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SAÚDE DA MULHER
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1ª EDIÇÃO
editora científica
2021 - GUARUJÁ - SP
Copyright© 2021 por Editora Científica Digital
Copyright da Edição © 2021 Editora Científica Digital
Copyright do Texto © 2021 Os Autores
O conteúdo dos capítulos e seus dados e sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores. É permitido
o download e compartilhamento desta obra desde que no formato Acesso Livre (Open Access) com os créditos atribuídos aos respectivos
autores, mas sem a possibilidade de alteração de nenhuma forma ou utilização para fins comerciais.
Todo o conteúdo deste livro está licenciado sob uma Licença de Atribuição Creative Commons. Atribuição 4.0
Internacional (CC BY 4.0).
Direção Editorial
Reinaldo Cardoso
João Batista Quintela
Editor Científico
Prof. Dr. Robson José de Oliveira
Assistentes Editoriais
Elielson Ramos Jr.
Erick Braga Freire
Bianca Moreira
Sandra Cardoso
Bibliotecário
Maurício Amormino Júnior - CRB6/2422
Jurídico
Dr. Alandelon Cardoso Lima - OAB/SP-307852
CONSELHO EDITORIAL
Mestres, Mestras, Doutores e Doutoras
Robson José de Oliveira Erival Gonçalves Prata
Universidade Federal do Piauí, Brasil Universidade Federal do Pará, Brasil
DOI: 10.37885/210303777................................................................................................................................................................................... 16
CAPÍTULO
02
A EXPERIÊNCIA DO PARTO DE UM GRUPO DE MULHERES DE UMA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA DE SOROCABA/SP
Jhonata William Mergis Carnelós; Caroline de Oliveira Lima; Janie Maria de Almeida
DOI: 10.37885/210203174................................................................................................................................................................................... 27
CAPÍTULO
03
COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS PARA PRÁTICA DA ENFERMAGEM OBSTÉTRICA: REVISÃO INTEGRATIVA
Márcia Cordeiro da Cunha; Letícia Becker Vieira; Laura Leismann de Oliveira; Paola Melo Campos; Paula Cristina Barth Bellotto;
Helga Geremias Gouveia
DOI: 10.37885/210303907................................................................................................................................................................................. 44
CAPÍTULO
04
COMPORTAMENTO DA FORÇA MUSCULAR RESPIRATÓRIA, DA FORÇA DE PREENSÃO PALMAR E DA CAPACIDADE
FUNCIONAL ENTRE PUÉRPERAS E EM NULIGESTAS
Michele Saldanha; Eduarda Silveira; Maria Eduarda Lara de Oliveira; Marciele Silveira Hopp; Litiele Evelin Wagner; Solange Schio
Lanza; Jonathas Gauciniski; Dannuey Machado Cardoso; Patrícia Érika de Melo Marinho; Dulciane Nunes Paiva
DOI: 10.37885/210404120................................................................................................................................................................................... 61
CAPÍTULO
05
CONFLITOS E DILEMAS ÉTICOS VIVENCIADOS NA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA NO CONTEXTO HOSPITALAR
Elaine Guedes Fontoura; Analu Sousa de Oliveira; Marluce Nunes Alves Oliveira; Déborah de Oliveira Souza; Ayla Melo Cerqueira;
Íris Cristy da Silva e Silva; Thamara Arianny Ventin Amorim Oliveira de Assis; Lorraine Alves de Souza Santos; Maryana Carneiro de
DOI: 10.37885/210404356................................................................................................................................................................................. 69
SUMÁRIO
CAPÍTULO
06
CUIDADOS DE ENFERMAGEM À MULHER QUE REALIZA RADIOTERAPIA POR CÂNCER DE MAMA: UMA REVISÃO
INTEGRATIVA
Ana Claudia Miranda Tempone Pinto; Drª Thaís Vasconselos Amorim; Drª Andyara do Carmo Pinto Coelho Paiva; Suellen Fernanda
de Souza Viana; Rômulo Cândido Nogueira do Nascimento; Carolina de Oliveira Baumgratz
DOI: 10.37885/210203216.................................................................................................................................................................................. 86
CAPÍTULO
07
CÂNCER DE MAMA E FEMININO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA COM MULHERES EM TRATAMENTO NA ATENÇÃO TERCIÁRIA
Cidélia Carmem Sousa; Rita Piedade de Souza Paula; Ronaldo Sales de Araujo
CAPÍTULO
08
DILEMAS ÉTICOS VIVIDOS PELA EQUIPE DE SAÚDE NO CUIDADO À MULHER EM ABORTAMENTO INDUZIDO
Lorraine Alves de Souza Santos; Marluce Alves Nunes Oliveira; Ivanilza Carminha da Silva ; Elaine Guedes Fontoura; Maryana Carneiro
de Queiroz Ferreira; Analu Sousa de Oliveira; Ayla Melo Cerqueira; Íris Cristy da Silva e Silva; Déborah de Oliveira Souza; Thamara
Arianny Ventin Amorim Oliveira de Assis
CAPÍTULO
09
DO PRÉ-NATAL AO PUERPÉRIO: ARTICULAÇÕES COM A PRÁTICA
Carina Bortolato-Major; Francis Helber Possari Juliano; Rafael Davi Botelho; Carolina Fordellone Rosa Cruz
DOI: 10.37885/210404213.................................................................................................................................................................................133
CAPÍTULO
10
EFETIVIDADE DO PROGRAMA DE PREVENÇÃO E RASTREAMENTO DE CÂNCER DE MAMA NO MUNICÍPIO DE CAXIAS DO
SUL/RS
DOI: 10.37885/210504843................................................................................................................................................................................152
SUMÁRIO
CAPÍTULO
11
EPIDEMIOLOGIA E FATORES DE RISCO ASSOCIADOS AO CÂNCER DE OVÁRIO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
José Aderval Aragão; Fernanda Vieira Santos Moreira; Ana Monize Ribeiro Fonseca; Brunna Karolyne Souza Hora; Eduarda Santana
dos Santos; Marília Souza Alves Gois; Natália Araújo Barreto; Francisco Prado Reis
DOI: 10.37885/210404258............................................................................................................................................................................... 164
CAPÍTULO
12
EXAMES LABORATORIAIS PARA ACOMPANHAMENTO DO PRÉ-NATAL E A FISIOPATOLOGIA DA GESTAÇÃO: UMA REVISÃO
NARRATIVA
Andréa Fernanda Lomba Santos; Amanda Aparecida Silva Cruz; Mateus Flávio Sousa; Mayara Dumont Cunha; Carolina Pires Ferreira;
Isabela Cristina Moreira Souza; Fabiana Angélica de Paula; Helisamara Mota Guedes
DOI: 10.37885/210303919................................................................................................................................................................................ 180
CAPÍTULO
13
FUNCIONALIDADE E INCAPACIDADE DE LACTENTES DE RISCO NO PRIMEIRO ANO DE VIDA
Raissa Wanderley Ferraz de Abreu; Camila Resende Gâmbaro Lima; Nelci Adriana Cicuto Ferreira Rocha
CAPÍTULO
14
HIPERGLICEMIA NA GESTAÇÃO, PARTO A TERMO PRECOCE E HIPOGLICEMIA NEONATAL
Sávio Ferreira Camargo; Juliana Dantas Camargo; Jessione de Carvalho Lima Neto; Maria da Conceição de Mesquita Cornetta
DOI: 10.37885/210102924.................................................................................................................................................................................215
CAPÍTULO
15
IMPORTÂNCIA DE UM MANEJO CLÍNICO ADEQUADO EM GESTANTES SOROPOSITIVAS AO HIV: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
Emmanuel Victor Sousa França; Carliana Ingrid de Castro Silva; Lisandra Samara Verdegér Faustino; Damara Zayane Barros Freitas;
Maria Alexandra Pereira Souza; Karoline Maria Rodrigues Forte Sousa; Isadora Anízio Veríssimo de Oliveira; Renata Carol Evangelista
Dantas; Vilma Raquel Lima Ramalho de Holanda; Daysianne Pereira de Lira Uchoa
DOI: 10.37885/210404364............................................................................................................................................................................... 226
CAPÍTULO
16
INVESTIGAÇÃO DA ADEQUABILIDADE DAS CONSULTAS PRÉ-NATAIS NA CIDADE DE MACAPÁ
Brunna Sousa Nascimento; Ingrid Terezinha Carvalho Pinheiro; Jessica Santos Santana; Jalva Maria do Socorro Costa Vulcão
CAPÍTULO
18
O CUIDADO EM SAÚDE MENTAL A MULHERES CLIMATÉRICAS NO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
Marcilene Batista de Holanda; Mabel Geane Ramalho Calado; Iandra Rodrigues da Silva; Dária Catarina Silva Santos; Pedro Camilo
Calado da Silva; Juliane da Silva Pereira; Silvana Cavalcanti dos Santos; Ana Carla Silva Alexandre; Alice Rodovalho de Souza e Silva;
Valquiria Farias Bezerra Barbosa
DOI: 10.37885/210303963............................................................................................................................................................................... 268
CAPÍTULO
19
O PAPEL DA ENFERMAGEM NO ACOMPANHAMENTO PUERPERAL DA MULHER COM SINAIS DE DEPRESSÃO PÓS-PARTO
Sthéfani Varela; Rossano Sartori Dal Molin
CAPÍTULO
20
OS AVANÇOS NO DIAGNÓSTICO DA ENDOMETRIOSE E A IMPORTÂNCIA DA SUA REALIZAÇÃO DE FORMA PRECOCE
José Aderval Aragão; Taynara Menezes Ramos; Vitoria Oliveira Reis; Rayssa Mirelle Santos Carvalho; Rafael Valença de Souza Santos;
Victória Hora Mendonça de Oliveira; Roberta Visniewski Ximenes; Francisco Prado Reis
DOI: 10.37885/210404216................................................................................................................................................................................ 290
CAPÍTULO
21
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA MORTALIDADE INFANTIL DE CAXIAS DO SUL/RS
Renata Pereira de Oliveira; Mérlim Fachini; Rossano Sartori Dal Molin
CAPÍTULO
22
PREMATURIDADE DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19 EM VIGÊNCIA DE MEDIDAS RESTRITIVAS: UMA REVISÃO
INTEGRATIVA
Iapunira Catarina Sant’Anna Aragão; Felipe Matheus Sant’Anna Aragão; Letícia Du Rocher Martins Teixeira; Paôla Cardoso; Pedro
Henrique Adário Marassi; Rafael dos Santos Reis; Clarisse Pereira Dias Drumond Fortes; Luciano Rodrigues Costa; José Aderval Aragão
DOI: 10.37885/210404243................................................................................................................................................................................315
SUMÁRIO
CAPÍTULO
23
REALIDADE DAS MULHERES PRIVADAS DE LIBERDADE NO CICLO GRAVÍDICO PUERPERAL NO SISTEMA PRISIONAL
BRASILEIRO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
Beatriz Fornazari Demarchi; Grace Pfaffenbach; Cristiane Pereira de Castro; Aline Bedin Zanatta
CAPÍTULO
24
RODA DE CONVERSA SOBRE SEXUALIDADE E PREVENÇÃO A GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA COM ALUNOS DE UMA ESCOLA
MUNICIPAL DO SUDESTE DO PARÁ: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA A PARTIR DA UTILIZAÇÃO DO ARCO DE MAGUEREZ
Bruna Maciel Ribeiro da Silva; Amanda de Lima Ferreira; Deuziane de Jesus Sousa Luz; Emilly Silva Araújo; Elma de Sousa Fontoura;
Gustavo Gonçalves Pegoreth; João Paulo Oliveira de Sousa Costa; Linda Inêz Alves da Silva; Vitor Teles Rodrigues; Diego Santhiago
Vieira Alves; Whatina Leite de Souza
CAPÍTULO
25
SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NAS CONSULTAS DE PRÉ-NATAL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
Elielza Guerreiro Menezes; Alice Peres Souto Pereira; Maria Luiza Carvalho de Oliveira; Sonia Rejane de Senna Frantz; Taycelli Luiza
de Oliveira Dias; Thiago Queiroz de Souza; Alessandrina Gomes Doval; Andreza Ramos Bessa Dantas; Nathalie Rezende Batalha
Gomes; Clarissa Alves Pinheiro
CAPÍTULO
26
TRAJETÓRIAS TERAPÊUTICAS DE MULHERES COM CÂNCER DO COLO DO ÚTERO: O ESTADO DA ARTE
Anna Flávia Silva do Nascimento; Andyara do Carmo Pinto Coelho Paiva; Fabíola Lisboa da Silveira Fortes; Elaine Miguel Delvivo Farão;
Thaís Vasconselos Amorim; Michelle Souza Nascimento
CAPÍTULO
27
USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS POR GESTANTES E PUÉRPERAS: PROBLEMAS ACARRETADOS À SAÚDE MATERNO-
INFANTIL
Karen Barcelos Lopes; Juliane Portella Ribeiro; Melissa Hartmann; Amanda do Rosário Tavares; Matheus dos Santos Rodrigues
CAPÍTULO
29
VIVÊNCIAS DO ENFERMEIRO NO CUIDADO AO RECÉM-NASCIDO DE ALTO RISCO: ESTUDO FENOMENOLÓGICO
Sueli Maria Refrande; Rose Mary Costa Rosa Andrade Silva; Eliane Ramos Pereira; Renata Carla Nencetti Pereira Rocha; Sérgio
Henrique da Silva Melo; Neusa Aparecida Refrande; Ricardo Raimundo dos Santos; Simone Henriques da Silveira; Rita de Cássia
Oliveira da Cunha; Maria Clara Rezende Cruz
DOI: 10.37885/210202958............................................................................................................................................................................... 422
ÍNDICE REMISSIVO..............................................................................................................................................438
01
A dinâmica de mitos e verdades
na promoção da saúde à mulher
climatérica: um relato de experiência
10.37885/210303777
RESUMO
17
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO
Por volta dos 35 e 40 anos, estendendo-se aos 65 anos, dá-se início a uma impor-
tante fase na vida da mulher, denominada climatério, um fenômeno endócrino decorrente
do esgotamento dos folículos ovarianos caracterizado por um estado de hipoestrogenismo
progressivo e que é marcado pela menopausa, a qual corresponde ao último ciclo menstrual
após 12 meses da sua ocorrência (ALVES et al., 2015; MELO; SILVA; GIOTTO, 2019).
Os sinais e sintomas potencialmente prejudiciais à saúde são desencadeados por meio
de manifestações transitórias, como a irregularidade menstrual, fogachos (mudança repen-
tina na temperatura corporal) e suores noturnos que ocorrem com bastante frequência; e as
manifestações não transitórias, com devido destaque para o ressecamento vaginal, sangra-
mentos, mudanças nos níveis de estrogênio e ganho de peso (BRASIL, 2016). Há também
uma diminuição da elasticidade da pele; aumento do colesterol e dos depósitos de gordura;
e intensificação da osteopenia que as tornam suscetíveis à osteoporose (BRASIL, 2008).
Durante esse período pode ocorrer a perda ou ganho ponderal, hipertensão arterial,
incontinência urinária, redução da libido e rejeição do parceiro relacionada, principalmente
à dispareunia que é a dor durante as relações sexuais gerada pela falta de lubrificação
vaginal que provoca insatisfação sexual. As alterações hormonais características da fase
climatérica também tornam a mulher mais suscetível a transtornos psíquicos que se mani-
festam através da mudança repentina de humor, cefaleia, insônia, nervosismo, depressão,
ansiedade, humor deprimido, sensação de inutilidade, dentre outros (ALVES et al., 2015;
BENETTI et al., 2019; BRASIL, 2016).
Fatores como hábitos alimentares, atividade física e de lazer, sexualidade, renda, as-
pectos profissionais e religiosos, atitudes e comportamentos do cotidiano também devem
ser considerados. Ademais, a interpretação do climatério e menopausa pela sociedade
ocidental como algo negativo também pode interferir na autoestima, pois um fenômeno fi-
siológico passa a ser entendido como perda de feminilidade, que engendra-se em medo do
envelhecimento e desequilíbrio biopsicossocial que se altera de tipo e intensidade e varia
de mulher para mulher (BENETTI et al., 2019; VIEIRA et al., 2018).
Segundo Melo; Silva; Giotto (2019), o climatério é um fenômeno que transforma a vida
da mulher de forma fisiológica, mas tem uma conotação patológica, pois esse processo
adaptativo também envolve a forma como a mulher se percebe e vai requerer autoaceitação
diante dos incontáveis tabus, preconceitos, fatores culturais e de desconhecimento que per-
meiam essa fase. Portanto, a falta de discussão sobre o assunto faz com que as mulheres
enfrentem o climatério de forma sigilosa e silenciosa, resultando em desinformação e busca
por auxílio de profissionais de saúde somente após manifestações clínicas que as afetam
de forma mais intensa (BENETTI et al. 2019).
18
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
O estudo realizado por Vieira, et al. (2018) com 16 mulheres de uma Unidade Básica
de Saúde (UBS) em um município do Paraná, constatou conflito de conhecimento sobre
climatério, o qual era confundido com a menopausa por 100% das mulheres. Leite et al.
(2012) notaram que baixos níveis de escolaridade podem ser uma barreira para o entendi-
mento do climatério, já que 55% das mulheres de 40 a 65 anos apresentaram grau de ensino
incompleto e apenas 15% tinham nível superior, contribuindo para um entendimento menos
preciso das alterações e sintomas.
Ademais, nota-se que há crenças e mitos em torno da menopausa e do climatério que
transcendem gerações e esses saberes não refletem de maneira positiva no bem-estar fe-
minino. Um dos mitos é o de que o desejo sexual torna-se inexistente na mulher climatérica
e a sociedade cria estereótipos sobre o papel da mulher, sobre o ser mãe e o ser esposa
e a mulher em si, torna-se incompreendida e vivencia momentos conflituosos no ambiente
social e familiar (SILVA et al., 2015).
Dessa forma, é fundamental a avaliação pelo profissional de saúde, que de maneira
holística vai identificar casos que necessitam de acompanhamento, visando a promoção
da saúde, diagnóstico precoce, tratamento imediato dos agravos e a prevenção de danos
(SILVA; SOUZA; ALVES, 2015). Para isso, o Ministério da Saúde criou o Manual de Atenção
Integral à Saúde da Mulher no Climatério/Menopausa dando atenção específica à saúde da
mulher nesta fase por meio de informações sobre sinais e sintomas dessa fase e diversas
formas de tratamento de abordagem não farmacológica e/ou farmacológica (BRASIL, 2008)
A abordagem da enfermagem na Unidade Básica de Saúde (UBS) pode ser feita por
meio de grupos focais, reuniões e entrevistas é essencial para o acolhimento e assistência
às mulheres no climatério (MELO; SILVA; GIOTTO, 2019). Mesmo sendo a principal porta
de entrada para o sistema público de saúde, seu foco ainda está mais voltado para a fase
reprodutiva da mulher, construindo uma lacuna na concessão de saúde à mulheres clima-
téricas, assim, são necessárias ações de educação em saúde com objetivo de informar,
debater, esclarecer mitos e verdades que circundam essa fase de vida da mulher.
Dessa forma, o presente relato tem por objetivo apresentar a experiência dos acadêmi-
cos de enfermagem da Universidade do Estado do Pará - UEPA, Campus VII, na aplicação
de uma ação educativa de mitos e verdades sobre a menopausa e o climatério, com mulheres
atendidas em uma Estratégia de Saúde da Família - ESF de um município do interior do Pará.
MÉTODO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
20
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
sinais, sintomas, cuidados com a alimentação, exercícios físicos e tratamentos indicados
para o climatério.
Dessa forma, a problemática referente à assistência de enfermagem à mulher no clima-
tério observada pelos discentes, contribuiu para o levantamento dos seguintes pontos-chave:
“Limitações do conhecimento das mulheres acerca dos cuidados em saúde no climatério” e
“Bem-estar psicológico e qualidade de vida das mulheres no climatério”.
Após levantamento teórico, surgiram as hipóteses de solução, que foram elaboradas
com foco na interação entre os acadêmicos e o público em questão com o intuito de fornecer
esclarecimento sobre a menopausa e o climatério, seus sinais e sintomas a nível fisiológico
e psicológico, mediando mudanças no estilo de vida, por meio de uma roda-de-conversa e
uso de dinâmica sobre os mitos e verdades na respectiva ESF onde se observou o problema.
A escolha dessa abordagem se deu porque possibilita a interação entre o pesquisador
e os participantes da pesquisa, não sendo uma abordagem fechada e diretiva em que se faz
perguntas em procura de respostas, mas sim, uma discussão na qual os participantes são
incentivados a emitirem opiniões sobre o tema de interesse (MELO; CRUZ, 2014). O instru-
mento de mitos e verdades sobre a menopausa do Ministério da Saúde, na forma de dinâmica,
auxiliou na conversação e possibilitou maiores esclarecimentos sobre o tema (BRASIL, 2018).
As atividades educativas foram realizadas em dois momentos; o público alvo eram mu-
lheres que se encontravam aguardando atendimento ou estavam acompanhando pessoas
na UBS, assim, o primeiro momento consistiu na distinção entre menopausa e climatério,
em seguida a realização da dinâmica de mitos e verdades.
Com o intuito de orientar sobre hábitos de vida saudáveis foram apresentados os Dez
passos para alimentação saudável em anexo no Manual de Atenção à Mulher no Climatério,
seguida de oferta de café da manhã rico em frutas regionais e de fácil acesso para adequar
a alimentação à realidade vivida por elas tais como a manga, melancia, abacaxi, mamão,
laranja e maçã. Somava-se à mesa o bolo de milho e sucos de acerola e abacaxi, além do
chá de erva cidreira.
Além disso, foi entregue um panfleto informativo sobre o que é o climatério a cada
mulher, no qual informava sobre o que é a menopausa e climatério, as manifestações, a
forma de lidar diariamente com os sintomas, opções de tratamento e guia de estilo de vida
saudável. Esse panfleto foi elaborado pelos pesquisadores, baseado no Protocolo de Atenção
Básica às Mulheres (BRASIL, 2016).
24
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
CONCLUSÃO
Diante do exposto, a atividade promovida pelos discentes contribuiu para uma melhor
percepção das mulheres sobre o climatério e menopausa, na qual foi possível esclarecer
mitos e crenças amplamente disseminados na sociedade e que corroboram negativamente
no cuidado à mulher climatérica. A aplicação do Arco de Maguerez na pesquisa também foi
de suma importância, especialmente no processo de sistematização do estudo e na escolha
das intervenções: roda de conversa e dinâmica de mitos e verdades.
Observou-se que algumas mulheres já possuíam um conhecimento científico sobre o
assunto, outras entendiam o tema só com o conhecimento popular, assim esse saber foi
aprimorado através da discussão. O caráter lúdico da dinâmica permitiu uma melhor interação
do grupo e impulsionou a troca de saberes. A troca de experiências ocorrida durante a roda
de conversa e a dinâmica de mitos e verdades colaboraram para uma visão realista acerca
da necessidade de promover educação para a saúde integral das mulheres.
É notável que a lacuna no conhecimento influencia diretamente no sucesso da qua-
lidade de vida das mulheres do climatério, sendo assim, é necessário que a cultura do co-
nhecimento baseado em evidências científicas se sobressaia em relação aos mitos que se
perpetuam na sociedade. Com as informações passadas de maneira prática e acessível,
subentende-se que os conhecimentos serão passados e compartilhados no meio onde as
mesmas convivem, de modo que as mulheres que participaram tornaram-se propagadoras
de conhecimento e agentes de transformação social.
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
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14. SILVA, Canã Borba da et al. Atuação de enfermeiros na atenção às mulheres no climatério.
Revista enfermagem UFPE., Recife, v.9, n.1, p.312-8, 2015.
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as Alterações Fisiológicas, Aspectos Sociais, Cognitivos e Emocionais no Envelhecimento.
Revista CPAQV – Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida, Vol. 7, Nº. 3,
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tica de la literatura. Enfermería Global, [S.L.], v. 11, n. 25, p. 440-450, jan. 2012. Instituto de
Salud Carlos III/BNCS/SciELO Espana. http://dx.doi.org/10.4321/s1695-61412012000100025.
17. VIEIRA, Tereza Maria Mageroska et al. Vivenciando o climatério: percepções e vivências de
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40-45, 26 nov. 2018. Conselho Federal de Enfermagem - Cofen. http://dx.doi.org/10.21675/
2357-707x.2018.v9.n2.108
26
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
02
A experiência do parto de um grupo
de mulheres de uma unidade de saúde
da família de Sorocaba/SP
10.37885/210203174
RESUMO
28
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO
Objetivos gerais
METODOLOGIA
Cenário de estudo
30
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
hipertensos, diabéticos, de atenção à criança e atenção à mulher. O Programa de Atenção
ao Pré-Natal tem 60 gestantes por mês.
Sujeitos da pesquisa
Aspectos Éticos
Coleta de Dados
A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista semiestruturada, guiada pelo
Instrumento de Coleta de Dados – ICD, durante os meses de setembro, outubro, novembro
e dezembro, composto por dados sociodemográficos das puérperas (idade, escolaridade,
ocupação) e variáveis obstétricas (paridade e tipo de parto).
A abordagem das puérperas ocorreu na USF e em suas residências, na qual houve a
explicação dos pesquisadores sobre a pesquisa, e solicitação da assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE. Os relatos/narrativas foram gravados por meio
de gravador de voz de dois celulares Samsung, seguindo a pergunta norteadora: “Fale-me
sobre a sua experiência deste parto. Como foi para você?”.
As entrevistas foram bem tranquilas, e as puérperas foram bem receptivas e dispos-
tas a relatar suas experiências. As entrevistas tiveram duração de aproximadamente 10
minutos, e seguiu com naturalidade, no qual não houve necessidade de muita intervenção
dos pesquisadores.
31
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Tratamento dos dados
RESULTADOS E DISCUSSÃO
1. Dor no parto.
2. Sentimento do parto.
3. Atendimento da equipe no hospital.
4. Acompanhante durante o parto.
5. Intervenções.
33
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
6. Diferença entre um parto e outro.
7. O “vai-e-vem” até internar.
8. Complicações.
“A dor maior que senti foi em casa, mas cheguei no hospital sentindo muita dor, e foi
uma dor infinita, mas no fim suportável. Fiquei um bom tempo esperando e as dores au-
mentaram, ninguém fez nada e não estava mais aguentando. Começou com dores fracas,
e foi piorando com o passar das horas, uma dor insuportável, pensei que ia morrer. A bolsa
rompeu e as contrações começaram de 5 em 5 minutos. Sofri com dor nos pontos após
alguns dias de cesárea. Senti muita dor, mas foi uma dor válida.”
O discurso construído com a fala da totalidade das mulheres expressou a dor no parto
como a primeira lembrança mais marcante dessa experiência, com referência a diversos
tipos de dor, variando em sua intensidade, experimentando extremos com momentos de
dor insuportável.
O parto normal, como um processo doloroso se apresenta como experiência tão antiga
quanto à própria existência humana. Determinado culturalmente, envolve aspectos emocio-
nais e físicos, e tem significado de experiência traumática para a mulher.
A dor do parto é identificada histórica e culturalmente como uma experiência inerente ao
processo de parturição, associada à ideia de sofrimento e um evento esperado pela maioria
das mulheres de diferentes culturas.24
Esse sentimento foi a principal queixa referida pelas mulheres: a dor no parto é, de
acordo com o artigo de Nilza Alves Marques et al. uma característica específica que envolve
aspectos fisiológicos, psicológicos e socioculturais, o que a diferencia de outros tipos de
dor, como dor aguda intermitente, que vem com a contração e aumenta de intensidade aos
poucos até atingir seu pico máximo. A sua intensidade pode variar de mulher para mulher
e de gestação para gestação ao longo do trabalho de parto até a expulsão do feto, sendo
que diversos fatores, entre eles, o limiar individual, o grau de relaxamento, o ambiente de
atendimento, a presença e apoio de familiares e de profissionais, dentre outros, podem
influenciar nessa variação.13
Já no artigo de Manuela Beatriz Velho et al. procedimentos dolorosos e inesperados
contribuem para a elevação dos níveis de dor, tais como a realização de amniotomias ou
administração de ocitocina, realizados para acelerar o trabalho de parto.3
34
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
A dor do parto é uma das dores mais severas que as mulheres experimentam durante a
sua vida e pode afetar as mães e a vida de outros membros da família em diversos aspectos,
como na parte física, mental, emocional e social, desde o planejamento familiar, expecta-
tiva da chegada do novo membro da família, até as alterações na rotina. Além disso, essa
dor pode ser uma causa de ansiedade e medo para a próxima gravidez. A importância da
presença do marido e outro membro da família para receber conforto físico e tranquilidade,
durante todas as fases do processo de trabalho de entrar na sala de parto reforça a segurança
e proporciona a sensação de conforto e bem-estar entre as puérperas, o que alivia a dor.18
Em um estudo realizado na área semiurbana da Índia, relata que a intensidade da dor
do parto é menor para as mulheres que possuem educação superior, provavelmente devido
ao aumento da incidência de intervenção neste grupo, como administração de medicamentos
para alívio da dor e analgesia. Para as mulheres que sofriam de dor de parto, a possibilidade
se dá por conta da falta de consciência e alfabetização. Pacientes com status social, maior
segurança emocional e empoderamento sexual são mais propensos a se preparar para o
parto do que aquelas que vêm da periferia.19
Senti alívio com o nascimento e medo depois, achando que o bebê poderia entrar em
óbito, por conta dos partos anteriores. Foi uma coisa muito boa, uma sensação inexplicável,
o meu olho se encheu de lágrima. Foi uma sensação única, a minha única reação foi o choro
quando vi a bebê pela primeira vez, foi gratificante. Não tem como explicar, é uma emoção
muito forte, uma coisa muito maravilhosa de ver o bebê logo após o parto, um momento
inexplicável. É amor mesmo.”
Cada mulher tem uma maneira diferente de expressar e demonstrar os seus sentimen-
tos, e viver o seu momento do parto, sendo ele de uma forma positiva ou negativa, e é nesse
sentido que as puérperas relataram ter tido sentimentos positivos com relação ao parto,
apesar dos momentos dolorosos mencionados. As puérperas demonstraram sentimentos
ambivalentes exemplificados por alívio e medo.
Algumas puérperas relatam que por causa da dor não sentem mais vontade de ter
outro filho, apesar da sensação única e emocionante que tiveram, o que mostra que para
essas puérperas, a dor é mais presente que o sentimento no momento do parto, o que leva
a uma experiência um tanto traumática e diferente do que pensavam.
Já para o restante delas, os sentimentos que tiveram com o nascimento de seus filhos
superaram qualquer tipo de trauma e dor sentidos em todo o processo até lá, mostrando que
para elas o único momento que importou foi ver seu bebê pela primeira vez.
35
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Stern, Bruschweiler e Freeland (1999) destacam que o parto é uma experiência que
vem acompanhada por emoções e vivências inesquecíveis, muitas vezes impossíveis de
serem expressas em palavras. Para a maioria das mulheres, decorre por ser um even-
to demasiadamente primitivo e profundo, difícil de ser totalmente assimilado e traduzido.
Inegavelmente, o parto é uma experiência que exerce uma sobrecarga emocional sobre o
psiquismo materno, o que faz pensar que seja necessário um período de tempo para que a
experiência seja elaborada psicologicamente e traduzida em palavras.1
Sentimentos como ansiedade e medo associados ao trabalho de parto dificultam a
participação ativa da mulher no nascimento do seu filho. Além dos aspectos físicos e emo-
cionais, as variações culturais e as características pessoais influenciam a atitude das mu-
lheres na hora de dar à luz, por conta disso o parto é vivenciado de maneira distinta por
cada uma delas.20
O cuidado cultural deve ser empregado não só à mãe e ao filho, como também à família,
partilhando os medos, as angústias e as realizações, pois o nascimento do bebê e o contato
com a mãe imediatamente são considerados pelas puérperas a recompensa de todo o esfor-
ço empreendido, compensando sua vivência do processo doloroso ou traumático do parto.9
Cheguei no hospital e já fui atendida, não tenho do que reclamar, tive todo o apoio que
precisava da equipe, me ensinaram e auxiliaram nos cuidados. Só não tive auxílio da equipe
para tomar banho e amamentar. Gostei do atendimento, foi muito bom, tirei a sensação de
medo do hospital. As enfermeiras sempre me atenderam bem, mas fiquei muito tempo espe-
rando no pré-parto e demoraram para me ver, e isso foi ruim. O problema foram os médicos
tirarem o conceito um do outro. O atendimento da equipe foi ótimo, os pediatras são bons,
mas um médico estragou o processo. Somente uma médica que foi excelente me ajudou
no parto, me passou tranquilidade. Fui mal atendida pelos médicos, mas as enfermeiras e
o anestesista me trataram bem.”
O discurso da maioria das puérperas sobre o atendimento da equipe de enferma-
gem e médica, citada algumas vezes, que tiveram durante a internação, foi satisfatório, no
qual foi ressaltada a importância da ajuda e apoio de alguns profissionais no momento do
trabalho de parto.
Os profissionais de saúde têm um papel importante no processo de parto e nascimento,
devendo colocar seu conhecimento a serviço do bem-estar da mulher e do bebê, reconhe-
cendo momentos críticos em que suas intervenções são necessárias para assegurar a saúde
de ambos (BRASIL, 2003).
36
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
De acordo com o MS, é importante que esses profissionais vejam o parto como um mo-
mento fisiológico e de protagonismo da mulher, sendo um evento feminino por excelência, e
é a mulher a atriz principal nesse palco dos acontecimentos, respeitando o seu significado e
garantindo à mulher o seu direito de ser mãe com humanidade e segurança (BRASIL, 2001).
Quando a equipe de enfermagem proporciona um ambiente acolhedor e cordial, sendo
receptiva com as parturientes, promove o acolhimento, que implica na atenção do profis-
sional à mulher, ouvindo suas queixas, preocupações, angústias e dúvidas, procurando dar
resolutividade às necessidades identificadas, ajudando a diminuir suas ansiedades e medos
relacionados ao parto (apud NASCIMENTO et al., 2010).
O cuidado humanizado e o conforto fazem do parto uma experiência singular. Uma
assistência em que prevaleça o respeito à dignidade e individualidade feminina, colabora
para o bem-estar físico e emotivo da parturiente, conduzindo a uma boa evolução do trabalho
do parto (apud MOURA et al., 2007).17
“Fiquei preocupada do meu marido não poder entrar para assistir o parto, mas ele
acompanhou depois e foi muito importante ter ele do meu lado para poder ter a nossa fi-
lha. A melhor coisa que fizeram foi deixar alguém da família na hora do parto, porque me senti
segura. Minha mãe assistiu o parto, e foi bom ter um apoio, ainda mais que sou mãe solteira.”
A maioria das mulheres relatou a importância de ter um acompanhante no momento
do parto, no qual se sentiram mais seguras e melhores emocionalmente, demonstrando
estarem mais bem preparadas para o momento do parto com uma pessoa ao lado para dar
apoio e dividir o parto e nascimento de seus filhos.
O acompanhante proporciona suporte psicológico para a parturiente e pode represen-
tar uma maneira da mulher diminuir a sua ansiedade e levar o trabalho de parto de forma
mais tranquila (BRASIL, 2001). A participação do familiar no parto transmite segurança e
tranquilidade e reduz o medo (apud FRELLO; CARRARO, 2010).17
O pai do bebê pode ser considerado o acompanhante ideal para a mulher no proces-
so de parturição, devido a fatores como a formação de vínculo e a representação de laços
de família, uma vez que, ao acompanhar o nascimento do filho, ele estaria afirmando sua
paternidade, assim como valorizando seu papel.
A presença do pai na cena do parto, acompanhando a evolução do trabalho de parto e
parto da mulher, apoiando-a constantemente, tem consequências no desfecho do nascimento
do bebê: efeitos positivos na construção do vínculo entre o pai e o recém-nascido, assim
como estímulo à mulher no momento de parir, podendo dessa forma, diminuir intercorrências
37
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
durante o processo de nascimento o qual certamente será lembrado de forma marcante
na vida do casal.
A Lei no. 11.108, de 7 de abril de 2005, obriga os serviços de saúde da rede pública ou
conveniada ao Sistema Único de Saúde (SUS) a permitirem a presença do acompanhante
escolhido pela parturiente, durante todo o período de trabalho de parto, parto e puerpério
e a escolha do apoio do pai da criança durante estes eventos faz parte das propostas de
humanização da assistência. Quanto ao direito ao acompanhamento do processo de nasci-
mento, constatou-se a existência de uma população de pais e familiares que, na sua maioria,
embora orientada sobre os procedimentos durante o acompanhamento, desconhece o seu
direito legal e atrela a oportunidade de poder acompanhar o nascimento do seu ente querido
à mera benevolência da equipe médica.16
DSC 5 – Intervenções
“Tive indução no pré-parto com soro e comprimido, colocaram uma pílula por baixo pra
começar a contração. A médica rompeu minha bolsa para dilatar mais rápido, e me deu um
remédio para ajudar. Foi colocado antibiótico no soro por conta da bolsa ter rompido e na
hora do parto o médico realizou a manobra de Kristeller, rasgaram meu útero.”
A maioria das puérperas relatou algum tipo de intervenção obstétrica realizada antes,
durante ou depois do parto, o que foi primordial para marcar a experiência do parto que
tiveram, sendo uma recordação que muitas não têm felicidade em lembrar. A administra-
ção de ocitocina, por exemplo, relatada como “soro”, realizada para acelerar o trabalho de
parto, foi um dos principais pontos citados nas entrevistas, o que mostra que atualmente
as intervenções para agilizar o processo de parturição estão cada vez mais presentes em
nossa sociedade.
A classificação das práticas no parto normal traz claramente aquelas utilizadas de modo
inadequado, consideradas pelo Ministério da Saúde como prejudiciais ou ineficazes e que,
portanto, devem ser eliminadas ou reduzidas (BRASIL, 2001). Constata-se que a manobra
de Kristeller é uma prática realizada com frequência, o que prejudica a evolução fisiológica
do trabalho de parto, causando desconforto e mal estar.
De acordo com o artigo de Maria do Carmo Leal et. al. a persistência do uso de inter-
venções dolorosas e desnecessárias, tais como a episiotomia e a manobra de Kristeller,
demonstra que melhorias ainda são necessárias. Em seu estudo, o uso de ocitocina durante
o trabalho de parto foi mais frequente entre as usuárias do setor público e nas gestantes
de menor escolaridade, os mesmos grupos que apresentaram menor frequência do uso de
analgesia obstétrica, reforçando a prática do parto doloroso, que pode trazer como conse-
quência o temor do parto vaginal e o aumento do prestígio da cesariana entre as mulheres
38
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
brasileiras. As intervenções sofridas, tais como episiotomia, manobra de Kristeller e cesa-
riana, dão início a uma história reprodutiva marcada por cicatrizes e perda da integridade
do tecido perineal e uterino.11
Um dos aspectos mais impressionantes da prática obstétrica brasileira, segundo ainda
o artigo de Maria do Carmo Leal et. al. é a pressa em provocar o nascimento das crianças,
sem respeito à autonomia das mulheres no processo de parturição. O controle do tempo
e a imposição da dinâmica do trabalho de parto e parto explicam o índice excessivo de in-
tervenções, incluindo as cesarianas, fazendo com que a assistência ao parto no Brasil seja
focada na decisão do médico e não na dinâmica do corpo da mulher.11
“No primeiro parto cheguei ao hospital praticamente ganhando, e nesse parto demorou
1 dia, foi a única diferença de parto. A médica foi examinando para ver a melhor hora para
encaminhar para a cesárea. No anterior tinha convênio, a cesárea foi agendada. No primei-
ro parto que foi cesárea não senti dor, apesar de o bebê ter passado da hora e feito cocô.
Nesse parto que foi normal, senti muita dor e sofri bastante. Nos partos anteriores os bebês
não chegavam a viver nem uma hora, o máximo que um bebê chegou foi dez dias. Nesse
parto fiquei mais tranquila por ver que o bebê estava bem.”
Das doze puérperas, cinco são multíparas. O parto representa um momento único,
e a experiência de dar à luz é tão marcante que, durante anos, o evento e os sentimentos
experimentados durante o nascimento do bebê são lembrados nos mínimos detalhes, sejam
eles bons ou ruins, o que para mulheres multíparas é inevitável a não relação da experiência
do último parto com os anteriores.
E essa lembrança comparativa se torna como marco essencial na hora da decisão do
tipo de parto e, principalmente, na decisão de reviver essa experiência na continuidade da
família tendo mais filhos, pois a experiência pode se variar nos extremos: emocionante e
realizativa, ou traumática e frustrante, sendo ambas inesquecíveis.
Os relatos evidenciam que independente do tipo de parto, e o ambiente hospitalar,
nenhum parto é como outro, havendo diversos fatores emocionais e fisiológicos que influen-
ciarão e interferirão na experiência da puérpera.
Estava indo todos os dias na maternidade porque não aguentava mais. Fui ao hospital
dez horas da noite pra ver se podia ficar, aá a médica falou pra voltar no outro dia, eu vim em-
bora chorando e eles falavam que era pra voltar depois, só que chegando em casa comecei a
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
sentir muita dor, que foi piorando. Retornei ao hospital duas e meia da manhã. Ela examinou
minha bolsa estourou. Na rede pública fui bem atendida, mas acho que estava na hora.”
O trabalho de parto é um processo em que ocorrem várias mudanças fisiológicas, va-
riando de mulher para mulher, sendo impossível determinar exatamente o seu início. Essas
mudanças geralmente seguem o processo de: fase latente, que é a fase inicial do primeiro
período do parto, dando início às contrações regulares; fase ativa, onde as contrações são
mais fortes e longas; e fase de transição, última parte do primeiro período, as contrações
ficam mais frequentes e a dilatação se completa.
No entanto, pode ocorrer um falso trabalho de parto com contrações irregulares sem
dilatação do colo do útero, a gestante busca o atendimento hospitalar com a expectativa
de que é chegada a hora do parto. E após consulta e exame obstétrico, verifica-se que não
há indícios do trabalho de parto, a gestante é dispensada do serviço hospitalar, e acaba
retornando para casa com o sentimento de angústia e medo.
Esse processo se deve à falta de informações e preparo durante o pré-natal, a gestante
deveria ser orientada sobre os sinais evolutivos do trabalho de parto, fazendo com que dimi-
nuíssem as buscas pelo atendimento hospitalar por ansiedade, preocupação e julgamento de
início de parturição, que acarreta em um constante vai-e-vem entre o hospital e a residência.
DSC 8 – Intercorrências
Logo que ele nasceu eu tive hemorragia, a placenta descolou, fiquei um bom tempo
na mesa, até eles fazerem todo o processo de limpar tudo. Me disseram “vou te dar uma
ajudinha” e nessa ajudinha eles me machucavam, tanto que fizeram até cortes do lado e não
foram dados pontos e nem nada. Me ajudaram, porque eu passei mal depois, perdi muito
sangue. Depois da briga com a minha sogra, comecei a sentir dor e comecei a sangrar,
quando fui tomar banho vi que estava aberta minha cesárea, estourou quatro pontos, ficou
horrível minha cesárea depois disso.”
As intercorrências obstétricas foram relatadas por metade das puérperas entrevistadas,
sendo que quatro tiveram parto normal e duas por cesárea. Embora as intercorrências não
tenham gerado prejuízos significativos ao recém-nascido, afetaram direta ou indiretamente
o pós-parto da puérpera. Nos relatos descritos, o de maior consideração é a presença de
hemorragia durante ou após o parto, no qual houve intervenção da equipe de saúde, con-
seguindo reverter a situação.
