Você está na página 1de 365

Geocronologia e Evolução

Tectônica do Continente
Sul-Americano: a contribuição
de Umberto Giuseppe Cordani

Imagem da capa:
Modelo de velocidades da onda
S da litosfera continental Sul-A-
mericana, a 100 km de profundi-
dade, obtido por inversão tomo-
gráfica adjunta da forma de onda
de 112 terremotos registrados
em 1310 estações sismográficas
usando o pacote “SPECFEM 3D
Globe”. As cores frias (azul pro-
fundo) representam regiões com
velocidades acima da média de
4,44 km/s (em verde) e as cores
quentes (vermelho) locais com
velocidades abaixo da média.
Altas velocidades sugerem uma
maior espessura litosférica, como
nos crátons Amazônico, São
Francisco e outros blocos cra-
tônicos. Este modelo, SAAM16
(South America Adjoint Model,
iteration 16), foi gerado no
supercomputador Quest da
Northwestern University, EUA,
por Caio Ciardelli, doutorando
do IAG-USP e orientando de
Marcelo Assumpção, em projeto
conjunto com Suzan van der
Lee (Northwestern Universi-
ty) e Ebru Bozdağ (Colorado
School of Mines) - FAPESP:
2013/24215-6 e 2016/03120-5.

Imagem da lombada:
Modelo digital de elevação da
América do Sul com o traçado
do Lineamento Transbrasiliano
(cortesia de Marlei Chamani,
vide página 184).
ORGANIZAÇÃO
Andrea Bartorelli
Wilson Teixeira
Benjamim Bley de Brito Neves
ANDREA BARTORELLI
COORDENAÇÃO EDITORIAL E GRÁFICA
Carlos Cornejo WILSON TEIXEIRA
Silvia Rita dos Santos
Nota do Editor BENJAMIM BLEY DE BRITO NEVES
PRODUÇÃO GRÁFICA Organizadores
Enquanto coordenador editorial e gráfico do
Solaris Edições e Produções livro, agradeço aos organizadores o convite para
Culturais e Multimídia Ltda. participar de uma empreitada desta magnitude que,
ao sintetizar o conhecimento disponível sobre o
PRÉ-IMPRESSÃO assunto, põe a disposição dos interessados uma obra
Giclê Fineart Print
que certamente se tornará um marco e referência
ineludível no desenvolvimento de suas pesquisas. Geocronologia e Evolução
Trata-se de um esforço monumental que, nas
IMPRESSÃO E ACABAMENTO
Coan Indústria Gráfica
suas 6 partes, reúne 52 contribuições, em 4 línguas,
com mais de 90 autores nacionais e estrangeiros.
Tectônica do Continente
Nas suas 728 páginas, o livro contém 645 figuras,
entre fotografias, gráficos e tabelas, nele, ficando
registrada uma história de mais de seis décadas,
Sul-Americano: a contribuição
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
com extraordinárias imagens dos protagonistas de
valiosos avanços científicos, uma revisão exaustiva
e uma posta em dia do conhecimento, com especial
de Umberto Giuseppe Cordani
Bartorelli, Andrea destaque para o homenageado.
Geocronologia e evolução tectônica do Continente Foi requerido um enorme esforço de padro-
Sul-Americano: a contribuição de Umberto Giuseppe Cordani / nização, em consulta permanente com os diversos 1ª edição
Andrea Bartorelli, Wilson Teixeira, Benjamim Bley de Brito Neves. autores e com os organizadores da obra, na definição
– 1. ed. – São Paulo : Solaris Edições Culturais : Andrea Bartorelli,
Wilson Teixeira, Benjamim Bley de Brito Neves, 2020.
de conceitos e termos de uso técnico, afim de au-
mentar a compreensão do texto e reduzir possíveis
ISBN 978-65-991526-0-3 (Solarias Edições Culturais) ambiguidades.
Fui convidado pelos organizadores porque que-
1. Ciências da terra 2. Cordani, Umberto Giuseppe riam dar uma feição moderna ao livro, isto é, com
3. Geociências 4. Geocronologia 5. Geologia
6. Geologia estrutural – Trabalhos de campo 7. Tectônica excelente qualidade editorial e gráfica, e abundante
I. Teixeira, Wilson. II. Neves, Benjamim Bley de Brito. III. Título iconografia, a fim de criar um registro perdurável e
ao mesmo tempo atrativo, que, ademais das imagens
20–38961 CDD-550 técnicas, incorporasse retratos dos autores, cenas
do trabalho de campo, da participação em eventos
Índices para catálogo sistemático: e até da convivência, para produzir uma obra que
1. Geociências : Ciências da terra 550 além dos profundos conhecimentos científicos até
aqui atualizados, apresenta-se uma face humana e
Maria Alice Ferreira – Bibliotecária – CRB-8/7964 bem-humorada.
No desenvolvimento da edição, nos deparamos
com um mar de estrangeirismos, arcaísmos técnicos e
neologismos, próprios de uma ciência em desen-
volvimento, já que em interação internacional e nas
fronteiras do conhecimento.
Houve uma verificação de grafias, toponími-
cos, datas, siglas e termos em diversas línguas (que
incluem espanhol, italiano, latim e inglês), com a
padronização de fórmulas e termos técnicos, com-
pondo um glossário e atualizando a ortografia.
Ao excelente e árduo trabalho dos organiza-
dores, num diálogo constante, aportamos diversos
critérios e práticas editoriais destinadas a aprimorar
Solaris Edições e Produções a apresentação dos textos e imagens, estas últimas
de diversas origens e épocas, em técnicas variadas,
Culturais e Multimídia Ltda. muitas das quais exigiram demorado trabalho de
Rua Tavares Bastos, 41 – Perdizes
São Paulo – SP – CEP 05012-020
digitalização e recuperação.
Eis aqui o resultado!
Solaris
Fone (11) 3675-6396
Edições Culturais
E-mail: solarised@terra.com.br Carlos Cornejo,
Site: www.solariseditora.com.br Solaris Edições Culturais. São Paulo, 2020
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SUMÁRIO

SUMÁRIO SEGUNDA PARTE: 136 Capítulo 7: 305 Capítulo 14:


ESTADO DA ARTE Umberto Cordani e a Geocronologia e Tectônica do Grupo
Apresentação DO CONHECIMENTO Geologia do Centro-Oeste. Brusque – Cinturão Dom Feliciano
8 O protagonismo científico do Reinhardt Adolfo Fuck. M. A. S. Basei, C. R. Passarelli, M. Hueck,
Professor Umberto Giuseppe Cordani. 47 Capítulo 1: O. Siga Jr., M. Q. Fernandes, N. Castro.
Apresentação de Andrea Bartorelli, O Cráton Amazônico e suas 146 Capítulo 8:
Wilson Teixeira e Benjamim Bley províncias geocronológicas: O Orógeno Brasília Meridional. 334 Capítulo 15:
de Brito Neves (Organizadores). o legado de Umberto Cordani. Mario da Costa Campos Neto, Geocronologia e geoquímica isotópica
Moacir José Buenano Macambira, Cauê Rodrigues Cioffi, Alice Westin, da Província Ígnea Paraná-Etendeka.
Wilson Teixeira, Brenda Chung Rocha, Gabriella Evandro F. de Lima, Valdecir A. Janasi,
Prefácio Marcelo Lacerda Vasquez. Labate Frugis, Mahyra Tedeschi, Lucas M.M. Rossetti, Breno L. Waichel.
15 José Goldemberg. Marco Aurélio Piacentini Pinheiro.
63 Capítulo 2: 348 Capítulo 16:
O sudeste do Cráton Amazônico 181 Capítulo 9: U. G. Cordani e o magmatismo alcalino.
Apoio e patrocínios e seu significado como embrião cratônico. O Lineamento Transbrasiliano: Celso de Barros Gomes.
16 Cordani, uma história Moacir José Buenano Macambira, um elemento chave na evolução
mais que geológica... Marcelo Lacerda Vasquez, Gilmar da Plataforma Sul-Americana. 357 Capítulo 17:
Simone Cerqueira Pereira Cruz, José Rizzotto. Marlei Antônio Carrari Chamani. Influência do embasamento na evolução
Presidente da Sociedade de bacias sedimentares: a contribuição de
Brasileira de Geologia. 79 Capítulo 3: 203 Capítulo 10: Umberto Giuseppe Cordani e do grupo de
Compartimentação tectônica na Província Borborema, síntese Geocronologia e Tectônica da USP para as
17 Centro de Pesquisas em Geocronologia porção sudeste do Escudo das Guianas: retrospectiva do conhecimento. atividades exploratórias da Petrobras.
e Geoquímica Isotópica – CPGeo. as províncias Maroni-Itacaiúnas Benjamim Bley de Brito Neves. Edison José Milani, Peter Szatmari.
Maria Helena Bezerra Maia de Hollanda, e Amazônia Central.
Diretora – CPGeo. Jean Michel Lafon, 250 Capítulo 11: 392 Capítulo 18:
Lúcia Travassos da Rosa Costa. O Orógeno Araçuaí à luz da Geocronologia: Geochronological record of plutonic
18 Laboratório de Geocronologia de um tributo a Umberto Cordani. activity on a long-lived active
Alta Resolução GeoLab-SHRIMP 92 Capítulo 4: Antônio Carlos Pedrosa-Soares, Carolina continental margin, with emphasis
Prof. Dr. Colombo Celso Gaeta Tassinari, Geologia e evolução tectônica das porções Deluca, Cristina Santos Araujo, Camila on the pre-Andean rocks of Chile.
Coordenador do GeoLab-SHRIMP. central e nordeste do Escudo das Guianas e Gradim, Cristiano de Carvalho Lana, Ivo Mauricio Calderón, Francisco Hervé,
sua estruturação em cinturões eo-orosirianos. Dussin, Luiz Carlos da Silva, Marly Babinski. Francisco Munizaga, Robert J. Pankhurst,
Lêda Maria Barreto Fraga, Jean-Michel C. Mark Fanning, Carlos Rapela.
PRIMEIRA PARTE: Lafon, Colombo Celso Gaeta Tassinari. 273 Capítulo 12:
INTRODUÇÃO Terrenos policíclicos da Província 408 Capítulo 19:
111 Capítulo 5: Mantiqueira: da superposição Geocronología e isotopía de Sr y Nd en los
20 Um cientista cidadão. Geologia e evolução crustal do centro- de orogêneses aos modelos atuais. Andes Colombianos como trazadores de la
Jacques Marcovitch. norte do Cráton Amazônico e correlações Miguel Tupinambá, Beatriz Paschoal formación del Supercontinente Pangea.
com as províncias geocronológicas. Duarte, Monica Heilbron, Claudio César Vinasco.
26 A elaboração do Mapa Marcelo Esteves Almeida, Rielva de Morisson Valeriano.
Tectônico da América do Sul. Solinairy Campelo Nascimento. 418 Capítulo 20:
Umberto G. Cordani. 288 Capítulo 13: Tectonic juxtaposition of Triassic and
122 Capítulo 6: Geocronologia do magmatismo graní- Cretaceous meta-(ultra)mafic complexes
30 O Brasil sob a ótica tectônica e O caráter crustal policíclico do tico no sudeste brasileiro: evolução do in the Central Cordillera of Colombia
o caso do Cráton do São Francisco: sudoeste do Cráton Amazônico. conhecimento a partir das contribuições (Medellín area) revealed by zircon U-Pb
a contribuição de U. G. Cordani. Jorge Silva Bettencourt, de Umberto G. Cordani. geochronology and Lu-Hf isotopes.
Fernando Flecha de Alkmim, Wilson Teixeira, Silvio Roberto Farias Vlach, Mauricio Ibañez-Mejia, Jorge J. Restrepo,
Simone Cerqueira Pereira Cruz. Amarildo Salinas Ruiz. Valdecir de Assis Janasi. Antonio Garcia-Casco.

4 5
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SUMÁRIO

444 Capítulo 21: 526 Capítulo 3: 579 Capítulo 7: QUINTA PARTE: DEPOIMENTOS
Geochronology of the Makenene- Saudação pela outorga do título de Profes- Magmatic Evolution of DE COLEGAS DE TURMA
Bafoussam transect in Cameroon: sor Emérito a Cordani em sessão solene da the Andes: the contributions
constraints for a major crustal boundary Congregação em 19 de novembro de 2010. of the IGCP Project 120. 635 Capítulo 1:
in the Precambrian terrains of Sônia Barros de Oliveira. Victor Alberto Ramos. Umberto, meu amigo
Cameroon (Central Africa). de longa data.
Jean Pierre Tchouankoue, 528 Capítulo 4: 593 Capítulo 8: Adolpho José Melfi.
Depesquidoux I Tchato Tchaptchet, “Nature to be commanded...” Address Three decades of educational
Nicole Armelle Simeni Wambo, by the IUGS President at the opening and research collaborations 638 Capítulo 2:
Madeleine Liliane Nyassa, ceremony of the 28th International in Brazil, with special recognition O convívio com Umberto.
Joseline Dieugnou Juinang, Geological Congress. of Prof. Umberto Cordani’s role Celso de Barros Gomes.
Celine Maffo Feudjou, Umberto G. Cordani. in initiating and facilitating
Noel Aimee Kouamo Keutchafo. the programs. 647 Capítulo 3:
William R. Van Schmus. Umberto, meu primo por adoção.
456 Capítulo 22: QUARTA PARTE: Vicente Antônio Vitório Girardi.
Reviews of the Eburnean geodynamic DEPOIMENTOS 602 Capítulo 9:
evolution: case study of the O Brazilian Journal 651 Capítulo 4:
Kedougou-Kenieba Inlier (Senegal). 534 Capítulo 1: of Geology. Estágio em Mato Grosso.
Gueye Mamadou, Ngom Papa Malick. Origin of the Center for Claudio Riccomini. Wilson Scarpelli.
Geochronological Research at São Paulo.
475 Capítulo 23: John Hamilton Reynolds (in memoriam). 608 Capítulo 10: 657 Capítulo 5:
Trajetória geocronológica do Prof. A Carta Geológica Memórias do Cordani.
Cordani na África e a colaboração 546 Capítulo 2: do Brasil ao Milionésimo. Milton Assis Kanji.
científica com Moçambique. Trajetória histórica do Centro de Carlos Schobbenhaus.
Rômulo Machado, Ruy Paulo Philipp. Pesquisas Geocronológicas da 659 Capítulo 6:
Universidade de São Paulo. 610 Capítulo 11: O colega Umberto.
482 Capítulo 24: Enio Soliani Jr., Koji Kawashita. Cordani: um dos ícones Fernão Paes de Barros.
A review of the modern da Geologia brasileira.
geochronological record of 563 Capítulo 3: Carlos Oití Berbert, SEXTA PARTE:
the Mozambique Belt in A importância do SHRIMP da Carlos Schobbenhaus, DESTAQUES ACADÊMICOS
Mozambique and its key in USP para a Geologia Brasileira. Lêda Maria Barreto Fraga.
understanding the crustal evolution. Kei Sato. 661 Umberto Cordani
D. L. Jamal, F. R.. Chaúque, P. Siegfried, H. 618 Capítulo 12: na Academia Brasileira
Manhiça, F. M. Augusto, D. C. Macute. 568 Capítulo 4: Un triangolo Bologna – de Ciências.
A geocronologia de rochas Milano – San Paolo. Diogenes de Almeida Campos.
sedimentares, interação Intesa italo-brasiliana
TERCEIRA PARTE: CPGeo/IGc-USP e PETROBRAS. tra IUGS e IGC in una 679 Produção científica de
ENTREVISTAS E DISCURSOS Antonio Thomaz-Filho. visione globale della geologia Umberto G. Cordani.
non più big science. Compilação de
496 Capítulo 1: 572 Capítulo 5: Gian Battista Vai, Anderson Santana.
De Milão para São Paulo. Umberto Cordani, o professor. William Cavazza,
Entrevista de Andrea Bartorelli. Paulo César Boggiani. Attilio Boriani. 689 Distinções acadêmicas.

507 Capítulo 2: 577 Capítulo 6: 631 Capítulo 13: 702 Álbum fotográfico de
Cordani e a revolução científica O Professor Umberto Cordani Lembranças do convívio Umberto G. Cordani.
da tectônica de placas. e a Geofísica. com Umberto.
Entrevista de Marta S. M. Mantovani. Igor Ivory Gil Pacca. Andrea Bartorelli. 726 Agradecimentos.

6 7
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano APRESENTAÇÃO DE A. BARTORELLI, W. TEIXEIRA e B. B. BRITO NEVES

O protagonismo científico do
Professor Umberto Giuseppe Cordani
Andrea Bartorelli,
Wilson Teixeira,
Benjamim Bley de Brito Neves,
organizadores.

O presente volume nas mãos do leitor confere ímpeto ao perfil produ-


tivo da Universidade de São Paulo (USP), não só por trazer resultados de
impacto ao alcance da comunidade geológica, mas também por ressaltar
o protagonismo científico do Professor Umberto Giuseppe Cordani e sua
notável personalidade.
Desde cedo, sua carreira acadêmica foi dedicada à geocronologia. Em
1963 o Professor Viktor Leinz, então diretor do antigo Departamento de
Geologia e Paleontologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras,
FFCL, da USP, necessitava indicar alguém para ir à Universidade da Ca-
lifórnia em Berkeley, EUA para ser treinado em geocronologia com a su-
pervisão do Prof. John H. Reynolds, coordenador do laboratório daquela
instituição. A escolha acabou recaindo sobre o jovem assistente Cordani do
departamento, revelando-se posteriormente em uma feliz e muito bem-su-
cedida indicação. As circunstâncias mostraram que Cordani estava no lugar
certo na hora certa: ninguém a não ser ele teria se mostrado tão adequado
para assumir essa responsabilidade, dando início ao programa de datações
no Brasil, na América do Sul e até na África.
Mais de cinco décadas passadas desde a fundação do Centro de Pesquisas
em Geocronologia e Geoquímica Isotópica (CPGeo), a sua trajetória de suces-
so deve-se muito às ações estratégicas de Umberto Cordani e seus colaborado-
res, seja na ampliação da infraestrutura laboratorial, seja na sua postura proa-
tiva na cooperação científica e na disseminação da geocronologia na América
do Sul – hoje uma especialidade consolidada das Geociências. Sem dúvida,
todos os que utilizam a geocronologia devem muito a ele.
Portanto, a edição de um livro de caráter histórico sobre a importante con-
tribuição do Professor Umberto Cordani para o conhecimento da evolução tec-
tônica do continente Sul-Americano, e que também apresenta aspectos da sua
trajetória acadêmica e pessoal, é muito oportuna neste ano em que ele chega
aos 82 anos em plena atividade profissional. Contudo, esta iniciativa foi cir-
cunstancial: em uma viagem a Manaus em 2018, a convite de Ennio Candotti,
Diretor do Museu da Amazônia (MUSA), para atender a um workshop, Andrea
Bartorelli, um dos organizadores do livro, viajou ao lado de Cordani nos voos Umberto Giuseppe Cordani,
de ida e volta, e comentou sobre a possibilidade de uma eventual obra em sua resulta num livro que integra informações precisas e atualizadas so- em 2002.
homenagem. A surpresa de Cordani e sua perplexidade com a proposta foram bre o patrimônio geotectônico do Brasil e da América do Sul, com
manifestadas no e-mail dele reproduzido no quadro a seguir (Conversa necessá- excelente qualidade gráfica e ilustrações. A grande receptividade de
ria), combinando o português com a língua materna de ambos. renomados pesquisadores do Brasil e do exterior para contribuir
Após dois anos de maturação, o projeto Geocronologia e Evolução Tectô- com capítulos atesta o reconhecimento à atuação de Cordani, con-
nica do Continente Sul-Americano: a contribuição de Umberto Giuseppe Cordani substanciada agora nesta obra histórica.

8 9
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano APRESENTAÇÃO DE A. BARTORELLI, W. TEIXEIRA e B. B. BRITO NEVES

Preparando uma tabela


com as primeiras da-
tações K-Ar feitas em
Berkeley, Califórnia,
EUA, na casa de John
Reynolds, em 1963.

Cabo Frio, Rio


de Janeiro, em
junho de 1959,
durante uma
excursão dos es-
tudantes de Ge-
ologia da USP ao
Espírito Santo,
com a presença
dos professores
Viktor Leinz e
Henno Martin.

Nabor Ruegg e Um-


O livro está organizado em seis partes, sendo iniciado pela sua Apresentação e berto Cordani ouvindo
Prefácio, este de autoria do eminente cientista José Goldemberg. A primeira parte música na residência
é formada por três capítulos: um ensaio sobre o seu perfil científico e de cida- de John Reynolds, em
Berkeley, Califórnia,
dão brasileiro, uma síntese das ações coletivas que culminaram com o novo Mapa EUA, em 1963.
Tectônico da América do Sul (2016), sob a coordenação do Prof. Cordani, e uma
abordagem das muitas facetas da contribuição dele para o entendimento do quadro
geotectônico da Plataforma Sul-americana.
A segunda parte introduz o estado da arte do conhecimento da geologia da Amé-
rica do Sul e de algumas regiões africanas, com ênfase para o Brasil, e destaca a A terceira parte apresenta uma coletânea de entrevistas com o homenageado e
importância da geocronologia ao revisitar aspectos relevantes da evolução tectônica, registros históricos que revelam a visão abrangente e inovadora de Cordani sobre
magmática e sedimentar. Esta parte é constituída por 24 capítulos, elaborados por grandes questões das geociências. Destaca-se a sua coautoria no artigo seminal de
várias dezenas de autores, entre eles acadêmicos renomados de universidades brasi- Hurley et al. (Science, 1967) sobre a Deriva dos Continentes, testada por datações
leiras e estrangeiras que foram convidados por serem especialistas nos temas abor- radiométricas de rochas da América do Sul e da África, e o seu discurso de abertura
dados, além de terem contado com a colaboração de Cordani em ao menos alguma do XXVIII Congresso Geológico Mundial, em Washington, D.C., EUA, na qualida-
etapa de suas pesquisas. Esses capítulos abordam: a evolução de domínios tectônicos de de Presidente da União Internacional das Ciências Geológicas, quando tratou do
(e.g., crátons, orógenos), a influência do embasamento na história das bacias intra- tema “Nature to be commanded” (Episodes, 1989).
cratônicas, a revisão do conhecimento de grandes províncias ígneas (e.g., Paraná-E- Na quarta parte, dois textos iniciais resumem as origens do CPGeo e aspectos
tendeka), a história magmática e tectônica dos Andes e de seu embasamento (Co- de sua trajetória por mais de cinco décadas. Em sequência, estão os depoimentos
lômbia, Chile) e, ainda, de setores selecionados da África (Moçambique, Camarões, de colaboradores e colegas de trabalho. Na quinta parte encontram-se os relatos
Senegal), entre outros temas que tiveram o envolvimento de Cordani. Estes capítulos de colegas de turma da USP e amigos de longo convívio com Cordani. Tanto na
interessam aos mais diversos perfis de leitores, por também apresentarem uma aná- quarta parte como na quinta parte, os textos encontram-se acompanhados por
lise crítica dos assuntos aliada a uma revisão completa da literatura especializada. fotografias pessoais. Finalmente, a sexta parte do livro apresenta uma súmula da

10 11
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano APRESENTAÇÃO DE A. BARTORELLI, W. TEIXEIRA e B. B. BRITO NEVES

Umberto Cordani trabalhando com o espectrô-


metro Nuclide do Laboratório de Geocrono- Ennio Candotti e Umberto Cordani na torre de observação do Museu da
produção científica do Professor Cordani, as Amazônia, MUSA, em Manaus. Fotografia de Lisbeth Cordani em 2014.
logia, da Alameda Glette, em 1965, primeira
sede da antiga Faculdade de Filosofia, Ciências
muitas distinções recebidas por ele durante a
e Letras da Universidade de São Paulo, onde carreira acadêmica e administrativa na USP e,
eram impartidos os cursos de geologia. ainda, uma memória fotográfica, incluindo a Conversa necessária
reprodução de seus diplomas e medalhas.
Temos certeza que esta obra magistral, com Andrea,
detalhes das diversas atividades científicas de Benissimo. Quattro ore di Bartô il lunedì scorso, più quattro ore il giovedì, sono
Umberto Cordani, contribui também para a troppe! I miei neuroni e le sue necessarie sintassi sono sconvolte dall’idea del libro che
formação de recursos humanos especializados hai proposto, che proprio non me la aspettavo.
por enfatizar o raciocínio geológico, alicerçado Nel mio cervello l’angelo custode e il diavolo hanno cominciato a discutere.
nos conceitos da geocronologia e geotectônica. O querubim me diz que seria muito pretensioso de minha parte figurar como um
Seu escopo multidisciplinar vem preencher ain- guru da geologia. – “Culto da personalidade? Quem és tu perante um Fernando, um
da uma lacuna na literatura ao ressaltar o pa- Vanzolini, um Aziz? O Bartô é teu amigo, mas é completamente pazzo! Além de tudo,
pel fundamental das Ciências da Terra em prol és muito jovem e ainda tens muito o que fazer pela geologia.”
da sustentabilidade do desenvolvimento social Concordei. Mas aí vem o Capeta: – “Nada, o Bartô é um grande cara, e conhece o
– uma ilustração fiel da atuação destacada do ambiente! Tu fazes parte da primeira turma de geólogos brasileiros, e serias um exem-
plo muito interessante para os teus pares. Trabalhaste muito, o pessoal te conhece
Professor Cordani nesse e em outros temas.
bem, e haverá gente que escreva a teu respeito.”
Os organizadores são responsáveis pela co-
E allora, cosa faccio? Se quello che mi hai detto è serio, che ti disponi a perdere
ordenação e estruturação do livro, congregando una buona parte della tua vita per organizzare un libro che parla di mé, devo solo
Umberto Cordani, Presidente da IUGS duran-
inúmeros participantes, além da revisão crítica ringraziarti, non è vero?
te o 28th International Geological Congress, dos capítulos, ilustrações, entrevistas e outros De qualquer forma, não é fácil, e precisamos conversar a respeito. Se você conti-
em Washington, D.C., EUA, com sua esposa textos. Para as imagens fotográficas, foi utili- nua disposto a ir adiante com isso, diga-me quando e onde conversaremos.
Lisbeth, Charles Drake, Presidente desse con-
gresso, e senhora, em julho de 1989.
zado material cedido pelos autores e colabora- Saluti cari,
dores e, principalmente, do acervo pessoal do Umberto.
Professor Cordani. Boa leitura!

12 13
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano PREFÁCIO DE JOSÉ GOLDEMBERG

Umberto Cordani representou


ANDREA BARTORELLI. Geólogo pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
um papel muito importante na
da Universidade de São Paulo (1965). Mestre pela mesma faculdade em 1970. modernização da área de Geociências
Doutor em Geociências pelo Instituto de Geociências e Ciências Exatas da Uni-
versidade Estadual de São Paulo, UNESP (1997). É consultor independente, desde
1995, nas áreas de geologia de engenharia e mapeamento geológico para projetos A criação da Universidade de São Paulo (USP) em 1934 re-
de engenharia, mineração, água subterrânea e meio ambiente. Nos anos de 1966
a 1969 foi professor assistente do Departamento de Geologia e Paleontologia da
presentou um passo importante na modernização do ensino su-
FFCL-USP e, de 1969 até 1994, foi geólogo das empresas IPT, Mineração Araça- perior público no Brasil, mas sua efetiva implantação não ocor-
zeiro, Engevix, E.T.J.C. Figueiredo Ferraz e Themag Engenharia. Atuou em pros- reu de forma uniforme em todas as áreas do conhecimento.
pecção sísmica e mapeamentos geológico-geotécnicos e ambientais para a Ferrovia
do Aço, Rodovia dos Imigrantes, Rodovia dos Bandeirantes, Sistema de Transmis-
Há exemplos claros de sucesso rápido nesse esforço, como
são associado à Usina Hidrelétrica de Tucuruí, Gasoduto Brasil-Bolívia, estudos de ocorreu nas áreas de Física, Matemática e Humanidades em
inventário hidrelétrico e de viabilidade de barragens nas bacias dos rios Tocantins, geral, mas em outras a modernização demorou, tendo encon-
Tapajós, Madeira, Trombetas, Jari e Branco. Foi coorganizador de livros sobre as
obras dos professores Fernando Flávio Marques de Almeida, Aziz Nacib Ab’Sáber, trado até resistência aberta em algumas das escolas tradicio-
Paulo Emilio Vanzolini e Setembrino Petri. Coeditou ainda o livro Geologia do nais, cuja criação antecedeu em muitos anos à criação da USP.
Brasil (2012) e um livro sobre a construção da Hidrelétrica de Estreito, no Rio To- Umberto Cordani representou um papel muito importan-
cantins. É coautor do livro Minerais e Pedras Preciosas do Brasil e Coleções Minerais
do Brasil, e foi organizador de livro sobre a contribuição do engenheiro Murillo te na modernização da área de Geociências.
Dondici Ruiz para a geologia de engenharia e a mecânica de rochas no Brasil. Formado em 1960, especializou-se em geocronologia no
período que passou na Universidade da Califórnia, em 1963.
Essa era uma área de pesquisa incipiente na época e que mar-
José Goldemberg, Professor Sênior do
cou depois toda sua carreira como pesquisador. Assim sendo, Instituto de Eletrotêcnica e Energia
WILSON TEIXEIRA. Geólogo (1974) pelo Instituto de Geociências (IGc) da Univer-
sidade de São Paulo, onde também obteve os títulos de Mestre (1978), Doutor (1985) ele deu inicio na USP a uma tecnologia revolucionária que da Universidade de São Paulo, USP, da
e Livre Docente (1992). Professor Titular do IGc-USP, desde 1997, onde atualmente é permitiu enormes avanços na compreensão da evolução do qual foi reitor (1986-1990). Foi Presi-
Prof. Sênior. Sua carreira acadêmica inclui pós-doutorados na Universidade de Oxford dente da Fundação de Amparo à Pes-
nosso planeta em contraste com a geologia do passado. quisa do Estado de São Paulo, FAPESP.
(1986) e Princeton (1988). Foi Diretor do IGc-USP entre 1999 e 2004, e Diretor da
Estação Ciência – Centro de Divulgação Científica e Cultural da USP, entre 2005 e Só vim a conhecê-lo melhor mais tarde, em 1987, como Entre 1990 e 1992 ocupou vários
2008 (duas gestões), entre outras funções acadêmicas na USP. É Membro Titular da Reitor da USP, período no qual o escolhi em lista tríplice para cargos no Governo Federal: Secretário
Academia Brasileira de Ciências desde 1994 e da Academia de Ciências do Estado de de Ciência e Tecnologia, Secretário de
São Paulo. Foi distinguido com a Ordem do Mérito Científico – Grau Comentador
Diretor do Instituto de Geociências. Como membro do Con- Meio Ambiente e Ministro da Educa-
em 2005. Um marco da sua carreira docente foi a disciplina on-line “Sistema Terra”, selho Universitário, me impressionou sempre pela clareza das ção. É co-Presidente do Global Energy
disponibilizada pela UNIVESP-USP (no Youtube com milhares de visualizações). Suas suas posições e mente aberta às medidas que tentei introduzir Assessment, sediado em Viena.
áreas de interesse científico são a geotectônica e a geocronologia, a popularização das
geociências e a educação ambiental. Editor chefe do periódico Precambrian Research
na modernização da Universidade.
(Elsevier). Publicou como autor e coautor mais de uma centena de artigos nos Em 1990, Cordani organizou a “Regional Conference on Global Warming and
principais periódicos da área. Foi coorganizador principal e autor de capítulos na Sustainable Development”, que presidi como Secretário de Ciência e Tecnologia da
obra Decifrando a Terra (editora Oficina de Textos, 1ª edição, em 2000; editora Presidência da República. Esses foram tempos difíceis, porque a compreensão clara
IBEP-Nacional/Conrad, 2ª edição, em 2009), menção honrosa no Prêmio Jabuti da
Câmara Brasileira do Livro, em 2002, na categoria Ciências Exatas, Tecnologia e dos problemas do aquecimento global e das mudanças climáticas era questionada
Informática. Coorganizador e autor de quatro volumes da série Tempos do Brasil por alguns colegas que negavam que estes fenômenos fossem causados por ações
(2003, 2005, 2007 e 2009) da Editora Terra Virgem.
antropogênicas. A conferência, organizada por Cordani, foi importante em legiti-
mar as ações do Governo Federal, que levaram o país a sediar em 1992 a histórica
BENJAMIM BLEY DE BRITO NEVES. Formado em Geologia em 1962, pela Uni-
Conferência das Nações Unidas, no Rio de Janeiro, que adotou a Convenção do
versidade de Recife. Trabalhou dez anos na SUDENE em pesquisas hidrogeológicas Clima e da Biodiversidade.
e estratigráficas. Ingressou na UFPE como professor adjunto, em 1969, onde ficou Cerca de 25 anos depois, em 2017, Cordani preparou para a Presidência da
até 1985. Fez doutorado (1972-1975), Livre docência (1895) e alçou à titularidade
em 1990 no IGc-USP. Desde 2001 é Professor Sênior do IGc-USP. Tem cursos de
FAPESP, a meu pedido, uma análise do “estado da arte” na geologia no Brasil, em
pós-graduação nas Universidades de Minnesota e de Estocolmo. Tem cerca de 120 que apresentou com clareza e objetividade os problemas desta área de conhecimento.
trabalhos publicados em revistas referendadas, é autor de um livro (Glossário de Este livro, em que contribuíram mais de uma centena de cientistas, apresenta
Geotectônica) e co-autor de dois outros, um no Brasil, outro na Inglaterra, todos
em Geotectônica Regional. Foi coorganizador ainda de livro em homenagem ao o estado da arte do conhecimento da geologia do continente Sul-Americano, com
Professor Fernando de Almeida (2004). Pertenceu ao Comitê de Tectônica do IU- destaque para o Brasil, e fica evidente nele a contribuição do Umberto Cordani para
GS-UNESCO por anos e foi representante do Brasil no Projeto 440 da IUGS, na esta área. Ele constitui uma justa homenagem às suas inúmeras contribuições, tanto
confecção do mapa 1/20.000.000 do Supercontinente Rodínia e membro titular da
Academia Brasileira de Ciências. Foi agraciado com os prêmios Martelo de Prata na área científica como administrativas na USP, em que seu bom senso e padrões ele-
(1972) e Medalha de Ouro “José Bonifácio de Andrada e Silva” (2001) da Socie- vados foram uma constante ao longo de mais de 50 anos de atividade como cientista
dade Brasileira de Geologia. e professor universitário.
José Goldemberg

14 15
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano PATROCÍNIO

Cordani: uma história


mais que geológica
Centro de Pesquisas em Geocronologia
A Sociedade Brasileira de Geologia tem por mis-
são fomentar o conhecimento e o desenvolvimento
e Geoquímica Isotópica – CPGeo
das geociências, da geologia aplicada e da pesqui-
sa e tecnologia correlata, assim como o aproveita- São muitos os elogios, as lembranças e reflexões que poderiam
mento racional e sustentável de recursos minerais estar escritos nessa página de forma a bem traduzir o “todo ou tudo”
e hídricos. Em sua atuação, a Sociedade estimula que você, Umberto Cordani, representa para nós – o CPGeo. No
a promoção da edição e distribuição de livros de entanto, escolhemos homenageá-lo com uma curta mas deveras ver-
interesse técnico-científico e didático. É com essa dadeira reprodução de dois trechos daquele que talvez tenha sido o
motivação que a Sociedade apoiou a concretização documento que definitivamente iniciou nossa história conjunta. Este
deste livro em homenagem a um dos maiores no- registro deve estar vivo em sua mente: Umberto Cordani fazendo
mes das Geociências, o Professor Umberto Cordani. “[...] The building of a geochronology laboratory will not only pro- anotações no espectrômetro
vide a valuable addition to our department, but will also prove to be a Nuclide do Laboratório de
Com uma carreira brilhante, o estimado professor Geocronologia, na sede da
destacou-se, sobretudo, na liderança e execução de nucleus for important future research in Brazilian science.” Alameda Glette, em 1965.
pesquisas científicas de elevada relevância sobre evolução crustal, “[...] to make sure that the most capable man will be available to
por meio da geocronologia e da geoquímica isotópica. Internacio- work along with you […] we selected [as a trainee in geochronology] one of our grad-
nalmente reconhecido pelas suas contribuições acadêmicas e cien- uate assistants, Umberto Cordani [who] has a good background in physical sciences
tíficas, recebeu muitas homenagens e prêmios nacionais e interna- and mathematics, [and] is considered by most of the faculty members as the most
cionais durante a carreira acadêmica, destacando-se, no âmbito da intelligent and capable of all assistants.”
SBG, a sua premiação com o Martelo de Prata (1ª edição) em 1966, Extraído da carta enviada pelo Dr. Viktor Leinz (Diretor do Depto. de
pela já destacada produção científica. Em 1998, recebeu a Medalha Geologia e Paleontologia da então Faculdade de Filosofia, Ciências
de Ouro José Bonifácio de Andrada e Silva, face à sua contribuição e Letras da USP) ao Professor John Reynolds (Dept. of Physics,
University of California, Berkeley, EUA), datada de 4 de maio de 1963.
para o desenvolvimento e avanço do conhecimento geológico por
Umberto Cordani recebe meio de atividades de pesquisa e liderança científica e, em 2019, Dois anos após a criação como Laboratório de Geocronologia, tornamo-nos
de Claudio Riccomini, tornou-se Sócio Honorário de nossa entidade. Diversas foram ainda Centro de Pesquisas Geocronológicas – CPGeo, em 1965. Fomos nós os personagens
Presidente da Sociedade
Brasileira de Geologia, a
as suas contribuições com foco na popularização das Geociências e protagonistas da história da Geocronologia na América do Sul. Amadurecemos em
Medalha de Ouro “José na discussão do papel dos (as) geocientistas no desenvolvimento das decorrência de nossos feitos e acertos, ora conjuntos ora individuais. Não importa.
Bonifácio de Andrada sociedades contemporâneas. Quase sempre esses feitos se intercalaram, se mesclaram e se confundiram. É inegável
e Silva”, durante o XL
Congresso Brasileiro Este livro reúne desde um relato histórico das contribuições do que tenhamos sido (ou, talvez, sempre sejamos) um o complemento do outro.
de Geologia, realizado Professor Umberto Cordani ao conhecimento da Geologia da Platafor- Agora redefinido como Centro de Pesquisas em Geocronologia e Geoquímica
em Belo Horizonte, em ma Sul-americana, ilustrado pelo estado da arte do conhecimento de Isotópica (ainda mantendo o acrônimo CPGeo), somos equivalentes aos congêneres
outubro de 1998.
seus diversos sistemas geológicos, até um generoso registro de sua tra- internacionais. Conquistamos espaço como importante parceiro analítico da geolo-
jetória pessoal, com depoimentos de parceiros (as) e amigos (as). São gia “acadêmica”, “produtiva e exploratória” e “ambiental”, resultado do esforço de
muitas histórias, nem todas geológicas... mas todas elas dialogam com nossos pesquisadores e técnicos, da motivação dos profissionais que formamos e do
a sabedoria de alguém que, em seu papel na vanguarda do conheci- apoio de todos os financiadores. O papel que cada um nós exerce(u) nessa longa ca-
mento geocientífico, soube traduzir de forma extremamente didática, minhada é próprio, não deve se superpor, ao contrário, sempre somar. É o caminho
a linguagem das rochas. correto para continuar crescendo fortes e confiantes... diria você!
A Sociedade Brasileira de Geologia convida a todos e a todas para Neste que é o livro-memória de sua trajetória profissional, nós – o atual CPGeo,
apreciar essa valorosa e histórica obra, ao tempo em que agradece ao vimos lhe referenciar como exemplo de “...geologist, researcher, research director, pro-
Professor Umberto Cordani pela sua relevante contribuição às Geoci- fessor, administrator, and international worker and spokesman for geology...”, tomando
ências brasileira e mundial, bem como aos organizadores do livro, e às de empréstimo as palavras do Professor J. Reynolds (2002, em Origin of the Center for
empresas e apoiadores que se engajaram nesta justa homenagem a ele. Geochronological Research at São Paulo). Muito honrados somos em ser parte de você.

