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Samylla Maira Costa Siqueira

Organizadora

COVID-19
O TRABALHO DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE
EM TEMPOS DE PANDEMIA

editora científica
Samylla Maira Costa Siqueira
Organizadora

COVID-19
O TRABALHO DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE
EM TEMPOS DE PANDEMIA

1ª EDIÇÃO

editora científica

2021 - GUARUJÁ - SP
Copyright© 2021 por Editora Científica Digital
Copyright da Edição © 2021 Editora Científica Digital
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APRESENTAÇÃO

Em meio ao enfrentamento de uma situação nunca experienciada por profissionais de saúde e população
em geral, apresentamos a obra intitulada “COVID-19: O TRABALHO DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE
EM TEMPOS DE PANDEMIA”, a qual é produto do esforço conjunto de diferentes atores engajados na
organização de uma obra que, espera-se, possa contribuir substancialmente para a prática em saúde
durante o enfrentamento da pandemia de COVID-19, para o cuidado qualificado ao paciente acometido
por esse agravo e para a exortação da Ciência. O livro é composto por capítulos variados, todos voltados
para a prática de diferentes categoriais profissionais que se encontram ou não na linha de frente para o
combate à pandemia. Como diferencial, destaca-se o fato de abordar, além dos aspectos assistenciais, a
visibilidade às questões relativas ao processo de trabalho dos profissionais da Saúde. Reconhecendo-se
a inestimável colaboração de cada um dos seus partícipes, agradecemos pelo engajamento de todos os
envolvidos: autores e coautores, equipe editorial e ao veículo de publicação. Como forma de prestar a
devida homenagem àqueles que se comprometem com Ética, Ciência e Sensibilidade a cuidar da saúde
das pessoas, dedicamos essa obra aos profissionais de saúde que se encontram na linha de frente para
o combate à pandemia de COVID-19.

Samylla Maira Costa Siqueira


Organizadora
SUMÁRIO
CAPÍTULO 
01
A CONTINUIDADE DA ASSISTÊNCIA NO TRAUMA DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19
Thâmela Thaís Santos dos Santos; Manuella Matos de Azevedo

DOI: 10.37885/210203287................................................................................................................................................................................... 14

CAPÍTULO 
02
A INTERDISCIPLINARIDADE DA TELESAÚDE E SUA VISIBILILDADE NA ÉPOCA DA PANDEMIA: NOVAS TECNOLOGIAS
RESOLVENDO ANTIGOS PROBLEMAS
Beatriz Vieira Gomes; Silvia Cristina Vieira Gomes; Rodrigo Fernando Marandola

DOI: 10.37885/201202650..................................................................................................................................................................................25

CAPÍTULO 
03
A PESQUISA EM CIRURGIA EM TEMPOS DE PANDEMIA: O USO DE DISPOSITIVOS DE AQUECIMENTO EM PACIENTES
COM HIPOTERMIA PÓS-OPERATÓRIA NA FUNDAÇÃO HOSPITAL ADRIANO JORGE
Talita Araújo Sobreira; Andréa Costa de Andrade; Daniel Wajnperlach

DOI: 10.37885/210202999..................................................................................................................................................................................34

CAPÍTULO 
04
ACNE VULGARIS PROVOCADA PELA MÁSCARA
Nágila Bernarda Zortéa; Alexandra Brugnera Nunes de Mattos; Micheila Alana Fagundes

DOI: 10.37885/210102700.................................................................................................................................................................................. 44

CAPÍTULO 
05
ALOCAÇÃO DE RECURSOS PARA ASSISTÊNCIA À SAÚDE EM TEMPOS DA PANDEMIA DE COVID-19: REVISÃO INTEGRATIVA
Karla Rona da Silva; Fátima Ferreira Roquete; Adriane Vieira; Fernanda Gonçalves de Souza; Shirlei Moreira da Costa Faria; Bruno
César Ferreira Peixoto; Débora Luciana Aparecida Silva; Marina Lanari Fernandes
DOI: 10.37885/210202955................................................................................................................................................................................. 50

CAPÍTULO 
06
BURNOUT ENTRE PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM EM ÉPOCA DE CORONAVÍRUS: O QUE DIZEM AS EVIDÊNCIAS
CIENTÍFICAS?
Alice Beatriz de Oliveira Sampaio; Aline Paranaguá Cirqueira; Filipe Souza Leite de Brito; Samylla Maira Costa Siqueira

DOI: 10.37885/201202671.................................................................................................................................................................................. 64
SUMÁRIO
CAPÍTULO 
07
CRIAÇÃO DE FLUXO ASSISTENCIAL PARA PESSOAS COM FERIDAS COMPLEXAS, NO CONTEXTO DA PANDEMIA DA
COVID-19

Rose Ana Rios David; Fernanda Matheus Estrela; Claudia Silva Marinho; Renata da Silva Schulz; Juliana Bezerra do Amaral; Nayara
Silva Lima; Janaína Nascimento Lassala; Daniela Alencar Vieira; Ana Paula Fernandes; Onsli dos Santos Almeida; Amanda Cibelle
Gaspar dos Santos; Mirela Argolo Ferreira; Renata Pacheco Reis; Getisêmani Kundsen Menezes Santos

DOI: 10.37885/210203321................................................................................................................................................................................... 76

CAPÍTULO 
08
CUIDADOS DE ENFERMAGEM AO PACIENTE COM DOENÇA RENAL CRÔNICA EM TEMPOS DE PANDEMIA: REVISÃO DE
LITERATURA
Gessianny Emanuelly de Lima Silva; Samira Mislane da Silva Santos; Taís Badé da Silva; Angélica de Godoy Torres Lima; Suênia de
Sousa Silva Batista; Iracema Mirella Alves Lima Nascimento; Mirtson Aécio dos Reis Nascimento
DOI: 10.37885/201202675.................................................................................................................................................................................. 84

CAPÍTULO 
09
DESENVOLVIMENTO DE VÍDEO EDUCATIVO SOBRE OS IMPACTOS DO ISOLAMENTO SOCIAL NA SAÚDE MENTAL DOS
IDOSOS
Denise Conceição Costa; Izadora de Sousa Neves; Ana Larissa Gomes Machado

DOI: 10.37885/210203409................................................................................................................................................................................. 95

CAPÍTULO 
10
EVIDÊNCIAS ESTRATÉGICAS PARA O TRATAMENTO DE GESTANTES COM INFECÇÕES POR CORONA VÍRUS: REVISÃO
INTEGRATIVA
José Francisco Ribeiro; Arianne Lara Ibiapina Ribeiro; Adriana Pereira Ibiapina Ribeiro; Cleonilde Alves da Silva Costa; Maria Elidiane
Lopes Ferreira Lima; Annelli Victória Moura Oliveira
DOI: 10.37885/210202982............................................................................................................................................................................... 102

CAPÍTULO 
11
IMPACTO DA VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA NA MORTALIDADE DOS PACIENTES DE CÂNCER PULMONAR E DE
COVID-19
Khívio Dantas Souza; Gabriel Lucena Reis; Deborah Maria Simões; Ana Beatriz Mesquita Andrade; Lyvia Maria Fernandes; José Jailson

Costa Nascimento

DOI: 10.37885/210203002................................................................................................................................................................................ 115


SUMÁRIO
CAPÍTULO 
12
IMPACTOS E DESAFIOS DA ASSISTÊNCIA ONCOLÓGICA DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19
Laís Silva Sousa; Kimberlly Nava Flores; Rhuana Lima Ximenes; Cleber Queiroz Leite; Daiane da Costa Menezes; Gricia Aparecida
Rodrigues de Souza; Priscila Barbosa de Souza Cardoso; Juliana Meira Amorim
DOI: 10.37885/210303539............................................................................................................................................................................... 126

CAPÍTULO 
13
IMPACTOS NA SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE NO ENFRENTAMENTO DA COVID-19

José Aderval Aragão; Layla Raíssa Dantas Souza; Bianca Holz Vieira; Francisco Prado Reis

DOI: 10.37885/210303550................................................................................................................................................................................133

CAPÍTULO 
14
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE COVID-19 NO INTERIOR DE GOIÁS

Gabriela Camargo Tobias; Ligia Vanessa Silva Cruz Duarte; Amanda Caroline da Silva Faria; Bruna Aniele Cota; Cristiane Chagas Teixeira

DOI: 10.37885/201102355................................................................................................................................................................................ 144

CAPÍTULO 
15
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS CASOS CONFIRMADOS DE COVID-19 NO ESTADO DE GOIÁS

Gabriela Camargo Tobias; Cristiane Chagas Teixeira

DOI: 10.37885/201102353.................................................................................................................................................................................155

CAPÍTULO 
16
PROCEDIMENTOS DE BIOSSEGURANÇA PARA AS REALIZAÇÕES DOS ATENDIMENTOS ODONTOLÓGICOS NO PERÍODO
PANDÊMICO DO COVID-19

Larissa Pinheiro de Araújo; Iany Rodrigues de Souza; Jabes Gennedyr da Cruz Lima; Luiz Gustavo Xavier; Cristiane Kalinne Santos
Medeiros; Débora Frota Colares; Thalita Yasmin Assis de Oliveira Guedes; Juliana Campos Pinheiro; Glória Maria de França;
Rafaella Bastos Leite
DOI: 10.37885/210203052................................................................................................................................................................................ 167

CAPÍTULO 
17
PRODUÇÃO DO CUIDADO EM SAÚDE MENTAL E A COVID-19 NA CHAPADA VALE DO ITAIM-PI

Francisca Maria Carvalho Cardoso; Edna Maria Goulart Joazeiro

DOI: 10.37885/210203328................................................................................................................................................................................ 175


SUMÁRIO
CAPÍTULO 
18
SENTIMENTOS DESENVOLVIDOS PELOS ALUNOS DO ÚLTIMO ANO DO CURSO DE ENFERMAGEM RELACIONADO À
COVID-19
Adriane Bonotto Salin; Aline Araujo Maia Miola Freire; Amanda Daiana Pontes; Ana Célia Almeida de Brito; Gabriel Bezerra do
Nascimento Saraiva; Jéssica Sara Trindade de Deus; Josiane Brito da Cunha
DOI: 10.37885/210203349............................................................................................................................................................................... 192

SOBRE A ORGANIZADORA.................................................................................................................................. 213

ÍNDICE REMISSIVO.............................................................................................................................................. 214


01
“ A continuidade da assistência no trauma
durante a pandemia de COVID-19

Thâmela Thaís Santos dos Santos

Manuella Matos de Azevedo

10.37885/210203287
RESUMO

Logo no início de 2020 a população mundial começou a enfrentar a pandemia de SARS-


CoV-2, os sistemas de saúde encontraram uma severa dificuldade para ofertar aten-
dimento adequado aos infectados, e continuar dando suporte aos pacientes que já se
encontravam em situação de hospitalização e aos indivíduos vitimados por outras pa-
tologias e pelos acidentes que seguiram ocorrendo. Este relato visa compartilhar o coti-
diano de terapeutas ocupacionais que seguiram atuando em um hospital de urgência e
emergência na continuidade da assistência. As dificuldades e os desafios enfrentados,
mesmo estando na linha de frente, foram sentidos por toda a equipe profissional e neste
momento crucial a Terapia Ocupacional mostrou-se como uma face importante, tanto
no enfrentamento ao COVID-19, quanto na continuidade de assistência hospitalar em
pacientes em fase aguda.

Palavras-chave: Terapia Ocupacional, Pandemia, Assistência Hospitalar, Traumatologia.

14
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
INTRODUÇÃO

No ano de 2020 se alastrou em contexto global a Covid-19, patologia de difícil manejo


que requereu da população mundial uma mudança drástica na execução de suas atividades
cotidianas preconizando o isolamento social como medida preventiva principal. Por este viés,
várias atividades econômicas, ditas como não essenciais, foram suspensas e os cotidianos
das cidades foram afetados de modo que a circulação de pessoas decaiu drasticamente,
levando a um contexto de privação ocupacional (DE-CARLO et al., 2020).
Partindo da eminente necessidade por leitos para internação de pacientes convales-
cente de Covid-19, muitos hospitais tiveram sua rotina e recursos mudados a fim de oferecer
suporte para esta população, considerando que muitos profissionais foram expostos ao vírus
impactando diretamente na assistência à saúde (STERZO et al, 2020). A reorganização dos
espaços e dos serviços dentro da assistência hospitalar ocorreu em função da concomitân-
cia entre a ocorrência de casos de Covid-19 e a continuidade de acometimentos por outras
condições de saúde, as quais também demandavam suporte hospitalar, como no caso dos
hospitais de urgência e emergência no trauma.
Alguns locais no Brasil conseguiram identificar aumento nos casos de acidentes do-
mésticos envolvendo crianças e adolescentes em decorrência de estarem mais expostos a
situações de riscos e violências no ambiente domiciliar, principalmente quando relacionamos
com o fator vulnerabilidade econômica (MARCHETI et al, 2020).
Apesar de não haver dados oficiais, vários estados apontaram para o decrescimento dos
acidentes de trânsito, a exemplo do Rio de Janeiro que chegou a reportar 40% na redução
deste, fato intimamente relacionado com a necessidade do isolamento social e da flexibili-
zação de algumas jornadas de trabalho. Feito este que há muito o Brasil não via, sendo o
acidente de trânsito enquadrado como 2º maior causa de morbimortalidade, estando atrás
apenas das doenças cardiovasculares (GUIMARÃES, 2020).
Com tudo os traumas continuaram acontecendo, porém a rotina hospitalar já não era
a mesma para oferecer a assistência necessária, seja por redução de leito em decorrên-
cia da eminência de atendimento do paciente acometido por Covid-19 ou pela redução do
quantitativo de profissionais afastados por atestados de saúde. Por este viés, este estudo
busca retratar a outra face da pandemia através da experiência de terapeutas ocupacionais
atuando no seguimento da reabilitação de pacientes trauma ortopédicos e neurológicos.

OBJETIVO

Relatar a experiência da continuidade da assistência em saúde em um hospital de


trauma durante a pandemia de COVID-19.

15
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
METODOLOGIA

Trata-se de um trabalho qualitativo, descritivo, do tipo relato de experiência, referente


à assistência em saúde em um hospital de urgência e emergência no trauma durante a
pandemia de SARS-CoV-2. Com relação ao lócus de ação, refere-se ao cotidiano de duas
terapeutas ocupacionais e suas experiências no atendimento de indivíduos vítimas de trauma
em um hospital público de Ananindeua durante o atual período pandêmico.
O hospital assiste pacientes de todo o estado do Pará, por meio do sistema único de
saúde, recebendo usuários por demanda espontânea e regulados pela rede. Conta com 196
leitos, sendo 27 da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e 169 de unidades de internação,
distribuídos para atender pacientes neurológicos, ortopédicos, queimados e com outras
lesões decorrentes de trauma.

O IMPACTO DA COVID-19 EM UM HOSPITAL ESPECIALIZADO EM


TRAUMA

Durante o primeiro trimestre da pandemia houve a necessidade de remanejamento de


leitos para ajudar a atender a demanda crescente dos casos, chegando a ter 19 leitos para
atendimento a vítimas da Covid-19, divididos entre leitos de unidade de terapia intensiva e
de enfermaria. Desta forma, a equipe assistencial e administrativa precisou ser remanejada
para manter o funcionamento exclusivo da unidade.
No decorrer da evolução do número de casos e a consolidação da pandemia na re-
gião norte do país, observou-se que as mudanças no cotidiano da população refletiram no
mecanismo de trauma de parte do público atendido no referido hospital, exemplificado pela
redução do número de pacientes vítimas de acidente de trânsito. Além disso, com o atual
hábito de uso do álcool em gel a 70%, a quantidade de usuários com queimaduras pelo item
passou a ser frequente em acidentes domésticos, assim como outros traumas ocorridos
nesse ambiente, principalmente com o público infantil, corroborando com os achados de
Marcheti et al (2020).
Diante do surgimento de casos de Covid-19, as instituições passaram a lidar com a ne-
cessidade de reorganizar seus espaços a fim de possibilitar o seguimento do funcionamento
dos serviços. Assim também ocorreu com o ambiente hospitalar em questão, no qual os
cuidados com a prevenção da transmissão precisaram ser ainda mais eficientes, visto seu
contexto de procedimentos e condições de saúde favoráveis à contaminação. No entanto,
a aquisição de recursos básicos, como álcool em gel a 70% e equipamentos de proteção
individual para os profissionais e pacientes, tornou-se um desafio.

16
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Conforme ocorreu o aumento de casos moderados e graves de Covid-19 associado
à consequente necessidade de cuidados mais intensivos, frente à ausência de estrutura
adequada para evitar a contaminação entre pacientes e à quantidade de profissionais afas-
tados por Covid-19, foram adotadas estratégias como a confecção própria de máscaras do
tipo face shield e a organização de setores específicos para pacientes contaminados. Além
disso, foi necessário realizar a contratação temporária de profissionais atuantes nas UTI
a fim garantir o suporte de atendimento, como também foi relatado por Rodrigues e Silva
(2020) em outro hospital.
Apesar das medidas tomadas e dos cuidados com a prevenção da infecção por SARS-
COV-2, a quantidade de pacientes e profissionais com o teste positivo ou suspeitos de
Covid-19 obtiveram constante aumento durante o pico do número de casos, em maio de
2020. Em algumas ocorrências, a infecção acontecia no próprio cenário deste relato, visto a
fácil transmissibilidade do vírus e a condição de saúde dos internados, levando a óbito até
mesmo pacientes que se encontravam hospitalizados antes do início da pandemia.

A ASSISTÊNCIA TERAPÊUTICA OCUPACIONAL COMO RETAGUARDA

É de consenso mundial que a Terapia Ocupacional tem muito a contribuir dentro do


contexto hospitalar para favorecer a recuperação de paciente em recuperação da infecção
pelo SARS-CoV-2, seja propondo ações para intervenção direta para reabilitação do sujeito
até no desenvolvimento de estratégias que busquem reorganizar a rotina ocupacional pré-
via e na prescrição/ confecção/ treino de dispositivos de tecnologia assistiva que busquem
ampliar/ promover/ facilitar atividades significativas (SANTOS et al, 2020).
A equipe de Terapia Ocupacional do referido hospital atua nas unidades de interna-
ção, dentre elas clínica pediátrica, neurológica, cirúrgica, ortopédicas e de tratamento de
queimados, estando presente também nas Unidades de Terapia Intensiva e no laboratório
de tecnologia assistiva, sendo este último composto apenas por terapeutas ocupacionais.
Nos primeiros meses de pandemia, os profissionais do laboratório executaram, enquanto
estratégia de enfrentamento, a confecção de máscaras do tipo face shield, como alternativa
para suprir a necessidade de proteção dos profissionais. Além disso, confeccionaram coxins
para prevenção de lesão por pressão nas regiões occipital e do calcâneo, assim como ór-
teses para posicionamento funcional de membros superiores e inferiores a fim de prevenir
deformidades em pacientes internados na UTI, prática também realizada em um hospital
universitário, relatada por Santos et al (2020).
Dentro da realidade relatada, apesar de serem confeccionados dispositivos como ór-
teses e coxins, a atuação direta aos pacientes vitimados pela Covid-19 não foi uma realida-
de, pois dentro deste contexto laboral o número de terapeutas ocupacionais assistenciais

17
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
é restrito perante a demanda crescente de várias patologias, e decorrente da gravidade e
restrição necessárias na fase aguda da infecção por SARS-COV-2 a atuação direta com
essa população não foi possível. Dentro os seis terapeutas ocupacionais assistenciais, deste
um proveniente do Programa de Residência Multiprofissional, houve um afastamento por
gravidez, e três por infecção pela Covid-19, havendo momentos em que apenas um profis-
sional respondia pela assistência prestada na instituição.
Apesar de não ter sido remanejando um terapeuta ocupacional para a atuação com
pacientes de Covid-19, a exemplo do relatado por Santos et al (2020) que interviram direta-
mente com pacientes, familiares e equipe linha de frente através de prescrição de recursos
de tecnologia assistiva, ações para prevenir síndrome do imobilismo, ambiência e estratégias
de humanização; o serviço de Terapia Ocupacional seguiu atuante no reestabelecimento dos
pacientes vitimados por diversos traumas, havendo eventualmente algum paciente egresso
em decorrência de possível sequela por Covid-19.
Um caso que mostrou o quanto o conhecimento sobre os desfechos secundários da
Covid-19 ainda carecia de maiores estudos foi o atendimento a um paciente que desenvol-
veu trombose após, aproximadamente, 20 dias do final do ciclo de quarentena de 28 dias
orientado, evoluindo com amputação transfemoral. O paciente em questão foi identificado
com a infecção por SARS-CoV-2, sintomas leves a moderados, foi medicado e orientado o
período de quarentena, não havendo necessidade de internação. Porém o próprio paciente
identificou manchas arroxeadas em sua perna e procurou o serviço de urgência que identi-
ficou o quadro de trombose venosa profunda.
Cantamissa et al. (2020) relata em seu estudo que as repercussões do Covid-19 são
sistêmicas provando diversos desequilíbrios, dentre eles ressalta-se a o aumento na for-
mação de trombos por comprometer a microvasculatura e a macrovasculatura, acarretando
principalmente membros inferiores com edema, rubor, ardor e alto risco de tromboembolismo.
Casos de amputação já são frequentes na realidade brasileira, Biffi et al (2017) discorreu
em seu estudo que as principais causas de amputações no Brasil são de origem vascular.
O caso relatado, infelizmente, evoluiu com a necessidade de uma amputação a nível
transfemoral. As ações realizadas para contribuir com a independência do quadro caso em
questão considerava treinos de mobilidade funcional e vestir-se, considerando também a
prescrição de dispositivo auxiliar de marcha. Biffi et al (2017) identificou que dentre as ativi-
dades de vida diária, mobilidade funcional e vestir-se apresentam-se com maior frequência
entre as mais afetadas, dito isto reforça-se a necessidade do atendimento em fase aguda para
possibilitar uma reabilitação mais efetiva e culminando em maiores níveis de independência.
A intervenção terapêutica ocupacional na fase aguda contribui para um retorno mais
precoce a realização de suas atividades de vida diária, principalmente no que tange as

18
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
tecnologias assistivas para favorecer o desempenho ocupacional. O Ministério da Saúde
preconiza que treinos de mobilidade funcional são da fase pós cirúrgica, com intuito de pro-
mover independência e autonomia (BIFFI et al, 2017), logo o trabalho desenvolvido com a
pessoa amputada é de caráter crucial para desenvolver as habilidades de desempenho e
culminar em uma melhor e mais precoce reabilitação.
A incerteza sobre possibilidade de infectar ou ser infectado se fazia presente cotidia-
namente, seguido pela apreensão dos usuários e acompanhantes de pacientes traumatiza-
dos com relação à possibilidade de infecção por SARS-CoV-2, fez-se necessário adaptar a
rotina no serviço com o fortalecimento de ações em educação em saúde como estratégia
para sanar dúvidas e esclarecer medidas de prevenção. Estratégias de educação em saúde
apresentam-se como um desafio dentro da realidade brasileira, e a pandemia mostrou a
fragilidade que existe em reunir a sociedade em busca do bem coletivo através da adoção
de medidas restritivas, como isolamento social, em parte isso se credita a divulgação de
notícias falsas (PALÁCIO, TAKENAMI, 2020).
Por este motivo se faz necessário democratizar o acesso às informações, propagan-
do-as em linguagem que seja acessível a todos os públicos, em vista disso uma das ações
desenvolvidas foram a realização de atividades lúdicas na clínica pediátrica para disseminar
meios de precaução contra o vírus na rotina de cuidados com higiene, por meio de lingua-
gem acessível ao público infantil. Buscou-se também levar a informação as enfermarias com
pacientes adultos utilizando abordagens em grupo, incentivando a troca de saberes entre
pacientes, acompanhantes e equipe, com intuito também de esclarecer dúvidas.
Paralelo a pandemia por Covid-19, existe um trauma que, apesar de carecerem dados
fidedignos relacionados com o atual cenário da saúde brasileira, são frequente e acometem
idosos que são as fraturas de fêmur. Pedro et al (2019) descrevem as fraturas proximais de
fêmur como a epidemia do século XXI, fato este presenciado durante o período de quaren-
tena, podendo ser um trauma grave, estando intimamente relacionado com alta taxas de
morbimortalidade.
A presença de um paciente idoso no contexto hospitalar desperta na equipe, como
um todo, a necessidade de se fazer agentes disseminadores de educação em saúde no
momento inicial da epidemia. O zelo pelo bem comum, inicialmente visto como exagero pelo
senso comum, logo vai sendo tido como necessário para preservação da saúde coletiva.
Por ser uma população mais fragilizada, idosos ficam mais suscetíveis as infecções,
o estudo de Pedro et al (2020) relata que o ideal seja que a cirurgia ocorra dentro de 48
horas após a internação, sendo comum seu prolongamento por conta de indisponibilidade
de bloco cirúrgico e a presença de comorbidades e doenças de bases, sendo estes também
fatos comuns na instituição deste relato.

19
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Durante o período inicial foi comum ver idosos internando por conta de acidentes
domésticos, após avaliação terapêutica ocupacional inicial, logo iniciavam as intervenções
pautadas na manutenção de componentes do desempenho motor com intuito de prevenção
de lesões por pressão e manutenção de independência em atividades de vida diária, do
desempenho cognitivo para atenuar possíveis perdas advindas da internação, e as ações
de educação e saúde para disseminar a necessidade do uso de máscara, higienização fre-
quente das mãos e medidas de restrição de contatos, ato de difícil controle em enfermaria.
Mesmo com os cuidados sendo disseminados, o SARS-CoV-2 ainda vitimava idosos
que aguardavam pela cirurgia, o sentimento de ter falhado era nítido pela equipe que tentava
seguir com rotina, mesmo longe da linha de frente o perigo era real a cada atendimento.
Corroborando com o descrito por Veloso (2020) que a falta de segurança, falta de comunica-
ção, demandas elevadas e a pressão no trabalho, somadas a falta de suporte organizacional
são preletores para a síndrome de Burnout.

IMPACTOS E INCERTEZAS PROFISSIONAIS FRENTE À PANDEMIA

Os atendimentos na retaguarda seguiram, a equipe continuou sentindo diretamente o


peso da responsabilidade em seguir a rotina do serviço, com a falta de equipamento ade-
quado logo no primeiro mês de pandemia, e o crescente nível de absenteísmo de colegas
por conta dos afastamentos por infecção de Covid-19.
Foi comum visualizarmos o medo perante a possibilidade de infecção pela falta de
material, ou pela existência de EPI adequado, que era destinado apenas ao setor com pa-
cientes infectados por SARS-CoV-2, o que gerava tensão pela equipe encontrar-se exposta
e necessitar dar continuidade ao serviço, mesmo com proteção inadequada.
Durante o segundo semestre de 2020, a comunidade científica encontrava-se focada
no desenvolvimento da vacina, e a sociedade como todo teve vislumbres de uma possível
chance de voltar a normalidade, no entanto mesmo com o acerte de vacinas, o Brasil en-
contrava-se no ápice do atrito entre ciência/ vacina contra o discurso de deslegitimar a gra-
vidade da pandemia, situação que foi corriqueira ao longo de 2020 através de discursos sem
fundamentação cientifica e indo na contramão do recomendado pela Organização Mundial
de Saúde e pelas instituições cientificas (ANDRADE et al 2021).
Apesar de os terapeutas ocupacionais compreenderem a importância da coexis-
tência entre as ações para a contenção da disseminação do vírus e a necessidade de
conservar a saúde mental e, consequentemente, manter-se seguro e saudável (WORLD
FEDERATION OF OCCUPATIONAL THERAPISTS, 2020), se apresenta enquanto um de-
safio real no cotidiano de todos, desde o início do período atualmente vivenciado.

20
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Com a consolidação da pandemia, os profissionais de saúde lidaram com um espectro
de sentimentos, dentre eles o medo e a ansiedade relacionados à possibilidade de conta-
minação no ambiente de trabalho, no trajeto deste e a infecção de seus familiares (PRADO
et al., 2020). Além do isolamento social e consequente privação ocupacional, os profissionais
mantiveram suas atividades, em função do caráter essencial destas, e a rotina ocupacional
no ambiente domiciliar também precisou ser alterada, visto a maior exposição destes no
trabalho. Em decorrência dessa condição, sugere-se o aumento de patologias como a sín-
drome de Burnout (DE-CARLO et al., 2020; RODRIGUES; SILVA, 2020).
Em seu estudo Veloso (2020) descreveu fatores que podem desencadear a síndrome
de Burnout, estando intimamente ligados às condições de trabalho, como o aumento da
jornada deste, a carência de material e de equipamentos de proteção individual; e um fator
intrínseco do profissional, como a falta de experiência aliada ao trabalho em ambiente de
alto risco. Descrevendo o que o profissional, mesmo não constituindo a linha de frente de
cuidados, experimentou durante a primeira onda de infecção.
Diante do atual surgimento de mais casos ligados a novas variações do SARS-CoV-2,
unidades federativas chegam ao estado de calamidade na saúde pública em função da grande
quantidade casos graves e a limitação da disponibilidade de leitos, retornando, como um ciclo,
às condições relatadas. Logo no início de 2021 vimos o caos se instaurando em Manaus,
o agravamento da situação por uma variação do SARS-CoV-2, saturação dos sistemas pú-
blico e privado de saúde, número de óbitos voltando a aumentar, situação que o brasileiro
já havia vivenciado nos meses de março a maio, principalmente (ANDRADE et al, 2021).
Aliado a tudo isso, com quase 365 dias de pandemia oficializada pela Organização
Mundial da Saúde, a realidade aponta a ausência de estratégias efetivas de amparo ao
profissional de saúde, assegurando atenção à saúde mental e condições de trabalhos con-
tinuamente garantidas. Assim, os profissionais de saúde rememoraram toda uma variação
de sentimentos perante as incertezas que sobrepuseram a esperança da vacinação

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pandemia de Covid-19 modificou ritmos, lógicas e cotidianos, em paralelo a isso,


mudanças no atendimento de urgência e emergência no trauma revelam outras faces da
pandemia e expondo as fragilidades dos sistemas de saúde, gerando elementos aptos à
dissertação e análise.
A visão terapêutica ocupacional a partir da prática hospitalar em contexto específico
e diante de uma realidade composta por alterações no cotidiano, privação ocupacional e
perdas funcionais, propõe uma percepção holística da pandemia.

21
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
O atual contexto vivenciado propõe constante atualização, cuidados e adequações,
tanto aos profissionais de saúde, quanto aos gestores do seguimento e à população como
um todo, a fim de proteger a saúde individual e coletiva e a adaptação do funcionamento
de serviços de saúde.

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demico.unifacig.edu.br/index.php/semiariocientifico/article/view/2233. Acesso em: 21 fev. 2021.

4. DE-CARLO, M. M. R. P.; GOMES-FERRAZ, C. A.; REZENDE, G.; BUIN, L.; MOREIRA, D. J.


A.; SOUZA, K. L.; SACRAMENTO, A. M.; SANTOS, W. A.; MENDES, P. V. B.; VENDRUSCU-
LO-FANGEL, L. M. Diretrizes para a assistência da terapia ocupacional na pandemia da CO-
VID-19 e perspectivas pós-pandemia. Medicina, Ribeirão Preto, v. 53, n. 3, p. 332-369, 2020.

5. FEDERAÇÃO MUNDIAL DE TERAPEUTAS OCUPACIONAIS (WFOT). Public Statement –


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Disponível em: https://www.wfot.org/about/public-statement-occupational-therapy-response-
-to-the-covid-19-pandemic

6. GUIMARÃES, Cátia. Antes, durante e depois da pandemia: que país é esse?. Escola Poli-
técnica de Saúde Joaquim Venâncio/ Fiocruz. Rio de Janeiro, p. 1-6. Set. 2020. Disponível
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7. MARCHETI, Maria Angélica; LUIZARI, Marisa Rufino Ferreira; MARQUES, Fernanda Ribeiro
Baptista; CAÑEDO, Mayara Carolina; MENEZES, Larissa Fernandes; VOLPE, Isabela Guima-
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8. PRADO, A. D.; PEIXOTO, B. C.; DA SILVA, A. M. B.; SCALIA, L. A. M. A saúde mental dos
profissionais de saúde frente à pandemia do COVID-19: uma revisão integrativa. Revista
Eletrônica Acervo Saúde, n. 46, p. e4128, 26 jun. 2020.

22
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
9. PALÁCIO, Maria Augusta Vasconcelos; TAKENAMI, Iukary. Em tempos de pandemia pela
COVID-19: o desafio para a educação em saúde. Vigilância Sanitária em Debate, [S.L.], v. 8,
n. 2, p. 10-15, 29 maio 2020. Vigilancia Sanitaria em Debate: Sociedade, Ciencia y Tecnologia.
http://dx.doi.org/10.22239/2317-269x.01530.

10. PEDRO, João Ricardo; BRITO, Joaquim Soares do; SPRANGER, André; ALMEIDA, Paulo;
LANDEIRO, Filipa. Tratamento Cirúrgico E Resultados Obtidos Nas Fraturas Proximais Do
Fémur No Idoso: uma epidemia para o século XXI. Rev Port Ortop Traum, [S.I.], v. 27, n. ,
p. 167-180, set. 2019.

11. RODRIGUES, N. H.; SILVA, L. G. A. Gestão da pandemia Coronavírus em um hospital: relato


de experiência profissional. J. nurs. health. v. 10, n. 4, 2020. Disponível em: https://periodicos.
ufpel.edu.br/ojs2/index.php/enfermagem/article/view/18530/11239.

12. SANTOS, N. R. M.; BELO, A. C.; SANTOS, D. D. A.; BRITO, J. S.; NASCIMENTO, L. S.; CA-
VALCANTI, G. L. O. S.; SILVA, T. S. Plano de ação institucional de terapeutas ocupacionais
de um hospital escola de Pernambuco frente a pandemia de COVID-19. Rev. Interinst. Bras.
Ter. Ocup., Rio de Janeiro. v. 4, n. 4, p. 389-396, 2020.

13. STERZO, Mario Cesar Stocco, ROSAN, Rosano Antônio Carvalho, OLIVEIRA, Helder Santos,
FORNARI, João Victor, NONOSE, Nilson, NINOMIYA, André Felipe. Impacto Da Quarentena
Decorrente Da Pandemia De Covid-19 Na Rotina De Cirurgias De Diáfise Da Tíbia. Interna-
tional Journal Of Health Management Review, [S.I.], v. 6, n. 2, p. 1-6, 2020.

14. VELOSO, Rita Sofia da Silva. Burnout nos profissionais de saúde durante a pandemia
covid-19. 2020. 79 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Mestrado Integrado de Psicologia,
Universidade do Porto, Porto, 2020.

23
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
02
“ A interdisciplinaridade da Telesaúde e
sua visibilildade na época da Pandemia:
novas tecnologias resolvendo antigos
problemas

Beatriz Vieira Gomes


UNILAGO

Silvia Cristina Vieira Gomes


UNESP

Rodrigo Fernando Marandola


UNESP

10.37885/201202650
RESUMO

Em termos globais, o desenvolvimento tecnológico tende a favorecer as demandas da


sociedade. Porém, na área da saúde a aplicabilidade dessas novas tecnologias apresen-
tam-se como um ativo valioso na preservação e manutenção da vida. Com o advento da
pandemia do vírus SARS – CoV-2 ocorreu maior visibilidade sobre a temática da tele-
saúde, que já existia porém encontrava-se menos difundida. Trata-se de uma pesquisa
aplicada, na modalidade de revisão bibliográfica com viés descritivo e exploratório. Como
objetivo geral delimitou-se identificar a telesaúde como ferramenta viável a ser utilizada
no Brasil. De maneira específica busca-se: Pontuar os benefícios da telemedicina além
dos tempos de pandemia; Apresentar o escopo dos serviços de telesaúde , e descrição
das atividades correspondentes e Estabelecer vínculo interdisciplinar da telesaúde tanto
na medicina humana quanto na medicina veterinária. Como resultados observou-se que
a telemedicina é útil não apenas pelas amplas extensões geográficas do Brasil, mas tam-
bém por favorecer a equidade nos atendimentos por via remota, evitando aglomerações e
diminuindo custos. Sua importância transcende o período pandêmico sendo recomendada
sua utilização para sempre. Suas modalidades são teleconsultoria, telediagnóstico, tele-
monitoramento, telerregulação, teleeducação, segunda opnião formativa e teleconsulta.
Seu vínculo interdisciplinar confirma-se pela interação de diferentes profissionais da área
estratégica da saúde humana e pela atuação da medicina veterinária neste contexto
tecnológico do trabalho favorecendo a sociedade.

Palavras-chave: Telemedicina, Desenvolvimento Tecnológico, TIC, Soluções Tecnológicas.

26
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
INTRODUÇÃO

Globalmente, em todas as áreas do conhecimento o desenvolvimento de novas tecno-


logias torna-se primordial para mitigar problemas e atender as demandas da sociedade, mas
na área da saúde, essa relevância tende a ser ainda maior. Trata-se de uma área estratégica
no tocante a se evitar óbitos e promover a qualidade de vida dos pacientes. A aplicabilidade
dessas novas tecnologias na área da saúde apresentam-se como um ativo valioso na pre-
servação, manutenção e recuperação da saúde.
No Brasil, “a Saúde, como área estratégica a ser considerada, merece análise especial,
contextualizada a partir do cenário atual da Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I) do país”
(CAPANEMA et al.; 2020, p. 67).
Por sua extensa dimensão territorial, heterogeneidade social, aglomeração dos profis-
sionais da saúde em áreas mais desenvolvidas do país a pesquisa sobre telesaúde no Brasil,
justifica-se como instrumento de permeabilidade nacional e reverbera interesses de saúde pú-
blica com redução de custos. São as novas tecnologias tentando resolver antigos problemas.
Na perspectiva conceitual de Wen (2015), telemedicina e telesaúde são termos direta-
mente ligados a utilização de métodos tecnológicos para auxiliar os cuidados com a saúde,
realizados de maneira remota. Encontram-se em concordância com a utilização de tecno-
logias informação e comunicação (TIC) ancorado ao uso da informática para desempenhar
serviços de atendimentos de modo não presencial a saúde.
Segundo a visão da ANS, (2020), a pandemia do vírus SARS-Cov 2 tem exigido adap-
tações dos serviços de saúde para que estes tenham permeabilidade e uma melhor res-
posta frente a demanda crescente, e também promovam atenção à saúde num contexto
de priorização do isolamento social e evite a aglomeração de pessoas. Entre as medidas
emergenciais adotadas em decorrência da pandemia no país, os Conselhos Federais de
Profissionais de Saúde e o Ministério da Saúde publicaram várias disposições normativas
acerca do uso da telessaúde em diferentes contextos e especialidades, ampliando a utili-
zação desse procedimento.
Com a manifestação da pandemia do vírus SARS – CoV-2 ocorreu maior visibilidade
sobre a temática tecnológica da telesaúde.
Em complemento, no dia 11 de março do ano de 2020, a COVID-19 foi caracterizada
como uma pandemia, expressão que se refere à distribuição geográfica de uma doença (em
vários países e regiões do mundo) e não à sua gravidade. “Neste início de 2020, devido à
pandemia do novo coronavírus, o Brasil e o mundo enfrentam uma emergência sem prece-
dentes na história, de gravíssimas consequências para a vida humana, a saúde pública e a
atividade econômica” (CAETANO et al., 2020, p. 2). A partir desta nova demanda, o uso da
telemedicina que já existia, ganha um viés ainda mais conveniente.

27
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Diante do exposto, surge a seguinte questão norteadora: No contexto das novas tecno-
logias e sua interface com a sociedade, o trabalho na área da saúde por meio do implemento
de novas podem influenciar de maneira positivas a área dos profissionais da saúde?
Este estudo apresentou como objetivo geral identificar a telesaúde como ferramenta
viável a ser utilizada no Brasil.
Especificamente, buscou-se:

a. Pontuar os benefícios da telemedicina além dos tempos de pandemia;


b. Apresentar o escopo dos serviços de telesaúde , e descrição das atividades cor-
respondentes;
c. Estabelecer vínculo interdisciplinar da telesaúde tanto na medicina humana quanto
na medicina veterinária.

Para conseguir atingir tais objetivos, seguiu-se uma trilha metodológica científica.

METODOLOGIA

A trilha metodológica utilizada nesta pesquisa, é de caráter científico, de natureza


aplicada e está vinculada as teorias de Gerhardt e Silveira (2009) que direcionam o ensaio
para a classificação de uma revisão bibliográfica de característica descritivo e exploratório.
Com relação à abordagem, trata-se de metodologia qualitativa, na qual o investigador
estreita vínculos com o ambiente e com a situação que está sendo investigada (MARCONI;
LAKATOS, 2004). Neste caso, o vínculo de aproximação dos autores com o objeto de
estudo efetuou-se por meio do referencial teórico por se tratar de uma pesquisa essencial-
mente bibliográfica.
O método de pesquisa bibliográfica carrega consigo vantagens onde os pesquisado-
res tendem a ampliar sua gama de conteúdo, elevando a amplitude do que poderiam pes-
quisar diretamente à campo (GIL, 2012). Em tempos de pandemia, a revisão bibliográfica
foi elencada como prioritária, devido aos fatores de risco de contaminação durante uma
pesquisa de campo.
Quanto a sua natureza delimita-se como uma pesquisa aplicada, uma vez que pretende
apresentar conhecimentos práticos em problemas específicos, perpassando por interesses
locais, regionais e globais (GERHARDT; SILVEIRA, 2009). Como é o caso da aplicabili-
dade da telesaúde.

28
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
RESULTADOS E DISCUSSÕES

Estrategicamente, com o advento da pandemia do vírus SARS – CoV-2, de maneira


interdisciplinar, a telesúde tende a corroborar de maneira remota com a agilidade e oportuni-
dade de um atendimento diferenciado do convencional que é realizado de forma presencial.
Múltiplas definições podem ser encontradas na literatura científica em relação à tele-
medicina. Algumas são da época embrionária “do seu surgimento, na década de 60, outras
foram aprimoradas com conceitos mais modernos. Porém, em síntese, a grande parte des-
sas definições foca na ideia do uso da tecnologia para possibilitar a medicina a distância”
(WEN, 2006, p. 8).
Embora essa modalidade não tenha surgido em tempos pandêmicos, foi neste atual
cenário isolamento social que a telesáude se intensificou, apresentou maior evidencia e
tornou-se um ativo útil, acessível e economicamente viável (CAETANO, et al., 2020).
Entre as medidas emergenciais adotadas em decorrência da pandemia do vírus SARS
– CoV-2 no Brasil, os Conselhos Federais de Profissionais de Saúde e o Ministério da Saúde
publicaram disposições normativas como a Nota Técnica nº 6/2020 referenciando o uso
da telessaúde em diferentes contextos e especialidades, ampliando a utilização desse tipo
tecnológico de procedimento (ANS, 2020).
Nas tratativas sobre a temática da telesaúde, em 25 de março de 2020, a Câmara
dos Deputados aprovou o Projeto de Lei nº 696/2020, autorizando o uso da telemedicina
em qualquer atividade da área de saúde em território nacional, incluindo a teleconsulta,
enquanto durar a crise da COVID-19. Aprovado no Senado Federal seis dias depois, foi
sancionado na forma da Lei nº 13.989/2020, de 15 de abril de 2020, com dois vetos: ao Art.
6º, que transferia para o Conselho Federal de Medicina a “regulamentação da telemedicina
após o fim da pandemia; e ao Art. 2º, que validava as receitas médicas digitais, desde que
tivessem assinatura com certificação digital (assinatura eletrônica) ou apenas digitalizada”
(CAETANO et al., 2020, p. 9).
Por meio de várias iniciativas brasileiras sobre telemedicina com parceria a projetos
governamentais foi criado o Programa Nacional Telessaúde Brasil Rede. Em complemento,
outro marco histórico foi a criação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, onde
tramita a disponibilização de matérias de caráter acadêmico por via digital (MALDONADO;
MARQUES; CRUZ, 2016).
Embora a tecnologia de informação e comunicação (TIC) ainda não seja utilizada em
todo seu potencial (existe imensa lacuna ainda ser desenvolvida neste segmento), quando
se refere a assuntos relacionados à medicina, a telesaúde se apresenta como uma ino-
vação tecnológica1 em grande parte do Brasil e não fica restrita a temática pandêmica, se

1 Embora nos remeta a contemporaneidade, questões sobre inovação tecnológica já foram abordadas por Schumpeter (1997), rela-
tando que inovações são as novas combinações de materiais e forças: a produção de coisas novas ou das mesmas coisas utilizando
método diferente, ou ainda, a combinação diferente dos mesmos materiais ou forças.

29
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
amplia para diversas outras frentes e conta com tipos de aplicações diferenciadas, como
descrita no Quadro 1.

Quadro 1. Escopo dos serviços de telesaúde , e descrição das atividades correspondentes

Aplicação da telesaúde Descrição das Atividades


Consulta registrada e realizada entre trabalhadores, profissionais e gestores da área da saúde,
Teleconsultoria objetivando esclarecer dúvidas sobre procedimentos clínicos, ações de saúde e questões relativas
ao processo de trabalho;
Utilização das TIC em serviços de apoio ao diagnóstico por meio de distancias geográficas e ou tem-
Telediagnóstico
porais que inclui telerradiologia, teleECC, teleespirometria, telepatologia entre outras modalidades;
Monitoramento à distancia de parâmetros de saúde e ou doença de pacientes incluindo coleta de
Telemonitoramento
dados clínicos, transmissão, processamento e manejo por profissional de saúde;
Ações de sinergia de regulação, avaliação e planejamento das ações, fornecendo à gestão uma intele-
Telerregulação
gencia reguladora operacional. Possibilita a redução das filas de espera no atendimento especilizado;
Aulas, cursos ou disponibilização de objetos de aprendizagem interativos sobre temas relacionados
Teleeducação
à saúde;
Resposta sistematizada construida com base em revisão bibliográfica das melhores evidencias
Segunda opinião formativa
científicas a perguntas das teleconsultas;
Realização de consulta médica ou de outro profissional de saúde à distância, por meio de TIC, que
Teleconsulta até a epidemia só era permitida, no Brasil, pelo Conselho Federal de Medicina em situações de
emergência.
Fonte: Caetono et al., (2020) com base no Programa Telesaúde Brasil Redes

O escopo das atividades de telesaúde apresentados no Quadro 1, não são restritos a


medicina humana.
Os autores desta pesquisa, de maneira empírica, com respaldo no arcabouço das re-
ferencias bibliográficas e por atuarem em segmentos distintos da área estratégica da saúde,
abordam a amplitude e interdisciplinaridade da telesaúde, que atende tanto as necessidades
da saúde humana, quanto as demandas da saúde animal, por meio da medicina veterinária.
A interdisciplinaridade do sistema de telesaúde não está restrito ao intercambio saúde
humana e saúde animal, amplia-se sobremaneira se considerarmos as inúmeras graduações
presentes na saúde humana, complementada pelas especializações nos complexos saberes
envolvendo questões de sanidade do homem e do animal.
Mesmo com imensa lacuna na interface da telesaúde no mundo animal, Assumpção
et al.; (2020) confirmam que a telemedicina é modalidade relevante na medicina veterinária,
por meio de atendimento a animais de pequeno e grande porte.
O Sistema, que reúne o Conselho Federal de Medicina Veterinária “e mais 27 Conselhos
Regionais de Medicina Veterinária (CRMVs), está atento e acompanhando os projetos de
lei que tramitam na Câmara dos Deputados e no Senado Federal propondo a telemedicina
veterinária durante a pandemia” (CFMV, 2020, s.p).
Independente da área da saúde, vale ressaltar que para o sucesso do emprego de
métodos tecnológicos faz-se necessário ocorrer a harmonização entre a inovação e ope-
raçoes habitados. Observou-se que nem todas as Instituições de Ensino Superior (IES)
no Brasil que atuam na área da saúde, oferecem a disciplina de telemedicina. Os autores

30
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
desta pesquisa, que estão no mercado de trabalho não tiveram a oportunidade de cursar
tal disciplina na graduação, buscaram esse tipo de conhecimento na pós graduação. Já a
autora que encobtra-se na graduação, tem contato direto com a temática por meio de uma
disciplina específica, complementando sua formação e reverberando recurso humano com
competência e habilidade para atuar na telesaúde.

Embora muito se fale sobre a utilização da Telemedicina e Telessaúde para


melhorar a eficiência de um sistema de saúde, e de todos os benefícios que
elas podem gerar, cabe lembrar um fato fundamental: as novas tecnologias
somente obtêm o máximo do seu potencial quando existe um comprometimento
dos recursos humanos no seu uso e uma efetiva integração entre instituições
participantes, no sentido de somar os esforços para multiplicar os resultados
(WEN; HADAD, 2006, p. 6).

Toda evolução tecnológica requer mão-de-obra qualificada, independentemente de sua


área de atuação. Em todo esse processo de trabalho da telesaúde, com base na vertente
tecnológica, os recursos humanos são essencialmente primordiais para a qualidade dos
serviços ofertados.
Embora os atendimentos por meios tecnológicos de comunicação à distância sejam
realizados no formato não presencial, muitas vezes com o beneficiário dentro do seu domi-
cílio, não podem ser qualificados como atendimentos domiciliares, uma vez que não ocorre
o deslocamento do profissional até o local em que se encontra o beneficiário (ANS, 2020).
Devido a avantajada extensão territorial do país, alguns locais ainda carecem de sinal
de internet, principalmente áreas rurais distante dos grandes centros, fator que limita esse
tipo de atendimento remoto na área da saúde. Para Vieira et al.; (2020) esse processo de
ausência digital é denominada ‘barreira tecnológica’ e interfere negativamente no fator co-
municacional de transferência de conteúdo.
Muitas são as barreiras que interferem na comunicação e, no meio rural alguns ruídos
se fazem mais presentes do que na comunicação urbana:

Não apenas baseados no nível de escolaridade e decodificação das men -


sagens por meio dos produtores rurais, mas sim com enfoque da ruralidade
em si, dos ruídos sonoros específicos do campo, da linguagem detentora de
códigos específicos, de limitações na inclusão digital, no sinal deficiente ou
inexistente da comunicação de telefonia móvel e em determinadas regiões
até mesmo da fixa. Enfim, na barreira geográfica que delimita a zona rural e
distancia o cidadão do campo das contemporâneas tecnologias mais presentes
no ambiente urbano (VIEIRA, 2016, p. 17).