E segundo o artigo de Maria de Lourdes de Souza et. al. a hemorragia é a maior causa
evitável de morte materna no mundo e inclui hemorragia anteparto, durante o parto e he-
morragia pós-parto, e está associada ao tipo de monitoramento realizado durante o trabalho
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
de parto e no período pós-parto, resposta tardia à perda de sangue e falta de um banco de
sangue na maternidade.21
No artigo de Rosa Maria Soares Madeira Domingues et al. a visão médica abstrai a
gravidez do restante da experiência de vida da mulher, tratando-a como episódio médico
isolado. Os significados que as mulheres atribuem às experiências de gravidez e nascimento
são ignorados e seus sentimentos e sua satisfação com o cuidado são considerados menos
importantes do que sua segurança e a de seu bebê, o que as leva a ter uma experiência
negativa do parto, por conta desse tratamento que receberam dos profissionais que foram
responsáveis por um dos momentos mais importantes de suas vidas e que agora se tornou
uma lembrança traumática e ruim para elas.25
Este estudo proporcionou um aprimoramento dos conhecimentos prévios dos alunos
sobre a atenção à saúde da mulher e uma visão ampliada dos acontecimentos que envolvem
o parto, o que proporcionou maiores habilidades profissionais sobre o tema.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
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43
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
03
Competências essenciais para prática
da enfermagem obstétrica: revisão
integrativa
10.37885/210303907
RESUMO
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO
A assistência obstétrica no Brasil nos últimos anos, mesmo impulsionada por políti-
cas públicas que pautam a humanização dos cuidados à mulher, ao recém-nascido e sua
família, ainda enfrenta dificuldades para superar o modelo medicalizado tradicional que his-
toricamente se estruturou no país (SENA et al, 2012). O modelo biomédico de assistência
obstétrica, aliado a utilização do conhecimento técnico de maneira pouco crítica, podem
contribuir para o aumento de riscos para mulheres e crianças durante o trabalho de parto e
nascimento e podem, até mesmo, serem fatores determinantes de morbimortalidade materna
e neonatal. A maioria dos países ocidentais, e entre eles inclui-se o Brasil, legitima o modelo
de assistência obstétrica e neonatal centrado na figura do médico, caracterizado pela visão
do nascimento como uma patologia. Nessa lógica de assistência medicalizada, o corpo da
mulher reduz-se numa máquina incompleta, na qual necessita de tecnologias sofisticadas,
quase sempre utilizadas sem devida avaliação acerca de sua segurança, para que consiga
parir (BRASIL, 2014).
A busca por um modelo assistencial que esteja voltado para a integralidade das neces-
sidades de saúde dos indivíduos e que supere as dificuldades causadas pela hegemonia do
modelo biomédico e tecnicista é um dos grandes desafios do sistema de saúde brasileiro
(FERTONANI et al, 2015). O que se constata, em estudos a respeito da atenção obstétrica
brasileira, é que evidências científicas isoladamente não servem para mudança no modelo
assistencial medicalizado e intervencionista ao parto de risco habitual (NARCHI, 2010), e
que para que isso ocorra, é necessária a reformulação dos espaços de saúde e que os re-
cursos tecnológicos sejam adequadamente alocados. Dentre as estratégias para mudança
do modelo assistencial em obstetrícia predominante, a formação e inclusão de profissionais
não-médicos na assistência ao parto vem sendo discutida ao longo dos anos.
Desde 1998, o Ministério da Saúde, junto às secretarias municipais e estaduais, vem
ampliando a destinação de recursos voltados para formação de enfermeiras obstétricas, a
fim de inserir essas profissionais na assistência ao parto (RIESCO; FONSECA, 2002). Os in-
vestimentos se justificam por experiências positivas de atuação dessas profissionais mun-
dialmente, não só com resultados positivos de satisfação com a assistência prestada, mas,
principalmente, quando se considera a redução de taxas de intervenções desnecessárias e
cesarianas (AMORIM; GUALDA, 2011).
Atualmente no Brasil existem duas modalidades reconhecidas de profissionais não-mé-
dicos que atuam na assistência ao parto: as obstetrizes (com formação por cursos de entrada
direta) e enfermeiras obstétricas (enfermeiras de formação com curso de especialização ou
residência em obstetrícia, ou na área materno-infantil ou ainda, aquelas que realizaram a
prova de certificação e titulação). Além desses, é comum ouvir o termo em inglês midwife, que
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
se refere a parteira profissional (CINTRA; RIESCO, 2019). Para fim de adaptação à realidade
brasileira a Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras (ABENFO) consi-
dera que o termo “parteira profissional” deve ser compreendido como sinônimo de enfermeira
obstétrica e obstetriz (ABENFO, 2002). A atuação dessas profissionais é amparada pela Lei
do Exercício Profissional de Enfermagem de 1986, que dispõe sobre a regulamentação do
exercício da enfermagem em território brasileiro e condiciona a atuação dessa profissional
a inscrição sob o Conselho Federal de Enfermagem (BRASIL, 1986).
A prática da enfermeira obstétrica na atenção ao parto, majoritariamente, é voltada à
valorização da mulher, tratando-a com respeito e fortalecendo a figura feminina no processo
de parir (CAUS et al, 2012). Considerando essa característica da assistência, o ambiente
hospitalar de atenção ao parto vem sofrendo reformulações, fundamentadas por políticas
públicas de saúde e recomendações internacionais que reforçam a inclusão de profissio-
nais não-médicos na assistência ao parto e voltam-se para perspectiva de humanização
da assistência (BRASIL, 2014). Quanto à formação desses profissionais para assistência
ao parto, há de se considerar a existência de competências internacionalmente propostas
para formação, que incluem a avaliação individual e de desempenho de organizações e
programas de formação profissional (KAK; BURKHALTER; COOPER, 2001). De acordo
com a Organização Mundial de Saúde (OMS), considera-se que o profissional que atende a
partos de forma segura deve ser treinado a partir de programas de educação que permitam
o desenvolvimento das habilidades necessárias para acompanhamento da gravidez, par-
tos normais e puerpério imediato (WHO, 2004). A Confederação Internacional de Parteiras
Profissionais (ICM) é uma organização não governamental que representa associações de
parteiras profissionais em 115 países mundialmente. Essa organização atua com a finali-
dade de atingir objetivos comuns no cuidado às mulheres e recém-nascidos, entre eles, a
qualificação da atenção ao nascimento. No ano de 2019 foi publicado um documento que
atualiza a relação de competências essenciais preconizadas mundialmente para a prática
da obstetrícia, descrevendo conhecimentos, habilidades e comportamentos profissionais
mínimos que devem ser desenvolvidos nos programas de educação para que o indivíduo
seja considerado uma parteira profissional certificada, conforme a definição da organização
(ICM, 2018; ICM, 2019).
Considerando o documento intitulado “Essential competencies for midwifery prac-
tice - 2019 update” pela ICM, podemos consultar as competências descritas e validadas
por especialistas em todo o mundo com a finalidade de servir de base para programas de
formação em enfermagem obstétrica, dar instruções claras sobre o exercício da profissão,
auxiliar professores com relação às destrezas necessárias a parteira profissional e servir
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
de marco regulatório para auxílio na tomada de decisão por gestores quanto a prática pro-
fissional (OPAS, 2013).
É importante considerar que a competência essencial se relaciona ao desempenho
desse profissional, mas não são sinônimos. O desempenho profissional se caracteriza pelas
ações do sujeito no seu contexto real de prática. Este desempenho é determinado pela ca-
pacidade adquirida de acordo com o alcance das competências da profissão (OPAS, 2013).
Dessa forma, as competências essenciais para prática da enfermagem obstétrica são
sensíveis aos diferentes cenários que essas profissionais atuam, sendo relevante conhecer
a produção científica dos últimos anos a respeito do que é esperado da enfermeira obstetra
mundialmente, e a relação desses estudos com diretrizes internacionais para prática da
profissão se torna relevante. O presente estudo tem o objetivo de analisar através de uma
revisão integrativa de literatura a produção de conhecimento científico no mundo a respeito
das competências essenciais para prática profissional da enfermagem obstétrica.
MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, conforme proposto por Mendes, Silveira
e Galvão, desenvolvida em seis etapas: estabelecimento da questão de pesquisa, busca na
literatura, categorização dos estudos encontrados (de acordo com os critérios de inclusão e
exclusão estabelecidos), avaliação dos estudos selecionados, interpretação dos resultados
e apresentação da revisão (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).
Os artigos foram buscados nas bases de dados eletrônicas: Literatura Latino Americana
e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e National Library of Medicine National Institutes
of Health (PubMed). As palavras-chave utilizadas para execução da busca por estudos
foram os Descritores em Ciência da Saúde (DeCS) da Bireme “competência profissional”,
“enfermeira obstétrica” ou “enfermagem obstétrica e os descritores MeSH (Medical Subject
Headings) “professional competence” e “midwifery”, além de termos relacionados. Foram
utilizados os operadores booleanos “and” e “or” para cruzamento dos termos na busca.
Os critérios de inclusão foram artigos originais de pesquisa, revisão ou reflexão, dispo-
níveis integralmente de forma eletrônica, publicados em qualquer idioma, entre os anos de
2011 e 2020 e que respondessem à questão norteadora: quais as competências essenciais
para prática da enfermagem obstétrica encontradas na literatura nos últimos 10 anos?
A coleta de dados se deu no mês de julho de 2020, retornou um total de 352 artigos,
desses, todos tiveram o título e resumo lidos para avaliar a pertinência com a questão nor-
teadora do estudo. Dos estudos incluídos na revisão, após leitura de título e resumo, 28
artigos foram lidos na íntegra, resultando na amostra final composta de nove artigos que
foram incorporados à análise, conforme figura 1.
48
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Figura 1. Diagrama da aplicação de filtros de pesquisa, limites e critérios de inclusão.
Para análise dos artigos incluídos na revisão foi criada uma ficha de extração de
dados com as variáveis: título, autoria, periódico e ano de publicação, objetivos, tipo de
estudo, amostra/população, local/campo de estudo, coleta de dados, resultados e conclu-
sões. No Quadro 1, as principais informações extraídas dos estudos primários incluídos na
revisão foram apresentadas.
49
morais.
RESULTADOS
Dos nove artigos incluídos na análise, a maioria das produções eram procedentes
de países do continente africano (66,6%), seguido de artigos de países asiáticos (22,2%)
e um artigo brasileiro, produzido na América do Sul (11,1%). Quanto ao ano de publica-
ção, os estudos incluídos na revisão foram publicados entre os anos de 2012 e 2019, com
destaque ao ano de 2018 que concentrou três dos artigos incluídos na amostra. Quanto
ao idioma de publicação, oito artigos foram publicados em língua inglesa (88,8%) e um em
português. O único artigo publicado em português na busca realizada evidencia a escassez
50
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
de produção científica brasileira acerca do tema nos últimos 10 anos. Quanto à abordagem
dos estudos, cinco deles (55,5%) tinham abordagem qualitativa e quatro eram estudos
quantitativos, do tipo estudo transversal.
DISCUSSÃO
Dos estudos incluídos na revisão, cabe destacar a procedência dos artigos, na sua
grande maioria, desenvolvidos em países de baixa e média renda (A1-A8). A produção
científica emergente nesses países, nos últimos 20 anos, parece se justificar pela expan-
são dos sistemas de saúde locais, pela criação de programas para promoção de saúde
da mulher e do recém-nascido, bem como da necessidade de avaliação dos programas
desenvolvidos nesses países com o objetivo de reduzir a mortalidade materna e neonatal
(CHERSICH; MARTIN, 2017).
Quanto aos profissionais incluídos nos estudos, vale a discussão acerca de quem são
os profissionais capacitados mundialmente para a assistência ao parto. Uma scoping review
publicada em 2019, que objetivou identificar e mapear os profissionais considerados aptos a
assistir partos em países de baixa e média renda, evidenciou que existem mais de 100 profis-
sionais com diferentes formações e titulações que atuam no cenário do parto mundialmente.
Desses, 16% eram médicos, 16% eram enfermeiras generalistas e 16% eram midwives,
representando um grupo heterogêneo entre os países investigados, e até mesmo, dentro
de um mesmo país (HOBBS et al, 2019). Dos estudos incluídos na análise deste artigo, um
deles concluiu que outros profissionais, que não sejam médicos ou midwives, parecem não
prover cuidado competente e de qualidade para manejo de emergências obstétricas (A6).
No ano de 2018, a OMS, a ICM e outras organizações internacionais médicas e de
enfermagem declararam que o profissional apto a assistência ao parto deve ser, prioritaria-
mente, uma parteira profissional, enfermeira ou médico que tenha recebido educação formal e
treinado para desempenhar as habilidades necessárias à assistência ao nascimento, à mulher
e ao recém-nascido, de gestações não complicadas e que sejam capazes de referenciar a
serviços de maior complexidade no caso de intercorrências obstétricas (WHO, 2018). A fim
de minimizar as diferenças na formação desses profissionais, a declaração conjunta da
OMS e ICM ainda destaca que o foco de avaliação da formação deve ser o desempenho em
competências essenciais para prática da obstetrícia, além do reconhecimento de medidas
básicas de atenção a emergências obstétricas (HOBBS et al, 2019).
Em três dos estudos quantitativos incluídos nesta revisão, a competência técnica dos
profissionais que assistiam aos partos foi considerada insuficiente (A2, A7 e A8). Os pro-
fissionais que assistiam aos partos tiveram baixa competência no manejo de emergências
obstétricas, pouca habilidade para avaliação rápida da paciente no primeiro contato e pouco
51
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
domínio do uso de partograma e monitorização do progresso do trabalho de parto (A2 e
A8). A identificação, manejo e tomada de decisão apropriados na identificação de emer-
gências obstétricas no momento do parto é peça chave para o sucesso do cuidado à par-
turiente, diminuindo índices de mortalidade materna (CAMPBELL; GRAHAM, 2006). A mor-
talidade materna em países de baixa e média renda, especialmente, em países da África
Subsaariana e Ásia são responsáveis por mais da metade de todas as mortes relacionadas
a afecções perinatais no mundo (WHO, 2014). As maiores complicações obstétricas rela-
cionadas a morte materna são: hemorragias, infecções, distúrbios hipertensivos e o aborto
inseguro (WHO, 2014).
Um dos estudos destacou o baixo desempenho de parteiras profissionais para atendi-
mento de emergências obstétricas com vácuo extrator e no manejo de aborto por aspiração
manual intrauterina (A7). Pelo menos duas revisões sistemáticas conduzidas na última dé-
cada concluem que não há diferença significativa nos desfechos de situações de aborto em
primeiro trimestre manejados por profissionais médicos, ou não-médicos, como parteiras
profissionais capacitadas para isso (BARNARD et al, 2013; RENNER, BRAHMI, KAPP, 2013).
Considerando esses estudos, bem como a opinião de especialistas em enfermagem
obstétrica, a competência da enfermeira obstétrica no manejo de aborto foi reafirmada em
estudo publicado em 2018 (FULLERTON et al, 2018). Esta publicação impulsionou a inclusão
de competências relacionadas ao manejo de abortamento por midwives nas competências
da profissão na atualização do documento da ICM publicado em outubro de 2019 (ICM,
2019). No Brasil, a lei que regulamenta a atuação de enfermeiras obstetras não prevê atua-
ção direta e tomada de conduta a fim realizar esvaziamento uterino seguro em situações
de abortamento, mas a ausência de respaldo legal para atuação nesse contexto não exclui
a importância de inclusão dos profissionais da enfermagem no manejo multidisciplinar de
situação de perdas gestacionais (DOMINGOS; MERIGHI, 2010).
A formação de parteiras profissionais nos estudos incluídos na revisão parece sofrer
influência significativa do ambiente de aprendizado onde as práticas ocorrem (A3, A5 e A7).
Dentre as dificuldades encontradas destaca-se a falta de estrutura para formação dos pro-
fissionais, ausência de ambientes para simulações de práticas em obstetrícia e dificuldades
para garantir que os alunos participassem de situações reais como reanimação neonatal e
atenção ao parto, propriamente dito (A3, A5 e A7). A limitação das experiências na formação
em obstetrícia causou uma avaliação negativa dos estudantes em um dos estudos, conside-
rando o cenário de aprendizado limitado, prejudicando o desenvolvimento das habilidades
profissionais (A7).
Achados semelhantes em uma pesquisa que avaliou as expectativas de enfermeiras
quanto a especialização em enfermagem obstétrica na modalidade de residência no Brasil
52
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
evidenciam a percepção de que há uma dissociação entre teoria e prática na formação pro-
fissional (LIMA et al, 2015). O estudo brasileiro destaca o descontentamento dos profissio-
nais em formação com as oportunidades limitadas que encontram nos hospitais brasileiros
para desenvolver habilidades técnicas, inclusive com restrição de atendimento a partos
por enfermeiras nas instituições (LIMA et al, 2015). Um dos estudos da revisão destaca em
seus resultados como o número de partos atendidos pelos profissionais em formação, bem
como o volume de trabalho na instituição avaliada, se relaciona a melhor desempenho na
avaliação de competências profissionais (A6).
Ainda sobre o processo de formação de enfermeiras obstetras, um dos estudos des-
taca a importância do desenvolvimento da competência profissional como instrutores em
obstetrícia de professores e preceptores dos cursos de formação (A1). O aprimoramento
contínuo serve como subsídio para adquirir e compartilhar conhecimentos que vão apri-
morar a prática e ensino da obstetrícia (A1). Considerando o cenário brasileiro e o recente
Projeto de Aprimoramento e Inovação no Cuidado e Ensino em Obstetrícia e Neonatologia
(Apice ON), salienta-se a experiência dos profissionais que participaram de cursos de atua-
lização para o cuidado e gestão, com foco no parto e no nascimento (SANFELICE et al,
2020). Em um relato de experiência de profissionais participantes do projeto, foi demonstrada
a importância de qualificação técnica de profissionais já formadas, fato que contribuiu para
mudança do modelo de atenção ao parto, menos medicalizado e mais voltado à autonomia
da mulher. As ações de educação continuada realizadas no cenário prático de assistência
ao parto reforçaram a identificação profissional de enfermeiras obstetras, na medida que
permitiu a atualização de técnicas e práticas relacionadas à atenção ao parto (SANFELICE
et al, 2020) e puderam servir de subsídio para pensar mudanças nos cenários onde atuam.
Ainda sobre os resultados encontrados nos estudos incluídos na análise desta revisão,
cabe o comentário sobre questões de gênero relacionadas ao desempenho profissional de
enfermeiros obstetras. Resultados de escores relacionados às competências para assistência
ao parto foram maiores para participantes homens em pelo menos dois dos estudos citados
(A2 e A7). Os resultados mostraram que ser homem esteve associado a maiores escores
em competências específicas, incluindo avaliação rápida da paciente em triagem, coleta de
dados do histórico de saúde e obstétrico, exame físico, uso de partograma, assistência ao
parto, cuidados imediatos no pós-parto, julgamento clínico e tomada de decisão (A2). Apesar
de alguns estudos na literatura não terem evidenciado influência de gênero no desempenho
acadêmico de cursos de formação profissional para saúde (JOHNSON et al, 2013), ambos
estudos incluídos na revisão evidenciaram diferença significativa de desempenho masculino
relacionados às competências da parteira profissional. Ambos estudos foram desenvolvi-
dos na Etiópia, país onde há grande disparidade entre as oportunidades de educação para
53
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
homens e mulheres (A2 e A7), o que justifica pontos de corte para acesso aos cursos de
formação menores para mulheres, fato que, aparentemente, dificulta a permanência nos
cursos com desempenho satisfatório. Um estudo que avaliou fatores que influenciam a
atuação de homens na enfermagem em países em desenvolvimento foi encontrada relação
do trabalho do enfermeiro do sexo masculino com maior rapidez no avanço na carreira e
alcance de posições de chefia em tempo menor do que colegas mulheres que se asseme-
lhavam no conhecimento técnico da profissão (ZAMANZADEH et al, 2013). Paradoxalmente,
quando se considera o recorte histórico da enfermagem mundial, a profissão historicamente
feminina reserva ainda atualmente dificuldades de inserção de homens num ambiente ma-
joritariamente ocupado por mulheres (SALES et al, 2018).
Finalmente, dos resultados encontrados nos estudos na análise, cabem as competên-
cias relacionais da atuação como enfermeiras obstetras, que fogem aos requisitos técnicos
para prática da profissão, mas compõem a forma que as relações de trabalho e de cuidado
se dão. O destaque do estudo incluído é para competência dialógica da profissional (A9),
exigindo das profissionais adequação da linguagem utilizada para que o cuidado se torne
relevante as diferentes mulheres atendidas, com foco na comunicação interpessoal efetiva
e culturalmente sensível para melhora dos desfechos assistenciais, conforme preconizado
pela ICM (ICM, 2019).
Já considerando aspectos éticos da atuação da enfermeira obstetra, um dos estudos
destaca a necessidade de desenvolvimento de competência ética para atuação nas equipes
e, principalmente, com usuárias dos sistemas de saúde (A4). O estudo destaca a impor-
tância de que profissionais reflitam a respeito do código de ética e princípios profissionais
quando justificam ações na assistência ao parto, fortalecendo a autonomia da profissão
(A4). A literatura destaca como principais entraves ao desenvolvimento pleno de autonomia
do enfermeiro obstetra fatores como: déficits na formação, resistência do profissional médi-
co à atuação, incerteza quanto à prática profissional e desconhecimento da legislação que
respalda a prática profissional (MAGALHÃES; TAFFNER, 2020). A atuação do enfermeiro
de forma autônoma é potencial agente propulsor de cuidado humanizado no cenário do nas-
cimento (ALMEIDA et al, 2020), mas necessita de suporte de gestores para que o incentivo
e valorização do seu trabalho se reflita em apoio institucional para atuação da enfermagem
obstétrica de forma autônoma (AMORIM et al, 2019).
CONCLUSÃO
Permitir que profissionais sem competência essencial adequada atuem em seus cam-
pos de prática aumenta riscos para segurança do paciente, influencia de forma negativa na
confiança pública na profissão e nos sistemas de saúde mundialmente e ainda prejudica
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
indicadores de qualidade na assistência materna e neonatal (YIGZAW et al, 2015). Esses
fatores justificam a necessidade de fortalecimento de programas de formação profissional,
atualização de instrutores em obstetrícia e articulação de programas teóricos com oportuni-
dades práticas em obstetrícia que proporcionem o desenvolvimento de habilidades para a
atuação autônoma como enfermeiras obstetras.
O estabelecimento da legitimidade da atenção de enfermeiras obstetras ao parto de
risco habitual como competência essencial do profissional brasileiro ainda se configura como
um desafio para a assistência obstétrica no país. Parte desse desafio é consequência da
falta de autonomia de gestores nos serviços, que por vezes impossibilita a inserção da en-
fermeira obstétrica no parto e nascimento devido a obstáculos como questões financeiras,
administrativas, escassez de recursos humanos e relações de poder entre equipes médica
e de enfermagem desiguais. Soma-se a isso a falta de autonomia dos próprios profissionais
quanto ao exercício profissional de que são capazes.
Considerando os achados na revisão e o atual cenário de atuação de enfermeiras
obstétricas no Brasil, cabe a possibilidade de ampliação futura da atuação dessas profis-
sionais, seguindo o exemplo de países onde a atuação abrange o manejo em situações de
abortamento e realização de ultrassonografias, por exemplo.
Exemplo de atuação ampliada de enfermeiros obstetras no seu escopo de prática no
Brasil é a inserção de DIU de cobre, método contraceptivo de longa permanência que teve a
oferta ampliada no SUS e afirmada pelo Conselho Federal de Enfermagem no ano de 2010
como legítima ao enfermeiro (COFEN, 2010). Essa prática, consolidada em alguns serviços
pelo país, está em constante discussão acerca da legalidade, apesar de experiências posi-
tivas bem descritas na literatura, com altas taxas de satisfação das usuárias com o método,
taxas de complicações semelhantes aos dispositivos introduzidos por profissionais médicos
e pela contribuição para ampliação de oferta de métodos de planejamento reprodutivo dis-
poníveis nos serviços públicos de saúde (TRIGUEIRO et al, 2020). Além de ações pontuais
como a inserção do DIU de cobre pós-placentário e em ambiente ambulatorial.
Dentre as limitações deste estudo podemos considerar as características metodológicas
dos estudos incluídos na análise: estudos observacionais, na maioria de recorte transversal
ou qualitativos. Estes desenhos de pesquisas não permitem a generalização dos resultados,
apenas a geração de hipóteses a partir dos dados encontrados. Outra fragilidade do estudo
é a variedade de categorias profissionais envolvidas na assistência ao parto que compuse-
ram as amostras nos estudos analisados, marcando a heterogeneidade dos profissionais
envolvidos na assistência, bem como do processo de formação e avaliação dos mesmos.
A relevância desta revisão consiste na síntese de estudos produzidos nos últimos anos
que avaliam a competência profissional de enfermeiras obstétricas e permite a reflexão acerca
55
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
de programas vigentes de formação desses profissionais no país e no mundo. Os achados
dos estudos e a discussão com a produção científica a respeito desses resultados permi-
tem o levantamento de hipóteses sobre potencialidades e fragilidades do modo de formar
profissionais para atenção ao parto no Brasil, cabendo ainda a possibilidade de estudos
futuros que avaliem a situação atual de cursos de formação em enfermagem obstétrica, a
forma de avaliação de competência profissional utilizada nos diferentes cenários e quais as
implicações para assistência em cenário real da qualidade de formação desses profissionais.
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60
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
04
Comportamento da força muscular
respiratória, da força de preensão
palmar e da capacidade funcional
entre puérperas e em nuligestas
10.37885/210404120
RESUMO
Objetivo: Comparar a força de preensão palmar (FPP), força muscular respiratória (FMR)
e capacidade funcional (CF) entre puérperas de parto cesárea e nuligestas. Método:
Estudo transversal que avaliou mulheres com idade entre 16 e 35 anos admitidas na
maternidade do Hospital Santa Cruz, Santa Cruz do Sul - RS para parto cesárea (Grupo
Puérpera – GP) e nuligestas hígidas (Grupo Controle – GC). Após avaliação das caracte-
rísticas antropométricas foram aferidas a FPP por meio de dinamometria hidráulica manual
e a FMR (Pressão Inspiratória Máxima - PImax e Pressão Expiratória Máxima - PEmax) por
meio de manovacuometria digital. A CF foi avaliada através da escala Basic Activities of
Daily Living (BADL). Resultados: Avaliadas 30 mulheres (GC: n= 15 e GP: n= 15) com
média de idade de 23,8±4,6 anos e índice de massa corpórea (IMC) de 23,9±4,9 Kg/m2.
Houve redução da PImax (p<0,001; p= 0,002) e da PEmax (p<0,001; p<0,001) no GP em
relação ao GC quando comparadas as médias dos valores absolutos e preditos, respec-
tivamente. Evidenciada menor CF no GP em relação ao CG (p= 0,010), não tendo sido
observada diferença da FPP entre os grupos analisados. Conclusão: Puérperas de parto
cesárea apresentam menor força muscular respiratória e menor capacidade funcional
em relação às nuligestas.
62
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO
OBJETIVO
Diante dos efeitos adversos ocasionados pelo parto cesárea, o presente capítulo visa
discorrer sobre o comportamento da força muscular respiratória, da força muscular periférica
e da capacidade funcional em puérperas e nuligestas.
MÉTODO
Estudo transversal que avaliou puérperas de parto cesárea admitidas em uma mater-
nidade de hospital escola do interior do Sul do Brasil e nuligestas. O estudo foi aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Santa Cruz do Sul (nº 684.701) em
conformidade com a Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde e os indivíduos
assinaram o Termo de Consentimento Pós-Informado.
O Grupo Puérpera (GP) foi constituído por mulheres primíparas e multíparas que esta-
vam no puerpério imediato do parto cesáreo (até 48 horas de pós-parto), que tivessem gerado
recém-nascido vivo, parto único ou gemelar, tempo gestacional entre 36 a 41 semanas e
faixa etária entre 18 e 35 anos. O Grupo Controle (GC) foi composto por nuligestas hígidas
na mesma faixa etária do GP. Foram excluídas mulheres com histórico de tabagismo ou que
63
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
tivessem desenvolvido patologias pulmonares antes e/ou durante a gestação, portadoras de
coagulopatias ou de doenças hematológicas e que geraram natimortos.
Foram aferidas a pressão arterial sistólica (PAS) e a pressão arterial diastólica (PAD)
pelo método auscultatório (PREMIUM®, modelo ESFHS50, Brasil), sendo a frequência cardía-
ca (FC) avaliada por palpação direta da artéria radial direita. A saturação periférica de oxigênio
(SpO2) foi aferida através da oximetria de pulso (Oxy Control Geratherm® – Alemanha) e a
frequência respiratória (FR) através da contagem do número de incursões respiratórias por
minuto. Os dados foram expressos em valores absolutos.
Características Antropométricas
Avaliada pela escala Basic Activities of Daily Living (KATZ et al., 1963), que inclui
atividades como banhar-se, vestir-se, ir ao banheiro, transferências, continência e alimenta-
ção. As atividades foram avaliadas quanto ao grau de dependência ou independência em toda
sua execução, desde seu princípio até sua conclusão. Para a realização da tarefa soma-se
um ponto na escala e, caso contrário, pontua-se com zero. Ao final, somam-se os valores
atribuídos a cada atividade e a voluntária é classificada como ‘independente’, ‘parcialmente
dependente’ e ‘totalmente dependente”.
Análise estatística
Para análise dos resultados foi utilizado o programa Statistical Package for Social
Sciences (SPSS 23.0, EUA). A normalidade dos dados foi avaliada por meio do teste de
Shapiro-Wilk e os dados descritos em média e desvio padrão. As variáveis foram compara-
das entre os grupos por meio do teste t Student não pareado (p<0,05).
RESULTADOS
A amostra avaliada foi composta por 30 mulheres (GC: n = 15; GP: n = 15) com média
de idade de 23,8±4,6 anos e IMC de 23,9±4,9 kg/m2. Na Tabela 1 são evidenciados os si-
nais vitais e os dados antropométricos dos grupos analisados, em que os mesmos diferiram
quanto à estatura estimada, IMC estimado e SpO2.
Dados antropométricos
Massa corporalestimada (kg) 55,69±13,29 62,99±12,24 0,129
Estaturaestimada (cm) 160,21±5,25 154,46±5,92 0,009*
IMCestimado (kg/m2) 21,61±4,55 26,26±4,19 0,007*
Sinais Vitais
PAS (mmHg) 116,67±11,75 118,67±9,15 0,346
PAD (mmHg) 74,67±9,90 74,00±11,21 0,152
FC (bpm) 80,00±8,19 87,73±13,23 0,642
SpO2 (%) 98,33±0,72 97,07±1,16 0,010*
GP: Grupo puérperas; GC: Grupo controle; PAS: Pressão arterial sistólica; PAD: Pressão arterial diastólica; FC: Frequência
cardíaca SpO2: Saturação periférica de oxigênio; IMC: Índice de Massa Corporal. Valores expressos em média ± desvio
padrão (p<0,05).
Figura 1. Pressão inspiratória máxima e pressão expiratória máxima entre os grupos analisados.
Não foi observada diferença entre a FPP avaliada e a predita intragrupo, bem como en-
tre os grupos analisados (p= 0,296). Houve diferença entre os grupos quanto à CF (p=0,010),
sendo constatado que 76,7% da amostra de puérperas permaneceu classificada como ‘in-
dependente’, 20% ‘parcialmente dependente’ e 3,3% ‘totalmente dependente’.
DISCUSSÃO
66
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
normal (KRAYCHETE et al., 2016). No presente estudo, empregando-se a mesma metodo-
logia, quando comparadas as pressões respiratórias estáticas com os valores de referência
para a população feminina brasileira na mesma faixa etária, constatou-se valores de FMR
reduzida no GP em relação às nuligestas.
Há escassez de relatos na literatura sobre o comportamento da FPP em puérpe-
ras. A redução da FPP causa redução da capacidade de execução das ABVD, podendo gerar
limitações significativas. Ainda, a FPP se apresenta como um indicador da função motora
e da condição geral de saúde (EICHINGER et al., 2015). A CF se refere à potencialidade
para desempenhar as ABVD independentemente. Em nosso estudo, constatou-se que as
puérperas permaneceram independentes no momento imediatamente após o parto cesárea.
Como limitações da presente pesquisa, podem ser citadas a possível interferência da
capacidade de entendimento dos testes realizados pelas voluntárias na medida das pressões
respiratórias e da FPP. Outro aspecto a ser considerado é o reduzido tamanho amostral,
o que pode ter limitado o poder da análise estatística. A escassez de dados na literatura
sobre o comportamento da força muscular respiratória e da preensão palmar em puérperas
de parto cesárea impossibilitou a análise comparativa com os resultados de outros autores.
CONCLUSÃO
Foi evidenciado que no puerpério imediato as mulheres ainda sofrem com as modifi-
cações oriundas da gestação, como a redução da força muscular respiratória. Sugere-se
seguimento do estudo para estabelecer valores de referência da força muscular respiratória,
da força de preensão palmar e da capacidade funcional para as puérperas.
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
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68
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
05
Conflitos e dilemas éticos vivenciados
na violência obstétrica no contexto
hospitalar
10.37885/210404356
RESUMO
70
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO
MÉTODO
Esta pesquisa está inserida no projeto Conflitos e dilemas éticos vividos no cuidado
da equipe de saúde no contexto hospitalar, Resolução CONSEPE 016/2018, cujo objetivo
é compreender a percepção da equipe de saúde sobre conflitos e dilemas éticos vividos no
cuidado da equipe de saúde no contexto hospitalar.
Para Minayo (2011, p.14), a metodologia consiste no “caminho do pensamento e prática
exercida na abordagem da realidade”. Para a autora a importância das teorias, métodos e
técnicas, bem como a criatividade e experiência do pesquisador como atributos indispen-
sáveis para a investigação.
Foi realizada uma pesquisa qualitativa descritiva, por trabalhar com um universo de
significados e oferecer a oportunidade do pesquisador de entender e explorar as questões
relacionadas a pessoa e sua prática.
O estudo foi desenvolvido no Centro Obstétrico (CO), com cinco enfermeiras de um
hospital especializado, público, situado no interior da Bahia. A coletada de dados com os
enfermeiros da unidade de CO aconteceu entre novembro de 2019 e janeiro de 2020 por
meio de uma entrevista semiestruturada, gravada.
Foram utilizados os seguintes critérios de inclusão: ser enfermeiro do CO, estar traba-
lhando na assistência a mulher em processo parturitivo no CO; estar em atividade no CO há
no mínimo por três meses.
O primeiro contato foi com a enfermeira Coordenadora do setor de CO, que possibilitou
o acesso aos enfermeiros. A autonomia dos participantes e declaração de interesse em par-
ticipar do estudo foram mantidas. Após conhecimento das informações fornecidas, leitura e
compreensão das informações constantes no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) que foi assinado para a realização da entrevista.
As entrevistas foram realizadas em um local reservado e livre de interrupções, onde as
participantes se sentiam confortáveis. As mesmas foram agendadas individualmente, con-
forme a disponibilidade dos enfermeiros do CO que desejaram participar. Cada entrevista
teve uma duração de aproximadamente 10 minutos.
Teve como questão norteadora: Comente a sua compreensão sobre conflito e dile-
ma ético relacionado com a violência obstétrica? E questões de aproximação: Fale-me
sobre uma situação de acompanhamento da mulher em situação de violência obstétrica?
72
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Comente sobre que estratégias utiliza para proporcionar cuidados à mulher em situação de
violência obstétrica?
As entrevistas foram transcritas na íntegra. A confidencialidade e o anonimato foram
assegurados mediante uso de pseudônimos (enfermeiro 1; enfermeiro 2; enfermeiro 3;
enfermeiro 4; enfermeiro 5) conforme a ordem em que aconteceu a entrevista. Para a con-
cretização do processo de análise foi utilizado análise de conteúdo de Bardin como modo
de revelar a síntese da estrutura das categorias empíricas. A análise de conteúdo é um
“conjunto de técnicas de análise das comunicações” (BARDIN, 2016, p. 37). Para o autor,
será um único instrumento, marcado com uma grande disparidade de formas e adaptável a
um vasto campo de aplicação.
A análise dos dados obedeceu à seguinte ordem cronológica, segundo Bardin
(2016): A pré-análise constituída pela fase de organização propriamente dita que corres-
pondeu a um período de intuições, com o objetivo de tornar operacionais e sistematizar
as ideias iniciais, de maneira a conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento das
operações sucessivas, num plano de análise. Terá início com a escolha dos documentos
que serão submetidos à análise com a intenção de fundamentar a o referencial teórico e a
interpretação final.
Na etapa seguinte, exploração do material, fase de análise propriamente dita.
Considerada longa e fastidiosa, consiste essencialmente em operações de codificação
(saber a razão por que analisa, e explicitá-la de modo que se possa saber como analisar).
(BARDIN, 2016, p. 133). A classificação dos dados foi operacionalizada através da leitura
exaustiva e repetida dos textos, pois através desse exercício foi feita uma apreensão das
estruturas de relevância a partir dos documentos pesquisados. Nessas estruturas estão
contidas as ideias do autor, e com isso foram identificadas as áreas temáticas. A análise
dos dados possibilitou uma reflexão sobre o material empírico e analítico, de forma que o
mesmo foi decomposto em categorias empíricas. Onde foi utilizado para análise dos valores
éticos e a legislação de Enfermagem.
Na última etapa da análise de conteúdo, tratamento dos resultados, a inferência e
a interpretação, foram realizadas as inferências e interpretações a propósitos dos ob-
jetivos propostos.
No segundo momento de análise, utilizou-se o Método de Análise de Problemas Morais,
proposto por Gracia (2007), que utiliza como base de análise para os conflitos e dilemas éticos
o modelo principialista de Beauchamp e Childress, com o intuito de resolvê-los, propondo
estratégias para a tomada de decisões. O método proposto por Gracia (2007), propõe enu-
merar e definir as situações éticas para posteriormente analisá-los separadamente, partindo
das reflexões da ontologia, deontologia, teologia e da justificação.
73
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Assim o Método de Análise de Problemas Morais está distribuído nas seguintes fases:
1ª fase: O sistema de referência moral pautado em um olhar ontológico vê os seres humanos
como iguais que devem ser respeitados e valorizados em sua individualidade (OLIVEIRA;
SANTA ROSA, 2014).
2ª fase: O esboço moral deontológico, está relacionado o cumprimento da lei, enten-
dido como um sistema de possibilidades onde se tenta explicar a realidade moral partindo
de uma construção da razão (FERRER; ALVAREZ, 2005).
Nos casos descritos pelos enfermeiros, foram observadas as implicações relativas
à deontologia, isto é, as regras que tendem a impor respostas para os conflitos e dilemas
vivenciados no cuidado a mulher em situação de violência obstétrica, frente a tomada de
decisões do enfermeiro, analisados à luz dos princípios da bioética, autonomia, beneficência,
não maleficência e justiça.
3º fase: A experiência moral teleológica, partindo dos aspectos objetivos e subjetivos da
experiência moral, o ideal é alcançar uma vida boa, virtuosa e feliz, frente a uma avaliação de
um ato moral é considerado a consequência de sua ação (OLIVEIRA; SANTA ROSA, 2016).
Essa fase está relacionada à norma e a teoria de valores que corporificam os fins de
uma ação, trata basicamente da relação entre meio e fim, da avaliação do fim e dos meios
necessários para alcançá-lo (OLIVEIRA; SANTA ROSA, 2014).
4º fase: Por fim a Justificação, onde acontece a análise das consequências da expe-
riência moral, consiste em comprovar que a opção feita está em conformidade com valores
e princípios vivenciados pela pessoa, para isso observa-se quatro etapas: Comparar o caso
com a regra; comprovar se é possível justificar uma exceção à regra no caso concreto, con-
siderando as consequências objetivas e subjetivas; contrasta a decisão inicial com o sistema
de referência; e, por fim, tomada de decisão (SILVA et al., 2016).
O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de
Feira de Santana, CAAE: nº 71618817.6.0000.0056. Os procedimentos adotados na pes-
quisa estão em conformidade com as orientações éticas previstas na Resolução 466/12, do
Conselho Nacional de Saúde, a qual apresenta normas regulamentadoras e diretrizes de
pesquisas envolvendo seres humanos (BRASIL, 2013).
RESULTADOS E DISCUSSÕES
75
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Eu tive recentemente uma paciente que tava em um período expulsivo muito prolon-
gado, e porque eu trabalho na sala de parto, [...] com duas horas de dilatação completa, e
uma hora de período expulsivo [...] fizemos várias coisas com ela, agachou, subiu, desceu,
colocou de quatro apoios, tentou várias coisas e não conseguiu, como já tinha um tempo,
apesar do BCF (batimentos cardio fetais) tá o tempo todo bom, mas já tinha um tempo
considerável, dentro do limite de que eu poderia esperar, eu acionei a equipe médica pra
dar um suporte, na verdade a minha sugestão foi um fórceps de alivio, porque a paciente
tava exausta, não tinha mais condição, e a cabeça do bebê não tinha progressão nenhuma,
apesar de já estar ali na vulva, aí foi quando eu acionei, o médico veio, fez uma episio, fez
Kristeller, fez um monte de coisas E5.
Os relatos demonstram que as profissionais de Enfermagem não concordam com a
realização de procedimentos invasivos no momento do parto, a exemplo da manobra de
Kristeller, que mesmo sendo uma prática desaconselhada no ambiente hospitalar ainda
ocorre com frequência, com a finalidade de acelerar a expulsão do bebê durante o parto.
Constitui-se como um método que desrespeita a integridade física da parturiente, expondo a
mãe e o recém-nascido a riscos de complicações a saúde, como lesões nos órgãos internos,
hematomas, fraturas, entre outros, além de gerar violência psicológica à gestante (LEAL
et al., 2018; SAUAIA, SERRA, 2016).
Além de exemplificar uma situação de violência obstétrica, a enfermeira E4, relatou a
sua atitude diante de uma situação como essa.
[...] Informei ao mesmo que se ele permanecesse fazendo a manobra, que eu não fi-
caria na sala, pedi desculpas a paciente e me retirei, depois escrevi um relatório e entreguei
na ouvidoria E4.
Ao se manifestar contra a realização da manobra, a enfermeira E4 retirou-se da sala
onde estava acontecendo parto, e relatou o ocorrido na ouvidoria, para que fossem tomadas
as devidas providências. A atuação do enfermeiro na advocacia do paciente ainda é uma
prática incomum no Brasil, porém esta é uma atitude importante, que emerge como uma
obrigação moral do profissional de Enfermagem, e que se configura como uma estratégia
de enfrentamento não só da violência obstétrica, mas de todas as situações onde paciente
tem os seus direitos violados (OLIVEIRA; PENNA, 2017).
A violência descrita, se configura devido a imposição de uma intervenção danosa à
integridade física e emocional das parturientes no CO, além de ser um desrespeito a auto-
nomia feminina. Sendo a manobra de Kristeller, no campo feminista e obstétrico, uma prática
violenta e violadora de direitos (SILVA, et al., 2015; LEAL, et al., 2018).
76
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Nesses relatos as enfermeiras obstetras (E4 e E5) retratam que muitas pacientes não
conseguem reconhecer situações de violência obstétrica, devido à ausência de informa-
ção. Portanto, compreendem que todos os procedimentos os quais estão sendo submeti-
das, irão ajudar a salvar a vida dela e a do bebê, tendo a figura do médico como um herói
(LEAL et al., 2018).
É um tema que abrange muito conflito e dilema ético, devido a mulher enfrentar o pro-
blema da sua autonomia ser negada, devido uma relação médico-paciente onde ele acredita
que é dotado de conhecimento E4.
É complicado, porque a gente entra numa situação que assim, nesse caso mesmo
depois que ela pariu, depois que ela sofreu tudo isso, as pacientes não se reconhecem
como sendo violentadas, ela acabou agradecendo, endeusando o médico, dando graças
a Deus ele foi um anjo que salvou ela, que ela estava sofrendo muito, que não conseguia
parir, já tinha avisado que ela não ia conseguir parir e só conseguiu com a ajuda dele, então
a paciente acaba vendo você como a parte ruim da história, alguém que tá querendo forçar
que ela parisse e ela não tinha condições de parir, aí veio lá um médico, empurrou a barriga
dela e resolveu toda a situação E5.
Portanto, há uma dificuldade de reconhecimento pelas parturientes da vivência da
violência obstétrica, tratando-se de uma questão complexa e influenciada por diversos fato-
res. O reconhecimento do direito das mulheres à escolha e recusa informada e de não serem
submetidas a intervenções não consentidas é recente, e ainda não faz parte da cultura dos
profissionais obstetras ou das mulheres (LANSKY et al., 2019).
77
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
obstétrica, é importante que a profissional de enfermagem relate para a paciente o ocorrido,
destaque os seus direitos e oriente-as a buscá-los (ALVARENGA; KALIL, 2016).
É válido ressaltar que a Organização Mundial de Saúde (OMS) retrata a enfermagem
obstétrica como a categoria profissional mais apta para que haja a mudança das práticas
de violência e a consolidação de uma assistência obstétrica segura, pautada nos princípios
éticos e bioéticos (MOURA et al., 2018).