Simone Cerqueira Pereira Cruz Maria Helena Bezerra Maia de Hollanda


Presidente da Sociedade Brasileira de Geologia Diretora – CPGeo

16 17
PATROCÍNIO PATROCÍNIO

Laboratório de Geocronologia
de Alta Resolução
GeoLab-SHRIMP
O GeoLab-SHRIMP do Instituto de Geociências
da Universidade de São Paulo sente-se honrado em
copatrocinar este livro, inspirado na vida e obra do
Prof. Dr. Umberto Giuseppe Cordani. O GeoLab-SHRIMP é o único da América Lati-
na e um dos poucos no mundo equipado com uma microssonda iônica de alta resolu-
ção. A história do GeoLab-SHRIMP iniciou em torno de 2000, com o Prof. Cordani,
seguindo sua filosofia de que a formação de recursos humanos nas novas tecnologias
da geocronologia era fundamental para o progresso da ciência no Brasil.
Em um dia do ano de 2005, lembro-me ainda muito bem da conversa que eu
e outros colegas tivemos com Cordani sobre a importância do SHRIMP I, que
estava revolucionando a geocronologia mundial. Foi nessa conversa que surgiu o
plano de comprar o SHRIMP I, instalado na Australian Nacional University, em
vias de ser desativado. Para mim poucas ideias foram tão motivadoras como esta,
e a partir daí foi iniciado um esforço coletivo para a aquisição do equipamento.
Entretanto, essa compra viria a ser desaconselhada pelos próprios pesquisadores
australianos que consideravam não ser possível uma remontagem do equipamen-
to em outro local. A partir deste aparente insucesso, Cordani nos convenceu
que era a hora de um passo mais ousado: tentarmos a aquisição da versão mais
moderna, o SHRIMP IIe multicoletor. Contudo, tratava-se de um investimento
da ordem de três milhões e quinhentos mil dólares americanos, sem considerar
os custos de instalações e periféricos. Em função do vultoso custo, eu e o Prof.
Cordani direcionamos o plano de aquisição do SHRIMP IIe ao Prof. Dr. José
Carlos Perez, na época Diretor Científico da Fundação de Amparo a Pesquisa do Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais
Estado de São Paulo – FAPESP, que se mostrou sensível à viabilização do nosso
plano, desde que nós conseguíssemos outro patrocinador que financiasse a meta- (CPRM) – Serviço Geológico do Brasil
de do investimento. Foi então que nos reunimos com o Dr. Guilherme Estrella,
então Diretor da PETROBRAS, para apresentar a proposta, que após discussões
internas na empresa, foi aceita.
O SHRIMP IIe chegou à USP no segundo semestre de 2008. A sua instalação Sens Advanced Mass Spectrometry
ainda exigiria substancial financiamento da Reitoria da USP, para a construção de
um edifício específico, que contou novamente com o suporte financeiro da PE-
TROBRAS através do Dr. Edison José Milani, na época Gerente Geral de P&D em
Geociências do CENPES, e da FINEP. O novo edifício do laboratório e o SHRIMP Mineração Caraíba
IIe foram inaugurados em dezembro de 2010 e operam em rotina desde 2011 –
sob a sigla oficial GeoLab-SHRIMP, sendo hoje um importante polo de atração de
geocientistas e de geração de dados geocronológicos de altíssima precisão.
Este volume que chega às mãos do leitor é um excelente exemplo do papel indutor MGA – Mineração e Geologia Aplicada
do Prof. Cordani na disseminação e popularização da Geocronologia; e desde já o
livro passa a ser uma referência obrigatória para a Tectônica do nosso continente.

Prof. Dr. Colombo Celso Gaeta Tassinari


Coordenador do GeoLab-SHRIMP

18 19
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano PRIMEIRA PARTE: INTRODUÇÃO – jacques marcovitch

Cordani sustenta que não há empreendi-


Um cientista cidadão mento assemelhado economicamente ao mine-
ral como fonte geradora de riquezas. Para tanto,
Jacques Marcovitch ele avalia, é necessário empreender a mineração
organizada e sustentável, combater os meios
A que mundo pertencem os cientistas? Per- ilícitos de exploração e vencer as dificuldades
tencem ao mundo inteiro, assim como a ciên- para o gerenciamento da terra na enormidade
cia que produzem. Esta resposta é ainda mais geográfica e geológica daquele bioma. Nada
cabível quando se trata de alguém que, dentro mais oportuno, creio eu, em face de uma pre-
da academia, lida mais frequentemente com a tendida e pouco explicada exploração mineral
experiência externa e sem prejuízo do acom- em terras indígenas – o que é expressamente Umberto Cordani durante uma coleta de amostras
para a Docegeo no Rio Iriri, Amazônia, em 1973,
panhamento cotidiano da realidade do país vedado no artigo 231 da Constituição Federal. acompanhado por um geólogo da empresa.
em que vive. O verdadeiro homem de ciência A par das notáveis contribuições do nosso
é cidadão de uma comunidade sem fronteiras. homenageado às ciências da terra, reconhecidas
Neste caso, além de expandir os limites de sua no Brasil e no exterior, como se demonstra farta-
pesquisa, ele possui o que o poeta chamou de mente nas páginas deste livro, ele surpreende pelo
“sentimento do mundo” – um componente a domínio da governança universitária e seus com-
enriquecer-lhe a dimensão humana. plexos desafios. Faz isso de forma discreta, sem
Jacques Marcovitch é Professor
Sênior da Faculdade de Eco- Umberto Cordani, completando mais uma alarde, com uma sobriedade que é mais um traço
nomia, Administração e Con- década da sua vida significativa, pode orgulhar-se de haver conquistado positivo em seu modo de ser. No livro Universida-
tabilidade, FEA, e do Instituto cidadania múltipla, invisível em passaportes e currículos, mas inscrita de Viva – Diário de um Reitor, publicado em 2001,
de Relações Internacionais,
IRI, da Universidade de São em sua alma de cientista. Esta completude entre o indivíduo e o pesqui- tive ocasião de registrar os legados de Cordani em
Paulo, USP, da qual foi reitor sador faz dele uma pessoa com taxa zero de rejeição – o que está eviden- situações diversas. Cabe aqui reiterar a essência
(1997-2001). Integra o Conse- ciado no grande número de colaboradores deste livro comemorativo. daquelas alusões, por entendê-las atuais e dignas
lho Deliberativo do Graduate
Institute of International and Se me é permitida uma reflexão pessoal, devo dizer que tenho em de novos registros (Marcovitch, 2001).
Development Studies (IHEID), grande conta as amizades acadêmicas. Procurei sempre, no curso de Alcançamos, na Reitoria da USP, uma sintonia
em Genebra. jmarcovi@usp.br minha jornada, construir e preservar este espaço afetivo no qual fi- de ideias que nos levou a assinar, juntos, um ensaio Posse de Umberto Cordani como Diretor do
guram nomes com os quais compartilho uma determinada linha de sobre cooperação internacional na vida acadêmi- Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP) em
1994, vendo-se o Reitor Flávio Fava de Mo-
pesquisa e outros que, embora trabalhando em áreas diversas, têm a ca. Convidado, pouco antes, aceitou o desafio de raes e Jacques Marcovitch, a quem Cordani
mesma visão de universidade por mim cultivada. presidir a Comissão de Cooperação Internacional sucedeu na Diretoria do IEA.
Na direção do Instituto de Estudos Avançados, por exemplo, privei (CCINT), um dos órgãos mais relevantes na ges-
com muitos colegas daqui e de toda parte; e na Reitoria, que é um ob- tão central da instituição. Relembro agora este ensaio, produzido há vinte anos, e ainda
servatório da USP em seu conjunto plural, ampliei consideravelmente hoje válido em seus fundamentos conceituais. Argumentávamos, sobretudo, a propósito
a inestimável fortuna do convívio. Ali me aproximei do professor Um- da internacionalização das universidades – ainda hoje uma questão em aberto.
berto Cordani. Primeiramente, vi de perto a sua competência como As atividades de internacionalização são conhecidas: mobilidade acadêmica
respeitado cientista, como destacada liderança em associações interna- de professores e estudantes, transferência de créditos, dupla titularidade, educa-
cionais, como gestor acadêmico e, logo depois, passei a ter o privilé- ção global e/ou multicultural, projetos conjuntos, estudos específicos internacio-
gio, para mim bastante honroso, de me tornar seu amigo. nais, entre outras. Além disso, foram desenvolvidos recentemente novos meca-
Este pesquisador, que tanto contribuiu para o protagonismo da USP nismos: educação continuada, educação a distância, utilização de multimídia, de
na Conferência Rio-92, memorável cúpula mundial do Meio Ambiente, videoconferências etc.
voltou recentemente a se distinguir na comunidade científica interna- No início do processo de internacionalização que ocorreu nos anos 1940 ou 1950,
cional com um marcante e oportuno estudo sobre as potencialidades da em países industrializados, o racional dominante ainda era o político e econômico,
Amazônia como última fronteira mineral importante do planeta. Publi- vinculado à busca da dominância acadêmica. Por exemplo, logo após a Segunda Guerra
cada na Revista de Estudos Brasileiros (Universidade de Salamanca), o Mundial, na maior potência política, os Estados Unidos, as universidades foram incen-
artigo em questão argumenta que a região precisa urgentemente ampliar tivadas com subsídios federais a desenvolver estudos internacionais e treinamento em
o seu conhecimento geológico – um fator indispensável para uma ex- línguas estrangeiras. Na época, as justificativas foram o estímulo à paz e ao entendimen-
ploração não predatória e cientificamente orientada. (Cordani, 2018). to entre os povos. Mais adiante ocorreu certa uniformização dos estudos acadêmicos, e

20 21
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano PRIMEIRA PARTE: INTRODUÇÃO – jacques marcovitch

intenso intercâmbio, entre universidades da Amé-


rica do Norte e de muitos países europeus. Os
objetivos eram os de melhorar a empregabilidade
dos diplomados, bem como a sua capacidade de
A emblemática
trabalhar em contextos internacionais. Praça do Relógio
Com a consciência mundial despertada para da Universidade
a questão ambiental na busca do desenvolvi- de São Paulo.
Fotografia de
mento sustentável, mediante a utilização de tec- Marcos Santos.
Encontro no Instituto de Estudos Avan- nologias limpas, as motivações da internacio-
çados, IEA, quando Umberto Cordani nalização centram-se nos aspectos acadêmicos
era Diretor, junto a Jacques Marcovit- dos intercâmbios ligados à produção de conhe-
ch, Alberto Carvalho da Silva e Carlos
Guilherme Mota, em 1994. cimento, sem esquecer, porém, aspectos sociais
e culturais, desta vez em contexto global. Em
seus estatutos, a Associação Internacional de
Universidades (IAU), menciona a “promoção
da internacionalização de suas instituições bem
como da competência de seus alunos, como
essencial para um mundo mais pacífico, onde No caso da América Latina, buscando maior conhecimento e aperfeiçoamento
entendimento e cooperação internacional serão de recursos humanos, algumas das instituições melhor preparadas poderiam servir
cada vez mais críticos para a qualidade de vida e de universidades-ponte entre os centros mundiais melhor desenvolvidos e as demais
desenvolvimento sustentado econômico, social instituições universitárias. Isto é possível porque, conforme salientei, naquelas uni-
e cultural”. (IAU, 1998) versidades uma parte de seus docentes conhece as duas esferas e pode aproximá-las
Numa rápida visão de futuro, o intercâmbio adequadamente porque já possuem pessoal qualificado. A grande maioria de seus do-
acelerado, as redes de universidades que estão centes é portador do título de PhD ou equivalente. Elas já efetuam pesquisas de pon-
aparecendo e a expansão das novas tecnologias ta, como parceiras, em igualdade de condições, com os centros mais desenvolvidos.
de ensino podem ser o prenúncio de uma situ- As universidades de pesquisa na América Latina pouco têm aproveitado seu po-
ação nova. Algumas universidades estão expan- tencial no sentido de fazer irradiar sua experiência na região. Isso tanto no plano
Umberto Cordani e Jacques Marcovitch dindo o ensino a distância, a parceria para mi- nacional como no plano inter-regional. Entendemos que estas universidades de pes-
na posse do Prof. Alfredo Bosi como Dire- nistrar cursos em países diferentes, e até mesmo quisa poderiam servir de intermediárias em programas internacionais, oferecendo uma
tor do IEA-USP, em dezembro de 1997. criando filiais em sítios distantes do local origi- contrapartida equivalente nos intercâmbios acadêmicos com universidades de países
nal. Poderiam ser imaginadas instituições univer- mais desenvolvidos. E, ao mesmo tempo, proporcionar às demais universidades nacio-
sitárias internacionais, nos moldes das empresas nais ou regionais um acesso adequado às atividades de cooperação com os parceiros
multinacionais? Tal como bancos e empresas, internacionais, por exemplo, em convênios acadêmicos triangulares, ou multilaterais.
as universidades também não poderiam formar Nestes aspectos, a formação de recursos humanos para a pesquisa científica e
joint-ventures, e partilhar currículos, diplomas, tecnológica deve estar sempre em paralelo com a criação de estruturas de pesquisa
recursos humanos e outros produtos comuns, adequadas, nas universidades receptoras, para o posterior aproveitamento das pesso-
executando ações além-fronteiras? as preparadas nas atividades de cooperação científica acima descritas.
Nos países em desenvolvimento as univer- Várias temáticas de interesse regional, e que não têm sido objeto de prioridade de
sidades, em sua maioria, ainda lutam pela ob- estudo nos países mais desenvolvidos, poderiam ser apontadas, como as relacionadas
tenção ou pela manutenção de sua autonomia com a utilização de biomassa como fonte de energia (o etanol brasileiro), as voltadas
institucional, pela melhoria da qualidade aca- para a produção de vacinas e remédios para doenças tropicais, outras para a melho-
dêmica, bem como pela manutenção do papel ria de espécies utilizadas em agricultura, e aquelas relacionadas com a produção de
de consciência crítica e moral da sociedade em fármacos a partir de produtos naturais da Amazônia, por exemplo.
que se inserem. Ao mesmo tempo, seria possível Na transição para o século XXI, a USP empreendeu um amplo Fórum de Polí-
para elas eliminar ou diminuir a dependência e ticas Universitárias, que em boa parte refletiu, em abordagens espelhadas, a visão
Umberto Cordani durante uma palestra sobre meio a dominância acadêmica exercidas pelas univer- externa e a visão interna sobre várias questões acadêmicas, entre as quais a Avaliação
ambiente em Hyderabad, na Índia, em 2004. sidades dos países mais desenvolvidos? Institucional. Tema novamente estudado, com objetivos mais ambiciosos, no Projeto

22 23
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano PRIMEIRA PARTE: INTRODUÇÃO – jacques marcovitch

FAPESP Indicadores que resultou em 2019 na


obra coletiva Repensar a Universidade – Impac-
tos e Resultados Sociais, mas com os mesmos Discurso de
posse de Umberto
conceitos defendidos no referido Fórum. Na- Cordani, ao tomar
quele período, o professor Cordani depois de posse como mem-
realizar um trabalho exemplar na Comissão de bro da Academia
de Ciências da
Cooperação Internacional, CCINT, ocupava a França, en Paris,
presidência da Comissão Especial de Regimes em 2010. Fotogra-
de Trabalho, CERT. Na realização do módulo fia de B. Eymann.
em que a Avaliação Institucional foi discutida,
Umberto Cordani durante coleta de amostras para data- ele se destacou na abordagem do tema.
ção do Diabásio Pedra Preta, em Roraima, em 2007. Aproveito este espaço para lembrar a inter-
venção dele, breve, porém muito densa, durante
o módulo I do Fórum de Políticas Universitárias, em novembro de 2000. Foi uma parti-
cipação emergencial, pois o escolhido para abordar o tema “Avaliação” era o professor
Leopoldo de Meis, da UFRJ, que não pôde comparecer. Mesmo convocado às pressas,
Cordani saiu-se admiravelmente, expondo o tema com grande agudeza e propriedade. ria inclusive base legal, pois o Governador Mário Covas baixara decreto recente,
Chamaram a atenção alguns pontos que ele sublinhou de forma clara e direta, sem obrigando serviços públicos a criarem as figuras de ouvidores, com a missão de
artifícios retóricos ou jogos verbais muito usados em situações parecidas. Disse Cordani: defender cidadãos eventualmente injustiçados.
– Avaliar é fixar hierarquias de excelência, a partir de critérios vinculados a objetivos, Depois dessa exposição, considerei o fato de que o professor Umberto Cordani
funções ou responsabilidades do objeto da avaliação. Nas universidades, tais hierarquias trabalhara na Comissão Especial de Regimes de Trabalho, exatamente quando fora
relacionam-se com a chamada produção acadêmica. Lembro-me de que apontou a ava- instituída a Comissão Permanente de Avaliação, e participara da primeira CPA, que
liação como um instrumento para definir alocação de recursos e estimular muitas áreas avaliou os primeiros 50 departamentos da USP. Integrante do “Editorial Board” em
potencialmente aptas a atingir melhores níveis de produção intelectual. (Cordani, 2001). várias revistas nacionais e internacionais, foi por duas vezes membro do comitê as-
Cordani demonstrou, naquela exposição, um conhecimento pleno de como é fei- sessor do CNPq e da FAPESP, tendo ainda pertencido ao grupo que avaliou o Depar-
ta a avaliação nos Estados Unidos e na França, exemplos distintos de procedimentos tamento de Ciências da Terra, na UNESCO.
invocados antes de uma excelente abordagem sobre a situação da USP. Nos Estados Todos os afazeres na gestão universitária foram desenvolvidos por Umberto Cor-
Unidos, prevalece o critério competitivo do “publish or perish”, sendo fundamentais dani sem renúncia às atividades como pesquisador em sua área de saber. Servindo à
a publicação de artigos em revistas da área e o desempenho do pesquisador na capta- governança da Universidade de São Paulo e por extensão à sociedade brasileira, ele
ção de recursos financeiros para o departamento e para a universidade. Na França, o construiu uma “identidade complementar”.
sistema é centralizado e decide nomeações ou promoções de professores caso a caso, O perfil que emerge dos registros documentais ora recuperados é o de um cien-
sempre levando em conta os trabalhos realizados. tista-cidadão. Esta virtude cívica é indispensável para compor o retrato completo
Mesmo partindo do princípio de que a USP é uma universidade de pesquisa, ele re- do professor Umberto Giuseppe Cordani quando nos reunimos para festejar a sua
conheceu a importância de considerar, no processo de avaliação, as diferenças e espe- passagem, por mais uma das suas décadas bem vividas, com sabedoria, generosidade
cificidades das áreas avaliadas. Embora valorizando a investigação científica, enfatizou e permanente visão do futuro.
que seria um erro desconsiderar o desempenho na docência e na extensão universitária.
Impressionou-me favoravelmente a firmeza com que lembrou as responsabilidades dos Referências Cordani U.G., Marcovitch J., Salati E. 1997.
Avaliação das ações brasileiras em direção ao de-
departamentos na fixação de metas objetivas para dar origem a critérios de avaliação. International Association of Universities (IAU). senvolvimento sustentável após a Rio-92. Estudos
Cordani também fez duas saudáveis provocações. A primeira sobre a con- 1998. https://iau-aiu.net/IMG/pdf/internationalization_ Avançados, 11(29):399-408. http://doi.org/10.1590/
policy_statement_fr.pdf. S0103-40141997000100019.
veniência de incluir especialistas nas discussões plenárias da CERT, quando se Andrade C.D. 1940. Sentimento do Mundo. Rio de Cordani U.G. 1992. Ecos da ECO-92 na reunião
tratar de casos em que os docentes analisados tenham uma produção que escape Janeiro, Ed. Pongetti, 119 p. da SBPC. Estudos Avançados, 6(15):97-102. http://doi.
às especialidades dos membros da Comissão. Criticou a pura e simples utilização Cordani U.G., Juliani C. 2019. Potencial Mineral org/10.1590/S0103-40141992000200006.
da Amazônia: Problemas e Desafios. Revista de Estudios Marcovitch J., Cordani U.G. 1999. Internaciona-
de pareceres externos, observando agudamente que nas Ciências Humanas, por Brasileños, Ed. Universidad de Salamanca, 6(11):91- lización de las Universidades. Vision Latinoamerica-
exemplo, há escolas de pensamento até antagônicas. Estas escolas muitas vezes 108. http://doi.org/10.14201/reb201961191108. na. In: Seminário CINDA. San José de Costa Rica,
não se reconhecem mutuamente e um parecer a distância pode apresentar o viés Cordani U.G. 2001. Avaliação docente e departa- Anais, p. 98-107.
mental. In: Caldas M.J. (org.). A USP e seus Desafios Marcovitch J. 2001. Universidade Viva – Diário
da parcialidade, sendo a discussão plenária instrumento bem melhor para dirimir – Fórum de Políticas Universitárias – Módulo I. São de um Reitor. São Paulo, Editora Mandarim (Sicilia-
dúvidas. A segunda ideia foi a de estabelecer-se uma ouvidoria na CERT, que te- Paulo, EDUSP, p. 24-29. no), 672 p.

24 25
PRIMEIRA PARTE: INTRODUÇÃO – U. G. CORDANI

Antônio Carlos Pedrosa


Soares, Rudolph Trouw,
Fernando Flecha de
Alkmim, Carlos Maurício
A elaboração do Mapa Tectônico
Noce, Umberto Cordani e
Monica Lavalle Heilbron,
da América do Sul
numa reunião durante o
XII Simpósio Nacional de U. G. Cordani
Estudos Tectônicos, em (ucordani@usp.br)
Ouro Preto, Minas Gerais,
em maio de 2009.
A Comissão para o Mapa Geológico do Mundo, CGMW, em
sua Assembleia Geral realizada em fins de 2002, decidiu pela ela-
boração de uma nova edição do Mapa Tectônico da América do
Sul. Para coordená-lo resolveu convidar o colega Victor Ramos, da
Universidade de Buenos Aires e eu, da Universidade de São Paulo.
Página oposta:
Ambos consideramos o honroso convite de modo muito positivo,
Mapa tectônico da América reconhecendo a importância da obra, e logo aceitamos essa res-
do Sul, 2ª edição. 2016 – ponsabilidade. Nossa primeira conversa foi feita em Buenos Aires,
Escala 1:5.000.000 – UNES-
CO, Paris – CGMW/CPRM/
alguns meses mais tarde. Discutimos ali os grandes traços do mapa,
SEGEMAR – Umberto sua estruturação, sua legenda e a maneira com que buscaríamos
Cordani e Victor Ramos, realizar esses objetivos. Mal sabíamos nós que esse mapa invadiria
coordenadores. https://doi.
org/10.14682/2016TEMSA.
a nossa vida nos 12 anos seguintes.
Depositório que dá acesso Nossa proposta inicial foi apresentada durante o Congresso Ge-
ao arquivo do mapa e nota ológico Internacional de 2004, realizado em Florença. Começou em
explicativa: http://rigeo.
cprm.gov.br/xmlui/handle/ seguida o trabalho, que contou com os suportes técnicos e financei-
doc/16750?show=full ros fundamentais do Serviço Geológico do Brasil, CPRM, e do Ser-

26
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano PRIMEIRA PARTE: INTRODUÇÃO – U. G. CORDANI

A origem da Cordilheira dos Andes já


instigava o povo Mapuche, que acreditava
na disputa entre os deuses Caicai e Trentren
na formação de terremotos e maremotos.
Primeira apresen- Os mapuches atribuem a origem do mundo
tação do Programa ao enfrentamento entre dois enormes rép-
do Mapa Tectônico teis: Caicai, que dominava as águas, e Tren-
da América do
Sul, durante o 32º tren, que controlava a terra. Caicai, irritado
Congresso Geológico porque as pessoas desdenhavam as riquezas
Internacional, em proporcionadas pelo mar, golpeou as águas
Florença, na Itália,
em 2004. Umberto com sua cauda, provocando gigantescas inun-
Cordani apresentan- dações. Trentren, ao ver como a gente fugia
do e Victor A. Ramos espavorida, ordenou aos montes que se ele-
sentado, à direita.
vassem para neutralizar o poder de Caicai.
A luta entre ambos os répteis açoitou a terra
com terremotos e maremotos que deram for-
ma ao território chileno. A serpente e o lagar-
to desse campo de batalha representariam a “Maça estrelada” com representação dos
répteis Caicai e Trentren. Museo Chileno
confrontação entre essas duas forças ao longo de Arte Precolombino, Santiago. Fotogra-
da história geológica dos Andes. fia de Andrea Bartorelli, em 2016.

viço Geológico e Mineiro da Argentina, SEGEMAR. Coube ao colega Victor a res-


ponsabilidade pela região Andina, que cobre regiões da Argentina, Chile, Bolívia,
Peru, Equador, Colômbia e Venezuela, e a mim a responsabilidade pela região da
plataforma Sul-americana, que ocorre no Brasil, Colômbia, Venezuela, República legenda unificada, que permite uma interpretação integrada para o continente
da Guiana, Suriname, Guiana Francesa, Bolívia, Paraguai e Uruguai. inteiro. Ela levou em conta, através de cores, a idade do último evento tectôni-
No desenvolvimento do trabalho, buscou-se a integração dos resultados de co sofrido pelas rochas de cada polígono, e através de símbolos específicos, o
inúmeros trabalhos de mapeamento geológico, que só foi possível mediante a tipo de ambiente tectônico sofrido pelas mesmas. As cores selecionadas indu-
ajuda contínua de muitas dezenas de colaboradores, de todos os países sul-a- zem, desde a primeira vista, a identificação e localização no mapa das maiores
mericanos. Durante mais de uma década, Victor visitou os serviços geológicos divisões tectônicas. Uma legenda específica se refere às áreas marinhas, inte-
e muitas instituições acadêmicas dos países andinos, e eu fiz o mesmo na região grando idades da crosta oceânica, limites de placas, eixos de elevações oceâ-
da Plataforma Sul-americana. Creio que conseguimos discutir e receber informa- nicas e outras feições. A confecção final do mapa foi feita no Rio de Janeiro,
ções, sugestões e críticas de praticamente todos os principais profissionais e pes- na divisão de cartografia da CPRM, ao mesmo tempo em que foi iniciada a
quisadores da geologia da América do Sul, muitas vezes aproveitando reuniões e integração de um banco de dados georreferenciado. O lançamento do mapa
encontros geocientíficos em todo o continente. Embora apenas 52 colaboradores foi efetuado pela CGMW em Cape Town, África do Sul, durante o Congresso
principais encontram-se listados no texto sucinto inserido no próprio mapa, inú- Geológico Internacional de 2016.
meros outros geo-colegas foram de fato envolvidos em discussões frutíferas. Victor e eu queremos expressar a nossa gratidão a todos aqueles que ge-
Pela CPRM, foi fundamental a ajuda aportada pelo Carlos Schobbenhaus, vice nerosamente prestaram assistência substancial na interpretação dos ambientes
-presidente para a América do Sul na CGMW, bem como o trabalho efetuado pelos tectônicos em cada região através de material informativo original, bem como
dois vice-coordenadores, Inácio Delgado até 2011 e Lêda Maria Barreto Fraga a conselhos e sugestões importantes.
partir daí. Kaiser de Souza e Francisco Gomes foram os responsáveis pelas áreas Nosso agradecimento especial vai aos colegas e amigos Benjamin Bley e
oceânicas. Pelo SEGEMAR foi essencial a ajuda dada pelo vice-coordenador Marcelo Francisco Hervé, pela análise da versão final do mapa, a pedido da CGMW.
Cegarra e também pela técnica Silvia Beatriz Chávez. Como apêndice a esse pequeno texto vai a transcrição, autorizada pela CGMW,
A enorme quantidade de dados colhidos foi reunida em cerca de 8000 po- da nota explicativa do mapa, cujos autores são Umberto G. Cordani, Victor A.
lígonos individuais de tamanhos diversos, alguns enormes e muitos outros de Ramos, Lêda Maria Barreto Fraga, Marcelo Cegarra, Inácio Delgado, Kaiser
tamanhos reduzidos, pouco visíveis devido à escala do mapa. Foi utilizada uma G. de Souza, Francisco E. M. Gomes e Carlos Schobbenhaus.

28 29
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano PRIMEIRA PARTE: INTRODUÇÃO – ALKMIM & CRUZ

vergadura simbolicamente nos remete à real di-


O Brasil sob a ótica tectônica mensão das contribuições do Prof. Cordani nos
e o caso do Cráton do São Francisco: campos da Tectônica e Geotectônica.
a contribuição de U. G. Cordani
Fernando Flecha de Alkmim1, 2. Antevisões e visões fundadoras
Simone Cerqueira Pereira Cruz2.
Entre os anos 1940 e o final dos anos 1960,
1
Universidade Federal de Ouro Preto, Escola de Minas pela ação de cientistas dotados de grande cul-
(alkmim@ufop.edu.br).
2
Universidade Federal da Bahia, Instituto de Geociências tura geológica, enorme intuição e notável ca-
(simonecruzufba@gmail.com). pacidade de síntese, construiu-se um primeiro
panorama tectônico do Brasil, já integrado no
cenário geológico do continente sul-americano.
1. Introdução Face aos dados e ferramentas que dispunham à
época, os trabalhos dos pioneiros a seguir men- Figura 1. “Reconstituição es-
Fernando Flecha de Alkmim.
Quando foi que o conhecimento geológico sobre o Brasil permitiu cionados podem ser considerados como verda- quemática dos maciços siálicos
a caracterização do seu arcabouço tectônico? Como foi construída a deiras antevisões. Além disso, ao se buscar na literatura pelo primeiro constituintes do atual Escudo
Brasileiro” de acordo com Gui-
visão geodinâmica que hoje se tem do seu vasto território? Com estas esboço tectônico do Brasil, tem-se uma grande surpresa. Já naquele marães (1951). (Modificado a
perguntas como pano de fundo, o presente capítulo versa sobre a par- que, muito provavelmente, deve ter sido o primeiro, publicado em partir do original do autor).
ticipação do Prof. Umberto G. Cordani no desvendar da constituição 1951, a ótica empregada é mais que tectônica: pode ser considerada
e evolução da chamada Plataforma Sul-americana, expressão que pode geotectônica, na medida em que se discriminam as peças constitutivas
ser entendida como o nome tectônico do Brasil. do arcabouço geológico do território brasileiro e faz-se uma interpre-
Escolheram-se as questões acima mencionadas como guia da abor- tação do seu comportamento na dinâmica terrestre.
dagem de uma das muitas facetas da atuação do Prof. Cordani, pelo Alicerçada na hipótese da deriva continental que, à época,
fato de ter sua carreira científica se realizado em uma fase excepcional encontrava quase somente objeções na comunidade científica
do desenvolvimento das geociências, tanto no plano geral, como no mundial, e fortemente inspirada nas ideias do eminente geólogo
caso particular do Brasil. Ela se inicia justamente quando a Geologia se suíço Émile Argand (1879-1940), D. Guimarães traz a público,
torna ciência em plenitude, ao ser instrumentalizada, no decorrer dos em 1951, uma das suas obras de grande abrangência intitulada o
anos 1960 e primeira metade dos anos 1970, com a teoria geodinâmi- Arqui-Brasil e sua Evolução Geológica. Conclui este trabalho com
ca da Tectônica de Placas. Nestes mesmos anos e início da década se- uma compartimentação tectônica do Escudo Brasileiro em cinco
guinte, a investigação geológica do Brasil experimenta um considerá- maciços siálicos (figura 1): o Arqui-Guiana e o cráton (“soco”)
Simone Cerqueira
vel impulso, que consolida uma base de conhecimentos para os passos arqueano Goiano-Matogrossence, separados pela Bacia do Ama-
Pereira Cruz. seguintes rumo a uma visão integradora e dinâmica do seu território. zonas; o Aqui-Brasil, o Arqui-África e o Arqui-Gondwana. Para
O presente capítulo, organizado como um relato contextualizado Guimarães (op. cit.), no alvorecer do Éon Proterozoico, estas mas-
e não como um ensaio crítico, visa a explicitar a contribuição do Prof. sas continentais em deriva estariam circundadas por verdadeiros
Cordani nos campos da Tectônica e da Geotectônica. Após uma breve geossinclinais que, no caso, corresponderiam a bacias oceânicas, 1- Orogenia correspondente
descrição das concepções pioneiras acerca do arcabouço tectônico do assoalhadas pelo “SIMA”. A convergência destas massas termina- ao intervalo do tempo de de-
território brasileiro, prossegue-se com a apresentação dos principais ria na sua colagem no decorrer de dois eventos principais. Primei- posição do Grupo Huroniano
da região dos Grandes Lagos
estudos realizados por Cordani, quando da investigação científica da ramente, durante a orogenia Huroniana 1, ter-se-ia a colisão entre no Escudo Canadense, que se
Plataforma Sul-americana e, em particular, do Cráton do São Francis- o Arqui-Brasil e Arqui-África. Posteriormente, durante a orogenia deu entre os atuais períodos
co, que é a peça mais bem conhecida do seu substrato e alvo da atenção Sideriano e Rhyaciano da era
Penoqueana2, ocorreriam as colisões entre estes já unificados e Paleoproterozoica.
de inúmeros pesquisadores e geólogos exploracionistas. Discorre-se, os demais blocos. As faixas orogênicas então geradas nas bordas
a seguir, sobre a introdução dos conceitos da Teoria da Tectônica de dos maciços seriam posteriormente reativadas durante a orogenia 2- Orogenia que, também
caracterizada no Escudo Ca-
Placas nas abordagens gerais do território brasileiro e compilam-se as Caledoniana. No alvorecer da Era Mesozoica, com a fragmenta- nadense, teve lugar no tempo
incursões recentes que o pesquisador faz no tema da trajetória pre- ção da Pangea e surgimento do Oceano Atlântico, a ruptura dos equivalente ao final do atual
gressa dos constituintes principais da plataforma. Conclui-se com uma continentes se dá de tal forma que uma parte substancial da Arqui Período Estateriano da Era
Paleoproterozoica.
menção ao novo Mapa Tectônico da América do Sul, obra cuja en- -África viria a permanecer na América do Sul.

