2016), com foco nos desafios da prevenção
da TV do HIV em Petrolina (PE) e em Juazeiro (BA), constatou-se que as características
sociodemográficas não divergiram do padrão revelado em outras pesquisas, uma vez que
as mulheres eram, predominantemente, não brancas, jovens, com maior potencial repro-
dutivo aliado à baixa escolaridade, representando risco presente e futuro de TV, tanto pelo
desconhecimento do HIV, quanto pela possibilidade de apresentarem gestações sucessivas
e pré-natais de baixa qualidade.
Outrossim, de acordo com Rocha, Vieira e Lyra (2013 apud MEDEIROS; JORGE, 2018),
constata-se que as mulheres pertencentes à realidade em pauta vivenciam vulnerabilidades
relevantes. Além da vulnerabilidade por determinações biológicas, marcadas pela condição
receptiva nas relações sexuais, as questões de gênero, patriarcado, socioeconômicas, de
raça/etnia e violência doméstica mostram-se importantes nessa discussão.
Segundo Bertagnoli et al. (2017), foi feito um levantamento com dez gestantes porta-
doras de HIV, no qual concluiu-se que apenas quatro conheciam a situação sorológica do
parceiro atual, dentre elas duas viviam com parceiros também soropositivos para o HIV,
sendo que os diagnósticos dos parceiros foram realizados durante o pré-natal. As outras
seis participantes afirmaram desconhecer a condição sorológica do parceiro. Dessa forma,
constatou-se também que a negociação do uso do preservativo é negligenciada pelas mu-
lheres envolvidas em relações estáveis.
Segundo Villela e Barbosa (2017), a partir do momento em que não se tem o uso do
preservativo devido à presença da relação estável, exclui-se a percepção do risco ou mesmo
há dificuldade de uso de prote­ção junto a um parceiro conjugal, uma vez que o mesmo pode
convencer a parceira a não fazer seu uso, o que pode promover o aumento da infecção pelo
HIV. Assim, ape­sar do esforço de organizações governamentais e não governamentais,
visando desconstruir a ideia dos “grupos de risco” e incentivar a negociação para o uso do
preservativo, essa ideia aparentemente se manteve no imaginário social. Hodiernamente,
com o tratamento antirretroviral da AIDS, houve uma redução da prevenção em relação
ao HIV, pois notou-se que, hoje, os portadores do vírus conseguem viver normalmente
através do uso dos coquetéis. Por isso, surgiu a preocupação dos órgãos de saúde acerca
do aumento da taxa de infecções. Portanto, a persistência do estigma relacionado ao HIV/
aids e aos seus portadores con­tinua a fomentar atribuições negativas relativas ao uso do
preservativo, restringindo a prevenção entre as mulheres, mesmo na contemporaneidade.
Diante da análise da base de dados, chegou-se ao denominador de que os mecanismos
de identificação de gestantes infectadas pelo HIV foram analisados apenas em maternidades
de maior porte, em que se teria um número mais expressivo de partos, com mais de 500
partos/ano, e a subnotificação identificada decorreu de falhas no preenchimento ou no envio
231
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
das fichas de notificação. A testagem sorológica para o HIV no decurso do pré-natal no país
não atingiu a cobertura de 100%, que é um dos mecanismos de diagnóstico bastante eficaz
no rastreamento do HIV. Por isso, a testagem das gestantes antes de sua admissão para o
parto deve continuar sendo utilizada e incentivada, a fim de evitar oportunidades perdidas
do diagnóstico da infecção. Como os estudos não incluem maternidades com menos de 500
partos/ano, nem partos no domicílio ou em via pública, as oportunidades perdidas do diag-
nóstico da infecção pelo HIV nesses contextos devem ser investigadas em estudos futuros,
tanto para que se possa evitar a subnotificação, como também para que essas gestantes não
cheguem ao parto sem o diagnóstico, podendo propiciar a TV ao seu bebê. (DOMINGUES;
SARACENI; LEAL, 2018)
No que diz respeito à transmissão vertical, sabe-se cerca de 65% a 70% dos casos
ocorrem durante o parto, por intermédio do contato entre sangue materno e superfícies
cutaneomucosas do nascituro; 35% acontecem na fase intrauterina (majoritariamente nas
últimas semanas de gestação); e o restante advém do aleitamento materno, ao qual se atribui
risco adicional de TV entre 5% e 22%. Ademais, os fatores mais associados à TV do HIV
são A carga viral (CV) materna elevada e a rotura prolongada das membranas. Sem interven-
ção adequada, a TV pode ser verificada em 20% a 25% dos casos. (BRANDÃO et al., 2016)
Vale salientar, ainda seguindo o pensamento de Brandão et al. (2016), que evidências
têm fundamentado algumas medidas preventivas (MP), as quais, em conjunto, reduziram
a TV a níveis abaixo de 2% em países em desenvolvimento e a entre 0 e 1% nos desenvolvi-
dos. A primeira é o uso de terapia antirretroviral combinada (TARV) no pré-natal, decorridas
as 13 primeiras semanas, devendo-se associar pelo menos três antirretrovirais de diferentes
classes, com manutenção até o parto. Na admissão ao parto, é recomendado o uso de AZT
(azidotimidina) endovenoso intraparto na parturiente, com exceção daquelas com carga viral
(CV) indetectável após 34 semanas. Ademais, opta-se por uma via de parto preferencial,
a cesariana eletiva (CE), com membranas íntegras e após 38 semanas de gestação, caso
a CV materna seja superior a 1.000 cópias/mL ou ignorada até 34 semanas; ou o ou parto
vaginal/cesariana, caso a CV seja inferior a 1.000 cópias/mL até a 34ª semana. No pós-parto,
indica-se o AZT xarope para o recém-nascido (RN), que precisa ser associado à nevirapina
nos casos em que a mãe não utilizou TARV ou apresente CV superior a 1.000 cópias/mL.
Além disso, a amamentação não é aconselhada.
Um estudo realizado por Bick et al. (2018) com 110 mães com HIV comprovou que,
quanto ao uso de drogas injetáveis, cerca de 36% apresentaram incompletudes dos dados
em prontuários, e apenas cerca de 2% estavam identificadas como usuárias. A maioria
em acompanhamento durante a gestação (80%) recebeu antirretrovirais para tratamento
e prevenção da transmissão vertical. A via de parto foi cesárea eletiva para a maioria das
232
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
gestantes (66,4%). Houve rotura de membranas para aproximadamente 17% das gestantes
e 14% de incompletude.
Dentre 58 crianças investigadas, cinco foram infectadas. A TARV foi adotada em 56,6%
(43), sendo 13,5 semanas a mediana do tempo de aplicação. O uso de AZT intraparto be-
neficiou 61,8% das crianças que receberam. (BRANDÃO et al., 2016)
Ademais, segundo Bick et al. (2018), há uma relação importante entre o comparecimento
às consultas do pré-natal e a melhor adesão ao tratamento antirretroviral. Logo, a à profila-
xia da TV segue estratégias que integram o cuidado realizado no pré-natal ao atendimento
no serviço especializado, proporcionando níveis maiores de satisfação e de segurança das
gestantes no tocante aos profissionais e aos serviços de saúde.
Ainda acompanhando a concepção de Bick et al. (2018), no que se refere aos fatores
relativos à prevenção da TV intraparto, deve-se mencionar a maior ocorrência de cesáreas
eletivas, o que simboliza a efetivação de uma das recomendações para profilaxia. A indicação
da via vaginal ocorre somente nos casos de mulheres com carga viral indetectável e com
adesão satisfatória aos medicamentos antirretrovirais. Igualmente, precisa-se mencionar
que a imprescindibilidade da profilaxia antirretroviral do HIV durante o trabalho de parto é
fundamentada na maior exposição da criança ao sangue materno durante o processo, e a
prática viabiliza a prevenção de até 90% dos casos de TV.
Para viabilizar a adoção das MP, há necessidade de início precoce, universal e contí-
nuo do pré-natal. No Brasil, todas as gestantes devem passar por uma triagem sorológica
primeiro trimestre gestacional. Além disso, sabe-se que um pré-natal inadequado ou au-
sente configura um fator limitador do diagnóstico. Todavia, não existe um consenso acerca
do número ideal de consultas, haja vista que, havendo disponibilidade do teste rápido, em
tese, um atendimento permitiria o diagnóstico da infecção pelo HIV, o início da TARV e o
aconselhamento da gestante. (BRANDÃO et al., 2016)
No que concerne ao acompanhamento psicológico das mulheres em pauta, precisa-se
atentar para a necessidade de que psicólogos que atuam em serviços de saúde pública,
especialmente aqueles que participam da Atenção Primária à Saúde (APS), desenvolvam
métodos de atenção dedicados, também, à discussão acerca dos direitos dessas mulheres.
Acredita-se que esses profissionais possam propor uma sensibilização de outros membros
da equipe de saúde, visando à promoção conjunta do reconhecimento do poder dessas
mulheres. Além disso, há uma necessidade de ajudar a equipe a reconhecer as possibilida-
des de cuidado para com tais mulheres, para mais do que questões meramente técnicas.
(BERTAGNOLI; FIGUEIREDO, 2017)
Com o diagnóstico, a mulher usa alguns mecanismos de defesa, como negação, isola-
mento e desvalorização de si mesma. Torna-se fundamental que os profissionais de saúde
233
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
procurem adquirir mais conhecimento sobre a situação emocional e social dessas gestantes,
para que possam utilizar estratégias no intuito de promover um manejo clínico adequado. Foi
instituída uma classificação de três fases para as gestantes que apresentaram um compro-
metimento psicológico decorrente de seu quadro, sendo essas fases: a pri­meira, de confusão
inicial de sentimentos; a segunda, de percepção das ambiguidades; e a terceira, de dúvida
da mulher quanto ao que será transmitido ao filho. Com o desenvolvimento dessas fases,
o profissional da saúde terá condi­ções de decidir sobre o manejo mais adequado. Assim, a
construção de ideias e a discussão dos quadros clínicos das gestantes serão de fundamen-
tal importância para que se possa adaptar propostas terapêuticas a essas mulheres e suas
famílias, favorecer a adesão ao tratamento e minimizar a TV do HIV. (BASTOS et al., 2019)
Tendo em consideração os direitos à saúde da mulher com HIV e do nascituro, cons-
tata-se que resultam em uma obrigação do Estado, operacionalizada pelas políticas e pelos
serviços de saúde, a fim de assegurar que a maternidade não traga riscos à saúde desses
e de outros envolvidos. A possibilidade de prevenção da TV do HIV, através das medidas
de profilaxia preconizadas pelo Ministério da Saúde (TARV no pré-natal, no parto e para
o RN exposto; indicação de parto cesáreo; e substituição do aleitamento materno por fórmu-
las lácteas), demonstrou progressos em relação às decisões reprodutivas dessa população.
(SILVA; MOTTA; BELLENZANI, 2019)
A gestação, no contexto do HIV, equivale a um direito reprodutivo a ser respeitado, e,
portanto, a um desafio para a área da Saúde, que deve garantir condições adequadas e a
realização de pesquisas que englobem o tema. Não obstante, há impactos referentes aos
valores e às atitudes dos profissionais no que concerne às normas sociais e aos estereótipos,
o que implica em um ponto de tensão, o qual produz consequências para a prevenção da
infecção e para o livre exercício dos direitos reprodutivos. Notam-se, ainda, falhas dos servi-
ços especializados no tocante à atenção psicossocial e à superação da violação dos direitos,
posto que, apesar de responderem com ênfase à prevenção da TV, não se orientam pelo
princípio da integralidade, fortalecendo, pois, um modelo assistencial organicista, assinalado
pelo benefício à criança em detrimento da mulher (SILVA; MOTTA; BELLENZANI, 2019).
Silva, Motta e Bellenzani (2019) mostram, ainda, através da análise de estudos, que
mulheres portadoras de HIV expressam sentimentos ligados ao desejo pela maternidade,
no entanto, essa vontade pode ser postergada ou abolida após o diagnóstico de infecção
pelo HIV. Outrossim, ainda que tais mulheres demonstrem variados sentimentos relativos
ao assunto, como medos e inseguranças frente à incertezas, especialmente envolvendo o
risco de infecção dos parceiros, de TV e de possível orfandade da criança. Similarmente,
há também sentimentos resultantes da motivação para a maternidade como experiência

234
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
desejada (em que esta assume o sentido de esperança e de anseio por um ciclo de reno-
vação ou de reafirmação da vida).

CONCLUSÃO

Diante disso, demonstra-se a importância que o manejo clínico adequado de gestantes


soropositivas, uma vez que o comparecimento ao pré-natal se mostra benéfico à adesão ao
tratamento antirretroviral, garantindo a manutenção da saúde materna, além de permitir seu
acompanhamento psicológico. Ademais esse manejo também é fundamental para a preven-
ção da transmissão vertical, pois, ela pode ocorrer antes, durante e após o parto, porém, já
se tem meios viáveis de profilaxia que dependem do equilíbrio entre o cuidado realizado no
pré-natal e o atendimento no serviço especializado pelos profissionais de saúde.

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236
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
16
Investigação da adequabilidade das
consultas pré-natais na Cidade de
Macapá

Brunna Sousa Nascimento

Ingrid Terezinha Carvalho Pinheiro

Jessica Santos Santana

Jalva Maria do Socorro Costa Vulcão

10.37885/210303943
RESUMO

A Organização Mundial de Saúde (OMS) (2016) recomenda em seu novo modelo de aten-
ção pré-natal que sejam realizadas, no mínimo, oito consultas, pois evidências mostram
que desta forma é reduzida a mortalidade perinatal e melhora a experiência das mulheres
com os cuidados prestados. O Ministério da Saúde (2012) preconiza que sejam realiza-
das, no mínimo, seis consultas pré-natais, além de acompanhamento multiprofissional,
exames laboratoriais, imunização, educação em saúde e procedimentos clínico-obsté-
tricos. Objetivo: Esta pesquisa teve como objetivo geral investigar a adequabilidade da
atenção pré-natal na cidade de Macapá. Método: A metodologia utilizada foi pesquisa de
campo com delineamento quantitativo-descritivo, de natureza aplicada, com abordagem
quantitativa no mês de outubro do ano de 2019. Resultados: Evidenciou-se que as mulhe-
res deste estudo têm idade entre 18 e 43 anos, que a maioria mora em área urbana, se
considera solteira e tem o nível médio de estudos, destas 51,8% das mulheres realizaram
seis ou mais consultas. Conclusão: Identificou-se, portanto, que as consultas pré-natais
na cidade de Macapá não ocorrem em sua totalidade conforme preconiza o Ministério da
Saúde, pois apesar de parcela destas estarem de acordo com o preconizado com seis
consultas no mínimo, exames laboratoriais e sorológicos e educação em saúde, quase
metade das mulheres entrevistadas iniciou seu pré-natal somente no segundo ou ter-
ceiro trimestre de gestação, 25 destas mulheres realizaram todas as vacinas propostas
e somente quatro mulheres fizeram todos os exames recomendados.

Palavras-chave: Cuidado Pré-Natal, Saúde da Mulher, Período Pós-Parto.

238
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

A fase que antecede ao nascimento é um período de cuidados com a saúde física e


psicológica e preparo para o seu parto, a maternidade é um momento ímpar para a mulher,
assim como de grande aprendizado, proporcionando à equipe de saúde promover a educa-
ção como parte importante no cuidado.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) (2016) recomenda em seu novo modelo de
atenção pré-natal que sejam realizadas, no mínimo oito consultas, pois evidências mostram
que desta forma é reduzida a mortalidade perinatal e melhora a experiência das mulheres
com os cuidados prestados.
Brasil (2012) preconiza que sejam realizadas, no mínimo, seis consultas pré- natais,
além de acompanhamento multiprofissional, exames laboratoriais, imunização, educação
em saúde e procedimentos clínico-obstétricos. Cabe ao enfermeiro, intercalando com um
profissional médico, realizar a consulta de pré-natal de baixo risco. É válido frisar que, nos
termos do art. 8º, I, alínea “e” do Decreto nº 94.406 de 8 de junho 1987, a consulta de en-
fermagem compete privativamente ao enfermeiro.
Para o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA (2012), as consultas
pré-natais ocorrem da seguinte maneira: uma vez por mês da 4ª à 28ª semana, duas vezes
por mês da 28ª à 36ª semana e semanalmente a partir da 36ª semana, corroborando com
estas recomendações o Ministério da Saúde (2012a) estabelece os mesmos critérios para
a ordem das consultas.
De acordo com dados do Departamento de Informática do SUS (DATASUS), no ano de
2017, foram registrados no Brasil 1.501 casos de mortalidade materna, no Amapá o número
foi de 7 óbitos maternos, e no município de Macapá houve o registro de 4 casos, englobando
óbitos ocorridos durante a gravidez, parto e puerpério até 42 dias. No ano de 2018, foram
registrados 1.166 casos no Brasil representando uma queda de 22,31% em relação ao ano
anterior, já no estado do Amapá, no mesmo período houve um aumento de 14,28% e em
Macapá o aumento foi de 25%. Diante disso, observa-se o quanto é importante o acompa-
nhamento da gravidez para reduzir a mortalidade materna e perinatal.
Segundo Brasil (2012a), a finalidade da assistência pré-natal é garantir a evolução da
gestação, permitindo o parto de um recém-nascido sadio, sem interferência na saúde da
mãe, inclusive abordando aspectos psicossociais e as atividades educativas e preventivas.
Diante do exposto, para fundamentar este estudo questiona-se se as consultas pré-
natais estão de acordo com o que é preconizado pelo Ministério da Saúde.

239
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
MÉTODO

Trata-se de um estudo de campo com delineamento quantitativo descritivo, de natureza


aplicada, com abordagem quantitativa no Hospital da Mulher Mãe Luzia (HMML), na cidade
de Macapá, estado do Amapá, Brasil; durante o mês de outubro do ano de 2019. A amostra
contemplou dados de 114 puérperas, através da aplicação de um questionário preenchido
de acordo com os dados obtidos com as mulheres e sua caderneta da gestante.
O referido questionário foi dividido em duas etapas, sendo elas: I- Dados pessoais e
socioeconômicos; II- Aspectos relacionados ao pré-natal.
Foram adotados os seguintes critérios de inclusão: puérperas alocadas nas enferma-
rias de pós-parto normal (PPN) e pós-operatório (PO) mediatos, maiores de 18 anos, que
tivessem realizado no mínimo uma consulta pré-natal de baixo risco em Unidades Básicas
de Saúde (UBS), na cidade de Macapá e seus distritos.
Os dados foram analisados através da plataforma online Formulário Google e do soft-
ware Microsoft Excel 2016.
Todas as puérperas assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE). O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade Estácio Macapá-AP
através do parecer nº 4.215.859, CAAE 18362719.0.0000.5021, cumprindo todos os preceitos
éticos das resoluções 466/2012 e 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram coletadas um total de 114 amostras de mulheres com idade entre 18 e 43 anos.
Onde foi possível observar que, em sua maioria, residiam em área urbana representando
76,3% da amostra; 58,8% das mulheres se diziam solteiras; e 45,6% destas mulheres apre-
sentou o ensino médio como grau de escolaridade prevalente, conforme Tabela 1.

240
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Tabela 1. Dados socioeconômicos

Idade materna Quantidade de mulheres


18 a 43 114
Moradia Quantidade de mulheres
Urbana 87
Rural 9
Ressaca 18
Grau de escolaridade Quantidade de mulheres
Sem escolaridade 0
Nível fundamental 44
Nível médio 52
Nível superior 18
Estado civil Quantidade de mulheres
Solteira 67
União estável 30
Casada 11
Outros 6
Fonte: Autoria própria

Corroborando com estes achados, Moura et al. (2014) em estudo realizado em um


hospital no Rio de Janeiro, revela que a faixa etária das gestantes está entre 18 e 39 anos
de idade, tendo uma predominância de 13 mulheres adultas (25 a 39 anos) e 7 mulheres
jovens (18 a 23 anos). Em contrapartida, estudo realizado também no Rio de Janeiro mostra
a predominância de 14 gestantes entre 19 e 24 anos de idade e 4 gestantes entre 25 e 30
anos de idade (SPINDOLA; PROGIANTI; PENNA 2012).
No que concerne ao estado civil, contrariando estes achados, Mellado e Ávila (2016)
evidenciam que 73,2% das mulheres viviam em união estável.
Com relação ao grau de escolaridade, pesquisa de Costa et al. (2010) realizada com
2.075 mulheres em 30 municípios do Maranhão observou que 81,5% das mulheres são
alfabetizadas, destas 31% com um a quatro anos de escolaridade. Complementando estes
achados uma pesquisa realizada por Ferreira et al. (2014) com 10 mulheres no sul do Brasil
apontou que seis apresentaram ensino médio; três, ensino superior e uma apresentou en-
sino fundamental.
Nesta pesquisa as mulheres foram questionadas quanto às dificuldades para iniciar o
acompanhamento, 66,7% relataram não ter dificuldades e 33,3% alegaram ter encontrado difi-
culdades para iniciar o pré-natal. Dentre os problemas listados a dificuldade no agendamento
foi o principal, representado por 65,8% das respostas, como é possível observar na Figura 1.
As mulheres gestantes enfrentam diversas dificuldades para começar seu acompanha-
mento pré-natal, estudo realizado em Porto Alegre-RS relata dificuldades quanto ao acesso
geográfico e situação socioeconômica (VIEIRA et al. 2011). Em outra pesquisa realizada em
Paranoá-DF, justifica-se o acesso tardio ao pré-natal como a realização em outra unidade,
241
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
problemas familiares (omitir a gestação da família, conflitos com o parceiro) e dificuldades
de acesso (CORRÊA et al. 2011).

Figura 1. Dificuldades para iniciar o pré-natal.

Fonte: Autoria própria.

Foi questionado às mulheres se os profissionais de saúde solicitaram a caderneta de


pré-natal em seus atendimentos, 99,1% responderam que sim, e apenas 0,9% respondeu
que não. Quanto ao preenchimento da caderneta da gestante, 93,9% relataram que os
profissionais de saúde atualizaram a caderneta a cada consulta e 6,1% disse que o preen-
chimento foi realizado às vezes. Com relação a este achado, Brasil (2012a) afirma que ao
iniciar o acompanhamento pré-natal a paciente deve receber o cartão da gestante, nele
devem constar todos os registros sobre a condição de saúde desta mulher, a evolução do
bebê e os resultados dos exames solicitados.
Observou-se, portanto, através desta variável que os profissionais solicitavam a cader-
neta na maioria de seus atendimentos e que realizavam o preenchimento desta, com dados
atualizados da gestação.
De acordo com o prontuário das mulheres, em sua caderneta da gestante, foi possível
constatar que 58,8% começou seu pré-natal no primeiro trimestre da gestação, 31,6% iniciou
no segundo trimestre, enquanto 9,6% iniciou no terceiro trimestre. Quanto ao número de
consultas, 48,2% realizaram menos que seis consultas pré-natais, 21,1% realizaram seis con-
sultas e 30,7% realizaram mais que seis consultas, conforme pode-se observar na Figura 2.
No que concerne ao período de consultas, Brasil (2012a) estabelece que as consultas
sejam realizadas mensalmente no primeiro trimestre de gestação, quinzenalmente no se-
gundo trimestre e semanalmente no terceiro trimestre, e ainda preconiza o número mínimo
de seis consultas que essa mulher deve realizar até o fim de sua gestação. Corroborando
com estes achados, Hass et al. (2013) em um estudo realizado no sul do país, evidencia
que 52% das mulheres aderiram ao pré-natal no primeiro trimestre de gestação.

242
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Figura 2. início das consultas

Fonte: Autoria Própria

Figura 3. número de consultas.

Fonte: Autoria Própria

De acordo com Miranda e Fernandes (2010), a Estratégia Saúde da Família (ESF) conta
com uma linha de cuidado característico para gestantes, que envolve a busca de mulheres
com o ciclo menstrual atrasado dentro da comunidade realizada pelos Agentes Comunitários
de Saúde (ACS), que possa indicar um possível diagnóstico de gravidez. Após ser realizada
a detecção destas mulheres e confirmada a gravidez, o ACS realiza o agendamento imediato
da primeira consulta.
Para que haja uma adesão de 100% das gestantes ao acompanhamento pré-natal,
é necessário que seja aprimorado o sistema de regionalização realizado pela ESF, com o
intuito de melhorar a assistência, evitar abandonos/desistências e óbitos materno e fetal.
Ao serem indagadas quais profissionais participaram do seu acompanhamento pré-na-
tal, 98,2% afirmou que foi acompanhada por um (a) enfermeiro (a), 74,6% por um médico
ginecologista-obstetra, 46,5% por um técnico de enfermagem, 31,6% por um nutricionista,
18,4% por um assistente social, 17,5% por um médico clínico geral, 11,4% por um psicólo-
go, 10,5% por um odontólogo e 0,9% por um outro profissional, de acordo com a Tabela 2.

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Tabela 2. Profissionais que participaram do acompanhamento pré-natal.

Profissional Quantidade de mulheres


Assistente social 21
Enfermeiro 112
Médico clínico geral 20
Médico ginecologista-obstetra 85
Nutricionista 36
Odontólogo 12
Psicólogo 13
Técnico em enfermagem 53
Outros 1
Fonte: Autoria própria.

Com relação à equipe que pode acompanhar o pré-natal, Brasil (2012a) afirma que
cabe ao enfermeiro, intercalando com um profissional médico, realizar a consulta de pré-
natal de baixo risco. O enfermeiro é respaldado legalmente quanto à realização da consulta
de enfermagem nos termos do art. 8º, I, alínea “e” do Decreto nº 94.406 de 8 de junho 1987,
que afirma que a consulta de enfermagem compete privativamente ao enfermeiro.
Quanto aos procedimentos clínicos e obstétricos foi possível observar, na caderneta da
gestante, que foram preenchidas as seguintes informações: peso materno, pressão arterial,
cálculo da idade gestacional, altura uterina, batimentos cardiofetais e apresentação fetal,
como pode ser observado na Figura 3. Ratificando estes achados Coutinho (2010) afirma
que a pressão arterial (PA), a idade gestacional (IG), o peso materno e a altura uterina
(AU) são procedimentos que devem ser anotados em todas as consultas, já a ausculta dos
batimentos cardiofetais (BCFs) junto da posição e apresentação fetal é possível que sejam
identificados clinicamente a partir de 20 a 28 semanas gestacionais, nesta ordem.

Figura 4. Procedimentos clínicos e obstétricos.

Fonte: Autoria própria

A respeito do esquema vacinal da gestante, 96,5% das mulheres relataram que foram
orientadas à execução deste, enquanto 3,5% relatou que não recebeu orientações relacio-
nadas as vacinas. Evidenciou-se através da caderneta da gestante que foi administrada
244
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
em 83,5% das mulheres a vacina difteria, tétano e coqueluche (dTpa), em 71,4% a vacina
contra Influenza, em 58,2% a vacina contra Hepatite B e 49,5% a vacina antitetânica (dT),
como consta na Tabela 3.
No que concerne a vacinação na gestação a Sociedade Brasileira de Imunizações
(SBIm) (2018) recomenda às gestantes um calendário vacinal que contempla: Tríplice bac-
teriana acelular do tipo adulta (difteria, tétano e coqueluche) - dTpa ou dTpa VIP; Dupla
adulto (difteria e tétano) - dT; Hepatite B; Influenza (gripe).
Foi possível identificar neste estudo que apenas 25 mulheres realizaram todas as vaci-
nas estabelecidas, enquanto 89 mulheres realizaram de três a nenhuma vacina estabelecida.

Tabela 3. Vacinas

Vacinas Quantidade de mulheres


Antitetânica 45
DTpa 76
Hepatite B 53
Influenza 65
Fonte: Autoria própria

Foi analisado na caderneta da gestante os exames laboratoriais e sorológicos rea-


lizados durante o pré-natal destas mulheres, observou-se que os exames preconizados
pelo Ministério da Saúde aderidos pelas puérperas foram: Teste rápido Anti-HIV; ABO- Rh;
Glicemia em jejum; Hemograma; Urina tipo I; Venereal Disease Research Laboratory (VDRL),
Toxoplasmose; Teste rápido hepatite B (HBsAg); Urocultura; Teste rápido sífilis; Teste rá-
pido hepatite C (HCV); Bacterioscopia; Coombs indireto; Teste oral de tolerância à glicose
conforme é possível observar na Figura 4. Quanto aos exames complementares rubéola
(31,5%) e citomegalovírus (25,4%) foram os solicitados com mais frequência.
Com relação aos exames realizados durante a gestação Brasil (2012a) afirma que
devem ser solicitados os seguintes exames: Hemograma; Tipagem sanguínea e fator Rh;
Coombs indireto (se for Rh negativo); Glicemia de jejum; Teste rápido de triagem para sífilis
e/ou VDRL/RPR; Teste rápido diagnóstico Anti-HIV; Toxoplasmose IgM e IgG; Sorologia
para hepatite B (HbsAg); Exame de urina e urocultura; Ultrassonografia obstétrica (não é
obrigatório), com a função de verificar a idade gestacional; Citopatológico de colo de útero
(se necessário); Exame da secreção vaginal (se houver indicação clínica); Parasitológico de
fezes (se houver indicação clínica); Eletroforese de hemoglobina (se a gestante for negra,
tiver antecedentes familiares de anemia falciforme ou apresentar história de anemia crônica).
Neste item, foi possível observar que apenas quatro mulheres, de 114 entrevistadas,
aderiram a todos os exames solicitados, portanto, faz-se necessário garantir a estas mu-
lheres a adesão total, para que sejam evitadas intercorrências durante o período gravídico.

245
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Figura 4. Exames laboratoriais e sorológicos.

Fonte: Autoria própria

Com relação as práticas educativas as puérperas foram questionadas se houve edu-


cação em saúde no pré-natal, onde 89,5% respondeu de forma positiva e 10,5% afirmou
que não houve. Dentre as práticas listadas, o incentivo ao aleitamento materno, ao parto
normal e aos hábitos de vida saudáveis prevaleceu em 83,3%, seguido de cuidados com o
recém-nascido (63,7%), a importância do acompanhamento pré-natal, da consulta de puer-
pério e do planejamento familiar e reprodutivo (63,7%), o uso de medicações na gestação
(61,8%), os riscos do tabagismo, do uso de álcool e outras drogas (60,8%), cuidados com
a vestimenta durante a gestação (59,8%), identificação de sinais de alarme na gravidez e
o reconhecimento do trabalho de parto (55,9%), os direitos da gestante e do pai (42,2%) e
outras práticas educativas (2%).
Contribuindo com este estudo Pereira e Bento (2011) afirmam que a aplicação de edu-
cação em saúde e orientação na assistência pré-natal são medidas que possibilitam à mulher
agir de forma autônoma, permitindo o acesso ao conhecimento substancial para a escolha
segura quanto à melhor opção para o seu trabalho de parto e para o nascer de seu filho.
A educação em saúde é fator primordial dentro da atenção pré-natal, proporcionando
o empoderamento da mulher através da troca de conhecimento, orientações quanto à sua
condição atual e práticas educativas.
Quanto às orientações gerais, no que se refere a suplementação de ácido fólico e sulfato
ferroso 99,1% responderam que foram orientadas e 0,9% informou que não foi instruída. Este
achado está de acordo com as recomendações de cuidados pré-natais da OMS (2016) para
uma experiência positiva na gravidez, tais como: alimentação saudável, atividades físicas,
suplementação oral diária de ferro e ácido fólico, a fim de evitar anemia materna, infecção
puerperal, baixo peso ao nascer e parto prematuro.
246
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
As puérperas foram questionadas se houve recomendação de uma avaliação da saúde
bucal durante o pré-natal, 70,2% relata que não recebeu esta orientação, em contrapartida
29,8% destas puérperas relata que foram recomendadas.
Corroborando com estes achados Brasil (2006), conforme citado por Brasil (2012a) em
relação aos cuidados com a saúde bucal na gestação, evidencia que:

O estado da saúde bucal apresentado durante a gravidez tem relação com a


saúde geral da gestante e pode influenciar a saúde geral e bucal do bebê. Por-
tanto, é de extrema importância que os serviços de saúde estabeleçam como
rotina a busca ativa das gestantes de sua área de abrangência, incluindo-as
no grupo operativo e no pré-natal (apud BRASIL, 2012a).

Quando foram indagadas se conheciam o pré-natal do parceiro, 54,9% disse ter conhe-
cimento, ao passo que 45,1% afirmou desconhecer. O pré-natal é um acompanhamento que
deve ser feito não exclusivamente com a mulher, mas também pode ser realizado com seu
cônjuge. O pré-natal do parceiro tem como objetivo preparar o homem para a paternidade
ativa e consciente, assim como detectar precocemente doenças, atualizar a carteira vacinal
e incentivar a participação em atividades educativas nos serviços de saúde (BRASIL, 2016).
Foi perguntado às mulheres se durante a gestação se houve alguma intercorrência,
onde 67,5% respondeu que não houve e 32,5% afirmou que houve intercorrência, destas,
71% relatou que foi direcionada pela equipe de saúde à unidade de referência e 29% afir-
mou que não recebeu este direcionamento. Corroborando a isto, Brasil (2012a) estabelece
10 passos para um pré-natal de qualidade, entre eles está garantir o acesso à unidade de
referência especializada, caso seja necessário. Toda gestante deve ser orientada a procurar
o referido serviço quando apresentar intercorrências clínicas/obstétricas ou quando estiver
em trabalho de parto.
Ao serem questionadas se receberam informação sobre o seu direito de conhecer e
visitar previamente o local de parto onde daria à luz, 78,9% respondeu que não recebeu
esta informação, enquanto 21,1% afirmou tê-la recebido. Destas mulheres, 86% relataram
que não realizou seu plano de parto ou que não foram orientadas e incentivadas a isto, em
contrapartida 14% referiu ter realizado um plano de parto. Quando questionadas se foram
estimuladas quanto aos benefícios do parto fisiológico, 73,5% afirma que foi estimulada, ao
passo que 26,5% nega ter sido estimulada.
No que se refere ao parto normal, Brasil (2016) afirma que tem benefícios tanto para
a mulher quanto para o recém-nascido, dentre eles pode-se citar para a mulher menor dor
após o parto, rápida recuperação, menor risco de infecção puerperal e complicações, menor
risco de morte e intercorrências em futuras gestações; para o bebê pode-se citar menores

247
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
taxas de prematuridade, respiração favorecida pelo trabalho de parto, favorecimento do
vínculo afetivo mãe-bebê.
Quanto ao plano de parto Cortés et al. (2015) afirma que um plano de parto e nasci-
mento é um documento escrito, de caráter legal, elaborado pela mulher junto à sua parteira
após receber as informações sobre seu processo de parto, considerando seus desejos e
necessidades no qual combina alternativas, de acordo com as boas práticas, que prefere
durante seu parto.
Com relação ao direito da gestante de conhecer previamente seu local de parto, Brasil
(2016) cita a Lei nº 11.634, de 26 de outubro de 2007, que assegura a gestante o direito de
ser informada anteriormente, pela equipe do pré-natal, sobre qual a maternidade de refe-
rência para seu parto e de visitar o serviço antes do parto.
Sobre a consulta de puerpério, 58,8% das mulheres afirmaram que foi recomendado a
elas, enquanto que 41,2% relatou que não recebeu esta recomendação. Quando questiona-
das quanto à consulta de puericultura do recém-nascido, 53,5% afirmou ter sido orientada,
em contrapartida 46,5% relatou que não foi orientada.
Em se tratando da consulta de puericultura, Brasil (2004) e Sociedade (2006), citados
por Brasil (2012b), dizem que:

A primeira consulta do recém-nascido deverá ocorrer na sua primeira semana


de vida, que constitui um momento propício para estimular e auxiliar a família
nas dificuldades do aleitamento materno exclusivo, para orientar e realizar
imunizações, para verificar a realização da triagem neonatal (teste do pezinho)
e para estabelecer ou reforçar a rede de apoio à família (apud BRASIL, 2012).

Com relação à consulta puerperal, Brasil (2012a) relata que, caso a mulher e o recém-
-nascido já tenham ido à unidade para as atividades da primeira semana de saúde integral,
deve ser reavaliada a situação de saúde da puérpera e do recém-nato, além da anotação das
modificações, apuração e registro da amamentação, do retorno da menstruação e atividade
sexual, realização de educação em saúde e a orientação para possíveis intercorrências.

CONCLUSÃO

Evidenciou-se, quanto aos aspectos socioeconômicos, que as puérperas, no perío-


do do estudo, eram em sua maioria jovens, residentes de área urbana, solteiras e tinham
um grau médio de instrução. Fatores estes que podem ter alguma influência em todas as
outras variáveis.
Com relação ao número de consultas, foi possível observar que a maioria aderiu ao
pré-natal no primeiro trimestre de gestação e 51,8% do total de puérperas alcançou seis
ou mais consultas, conforme preconiza o Ministério da Saúde. Embora tenha prevalecido 248
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
o recomendado, este é um fator preocupante, visto que 49,2% destas mulheres, quase a
metade, não alcançaram o mínimo estabelecido de consultas, o que faz questionar se a
cobertura das ESF na cidade de Macapá está sendo negligente com relação a busca ativa
destas mulheres.
Foi possível observar que o Enfermeiro é o profissional mais presente nas consultas
pré-natais, assumindo um papel muito importante no empoderamento destas mulheres,
proporcionando informação e conhecimento. Em contrapartida, observou-se a necessidade
de um acompanhamento multiprofissional de forma integral, pois foi constatado através
desta pesquisa que não houve uma atenção integrada de todos os profissionais de saúde.
No que concerne às condutas realizadas durante as consultas, evidenciou-se que
foram realizados procedimentos clínicos e obstétricos, vacinação, exames laboratoriais e
sorológicos, e educação em saúde, conforme estabelece o caderno de atenção básica ao
pré-natal de risco habitual. No entanto, não houve uma adesão total dos serviços propostos,
visto que apenas 25 mulheres realizaram todas as vacinas propostas e somente quatro das
114 puérperas entrevistadas aderiram a todos os exames preconizados.
Identificou-se, portanto, que as consultas pré-natais na cidade de Macapá não ocorrem
em sua totalidade conforme preconiza o Ministério da Saúde, pois apesar de parcela destas
estarem de acordo com o preconizado com seis consultas no mínimo, exames laboratoriais
e sorológicos, além de educação em saúde, o acompanhamento pré- natal na capital ama-
paense ainda está abaixo do ideal.
Desse modo, é perceptível que as ESF precisam passar por treinamentos constantes
de seus profissionais para que um pré-natal de qualidade seja realizado, e para além disso,
que seja feita uma escuta personalizada e atenção integral à mulher, com atenção não so-
mente à sua gestação ou seu bebê.
Com vistas a melhorar o processo de atenção ao pré-natal na cidade de Macapá, pro-
pomos que: seja ampliado o atendimento noturno a todas as Unidades Básicas de Saúde da
cidade e distritos, visto que a maioria das mulheres encontrou dificuldades no agendamento;
pensando ainda na desistência das mulheres do acompanhamento pré-natal propomos que
sejam criados incentivos sociais a exemplo do “Cheque Cesta Básica – Gestante” implan-
tando no estado do Maranhão no ano de 2019; e que mulheres com 36 semanas ou mais de
gestação tenham atendimento prioritário nas consultas, uma vez que a partir deste momento
as gestantes precisam comparecer semanalmente à UBS para acompanhamento.

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
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15. MOURA, M. A. V. et al. La calidad de asistencia de enfermería en el periodo prenatal desde la


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250
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
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21. . WHO recommendations on antenatal care for a positive pregnancy experience, 2016.

251
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
17
Mulheres em idade fértil que buscam
teste rápido em uma policlínica de
Niterói/RJ

Bianca Damasceno Barroso


EEAAC/UFF

André Luiz de Souza Braga


UEEAAC/UFF

Maritza Consuelo Ortiz Sanchez


EEAAC/UFF

Pedro Ruiz Barbosa Nassar


EEAAC/UFF

10.37885/210304038
RESUMO

O presente estudo tem como objetivo analisar o perfil das mulheres que buscam o ser-
viço de vigilância em saúde da Policlínica Regional do Largo da Batalha (PRLB) para
a realização do teste rápido, identificando as orientações por elas recebidas para tal,
fazendo com que essas informações sirvam de subsídios para a tomada de decisão
do enfermeiro frente às demandas da população atendida na unidade. Justificamos a
pesquisa pelo aumento do número de casos de infecção por Infecções Sexualmente
Transmissíveis (IST) em mulheres em idade fértil. Trata-se de uma pesquisa de natureza
aplicada, caráter exploratório e de abordagem quantitativa, em amostragem por saturação
teórica, que se constitui através de entrevistas, com perguntas previamente elaboradas,
e acompanhamento do atendimento durante a realização do teste. O cenário escolhido
para a realização do estudo foi a PRLB e os participantes da pesquisa foram mulheres
com idades entre 18 e 49 anos, considerada faixa etária fértil, que buscaram a unidade
para a realização de testes rápidos para HIV, Sífilis, Hepatites B e C. Os critérios de
inclusão foram: indivíduos do sexo feminino, estarem em idade reprodutiva e buscarem
esse tipo de atendimento na unidade. Os critérios de exclusão foram: mulheres com
idades inferiores a 18 anos e usuárias do serviço que não realizaram o teste a respeito
das 4 infecções. Participaram da pesquisa um total de 50 usuárias do serviço. Como
resultado, percebemos uma grande necessidade de melhoria na educação em saúde a
respeito das IST em toda a comunidade atendida, trabalhando em conjunto à educação
permanente para capacitar toda a equipe atuante no serviço, para garantir a qualidade
das informações passadas ao público.

Palavras-chave: IST, Diagnósticos, Saúde da Mulher, Testes Rápidos, Atenção Básica.

253
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

A terminologia Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) passou a ser adotada


pelo Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/Aids e Hepatites
Virais (DIAHV) em substituição à expressão doenças sexualmente transmissíveis (DST),
em paralelo com a utilização internacional empregada pela Organização Mundial de Saúde
(OMS). A mudança se deu pelo entendimento de que alguns portadores de tais enfermidades
apenas transmitem o microrganismo, no entanto, podem ou não apresentar sinais e sintomas
patológicos. As IST são infecções causadas por vírus, bactérias ou outros microrganismos,
transmitidas, principalmente, por meio de contato sexual (oral, vaginal ou anal) sem o uso
de preservativos (BRASIL, 2015).
A detecção dessas IST pode se dar por meio da realização de teste rápido. Estes tes-
tes são assim chamados devido a rapidez em que se dá sua realização e o resultado. Sua
realização ocorre em unidades básicas de saúde. Em Niterói, a Policlínica Regional do Largo
da Batalha (PRLB) é uma das unidades de saúde onde pode ser realizado o exame que, em
caso de primeiro positivo, é realizado novamente com o material de outro laboratório para
garantir a confiabilidade do resultado.
A PRLB, que foi campo de ensino teórico-prático da disciplina de Gerenciamento
da Assistência de Enfermagem I, lecionada no sexto período do curso de graduação e
Licenciatura em Enfermagem da Universidade Federal Fluminense, é um dos principais
polos de atendimento em Niterói/RJ, tanto para realização de teste rápido (na busca pelo
diagnóstico precoce das IST) quanto para o cuidado e assistência ambulatorial a pacientes
portadores de HIV e outras IST.
Define-se mulheres em idade fértil aquelas que se encontram em idades entre 10 e 49
anos, de acordo com o Ministério da Saúde. Um relatório divulgado pela UNAIDS (Programa
Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS) em 2016 mostrou que, entre os anos de 2010
e 2015, houve um aumento de 18% no percentual populacional que vive com a Aids no Brasil.
Segundo o relatório, as mulheres jovens no mundo inteiro estão entre os grupos populacionais
com maior risco de serem contaminadas pelo HIV. Só em 2015, cerca de 7.500 mulheres,
com idade entre 15 e 24 anos, foram infectadas pelo HIV a cada semana (UNAIDS, 2016).
Dessa forma, as questões norteadoras que envolvem essa pesquisa são: qual o perfil
das mulheres em idade fértil que buscam a realização de teste rápido no Serviço de Vigilância
da PRLB? O que as fazem buscar esse tipo de atendimento na unidade? Houve orientação
por alguma equipe de saúde para a busca da realização do teste rápido na unidade? A ob-
tenção de respostas para esses questionamentos serviu de base para o aprimoramento e
melhoria da qualidade em assistência ofertada por parte dos funcionários da unidade, em
especial o enfermeiro, bem como para a melhoria no atendimento aos usuários do serviço.
254
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Em busca de entender como se dá tal processo, tem-se como objeto de pesquisa o
perfil das usuárias que buscam o serviço de teste rápido na unidade. Assim, definiu-se o
objetivo geral da pesquisa: analisar o perfil das mulheres que buscam o serviço de vigilân-
cia em saúde da PRLB para a realização de teste rápido, identificando as orientações por
elas recebidas para tal. Tem-se como objetivos específicos: conhecer o fluxo de rotina das
mulheres que buscam o teste rápido na PRLB e identificar se essas mulheres receberam
alguma orientação para a busca do serviço. Assim, espera-se que essas informações sirvam
de subsídios para a tomada de decisão do enfermeiro frente às demandas dessas mulheres
e sua atuação na atenção básica.
Sendo assim, a pesquisa se justificou devido ao aumento nos números de casos de
infecção por essas IST em mulheres em idade fértil. De acordo com as estimativas do DIAHV,
em 2013, no Brasil, as maiores taxas de incidência de casos de AIDS foram observadas
entre os indivíduos com idades entre 30 e 49 anos, em ambos os sexos, e aumento na taxa
de incidência, em mulheres, nas faixas etárias de 15 a 24 anos (BRASIL, 2015).
Considerando a tecnologia simplificada dos testes rápidos para IST, o que permite a
sua realização em ambiente ambulatorial e um resultado precoce, facilitando ações de tra-
tamento e prevenção da transmissão das IST e permitindo um efetivo combate à epidemia
no país (SILVA, et. al. 2017). Ou seja, o grande crescimento dos casos de IST em mulheres
no país e a necessidade de orientações adequadas para a busca pelo teste rápido, bem
como a importância diagnóstico precoce para garantir tratamento adequado, a cura mais
breve, menores complicações e melhor qualidade de vida, justificam a presente pesquisa.
Apontamos, então, como contribuição e relevância social, institucional e acadêmica a
colaboração com o Serviço de Vigilância em Saúde da PRLB, com a prática do profissional
enfermeiro que atua na atenção básica e com o município de Niterói/RJ, a reconhecer o perfil
e as orientações tidas pelas mulheres usuárias que buscam o serviço para a realização do
teste rápido, e assim subsidiar as decisões frente a esta demanda, além de contribuir para
a formação profissional de outros enfermeiros que atuarão na atenção básica.

METODOLOGIA

O estudo realizado trata-se de uma pesquisa de natureza aplicada, caráter exploratório


e de abordagem quantitativa, em amostragem por saturação teórica, que se constitui através
de entrevistas, com perguntas previamente elaboradas, e acompanhamento do atendimento
durante a realização do teste.
Segundo Kauark, Manhães e Medeiros (2010), uma pesquisa de natureza aplicada
tem por objetivo gerar conhecimentos que serão, posteriormente, utilizados em aplicação
prática, seja na atuação profissional ou em experimentação, na tentativa de solucionar um
255
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
problema encontrado. A pesquisa de caráter exploratório visa a maior familiaridade com o
problema, possibilitando torna-lo explícito. Na abordagem quantitativa, considera-se o que
pode ser quantificável e lida diretamente com fatos, ou seja, o que se pode traduzir em nú-
meros opiniões e informações para classifica-las e analisá-las.
A amostragem por saturação teórica é definida por Fontanella, Ricas e Turato (2008)
como o fechamento do tamanho final de uma amostra em estudo, interrompendo a captação
de novos componentes, quando os dados obtidos a partir daquele ponto passam a apresentar
uma certa redundância não relevante para persistir na coleta de dados.
O cenário escolhido para a realização do estudo foi o Serviço de Vigilância Epidemiológica
da Policlínica Regional do Largo da Batalha, localizada no Bairro Largo da Batalha, no mu-
nicípio de Niterói/RJ. O ambiente foi escolhido para a realização do estudo devido à relação
de confiança criada ao longo do ensino teórico prático (ETP) da disciplina de Gerência I, do
sexto período do referido curso. Neste espaço, o ETP se deu de forma clara e objetiva,
mostrando a fundo o funcionamento dos principais serviços prestados na atenção básica,
em especial a realização de testes rápidos de IST.
Os participantes abordados e convidados para participarem do estudo foram mulheres
em idade reprodutiva que buscaram o Serviço de Vigilância Epidemiológica da unidade para
a realização do teste. Os critérios de inclusão utilizados no estudo foram: serem indivíduos
de sexo feminino; estarem em idade reprodutiva, definida pelo Ministério da Saúde entre
10 e 49 anos de idade (BRASIL, 2004); e indivíduos com tais características que buscaram
esse tipo de atendimento na unidade. Os critérios de exclusão adotados foram: mulheres
com idade inferior a 18 anos, devido à necessidade de autorização dos pais (o que pode-
ria trazer desconforto às mesmas); e usuárias do serviço que não realizaram o teste para
diagnósticos a respeito das quatro infecções. Os dados apresentados, foram coletados no
período de janeiro a maio de 2019.
O instrumento usado para a coleta de dados da pesquisa foi elaborado através de en-
trevista estruturada. Assim, é uma entrevista onde as perguntas são previamente formuladas
e tem-se o cuidado de não fugir a elas (BONI; QUARESMA, 2005), sem tirar a liberdade às
usuárias par a que suas respostas exponham fatos e sentimentos enfrentados por elas diante
do momento vivido. Além disso, todas as participantes ficaram cientes de sua participação
na pesquisa, previamente (ou seja, antes da entrevista ser iniciada), podendo se posicionar
positiva ou negativamente diante da mesma. Ao aceitarem participar, assinarão um Termo
de Livre Consentimento e Esclarecido (TCLE) que foi entregue antes do início da coleta de
dados, conforme a resolução 466/12:

O respeito devido à dignidade humana exige que toda pesquisa se processe


com consentimento livre e esclarecido dos participantes, indivíduos ou grupos
256
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
que, por si e/ou por seus representantes legais, manifestem a sua ausência à
participação na pesquisa. Entende-se por Processo de Consentimento Livre
e Esclarecido todas as etapas a serem necessariamente observadas para
que o convidado a participar de uma pesquisa possa se manifestar, de forma
autônoma, consciente, livre e esclarecida. (BRASIL, 2012).