Quando a mulher, a gestante, no caso, ela está calada, [...]chorosa, tem medos, medos
[...] avaliação, de não conseguir parir, etc. Existe uma equipe multiprofissional, [...] procura
detectar [...] o tipo de problema ela está passando naquele momento, pra poder direcionar
o especialista na atuação [...] E2.
Orientei a paciente, expliquei pra ela que aquilo ali se tratava de uma violência obsté-
trica e que ela poderia recorrer, poderia procurar os direitos dela E3.
Acolhimento, informação e apoio E4.
Em suas falas, as enfermeiras E2, E3 e E4 destacaram a orientação como ação es-
sencial da sua assistência a mulher em situação de violência obstétrica, além de informa-lá
sobre o ocorrido e incentivá-la a buscar os seus direitos.
A informação e a orientação adequadas fazem parte de uma assistência com funções
qualificadas e educativas, permitindo que a partir do conhecimento a mulher se empodere e
seja capaz de tomar as rédeas da situação (LEAL et al., 2018; ALVARENGA, KALIL, 2016).
[...] eu tento prestar a minha assistência de Enfermagem mesmo, não deixar a paciente
desassistida, mas muitas vezes a gente é vista dessa forma, como alguém que estava ali
prestando um cuidado que talvez no entendimento dela não é adequado, e também eu gosto
de orientar as pacientes, conversar [...], explicar, explico o que é que ela pode fazer, aonde
ela pode ir, o que é que ela pode procurar, a unidade tem ouvidoria, a unidade tem direção,
a unidade tem sempre alguém que responde pela direção seja de dia ou de noite, então
explico para ela que ela sofreu uma violência e que se ela se sentiu violentada, ela pode
procurar na unidade a ouvidoria e prestar uma queixa, tanto na enfermaria também quando
a ouvidoria passa para conversar com as pacientes para saber como foi o atendimento ela
pode relatar o ocorrido com ela sem nenhum prejuízo de assistência E5.
[...] não cabe a mim julgar a conduta de colega e nem de equipe nenhuma, mas expli-
co pra ela, acho que ela tem todo direito de entender o que é que é a violência obstétrica e
depende do que aconteceu, não sei te dizer, mas se eu to recebendo uma mulher que me
relata que foi vítima de violência obstétrica o mínimo que eu vou dizer pra ela é que ela pro-
cure os direitos dela, que ela vá até a defensoria pública, a ouvidoria do hospital para que
ela consiga ter respostas diante da situação que ela viveu, e lógico que ela precisa passar
por acompanhamento psicológico E3.
78
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Os relatos das profissionais E3 e E5 desvelam que as mesmas orientam as pacientes
a buscarem os seus direitos no âmbito da justiça, citando não só a ouvidoria do hospital,
mas também a defensoria pública.
A E3 ressalta que mesmo diante da VO, não julgou a conduta de nenhum profis-
sional, porém buscou esclarecer o ocorrido para a paciente e a ajudou com a informa-
ções necessárias.
Sendo o cuidado o foco central da Enfermagem, deverá se configurar na interação,
no contato com a paciente, no resgate do cuidado humano. Para resgatá-lo é importante o
desenvolvimento de uma relação recíproca e interdependente, propiciando condições de
crescimento e aprendizado para o seu reestabelecimento (NASCIMENTO et al., 2017).
A categoria conflito ético foi composta por duas subcategorias a compreensão de con-
flito e os conflitos entre a equipe multiprofissional.
O conflito pode ser compreendido “como a quebra da ordem, uma experiência ne-
gativa, gerada por erro ou falha” (AMESTOY et al., p.80, 2014). Percebe-se que o conflito
no CO surge na rotina das relações interdisciplinares entre a equipe de saúde, e costuma
estar relacionado a diferentes opiniões sobre ações realizadas durante o parto, principal-
mente entre a equipe médica e equipe de Enfermagem.
I Compreensão sobre o conflito
Ao abordarem a compreensão sobre o conflito, as enfermeiras se expressaram de for-
ma equivocada em determinados momentos. Elas vivenciam conflitos por estarem frente a
diferentes possibilidades e pelo ambiente do CO ser dinâmico que atende a procedimentos
complexo exigindo dos mesmos escolhas rápidas, a fim de evitar danos a paciente e ao bebê.
Conflito trata-se de um impacto, de uma ação que envolve a todos E4.
Conflito são essas coisinhas que acontecem no dia a dia, que você tenta resolver ques-
tões e que tenta que fique melhor para todo mundo né, são os conflitos do dia a dia mesmo,
e que com uma boa conversa, um bom diálogo a gente acaba resolvendo E3.
Conflito [...] questão pessoal, questão de discordância de conduta E5.
[...] conflitos acontecem, e de maneira ética, a base de protocolos, a gente acaba re-
solvendo essas questões E2.
A enfermeira E5 destaca que o conflito é uma questão pessoal e de discordância de
conduta, apesar do conflito envolver situações de discordância entre o certo e o errado, ele
não é considerado uma questão pessoal. E as enfermeiras E3 e E4 não souberam atribuir o
significado da palavra conflito de modo claro e de fácil compreensão, devido à insegurança
na hora de se expressarem.
80
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Portanto, como a enfermeira E2 traz no seu relato, faz-se necessário o aprimoramen-
to do conhecimento teórico da equipe de enfermagem sobre o assunto, para que saibam
identificar situações conflituosas e resolve-las com respaldo nos princípios da ética e da
bioética, tendo como base o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (OLIVEIRA;
SANTA ROSA, 2016).
II Conflitos entre a equipe multiprofissional
O trabalho na área da saúde é complexo, por isso é comum o aparecimento de conflitos
entre as diversas categorias profissionais. Entrar em conflito é algo inerente ao ser humano,
visto que cada indivíduo possui suas concepções, crenças, atitudes, senso de ética, moral,
costumes, etc. É comum que ocorra a divergência de opiniões, e muitas vezes, a situação
conflituosa foi necessária para a construção de novos conceitos (LEAL et al., 2018).
[...] se tem alguma situação de conflito a gente tenta negociar entre a equipe, nunca é
uma coisa autoritária, uma coisa assim: eu mando, você obedece, eu decido, você obedece,
não, é uma coisa que é feita em conjunto E3.
[...] as vezes a gente tem uma discordância de conduta da equipe, do médico por
exemplo, o médico prescreve uma medicação que a gente acha que não é o momento de
introduzir aquela medicação para a paciente e aí eu acho que o conflito está direcionado a
isso, as vezes a gente tem uma discordância E5.
Em sua fala a enfermeira E5 desvela que a discordância entre os profissionais da
equipe é algo que acontece algumas vezes. A exemplo do médico obstetra que ao agir de
acordo com o discurso médico hegemônico, toma decisões egocêntricas e sem o apoio da
equipe de saúde, principalmente a equipe de Enfermagem.
A enfermeira E3 retrata em sua fala a maneira como a equipe de saúde do CO costu-
mam resolver as situações conflituosas, através de uma tentativa de negociar em conjunto
com todos os profissionais envolvidos. Ressaltando que a resolução dos conflitos influencia
positivamente a organização do trabalho e favorece a construção de objetivos comuns,
intensificando a articulação entre os profissionais e a atuação da equipe multiprofissional
(SANTOS et al., 2016).
A categoria sobre o dilema ético foi composta por duas subcategorias conhecimento
sobre o dilema e ação da enfermeira frente a um dilema ético.
Os dilemas ocorrem quando emerge uma situação em que há duas opções de escolha,
e ambas ferem os princípios éticos. No dilema ético o profissional de enfermagem vivencia
uma situação limite, a qual impõe o desafio de ser obrigado a escolher entre dois, e somente
dois, incompatíveis cursos de ação (OLIVEIRA, SANTA ROSA, 2015; NORA et al., 2016).
81
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
I. Conhecimento sobre dilema
Os dilemas éticos permeiam rotineiramente a prática dos profissionais da equipe obs-
tétrica. Portanto, a capacidade de reconhecimento de um dilema é essencial, pois só assim
a equipe de Enfermagem poderá subsidiar a tomada de decisões (OLIVEIRA et al., 2017).
Dilema ético é uma linha muito tênue do que você precisa fazer e o que você pode
fazer, dentro da enfermagem a gente tenta sempre trabalhar da melhor forma possível,
respeitando aqueles nossos princípios de ética, respeitando o nosso cliente, respeitando
sempre a nossa equipe E3.
Dilema é mais quando envolve alguma coisa que é mais crítica e você acaba expondo
os dois lados da situação E5.
Dilema ético [...] é uma questão mais profunda, mais detalhada, porque as vezes você
tá diante de uma situação em que você precisa, não condiz com aquilo que você concorda,
não condiz com aquilo que a sua profissão te ensina, e o que você aprendeu, e quando você
vem pra vivência, pra prática, é completamente diferente daquilo que você tá acostumado E3.
Dilema ético é quando inflige regras que irão impactar na pessoa ou sociedade E4.
Dilema tá mais relacionado a uma questão quando a gente não tem bem uma resolução
[...] fica numa situação que expõe tanto um lado quanto o outro, e não tem aquela coisa bem
definida do que você vai fazer E5.
Observa-se que as enfermeiras já vivenciaram situações de dilemas éticos e as mes-
mas têm diferentes concepções sobre o seu significado. Para a enfermeira E3, o dilema é
uma questão mais profunda e caracteriza-se como uma linha tênue entre aquilo que você
precisa fazer e aquilo que pode fazer. A enfermeira E5 compartilha de um pensamento
parecido com o da sua colega de trabalho, e compreende o dilema como uma situação
onde não há uma resolução ética, pois, expõe ambos os lados envolvidos. Enquanto que a
enfermeira E4 desvela que o dilema ético acontece quando o profissional inflige regras que
irão causar impactos, seja em uma única pessoa, ou na sociedade de modo geral.
O reconhecimento de um dilema, configura-se como um passo importante na cons-
trução de profissionais éticos, visto que por diversas vezes situações dilemáticas passam
despercebidas ou são confundidas com conflitos. Assim sendo, apesar de demonstrarem
compreensão sobre o conceito do dilema, as enfermeiras do CO devem aprimorar o seu
discernimento, para que se sintam mais seguras na identificação e na resolução de um di-
lema (OLIVEIRA; SANTA ROSA, 2016).
CONCLUSÃO
83
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
06
Cuidados de enfermagem à mulher
que realiza radioterapia por câncer
de mama: uma revisão integrativa
10.37885/210203216
RESUMO
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO
O câncer é um importante problema de saúde pública que ocasiona cerca de seis mi-
lhões de óbitos anualmente, representando aproximadamente 12% das causas de morte no
mundo (INCA, 2020). Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de mama é
a segunda neoplasia mais comum em mulheres, sendo estimado para o Brasil 66.280 casos
novos para cada ano do triênio 2020-2022. Esse valor corresponde a um risco estimado de
61,61 casos novos a cada 100 mil mulheres (INCA, 2020).
Diante dos dados epidemiológicos e visando dentre outros aspectos, a “necessidade de
redução da mortalidade e da incapacidade causadas por câncer, por meio de ações de promo-
ção da saúde, prevenção, detecção precoce e tratamento oportuno”, foi elaborada em 2013,
a Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer (PNPCC) (BRASIL, 2013, p.129).
Conforme descreve a PNPCC, o tratamento deve ser feito nas Unidades de Assistência
de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON) e nos Centros de Assistência de Alta
Complexidade em Oncologia (CACON), ambos em nível terciário. Essas unidades devem
estar capacitadas para assegurar a qualidade da assistência, realizar o diagnóstico, deter-
minar o estadiamento, acompanhamento e tratamento (BRASIL, 2013).
Em se tratando de terapias para o câncer de mama de uma forma geral, tem-se a qui-
mioterapia, hormonioterapia, cirurgia e radioterapia (LEAL; CUBERO; DEL GIGLIO, 2010;
NICOLUSSI; SAWADA, 2011). A radioterapia (RT) utiliza feixes de radiações ionizantes,
sendo que o número de sessões depende do tipo de tumor, estado de saúde geral do pa-
ciente e a técnica de radiação utilizada (BRASIL, 2015; HABIBULLAH et al., 2018).
Entre as vantagens da RT, se enquadram a fácil e rápida aplicação, eficiência e efe-
tividade locais. Por outro lado, a terapia possibilita efeitos colaterais como lesões na pele,
fadiga, dor, problemas gastrointestinais, fibrose e danos às estruturas normais subjacentes,
com diminuição da qualidade de vida em geral (HABIBULLAH et al., 2018).
Além dos efeitos da RT que afetam diretamente a dimensão física, deve-se levar em
conta as repercussões sociais e emocionais como medo, estresse, ansiedade, alteração da
imagem corporal e sinais de depressão. Logo, o conhecimento e valorização das singularida-
des, possibilita que os profissionais de saúde norteiem suas ações para além das questões
técnicas, entrevendo a dimensão existencial para cuidar de modo abrangente (HABIBULLAH
et al., 2018; PAIVA et al., 2019).
Devido a esses impactos, compete aos profissionais de enfermagem, em especial ao
enfermeiro que atua na radioterapia, a prevenção, tratamento e reabilitação dirigidos às
pessoas submetidas à radiação. Para isso, a consulta de enfermagem se torna importante
de modo a avaliar a história, impacto da doença e do tratamento para todos os envolvidos
(SOUZA et al., 2017).
88
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
No momento da consulta, devem estar presentes atitudes de acolhimento, escuta e
apoio, atreladas à atenção biopsicossocioespiritual, tornando-se alicerces para o enfrenta-
mento da doença em atendimento aos preceitos humanísticos da Enfermagem, bem como
as premissas da política, princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). Assim,
o olhar pautado na dimensão subjetiva da mulher incentiva a expressão de sentimentos, fa-
zendo com que o enfermeiro seja capaz de acolher e auxiliá-la de uma maneira mais efetiva
nessa fase desafiadora da vida (MORENO, 2010; PAIVA et al., 2019).
Por todas essas considerações, torna-se relevante a investigação do conhecimento
produzido por enfermeiros acerca do cuidado de enfermagem à mulher que realiza radio-
terapia por câncer de mama.
DESENVOLVIMENTO
Metodologia
90
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Figura 1. Fluxo da informação com as diferentes fases de uma revisão, segundo recomendação PRISMA.
O nível de evidência das publicações foi analisado com base na classificação propos-
ta pela Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ), que descreve seis níveis de
evidências: nível 1, metanálise de múltiplos estudos controlados; nível 2, estudo individual
com delineamento experimental; nível 3, estudo com delineamento quase-experimental
como estudo sem randomização com grupo único pré e pós-teste, séries temporais ou ca-
so-controle; nível 4, estudo com delineamento não-experimental como pesquisa descritiva
correlacional e qualitativa ou estudos de caso; nível 5, relatório de casos ou dado obtido de
forma sistemática, de qualidade verificável ou dados de avaliação de programas; nível 6,
opinião de autoridades respeitáveis baseada na competência clínica ou opinião de comi-
tês de especialistas, incluindo interpretações de informações não baseadas em pesquisas
(STETLER et al., 1998).
RESULTADOS
Das 10 publicações incluídas nessa revisão, observou-se que 20% delas foram publi-
cadas nos últimos três anos – 2018 (10%) e 2019 (10%), 40% em 2010 e 40% entre 2011 e
2014. Em relação ao idioma, 91% foram em inglês e 9% em português. Houve diversidade
91
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
em relação ao local de origem dos estudos. Destaca-se que 50% eram dos Estados Unidos
da América, 30 % do Brasil, 10% da China e 10% da Suécia.
Em relação à abordagem metodológica, 80% dos estudos foram de abordagem quan-
titativa e 20%, qualitativa. Quanto ao nível de evidência, 20% das publicações foram classi-
ficadas como de nível 2 (estudo individual com delineamento experimental), 30% em nível
3 (estudo com delineamento quase-experimental como estudo sem randomização com
grupo único pré e pós-teste, séries temporais ou caso-controle) e 50% como nível 4 (estudo
com delineamento não-experimental como pesquisa descritiva correlacional e qualitativa ou
estudos de caso).
Para melhor identificação das publicações que compõem esta revisão, construiu-se um
quadro sintetizando as informações pertinentes para o estudo: título, ano, país, objetivos e
método/nível de evidência (Quadro 1).
92
ceiving Radiation Therapy for Breast Cancer. NE: III
O quadro 2 ilustra de modo sintético a distribuição dos artigos com os principais resul-
tados encontrados.
Os cuidados de enfermagem se concentram em torno da prevenção e tratamento dos efeitos colaterais desde o primeiro dia de radio-
E1 terapia, sendo necessário observar e analisar todos os sintomas da paciente, além de considerar outros tratamentos administrados em
conjunto com a radioterapia (por exemplo, quimioterapia)
Intervenções de Enfermagem devem ser direcionadas à ansiedade e a depressão (principalmente nas mulheres com câncer de mama),
E2
já que esses sintomas se mostraram fortemente relacionados com a fadiga atensional.
Os enfermeiros necessitam ter conhecimento sobre preditores individuais (peso, idade, comorbidades, profissão, entre outros) para
E3
identificar pacientes com maior risco de desenvolver níveis elevados de fadiga atensional.
Diagnósticos de enfermagem precisos permitem traçar um plano de ação direcionado às reais necessidades dos pacientes. O diagnóstico
de fadiga esteve presente em 21,9% das mulheres. A característica que apresentou maior sensibilidade foi “Capacidade prejudicada em
E4
manter o nível usual de atividade física”, enquanto “Capacidade prejudicada em manter rotinas habituais” e “Falta de interesse pelo
ambiente circundante” apresentaram maior especificidade.
Ao comparar placebo com a técnica de exercícios Neuromuscular Integrative Action (NIA), constataram que os cuidados de enfermagem
E5 para as mulheres submetidas à radioterapia para câncer de mama devem ser pautados em NIA, já que esse tipo de exercício pode
ajudar a prevenir ou reduzir a fadiga.
Comparando a eficácia de três produtos de cuidados da pele versus um placebo, utilizados profilaticamente na redução da incidência
de reações cutâneas induzidas por radioterapia, não foi constatado eficácia em relação ao placebo. Com isso, as mulheres devem ser
E6
orientadas sobre como lidar com a reação na pele e os enfermeiros devem considerar as preferências pessoais, facilidade de aplicação,
risco de reação cutânea intensificada e custo, quando da indicação de soluções.
Os enfermeiros devem atentar-se sobre a importância de integrar à avaliação, considerações de cunho emocional e psíquico, aumentan-
E7 do a sensibilidade na prática para identificar grupos de pacientes de alto risco, tendo em vista que tais questões tem efeito prejudicial
sobre a qualidade de vida.
Constatou-se o quanto a vivência do câncer causa sofrimento, portanto, cabe ao enfermeiro ser criterioso e sensível para apreender
E8
as vivências das mulheres, sabendo que cada uma é única e reage de forma diferente.
Para o melhor atendimento de enfermagem às pacientes com câncer de mama, devem ser incorporadas práticas de oncologia integrativa,
E9 levando em conta que os resultados deste estudo ilustram o impacto positivo da imaginação guiada medida por meio de parâmetros
subjetivos e objetivos.
O relaxamento com imaginação guiada possibilita a compreensão do ser-no-mundo durante as reflexões proporcionadas, sendo possível
E10
verificar a importância do oferecimento da terapia pelo enfermeiro nos cuidados à mulher com câncer de mama.
95
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
atividade física, tinham hábitos de vida saudáveis, participavam de grupo de apoio, e pos-
suíam assistência psicológica, apoio familiar, social e dos amigos.
No contexto de intervenções de enfermagem que beneficiam a redução da ansiedade,
o uso do telefone como estratégia para o manejo do sintoma para as pacientes em tratamen-
to radioterápico, mostrou-se eficaz. Outra ação dos enfermeiros citada como relevante é a
criação de manual educativo utilizado como guia de orientações para subsidiar a assistência
de enfermagem na radioterapia (CRUZ et al., 2017; STAMM et al., 2018).
O uso da imaginação guiada revelou melhora estatisticamente significativa, com dimi-
nuições na frequência respiratória e na frequência de pulso, na pressão arterial sistólica e
diastólica. A temperatura da pele aumentou, indicando maior fluxo capilar periférico secun-
dário a uma diminuição na resposta simpática. A maioria das participantes (86%) descre-
veram as sessões de imagens guiadas como úteis e 100% disseram que recomendariam a
intervenção a outras pessoas (SERRA et al., 2012).
O significado do relaxamento com imaginação guiada também possibilitou a com-
preensão da mulher durante as reflexões proporcionadas, sendo possível verificar o impacto
positivo da imaginação guiada medida por meio de parâmetros subjetivos e objetivos. Sendo
assim, melhorar o atendimento geral para pacientes com câncer de mama apoia a incor-
poração dessa oncologia integrativa na prática (SERRA et al., 2018; TONETI et al., 2019).
O cuidado à mulher com câncer de mama se constitui em um desafio para a equipe de
enfermagem, e deve ser realizado de maneira integrada e participativa. Dessa forma, cabe
ao enfermeiro ser sensível para apreender as vivências das mulheres, ciente de que cada
uma delas é única e reage de uma maneira distinta (FROHLICH et al., 2014; SO et. al, 2010).
96
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Dentre as implicações para a prática de enfermagem, as evidências apresentadas
sensibilizam os enfermeiros sobre a importância da temática e enfatizam o desenvolvimento
de ações que englobem o cuidado biopsicossocioespiritual. Essas intervenções podem ser
úteis no apoio às práticas clínicas, objetivando a qualificação do cuidado no planejamento
de ações estratégicas, e na melhoraria da qualidade de vida das mulheres que realizam
radioterapia para o câncer de mama.
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
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101
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
07
Câncer de mama e feminino: um
relato de experiência com mulheres
em tratamento na atenção terciária
10.37885/210404195
RESUMO
103
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO
104
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
MÉTODOS
Nas ações do “Outubro Rosa”, a Terapia Ocupacional estabeleceu uma parceria com
uma educadora artística, servidora do HAC. Decidiu-se por fazer uma intervenção de costura
denominada “Sutiã: versatilidades da peça”. Segundo Othero e Silva (2010), em uma equipe
interdisciplinar, a avaliação e o planejamento da intervenção são feitos de maneira conjunta,
havendo troca de informações entre os membros por meio de reuniões formais e regulares,
priorizando-se as necessidades e estabelecendo alocação de recursos. E continuam:
Questionário
Ateliê de costura
106
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
A Terapia Ocupacional é um campo de saberes e práticas que busca cons-
truir com os sujeitos atendidos uma área de exploração de necessidades e
um levantamento detalhado de questões apresentadas pelos sujeitos, o que
implica uma ressignificação, complexificação de possibilidades e de entrada
no circuito social.
Ao final, foi confeccionada por uma paciente uma peça de sutiã, cuja fotografia está
apresentada adiante. A confecção da peça proporcionou à paciente uma forma de demonstrar
para as demais participantes, através de seu fazer e de sua fala, a superação diante das
perdas sofridas no processo de adoecimento pelo câncer de mama. Com isto, buscou-se
também provocar uma reflexão sobre a execução de novas atividades, empreendedoras
ou não, que pudessem fomentar uma ressignificação em suas vidas. Mais adiante apresen-
tar-se-á também uma tabela que demonstra as etapas do processo de produção do sutiã
durante a intervenção.
107
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
DISCUSSÕES
Do caótico ao cosmético
Ao enfrentar uma doença como o câncer de mama, a mulher pode vivenciar inúmeros
desafios, começando pelo início do tratamento médico em tempo hábil. Segundo a Sociedade
Brasileira de Mastologia (SBM, 2019), cerca de 60% dos casos chegam ao tratamento em es-
tágio avançado, principalmente as pacientes atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
108
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Conforme é preconizado pela Lei nº 12.732/12, o início do tratamento deverá ocorrer
no máximo em sessenta dias, sendo ofertado à mulher participar de procedimentos médicos
necessários para uma aposta na sua melhora clínica. Nesse contexto, é recorrente o temor
com relação às prováveis mudanças no corpo e na vida, tais como dor, efeitos colaterais por
medicamentos, perda de cabelos e, em muitos casos, a retirada total ou parcial da mama.
Percebe-se, então, que as mudanças mencionadas se misturam a um turbilhão de novas sen-
sações, o que foi testemunhado pela terapeuta ocupacional durante os atendimentos clínicos.
Nesse contexto hospitalar para o atendimento com pacientes oncológicos, o uso tera-
pêutico das artes pode ser um coadjuvante aos tratamentos médicos convencionais, pois:
Diante disso, aposta-se que experienciar processos que concedam a participação artísti-
ca ao tratamento oncológico pode levar a uma mudança na qualidade de vida e, como um dos
efeitos dessa mudança, a um protagonismo no tratamento oncológico. Nessa perspectiva, o
HAC tem aberto suas portas aos voluntariados formados por artistas, artesãos e oficineiros,
entre outros grupos, que transmitem seus saberes e fazeres, tendo como exemplo a paciente
que fez a demonstração da confecção do sutiã. Belzega (2003, p. 1) diz que “A arte é bela
e aprazível. Quando as manifestações artísticas acontecem em hospitais, esses generosos
adjetivos têm um significado especial porque humanizam um ambiente, geralmente inóspito,
além de promover o bem-estar de pacientes e daqueles que trabalham com doenças”.
Desta forma, pensou-se ser possível, através da participação das pacientes em ativida-
des de artes, dentro ou fora das unidades assistenciais onde são realizados os tratamentos,
promover ressignificações dessa etapa da vida que poderia ter um efeito de aprendizado e
o início de uma nova fase. Neste contexto, as informações, aliadas à troca de experiências
e à busca pela qualidade de vida podem ressignificar o momento de tratamento oncológico
de forma particular em cada paciente.
A teoria psicanalítica oferece uma abordagem vasta e completa para pensar o feminino.
Sigmund Freud postulou que a eleição do sexo e do parceiro amoroso não é determinada
pela anatomia, mas depende da posição assumida por cada um. Portanto, o feminino é
considerado como uma posição subjetiva.
109
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Diante disso, no contexto hospitalar com pacientes oncológicos, o tratamento do câncer
pode envolver a retirada total ou parcial da mama afetada, o que pode levar a um impacto
físico, social e psíquico nas pacientes. Relatos sobre os efeitos da mastectomia sobre o corpo
e sobre a sexualidade são frequentes na clínica hospitalar. Freud (1914/1996) considerou
que uma perturbação física ou mental ocasiona uma diminuição da autoestima, podendo
acarretar até mesmo uma incapacidade de amar e um empobrecimento do eu. Uma cirurgia
mutiladora como a mastectomia não opera somente sobre o órgão doente, mas tem efeitos
subjetivos sobre o feminino, pois o seio, culturalmente, tem um valor imaginário, é um sím-
bolo da feminilidade e instrumentaliza o exercício do desejo.
No escopo da psicanálise a imagem pode ser tomada como um véu, e até mesmo
como um espetáculo que chama a ver, como, por exemplo, uma produção de uma peça de
sutiã, que provoca o olhar. A doença coloca em cena a imperfeição do corpo, na medida em
que revela a fragilidade e a temporalidade da carne. As diferentes figuras do feminino se
constituem a partir da tensão existente entre o singular de uma mulher e o ideal cultural que
se propõe para todas, de uma forma genérica. Cada mulher lança mão de múltiplas facetas
extraídas da cultura em diferentes épocas da história para se localizar no campo das identi-
ficações sexuais. Assim, a cultura oferece figuras ideais para a identificação das mulheres.
Esse ideal feminino, que se constitui em cada época, indica a imagem que deve ser
alcançada para contornar a inquietante busca sobre o que é ser mulher. Na Antiguidade
clássica, encontrava-se a figura das guerreiras, as sacerdotisas, as deusas, as místicas;
na Idade Média, as virgens e religiosas, que permaneceram através dos tempos, destacan-
do-se a mulher como objeto de troca na sociedade feudal; na Contemporaneidade, há as
facetas variáveis da mulher nos dias atuais: mãe, profissional bem-sucedida e independente
e, utilizando-se um termo mais atual e que traduz toda a capacidade de autonomia e auto-
ridade, empoderada.
Portanto, por esta breve reflexão, pode-se inferir que há diversas versões do feminino
e de seu poder que se multiplicam na história. Desta forma, também a temática sobre o seio
não constitui um assunto simples. Acompanha, culturalmente, as transições e valores que a
sociedade impõe. Assim, hoje, diante de um corpo marcado pela doença oncológica, cada
paciente pode ressignificar seu feminino, pode pensar sobre o “ser feminino” através, por
exemplo, de uma peça do vestuário que diz sobre o “ser mulher”: o sutiã.
RESULTADOS
Ao levar em conta que uma das funções do uso do sutiã estaria relacionado ao pudor,
ao adorno e à proteção, as pacientes foram convidadas a refletir sobre como cada uma
110
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
pode se servir do sutiã no seu uso diário e na subjetivação do seu feminino durante o tra-
tamento oncológico.
Percebeu-se que a intervenção não apresentou riscos biológicos, mentais e/ou éticos.
Tendo em vista a ativa participação das pacientes através das suas narrativas e o fato do
material utilizado para a confecção do sutiã já ter sido preparado pelos autores deste artigo,
não houve nenhum tipo de imprevistos e/ou acidentes com as participantes da interven-
ção. A condução realizada pela terapeuta ocupacional e pela educadora artística no momento
da intervenção foi pautada no cuidado, no acolhimento e na preservação de informações
pessoais dos participantes sob uma ética profissional.
A confecção de uma peça de sutiã por uma paciente, realizada no momento da in-
tervenção, foi demostrada para as participantes como uma superação diante das perdas
sofridas no processo de adoecimento pelo câncer de mama. Com isto, buscou-se também
provocar uma reflexão sobre a execução de novas atividades, empreendedoras ou não, que
pudessem fomentar uma ressignificação em suas vidas.
Desfecho primário
Desfecho secundário
Percebe-se que a maioria das mulheres não conheciam a produção do sutiã, mesmo
sendo a peça frequentemente utilizada em seu cotidiano. Embora a resposta quanto ao
uso do sutiã tenha sido unânime, é importante salientar que essas mesmas mulheres não
conheciam a história da peça e, também, não conheciam o modelo adequado de sutiã. Isso
pode nos remeter à etimologia da palavra “sutiã”, que remete à função de sustentador de
seios. Mas sustentar o quê? A feminilidade de cada participante, poder-se-ia dizer.
O método da exposição oral e da roda de conversa foi fundamental para a familiari-
zação e inferências no universo do feminino. Houve, naquele contexto, a oportunidade de
problematização de ideias socialmente cristalizadas em relação ao belo, ao adequado, ao
normal, com entradas para outras formas de pensar o próprio corpo e a vida de cada uma
delas. Observou-se, durante a exposição oral e na roda de conversa, um alcance importante 111
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
no grau de concentração, participação e caráter lúdico proporcionado pela oportunidade de
confecção do sutiã.
Já no espaço ambientado do ateliê de costura, a aposta foi trazer a produção, o fazer,
como forma de apropriar-se das noções de concretude do corpo: medidas, ajustes, recursos
da modelagem e tecidos; interferindo na autoestima da paciente. Nesse momento, obser-
vou-se antagonismos como fora/dentro, público/privado, com/sem, oculto/aparente relacio-
nados ao vestuário, o que possibilitou analogias com o corpo nas dimensões de integridade/
mutilação e normal/patológico.
A aproximação com o trabalho interdisciplinar também mostrou como alcançar os efeitos
de um tratamento ampliado através da oferta de uma intervenção às pacientes atendidas na-
quele serviço de saúde. Pode-se considerar que as variáveis estimularam a reflexão proposta
nos objetivos na ambientação, na interação entre as participantes e no fazer propriamente
dito. Observar as etapas, compartilhar possibilidades da criação da peça de sutiã, vivenciar
o tempo para confecioná-la, nos reforça a finalidade da intervenção: um espaço de reflexão
sobre o momento que as pacientes estão vivendo diante do tratamento oncológico no HAC.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
112
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
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113
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
08
Dilemas éticos vividos pela equipe
de saúde no cuidado à mulher em
abortamento induzido
10.37885/210404340
RESUMO
115
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO
OBJETIVO GERAL
118
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
MATERIAIS E MÉTODOS
De acordo Gil (2008, p. 8) “pode-se definir um método como um caminho para se chegar
a um determinado fim. E método cientifico como o conjunto de procedimentos intelectuais
e técnicos adotados para se atingir o conhecimento”. Enquanto para Minayo (2011, p. 14),
a metodologia consiste no “caminho do pensamento e prática exercida na abordagem da
realidade”. As teorias, métodos e técnicas, bem como a criatividade e experiência do pes-
quisador são atributos indispensáveis para a investigação (MINAYO, 2010).
Este estudo, recorte do Projeto de Pesquisa intitulada “CONFLITOS E DILEMAS
ÉTICOS VIVIDOS NO CUIDADO DA EQUIPE DE SAÚDE NO CONTEXTO HOSPITALAR”,
que tem Resolução do Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (CONSEPE) da
Universidade Estadual de Feira de Santana, nº 016/2018, e tem como objetivo compreender
os dilemas éticos vividos pela equipe de saúde no cuidado a mulher em abortamento indu-
zido e como objeto de estudo dilemas éticos no cuidado à mulher em abortamento induzido.
Importante ressaltar que são questões polêmicas que envolvem os princípios éticos e legais
e consideramos oportuna a investigação de tal temática.
Para compreensão dos dilemas éticos optamos por realizar a pesquisa qualitativa
descritiva, por trabalhar com um universo de significados e oferecer a oportunidade do pes-
quisador de entender e explorar as questões relacionadas a pessoa e sua prática.
A pesquisa qualitativa proporciona trabalhar com questões mais particulares; ela se
preocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificado (MINAYO, 2011). O que
significa que este tipo de pesquisa envolve um universo de significados, motivos, aspirações,
crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos
processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.
De acordo Martins e Bicudo (2005) a pesquisa qualitativa se preocupa com o específico
e o individual de cada situação, buscando compreender os fenômenos estudados. A com-
preensão dos fenômenos se dá a partir da análise das descrições que são interpretadas de
modo detalhado, onde o subjetivo é levado em consideração (MARTINS; BICUDO, 2005).
119
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
O estudo foi desenvolvido no Centro Obstétrico (CO), de um hospital especializado,
público, situado no município de Feira de Santana-BA, localizada há apenas 107 km da
capital do estado, Salvador.
Para atendimento as parturientes, o CO possui quatro salas, sendo três em sistema de
pré-parto, parto e puerpério, e uma com leitos obstétricos comuns que são adaptados para
assistência ao parto. Essa unidade também conta com uma sala para cuidados imediatos e
mediatos ao recém-nascido, uma sala destinada a partos operatórios, posto de enfermagem,
e uma sala de recuperação pós-anestésica com três leitos semi-intensivos.
No que concerne à atenção as puérperas, a instituição possui quatro enferma-
rias: A, B, C, e D. A enfermaria A, destina-se as gestantes com risco obstétrico, mulheres
em processo de abortamento e gestantes em trabalho de parto prematuro dentre outras
condições de risco, a enfermaria B a puérperas cirúrgicas, os recém-nascidos, e puérperas
com infecção de feridas operatória. As enfermarias C e D são destinadas as mulheres em
pós-parto vaginal e recém-nascidos, e as mulheres com infecção puerperal.
Os participantes da pesquisa foram sete (07) profissionais de saúde que atuam no
CO, de uma instituição pública, no município de Feira de Santana-BA, especializada em
atendimento à mulher. Os critérios de inclusão foram: participantes com mais de seis meses
atuando no CO e que estivessem em plena atividade laboral durante a coleta de dados.
O primeiro contato foi com o coordenador do CO, a fim de promover o encontro com
os demais profissionais e em seguida realizar as entrevistas. Após o aceite, foi agendado
dia, hora e local de acordo a disponibilidade de cada participante.
As entrevistas foram realizadas individualmente, em horários e locais sugeridos pelos
próprios participantes. Antes de entrevista foi feito a leitura do Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (TCLE), com duas vias e foi assinado pelos participantes e autoras da pesquisa.
No primeiro momento foram obtidas informações para caracterização do participante
como: idade; sexo; titulação; tempo de formação; tempo de atuação em CO, carga horária de
trabalho (semanal); outros vínculos empregatícios; outros setores de atuação; capacitação
e aperfeiçoamento; especialização em CO.
A entrevista foi norteada por quatro questões: Comente a sua compreensão sobre dile-
ma ético; relate-me uma situação onde você vivenciou um dilema diante de um abortamento;
como realiza o cuidado à mulher em abortamento induzido?; como pode prevenir dilemas
éticos no cuidado à mulher em abortamento induzido?
As entrevistas foram transcritas na íntegra. A confidencialidade e o anonimato fo-
ram assegurados mediante uso da primeira letra da profissão enfermeira (Enf), Técnico de
Enfermagem (TecEnf) e Médico (M), seguidas da ordem das entrevistas.
120
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Para a concretização do processo de análise foi utilizado a análise do conteúdo de
Bardin, como modo de revelar a síntese da estrutura das categorias empíricas.
A análise dos dados obedeceu à seguinte ordem cronológica, segundo Bardin
(2016): A pré-análise constituída pela fase de organização propriamente dita que corres-
ponde a um período de intuições, com o objetivo de tornar operacionais e sistematizar
as ideias iniciais, de maneira a conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento das
operações sucessivas, num plano de análise. Teve início com a escolha dos documentos
que foram submetidos à análise com a intenção de construir a fundamentação teórica e a
interpretação final.
Na etapa seguinte, exploração do material, fase de análise propriamente dita.
Considerada longa e fastidiosa, consiste essencialmente em operações de codificação
(saber a razão porque analisa, e explicitá-la de modo que se possa saber como analisar)
(BARDIN, 2016). A classificação dos dados foi operacionalizada através da leitura exaustiva
e repetida dos textos, para através desse exercício fazer uma apreensão das estruturas de
relevância a partir dos documentos pesquisados. Nessas estruturas estão contidas as ideias
do autor, e com isso serão identificadas as áreas temáticas. A análise dos dados permitiu
fazer uma reflexão sobre o material empírico e analítico, de forma que será decomposto em
categorias empíricas.
A última etapa da análise de conteúdo, tratamento dos resultados, as inferências e
interpretações foram realizadas a propósito dos objetivos propostos.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual de Feira de
Santana, CAAE nº 71618817.6.0000.0053. Ela segue as recomendações do CONSEPE.
A resolução nº 446/2012 incorpora, sob a ótica do indivíduo e das coletividades, referen-
ciais da bioética, tais como, autonomia, não maleficência, beneficência, justiça e equidade,
dentre outros, e visa a assegurar os direitos e deveres que dizem respeito aos participantes
da pesquisa, à comunidade científica e ao Estado (BRASIL, 2012).
Foi assegurado o princípio da autonomia, após serem explicados aos participantes
os objetivos da pesquisa e os passos para sua realização, deixando livre a escolha de sua
participação. Além disso, foi disponibilizado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE), para garantia dos seus direitos e segurança. Também foi comunicado sobre sua
liberdade em desistir em qualquer etapa da pesquisa. Após a compreensão dos participantes
o TCLE foi assinado por eles e as autoras para a realização da pesquisa.
Para assegurar o máximo de benefício e menor exposição a riscos foram seguidos
os princípios da beneficência e não maleficência. As entrevistas foram realizadas de forma
individual para não haver constrangimentos. Os possíveis riscos relacionados à participação
referem-se ao receio de tratar dos assuntos propostos, por abordar questões sobre o processo
121
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
de abortamento induzido, que pode trazer à tona preconceitos, desconfortos, como também
relembrar momentos que foram desagradáveis, e o constrangimento frente à pesquisadora.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
[...] é quando você tem algum conceito, [...], por motivo religioso, ou por motivo
social, alguma vivência que te leva a pensar se você vai ou não fazer [...]
alguma coisa. (M1)
Dilema é quando a gente acha que fica na dúvida, entre fazer o que é
correto, o que é legal ser correto, o fazer o que nós como humanos gos-
taríamos de fazer independente das leis. (Enf3)
Para Oliveira e Santa Rosa (2016), os dilemas emergem quando a pessoa se encontra
diante de duas escolhas que nenhuma das duas são ideais. Consoante à afirmação, os rela-
tos das participantes indicam que estão relacionados a uma dúvida, incerteza, considerando
os princípios éticos da profissão, valores morais e religiosos, proporcionando dificuldade em
decidir sobre “o que será melhor fazer” para a paciente.
122
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Entendemos que ao se tratar de uma temática estigmatizada, como é o aborto, pode
emergir sentimentos repulsivos no momento da assistência, permitindo que as ações não
estejam conforme o que é preconizado nos princípios éticos, a exemplo realização de cui-
dados de maneira mecanicista, indigna ou até mesmo atraso no atendimento.
Em estudo realizado por Madeiro e Rufino (2017), fica evidente tratamentos inapropria-
dos na assistência à mulher em processo de abortamento induzido, havendo negligência para
atender, procedimentos realizados sem explicação, discriminação e ameaças de denúncia.
No relato da TecEnf1, podemos perceber a existência dos dilemas éticos durante a
assistência, visto que os protocolos institucionais devem ser seguidos e por conta disso
inferimos que os dilemas estão associados ao momento da tomada de decisão frente ao
cuidado a mulher em aborto provocado.
[...] é uma dúvida que a gente pode ter em determinada situação, né? [...] não
podemos ter esse dilema, essa dúvida de uma situação, no caso aqui o abor-
tamento, que a gente segue protocolos, normas, rotinas. [...]. Então, o dilema
pra mim é isso essa dúvida, essa incerteza. (TecEnf1)
Nesta categoria, as participantes revelam o que pode levar a mulher a realizar o abor-
tamento induzido.
Refletir sobre os motivos que levaram a mulher realizar o abortamento, geralmente gera
julgamentos e revolta entre os trabalhadores de saúde. Cada pessoa apresenta vivências
diferentes, assim como princípios, valores e opiniões. No momento em que se depara com
123
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
situações estigmatizadas como o abortamento induzido pode se deixar levar por sentimentos
repulsivos, resultando em um mau atendimento.
Todavia, quando nos comprometemos cuidar de alguém devemos despir-nos de pre-
conceitos e buscar cumprir com dignidade ao que nos predispomos, como a promoção da
assistência de qualidade.
Nessa perspectiva, percebemos nos depoimentos de TecEnf2 e Enf.2 que seus olhares
se ampliam acerca de diversas situações que podem levar a mulher na interrupção da gravidez.
[...] ela provocou o aborto porque muitas vezes não tem condições de criar o
filho, aí ela mesmo provocou. (TecEnf2)
[...] ela tem como dá comida pros filhos? Ela apanha dentro de casa? O ma-
rido é dela? Foi um relacionamento extraconjugal? Ela teve um caso com um
homem que tem outro caso que não é o dela? E o medo que ela tem? (Enf.2)
Conforme pesquisa realizada por Angelim, Costa, Freitas e Abrão (2015) são várias as
situações que podem incentivar na decisão da mulher em abortar, seja por estar em relações
afetivas conflituosas ou instáveis, questões familiares, assim como preocupações quanto a
questão de desenvolvimento pessoal, ou seja, interferência ou abandono dos estudos devido
gestação, sem contar com as condições financeiras, que pode ser razão forte nessa situação.
Na fala da Enf3, é percebida a fragilidade emocional que a mulher apresenta e que inde-
pende do seu querer ou não, interromper a gravidez. Com isso, podemos concluir que tomar
a decisão de realizar o abortamento não é algo agradável e nem satisfatório, e pode surgir
sentimentos negativos (medo, angústia, culpa, dentre outros), decorrentes da sua escolha.
Portanto, faz-se necessário ter empatia, boa receptividade e respeitar a decisão da mulher.
[...] eu acredito que em grande parte está com o psicológico abalado, né?.
Porque ninguém vai ter uma atitude dessas sem está mexendo com o
emocional, alguns porque não querem, outros porque as vezes o parceiro
não quer, [...] (Enf3)
124
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
possibilitando a construção de cidadania, auxiliando em melhor compreensão sobre saúde
da mulher, bem como quanto aos seus direitos reprodutivos.
Infelizmente, os profissionais de saúde por muitas vezes diante dessas situações com-
plicadas, no que diz respeito ao cuidado à mulher em processo de abortamento, deixam
emergir sentimentos relacionados aos seus valores morais, ofertando assistência precária:
realizadas somente a partir das necessidades físicas, desconsiderando assim o emocio-
nal e espiritual.
Nos discursos dos participantes Enf2 e Enf3 ficou evidente que a assistência precisa
ir além das técnicas, abrangendo o nosso lado “humano”, imaginando-se estar no lugar e
refletir “e se fosse comigo, como gostaria de ser tratada?”. É preciso tratar as pacientes de
forma holística e respeitosa, principalmente aqueles em condições mais delicadas como são
o caso de mulheres pós-aborto.