30 31
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano PRIMEIRA PARTE: INTRODUÇÃO – ALKMIM & CRUZ

Amazonas, posicionada entre os crátons


das Guianas e de Rondônia, não é incluí-
da na classe das sinéclises anteriores, por
mostrar várias estruturas positivas a ela
transversais e mais jovens, dentre as quais
se destacariam as antéclises de Iquitos e
Aripuanã (figura 2). As outras antéclises
do escudo seriam a da Borborema e a Pa-
ranaense, e as principais fossas tectônicas
corresponderiam às bacias de Marajó,
Barreirinhas e Recôncavo, todas elas de
idade cretácica.
Alicerçado em uma notável bagagem
de conhecimentos e compilação dos dados
então existentes, F. F. M. Almeida publica,
em 1967, Origem e Evolução da Platafor-
ma Brasileira. Juntamente com uma se-
gunda versão atualizada que vem a público
em 1969, este trabalho é considerado pelo
próprio Cordani como “o mais impor-
tante de todos sobre o assunto, a síntese
primeira, mãe de todos os trabalhos poste- Figura 3. “Esboço dos grandes
Figura 2. Mapa dos constituin- elementos tectônicos neogêicos
tes do arcabouço tectônico do O segundo panorama geológico geral do Brasil que se tem notícia riores sobre a Geologia do Brasil na escala da Plataforma Brasileira” por
Brasil como parte do continen- surge na Síntese da Evolução Geotectônica da América do Sul de auto- continental” (Cordani, 2004, p. 168). Almeida (1967). (Modificado a
te sul-americano elaborado por partir do original do autor).
Barbosa (1966). (Modificado a ria de Barbosa (1966), que se baseia em um volume consideravelmente Almeida (1967) apresenta-nos o território brasileiro inteiramente
partir do original do autor). maior de dados, do qual constam até mesmo idades absolutas. Para o contido na plataforma homônima, entendida como a parte do conti-
autor, o território brasileiro, inteiramente disposto na zona extra-an- nente sul-americano que se consolidou após o ciclo “tecto-orogenético
dina, abarcaria duas grandes áreas de exposição do substrato pré-cam- baicaliano”4. Assim definida, a Plataforma Brasileira abarcaria toda a
briano do continente, que seriam os escudos das Guianas e Brasileiro, área extra-andina do continente sul-americano e teria como consti-
bem como bacias sedimentares fanerozoicas (figura 2). O Escudo das tuintes fundamentais três plataformas mais antigas ainda, designadas
Guianas corresponderia, na sua totalidade, a um cráton de mesmo como do Guaporé, na região amazônica, de São Luís, no extremo
nome, entendido como um bloco estabilizado em parte no Arqueano norte e do São Francisco, a leste, bem como faixas tecto-orogenéticas 4- Orogenia pré-uraliana da
região siberiana, que se estende
e, em parte, em episódios que tiveram lugar em tempos anteriores a baicalianas (figura 3). Dentre estas, a Brasília, a Sergipana e a Paraíba do final do Neoproterozoico
1,8 bilhões de anos. O Escudo Brasileiro, por outro lado, é apresenta- contornariam e definiriam os limites da plataforma do São Francisco. ao Período Cambriano.
do com uma constituição bem mais diversa, que abarcaria: i) dois crá- Já as faixas Paraguai e Araguaia margeariam a plataforma do Guaporé,
3- Termo empregado na 5- Intervalo de tempo compre-
sua acepção tectônica tanto tons consolidados no Arqueano; ii) faixas orogênicas proterozoicas, enquanto a Caririana ocuparia toda a região nordeste do Brasil situa- endido entre aproximadamente
por esse autor, como por designadas pré-caledonianas; iii) sinéclises paleozoicas; iv) antéclises da entre a Faixa Sergipana e o litoral. Para Almeida (1967), as faixas 1.600 e 650 Ma, ou seja, entre
aqueles que lhe sucederam geradas no Paleozoico e Mesozoico; e v) fossas tectônicas. baicalianas formaram-se no curso de processos orogenéticos que tive- aos atuais períodos Calimiano
para designar as porções dos e Criogeniano das eras Meso
continentes não envolvidas em Os crátons de Rondônia e Franciscano aparecem separados por ram lugar em uma rede de geossinclinais rifeanos5, preenchidos por e Neoproterozoica, respecti-
um dado evento orogenético. uma larga zona orogênica proterozoica composta pelas cadeias Cuia- rochas sedimentares desta idade e mais antigas. Uma vez consolidada, vamente.
Distinguiam-se à época, as a Plataforma Brasileira experimentaria uma evolução em quatro es-
paraplataformas, aquelas ainda
bana e Goiana, cujas vergências são dirigidas para os crátons a elas ad-
6- Trata-se de intervalos de
em processo de estabilização, jacentes. Além destas, outras duas zonas orogênicas também protero- tágios, que seriam: i) paraplataformal, no qual as áreas adjacentes às tempo de baixo nível médio
e as ortoplataformas, de esta- zoicas, do Espinhaço e Mantiqueira, balizariam o Cráton Franciscano faixas tecto-orogenéticas recebem sedimentos dominantemente clás- dos mares e consequente
bilidade adquirida em tempos ticos e delas derivados em tempos pré-silurianos; ii) ortoplataformal, expansão das áreas emersas.
pré-cambrianos. Estas últimas
pelo leste e sudeste, respectivamente (figura 2).
Quando da elevação do nível
correspondem aos crátons Figuram dentre as sinéclises paleozoicas, as bacias do Paraná e no qual alguns de seus setores entram em subsidência convertendo-se médio dos mares têm-se os
como atualmente definidos. Maranhão (Parnaíba), que teriam se desenvolvido sobre plataformas3 em grandes sinéclises (do Paraná, Amazônica e do Parnaíba), a partir eventos talassocráticos.
que adquiriam estabilidade em tempos pré-caledonianos. A Bacia do do Devoniano Inferior; iii) geocrático6, entre o Permiano e Jurássico,

32 33
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano PRIMEIRA PARTE: INTRODUÇÃO – ALKMIM & CRUZ

marcado por estabilidade tectônica gene- de Recursos Minerais, CPRM, além da criação de novos cursos de Geologia e cresci-
ralizada; iv) reativação Waldeniana, que mento das empresas atuantes no setor mineral, principalmente as estatais Pstrobras,
corresponderia a retomada de grande ati- Nuclebrás e Vale do Rio Doce. Desempenhou um papel muito importante nesta in-
vidade tectônica e magmatismo basáltico vestida exploratória, a fundação, em 1965, do Centro de Pesquisas Geocronológicas
entre o final do Jurássico até o Terciário, da Universidade de São Paulo (CPGeo), sucedâneo do Laboratório de Geocronologia
quando formaram-se fossas tectônicas ba- criado na mesma instituição em 1963. Nele atuou Cordani desde os primórdios,
lizadas por grandes falhas na zona costeira primeiramente como membro de uma equipe de notáveis pesquisadores que incluía
do Brasil (figura 3). F. F. M. Almeida, G. Amaral, N. Herz, V. Leinz, K. G. C. Melcher, K. Kawashita, R.
O artigo intitulado Outline of the Pre- Ribeiro-Franco e J. Reynolds e, posteriormente, como seu líder. Algumas das data-
cambrian geochronology of South America ções que embasam seu artigo de 1968, anteriormente mencionado, foram realizadas
por Cordani et al. (1968) inaugura e mar- no Centro de Pesquisas Geocrológicas recém-fundado.
ca de forma inconfundível a sua enorme Produziu-se, neste tempo, um considerável volume de novos dados e interpre-
contribuição ao tema aqui enfocado. Nes- tações, o qual possibilitou nos anos seguintes, além da elaboração de um quadro
te artigo, está em destaque, e pela primei- tectônico bem mais completo do território nacional, contribuições importantes para
ra vez em panoramas tectônicos do Brasil, consolidação de uma cultura geológica brasileira. Foi sintomática a adoção, ao final
aquela que será sua principal ferramenta dos anos 1960, de uma nomenclatura brasileira para eventos e ciclos tectônicos pré-
de abordagem de feições e processos geo- cambrianos, deixando-se de lado a terminologia até então de uso corrente na litera-
lógicos: a geocronologia, ou melhor, a tura internacional. Passaram a ser empregados os termos Transamazônico (original
geoquímica isotópica e seu nobre produto de Hurley et al., 1967), Uruaçuano (Hasui e Almeida, 1970) e Brasiliano (Comissão
Figura 4. “Delimitação ten- que é a determinação de idades absolutas do Mapa Tectônico do Brasil de 1967) com suas respectivas abrangências temporais
tativa dos crátons e cinturões de formação e transformação de rochas. (vide Almeida, 1971, 1978; Almeida et al., 1973).
metamórficos pré-cambrianos No artigo são sintetizados os dados geocronológicos até então dispo-
da América do Sul” por Corda-
No que tange ao arcabouço tectônico do Brasil, destacam-se neste período:
ni et al. (1968). (Modificado a níveis, neles incluído um bom número produzido pelos próprios au- • A publicação de uma série de trabalhos sobre as bacias da margem continental
partir do original do autor). tores para o embasamento da Plataforma Brasileira. Com base nesses brasileira, resultantes do projeto Reconhecimento Global da Margem Continental
dados, delimitaram-se as áreas cratônicas do Escudo das Guianas, de Brasileira, REMAC, posto em prática por convênio firmado em 1968 entre a Pe-
São Luiz, do Tocantins-Tapajós, de Rondônia, do São Francisco e, pela trobras, o DNPM, a CPRM e o CNPq, e de estudos conduzidos por equipes da
primeira vez, do Uruguai-Argentina, bem como dos cinturões meta- Petrobras. Dentre eles destacam-se, pela relação com o tema aqui abordado, Asmus
mórficos Cariri, Paraíba e Paraguay (figura 4). As áreas cratônicas se (1978), Asmus e Porto (1972), Asmus e Ponte (1973), Ponte e Asmus (1978), Asmus
caracterizariam por idades superiores a 0,9 bilhões de anos, ao passo e Ferrari (1978), Asmus (1984).
que os cinturões metamórficos são assinalados com idades compreen- • O artigo Províncias Estruturais Brasileiras, por Almeida et al., 1977 (com uma
didas entre 0,9 e 0,5 bilhões de anos. segunda versão internacional em 1981) que se tornou referência básica sobre a Geo-
Além da ênfase no critério da cronologia absoluta para delimitação logia do Brasil, assim permanecendo até nos presentes dias. Nele, o embasamento
dos componentes do arcabouço da Plataforma Brasileira, este traba- e a cobertura pós-siluriana da Plataforma Sul-americana são compartimentados em
lho, um dos primeiros sob o arcabouço da plataforma a ser apresenta- dez províncias estruturais.
do em fórum internacional (a International Conference of Precambrian • O Mapa Tectônico da América do Sul pela Comissão para o Mapa Geológico
stratified rocks, realizada em Edmond, no Canadá, em 1967), revela já do Mundo, CGMW, de 1978, sob a coordenação de F. F. M. Almeida, no qual são
muito cedo outro traço marcante da atuação científica de Cordani por incorporados os modelos de compartimentação e evolução dos elementos tectônicos
todos os anos seguintes: a sua inserção internacional. da Plataforma Sul-americana anteriormente mencionados.
• O Mapa Geológico do Brasil e da Área Oceânica Adjacente, Incluindo Depósitos
Minerais, na escala de 1:2.500.000, de 1981, sucedido, em 1984, pelo lançamento
3. A exploração da Plataforma Sul-americana do seu texto explicativo. Coordenadas por Schobbenhaus et al. (1981, 1984) estas
obras incluem, pela primeira vez em compêndio, a área oceânica, e são a melhor
A investigação da Plataforma Brasileira, que passou a ser chamada expressão do notável incremento no conhecimento geológico então adquirido sobre
Sul-americana, experimenta uma considerável aceleração entre mea- o território nacional.
dos dos anos 1960 e início da década de 1980, motivada principal- • A publicação, em 1984, da obra O Pré-Cambriano do Brasil, coordenada por
mente por ações do Departamento Nacional de Produção Mineral, Almeida e Hasui, cujos capítulos são dedicados à constituição e evolução das várias
DNPM, e do seu projeto RADAM Brasil, da Companhia de Pesquisas províncias estruturais do embasamento da Plataforma Sul-americana.

34 35
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano PRIMEIRA PARTE: INTRODUÇÃO – ALKMIM & CRUZ

Cordani participa, no período considerado, de um grande número de investiga-


ções geocronológicas com repercussões tectônicas em várias partes do Brasil, as quais
se firmaram como fundamentais para as regiões e temas enfocados. Excluindo-se
aquelas relativas ao Cráton do São Francisco, detalhadas mais adiante, destacam-se
dentre elas as seguintes: Figura 5: A) O Cráton
• Com base em determinações U-Pb, Rb-Sr e K-Ar, Cordani et al. (1973) caracte- do São Francisco de
acordo com a delimi-
rizam três “ciclos orogênicos sucessivos” em rochas ígneas e metamórficas dos atuais tação de Cordani et al.
complexos Paraíba do Sul, Mantiqueira e Juiz de Fora nos estados de Minas Gerais (1968). B) Os crátons
e Rio de Janeiro. do São Francisco s.s. e
de Salvador tal como
• Após compilar e investigar o significado de mais de 1.500 determinações geo- aparecem na concepção
cronológicas, Cordani et al. (1973) passam em revista a constituição e a evolução de Cordani (1973a).
da Plataforma Sul-americana e enfatizam o papel do Ciclo Transamazônico, cujo C) Constituição e
limites do Cráton do
clímax teria ocorrido por volta de 2.000 Ma, como o principal evento de formação São Francisco segundo
e reciclagem do seu substrato. concepção de Almeida
• Brito-Neves et al. (1979) obtêm a idade de cristalização de 1.770 Ma para rochas (1977, 1981) modifica-
da por Alkmim (2004).
vulcânicas do Supergrupo Espinhaço em Minas Gerais, dado que veio solucionar um
dos problemas estratigráficos maiores do Pré-Cambriano da região sudeste do Brasil.
Com grandes repercussões, este artigo persiste como importante referência.
• Os artigos de Cordani et al. (1979) e Tassinari et al. (1979) nos quais são ca-
racterizadas as províncias geocronológicas na evolução do Cráton Amazônico que,
igualmente, persistem como referências até os presentes dias.
• A síntese da evolução dos terrenos arqueanos e do Proterozoico Inferior da
América do Sul por Cordani e Brito Neves (1982).
• O importante estudo de Cordani et al. (1984) em que se investiga o papel
desempenhado pela trama tectônica do embasamento na evolução das bacias fanero- foram intensamente debatidos em vários fóruns. Mas nenhum deles foi tão intensa-
zoicas brasileiras, discutido em detalhe por Milani e Szatmari (neste volume). mente discutido como o dos seus limites. Sobre este tema, escreveu e se pronunciou
• A partir da compilação de grande número de dados isotópicos, Cordani et al. Cordani em várias oportunidades.
(1988), apresentam, pela primeira vez, a curva de crescimento crustal da Plataforma Cordani e colaboradores, no mencionado artigo de 1968, sugerem um contorno
Sul-americana. Concluem que os principais eventos de acreção tiveram lugar nos in- para o cráton que em muitos pontos se afasta de delimitações anteriores e ime-
tervalos de 3,1 a 2,5 Ga, 2,1 a 1,9 Ga, e 1,8 a 1,6 Ga. Após chamarem atenção para diatamente posteriores (figura 5). Fundamentados em dados geocronológicos, eles
o fato de que o Evento Brasiliano muito pouco contribuíra com adição de material excluem da área cratônica praticamente toda a região do Quadrilátero Ferrífero e
juvenil, postulam que aproximadamente 45% da crosta no escudo já teria sido for- uma estreita faixa ao longo do vale do Paramirim na Bahia (figura 5a), em função de
mada ao final do Arqueano e cerca de 80% já ao final do Evento Transamazônico, idades K-Ar de 500 Ma obtidas nestas regiões por Herz et al. (1961) e Távora et al.
no Proterozoico Inferior. (1967), respectivamente. Após várias investigações realizadas em ambas as regiões,
estas interpretações precoces do autor mostram-se em grande parte corretas.
Cordani (1973a,b) avança ainda mais com as interpretações de idades K-Ar
4. O caso do Cráton do São Francisco e Rb-Sr preexistentes e outras tantas por ele obtidas em uma larga faixa do ter-
reno compreendido entre Salvador e Vitória. Propõe, então, a existência de dois
Como elemento mais bem conhecido do substrato da Plataforma, o Cráton do crátons em contraposição a um único Cráton do São Francisco. Designados São
São Francisco possui uma história de definição e investigações que remonta aos anos Francisco (stricto sensu) e de Salvador, eles estariam separados por uma “faixa
1950. Ela inclui a realização de nada menos do que quatro simpósios e a publicação móvel” de orientação NNW que se estenderia ao longo do vale do Paramirim
de vários livros e inúmeros artigos inteiramente a ele dedicados. Nessa história, Cor- até muito mais ao norte, na região da fronteira entre a Bahia e o Piauí (figura
dani está presente desde o final dos anos 1960 até muito recentemente, quando atua 5b). Os debates em torno desta proposição, que encontra similaridades nas con-
como editor e autor na obra São Francisco Craton, Eastern Brazil. Tectonic Genealo- cepções de Pflug et al. (1969) e Trompette et al. (1992), irão persistir por muito
gy of a Miniature Continent (Heilbron et al., 2017a). tempo na literatura e com enfática sustentação da parte do autor, como se pode
Antes de se chegar à definição de Almeida (1977, 1981) (figura 5c), vários tópi- constatar, por exemplo, em Cordani (1978). Além disso, na sua Tese de Livre
cos relativos aos atributos do Cráton do São Francisco e até mesmo a sua existência Docência de 1973, ao demonstrar a ausência de retrabalhamento brasiliano na

36 37
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano PRIMEIRA PARTE: INTRODUÇÃO – ALKMIM & CRUZ

quase totalidade das rochas de alto grau do leste da Bahia, termina por oferecer que participa como editor e autor em vários capítulos (Heilbron et al., 2017b,c;
uma nova delimitação para a zona cratônica naquela região, que ficaria situada D’Agrella-Filho e Cordani, 2017; Heilbron et al., 2017c). Dentre estes, vale aqui
aproximadamente ao longo da fronteira Minas-Bahia. mencionar a síntese apresentada em Heilbron et al. (2017c) na qual explora-se a
Outro tópico relativo à definição do Cráton do São Francisco do qual trata Cor- trajetória evolutiva do cráton em tempo e espaço. Nela, podem-se reconhecer facil-
dani (1981) é questão do seu antecessor, o Cráton do Paramirim, cuja existência mente vários pontos da visão própria que formou Cordani a respeito da evolução
fora proposta por Almeida (1981). Tendo por base argumentos geocronológicos e não só do Cráton do São Francisco, mas de toda a Plataforma Sul-americana e que
conceitos tectônicos então em grande efervescência na literatura, Cordani discorda serão abordados mais em detalhe nas seções seguintes.
desta proposição que, à época, fora também objeto de intensos debates.
Compõem um importante subsídio à história evolutiva do cráton vários estudos
geocronológicos conduzidos por Cordani e colaboradores nas duas áreas de expo-
5. A luz da Tectônica de Placas
sição do seu embasamento, que correspondem à parte leste da Bahia e à região do
Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais.
Na primeira metade dos anos 1970, os fundamentos da Teoria da Tectônica
Na região leste da Bahia, já em 1973, Cordani documenta o registro de dois
de Placas já estavam consolidados. Sua aplicação aos mais diversos cenários geo-
ciclos tectônicos maiores, separados por vários episódios de reativação durante o
lógicos atuais e fanerozoicos seguia com sucessos crescentes e aquisição de novos
Mesoproterozoico. No mais antigo, arqueano, formar-se-iam as rochas granulíticas
adendos para sua completude no elucidar de detalhes da dinâmica terrestre en-
da região de Jequié por volta de 2.700 Ma. Por volta de 2.000 Ma, ocorreria o Ciclo
tão revelada. A luz trazida pela teoria tarda, porém, um pouco mais para atingir
Transamazônico que afetaria a totalidade do leste baiano. Faz ainda outra importante
plenamente a investigação dos terrenos pré-cambrianos em todos os continentes
contribuição à evolução do cráton ao determinar idades das rochas alcalinas do sul
e o Brasil não foi exceção. Embora investigações baseadas em seus princípios já
do estado em aproximadamente 760 Ma.
estivessem também em curso em várias áreas do escudo, o seu emprego em um
Em 1992, Cordani e colaboradores retornam à região do escudo baiano com um
painel tectônico de todo o Brasil é, na maior parte dos anos 1970 e 1980, apenas
estudo geocronológico das rochas associadas ao depósito de urânio de Lagoa Real,
ensaiado na forma de discussões de sua aplicabilidade ao Pré-Cambriano, como
na região do vale do Paramirim. Obtêm, por vários métodos, uma série de idades
se pode ver em Cordani (1978), Cordani e Brito Neves (1982) e Cordani et al.
que são por eles interpretadas da seguinte forma: i) formação do embasamento da
(1988). No preâmbulo deste último artigo, os autores mencionam a dificuldade
região por volta de 2.760 Ma; ii) magmatismo anorogênico São Timóteo, em torno
de se pronunciar sobre a operação da tectônica de placas no Pré-Cambriano,
de 1.700 Ma; iii) evento de metamorfismo regional ao qual se associaria a fase prin-
principalmente para terrenos mais velhos que 900 Ma, uma vez que assembleias
cipal de mineralização entre 1.500 e 1.200 Ma, designado como Ciclo Espinhaço;
litológicas diagnósticas como xistos azuis e ofiolitos não tinham sido neles até
iv) Evento termal regional, relativo ao Ciclo Brasiliano, entre 800 e 500 Ma. Rea-
então encontradas.
cende-se, com este artigo, a chama do debate sobre o significado das deformações
É necessário salientar, porém, que a América do Sul, e o Brasil em especial,
e eventos termais documentados na região do vale do Paramirim e suas implicações
face às múltiplas evidências paleogeográficas de suas conexões com o continente
para o traçado dos limites e, até mesmo, a existência do Cráton do São Francisco, tal
africano, sempre estiveram no foco das atenções tanto dos opositores, quanto
como postulados por Almeida (1977, 1981).
dos entusiastas da deriva continental, desde Wegener (1912), até os principais
Nutman e Cordani (1993) e Nutman et al. (1994), em busca das rochas mais anti-
atores da fundação da teoria geodinâmica nos anos 1960. Um dos primeiros tes-
gas do planeta, fazem determinações U-Pb em zircões extraídos de rochas arqueanas
tes da conexão América do Sul – África com as então novas ferramentas da geo-
da região de Contendas-Mirante, nas quais emprega-se a refinada técnica SHRIMP
química isotópica foi praticado em um projeto da UNESCO iniciado em 1965,
(Sensitive High Resolution Ion MicroProbe), em equipamento que posteriormente
que teve como participante brasileiro o Prof. F. F. M Almeida, bem como em
será também adquirido pelo CPGeo/USP.
uma cooperação entre o Laboratório de Geocronologia da USP e o Massachusetts
Na região do Quadrilátero Ferrífero, Cordani et al. (1980) conduzem uma série
Institute of Technology, da qual participou Cordani. O exame de feições estrutu-
de determinações geocronológicas em amostras coletadas na porção sudeste da pro-
rais e rochas graníticas do nordeste brasileiro e noroeste africano tornou claras
víncia. Os resultados obtidos são interpretados na forma de uma evolução tectônica
as correlações da geologia pré-cambriana de ambos os lados do Atlântico, como
em três estágios principais: i) formação de rochas gnáissicas e migmatíticas por volta
demonstrado nos artigos de Almeida (1968) e Almeida e Black (1968, 1972) e,
de 2.700 Ma, durante episódios pré-Minas; ii) deformação sin-metamórfica nas con-
especialmente, na síntese apresentada por Hurley et al. (1967), que teve Cordani
dições da fácies anfibolito, correspondente ao diastrofismo Minas no Ciclo Transa-
como um dos coautores e que encontrou grande audiência internacional, em vir-
mazônico; e iii) metamorfismo regressivo e tectônica de empurrão entre 600 e 500
tude das robustas evidencias apresentadas em favor da deriva continental.
Ma durante o Ciclo Brasiliano. Em linhas gerais, esta síntese evolutiva tem sido con-
Mais tarde, Cordani e Iyer (1979) voltam ao tema, na medida em que buscam
firmada por um grande número de estudos realizados nos anos seguintes na região.
encontrar na evolução de rochas granulíticas do leste da Bahia, correlações com
Recentemente, Cordani teve suas atenções voltadas novamente para o Cráton
eventos documentados na África ocidental, como mais um suporte à hipótese da
do São Francisco, como se pode ver pela leitura do mencionado livro de 2017, em
deriva continental. Porém, é em Torquato e Cordani (1981) que se realiza a mais

38 39
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano PRIMEIRA PARTE: INTRODUÇÃO – ALKMIM & CRUZ

abrangente síntese das conexões possíveis entre feições da América do Sul e África.
Em novembro de 1988, realizou-se, em Belém do Pará, o VII Congresso Lati-
no-Americano de Geologia. Como uma preparação para o mesmo, Cordani, então
presidente da International Union of Geological Sciences, IUGS, coordena a edição
de um volume especial da revista Episodes, no qual estão presentes importantes ar-
tigos para o tema aqui tratado. Cordani et al. (1988) lá figuram com a mencionada
demonstração da cronologia do crescimento crustal do substrato da Plataforma Sul
-americana, e Ramos (1988), fundamentado nos conceitos da nova teoria, apresenta,
em um notável artigo, um painel evolutivo pioneiro da porção sul da América do
Sul, de acordo com uma sucessão de colagens de terrenos à margem sudoeste do
Gondwana, entre o Proterozoico tardio e o final do Paleozoico.
Mas é somente em 1991 que vem a público um tratamento da constituição
e evolução de toda a Plataforma Sul-americana explicitamente fundamentado
nos conceitos da nova teoria geodinâmica. Brito Neves e Cordani (1991), no
artigo Tectonic evolution of South America during the Late Proterozoic, tra-
tam a plataforma como peça desgarrada da parte ocidental do Gondwana e
produto da amalgamação de placas e microcontinentes durante o Ciclo Bra-
siliano. Como placas individuais, são entendidos os crátons da plataforma e
suas respectivas conexões africanas, quais sejam, o Amazônico, Antofalla, Río
de la Plata, São Luis – África Ocidental, São Francisco – Congo e Kalahari,
que interagiriam com uma série de microcontinentes presentes nos “cinturões
móveis” brasilianos (figura 6). Estes, formados por assembleias litotectônicas
de margem passiva, vulcanossedimentares, flysch e rochas graníticas, não têm
ainda a sua constituição e evolução analisadas em detalhe. Talvez em razão dis-
so, as suturas entre as diversas placas são posicionadas pelos autores nos limites
entre os crátons e as faixas móveis.
Figura 6: Principais elemen-
Na introdução do artigo em questão, entre várias observações, uma é especial- ção do Gondwana Ocidental. O mesmo autor traz a público, em 1997, tos tectônicos neoproterozoi-
mente importante: uma síntese mais atualizada sobre o tema, na qual discute a natureza cos do continente Sul-Ame-
“Os autores concordam que os últimos 2 a 2,5 Ga da história da Terra podem ser ricano e seu significado à
e cronologia da interação entre dois conjuntos de placas formadoras luz da Tectônica de Placas
caracterizados por eventos orogenéticos recorrentes, dentre eles alguns de abrangência do grande continente: África Ocidental – Amazonia – Río de la Plata e de acordo com Brito Neves
global de aglutinação de grandes e pequenas massas continentais em supercontinentes, São Francisco – Congo – Kalahari – Nordeste Brasileiro. e Cordani (1991). A) Mapa
como vislumbrado por Hoffman (1989).” (Brito-Neves e Cordani, 1991, p. 24). com os principais elementos
O Congresso Internacional de Geologia, realizado no Rio de Ja- do arcabouço tectônico da
Antecipa-se aqui o que mais tarde vem a ser um dos temas mais abordados em neiro em 2000, é considerado um marco na história do desenvolvi- América do Sul, no qual se
geotectônica e que será tratado em vários artigos de Cordani e colaboradores: o ciclo mento das geociências no país, inaugurando a “fase das pesquisas enfatizam, crátons e feições
orogênicas neoproterozoicas.
de supercontinentes e as reconstruções paleotectônicas. Além disso, neste artigo, já consolidadas” no entendimento de Schobbenhaus e Mantesso-Ne- B) Reconstrução esquemática
estão presentes três assunções marcantes da visão de Cordani sobre a evolução da to (2004). Tanto no congresso em si mesmo, como nas publicações das placas continentais e mi-
Plataforma Sul-americana e que fundamentam ou estão subjacentes a trabalhos ela- que o antecederam, a Tectônica de Placas já é o paradigma geral, croplacas que se aglutinaram
durante o Evento Brasiliano
borados nos anos seguintes. São elas: i) a plataforma seria constituída de duas peças independentemente da idade do sistema enfocado. Associadas a este para a formação do Gon-
maiores, o Cráton Amazônico e suas margens de afinidade laurenciana (apontada evento, são veiculadas duas coletâneas de sínteses sobre os mais di- dwana Ocidental e conse-
primeiramente por Almeida, 1978), e o Cráton do São Francisco e agregados de afi- versos elementos da geologia do continente sul-americano. A primei- quentemente do substrato da
Plataforma Sul-Americana.
nidade africana; ii) estas duas peças, originalmente separadas por um vasto domínio ra, um volume da revista Episodes lançado em 1999, é integralmente (Modificados de Brito Neves
oceânico, teriam sido suturadas aproximadamente ao longo do conhecido Linea- dedicado à América do Sul. A segunda é a obra Tectonic Evolution e Cordani, 1991).
mento Transbrasiliano (figura 6); iii) a peça São Francisco – Congo seria separada de of South America, que tem a coordenação editorial de Cordani et al.
seus satélites por domínios oceânicos restritos. (2000). Para o tema aqui abordado, merecem destaque nestas publi-
Em 1994, R. Trompette publica o livro Geology of Western Gondwana (2000 cações dois conjuntos de artigos.
- 500 Ma) que, já totalmente embasado na Tectônica de Placas, explora em maior O primeiro conjunto é constituído pelos artigos de Cordani e Sato
profundidade as conexões América do Sul-África e traça um grande painel da agrega- (1999) e Cordani et al. (2000) em que a evolução crustal da Platafor-

40 41
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano PRIMEIRA PARTE: INTRODUÇÃO – ALKMIM & CRUZ

ma Sul-americana é revisitada de uma perspectiva global e no qual se faz uso de uma Em primeiro lugar, ela implica que, no curso dos períodos Toniano e Crioge-
nova ferramenta, o sistema istotópico Sm-Nd, utilizado no estudo de várias centenas niano, os constituintes do Bloco Centro Africano se afastariam uns dos outros, mas
de rochas granitoides dos territórios do Brasil e países vizinhos. Os resultados a que permaneceriam vizinhos, separados por oceanos restritos. No decorrer do Período
chegam os autores confirmam aqueles obtidos por Cordani et al. (1988), no que Edicarano, eles retornariam praticamente às suas posições originais, realizando assim
tange as taxas de crescimento crustal ao longo do Pré-Cambriano, e corroboram a um Ciclo de Wilson stricto sensu completo. Para esta parte do Gondwana Ocidental,
distinção dos cursos evolutivos experimentados pelas porções noroeste (Amazônica) tudo se daria como se o Evento Brasiliano fosse, do ponto vista cinemático, quase
e sudeste (São Francisco – Congo) da plataforma. Além disso, os autores sugerem uma reprodução do Transamazônico, dele diferindo, porém, quanto ao volume de
que os componentes do sudeste da plataforma possam ter residido juntos em um material juvenil incorporado. As ramificações do Oceano Adamastor entre São Fran-
supercontinente paleoproterozoico. cisco – Congo, Río de la Plata e Kalahari teriam um caráter quase mediterrâneo, o
Integram o segundo conjunto os artigos de Brito-Neves et al. (1999) e Campos- que explicaria as taxas relativamente baixas de acreção durante o Neoproterozoico
Neto (2000) que preenchem uma lacuna no panorama tectônico da plataforma até neste setor do Gondwana.
então esboçado, que é uma abordagem integrada dos sistemas orogênicos brasilia- Em segundo lugar, a hipótese postulada leva à conclusão de que o grande acon-
nos, com a caracterização dos seus constituintes e interpretação das suas funções di- tecimento na montagem do Gondwana Ocidental teria sido a colisão entre Ama-
nâmicas. Combinadas com os vários outros capítulos do volume editado por Corda- zônia – África Ocidental e o Bloco Centro Africano. Esta concepção, que já está,
ni et al. (2000) e outros artigos presentes na literatura de então, estas contribuições ainda que de forma embrionária em Brito Neves e Cordani (1991), traz à tona
levam, enfim, à visão tectônica que hoje se tem do Brasil. duas questões que fomentam um importante debate nos últimos anos sobre a aglu-
tinação do Gondwana Ocidental. São elas: a natureza do oceano que separava
os dois conjuntos de placas neoproterozoicas e a cronologia do seu fechamento.
6. Cordani em excursão pelos supercontinentes Segundo Trindade et al. (2006) e Tohver et al. (2010, 2012), separavam estes dois
conjuntos o Oceano Clymene, que viria a se fechar completamente no Cambriano,
Apesar do grande déficit de informações básicas sobre vastas áreas da Plataforma tendo como consequência principal a edificação da cadeia Paraguai-Araguaia. Para
Sul-americana, os seus constituintes maiores ficaram, em linhas gerais, conhecidos estes autores, a sutura entre os dois conjuntos de placas estaria posicionada junto
ao término do século XX. Como uma decorrência natural deste fato, vários pesqui- à margem do Cráton Amazônico. Cordani et al. (2013) argumentam, por outro
sadores voltaram as atenções para três tópicos principais relativos à sua história: i) lado, que a 600 Ma e após uma longa história de convergência das suas margens,
o cenário geográfico/geológico que precedeu a aglutinação da plataforma; ii) cro- já se fechara o grande oceano Goiás-Pharusiano disposto entre elas. A sutura entre
nologia e aspectos dinâmicos da interação de placas durante a sua aglutinação; e iii) os dois blocos se posicionaria na porção medial do Sistema Orogênico Tocantins
a genealogia dos seus componentes maiores. Ao se debruçar sobre estes tópicos, os e seguiria sob a Bacia do Parnaíba, até a margem continental. Com este traçado,
autores são automaticamente remetidos ao tema dos supercontinentes e seu ciclo, ela teria como expressão atual o Lineamento Transbrasiliano-Kandi, cujo papel
como ocorrera com Cordani (vide, p.ex., Cordani et al., 2003a,b, 2009; Kröner e na amalgamação do Gondwna Ocidental é enfatizada por Cordani et al. (2013).
Cordani, 2003; D’Agrella Filho e Cordani, 2017). Desdobramentos desta visão de Cordani estão presentes, por exemplo, em Araujo
Cordani et al. (2003b) e Kröner e Cordani (2003) examinam a questão da et al. (2014) que tratam de possíveis impactos globais da criação do sistema mon-
pertinência dos principais constituintes da plataforma ao supercontinente Ro- tanhoso resultante do fechamento do grande oceano Goiás-Pharusiano.
dínia tal como caracterizado por Hoffman (1991). Fundamentados em dados
geocronológicos e paleomagnéticos, concluem que isto não se verificou e que
fora bem outra a trajetória das paleoplacas hoje incorporadas na plataforma. A 7. Epílogo
visão que tem Cordani sobre este problema, apresentada em várias oportunida-
des e discutida em detalhe em D’Agrella Filho e Cordani (2017), é de que, ao Como mostrado nas seções anteriores, a edificação de um panorama tectônico
findar do Evento Transamazônico / Eburneano por volta de 2.0 Ga, constitui- do Brasil em sintonia com os mais modernos conceitos em geodinâmica, como não
se uma massa continental da qual faziam parte Borborema/Trans-Sahara, São podia deixar de ser, foi obra de muitas mentes e martelos. Se em 2000 chega-se aos
Francisco – Congo, Paranapanema, Río de la Plata e Kahari. Denominada Bloco seus fundamentos, em 2016 ele encontra a sua mais atualizada expressão com o
Centro-Africano, esta massa, que é em parte equivalente à Atlântica de Rogers lançamento do Mapa Tectônico da América do Sul, cuja confecção foi coordenada
e Santosh (2002), permanecerá unida e em deriva até o Período Toniano da Era por U. G. Cordani e V. A. Ramos. Publicado pela Comissão para o Mapa Geológi-
Neoproterozoica. Ela gravitaria em torno de Columbia (aglutinada por volta de co do Mundo, CGMW, é acompanhado de nota explicativa de autoria de Cordani
1,8 Ga) e derivaria ao largo de Rodínia, nem interagindo, nem deles tomando et al. (2016). Ao se comparar esta carta com as demais antes referidas e levar em
parte. Esta hipótese, testável com as ferramentas das quais hoje se dispõe, tem consideração todos os passos dados para se chegar até ela, depara-se novamente e
repercussões muito importantes no entendimento da paleogeografia que prece- de forma muito simbólica com a real dimensão da contribuição do Prof. Cordani
de a aglutinação de Gondwana. nos campos da Tectônica e Geotectônica.