O estudo realizado possui autorização do Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital


Universitário Antônio Pedro/UFF, ao projeto de nº 1.226.211, intitulado “A prática do enfermei-
ro na rede básica de saúde: reflexões/ações sobre a informação em seu cotidiano de traba-
lho”, atendendo às recomendações da Resolução 466/12 e do Conselho Nacional de Saúde.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A coleta de dados ocorreu entre janeiro e maio de 2019, durante a realização de testes
rápidos pelas enfermeiras da unidade, com as mulheres que buscaram o serviço por demanda
espontânea. Participaram da pesquisa um total de 50 mulheres, número que garantiu, ao
estudo, resultados em amostragem por saturação teórica.

Gráfico 1. Idade das mulheres participantes do estudo.

Município de Niterói, RJ, Brasil, 2019.

Fonte: Próprio autor.

Inicialmente, os dados coletados mostram que, no primeiro semestre de 2019, em


Niterói/RJ, 50% das mulheres, na faixa etária de fertilidade, que buscam teste rápido nesta
unidade de saúde são jovens com idades entre 18 e 29 anos, 36% possuem entre 30 e 39
anos e 14% possuem idade entre 40 e 49 anos. Tais dados evidenciam que as mulheres
mais jovens, em idade reprodutiva, são as que mais procuram o serviço, em grande parte,
257
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
devido a falta de informação e o não uso de proteção durante as relações sexuais e, devido
a esses fatores, são também a maior parcela da população com diagnósticos positivos para
essas doenças, em especial para HIV/Aids. De acordo a Unaids, é a população mais jovem
dessas mulheres que possuem o maior número de casos de HIV, chegando a 7.500 casos
por semana no mundo todo, em 2015 (UNAIDS, 2016).
Do total de mulheres participantes do estudo, 55% são solteiras e 35% casadas, o que
compreende ao maior percentual das mulheres em relação ao estado civil, seguido pelo
percentual de mulheres viúvas – representando 8% – e das mulheres divorciadas – repre-
sentando 2%, respectivamente.
Já na autodeclaração racial, de acordo com a classificação do IBGE, 42% das mu-
lheres que participaram do estudo se autodeclaram pardas, seguido pelas mulheres que
se declaram negras (30%) e das mulheres que se declaram brancas (28%), nesta ordem
(IBGE, 2008). Outro fator também contabilizado, de extrema relevância, na construção do
perfil dessas mulheres foi a maternidade: das 50 mulheres, 28% não possuem filhos e 28%
possuem apenas 1 filho, 23% possuem 3 filhos, 19% possuem apenas 2 e 2% possuem 4
ou mais filhos. A idade das mulheres também possui grande influência no comportamento
sexual delas, refletindo efetivamente na prevenção às IST e em seu planejamento familiar.

Tabela 1. Distribuição dos escores das participantes com filhos do estudo, por grupo etário. Município de Niterói, RJ,
Brasil, 2019.
Coeficiente de Proporção com e
Grupo Etário Nº de filhos Média Desvio Padrão
variação sem filhos
18-29 anos 11 0,88 1,24 140,91% 1 p/ 1
30-39 anos 18 1,66 1,08 65,06% 8 p/ 1
40-49 anos 7 2,57 0,54 21,01% 7 p/ 0
Fonte: Próprio autor.

Quanto às médias brutas dos escores, observa-se que as mais elevadas foram atribuí-
das ao grupo etário 40-49 anos (2,57), onde 100% das mulheres possuíam filhos; seguida
ao grupo etário 30-39 anos (1,66), com 87,5% com filhos, por fim o grupo etário 18-29 anos
(0,88) com 50% com filhos. Esses dados permitem inferir que as mulheres mais velhas, par-
ticipantes do estudo, todas já são mães, enquanto que, no caso das mulheres mais jovens,
metade das mulheres participantes ainda não possuem filhos. Os números possibilitam
observar que as mulheres mais jovens acabam apresentando maior comportamento de
risco em relações sexuais, banalizando e subestimando o cuidado em saúde por meio de
prevenção, não fazendo uso de preservativos em suas relações. Deste modo, este grupo
encontra-se em maior risco de contaminação por IST.
O HIV é a segunda doença que mais faz vítimas, matando mais de 25 milhões de pes-
soas no mundo todo nos últimos 25 anos, ficando atrás apenas da Tuberculose (BRASIL,
2018). Devido a sua disseminação por via sexual, a geração das décadas de 60 e 70, que 258
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
lutava por liberdade sexual à época, passa a aderir às práticas de sexo seguro, reduzindo
o número de parceiros e aderindo ao uso de preservativo. Foi a geração que viu diversas
pessoas morrerem da Aids, propriamente dita, sem nenhum tipo de controle ou tratamen-
to. Em contrapartida, a juventude que encontramos desde os anos 2010, é a juventude que
conheceu a Aids como uma doença controlada, com poucos casos de morte pela doença
em si, fator que influência diretamente na prevenção e no autocuidado em saúde.
A respeito do local onde as participantes do estudo residem, os dados mostraram que
16% das mulheres moram na região atendida pela PRLB, 14% moram em bairros próxi-
mos – Centro, Itaipu, Icaraí e Santa Rosa – e 70% das mulheres moram em bairros mais
distantes ou até mesmo em outras cidades. Mesmo o serviço não sendo destinado a todas
as pessoas de todas as localidades, a equipe não se recusa a atender a demanda que
chega até a unidade – tendo em vista que grande parte da demanda atendida alega não ter
disponibilidade de material para esse tipo de atendimento nos postos de saúde do bairro de
origem – e, ao final do atendimento, orienta ao paciente que busque esse tipo de serviço na
unidade de saúde mais próxima de sua residência.
Outro fato observado no estudo foi a sexualidade declarada pelas participantes da pes-
quisa durante a realização do teste. O gráfico abaixo apresenta o percentual da declaração
de orientação sexual das mulheres:

Gráfico 2. Autodeclaração de orientação sexual das participantes do estudo.

Município de Niterói, RJ, Brasil, 2019.

Fonte: Próprio autor.

Os dados apresentaram que, durante a anamnese do teste rápido, 96% das mulheres
que participaram do estudo se declararam heterossexuais, 2% declaram-se homossexuais e
2% declaram-se transexuais. Esses resultados nos permitem inferir que, mesmo durante um 259
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
atendimento voltado para orientações pessoais a respeito das relações sexuais das usuárias,
as mulheres não sentem-se confortáveis para tratar abertamente sobre sua orientação sexual
e suas relações, por receio em serem tratadas de maneira preconceituosa devido a esse
fator pessoal. De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde, cerca de 40% das
mulheres que procuram atendimento em saúde não revelam sua orientação sexual. Entre
as que revelam, 28% referem maior rapidez do atendimento médico e 17% afirmam que os
profissionais por quem foram atendidas deixaram de solicitar algum exame considerado por
elas como necessário (BRASIL, 2013).
A respeito do conhecimento sobre o teste rápido e as infecções sexualmente trans-
missíveis, 66% das mulheres citaram as 4 doenças que podem ser diagnósticas pelo teste
rápido e 34% não souberam ou preferiram não falar. Além disso, 50% das participantes já
haviam realizado o exame em outro momento da vida, grande parte delas afirmaram ter
realizado o teste em outro momento por conta de uma gestação. Esses dados nos permitem
inferir que, apesar do conhecimento a respeito dos riscos de contrair alguma das IST, essas
mulheres deixam de seguir medidas de prevenção da contaminação por essas infecções,
em especial, o uso de preservativos nas relações sexuais ainda é deixado de lado por elas,
expondo-as a tal risco.
Ao tratarmos sobre o motivo que levou as mulheres a buscarem este tipo de atendi-
mento dentro da unidade de saúde, obtivemos o seguinte resultado, apresentado de acordo
com o gráfico e a tabela, a seguir:

Gráfico 3. Motivo da busca para realização do teste rápido de IST.

Município de Niterói, RJ, Brasil, 2019.

Fonte: Próprio autor.

260
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Observamos que 10% das participantes do estudo buscaram o serviço como parte do
acompanhamento pré-natal, 6% como atendimento protocolar em casos de acidentes com
material biológico e os outros 84% foram atendimentos por situação de risco e vulnerabilidade.

Tabela 2. Participantes que buscaram o teste rápido devido a vulnerabilidade e situação de risco. Município de Niterói,
RJ, Brasil, 2019.

Situação de risco e vulnerabilidade Nº %


Sexo sem preservativo 16 38%
Violência sexual 1 2%
Rotina 25 60%
Total 42 100%
Fonte: Próprio autor.

Do total de 42 mulheres em situação de risco e vulnerabilidade, 16 assumiram, durante


a realização do teste, que o buscaram por conta de uma relação sexual sem preservativo, 1
mulher foi vítima de violência sexual e 25 mulheres afirmaram estar realizando o teste como
“rotina”. Essa situação de rotina é definida pela enfermeira da unidade de saúde, responsá-
vel por esse tipo de serviço, como sendo “pessoas que fazem o teste frequentemente, em
curtos intervalos de tempo entre um teste e outro”.
Durante os atendimentos, foi possível perceber que as mulheres que participaram da
pesquisa e afirmaram fazer o teste como rotina, utilizam o serviço em intervalos de 2 meses
até 1 ano entre os testes. Para essas mulheres, buscar frequentemente o serviço para a
realização do teste é uma forma de autocuidado, equiparando-se a consultas regulares por
exemplo. Esse entendimento a respeito do teste evidencia a falta de informações suficientes
na população sobre a prevenção de contaminação por IST, tendo em vista que o teste rápido
é um instrumento eficaz na detecção precoce destas doenças (BRASIL, 2014).
Outro fator que também permite inferir a falta de informação adequada é o conheci-
mento a respeito das possíveis formas de transmissão das Hepatites B e C, Sífilis e do HIV.

261
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Gráfico 4. Participantes que souberam/citaram as formas de transmissão das doenças. Município de Niterói, RJ, Brasil, 2019.

Fonte: Próprio autor.

Das mulheres entrevistadas, 40% souberam citar todas as possíveis formas de trans-
missão de cada uma das doenças que podem ser diagnosticadas pelo teste, 42% acredita-
vam que o sexo é a única forma de transmissão de todas as 4 doenças, 18% não souberam
nenhuma das formas de transmissão ou preferiram não citar. Esse dado mostra que a
transmissão do HIV e das Hepatites B e C pelo compartilhamento de agulhas e seringas, e
por transmissão vertical – quando o vírus é passado da mulher para o bebê durante a ges-
tação ou o parto – é uma informação pouco citada, mesmo durante atendimentos realizados
pelo serviço de saúde, bem como a transmissão de Hepatite B pelo compartilhamento de
materiais de unha e cutículas não esterilizados (BRASIL, 2010).
É importante ressaltar que todo o conhecimento a respeito das IST precisa fazer parte
das práticas cotidianas dos profissionais da saúde, com intuito de garantir que o conheci-
mento chegue a toda a comunidade e seja aplicado no dia-a-dia do público alvo, trazendo
resultados efetivos no cuidado integral à saúde, utilizando a educação em saúde como ferra-
menta chave de disseminação de informação. De acordo com Gonçalves, Soares e Armede
(2010), a educação em saúde na atenção básica precisa estar diretamente relacionada aos
interesses dos usuários e com linguagem adequada ao público de todas as idades para que
seja efetiva, porém grande parte dos usuários do serviço evitam participar das atividades de
educação em saúde promovidas dentro da unidade.
Em consonância com a transmissão destas doenças, é necessário saber todas as
formas de prevenção de cada uma delas.

262
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Gráfico 5. Participantes que souberam/citaram as formas de prevenção das IST. Município de Niterói, RJ, Brasil, 2019.

Fonte: Próprio autor.

O estudo mostra que 42% das mulheres entrevistadas citaram todas as formas de
prevenção de uma possível contaminação, 50% delas citaram apenas o uso do preserva-
tivo como forma de prevenção e 8% não citaram ou não souberam nenhuma das formas
de prevenção da contaminação. Tais dados demonstram pouco conhecimento a respeito
de todas as formas de prevenção de contaminação destas doenças, podendo ocorrer por
conta de uma falta de interesse por parte das mulheres a respeito do assunto ou por uma
deficiência na disseminação de informações na unidade de saúde por meio de atividades
de educação em saúde que sejam eficientes para atingir toda a comunidade de forma clara
e com linguagem acessível a todos os públicos.
É válido ressaltar que as 4 doenças podem ser prevenidas de diversas formas, são
elas: não compartilhamento de agulhas e seringas ou outros materiais perfurocortantes, não
compartilhamento de materiais de unha e cutículas não esterilizados de forma adequada,
acompanhamento pré-natal e tratamento adequado de mãe e bebê – nos casos de gestação
da mulher contaminada – e vacinação ou atualização da carteira de vacinação – no caso da
Hepatite B (BRASIL, 2010).

263
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Tabela 3. Resultados dos testes rápidos das participantes do estudo.

Município de Niterói, RJ, Brasil, 2019.

Testes realizados Nº
Reagente – HIV 1
Reagente – Sífilis 5
Reagente – Hepatite B -
Reagente – Hepatite C -
Não Reagente 44
Total 50
Fonte: Próprio autor.

Os resultados mostram que, apesar da pouca informação sobre os métodos de pre-


venção e as formas de transmissão dessas doenças, apenas 6 mulheres obtiveram resul-
tado positivo para uma das 4 doenças – sendo 1 resultado positivo para HIV e 5 resultados
positivos para Sífilis –, nenhuma delas obteve resultado positivo para mais de uma doença
ou para uma das Hepatites e 44 mulheres tiveram resultado negativo para as 4 doenças.
No caso confirmado de HIV, a enfermeira do serviço ofereceu o primeiro suporte emo-
cional à paciente, forneceu as informações necessárias a respeito do tratamento acerca do
vírus e acolheu a mulher, admitindo-a como paciente regular, para que o acompanhamento
multidisciplinar fosse realizado na própria unidade – tendo em vista que PRLB é polo de
referência no tratamento e acompanhamento de IST (IBGE,2018). Já nos casos positivos
de sífilis adquirida, as mulheres foram encaminhadas para a realização de VDRL (exame
responsável pela comprovação diagnóstica da doença e contabilização da patogenicidade da
bactéria) para que, em seguida, após o resultado laboratorial, seja dado início ao tratamento
adequado (BRASIL, 2015).
De acordo com os dados do Boletim Epidemiológico de Sífilis de 2018, divulgado pelo
Ministério da Saúde, em comparação ao ano de 2016, houve um aumento de 28,5% da taxa
de detecção em gestantes, 16,4% na incidência de sífilis congênita e 31,8% na incidência
de sífilis adquirida (ONU, 2018). Esta realidade se enquadra no perfil do município, descri-
to nesta pesquisa.

CONCLUSÃO

Durante a coleta pode-se observar o fluxo de mulheres que buscam esse tipo de serviço
na unidade que, em comparação ao público masculino, é, em números, significativamente
inferior. A análise dos dados mostrou que as mulheres que buscam teste rápido na PRLB,
em sua maioria, tem idades entre 18 e 29 anos, são solteiras, sem filhos ou com apenas 1
filho, e buscam o serviço em caráter de rotina, pois entendem que o teste faz parte do cuidado

264
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
em saúde e não como ferramenta de diagnóstico de infecções que devem ser prevenidas
para que a frequência de realização do teste seja mínima ou não exista.
Foi possível observar também que, em sua maioria, as mulheres buscam o teste por
demanda espontânea, em caráter de rotina. No entanto, 84% do total de mulheres apresen-
taram algum comportamento ou estiveram em situação de risco de contaminação por alguma
IST, devido a exposição a uma relação sem preservativo. Os resultados apresentados são de
grande preocupação nos serviços de saúde, devido a dificuldade de práticas de autocuidado
por parte das mulheres, do entendimento delas a respeito da importância dos cuidados de
saúde como formas mais eficazes de prevenção de doenças e infecções.
Além disso, os resultados expuseram que apenas 16% das mulheres receberam orien-
tação de alguma equipe de saúde para a realização do teste rápido, o que indica uma defi-
ciência do serviço de saúde da unidade na orientação de cuidados à saúde sexual. Essas
informações, que deveriam ser passadas de forma concisa e completa em grupos de plane-
jamento familiar e consultas, acabam chegando parcialmente à comunidade, muitas vezes
até prejudicando o trabalho do serviço de saúde.
Com isso, é possível perceber a tomada de decisão como um processo direcionado
a necessidade de educação em saúde detalhada à toda a população usuária do serviço de
atenção básica da unidade de saúde, em especial das atividades de planejamento familiar,
consultas ginecológicas e obstétricas, consultas urológicas e do próprio teste rápido. Esse
processo, precisa ser direcionado à população da comunidade e humanizado.
Em conjunto a isso, vale ressaltar que a tomada de decisão é um processo que exige
constante atualização prática e científica do enfermeiro, tanto na assistência quanto na gestão
do serviço. Ou seja, é de extrema importância a prática da educação permanente aplicada
à toda a equipe da PRLB, como forma de atualização dos conhecimentos técnico-científicos
dos profissionais atuantes e afim de garantir melhoria na qualidade da assistência prestada
às usuárias do serviço e à toda a comunidade.
A educação em saúde é a principal ferramenta de disseminação de informações em
saúde à toda a comunidade e precisa ser direta e resolutiva. E para que ela seja feita de
maneira eficaz, é necessária a constante atualização de toda a equipe de saúde atuante na
unidade, pois todos os funcionários do serviço são responsáveis por passar essa educação
de forma adequada, afim de garantir melhoria na qualidade do serviço e da assistência.
Em suma, uma assistência de qualidade precisa ser pautada em educação em saúde
da população e atualização da equipe que atua na unidade. Tendo a atenção básica como
porta de entrada, é importante também tê-la como principal forma de comunicação direta com
a comunidade e o papel do enfermeiro enquanto educador de saúde precisa ser reforçado
durante os atendimentos da unidade, em especial durante o teste rápido. Esses atendimentos
265
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
necessitam de métodos de interação com usuário e estabelecimento de relação de confiança,
a fim de garantir qualidade de assistência, utilizando-se de uma consulta individualizada,
respeitando as peculiaridades de cada indivíduo, e educando tanto de forma verbal quanto
de forma prática, garantindo interesse e compreensão do usuário do serviço.

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atenção básica. Rev. Latino-Am. Enferm. 2016. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rlae/
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267
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
18
O cuidado em saúde mental a mulheres
climatéricas no centro de atenção
psicossocial

Marcilene Batista de Holanda Juliane da Silva Pereira


IFPE IFPE

Mabel Geane Ramalho Calado Silvana Cavalcanti dos Santos


IFPE IFPE

Iandra Rodrigues da Silva Ana Carla Silva Alexandre


IFPE IFPE

Dária Catarina Silva Santos Alice Rodovalho de Souza e Silva


IFPE SESPE

Pedro Camilo Calado da Silva Valquiria Farias Bezerra Barbosa


IFPE IFPE

10.37885/210303963
RESUMO

Objetivo: Caracterizar as práticas e estratégias de cuidado desenvolvidas pelos profis-


sionais do Centro de Atenção Psicossocial no cuidado a mulheres climatéricas. Métodos:
Estudo qualitativo desenvolvido em um Centro de Atenção Psicossocial II, no interior
de Pernambuco. O protocolo de pesquisa foi aprovado sob o parecer nº 1.803.905.
Participaram da pesquisa 5 profissionais do Centro de Atenção Psicossocial e 5 usuárias
na faixa etária de 46 a 53 anos. As entrevistas semiestruturadas foram realizadas em
junho e julho de 2017, mediante leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido e conduzidas segundo roteiro com perguntas sobre saúde mental, climatério
e práticas de cuidado no Centro de Atenção Psicossocial. As entrevistas foram transcritas,
duplamente conferidas e analisadas segundo o método de abordagem hermenêutica da
análise textual discursiva, resultando nos códigos: Medicação; Conhecimento; Participação
familiar; Acompanhamento; Diálogo; Atenção e Desconhecimento. As categorias empí-
ricas foram: Percepção das mulheres sobre o climatério; Homogeneidade da assistên-
cia; Medicação como centro da assistência aos transtornos mentais; e Dificuldades na
assistência. Resultados: Há homogeneidade nas práticas assistenciais, predominando
a distribuição de medicamentos psicotrópicos e assistência igualitária para homens e
mulheres. As estratégias de cuidados não levam em conta as singularidades e subjetivi-
dades das mulheres em seu processo de existência-sofrimento. Considerações finais:
Observa-se a importância de novas práticas de cuidado que proporcionem a mulher
climatérica o autoconhecimento, acolhimento, compreensão e autoestima, com ênfase
no autocuidado, e que permitam a superação de práticas voltadas ao modelo asilar
hospitalocêntrico.

Palavras-chave: Climatério, Saúde Mental, Saúde da Mulher, Serviços de Saúde Mental,


Desinstitucionalização.

269
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

O período do climatério, segundo a Sociedade Internacional de Menopausa, compõe


“todo o período reprodutivo da mulher (pré-menopausa), iniciado com a menarca, até o não
reprodutivo, possuindo 4 fases: pré-menopausa, perimenopausa, menopausa e pós-meno-
pausa” (WIGG et al, 2020, p. 7).
O termo climatério é comumente adotado para referir-se à transição da mulher do ciclo
reprodutivo para o não reprodutivo, numa faixa etária que varia entre os 40 aos 65 anos
(BRASIL, 2016). Essa transição está relacionada ao processo de envelhecimento biológico
da mulher que resulta na redução progressiva da atividade folicular ovariana e na queda
de produção dos hormônios estrogênio e progesterona pelos ovários (WIGG et al, 2020;
ALVES et al., 2015).
Muitas mulheres passam pelo climatério de forma assintomática, mas outras podem
apresentar queixas diversificadas e com intensidades diferentes, principalmente a partir do
período perimenopausal (aproximadamente 2 anos antes da menopausa). As principais
manifestações podem ser a menstruação abundante e com maior duração, ondas de calor
(fogachos), calafrios, palpitações, cefaleia, tonturas, insônia, perda da memória e fadiga, dimi-
nuição da autoestima, irritabilidade, sintomas depressivos e ganho de peso (BRASIL, 2016).
Wigg (2020) acrescenta entre os sintomas neuropsíquicos mais frequentes no climatério
a ansiedade, estresse, indisposição, tristeza, perda de interesse, falta de atenção, concen-
tração e problemas de memória.
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) tem por princípios
a integralidade e a equidade na atenção à saúde da mulher (BRASIL, 2004). As especificida-
des inerentes as fases de vida das mulheres devem ser consideradas na oferta de cuidados
em todos os níveis de atenção à saúde (PEREIRA; SIQUEIRA, 2009).
Essa política propõe que sejam introduzidas, na rede pública de saúde, ações voltadas
a mulheres socialmente excluídas e expostas a múltiplos fatores de vulnerabilidade, como
as mulheres com transtorno mental. Devido à estigmatização e discriminação, pessoas
com adoecimento mental têm seus A violação de direitos humanos, sociais e culturais de
pessoas com transtorno mental é motivada por processos de estigmatização e discrimina-
ção, o que resulta em perdas econômicas, dificuldades de acesso ao trabalho, a educação,
ao direito reprodutivo e aos melhores padrões de cuidados em saúde (MOURA; GUEDES;
FREIRE et al., 2012).
Portanto, a relevância do presente estudo reside em focalizar as vivências de cuidado às
usuárias que vivenciam o climatério no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Ressalta-se
também a escassez de estudos nesta área o que remete a importância de enfocar as ques-
tões relacionadas ao climatério para mulheres em sofrimento psíquico (ALVES et al., 2015).
270
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
O acompanhamento terapêutico nesses serviços especializados em saúde mental de-
verá ser direcionado às tecnologias leves de cuidado que poderão contribuir para uma prática
profissional coerente aos pressupostos do modo de atenção psicossocial (BARBOSA; LIMA;
SIMÕES et al., 2017). O fortalecimento do vínculo e das relações de confiança e respeito entre
os profissionais de saúde e as usuárias climatéricas potencializará processos de autonomia,
autoconhecimento e envolvimento da usuária e sua família no seu processo terapêutico.
Ante ao exposto, este estudo tem como objetivo caracterizar as práticas e estratégias
desenvolvidas pelos profissionais de um CAPS do interior pernambucano no cuidado a
mulheres climatéricas.

MÉTODO

Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa desenvolvido no CAPS II, de muni-


cípio do interior pernambucano. Participaram do estudo 5 profissionais de saúde mental (1
Psicóloga, 1 Enfermeira, 1 Técnico de Enfermagem, 1 Assistente Social e 1 Pedagoga) e 5
usuárias na faixa etária entre 46 a 53 anos e que referiram sinais e sintomas do climatério,
como ciclos menstruais irregulares, ondas de calor e insônia. Foram excluídas usuárias com
idade menor que 45 anos e os profissionais e usuárias que não apresentaram disponibilidade
para participar de entrevistas durante o período do levantamento dos dados. A seleção dos
participantes se deu pelo critério de acessibilidade e o número de entrevistas obedeceu ao
critério de saturação de dados.
O presente protocolo de pesquisa foi avaliado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Fundação HEMOPE, Recife, PE e aprovado sob o parecer nº 1803905. As entrevistas foram
realizadas após a anuência dos profissionais de saúde e usuárias do CAPS, mediante a
leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme preconiza a
resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 466/2012. As entrevistas foram realizadas em
sala do CAPS com boas condições de conforto e privacidade, em data e horário em que os
participantes já se encontravam no serviço, sem interrupção de suas atividades laborais e
terapêuticas. Foram gravadas, transcritas, duplamente conferidas e os áudios descartados.
A coleta de dados foi realizada nos meses de junho e julho de 2017, através de um
roteiro de entrevista semiestruturada com 10 perguntas objetivas e subjetivas relacionadas à
saúde mental, climatério e sobre as práticas de cuidado à saúde no CAPS. Todos os roteiros
de entrevista foram submetidos a uma pré-testagem a fim de avaliar a clareza da linguagem
e a reprodutibilidade através de sua aplicação a profissionais de saúde e usuários da rede
SUS que não compuseram a amostra do estudo.
As entrevistas foram analisadas pelo método de análise textual discursiva, de abor-
dagem hermenêutica, segundo Moraes e Galiazzi (2011). A análise dos documentos foi
271
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
operacionalizada mediante a utilização do software Microsoft Excel®. A partir da primeira
etapa, com o processo de desmontagem dos textos ou processo de unitarização, proce-
deu-se o exame detalhado dos textos, fragmentando-os no sentido de identificar suas uni-
dades constituintes e os enunciados sobre os fenômenos estudados. Os códigos obtidos
a partir da análise das entrevistas foram: Medicação; Conhecimento; Participação familiar;
Acompanhamento; Diálogo; Atenção e Desconhecimento.
A segunda etapa compreendeu o processo de categorização. As categorias obti-
das foram: Percepção das mulheres sobre o climatério; Homogeneidade de assistência;
Medicalização e Medicamentalização e Dificuldades na assistência.
As mulheres participantes da pesquisa são identificadas no texto pela letra “M” maiús-
cula e os profissionais do CAPS pela letra “E” maiúscula, seguidas com números de 1 a 5
correspondentes ao número sequencial da entrevista.
Os resultados serão apresentados e discutidos por 4 eixos temáticos que serão:
EIXO I: Percepção das mulheres sobre o climatério; EIXO II: Homogeneidade da assistência
à saúde da mulher climatérica; EIXO III: Medicação como centro da assistência aos transtor-
nos mentais; EIXO IV: Dificuldades na assistência às mulheres que vivenciam o climatério.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

EIXO I: Percepção das mulheres sobre o climatério

Das 5 usuárias participantes da pesquisa, 4 relataram estar em fase menopausal e


apenas uma referiu as irregularidades nos ciclos menstruais que caracterizam o período
pré-menopausal. Sim, mais vem um mês e passa dois sem vim... (M1); Não há 4 anos...(M4)
Ao serem questionadas sobre sinais do climatério as usuárias referiram, principalmente,
sentir ondas de calor e insônia.
Observa-se a partir das respostas das participantes da pesquisa que há uma percepção
e um conhecimento parciais a respeito das características do climatério e suas repercussões
sobre a saúde da mulher.
A síndrome do climatério desencadeia vários sintomas tais como alterações do ciclo
menstrual; ganho de peso; calores (fogachos) e sudorese fria na parte superior do tórax e
cabeça, representados por ondas de calor que podem durar muito tempo; além de insônia
e alterações psicoemocionais (SANCHES et al., 2010).
Sobre seus conhecimentos em relação ao climatério expressaram interesse em saber
o que é o climatério e quais são seus sinais e sintomas. Nunca falaram o que é[...]. (M1) [...]
não sei o que é... queria saber o que é[...].(M4) Sei não o que é.(M5)

272
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
A fim de que as mulheres compreendam as mudanças que estão ocorrendo em seu
corpo, o profissional de saúde é um ator fundamental no desenvolvimento de intervenções
de educação em saúde. Essas intervenções são fundamentais para prevenir e/ou amenizar
sinais e sintomas climatéricos e para fortalecer o autocuidado (VALENÇA; GERMANO, 2010).
Em relação ao uso de medicação para os sinais do climatério, referiram que não usam
nenhum medicamento, somente chás. Sim, faço uso de chá[...]. (M3)
Esse achado da pesquisa permitiu visualizar que as usuárias do CAPS estão abertas
para a aprendizagem de práticas não medicamentosas de alívio dos sintomas do climatério,
uma vez que não foram abordadas com prescrições medicamentosas direcionadas a esses
sintomas e desconfortos.

EIXO II: Homogeneidade da assistência à saúde da mulher climatérica

Quanto aos profissionais, ao serem questionados sobre as características do climaté-


rio percebidas nas usuárias, relataram que as mulheres sentem alguns sinais como: calor
intenso e ciclo menstrual irregular.

Às vezes elas reclamam mais sobre o transtorno (mental) e reclamam do


calor[...].(E4)
[...]mais desanimadas, estressadas facilmente e mudanças de humor que
muda muito[...].(E5)

Em relação à necessidade de considerar as características do climatério no planeja-


mento da assistência em saúde às mulheres, os profissionais entrevistados reconhecem a
importância do acolhimento, acompanhamento e esclarecimento sobre o que as mulheres
estão sentindo e o que está ocorrendo em seu corpo.

Sim, em toda fase, o profissional de saúde deve estar ligado, prestar atenção[...]
nessa fase é importante porque é uma vida nova para as mulheres, e essas
pacientes não têm a noção de muita coisa, então tem que explicar direito o
que está acontecendo. (E1)
Sim, é um período delicado que tem que ter um olhar diferenciado para saber
interpretar a fase que elas estão passando. (E5)

Os serviços da rede de atenção psicossocial devem oferecer assistência integral às


usuárias em seus ciclos de vida, tendo em vista as singularidades e impactos psicossociais,
corporais e culturais.
O climatério, enquanto marco biológico pode gerar obstáculos na qualidade de vida da
mulher, especialmente quando não têm à sua disposição serviços e ações de saúde capazes
de orientá-las quanto aos cuidados pertinentes a esta fase (PEREIRA; SIQUEIRA, 2009).

273
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Sim a paciente tem que saber de tudo, tem que ter palestras, elas entendem
tudo que você fala, então deve ser abordado este tópico. (E1)

Contraditoriamente, em relação à assistência oferecida no CAPS às mulheres na fase


do climatério, os profissionais relataram que as usuárias não são atendidas de forma dife-
renciada por serem mulheres, pois a assistência é oferecida de forma igualitária para todos,
homens e mulheres. Não, aqui não.(E2)
Esse posicionamento reflete uma incompreensão quanto ao princípio filosófico e orga-
nizativo da equidade, que fundamenta o arcabouço ético-legal do Sistema Único de Saúde
(SUS). Diferente da igualdade, a equidade é o reconhecimento de que há diferentes ne-
cessidades e vulnerabilidades que devem ser consideradas pelos provedores de cuidados
(SILVA; OLIVEIRA, 2020).
Percebe-se também que as relações de gênero são mediatizadas pelo modelo binário da
sexualidade humana, que desconsidera diferentes experiências e construções intersubjetivas.
Ante a esse contexto, tem sido levantada por outros autores a necessidade de uma
política de saúde mental numa perspectiva de gênero que permita a superação dos reducio-
nismos e invisibilidades com que as questões de mulheres e homens com transtorno mental
tem sido abordados na rede SUS (MALUF; TORNQUIST, 2010).
Como legado do movimento de reforma psiquiátrica brasileira foi criado um conjunto
de instituições substitutivas ao hospital psiquiátrico como os CAPS, as residências terapêuti-
cas, as cooperativas de geração de renda, os núcleos de apoio matricial na atenção básica,
constituindo-se em novas estratégias de cuidado em saúde mental (COSTA-ROSA, 2013).
Diante do exposto, deve-se investir em outras formas de cuidado baseadas em tecno-
logias leves, a exemplo de grupos terapêuticos voltados às mulheres que estão na fase do
climatério, que ofereçam práticas de acolhimento, arte terapia, práticas corporais, orienta-
ções sobre alimentação saudável, e abordagens de educação em saúde sobre o climatério,
entre outros, objetivando-se evitar o agravamento de seu transtorno ou sofrimento mental
(BARBOSA; LIMA; SIMÕES et al., 2017).

EIXO III: Medicação como centro da assistência aos transtornos mentais

Quando indagados sobre o uso de medicação para os sinais do climatério e sua in-
fluência no tratamento do transtorno mental, houve declarações diferenciadas entre os pro-
fissionais de saúde entrevistados.

Sim, se o tratamento é pra melhoria delas acho interessante fazer uso. (E1)
Eu acho que cada caso é diferente do outro, acho que só depois que passar
por um médico pra ver se precisa de medicação. (E3)
Acho que não...elas se resumem só no transtorno, é como se tudo funcionasse
em pegar a medicação, tomar a medicação, não entrar em crise e o resto não
funciona. (E5)
274
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
A partir das falas dos entrevistados fica evidente que os profissionais convergem quanto
ao uso racional da prescrição medicamentosa. Em outros contextos, a hipermedicamentali-
zação ainda é a opção primaria na prática assistencial às usuárias com transtornos mentais,
como forma de suprir as suas necessidades e prevenir a ocorrência de crises psíquicas,
conforme discutem Barbosa, Caponi e Verdi (2016).
Em pesquisa realizada por Wigg (2020), os sintomas neuropsíquicos se associaram
significativamente entre si, sendo identificado, relações fortes entre estresse, depressão,
ansiedade, insônia e sintomas menopausais. O destaque foi a insônia que se mostrou de
modo expressivo nas relações entre sintomas neuropsíquicos e clínicos. Além disso, 11%
das mulheres apresentaram pensamentos suicidas, possuindo problemas sexuais, não
tinham companheiro e filhos morando no lar e todas faziam uso de ansiolíticos e antidepres-
sivos. No entanto, no estudo de Barbosa et al. (2020) não foi encontrada associação positiva
entre ser mulher com transtorno mental e consumir psicotrópicos e a vivência da sexualidade.
Ante ao exposto, é necessário investir em práticas não medicamentosas de alívio do
estresse, da ansiedade, e melhoria do padrão de saúde da mulher, de forma a não se res-
tringir, na prescrição terapêutica, a abordagem medicamentosa dos sintomas do transtorno
mental e dos sintomas climatéricos.
Sobre as alternativas adotadas pelos profissionais para que o uso de medicação fosse
reduzido ou substituído, quando possível, por outros métodos terapêuticos os entrevistados
referiram alternativas que vão desde atividades físicas até orientação alimentar.

Uma capacitação sobre o assunto pra gente saber orientá-las melhor e serem
bem acompanhadas. (E3)
Poderiam ser algumas técnicas de relaxamento, alimentação adequada, ati-
vidade física. (E4)

Embora reconheçam a possibilidade de adoção de novas práticas de cuidado, pautadas


em tecnologias leves, é importante notar que o profissional E3 ressalta a necessidade de
formação permanente das equipes de saúde mental para potencializar o cuidado integral às
mulheres climatéricas. Essa intencionalidade é reveladora de que os processos de cuida-
do são dialógicos, devendo estar em constante construção e revisão de seus referenciais,
práticas e resultados.
Os profissionais envolvidos no cuidado à mulher precisam adotar práticas libertadoras
cujos saberes viessem a incentivar sua autonomia no cuidado, além de propor estratégias
de incentivo e valorização da autoestima e da autonomia frente às mudanças que podem
acompanhá-la nesta fase (OLIVEIRA et al., 2017).

275
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
EIXO IV: Dificuldades na assistência as mulheres que vivenciam o climatério

Quando os profissionais foram questionados sobre possíveis dificuldades relacionadas


à assistência as mulheres que possuem um transtorno mental e que vivenciam a fase clima-
térica, relataram haver alguns impasses que dificultam a assistência, como por exemplo, a
visão da mulher sobre si mesma e seus sentimentos negativos.

Não tem dificuldade. (E3)


Não, a gente tem uma conversa muito boa sobre tudo, eu vejo que elas se
limitam ao transtorno. (E5)

A mulher deverá sempre ser considerada sujeito partícipe ativo do processo de cuidar
em saúde, em especial, a que vivencia o climatério. É fundamental que essa mulher entenda
dessa maneira o cuidar de si conhecendo a si mesma (OLIVEIRA et al., 2017).
Outro entrave apontado envolve a participação da família no cuidado dessas usuárias e
o desconhecimento dos familiares sobre seus ciclos de vida. Os profissionais relataram que
não há participação suficiente da família. Segundo sua percepção o que motiva a ausência
da família nos momentos terapêuticos a ela destinados é a falta de consciência da correspon-
sabilização da família no cuidado territorial em saúde mental, o que reforça a invisibilidade
das questões relacionadas ao sofrimento mental e ao climatério na família e na sociedade.

Eu não vejo nenhuma participação da família. (E1)


Aqui nunca chegou nenhum familiar, não pra falar sobre isso, só pra falar
sobre o transtorno. (E3)
Eu acho que as famílias não sabem o que está acontecendo, se ligam mais
na questão do transtorno...e por falta de conhecimento. (E4)

A família, portanto, deve ser considerada como ator social indispensável para a efeti-
vidade da assistência em saúde mental e entendida como um grupo com grande potencial
de acolhimento e ressocialização de seus integrantes (SCHARNK; OLSCHOWSKY, 2008).
Por outro lado, é preciso considerar que a família enfrenta dificuldades diante da “es-
colha” de assumir o cuidado, negando-se a abandonar seus familiares adoecidos. Muitas
famílias são incompreendidas e são estigmatizadas socialmente (BARBOSA; CAPONI;
VERDI, 2016), o que amplia a necessidade de que sejam acolhidas e ouvidas nos serviços
que compõem a rede de atenção psicossocial.

276
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
CONCLUSÃO

No contexto estudado, a abordagem dos profissionais da equipe de saúde mental sobre


o climatério apresentou-se insuficiente, uma vez que este não é um assunto discutido nos
grupos terapêuticos, nem tampouco nas abordagens individuais de cuidado.
As usuárias e os profissionais de saúde demonstraram disposição e interesse em
ampliar seus conhecimentos sobre o climatério na direção do desenvolvimento de práticas
de cuidado inovadoras, que reduzam a demanda de medicamentalização e fortaleçam as
tecnologias leves de cuidados.
Outro achado da pesquisa foi a homogeneidade das práticas de cuidados desenvolvi-
das pelos profissionais do CAPS não havendo distinção entre as especificidades de gênero
masculinas e femininas.
O aumento da expectativa de vida e seu impacto sobre a saúde da população feminina
reforçam a adoção de medidas com vistas à qualidade de vida durante e após o climaté-
rio. Portanto, é indispensável que as mulheres tenham acesso à informação que permita
compreender o climatério como integrante de seus ciclos de vida, e não como sinônimo de
enfermidades, senilidade, improdutividade e ausência de sexualidade.

REFERÊNCIAS
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278
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
19
O papel da enfermagem no
acompanhamento puerperal da mulher
com sinais de depressão pós-parto

Sthéfani Varela

Rossano Sartori Dal Molin

10.37885/210504840
RESUMO

Objetivo: Descrever o papel e as condutas de enfermagem no acompanhamento de


mulheres com sinais de depressão pós-parto no puerpério. Métodos: Trata-se de um
estudo do tipo revisão integrativa de literatura, a coleta dos dados foi realizada nas bases
de dados do Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e SCIELO (Scientific Eletronic Library
Online) através dos Palavras-chave: depressão pós-parto e enfermagem, sendo incluídos
apenas artigos completos a partir de 2015 e em língua portuguesa. Resultados: A busca
na base de dados resultou em 1873 artigos no total, sendo que após aplicação dos cri-
térios de inclusão e exclusão, resultou-se em 26 materiais para análise. Destes, apenas
cinco responderam à pergunta de pesquisa, trazendo como papel da enfermagem o
acolhimento da mulher, identificação dos sinais e sintomas do transtorno e, como princi-
pal conduta, o encaminhamento para outros profissionais, como psicólogo e psiquiatra.
Todos os artigos abordaram as dificuldades dos profissionais em reconhecer os sinais
e sintomas e quais ações tomar. Conclusão: Observou-se que a maioria dos profissio-
nais não é capacitada para agir diante de casos de depressão pós-parto, visto que há
falhas na observação dos sintomas para possível diagnóstico e não há padronização
nas condutas a serem aplicadas.

Palavras-chave: Enfermagem, Depressão Pós-Parto, Puerpério.

280
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

A gestação é um processo fisiológico único e singular que provoca diferentes senti-


mentos a mulher, acarretando alterações físicas, emocionais e mentais. Essas alterações
se tornam ainda mais intensas durante o puerpério, período após o nascimento do bebê e
expulsão da placenta, visto que é um momento que, além das mudanças físicas, há alteração
no papel social da mulher, agregando significados e conceitos culturais de forma repentina.
Entretanto, mesmo sendo evidente essas mudanças e as complicações que podem gerar,
a mulher por vezes torna-se negligenciada, sendo que o recém-nascido acaba por receber
todas as atenções e cuidados (DEMACENA et al., 2020; CATAFESTA, et al., 2007).
Dessa forma, a mesma fica mais suscetível a patologias e transtornos, como a depres-
são pós-parto, um tipo de transtorno depressivo maior, que atinge cerca de 26% das puérpe-
ras no Brasil. Devido a ele, o bem- estar da mulher e a relação dela com a criança, acabam
sendo prejudicados, uma vez que o sentimento de tristeza e falta de interesse são comumente
expressos (American Psychiatric Association 2014; BRASIL, 2014; DEMACENA et al., 2020).
Sendo assim, quanto mais precoce o diagnóstico, maiores a chances de reverter os
efeitos provocados pela depressão, contribuindo para melhora na qualidade de vida da
puérpera e na relação mãe-bebê. Para tanto, a equipe de saúde deve estar atenta quanto
aos sinais apresentados durante as consultas realizadas desde o pré-natal até as consultas
puerperais, sendo a enfermagem peça chave nesse momento, visto que a mesma tem maior
contato com a mulher durante esse processo. Conforme preconizado pela Política Nacional
de Humanização, a realização do acolhimento é um elemento fundamental para estabelecer
vínculo com a paciente e promover um cuidado eficaz à mesma (SCHIMDTH, PICOLOTO,
MULLER, 2005; DEMACENA et al., 2020; BRASIL, 2012).
O presente estudo teve como objetivo descrever o papel e as condutas de enfermagem
no acompanhamento de mulheres com sinais de depressão pós-parto no puerpério.

MÉTODOS

A abordagem do presente estudo constituiu-se em uma revisão integrativa de literatura


de caráter analítico sobre o papel da enfermagem no acompanhamento da mulher com de-
pressão pós-parto. Para realização, foi empregado no processo de pesquisa cinco etapas:
formulação do problema, coleta de dados, avaliação dos dados, análise e interpretação dos
dados, apresentação dos resultados (COOPER, 1982).
As buscas ocorreram por meio das bases de dados Biblioteca Científica Eletrônica
Online (SCIELO) e a Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), através dos descritores: depressão
pós-parto e enfermagem; para busca dos artigos trazidos para a discussão. A realização do
281
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
estudo teve seu eixo na seguinte questão norteadora: Qual deve ser o papel do enfermeiro
no acompanhamento puerperal frente a depressão pós-parto?
Os artigos selecionados passaram pelos seguintes critérios de inclusão: abordam o
tema e respondem a pergunta norteadora de pesquisa, sejam escritos na língua portuguesa,
estejam disponíveis de forma online e gratuita e tenham sido publicados a partir de 2015.
Para exclusão, estipulou-se textos incompletos, que não abordam o tema e são escritos em
língua estrangeira. O material de pesquisa é de domínio público, fazendo assim não ser
necessária a submissão da pesquisa para aprovação em Comitê de Ética. Contudo, res-
peitou- se os aspectos éticos através da preservação dos pensamentos dos autores, bem
como suas contextualizações e definições.
A avaliação dos dados se deu por meio da leitura e julgamento crítico do material
apresentado, sendo registrado suas principais informações em um instrumento de coleta
elaborado durante o projeto de pesquisa. Esse instrumento era preenchido com os dados
de identificação do artigo, objetivo/questão norteadora, método, tipo do estudo, resultados/
discussão, conclusões, tendo o intuito de facilitar a organização e melhor compreensão dos
materiais relevantes ao caso.
Para análise e interpretação dos dados, foi elaborado um quadro sinóptico contendo
a síntese dos artigos e comparação dos dados, facilitando a realização dos resultados e
discussões do estudo.

RESULTADOS

Primeiramente, foi utilizada a base de dados BVS com os descritores: depressão pós-
-parto e enfermagem, sendo encontrado um total de 1741 artigos. Após, foram excluídos
aqueles que não foram escritos na língua portuguesa e que possuíam textos incompletos,
resultando em 47 obras. Ao filtrar o ano de publicação para a partir de 2015, restaram 26
artigos. Após leitura crítica de cada material e com base na pergunta norteadora elaborada,
foram selecionados cinco materiais para compor o presente estudo.
Através do uso da base de dados SCIELO com os descritores: depressão pós-parto
e enfermagem, foram encontrados 132 artigos. Após selecionar apenas aqueles em língua
portuguesa e publicados a partir de 2015, foram obtidos 34 materiais. Entretanto, ao ler
esses estudos, nenhum respondia à pergunta norteadora.
Foram localizados um total de 1873 artigos através da busca nas bases de dados,
sendo 1868 reprovados por não se adequar aos critérios de inclusão. Conforme trazido na
Figura 1, foram selecionados apenas cinco artigos para compor o presente estudo.

282
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Figura 1. Fluxograma de seleção dos artigos para Revisão Integrativa

Fonte: VARELA, DAL MOLIN, 2021.

Nesta revisão, foram analisados cinco artigos que contemplavam os critérios de in-
clusão estabelecidos previamente. Os dados contidos no Quadro 1 descrevem os artigos
selecionados para compor o presente estudo.