Conforme Silva e colaboradores (2016) ainda que existam códigos de ética para os pro-
fissionais de saúde a serem seguidos, nos quais estabelecem os direitos e deveres de cada
um, leva-se em consideração também o modo de prestar assistência à pessoa hospitalizada,
no que diz respeito a individualidade de cada ser, promovendo o cuidado de forma holística.
Para Enf1, o cuidado deve ser realizado respeitado o lado humano e o cientifico, isto
é, o profissional precisa ter igualdade em suas ações no que concerne a humanização e o
conhecimento técnico cientifico.
[...], o cuidado tem que ser igual, não tem nada de técnico, não tem nada de
125
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
relação a cientifico que mude, em relação a paciente que provocou ou não,
[...]. (Enf1)
Percebemos que podem existir profissionais despreparados para lidar com essa rea-
lidade, mostrando-se preconceituosos e impondo julgamentos inadequados ao momento
do cuidado a mulher em processo de abortamento induzido. Por se tratar de uma realidade
frequente, Rodrigues e colaboradores (2017) observaram em estudo realizado que devido
ao aumento do quantitativo de abortamentos, associado aos riscos de morte, vem a ser
importante seguir o roteiro de ações, em especial a equipe de enfermagem, na assistência
as mulheres que abortaram, utilizando um protocolo que oriente esses profissionais na pro-
dução do cuidado.
De acordo Santos e Brito (2016), o MS elaborou norma técnica, direcionada a aten-
ção humanizada para mulheres em situação de abortamento, preconizando respeito à in-
dividualidade e integralidade na assistência. Dessa forma, ao seguir essa norma, existe a
possibilidade de melhorias no atendimento dessas mulheres, proporcionando confiança e
segurança durante sua estadia na instituição de saúde.
Como sugestão, torna-se interessante pensar no desenvolvimento de ações de edu-
cação em saúde para essas mulheres, promovidas por profissionais atuantes na área, tanto
em maternidades como em unidades de saúde, explicando sobre aborto e o estigma, obje-
tivando esclarecimentos e criação de vínculos, melhorando talvez a angústia e a culpa de
quem já vivenciou.
126
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Para Carvalho Filha e colaboradores (2017), na realização da assistência humanizada,
deve-se levar em conta além dos princípios jurídicos e éticos, o respeito, individualidade e
dignidade da pessoa, sem ter quaisquer comportamentos limitados ou discriminatórios ao
deparar-se com a mulher que provocou o aborto.
[...] os dilemas sempre vão ocorrer, cada profissional tem um ponto de vista,
tem uma vivência [...], mas tem que tentar entender o que há por trás de
tudo isso, [...] eu tenho que fazer o melhor para ela, naquela situação. (M1)
Muito treino e muita conversa, porque os dilemas sempre vão ocorrer, cada
profissional tem um ponto de vista, tem uma vivência e um por que aceita
ou não aceita, mas tentar entender que por traz de tudo isso, dos dilemas,
também tem o paciente, e... eu tenho que fazer o melhor para ela, naquela
situação. (M1)
127
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Primeiro tem que ter conhecimento do caso, não do caso da paciente, mas
conhecimento do que é, o que é um aborto induzido? Assim ter rodas de
conversa, se ter palestras [...]. (Enf2)
[...] você tem que estar ciente das normas e rotinas da unidade pra que
não exista esse dilema dentro da unidade. Então, você tem que estar ciente
ali de tudo de todas as circunstâncias da rotina da unidade, para que não
haja esse dilema com a paciente, e você venha a tratar todas da mesma
forma. (TecEnf2)
Os participantes M1, Enf2 e TecEnf2 revelam que os dilemas éticos podem ser preve-
nidos a partir do entendimento sobre a temática, reflexões por meio de rodas de conversas,
palestras, além do conhecimento de normas e rotinas da unidade, a fim de que as mulheres
sejam cuidados com equidade.
Os posicionamentos são bastante pertinentes, pois por mais que as profissionais te-
nham noção a respeito do código de ética de suas profissões, ainda existe a necessidade
de fortalecer o conhecimento, capacitações e treinamentos na área em que atuam.
Para Campos, Sena e Silva (2017), se reconhecida as dificuldades na promoção da
educação permanente, vez que existe a necessidade de refletir a respeito da construção
coletiva, visando coparticipação, ampliando a compreensão acerca da realidade, bem como
o estímulo ao aprendizado cotidiano nas instituições de saúde. Dessa forma, a educação
permanente precisa ser considerada como estratégia impulsionadora de progressos, pos-
sibilitando que os trabalhadores de saúde realizem autocrítica sobre sua prática e também
perante a sociedade (CAMPOS; SENA; SILVA, 2017).
Eu acho que tinha que ser separado, se aqui pudesse, né? Mas aqui o movi-
mento é grande e também impede de fazer essas coisas. [...]. [...] um olhar
de respeito de carinho, nesse momento (Enf3)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
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132
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
09
Do pré-natal ao Puerpério: articulações
com a prática
Carina Bortolato-Major
UENP
10.37885/210404213
RESUMO
134
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO
OBJETIVO
136
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão narrativa que buscou descrever e discutir aspectos relativos ao
pré-natal, assistência multiprofissional no parto, pós-parto, puerpério e aleitamento materno.
Foi realizada uma busca não sistematizada em bases de dados como Scielo e Lilacs,
além de consulta a literatura cinzenta que incluiu protocolos nacionais, livros e diretrizes
acerca da temática.
Os materiais foram selecionados de acordo com o objetivos, posteriormente lidos na
íntegra e os resultados organizados em categorias temáticas: atendimento pré-natal, assis-
tência básica e roteiro de consulta pré-natal (roteiro da primeira consulta pré-natal e roteiro
das consultas subsequentes), assistência à gestante durante o trabalho de parto, assistência
à mãe durante o puerpério, amamentação e aleitamento materno.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Atendimento pré-natal
Segundo o Ministério da Saúde, a assistência pré-natal deve-se dar por meio do aco-
lhimento, ações educativas e preventivas, detecção precoce de risco, estabelecimento
do vínculo entre a equipe de saúde, gestante e família, e do acesso ao serviço de saú-
de (BRASIL, 2006).
O objetivo do acompanhamento pré-natal é assegurar o desenvolvimento da gesta-
ção, permitindo o parto de um recém-nascido saudável, sem impacto para a saúde ma-
terna, inclusive abordando aspectos psicossociais e as atividades educativas e preventi-
vas (BRASIL,2013).
A frequência de toda a gestante ao pré-natal é fundamental para a obtenção dos re-
sultados desejados, ou seja, a diminuição da morbimortalidade materno-fetal e neonatal.
Ainda assim, em muitas regiões do Brasil a morbimortalidade continua alta mesmo com a
frequência pré-natal elevada, nos levando a refletir nas deficiências do atendimento pré-natal.
Cabe ao profissional ou ainda à equipe multiprofissional responsável reconhecer e aprimorar
o atendimento da sua esfera de atendimento.
Conforme orientação da Organização Mundial da Saúde o número de consultas não
deve ser inferior a seis, sendo abaixo deste número o atendimento considerado deficien-
te. As consultas devem ser iniciadas o mais precoce possível e deverão seguir o roteiro
sugerido que se segue abaixo:
I. História Clínica
138
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
√ Identificação: nome; idade; cor; naturalidade; procedência; endereço atual;
unidade de referência.
√ Dados socioeconômicos: grau de instrução; profissão/ocupação; estado civil/
união; número e idade de dependentes (avaliar sobrecarga de trabalho do-
méstico); renda familiar; pessoas da família com renda; condições de moradia
(tipo, nº de cômodos); condições de saneamento (água, esgoto, coleta de lixo);
distância da residência até a unidade de saúde;
√ Antecedentes familiares: hipertensão arterial; diabetes mellitus; doenças con-
gênitas; gemelaridade; câncer de mama e/ou do colo uterino; hanseníase;
tuberculose e outros contatos domiciliares (anotar a doença e o grau de pa-
rentesco); doença de Chagas; parceiro sexual portador de infecção pelo HIV.
√ Antecedentes pessoais: hipertensão arterial crônica; cardiopatias, inclusive
doença de Chagas; diabetes mellitus; doenças renais crônicas; anemias; dis-
túrbios nutricionais (desnutrição, sobrepeso, obesidade); epilepsia; doenças da
tireoide e outras endocrinopatias; malária; viroses (rubéola, hepatite); alergias;
hanseníase, tuberculose ou outras doenças infecciosas; portadora de infecção
pelo HIV (em uso de retrovirais? quais?); infecção do trato urinário; doenças
neurológicas e psiquiátricas; cirurgia (tipo e data); transfusões de sangue.
√ Antecedentes ginecológicos: ciclos menstruais (duração, intervalo e regula-
ridade); uso de métodos anticoncepcionais prévios (quais, por quanto tempo
e motivo do abandono); infertilidade e esterilidade (tratamento); doenças se-
xualmente transmissíveis (tratamentos realizados, inclusive pelo parceiro);
doença inflamatória pélvica; cirurgias ginecológicas (idade e motivo); mamas
(alteração e tratamento); última colpocitologia oncótica (papanicolau ou “pre-
ventivo”, data e resultado).
√ Sexualidade: início da atividade sexual (idade da primeira relação); dispareunia
(dor ou desconforto durante o ato sexual); prática sexual nesta gestação ou
em gestações anteriores; número de parceiros da gestante e de seu parceiro,
em época recente ou pregressa; uso de preservatives masculino ou feminino
(uso correto? uso habitual?).
√ Antecedentes obstétricos: número de gestações (incluindo abortamentos, gra-
videz ectópica, gestação molar); número de partos (domiciliares, hospitalares,
vaginais espontâneos, fórceps, cesáreas – indicações); número de abortamen-
tos (espontâneos, provocados, causados por DST, complicados por infecções,
curetagem pós-abortamento); número de filhos vivos; idade na primeira ges-
tação; intervalo entre as gestações (em meses); isoimunização Rh; número
de recém-nascidos: pré-termo (antes da 37ª semana de gestação), pós-termo
(igual ou mais de 42 semanas de gestação); número de recém-nascidos de
baixo peso (menos de 2.500g) e com mais de 4.000g; mortes neonatais pre-
coces: até sete dias de vida (número e motivo dos óbitos); mortes neonatais
tardias: entre sete e 28 dias de vida (número e motivo dos óbitos); natimortos
(morte fetal intra-útero e idade gestacional em que ocorreu); recém-nascidos
com icterícia, transfusão, hipoglicemia, exsangüineotransfusões; intercorrên-
cias ou complicações em gestações anteriores (especificar); complicações
nos puerpérios (descrever); história de aleitamentos anteriores (duração e
motivo do desmame).
√ Gestação atual: data do primeiro dia/mês/ano da última menstruação – DUM
(anotar certeza ou dúvida); peso prévio e altura; sinais e sintomas na gestação
em curso; hábitos alimentares; medicamentos usados na gestação; internação
139
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
durante esta gestação;
√ Hábitos: fumo (número de cigarros/dia), álcool e drogas ilícitas; ocupação
habitual (esforço físico intenso, exposição a agentes químicos e físicos poten-
cialmente nocivos, estresse); aceitação ou não da gravidez pela mulher, pelo
parceiro e pela família, principalmente se for adolescente.
Obstétrico:sempre que possível pelo menos um exame com 28 e outro com 32 sema-
nas a fim de avaliar o crescimento estimado fetal e avaliação do liquido amniótico, ou em
qualquer época na qual haja suspeita destas alterações, podendo ser ainda complementado
com a dopplerfluxometria a depender da alteração;
IV. Condutas
141
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
√ Cálculo da idade gestacional e data provável do parto;
√ Avaliação nutricional;
√ Fornecimento de informações necessárias e respostas às indagações da mu-
lher ou da família;
√ Orientação sobre sinais de riscos e assistência em cada caso;
√ Referência para atendimento odontológico;
√ Encaminhamento para imunização antitetânica (vacina dupla viral), quando a
gestante não estiver imunizada;
√ Referência para serviços especializados na mesma unidade ou unidade de
maior complexidade, quando indicado (mesmo com referência para serviço
especializado, a mulher deverá continuar sendo acompanhada, conjuntamente,
na unidade básica).
I. Controles maternos
III. Condutas
147
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Amamentação e Aleitamento materno
A amamentação é uma prática natural que possui diversos benefícios ao binômio mãe e
filho à curto e longo prazo, especialmente estabelece um vínculo afetivo entre eles. Os prin-
cipais benefícios para a criança envolvem um melhor desenvolvimento intelectual e bucal,
prevenção de obesidade, doenças cardíacas, contagiosas e alérgicas, alívio de cólicas, evita
diarreias, e um estabelecimento do peso ideal. As vantagens da amamentação se esten-
dem à puérpera com a prevenção do câncer de útero e mama, menor risco de hemorragia
pós-parto e ainda possibilita menores custos financeiros (BRAGA et al., 2020; CIAMPO e
CIAMPO, 2018; ROCHA et al.,2018; BRASIL, 2015).
O leite materno possui todos os nutrientes essenciais para a vida do bebê, evita mortes
infantis por diarreias, infecções respiratórias e outras causas, diminui o risco de alergias,
hipertensão, colesterol alto, diabetes (BRASIL, 2018).
Além disso, a amamentação é a maneira natural e mais saudável de alimentar um bebê.
Nenhum substituto do leite pode competir com o leite materno em termos de nutrientes,
anticorpos, ligações afetivas e estimulação. As vantagens da amamentação se manifestam
desde o primeiro contato do bebê com o seio da mãe e beneficiando o binômio e a relação
entre eles (UNICEF, 2020).
A Organização Mundial da Saúde (OMS), recomenda a amamentação exclusiva durante
os seis primeiros meses e complementada até os dois anos de idade ou mais. A decisão de
amamentar é uma decisão pessoal, sujeita a muitas influências, resultantes da socialização
de cada mulher. O estabelecimento da lactação, está diretamente interligado as práticas
hospitalares durante trabalho de parto, parto e pós-parto e contribuem para um aleitamento
materno de sucesso (WHO, 2017).
No entanto, muitos países não seguem essas recomendações. No Brasil, a prevalência
do Aleitamento materno exclusivo (AME) diminui drasticamente com o passar do tempo e
varia muito de acordo com as regiões. Numerosos fatores têm sido relacionados positiva e
negativamente com o início e a duração do AME. Destacam-se especialmente os associados
ao social e cultural, visto que o aleitamento materno (AM) não é um comportamento instintivo
(SUAREZ-COTELO et al.,2019).
Além da influência dos fatores sociais e culturais relacionados à diminuição da taxa
de amamentação, algumas mães também enfrentam problemas mamários durante o pro-
cesso de amamentação, sendo os mais frequentes: ingurgitamento mamário, fissuras ma-
milares e mastite.
Em conjunto com a falta de informações/orientações, gravidez na adolescência, baixa
escolaridade materna, falta de apoio/incentivo de familiares e amigos, necessidade de a
148
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
mãe trabalhar fora do lar e uso precoce de fórmulas lácteas e bicos artificiais, podem levar
à um desmame precoce (ORSO et al.,2016).
Desta forma os profissionais de saúde e principalmente o enfermeiro deve acompanhar
e orientar as mulheres durante as consultas de pré-natal e no puerpério, a fim de evitar as
complicações durante a amamentação.
É essencial que os profissionais de saúde sejam capacitados frequentemente e que nas
Estratégia Saúde da Família (ESF) e/ou unidades de saúde existam programas de educação
permanente em saúde. Além disso, os profissionais devem ter conhecimento das principais
intercorrências mamárias e demais complicações enfrentadas pelas mães durante a pratica
de amamentação para intervir precocemente (NORONHA et al., 2017).
Destaca-se à necessidade de conscientizar e incentivar a equipe de saúde sobre a
importância de orientar as gestantes e puérperas sobre amamentação e dar a apoio durante
à sua prática, levando sempre em consideração às particularidades de cada mulher e de sua
família, para que assim às dúvidas sobre aleitamento materno possam ser minimizadas e
às dificuldades com a prática de amamentação melhoradas. Vale ressaltar a importância da
rede de apoio às puérperas, principalmente quando elas necessitarem retornar ao trabalho.
O apoio à amamentação é, portanto, essencial para a saúde e desenvolvimento das
crianças, das mães e da sociedade. A provisão de salas de amamentação no local de trabalho
e a presença de ambientes apropriados de amamentação são intervenções de baixo custo
que podem contribuir para melhorara significativa da amamentação, o aumento da produ-
tividade no trabalho e a retenção de funcionários. Os Governos, empresas, sociedade civil
e famílias podem trabalhar juntos para proteger e facilitar esta prática e garantir o sucesso
da amamentação (UNICEF, 2020).
E por fim para assegurarmos a excelência na assistência do binômio mãe e filho durante
à amamentação é fundamental que seja estabelecida uma rede de apoio tanto profissional
quanto familiar e social, a fim de assegurar uma amamentação tranquila e bem sucedida.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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atencao_pre_natal_baixo_risco.pdf
151
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
10
Efetividade do programa de prevenção
e rastreamento de câncer de mama
no município de Caxias do Sul/RS
Mérlim Fachini
10.37885/210504843
RESUMO
153
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO
Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 (cem) doenças que têm em
comum o crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e órgãos,
podendo espalhar-se (metástase) para outras regiões do corpo. Entre os tipos de cânceres
que mais acometem as mulheres, podemos destacar o câncer de mama e o câncer de colo
do útero. O câncer de mama é uma doença causada pela multiplicação de células anormais
na mama, que formam um tumor. Há vários tipos de câncer de mama. Alguns tipos têm
desenvolvimento rápido, enquanto outros são mais lentos.1
Alguns fatores predispostos contribuem para o desenvolvimento do câncer de mama,
entre eles podemos destacar: idade, ambiente, comportamento, história reprodutiva, hor-
mônios, genes e hereditariedade. Casos de câncer de mama podem ser reduzidos se as
pessoas adotarem hábitos de vida mais saudáveis, tais como: atividade física, uma alimen-
tação saudável e com todos os nutrientes que o corpo precisa, manter o índice de massa
corporal conforme estatura, evitar consumo de bebidas alcoólicas e amamentar.2
A detecção pelo Sistema Único de Saúde (SUS) do câncer de mama é feita por meio
de programas de rastreamento, que recebem todas as mamografias de mulheres entre 50
e 69 anos. Conforme preconiza o Ministério da Saúde (MS), nessa faixa etária é feito o exa-
me de 2 em 2 anos, regularidade que também se aplica àquelas que possuem algum dos
fatores predispostos com indicação do profissional de saúde. Após a descoberta do câncer,
inicia-se o tratamento, respeitando o tipo e o grau de gravidade que ele possui. 3
Os programas de rastreamento são de extrema importância, uma vez que oportunizam
o diagnóstico precoce, conferindo à população feminina um maior e mais rápido acesso ao
tratamento adequado, diminuindo os índices de morte pela doença. Nesse sentido, o pre-
sente trabalho se faz relevante, uma vez que pretende avaliar a efetividade de um programa
de rastreamento de câncer de mama. Posto isso, a questão norteadora deste estudo é: o
programa de rastreamento de câncer de mama vigente no Município de Caxias do Sul é
efetivo, considerando o tempo entre diagnostico e consulta?
Tendo em vista esses pressupostos, bem como compreendendo a relevância do tema,
a motivação deste trabalho fundamenta-se na necessidade de analisar a efetividade do re-
ferido programa quando do rastreamento e prevenção do câncer de mama.
O presente artigo tem como objetivo avaliar a efetividade do programa de rastreamento
do câncer de mama entre os anos de 2007 a 2017 no Município de Caxias do Sul, esta-
belecer qual a faixa etária de maior prevalência entre as pacientes com exames alterados,
identificar qual o principal tipo de tratamento estabelecido diante do diagnóstico de câncer
de mama, determinar qual o tipo mais prevalente de lesão – BI-RADS, estimar o tamanho
154
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
de lesão mais prevalente nos exames alterados e descrever a atuação do enfermeiro nos
programas de rastreamento de câncer de mama.
MÉTODO
RESULTADOS
156
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Na análise do Gráfico 3 podemos identificar o grau de complexidade do câncer de
mama pelos tipos de BI-RARDS, o grau que possui mais prevalecia é o 4 equivalendo a
81% do total de 1.058 clientes.
O Gráfico 4 apresenta a análise dos dados sobre o tamanho dos nódulos que as clien-
tes possuíam, o mais prevalente entre elas foi o tamanho de 0,1-1,5 equivalendo a 10%
do total de 1058 clientes, podemos notar que 70% dessas clientes estavam com os dados
inconclusivos, sendo assim não conseguimos mensurar corretamente essa porcentagem
dos tamanhos dos nódulos.
Gráfico 4. Distribuição das clientes submetidas ao programa VIGIMAMA por tamanho dos nódulos cancerígenos.
157
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
DISCUSSÃO
160
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
neoplasia e tratamento correto para cada caso individualmente, diminuindo assim os índices
de morbimortalidade em pacientes que desenvolvem a neoplasia.
CONCLUSÕES
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
11
Epidemiologia e fatores de risco
associados ao câncer de ovário: uma
revisão integrativa
10.37885/210404258
RESUMO
165
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO
O câncer de ovário é o oitavo tipo de câncer mais incidente entre as mulheres no mun-
do. No Brasil, ocupa a segunda posição e sua incidência varia de acordo com a localização
territorial (INCA, 2019). Embora a incidência seja maior em países desenvolvidos, a taxa de
mortalidade tende a ser inversa (MOMENIMOVAHED et al., 2019). Ademais, devido ao seu
caráter silencioso, possui uma elevada mortalidade, sendo responsável por 4,2% de toda a
mortalidade por câncer entre as mulheres (FERLAY et al., 2021). Essa elevada frequência
de morte pode estar relacionada com o tipo de célula ovariana atingida, onde o epitelial é o
mais incidente e também de pior prognóstico (MOMENIMOVAHED et al., 2019).
Embora o risco de uma mulher desenvolver um câncer de ovário seja maior naquelas
com histórico familiar desse tipo de câncer ou de mama, cerca de 10% dos casos tem um
componente genético. Esses casos, em regra, estão relacionados a um risco maior de mu-
tações gênicas. Fatores genéticos mostram-se fortes para predisporem ao surgimento do
câncer ovariano, principalmente aqueles associados às mutações dos genes breast cancer
1 e 2 - BRCA1 e BRCA2 (TEIXEIRA et al., 2018). Além da susceptibilidade genética, hábi-
tos de vida e exposições a fatores ambientais podem influenciar no desenvolvimento de um
câncer de ovário. Do ponto de vista ginecológico, taxas hormonais, infertilidade, doenças
infecciosas do aparelho genital feminino, histórico prévio de neoplasias também são adicio-
nados aos múltiplos fatores de riscos que podem favorecer a manifestação do câncer de
ovário (USSET et al., 2016).
Desse modo, observando a alta taxa de mortalidade por câncer de ovário, o presente
estudo buscou reconhecer os fatores de risco que implicam no desenvolvimento dessa neo-
plasia, com o objetivo de contribuir com dados sobre como prevenir, para sua prevenção,
reduzir sua incidência e prever um melhor prognóstico.
MATERIAIS E MÉTODOS
RESULTADOS E DISCUSSÃO
EPIDEMIOLOGIA
O câncer de ovário é o oitavo tipo de câncer mais incidente entre as mulheres no mundo
e a segunda neoplasia ginecológica mais comum no Brasil, atrás apenas do câncer de colo
de útero. Em 2020, foram notificados 313.959 casos de câncer de ovário, que correspondem
167
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
a 3,4% de todos os casos de câncer em mulheres (FERLAY et al., 2021). De acordo com
dados da Surveillance Epidemiology, and End Results Program (SEER, 2019), aproxima-
damente 1,3% das mulheres nos Estados Unidos (EUA) serão diagnosticadas com essa
neoplasia em algum momento de suas vidas.
No Brasil, a incidência do câncer de ovário varia conforme as diferentes regiões; descon-
siderando os tumores de pele não melanoma, o câncer de ovário é o sétimo mais frequente
nas Regiões Nordeste e Norte, com um risco estimado de 5,67/100 mil e de 3,28/100 mil,
respectivamente. Nas Regiões Sudeste (7,01/100 mil) e Centro-Oeste (5,09/100 mil), ocupa
a oitava posição e, na Região Sul (7,06/100 mil), a nona (INCA, 2019).
No mundo, sua incidência é maior entre os países desenvolvido e com alto Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH). As maiores taxas de incidência estimadas foram observadas
nos países europeus (centro e norte) e na América do Norte (BRAY et al., 2018). No entanto,
devido às diferenças no acesso aos serviços diagnósticos e terapêuticos, a mortalidade da
neoplasia de ovário tem um padrão diferente, sendo maior na Índia e em mulheres africanas
(MOMENIMOVAHED et al., 2019).
O câncer de ovário é uma neoplasia que apresenta alta mortalidade, ocupando o quin-
to lugar em mortes por câncer entre as mulheres. Nos Estados Unidos é responsável por
mais mortes do que qualquer outro câncer do sistema reprodutor feminino (FERLAY et al.,
2021). Isso é resultado de seu caráter assintomático na maioria dos casos, o que faz com
que seja diagnosticado com mais frequência em estágio avançado, tornando-o assim como
o câncer de malignidade ginecológica mais letal (ZHANG et al., 2019). Em 2020, 207.252
mortes em todo mundo ocorreram devido ao câncer de ovário, representando 4,2% de toda
a mortalidade relacionada ao câncer entre as mulheres (FERLAY et al., 2021).
168
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
FATORES DE RISCO PARA O CÂNCER DE OVÁRIO
AMBIENTAIS E SOCIAIS
GENÉTICOS
O fator de risco mais importante para câncer de ovário é uma história familiar de câncer
de mama ou de ovário (TORRE, et al., 2018). Os resultados de um estudo caso-controle, na
Itália, mostraram que o risco de câncer de ovário aumenta em mulheres com histórico familiar
de mãe ou irmã com câncer de mama, útero ou ovário. O risco dessa neoplasia também
aumentou em mulheres com história familiar de câncer de estômago, intestino, pulmão e
linfomas (NEGRI, et al., 2003).
As variantes são herdadas de forma autossômica dominante, mais frequentemente
associadas à mutação do BRCA1 e BRCA2. A prevalência dessas mutações, na população
em geral varia de 1/400 a 1/800, mas pode chegar a 1/40 em mulheres judias de Ashkenazi
171
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
(WALKER, et al., 2019). Esse risco aumenta ao longo da vida, podendo variar de 31-59%
no BRCA1 e de 6-18% no BRCA2 (TEIXEIRA, et al., 2018).
Desse modo, o risco de câncer de ovário começa a aumentar acima do risco populacio-
nal após os 40 anos em mulheres com BRCA1 e após os 50 anos em mulheres com BRCA2
(WALKER, et al., 2019). Além disso, uma série de estudos também avaliaram a prevalência
das variantes BRCA1 e BRCA2 da linha germinativa no câncer de ovário. Em um estudo
realizado no leste da Inglaterra (estudo GTEOC), a prevalência de câncer de ovário foi maior
entre os tipos de origem serosa de alto grau, já o endometrióide foi baixo, aumentando para
12% em mulheres diagnosticadas com idade inferior a 70 anos, e caiu para 1% em ≥ 70
anos (MORGAN, et al., 2019).
Todavia, uma possível correlação genótipo-fenótipo foi relatada. Mutações nas regiões
centrais parecem estar associadas a uma maior incidência de câncer de ovário e foram
denominadas “regiões de cluster de câncer de ovário” (RCCO). Ainda não está claro se é
pela posição de mutação ou por uma interação entre risco genético e ambiental (TEIXEIRA,
et al., 2018). Em outro estudo, FRIEBEL, et al., (2014), relataram que a história familiar do
câncer de ovário estava associada com aumento dos riscos em familiares com BRCA1,
no entanto, não era mais significativa após tomar a posição da mutação em consideração.
Para mulheres, com história familiar de BRCA2, esse era um preditor de risco para câncer
de ovário independentemente da posição de mutação.
Outrossim, foi observado uma associação entre a presença do câncer de ovário e a
síndrome de Lynch, que também envolve a predisposição autossômica dominante a câncer
colorretal, câncer de endométrio e outros. Essas situações ocorrem devido a uma mutação
hereditária em um dos quatro genes de reparo de incompatibilidade (mutL homólogo 1- MLH1;
mutS homólogo 2 - MSH2; mutS homólogo 6 - MSH6 e segregação pós-meiótica 2 - PMS2),
sendo MSH2 e MLH1 as mais comuns nesses indivíduos (HELDER-WOOLDERINK, et al.,
2016). Em alguns casos, está ligado a deleções germinativas no gene EPCAM (Molécula
de Adesão Celular Epitelial), que indiretamente silenciam o gene MSH2 (FERRAZ, et al.,
2014). Os subtipos mais comuns de câncer de ovário nessas pessoas são os cânceres de
ovário endometrióide e de células claras (MOMENIMOVAHED, et al., 2019).
HORMONAIS
REPRODUTIVOS
DOENÇAS GINECOLÓGICAS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
175
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Os estudos citados após esta revisão integrativa mostraram que vários fatores afe-
tam a ocorrência do câncer de ovário, dos quais fatores genéticos, ambientais e de estilo
de vida estão entre os mais importantes. Outros fatores, como gravidez, lactação e uso
de anticoncepcionais orais, desempenham um papel na redução do risco dessa doença.
Contudo, existem fatores que ainda são controversos, a exemplo do álcool e do tabagismo,
necessitando, portanto, de estudos mais aprofundados.
Por fim, considerando a relevância do câncer de ovário na saúde da mulher, o reco-
nhecimento desses fatores de riscos é de suma importância para a redução da incidência
e da alta taxa de mortalidade. Embora alguns fatores de risco não possam ser alterados, o
foco em fatores de risco evitáveis poderão reduzir o risco de câncer de ovário.
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179
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
12
Exames laboratoriais para
acompanhamento do pré-natal e
a fisiopatologia da gestação: uma
revisão narrativa
10.37885/210303919
RESUMO
A assistência de qualidade durante o pré-natal é de grande importância, pois com ela po-
de-se evitar complicações materno-fetais e até mesmo o óbito. A assistência no pré-natal
é realizada na rede de Atenção Primária à Saúde que é considerada a porta de entrada
das gestantes aos serviços de pré-natal. Esta rede busca acolher a mulher, garantindo o
bem-estar durante e após a gestação. O estudo teve como objetivo abordar os exames
laboratoriais solicitados durante o pré-natal, com ênfase na fisiopatologia e implicações
materno-fetais. Trata-se de uma revisão narrativa, onde foram analisados estudos pu-
blicados nas línguas portuguesa e inglesa. Foram descritos segundo a fisiopatologia,
parâmetros, indicação e implicação materna os seguintes exames: ABO/RH, coombs
indireto, hemograma, eletroforese de hemoglobina, glicemia, teste oral de tolerância
a glicose, VDRL, anti-HIV, toxoplasmose, HbsAg, urina rotina e urocultura, anti-CMV,
anti-HCV e cultura de streptococos. Concluiu-se que os exames laboratoriais são ferra-
mentas importantes na detecção precoce de patologias que podem gerar complicações
para mãe e o bebê. Assim, torna-se fundamental que a equipe multiprofissional tenha
conhecimento acerca da fisiopatologia desses agravos, para que complicações futuras
possam ser evitadas.
181
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO
Hemograma
Sistema ABO/Fator Rh
Existem diferentes tipos de sangue humano sendo eles: A, B, AB e O que também são
conhecidos por Sistema ABO. Além deste sistema, existe o Fator Rh (antígeno D) que pode ou
não estar presente na superfície das hemácias. Durante a gravidez, caso a mãe seja Rh ne-
gativo e o bebê Rh positivo (herdado do pai), é recomendado a injeção de imunoglobuli-
na Rh para que não haja riscos para o bebê (MAYO CLINIC, 2020; RODRIGUES et al., 2020).
A tabela abaixo exemplifica as possibilidades da presença ou não do fator Rh no sangue
da mãe e do bebê e quais precauções devem ser tomadas.
Coombs Indireto
Eletroforese de hemoglobina
Hb SS, HbSC, Hb Sβ+ tal, Hb Sβ0tal ou Hb SD Punjab refere-se a presença da doença falciforme.
Fonte: BRASIL, 2019.
Além disso, a gravidez pode agravar a anemia e as crises álgicas, acarretar infecções
do trato urinário, complicações pulmonares, pré-eclâmpsia e até óbito materno. Em relação 185
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
às complicações fetais podem ocorrer partos prematuros, sofrimento fetal durante o processo
do parto, além de elevação da taxa de mortalidade perinatal (BRASIL, 2009).
186
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Tabela 4. Interpretação dos resultados do teste de glicemia em jejum.
Glicemia < 92 mg/dL Normal
Deve prosseguir com o rastreamento. Encaminhar para cuidado de pré-
Glicemia entre 92-125 mg/dL
-natal de alto risco.
Se não tratado de forma adequada, o DMG provoca graves problemas tanto à mãe,
quanto ao bebê. A hiperglicemia persistente pode causar uma pré-eclâmpsia, desenvol-
vimento de intolerância à glicose permanente, e consequentemente de diabetes após a
gestação. Para o bebê, os riscos são macrossomia fetal, que gera complicações durante o
parto; polidrâmnio, que é o acúmulo de líquido amniótico – acima de 2.000 ml; hipoglicemia
neonatal, sofrimento respiratório, policitemia e hipocalcemia (BRASIL, 2013).
O método mais efetivo para o controle da sífilis congênita baseia-se em uma assistência
organizada e de qualidade para toda gestante durante o pré-natal. É de extrema importân-
cia a inclusão do parceiro no pré-natal para o tratamento do mesmo para que não ocorra
reinfecção da gestante e a ineficácia do tratamento (ARRUDA et al., 2020).
As implicações da sífilis durante a gravidez estão relacionadas com as situações do
estágio gestacional, estágio da infecção e desenvolvimento do sistema imunológico fetal.
Diante desse quadro, as manifestações ocorrem por meio de abortamentos, natimortos,
morte perinatal e pode causar outras sequelas como a cegueira, surdez, retardo mental e
deformidades físicas (SUTO et al., 2016).
188
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
HIV na primeira consulta de pré-natal (1º trimestre) e no 3º trimestre da gestação (PREVIAT;
VIEIRA; BARBIERI, 2019).
Após o diagnóstico positivo para a infecção pelo HIV é necessário realizar o aconse-
lhamento pós-teste, e orientar a gestante sobre a importância de usar antirretrovirais para
prevenir a transmissão vertical e de evitar a amamentação. Nos testes sorológicos o apare-
cimento de anticorpos detectáveis ocorre num período de 6 a 12 semanas após a infecção
inicial, este intervalo é denominado janela imunológica (SILVA; VALENÇA; SILVA, 2017).
Ressalta-se que a testagem rápida anti-HIV é uma ação que contribui para a identifica-
ção do estado sorológico e início imediato do tratamento com antirretrovirais principalmente
durante a gestação, contribuindo assim para que as pessoas infectadas atinjam a carga viral
indetectável. O diagnóstico e o tratamento precoce da gestante resulta em um nascimento
saudável do bebê e a principal forma de prevenção para essa infecção é a prática de sexo
seguro, com o uso de preservativo (SILVA; VALENÇA; SILVA, 2017).
As práticas de testagem e aconselhamento possuem um lugar de destaque nos pro-
gramas de prevenção. Uma assistência ao pré-natal e puerperal de qualidade e humani-
zada ocorre por meio de inclusão de condutas acolhedoras e do fácil acesso a serviços
de saúde, com ações que integrem todos os níveis da atenção: promoção, prevenção e
assistência à saúde da gestante e do recém-nascido (PREVIAT; VIEIRA; BARBIERI, 2019;
SOUZA et al., 2020).
A hepatite viral B é uma doença infecciosa, causada pelo vírus DNA Hepadnaviridae,
caracterizada por inflamação no fígado. Pode ser aguda ou crônica, sendo que pessoas
que desenvolvem a fase crônica da doença podem evoluir para um carcinoma hepatoce-
lular. A transmissão da hepatite pode ocorrer de três formas: sexual, através de contato
190
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
direto com secreções e fluidos contendo o vírus; parenteral, através de compartilhamento
de objetos contaminados (seringas, alicates de unha, agulhas e outros materiais perfuro-
cortantes) e vertical, que acontece da mãe para o bebê durante o parto ou período perinatal
(FARIAS et al., 2020).
A sorologia para hepatite B é um exame fundamental para a gestante, e deve ser rea-
lizado no período pré-concepcional, na primeira consulta do pré-natal durante o 1º trimestre
de gestação (BRASIL, 2019).
A tabela abaixo exemplifica a interpretação dos resultados da sorologia para
Hepatite B (HbsAg).
191
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
esteja mais exposta às infecções e a disseminação sistemática bacteriana (PAGNONCELI;
COLACITE, 2016; SILVA; SOUSA; VITORINO 2019).
Os exames de urocultura e urina tipo I devem ser realizados no 1º e 3ª trimestres da
gestação, pois representa risco importante de pielonefrite aguda que está relacionado à
prematuridade (BRASIL, 2019).
O exame de urina tipo I apresenta as seguintes informações: cor, densidade, aspec-
to, presença de leucócitos, bactérias, sangue, glicose, urobilinogênio, bilirrubina, nitrito, e
sedimentos urinários. Em seguida, a urocultura é o padrão ouro, ou seja, é o exame que
realmente define o diagnóstico da infecção urinária, que é confirmado pelo crescimento de
microrganismos na amostra (PAGNONCELI; COLACITE, 2016; SILVA; SOUSA; VITORINO,
2019). A tabela abaixo refere-se a interpretação do exame de Urina tipo I:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante dos achados, foi possível constatar que uma assistência de qualidade durante
o pré-natal contribui para a detecção precoce e prevenção da morbimortalidade materna e
neonatal. Dessa forma, os exames laboratoriais têm papel fundamental, pois por meio destes
é possível identificar possíveis intercorrências materno-fetal.
Deste modo, fica evidenciada a importância tanto da equipe multidisciplinar quanto da
gestante, conhecerem a fisiopatologia das doenças, para que assim possam complementar
seu conhecimento, realizar e registrar os exames de forma adequada.
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RESUMO
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
14
Hiperglicemia na gestação, parto a
termo precoce e hipoglicemia neonatal
10.37885/210102924
RESUMO
O parto a termo precoce, quando comparado ao termo pleno e termo tardio, tem sido
associado a maior morbidade neonatal, com possíveis repercussões negativas de saúde
a longo prazo. A hipoglicemia neonatal pode resultar em déficits neurológicos. O objetivo
do estudo foi examinar a associação entre parto a termo precoce e hipoglicemia neonatal
em mulheres com hiperglicemia na gestação. 258 mulheres (30,8 ± 6,4 anos) com parto
a termo e hiperglicemia na gestação participaram do estudo. A hipoglicemia neonatal
foi estabelecida por registro inferior a 45 mg/dl nas primeiras 24 horas de vida. A idade
gestacional no parto foi estabelecida por ultrassonografia. A amostra foi dividida em dois
grupos: i) mulheres com parto a termo precoce (n = 163); ii) mulheres com parto a termo
não precoce (n = 95). Os testes Qui-quadrado e Exato de Fisher, além da regressão
logística, foram utilizados para análise de associação. O nível de significância de 5% foi
adotado. Houve associação entre parto a termo precoce e maior ocorrência de hipogli-
cemia neonatal (RC = 2,88; IC 95%: 1,19–6,96). Em conclusão, neonatos de mulheres
com hiperglicemia na gestação e parto a termo precoce apresentaram maior ocorrência
de hipoglicemia que seus pares nascidos a termo não precoce, o que sugere um fator de
risco do parto a termo precoce em mulheres com gestação complicada por hiperglicemia.
216
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
Este estudo transversal é relatado de acordo com a declaração STROBE17 . Foi reali-
zado em uma maternidade-escola vinculada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte
entre novembro de 2017 e fevereiro de 2019, após a aprovação do Comitê de Ética local
(Número do Protocolo: 73252017.3.0000.5292). Duzentas e cinquenta e oito (258) puérperas
com hiperglicemia na gestação foram selecionadas por conveniência (Figura 1). O recru-
tamento ocorreu em até 48h após o parto, momento no qual autorizaram a utilização de
seus dados por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e foram
217
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
entrevistadas. Os critérios de inclusão foram: i) diagnóstico de diabetes tipo 1, tipo 2 ou ges-
tacional (DMG), de acordo com os critérios de diagnóstico da Organização Mundial de Saúde
de 201816, que estabelecem que a DMG deve ser diagnosticada a qualquer momento da
gravidez se pelo menos um dos seguintes indicadores forem atendidos: a) glicose plasmática
em jejum 5,1–6,9 mmol/l (92–125 mg/dl), b) glicose plasmática de 1 hora ≥ 10,0 mmol/l (180
mg/dl) após carga oral de glicose de 75g, c) glicose plasmática de 2 horas 8,5–11,0 mmol/l
(153–199 mg/dl) após carga oral de glicose de 75g; ii) parto a termo. Os critérios de exclu-
são foram: i) gestação múltipla; ii) uso regular de corticoides durante a gravidez; iii) falta de
acesso aos dados necessários para completar o instrumento de coleta.
Procedimentos
Hipoglicemia neonatal
Análise Estatística
O teste de Shapiro-Wilk foi aplicado para verificar a normalidade das variáveis con-
tínuas. O teste foi aplicado em cada grupo de interesse: parto a termo precoce (sim vs
não). A análise descritiva das variáveis que evidenciaram distribuição normal foi realizada pela
média e desvio-padrão (Média ± DP). Para variáveis sem distribuição normal em qualquer
um dos grupos, utilizou-se a mediana e os percentis 25 e 75. Para as variáveis categóricas,
a análise foi realizada por meio de frequências absolutas e relativas.
O teste t para amostras independentes foi utilizado para as variáveis contínuas que
apresentaram normalidade. O teste de Levene foi aplicado para verificação da homogenei-
dade de variâncias. Utilizou-se o teste não paramétrico de Mann-Whitney para comparar as
diferenças entre as distribuições das variáveis que não apresentaram normalidade. O teste
Qui-quadrado foi utilizado para analisar a associação entre o período do parto a termo e as
variáveis de natureza categórica – obesidade pré-gestacional, diagnóstico de DM, tipo de
219
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
DM, comorbidades maternas: infecção do trato urinário, hipertensão crônica e hipertensão
gestacional, insulinoterapia, tipo de parto e desfechos neonatais (hipoglicemia, desconforto
respiratório, macrossomia e icterícia). Nas situações em que as células das tabelas apresen-
taram frequências esperadas inferiores a cinco, aplicou-se o teste exato de Fisher. O coe-
ficiente Phi (φ) foi utilizado para analisar a força da associação entre a ocorrência de parto
a termo precoce e hipoglicemia. Na análise multivariada, as associações entre PTP e des-
fechos neonatais foram realizadas por meio da regressão logística, e os resultados foram
reportados pelas razões de chances (RC) e seus respectivos intervalos a 95% de confiança
(IC 95%). Todos os modelos multivariados foram ajustados para as variáveis independentes
que apresentaram valor de p inferior a 0,10 na análise bivariada. O nível de significância de
5% foi adotado para todas as análises. O software utilizado foi o SPSS (Statistical Package
for the Social Sciences, Chicago, EUA), versão 25.
RESULTADOS
Tabela 1. Fatores maternos e fetais de puérperas diabéticas com parto a termo precoce ou a termo não precoce (n = 258)
Tabela 2. Principais desfechos neonatais de puérperas diabéticas com parto a termo precoce ou a termo não precoce
Razão de chances (IC Razão de chances (IC
Termo precoce
Variáveis total p1 95%) 95%)
Sim Não Não ajustada Ajustada2
n, %3 258 163 (63%) 95 (37%)
Hipoglicemia 40 (15,5%) 33 (20,2%) 7 (7,4%) 0,0064 3,19 (1,35 – 7,54) 2,88 (1,19 – 6,96)
Desconforto respi-
60 (23,3%) 43 (26,4%) 17 (17,9%) 0,120 1,64 (0,88 – 3,09) 1,52 (0,79 – 2,92)
ratório
Macrossomia 52 (20,2%) 28 (17,2%) 24 (25,3%) 0,118 0,61 (0,33 – 1,14) 0,41 (0,20 – 0,81)
Icterícia 17 (6,6%) 13 (8,0%) 4 (4,2%) 0,240 1,97 (0,62 – 6,23) 1,30 (0,39 – 4,37)
1
Significância da diferença entre os grupos pelo teste Qui-quadrado de Pearson ou Exato de Fisher.