42 43
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano PRIMEIRA PARTE: INTRODUÇÃO – ALKMIM & CRUZ

Referências continentais que ocorrem nas regiões Sudeste e Sul Continente Sul Americano: Evolução da obra de Fernando 2016. Tectonic Map of South America at the scale of
do Brasil. Rio de Janeiro, Petrobras, Série Projeto RE- Marques de Almeida. São Paulo, Editora Beca, p. 165-175. 1:5.000.000. Explanatory Notes (2nd Ed.). Paris, Comis-
Alkmim F.F. 2004. O que faz de um cráton um crá- MAC, 4:39-73. Cordani U.G., Brito Neves B.B. 1982. The Geolog- sion for the Geological Map of the World, 12p.
ton? O Cráton do São Francisco e as revelações almei- Asmus H.E. 1984. Geologia da margem continen- ic evolution of South America during the Archean and Cordani U.G., Sato K., Teixeira W., Tassinari
dianas ao delimitá-lo. In: Mantesso-Neto V., Bartorelli tal brasileira. In: Schobbenhaus C., Campos D.A., Derze Early Proterozoic. Revista Brasileira de Geociências, C.C.G., Basei M.A.S., 2000. Crustal evolution of the
A., Carneiro C.D.R., Brito Neves B.B. (eds.) Geologia G.R., Asmus H.E. (eds.) Geologia do Brasil, Ministério 12(1-3):78-88. South American platform. In: Cordani U.G., Milani E.J.,
do Continente Sul Americano. Evolução da obra de Fer- das Minas e Energia. Brasília, Departamento Nacional da Cordani U.G., Iyer S.S.1979. Geochronological in- Thomaz-Filho A., Campos D.A. (eds.) Tectonic Evolu-
nando Marques de Almeida. São Paulo, Editora Beca, Produção Mineral, p. 443-472. vestigation on the Precambrian granulitic terrain of Bahia, tion of South America, Rio de Janeiro, 31st International
p. 17-35. Asmus H.E., Ferrari A.L. 1978. Hipótese sobre a Brazil. Precambrian Research, 9(3/4):255-274 Geological Congress, p 19-40.
Almeida F.F.M. 1967. Origem e evolução da Plata- causa do tectonismo cenozoico na região sudeste do Bra- Cordani U.G., Ramos V.A. (coord.). 2016. Tectonic Cordani U.G., Tassinari C.C.G., Teixeira W., Kawa-
forma Brasileira. Rio de Janeiro, NPM-DGM, Boletim sil. Série Projeto REMAC, 4:75-88 Map of South America at the scale of 1:5.000.000. Paris, shita K., Basei M.A.S. 1979. Evolução Tectônica da Ama-
241, 36p. Asmus H.E., Ponte F.C. 1973. The Brazilian mar- Comission for the Geological Map of the World. zônia com base nos dados geocronológicos. In: II Con-
Almeida F.F.M. 1969. Diferenciação tectônica da ginal basins. In: Nairn A.E.M. & Stehli F.G (eds.). The Cordani U.G., Sato K. 1999. Crustal evolution of the gresso Geologico do Chile. Actas, p.16-27.
Plataforma Brasileira. In: XXIII Congresso Brasileiro de Ocean Basins and Margins. New York, Plenum Publish- South American Platform, based on Sm-Nd isotopic syste- Cordani U.G., Teixeira W., Tassinari C.C.G., Kawa-
Geologia. Salvador, Sociedade Brasileira de Geologia, ing Corp., 1:87-133. matic on granitoid rocks. Episodes, 22:167-173 shita K., Sato K. 1988. The growth of the Brazilian
Anais, p. 29-46. Asmus H.E., Porto R. 1972. Classificação das bacias Cordani U.G., Amaral G., Kawashita K. 1973. The shield. Episodes, 11(3):163-166.
Almeida F.F.M. 1971. Geochronological division of sedimentares brasileiras segundo a tectônica de placas. Precambrian evolution of South America. Geologische Cordani U.G., Teixeira W., D’Agrella M.S., Trindade
the Precambrian of South America. Revista Brasileira de In: XXVI Congresso Brasileiro de Geologia. Belém, So- Rundschau, 62:309-317 R.I. 2009. The position of the Amazonian Craton in su-
Geociências, 1:13-21. ciedade Brasileira de Geologia, Anais, 2:67-90. Cordani U.G., Brito Neves B. B., Fuck R.A., Porto R., percontinents. Gondwana Research, 15:396-407.
Almeida F.F.M. 1977. O Cráton do São Francisco. Barbosa A.L.M. 1966. Síntese da Evolução Geológi- Thomaz Filho A., Cunha F.M.B. 1984. Estudo preliminar D’Agrella Filho M., Cordani U.G. 2017. The Paleo-
Revista Brasileira de Geociências, 7:285-295. ca da América do Sul. Boletim do Instituto de Geologia, de integração do Pré-cambriano com os eventos tectônicos magnetic record of the São Francisco-Congo Craton.
Almeida F.F.M. 1978. Chronotectonic Boundaries Escola de Minas de Ouro Preto, 1(2): 91-111. das bacias sedimentares brasileiras. Ciência Técnica Petró- In: Heilbron M., Cordani U.G., Alkmim F.F. (eds.).
for Precambrian Time Divisions in South America. Anais Brito Neves B.B., Cordani U.G. 1991.Tectonic evo- leo, 14:1-70. 2017. São Francisco craton, eastern Brazil: Tectonic
da Academia Brasileira de Ciências, 50(4): 527-535. lution of South America during the Late Proterozoic. Cordani U.G., Brito Neves B.B., D´Agrella M.S. genealogy of a miniature continent. Regional Geology
Almeida F.F.M. 1981. O Cráton do Paramirim e suas Precambrian Research, 53:23-40 2003a. From Rodinia to Gondwana: A review of the avail- Reviews, Switzerland, Springer International Publish-
relações com o do São Francisco. In: Simpósio Sobre o Brito Neves B.B., Campos Neto M.C., Fuck R. 1999. able evidence from South America. Gondwana Research, ing Co, p. 305-320.
Cráton do São Francisco e Suas Faixas Marginais. SBG- From Rodinia to Western Gondwana: An approach to 6(2):275-284. Guimarães D. 1951. Arqui-Brasil e sua Evolução
Núcleo Bahia, Salvador, Anais, p.1-10. the Brasiliano/Pan-African cycle and orogenic collage. Cordani U.G., Brito Neves B.B., D´Agrella M.S., Trin- Geológica. Rio de Janeiro, DNPM-DFPM, Boletim 88,
Almeida F.F.M., Black R. 1968. Geological compar- Episodes, 22:155-199. dade R.I.F. 2003b. Tearing up Rodinia: the Neoproterozo- 314p.
ison of Northeastrn South America and Western Africa. Brito-Neves B.B., Kawashita K., Cordani U.G., De- ic paleogeography of South American cratonic fragments. Hasui Y., Almeida F.F.M. 1970. Geocronologia do
Anais da Academia Brasileira de Ciências, 40(Supl.): lhal J. 1979. A evolução geocronológica da Serra do Es- Terra Nova, 15(5):343-349 centro-leste brasileiro. Sociedade Brasileira de Geologia,
317-319. pinhaço, dados novos e integração. Revista Brasileira de Cordani U.G., Delhal J., Ledent D. 1973. Orogèneses Boletim, 19(1):5-17
Almeida F.F.M., Black R. 1972. Comparaison struc- Geociências, 9(1):71-85. superposèes dans le Précambrien du Brèsil Sud-Oriental Heilbron M., Cordani U.G., Alkmim F.F. (eds.).
turale entre Le NE du Brésil et l´Ouest Africain.Sympo- Campos-Neto M.C. 2000. Orogenic systems from (États de Rio de Janeiro et Minas Gerais). Revista Brasilei- 2017a. São Francisco craton, eastern Brazil. Tectonic
sium on Continental drift emphazing the history of the Southwestern Gondwana: An approach to Brasilia- ra de Geociências, 3(1):1-22. genealogy of a miniature continent. Regional Geology
South Atlantic area. Transactions of the American Geo- no-PanAfrican Cycle and orogenic collage in Southeast- Cordani U.G., Iyer S.S., Taylor P.N., Kawashita K., Reviews, Switzerland, Springer International Publish-
physical Union, 53(2):177. ern Brazil. In: Cordani U.G., Milani E.J., Thomaz-Filho Sato K., Mcreath, I. 1992. Pb-Pb-Rb-Sr and K-Ar sys- ing Co, 331p.
Almeida F.F.M, Hasui Y., Brito Neves B.B., Fuck A., Campos D.A. (eds.) Tectonic Evolution of South tematics of the Lagoa Real Uranium province (South-cen- Heilbron M., Cordani U.G., Alkmim, F.F. 2017b.
R.A. 1977. As províncias estruturais brasileiras. In: VIII America. Rio de Janeiro, 31st International Geological tral Bahia, Brazil) and the Espinhaço cycle. Journal of The São Francisco Craton and Its Margins. In: Heilbron
Simpósio de Geologia do Nordeste. Sociedade Brasileira Congress, p. 335-368 South American Earth Sciences, 5(1):33-46. M., Cordani U.G., Alkmim, F.F. (eds.). São Francisco
de Geologia, Campina Grande, Atas, p. 363-391. Cordani U.G. 1973a. Evolução Geológica Precam- Cordani U.G., Kawashita K., Mueller G., Quade H., craton, eastern Brazil. Tectonic genealogy of a minia-
Almeida F.F., Hausi Y. 1984 (coords.). O Pré-Cam- briana da faixa costeira do Brasil entre Salvador e Vitória. Reimer V., Roeser H. 1980. Interpretação tectônica e pe- ture continent. Regional Geology Reviews, Switzerland,
briano do Brasil. São Paulo, Editora Edgard Blücher Tese de Livre Docência, Instituto de Geociências, Uni- trológica de dados geocronológicos do embasamento no Springer International Publishing Co, p. 3-13.
Ltda, 378p. versidade de São Paulo, São Paulo, 98p. bordo sudeste do Quadrilátero Ferrífero, MG. Anais da Heilbron M., Cordani U.G., Alkmim, F.F., Reis
Almeida F.F.M., Amaral G., Cordani U.G., Kawa- Cordani U.G. 1973b. Definição e caracterização do Academia Brasileira de Ciências, 52(4):785-799. H.L.S. 2017c. Tectonic Genealogy of a Miniature
shita K.1973. The Precambrian evolution of the South Craton Sanfranciscano. In: XXVII Congresso Brasileiro Cordani U.G., Melcher G.C., Almeida F.F.M. Continent. In: Heilbron M., Cordani U.G., Alkmim,
American cratonic margin south of the Amazon River. de Geologia. Aracajú, Sociedade Brasileira de Geologia, 1968. Outline of the Precambrian geochronology of F.F. (eds.). São Francisco craton, eastern Brazil. Tec-
In: Nairn A.E.M. & Stehli F.G (eds.). The Ocean Ba- Anais, p. 143-148. South America. Canadian Journal of Earth Sciences, tonic genealogy of a miniature continent. Regional
sins and Margins. New York, Plenum Publishing Corp., Cordani U.G. 1978. Comentários filosóficos sobre 5:629-632. Geology Reviews, Switzerland, Springer International
1:411-446. a evolução geológica pré-cambriana. In: Anais da reu- Cordani U.G., Milani E.J., Thomaz-Filho A., Cam- Publishing Co, p. 321-331.
Almeida F.F.M., Martin F.C., Ferreira E.O., Furque nião preparatória para Simpósio sobre o Cráton do São pos D.A. (eds.) 2000. Tectonic Evolution of South Amer- Herz N., Hurley P.M., Pinson W.H., Fairbairn
G. 1978. Tectonic Map of South America 1:5.000.000: Francisco e suas Faixa Marginais. Publicação Especial, ica. Rio de Janeiro, 31st International Geological Con- H.W. 1961. Ag mesuraments from a part of the Bra-
Explanatory Note. Brasília, Ministério das Minas e Salvador, Sociedade Brasileira de Geologia, Núcleo da gress, 853p. zilian Schield. Geological Society of America Bulletin,
Energia, Departamento Nacional da Produção Mineral/ Bahia, 3:33-65. Cordani U.G., Pimentel M. M., Araujo C.E.G., Fuck 72:1111-1120
UNESCO, Comission for the Geological Map of the Cordani U.G. 1981. Considerações sobre o “Cráton R.A. 2013. The significance of the -Transbrasiliano-Kandi Hoffman P.F. 1989. Precambrian geology and tec-
World, 273p. do Paramirim” e indicação de um modelo de evolução tectonic corridor for the amalgamation of West Gondwa- tonic history of North America. In: Bally A.W. & Palmer
Araujo C.E.G., Rubatto D., Hermann J., Cordani geológica da América do Sul, com base na acreção con- na. Brazilian Journal of Geology, 43:583-597. A.R. (eds). The geology of North America: An overview.
U.G., Caby R., Basei, M.A.S. 2014. Ediacaran 2,500-km- tinental. In: Simpósio sobre o Craton do São Francisco e Cordani U.G., Pimentel M. M., Araujo C.E.G., Basei Colorado, Geological Society of America, Geology of
long synchronous deep continental subduction in the suas Faixas Marginais. Sociedade Brasileira de Geologia, M.A.S., Fuck R.A., Girardi V.A.V. 2013. Was there an Edi- North America, Boulder, v. A, p. 447-512.
West Gondwana Orogen. Nature Communications, Anais, p. 51-56. acaran Clymene Ocean in central South America? Ameri- Hoffman P.F. 1991. Did the breakout of Laurentia
5:5198. Cordani U.G. 2004. Fernando de Almeida e a “sua” can Journal of Science, 313:517-539. turn Godwanaland inside-out? Science, 252:1409-1412.
Asmus H. E. 1978. Hipóteses sobre a origem dos Plataforma Brasileira. In: Mantesso-Neto V., Bartorelli Cordani U.G., Ramos V.A., Fraga L.M., Cegarra M., Hurley P.M., Almeida F.F.M., Melcher G.C., Cor-
sistemas de zonas de fraturas oceânicas-alinhamentos A., Carneiro C.D.R., Brito Neves B.B. (eds.) Geologia do Delgado I., Souza K.G., Gomes F.E.M, Schobbenhaus C. dani U.G., Rand J.R., Kawashita K., Vandoros P., Pin-

44 45
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 1

son W.H., Fairbairn H. 1967. Test of continental driftby


comparison of radiometric ages. Science, 157:495-500.
West Gondwana in the Cambrian: Evidence from the Si-
erras Australes of the southernmost Rio de la Plata Cra- O Cráton Amazônico e suas
Kröner A., Cordani U.G. 2003. African, southern
Indian and South American cratons were not part of the
ton, Argentina. Gondwana Research, 21:394-405.
Torquato J.R.F. Cordani U.G. 1981. Brazil-Africa províncias geocronológicas:
Rodinia supercontinent: evidence from field relation-
ships and geochronology. Tectonophysics, 375:325-352.
geological links. Earth Sciences Reviews, 17:155-176.
Trindade R.I.F., D’Agrella-Filho M.S., Epof I.,
o legado de Umberto Cordani
Nutman A.P., Cordani U.G. 1993. SHRIMP U-Pb Brito Neves B.B. 2006. Paleomagnetism of the Early
zircon geochronology of Archean granitoids from the Cambrian Itabaiana mafic dykes, NE Brazil, and im- Moacir José Buenano Macambira,
Contendas-Mirante area of the São Francisco Craton, plications for the final assembly of Gondwana and its Universidade Federal do Pará,
Bahia, Brazil. Precambrian Research, 63(3):179-188. proximity to Laurentia. Earth and Planetary Science
Nutman A.P.,Cordani U.G., Sabaté P. 1994. SHRIMP Letters, 244:361-377. Instituto de Geociências
U-Pb ages of detrital zircons from the early Proterozo- Trompette R. 1994. Geology of Western Gond- (moamac@ufpa.br),
ic Contendas-Mirante Supracrustal Belt, São Francisco wana (2000-500 Ma): Pan-African/Brasiliano aggre- Wilson Teixeira,
Craton, Bahia, Brazil. Journal of South American Earth gation of South America and Africa. Rotterdam, A.A.
Balkema, 350p.
Universidade de São Paulo,
Sciences, 7(2):109-114.
Pflug R., Schobbenhaus C., Renger F. 1969. Contri- Trompette R., 1997. Neoproterozoic (~600 Ma) Instituto de Geociências
buição à geotectônica do Brasil Oriental. Recife, Sudene , aggregation of Western Gondwana: a tentative scenario. (wteixeir@usp.br), Moacir José
Divisão de Geologia, Série Especial, 9, 59p. Precambrian Research, 82:101-112. Marcelo Lacerda Vasquez, Buenano Macambira.
Ponte F.C., Asmus H.E. 1978. Geological frame- Trompette R., Uhlein A., Egydio-Silva M., Karmann
work of the Brazilian Continental Margin. Geologische I. 1992. The Brasiliano São Francisco craton revisited Serviço Geológico do Brasil – CPRM
Rundschau, 67:201-235. (central Brazil). Journal of South American Earth Scienc- (marcelo.vasquez@cprm.gov.br).
Ramos V.A. 1988. Late Proterozoic-Early Paleozo- es, 6:49-57.
ic of South America – a Collisional History. Episodes, Wegener A. 1912. Die Entstehung der Kontinen-
11:168-174. ten und Ozeane. Braunschweig, Die Wissenschaft,
Rogers J.J., Santosh M. 2002. Configuration of Co- Nr. 66, 135p. 1. Introdução
lumbia, a Mesoproterozoic supercontinent. Gondwana
Research, 5(1):5-22.
Schobbenhaus C. & Brito Neves B.B. 2003. Geology Este artigo apresenta o estado atual do conhecimento geológico-
of Brazil in the context of the South American Platform. geocronológico do Cráton Amazônico e da contribuição do Profes-
In: Bizzi L.A., Schobbenhaus C., Vidotti R.M. Gonçalves
J.H. (eds.). Geology, Tectonics and Mineral Resources of sor Umberto Cordani para o entendimento da sua evolução. É inegá-
Brazil. Brasília, Serviço Geológico – CPRM, p. 5-54. vel a importância dos avanços que o professor produziu, a partir da
Schobbenhaus C., Campos D.A., Asmus H.E. 1981. década de 1970, um período em que as informações geológicas sobre
Mapa Geológico do Brasil e da Área Oceânica Adjacente.
Brasília, Ministério das Minas e Energia, Departamento a Amazônia eram muito limitadas, assim como os métodos científicos
Nacional da Produção Mineral. aplicados na região. Vale destacar que, naquela época, o homenagea-
Schobbenhaus C., Campos D.A., Asmus H.E. (co- do conseguiu vislumbrar, com um enfoque moderno, através do con- Wilson Teixeira.
ord.). 1984. Geologia do Brasil e da Área Oceânica Adja-
cente. Brasília, Ministério das Minas e Energia, Departa- ceito de províncias geocronológicas, um quadro complexo unindo,
mento Nacional da Produção Mineral, 501p. em uma mesma história, a evolução pré-cambriana do Estudo das
Schobbenhaus C., Mantesso-Neto V. 2004. Os ma- Guianas e do Escudo Brasil Central. É impressionante que tal modelo
pas murais e a memória geológica: 150 anos no Brasil
e na America do Sul. In: Mantesso-Neto V., Bartorelli visionário se mantenha válido até os dias de hoje, logicamente com
A., Carneiro C.D.R., Brito Neves B.B. (eds.) Geologia as devidas atualizações em função do avanço do conhecimento e das
do Continente Sul Americano: Evolução da obra de Fer- técnicas de investigação.
nando Marques de Almeida. São Paulo, Editora Beca,
p.435-459. O Mapa Tectônico da América do Sul (Cordani et al., 2016) foi
Tassinari C.C.G., Teixeira W., Cordani U.G., Kawa- utilizado como base geológica para os capítulos 2 a 6, legendado e
shita K., Basei M.A.S. 1979. Caracterização das provín-
cias geocronológicas da Amazônia. Anais da Academia
subdividido em domínios geológicos (figuras 1 a 3), segundo a divi-
Brasileira de Ciências, 51(4): 777-778. são adotada pela CPRM-Serviço Geológico do Brasil em seus produ-
Távora F.J., Cordani U.G., Kawashita K. 1967. De- tos cartográficos. Entende-se por domínio, uma região que mostra
terminação de idade Potássio-Argônio em rochas da re-
gião central da Bahia. In: XXI Congresso Brasileiro de
similaridades em termos de ambiente geológico e tectônico no tempo
Geologia. Curitiba, Sociedade Brasileira de Geologia, e no espaço. Tais domínios foram adaptados nas províncias geocro-
Anais, p. 234-244. nológicas definidas originalmente por Cordani et al. (1979) para o Marcelo Lacerda Vasquez.
Tohver E., Trindade R.I.F., Solum J.G., Hall C.M.,
Riccomini C., Nogueira A.C. 2010. Closing the Clymene Cráton Amazônico, e por seguidores desse modelo, e que estão aqui
ocean and bending a Brasiliano belt: Evidence for the sintetizados de modo a oferecer um panorama atual da evolução tec-
Cambrian formation of Gondwana, southeast Amazon tônica. A figura 4 retrata o Professor Cordani e colaboradores por
craton. Geology, 38:267-270.
Tohver E., Cawood P.A., Rosselo E.A., Jourdan F. ocasião da apresentação do Mapa Tectônico da América do Sul du-
2012. Closure of the Clymene Ocean and formation of rante o 15º Simpósio de Geologia da Amazônia, em Belém, em 2017.

46 47
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 1

Figura 1: Pro-
víncias gecro-
nológicas do
Cráton Amazô-
nico (modificado
de Tassinari e
Macambira,
2004) e domínios
tectônicos.

ni-Itacaiúnas e Amazônia Central, leste do Escudo das Guianas.


Avalia o significado do setor noroeste da Província Amazônia
Central à luz de novos dados isotópicos e discute a relação dos
terrenos do Paleoproterozoico e Arqueano no estado do Amapá.
Capítulo 4: Noroeste-Norte cratônico (domínios Imataca,
Para a redação desta síntese sobre o Cráton Amazônico, coordenada por Moacir Bakhuis, Cauarane-Curuni/Parima, Orocaima/Surumu e Urubu/
Macambira, que se estende até o capítulo 6, foram convidados destacados estudiosos Guiana Central). Esse capítulo destaca a importância do Ciclo
da sua geologia, divididos em grupos, segundo suas áreas de conhecimento específi- Transamazônico na construção dessa parte do cráton e sugere a
Figura 2: Domínios, terrenos
co, conforme discriminado a seguir: definição de novos cinturões tectônicos (Cauarane-Curuni, Oro- e blocos tectônicos do Es-
Capítulo 2: Sudeste cratônico (domínios Carajás, Rio Maria, Santana do Ara- caima e Rio Urubu), que contou com a importante contribuição do cudo Brasil Central, Cráton
guaia, Bacajá, Iriri-Xingu, Tapajós, Peixoto de Azevedo, Roosevelt-Juruena e Jama- Professor Cordani. Tal discussão, leva à proposta de ampliação da Amazônico (modificado de
Cordani et al., 2016).
ri). Esse capítulo apresenta o estado atual do conhecimento geológico das partes extensão e dá nova configuração à Província Maroni-Itacaiúnas.
central e leste do Escudo Brasil Central, incluídas nas províncias Amazônia Cen- Capítulo 5: Centro-Norte cratônico (domínios Cauarane-Cu-
tral, Maroni-Itacaiúnas, Ventuari-Tapajós e Rio Negro Juruena. Envolve, portanto, runi/Parima, Orocaima/Surumu, Urubu/Guiana Central, Uatumã
as rochas mais antigas do cráton, particularmente preservadas na Província Mine- -Anuá, Imeri e Alto Rio Negro). Esse capítulo abrange uma área
ral de Carajás (domínios Carajás e Rio Maria) e discute as principais contribuições do cráton onde os limites das províncias geocronológicas não estão
do Professor Cordani. bem definidos. Face à essa realidade, um paralelo entre os domí-
Capítulo 3: Nordeste cratônico (domínios Amapá, Lourenço, Carecaru e Ere- nios tectônicos e as províncias geocronológicos é traçado, emba-
pecuru-Trombetas). Esse capítulo aborda as partes brasileiras das províncias Maro- sando um novo arranjo das províncias ainda neste capítulo.

48 49
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 1

Figura 3: Domínios,
terrenos e blocos tec- Capítulo 6: Sudoeste cratônico (domínios Paraguá, Jauru, Rio Ale-
tônicos do Escudo das gre, Nova Brasilândia, Guaporé, Aguapeí, Sunsas e Rio Apa). Nesse
Guianas, Cráton Ama- capítulo são examinados os aspectos da evolução tectônica policíclica
zônico (modificado de
Cordani et al., 2016). de um domínio reconhecidamente complexo, à luz de um acervo de
Legenda na figura 2. dados multidisciplinares. São apresentados os principais eventos tecto-
nomagmáticos e as interpretações propostas pelos principais autores, Figura 4: Umberto Giu-
seppe Cordani, Lêda Maria
com reflexões críticas sobre o estado atual de conhecimento do arca- Minerais, CPRM (atualmente, Serviço Geológico do Brasil), a Rio Barreto Fraga e Victor
bouço geotectônico. Doce Geologia e Mineração S/A – Docegeo, e a Petrobras, entre Alberto Ramos por ocasião
do lançamento do Mapa
outras, e ainda colaborou com o DNPM na interpretação geocro- Tectônico da América do
nológica de várias Cartas ao Milionésimo da Amazônia. Sul (escala 1:2.500.000)
2. Interesse científico do O acervo geocronológico da Amazônia também foi sendo en- durante o 15o Simpósio
de Geologia da Amazônia,
Professor Cordani pela Amazônia riquecido e ampliado ao longo das décadas com dados isotópicos realizado em Belém, pela
U-Pb, Pb-Pb e Sm-Nd, fruto da modernização da infraestrutura Sociedade Brasileira de
O interesse de Umberto Cordani sobre a evolução geológica do analítica do CPGeo e de outras instituições. O acesso franco a la- Geologia, Núcleo Norte,
em setembro de 2017.
Cráton Amazônico remonta há mais de quatro décadas. Uma de suas boratórios estrangeiros também foi importante para o incremento (Fotografia de P. Gorayeb).
primeiras iniciativas foi o programa/convênio de apoio geocrono- do conhecimento geológico/geocronológico da região, por conta da
lógico sistemático aos levantamentos de recursos naturais do então sua visão estratégica em prestigiar a cooperação internacional (e.g.,
projeto RADAM (RADAMBRASIL), firmado no início da década de Oxford University, Reino Unido; Research School of Earth Sciences
1970, enquanto dirigente do Centro de Pesquisas Geocronológicas, e National Australian University, Austrália). Várias dissertações de
CPGeo, do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo, mestrado, teses de doutorado e livre docência e/ou projetos de pós-
USP. A cargo de geólogos do RADAM, esses trabalhos contaram doutorado na USP se beneficiaram dessa iniciativa em particular.
esporadicamente com o eminente cientista nas amostragens para O Professor Umberto Cordani também teve e ainda tem forte atua-
fins geocronológicos em diferentes regiões amazônicas, a exemplo ção na divulgação da geocronologia da Amazônia, que se reflete numa
das rochas do embasamento que afloram ao longo do rio Teles Pires assídua participação nas diversas edições do Simpósio Interguianas,
(Cordani e Mantovani, 1976). O esforço coletivo resultou numa Simpósio de Geologia da Amazônia, Simpósio de Geologia do Cen-
notável base inicial de dados geocronológicos Rb-Sr e K-Ar de valor tro-Oeste e Congresso Brasileiro de Geologia. Participou ainda em vá-
inestimável e que está acessível nos capítulos de “Geologia” dos vo- rios workshops, como aquele dedicado à discussão do estado da arte
lumes do RADAMBRASIL. Em adição, o Professor Cordani coorde- sobre a geologia do SW do Cráton Amazônico, realizado em 2001 na
nou a prestação de serviços geocronológicos em projetos pontuais USP, como parte das atividades do projeto de correlação internacional
na região amazônica para: a Companhia de Pesquisas de Recursos (IGCP)-426 (UNESCO/IUGS): Granite Systems and Proterozoic Li-

50 51
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 1

thospheric Processes (Rämo et al., 2002). Esse importante projeto sistematizou o que
se conhecia à época sobre a geologia de granitos e suas mineralizações na Amazônia
(e.g., Bettencourt et al., 1996, 2005; Payolla et al., 2002). Ainda hoje, o homenagea-
do continua a investigar a região sudoeste do Cráton Amazônico, com pesquisas em
curso nas regiões do Cachimbo e Rio Apa (MT) e Ituxi (RO), além de outras regiões
do setor cratônico setentrional (e.g., Roraima) contando com a colaboração de cole-
gas do Serviço Geológico do Brasil e de universidades brasileiras.

3. Contextualização histórica

A interpretação geocronológica a partir da aplicação da tectônica de placas para


a evolução proterozoica do Cráton Amazônico – conforme originalmente formulado
pelo Professor Umberto Cordani – trouxe uma nova concepção geodinâmica para
essa entidade geotectônica. Tratava-se de uma clara contraposição ao conceito do
“verticalismo”, então vigente, que postulava um período muito antigo para a forma-
ção da crosta continental da Amazônia, submetida a reativações tectônicas ao longo
do Pré-Cambriano. Ressalva-se que o “modelo mobilista” proposto motivou, à época
(década de 1980), pouca simpatia, embora tenha sido seguido (naturalmente com
adaptações), por ampla parte da comunidade geológica.
Dois trabalhos seminais com as ideias inovadoras do Professor Cordani sobre
a evolução geotectônica do Cráton Amazônico, foram apresentados por ele no V
Congresso Geológico Venezuelano (Cordani et al., 1977) e no Congresso Geológico
Chileno (Cordani et al., 1979). Esse último trabalho, com base na interpretação inte-
grada de mais de 800 datações K-Ar e Rb-Sr, estabeleceu os fundamentos para o en-
tendimento moderno da geologia e para a descoberta de novos depósitos minerais na
região amazônica (e.g., Melfi et al. (org.), 2016). Ele constituiu, portanto, um marco
na sua obra científica, uma vez que revolucionou o entendimento da compartimen-
tação tectônica do Cráton Amazônico em províncias geocronológicas adjacentes e
de idade progressivamente mais jovem para sudoeste, representativas de domínios
geológicos com estruturação coerente e associação tectônica e magmática plausível.
A propósito da dinâmica da tectônica de placas, que se tornou muito difundida
do final da década de 1960 em diante (e.g., Hurley et al., 1968), toda a obra do Pro-
Figura 5: Mapas geológicos
fessor Cordani reflete essa concepção “mobilista”, cujos detalhes estão transcritos esquemáticos das províncias
no capítulo de sua autoria (Cordani, 2004) para o livro em homenagem ao Professor geocronológicas e principais
Fernando de Almeida. Outras influências importantes, utilizadas como paradigma associações litológicas do
Cráton Amazônico. A: Cor-
para a evolução do Cráton Amazônico, foram os trabalhos de Stockwell, nas décadas dani et al. (1979); B: Teixeira
de 1960 e 1970, para o Escudo Canadense e a publicação de Alfred Kröner sobre a et al. (1989); C: Tassinari et
evolução pré-cambriana do continente africano, de 1977. Em particular, o trabalho al. (2000) e D: Tassinari e
Macambira (2004).
de Stockwell (1975) apresentou pioneiramente um sistema de classificação temporal
para definir a sucessão de eventos formadores de quatro províncias estruturais e
orogênicas, expostas no Escudo Canadense. Esse trabalho integrou o conhecimento reciclagem de placas litosféricas, onde somente o núcleo continental
geológico e mais de 2.400 idades, entre K-Ar (a maioria delas), Rb-Sr e U-Pb, trazen- preservou-se do processo regenerativo.
do pela primeira vez a ideia inovadora da existência de uma sucessão de eventos tem- A concepção original de Cordani et al. (1979) (figura 5A) formula-
porais distribuídos naquele escudo do Pré-Cambriano. Em contraposição, Kröner da para a Amazônia configurou-se como um viés original frente a esses
(1977), estudando a evolução paleoproterozoica do continente africano, interpretou dois modelos acima mencionados. Postulou-se à época a evolução de
a arquitetura tectônica com base em cinturões móveis lineares internos, fruto da três cinturões móveis proterozoicos, à luz da distribuição geográfica

52 53
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 1

das idades isotópicas então disponíveis, para caracterizar uma série de províncias Mineral de Carajás, por exemplo (i.e., Amazônia Central redefinida). A compilação
geocronológicas, dispostas marginalmente a um núcleo mais antigo (Província Ama- dos parâmetros petrogenéticos apontou a predominância do acrescimento juvenil na
zônia Central). Essas províncias proterozoicas foram assim denominadas e delimi- formação das províncias mais velhas e de processos colisionais e de retrabalhamento
tadas no tempo: Maroni-Itacaiúnas (2,20-1,80 Ga), distribuída ao longo da porção crustal para aquelas de idade mesoproterozoica.
setentrional cratônica, Rio Negro-Juruena (1,70-1,40 Ga) na parte centro sul, e a No ano seguinte, Tassinari et al. (2000) apresentaram um texto expandido dessa
Rondoniano (1,40-1,00 Ga), situada na extremidade sul-ocidental. Para todas essas proposta de 1999 (figura 5C) no livro Tectonic Evolution of South America, orga-
províncias foram caracterizadas em termos geocronológicos as associações de rochas nizado pelo Professor Cordani e colaboradores, publicado na ocasião do 31º Inter-
relacionadas às fases sin-, tardi- e postectônicas, definidas essencialmente por isó- national Geological Congress, no Rio de Janeiro. Nesse mesmo livro, Cordani et al.
cronas Rb-Sr, ao passo que a época de resfriamento regional de cada cinturão sendo (2000) apresentaram uma síntese dos dados Sm-Nd para a Amazônia, cuja inter-
destacada pelo padrão de idades K-Ar. A mobilidade da crosta no caso da formação pretação integrada proporcionou uma nova visão sobre a natureza das províncias
da Amazônia ao longo do tempo tem sido confirmada até hoje em suas linhas gerais, geocronológicas e para o processo de crescimento orogênico do cráton.
muito embora o avanço do conhecimento tenha demonstrado uma complexidade Na segunda metade daquela década, Cordani e Teixeira (2007) apresentaram
muito maior de província para província. O termo “Amazônia”, aqui adotado, repre- uma nova síntese sobre a evolução proterozoica da Amazônia, utilizando como pa-
senta um segmento de crosta cuja evolução é dinâmica ao longo do tempo. radigma a dinâmica dos orógenos acrecionários e a interpretação petrogenética e os
As décadas de 1970-1990 foram profícuas na produção de dados isotópicos para processos de soft-collision/accretion associados à subdução do tipo B, formadores da
o continente Sul-Americano e que resultaram em notáveis avanços acerca da evolu- crosta continental. Segundo esses autores, o termo “orógeno acrecionário” aplica-se
ção geológica do Cráton Amazônico, em especial com o suporte do mapeamento em a uma província petrotectônica e geocronológica com estruturação coerente em ter-
escala regional do projeto RADAM. Por exemplo, três trabalhos foram apresentados mos regionais, cujas rochas exibem deformação policíclica e sofreram granitização
no XXX Congresso Brasileiro de Geologia, em Recife, oriundos da pesquisa geocro- e migmatização com retrabalhamento ou não de crosta preexistente. Esse concei-
nológica no CPGeo, sob a supervisão de Cordani, a saber: Basei (1978), Tassinari to, utilizado para as rochas das diferentes províncias do SW da Amazônia, veio a
(1978) e Teixeira (1978), que estudaram, respectivamente, o magmatismo ácido a ser adotado em suas linhas gerais por muitos pesquisadores nos anos subsequentes.
intermediário da região meridional da Amazônia, a Província Rio Negro-Juruena e Contudo, a crescente base de dados isotópicos, geológicos e geofísicos viria apontar
as rochas básicas e alcalinas dispersas na região amazônica. as complexidades geológicas e aspectos tectônicos peculiares de região para região.
No final da década de 1980, uma nova compartimentação tectônica para o Crá- Propostas para a compartimentação do Cráton Amazônico em províncias foram
ton Amazônico foi publicada no periódico Precambrian Research, contando com a apresentadas também por vários autores (e.g., Santos et al., 2000, 2008; Lima et al.,
coautoria de Cordani. Essa publicação (Teixeira et al., 1989) (figura 5B) integrou 2018), mantendo o princípio “mobilista” de Cordani et al. (1979), mas promovendo
dados geocronológicos e geológicos então disponíveis, incluindo os resultados do mudanças e/ou adaptações aos limites e denominações das províncias. Nessa linha,
Projeto de correlação geológica internacional da UNESCO (IGCP-204), recém-fi- destaca-se como mais próximo da proposta inicial de Cordani e colaboradores, o
nalizado na época. Esse projeto teve por objetivo incentivar o debate sobre a evolu- trabalho de Tassinari e Macambira (2004), que introduziram modificações com base
ção do Cráton Amazônico por meio de uma rede de conhecimento e workshops de no avanço do conhecimento geológico e nos novos dados isotópicos obtidos por
campo. Considerando mais de três centenas de idades por diferentes métodos, esse diversos métodos (figura 5D).
trabalho (Teixeira et al., 1989) compartimentou a porção sudoeste da região amazô- Cabe destacar que os trabalhos do Professor Cordani também abordaram a po-
nica em três províncias proterozoicas, numa aproximação com o conceito aplicado sição paleogeográfica da Amazônia (cf. definição acima) no contexto dos supercon-
por Stockwell (1975) para o escudo Canadense. Os limites entre as províncias fo- tinentes (e.g., Cordani et al., 2001; Cordani et al., 2003a, b; Cordani et al., 2009).
ram estimados a partir do respectivo arcabouço geológico regional e nos contrastes Para tanto, vários pesquisadores vieram a colaborar com ele, em particular, os espe-
temporais, de região para região, com base no padrão das idades Rb-Sr isocrônicas e cialistas em paleomagnetismo e tectônica global.
K-Ar, além de algumas idades U-Pb e Sm-Nd em áreas-chave.
No final dos anos 1990, uma nova compartimentação do Cráton Amazônico
em províncias geocronológicas foi proposta por Tassinari e Macambira (1999), a 4. Considerações Preliminares
partir do modelo inicial de Cordani et al. (1979). Além das províncias Amazônia
Central e Maroni-Itacaiúnas, tectonicamente estabilizadas após a orogênese Transa- Os capítulos sucedentes (2 a 6) sobre o Cráton Amazônico apresentam o estado
mazônica, foram caracterizadas mais quatro províncias: Ventuari-Tapajós (1,95-1,8 da arte da sua geologia e geotectônica. Ao trazerem os maiores aperfeiçoamentos
Ga), Rio Negro-Juruena (1,8-1,55 Ga), Rondoniana-San Ignacio (1,55-1,3 Ga) e atingidos no conhecimento geológico da maior expressão cratônica da América do
Sunsas (1,25-1,0 Ga). A Província Ventuari-Tapajós, definida pela primeira vez nesse Sul ao longo de décadas, ilustram, de certo modo, o protagonismo de Umberto Cor-
trabalho e caracterizada por idades modelo Sm-Nd (Nd-TDM) do Paleoproterozoico, dani alicerçado na pesquisa geocronológica e inferências geoctectônicas.
foi individualizada em relação à Província Amazônia Central, cujas idades Nd-TDM O entendimento integrado do arcabouço geológico do Cráton Amazônico, como
eram maiores que 2,5 Ga – típicas dos terrenos granito-greenstones da Província está sintetizado nos próximos capítulos, avançou significativamente nas últimas dé-