283
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Quadro 1. Apresentação da síntese das características dos estudos incluídos na presente Revisão Integrativa
BASE DE PERIÓDICO
TÍTULO AUTORES OBJETIVO RESULTADOS/DISCUSSÃO CONCLUSÃO
DADOS (nome, ano, local)
Intervenções do SILVA, J. F.; et al. Revista de Enferma- Identificar a produção cientí- Compôs-se a amostra por Existe a necessidade
enfermeiro na gem UFPE on line, fica sobre as ações/interven- 11 artigos, identificando-se de aprimorar o conhe-
atenção e preven- 2020, Recife, Brasil. ções que podem ser desen- as seguintes ações/inter- cimento dos enfermei-
ção da depressão volvidas pelo enfermeiro na venções: observar sinais ros e sua equipe em
puerperal atenção e prevenção de danos e sintomas da depressão relação a depressão
BVS da depressão puerperal. puerperal; realizar consulta puerperal para uma
de pré-natal e educação em melhor assistência.
saúde; incentivar o parto
normal; apoiar condições
psicológicas; encaminhar
para serviço especializado.
Conhecimento de SOUZA, K. L. C.; Revista de Enferma- Analisar o conhecimento dos Com base nas análises das Ampliar os investimen-
enfermeiros da et al. gem UFPE on line, enfermeiros das unidades de entrevistas, surgiram três tos na educação per-
atenção básica 2018, Recife, Brasil. saúde da família sobre a de- categorias: rotinas de cui- manente e continuada
acerca da depres- pressão puerperal. dado da enfermeira ao bi- aos profissionais da
são puerperal nômio mãe-filho no período estratégia da família
BVS
puerperal; visão das enfer- a fim de contemplar a
meiras sobre a depressão atenção à saúde mental
puerperal; os impasses na das puérperas.
prevenção da depressão
puerperal.
P e r c e p ç ã o d e SANTOS, F. K.; et Revista Nursing , Analisar as percepções de Os profissionais não pos- Implementar um as-
enfermeiros so- al. 2020, São Paulo, enfermeiros sobre diagnós- suem suporte literário para sessoramento a esses
bre diagnóstico Brasil. tico e acompanhamento da padronizar condutas de profissionais a fim de
e acompanham depressão pós-parto em Divi- cuidados para mulheres promover um cuidado
ento de mulheres nópolis-MG com depressão pós- parto. integral.
BVS
com depressão O atendimento a essas mu-
pós-parto lheres ocorre de maneira
fragmentada, não tendo
acompanhamento multi-
disciplinar.
Desafios para pro- MEIRA, B. M.; et Texto & Contexto - Conhecer os desafios dos pro- Dificuldade dos profissio- Aprofundar pesquisas e
fissionais da aten- al. Enfermagem, 2015, fissionais da atenção primária nais em identificar e tratar promover treinamento
ção primária no Florianópolis, Brasil. no cuidado às mulheres com o transtorno, visto que o e capacitação desses
cuidado à mulher depressão pós-parto, buscan- cuidado está relacionado profissionais.
com depressão do identificar quais as ferra- diretamente com a fisiolo-
BVS
pós-parto mentas utilizadas para a de- gia do processo gestacional
tecção dessas mulheres, bem e puerperal.
como as formas de atuação
para o restabelecimento da
sua saúde.
Estratégias de en- VIANA, M. D. Revista Online de Identificar na literatura as es- Com base em nove artigos, Prevenir a DPP é uma
fermagem na pre- Z. S.; et al. Pesquisa Cuidado é tratégias utilizadas pelos (as) foi realizada a categorização ação de fácil aborda-
venção da pressão Fundamental, 2020, enfermeiros(as) na prevenção dos trabalhos por similarida- gem, com baixo custo
pós-parto Rio de Janeiro, Brasil. da depressão pós-parto. de de conteúdo, sendo cons- e de viável execução na
truídas duas categorias para prática do enfermeiro.
BVS a análise: o acolhimento
como estratégia de preven-
ção da depressão pós- parto
e o grupo de gestante como
espaço de troca de experi-
ência.
Fonte: VARELA, DAL MOLIN, 2021

DISCUSSÃO

Através da análise dos estudos que compõem a presente revisão, foram desenvolvidas
duas categorias analíticas para organização, sendo a primeira “As condutas de enfermagem
frente à depressão puerperal ” e a segunda, “As dificuldades vivenciadas pela equipe de
enfermagem na depressão puerperal ”.
284
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
As condutas de enfermagem frente à depressão puerperal

A Política Nacional de Humanização prevê que, para que o cuidado seja efetivo, o
acolhimento é um elemento fundamental em todo o processo de cuidado dedicado à popu-
lação, visto que esse é responsável por criar uma relação de confiança. Quando se entra no
contexto do acolhimento à gestante, esse ganha um aspecto ainda mais enfático devido a
necessidade de trazer essa mulher para um acompanhamento que terá uma duração longa.
Dessa forma, é preciso ouvir a gestante quanto a sua história, seus sentimentos, medos e
anseios, bem como o significado da gestação para ela. Com um acolhimento de qualidade,
a mulher vê a equipe com confiança e sente-se segura para se expressar e retornar às
consultas para acompanhamento (BRASIL, 2012).
Viana, et al. (2020), abordou por meio da revisão de literatura, a importância do aco-
lhimento na prevenção da depressão pós-parto, trazendo ainda a implementação da Escala
de depressão pós-parto de Edimburgo (EDPS) para auxiliar no diagnóstico desses pacien-
tes. Uma forma de fazer essa escuta qualificada, é abordar questões pertinentes à mulher
ainda no pré-natal, deixando um pouco de lado questões fisiológicas e abordando temas
mais emocionais. Um caminho para isso, segundo o autor, é a implementação de grupos de
gestantes com atividades educativas e voltadas para a troca de experiências.
Apesar das particularidades de cada ambiente e cenário, é comumente atribuído ao
enfermeiro o papel de acolhimento tanto à gestante quanto à puérpera e recém-nascido,
sendo este responsável por identificar possíveis aspectos a serem melhorados e comunicar
o restante da equipe. No caso da depressão pós-parto, o enfermeiro é tido como o profissio-
nal mais apropriado para observar os sinais que a mulher está demonstrando, visto que é
aquele que, além de estar na porta de entrada do serviço de saúde, normalmente tem maior
intimidade e tempo de acompanhamento (FÉLIX et al., 2013; LOUZADA, 2019).
Segundo o artigo produzido por Silva, et al. (2020), que também aborda a implemen-
tação da EDPS, uma das condutas de enfermagem que servem como mecanismo de pre-
venção e/ou ajuda no diagnóstico de depressão pós-parto, é a visita domiciliar promovida
pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Tal atividade promove uma escuta qualificada
e um olhar mais íntimo e específico frente a realidade daquela família. Dessa forma, é de
suma importância que durante essa visita o profissional promova o cuidado integral à essa
mulher, tanto no período gestacional como quando no puerperal.
Souza, et al. (2018) por meio de entrevistas com 11 enfermeiros de uma unidade da
saúde da família, trouxe que a visita domiciliar acaba por facilitar a prevenção, diagnóstico
e acompanhamento das mulheres com depressão pós-parto, visto que também compartilha
do pressuposto que a prática promove acolhimento, escuta qualificada e cuidado integral.

285
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Por vezes, as visitas assumem caráter mais direcionado a questões fisiológicas, o que pode
provocar certa desatenção ao estado mental e emocional da mulher.
Conforme abordado no Caderno de Atenção ao Pré-Natal de Baixo Risco do Ministério
da Saúde, é papel do enfermeiro realizar visitas domiciliares à toda puérpera ou gestante,
principalmente na última semana de gestação e primeira de puerpério, bem como desen-
volver grupos de gestantes para atender a população. Entretanto, o material indica que tais
visitas devem ocorrer para auxiliar a mulher nos processos fisiológicos dela e do bebê, não
abordando a necessidade de um olhar voltado à saúde mental. (BRASIL, 2012)

As dificuldades vivenciadas pela equipe de enfermagem na depressão puerperal

Estabelecendo que o enfermeiro é peça chave para leitura dos sinais e sintomas da
depressão pós-parto, questiona-se qual o próximo passo a ser seguido. Segundo o artigo
publicado por Meira, et al (2015), a dificuldade dos profissionais começa ainda no reconhe-
cimento dos sinais e sintomas. As entrevistas revelaram que por vezes há certa dificuldade
em avaliar o estado mental da mulher, bem como relacioná-la.
ao transtorno. Ainda, mesmo com a elaboração dos grupos de gestante, os profissionais
tendem a abordar apenas questões do tipo fisiológicas, deixando de lado o emocional. A maior
queixa dos entrevistados foi de que não foram capacitados para agir frente a essa situação,
sentindo-se despreparados em como conduzir e quais medidas aplicar.
Dessa forma, pode-se observar que, desde a formação, o enfermeiro não é preparado
para atender as necessidades desse tipo de paciente. Santos, et al (2020), abordou em um
estudo qualitativo, realizado com nove enfermeiros que, ao identificarem sinais e sintomas
de uma possível depressão, a conduta mais aplicada era o encaminhamento dessa mulher
para outros setores, programas ou instituições, a fim de proporcionar acompanhamento
psicológico e/ou psiquiátrico. Entretanto, o cuidado, que deve ser integral e multidisciplinar,
passa a ser fragmentado após tal ação, visto que a mulher é encaminhada para acompanha-
mento e, por vezes, não retorna mais à unidade de atendimento que realizou o acolhimento,
perdendo assim a continuidade do cuidado. Mesmo com ferramentas como a busca ativa,
que tem como objetivo restabelecer o vínculo da mulher com a unidade de atendimento, o
contato acaba por se tornar restrito e distante.
O acompanhamento psicológico é de suma importância para pacientes com depressão
pós-parto, visto que, ao envolver tal profissional no cuidado, o mesmo torna-se mais adequa-
do e preciso, uma vez que é ele quem tem maior embasamento e preparo para lidar com as
necessidades da mulher (LOUZADA, et al., 2019). Conforme trazido por Cunha, et al (2012),
os estágios da gestação culminam em alterações emocionais na mulher, aumentando a
ansiedade, os medos e as dúvidas; e a forma com que a mulher lida com tais modificações,
286
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
interfere no período puerperal de forma significativa. Assim sendo, é necessário que a psi-
cologia possa ser incluída ainda durante a gestação, visto que a psicoterapia não auxilia
apenas no bem - estar da mulher, mas também na relação dela com o meio em que vive.
Alvares, et al (2015) traz que em alguns países os agentes comunitários de saúde são
treinados para reconhecimento de sinais de depressão pós-parto, colocando a necessidade
em capacitar os profissionais para melhor observação dos sintomas e diagnóstico do trans-
torno. O artigo aborda ainda a importância em manter a educação continuada e oportunizar
diálogos entre os profissionais da unidade, visto que por vezes os pacientes são encaminha-
dos a setores de maior complexidade e perdem o vínculo com a instituição. A integralidade
do cuidado deve ser priorizada, tendo como objetivo criar uma rede de apoio com diferentes
profissionais e possibilitar ações conjuntas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O papel da enfermagem no acompanhamento de mulheres com sinais de depressão


pós-parto está relacionado em identificar os sinais e sintomas apresentados por ela durante o
acompanhamento realizado no pré-natal e puerpério, possibilitando a diminuição dos danos
provocados pelo transtorno e, por vezes, até prevenindo o desenvolvimento do mesmo. Para
tanto, é preciso capacitação do profissional de enfermagem e implementação de programas
para rastrear e padronizar as condutas de cuidados a serem adotadas nas instituições.

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
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289
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
20
Os avanços no diagnóstico da
endometriose e a importância da sua
realização de forma precoce

José Aderval Aragão Rafael Valença de Souza Santos


UFS/UNIT UNIT

Taynara Menezes Ramos Victória Hora Mendonça de Oliveira


UNIT UNIT

Vitoria Oliveira Reis Roberta Visniewski Ximenes


UNIT UNIT

Rayssa Mirelle Santos Carvalho Francisco Prado Reis


UNIT UNIT

10.37885/210404216
RESUMO

Contexto: A endometriose é caracterizada pela presença de tecido endometrial fora da


cavidade uterina, afetando as mulheres em idade reprodutiva, com quadro sintomatológico
inespecífico de inflamação, dismenorréia, dor pélvica crônica, dispareunia e infertilidade,
propiciando muitas vezes um diagnóstico em estágios mais avançados e, consequente-
mente, maiores complicações. Por isso a importância do diagnóstico precoce e menos
invasivo, visando um menor impacto na qualidade de vida das pacientes. Objetivo:
Realizar uma revisão integrativa a respeito da importância dos avanços, para a efetuação,
de forma precoce, do diagnóstico da endometriose. Metodologia: Revisão integrativa
da literatura com pesquisa realizada na base de dados PubMed, tendo como critérios de
inclusão trabalhos publicados nos últimos cinco anos, nos idiomas inglês e português,
localizáveis através dos Palavras-chave: “endometriosis”, “advances” e “diagnosis” combi-
nados pelo uso do operador booleano AND, e excluídos, os artigos que não abordassem
o tema de estudo, nem respondessem à questão norteadora. Resultado: Os estudos
ressaltam a possibilidade de um diagnóstico precoce e menos invasivo da endometriose
através de avanços nos exames de imagem e, principalmente, no uso de biomarcadores
como citocinas, interleucinas, glicoproteínas, ácido ribonucleico ou micro RNA (miRNA),
autoanticorpos e fatores de angiogênese. Conclusão: Apesar dos avanços, faz-se ne-
cessário estudos mais aprofundados para que as novas ferramentas contribuam de forma
positiva no diagnóstico da endometriose.

Palavras-chave: Endometriose, Útero, Endométrio, Biomarcadores, Glicodelina, Aprovação


de Teste Para Diagnóstico, Desenvolvimento Tecnológico.

291
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

A endometriose é uma doença que se caracteriza pela presença e crescimento de


tecido endometrial (glândulas e estroma) fora da cavidade uterina, com o tecido ectópico
sendo encontrado predominantemente aderido às estruturas dentro da cavidade peritoneal
(RACHED et al., 2019). É uma condição ginecológica benigna e dependente de estrogênio
que afeta mulheres em idade reprodutiva. Sua incidência varia entre 6 a 10% podendo che-
gar a 15% em todo o mundo (ANASTASIU et al., 2020).
Apesar de despertar grande interesse na comunidade médica e científica, a fisiopa-
tologia desta doença ainda não é totalmente compreendida e diversas teorias foram levan-
tadas para tentar explicar sua patogênese. A teoria da menstruação retrógrada, com base
na ideia de que células epiteliais e estromais uterinas são disseminadas e implantadas na
cavidade peritoneal através das tubas uterinas, tem sido o mecanismo etiopatogênico mais
aceito. Apesar de que mais de 90% das mulheres apresentarem menstruação retrógrada, a
prevalência de endometriose nessas mulheres, em geral, varia de 6 a 10%. A discrepância
entre essas duas evidências sugere que para aquelas mulheres que desenvolvem endo-
metriose, outros fatores genéticos, bioquímicos e fisiopatológicos venham a contribuir para
este desenvolvimento (GREENE et al.,2016).
Em relação a sua apresentação clínica, a endometriose está frequentemente associada
a inflamação, dismenorréia, dor pélvica crônica, dispareunia e infertilidade, sintomas que
causam grande impacto na qualidade de vida de milhões de mulheres. Apesar de muito
debilitantes, esses sintomas são muito inespecíficos e geralmente podem mimetizar aque-
les associados à doença inflamatória pélvica ou outras condições atreladas à dor pélvica
crônica, o que determina um diagnóstico tardio e baseado em métodos invasivos (TAYLOR
et al., 2018; ANASTASIU et al., 2020).
O atual padrão-ouro para um diagnóstico definitivo da endometriose, consiste em pro-
cedimentos cirúrgicos, seguidos de exames histopatológicos. Durante a cirurgia diagnóstica,
as lesões identificadas podem ser categorizadas em lesões peritoneais superficiais, endome-
triose infiltrante profunda e endometriomas ovarianos. Além disso, todas as lesões presentes
devem ser preferencialmente ressecadas no momento da cirurgia como tratamento da doença
(ROLLA, 2019). A remoção cirúrgica das lesões pode melhorar a dor, mas a recorrência
dos sintomas ocorre em 50% das mulheres dentro de 5 anos após a cirurgia. A supressão
da menstruação é a intervenção médica mais comum por meio de pílulas anticoncepcionais
orais combinadas, progestágenos e agonistas do hormônio liberador de gonadotrofinas
(GnRH), muitas vezes em conjunto com agentes modificadores da dor (PANIR et al., 2018).
Alguns dados têm estimado que a identificação visual definitiva das lesões durante a
cirurgia ocorra entre 5 e 10 anos após o início dos sintomas (KAVOUSSI et al., 2016). Esse
292
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
atraso esta principalmente atribuído à sobreposição sintomática com outras condições de
saúde e a falta de biomarcadores informativos ou outros métodos de identificação da doen-
ça de forma não invasiva. O diagnóstico tardio leva ao reconhecimento da doença já em
estágios mais avançados e, consequentemente, às complicações como a infertilidade, uma
vez que a gravidade do estágio da endometriose pode estar correlacionada com a redução
da fertilidade (CRANNEY et al., 2017). Com base nessas observações, nos últimos anos,
vários estudos avançaram com a ideia da avaliação aprofundada dos biomarcadores como
possíveis alternativas para um diagnóstico mais precoce e menos invasivo da endometrio-
se (VICENTE-MUÑOZ et al., 2016; WALANKIEWICZ et al., 2018; BOSTANCI et al., 2019;
SOBSTYL et al., 2020; ANASTASIU et al., 2020). Este trabalho teve como objetivo realizar
uma revisão integrativa a respeito da importância dos avanços, para a efetuação, de forma
precoce, do diagnóstico da endometriose.

METODOLOGIA

Este trabalho trata-se uma revisão integrativa da literatura, método que reúne e sintetiza
o conhecimento obtido através de pesquisa realizada de forma sistemática e organizada. Foi
efetuado com o rigor metodológico exigido e intencionou a promoção da prática baseada em
evidência (PBE) no cuidado ao paciente com endometriose. Dessa maneira teve sua evo-
lução pautada nas seis etapas da revisão integrativa: 1. elaboração da questão norteadora;
2. busca na base de dados; 3. coleta de dados dos artigos selecionados; 4. análise crítica
dos estudos; 5. discussão dos resultados; e 6. apresentação da revisão.
O trabalho teve como questão norteadora: o que relatam os estudos atuais, quanto aos
avanços da realização do diagnóstico precoce da endometriose? A pesquisa foi executada
por meio da busca na base de dados United States National Library of Medicine/National
Institutes of Health (PubMed), dos trabalhos publicados nos últimos cinco anos, nos idiomas
inglês e português, localizáveis por intermédio dos seguintes descritores: “endometriosis”,
“advances” e “diagnosis” combinados pelo uso do operador booleano AND. Foram excluí-
dos artigos que não abordassem o tema do estudo e os que não respondessem à questão
norteadora. O processo de seleção está representado na figura 1.

293
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Figura 1. Fluxograma de seleção de artigos encontrados no PubMed para revisão integrativa de literatura, 2021

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Epidemiologia

A endometriose é um importante problema médico e social. É o terceiro fator mais co-


mum na patogênese das doenças ginecológicas após processos inflamatórios e leiomioma
uterino (MIKHALEVA et al., 2020). Nos Estados Unidos, afeta atualmente aproximadamente
5,5 milhões de mulheres em idade reprodutiva, que apresentam sintomas como dismenorreia,
dor pélvica crônica, dispareunia e infertilidade (GREENE et al., 2016).
A endometriose é uma doença ginecológica dependente de estrogênio e raramente
aparece antes da menarca ou após a menopausa. A estabilização ou regressão da endo-
metriose pode ser observada durante a gravidez ou tratamento médico para amenorreia
(MIKHALEVA et al., 2020). Ocorre principalmente em 6% a 10% das mulheres em idade
reprodutiva, com maior prevalência na faixa etária de 25 a 29 anos de idade (SHAH et al.,
2018; SHAFRIR et al., 2018; TAYLOR, 2018; MIKHALEVA et al., 2020).
294
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Contudo, essas estimativas variam consideravelmente entre algumas diferentes popula-
ções de mulheres: aproximadamente 2-4% entre as mulheres assintomáticas que procuram
laqueadura; de 5-50% entre mulheres inférteis; e de 5-21% entre mulheres hospitalizadas
por dor pélvica (CRANNEY et al., 2017; SHAFRIR et al., 2018; TAYLOR et al., 2018).
A profunda influência da endometriose não tratada em muitos aspectos da vida das
mulheres ressalta a necessidade do diagnóstico precoce e início do tratamento. No entanto,
entre os desafios para o diagnóstico está a necessidade de uma intervenção cirúrgica para
ultimar esse diagnóstico. Como consequência, ocorre com frequência um considerável atraso
no manejo clínico dessas pacientes. TAYLOR et al., (2018), relataram um intervalo médio
ou mediano de pelo menos 7 anos desde o momento em que uma paciente experimentou
os primeiros sintomas de endometriose até a confirmação do diagnóstico.
É importante ressaltar que a endometriose é considerada como um fator de risco para o
câncer de ovário, podendo por isso se transformar para uma forma atípica e até sofrer trans-
formação maligna em aproximadamente 0,7–2,5% dos casos. Foi descrito que mulheres com
endometriose têm risco 2–3 vezes maior de desenvolver endometrioides e tumores ovarianos
de células claras (OTHMAN et al, 2016; SHAFRIR et al., 2018; MIKHALEVA et al., 2020).

Diagnóstico Clínico

A laparoscopia com confirmação por exame histológico é geralmente considerada o


padrão ouro no diagnóstico da endometriose. Entretanto, esse procedimento técnico apre-
senta limitações de custos e riscos. Na prática, em geral, os médicos tomam como base
para iniciar a terapia, a história clínica, a apresentação dos sintomas e os achados do exame
físico (ou seja, um diagnóstico clínico), com ou sem estudos de imagem (GREENE et al.,
2016; TAYLOR et al., 2018). Torna-se então imprescindível ouvir com bastante atenção o
paciente e realizar uma anamnese detalhada. Na maioria dos casos, a doença pode ser
compreendida apenas ouvindo a paciente (ROLLA, 2019).
A capacidade de diagnosticar clinicamente a endometriose requer uma abordagem
diferente em que os sintomas são considerados primordiais e a histologia um critério secun-
dário. Este paradigma não exigiria imagem ou laparoscopia para o diagnóstico, ao menos
que clinicamente indicado; como por exemplo, na presença de uma massa ou achados
suspeitos de malignidade (TAYLOR et al., 2018).
O sintoma onipresente na endometriose é a dor: pélvica cíclica, dismenorreia, perio-
vulatória, pélvica não cíclica crônica, dispareunia (posicional ou permanente), disquezia e
disúria (CRANNEY et al., 2017; TAYLOR et al., 2018; ROLLA, 2019).
As apresentações clínicas da endometriose são altamente diversas; nenhum dos sinais
ou sintomas apresentados é patognomônico para esta doença. Devido a sobreposição de
295
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
sintomas com outras condições ginecológicas (dismenorreia primária, adenomiose, aderên-
cias pélvicas, cistos ovarianos, doença inflamatória pélvica), síndromes de dor crônica (intesti-
no irritável, cistite intersticial / bexiga dolorida, fibromialgia, distúrbios musculoesqueléticos), o
diagnóstico diferencial é uma faceta importante da identificação da endometriose. O histórico
do paciente e da família, a avaliação das características da dor e a identificação de irregu-
laridades menstruais podem ser importantes para descartar outras causas de dor pélvica
(GREENE et al., 2016; TAYLOR et al., 2018; ROLLA, 2019).
Estudos avaliando fatores de risco ou características associadas à endometriose re-
lataram ligação com maior duração da menstruação, menor duração do ciclo menstrual,
aumento do volume menstrual, períodos menstruais irregulares, sangramento pós-coito e
disquezia, embora os achados não sejam consistentes (GREENE et al., 2016; TAYLOR
et al., 2018; SHAFRIR et al., 2018).
A dor pélvica associada à dismenorreia primária geralmente ocorre com o início do fluxo
menstrual e dura aproximadamente de 8–72 horas. Por outro lado, a dor da endometriose é
progressiva, pode ser cíclica ou acíclica e pode se estender além do período de fase folicular
inicial de três dias associada à dismenorreia primária. Além disso, a dismenorreia primária
pode ser diferenciada da dismenorreia secundária pela sua rápida resposta à analgesia com
anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), bem como a gravidade persistente não progres-
siva da dor e resposta contínua ao tratamento com anti-inflamatório não hormonais (AINEs)
(TAYLOR et al., 2018).
A infertilidade involuntária, mesmo quando não é a causa da consulta, também deve ser
considerada como um dos sintomas frequentes da endometriose (ROLLA, 2019). Confirmada
essa associação, a endometriose deve ser considerada como uma possível causa entre
mulheres com infertilidade, particularmente aquelas que demonstram outros sintomas con-
sistentes de endometriose (TAYLOR et al., 2018).
Outra etapa fundamental para o diagnóstico da endometriose é o exame pélvico. O exa-
me deve ser feito com cuidado, aos poucos, começando pela palpação abdominal. Somente
depois que nenhuma dor for registrada, prosseguir para o exame pélvico. Isso deve ser feito
com extrema delicadeza e respeito. A palpação bimanual dos recessos vesicouterino, retou-
terino, ou fundo de saco de Douglas e anexos, pode revelar locais extremamente doloridos,
típicos de endometriose. A retroversão uterina fixa é frequentemente devida ao compro-
metimento do ligamento útero-sacro ou aderências no recesso de Douglas. A mobilização
uterina dolorosa é outro sinal típico de endometriose. A compressão do fundo do útero é
frequentemente dolorosa quando a adenomiose está presente. A dispareunia frequentemente
corresponde à palpação extremamente dolorosa dos ligamentos sacro-uterinos (CRANNEY
et al., 2017; TAYLOR et al., 2018; ROLLA, 2019).
296
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
É importante, durante a realização do exame clinico, sempre observar a expressão
facial da paciente. Ela dirá onde a dor é mais intensa, ajudando a determinar clinicamente
a extensão da doença. Um exame pélvico cuidadoso e especializado fornece muitas infor-
mações a um custo muito baixo (ROLLA, 2019).

Avanços Diagnósticos

Atualmente, o padrão ouro para o diagnóstico definitivo da endometriose é a lapa-


roscopia associada à confirmação histopatológica das lesões excisadas através da bióp-
sia. A laparoscopia possibilita a visualização direta da pelve, permitindo não só o diagnóstico,
mas também o estadiamento e o tratamento da doença (CRANNEY et al., 2017). Ademais,
os exames de imagem também são utilizados na ajuda da descoberta da endometriose,
principalmente quando associados a história clínica. Dentre eles, estão a ultrassonografia
transvaginal (USTV) e a ressonância magnética (RM).
A USTV é a modalidade de primeira linha dos exames de imagem, uma vez que é uma
técnica não invasiva e de baixo custo, em que se utiliza um transdutor de ultrassom portátil
que transmite ondas sonoras de alta frequência. As lesões endometrióticas visualizadas por
esse exame, são encontradas até 5 mm de profundidade no revestimento uterino. As lesões
localizadas mais profundamente (> 5mm) dentro da pelve, são classificadas como endome-
triose profunda (SHAH et al., 2018).
A RNM, é uma modalidade de imagem estática, diferente da USTV, que é dinâmica,
mas tem o benefício de ser menos invasiva em nulíparas (CRANNEY et al., 2017). Ela
também é eficiente no mapeamento de lesões sutis, evitando atraso no diagnóstico e na
visualização de lesões que penetram o espaço retroperitoneal ou as paredes dos órgãos
pélvicos (SHAH et al., 2018).
É importante ressaltar que os exames de imagem não detectam a endometriose com
precisão suficiente para substituir a biópsia. Na endometriose peritoneal as lesões só são
identificadas se o implante endometriótico for hemorrágico ou contenha distorções da anato-
mia pélvica normal (SHAH et al., 2018). Em vista disso, faz-se necessário estudos e avanços
que promovam o desenvolvimento de uma técnica diagnóstica definitiva não invasiva e tão
eficaz quanto a laparoscopia.
A evolução do desenvolvimento das técnicas de ultrassonografia tem sobretudo, fa-
cilitado o diagnóstico da endometriose profunda. Dentre essas técnicas está a ultrassono-
grafia “guiada por sensibilidade” que é capaz de identificar a profundidade de infiltração
endometriótica no revestimento uterino e o sinal deslizante que consiste em uma técnica
de USTV dinâmica que avalia a mobilidade do reto e colón sigmóide, ao longo do fundo
e colo uterino posterior. A interrupção do movimento suave da onda na bexiga, indica um
297
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
sinal de deslizamento positivo. As duas técnicas podem ser utilizadas em conjunto para um
diagnóstico de maior precisão (CRANNEY et al., 2017). Outrossim, considerando que a
USTV é ineficiente na localização de lesões na região do cólon sigmóide, foi desenvolvido
um método de uso com contraste à base de água e com solução salina normal que permite
uma melhor visualização dessas áreas. A grande vantagem desse procedimento é que pode
ser feito em ambiente ambulatorial com sensibilidade de 92,7% e 97% de especificidade
no diagnóstico (SHAH et al., 2018). Além disso, as pacientes que realizaram ultrassono-
grafia através da infusão de solução salina para produzir uma visão melhor “afastamento”
das estruturas do compartimento posterior, incluindo os ligamentos uterossacrais, septo
retovaginal e recesso de Douglas demonstram altos níveis de precisão diagnóstica para a
detecção de endometriomas e níveis moderados de precisão diagnóstica para endometriose
profunda (LEONARDI et al., 2019). A imagem obtida da RNM, inicialmente, era relacionada
apenas ao diagnóstico pré-operatório de endometriose. Posteriormente foi então associada
ao diagnóstico clínico, e com os avanços tecnológicos vem ganhando cada vez mais im-
portância na descoberta precoce da endometriose. Em 2018, no XIII Congresso Mundial de
Endometriose, foi apresentado um estudo estabelecendo uma correlação entre a RNM com
contraste de alta resolução e os achados laparoscópicos. Utilizando uma técnica de alta
resolução, contraste intravenoso e contraste de gel vaginal e retal, conseguiram estadear a
doença antes da laparoscopia. Dessa forma, foi possível demonstrar a utilidade desse mé-
todo para visualizar implantes superficiais, aderências, infiltração do ligamento útero-sacro,
infiltração da parede da bexiga e doença ovariana, além da importância dos avanços nos
métodos diagnósticos não invasivos (ROLLA, 2019).
Assim como os avanços nos exames de imagem representam um possível progresso
na contribuição para um diagnóstico precoce e menos invasivo da endometriose, os estudos
voltados para a identificação e utilização dos biomarcadores, também se configuram como
um importante passo. WAHID et al., (2018), após estudo analisando 28 biomarcadores
conseguiram encontrar oito classes que permitiram a detecção da endometriose: citocinas -
proteína-1 quimioatraente de monócito (PQM-1), fator de necrose tumoral (FNT-α), Interferon
gama (IFN-γ), interleucina 1 (IL-1), interleucina 6 (IL-6) e interleucina 8 (IL-8), glicoproteínas
(Zn-alfa-2-glicoproteína, glicodelina A), ácido ribonucleico ou micro RNA (miRNA), autoan-
ticorpos e fatores de angiogênese. Nesse estudo, foram considerados eficazes para o ras-
treio da endometriose e encontradas sensibilidade de 63-81% e especificidade de 81-90%.
Porém, faz-se necessário ampliar e reproduzir esses dados com o objetivo de aumentar a
sua especificidade e sensibilidade.
Nos estudos de OTHMAN et al., (2016) e WAHID et al., (2018), ainda pesquisaram
o rastreamento não invasivo de endometriose em um número de citocinas, como MCP-1,
298
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
TNF-α, interferon-γ (IFN-γ), IL-1, IL-6 e IL-8. A concentração de MCP-1 e IL-8 foram mais
elevadas no sangue periférico de pacientes com endometriose. Também foi observado
que concentrações da molécula-1 de adesão de células intercelulares solúveis (sICAM-1)
aumentavam nas fases iniciais da endometriose e diminuíram nos estágios finais. Isso é
muito significativo em se tratando de diagnóstico precoce, porém, carecem de mais estudos.
Glicoproteínas aparecem como importantes biomarcadores séricos de endometriose.
WAHID et al., (2018), afirmaram que, Zn-alfa-2-glicoproteína, tem sensibilidade de 69,4% e
especificidade de 100%. Glicodelina, outra glicoproteína, produzida e secretada pelo epitélio
glandular endometrial, tem sensibilidade de 78,4% e especificidade de 82,1%. Já o antígeno
de câncer-125 (CA-125) é expresso em condições pélvicas não malignas, como endometriose
e pré-eclâmpsia, não sendo, portanto, específico. De acordo com SHAH et al., (2018), nos
estágios iniciais da endometriose, os níveis de CA-125 são relativamente normais e quando
elevados não apresentam grande especificidade, haja visto que podem aumentar em outras
doenças ginecológicas, como nos cânceres de ovário, não sendo, por isso, o melhor preditor
diagnóstico. Outro marcador, relacionado ao estágio inicial da doença, que foi demonstrado
no estudo de ELBARADIE; BACRY; BOSILAH, (2020), é o fator de inibição da migração
de macrófagos (MIF), encontrado em valores significativamente maior no grupo de endo-
metriose em comparação ao grupo controle e com aumento progressivo com o avanço do
estágio da doença.
PANIR et al., (2018), realizaram uma revisão sistemática sobre a endometriose, e
demonstraram que a expressão de miRNA se encontra alterada no endométrio eutópico,
tecidos endometriais ectópicos e em miRNAs circulantes em mulheres com endometriose
em comparação com mulheres saudáveis. Além disso, analisaram e concluíram que os miR-
NAs conseguiam interferir no desenvolvimento e na persistência da endometriose por meio
da modulação da inflamação, proliferação, angiogênese e remodelação tecidual. Assim, a
miRNA tem um grande potencial de ser reconhecido como ferramenta diagnóstica. Porém,
é necessário que mais estudos sejam realizados para comprovação de eficácia.
Os autoanticorpos também vêm sendo estudados devido ao conhecimento sobre a
relação do endométrio com o sistema imunológico explicando, em parte a fisiopatologia da
endometriose (TAYLOR et al., 2018). Com isso, alguns autoanticorpos e imunoglobulina
total foram considerados possíveis biomarcadores dessa doença, como a sintaxina-5 e an-
ticorpo antiendometrial, que se encontram aumentados nos estágios I e II da endometriose
(ANASTASIU et al., 2020) O maior obstáculo ainda, é a heterogeneidade da apresentação
da endometriose e a baixa replicabilidade do estudo, o que dificulta a obtenção de dados
mais conclusivos.

299
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
É reconhecido que o aumento da angiogênese está relacionado com a elevação da
chance da ocorrência de endometriose. O fator de crescimento endotelial vascular (FCEV)
e o receptor do fator de crescimento endotelial vascular (RFCEV) são as moléculas mais
conhecidas envolvidas no processo de angiogênese pois tem a capacidade de comandar a
migração, proliferação e permeabilidade das células. Por isso, ANASTASIU et al., (2020),
em uma revisão sistemática, relataram que o fator derivado do epitélio pigmentar (FDEP),
um inibidor da angiogênese, com propriedades neurotróficas e anti-inflamatórias, encontra-
va-se diminuído em mulheres com endometriose, sugerindo que esse biomarcador poderia
estar associado à doença.
WALANKIEWICZ et al., (2018), apresentaram um estudo inovador, correlacionando a
via proteína de morte celular programada 1 (PMPC-1) / ligante de morte celular programada
1 (LMCP-1) com a endometriose. Essa via é conhecida por participar da manutenção da
tolerância periférica, por meio dos pontos de checagem celular e da regulação de linfócitos
autorreativos, que estão aumentados na endometriose. Foi percebido que a via PMPC-1 /
LMCP-1 aumentava com o grau de evolução da doença.
Para TAYLOR et al., (2018), os biomarcadores apresentam como principal vantagem
não serem invasivos e serem de fácil medição, podendo ser extraídos e quantificados do
soro, plasma ou urina. Porém, nenhum estudo conseguiu comprovar especificidade e sen-
sibilidade suficientes para os garantirem como padrão ouro. Ainda segundo TAYLOR et al.,
(2018), o estudo proteômico e transcriptômico do fluido endometrial e sangue foi aplicado
para acompanhar a evolução da endometriose. As ciências ômicas são avanços em relação
aos biomarcadores não invasivos que apesar dos resultados promissores, ainda carecem
de mais estudos e tem a desvantagem do alto custo e tempo. ANASTASIU et al., (2020),
admitiram também, biomarcadores urinários como uma aposta promissora devido à facili-
dade de obtenção. Alguns peptídeos urinários e proteínas foram analisados e se mostraram
potencializados em mulheres com endometriose. FURUYA et al., (2017), concordaram e
acrescentaram que as quantidades de pacientes estudados devem ser aumentadas para
consolidar a importância dos biomarcadores.

A Importância do Diagnóstico Precoce

A importância do diagnóstico precoce está fundamentada, principalmente, na redução


do número de complicações relacionadas à doença e na manutenção da qualidade de vida
das pacientes. Nesse contexto, é sabido que a infertilidade é uma das condições mais fre-
quentemente associadas à endometriose. Apesar dos mecanismos etiopatogênicos envolvi-
dos nesta relação ainda não serem totalmente compreendidos, tem sido admitido que cerca
de 30 a 50% das pacientes têm dificuldade em engravidar (BROI, FERRIANI, NAVARRO,
300
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
2019). No caso de doença avançada, são propostas alterações anatômicas do trato reprodu-
tivo como aderências peritubais e/ou periovarianas e distorções pélvicas, fatores que podem
prejudicar a captura do oócito pelas fímbrias, sua passagem pela tuba, bem como a interação
gamética e o caminho embrionário para a cavidade uterina (BROI, FERRIANI, NAVARRO,
2019). Além disso, também foi sugerida uma diminuição da reserva ovariana em mulheres
com endometriose avançada (BROI, FERRIANI, NAVARRO, 2019). Há sugestão de que
substâncias tóxicas contidas nos endometriomas podem se difundir no tecido ovariano e
em tecidos adjacentes, culminando na redução dessa reserva ovariana (BROI, FERRIANI,
NAVARRO, 2019). A evidência de alterações no ciclo celular de células cumulus de mulhe-
res inférteis com doença avançada, pode justificar uma foliculogênese anormal nesse grupo
(BROI, FERRIANI, NAVARRO, 2019).
As descobertas atuais com base em dados epidemiológicos, histopatológicos e mo-
leculares sugerem um potencial maligno de endometriose. O impacto na atividade celular
pode ser verificado pelo aumento em 40% do risco das mulheres desenvolverem neopla-
sias hematopoéticas, principalmente Linfoma não Hodgkin (MATALLIOTAKIS et al., 2017).
Ademais, a endometriose tem sido associada a alterações autoimunes generalizadas de cé-
lulas B policlonais, levando ao desenvolvimento de linfoma de células B por meio de resposta
auto-imune na qual os linfócitos estão anormalmente aumentados (MATALLIOTAKIS et al.,
2017). O envolvimento de linfonodos regionais é uma característica das lesões malignas que
também foram descritos em mulheres com endometriose. Algumas linhas de estudos têm
sugeridos que a doença está associada a um aumento da suscetibilidade de desenvolver
alguns subtipos de câncer epitelial de ovário (VICENTE-MUÑOZ et al., 2016). Há suposições
de que a participação do estresse oxidativo, hiperestrogenismo, inflamação crônica e altera-
ções genômicas específicas desempenham um papel crítico no processo da endometriose
(VICENTE-MUÑOZ et al., 2016).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando que a endometriose afeta a qualidade de vida das pacientes pelo seu
quadro de dor, complicações anatômicas, potencial maligno e risco de comprometer o futuro
reprodutivo da mulher, torna-se fundamental buscar formas de diagnosticá-la de maneira mais
precoce e menos invasiva. O diagnóstico clínico é essencial e fornece dados significativos,
sendo baseado em uma anamnese detalhada e um exame físico minucioso, detectando
aderências no recesso ou fundo de saco de Douglas e mobilização uterina dolorosa.
Os exames de imagem mais indicados para sua avaliação são a ultrassonografia
transvaginal e a ressonância magnética, podendo-se fazer o uso de contrastes para auxiliar
a identificar lesões mais profundas.
301
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Dentre os avanços para um diagnóstico mais precoce estão os biomarcadores séricos
plasmáticos e até urinários, considerados eficazes para o rastreio da doença, dentre eles
estão incluídos as citocinas, glicoproteínas, miRNA, autoanticorpos e fatores de angiogê-
nese. A concentração de MCP-1 e IL-8 foram mais elevados no sangue periférico de pa-
cientes com endometriose e a de sICAM-1 está aumentada nas fases iniciais e menor nos
estágios finais. A Zn-alfa-2-glicoproteína, e a glicodelina, são importantes, tendo em vista
que a primeira tem especificidade de 100%. O CA-125 não se mostra confiável por estar
presente em outras condições pélvicas. Os miRNAs estão alterados na endometriose, porém
ainda precisa de mais estudos para analisar sua efetividade. Dentre os fatores imunológi-
cos, foram considerados a sintaxina-5 e o anticorpo antiendometrial. O PEDF, inibidor da
angiogênese, encontra-se diminuído e a via PD-1 / PD-L1 aumentada conforme o grau de
evolução da doença.

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
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304
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
21
Perfil epidemiológico da mortalidade
infantil de Caxias do Sul/RS

Renata Pereira de Oliveira

Mérlim Fachini
PUCRS

Rossano Sartori Dal Molin


PUCRS

10.37885/210504844
RESUMO

Objetivo: Identificar o perfil epidemiológico da mortalidade infantil do município de Caxias


do Sul – RS e relacionar com a importância da consulta de enfermagem para a preven-
ção. Método: estudo do tipo quantitativo, transversal, retrospectivo, descritiva. Utilizado
dados de óbitos infantis de até 1 ano, residentes no município, nos anos de 2015 a 2017.
Foram analisados através da estatística descritiva e apresentados em tabelas com valores
absoluto e real e em percentual. Por ter utilizado banco de dados secundários, não foi
submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa, porém aprovado pelo NEPS.
Resultados: Foram notificados 173 (100%) óbitos infantis. Percebe-se a prevalência de
óbitos em neonatal precoce (53,53%), predominantemente no sexo masculino (54,34%)
e particularmente em recém-nascidos com baixo peso (53,22%). Conclusão: Evidenciou
a importância da investigação dos óbitos infantis, apontando para os agravos em todo o
processo gravídico e infantil. Permitindo ao enfermeiro, a intervir no cuidado.

Palavras- chave: Mortalidade Infantil, Puericultura, Assistência Perinatal, Estratégia de


Saúde da Família.

306
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

No Brasil, até a década de 1990, a metodologia utilizada para identificar as causas da


mortalidade infantil por faixa etária era por meio de recursos demográficos indiretos, como
as pesquisas domiciliares. No entanto, por ser uma pesquisa de amostragem, apresenta
restrições na estimativa dos óbitos infantis. Em vista disso, o Ministério da saúde (MS) tem
aprimorado seus sistemas de informações vitais, elaborando o Sistema de Informações sobre
Mortalidade (SIM) e o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc).1
Para a análise epidemiológica de óbitos infantis, a Taxa de Mortalidade Infantil (TMI)
é a ferramenta ideal, onde caracteriza a análise em neonatal precoce, que são os óbitos
ocorridos entre 0 e 6 dias de vida; neonatal tardio, entre 7 e 27 dias e pós-neonatal que
equivale entre 28 e 364 dias de vida. Além disso, é delineada pelo número de óbitos infantis
menores de um ano de idade, a cada mil nascidos vivos na população de uma determinada
área geográfica, no ano considerado.2
Mesmo o país apresentando decréscimo, a mortalidade infantil persiste como um impor-
tante problema de saúde pública. Visto que os números permanecem elevados e conflitantes
com o desenvolvimento do país, com várias adversidades a superar, como as desigualda-
des sociais e regionais, prevalecendo na população mais vulnerável.2 No ano de 2016, o
estado do Rio Grande do Sul apresentou 1.439 óbitos infantis para 141.411 nascidos vivos,
enquanto Caxias do sul teve 59 óbitos para 6.076 nascidos vivos.3
Os óbitos infantis apresentam prevalência no primeiro mês de vida, demonstrando
causas perinatais como a prematuridade, destacando a importância dos cuidados a gesta-
ção, ao parto e ao pós-parto. Deste modo, é preciso analisar o contexto socioeconômico,
cultural e ambiental, a estrutura familiar e os recursos utilizados por ela para suprir as ne-
cessidades de saúde e seu papel na qualidade do desenvolvimento da criança.4 Em vista
disso, a consulta de enfermagem possibilita conhecer particularidades de cada criança,
seja no contexto familiar, ambienta, social, a fim de detectar situações de vulnerabilidade e
implementar condutas apropriadas.5
Destaca-se ainda a importância da consulta de enfermagem, como instrumento essen-
cial no cuidado não apenas voltado para a criança, mas para o cuidado materno-infantil, uma
vez que permite ao enfermeiro conhecer e vincular-se à gestante, acompanhando-a duran-
te todo o período gravídico e, após o nascimento, acompanhar também o recém-nascido.
Nesse sentido, o presente estudo tem como questão norteadora: Qual o perfil epidemiológico
da mortalidade infantil do município de Caxias do Sul – RS e a importância da consulta de
enfermagem para a prevenção?

307
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
METODOLOGIA

A pesquisa foi um estudo do tipo quantitativo, transversal, retrospectivo, com uma


abordagem descritiva. O estudo foi desenvolvido na Secretaria de Saúde de um município
da Serra Gaúcha. Foram incluídos dados de óbitos infantis de 0 a 1 ano, de crianças resi-
dentes em Caxias do Sul, ocorridos entre os anos de 2015 a 2017. A amostra foi através
de uma tabela desenvolvida pelos pesquisadores para uso exclusivo do desenvolvimento e
obtenção de dados relevantes ao tema da pesquisa em questão.
Na tabela estão presentes informações referentes ao óbito infantil, à causa e infor-
mações estas retiradas de notificações de óbitos infantis. Os dados foram coletados por
meio de documentos secundários elaborado pelo núcleo técnico da saúde da criança do
referido município,
Critérios de inclusão:

a. óbitos em menores de 1 ano;


b. residente no município de Caxias do Sul. Critério de exclusão:
c. a) criança residente em outros municípios.

Os dados foram analisados através da estatística descritiva e apresentados em tabelas


com valores absoluto e relativo. Por se tratar de uma pesquisa que utilizou um banco de
dados secundários, sem a possibilidade de identificação das crianças, o presente estudo
não foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa, porém foi autorizado pelo
NEPS, Secretaria Municipal de Saúde.

RESULTADOS

No período de 2015 a 2017, em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, Foram notificados
173 (100%) óbitos infantis. Conforme a tabela 1 percebe-se a prevalência de óbitos em neo-
natal precoce (53,5%), predominantemente no sexo masculino (54,3%) e particularmente em
recém-nascidos com baixo peso (53,2%). Os fatores de riscos ou comorbidades apresentado
nos dados, dentre os mais prevalentes, foram a prematuridade, malformações, síndromes,
gemelaridade, aspirações tanto de mecônio quanto de leite materno, casos de negligências
e agravos da gestação como, por exemplo, a pré-eclâmpsia.

308
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Tabela 1. Perfil dos óbitos infantis. Caxias do Sul/ 2015 2017.
Características N° %
Idade Infantil
Neonatal precoce 91 53,5
Neonatal tardio 31 18,2
Pós-neonatal 47 27,6
Não informado 1 0,5
Sexo
Masculino 94 54,3
Feminino 79 45,6
Peso da criança
0 – 1,5 kg 91 53,2
1,6 – 2,4 kg 27 15,7
Maior que 2,5 kg 51 29,8
Não informado 2 1,1
Fatores de risco/ Comorbidades
Sim 84 48,8
Não 88 51,1
Autoria Própria (2019).

Enquanto as características referentes à genitora, das 173 (100%) notificações, ficaram


evidentes a prevalência de 85 (49,1%) mães com idade entre 20 a 29 anos de idade, onde 60
(34,5%) apresentaram mais de seis consultas no pré-natal, entretanto 14 (8%) não realizaram
acompanhamento e 49 (28,3%) dessas notificações não possuíam esta informação. Com o
parto sendo realizado no 3º trimestre, 122 partos (70,9%), e parto cesariano apresentou o
total de 123 partos (71,5%), sendo o mais escolhido entre as gestantes.

Tabela 2. Perfil da gestação. Caxias do Sul/ 2015-2017.


Características N° %
Idade Materna
Até 19 anos 25 14,4
20 – 29 anos 85 49,1
30 – 39 anos 51 29,4
Maior que 40 anos 7 4
Não informado 5 2,8
Nº Consultas de pré-natal
1 – 5 consultas 50 28,9
Mais que 6 consultas 60 34,6
Sem pré-natal 14 8
Não informado 49 28,3
IG no nascimento
1° trimestre 0 0
2° Trimestre 45 26,1
3 ° trimestre 122 70,9
Não informado 5 2,9
Parto
Parto normal 46 26,7
Parto cesárea 123 71,5
Não informado 3 1,7
Autoria Própria (2019).
309
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Em Caxias do Sul, 91 (54,8%) das consultas de pré-natal foram realizadas pelo Sistema
único de Saúde e apenas 2 (1,2%) gestantes foram em acompanhamento no hospital, por
apresentarem algum fator de risco, o hospital de referência é o Hospital Geral. Os óbitos
infantis prevalentes foram de 45 (27,7%) mães residentes da Zona Leste e 37 (22,8%) da
Zona Norte do município, onde há vulnerabilidade social e bairros mais populosos.

Tabela 3. Caracterização do atendimento. Caxias do Sul/ 2015-2017.


Características Número %
Tipo de Atendimento
SUS 91 54,8
SS 58 34,9
SUS-SS 5 3
Hospital 2 1,2
Sem informação 10 6
Área de Abrangência
Central 22 13,5
Zona Norte 37 22,8
Zona Sul 22 13,5
Zona Leste 45 27.7
Zona Oeste 36 22,2
ESF
Sim 102 58,9
Não 71 41
Autoria Própria (2019).

Dentre os acompanhamentos registrados, 102 (58,9%) atendimentos foram realizados


em Unidades Básicas de Saúde que possuem Estratégia de Saúde da Família, salientando
a ampliação desta estratégia no município. Conforme as tabelas 1 e 2, tanto os dados so-
bre o óbito infantil quanto à gestação, evidenciaram o não preenchimento de alguns dados.
Revelando o total de 75 (43,3%) de dados não informados, desde a idade infantil até o tipo
de parto, prejudicando a caracterização materno-infantil dos óbitos notificados.