No tocante a essas barreiras da tecnologia de informação e comunicação existentes


no Brasil, descritas por Vieira (2016) confirmada por Vieira et al.; (2020) toram-se um fator
limitante e foi considerado ponto fraco a ser melhorado para a execução da telesaúde.

31
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora tenha adquirido maior visibilidade em tempos pandêmicos, a telesaúde teve


seu início em épocas anteriores, e sua tendência é permanecer de maneira ativa e evolu-
tiva. Seus benefícios ultrapassam o período pandêmico proporcionando maior conforto ao
beneficiário e profissionais da saúde, agilidade e redução de custos nas ações descritas
no Quadro 1.Além de conseguir em tempos de pandemia, manter o isolamento social e
evitar aglomerações.
O escopo dos serviços de telesaúde são múltiplos e foram descritos como teleconsul-
toria, telediagnóstico, telemonitoramento, telerregulação, teleeducação, segunda opinião
formativa e teleconsulta. Tal amplitude permite acesso não presencial e favorece a atenção
integral à saúde em diferentes níveis, ancorado em padrões tecnológicos.
Confirmou-se o vínculo da interdisciplinaridade no viés da telesaúde numa visão ge-
ral dos profissionais da saúde, tanto humana quanto animal, numa interação de saberes,
promovendo a construção de um multifacetado conhecimento interdisciplinar concatenando
trabalho e novas tecnologias.

REFERÊNCIAS
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www.ans.gov.br/images/stories/noticias/pdf/covid_19/nota-tecnica-6-2020-dirad-dides-dides.
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fusão no Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v. 32, 2016.

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11. VIEIRA, S. C.; BERNARDO, C. H.; LOURENZANI, A. E. B. S.; SATOLO, E. G.. La historia
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logística em saúde. Revista Panorama Hospitalar. 2015.

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33
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
03
“ A pesquisa em cirurgia em tempos
de pandemia: o uso de dispositivos
de aquecimento em pacientes com
hipotermia pós-operatória na Fundação
Hospital Adriano Jorge

Talita Araújo Sobreira


UEA

Andréa Costa de Andrade


UFAM

Daniel Wajnperlach
UEA/FHAJ

10.37885/210202999
RESUMO

As pesquisas em tempos de pandemia modificaram-se diante das devidas e necessárias


restrições, dentre elas a de distanciamento social. Outro fator interveniente relacionou-
-se à presença de pessoas nos hospitais, fato que tem dificultado o desenvolvimento
do projeto e que fez com que, nós pesquisadores, levássemos mais tempo do que o
esperado para alcançar os resultados, ao menos, parciais da pesquisa. O objetivo deste
artigo é comentar sobre a realização de uma pesquisa sobre a hipotermia não intencio-
nal, realizada durante o tempo da pandemia. Comenta-se que a temperatura sanguínea
central menor que 36 °C acontece frequentemente durante a anestesia em pacientes
representando cerca de 20% da população cirúrgica, esse número aumenta no período
pós-operatório. A ocorrência da hipotermia peroperatória inclui aumento da exposição do
paciente às salas cirúrgicas refrigeradas, com graus abaixo do recomendado, incluindo
a indisponibilidade de dispositivos térmicos e o desconhecimento de dispositivos mais
eficazes no uso dos dispositivos de aquecimento. Portanto, o objetivo da pesquisa é
avaliar o grau de conhecimento médico quanto ao uso dos dispositivos de aquecimento
no centro cirúrgico, sendo importante conhecer a opinião, conduta e conhecimento dos
anestesiologistas no uso de equipamentos em pacientes com hipotermia no pós-opera-
tório. Traçar um perfil epidemiológico de pacientes submetidos a cirurgias durante esse
período, descobrir os materiais utilizados em pacientes em centro cirúrgico e verificar a
capacidade de resolução da hipotermia nesse contexto são de extrema necessidade.

Palavras-chave: Pandemia, Hipotermia, Peroperatório Anestesia, Pacientes.

35
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
INTRODUÇÃO

Quando as notícias chegaram sobre um novo vírus que tinha se alastrado pela China
no final do ano de 2019, nunca imaginaríamos que ele chegaria ao Brasil, e muito menos a
cidade de Manaus. E assim seguíamos com nossas confraternizações de final de ano, tendo
a fé de que o vírus não chegaria a nossa “pequena” metrópole com quase 2,2 milhões de
habitantes (AMAZONAS ATUAL, 2021).
Com o aumento do número de casos, mortes na China e o rápido avanço da conta-
minação em outros países percebeu-se que não se tratava de uma “gripezinha”. Então, em
fevereiro de 2020, fora confirmado o primeiro caso de Covid-19 no Brasil, era um homem que
tinha vindo da Itália, e residia em São Paulo. Nesse momento, acredito que muitas pessoas
começaram a ter medo que o vírus chegasse as suas cidades.
Em 13 de março de 2020, houve o primeiro caso confirmado da Covid-19 em Manaus.
Nessa época, os jornais não falavam de outra coisa além do avanço do vírus pelo mundo
e a devastação que o acompanhava. A população manauara aterrorizada com as notícias
começou a tomar suas medidas preventivas: comprar máscara, produtos de limpeza e mui-
to álcool em gel.
Com a alta procura pelas máscaras e por álcool em gel, os preços desses produtos
deram um salto, chegando a ficar mais caro que o litro da gasolina. Seguindo o histórico das
notícias, os caminhoneiros estraram em greve, os supermercados lotaram-se de pessoas
querendo comprar alimentos para estocar em suas casas, pois todos tinham medo de que
a cidade entrasse em um colapso total.
Com o rápido aumento de novos casos de Covid em Manaus, um clima de tensão pairou
sobre nós, e as felizes puladas de carnaval agora se transformavam em medo e incertezas
de se estar infectado. Aconteceu o início do primeiro colapso do sistema de saúde: falta-
vam respiradores, leitos e esperança. A chamada “primeira onda” deixou muitas sequelas
e perdas para muitas famílias amazonenses.
O período de restrição total ou também chamado de lockdown durou aproximadamente
um mês, até que os casos começaram a diminuir pela primeira vez em cerca de dois meses,
parecia que o pior havia passado. Todos nós tivemos que nos adequar aos novos modelos
de aula, e trabalhos em casa, por meio da internet fazendo videoaulas e videoconferências,
pois mesmo com os casos diminuindo as aulas não retornaram.
O roteiro da pesquisa modificou-se diante das devidas e necessárias restrições, dentre
elas a de distanciamento social. Outro fator interveniente relacionou-se à presença de pes-
soas nos hospitais, fato que tem dificultado o desenvolvimento do projeto e que fez com que,
nós pesquisadores, levássemos mais tempo do que o esperado para alcançar os resultados,
ao menos, parciais da pesquisa.

36
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
O temor constante, o medo de nos contaminarmos, o medo de contaminarmos as
pessoas as quais amamos e o medo do contato físico provocaram limitações. O que antes
era algo tão comum e humano, agora se tornou proibido. Mas, mesmo assim, diante deste
cenário caótico, precisamos ser fortes, ou pelo menos aparentar isso, pois afinal era em nós
profissionais que o paciente espera encontrar segurança, e é com nós, que nossos familiares
contam se algo acontecer com eles.
Apesar da Fundação Hospital Adriano Jorge-FHAJ não ser um hospital da linha de
frente contra a Covid-19, ele sofreu com a pandemia, e seus pacientes mais ainda. As cirur-
gias mais realizadas, por exemplo, com o paciente com Covid-19 foram as traqueostomias.
Por consequência, as cirurgias eletivas diminuíram drasticamente, ao ponto de apenas
realizarem-se as cirurgias de urgências que são oferecidas pelo hospital, devido o caos que
o sistema de saúde de Manaus vivencia. O olhar para os doentes do coronavírus agora é
prioritário, embora todos que estão ali estejam precisando.
A falta de oxigênio foi sem dúvidas a principal dificuldade encontrada, e que expôs a
fragilidade do sistema de saúde do Amazonas para o mundo e que deixou o Hospital Adriano
Jorge uma semana sem cirurgias pela falta de oxigênio na cidade. O olhar de chateação
e indignação dos pacientes que tiveram suas cirurgias canceladas era visível e, o olhar
de cansaço de muitos dos profissionais da saúde é marcante. Afinal, eles não trabalham
somente em um hospital, então são muitas horas trabalhadas, muito estresse constante e
vendo muitas vidas ceifadas, sem nada poder fazer.
Com tantas perdas e tanto sofrimento iminente, é difícil continuar sendo esperançosa,
mas sei que é preciso ser. Certa vez ouvi falar que “tudo aquilo que você foca, expande”
então tenho tomado essa frase como verdade para minha vida, e tentando focar nas coisas
boas que posso tirar dessa pandemia.
Focar naqueles que posso ajudar, focar nos bons profissionais que estão fazendo de
tudo por seus pacientes, focar na funcionária da limpeza que está dando o seu melhor para
deixar o hospital limpo e sem o vírus, focar nos profissionais que estão ajudando outros
profissionais com as crises de ansiedade por eles manifesta, focar na população com atos
de bondade doando oxigênio para o hospital, focar em empresários que estão enviando
suprimentos para os hospitais, enfim, focar na bondade das pessoas em frente ao caos.
Mas também aprender a valorizar: valorizar as pessoas que estão à nossa volta, va-
lorizar nossos familiares, valorizar coisas simples da vida como a ação de poder abraçar
alguém querido, valorizar sair na rua ou poder passear, assistir um filme ou simplesmente
olhar para o céu e saber e poder agradecer por está indo tudo bem com aqueles que ama-
mos. Valorizar o que era comum e era belo.

37
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
A Fundação Hospital Adriano Jorge-FHAJ é um centro de referência na área da saúde
dentro da cidade de Manaus e no Estado do Amazonas. Especializada em diversos procedi-
mentos, a mesma realiza um grande serviço à sociedade amazonense, realizando consultas
a nível ambulatorial e de alta complexidade devidamente equipadas juntamente com um
centro cirúrgico onde são realizadas diversas cirurgias. Segundo os dados fornecidos pela
FHAJ no ano de 2018, foram realizadas durante o exercício deste ano, 6.104 cirurgias, com
demanda média de 509 cirurgias ao mês, sejam estas eletivas ou mesmo de urgência.
No âmbito de cirurgias, embora os tantos avanços da medicina, existem ainda, diver-
sos acontecimentos que podem vir a ocorrer gerando complicações na cirurgia, dentre eles
o risco da infecção de sítio cirúrgico que está entre os três maiores, pois é um assunto de
grande relevância em todas as unidades hospitalares, por agravar a cirurgia do paciente e
gerar grandes preocupações para as instituições e para as equipes envolvidas neste contexto.
Devido a isso, é imprescindível na realização de cirurgias o uso de dispositivos de
aquecimento em pacientes com hipotermia pós-operatória. Portanto, é importante que seja
controlada a hipotermia do paciente no centro cirúrgico por ser fator fundamental no controle
da ISC e por se tratar de um evento corriqueiro acometido com os pacientes submetidos ao
procedimento anestésico-cirúrgico, sendo fator agravante para complicações futuras como
a infecção, por exemplo.
Em cirurgias, o controle da hipotermia é realizado pelo anestesiologista. Esses pro-
fissionais se utilizam de materiais como oxímetro, aparelho de pressão arterial, monitores
informando a saturação do paciente e outras informações vitais para que ocorra monitoriza-
ção adequada do cliente, visando a manutenção da homeostase corporal dentro dos limites
da cirurgia realizada.
O controle da hipotermia é realizado pelos anestesiologistas por meio de matérias como
dispositivos que podem ser classificados em passivos (cobertores, tocas, enfaixamento dos
membros com algodão ortopédico e atadura de crepe, mantas aluminizadas, entre outros) e
ativos (sistemas de aquecimento por ar, água, radiação, mantas de fibra de carbono, dentre
outros) (MOYSÉS, 2014).
É importante ressaltar que maioria dos anestésicos altera o controle da temperatura
central, inibe as respostas termorreguladoras contra o frio, como vasoconstrição e tremores
musculares. Além disso, a maioria desses fármacos tem efeito vasodilatador, considerado o
mecanismo responsável pelo fenômeno da redistribuição (SESSLER e MATSUWAKA apud
MENDONÇA et al., 2019). Durante a anestesia há redução da taxa metabólica, do consumo
de oxigênio e da produção de calor. A redistribuição interna de calor no organismo após
indução anestésica é a causa mais importante de hipotermia perioperatória e é proporcional
ao gradiente de temperatura entre os compartimentos centrais e periféricos (IBDEM, 2019).

38
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
A hipotermia não intencional, definida como temperatura sanguínea central menor que
36ºC ocorre frequentemente durante a anestesia e a cirurgia devido à inibição direta da ter-
morregulação pelos anestésicos, à diminuição do metabolismo e à exposição do paciente ao
ambiente frio das salas cirúrgicas. Didaticamente, classifica-se hipotermia em leve (34º C a
36º C), moderada (30º C a 34ºC) e grave (menor que 30ºC) (WARTTIG, 2014).
Dentre as implicações relacionadas à ocorrência da hipotermia perioperatória indesejada
incluem-se o aumento do risco de sangramento, taquicardia, eventos cardíacos mórbidos,
infecção do sítio cirúrgico (também conhecida por ISC) e prolongamento do período de in-
ternação além de fatores agravantes para a cirurgia (LI BASSI apud MOYSÉS et al., 2014).
Outras complicações possíveis são rebaixamento do nível de consciência, aumento da meia
vida farmacológica dos anestésicos, redução do débito urinário, tremores, exacerbação da
dor pós-operatória, aumento do risco de trombose venosa profunda por ocasionar estase
venosa e demanda elevada de oxigenação (MORETTI et al. apud MOYSÉS et al., 2014).
Até 20% dos pacientes desenvolvem hipotermia no período perioperatório. Essa inci-
dência aumenta significativamente no período pós-operatório, varia de 60% a 90%. Como
a hipotermia mesmo leve pode resultar em desfechos desfavoráveis, é imperativo que o
anestesiologista intervenha ativamente no mecanismo da hipotermia perioperatória para
prevenir seus efeitos deletérios (KURZ apud MENDONÇA et al., 2019).
A manutenção da normotermia reduz os efeitos indesejáveis da hipotermia, sendo a
prevenção através do aquecimento, o método mais efetivo (PEREIRA, 2019). Muitas são
as hipóteses para a ocorrência da hipotermia transoperatória, incluindo a indisponibilidade
de dispositivos térmicos ativos, a refrigeração da sala cirúrgica e o desconhecimento de
métodos mais eficazes dentre os disponíveis para sua prevenção.

METODOLOGIA

O projeto foi devidamente submetido a plataforma Brasil e foi aprovado no comitê de


ética tendo como número do CAAE 38736220.9.0000.0007, o mesmo alcançou todos os
requisitos para ser colocado em prática, respeitando os profissionais que porventura decidi-
ram não participar e apresentando um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
claro e coeso para elaboração do mesmo, em duas vias, uma para a equipe da pesquisa
e a outra entregue para o médico anestesiologista ou residente de anestesiologia partici-
pante da pesquisa.
Sabe-se que o FHAJ possuir temperaturas abaixo das recomendadas, logo o controle
deve ser rigoroso em relação a temperatura corporal dos pacientes e nesse âmbito qual o
grau de conhecimento dos preceptores no uso dos dispositivos de aquecimento em pacientes
com hipotermia, bem como os dispositivos usados para o controle do problema.

39
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Há poucas publicações sobre o uso de dispositivos em pacientes hipotérmicos e ainda
mais escasso no âmbito da FHAJ, amazonas, embora a FHAJ se realizar vasta variedade
de cirurgias e ter um quadro de anestesiologistas satisfatório para a pesquisa. Fomentando
assim informações úteis para sociedade acadêmica, equipe cirúrgica e pesquisas futuras.
A proposta de pesquisa surgiu após se verificar a necessidade de averiguar o uso de
dispositivos de aquecimento em pacientes com hipotermia dentro da Fundação Hospital
Adriano Jorge-FHAJ, bem como a proposição adequada do tema pelos orientadores que no
processo elaboração e execução tiveram papeis fundamentais. O modelo de estudo qualita-
tivo etnográfico prospectivo de estudo de série de casos contempla um questionário acerca
do uso desses dispositivos e sendo voltado especificamente para os anestesiologistas.
As hipóteses apresentadas são as seguintes: Se os anestesistas da FHAJ não possuem
conhecimento total sobre os dispositivos térmicos presentes na unidade ou a mesma não
possui os dispositivos adequados para o uso dos pacientes, seja por falta ou algum outro
problema relacionado poderia gerar uma complicação peri e/ou pós-operatória no paciente
decorrente do desconhecimento quanto a manutenção da temperatura. Ainda, uma segunda
hipótese, relaciona-se com a temperatura da sala de cirurgia não é monitorada de forma
adequada de acordo com os valores aconselhados, também, poderia causar prejuízos ou
danos à saúde do paciente submetido à cirurgia.
Por conseguinte, é valioso haver o conhecimento sobre a definição de cada pacien-
te para assim traçar um delineamento para e posteriormente averiguar a capacidade de
resolução de cada caso e quais materiais foram utilizados. A pesquisa tem sido aplicada
da seguinte maneira: um questionário feito com 10 perguntas que é encaminhado para o
anestesiologista acerca da sua conduta frente à monitorização do paciente e resolução
de possível desfecho de hipotermia no período transoperatório. O questionário é bastante
explícito e autoexplicativo, não deixando margens para interpretações que não sejam as
apontadas pelo estudo. Vale ressaltar que a confidencialidade de cada profissional é algo
importante neste projeto e, portanto, será preservada, não havendo retaliações ou punições
de nenhumas as partes, apenas interesse acadêmico e objetivo. As indagações a serem
respondidas são sobre materiais e procedimentos que o médico anestesiologista utiliza seja
no período operatório ou pós-operatório.

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COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Quadro 1. Questionário sobre o uso de dispositivos de aquecimento no pós-operatório

ANEXO 1 - QUESTIONÁRIO

Sexo: Idade: Tempo de anestesista:

Tempo de anestesista na FHAJ (ou substituto):

PERGUNTAS
1) Você monitoriza a temperatura do seu paciente no período perioperatório?
Sempre
( ) Quase sempre.
( ) Ocasionalmente.
( ) Raramente.
( ) Nunca.
2) Qual seu local preferencial para a colocação do sensor de temperatura?
( ) Esôfago.
( ) Periorbitário.
( ) Axilar.
( ) Sublingual.
( ) Retal.
3) No período pós-operatório, você coloca sensor de temperatura no paciente?
( )Sempre.
( ) Quase sempre.
( ) Ocasionalmente.
( ) Raramente.
( ) Nunca.
4) No período pós-operatório, qual o local onde você afere a temperatura do seu paciente?
( ) Esôfago.
( ) Periorbitário.
( ) Axilar.
( ) Sublingual.
( ) Retal.
5) Você se preocupa com a temperatura da sala de cirurgia?
( ) Sempre.
( ) Quase sempre.
( ) Ocasionalmente.
( ) Raramente.
( ) Nunca.
6) Você solicita a alteração de temperatura da sala ao responsável com que frequência?
( ) Sempre.
( ) Quase sempre.
( ) Ocasionalmente.
( ) Raramente.
( ) Nunca.
7) Quais métodos estão disponíveis na unidade para aquecimento do paciente (marque todos que souber):
( ) Manta térmica.
( ) Aquecedor ativo de equipo (ranger).
( ) Cobertor elétrico.
( ) Lençóis aquecidos.
( ) Soros aquecidos.
8) Quais dos acima você utiliza com regularidade?
( ) Manta térmica.
( ) Aquecedor ativo de equipo (ranger).
( ) Cobertor elétrico.
( ) Lençóis aquecidos.
( ) Soros aquecidos.
9) Costuma fazer uso de Petidina (meperidina, dolantina) em pacientes com tremor (shivering) na SRPA?
( ) Sempre.
( ) Quase sempre.
( ) Ocasionalmente.
( ) Raramente.
( ) Nunca.
10) Abaixo de qual temperatura você considera intervir com métodos ativos de aquecimento do seu paciente?
( ) 36°.
( ) 35,7°.
( ) 35,3°.
( ) 34°.
Fonte: Próprios autores da pesquisa, 2020.

41
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa em voga ainda encontra-se em fase de processamento, portanto, o comen-


tado relaciona-se com as etapas que até o momento os pesquisadores conseguiram realizar
e que incluem, busca de revisão de literatura, observação das salas cirúrgicas da Fundação
Hospital Adriano Jorge- FHAJ e início da aplicação dos questionários, cujos dados ainda
não foram analisados e tabulados.
Avaliando as complicações operatórias e a importância da hipotermia nesse âmbito
surgiu a inspiração para esta pesquisa, visando formas que poderia diminuir o desfecho inde-
sejado da hipotermia no paciente cirúrgico. Dessa forma resultaria em um número reduzido
de dias de internações bem como de possíveis comorbidades futuramente apresentadas.
Após a conclusão do questionário, o mesmo é encaminhado para análise e assim
tabulado para prover os resultados. A meta é evidenciar a conduta do médico anestesiolo-
gista frente a situação de controle da temperatura do paciente cirúrgico. O questionário foi
respondido no centro cirúrgico da FHAJ por anestesiologistas que estavam de plantão no
período matutino em intervalos entre cirurgias ou no momento de preparação para o próximo
evento operatório na sala dos anestesiologistas.
A proposta visava ter dados e respostas sobre os métodos utilizados quanto aos dis-
positivos de aquecimento usados na FHAJ, conhecer os métodos utilizados pelos médicos
anestesistas da FHAJ para determinar a qualidade dos pacientes com hipotermia no pós-
-operatório. Traçar o perfil epidemiológico de pacientes submetidos a cirurgias durante esse
período, descobrir os materiais utilizados em pacientes neste centro cirúrgico e verificar a
capacidade de resolução da hipotermia nesse contexto.

CONCLUSÕES

As respostas sobre os métodos utilizados acerca dos dispositivos de aquecimento


usados na FHAJ permitiram o conhecimento dos métodos mais utilizados pelos médicos
anestesistas da FHAJ para determinar a qualidade dos pacientes com hipotermia no pós-
-operatório. Traçar o perfil epidemiológico de pacientes submetidos a cirurgias durante esse
período, descobrir os materiais utilizados em pacientes neste centro cirúrgico e verificar a
capacidade de resolução da hipotermia nesse contexto.
Dada a importância de complicações relacionadas à hipotermia do paciente, faz se
necessário um acompanhamento do mesmo com indicações de anestesia adequada para
o cliente e para a cirurgia realizada, durante todo o período operatório incluindo o pré e
pós operatório. A parte que compete a regulação da temperatura do paciente é de respon-
sabilidade principal do médico anestesiologista, sendo fundamental o conhecimento do

42
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
mesmo acerca do tema e de dispositivos de aquecimento para a manutenção da temperatura
caso necessário.
A hipotermia acomete cerca de 20% dos pacientes no perioperatório, número que
aumenta no pós-operatório (KIM, 2019). Os pacientes hipotérmicos passam mais tempo in-
ternados quando comparados a pacientes normotérmicos (PRADO, 2015). A monitorização
sistemática pós-operatória é imprescindível para estes pacientes, mas ainda assim não é
um padrão de atendimento no Brasil.

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43
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
04
“ ACNE vulgaris provocada pela máscara

Nágila Bernarda Zortéa

Alexandra Brugnera Nunes de Mattos

Micheila Alana Fagundes

10.37885/210102700
RESUMO

O uso de mascaras como forma preventiva da pandemia mundial COVID19 segundo o


decreto da World Health Organization em 06 de abril de 2020, impactou a população mun-
dial de inúmeras formas. Dentre os impactos, podemos citar o aumento da acne por lesão
mecânica associado a ação queratinocítica de obstrução do folículo. OBJETIVO: Realizar
uma busca na literatura considerando atuais noticias e decretos da pandemia mundial
COVID19, fazendo relação com o evento do aumento da acne, com a proposta de elucidar
e relacionar com estudos científicos o atual momento mundial. METODOLOGIA: A me-
todologia baseou-se em uma revisão integrativa de literatura, através de notícias oficiais
e decretos de organizações mundiais correlacionando com a literatura já existente esta-
belecendo uma relação entre os atuais eventos. RESULTADOS: Os casos de Maskne
vem aumentando devido o uso da máscara de maneira preventiva à pandemia. Pessoas
que ate hoje não tinham sido acometidas pela patologia acne relatam a presença dessa
patologia no momento. Apesar dessa nova afecção ainda não estar totalmente elucidada,
essa afecção ja vinha sido relatada por profissionais da area da saude que utilizavam a
mascara por longo período em ambiente de trabalho. A piora da acne com relação da
mascara e oclusão realizada pela mesma, é provocada pela alterações de temperatura
mais alta e aumento da umidade no local, o que provável leva um desequilíbrio na flora
bacteriana. CONCLUSÃO: Apesar do termo atual “Mascne” as alterações na pele com
o uso prolongado de máscaras já estão estabelecidas na literatura e com isso a acne e
rosácea podem ser exacerbadas e pioradas clinicamente pela oclusão inerente do uso
de mascara. Todavia é importante estabelecer rotinas de cuidados dermatológicos a
fim de manter uma pele saudável e continuar protegendo-se contra o COVID-19, com o
uso de mascaras.

Palavras-chave: Acne Vulgaris, Mascara, Maskne, COVID19, Coronavírus.

45
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
INTRODUÇÃO

Em 30 de dezembro de 2019, foi coleta no Hospital Wuhan Jinyintan amostras coletadas


de um paciente acometido com uma pneumonia de etiologia desconhecida, a partir desse
momento iniciou-se sequenciamento de genomas do vírus, onde indicaram que havia carac-
terísticas típicas da família coronavírus. Em 20 de fevereiro ainda na China já estava sendo
presenciado o surto de coronavírus /COVID-19 com 75.465 casos registrados. (WORLD
HEALTH ORGANIZATION 2019).
Desde então vem se realizando estudos para identificar os sintomas, causas, diagnos-
tico desse vírus, o qual espalhou rapidamente pelo mundo todo. O coronavírus, há estudos
apontando que causam infecção intestinal e respiratória em animais e humanos, sendo que
em humanos pode apresentar-se como sintomas de resfriados elevando o grau de infecção
mais grave em grupos de riscos e idosos. A respeito da infecção do coronavírus em huma-
nos ainda não está totalmente elucidada sua infectividade, letalidade, transmissibilidade e
mortalidade (BRASIL 2019).
Como forma preventiva a WORLD HEALTH ORGANIZATION (OMS) publicou em 06
de abril de 2020, documento sobre o uso de mascara em ambientes de saúde, comunidades
destinando essa ação de prevenção e controle da doença. Nesse mesmo documento a OMS
citava a mascara como preventiva pois a transmissão do vírus COVID-19 seria através de
contato de gotículas respiratórias, quando uma pessoa infectada tosse, além do contato direto
ainda sugeriam que o vírus permanecia viável em superfícies estabelecendo assim um conta-
to imediato podendo ser um potencial infeccioso (WORLD HEALTH ORGANIZATION 2020).
A acne vulgar é uma doença de pele que afeta de 85 a 100% em qualquer fase da vida.
Caracterizada por comedões populares cravos, pápulas popular espinhas e ainda pústulas
e nódulos em casos mais graves. Sua etiopatogenia é crônica, atingindo o pilossebáceo,
podendo ser evidenciado 4 fatores desencadeantes: Hiperplasia sebácea: Característico
uma hipersseborréia sobre influencia hormonal. Ação queratinocítica: Uma condição de
obstrução do folículo piloso. Colonização do Propionibacterium acne e Staphylococcus al-
bus: Consequentemente alterando lipídeos e sebo, gerando ação pró inflamatória. Reação
inflamatória: Mediadores inflamatórios na parede da glândula sebácea responsável pelas
lesões inflamatórias (FIGUEIREDO; et al, 2011).
Devido ao uso prolongado de mascara associada a ação queratinocitária de obstru-
ção do folículo, a população vem relatando o aumento da acne vulgar e a oleosidade da
pele. Em 09 de julho de 2020 no jornal “Wrbl.com” informou o novo termo “Maskne” atribuído
pela Grand Strand Dermatology em Myrtle Beach. Ainda na mesma noticia afirmam que as
bactérias causadoras da acne, preferem a mascara causa um acumulo de umidade abaixo

46
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
da mascara e por conta disso a infecção bacteriana se prolifera, em alguns casos até mesmo
fungos (WRBL.COM. 2020)
Dermatologistas descrevem as lesões cutâneas Maskne como lesões inflamatórias
cutâneas causadas por lesão mecânica. Histologicamente a acne de lesão mecânica é idên-
tica a acne vulgaris, porém pelo fato do uso constante da máscara e a ação queratinocítica,
pode se tornar processo crônico de longa duração, porém quando as forças mecânicas são
retiradas as lesões e pruridos são eliminados (DRENO, B; Et, al. 2015)

OBJETIVO

Esse estudo objetivou realizar uma busca na literatura considerando as atuais notícias
e decretos da pandemia mundial COVID19 fazendo a relação com o evento presenciado das
Maskne de lesões inflamatórias na pele característico de acne vulgaris, com a proposta de
elucidar e relacionar com estudos científicos o atual momento mundial.

METODOLOGIA

Esse estudo possui caráter de uma revisão integrativa de literatura, através de notícias
oficiais e decretos de organizações mundiais correlacionando com a literatura já existente
estabelecendo uma relação entre os atuais eventos.

RESULTADOS

O uso de máscaras teve início no campo cirúrgico, para trabalhadores da área da saúde,
em 1897, com o objetivo de proteger esses profissionais contra a exalação de patógenos
durante procedimentos (PAWLOWSKI, A. 2020). No entanto, o uso de máscaras pelo pú-
blico em geral se difundiu principalmente nos países asiáticos, devido ao surto da síndrome
respiratória aguda grave (SARS) na China em 2003, e, na sequência, em 2009, durante a
disseminação da influenza H1N1 (WANG, 2020). Com o surgimento da pandemia pelo co-
ronavírus, as pessoas foram estimuladas a utilizar as máscaras como método de prevenção
da contaminação pelo COVID-19 e diante desse cenário, doenças dermatológicas foram
exacerbadas e/ou desencadeadas pelo uso prolongado desses equipamentos de proteção
( SZEPIETOWSKI, J.C., 2020).
Os casos de Maskne vem aumentando devido ao uso da máscara. Pessoas que até hoje
não tinham sido acometidas pela acne vulgaris, vem relatando a presença dessa patologia.
Apesar dessa nova afecção ainda não ser totalmente elucidada, as dermatoses faciais já vi-
nham sido associadas ao uso de máscara por profissionais da saúde que utilizavam a máscara

47
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
em ambiente de trabalho por longo período (GOMOLIN, T. A; CLINE, A; RUSSO, M. 2020).
Mas as alterações na pele pelo uso da máscara são diversas, Szepietowski et al realizou
um estudo para avaliar a prevalência de prurido desencadeado pelo uso de máscaras na
população geral, foram selecionados 2315 estudantes poloneses e concluiu que derma-
toses prévias, como pele sensível, dermatite atópica, acne e dermatite seborreica podem
aumentar a sensação de prurido. (SZEPIETOWSKI, J.C., 2020). Nesse mesmo sentido, Zuo
et al realizou um questionário com 198 profissionais de saúde que utilizavam máscara do
tipo N95, entre o grupo 129 participantes continham dermatoses previamente e reportaram
exacerbação delas, sendo 43.6%(N=44) referentes a acne (ZUO, 2020). Apesar de atual-
mente, ter sido criado um termo para denominar a acne do uso de máscara, essa doença
não é recente, Foo et al havia descrito as alterações dermatológicas com o uso de equipa-
mentos de proteção em 2004, com a pandemia da SARS. O estudo avaliou profissionais da
saúde e constatou que 109 (35,5%) dos 307 funcionários que usavam máscaras relataram
acne (59,6%), prurido na face (51,4%) e rash na pele (35,8%) devido ao uso da máscara
N95 (FOO, 2006).
O surgimento ou piora da acne pode ter relação com alguns fatores resultantes da
oclusão realizada pela máscara, isso provoca alterações devido ao efeito da temperatura
mais alta e aumento da umidade no local, o que leva a um provável desequilíbrio da flora
bacteriana (HAN, I. 2020) O aumento da temperatura altera a a taxa de excreção de sebo
(TES) e transforma a estrutura do esqualeno. A TES varia diretamente quando a tempera-
tura local muda, e a excreção de sebo aumenta em 10% para cada aumento de 1°C , já o
esqualeno se torna mais lipídios de superfície (NARANG, I. 2019) Em relação à alteração da
umidade, esse fenômeno realiza um efeito de oclusão dos poros, principalmente por irritar as
porções superiores do ducto pilossebáceo e causar edema dos queratinócitos epidérmicos,
o que piora ainda mais a obstrução e leva à acne (HAN, I. 2020).

CONCLUSÃO

Apesar do termo atual “Mascne”, as alterações da pele com uso prolongado de más-
caras já são estabelecidas na literatura e, com isso, doenças dermatológicas como acne e
rosácea podem ser exacerbadas e pioradas pela oclusão inerente ao uso desse equipamento
de proteção individual. Por isso, é importante estimular os cuidados dermatológicas a fim de
manter a pele saudável e o usuário protegido contra o COVID-19. Contudo ainda sugerimos
estudos da patologia para elucidação do assunto.

CONFLITO DE INTERESSE

Todos os autores declaram que não houve conflito de interesse.

48
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
REFERÊNCIAS
1. BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo de manejo clínico para o novo-coronavírus (2019-
nCoV). [cited 2020 set 15]. Available from: https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2020/
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2. DRENO, B; Et, al. Lesões cutâneas causadas por lesão mecânica. European Journal Der-
matology , Europa, v. 25, n. 2, p. 114-121, jun./2015.

3. FIGUEIREDO, Américo; Et al. Avaliação e tratamento do doente com acne . Revista Portu-
guesa de clínica geral, Portugal, v. 27, n. 1, p. 59-65, 2011.

4. FOO, C.C.I.; GOON, A.T.J.; LEOW, Y.H. et al. Adverse skin reactions to personal protective
equipment against severe acute respiratory syndrome a descriptive study in Singapore. Contact
Dermatitis, 2006; (5), 291–294.

5. GOMOLIN, T. A; CLINE, A; RUSSO, M. Maskne: Exacerbation or Eruption of Acne During the


COVID-19 Pandemic. COVID CONCEPTS, New York, v. 4, n. 5, p. 438-439, set./2020.

6. HAN, C.; SHI, J.; CHEN, Y.; ZHANG, Z. Increased Flare of Acne Caused by Long-Time Mask
Wearing During COVID-19 Pandemic among General Population. doi: 10.1111/dth.13704.

7. NARANG, I.; SARDANA, K.; BAIPAI, R.; GARG, V.K. Seasonal aggravation of acne in summers
and the effect of temperature and humidity in a study in a tropical setting. J Cosmet Dermal.
2019 Aug;18(4):1098-1104.

8. PAWLOWSKI A. Coronavirus outbreak leads stores to sell out of face masks 2020 [acesso em
24 Set 2020]. Disponível em: https://www.today.com/health/coronavirusoutbreak leadsstores-
selloutfacemaskscanmaskst172730.

9. SZAPIETOWSKI, J.C.; MATUSIAK, L.; SZEPIETOWSKA, M.; KRAJEWSKI, P.K.; BIAŁYNICKI-


BIRULA, R. Face mask-induced itch.:A Self-questionnaire Study of 2,315 Responders During
the COVID-19 Pandemic. Acta Derm Venereol 2020; 100: adv00152

10. WANG, M.W.; ZHOU, M.Y.; JI, G.H.; YE, L.; CHENG, Y.R.; FENG, Z.H. et al. Mask crisis during
the COVID19 outbreak. Eur Rev Med Pharmacol Sci 2020; 24: 3397–3399.

11. WRBL.COM. ‘Maskne’ is the new acne and it’s caused by wearing a mask. Disponível em:
https://www.wrbl.com/news/health/coronavirus/maskne-is-the-new-acne-and-its-caused-by-we-
aring-a-mask/. Acesso em: 20 set. 2020.

12. WORLD HEALTH ORGANIZATION (2019). Report of the WHO-China Joint Mission on Coro-
navirus Disease 2019 (COVID-19). Disponível em: . Acesso em: 15 set. 2020

13. WORLD HEALTH ORGANIZATION. (‎2020)‎. Advice on the use of masks in the context of CO-
VID-19: interim guidance, 6 April 2020. World Health Organization. https://apps.who.int/iris/
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health care personnel: a selfreport questionnaire survey in China. Contact Dermatitis 2020
Apr 16. [Epub ahead of print].

49
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
05
“ Alocação de recursos para assistência
à saúde em tempos da Pandemia de
COVID-19: revisão integrativa

Karla Rona da Silva Shirlei Moreira da Costa Faria


UFMG UFMG

Fátima Ferreira Roquete Bruno César Ferreira Peixoto


UFMG SEJUSP-MG

Adriane Vieira Débora Luciana Aparecida Silva


UFMG PMC-MG

Fernanda Gonçalves de Souza Marina Lanari Fernandes


UFMG PBH-MG

10.37885/210202955
RESUMO

Objetivo: Analisar as informações sobre a alocação de recursos no contexto da pandemia


do Covid- 19, publicadas em periódicos científicos indexados, no período de dezembro
de 2019 a março de 2020. Percurso Metodológico: Trata-se de uma Revisão Integrativa
da Literatura, realizada em março de 2020. Foram encontrados estudos na base de
dados MEDLINE. Após a aplicação dos critérios estabelecidos, foram selecionados 06
artigos. Resultados: Evidenciou-se que a alocação de recursos é realizada conforme
emergem as demandas. Destaca-se a fragilidade na apresentação de evidenciação
científica-metodológica que possa nortear os tomadores de decisão para alocação as-
sertiva dos recursos disponíveis. Os resultados demonstraram que estudos sobre esta
temática são incipientes e necessitam ser ampliados. Considerações finais: Indica-se
a necessidade das organizações de saúde e das autoridades da área estarem mais bem
preparadas para o uso adequado dos recursos disponíveis, com a alocação baseada em
evidenciação científica e maximização dos recursos.

Palavras-chave: Alocação de Recursos, Coronavírus, Pandemias, Assistência à Saúde,


Serviços de Saúde.

51
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
INTRODUÇÃO

A alocação de recursos no âmbito da saúde é um tema em evidência que merece a


ampliação das discussões e a constante capacitação dos profissionais para a tomada asser-
tiva de decisões, com o máximo de certeza sobre a adequação dos investimentos. Assim,
critérios fundamentados necessitam ser utilizados para a melhor distribuição possível dos
recursos, considerando as especificidades de cada país e, portanto, as diferenças regionais,
demográficas e epidemiológicas de sua população (SILVA et al., 2019). Nesse sentido, a
apropriada alocação de recursos é desejável, com destaque para as situações de pandemias,
como o Covid-19 em 2020.
A situação causada pelo vírus Coronavírus é tratada oficialmente pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) como uma pandemia mundial. Seu agente infeccioso foi desco-
berto pela primeira vez em seres humanos e isolado em 1937, tendo sido descrito como
Coronavírus em 1965, após análise por microscopia. O Novo Coronavírus foi descoberto em
31 de dezembro de 2019 e recebeu o nome técnico de Covid-19. O registro dos primeiros
casos ocorreu em Wuhan, na China (EMANUEL et al., 2020; WHO, 2020; LI et al., 2020).
Segundo dados sobre os acometidos registrados em relatório da OMS, 81% referem-se
a agravos considerados leves e sem complicações, 14% evoluem para uma hospitalização
que necessita oxigenoterapia e 5% evoluem para situações severas que exigem tratamento
em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), com implantação de dispositivo de ventilação assis-
tida/ventilação mecânica. Para referidas complicações são considerados grupos de risco os
idosos e aqueles acometidos por doenças crônicas (WHO, 2020).
O Covid-19 tem se mostrado uma doença altamente contagiosa com rápida propaga-
ção. O atendimento precisa ser realizado, nos casos de hospitalização, no menor tempo e
com o menor deslocamento possível. Assim, é preciso alocar o melhor recurso disponível
visando à minimização de danos (WHO, 2020; LI et al., 2020; NORONHA et al., 2020).
Algumas medidas de contenção da propagação da pandemia do Covid-19 têm sido incen-
tivadas, como: isolamento social evitando aglomerações; lavar as mãos com água e sabão
sempre que possível; evitar abraços, beijos e aperto de mão; etiqueta da tosse e espiro;
distanciamento de 2 metros entre as pessoas (WHO, 2020; LI et al., 2020).
Estratégias para a diminuição do avanço da doença são essenciais, mas a otimização
e correta alocação de recursos para tratamento e suporte aos doentes também são de sig-
nificativa relevância. No Brasil vive-se um cenário praticamente permanente de escassez
de recursos, o que torna imprescindível a tomada de decisão assertiva para potencializar as
ações. Em situações pandêmicas o fenômeno se agrava, o que pode ser elemento somatório
para o colapso dos sistemas de saúde (SILVA et al., 2019; EMANUEL et al., 2020; HICK
et al., 2020; FARIA et al., 2019).

52
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Nesse sentido, entende-se pertinente investigar quais informações têm sido publicadas
sobre a alocação de recursos no cenário da pandemia por Covid-19. Este estudo se justifica
por elucidar, diante da pandemia do Covid-19, quais ações têm sido desenvolvidas e discuti-
das no meio científico sobre a alocação de recursos. Os resultados têm o potencial de auxiliar
nas discussões e tomadas de decisões dos profissionais de saúde e pesquisadores da área.
Para a comunidade científica, o estudo é relevante pelo fato de o tema ser emergente e de
abrangência mundial, portanto, com capacidade de preencher lacuna importante na literatura.
Assim, este estudo teve por objetivo analisar as informações sobre a alocação de recur-
sos no contexto da pandemia do Covid-19, publicadas em periódicos científicos indexados,
no período de dezembro de 2019 a março de 2020.

DESENVOLVIMENTO

Percurso metodológico

Trata-se de uma Revisão Integrativa da Literatura, método que reúne e sintetiza o


conhecimento produzido por meio da análise dos resultados evidenciados em estudos pri-
mários. Para o desenvolvimento desta revisão seguiu-se o referencial teórico de Ganong
e foram incluídas as seguintes etapas: seleção da pergunta de pesquisa; amostragem;
representação das características da pesquisa; análise dos estudos selecionados; análise
e interpretação dos resultados e relato da revisão (GANONG, 2007). O estudo foi norteado
pela seguinte questão: quais informações foram publicadas em periódicos científicos inde-
xados, de dezembro de 2019 a março de 2020, sobre a alocação de recursos no contexto
da pandemia do Covid-19?
Foram definidos os seguintes critérios de inclusão: artigos e notas técnicas completos
publicados em periódicos científicos indexados nacionais e internacionais que abordassem
a temática “alocação de recursos no contexto da pandemia por Covid-19”, nas línguas portu-
guesa, inglesa e espanhola, no período de dezembro de 2019 a março de 2020, localizáveis
por intermédio dos seguintes descritores cadastrados no portal de Descritores das Ciências
da Saúde (DeCS): Alocação de Recursos; Coronavírus; Pandemias; Assistência à Saúde;
Serviços de Saúde. A estratégia de busca utilizada propiciou que as palavras Coronavírus e
Alocação de Recursos estivessem sempre entre os descritores. No cruzamento dos descri-
tores, utilizou-se o operador booleano AND. O recorte temporal estabelecido se justifica por
ser um marco da pandemia global do Covid-19. Os critérios de exclusão utilizados foram:
artigos e notas técnicas que não se adequassem aos critérios de inclusão citados, por não
serem classificados como artigos e notas técnicas científicas, serem escritos em outros
idiomas e publicados em mais de uma base de dados (duplicatas).

53
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
O processo de seleção está representado na Figura 1. Vale destacar que de todas as
bases de dados da área de saúde existentes, foram localizados artigos apenas na base de
dados do Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), atendendo
aos critérios de inclusão estabelecidos. A Nota Técnica também fez parte desta revisão
devido à sua relevância para compreensão da temática em questão.

Figura 1. Fluxograma de seleção dos estudos para revisão integrativa de literatura, 2020

Após a seleção dos estudos, foi realizada leitura criteriosa do título e do resumo de
cada publicação, com o objetivo de verificar a consonância com a pergunta norteadora da
investigação. Quando ocorreram dúvidas referentes à inclusão ou exclusão de algum artigo,
o mesmo foi lido na íntegra de forma a reduzir potenciais perdas de publicações relevantes
para a pesquisa. A coleta de dados aconteceu na segunda quinzena do mês de março de
2020. Para a organização dos dados e viabilização da análise, um quadro sinóptico (Quadro
1) foi elaborado, utilizando-se o software Microsoft Office Word 2010.
De acordo com os aspectos éticos utilizados nesta revisão integrativa, foi assegurada
a autoria dos estudos pesquisados, de forma que todos estão devidamente referenciados.

54
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Resultados

No presente estudo, foram analisados seis artigos que atenderam aos critérios de
inclusão e exclusão estabelecidos. A seleção final dos estudos é apresentada no Quadro
1, segundo título, autores, ano e país de publicação, delineamento, objetivo e desfechos,
sendo as publicações apresentadas em ordem alfabética, por título.

Quadro 1. Síntese dos estudos analisados segundo título, autores, ano e país de publicação, delineamento, objetivo e
desfechos.

Título, Autores, Ano e País Delineamento Objetivo Desfechos

Os cenários em que as taxas de contato e o distanciamen-


to social são reduzidos em 50% resultam em mitigação.
Estimar o impacto do COVID-19 na popu-
Para supressão seria necessário reduzir em 75%. A ne-
lação sueca, considerando a demografia
cessidade de UTI para a população total da Suécia varia
Covid-19 health care demand e a mobilidade humana dos municípios,
de 6 a 30 vezes a capacidade da UTI no pico do surto, no
and mortality in Sweden in em cenários de mitigação e supressão,
cenário em que apenas o isolamento e a quarentena são
response to nonpharmaceu- Estudo descritivo e considerando: cronogramas de incidên-
praticados. No cenário em que as taxas de contato e o dis-
tical (NPIs) mitigation and su- quantitativo. cia, taxas de hospitalização, necessidade
tanciamento social são muito fortes, o surto é suprimido,
ppression scenarios. SJÖDIN de terapia intensiva (UTI) e mortalidade
mas corre o risco de se recuperar quando o distanciamen-
et al. 2020 EUA. em relação à capacidade atual da UTI e
to social parar. Os resultados indicam que em cenários
custos de atendimento.
com reduções menos fortes nas taxas de contato e de
distanciamento social aumentam os riscos de grandes
demandas de atendimento hospitalar e terapia intensiva
Os princípios dos padrões de atendimento à crise (CSC)
são: justiça; dever de cuidar; dever de administrar recur-
sos; transparência; consistência; proporcionalidade; pres-
Discutir a aplicação dos princípios do Cri-
tação de contas. As estratégias a serem consideradas ao
sis Standards of Care (CSC) aos cuidados
abordar uma situação de escassez de recursos são: ante-
Duty to Plan: Health Care, clínicos, incluindo Equipamentos de Pro-
cipar desafios, desenvolver planos, armazenar materiais;
Crisis Standards of Care, and teção Individual (EPI), cuidados intensivos
Estudo qualitativo. implementar estratégias de conservação de suprimentos
Novel Coronavirus SARSCoV-2. e desafios para a capacidade ambulatorial
em escassez; fornecer um medicamento ou dispositivo de
HICK et al. 2020 EUA. e para a emergência colocados pelo Coro-
administração equivalente ou quase equivalente; adaptar
navírus, ou outro grande evento epidêmico
o uso de equipamento para fins alternativos (por exem-
ou pandêmico.
plo, máquina de anestesia como ventilador); reutilizar
uma ampla variedade de materiais após a desinfecção
ou esterilização apropriada; remover um recurso de uma
área/paciente e alocar para outra com mai
Os valores éticos - maximizando os benefícios, tratando
igualmente, promovendo e recompensando o valor ins-
trumental e dando prioridade aos mais pobres - produ-
Fair Allocation of Scarce Medi-
Analisar como os recursos médicos podem zem seis recomendações específicas para aloca recursos
cal Resources in the Estudo descritivo e
ser alocados de maneira justa, durante médicos na pandemia de Covid-19: maximizar os bene-
Time of Covid-19. EMANUEL et quantitativo.
uma pandemia de Covid-19. fícios; priorizar os profissionais de saúde; não alocar por
al. 2020 EUA.
ordem de chegada; ser sensível às evidências; reconhecer
a participação na pesquisa e aplicar os mesmos princípios
a todos os pacientes com ou sem Covid-19.
Os resultados demonstram que será necessário estra-
tificar múltiplas intervenções, independentemente da
Impact of nonpharmaceutical supressão ou mitigação ser o objetivo político abran-
Mostrar o impacto de intervenções não
interventions (NPIs) to reduce gente. No entanto, a supressão exigirá a estratificação
Estudo descritivo e farmacêuticas (NPIs) para reduzir a mor-
COVID19 mortality and health- de medidas mais intensas e socialmente mais perturba-
quantitativo. talidade por Covid-19 e a demanda de
care demand. FERGUSON et al. doras do que a mitigação. A escolha das intervenções
assistência à saúde.
2020 Reino Unido. depende, em última análise, da viabilidade relativa de sua
implementação e de sua provável eficácia em diferentes
contextos sociais.