54 55
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 1

cadas, por conta dos trabalhos pioneiros do Projeto RADAM e em paralelo pelos
estudos sistemáticos da CPRM, entre outras muitas contribuições, como os trabalhos
acadêmicos em áreas de maior interesse científico ou econômico. Embora ainda in-
suficiente para a imensa região, foi possível, graças ao incremento dos mapeamentos
geológico e geofísico, aliados à produção de um grande número de dados isotópicos
aplicados à geocronologia, desvendar a complexa evolução crustal, fundamentada
por técnicas metodológicas e conceitos modernos associados à Tectônica Global.
Em sua concepção geotectônica inovadora para o Cráton Amazônico, Cordani et al.
(1979) caracterizaram um núcleo crustal primitivo que representa a província geocro-
nológico-estrutural Amazônia Central, e os “cinturões/faixas móveis” periféricos com
distribuição subparalela e idade decrescente para o sudoeste cratônico (configuração atu-
al). Na sequência, Teixeira et al. (1989) definiram “províncias geocronológicas” como
regiões caracterizadas por um padrão de idades coerentes em toda as suas extensões.
Com o aumento do acervo de dados Sm-Nd foi possível ampliar a aplicação do conceito
de evolução crustal para o cráton, incluindo a determinação da idade de formação de se-
tores da crosta continental. Nesse sentido, Tassinari e Macambira (1999, 2004), Tassinari
et al. (2000), Cordani et al. (2000), Cordani e Teixeira (2007) mantiveram, em linhas
gerais, o conceito de “províncias geocronológicas” e ajustaram as extensões e os limites
das províncias. Essas foram enfatizadas essencialmente pelo padrão geocronológico e
geológico do embasamento metamórfico de cada uma delas, pressupondo a evolução
sucessiva de orógenos acrecionários-colisionais para o caso do Proterozoico.
Como esclarecido na introdução deste artigo, optou-se por descrever e avaliar as
informações geológicas disponíveis segundo domínios tectônicos. Tomando-se como Figura 6: Proposta de
base o Mapa Tectônico da América do Sul (Cordani et al., 2016), esses domínios fo- esboço das províncias
geocronológicas do Cráton
ram articulados como grandes frações representativas do cráton, que correspondem Amazônico traçadas a partir
às “províncias geocronológico-estruturais”, inicialmente definidas por Cordani et por rochas do Arqueano. Por outro lado, em função desses domínios da junção de domínios
al. (1979), e às “províncias geocronológicas” por seus seguidores, contemplando as (Carajás, Rio Maria, Santana do Araguaia e Iriri-Xingu) constituírem tectônicos estabelecidos
sobre o mapa de Cordani et
adaptações consequentes em termos de limites geográficos, conforme apresentado uma região contínua em termos das idades modelo de Nd, que indica al. (2016) modificado.
na figura 6. Para essa nova configuração, adotou-se, aqui, o conceito de “província que crosta se formou nesse éon, optou-se por mantê-los sob a denomi-
geocronológica” de Tassinari e Macambira (1999, 2004) como “Grandes zonas den- nação de Província Amazônia Central, mas preservando uma linha de
tro de áreas cratonizadas, onde predomina um determinado padrão geocronológico separação entre eles em mapa (figura 6), mas divididos em PAC1 (Província Carajás)
(‘isotópico’, nossa modificação), com as idades obtidas por diferentes métodos apli- e PAC2 (Domínio Iriri-Xingu), ambos com Nd-TDM > 2,5 Ga.
cados a distintos materiais, exibindo valores coerentes entre si. Os limites entre as • Noroeste da Província Amazônia Central (Escudo das Guianas, Domínio Erepe-
províncias são traçados com base nas idades do embasamento metamórfico e nas ca- curu-Trombetas (ver capítulo 3). Em função da similaridade petrológica e geocronoló-
racterísticas geológicas, incluindo-se aí, suporte de dados geofísicos.” Cada província gica das rochas dos domínios Iriri-Xingu (domínio 5 na figura 2) e Erepecuru-Trom-
pode conter rochas mais jovens que o embasamento metamórfico que estabelece o betas (domínio 27 na figura 3), que são essencialmente constituídos por associações
padrão isotópico, bem como núcleos mais antigos, desde que afetados pelo evento plutônicas e vulcânicas paleoproterozoicas, os dois domínios têm sido englobados na
metamórfico responsável pela formação da província. mesma província. No entanto, embora em número reduzido, os valores de idade Nd-
Algumas ponderações merecem ser destacadas para regiões específicas, como an- TDM das rochas do Domínio Erepecuru-Trombetas são inferiores a 2,5 Ga, indicando
tecipação do que será apresentado nos capítulos 2 a 6: uma formação de crosta no Paleoproterozoico (e.g., Macambira e Lafon, 2016), o
• Oeste da Província Amazônia Central (Escudo Brasil Central, Domínio Iriri que contrasta com as rochas do Domínio Iriri-Xingu. Evidências isotópicas de Hf em
-Xingu, domínio 5 na figura 2) (ver capítulo 2). Embora em superfície o domínio seja zircão poderiam contribuir para melhor enquadrar a natureza da crosta desses dois
quase inteiramente constituído por rochas vulcânicas e plutônicas do Paleoprotero- domínios, porém são ainda em número bastante reduzido. De todo modo, com base
zoico, os valores de idade Nd-TDM são, via de regra, maiores que 2,5 Ga, guardando nos parâmetros isotópicos de Nd, propõe-se que o Domínio Erepecuru-Trombetas
coerência com os da Província Mineral de Carajás (domínios Carajás, Rio Maria pertença à Província Ventuari-Tapajós (figura 6), onde ocorrem rochas com similari-
e Santana do Araguaia), adjacente a leste, e com o traçado inicial de Teixeira et dade geocronológica e idades Nd-TDM inferiores a 2,5 Ga. Vale ressaltar que o extenso
al. (1989). Contudo, na Província Carajás, o embasamento é formado inteiramente magmatismo félsico e subordinadamente máfico que ocorre nesses dois domínios con-

56 57
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano

Figura 7: Foto do grupo


figuram uma, ou mesmo duas, SLIPs (ver capítulos 2 e 3), de idade de 1,99-1,96 Ga de participantes de um
(Orocaima) e 1,89-1,87 Ga (Uatumã). A SLIP do Domínio Erepecuru-Trombetas seria workshop de campo em
Rondônia, em 1995,
produto da fusão de uma crosta formada no Paleoproterozoico com alguma contribui- coordenado por J. Betten-
ção de material arqueano, enquanto a do Domínio Iriri-Xingu seria gerada por fusão court, R. Dall’Agnol, W.
de uma litosfera majoritariamente do Arqueano. B. Leite Jr., B. L. Payolla
e outros, que contou com
• Centro da Província Maroni-Itacaiúnas (Escudo das Guianas). Os domínios Oro- a participação do Profes-
caima, Cauarane-Curuni e Urubu (domínios 22 a 24, respectivamente, na figura 3), sor Cordani (terceiro de
que ocorrem na região central dessa província (capítulos 4 e 5), de acordo com Tassi- pé, a partir da direita).
nari e Macambira (2004), necessitam de uma reavaliação quanto aos aspectos tectôni-
cos e geocronológicos. Nesse sentido, os cinturões metamórficos que levam os nomes
desses domínios foram delineados a partir das revisões das grandes estruturas sinuosas
de direção geral L-O que ocorrem nessa região ao norte do escudo (e.g., Fraga et al.,
2009; Fraga et al., 2017; Fraga e Cordani, 2019). Tais cinturões têm idades orosirianas
e são pouco mais jovens que as rochas riacianas, que compõem os terrenos a norte e 2016, e Faleiros et al., 2016) reconsideraram, com base em revisões e atualizações do
nordeste, e são formalmente consideradas como formadas no Ciclo Transamazônico. arcabouço tectônico e geocronológico, o Domínio Rio Apa como correlacionável ao
Como a estruturação geral de toda essa região é similar e as idades variam em um in- SW amazônico (i.e., Província Rio Negro-Juruena), como mostrado na figura 6. De
tervalo relativamente curto dentro da escala das províncias geocronológicas do Cráton fato, uma nova síntese sobre o Domínio Rio Apa (Teixeira et al., 2020), com a coau-
Amazônico, optou-se manter a denominação Província Maroni-Itacaiúnas para toda toria do Professor Umberto Cordani entre outros, demonstrou a sua notável afinidade
a região, definida, assim, como formada no intervalo de 2,2 a 1,95 Ga (figura 6). Tal geodinâmica com a evolução acrescionária do SW do Cráton Amazônico durante o
proposta vem de acordo com o Ciclo Birimiano, que afetou a contraparte da Amazônia Proterozoico e as implicações paleogeográficas desse evento no contexto global.
no Cráton Oeste Africano (e.g., Grenholm et al., 2019).
• Sudoeste do Cráton Amazônico (Oeste do Escudo Brasil Central) (ver figura 2
e capítulo 6). Os principais domínios geológicos e/ou terrenos da porção sudoeste do 5. Palavras Finais
cráton foram tratados segundo a definição oficial da CPRM (e.g., Jamari, Roosevelt-
Juruena, Rio Alegre, Nova Brasilândia, Sunsas, Paraguá e Rio Apa). Nesse contexto, Em conclusão deste capítulo, fica mais uma vez comprovada a importante con-
a contribuição de Umberto Cordani reitera o valor dos dados geocronológicos, que tribuição do Professor Cordani para o entendimento de vários setores do Cráton
serviram e ainda servem de base para a formulação de modelos tectônicos. A propósito Amazônico e de sua concepção integrada através de um modelo tectônico evolutivo
da compartimentação tectônica do SW da Amazônia em duas províncias (Rondonia- para o mesmo, que tem sido continuamente atualizado, avançando em várias frentes
na-San Ignacio e Aguapeí-Sunsas), essa tem sido amplamente seguida pela literatura do conhecimento. Nesse sentido, o legado principal do Professor Cordani pode ser
(e.g., Tassinari e Macambira, 1999, 2004; Cordani e Teixeira, 2007; Bettencourt et al., sintetizado por três destaques científicos:
2010; Teixeira et al., 2010). 1) Interpretação mobilista da história tectônica do Craton Amazônico (anos 1970);
Modelos alternativos, contudo, têm considerado limites físicos e temporais di- 2) Modificações importantes acrescentadas quanto à evolução tectônica e ob-
ferentes para a região do sudoeste cratônico (e.g., Santos et al., 2008), além de de- tenção de conhecimento geológico nos últimos 40 anos, com dezenas de trabalhos
nominações diversas para os elementos tectônicos que a integram. De outra parte, importantes em revistas internacionais, e
permanece ainda importante debate, por exemplo, quanto ao significado tectônico 3) Interpretações consistentes na escala regional continuaram a ser publicadas, mas
do Terreno Jamari (Scandolara et al., 2017), aqui considerado como pertencente à o esquema fundamental é mantido: províncias tectônicas de grandes dimensões, com
Província Rondoniana-San Ignacio por apresentar retrabalhamento mesoproterozoi- idades decrescentes de NE para SW conforme idealizado por Cordani et al. (1979).
co, e ainda acerca da origem do cinturão Nova Brasilândia (e.g., Tohver et al., 2004a, Finalmente, quanto ao protagonismo do Professor Cordani, cabe também des-
b, 2005a, b; Boger et al., 2005; Cordani e Teixeira, 2007) que consideraram esse tacar sua contribuição no tocante ao posicionamento paleogeográfico da Amazô-
cinturão como uma entidade geotectônica associada a uma reativação tectônica-mag- nia durante o Proterozoico, por ele concebido originalmente como um fragmento
mático-deformacional na crosta previamente cratonizada, ao tempo da colisão distal acrecionário no tempo e no espaço. Seus trabalhos destacam o importante papel da
Sunsas (1,10-1,00 Ga). Por sinal, esse modelo tectônico foi corroborado posterior- Amazônia (em conjunto com o Oeste Africano) no contexto dos ciclos de supercon-
mente por dados paleomagnéticos (e.g., D’Agrella-Filho et al., 2012). tinentes (Columbia, Rodínia e Gondwana). Tais propostas receberam refinamentos
• Domínio Rio Apa (extremo sudoeste do Cráton Amazônico) (domínio 16 na a partir de dados paleomagnéticos e correlações geológicas globais, incluindo barco
figura 2 e capítulo 6). Esse domínio foi originalmente proposto como uma continui- de matches de eventos tipo LIP e SLIP (e.g., Kröner e Cordani, 2003a; Johansson,
dade do Cráton Amazônico (Almeida, 1967), fato desconsiderado nos trabalhos sub- 2009; Cordani et al., 2009, 2010a; Reis et al., 2013; Bispo-Santos et al., 2014,
sequentes. Recentemente, três sínteses (Cordani et al., 2010b; Lacerda Filho et al., 2020; D’Agrella-Filho et al., 2012, 2016; Teixeira et al., 2019).

58 59
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 1

Referências Cordani U.G., Neves B.B.B., D’Agrella-Filho M.S.,


Trindade R.I.F. 2003b. Tearing up Rodinia: the Neo-
Almeida F.F.M. 1967. Origem e evolução da Platafor- proterozoic paleogeography of South American cratonic
ma Brasileira, Brasil. Rio de Janeiro, Depto. Nacional Pro- fragments. Terra Nova, 15(5):343-349.
dução Mineral, Div. Geol. Mineralogia, Bol. 241, 36 p. Cordani U.G., Ramos V.A., Fraga L.M., Cegarra M.,
Jorge Bettencourt Basei M.A.S. 1978. Estudo geocronológico do mag- Delgado I., Souza K.G., Gomes F.E.M., Schobbenhaus C.
e Umberto Cordani. matismo ácido da região meridional da Amazônia. In: 2016.Tectonic Map of South America. Scale: 1/5,900,000.
Fotografia de XXX Congresso Brasileiro de Geologia. Recife, Brazil, Paris, Commission for the Geological Map of the World.
Andrea Bartorelli SBG, Anais, p. 287-296. Cordani U.G., Sato K., Teixeira W., Tassinari C.C.G.,
em 2019. Bettencourt J.S., Leite Jr. W.B., Goraieb C.L., Spar- Basei M.A.S. 2000, Crustal evolution of the South Amer-
remberg I., Bello R.M.S., Payolla B.L. 2005. Sn-poly- ican plataform. In: Cordani U.G., Milani E.J., Thomaz-
metallic greisen-type deposits associated with late-stage Filho A., Campos D.A. (eds.). Tectonic evolution of
rapakivi granites, Brazil: fluid inclusions and stable-iso- South America. Rio de Janeiro, Brazil, 31st International
topes characteristics. Lithos, 80: 363-386. Geological Congress, p. 19-40.
Bettencourt J.S., Leite Jr W., Payolla B., Ruiz A.S., Cordani U.G., Tassinari C.C.G., Teixeira W., Basei
Matos R.S., Tosdal R.M. 2010. The Rondonian-San Igna- M.A.S., Kawashita K. 1979. Evolução Tectônica da Ama-
cio Province in the SW Amazonian Craton: an overview. zônia com base nos dados geocronológicos. In: II Cong.
Journal of South American Earth Sciences, 29:28-46. Geol. Chileno. Arica, Actas, 4:137-148.
Bettencourt J.S., Onstott T.C., De Jesus T., Teixei- Cordani U.G. & Teixeira W. 2007. Proterozoic ac-
ra W. 1996. Tectonic interpretation of 40Ar/39Ar ages on cretionary belts in the Amazonian Craton. In: Hatcher
country rocks from the Central Sector of the Rio Negro– Jr. R.D., Carlson M.P., McBride J.H., Martinez Catalán
A pessoa Cordani Juruena Province, Southwestern Amazonian Craton. In- J.R. (orgs.). The 4D Framework of Continental Crust.
ternational Geology Review, 38:42-56. GSA Memoir. Boulder, Colorado: Geological Society of
Bispo-Santos F., D’Agrella-Filho M.S., Pesonen L.J., Sal- America Book Editors 200, p. 297-320.
O Professor Umberto Cordani ostenta um curriculum diferenciado, invulgar, notável Cordani U.G., Teixeira W., D’Agrella-Filho M.S.,
minen J.M., Reis N.J., Massucato Silva J., 2020. The long
fora e dentro do Brasil, principalmente nos meios acadêmicos. Ao longo do tempo, nós life of SAMBA connection in Columbia: A paleomagnetic Trindade R.I. 2009. The position of the Amazonian Cra-
aprendemos, entre outras coisas: a entender, a aquilatar e a apreciar a sua obra científica study of the 1535 Ma Mucajaí Complex, northern Amazoni- ton in supercontinents. Gondwana Research, 15:396-407.
an Craton, Brazil. Gondwana Research, 80: 285-302. Cordani U.G., Teixeira W., Tassinari C.C.G., Cou-
monumental, o que consubstancia uma contribuição ímpar para as Ciências da Terra. Para tinho J.M.V., Ruiz A.S. 2010b. The Rio Apa craton in
Bispo-Santos F., D’Agrella-Filho M.S., Trindade
isso é necessário ressaltar a sua capacidade de geração de ideias inovadoras e conceitos, pro- R.I.F., Janikian L., Reis N.J. 2014. Was there SAMBA Mato Grosso do Sul (Brazil) and northern Paraguay: geo-
dução científica correlata ímpar, formulação de novas propostas científicas, envolvimento in Columbia? Paleomagnetic evidence from 1790 Ma chronological evolution, correlations and tectonic impli-
Avanavero mafic sills (Northern Amazonian craton). Pre- cations. American Journal of Sciences, 310:981-1023.
em temas científicos diversos, sem contar com dedicação à pesquisa, orientação e formação D’Agrella-Filho M.S., Bispo-Santos F., Trindade
cambrian Research, 244:139-155.
profissional de uma legião de orientandos. Boger S.D., Raetz M., Giles D., Etchart E., Fanning R.I.F., Antonio P.J.Y. 2016. Paleomagnetism of the Ama-
A pessoa? É o que mais impressiona, sendo um colega leal e amigo dos mais admirados e M.C. 2005. U–Pb age data from the Sunsas region of zonian Craton and its role in paleocontinents. Brazilian
Eastern Bolivia, evidence for the allochtonous origin of Journal of Geology, 46(2):275-299.
respeitados. Doce de trato e de espírito irrequieto, de grande energia e dedicação ao trabalho, D’Agrella-Filho M.S., Trindade R.I.F., Elming S.A.,
the Paraguá Block. Precambrian Research, 139:121-146.
e de disposição a tudo e a todos. Cordani U.G. 2004. Fernando de Almeida e a “sua” Teixeira W., Yokoyama E., Tohver E., Geraldes M.C.,
Um dos autores do capítulo 6 (J. Bettencourt) o conheceu, como seu calouro do curso Plataforma Brasileira. In: Virgínio Montesso Neto; An- Pacca I.I.G., Barros M.A.S., Ruiz A.S. 2012. The 1420
drea Bartorelli; Celso dal Ré Carneiro; Brito Neves B.B. Ma Indiavaí Mafic Intrusion (SW Amazonian Craton):
de Geologia, lá pelos idos de 1958, na Alameda Glette, São Paulo, onde começava, também, Paleomagnetic results and implications for tColumbia su-
(orgs.). Geologia do Continente Sul-Americano: Evolu-
a sua atividade social universitária angariando alunos para a prática esportiva e, mais tarde, ção da obra de Fernando Flávio Marques de Almeida. São percontinent. Gondwana Research, 22: 956-973. https://
como acompanhante dele e do Professor Norman Herz, durante excursão a Antonina, Paraná. Paulo, Beca Produções Culturais Ltda., p. 165-175. doi.org/10.1016/j.gr.2012.02.022
Cordani U.G., Basei M.A.S., Tassinari C.C.G., Tei- Faleiros F.M., Pavan M., Remédio M.J., Rodrigues
Esse convívio cordial perdurou durante as décadas seguintes, ilustrado pela participação dele, J.B., Almeida V.V., Caltabeloti F.P., Pinto L.G.R., Olivei-
xeira W., Kawashita K. 1977. La evolucion tectônica de
sempre proativa, por ocasião de um workshop de campo em Rondônia sob a coordenação Amazonia com base em datas geocronológicas. In: V ra A.A., Pinto de Azevedo E.J., Costa V.S. 2016. Zircon
de J. Bettencourt, R. Dall’Agnol e outros, em 1995. A foto do grupo de participantes desse Congresso Geológico Venezolano. Caracas, Resumos. U-Pb ages of rocks from the Rio Apa Cratonic Terrane
Cordani U.G., Fraga L.M., Reis N., Tassinari C.C.G., (Mato Grosso do Sul, Brazil): New insights for its con-
workshop de campo (figura 7) ilustra essa oportunidade de convívio profissional com o co- Brito-Neves B.B. 2010a. On the origin and tectonic sig- nection with the Amazonian Craton in pre-Gondwana
lega Cordani, que foi sempre prazerosa. Outro coautor deste capítulo (W. Teixeira), desde o nificance of the intra-plate events of Grenvillian-type age times. Gondwana Research, 34:187-204.
início da sua carreira universitária, interagiu com o Professor Cordani na qualidade de seu in South America: A discussion. Journal of South Ameri- Fraga L.M.B. & Cordani U.G. 2019. Early Orosirian
can Earth Sciences, 29(1):143-159. tectonic evolution of the Central Guiana Shield: insights
orientador de pesquisa de iniciação científica, Mestrado e Doutorado; tendo desfrutado do Cordani U.G. & Mantovani M. 1976. Idade Rb/Sr from new U-Pb SHRIMP data. In: 11th Inter Guiana Geo-
seu incentivo constante, conselhos profissionais e anos mais tarde da sua cooperação efetiva de rochas magmáticas da região do curso médio do Rio logical Conference: Tectonics and Metallogenesis of NE
na pesquisa científica e em projetos acadêmicos. Seguramente todos os autores dos capítulos Teles Pires. In: XXIX Congresso Brasileiro de Geologia. South America. Paramaribo, Suriname, Geologisch Mi-
Ouro Preto, Resumo, p. 229. jnbouwkundige Dienst Suriname. Mededeling, 29:59-62.
sobre o Cráton Amazônico também desfrutaram da cordialidade do Professor Cordani e dos Cordani U.G., Neves B.B.B., D’Agrella-Filho M.S. Fraga L.M.B., Cordani U.G., Reis N.J., Nadeau S.,
seus conhecimentos amplos sobre Geocronologia e Geotectônica que propiciaram reflexões 2001. From Rodinia to Gondwana: a review of the avail- Maurer V.C. 2017. U-Pb SHRIMP and LA_ICP-MS new
importantes sobre o geodinâmica dessa região cratônica, que teve papel fundamental no arca- able evidence from South America. In: Bettencourt J.S., data for different A-Type granites of the Orocaima Igne-
Teixeira W., Pacca I.I.G., Geraldes M.C., Sparrenberger ous Belt, Central Guyana Shield, Northern Amazonian
bouço tectônico do continente Sul-americano. I. (eds.). Workshop Geology of the SW Amazonian Cra- Craton. In: 15º. Simpósio de Geologia da Amazônia.
Jorge Bettencourt ton: state of the art. São Paulo, Institute of Geosciences, Belém, Pará, Sociedade Brasileira de Geologia – Núcleo
University of São Paulo, Extended Abstracts, p. 39-44. Norte, Anais, p. 482-485.

60 61
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 2

Fraga L.M.B., Macambira M.J.B., Dall’Agnol R., Costa of South American Earth Sciences, 73:223-247.
J.B.S. 2009. 1.94–1.93 Ga charnockitic magmatism from Stockwell C.H. 1975. Canada-canadian shield. In:
the central part of the Guiana Shield, Roraima, Brazil: sin- Fairbridge R.W. (ed.). World Regional Geology. Ency-
gle zircon evaporation data and tectonic implications. Jour-
nal of South American Earth Sciences, 27:247–257.
clopedia of Earth Science. Berlin, Heidelberg, Springer.
https://doi.org/10.1007/3-540-31081-1_24.
O sudeste do Cráton Amazônico
Grenholm M., Jessell M., Thébaud N. 2019. A geo-
dynamic model for the Paleoproterozoic (ca. 2.27-1.96
Tassinari C.C.G. 1978. Considerações crono-estra-
tigráficas da região das Chapadas do Cachimbo e Dar-
e seu significado como embrião cratônico
Ga) Birimian Orogen of the southern West African Cra- danelos. In: 30º. Congresso Brasileiro de Geologia. Re-
ton – Insights into an evolving accretionary-collisional cife, SBG, Anais, p. 477-490. Moacir José Buenano Macambira,
orogenic system, Earth-Science Reviews, 192:138-193. Tassinari C.C.G., Bettencourt J.S., Geraldes M.C., Ma- Universidade Federal do Pará,
Hurley P.M., Melcher G.C., Pinson Jr W.H., Fairbain cambira M.J.B., Lafon J.M. 2000. The Amazonian craton.
H.W. 1968. Some orogenic episodes in South America by In: Cordani U.G., Milani E.J., Thomaz-Filho A., Campos Instituto de Geociências (moamac@ufpa.br).
K-Ar and whole rock Rb-Sr dating. Canadian Journal of D.A. (eds.). Tectonic evolution of South America. Rio de Marcelo Lacerda Vasquez
Earth Sciences, 5: 633-638. Janeiro, 31st International Geological Congress, p. 41-95. Serviço Geológico do Brasil – CPRM,
Kröner A. 1977. The Precambrian geotectonic evo- Tassinari C.C.G. & Macambira M.J.B. 1999. Geo- (marcelo.vasquez@cprm.gov.br).
lution of Africa: plate accretion versus plate destruction. chronological provinces of the Amazonian Craton. Epi-
Precambrian Research, 4:163-213. sodes, 22(3):174-182. Gilmar José Rizzotto, Moacir José
Kröner A. & Cordani U.G. 2003. African, southern Tassinari C.C.G. & Macambira M.J.B. 2004. A evo- Serviço Geológico do Brasil – CPRM, Buenano Macambira.
Indian and South American cratons were not part of the lução tectônica do Cráton Amazônico. In: Mantesso-Ne- (gilmar.rizzotto@cprm.gov.br).
Rodinia supercontinent: evidence from field relation- to V., Bartorelli A., Carneiro C.D.R., Brito Neves B.B
ships and geochronology. Tectonophysics, 375:325-352. (Eds.). Geologia do continente Sul-americano: evolução
Lacerda Filho J.V., Fuck R.A., Ruiz A.S., Dantas E.L., da obra de Fernando Flávio Marques de Almeida. São
Scandolara J.E., Rodrigues J.B., Nascimento N.D.C. Paulo, Beca, p. 471-485.
2016. Palaeoproterozoic tectonic evolution of the Alto Teixeira W. 1978. Significação tectônica do magma-
Terere Group, southernmost Amazonian Craton, based tismo anorogênico pré-cambriano básico e alcalino na 1. Introdução
on field mapping, zircon dating and rock geochemistry. região amazônica.In: 30º. Congresso Brasileiro de Geo-
Journal of South American Earth Sciences, 65:121-141. logia. Recife, SBG, Anais, p. 491-505.
Lima M.I.C. & Bezerra P.E.L. 2018. Província Estru- Teixeira W., Cordani U.G., Faleiros F.M., Sato K., Mau-
As propostas pioneiras de compartimentação tectônica do Cráton
tural Amazônia Revisada. In: 49º. Congresso Brasileiro rer V.C., Ruiz A.S., Azevedo E.J.P. 2020. The Rio Apa Ter- Amazônico (Amaral, 1974; Cordani et al., 1979; Teixeira et al., 1989) já
de Geologia. Rio de Janeiro, SBG, CD-ROM. rane reviewed: U-Pb zircon geochronology and provenance distinguiam as suas partes central e oriental em face de suas características
Macambira M.J.B. & Lafon J.M. 2016. Extensão e sig- studies provide paleotectonic links with a growing Pro-
nificado da Província Amazônia Central. In: 48º. Congres- terozoic Amazonia. Earth-Science Reviews, 202:103089.
evolutivas particulares. Contudo, foi a partir da proposta de Tassinari e
so Brasileiro de Geologia. Porto Alegre, SBG. CD-ROM. https://doi.org/10.1016/j.earscirev.2020.103089. Macambira (1999, 2004), que se passou a ter uma individualização de Marcelo Lacerda Vasquez.
Melfi A.J., Misi A., Campos D.A., Cordani U.G. (orgs.). Teixeira W., Geraldes M.C., Matos R., Ruiz A.S., uma província adicional no arcabouço cratônico – a Província Ventu-
2016. Recursos Minerais no Brasil: problemas e desafios. Saes G., Vargas-Mattos G. 2010. A review of the tecton-
Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Ciências. 420 p. ic evolution of the Sunsás belt, SW Amazonian Craton. ari-Tapajós. Essa província marca a acreção de um arco magmático na
Payolla B.L., Bettencourt J.S., Kozuch M., Schmus Journal of South American Earth Sciences, 29:47-60. margem de um continente arqueano em parte preservado (Bloco Carajás
W.R.V., Leite Jr. W.B. 2002. Geological Evolution of the Teixeira W., Hamilton M., Girardi V.A.V., Faleiros F.M. da Província Amazônia Central), retrabalhado no Orosiriano (Bloco Xin-
basement rocks in the east-central part of the Rondônia Tin 2019. U-Pb baddeleyite ages of key dyke swarms in the
Province, SW Amazonian craton, Brazil: U-Pb and Sm-Nd Amazonian Craton (Carajás/Rio Maria and Rio Apa areas): gu-Iricoumé da Província Amazônia Central) e aglutinado no Riaciano
isotopic constraints. Precambrian Research, 119:141-169. tectonic implications for events at 1880, 1110 Ma, 535 Ma (Província Maroni-Itacaiúnas) durante o Ciclo Transamazônico (figura
Rämo O.T., Schmus W.R.V., Bettencourt J.S. 2002. and 200 Ma. Precambrian Research, 329:138-155. 1 do capítulo 1, na página 48). Alternativamente, Santos et al. (2000)
Preface: IGCP Project 426- Granite Systems and Proterozo- Teixeira W., Tassinari C.C.G., Cordani U.G., Kawa-
ic Lithospheric Processes. Precambrian Research, 119:1-7. shita K. 1989. A review of the geochronology of the adotaram um modelo evolutivo similar para o Cráton Amazônico mas,
Reis N.J., Teixeira W., Hamilton M.A., Bispo-Santos F., Amazonian Craton: tectonic implications. Precambrian localmente, propuseram novos traçados e denominações para as provín-
Almeida M.E., D’Agrella-Filho M.S. 2013. Avanavero maf- Research, 42:213-227. https://doi.org/10.1016/0301- cias geocronológicas. Alguns anos mais tarde, Santos (2003), com base
ic magmatism, a Late Paleoproterozoic LIP in the Guiana 9268(89)90012-0.
Shield, Amazonian Craton: U-PbID-TIMS baddeleyite, geo- Tohver E., Bettencourt J.S., Tosdal R., Mezger K., nas particularidades dos diferentes segmentos das províncias, propôs uma
chemical and paleomagnetic evidence. Lithos, 174:175-195. Leite W.B., Payolla B.L. 2004a. Terrane transfer during subdivisão em domínios geológicos que tem sido adotada pelos pesqui- Gilmar José Rizzotto.
Santos J.O.S., Hartmann L.A., Gaudette H.E., Gro- the Grenville orogeny: tracing the Amazonian ancestry sadores do Serviço Geológico do Brasil – CPRM (Pedreira et al., 2004;
ves D.I., McNaughton N.J., Fletcher I.R. 2000. A new of southern Appalachian basement through Pb and Nd
understanding of the provinces of the Amazon Craton isotopes. Earth Planetary Sciences Letters, 228:161-176. Reis et al., 2006; Rizzotto, 2007; Vasquez et al., 2008b). Esses domínios,
based on integration of field mapping and U-Pb and Sm- Tohver E., Teixeira W., Van der Pluijm B., Geraldes contudo, apresentam nuances em relação aos limites físicos e temporais
Nd geochronology. Gondwana Research, 3(4):453-488. M.C., Bettencourt J.S., Rizzotto G. 2005a. Restored das províncias geocronológicas de Tassinari e Macambira (2004).
https://doi.org/10.1016/S1342-937X(05)70755-3. transect across the exhumed Grenville orogeny of Lau-
Santos J.O.S., Rizzotto G.J., Potterd P.E., McNaugh- rentia and Amazonia, with implications for crustal archi-
ton N.J., Matos R., Hartmann L.A., Chemale Jr. F., tecture. Geology, 34(8):669-672.
Quadros M.L.E.S. 2008. Age and autochthonous evolu- Tohver E., Van der Pluijm B., Mezger K., Essene
tion of the Sunsás Orogen in West Amazon Craton based E., Scandolara J., Rizzotto G. 2004b. Significance of 2. Compartimentação Tectônica do
on mapping and U–Pb geochronology. Precambrian Re- the Nova Brasilândia metasedimentary belt in western Leste do Escudo Brasil Central
search, 165:120-152. Brazil: redifining the Mesoproterozoic boundary of the
Scandolara J.E., Correa R.T., Fuck R.A., Souza V.S., Amazon craton. Tectonics, 23:1-20.
Rodrigues J.B., Ribeiro P.S.E., Frasca A.A.S., Saboia Tohver E., Van der Pluijm B.A., Scandolara J.E., Es- Na compartimentação tectônica da Plataforma Sul-americana, Almei-
A.M., Lacerda Filho J.V. 2017. Paleo-Mesoproterozoic sene E.J. 2005b. Late Mesoproterozoic deformation of da et al. (1976) individualizaram os escudos das Guianas e Brasil Central,
arc-accretion along the southwestern margin of the Ama- SW Amazonia (Rondônia, Brazil): geochronological and
zonian craton: the Juruena accretionary orogen and pos- structural evidence for collision with southern Laurentia.
que são parcialmente cobertos pelas bacias do Amazonas e Solimões e
sible implications for Columbia supercontinente. Journal Journal Geology, 113:309-323. orlados, nas bordas sudeste e sul, pelos cinturões neoproterozoicos Ara-

62 63
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 2

guaia e Paraguai, e no lado oeste, pelo Cinturão Andino (figura 1 do capítulo 1). Ambos
os escudos, considerando-se uma visão integrada, marcam um embrião arqueano mar-
geado por sucessivos orógenos e tafrógenos proterozoicos, que representam eventos de
acreção e retrabalhamento crustal, também com acresções e retrabalhamento de núcleos
mais antigos. A figura 2 do capítulo 1 (página 49) apresenta as unidades que compõem
os domínios, terrenos e blocos tectônicos da parte leste do Escudo Brasil Central e sua
correspondência tentativa com as províncias geocronológicas de Tassinari e Macambira
(2004). Neste capítulo serão tratados os domínios que compõem a província Carajás, o
domínio Bacajá, situado ao norte, Santana do Araguaia, ao sul, e finalmente os domínios
Iriri-Xingu e Tapajós, ambos a oeste da província Carajás, e os domínios Peixoto de Aze-
vedo, Roosevelt-Juruena e Jamari, a sudoeste do Domínio Tapajós.

3. Domínios Carajás e Rio Maria (Província Carajás)

Carajás é a mais importante província mineral do Brasil, reunindo um conjunto


de volumosos depósitos minerais (ferro, cobre, ouro, manganês, níquel etc.), alguns
de classe mundial. Embora represente a região mais bem estudada geologicamente
da Amazônia, ainda hoje, descobertas de importantes jazidas lá ocorrem. A região
foi formada e estabilizada tectonicamente no Arqueano, apresentando as sequências
mais antigas e melhor preservadas do Cráton Amazônico. A Província Mineral de
Carajás está limitada, a leste, pelo cinturão Araguaia (Neoproterozoico), a norte,
pelo Domínio Bacajá, incluído na Província Maroni-Itacaiúnas (Paleoproterozoico),
a sul e a oeste é parcialmente coberta, respectivamente, pelas sequências sedimenta-
res da bacia de Parecis (Fanerozoico) e pelas rochas vulcânicas e granitos intrusivos
do domínio Iriri-Xingu, do Paleoproterozoico, a serem caracterizadas no item 6 des-
te capítulo. O domínio Tapajós (item 7) distribui-se a oeste do domínio Iriri-Xingu.
Cordani et al. (1984) realizaram a primeira síntese de dados geocronológicos,
obtidos no CPGeo/USP pelos métodos K-Ar e Rb-Sr, para toda a Província de Ca-
rajás (figura 1). Com esses dados, os autores estabeleceram a existência de rochas
formadas no Arqueano, dois eventos metamórficos, sendo um ocorrido no setor
norte, no Arqueano, e outro que afetou as extremidades meridional e setentrional
da província, no Paleoproterozoico (Ciclo Transamazônico). Granitos posteriores ao
Ciclo Transamazônico, com cerca 1,88 Ga, foram detectados ao longo de toda a re-
gião, intrusivos no embasamento. Outro avanço importante foi o estabelecimento do
Figura 1: Mapa geológico
limite entre as províncias Amazônia Central (Domínio Carajás) e Maroni-Itacaiúnas esquemático da Província
(Domínio Bacajá, descrito no item 5). Na época, já havia a suposição da existência, Na sequência, novos (sub)domínios foram individualizados entre os Mineral de Carajás, sudeste da
no Domínio Bacajá, de “porções antigas preservadas” do Arqueano, como compro- domínios Carajás e Rio Maria, como os de Transição, Sapucaia e Canaã Província Amazônia Central.
Fonte: Cordani et al. (1984).
vada em estudos posteriores (e.g., Macambira et al., 2009). dos Carajás (e.g., Dall’Agnol et al., 2013). Contudo, dados geocronológi-
A Província de Carajás foi inicialmente dividida em três domínios tectônicos de dire- cos (U-Pb e Pb-Pb em zircão) têm estabelecido um curto intervalo de cerca
ção leste-oeste (Docegeo, 1988; Costa et al., 1995). A norte, tem-se o Cinturão de Cisa- de 150 milhões de anos (3,00-2,85 Ga) para a formação do embasamento
lhamento Itacaiúnas, hoje Domínio Carajás (de grande importância metalogenética); no da Província de Carajás, como proposto inicialmente para a região de Rio
centro, o terreno granito-greenstone de Rio Maria e, a sul, o terreno granito-greenstone Maria (Macambira e Lancelot, 1996). Adicionalmente, no que se refere
de Inajá, anteriormente denominado de Cinturão de Cisalhamento Pau D’Arco. Poste- às idades modelo Nd (2,8-3,3 Ga; e.g., Teixeira et al., 2002; Almeida et
riormente, Vasquez et al. (2008b) uniram os dois terrenos granito-greenstone no Domí- al., 2011; Feio et al., 2013), fica a sugestão, pelo menos, da contempo-
nio Rio Maria e individualizaram o Domínio Santana do Araguaia (item 4), no extremo raneidade dos terrenos que compõem a crosta da província, ou seja, os
sul da província, esse afetado pelo Ciclo Transamazônico. domínios Carajás e Rio Maria, que estão abaixo sintetizados.