DISCUSSÃO

Percebe-se que no total de 173 óbitos, 51,1 % não apresentavam fatores de risco ou
comorbidades durante a gestação. Apresentaram como causas dos óbitos prematuridade,
infecções, malformações e causas externas como negligência. Acredita-se que a prevalên-
cia da mortalidade em neonatos tardios seja pela prematuridade, ocasionado pelo número
crescente do parto cesariano e pelo aumento de gestantes acima de 35 anos. Além disso,
prematuros apresentam três vezes mais risco de óbitos do que os nascidos a termo.6
Nesse sentido é importante a primeira consulta ser precoce, em até 15 dias de vida
da criança, onde o enfermeiro orientará sobre os cuidados ao recém-nascido, salientando
310
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
o aleitamento materno, ganho de peso e vacinação. Pois no Brasil, 70 % dos óbitos infantis
em crianças até um ano são em neonatos precoces, reforçando a importância do cuidado em
todo o processo materno-infantil, através do processo sistematizado nas unidades de saúde.7
No banco de dados fornecido, é notória a falta de informações étnico-racial dos recém-
nascidos no Município consequentemente faltando informações socioeconômicas da mãe.
Pouco citado na literatura, mas constantemente debatido por abordar questões sociais. Das
análises realizadas foram apontados valores elevados em crianças declaradas pretas, par-
das e indígenas, mesmo considerando variáveis como baixo peso ao nascer e as questões
socioeconômicas.8
Há um déficit da qualidade no cuidado gestacional prestadas pelos serviços de saúde.
Mesmo com a evolução na cobertura do pré-natal e aumento da adesão das gestantes, oca-
sionando número elevado de consultas, ainda está longe do ideal a redução de agravos e do
modelo ideal da assistência.9 Estudos apontam falhas na consulta de pré-natal, tais como a
dificuldade no acesso, inicio tardio, falta de orientação, procedimentos incompletos e falta de
comunicação entre os serviços de saúde, afetando a qualidade e efetividade do cuidado.10
Outro fator essencial é a consulta puerperal, além de ser um indicador de qualidade
da assistência, influência na saúde materno-infantil.9 Apenas 39% das mulheres realizam a
consulta pós-parto, salientando o déficit dessa etapa, onde seria realizado todo o cuidado
e orientações a essa puérpera, portanto só deve ser considerada concluída a assistência à
mulher gestante com a consulta puerperal realizada.11
Diante disso, o enfermeiro amplia seu espaço e identidade no ambiente de trabalho
através da consulta de enfermagem, atividade legalmente reconhecida e exclusiva do en-
fermeiro. Contribuindo para a educação em saúde, com ações voltadas tanto para a comu-
nidade quanto individualizada, a fim de promover a promoção, prevenção e recuperação
da saúde.12 Unidades que possuem ESF tem maior atuação do enfermeiro, fortalecendo a
assistência, principalmente no pré-natal, identificando fatores de risco á saúde da mulher.13
O município vem apresentando crescimento e adesão a ESF, onde dispõem de 27
unidades básicas de saúdes cadastradas na estratégia, com 45 equipes no total. Isso sig-
nifica que há cobertura de 33 % da ESF na rede de atenção básica, contando com o apoio
de equipes multidisciplinares, incluindo assistente social, no próprio local ou em locais de
referência, através do encaminhamento de situações complexas, possibilitando a discussão
de casos clínicos e a educação em saúde.14
Nas Unidades básicas o enfermeiro assumiu a prática da puericultura, contribuindo com
o estímulo, vinculo e corresponsabilização com a saúde infantil.15 A puericultura influência
também na qualificação dos serviços, desde o pré-natal até a adolescência, prevenindo
agravos. Para que aconteçam estes processos, é preciso que os serviços de saúde possuam
311
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
estrutura adequada, desde área física ate as instalações, mantimentos e suplementos, além
do numero de profissionais adequados.16
No processo do cuidado, os registros são essenciais, pois retratam e dão continuidade
ao tratamento através da comunicação, além disso, pode ter diversos fins como pesquisas,
auditorias, processos jurídicos e planejamento.17 Informações verídicas e completas do
pré-natal permitem avaliação do serviço prestado, além de mostrar características da saúde
materna no país, facilitando o planejamento de estratégias preventivas, evitando complica-
ções e óbitos infantis.18
Mesmo com a redução da Taxa da Mortalidade Infantil a nível nacional, ainda há
grandes adversidades a serem superadas, principalmente desigualdades regionais e as
diferenças por grupos sociais. Com foco em se aproximar a regiões mais desenvolvidas do
mundo, que possuem em média cinco óbitos para cada mil nascidos vivos. As principais
dificuldades para o país chegar a esta meta estão inclusas á falta de acesso aos serviços
de saúde voltados para a saúde materna e infantil.19
Para que ocorram medidas de prevenção dos óbitos infantis, fomenta-se ainda mais a
importância da investigação dessas mortes, contribuindo para os registros contribuindo para
a elaboração de estratégias de saúdes para o atendimento na atenção básica.19 Entretanto o
ideal seria a investigação direta, pois dados secundários apresentam algumas desvantagens,
por exemplo, vieses de informações, porque depende de outras pessoas responsáveis pe-
las informações. Com isso, contem as subnotificações, dados insuficientes e o não controle
pelos erros de digitação.20

CONCLUSÃO

Este estudo permitiu evidenciar a importância da investigação dos óbitos infantis, apon-
tando para os agravos em todo o processo gravídico e infantil. A identificação destes riscos
na atenção primária permite a equipe de saúde, principalmente ao enfermeiro, a intervir no
cuidado. Através da educação em saúde e avaliação continuada da criança, a fim de me-
lhorar a qualidade de vida e reduzir a taxa de mortalidade infantil.
Vale ressaltar que para ficar próxima a meta de países desenvolvidos, é preciso que
o enfermeiro seja capacitado e tenha um olhar humanizado para a família assistida. Além
disso, é necessário que o profissional notifique os óbitos adequadamente, entendendo a
importância dos dados completos para que haja subsídios para enfrentar esta problemática.
Assim é possível evitar a mortalidade por causa evitáveis como infecções.
Os resultados obtidos deste estudo são relevantes, uma vez que descreve a respeito
de um município de grande porte, referência para atendimentos na região da Serra Gaúcha,
principalmente na área hospitalar. Também evidência o quanto o município está aderindo
312
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
a Estratégia de Saúde da Família, onde valoriza a consulta de enfermagem no pré-natal e
principalmente a puericultura.
A respeito das limitações, a questão dos registros quanto do profissional que atua na
ponta quanto ao que administra a base de dados precisa ser completa e eficiente, para que
a gestão consiga entender a situação local, para que ocorram ações em saúde para a qua-
lidade de vida materna-infantil. Inclusive pode ser abordados mais tópicos para a base de
dados, por exemplo, a etnia, escolaridade da mãe e situação socioeconômica, dentro das
possibilidades do profissional.
Também é importante a publicação de novos estudos que avaliem a mortalidade infan-
til, para que seja identificado e caracterizado as causas, a fim de evitá-las. Pois a taxa de
mortalidade infantil é um dos indicadores mais completos em saúde, evidenciado a situação
da região como um todo.

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
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314
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
22
Prematuridade durante a pandemia
de Covid-19 em vigência de medidas
restritivas: uma revisão integrativa

Iapunira Catarina Sant’Anna Aragão Rafael dos Santos Reis


UNIFOA UNIFOA

Felipe Matheus Sant’Anna Aragão Clarisse Pereira Dias Drumond Fortes


UNIFOA UNIFOA

Letícia Du Rocher Martins Teixeira Luciano Rodrigues Costa


UNIFOA UNIFOA

Paôla Cardoso José Aderval Aragão


UNIFOA UFS/UNIT

Pedro Henrique Adário Marassi


UNIFOA

10.37885/210404243
RESUMO

A prematuridade representa um grande problema de saúde pública e caracteriza a prin-


cipal causa de morbidade e mortalidade neonatal. Estima-se que ocorram anualmente,
no mundo, 15 milhões de nascimentos pré-termo, o que corresponde a mais de 10%
do total dos nascimentos. O nosso objetivo foi investigar as taxas de prematuridade
durante a pandemia da COVID-19 em vigência de medidas restritivas, analisando se
estas sofreram alguma alteração nesse período em comparação com os anos anteriores
e especular se o isolamento social pode ter impacto nos fatores de risco para um parto
pré-termo. Se trata de uma revisão integrativa da literatura com pesquisa realizada na
base de dados PubMed, SciELO, Google Acadêmico e de outras fontes, nos idiomas
inglês e português, publicados no último ano, localizáveis por intermédio dos seguintes
MeSH Terms combinados: “birth, premature”, “coronavirus” e “COVID-19”. A inclusão
dos artigos foi feita através da leitura do título e resumo dos artigos. Foram encontrados
144 artigos, dos quais 16 foram utilizados. Destes, alguns referiram uma redução nas
taxas de prematuridade em vigência das medidas de restrição, outros não notaram esta
diminuição, em contrapartida, foi relatado também aumento de nascimentos prematuros.
Explicações para essa redução nas taxas de prematuros seria, possivelmente, o maior
foco na higiene, distanciamento físico e diferenças comportamentais nas amostras popula-
cionais. De modo geral, houve uma diminuição de prematuros extremos e recém-nascidos
de baixo peso extremo no período analisado pela maior parte dos estudos, no entanto,
ainda não é possível estabelecer uma relação causal clara entre os eventos mencionados.

Palavras-chave: Prematuridade Neonatal, COVID-19, Pandemia.

316
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

A prematuridade representa um grande problema de saúde pública pois caracteriza a


principal causa de morbidade e mortalidade neonatal precoce e tardia, superando até mesmo
os defeitos congênitos (ARNAEZ et al., 2021). O parto pré-termo oferece risco aumentado
de complicações respiratórias, gastrintestinais e no neurodesenvolvimento, como síndrome
de angústia respiratória (SAR), doença pulmonar crônica, enterocolite necrosante, entre
outras causas (HUSEYNOVA et al., 2021).
Para PHILIP et al. (2020), recém-nascidos com muito baixo peso (<1.500 g) e baixo
peso extremo (<1.000 g) contribuem significativamente para a mortalidade infantil. Somado
a isso, sabe-se que o prognostico tardio dessas crianças é prejudicado devido ao alto risco
de doenças cardiovasculares, diabetes mellitus, e possivelmente, câncer. Ademais, em
relação à parturiente, o parto pré-termo aumenta o risco de uma nova interrupção precoce
em gravidez subsequente.
Diversas causas podem ser indicadas como fator de risco para uma possível prematuri-
dade, estando entre as mais comuns: vaginose bacteriana, infecções intrauterinas, infecções
não genitais, insuficiência cervical, hemorragia decidual, estresse materno, insuficiência pla-
centária, sobredistensão uterina, ruptura prematura das membranas pré-termo (RPMP), doen-
ças maternas pré-existentes e desenvolvidas durante a gestação (HUSEYNOVA et al., 2021).
Em 12 de Março de 2020 a Organização Mundial de Saúde declarou a COVID-19
como uma pandemia, o que levou a um bloqueio quase global tanto das movimentações
geográficas quanto dos hábitos e contatos interpessoais (OPAS/OMS, 2020; HEDERMANN
et al., 2021). Nesse contexto, em decorrência das medidas restritivas impostas pelo período
pandêmico, houve uma mudança importante da rotina diária na vida das gestantes, fato
este que pode ter uma correlação importante com a mudança do padrão de exposição aos
fatores de risco relacionados a prematuridade, como hábitos de vida, níveis de estresse,
esforço físico, entre outros.
Dessa forma, este artigo teve como objetivo investigar as taxas de prematuridade
durante a pandemia da COVID-19 em vigência de medidas restritivas, analisando se estas
sofreram alguma alteração nesse período em comparação com os anos anteriores, e assim
teorizar se o isolamento social pode ter impacto nos fatores de risco das gestantes para um
parto pré-termo.

DESENVOLVIMENTO

Trata-se de uma revisão bibliográfica integrativa, realizada no mês de Abril de


2021. A pesquisa foi realizada por meio da busca nas bases de dados PubMed, SciELO
Google Acadêmico e de outras fontes, nos idiomas inglês e português. Para isso, foram
317
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
utilizados os MeSH Terms “birth, premature”, “coronavirus” e “COVID-19” combinados, e
a busca filtrada para os trabalhos publicados no último ano. Os critérios de inclusão foram
a avaliação e confirmação do tema abordado nos artigos, através da leitura do título e re-
sumo. Foram excluídos aqueles que não preenchiam os critérios de inclusão supracitados
referentes ao tema e aos objetivos propostos. Foram encontrados 144 artigos, dos quais 16
foram selecionados para essa revisão, uma vez que traziam elementos para a discussão da
relação entre a pandemia COVID-19 e a prematuridade (Figura 1)

Figura 1. Fluxograma de seleção de artigos encontrados no PubMed, SciELO, Google Acadêmico e de outras fontes para
revisão integrativa da literatura, 2021

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os períodos em que os dados foram analisados, variou entre Janeiro e Junho de 2020;
tendo como regiões geográficas englobadas por essas pesquisas: Austrália, Dinamarca,
Espanha, Estados Unidos, Tennessee, Holanda, Irlanda, Israel, Londres, Nepal e Riyadh.
Ademais, todos os artigos compararam os dados e taxas encontrados durante o período
de lockdown com períodos anteriores e semelhantes para uma análise mais fidedigna dos
números encontrados (Quadro 1).
318
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Quadro 1. Caracterização dos artigos selecionados.

N Autores e ano Título Periódico Objetivo


Explorar, em um estudo de proporção de prevalência
Lack of changes in preterm delivery and
ARNAEZ et al., de base populacional, a ligação potencial entre medidas
1 stillbirths during COVID-19 lockdown in a Eur J Pediatr.
2021. nacionais de bloqueio e mudanças em nascimentos
European region.
prematuros e natimortos.
Avaliar o número de partos institucionais, seus resul-
Effect of the COVID-19 pandemic response
tados (natimortos institucionais e taxa de mortalida-
ASHISH, K.C. et on intrapartum care, stillbirth, and neona- Lancet Glob
2 de neonatal) e a qualidade do atendimento durante o
al., 2020. tal mortality outcomes in Nepal: a prospec- Health.
parto antes e durante o bloqueio nacional COVID-19
tive observational study.
no Nepal.
Estudar o impacto das medidas de mitigação da CO-
Impact of COVID-19 mitigation measures
BEEN, J.V. et al., Lancet Public VID-19 implementadas na Holanda de forma gradual
3 on the incidence of preterm birth: a natio-
2020. Health. em 9 de março, 15 de março e 23 de março de 2020,
nal quasi-experimental study.
na incidência de nascimentos prematuros.
Avaliar a incidência de parto prematuro em nossa ins-
BERGHELLA, V. et Decreased incidence of preterm birth du- Am J Obstet Gyne- tituição, no Nordeste dos Estados Unidos, durante a
4
al., 2020. ring coronavirus disease 2019 pandemic. col MFM. pandemia de COVID-19 em 2020, em comparação com
o período semelhante em 2019.
GOLDENBERG, Have Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) Resumir os estudos acerca do tema, focando não ape-
5 R.L. & MCCLURE, Community Lockdowns Reduced Preterm Obstet Gynecol. nas em seus resultados, mas também em sua aderência
E.M., 2021. Birth Rates? a algumas das métricas de qualidade.
Changes in Preterm Birth Phenotypes and Determinar se as taxas de nascimento prematuro, nas-
HANDLEY, S.C. et Stillbirth at 2 Philadelphia Hospitals During cimento prematuro espontâneo, nascimento prematu-
6 JAMA.
al., 2021. the SARS-CoV-2 Pandemic, March-June ro com indicação médica e natimortalidade mudaram
2020 durante a pandemia de SARS-CoV-2.
Analisar as chances de nascimento prematuro no Ten-
Association of Preterm Birth Rate With
HARVEY, E.M. et nessee durante o pedido de permanência em casa de
7 COVID-19 Statewide Stay-at-Home Orders JAMA Pediatr.
al., 2021. 2020 em comparação com os mesmos períodos de
in Tennessee
2015 a 2019.
Elucidar se o bloqueio em si - com suas mudanças no
HEDERMANN, G. Danish premature birth rates during the Arch Dis Child Fe- ambiente de trabalho, interações sociais e foco na hi-
8
et al., 2021. COVID-19 lockdown tal Neonatal Ed. giene (efetivamente reduzindo a exposição a agentes
infecciosos) - afetou as taxas de natalidade precoce.
Prevalence of Preterm Birth Rate During
HUSEYNOVA, R. Avaliar o impacto do bloqueio COVID-19 na taxa de
9 COVID-19 Lockdown in a Tertiary Care Cureus.
et al., 2021. nascimentos prematuros.
Hospital, Riyadh
Comparar os desfechos da gravidez, incluindo taxas de
natimortos (morte fetal ≥24 semanas gestacionais),
Change in the Incidence of Stillbirth and
KHALIL, A. et al., parto prematuro e cesáreo e admissão à unidade ne-
10 Preterm Delivery During the COVID-19 JAMA.
2020. onatal nos meses anteriores verso durante a pande-
Pandemic
mia COVID-19 de 2020 em um hospital universitário
de Londres.
Prematurity Rates During the Coronavirus
MATHESON, A. et Investigar os efeitos do Lockdown em Melbourne sobre
11 Disease 2019 (COVID-19) Pandemic Lock- Obstet Gynecol.
al., 2021 as taxas de prematuridade.
down in Melbourne, Australia
Analisar se a infecção por COVID-19 em mulheres grávi-
MELO, G.C.D. COVID-19 em gestantes, parto prematuro, das está relacionada ao nascimento prematuro e peso
Cadernos de Saú-
12 & ARAÚJO, K.C. peso ao nascer e transmissão vertical: uma ao nascer, e para resumir os resultados diagnósticos de
de Pública.
G.M.D., 2020. revisão sistemática e metanálise neonatos nascidos de mães com infecção por COVID-19
para investigar a possibilidade de transmissão vertical.
Determinar a mudança na taxa de nascimento prema-
A marked decrease in preterm deliveries turo extremo e resultados neonatais durante o período
MEYER, R. et al., Am J Obstet
13 during the coronavirus disease 2019 pan- pandêmico em comparação com aqueles nos períodos
2021. Gynecol.
demic pré-pandêmicos, avaliando múltiplas características
obstétricas durante mais de 3 meses pandêmicos.
Organização
COVID-19: doença causada pelo novo co- Declarar a doença causada pelo novo coronavírus (CO-
14 OPAS/OMS, 2020. Pan-Americana de
ronavirus. VID-19) como uma pandemia.
Saúde
Unprecedented reduction in births of very
Avaliar se as fronteiras sociais e comportamentais, re-
low birthweight (VLBW) and extremely
definidas pelas medidas restritivas, promoveram um
PHILIP, R.K. et al., low birthweight (ELBW) infants during the
15 BMJ Glob Health. ambiente favorável para influenciar as taxas de natali-
2020. COVID-19 lockdown in Ireland: a ‘natural
dade de recém-nascidos de muito baixo peso e baixo
experiment’ allowing analysis of data from
peso extremo.

319
the prior two decades

Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar


N Autores e ano Título Periódico Objetivo
Investigar se o sistema hospitalar dos Estados Unidos
Preterm Birth During the Coronavirus Dise-
WOOD, R. et al., teve alguma alteração na taxa de partos prematuros
16 ase 2019 (COVID-19) Pandemic in a Large Obstet Gynecol.
2021. durante o pico da era pandêmica de COVID-19 em
Hospital System in the United States
comparação com a era pré-COVID-19.
Fonte: SANT’ANNA ARAGÃO et al., 2021.

A princípio, o número total de nascimentos (gestação única) não sofreu alterações


significativas em quase todas as pesquisas analisadas, quando comparados com o mesmo
período nos anos anteriores (BEEN et al., 2020; BERGUELLA et al., 2020; KHALIL et al.,
2020; PHILIP et al., 2020; ARNAEZ et al., 2021; HANDLEY et al., 2021; HARVEY et al.,
2021; HEDERMANN et al., 2021; HUSEYNOVA et al., 2021; MATHESON et al., 2021;
MEYER et al., 2021; WOOD et al., 2021). No entanto, em relação as características das
parturientes, KHALIL et al. (2020) verificaram uma menor prevalência de mulheres nulíparas
durante o período de lockdown, além de menos casos de hipertensão arterial sistêmica. Para
estes mesmos autores, essa redução dos números de hipertensão poderia ser resultado
de um subdiagnóstico, já que muitas consultas de rotina acabaram por ser realizada por
telemedicina. Já no estudo de HARVEY et al. (2021), foi observado uma maior prevalência
de mulheres hispânicas, partos induzidos, recém-nascidos que necessitaram de assistência
respiratória ao nascimento, e comorbidades gestacionais, incluindo diabetes gestacional e
doença hipertensiva específica da gravidez. Ao contrário do analisado por HUSEYNOVA
et al. (2021), que identificaram uma diminuição dos distúrbios maternos relacionados à
ameaça de parto prematuro.
Em sete artigos analisados demonstraram uma redução nas taxas de prematurida-
de durante a vigência das medidas de restrição (BEEN et al., 2020; BERGUELLA et al.,
2020; PHILIP et al., 2020; HARVEY et al., 2021; HEDERMANN et al., 2021; MATHESON
et al., 2021; MEYER et al., 2021). Dentre eles, a redução foi mais significativa no estudo de
PHILIP et al., (2020), que demonstrou uma redução em torno de 75% dos nascimentos de
recém-natos classificados como muito baixo peso, e nenhum nascimento de recém-natos
classificados como baixo peso extremo (redução de 100%). Também houve uma leve redu-
ção nos números de crianças classificadas como baixo peso, porém, não tão significativas
quanto às classificações anteriores.
HARVEY et al. (2021) também observaram uma redução nas taxas de prematurida-
de durante o período de lockdown quando comparados com o mesmo período dos 5 anos
anteriores, incluindo os recém-nascidos pré-termo tardios. Entretanto, este mesmo estudo
revelou uma maior prevalência de intervenções ao nascimento com assistência respiratória.
Apesar de não haver causa aparente, os autores teorizam que este dado poderia refletir um
maior número de crianças agudamente doentes.

320
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Para HEDERMANN et al. (2021), também houve uma significativa redução na distribui-
ção das idades gestacionais, a proporção de nascidos vivos classificados como prematuros
extremos e muito prematuros foi significativamente diferente entre o lockdown de 2020 e o
mesmo período nos 5 anos anteriores. Contudo, essa diferença foi impulsionada por uma
redução nos casos de pré-termos extremos, diferente dos achados de HARVEY et al. (2021),
que sugerem uma maior redução nos pré-termos tardios do que nos muito prematuros e
prematuros extremos. Em contrapartida, no estudo de HEDERMANN et al. (2021), houve um
pequeno aumento não significativo de recém-natos muito prematuros, o que poderia sugerir
que o impacto do lockdown sobre os fatores de risco para prematuridade tenha servido ape-
nas para adiar o trabalho de parto de prematuros extremos em algumas gestações de alto
risco, embora não tenha sido suficiente para evitar partos prematuros por completo. Em outros
artigos, a diminuição das taxas de prematuridade foi razoavelmente constante em todos os
estratos de idade gestacional (BEEN et al., 2020; MATHESON et al., 2021).
Uma das possibilidades sugeridas para explicar tamanha redução nas taxas de pre-
maturidade é que tenha ocorrido um número maior do que o esperado de gestações que
resultaram em morte intrauterina (natimortos) (BEEN et al., 2020; HARVEY et al., 2021;
HEDERMANN et al., 2021; HUSEYNOVA et al., 2021). Pensando nesse aspecto, alguns
estudos mostraram não houver tendência de aumento de perdas precoces na gestação,
abortos ou natimortos na população analisada que pudesse justificar a redução nos números
de prematuros (PHILIP et al., 2020; ARNAEZ et al., 2021; MATHESON et al., 2021). Por
outro lado, no estudo de KHALIL et al. (2020), houve um aumento das taxas de natimortos
no período pandêmico, e a incidência de natimortos foi significativamente maior quando
excluídas as interrupções tardias por anomalias fetais, porém não houveram alterações
significativas de admissão em unidade neonatal ou parto cesáreo. Nenhum dos natimortos
tiveram mães sintomáticas sugestivas para COVID-19, nem achados sugestivos no exame
post-mortem. ASHISH at al. (2020) também encontraram um aumento na taxa institucional
de natimortos, com as análises de tendência mostrando um aumento acentuado imediata-
mente após o início do lockdown.
Possíveis explicações para a diferença desses números incluem mudanças nos padrões
de encaminhamento (com mais mulheres de alto risco encaminhadas ao hospital), chance
(devido ao curto período de tempo do estudo), ou ao fato de ser um estudo unicêntrico
(KHALIL et al., 2020). Alternativamente, o aumento de natimortos poderia ser resultado de
efeitos indiretos, como relutância em ir ao hospital quando necessário (por exemplo, com
movimentos fetais reduzidos), medo de contrair infecção, não querer sobrecarregar o sistema
de saúde, ou até mesmo uma consequência direta de infecção por SARS-CoV-2 (ASHISH
at al., 2020; KHALIL et al., 2020). Embora nenhum dos natimortos no período pandêmico
321
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
tenha sido entre mulheres com COVID-19, é sabido que até 90% das gestantes positivadas
para SARS-CoV-2 são assintomáticas, associado ao fato que o Reino Unido, no momento
da pesquisa, limitava os testes a indivíduos sintomáticos que necessitavam de hospitalização
(KHALIL et al., 2020).
A pesquisa de BEEN et al. (2020) foi uma das poucas que analisou a tendência de
mudança por períodos mais estendidos, mantendo a sua observação em janelas de 2 me-
ses, 3 meses e 4 meses em torno da implementação de medidas restritivas, chegando à
conclusão que estas medidas foram consistentemente associadas a reduções substanciais
em nascimentos prematuros.
Um fator pouco debatido na literatura foi o viés socioeconômico que algumas popula-
ções podem estar expostas (BERGUELLA et al., 2020), como foi observado nos achados
de BEEN et al. (2020), que apesar de não ter se mostrado estatisticamente significativas,
as reduções de nascimentos prematuros ocorreram predominantemente em populações
que vivem em bairros de alto nível socioeconômico. Algo semelhante também foi notado
por ASHISH at al. (2020), que observaram um aumento no uso de serviços obstétricos por
mulheres do grupo étnico relativamente vantajoso, e o contrário foi observado entre o grupo
étnico mais desfavorecido.
Em seis dos artigos analisados não demonstraram reduções nas taxas de prematu-
ridade (ASHISH at al., 2020; KHALIL et al., 2020; ARNAEZ et al., 2021; HANDLEY et al.,
2021; HUSEYNOVA et al., 2021; WOOD et al., 2021). WOOD et al. (2021) não relataram
nenhuma redução na taxa de nascimentos prematuros no sistema hospitalar dos Estados
Unidos durante a pandemia de COVID-19, mesmo possuindo capacidade de detecção de
uma redução de no mínimo 20%. Além disso, no pico da pandemia, foram realizados 158
partos em mulheres com síndrome respiratória aguda grave do coronavírus 2 (SARS-CoV-2),
no entanto, não houve redução nas taxas de prematuridade em nenhum subgrupo demo-
gráfico. Os resultados foram semelhantes quando excluídas as 158 mulheres com infecção
por SARS-CoV-2 confirmada pelo teste de reação em cadeia da polimerase.
O estudo de HUSEYNOVA et al. (2021) mostrou uma redução significativa nas taxas
de nascimento prematuro em prematuros extremos e prematuros tardios, em comparação
com um grupo de controle de anos anteriores. No entanto, não foram capazes de identificar
uma redução estatisticamente significativa na taxa geral de prematuridade. Algo semelhante
também ocorreu na pesquisa de HANDLEY et al. (2021), que observou uma diminuição em
nascimentos prematuros espontâneos entre pacientes brancos não hispânicos, contudo
também não houve comprovação estatística desse fato.
Um estudo que se mostrou discrepante devido aos seus achados foi o de ASHISH et al.
(2020), que revelou uma diminuição substancial no número de nascimentos que ocorreram
322
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
em ambiente institucional, chegando a uma redução total de 52,4% ao final do lockdown.
Além disso, houve um aumento na proporção de nascidos prematuros, na proporção de
mulheres que tiveram alguma complicação durante a admissão, mulheres cujo trabalho de
parto foi induzido, realização de cesarianas e aumento da taxa institucional de mortalidade
neonatal. O aumento da proporção de mulheres admitidas com complicações, incluindo
parto prematuro, pode sugerir que as mulheres com alto risco de complicações frequenta-
ram desproporcionalmente as unidades de saúde ou que o número de casos complicados
aumentou devido a atrasos e outros desafios das medidas restritivas.
ARNAEZ et al. (2021) não encontraram nenhuma mudança significativa no padrão de
nascimento de prematuros em sua pesquisa, no entanto, um fato curioso apontado foi que
nascimentos gemelares corriam maior risco de prematuridade durante o lockdown do que
em períodos anteriores. Além disso, as análises das categorias de peso ao nascer mostra-
ram um aumento de recém-nascidos de baixo peso extremo durante o período de bloqueio,
tendência também mais associada a gestações múltiplas.
Outro fato de importante menção, notado por WOOD et al. (2021), foi que a taxa de
nascimento prematuro e infecção por SARS-CoV-2 nos Estados Unidos e em seu sistema
hospitalar foram significativamente maiores do que as taxas em outros estudos internacio-
nais anteriores, o que poderia, em parte, ser responsável pelos resultados díspares. Todas
essas divergências entre os achados de diversos estudos em diferentes populações levan-
tam a possibilidade de que talvez seja a forma como as mulheres grávidas respondem às
alterações socioambientais cumulativas e o distinto nível dos sistemas de suporte médico,
social, familiar e econômico que são oferecidos em diferentes países ou regiões durante o
bloqueio que influencia o resultado do binômio fetal-materno (PHILIP et al., 2020; ARNAEZ
et al., 2021; GOLDENBERG, MCCLURE, 2021; HANDLEY et al., 2021).
A pandemia da COVID-19 mudou drasticamente nossas vidas, mudando nosso am-
biente de trabalho, reduzindo as interações físicas e aumentando nosso foco na higiene.
Essa situação incomum provavelmente influenciou vários fatores de risco para o nascimento
prematuro. Uma explicação para a redução das taxas de prematuros seria possivelmente o
maior foco na higiene, distanciamento físico estrito e confinamento em casa que influenciaram
no estado inflamatório geral das mulheres grávidas, levando a acreditar que estas práticas e
hábitos poderiam ter um papel importante na síndrome do parto prematuro (BEEN et al., 2020;
BERGUELLA et al., 2020; HANDLEY et al., 2021; HEDERMANN et al., 2021; MATHESON
et al., 2021). Outra justificativa, embora atualmente não existam detalhes de suas ocor-
rências, seria a redução das potenciais demandas físicas associadas ao trabalho, viagens
e até mesmo reduções em acidentes menores ou outros traumas poderiam ser possíveis
contribuintes (BERGUELLA et al., 2020; HEDERMANN et al., 2021; HARVEY et al., 2021).
323
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Para PHILIP et al. (2020), a implementação de medidas restritivas poderia ter desen-
cadeado alterações socioambientais incomparáveis e generalizadas, às quais as mulheres
grávidas teriam respondido com modificações comportamentais e de estilo de vida adequa-
das, tais como: oportunidade de trabalho remoto domiciliar, potencial redução do estresse
relacionado ao trabalho, possível alívio da tensão física relacionada ao trabalho e desloca-
mento, oportunidades ideais para descanso e sono, provável aumento da presença e apoio
do parceiro em casa, redução da exposição a infecções, melhores oportunidades de suporte
nutricional e exercícios, bem como as alterações positivas no meio ambiente e poluição do
ar. Os autores teorizam que as alterações observadas em sua pesquisa poderiam ser tanto
devido às alterações socioambientais cumulativas e modificações comportamentais mater-
nas, quanto devido a intervenções obstétricas precoces adiadas ou ao acesso atempado
subótimo ao acompanhamento pré-natal recomendado.
É possível também suspeitar que os investigadores que não observaram uma redução
no nascimento prematuro teriam menos probabilidade de publicar seus resultados, assim, os
resultados negativos podem estar sub-representados nas publicações. Além de que muitos
resultados potenciais da gravidez poderiam ter sido relatados e/ou melhor detalhados nes-
ses estudos (por exemplo, várias faixas de idade gestacional e peso ao nascer, admissão
à unidade de terapia intensiva neonatal). Ademais, os números das amostram foram fre-
quentemente pequenos, especialmente nos estudos que avaliaram subgrupos de neonatos
prematuros extremos (GOLDENBERG, MCCLURE, 2021).
Vale ressaltar que não houveram dados brasileiros publicados até o presente momento
que avaliassem as taxas de prematuridade no país ou em suas respectivas regiões. Porém,
a revisão realizada por MELO, ARAÚJO (2020), com enfoque nos possíveis desfechos de
gestações com parturientes positivadas para SARS-CoV-2, demonstrou que, até o período
da pesquisa, a COVID-19 em mulheres grávidas pode não estar associado à ocorrência de
partos prematuros ou ao peso de nascimento de recém-nascidos. Ainda assim, alguns rela-
tórios sugerem que a transmissão vertical de SARS-CoV-2 para recém-nascidos é possível,
mas a evidência ainda é incerta (MELO, ARAÚJO, 2020).

CONCLUSÃO

De modo geral, houve uma diminuição de prematuros extremos e recém-nascidos de


baixo peso extremo no período analisado pela maior parte dos estudos, fato que poderia ser
explicado por fatores protetores como oportunidade de trabalho remoto domiciliar, possível
diminuição da tensão física relacionada ao trabalho, redução da exposição a infecções,
redução da poluição do ar. No entanto, ainda é escassa e contraditória a literatura sobre o
tema e os estudos analisados são de caráter observacional. Apesar dos autores formularem
324
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
interessantes hipóteses relacionando a redução das taxas de prematuridade à vigência de
medidas restritivas, ainda não é possível estabelecer uma relação causal clara entre os
eventos mencionados.

REFERÊNCIAS
1. ARNAEZ, J. et al. Lack of changes in preterm delivery and stillbirths during COVID-19 lockdown
in a European region. European Journal of Pediatrics, p. 1-6, 2021.

2. ASHISH, K.C. et al. Effect of the COVID-19 pandemic response on intrapartum care, stillbirth,
and neonatal mortality outcomes in Nepal: a prospective observational study. The Lancet
Global Health, v. 8, n. 10, p. e1273-e1281, 2020.

3. BEEN, J.V. et al. Impact of COVID-19 mitigation measures on the incidence of preterm birth: a
national quasi-experimental study. The Lancet Public Health, v. 5, n. 11, p. e604-e611, 2020.

4. BERGHELLA, V. et al. Decreased incidence of preterm birth during coronavirus disease 2019
pandemic. American journal of obstetrics & gynecology MFM, v. 2, n. 4, p. 100258, 2020.

5. GOLDENBERG, R.L.; MCCLURE, E.M. Have Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) Commu-
nity Lockdowns Reduced Preterm Birth Rates?. Obstetrics and Gynecology, v. 137, n. 3, p.
399, 2021.

6. HANDLEY, S.C. et al. Changes in preterm birth phenotypes and stillbirth at 2 Philadelphia hos-
pitals during the SARS-CoV-2 pandemic, March-June 2020. JAMA, v. 325, n. 1, p. 87-89, 2021.

7. HARVEY, E.M. et al. Association of Preterm Birth Rate With COVID-19 Statewide Stay-at-Home
Orders in Tennessee. JAMA pediatrics, 2021, 15:e206512.

8. HEDERMANN, G. et al. Danish premature birth rates during the COVID-19 lockdown. Archives
of Disease in Childhood-Fetal and Neonatal Edition, v. 106, n. 1, p. 93-95, 2021.

9. HUSEYNOVA, R. et al. Prevalence of Preterm Birth Rate During COVID-19 Lockdown in a


Tertiary Care Hospital, Riyadh. Cureus, v. 13, n. 3, 2021.

10. KHALIL, A. et al. Change in the incidence of stillbirth and preterm delivery during the COVID-19
pandemic. JAMA, v. 324, n. 7, p. 705-706, 2020.

11. MATHESON, A. et al. Prematurity rates during the coronavirus disease 2019 (COVID-19) pande-
mic lockdown in Melbourne, Australia. Obstetrics and Gynecology, v. 137, n. 3, p. 405, 2021.

12. MELO, G.C.D.; ARAÚJO, K.C.G.M.D. COVID-19 em gestantes, parto prematuro, peso ao
nascer e transmissão vertical: uma revisão sistemática e metanálise. Cadernos de Saúde
Pública, v. 36, n. 7, 2020.

13. MEYER, R. et al. A marked decrease in preterm deliveries during the coronavirus disease
2019 pandemic. American journal of obstetrics and gynecology, v. 224, n. 2, p. 234, 2021.

325
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
14. OPAS/OMS. Folhetim OMS - Folha informativa – COVID-19: doença causada pelo novo coro-
navirus. Organização Pan-Americana de Saúde, 12 de Março de 2020. Disponível em: https://
www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6101:covid19&Itemid=875.
Acesso em: 14 de Abril de 2021.

15. PHILIP, R.K. et al. Unprecedented reduction in births of very low birthweight (VLBW) and ex-
tremely low birthweight (ELBW) infants during the COVID-19 lockdown in Ireland: a ‘natural
experiment’ allowing analysis of data from the prior two decades. BMJ global health, v. 5, n.
9, p. e003075, 2020.

16. WOOD, R. et al. Preterm Birth During the Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) Pandemic
in a Large Hospital System in the United States. Obstetrics and Gynecology, v. 137, n. 3,
p. 403, 2021.

326
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
23
Realidade das mulheres privadas de
liberdade no ciclo gravídico puerperal
no Sistema Prisional Brasileiro: uma
revisão integrativa

Beatriz Fornazari Demarchi

Grace Pfaffenbach

Cristiane Pereira de Castro

Aline Bedin Zanatta

10.37885/210404244
RESUMO

A permanência da mulher no presidio é permeada de dificuldades. Logo, para a mulher


gestante ou puérpera, as dificuldades dobram devido às preocupações com o filho e as
inseguranças do futuro. É um momento repleto de sentimentos, oscilando rapidamente
da alegria para a tristeza da separação. O objetivo é descrever a realidade das mulhe-
res privadas de liberdade no ciclo gravídico puerperal no sistema prisional brasileiro.
Desenvolvimento: trata-se de uma revisão integrativa da literatura, com artigos publi-
cados nos últimos dez anos, em língua portuguesa, disponíveis para acesso gratuito,
nas seguintes bases de dados: LILACS, BDEnf, MEDLINE, IBECS, entre outras. Foi
observado que os 11 artigos selecionados falam do déficit de assistência em saúde da
mulher no ciclo gravídico puerperal e dos sentimentos mediante as opiniões vigentes a
permanência do filho junto a mãe no ambiente carcerário. Revelaram-se duas categorias
de análise: Privação dos direitos humanos interligados a assistência no pré natal e no
parto e Relações construídas entre o binômio mãe-filho: as consequências do cárcere.
Conclusão: É necessário refletir sobre o assunto a fim de alertar e regulamentar atitu-
des de âmbito nacional para a manutenção da assistência em saúde a essas mulheres
e seus filhos, evitando possíveis danos no desenvolvimento da criança e auxiliando na
educação em saúde materna.

Palavras-chave: Prisioneiros, Mulheres, Parto, Gravidez, Prisões.

328
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

O Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), que é assisado pelo Sistema


Penitenciário Federal, tem como missão: “Induzir, apoiar e atuar na execução penal brasi-
leira, promovendo a dignidade humana, com profissionalismo e transparência, com vistas
a uma sociedade justa e democrática” (BRASIL, s.d.).
Integrado ao DEPEN foi criado o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias
(Infopen), que é um sistema de informações estatísticas do sistema penitenciário brasilei-
ro. Os últimos dados disponíveis, de julho a dezembro de 2019, contabilizaram 748.009
presos, sendo que 95,06% eram homens e 4,94% eram mulheres (BRASIL, 2019).
Uma das políticas do DEPEN é a Promoção a Cidadania, com as seguintes coordena-
ções temáticas: saúde; educação; trabalho e renda; assistência social; mulheres e diversi-
dades; cultura e esporte; assistência jurídica e assistência religiosa.
Todas as pessoas, independentemente de qualquer circunstância, têm o direito ao
acesso a saúde. Com o intuito de abranger com eficácia as pessoas privadas de liberdade
foi instituído por meio da Portaria Interministerial nº 1, de 2 de janeiro de 2014, a Política
Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade (PNAISP), arti-
culada com o Sistema Único de Saúde (SUS). Tem o objetivo de tornar o sistema prisional
parte da Rede de Atenção à Saúde (RAS), podendo ser realizado na prisão ou em unidades
básicas de saúde (UBS) já vinculadas (BRASIL, 2014).
No período de 2000 a 2016 aumentou em 455% a taxa de aprisionamento de mulhe-
res. Segundo uma pesquisa, com uma amostra das mulheres encarceradas, observou-se
que 50% das mulheres são jovens, na faixa etária de 18 a 29 anos, composta por 62% de
mulheres negras e 66% das mulheres não chegaram ao ensino médio. Em relação ao es-
tado civil, 62% das mulheres se encontravam solteiras, 1% possuíam deficiência intelectual
e física, sendo a predominância de deficientes intelectuais, sendo que 60% das deficientes
físicas estavam em unidades não adaptadas. O crime de tráfico de drogas nesta população
foi de 62% (BRASIL, 2018).
O direito de reprodução das pessoas privadas de liberdade é amparado nas legislações,
porém inúmeros fatores acabam por atrapalhar o casal, como dificuldade no acesso à prisão,
a revista do companheiro, a infraestrutura inadequada para a visita íntima e até mesmo a
proibição das visitas entre os encarcerados, sendo muitas vezes a mulher culpabilizada por
engravidar ou por continuar a manter relações após o primeiro filho (DIUANA et al., 2015).
Nas unidades prisionais femininas apenas 41% possuem local próprio para visita ínti-
ma, já nas unidades mistas apenas 34% possuem espaço específico. Caso a mulher entre
na prisão gestante ou se torne gestante dentro da prisão, apenas 55 unidades prisionais do
Brasil têm celas especificas para elas (BRASIL, 2018).
329
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Após o nascimento a mãe tem direito de permanecer com o filho no mínimo por 6
meses, sendo proposto manter os bebês em berçários apropriados para crianças com até
2 anos. Porem apenas 14% das prisões no Brasil possuem esse espaço. Em casos espe-
cíficos, quando é necessário que a criança permaneça com a mãe, apenas 3% das prisões
tem creche para cuidado e educação destas crianças (BRASIL, 2018).
Várias legislações contemplam o direito da mulher de reproduzir, gestar, parir e asse-
guram seus direitos no puerpério, sendo uma decisão atribuída à mulher. A realidade, no
entanto, é mais complexa. As mulheres passam por uma oscilação de sentimentos, desde
a alegria de gerar um filho até a tristeza de um dia ter que deixá-lo. Isso se torna ainda mais
pesado, devido ao fato de a grande maioria das mulheres gestantes e com filhos dentro do
cárcere, estarem aguardando o julgamento, sendo, portanto, o tempo de pena ainda incerto
(DIUANA et al., 2015).
Todo esse contexto afeta os aspectos psicológicos da mulher, que muitas vezes se
culpa por colocar o filho “nesta situação”. Em muitos casos a gestante é transferida para
unidades próximas aos hospitais, dificultando assim o acesso e ao convívio com a família,
ocasionando sentimentos de solidão, incertezas e vulnerabilidade, dentro deste contexto
existe também a questão social, na qual os tratamentos podem ser deficientes e ineficazes
devido o julgamento social relacionado as ações das mulheres (DIUANA et al., 2015).
Busca-se entender as disparidades entre o que é legislado e o que é executado no
que se refere a situação das mulheres privadas de liberdade durante o ciclo gravídico puer-
peral e seus impactos, a fim de verificar a acessibilidade, a integralidade, a resolutividade
e a humanização da assistência à saúde ao qual todo ser humano tem direito perante a
Constituição Federal Brasileira.
Desta forma este trabalho objetivou relatar a realidade das mulheres no ciclo gravídico
puerperal encarceradas em regime brasileiro, por meio de revisão da literatura, bem como
descrever a percepção relacionada a vivência da maternidade em situação de encarcera-
mento relatando a relação mãe-filho no ambiente carcerário.

DESENVOLVIMENTO

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura cujo método de pesquisa tem como
intuito sintetizar os estudos já publicados e obter informações referentes à realidade das
mulheres no ciclo gravídico puerperal encarceradas em regime brasileiro. Este método é
valioso para a Enfermagem, possibilitando aos profissionais novos conhecimentos e grande
número de informações da produção cientifica em um curto espaço de tempo.
330
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
No exposto estudo foi utilizado seis etapas: formulação do problema, busca na literatu-
ra, categorização dos dados, avaliação dos dados, interpretação dos dados e exibição dos
resultados (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).
A questão norteadora foi: “Qual a realidade das mulheres privadas de liberdade no
ciclo gravídico puerperal encarceradas no Brasil?”
A busca das bibliografias que deram fundamentação à este estudo foi realizada aces-
sando as bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
(LILACS), Banco de Dados da Enfermagem (BDEnf), Medical Literature Analysis and
Retrieval System Online (MEDLINE), Índice Bibliográfico Espanhol de Ciências de Saúde
(IBECS) e outras bases encontradas na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), nos últimos dez
anos, de maio de 2010 a maio de 2020. A escolha do material ocorreu entre os meses de
março a maio de 2020, agrupando os seguintes descritores combinados com o operador
boleando “and”: “pessoas privadas de liberdade” and “parto”; “pessoas privadas de liberdade”
and “gestação”; “pessoas privadas de liberdade” and “mulher”; “maternidade” and “cárcere”.
Na sequência, foram analisadas e escolhidas as publicações de interesse para esse
estudo, seguindo os seguintes critérios de inclusão: textos na forma de artigos, textos na
íntegra, acesso gratuito a textos completos, no idioma português, estudos que respondiam
à questão norteadora e artigos publicados nos últimos dez anos. Os critérios de exclusão
foram artigos incompletos, idiomas além do português, tempo de publicação maior que 10
anos, artigos duplicados ou que não respondiam a pregunta norteadora (Figura 1).
Foi utilizado um instrumento de coleta de dados específico para essa revisão, com o
objetivo de organizar e sumarizar as informações de maneira concisa, buscando comparar
os estudos para atingir os objetivos propostos. Tal instrumento foi composto dos seguintes
itens: fonte de localização, identificação de artigo, objetivo, método, resultado e conclu-
são. A análise e a síntese dos dados extraídos dos artigos foram realizadas de forma descri-
tiva, possibilitando confrontar o conhecimento teórico com o intuito de reunir o conhecimento
produzido sobre a temática.
Após a organização dos dados, foi feita a leitura flutuante e leitura exaustiva, sendo
realizados recortes a partir das unidades de registro e das unidades de contexto, as quais
foram reunidas por semelhança, formando as categorias relacionadas aos temas centrais
que descrevem o fenômeno analisado.
Esta revisão integrativa não precisou de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa,
foram utilizados dados de livre acesso, não se tratando de documentos que exigem sigilo.
Todos os autores utilizados foram devidamente citados.

331
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Figura 1. Apresentação do método utilizado para concluir na amostragem final da revisão integrativa da literatura sobre
a realidade das mulheres no ciclo gravídico puerperal encarceradas em regime brasileiro. Brasil, 2020.

Fonte: Elaboração própria

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Levando em consideração as bases de dados utilizadas, localizou-se 1571 estudos. Dos


1571 estudos foram aplicados os critérios de inclusão, excluindo-se assim 1495 artigos, dos
76 artigos restantes 33 não respondiam à questão norteadora e 22 eram duplicados. Foram
selecionados 26 artigos para serem lidos na íntegra. Após término deste processo restaram
11 artigos para compor a revisão integrativa, sendo 7 da BDEnf e 4 da LILACS (Quadro 1 e 2).

332
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Quadro 1. Relação das publicações que constituíram o estudo, de acordo com código, título, ano de publicação, revista
e autores.

Nº TÍTULO ANO REVISTA AUTORES

SILVA, Eveline Franco da ; LUZ, Anna Maria He-


A1 Maternidade atrás das grades 2011 ENFERM. FOCO (BRASÍLIA)
cker ; CECCHETTO, Fátima Helena

Maternidade em situação de FRANÇA, Alba Maria Bomfim de ; SILVA, Jovânia


A2 2015 REV. BAIANA ENFERM
prisão Marques de Oliveira e .

OLIVEIRA, Lannuzya Veríssimo e ; MIRANDA,


Vivência da maternidade para
A3 2015 REV. ELETRÔNICA ENFERM Francisco Arnoldo Nunes de ; COSTA, Gabriela
presidiárias
Maria Cavalcanti .
Maternidade Atrás Das Grades:
A4 Particularidades Do Binômio Mãe 2016 REV. ENFERM. CENT. -OESTE MIN MIRANDA, Denismar Borges de et al.
E Filho
Mães do Cárcere: SANTANA, Ariane Teixeira ; OLIVEIRA, Gleide Re-
A5 Vivências de gestantes frente à 2017 REV. BAIANA SAÚDE PÚBLICA gina De Sousa Almeida ; BISPO, Tânia Christiane
assistência no pré-natal Ferreira .
O enfermeiro na atenção pré-
A6 -natal às mulheres em sistema 2017 REV. ENFERM. UFPE ON LINE FÉLIX, Rayane Saraiva et al.
carcerário

Vivências de gestantes em situa-


A7 2017 REV. ELETRÔNICA ENFERM FOCHI, Maria do Carmo Silva et al.
ção de prisão

SANTOS, Denise Santana Silva dos


Mãe e filho no cárcere: uma revi-
A8 2018 REV. BAIANA ENFERM ; BISPO, Tânia Christiane Ferreira
são sistemática
.
Maternidade em regime prisio- ANDRADE, Anny Beatriz Costa Antony de ; GON-
A9 nal: desfechos maternos e neo- 2018 REV. ENFERM. UFPE ON LINE ÇALVES, Maria Jacirema Ferreira
natais .