55
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Título, Autores, Ano e País Delineamento Objetivo Desfechos

A resposta em relação aos cuidados intensivos deve fazer


parte de um plano maior de controle da pandemia, a fim
Discutir e analisar o planejamento e pres- de reduzir a transmissão e prevenir mortes. Além disso,
Planning and provision of tação de serviços de saúde em relação à muito precisa ser feito por meio da colaboração global
ECMO services for severe ARDS utilização da oxigenação por membrana para conter a doença e priorizar a produção de vacinas
during the COVID 19 pande- extracorpórea (ECMO) para o tratamento para alterar a história natural do patógeno. A coleta e
mic and other outbreaks of Estudo qualitativo. de pacientes com síndrome do desconfor- o compartilhamento de dados em tempo real, estabe-
emerging infectious diseases. to respiratório agudo (SDRA) relacionados lecendo biobancos globais e promovendo uma cultura
RAMANATHAN et al. 2020 Rei- à doença por Coronavírus 2019 (COVID-19) internacional de pesquisa colaborativa, que remova as
no Unido. e a aplicação entre outros surtos de doen- fronteiras geográficas, são cruciais para identificar ra-
ças infecciosas emergentes. pidamente populações em risco, os pacientes que se
beneficiam de terapias como a ECMO e possíveis alvos
terapêuticos.
Usando princípios éticos para avaliar a necessidade,
determinar a capacidade de absorver ventiladores
Determinar a necessidade e a alocação de
Strategies to Inform Alloca- adicionais e garantir recursos para as populações mais
ventiladores durante uma emergência de
tion of Stockpiled Ventilators vulneráveis, às autoridades estaduais e locais de saúde
saúde pública, com foco nas estratégias
to Healthcare Facilities During Estudo qualitativo. pública podem alocar equitativamente os ventiladores
para ajudar os planejadores estaduais e
a Pandemic. KOONIN et al. armazenados durante uma pandemia. Ter estratégias com
locais a alocar ventiladores armazenados
2020 EUA. antecedência para alocação de recursos escassos, como
em unidades de saúde durante uma pan-
ventiladores, pode melhorar a tomada de decisão, com
demia, respondendo por fatores
o entendimento de que os planos terão de se adaptar às
realidades apresentadas durant

Fonte: Dados extraídos da base de dados MEDLINE, 2020.

Em relação aos estudos que compõem esta revisão integrativa, todos são oriundos
de revistas online e institutos científicos renomados, a saber: Institutos – MedRxiv (SJÖDIN
et al., 2020), Imperial College London (FERGUSON et al., 2020); Revistas - The New
England Journal of Medicine (EMANUEL et al., 2020), The Lancet Respiratory Medicine
(RAMANATHAN et al., 2020), Health Security (KOONIN et al., 2020) e NAM Perspectives
(HICK et al., 2020). A Nota Técnica (NORONHA et al., 2020) é um estudo selecionado que foi
escolhido por meio de busca manual no site do Centro de Desenvolvimento e Planejamento
Regional (CEDEPLAR), da Universidade Federal de Minas Gerais, sendo relevante para com-
por os subsídios das discussões desta pesquisa. Em relação ao delineamento dos estudos
selecionados, destacam-se o uso de pesquisas descritivas e quantitativas, com predomínio
das publicações nos Estados Unidos.
Pode-se perceber que os desfechos principais estão relacionados com as incertezas
frente à supressão ou mitigação da propagação do Covid-19 e os riscos das grandes de-
mandas para os serviços de saúde (SJÖDIN et al., 2020); a necessidade de se desenvolver
medidas para a tomada de decisão no que diz respeito à alocação de recursos (HICK et al.,
2020); recomendações para se considerar os valores éticos diante da escassez de recursos
(EMANUEL et al., 2020); estratificação das intervenções (FERGUSON et al., 2020); planeja-
mento e gerenciamento da escassez de recursos para controlar a pandemia (RAMANATHAN
et al., 2020); colaboração global e capacidade de adaptação em cenários de pandemias
(KOONIN et al., 2020).

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COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Discussão

Em um cenário de incertezas relacionado à propagação e duração da pandemia do


Covid-19, evidencia-se uma grave ameaça ao sistema de saúde e, consequentemente, às
cadeias de suprimentos no que se refere aos medicamentos e materiais utilizados para
a assistência e cuidados aos usuários acometidos (EMANUEL et al., 2020; FARIA et al.,
2019). De forma adicional, constata-se também uma fragilização no quantitativo dos recur-
sos humanos disponíveis para atendimento das demandas populacionais. Esse fenômeno
é preocupante, pois a doença se mostra grave o suficiente para sobrecarregar desde os
cuidados de saúde até a infraestrutura, como destacado por todos os pesquisadores nos
estudos analisados (FERGUSON et al., 2020; SJÖDIN et al., 2020).
As investigações que compõem esta revisão apresentam claramente que o curso final
e o impacto do Covid-19 são incertos, mas que a doença apresenta grande potencial para
colapsar os sistemas de saúde, a partir do comprometimento da oferta de recursos huma-
nos, suporte, higienização e outros insumos essenciais para o funcionamento adequado
dos serviços de saúde na resposta à pandemia (EMANUEL et al., 2020; HICK et al., 2020;
FERGUSON et al., 2020; SJÖDIN et al., 2020).
Nesse sentido, é possível inferir a necessidade de se criar estratégias para em curto
prazo mitigar o fenômeno e a longo prazo suprimi-lo. Estratégias de curto prazo têm sido
implementadas em vários países, tais como: reforço às condutas de higiene; isolamento
social; atenção especial aos idosos e portadores de doenças crônicas. Esses são elementos
importantes, mas é provável que a eficácia de qualquer intervenção isolada seja limitada,
exigindo que múltiplas intervenções sejam combinadas para alcançarem um impacto subs-
tancial na transmissão do Covid-19. Assim, as ações precisam ser implementadas de forma
rápida, decisiva e coletiva (NORONHA et al., 2020; NORONHA et al., 2020).
Identificou-se que as diferenças nas condições de saúde da população e o fato de
o sistema de saúde apresentar diferenças em contextos de baixa e alta renda per capita
promovem distintos impactos no que tange às estimativas de mortalidade e demandas de
assistência médica. Conclui-se que o efeito da doença seja mais grave em contextos de
baixa renda em que a capacidade de oferta de serviços é mais baixa (EMANUEL et al., 2020;
HICK et al., 2020). Entender o sujeito em seu aspecto econômico em cenários de pande-
mias é relevante, contudo, não pode estar dissociado dos aspectos físico, social, cultural e
emocional, uma vez que esse é o primeiro passo para um cuidado singular que preze por
sua integralidade com equidade (SILVA et al., 2016).
A partir da análise da Nota Técnica integrante deste estudo, foi possível refletir sobre
exercícios preliminares de simulação no que tange a alocação de recursos no Brasil, consi-
derando as especificidades de cada microrregião. Esses recursos se referem a leitos gerais,

57
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
leitos de UTI e equipamentos de ventilação assistida. O estudo considera a demanda em
função da pandemia de Covid-19 em um país em desenvolvimento, em intervalos de 01 a 06
meses. Os resultados evidenciaram que os principais problemas começariam a surgir quando
a taxa de infecção causada pelo Covid-19 alcançasse 1% da população para leitos gerais.
Ademais, o impacto sobre a capacidade de atendimento dependerá do horizonte temporal
dessa infecção, considerando serviços de saúde públicos e privados. Para leitos de Terapia
Intensiva e oferta de suporte de ventilação mecânica seria observada uma sobrecarga em
diversas microrregiões de saúde do país, o que é especialmente grave para a realidade da
rápida capacidade de propagação do Covid-19 (NORONHA et al., 2020).
É aconselhável que os tomadores de decisão e responsáveis pela alocação de recursos
façam uso de simulações para planejar o referenciamento dos recursos necessários para o
atendimento, por exemplo, a alocação de equipamentos de ventilação mecânica (NORONHA
et al., 2020). Ademais, vale mencionar, ainda, sua relevância para a divulgação e estímulo
à adesão das orientações para minimização da disseminação, o entendimento da capaci-
dade geral do sistema e posteriormente subsidiar discussões para elaboração de políticas
de saúde específicas para esta pandemia.
Outro aspecto evidenciado nos estudos foi a não referenciação de embasamento teóri-
co sobre alocação de recursos. Somente um estudo citou os princípios do Crisis Standards
of Care (CSC), um instrumento inicialmente desenvolvido para profissionais médicos e to-
madores de decisão que tem por objetivo garantir processos justos para tomar decisões
clinicamente informadas sobre a alocação de recursos escassos durante uma epidemia.
Tais princípios foram estruturados pelo Instituto de Medicina em 2009, e traçam estratégias
para melhor desenvolver a preparação, conservação, substituição, adaptação, reutilização
e realocação de recursos. Entretanto, cabe destacar que os próprios autores questionam se
esses princípios são razoáveis e éticos para situações de pandemias, especialmente para
o Covid-19 (HICK et al., 2020).
Identificou-se que a tomada de decisão para a alocação de recursos é algo conflitante
e que nem sempre os profissionais de saúde se sentem preparados para realizá-la (SILVA
et al., 2019; HICK et al., 2020). Eventos pandêmicos exigem serenidade, trabalho em equi-
pe e preparação técnico-científica dos profissionais, para que se possa potencializar ao
máximo os recursos existentes, que, em geral, são escassos (RAMANATHAN et al., 2020).
Ressalta-se que é preciso fazer um planejamento cuidadoso, alocação criteriosa de equi-
pamentos e treinamento de pessoal para fornecer atendimento de qualidade à população
(KOONIN et al., 2020).
A necessidade de alocação de insumos, equipamentos, leitos, medicamentos e recur-
sos humanos em situações de pandemia pode resultar em conflitos éticos e morais para

58
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
os tomadores de decisão, resultando em adoecimento físico e/ou mental (SILVA et al.,
2019). A tomada de decisão pode ser entendida como um processo permeado por delibe-
rações éticas que envolvem seleção individualizada de pessoas. Ademais, os processos
de gestão, a cultura organizacional, a não compreensão por parte dos profissionais sobre
a abrangência de sua atuação, sentimentos de impotência, falta de empoderamento e des-
conforto na prática profissional interferem na tomada de decisão (FARIA et al., 2019). Dessa
forma, é pertinente refletir sobre a importância da capacitação permanente dos profissionais,
das melhorias no processo de gestão e do acompanhamento da saúde desses profissionais.
Os estudos destacaram os custos sociais e econômicos das medidas a serem ado-
tadas. Existe uma necessidade urgente de atenuar a transmissão e, assim, diminuir a taxa
de avanço do crescimento desta pandemia. Outrossim, é preciso reduzir a altura do pico
epidêmico e do pico de demanda nos serviços de saúde, bem como abrandar o número total
de pessoas infectadas (EMANUEL et al., 2020; NORONHA et al., 2020). Caso isso não seja
efetivado, haverá uma demanda severa por recursos e, consequentemente, a necessidade
de racionar equipamentos e intervenções, o que poderá comprometer todo o atendimento,
aumentando-se os riscos de complicações e a taxa de mortalidade da população (WHO,
2020, HICK et al., 2020).
No que diz respeito à alocação de recursos no cenário de pandemia por Covid-19, foi
possível evidenciar que a discussão científica está ancorada na mitigação ou supressão
da pandemia, a partir de adoção de várias medidas de saúde pública elencadas pelas au-
toridades no assunto, com necessidade de ampla adesão social (EMANUEL et al., 2020;
HICK et al., 2020). Contudo, os pesquisadores ressaltam que as incertezas são muitas,
com necessidade de constante investimento em pesquisas científicas, políticas públicas e
sistemas de saúde robustos para elucidação e implementação das melhores estratégias de
intervenção (NORONHA et al., 2020; FERGUSON et al., 2020; SJÖDIN et al., 2020).
A fragilidade para tomada de decisão frente e melhor alocação de equipamentos ratifica
o despreparo dos profissionais para a alocação de recursos, pois essa não deveria estar
ancorada em medidas de controle da pandemia, mas sim em critérios pré-estabelecidos
para destinação do melhor recurso disponível para atender a uma data realidade popula-
cional (RAMANATHAN et al., 2020; KOONIN et al., 2020). Analises anteriores sugerem
que os princípios da bioética sejam utilizados como norteadores para o estabelecimento
desses critérios (SILVA et al., 2019; FARIA et al., 2019; KOONIN et al., 2020). Vale mencio-
nar que os princípios da bioética são: beneficência; não- maleficência; autonomia e justiça
(BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002).
Há desafios a serem superados no campo da alocação de recursos, principalmente
no que tange a definição de critérios e estratégias sólidas para esta atividade, pois durante

59
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
a pandemia as tomadas de decisão precisam ser rápidas e assertivas (RAMANATHAN
et al., 2020). Alguns autores têm proposto estratégias para alocação de equipamentos de
ventilação mecânica durante uma pandemia. Afirmam que as autoridades em saúde pública
precisam estar preparadas para o aumento abrupto da demanda assistencial, ou seja, preci-
sam identificar e consultar os serviços de saúde sobre sua capacidade de atendimento e a
possibilidade de ampliação desses antes que o fenômeno se instale (KOONIN et al., 2020).
É preciso realizar um inventário do quantitativo de recursos humanos, equipamentos,
medicamentos e insumos para o atendimento previamente, pois ninguém esta preparado
para uma pandemia. A infraestrutura também precisa ser avaliada, principalmente frente à
possibilidade de absorver recursos adicionais (RAMANATHAN et al., 2020; ZAZA et al., 2016).
Merece destacar que o estudo realizado por Emanuel et al. (2020) apresentou seis
recomendações específicas para alocar recursos médicos na pandemia de Covid-19, são
elas: maximizar os benefícios; priorizar os profissionais de saúde; não alocar por ordem
de chegada; ser sensível às evidências; reconhecer a participação na pesquisa; aplicar os
mesmos princípios a todos os pacientes (EMANUEL et al., 2020).
Assim, a partir do material analisado, apresenta-se evidenciação científica que sinaliza
no sentido da necessidade de se desenvolver estratégias proativas com planos de intervenção
sólidos e coerentes com a realidade vivenciada em cada país, considerando as particulari-
dades da população alvo. Isso visa otimizar o uso de recursos no caso de um agravamento
do atual cenário mundial, o que poderá contribuir para a intensificação das demandas pelos
diversos recursos em saúde.

Limitações do estudo

Observou-se na literatura uma escassez significativa de pesquisas que abordam a te-


mática em análise, o que fortalece a relevância do presente estudo. Pode-se levantar, porém,
como limitação o fato de as buscas terem sido direcionadas às bases de dados da saúde,
interesse particular da investigação, sem contemplar fontes da Administração Pública, opção
essa que os pesquisadores fizeram por se tratar de temática que interessa, em especial,
a área da saúde. A grande maioria dos achados sobre o tema geral Covid-19, no período
analisado, referem-se a aspectos epidemiológicos, modelagens estatísticas, possibilidades
terapêuticas e condutas de mitigação, os quais não contemplam a especificidade relevante
rastreada nesta revisão, isto é, a alocação de recursos no cenário do Covid-19.

Contribuições para área da saúde e política pública

Os resultados desta revisão integrativa poderão auxiliar profissionais da saúde, espe-


cialmente os que desempenham ações enquanto tomadores de decisão, a refletirem sobre

60
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
a importância das melhores práticas no que tange a alocação de recursos, diante da pan-
demia causada pelo Covid-19. Para a academia, os achados mostram a necessidade de se
ampliar as pesquisas no âmbito da gestão e das políticas públicas de saúde, em especial,
no que se refere aos aspectos éticos, financeiros e de custos, com vistas a contribuir com
subsídios para melhores decisões daqueles que necessitam fazer difíceis escolhas sobre
alocação de recursos em cenários de pandemia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise crítica dos artigos desta revisão permitiu evidenciar que a alocação de re-
cursos em cenários pandêmicos, como o do Covid-19, é realizada conforme emergem as
demandas. Os estudos apontam várias fragilidades no contexto da disponibilização de re-
cursos, tais como: baixo quantitativo dos recursos humanos, leitos gerais, leitos de UTI e
equipamentos de ventilação assistida, além do embasamento teórico e metodológico ser
incipiente. Quanto ao estabelecimento de critérios para a alocação assertiva, é notória a ine-
xistência de critérios universais e baseados em outras experiências similares para subsidiar
esta ação. Essa lacuna pode ser justificada pelo cenário que se apresenta a pandemia do
Covid-19, ou seja, um panorama permeado de incertezas, informações desencontradas e
dilemas morais, políticos, sociais e econômicos.
Assim, os resultados aqui descritos apontam para a necessidade das organizações de
saúde, profissionais e autoridades da área estar mais bem preparados para o uso adequado
dos recursos disponíveis, com a alocação baseada em evidenciação científica e maximização
dos recursos escassos. Dessa forma, potenciais danos individuais, sistêmicos e sociais em
sentido global poderão ser atenuados.
Algumas questões emergiram desta revisão integrativa, a saber: Como utilizar um sis-
tema de custos como ferramenta para a alocação de recursos? Como os recursos limitados
podem ser alocados de maneira justa em cenários de pandemia? Quem são os profissio-
nais preparados para a tomada de decisão frente a escassez de recursos neste fenômeno?
Quais conhecimentos, habilidades e comportamentos são necessários àqueles que tomam
decisões sobre alocação de recursos em cenários de pandemia? Quais são as melhores
práticas de alocação de recursos escassos descritas na literatura dadas a dimensão plane-
tária desta pandemia?
Essas e outras questões permanecem em aberto e percebe-se que ainda há muito
para se conhecer sobre esta temática. Futuros estudos são essenciais para contribuir com a
capacitação dos tomadores de decisão no que se refere à alocação assertiva de recursos em
saúde e para que estratégias abrangentes de resposta a essa doença sejam consolidadas.

61
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
REFERÊNCIAS
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5. GANONG L. H. Integrative reviews of nursing research. Research In Nursing & Health,


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8. LI Q. et al. Early transmission dynamics in Wuhan, China, of novel coronavirus–infected pneu-


monia. New England Journal Of Medicine, v. 382, n. 13, p. 1199-1207, 2020. Disponível em:
https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/nejmoa2001316. Acesso em: 28 jan. 2021.

9. NORONHA K. et al. Pandemia por COVID-19 no Brasil: análise da demanda e da oferta de


leitos e equipamentos de ventilação assistida considerando os diferenciais de estrutura etária,
perfil etário de infecção, risco etário de internação e distâncias territoriais. Belo Horizonte:
Cedeplar, 2020. 87 p. Disponível em: https://www.cedeplar.ufmg.br/noticias/1223-nota-tecni-
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11. SILVA A. I. et al. Projeto Terapêutico Singular para profissionais da Estratégia de Saúde da
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v. 6, n. 6, p. 66-73, 2019. Disponível em: http://journal-repository.com/index.php/ijaers/article/
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62
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
13. SJÖDIN H. et al. Covid-19 health care demand and mortality in Sweden in response to nonphar-
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Disponível em: https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.03.20.20039594v3. Acesso em:
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14. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Coronavirus disease 2019 (COVID-19): Situation Report
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15. ZAZA S. et al. A conceptual framework for allocation of federally stockpiled ventilators during
large scale public health emergencies. Health Security, v. 14, n. 1, p. 1-6, 2016. Disponível
em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26828799/. Acesso em: 28 jan. 2021.

63
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
06
“ Burnout entre profissionais de
enfermagem em época de coronavírus:
O que dizem as evidências científicas?

Alice Beatriz de Oliveira Sampaio

Aline Paranaguá Cirqueira

Filipe Souza Leite de Brito

Samylla Maira Costa Siqueira

10.37885/201202671
RESUMO

Objetivo: Identificar o que dizem as evidências científicas acerca da Síndrome de Burnout


entre profissionais de enfermagem em época de coronavírus. Método: Revisão integra-
tiva da literatura, realizada em outubro de 2020 na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), a
partir dos seguintes Palavras-chave: “enfermeiros”, “Burnout” e “COVID-19”, combinados
pelo uso do operador booleano AND. Resultados: As evidências encontradas foram a
desvalorização social e monetária dos profissionais, alto nível de controle, níveis mais
elevados de estresse, exaustão, humor depressivo e níveis mais baixos de realização
relacionada ao trabalho, efeitos psicológicos, dificuldade de enfrentamento, ansiedade
elevada, medo e sofrimento psicológico. Considerações finais: Ratifica-se a importân-
cia do diagnóstico precoce e prevenção acerca do Burnout, pois minimiza os riscos de
acometimento da síndrome e as demais consequências.

Palavras-chave: Enfermeiros, Burnout, COVID-19.

65
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
INTRODUÇÃO

A Síndrome de Burnout (SB), também conhecida como Síndrome do Esgotamento


Profissional, é uma condição mental que se caracteriza por exaustão emocional, desperso-
nalização e baixa realização pessoal advinda da decorrente tensão emocional que é viven-
ciada pelo trabalhador, sendo mais afetados aqueles profissionais que em sua função têm
por obrigação o contato direto com o público (SILVA et al., 2015).
As consequências decorrentes da SB abrangem vários aspectos da vida do profissional
acometido, desde alterações no próprio indivíduo até perturbações do convívio social, seja
com amigos, familiares ou no ambiente de trabalho. A sintomatologia geral se define por
um estado de exaustão e apatia apresentando fadiga, mialgia, distúrbios do sono, alergias,
queda de cabelo e resfriados constantes. No entanto, existem sintomas específicos que
afetam diretamente alguns sistemas do corpo como queixas gastrointestinais, patologias car-
diovasculares – a exemplo de hipertensão arterial sistêmica (HAS) e síndromes coronarianas
agudas (SCA), problemas respiratórios e disfunções sexuais. O psicológico é extremamente
afetado e as reações variam de agressividade a baixa autoestima e falta de concentração
(SILVEIRA et al., 2016).
Os agentes desencadeantes da SB têm etiologia ampla e diferem de acordo com a
área de atuação profissional, procedente das diferentes formas de exaustão psicológica e
física, causado comumente pelo estresse ocupacional. Entre as profissões prestadoras de
serviços de saúde, o exercício da Enfermagem segue como uma das atividades que mais
expõem o colaborador a desenvolver doenças ocupacionais, que influenciam de forma direta
na assistência ao paciente e se intensificaram com a progressão da pandemia do novo co-
ronavírus (SARS-Cov 2) em 2020. A lida diária com situações desagradáveis e a exposição
ao risco constante de contaminação pelo vírus alimentam ainda mais o estresse psicológico
destes que trabalham na linha de frente da assistência à saúde (BEZERRA et al., 2020).
O coronavírus é um RNA vírus da família Coronaviridae, que causa infecções respi-
ratórias em diversos animais e foram descritos em 1965 como similares a uma coroa em
decorrência do seu perfil microscópico. Ao todo, sete coronavírus são reconhecidos como
patógenos em humanos e estão em geral associados a síndromes gripais. O novo corona-
vírus (SARS-CoV-2), causador da COVID-19, foi detectado em 31 de dezembro de 2019
em Wuhan, na China. Em 9 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
confirmou a circulação do novo coronavírus, tendo a notificação da primeira importação para
o Japão ocorrido uma semana após, e em 30 de janeiro a OMS declarou a epidemia uma
emergência de saúde pública de âmbito internacional (PHEIC) (LANA et al., 2020).
Segundo dados da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS, 2020), houve apro-
ximadamente 32 milhões de casos confirmados da COVID-19 no mundo, com registro de

66
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
quase um milhão de mortes, sendo a região das Américas aquela com maior número de
casos. No Brasil, o Ministério da Saúde (MS, 2020) aponta que pouco mais de 4 milhões e
600 mil pessoas foram contaminadas e 140 mil vieram a óbito pela COVID-19, se tratando
de uma incidência de 2.231,6/100 mil habitantes e havendo uma mortalidade de 66,9/100
mil habitantes, com maior concentração de casos na Região Sudeste (1.660 mil casos
confirmados e 63 mil óbitos). De acordo com o mais recente boletim epidemiológico, foram
notificados cerca de 1 milhão e 200 mil casos suspeitos de COVID-19 em profissionais de
saúde, dos quais 388.269 foram confirmados e os enfermeiros estavam em 3º lugar com
45.817 dos casos confirmados (MS, Secretaria de Vigilância em Saúde, 2020).
O novo coronavírus é responsável por trazer sofrimento intenso entre o pessoal de
Enfermagem por se tratar de um problema até então não vivenciado por profissionais da
saúde de todo o mundo, gerando medo de contaminação por conta das atividades laborais e,
por consequência, o óbito destes trabalhadores. A junção de fatores como medo de contrair
a doença, receio de transmitir o vírus para pessoas do convívio íntimo, o isolamento social,
a desvalorização do serviço, a falta de material e ambiente adequado, os julgamentos e pre-
conceitos que culminam na hostilização dos profissionais causa um sofrimento significativo,
com possibilidade de evolução para o quadro da SB.
Considerando-se o aumento significativo de transtornos psíquicos e de vulnerabilidade
psicossocial, de um terço à metade da população na primeira fase da pandemia de COVID-19,
conforme evidenciado pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ, 2020), é imprescindível o
desenvolvimento de estudos que tratem do sofrimento psíquico relacionado à pandemia do
novo coronavírus. Acredita-se que os resultados encontrados após elaboração do presente
estudo possam contribuir para implementação de novas práticas em relação ao cuidado
da saúde psicossocial dos profissionais de Enfermagem, amenizando o estresse laboral e
prevenindo futuras consequências resultantes do enfrentamento dos casos de COVID-19.
Garantir o bem-estar biopsicossocial do colaborador é resguardar uma assistência segura
e de qualidade para a população que é atingida pela pandemia.

OBJETIVO

Identificar o que dizem as evidências científicas acerca da SB entre profissionais de


enfermagem em época de coronavírus.

MÉTODOS

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, que consiste na utilização de resulta-


dos de pesquisa a fim de promover a melhoria do cuidado ao paciente e disseminar a prática

67
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
baseada em evidências (PBE). Nesse sentido, o estudo obedeceu às etapas da revisão
integrativa, que se compõe por: 1) Elaboração da pergunta norteadora, estabelecimento dos
objetivos da revisão e critérios de inclusão e exclusão dos artigos; 2) Definição das informa-
ções a serem extraídas das pesquisas; 3) Seleção dos artigos na literatura; 4) Análise dos
resultados; 5) Discussão dos achados; e 6) Apresentação da revisão (MENDES et al., 2008).
Todas as etapas do estudo foram norteadas pela seguinte questão de pesquisa: “O
que dizem as evidências científicas acerca do Burnout entre profissionais de enfer-
magem em época de coronavírus?”. A coleta dos dados ocorreu em outubro de 2020 na
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) a partir dos seguintes descritores, consultados na biblio-
teca dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) “enfermeiros”, “Burnout” e “COVID-19”,
combinados pelo uso do operador booleano AND.
Foram encontrados 10 trabalhos, os quais foram filtrados pelos seguintes critérios de
inclusão: artigos redigidos nos idiomas português e inglês, cujos textos pudessem ser aces-
sados na íntegra. Elegeram-se como critérios de exclusão os artigos repetidos nas bases
de dados, aqueles que não abordassem o tema de estudo e os que não respondessem à
pergunta de pesquisa elaborada.

RESULTADOS

A partir dos critérios de inclusão acima descritos foram selecionados 09 artigos. Estes
tiveram o título, resultados e conclusões lidos para análise inicial acerca da compatibilidade
com a temática proposta. Ao final, foi excluído 1 artigo por estar repetido na base de dados
e 04 por não responderem à pergunta de pesquisa, tendo sido selecionados 5 trabalhos
(sintetizados no Quadro 1) para a construção dos resultados.
Os artigos encontrados foram todos publicados na base de dados MEDLINE (n=5),
todos originais (n=5), de abordagem qualitativa (n=5). Todos os trabalhos foram de origem
internacional (n=5), sendo desenvolvidos: na Europa, Alemanha (n=1); no Oriente Médio,
na Turquia (n=1); na Ásia Oriental, na China (n=1); na Oceania, na Austrália (n=1); e na
região do Mediterrâneo Oriental (n=1). Os artigos foram desenvolvidos por médicos (n=2),
enfermeiros (n=1) e parcerias entre médicos e enfermeiros (n=2).

Quadro 1. Síntese dos artigos selecionados (n=5) quanto ao ano, autores, periódico, título e resultados Salvador - BA,
Brasil, 2020.

ID Ano Autores Periódico Título Resultados

2020 – the year of the nurse and midwife: Foi evidenciada uma desvalorização social
Al-Mandhari Eastern Mediterrane- a call for action to scale up and strengthen e monetária dos profissionais, gerando
1 2020
et al. an Health Journal the nursing and midwifery workforce in the uma redução ainda maior de profissionais
Eastern Mediterranean Region em meio à pandemia da COVID-19.

68
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
ID Ano Autores Periódico Título Resultados

A Comparison of Burnout Frequency Among Foi evidenciado alto nível de controle en-
Journal of Pain and
Oncology Physicians and Nurses Working on tre profissionais da linha de frente quando
2 2020 Wu et al. Symptom Manage-
the Frontline and Usual Wards During the comparados a profissionais de enfermarias
ment
COVID-19 Epidemic in Wuhan, China usuais.
Enfermeiros que trabalham nas enferma-
rias do COVID-19 apresentam níveis mais
Psychosocial burden of healthcare professio- elevados de estresse, exaustão e humor
German Medical
3 2020 Zerbini et al. nals in times of COVID-19 – a survey conduc- depressivo, bem como níveis mais baixos
Science
ted at the University Hospital Augsburg de realização relacionada ao trabalho em
comparação com seus colegas nas enfer-
marias regulares.
Parteiras e enfermeiras apresentam inten-
sos efeitos psicológicos e dificuldade de
Archives of Psychiatric Psychological effects of nurses and midwives
4 2020 Aksoy; Koçak enfrentamento durante a pandemia de
Nursing due to COVID-19 outbreak: The case of Turkey
COVID-19, que causa ansiedade em todo
o mundo.
Evidenciou-se que os enfermeiros são o
Implications for COVID-19: A systematic re- maior grupo na linha de frente com grande
Fernandez International Journal view of nurses’ experiences of working in acu- senso de dever profissional que obtiveram
5 2020
et al. of Nursing Studies te care hospital settings during a respiratory um grande impacto físico e emocional ge-
pandemic. rando ansiedade elevada, medo e sofri-
mento psicológico.

Acerca do Burnout entre profissionais de enfermagem durante a pandemia do novo


coronavírus foram observadas as seguintes evidências: 1) Desvalorização social e monetária
dos profissionais (AL-MANDHARI et al., 2020); 2) Alto nível de controle (WU et al., 2020);
3) Níveis mais elevados de estresse, exaustão e humor depressivo e níveis mais baixos de
realização relacionada ao trabalho (ZERBINI et al., 2020); 4) Intensos efeitos psicológicos
e dificuldade de enfrentamento (AKSOY; KOÇAK, 2020); 5) Ansiedade elevada, medo e
sofrimento psicológico (FERNANDEZ et al., 2020).

DISCUSSÃO

Os profissionais de saúde ocupam a linha de frente durante epidemias/pandemias e


estão em maior risco de agravamento da sua saúde física e psíquica, sendo relacionado
este risco à exposição excessiva resultante da natureza da atividade laboral.
Embora repercussões de cunho trabalhista também tenham sido evidenciadas nesta
revisão, aquelas de ordem psíquica foram as mais citadas entre os autores selecionados.
Razões para a diminuição da saúde mental compreendem, entre outros, carga de trabalho
excessiva e despreparo emocional para lidar com situações de estresse intenso gerado pela
pandemia de COVID-19.
As manifestações psíquicas aqui evidenciadas foram níveis mais elevados de estresse,
exaustão e humor depressivo (ZERBINI et al., 2020); intensos efeitos psicológicos e dificul-
dade de enfrentamento (AKSOY; KOÇAK, 2020); ansiedade elevada, medo e sofrimento
psicológico (FERNANDEZ et al., 2020).

69
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
No estudo de Zerbini et al (2020), realizado na Alemanha como objetivo de explorar
se os indivíduos trabalhando em enfermarias especiais COVID-19 estão passando por uma
maior tensão psicossocial em comparação com seus colegas trabalhando em enfermarias
regulares, os autores observaram que dos enfermeiros que participaram da pesquisa, 55%
(que atuavam na enfermaria COVID-19) e 12,5% (que eram plantonistas na enfermaria
regular) reclamaram de estresse no trabalho. Os autores concluíram que os enfermeiros
que trabalhavam em contato direto com pacientes de COVID-19 relataram exaustão, humor
depressivo, estresse no trabalho e baixa realização de forma significativamente maior que
os demais profissionais participantes da pesquisa.
Os enfermeiros que lidam diretamente com a COVID-19 estão mais expostos ao vírus e
as próprias atividades desenvolvidas por esses profissionais exigem um contato quase íntimo
com o paciente, diferente de outros profissionais da área da saúde, que conseguem manter
um nível menor de contato, sendo menos afetados pelas tensões psicológicas e medos
inerentes. O aumento da carga de trabalho, o estresse, a preocupação consigo mesmos e
com os familiares são fatores extras para a sobrecarga psicológica, além da exaustão física
e dos riscos já comuns à profissão.
Não há estudos similares que tratem da comparação entre enfermeiros que atuam em
enfermarias regulares e enfermarias COVID-19 no Brasil, porém o estudo de Souza e Agnol
(2013) referente à pandemia de influenza A (H1N1) revela preocupações e sentimentos
similares aos experimentados na pandemia ainda corrente de COVID-19. Iniciando com a
vulnerabilidade dos profissionais, os autores falam sobre incertezas e impotências frente a
não saber que conduta adotar, além de relatar medo nas falas dos entrevistados. A pande-
mia de COVID-19 fez ressurgirem problemas similares àqueles descritos por Souza e Agnol
(2013), sendo eles a falta de condições de trabalho em hospitais públicos, superlotação das
emergências e os problemas financeiros das instituições de saúde.
Sintomas de ansiedade elevada, medo e sofrimento psicológico foram citados na revisão
conduzida por Fernandez et al (2020), que referiram ser o medo e as preocupações sobre
a segurança de si mesmos e de suas famílias presentes em situações de crises na saúde,
apesar do forte senso de dever que os enfermeiros têm para com os pacientes.
O medo também foi evidenciado em outros estudos selecionados neste levantamen-
to. Na pesquisa de Zerbini et al (2020), na qual foi utilizado o Inventário de Burnout de Maslach
(Maslach Burnout Inventory – MBI) entre os participantes, foi observado que aqueles com
pontuações aumentadas para exaustão, depressão, ansiedade e estresse relataram um
maior medo de serem infectados com o vírus, tendo esses praticantes revelado um aumen-
to dos sintomas de Burnout e desgaste psicológico (ZERBINI et al., 2020). No trabalho de

70
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Aksoy e Koçak (2020), foram identificados, além do medo (19,4%), emoções intensas como
ansiedade (36,3%) e mal-estar (31,3%).
Diferente das pandemias enfrentadas anteriormente há hoje uma maior disseminação
de informações através das redes sociais, de forma que em épocas passadas as pessoas
não tinham acesso a informações detalhadas e em tempo real, como ocorre na atualidade.
Todo esse rol de tecnologias que permitem o acesso a um maior número de informações,
ao mesmo tempo em que contribuem para o maior esclarecimento das pessoas e adoção de
medidas de prevenção, também favorecem o aumento de sentimentos de ansiedade e medo.
Como mecanismo de enfrentamento do medo e das incertezas secundárias à COVID-19,
alguns profissionais responderam com alto nível de controle (WU et al., 2020). A este res-
peito, o estudo de Wu et al (2020) traz um comparativo entre enfermeiros de linha de frente
versus enfermeiros de enfermarias habituais, tendo evidenciado que os participantes que
continuaram a trabalhar em seus locais habituais eram mais preocupados consigo mesmos
ou com membros da família no que concerne à contaminação pelo vírus.
É visto no estudo de Aquino et al (2020) que devido à rápida emergência da pandemia
de COVID-19, muitas das medidas de controle foram introduzidas de uma só vez e tiveram
graus variados de adesão em diferentes países. Assim, é difícil avaliar a efetividade das
intervenções isoladamente. Portanto, no atual panorama sanitário, a implementação das
medidas de controle, incluindo o distanciamento social, tem sido recomendada pelas au-
toridades sanitárias, fazendo aumentar o controle tanto em nível individual como coletivo.
Frente ao cenário de pandemia da COVID-19, vê-se que a população está aprendendo
a se adaptar quando o assunto é controle. Realizando o tão difícil isolamento social, é pos-
sível observar que a população está tentando se adaptar às novas rotinas, ajustando tanto
a vida profissional e pessoal quanto a econômica.
Embora a maioria dos profissionais tenha conseguido atuar na assistência a pacientes
durante a pandemia de COVID-19, outros tiveram como resposta a dificuldade de enfren-
tamento, referida por Aksoy e Koçak (2020). No estudo realizado por estes autores, foi
auferido que das enfermeiras e parteiras que integraram a pesquisa, 54,5% referiram que
suas vidas pioraram desde o início do surto, 62,4% tiveram dificuldades em lidar com a
situação incerta no surto, 42,6% queriam apoio psicológico e 11,8% estavam alienadas de
sua profissão. Diante disso, os autores evidenciaram a existência de remorso relacionado ao
trabalho, e dificuldades tanto na profissão, como na família e vida privada devido à COVID-19
(AKSOY; KOÇAK, 2020).
Como uma das possíveis respostas às dificuldades que a COVID-19 gerou na pro-
fissão, pode-se citar níveis mais baixos de realização relacionada ao trabalho, referido no
estudo de Zerbini et al (2020). A baixa realização, além de estar associada aos efeitos

71
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
físicos e psíquicos da pandemia, também é reflexo da desvalorização social e monetária
dos profissionais, citada no estudo de Al-Mandhari et al (2020), segundo o qual na região do
Mediterrâneo, na luta contra a COVID-19, eles não apenas podem se infectar e colocar suas
próprias vidas em risco, mas também enfrentam angústia e esgotamento devido às longas
horas de trabalho. Al-Mandhari et al (2020) ainda traz que mesmo os compromissos feitos
no intuito de fortalecer a enfermagem não são suficientes, visto que não há uma melhoria
nos incentivos adequados.
A desvalorização do profissional enfermeiro em época de pandemia de COVID-19 se
mostra um verdadeiro descaso com a classe, que é um dos principais pilares da assistência
à saúde e que vêm sendo a linha de frente no combate ao novo coronavírus. A enfermagem
lida diretamente com vidas e a responsabilidade, o peso e a magnitude do cuidado prestado
pelo enfermeiro devem ser reconhecidos e remunerados adequadamente, pois todos os
profissionais se entregam de forma física e psicológica diariamente para que outras pessoas
possam ter um atendimento de qualidade, atendimento esse que é baseado em evidências
científicas e raciocínio clínico.
A prática de enfermagem durante as crises, especialmente aquelas que colocam os
enfermeiros em perigo de vida, significa que é importante reconhecer os impactos físi-
cos e emocionais dos profissionais e atuar sobre eles. Sem este apoio, os enfermeiros
provavelmente experimentam estresse significativo, ansiedade e efeitos colaterais físi-
cos, todos que podem levar ao esgotamento e perda da força de trabalho na Enfermagem
(FERNANDEZ et al.,2020).
É importante que os profissionais tenham o adequado reconhecimento, social e fi-
nanceiro, acerca do trabalho realizado em todo o tempo, especialmente no atual panorama
de enfrentamento de uma pandemia. Tais profissionais necessitam também de cuidados
psicossociais, com a disponibilização de programas de assistência, os quais são essenciais
para que estes trabalhadores sejam ouvidos, acolhidos e cuidados.

CONCLUSÃO / CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo foi possível observar que as evidências acerca do Burnout entre profis-
sionais de enfermagem em época de coronavírus são a desvalorização social e monetária
dos profissionais, alto nível de controle, níveis mais elevados de estresse, exaustão, humor
depressivo e níveis mais baixos de realização relacionada ao trabalho, efeitos psicológicos,
dificuldade de enfrentamento, ansiedade elevada, medo e sofrimento psicológico.
Levando em consideração que o enfermeiro lida diretamente com pessoas e situações
de vida e morte, uma queda no desempenho da assistência prestada por um profissional
acometido pela síndrome pode ser um fator chave para resultados negativos na execução

72
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
das atividades laborais. As instituições, assim como o poder público, devem priorizar o
bem-estar biopsicossocial dos colaboradores através da valorização profissional, a gritante
necessidade de um piso salarial justo para que o profissional não se sinta forçado a ter
mais de um vínculo empregatício, carga horária de trabalho justa e equivalente ao salá-
rio, planejamento e implementação de medidas que viabilizem a minimização do estresse
laboral desencadeantes do Burnout como programas de apoio psicossocial, campanhas
institucionais, dentre outros. A classe necessita que as muitas homenagens dirigidas aos
profissionais de enfermagem durante a época de pandemia sejam revertidas em benefícios
reais e palpáveis para todos.
Ainda que haja evidências cientificas do crescente número de profissionais acometidos
pela Síndrome de Burnout que foi fortalecido pela pandemia, observou-se uma escassez
na literatura sobre a temática abordada, o que resultou na principal limitação deste estudo.
Portanto, sugere-se para estudos posteriores uma análise do modo como os profissionais
se adaptam ao estresse laboral durante uma pandemia, investigar a resposta cognitiva dos
profissionais para elaboração de medidas de prevenção do desenvolvimento da SB e ajudar
no seu enfrentamento.

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75
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
07
“ Criação de fluxo assistencial para
pessoas com feridas complexas, no
contexto da Pandemia da COVID-19

Rose Ana Rios David Daniela Alencar Vieira


UFBA SMS

Fernanda Matheus Estrela Ana Paula Fernandes


UEFS SESAB

Claudia Silva Marinho Onsli dos Santos Almeida


UFBA UFBA

Renata da Silva Schulz Amanda Cibelle Gaspar dos Santos


UFBA UFBA

Juliana Bezerra do Amaral Mirela Argolo Ferreira


UFBA UFBA

Nayara Silva Lima Renata Pacheco Reis


UFBA SMS

Janaína Nascimento Lassala Getisêmani Kundsen Menezes Santos


TECNOVIDA SMS

10.37885/210203321
RESUMO

Objetivo: Relatar a experiência da criação de um fluxo assistencial a pacientes com


feridas complexas na atenção primária à saúde no contexto da pandemia do Covid-19.
Metodologia: Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência realizado por
docentes universitários e enfermeiras que prestam o cuidado direto aos pacientes porta-
dores de feridas crônicas para publicização de fluxo assistencial de atendimento. Esse foi
organizado para atender o município de Salvador em parceria com a Universidade Federal
da Bahia e Universidade Estadual de Feira de Santana. O período de organização foi de
março a outubro de 2020. Após finalizado o fluxograma, houve a apresentação em um
distrito piloto, o Distrito Sanitário do Subúrbio Ferroviário, para implementação das ações
de modo a sensibilizar as demais unidades de saúde e profissionais. Considerações
finais: Para a organização do fluxo assistencial das pessoas com feridas complexas, em
meio a pandemia do Covid-19 foram utilizados manuais e notas técnicas relacionados ao
Covid-19 no que se refere à biossegurança e foram realizadas reuniões com enfermei-
ras especialistas em organização em serviços de saúde e enfermeiros com experiência
prática da dinâmica dos fluxos anteriormente existentes. Desse modo, observa-se que a
teoria alinhada à prática favoreceu o processo de elaboração do fluxo de atendimentos
à pacientes com feridas complexas na atenção primária à saúde, promovendo a melhor
organização das unidades da APS, de modo que os pacientes portadores de feridas
complexas possam continuar recebendo um cuidado prestado de forma integral, holís-
tica e humanizada.

Palavras-chave: COVID-19, Enfermagem, Cuidado.

77
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
INTRODUÇÃO

Desde o surgimento da pandemia da Síndrome Respiratória Aguda Grave do Coronavírus


(SARS-COV-2), conhecida como Covid-19, os números de casos crescem exponencialmente
com impactos para a sociedade, a economia, saúde dos indivíduos inclusive com mudan-
ças de fluxos nas organizações dos serviços. Assim, a pandemia resultou em alteração dos
processos de diversas áreas, dentre elas os fluxos de atendimentos às pessoas com feridas
crônicas. Dessa forma, alguns serviços essenciais precisaram ser reorganizados, inclusive
as salas de curativos da Atenção Primária à Saúde (APS)
As salas de curativos na APS são espaços de atendimento para a demanda espontânea
e são consideradas um ambiente crítico pelo risco de exposição a microrganismos. O trata-
mento de feridas crônicas pode ser realizado nas salas de curativos ou nos domicílios pelas
equipes das Unidades de Saúde da Família. Vale destacar que o Ministério da Saúde aponta
que as feridas crônicas afetam diretamente a vida pessoal e a rotina de cerca de 5 milhões
de pessoas no Brasil1. Com a chegada do vírus, houve restrição do acesso de parte dessas
pessoas às salas de curativos devido a necessidade do isolamento social, especialmente
devido às comorbidades associadas e idade avançada, o que dificulta ainda mais o acesso
desses pacientes que são do grupo de risco2
Nesse momento, do cenário da pandemia do Covid-19, cabe ajustar os procedimen-
tos para a realização dos curativos de forma segura e adequada aos profissionais e aos
pacientes. Os cuidados, nesse momento, devem envolver a precaução para prevenção do
contágio pela equipe de saúde, em especial da enfermagem, durante a realização dos cura-
tivos e prevenção da contaminação cruzada de outros pacientes e funcionários envolvidos
no processo de cuidar desde a chegada à unidade até a saída em segurança3.
Ao prestar a assistência aos ferimentos crônicos, os enfermeiros executam o trata-
mento de curativos, de acordo com o processo de enfermagem/consulta de enfermagem
que é respaldado pela Resolução COFEN 358/2009. Esse processo envolve cinco etapas:
histórico, diagnóstico, planejamento, implementação e avaliação. O histórico constitui-se
em uma etapa importante e fundamental, nele está contido a anamnese e exame físico,
esse último é executado pela palpação, ou seja, tocar o paciente o que pode resultar em
contaminação pelo vírus4,5.
Os ferimentos possuem suas características próprias de acordo com a etiologia, locali-
zação, extensão, exsudato, leito, margem, pele perilesional e dor o que facilita a enfermeira
na elaboração dos diagnósticos de enfermagem, planejamentos e avaliação do cuidado de
modo individual. Mas ao realizar o procedimento, a implementação dos cuidados, é uma das
fases mais críticas dentro do contexto da pandemia, já que exige paramentação adequada

78
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
pelo risco de contágio do vírus e troca de equipamentos com mais frequência, o que aumen-
tou os custos para os serviços5.
Nesse contexto, urge que os serviços da APS sejam reorganizados de modo a orga-
nizar o fluxo de atendimento aos pacientes com feridas complexas, minimizar danos aos
pacientes e aos profissionais de saúde e prestar uma assistência integral, humanizada e livre
de danos6. O objetivo é relatar a experiência da criação de um fluxo assistencial a pacientes
com feridas complexas na atenção primária à saúde no contexto da pandemia do Covid-19.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência realizado por docentes


universitários e enfermeiras assistenciais. Este trabalho foi elaborado durante a participação
da autora principal no grupo de apoio a Atenção Primária a Saúde no Comitê de Enfermagem
no enfrentamento a pandemia da Covid-19.
O novo coronavírus, SARS-COV-2, agente etiológico da Covid-19 tem se propagado
no mundo inteiro de maneira rápida, vulnerabilizando diversos grupos. Dentre as ações
para o combate e enfrentamento do fenômeno está a vacinação, que tem sido realizada em
profissionais da saúde e em idosos conforme a faixa etária. A patologia exige reorganização
dos serviços de modo a atender pacientes suspeitos/ confirmados, além dos que realizam
seguimento ambulatorial por outras patologias. Dessa forma, foi necessária a alteração do
fluxo assistencial para outros atendimentos, inclusive para os pacientes portadores de feridas
complexas nos atendimentos na APS6.
De modo a organizar o fluxo de atendimento foram realizadas reuniões entre docentes
universitárias e enfermeiros que estão na assistência direta aos pacientes de modo a pensar
qual seria o melhor fluxo para o atendimento, inclusive quais são as medidas para evitar
contágio, inclusive no atendimento a pacientes com diagnóstico confirmado de Covid-19 no
que tange os curativos especiais.
Esse fluxograma de atendimento foi organizado para atender o Município de Salvador
em parceria com a Universidade Federal da Bahia e Universidade Estadual de Feira de
Santana. O período de organização foi de março a outubro de 2020, após diversas reuniões
na modalidade virtual entre as docentes da universidade e alguns enfermeiros que estão na
assistência direta ao paciente. Para tal foram utilizados manuais e notas técnicas relaciona-
dos ao Covid-19, no que se refere à biossegurança.
Após finalizado o fluxograma, houve uma apresentação em um distrito piloto, o Distrito
Sanitário do Subúrbio Ferroviário para implementação das ações de modo a sensibilizar
os profissionais.