64 65
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 2

Na parte norte da Província Carajás – Domínio Carajás (domínio 2 na figura 2 do No domínio Rio Maria (domínio 1 da figura 2 do capítulo 1) as unidades estratigrá-
capítulo 1), as rochas mais antigas são as sequências greenstone (não datadas) e granitoi- ficas mais antigas são as sequências greenstones do Supergrupo Andorinhas e o complexo
des, como o Tonalito Bacaba (ca. 3,0 Ga; Moreto et al., 2011); granitos e trondhjemitos máfico-ultramáfico acamadado Serra Azul (2,90-3,00 Ga; Pimentel e Machado, 1994,
(2,96-2,93 Ga; Feio et al., 2013), além de granitos e tonalitos (2,87-2,83 Ga; Feio et Macambira e Lancelot, 1996; Rolando e Macambira, 2003), que ocorrem nas regiões de
al., 2013; Rodrigues et al., 2014), todos inicialmente englobados no Complexo Xingu. Rio Maria e Inajá. Intrusivos nessas unidades ocorrem vários granitoides do Arqueano,
Rochas granulíticas formadas em 2,86 Ga e pertencentes aos complexos Pium e Chicrim- como os das séries tonalito-trondhjemítica (TTG, idades entre 2,98 e 2,92 Ga; Almeida
Cateté apresentam protólitos cuja idade, detectada em núcleos de cristais de zircão, está et al., 2011, 2017), sanukitoide (2,87 Ga; Oliveira et al., 2011) e suítes de leucogranitos
em torno de 3,0 Ga (Pidgeon et al., 2000). Esse evento metamórfico, conforme proposto potássicos e de leuco-granodioritos-granitos (ca. 2,87 Ga; Almeida et al., 2011).
por Machado et al. (1991), estaria para alguns (e.g., Martins et al., 2017; Motta et al.,
2019) associado à suposta colisão dos domínios Rio Maria e Carajás.
O Domínio Carajás foi também intrudido, entre 2,75 e 2,73 Ga, por granitos 4. Domínio Santana do Araguaia
alcalinos tipo Estrela, complexos máfico-ultramáficos como o de Luanga, granitos
da suíte Planalto, e plútons charnockíticos (Diopsídio Norito Pium) (Machado et al., O retrabalhamento das rochas arqueanas do extremo sudeste do Cráton Ama-
1991; Huhn et al., 1999; Barros et al., 2009; Feio et al., 2012; Santos et al., 2013). zônico durante o Paleoproterozoico foi proposto a partir de isócronas Rb-Sr de re-
O contexto tectônico de formação da bacia de Carajás não é consenso; contudo, ferência e idades K-Ar em minerais e rochas sumarizadas em Cordani et al. (1984).
é claro que essas rochas tiveram um envolvimento de material continental, como Contudo, somente a partir da identificação de um tonalito com idade de evaporação
demonstrado pelos isótopos de Nd e zircão herdado, seja em sistema de rifte conti- de Pb em zircão de 2.19 Ga é que foi individualizado o Domínio Santana do Ara-
nental (Gibbs et al., 1986; Martins et al., 2017), seja por colisão-subducção oblíqua guaia (domínio 4 da figura 2 do capítulo 1) como um domínio com evolução relacio-
(Teixeira e Eggler, 1994), embora a primeira proposta tenha mais adeptos. No fim nada ao Ciclo Transamazônico (Vasquez et al., 2008b).
do Arqueano (2,58 Ga), outro evento tectono-metamórfico, associado à colocação Embora a região apresente rochas antigas, como o metagranodiorito de 3,07 Ga
de granitos alcalinos, a exemplo do Granito Old Salobo (Machado et al., 1991), (Corrêa e Macambira, 2014), o Domínio Santana do Araguaia tem como protólitos
afetou heterogeneamente o Domínio Carajás e possivelmente remobilizou minera- rochas formadas dominantemente no Neoarqueano. As evidências são cinturões de
lizações (e.g., Tallarico et al., 2005). A Formação Águas Claras é uma sequência de rochas supracrustais (˂ 2,83 Ga; Monteiro et al., 2004) com fontes detríticas de
rochas sedimentares de ambiente marinho raso a fluvial de idade controversa, que 2,60-2,80 Ga (Ribeiro e Alves, 2017), complexos de alto grau com gnaisses tonalíti-
recobre o Supergrupo Itacaiúnas. Mougeot et al. (1996) e Dias et al. (1996), ao cos com idade U-Pb em zircão de 2,83 Ga e dados Nd-TDM que indicam uma acreção
determinarem idades de cristais de zircão de diques de metagabros que cortam essa juvenil entre 2,89 e 2,83 Ga (Alves et al., 2010). Esse domínio também inclui um
sequência, propuseram para ela uma idade arqueana, embora a possibilidade de que metagranodiorioto com idade U-Pb em zircão de 2,76 Ga (Ribeiro e Alves, 2017).
tais cristais sejam herdados não tenha sido descartada. Por outro lado, embora não A existência de rochas riacianas no Domínio Santana do Araguaia é reforçada
suficiente para descartar a idade arqueana, Fabre et al. (2011) acreditam que a sequ- pela presença de cristais de zircão detrítico com idade concordante de 2,15-2,04 Ga
ência tenha uma idade equivalente ao GOE (great oxigenation event) por suas piritas (Monteiro et al., 2004) em rochas sedimentares de bacias paleoproterozoicas desse
não apresentarem assinatura de MIF-S (S mass-independent fractionation). domínio. Adicionalmente, feições migmatíticas foram descritas nos ortognaisses do
Os plútons monzograníticos a sienograníticos de cerca 1,88 Ga dispersos no do- complexo de alto grau que forma o substrato desse domínio (Vasquez et al., 2008c;
mínio Carajás ocorrem em outras partes da Província Amazônia Central. Isótopos Alves et al., 2010; Ribeiro e Alves, 2017), porém cuja idade ainda não foi determina-
de Sr, Nd, Hf e O (Macambira et al., 1990; Dall’Agnol et al., 1999; Teixeira et al., da. Contudo, Corrêa e Macambira (2014) dataram um granodiorito e um enderbito
2019) sugerem uma origem a partir da anatexia de rochas extraídas do manto no com ca. 1990 Ma em meio aos metatonalitos e metagranodioritos arqueanos, que
Paleo e Mesoarqueano, em sistemas distensivos (Costa et al., 1995), provavelmente ocorrem na fronteira norte do domínio. Por outro lado, na porção sudeste do do-
provocada por underplating ou intrusão de magmas máficos derivados do manto mínio e no leste do Domínio Iriri-Xingu (figura 2 do capítulo 1) ocorrem batólitos
(Dall’Agnol et al., 1994). graníticos de 1,98-1,97 Ga (Alves et al., 2010; Ribeiro e Alves, 2017). Além disso,
A diferença mais marcante entre os domínios Carajás e Rio Maria é que, durante uma migmatização de cerca de 1,98 Ga foi recentemente identificada em gnaisses no
o Neoarqueano, o norte da Província de Carajás foi afetado por sistemas transcor- interior do Domínio Iriri-Xingu (Vasquez et al., 2019a) e poderia estar associada a
rentes com transpressão e transtensão (Costa et al., 1995; Pinheiro e Holdsworth, um evento metamórfico de alto grau do Domínio Santana do Araguaia.
2000), seguidos de manifestações ígneas e sedimentares (e.g., Macambira e Lafon, Em termos estruturais, a orientação NW-SE dos lineamentos regionais e de ro-
1995). Boa parte delas preencheu a bacia Carajás entre 2,76 e 2,73 Ga (e.g., Gibbs chas supracrustais e granitos do Domínio Santana do Araguaia contrasta com a dos
et al., 1986; Machado et al., 1991) e as rochas foram englobadas no Supergrupo domínios arqueanos (Rio Maria e Carajás) e Bacajá (figura 2 do capítulo 1). Esses
Itacaiúnas (Docegeo, 1988), que corresponderia aos grupos Rio Novo, São Félix, lineamentos se limitam ao Domínio Santana do Araguaia, mas se prolongam pelo
São Sebastião, Aquiri, Grão Pará, Igarapé Bahia, Igarapé Pojuca e Igarapé Salobo Domínio Iriri-Xingu e infletem para norte em uma etapa posterior, como sugere o
(Vasquez et al., 2008c). modelamento de Carneiro et al. (2013).

66 67
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 2

5. Domínio Bacajá terizado pelo alojamento de granodioritos, monzogranitos (Granito Felício Turvo,
Suíte João Jorge) e charnockitos produzidos da fusão, tanto de crosta juvenil como
Datações pelos métodos K-Ar e Rb-Sr de rochas do norte da Província de Carajás, de crosta arqueana.
no sudeste do Cráton Amazônico, levaram Cordani et al. (1984) a proporem que a Em termos petrogenéticos, embora poucos resultados de isótopos de Nd estejam
região imediatamente ao norte teria sido formada durante o Ciclo Transamazônico e disponíveis, na parte norte do Domínio Bacajá aparentemente predominam rochas
a englobaram na Província Maroni-Itacaiúnas (figura 1). Na sequência, Santos et al. juvenis, enquanto na parte sul, próximo ao Domínio Carajás, uma crosta arqueana
(1988), com em dados Rb-Sr de paragnaisses, rochas calciossilicáticas e metabásicas retrabalhada é dominante.
do oeste do rio Xingu, mostraram que houve a formação de magma juvenil no início A tectônica tangencial foi fortemente transposta pela transcorrência nas partes
do Paleoproterozoico (˃ 2,3 Ga), cuja crosta foi retrabalhada durante o Ciclo Tran- norte, oeste e central do Domínio Bacajá. As estruturas, paragêneses e microtex-
samazônico. Posteriormente, esse setor foi denominado de Domínio Bacajá (domínio turas indicam que as falhas colocaram lado a lado corpos formados em condições
3 da figura 2 do capítulo 1), o qual apresenta contato tectônico com o Domínio contrastantes de deformação dúctil e metamorfismo, com rochas com textura ígnea
Carajás (Província Amazônia Central), a sul. Seus limites norte e leste fazem contato preservada ao lado de gnaisses bandados e porfiroblásticos com diferentes graus de
com as bacias do Amazonas e do Grajaú, respectivamente, enquanto que o oeste, migmatização (Santos et al., 1988; Vasquez et al., 2008a).
com o Domínio Iriri-Xingu.
O Domínio Bacajá formou-se principalmente durante o Riaciano e engloba rochas
do Arqueano e do Sideriano, com evolução similar ao que se observa no restante da 6. Domínio Iriri-Xingu
Província Maroni-Itacaiúnas (e.g., Vasquez et al., 2008c; Macambira et al., 2009). Ele
corresponde a um domínio tectônico distinto no contexto regional, representando O Domínio Iriri-Xingu (domínio 5 da figura 2 do capítulo 1) corresponde à
um ou vários arcos magmáticos com estruturação regional NW-SE e colados à crosta porção sul do Bloco Xingu-Iricoumé da Província Amazônia Central (figura 1 do
arqueana de Carajás. Dados geocronológicos apresentados por Faraco et al. (2005), capítulo 1). Esse domínio é marcado por eventos vulcano-plutônicos orosirianos
Vasquez et al. (2005, 2008a, c) e Macambira et al. (2007, 2009) permitiram definir os e coberturas sedimentares resultantes do retrabalhamento das rochas ígneas paleo-
seguintes conjuntos de rochas, dispostos na ordem cronológica dos eventos: proterozoicas. São raras as ocorrências de rochas metamórficas do embasamento e
1) As rochas mais antigas do domínio são gnaisses de 2,67-3,00 Ga, detectados ainda pouco conhecidas as idades de sua formação. Contudo, Vasquez et al. (2019a)
nas parte norte, central e sul, e incluídos no complexos Aruanã, Cajazeiras e Xingu. identificaram ocorrências de gnaisses e migmatitos no nordeste e centro-oeste desse
Em função da composição e natureza juvenil (Nd-TDM = 2,67 Ga; ƐNd(t) = +2,7) dos domínio. Na parte nordeste, a partir de dados U-Pb em zircão, determinaram idades
gnaisses do centro do domínio, eles possivelmente representam restos de um arco de de metamorfismo de alto grau de ca. 2,15 Ga, que marcam continuidade do Domí-
ilha ou suíte TTG. nio Bacajá e, no centro-oeste, idades de metamorfismo de ca. 1,98 Ga. Nas partes
2) Outros prováveis resíduos antigos estão representados por gnaisses siderianos norte e sul do domínio predominam rochas vulcânicas e granitos de 1,99-1,97 Ga,
de 2,50-2,44 Ga, com assinatura de crosta continental retrabalhada, possivelmente cujos dados Sm-Nd indicam derivação predominante de crosta arqueana (Alves et
um arco continental. al., 2010; Semblano et al., 2016b). Nas partes central e leste predominam rochas
3) Rochas vulcanossedimentares de 2,4 Ga compõem a sequência Três Palmeiras vulcânicas ácidas e intermediárias de ca. 1,88 Ga, também derivadas de fontes crus-
e similares, que hospedam os depósitos auríferos da região e marcam um evento tais arqueanas conforme inferências isotópicas (Fernandes et al., 2011).
intermediário, não detectado nos domínios transamazônicos típicos. São as primei- Em alternativa aos modelos de tafrogênese do Paleoproterozoico para explicar a
ras rochas supracrustais siderianas registradas no Cráton Amazônico. Essa sucessão origem do magmatismo orosiriano no Domínio Iriri-Xingu (Brito Neves et al., 1995;
apresenta pillow-lavas e é circundada por granitoides mais jovens, sugerindo que foi Tassinari, 1996) foram propostos modelos de subdução de baixo ângulo da placa
parte de um provável arco de ilha/assoalho oceânico acrescido à margem continen- oceânica dos arcos magmáticos do Tapajós seguidos pela extensão intracontinental
tal, o que é corroborado pela composição química e natureza juvenil indicada pelos (Santos et al., 2000; Fernandes et al., 2011). Por outro lado, Klein et al. (2012) pro-
isótopos de Nd. puseram que o extenso vulcano-plutonismo de ca. 1880 Ma representa uma Silicic
4) Granitoides diversos intrudiram a crosta continental em um período de cerca Large Igneous Province (SLIP) em função de sua magnitude e curta duração, que
de 150 milhões de anos (2,22-2,07 Ga), marcando pelo menos três estágios do Ciclo implica o desenvolvimento de um rifte intracontinental a leste dos arcos do Domínio
Transamazônico. Em geral, os granitoides relacionados aos últimos estágios são qui- Tapajós, como previamente proposto por Vasquez et al. (2008c).
micamente mais evoluídos e menos deformados: o primeiro estágio (pré-colisional) A confirmação de uma subdução de baixo ângulo de um arco magmático há ca.
está representado por granitoides formados entre 2,22 e 2,13 Ga a partir da fusão 1,88 Ga induzindo atividade magmática pós-orogênica na área tectonicamente está-
de crosta arqueana em um provável ambiente de arco continental; o segundo estágio vel, ou de uma ampla extensão crustal gerando magmatismo tipo SLIP depende de
(sin- a tardi-colisional) compreende granitoides colocados entre 2,11 e 2,10 Ga que, estudos de geofísica profunda para avaliar a espessura crustal e de mapeamento ge-
em alguns pontos, apresentam um componente juvenil em seus magmas originais; o ológico. Com isso, seria possível identificar os remanescentes dos arcos magmáticos
terceiro estágio (tardi- a pós-colisional) de 2,09-2,07 Ga, foi principalmente carac- orosirianos mais precoces na borda do antepaís arqueano (proto-cráton). Modela-

68 69
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 2

mentos gravimétricos e sísmicos (Rosa et al., 2016) evidenciam um maior espessa- granitos, gnaisses, anfibolitos e xistos do primeiro arco magmático, o Arco Cuiú-
mento crustal na área arqueana e na dos cinturões orogênicos riacianos (Maroni-I- Cuiú, suportaram a proposta de uma colisão continental (Vasquez et al., 2002). Uma
tacaiúnas) e orosirianos (Ventuari-Tapajós), com uma região intermediária entre o colisão continental tipo soft, conforme proposto por Cordani e Teixeira (2007),
cinturão orosiriano e núcleo arqueano (Bloco Carajás), que corresponde ao Bloco parece razoável, mas ainda carece de dados que comprovem e datem esse evento.
Iricoumé-Xingu da Amazônia Central (figura1 do capítulo 1) de espessura menor. Portanto, a aglutinação de sucessivos arcos magmáticos (Tassinari, 1996; Santos et
Em modelamento gravimétrico do limite manto e crosta, Carneiro et al. (2013) des- al., 2000; Juliani et al., 2013, 2015; Cassini et al., 2020) tem sido a alternativa aos
tacaram descontinuidades crustais NNW-SSE sobrepostas a descontinuidades E-W modelos colisionais.
mais antigas e mais profundas nos domínios da parte sul do Cráton Amazônico. O Domínio Tapajós, metalogeneticamente, corresponde à Província Mineral do
Essas descontinuidades NW-SE são mais rasas que as E-W e serviram de dutos dos Tapajós, também referida como Província Aurífera do Tapajós devido ao predomínio
magmas orosirianos como indica a orientação dos corpos (figura 2 do capítulo 1). de diferentes tipos de depósitos de ouro. Santos et al. (2001) caracterizaram depósi-
Recentemente, um modelamento preliminar por tomografia sísmica evidenciou o tos de paleoplacer orogênicos relacionados a bacias e arcos magmáticos e a intrusões
adelgaçamento crustal de orientação NNW-SSE no Domínio Iriri-Xingu, que favore- ígneas formados por volta de 1,86 Ga. Já Lafon e Coutinho (2008), com base em
ce o modelo de SLIP para a atividade magmática orosiriana (Costa, 2018). isótopos de Pb em sulfetos, identificaram dois eventos de mineralização, há ca. 1,96
e ca. 1,86 Ga. Por sua vez, Juliani et al. (2002, 2005, 2013) identificaram depósitos
epitermais de baixa a alta sulfetação e pórfiros de Cu-Au formados por volta de 1,86
7. Domínio Tapajós Ga (40Ar-39Ar em alunita), que se estendem até o limite com os domínios arqueanos.
Por fim, dados Rb-Sr (Tassinari, 1996), Pb-Pb em sulfetos (Santos et al., 2013) e 40Ar
O Domínio Tapajós (domínio 6 da figura 2 do capítulo 1) corresponde à parte sul -39Ar em micas (Santos et al., 2001) sugerem possíveis reativações das mineralizações
da Província Ventuari-Tapajós (Tassinari, 1996; Tassinari e Macambira, 1999, 2004), durante o Estateriano (e.g., Bettencourt et al., 2016).
também referida como Província Tapajós-Parima (Santos et al., 2000). Esse domínio,
juntamente com o Domínio Peixoto de Azevedo, são os domínios tectônicos do Oro-
siriano que Santos (2003) distinguiu na parte sul do Cráton Amazônico. 8. Domínios Peixoto de Azevedo,
A isócrona Rb-Sr de 1965 ± 16 Ma e os dados Sm-Nd, indicando acreção juvenil Roosevelt-Juruena e Jamari
há cerca de 2,1 Ga, com assinatura de retrabalhamento de crosta arqueana e ainda a
geração granitos e tonalitos da área Creporizão, obtidos por Tassinari (1996), deli- A Província Mineral Polimetálica Juruena-Teles Pires ou Alta Floresta está inseri-
neiam os limites desse orógeno orosiniano (segmento da Província Ventuari-Tapajós, da na porção sul da Província Rio Negro-Juruena (PRNJ), a qual engloba numerosos
segundo Tassinari e Macambira, 2004) situado a oeste da Província Amazônica Cen- depósitos de Au, Sn, Pb-Zn (Ag), além de inúmeras ocorrências de cobre e manganês.
tral. Por sua vez, as idades U-Pb em zircão e dados Sm-Nd de Santos et al. (2000, Essa província está limitada, a norte, pela bacia do Alto Tapajós (Fanerozoico), a
2001, 2004) comprovaram a acreção de arcos magmáticos orosirianos e delimitaram leste, pelo Domínio Iriri-Xingu (Paleoproterozoico-Arqueano), a sul, pela bacia dos
uma fronteira submeridiana entre os domínios Tapajós e Iriri-Xingu (figura 2 do Parecis (Fanerozoico) e a oeste é parcialmente coberta pela sequência sedimentar da
capítulo 1). Dados Sm-Nd posteriores confirmaram que no Domínio Tapajós predo- bacia Dardanelos (Mesoproterozoico) e intrudida pelos granitos e termos máficos da
minam fontes de magmas juvenis com mistura de fontes crustais arqueanas (Sato e suíte Serra da Providência (Mesoproterozoico).
Tassinari, 1997; Lamarão et al., 2005; Semblano et al., 2016a). Nesse domínio tem Cordani e Teixeira (2007) mostraram que os granitoides do embasamento da
sido identificados eventos vulcano-plutônicos de 2,03-2,00 Ga, 1,99-1,96 Ga e 1,91- PRNJ possuem idades que diminuem de nordeste para sudoeste, sugerindo o desen-
1,86 Ga (Klein et al., 2001; Lamarão et al., 2002, 2008; Santos et al., 2000, 2001, volvimento de sucessivas unidades acrescionárias, com grande quantidade de mate-
2004; Vasquez et al., 2017), acompanhados de eventos de sedimentação 2,05-2,00 rial juvenil formado em ambientes de subducção, no período de tempo entre 1,78 e
Ga (Klein et al., 2016; Vasquez et al., 2019b) e de 1,85-1,78 Ga (Klein et al., 2018). 1,55 Ga e, posteriormente, adquirindo a condição de plataforma estável somente a
Há controvérsias sobre o número de arcos magmáticos que formaram o Domínio partir do Neoproterozoico.
Tapajós, um único arco magmático seguido de eventos pós-colisionais transcorrentes A compartimentação da PRNJ em terrenos foi sugerida inicialmente por Rizzot-
e extensionais (Vasquez et al., 2002) ou vários arcos magmáticos insulares e conti- to e Quadros (2005) e Quadros e Rizzotto (2007), que a separaram em domínios,
nentais acrescidos durante o Orosiriano (Santos et al., 2000, 2001, 2004). Também definindo assim os domínios Jamari, a oeste, e Roosevelt-Juruena, a leste. Proposta
há controvérsia se esses arcos se estabeleceram em uma margem continental subme- semelhante havia sido apresentada por Santos (2003), o qual designou de Domínio
ridiana (Tassinari, 1996; Santos et al., 2000; Coutinho, 2008; Vasquez et al., 2017) Alta Floresta a região a leste do rio Teles Pires. Entretanto, o referido autor englobou
ou de orientação E-W (Juliani et al., 2013, 2015). Outra controvérsia se refere à porções do Domínio Roosevelt-Juruena, o que foi modificado por Rizzotto et al.
colisão no Domínio Tapajós: evidências como o magmatismo cálcio-alcalino de alto (2004), que redefiniram a compartimentação tectônica daquela região e a chamaram
K de ca. 1,98 Ga com corpos fortemente controlados por tectônica transcorrente, de Domínio Peixoto de Azevedo (domínio 7 da figura 2 do capítulo 1), a porção mais
ocorrência de lentes de leucogranitos peraluminosos e falhas de cavalgamento nos meridional da Província Ventuari-Tapajós, a sul da Bacia Alto Tapajós.

70 71
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 2

O embasamento do Domínio Peixoto de Azevedo é constituído por gnaisses Pedro, Paranaíta e Nova Canaã, a suíte Teles Pires e por raros constituintes quartzo-
tonalíticos a granodioríticos (2,80-2,05 Ga), com anfibolitos subordinados, além de dioríticos a tonalíticos da Suite Vitória), adicionados aos seus correspondentes vul-
corpos intrusivos de granitos e dioritos, representantes de uma série magmática cál- cânicos e vulcanossedimentares (Grupo Colíder e Grupo Roosevelt), todos exibindo
cio-alcalina expandida derivada de arco magmático (2,03-1,97 Ga). A unidade que quimismo álcali-cálcico a cálcio-alcalino de alto potássio, e originados no intervalo
predomina nessa região é a Suíte Intrusiva Matupá, com depósitos de ouro do tipo de tempo de 1.810-1.740 Ma. O magmatismo básico subordinado e contemporâneo
pórfiro associados (Moura, 1998). Esse magmatismo pode ser correlacionado com as é representado pelas rochas máficas da suíte Vespor, máficas Guadalupe, além de en-
suítes intrusivas Parauari e Maloquinha, representantes do magmatismo posorgênico xames de diques de diabásio. Os valores de ƐNd(t) dos granitoides e vulcânicas félsicas
a intraplaca da Província Ventuari-Tapajós. As idades Nd-TDM das rochas desse do- associadas variam de -1,37 a + 0,61 e as idades Nd-TDM de 2,10-2,34 Ga.
mínio são, no geral, >2,30 Ga (2,30-2,60 Ga) e as idades U-Pb de cristalização dos O Domínio Jamari (domínio 9 da figura 2 do capítulo 1), por sua vez, é repre-
granitoides intrusivos no embasamento estão entre 2,03 e 1,85 Ga. sentado pelo Complexo Jamari, o qual ocupa a porção centro-ocidental de Rondô-
No Domínio Roosevelt-Juruena (domínio 8 da figura 2 do capítulo 1) afloram pe- nia, a oeste do batólito Serra da Providência, sendo constituído dominantemente
quenas porções remanescentes do embasamento, as quais são vinculadas à Província Ven- por rochas ortoderivadas tonalíticas, quartzo-dioríticas, graníticas, anfibolíticas e
tuari-Tapajós. Rochas mais antigas que 1,84 Ga foram encontradas na região a norte da supracrustais subordinadas. As rochas ortoderivadas possuem idade de cristalização
cidade de Paranaíta, onde um granodiorito mostra-se intrusivo em gnaisse, e forneceu dos seus protólitos entre 1,76-1,73 Ga. Entretanto, essas rochas não possuem muita
a idade de 1,85 Ga pelo método U-Pb em zircão (Gomes, 2018). Nessa área, garimpos representatividade em área, ocorrendo como núcleos antigos (inliers), parcialmente
ocorrem paralelamente à borda sul da bacia do Alto Tapajós, onde gnaisses e granitoides preservados durante o retrabalhamento crustal promovido por eventos colisionais e/
deformados do embasamento encontram-se parcialmente cobertos e/ou envolvidos por ou orogenias mesoproterozoicas (Orogenias San Ignácio e Sunsas) – e.g., Bettencourt
rochas vulcânicas do Grupo Colíder com idades em torno de 1,8-1,76 Ga. No limite sul et al. (2010) – ver capítulo 6. A composição isotópica de Nd dos tonalitos indica va-
da Bacia de Caiabis, gnaisses tonalíticos e granodioríticos do Paleoproterozoico (idade lores de ƐNd(t) que variam de -1,50 a +0,20 e idades TDM de 2,10-2,20 Ga, sugerindo
U-Pb de 1,93 Ga) ocorrem localmente (Complexo Tabaporã; Leite et al., 2006) que são, que essas rochas foram derivadas de fonte mantélica com um componente crustal
juntamente com as rochas metavulcanossedimentares do Grupo São Marcelo-Cabeça, as mais antigo, à semelhança do que ocorreu no setor oriental da província.
rochas mais antigas conhecidas no setor sul do Domínio Roosevelt-Juruena. Como es- A hipótese de evolução tectônica que nos parece mais viável até o presente momento
sas rochas do embasamento são subaflorantes, é provável que tenham proporção muito é que o Domínio Peixoto do Azevedo seria a continuidade da Província Ventuari-Tapajós
maior do que é hoje conhecido no Domínio Roosevelt-Juruena, estando dispostas nas (PVT), representando a borda do proto-cráton Amazônico (i.e., fragmento Amazônia)
bordas e na parte basal das bacias Alto Tapajós e Caiabis. na sua porção mais meridional, cratonizada algo em torno de 1,85 Ga e que, posterior-
Outros locais onde se encontram rochas mais antigas que 1,80 Ga no Domínio mente, teria passado por uma distensão continental gerando um rifte abortado (Rizzotto
Peixoto de Azevedo localizam-se próximos a borda norte da Bacia dos Caiabis, tendo et al., 2019), que permitiu a colocação das rochas que passaram a constituir a PRNJ,
como encaixantes o Grupo São Marcelo-Cabeça. Um metadacito no garimpo de San- mais especificamente, o Domínio Roosevelt-Juruena. Ou seja, o embasamento da PRNJ
ta Cecília forneceu idade U-Pb de 1.896 ± 9 Ma, a qual pode ser correlacionada com deve ser constituído por rochas que pertenciam à PVT. Parte-se do princípio que a crosta
a dos granitoides e vulcânicas associadas (Suíte Pé Quente e Formação Jarinã, res- Ventuari-Tapajós foi quase que totalmente encoberta e fundida a oeste do rio Teles Pires,
pectivamente), que ocorrem no Domínio Peixoto de Azevedo, e também com a Suíte no interior do Domínio Roosevelt-Juruena, durante o desenvolvimento de um processo
Tropas da Província Ventuari-Tapajós. Portanto, as rochas do Complexo Tabaporã, extensional e geração de magmatismo intracontinental (e.g., supersuíte Juruena, suíte
aquelas dos grupos São Marcelo-Cabeça (metapelitos) e Jacareacanga (2,12-2,09 Teles Pires e os grupos Colíder e Roosevelt). Enquanto que mais a leste, no Domínio
Ga), xenólitos e outras rochas com idades maiores que 1,85 Ga, ocorrem dispersas Peixoto de Azevedo, assim como a norte da Bacia Alto Tapajós, a crosta Tapajônica
em diferentes partes do Domínio Roosevelt-Juruena. (2,00-1,85 Ga) encontra-se mais preservada (Rizzotto et al., 2019).
A extensão do embasamento paleoproterozoico (crosta Ventuari-Tapajós) ao lon- Finalmente, a estruturação tectônica na região norte do Estado de Mato Gros-
go do limite meridional da bacia sedimentar do Alto Tapajós, uma das áreas menos so, que outrora estava definida como limite de terrenos, possui trend EW, contínuo
habitadas e menos conhecidas geologicamente do Domínio Roosevelt-Juruena, pa- desde o Domínio Peixoto de Azevedo até a parte centro-ocidental da PRNJ. Esse
rece ter sido confirmada por Meloni et al. (2017, 2018). Esses autores definiram trend é confirmado pelos dados geofísicos (magnetometria e gravimetria). Por outro
ao longo do rio Sucunduri, no sudeste do Estado do Amazonas, os granitos deno- lado, constatou-se que o limite geográfico sugerido em trabalhos anteriores entre as
minados de Arraia e Chuim, intrusivos em rochas metapelíticas do Grupo Jacarea- províncias é de forma irregular, com rochas derivadas do magmatismo da Supersuíte
canga. Dados U-Pb em zircão indicaram para o primeiro, a idade de 1.839 ± 9 Ma, Juruena, suíte Teles Pires e Grupo Colíder, encobrindo e/ou intrudindo rochas do
enquanto para o Granito Chuim, uma idade de 1.855 ± 6 Ma. Esse grupo de rochas embasamento da PVT, assim como remanescentes ou inliers da PVT englobados pe-
também pode estar exposto a sudoeste e oeste do Amazonas, constituindo o embasa- las rochas magmáticas da Supersuíte Juruena (Rizzotto et al., 2019). Em conclusão,
mento das bacias do Amazonas e Alto Tapajós. não é possível estabelecer um limite tectônico nítido entre os domínios Peixoto de
Intrusivos nesse embasamento ocorrem extensos batólitos e stocks dominados Azevedo e Roosevelt-Juruena uma vez que ambos os domínios são afetados por uma
por suítes graníticas senso stricto (e.g. a Supersuíte Juruena, com suas 3 suítes: São recorrência do evento plutono-vulcânico (1,80-1,76 Ga).