Representações de mulheres en- MATOS, Khesia Kelly Cardoso ; SILVA, Susanne


A10 2018 PHYSIS (RJ.)
carceradas sobre gestar na prisão Pinheiro Costa e ; LIMA, Juciara Karla de Souza.

Filhos do cárcere: representações MATOS, Khesia Kelly Cardoso ; SILVA, Susanne


A11 sociais de mulheres sobre parir 2019 INTERFACE (BOTUCATU, ONLINE) Pinheiro Costa e ; NASCIMENTO, Emanuela de
na prisão Araújo .
Fonte: Elaboração própria

333
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Quadro 2. Relação das publicações que constituíram o estudo, de acordo com código, objetivo, tipo de estudo e principais
resultados.

OBJETIVO TIPO DE ESTUDO PRINCIPAIS RESULTADOS

A presença da criança durante a prisão suaviza a vivência difícil entre


Conhecer as vivências da maternidade
muros. Culpa está presente devido ao tempo que a criança permane-
em situação de prisão e as condições Abordagem qualitativa. Realizada
A1 ce no presídio. Falta de assistência as mães durante a amamentação
de saúde materno-infantil no sistema entrevista semiestruturada.
e falta dos cuidados em saúde das crianças, trazendo danos ao de-
prisional.
senvolvimento do binômio mãe- filho.
O encarceramento gera ansiedade e danos emocionais, um dos mo-
Identificar as circunstâncias relacionadas
tivos é a expectativa em relação a futura separação. Falta de assis-
A2 à maternidade da mulher em situação Revisão integrativa
tência em todo o ciclo gravídico puerperal. Outro aspecto de grande
de prisão.
influência é a falta de estrutura para as mães e os filhos.
A separação é o maior motivo de sofrimento para as encarceradas. O
medo do esquecimento da criança e a falta de notícias são assuntos
Compreender a vivência da maternidade Abordagem qualitativa. Realizada que permeiam o estudo. Algumas mães abrem mão do direito de
A3
para presidiárias. entrevista semiestruturada. permanecer com os filhos durante o período estimulado por medo
de trazer malefícios a criança, devido a estrutura, a falta de liberdade
e a violência presente.
Conhecer as particularidades acerca da
relação mãe-filho no ambiente carce- Apresenta falta de condições dignas para as puérperas e seus filhos.
Abordagem qualitativa com referen-
rário, na perspectiva de mulheres em Preocupação das funcionárias do presidio diante o desenvolvimento
cial teórico-metodológico na Teoria
A4 privação de liberdade que tiveram seus da criança devido ao ambiente precário. Embora o ambiente seja
das Representações Sociais através
filhos na prisão, e a percepção de fun- inadequado a presença dos filhos junto a mãe são de extrema im-
de entrevista.
cionárias do sistema prisional lotadas no portância para o binômio mãe e filho.
presídio feminino.
Os cuidados a mulher no ciclo gravídico puerperal são precários. Foi
Compreender as vivências das mulheres
Abordagem qualitativa. Realizada observado a falta de assistência da enfermagem durante o pré natal.
A5 frente à gestação, maternidade e assis-
entrevista semiestruturada Falta de suporte psicológico e acolhimento da equipe durante esse
tência no pré-natal em cárcere
processo da mulher encarcerada.
As leis dos direitos da mulher privada de liberdade não são cumpri-
Descrever a atuação do enfermeiro na
das como previsto, muitas mulheres grávidas são tratadas como os
atenção pré-natal com mulheres em sis-
outros presidiários, mostrando falta de assistência física e emocional
A6 tema carcerário; identificar dificuldades Revisão integrativa
a estas mulheres e seus filhos. As mulheres passam por muitos es-
dos enfermeiros na atenção pré-natal às
tressores que podem gerar transtornos mentais e até mesmo abuso
encarceradas.
de substâncias.
As gestantes apresentaram o medo referente ao pré-natal inadequa-
Estudo qualitativo. Realizada en- do, pois devido ao crime cometido e o risco de fuga algumas gestantes
Conhecer as vivências de mulheres grá-
A7 trevista tinham as consultas de pré natal reduzidas. Relatam à má qualidade
vidas em situação prisional.
semidirigida das refeições medo de não suprir as necessidades do bebê, além dos
desejos de gravidez que passam despercebidos.
Foi constado que os riscos físicos e psíquicos da prisão podem mo-
Analisar a produção científica acerca dificar o desenvolvimento da criança e impacto na vida da mulher.
A8 da relação mãe e filho no contexto de Revisão sistemática da literatura. A permanência do filho durante o processo de amamentação trás
privação de liberdade. acalento para a mãe. O estudo aponta a duplicidade de traumas: a
perda da liberdade e a perda do filho.
Baixo percentual de consultas as gestantes e puérperas, falta de
Descrever os desfechos, identificados na profissionais para o atendimento dessas mulheres, falta de huma-
A9 literatura, da gestação, parto e puerpé- Revisão integrativa nização e negligência de educações em saúde. As mulheres passam
rio em mulheres privadas de liberdade. por violência verbal e psicológica devido ao preconceito de estarem
encarceradas.
O estudo encontrou ausência de assistência as gestantes e puérperas,
Compreender as representações sociais Abordagem qualitativa com referen-
bem como infraestrutura inadequada e ausência de esclarecimento
de gestantes e puérperas encarceradas cial teórico-metodológico na Teoria
A10 sobre o processo de gestação. As dificuldades encontradas desen-
sobre o gestar enquanto vivendo em das Representações Sociais. Realiza-
cadeiam sentimentos ambivalentes e contraditórios nas gestantes
Colônias Penais. da entrevista grupal.
e puérperas.
Analisar as Representações Sociais de Abordagem qualitativa com referen- As mulheres relatam preconceito durante todo processo de parir,
gestantes e puérperas encarceradas so- cial teórico-metodológico na Teoria desde violências obstétricas, descaso, insensibilidade e julgamentos.
A11
bre parir enquanto vivendo em colônias das Representações. Utilizando en- O medo da separação e o misto de sentimentos estão presentes em
penais do estado de Pernambuco, Brasil. trevista grupal. todos os discursos.
Fonte: Elaboração própria

Como observado no Quadro 1, dos artigos inclusos na amostra final, apenas um artigo é
de 2011 (SILVA, LUZ, CECCHETTO, 2011), dois de 2015 (FRANÇA, SILVA, 2015; OLIVEIRA;
334
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
MIRANDA, COSTA, 2015), um de 2016 (MIRANDA et al., 2016); três de 2017 (SANTANA,
OLIVEIRA, BISPO, 2017; FÉLIX et al., 2017; FOCHI et al., 2017), três de 2018 (SANTOS,
BISPO, 2018; ANDRADE, GONÇALVES, 2018; MATOS, SILVA, LIMA, 2018) e um de 2019
(MATOS, SILVA, NASCIMENTO, 2019). Diante dos artigos escolhidos para a amostra final,
sete artigos são de abordagem qualitativa (MATOS, SILVA, NASCIMENTO, 2019; SANTANA,
OLIVEIRA, BISPO, 2017; MIRANDA et al., 2016; SILVA, LUZ, CECCHETTO, 2011; MATOS,
SILVA, LIMA, 2018; OLIVEIRA, MIRANDA, COSTA, 2015; FOCHI et al., 2017), uma revisão
sistemática da literatura (SANTOS, BISPO, 2018) e três revisões integrativas (ANDRADE,
GONÇALVES, 2018; FRANÇA, SILVA, 2015; FÉLIX et al., 2017).
Dos artigos selecionados foi observado que oito dos onze artigos foram publicados em
revistas na área temática da enfermagem (SANTOS, BISPO, 2018; MIRANDA et al., 2016;
SILVA, LUZ, CECCHETTO, 2011; ANDRADE, GONÇALVES, 2018; FRANÇA, SILVA, 2015;
FÉLIX et al., 2017; OLIVEIRA, MIRANDA, COSTA, 2015; FOCHI et al., 2017).
Dos artigos empíricos de abordagem qualitativa, quatro estudos foram desenvolvidos
na região Nordeste (MATOS, SILVA, NASCIMENTO, 2019; SANTANA, OLIVEIRA, BISPO,
2017; MATOS, SILVA, LIMA, 2018; OLIVEIRA, MIRANDA, COSTA, 2015), um na região
Sudeste (FOCHI et al., 2017), um do Centro-Oeste (MIRANDA et al., 2016) e um na região
Sul (SILVA, LUZ, CECCHETTO, 2011). Três dos estudos de abordagem qualitativa citaram
e utilizaram a Teoria de Representações Sociais (MATOS, SILVA, NASCIMENTO, 2019;
MIRANDA et al., 2016; MATOS, SILVA, LIMA, 2018).
Após a escolha e análise dos artigos foram elaboradas duas categorias de análise
para a discussão das semelhanças dos estudos e os principais pontos a serem refleti-
dos: “Privação dos direitos humanos interligados a assistência no pré natal e no parto.” e
“Relações construídas entre o binômio mãe-filho: as consequências do cárcere.”, conforme
apresentado no quadro 3.

Quadro 3. Relação dos artigos incluídos na revisão de acordo com a categoria e o código dos artigos.

CATEGORIA CÓDIGO DO ARTIGO


Privação dos direitos humanos interligados a assistência no pré natal e no parto. A2-A5-A6-A7-A9-A10-A11
Relações construídas entre o binômio mãe-filho: as consequências do cárcere. A1-A3-A4-A8
Fonte: Elaboração própria

Privação dos direitos humanos interligados a assistência no pré natal e no parto

O acompanhamento do pré natal garante um acolhimento desde o início da gestação e


permite um bom desenvolvimento do feto, levando assim um parto e um nascimento saudável,
tanto para a mãe e o bebê. A assistência à mulher grávida privada de liberdade é garantida
pela lei, tanto durante a gestação, como no parto e no pós parto. Observou-se que muitas
335
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
dessas leis não são cumpridas, e as mulheres acabam ficando em um local inapropriado
durante gestação (SANTANA, OLIVEIRA, BISPO, 2017; FÉLIX et al., 2017).
Para uma boa assistência pré natal é necessário um olhar holístico do profissional e
uma escuta qualificada, compreendendo a mulher na sua integralidade, buscando sempre
prevenir, diagnosticar, recuperar e promover a saúde. É necessário resgatar os cuidados
relacionados onde o parto deve ser centrado na mulher, respeitando a fisiologia e o instinto
da mulher referente ao seu bebê. O principal intuito é orientar a mulher por meio de ações
de educações em saúde sobre a gestação, parto, puerpério e amamentação, reduzindo
assim riscos à saúde da mãe e do bebê, proporcionando a mulher a autonomia e a vivência
da maternidade (SANTANA, OLIVEIRA, BISPO, 2017; FÉLIX et al., 2017).
O Brasil tem um baixo percentual de consultas no pré-natal para as mulheres privadas
de liberdade, incluindo também a déficit de profissionais para realizar as consultas, lacunas
na humanização do cuidado e escassez de orientações para a mulher durante o período
gravídico puerperal (ANDRADE, GONÇALVES, 2018).
A média de consultas realizadas nas mulheres privadas de liberdade tem se mostrado na
faixa de duas consultas durante toda a gestação e nenhuma consulta puerperal. Os exames
laboratoriais da gestação são realizados em 78,9%, porém nenhum resultado foi entregue às
gestantes. Entre as gestantes, 94,7% foram vacinadas durante a gestação, porém mais da
metade não fazia uso de ácido fólico e sulfato ferroso. As gestantes relatam que a consulta
se resumia na medição da altura uterina e na ausculta cardiofetal (MATOS, SILVA, LIMA,
2018). Estes dados trazem um sério desrespeito aos direitos humanos e do paciente em ter
adequadamente informações sobre seu estado de saúde e adequado acompanhamento do
pré-natal, conforme explicitado nas diretrizes ministeriais.
O medo é presente entre as gestantes devido a quantidade reduzida de consultas pré
natais, onde muitas gestantes tinham as consultas reduzidas devido a gravidade da infração
ao qual foi cometida. O risco de fuga de resgate foi um dos motivos apontados pela redu-
ção de consultas, utilizando como classificação para consulta o risco gestacional e o crime
cometido (FOCHI et al., 2017).
A insatisfação em relação as consultas foram citadas em mais de um artigo, como
mostra o depoimento dessa mãe que participou da amostra da pesquisa de Santana,
Oliveira e Bispo (2017):

“Olhe, eu acho muito rápido, assim, o atendimento. É poucas vezes e quando


atende é rapidinho... Você chega lá, ela mede a barriga, escuta o coração do
bebê, lhe pesa, ‘tira a pressão’ e acabou. Na rua não é assim, não. Eu já fiz
e sei disso. Tipo eu estou com oito meses e até agora não sei o sexo do meu
bebê. Agora, me diga, isso lá é pré-natal, é? Ela não faz nem uma pergunta...
E ainda, se a gente se queixa de dor, ela fala que isso é normal da gravidez.
Eu nunca vi dor ser normal, ainda mais na gravidez!” (Gérbera).
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Além das inúmeras mudanças e desafios que são encarados durante uma gestação,
as mulheres privadas de liberdade também encaram o ambiente insalubre a qual estão
inseridas. A maioria dos presídios tem uma estrutura precária, voltado para o sexo mascu-
lino, é um ambiente que não atende as necessidades femininas e inadequado quando se
trata de uma gestação. Podendo ser citado também a alimentação não condizente com as
necessidades nutricionais para as gestantes e insalubridade relacionada com a estrutura
física como local inadequado para dormir, que pode ocasionar doenças tanto para a mulher
como para o bebê (SANTANA, OLIVEIRA, BISPO, 2017; FÉLIX et al., 2017; MATOS, SILVA,
LIMA, 2018; FOCHI et al., 2017).
Quando a mulher privada de liberdade entra em trabalho de parto ela é levada ao
hospital mais próximo disponível para realizar o parto, porém são encaminhadas muitas das
vezes no final do trabalho de parto. A mulher é levada por meio de escolta policial e a família
nem sempre é avisada, impossibilitando a presença de acompanhante para a mulher no
trabalho de parto (MATOS, SILVA, NASCIMENTO, 2019; ANDRADE, GONÇALVES, 2018;
MATOS, SILVA, LIMA, 2018).
A falha de comunicação do sistema carcerário com os familiares é observada pelo de-
poimento de uma das mulheres da amostra da pesquisa de Matos, Silva e Nascimento (2019):
“Se o agente penitenciário for bom, liga e avisa o marido da gente, se for bom. Se não,
o marido só vai saber depois que a criança nascer!” (Tânia)
Durante o período que a mulher permanece no hospital foi observado o preconceito
pelos profissionais de saúde e pelas parturientes não privadas de liberdade. Pode ser ob-
servado no relato de uma das mulheres da pesquisa de Matos, Silva e Nascimento (2019):
“Os profissionais falam: “coloquem logo a escolta com essa presa que eu tô com
medo!” (Adriana)
A violência durante a permanência da mulher no hospital está presente, tanto verbalmen-
te como psicologicamente. As mulheres passam por humilhações, discriminação, negação
de direitos e realização de procedimentos sem justificativa (MATOS, SILVA, NASCIMENTO,
2019; ANDRADE, GONÇALVES, 2018).

Relações construídas entre o binômio mãe-filho: as consequências do cárcere.

As discussões referentes à permanência do filho com a mãe após o nascimento diver-


gem em diversos momentos. Por lei a mulher tem o direito de permanecer com o filho durante
os primeiros seis meses de amamentação, logo após deve ser entregue a um responsável
legal da família ou ao abrigo para permanência até a conclusão da pena da mãe. De um lado
reforçam a permanência da criança para o vínculo mãe-filho e ao mesmo tempo se reflete

337
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
o impacto do ambiente carcerário ao qual a criança fica exposta (MIRANDA et al., 2016;
SILVA, LUZ, CECCHETTO, 2011; OLIVEIRA, MIRANDA, COSTA, 2015).
Sob o ponto de vista dos funcionários do presídio, o ambiente ao qual a criança está
inserida é inadequado para sua permanência, podendo acarretar danos no seu desenvolvi-
mento. Com todos esses desafios os funcionários tentam melhorar o ambiente para a crian-
ça, mantendo a cela da mãe longe das celas de fumantes e auxiliando a mãe nos cuidados
necessários (MIRANDA et al, 2016).
A presença dos filhos com as mães durante o período de encarceramento foi citada
muitas vezes como um amenizador da solidão e da dor que o cárcere provoca na mulher,
sendo assim, portanto para algumas mulheres por mais doloroso que seja manter o filho
privada de liberdade gera também um sentimento de consolo (SANTOS, BISPO, 2018;
MIRANDA et al., 2016; SILVA, LUZ, CECCHETTO, 2011).
Observa-se que a presença do filho junto com a mãe diminui os episódios de violência
dentro do presídio e muitas vezes reduz o nível de reincidência das mulheres privadas de
liberdade. Neste sentido, a criança gera motivação para a mulher evitar brigas para que não
haja consequências para o seu filho. A maternidade também traz à tona o companheirismo
entre as mulheres privadas de liberdade, devido à falta da família durante encarceramento
as mulheres se apoiam umas nas outras para passar por esse momento, auxiliando no cui-
dado com as crianças (OLIVEIRA, MIRANDA, COSTA, 2015).
A precariedade na estrutura do ambiente prisional foi citada por vários autores como
motivo pelas quais muitas mães optam por não estreitar os laços com os filhos, o presídio
oferece riscos de doenças infecto contagiosas devido as condições de higiene precárias e
a superlotação. Mesmo sendo preconizado berçário para as crianças, muitos presídios não
contam com esse auxílio, fazendo com que as crianças tenham que ficar junto com as mães
nas celas (SANTOS, BISPO, 2018; MIRANDA et al., 2016; SILVA, LUZ, CECCHETTO, 2011;
OLIVEIRA, MIRANDA, COSTA, 2015).
No estudo realizado por Miranda et al . (2016) foi coletado o seguinte depoi-
mento de uma mãe:
“Só o lugar que é ruim, não tem liberdade. Ruim demais ficar presa, ele também sente,
ele chora na hora que tranca, ele fica agoniado pra sair” (P9).
Muitas vezes as crianças ficam sem fralda, leite, roupas e produtos de higiene e as
mães contam com ajuda da família, funcionários e comunidade para receber doações para
os cuidados com os filhos (MIRANDA et al, 2016)
Referente à saúde das crianças foi percebido um déficit na assistência relacionado
aos cuidados com a criança, as mães não conseguem participar das consultas externas e
das vacinações junto com os filhos, devido à falta de escolta para acompanhar. Ou seja, a
338
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
criança vai acompanhada da família, funcionários do presidio ou falta as consultas e vaci-
nações (MIRANDA et al., 2016; SILVA, LUZ, CECCHETTO, 2011).
As mulheres privadas de liberdade não têm acesso à educação em saúde e assistência
relacionada com a amamentação. Muitas delas ficam com dúvidas e repetidas vezes não
conseguem realizar a pega correta e tem dificuldades na amamentação como observado
no relato a seguir da pesquisa de Silva, Luz e Cecchetto (2011):
“A única coisa que me preocupa é o leite. Estão dizendo que seca em três, quatro dias
se ele não mamar. Só que não dá, sai muito sangue, aí ele vomita o sangue com o leite. É a
única coisa que está me preocupando.” (E4)
O enfermeiro tem importante papel na orientação das mulheres privadas de liberdade, a
partir do aumento da confiança e do conhecimento essas mães conseguem oferecer o melhor
cuidado para seus filhos e o sucesso da amamentação. É necessário orientar a mulher para
o autoconhecimento de seu corpo e as mudanças do processo, para que assim a mulher
possa tomar as decisões referentes a seu filho e a amamentação (SANTOS et al., 2018).
O momento em que é chegada a separação da mãe e o seu bebê é visto como o mais
doloroso, permeado de impotência e tristeza. As mães expressam fortemente o medo de
seus filhos se esquecerem delas e depositar o amor de mãe-filho nos responsáveis legais,
que na maioria das vezes são os avós. Devido a esse motivo muitas mães optam por não
ter vínculo com a criança desde o início para evitar a dor da futura separação (SANTOS,
BISPO, 2018; OLIVEIRA, MIRANDA, COSTA, 2015).
De acordo com Lopes e Pinheiro (2016), em contrapartida ao que foi discutido, o
Centro de Referência de Gestantes Privadas de Liberdade (CRGPL) em Minas Gerias, que
abriga as gestantes e puérperas privadas de liberdade, vem mantendo os direitos a mulher
e a criança. Os funcionários do CRGPL são instruídos a respeitar os direitos das mulheres
e das crianças, evitando constrangimentos para essas mães, como observado na fala da
diretora deste centro:
“Aqui [CRGPL] há o entendimento de que elas estão cumprindo com a pena imposta
pelo Estado, mas que elas e seus filhos são dignos de um tratamento adequado dentro das
possibilidades do sistema prisional. (Diretora CRGPL)”.
Outra referência se encontra em Porto Alegre, a Penitenciaria Madre Pelletier, que
acolhe os filhos das presidiarias e conta com refeitório, salões, pátios com brinquedos. A ins-
tituição acolhe um número maior que a destinada, porém ainda sim é uma creche referência
em humanização (MIRANDA et al., 2016).
É preciso políticas públicas eficazes e fiscalizações dessas políticas para que essa
população tenha sua assistência resgatada, incluindo também do processo de reinserção
dessas mulheres na sociedade juntamente com seus filhos. O olhar de discriminação da
339
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
sociedade é presente e é necessário solidariedade de todos para a reinserção e diminuição
da vulnerabilidade dessas mulheres e seus filhos (VENTURA, SIMAS, LAROUZÉ, 2015).
Foi observado uma limitação na quantidade de artigos referentes ao assunto proposto,
devido à dificuldade da coleta de dados por questões de segurança e medo das mulheres
em revelar sentimento onde elas podem sofrer julgamentos (MIRANDA et al, 2016).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve o intuito de realizar uma revisão de literatura afim de relatar
a realidade das mulheres no ciclo gravídico puerperal encarceradas em regime brasileiro.
Sendo visto que a precária assistência à saúde para as mulheres e seus filhos estão pre-
sentes no encarceramento brasileiro.
As mães passam por uma série de sentimentos, devido a separação da criança no
presidio. É direito da mãe a permanência com o filho durante a amamentação e logo após a
mãe deve entregar o filho aos avos ou abrigos da região. A criança traz inúmeros benefícios
para a mãe, porém a permanência da criança em um ambiente insalubre como o presídio
faz com que muitas mães abram mão de criar vínculos com os filhos para evitar a dor fu-
tura da separação.
Os cuidados no pré natal são extremamente precários, com número de consultas abaixo
do preconizado e há relato de falta de exames adequados.
As condições de vida destas mulheres são inadequadas devido à cela insalubre e
estarem cercadas de riscos de doenças infectocontagiosas.
Foi observado a falta de auxílio e informação para essas mulheres, que acima de tudo
estão passando por uma mudança importante e muitas vezes não sabem sobre amamen-
tação e os cuidados básicos com elas e os filhos. É necessário a realização de educações
em saúde para auxiliar essas mulheres.

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
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343
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
24
Roda de conversa sobre sexualidade e
prevenção a gravidez na adolescência com
alunos de uma escola municipal do sudeste
do Pará: um relato de experiência a partir
da utilização do arco de Maguerez

Bruna Maciel Ribeiro da Silva João Paulo Oliveira de Sousa Costa


UEPA UEPA

Amanda de Lima Ferreira Linda Inêz Alves da Silva


UEPA UEPA

Deuziane de Jesus Sousa Luz Vitor Teles Rodrigues


UEPA UEPA

Emilly Silva Araújo Diego Santhiago Vieira Alves


UEPA UEPA

Elma de Sousa Fontoura Whatina Leite de Souza


UEPA UEPA

Gustavo Gonçalves Pegoreth


UEPA

10.37885/210303734
RESUMO

Objetivo: A pesquisa objetiva relatar a experiência de acadêmicos de Enfermagem a


partir da utilização do Arco de Maguerez, sobre uma roda de conversa sobre sexualidade
e gravidez precoce com alunos do 8° e 9° ano de uma escola municipal do Sudeste do
Pará. Método: Trata-se de um estudo tipo relato de experiência, que utilizou-se da me-
todologia problematizadora do Arco de Maguerez. A roda de conversa foi desenvolvida
no dia 04 de junho de 2019, no período matutino e vespertino, com os alunos da faixa
etária entre 13 a 16 anos do 8° e 9° ano da escola municipal. Resultados: A partir da
observação da realidade, os acadêmicos de Enfermagem observaram que os alunos
apresentavam déficit de conhecimento a respeito de sexualidade e gravidez precoce,
nesse sentido, a roda de conversa foi realizada com o intuito de repassar conhecimentos
acerca dessas temáticas, visando contribuir positivamente nas mudanças dos hábitos de
vida deste público. O momento foi esclarecedor e contou com a participação de grande
parte dos presentes, desse modo, a roda de conversa foi extremamente essencial para o
público em questão. Conclusão: A metodologia problematizadora revelou a importância
de abordar sobre sexualidade e gravidez com os adolescentes, auxiliando no entendi-
mento do papel dos pais e /ou responsáveis e da equipe multiprofissional e escolar, de
trabalhar a educação sexual e preventiva para fomentar a adoção e uso correto dos
métodos contraceptivos pelos adolescentes para que estes exerçam o autocuidado e
sejam multiplicadores do conhecimento que lhes foram repassados.

Palavras-chave: Sexualidade, Gestação na Adolescência, Educação Sexual.

345
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei Federal n° 8.069, de 13 de julho de


1990, define a faixa etária da adolescência entre 12 e 18 anos, e fora desses limites, quando
menor que 12 anos, é considerado criança, e após os 18, adulto (BRASIL, 2019). É uma
fase que envolve mudanças biopsicossociais marcada por conflitos com a própria imagem
corporal, incluindo também a sexualidade o que exige um apoio maior por parte do po-
der público, família e sociedade em geral, que facilite a formulação de identidade, cresci-
mento pessoal, intelectual, psicológico e de saúde (DIAS; TEIXEIRA, 2010 e POERSCH;
KLIEMAMN; LIMA, 2015).

É nesse período que ocorre a transformação do corpo e a descoberta do


mesmo. O amadurecimento físico que surge em decorrência do aumento da
produção de hormônios sexuais é acompanhado pela busca por prazer, curio-
sidade sobre a vida sexual e o conhecimento de si e de sua autoconfiança.
Atualmente, além dos conflitos próprios da faixa etária, são comuns outras
questões conflituosas, como a ocorrência de gravidez (MOREIRA et al., 2008,
p 313).

Nessa perspectiva, Godinho et al., (2000) afirmam que há uma precocidade da inicia-
ção sexual (de 14,7 anos), indicando a ausência de programas de educação sexual nas
escolas e planejamento familiar nos serviços públicos como fatores que podem favorecer a
ocorrência de uma gravidez indesejada. Além disso, a prática sexual precoce aumenta as
chances do jovem aderir a comportamentos sexuais de risco, tais como o número elevado
de parceiros, baixa frequência de uso do preservativo e contração de Infecções Sexualmente
Transmissíveis (MADKOUR et al., 2014 e ALVES; ZAPPE; DELL’ AGLIO, 2015).
No Brasil, a fecundidade das jovens entre 15 e 19 anos cresceu até o final do século XX,
começando a declinar nos primeiros anos do século XXI. Porém, mesmo com esta recente
queda, pode-se afirmar que há um rejuvenescimento da fecundidade no país (BERQUÓ;
CAVENAGHI, 2006). Fato este verificado a partir da taxa de gestação na adolescência
no Brasil, que é alta para a América Latina, com 400 mil casos/ ano (BOUZAS, 2014).
Corroborando com tal achado, dados obtidos do DATASUS apontam que no ano de 2019
foram registrados 419 252 nascimentos de mães com idade entre 10 a 19 anos.
Nesse sentido, visando reduzir as taxas de fecundidade no Brasil, foi criado o planeja-
mento familiar, cuja assistência orienta-se por ações preventivas e educativas, pela garantia
do acesso igualitário às informações, métodos e técnicas disponíveis para regulação da
fecundidade, devendo atender às reais necessidades da população feminina e masculina
em idade fértil. Contudo, a baixa qualidade da assistência em planejamento familiar reflete
no aumento da fecundidade na adolescência, bem como em grande número de abortos que
346
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
ocorrem no Brasil, dos quais uma significativa proporção é induzida e contribui para altas
taxas de mortalidade materna (BRASIL, 2013 e REIS et al., 2020).
Para Ribeiro et al., (2015) e Silva et al., (2017) existe a necessidade de um entrosa-
mento entre o profissional de enfermagem e o adolescente, a fim de promover uma confiança
e diálogos sobre saúde sexual e reprodutiva, assim os jovens obtém informações sobre o
autocuidado, e sobre os meios de evitar uma gravidez precoce e indesejada e também a
respeito da forma correta de utilizar os métodos contraceptivos. Nesse interim Ramos et al.,
(2018) referem que o profissional de enfermagem da Unidade Básica de Saúde (UBS) tem
uma participação relevante na educação sexual, uma vez que possui uma enorme familia-
ridade com as transformações da adolescência, sendo assim as medidas preventivas em
relação a sexualidade são executadas por profissionais capacitados.
Atrelado ao papel do enfermeiro como educador, há também a função da escola como
disseminadora do conhecimento em relação à sexualidade, assim Ecos (2004) e Gonçalves,
(2004), retratam que as instituições de ensino enfrentam dificuldades para a inserção de
novas práticas em educação sexual, e muitas vezes deixam de oferecer um espaço para
que ocorram debates sobre saúde reprodutiva e sexualidade de forma contínua, referidos
principalmente a carência de recursos materiais e pessoal capacitado.
Sendo assim, a pesquisa justifica-se com o intuito de contribuir com o acervo cientí-
fico a respeito da problemática identificada, além de disseminar conhecimento adequado
aos adolescentes para que haja uma mudança positiva nos hábitos de vida desse públi-
co. Os acadêmicos optaram por realizar medidas educativas sobre sexualidade e gravidez
precoce na escola em questão, devido a observação de lacunas referentes a estas temáticas
na realidade destes jovens.

MÉTODO

O estudo trata-se de um relato de experiência de acadêmicos de Enfermagem de uma


universidade pública, desenvolvido a partir de uma roda de conversa sobre sexualidade e
prevenção a gravidez na adolescência, com alunos do 8° e 9° ano de uma escola municipal
do Sudeste do Pará. A pesquisa foi elaborada por meio da utilização da metodologia proble-
matizadora do Arco de Charles Maguerez que foi criada, inicialmente, na década de 70 do
século XX, e tornada pública por Bordenave e Pereira (1989) a partir de 1977. Para a área
da saúde foi utilizado por Neusi Berbel e é constituída por cinco etapas consecutivas, que
são: observação da realidade; pontos-chave; teorização; hipóteses de solução e retorno à
realidade (BERBEL 2012; 2016). As ações em cada etapa estão descritas a seguir.

347
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Observação da realidade

Para Berbel (1998) na observação da realidade, que se configura como sendo a pri-
meira etapa do Arco de Maguerez, os estudantes são instigados a olhar atentamente e re-
gistrar sistematizadamente o que perceberam sobre a realidade apresentada. Assim como
o professor pode também orientar este processo por meio de perguntas gerais que ajudem
a focalizar e não fugir do tema. Dessa forma, a observação permitirá identificar dificuldades
e carências que serão transformadas em problemas, podendo ser eleito um ou mais proble-
mas para o estudo em grupo.
A observação da realidade ocorreu no dia 25 de março de 2019 em uma escola mu-
nicipal localizada no Sudeste do Pará, onde se observou a necessidade de realizar uma
intervenção devido à falta de informações que os adolescentes do ensino fundamental, com
faixa etária de 13 a 16 anos, têm a respeito de sexualidade, prevenção a gravidez, infecções
sexualmente transmissíveis (IST’s) e planejamento familiar.
Os professores da instituição afirmaram que há um déficit crescente em relação a essas
temáticas, o que já desencadeou casos de gestação indesejada e contribuiu para influenciar
outros jovens a iniciar as relações sexuais precocemente e sem receberem orientação ade-
quada a respeito do assunto. Considerando o conjunto de problemas encontrados, houve a
necessidade de intervir com o intuito de disseminar informações adequadas a esse público.

Definição dos pontos chave

Referente a segunda etapa, Berbel (2012; 2016) explica que os pontos chave procuram,
diante da observação, as possíveis indagações. É o momento de levantar os determinantes
do problema, ou seja, identificar as variáveis que podem contribuir para a compreensão e
solução do problema identificado.
Sendo assim, diante da observação da realidade analisou-se o baixo conhecimento
do público alvo diante das temáticas supracitadas, assim, os acadêmicos de Enfermagem
consideraram de extrema importância abordar sobre tais temáticas com esses adolescen-
tes. A partir dessas questões, definiram-se os seguintes pontos-chave: sexualidade, gravidez,
adolescência, educação, prevenção.

Teorização

Berbel, (2012; 2016) diz que a terceira etapa do Arco de Maguerez se caracteriza
pelas informações analisadas, buscando explicações acerca da realidade observada e
a compreensão dos pontos-chave, possibilitando algumas conclusões que viabilizarão a
etapa seguinte. Assim, os acadêmicos embasaram-se cientificamente em artigos e livros
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
buscando orientações pertinentes a problemática encontrada para posteriormente dar pros-
seguimento ao arco.

Hipóteses de solução

A quarta etapa do Arco de Maguerez, segundo Berbel, (2012; 2016) configura-se pela
formulação das hipóteses de solução, portanto, após o aprofundamento teórico do problema,
este é o momento de reflexão. As hipóteses são construídas a partir da compreensão do
problema, utilizando-se criatividade e originalidade para buscar novas maneiras de resolu-
ção, de acordo com a realidade observada inicialmente e das limitações que esta impõe.
Com o objetivo de solucionar os problemas encontrados faz-se necessário a adoção
de medidas de intervenção a realidade. Sendo assim, foram selecionadas as seguintes
hipóteses de solução (Figura 1):

Figura 1. Organograma das Hipóteses de Solução

Fonte: os autores (2019).

• Realizar rodas de conversa nas escolas a respeito de sexualidade, métodos


de prevenção a gravidez na adolescência, planejamento familiar e IST’s: visto
que o número de adolescentes que iniciam a vida sexual cada vez mais cedo tem
crescido nos últimos tempos, faz-se necessário realizar esse trabalho nas escolas
buscando orientar os adolescentes sobre sexualidade, IST’s e gravidez, além de
proporcionar um espaço para que possam sanar suas dúvidas a respeito dessas
temáticas. Buscando assim, trocas de experiências, visto que muitos não têm a
liberdade e não se sentem à vontade para falar com os pais, pois para muitas famí-
lias esse assunto ainda é visto como um tabu.
• Instruir na abordagem dos pais e/ou responsáveis, profissionais da educa-
ção: a equipe multidisciplinar tem embasamento suficiente para preparar e quali-
ficar os profissionais da educação a respeito da educação sexual, pois a escola é
o local onde os adolescentes recebem os conhecimentos que contribuirão para a
349
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
formação da sua consciência crítica e formação pessoal. Nesse sentido, após rece-
berem essa qualificação, a escola terá melhor preparo para dialogar com os pais e/
ou responsáveis dos alunos acerca da importância de discorrer sobre sexualidade
em casa desde a infância.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados e discussão abordam sobre a quinta e última etapa do arco que é a apli-
cação à realidade; e para Berbel, (2012; 2016) é o momento em que ocorre a ligação entre
a prática e a teoria, com o objetivo de intervir na realidade e modificá-la, aplicando assim as
soluções eleitas como viáveis. O estudante aprende a generalizar o aprendido para utilizá-lo
em diferentes situações, permitindo que ele saia do âmbito intelectual e volte a sua realidade.
Sendo assim, optou-se por realizar uma roda de conversa com os alunos da escola
pública sobre as problemáticas observadas como hipótese viável a curto prazo. A longo
prazo os acadêmicos elencaram a seguinte hipótese: instruir os pais e/ou responsáveis e
os profissionais da educação para construírem didáticas apropriadas sobre sexualidade e
prevenção da gravidez na adolescência, de forma a levar o conhecimento para os jovens e
reduzir a prevalência desta problemática.
Moura et al., (2014) retrata que as rodas de conversas consistem em um método de
participação coletiva de debate acerca de determinada temática em que é possível dialogar
com os sujeitos, que se expressam e escutam seus pares e a si mesmos por meio do exer-
cício reflexivo. Dessa forma, a execução da roda de conversa foi autorizada pela escola em
questão e ocorreu no dia 04 de junho de 2019, no período matutino e vespertino, com os
alunos da faixa etária entre 13 a 16 anos do 8° e 9° ano da escola municipal, sendo divididos
de acordo com o gênero visando o conforto dos participantes para expressarem assim maior
produtividade. O momento foi mediado pelos acadêmicos de Enfermagem juntamente com
os docentes do eixo do 5° semestre da instituição.
O encontro teve início com o tema que abordou a sexualidade na adolescência, onde
discutiu-se questões a respeito das infecções sexualmente transmissíveis e as formas de
evitá-las. Algumas perguntas foram feitas para os alunos, como “O que é Sexualidade para
vocês?” e “Qual a importância do preservativo?”. Dessa forma, observou-se que muitos
alunos da escola conheciam a respeito da eficácia do preservativo de barreira contra IST´s
e gestação, no entanto, a maioria não sabia a forma correta de manuseá-lo. Por isso, os
discentes de Enfermagem demonstraram na prática como utilizar o preservativo masculino
e feminino, com o auxílio de materiais que fizessem alusão aos órgãos genitais do homem
e da mulher, facilitando a demonstração.

350
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Em seguida, debateu-se a respeito da gravidez na adolescência, nesse sentido foi
enfatizado sobre a importância do uso de métodos contraceptivos para prevenir uma gesta-
ção e percebeu-se que a maioria dos alunos não se sentiram confortáveis em interagir com
seriedade, pois ainda não desenvolveram maturidade suficiente para conversar a respeito
do assunto. Foi retratado sobre a relevância de conversar com os pais e/ou responsáveis
sobre os cuidados necessários que os adolescentes devem ter antes de iniciar a vida sexual
e também após essa iniciação.
Logo após foi realizada a seguinte pergunta “Vocês conhecem os métodos contracepti-
vos?”, a maioria respondeu que “sim”. Diante dessa resposta questionou-se “Por que vocês
acham que há tantos casos de gravidez na adolescência?”, alguns não souberam responder
e outros relataram que isso ocorre porque não há utilização dos métodos contraceptivos,
essa razão pode estar relacionada ao fato de não atribuírem a estes a devida importância.
Outro ponto enfatizado consiste na importância de procurar a Estratégia de Saúde da
Família (ESF) para fins de orientação. Em seguida, os acadêmicos perguntaram: “Vocês
acham que é necessário o acompanhamento dos pais e/ou responsáveis para que o ado-
lescente possa buscar os preservativos no posto de saúde?”, a maior parte respondeu
com precisão que “sim” e apenas uma aluna respondeu que não era necessário. Assim,
percebeu-se que a maioria dos jovens não buscam o posto de saúde por acreditarem que
seja necessário ter o acompanhamento dos responsáveis.
Posteriormente foi questionado “Com quem vocês se sentiriam mais à vontade em
perguntar a respeito de medidas de prevenção a gravidez: com os pais, com o enfermeiro
ou com o professor?”. A maioria do grupo de alunos retratou que preferiam sanar suas dú-
vidas com o enfermeiro, pois em sua percepção os pais e/ou responsáveis e os professores
não compreenderiam seus questionamentos, desenvolvendo assim nos jovens sentimentos
de medo, frustração e vergonha de serem julgados. Assim, os discentes de Enfermagem
aproveitaram para alertar sobre a necessidade de buscar ajuda de profissionais que tenham
conhecimento sobre o assunto e evitar procurar conselhos de amigos, pois estes em sua
maioria também não possuem discernimento suficiente sobre o tema abordado.
Dado o exposto, compreende-se que os adolescentes não enxergam nos pais a con-
fiança de que precisam para perguntar a respeito das dúvidas pertinentes, criando assim uma
barreira no relacionamento entre pais e filhos. Dessa forma, ocorrem problemas voltados
à orientação no que diz respeito à sexualidade dentro de casa, corroborando assim para
o aumento nos índices de gravidez na adolescência e as demais consequências advindas
dessa problemática.
Para enfatizar ainda mais a respeito das medidas de prevenção a gravidez na ado-
lescência, foi realizada a seguinte indagação: “Vocês já ouviram falar em planejamento
351
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
familiar?”, os alunos da escola afirmaram que “Não”, o que mostra que infelizmente esse
programa não é abordado de forma abrangente, o que limita o conhecimento dos adoles-
centes a respeito dessa importante informação. Percebendo essa lacuna no conhecimento
dos jovens, os acadêmicos de Enfermagem explicaram a relevância do planejamento familiar
como forma não apenas de evitar uma gestação, mas também, como sendo um subsídio
para uma vida mais bem estruturada futuramente.
Dessa forma, a assistência em planejamento familiar deve ser disseminada de forma
mais abrangente para que não apenas adolescentes, mas toda a população possa ter acesso
a respeito dos benefícios que este programa oferece, pois, além de contribuir com resultados
positivos na diminuição dos casos de gravidez precoce, auxilia em uma melhor qualidade
de vida da mulher e do parceiro.
Subsequente a esta abordagem, foi desenvolvida uma reflexão, com a pergunta
“Imaginem que neste momento, vocês descobrem que serão pais. O que vocês senti-
riam?”. Em seguida folhas foram repassadas aos alunos, para que eles exteriorizassem
seus sentimentos. Dentre as respostas dos alunos, as mais recorrentes entre as meninas,
foram: desespero, medo e felicidade. Desespero por não saber como contar aos pais e de
como cuidar de uma criança, além de, possivelmente, ser abandonada pela família e pelo
pai da criança. Medo, pois afirmaram que teriam que interromper os estudos e os planos
traçados para o futuro. Felicidade, pois apesar das dificuldades enfrentadas, o sentimento
seria de gratidão pela possibilidade de ter uma família.
A partir disso, a reflexão mostrou que muitas vezes esses sentimentos podem acarretar
em problemas psicológicos durante a gravidez, como os citados para os alunos: depressão,
ansiedade, medo e outros. Tais problemas mencionados afetam diretamente a gestação, pois
há as transformações que a mulher lida durante a gravidez, principalmente na adolescência,
pois nessa fase o corpo ainda está em desenvolvimento. A gestação reflete também nas
transformações físicas que podem ocorrer, como: surgimento de estrias em decorrência do
aumento da barriga, eclampsia, aborto espontâneo, diabetes gestacional, laceração vaginal,
entre outras mudanças. As alterações psicológicas e físicas foram discorridas com o intuito de
explanar as consequências de uma gravidez precoce reforçando a necessidade de evitá-la.
Portanto, a roda de conversa proporcionou uma nova visão a respeito da realidade
dos adolescentes da escola estudada, pois percebeu-se que grande parte dos estudantes
não tinha entendimento da importância em conversar a respeito de sexualidade e gravidez
na adolescência, e como foram retratadas, as mudanças que ocorrem afetam não apenas o
corpo da mulher, mas também compromete a saúde mental desses jovens. Assim, também
foi esclarecido sobre a união e comprometimento entre a educação escolar, familiar e as
equipes de saúde, com enfoque nas Estratégias de Saúde da Família, como mediadores
352
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
nesse processo de disseminação de conhecimento, com o intuito de instigar esses adoles-
centes a buscarem ajuda de pessoas capacitadas.

CONCLUSÃO

A experiência revelou a importância de abordar sobre sexualidade e gravidez com os


adolescentes, auxiliando no entendimento do papel dos pais e /ou responsáveis e da equipe
multiprofissional e escolar, de trabalhar a educação sexual e preventiva para fomentar a
adoção e uso correto dos métodos contraceptivos pelos adolescentes para que estes exer-
çam o autocuidado e sejam multiplicadores do conhecimento que lhes foram repassados.
Diante disso, é necessário que os profissionais utilizem mecanismos que possibilitem
uma maior interação com o público em questão. Nesse contexto, a roda de conversa é um
método que permite o diálogo, sendo uma abordagem que proporciona um momento em
que os adolescentes possam sanar dúvidas e compartilhar experiências.
Destaca-se ainda o desenvolvimento da problemática trabalhada a partir da metodo-
logia problematizadora do Arco de Maguerez, que possibilitou enquanto acadêmicos de
Enfermagem atuar na comunidade, colocando em prática os conhecimentos adquiridos ao
longo do curso a fim de transformar a realidade observada. Destarte, a experiência permitiu
a criação de mecanismos didáticos para abordar temas considerados difíceis de discutir de-
vido aos tabus ainda existentes, contribuindo de maneira positiva na formação profissional.

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355
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
25
Sistematização da assistência de
enfermagem nas consultas de pré-
natal: uma revisão integrativa

Elielza Guerreiro Menezes Thiago Queiroz de Souza


ESA/UEA ESA/UEA

Alice Peres Souto Pereira Alessandrina Gomes Doval


ESA/UEA ESA/UEA

Maria Luiza Carvalho de Oliveira Andreza Ramos Bessa Dantas


ESA/UEA ESA/UEA

Sonia Rejane de Senna Frantz Nathalie Rezende Batalha Gomes


ESA/UEA ESA/UEA

Taycelli Luiza de Oliveira Dias Clarissa Alves Pinheiro


ESA/UEA ESA/UEA

10.37885/210303502
RESUMO

Introdução: A Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) se faz necessária


de modo a garantir um acompanhamento mais organizado e eficaz a gestante, tendo
a possibilidade por meio da investigação, diagnóstico de enfermagem, planejamento,
implementação e avaliação. Objetivo: Analisar artigos científicos publicados no período
de 2005 a 2015 que abordam sobre Sistematização da Assistência de Enfermagem no
Pré Natal. Método: Trata-se de um estudo de Revisão Integrativa da Literatura (RIL),
realizada nos meses de outubro e novembro de 2015. Resultados: Os artigos se con-
centram indexados na LILACS com 62% e 38% na Medline, há predominância de 100%
na publicação realizada por enfermeiros, isto se justifica por meio da Resolução 358/2009
do Conselho Federal de Enfermagem. Em relação a natureza do estudo há predominân-
cia em estudos qualitativos, descritivos e exploratórios. Quanto as publicações, houve
um aumento nos anos de 2013 com 23% de publicações, seguido de 2015 com 15,3%.
Conclusão: Os autores referem a necessidade da implementação da SAE para a melho-
ria da assistência, tornando o cuidado diferenciado, individualizado e humanizado bem
como trazer visibilidade à profissão.

Palavras- chave: Cuidados de Enfermagem, Pré Natal, Processo de Enfermagem,


Saúde da Mulher.

357
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

O atendimento do enfermeiro no pré-natal é de suma importância para o desenvolvimen-


to de uma gestação tranquila um parto sem intercorrências um puerpério livre de infecções
e com maior aproveitamento para a mãe e o seu bebê. A atenção devida voltada para as
mudanças fisiológicas ajuda a mulher no entendimento das alterações durante a gestação,
nas inseguranças geradas pelas mudanças fisiológicas de cada período e principalmente
em mães de primeira gesta.
O contexto onde a gestação está inserida é determinante para o seu desenvolvimento,
adesão ao pré-natal e manutenção de hábitos promotores de saúde como a amamentação
e assistência ao desenvolvimento infantil.
O entendimento desse processo fisiológico e a sensibilidade do profissional que con-
duz esse atendimento são essenciais no envolvimento e a geração do vínculo necessário
para que essa gestante se sinta confortável em expor seus medos e dúvidas, entendendo
cada etapa e aumentando sua autonomia nos períodos de pré-parto, parto e pós-parto
(ANDRADE, 2015).
Através da formação do binômio (mãe e filho), a gestante sente-se cada vez mais à
vontade para seguir com o acompanhamento e aderir a quaisquer que sejam as orientações
desse profissional. Diminuindo os riscos de complicações durante o período de gestação.
Para que haja otimização do tempo do profissional e que o mesmo não perca o foco no
atendimento, entende-se a necessidade da utilização do processo de enfermagem durante
essas consultas, objetivando a atenção integral a essa gestante e seu bebê.
Segundo a Resolução do Conselho Federal de Enfermagem 358/2009, entende-se por
processo de enfermagem uma metodologia para a orientação e documentação da prática
profissional. Que evidencia a colaboração da enfermagem na promoção a saúde da popu-
lação (COFEN, 2009).
Tannure; Pinheiro (2014) descreve o processo de enfermagem como uma metodologia
de solução dos problemas, uma melhoria na proposta de cuidado prestado pelo enfermeiro
ao paciente. Um método que possibilita a mensuração da qualidade dessa assistência, ob-
tenção de indicadores de saúde a partir dos registros em prontuários e respaldo científico
para as ações realizadas pelo profissional.
Através da implementação desse processo, contemplando suas cinco etapas, o aten-
dimento do profissional enfermeiro torna-se integral abrangendo os pontos exatos de fragi-
lidade da paciente, proporcionando um atendimento e acompanhamento eficaz por torná-lo
personalizado respeitando a individualidade do ser humano. O estudo visa dar enfoque a
implantação e a implementação da Sistematização nos serviços onde quer que esteja o
cuidado de enfermagem, descrito de forma concisa na Resolução 358/2009.
358
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Assim, este estudo traz subsídios que permitam reflexões acerca dos cuidados de
Enfermagem junto a gestantes que procuram o serviço de saúde no intuito de um atendimento
de qualidade para que a mesma seja cuidada e acompanhada de modo holístico e assim,
responder a seguinte questão de pesquisa: Quais os conhecimentos científicos produzidos
nos últimos dez anos sobre Sistematização da Assistência de Enfermagem no Pré Natal?