2
Regressão logística ajustada para idade, insulinoterapia e IMC materno ao final da gestação.
3
Os dados estão expressos em frequência absoluta (n) e relativa (%).
4
ɸ = 0,172.
Valores em negrito indicam significância em p < 0,05.
Abreviações: Intervalo de Confiança (IC).
DISCUSSÃO
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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225
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
15
Importância de um manejo clínico
adequado em gestantes soropositivas
ao HIV: uma revisão integrativa
10.37885/210404364
RESUMO
227
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO
228
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
DESENVOLVIMENTO
Metodologia
O presente estudo trata-se de um Revisão Integrativa da Literatura, uma vez que este
método permite sintetizar resultados de estudo primários de modo a consolidar achados
significativos no contexto da pesquisa (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010).
A priori foi definida a questão norteadora <Compreender a importância do manejo clí-
nico adequado pelos profissionais de saúde para gestantes soropositivas>, posteriormente
realizou-se consulta aos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), foram definidos para a
pesquisa os seguintes termos: “saúde reprodutiva”, AIDS, HIV e gestantes.
A busca foi realizada na plataforma Biblioteca Virtual em Saúde Brasil (BVS-BRASIL)
com os descritores “saúde reprodutiva”, AIDS, HIV, encadeados pelo operador booleano
AND, filtrados por artigos de 2017 a 2021 nos idiomas inglês e português, assunto principal
saúde reprodutiva, obtendo-se 34; e na Scientific Electronic Library Online (SCIELO) com os
descritores gestantes AND HIV, aplicados os filtros publicações de 2017 a 2021, no idioma
português, resultando em 19 artigos.
Por fim os artigos foram lidos integralmente e excluídos os que não se relacionavam
satisfatoriamente com o tema.
229
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
No primeiro quadro (Quadro 1) foram citados os artigos utilizados, o ano de publicação,
o periódico e os temas centrais de cada trabalho.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Conforme o quadro 1, constata-se que a maioria dos artigos foi publicada em 2018
(37,5 %; n=3) e no periódico Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil (25 %; n=2). Além
disso, destacou-se que a maior parte dos trabalhos possuía gestantes com HIV como tema
central (50 %; n=4).
234
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
desejada (em que esta assume o sentido de esperança e de anseio por um ciclo de reno-
vação ou de reafirmação da vida).
CONCLUSÃO
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
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236
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
16
Investigação da adequabilidade das
consultas pré-natais na Cidade de
Macapá
10.37885/210303943
RESUMO
A Organização Mundial de Saúde (OMS) (2016) recomenda em seu novo modelo de aten-
ção pré-natal que sejam realizadas, no mínimo, oito consultas, pois evidências mostram
que desta forma é reduzida a mortalidade perinatal e melhora a experiência das mulheres
com os cuidados prestados. O Ministério da Saúde (2012) preconiza que sejam realiza-
das, no mínimo, seis consultas pré-natais, além de acompanhamento multiprofissional,
exames laboratoriais, imunização, educação em saúde e procedimentos clínico-obsté-
tricos. Objetivo: Esta pesquisa teve como objetivo geral investigar a adequabilidade da
atenção pré-natal na cidade de Macapá. Método: A metodologia utilizada foi pesquisa de
campo com delineamento quantitativo-descritivo, de natureza aplicada, com abordagem
quantitativa no mês de outubro do ano de 2019. Resultados: Evidenciou-se que as mulhe-
res deste estudo têm idade entre 18 e 43 anos, que a maioria mora em área urbana, se
considera solteira e tem o nível médio de estudos, destas 51,8% das mulheres realizaram
seis ou mais consultas. Conclusão: Identificou-se, portanto, que as consultas pré-natais
na cidade de Macapá não ocorrem em sua totalidade conforme preconiza o Ministério da
Saúde, pois apesar de parcela destas estarem de acordo com o preconizado com seis
consultas no mínimo, exames laboratoriais e sorológicos e educação em saúde, quase
metade das mulheres entrevistadas iniciou seu pré-natal somente no segundo ou ter-
ceiro trimestre de gestação, 25 destas mulheres realizaram todas as vacinas propostas
e somente quatro mulheres fizeram todos os exames recomendados.
238
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO
239
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
MÉTODO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram coletadas um total de 114 amostras de mulheres com idade entre 18 e 43 anos.
Onde foi possível observar que, em sua maioria, residiam em área urbana representando
76,3% da amostra; 58,8% das mulheres se diziam solteiras; e 45,6% destas mulheres apre-
sentou o ensino médio como grau de escolaridade prevalente, conforme Tabela 1.
240
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Tabela 1. Dados socioeconômicos
242
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Figura 2. início das consultas
De acordo com Miranda e Fernandes (2010), a Estratégia Saúde da Família (ESF) conta
com uma linha de cuidado característico para gestantes, que envolve a busca de mulheres
com o ciclo menstrual atrasado dentro da comunidade realizada pelos Agentes Comunitários
de Saúde (ACS), que possa indicar um possível diagnóstico de gravidez. Após ser realizada
a detecção destas mulheres e confirmada a gravidez, o ACS realiza o agendamento imediato
da primeira consulta.
Para que haja uma adesão de 100% das gestantes ao acompanhamento pré-natal,
é necessário que seja aprimorado o sistema de regionalização realizado pela ESF, com o
intuito de melhorar a assistência, evitar abandonos/desistências e óbitos materno e fetal.
Ao serem indagadas quais profissionais participaram do seu acompanhamento pré-na-
tal, 98,2% afirmou que foi acompanhada por um (a) enfermeiro (a), 74,6% por um médico
ginecologista-obstetra, 46,5% por um técnico de enfermagem, 31,6% por um nutricionista,
18,4% por um assistente social, 17,5% por um médico clínico geral, 11,4% por um psicólo-
go, 10,5% por um odontólogo e 0,9% por um outro profissional, de acordo com a Tabela 2.
243
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Tabela 2. Profissionais que participaram do acompanhamento pré-natal.
Com relação à equipe que pode acompanhar o pré-natal, Brasil (2012a) afirma que
cabe ao enfermeiro, intercalando com um profissional médico, realizar a consulta de pré-
natal de baixo risco. O enfermeiro é respaldado legalmente quanto à realização da consulta
de enfermagem nos termos do art. 8º, I, alínea “e” do Decreto nº 94.406 de 8 de junho 1987,
que afirma que a consulta de enfermagem compete privativamente ao enfermeiro.
Quanto aos procedimentos clínicos e obstétricos foi possível observar, na caderneta da
gestante, que foram preenchidas as seguintes informações: peso materno, pressão arterial,
cálculo da idade gestacional, altura uterina, batimentos cardiofetais e apresentação fetal,
como pode ser observado na Figura 3. Ratificando estes achados Coutinho (2010) afirma
que a pressão arterial (PA), a idade gestacional (IG), o peso materno e a altura uterina
(AU) são procedimentos que devem ser anotados em todas as consultas, já a ausculta dos
batimentos cardiofetais (BCFs) junto da posição e apresentação fetal é possível que sejam
identificados clinicamente a partir de 20 a 28 semanas gestacionais, nesta ordem.
A respeito do esquema vacinal da gestante, 96,5% das mulheres relataram que foram
orientadas à execução deste, enquanto 3,5% relatou que não recebeu orientações relacio-
nadas as vacinas. Evidenciou-se através da caderneta da gestante que foi administrada
244
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
em 83,5% das mulheres a vacina difteria, tétano e coqueluche (dTpa), em 71,4% a vacina
contra Influenza, em 58,2% a vacina contra Hepatite B e 49,5% a vacina antitetânica (dT),
como consta na Tabela 3.
No que concerne a vacinação na gestação a Sociedade Brasileira de Imunizações
(SBIm) (2018) recomenda às gestantes um calendário vacinal que contempla: Tríplice bac-
teriana acelular do tipo adulta (difteria, tétano e coqueluche) - dTpa ou dTpa VIP; Dupla
adulto (difteria e tétano) - dT; Hepatite B; Influenza (gripe).
Foi possível identificar neste estudo que apenas 25 mulheres realizaram todas as vaci-
nas estabelecidas, enquanto 89 mulheres realizaram de três a nenhuma vacina estabelecida.
Tabela 3. Vacinas
245
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Figura 4. Exames laboratoriais e sorológicos.
Quando foram indagadas se conheciam o pré-natal do parceiro, 54,9% disse ter conhe-
cimento, ao passo que 45,1% afirmou desconhecer. O pré-natal é um acompanhamento que
deve ser feito não exclusivamente com a mulher, mas também pode ser realizado com seu
cônjuge. O pré-natal do parceiro tem como objetivo preparar o homem para a paternidade
ativa e consciente, assim como detectar precocemente doenças, atualizar a carteira vacinal
e incentivar a participação em atividades educativas nos serviços de saúde (BRASIL, 2016).
Foi perguntado às mulheres se durante a gestação se houve alguma intercorrência,
onde 67,5% respondeu que não houve e 32,5% afirmou que houve intercorrência, destas,
71% relatou que foi direcionada pela equipe de saúde à unidade de referência e 29% afir-
mou que não recebeu este direcionamento. Corroborando a isto, Brasil (2012a) estabelece
10 passos para um pré-natal de qualidade, entre eles está garantir o acesso à unidade de
referência especializada, caso seja necessário. Toda gestante deve ser orientada a procurar
o referido serviço quando apresentar intercorrências clínicas/obstétricas ou quando estiver
em trabalho de parto.
Ao serem questionadas se receberam informação sobre o seu direito de conhecer e
visitar previamente o local de parto onde daria à luz, 78,9% respondeu que não recebeu
esta informação, enquanto 21,1% afirmou tê-la recebido. Destas mulheres, 86% relataram
que não realizou seu plano de parto ou que não foram orientadas e incentivadas a isto, em
contrapartida 14% referiu ter realizado um plano de parto. Quando questionadas se foram
estimuladas quanto aos benefícios do parto fisiológico, 73,5% afirma que foi estimulada, ao
passo que 26,5% nega ter sido estimulada.
No que se refere ao parto normal, Brasil (2016) afirma que tem benefícios tanto para
a mulher quanto para o recém-nascido, dentre eles pode-se citar para a mulher menor dor
após o parto, rápida recuperação, menor risco de infecção puerperal e complicações, menor
risco de morte e intercorrências em futuras gestações; para o bebê pode-se citar menores
247
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
taxas de prematuridade, respiração favorecida pelo trabalho de parto, favorecimento do
vínculo afetivo mãe-bebê.
Quanto ao plano de parto Cortés et al. (2015) afirma que um plano de parto e nasci-
mento é um documento escrito, de caráter legal, elaborado pela mulher junto à sua parteira
após receber as informações sobre seu processo de parto, considerando seus desejos e
necessidades no qual combina alternativas, de acordo com as boas práticas, que prefere
durante seu parto.
Com relação ao direito da gestante de conhecer previamente seu local de parto, Brasil
(2016) cita a Lei nº 11.634, de 26 de outubro de 2007, que assegura a gestante o direito de
ser informada anteriormente, pela equipe do pré-natal, sobre qual a maternidade de refe-
rência para seu parto e de visitar o serviço antes do parto.
Sobre a consulta de puerpério, 58,8% das mulheres afirmaram que foi recomendado a
elas, enquanto que 41,2% relatou que não recebeu esta recomendação. Quando questiona-
das quanto à consulta de puericultura do recém-nascido, 53,5% afirmou ter sido orientada,
em contrapartida 46,5% relatou que não foi orientada.
Em se tratando da consulta de puericultura, Brasil (2004) e Sociedade (2006), citados
por Brasil (2012b), dizem que:
Com relação à consulta puerperal, Brasil (2012a) relata que, caso a mulher e o recém-
-nascido já tenham ido à unidade para as atividades da primeira semana de saúde integral,
deve ser reavaliada a situação de saúde da puérpera e do recém-nato, além da anotação das
modificações, apuração e registro da amamentação, do retorno da menstruação e atividade
sexual, realização de educação em saúde e a orientação para possíveis intercorrências.
CONCLUSÃO
249
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
REFERÊNCIAS
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251
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
17
Mulheres em idade fértil que buscam
teste rápido em uma policlínica de
Niterói/RJ
10.37885/210304038
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo analisar o perfil das mulheres que buscam o ser-
viço de vigilância em saúde da Policlínica Regional do Largo da Batalha (PRLB) para
a realização do teste rápido, identificando as orientações por elas recebidas para tal,
fazendo com que essas informações sirvam de subsídios para a tomada de decisão
do enfermeiro frente às demandas da população atendida na unidade. Justificamos a
pesquisa pelo aumento do número de casos de infecção por Infecções Sexualmente
Transmissíveis (IST) em mulheres em idade fértil. Trata-se de uma pesquisa de natureza
aplicada, caráter exploratório e de abordagem quantitativa, em amostragem por saturação
teórica, que se constitui através de entrevistas, com perguntas previamente elaboradas,
e acompanhamento do atendimento durante a realização do teste. O cenário escolhido
para a realização do estudo foi a PRLB e os participantes da pesquisa foram mulheres
com idades entre 18 e 49 anos, considerada faixa etária fértil, que buscaram a unidade
para a realização de testes rápidos para HIV, Sífilis, Hepatites B e C. Os critérios de
inclusão foram: indivíduos do sexo feminino, estarem em idade reprodutiva e buscarem
esse tipo de atendimento na unidade. Os critérios de exclusão foram: mulheres com
idades inferiores a 18 anos e usuárias do serviço que não realizaram o teste a respeito
das 4 infecções. Participaram da pesquisa um total de 50 usuárias do serviço. Como
resultado, percebemos uma grande necessidade de melhoria na educação em saúde a
respeito das IST em toda a comunidade atendida, trabalhando em conjunto à educação
permanente para capacitar toda a equipe atuante no serviço, para garantir a qualidade
das informações passadas ao público.
253
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A coleta de dados ocorreu entre janeiro e maio de 2019, durante a realização de testes
rápidos pelas enfermeiras da unidade, com as mulheres que buscaram o serviço por demanda
espontânea. Participaram da pesquisa um total de 50 mulheres, número que garantiu, ao
estudo, resultados em amostragem por saturação teórica.
Tabela 1. Distribuição dos escores das participantes com filhos do estudo, por grupo etário. Município de Niterói, RJ,
Brasil, 2019.
Coeficiente de Proporção com e
Grupo Etário Nº de filhos Média Desvio Padrão
variação sem filhos
18-29 anos 11 0,88 1,24 140,91% 1 p/ 1
30-39 anos 18 1,66 1,08 65,06% 8 p/ 1
40-49 anos 7 2,57 0,54 21,01% 7 p/ 0
Fonte: Próprio autor.
Quanto às médias brutas dos escores, observa-se que as mais elevadas foram atribuí-
das ao grupo etário 40-49 anos (2,57), onde 100% das mulheres possuíam filhos; seguida
ao grupo etário 30-39 anos (1,66), com 87,5% com filhos, por fim o grupo etário 18-29 anos
(0,88) com 50% com filhos. Esses dados permitem inferir que as mulheres mais velhas, par-
ticipantes do estudo, todas já são mães, enquanto que, no caso das mulheres mais jovens,
metade das mulheres participantes ainda não possuem filhos. Os números possibilitam
observar que as mulheres mais jovens acabam apresentando maior comportamento de
risco em relações sexuais, banalizando e subestimando o cuidado em saúde por meio de
prevenção, não fazendo uso de preservativos em suas relações. Deste modo, este grupo
encontra-se em maior risco de contaminação por IST.
O HIV é a segunda doença que mais faz vítimas, matando mais de 25 milhões de pes-
soas no mundo todo nos últimos 25 anos, ficando atrás apenas da Tuberculose (BRASIL,
2018). Devido a sua disseminação por via sexual, a geração das décadas de 60 e 70, que 258
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
lutava por liberdade sexual à época, passa a aderir às práticas de sexo seguro, reduzindo
o número de parceiros e aderindo ao uso de preservativo. Foi a geração que viu diversas
pessoas morrerem da Aids, propriamente dita, sem nenhum tipo de controle ou tratamen-
to. Em contrapartida, a juventude que encontramos desde os anos 2010, é a juventude que
conheceu a Aids como uma doença controlada, com poucos casos de morte pela doença
em si, fator que influência diretamente na prevenção e no autocuidado em saúde.
A respeito do local onde as participantes do estudo residem, os dados mostraram que
16% das mulheres moram na região atendida pela PRLB, 14% moram em bairros próxi-
mos – Centro, Itaipu, Icaraí e Santa Rosa – e 70% das mulheres moram em bairros mais
distantes ou até mesmo em outras cidades. Mesmo o serviço não sendo destinado a todas
as pessoas de todas as localidades, a equipe não se recusa a atender a demanda que
chega até a unidade – tendo em vista que grande parte da demanda atendida alega não ter
disponibilidade de material para esse tipo de atendimento nos postos de saúde do bairro de
origem – e, ao final do atendimento, orienta ao paciente que busque esse tipo de serviço na
unidade de saúde mais próxima de sua residência.
Outro fato observado no estudo foi a sexualidade declarada pelas participantes da pes-
quisa durante a realização do teste. O gráfico abaixo apresenta o percentual da declaração
de orientação sexual das mulheres:
Os dados apresentaram que, durante a anamnese do teste rápido, 96% das mulheres
que participaram do estudo se declararam heterossexuais, 2% declaram-se homossexuais e
2% declaram-se transexuais. Esses resultados nos permitem inferir que, mesmo durante um 259
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
atendimento voltado para orientações pessoais a respeito das relações sexuais das usuárias,
as mulheres não sentem-se confortáveis para tratar abertamente sobre sua orientação sexual
e suas relações, por receio em serem tratadas de maneira preconceituosa devido a esse
fator pessoal. De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde, cerca de 40% das
mulheres que procuram atendimento em saúde não revelam sua orientação sexual. Entre
as que revelam, 28% referem maior rapidez do atendimento médico e 17% afirmam que os
profissionais por quem foram atendidas deixaram de solicitar algum exame considerado por
elas como necessário (BRASIL, 2013).
A respeito do conhecimento sobre o teste rápido e as infecções sexualmente trans-
missíveis, 66% das mulheres citaram as 4 doenças que podem ser diagnósticas pelo teste
rápido e 34% não souberam ou preferiram não falar. Além disso, 50% das participantes já
haviam realizado o exame em outro momento da vida, grande parte delas afirmaram ter
realizado o teste em outro momento por conta de uma gestação. Esses dados nos permitem
inferir que, apesar do conhecimento a respeito dos riscos de contrair alguma das IST, essas
mulheres deixam de seguir medidas de prevenção da contaminação por essas infecções,
em especial, o uso de preservativos nas relações sexuais ainda é deixado de lado por elas,
expondo-as a tal risco.
Ao tratarmos sobre o motivo que levou as mulheres a buscarem este tipo de atendi-
mento dentro da unidade de saúde, obtivemos o seguinte resultado, apresentado de acordo
com o gráfico e a tabela, a seguir:
260
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Observamos que 10% das participantes do estudo buscaram o serviço como parte do
acompanhamento pré-natal, 6% como atendimento protocolar em casos de acidentes com
material biológico e os outros 84% foram atendimentos por situação de risco e vulnerabilidade.
Tabela 2. Participantes que buscaram o teste rápido devido a vulnerabilidade e situação de risco. Município de Niterói,
RJ, Brasil, 2019.
261
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Gráfico 4. Participantes que souberam/citaram as formas de transmissão das doenças. Município de Niterói, RJ, Brasil, 2019.
Das mulheres entrevistadas, 40% souberam citar todas as possíveis formas de trans-
missão de cada uma das doenças que podem ser diagnosticadas pelo teste, 42% acredita-
vam que o sexo é a única forma de transmissão de todas as 4 doenças, 18% não souberam
nenhuma das formas de transmissão ou preferiram não citar. Esse dado mostra que a
transmissão do HIV e das Hepatites B e C pelo compartilhamento de agulhas e seringas, e
por transmissão vertical – quando o vírus é passado da mulher para o bebê durante a ges-
tação ou o parto – é uma informação pouco citada, mesmo durante atendimentos realizados
pelo serviço de saúde, bem como a transmissão de Hepatite B pelo compartilhamento de
materiais de unha e cutículas não esterilizados (BRASIL, 2010).
É importante ressaltar que todo o conhecimento a respeito das IST precisa fazer parte
das práticas cotidianas dos profissionais da saúde, com intuito de garantir que o conheci-
mento chegue a toda a comunidade e seja aplicado no dia-a-dia do público alvo, trazendo
resultados efetivos no cuidado integral à saúde, utilizando a educação em saúde como ferra-
menta chave de disseminação de informação. De acordo com Gonçalves, Soares e Armede
(2010), a educação em saúde na atenção básica precisa estar diretamente relacionada aos
interesses dos usuários e com linguagem adequada ao público de todas as idades para que
seja efetiva, porém grande parte dos usuários do serviço evitam participar das atividades de
educação em saúde promovidas dentro da unidade.
Em consonância com a transmissão destas doenças, é necessário saber todas as
formas de prevenção de cada uma delas.
262
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Gráfico 5. Participantes que souberam/citaram as formas de prevenção das IST. Município de Niterói, RJ, Brasil, 2019.
O estudo mostra que 42% das mulheres entrevistadas citaram todas as formas de
prevenção de uma possível contaminação, 50% delas citaram apenas o uso do preserva-
tivo como forma de prevenção e 8% não citaram ou não souberam nenhuma das formas
de prevenção da contaminação. Tais dados demonstram pouco conhecimento a respeito
de todas as formas de prevenção de contaminação destas doenças, podendo ocorrer por
conta de uma falta de interesse por parte das mulheres a respeito do assunto ou por uma
deficiência na disseminação de informações na unidade de saúde por meio de atividades
de educação em saúde que sejam eficientes para atingir toda a comunidade de forma clara
e com linguagem acessível a todos os públicos.
É válido ressaltar que as 4 doenças podem ser prevenidas de diversas formas, são
elas: não compartilhamento de agulhas e seringas ou outros materiais perfurocortantes, não
compartilhamento de materiais de unha e cutículas não esterilizados de forma adequada,
acompanhamento pré-natal e tratamento adequado de mãe e bebê – nos casos de gestação
da mulher contaminada – e vacinação ou atualização da carteira de vacinação – no caso da
Hepatite B (BRASIL, 2010).
263
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Tabela 3. Resultados dos testes rápidos das participantes do estudo.
Testes realizados Nº
Reagente – HIV 1
Reagente – Sífilis 5
Reagente – Hepatite B -
Reagente – Hepatite C -
Não Reagente 44
Total 50
Fonte: Próprio autor.
CONCLUSÃO
Durante a coleta pode-se observar o fluxo de mulheres que buscam esse tipo de serviço
na unidade que, em comparação ao público masculino, é, em números, significativamente
inferior. A análise dos dados mostrou que as mulheres que buscam teste rápido na PRLB,
em sua maioria, tem idades entre 18 e 29 anos, são solteiras, sem filhos ou com apenas 1
filho, e buscam o serviço em caráter de rotina, pois entendem que o teste faz parte do cuidado
264
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
em saúde e não como ferramenta de diagnóstico de infecções que devem ser prevenidas
para que a frequência de realização do teste seja mínima ou não exista.
Foi possível observar também que, em sua maioria, as mulheres buscam o teste por
demanda espontânea, em caráter de rotina. No entanto, 84% do total de mulheres apresen-
taram algum comportamento ou estiveram em situação de risco de contaminação por alguma
IST, devido a exposição a uma relação sem preservativo. Os resultados apresentados são de
grande preocupação nos serviços de saúde, devido a dificuldade de práticas de autocuidado
por parte das mulheres, do entendimento delas a respeito da importância dos cuidados de
saúde como formas mais eficazes de prevenção de doenças e infecções.
Além disso, os resultados expuseram que apenas 16% das mulheres receberam orien-
tação de alguma equipe de saúde para a realização do teste rápido, o que indica uma defi-
ciência do serviço de saúde da unidade na orientação de cuidados à saúde sexual. Essas
informações, que deveriam ser passadas de forma concisa e completa em grupos de plane-
jamento familiar e consultas, acabam chegando parcialmente à comunidade, muitas vezes
até prejudicando o trabalho do serviço de saúde.
Com isso, é possível perceber a tomada de decisão como um processo direcionado
a necessidade de educação em saúde detalhada à toda a população usuária do serviço de
atenção básica da unidade de saúde, em especial das atividades de planejamento familiar,
consultas ginecológicas e obstétricas, consultas urológicas e do próprio teste rápido. Esse
processo, precisa ser direcionado à população da comunidade e humanizado.
Em conjunto a isso, vale ressaltar que a tomada de decisão é um processo que exige
constante atualização prática e científica do enfermeiro, tanto na assistência quanto na gestão
do serviço. Ou seja, é de extrema importância a prática da educação permanente aplicada
à toda a equipe da PRLB, como forma de atualização dos conhecimentos técnico-científicos
dos profissionais atuantes e afim de garantir melhoria na qualidade da assistência prestada
às usuárias do serviço e à toda a comunidade.
A educação em saúde é a principal ferramenta de disseminação de informações em
saúde à toda a comunidade e precisa ser direta e resolutiva. E para que ela seja feita de
maneira eficaz, é necessária a constante atualização de toda a equipe de saúde atuante na
unidade, pois todos os funcionários do serviço são responsáveis por passar essa educação
de forma adequada, afim de garantir melhoria na qualidade do serviço e da assistência.
Em suma, uma assistência de qualidade precisa ser pautada em educação em saúde
da população e atualização da equipe que atua na unidade. Tendo a atenção básica como
porta de entrada, é importante também tê-la como principal forma de comunicação direta com
a comunidade e o papel do enfermeiro enquanto educador de saúde precisa ser reforçado
durante os atendimentos da unidade, em especial durante o teste rápido. Esses atendimentos
265
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
necessitam de métodos de interação com usuário e estabelecimento de relação de confiança,
a fim de garantir qualidade de assistência, utilizando-se de uma consulta individualizada,
respeitando as peculiaridades de cada indivíduo, e educando tanto de forma verbal quanto
de forma prática, garantindo interesse e compreensão do usuário do serviço.
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267
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
18
O cuidado em saúde mental a mulheres
climatéricas no centro de atenção
psicossocial
10.37885/210303963
RESUMO
269
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO
MÉTODO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
272
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
A fim de que as mulheres compreendam as mudanças que estão ocorrendo em seu
corpo, o profissional de saúde é um ator fundamental no desenvolvimento de intervenções
de educação em saúde. Essas intervenções são fundamentais para prevenir e/ou amenizar
sinais e sintomas climatéricos e para fortalecer o autocuidado (VALENÇA; GERMANO, 2010).
Em relação ao uso de medicação para os sinais do climatério, referiram que não usam
nenhum medicamento, somente chás. Sim, faço uso de chá[...]. (M3)
Esse achado da pesquisa permitiu visualizar que as usuárias do CAPS estão abertas
para a aprendizagem de práticas não medicamentosas de alívio dos sintomas do climatério,
uma vez que não foram abordadas com prescrições medicamentosas direcionadas a esses
sintomas e desconfortos.
Sim, em toda fase, o profissional de saúde deve estar ligado, prestar atenção[...]
nessa fase é importante porque é uma vida nova para as mulheres, e essas
pacientes não têm a noção de muita coisa, então tem que explicar direito o
que está acontecendo. (E1)
Sim, é um período delicado que tem que ter um olhar diferenciado para saber
interpretar a fase que elas estão passando. (E5)
273
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Sim a paciente tem que saber de tudo, tem que ter palestras, elas entendem
tudo que você fala, então deve ser abordado este tópico. (E1)
Quando indagados sobre o uso de medicação para os sinais do climatério e sua in-
fluência no tratamento do transtorno mental, houve declarações diferenciadas entre os pro-
fissionais de saúde entrevistados.
Sim, se o tratamento é pra melhoria delas acho interessante fazer uso. (E1)
Eu acho que cada caso é diferente do outro, acho que só depois que passar
por um médico pra ver se precisa de medicação. (E3)
Acho que não...elas se resumem só no transtorno, é como se tudo funcionasse
em pegar a medicação, tomar a medicação, não entrar em crise e o resto não
funciona. (E5)
274
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
A partir das falas dos entrevistados fica evidente que os profissionais convergem quanto
ao uso racional da prescrição medicamentosa. Em outros contextos, a hipermedicamentali-
zação ainda é a opção primaria na prática assistencial às usuárias com transtornos mentais,
como forma de suprir as suas necessidades e prevenir a ocorrência de crises psíquicas,
conforme discutem Barbosa, Caponi e Verdi (2016).
Em pesquisa realizada por Wigg (2020), os sintomas neuropsíquicos se associaram
significativamente entre si, sendo identificado, relações fortes entre estresse, depressão,
ansiedade, insônia e sintomas menopausais. O destaque foi a insônia que se mostrou de
modo expressivo nas relações entre sintomas neuropsíquicos e clínicos. Além disso, 11%
das mulheres apresentaram pensamentos suicidas, possuindo problemas sexuais, não
tinham companheiro e filhos morando no lar e todas faziam uso de ansiolíticos e antidepres-
sivos. No entanto, no estudo de Barbosa et al. (2020) não foi encontrada associação positiva
entre ser mulher com transtorno mental e consumir psicotrópicos e a vivência da sexualidade.
Ante ao exposto, é necessário investir em práticas não medicamentosas de alívio do
estresse, da ansiedade, e melhoria do padrão de saúde da mulher, de forma a não se res-
tringir, na prescrição terapêutica, a abordagem medicamentosa dos sintomas do transtorno
mental e dos sintomas climatéricos.
Sobre as alternativas adotadas pelos profissionais para que o uso de medicação fosse
reduzido ou substituído, quando possível, por outros métodos terapêuticos os entrevistados
referiram alternativas que vão desde atividades físicas até orientação alimentar.
Uma capacitação sobre o assunto pra gente saber orientá-las melhor e serem
bem acompanhadas. (E3)
Poderiam ser algumas técnicas de relaxamento, alimentação adequada, ati-
vidade física. (E4)
275
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
EIXO IV: Dificuldades na assistência as mulheres que vivenciam o climatério
A mulher deverá sempre ser considerada sujeito partícipe ativo do processo de cuidar
em saúde, em especial, a que vivencia o climatério. É fundamental que essa mulher entenda
dessa maneira o cuidar de si conhecendo a si mesma (OLIVEIRA et al., 2017).
Outro entrave apontado envolve a participação da família no cuidado dessas usuárias e
o desconhecimento dos familiares sobre seus ciclos de vida. Os profissionais relataram que
não há participação suficiente da família. Segundo sua percepção o que motiva a ausência
da família nos momentos terapêuticos a ela destinados é a falta de consciência da correspon-
sabilização da família no cuidado territorial em saúde mental, o que reforça a invisibilidade
das questões relacionadas ao sofrimento mental e ao climatério na família e na sociedade.
A família, portanto, deve ser considerada como ator social indispensável para a efeti-
vidade da assistência em saúde mental e entendida como um grupo com grande potencial
de acolhimento e ressocialização de seus integrantes (SCHARNK; OLSCHOWSKY, 2008).
Por outro lado, é preciso considerar que a família enfrenta dificuldades diante da “es-
colha” de assumir o cuidado, negando-se a abandonar seus familiares adoecidos. Muitas
famílias são incompreendidas e são estigmatizadas socialmente (BARBOSA; CAPONI;
VERDI, 2016), o que amplia a necessidade de que sejam acolhidas e ouvidas nos serviços
que compõem a rede de atenção psicossocial.
276
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
CONCLUSÃO
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278
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
19
O papel da enfermagem no
acompanhamento puerperal da mulher
com sinais de depressão pós-parto
Sthéfani Varela
10.37885/210504840
RESUMO
280
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO
MÉTODOS
RESULTADOS
Primeiramente, foi utilizada a base de dados BVS com os descritores: depressão pós-
-parto e enfermagem, sendo encontrado um total de 1741 artigos. Após, foram excluídos
aqueles que não foram escritos na língua portuguesa e que possuíam textos incompletos,
resultando em 47 obras. Ao filtrar o ano de publicação para a partir de 2015, restaram 26
artigos. Após leitura crítica de cada material e com base na pergunta norteadora elaborada,
foram selecionados cinco materiais para compor o presente estudo.
Através do uso da base de dados SCIELO com os descritores: depressão pós-parto
e enfermagem, foram encontrados 132 artigos. Após selecionar apenas aqueles em língua
portuguesa e publicados a partir de 2015, foram obtidos 34 materiais. Entretanto, ao ler
esses estudos, nenhum respondia à pergunta norteadora.
Foram localizados um total de 1873 artigos através da busca nas bases de dados,
sendo 1868 reprovados por não se adequar aos critérios de inclusão. Conforme trazido na
Figura 1, foram selecionados apenas cinco artigos para compor o presente estudo.
282
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Figura 1. Fluxograma de seleção dos artigos para Revisão Integrativa
Nesta revisão, foram analisados cinco artigos que contemplavam os critérios de in-
clusão estabelecidos previamente. Os dados contidos no Quadro 1 descrevem os artigos
selecionados para compor o presente estudo.
283
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Quadro 1. Apresentação da síntese das características dos estudos incluídos na presente Revisão Integrativa
BASE DE PERIÓDICO
TÍTULO AUTORES OBJETIVO RESULTADOS/DISCUSSÃO CONCLUSÃO
DADOS (nome, ano, local)
Intervenções do SILVA, J. F.; et al. Revista de Enferma- Identificar a produção cientí- Compôs-se a amostra por Existe a necessidade
enfermeiro na gem UFPE on line, fica sobre as ações/interven- 11 artigos, identificando-se de aprimorar o conhe-
atenção e preven- 2020, Recife, Brasil. ções que podem ser desen- as seguintes ações/inter- cimento dos enfermei-
ção da depressão volvidas pelo enfermeiro na venções: observar sinais ros e sua equipe em
puerperal atenção e prevenção de danos e sintomas da depressão relação a depressão
BVS da depressão puerperal. puerperal; realizar consulta puerperal para uma
de pré-natal e educação em melhor assistência.
saúde; incentivar o parto
normal; apoiar condições
psicológicas; encaminhar
para serviço especializado.
Conhecimento de SOUZA, K. L. C.; Revista de Enferma- Analisar o conhecimento dos Com base nas análises das Ampliar os investimen-
enfermeiros da et al. gem UFPE on line, enfermeiros das unidades de entrevistas, surgiram três tos na educação per-
atenção básica 2018, Recife, Brasil. saúde da família sobre a de- categorias: rotinas de cui- manente e continuada
acerca da depres- pressão puerperal. dado da enfermeira ao bi- aos profissionais da
são puerperal nômio mãe-filho no período estratégia da família
BVS
puerperal; visão das enfer- a fim de contemplar a
meiras sobre a depressão atenção à saúde mental
puerperal; os impasses na das puérperas.
prevenção da depressão
puerperal.
P e r c e p ç ã o d e SANTOS, F. K.; et Revista Nursing , Analisar as percepções de Os profissionais não pos- Implementar um as-
enfermeiros so- al. 2020, São Paulo, enfermeiros sobre diagnós- suem suporte literário para sessoramento a esses
bre diagnóstico Brasil. tico e acompanhamento da padronizar condutas de profissionais a fim de
e acompanham depressão pós-parto em Divi- cuidados para mulheres promover um cuidado
ento de mulheres nópolis-MG com depressão pós- parto. integral.
BVS
com depressão O atendimento a essas mu-
pós-parto lheres ocorre de maneira
fragmentada, não tendo
acompanhamento multi-
disciplinar.
Desafios para pro- MEIRA, B. M.; et Texto & Contexto - Conhecer os desafios dos pro- Dificuldade dos profissio- Aprofundar pesquisas e
fissionais da aten- al. Enfermagem, 2015, fissionais da atenção primária nais em identificar e tratar promover treinamento
ção primária no Florianópolis, Brasil. no cuidado às mulheres com o transtorno, visto que o e capacitação desses
cuidado à mulher depressão pós-parto, buscan- cuidado está relacionado profissionais.
com depressão do identificar quais as ferra- diretamente com a fisiolo-
BVS
pós-parto mentas utilizadas para a de- gia do processo gestacional
tecção dessas mulheres, bem e puerperal.
como as formas de atuação
para o restabelecimento da
sua saúde.
Estratégias de en- VIANA, M. D. Revista Online de Identificar na literatura as es- Com base em nove artigos, Prevenir a DPP é uma
fermagem na pre- Z. S.; et al. Pesquisa Cuidado é tratégias utilizadas pelos (as) foi realizada a categorização ação de fácil aborda-
venção da pressão Fundamental, 2020, enfermeiros(as) na prevenção dos trabalhos por similarida- gem, com baixo custo
pós-parto Rio de Janeiro, Brasil. da depressão pós-parto. de de conteúdo, sendo cons- e de viável execução na
truídas duas categorias para prática do enfermeiro.
BVS a análise: o acolhimento
como estratégia de preven-
ção da depressão pós- parto
e o grupo de gestante como
espaço de troca de experi-
ência.
Fonte: VARELA, DAL MOLIN, 2021
DISCUSSÃO
Através da análise dos estudos que compõem a presente revisão, foram desenvolvidas
duas categorias analíticas para organização, sendo a primeira “As condutas de enfermagem
frente à depressão puerperal ” e a segunda, “As dificuldades vivenciadas pela equipe de
enfermagem na depressão puerperal ”.
284
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
As condutas de enfermagem frente à depressão puerperal
A Política Nacional de Humanização prevê que, para que o cuidado seja efetivo, o
acolhimento é um elemento fundamental em todo o processo de cuidado dedicado à popu-
lação, visto que esse é responsável por criar uma relação de confiança. Quando se entra no
contexto do acolhimento à gestante, esse ganha um aspecto ainda mais enfático devido a
necessidade de trazer essa mulher para um acompanhamento que terá uma duração longa.
Dessa forma, é preciso ouvir a gestante quanto a sua história, seus sentimentos, medos e
anseios, bem como o significado da gestação para ela. Com um acolhimento de qualidade,
a mulher vê a equipe com confiança e sente-se segura para se expressar e retornar às
consultas para acompanhamento (BRASIL, 2012).
Viana, et al. (2020), abordou por meio da revisão de literatura, a importância do aco-
lhimento na prevenção da depressão pós-parto, trazendo ainda a implementação da Escala
de depressão pós-parto de Edimburgo (EDPS) para auxiliar no diagnóstico desses pacien-
tes. Uma forma de fazer essa escuta qualificada, é abordar questões pertinentes à mulher
ainda no pré-natal, deixando um pouco de lado questões fisiológicas e abordando temas
mais emocionais. Um caminho para isso, segundo o autor, é a implementação de grupos de
gestantes com atividades educativas e voltadas para a troca de experiências.
Apesar das particularidades de cada ambiente e cenário, é comumente atribuído ao
enfermeiro o papel de acolhimento tanto à gestante quanto à puérpera e recém-nascido,
sendo este responsável por identificar possíveis aspectos a serem melhorados e comunicar
o restante da equipe. No caso da depressão pós-parto, o enfermeiro é tido como o profissio-
nal mais apropriado para observar os sinais que a mulher está demonstrando, visto que é
aquele que, além de estar na porta de entrada do serviço de saúde, normalmente tem maior
intimidade e tempo de acompanhamento (FÉLIX et al., 2013; LOUZADA, 2019).
Segundo o artigo produzido por Silva, et al. (2020), que também aborda a implemen-
tação da EDPS, uma das condutas de enfermagem que servem como mecanismo de pre-
venção e/ou ajuda no diagnóstico de depressão pós-parto, é a visita domiciliar promovida
pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Tal atividade promove uma escuta qualificada
e um olhar mais íntimo e específico frente a realidade daquela família. Dessa forma, é de
suma importância que durante essa visita o profissional promova o cuidado integral à essa
mulher, tanto no período gestacional como quando no puerperal.
Souza, et al. (2018) por meio de entrevistas com 11 enfermeiros de uma unidade da
saúde da família, trouxe que a visita domiciliar acaba por facilitar a prevenção, diagnóstico
e acompanhamento das mulheres com depressão pós-parto, visto que também compartilha
do pressuposto que a prática promove acolhimento, escuta qualificada e cuidado integral.
285
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Por vezes, as visitas assumem caráter mais direcionado a questões fisiológicas, o que pode
provocar certa desatenção ao estado mental e emocional da mulher.
Conforme abordado no Caderno de Atenção ao Pré-Natal de Baixo Risco do Ministério
da Saúde, é papel do enfermeiro realizar visitas domiciliares à toda puérpera ou gestante,
principalmente na última semana de gestação e primeira de puerpério, bem como desen-
volver grupos de gestantes para atender a população. Entretanto, o material indica que tais
visitas devem ocorrer para auxiliar a mulher nos processos fisiológicos dela e do bebê, não
abordando a necessidade de um olhar voltado à saúde mental. (BRASIL, 2012)
Estabelecendo que o enfermeiro é peça chave para leitura dos sinais e sintomas da
depressão pós-parto, questiona-se qual o próximo passo a ser seguido. Segundo o artigo
publicado por Meira, et al (2015), a dificuldade dos profissionais começa ainda no reconhe-
cimento dos sinais e sintomas. As entrevistas revelaram que por vezes há certa dificuldade
em avaliar o estado mental da mulher, bem como relacioná-la.
ao transtorno. Ainda, mesmo com a elaboração dos grupos de gestante, os profissionais
tendem a abordar apenas questões do tipo fisiológicas, deixando de lado o emocional. A maior
queixa dos entrevistados foi de que não foram capacitados para agir frente a essa situação,
sentindo-se despreparados em como conduzir e quais medidas aplicar.
Dessa forma, pode-se observar que, desde a formação, o enfermeiro não é preparado
para atender as necessidades desse tipo de paciente. Santos, et al (2020), abordou em um
estudo qualitativo, realizado com nove enfermeiros que, ao identificarem sinais e sintomas
de uma possível depressão, a conduta mais aplicada era o encaminhamento dessa mulher
para outros setores, programas ou instituições, a fim de proporcionar acompanhamento
psicológico e/ou psiquiátrico. Entretanto, o cuidado, que deve ser integral e multidisciplinar,
passa a ser fragmentado após tal ação, visto que a mulher é encaminhada para acompanha-
mento e, por vezes, não retorna mais à unidade de atendimento que realizou o acolhimento,
perdendo assim a continuidade do cuidado. Mesmo com ferramentas como a busca ativa,
que tem como objetivo restabelecer o vínculo da mulher com a unidade de atendimento, o
contato acaba por se tornar restrito e distante.
O acompanhamento psicológico é de suma importância para pacientes com depressão
pós-parto, visto que, ao envolver tal profissional no cuidado, o mesmo torna-se mais adequa-
do e preciso, uma vez que é ele quem tem maior embasamento e preparo para lidar com as
necessidades da mulher (LOUZADA, et al., 2019). Conforme trazido por Cunha, et al (2012),
os estágios da gestação culminam em alterações emocionais na mulher, aumentando a
ansiedade, os medos e as dúvidas; e a forma com que a mulher lida com tais modificações,
286
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
interfere no período puerperal de forma significativa. Assim sendo, é necessário que a psi-
cologia possa ser incluída ainda durante a gestação, visto que a psicoterapia não auxilia
apenas no bem - estar da mulher, mas também na relação dela com o meio em que vive.
Alvares, et al (2015) traz que em alguns países os agentes comunitários de saúde são
treinados para reconhecimento de sinais de depressão pós-parto, colocando a necessidade
em capacitar os profissionais para melhor observação dos sintomas e diagnóstico do trans-
torno. O artigo aborda ainda a importância em manter a educação continuada e oportunizar
diálogos entre os profissionais da unidade, visto que por vezes os pacientes são encaminha-
dos a setores de maior complexidade e perdem o vínculo com a instituição. A integralidade
do cuidado deve ser priorizada, tendo como objetivo criar uma rede de apoio com diferentes
profissionais e possibilitar ações conjuntas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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288
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
15. SANTOS, Flavia Karen dos; SILVA, Samara Cristina da; SILVA, Marla Ariana; LAGO, Karen
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enfermeiros sobre diagnóstico e acompanhamento de mulheres com depressão pós-parto.