72 73
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 2

Referências Cordani U.G., Tassinari C.C.G., Kawashita K. 1984. Fabre S., Nédélec A., Poitrasson F., Strauss H., Tho- Juliani C., Rye R.O., Nunes C.M.D., Snee L.W.,
A Serra dos Carajás como região limítrofe entre provín- mazo C., Nogueira A. 2011. Iron and sulphur isotopes Corrêa Silva R.H., Monteiro L.V.S., Bettencourt J.S.,
Almeida F.F.M., Hasui Y., Brito Neves B.B. 1976. cias tectônicas. Ciências da Terra, 9:6-11. from the Carajás mining province (Pará, Brazil): Implica- Neumann R., Alcover Neto A. 2005. Paleoproterozo-
The Upper Precambrian of South America. Boletim do Cordani U.G., Tassinari C.C.G., Teixeira W., Basei tions for the oxidation of the ocean and the atmosphere ic high-sulfidation mineralization in the Tapajós gold
Instituto de Geociências USP. Série Científica, 7: 45-80. M.A.S., Kawashita K. 1979. Evolução Tectônica da Ama- across the Archaean–Proterozoic transition. Chemical province, Amazonian Craton, Brazil: geology, min-
Almeida J.A.C., Dall’Agnol R., Oliveira M.A., Ma- zônia com base nos dados geocronológicos. In: II Cong. Geology, 289:124-139. eralogy, alunite argon age, and stable isotope con-
cambira M.J.B., Pimentel M.M., Rämö O.T., Guima- Geol. Chileno. Arica, Actas, 4:137-148. Faraco M.T.L, Vale A.G., Santos J.O.S., Luzar- straints. Chemical Geology, 215:95-125. https://doi.
rães F.V., Leite A.A.S. 2011. Zircon geochronology and Cordani U.G., Teixeira W. 2007. Proterozoic accre- do R., Ferreira A.L., Oliveira M.A., Marinho P.A.C. org/10.1016/j.chemgeo.2004.06.035.
geo- chemistry of the TTG suites of the Rio Maria gran- tionary belts in the Amazonian Craton. In: Hatcher Jr. 2005. Levantamento Geológico da região o ao norte Juliani C., Silva R.H.C., Monteiro L.V.S., Betten-
ite-greenstone terrane: implications for the growth of R.D., Carlson M.P., McBride J.H., Martinez Catalán da Província Carajás. In: Horbe A.M.C. & Souza V.S. court J.S., Nunes C.M.D. 2002. The Batalha Au-gran-
the Archean crust of Carajás Province, Brazil. Precambri- J.R. (orgs.). The 4D Framework of Continental Crust. (eds.). Contribuições à Geologia da Amazônia. Ma- ite system - Tapajós Gold Province, Amazonian Craton,
an Research, 187:201-221. GSA Memoir. Boulder, Colorado: Geological Society of naus, SBG, 4:32-44. Brazil: hydrothermal alteration and regional implica-
Almeida J.A.C., Dall’Agnol R., Rocha M.C. 2017. America Book Editors, 200:297-320. Feio G.R.L., Dall’Agnol R., Dantas E., Macambira tions. Precambrian Research, 119:225-256. https://doi.
Tonalite–trondhjemite and leuco- granodiorite–granite Corrêa L.W.C. & Macambira M.J.B. 2014. Evolução M.J.B., Gomes A.C.B., Sardinha A.S., Santos P. 2012. org/10.1016/S0301-9268(02)00124-9.
suites from the Rio Maria domain, Carajás province, da região de Santana do Araguaia (PA) com base na ge- Geochemistry, geochronology, and origin of the Planalto Klein E.L., Almeida M.E., Rosa-Costa L.T. 2012.
Brazil: implications for discrimination and origin of the ologia e geocronologia Pb-Pb em zircão de granitoides. granite suite and associated rocks: implications for the The 1.89-1.87 Ga Uatumã Silicic Large Igneous Prov-
Archean Na-granitoids. Can. Mineral., 55:437-456. Geologia USP. Série Científica, 14(2):45-66. https://doi. Neoarchean evolution of the Carajás Province. Lithos, ince, northern South America. Large Igneous Provinces
Alves C.L., Sabóia A.M., Martins E.G., Stropper org/10.5327/Z1519-874X201400020003. 151:57-73. Commission, International Association of Volcanology
J.L. 2010. Folhas São José do Xingu e Comandante Costa I.S.L. 2018. Estrutura do Manto Continental Feio G.R.L., Dall’Agnol R., Dantas E.L., Macambira and Chemistry of the Earth’s Interior. http://www.largei-
Fontoura, Escala 1:250.000. Projeto Noroeste-Nor- Sublitosférico do Craton Amazônico por Tomografia Sís- M.J.B., Santos J.O.S., Althoff F.J., Soares J.E.B. 2013. gneousprovinces.org/12nov.
deste de Mato Grosso. Goiânia, CPRM-Serviço Geo- mica de Múltiplas-Frequências. Dissertação de Mestrado, Archean granitoid magmatism in the Canaã dos Carajás Klein E.L., Almeida M.E., Vasquez M.L., Bahia
lógico do Brasil, 120 p. Universidade de Brasília, Brasília, 100 p. area: implications for crustal evolution of the Carajás R.B.C., Quadros M.L.E.S., Ferreira A.L. (orgs.). 2001.
Amaral G. 1974. Geologia Pre-Cambriana de Re- Costa J.B.S., Araújo O.J.B., Santos A., Jorge João province, Amazonian craton, Brazil. Precambrian Rese- Geologia e recursos minerais da Província Mineral do
gião Amazônica. Tese de Livre Docência, Instituto de X.S., Macambira M.J.B., Lafon J.M. 1995. A Província arch, 227:157-185. Tapajós: Folhas: Vila Mamãe Anã (SB.21-V-D), Jacare-
Geociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, Mineral de Carajás: Aspectos tectono-estructurais, estra- Fernandes C.M.D., Juliani C., Monteiro L.V.S., acanga (SB.21-Y-B), Caracol (SB.21-X-C), Vila Riozinho
SP, 212 p. tigráficos e geocronólogicos. Boletim do Museu Paraense Lagler B., Echeverri Misas C.M. 2011. High-K (SB.21-Z-A) e Rio Novo (SB.21-Z-C). Estados do Pará
Barros C.E.M., Sardinha A.S., Barbosa J.P.O., Ma- Emílio Goeldi, 7:199-235. calc-alkaline to A-type fissure-controlled volca- e Amazonas. Escala 1:500.000. Nota explicativa e ma-
cambira M.J.B. 2009. Structure, petrology, geochemistry Coutinho M.G.N. 2008. Evolução tectono-geoló- no-plutonism of the São Félix do Xingu region, pas, Brasília, CPRM, CD-ROM.
and zircon U/Pb and Pb/Pb geochronology of the syn- gica e modelo de mineralização de ouro. In: Coutinho Amazonian craton, Brazil: Exclusively crustal sourc- Klein E.L., Guimarães S.B., Rodrigues J.B., Chaves
kine- matic Archean (2.7 Ga) A-type granites from the M.G.N. (ed.). Província Mineral do Tapajós: Geolo- es or only mixed Nd model ages?. Journal of South C.L., Souza Gaia S.M., Lopes E.C.S., Castro J.M.R.
Carajás Metallogenic Province, northern Brazil. Can. gia, metalogênia e mapa provisional para ouro em SIG. American Earth Sciences, 32:351-368. https://doi. 2018. The Novo Progresso Formation, Tapajós Gold
Mineral, 47:1423-1440. Rio de Janeiro, Serviço Geológico do Brasil-CPRM, org/10.1016/j.jsames.2011.03.004. Province, Amazonian Craton: zircon U-Pb and Lu-Hf
Bettencourt J.S., Juliani C., Xavier R.P., Monteiro p. 299-326. Gibbs A.K., Wirth K.R., Hirata W.K., Olszewski W.J. constraints on the maximum depositional age, recon-
L.V.S., Bastos Neto A.C., Klein E.L., Assis R.R., Leite Dall’Agnol R., Lafon J.M., Macambira M.J.B. 1994. 1986. Age and composition of the Grão Pará group vol- naissance provenance study, and tectonic implications.
Jr. W.B., Moreto C.P.N., Fernandes C.M.D., Pereira Proterozoic anorogenic magmatism in the Central Ama- canics, Serra dos Carajás. Revista Brasileira Geociências, Journal of the Geological Survey of Brazil, 1(1):31-42.
V.P. 2016. Metallogenetic systems associated with zonian Province, Amazonian Craton: geochronological, 16:201-211. https://doi.org/10.29396/jgsb.2018.v1.n1.3.
granitoid magmatism in the Amazonian Craton: An petrological and geochemical aspects. Mineral. Petrol., Gomes V.S. 2018. Idades U-Pb e Isótopos Lu-Hf em Klein E.L., Rodrigues J.B., Queiroz J. D.S., Olivei-
overview of the present level of understanding and 50:113-138. zircão usando LA-ICP-MS nas rochas do arcabouço geo- ra R.G., Guimarães S.B., Chaves C.L. 2016. Deposition
exploration significance. Journal of South American Dall’Agnol R., Oliveira D.C., Guimarães F.V., Ga- lógico do depósito de ouro Zé Vermelho, porção centro- and tectonic setting of the Palaeoproterozoic Castelo de
Earth Sciences, 68:22-49. briel E.O., Feio G.R.L., Lamarão C.N., Althoff F.J., norte da Província Aurífera Alta Floresta: Implicações Sonhos metasedimentary formation, Tapajós Gold Prov-
Bettencourt J.S., Leite Jr W., Payolla B., Ruiz A.S., Santos P.A., Teixeira M.F.B., Silva A.C., Rodrigues D.S., tectônicas e metalogenéticas. Dissertação de Mestrado, ince, Amazonian Craton, Brazil: age and isotopic con-
Matos R.S., Tosdal R.M. 2010. The Rondonian-San Santos M.J.P., Silva C.R.P., Santos R.D., Santos P.J.L. Instituto de Ciências Exatas e da Terra, Universidade Fe- straints. International Geology Review, 59:1-21. https://
Ignacio Province in the SW Amazonian Craton: an 2013. Geologia do Subdomínio de Transição do Domí- deral de Mato Grosso. doi.org/10.1080/00206814.2016.1237311.
overview. Journal of South American Earth Sciences, nio Carajás e Implicações para a evolução arqueana da Huhn S.B., Macambira M.J.B., Dall’Agnol R. 1999. Lafon J.M. & Coutinho M.G.N. 2008. Isótopos ra-
29:28-46. Província Carajás e Pará. In: 13º. Simp. de Geologia da Geologia e geocronologia Pb-Pb do granito alcalino ar- diogênicos de chumbo. In: Coutinho M.G.N. (ed.), Pro-
Brito Neves B.B., Sá J.M., Nilson S.A., Botelho N.F. Amazônia. Belém, Anais, CD-ROM. queano Planalto, região da Serra do Rabo, Carajás-PA. víncia Mineral do Tapajós: Geologia, metalogênia e mapa
1995. A tafrogênese estateriana nos blocos paleoprotero- Dall’Agnol R., Rämö O.T., Magalhães M.S., Macam- In: 6º. Simpósio de Geologia da Amazônia. Manaus, provisional para ouro em SIG. Rio de Janeiro, Serviço
zóicos da América Do Sul e processos suseqüentes. Ge- bira M.J.B. 1999. Petrology of the anorogenic, oxidised Amazonas, Sociedade Brasileira de Geologia – Núcleo Geológico do Brasil – CPRM, p. 251-262.
onomos, 3(2):1-21. https://doi.org/10.18285/geonomos. Jamon and Musa granites, Amazonian Craton: implica- Norte, Anais, p. 463-466. Lamarão C.N., Dall’Agnol R., Lafon J.M., Lima
v3i2.205. tions for the genesis of Proterozoic A-type granites. Li- Juliani C., Carneiro C.C., Carreiro-Araújo S.A., Fer- E.F. 2002. Geology, geochemistry, and Pb–Pb zircon
Carneiro C.C., Carreiro-Araújo S.A., Juliani C., thos, 46:431-462. nandes C.M.D., Monteiro L.V.S., Crósta A.P. 2013. Es- geochronology of the Paleoproterozoic magmatism of
Crósta A.P., Monteiro L.V.S., Fernandes C.M.D. 2013. Dias G.S., Macambira M.B., Dall’Agnol R., Soares truturação dos arcos magmáticos paleoproterozoicos na Vila Riozinho, Tapajós Gold Province, Amazonian Cra-
Arcabouço crustal do Cráton Amazonas: uma aborda- A.D.V., Barros C.E.M. 1996. Datações de zircões de sill porção sul do Cráton Amazônico: implicações geotectô- ton, Brazil. Precambrian Research, 119:189-223. https://
gem a partir de dados gravimétricos e magnetométricos. de metagabro: comprovação de idade arqueana da For- nicas e metalogenéticas. In: 13º. Simpósio de Geologia da doi:10.1016/S0301-9268(02)00123-7.
In: 13º. Simpósio de Geologia da Amazônia. Belém, So- mação Águas Claras, Carajás, Pará. In: 5º. Simpósio de Amazônia. Belém, Pará, Sociedade Brasileira de Geologia Lamarão C.N., Dall’Agnol R., Pimentel M.M.
ciedade Brasileira de Geologia-SBG, Resumos Expandi- Geologia da Amazônia. Belém, Sociedade Brasileira de – Núcleo Norte, Anais – Resumos Expandidos, CD-ROM. 2005. Nd isotopic composition of Paleoproterozoic
dos, CD-ROM. Geologia – Núcleo Norte, Boletim de Resumos Expan- Juliani C., Fernandes C.M.D., Monteiro L.V.S. volcanic and granitoid rocks of Vila Riozinho: impli-
Cassini L.V., Moyen J.F., Juliani C. 2020. Oro- didos, p. 376-378. 2015. Características da subducção, paleoclima e cations for the crustal evolution of the Tapajós gold
sirian magmatism in the Tapajós Mineral Province DOCEGEO Rio Doce Geologia e Mineração S.A. eventos erosivos paleoproterozoicos (2,1-1,88 Ga) e province, Amazon craton. Journal South America
(Amazonian Craton): The missing link to under- 1988. Revisão litoestratigráfica da Província Mineral de seus efeitos na estruturação da parte sul do Cráton Earth Science, 18:277-292. https://doi:10.1016/j.
stand the onset of Paleoproterozoic tectonics. Lith- Carajás: litoestratigrafia e principais depósitos minerais. Amazônico. In: 14º. Simpósio de Geologia da Ama- jsames.2004.11.005.
os, 356-357:105350. https://doi.org/10.1016/j.li- In: 35º. Congresso Brasileiro de Geologia. Belém, SBG, zônia. Marabá, Pará, Sociedade Brasileira de Geologia Lamarão C.N., Souza K.S., Dall’Agnol R., Galar-
thos.2019.105350. Anexo aos Anais, p. 11-56. – Núcleo Norte, Anais, CD-ROM. za M.A. 2008. Granitos pórfiros da região de Vila

74 75
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 2

Riozinho, Província Aurífera do Tapajós: petrografia Moreto C.P.N., Monteiro L.V.S., Xavier R.P., Amaral Geográficas – SIG: Texto explicativo dos mapas geo- zon Craton based on integration of field mapping
e geocronologia. Revista Brasileira de Geociências, W.S., Santos T.J.S., Juliani C., Souza Filho C.R. 2011. lógico e de recursos minerais do Estado do Amazonas. and U-Pb and Sm-Nd geochronology. Gondwana
38(3):533-543. Mesoarchean (3.0 and 2.86 Ga) host rocks of the iron Escala 1:1.000.000. Goiânia, Serviço Geológico do Research, 3(4):453-488. https://doi:10.1016/S1342-
Leite J.A.D., Souza M.Z.A., Saes G.S., Batata oxide–Cu–Au Bacaba deposit, Carajás Mineral Province: Brasil–CPRM, p.7-32. 937X(05)70755-3.
M.E.F., Oliveira F.A., Menezes T., Freitas F.A.O., Gomes U–Pb geochronology and metallogenetic implications. Ribeiro P.S.E. & Alves C.L. 2017. Geologia e Recur- Santos J.O.S., Van Breemen O.B., Groves D.I., Hart-
M.F., Uchoa J., Silva V.F., Silva D.R. 2006. Geologia, ge- Miner. Deposita, 46:789-811. sos Minerais da Região de Palmas. Folha Miracema do mann L.A., Almeida M.E., Mcnaughton N.J., Fletcher
ocronologia e evolução crustal de partes da porção sul Motta J.G., Souza Filho C.R., Carranza J.M., Brai- norte (SC.22-X-D), Porto nacional (SC.22-Z-B) e Santa I.R. 2004. Timing and evolution of multiple paleopro-
do Cráton Amazônico no Alto Estrutural Eugenia-Ari- tenberg C. 2019. Archean crust and metallogenic zones Teresinha (SC.22-Z-A). Escala 1:250.000. Goiânia, Ser- terozoic magmatic arcs in the Tapajós Domain, Amazon
nos, médio-noroeste de Mato Grosso. In: Viana R.R. & in the Amazonian Craton sensed by satellite gravity viço Geológico do Brasil–CPRM, 483 p. Craton: constraints from SHRIMP and TIMS zircon,
Fernandes C.J. (eds.), Coletâneas Geológicas do estado data. Scientific Reports, 9:1-10. https://doi.org/10.1038/ Rizzotto G.J. 2007. Evolução geológica. In: Rizzotto baddeleyite and titanite U-Pb geochronology. Precambri-
de Mato Grosso: Geologia Regional. Cuiabá (MT), EDU- s41598-019-39171-9. G.J., Quadros M.L.E.S. (orgs.) Geologia e Recursos Mi- an Research, 131:73-109. https://doi:10.1016/j.precam-
FMT, p. 601-686. Mougeot R., Respaut J. P., Briqueu L., Ledru P., nerais do Estado de Rondônia. Sistema de Informações res.2004.01.002.
Macambira M.J.B. & Lafon J.M. 1995. Geocrono- Milesi J. P., Macambira M. J. B., and Huhn S. B. 1996. Geográficas – SIG: Texto explicativo dos mapas geológi- Santos M.V., Souza Filho E.E., Tassinari C.C.G.,
logia da Província Mineral de Carajás; Síntese dos dados Geochronological constrains for the age of the Águas co e de recursos minerais do Estado do Rondônia. Escala Teixeira W., Ribeiro A.C.O., Payolla B.L, Vasconi A.V.
e novos desafios. Boletim do Museu Paraense Emílio Go- Claras Formation (Carajás province, Pará, Brazil). In: 1:1.000.000. Porto Velho, Serviço Geológico do Brasil– 1988. Litoestratigrafia das rochas pre-cambrianas na
eldi, 7:263-287. 39º Congresso Brasileiro de Geologia. Salvador, SBG, CPRM, p. 68-80. bacia do médio Rio Xingu–Altamira, PA. In: 7º. Con-
Macambira M.J.B., Lafon J.M., Dall’Agnol R., João Anais, p. 579-581. Rizzotto G.J., Alves C.L., Rios F.S., Barros M.A. gresso Latino-americano de Geologia. Belém, SBG,
X.S.J., Costi H.T. 1990. Geocronologia da granitogêne- Moura M.A. 1998. O Maciço granítico Matupá no 2019. The Nova Monte Verde metamorphic core com- Anais, 1:363-377.
se da Província Amazônia Central brasileira: Uma revi- Depósito de ouro Serrinha (MT): petrologia, alteração plex: Tectonic implications for the southern Amazoni- Santos R.D., Galarza M.A., Oliveira D.C. 2013. Ge-
são. Revista Brasileira Geociências, 20:258-266. hidrotermal e metalogenia. Tese de Doutorado, Instituto an craton. Journal of South American Earth Sciences, ologia, geoquímica e geocronologia do Diopsídio-Nori-
Macambira M.J.B. & Lancelot J.R. 1996. Time de Geociências, Universidade de Brasília, Brasília, 238 p. 91:154-172. to Pium, Província Carajás. Boletim do Museu Paraense
constraints for the formation of the Archean Rio Ma- Oliveira M.A., Dall’Agnol R., Almeida J.A.C. 2011. Rizzotto G.J. & Quadros M.L.E.S. 2005. Geologia Emílio Goeldi: Série Ciências da Terra, 8:355-382.
ria Crust, Southeastern Amazonian Craton, Brazil. Int. Petrology of the Mesoarchean Rio Maria suite: impli- do Sudeste do Cráton Amazônico. In: Horbe A.M.C. & Sato K. & Tassinari C.C.G. 1997. Principais eventos
Geol. Rev., 38:1134-1142. cations for the genesis of sanukitoid rocks. J. Petrol., Souza V.S. (eds.). Contribuições à Geologia da Amazônia. de acresção continental no Cráton Amazônico, baseados
Macambira M.J.B., Pinheiro R.V.L., Armstrong R.A. 51:2121-2148. Manaus, SBG, 4:69-84. em idade modelo Sm-Nd, calculadas em evoluções de es-
2007. A fronteira Arqueano-Paleoproterozóico no SE do Pedreira A.J., Schobbenhaus C., Valente C.R., Ol- Rizzotto G.J., Quadros M.L.E.S., Bahia R.B.C., tágio único e estágio duplo. In: Costa M.L. & Angélica
Cráton Amazônico; abrupta no tempo, suave na tectôni- iveira C.C., Rizzotto G.J., Delgado I.M., Lacerda Filho Ferreira A.L., Lopes R.C., Cordeiro A.V. 2004. Folha R.S. (eds.). Contribuições à Geologia da Amazônia. Be-
ca? In: 10º. Simpósio de Geologia da Amazônia. Porto J.V., Moreton L.C., Quadros M.L.E.S. 2004. Compar- SC.21-Juruena. In: Schobbenhaus C., Gonçalves J.H., lém, SBG, 1:91-142.
Velho, Sociedade Brasileira de Geologia – Núcleo Norte, timentação getotectônica. In: Lacerda Filho J.V., Abreu Santos J.O.S., Abram M.B., Leão Neto R., Matos M.M., Semblano F.R.D., Macambira M.J.B., Vasquez M.L.
Anais, p. 105-108. Filho W., Valente C.R., Oliveira C.C., Albuquerque Vidotti R.M., Ramos M.A.B., Jesus J.D.A. (eds.). Carta 2016a. Petrography, geochemistry and Sm-Nd isotopes
Macambira M.J.B., Vasquez M. L., Silva D.C.C., M.C. (orgs.) Geologia e Recursos Minerais do Estado Geológica do Brasil ao Milionésimo, Sistema de Informa- of the granites from eastern of the Tapajós Domain,
Galarza M.A., Barros C.E.M., Camelo J.F. 2009. de Mato Grosso. Sistema de Informações Geográfi- ções Geográficas. Programa Geologia do Brasil. Brasília, Pará state. Brazilian Journal of Geology, 46(4):509-529.
Crustal growth of the central-eastern Paleoprotero- cas – SIG: Texto explicativo dos mapas geológico e de CPRM-Serviço Geológico do Brasil, CD-ROM. https://doi:10.1590/2317-4889201620160059.
zoic domain, SE Amazonian craton: Juvenile accre- recursos minerais do Estado do Mato Grosso. Escala Rodrigues D.S., Oliveira D.C., Macambira M. Semblano F.R.D., Pereira N.C.S., Vasquez M.L.,
cion vs. reworking. Journal of South America Earth 1:1.000.000. Goiânia, Serviço Geológico do Brasil– J.B. 2014. Geologia, geoquímica egeo- cronologia do Macambira M.J.B. 2016b. Novos dados geológicos e
Sciences, 27:235-246. https://doi.org/10.1016/j. CPRM, p. 33-49. granito Mesoarqueano Boa Sorte, município de Água isotópicos para o Domínio Iriri-Xingu, Província Ama-
jsames.2009.02.001. Pidgeon R.T., Macambira M.J.B., Lafon J.M. 2000. Azul do norte, Pará – Província Carajás. Boletim do zônia Central; implicações para a idade do Grupo Iri-
Machado N., Lindenmayer Z., Krogh T.E., Lin- Th-U-Pb isotopic systems and internal structures of com- Museu Paraense Emílio Goeldi: Série Ciências da Terra, ri. Geologia USP. Série Científica, 16(3):19 -38. https://
denmayer D. 1991. U-Pb geochronology of archaean plex zircons from an enderbite from the Pium Complex, 9:597-633. doi:10.11606/issn.2316-9095.v16i3p19-38.
magmatism and basement reactivation in the Carajás Carajás Province, Brazil: evidence for the ages of granu- Rolando A.P. & Macambira M.J.B. 2003. Archean Tallarico F.H.B., Figueiredo B.R., Groves D.I., Ko-
area, Amazon shield, Brazil. Precambrian Research, lite facies metamorphism and the protolith of the ender- crust formation in Inajá range area, SSE of Amazonian sitcin N., McNaughton N.J., Fletcher I.R., Rego J.L.
49:329-354. bite. Chem. Geol., 166:159-171. craton, Brazil, based on zircon ages and Nd isotopes 2005. Geology and SHRIMP U-Pb geochronology of the
Martins P.L.G., Toledo C.L.B., Silva A.M., Chemale Pimentel M.M. & Machado N. 1994. Geocro- data. In: 4th South American Symposium on Isotope Ge- Igarape Bahia deposit, Carajás copper-gold belt, Brazil:
Jr., Santos J.O.S., Assis L.M. 2017. Neoarchean mag- nologia U-Pb dos terrenos granito-greenstone de Rio ology. Salvador, Short Papers, p. 268-270. an Archean (2.57 Ga) example of iron-oxide Cu-Au-(U-
matism in the southeastern Amazonian Craton, Brazil: Maria, Pará. In: 38º. Congresso Brasileiro de Geolo- Rosa J.W.C., Rosa J.W.C., Fuck R.A. 2016. The struc- REE) mineralization. Econ. Geol., 100:7-28.
petrography, geochemistry and tectonic significance gia. Balneário Camboriú, SBG, Resumos Expandidos, ture of the Amazonian craton: Available geophysical evi- Tassinari C.C.G. 1996. O mapa geocronológico do
of basalts from the Carajás Basin. Precambrian Res, 2:390-391. dence. Journal of South American Earth Sciences, 70:162- Cráton Amazônico no Brasil: revisão dos dados isotópi-
302:340-357. Pinheiro R.V.L. & Holdsworth R.E. 2000. Evolução 173. https://doi.org/10.1016/j.jsames.2016.05.006. cos. Tese de Livre-Docência, Instituto de Geociências,
Meloni R.E., Benevides Filho P.R., Lisboa T., Si- tectonesoratigráfica dss Sistemas Transcorrentes Carajás Santos J.O.S. 2003. Geotectônica dos Escudos Universidade de São Paulo, São Paulo, 139 p.
mões M.S., Ramos M.N., Queiroz L.C. 2017. Mapa e Cinzento, Cinturão Itacaiúnas, na borda leste do Crá- das Guianas e Brasil Central In: Bizzi L.A., Schobbe- Tassinari C.C.G. & Macambira M.J.B. 1999. Geo-
Geológico-Geofísico: ARIM Sudeste Do Amazonas. ton Amazônico, Pará. Revista Brasileira de Geociências, nhaus C., Vidotti R.M., Gonçalves J.H. (eds.). Geo- chronological provinces of the Amazonian Craton. Epi-
Manaus, CPRM. 30:597-606. logia, Tectônica e Recursos Minerais do Brasil: texto, sodes, 22(3):174-182.
Meloni R.E., Simões M.S., Benevides Filho P.R. Quadros M.L.E.S. & Rizzotto G.J. 2007. Geologia e mapas e SIG. Brasília, CPRM-Serviço Geológico do Tassinari C.C.G. & Macambira M.J.B. 2004. A evo-
2018. Granitos de idade orosiriana no limite entre as Recursos Minerais do Estado de Rondônia. Texto Explica- Brasil, p. 169-226. lução tectônica do Cráton Amazônico. In: Mantesso-Ne-
províncias Ventuari-Tapajós e Rio Negro-Juruena, Re- tivo do Mapa Geológico e de Recursos Minerais do Estado Santos J.O.S., Groves D.I., Hartmann L.A., Mou- to V., Bartorelli A., Carneiro C.D.R., Brito Neves B.B
gião de Apui-AM. In: 49º. Congresso Brasileiro de Geo- de Rondônia, escala 1:1.000.000. Sistema de Informa- ra M.A., Mcnaughton N.J. 2001. Gold deposits of (Eds.). Geologia do continente Sul-Americano: evolução
logia. Rio de Janeiro, SBG, CD-ROM. ções Geográficas – SIG. Porto Velho, Serviço Geológico the Tapajós and Alta Floresta Domains, Tapajós-Pari- da obra de Fernando Flávio Marques de Almeida. São
Monteiro P.C., Rolando A.P., Macambira M.J.B. do Brasil–CPRM, 154 p. ma orogenic belt, Amazon Craton, Brazil. Minerali- Paulo, Beca, p. 471-485.
2004. Proveniência de zircão de quartzitos da Forma- Reis N.J., Almeida M.E., Ferreira A.L., Faria um Deposita, 36(3):278-299. https://doi:10.1007/ Teixeira J.B.G. & Eggler D.H. 1994. Petrology,
ção Gorotire e Grupo Rio Fresco, Serra do Inajá, sul M.S.G., Rizzotto G.J., Quadros M.L.E.S. 2006. Com- s001260100172. geochemistry, and tectonic setting of Archean basal-
da Província Mineral do Carajás. In: 42º. Congresso partimentação tectônica. In: Reis N.J., Almeida M.E., Santos J.O.S., Hartmann L.A., Gaudette H.E., tic and dioritic rocks from the N4 iron deposit, Serra
Brasileiro de Geologia. Araxá, SBG, Resumos, CD Riker S.L., Ferreira A.L. (orgs) Geologia e Recursos Mi- Groves D.I., McNaughton N.J., Fletcher I.R. 2000. dos Carajás, Pará, Brazil. Acta Geológica Leopoldi-
-ROM. nerais do Estado do Amazonas. Sistema de Informações A new understanding of the provinces of the Ama- nensia, 40:71-114.

76 77
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 3

Teixeira M.F.B., Dall’Agnol R., Santos J.O.S., Kemp cronológicos. In: Horbe A.M.C. & Souza V.S. (eds.). Compartimentação tectônica
A., Evans N. 2019. Petrogenesis of the Paleoproterozoic Contribuições à Geologia da Amazônia. Manaus,
(Orosirian) A-type granites of Carajás Province, Amazon SBG, 4:16-31. na porção sudeste do
Craton, Brazil: Combined in situ Hf-O isotopes of zir- Vasquez M.L., Pinheiro F.G.R., Rodrigues J.B., Ta-
con. Lithos, 332-333:1-22. vares F.M., Chaves. C.L., Faraco M.T.L. 2019b. Idades Escudo das Guianas: as
Teixeira N.P., Bettencourt J.S., Moura C.A.V., U-Pb por LA-ICP-MS em zircão das rochas do Grupo
Dall’Agnol R., Macambira E.M.B. 2002. Ar- chean crust- Jacareacanga, sudoeste do Domínio Tapajós. In: 16º. províncias Maroni-Itacaiúnas
al sources for Paleoproterozoic tin-mineralized granites Simpósio de Geologia da Amazônia. Manaus, Amazo-
in the Carajás Province, SSE Pará, Brazil: Pb–Pb geo- nas, Sociedade Brasileira de Geologia - Nucleo Norte, e Amazônia Central
chronology and Nd isotope geochemistry. Precambrian Anais, CD-ROM.
Research 119:257-275. Vasquez M.L., Ricci P.S.F., Klein E.L. 2002. Gra-
Teixeira W., Tassinari C.C.G., Cordani U.G., nitoides pós-colisionais da porção leste da Província Jean-Michel Lafon,
Kawashita K. 1989. A review of the geochronology of the Tapajós. In: Klein E.L., Vasquez M.L, Rosa-Costa L.T. Universidade Federal do Pará,
Amazonian Craton: tectonic implications. Precambrian (eds.). Contribuições à Geologia da Amazônia. Belém, Instituto de Geociências
Research, 42:213-227. https://doi.org/10.1016/0301- SBG, 3:67-84. (lafonjm@ufpa.br).
9268(89)90012-0. Vasquez M.L., Rosa-Costa L.T., Silva C.M.G.,
Vasquez M.L., Chaves C.L., Moura E.L., Oliveira Klein E.L. 2008b. Compartimentação tectônica. In: Lúcia Travassos da Rosa-Costa,
J.K.M. 2017. Geologia e Recursos Minerais das Folhas Vasquez M.L. & Rosa Costa L.T. (orgs.). Geologia e Serviço Geológico do Brasil – CPRM
São Domingos – SB.21-Z-A-II e Jardim do Ouro – SB.21- Recursos Minerais do Estado do Pará: Sistema de Infor- (lucia.costa@cprm.gov.br).
Z-A-III, Estado do Pará, Escala: 1:100.000. Belém, CPR- mações Geográficas – SIG: Texto explicativo dos mapas Jean Michel Lafon
M-Serviço Geológico do Brasil, 307 p. geológico e tectônico e de recursos minerais do Estado
Vasquez M.L., Cordani U.G., Sato K., Barbosa J.P.O., do Pará. Escala 1:1.000.000. CPRM-Serviço Geológico 1. Introdução
Faraco M.T.L., Maurer V.C. 2019a. U-Pb SHRIMP dat- do Brasil, p. 39-112.
ing of basement rocks of the Iriri-Xingu Domain, Central Vasquez M.L., Rosa-Costa L.T., Silva C.M.G.,
Amazonian Province, Amazonian Craton, Brazil. Brazil- Ricci P.S.F., Barbosa J.P.O., Klein E.L., Lopes E.C.S., A Província Maroni-Itacaiúnas (Cordani
ian Journal of Geology, 49(3):e20190067. Macambira E.M.B., Chaves C.L., Carvalho J.M.A., et al., 1979) foi idealizada como um cinturão
Vasquez M.L., Macambira M.J.B., Armstrong R.A. Oliveira J.G.F., Anjos G.C., Silva H. R. 2008c. Uni-
2008a. Zircon geochronology of granitoids from the dades litoestratigráficas. In: Vasquez M.L. & Rosa- móvel paleoproterozoico (2,20-1,80 Ga) pe-
western Bacajá domain, southeastern Amazonian craton, Costa. L.T. (orgs.). Geologia e Recursos Minerais do riférico à Província Amazônia Central, ao sul,
Brazil: Neoarchean to Orosirian evolution. Precambrian Estado do Pará: Sistema de Informações Geográficas interpretada como o fragmento de crosta con-
Research, 161:279-302. – SIG: Texto explicativo dos mapas geológico e tectô-
Vasquez M.L., Macambira M.J.B., Galarza Toro, nico e de recursos minerais do Estado do Pará. Escala tinental mais primitivo do Cráton Amazôni-
M.A. 2005. Granitoides transamazônicos da Região 1:1.000.000. CPRM-Serviço Geológico do Brasil, p. co, contendo rochas arqueanas, e preservado
Iriri-Xingu, Pará – Novos dados geológicos e geo- 113-216. de eventos tectono-termais mais jovens. Nos
anos que se seguiram, novos dados geocro-
nológicos K-Ar, Rb-Sr e Pb-Pb obtidos pelo
Professor Cordani e sua equipe do Instituto
de Geociências da Universidade de São Paulo,
principalmente na Guiana Francesa, consoli-
daram a proposta de que a Província Maro- Lúcia Travassos da Rosa Costa
ni-Itacaiúnas está temporalmente ligada ao
Paleoproterozoico, com evolução relacionada ao Ciclo Transamazônico (Teixeira
et al., 1984, 1985, 1989).
Desde então a proposta original de Cordani et al. (1979) vem sendo modificada e
adaptada (Tassinari e Macambira, 1999, 2004; Cordani e Teixeira, 2007; Cordani et
al., 2009), na medida em que são produzidos novos dados geológicos e geocronoló-
gicos com métodos de datação robustos. É inquestionável que essa visão precursora
em escala regional inspirou fortemente a definição temática das pesquisas geológicas
durante os últimos 40 anos, que resultou num avanço contínuo do conhecimento
Moacir Macam- geológico do Cráton Amazônico.
bira em trabalho
de campo no Nas décadas mais recentes, um número expressivo de pesquisas realizadas em
Rio Tapajós diversos setores do Escudo das Guianas tem demonstrado que, em nível mais lo-
em 2008. cal, o entendimento dos modelos evolutivos e dos domínios tectônicos, nem sem-
pre se alinha à proposta de compartimentação em províncias geocronológicas,
assim como fomentam amplo debate a definição de limites entre essas províncias.

78 79
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 3

A recente síntese sobre a evolução geotectônica do Escudo das Guianas apre- pelas datações por evaporação de Pb em zircão
sentada por Kroonenberg et al. (2016), da qual o Professor Cordani é coautor, (Rosa-Costa et al., 2003; Avelar et al., 2003).
ilustra essas mudanças no entendimento da articulação dos domínios tectônicos. Com a intensificação dessas datações em nível
Neste capítulo, será abordado o entendimento atual dos compartimentos tec- regional foi caracterizada uma grande área con-
tônicos da porção sudeste do Escudo das Guianas, no contexto das províncias tinental orientada aproximadamente na direção
Maroni-Itacaiúnas e Amazônia Central, assim como será discutida a transição WNW-ESE, com cerca de 200 km de largura e
entre essas duas províncias. pelo menos 400 km de extensão, denominada
de Bloco Amapá (figura 1 e domínio 17 na fi-
gura 3 do capítulo 1). Esse domínio é formado
2. Compartimentação Tectônica essencialmente por um embasamento meso a
neoarqueano, retrabalhado durante a orogenia
A Província Maroni-Itacaiúnas, após revisões dos limites propostos originalmente Transamazônica (Rosa-Costa et al., 2006). As
por Cordani et al. (1979), é entendida como uma faixa móvel evoluída durante o Ciclo unidades tectonoestratigráficas deste domínio
Transamazônico (ver detalhes sobre este evento no capítulo 4), que se estende desde a são predominantemente orientadas de acordo
porção nordeste do Escudo Brasil Central, limitando-se a sul com o domínio arqueano de com a tendência regional NW-SE e incluem or-
Carajás, inserido na Província Amazônia Central. Ela engloba toda a porção oriental do tognaisses cálcio-alcalinos, gnaisses granulíticos
Escudo das Guianas, ao longo do norte do Brasil, região das Guianas, até o leste da Vene- orto- e paraderivados, plútons charnockíticos,
zuela. Em termos tectônicos, a Província Maroni-Itacaiunas é correlacionada aos terrenos ortognaisses graníticos e granitos (Rosa-Costa et
birimianos no Cráton Oeste Africano (Grenholm et al., 2019 e referências internas). al., 2006, 2014, 2017 e referências internas). A
Por mais de 20 anos, a Província Maroni-Itacaiúnas foi entendida como consti- unidade mais antiga (3,19 Ga) é o Gnaisse Porfí-
tuída dominantemente por rochas paleoproterozoicas, sobretudo riacianas, repre- rio, de extensão restrita, no limite norte do Bloco
sentadas, a grosso modo, por granitoides relacionados a diferentes fases da evolução Amapá com o Domínio Lourenço.
orogenética transamazônica, geneticamente associados a faixas de rochas metavul- Na porção norte do Bloco Amapá, o Comple- Figura 1: Compartimen-
canossedimentares e núcleos de alto grau metamórfico. Remanescentes de crosta ar- xo Tumucumaque é formado por ortognaisses e granitoides fortemen- tação tectônica da porção
queana retrabalhados no Ciclo Transamazônico eram reconhecidos na Venezuela, no te deformados, metamorfizados na fácies anfibolito. O embasamento oriental do Escudo das
Guianas em território bra-
Complexo Imataca (ver capítulo 4), entendido como o mais proeminente domínio ainda inclui complexos metamórficos neoarqueanos ortoderivados sileiro. Baseada em Faraco
arqueano da província (e.g., Tassinari e Macambira, 2004, e referências internas), e (complexos Jari-Guaribas, Baixo Mapari, Guianense) e paraderivados et al. (2004) e Rosa-Costa
em território brasileiro, como fragmentos restritos e isolados em meio a domínios (Complexo Iratapuru) metamorfizados nas fácies anfibolito a granulito. et al. (2006, 2014).
de rochas paleoproterozoicas. No entanto, nas últimas duas décadas, uma série de Plútons charnockíticos (Suíte Intrusiva Noucourou) e corpos sienogra-
pesquisas e novos dados geocronológicos conduziu a um novo entendimento da evo- níticos a monzograníticos constituem uma associação magmática neo-
lução tectônica da Província Maroni-Itacaiúnas, levando a identificação de diferentes arqueana. A partir de datações em zircão das unidades ortoderivadas
compartimentos tectônicos (figura 3 do capítulo 1 na página 50). Nesses comparti- citadas acima, foram definidos três principais episódios magmáticos,
mentos, abaixo descritos, prevalecem, fundamentalmente, crosta juvenil paleoprote- dois no Mesoarqueano (ca. 3,19 Ga e 2,85-2,79 Ga) e um no Neoar-
rozoica ou crosta continental arqueana retrabalhada. queano (ca. 2,67-2,58 Ga) (Avelar et al., 2003; Rosa-Costa et al., 2003,
A porção brasileira da Província Maroni-Itacaiúnas no nordeste do Cráton Ama- 2006; Borghetti et al., 2018; Milhomem Neto e Lafon, 2019). Idades
zônico é compartimentada em três domínios que registram eventos coerentemente isoladas U-Pb e evaporação de Pb em zircão em torno de 3,32 e 3,49
relacionados à história transamazônica: o Bloco Amapá é composto por unidades Ga indicam a existência de alguns remanescentes da crosta paleoar-
meso a neoarqueanas, bordejado a norte e a sul por dois domínios riacianos, os queana (Klein et al., 2003; Rosa-Costa et al., 2014; Milhomem Neto
domínios Lourenço e Carecuru, respectivamente (figura 1). Para o oeste, o Domí- e Lafon, 2019). Durante a orogênese Transamazônica, o embasamento
nio Carecuru é limitado pelo Domínio Orosiriano Erepecuru-Trombetas (Província arqueano do Bloco Amapá foi deformado e metamorfizado em condi-
Amazônia Central). No entanto, as fronteiras entre esses dois domínios não estão ções granulíticas. Esse evento metamórfico marca a fase colisional entre
claramente estabelecidas devido à falta de informações geológicas e geocronológicas. 2,10 e 2,08 Ga, seguido por eventos termo-tectônicos tardi-orogênicos
no período de 2,06-2,00 Ga (Oliveira et al., 2008; Rosa-Costa et al.,
2.1 Bloco Arqueano Amapá 2008a, b, 2009). Contudo, novos dados radiométricos aliados ao pro-
A existência de relíquias arqueanas na porção central do Amapá já tinha sido iden- gresso geológico, têm apontado para a necessidade de redefinir o in-
tificada com as primeiras datações Rb-Sr e Sm-Nd (Jorge João e Marinho, 1982; Mon- tervalo temporal da orogenia Transamazônica e/ou para o seu eventual
talvão e Tassinari, 1984; Sato e Tassinari, 1997; Teixeira et al., 1989) e, em seguida, caráter diacrônico ao longo do Escudo das Guianas (ver capítulo 4).