MÉTODO

Trata-se de um estudo de revisão, que se utilizou de uma revisão integrativa da Literatura


(RIL). É um tipo de revisão que apresenta um recurso metodológico que permite sumarizar
estudos realizados anteriormente quanto a temática selecionada, conservando-se os pa-
drões de clareza, rigor científico e replicação dos estudos já realizados, contribuindo para
aprofundar o conhecimento na temática que será estudada (MENDES, 2008).
Dessa forma, foram realizadas seis etapas para a construção da RIL:
1ª. Etapa: identificação do tema e seleção da questão de pesquisa
2ª. Etapa: estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão
3ª. Etapa: Identificação dos estudos pré-selecionados e selecionados
4ª. Etapa: Categorização dos estudos selecionados
5ª. Etapa: Análise e interpretação dos resultados
6ª. Etapa: Apresentação da revisão/ síntese do conhecimento
Quando se determina a pesquisa de revisão integrativa, a primeira etapa do processo
de elaboração se inicia com a definição de um problema e a formulação de uma pergunta
de pesquisa (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).
Esta estratégia sugerida pelo autor acima, refere-se como uma técnica ou um conjunto
de regras para tornar possível o encontro entre uma pergunta formulada e a informação
armazenada em uma base de dados. Essa construção deve estar relacionada a um ra-
ciocínio teórico.

1ª. Etapa: identificação do tema e seleção da questão de pesquisa

A primeira etapa serve como norte para a construção de uma revisão integrativa. Ao ela-
borar a questão norteadora deve ser clara e específica (MELNYK, FINEOUT – OVERHOULT,
2011) recomenda que seja utilizada uma estratégia utilizando a palavra “PICOT” que repre-
senta Participants, Interventions, Comparisons, Outcomes e times. Os mesmos recomendam
que ao utilizar esta estratégia a busca se torna eficiente e com informações acerca do tema
mais relevante conforme mostra a Figura 1.

359
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Figura 1- Descrição da questão norteadora

2ª. Etapa: estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão

Após a escolha do tema, foram adotados os seguintes critérios de seleção para pesqui-
sa dos artigos: artigos científicos disponíveis na integra e publicados nos idiomas português
e inglês nos anos de 2005 a 2015 e que estejam indexados nas principais bases de dados
MEDLINE e LILACS. Como critérios de exclusão foram adotados os artigos disponíveis em
mais de uma base de dados evitando assim duplicidade de informação acerca do tema.
Nesta seleção de artigos, inicia-se de forma mais ampla e afunila-se na medida em
que a questão norteadora se define, uma vez que o movimento de busca na literatura nem
sempre é linear (BROOME, 2006). Ao realizar a busca por descritores em ciências da saúde
(DECs) foram utilizadas as palavras chave: Cuidados de enfermagem; Pré Natal; Processo
de enfermagem conforme mostra a figura 2.

360
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Figura 2. Fluxograma de busca de artigos científicos

A busca de publicações de artigos científicos nas bases de dados da MEDLINE e


LILACS foi realizada nos meses de outubro e novembro de 2015. A usabilidade da internet
foi uma ferramenta importante nesta busca, pois as bases de dados possuem acesso ele-
trônico. Esta seleção dos estudos para a avaliação crítica é fundamental, a fim de se obter
a validade interna e confiabilidade da revisão.
MEDLINE é uma base de dados da literatura internacional da área médica e biomédica,
produzida pela National Library of Medicine (NLM), USA, que contém referências bibliográ-
ficas e resumos de mais de quatro mil títulos de revistas que estão publicadas nos Estados
Unidos e em mais de setenta países. Contém aproximadamente onze milhões de registros
da literatura, desde 1966 até o momento que cobrem as áreas da saúde de forma geral e
sua base de dados é atualizada mensalmente.

361
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
A base de dados LILACS compõe a Biblioteca Virtual em Saúde em contínuo desenvol-
vimento, constituído de normas, manuais, guias e aplicativos, destinados à coleta, seleção,
descrição, indexação de documentos e geração de bases de dados.
Desde 1982, surge com uma forma alternativa de realizar pesquisa com cunho científico,
após entender a necessidade de uma metodologia ao alcance da literatura científica-técnica
em saúde produzida na América Latina e Caribe.
Esta base de dados ainda assim inclui documentos convencionais e não-convencio-
nais produzidos por autores latino-americanos e do Caribe e/ou publicados em países da
América Latina e Caribe, de caráter técnico-científico, referente ao vasto campo das Ciências
da Saúde, de acordo aos critérios descritos neste Guia. O fator primordial que determina a
inclusão ou exclusão de um documento na base de dados é o conteúdo científico do mesmo,
independente da forma física em que se apresente.

3ª. Etapa: Identificação dos estudos pré-selecionados e selecionados

Após a seleção dos artigos foi utilizado um formulário/roteiro elaborado pela pesqui-
sadora afim de garantir os critérios de inclusão e exclusão com objetivo de reunir as infor-
mações pertinentes a pesquisa, para a partir da conclusão desse procedimento, elabora-se
uma tabela com os estudos pré-selecionados para a revisão integrativa.

4ª. Etapa: Categorização dos estudos selecionados

Esta etapa tem por objetivo sumarizar e documentar as informações extraídas dos ar-
tigos científicos encontrados nas fases anteriores, com objetivo de reunir os dados similares
bem como as categorias. Visando identificar as informações com o objetivo da pesquisa.
Essa documentação deve ser elaborada de forma concisa e fácil (BROOME, 2006). Neste
momento foram categorizadas e analisadas as informações coletadas nos estudos selecio-
nados utilizando análises estatísticas.

5ª. Etapa: Análise e interpretação dos resultados

Os resultados pesquisados serão analisados e apresentados em forma de gráficos e


tabelas, bem como apontar as lacunas encontradas na literatura.

6ª. Etapa: Apresentação da revisão/ síntese do conhecimento

Pode-se mostrar os resultados encontrados na literatura acerca dos conhecimen-


tos científicos produzidos nos últimos dez anos sobre Sistematização da Assistência de
Enfermagem no Pré Natal.
362
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
RESULTADOS E DISCUSSÃO

O estudo da Revisão Integrativa da Literatura totalizou 13 publicações de artigos cien-


tíficos nas bases de dados pesquisadas, sendo que 62% se encontra indexada na base de
dados do LILACS e 38% na MEDLINE.
Gráfico 1- Distribuição da produção cientifica sobre Sistematização da Assistência de
Enfermagem no Pré Natal

Após a leitura flutuante do material pesquisado e preenchimento do formulário/roteiro,


os dados foram agrupados da seguinte forma: Base de dados, periódicos, idioma, autores,
delineamento do estudo visto na Quadro 1 abaixo:

Quadro 1.Apresentação e caracterização da amostra bibliográfica de acordo com as bases de dados, periódico, idioma,
autoria, delineamento da pesquisa.

Nº Base de Dados Título Periódico Idioma Autoria Delineamento


Revista Brasileira
Diagnósticos de Enfermagem identifica- Estudo descritivo
1 LILACS de Enfermagem Português Enfermagem
dos em gestantes durante o pré-natal longitudinal
REBEN
Revista
Sistematização da assistência de enfer-
Revista de Enferma-
2 LILACS magem a paciente com síndrome hiper- Português Enfermagem Pesquisa descritiva
gem do Nordeste
tensiva específica da gestação
RENNE
Autonomia e vulnerabilidade do enfer-
Revista da Escola de Revisão bibliográfica
3 LILACS meiro na prática da Sistematização da Português Enfermagem
Enfermagem da USP integrativa
Assistência De Enfermagem.
Entre o êxito e a frustração com a sis-
Escola Anna Nery re-
4 LILACS tematização da assistência de enfer- Português Enfermagem Pesquisa qualitativa
vista de enfermagem
magem
Sistematização da assistência de enfer-
magem na perspectiva dos enfermei- Revista Gaúcha de Estudo qualitativo
5 LILACS Português Enfermagem
ros: uma abordagem metodológica na enfermagem descritivo
teoria fundamentada

363
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Nº Base de Dados Título Periódico Idioma Autoria Delineamento
O significado do pré-natal para mulhe-
Qualitativa des-
6 LILACS res grávidas: uma experiência no muni- Saúde e Sociedade Português Enfermagem
critiva
cípio de Campo Grande, Brasil
Revista Brasileira
As dimensões do cuidado pré-natal na
7 LILACS De Enfermagem Português Enfermagem Qualitativa
consulta de enfermagem
REBEN
Diagnósticos de enfermagem identifica- Revista de Enferma-
Qualitativa des-
8 LILACS dos durante o período puerperal gem do Centro Oeste Português Enfermagem
critiva
Imediato: estudo descritivo Mineiro
Diagnóstico de enfermagem em gestan- Journal of the Health Quantitativo explo-
9 MEDLINE Inglês Enfermagem
te em práticas educativas Sciences Institute ratório descritivo
Diagnósticos de enfermagem em con-
Revista Eletrônica Quantitativo des-
10 MEDLINE sultas de pré-natal em uma unidade Português Enfermagem
Gestão & Saúde critivo
básica de saúde de Teresina-PI.
Diagnósticos de enfermagem em ges- Revista Mineira de Descritivo explora-
11 MEDLINE Português Enfermagem
tantes hipertensas Enfermagem tório
Percepção das gestantes sobre a assis-
Revista Interdisci- Qualitativa descriti-
12 MEDLINE tência prestada pelo enfermeiro duran- Português Enfermagem
plinar vo-exploratória
te o pré-natal
Assistência de enfermagem a gestantes Qualitativa des-
13 MEDLINE Salusvita Português Enfermagem
no HrAc/UsP critiva

Observa-se que a distribuição dos artigos científicos da pesquisa de acordo com as


bases de dados, periódico, idioma, autoria e delineamento. Demonstra um total de treze
(13) publicações, sendo que 7,69% estão apresentados na língua inglesa 92,31% estão na
língua portuguesa (Quadro 1).
Quando se trata da autoria 100% foram escritos por enfermeiros. Isto se justifi-
ca por meio da Resolução do Conselho Federal de Enfermagem, ser a SAE privativa do
Enfermeiro. Em relação a natureza do estudo há predominância em estudos qualitativos,
descritivos e exploratórios.

Quadro 2. Distribuição dos periódicos segundo o quantitativo de artigos publicados no período entre 2005 e 2015

Periódicos Quant. %
Revista Brasileira de Enfermagem 2 15,3
Revista de Enfermagem do Nordeste 1 7,6
Revista da Escola de Enfermagem da USP 1 7,6
Escola Anna Nery Revista de Enfermagem 1 7,6
Revista Gaúcha de Enfermagem 1 7,6
Revista Saúde e Sociedade 1 7,6
Revista d Enfermagem do Centro Oeste Mineiro 1 7,6
Journal of the Health Sciences Institute 1 7,6
Revista Eletrônica Gestão & Saúde 1 7,6
Revista Mineira de Enfermagem 1 7,6
Revista Interdisciplinar 1 7,6
Salusvita 1 7,6
TOTAL 13 100

No Quadro 2, observa-se que 15,3% dos artigos científicos pesquisados foram publi-
cados na Revista Brasileira de Enfermagem, seguido de 7,6% das demais revistas.

364
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
A distribuição cronológica das publicações encontradas relacionadas a SAE nos pe-
ríodos pesquisados (Gráfico 2).

Gráfico 2. Distribuição da produção cientifica sobre Sistematização da Assistência de Enfermagem no Pré Natal.

Houve um aumento de publicações nos anos de 2013 com 23% de publicações, se-
guido de 2015 com 15,3% dos artigos com enfoque na Sistematização da Assistência de
Enfermagem no Pré Natal. Isso reflete a preocupação dos enfermeiros em implementar as
ações que compete a esta categoria. É perceptível que ao passar dos anos a enfermagem
assim como outras profissões da área da saúde em geral está passando por um processo
de mudança e reconfiguração dos seus espaços, atividades e funções (Gráfico 2).
A SAE é permeada pelo método científico e compõe seis etapas: histórico de enferma-
gem, diagnóstico de enfermagem, plano assistencial, prescrição de enfermagem, evolução
e prognóstico de enfermagem (HORTA, 1979).
No Quadro 3, apresenta a descrição dos diagnósticos encontrados, é possível observa
as repetições dos diagnósticos no cuidado no pré-natal como algo além dos aspectos fisio-
lógicos das alterações, presente nos artigos 06 e 08, ambos apresentam pontos em comum,
quanto a preocupação com uma atenção holística e o cuidado no acolhimento da gestante,
evidenciando esses fatores como determinantes para a formação do vínculo terapêutico
necessário assegurando a eficácia no cuidado.

Quadro 3. Descrição dos diagnósticos de enfermagem enumerados nos artigos utilizados

Diagnósticos de enfermagem no pré-natal Repetições


Risco de infecção (DST/AIDS) III
Risco para infecção tétano puerperal e neonatal I
Déficit de autocuidado (banho e higiene) I
Dor aguda (membros inferiores, pelve, região inguinal e lombar) I
Padrão do sono perturbado I
Intolerância a atividade percebida I
365
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Diagnósticos de enfermagem no pré-natal Repetições
Incontinência urinária por pressão I
Comportamento de busca de saúde percebido I
Conhecimento deficiente (diferentes assuntos) I
Risco para amamentação ineficaz I
Risco para lesão fetal e materna (hipertensão arterial) I
Constipação II
Risco para lesão fetal (nicotina) I
Náusea III
Dor aguda III
Crescimento desproporcional da gestante I
Campo de energia perturbado I
Eliminação urinária prejudicada I
Risco para nutrição desequilibrada: mais que as necessidades corporais I
Risco para Nutrição desequilibrada: menos que as necessidades corporais I
Nutrição desequilibrada: menos que as necessidades corporais I
Integridade de pele prejudicada II
Risco de infecção (colo de útero) III
Risco para infecção (tétano) III
Membrana mucosa oral prejudicada I
Integridade tissular prejudicada (colo de útero) I
Risco de maternidade prejudicada I
Risco de baixa autoestima situacional II
Risco de motilidade gastrointestinal disfuncional I
Ansiedade I
Diarreia I
Nutrição desequilibrada mais que as necessidades corporais (sobrepeso) I
Fadiga (astenia) I
Risco de díade mãe/ feto I
Risco de paternidade ou maternidade prejudicada. I
Risco de sofrimento espiritual I
Risco de tensão do papel de cuidador I
Deambulação prejudicada I

Na visão de Martinelli et al., (2014), a gestação deve ser vista como parte do todo.
Quando o enfermeiro demostra interesse por valores culturais, função social dessa gestante,
preocupações e expectativas. O acolhimento deve ser visto como fator primordial para a
adesão da gestante a esse cuidado, assegurando que os princípios básicos do Sistema Único
de Saúde (SUS), integralidade, universalidade e equidade. Realizando uma assistência com
foco na integralidade o enfermeiro passa a visualizar de forma mais abrangente a gestante
e a entender suas ações e reações.
Souza et, al,. (2013), demostra o quanto as ações educativas, preventivas e promocio-
nais de saúde são a chave para o fortalecimento do vínculo entre gestantes e unidade de
serviço de saúde. Exigindo do profissional além de habilidades técnicas, sensibilidade para

366
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
entender o quão complexo é o ser humano e habilidades de comunicação apurada para
interagir de forma proveitosa com a população em geral, respeitando suas peculiaridades.
O papel de educador do enfermeiro é essencial para a adesão da gestante ao acom-
panhamento do pré-natal, o cuidado em ouvir de forma aberta, sem julgamentos, abordando
direitos da mulher, promoção da autoestima, autonomia entre outros assuntos de interesse
comuns ao período gravídico (SOUZA et, al., 2013).
A relação que existe entre o desenvolvimento fisiológico da gestação, o meio onde essa
gestação está inserida, as mudanças que terão de ser enfrentadas por essa gestante em
sua rotina, amamentação e cuidados com o recém-nascido, são temas serem abordados no
acompanhamento do pré-natal. Pontos esses que aproximam a gestante do serviço e que
podem diminuir complicações durante a gestação (LOWDERMILK, 2013).
Ambos defendem uma atenção individualizada e organizada de forma a atingir todas
as gestantes que procuram o serviço, objetivando a integração da usuária do serviço com
o prestador do serviço, o enfermeiro, focando sempre na atenção personalizada que pode
ser possibilitada através do uso de metodologias como a sistematização da assistência de
enfermagem que visa o indivíduo de forma holística.
Para Souza et, al., (2013), defendem que é função do enfermeiro, através de seu
atendimento atentar a problemas reais e potenciais tanto para a gestante quanto para sua
família e comunidade, prevendo a diminuição dos riscos para a gestante durante a gravi-
dez e após o parto.
Para que esse atendimento seja realizado de forma coesa e organizada, deve haver uma
metodologia específica, voltada para atenção individualizada, o uso do processo de enferma-
gem e suas etapas, onde as ações do enfermeiro devem de forma organizada, planejada e
sistemática reconhecer e aplicar de forma eficiente os cuidados de enfermagem específicos
e de forma individual a cada usuário do sistema de saúde (ALFAVARO-LEVEFRE, 2014).
Após utilização do processo de enfermagem no atendimento em uma unidade de pre-
ferência para gestantes de alto risco Medeiros, Santos, Cabral (2016), puderam observar
que grande parcela dos diagnósticos levantados por eles foram de risco, reforçando a ideia
de que o uso do processo de enfermagem na gestão de riscos relacionados à saúde da
puérpera evita que essas possibilidades de tornem reais.
Dentre os diagnósticos levantados nos trabalhos destacam-se Dor Aguda, Risco
de Infecção e Náuseas. Todos com vários fatores relacionados e evidências diversas.
Diagnósticos que podem estar relacionados a processo fisiológicos esperados dependendo
da idade gestacional, devem ser observados com atenção pelo enfermeiro já que podem
servir de alerta para possíveis agravos. O risco de infecção tem diversos fatores relacionados,

367
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
desde agravos por ISTs, exposição do colo do útero, ao processo do parto entre outros, deve
ser devidamente relacionado para determinar os cuidados específicos em cada situação.
Ao embasar seu atendimento nos princípios teórico-científicos da sistematização da
assistência de enfermagem, o enfermeiro adota uma metodologia que através de suas etapas
o torna capaz de identificar e avaliar os aspectos pertinentes ao processo saúde-doença e
as reações de seus pacientes. Uma ferramenta pertinente a esse processo é o diagnóstico
de enfermagem, que permite ao enfermeiro reconhecer as necessidades de cuidados da
pessoa ou grupo que está sendo acompanhado (ALFARO-LEFEVRE, 2014).
Os diagnósticos de enfermagem são a melhor forma de direcionar da assistência de
enfermagem segunda as necessidades do cliente sua continuidade e escolhas das interven-
ções que mais se adequam a realidade do serviço. Após as orientações realizadas durante o
pré-natal, preparam os pais para as dificuldades que enfrentaram após o nascimento de uma
criança. Observa-se em todos as situações onde o enfermeiro põe em prática o processo
de enfermagem aumenta a autonomia e a qualidade do serviço prestado.

CONCLUSÃO

A utilização do processo de enfermagem, em cada uma de suas 5 etapas traduz a


essência da assistência do enfermeiro moderno. Que se preocupa com a qualidade, efi-
ciência e exclusividade de seu atendimento. Ao entender a necessidade da de cada etapa
e a grandiosidade que sua linha de cuidado ganha ao compreender seu cliente de forma
holística, integral, individual e como um ser comunitário o enfermeiro passa a desenvolver
uma habilidade de alcançar níveis mais complexos em sua prestação de serviço.
A preocupação em ver o cliente como um ser complexo e não apenas a patologia que
ele apresenta, ou como no caso específico do pré-natal, a gestante não somente como uma
reprodutora, reitera os princípios básicos de uma assistência baseada em aspectos biopsico-
sociocultural possibilitando o entendimento de muitas manifestações reflexas em sua saúde.
Quando a gestante procura o serviço de saúde, para o início do pré-natal, ela traz
consigo uma gama de aspectos muito maior que o desenvolvimento biológico de seu bebê.
Ela representa uma família com suas características próprias, o meio onde a gestação está
inserida, mudanças e expectativas individuais.
Cabe ao enfermeiro, ao realizar uma boa anamnese, um detalhado exame físico,
embasar suas condutas em uma teoria de enfermagem direcionando sua preocupação aos
diagnósticos de enfermagem utilizando a taxonomia apropriada de NANDA para assim focar
seus cuidados e orientações, sabendo que essa cliente será atendida de forma especial,
individual. Respeitando duas peculiaridades, dando a ela uma autonomia e preparo para
entender todos os aspectos envolvidos.
368
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Logo, através da implementação do processo de enfermagem nas consultas do acom-
panhamento do pré-natal, obedecendo a ordem das etapas pré-estabelecidas, embasado em
uma teoria de enfermagem e utilizando a taxonomia NANDA de diagnósticos de enferma-
gem, todos os aspectos da assistência serão contemplados melhorando significativamente
a qualidade desse atendimento aumentando a sensibilização da gestante as orientações e
cuidados propostos pelo enfermeiro em seu plano de cuidado.
Assegurando dessa maneira um pré-natal de alta qualidade, formação de vínculo te-
rapêutico e ainda uma gestante ciente e segura das mudanças que acorrem em seu corpo,
comunidade e seio familiar, tornando-a protagonista em sua gestação e por consequência
com menores chances de complicações durante o parto e puerpério.

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370
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
26
Trajetórias terapêuticas de mulheres
com câncer do colo do útero: o estado
da arte

Anna Flávia Silva do Nascimento


UFJF

Andyara do Carmo Pinto Coelho Paiva


UFJF

Fabíola Lisboa da Silveira Fortes


UFJF

Elaine Miguel Delvivo Farão


UFJF

Thaís Vasconselos Amorim


UFJF

Michelle Souza Nascimento


UFJF

10.37885/210303616
RESUMO

Introdução: Entre os tipos de cânceres existentes, o do colo do útero é o terceiro mais


frequente entre as mulheres, no entanto com a detecção precoce a possibilidade de cura
chega a 95%. A mulher percorre toda rede assistencial buscando uma solução para a
doença, essa trajetória é denominada de Itinerário Terapêutico. Objetivo: Mapear o
estado da arte da produção científica acerca do tema trajetória terapêutica de mulheres
com câncer do colo do útero no sistema público brasileiro. Método: Trata-se de uma
revisão integrativa, realizada de agosto a outubro de 2020, com dados pesquisados nas
bases de dados PubMed, Scielo, Cinahl e Lilacs, seguindo as recomendações Prisma.
Resultados: As produções analisadas e interpretadas desvelam dois aspectos que
dificultam a trajetória terapêutica da mulher: a organização dos serviços de saúde, que
perpassa o acesso aos diferentes dispositivos da rede e a integralidade do cuidado; e a
insatisfação com o atendimento oferecido pelos profissionais de saúde. Considerações
finais: A assistência no sistema público brasileiro apresenta barreiras que dificultam o
controle e tratamento do câncer nos diferentes níveis tecnológicos. Sabe-se que a traje-
tória terapêutica de cada mulher é singular e os obstáculos encontrados podem afetá-las
de formas distintas, de acordo com as condições socioeconômicas e culturais.

Palavras-chave: Câncer do Colo do Útero, Itinerário Terapêutico, Enfermagem, Acesso


aos Serviços de Saúde, Atitudes Frente à Saúde.

372
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

O câncer é considerado mundialmente um problema de saúde pública com maior inci-


dência em países menos desenvolvidos. Entre os tipos de cânceres existentes, o do colo do
útero é o terceiro mais frequente entre as mulheres (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER
JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA, 2020).
No Brasil, estima-se para cada ano do triênio 2020-2022, 15.590 casos novos de
câncer do colo uterino, o que representa 15,43 casos para 100 mil mulheres. Nota-se que
a região norte do país se destaca quanto à incidência dessa doença, apresentando a maior
taxa quando comparada aos outros estados (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ
ALENCAR GOMES DA SILVA, 2020).
O câncer do colo do útero (CCU) ou câncer cervical é caracterizado pelo aumento
progressivo de células malignas, causado pela infecção do Papilomavírus Humano (HPV)
com os subtipos 16 e 18 em cerca de 70% dos casos. Mesmo com uma elevada taxa de
mortalidade, quando diagnosticado precocemente pode chegar a 95% de chances de cura
(INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA, 2019).
Acredita-se que o câncer do colo do útero pode ser eliminado como problema de saúde
pública, por meio das estratégias de tripla intervenção: vacinação contra o HPV, triagem e
ampliação do tratamento. Com a estratégia, estima-se para o ano de 2030 um saldo inferior
de, aproximadamente, 300.000 mortes de câncer do colo do útero em países de baixa e média
renda e para o ano de 2120 uma redução de 99% no número de mortalidade (GUTTEKIN
et al., 2020; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2019).
No Brasil, o rastreio é realizado por meio do exame Papanicolau (ou preventivo) anual-
mente em mulheres a partir de 25 anos e após dois exames consecutivos negativos, reco-
menda-se o intervalo de três anos (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR
GOMES DA SILVA, 2019).
As ações brasileiras de controle deram início em 1984, com o Programa “Assistência
Integral à Saúde da Mulher”, que apresentava como um dos pilares a prevenção do câncer
cervical. Através da Portaria GM/MS nº 3040/98, foi criado o Sistema de Informação do cân-
cer do colo do útero (SISCOLO) com o objetivo de monitorar as atividades desenvolvidas
pelos profissionais, além de estratégias para estruturar a rede assistencial, visando alcançar
e mobilizar mulheres em todas as regiões do país (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER
JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA, 2016).
Observa-se que os dados epidemiológicos do CCU ainda são alarmantes, mesmo
com os avanços nas políticas públicas que têm priorizado ações de prevenção primá-
ria e detecção precoce, o que se justifica pela baixa cobertura que não alcança os 80%
(OLIVEIRA et al., 2018).
373
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Considerando o trabalho em redes de atenção, a proposta é que a mulher seja rastrea-
da para o câncer cervical na atenção primária à saúde e, em seguida, havendo indicação,
seja encaminhada para os outros níveis de atenção (BARROS et al., 2019). A finalidade é
prestar um atendimento humanizado e integral, envolvendo ações de prevenção primária,
rastreamento, diagnóstico, tratamento oportuno e reabilitação, perpassando pela Atenção
Primária, Secundária e Terciária (BARROS et al., 2019).
O enfermeiro é um dos profissionais envolvidos no cuidado, realizando desde ações de
educação em saúde em salas de espera, escolas, outros espaços comunitários até a coleta
do exame, avaliação do resultado e encaminhamento da mulher para Atenção Secundária
(AOYAMA et al., 2019). Cabe ao profissional prestar assistência a essa mulher em todo o
seu processo de doença com um olhar humanizado fornecendo melhores condições em
todos os níveis de atenção (CARNEIRO et al., 2019).
A mulher percorre toda rede assistencial buscando uma solução para a doença, essa
trajetória é denominada de Itinerário Terapêutico (FUNDATO et al., 2012; SIQUEIRA; JESUS;
CAMARGO, 2016). O percurso traçado terá resultados distintos, visto que cada pessoa
busca e encara a doença em sua singularidade, podendo ter influências socioeconômicas
e culturais, a maneira no qual vive, os impactos frente à doença, e o significado de saúde
e doença, onde cada pessoa terá comportamentos diferentes para solucionar o problema
(YOUNES; RIZZOTTO; ARAÚJO, 2017).
Mediante a falta de acesso aos serviços, na tentativa de suprir essa deficiência, o
usuário procura meios para dar resolutividade aos seus problemas, dentre eles, destaca-se
os gastos com exames e consultas na rede privada (DEBUS et al., 2018), no entanto, isso
não é possível a todos que vivenciam a mesma realidade.
Conhecer como tem sido o percurso da mulher na rede assistencial possibilitará com-
preender possíveis lacunas que precisam ser repensadas, discutidas e pesquisadas, visando
um atendimento integral, resolutivo, de qualidade e amplo em todo o território nacional. O ob-
jetivo deste estudo é mapear o estado da arte da produção científica acerca do tema trajetória
terapêutica de mulheres com câncer do colo do útero, no sistema público brasileiro.

DESENVOLVIMENTO

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo com coleta de dados realizado a partir de estudos primários, por
meio de levantamento bibliográfico das evidências disponíveis. Para seu desenvolvimento
as seguintes etapas foram empregadas: definição do objetivo do estudo, assim como a
questão norteadora, estabelecimento dos critérios de inclusão da amostra, elucidação das
374
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
informações a serem extraídas dos artigos, análise dos resultados, apresentação dos resul-
tados e discussão e conclusão dos achados da revisão (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010).
A coleta de dados foi realizada de agosto a outubro de 2020, baseando-se na questão
norteadora: “qual é a trajetória terapêutica de mulheres com câncer de colo do útero no sis-
tema público de saúde brasileiro?”. As produções que não atendiam a essa questão foram
automaticamente excluídas.
Por meio do acesso ao conteúdo assinado do Portal de Periódicos da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), via login institucional da
Universidade Federal de Juiz de Fora, realizou-se uma busca nas seguintes bases de da-
dos: Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), Literatura Latino-
Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and
Retrieval System online (MEDLINE/Pubmed) e Scientific Electronic Library Online (SCIELO).
Foram utilizados os seguintes descritores, contidos nos Descritores em Ciência da
Saúde (DeCS), e suas combinações por meio do booleano “AND”, nos idiomas português e
inglês: “Neoplasias do Colo do Útero”, “Acesso aos serviços de saúde”, “Sistema de saúde’’
e “Assistência integral à saúde’’ (figura 1).

Figura 1. Descritores utilizados nas bases de dados Cinahl, Pubmed, Lilacs e Scielo.

Os critérios de inclusão definidos para a seleção das produções científicas foram: artigos
publicados na literatura nacional e internacional, cujo foco tenha sido a trajetória terapêutica
de mulheres com câncer do colo do útero no sistema público de saúde do Brasil, nos últimos
15 anos. O recorte temporal tem como referência a Política Nacional de Atenção
Oncológica em 2005, que estabeleceu o controle do câncer do colo do útero como
componente fundamental a ser previsto nos planos estaduais e municipais de saúde. Foram
excluídas resenhas, editoriais, artigos de revisão e os originais que, após leitura do título,
resumo e artigo na íntegra, não respondiam à questão norteadora desta revisão.
Após a definição do estudo, os dados foram computados de acordo com cada etapa
realizada. A primeira etapa consistiu em realizar a busca nas bases de dados sem a utilização
do filtro, totalizando 3203 artigos, dos quais apenas 1013 apresentaram texto completo e
ano de publicação estabelecido no critério de inclusão. Foram excluídos 167 artigos devido
a duplicidade de materiais. No total, 846 artigos passaram para análise dos títulos, sendo
excluídos 739 por não apresentar o tema essencial para o trabalho. Após análise dos títulos,
375
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
108 artigos foram selecionados para leitura do resumo. Restaram 20 artigos para leitura na
íntegra. Após a leitura completa dos artigos, 12 foram excluídos por não retratarem o sistema
público brasileiro.
Os artigos selecionados passaram por quatro análises, respectivamente, a exclusão de
artigos duplicados, leitura do título, dos resumos e do artigo na íntegra. A figura 2 apresenta
o fluxograma do processo de seleção das produções científicas que constituíram a amostra
deste estudo. A seleção seguiu as recomendações PRISMA (Preferred Reporting Items for
Systematic Reviews and Meta- Analyses) para melhorar a qualidade da pesquisa de revisão
(GALVÃO; PANSANI; HARRAD, 2015).

Figura 2. Fluxograma do resultado das pesquisas nas bases de dados Cinahl, Medline, Lilacs, Scielo.

Fonte: elaborada pelas autoras (2021) e adaptado de Galvão, Pansani e Harrad (2015).

Para categorizar o nível de evidência, baseou-se nas recomendações da Agency for


Health care Research and Quality (AHRQ), em sete níveis de classificação: nível 1, revisão
sistemática ou metanálise de ensaios clínicos controlados; nível 2, ensaio clínico controlado
randomizado bem delineado; nível 3, ensaio clínico controlado sem randomização; nível 4,
estudos de coorte ou caso-controle bem delineados; nível 5, revisão sistemática de estudos
qualitativos e descritivos; nível 6, estudos descritivos ou qualitativos; e nível 7, opinião de
autoridades ou especialistas (GALVÃO, 2006).
Para extração dos dados, formulou-se um quadro de modo a facilitar a análise e ca-
racterização das publicações da amostra. Este continha as seguintes informações: nome da
376
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
publicação e autores, base e periódico em que foi publicado, população e cenário de estudo,
desenho do estudo e método, objeto de estudo, resultados e nível de evidência.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A amostra final compreendeu oito publicações, sendo 70% dos estudos encontrados
na base de dados da Scielo e 15% na Lilacs e 15% na Cinahl. Quanto ao ano dos estudos,
identificou-se um em 2009 (13%), 2011(13%) e 2014(13%), após esse período os trabalhos
encontrados foram referentes aos anos de 2018 e 2019, com 24% e 37% respectivamente.
Em relação ao nível de evidência, a totalidade foi classificada como nível VI. Dentre os
delineamentos adotados, predominou os estudos qualitativos (65%) e, em menor número,
foram identificados quanti-qualitativos (35%).
Analisando os dados, o perfil das participantes dos estudos é: mulheres na faixa etária
de 25 a 73 anos, com diagnóstico de câncer do colo do útero, predominantemente residentes
em áreas urbanas.
Segundo evidências, a prevalência de mulheres diagnosticadas com CCU compreende
o intervalo de 40 a 49 anos em 30,24% (VAZ et al., 2020) ou até mesmo 39,3% dos casos.
Esse tipo de câncer é raro em mulheres com idade inferior a 30 anos, contudo há uma in-
cidência de 5% dos casos (FERES et al., 2018). O índice de acometimento ultrapassa os
10% em mulheres com idade superior a 65 anos, consideradas fora da faixa etária para o
rastreio da doença, segundo recomendações do Ministério da Saúde (FAVARO et al., 2019;
VAZ et al., 2020).
As produções analisadas e interpretadas desvelam dois aspectos que dificultam a
trajetória terapêutica da mulher no que se refere à prevenção e controle do câncer do colo
do útero: a organização dos serviços de saúde, que perpassa o acesso aos diferentes dis-
positivos da rede e a integralidade do cuidado e a insatisfação com o atendimento oferecido
pelos profissionais de saúde.
As publicações receberam um código alfanumérico de E1 a E8 para melhor organização
dos resultados e facilitar a análise e discussão. Na figura 3 é possível acessar as publica-
ções que constituem essa revisão com os principais resultados encontrados e o respectivo
nível de evidência.

377
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Figura 3. Publicações selecionadas para a revisão integrativa.

Estudos sobre o itinerário terapêutico são bem recentes no Brasil, conteúdos conceituam
o tema como uma trajetória realizada pelo usuário nas instituições de saúde, na lógica do
modelo biomédico, numa relação entre doença e cura, entretanto, esse modelo não pode
ser considerado único e preciso para todos, haja vista que as singularidades do indivíduo
precisam ser consideradas (PINHO; PEREIRA, 2012).
A construção da trajetória terapêutica não segue um padrão único (E3), ora há soluções
empíricas, ora populares ou médicas. Com isso, a busca por remédios caseiros, grupos
religiosos e até mesmo a maneira como a mulher vivencia o CCU influência nesse percurso
(E1, E3). Cada pessoa vai efetivar o seu itinerário conforme suas crenças, suas condições
378
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
econômicas e a possibilidade de acesso aos serviços que compõem a Rede de Atenção à
Saúde (RAS) (SILVA-JUNIOR; GONÇALVES; DEMÉTRIO, 2013).
A proposta da criação da RAS é acabar com o sistema fragmentado, ofertando serviços
em saúde em diferentes níveis tecnológicos. Esses níveis são graduados em menor densi-
dade (atenção primária), média densidade (atenção secundária) e alta densidade (atenção
terciária). Após a sua implementação foram estabelecidas diretrizes para sua estruturação
com o propósito de assegurar às pessoas um atendimento com eficácia e efetividade, de
forma integral (BRASIL, 2010).
A atenção primária é a principal porta de entrada do Sistema Único de Saúde
(SUS) com papel organizador e coordenador do cuidado, com recursos para o rastrea-
mento e prevenção do câncer do colo do útero, como a oferta do exame Papanicolau
(SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS, 2020). Para Martins e co-
laboradores (2019) muitos desafios organizacionais ainda precisam ser superados para a
efetivação do seu papel dentro da rede de saúde.
Em consonância com tal afirmativa, os estudos E1 e E4 evidenciam barreiras na aten-
ção primária. As dificuldades no acesso estão relacionadas com a baixa oferta de consultas,
por conseguinte as idas aos serviços de saúde tornam-se esporádicas. Como resultado
nota-se uma baixa procura pelo exame preventivo, dificultando o rastreamento do CCU nos
estágios iniciais.
A baixa adesão ao exame preventivo pode ser considerada devido à dinâmica dos
serviços e falta de informações acerca do exame. O serviço de saúde deverá proporcionar
à mulher um acesso facilitado e oferecer uma assistência resolutiva e de qualidade de modo
que os profissionais estabeleçam uma relação de vínculo e confiança com as usuárias,
para que elas procurem os serviços de saúde com mais frequência (SMIESKIL; DULLIUS;
VENAZZI, 2018). As deficiências nos serviços da atenção básica devido à dinâmica e bu-
rocratização dos serviços comprometem a acessibilidade, integralidade e efetividade dos
atendimentos (E4).
Na presença de uma alteração no exame Papanicolau a mulher é encaminhada
para atenção secundária, onde a mesma será atendida por um especialista nos ambula-
tórios ou hospitais e realizará a investigação diagnóstica para o câncer do colo do útero
(SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS, 2020).
Na sua trajetória terapêutica, mulheres evidenciaram nos estudos E4 e E5 a demora no
diagnóstico como uma barreira existente nos serviços da atenção secundária, dificultando as
possibilidades de tratamento para o CCU, de forma precoce as chances de cura podem che-
gar a 95% (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA, 2016).

379
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
A precariedade na organização dos serviços na atenção secundária, com o não se-
guimento do fluxo estabelecido pelo Ministério da Saúde, gera o aumento considerável de
biópsias e atendimentos indevidos (E4). Os segmentos ineficazes contribuem para um pior
prognóstico do câncer com demoras na tomada de decisão do especialista. O encaminha-
mento, bem como a solicitação inadequada de mulheres para os serviços especializados
contribuem para um atendimento fragmentado, com sobrecarga dos serviços e, consequen-
temente, a falta de vagas para atender a demanda (SILVA, 2020).
Em contrapartida, E7 afirma que mesmo com o encaminhamento inadequado e a super-
lotação da atenção especializada, as mulheres vivenciam um fluxo facilitado para conseguir
os atendimentos, com espera de até 20 dias. Porém, os dados evidentes no estudo E5, reve-
lam as dificuldades no diagnóstico, com a média de 115,4 dias para o início do tratamento.
De acordo com a Lei 12.732, de 22 de Novembro de 2012, a pessoa com neopla-
sia maligna deverá iniciar o primeiro tratamento até 60 dias do seu diagnóstico (BRASIL,
2012). No entanto, as dificuldades no acesso aos dispositivos da rede após o diagnóstico
vão de encontro às determinações legais. Para Medeiros e colaboradores (2020) há a ne-
cessidade de priorizar e reorganizar políticas e fiscalização da atenção aos pacientes com
câncer. Sabe-se que a identificação tardia diminui as chances de cura e contribui para o
uso de tratamentos mais agressivos, além de causar um comprometimento físico e psico-
lógico nas mulheres.
Ao se deparar com as dificuldades no acesso aos serviços públicos, a possibilidade do
serviço privado passa a ser considerado por elas (E6 e E8). Em busca de um diagnóstico
em um tempo menor do que seria possível nos SUS, os serviços privados passam a compor
a trajetória terapêutica. Nota-se, no entanto, o retorno para os serviços públicos quando o
privado não dispõe dos tratamentos necessários (LIMA et al., 2018).
Os próprios profissionais da rede aconselham a procura por esses serviços e facilitam
o retorno delas para o atendimento no sistema público de saúde. Por outro lado, ao não
apresentarem uma condição financeira que as possibilitem adentrar nos espaços privados
algumas traçam caminhos diferentes, buscando por atendimentos e tratamentos alternati-
vos e até mesmo a desistência pela cura da doença (E1, E3). Os níveis econômicos estão
diretamente relacionados com a saúde da população, aos que apresentam baixa renda
vivenciam dificuldades no acesso aos serviços de saúde e apresentam piores condições de
saúde (ALMEIDA, 2018).
As mulheres vivenciam uma longa trajetória em busca de um atendimento integral
nos dispositivos que compõem a RAS, desde a realização do exame Papanicolau na uni-
dade básica de saúde até o tratamento. Os estudos E1, E4, E5, E6 evidenciam alguns
obstáculos enfrentados por essas mulheres ao transitarem na rede, destacam-se: longas
380
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
filas, dificuldades de chegar até aos serviços de saúde e de marcar consultas, demora no
atendimento e entrega dos resultados de exame, além da falta de informações advinda
dos profissionais.
No Brasil, as barreiras organizacionais como acessibilidade e disponibilidade dos ser-
viços são semelhantes em diferentes cenários territoriais. No que concerne à acessibilidade,
o tempo gasto para chegar aos locais e o custo são impasses para a procura dos serviços,
bem como a disponibilidade diante da falta de profissionais, falta de vagas e tempo de espera
inoportuno (OLIVEIRA et al., 2019).
Os obstáculos geográficos são evidenciados no estudo E5, em que mulheres residentes
em áreas afastadas apresentam maiores dificuldades no acesso aos serviços. Garnelo e
colaboradores (2018) afirmam que usuários residentes na região rural apresentam maiores
dificuldades no acesso aos serviços, devido ao distanciamento entre a residência e unidade
de saúde, horários de funcionamento e falta de informações. Além disso, muitas vezes, es-
ses usuários chegam aos serviços e se deparam com a indisponibilidade dos atendimentos.
Com a desarticulação da rede e a morosidade em conseguir o atendimento necessá-
rio contribuem para desfechos negativos, dentre eles, a menor chance de cura e impactos
irreversíveis na qualidade de vida da pessoa que enfrenta a doença. No entanto, o fortale-
cimento da rede assistencial oncológica gera impacto nos números de casos, reduzindo os
índices de mortalidade do câncer do colo do útero (AQUINO et al., 2018). A busca por um
atendimento contínuo às mulheres, envolve a atuação dos gestores e diferentes serviços
assistenciais, desenvolvendo tarefas coletivas por meio do diálogo em prol de uma rede
potente (CORTES; PADOIN; KINALSKI, 2016).
Na construção da trajetória terapêutica vários sentimentos e sofrimento são desperta-
dos na mulher com câncer do colo do útero (E3). Essas mulheres vivenciam no momento do
diagnóstico como algo difícil de enfrentar, com momentos de incertezas e expectativas de
vida (SILVA; SILVA, 2017). Existe um grande estigma ao falar do câncer, muitas das vezes
é omitido ou impronunciável, considerado como morte e sofrimento. Frente ao diagnóstico do
câncer do colo do útero, a mulher vivencia o medo, dor, desespero e até mesmo a negação
da doença (SILVA et al., 2018). Os sentimentos despertados podem influenciar negativamen-
te na prática de prevenção e tratamento do câncer do colo do útero (GOMES et al., 2017).
Diferentes profissionais estão envolvidos na trajetória terapêutica da mulher. Compondo
a equipe multiprofissional, o enfermeiro contribui para o controle do CCU, desde o desenvol-
vimento de práticas educativas até a realização do Papanicolau. Ressalta-se a importância
do acompanhamento durante todo o processo de adoecimento, utilizando diversas estra-
tégias para prestar o cuidado à pessoa e seus familiares (FERRAZ; JESUS; LEITE, 2019).

381
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Os estudos E2 e E7 evidenciam as condutas profissionais frente ao controle do
CCU. Em uma relação verticalizada (E2), o profissional se apropria do corpo feminino,
deixando a mulher frágil e com sentimento de impotência, desproteção e perda do domínio
do próprio corpo.
Essa relação não é pautada no respeito, na escuta e em uma posição acolhedora
(E7). É fundamental que os profissionais envolvidos estejam preparados para assistir a mulher
em suas singularidades, vislumbrando o contexto de vida da pessoa, e se afastar do modelo
centrado na doença e na lógica produtivista que visa o número de mulheres atendidas ao
dia e não a qualidade da assistência prestada (COSTA et al., 2017).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O câncer do colo do útero, mesmo sendo rastreável, ainda acomete milhares de bra-
sileiras, sendo considerado um problema de saúde pública. De acordo com os estudos
primários analisados não há uma similaridade na construção da trajetória terapêutica das
mulheres diagnosticadas com CCU.
A trajetória terapêutica de cada mulher é singular e os obstáculos encontrados nos
diferentes níveis de atenção podem afetá-las de formas distintas, de acordo com as con-
dições socioeconômicas e culturais. O enfermeiro, um dos profissionais que acompanha a
mulher nos diferentes serviços da rede deverá prestar assistência de qualidade, com um
olhar holístico se afastando do modelo biomédico, considerando diferentes condições que
afetam a mulher em seu processo de doença.
Ao mapear o estado da arte da produção científica acerca do tema trajetória terapêu-
tica de mulheres com câncer do colo do útero, no sistema público, notam-se barreiras que
dificultam o controle e tratamento do câncer nos diferentes níveis tecnológicos, perpassando
por dificuldades na atenção primária, como a entrada nos serviços, a demora do diagnósti-
co dentro dos serviços especializados, e a peregrinação na atenção terciária em busca do
tratamento da doença. Aos serviços privados passam a compor a trajetória terapêutica não
com papel complementar dentro da rede pública.
Diante desse cenário, revela-se a necessidade de planejamento dos gestores e profis-
sionais de saúde para garantir à mulher um cuidado integral e acessível, ampliando a oferta
dos serviços disponibilizados pelo SUS, nos diferentes níveis de atenção, e prestando um
atendimento rápido e eficaz na intenção de alcançar um melhor prognóstico da doença.
Com a oferta considerável do exame Papanicolau e melhora nos resultados diagnósticos,
haverá consequentemente a diminuição de novos casos de câncer cervical e óbitos. Esses
resultados irão impactar diretamente nos gastos públicos, com a redução de internações,
oferta de procedimentos cirúrgicos e terapias para o tratamento do câncer.
382
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Diante aos resultados obtidos faz-se necessário pesquisas futuras sobre o itinerário
terapêutico de mulheres com câncer do colo do útero com ênfase nas ações profissionais
com a perspectiva de melhores projeções e reflexões sobre o processo de trabalho.

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386
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
27
Uso de substâncias psicoativas por
gestantes e puérperas: problemas
acarretados à saúde materno-infantil

Karen Barcelos Lopes


UFPEL

Juliane Portella Ribeiro


UFPEL

Melissa Hartmann
UFPEL

Amanda do Rosário Tavares


UFPEL

Matheus dos Santos Rodrigues


UFPEL

10.37885/210303863
RESUMO

Introdução: o presente estudo teve como objetivo identificar as repercussões do uso de


substâncias psicoativas, na gestação e puerpério, à saúde materno-infantil. Materiais
e Métodos: Revisão integrativa da literatura realizada na Public Medical (PubMed), na
Bases de dados de Enfermagem (Bdenf); na Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Ciências da Saúde (LILACS) e na Scientific Eletronic Library Online (SciELO). Foram
incluídos no estudo artigos científicos publicados no período 2014 a 2019. Resultados:
foram selecionados 40 artigos, cujos resultados apontaram que o uso de substâncias
psicoativas culmina em problemas como: malformações fetais; aborto e morte neonatal;
problemas biopsicossociais e espirituais. Discussão: os artigos analisados evidenciam
a importância de realizar o uso racional dos fármacos, avaliando seus riscos e benefí-
cios para o binômio mãe e bebê devido a possibilidade de problemas de malformações,
como também pela ocorrência de aborto e óbito neonatal. Conclusões: ressalta-se
como lacuna do conhecimento pesquisas que enfoquem as repercussões decorrentes
do uso de substâncias psicoativas nas dimensões psicossociais e espirituais, visto que
estas corroboram para a vulnerabilidade social, o enfraquecimento no vínculo familiar,
o distanciamento dos serviços de saúde e a fragmentação no cuidado à mulher usuária
de substâncias psicoativas no período gravídico-puerperal.

Palavras-chave: Gravidez, Período Pós-Parto, Usuário de Drogas, Transtornos Relacionados


ao Uso de Substâncias Psicoativas.