79
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Fluxograma para atendimento de Pacientes com feridas durante a Pandemia do Covid-


19 na APS

Fluxo de atendimento elaborado pelos autores

Medidas para evitar contágio do Covid-19 nas Salas de Curativos nas salas das
Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Estratégia de Saúde da Família (ESF)

O acolhimento do paciente na sala de curativos inicia-se na recepção com as medidas


de controle ao vírus com aferição da temperatura corporal, oferta de álcool gel e orientação
quanto ao uso correto da máscara e lavagem das mãos. Ressalta-se a importância da lava-
gem das mãos com frequência, assim como limpeza e desinfecção dos objetos e superfícies
tocadas com frequência com álcool a 70 %. Estudos nacionais e internacionais revelam a
importância de medidas de prevenção para combate aos números alarmantes de Covid-197,3.
No que tange a sala de curativos, o atendimento deve ocorrer com a seguinte para-
mentação dos profissionais: máscara cirúrgica, luvas, óculos ou protetor facial e aventais
descartáveis para atendimento aos pacientes portadores de feridas complexas8.
Além disso, um estudo nacional realizado em 2020 revela que as equipes da APS
devem adotar medidas para organizar o fluxo de atendimento por meio do distanciamento

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COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
dos casos suspeitos para Covid-19 dos demais usuários. Assim, o paciente com feridas ao
chegar à unidade com sintomas respiratórios, deve receber a máscara cirúrgica e ser con-
duzido por um profissional, o quanto antes, para uma área separada ou uma sala específica,
que deve ser mantida com porta fechada, janelas abertas e ar-condicionado desligado. Esse
profissional deverá, então, acionar a equipe de acolhimento informando da presença dos
usuários sintomáticos e orientar que após a avaliação o paciente deve retornar para a sala
de curativo, transferindo esse para o último atendimento9.
Para os pacientes com suspeita ou com Covid-19, uma das recomendações princi-
pais refere-se ao agendamento por horário, priorizando os últimos atendimentos do turno.
Quando já se tem conhecimento sobre o diagnóstico confirmado, realiza-se o agendamento,
de preferência ao final do dia ou turno de atendimento, evitando contato direto com a sala
de espera9. Salienta-se que também deve-se priorizar o atendimento de idosos, por estarem
no grupo de risco3.
Ademais, orienta-se que as ações de prevenção e controle de infecção sejam atua-
lizadas e intensificadas neste período da pandemia do Covid-19. Destarte, nos casos de
atendimentos a pacientes com diagnóstico confirmado, a sala de curativos deve ser mantida
aberta com o ar condicionado desligado e recomenda-se o uso de um biombo para manu-
tenção da privacidade do paciente. Ao concluir o procedimento deve-se realizar a troca do
lençol descartável da maca, realizar desinfecção com álcool a 70% e solicitar a presença
do auxiliar de higienização para a limpeza terminal da sala. Isso é ratificado nos manuais
de segurança do paciente nos serviços de saúde, inclusive destaca-se que em casos de
Covid-19 essa frequência de limpeza deve ser aumentada10,5.

Casos confirmados de Covid-19 em acompanhamento na Unidade com feridas:

No que tange a sala de curativos, o atendimento a pacientes com diagnóstico confir-


mado deve ocorrer com a seguinte paramentação dos profissionais: máscara N95, luvas,
óculos ou protetor facial e aventais descartáveis para atendimento às pessoas com feridas
complexas. Recomenda-se que os profissionais usem álcool gel para higienização das
mãos antes e após o procedimento. Deve-se evitar tocar superfícies com luvas ou outros
EPI contaminados ou mesmo mãos contaminadas próximas ao paciente (ex. mobiliário e
equipamentos para a saúde) e aquelas fora do ambiente próximo ao paciente. Recomenda-
se limpar a ferida com a solução padrão e utilizar coberturas que contenham a drenagem e
exposição do exsudato das feridas5.
De acordo com as características da lesão pode-se utilizar curativos especiais com
princípio ativo disponíveis na rede tais como hidrofibras, espumas de poliuretano e gaze com

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COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
antimicrobiano, a exemplo do PHMB, prata e iodo. Urge que haja um controle adequado da
infecção, o que favorece o controle da produção de exsudato11.
Para feridas extensas e exsudativas é preciso aumentar o número de troca dos cura-
tivos evitando exposição do efluente junto a contactantes no domicílio ou durante seu des-
locamento. Nesses casos, orienta-se que sejam ofertadas as gazes para troca do curativo
secundário em domicílio. Deve-se atentar para o descarte do material que deve ser separado
em saco duplo, nesse contexto, os familiares devem ser orientados a utilizar equipamentos
de proteção individual (EPI), caso prestem assistência a menos de 1 metro dos pacientes
suspeitos ou confirmados com infecção pelo Covid-193
No caso de ferimentos de membros inferiores, em tratamento com bota de unna, não
há menção em relação a pandemia, permanecendo a orientação da troca em até 7 dias12.
Cabe também o acompanhamento médico, social, nutricional e psicológico desses pacientes,
já que pessoas com esse tipo de ferimento precisam ter consideradas a sua qualidade de
vida, condição nutricional, revisão dos medicamentos utilizados, nível de atividade física e
estado emocional, pois implicam diretamente na melhor resposta cicatricial11.
Dessa forma, o atendimento de pacientes portadores de feridas complexas requer além
do fluxo de atendimento, uso de EPI’s pelos profissionais de saúde, uso de coberturas ade-
quadas para controle de infecção e exsudato, inclusive diminuindo as trocas das coberturas
especiais, além de suporte e acompanhamento interdisciplinar com outras especialidades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A experiência permite concluir que para a organização do fluxo assistencial das pessoas
com ferimentos crônicos, em meio a pandemia do Covid-19, foram necessárias reuniões
prévias com docentes e enfermeiras especialistas em organização em serviços de saúde e
enfermeiros com experiência prática da dinâmica dos fluxos anteriormente existentes. Desse
modo, deve-se reconhecer que a teoria alinhada à prática favoreceu todo o processo para
a elaboração do fluxo de atendimentos proposto neste trabalho.
Entende-se que a estrutura existente das unidades pode necessitar de adaptação, prin-
cipalmente no que envolve as salas de espera e a separação entre pessoas com sintomas
respiratórios e não respiratórios. As feridas crônicas exigem não só a triagem do paciente,
mas também a limpeza adequada das superfícies, acondicionamento correto dos resíduos
resultantes dessa assistência de cuidado, atenção à contaminação cruzada mesmo com a
utilização de EPI´s e o controle do exsudato de modo adequado.
A criação desse fluxograma poderá favorecer a melhor organização das unidades da
APS de modo que os pacientes portadores de feridas complexas possam continuar rece-
bendo um cuidado prestado de forma integral, holística e humanizada.

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COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
REFERÊNCIAS
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3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Protocolo de manejo


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4. Cofen. Conselho Federal De Enfermagem. Nota de esclarecimento sobre o Coronavirus (COVID


19). Cofen: DF, 2020. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/cofen-publica-nota-de-esclare-
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serviços de saúde: medidas de prevenção e controle que devem ser adotadas durante a as-
sistência aos casos suspeitos ou confirmados de infecção pelo novo coronavírus (Covid-19).
Atualizado em 31/03/2020.

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COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
08
“ Cuidados de enfermagem ao paciente
com doença renal crônica em tempos
de Pandemia: revisão de literatura

Gessianny Emanuelly de Lima Silva


IFPE

Samira Mislane da Silva Santos


IFPE

Taís Badé da Silva


IFPE

Angélica de Godoy Torres Lima


IFPE

Suênia de Sousa Silva Batista


IFPE

Iracema Mirella Alves Lima Nascimento


IFPE

Mirtson Aécio dos Reis Nascimento


IFPE

10.37885/201202675
RESUMO

A Doença Renal Crônica (DRC) pode ser definida como a perda progressiva e irreversível
da função dos rins, sendo que sua causa está relacionada, frequentemente, a enfermi-
dades como diabetes melito, hipertensão arterial e glomerulonefrites. O objetivo deste
estudo é descrever os cuidados de enfermagem prestados ao paciente com doença
renal crônica no período de pandemia COVID-19. Trata-se de uma revisão de literatura
realizada através das bases de dados Pubmed, Google acadêmico e SciELO. Para a
realização da pesquisa foram utilizados Palavras-chave nos idiomas inglês e português:
doença renal crônica, cuidados de enfermagem, pandemia e COVID-19. Com a realização
da pesquisa notou-se a escassez de estudos sobre o assunto abordado, por isso se faz
necessário a reflexão sobre o tema abordado neste estudo para entender os cuidados
que devem ser prestados ao paciente doente renal em tempos de pandemia. Os principais
cuidados a esses pacientes foram um esforço conjunto das sociedades de especialista,
as quais instituíram protocolos baseados em medidas de proteção respiratória gerais a
fim de conter a contaminação de profissionais e pacientes que não puderam se afastar
do ambiente hospitalar, tais como nas salas de hemodiálise. Além da adaptação am-
biental das salas de hemodiálise, reorganização de escalas de pacientes e de trabalho,
além de mudanças comportamentais para todas as pessoas envolvidas nesse fluxo de
atendimento, tais como pacientes, acompanhantes e funcionários dos serviços.

Palavras-chave: Insuficiência Renal Crônica, Cuidados de Enfermagem, Pandemia, COVID-19.

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COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
INTRODUÇÃO

A Doença Renal Crônica (DRC) pode ser definida como a perda progressiva e irre-
versível da função dos rins, sendo que sua causa está relacionada, frequentemente, a en-
fermidades como diabetes mellitus, hipertensão arterial e glomerulonefrites. Esta patologia
é classificada em 5 estágios, que inicia-se com a redução da TFG até a insuficiência renal
crônica em seu estágio final. Além disso, esta doença apresenta complicações que podem
afetar todos os sistemas do organismo (ROMÃO JUNIOR, 2004).
A doença renal crônica deteriora as funções dos rins lentamente, sendo irreversível,
progressiva e pouco sintomática, por esse motivo, na maioria dos casos, é descoberta em
seus estágios finais quando os sintomas começam a aparecer de forma mais proeminente
(AMMIRATI, 2020).
O Tratamento indicado poderá variar a depender do estágio da DRC, que consiste em
tratamento conservador nos estágios de 1 a 4, que consistem em uso de medicamentos,
dieta e orientações referentes a evolução da doença. Já no estágio 5 com consequente
insuficiência renal, o tratamento será através da terapia renal substitutiva das quais fazem
parte as terapias dialíticas, que são a hemodiálise ou a diálise peritoneal, e o transplante
renal, que é uma cirurgia em que o paciente recebe um rim saudável de um doador vivo ou
cadáver (BRASIL, 2014).
Dados disponibilizados pelo Ministério da saúde, em estudo realizado em 2018, mos-
traram que, em 2017, indivíduos em diálise, entre 65 e 74 anos, tiveram a maior taxa de
realização de Terapia Renal Substitutiva (TRS) por 100 mil da população, se comparadas
às demais faixas etárias. Com relação ao sexo, a maior predominância foi para o masculino,
com taxa de crescimento anual de 2,2% e de 2% para o sexo feminino. E, a modalidade de
terapia renal substitutiva mais realizada entre os pacientes com doença renal foi a hemo-
diálise, apresentando uma média de 93,2% em relação à diálise peritoneal com 6,8%, entre
2010 a 2017 (BRASIL, 2019).
De acordo com estudo realizado por Ribeiro (2016), no âmbito da assistência ao pa-
ciente renal crônico, as ações de enfermagem são muito importantes, pois estão pautadas
nos cuidados com o cateter de hemodiálise, na orientação familiar e do paciente quanto à
prevenção de complicações durante o tratamento dialítico, na solicitação de exames, no
acompanhamento da evolução das doenças de base e na promoção de qualidade de vida.
O novo coronavírus, até então, por causa desconhecida, emergiu em Dezembro de
2019, quando um grupo de pacientes com pneumonia foi detectado na cidade Wuhan,
província de Hubei, China (ZHU et al., 2019). Sabe-se, até o momento, que pacientes

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COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
diagnosticado com alguma comorbidade, como, hipertensão, diabetes, doença renal crô-
nica, são considerados de risco, pois estão ligados ao aumento de agravos ao COVID-19
(DELFINO et al., 2020).
Ainda não existe um estudo que comprove ao certo o que o coronavírus é capaz de
causar no corpo humano, porém, estudos realizados na China mostram que pacientes que
precisaram ficar mais de sete dias na UTI com ventilação mecânica apresentaram um quadro
de lesão renal aguda, estando associado ao aumento de número de mortes em decorrência
do COVID-19 (MOITINHO et al., 2020).
No ano de 2020, todas as atividades humanas, incluindo a assistência à saúde de
pacientes com doenças crônicas, foram diretamente afetadas pela pandemia causada pelo
coronavírus, desta maneira, faz necessário saber: Quais os cuidados de enfermagem presta-
dos aos pacientes com doença renal crônica em tempos de COVID-19? A resposta para esta
pergunta poderá contribuir diretamente para ações prestadas que contemplam os diferentes
níveis de complexidade que envolvem os pacientes com doença renal crônica, especialmente
aqueles em terapia dialítica.
Portanto, o atual trabalho se propõe a descrever os cuidados de enfermagem prestados
ao paciente com DRC em tempos de pandemia da COVID-19, apresentados pela literatura
científica. Espera-se que os resultados alcançados por esta pesquisa contribuam para o
aperfeiçoamento das ações de enfermagem, nos diferentes níveis de complexidade em que
estes profissionais estão inseridos, prestando cuidados aos pacientes com DRC.
Estes pacientes, devido a fisiopatologia da doença, são considerados grupo de risco
para a Síndrome Respiratória Aguda causada pelo vírus SARS-CoV-2, que é o agente etio-
lógico da COVID-19, então necessitam ser tratados com as recomendações de precaução
de contaminação que o momento exige.

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão de literatura com artigos sobre os cuidados de enfermagem


prestados ao paciente doente renal crônico em tempos de COVID-19. Foram elencadas
publicações encontradas na base de dados da PUBMED e nos sites Google acadêmico
e SciELO, para selecionar os artigos foram utilizados os descritores: Insuficiência Renal
Crônica, Hemodiálise, Diálise peritoneal, Transplante renal, Cuidados de enfermagem, pan-
demia e COVID-19.
Foram encontrados ao todo 208 artigos nas bases de dados, sendo selecionados 46
artigos que tratavam da temática abordada pelo atual trabalho. Dos 46 artigos selecionados
15 foram escolhidos para análise e 31 foram descartados, pois não abordavam o assunto
que foi especificado durante a pesquisa realizada na base de dados.

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COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Foram selecionados 36 (trinta e seis) artigos na base de dados da PUBMED, 07 (sete)
no Google acadêmico e 2 (dois) protocolos do ministério da saúde. A partir dos artigos elen-
cados, procedeu-se a descrição dos dados obtidos e principais resultados, analisou-se a
relação entre os dados obtidos e a pergunta da pesquisa. Após isso, os achados que poderão
contribuir com a literatura científica, no que diz respeito a esta temática serão apresentados,
por meio da interpretação dos resultados, a luz da fundamentação teórica descrita.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao considerar os altos índices de pessoas afetas pela DRC e o grau de comprometi-


mento que a doença pode alcançar, assistência prestada pelos profissionais de enfermagem
a esses pacientes pode ser desenvolvida em todos os cenários dela. Isto envolve desde
atividades que abrangem a prevenção deste agravo até os cuidados prestados ao paciente
em estágio irreversível da doença ou no pós-transplante renal.
A enfermagem está ligada diretamente a assistência prestada ao paciente. A equipe de
enfermagem precisa trabalhar em conjunto com práticas de cuidado humanizado, incluindo
ações educativas que estimulam e promovem o autocuidado do paciente, familiares e da
sociedade (SOUZA et al., 2018).
O profissional de enfermagem vem, ao longo do tempo, exercendo um papel de edu-
cador em todos os níveis de complexidade de assistência, com práticas voltadas para o
modelo de assistência do sistema de saúde o qual está inserido, visando tornar-se instru-
mento de mudança com ações voltadas a promoção e prevenção da saúde (FERREIRA;
PERICO; DIAS, 2018).
A partir da análise das publicações encontradas, percebe-se poucas informações espe-
cíficas na literatura científica, acerca dos cuidados de enfermagem recomendados para este
período, prestados ao paciente renal crônico. Desta maneira, faz-se necessário discutir quais
as práticas de enfermagem podem ser recomendadas para orientar o processo de enferma-
gem nos diferentes níveis de complexidade em que o paciente renal crônico está inserido.
Em meio ao colapso que se instalou durante a pandemia do novo coronavírus, a aten-
ção primária passou a exercer um papel fundamental, sendo considerada porta de entrada
para o Sistema Único de Saúde (SUS), assim, a atenção primária passou a diferenciar as
esferas de tratamento durante a triagem evitando a circulação desnecessária de pacientes
em outros setores de serviços (FARIAS et al, 2020).
O profissional de enfermagem deve atuar na prevenção e progressão da doença renal
crônica, com ações que visem detectar as necessidades e o grupo de risco que acomete
o paciente doente renal (SILVA et al, 2015). Dentro do escopo de atuação da enfermagem
em nefrologia, durante a pandemia, trabalhar na sala de hemodiálise tornou-se um desafio.

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COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Devido suas características, essas sala aglomeram pessoas, pois muitos pacientes chegam
ao serviço com acompanhantes quando não possuem autonomia para o seu deslocamento.
Fazem o tratamento três vezes por semana em dias alternados, em turnos fixos que duram
cerca de 4 horas por sessão. Os leitos estão dispostos de modo que facilita a visualização
de todo o ambiente, sem barreiras físicas entre um e outro (QUEIROZ; MARQUES, 2020).
Diferente dos cuidados já estabelecidos na hemodiálise que em sua maior parte são
direcionados para as doenças de transmissão sanguínea, a COVID-19 e sua transmissão
por via respiratória, desafiou a logística de funcionamento dos serviços de diálise. Esse
problema precisou ser resolvido através da vigilância em saúde dos grupos de interesse,
adaptando o fluxo de pessoas no serviço para o monitoramento de todo grupo de pessoas
que estão vinculados ao serviço de nefrologia, incluindo os intervalos sem diálise para pa-
cientes, a permissão de acompanhantes em casos extremamente necessários e o monito-
ramento de sinais e sintomas de todos que participam desse fluxo de pessoas no serviço
(QUEIROZ; MARQUES, 2020).
Com o período de propagação do vírus os hospitais precisaram adotar algumas me-
didas necessárias para evitar o contato de paciente com suspeita ou não de ter contraído o
vírus, como a criação de novas áreas exclusivas para avaliação de pacientes com suspeitas
de ter adquirido o vírus e tratamento para aqueles casos que foram confirmados depois de
feito todos os exames. Para os casos leves de COVID-19 de pacientes em hemodiálise
ambulatorial, caso o serviço não tenha sala exclusiva para a sessão desses pacientes, foi
recomendado a mudança de turno desses pacientes e um maior espaço entre os leitos de
diálise, além de profissional exclusivo para o seu atendimento, que deverá seguir todas
as medidas gerais de prevenção de propagação do vírus (VENTURA-SILVA et al., 2020;
KLIGER et al., 2020).
Para evitar a contaminação do novo coronavírus em paciente em situação de risco
durante o período da pandemia, algumas medidas foram tomadas, como, solicitar aos pa-
cientes e funcionários que quando possível evitassem utilizar o transporte público, já que
boa parte desses pacientes fazer uso desse meio para se deslocar, a implementação de
reuniões e atendimento médico por videoconferência, e em caso de necessitar comparecer
ao centro de diálise usar a máscara de tecido, por exemplo durante a sessão de hemodiálise
(SILVA et al., 2020).
A sociedade brasileira de nefrologia se posiciona favorável ao uso de máscaras de
pano em pacientes com doença renal crônica e a população em geral assintomática, por
meio da nota informativa do ministério da saúde n° 3/2020- CGGAP/DESF/SAPS/MS que
autoriza o uso e comprova que a máscara de pano atua como barreira para impedir a

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COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
disseminação de gotículas expelidas pelo nariz ou boca de possíveis infectados (ABREU;
RIELLA; NASCIMENTO, 2020).
Nesse período, a gestão em enfermagem que é responsável pela criação de estratégias
de racionalização dos materiais e na promoção da capacitação dos profissionais da equipe,
precisou estabelecer treinamentos através da educação permanente com a especificidade da
área de atuação profissional, sempre embasadas nas Metas Internacionais para Segurança
do Paciente, com destaque para as metas de Higiene das Mãos e da Comunicação Efetiva
a fim evitar a perda na padronização de ações da equipe e otimizar a comunicação com o
paciente (VENTURA-SILVA et al., 2020; QUEIROZ; MARQUES, 2020).
Quanto ao manejo de casos suspeitos, o enfermeiro deve informar sobre os principais
sinais e sintomas da COVID-19, orientar sobre qual o procedimento deve ser tomado caso
o usuário os apresente; reforçar a importância do comparecimento às sessões de tratamen-
to; auxiliar na elaboração de estratégias para utilização de medicações de uso regular e;
reforçar a importância da manutenção do esquema vacinal em dia, especialmente, contra
a influenza. Em relação aos casos confirmados, adotar caso disponível o uso de único dia-
lisador para este paciente, em sala de isolamento ou em horário diferenciado dos demais
(OLIVEIRA et al., 2020).
Uma dúvida frequente durante a pandemia do COVID-19 era sobre o uso de medi-
camentos bloqueadores do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA), tais como
inibidores da enzima conversora de angiontesina (iECA) e antagonistas dos receptores
angiotensina, após descoberta de afinidade do vírus a receptores desse sistema. Algo que
aflingu pacientes e médicos na área de nefrologia visto que são as principais drogas utilizadas
no tratamento para retardar a progressão da DRC de pacientes em tratamento conservador.
Apesar de não haver estudos direcionados para essa temática, as sociedades de especialis-
tas em todo o mundo optaram por recomendar a continuidade do uso desses medicamentos
em pacientes que têm indicação, tais como renais crônicos e hipertensos (ABREU; RIELLA;
NASCIMENTO, 2020; LIM; PRANATA, 2020).
O cuidado de enfermagem em serviços de hemodiálise está ligada ao planejamento e
o cuidado direto de acordo com a necessidade de cada paciente está em tratamento, isso
acaba influenciando na adesão e qualidade do tratamento. Durante essa pandemia o uso
das técnicas de educação para saúde de formas ativas e reflexivas direcionadas para im-
portância da instrução para o autocuidado e na realização dos procedimentos foi a principal
aliada da equipe de enfermagem como medida de contenção da contaminação ambiental e
de pessoas (OLIVEIRA et al., 2020; QUEIROZ; MARQUES, 2020).
Outra preocupação que envolve a gerência dos serviços de diálise está no excesso
de trabalho que pode tornar os profissionais de saúde vulneráveis ​​a infecções e outras

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COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
doenças. Já que profissionais das equipes de hemodiálise infectados precisam de isola-
mento e quarentena por no mínimo 2 semanas, o que resulta em falta de recursos huma-
nos. Semelhante a outras pessoas, os profissionais de saúde com suspeita de COVID-19
são incentivados a ficar em casa e relatar ao líder da equipe se não se sentirem bem
(LIM; PRANATA, 2020).
No estudo de Kliger et al (2020) recomenda-se um preparo para as próximas pande-
mias, através do estabelecimento de um grupo de pesquisa multinacional deve ser formado
para investigar todos os aspectos do organismo e da resposta do hospedeiro, incluindo o
reservatório de origem, genética, resposta do hospedeiro, vacinação, dentre outros aspectos
importantes sobre a doença.
A enfermagem precisou alinhar conhecimento científico e prático para atuar na linha de
frente do combate ao COVID-19, algumas medidas foram reforçadas para evitar a contami-
nação entre profissionais e pacientes, que vão desde medidas realizadas pelos indivíduos,
como também alterações ambientais e de gerenciamento de escalas e horários, tornando
a prestação de serviços de hemodiálise algo desafiador para profissionais e tenso para os
pacientes que não tinha a opção de ficar em isolamento social nos respectivos domicílios.

CONCLUSÕES

Diante do momento vivenciado atualmente, foi necessário criar protocolos baseados


em medidas gerais de redução de disseminação de aerossóis especialmente de recomen-
dações acerca dos cuidados com o paciente doente renal crônico em hemodiálise, já que a
interrupção do tratamento nas clínicas não era possível.
As lições aprendidas com os desafios enfrentados durante a pandemia moldaram a
orientação oferecida em cada região, sendo essencial aprender com essa experiência e
para estarmos bem preparados para o próximo desafio da epidemia, sendo sensato pensar
e agir de maneira a criar uma estrutura a fim de antecipar e orientar as melhores práticas.
Dentro deste contexto, é possível indicar que os profissionais de enfermagem, inseridos
nos diferentes contextos em que o paciente renal crônico se encontra, deve estar atento aos
cuidados prestados a este público. Por conseguinte, faz-se necessário proporcionar uma
assistência de enfermagem de qualidade, pautada em embasamento téorico-científicos, em
todos os âmbitos do processo de saúde-doença, a saber, promoção de saúde, prevenção
e nas intervenções terapêuticas.
Diante da escassez de estudos sobre os cuidados de enfermagem prestado ao paciente
doente renal crônico em tempos de pandemia do novo coronavírus, a presente limitação
para o profissional de enfermagem nesse cenário, não impediu de haver esforços para que
a assistência de qualidade e a segurança do paciente acontecessem em todos os aspectos.

91
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
AGRADECIMENTOS

Agradecemos a nossa família que nos apoiou em todos os momentos, aos nossos
professores, aos nosso colegas de sala, a cada pessoa que nos apoiaram direta ou indi-
retamente, ao Instituto Federal de educação, ciência e tecnologia de Pernambuco – IFPE
campus Belo Jardim por essa oportunidade de adquirir conhecimento e por todo apoio
prestado durante a pandemia, em especial a nossa professora e orientadora Me. Angelica
de Godoy Torres Lima.

DECLARAÇÃO DE INTERESSES

Nós, autores deste artigo, declaramos não possuímos conflitos de interesses de ordem
financeira, comercial, político, acadêmico e pessoal.

REFERÊNCIAS
1. ABREU, A. P.; RIELLA, M. C.; NASCIMENTO, M. M. A sociedade brasileira de nefrologia e a
pandemia pelo covid- 19. Braz. J. Nephrol, v.42, n.2, p.1-3, 2020. Disponível em: https://www.
scielo.br/scielo.php?pid=S0101-28002020000500001&scr ipt=sci_arttext&tlng=pt. Acesso em:
01 nov. 2020.

2. ABREU, A. P, et al. Recomendações da sociedade brasileira de nefrologia quanto ao uso de


máscaras de pano por pacientes renais crônicos em diálise, durante a pandemia pelo novo
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www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-28002020000500009&script=sci_arttext& tlng=pt. Acesso
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-cronica

6. BRASIL. Diretrizes clínicas para o cuidado ao paciente com doença renal crônica – DRC no
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co-de-saude.

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COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
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13. KLIGER, A. S. et al. Managing the COVID-19 pandemic: international comparisons in dialysis
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VID-19: revisão integrativa. Rev. Bras. Enferm, v. 73, supl. 2, p. e20200354, 2020. Disponível
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http://portalatlanticaeditora.com.br/index.php/enfermagembrasil/article/ view/4331. Acesso em
14 out. 2020.

16. QUEIROZ, J. S.; MARQUES, P. F. Gerenciamento de enfermagem no enfrentamento da co-


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Acesso em 14 out. 2020.

93
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
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gia aos serviços de diálise peritoneal em relação ao novo coronavírus (covid-19). J. Bras.
Nefrol, v. 42, n. 2, p. 18-21, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/ scielo.php?pi-
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renal crônica: uma revisão integrativa da literatura. Revista Remecs, v. 3, n. 5, p. 28-37, 2018.
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covid- 19: implicações para a gestão de enfermagem. Jounal health NPEPS, v. 5, n. 1, p.1-
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Acesso: 23 nov. 2020.

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Acesso em 01 set 2020.

94
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
09
“ Desenvolvimento de vídeo educativo
sobre os impactos do isolamento social
na saúde mental dos idosos

Denise Conceição Costa


UFPI-Campus Senador Helvídio Nunes de Barros

Izadora de Sousa Neves


UFPI-Campus Senador Helvídio Nunes de Barros

Ana Larissa Gomes Machado


UFPI-Campus Senador Helvídio Nunes de Barros

10.37885/210203409
RESUMO

Objetivo: Relatar o desenvolvimento de um vídeo educativo acerca dos impactos gerados


pelo isolamento social na saúde mental dos idosos. Métodos: Trata-se de um relato de
experiência de extensionistas, realizado em julho de 2020. Resultados: O vídeo pos-
sui duração de seis minutos e cinquenta e três segundos, fornece informações sobre a
promoção da saúde mental de idosos durante o isolamento social. A temática foi abor-
dada de forma clara e lúdica, destacando aspectos fundamentais bem como atividades
estratégicas e estimulantes para promover a saúde mental dos idosos. Considerações
Finais: A experiência de desenvolvimento dessa tecnologia mostrou-se exitosa a todos
os envolvidos considerando a construção de conhecimento referente às etapas, bem
como pela interação com os visualizadores.

Palavras- chave: Tecnologia Educacional, Saúde Mental, Saúde do Idoso, Materiais


Educativos e de Divulgação, Filme e Vídeo Educativo.

96
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
INTRODUÇÃO

A pandemia do vírus Sars-CoV-2 desencadeou preocupações e estudos relacionados


às ciências da saúde a nível mundial. Por seu caráter não dissociativo, o vírus coloca toda
a população em risco de uma possível contaminação, essa característica levantou ques-
tionamentos acerca da necessidade de uma atenção específica e direcionada aos grupos
mais vulneráveis, como os idosos. Sujeitar-se ao isolamento social e modificações no estilo
de vida fez-se necessário, quando se tem a intenção de diminuir o risco de contaminação
pelo vírus por parte dos idosos (LIMA, 2020). Porém, tais mudanças trazem consequências
negativas físicas e mentais, além da privação da realização de atividades ao ar livre, o iso-
lamento social e a perda de contato com amigos e familiares propicia ao idoso, momentos
de solidão, estresse emocional, insegurança e depressão.
Por fazerem parte do grupo de risco frente à contaminação pelo vírus COVID-19, os
idosos vivenciam momentos de tensão e emoções intensas como medo e melancolia, pela
sensação de estar sempre suscetível a uma doença letal. A solução mais lógica seria a apro-
ximação do idoso a um familiar que lhe oferecesse suporte psicológico e apoio para enfrentar
a situação, mas frente ao momento de pandemia vivenciado e a adoção do isolamento social
como medida profilática essa não representa a solução mais viável (ORNELL et al., 2020).
A disponibilidade de materiais que tornem mais agradável vivenciar o isolamento so-
cial e compreender a importância de cuidados voltados a saúde mental dos idosos em
isolamento, é essencial, desse modo, a acessibilidade a informações para a realização
de atividades como a prática de jogos ou momentos de leitura, beneficiam ao idoso por
estimularem a memória e a percepção, promovendo assim, momentos de interação com
seus acompanhantes/familiares. A facilidade para a realização de atividades de estimula-
ção cognitiva para idosos revela outro ponto positivo, pois o idoso poderá realizá-las sem
acompanhamento profissional, facilitando com que o desenvolvimento das atividades seja
frequente (PEREIRA et al., 2020).
A necessidade da implementação de medidas para a melhoria da saúde mental e
aumento na qualidade de vida dos idosos que cumprem o isolamento no período pandê-
mico, fica evidente quando se busca minimizar as consequências que o isolamento social
acarreta. Desse modo, despertou-se o interesse em integrantes do projeto de extensão
“Oficinas de Estimulação Cognitiva para Idosos” em parceria com o projeto de extensão
“Integração de Tecnologias Educativas, Informação e Comunicação para Promoção da
Saúde” da Universidade Federal do Piauí pelo desenvolvimento de estratégias buscando
fornecer tais benefícios.
A impossibilidade de contato direto com os idosos, gerou a necessidade de busca por
alternativas digitais para realização das atividades de extensão, diante disso, a elaboração

97
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
de conteúdo audiovisual disponibilizado na plataforma digital YouTube mostrou-se como o
método mais apropriado para a educação em saúde do público-alvo do projeto.
Considerando o cenário pandêmico, o fornecimento de informação simplória ou com-
plexa direcionada a saúde, deve ser reelaborado traçando-se caminhos para que tais in-
formações cheguem até a população de maneira que sejam mantidas as medidas para a
prevenção de contaminação. Em vista do aumento da quantidade de usuários de redes
sociais, e da busca por informações para sanar os desafios encontrados no enfrentamento
frente a pandemia da COVID-19 através desses meios, o uso de mídias mostra-se eficaz
quando se anseia um alcance considerável das estratégias de enfrentamento ao coronavírus.

OBJETIVO

Relatar o desenvolvimento de um vídeo educativo acerca dos impactos gerados pelo


isolamento social na saúde mental dos idosos.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência acerca da elaboração


e desenvolvimento de vídeo educativo, para a promoção da saúde de idosos com o tema
“Impactos do Isolamento Social na Saúde Mental dos Idosos”. O material educativo dispo-
nibilizado direciona-se a profissionais de saúde, idosos e familiares/acompanhantes.
A iniciativa para a elaboração do conteúdo audiovisual deu-se a partir da discussão
entre os integrantes do projeto de extensão “Oficinas de Estimulação Cognitiva para Idosos”
da Universidade Federal do Piauí sobre como manter um cronograma de atividades para o
projeto durante a pandemia que beneficiasse os idosos, seus cuidadores e familiares.
Sob orientação da coordenadora do projeto, seguiram-se os passos para a realização
do vídeo, sendo eles: pesquisa bibliográfica; elaboração do roteiro; aprovação do roteiro
pela coordenadora; gravação de áudios; elaboração e edição do vídeo; disponibilização do
conteúdo digital no Youtube e Instagram.
Após a definição do tema, iniciou-se a pesquisa bibliográfica em artigos por estratégias
que demonstrassem melhorias para rotina dos idosos e saúde mental em isolamento e início
da construção do roteiro, com posterior modificação dos termos científicos para uma lingua-
gem de fácil compreensão. Nessa fase, realizou-se a revisão de literatura em: Biblioteca
Virtual em Saúde – BVS, Scientific Eletronic Library Online – SciELO (utilizando os descri-
tores em ciências da saúde – DECS) bem como, em sites nacionais, tendo-se como base
o do Ministério da Saúde. Após o desenvolvimento do roteiro, o mesmo foi encaminhado à
coordenadora para avaliação dos conteúdos. Posteriormente à validação do roteiro, iniciou-se

98
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
a gravação dos áudios e elaboração com posterior edição do vídeo para preservação da
qualidade, finalizando-se assim a etapa de produção. Ao término da construção do material,
o mesmo foi disponibilizado nas mídias sociais YouTube e Instagram, utilizadas como as
plataformas para apresentação do vídeo.

RESULTADOS

O vídeo tem duração de 6 minutos e 42 segundos e aborda o contexto do cenário pan-


dêmico ocasionado pela COVID-19, destacando as mudanças no cotidiano da população
em todo o mundo, assim como cita as estratégias de combate à doença e disseminação do
vírus Sars-CoV-2. Ademais, enfatiza o isolamento social e a sua importância para o controle
do mesmo, principalmente no que se refere ao chamado grupo de risco onde encontra-se
a maioria dos casos de agravamento e mortalidade pela doença.
No entanto, o vídeo retrata também os aspectos relacionados relacionados à saúde
mental das pessoas, em especial dos idosos durante o isolamento. Destaca pontos essen-
ciais à essa discussão, como o fato de os idosos necessariamente precisarem distanciar-se
fisicamente das pessoas de seu convívio social e até mesmo familiar. Além disso, ressalta
a evidência de que muitos idosos apresentam doenças preexitentes que podem estar di-
retamente relacionadas à saúde psicológica, como a depressão, ansiedade, transtorno do
pânico e estresse, e, em casos mais graves, a ideação suicida, que podem ter seus sinais
e sintomas acentuados durante o período de isolamento.
Ao identificar tais fatores, aponta a importância de realizar atividades que têm como
objetivo atenuá-los. Em vista disso, o vídeo evidencia, por fim, a utilização de práticas que
estimulam as funções cognitivas bem como métodos alternativos através do uso de ferra-
mentas digitais como a internet e a prática de atividades físicas que podem ser realizadas
em âmbito domiciliar.
Publicou-se o vídeo, em junho de 2020, na mídia social Instagram e na plataforma
de vídeos YouTube. O quadro 1 ilustra os resultados obtidos através da utilização dessas
ferramentas digitais como forma de divulgação do vídeo.

Quadro 1.Informações do vídeo por plataforma/mídia de publicação. Inhuma-PI, 2020.


Informações sobre as publicações do vídeo
Plataforma de divulgação Instagram YouTube
Contas alcançadas 280 -
Impressões 441 -
Visualizações 215 803
Fonte: Dados do Instagram e YouTube

99
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
DISCUSSÃO

O avanço da tecnologia e popularização do acesso à internet tem possibilitado um


número cada vez maior de idosos inseridos nesse contexto. Observa-se que houve um
aumento considerável no uso dessa ferramenta, principalmente por meio de celular, que é
utilizado por cerca de 65% da população idosa no Brasil (IBGE, 2018; CETIC, 2019).
Neves e Pereira (2011) relatam que o uso de tecnologias de informação e comunicação
(TICs) demonstraram a redução da solidão, aumento do acesso a informações e da qualidade
de vida, além de ser uma ferramenta potencialmente estimulante para passar o tempo livre.
Nesse sentido, corrobora-se que o acesso à internet pode influenciar diretamente as
condições de saúde, uma vez que há uma infinidade de conteúdos disponíveis que podem
ser utilizados para a melhoria dessas condições e consequente qualidade de vida. No en-
tanto, é importante salientar a necessidade de orientação e mesmo a criação de conteúdos
que sejam lúdicos, dinâmicos e pautados em evidências científicas para que de fato essa
melhoria ocorra.
Em vista disso, a criação de vídeos de caráter informativo e/ou educativo é considerado
uma ferramenta capaz de transformar o processo de compreensão de tais informações e
orientações e, dessa forma, contribuir para a saúde mental e consequente qualidade de vida
desses idosos ou pessoas do seu ciclo de convívio que consomem o conteúdo ao pô-lo em
prática com estes idosos ou ao disseminá-lo.
Os diferentes recursos de imagens, áudio e textos contidos ao longo de vídeos de
caráter educativo/informativo auxiliam na memorização da informação e na construção do
aprendizado de forma lúdica e atrativa, o que corrobora a importância desse tipo de tecnologia
para o desenvolvimento de conhecimentos que propulsionam a promoção do autocuidado
(ABBASI et al., 2017).
Ademais, considera-se que o desenvolvimento de vídeos beneficia tanto o público ao
qual se destina como também é exitoso às pessoas diretamente envolvidas em sua cons-
trução, uma vez que é importante seguir etapas que vão desde a pesquisa por informações
confiáveis até a criatividade em relação à estrutura do vídeo para que o mesmo seja atrativo
e alcance os objetivos de aprendizagem e/ou compreensão das informações a fim de intro-
duzi-las na rotina das pessoas (CARVALHO NETO et al., 2020).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considera-se que a elaboração de vídeos educativos é uma estratégia efetiva para


promoção da saúde, visto a importância da tecnologia como ferramenta auxiliar para a pro-
moção da saúde durante o isolamento social. Além disso, ressalta-se que o público atingido

100
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
pelas publicações dos vídeos é dinâmico, tendo-se observado que as pessoas que conso-
mem o conteúdo produzido e publicado nas mídias referentes ao projeto abrange desde
profissionais da saúde, estudantes de todos os níveis e áreas, bem como pessoas leigas.
Dentre os aspectos positivos dessas ferramentas de divulgação, destaca-se o grande
número e pluralidade de pessoas alcançadas. Dessa forma, acredita-se que o conteúdo
pode ter chegado também aos idosos, familiares e cuidadores, alcançando assim o objetivo
ao qual o vídeo se propõe.

REFERÊNCIAS
1. ABBASI, M. et al. The pedagogical effect of a health education application for deaf and hard of
hearing students in elementary schools. Electr Phys. v. 9, n. 9, p. 5199-5205, 2017.

2. CARVALHO NETO, F. J. et al. Tecnologia educacional sobre descarte domiciliar de medica-


mentos. Rev enferm UFPE on line. v. 14, e. 244267, 2020.

3. CENTRO REGIONAL DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE DA


INFORMAÇÃO (CETIC). Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comu-
nicação nos Domicílios Brasileiros - TIC Domicílios, 2019.

4. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa Nacional por


Amostra de Domicílios Contínua 2016-2017. Rio de Janeiro, 2018

5. LIMA, R. S. Distanciamento e isolamento sociais pela COVID-19 no Brasil: impactos na saúde


mental. Physis: Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 30, e. 300214, p. 1-10, 2020.

6. ORNELL, F. et al. Pandemia do medo e COVID-19: Impacto na Saúde Mental e Possíveis


estratégias. Revista Debates in Psichiatry. Porto Alegre, p. 2-6, 2020.

7. NEVES, R.; PEREIRA, C. Os idosos e as TIC–competências de comunicação e qualidade de


vida. Rev Kairós Gerontol. v. 14, n. 1, p. 5-26, 2011.

8. PEREIRA, M. D. et al. A Pandemia de COVID-19, o Isolamento Social, Consequências de


Enfrentamento: Uma revisão Integrativa. Research, Society and Development, v. 9, n. 7, e.
652974548, 2020.

101
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
10
“ Evidências estratégicas para o
tratamento de gestantes com infecções
por corona vírus: revisão integrativa

José Francisco Ribeiro


UESPI/FACIME

Arianne Lara Ibiapina Ribeiro


UFPI

Adriana Pereira Ibiapina Ribeiro


IESS

Cleonilde Alves da Silva Costa


IESM

Maria Elidiane Lopes Ferreira Lima


NOVAFAPI

Annelli Victória Moura Oliveira


UESPI/FACIME

10.37885/210202982
RESUMO

Introdução: até 4 de maio de 2020 foram confirmados a ocorrência mundial de 3.435.894


casos de COVID-19 e 239.604 mortes, no Brasil verificou-se 105.222 casos e 7.288
mortes. Gestantes com infecção por corona vírus apresentam alto risco de complicações
graves e mortalidade, devido a alterações fisiológicas e imunológicas inerentes a ges-
tação. Objetivo: investigar as estratégias de tratamento para gestantes com infecção
pela corona vírus. Método: revisão integrativa realizada nas bases de dados MEDLINE/
PubMed, CINAH, Web of Science, SCOPUS, EMBASE e índice bibliométrico LILACS,
totalizando oito artigos. Resultados: a China apresentou o maior número de publica-
ções (62,5%), seguido da Arábia; estados Unidos da américa e Rio de Janeiro e ensaios
clínicos randomizados, em estágios bastante avançados para Oseltamivir, cloroquina e
hidroxicloroquina. Conclusão: as gestantes são pouco recrutadas para ensaios clínicos
devido a modificações próprias da gestação, motivo pelo qual são tratadas de maneira
semelhante a população geral.

Palavras-chave: Grávidas, Parturiente, COVID-19, Doença por Novo Coronavírus (2019-


nCoV), Ações Terapêuticas.

103
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
INTRODUÇÃO

No final do mês dezembro de 2019, um surto de pneumonia de etiologia não reconheci-


da na arena cientifica surgiu em Wuhan, província de Hubei, China, e se propagou apressa-
damente por todo o país. O Centro Chinês para Controle e Prevenção de Doenças (CCDC)
reconheceu como, novo beta-coronavírus denominado 2019-nCoV, atualmente divulgado
como coronavírus 2 da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV-2), responsável pela
atual pandemia (XIE; CHEN, 2020) . Este foi considerado o terceiro surto de coronavírus
zoonótico nas duas primeiras décadas do século XXI, admitindo a transmissão de humano
para humano e hasteando inquietudes mundiais de saúde.
Em 11 de março de 2020, a pandemia produziu uma soma de 80955 casos validados
e 3162 mortes na China e 37364 casos confirmados e 1130 óbitos em 113 outros países
do mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) está profundamente apreensiva com a
acelerada expansão global sem precedentes e a circunspecção do surto, e com a incivilida-
de e inatividade de alguns países. Consequentemente, a OMS proclamou que o COVID-19
pode ser qualificado como uma pandemia (CESAR et al., 2020).
Até 4 de maio de 2020 foram confirmados a ocorrência mundial de 3.435.894 casos
de COVID-19 e 239.604 mortes, no Brasil verificou-se 105.222 casos e 7.288 mortes..
conforme notificações das Secretarias Estaduais de Saúde de todo o país. Nas últimas
24 horas da citada data, foram registrados 6.276 casos novos e 449 novos mortes. Dos
78.162 casos confirmados atualmente, 34.132 estão recuperados (44%) e 38.564 estão em
seguimento. Existem ainda no presente momento a investigação de 1.452 óbitos (HUGO;
MASCARENHAS, 2020).
As manifestações clínicas de COVID-19 podem ser descritas por infecção leve do trato
respiratório superior, infecção do trato respiratório inferior envolvendo pneumonia não fatal
e pneumonia fatal com síndrome do desconforto respiratório agudo. Atinge todos os grupos
etários, abrangendo do recém-nascidos aos idosos. especialmente, as gestantes podem
ser mais vulneráveis ao COVID-19, uma vez que a gestação geralmente aumenta suscep-
tibilidade ​​à infecção respiratória. Em mulheres grávidas com COVID-19, não há elevações
de transmissão vertical do vírus, mas foi detectado uma prevalência ampliada de partos
prematuros (LIU et al., 2020a).
As mulheres grávidas e seus conceptos são referidas como uma população de alto
risco perante surtos de doenças infecciosas. Recentemente foi observado os resultados de
55 gestantes infectadas com COVID-19 e 46 recém-nascidos foram citados na literatura,
sem eminências definitivas de transmissão vertical. modificações fisiológicas e mecânicas
assistidas no período gestatório exacerbam a sensibilidade as infecções de modo geral,
essencialmente quando o sistema cardiorrespiratório é atingido, e impulsionam a rápida

104
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
sucessão para insuficiência respiratória na mulher gravida. inclusivamente a tendência da
gravidez em relação ao domínio do sistema T-helper 2 (Th2), que ampara o feto, deixa a
mãe suscetível a infecções virais, que são mais efetivamente refreados pelo sistema Th1.
Esses reptos únicos demandam uma aproximação incorporada das gestações atingidas pela
SARS-CoV-2 (DASHRAATH et al., 2020).
Quanto as opções de tratamento da COVID-19 pesquisadores acrescentam que atual-
mente, não há vacina disponível e nem tratamento antiviral específico recomendado até o
momento. O tratamento é sintomático e os pacientes diagnosticados com infecção grave
são assistidos com oxigenoterapia. Nos casos de insuficiência respiratória, é imprescindível
a ventilação mecânica, enquanto o suporte hemodinâmico é relevante para o tratamento do
choque séptico (HAMID; MIR; ROHELA, 2020).
Em 28 de janeiro de 2020 a OMS publicou um documento sumariando as diretrizes clíni-
cas fundamentado em tratamento de epidemias anteriores de HCoVs. O documento alcança
as etapas para identificação e classificação de pacientes com doença respiratória aguda
grave, diretrizes para diagnóstico laboratorial, terapia e monitoramento de suporte precoce,
tratamento de choque séptico e insuficiência respiratória e métodos de tratamento para mu-
lheres grávidas (HAMID; MIR; ROHELA, 2020). Essas recomendações enfatizam abordagens
para afastar a insuficiência respiratória, inserindo ventilação mecânica segura e ventilação
não invasiva (VNI) ou oxigênio nasal de alto fluxo (HFNO) (HAMID; MIR; ROHELA, 2020).
Quanto as perspectivas de um tratamento terapêutico os estudos apontam que a prin-
cípio foram usados antibióticos de largo espectro, nebulização por interferons-α e antivirais
administrados com a finalidade de reduzir a carga viral, (NG et al., 2020) mas somente o
remdesivir apresentou potencial viral promissor. O remdesivir sozinho ou em associação com
cloroquina ou interferon β bloqueou expressivamente a replicação da SARS-CoV-2 e os pa-
cientes apresentaram boa recuperação clínica (AGOSTINI et al., 2018; WANG et al., 2020a)
Efeitos moderados foram ostentados por Favipiravir, Nitazoxanida, Ribavirin, Baricitinib,
Penciclovir, Ritonavir e Arbidol quando experimentados contra infecção em isolados clínicos
in vitro e em pacientes. Outras formulações também foram testadas contra infecções por
COVID-19 em seres humanos e camundongos, tais como combinações de antibióticos ou
drogas antivirais com os medicamentos tradicionais chineses (RICHARDSON et al., 2020).A
terapia com plasma convalescente foi testada por médicos em Xangai, China e nos EUA,
na qual o plasma sanguíneo foi isolado de pacientes tratados com COVID-19 depois injeta-
do nos pacientes infectados estes obtiveram resultados positivos com recuperação rápida
(SHEAHAN et al., 2020).
Levando-se em consideração a esses aspectos, faz-se necessário o desenvolvimento
de pesquisas que investiguem as principais evidências estratégicas de tratamento para

105
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
gestantes com infecções por corona vírus contribuindo, assim, para a descoberta de novas
perspectivas terapêuticas para a mulher gestante. De acordo com essas proposições surge
o seguinte objetivo: investigar as estratégias para o tratamento de gestantes com infecção
pela corona vírus.

MÉTODO

Para a elaboração da questão norteadora, utilizou-se a estratégia PICo, definindo-


-se: P=população: “Infecções por Coronavírus”, I=interesse: Gestantes e Co=contexto:
“Terapêutica. Assim, a questão deste estudo foi: Quais as evidências estratégicas de trata-
mento para gestantes com infecção pela corona vírus?
Foram incluídos todas as publicações que abordassem as evidências estratégicas de
tratamento para gestantes com infecção pela corona vírus, sem delimitação temporal e de
idioma. Não adotou-se critérios de exclusão das publicações, tendo em vista a escassez de
pesquisas mais robustas associadas ao tema.
A busca foi realizada no final do mês de abril de 2020, mediante consulta nas ba-
ses de dados MEDLINE/PubMed (Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos);
CINAHL (Índice Cumulativo de Enfermagem e Literatura Aliada em Saúde); EMBASE/Elsevier
(Excerpta Médica Database); Web of Science; SCOPUS e índice bibliográfico LILACS
(Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde). Os descritores contro-
lados e não controlados foram selecionados por meio de consulta aos termos do Medical
Subject Headings (MeSH), Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e List of Headings
do CINAHL Information Systems. As expressões de buscas foram efetuadas usando os
operadores booleanos “OR” e “AND”.
O Quadro 1 apresenta a estratégia de busca realizada na MEDLINE/PubMed, que foi
adaptada para as demais bases de dados e índice utilizados.

Quadro 1. Estratégia de busca realizada na base de dados MEDLINE/PubMed. Teresina, Piauí, Brasil, 2020.