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17. SILVA, Joseane Ferreira da; NASCIMENTO, Maria Fátima Costa; SILVA, Andrey Ferreira da;
OLIVEIRA, Patricia Santos de; SANTOS, Eliene Almeida; RIBEIRO, Fernanda Michelle Santos e
Silva; LIMA, Keury Thaisana Rodrigues dos Santos; QUEIROZ, Aline Macedo de. Intervenções
do enfermeiro na atenção e prevenção da depressão puerperal. Revista de Enfermagem Ufpe
On Line, Recife, v. 14, n. 1, p. 2933-2943, 1 jul. 2020. Revista de Enfermagem, UFPE Online.
18. SOUZA, Ana Carolina Oliveira de; SANTOS, Alana Vieira dos; SOUZA, Luana Thaynar Correia
de; LIMA, Simonize Santos; SANTOS, Tainara Alves dos; MENEZES, Max Oliveira. Depressão
Pós-Parto: um olhar criterioso da equipe de enfermagem. Ciências Biológicas e de Saúde
Unit, Aracaju, v. 4, n. 3, p. 71-82, abr. 2018. Disponível em: https://periodicos.set.edu.br/ca-
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fermeiros da atenção básica acerca da depressão puerperal. Revista de Enfermagem Ufpe
On Line, Recife, v. 12, n. 11, p. 2933, 6 nov. 2018. Revista de Enfermagem, UFPE Online.
20. VIANA, Marina Delli Zotti Souza; FETTERMANN, Fernanda Almeida; BIMBATTI, Mônica. Estra-
tégias de enfermagem na prevenção da pressão pós-parto. Revista de Pesquisa Cuidado É
Fundamental Online, Rio de Janeiro, v. 0, n. 0, p. 953-957, 29 jul. 2020. Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro UNIRIO.
289
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
20
Os avanços no diagnóstico da
endometriose e a importância da sua
realização de forma precoce
10.37885/210404216
RESUMO
291
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
Este trabalho trata-se uma revisão integrativa da literatura, método que reúne e sintetiza
o conhecimento obtido através de pesquisa realizada de forma sistemática e organizada. Foi
efetuado com o rigor metodológico exigido e intencionou a promoção da prática baseada em
evidência (PBE) no cuidado ao paciente com endometriose. Dessa maneira teve sua evo-
lução pautada nas seis etapas da revisão integrativa: 1. elaboração da questão norteadora;
2. busca na base de dados; 3. coleta de dados dos artigos selecionados; 4. análise crítica
dos estudos; 5. discussão dos resultados; e 6. apresentação da revisão.
O trabalho teve como questão norteadora: o que relatam os estudos atuais, quanto aos
avanços da realização do diagnóstico precoce da endometriose? A pesquisa foi executada
por meio da busca na base de dados United States National Library of Medicine/National
Institutes of Health (PubMed), dos trabalhos publicados nos últimos cinco anos, nos idiomas
inglês e português, localizáveis por intermédio dos seguintes descritores: “endometriosis”,
“advances” e “diagnosis” combinados pelo uso do operador booleano AND. Foram excluí-
dos artigos que não abordassem o tema do estudo e os que não respondessem à questão
norteadora. O processo de seleção está representado na figura 1.
293
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Figura 1. Fluxograma de seleção de artigos encontrados no PubMed para revisão integrativa de literatura, 2021
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Epidemiologia
Diagnóstico Clínico
Avanços Diagnósticos
299
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
É reconhecido que o aumento da angiogênese está relacionado com a elevação da
chance da ocorrência de endometriose. O fator de crescimento endotelial vascular (FCEV)
e o receptor do fator de crescimento endotelial vascular (RFCEV) são as moléculas mais
conhecidas envolvidas no processo de angiogênese pois tem a capacidade de comandar a
migração, proliferação e permeabilidade das células. Por isso, ANASTASIU et al., (2020),
em uma revisão sistemática, relataram que o fator derivado do epitélio pigmentar (FDEP),
um inibidor da angiogênese, com propriedades neurotróficas e anti-inflamatórias, encontra-
va-se diminuído em mulheres com endometriose, sugerindo que esse biomarcador poderia
estar associado à doença.
WALANKIEWICZ et al., (2018), apresentaram um estudo inovador, correlacionando a
via proteína de morte celular programada 1 (PMPC-1) / ligante de morte celular programada
1 (LMCP-1) com a endometriose. Essa via é conhecida por participar da manutenção da
tolerância periférica, por meio dos pontos de checagem celular e da regulação de linfócitos
autorreativos, que estão aumentados na endometriose. Foi percebido que a via PMPC-1 /
LMCP-1 aumentava com o grau de evolução da doença.
Para TAYLOR et al., (2018), os biomarcadores apresentam como principal vantagem
não serem invasivos e serem de fácil medição, podendo ser extraídos e quantificados do
soro, plasma ou urina. Porém, nenhum estudo conseguiu comprovar especificidade e sen-
sibilidade suficientes para os garantirem como padrão ouro. Ainda segundo TAYLOR et al.,
(2018), o estudo proteômico e transcriptômico do fluido endometrial e sangue foi aplicado
para acompanhar a evolução da endometriose. As ciências ômicas são avanços em relação
aos biomarcadores não invasivos que apesar dos resultados promissores, ainda carecem
de mais estudos e tem a desvantagem do alto custo e tempo. ANASTASIU et al., (2020),
admitiram também, biomarcadores urinários como uma aposta promissora devido à facili-
dade de obtenção. Alguns peptídeos urinários e proteínas foram analisados e se mostraram
potencializados em mulheres com endometriose. FURUYA et al., (2017), concordaram e
acrescentaram que as quantidades de pacientes estudados devem ser aumentadas para
consolidar a importância dos biomarcadores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando que a endometriose afeta a qualidade de vida das pacientes pelo seu
quadro de dor, complicações anatômicas, potencial maligno e risco de comprometer o futuro
reprodutivo da mulher, torna-se fundamental buscar formas de diagnosticá-la de maneira mais
precoce e menos invasiva. O diagnóstico clínico é essencial e fornece dados significativos,
sendo baseado em uma anamnese detalhada e um exame físico minucioso, detectando
aderências no recesso ou fundo de saco de Douglas e mobilização uterina dolorosa.
Os exames de imagem mais indicados para sua avaliação são a ultrassonografia
transvaginal e a ressonância magnética, podendo-se fazer o uso de contrastes para auxiliar
a identificar lesões mais profundas.
301
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Dentre os avanços para um diagnóstico mais precoce estão os biomarcadores séricos
plasmáticos e até urinários, considerados eficazes para o rastreio da doença, dentre eles
estão incluídos as citocinas, glicoproteínas, miRNA, autoanticorpos e fatores de angiogê-
nese. A concentração de MCP-1 e IL-8 foram mais elevados no sangue periférico de pa-
cientes com endometriose e a de sICAM-1 está aumentada nas fases iniciais e menor nos
estágios finais. A Zn-alfa-2-glicoproteína, e a glicodelina, são importantes, tendo em vista
que a primeira tem especificidade de 100%. O CA-125 não se mostra confiável por estar
presente em outras condições pélvicas. Os miRNAs estão alterados na endometriose, porém
ainda precisa de mais estudos para analisar sua efetividade. Dentre os fatores imunológi-
cos, foram considerados a sintaxina-5 e o anticorpo antiendometrial. O PEDF, inibidor da
angiogênese, encontra-se diminuído e a via PD-1 / PD-L1 aumentada conforme o grau de
evolução da doença.
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304
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
21
Perfil epidemiológico da mortalidade
infantil de Caxias do Sul/RS
Mérlim Fachini
PUCRS
10.37885/210504844
RESUMO
306
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO
307
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
METODOLOGIA
RESULTADOS
No período de 2015 a 2017, em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, Foram notificados
173 (100%) óbitos infantis. Conforme a tabela 1 percebe-se a prevalência de óbitos em neo-
natal precoce (53,5%), predominantemente no sexo masculino (54,3%) e particularmente em
recém-nascidos com baixo peso (53,2%). Os fatores de riscos ou comorbidades apresentado
nos dados, dentre os mais prevalentes, foram a prematuridade, malformações, síndromes,
gemelaridade, aspirações tanto de mecônio quanto de leite materno, casos de negligências
e agravos da gestação como, por exemplo, a pré-eclâmpsia.
308
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Tabela 1. Perfil dos óbitos infantis. Caxias do Sul/ 2015 2017.
Características N° %
Idade Infantil
Neonatal precoce 91 53,5
Neonatal tardio 31 18,2
Pós-neonatal 47 27,6
Não informado 1 0,5
Sexo
Masculino 94 54,3
Feminino 79 45,6
Peso da criança
0 – 1,5 kg 91 53,2
1,6 – 2,4 kg 27 15,7
Maior que 2,5 kg 51 29,8
Não informado 2 1,1
Fatores de risco/ Comorbidades
Sim 84 48,8
Não 88 51,1
Autoria Própria (2019).
DISCUSSÃO
Percebe-se que no total de 173 óbitos, 51,1 % não apresentavam fatores de risco ou
comorbidades durante a gestação. Apresentaram como causas dos óbitos prematuridade,
infecções, malformações e causas externas como negligência. Acredita-se que a prevalên-
cia da mortalidade em neonatos tardios seja pela prematuridade, ocasionado pelo número
crescente do parto cesariano e pelo aumento de gestantes acima de 35 anos. Além disso,
prematuros apresentam três vezes mais risco de óbitos do que os nascidos a termo.6
Nesse sentido é importante a primeira consulta ser precoce, em até 15 dias de vida
da criança, onde o enfermeiro orientará sobre os cuidados ao recém-nascido, salientando
310
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
o aleitamento materno, ganho de peso e vacinação. Pois no Brasil, 70 % dos óbitos infantis
em crianças até um ano são em neonatos precoces, reforçando a importância do cuidado em
todo o processo materno-infantil, através do processo sistematizado nas unidades de saúde.7
No banco de dados fornecido, é notória a falta de informações étnico-racial dos recém-
nascidos no Município consequentemente faltando informações socioeconômicas da mãe.
Pouco citado na literatura, mas constantemente debatido por abordar questões sociais. Das
análises realizadas foram apontados valores elevados em crianças declaradas pretas, par-
das e indígenas, mesmo considerando variáveis como baixo peso ao nascer e as questões
socioeconômicas.8
Há um déficit da qualidade no cuidado gestacional prestadas pelos serviços de saúde.
Mesmo com a evolução na cobertura do pré-natal e aumento da adesão das gestantes, oca-
sionando número elevado de consultas, ainda está longe do ideal a redução de agravos e do
modelo ideal da assistência.9 Estudos apontam falhas na consulta de pré-natal, tais como a
dificuldade no acesso, inicio tardio, falta de orientação, procedimentos incompletos e falta de
comunicação entre os serviços de saúde, afetando a qualidade e efetividade do cuidado.10
Outro fator essencial é a consulta puerperal, além de ser um indicador de qualidade
da assistência, influência na saúde materno-infantil.9 Apenas 39% das mulheres realizam a
consulta pós-parto, salientando o déficit dessa etapa, onde seria realizado todo o cuidado
e orientações a essa puérpera, portanto só deve ser considerada concluída a assistência à
mulher gestante com a consulta puerperal realizada.11
Diante disso, o enfermeiro amplia seu espaço e identidade no ambiente de trabalho
através da consulta de enfermagem, atividade legalmente reconhecida e exclusiva do en-
fermeiro. Contribuindo para a educação em saúde, com ações voltadas tanto para a comu-
nidade quanto individualizada, a fim de promover a promoção, prevenção e recuperação
da saúde.12 Unidades que possuem ESF tem maior atuação do enfermeiro, fortalecendo a
assistência, principalmente no pré-natal, identificando fatores de risco á saúde da mulher.13
O município vem apresentando crescimento e adesão a ESF, onde dispõem de 27
unidades básicas de saúdes cadastradas na estratégia, com 45 equipes no total. Isso sig-
nifica que há cobertura de 33 % da ESF na rede de atenção básica, contando com o apoio
de equipes multidisciplinares, incluindo assistente social, no próprio local ou em locais de
referência, através do encaminhamento de situações complexas, possibilitando a discussão
de casos clínicos e a educação em saúde.14
Nas Unidades básicas o enfermeiro assumiu a prática da puericultura, contribuindo com
o estímulo, vinculo e corresponsabilização com a saúde infantil.15 A puericultura influência
também na qualificação dos serviços, desde o pré-natal até a adolescência, prevenindo
agravos. Para que aconteçam estes processos, é preciso que os serviços de saúde possuam
311
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
estrutura adequada, desde área física ate as instalações, mantimentos e suplementos, além
do numero de profissionais adequados.16
No processo do cuidado, os registros são essenciais, pois retratam e dão continuidade
ao tratamento através da comunicação, além disso, pode ter diversos fins como pesquisas,
auditorias, processos jurídicos e planejamento.17 Informações verídicas e completas do
pré-natal permitem avaliação do serviço prestado, além de mostrar características da saúde
materna no país, facilitando o planejamento de estratégias preventivas, evitando complica-
ções e óbitos infantis.18
Mesmo com a redução da Taxa da Mortalidade Infantil a nível nacional, ainda há
grandes adversidades a serem superadas, principalmente desigualdades regionais e as
diferenças por grupos sociais. Com foco em se aproximar a regiões mais desenvolvidas do
mundo, que possuem em média cinco óbitos para cada mil nascidos vivos. As principais
dificuldades para o país chegar a esta meta estão inclusas á falta de acesso aos serviços
de saúde voltados para a saúde materna e infantil.19
Para que ocorram medidas de prevenção dos óbitos infantis, fomenta-se ainda mais a
importância da investigação dessas mortes, contribuindo para os registros contribuindo para
a elaboração de estratégias de saúdes para o atendimento na atenção básica.19 Entretanto o
ideal seria a investigação direta, pois dados secundários apresentam algumas desvantagens,
por exemplo, vieses de informações, porque depende de outras pessoas responsáveis pe-
las informações. Com isso, contem as subnotificações, dados insuficientes e o não controle
pelos erros de digitação.20
CONCLUSÃO
Este estudo permitiu evidenciar a importância da investigação dos óbitos infantis, apon-
tando para os agravos em todo o processo gravídico e infantil. A identificação destes riscos
na atenção primária permite a equipe de saúde, principalmente ao enfermeiro, a intervir no
cuidado. Através da educação em saúde e avaliação continuada da criança, a fim de me-
lhorar a qualidade de vida e reduzir a taxa de mortalidade infantil.
Vale ressaltar que para ficar próxima a meta de países desenvolvidos, é preciso que
o enfermeiro seja capacitado e tenha um olhar humanizado para a família assistida. Além
disso, é necessário que o profissional notifique os óbitos adequadamente, entendendo a
importância dos dados completos para que haja subsídios para enfrentar esta problemática.
Assim é possível evitar a mortalidade por causa evitáveis como infecções.
Os resultados obtidos deste estudo são relevantes, uma vez que descreve a respeito
de um município de grande porte, referência para atendimentos na região da Serra Gaúcha,
principalmente na área hospitalar. Também evidência o quanto o município está aderindo
312
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
a Estratégia de Saúde da Família, onde valoriza a consulta de enfermagem no pré-natal e
principalmente a puericultura.
A respeito das limitações, a questão dos registros quanto do profissional que atua na
ponta quanto ao que administra a base de dados precisa ser completa e eficiente, para que
a gestão consiga entender a situação local, para que ocorram ações em saúde para a qua-
lidade de vida materna-infantil. Inclusive pode ser abordados mais tópicos para a base de
dados, por exemplo, a etnia, escolaridade da mãe e situação socioeconômica, dentro das
possibilidades do profissional.
Também é importante a publicação de novos estudos que avaliem a mortalidade infan-
til, para que seja identificado e caracterizado as causas, a fim de evitá-las. Pois a taxa de
mortalidade infantil é um dos indicadores mais completos em saúde, evidenciado a situação
da região como um todo.
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314
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
22
Prematuridade durante a pandemia
de Covid-19 em vigência de medidas
restritivas: uma revisão integrativa
10.37885/210404243
RESUMO
316
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO
Figura 1. Fluxograma de seleção de artigos encontrados no PubMed, SciELO, Google Acadêmico e de outras fontes para
revisão integrativa da literatura, 2021
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os períodos em que os dados foram analisados, variou entre Janeiro e Junho de 2020;
tendo como regiões geográficas englobadas por essas pesquisas: Austrália, Dinamarca,
Espanha, Estados Unidos, Tennessee, Holanda, Irlanda, Israel, Londres, Nepal e Riyadh.
Ademais, todos os artigos compararam os dados e taxas encontrados durante o período
de lockdown com períodos anteriores e semelhantes para uma análise mais fidedigna dos
números encontrados (Quadro 1).
318
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Quadro 1. Caracterização dos artigos selecionados.
319
the prior two decades
320
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Para HEDERMANN et al. (2021), também houve uma significativa redução na distribui-
ção das idades gestacionais, a proporção de nascidos vivos classificados como prematuros
extremos e muito prematuros foi significativamente diferente entre o lockdown de 2020 e o
mesmo período nos 5 anos anteriores. Contudo, essa diferença foi impulsionada por uma
redução nos casos de pré-termos extremos, diferente dos achados de HARVEY et al. (2021),
que sugerem uma maior redução nos pré-termos tardios do que nos muito prematuros e
prematuros extremos. Em contrapartida, no estudo de HEDERMANN et al. (2021), houve um
pequeno aumento não significativo de recém-natos muito prematuros, o que poderia sugerir
que o impacto do lockdown sobre os fatores de risco para prematuridade tenha servido ape-
nas para adiar o trabalho de parto de prematuros extremos em algumas gestações de alto
risco, embora não tenha sido suficiente para evitar partos prematuros por completo. Em outros
artigos, a diminuição das taxas de prematuridade foi razoavelmente constante em todos os
estratos de idade gestacional (BEEN et al., 2020; MATHESON et al., 2021).
Uma das possibilidades sugeridas para explicar tamanha redução nas taxas de pre-
maturidade é que tenha ocorrido um número maior do que o esperado de gestações que
resultaram em morte intrauterina (natimortos) (BEEN et al., 2020; HARVEY et al., 2021;
HEDERMANN et al., 2021; HUSEYNOVA et al., 2021). Pensando nesse aspecto, alguns
estudos mostraram não houver tendência de aumento de perdas precoces na gestação,
abortos ou natimortos na população analisada que pudesse justificar a redução nos números
de prematuros (PHILIP et al., 2020; ARNAEZ et al., 2021; MATHESON et al., 2021). Por
outro lado, no estudo de KHALIL et al. (2020), houve um aumento das taxas de natimortos
no período pandêmico, e a incidência de natimortos foi significativamente maior quando
excluídas as interrupções tardias por anomalias fetais, porém não houveram alterações
significativas de admissão em unidade neonatal ou parto cesáreo. Nenhum dos natimortos
tiveram mães sintomáticas sugestivas para COVID-19, nem achados sugestivos no exame
post-mortem. ASHISH at al. (2020) também encontraram um aumento na taxa institucional
de natimortos, com as análises de tendência mostrando um aumento acentuado imediata-
mente após o início do lockdown.
Possíveis explicações para a diferença desses números incluem mudanças nos padrões
de encaminhamento (com mais mulheres de alto risco encaminhadas ao hospital), chance
(devido ao curto período de tempo do estudo), ou ao fato de ser um estudo unicêntrico
(KHALIL et al., 2020). Alternativamente, o aumento de natimortos poderia ser resultado de
efeitos indiretos, como relutância em ir ao hospital quando necessário (por exemplo, com
movimentos fetais reduzidos), medo de contrair infecção, não querer sobrecarregar o sistema
de saúde, ou até mesmo uma consequência direta de infecção por SARS-CoV-2 (ASHISH
at al., 2020; KHALIL et al., 2020). Embora nenhum dos natimortos no período pandêmico
321
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
tenha sido entre mulheres com COVID-19, é sabido que até 90% das gestantes positivadas
para SARS-CoV-2 são assintomáticas, associado ao fato que o Reino Unido, no momento
da pesquisa, limitava os testes a indivíduos sintomáticos que necessitavam de hospitalização
(KHALIL et al., 2020).
A pesquisa de BEEN et al. (2020) foi uma das poucas que analisou a tendência de
mudança por períodos mais estendidos, mantendo a sua observação em janelas de 2 me-
ses, 3 meses e 4 meses em torno da implementação de medidas restritivas, chegando à
conclusão que estas medidas foram consistentemente associadas a reduções substanciais
em nascimentos prematuros.
Um fator pouco debatido na literatura foi o viés socioeconômico que algumas popula-
ções podem estar expostas (BERGUELLA et al., 2020), como foi observado nos achados
de BEEN et al. (2020), que apesar de não ter se mostrado estatisticamente significativas,
as reduções de nascimentos prematuros ocorreram predominantemente em populações
que vivem em bairros de alto nível socioeconômico. Algo semelhante também foi notado
por ASHISH at al. (2020), que observaram um aumento no uso de serviços obstétricos por
mulheres do grupo étnico relativamente vantajoso, e o contrário foi observado entre o grupo
étnico mais desfavorecido.
Em seis dos artigos analisados não demonstraram reduções nas taxas de prematu-
ridade (ASHISH at al., 2020; KHALIL et al., 2020; ARNAEZ et al., 2021; HANDLEY et al.,
2021; HUSEYNOVA et al., 2021; WOOD et al., 2021). WOOD et al. (2021) não relataram
nenhuma redução na taxa de nascimentos prematuros no sistema hospitalar dos Estados
Unidos durante a pandemia de COVID-19, mesmo possuindo capacidade de detecção de
uma redução de no mínimo 20%. Além disso, no pico da pandemia, foram realizados 158
partos em mulheres com síndrome respiratória aguda grave do coronavírus 2 (SARS-CoV-2),
no entanto, não houve redução nas taxas de prematuridade em nenhum subgrupo demo-
gráfico. Os resultados foram semelhantes quando excluídas as 158 mulheres com infecção
por SARS-CoV-2 confirmada pelo teste de reação em cadeia da polimerase.
O estudo de HUSEYNOVA et al. (2021) mostrou uma redução significativa nas taxas
de nascimento prematuro em prematuros extremos e prematuros tardios, em comparação
com um grupo de controle de anos anteriores. No entanto, não foram capazes de identificar
uma redução estatisticamente significativa na taxa geral de prematuridade. Algo semelhante
também ocorreu na pesquisa de HANDLEY et al. (2021), que observou uma diminuição em
nascimentos prematuros espontâneos entre pacientes brancos não hispânicos, contudo
também não houve comprovação estatística desse fato.
Um estudo que se mostrou discrepante devido aos seus achados foi o de ASHISH et al.
(2020), que revelou uma diminuição substancial no número de nascimentos que ocorreram
322
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
em ambiente institucional, chegando a uma redução total de 52,4% ao final do lockdown.
Além disso, houve um aumento na proporção de nascidos prematuros, na proporção de
mulheres que tiveram alguma complicação durante a admissão, mulheres cujo trabalho de
parto foi induzido, realização de cesarianas e aumento da taxa institucional de mortalidade
neonatal. O aumento da proporção de mulheres admitidas com complicações, incluindo
parto prematuro, pode sugerir que as mulheres com alto risco de complicações frequenta-
ram desproporcionalmente as unidades de saúde ou que o número de casos complicados
aumentou devido a atrasos e outros desafios das medidas restritivas.
ARNAEZ et al. (2021) não encontraram nenhuma mudança significativa no padrão de
nascimento de prematuros em sua pesquisa, no entanto, um fato curioso apontado foi que
nascimentos gemelares corriam maior risco de prematuridade durante o lockdown do que
em períodos anteriores. Além disso, as análises das categorias de peso ao nascer mostra-
ram um aumento de recém-nascidos de baixo peso extremo durante o período de bloqueio,
tendência também mais associada a gestações múltiplas.
Outro fato de importante menção, notado por WOOD et al. (2021), foi que a taxa de
nascimento prematuro e infecção por SARS-CoV-2 nos Estados Unidos e em seu sistema
hospitalar foram significativamente maiores do que as taxas em outros estudos internacio-
nais anteriores, o que poderia, em parte, ser responsável pelos resultados díspares. Todas
essas divergências entre os achados de diversos estudos em diferentes populações levan-
tam a possibilidade de que talvez seja a forma como as mulheres grávidas respondem às
alterações socioambientais cumulativas e o distinto nível dos sistemas de suporte médico,
social, familiar e econômico que são oferecidos em diferentes países ou regiões durante o
bloqueio que influencia o resultado do binômio fetal-materno (PHILIP et al., 2020; ARNAEZ
et al., 2021; GOLDENBERG, MCCLURE, 2021; HANDLEY et al., 2021).
A pandemia da COVID-19 mudou drasticamente nossas vidas, mudando nosso am-
biente de trabalho, reduzindo as interações físicas e aumentando nosso foco na higiene.
Essa situação incomum provavelmente influenciou vários fatores de risco para o nascimento
prematuro. Uma explicação para a redução das taxas de prematuros seria possivelmente o
maior foco na higiene, distanciamento físico estrito e confinamento em casa que influenciaram
no estado inflamatório geral das mulheres grávidas, levando a acreditar que estas práticas e
hábitos poderiam ter um papel importante na síndrome do parto prematuro (BEEN et al., 2020;
BERGUELLA et al., 2020; HANDLEY et al., 2021; HEDERMANN et al., 2021; MATHESON
et al., 2021). Outra justificativa, embora atualmente não existam detalhes de suas ocor-
rências, seria a redução das potenciais demandas físicas associadas ao trabalho, viagens
e até mesmo reduções em acidentes menores ou outros traumas poderiam ser possíveis
contribuintes (BERGUELLA et al., 2020; HEDERMANN et al., 2021; HARVEY et al., 2021).
323
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Para PHILIP et al. (2020), a implementação de medidas restritivas poderia ter desen-
cadeado alterações socioambientais incomparáveis e generalizadas, às quais as mulheres
grávidas teriam respondido com modificações comportamentais e de estilo de vida adequa-
das, tais como: oportunidade de trabalho remoto domiciliar, potencial redução do estresse
relacionado ao trabalho, possível alívio da tensão física relacionada ao trabalho e desloca-
mento, oportunidades ideais para descanso e sono, provável aumento da presença e apoio
do parceiro em casa, redução da exposição a infecções, melhores oportunidades de suporte
nutricional e exercícios, bem como as alterações positivas no meio ambiente e poluição do
ar. Os autores teorizam que as alterações observadas em sua pesquisa poderiam ser tanto
devido às alterações socioambientais cumulativas e modificações comportamentais mater-
nas, quanto devido a intervenções obstétricas precoces adiadas ou ao acesso atempado
subótimo ao acompanhamento pré-natal recomendado.
É possível também suspeitar que os investigadores que não observaram uma redução
no nascimento prematuro teriam menos probabilidade de publicar seus resultados, assim, os
resultados negativos podem estar sub-representados nas publicações. Além de que muitos
resultados potenciais da gravidez poderiam ter sido relatados e/ou melhor detalhados nes-
ses estudos (por exemplo, várias faixas de idade gestacional e peso ao nascer, admissão
à unidade de terapia intensiva neonatal). Ademais, os números das amostram foram fre-
quentemente pequenos, especialmente nos estudos que avaliaram subgrupos de neonatos
prematuros extremos (GOLDENBERG, MCCLURE, 2021).
Vale ressaltar que não houveram dados brasileiros publicados até o presente momento
que avaliassem as taxas de prematuridade no país ou em suas respectivas regiões. Porém,
a revisão realizada por MELO, ARAÚJO (2020), com enfoque nos possíveis desfechos de
gestações com parturientes positivadas para SARS-CoV-2, demonstrou que, até o período
da pesquisa, a COVID-19 em mulheres grávidas pode não estar associado à ocorrência de
partos prematuros ou ao peso de nascimento de recém-nascidos. Ainda assim, alguns rela-
tórios sugerem que a transmissão vertical de SARS-CoV-2 para recém-nascidos é possível,
mas a evidência ainda é incerta (MELO, ARAÚJO, 2020).
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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in a European region. European Journal of Pediatrics, p. 1-6, 2021.
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13. MEYER, R. et al. A marked decrease in preterm deliveries during the coronavirus disease
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325
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
14. OPAS/OMS. Folhetim OMS - Folha informativa – COVID-19: doença causada pelo novo coro-
navirus. Organização Pan-Americana de Saúde, 12 de Março de 2020. Disponível em: https://
www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6101:covid19&Itemid=875.
Acesso em: 14 de Abril de 2021.
15. PHILIP, R.K. et al. Unprecedented reduction in births of very low birthweight (VLBW) and ex-
tremely low birthweight (ELBW) infants during the COVID-19 lockdown in Ireland: a ‘natural
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9, p. e003075, 2020.
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in a Large Hospital System in the United States. Obstetrics and Gynecology, v. 137, n. 3,
p. 403, 2021.
326
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
23
Realidade das mulheres privadas de
liberdade no ciclo gravídico puerperal
no Sistema Prisional Brasileiro: uma
revisão integrativa
Grace Pfaffenbach
10.37885/210404244
RESUMO
328
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura cujo método de pesquisa tem como
intuito sintetizar os estudos já publicados e obter informações referentes à realidade das
mulheres no ciclo gravídico puerperal encarceradas em regime brasileiro. Este método é
valioso para a Enfermagem, possibilitando aos profissionais novos conhecimentos e grande
número de informações da produção cientifica em um curto espaço de tempo.
330
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
No exposto estudo foi utilizado seis etapas: formulação do problema, busca na literatu-
ra, categorização dos dados, avaliação dos dados, interpretação dos dados e exibição dos
resultados (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).
A questão norteadora foi: “Qual a realidade das mulheres privadas de liberdade no
ciclo gravídico puerperal encarceradas no Brasil?”
A busca das bibliografias que deram fundamentação à este estudo foi realizada aces-
sando as bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
(LILACS), Banco de Dados da Enfermagem (BDEnf), Medical Literature Analysis and
Retrieval System Online (MEDLINE), Índice Bibliográfico Espanhol de Ciências de Saúde
(IBECS) e outras bases encontradas na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), nos últimos dez
anos, de maio de 2010 a maio de 2020. A escolha do material ocorreu entre os meses de
março a maio de 2020, agrupando os seguintes descritores combinados com o operador
boleando “and”: “pessoas privadas de liberdade” and “parto”; “pessoas privadas de liberdade”
and “gestação”; “pessoas privadas de liberdade” and “mulher”; “maternidade” and “cárcere”.
Na sequência, foram analisadas e escolhidas as publicações de interesse para esse
estudo, seguindo os seguintes critérios de inclusão: textos na forma de artigos, textos na
íntegra, acesso gratuito a textos completos, no idioma português, estudos que respondiam
à questão norteadora e artigos publicados nos últimos dez anos. Os critérios de exclusão
foram artigos incompletos, idiomas além do português, tempo de publicação maior que 10
anos, artigos duplicados ou que não respondiam a pregunta norteadora (Figura 1).
Foi utilizado um instrumento de coleta de dados específico para essa revisão, com o
objetivo de organizar e sumarizar as informações de maneira concisa, buscando comparar
os estudos para atingir os objetivos propostos. Tal instrumento foi composto dos seguintes
itens: fonte de localização, identificação de artigo, objetivo, método, resultado e conclu-
são. A análise e a síntese dos dados extraídos dos artigos foram realizadas de forma descri-
tiva, possibilitando confrontar o conhecimento teórico com o intuito de reunir o conhecimento
produzido sobre a temática.
Após a organização dos dados, foi feita a leitura flutuante e leitura exaustiva, sendo
realizados recortes a partir das unidades de registro e das unidades de contexto, as quais
foram reunidas por semelhança, formando as categorias relacionadas aos temas centrais
que descrevem o fenômeno analisado.
Esta revisão integrativa não precisou de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa,
foram utilizados dados de livre acesso, não se tratando de documentos que exigem sigilo.
Todos os autores utilizados foram devidamente citados.
331
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Figura 1. Apresentação do método utilizado para concluir na amostragem final da revisão integrativa da literatura sobre
a realidade das mulheres no ciclo gravídico puerperal encarceradas em regime brasileiro. Brasil, 2020.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
332
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Quadro 1. Relação das publicações que constituíram o estudo, de acordo com código, título, ano de publicação, revista
e autores.
333
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Quadro 2. Relação das publicações que constituíram o estudo, de acordo com código, objetivo, tipo de estudo e principais
resultados.
Como observado no Quadro 1, dos artigos inclusos na amostra final, apenas um artigo é
de 2011 (SILVA, LUZ, CECCHETTO, 2011), dois de 2015 (FRANÇA, SILVA, 2015; OLIVEIRA;
334
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
MIRANDA, COSTA, 2015), um de 2016 (MIRANDA et al., 2016); três de 2017 (SANTANA,
OLIVEIRA, BISPO, 2017; FÉLIX et al., 2017; FOCHI et al., 2017), três de 2018 (SANTOS,
BISPO, 2018; ANDRADE, GONÇALVES, 2018; MATOS, SILVA, LIMA, 2018) e um de 2019
(MATOS, SILVA, NASCIMENTO, 2019). Diante dos artigos escolhidos para a amostra final,
sete artigos são de abordagem qualitativa (MATOS, SILVA, NASCIMENTO, 2019; SANTANA,
OLIVEIRA, BISPO, 2017; MIRANDA et al., 2016; SILVA, LUZ, CECCHETTO, 2011; MATOS,
SILVA, LIMA, 2018; OLIVEIRA, MIRANDA, COSTA, 2015; FOCHI et al., 2017), uma revisão
sistemática da literatura (SANTOS, BISPO, 2018) e três revisões integrativas (ANDRADE,
GONÇALVES, 2018; FRANÇA, SILVA, 2015; FÉLIX et al., 2017).
Dos artigos selecionados foi observado que oito dos onze artigos foram publicados em
revistas na área temática da enfermagem (SANTOS, BISPO, 2018; MIRANDA et al., 2016;
SILVA, LUZ, CECCHETTO, 2011; ANDRADE, GONÇALVES, 2018; FRANÇA, SILVA, 2015;
FÉLIX et al., 2017; OLIVEIRA, MIRANDA, COSTA, 2015; FOCHI et al., 2017).
Dos artigos empíricos de abordagem qualitativa, quatro estudos foram desenvolvidos
na região Nordeste (MATOS, SILVA, NASCIMENTO, 2019; SANTANA, OLIVEIRA, BISPO,
2017; MATOS, SILVA, LIMA, 2018; OLIVEIRA, MIRANDA, COSTA, 2015), um na região
Sudeste (FOCHI et al., 2017), um do Centro-Oeste (MIRANDA et al., 2016) e um na região
Sul (SILVA, LUZ, CECCHETTO, 2011). Três dos estudos de abordagem qualitativa citaram
e utilizaram a Teoria de Representações Sociais (MATOS, SILVA, NASCIMENTO, 2019;
MIRANDA et al., 2016; MATOS, SILVA, LIMA, 2018).
Após a escolha e análise dos artigos foram elaboradas duas categorias de análise
para a discussão das semelhanças dos estudos e os principais pontos a serem refleti-
dos: “Privação dos direitos humanos interligados a assistência no pré natal e no parto.” e
“Relações construídas entre o binômio mãe-filho: as consequências do cárcere.”, conforme
apresentado no quadro 3.
Quadro 3. Relação dos artigos incluídos na revisão de acordo com a categoria e o código dos artigos.
337
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
o impacto do ambiente carcerário ao qual a criança fica exposta (MIRANDA et al., 2016;
SILVA, LUZ, CECCHETTO, 2011; OLIVEIRA, MIRANDA, COSTA, 2015).
Sob o ponto de vista dos funcionários do presídio, o ambiente ao qual a criança está
inserida é inadequado para sua permanência, podendo acarretar danos no seu desenvolvi-
mento. Com todos esses desafios os funcionários tentam melhorar o ambiente para a crian-
ça, mantendo a cela da mãe longe das celas de fumantes e auxiliando a mãe nos cuidados
necessários (MIRANDA et al, 2016).
A presença dos filhos com as mães durante o período de encarceramento foi citada
muitas vezes como um amenizador da solidão e da dor que o cárcere provoca na mulher,
sendo assim, portanto para algumas mulheres por mais doloroso que seja manter o filho
privada de liberdade gera também um sentimento de consolo (SANTOS, BISPO, 2018;
MIRANDA et al., 2016; SILVA, LUZ, CECCHETTO, 2011).
Observa-se que a presença do filho junto com a mãe diminui os episódios de violência
dentro do presídio e muitas vezes reduz o nível de reincidência das mulheres privadas de
liberdade. Neste sentido, a criança gera motivação para a mulher evitar brigas para que não
haja consequências para o seu filho. A maternidade também traz à tona o companheirismo
entre as mulheres privadas de liberdade, devido à falta da família durante encarceramento
as mulheres se apoiam umas nas outras para passar por esse momento, auxiliando no cui-
dado com as crianças (OLIVEIRA, MIRANDA, COSTA, 2015).
A precariedade na estrutura do ambiente prisional foi citada por vários autores como
motivo pelas quais muitas mães optam por não estreitar os laços com os filhos, o presídio
oferece riscos de doenças infecto contagiosas devido as condições de higiene precárias e
a superlotação. Mesmo sendo preconizado berçário para as crianças, muitos presídios não
contam com esse auxílio, fazendo com que as crianças tenham que ficar junto com as mães
nas celas (SANTOS, BISPO, 2018; MIRANDA et al., 2016; SILVA, LUZ, CECCHETTO, 2011;
OLIVEIRA, MIRANDA, COSTA, 2015).
No estudo realizado por Miranda et al . (2016) foi coletado o seguinte depoi-
mento de uma mãe:
“Só o lugar que é ruim, não tem liberdade. Ruim demais ficar presa, ele também sente,
ele chora na hora que tranca, ele fica agoniado pra sair” (P9).
Muitas vezes as crianças ficam sem fralda, leite, roupas e produtos de higiene e as
mães contam com ajuda da família, funcionários e comunidade para receber doações para
os cuidados com os filhos (MIRANDA et al, 2016)
Referente à saúde das crianças foi percebido um déficit na assistência relacionado
aos cuidados com a criança, as mães não conseguem participar das consultas externas e
das vacinações junto com os filhos, devido à falta de escolta para acompanhar. Ou seja, a
338
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
criança vai acompanhada da família, funcionários do presidio ou falta as consultas e vaci-
nações (MIRANDA et al., 2016; SILVA, LUZ, CECCHETTO, 2011).
As mulheres privadas de liberdade não têm acesso à educação em saúde e assistência
relacionada com a amamentação. Muitas delas ficam com dúvidas e repetidas vezes não
conseguem realizar a pega correta e tem dificuldades na amamentação como observado
no relato a seguir da pesquisa de Silva, Luz e Cecchetto (2011):
“A única coisa que me preocupa é o leite. Estão dizendo que seca em três, quatro dias
se ele não mamar. Só que não dá, sai muito sangue, aí ele vomita o sangue com o leite. É a
única coisa que está me preocupando.” (E4)
O enfermeiro tem importante papel na orientação das mulheres privadas de liberdade, a
partir do aumento da confiança e do conhecimento essas mães conseguem oferecer o melhor
cuidado para seus filhos e o sucesso da amamentação. É necessário orientar a mulher para
o autoconhecimento de seu corpo e as mudanças do processo, para que assim a mulher
possa tomar as decisões referentes a seu filho e a amamentação (SANTOS et al., 2018).
O momento em que é chegada a separação da mãe e o seu bebê é visto como o mais
doloroso, permeado de impotência e tristeza. As mães expressam fortemente o medo de
seus filhos se esquecerem delas e depositar o amor de mãe-filho nos responsáveis legais,
que na maioria das vezes são os avós. Devido a esse motivo muitas mães optam por não
ter vínculo com a criança desde o início para evitar a dor da futura separação (SANTOS,
BISPO, 2018; OLIVEIRA, MIRANDA, COSTA, 2015).
De acordo com Lopes e Pinheiro (2016), em contrapartida ao que foi discutido, o
Centro de Referência de Gestantes Privadas de Liberdade (CRGPL) em Minas Gerias, que
abriga as gestantes e puérperas privadas de liberdade, vem mantendo os direitos a mulher
e a criança. Os funcionários do CRGPL são instruídos a respeitar os direitos das mulheres
e das crianças, evitando constrangimentos para essas mães, como observado na fala da
diretora deste centro:
“Aqui [CRGPL] há o entendimento de que elas estão cumprindo com a pena imposta
pelo Estado, mas que elas e seus filhos são dignos de um tratamento adequado dentro das
possibilidades do sistema prisional. (Diretora CRGPL)”.
Outra referência se encontra em Porto Alegre, a Penitenciaria Madre Pelletier, que
acolhe os filhos das presidiarias e conta com refeitório, salões, pátios com brinquedos. A ins-
tituição acolhe um número maior que a destinada, porém ainda sim é uma creche referência
em humanização (MIRANDA et al., 2016).
É preciso políticas públicas eficazes e fiscalizações dessas políticas para que essa
população tenha sua assistência resgatada, incluindo também do processo de reinserção
dessas mulheres na sociedade juntamente com seus filhos. O olhar de discriminação da
339
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
sociedade é presente e é necessário solidariedade de todos para a reinserção e diminuição
da vulnerabilidade dessas mulheres e seus filhos (VENTURA, SIMAS, LAROUZÉ, 2015).
Foi observado uma limitação na quantidade de artigos referentes ao assunto proposto,
devido à dificuldade da coleta de dados por questões de segurança e medo das mulheres
em revelar sentimento onde elas podem sofrer julgamentos (MIRANDA et al, 2016).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo teve o intuito de realizar uma revisão de literatura afim de relatar
a realidade das mulheres no ciclo gravídico puerperal encarceradas em regime brasileiro.
Sendo visto que a precária assistência à saúde para as mulheres e seus filhos estão pre-
sentes no encarceramento brasileiro.
As mães passam por uma série de sentimentos, devido a separação da criança no
presidio. É direito da mãe a permanência com o filho durante a amamentação e logo após a
mãe deve entregar o filho aos avos ou abrigos da região. A criança traz inúmeros benefícios
para a mãe, porém a permanência da criança em um ambiente insalubre como o presídio
faz com que muitas mães abram mão de criar vínculos com os filhos para evitar a dor fu-
tura da separação.
Os cuidados no pré natal são extremamente precários, com número de consultas abaixo
do preconizado e há relato de falta de exames adequados.
As condições de vida destas mulheres são inadequadas devido à cela insalubre e
estarem cercadas de riscos de doenças infectocontagiosas.
Foi observado a falta de auxílio e informação para essas mulheres, que acima de tudo
estão passando por uma mudança importante e muitas vezes não sabem sobre amamen-
tação e os cuidados básicos com elas e os filhos. É necessário a realização de educações
em saúde para auxiliar essas mulheres.
340
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
REFERÊNCIAS
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343
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
24
Roda de conversa sobre sexualidade e
prevenção a gravidez na adolescência com
alunos de uma escola municipal do sudeste
do Pará: um relato de experiência a partir
da utilização do arco de Maguerez
10.37885/210303734
RESUMO
345
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO
Nessa perspectiva, Godinho et al., (2000) afirmam que há uma precocidade da inicia-
ção sexual (de 14,7 anos), indicando a ausência de programas de educação sexual nas
escolas e planejamento familiar nos serviços públicos como fatores que podem favorecer a
ocorrência de uma gravidez indesejada. Além disso, a prática sexual precoce aumenta as
chances do jovem aderir a comportamentos sexuais de risco, tais como o número elevado
de parceiros, baixa frequência de uso do preservativo e contração de Infecções Sexualmente
Transmissíveis (MADKOUR et al., 2014 e ALVES; ZAPPE; DELL’ AGLIO, 2015).
No Brasil, a fecundidade das jovens entre 15 e 19 anos cresceu até o final do século XX,
começando a declinar nos primeiros anos do século XXI. Porém, mesmo com esta recente
queda, pode-se afirmar que há um rejuvenescimento da fecundidade no país (BERQUÓ;
CAVENAGHI, 2006). Fato este verificado a partir da taxa de gestação na adolescência
no Brasil, que é alta para a América Latina, com 400 mil casos/ ano (BOUZAS, 2014).
Corroborando com tal achado, dados obtidos do DATASUS apontam que no ano de 2019
foram registrados 419 252 nascimentos de mães com idade entre 10 a 19 anos.