388
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

No atual contexto mundial está evidente que o uso de substâncias psicoativas é um


importante problema de saúde pública, que vem repercutindo de maneira assustadora,
visto que suas consequências e impactos interferem diretamente na saúde do indivíduo,
na vida das famílias e comunidade (ONU, 2020). O World Drug Report, publicado em 2019
pelo United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC) destaca que no ano de 2017, 271
milhões de pessoas, cerca de 5,5% da população global entre 15 e 64 anos, usou alguma
substância psicoativa (WORLD DRUG REPORT, 2019).
Especificamente, em relação às mulheres, estatísticas apontam que 85% das consumi-
doras estão na idade fértil (LOPES et al., 2011), utilizando substâncias inclusive no período
gravídico-puerperal. De acordo com United States Substance Abuse and Mental Health,
maior fonte de informação do Reino Unido, no ano de 2018, 5,4% das mulheres relataram
usar drogas ilícitas durante a gravidez, observando um aumento substancial quando compa-
rado com a 2010, em que 4,4% das mulheres relataram o uso (SUBSTANCE ABUSE AND
MENTAL HEALTH SERVICES ADMINISTRATION, 2019).
Em âmbito nacional, um estudo transversal, tipo coorte, realizado no Maranhão, com
uma amostra de 1447 gestantes, identificou que 1,45% fizeram uso de substâncias psicoa-
tivas (canabinoides e derivados e/ou cocaína e derivado), 22,32% de bebidas alcoólicas
e 4,22% utilizavam cigarro (ROCHA et al., 2016). Outra análise realizada no Sudoeste do
Brasil, com uma amostra de 1.797 consultas de pré-natal, identificou-se que no período da
gravidez as mulheres continuavam fazendo uso de substâncias psicoativas (MAIA et al., ).
Tendência semelhante foi observada no período puerperal, em estudo de coorte de
Campinas, com 674 mulheres, entre 2008 e 2012, em que cerca de 25% declararam o uso
de substâncias após o parto. Dessas, cerca de 5% utilizaram mais de uma substância con-
comitantemente, sendo o álcool (20,6%) a substância mais utilizada, seguido pelo tabaco
(13,2%), cocaína (2,3%) e maconha e outras drogas (1,9%) (PEREIRA, 2017).
Esses dados tornam-se ainda mais relevantes quando se considera que quase todas
as drogas atravessam barreira placentária, podendo causar danos ao feto, comprometendo
seu desenvolvimento e sua saúde (MINNES et al., 2011). Além disso, repercute na intera-
ção do binômio mãe e bebê, trazendo prejuízos de largo espectro como a suspensão do
aleitamento materno (BRASIL, 2009; XAVIER, 2018).
Embora os estudos desenvolvidos até o momento auxiliem no dimensionamento do
problema, a identificação do uso de substâncias psicoativas por gestantes e puérperas e
suas repercussões na saúde materno-infantil ainda é um desafio, pois na maioria das vezes
as mulheres negam o uso e a sintomatologia apresentada pode ser confundida com doenças
associadas à gestação (RAYBURN, 2007).
389
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Neste sentido, se faz imperativo olhar para mulher no período gravídico-puerperal de
uma forma sensível, considerando que exposição a substâncias psicoativas pode levar ao
comprometimento irreversível da integridade do binômio mãe e bebê (YAMAGUCHI et al.,
2008; FEBRASGO, 2018).
O presente estudo, buscando oferecer subsídios aos profissionais de saúde no desen-
volvimento de ações contextualizadas e efetivas na redução dos problemas decorrentes do
uso de substâncias psicoativas no período gravídico-puerperal, tem por objetivo identificar
as repercussões do uso de substâncias psicoativas, na gestação e puerpério, à saúde
materno-infantil.

MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de uma Revisão Integrativa (RI), que visa sintetizar resultados de pesquisas
anteriores, elucidando terminações do corpus da literatura sobre um fenômeno específico
(CROSSETTI, 2012), especificamente, os problemas acarretados à saúde materno-infantil
devido ao uso de substâncias psicoativas por gestantes e puérperas. Para o seu desenvolvi-
mento, foram seguidos seis passos: escolha e definição do tema e da pergunta norteadora;
busca ou amostragem na literatura; coleta de dados; análise crítica dos estudos incluídos
no resultado; discussão dos resultados; apresentação da RI (SOUZA et al., 2010).
A revisão norteou-se a partir da seguinte questão: Quais os problemas acarretados à
saúde materno-infantil devido ao uso de substâncias psicoativas por gestantes e puérperas?
Para que a busca fosse fidedigna aos achados nas bases, empreendeu-se busca em pares,
por diferentes pesquisadores, em junho de 2019.
Estabeleceu-se como critérios de inclusão do estudo: artigos científicos disponíveis
online na íntegra; nos idiomas de português, inglês e espanhol; com resumo, permitindo
verificar a consonância do artigo com o objetivo desse estudo; publicados nos últimos cinco
anos, de 2014 a 2019. Como critério de exclusão: artigos não disponíveis gratuitamente.
A coleta de dados ocorreu nas seguintes bases de dados: Public Medical (PubMed);
Bases de dados de Enfermagem (Bdenf); Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Eletronic Library Online (SciELO). A busca foi
realizada por intermédio dos descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e Medical Subject
Headings (Mesh Terms): “Gravidez/ Pregnancy/ Embarazo”; “Período Pós-Parto/ Postpartum
Period/ Periodo Posparto” “Usuários de drogas/ Drug Users/ Consumidores de Drogas”;
“Transtornos Relacionados ao Uso de substâncias/ Substance-Related Disorders/ Transtornos
Relacionados com Substâncias”, com os operadores booleanos AND e OR, de acordo com
a estratégia de busca explicita na figura 1:

390
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Figura 1. Estratégia de busca dos artigos científicos.

Foram localizadas 182 publicações nas quatro bases de dados: 135 (74,2%) na Pubmed;
11 (6%) na Bdenf; 32 (17,6%) no LILACS e quatro (2,2%) no SciELO. Do total, foram excluí-
dos 88 artigos a partir da leitura dos títulos, por não apresentarem relação com a temática
em estudo, assim, sendo selecionados 94 (51,6%) artigos.
Com a leitura dos resumos, foram excluídas as publicações que não atendiam aos ob-
jetivos desta revisão, reduzindo-se a 43 artigos. Também, foram excluídos três artigos que
se se repetiam entre as bases de dados, assim compondo a amostra do estudo 40 (21,9%)
artigos (Figura 2).

Figura 2. Resultados da busca de artigos nas bases de dados eletrônicas – Pelotas, RS, 2020.

Para a extração dos dados, foi desenvolvido pelos pesquisadores um quadro sinóp-
tico para facilitar a caracterização e análise dos artigos, com as seguintes informações:
391
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
identificação do artigo, bases de dados, ano de publicação, objetivos, delineamento do estu-
do, participantes, país de realização dos estudos e as repercussões do uso de substâncias
psicoativas à saúde materno-infantil.

RESULTADOS

A seguir será apresentada a análise bibliométrica dos artigos consultados, bem as ca-
tegorias emergidas a partir da análise dos mesmos, sendo elas: malformações fetais; aborto
e morte neonatal; problemas biopsicossocias e espirituais acarretados à mulher.

Análise bibliométrica dos artigos

Considerando a proporção de artigos publicados por ano, observa-se que no ano de


2015, houve um aumento quantitativo em relação a 2014, mantendo-se no ano seguinte.
Porém, após 2016 as publicações acerca desse tema apresentaram declínio, culminando
na ausência de publicações no ano de 2019.
Com relação aos descritores utilizados para indexação dos artigos, aponta-se o empre-
go de 103 termos entre descritores e palavras-chave, destacando-se Gestante (12 artigos),
Usuários de Drogas (quatro artigos), Transtornos relacionados ao Uso de Substâncias (três
artigos), Crack Cocaína (três artigos), Valproato (três artigos), má formação congênita (dois
artigos), Cuidados de Enfermagem (dois artigos), Puérpera e Período Pós Parto (um artigo);
os demais explicitavam nome de medicamentos e patologias/síndromes específicas.
Os periódicos com maior número de publicações estavam concentrados na área de
Medicina, com 32(80%) artigos; seguido da enfermagem com quatro (10%) artigos, sendo
eles: Revista Latino-Americana de Enfermagem, Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool
Drogas, Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste e Revista Baiana de Enfermagem.
Dois (5%) artigos foram divulgados em periódicos de Biologia, um (2,5%) artigo em periódico
de Farmacologia e um (2,5%) em periódicos que abordam temas multidisciplinares.
As amostras dos estudos apresentaram grande diversidade, no qual 12(30%) tinham
como participantes mulheres, oito (20%) gestantes, oito (20%) feto/recém-nascido, seis
(15%) crianças, quatro (10%) a díade mãe e bebê, dois (5%) puérperas, sendo que alguns
estudos associavam diferentes participantes. Com relação aos desfechos, os estudos apon-
taram como consequências à saúde fetal as malformações relacionadas ao uso de uma
determinada substância, abortos e mortes fetais, problemas biopsicossociais e espirituais
acarretados à mulher.

392
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Os locais de desenvolvimento das pesquisas incluíram 25 países, com destaque para
o Brasil com 10 estudos; Estados Unidos da América com seis e Reino Unido com cinco
estudos. Com relação à abordagem dos estudos, 34 eram quantitativos e seis qualitativo.
A coleta de dados constituiu-se de instrumentos como entrevistas, questionários,
registros em bancos de dados, prontuários, além da aplicabilidade de testes padroniza-
dos. Da mesma forma, a análise dos dados foi consoante às abordagens adotadas nos
estudos, utilizando análises estatísticas como o Oddis Ratio (OR), Teste T, qui-quadrado,
Análise de Variância (ANOVA), frequência relativa, regressão logística e análise descriti-
va, entre outros.
Com relação aos aspectos éticos, 29 (72,5%) artigos fazem referência a aprovação do
estudo em comitê de Ética em Pesquisa; e 22(55%) apontaram as limitações dos estudos.
Os artigos analisados apontaram resultados de estudos que visam investigar as reper-
cussões para o binômio mãe e bebê quando utilizado alguma substância psicoativa. São
elas: 30 artigos (75%) tiveram como consequências malformações, oito (20%) problemas
biopsicossociais e espirituais; um (2,5%) aborto fetal; um (2,5%) como consequência mal-
formação e aborto fetal concomitante.

DISCUSSÃO

Com base nos resultados, constatou-se que avaliar os problemas maternos fetais
devido ao uso de substâncias psicoativas tem sido uma preocupação mundialmente re-
corrente, visto que estudos de 25 países estudaram essas relações. Evidenciando que se
trata de um problema complexo e desafiador para os governantes, é elencada na agenda
de 2030 da Organização das Nações Unidas que reforça a necessidade de prevenção e
tratamento do uso de substâncias, incluindo o abuso de drogas entorpecentes e uso nocivo
de álcool (ONU, 2015).
Dos 40 artigos analisados, dez foram realizados no Brasil, tendo como foco investigar
as repercussões maternos fetais em relação ao uso de substâncias psicoativas. No entanto,
evidencia-se que há uma carência de estudos nacionais que investiguem problemas ma-
ternos fetais associados ao uso de fármacos no período gravídico-puerperal, o que diverge
dos estudos internacionais analisados.
O perfil de pesquisas no Brasil possivelmente esteja atrelado ao perfil de consumo
dos brasileiros em relação as substâncias psicoativas. Independentemente da idade e gê-
nero, o uso de drogas se expandiu consideravelmente nos últimos anos. O II Levantamento
Nacional de Álcool e Drogas (II LEVANTAMENTO NACIONAL DE ÁLCOOL E DROGAS,
2012) apontou que a maconha e o é a substância psicoativa de maior consumo tanto na
população adulta (6,8%), quanto na população adolescente (4,3%), no qual o uso de drogas
393
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
lícitas e a experimentação do álcool, têm iniciado cada vez mais precocemente. Entre as
mulheres a proporção das que experimentaram bebidas alcoólicas com menos de 15 anos
passou de 8% em 2006 para 17% em 2012 (BRASIL, 2019).
Ao analisar o ano das publicações, observou-se o aumento significativo a partir do
ano de 2014. Entretanto, posteriormente houve um declínio, culminando com a ausência de
publicações no ano de 2019. No âmbito nacional, acredita-se que redução nas publicações
ocorreu como reflexo do cenário político atual, que desvaloriza as pesquisas na área de
saúde mental, especialmente as que abordam substâncias psicoativas.
Considerando os descritores utilizados para indexação dos artigos, foi encontrada
uma diversidade de termos. Embora a maioria retrate o uso de uma determinada substância
psicoativa e patologias específicas decorrentes do uso dessas substâncias, não limitaram a
busca para este estudo, mas agregaram maior especificidade aos achados.
Em relação ao delineamento, a maioria dos estudos foram quantitativos e realizados
com mulheres, cujo escopo centrava-se em problemas acarretados à saúde fetal pelo uso
de substâncias psicoativas pela mãe. Em contrapartida, há poucos estudos sob o método
qualitativo e que visam observar às repercussões e problemas à saúde das gestantes e
puérperas. Assim, suscitando que novas pesquisas combinem ambas as abordagens, am-
pliando o foco de investigação sobre da mulher no período gravídico-puerperal.
Em relação ao eixo temático, os artigos analisados destacaram problemas relaciona-
dos a malformações fetais, decorrente do uso de fármacos; aborto e morte fetal, além de
problemas biopsicossociais e espirituais oriundos do uso de substâncias psicoativas.

Malformações fetais

A maioria dos artigos analisados (n=30) apontaram malformações fetais como pro-
blema decorrente do uso de substâncias psicoativas. Os estudos que investigaram os des-
fechos perinatais relacionados ao uso de fármacos para o tratamento de epilepsia duran-
te a gestação (BAN et al., 2015; VAJDA et al., 2016; MUTLU-ALBAYRAK et al., 2017;
STADELMAIER et al., 2017; WEN et al., 2017; PATORNO et al., 2017; THOMAS et al.,
2017; JAZAYERI et al., 2018) os quais apontaram malformações não especificadas (BAN
et al., 2015; TRINDADE-SEUEDAM et al., 2016 VAJDA et al., 2016; THOMAS et al., 2017),
alterações crânio faciais (MUTLU-ALBAYRAK et al., 2017; STADELMAIER et al., 2017;
JAZAYERI et al., 2018), neuropsicomotoras (THOMAS et al., 2017) e esqueléticas (MUTLU-
ALBAYRAK et al., 2017). Em contrapartida, outros estudos que avaliaram os riscos adversos
para mães e bebês não observaram associações significativas (MUTLU-ALBAYRAK et al.,
2017; PATORNO et al., 2017).

394
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Outros estudos que abordaram fármacos antidepressivos durante a gestação indica-
ram que os mesmos aumentaram o risco de algumas malformações cardíacas (BAN et al.,
2014), craniofaciais, digestivas, respiratórias (BÉRAD et al., 2017) e pé torto nos fetos
(YAZDY et al., 2014).
Os usos de antibióticos, frequentemente prescritos para o tratamento de infecções
do trato respiratório superior/Inferior, pele, trato intestinal e urinário durante a gestação
apresentaram piores desfechos perinatais, como fissuras orais, atresia de esôfago, hérnia
diafragmática, atresia/estenose anorretal (MUANDA et al., 2017), malformações do sistema
musculoesquelético e comunicação interventricular/interatrial (AILES et al., 2016).
Já, os estudos que buscavam analisar a associação de fármacos utilizados para trata-
mento de doenças crônicas e desfechos maternos fetais tiveram resultados distintos. Os mes-
mos apontam que o uso de anti-hipertensivos não foi associado risco aumentado de mal-
formações (SATO et al., 2015; BERGMAN et al., 2018). Entretanto, foi encontrado um novo
sinal entre os bloqueadores alfa e beta e a displasia renal multicística (BERGMAN et al.,
2018) e também a ocorrência de problemas cardíacos, crânio faciais e esquelético em filhos
de mulheres expostas a anti-hipertensivos (VAN et al., 2015).
Em relação ao diabetes mellitus e o uso de drogas, constatou-se que essas duas
variáveis aumentaram o risco de fissuras orofaciais e anomalias congênitas nas proles
(TRINDADE-SEUEDAM et al., 2016). Desfechos negativos também foram encontrados ao
analisar o uso de antidiabéticos com resultados perinatais, o qual foi associado à morte fetal
(SATO et al., 2015).
Pesquisa acerca da exposição materna a medicamentos para asma apontou risco
moderado para anomalias congênitas, com pouca diferença por idade materna ou condição
socioeconômica. Entretanto, foi associado o uso de corticosteróides inalatórios e beta-2-ago-
nistas de ação prolongada com atresia anal e defeitos cardíacos grave (GARNE et al., 2016).
O uso de inibidores do fator de necrose tumoral Alfa (TNF α), indicado para trata-
mento de condições inflamatórias crônicas, como doenças inflamatórias intestinais e
artrite reumatoide (GALESI et al., 2015), quando utilizado no primeiro trimestre de ges-
tação, apresentou associação com malformações congênitas e parto prematuro (WEBER-
SCHOENDORFER et al.,2015).
O estudo realizado na Dinamarca que analisou os defeitos congênitos das crianças
nascidas de mãe que foram expostas a drogas antitireoidianas constatou efeitos significativos
para malformações na região da face/pescoço e no sistema urinário (ANDERSEN et al., 2014).
O uso do tramadol, opiácio utilizado para analgesia de dores de intensidade mode-
rada à grave (CLORIDRATO DE TRAMADOL, 1999), por mulheres no início da gravidez,

395
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
apresentou fraco risco de malformação congênita em crianças expostas ao fármaco ou a
outros opiáceos durante o desenvolvimento inicial (KÄLLÉN; REIS, 2017).
Estudo que buscava analisar a relação entre a exposição precoce à terapia de repo-
sição de nicotina e tabagismo com anomalias congênitas na prole apontou que os filhos de
mulheres que fizeram o tratamento de reposição de nicotina no início da gravidez não tiveram
risco aumentado de anomalias congênita quando comparados com os filhos de mulheres
que fumaram durante a gravidez (DHALWANI et al., 2015).
Estudo Holandês, realizado mães cujo filhos haviam alguma anomalia congênita, evi-
denciou que as interações medicamentosas mediadas pela P-gp, que atua como uma bar-
reira placentária está intimamente relacionada a resistência à múltiplas drogas, estão as-
sociadas ao risco aumentado para anomalias específicas cardíacas e musculoesqueléticas
(DAUD et al., 2015).
Pesquisa que investigaram o uso de fármacos no tratamento dermatológico, fortemen-
te ligado a estética facial (CHU et al., 2016) não encontraram nenhum tipo consistente de
malformação (ZOMERDIJK et al., 2014; BRIN et al., 2016). No entanto, dados divergentes
foram observados na pesquisa realizada na Holanda, em que cinco dos 53 fetos expostos a
isotretinoína tiveram um desfecho adverso fetal ou neonatal, incluindo três mortes intraute-
rinas e dois nascidos vivos com anomalias congênitas maiores (ZOMERDIJK et al., 2014).
O uso de fármacos que atuam no sistema musculoesquelético apresentou um ris-
co significativamente aumentado para de anomalia congênita (CARBONELL et al., 2017).
Também, o uso de mesilato de Imatinibe, fármaco usado para tratar certos tipos de câncer,
revelou efeito teratogênico, causando malformações crânio faciais, dextrocardia, hemiver-
tebra na região torácica e espinha bífida occipital cervical, além de ventriculomegalia leve
(JAIN et al., 2015).
Os problemas materno-fetais referentes ao consumo de substâncias psicoativas ilíci-
tas e licitas por gestantes e puérperas apresentam a mesma magnitude que os fármacos
supracitados. O uso dessas substâncias psicoativas afeta diretamente a saúde do binômio
mãe e bebê. Nos lactentes, as consequências foram observadas no atraso do desenvolvi-
mento neuropsicomotor (CHANG et al., 2016), sendo mais afetada a área motora grossa,
maior prevalência de infecção neonatal, displasia broncopulmonar (PORTO et al., 2018)
e anomalias do sistema nervoso central com defeito não neural (DAVID et al., 2014). Nas
gestantes e puérperas as consequências observadas foram o aumento da frequência car-
díaca, complicações respiratórias, dor torácica, tremores, hiperatividade e má nutrição (
DIEHL et al., 2017).

396
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Aborto e Morte Neonatal

O uso de substâncias no período gravídico-puerperal pode colocar tanto as mulheres


como seus filhos em situações de risco. Estudo realizado na Holanda, com fetos expos-
tos a isotretinoína durante a gestação, tiveram um desfecho adverso fetal ou neonatal, in-
cluindo três mortes intrauterinas e dois nascidos vivos com anomalias congênitas maiores
(ZOMERDIJK et al., 2014).
Outro estudo que avaliou a prevalência de aborto provocado e condições sexuais evi-
denciou que os usuários de substâncias psicoativas que compunham a amostra relataram
episódio de aborto induzido, experiência homossexual em troca de drogas, baixa frequência
de uso de preservativo, mais episódios do uso da pílula do dia seguinte, maior número de
testagem de HIV e múltiplos parceiros, fatores positivamente associados ao histórico de
aborto induzido (DIEHL et al., 2017), culminando em problemas a saúde materna e fetal.

Problemas biopsicossociais e espirituais acarretados à mulher

As repercussões à saúde materno-infantil decorrentes do uso de substâncias psicoativas


não se restringem a questões biológicas, mas englobam também alterações psicossociais e
espirituais. Estudo com objetivo de identificar as repercussões biopsicossociais e espirituais
do uso do crack durante a gestação, apontou alterações psicológicas, como psicose, má
qualidade de sono e ideação suicida, além de problemas sociais como enfraquecimento do
vínculo familiar e exclusão social. A espiritualidade foi evidenciada como fator de proteção,
associada a interrupção do uso de substâncias psicoativas (REIS; LOUREIRO, 2015).
Estudos observaram associações com o uso de substância e aspectos sócio demo-
gráficos, no qual o consumo pode ser influenciado pela idade (DAVID et al., 2014; MELO
et al., 2014; SANTOS et al., 2016) nível de escolaridade, condições de moradia, remune-
ração (PORTO et al., 2018), multiparidade (MARONGONI; OLIVEIRA, 2015), estado civil
(ZAVASCHI et al., 2014) e etnia (MELO et al., 2014). Aspectos que corroboram para a ex-
clusão social (ZAVASCHI et al., 2014; DAUD et al., 2015; MARONGONI; OLIVEIRA, 2015)
e consequentemente podem dificultar a captação e cuidado das gestantes e puérperas
usuárias de substâncias, bem como a não adesão ao acompanhamento gestacional no
pré-natal ((ZAVASCHI et al., 2014;MELO et al., 2014; DAUD et al., 2015).
Não raro, as gestantes usuárias de substâncias buscam os serviços de saúde em
casos de urgência ou durante o trabalho de parto, fato que culmina em piores desfechos
maternos fetais (MALUENDA et al., 2017), como baixo peso ao nascer (ZAVASCHI et al.,
2014; OLIVEIRA et al., 2016), óbito neonatal (MARONGONI; OLIVEIRA, 2015), transmis-
são vertical de HIV (MELO et al., 2014). Além disso, esses resultados podem aumentar o
397
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
período de internação e utilização de leitos neonatais (MARONGONI; OLIVEIRA, 2015;
LIMA et al., 2018).

CONCLUSÕES

Os artigos analisados apontam que a produção científica internacional está voltada


para o uso de medicamentos por gestantes e puérperas, devido aos problemas de mal-
formações – crânio faciais, neuropsicomotor, musculoesqueléticas, cardíacas, digestivas
e respiratórias -, como também pela ocorrência de aborto e óbito neonatal. Esses estudos
evidenciam a importância de realizar o uso racional dos fármacos, visto que muitas vezes são
consumidos de forma errônea, havendo a necessidade de avaliar seus riscos e benefícios
para o binômio mãe e bebê.
Tal característica difere da produção científica nacional que aborda como problema de
saúde pública a prevalência do uso de substâncias psicoativas lícitas e ilícitas, como o álcool,
tabaco, maconha, cocaína e crack, de forma a dar visibilidade a temática e, consequen-
temente, a elaboração de políticas públicas que englobem ações de cuidado às mulheres
usuárias no período gravídico-puerperal.
Ressalta-se como lacuna do conhecimento pesquisas que enfoquem as repercussões
decorrentes do uso de substâncias psicoativas nas dimensões psicossociais e espirituais,
visto que estas corroboram para a vulnerabilidade social, enfraquecimento no vínculo fami-
liar, para o distanciamento dos serviços de saúde e a fragmentação no cuidado à mulher
usuária de substâncias psicoativas no período gravídico-puerperal. Dessa forma, é impe-
rativo atentar a integralidade do cuidado, considerando tanto as necessidades específicas
da gestação quanto do uso de substâncias psicoativas; fato que suscita a identificação de
novas estratégias de captação e cuidado à essa população.

CONFLITOS DE INTERESSE: nenhum declarado.

INFORMAÇÕES SOBRE FINANCIAMENTO

O artigo está vinculado ao projeto de Pesquisa intitulado “Uso de substâncias psi-


coativas por gestantes de alto risco e puérperas atendidas no amulatório do HE/UFPel/
EBSERH”. O presente estudo teve como fonte de financiamento à Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS) com a bolsa Iniciação Cientifica –
Edital CPESQ Nº 003/2019.

398
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
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403
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
28
Visão das mulheres sobre a sífilis na
gestação: subsídios para a assistência
de enfermagem

Diana da Silva Gonçalves


EEAN/UFRJ

Carla Luzia França Araújo


EEAN/UFRJ

Vanessa Damasceno Bastos


EEAN/UFRJ

10.37885/210303992
RESUMO

A sífilis na gestação impõe riscos obstétricos e neonatais adicionais, como aborto, parto
prematuro, morte neonatal e manifestações congênitas. Essas são situações passíveis de
prevenção com diagnóstico e tratamento oportunos, nas quais o enfermeiro apresenta-se
como corresponsável na promoção da saúde da mulher. A compreensão do conheci-
mento das mulheres sobre essa temática é uma importante estratégia para a redução
do ciclo da infecção e a possibilidade de se estabelecer o cuidado a partir da demanda
dessa clientela. Objetivo: Analisar o conhecimento da mulher sobre sífilis na gestação
e descrever as orientações recebidas sobre a prevenção de Infecções Sexualmente
Transmissíveis. Método: Pesquisa qualitativa descritiva-exploratória com participação
de 25 mulheres diagnosticadas com sífilis na gestação. O local de estudo foram duas
maternidades públicas do município do Rio de Janeiro, Brasil. As informações foram ob-
tidas através de um questionário semiestruturado e analisadas pelo Discurso do Sujeito
Coletivo. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Resultados: A partir
da transcrição das entrevistas e das ideias-centrais emergiram 4 categorias de análise:
1) conhecimento sobre Infecções Sexualmente Transmissíveis; 2) conhecimento sobre
sífilis na gestação; 3) conhecimento sobre transmissão vertical da sífilis; e 4) fontes de
informação. Conclusão: Verificou-se conhecimento superficial das mulheres sobre a
temática em estudo. Não foi observada relação entre o conhecimento quanto ao modo de
prevenção e transmissão das Infecções Sexualmente Transmissíveis com uso consistente
do preservativo. Ressalta-se o interesse dessas mulheres em esclarecer informações
sobre a sífilis na gestação, o tratamento e as suas repercussões maternas e fetais.

Palavras-chave: Conhecimento, Doenças Sexualmente Transmissíveis, Gestação, Sífilis,


Saúde da Mulher.

405
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

A sífilis é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) de evolução crônica e sis-


têmica causada pelo Treponema pallidum, bactéria gram-negativa de alta patogenicidade.
Com potencial de atravessar a barreira placentária, a infecção, decorrente da ausência do
tratamento ou quando este é realizado de forma inadequada, expõe o concepto ao risco de
Sífilis Congênita (SC) condição com potencial de ocasionar abortamento, natimortalidade,
sequelas como deficiência visual, auditiva, física e mental ou parto prematuro (BRASIL, 2018).
A sífilis na gestação leva a mais de 300 mil mortes fetais e neonatais por ano no mundo,
e coloca um adicional de 215 mil crianças em aumento do risco de morte prematura. Em 2016,
a taxa de incidência de sífilis congênita no Brasil foi de 6,8 por 1.000 nascidos vivos, di-
vergente da meta estabelecida pelo Ministério da Saúde, a partir da abordagem conjunta
adotada pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), de taxa menor ou igual a 0,5
casos por 1.000 nascidos vivos. Cabe destacar que instituição da notificação compulsória de
sífilis na gestante a partir de 2005, bem como da sífilis adquirida, em 2010, proporcionaram
melhor detecção e notificação dessa infecção. A Lista Nacional de Notificação Compulsória
de Doenças Agravos e Eventos de saúde pública nos serviços públicos e privados, esta-
belecida por meio da Portaria de Consolidação nº 4 de 28 de setembro de 2017, vigente
atualmente, traz ainda a obrigatoriedade da notificação da SC.
No ano de 2019, os casos de sífilis em gestantes notificados no Sistema de Informação
de Agravos de Notificação (Sinan) foi de 61.127 casos de sífilis em gestantes (taxa de detec-
ção de 20,8/1.000 nascidos vivos). Aproximadamente 39,5% desses casos, ou seja, 24.130
casos, culminaram em SC, o que retrata ainda grandes falhas no tratamento adequado
dessa infecção. A Região Sudeste apresenta maior taxa de detecção, com 27.585 mil casos
notificados de sífilis na gestação e 10.766 mil casos de SC, representando 44,6% dos casos
notificados no país. Nessa região, o Rio de Janeiro apresentou a maior taxa de sífilis em
gestante e congênita, desvelando problemas na qualidade da assistência pré-natal, uma vez
que a taxa de incidência de SC em menores de 1 ano expressa a qualidade da assistência
prestada durante o pré-natal (BRASIL, 2014; NONATO et al., 2015; BRASIL, 2020).
A assistência no ciclo gravídico puerperal envolve ações de promoção da saúde, pre-
venção, diagnóstico e tratamento oportuno de eventuais problemas incluindo a sífilis na ges-
tação. Seu diagnóstico e tratamento no âmbito da atenção básica em saúde é procedimento
seguro e com potencial de cura por meio do uso da Penicilina G Benzatina (NONATO et al.,
2015; BRASIL, 2014). Em uma perspectiva de cuidado integral, as práticas de educação
em saúde proporcionam conhecimento e meios para a autonomia e autocuidado à mulher e
sua parceria sexual, visando prevenção de agravos e recuperação da saúde como determi-
nante no desenvolvimento do bem-estar físico, psíquico e social. A compreensão de suas
406
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
percepções e crenças sobre saúde e questões relacionadas às IST proporcionam subsídios
aos profissionais de saúde e formuladores de políticas públicas para a definição de estraté-
gias apropriadas ao desenvolvimento de cuidados autônomos por essa clientela (BRASIL,
2000). Nesse contexto, o profissional de enfermagem é corresponsável pela qualidade do
cuidado e exerce importante assistência, dentre outros, nos cuidados e na abordagem das
IST (BRASIL, 2015; POLGLIANE et al., 2014).
Diante da problemática apresentada e a vivência no atendimento à mulheres com
diagnóstico de sífilis na gestação durante o curso de residência em enfermagem obstétrica,
emergiram as seguintes questões norteadoras: Antes do diagnóstico a mulher tinha conhe-
cimento sobre a sífilis na gestação e suas complicações? Quais as orientações que recebeu
após o diagnóstico da sífilis na gestação?

OBJETIVO

O presente trabalho teve como objetivo:

– analisar o conhecimento da mulher sobre IST e a sífilis na gestação; e


– descrever as orientações sobre prevenção de IST recebidas após o diagnóstico da
sífilis na gestação.

MÉTODO

Trata-se de um estudo descritivo-exploratório com abordagem qualitativa sobre o co-


nhecimento da sífilis na gestação por 25 mulheres, puérperas e gestantes, com esse diag-
nóstico durante o pré-natal. A coleta de dados ocorreu em duas maternidades públicas no
Município do Rio de Janeiro, uma na Região Central e outra na Zona Oeste no período de
julho de 2016 a fevereiro de 2017. A seleção das maternidades foi feita por conveniência.
As participantes foram esclarecidas sobre a pesquisa e o aceite ocorreu por meio da as-
sinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) em duas vias, uma entregue
à participante e outra guardada com a pesquisadora. Em atendimento aos requisitos éticos
e legais, foi respeitado o sigilo das informações pessoais e o anonimato das participantes.
As informações foram obtidas por meio do prontuário físico, do cartão de pré-natal e
das entrevistas individuais. Utilizou-se um formulário semiestruturado com questões rela-
cionadas ao perfil sociodemográfico e perguntas abertas referentes ao conhecimento sobre
sífilis na gestação e IST. Como critério de inclusão foi definido a realização de pelo menos
02 consultas de pré-natal e resultado de VDRL com titulação diferente de zero, caracteri-
zando a sífilis na gestação. Excluíram-se as mulheres que fizeram apenas o teste rápido
407
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
para a sífilis, menores de 18 anos ou com déficit cognitivo que inviabilizasse a participação
na pesquisa. Ao final de cada entrevista foram feitas orientações visando esclarecer as
dúvidas apresentadas e retificar os conhecimentos relatados, o que demandou mais tempo
na coleta de dados.
A caracterização das participantes foi composta por idade, raça/cor de pele autode-
clarada, escolaridade, ocupação, bairro de moradia, situação conjugal, tempo de relaciona-
mento e se o parceiro era o pai do bebê, além de dados obstétricos como idade gestacional
e titulação de VDRL.
As entrevistas foram gravadas em dispositivo eletrônico, transcritas na íntegra, orga-
nizadas e inseridas no programa Qualiquantisoft. A análise do Discurso do Sujeito Coletivo
(DSC) foi utilizada para o tratamento das informações, segundo a metodologia proposta por
Lefèvre e Lefèvre, técnica que em muito contribui para a garantia do anonimato das partici-
pantes (LEFEVRE; LEFEVRE, 2006).
O software Qualiquantisoft é um apoio a pesquisas baseadas na técnica do DSC, uma
estratégia metodológica que visa tornar mais claro um dado pensar, bem como o conjunto
de ideias que, conforme um dado imaginário, busca reconstruir, com pedaços de discursos
individuais, como em um quebra-cabeça, tantos discursos-síntese quantos se julguem ne-
cessários para expressar um pensamento sobre um fenômeno. Com a proposta de analisar
as entrevistas coletadas, extraindo de cada um dos depoimentos as Ideias Centrais (subca-
tegorias) e suas Expressões Chaves (trechos das entrevistas) correspondentes. As Idéias
Centrais (IC) e Expressões Chaves (ECH) semelhantes permitem construir um ou vários
discursos-sínteses que são os DSC. Destaca-se que cada entrevistada pode ter mais de
uma IC em sua resposta. Dessa forma, o número total de IC pode diferir do número total de
entrevistadas (SOUTO, 2006).
A pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola
de Enfermagem Anna Nery (CEP/EEAN), de acordo com as disposições da Resolução nº
466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS/MS), definidoras das diretrizes e normas regu-
lamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos, com CAAE: 53051815.6.0000.5238
e número de parecer: 1.434.100 além de anuência dos diretores das instituições na qual a
pesquisa foi realizada.
Como limitação, apresentou-se a resistência das mulheres em falar sobre o assunto,
devido ao sentimento de fragilidade pelo diagnóstico e a necessidade de maior tempo de in-
ternação hospitalar para o acompanhamento do tratamento neonatal, e o medo de exposição
do seu estado clínico para meios não científicos, evidenciando-se o estigma sobre essa IST.

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
RESULTADOS

Inicialmente foi traçado o perfil sociodemográfico das participantes, que tinham a faixa
etária de 18 a 42 anos, com maioria (17) entre 18 e 29 anos, sendo uma população a carac-
terística do principal grupo atingido por IST assintomática em âmbito nacional. Em relação
à autodeclaração da raça/cor de pele, 15 se declararam pardas, seguidas por 8 pretas,
resultado semelhante ao perfil epidemiológico de gestantes com sífilis no Brasil no ano de
2019. Quanto à escolaridade, 9 declararam ter cursado o ensino médio completo, 8 o ensino
fundamental, 5 não concluíram essa fase do ensino formal, 2 concluíram o ensino superior
e 1 declarou ser analfabeta.
A ocupação predominante foram as atividades do lar, exercidas por 19 participantes,
outras 6 relataram ainda acumularem outras ocupações, como advogada, ascensorista,
auxiliar administrativo, auxiliar de serviços gerais, auxiliar de vendas e manicure, cada um
destas com 1 mulher respectivamente.
O local de residência foi a região de Jacarepaguá, dado este que se justifica, consi-
derando que a maior parte dessas mulheres foi entrevistada em uma maternidade dessa
região. Quanto ao estado civil, 11 declararam união estável, seguidas por 6 casadas e 1
namorando. Dentre as 18 com parceiro, este foi identificado como pai do bebê da gestação
atual, com uma média de relacionamento de 1 a 5 anos, conforme relato de 15 participantes
(WHO, 2007; CASTRO et al., 2016).
O perfil obstétrico de 14 participantes foi de primeira gestação com realização da pri-
meira consulta de pré-natal com até 12 semanas seguindo a recomendação da Organização
Mundial em Saúde (OMS) como um dos critérios de qualidade para a atenção pré-na-
tal. Do total, 21 mulheres realizaram no mínimo 6 consultas e iniciaram o pré-natal até o
4º mês de gestação, condições básicas estabelecidas pelo Programa de Humanização no
Pré-natal e Nascimento (PHPN) para uma assistência pré-natal efetiva (DANTAS et al.,
2015; SILVA et al., 2016).
Dentre as mulheres que estavam em sua segunda gestação ou mais, 10 realizaram
pré-natal em gestação anterior, dado favorável para o acompanhamento do processo gesta-
cional junto a uma unidade de saúde. Uma mulher declarou não ter realizado o pré-natal na
gestação anterior, em detrimento a um aborto espontâneo antes do diagnóstico de gravidez.
Após traçado o perfil, emergiram 4 categorias de análise: Conhecimento sobre Infecção
Sexualmente Transmissível; Conhecimento sobre Sífilis na gestação; Conhecimento sobre
transmissão vertical da sífilis; e Fonte das informações obtidas pelas mulheres.
A partir dos áudios transcritos extraiu-se de cada um dos depoimentos, as IC, estas que
são expressões que revelaram de forma sintética e mais precisa os sentidos presentes em
cada uma das respostas analisadas e de cada conjunto de ECH, sendo estes trechos das
409
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
transcrições que revelaram a essência do conteúdo do discurso das mulheres, compondo
o discurso-síntese o qual originou o DSC (FONTE et al., 2012).

Categoria 1- Conhecimento sobre IST

Ao serem questionadas sobre o que sabiam acerca das IST, foram identificadas 2 IC,
as que referiram algum conhecimento sobre IST e as que relataram conhecimento sobre a
forma de contágio das IST.

IC 1: Referem algum conhecimento sobre IST

Agora falando assim eu não sei muito bem, o que eu vi é que é perigoso,
né? Agora essa de sífilis, AIDS, de condiloma, acho que eu já ouvi alguém
falando, eu só sei dessas, só lembro dessas mesmo. Diz que se a pessoa
não se tratar corre risco. Eu sei mais ou menos sobre a sífilis porque eu tive
durante a gravidez. Eu achei que sabia mais e que tivesse sintoma, mas não
tem nenhum. A gente sempre acha que sabe tudo, né? ‘Ah é só usar cami-
sinha que você não vai ter’, pultz, doce ilusão, é sinal de que você não sabe
nada. A falta de orientação, de informação e de buscar, né? Eu pelo menos
não dei muita importância. Se não usar camisinha dependendo se a pessoa
tiver o vírus vai passar para você (DSC 1).

IC2: Referem conhecimento sobre a forma de contágio das IST

Eu já estudei muito sobre essas coisas, mas na verdade eu nunca levei muito
fé. Sabia só o que eu pesquisava mesmo, porque eu comecei minha atividade
sexual cedo, já ouvi falar muitas coisas, só de ver as fotos eu tenho medo. Só
quando eu passei pela situação fiquei desesperada e falei não aceito, como
assim? Imagine a pessoa tratando aquilo? Eu nem gosto de tomar remédio,
então tomar remédio por DST não ia dar certo. Sei algumas coisas sobre a
gonorreia, a doença do galo que também tem nos homens, que a grande
maioria deixa sequela ou mata. Sobre doença sexualmente transmissível o
que eu entendo é que é uma consequência é uma doença que umas tem cura
outras não, HIV, sífilis entre outras, né? São transmitidas durante o ato sexual
sem proteção e podem causar resultados gravíssimos para a mulher, para
o parceiro e é ruim para o filho. A AIDS é uma doença que tem tratamento,
mas não cura né?! É contagiosa e é transmissível. A minha irmã tem essa
HIV, ela deve ter pego sexualmente também. Ela se cuida. Essa daí também
é perigosa, né? Só de imaginar ter que ficar tomando coquetel de remédio,
um monte de coisa, eu não sirvo para isso. O que ela está passando eu
não quero passar, graças a Deus essa aí eu não peguei, não sei por que eu
peguei a sífilis. Na minha cabeça isso vinha de pessoas que fazia sexo com
qualquer pessoa, de prostituição e de puteiro. As pessoas que tinham seus
relacionamentos fixos não tinham isso, então o que eu poderia falar é que
foi uma grande surpresa para mim. Dependendo do tratamento é bastante
doloroso e pode prejudicar lá na frente, tipo agora que está me prejudicando
bastante e a vida do meu filho, então é complicado. É mais fácil se prevenir
do que ficar passando por isso tudo e ainda atingindo pessoas que não tem
nada a ver. Na verdade, doença não tem rosto, não é porque aquela pessoa é
bonita que ela não vai ter uma doença, não é por que você ficou 3 anos com
aquela pessoa que ela não vai te passar uma doença, acontece, ninguém
está livre de passar por isso, mas tem como se prevenir (DSC2).
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Categoria 2 - Conhecimento sobre sífilis na gestação

Analisando o conhecimento sobre a sífilis na gestação, indagou-se sobre o que sa-


biam a respeito dessa infecção na gestação, originando duas IC, as que referiram não ter
conhecimento sobre a sífilis na gestação e as que referiram um conhecimento raso, dando
origem a IC 1 e IC 2 respectivamente como destacado abaixo.

IC 1: Referem ausência de conhecimento sobre sífilis na gestação

Eu não sabia de nada, praticamente nada, eu nem imaginava que tinha isso.
Eu sei que não há sintomas mas que alguns casos a pessoa fica com alguma
coisinha no rosto, ardência eu acho que é isso. O que me falaram é que faz
mal para o neném, não sei muito, sei também que eu estou (DSC3).

IC 2: Referem pouco conhecimento sobre sífilis na gestação

Sei poucas coisas, na mãe pode subir o nível de sífilis e sei lá algo mais grave.
Com relação à sífilis congênita eu só sei que pode ser transmitida pelo san-
gue, é uma doença sexualmente transmissível, pode passar para o neném,
é inevitável, são casos de 90%, né? Eu descobri que é uma doença muito
grave tem três, a mais fraquinha, a segunda e a mais grave. Eu fiquei sabendo
quando peguei aí eu comecei a me desesperar e comecei a correr atrás. Me
disseram que no bebê podia causar malformação. Se eu não me engano a
criança pode ficar surda, cega e outros probleminhas de doença mental, o
bebê pode sair bastante prejudicado, essas coisas. Poderia acontecer dele
morrer na minha barriga e eu não conseguir ter o bebê. Se o parceiro não
tratar é transmissível, ela passa para ele, ele passa para ela. E por isso é
importante o uso da camisinha para prevenir. Tem que evitar ter relação sexual
porque sem camisinha pode alimentar a bactéria e eu fazendo tratamento
estou evitando e eu tenho que zerar, né? O foco é zerar. Tem tratamento, é
doloroso, mas é melhor que seja evitado. Eu fiquei sabendo que tinha que
fazer tratamento para o bebê não ter nenhuma deficiência, mas que se não
aparecer agora poderá aparecer mais tarde (DSC 4).

Categoria 3 - Conhecimento sobre transmissão vertical da sífilis

IC 1: Referem não ter conhecimento sobre transmissão vertical da sífilis

Quase nada, nada vezes nada. A drª. não me explicou. Eu sei que nele
[bebê] as coisas são bem maiores pode acarretar mais sequelas que em
mim. Geralmente pode ficar com alguma doença mais grave e pode ficar
bobinho (DSC 5).

IC2: Referem algum conhecimento sobre transmissão vertical da sífilis

Pouca coisa, mas o que eu sei é que é perigoso e prejudica a criança. Está
no meu organismo, né? Vai parar na minha placenta e vai para ela. Eu sei
411
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
que a transmissão para o bebê pode ser pelo sangue, mas a princípio o que
eu soube é por conta da formação dela[bebê], que poderia ou não passar por
meio do contato dela com o meu sangue durante a gravidez, tanto no início
como mais para o final. Eu cheguei até perguntar mas eu não entendi muito
bem a explicação da enfermeira. Sei que quando a bolsa estoura você pode
passar sífilis ou a AIDS para criança, ou por meio de feridas, foi isso que me
falaram. Também durante a amamentação se caso o nível esteja alto e o seio
da mãe tiver machucado aí pode transmitir para ela [bebê] caso sangre. Ela
falou que se eu não fizer o tratamento pode afetar o bebê, ela ficar especial,
dá problema na cabeça, traz sequelas, malformação nos ossos, microcefalia,
com o lábio cortadinho, cegueira que se fala? Alguma coisa assim, diversas
coisas, leva até a morte ou ele pode vir a nascer com sífilis também e que
se eu não fizer tratamento podia causar problema no bebê e até morrer na
barriga. Só sei essas coisas básicas, também do contágio na hora do parto,
se tiver alguma ferida. Para mim foi tudo muito silencioso, eu não tive ferida,
não tive coceira, eu não tive mancha no corpo, nenhum desses sintomas que
existem. Como não tive sintomas, posso já ter pego essa parada há muito
tempo e nem ter noção. Quando eu estava me tratando, no quarto mês de
gestação o exame mostrou que não tinha nada no meu sangue, então eu não
esperava que já tivesse passado para ela, entendeu? Mas quando foi agora
deu no resultado dela e no meu não deu. Eu comecei a tratar quando ela
[enfermeira] me falou, mas mesmo assim ainda passou um pouco para ela
[bebê]. Ele [parceiro] não fez o tratamento aí minha filha está tendo que tomar
medicação, já está sendo tratada para poder curar mas graças a Deus não
deu nada nela não, só passaram para mim que ela está fazendo medicação
porque ele não fez o tratamento junto comigo (DSC 6).

Categoria 4 - Fonte de informações

Dentre as informações expressas pelas mulheres, foram indagadas a fonte destas,


dando origem a 3 IC descritas abaixo.

IC 1: Enfermeira

Olha, eu sei o que a enfermeira do meu pré-natal na clínica da família me


explicou. Ela foi sempre muito aberta comigo, foi uma pessoa que me escla-
receu e me deu orientações, foi melhor até que a obstetra coitada, [risos]. Ela
explicou o que é, como aconteceu, como faz pra poder tratar, se cuidar, essas
coisas. Fiquei sabendo por ela então resolvi cuidar, entendeu? Eu procuro
saber assim... aquilo que me interessa, no caso que eu estou agora com essa
tal de sífilis eu fui lá perguntar. A enfermeira fez o teste rápido em mim e foi
me passando algumas informações, que causa feridas na região genital no
homem e na mulher, né? E que dependendo do caso, a pessoa não apresenta
sintomas, como no meu caso. As vezes orientação e informação existe sim,
a gente é que não quer, não se preocupa nem para ler aquele papelzinho
que dá no posto, está preso ali para pegar, é só ler, mas a gente acaba não
dando muita importância para isso. E no planejamento familiar falam mas é
muita coisa pra lembrar e eu não lembro (DSC 7).

412
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
IC 2: Médico

Ah eu sei o que a médica do pré-natal falou, aí eu procurei saber muita coi-


sa, mas eu ainda vou procurar saber mais. O que me falaram é que faz mal
para o neném, podia ficar com um problema no corpo, não poder andar, nem
falar, falou que se ele nascesse eu ia tomar medicação e que faz mal para
ele, atinge eu acho que a costela, não sei, alguma coisinha assim, e que
se não tratar vai passar para o bebê, mas se tratar não passa. Fiquei muito
angustiada com isso (DSC 8).

IC 3: Meios de comunicação

Eu vejo mais em reportagem. Eu vi sobre a sífilis, Aids e HIV que também


passa e a gente sabe as consequências, todo mundo sabe. Eu sei o que eu
escuto na televisão, de vez em quando passa um comercial, eu vi até uma
reportagem em um programa de TV. E no hospital de vez em quando tem um
livro pra gente ler (DSC 9).

IC 4: Internet

Eu pesquisei na internet, entendeu? Foi porque eu tive a sífilis aí eu pesqui-


sei como é o tratamento. Fiquei fuçando um monte de coisa, correndo atrás
visualizando um monte de coisa, mas não entendi muito. Aí, a gente vê essas
coisas do neném, mas eu queria saber se tem cura mesmo e se para ou volta,
na internet fala que volta (DSC 10).

DISCUSSÃO

Por meio dos discursos, evidencia-se que o conhecimento sobre a sífilis emergiu após
o diagnóstico durante o pré-natal, período favorável à aproximação das mulheres ao serviço
de saúde. Segundo a OMS, a busca pelas clínicas de IST comumente ocorre a partir do
surgimento de sinais e/ou sintomas. Entretanto, como a sífilis, em sua fase inicial, é assinto-
mática, o estado gravídico oportuniza o diagnóstico, obtenção de informações e tratamento à
mulher. Nesse contexto, a assistência pré-natal apresenta-se como um momento estratégico
para o cuidado à saúde da mulher e de sua parceria sexual, assim como o rompimento da
cadeia de transmissão (POLGLIANE et al., 2014; SILVA et al., 2016).
O conhecimento é um importante instrumento na prevenção das IST, e por isso deve
ser acessível de modo que o indivíduo possa desenvolver a consciência dos riscos aos quais
expõe a si e suas parcerias sexuais. Entretanto, outros estudos evidenciam um conhecimento
raso em relação às IST, demonstrando divergência entre o conhecimento quanto ao uso do
preservativo e o uso adequado deste (FONTE et al., 2012; COSTA et al., 2013; Andrade
et al., 2015) ao encontro dos relatos das participantes da presente pesquisa.