Estratégia de busca

Search ((((Coronavirus Infections) OR “coronavirus infection”) OR “Infection, Coronavirus”) OR “middle east respiratory
P
syndrome”) OR “mers middle east respiratory syndrome”

I Search ((“pregnant women”) OR “Pregnant woman”) OR “woman, presented”

Co Search ((((Therapeutics) OR Therapeutic) OR Therapy) OR Therapies) OR Treatment

P AND I AND Co

((((((“coronavirus infections”[MeSH Terms] OR (“coronavirus”[All Fields] AND “infections”[All Fields]) OR “coronavirus infections”[All Fields])
OR “coronavirus infection”[All Fields]) OR (“coronavirus infections”[MeSH Terms] OR (“coronavirus”[All Fields] AND “infections”[All Fields]) OR
“coronavirus infections”[All Fields] OR (“infection”[All Fields] AND “coronavirus”[All Fields]))) OR “middle east respiratory syndrome”[All Fields])
OR “mers middle east respiratory syndrome”[All Fields]) AND ((“pregnant women”[All Fields] OR “Pregnant woman”[All Fields]) OR “woman,
presented”[All Fields])) AND (((((“therapeutics”[MeSH Terms] OR “therapeutics”[All Fields]) OR (“therapeutics”[MeSH Terms] OR “therapeutics”[All
Fields] OR “therapeutic”[All Fields])) OR (“therapy”[Subheading] OR “therapy”[All Fields] OR “therapeutics”[MeSH Terms] OR “therapeutics”[All
Fields])) OR (“therapeutics”[MeSH Terms] OR “therapeutics”[All Fields] OR “therapies”[All Fields])) OR (“therapy”[Subheading] OR “therapy”[All
Fields] OR “treatment”[All Fields] OR “therapeutics”[MeSH Terms] OR “therapeutics”[All Fields]))

106
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Os artigos foram acessados pelo portal de periódicos da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A seleção foi realizada por dois
revisores, de forma independente, em duas etapas: na primeira, leu-se o título e resumo e,
na segunda, o texto completo. Nos casos de desacordos, houve discussão entre os dois
avaliadores para alcançar um consenso.
A busca resultou em 271 produções. Na primeira etapa, aplicando os critérios de in-
clusão e exclusão, selecionaram-se 27 artigos. Na segunda, removeram-se 19 produções,
totalizando 8 estudos os quais compuseram a amostra e foram analisados. A figura 1 des-
creve o fluxograma dos artigos selecionados.

Figura 1. Fluxograma do processo de identificação, seleção, elegibilidade e inclusão dos estudos, elaborado a partir da
recomendação PRISMA (WHITTEMORE; KNAFL, 2005). Teresina, Piauí, Brasil, 2020.

107
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
A extração dos dados foi realizada com auxílio de ins­trumento próprio, contendo infor-
mações sobre autores, periódico e ano de publicação, objetivo, tipo de estudo e estratégia
de tratamento, não houve limitadores para os tipos de estudo.
A apresentação dos resultados foi realizada de forma descritiva, apresentada
em quadro resumo.

RESULTADOS

Apresentam-se os resultados na figura 4, na seguinte ordem: autor principal, periódico


e ano; objetivo e tipo de estudo e estratégia de tratamento. Observou-se que todos foram
procedentes de periódicos internacionais, divulgados no idioma chinês traduzido para o idio-
ma inglês indexados nas bases MEDLINE/PubMed, e a China apresentou o maior número
de publicações (62,5%), seguido do Arábia; estados Unidos da américa e Rio de Janeiro.
Destaca-se que 50% dos estudos foram de revisão. Registrou-se que todos os estudos re-
lataram sobre o uso do antiviral, Oseltamivir, cloroquina e hidroxicloroquina.

Figura 4. Levantamento das estratégias de tratamento em gestantes com infecção pelo corona vírus. Teresina (PI), Brasil,
2020.

Autore(s), ano Periódico Local Objetivo/tipo do estudo Estratégia de tratamento

Relatar um caso fatal de MERS-CoV em uma mulher Oseltamivir empírico e vancomicina, ribavirina
(MALIK et al., 2016).Emerg Infect Dis. Emirados
grávida em tratamento com ribavirina-peginterferon-α. oral (400 mg e 600 mg) e peginterferon-α sub-
Árabes Unidos.
Relato de caso cutâneo (180 µg 1 × / sem)
Analisar a suscetibilidade do SARS-CoV-2 na gravidez e
os medicamentos que podem ser usados ​​para tratar a
(ZHAO et al., 2020)Eur J Clin Microbiol Infect cloroquina, metformina, estatinas, lobinavir /
gravidez com COVID-19, de modo a fornecer evidências
Dis. China. ritonavir, ácido glicirrízico
para a seleção de medicamentos na clínica.
Estudo de revisão.
Relatar o curso clínico da infecção por MERS-CoV em
(ALSEREHI et al., 2016) uma mulher grávida que adquiriu a infecção durante o
vancomicina, azitromicina e oseltamivir
BMC Infect Dis. Arabia. último trimestre.
Relato de caso
Compartilhar uma estrutura que pode ser adotada pelas
maternidades terciárias que gerenciam as gestantes no
(DASHRAATH et al., 2020).
fluxo de uma pandemia, mantendo a segurança do pa- antiviral e cloroquina.
Am J Obstet Gynecol. China.
ciente e do profissional de saúde em seu cerne.
Estudo de revisão
Descrever as condições clínicas dos participantes; e uti-
lizar intervenções com medicamentos já estudados ou
(ROSA; SANTOS, 2020) interferons, cloroquina, hidroxicloroquina, ar-
aprovados para qualquer outra doença em pacientes
Rev Panam Salud Publica. bidol, remdesivir, favipiravir, lopinavir, ritonavir,
infectados com o novo cor
Rio de Janeiro. oseltamivir, metilprednisolona, bevacizumabe
​​
onavírus SARS-CoV-2 (2019-nCoV). Artigo (base de da-
dos)
Discutir as características clínicas e imunológicas de
(ZHANG et al., 2020a) Clin Immunol. glicocorticóides, antagonista da IL-6, inibidores
pacientes graves.
China de JAK e choloroquina / hidrocoloroquina,
Estudo de revisão.
Revisar progressos recentes e desafios no desenvolvi-
(ABD EL-AZIZ; STOCKAND, 2020)
mento de medicamentos contra o coronavírus COVID-19
Infect Genet Evol. Favilavir, cloroquina. hidroxicloroquina
(SARS-CoV-2) - Uma atualização sobre o status.
China.
Estudo de revisão
Relatar qualquer evidência de terapêutica utilizada no
(RASMUSSEN et al., 2020)
tratamento de pacientes com COVID-19 na prática clí-
.Infection Prevention in Practice. Corticosteroides, Lopinavir, Oseltamivir
nica desde o surgimento do vírus.
China.
Artigo de revisão

108
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Autore(s), ano Periódico Local Objetivo/tipo do estudo Estratégia de tratamento

Resumir os medicamentos terapêuticos atuais usados na


​​
(ZHANG et al., 2020b)
clínica, esperamos poder fornecer algumas implicações
Pharmacological research favipiravir e interferon
para a medicação clínica.
China.
Revisão sistemática.

DISCUSSÃO

O novo coronavírus (SARS-CoV-2) é entendido como uma nova cepa de coronavírus


responsável pela doença nominada SARS-CoV-2. Os coronavírus são vírus RNA. Eles foram
extensivamente descobertos em humanos, mamíferos, pássaros e morcegos. Esses vírus
podem ocasionar infecções do trato respiratório, do sistema gastrointestinal e do sistema
nervoso. Todavia, outras infecções provocadas por coronavírus são divulgadas e são muito
diversificáveis, como resfriados simples (HCoV 229E, NL63, OC43 e HKU1) ou síndromes
respiratórias mais aguçadas, como Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV)
ou Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV). Essa nova cepa de coronavírus possui
aproximadamente 79% da identidade nucleotídica em comum com SARS-CoV e cerca de
50% com MERS-CoV (PEYRONNET et al., 2020; WU et al., 2020).
Quanto aos sintomas os pesquisadores observaram que na população geral, a grande
maioria das pessoas (80%) que foram infectadas com SARS-CoV-2 manifestou somente
sintomas leves de rinite ou síndrome da gripe leve ou moderada. E de modo especial, a
pessoa acometida pode cursar tosse, febre e dispneia. Porém, sintomas mais graves tam-
bém foram anunciados nessa preposição podendo ocorrer (16% a 32%), com pneumonia
ou síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), presentes sobretudo em idosos,
pessoas com imunossupressão ou comorbidades, tais como: diabetes, câncer ou doença
respiratória crônica e gestantes (WU et al., 2020; LIU et al., 2020b; LIU et al., 2020c).
Nas revisões literárias realizadas até a presente data apontam que as gestantes em
relação ao quadro de sinais e sintomas se enquadram na mesma situação da população
geral, levando-se em consideração que grande parcela apresentou apenas sintomas le-
ves. Mas como as informações de SARS-CoV-2 em mulheres grávidas são muito restringi-
das, consonâncias podem ser sugeridas com o que já é protocolado no contexto de outras
doenças respiratórias ou outros coronavírus, como SARS-CoV ou MERS-CoV. A pneu-
monia é uma importante causa de morbimortalidade em gestantes (WANG et al., 2020b;
SCHWARTZ; GRAHAM, 2020).
As pesquisas atualmente realizadas apontam que as pessoas têm pouco conheci-
mento sobre o COVID-19, embora inúmeros estudos descritos tenham sido introduzidos.
Inclusivamente, existiu menos relatos de mulheres grávidas com COVID-19 e suas conse-
quências. As modificações fisiopatológicas da SARS e MERS entrementes a prenhez têm
maior chance de conduzir a resultados prejudiciais graves da gestação. Atualmente, não

109
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
existem dados suficientes para examinar as consequências e resultados do COVID-19 du-
rante o período gestatório (MULLINS et al., 2020; HUI, 2017; SONG et al., 2019).
De acordo com esse contexto os pesquisadores adotaram normas de como administrar
a coronavírus 2019 na gestação, assim incluindo: isolamento precoce, condutas invasivas
de inspeção de infecções, oxigenoterapia, precaução de sobrecarga de fluidos, afeição por
antibióticos empíricos (secundários ao risco de infecção bacteriana), testes laboratoriais do
vírus e co-infecção, monitoramento da contração uterina e batimentos cardiofetal, ventilação
mecânica precoce para insuficiência respiratória progressiva, planejamento de parto indivi-
dualizado e uma abordagem em equipe com consultas multiespecializadas (RASMUSSEN
et al., 2020;ZHOU et al., 2020).
Quanto as opções de tratamento, com antivirais, a estrutura monitorada de uso emer-
gencial de intervenções não registradas (MEURI) da OMS deve orientar o uso ético de
medicamentos não licenciados na gravidez em períodos de pandemias. Estudos recentes
identificaram o remdesivir e a cloroquina como medicamentos bastante promissores para o
tratamento do COVID-19. Entretanto a ausência de terapia antiviral exclusiva para COVID-19
e a pronta disponibilidade do remdesivir como um potente agente antiviral, conforme estudos
pré-clínicos em infecções por SARS-CoV e MERS-CoV, neste momento (maio/2020) segue
em andamento um estudo randomizado, controlado e duplo-cego cuja finalidade é avaliar a
eficácia e segurança do remdesivir em pacientes hospitalizados com COVID-19 grave (fase
3). O remdesivir é um novo pró-fármaco antiviral de nucleotídeo de ação ampla que impe-
de verdadeiramente a replicação de SARS-CoV-2 in vitro e a de coronavírus associados,
abrangendo MERS-CoV em primatas não humanos(DE WIT et al., 2020);(MULANGU et al.,
2019). Estão em andamento nos Estados Unidos (ClinicalTrials.gov NCT04280705) e na
China (ClinicalTrials.gov número NCT04252664 e NCT04257656).
Em 1º de maio de 2020, a Food and Drug Administration (FDA) dos EUA autorizou o
uso de emergência’ para os médicos prescreverem o antiviral, remdesivir, que é administrado
por via intravenosa, em pacientes hospitalizados por covid -19 grave (WANG et al., 2020a).
A Food and Drug Administration (FDA) dos EUA aprovou a cloroquina e a hidroxicloro-
quina para tratar a malária e, devido às suas propriedades anti-inflamatórias, algumas doen-
ças auto-imunes, como artrite reumatoide e lúpus. Em fevereiro, os pesquisadores mostraram
que a cloroquina pode reduzir a infecção por coronavírus de células humanas cultivadas
em laboratório. Poucos dias depois, chegou um relatório de ensaios clínicos em pacientes
com COVID-19 em dez hospitais na China. Tomados em conjunto, esses estudos sugeriram
que o tratamento com cloroquina pode reduzir a duração da doença (WANG et al., 2020a)
Até o presente momento (maio de 2020) está sendo conduzido um ensaio clínico ran-
domizado, aberto e multicêntrico (estágio 2), cujo objetivo é avaliar a segurança e eficácia

110
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
da cloroquina no tratamento de adultos hospitalizados com infecção por SARS-CoV-2 con-
firmada em laboratório no Vietnã (DAS et al., 2020).
É evidente o avanço das pesquisas em buscas de melhores tratamentos medicamen-
tosos para a população geral, mas os pesquisadores discutem quanto as opções terapêuti-
cas para as gestantes com COVID-19 tendo em vista o alto risco de complicações graves e
mortalidade por infecção por COVID-19, atrelado as alterações fisiológicas e imunológicas
inerentes a gravidez. Esses riscos incluem o desenvolvimento de insuficiência respiratória
hipoxemia materna devido a pneumonia grave, hospitalização em terapia intensiva, morte;
mas também, morbimortalidade fetal com angústia fetal crônica e / ou aguda, retardo de
crescimento intrauterino, morte intrauterina e morbidade neonatal, particularmente relacio-
nada ao parto prematuro induzido e transmissão materno-fetal (DASHRAATH et al., 2020).
O reconhecimento desses fatos epidemiológicos sobre a infecção por SARS-Cov-2
em gestantes está atualmente limitado a pequenas séries de casos. Nenhum medicamento
demonstrou evidências sólidas no tratamento do vírus SARS-Cov-2. No entanto, estudos e
testes in vitro em pacientes COVID-19 positivos tratados com hidroxicloroquina e azitromicina
merecem uma avaliação mais aprofundada. As gestantes, por motivo da própria gestação
são sistematicamente excluídas dos testes de drogas, e as opções de tratamento para essa
população de alto risco continuam não testadas. Portanto agora mesmo está sendo realizado
um estudo de intervenção (ensaio clínico randomizado e aberto) cujo objetivo é avaliar a
eficácia da azitromicina /hidroxicloroquina no tratamento de COVID-19 em mulheres grávidas
(estágio 3) (CHACCOUR et al., 2020; ZEKARIAS et al., 2020).

CONCLUSÃO

Os resultados revelam que o remdesivir, cloroquina e hidroxicloroquina são altamente


eficazes no controle da infecção por 2019-nCoV in vitro. Como esses compostos foram
usados em
​​ pacientes humanos com histórico de segurança e mostraram-se eficazes contra
várias doenças. E que os testes com drogas para gestantes são muito limitados por conta
do seu próprio estado gravídico. Portanto as gestantes têm poucas opções terapêutica, con-
forme classificação da infecção por corona vírus estas possuem as mesma oportunidades
de medicamentos atribuídas a população geral.
Atualmente estão em andamento os seguintes ensaios clínicos randomizados com a
finalidade de avaliar a eficácia da cloroquina, hidroxicloroquina/azitromicina e remdesivir:
nova contagem de gravidade para covid-19 pneumonia; hidroxicloroquina - azitromicina
COVID-19 Teste de Gravidez; estudo sobre o remdesivir em adultos com COVID-19 grave.
Espera-se que estes resultados sejam bastantes satisfatórios e benéficos para o uso em
gestantes com infecção pelo coronavírus.

111
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
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Khívio Dantas Souza


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Gabriel Lucena Reis


UNIPÊ

Deborah Maria Simões


UNIPÊ

Ana Beatriz Mesquita Andrade


UNIPÊ

Lyvia Maria Fernandes


UFCG

José Jailson Costa Nascimento


UNIPÊ

10.37885/210203002
RESUMO

Introdução: A ventilação mecânica invasiva é utilizada na terapia intensiva de pacien-


tes com insuficiência respiratória, como nos casos de câncer pulmonar e de Covid-19.
Evidências literárias têm analisado o impacto desse tratamento e sua possível influência
na mortalidade dessas doenças. Diante desse contexto, questiona-se: qual o impacto da
ventilação invasiva na mortalidade dos pacientes de câncer pulmonar e de Covid-19?
Objetivo: Avaliar a mortalidade entre pacientes de câncer pulmonar e de Covid-19 sub-
metidos à ventilação mecânica invasiva. Método: Trata-se de uma revisão integrativa da
literatura que avaliou evidências científicas sobre a relação entre mortalidade e ventilação
invasiva nos pacientes com câncer pulmonar e Covid-19. Para isso realizou-se buscas
na base de dados PubMed, utilizando os Palavras-chave “lung cancer” AND “invasive
mechanical ventilation” e “Covid-19” AND “invasive mechanical ventilation”. Os critérios de
inclusão foram: artigos publicados entre 01/2018 e 06/2020. O critério de exclusão foi: não
pertinência temática. Resultados: Foram selecionados 16 artigos. Entre os 273 pacien-
tes analisados com câncer pulmonar, 64,1% utilizaram a ventilação invasiva, com
taxa de 30,6% de mortalidade. Dos 2634 avaliados com Covid-19, 12,2% precisa-
ram dessa ventilação, dos quais 88,1% vieram à óbito. Analisando as patologias
sinergicamente, observou-se que, de um espaço amostral com 2907 pacientes,
17,6% usaram ventilação, e, destes, 82,7% morreram. Conclusão: A ventilação
mecânica invasiva parece ser um indicador de maior probabilidade da mortalidade
na terapia intensiva do Covid-19, quando comparada à ventilação no tratamento
de pacientes com câncer pulmonar.

Palavras-chave: Ventilação Mecânica Invasiva, Câncer Pulmonar, Covid-19, Mortalidade.

116
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
INTRODUÇÃO

Em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, na China, houve o primeiro paciente


hospitalizado com um vírus até então desconhecido e que, mais tarde, foi denominado
Sars- CoV-2: agente etiológico da Covid-19. O que não se imaginava, na época, era que
poucos casos isolados de pacientes com Sars-CoV-2 iriam se tornar, em poucos meses,
uma pandemia e a causa da morte de mais de dois milhões de pessoas em todo o mundo.
Além disso, é válido destacar que o Coronavírus é um vírus zoonótico, com RNA da
ordem Nidovirales, da família Coronaviridae. Essa é uma família de vírus que causa infecções
respiratórias, e tem esse nome pelo fato de que seu perfil na microscopia parece uma coroa.
Apesar de se saber que essa é uma família de vírus causadora de problemas respiratórios,
o espectro clínico da infecção por coronavírus é muito amplo, podendo variar de um simples
resfriado até uma pneumonia grave.
Assim, o quadro clínico inicial da doença é caracterizado como uma síndrome gripal e
as pessoas geralmente desenvolvem sinais e sintomas que incluem: problemas respirató-
rios leves e febre, em média de 5 a 6 dias após a infecção. Essa febre, diferente de outras
gripes, é persistente e pode não estar presente em alguns casos.
Há também situações em que pacientes infectados não apresentam nenhum sintoma,
tidos como assintomáticos, e, em contrapartida, há os casos em que a doença evolui para
um grau avançado, levando, na maioria das vezes, à óbito, ou, no caso em que o paciente
sobrevive, gera danos no sistema respiratório.
A doença causada pelo vírus Sars-Cov-2 leva à síndrome do desconforto respiratório
(SDRA) em 5% dos acometidos. Além disso, as complicações causadas por esse agente
etiológico são mais expressivas em pacientes mais idosos ou com comorbidades, como
diabetes mellitus, asma, hipertensão arterial, obesidade, doença pulmonar obstrutiva crô-
nica, entre outros.
A maioria dos casos em que os danos ao sistema respiratório são graves, fato que
ocorre com maior relevância nos grupos vulneráveis já citados, há a necessidade de auxí-
lio da UTI e da ventilação mecânica (VM) como suporte respiratório. Vale salientar, ainda,
que algumas características relacionadas à epidemiologia, ao curso clínico, aos fatores de
risco e à patogênese desse vírus ainda não são bem definidas, visto que é uma patolo-
gia muito recente.
Diante disso, é importante ressaltar, que outras doenças que afetam o sistema respi-
ratório também carecem da utilização de ventilação mecânica nos pacientes graves que se
encontram na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Entre essas enfermidades, uma que se
destaca, e por isso foi abordada no presente artigo, é a neoplasia pulmonar, popularmente
conhecida como câncer de pulmão.

117
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Sabe-se que o câncer de pulmão é a principal causa de morte por câncer no mundo.
Isso ocorre em especial porque ele é inicialmente assintomático e normalmente descoberto
em estágios avançados. Essa neoplasia ocasiona diversas complicações clínicas, podendo
ocasionar riscos imediatos de morte.
Uma das principais consequências da enfermidade é a insuficiência respiratória agu-
da que pode ser ocasionada em função de uma pneumonia infecciosa, de uma invasão de
malignidade subjacente, de uma injúria pulmonar aguda pela quimioterapia, de um edema
pulmonar cardiogênico e não cardiogênico, ou de um sangramento alveolar difuso. Nesse
sentido, ocorre uma maior utilização de leitos de terapia intensiva visando o tratamento des-
ses pacientes. A internação na UTI é válida tanto para pacientes de menor risco, ou seja,
que apresentam complicações potencialmente reversíveis, como para os de maior risco,
aqueles com sepse ou aqueles submetidos à ventilação mecânica (VM).
Portanto, observa-se que a VM é um método de suporte para o tratamento de pacientes
com insuficiência respiratória aguda ou crônica agudizada. Este sintoma é característico tanto
da Covid-19 como do câncer pulmonar, doenças que serão correlacionadas e discutidas
nesse estudo. Este suporte ventilatório possui como objetivos a manutenção das trocas ga-
sosas, a facilitação do trabalho da musculatura respiratória, além de evitar a fadiga dessa
musculatura e permitir a aplicação de terapêuticas específicas.
O método é classificado em ventilação mecânica invasiva (VMI) e não invasiva; ambas
têm como finalidade proporcionar uma ventilação artificial através da aplicação de pressão
positiva nas vias aéreas. A diferença entre esses dois tipos de ventilação está na forma
de liberação da pressão, ou seja, enquanto na ventilação invasiva se utiliza uma prótese
introduzida na via aérea, na ventilação não invasiva, utiliza-se uma máscara como interface
entre o paciente e o ventilador artificial.
Assim, diante das informações apresentadas, este artigo analisa a correlação entre a
ventilação mecânica invasiva feita em pacientes com câncer pulmonar e entre os pacien-
tes enfermos com Covid-19. Buscou-se, então, relacionar e avaliar a influência da VMI na
mortalidade dos pacientes submetidos a esse procedimento em UTI em ambos os casos,
visando à resposta do seguinte questionamento: qual o impacto da ventilação invasiva na
mortalidade dos pacientes de câncer pulmonar e de Covid-19?

OBJETIVOS

Objetivo geral:

Avaliar a mortalidade entre pacientes de câncer pulmonar e de Covid-19 submetidos


à ventilação mecânica invasiva.

118
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Objetivos específicos:

• Medir a influência da ventilação mecânica invasiva no aumento da mortalidade dos


pacientes com câncer pulmonar.
• Identificar a relação entre a ventilação mecânica invasiva e a alta mortalidade dos
pacientes com Covid-19.
• Analisar a elevada taxa de mortes dos pacientes de câncer pulmonar e de Covid-19
sinergicamente, quando submetidos à ventilação mecânica invasiva.

MÉTODO

O tipo de estudo realizado foi uma revisão integrativa da literatura, que, segundo Souza,
Silva e Carvalho (2010, p.102), é um método que proporciona a síntese de conhecimento
e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na prática. Para
isso, foram avaliadas evidências científicas que utilizaram a base de dados PubMed.
Nesse viés, buscou-se sobre a relação entre a mortalidade e a ventilação mecânica in-
vasiva nos pacientes com câncer pulmonar e Covid-19. Utilizaram-se os seguintes Descritores
em Ciências da Saúde (DeCS): lung câncer AND invasive mechanical ventilation e Covid-19
AND invasive mechanical ventilation.
Como critérios de inclusão, foram selecionados os artigos pertencentes à temática,
publicados integralmente entre as datas de janeiro de 2018 e junho de 2020, nos idiomas
português e inglês. Por outro lado, o critério de exclusão foi a não pertinência ao tema.
Com essa pesquisa, que se caracteriza de modo descritiva, exploratória e sistemática,
foram encontrados 86 artigos, e, desses, foram selecionados 16 para serem utilizados na
revisão em questão.

RESULTADOS

Entre os 273 pacientes analisados com câncer pulmonar, 64,1% utilizaram a ventilação
mecânica invasiva (Gráfico 01), e, dentre esse espaço amostral, obteve-se uma taxa de
30,6% de mortalidade (Gráfico 02).

119
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Gráfico 01. Análise dos pacientes com câncer pulmonar.

Fonte: Elaborado pelos(as) autores(as).

Gráfico 02. Análise dos pacientes com câncer pulmonar que utilizaram a ventilação mecânica.

Fonte: Elaborado pelos(as) autores(as).

Dos 2634 avaliados com Covid-19, 12,2% precisaram ser submetidos à ventilação
mecânica invasiva (Gráfico 03). Destes, 88,1% não sobreviveram e 11,9% sobrevive-
ram (Gráfico 04).

120
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Gráfico 03. Análise dos pacientes com Covid-19.

Fonte: Elaborado pelos(as) autores(as).

Gráfico 04. Análise dos pacientes com Covid-19 que utilizaram a ventilação mecânica.

Fonte: Elaborado pelos(as) autores(as).

Analisando as patologias sinergicamente, observou-se que, de um espaço amostral


com 2907 pacientes, tanto com câncer pulmonar quanto Covid-19, 17,6% usaram a venti-
lação mecânica invasiva (Gráfico 05), e, destes, 82,7% morreram, enquanto 17,3% sobre-
viveram (Gráfico 06).

121
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Gráfico 05. Análise dos pacientes com câncer pulmonar e Covid-19.

Fonte: Elaborado pelos(as) autores(as).

Gráfico 06. Análise dos pacientes com câncer pulmonar e Covid-19 que utilizaram a ventilação mecânica.

Fonte: Elaborado pelos(as) autores(as).

DISCUSSÃO

A ventilação mecânica invasiva, recurso no qual é necessário uma intubação endotra-


queal, é indicada para diversas situações em que o paciente não consegue manter a venti-
lação ou a oxigenação adequada. Essa situação tem entrado em evidência com a eclosão

122
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
da pandemia da Covid-19, que ataca, preferencialmente, o sistema respiratório, fazendo
com que, ocasionalmente, um paciente acometido necessite desse recurso.
No dia a dia hospitalar, fica evidente que a mortalidade dos pacientes acometidos de
Covid-19 que estão internados em UTI e utilizando a VMI é alta. Sendo assim, o presente
estudo procurou elucidar se o uso VMI pode ser um indicador de maior probabilidade de
morte de pacientes com Covid-19 que necessitem desse recurso, em comparação com o
tratamento de pacientes com câncer pulmonar, por possuírem sintomas semelhantes.
Ao observar os resultados obtidos, ficou claro o que se cogitava. Enquanto os pacientes
com câncer pulmonar que utilizaram VMI tiveram uma taxa de mortalidade de 30,6%, os
com Covid-19 tiveram uma taxa de 88,1%.
Tal situação acontece, possivelmente, pelo fato de que quando um paciente acometi-
do de Covid-19 precisa de UTI e VMI, significa que a doença já está em estágio avançado
e grave, com alto comprometimento pulmonar, que, aliado ao fato de não haver nenhum
medicamento específico para a doença, torna a mortalidade bastante elevada.
Já nos pacientes com câncer de pulmão, a mortalidade, quando necessário o uso de
VMI, é bem mais baixa, isso ocorre, possivelmente, pois, por mais que o câncer esteja com-
prometendo as funções pulmonar e esteja em estágios avançados, essa doença é conhecida
há anos. Dessa forma, há inúmeros procedimentos e medicamentos específicos disponíveis
para seu tratamento, o que permite uma maior sobrevida desses pacientes. No entanto, quan-
do comparado aos pacientes que não precisam da VMI, apresenta-se uma elevação na taxa
de mortalidade, mesmo que em proporções diferentes entre Covid-19 e câncer pulmonar.

CONCLUSÃO

Concluiu-se, após a realização da revisão da literatura em questão, que a ventilação


mecânica invasiva parece ser um indicador de maior probabilidade da mortalidade na tera-
pia intensiva da Covid-19, quando comparada à ventilação mecânica invasiva no tratamen-
to dos pacientes com câncer pulmonar. Além disso, percebe-se uma taxa superiormente
elevada de mortes dos pacientes de Covid-19 e de câncer pulmonar que se submetem à
ventilação mecânica invasiva, quando analisadas de modo sinérgico. No entanto, ainda há
poucos estudos sobre essa temática, o que corrobora para uma necessidade do aumento da
quantidade de pesquisas no que diz respeito ao tratamento dessas enfermidades por meio
do uso da VMI, buscando a qualificar a redução do sofrimento dos pacientes e diminuir as
chances de mortes.

123
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
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125
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
12
“ Impactos e desafios da assistência
oncológica durante a Pandemia da
COVID-19

Laís Silva Sousa

Kimberlly Nava Flores

Rhuana Lima Ximenes

Cleber Queiroz Leite

Daiane da Costa Menezes

Gricia Aparecida Rodrigues de Souza

Priscila Barbosa de Souza Cardoso

Juliana Meira Amorim

10.37885/210303539
RESUMO

A pandemia causada pela Covid-19 apresentou impacto exponencial no cotidiano social,


bem como, para os sistemas de saúde mundial. No que diz respeito aos pacientes onco-
lógicos, tem-se que esse segmento confere uma população de risco, visto que possuem
uma maior imunossupressão quando comparados aos demais indivíduos, resultando
então, em desfechos desfavoráveis quando infectados pelo SARS-CoV-2. Tendo em
vista este panorama, a Sociedade de Oncologia de alguns países, dentre eles o Brasil,
emitiram diretrizes para a redução de consultas presenciais, período de internação e
substituição sempre que possível, de medicações de uso injetável para oral. Contudo,
notou-se um entrave nessas medidas, uma vez que, tentado diminuir a exposição dos
doentes ao ambiente hospitalar, houve uma redução considerada do tratamento regular
contínuo, situação que impacta negativamente o prognóstico. Na tentativa de minimizar
os impactos do momento atual e reorganizar medidas de segurança, o Conselho Federal
de Medicina (CFM), autorizou o uso da telemedicina temporária, como assistência alter-
nativa. Trata-se de um recurso novo, que oferece consultas com profissionais de saúde
de forma rápida e segura, o que auxilia não somente no manejo da doença de base,
como na identificação de possíveis sinais e sintomas de infecções virais, com destaque
para o novo coronavírus. Outro recurso que têm gerado impacto positivo, fora o aumento
das visitas domiciliares pelos profissionais de saúde, opção capaz de promover orien-
tações, amparo e assistência integral clínica ao enfermo e a família. Assim, o presente
trabalho visa discutir os desafios na assistência dos pacientes com neoplasia durante
esse período pandêmico.

Palavras-chave: Neoplasias, Covid-19, Desafios, Telemedicina, Atendimento Domiciliar.

127
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
INTRODUÇÃO

O surto causado pela Síndrome Respiratória Aguda Grave do Covid-19 (SARS-CoV-2),


iniciado em dezembro de 2019, em Wuhan - China, impactou a humanidade e os sistemas
governamentais mundiais, sobretudo, a saúde (DO NASCIMENTO, 2020). Diante da pro-
porção alcançada pelo novo coronavírus, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou
estado emergencial na saúde pública global, após classificar em situação de pandemia em
12 de março de 2020 (STERNBERG et al., 2020).
O SARS-CoV-2 é transmitido por meio de gotículas do nariz ou da boca, por contato
próximo ou por superfícies contaminadas, o que infere o agravamento por aglomerações
(MALTA et al., 2020). Dessa forma, pelas altas taxas de transmissividade e pela sobrecarga
do sistema de saúde, houve a necessidade de planos de contingência, a fim de priorizar
demandas de urgência e emergência, prorrogar atendimentos e cirurgias eletivas e aderir a
telemedicina (AL- SHAMSI et al., 2020).
Frente a esse panorama, pacientes portadores de neoplasias estão mais suscetíveis
à infecção pelo vírus, devido a imunossupressão causada pela patologia de base, efeitos
quimioterápicos e radioterápicos, terapêuticas gerais e cirurgias (SILVA FILHO, 2020). Desse
modo, a Sociedade de Oncologia, de países como Brasil e Estados Unidos, emitiram novas
diretrizes, a fim de resguardar os pacientes, nas quais visam diminuir consultas presenciais,
tempo de internação e substituição de medicações injetáveis por orais, sempre que possível
(BINDA FILHO e ZAGANELLI, 2020).
No entanto, apesar do intuito de diminuir a exposição dos doentes, a ausência de
tratamento regular pode impactar negativamente o prognóstico do enfermo, além de que
certos centros de tratamento sofreram alterações em suas rotinas e estruturas, passando
por dificuldades em manutenção e admissão de novos usuários (HANNA et al., 2020). Desse
modo, como medidas emergenciais limitadas ao período de pandemia, foram autorizadas
consultas por meio remoto, cujos pacientes são assistidos por múltiplos profissionais de
modo efetivo, e caso haja necessidade, profissionais de saúde serão deslocados aos lares,
por meio de atendimento domiciliar (SAMPAIO et al., 2020).

DESENVOLVIMENTO

O crescente número de indivíduos infectados pelo SARS-CoV-2 tem gerado um cenário


de crise mundial afetando diversos setores, sobretudo o da saúde e da economia (DA SILVA
et al., 2020). Este novo vírus tem modificado a rotina da população, principalmente devido
ao avanço da transmissão em diversos continentes, levando os países, incluindo o Brasil a
aplicarem planos de contenção social, a fim de conter a ampliação exponencial no número

128
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
de casos e a sobrecarga nos serviços de saúde (AQUINO et al., 2020). Esse impacto é sen-
tido diretamente pela sociedade, instituições e pelos profissionais de saúde, sendo realizada
a busca contínua por medidas para superar essa doença trágica (OLIVEIRA et al., 2020).
Visto o grande desafio do enfrentamento contra o vírus, surge preocupação para os
profissionais da saúde e para os pacientes que pertencem ao segmento oncológico (CIRILO
et al., 2020). Em tempos de pandemia, manejar esse segmento coloca em questão a base
estrutural do sistema de saúde, uma vez que, os pacientes portadores de neoplasias care-
cem de serviços médicos especializados e com medidas de segurança elevadas, a fim de
promover maior proteção contra a contaminação por Covid-19 (ARAUJO et al., 2021).
Entretanto, assim como outros países, o Brasil tem enfrentando grandes desafios para
ofertar a continuação do tratamento de câncer durante o combate contra o novo coronaví-
rus, sendo que esse, em muitos locais encontra-se altamente comprometida, pois muitas
vezes falta o atendimento, falta vagas em UTI, ou até mesmo insumos ou medicamentos
(DO NASCIMENTO et al., 2020). Contudo, a interrupção do tratamento e dos cuidados
pode comprometer no prognóstico positivo do paciente, levando-o a desenvolver quadros
obstrutivos, metástases e, até mesmo, óbito, visto que, tumores mais agressivos evoluem
negativamente em torno de 3 a 4 meses (WANG et al., 2020).
Somado a isso, também há o repto existente enfrentado pelo Sistema Único de Saúde-
SUS, no qual em circunstâncias prévias à pandemia já enfrentava desafios em exercer prazos
estabelecidos para tratamentos (BAPTISTA e FERNANDES, 2020). Assim, durante e após
o fim da pandemia, os pacientes oncológicos podem enfrentar dificuldades ainda maiores
quanto ao diagnóstico, consultas, exames, tratamento e procedimentos cirúrgicos, pois
muitas vezes os prazos estabelecidos não serão concluídos (CUEVAS-LÓPEZ et al., 2020).
Ademais, estudos demonstram que indivíduos com câncer são mais vulneráveis a
contrair o vírus e evoluir com complicações (terapia intensiva, ventilação mecânica invasiva
ou óbito), devido ao quadro de malignidade e imunossupressão, acentuada pelo tratamento
com quimioterapia e radioterapia (LIANG et al., 2020). Sendo assim, estudos realizados em
centros hospitalares na cidade de Wuhan evidenciaram que pacientes portadores de neo-
plasias possuem duas vezes mais chances de se infectarem do que em pessoas hígidas
(JING YU et al., 2020).
Dessa forma, visando à menor exposição, mas com a continuação do tratamento,
estão sendo fomentados a diminuição da frequência das consultas, adiamento de cirurgias
eletivas ou quimioterapias adjuvantes em tumores de baixos índices metastáticos ou de
complicações reduzidas, mas essas medidas podem gerar um decréscimo nos diagnósticos
de câncer (AL-SHAMSI et al., 2020).

129
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
O estigma carregado pela doença neoplásica, por si só, é responsável por alterações
psicológicas em decorrência da ameaça à saúde do indivíduo, visto que, passam por longos
ciclos hospitalares, por procedimentos invasivos e efeitos adversos das drogas, afetando
nutrição, autoestima e autoidentidade (SILVA et al., 2019). No entanto, estudos mostram
efeitos emocionais ainda mais frequentes e intensos durante o período de pandemia, evi-
denciado por ansiedade, depressão, angústia e estresse agudo (CIRILO et al., 2020).
Desse modo, considerando a atual adversidade enfrentada no manejo dos pacientes
oncológicos durante a pandemia, o Conselho Federal de Medicina (CFM), no Brasil em março
de 2020, autorizou temporariamente o uso da telemedicina como nova forma assistencial
com substituição parcial à presença física (CFM, 2020). Sendo assim, a nota declarada
liberava médicos, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e nutricionistas a realizarem
abordagens profissionais remotas usando tecnologias da informação e comunicação (BINDA
FILHO e ZAGANELLI, 2020).
Esse recurso oferta aos usuários consultas com profissionais de saúde de forma efi-
ciente, rápida, cômoda e segura, auxiliando na triagem de eventuais sinais e sintomas (seja
pelo tratamento neoplásico ou de infecção viral), nas medidas de prevenção e tratamento,
bem como, orientações acerca da comorbidade existente, o que gera proteção não somente
para o paciente, mas também para toda equipe de saúde (SAMPAIO et al., 2020).
Para complementar o impacto de atuação da telemedicina, ao avaliar a necessidade
de uma assistência presencial sem a necessidade de procedimentos hospitalares, profis-
sionais da saúde são designados a consultar nos próprios lares (SAVASSI et al., 2020).
Assim, intensificou-se o atendimento domiciliar, auxiliando na redução da transmissão da
Covid-19, tendo em vista que, o paciente não vai se expor a ambientes ambulatoriais e nem
hospitalares; e promovendo assistência clínica e psicológica, bem como, forjando conexões
entre os profissionais e os familiares (BINDA FILHO e ZAGANELLI, 2020).

CONCLUSÃO

Mesmo antes da pandemia causada pela COVID-19 já existiam problemas relevantes


que impactavam o paciente com neoplasia, dentre eles o tempo de espera entre o diagnós-
tico e a realização de terapia no SUS; imunossupressão advinda da própria patologia e de
seu tratamento, bem como as demandas emocionais que acabavam por agravar o quadro
do paciente. No atual cenário, tais variáveis se intensificaram sendo necessário implementar
maneiras de atenuar os efeitos dessa situação —sobretudo em pacientes com neoplasias.
Dentre as medidas de intervenção, algumas ganharam destaque, como a promoção de
consultas online por meio da telemedicina, a fim de reduzir o tempo de internação desses
pacientes nos hospitais, visto que as chances de contraírem COVID-19 e evoluírem de forma

130
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
negativa, é duas vezes maior do que em pessoas hígidas. Contudo, ainda há a necessidade
da inserção de outras abordagens que amparem tais pacientes durante e após a pandemia,
uma vez que a redução de consultas físicas precisa ser ponderada, visto que intervalos
maiores em casos específicos, podem cursar com mal prognóstico devido rápida progressão
da doença. Ademais, além das consultas médicas através da telemedicina, é importante
enfatizar a necessidade de uma equipe multiprofissional, para proporcionar uma assistência
completa, com acesso à psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais, entre outros. Por sua
vez, campanhas de rastreio precisam estar presentes mesmo nesse período de pandemia,
pois, no que diz respeito às doenças oncológicas diagnóstico precoce ainda é a melhor
forma de prevenção do agravamento da doença e da possibilidade de terapêutica precoce.

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COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
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132
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
13
“ Impactos na saúde mental dos
profissionais de saúde no enfrentamento
da COVID-19

José Aderval Aragão


UFS/UNIT

Layla Raíssa Dantas Souza


UFS

Bianca Holz Vieira


UFS

Francisco Prado Reis


UNIT

10.37885/210303550
RESUMO

Objetivo: Identificar os principais fatores que impactam na saúde mental dos profissionais
da saúde no enfrentamento da COVID-19. Metodologia: Trata-se de uma revisão integra-
tiva da literatura utilizando as bases de dados SciELO, PubMed e Google Acadêmico, por
meio de ferramentas de pesquisa avançada, o que resultou em 19 trabalhos para serem
analisados. Resultados: Após revisão da literatura, observou-se que os médicos e os
enfermeiros foram os profissionais mais afetados por esse cenário, sendo que, dentre
essas duas categorias, a enfermagem e os técnicos em enfermagem apresentam maiores
problemas psicológicos. Os índices médios de sintomas de ansiedade, medo e depres-
são foram mais significativos na equipe médica, de acordo com o nível de exposição à
doença, como os profissionais que atuam em setores como pronto-socorro, unidade de
terapia intensiva e de doenças infecciosas. Os profissionais de saúde do sexo feminino
mostraram-se mais vulneráveis a sintomas como transtorno do estresse pós-traumático,
ansiedade, depressão e angústia. Conclusão: A seriedade da COVID-19 é notória por
todos e o trabalho dos profissionais de saúde é fundamental para a qualidade de vida
da população. Por isso, é imprescindível o monitoramento dos fatores estressantes que
configuram risco para a saúde mental desses profissionais, como as condições de tra-
balho, carga horária extensa, pouco suporte psicológico e contato direto com infectados.

Palavras-chave: Depressão, Profissionais de Saúde, COVID-19, Ansiedade.

134
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
INTRODUÇÃO

A Organização Mundial da Saúde (OMS), em 31 de dezembro de 2019, foi informada


sobre um surto de uma doença de etiologia desconhecida em trabalhadores e frequentado-
res de um mercado de frutos-do-mar localizado na cidade de Wuhan, província de Hubei,
na China (DAL’BOSCO et al., 2020; OMS, 2020).
Tratava-se de um novo vírus, nunca relatado em humanos, que foi denominado co-
ronavírus SARS-CoV-2. E assim, é considerado como o agente etiológico da Doença por
Coronavírus 19, (COVID-19) (DAL’BOSCO et al., 2020; DIAS et al., 2020; LÓSS et al., 2020;
MORAIS et al., 2021). É um vírus de RNA envelopado, classificado como betacoronavírus,
associado à Síndrome Respiratória Aguda Grave, com similaridade filogenética ao SARS-
CoV (DIAS et al., 2020).
Em 30 de janeiro de 2020, de acordo com o Regulamento Sanitário Internacional
(2005), o Diretor-Geral da OMS declarou o surto de COVID-19 uma emergência internacio-
nal de saúde pública (PAHO/WHO, 2020; DIAS et al., 2020). O primeiro caso nas Américas
foi confirmado nos Estados Unidos em 20 de janeiro de 2020. O Brasil relatou o primei-
ro caso na América Latina e Caribe em 26 de fevereiro de 2020 (PAHO/WHO, 2020) e
logo depois foram identificados os primeiros casos confirmados e óbitos decorrentes da
COVID-19, principalmente na região Sudeste e em grandes capitais (DAL’BOSCO et al.,
2020). Poucos meses após a o relato da primeira infecção, a OMS declarou que o mundo
vivia uma pandemia, confirmada pela grande capacidade de transmissibilidade do SARS-
CoV-2 (MORAIS et al., 2021).
As manifestações clínicas da COVID-19 podem variar de uma doença leve a moderada,
o que inclui a “síndrome gripal”, não havendo necessidade de oxigenoterapia ou internação
hospitalar – representam, aproximadamente, 80% dos casos sintomáticos; doença grave,
que inclui os pacientes com pneumonia e hipoxemia, necessitando de hospitalização – em
torno de 15 % dos casos; doença crítica com falência respiratória (necessidade de ventilação
mecânica - VM), choque séptico e disfunção múltipla de órgãos – cerca de 5% dos casos
(DIAS et al., 2020).
Os sinais e sintomas da COVID-19 incluem febre (83%-99%), tosse (59-82%), astenia
(44-70%), anorexia (40%), mialgia (11-35%), dispneia (31-40%), secreção respiratória (27%),
perda de paladar e/ou olfato (mais de 80%) (DIAS et al., 2020).
Por ser uma infecção respiratória aguda, o vírus pode se propagar por transmis-
são direta – secreções ou excreções de doentes, principalmente por gotículas de saliva
(BEZERRA et al., 2020) –, ou por transmissão indireta – através de superfícies contaminadas
(LIMA et al., 2020).

135
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
É notório que os profissionais de saúde, principalmente os que atuam na linha de fren-
te de combate a COVID-19, estão submetidos a um constante e elevado risco de contágio
(VELOSO, 2020) e enfrentam, nem sempre, confiáveis condições de trabalho, pois estão
em ambientes inseguros, com inadequada infraestrutura, submetidos a uma longa carga
horária de trabalho, lidando com escassez de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e
preocupados com a saúde de seus pacientes (BEZERRA et al., 2020).
Essas condições ocasionam altos níveis de desgaste profissional, adoecimento físico
e psicológico, má qualidade de vida e cuidados à saúde (BEZERRA et al., 2020), propor-
cionando ainda o surgimento de hipertensão arterial, náuseas, estresse, doenças entéricas,
esgotamento mental, depressão e prejuízos no sono (RIBEIRO; VIEIRA; NAKA, 2020).
Desse modo, é possível observar, em situações de pandemia que alguns transtornos men-
tais podem ser desencadeados pela maratona de trabalho, como a ansiedade e depressão
(RIBEIRO; VIEIRA; NAKA, 2020).
A ansiedade pode ser conceituada como um sentimento vago e desagradável de medo,
apreensão, com características de tensão ou desconforto derivado da antecipação do pe-
rigo, de algo desconhecido ou estranho. É considerado um estado emocional que atinge
componentes psicológicos, sociais e fisiológicos. Está condição em seres humanos, quando
excessiva, pode se tornar patológica, atingindo o ambiente psicossocial do indivíduo, afetando
diversos âmbitos, como, por exemplo, as interações sociais, o convívio familiar e a atuação
no trabalho (DAL’BOSCO et al., 2020).
A depressão, por sua vez, é caracterizada por uma lentificação dos processos psíquicos,
humor depressivo e/ou irritável, redução da energia, incapacidade parcial ou total de sentir
alegria ou prazer, desinteresse, apatia ou agitação psicomotora, dificuldade de concentração,
pensamento de cunho negativo, com perda da capacidade de planejamento e alteração do
juízo da verdade (DAL’BOSCO et al., 2020).
Assim, diante de um tema de grande relevância e grande impacto mundial, o presente
estudo tem por objetivo realizar uma revisão integrativa para relatar os principais fatores
que impactam a saúde mental dos profissionais da saúde no enfrentamento da COVID-19.

MÉTODOS

O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura. A busca pelos


artigos foi feita entre os meses de fevereiro e março de 2021. A pesquisa utilizou as bases
de dados: Scientific Electronic Library Online (SciELO), Sistema Online de Busca e Análise
de Literatura Médica (PubMed) e Google Acadêmico. Na PubMed, foram considerados os
artigos publicados entre os anos de 2000 a 2021.

136
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Foram utilizados os descritores, intercalados pelos operadores, COVID OR sars-
-cov-2 OR COVID-19; Depression AND Physicians; Depression AND Health professional
no MeSH. Nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), foram utilizados os descritores
com os operadores: COVID-19 AND DEPRESSÃO; COVID-19 AND DEPRESSÃO AND
PROFISSIONAIS DE SAÚDE. Na SciELO, a busca foi feita com palavras e expressões entre
parênteses dos títulos ou dos resumos.
A busca totalizou 64 artigos, o que possibilitou a elaboração dos critérios de inclusão
e exclusão: distanciamento do tema pré-determinado e duplicidade. Para aplicar esses cri-
térios, foi realizada uma leitura crítica e reflexiva dos títulos, resumos e introduções, após
a exclusão de 46 trabalhos, para realização deste trabalho foram selecionados 16 artigos.
Para auxiliar na análise desses artigos selecionados, inicialmente foi realizada uma
leitura exploratória, identificando e transcrevendo trechos relevantes que correspondiam aos
tópicos pré-estabelecidos, relacionados aos impactos na saúde mental de profissionais da
saúde no enfrentamento da COVID-19 (Quadro 1). A caracterização dos artigos seleciona-
dos está representada no Quadro1.

Quadro 1. Caracterização dos artigos selecionados.

N Autores e ano Título Periódico Objetivo

O impacto da pandemia por covid-19 Revista Enfer- Identificar os fatores que impactam na saúde mental
1 BEZERRA et al., 2020 na saúde mental dos profissionais da magem Atual dos profissionais da saúde no enfrentamento da CO-
saúde - revisão integrativa. In Derme VID-19.

Fatores de risco para a síndrome de Revista Enfer- Analisar os fatores de risco para o desenvolvimento
2 BORGES et al., 2021 Burnout em profissionais da Saúde magem Atual da Síndrome de Burnout em profissionais da saúde
durante a pandemia de covid-19. In Derme durante a pandemia da COVID-19.