Nesse sentido, visando reduzir as taxas de fecundidade no Brasil, foi criado o planeja-
mento familiar, cuja assistência orienta-se por ações preventivas e educativas, pela garantia
do acesso igualitário às informações, métodos e técnicas disponíveis para regulação da
fecundidade, devendo atender às reais necessidades da população feminina e masculina
em idade fértil. Contudo, a baixa qualidade da assistência em planejamento familiar reflete
no aumento da fecundidade na adolescência, bem como em grande número de abortos que
346
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
ocorrem no Brasil, dos quais uma significativa proporção é induzida e contribui para altas
taxas de mortalidade materna (BRASIL, 2013 e REIS et al., 2020).
Para Ribeiro et al., (2015) e Silva et al., (2017) existe a necessidade de um entrosa-
mento entre o profissional de enfermagem e o adolescente, a fim de promover uma confiança
e diálogos sobre saúde sexual e reprodutiva, assim os jovens obtém informações sobre o
autocuidado, e sobre os meios de evitar uma gravidez precoce e indesejada e também a
respeito da forma correta de utilizar os métodos contraceptivos. Nesse interim Ramos et al.,
(2018) referem que o profissional de enfermagem da Unidade Básica de Saúde (UBS) tem
uma participação relevante na educação sexual, uma vez que possui uma enorme familia-
ridade com as transformações da adolescência, sendo assim as medidas preventivas em
relação a sexualidade são executadas por profissionais capacitados.
Atrelado ao papel do enfermeiro como educador, há também a função da escola como
disseminadora do conhecimento em relação à sexualidade, assim Ecos (2004) e Gonçalves,
(2004), retratam que as instituições de ensino enfrentam dificuldades para a inserção de
novas práticas em educação sexual, e muitas vezes deixam de oferecer um espaço para
que ocorram debates sobre saúde reprodutiva e sexualidade de forma contínua, referidos
principalmente a carência de recursos materiais e pessoal capacitado.
Sendo assim, a pesquisa justifica-se com o intuito de contribuir com o acervo cientí-
fico a respeito da problemática identificada, além de disseminar conhecimento adequado
aos adolescentes para que haja uma mudança positiva nos hábitos de vida desse públi-
co. Os acadêmicos optaram por realizar medidas educativas sobre sexualidade e gravidez
precoce na escola em questão, devido a observação de lacunas referentes a estas temáticas
na realidade destes jovens.
MÉTODO
347
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Observação da realidade
Para Berbel (1998) na observação da realidade, que se configura como sendo a pri-
meira etapa do Arco de Maguerez, os estudantes são instigados a olhar atentamente e re-
gistrar sistematizadamente o que perceberam sobre a realidade apresentada. Assim como
o professor pode também orientar este processo por meio de perguntas gerais que ajudem
a focalizar e não fugir do tema. Dessa forma, a observação permitirá identificar dificuldades
e carências que serão transformadas em problemas, podendo ser eleito um ou mais proble-
mas para o estudo em grupo.
A observação da realidade ocorreu no dia 25 de março de 2019 em uma escola mu-
nicipal localizada no Sudeste do Pará, onde se observou a necessidade de realizar uma
intervenção devido à falta de informações que os adolescentes do ensino fundamental, com
faixa etária de 13 a 16 anos, têm a respeito de sexualidade, prevenção a gravidez, infecções
sexualmente transmissíveis (IST’s) e planejamento familiar.
Os professores da instituição afirmaram que há um déficit crescente em relação a essas
temáticas, o que já desencadeou casos de gestação indesejada e contribuiu para influenciar
outros jovens a iniciar as relações sexuais precocemente e sem receberem orientação ade-
quada a respeito do assunto. Considerando o conjunto de problemas encontrados, houve a
necessidade de intervir com o intuito de disseminar informações adequadas a esse público.
Referente a segunda etapa, Berbel (2012; 2016) explica que os pontos chave procuram,
diante da observação, as possíveis indagações. É o momento de levantar os determinantes
do problema, ou seja, identificar as variáveis que podem contribuir para a compreensão e
solução do problema identificado.
Sendo assim, diante da observação da realidade analisou-se o baixo conhecimento
do público alvo diante das temáticas supracitadas, assim, os acadêmicos de Enfermagem
consideraram de extrema importância abordar sobre tais temáticas com esses adolescen-
tes. A partir dessas questões, definiram-se os seguintes pontos-chave: sexualidade, gravidez,
adolescência, educação, prevenção.
Teorização
Berbel, (2012; 2016) diz que a terceira etapa do Arco de Maguerez se caracteriza
pelas informações analisadas, buscando explicações acerca da realidade observada e
a compreensão dos pontos-chave, possibilitando algumas conclusões que viabilizarão a
etapa seguinte. Assim, os acadêmicos embasaram-se cientificamente em artigos e livros
348
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
buscando orientações pertinentes a problemática encontrada para posteriormente dar pros-
seguimento ao arco.
Hipóteses de solução
A quarta etapa do Arco de Maguerez, segundo Berbel, (2012; 2016) configura-se pela
formulação das hipóteses de solução, portanto, após o aprofundamento teórico do problema,
este é o momento de reflexão. As hipóteses são construídas a partir da compreensão do
problema, utilizando-se criatividade e originalidade para buscar novas maneiras de resolu-
ção, de acordo com a realidade observada inicialmente e das limitações que esta impõe.
Com o objetivo de solucionar os problemas encontrados faz-se necessário a adoção
de medidas de intervenção a realidade. Sendo assim, foram selecionadas as seguintes
hipóteses de solução (Figura 1):
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados e discussão abordam sobre a quinta e última etapa do arco que é a apli-
cação à realidade; e para Berbel, (2012; 2016) é o momento em que ocorre a ligação entre
a prática e a teoria, com o objetivo de intervir na realidade e modificá-la, aplicando assim as
soluções eleitas como viáveis. O estudante aprende a generalizar o aprendido para utilizá-lo
em diferentes situações, permitindo que ele saia do âmbito intelectual e volte a sua realidade.
Sendo assim, optou-se por realizar uma roda de conversa com os alunos da escola
pública sobre as problemáticas observadas como hipótese viável a curto prazo. A longo
prazo os acadêmicos elencaram a seguinte hipótese: instruir os pais e/ou responsáveis e
os profissionais da educação para construírem didáticas apropriadas sobre sexualidade e
prevenção da gravidez na adolescência, de forma a levar o conhecimento para os jovens e
reduzir a prevalência desta problemática.
Moura et al., (2014) retrata que as rodas de conversas consistem em um método de
participação coletiva de debate acerca de determinada temática em que é possível dialogar
com os sujeitos, que se expressam e escutam seus pares e a si mesmos por meio do exer-
cício reflexivo. Dessa forma, a execução da roda de conversa foi autorizada pela escola em
questão e ocorreu no dia 04 de junho de 2019, no período matutino e vespertino, com os
alunos da faixa etária entre 13 a 16 anos do 8° e 9° ano da escola municipal, sendo divididos
de acordo com o gênero visando o conforto dos participantes para expressarem assim maior
produtividade. O momento foi mediado pelos acadêmicos de Enfermagem juntamente com
os docentes do eixo do 5° semestre da instituição.
O encontro teve início com o tema que abordou a sexualidade na adolescência, onde
discutiu-se questões a respeito das infecções sexualmente transmissíveis e as formas de
evitá-las. Algumas perguntas foram feitas para os alunos, como “O que é Sexualidade para
vocês?” e “Qual a importância do preservativo?”. Dessa forma, observou-se que muitos
alunos da escola conheciam a respeito da eficácia do preservativo de barreira contra IST´s
e gestação, no entanto, a maioria não sabia a forma correta de manuseá-lo. Por isso, os
discentes de Enfermagem demonstraram na prática como utilizar o preservativo masculino
e feminino, com o auxílio de materiais que fizessem alusão aos órgãos genitais do homem
e da mulher, facilitando a demonstração.
350
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Em seguida, debateu-se a respeito da gravidez na adolescência, nesse sentido foi
enfatizado sobre a importância do uso de métodos contraceptivos para prevenir uma gesta-
ção e percebeu-se que a maioria dos alunos não se sentiram confortáveis em interagir com
seriedade, pois ainda não desenvolveram maturidade suficiente para conversar a respeito
do assunto. Foi retratado sobre a relevância de conversar com os pais e/ou responsáveis
sobre os cuidados necessários que os adolescentes devem ter antes de iniciar a vida sexual
e também após essa iniciação.
Logo após foi realizada a seguinte pergunta “Vocês conhecem os métodos contracepti-
vos?”, a maioria respondeu que “sim”. Diante dessa resposta questionou-se “Por que vocês
acham que há tantos casos de gravidez na adolescência?”, alguns não souberam responder
e outros relataram que isso ocorre porque não há utilização dos métodos contraceptivos,
essa razão pode estar relacionada ao fato de não atribuírem a estes a devida importância.
Outro ponto enfatizado consiste na importância de procurar a Estratégia de Saúde da
Família (ESF) para fins de orientação. Em seguida, os acadêmicos perguntaram: “Vocês
acham que é necessário o acompanhamento dos pais e/ou responsáveis para que o ado-
lescente possa buscar os preservativos no posto de saúde?”, a maior parte respondeu
com precisão que “sim” e apenas uma aluna respondeu que não era necessário. Assim,
percebeu-se que a maioria dos jovens não buscam o posto de saúde por acreditarem que
seja necessário ter o acompanhamento dos responsáveis.
Posteriormente foi questionado “Com quem vocês se sentiriam mais à vontade em
perguntar a respeito de medidas de prevenção a gravidez: com os pais, com o enfermeiro
ou com o professor?”. A maioria do grupo de alunos retratou que preferiam sanar suas dú-
vidas com o enfermeiro, pois em sua percepção os pais e/ou responsáveis e os professores
não compreenderiam seus questionamentos, desenvolvendo assim nos jovens sentimentos
de medo, frustração e vergonha de serem julgados. Assim, os discentes de Enfermagem
aproveitaram para alertar sobre a necessidade de buscar ajuda de profissionais que tenham
conhecimento sobre o assunto e evitar procurar conselhos de amigos, pois estes em sua
maioria também não possuem discernimento suficiente sobre o tema abordado.
Dado o exposto, compreende-se que os adolescentes não enxergam nos pais a con-
fiança de que precisam para perguntar a respeito das dúvidas pertinentes, criando assim uma
barreira no relacionamento entre pais e filhos. Dessa forma, ocorrem problemas voltados
à orientação no que diz respeito à sexualidade dentro de casa, corroborando assim para
o aumento nos índices de gravidez na adolescência e as demais consequências advindas
dessa problemática.
Para enfatizar ainda mais a respeito das medidas de prevenção a gravidez na ado-
lescência, foi realizada a seguinte indagação: “Vocês já ouviram falar em planejamento
351
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
familiar?”, os alunos da escola afirmaram que “Não”, o que mostra que infelizmente esse
programa não é abordado de forma abrangente, o que limita o conhecimento dos adoles-
centes a respeito dessa importante informação. Percebendo essa lacuna no conhecimento
dos jovens, os acadêmicos de Enfermagem explicaram a relevância do planejamento familiar
como forma não apenas de evitar uma gestação, mas também, como sendo um subsídio
para uma vida mais bem estruturada futuramente.
Dessa forma, a assistência em planejamento familiar deve ser disseminada de forma
mais abrangente para que não apenas adolescentes, mas toda a população possa ter acesso
a respeito dos benefícios que este programa oferece, pois, além de contribuir com resultados
positivos na diminuição dos casos de gravidez precoce, auxilia em uma melhor qualidade
de vida da mulher e do parceiro.
Subsequente a esta abordagem, foi desenvolvida uma reflexão, com a pergunta
“Imaginem que neste momento, vocês descobrem que serão pais. O que vocês senti-
riam?”. Em seguida folhas foram repassadas aos alunos, para que eles exteriorizassem
seus sentimentos. Dentre as respostas dos alunos, as mais recorrentes entre as meninas,
foram: desespero, medo e felicidade. Desespero por não saber como contar aos pais e de
como cuidar de uma criança, além de, possivelmente, ser abandonada pela família e pelo
pai da criança. Medo, pois afirmaram que teriam que interromper os estudos e os planos
traçados para o futuro. Felicidade, pois apesar das dificuldades enfrentadas, o sentimento
seria de gratidão pela possibilidade de ter uma família.
A partir disso, a reflexão mostrou que muitas vezes esses sentimentos podem acarretar
em problemas psicológicos durante a gravidez, como os citados para os alunos: depressão,
ansiedade, medo e outros. Tais problemas mencionados afetam diretamente a gestação, pois
há as transformações que a mulher lida durante a gravidez, principalmente na adolescência,
pois nessa fase o corpo ainda está em desenvolvimento. A gestação reflete também nas
transformações físicas que podem ocorrer, como: surgimento de estrias em decorrência do
aumento da barriga, eclampsia, aborto espontâneo, diabetes gestacional, laceração vaginal,
entre outras mudanças. As alterações psicológicas e físicas foram discorridas com o intuito de
explanar as consequências de uma gravidez precoce reforçando a necessidade de evitá-la.
Portanto, a roda de conversa proporcionou uma nova visão a respeito da realidade
dos adolescentes da escola estudada, pois percebeu-se que grande parte dos estudantes
não tinha entendimento da importância em conversar a respeito de sexualidade e gravidez
na adolescência, e como foram retratadas, as mudanças que ocorrem afetam não apenas o
corpo da mulher, mas também compromete a saúde mental desses jovens. Assim, também
foi esclarecido sobre a união e comprometimento entre a educação escolar, familiar e as
equipes de saúde, com enfoque nas Estratégias de Saúde da Família, como mediadores
352
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
nesse processo de disseminação de conhecimento, com o intuito de instigar esses adoles-
centes a buscarem ajuda de pessoas capacitadas.
CONCLUSÃO
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355
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
25
Sistematização da assistência de
enfermagem nas consultas de pré-
natal: uma revisão integrativa
10.37885/210303502
RESUMO
357
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO
MÉTODO
A primeira etapa serve como norte para a construção de uma revisão integrativa. Ao ela-
borar a questão norteadora deve ser clara e específica (MELNYK, FINEOUT – OVERHOULT,
2011) recomenda que seja utilizada uma estratégia utilizando a palavra “PICOT” que repre-
senta Participants, Interventions, Comparisons, Outcomes e times. Os mesmos recomendam
que ao utilizar esta estratégia a busca se torna eficiente e com informações acerca do tema
mais relevante conforme mostra a Figura 1.
359
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Figura 1- Descrição da questão norteadora
Após a escolha do tema, foram adotados os seguintes critérios de seleção para pesqui-
sa dos artigos: artigos científicos disponíveis na integra e publicados nos idiomas português
e inglês nos anos de 2005 a 2015 e que estejam indexados nas principais bases de dados
MEDLINE e LILACS. Como critérios de exclusão foram adotados os artigos disponíveis em
mais de uma base de dados evitando assim duplicidade de informação acerca do tema.
Nesta seleção de artigos, inicia-se de forma mais ampla e afunila-se na medida em
que a questão norteadora se define, uma vez que o movimento de busca na literatura nem
sempre é linear (BROOME, 2006). Ao realizar a busca por descritores em ciências da saúde
(DECs) foram utilizadas as palavras chave: Cuidados de enfermagem; Pré Natal; Processo
de enfermagem conforme mostra a figura 2.
360
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Figura 2. Fluxograma de busca de artigos científicos
361
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
A base de dados LILACS compõe a Biblioteca Virtual em Saúde em contínuo desenvol-
vimento, constituído de normas, manuais, guias e aplicativos, destinados à coleta, seleção,
descrição, indexação de documentos e geração de bases de dados.
Desde 1982, surge com uma forma alternativa de realizar pesquisa com cunho científico,
após entender a necessidade de uma metodologia ao alcance da literatura científica-técnica
em saúde produzida na América Latina e Caribe.
Esta base de dados ainda assim inclui documentos convencionais e não-convencio-
nais produzidos por autores latino-americanos e do Caribe e/ou publicados em países da
América Latina e Caribe, de caráter técnico-científico, referente ao vasto campo das Ciências
da Saúde, de acordo aos critérios descritos neste Guia. O fator primordial que determina a
inclusão ou exclusão de um documento na base de dados é o conteúdo científico do mesmo,
independente da forma física em que se apresente.
Após a seleção dos artigos foi utilizado um formulário/roteiro elaborado pela pesqui-
sadora afim de garantir os critérios de inclusão e exclusão com objetivo de reunir as infor-
mações pertinentes a pesquisa, para a partir da conclusão desse procedimento, elabora-se
uma tabela com os estudos pré-selecionados para a revisão integrativa.
Esta etapa tem por objetivo sumarizar e documentar as informações extraídas dos ar-
tigos científicos encontrados nas fases anteriores, com objetivo de reunir os dados similares
bem como as categorias. Visando identificar as informações com o objetivo da pesquisa.
Essa documentação deve ser elaborada de forma concisa e fácil (BROOME, 2006). Neste
momento foram categorizadas e analisadas as informações coletadas nos estudos selecio-
nados utilizando análises estatísticas.
Quadro 1.Apresentação e caracterização da amostra bibliográfica de acordo com as bases de dados, periódico, idioma,
autoria, delineamento da pesquisa.
363
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Nº Base de Dados Título Periódico Idioma Autoria Delineamento
O significado do pré-natal para mulhe-
Qualitativa des-
6 LILACS res grávidas: uma experiência no muni- Saúde e Sociedade Português Enfermagem
critiva
cípio de Campo Grande, Brasil
Revista Brasileira
As dimensões do cuidado pré-natal na
7 LILACS De Enfermagem Português Enfermagem Qualitativa
consulta de enfermagem
REBEN
Diagnósticos de enfermagem identifica- Revista de Enferma-
Qualitativa des-
8 LILACS dos durante o período puerperal gem do Centro Oeste Português Enfermagem
critiva
Imediato: estudo descritivo Mineiro
Diagnóstico de enfermagem em gestan- Journal of the Health Quantitativo explo-
9 MEDLINE Inglês Enfermagem
te em práticas educativas Sciences Institute ratório descritivo
Diagnósticos de enfermagem em con-
Revista Eletrônica Quantitativo des-
10 MEDLINE sultas de pré-natal em uma unidade Português Enfermagem
Gestão & Saúde critivo
básica de saúde de Teresina-PI.
Diagnósticos de enfermagem em ges- Revista Mineira de Descritivo explora-
11 MEDLINE Português Enfermagem
tantes hipertensas Enfermagem tório
Percepção das gestantes sobre a assis-
Revista Interdisci- Qualitativa descriti-
12 MEDLINE tência prestada pelo enfermeiro duran- Português Enfermagem
plinar vo-exploratória
te o pré-natal
Assistência de enfermagem a gestantes Qualitativa des-
13 MEDLINE Salusvita Português Enfermagem
no HrAc/UsP critiva
Quadro 2. Distribuição dos periódicos segundo o quantitativo de artigos publicados no período entre 2005 e 2015
Periódicos Quant. %
Revista Brasileira de Enfermagem 2 15,3
Revista de Enfermagem do Nordeste 1 7,6
Revista da Escola de Enfermagem da USP 1 7,6
Escola Anna Nery Revista de Enfermagem 1 7,6
Revista Gaúcha de Enfermagem 1 7,6
Revista Saúde e Sociedade 1 7,6
Revista d Enfermagem do Centro Oeste Mineiro 1 7,6
Journal of the Health Sciences Institute 1 7,6
Revista Eletrônica Gestão & Saúde 1 7,6
Revista Mineira de Enfermagem 1 7,6
Revista Interdisciplinar 1 7,6
Salusvita 1 7,6
TOTAL 13 100
No Quadro 2, observa-se que 15,3% dos artigos científicos pesquisados foram publi-
cados na Revista Brasileira de Enfermagem, seguido de 7,6% das demais revistas.
364
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
A distribuição cronológica das publicações encontradas relacionadas a SAE nos pe-
ríodos pesquisados (Gráfico 2).
Gráfico 2. Distribuição da produção cientifica sobre Sistematização da Assistência de Enfermagem no Pré Natal.
Houve um aumento de publicações nos anos de 2013 com 23% de publicações, se-
guido de 2015 com 15,3% dos artigos com enfoque na Sistematização da Assistência de
Enfermagem no Pré Natal. Isso reflete a preocupação dos enfermeiros em implementar as
ações que compete a esta categoria. É perceptível que ao passar dos anos a enfermagem
assim como outras profissões da área da saúde em geral está passando por um processo
de mudança e reconfiguração dos seus espaços, atividades e funções (Gráfico 2).
A SAE é permeada pelo método científico e compõe seis etapas: histórico de enferma-
gem, diagnóstico de enfermagem, plano assistencial, prescrição de enfermagem, evolução
e prognóstico de enfermagem (HORTA, 1979).
No Quadro 3, apresenta a descrição dos diagnósticos encontrados, é possível observa
as repetições dos diagnósticos no cuidado no pré-natal como algo além dos aspectos fisio-
lógicos das alterações, presente nos artigos 06 e 08, ambos apresentam pontos em comum,
quanto a preocupação com uma atenção holística e o cuidado no acolhimento da gestante,
evidenciando esses fatores como determinantes para a formação do vínculo terapêutico
necessário assegurando a eficácia no cuidado.
Na visão de Martinelli et al., (2014), a gestação deve ser vista como parte do todo.
Quando o enfermeiro demostra interesse por valores culturais, função social dessa gestante,
preocupações e expectativas. O acolhimento deve ser visto como fator primordial para a
adesão da gestante a esse cuidado, assegurando que os princípios básicos do Sistema Único
de Saúde (SUS), integralidade, universalidade e equidade. Realizando uma assistência com
foco na integralidade o enfermeiro passa a visualizar de forma mais abrangente a gestante
e a entender suas ações e reações.
Souza et, al,. (2013), demostra o quanto as ações educativas, preventivas e promocio-
nais de saúde são a chave para o fortalecimento do vínculo entre gestantes e unidade de
serviço de saúde. Exigindo do profissional além de habilidades técnicas, sensibilidade para
366
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
entender o quão complexo é o ser humano e habilidades de comunicação apurada para
interagir de forma proveitosa com a população em geral, respeitando suas peculiaridades.
O papel de educador do enfermeiro é essencial para a adesão da gestante ao acom-
panhamento do pré-natal, o cuidado em ouvir de forma aberta, sem julgamentos, abordando
direitos da mulher, promoção da autoestima, autonomia entre outros assuntos de interesse
comuns ao período gravídico (SOUZA et, al., 2013).
A relação que existe entre o desenvolvimento fisiológico da gestação, o meio onde essa
gestação está inserida, as mudanças que terão de ser enfrentadas por essa gestante em
sua rotina, amamentação e cuidados com o recém-nascido, são temas serem abordados no
acompanhamento do pré-natal. Pontos esses que aproximam a gestante do serviço e que
podem diminuir complicações durante a gestação (LOWDERMILK, 2013).
Ambos defendem uma atenção individualizada e organizada de forma a atingir todas
as gestantes que procuram o serviço, objetivando a integração da usuária do serviço com
o prestador do serviço, o enfermeiro, focando sempre na atenção personalizada que pode
ser possibilitada através do uso de metodologias como a sistematização da assistência de
enfermagem que visa o indivíduo de forma holística.
Para Souza et, al., (2013), defendem que é função do enfermeiro, através de seu
atendimento atentar a problemas reais e potenciais tanto para a gestante quanto para sua
família e comunidade, prevendo a diminuição dos riscos para a gestante durante a gravi-
dez e após o parto.
Para que esse atendimento seja realizado de forma coesa e organizada, deve haver uma
metodologia específica, voltada para atenção individualizada, o uso do processo de enferma-
gem e suas etapas, onde as ações do enfermeiro devem de forma organizada, planejada e
sistemática reconhecer e aplicar de forma eficiente os cuidados de enfermagem específicos
e de forma individual a cada usuário do sistema de saúde (ALFAVARO-LEVEFRE, 2014).
Após utilização do processo de enfermagem no atendimento em uma unidade de pre-
ferência para gestantes de alto risco Medeiros, Santos, Cabral (2016), puderam observar
que grande parcela dos diagnósticos levantados por eles foram de risco, reforçando a ideia
de que o uso do processo de enfermagem na gestão de riscos relacionados à saúde da
puérpera evita que essas possibilidades de tornem reais.
Dentre os diagnósticos levantados nos trabalhos destacam-se Dor Aguda, Risco
de Infecção e Náuseas. Todos com vários fatores relacionados e evidências diversas.
Diagnósticos que podem estar relacionados a processo fisiológicos esperados dependendo
da idade gestacional, devem ser observados com atenção pelo enfermeiro já que podem
servir de alerta para possíveis agravos. O risco de infecção tem diversos fatores relacionados,
367
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
desde agravos por ISTs, exposição do colo do útero, ao processo do parto entre outros, deve
ser devidamente relacionado para determinar os cuidados específicos em cada situação.
Ao embasar seu atendimento nos princípios teórico-científicos da sistematização da
assistência de enfermagem, o enfermeiro adota uma metodologia que através de suas etapas
o torna capaz de identificar e avaliar os aspectos pertinentes ao processo saúde-doença e
as reações de seus pacientes. Uma ferramenta pertinente a esse processo é o diagnóstico
de enfermagem, que permite ao enfermeiro reconhecer as necessidades de cuidados da
pessoa ou grupo que está sendo acompanhado (ALFARO-LEFEVRE, 2014).
Os diagnósticos de enfermagem são a melhor forma de direcionar da assistência de
enfermagem segunda as necessidades do cliente sua continuidade e escolhas das interven-
ções que mais se adequam a realidade do serviço. Após as orientações realizadas durante o
pré-natal, preparam os pais para as dificuldades que enfrentaram após o nascimento de uma
criança. Observa-se em todos as situações onde o enfermeiro põe em prática o processo
de enfermagem aumenta a autonomia e a qualidade do serviço prestado.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
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370
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
26
Trajetórias terapêuticas de mulheres
com câncer do colo do útero: o estado
da arte
10.37885/210303616
RESUMO
372
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo com coleta de dados realizado a partir de estudos primários, por
meio de levantamento bibliográfico das evidências disponíveis. Para seu desenvolvimento
as seguintes etapas foram empregadas: definição do objetivo do estudo, assim como a
questão norteadora, estabelecimento dos critérios de inclusão da amostra, elucidação das
374
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
informações a serem extraídas dos artigos, análise dos resultados, apresentação dos resul-
tados e discussão e conclusão dos achados da revisão (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010).
A coleta de dados foi realizada de agosto a outubro de 2020, baseando-se na questão
norteadora: “qual é a trajetória terapêutica de mulheres com câncer de colo do útero no sis-
tema público de saúde brasileiro?”. As produções que não atendiam a essa questão foram
automaticamente excluídas.
Por meio do acesso ao conteúdo assinado do Portal de Periódicos da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), via login institucional da
Universidade Federal de Juiz de Fora, realizou-se uma busca nas seguintes bases de da-
dos: Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), Literatura Latino-
Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and
Retrieval System online (MEDLINE/Pubmed) e Scientific Electronic Library Online (SCIELO).
Foram utilizados os seguintes descritores, contidos nos Descritores em Ciência da
Saúde (DeCS), e suas combinações por meio do booleano “AND”, nos idiomas português e
inglês: “Neoplasias do Colo do Útero”, “Acesso aos serviços de saúde”, “Sistema de saúde’’
e “Assistência integral à saúde’’ (figura 1).
Figura 1. Descritores utilizados nas bases de dados Cinahl, Pubmed, Lilacs e Scielo.
Os critérios de inclusão definidos para a seleção das produções científicas foram: artigos
publicados na literatura nacional e internacional, cujo foco tenha sido a trajetória terapêutica
de mulheres com câncer do colo do útero no sistema público de saúde do Brasil, nos últimos
15 anos. O recorte temporal tem como referência a Política Nacional de Atenção
Oncológica em 2005, que estabeleceu o controle do câncer do colo do útero como
componente fundamental a ser previsto nos planos estaduais e municipais de saúde. Foram
excluídas resenhas, editoriais, artigos de revisão e os originais que, após leitura do título,
resumo e artigo na íntegra, não respondiam à questão norteadora desta revisão.
Após a definição do estudo, os dados foram computados de acordo com cada etapa
realizada. A primeira etapa consistiu em realizar a busca nas bases de dados sem a utilização
do filtro, totalizando 3203 artigos, dos quais apenas 1013 apresentaram texto completo e
ano de publicação estabelecido no critério de inclusão. Foram excluídos 167 artigos devido
a duplicidade de materiais. No total, 846 artigos passaram para análise dos títulos, sendo
excluídos 739 por não apresentar o tema essencial para o trabalho. Após análise dos títulos,
375
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
108 artigos foram selecionados para leitura do resumo. Restaram 20 artigos para leitura na
íntegra. Após a leitura completa dos artigos, 12 foram excluídos por não retratarem o sistema
público brasileiro.
Os artigos selecionados passaram por quatro análises, respectivamente, a exclusão de
artigos duplicados, leitura do título, dos resumos e do artigo na íntegra. A figura 2 apresenta
o fluxograma do processo de seleção das produções científicas que constituíram a amostra
deste estudo. A seleção seguiu as recomendações PRISMA (Preferred Reporting Items for
Systematic Reviews and Meta- Analyses) para melhorar a qualidade da pesquisa de revisão
(GALVÃO; PANSANI; HARRAD, 2015).
Figura 2. Fluxograma do resultado das pesquisas nas bases de dados Cinahl, Medline, Lilacs, Scielo.
Fonte: elaborada pelas autoras (2021) e adaptado de Galvão, Pansani e Harrad (2015).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A amostra final compreendeu oito publicações, sendo 70% dos estudos encontrados
na base de dados da Scielo e 15% na Lilacs e 15% na Cinahl. Quanto ao ano dos estudos,
identificou-se um em 2009 (13%), 2011(13%) e 2014(13%), após esse período os trabalhos
encontrados foram referentes aos anos de 2018 e 2019, com 24% e 37% respectivamente.
Em relação ao nível de evidência, a totalidade foi classificada como nível VI. Dentre os
delineamentos adotados, predominou os estudos qualitativos (65%) e, em menor número,
foram identificados quanti-qualitativos (35%).
Analisando os dados, o perfil das participantes dos estudos é: mulheres na faixa etária
de 25 a 73 anos, com diagnóstico de câncer do colo do útero, predominantemente residentes
em áreas urbanas.
Segundo evidências, a prevalência de mulheres diagnosticadas com CCU compreende
o intervalo de 40 a 49 anos em 30,24% (VAZ et al., 2020) ou até mesmo 39,3% dos casos.
Esse tipo de câncer é raro em mulheres com idade inferior a 30 anos, contudo há uma in-
cidência de 5% dos casos (FERES et al., 2018). O índice de acometimento ultrapassa os
10% em mulheres com idade superior a 65 anos, consideradas fora da faixa etária para o
rastreio da doença, segundo recomendações do Ministério da Saúde (FAVARO et al., 2019;
VAZ et al., 2020).
As produções analisadas e interpretadas desvelam dois aspectos que dificultam a
trajetória terapêutica da mulher no que se refere à prevenção e controle do câncer do colo
do útero: a organização dos serviços de saúde, que perpassa o acesso aos diferentes dis-
positivos da rede e a integralidade do cuidado e a insatisfação com o atendimento oferecido
pelos profissionais de saúde.
As publicações receberam um código alfanumérico de E1 a E8 para melhor organização
dos resultados e facilitar a análise e discussão. Na figura 3 é possível acessar as publica-
ções que constituem essa revisão com os principais resultados encontrados e o respectivo
nível de evidência.
377
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Figura 3. Publicações selecionadas para a revisão integrativa.
Estudos sobre o itinerário terapêutico são bem recentes no Brasil, conteúdos conceituam
o tema como uma trajetória realizada pelo usuário nas instituições de saúde, na lógica do
modelo biomédico, numa relação entre doença e cura, entretanto, esse modelo não pode
ser considerado único e preciso para todos, haja vista que as singularidades do indivíduo
precisam ser consideradas (PINHO; PEREIRA, 2012).
A construção da trajetória terapêutica não segue um padrão único (E3), ora há soluções
empíricas, ora populares ou médicas. Com isso, a busca por remédios caseiros, grupos
religiosos e até mesmo a maneira como a mulher vivencia o CCU influência nesse percurso
(E1, E3). Cada pessoa vai efetivar o seu itinerário conforme suas crenças, suas condições
378
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
econômicas e a possibilidade de acesso aos serviços que compõem a Rede de Atenção à
Saúde (RAS) (SILVA-JUNIOR; GONÇALVES; DEMÉTRIO, 2013).
A proposta da criação da RAS é acabar com o sistema fragmentado, ofertando serviços
em saúde em diferentes níveis tecnológicos. Esses níveis são graduados em menor densi-
dade (atenção primária), média densidade (atenção secundária) e alta densidade (atenção
terciária). Após a sua implementação foram estabelecidas diretrizes para sua estruturação
com o propósito de assegurar às pessoas um atendimento com eficácia e efetividade, de
forma integral (BRASIL, 2010).
A atenção primária é a principal porta de entrada do Sistema Único de Saúde
(SUS) com papel organizador e coordenador do cuidado, com recursos para o rastrea-
mento e prevenção do câncer do colo do útero, como a oferta do exame Papanicolau
(SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS, 2020). Para Martins e co-
laboradores (2019) muitos desafios organizacionais ainda precisam ser superados para a
efetivação do seu papel dentro da rede de saúde.
Em consonância com tal afirmativa, os estudos E1 e E4 evidenciam barreiras na aten-
ção primária. As dificuldades no acesso estão relacionadas com a baixa oferta de consultas,
por conseguinte as idas aos serviços de saúde tornam-se esporádicas. Como resultado
nota-se uma baixa procura pelo exame preventivo, dificultando o rastreamento do CCU nos
estágios iniciais.
A baixa adesão ao exame preventivo pode ser considerada devido à dinâmica dos
serviços e falta de informações acerca do exame. O serviço de saúde deverá proporcionar
à mulher um acesso facilitado e oferecer uma assistência resolutiva e de qualidade de modo
que os profissionais estabeleçam uma relação de vínculo e confiança com as usuárias,
para que elas procurem os serviços de saúde com mais frequência (SMIESKIL; DULLIUS;
VENAZZI, 2018). As deficiências nos serviços da atenção básica devido à dinâmica e bu-
rocratização dos serviços comprometem a acessibilidade, integralidade e efetividade dos
atendimentos (E4).
Na presença de uma alteração no exame Papanicolau a mulher é encaminhada
para atenção secundária, onde a mesma será atendida por um especialista nos ambula-
tórios ou hospitais e realizará a investigação diagnóstica para o câncer do colo do útero
(SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS, 2020).
Na sua trajetória terapêutica, mulheres evidenciaram nos estudos E4 e E5 a demora no
diagnóstico como uma barreira existente nos serviços da atenção secundária, dificultando as
possibilidades de tratamento para o CCU, de forma precoce as chances de cura podem che-
gar a 95% (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA, 2016).
379
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
A precariedade na organização dos serviços na atenção secundária, com o não se-
guimento do fluxo estabelecido pelo Ministério da Saúde, gera o aumento considerável de
biópsias e atendimentos indevidos (E4). Os segmentos ineficazes contribuem para um pior
prognóstico do câncer com demoras na tomada de decisão do especialista. O encaminha-
mento, bem como a solicitação inadequada de mulheres para os serviços especializados
contribuem para um atendimento fragmentado, com sobrecarga dos serviços e, consequen-
temente, a falta de vagas para atender a demanda (SILVA, 2020).
Em contrapartida, E7 afirma que mesmo com o encaminhamento inadequado e a super-
lotação da atenção especializada, as mulheres vivenciam um fluxo facilitado para conseguir
os atendimentos, com espera de até 20 dias. Porém, os dados evidentes no estudo E5, reve-
lam as dificuldades no diagnóstico, com a média de 115,4 dias para o início do tratamento.
De acordo com a Lei 12.732, de 22 de Novembro de 2012, a pessoa com neopla-
sia maligna deverá iniciar o primeiro tratamento até 60 dias do seu diagnóstico (BRASIL,
2012). No entanto, as dificuldades no acesso aos dispositivos da rede após o diagnóstico
vão de encontro às determinações legais. Para Medeiros e colaboradores (2020) há a ne-
cessidade de priorizar e reorganizar políticas e fiscalização da atenção aos pacientes com
câncer. Sabe-se que a identificação tardia diminui as chances de cura e contribui para o
uso de tratamentos mais agressivos, além de causar um comprometimento físico e psico-
lógico nas mulheres.
Ao se deparar com as dificuldades no acesso aos serviços públicos, a possibilidade do
serviço privado passa a ser considerado por elas (E6 e E8). Em busca de um diagnóstico
em um tempo menor do que seria possível nos SUS, os serviços privados passam a compor
a trajetória terapêutica. Nota-se, no entanto, o retorno para os serviços públicos quando o
privado não dispõe dos tratamentos necessários (LIMA et al., 2018).
Os próprios profissionais da rede aconselham a procura por esses serviços e facilitam
o retorno delas para o atendimento no sistema público de saúde. Por outro lado, ao não
apresentarem uma condição financeira que as possibilitem adentrar nos espaços privados
algumas traçam caminhos diferentes, buscando por atendimentos e tratamentos alternati-
vos e até mesmo a desistência pela cura da doença (E1, E3). Os níveis econômicos estão
diretamente relacionados com a saúde da população, aos que apresentam baixa renda
vivenciam dificuldades no acesso aos serviços de saúde e apresentam piores condições de
saúde (ALMEIDA, 2018).
As mulheres vivenciam uma longa trajetória em busca de um atendimento integral
nos dispositivos que compõem a RAS, desde a realização do exame Papanicolau na uni-
dade básica de saúde até o tratamento. Os estudos E1, E4, E5, E6 evidenciam alguns
obstáculos enfrentados por essas mulheres ao transitarem na rede, destacam-se: longas
380
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
filas, dificuldades de chegar até aos serviços de saúde e de marcar consultas, demora no
atendimento e entrega dos resultados de exame, além da falta de informações advinda
dos profissionais.
No Brasil, as barreiras organizacionais como acessibilidade e disponibilidade dos ser-
viços são semelhantes em diferentes cenários territoriais. No que concerne à acessibilidade,
o tempo gasto para chegar aos locais e o custo são impasses para a procura dos serviços,
bem como a disponibilidade diante da falta de profissionais, falta de vagas e tempo de espera
inoportuno (OLIVEIRA et al., 2019).
Os obstáculos geográficos são evidenciados no estudo E5, em que mulheres residentes
em áreas afastadas apresentam maiores dificuldades no acesso aos serviços. Garnelo e
colaboradores (2018) afirmam que usuários residentes na região rural apresentam maiores
dificuldades no acesso aos serviços, devido ao distanciamento entre a residência e unidade
de saúde, horários de funcionamento e falta de informações. Além disso, muitas vezes, es-
ses usuários chegam aos serviços e se deparam com a indisponibilidade dos atendimentos.
Com a desarticulação da rede e a morosidade em conseguir o atendimento necessá-
rio contribuem para desfechos negativos, dentre eles, a menor chance de cura e impactos
irreversíveis na qualidade de vida da pessoa que enfrenta a doença. No entanto, o fortale-
cimento da rede assistencial oncológica gera impacto nos números de casos, reduzindo os
índices de mortalidade do câncer do colo do útero (AQUINO et al., 2018). A busca por um
atendimento contínuo às mulheres, envolve a atuação dos gestores e diferentes serviços
assistenciais, desenvolvendo tarefas coletivas por meio do diálogo em prol de uma rede
potente (CORTES; PADOIN; KINALSKI, 2016).
Na construção da trajetória terapêutica vários sentimentos e sofrimento são desperta-
dos na mulher com câncer do colo do útero (E3). Essas mulheres vivenciam no momento do
diagnóstico como algo difícil de enfrentar, com momentos de incertezas e expectativas de
vida (SILVA; SILVA, 2017). Existe um grande estigma ao falar do câncer, muitas das vezes
é omitido ou impronunciável, considerado como morte e sofrimento. Frente ao diagnóstico do
câncer do colo do útero, a mulher vivencia o medo, dor, desespero e até mesmo a negação
da doença (SILVA et al., 2018). Os sentimentos despertados podem influenciar negativamen-
te na prática de prevenção e tratamento do câncer do colo do útero (GOMES et al., 2017).
Diferentes profissionais estão envolvidos na trajetória terapêutica da mulher. Compondo
a equipe multiprofissional, o enfermeiro contribui para o controle do CCU, desde o desenvol-
vimento de práticas educativas até a realização do Papanicolau. Ressalta-se a importância
do acompanhamento durante todo o processo de adoecimento, utilizando diversas estra-
tégias para prestar o cuidado à pessoa e seus familiares (FERRAZ; JESUS; LEITE, 2019).
381
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Os estudos E2 e E7 evidenciam as condutas profissionais frente ao controle do
CCU. Em uma relação verticalizada (E2), o profissional se apropria do corpo feminino,
deixando a mulher frágil e com sentimento de impotência, desproteção e perda do domínio
do próprio corpo.
Essa relação não é pautada no respeito, na escuta e em uma posição acolhedora
(E7). É fundamental que os profissionais envolvidos estejam preparados para assistir a mulher
em suas singularidades, vislumbrando o contexto de vida da pessoa, e se afastar do modelo
centrado na doença e na lógica produtivista que visa o número de mulheres atendidas ao
dia e não a qualidade da assistência prestada (COSTA et al., 2017).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O câncer do colo do útero, mesmo sendo rastreável, ainda acomete milhares de bra-
sileiras, sendo considerado um problema de saúde pública. De acordo com os estudos
primários analisados não há uma similaridade na construção da trajetória terapêutica das
mulheres diagnosticadas com CCU.
A trajetória terapêutica de cada mulher é singular e os obstáculos encontrados nos
diferentes níveis de atenção podem afetá-las de formas distintas, de acordo com as con-
dições socioeconômicas e culturais. O enfermeiro, um dos profissionais que acompanha a
mulher nos diferentes serviços da rede deverá prestar assistência de qualidade, com um
olhar holístico se afastando do modelo biomédico, considerando diferentes condições que
afetam a mulher em seu processo de doença.
Ao mapear o estado da arte da produção científica acerca do tema trajetória terapêu-
tica de mulheres com câncer do colo do útero, no sistema público, notam-se barreiras que
dificultam o controle e tratamento do câncer nos diferentes níveis tecnológicos, perpassando
por dificuldades na atenção primária, como a entrada nos serviços, a demora do diagnósti-
co dentro dos serviços especializados, e a peregrinação na atenção terciária em busca do
tratamento da doença. Aos serviços privados passam a compor a trajetória terapêutica não
com papel complementar dentro da rede pública.
Diante desse cenário, revela-se a necessidade de planejamento dos gestores e profis-
sionais de saúde para garantir à mulher um cuidado integral e acessível, ampliando a oferta
dos serviços disponibilizados pelo SUS, nos diferentes níveis de atenção, e prestando um
atendimento rápido e eficaz na intenção de alcançar um melhor prognóstico da doença.
Com a oferta considerável do exame Papanicolau e melhora nos resultados diagnósticos,
haverá consequentemente a diminuição de novos casos de câncer cervical e óbitos. Esses
resultados irão impactar diretamente nos gastos públicos, com a redução de internações,
oferta de procedimentos cirúrgicos e terapias para o tratamento do câncer.
382
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Diante aos resultados obtidos faz-se necessário pesquisas futuras sobre o itinerário
terapêutico de mulheres com câncer do colo do útero com ênfase nas ações profissionais
com a perspectiva de melhores projeções e reflexões sobre o processo de trabalho.
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386
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
27
Uso de substâncias psicoativas por
gestantes e puérperas: problemas
acarretados à saúde materno-infantil
Melissa Hartmann
UFPEL
10.37885/210303863
RESUMO
388
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO
MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de uma Revisão Integrativa (RI), que visa sintetizar resultados de pesquisas
anteriores, elucidando terminações do corpus da literatura sobre um fenômeno específico
(CROSSETTI, 2012), especificamente, os problemas acarretados à saúde materno-infantil
devido ao uso de substâncias psicoativas por gestantes e puérperas. Para o seu desenvolvi-
mento, foram seguidos seis passos: escolha e definição do tema e da pergunta norteadora;
busca ou amostragem na literatura; coleta de dados; análise crítica dos estudos incluídos
no resultado; discussão dos resultados; apresentação da RI (SOUZA et al., 2010).
A revisão norteou-se a partir da seguinte questão: Quais os problemas acarretados à
saúde materno-infantil devido ao uso de substâncias psicoativas por gestantes e puérperas?
Para que a busca fosse fidedigna aos achados nas bases, empreendeu-se busca em pares,
por diferentes pesquisadores, em junho de 2019.