413
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Apesar de, em algum momento, terem tido contato com o assunto, o conhecimento re-
latado foi superficial e compreendido como situação que não atingiria essa clientela. Em con-
traponto, reconhecem a importância do uso do preservativo como prevenção da transmissão
de IST, como descrito na seguinte expressão chave.

Se a pessoa tiver o vírus e não usar camisinha vai passar para outra pessoa
(ECH 6).

Essa divergência entre o conhecimento sobre a importância do uso do preservativo


e a atitude de usá-lo também foi demonstrada por grupos de estudantes universitários de
Santa Catarina (DOMINGUES et al., 2013) e o relato de gestantes atendidas em um hospital
universitário no mesmo município (ALBUQUERQUE et al., 2015).
A compreensão acerca da importância do uso do preservativo masculino ou feminino
interfere em seu uso, uma vez que o conhecimento ineficiente possivelmente seja um fator
para atitudes e práticas inadequadas. Em contrapartida, as intervenções educativas com
informações de qualidade podem influenciar as atitudes da população em direção a redução
de riscos, um caminho colaborativo para práticas de prevenção favorecendo o autocuidado
(SILVA et al., 2014).
Um inquérito domiciliar avaliativo realizado em um aglomerado subnormal do municí-
pio de João Pessoa, PB, com 251 mulheres maiores de 18 anos avaliou a adequabilidade
do conhecimento, da atitude e da prática que envolve a tomada de decisão para efetivar
uma ação. Os resultados identificaram que 50,98% das mulheres relataram conhecimento
insatisfatório sobre o preservativo masculino e feminino, embora 88,24% relatassem atitude
adequada (SILVA et al., 2014).
Na presente pesquisa, as participantes expressaram a percepção de segurança e con-
fiança diante da sua situação conjugal, uma percepção comum entre os jovens, incorrendo
em maior exposição às IST/HIV, como evidenciam as seguintes ECH.

Ah eu já estudei muito sobre essas coisas sendo que na verdade eu nunca


levei muita fé, né? (ECH 1).

Só levei fé quando eu vi que estava passando pela situação (ECH 2).

As entrevistadas demonstraram também algum conhecimento sobre a forma de contágio


das IST e a importância da prevenção por meio do uso da camisinha, informação amplamente
divulgada nas mídias e campanhas do Ministério da Saúde. Essa perspectiva foi corrobo-
rada por um estudo com 41 gestantes de um hospital no município do Rio de Janeiro com
variação etária similar ao presente estudo. Entretanto, 60,9% dessas mulheres relataram
utilizar a camisinha como forma de prevenção de IST. O HIV/AIDS foi descrito como IST
414
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
mais conhecida por essas participantes assim como os resultados da presente pesquisa
(COSTA, 2012). Em paralelo, há evidências de que, mesmo dispondo de conhecimento
satisfatório, um fator positivo para prevenção de IST, fatores socioeconômicos, culturais e
religiosos também influenciam no uso do preservativo (LENZER, 2016).
No DSC 3 observa-se o desconhecimento da infecção e os riscos envolvidos no ciclo
gravídico puerperal relacionado à sífilis, o que ameaça a adequação do tratamento aumen-
tando os riscos de contaminação fetal e consequentemente a SC. Abaixo, expressões chaves
que evidenciam essa perspectiva.

Na gestação praticamente nada porque sinceridade? Não sei (ECH 1).

Olha eu sei é que ... ham... é... não há sintomas né? (ECH 2)

Ah... eu não sei de nada, o que me falaram é que faz mal pro neném, não
sei muito [...] (ICH3).

Assim, eu sei que eu estou, que eu fiquei (ECH 4).

Nada, eu não sabia de nada (ECH 5).

Eu nem imaginava que tinha isso (ECH 6).

Infere-se que, além do diagnóstico durante o pré-natal, há urgência de informações


claras sobre a sífilis, suas consequências, tratamento e importância da adesão pela mulher
e sua parceria sexual. As graves consequências fetais também devem ser elucidadas, o que
demanda de muitas informações em um momento de modificações e adaptações fisiológicas,
emocionais e sociais envolvidas na gestação (SÃO PAULO, 2014).
Nota-se ainda o conhecimento em relação a algumas características da sífilis na ges-
tação expressas de forma difusa e com dúvidas, enfatizando o conhecimento enquanto IST,
modo de contágio, reinfecção, proteção, implicações fetais e neonatais, necessidade de
tratamento e seus benefícios, como evidenciam as seguintes expressões chaves.

Me disseram que no bebê podia causar malformação (ECH1).

Que é uma doença sexualmente transmissível, que pode passar para o neném
e se o parceiro não tratar é bem transmissível, ela passa para ele, ele passa
pra ela e é grave, tem três, a mais fraquinha, a segunda e a mais grave. Cega
essas coisas assim (ECH2).

Se eu não me engano, a criança pode ficar surda e com outros probleminhas


de doença mental essas coisas (ECH 3).

Outras ECH evidenciaram o contato com o assunto após o diagnóstico e dificuldade


de compreensão sobre o tratamento demonstrando dúvida em relação à eficácia.
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Eu fiquei sabendo quando peguei, aí eu comecei a me desesperar e comecei
a correr atrás (ECH 8).
Que alguma coisa podia acontecer com ele [o bebê], mas eu não sabia que
ele já estava contagiado por essa doença, entendeu? (ECH 9)
Que é inevitável, são casos de 90% que a transmissão passa para criança
acaba passando, né? (ECH 10)

O reconhecimento da sífilis apenas como uma IST não contempla a real dimensão
do seu significado, haja vista a realidade da infecção e as possíveis consequências atrela­
das. O DSC5 foi compatível com os demais DSC, os quais expressaram raso conhecimento
sobre IST e familiarização com a temática após o diagnóstico na gestação, achado de rele-
vância diante da magnitude da infecção por sífilis na gestação e semelhante aos resultados
de outros estudos (SIDIBÉ; SINGH, 2016).
Uma revisão sistemática e meta-análise realizada pela OPAS analisou artigos publica-
dos em bases de dados internacionais entre os anos 1945 a 2015 com o objetivo de estimar
relação entre sífilis na gestação e morte fetal nas Américas. Dentre os 19 estudos elegíveis,
concluiu-se que, na presença de infecção pelo T. pallidum durante a gestação, há 6,87 vezes
mais chances de morte fetal do que na ausência da bactéria. Essa mesma revisão destacou a
eficácia do tratamento da sífilis e da prevenção de intercorrências perinatais (COSTA, 2012).
Apesar de neste estudo não ter se analisado o tratamento realizado pelo parceiro, a
não adesão deste foi evidenciada nos discursos, como é destacado abaixo.

Ele não fez o tratamento, aí minha filha está tendo que tomar medicação
(ECH 4).

A abordagem quanto aos riscos de transmissão vertical e a relação entre titulação e


tratamento deve ser abordada na consulta com a mulher e sua parceria sexual. Sabe-se
que, quando o tratamento é realizado de forma adequada e oportuna, as chances de cura
materna e nascimento de um bebê saudável são altas, reduzindo morbidade materna, fetal
e neonatal, além de impactar positivamente os sistemas de saúde.
Em relação à fonte de informações, as participantes mencionaram a enfermeira e o mé-
dico como os principais responsáveis pelas orientações recebidas como evidenciado abaixo.

Olha, eu sei o que enfermeira lá da clínica da família me explicou (ECH 1).

Fiquei sabendo pela minha enfermeira aí eu resolvi cuidar, entendeu? (ECH 2)

A enfermeira que fez o teste rápido em mim na clínica da família e foi me


passando algumas informações (ECH 3).

Ah, eu sei que o que a médica falou (ECH 4).

Fiquei sabendo pelo ginecologista do pré-natal né? (ECH 5).


416
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Aí, a médica passou para mim que faz mal para o neném (ECH 6).

Esses profissionais apresentaram-se como educadores em saúde e corresponsáveis


no cuidado. O estabelecimento de uma relação de confiança entre o profissional de saúde,
a mulher e sua parceria sexual em um ambiente de privacidade, confidencialidade, com
disponibilidade de tempo e diálogo possibilita melhor adesão ao tratamento. Evidencia-se,
portanto, a necessidade de habilidades e competências profissionais para a abordagem
dessa temática como um dos pilares na atenção à saúde da mulher e as IST. Entretanto,
fragilidades dos conhecimentos profissionais, como o baixo conhecimento da situação da
SC, pouca familiaridade com os protocolos assistenciais e dificuldades na abordagem das
IST configuram algumas das principais barreiras relacionadas aos profissionais para imple-
mentação dos protocolos de IST, especialmente entre os profissionais sem especialização
em obstetrícia ou saúde da mulher (SIDIBÉ; SINGH, 2016).
Situação semelhante apresenta-se em outros municípios com falhas no acompanha-
mento de casos de sífilis na gestação (BRASIL, 2015). Um estudo realizado em Fortaleza,
CE, demonstrou que a maioria dos enfermeiros participantes possui atuação satisfatória
no manejo da sífilis na gestação, porém um grupo significativo apresentou conhecimento
inadequado. Como limitação, foi apresentado o tempo ineficiente diante da grande deman-
da de atendimento e indisponibilidade de material educativo para adequação da consulta
(SCHMEING, 2016).
No contexto de epidemia da sífilis no Brasil, as mídias televisivas podem compor um
meio estratégico de sensibilização para a testagem e tratamento nos casos positivos, uma
vez que esses meios possuem grande alcance. Nessa direção, a internet configura um es-
paço de acesso de informações. Entretanto, diante da diversidade de fontes, nem sempre
confiáveis, o esclarecimento das informações obtidas pela paciente junto à equipe de saúde
torna-se premente. Nessa relação, cabe ao profissional orientar fontes confiáveis, como o
Ministério da Saúde, a OMS e afins, uma vez que algumas participantes expressaram inte-
resse em esclarecer dúvidas, como destacado abaixo.

Eu pesquisei na internet, entendeu? Fiquei fuçando um monte de coisa (ECH


2).

Correndo atrás visualizando um monte de coisa para ver e vi coisas que


acontecem, mas não entendi muito (ECH 3).

Mas eu queria saber se tem cura mesmo e se para ou volta e na internet fala
que volta que fica indo, entendeu? (ECH 6).

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
A eliminação da transmissão vertical da sífilis e do HIV teve como primeiro registro em
Cuba, o primeiro país com certificação pela OMS. A validação é considerada quando as ta-
xas são inferiores a 50 casos por 1.000 nascidos vivos e quando os serviços prestados são
livres de coerção. Apesar de poucas informações divulgadas sobre as estratégias utilizadas,
profissionais de saúde relataram estratégias pré-concepcionais como o incentivo aos casais
quanto ao uso de preservativo até que ambos desejassem engravidar, nesse caso, realiza-
-se exame anti-HIV e, se o resultado de ambos for não reatores, orientava-se à concepção.
Utilizando-se como foco a saúde preventiva, diante de recursos financeiros limitados, ob-
serva-se uma possibilidade de resultados satisfatórias na atenção à saúde (COSTA, 2021).
Posteriormente, a Tailândia foi o segundo país a alcançar essa certificação, utilizan-
do estratégias parecidas para a redução das taxas de transmissão vertical, foi instituída
a educação familiar e pré-concepcional, aconselhamento e incentivando aos casais a se-
rem testados para o HIV antes da concepção, práticas vigentes desde a década de 1990
(SIDIBÉ; SINGH, 2016).
Essas boas práticas vêm sendo implementadas em alguns municípios no Brasil com
resultados satisfatórios, como em Vitória da Conquista, BA, com investimento na capacitação
profissional e planejamento familiar como oportunidade de captação precoce das gestantes,
triagem da sífilis e HIV também em não gestantes e em homens. Em Londrina, PR, a forma-
ção de Grupo de Trabalho para discutir questões relacionadas à sífilis e SC vem obtendo
melhora na detecção de casos e adesão ao tratamento (BRASIL, 2015).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Transmitidas principalmente por via sexual, as IST são causadas por diversos agentes
etiológicos (vírus, bactérias, fungos e protozoários), possuem múltiplas apresentações clíni-
cas, com impacto na qualidade de vida, além de impor maior vulnerabilidade para a transmis-
são do HIV e, frequentemente, associar-se a sentimentos de culpa, discriminação e estigma.
Dentre os desafios, apresenta-se a capacitação profissional, a sensibilização da po-
pulação e os conhecimentos sólidos que ancorem o autocuidado. Diante da gravidade da
infecção e a potencialidade de sucesso no tratamento adequado, torna-se premente o en-
frentamento e a quebra da cadeia de transmissão.
Os resultados apresentados evidenciam um conhecimento raso e difuso sobre IST e
sífilis na gestação, diante da escassa produção científica com abordagem do conhecimento
no ponto de vista da mulher e considerando a magnitude da situação da sífilis no mundo,
investigações adicionais poderão corroborar com os resultados aqui apresentados. Como
limitações, apresenta-se o quantitativo de mulheres participantes, o que torna os resultados
não replicáveis.
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
REFERÊNCIAS
1. ALBUQUERQUE, C.M.; OLIVEIRA, I.C.L.; NOBRE, C.S.; COUTO, C.S.; FROTA, M.A. A com-
preensão da qualidade de vida atrelada à sífilis congênita. Rev. APS. Vol. 18, n. 3, jul/set 2015,
p. 293-297. Disponível em: <https://aps.ufjf.emnuvens.com.br/aps/article/view/2428/891.>
Acesso em: 07/03/17.

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ricas: a systematic review and meta-analysis. Rev Panam Salud Publica, Vol. 37,
n. 6, 2015. Disponível em: <http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
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3. BRASIL. Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico Secretaria de Vigilância em Saú-


de. Brasília: Ministério da Saúde, 2017. Disponível em: <http://portalarquivos.saude.gov.br/
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421
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
29
Vivências do enfermeiro no cuidado ao
recém-nascido de alto risco: estudo
fenomenológico

Sueli Maria Refrande

Rose Mary Costa Rosa Andrade Silva

Eliane Ramos Pereira

Renata Carla Nencetti Pereira Rocha

Sérgio Henrique da Silva Melo

Neusa Aparecida Refrande

Ricardo Raimundo dos Santos

Simone Henriques da Silveira

Rita de Cássia Oliveira da Cunha

Maria Clara Rezende Cruz

10.37885/210202958
RESUMO

Objetivo: Descrever a vivência do enfermeiro no cuidado ao recém-nascido de alto risco.


Método: Estudo descritivo com abordagem qualitativa, pautado na fenomenologia de
Merleau-Ponty e realizado no Hospital Maternidade Fernando Magalhães do estado do
Rio de Janeiro, por meio de entrevistas com 30 enfermeiros que atuam no cuidado neo-
natal, segundo o pensamento fenomenológico de Maurice Merleau-Ponty. Resultados:
Emergiram três categorias: “corpo vivido do profissional enfermeiro sobre o recém-nas-
cido de alto risco”; “mundo vivido do profissional enfermeiro sobre o recém-nascido de
alto risco”; e “tempo vivido do profissional enfermeiro sobre o recém-nascido de alto
risco”. Considerações finais: O estudo nos permitiu descrever, através das falas dos
participantes, que o cuidado ao recém-nascido de alto risco é amplo, ou seja, objetivo,
subjetivo e realizado com tecnologias avançadas, suas vivências e aprimoramento cien-
tífico composto do teórico prático compartilhado com a família, profissionais e iniciantes
no universo neonatal favorecendo um cuidado diferenciado e humanizado.

Pa l av r a s - c h ave: Enfer magem Ne onat al, Cui dad o da Cr ian ç a , Re c ém - Na s c i d o,


Risco, Neonatologia.

423
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO

A prática de enfermagem neonatal consiste em pelo menos três componentes: imple-


mentar o cuidado de enfermagem, intervir com cuidado e interagir com os demais profissionais
de saúde. Lembrando que a inter-relação desses três componentes se centra na melhora
ou manutenção da saúde neonatal e da família(1).
Corroborando com a linha de pensamento em relação ao cuidado, a autora Margaret
Jean Watson desenvolveu a Teoria do Cuidado Humano, que considera o cuidado que
transcende tempo, espaço e matéria de paciente e profissional para que formem um único
elemento em sintonia, além do momento pontual da interação, de maneira que favoreça a
restauração. Muitas vezes, na dimensão física, com a execução de procedimentos técnicos
em um nível mais avançado do cuidado, a enfermagem é capaz de acessar os aspectos
emocionais e subjetivos, de forma a objetivar a transpessoalidade por meio da comunicação
e da empatia, que podem ser desenvolvidas e manter a harmonia e a confiança necessárias
para este processo(2).
Diante de um cuidado mais especializado, os avanços tecnológicos presentes na uni-
dade de terapia intensiva neonatal (UTIN) contribuem para uma mudança significativa nos
cuidados neonatais, dando uma garantia de sobrevida ao recém-nascido. O ambiente neo-
natal também é um problema para o profissional enfermeiro, gerando desconforto, desgaste
físico e emocional por conta da natureza do trabalho e características do setor. Apesar da
maioria dos profissionais de enfermagem sentirem prazer em cuidar de seres tão frágeis,
vivenciam momentos de angústia relacionados a procedimentos complexos e dolorosos em
um momento tão delicado desse ser que está entre a vida e a morte(3).
Desta forma, em um ambiente de cuidados com todo um aparato tecnológico como a
UTIN, podem ser associados aos benefícios da tecnologia leve identificada como trabalho
em ação, o acolhimento, as atitudes de humanização e as interações dos familiares do re-
cém-nascido com a equipe multidisciplinar de saúde. Diante disso, como o ambiente neonatal
é considerado complexo, o profissional de enfermagem possui atividades que envolvem
riscos psicossociais decorrentes das prolongadas jornadas de trabalho, tarefas que exigem
um ritmo acelerado, ações repetitivas, insuficiência de pessoal e material, turnos diversos,
entre outros(3).
Nesse sentido, assim como os riscos psicossociais se destacam em atividades desen-
volvidas pelos profissionais de enfermagem, um estudo enfatiza fatores de risco relacionados
aos recém-nascidos de muito baixo peso, como a ocorrência de infecção em virtude de fato-
res de risco intrínsecos relacionados com a imaturidade do desenvolvimento imunológico e
as barreiras de proteção de pele e mucosas ineficazes(4). No entanto, constata-se também
a preocupação com os riscos psicossociais da equipe de saúde na neonatologia, visto ser
424
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
um ambiente que envolve muitos sentimentos, tanto dos profissionais quanto de familiares.
Destaca-se também os fatores de riscos extrínsecos, como a manipulação do prematuro
de muito baixo peso por profissionais de saúde, o ambiente hospitalar, antibióticos, nutrição
parenteral e dispositivos invasivos; porém, existe a necessidade de mais rigor nas técnicas
utilizadas nos procedimentos com o prematuro, o quantitativo de pessoal e maior atenção
na realização das técnicas assépticas(4).
Uma das importantes técnicas assépticas realizadas com o recém--nascido prematuro
é na pele, pois esse é o maior órgão vital, o qual protege todo nosso corpo com um sistema
integumentário íntegro, contribui na termorregulação, sensação tátil, no isolamento e no
armazenamento de gorduras, provê barreiras contra infecções, toxinas, perdas de fluidos
eletrolíticos e, assim, promove o envolvimento entre enfermeiro e familiar no contato pele a
pele com o recém-nascido(5). A maior parte dos profissionais em neonatologia é de dedi-
cação exclusiva, sendo apenas uma pequena parte especialista e que destaca o interesse
em participar de procedimentos como a instalação do cateter central de inserção periférica
e envolver-se nas discussões com a equipe multiprofissional e, em grande parte, de assis-
tência de enfermagem no Brasil(6).
O enfermeiro se vê assumindo funções que antes eram de técnicos e auxiliares, saindo
do papel de supervisão e gerenciamento para executar as tarefas no cuidado ao pacien-
te. A partir de 2011, os cuidados de enfermagem aos recém-nascidos no setor de neo-na-
tologia, antes realizados por técnicos, vem sendo realizados por profissionais graduados(6).
Por isso, enquanto temos um corpo e através dele atuamos no mundo, o espaço e
o tempo não são uma soma de pontos sobre- postos, nem tampouco uma infinidade de
relações das quais nossa consciência extrairia a síntese que implicaria nosso corpo. Não
estamos no espaço e no tempo, não pensamos o espaço e o tempo; nós somos no espaço
e no tempo, nosso corpo aplica-se a eles e os envolve(7).
Além disso, o corpo do recém-nascido demonstra significados tão importantes para o
enfermeiro que o faz se preocupar em não errar momento algum em uma atitude de com-
promisso e responsabilidade com a profissão. E a despeito de cuidar do corpo, ele também
percebe um “além” do corpo. O corpo que o enfermeiro percebe e não vê é o corpo das
vivências, da objetividade. É o corpo virtual ou fenomenal, aquele que funda o corpo objetivo.

OBJETIVO

Descrever a vivência do enfermeiro no cuidado ao recém--nascido de alto risco.

425
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
MÉTODO

Aspectos éticos

O estudo foi previamente submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa


do Centro de Ciências Médicas do Hospital Universitário Antônio Pedro, da Universidade
Federal Fluminense e, na sequência, aprovado também no Comitê de Ética e Pesquisa da
Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro/SMS/RJ, como instituição coparticipante.
Por se tratar de pesquisa envolvendo seres humanos, os aspectos éticos foram respeitados
de acordo com a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.

Referencial teórico-metodológico filosófico

Foi utilizado, portanto, o método fenomenológico, tendo em vista que, de acordo com
Cappi(8), a fenomenologia“é um rigoroso olhar metodológico a respeito do real, é uma
opção radical de percepção” a fim de desvelar significados, criar valores e assumir respon-
sabilidades. Tudo que se oferece ao conhecimento humano pode ser chamado de realida-
de fenomênica(9).
A predileção pela fenomenologia ou método fenomenológico está ancorada na pers-
pectiva dos fenômenos humanos, tais como vividos e experienciados. Tem como questão
central a reflexão sobre o mundo vivido.
O respaldo na fenomenologia da percepção de Maurice Mer- leau-Ponty baseia-se em
apreender o fenômeno na sua totalidade por meio de aspectos relevantes tais como: vivên-
cias passadas e presentes e o porvir em relação ao recém-nascido de alto risco em todas
as suas dimensões: percepções, historicidade, mundo da vida, corporeidade, espacialidade
e temporalidade.
Dessa forma, o corpo que o homem não vê e não percebe, ou seja, o das suas vivências,
o fenomenal, que funda o corpo objetivo e aplica-se ao espaço e ao tempo e os envolve. Ele
também tem seu mundo e o compreende sem funções objetivas.

Tipo de estudo

Trata-se de um estudo descritivo, cujo método é descrever a totalidade da experiência


vivida, incluindo o sentido que essas experiências têm para os indivíduos que a elas perten-
cem. A pesquisa possui abordagem qualitativa que corresponde àquela que “trabalha com
a subjetividade dos sujeitos” e possui caráter descritivo por “descrever as características de
uma determinada população ou fenômeno”(10).

426
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Procedimentos metodológicos

Os participantes da pesquisa foram 34 enfermeiros, abrangendo chefia de enfermagem,


plantonistas e diaristas. Para a coleta de dados, foram incluídos os enfermeiros diaristas e
plantonistas diurnos e noturnos e a chefe de enfermagem, por atuar no cuidado direto ao
recém-nascido. Excluiu-se os enfermeiros licenciados, os de férias no período da coleta de
dados e os que possuem tempo de trabalho inferior a um ano e os que por algum motivo não
quiseram ou não puderam participar e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE), em um total de 30 enfermeiros.
Inicialmente, foi realizada a aproximação e ambientação no cenário de pesquisa com
olhar diferenciado como pesquisadora. Com isso, foi necessário acompanhar alguns turnos,
diurnos e noturnos, para conhecer e fazer-me conhecer pelos colegas, como pesquisado-
ra. A captação dos participantes para a entrevista foi no próprio local de atuação e previa-
mente agendada de acordo com a disponibilidade dos participantes, possibilitando maior
liberdade e o mínimo de interferência na realização dos encontros, fatores essenciais na
pesquisa fenomenológica.

Cenário do estudo

A pesquisa teve como cenário o Hospital Maternidade Fernando Magalhães (HMFM),


localizado no Rio de Janeiro/RJ, Brasil.

Coleta e organização dos dados

Os dados foram coletados após a aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa e a


ambiência da pesquisadora no cenário da investigação, tendo essa etapa sido realizada no
segundo semestre de 2015. As entrevistas foram gravadas em dispositivo magnético, as
quais, em conjunto, têm duração de 250 minutos de falas dos 30 participantes, no período
de 31 de outubro de 2015 a 30 de novembro de 2015. Tais entrevistas, que depois foram
transcritas, também seguiram um roteiro totalizando sete perguntas, destacando assim
uma pergunta questionadora: “Qual sua percepção no cuidado ao recém-nascido de alto
risco?”. A identidade dos participantes foi preservada utilizando-se nomes fictícios, sendo
a letra E (E1, E2, E3, E4…) inicial da palavra enfermeiro seguida de um número que não
necessariamente correspondeu à sequência da participação na pesquisa e atendendo às
especificações éticas e legais da Resolução 466/2012.

427
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Análise dos dados

Para efetuar a análise das entrevistas, recorreu-se a procedimentos metodológicos


definidos pela fenomenologia. É possível afirmar com segurança que o filósofo Maurice
Merleau-Ponty é um pensador de suma importância para o educador que pretende interpre-
tar a criança e suas relações com o mundo, consigo mesma e com o outro; o filósofo foi o
único fenomenólogo que deixou uma contribuição focada na criança e na primeira infância.
Sendo assim, o método fenomenológico deve buscar acessar a essência do fato es-
tudado, o que pode ser alcançado a partir de três elementos fundamentais. O primeiro é a
redução fenomenológica, que possibilita acessar a verdade do sujeito. O segundo é a inter-
subjetividade, que é a relação estabelecida entre o sujeito-pesquisador e o sujeito-pesquisa-
do − duas histórias próprias que se encontram para compreender um fenômeno. O terceiro
elemento é o retorno ao vivido, no qual o sujeito-pesquisado retoma sua história(9).
Inicialmente, os discursos foram lidos de maneira integral e atenta a fim de apreender
o sentido global, mas sem interpretar ou identificar os atributos neles contidos. Logo depois,
foram feitas a identificação e o agrupamento das descrições de cada discurso, presença
evidente das essencialidades do fenômeno. Após a obtenção das unidades de significado,
os fragmentos das entrevistas que tiveram sentido e responderam à questão norteadora fo-
ram identificados, destacados, examinados e submetidos à análise temática sob referencial
teórico merleaupontiano.

RESULTADOS

A análise descritiva dos dados teve como objetivo descrever os perfis característicos
dos profissionais. A amostra base desta pesquisa foi formada por 30 profissionais, sendo
2 do sexo masculino (6,7%) e 28 do sexo feminino (93,3%). Dos 30 profissionais, 24 (80%)
tinham curso de atualização em neonatologia e 6 deles (20%) não tinham tal curso. Houve
uma ocorrência dos seguintes cursos de atualização: a) capacitação pós e acupuntura e
fisioterapeuta; b) capacitação residência clínica médica cirúrgica e saúde da família; e c)
residência em clínica e cirurgia geral.
Tipicamente, o profissional participante desta pesquisa tinha de 41 a 47 anos (36,7%
dos casos), era graduado há um tempo de 8 a 13 anos (30%) com experiência em UTI neo-
natal de 1 a 6 anos e trabalhava em plantão diurno (50%).
Quando foram analisados os dados das entrevistas, foi possível descrever os signifi-
cados atribuídos pelos participantes no contexto de vivências na UTIN com recém-nascido
de alto risco, permitindo a apreensão de três categorias, as quais serão apre- sentadas a
seguir: “corpo vivido do profissional enfermeiro sobre o recém-nascido de alto risco”; “mundo
428
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
vivido do profissional enfermeiro sobre o recém-nascido de alto risco”; e“tempo vivido do
profissional enfermeiro sobre o recém-nascido de alto risco”.

Categoria 1 - Corpo vivido do profissional enfermeiro sobre o recém-nascido de alto


risco

Na primeira categoria, desvelou a partir das falas dos enfermeiros que descrevem o
cuidado ao recém-nascido como um corpo vivido, ou seja, o corpo objetivo (fisiológico) e
corpo subjetivo (virtual).
O corpo objetivo é apenas um momento na constituição do objeto. Retirado do mundo
objetivo, arrastará os fios intencionais que o ligam ao seu ambiente e finalmente nos revelará
o sujeito que percebe, bem como o mundo percebido(7).
Diante disso, no momento do enfermeiro realizar suas atividades, ou seja, procedimen-
tos e cuidados ao recém-nascido, não se atenta a procurar suas mãos, seus dedos, músculos,
nervos, pois eles não são objetos desse espaço objetivo, são influências já mobilizadas pela
sua percepção com fios intencionais que se unem aos objetos dados. Ao cuidar do corpo,
ele percebe um “além” do corpo, ou seja, é ontológico. Mesmo diante da complexidade do
cuidado direcionado ao RN, a atitude da intersubjetividade prevalece.

[...] Ele é um serzinho individual […]o que um está sentindo e o outro está
sentindo, são percepções diferentes, são mundos diferentes, são corpinhos
diferentes, são sentimentos diferentes, são fases de internações diferentes,
são idades gestacionais diferentes. […] (E05)

[…] se ele [recém-nascido] está sentindo dor, quais são suas características
de dor, a face dele, se ele está chorando, se você acha que ele está chorando
por dor, por fome, acho que cada um tem sua parte individual. (E05)

A vivência do profissional enfermeiro é primordial para perceber as características do


recém-nascido, principalmente no momento que antecede os procedimentos, a manipulação
excessiva ou desnecessária. O recém-nascido demonstra o que está sentindo através de
sinais como franzir a testa, dor, fome, febre, choro etc. E só um profissional com vivência
nesse ambiente complexo irá perceber.

[…] primeiro o fato de ser o recém-nato, então, é uma criança que você tem
que ter uma percepção das habilidades, ela não consegue se comunicar
com você, então são sinais que você vai ter que perceber, vai ter que ter não
só o conhecimento técnico científico mas até uma intuição no cuidado, né,
dependendo do seu tempo de prática pra poder interpretar os sinais que a
criança vai trazer pra você, né […]. (E26)

429
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
O participante acima, baseado em sua historicidade, percebe a complexidade do cui-
dado, das suas vivências no complexo neonatal, pois carrega um passado antes de estar
no presente, o passado de suas vivências. Com isso, compreende o olhar crítico relacionado
ao cuidado ao recém-nascido, descrevendo uma assistência adequada junto com a equipe multi-
profissional, mesmo em situações de desgaste físico.

Ele vai muito mais além do que uma coisa técnica, um cuidado, que um pro-
cedimento, por exemplo. É um cuidado complexo, para começar, e vai muito
mais além do que um cuidado técnico, né? […]. (E15)

Com a tecnologia leve, enfatizando o acolhimento e o atendimento humanizado, o en-


fermeiro neonatologista busca construir uma estratégia para lidar com a tecnologia dura na
UTIN, recursos esses que são utilizados como instrumentos do trabalho, que podem minimi-
zar o desgaste do recém-nascido prematuro e minimamente reproduzir o ambiente materno
para a finalização da fase de crescimento e maturação de órgãos e sistemas internos.

Categoria 2 - Mundo vivido do profissional enfermeiro sobre o recém-nascido de alto


risco

Na segunda categoria, desvelou o mundo vivido do profissional enfermeiro sobre o


recém-nascido de alto risco. A vivência no mundo proporcionou uma visão em relação às
coisas que estão no mundo e que o circundam.

[…] eu tinha os conhecimentos de terapia intensiva na parte de adulto e eu


procurei inicialmente para eu poder entrar aqui, eu tive que adaptar esses
conhecimentos, de assistência ao paciente grave adulto para concepção de
criança, então tudo meu foi adaptado na época, então eu procurei ler muito
para entender os sinais e sintomas do recém-nascido […]. (E9)

Na fala acima, destaca o depoente que vivencia o universo neonatal o qual desconhe-
cia, em uma atitude de desnaturalizar, despir-se da ciência e chegar ao natural para com-
preender esse universo e no futuro descrevê-lo com sua vivência. Com isso, o enfermeiro
que atuava com o paciente adulto e que, por algum motivo, passou a atuar no cuidado ao
recém-nascido de risco, em uma redução fenomenológica, começou a ver e perceber o
mundo de uma forma diferente.
Dentro dessa perspectiva, os enfermeiros que passaram a habitar o universo neonatal,
tanto no campo objetivo quanto no campo subjetivo, desconstruíram e construíram experiên-
cias e vivências como outros profissionais já inseridos nesse mundo profissional. Porém, a
fala anterior do depoente mostra que não optou pela neonatologia e sua estadia no mundo
neonatal é gerada por satisfações, expectativas e fortalecimento do conhecimento científico.

430
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
[…] você tem 15, 20 anos de profissão e você ainda diminui o tom de voz
para falar com a criança e vai lá e fala perto dela com denguinho então, isso
me deixa bem emocionada de ver, né? […]. (E22)

Os profissionais se reportam ao passado com toda sua vivência profissional, realizan-


do adaptações em seu conhecimento por meio do aprimoramento científico a uma clientela
infantil que é sua vivência atual.

Categoria 3 - Tempo vivido do profissional enfermeiro sobre o recém-nascido de alto


risco

Com a imersão da terceira categoria, “o tempo vivido do profissional enfermeiro sobre


o recém-nascido de alto risco”, o enfermeiro tem um olhar diferenciado aos cuidados pres-
tados ao RN de alto risco através da relação dele com seu envolvimento em um só golpe do
futuro no presente. O tempo (passado, pre- sente e futuro) é o próprio meio de existência
do sujeito como ser ativo, que forma intenções, carrega consigo, no presente, um senso
do que passou, assim como a sensação do futuro sobre o presente, ou seja, o passado, o
presente e o futuro não têm o mesmo sentido de ser(7).

[…] às vezes a gente não está num bom momento, muito sobrecarregada
de serviço, no corre-corre do dia a dia, dentro da UTI, e muitas coisas nos
passam desapercebido, e a gente tem que parar, dar um tempo, para poder
entender tudo que aquela criança está querendo nos passar. (E08)

Ao se ter um olhar diferenciado sobre os cuidados dispensados ao recém-nascido de


alto risco, crer um mundo se dá através da relação e do envolvimento com ele, da percep-
ção no sentido de se envolver em um só golpe todo o futuro de um presente que nunca se
garante. É o que torna essa percepção do ser no mundo e que possibilita a abertura de
vivenciar o presente, vincular o passado ao presente com perspectivas no futuro.

[…] eu ficava muito agoniada de trabalhar no primeiro momento com ele, com
o recém-nascido, e por você saber que o bebê foi muito esperado, eu sei que
não por todas as mães, mas pela grande maioria […], ali na hora que ele
nasce, não ser aquilo que a mãe esperava, então, aquilo me dava um pouco
de medo, de receio […]. (E16)

O discurso acima diz que o bebê idealizado pela mãe e que se encontra no momento
dentro de uma UTI, faz emergir sentimentos de medo, angústia e apreensão pelo profis-
sional enfermeiro. Ao saber compreender o recém-nascido e sua família em momentos tão
dolorosos, o enfermeiro aprende a minimizar tanto sofrimento, iniciando pelo seu, em uma
atitude de intersubjetividade.

431
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
DISCUSSÃO

Na obra Fenomenologia da Percepção, Merleau-Ponty(7) destaca que o corpo humano


se assemelha a uma obra de arte, pois não parece mais que uma coisa entre as outras, é
também a sede em que se articulam todos os significados. Esse corpo, iluminado discreta-
mente pela subjetividade, apresenta-se como tecido de coisas e de espírito e de não sentido,
como encontro de experiências vivas(7).
Para o filósofo, o corpo objetivo e fisiológico é o que pode ser observado, estudado,
pesquisado, dividido em partes como tecidos e órgãos com funções específicas. O corpo
vivido é o condutor do ser e está no mundo assim como os nossos órgãos estão no nosso
organismo, mantendo o espetáculo, dando visibilidade à vida, alimentando-o interiormente
e formando um sistema. O ser, ao comunicar-se através do corpo, tem passagem para o
mundo, pois alcança os que representam a razão de todas as experiências que podem ser
vividas por meio de um processo perceptivo(7).
Ademais, os achados de um estudo destacam que os profissionais conhecem a impor-
tância em humanizar a assistência por se tratar de um processo que garante a melhoria de
sua qualidade e, consequentemente, da qualidade de vida dos neonatos. No entanto, eles
não trabalham nesta perspectiva quando caracterizam suas práticas cuidativas(11). Nesse
sentido, cientes de um cuidado acolhedor e humanizado ao neonato, não reconhecem co-
locar em prática.
Foi possível observar, ainda, que os profissionais conseguem compreender algumas
particularidades do neonato pré-termo, o que faz diferença no cuidado prestado, a exemplo
da apneia, a alimentação diferenciada, fragilidade da pele, ossos e sistemas corporais como
o imunológico, respiratório, gastrintestinal e nervoso(12). Diante dessa colocação, estudos
enfatizam que um dos cuidados prestados na unidade de terapia intensiva neonatal é o
posiciona- mento em prona, ou seja, decúbito ventral dos recém-nascidos, favorecendo a
diminuição do estresse em vez de mantê-los em posições tradicionais(13).
Nesse sentido, os resultados apontam para o olhar de Mer- leau-Ponty, que se mostra
preocupado com o ser humano como corpo sujeito, pois a vida concreta é sempre encar-
nada e não há pensamento que não conte com a experiência sensível. Apesar disso, ele
reconhece o corpo (corpo vivido) como essência do sujeito pela qual se constrói e se torna
mundo individual e está inserido no mundo dado, em uma situação de tempo e espaço cir-
cunstancial que contribui para a constituição da subjetividade e expressividade do sujeito(7).
Portanto, o enfermeiro pode ajudar esses pais ficando atento a tais sinais e oferecen-
do estratégias de enfrentamento, sendo necessário, antes, entender os sentimentos que
poderão enfrentar. Os pais também devem receber uma educação familiar individualizada
e de atendimento empático(14).
432
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Nesse sentido, quando um recém-nascido está enfrentando com- plicações, comuns
na prematuridade, existem dúvidas em relação ao fato de que a vida deve ser preservada
a todo custo. Isso ocorre principalmente na sociedade americana, onde existe a crença em
uma forma de vitalismo: a ideia de que uma vida longa e saudável, sobretudo desejável, é
um direito de cada indivíduo, moralmente habilitado a viver o máximo possível e ser o mais
saudável possível. Por isso, os recém-nascidos recebem cuidados de alta qualidade e em
muitos casos têm suas vidas salvas. Mesmo se comparado há apenas uma década atrás,
menos recém-nascidos estão morrendo(15). Os relatos dos enfermeiros elegem o ambiente
neonatal de aquisição de equipamentos, aquisição de pessoal e, apesar de toda maquinaria
que compõe a unidade neonatal, toda vivência do profissional enfermeiro que circunda esse
mundo objetivo, a priorização do contato humanizado com a família, a sensibilização e a
observação aguçada ao corpo fenomenal têm que prevalecer. No entanto, com a aquisição
do uso da tecnologia na neo-natologia, a proposta de um estudo enfatiza como ferramenta
fundamental para o cuidado de enfermagem a otimização de tempo direcionado ao recém-
-nascido, maximizando a qualidade do cuidado integral UTIN e facilitando a comunicação
entre a equipe multiprofissional(11).
A comunicação entre a equipe multiprofissional e o enfermeiro, por meio do cuidar ime-
diato ao recém-nascido, desenvolve ações acerca deste processo, podendo intervir, se neces-
sário, frente às reais necessidades da criança, implementando novas formas de cuidar(16).
Outro ponto que merece destaque, baseado em novas formas do cuidar, é a aplicabili-
dade das tecnologias de informação e comunicação, ampliando o acesso ao conhecimento
científico por intermédio da educação on-line e contribuindo com a formação de profissionais
experientes e recém formados, aprimorando o conhecimento em suas áreas de atuação(17).
A criança e sua família deverão ser observadas também dentro de um olhar fenome-
nológico: o olhar merleaupontiano para a infância pediria maior delicadeza para com o pú-
blico infantil na escola, no teatro, nos buffets e nos espaços públicos, nas praias, piscinas,
vestiários, nos meios de transporte e nos hospitais(18).
Um estudo aponta que a internação hospitalar é considerada um evento em que a mãe
do recém-nascido hospitalizado em uma UTIN enfrenta e presencia cuidados dolorosos
realizados ao recém-nascido, sendo que, no futuro, poderá participar efetivamente desses
cuidados e se sentir mãe(19). Merleau-Ponty dá mais uma vez um novo sentido ao “objeti-
vo” e ao “subjetivo”. Para alguém que acredita nos pressupostos objetivistas, que o tempo
é somente subjetivo, irreal, imaginário e uma invenção humana, ele discorda. O tempo do
passado, do presente e do futuro é subjetivo porque só pode existir se houver sujeitos ca-
pazes de experimentá-los dessa forma(20).

433
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Um estudo da Coreia demonstra que é de suma importância notar que a separação de
sua mãe e o ambiente da UTIN se limitam à interação dos sentidos visuais, auditivos e táteis
entre mães e filhos, causando ansiedade nas genitoras, o que afeta o vínculo materno. Além
disso, é uma experiência estressante para elas, pois sentem-se culpadas por pensarem que
o parto foi prematuro por descuido(21).
Portanto, em uma atitude de intersubjetividade, ou seja, envolvimento com a família,
o enfermeiro, além de realizar o cuidado direcionado ao binômio mãe e filho, intermediando
esse vínculo, aproxima também outros entes da família como os pais, avós e filhos, com-
partilhando desse momento tão delicado.

Limitações do estudo

O fator limitante desta pesquisa foi a escassez de publicações referentes ao cuidado


do recém-nascido no universo neonatal tendo o referencial teórico, filosófico e metodológico
do filósofo Maurice Merleau-Ponty. É pertinente destacar que, em virtude do estudo ter sido
contextualizado em apenas uma UTIN, para fins de comparação torna-se necessário que
sejam desenvolvidos novos estudos que contemplem outras unidades neonatais no município
do Rio de Janeiro, a fim de que outros profissionais iniciantes na neonatologia e os que já
se encontram na prática usufruam de uma assistência integral e efetiva.

Contribuições para a área da enfermagem, política pública

Espera-se que a pesquisa contribua com a qualificação e aprimoramento em educação


e saúde dos profissionais de enfermagem que necessitam renovar os cuidados prestados
ao recém-nascidos de alto risco, considerando a dimensão do ser de forma a contemplar um
cuidado holístico e de qualidade com o intuito de fornecer subsídios para que o enfermeiro
desenvolva suas atividades assistenciais.
Assim, a contribuição do estudo poderá estimular profissionais de saúde, ou seja, uma
equipe multiprofissional, sobre a necessidade de reflexões das políticas de saúde pública
interligada aos cuidados neonatais e à família de forma a assegurar os direitos constitucio-
nais e de saúde que lhe são pertinentes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo nos permitiu descrever, através das falas dos participantes, que o cuidado
ao recém-nascido de alto risco é amplo, ou seja, objetivo, subjetivo e realizado com tecno-
logias avançadas, suas vivências e aprimoramento científico composto do teórico prático
compartilhado com a família, profissionais e iniciantes no universo neonatal, favorecendo
434
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
um cuidado diferenciado e humanizado. Porém, alguns desafios enfrentados pelo profis-
sional enfermeiro, como a jornada de trabalho duplicada e desgaste físico e emocional, os
direcionam a determinada tomada de decisão e reflexão.

FOMENTO

Agradecemos a FAPERJ (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de


Janeiro) o apoio financeiro para confecção final do artigo.

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
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pedn.2016.02.007

436
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
SOBRE O ORGANIZADOR

Rossano Sartori Dal Molin


Possui Graduação em Enfermagem pela Universidade de Caxias do Sul, Especialização em Enfermagem
Obstétrica, Especialização em Gestão do Trabalho Pedagógico, Especialização em Anatomia Funcional
e MBA em Gestão de Instituições de Ensino Superior, sendo esse último com estágio na University of
Turku na Finlândia, onde desenvolveu estudos acerca da pedagogia da inovação e o uso de indicadores
na gestão universitária. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul -
UFRGS, na linha de pesquisa intitulada Estudos e Práticas da Saúde da Mulher, Criança e Adolescente.
Doutor em Pediatria e Saúde da Criança pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul -
PUCRS, onde desenvolveu pesquisas na temática da asma infantil. Têm experiência em enfermagem,
especialmente na área da saúde da mulher, recém-nascido, criança, fundamentos de enfermagem,
saúde coletiva e gestão. Ainda, experiência em gestão pedagógica, assim como processos educacionais,
construção de currículos e projetos de cursos, nos diferentes níveis de formação profissional. Atualmente
é professor da FSG Centro Universitário, na área da Saúde da Mulher e da Criança, Coordenador do
Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos - CEP/HP, Coordenador de Ensino e Pesquisa
do Hospital Pompéia de Caxias do Sul e Diretor da Escola de Saúde do Hospital Pompéia - ESHP.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/3534582408466846I

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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
ÍNDICE REMISSIVO

367
A
Diagnósticos Laboratoriais: 181
Acesso aos Serviços de Saúde: 372, 375
Dinamômetro: 62
Aids: 141, 230, 254, 258, 259, 266, 267, 413,
419, 421 Doenças Sexualmente Transmissíveis: 421

Assistência Integral: 375 Dor do Parto: 28

Atenção Básica: 253 Drogas: 388, 390, 392, 393, 399, 400, 401, 403

Atitudes: 372 E
B Educação Sexual: 354

Biomarcadores: 291 Endométrio: 291

C Endometriose: 291, 298

Câncer de Mama: 98, 101, 102, 162 Enfermagem: 25, 26, 28, 42, 43, 45, 47, 55, 56,
57, 59, 73, 76, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 87,
Câncer de Ovário: 165 89, 90, 93, 98, 99, 100, 101, 120, 129, 130, 131,
132, 136, 150, 153, 230, 235, 250, 254, 271,
Capacidade Funcional: 62 280, 284, 288, 289, 314, 330, 331, 341, 342,
343, 345, 347, 348, 350, 351, 352, 353, 354,
Classificação: 98, 100, 153, 198, 211
355, 357, 358, 359, 362, 363, 364, 365, 369,
Climatério: 17, 19, 24, 25, 26, 269, 277, 278 370, 372, 383, 384, 388, 390, 392, 401, 403,
408, 420, 423, 435, 436
Competência Profissional: 45
Enfermagem Obstétrica: 45
Conhecimento: 82, 195, 269, 272, 284, 289,
366, 384, 405, 409, 410, 411, 420, 421 Enfermeira Obstétrica: 45

Corpo: 131, 429 Enfermeiros: 47, 56, 57, 70, 84

Covid: 315 Epidemiologia: 98, 164, 165, 194, 294, 313

Cuidados: 84, 85, 86, 87, 90, 93, 98, 129, 211, Equipe Multidisciplinar: 134
357, 360, 392
Ética: 49, 54, 71, 80, 81, 82, 83, 84, 105, 108,
Cuidados de Enfermagem: 84, 86, 87, 90, 357, 111, 115, 116, 122, 125, 126, 127, 128, 129
360
Exames: 140, 180, 183, 246
D
F
Desinstitucionalização: 269
Fatores de Risco: 99, 165, 212, 309
Diagnóstico: 97, 153, 188, 189, 220, 266, 287,
291, 295, 300, 364, 385, 401 Funcionalidade: 196, 198, 211

Diagnósticos: 93, 253, 297, 343, 363, 364, 365, G


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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Gestação: 139, 194, 224, 345, 405 R
Gestantes: 185, 195, 227, 228, 230, 235, 339 Radioterapia: 87, 90, 100

Glicodelina: 291, 299 Recém-Nascido: 134

Gravidez: 328, 354, 388, 390, 401 Risco: 99, 194, 224, 286, 289, 353, 365, 366,
367, 385, 423
H
S
Hiperglicemia: 215, 216
Saúde da Mulher: 134, 370
I
Saúde Reprodutiva: 227
Itinerário Terapêutico: 383, 384, 386
Sexualidade: 139, 345, 350, 354
L
Sífilis: 187, 188, 195, 253, 261, 264, 267, 405,
Lactentes de Risco: 197 406, 409, 419, 420, 421

M T
Mastectomia: 159 Transtornos: 287, 388, 390, 392

Menopausa: 17, 19, 21, 26, 270 U


Mortalidade Infantil: 313 Útero: 291, 372, 375, 384, 385, 386

Mulheres: 24, 26, 131, 171, 230, 252, 278, 328, V


341, 384
Violência: 43, 70, 84, 85, 261
N
Neonatologia: 53, 211, 423

Neoplasia da Mama: 153

O
Obstetrícia: 53, 57, 70, 122, 151, 162

P
Pandemia: 316

Participação: 49, 204, 269, 272

Parto: 28, 42, 62, 216, 220, 238, 250, 288, 289,
309, 328, 388, 390, 392

Prisioneiros: 328

Prisões: 328

Processo de Enfermagem: 357, 360

Puericultura: 306, 314

Puerpério: 133, 280


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Organizador

VENDA PROIBIDA - acesso livre - OPEN ACCESS

editora científica

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