Aspectos relacionados à saúde mental


Brazilian Jour- Analisar as publicações científicas relacionadas à saúde
CARVALHO et al. , dos profissionais de saúde durante a
3 nal of Health mental dos profissionais de saúde durante a pandemia
2020 pandemia do Covid-19: uma revisão
Review do Covid-19.
integrativa da literatura.

Identificar a prevalência e fatores associados à ansie-


A saúde mental da enfermagem no Revista Brasilei-
DAL’BOSCO et al ., dade e depressão em profissionais de enfermagem
4 enfrentamento da COVID-19 em um ra de Enferma-
2020 que atuam no enfrentamento da COVID-19 em hos-
hospital universitário regional. gem
pital universitário.

Apresentar um compilado dos conhecimentos adqui-


ridos até o momento, que possam orientar sobre a
Orientações sobre diagnóstico, trata-
Journal of In- abordagem diagnóstica de COVID-19, bem como so-
5 DIAS et al., 2020 mento e isolamento de pacientes com
fect Control bre isolamento de pacientes e profissionais de saúde,
COVID-19.
além de comentar o que se tem de evidência sobre
tratamento.

Factors associated with mental health Avaliar a magnitude dos resultados de saúde mental
JAMA network
6 LAI et al., 2020 outcomes among health care workers e fatores associados entre profissionais de saúde que
open
exposed to coronavirus disease 2019. tratam de pacientes expostos ao COVID-19 na China.

Propõe avaliar o panorama da COVID-19 mediante uma


Reflexão sobre o estado físico e mental Interfaces Cien- reflexão sobre os impactos físicos e mentais causados
7 LIMA et al., 2020 dos profissionais de saúde em época tíficas-Saúde e aos profissionais de saúde na sua prática laboral, con-
de Covid-19. Ambiente siderando a complexidade vigente de uma virose que
modificou o cotidiano da população mundial.

137
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
N Autores e ano Título Periódico Objetivo

Identificar de que forma tal pandemia pode influenciar


na saúde mental dos profissionais de saúde que estão
na linha de frente. Especificamente, pretende-se: elu-
A saúde mental dos profissionais de
Revista Trans- cidar o conceito de pandemia e detalhar o surgimento
8 LÓSS et al., 2020 saúde na linha de frente contra a CO-
formar da COVID-19; abordar a respeito de saúde mental; ve-
VID-19.
rificar a vulnerabilidade dos trabalhadores de saúde,
bem como identificar as possíveis consequências para
os mesmos.

Impactos da COVID-19 sobre os pro-


Revista Eletrô-
MESQUITA et al. , fissionais de saúde no contexto pan- Relacionar os impactos da COVID-19 sobre os profis-
9 n i c a A c e r vo
2020 dêmico: uma revisão integrativa da sionais de saúde no contexto pandêmico.
Saúde
literatura.

Impacto da pandemia na saúde mental Identificar o impacto da COVID-19 na saúde mental e


Brazilian Jour-
dos profissionais de saúde que traba- comportamental dos profissionais de saúde que estão
10 MORAIS et al., 2021 nal of Develo-
lham na linha de frente da Covid-19 e diretamente relacionados ao tratamento desta pande-
pment
o papel da psicoterapia. mia, sugerindo ações preventivas e terapêuticas.

Revista Inter-
A dor e o sofrimento causado pelo CO- Apresentar os principais fatores associados as reper-
MOREIRA, FEITOSA, faces: Saúde,
11 VID-19: As repercussões psiquiátricas cussões psiquiátricas para os profissionais da saúde
ROLIM, 2020 Humanas e
para os profissionais de saúde. durante a pandemia da COVID-19.
Tecnologia

Adoecimento mental na população ge- Mapear a literatura sobre adoecimento mental na po-
MOREIRA, SOUSA, Texto & Contex-
12 ral e em profissionais de saúde durante pulação geral e em profissionais de saúde durante a
NÓBREGA, 2020 to-Enfermagem
a covid-19: scoping review. pandemia da Covid-19.

Conhecer a situação da saúde mental dos profissionais


A saúde mental dos profissionais de Revista Eletrô-
da área da saúde da linha de frente na pandemia do
13 PRADO et al., 2020 saúde frente à pandemia do COVID-19: n i c a A c e r vo
COVID-19, e quais consequências para os serviços de
uma revisão integrativa. Saúde
saúde.

Revisar a produção científica nacional sobre a mag-


Síndrome de Burnout em profissionais Revista Eletrô- nitude dos efeitos físicos e mentais da Síndrome de
RIBEIRO, VIEIRA ,
14 de saúde antes e durante a pandemia n i c a A c e r vo Burnout (SB) em profissionais de saúde, com ênfase
NAKA, 2020
da COVID-19. Saúde na comparação das características antes e durante a
pandemia da COVID-19.

Revista Eletrô- Identificar na literatura os impactos na saúde mental


A saúde mental dos profissionais de
15 SILVA et al., 2020 nica da Estácio dos profissionais de saúde, expostos à pandemia de
saúde no contexto do covid-19.
Recife covid-19.

A possibilidade de adoção e/ou de adequação dessas


A saúde dos profissionais de saúde no propostas à realidade brasileira indicando-se medidas
Ciência & Saúde
16 TEIXEIRA et al., 2020 enfrentamento da pandemia de Co- que podem ser incluídas em protocolos dos serviços
Coletiva
vid- 19. de saúde, tendo em vista a proteção e a promoção
da saúde física e mental dos trabalhadores de saúde.

Fonte: ARAGÃO et al., 2021.

Não foi necessária a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), por se tratar
de uma revisão integrativa, com o objetivo de realizar uma análise secundária de dados, não
envolvendo seres humanos.

138
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a revisão integrativa da literatura, constatamos que os índices médios de sintomas


de ansiedade, medo e depressão foram mais significativos na equipe médica, comparados
aos índices da equipe administrativa. Os componentes da equipe médica, que atuavam em
setores como pronto-socorro, unidade de terapia intensiva e de doenças infecciosas, tendo,
portanto, maior contato com pacientes de COVID-19, apresentaram mais distúrbios psicoló-
gicos, em comparação àqueles da equipe não clínica (PRADO et al., 2020).
Em estudo realizado em hospitais em Wuhan, na China, e regiões próximas, dentre os
1.257 participantes, 39,2% eram médicos e 60,8% enfermeiros. A análise dos dados desse
estudo revelou que 34% desses profissionais apresentaram insônia e 71,5% apresentaram
angústia. (LAI J et al., 2020; PRADO et al., 2020).
Um estudo realizado em Portugal revelou que três a cada quatro profissionais de saúde,
apresentavam níveis médios ou elevados de exaustão mental. (VELOSO, 2020).
Os profissionais de saúde do sexo feminino mostraram-se mais vulneráveis aos
Transtornos de Estresse Pós traumático (TEPT) e a níveis elevados de ansiedade, depres-
são e angústia. (BEZERRA et al., 2020; BORGES et al., 2021; LAI et al., 2020; PRADO
et al., 2020). Isso se deve a grande representatividade desse grupo dentre os profissionais
da saúde e, por diversas vezes, essas mulheres serem responsáveis pelo trabalho doméstico
e cuidado dos filhos (BEZERRA et al., 2020; VELOSO, 2020).
Ademais os médicos e os enfermeiros foram os profissionais mais afetados por esse
cenário, sendo que, dentre essas duas categorias, a enfermagem e os técnicos em enfer-
magem apresentam maiores problemas psicológicos (BORGES et al., 2021; MOREIRA;
SOUSA; NÓBREGA, 2020; SILVA et al., 2020). Isso possivelmente seria motivado devido
a elevada carga horária de trabalho e ao maior contato com pacientes de COVID-19 e seus
familiares (BEZERRA et al., 2020; CARVALHO et al., 2020; RIBEIRO; VIEIRA; NAKA, 2020;
MOREIRA; FEITOSA; ROLIM, 2020).
Os profissionais de saúde são os protagonistas frente à pandemia da COVID-19, entre-
tanto, apesar do destaque atribuído a eles, vários sentimentos se sobressaem diante de tal
realidade. O trabalho desses profissionais antes da pandemia demandava bastante tempo
de dedicação e já havia considerável exposição desses indivíduos a elementos estresso-
res (MOREIRA; SOUSA; NÓBREGA, 2020). No entanto, com a pandemia da COVID-19,
essas condições foram agravadas, pois, diante do aumento exponencial da demanda por
assistência, estão submetidos a longas jornadas de trabalho (AYANIAN, 2020; BEZERRA
et al., 2020; BORGES et al., 2021; LÓSS et al., 2020; MESQUITA et al.,2020; MOREIRA;
SOUSA; NÓBREGA, 2020), sob constante exposição, estando vulneráveis ao contágio e

139
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
podendo infectar outras pessoas, como amigos ou a própria família (BORGES et al., 2021;
LÓSS et al., 2020; RIBEIRO; VIEIRA; NAKA, 2020; TEIXEIRA, 2020).
Esses trabalhadores não possuem o suporte adequado, uma vez que há escassez
de equipamentos de proteção individual (EPI) (AYANIAN, 2020; BORGES et al., 2021;
BEZERRA et al., 2020; LÓSS et al., 2020; MOREIRA; SOUSA; NÓBREGA, 2020); falta de
medicamentos específicos para o tratamento da doença (BORGES et al. 2021); insuficiência
de ventiladores e outros equipamentos médicos essenciais no cuidado de pacientes graves
(AYANIAN, 2020; MOREIRA; SOUSA; NÓBREGA, 2020) e escassez de leitos de terapia
intensiva, o que pode levar o profissional ao extremo estresse de ter que decidir qual a prio-
ridade de cada paciente, ocasionando o desenvolvimento de sentimentos de cobrança, de
incapacidade e de culpa, e afetando, assim, o desempenho profissional (BORGES et al.,
2021; CARVALHO et al., 2020; RIBEIRO; VIEIRA; NAKA, 2020).
O papel de agente cuidador e a necessidade de atendimento imediato e especializado
para uma significativa parcela de pessoas com sintomas da COVID-19 (RIBEIRO; VIEIRA;
NAKA, 2020); agressões ditas por pessoas que procuram atendimento e não podem ser
acolhidas, devido à limitação de recursos (BORGES et al., 2021); exaustão emocional rela-
cionada à crescente demanda por cuidados, seja de pacientes em geral, seja de colegas de
trabalho (AYANIAN, 2020; BEZERRA et al., 2020; MOREIRA; SOUSA; NÓBREGA, 2020);
ou, ainda, acesso insuficiente a serviços de saúde mental, contribuem para o sofrimento
emocional de enfermeiros, médicos, terapeutas respiratórios e auxiliares de enfermagem
(AYANIAN, 2020; MOREIRA; SOUSA; NÓBREGA, 2020). Somado a esses fatores, tem-se
a frustração causada pela perda de pacientes, que é um fator de grande impacto emocional
(CARVALHO et al., 2020).
Além disso, a necessidade de tomadas de decisões críticas, mesmo sem a presença
dos familiares, uma vez que não é permitida a presença de visitantes nos hospitais, promo-
vem tensão emocional e psicológica (SILVA et al., 2020). Ademais, como esses profissionais
estão sob pressão para equilibrar as demandas profissionais e familiares, são tomados pelo
medo e pela exaustão (RIBEIRO; VIEIRA; NAKA, 2020).
Desse modo, em virtude desse cenário pandêmico, têm-se relatado sentimentos de
medo, de angústia, de desamparo e de outros sentimentos relacionados ao desconhecimento
desse novo vírus (MOREIRA; SOUSA; NÓBREGA, 2020; PRADO, et al., 2020), impactando
a saúde mental e aumentando os casos de ansiedade, depressão, insônia, como também o
consumo de drogas (BEZERRA et al., 2020; TEIXEIRA et al., 2020). Ademais, alguns fatores
como a presença de um histórico psiquiátrico e o trabalho em unidades com maior risco de
contaminação acentuam as oportunidades de desenvolvimento de problemas psicológicos

140
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
(CARVALHO et al., 2020). Assim, é perceptível o quanto a compreensão e a capacidade de
tomada de decisão dos trabalhadores de saúde são afetadas (SILVA et al., 2020).
Tem sido ainda observado que os danos não se restringem somente à saúde mental:
fatores físicos podem estar associados a essas alterações emocionais, como mudanças
no sistema cardiovascular, endócrino e imunológico, podendo gerar sintomas irreversíveis.
Essas alterações são consequências da qualidade de sono, que é prejudicada pelo contexto
da pandemia e pela exigência de alto desempenho, o que, a longo prazo, pode interferir em
vários aspectos fisiológicos, como na imunidade, no aprendizado e na memória, propiciando
maiores chances de adoecimento (BEZERRA et al, 2020). Outrossim, a pressão e o estresse
sofridos ativam o sistema nervoso autônomo simpático e o sistema endócrino, desencadean-
do respostas sobre a glândula adrenal, ocasionando consequências negativas na saúde
física, prejudicando assim, a luta desse profissional contra a COVID-19 (SILVA et al., 2020).
Vale ressaltar que os problemas não afetam todos os profissionais de saúde da mesma
maneira, sendo necessária, portanto, uma atenção específica e direcionada às especifici-
dades de cada um deles (TEIXEIRA et al., 2020).
Portanto, o sofrimento emocional desencadeado, além de promover uma diminuição da
qualidade de vida do profissional de saúde, prejudica a assistência prestada (CARVALHO
et al., 2020; RIBEIRO; VIEIRA; NAKA, 2020), a qualidade do cuidado e a segurança do
paciente (DAL’BOSCO et al., 2020).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pandemia da COVID-19 desencadeou uma procura acelerada e intensa na assis-


tência à saúde e com isso, profissionais dessa área foram sobrecarregados de forma ainda
não vista por essa geração. Consequentemente, houve o adoecimento mental da população
em geral e dos profissionais envolvidos no cuidado das pessoas infectadas. Como sintomas
principais, têm-se quadros de ansiedade, depressão, estresse e transtorno de estresse pós-
-traumático, sendo que os enfermeiros e as mulheres estão entre os grupos mais afetados
por esse cenário pandêmico.
Esses diversos problemas emocionais podem ser associados a alguns aspectos, como
a falta de equipamentos de proteção individuais adequados e desconforto com o uso pro-
longado desses equipamentos; pouco conhecimento sobre essa doença e esse vírus, e
distanciamento social e familiar. Todos esses fatores geram a queda do rendimento e da
qualidade de atendimento.
A seriedade da COVID-19 é notória por todos e o trabalho dos profissionais de saúde
é fundamental para a qualidade de vida da população. Por isso, torna-se necessário monito-
rar os fatores estressantes que configuram risco para a saúde mental desses profissionais,

141
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
como as condições de trabalho, carga horária longa, pouco suporte psicológico e contato
direto com infectados.

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COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
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143
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
14
“ Perfil epidemiológico de COVID-19 no
interior de Goiás

Gabriela Camargo Tobias


SES/GO

Ligia Vanessa Silva Cruz Duarte


SMS/GO

Amanda Caroline da Silva Faria


SMS/GO

Bruna Aniele Cota


SMS/GO

Cristiane Chagas Teixeira


FEN/UFG

10.37885/201102355
RESUMO

Objetivo: conhecer o perfil epidemiológico dos casos confirmados de COVID-19 em


Aparecida de Goiânia, Goiás. Método: estudo descritivo utilizando dados de notificações
de casos confirmados, desde o primeiro caso confirmado até a data de 04 de agosto
de 2020. Foram incluídos dados sobre a semana epidemiológica de início de sintomas,
região de saúde, sexo, faixa etária, raça/cor, presença de comorbidades e evolução/
recuperação. Os dados sobre COVID-19 apresentados no painel têm como fontes os
Sistemas de Vigilância de SRAG (SIVEP Gripe), e-SUS Notifica e RedCap – do Ministério
da Saúde, Laboratório de Saúde Pública da SES e laboratórios da rede particular de saú-
de. Resultados: foram confirmados 15.146 casos de COVID-19. Os mais frequentes no
sexo feminino (52,9%), raça/cor parda (41,0%) e faixas etárias de 20 a 29 anos (23,1%),
30 a 39 anos (26,1%) e 40 a 49 anos (19,9%); 1.072 (7,0%) tinham alguma comorbidade,
sendo 2,3% com diabetes, 2,8% doença cardiovasculares, 1,6% doenças respiratórias
e 0,4% imunossupressão. Conclusão: o estudo mostrou diferenças na incidência e le-
talidade por COVID-19 entre mundo, país e estados de Goiás. As atuais estratégias de
enfrentamento da doença têm demostrado resultados positivos impactando na baixa taxa
de letalidade da doença e grande número de recuperados de COVID-19.

Palavras-chave: Infecções por Coronavírus, Epidemiologia, Pandemias.

145
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
INTRODUÇÃO

Os primeiros casos de COVID-19 foram detectados na China, em dezembro de 2019


(WHO, 2020a). Em decorrência da alta disseminação dos casos mundialmente, a Organização
Mundial da Saúde (OMS) declarou Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional
(ESPII), em janeiro de 2020 (WHO, 2020a).
No Brasil, em fevereiro foi declarada Emergência em Saúde Pública de Importância
Nacional (ESPIN) (BRASIL, 2020a) e, em 20 de março de 2020 foi declarada a transmissão
comunitária da Doença pelo Coronavírus 2019 (COVID-19) em todo o território nacional
(BRASIL, 2020b).
A COVID-19 se apresenta como uma doença de grande transmissibilidade e gravidade
clínica (FREITAS; NAPIMOGA; DONALISIO, 2020) e, suas manifestações podem variar
de casos assintomáticos e manifestações clínicas leves, como um resfriado até quadros
de insuficiência respiratória, choque e disfunção de múltiplos órgãos, que indicam piora do
quadro clínico que exijam a hospitalização do paciente (BRASIL, 2020c).
A partir da identificação de um caso suspeito de COVID-19, deve ser iniciada a in-
vestigação epidemiológica, o que inclui, o levantamento de dados e a coleta de informa-
ções com o próprio caso e/ou seus familiares, que pode ser realizada inclusive por con-
tato telefônico, e deve ser realizada a notificação nos sistemas de informação em saúde
­e-SUS Notifica para casos de Síndrome Gripal (SG) ou Sistema de Informação da Vigilância
Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) para casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave
(SRAG) (BRASIL, 2020c).
Atualmente, os casos de COVID-19 podem ser confirmados por critério clínico, clínico
epidemiológico, clínico, imagem e laboratorial (BRASIL, 2020c). O atendimento adequado
dos casos suspeitos ou confirmados de COVID-19 depende do reconhecimento precoce
de sinais e sintomas da doença e monitoramento contínuo dos pacientes para evitar o
agravamento do caso.
Diante do atual cenário epidemiológico, torna-se importante e relevante conhecer o
número de casos e óbitos notificados desde o início da pandemia até a presente data, além
disso, este estudo tem por objetivo conhecer o perfil epidemiológico dos casos confirmados
de COVID-19 em Aparecida de Goiânia, Goiás.

146
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
MATERIAIS E MÉTODOS

Amostra e tipo de estudo

Estudo descritivo utilizando dados de notificações de casos confirmados e óbitos no


Mundo, Brasil e Goiás, desde o primeiro caso confirmado até a data de 04 de agosto de 2020.
Além disso, utilizou-se dados de notificações de casos confirmados de indivíduos residentes
em Aparecida de Goiânia para descrever o perfil epidemiológico dos casos confirmados
ocorridos no período de março a 04 de agosto de 2020.
Aparecida de Goiânia possui uma população de 578.179 habitantes (BRASIL, 2020d)
e, é um município localizado na região metropolitana de Goiânia, capital do estado de Goiás.

Delineamento da pesquisa

Os casos confirmados foram classificados seguindo os seguintes critérios: critério labo-


ratorial - caso suspeito de síndrome gripal (SG) ou síndrome respiratória aguda grave (SRAG)
com teste de Biologia Molecular (RT-PCR em tempo real) com resultado detectável para
SARS-CoV2; ou com Teste Imunológico (teste rápido ou sorologia clássica para detecção
de anticorpos) com resultado positivo para anticorpos IgM e/ou IgG, em amostra coletada
após o sétimo dia de início dos sintomas. Critério clínico epidemiológico - caso suspeito
de SG ou SRAG com histórico de contato próximo ou domiciliar, nos últimos 07 dias antes
do aparecimento dos sintomas, com caso confirmado laboratorialmente para COVID-19 e
para o qual não foi possível realizar a investigação laboratorial específica (BRASIL, 2020c).

Critérios de Inclusão e Exclusão

Neste estudo foram incluídos dados de casos notificados e óbitos do Mundo, Brasil,
Goiás e Aparecida de Goiânia. Os dados referentes ao Mundo foram extraídos do Painel da
Doença de Coronavírus da Organização Mundial de Saúde (OMS) (WHO, 2020b), os dados
do Brasil foram obtidos do Painel Coronavírus do Ministério da Saúde (BRASIL, 2020e) e,
os dados do Estado de Goiás e Aparecida de Goiânia foram obtidos do Painel do Estado de
Goiás (SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE GOIÁS, 2020). Todos os dados foram
extraídos no dia 04 de agosto de 2020.

Procedimentos

Para traçar o perfil epidemiológico dos casos confirmados de Aparecida de Goiânia,


foram incluídos dados sobre a semana epidemiológica de início de sintomas, região de saúde,
sexo, faixa etária, raça/cor, presença de comorbidades e evolução/recuperação. Os dados

147
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
sobre COVID-19 apresentados no painel têm como fontes os Sistemas de Vigilância de SRAG
(SIVEP Gripe), e-SUS Notifica e RedCap – do Ministério da Saúde, Laboratório de Saúde
Pública da SES e laboratórios da rede particular de saúde. Esses dados foram tabulados e
analisados usando-se o programa Microsoft Excel.
Não houve necessidade de submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa, uma vez que
se trata de um estudo que utiliza dados secundários, sem identificação dos participantes e
os dados são de domínio público, atendendo à Resolução do Conselho Nacional de Saúde
(CNS) n. 466, de 12 de dezembro de 2012 (BRASIL, 2012).

RESULTADOS

Desde os primeiros registros na China em dezembro de 2019 até o dia 04 de agosto


foram confirmados no mundo 18.318.928 casos e 695.043 óbitos de COVID-19. No Brasil, o
Ministério da Saúde confirmou no dia 26 de fevereiro o primeiro caso de COVID-19, e até o
dia 04 de agosto, foram confirmados 2.801.921 casos e 95.819 óbitos. Em Goiás, de 04 de
fevereiro, início do registro dos primeiros casos suspeitos, até 04 de agosto, foram confirma-
dos 74.966 casos de COVID-19, com 1.830 óbitos. Em Aparecida de Goiânia, desde a data
do primeiro caso confirmado em 18 de março de 2020 até 04 de agosto, foram confirmados
15.146 casos e 267 óbitos (Quadro 01).

Quadro 01. Distribuição de casos confirmados, óbitos, taxa de incidência e letalidade de COVID-19 no Mundo, Brasil,
Goiás e Aparecida de Goiânia, Goiás, 2020.
Incidência/ 100 mil
Localidade Casos Confirmados Óbitos Letalidade
hab.
Mundo 18.318.928 2347,7 695.043 3,8%
Brasil 2.801.921 1333,3 95.819 3,4%
Goiás 74966 1068,1 1.830 2,43%
Aparecida de Goiânia 15146 2.619,6 267 1,76%
Fonte: World Health Organization. Coronavirus disease (COVID-19) Pandemic; 2020 - Ministério da Saúde (BR). Coronavírus. Situação
dos casos. Painel Coronavirus; 2020 - Secretaria de Estado de Saúde de Goiás. Atualização dos casos de doença pelo coronavírus
(COVID-19) em Goiás; 2020.

Em relação à distribuição dos casos por data de início de sintomas, verificou-se que
os primeiros casos iniciaram na SE 9 e as maiores frequências de casos foram na SE 27
(2.175) na SE 30 (2.250) (Figura 1).

148
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Figura 1. Distribuição dos casos de COVID-19 por data de início de sintomas, SE 9 a SE 31, Goiás, 2020.

Fonte: Brasil. Coronavirus. Situação dos casos. Painel Coronavirus; 2020.

A Tabela 1 mostra que do total de indivíduos com COVID-19, 1.072 (7,0%) tinham algu-
ma comorbidade, sendo 2,3% com diabetes, 2,8% doença cardiovasculares, 1,6% doenças
respiratórias e 0,4% imunossupressão.

Tabela 1. Distribuição dos casos confirmados de COVID-19 segundo a presença de comorbidades, SE 9 a SE 31, Aparecida
de Goiânia, Goiás, 2020.
VARIÁVEIS N %
Diabetes
Sim 349 2,3
Não 14556 96,1
Ignorado 241 1,6
Doença Cardiovascular
Sim 430 2,8
Não 14478 95,6
Ignorado 238 1,6
Doença Respiratória 0
Sim 236 1,6
Não 14662 96,8
Ignorado 248 1,6
Imunossupressão
Sim 57 0,4
Não 14839 98,0
Ignorado 250 1,7
TOTAL 15146 100
Fonte: Brasil. Coronavirus. Situação dos casos. Painel Coronavirus; 2020.

Em relação à evolução dos casos, no período analisado a maioria (95,3%) evoluiu


para recuperação, e apenas (4,7%) ainda permanecem internados ou evoluíram para
óbito (Tabela 2).

149
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Tabela 2. Evolução dos casos de COVID-19, SE 9 a SE 31, Aparecida de Goiânia, Goiás, 2020.
RECUPERADO N %
Sim 14437 95,3
Não 709 4,7
TOTAL 15146 100
Fonte: Brasil. Coronavirus. Situação dos casos. Painel Coronavirus; 2020.

DISCUSSÃO

No período analisado, Aparecida de Goiânia confirmou 15.146 casos, com incidência


de 2.619/100.000 habitantes, 267 óbitos e taxa de letalidade de 1,76%. Quando compara-
do com os dados do Mundo (2.347,7/100.000 hab.), Brasil (1.333,3/100.000 hab.) e Goiás
(1.068,1%). É possível observar que o município em estudo apresentou uma alta taxa de
incidência. Isso pode ser explicado por Aparecida de Goiânia ser a região com o maior
número de testagem realizadas no estado (PREFEITURA DE APARECIDA DE GOIÂNIA,
2020). Apesar disso, é importante ressaltar que a taxa de letalidade foi menor em compa-
ração aos demais.
Em 16 de março de 2020, Aparecida de Goiânia declarou situação de emergência em
Saúde Pública no Município e criou o Comitê de Prevenção e Enfrentamento ao COVID-19
(DIÁRIO OFICIAL ELETRÔNICO, 2020a). O primeiro caso foi confirmado em 18 de março de
2020 no município (PREFEITURA DE APARECIDA DE GOIÂNIA, 2020), e desde então os
casos aumentaram consideravelmente, conforme observamos na distribuição dos casos por
data de início de sintomas, os maiores números de casos no município foram na SE 27 e 30.
Na análise do perfil epidemiológico dos casos confirmados de COVID-19, as maiores
frequências de casos confirmados de COVID-19 foram no sexo feminino, raça/cor parda
e faixas etárias de adultos jovens. Padrões semelhantes foram encontrados na literatura
internacional (HEYMANN; SHINDO, 2020; KANG et al., 2020; CHENG; SHAN, 2020) e na-
cional (CAVALCANTE; ABREU, 2020), o que sugere que a COVID-19 infecta um número
maior de pessoas economicamente ativas, apesar de o maior número de óbitos ser entre
os idosos (BRASIL, 2020c).
Do total de indivíduos com COVID-19, 7,0% tinham alguma comorbidade, corroboran-
do estudo nacional (CAVALCANTE; ABREU, 2020) e internacionais (HEYMANN; SHINDO,
2020; KANG et al., 2020; CHENG; SHAN, 2020). Estudos recentes relacionam o diabetes
mellitus, a hipertensão arterial sistêmica, a doença cerebrovascular e a idade como fatores
de risco mais contundentes em relação ao agravamento dos casos e, consequentemente à
internação em UTI e ao óbito (GUAN et al., 2020).

150
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
No presente estudo mais de 90% casos confirmados evoluíram para a recuperação.
Resultados semelhantes foram encontrados em estudos nacionais (FREITAS; NAPIMOGA;
DONALISIO, 2020; CAVALCANTE; ABREU, 2020; MAGALHÃES et al., 2020).
Estudos destacam que a identificação, o controle, o isolamento dos casos suspeitos, a
quarentena domiciliar e o distanciamento social dos idosos e indivíduos de grupos de risco
podem reduzir o pico da demanda de assistência médica em até dois terços e o número de
mortes pela metade contribui para a recuperação dos casos de COVID-19 (FERGUSON
et al., 2020; GOMES; BUSATO; FERNANDES DE OLIVEIRA, 2020).
Partindo do pressuposto que as medidas imediatas e comuns na gestão das emer-
gências em Saúde Pública, tem foco na gestão reativa e corretiva para reduzir os riscos
atuais. O município em estudo focou também na integração dessas ações a uma gestão
prospectiva dos riscos, orientada para a redução das vulnerabilidades, o fortalecimento das
capacidades de respostas do setor saúde e outros envolvidos (defesa civil, economia, edu-
cação, transportes, água e saneamento, meio ambiente, proteção social, agricultura, entre
outros) e, prevenção de novos riscos ou riscos futuros relacionadas as consequências da
pandemia ocasionadas na vida da população.
Entre algumas estratégias utilizadas pelo município para o enfrentamento da COVID-19,
está a instituição do regime de escalonamento para o funcionamento dos estabelecimentos
que exerçam as atividades econômicas, obedecendo critérios de Macrozonas, conforme
definido no Plano Diretor do Município (DIÁRIO OFICIAL ELETRÔNICO, 2020b). Nesse
escalonamento, foram definidos os dias da semana para não funcionamento das atividades
econômicas presentes nas Macrozonas listadas, evitando aglomeração em determinadas
localidades, conforme o Nível de risco Epidemiológico do Município baseado na Matriz de
Risco elaborada pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2020f).
As Macrozonas urbanas são regiões administrativas do território municipal que es-
tão delimitadas em virtude de suas especificidades fáticas, com características peculiares
quanto a aspectos territoriais, socioeconômicos, paisagísticos e ambientais. Diante disso,
a Secretaria Municipal de Saúde passou a publicar diariamente a matriz de risco no seu
Boletim Epidemiológico Municipal e, caso a mudança de risco permaneça estável por pelo
menos três dias, emitirá nota que será divulgada no seu site, comunicando a mudança do
risco e a necessidade dos estabelecimentos comerciais se adaptarem ao cenário. A partir do
comunicado de mudança de Cenário de Risco por parte da Secretaria Municipal de Saúde,
as atividades comerciais de Aparecida de Goiânia terão quatro dias para cumprimento do
novo escalonamento.
Essa estratégia implantada pelo município está baseada no fato de que os efeitos da
pandemia da COVID-19 não podem ser tratados de modo isolado e pontual, pois combina

151
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
crises econômicas, políticas e sanitárias, resultando em um efeito cascata, ampliando as
condições de vulnerabilidades e riscos presentes e futuros, impactando de modo muito mais
acentuado as condições de vida e saúde dos mais pobres e vulneráveis. Diante disso, os
gestores de Aparecida de Goiânia vêm construindo as condições que permitam não só uma
melhor preparação e alerta para o risco atual da doença, mas também dos processos de
reabilitação, recuperação e reconstrução das condições de vida e saúde.
Entre as limitações deste estudo estão o uso de dados secundários, disponíveis em
uma plataforma com dados automatizados dos sistemas de saúde do Ministério da Saúde,
portanto, os dados são preliminares e ainda estão em fase de tratativas por parte dos municí-
pios do estado, com evidente atraso entre notificação e conclusão dos casos, que influenciam
no número de casos. Além disso, sabemos que há um elevado número de subnotificação
que pode sugerir falsa estimativa da real dimensão do número de casos.

CONCLUSÃO

Este estudo apresentou o perfil epidemiológico dos casos confirmados de COVID-19


em Aparecida de Goiânia, Goiás. É importante ressaltar que o município de estudo, foi o que
mais realizou testagem no estado de Goiás desde o início da pandemia, o que influencia di-
retamente na taxa de incidência de casos da doença. Entretanto, foi possível concluir que as
atuais estratégias de enfrentamento da doença têm demostrado resultados positivos impac-
tando na baixa taxa de letalidade da doença e grande número de recuperados de COVID-19.
Estratégia como escalonamento do funcionamento do comércio no município tem de-
monstrado ser importante para o retorno das atividades econômicas com base no mapa de
risco para a COVID-19. Além disso, outra estratégia como busca ativa de casos na popu-
lação foi implantada recentemente com o objetivo de detectar precocemente novos casos
e controlar a doença no município. É preciso esforços com estratégias de prevenção da
doença, incrementar o rastreamento de novo casos, a fim de iniciar o tratamento em fase
inicial, melhorando o controle da evolução dos casos da doença.

152
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
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COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
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154
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
15
“ Perfil epidemiológico dos casos
confirmados de COVID-19 no estado
de Goiás

Gabriela Camargo Tobias


IPTSP/UFG

Cristiane Chagas Teixeira


FEN/UFG

10.37885/201102353
RESUMO

Objetivo: conhecer o perfil epidemiológico dos casos confirmados de COVID-19 no


estado de Goiás. Método: estudo descritivo utilizando dados de notificações de casos
confirmados e óbitos no Mundo, Brasil e Goiás, desde o primeiro caso confirmado até a
data de 04 de agosto de 2020. Utilizou-se dados de notificações de casos confirmados de
indivíduos residentes em Goiás para descrever o perfil epidemiológico no estado, ocor-
ridos no período de março a agosto de 2020. Os dados foram obtidos nos Sistemas de
Vigilância de SRAG (SIVEP Gripe), e-SUS Notifica e RedCap – do Ministério da Saúde,
Laboratório de Saúde Pública da SES (LACEN - GO) e de laboratórios da rede particular
de saúde. Os dados foram analisados utilizando o programa Microsoft Excel. Resultados:
foram confirmados 74.966 casos de COVID-19. Os casos foram mais frequentes no
sexo feminino (51%), raça/cor parda (47,6%), faixas etárias de 20 a 29 anos (20,4%),
8.101 (10,8%) tinham alguma comorbidade, sendo 3,6% com diabetes, 4,8% doenças
cardiovasculares, 1,9% doenças respiratórias e 0,5% imunossupressão. Em relação a
evolução dos casos, no período analisado a maioria (89,3%) evoluiu para recuperação,
e apenas (10,7%) ainda permaneceram internados ou evoluíram para óbito. Conclusão:
o estudo mostrou diferenças na incidência e letalidade por COVID-19 entre mundo, país
e estados de Goiás, e entre as Regiões de Saúde de Goiás, que podem refletir desi-
gualdades sociais, econômicas, culturais e estruturais. Não há uma solução única para
todo o estado para redução dos casos de COVID-19, mas as políticas públicas de saúde
devem observar as singularidades regionais.

Palavras-chave: Infecções por Coronavírus, Epidemiologia, Pandemias.

156
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
INTRODUÇÃO

A COVID-19 foi detectada em Wuhan, China, em 31 de dezembro de 2019. Em decor-


rência da elevada infectividade do SARS-CoV-2, agente etiológico da COVID-19, na ausência
de imunidade prévia na população humana, bem como, de vacina contra este vírus, houve
um rápido crescimento no número de casos e óbitos disseminado entre os continentes, e
diante disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o evento constituía uma
Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII), em 30 de janeiro de
2020 (WHO, 2020a).
No Brasil, a epidemia foi declarada Emergência em Saúde Pública de Importância
Nacional (ESPIN), em 03 de fevereiro de 2020 (BRASIL, 2020a) e, em 06 de fevereiro de
2020, foi sancionada a Lei nº 13.979 (BRASIL, 2020b) que, dispõe sobre as medidas para
enfrentamento da epidemia da COVID-19 e, elenca as intervenções não farmacológicas
(INF) comunitárias que podem ser adotadas, visando inibir a transmissão entre humanos,
atrasando o pico de ocorrência na curva epidêmica, permitindo, dessa forma, uma melhor
distribuição dos casos ao longo do tempo e o esgotamento dos serviços de saúde.
As manifestações clínicas da COVID-19 podem variar de um simples resfriado até
uma pneumonia severa, de acordo com os dados mais atuais os sinais e sintomas clínicos
são, principalmente, respiratórios, com apresentação de febre, tosse e dificuldade para res-
pirar. As complicações incluem síndrome respiratória aguda grave (SRAG), lesão cardíaca
aguda, infecção secundária e óbito (BRASIL, 2020c).
O diagnóstico pode ser clínico observando os quadros de síndrome gripal, com inves-
tigação clínico-epidemiológico e exame físico e laboratorial específico para COVID-19, com
as técnicas de detecção do genoma viral (RT-PCR), em tempo real e sequenciamento parcial
ou total. Até o momento o tratamento é inespecífico, com adoção de medidas de suporte e,
portanto, recomenda-se medidas de precauções padrões e isolamento de casos suspeitos
para controle da infecção (BRASIL, 2020c).
Diante do atual cenário epidemiológico, torna-se importante e relevante conhecer o
número de casos e óbitos notificados desde o início da pandemia até a presente data, além
disso, este estudo tem por objetivo conhecer o perfil epidemiológico dos casos confirmados
de COVID-19 no estado de Goiás.

MÉTODO

Estudo descritivo utilizando dados de notificações de casos confirma-


dos e óbitos no Mundo, Brasil e Goiás, desde o primeiro caso confirmado
(SUPERINTENDÊNCIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2020) até a data de 04 de agosto

157
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
de 2020. Além disso, utilizou-se dados de notificações de casos confirmados de indivíduos
residentes em Goiás para descrever o perfil epidemiológico no estado, ocorridos no período
de março a agosto de 2020, referente a Semana Epidemiológica (SE) 9 a 32.
O estado de Goiás está localizado na Região Centro Oeste do Brasil e é dividido
por 18 Regiões de Saúde: Centro Sul, Estrada de Ferro, Sul, Norte, Serra da Mesa, São
Patrício I, Pirineus, São Patrício II, Central, Oeste I, Oeste II, Rio Vermelho, Entorno Norte,
Entorno Sul, Nordeste I, Nordeste II, Sudoeste I e Sudoeste II.
Os casos confirmados foram classificados seguindo os seguintes critérios: critério
laboratorial: caso suspeito de SG ou SRAG com teste de Biologia Molecular (RT-PCR em
tempo real) com resultado detectável para SARS-CoV2; ou com Teste Imunológico (teste
rápido ou sorologia clássica para detecção de anticorpos) com resultado positivo para anti-
corpos IgM e/ou IgG, em amostra coletada após o sétimo dia de início dos sintomas. Critério
clínico epidemiológico: caso suspeito de SG ou SRAG com histórico de contato próximo ou
domiciliar, nos últimos 07 dias antes do aparecimento dos sintomas, com caso confirmado
laboratorialmente para COVID-19 e para o qual não foi possível realizar a investigação la-
boratorial específica (BRASIL, 2020c).
Neste estudo foram incluídos dados de casos notificados e óbitos do Mundo, Brasil e
Goiás. Os dados referentes ao mundo foram extraídos do Painel da Doença de Coronavírus
da Organização Mundial de Saúde (WHO, 2020b), os dados do Brasil foram obtidos do Painel
Coronavírus do Ministério da Saúde (BRASIL, 2020d) e os dados do Estado de Goiás foram
obtidos do Painel do Estado de Goiás (SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DE GOIÁS,
2020). Todos os dados foram extraídos no dia 04 de agosto de 2020.
Para traçar o perfil epidemiológico dos casos confirmados do Estado de Goiás, foram
incluídos dados sobre a semana epidemiológica de início de sintomas, região de saúde, sexo,
faixa etária, raça/cor, presença de comorbidades e evolução/recuperação. Os dados sobre
COVID - 19 de Goiás apresentados no painel têm como fontes os Sistemas de Vigilância de
SRAG (SIVEP Gripe), e-SUS Notifica e RedCap – do Ministério da Saúde, Laboratório de
Saúde Pública da SES (LACEN - GO) e laboratórios da rede particular de saúde. Os dados
foram tabulados e analisados utilizando o programa Microsoft Excel.
Não houve necessidade de submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), uma
vez que, se trata de um estudo que utiliza dados secundários, sem identificação dos parti-
cipantes e os dados são de domínio público. A Resolução do Conselho Nacional de Saúde
(CNS) n. 466, de 12 de dezembro de 2012, foi atendida (BRASIL, 2012).

158
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
RESULTADOS

Desde os primeiros registros na China em dezembro de 2019 até o dia 04 de agosto de


2020 foram confirmados no mundo 18.318.928 casos de COVID-19. E deste total, 695.043
casos evoluíram a óbito. No Brasil, o Ministério da Saúde confirmou no dia 26 de fevereiro
de 2020 o primeiro caso de COVID-19, e até o dia 04 de agosto de 2020 foram confirma-
dos 2.801.921 casos e 95.819 óbitos. Para o país, a taxa de incidência foi de 1333/100 mil
habitantes, enquanto que a taxa de letalidade foi de 3,4%. Em Goiás, de 04 de fevereiro
de 2020, início do registro dos primeiros casos suspeitos, até 04 de agosto de 2020, foram
confirmados 74.966 casos de COVID-19, com 1.830 óbitos (Quadro 1).

Quadro 1. Distribuição de casos confirmados, óbitos, taxa de incidência e letalidade de COVID-19 no Mundo, Brasil e
Goiás, 2020.
INCIDÊNCIA/ 100 MIL
LOCALIDADE CASOS CONFIRMADOS ÓBITOS LETALIDADE
HAB.
Mundo 18.318.928 2347,7 695.043 3,8%
Brasil 2.801.921 1333,3 95.819 3,4%
Goiás 74966 1068,1 1.830 2,43%

Entre as 18 Regiões de Saúde de Goiás, as maiores frequências foram encontradas


nas Regiões Central e Centro Sul com 29,0% e 20,5% casos, respectivamente (Tabela 1).

Tabela 1. Distribuição dos casos confirmados de COVID-19 nas Regiões de Saúde do Estado de Goiás, período de março
a julho de 2020.
Central 21725 29,0
Centro Sul 15357 20,5
Entorno Sul 8261 11,0
Entorno Norte 1849 2,5
Estrada de Ferro 2046 2,7
Nordeste I 134 0,2
Nordeste II 340 0,5
Norte 331 0,4
Oeste I 966 1,3
Oeste II 1173 1,6
Pirineus 3754 5,0
Rio Vermelho 1935 2,6
São Patrício I 1341 1,8
São Patrício II 1136 1,5
Serra da Mesa 862 1,1
Sudoeste I 9378 12,5
Sudoeste II 2129 2,8
Sul 2249 3,0
TOTAL 74966 100,0

Os casos começaram a ser identificados em Goiás na SE 9, observa-se na SE 21 um


crescimento progressivo de casos a partir da entrada em vigor do decreto que flexibilizou
as medidas de controle da doença (BRASIL, 2020e), e o pico de casos foram identificados

159
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
na SE 27 com 10.903 casos confirmados, seguida da semana epidemiológica 28 com 10.335
casos, começando a reduzir nas semanas seguintes. Importante ressaltar que apesar de
se observar um baixo número de casos na SE 32, pode ser explicada pela não liberação
dos resultados de exames laboratoriais realizados nos últimos dias ou pelo fato de casos
confirmados recentemente ainda não terem sido registrados no sistema (Figura 1).

Figura 1. Distribuição dos casos de COVID-19 por data de início de sintomas, SE 9 a SE 32, Goiás, 2020.

Em relação as características epidemiológicas dos indivíduos, as maiores frequências


foram encontradas no sexo feminino (51%), raça/cor parda (47,6%) e faixas etárias de 20 a
29 anos (20,4%), 30 a 39 anos (25,6%) e 40 a 49 anos (20,5%) (Tabela 2).
Tabela 2. Características epidemiológicas dos casos confirmados de COVID-19, SE 9 a SE 32, Goiás, 2020.

VARIÁVEIS N %

SEXO
Feminino 38250 51,0
Masculino 36716 49,0
RAÇA/COR
Branca 19698 26,3
Parda 35671 47,6
Amarela 11650 15,5
Preta 2569 3,4
Indígena 73 0,1
Ignorada 5305 7,1
FAIXA ETÁRIA
< 10 anos 1709 2,3
10 a 14 anos 1047 1,4
15 a 19 anos 2234 3,0
20 a 29 anos 15267 20,4
30 a 39 anos 19194 25,6
40 a 49 anos 15375 20,5
50 a 59 anos 10228 13,6
60 a 69 anos 5478 7,3
70 a 79 anos 2759 3,7
>= 80 anos 1675 2,2

160
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
VARIÁVEIS N %

TOTAL 74966 100,0

A Tabela 3 mostra que do total de indivíduos com COVID-19, 8.101 (10,8%) tinham
alguma comorbidade, sendo 3,6% com diabetes, 4,8% doença cardiovasculares, 1,9% doen-
ças respiratórias e 0,5% imunossupressão.

Tabela 3. Distribuição dos casos confirmados de COVID-19 segundo a presença de comorbidades, SE 9 a SE 32, Goiás, 2020.

VARIÁVEIS N %

DIABETES
Sim 2718 3,6
Não 69819 93,1
Ignorado 2429 3,2
DOENÇA CARDIOVASCULAR
Sim 3587 4,8
Não 69019 92,1
Ignorado 2360 3,1
DOENÇA RESPIRATÓRIA
Sim 1390 1,9
Não 70945 94,6
Ignorado 2631 3,5
IMUNOSSUPRESSÃO
Sim 406 0,5
Não 71900 95,9
Ignorado 2660 3,5
TOTAL 74966 100

Em relação a evolução dos casos, no período analisado a maioria (89,3%) evoluiu


para recuperação, e apenas (10,7%) ainda permanecem internados ou evoluíram para
óbito (Tabela 4).

Tabela 4. Evolução dos casos de COVID-19 no estado de Goiás, no período de março a julho de 2020.
RECUPERADO N %
Sim 66937 89,3
Não 8029 10,7
TOTAL 74966 100,0

DISCUSSÃO

O presente estudo mostrou que ao comparar a taxa de incidência de COVID-19 entre as


três localidades, Goiás apresentou a menor taxa (1068,3/100.000 hab), quando comparado
com o Mundo (2347,7/100.000 hab) e com o Brasil (1333,3/100.000 hab). A taxa de inci-
dência de COVID-19 no estado de Goiás, assemelha-se com os demais estados do Centro
Oeste do Brasil, Mato Grosso do Sul (996/100.000/hab) e Mato Grosso (1612/100.000hab)
(BRASIL, 2020d). Apesar das taxas se assemelharem é preciso considerar a heterogenei-
dade dos indicadores entre diferentes regiões com transmissão da doença, uma vez que,

161
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
esses variam de acordo com ações, rotinas, disponibilidade de suprimentos, quantidade
de testagens realizados, estrutura de serviços de saúde e de vigilância, questões culturais
e políticas (FREITAS; NAPIMOGA; DONALISIO, 2020). Além disso, importante ressaltar
que a baixa capacidade de testagem pelo RT-PCR fez com que o Ministério da Saúde re-
comendasse que apenas os casos graves fossem testados, portanto, nem todos os casos
suspeitos foram examinados.
Quanto a taxa de letalidade, a menor taxa também foi no estado de Goiás (2,4%), quan-
do comparado com o Mundo (3,8%) e Brasil (3,4%). A taxa de letalidade pela COVID-19,
estimada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) foi de 3,4% (WHO, 2020c), sendo
mais alta na China e mais baixa no resto do Mundo. Essa taxa de letalidade é semelhante
à da gripe espanhola (2 a 3%) (WHO, 2009) e, muito mais elevada do que a da influen-
za A H1N1 (0,02%) (KHANDAKER et al., 2011) ou da gripe sazonal (0,1%) (FAUCI; LANE;
REDFIELD, 2020).
No período analisado foram identificados no estado de Goiás, 74.966 casos confirmados
de COVID-19. Entre as Regiões de Saúde de Goiás, as maiores frequências foram encon-
tradas nas Regiões de Saúde Central e Centro Sul. A Região Central tem em sua jurisdição
26 municípios, sendo o principal deles Goiânia, capital de Goiás, com a maior população de,
aproximadamente, 1.412.364 habitantes. A região Centro Sul abrange população de 849.421
habitantes, distribuída em 25 municípios, sendo o maior deles Aparecida de Goiânia com
a maior população de 511.323 habitantes. O fato de serem as Regiões de Saúde com os
maiores números de municípios em sua jurisdição, justifica os maiores números de casos
testados e confirmados.
Os casos começaram a ser identificados em Goiás na SE 9, com provável pico epidêmi-
co na SE 27, com redução nas semanas seguintes. Observa-se um crescimento progressivo
de casos a partir da entrada em vigor do decreto que flexibilizou as medidas de controle da
doença (BRASIL, 2020e).
Devido à rápida emergência da epidemia de COVID-19, muitas das medidas de controle
da epidemia foram introduzidas de uma só vez, e tiveram graus variados de adesão nos
diferentes países e estados, e isso influenciou diretamente na velocidade da disseminação
dos casos, assim, é difícil avaliar a efetividade das intervenções isoladamente (AQUINO
et al., 2020), entretanto, em Goiás fica evidente que o isolamento foi muito importante para
o retardamento dos casos e não esgotamento dos serviços de saúde.
Além disso, a confirmação dos casos da COVID-19 é o principal dado para entendi-
mento da evolução da doença em uma região, com isso, é possível planejar o atendimento
da população e avaliar o impacto de ações de combate à doença, com medidas de isola-
mento (AQUINO et al., 2020). Porém, o curso rápido da pandemia e o baixo número de

162
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
testes realizados dificultam a estimativa do real número de casos confirmados, conferindo
o problema de subnotificação.
Entre os casos confirmados de COVID-19 em Goiás, as maiores frequências foram em
indivíduos do sexo feminino, raça/cor parda e faixas etárias de 20 a 49 anos. Corroborando
estudo no município do Rio de Janeiro, que mostrou que do total de casos de COVID-19,
51,4% eram do sexo feminino, e média de idade de 49 anos (CAVALCANTE; ABREU, 2020).
Entretanto, divergente dos estudos internacionais, como um estudo realizado na China mos-
trou que 50,7% dos acometidos pela COVID-19 eram do sexo masculino e idade entre 60
a 69 anos (49,3%) (ZHANG et al., 2020). Outro estudo mostrou que 58,1% dos portadores
de COVID-19 eram do sexo masculino, e a maioria (51%) tinham idade entre 15 a 49 anos,
com mediana de 47 anos (GUAN et al., 2020). E um terceiro estudo mostrou que dos casos
confirmados de COVID-19, 67% eram do sexo masculino e 58% tinham idade entre 50 a 59
anos (YANG et al., 2020).
No presente estudo, 10,8% dos indivíduos confirmados tinham alguma comorbida-
de: diabetes (3,6%), doença cardiovasculares (4,8%), doenças respiratórias (1,9%) e imu-
nossupressão (0,8%). Corroborando estudo realizado com dados de 1.099 pacientes com
COVID-19 na China, que do total de pacientes, 173 (15,7%) tinham alguma comorbidade,
como hipertensão (23,7%), diabetes mellitus (16,2%), doenças coronárias (5,8%) e doença
cerebrovascular (2,3%) (GUAN et al., 2020).
Em outro estudo com 140 pacientes internados com COVID-19 em um hospital da
China, 30% apresentavam hipertensão e 12% tinham diabetes (ZHANG et al., 2020).
Um terceiro estudo realizado com 52 pacientes críticos com pneumonia por SARS-
CoV-2 admitidos em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) mostrou que 21 (40%) apresentou
alguma comorbidade, entre elas: doença cardíaca (10%), doença pulmonar (8%), 13,5%
doenças cerebrovasculares (13,5%) e diabetes (17%) (YANG. et al., 2020).
No presente estudo, a maioria dos casos confirmados (89,3%) evoluíram para re-
cuperação, e 10,7% ainda permanecem internados ou evoluíram para óbito. Estudo rea-
lizado na China mostrou que do total de confirmados de COVID-19, 23,1% foram a óbito
(YANG et al., 2020).
Em outro estudo da China, 5% receberam alta hospitalar, 1,4% morreram, 0,8% cura-
ram, e 93,6% ainda permaneciam internados durante o estudo (GUAN et al., 2020).
Embora já seja consenso de que 80% dos casos de COVID-19 apresentarão infecções
respiratórias e pneumonias mais leves, as formas graves acometem pessoas mais idosas e
portadoras de doenças crônicas subjacentes (EUROSURVEILLANCE EDITORIAL TEAM,
2020) que, irão requerer hospitalização, cuidados intensivos e uso de ventiladores mecânicos
e, consequentemente, estarão mais propensos a evoluírem ao óbito.