Estabeleceu-se como critérios de inclusão do estudo: artigos científicos disponíveis
online na íntegra; nos idiomas de português, inglês e espanhol; com resumo, permitindo
verificar a consonância do artigo com o objetivo desse estudo; publicados nos últimos cinco
anos, de 2014 a 2019. Como critério de exclusão: artigos não disponíveis gratuitamente.
A coleta de dados ocorreu nas seguintes bases de dados: Public Medical (PubMed);
Bases de dados de Enfermagem (Bdenf); Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Eletronic Library Online (SciELO). A busca foi
realizada por intermédio dos descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e Medical Subject
Headings (Mesh Terms): “Gravidez/ Pregnancy/ Embarazo”; “Período Pós-Parto/ Postpartum
Period/ Periodo Posparto” “Usuários de drogas/ Drug Users/ Consumidores de Drogas”;
“Transtornos Relacionados ao Uso de substâncias/ Substance-Related Disorders/ Transtornos
Relacionados com Substâncias”, com os operadores booleanos AND e OR, de acordo com
a estratégia de busca explicita na figura 1:
390
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Figura 1. Estratégia de busca dos artigos científicos.
Foram localizadas 182 publicações nas quatro bases de dados: 135 (74,2%) na Pubmed;
11 (6%) na Bdenf; 32 (17,6%) no LILACS e quatro (2,2%) no SciELO. Do total, foram excluí-
dos 88 artigos a partir da leitura dos títulos, por não apresentarem relação com a temática
em estudo, assim, sendo selecionados 94 (51,6%) artigos.
Com a leitura dos resumos, foram excluídas as publicações que não atendiam aos ob-
jetivos desta revisão, reduzindo-se a 43 artigos. Também, foram excluídos três artigos que
se se repetiam entre as bases de dados, assim compondo a amostra do estudo 40 (21,9%)
artigos (Figura 2).
Figura 2. Resultados da busca de artigos nas bases de dados eletrônicas – Pelotas, RS, 2020.
Para a extração dos dados, foi desenvolvido pelos pesquisadores um quadro sinóp-
tico para facilitar a caracterização e análise dos artigos, com as seguintes informações:
391
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
identificação do artigo, bases de dados, ano de publicação, objetivos, delineamento do estu-
do, participantes, país de realização dos estudos e as repercussões do uso de substâncias
psicoativas à saúde materno-infantil.
RESULTADOS
A seguir será apresentada a análise bibliométrica dos artigos consultados, bem as ca-
tegorias emergidas a partir da análise dos mesmos, sendo elas: malformações fetais; aborto
e morte neonatal; problemas biopsicossocias e espirituais acarretados à mulher.
392
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Os locais de desenvolvimento das pesquisas incluíram 25 países, com destaque para
o Brasil com 10 estudos; Estados Unidos da América com seis e Reino Unido com cinco
estudos. Com relação à abordagem dos estudos, 34 eram quantitativos e seis qualitativo.
A coleta de dados constituiu-se de instrumentos como entrevistas, questionários,
registros em bancos de dados, prontuários, além da aplicabilidade de testes padroniza-
dos. Da mesma forma, a análise dos dados foi consoante às abordagens adotadas nos
estudos, utilizando análises estatísticas como o Oddis Ratio (OR), Teste T, qui-quadrado,
Análise de Variância (ANOVA), frequência relativa, regressão logística e análise descriti-
va, entre outros.
Com relação aos aspectos éticos, 29 (72,5%) artigos fazem referência a aprovação do
estudo em comitê de Ética em Pesquisa; e 22(55%) apontaram as limitações dos estudos.
Os artigos analisados apontaram resultados de estudos que visam investigar as reper-
cussões para o binômio mãe e bebê quando utilizado alguma substância psicoativa. São
elas: 30 artigos (75%) tiveram como consequências malformações, oito (20%) problemas
biopsicossociais e espirituais; um (2,5%) aborto fetal; um (2,5%) como consequência mal-
formação e aborto fetal concomitante.
DISCUSSÃO
Com base nos resultados, constatou-se que avaliar os problemas maternos fetais
devido ao uso de substâncias psicoativas tem sido uma preocupação mundialmente re-
corrente, visto que estudos de 25 países estudaram essas relações. Evidenciando que se
trata de um problema complexo e desafiador para os governantes, é elencada na agenda
de 2030 da Organização das Nações Unidas que reforça a necessidade de prevenção e
tratamento do uso de substâncias, incluindo o abuso de drogas entorpecentes e uso nocivo
de álcool (ONU, 2015).
Dos 40 artigos analisados, dez foram realizados no Brasil, tendo como foco investigar
as repercussões maternos fetais em relação ao uso de substâncias psicoativas. No entanto,
evidencia-se que há uma carência de estudos nacionais que investiguem problemas ma-
ternos fetais associados ao uso de fármacos no período gravídico-puerperal, o que diverge
dos estudos internacionais analisados.
O perfil de pesquisas no Brasil possivelmente esteja atrelado ao perfil de consumo
dos brasileiros em relação as substâncias psicoativas. Independentemente da idade e gê-
nero, o uso de drogas se expandiu consideravelmente nos últimos anos. O II Levantamento
Nacional de Álcool e Drogas (II LEVANTAMENTO NACIONAL DE ÁLCOOL E DROGAS,
2012) apontou que a maconha e o é a substância psicoativa de maior consumo tanto na
população adulta (6,8%), quanto na população adolescente (4,3%), no qual o uso de drogas
393
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
lícitas e a experimentação do álcool, têm iniciado cada vez mais precocemente. Entre as
mulheres a proporção das que experimentaram bebidas alcoólicas com menos de 15 anos
passou de 8% em 2006 para 17% em 2012 (BRASIL, 2019).
Ao analisar o ano das publicações, observou-se o aumento significativo a partir do
ano de 2014. Entretanto, posteriormente houve um declínio, culminando com a ausência de
publicações no ano de 2019. No âmbito nacional, acredita-se que redução nas publicações
ocorreu como reflexo do cenário político atual, que desvaloriza as pesquisas na área de
saúde mental, especialmente as que abordam substâncias psicoativas.
Considerando os descritores utilizados para indexação dos artigos, foi encontrada
uma diversidade de termos. Embora a maioria retrate o uso de uma determinada substância
psicoativa e patologias específicas decorrentes do uso dessas substâncias, não limitaram a
busca para este estudo, mas agregaram maior especificidade aos achados.
Em relação ao delineamento, a maioria dos estudos foram quantitativos e realizados
com mulheres, cujo escopo centrava-se em problemas acarretados à saúde fetal pelo uso
de substâncias psicoativas pela mãe. Em contrapartida, há poucos estudos sob o método
qualitativo e que visam observar às repercussões e problemas à saúde das gestantes e
puérperas. Assim, suscitando que novas pesquisas combinem ambas as abordagens, am-
pliando o foco de investigação sobre da mulher no período gravídico-puerperal.
Em relação ao eixo temático, os artigos analisados destacaram problemas relaciona-
dos a malformações fetais, decorrente do uso de fármacos; aborto e morte fetal, além de
problemas biopsicossociais e espirituais oriundos do uso de substâncias psicoativas.
Malformações fetais
A maioria dos artigos analisados (n=30) apontaram malformações fetais como pro-
blema decorrente do uso de substâncias psicoativas. Os estudos que investigaram os des-
fechos perinatais relacionados ao uso de fármacos para o tratamento de epilepsia duran-
te a gestação (BAN et al., 2015; VAJDA et al., 2016; MUTLU-ALBAYRAK et al., 2017;
STADELMAIER et al., 2017; WEN et al., 2017; PATORNO et al., 2017; THOMAS et al.,
2017; JAZAYERI et al., 2018) os quais apontaram malformações não especificadas (BAN
et al., 2015; TRINDADE-SEUEDAM et al., 2016 VAJDA et al., 2016; THOMAS et al., 2017),
alterações crânio faciais (MUTLU-ALBAYRAK et al., 2017; STADELMAIER et al., 2017;
JAZAYERI et al., 2018), neuropsicomotoras (THOMAS et al., 2017) e esqueléticas (MUTLU-
ALBAYRAK et al., 2017). Em contrapartida, outros estudos que avaliaram os riscos adversos
para mães e bebês não observaram associações significativas (MUTLU-ALBAYRAK et al.,
2017; PATORNO et al., 2017).
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Outros estudos que abordaram fármacos antidepressivos durante a gestação indica-
ram que os mesmos aumentaram o risco de algumas malformações cardíacas (BAN et al.,
2014), craniofaciais, digestivas, respiratórias (BÉRAD et al., 2017) e pé torto nos fetos
(YAZDY et al., 2014).
Os usos de antibióticos, frequentemente prescritos para o tratamento de infecções
do trato respiratório superior/Inferior, pele, trato intestinal e urinário durante a gestação
apresentaram piores desfechos perinatais, como fissuras orais, atresia de esôfago, hérnia
diafragmática, atresia/estenose anorretal (MUANDA et al., 2017), malformações do sistema
musculoesquelético e comunicação interventricular/interatrial (AILES et al., 2016).
Já, os estudos que buscavam analisar a associação de fármacos utilizados para trata-
mento de doenças crônicas e desfechos maternos fetais tiveram resultados distintos. Os mes-
mos apontam que o uso de anti-hipertensivos não foi associado risco aumentado de mal-
formações (SATO et al., 2015; BERGMAN et al., 2018). Entretanto, foi encontrado um novo
sinal entre os bloqueadores alfa e beta e a displasia renal multicística (BERGMAN et al.,
2018) e também a ocorrência de problemas cardíacos, crânio faciais e esquelético em filhos
de mulheres expostas a anti-hipertensivos (VAN et al., 2015).
Em relação ao diabetes mellitus e o uso de drogas, constatou-se que essas duas
variáveis aumentaram o risco de fissuras orofaciais e anomalias congênitas nas proles
(TRINDADE-SEUEDAM et al., 2016). Desfechos negativos também foram encontrados ao
analisar o uso de antidiabéticos com resultados perinatais, o qual foi associado à morte fetal
(SATO et al., 2015).
Pesquisa acerca da exposição materna a medicamentos para asma apontou risco
moderado para anomalias congênitas, com pouca diferença por idade materna ou condição
socioeconômica. Entretanto, foi associado o uso de corticosteróides inalatórios e beta-2-ago-
nistas de ação prolongada com atresia anal e defeitos cardíacos grave (GARNE et al., 2016).
O uso de inibidores do fator de necrose tumoral Alfa (TNF α), indicado para trata-
mento de condições inflamatórias crônicas, como doenças inflamatórias intestinais e
artrite reumatoide (GALESI et al., 2015), quando utilizado no primeiro trimestre de ges-
tação, apresentou associação com malformações congênitas e parto prematuro (WEBER-
SCHOENDORFER et al.,2015).
O estudo realizado na Dinamarca que analisou os defeitos congênitos das crianças
nascidas de mãe que foram expostas a drogas antitireoidianas constatou efeitos significativos
para malformações na região da face/pescoço e no sistema urinário (ANDERSEN et al., 2014).
O uso do tramadol, opiácio utilizado para analgesia de dores de intensidade mode-
rada à grave (CLORIDRATO DE TRAMADOL, 1999), por mulheres no início da gravidez,
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
apresentou fraco risco de malformação congênita em crianças expostas ao fármaco ou a
outros opiáceos durante o desenvolvimento inicial (KÄLLÉN; REIS, 2017).
Estudo que buscava analisar a relação entre a exposição precoce à terapia de repo-
sição de nicotina e tabagismo com anomalias congênitas na prole apontou que os filhos de
mulheres que fizeram o tratamento de reposição de nicotina no início da gravidez não tiveram
risco aumentado de anomalias congênita quando comparados com os filhos de mulheres
que fumaram durante a gravidez (DHALWANI et al., 2015).
Estudo Holandês, realizado mães cujo filhos haviam alguma anomalia congênita, evi-
denciou que as interações medicamentosas mediadas pela P-gp, que atua como uma bar-
reira placentária está intimamente relacionada a resistência à múltiplas drogas, estão as-
sociadas ao risco aumentado para anomalias específicas cardíacas e musculoesqueléticas
(DAUD et al., 2015).
Pesquisa que investigaram o uso de fármacos no tratamento dermatológico, fortemen-
te ligado a estética facial (CHU et al., 2016) não encontraram nenhum tipo consistente de
malformação (ZOMERDIJK et al., 2014; BRIN et al., 2016). No entanto, dados divergentes
foram observados na pesquisa realizada na Holanda, em que cinco dos 53 fetos expostos a
isotretinoína tiveram um desfecho adverso fetal ou neonatal, incluindo três mortes intraute-
rinas e dois nascidos vivos com anomalias congênitas maiores (ZOMERDIJK et al., 2014).
O uso de fármacos que atuam no sistema musculoesquelético apresentou um ris-
co significativamente aumentado para de anomalia congênita (CARBONELL et al., 2017).
Também, o uso de mesilato de Imatinibe, fármaco usado para tratar certos tipos de câncer,
revelou efeito teratogênico, causando malformações crânio faciais, dextrocardia, hemiver-
tebra na região torácica e espinha bífida occipital cervical, além de ventriculomegalia leve
(JAIN et al., 2015).
Os problemas materno-fetais referentes ao consumo de substâncias psicoativas ilíci-
tas e licitas por gestantes e puérperas apresentam a mesma magnitude que os fármacos
supracitados. O uso dessas substâncias psicoativas afeta diretamente a saúde do binômio
mãe e bebê. Nos lactentes, as consequências foram observadas no atraso do desenvolvi-
mento neuropsicomotor (CHANG et al., 2016), sendo mais afetada a área motora grossa,
maior prevalência de infecção neonatal, displasia broncopulmonar (PORTO et al., 2018)
e anomalias do sistema nervoso central com defeito não neural (DAVID et al., 2014). Nas
gestantes e puérperas as consequências observadas foram o aumento da frequência car-
díaca, complicações respiratórias, dor torácica, tremores, hiperatividade e má nutrição (
DIEHL et al., 2017).
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Aborto e Morte Neonatal
CONCLUSÕES
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403
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
28
Visão das mulheres sobre a sífilis na
gestação: subsídios para a assistência
de enfermagem
10.37885/210303992
RESUMO
A sífilis na gestação impõe riscos obstétricos e neonatais adicionais, como aborto, parto
prematuro, morte neonatal e manifestações congênitas. Essas são situações passíveis de
prevenção com diagnóstico e tratamento oportunos, nas quais o enfermeiro apresenta-se
como corresponsável na promoção da saúde da mulher. A compreensão do conheci-
mento das mulheres sobre essa temática é uma importante estratégia para a redução
do ciclo da infecção e a possibilidade de se estabelecer o cuidado a partir da demanda
dessa clientela. Objetivo: Analisar o conhecimento da mulher sobre sífilis na gestação
e descrever as orientações recebidas sobre a prevenção de Infecções Sexualmente
Transmissíveis. Método: Pesquisa qualitativa descritiva-exploratória com participação
de 25 mulheres diagnosticadas com sífilis na gestação. O local de estudo foram duas
maternidades públicas do município do Rio de Janeiro, Brasil. As informações foram ob-
tidas através de um questionário semiestruturado e analisadas pelo Discurso do Sujeito
Coletivo. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Resultados: A partir
da transcrição das entrevistas e das ideias-centrais emergiram 4 categorias de análise:
1) conhecimento sobre Infecções Sexualmente Transmissíveis; 2) conhecimento sobre
sífilis na gestação; 3) conhecimento sobre transmissão vertical da sífilis; e 4) fontes de
informação. Conclusão: Verificou-se conhecimento superficial das mulheres sobre a
temática em estudo. Não foi observada relação entre o conhecimento quanto ao modo de
prevenção e transmissão das Infecções Sexualmente Transmissíveis com uso consistente
do preservativo. Ressalta-se o interesse dessas mulheres em esclarecer informações
sobre a sífilis na gestação, o tratamento e as suas repercussões maternas e fetais.
405
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO
OBJETIVO
MÉTODO
408
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
RESULTADOS
Inicialmente foi traçado o perfil sociodemográfico das participantes, que tinham a faixa
etária de 18 a 42 anos, com maioria (17) entre 18 e 29 anos, sendo uma população a carac-
terística do principal grupo atingido por IST assintomática em âmbito nacional. Em relação
à autodeclaração da raça/cor de pele, 15 se declararam pardas, seguidas por 8 pretas,
resultado semelhante ao perfil epidemiológico de gestantes com sífilis no Brasil no ano de
2019. Quanto à escolaridade, 9 declararam ter cursado o ensino médio completo, 8 o ensino
fundamental, 5 não concluíram essa fase do ensino formal, 2 concluíram o ensino superior
e 1 declarou ser analfabeta.
A ocupação predominante foram as atividades do lar, exercidas por 19 participantes,
outras 6 relataram ainda acumularem outras ocupações, como advogada, ascensorista,
auxiliar administrativo, auxiliar de serviços gerais, auxiliar de vendas e manicure, cada um
destas com 1 mulher respectivamente.
O local de residência foi a região de Jacarepaguá, dado este que se justifica, consi-
derando que a maior parte dessas mulheres foi entrevistada em uma maternidade dessa
região. Quanto ao estado civil, 11 declararam união estável, seguidas por 6 casadas e 1
namorando. Dentre as 18 com parceiro, este foi identificado como pai do bebê da gestação
atual, com uma média de relacionamento de 1 a 5 anos, conforme relato de 15 participantes
(WHO, 2007; CASTRO et al., 2016).
O perfil obstétrico de 14 participantes foi de primeira gestação com realização da pri-
meira consulta de pré-natal com até 12 semanas seguindo a recomendação da Organização
Mundial em Saúde (OMS) como um dos critérios de qualidade para a atenção pré-na-
tal. Do total, 21 mulheres realizaram no mínimo 6 consultas e iniciaram o pré-natal até o
4º mês de gestação, condições básicas estabelecidas pelo Programa de Humanização no
Pré-natal e Nascimento (PHPN) para uma assistência pré-natal efetiva (DANTAS et al.,
2015; SILVA et al., 2016).
Dentre as mulheres que estavam em sua segunda gestação ou mais, 10 realizaram
pré-natal em gestação anterior, dado favorável para o acompanhamento do processo gesta-
cional junto a uma unidade de saúde. Uma mulher declarou não ter realizado o pré-natal na
gestação anterior, em detrimento a um aborto espontâneo antes do diagnóstico de gravidez.
Após traçado o perfil, emergiram 4 categorias de análise: Conhecimento sobre Infecção
Sexualmente Transmissível; Conhecimento sobre Sífilis na gestação; Conhecimento sobre
transmissão vertical da sífilis; e Fonte das informações obtidas pelas mulheres.
A partir dos áudios transcritos extraiu-se de cada um dos depoimentos, as IC, estas que
são expressões que revelaram de forma sintética e mais precisa os sentidos presentes em
cada uma das respostas analisadas e de cada conjunto de ECH, sendo estes trechos das
409
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
transcrições que revelaram a essência do conteúdo do discurso das mulheres, compondo
o discurso-síntese o qual originou o DSC (FONTE et al., 2012).
Ao serem questionadas sobre o que sabiam acerca das IST, foram identificadas 2 IC,
as que referiram algum conhecimento sobre IST e as que relataram conhecimento sobre a
forma de contágio das IST.
Agora falando assim eu não sei muito bem, o que eu vi é que é perigoso,
né? Agora essa de sífilis, AIDS, de condiloma, acho que eu já ouvi alguém
falando, eu só sei dessas, só lembro dessas mesmo. Diz que se a pessoa
não se tratar corre risco. Eu sei mais ou menos sobre a sífilis porque eu tive
durante a gravidez. Eu achei que sabia mais e que tivesse sintoma, mas não
tem nenhum. A gente sempre acha que sabe tudo, né? ‘Ah é só usar cami-
sinha que você não vai ter’, pultz, doce ilusão, é sinal de que você não sabe
nada. A falta de orientação, de informação e de buscar, né? Eu pelo menos
não dei muita importância. Se não usar camisinha dependendo se a pessoa
tiver o vírus vai passar para você (DSC 1).
Eu já estudei muito sobre essas coisas, mas na verdade eu nunca levei muito
fé. Sabia só o que eu pesquisava mesmo, porque eu comecei minha atividade
sexual cedo, já ouvi falar muitas coisas, só de ver as fotos eu tenho medo. Só
quando eu passei pela situação fiquei desesperada e falei não aceito, como
assim? Imagine a pessoa tratando aquilo? Eu nem gosto de tomar remédio,
então tomar remédio por DST não ia dar certo. Sei algumas coisas sobre a
gonorreia, a doença do galo que também tem nos homens, que a grande
maioria deixa sequela ou mata. Sobre doença sexualmente transmissível o
que eu entendo é que é uma consequência é uma doença que umas tem cura
outras não, HIV, sífilis entre outras, né? São transmitidas durante o ato sexual
sem proteção e podem causar resultados gravíssimos para a mulher, para
o parceiro e é ruim para o filho. A AIDS é uma doença que tem tratamento,
mas não cura né?! É contagiosa e é transmissível. A minha irmã tem essa
HIV, ela deve ter pego sexualmente também. Ela se cuida. Essa daí também
é perigosa, né? Só de imaginar ter que ficar tomando coquetel de remédio,
um monte de coisa, eu não sirvo para isso. O que ela está passando eu
não quero passar, graças a Deus essa aí eu não peguei, não sei por que eu
peguei a sífilis. Na minha cabeça isso vinha de pessoas que fazia sexo com
qualquer pessoa, de prostituição e de puteiro. As pessoas que tinham seus
relacionamentos fixos não tinham isso, então o que eu poderia falar é que
foi uma grande surpresa para mim. Dependendo do tratamento é bastante
doloroso e pode prejudicar lá na frente, tipo agora que está me prejudicando
bastante e a vida do meu filho, então é complicado. É mais fácil se prevenir
do que ficar passando por isso tudo e ainda atingindo pessoas que não tem
nada a ver. Na verdade, doença não tem rosto, não é porque aquela pessoa é
bonita que ela não vai ter uma doença, não é por que você ficou 3 anos com
aquela pessoa que ela não vai te passar uma doença, acontece, ninguém
está livre de passar por isso, mas tem como se prevenir (DSC2).
410
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Categoria 2 - Conhecimento sobre sífilis na gestação
Eu não sabia de nada, praticamente nada, eu nem imaginava que tinha isso.
Eu sei que não há sintomas mas que alguns casos a pessoa fica com alguma
coisinha no rosto, ardência eu acho que é isso. O que me falaram é que faz
mal para o neném, não sei muito, sei também que eu estou (DSC3).
Sei poucas coisas, na mãe pode subir o nível de sífilis e sei lá algo mais grave.
Com relação à sífilis congênita eu só sei que pode ser transmitida pelo san-
gue, é uma doença sexualmente transmissível, pode passar para o neném,
é inevitável, são casos de 90%, né? Eu descobri que é uma doença muito
grave tem três, a mais fraquinha, a segunda e a mais grave. Eu fiquei sabendo
quando peguei aí eu comecei a me desesperar e comecei a correr atrás. Me
disseram que no bebê podia causar malformação. Se eu não me engano a
criança pode ficar surda, cega e outros probleminhas de doença mental, o
bebê pode sair bastante prejudicado, essas coisas. Poderia acontecer dele
morrer na minha barriga e eu não conseguir ter o bebê. Se o parceiro não
tratar é transmissível, ela passa para ele, ele passa para ela. E por isso é
importante o uso da camisinha para prevenir. Tem que evitar ter relação sexual
porque sem camisinha pode alimentar a bactéria e eu fazendo tratamento
estou evitando e eu tenho que zerar, né? O foco é zerar. Tem tratamento, é
doloroso, mas é melhor que seja evitado. Eu fiquei sabendo que tinha que
fazer tratamento para o bebê não ter nenhuma deficiência, mas que se não
aparecer agora poderá aparecer mais tarde (DSC 4).
Quase nada, nada vezes nada. A drª. não me explicou. Eu sei que nele
[bebê] as coisas são bem maiores pode acarretar mais sequelas que em
mim. Geralmente pode ficar com alguma doença mais grave e pode ficar
bobinho (DSC 5).
Pouca coisa, mas o que eu sei é que é perigoso e prejudica a criança. Está
no meu organismo, né? Vai parar na minha placenta e vai para ela. Eu sei
411
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
que a transmissão para o bebê pode ser pelo sangue, mas a princípio o que
eu soube é por conta da formação dela[bebê], que poderia ou não passar por
meio do contato dela com o meu sangue durante a gravidez, tanto no início
como mais para o final. Eu cheguei até perguntar mas eu não entendi muito
bem a explicação da enfermeira. Sei que quando a bolsa estoura você pode
passar sífilis ou a AIDS para criança, ou por meio de feridas, foi isso que me
falaram. Também durante a amamentação se caso o nível esteja alto e o seio
da mãe tiver machucado aí pode transmitir para ela [bebê] caso sangre. Ela
falou que se eu não fizer o tratamento pode afetar o bebê, ela ficar especial,
dá problema na cabeça, traz sequelas, malformação nos ossos, microcefalia,
com o lábio cortadinho, cegueira que se fala? Alguma coisa assim, diversas
coisas, leva até a morte ou ele pode vir a nascer com sífilis também e que
se eu não fizer tratamento podia causar problema no bebê e até morrer na
barriga. Só sei essas coisas básicas, também do contágio na hora do parto,
se tiver alguma ferida. Para mim foi tudo muito silencioso, eu não tive ferida,
não tive coceira, eu não tive mancha no corpo, nenhum desses sintomas que
existem. Como não tive sintomas, posso já ter pego essa parada há muito
tempo e nem ter noção. Quando eu estava me tratando, no quarto mês de
gestação o exame mostrou que não tinha nada no meu sangue, então eu não
esperava que já tivesse passado para ela, entendeu? Mas quando foi agora
deu no resultado dela e no meu não deu. Eu comecei a tratar quando ela
[enfermeira] me falou, mas mesmo assim ainda passou um pouco para ela
[bebê]. Ele [parceiro] não fez o tratamento aí minha filha está tendo que tomar
medicação, já está sendo tratada para poder curar mas graças a Deus não
deu nada nela não, só passaram para mim que ela está fazendo medicação
porque ele não fez o tratamento junto comigo (DSC 6).
IC 1: Enfermeira
412
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
IC 2: Médico
IC 3: Meios de comunicação
IC 4: Internet
DISCUSSÃO
Por meio dos discursos, evidencia-se que o conhecimento sobre a sífilis emergiu após
o diagnóstico durante o pré-natal, período favorável à aproximação das mulheres ao serviço
de saúde. Segundo a OMS, a busca pelas clínicas de IST comumente ocorre a partir do
surgimento de sinais e/ou sintomas. Entretanto, como a sífilis, em sua fase inicial, é assinto-
mática, o estado gravídico oportuniza o diagnóstico, obtenção de informações e tratamento à
mulher. Nesse contexto, a assistência pré-natal apresenta-se como um momento estratégico
para o cuidado à saúde da mulher e de sua parceria sexual, assim como o rompimento da
cadeia de transmissão (POLGLIANE et al., 2014; SILVA et al., 2016).
O conhecimento é um importante instrumento na prevenção das IST, e por isso deve
ser acessível de modo que o indivíduo possa desenvolver a consciência dos riscos aos quais
expõe a si e suas parcerias sexuais. Entretanto, outros estudos evidenciam um conhecimento
raso em relação às IST, demonstrando divergência entre o conhecimento quanto ao uso do
preservativo e o uso adequado deste (FONTE et al., 2012; COSTA et al., 2013; Andrade
et al., 2015) ao encontro dos relatos das participantes da presente pesquisa.
413
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Apesar de, em algum momento, terem tido contato com o assunto, o conhecimento re-
latado foi superficial e compreendido como situação que não atingiria essa clientela. Em con-
traponto, reconhecem a importância do uso do preservativo como prevenção da transmissão
de IST, como descrito na seguinte expressão chave.
Se a pessoa tiver o vírus e não usar camisinha vai passar para outra pessoa
(ECH 6).
Olha eu sei é que ... ham... é... não há sintomas né? (ECH 2)
Ah... eu não sei de nada, o que me falaram é que faz mal pro neném, não
sei muito [...] (ICH3).
Que é uma doença sexualmente transmissível, que pode passar para o neném
e se o parceiro não tratar é bem transmissível, ela passa para ele, ele passa
pra ela e é grave, tem três, a mais fraquinha, a segunda e a mais grave. Cega
essas coisas assim (ECH2).
O reconhecimento da sífilis apenas como uma IST não contempla a real dimensão
do seu significado, haja vista a realidade da infecção e as possíveis consequências atrela
das. O DSC5 foi compatível com os demais DSC, os quais expressaram raso conhecimento
sobre IST e familiarização com a temática após o diagnóstico na gestação, achado de rele-
vância diante da magnitude da infecção por sífilis na gestação e semelhante aos resultados
de outros estudos (SIDIBÉ; SINGH, 2016).
Uma revisão sistemática e meta-análise realizada pela OPAS analisou artigos publica-
dos em bases de dados internacionais entre os anos 1945 a 2015 com o objetivo de estimar
relação entre sífilis na gestação e morte fetal nas Américas. Dentre os 19 estudos elegíveis,
concluiu-se que, na presença de infecção pelo T. pallidum durante a gestação, há 6,87 vezes
mais chances de morte fetal do que na ausência da bactéria. Essa mesma revisão destacou a
eficácia do tratamento da sífilis e da prevenção de intercorrências perinatais (COSTA, 2012).
Apesar de neste estudo não ter se analisado o tratamento realizado pelo parceiro, a
não adesão deste foi evidenciada nos discursos, como é destacado abaixo.
Ele não fez o tratamento, aí minha filha está tendo que tomar medicação
(ECH 4).
Mas eu queria saber se tem cura mesmo e se para ou volta e na internet fala
que volta que fica indo, entendeu? (ECH 6).
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
A eliminação da transmissão vertical da sífilis e do HIV teve como primeiro registro em
Cuba, o primeiro país com certificação pela OMS. A validação é considerada quando as ta-
xas são inferiores a 50 casos por 1.000 nascidos vivos e quando os serviços prestados são
livres de coerção. Apesar de poucas informações divulgadas sobre as estratégias utilizadas,
profissionais de saúde relataram estratégias pré-concepcionais como o incentivo aos casais
quanto ao uso de preservativo até que ambos desejassem engravidar, nesse caso, realiza-
-se exame anti-HIV e, se o resultado de ambos for não reatores, orientava-se à concepção.
Utilizando-se como foco a saúde preventiva, diante de recursos financeiros limitados, ob-
serva-se uma possibilidade de resultados satisfatórias na atenção à saúde (COSTA, 2021).
Posteriormente, a Tailândia foi o segundo país a alcançar essa certificação, utilizan-
do estratégias parecidas para a redução das taxas de transmissão vertical, foi instituída
a educação familiar e pré-concepcional, aconselhamento e incentivando aos casais a se-
rem testados para o HIV antes da concepção, práticas vigentes desde a década de 1990
(SIDIBÉ; SINGH, 2016).
Essas boas práticas vêm sendo implementadas em alguns municípios no Brasil com
resultados satisfatórios, como em Vitória da Conquista, BA, com investimento na capacitação
profissional e planejamento familiar como oportunidade de captação precoce das gestantes,
triagem da sífilis e HIV também em não gestantes e em homens. Em Londrina, PR, a forma-
ção de Grupo de Trabalho para discutir questões relacionadas à sífilis e SC vem obtendo
melhora na detecção de casos e adesão ao tratamento (BRASIL, 2015).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Transmitidas principalmente por via sexual, as IST são causadas por diversos agentes
etiológicos (vírus, bactérias, fungos e protozoários), possuem múltiplas apresentações clíni-
cas, com impacto na qualidade de vida, além de impor maior vulnerabilidade para a transmis-
são do HIV e, frequentemente, associar-se a sentimentos de culpa, discriminação e estigma.
Dentre os desafios, apresenta-se a capacitação profissional, a sensibilização da po-
pulação e os conhecimentos sólidos que ancorem o autocuidado. Diante da gravidade da
infecção e a potencialidade de sucesso no tratamento adequado, torna-se premente o en-
frentamento e a quebra da cadeia de transmissão.
Os resultados apresentados evidenciam um conhecimento raso e difuso sobre IST e
sífilis na gestação, diante da escassa produção científica com abordagem do conhecimento
no ponto de vista da mulher e considerando a magnitude da situação da sífilis no mundo,
investigações adicionais poderão corroborar com os resultados aqui apresentados. Como
limitações, apresenta-se o quantitativo de mulheres participantes, o que torna os resultados
não replicáveis.
418
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
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421
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
29
Vivências do enfermeiro no cuidado ao
recém-nascido de alto risco: estudo
fenomenológico
10.37885/210202958
RESUMO
423
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
INTRODUÇÃO
OBJETIVO
425
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
MÉTODO
Aspectos éticos
Foi utilizado, portanto, o método fenomenológico, tendo em vista que, de acordo com
Cappi(8), a fenomenologia“é um rigoroso olhar metodológico a respeito do real, é uma
opção radical de percepção” a fim de desvelar significados, criar valores e assumir respon-
sabilidades. Tudo que se oferece ao conhecimento humano pode ser chamado de realida-
de fenomênica(9).
A predileção pela fenomenologia ou método fenomenológico está ancorada na pers-
pectiva dos fenômenos humanos, tais como vividos e experienciados. Tem como questão
central a reflexão sobre o mundo vivido.
O respaldo na fenomenologia da percepção de Maurice Mer- leau-Ponty baseia-se em
apreender o fenômeno na sua totalidade por meio de aspectos relevantes tais como: vivên-
cias passadas e presentes e o porvir em relação ao recém-nascido de alto risco em todas
as suas dimensões: percepções, historicidade, mundo da vida, corporeidade, espacialidade
e temporalidade.
Dessa forma, o corpo que o homem não vê e não percebe, ou seja, o das suas vivências,
o fenomenal, que funda o corpo objetivo e aplica-se ao espaço e ao tempo e os envolve. Ele
também tem seu mundo e o compreende sem funções objetivas.
Tipo de estudo
426
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Procedimentos metodológicos
Cenário do estudo
427
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Análise dos dados
RESULTADOS
A análise descritiva dos dados teve como objetivo descrever os perfis característicos
dos profissionais. A amostra base desta pesquisa foi formada por 30 profissionais, sendo
2 do sexo masculino (6,7%) e 28 do sexo feminino (93,3%). Dos 30 profissionais, 24 (80%)
tinham curso de atualização em neonatologia e 6 deles (20%) não tinham tal curso. Houve
uma ocorrência dos seguintes cursos de atualização: a) capacitação pós e acupuntura e
fisioterapeuta; b) capacitação residência clínica médica cirúrgica e saúde da família; e c)
residência em clínica e cirurgia geral.
Tipicamente, o profissional participante desta pesquisa tinha de 41 a 47 anos (36,7%
dos casos), era graduado há um tempo de 8 a 13 anos (30%) com experiência em UTI neo-
natal de 1 a 6 anos e trabalhava em plantão diurno (50%).
Quando foram analisados os dados das entrevistas, foi possível descrever os signifi-
cados atribuídos pelos participantes no contexto de vivências na UTIN com recém-nascido
de alto risco, permitindo a apreensão de três categorias, as quais serão apre- sentadas a
seguir: “corpo vivido do profissional enfermeiro sobre o recém-nascido de alto risco”; “mundo
428
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
vivido do profissional enfermeiro sobre o recém-nascido de alto risco”; e“tempo vivido do
profissional enfermeiro sobre o recém-nascido de alto risco”.
Na primeira categoria, desvelou a partir das falas dos enfermeiros que descrevem o
cuidado ao recém-nascido como um corpo vivido, ou seja, o corpo objetivo (fisiológico) e
corpo subjetivo (virtual).
O corpo objetivo é apenas um momento na constituição do objeto. Retirado do mundo
objetivo, arrastará os fios intencionais que o ligam ao seu ambiente e finalmente nos revelará
o sujeito que percebe, bem como o mundo percebido(7).
Diante disso, no momento do enfermeiro realizar suas atividades, ou seja, procedimen-
tos e cuidados ao recém-nascido, não se atenta a procurar suas mãos, seus dedos, músculos,
nervos, pois eles não são objetos desse espaço objetivo, são influências já mobilizadas pela
sua percepção com fios intencionais que se unem aos objetos dados. Ao cuidar do corpo,
ele percebe um “além” do corpo, ou seja, é ontológico. Mesmo diante da complexidade do
cuidado direcionado ao RN, a atitude da intersubjetividade prevalece.
[...] Ele é um serzinho individual […]o que um está sentindo e o outro está
sentindo, são percepções diferentes, são mundos diferentes, são corpinhos
diferentes, são sentimentos diferentes, são fases de internações diferentes,
são idades gestacionais diferentes. […] (E05)
[…] se ele [recém-nascido] está sentindo dor, quais são suas características
de dor, a face dele, se ele está chorando, se você acha que ele está chorando
por dor, por fome, acho que cada um tem sua parte individual. (E05)
[…] primeiro o fato de ser o recém-nato, então, é uma criança que você tem
que ter uma percepção das habilidades, ela não consegue se comunicar
com você, então são sinais que você vai ter que perceber, vai ter que ter não
só o conhecimento técnico científico mas até uma intuição no cuidado, né,
dependendo do seu tempo de prática pra poder interpretar os sinais que a
criança vai trazer pra você, né […]. (E26)
429
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
O participante acima, baseado em sua historicidade, percebe a complexidade do cui-
dado, das suas vivências no complexo neonatal, pois carrega um passado antes de estar
no presente, o passado de suas vivências. Com isso, compreende o olhar crítico relacionado
ao cuidado ao recém-nascido, descrevendo uma assistência adequada junto com a equipe multi-
profissional, mesmo em situações de desgaste físico.
Ele vai muito mais além do que uma coisa técnica, um cuidado, que um pro-
cedimento, por exemplo. É um cuidado complexo, para começar, e vai muito
mais além do que um cuidado técnico, né? […]. (E15)
Na fala acima, destaca o depoente que vivencia o universo neonatal o qual desconhe-
cia, em uma atitude de desnaturalizar, despir-se da ciência e chegar ao natural para com-
preender esse universo e no futuro descrevê-lo com sua vivência. Com isso, o enfermeiro
que atuava com o paciente adulto e que, por algum motivo, passou a atuar no cuidado ao
recém-nascido de risco, em uma redução fenomenológica, começou a ver e perceber o
mundo de uma forma diferente.
Dentro dessa perspectiva, os enfermeiros que passaram a habitar o universo neonatal,
tanto no campo objetivo quanto no campo subjetivo, desconstruíram e construíram experiên-
cias e vivências como outros profissionais já inseridos nesse mundo profissional. Porém, a
fala anterior do depoente mostra que não optou pela neonatologia e sua estadia no mundo
neonatal é gerada por satisfações, expectativas e fortalecimento do conhecimento científico.
430
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
[…] você tem 15, 20 anos de profissão e você ainda diminui o tom de voz
para falar com a criança e vai lá e fala perto dela com denguinho então, isso
me deixa bem emocionada de ver, né? […]. (E22)
[…] às vezes a gente não está num bom momento, muito sobrecarregada
de serviço, no corre-corre do dia a dia, dentro da UTI, e muitas coisas nos
passam desapercebido, e a gente tem que parar, dar um tempo, para poder
entender tudo que aquela criança está querendo nos passar. (E08)
[…] eu ficava muito agoniada de trabalhar no primeiro momento com ele, com
o recém-nascido, e por você saber que o bebê foi muito esperado, eu sei que
não por todas as mães, mas pela grande maioria […], ali na hora que ele
nasce, não ser aquilo que a mãe esperava, então, aquilo me dava um pouco
de medo, de receio […]. (E16)
O discurso acima diz que o bebê idealizado pela mãe e que se encontra no momento
dentro de uma UTI, faz emergir sentimentos de medo, angústia e apreensão pelo profis-
sional enfermeiro. Ao saber compreender o recém-nascido e sua família em momentos tão
dolorosos, o enfermeiro aprende a minimizar tanto sofrimento, iniciando pelo seu, em uma
atitude de intersubjetividade.
431
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
DISCUSSÃO
433
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
Um estudo da Coreia demonstra que é de suma importância notar que a separação de
sua mãe e o ambiente da UTIN se limitam à interação dos sentidos visuais, auditivos e táteis
entre mães e filhos, causando ansiedade nas genitoras, o que afeta o vínculo materno. Além
disso, é uma experiência estressante para elas, pois sentem-se culpadas por pensarem que
o parto foi prematuro por descuido(21).
Portanto, em uma atitude de intersubjetividade, ou seja, envolvimento com a família,
o enfermeiro, além de realizar o cuidado direcionado ao binômio mãe e filho, intermediando
esse vínculo, aproxima também outros entes da família como os pais, avós e filhos, com-
partilhando desse momento tão delicado.
Limitações do estudo
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo nos permitiu descrever, através das falas dos participantes, que o cuidado
ao recém-nascido de alto risco é amplo, ou seja, objetivo, subjetivo e realizado com tecno-
logias avançadas, suas vivências e aprimoramento científico composto do teórico prático
compartilhado com a família, profissionais e iniciantes no universo neonatal, favorecendo
434
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
um cuidado diferenciado e humanizado. Porém, alguns desafios enfrentados pelo profis-
sional enfermeiro, como a jornada de trabalho duplicada e desgaste físico e emocional, os
direcionam a determinada tomada de decisão e reflexão.
FOMENTO
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Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
SOBRE O ORGANIZADOR
Lattes: http://lattes.cnpq.br/3534582408466846I
437
Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar
ÍNDICE REMISSIVO
367
A
Diagnósticos Laboratoriais: 181
Acesso aos Serviços de Saúde: 372, 375
Dinamômetro: 62
Aids: 141, 230, 254, 258, 259, 266, 267, 413,
419, 421 Doenças Sexualmente Transmissíveis: 421
Atenção Básica: 253 Drogas: 388, 390, 392, 393, 399, 400, 401, 403
Atitudes: 372 E
B Educação Sexual: 354
Câncer de Mama: 98, 101, 102, 162 Enfermagem: 25, 26, 28, 42, 43, 45, 47, 55, 56,
57, 59, 73, 76, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 87,
Câncer de Ovário: 165 89, 90, 93, 98, 99, 100, 101, 120, 129, 130, 131,
132, 136, 150, 153, 230, 235, 250, 254, 271,
Capacidade Funcional: 62 280, 284, 288, 289, 314, 330, 331, 341, 342,
343, 345, 347, 348, 350, 351, 352, 353, 354,
Classificação: 98, 100, 153, 198, 211
355, 357, 358, 359, 362, 363, 364, 365, 369,
Climatério: 17, 19, 24, 25, 26, 269, 277, 278 370, 372, 383, 384, 388, 390, 392, 401, 403,
408, 420, 423, 435, 436
Competência Profissional: 45
Enfermagem Obstétrica: 45
Conhecimento: 82, 195, 269, 272, 284, 289,
366, 384, 405, 409, 410, 411, 420, 421 Enfermeira Obstétrica: 45
Cuidados: 84, 85, 86, 87, 90, 93, 98, 129, 211, Equipe Multidisciplinar: 134
357, 360, 392
Ética: 49, 54, 71, 80, 81, 82, 83, 84, 105, 108,
Cuidados de Enfermagem: 84, 86, 87, 90, 357, 111, 115, 116, 122, 125, 126, 127, 128, 129
360
Exames: 140, 180, 183, 246
D
F
Desinstitucionalização: 269
Fatores de Risco: 99, 165, 212, 309
Diagnóstico: 97, 153, 188, 189, 220, 266, 287,
291, 295, 300, 364, 385, 401 Funcionalidade: 196, 198, 211
Gravidez: 328, 354, 388, 390, 401 Risco: 99, 194, 224, 286, 289, 353, 365, 366,
367, 385, 423
H
S
Hiperglicemia: 215, 216
Saúde da Mulher: 134, 370
I
Saúde Reprodutiva: 227
Itinerário Terapêutico: 383, 384, 386
Sexualidade: 139, 345, 350, 354
L
Sífilis: 187, 188, 195, 253, 261, 264, 267, 405,
Lactentes de Risco: 197 406, 409, 419, 420, 421
M T
Mastectomia: 159 Transtornos: 287, 388, 390, 392
O
Obstetrícia: 53, 57, 70, 122, 151, 162
P
Pandemia: 316
Parto: 28, 42, 62, 216, 220, 238, 250, 288, 289,
309, 328, 388, 390, 392
Prisioneiros: 328
Prisões: 328
editora científica