163
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Entre as limitações deste estudo estão o uso de dados secundários, disponíveis em uma
plataforma com dados automatizados do Sistema de Saúde do Ministério da Saúde, portanto,
os dados são preliminares e ainda estão em fase de tratativas por parte dos municípios do
estado, com evidente atraso entre notificação e conclusão dos casos, que influenciam no
número de casos. Além disso, sabemos que há um elevado número de subnotificação que
pode sugerir falsa estimativa da real dimensão do número de casos.

CONCLUSÃO

O presente estudo mostrou diferenças na incidência e letalidade por COVID-19 entre


Mundo, país e estados de Goiás, e entre as Regiões de Saúde de Goiás, que podem refle-
tir desigualdades sociais, econômicas, culturais e estruturais. Nesse sentido, não há uma
solução única para todo o estado para redução dos casos de COVID-19, mas as políticas
públicas de saúde devem observar as singularidades regionais.
É importante fortalecer o sistema de vigilância, incluindo: o desenvolvimento de in-
dicadores para avaliar a evolução da epidemia e a divulgação sistemática dos dados de
notificação; a ampliação da capacidade de testagem para identificar indivíduos infectados
com formas assintomáticas, pré-sintomáticas e sintomáticas, hospitalizações e óbitos em
decorrência da COVID-19; a definição precisa dos casos suspeitos e confirmados, baseada
em critérios clínicos e laboratoriais; a avaliação permanente da implementação, efetividade
e impacto das estratégias de controle.
Diante disso, será possível compreender se o estado de Goiás particularmente, atingiu
o pico da doença e para subsidiar a tomada de decisões quanto à manutenção de medidas
de distanciamento social e o momento oportuno para flexibilizá-las.

REFERÊNCIAS
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COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
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COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
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166
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
16
“ Procedimentos de biossegurança
para as realizações dos atendimentos
odontológicos no período pandêmico do
COVID-19

Larissa Pinheiro de Araújo Débora Frota Colares


UNINASSAU UNIFOR

Iany Rodrigues de Souza Thalita Yasmin Assis de Oliveira Guedes


UNINASSAU UNP

Jabes Gennedyr da Cruz Lima Juliana Campos Pinheiro


UFRN UNIT

Luiz Gustavo Xavier Glória Maria de França


UFRN UFRN

Cristiane Kalinne Santos Medeiros Rafaella Bastos Leite


UFRN UNINASSAU

10.37885/210203052
RESUMO

É inegável a importância da biossegurança, principalmente na contemporaneidade devido


a pandemia que isolou o país. A biossegurança engloba medidas e condutas de segu-
rança que visa prevenir acidentes e contaminações em ambientes risco. Dessa forma, o
presente estudo tem como objetivo descrever os procedimentos de biossegurança para as
realizações dos atendimentos odontológicos no período pandêmico do Covid-19. Trata-se
de uma revisão integrativa da literatura, realizada por meio de uma busca eletrônica de
publicações na base de dados Scielo, Periódico Capes e PubMed. A literatura abordada
recomenda evitar aglomerações, a distribuição de máscaras descartáveis e álcool 70, e
a aferição de temperatura corpórea. E para os profissionais, o uso de óculos de proteção,
respirador (N95 ou FFP2) e protetor facial para diminuir a probabilidade de contamina-
ção no procedimento odontológico. Conclui-se que os EPIs como óculos de proteção,
respirador (N95 ou FFP2) e protetor facial, pijama cirúrgico e avental descartável são
essenciais. Além de medidas de segurança, como aferição da temperatura, disponibili-
dade de álcool em gel, água e sabão, e distanciamento das cadeiras na sala de espera.

Palavras-chave: Contenção de Riscos Biológicos, Consultórios Odontológicos, Infecções


por Coronavirus.

168
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
INTRODUÇÃO

O vírus da Covid-19 (Novo Coronavírus fez com que diferentes países se preparas-
sem para enfrentar a proliferação da doença em seus territórios. Sua rápida propagação
gerou muitos impactos para todos os setores sociais, principalmente no âmbito da odonto-
logia. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma das principais vias de
transmissão direta do vírus é a saliva, o contato, e, até mesmo, o ar. Esse fato colocou a
carreira dos profissionais da odontologia entre uma das áreas mais vulneráveis ao
​​ contágio
(VICENTE et al., 2020). Desta forma, o atendimento durante a pandemia passou a repre-
sentar um alto risco de contágio pelo covid-19, uma vez que o cirurgião-dentista e equipe
auxiliar estão expostos continuamente ao contato direto com pacientes, a saliva, e a alta
geração de aerossóis. O que levou à formulação de diretrizes específicas para o atendimento
odontológico por diversos países (SILVA et al., 2020).
Em março de 2020, o Conselho Federal de Odontologia divulgou recomendações
para o atendimento odontológico em enfrentamento ao Covid-19. Essas recomendações se
baseiam a quatro agentes essenciais: cuidados a serem adotados na clínica, pelo dentista,
equipe auxiliar e pacientes. A Odontologia, especificamente, engloba questões éticas na
relação de segurança entre proteção do paciente e da equipe odontológica, contribuindo
para a qualidade dos procedimentos (CARRARO et al., 2012).
No entanto, com o surgimento do coronavírus, esses cuidados tiveram que ser inten-
sificados. A biossegurança passou a ser ainda mais importante na odontologia, em prol de
evitar a transmissão de microrganismos (VICENTE et al., 2020). Portanto, o objetivo do
presente estudo foi descrever os procedimentos de biossegurança para as realizações dos
atendimentos odontológicos no período pandêmico do Covid-19.

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, onde foram utilizadas as seguintes


palavras-chave: “Containment of Biohazards”; “Dental Offices”; e “Coronavirus Infections”
com o operador booleano “AND”. Para a seleção dos materiais, o recorde temporal consi-
derou o período pandêmico de março de 2020 a outubro do mesmo ano, e os critérios de
inclusão foram artigos publicados na língua portuguesa e inglesa que contemplaram aspectos
relacionados a biossegurança utilizada na odontologia em tempos de pandemia. Os crité-
rios de exclusão foram trabalhos de conclusão de curso, dissertações, teses, resumos e
livros. Os dados coletados foram analisados seguindo as seguintes etapas: leitura do tema,
leitura do resumo e leitura do material na íntegra. Foram encontrados inicialmente, 15 artigos
e selecionados ao final da analise 11 conforme demonstra a figura 1.

169
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Figura 1. Fluxograma dos artigos incluídos no presente estudo.

Fonte: Autores.

A análise dos dados foi feita de forma analítica-reflexiva, com o intuito de alcançar
teorias relevantes para subsidiar as discussões pertinentes ao objetivo da presente pesqui-
sa: descrever os procedimentos de biossegurança para as realizações dos atendimentos
odontológicos no período pandêmico do Covid-19.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A tabela 2 descreve os artigos incluídos nesta pesquisa, considerando o tema, auto-


res, ano de publicação, periódico, objetivos e resultados alcançados. Dentre os resultados
podemos observar que apenas 3 artigos foram encontrados em inglês, se predominando a
versão em português.

Tabela 2. Descrição dos artigos.

Autor Título Periódicos Objetivo Resultados

Concluiu que as práticas biosseguras,


Orientar o cirurgião-dentista para ação aferição de temperatura corpórea e
SANTOS; BARBO- Covid-19 and Dentistry in cur- clínica de urgência e emergência, medi- adequação aos testes para Covid-19 po-
Rev Ciências da saúde.
SA, 2020 rent practice das preventivas e recomendadas, a fim dem ser práticas inseridas, no contexto
de reduzir o risco de infecção. odontológico, para ajudar no combate a
pandemia.

170
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Autor Título Periódicos Objetivo Resultados

Mostrou que o equipamento individual


de biossegurança odontológica é eficien-
Individual biosafety barrier
Comparar a dispersão da alta rotação (AR) te em reduzir a dispersão da turbina de
MONTALLI et al., in dentistry: an alternative in
Rev. Gaúch. Odontol sem ou associada a uma barreira individu- alta rotação, o que sugere que o seu uso
2020 times of covid-19. Preliminary
al de biossegurança odontológica pode ser uma alternativa para a melhoria
study
da biossegurança em ambiente odonto-
lógico.
Conclui que a Covid-19 será um marco
para as atuais gerações de profissionais
Impactos da pandemia cau-
MEDEIROS et al., Realizar uma revisão de literatura sobre da saúde, podendo ser um avanço para
sada pela covid-19 na Odon- Rev. Gaúch. Odontol.
2020 os impactos da Covid-19 na Odontologia. utilização de tecnologias a distância e in-
tologia.
tegralização de novas técnicas de bios-
segurança.
Fazer uma análise sobre o impacto da
prática odontológica diante dessa nova
Concluiu que é de extrema urgência o ci-
Os desafios da prática odon- realidade, tendo em vista que a saliva tem
rurgião-dentista seguir um protocolo rígi-
NUNES et al., 2020 tológica em tempos de pan- Revista interface. um papel importante na transmissão da
do de biossegurança, evitando o uso de
demia. doença e o exercício da profissão pode
equipamentos que produzam aerossóis.
representar um maior risco de contami-
nação.
Analisar os protocolos odontológicos
Protocolos de atendimento Reforça a necessidade de atualização
disponibilizados nos países do Mercado
odontológico durante a pan- constante dos protocolos, com base nas
Comum do Sul (Mercosul) – Brasil, Argen-
SILVA et al., 2020. demia de Covid-19 nos países Revista Vigil. sanit. debate evidências científica mais recentes, a fim
tina, Uruguai e Paraguai –, apontando as
do MERCOSUL: similaridades e de reduzir os riscos de transmissão do
principais semelhanças e discrepâncias
discrepâncias vírus.
entre eles.
Conclui ser importante que a ordem e o
cuidado na colocação e na retirada dos
Biossegurança e retorno das Realizar uma revisão de literatura acerca
EPIs para que não haja contaminação e
MACHADO et al., atividades em odontologia: da biossegurança para auxiliar no retorno
Revista Stomatos que os procedimentos que geram muito
2020 aspectos relevantes para en- das atividades em Odontologia frente à
aerossóis sejam substituídos, quando
frentamento de covid-19. pandemia
possível, por procedimentos que gerem
menos gotículas.
Sistematizar a produção bibliográfica
Odontologia em Tempos de sobre as recomendações, práticas e cui-
Covid-19: Revisão Integrativa dados adotados no atendimento odon-
Concluiu que durante o período de sur-
e Proposta de Protocolo para tológico em tempos de Covid-19, assim
Revista Brasileira de to epidêmico os atendimentos devem
MAIA et al., 2020 Atendimento nas Unidades de como, propor um protocolo de atendi-
Odontologia restringir-se às urgências e emergências
Saúde Bucal da Polícia Militar mento odontológico nas unidades de
odontológicas
do Estado do Rio de Janeiro – saúde bucal da Polícia Militar do Estado
PMERJ do Rio de Janeiro a partir das evidências
encontradas na Literatura.
Evidencia que a adoção prática das me-
didas citadas nesse estudo é importante
Descrever as recomendações necessárias
Recomendações de práticas para que os procedimentos odontoló-
Rev. Research, Society and no atendimento de pacientes em clínicas
PINTO et al., 2020 odontológicas diante à pande- gicos em período do surto epidêmico
Development odontológicas em meio à pandemia de
mia de Covid-19 se restrinjam a urgência/emergência e
Covid-19
sejam realizados com o menor risco de
contaminação possível.
Fornecer orientações sobre os cuidados Mostrou a importância de enfoque inicial
Biossegurança no atendimento
com a biossegurança necessários para o em procedimentos com mínima interven-
RIATTO et al., odontológico em clínicaescola Revista Diálogos em Saú-
atendimento dos pacientes nas clínicases- ção, e valorizar as condutas de biosse-
2020 em tempos de pós-pandemia de
cola, desde a sua entrada na recepção até gurança em todos os ambientes clínicos
por Covid-19
a sua dispensa - críticos, semicríticos e não críticos.
Concluiu ser essencial seguir recomenda-
Coronavirus disease 19 (Co- Fornecer uma breve visão geral da epide- ções específicas para a prática odontoló-
ATHER et al., 2020 vid-19): Implications for clinical Journal of Endodontics miologia, sintomas e vias de transmissão gica na triagem de pacientes, estratégias
dental care. desta nova infecção. de controle de infecção e protocolo de
gerenciamento de pacientes.
Impacto econômico das novas
Avaliar o impacto econômico de novas Avaliar o impacto econômico de novas
recomendações de biossegu- Pesquisa Brasileira em
CAVALCANTI et al., recomendações de biossegurança para recomendações de biossegurança para
rança para a prática clínica Odontopediatria e Clínica
2020 assistência à saúde bucal durante a Co- assistência à saúde bucal durante a Co-
odontológica durante a pan- Integrada
vid-19 vid-19
demia da Covid-19

171
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Os estudos abordam os EPIs na pandemia, bem como os procedimentos necessários
para o atendimento no período pandêmico, recomendações, práticas e cuidados adotados no
atendimento odontológico e na triagem de pacientes, evidenciando que o uso de elementos
de biossegurança é peça chave para reduzir o risco de contágio.
No âmbito dos cuidados organizacionais da clínica de odontologia, segundo NUNES
et al. (2020) e PINTO et al. (2020), as salas de espera que concentram um fluxo elevado de
pessoas necessitam ser adaptadas a fim de evitar aglomerações. As cadeiras devem ser
distribuídas estrategicamente a dois metros de distância entre os indivíduos para manter
a distância apropriada e evitar o contágio. Além disso, SANTOS e BARBOSA (2020) reco-
mendam que o ambiente detenha boa ventilação, a distribuição de máscaras descartáveis
e medidas adicionais que objetivem a diminuição no uso de itens compartilhados. Ademais,
devem ser disponibilizados pia e sabão para higienização das mãos e do rosto, e, associado
a isso, a fricção com álcool 70% durante 20 segundos.
A pré-triagem no tempo de Covid-19 realizada por telefone ou internet, se tornou essen-
cial ao cirurgião dentista, para captar indícios de pacientes acometidos pelo vírus. No entanto,
como expõem SANTOS e BARBOSA (2020) e MONTALLI et al. (2020), é preciso descartar
que existem pacientes assintomáticos e a realização de apenas um procedimento neste
paciente pode gerar aerossóis e deixar toda a área contaminada.
Por isso, SANTOS e BARBOSA (2020), defende que a aferição de temperatura corpó-
rea e adequação aos testes para Covid-19 são práticas inseridas no contexto odontológico
que podem contribuir no combate ao vírus. Para MEDEIROS et al. (2020) e RIATTO et al.
(2020), caso o paciente esteja com temperatura superior a 37,3ºC, recomenda-se que a
consulta seja remarcada e o paciente encaminhado a uma instituição de saúde para acom-
panhamento médico.
Medidas como o uso frequente de desinfetante para as mãos, aumento da rotina de
limpeza de superfícies, higienização previamente da boca do paciente mediante escovação
e/ou bochecho com antisséptico, são técnicas citadas como eficazes na redução da carga
viral (MEDEIROS et al., 2020, CAVALCANTI et al., 2020).
A literatura também reforça o uso dos EPIs, como óculos de proteção, respirador (N95
ou FFP2), protetor facial, pijama cirúrgico e avental descartável (Medeiros et al., 2020).
Como expõem SILVA et al. (2020), MACHADO et al. (2020), ATHER et al. (2020) e
MAIA et al. (2020), máscaras cirúrgicas não podem ser utilizadas se a intervenção envolver
geração de aerossóis, devendo ser substituídas por máscaras respiratórias ou autofiltran-
tes. As máscaras respiratórias (como N95) são indispensáveis durante o atendimento de
pacientes com infecções respiratórias transmitidas por partículas transportadas pelo ar, como
o caso do Covid-19. Além disso, segundo estudos realizados por MONTALLI et al. (2020),

172
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
SILVA et al. (2020) e ATHER et al. (2020), uma grande concentração de gotículas pode
ser encontrada na face distal da manga do jaleco, o que reforça a necessidade de jalecos
impermeáveis ​​de mangas compridas (polipropileno a 40 g / cm2).

CONCLUSÃO

O novo coronavírus trouxe muitas mudanças no campo dos profissionais de saúde,


o que inclui a Odontologia. A biossegurança se transformou visualmente em medidas que
salvam vidas, além disso, voltou a atenção para a proteção da equipe de trabalho e demais
pacientes, não apenas do dentista. A literatura abordada recomenda evitar aglomerações,
a distribuição de máscaras descartáveis e álcool 70, e a aferição de temperatura corpó-
rea. E para os profissionais, o uso de óculos de proteção, respirador (N95 ou FFP2) e pro-
tetor facial para diminuir a probabilidade de contaminação no procedimento odontológico.

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173
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
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174
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
17
“ Produção do cuidado em saúde mental e
a COVID-19 na Chapada Vale do Itaim-PI

Francisca Maria Carvalho Cardoso


UFPI

Edna Maria Goulart Joazeiro


UFPI

10.37885/210203328
RESUMO

O estudo analisa a produção do cuidado no campo da Saúde Mental, no contexto da pan-


demia do coronavírus, em dois municípios do Território de Desenvolvimento da Chapada
Vale do Itaim no Estado do Piauí. O estudo utiliza como fontes primárias as entrevistas
e grupos focais, com os profissionais da Rede de Atenção Psicossocial, apontando os
desafios na produção do cuidado no trabalho em Saúde Mental no contexto da pandemia
e fontes secundárias públicas de informação dos dados obtidos pelo IBGE, SESAPI,
CEPRO, com o objetivo de compreender a produção do cuidado dos profissionais da
RAPS em tempo de pandemia. O recorte territorial deu-se mediado pela intenção de
compreender como se materializa essa Atenção Especializada em municípios situados
em uma região distante da capital, porte populacional semelhante, mas com configuração
de Rede distintas entre si.

Palavras-chave: Pandemia, Saúde Pública, Trabalho.

176
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
INTRODUÇÃO

O estudo propõe-se analisar a produção do cuidado na Saúde, com ênfase no campo


da Saúde Mental, em contexto da pandemia da COVID-19, em municípios da Região do
Território de Desenvolvimento da Chapada Vale do Itaim-PI. O trabalho nos desafia a tentar
contribuir com uma análise criteriosa sobre e nessa realidade, visando fortalecer a perspectiva
analítica de quem vive, constrói e sofre, mas enfrenta diuturnamente os obstáculos buscando
fortalecer o SUS, a Política Pública de Saúde, e a Saúde Mental, nessa e em outras regiões
que compartilham características semelhantes e desafios sempre renovados.
Diante de um contexto, marcado por dificuldades dessa magnitude, intentamos colo-
car no centro da prática de conhecimento a perspectiva analítica de quem trabalha nesses
espaços de produção de cuidado à pessoa com transtorno mental, num país fortemente
marcado pela desigualdade social e com gradual redução da proteção social, diante do
avanço do capital financeiro e do neoliberalismo, sob a égide da financeirização da economia
(CHESNAIS, 2005), com redução da proteção e dos direitos sociais.
Esses marcos societais presentes na realidade de diferentes povos e nações na atua-
lidade estão em confronto com o argumento que tem sido defendido no Plano de Ação para
a Saúde Mental 2013 a 20201 da OMS, que se ancora no “princípio universalmente aceito
de que não há “saúde, sem saúde mental’” (2013, p. 7). Esse plano define quatro objetivos
principais a serem alcançados nos diferentes Estados Membros (2013), são eles: alcançar
liderança e governança mais eficazes no campo da saúde mental; fornecer serviços abran-
gentes, integrados e responsivos de saúde mental e de proteção social às necessidades em
um ambiente comunitário; implementar estratégias de promoção e prevenção; e fortalecer
sistemas de informação, reunindo mais dados factuais e desenvolver pesquisas
A produção de cuidado aqui analisada se materializa no âmbito do Sistema Único de
Saúde, cujo objetivo é reduzir o risco de doenças e de outros agravos, ao mesmo tempo
que visa assegurar o acesso universal igualitário às ações e serviços de saúde para sua
promoção, proteção e recuperação.
No Brasil, as Redes de Atenção à Saúde (RAS) tem como objetivo “promover a integra-
ção sistêmica, de ações e serviços de saúde com provisão de atenção contínua, integral, de
qualidade, responsável e humanizada” (BRASIL, 2010). Visa ainda, superar a fragmentação
da atenção e da gestão do SUS, aperfeiçoando o seu funcionamento político-institucional,
assegurando ao usuário o conjunto de ações e serviços de modo a respeitar a diversidade
dos contextos regionais, diferenças socioeconômicas e necessidades de saúde da popula-
ção (BRASIL, 2010).

1 OMS/ WHO. Plan d’action global pour la santé mentale 2013-2020. 2013. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/hand-
le/10665/89969/9789242506020_fre.pdf;jsessionid=C88B4FC42F2EDD01129FB077CA43152D?sequence=1.

177
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
As cinco Redes Temáticas de Atenção à Saúde foram estabelecidas no Brasil, após
a pactuação tripartite, em 2011, se destacam por serem pontos prioritários na Saúde do
país, são elas: a Rede Cegonha, que tem um recorte de atenção à gestante e à criança até
24 meses; a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS); a Rede de Atenção às pessoas com
Doenças Crônicas; a Rede de Cuidado à Pessoa com Deficiência e a Rede de Urgência e
Emergência (RUE). Todas as redes têm caráter transversal nos temas: qualificação e edu-
cação; informação; regulação; e promoção e vigilância à saúde (BRASIL, 2011).
Enfatizaremos em nossa análise, os desafios postos à RAPS, rede que se ancora nos
princípios de autonomia, do respeito aos direitos humanos e no exercício da cidadania; busca
promover a equidade, garantir o acesso a cuidados integrais com qualidade; desenvolver
ações com ênfase em serviços de base territorial e comunitária; organizar os serviços em rede
com o estabelecimento de ações intersetoriais; desenvolver ações de Educação Permanente;
ancorar-se no paradigma do cuidado e da Atenção Psicossocial; além de monitorar, avaliar a
efetividade dos serviços e reconhecer os Determinantes Sociais em Saúde (BRASIL, 2011).
Dentre os serviços da RAPS, destacaremos os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS),
“que oferecem atendimento às pessoas em sofrimento mental, articulado com vários serviços
por meio da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), instituída pela Portaria nº 3.088, de 23
de dezembro de 2011” (CRUZ et al, 2020, p. 98).
Nesse sentido, pensar a multiplicidade de dimensões que envolvem a produção do
cuidado na Saúde Mental, requer a compreensão do papel das políticas sociais e de sua
relação com a questão social presente na vida desse segmento de população. Entende-se
por questão social o conjunto multifacetado “das expressões das desigualdades sociais en-
gendradas na sociedade capitalista madura, impensáveis sem a intermediação do Estado”
(IAMAMOTO, 2001, p. 16). As políticas sociais são atravessadas por conflitos uma vez que
constitui “um processo internamente contraditório, que simultaneamente, atende interesses
opostos” (BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p. 24). As políticas sociais são respostas e formas
de enfrentamento, quase sempre setorializadas e fragmentadas, às expressões da questão
social no capitalismo (op. cit., p. 53).
A política social é um conceito complexo, que não condiz com a “ideia pragmática de
mera provisão, ato governamental, receita técnica ou decisões tomadas pelo Estado e aloca-
das verticalmente na sociedade para além de um conceito” (PEREIRA, 2014, p. 24). Pereira
(2011, p. 99) assinala que não há como “assegurar direitos sociais sem a garantia do Estado,
materializada pela oferta e pela regulação dos serviços e benefícios de proteção social”.
É nesse contexto que mediante criteriosa análise definimos como objetivo deste estu-
do a produção do cuidado quanto aos riscos dos agravos à saúde por conta da pandemia
2

da COVID-19, no trabalho dos profissionais no campo da Saúde Mental nos municípios de

2 O projeto de pesquisa de Doutorado, ora em andamento, foi submetido à apreciação e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
da Universidade Federal do Piauí (CEP - UFPI) com CAAE de cadastramento n° 39432620.0.0000.5214, com parecer favorável re-
cebido em 23.11.2020.

178
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Jaicós e Paulistana, localizados na Chapada Vale do Itaim. Não estamos discutindo o con-
junto de municípios do Território. Escolhemos os dois municípios citados com a intenção de
compreender como se materializa a Atenção Especializada em municípios que se organizam
de forma diferenciada, tendo em vista que apresentam configuração de Rede distintas e
porte populacional semelhante.
Utilizamos como recurso analítico a fonte primária de informação: entrevistas e grupos
focais com os profissionais da Rede de Atenção Psicossocial nos municípios citados, entre
os meses de novembro de 2020 a fevereiro de 2021 e como fonte secundária documentos
oficiais públicos. Neste texto trabalhamos na análise apenas com as entrevistas realizadas
com os profissionais da RAPS pensando na dimensão singular de cada profissional com o
trabalho. Cabe destacar que em virtude da situação de pandemia que preconiza isolamento
social como forma de proteção à saúde e vida, utilizamos tecnologia remota na realização
das abordagens individuais e grupais.
O material das entrevistas segue a orientação: identificou-se os profissionais da
Enfermagem que trabalham na Rede de Atenção Psicossocial, seguido do município onde
trabalha, por: profissional da Enf. 01 Município Paulistana, profissional da Enf. 02 Município
Paulistana, e assim sucessivamente com os demais profissionais: profissional da Educação
Física, por: profissional da EF. 01 Município Paulistana, profissional da Fis. 01 Município
de Paulistana, profissional da Fis. 01 Município de Jaicós. Para preservar a identidade dos
profissionais utilizamos este critério supracitado e a numeração se deu com base na ordem
de aceite de participação dos profissionais na pesquisa.
O texto segue dividido em sessões, na primeira sessão trataremos sobre: A pandemia
do Coronavírus e a Saúde Mental, na sessão seguinte: Desafios para a produção de cuidado
no trabalho em Saúde Mental no contexto da pandemia, teremos como base os depoimentos
dos trabalhadores da Rede de Atenção Psicossocial em Jaicós e Paulistana.

A PANDEMIA DO CORONAVÍRUS E A SAÚDE MENTAL

Na realidade brasileira, diante do agravamento do quadro sanitário decorrente da


COVID-19, urge buscar conter esse crescimento e para tanto será indispensável construir
convergência “de forma plena e articulada, com a participação indissociável dos municípios,
dos estados e da União” (OLIVEIRA, W. et al., 2020, p. 5). Nesta perspectiva, é importante
“continuar com a resistência, com ações locais, profissionais, institucionais e políticas para
defender o SUS” (CAMPOS, 2020, p. 4).
Moreira (2020) assinala que vários dispositivos sanitários foram sendo requisitados
pela Organização Mundial de Saúde, sendo que no dia 11 de março de 2020 foi declarada
a pandemia do coronavírus. Nesse período, países, estados, cidades passaram a decretar

179
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
estado de calamidade pública, sendo que rapidamente casos foram sendo confirmados e,
infelizmente, também os óbitos foram aumentando.
A pandemia evidencia também “o acesso reduzido à assistência à saúde e o aumento
da desigualdade social” (ARAUJO; OLIVEIRA; FREITAS, 2020, p. 5). Assinalam Campos
(2020) e Barreto (2020) que a pandemia evidenciou a desigualdade social já existente no
país. Campos (2020), assinala que a pandemia revelou a “desigualdade crônica do nosso
país” (p. 4). Vimos que as vítimas da COVID-19 são pessoas com maior vulnerabilidade
social, pessoas que vivem nas “periferias e subúrbios, pessoas em privação de liberdade e
asilamento, pessoas dependentes do transporte púbico, trabalhadores que lidam com outras
pessoas – comerciários, autônomos, profissionais de saúde” (op. cit, p. 4).
Barreto (2020), afirma que as medidas preventivas recomendadas pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) trazem à tona as desigualdades de acesso às políticas sociais,
maximizam desigualdades sociais existentes no Brasil. A pandemia “se depara com a popu-
lação brasileira em situação vulnerável, com altas taxas de desemprego e cortes profundos
nas políticas sociais” (WERNECK; CARVALHO, 2020, p. 3).
Guimarães (2020) assinala que os fatores sociodemográficos têm sido outro ponto a
destacar neste contexto de pandemia, pois estão associados com os maiores números de
infecção e consequentemente de óbitos relacionados à COVID-19, apontando os índices
maiores de infecção para populações que habitam em espaços menos favorecidos, princi-
palmente devido às dificuldades em manter os hábitos de higiene, ao convívio em espaço
pequeno dividido com inúmeras pessoas ao mesmo tempo e que tiveram convívio com outras
pessoas ao longo do dia, seja por necessidade de trabalhar fora de casa, seja por trabalhar
com outras pessoas e inclusive enfocando no deslocamento ao trabalho, muitas vezes em
transportes públicos e com grandes aglomerações.
A vulnerabilidade socioeconômica atinge de forma diferenciada “grupos em detrimento
de outros, considerando um país de dimensões continentais como o Brasil, com enorme
diversidade sociocultural e desigualdades intrínsecas” (GUIMARÃES, 2020, p. 132). Koga
(2011) tem assinalado que em contextos de fortes desigualdades sociais, onde está presente
a tendência “à focalização cada vez mais presentes nas propostas de políticas sociais, o
território representa uma forma de fazer valer as diferenças sociais, culturais que também
deveriam ser consideradas nos desenhos das políticas públicas locais” (KOGA, 2011, p. 56).

DESAFIOS PARA A PRODUÇÃO DE CUIDADO NO TRABALHO EM SAÚDE


MENTAL NO CONTEXTO DA PANDEMIA

O estudo utilizou a abordagem qualitativa com vistas a compreender a produção do cui-


dado no campo da Saúde Mental no espaço social de municípios de Pequeno Porte I. Segundo

180
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
a Política Nacional de Assistência Social (PNAS, 2004), é considerada cidade de Pequeno
Porte I aquelas que apresentam menos de 20.000 habitantes, com perfil populacional se-
melhante, contudo, possuem diferentes configurações de Rede de Atenção Psicossocial.
A abordagem qualitativa é “empregada para a compreensão de fenômenos específi-
cos e delimitáveis mais pelo seu grau de complexidade interna do que pela sua expressão
quantitativa” (MINAYO; SANCHES, 1993, p. 245).
Intentamos “conhecer o fazer micropolítico, aquele que se constitui nos encontros
intensivos entre distintos tipos de sujeitos das ações, naqueles cenários de práticas [...],
com a perspectiva de poder olhar [...] e abrir novos tipos de conhecimentos sobre a relação,
acesso e cuidado em saúde” (MERHY et al., 2016, p. 11), considerando suas dimen­sões
tecnológicas em conformidade com a denominação empregada pelo autor, como tecnologias
duras, leve-duras e leves (MERHY, 2002).
Merhy et al. afirmam que, quando realiza estudos, que visam cons­truir conhecimento
sobre os processos de produção do cuidado, ele tem optado por realiza-los “de modo com-
partilhado, com os protagonistas dos processos de cuidado no campo da saúde” (2016, p.
42). O autor conceitua a “produção do cuidado em saúde como um acontecimento micro-
político, na constru­ção efetiva das redes vivas de existências” (op. cit, p. 41). Feuerwerker
(2014) destaca que no campo da saúde,

[...] o objeto é a produção do cuidado, por meio da qual se espera atingir a


cura e a saúde, que são, de fato, os objetivos esperados. Entretanto, a vida real
dos serviços de saúde tem mostrado que, conforme os modelos de atenção
adotados, nem sempre a produção do cuidado está efetivamente comprometida
com a cura e a promoção (FEUERWERKER, 2014, p. 42, destaques nossos).

Merhy et al. assinalam que há um campo de disputa que posiciona as muitas éticas
que atravessam essa produção do cuidado, segundo ele, que se materializam no ato do seu
acontecer (2016, p. 41). Os autores se referem às seguintes dimensões: 1) a ética centrada
na lógica das profissões, 2) a da lógica burocrática organizacional, 3) a da ética marcada
pelo campo do mercado da saúde e, por último, 4) a da ética da produção da vida em si,
com a qual os ‘usuários marcam a fabricação do cuidado em saúde com o seu território”
(op. cit., p. 42).
O estudo apresenta alguns dos desafios na produção de cuidado dos profissionais de
saúde mental de dois municípios do Estado do Piauí, situado na Região Nordeste do Brasil,
na zona considerada meio norte do País. Kerr et al. (2020), assinalam que quanto aos casos
confirmados para COVID-29, até outubro de 2020 (data da publicação do artigo citado), que
“o Nordeste, uma das regiões mais pobres do país, representa 27% da população brasilei-
ra e apresenta cerca de um terço de todos os casos (34%) e dos óbitos (32%)” (p. 4100).

181
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Atualmente até dia 09 de fevereiro de 2021, no Estado do Piauí constam 163.087 casos
confirmados de COVID-19 (SESAPI, 2021).
O Estado do Piauí é composto por 224 municípios, distribuídos em uma área de
251.529,186 km2. Está dividido em quatro Macrorregiões: a Litoral, Meio-Norte, Semiárido e
Cerrados, estando organizado com base em doze Territórios de Desenvolvimento (TDs). A Lei
Complementar nº 87/2007, define que os TDs são “espaços socialmente organizados, com-
postos por um conjunto de municípios, caracterizados por uma identidade histórica e cultural,
patrimônio natural, dinâmica e relações econômicas e organização, constituindo as principais
unidades de planejamento da ação governamental”.

Tabela 1. Macrorregiões de Saúde, número de municípios por Territórios de Desenvolvimento do Estado do Piauí
Territórios de
Macrorregião Municípios
Desenvolvimento

Planície Litorânea 11
1- Litoral
Cocais 22

Carnaubais 16
2- Meio-Norte Entre Rios 31
Vale do Sambito 15

Vale do Rio Guaribas 23


3- Semiárido Chapada Vale do Itaim 16
Vale do Rio Canindé 17

Serra da Capivara 18
Vale dos Rios Piauí e Itaueiras 19
4- Cerrados
Tabuleiros do Alto Parnaíba 12
Chapada das Mangabeiras 24

Fonte: JOAZEIRO; ARAÚJO (2020, p. 487), elaborada com base em CEPRO (2017).

A pandemia da COVID-19 está intimamente ligada às condições territoriais e as dimen-


sões da Rede que cada município possui. Dessa forma cumpre assinalar que a busca de
tentar mitigar os efeitos da pandemia tem exigido uma contínua readequação do processo
de cuidado e na forma da sociabilidade que estejam em consonância com os riscos da pan-
demia requerendo a definição de estratégias para a contenção do vírus.
A tabela 1 apresenta como o Estado do Piauí está dividido no que tange às Macrorregiões,
Territórios e Municípios. Destacaremos aqui o Território da Chapada Vale do Itaim, localiza-
do na Macrorregião do Semiárido, é composto por 16 municípios. Segundo o último censo
do IBGE (2010) os municípios de: Paulistana com 19.785 habitantes e Jaicós com 18.035
habitantes, são também os municípios com a maior composição da RAPS na região.
Paulistana apresenta na composição da Atenção Especializada: 4 Centros de Atenção
Psicossocial (CAPS I, CAPS II, CAPS ad e CAPS i) e Jaicós um CAPS I. Ambas contam
também com os demais serviços: Paulistana com 10 equipes da Estratégia da Saúde da
Família, 02 NASF I, SAMU suporte básico e 4 leitos para saúde mental no Hospital Regional

182
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Mariana Pires Ferreira e em Jaicós: 09 Equipes da Estratégia da Saúde da Família, 01
NASF I, SAMU. São municípios de Pequeno Porte I que distam da capital mais de 300 km.
Um dos desafios que está posto à produção do cuidado a pessoa com transtorno mental
consiste na compreensão da lógica que norteia a organização e a composição dos Centros
de Atenção Psicossocial e de suas modalidades de equipamentos substitutivos ao hospital
psiquiátrico ancorada no paradigma do tratar em liberdade.

CAPS I e CAPS II: são CAPS para atendimento diário de adultos, em sua
população de abrangência, com transtornos mentais severos e persistentes.
CAPS III: são CAPS para atendimento diário e noturno de adultos, durante
sete dias da semana, atendendo à população de referência com transtornos
mentais severos e persistentes. CAPSi: CAPS para infância e adolescência,
para atendimento diário a crianças e adolescentes com transtornos mentais.
CAPS Ad: CAPS para usuários de álcool e drogas, para atendimento diário à
população com transtornos decorrentes do uso e dependência de substâncias
psicoativas, como álcool e outras drogas. Esse tipo de CAPS possui leitos de
repouso com a finalidade exclusiva de tratamento de desintoxicação (BRASIL,
2004, p. 22).

Torna-se importante destacar que essas modalidades de serviços da Rede de Atenção


de Saúde Mental se distribuem do e no território das cidades. Daí a pertinência de refletir
sobre as diversas dimensões presentes e que influenciam as configurações que advém da
relação que se estabelece entre esses serviços, a configuração da população do municí-
pio que demanda por cuidado nesses equipamentos no território e a produção do cuidado
neles ofertados.
Desse modo, o estudo nos permitiu uma aproximação das equipes que realizam o
seu trabalho no espaço da Rede de Atenção Psicossocial nos dois municípios, e através de
seus depoimentos gravados em áudio e transcritos foi possível realizar uma aproximação
dos valores e sentidos que emergem no espaço do trabalho realizado, num tempo particu-
larmente difícil, em meio a premência da criação de espaços protegidas para a pessoa com
transtorno mental, mas num tempo onde os riscos pandêmicos estão fortemente marcados
pelo imperativo, ao mesmo tempo ético e de biossegurança que exige o isolamento social,
o uso de máscaras e de álcool em gel.

Esse trabalho, que não é só o trabalho, mas o trabalho efetivo, é você ter
a continuidade, é ter um trabalho qualificado, ter a equipe e ver a efetividade
desse trabalho e quanto mais profissionais chegam, eles somam e o trabalho
se torna melhor porque os olhares são diferenciados e a gente consegue
observar mais aspectos nas situações diversas que acontecem e a gente con-
segue potencializar e qualificar o nosso trabalho (Fragmentos do depoimento
de profissional da Enf. 01 Município Paulistana).

183
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Nesses encontros com os protagonistas do trabalho, eles buscam explicar a potência
da Rede, mas o que sobressai nesses encontros é uma busca de compreender e de decifrar
os territórios, mas eles sempre enaltecem a importância da equipe, a relação com os usuá-
rios e os desafios para a tessitura de relações sinérgicas na equipe profissional visando a
construção dos projetos terapêuticos, enfim, a efetivação do trabalho em equipe.
Nesse sentido, o trabalho em equipe requer que cada profissional realize a sua interven-
ção tendo como base “as particularidades de cada profissão, mas [que] utilize a cogestão para
assegurar saúde de qualidade para quem necessita” (BENEVIDES, 2014, p. 132). Joazeiro
(2018), assinala que “no cotidiano do trabalho na saúde, os profissionais enfrentam desafios
singulares e coletivos para realizar a assistência específica deles demandadas” (p. 136).

A pandemia [...] foi geradora de medo, o vírus é assustador, a doença é as-


sustadora. Então, quem podia estava em casa, mas quem precisava trabalhar
infelizmente. E aí imagine, você se vê diante de uma pandemia dessa e se
vê em contato com uma pessoa, muitas vezes sem instrução. Então, vinha
muita gente do interior sem máscara, tossindo, com sintomas clássicos
e sintomas evidentes e a gente tinha que estar ali e dar o suporte mental
voltado para o nosso trabalho em saúde mental e, ainda, o suporte para
a COVID-19 e toda a orientação (Fragmentos do depoimento de profissional
da Enf.01 Município Paulistana).

Peduzzi e Agreli (2018) assinalam que o trabalho em equipe interprofissional é o tra-


balho que envolve o sentimento de pertença à equipe na qual trabalham juntos diferentes
profissionais para atender às demandas em saúde. As autoras destacam ainda que,

Constituir-se como uma equipe requer trabalho – é uma construção, um pro-


cesso dinâmico no qual os profissionais se conhecem e aprendem a trabalhar
juntos para reconhecer o trabalho, conhecimentos e papéis de cada profissão;
conhecer o perfil da população adscrita, ou seja, as características, deman-
das e necessidades de saúde dos usuários e população; definir de forma
compartilhada os objetivos comuns da equipe; e realizar – também de forma
compartilhada – o planejamento das ações e dos cuidados de saúde, tal como
a construção compartilhada de projetos terapêuticos singulares para usuários
e famílias em situações de saúde de maior complexidade (op. cit., p. 1526).

A produção do cuidado nos territórios demanda um compromisso ético-político com a


construção e participação da população local. Em tempo de pandemia dificuldades se apre-
sentaram também para os usuários, alguns profissionais assinalaram em seus depoimentos:
“As pessoas guardavam muitos sentimentos para elas mesmas e agora na pandemia teve
aqueles que resolveram não guardar mais, que resolveram desabafar, procurar ajuda, [..] a
própria família percebeu e passou a levar o paciente para procurar ajuda” (Fragmentos do
depoimento de profissional da Fis. 01 Município de Jaicós).

184
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Muitas pessoas ficaram assustadas com o que está acontecendo, aquele medo
de pegar, de sair de casa. Eu acredito que aumentaram os transtornos mentais
e essa pandemia foi um fator para aumentar ainda mais os números, porque
já vem aumentando bastante. A gente já observa que número de pessoas
com problemas mentais já vinha aumentando em escolas, nos adolescentes,
em casa e com isso, eu acredito que a pandemia, influenciou mais ainda, não
é? Que as pessoas ficaram mais apreensivas, com medo, e eu acredito que
o retorno das atividades, quando elas estiverem normais, eu acredito que a
gente vai ter a demanda maior, infelizmente a pandemia é uma realidade que
a gente está vivendo? (Fragmentos do depoimento de profissional da EF.01
Município Paulistana).

O trabalho vivo na saúde, os instrumentos, bem como a organização coletiva do trabalho


nesse campo de cuidado com a vida se realiza sempre a partir do encontro entre trabalhador
e usuário, é centrado no trabalho vivo em ato, que visa a produção do cuidado. O trabalho na
saúde, segundo Merhy (1997) é um processo de produção que opera com graus de incerteza
e é marcado pela ação territorial dos atores em cena, no ato intercessor do agir em saúde.
Bezerra et al. (2020), assinalam outros desafios para os profissionais de Saúde Mental
em tempo de pandemia, pois enfrentam condições precárias de trabalho e riscos inerentes
à profissão, mais evidente na pandemia, principalmente pelo agravo à saúde mental que
pode acometer também os profissionais da linha de frente pelos altos níveis de estresse e
desgaste, além do medo acompanhado de incertezas quanto às complicações advindas da
doença e do contágio individual e familiar, da jornada de trabalho intensa, dos distúrbios
do sono e esgotamento, precarização do trabalho. Pois, se a doença atinge a saúde de um
ponto de vista geral atinge também a saúde mental.

Então, assim, foi um trabalho duro, um trabalho exaustivo e ameaçador também


para a família. Ao final do dia a gente tinha que fazer aquela desinfecção e
tirar todo aquele aparelhamento: era touca, máscara, viseira, avental, luvas e
assim, tudo muito desconfortável. Então, são vários fatores que vão se juntando
e acarretou um adoecimento muito grande também. Porque assim, o trabalho
em saúde mental, é em si, um trabalho muito adoecedor! (Fragmentos do
depoimento de profissional da Enf. 01 Município de Paulistana).

“Um estudo que avaliou profissionais de saúde identificou que 39% apresentavam al-
gum sofrimento psíquico” (SANTOS et al. 2020, p. 5). Os trabalhadores aludiram ao contexto
pandêmico. Daí a importância do cuidado também aos profissionais. “Então, a pandemia
trouxe muitos impactos para os usuários e até para os profissionais também. Acabou gerando
sobrecarga maior e estamos sobrecarregados” (Fragmentos do depoimento de profissional
da Fis. 01 Município de Paulistana).
Os profissionais de saúde se encontram na linha de frente, seja diretamente com pes-
soas infectadas, seja em diversos serviços da rede, eles permanecem atuando. Há o risco
de contaminação enfrentando dificuldades quanto aos Equipamentos de Proteção Individual

185
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
(EPIs), que “em geral, estes equipamentos de segurança não faziam parte de suas rotinas,
e a depender do nível de contato com as pessoas infectadas pelo vírus, estes EPIs são
extremamente desconfortantes” (OLIVEIRA, E. et al., 2020, p. 5).
Assinala Souza (2020), que “devemos registrar que um histórico de fragilização dos
sistemas públicos de saúde, decerto, implicou menos eficiência no enfrentamento da pan-
demia a tempo, assim como maior exposição dos seus profissionais de saúde ao adoeci-
mento” (p. 2475).

O que mais impactou, eu acredito que foi a pausa no atendimento, não é? O


acompanhamento deles, não é? Porque assim, nossa rotina mudou, o que a
gente planejou no início do ano, na reunião de planejamento, as atividades,
programa saúde na escola, aí Outubro Rosa, todas aquelas atividades foram
suspensas, então eu acho que o que mais impactou foi a mudança de rotina,
não é? Dos atendimentos e das visitas domiciliares, que [...] e hoje, quando
eles voltaram as visitas tem todo aquele protocolo: não adentrar na casa, usar
a máscara, é sua própria caneta, fazer aquela visita, priorizar somente os pa-
cientes necessários: idosos, com mais vulnerabilidade é ideal não visitar, então
assim, mudou toda a rotina deles de abordagem no domicílio e me falam: “Eu
acho chato ficar na calçada. Não, mas tem que ser ventilado, ventilação, não
é? Mas assim, por isso acho que impactou muito (Fragmentos do depoimento
de profissional da Enf. 02 Município de Paulistana).

Saraceno (2020, no prelo) assinala em sua apresentação no: IX ATELIER UFPI ALASS:
Formação Profissional e Trabalho na Saúde: Intersetorialidade como desafio para o Sistema
Único de Saúde, afirma que “esta pandemia tem desencadeado processos de transformação
de categorias conceituais e nos obriga a tomar nova consciência sobre a dramática ausência
da democracia dos sistemas de saúde em geral”. O autor prossegue assinalando que, “será
necessário colocar os Determinantes Sociais no centro da intervenção de saúde e não dei-
xá-los como fundo que se limita a intervenções individuais” (SARACENO, 2020, no prelo).

Os Determinantes Sociais em Saúde englobam fatores individuais e coletivos,


bem como a macroestrutura que se localiza em torno desse indivíduo. O concei-
to dos DSS, classicamente, está relacionado às condições em que uma pessoa
vive e trabalha, incluindo os “fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/
raciais, psicológicos e comportamentais, que influenciam a ocorrência dos
problemas de saúde e fatores de risco à população” (BROCH et al, 2019, p. 2).

Sarraceno (2020, no prelo) ainda assinala que “é somente dentro desse marco geral da
democracia em saúde que podemos ver os desafios futuros para a Saúde Mental, somente
em um marco geral de democratização de sistemas de saúde”. Paim (2019) assinala que no
Brasil, o maior desafio nos tempos atuais continua sendo o desafio político de “atravessar
a tormenta, resistindo aos ataques e riscos de desmantelamento do SUS pelas políticas de

186
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
ajuste fiscal” (p. 24). Seixas et al., 2021 assinalam sobre a realidade do SUS e da Emenda
Constitucional nº 95,

O SUS possui uma grande rede de serviços distribuída de forma heterogênea


em todo o território nacional, vigorosamente construída durante muitos anos,
mas intensamente sucateada nos dois últimos governos federais, sobretudo
a partir da Emenda Constitucional 95 (EC 95), da nova Política Nacional de
Atenção Básica e de suas normatizações, e da “nova” Rede de Atenção Psi-
cossocial (p. 6).

“Com a aprovação da Emenda Constitucional nº 95, que impõe corte radical no teto de
gastos públicos e com as políticas econômicas implantadas atualmente, há um crescente
e intenso estrangulamento dos investimentos em saúde e pesquisa no Brasil” (WERNECK;
CARVALHO, 2020, p. 3).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pandemia trouxe a necessidade de fortalecer a RAPS, a produção do cuidado, o


trabalho em equipe interprofissional. Observar também a importância de quem cuida, e a
necessidade do cuidado aos profissionais. “Os impactos desta pandemia na saúde mental
dos trabalhadores serão diversos e possivelmente prolongados, associadas ao panorama
da crise no setor saúde” (SOUZA et al. 2021, p. 5).
As dificuldades apresentadas são diversas: desde à fragilidade nos “Equipamentos
de Proteção Individual, treinamentos, testes diagnósticos, conhecimento acerca da doença,
número reduzido de profissionais, além do medo de contágio” (RIBEIRO et al, 2020 p. 10).
Diante desse contexto de incertezas frente à pandemia é necessário o fortalecimento das
equipes para o apoio e o suporte nos serviços de Saúde Mental.
A pandemia do coronavírus fortaleceu também a necessidade de defesa da demo-
cracia e a construção de uma “identidade em torno do direito à saúde e de constituir novos
sujeitos sociais para a ação política contra-hegemônica” (PAIM, 2019, p. 24), fortalecendo
a produção de cuidado nos Sistemas de Saúde.

187
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
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191
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
18
“ Sentimentos desenvolvidos pelos alunos
do último ano do curso de enfermagem
relacionado à COVID-19

Adriane Bonotto Salin

Aline Araujo Maia Miola Freire

Amanda Daiana Pontes

Ana Célia Almeida de Brito

Gabriel Bezerra do Nascimento Saraiva

Jéssica Sara Trindade de Deus

Josiane Brito da Cunha

10.37885/210203349
RESUMO

Objetivo: Descrever os sentimentos desenvolvidos pelos alunos do último ano do curso de


enfermagem relacionado à COVID-19 em uma Instituição de Ensino Superior no município
de Porto Velho – RO. Método: Optou-se por uma pesquisa de campo descritiva, aborda-
gem quantitativa. Para coleta de dados foi utilizado um questionário online na plataforma
GoogleForms contendo questões objetivas, para traçar o perfil e abordando sobre a forma
que essa pandemia e a atividade que estão desenvolvendo pode acrescentar na vida
profissional dos futuros acadêmicos, bem como a percepção sobre o isolamento social
e o sentimento frente a COVID-19. A população desta pesquisa foi constituída por 57
acadêmicos devidamente matriculados no 9º e 10º período de Enfermagem. A pesquisa
iniciou-se após a aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da União Educacional
do Norte Ltda – UNINORTE com número do Parecer: 4.316.908. Resultados: Observou-
se que a grande maioria dos acadêmicos acredita que as atividades de educação em
saúde a serem realizadas, irão contribuir de forma significativa para o aprimoramento
de suas habilidades técnicas e científicas para a execução e planejamento desta, ain-
da assim estes acreditam que o aprendizado e as experiências vivenciadas durante a
pandemia irão agregar na sua vida profissional. A pesquisa apontou ainda que os estu-
dantes desenvolveram sentimentos ruins como: medo, ansiedade, angústia, desespero,
tristeza e solidão. Mas também sentimentos bons, solidariedade, esperança e otimismo.
Conclusão: Contudo, foi diante desse cenário de pandemia e distanciamento social que
se resgatou tantos valores e sentimentos que se perderam com o tempo. Repentinamente,
despertamos mais importância à higiene pessoal e a saúde mental, o que se torna de
extrema importância para manutenção da saúde física e emocional.

Palavras-chave: Estudante, Enfermagem, COVID-19.

193
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
INTRODUÇÃO

No Brasil o primeiro teste positivo para COVID-19 ocorreu em 26 de fevereiro de 2020,


trazido por um Paulista que pouco tempo antes visitou a Itália. Dias após o primeiro caso, são
confirmados novos casos no país e em 15 dias as notificações de casos positivos chegam
a 25 pessoas. Segundo o (IBGE, 2020), a população brasileira é cerca de 211 milhões de
habitantes, destes 8% são cidadãos que se emolduram no grupo etário do vírus. No en-
tanto novos episódios da doença progridem ligeiramente no país (MACEDO, ORNELAS
e BONFIM, 2020).
Em Rondônia no dia 16 de março de 2020 foi assinado pelo governador o Decreto
número 24.871, que estabeleceu situação de emergência, pelo período de 180 dias, no
âmbito da saúde pública do Estado, além de dispor sobre medidas temporárias de preven-
ção ao contágio e enfrentamento à pandemia. De acordo com o boletim diário de número 8
divulgado pela AGEVISA (Agência Estadual de Vigilância em Saúde de Rondônia), no dia
20 de março, o primeiro caso confirmado foi no Município de Ji-Paraná e tratava-se de um
paciente proveniente de São Paulo, nessa ocasião já eram registrados 144 casos suspeitos
em todo o estado (SESAU, 2020).
Antes da pandemia da Covid-19 chegar ao Brasil, foi publicada a Portaria Nº 188, em 3
de fevereiro de 2020, que “Declara Emergência em Saúde Pública de importância Nacional
(ESPIN) em decorrência da Infecção Humana pelo novo Coronavírus (2019-nCoV)”, que visa
reunir todas as gestões em busca de estratégias para o combate à pandemia ressaltando a
extrema relevância da atuação dos profissionais da saúde, sendo solicitadas a eles ações
de alta responsabilidade (BRASIL, 2020).
Freitas, Napimoga e Donalisio, (2020) discorre que, não existiam planos estratégicos
prontos para serem aplicados a uma pandemia de coronavírus - tudo é relativamente novo.
Recomendações como da OMS – Organização Mundial da Saúde, do Ministério da Saúde
do Brasil, do Centers for Disease Control and Prevention (CDC, Estados Unidos) e outras
organizações nacionais e internacionais têm sugerido a aplicação de planos de contingência
de influenza e suas ferramentas, devido às semelhanças clínicas e epidemiológicas entre
esses vírus respiratórios.
Barreto et al., (2020), menciona que devido o conhecimento científico sobre o novo
coronavírus ser insuficiente, sua alta velocidade de disseminação e capacidade de provocar
mortes em populações vulneráveis provocam incertezas quanto à escolha das melhores
estratégias a serem utilizadas para o enfrentamento da pandemia em diferentes partes do
mundo. O Brasil apresenta desafios de maiores relevâncias, pois pouco se sabe sobre as
características de transmissão da Covid-19 num contexto de exacerbada desigualdade so-
cial e demográfica, com populações sob situação de vulnerabilidades vivendo em condições

194
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
precárias de habitação e saneamento, sem acesso constante à água, em situação de aglo-
meração e com alta prevalência de doenças crônicas.
Desde o início do atual surto do novo coronavírus (SARS-CoV-2), causador da
COVID-19, ocorreu uma grande preocupação frente a essa doença que se espalhou insi-
diosamente em várias regiões do mundo, corroborando em diferentes impactos. De acor-
do com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 18 de março de 2020, já haviam
ultrapassado 214 mil os casos confirmados da Covid-19 em todo o mundo (FREITAS,
NAPIMOGA E DONALISIO et al., 2020).
Com isso, faz-se necessário medidas como isolamento, fechamento de escolas e uni-
versidades, o que também pode consistir em um fator estressor para todos nesse período
ainda que o foco esteja na proteção, o cenário de pandemia no Brasil interferiu de forma
abrupta no processo educacional da formação de futuros profissionais da saúde, preocupação
em função da não integralização das cargas horárias preconizadas, e atividades previstas
para alguns campos de prática suspensas, tendo com única alternativa antecipação das
formaturas e do uso adicional de tecnologias educacionais à distância, que podem impactar
a execução do projeto pedagógico original dos cursos, bem como das próprias diretrizes
curriculares nacionais (DE OLIVEIRA, POSTAL e AFONSO, 2020).
Devido pandemia do novo coronavírus, vários impactos drásticos tonam-se impostos
na rotina da população mundial. Diversas áreas foram atingidas por essas mudanças, entre
elas, a educação. Logo, após a OMS declarar situação de emergência de saúde pública
mundial pela pandemia da covid-19, o Ministério da Educação passou a adotar critérios para
a prevenção ao contágio da COVID-19 nas escolas. Desse modo, o desafio fundamental da
educação brasileira tem sido se readequar ao cenário para que os estudantes não sejam
prejudicados com a pandemia (PEREIRA, NARDUCHI e DE MIRANDA, 2020).
Junior et al., (2020) descreve que muitos sentimentos são manifestados durante a
vivência de uma pandemia, as incertezas e o medo vão desencadeando demais emoções
que em maioria são negativas. Traçar planos que minimizem o fluxo exacerbado desses
sentimentos faz parte do processo de educação em saúde, ferramenta da Enfermagem, e
que deve ser utilizada e desenvolvida pelos discentes. O momento exige que todas as áreas
da sociedade criem alternativas para driblar os impactos negativos (JUNIOR et al., 2020).
Segundo Esteves et al., (2018) o acadêmico de enfermagem guarda uma expectativa
enorme sobre o último ano da graduação, realização de estágio supervisionado, momento
de grande importância, pois será a última oportunidade, durante a graduação, de avaliar os
conhecimentos adquiridos, favorecendo e desenvolvendo as habilidades obtidas, é também
um momento complexo, pois exige que este tenha conhecimento, habilidades e atitudes para
desenvolver a competência profissional que tanto almeja. Com certeza isto faz com que o

195
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
acadêmico desenvolva vários sentimentos, que com o isolamento social, devido a pandemia,
são acentuados e pode gerar uma infinidade de efeitos negativos.
Pereira et al., (2020) discorre que existem muitos efeitos negativos que o isolamento
social pode gerar, como nas emoções, pensamentos e no corpo, e com essas medidas, de
fechamento de escolas, universidades, estabelecimentos e de contatos físicos rotineiras,
o medo, ansiedade em pessoas intensificam cada vez mais e sendo principal causador de
medo, ansiedade, incerteza pelo futuro, tristeza, solidão, irritabilidade e angústia.
Por isso, obter a percepção dos acadêmicos é essencial para ter o conhecimento
acerca do que deve ser desenvolvido para os mesmos de forma que a receptividade deles
auxiliará num bom decurso dos processos pedagógicos, instigando-os a ampliação da cons-
ciência crítica sobre possíveis soluções e estratégias para o enfrentamento das dificuldades
resultantes de uma pandemia. Os discentes do último ano de enfermagem logo serão os
futuros profissionais atuantes no mercado, e trabalharão com as consequências e impactos
causados pela COVID-19.
Somadas as discussões e reflexões originadas frente à preocupação e sentimen-
tos desenvolvidos pelos estudantes do último ano do curso de enfermagem relacionado à
COVID-19, indaga-se a seguinte questão que norteia esta pesquisa: Qual a preocupação e os
sentimentos dos estudantes do último ano do curso de enfermagem frente a pandemia, bem
com e a importância da educação em saúde como estratégia de enfrentamento da COVID-19?

OBJETIVO

Descrever os sentimentos desenvolvidos pelos alunos do último ano do curso de en-


fermagem relacionado à COVID-19 em uma Instituição de Ensino Superior no município de
Porto Velho – RO.

MÉTODOS

Desenho do estudo: Optou-se por uma pesquisa de campo descritiva, aborda-


gem quantitativa. A pesquisa foi realizada na Faculdade Interamericana de Porto Velho-
UNIRON. A instituição possui três polos, Campus I localizado na Av. Mamoré, n °1520-
Cascalheira, Campus II localizado na Av. Mamoré, n°1503- Três Marias, e Campus III
localizado na Av. Prefeito Chiquilito Erse, n°3288- Flodoaldo Pontes Pinto, todos na cidade
de Porto Velho-RO. A amostra foi constituída pela totalidade de estudantes dos turnos da
tarde e noite, que estão cursando o 9° e 10° período de enfermagem. Critérios de inclu-
são: Foram incluídos todos os acadêmicos de enfermagem do 9º e 10° período do curso
de enfermagem, que estavam devidamente matriculados e cursando o semestre 2020.2,

196
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
concluintes do curso no ano de 2020 e 2021 independentemente do gênero, com idade a
partir de 18 anos, e que assinarem o TCLE de forma voluntária e marcarem na plataforma
que entenderam o TCLE e aceitam participar da pesquisa. Critérios de exclusão: foram
excluídos desta pesquisa acadêmicos que enviaram o formulário fora do prazo estipulado e
aqueles que não enviaram o TCLE assinado. Princípios éticos e legais: O estudo foi de-
senvolvido obedecendo ao estabelecido na Resolução n.º 466/2012/CNS/MS e a Resolução
n.º 510, de 7 abril de 2016, do Conselho Nacional de Saúde. E em virtude de se tratar de
uma pesquisa com seres humanos, o estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa
(CEP) UNINORTE, a qual expediu parecer favorável sob o n.º 4.316.908 e após parecer
favorável, iniciou-se a coleta de dados. Procedimento e instrumento: Para coleta de da-
dos foi utilizado uma plataforma totalmente online Google Forms, esta é um serviço gratuito
compatível com qualquer navegador e sistema operacional e é muito utilizado para criar
formulários e coletar dados. O formulário foi enviado através desta plataforma online para
traçar o perfil dos acadêmicos com 10 questões objetivas de múltiplas escolhas, abordando
sobre a forma com que a pandemia, o isolamento social e as atividades propostas iriam
acrescentar na formação e futura vida profissional bem como a visão sobre o isolamento
social e o sentimento desenvolvido frente à COVID-19. Primeiramente foi enviado ao parti-
cipante da pesquisa o link do Google Forms, contendo o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido – TCLE, após a ciência do mesmo, mediante assinatura eletrônica, o acadêmico
recebeu um novo link do Google Forms contendo o instrumento da pesquisa para coleta
de dados. Ressaltamos que no TCLE estava grifado a importância de que o participante de
pesquisa guardasse em seus arquivos uma cópia do documento e/ou garantindo o envio da
via assinada pelos pesquisadores ao participante de pesquisa, bem como, a obrigatorieda-
de da leitura do TCLE, objetivos, procedimentos, riscos e benefícios da referida pesquisa.
Acadêmicos tiveram 9 (nove) dias para responder o questionário que estava disponível no
link do Google Forms, nesse período as pesquisadoras ficaram disponíveis para esclarecer
as possíveis dúvidas individualmente a cada participante, sem interferis na resposta. As in-
formações colhidas foram analisadas e tabuladas no programa Microsoft Office Excel 2016.

RESULTADOS

Participaram desse estudo 57 estudantes do último ano do curso de enfermagem devi-


damente matriculados no 9° e 10º período diurno e noturno, da Faculdade Interamericana de
Porto Velho - UNIRON. A coleta de dados ocorreu no mês de outubro de 2020. No primeiro
período visou realizar a caracterização dos acadêmicos, com as informações obtidas do gê-
nero: sexo, idade, estado civil, arranjo familiar; período do curso, seguida dos dados sobre os

197
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
sentimentos frente a pandemia do COVID-19, a visão sobre isolamento social e o processo
ensino aprendizagem e contribuição da educação em saúde em tempos de pandemia.
Na tabela 1, na caracterização dos participantes da pesquisa evidenciou-se predomi-
nância do sexo feminino (87,7%). Ademais, destaca-se no quesito faixa etária foi (46,6%)
entre 26 à 36 anos, (61,4%) declaram serem solteiros e (52,6%) informaram ser alunos do
10º período e (47,4%) do 9º período do curso de Enfermagem.

Tabela 01. Relação da caracterização dos acadêmicos do último ano do curso de enfermagem em uma IES – Porto Velho
– RO, 2020 (n=57).
Variável nº Amostral %
Sexo
Masculino 7 12,3
Feminino 50 87,7
Total 57 100
Idade
Até 25 anos 22 38,6
Entre 26 a 36 anos 26 45,6
Entre 36 a 45 anos 8 14
Entre 46 a 55 anos 1 1,8
>56 anos 0 0
Total 57 100
Estado civil
Casado (a) 20 35,1
Viúvo (a) 0 0
Solteiro (a) 35 61,4
Separado/divorciado (a) 2 3,5
Total 57 100
Reside com
Ninguém 3 5,3
Pais 24 42,1
Conjugue 25 43,9
Irmãos 5 8.7
Amigos 0 0
Total 57 100
Período do curso
9º período 27 47,4
10º período 30 52,6
Total 57 100

Na tabela 2, pode se observar que a maioria dos participantes dos acadêmicos (49,1%)
buscam constantemente informações sobre o covid-19 e (31,6%) buscam por essas infor-
mações casualmente.

Tabela 02. Relação dos acadêmicos do último ano do curso de enfermagem em uma IES – Porto Velho – RO, a frequência
com que buscam informações sobre a Covid-19, 2020 (n=57).
Variável nº Amostral %
Constantemente 28 49,1
Uma vez ao dia 06 10,5
Três vezes na semana 02 3,5

198
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Variável nº Amostral %
Casualmente 18 31,6
Não busca informações 03 5,3
Total 57 100

A da tabela 03, mostra que um acadêmico deixou de responder essa questão, sendo
número amostral total de 56 alunos, porem (55,4%) afirmam que buscam informações em
relação a pandemia da COVID-19 em mídias do Ministério da Saúde, permitindo novos
aprendizados frente a essa realidade e (19,6%) afirmam buscar novas informações em re-
des sociais, haja visto que informações sem fontes fidedignas podem acarretar em estragos
maiores na vida dos usuários.

Tabela 03. Relação dos acadêmicos do último ano do curso de enfermagem em uma IES – Porto Velho – RO, onde procuram
buscar informações sobre a Covid-19, 2020 (n=56).
Variável nº Amostral %
Televisão 05 8,9
Rádio 0 0
Redes Sociais 11 19,6
Mídias do Ministério da Saúde 31 55,4
Artigos Científicos 09 16,1
Revistas Científicas 0 0
Total 56 100

Na tabela 04, os participante poderiam escolher mais de uma opção, em sentimento foi
desenvolvido em relação à COVID-19, (50,9%) dos acadêmicos disseram sentir-se ansiosos,
(43,9%) responderam que se sentem estressado devido a tudo isso que está acontecendo,
(42,1%) sentem medo, já (35,1%) sentem-se sobrecarregados diante ao enfrentamento da
Covid 19, e (29,8) relatam estar desmotivados, ainda tiveram os que se manifestaram em
porcentagens significativas de acordo com a tabela abaixo.

Tabela 04. Distribuição conforme os sentimentos dos acadêmicos, do último ano do curso de enfermagem, desenvolvidos
no enfrentamento à COVID-19. Porto Velho – RO, 2020.
Variável N amostral Frequência %
Medo 57 24 42,1
Angústia 57 10 17,5
Desespero 57 07 12,3
Desmotivação 57 17 29,8
Ansiedade 57 29 50,9
Frustração 57 13 22,8
Estresse 57 25 43,9
Sobrecarga 57 20 35,1
Tristeza 57 07 12,3
Solidão 57 03 5,3
Solidariedade 57 09 15,8
Esperança 57 07 12,3
Otimismo 57 04 12,3

199
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Os resultados apresentados no gráfico 1, mostram a visão do acadêmico sobre o isola-
mento social, (56,1%) acreditam que com o cumprimento do isolamento social podemos ter
uma diminuição na propagação do vírus, já (42,1%) concorda que a essa medida diminua
a propagação do vírus no entanto esta medida prejudica outras áreas como por exemplo a
economia e apenas (1,8%) discorda do isolamento.

Gráfico 01. Distribuição conforme a opinião dos acadêmicos, do último ano do curso de enfermagem, em relação ao
isolamento social. Porto Velho – RO, 2020 (n=57).

Na tabela 05, ao investigar a opinião do acadêmicos à respeito do descumprimento


do isolamento social, (63,2%) acreditam que as pessoas descumprem o isolamento pela
necessidade de trabalhar nos serviços essenciais (saúde, segurança, alimentação e etc.),
já (59,6%) concorda que a instabilidade financeira faz com que as pessoas quebrem o iso-
lamento social para irem trabalhar.

Tabela 05. Distribuição conforme a opinião dos acadêmicos, do último ano do curso de enfermagem, em relação ao
descumprimento do isolamento social. Porto Velho – RO, 2020
Variável N amostral Frequência %
Desinformação 57 11 19,3
Ignorância 57 25 43,9
Influências Políticas 57 10 17,5
Necessidade de trabalhar (Serviços essenciais, como saúde, segurança, ali-
57 36 63,2
mentação)
Necessidade de trabalhar, devido a renda. 57 34 59,6
Necessidade de trabalhar, instabilidade no emprego. 57 19 33,3
Irresponsabilidade Social 57 19 33,3
Falta de empatia 57 01 1,8
Alguns é por ignorância mesmo 57 01 1,8

No gráfico 2, evidenciou-se que (68,4%) dos acadêmicos estão preocupados em per-


der um familiar diante da situação vivida, já (15,18%) preocupam-se em não conseguirem
realizar a conclusão da graduação devido a pandemia, ainda tiveram os que manifestaram

200
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
em porcentagens significativas como: não realizar o estágio supervisionado, não conseguir
estabilidade na renda financeira e ser infectado.

Gráfico 02. Distribuição conforme a preocupação dos acadêmicos, do último ano do curso de enfermagem, em relação
à situação em que vivemos, atualmente. Porto Velho – RO, 2020 (n=57).

Na tabela em relação as atividades de Educação em saúde voltadas para a pandemia


da Covid-19 podem-se evidenciar que (42,1%) dos acadêmicos vão adquirir subsídios teó-
ricos e práticos com estímulo a reflexão sobre a atuação dos profissionais de enfermagem
frente a uma pandemia e (40,4%) acreditam que podem desenvolver habilidade técnica e
científica para intervir frente à intercorrências e situações desconhecidas.

Tabela 06. Distribuição dos acadêmicos do último ano do curso de enfermagem em Porto Velho – RO, em relação as
atividades de Educação em saúde voltadas para a pandemia da Covid-19, o que acreditam que pode agregar em sua
formação acadêmica. Porto Velho – RO, 2020 (n=57)
N amostral
Variável Frequência %
77%
Aprimorar habilidades técnicas e científicas para planejar e executar ações
57 29 50,9
de Educação em Saúde.
Desenvolver habilidade técnica e científica para intervir frente a intercorrên-
57 23 40,4
cias e situações desconhecidas.
Oportunidade para aprimoramento de sobre atividades de promoção de
57 18 31,6
saúde.
Subsídios teóricos e práticos com estímulo a reflexão sobre a atuação dos
57 24 42,1
profissionais de enfermagem frente a uma pandemia.
Estímulo a reflexão sobre o papel da enfermagem no desenvolvimento indivi-
57 29 50,9
dual da população na promoção, prevenção e reabilitação da saúde.
Aquisição de conhecimentos frente ao desconhecido. 57 13 22,8
Outros 57 0 0

A tabela 07 apresenta referente a visão do acadêmico em relação a futura vida profis-


sional após a pandemia, inferiu-se que (35,7%) acreditam que a pandemia da COVID-19,
permitiu e continua permitindo novos aprendizados frente a essa realidade e (26,8%) afirmam

201
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
ter tido novas experiências, haja vista o enfrentamento dos profissionais de saúde e socie-
dade neste cenário de pandemia , (16,1%) concordam que tiveram novas oportunidades de
conhecimento e (10,7%) referem incerteza em sua futura vida profissional.

Tabela 07. Distribuição conforme a percepção dos acadêmicos, do último ano do curso de enfermagem, em relação a
futura vida profissional após a pandemia do Coronavírus. Porto Velho – RO, 2020 (n=57).
Variável nº Amostral %
Aprendizado 40 35,7
Oportunidade 18 16,1
Reconhecimento 11 9,8
Experiência 30 26,8
Incerteza 12 10,7
A pandemia abriu margem para que o governo, estados e municípios pudes-
01 0,9
sem gastar mais que acima do teto de gastos previstos.
Total 57 100

Na tabela 08 apresenta quando indagados sobre o processo de ensino-aprendizagem


com o uso dos recursos tecnológicos, plataformas digitais e aulas remotas durante a pan-
demia, (56,1%) dos acadêmicos informam que se adaptaram parcialmente, o que indica que
pode ter tido prejuízo durante o estudo, já (36,9%) concorda que se adaptaram bem uma
vez que utilizavam de recursos tecnológicos em seu cotidiano.

Tabela 08. Distribuição de como está sendo o processo de ensino-aprendizagem com uso dos recursos tecnológicos,
plataformas digitais e aulas remotas dos acadêmicos de enfermagem. Porto Velho – RO, 2020 (n=57).
Variável nº Amostral %
Não me adaptei, pois não tenho deforma acessível os recursos tecnológicos. 0 0
Não me adaptei, pois tenho dificuldade em utilizar e manusear os recursos
04 7
tecnológicos.
Me adaptei parcialmente, pois tive dificuldades em conseguir alcançar tudo
32 56,1
que foi proposto.
Me adaptei, pois já utilizava de recursos tecnológicos no meu cotidiano. 21 36,9
Total 57 100

DISCUSSÃO

Sobre esses achados, é importante enfatizar que neste estudo houve um predomínio do
sexo feminino com 87,7%, dados estes corroboram estudo realizado por Déssia et al.,( 2017)
onde encontrou prevalência do sexo feminino nos cursos de enfermagem, fato que nos faz
refletir que embora o número de homens que buscam a profissão da enfermagem estejam
em ascensão, percebe-se ainda o predomínio de mulheres nos cursos de enfermagem. Este
fato pode estar associado ao preconceito relacionado ao gênero na enfermagem no Brasil.
Dal’Bosco et al., (2020) ressalta que a dominação do gênero feminino na enfermagem pode
ter relação com questões históricas e culturais, pois ao olharmos ao passado percebemos
que a noção popularmente difundida e de que a enfermagem não era para homens, ou seja
em determinados períodos da história, limitou a inclusão masculina na Enfermagem.

202
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Quanto à idade observou demonstrando a maioria dos acadêmicos está concluindo a
graduação com uma idade entre 26 e 36 anos, fato este nos leva a acreditar que tenham
ingressado na universidade adultos, dados estes divergem do encontrado por Araújo et al.,
(2020) em seu estudo em um a instituição de Ensino Superior onde a variação de idade dos
ingressantes no curso de Enfermagem variou de 17 a 20 anos, a Lei número 12.852, de 5
de agosto de 2013 são considerados jovens são consideradas jovens as pessoas com idade
entre 15 (quinze) e 29 (vinte e nove) anos de idade.
De acordo com Lima et al., (2019) o ingresso tardio na graduação é uma realidade
de vários brasileiros, onde estes que encontram a oportunidade de se reinventar ou ainda
complementar seu conhecimento em áreas em que já tem experiência, em sala maioria
os filhos estão crescidos e encaminhados, e é nesta fase que o desejo de se desafiar
começa a aparecer.
Vizzotto, Jesus e Martins (2017) discorrem que o crescimento do ensino superior revela
uma democratização, também exprime as novas vivencias enfrentadas pelo próprio sistema
de ensino, além disso, é notada uma diversificação do perfil dos indivíduos que ascendem
a esse grau escolar. Essa expansão vem favorecendo a recomposição social e profissional;
contudo as condições de vida desses estudantes, nas esferas como a família, o trabalho,
recursos, práticas sociais e padrões de saúde também vêm sendo mudados de modo que o
vínculo empregatício é a primeira conquista para uma vida adulta, enquanto que o casamento
e a saída da casa dos pais estão associados ao meio de sobrevivência.
No estudo quando questionados os acadêmicos sobre a busca de informações sobre o
COVID-19, maioria referiu buscar constantemente informações, e o fazem através de mídias
do Ministério da Saúde e ou artigos científicos.
Em circunstância emergencial no âmbito da saúde, como surtos, epidemias e pande-
mias, a comunicação torna-se fundamental e o conhecimento preciso dos acontecimentos
auxilia os órgãos responsáveis a adotarem medidas adequadas e eficazes (BRASIL, 2020).
O Ministério da Saúde (MS), desde o princípio, priorizou a informação e a comunicação
para a população e a mídia como estratégias fundamentais para o enfrentamento da epide-
mia. O quantitativo de casos confirmados e óbitos passaram a ser disponibilizados diaria-
mente. Boletins epidemiológicos foram publicados, contendo informações para a atuação da
vigilância. Além disso, entrevistas coletivas eram realizadas quase todos os dias, reforçando-
-se o compromisso do MS com a transparência na informação e a agilidade na comunicação
a respeito da situação epidemiológica e das ações de resposta (OLIVEIRA et al., 2020).
Neste cenário da pandemia de COVID 19, convém salientar que devido ao rápido
avanço da doença e o excesso de informações disponíveis, algumas vezes discordantes, se
torna um âmbito favorável para alterações comportamentais impulsionadoras de adoecimento

203
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
psicológico, que podem gerar consequências graves na Saúde Mental do indivíduo. Nessa
perspectiva, pode se afirmar que juntamente com a pandemia de COVID 19 surge um es-
tado de pânico social em nível global e a sensação do isolamento social desencadeia os
sentimentos (de angústia, insegurança e medo), que podem se estender até mesmo após
o controle do vírus (PEREIRA et al., 2020).
De acordo com a OMS, em decorrência do surto de COVID-19 uma considerada quan-
tidade de informações fora divulgada, em sua maioria não verídica, as quais causam uma
maior dificuldade para identificar fontes idôneas e confiáveis. As informações não verídicas,
também chamadas de fake news, se espalham principalmente por meio das redes sociais.
São informações compostas por textos afirmativos, onde o leitor não procura a veracidade da
mensagem e muitas vezes compartilham com outras pessoas, disseminando a notícia falsa.
Sousa Júnior; Petroll; Rocha (2019) acreditam que o desenvolvimento da comunica-
ção com o passar dos anos e a facilidade na criação, compartilhamento de informações e
divulgação proporcionada pelos meios de comunicação social, e estas trazer implicações
não somente para o ambiente on-line como também para a realidade global, um exemplo
seria a popularização das Fake News.
A mídia segundo Coutinho et al., (2020), é um canal de informação relevante para a
divulgação de notícias com conteúdo corroborado, a fim de combater informações falsas.
Discorre também que o papel da ciência, diante dessa pandemia é essencial, o comparti-
lhamento imediato de informações científicas é uma forma eficaz de evitar o medo que a
Covid-19 vem causando. Desta maneira, os estudos científicos resultantes de projetos de
pesquisa são uma fonte de consulta para a preparação de notícias que procuram disseminar
os progressos científicos para a sociedade.
Para os autores Guinancio et al (2020), com o surgimento do COVID 19, as pessoas
entraram em desespero pela sua rápida propagação e pelo misto de informações transmiti-
das, encontrando dificuldades na adaptação de suas rotinas às essas novas circunstâncias,
e em alguns indivíduos os impactos podem ser mais eminentes, devido ao seu maior grau de
vulnerabilidade desenvolvem emoções negativas. Diante dos diversos fatores estressores, as
variações comportamentais mais comuns são as alterações nos hábitos alimentares, tendo
em vista o consumo de alimentos menos saudáveis durante a pandemia, desequilíbrio das
horas de sono, redução da exposição solar e da prática de atividades físicas, interferindo
na qualidade de vida e com isso, trazer resultados prejudiciais para a saúde da população.
Ficou evidente no estudo que os acadêmicos apresentaram diversos sentimento ne-
gativos predominando a ansiedade, estresse, medo e sobrecarga. Segundo Ribeiro et al.,
(2020), sentimentos como medo, ansiedade e tristeza são compreendidos como normais
em momentos de pandemia, deve-se atentar ao limiar desta normalidade, e quando exceder

204
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
é importante a procura de auxílio para manter o equilíbrio da saúde mental. Com o intuito
de minimizar esses sentimentos, é relevante que meios de comunicação enunciem notícias
positivas sobre o enfrentamento da pandemia e que programas de lazer, lives e eventos
religiosos entre outras atividades online sejam identificados, por ressaltarem as emoções,
gerando um estado de coesão em grupo mesmo no distanciamento social.
As epidemias de doenças infecciosas de acordo com Santana et al., (2020), afetam
não apenas a saúde física das pessoas, mas também a saúde psicológica e o bem-estar
da população não infectada. Assim, a crescente ameaça da pandemia da COVID-19 levou
a uma atmosfera global de ansiedade, depressão e estresse, devido à interrupção planos
de viagem interrompidos, sobrecarga de informações da mídia, pânico para comprar itens
domésticos indispensáveis, como os alimentos, e, principalmente, ao isolamento social.
Neste cenário da pandemia da COVID-19, convém ressaltar que devido ao rápido
contágio da doença e o excesso de informações disponíveis, algumas vezes discordantes,
se torna um âmbito favorável para alterações comportamentais impulsionadoras de adoeci-
mento psicológico, que podem gerar graves consequências na Saúde Mental do indivíduo
(PEREIRA et al., 2020).
Estudos têm sugerido que o medo de ser infectado por um vírus potencialmente fa-
tal, de rápida disseminação, cujas origens, natureza e curso ainda são pouco conhecidos,
acaba por afetar o bem-estar psicológico de muitas pessoas. Sintomas de depressão, an-
siedade e estresse diante da pandemia têm sido identificados na população geral e, em
particular, nos profissionais da saúde. Ademais, casos de suicídio potencialmente ligados
aos impactos psicológicos da COVID-19 também já foram reportados em alguns países
(SCHMIDT et al., 2020).
Além do medo de contrair a Covid-19, pode ser notada na população a insegurança
relacionada aos aspectos da vida, desde as metas coletivas e individuais que foram plane-
jadas e acabaram sendo frustradas pela pandemia e isolamento social, o que implica em
sua qualidade de vida, tangenciado em seu bem estar psicológico, resultando no apareci-
mento de stress, medo, ansiedade, pânico, culpa e tristeza, pois esses indícios se refletem
em sofrimento psíquico e culminam o surgimento de transtornos psicossomáticos. Em vista
disso, esse público deve receber um atendimento, atenção especial em saúde, pois se en-
contram em situação de vulnerabilidade a desenvolver transtornos psicossomáticos como,
por exemplo, a depressão (DIAS et al., 2020).
A pandemia e a variante de comportamentos provoca uma significativa ansiedade no
individuo em geral e, principalmente, naqueles que estejam em conclusão acadêmica. Diante
disso, torna--se importante destacar o impacto da C0VID-19 no aprendizado da graduação,
rotina, produtividade e aspectos emocionais dos acadêmicos (GOMES et al., 2020).

205
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
Observar a prática do cotidiano do enfermeiro, as fragilidades humanas fazem com
que o acadêmico vivencie sentimentos como medo, angústia, tristeza, decepção e ansie-
dade, podendo acarretar no acadêmico sentimento de incapacidade perante as incumbên-
cias da graduação, tendo influência direta na formação e na relação profissional-paciente
(ROCHA et al., 2020).
Não podemos deixar de ressaltar que a saúde física e saúde mental andam jun-
tas. O prolongado do confinamento, a falta de contato com os colegas de classe, o medo
de se infectar, a falta de espaço em casa, torna o estudante menos ativo fisicamente, são
fatores de estresse que atingem a saúde mental de boa parte dos estudantes. Estimular a
solidariedade, a resiliência e a continuidade das relações sociais entre educadores e alunos
nesse período é fundamental, pois ajuda a minorar o impacto psicológico negativo da pan-
demia nos estudantes. Agora, importa prevenir e reduzir os níveis elevados de ansiedade,
de depressão e de estresse que o confinamento provoca nos estudantes em quarentena
(DIAS, PINTO 2020).
Ficou evidente que a maior parte dos acadêmicos do último ano de enfermagem com
a necessidade do isolamento social, e inferem , em sua maioria, que o descumprimento do
isolamento social, ocorra pela necessidade de trabalhar nos serviços essenciais (saúde,
segurança, alimentação e etc.), e pela a instabilidade financeira faz com que as pessoas
quebrem o isolamento social para irem trabalhar.
O isolamento social, segundo a Cruz et al,.(2020), é um grande instrumento de proteção
para a população, servindo como proteção para a disseminação do novo vírus, além de ser
uma política de saúde pública que visa amenizar os impactos da Covid-19 nos serviços de
saúde. Essa medida aponta que práticas sanitárias entram em ação em larga escala, como
a atenção à etiqueta respiratória, cuidados com a higiene, inibição de aglomerações que
resultam no distanciamento social.
Neste contexto, é preciso pontuar a diferença entre o isolamento social, o distancia-
mento social e a quarentena. O primeiro termo segundo Oliveira et al., (2020), refere-se à
retirada e separação do convívio social de pessoas que não compõem a família, uma forma
válida principalmente para os pessoas assintomáticos; enquanto que o segundo, faz alusão
ao espaço necessário de uma pessoa para outra, quando o isolamento não é possível, para
essa medida é sugerido o distanciamento de no mínimo 2 metros; e o terceiro, que é a qua-
rentena, faz menção a reclusão temporária, baseada no período de incubação do agente
etiológico da pessoa infectada ou outra que manteve o contato com ela, a fim de evitar a
propagação da doença para outros indivíduos.
A prática do isolamento social tem causado muitas polêmicas no país, uma vez que
algumas autoridades se mostram céticas quanto à sua eficácia. O fato é que a maior parte

206
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
dos tomadores de decisão optaram por incentivar essa medida, adotando estratégias de
controle da mobilidade da população, como o fechamento de escolas e universidades, do
comércio não essencial, e de áreas públicas de lazer etc. Como resultado, grande parte da
população brasileira apoiou e aderiu ao movimento do isolamento social9 com o objetivo
de se prevenir da COVID-19 e de colaborar com a atenuação da curva de contágio no país
(BEZERRA et al., 2020).
Segundo BatistaMoutinho (2020), nem todas as pessoas poderiam parar de trabalhar
e exercer o isolamento domiciliar. Serviços essenciais tinha necessidade de continuar a ser
prestados, comércios de produtos essenciais precisariam funcionar, ou seja, alguns grupos de
pessoas continuariam mais expostos ao risco que outros. Mas é fundamental salientar que,
ao ficarmos em casa em casa, estamos protegendo aqueles que não têm essa opção, por
diminuir o risco de transmissão. Destaca-se que a força de trabalho que está mais exposta
à doença nessa pandemia, exceto os profissionais de saúde, seria a nova classe trabalha-
dora que se não correr o risco de adoecer, corre o risco de ser demitida ou ficar sem renda.
São trabalhadores de aeroportos, do setor de logística, de supermercados, dentre outros.
Quando analisamos os dados referentes a preocupação dos acadêmicos, do último ano
do curso de enfermagem, observa-se a grande maioria estão preocupados em perder um
familiar diante da situação vivida seguidos pela preocupação de não conseguirem realizar
a conclusão da graduação.
Backes et al., (2020) discorre que capacidade humana para imaginar o pior não tem
limites, e diante da situação a qual estamos vivenciando uma série de indagações advém
sobre qual medo se sobressai frente a pandemia, o de contrair a doença, o de morrer ou
perder um familiar, o da solidão, o do desemprego, o da redução da renda e ou do colapso
do sistema de saúde e econômico.
Vieira et al., (2020) acreditam que as respostas comportamentais das pessoas diante da
pandemia, podem afetar e gerar consequências sociais, as quais podem afetar a percepção
positiva ou negativa diante das mudanças que ocorrem em sua vida. Santos et al., ( 2020)
corroboram e discorrem que o medo, ansiedade e outras manifestações psicológicas que
podem prejudicar essa relação da população com o combate a pandemia, são advindos de
uma quantidade de informação em massa e sobrecarregada que é disponibilizada pela mídia,
em que se difunde uma enorme quantidade de informações falsas que alarmam as pessoas.
As doenças mentais trazem uma diminuição de expectativa de vida e saúde física,
além disso mesmo com alguns tratamentos eficazes disponíveis, a maioria dos pacientes
não possuem acesso ou não procuram pelo tratamento devido ao tabu em torno de trans-
tornos mentais que ainda persiste nos dias atuais. O isolamento social, ou seja, a recomen-
dação de “ficar em casa”, adotada para frear a disseminação da COVID-19, impactou de

207
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
diversas formas a vida dos brasileiros. O isolamento social é incômodo e exige paciência.
São usuais situações de ansiedade, estresse e angústia. As pessoas que tendem a ser
efusivas podem sofrer mais com o isolamento social e ansiar por encontros sem mais tardar
(VIEIRA et al, 2020).
No decorrer do estudo ainda foi possível observar que os acadêmicos do último ano
do curso reconhecem que as atividades de educação em saúde realizada agregará na for-
mação acadêmica, seja pela aprimoração de habilidades técnicas e científicas para planejar
e executar ações de Educação em Saúde, bem como o estímulo e a reflexão sobre o papel
da enfermagem no desenvolvimento individual da população na promoção, prevenção e
reabilitação da saúde, ou seja afirmam que pandemia da COVID-19, permitiu e continua
permitindo novos aprendizados frente a essa realidade.
Segundo Júnior et al., (2020) a educação em saúde é uma estratégia utilizada que visa
despertar aos indivíduos conhecimentos e habilidades que sirvam como auxílio nas esco-
lhas sobre sua saúde, instigando a consciência crítica, reconhecendo assim os fatores que
influenciam a saúde e oferecendo subsídios que os encorajem a modificar o comportamento,
baseado na interação respeitosa da cultura popular com os saberes técnicos científicos.
A educação está baseada em pilares como: aprender a conhecer, aprender a fazer,
aprender a conviver e aprender a ser. Que definem os aprendizados considerados essenciais
para que os estudantes se desenvolvam cognitivamente e socialmente. Seguindo estes pila-
res os acadêmicos podem ter uma formação completa. Ou seja, não somente se preparam
para o mercado de trabalho, mas também para viver em sociedade e se tornarem cidadãos
mais justos, empáticos e preparados para lidar com adversidades (NHANTUMBO, 2020).
Costa et al., (2020) discorre que aos 200 anos do nascimento de Florence Nightingale,
a sociedade mundial vivencia um momento indicado pelos epidemiologistas como um dos
maiores desafios sanitários em escala global deste século: uma pandemia de COVID-19
em andamento. No período em que o Brasil cumpre as determinações de distanciamento
social e que vários setores da atividade econômica se ajustam às medidas inovadoras, é,
também, refletir sobre o impacto deste cenário sobre o sistema educacional, e em especial
sobre o ensino universitário em enfermagem.
Segundo Franklin, Vasconcelos e Eduardo, (2020), o estágio extracurricular possibilita
uma melhor desenvolvimento profissional ao enfermeiro, pois o mesmo desenvolve relações
saudáveis, supera desafios próprios do trabalho em equipe e melhora as habilidades para
ao procedimentos de enfermagem, além de ter a inserção no mercado de trabalho facilitada
devido ao fato de ter adquirido um grande conhecimento durante o período de estágio.
O estágio supervisionado em enfermagem visa o crescimento do aluno a partir de com-
petências profissionais adquiridas que vão favorecer o desenvolvimento das competências

208
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
necessárias ao trabalho. Proporciona ao acadêmico a visão profissional de forma ampla e
concreta, oferecendo experiências de âmbito técnico-científico, com o desenvolvimento de
funções com responsabilidade, ética, liderança, capacidade de comunicação e tomada de
decisões (LIMA et al., 2020).
À respeito do processo de ensino-aprendizagem, com o uso dos recursos tecnológicos,
plataformas digitais e aulas remotas durante a pandemia, a maioria dos entrevistados infor-
mam que se adaptaram parcialmente, o que pode remeter a algum prejuízo durante o estudo.
Na atual situação de Pandemia de Covid-19, com a suspensão das atividades didáticas
presenciais, o ensino à distância é uma real necessidade, pelo que deverão ser adotadas
as melhores soluções disponíveis e asseguradas as necessárias condições que promovam
um ensino de qualidade neste contexto. Todavia, o ensino à distância promove um novo
desafio, para o qual alguns docentes e alguns acadêmicos, ainda não estão devidamente
preparados, encontrando-se mesmo um pouco desorientados, pelo que as diversas ações
de formação nesse âmbito podem promover o sucesso do processo de ensino-aprendizagem
(SILVA et al., 2020).
Cavalcante, Bezerra e Noronha (2020), descrevem sobre a realidade observada em
diversas faculdades e universidades mostra o dilema vivido por essas instituições, uma vez
que se veem na necessidade de tomar decisões que envolvem a continuidade do proces-
so de ensino aprendizagem, ao mesmo tempo em que buscam manter seus funcionários
e alunos protegidos de uma doença que se mostra grave, expande-se com rapidez, além
disso, está distante em ter seus mecanismos fisiopatológicos bem compreendidos. Sendo
assim, muitas instituições optaram por cancelar em sua totalidade, as atividades presen-
ciais e estabeleceram o uso das tecnologias digitais e o ensino remoto como as principais
ferramentas e estratégias para continuar o ensino.

CONCLUSÃO

Nesse contexto, buscamos avaliar os sentimentos dos estudantes do último ano da


graduação de enfermagem relacionado à pandemia da COVID-19, abordando questões
sobre a busca de informações referentes a pandemia, os principais sentimento e preocu-
pações, qual a percepção destes acadêmicos sobre isolamento social, bem como atividade
de educação em saúde pode contribuir para a sua formação profissional.
Com base nos resultados elucidados, observou-se que a grande maioria dos aca-
dêmicos teve bastante interesse buscando informações sobre a pandemia em mídias do
Ministério da Saúde, ou seja, usam de fontes cientificas. Acreditam que o isolamento social
pode diminuir a propagação do vírus, contudo o isolamento pode ser descumprido pela
necessidade de trabalhar e pela instabilidade financeira. O medo de perder algum familiar

209
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
ou mesmo se contaminar prevalece, porém acreditam que as atividades de educação em
saúde, contribuem de forma significativa para o aprimoramento de suas habilidades técnicas
e científicas, ainda assim estes esperam que o aprendizado e as experiências vivenciadas
durante a pandemia tenham uma significativa contribuição para sua vida profissional.
Por conseguinte, a pesquisa apontou ainda que os estudantes desenvolveram vários
sentimentos como: preocupação, tristeza, solidão, estresse, medo, sobrecarga e desmoti-
vação. Mas também sentimentos bons, como solidariedade, esperança e otimismo.
Contudo, foi diante desse cenário de pandemia e distanciamento social que se resgatou
tantos valores e sentimentos que se perderam com o tempo. Repentinamente, despertamos
mais importância à higiene pessoal e a saúde mental, o que se torna de extrema importância
para manutenção da saúde física e emocional.

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212
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
SOBRE A ORGANIZADORA
Profª. Dra. Samylla Maira Costa Siqueira
Doutora e Mestra em Enfermagem pelo Programa de Pós-graduação da Escola de Enfermagem
da Universidade Federal da Bahia (PPGENF/UFBA), na linha de pesquisa “O Cuidar em
Enfermagem no Processo de Desenvolvimento Humano”, com área de concentração em
Saúde da Criança e do Adolescente. Graduada em Enfermagem pela Faculdade de Tecnologia
e Ciências de Itabuna-BA (2011). Membro do Grupo de Estudos Sobre Saúde da Criança e
do Adolescente (CRESCER) da EEUFBA e do corpo editorial da Revista Brasileira de Saúde
Funcional (REBRASF). Atualmente, exerce atividades profissionais na área da docência - no
curso de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia (UFBA) como professora substituta
- e na área assistencial como funcionária pública da Secretaria Municipal de Saúde da cidade
de Salvador-BA, lotada em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Tem experiência na
área de enfermagem, atuando principalmente nos seguintes temas: urgência e emergência,
saúde da criança e do adolescente, saúde da população negra e comunidades vulneráveis.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/3092396911756689

213
COVID-19: o trabalho dos profissionais da saúde em tempos de pandemia
ÍNDICE REMISSIVO

A H
Ansiedade: 69, 134, 199 Hipotermia: 43

C I
Câncer: 115, 116 Infecções: 106, 145, 156, 168

Consultórios: 168 Insuficiência Renal Crônica: 92

Coronavírus: 24, 45, 51, 52, 53, 55, 56, 74, 78, M
106, 117, 131, 135, 145, 146, 147, 148, 153, 156,
158, 164, 165, 169, 179, 194, 202, 210, 211, 212 Mascara: 45

Covid: 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 24, 36, 37, 51, Maskne: 45, 46, 47, 49
52, 53, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 73, 77,
78, 79, 80, 81, 82, 83, 93, 116, 117, 118, 119, Mortalidade: 115, 116
120, 121, 122, 123, 125, 127, 128, 129, 130,
132, 137, 138, 142, 143, 154, 165, 168, 169, N
170, 171, 172, 173, 174, 194, 195, 198, 199,
Neoplasias: 127
201, 204, 205, 206, 209, 211
P
Cuidado: 178, 188, 189
Pacientes: 80, 115, 131, 132
Cuidados de Enfermagem: 83, 84, 85, 87
Pandemia: 15, 24, 25, 50, 62, 73, 75, 76, 80, 84,
D 85, 101, 126, 131, 132, 176, 209, 211, 212

Depressão: 134 R
Desafios: 32, 127, 131, 132, 179, 211 Recursos: 51, 53

Doença: 74, 85, 86, 92, 93, 103, 135, 146, 147, S
149, 153, 158, 165
Saúde Mental: 188
E
Soluções Tecnológicas: 26
Enfermagem: 62, 66, 67, 72, 73, 74, 75, 79, 83,
93, 106, 132, 137, 138, 142, 179, 188, 191, 193, T
195, 198, 203, 211, 212
Tecnologia Educacional: 101
Enfermeiros: 23, 65, 69
Telemedicina: 26, 31, 33, 127, 131
Epidemiologia: 132, 145, 153, 154, 156, 165,
190 Terapia Ocupacional: 15

Estudante: 193, 212 Trabalho: 74, 176, 186, 189, 190, 191

G
Grávidas: 103

214
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