80 81
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 3

Faixas alongadas de rochas metavulcanossedimentares, metamorfizadas em fácies fase colisional são evidentes em outros setores, como no Bloco Amapá (Rosa-Costa et
xisto-verde a anfibolito e controladas por grandes zonas de cisalhamento NW-SE, al., 2008a, b) ou na Guiana Francesa (Vanderhaege et al., 1998; Delor et al., 2003a, b).
marcam aproximadamente os limites sul e norte do Bloco Amapá com os domínios Segundo Faraco e Théveniaut (2011), o período de 2,10-2,09 Ga é marcado por
paleoproterozoicos Carecuru (Grupo Ipitinga) e Lourenço (Grupo Vila Nova), res- extensivo magmatismo granítico e pelo metamorfismo/migmatização dos granitoides
pectivamente. Idades Sm-Nd em rocha total obtidas para o Grupo Ipitinga (McReath cálcio-alcalinos e das unidades metavulcanossedimentares, em resposta à acreção por
e Faraco, 2006) apontam que essa unidade tenha sido gerada em estágios iniciais da colisão dos arcos magmáticos recém-formados. Um estágio tardi-orogênico foi regis-
orogenia Transamazônica. Para o Grupo Vila Nova, a idade de formação é contro- trado em torno de 2,08 e 2,02 Ga (Barreto et al., 2013; Rosa-Costa et al., 2014), que
versa. Uma idade U-Pb em zircão em torno de 2,26 Ga (Barreto et al., 2013) para um coincide com o evento metamórfico de alto grau no oeste do Suriname (Delor et al.,
tonalito, considerado intrusivo na sequência metavulcanossedimentar, sugere que 2003b; De Roever et al., 2003; Klaver et al., 2015, 2016), também registrado no
essa unidade também evoluiu em estágios orogenéticos precoces. No entanto, um limite sul do Domínio Lourenço por rochas granulíticas coevas (Avelar et al., 2003;
meta-andesito basáltico do Grupo Vila Nova com idade U-Pb de 2,15 Ga (Hoffmann Oliveira et al., 2008). Plútons charnockíticos datados entre 2,07 e 1,99 Ga ocorrem
et al., 2018) indica que parte dessa unidade pode ser mais jovem. esporadicamente no Domínio Lourenço (Avelar, 2002; Sousa e Costa Neto, 2014).
Para essas bacias metavulcanossedimentares, que possuem o maior potencial me-
talogenético para Au, Fe, Cu e Mn dessa porção do Escudo das Guianas, McReath 2.3 Domínio Riaciano Carecuru
e Faraco (2006) admitem uma evolução em margem continental passiva e/ou em O Domínio Carecuru (figura 1 e domínio 18 da figura 3 do capítulo 1) é cons-
centros de expansão de assoalho oceânico, enquanto Tavares (2009) e Hoffmann tituído fundamentalmente por uma associação tipo granito-greenstone, cuja origem
et al. (2018) evocam ambiente extensional em bacias de retroarco. Adicionalmente, está relacionada à formação de arcos magmáticos continentais, acrescidos à borda
corpos máfico-ultramáficos estratiformes (Complexo Bacuri), com importante depó- sudoeste do Domínio Amapá, entre 2,19 e 2,14 Ga, durante o estágio acrecionário
sito de cromita, representam um evento magmático intracontinental (Spier e Ferreira do evento Transamazônico (Rosa-Costa et al., 2006). A fronteira entre os domínios
Filho, 1999), com idade Sm-Nd em torno de 2,22 Ga (Pimentel et al., 2002). Por Amapá e Carecuru é marcada pelo extenso cinturão supracrustal do Grupo Ipitinga.
fim, o embasamento foi intrudido por plútons graníticos em diversos estágios da O domínio é constituído principalmente por (meta)granitoides cálcio-alcalinos da-
evolução transamazônica, entre 2,22 e 2,00 Ga (Sato e Tassinari, 1997; Borges et tados entre 2,19 e 2,14 Ga, e agrupados na Suíte Intrusiva Carecuru, unidade de maior
al., 2002; Faraco et al., 2004; Rosa-Costa et al., 2006, 2014; Barreto et al., 2013). extensão nesse domínio. As sequências supracrustais são definidas, sobretudo, por ro-
Após o fim da orogenia Transamazônica, houve intrusão de alguns corpos alcali- chas metavulcânicas máficas e intermediárias, com rochas metassedimentares bastante
nos de caráter intracontinental, representados por granitos tipo A (1,75 Ga; Vasquez restritas, e ocorrem associadas aos granitoides da Suíte Intrusiva Carecuru. Diversos
e Lafon, 2001) e plútons alcalinos (alcalinas Mapari) estaterianos e por complexos plútons graníticos, sendo um datado em 2,10 Ga, intrudem os granitoides cálcio-alca-
alcalinos-ultramáficos ediacaranos (Complexo Maicuru, 589 Ma; Costa et al. 1991, linos e supracrustais, e representam os estágios colisional e tardi-orogênico registrados
Complexo Maraconaí), cuja ocorrência não se limita estritamente ao Bloco Amapá. nos domínios Amapá e Lourenço. O Domínio Carecuru contém um inlier arqueano
(Domínio Paru), composto de ortognaisses granulíticos com idade de 2,60 Ga e protó-
2.2 Domínio Riaciano Lourenço litos ígneos, e por charnockitos, datados em 2,07 Ga (Rosa-Costa et al., 2006).
O Domínio Lourenço (figura 1 e domínio 19 da figura 3 do capítulo 1) apresenta
uma evolução orogenética aproximadamente semelhante à proposta por Vanderhaege 2.4 Domínio Orosiriano Erepecuru-Trombetas
et al. (1998) e Delor et al. (2003a) para a Guiana Francesa, cuja crosta foi gerada O Domínio Erepecuru-Trombetas estende-se a leste do Domínio Carecuru (domínio
durante processos pré- sin- e tardi-colisionais. No entanto, o estágio oceânico inicial 27 da figura 3 do capítulo 1), e é definido por duas associações vulcano-plutônicas oro-
ali descrito, datado entre 2,26 e 2,20 Ga, não foi claramente reconhecido no Do- sirianas (2,0-1,97 Ga e 1,90-1,87 Ga). A associação mais antiga é composta por rochas
mínio Lourenço. No início, em todo o domínio, predominam gnaisses e granitoides graníticas agrupadas na Suíte Intrusiva Caxipacoré e rochas efusivas/piroclásticas da For-
com algumas sequências metavulcanosedimentares de extensão limitada (e.g. Grupo mação Igarapé Paboca. Essas rochas têm assinatura cálcio-alcalina de alto K a shoshoní-
Tartarugalzinho). Suítes e corpos magmáticos cálcio-alcalinos com assinatura geoquí- tica (Barreto et al., 2014; Castro et al., 2014; Leal et al., 2018, Santos et al., 2019). As
mica de granitos tipo I se formaram entre 2,20 e 2,13 Ga (e.g. Suíte Intrusiva Flexal, suítes graníticas Mapuera e Água Branca e as vulcânicas do Grupo Iricoumé representam
Diorito Rio Mutura, Tonalito Lourenço, Tonalito Papa Vento) e são contemporâneos a associação vulcano-plutônica mais jovem. As rochas da Suíte Mapuera e do Grupo
aos granitoides cálcio-alcalinos de arcos magmáticos que marcam a fase acrescionária Iricoumé compartilham uma mesma característica geoquímica com afinidade para a série
pré-colisional riaciana na Guiana Francesa (Avelar, 2002; Nogueira et al., 2000; Rosa- de alto K e granitos tipo A. Os granitoides da Suíte Intrusiva Água Branca apresentam
Costa et al., 2014, 2017; Barbosa e Chaves, 2015). Na porção meridional do domínio, características de magmatismo cálcio-alcalino metaluminoso a peraluminoso, alto K e
granitoides e complexos gnáissicos mais jovens, com idades de 2,12-2,10 Ga (e.g., tipo I. As características geoquímicas dos granitoides Caxipacoré e vulcânicas Igarapé
Complexo Rio Araguari) apresentam características litológicas e assinaturas geoquími- Paboca sugerem que se formaram em um ambiente tectônico orogênico, em contexto de
cas que sugerem que a fase orogenética acrescionária pode ter se estendido até cerca de subducção, enquanto as assinaturas geoquímicas dos granitoides Água Branca e Mapuera
2,10 Ga (Barreto et al., 2013; Rosa-Costa et al., 2014), momento em que registros da e vulcânicas Iricoumé retratam a evolução de um contexto convergente para um ambien-

82 83
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 3

te intraplaca (Barreto et al., 2014; Santos et al., 2019). Alternativamente, a associação domínio, o episódio colisional também é registrado em torno de 2,10 Ga (Rosa-Costa
com cerca de 1,90-1,87 Ga tem sido interpretada como ligada à SLIP Uatumã (Klein et et al., 2006). O resfriamento regional pós-orogênico para o sudeste do Escudo das
al., 2012; Leal et al., 2018; Teixeira et al., 2019 e referências internas). Guianas ocorreu em torno de 1,92 Ga (Nomade et al., 2002; Rosa-Costa et al., 2009).
Os eventos magmáticos no Domínio Erepecuru-Trombetas são referentes ao Orosi-
riano. A associação vulcano-plutônica mais antiga (2,0-1,97 Ga) estaria relacionada a um
3. Implicações geotectônicas episódio pós-Transamazônico de geração de crosta e atividade termotectônica durante a
amalgamação de arcos magmáticos que promoveram novos segmentos crustais no sudo-
este do proto-Cráton Amazônico. A associação vulcano-plutônica mais jovem (1,90-1,87
3.1 Evolução da crosta continental
Ga) remete a uma fase crustal mais estável, marcada pela ocorrência de magmatismo
Idades de zircão herdado em torno de 3,32 e 3,49 (Klein et al., 2003; Milhomem
intenso intermediário a félsico, pós-colisional e/ou intraplaca (Neves, 2011). Um mode-
Neto e Lafon, 2019), indicam que a evolução arqueana do Domínio Amapá iniciou em
lo atualizado para a evolução do Domínio Erepecuru-Trombetas envolve um primeiro
tempos paleoarqueanos, sendo que grande parte de sua história magmática é mesoarque-
episódio de magmatismo relacionado à subducção em 2,00-1,97 Ga. O segundo evento
ana. É difícil estabelecer as relações com outras massas continentais arqueanas do Cráton
magmático (1,90-1,87 Ga) retrata um episódio de subducção (Suíte Água Branca), que
Amazônico (Carajás e Imataca) e do Cráton Oeste Africano (Reguibat e Kenema-Man).
foi imediatamente seguido pela formação dos granitoides pós-orogênicos Mapuera e
Embora os domínios Amapá e Carajás (capítulo 2) compartilhem uma história mesoar-
rochas vulcânicas Iricoumé. Essa fase, alternativamente, representaria um episódio in-
queana similar – ressaltando-se que o primeiro registra uma história crustal mais antiga – a
tracontinental, originando as suítes Água Branca e Mapuera e as vulcânicas Iricoumé,
evolução neoarqueana é claramente distinta, com o principal episódio magmático ocor-
tipo SLIP, sob condições crustais tectônicas mais estáveis (Barreto et al., 2014; Leal et al.,
rendo em torno de 2,75 Ga e 2,65 Ga nos domínios Carajás e Amapá, respectivamente.
2018; Teixeira et al., 2019, e referências internas). Essa segunda hipótese para o episódio
A evolução paleoproterozoica da Província Maroni-Itacaiúnas está bem estabe-
mais jovem, implica que o calor deve ter sido produzido por underplating de magmas
lecida desde os trabalhos pioneiros de Cordani et al. (1979) e Teixeira et al. (1984,
máficos, como tem sido proposto para as rochas de 1,90-1,87 Ga de outros setores da
1985, 1989), e foi refinada por Vanderhaege et al. (1998), Delor et al. (2003a),
Amazônia oriental (Lamarão et al., 2005; Almeida, 2006; Valério et al., 2009).
Rosa-Costa et al. (2017) e referências internas. Em escala de província, a oroge-
A relação do episódio orosiriano mais antigo com as rochas de idade similar,
nia Transamazônica inicia com um episódio de oceanização e afastamento das mas-
amplamente distribuídas mais a norte em todo o Escudo das Guianas, ainda não
sas continentais arqueanas. Essa fase inicial manteve poucos registros preservados
está bem entendida. No Suriname, Klaver et al. (2015, 2016) e Kroonenberg et al.
na Província Maroni-Itacaiúnas, como por exemplo, as rochas da Série de l’Isle de
(2016) vinculam esse magmatismo a um estágio final da orogenia Transamazônica,
Cayenne (Vanderhaege et al., 1998). No Amapá, há evidências de um episódio mag-
enquanto Fraga et al. (2009a, b, c) consideram um contexto pós-orogênico para esse
mático precoce, marcado pela colocação de tonalitos da série toleítica de baixo K
mesmo magmatismo no estado de Roraima. A considerável extensão, características
associados a anfibolitos com assinatura de T-MORB. Esse episódio provavelmente
geoquímicas, curto tempo de duração (ca. 40 milhões de anos) e similaridade com
ocorreu em um sistema complexo de arco de ilha – bacia retro-arco coevo ao estágio
magmatismo contemporâneo em outras partes do Cráton Amazônico do episódio
oceânico registrado na Guiana Francesa durante o Eo-Riaciano em torno de 2,26-
orosiriano mais jovem reforçam a ideia de que esse magmatismo representa uma
2,20 Ga (Barreto et al., 2013).
grande província ígnea silícica (i.e. SLIP Uatumã, Klein et al., 2012; Barreto et al.,
A fase acrescionária com geração de múltiplos arcos magmáticos está documentada
2014; Leal et al., 2018; Teixeira et al., 2019).
em toda a Província Maroni-Itacaiúnas, com a produção de magmas cálcio-alcalinos
e sequências supracrustais no período 2,20-2,12 Ga. No Domínio Lourenço essa fase
pode ter-se prolongado até 2,10 Ga, como indica a geração de tonalitos cálcio-alcali-
nos de médio-K, mesmo havendo evidências de que a acreção tectônica por colisão foi 4. Crescimento crustal e idade da crosta continental
o processo predominante na Guiana Francesa nesse período. Na borda norte do Bloco
Amapá, esse episódio colisional foi registrado pelos granitoides de alto K, produzidos As idades modelo Nd-TDM dos embasamentos mesoarqueano e neoarquea-
por fusão parcial da crosta continental arqueana. Portanto, a característica predomi- no do Bloco Amapá variam respectivamente de 3,51-2,94 Ga (-3,97 <ƐNd(t)<
nante da orogenia Transamazônica no sudeste do Escudo das Guianas é a existência +1,01) e de 3,32-2,83 Ga (-11,23 <ƐNd(t)< -0,20) e apontam para um episódio
de um episódio prolongado de crescimento crustal ao longo do Mesoriaciano com a de crescimento crustal no Mesoarqueano, enquanto o Neoarqueano é dominado
formação de arcos em contexto de subducção durante, pelo menos, 160 milhões de pelo retrabalhamento crustal. As idades Nd-TDM dos granitoides paleoprotero-
anos, no período de 2,26-2,10 Ga, e que encerrou com o fechamento diacrônico das zoicos entre 3,32 e 2,22 Ga (-11,41 <ƐNd(t)< +1,96) indicam mistura de com-
bacias oceânicas e a colisão arco-continente durante o Neoriaciano. ponentes paleoproterozoico e arqueano em suas fontes (Sato e Tassinari, 1997;
No Domínio Carecuru, as litologias, idades e as assinaturas isotópicas de Nd dis- Avelar, 2002; Avelar et al., 2003; Rosa-Costa et al., 2006; Oliveira et al., 2008).
poníveis indicam que a sua evolução envolveu a formação de um arco magmático Valores de ƐHf(t) predominante subcondríticos em zircão de rochas magmáticas
continental até pelo menos 2,14 Ga, com a associação granito-greenstone represen- indicam a prevalência de processos de retrabalhamento crustal. As idades Hf-
tando o estágio acrecionário, pré-colisional, da história orogenética riaciana. Nesse TDMC definem pelo menos dois episódios de geração de crosta continental no

84 85
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 3

Eoarqueano (ca. 4,0 Ga) e no Mesoarqueano (ca. 3,0-3,1 Ga) (Milhomem Sm-Nd ficaram restritos ao Meso-Paleoarqueano, porém forneceram uma boa
Neto e Lafon, 2019). indicação de que houve dois períodos distintos de formação de crosta continen-
Na parte centro-sul do Domínio Lourenço, granitoides com valores positi- tal: um episódio mesoarqueano entre 2,83 e 3,11 Ga, quase coincidente com os
vos de ƐNd(t) e Nd-TDM menores que 2,50 Ga são escassos e limitados a alguns dados Lu-Hf, e um episódio paleoarqueano entre 3,29 e 3,51 Ga. O registro de
granitoides do tipo TTG (Nogueira et al., 2000; Barreto et al., 2013). As idades um episódio eoarqueano junto com a identificação de um xenocristal de zircão
Nd-TDM arqueanas entre 3,47 e 2,51 Ga (-15,37 <ƐNd(t)< -1,51) indicam mis- hadeano com idade U-Pb de 4,22 Ga e xenocristais de zircão de até 3,81 Ga em
tura de fontes juvenis paleoproterozoicas com componentes crustais arqueanos rochas félsicas da Formação Iwokrama (paleoproterozoica), no sul da Guiana
(Avelar, 2002; Barreto et al., 2013; Rosa-Costa et al., 2014; Lafon et al., 2019). (Nadeau et al., 2013), implicam que a evolução do Escudo das Guianas começou
Valores negativos de ƐHf(t) (-12,6 <ƐHf(t)< -0,4) e idades Hf-TDMC de 2,67-3,36 pelo menos 500 Ma mais cedo do que o estimado anteriormente.
Ga de zircão de rochas magmáticas apontam para uma forte influência da crosta No sul-sudeste do Domínio Lourenço, próximo ao Bloco Amapá, e no Domí-
continental arqueana em sua geração (Milhomem Neto, 2018). nio Carecuru, as assinaturas isotópicas Nd-Hf e as idades Hf-TDMC estão de acordo
Na parte norte do domínio e na fronteira com a Guiana Francesa, valores com um ambiente de arco magmático, onde a assimilação da crosta arqueana
positivos de ƐNd(t) (+0,47 <ƐNd(t)< + 4,28) e Nd-TDM entre 2,09-2,35 Ga de diferentes idades e com diferentes proporções está envolvida na geração do
prevalecem (Avelar, 2002; Lafon et al., 2003; Faraco e Théveniaut, 2011). Os magmatismo riaciano. Na porção noroeste do Domínio Lourenço, os dados iso-
valores de ƐHf(t) (-2,4 <ƐHf(t)< +2,9) e as idades modelo Hf-TDMC mais jovens tópicos Nd-Hf são consistentes com um domínio juvenil paleoproterozoico prin-
(2,50-2,80 Ga) de zircão de granitoides, indicam uma contribuição menor do cipalmente relacionado aos arcos insulares mesoriacianos, que se estendem para o
componente arqueano na fonte das rochas magmáticas transamazônicas em noroeste, na Guiana Francesa e Suriname, até a República da Guiana. Entretanto,
relação à parte centro-sul (Milhomem Neto, 2018). No entanto, essa assina- na fronteira com a Guiana Francesa, as assinaturas isotópicas supracondríticas
tura arqueana não desaparece totalmente, o que está de acordo com idades Hf-Nd com idades TDM riacianas a neoarqueanas de rochas magmáticas indicam a
arqueanas Pb-Pb de zircão detrítico e valores negativos de ƐNd(t) de rochas me- participação de material crustal do Bloco Amapá pela incorporação de sedimentos
tassedimentares das sequências tipo greenstone na fronteira sudeste da Guiana continentais subductados nos arcos de ilhas ou de fragmentos escondidos de em-
Francesa com o norte do Brasil (Avelar et al., 2003; Delor et al., 2003a). basamento arqueano. Tais características são também registradas para a crosta em
As rochas cálcio-alcalinas do Domínio Carecuru apresentam Nd-TDM (2,50- terrenos birimianos do Cráton da África Ocidental (Block et al., 2016; Petersson
2,28 Ga) e valores de ƐNd(t) (+1,63 a -0,84) que revelam fontes juvenis deriva- et al., 2016, 2018).
das do manto e componentes arqueanos menores, exceto para um sienogranito No Domínio Erepecuru-Trombetas, as poucas idades Nd-TDM riacianas e
de 2,10 Ga, cujo ƐNd(t) (-6,61) e idade Nd-TDM (2,83 Ga) indicam formação assinaturas isotópicas de Nd para rochas graníticas e vulcânicas de ambos os
por fusão parcial de crosta arqueana (Rosa-Costa et al., 2006). A maioria das episódios orosirianos (2,0-1,97 Ga e 1,90-1,87 Ga), junto com suas caracte-
idades Nd-TDM dos ortognaisses e plútons charnoquíticos do Domínio Paru rísticas geoquímicas, apontam para a formação de crosta juvenil orosiriana e
está entre 2,61 e 2,83 Ga (-5,89 <ƐNd(t)< -1,16). Um ortognaisse tonalítico retrabalhamento de crosta continental gerada no Riaciano, durante a orogenia
forneceu ƐHf(t) positivos de até +4,2 com idades Hf-TDMC siderianas a neoar- Transamazônica. Essas assinaturas isotópicas de Nd e a ausência de zircão her-
queanas, e um diorito coevo exibiu menores valores de ƐNd(t) (-1,0 a +0,3) e dado arqueano nas rochas plutônicas não favorecem a existência de um emba-
idades Hf-TDMC de 2,7-2,8 Ga. Essas assinaturas isotópicas Hf-Nd indicam que samento arqueano nesse setor do Escudo das Guianas.
o magmatismo relacionado ao arco no Domínio Carecuru resultou da mistura
entre magmas juvenis riacianos e componentes crustais arqueanos.
No Domínio Erepecuru-Trombetas, as idades Nd-TDM (2,19-2,22 Ga) e ƐNd(t) 5. Implicações para os limites entre
positivos (+0,26 a +0,66) para os granitoides orosirianos mais antigos apontam províncias/domínios geotectônicos
para uma origem por fusão de magmas derivados do manto com participação da
crosta siálicariaciana. Os granitoides do episódio orosiriano mais jovem exibem O modelo de particionamento tectônico-geocronológico mais amplamente
idades Nd-TDM (1,95-2,30 Ga) e ƐNd(t) (+2,92 a -1,96), que indicam magmas pa- adotado para o Cráton Amazônico é aquele elaborado inicialmente por Cordani
rentais derivados da fusão de fontes crustais predominantemente riacianas com et al. (1979) e sucessivamente refinado por Tassinari e Macambira (1999, 2004)
menor contribuição mantélica (Castro et al., 2014; Barreto et al., 2014; Rosa-Cos- e Cordani et al. (2009), entre outros. Apesar de algumas semelhanças conceituais,
ta e Andrade, 2015; Leal et al., 2018; Santos et al., 2019). existem diferenças consideráveis nos limites e na área de extensão da Província da
Os recentes dados isotópicos Lu-Hf levaram a uma reavaliação do período Amazônia Central, embora o mesmo nome tenha sido adotado. Para Tassinari e
inicial da formação de crosta continental no sudeste do Escudo das Guianas. No Macambira (2004), a Província Amazônia Central no Escudo das Guianas é cons-
Bloco Amapá, as idades Hf-TDMC indicam pelo menos dois episódios de extração tituída pelo Bloco Xingu-Iricoumé, que se estende a oeste do Bloco Amapá até a
do manto e geração de crosta continental durante o Arqueano; um mais antigo, Província Ventuari-Tapajós (1,98-1,81 Ga). Por outro lado, Santos et al. (2006)
no Eoarqueano (ca. 4,0 Ga), e outro no Mesoarqueano (3,0-3,1 Ga). Os dados limitam a extensão da Província Amazônia Central ao Domínio Erepecuru-Trom-

86 87
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 3

Umberto Cordani (à Referências America Book Editors 200, p. 297-320.


esquerda) durante uma Cordani U.G., Teixeira W., D’Agrella-Filho M.S.,
subida do Rio Maroni, Almeida M.E. 2006. Evolução Geológica da porção Trindade R.I. 2009. The position of the Amazoni-
na Guiana Francesa, Centro-Sul do Escudo das Guianas com base no estudo an Craton in supercontinents. Gondwana Research,
para coleta de amostras geoquímico, geocronológico e isotópico dos granitoides 15:396-407.
em 1976, acompanha- Paleoproterozóicos do Sudeste de Roraima, Brasil. Ph.D. Costa M.L., Fonseca L.R., Angélica R.S., Lemos V.P.,
do pelo então diretor Thesis. Universidade Federal do Pará, 227 p. Lemos R.L. 1991. Geochemical exploration of the Mai-
da instituição francesa Avelar V.G. 2002. Geocronologia Pb–Pb em zircão e curu alkaline ultramafic-carbonatite complex, northern
ORSTOM (Office de Sm–Nd em rocha total da porção centro-norte do Esta- Brazil. Journal of Geochemical Exploration, 40:193-204.
la Recherche Scientifi- do do Amapá-Brasil: Implicações para a evolução geodi- Costi H.T., Dall’Agnol R., Moura C.A.V. 2000. Ge-
que et Technique Ou- nâmica do setor oriental do Escudo das Guianas. Ph.D. ology and Pb-Pb geochronology of Paleoproterozoic vol-
tre-Mer), em Caiena. Thesis, Universidade Federal do Pará, Brazil, 213 p. canic and granitic rocks of Pitinga province, Amazonian
Avelar V.G., Lafon J.M., Delor C., Guerrot C., craton, northern Brazil. International Geology Review,
Lahondère D. 2003. Archean crustal remnants in the 42:832-849.
easternmost part of the Guiana Shield: Pb–Pb and Delor C., De Roever E.W.F., Lafon J.M., Lahondère
Sm–Nd geochronological evidence for Mesoarchean D., Rossi P., Cocherie A., Guerrot C., Potrel A. 2003b.
versus Neoarchean signatures. Géologie de la France, The Bakhuis ultrahigh-temperature granulite belt (Suri-
2-4:83-100. name): II. Implications for late Transamazonian crustal
Barbosa J.P.O. & Chaves C.L. 2015. Geologia e Re- stretching in a revised Guiana Shield framework. Géolo-
betas, enquanto a porção oeste constitui o Domínio Uatamã-Anauá que pertence na cursos Minerais da Folha Macapá - NA.22-Y-D, Estado do gie de la France, 2-4:207-230.
Amapá, Escala 1:250.000. Belém, CPRM-Serviço Geo- Delor C., Lahondère D., Egal E., Lafon J.M., Coche-
sua concepção à Província Tapajós-Parima (2,03-1,88 Ga). rie A., Guerrot C., Rossi P., Truffert C., Theveniaut H.,
lógico do Brasil, 116 p.
Segundo Tassinari e Macambira (2004), a Província Amazônia Central é consti- Barreto C.J.S., Lafon J.M., Rosa-Costa L.T., Dantas Phillips D., Avelar V.G. 2003a. Transamazonian crustal
tuída por um embasamento com idade superior a 2,5 Ga que não aflora no Escudo E.L. 2013. Paleoproterozoic granitoids from the north- growth and reworking as revealed by the 1:500000 scale
ern limit of the Archean Amapá block (Brazil), South- geological map of French Guiana (2nd edition).Géologie
das Guianas e uma extensa associação vulcano-plutônica gerada por fusão de uma de la France, 2-4:5-57.
eastern Guyana Shield: Pb-Pb evaporation in zircons and
crosta arqueana em profundidade. Santos et al. (2006) também não evidenciaram Sm-Nd geochronology. Journal of South American Earth De Roever E.W.F., Lafon J.M., Delor C., Rossi P.,
um embasamento mais antigo exposto na parte ocidental da Província Amazônia Sciences, 45:97-116. Cocherie A., Guerrot C., Potrel A. 2003. The Bakhuis
Barreto C.J.S., Lafon J.M., Rosa-Costa L.T., Lima ultra-high temperature granulite belt: I. Petrological and
Central, porém sugerem uma fonte dominantemente arqueana para o magmatismo E.F. 2014. Palaeoproterozoic (~1.89 Ga) felsic vol- geochronological evidence for a counter clockwise P-T
orosiriano. Ambas as propostas foram baseadas em correlação com porção sul da canism of the Iricoumé Group, Guyana Shield, South path at 2.07-2.05 Ga. Géologie de la France,2-4:175-205.
província (Domínio Iriri-Xingu), onde dados isotópicos arqueanos (Nd-TDM) foram America: geochemical and Sm-Nd isotopic constraints Faraco M.T.L., Marinho P.A.C., Vale A.G., Moura
on sources and tectonic environment. International Ge- C.V., Macambira M.J.B. 2004. Idades modelo Sm–Nd e
obtidos. Para as rochas expostas no Domínio Erepecuru-Trombetas, as assinaturas ology Review, 56(11):1332-1356. idade 207Pb–206Pb em zircão no Distrito de Ipitinga,
isotópicas e as idades modelo Nd-Sr riacianas-siderianas dos granitoides e rochas Block S., Baratoux L., Zeh A., Laurent O., Brugui- Reserva Nacional do Cobre e seus Associados-RENCA.
vulcânicas orosirianas não sugerem a existência de um embasamento (i.e., proto- er O., Jessell M., Ailleres L., Sagna R., Parra-Avila L.A., In: 42º. Congresso Brasileiro de Geologia. Araxá, Minas
Bosch D. 2016. Paleoproterozoic juvenile crust forma- Gerais, Sociedade Brasileira de Geologia – Núcleo de
lito) arqueano (Barreto et al., 2014; Castro et al., 2014; Leal et al., 2018; Santos tion and stabilisation in the south-eastern West African Minas Gerais, CD-ROM.
et al., 2019). Essas idades modelo Nd-TDM e valores de ƐNd(t) são similares aos Craton (Ghana); New insights from U-Pb-Hf zircon data Faraco M.T.L &, Théveniaut, H. 2011. Projeto geo-
obtidos para as associações vulcano-plutônicas do Domínio Uatumã-Anauá, assim and geochemistry. Precambrian Research, 287:1-30. logia da porção brasileira da folha Oiapoque -NA.22-V-B,
Borges A.A.S., Lafon J.M., Villas R.N.N. 2002. Estado do Amapá, escala 1:250.000. Programa Geologia
como as litológicas, assinaturas geoquímicas e idades U-Pb de formação (Costi et Magmatismo Tardi-Transamazônico na Serra do Navio, do Brasil - PGB. Informações Integradas para Proteção
al., 2000; Almeida, 2006; Marques et al., 2014). região central do Amapá: evidências geocronológicas. da Amazônia. Sistema de Cartografia da Amazônia. Be-
Em conclusão, os dois domínios acima mencionados provavelmente representam In: 41º. Congresso Brasileiro de Geologia. João Pessoa, lém, CPRM, 115 p.
SBG-NE, Anais, p. 435. Fraga L.M.B., Dall’Agnol R., Costa J.B.S., Ma-
uma mesma unidade geotectônica. Portanto, o limite atual entre a Província Tapajós Borghetti C., Philipp R.P., Mandetta P., Hoffmann cambira M.J.B. 2009a. The Mesoproterozoic Mucajaí
-Parima e a Província Amazônia Central, proposto por Santos et al. (2006) deve ser I.B. 2018. Geochronology of the Archean Tumucumaque anorthosite-mangerite-rapakivi granite complex, Am-
Complex, Amapá Terrane, Amazonian Craton, Brazil azonian craton, Brazil. The Canadian Mineralogist,
abandonado, enquanto o modelo de Tassinari e Macambira (2004) é mais consisten- 47:1469-1492.
Journal of South American Earth Sciences, 88:294-311.
te em termos de limite de províncias nesse setor do Escudo das Guianas. No entanto, Castro J.M.R., Silva R.C.S., Rosa-Costa L.T., Barbo- Fraga L.M.B., Dreher A.M., Faria M.S.G., Grazzio-
a crosta continental da parte sul do Escudo das Guianas tem pouca compatibilidade sa J.P.O., 2014, Mapa geológico da folha Rio Trombetas tin H.F., Santos J.O.S., Reis N.J. 2009b. Suite Aricamã,
– SA.21-X-A. Escala 1:250.000. CPRM - Companhia de Magmatismo Tipo-A, pós-colisional no norte de Rorai-
geoquímica, isotópica e geocronológica com a natureza da Província Amazônia Cen- ma. Extended abstract. In: 11º. Simpósio de Geologia da
Pesquisa de Recursos Minerais, Programa Geologia do
tral. Nesse sentido, Macambira e Lafon (2016) alertam para a necessidade de se ava- Brasil - PLGB. Amazônia. Manaus, Amazonas, Sociedade Brasileira de
liar se a região que compreende os domínios Erepecuru-Trombetas e Uatumã-Anauá, Cordani U.G., Tassinari C.C.G., Teixeira W., Basei Geologia – Núcleo Norte, Anais, p. 375-378.
M.A.S., Kawashita K. 1979. Evolução Tectônica da Ama- Fraga L.M.B., Macambira M.J.B., Dall’Agnol R., Costa
no sul do Escudo das Guianas, pode ainda ser considerada como parte da Província J.B.S. 2009c. 1.94-1.93 Ga charnockitic magmatism from
zônia com base nos dados geocronológicos. In: II Cong.
Amazônia Central. Outra questão que permanece aberta é se esses dois domínios Geol. Chileno. Arica, Actas, 4:137-148. the central part of the Guiana Shield, Roraima, Brazil: sin-
representam uma nova província ou uma extensão das Províncias Ventuari-Tapajós Cordani U.G. & Teixeira W. 2007. Proterozoic ac- gle zircon evaporation data and tectonic implications. Jour-
cretionary belts in the Amazonian Craton. In: Hatcher nal of South American Earth Sciences, 27:247-257.
ou Maroni-Itacaiúnas. Investigações de campo mais detalhadas combinadas com um Grenholm M., Jessell M., Thébaud N. 2019. A geo-
Jr. R.D., Carlson M.P., McBride J.H., Martinez Catalán
conjunto maior de dados isotópicos são necessários para essa porção ainda pouco J.R. (orgs.). The 4D Framework of Continental Crust. dynamic model for the Paleoproterozoic (ca. 2.27-1.96
conhecida do Cráton Amazônico. GSA Memoir. Boulder, Colorado: Geological Society of Ga) Birimian Orogen of the southern West African Cra-

88 89
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 3

ton – Insights into an evolving accretionary-collisional curu-Trombetas Domain (Southeastern Guyana Shield): Pimentel M.M., Spier C.A., Ferreira Filho C.F. em idade modelo Sm-Nd, calculadas em evoluções de es-
orogenic system, Earth-Science Reviews, 192:138-193. implications for the crustal evolution of the Amazoni- 2002. Estudo Sm-Nd do Complexo máfico-ultramáfico tágio único e estágio duplo. In: Costa M.L. & Angélica
Hoffmann I.B., Philipp R.P., Borghetti C. 2018. an Craton. Journal of South American Earth Sciences, Bacuri, Amapá: idade da intrusão, metamorfismo e natu- R.S. (eds.). Contribuições à Geologia da Amazônia. Be-
Geochemistry and origin of the Rhyacian tholeiitic me- 85:278-297. reza do magma original. Revista Brasileira Geociências, lém, SBG, 1:91-142.
tabasalts and metaandesites from the Vila Nova Green- Macambira M.J.B. & Lafon J.M. 2016. Extensão 32:371-376. Sousa C.S. & Costa Neto M.C. 2014. Programa
stone Belt, Guyana Shield, Amapá. Brazil. Journal of e significado da Província Amazônia Central. In: 48º. Rosa-Costa L.T. & Andrade J.B.F. 2015. Projeto de Geologia do Brasil-PLGB. Lourenço. Folha NA.22-V -D.
South American Earth Sciences,88:29-49. Congresso Brasileiro de Geologia. Porto Alegre, SBG. integração geofísico-geológica do NW do Pará. CPRM- Estado do Amapá. Carta Geológica. Escala 1:250.000.
Jorge João X.S.J. & Marinho P.A.C. 1982. Catame- CD-ROM. Serviço Geológico do Brasil. Escala 1:600.000. Programa Belém, CPRM-Serviço Geológico do Brasil.
tamorfitos Arqueanos da região centro-leste do Territó- Marques S.N.S., Souza V.S., Dantas E.L., Valério Geologia do Brasil-PGB. Spier C.A. & Ferreira Filho C.F. 1999. Geologia, Es-
rio Federal do Amapá. In: 1º.Simpósio de Geologia da C.S., Nascimento R.S.C. 2014. Contributions to the pe- Rosa-Costa L.T., Chaves C.L., Klein E.L. 2014. Geo- tratigrafia e Depósitos Minerais do Projeto Vila Nova,
Amazônia. Belém, Pará, Sociedade Brasileira de Geologia trography, geochemistry and geochronology (U-Pb and logia e recursos minerais da Folha Rio Araguari – NA.22-Y Escudo das Guyanas, Amapá, Brasil. Revista Brasileira
– Núcleo Norte, Anais, 2:207-228. Sm-Nd) of the Paleoproterozoic effusive rocks from Iri- -B, Estado do Amapá, Escala 1:250.000. Belém, CPRM- Geociências, 29:173-178.
Klaver M., De Roever E.W.F., Nanne J.A.M., Mason coumé Group, Amazonian Craton, Brazil. Brazilian Jour- Serviço Geológico do Brasil, 159 p. Tassinari C.C.G. & Macambira M.J.B. 1999. Geo-
P.R.D., Davies G.R. 2015. Charnockites and UHT meta- nal of Geology, 44:121-138. Rosa-Costa L.T., Chaves C.L., Silva C.M.G., Cam- chronological provinces of the Amazonian Craton. Epi-
morphism in the Bakhuis Granulite Belt, western Surina- McReath I. & Faraco M.T.L. 2006. Paleoproterozo- pos L.D., Abrantes B.K.C., Tavares F.M., Lago A.L. sodes, 22(3):174-182.
me: Evidence for two separate UHT events. Precambrian ic Greenstone-Granite Belts in Northern Brazil and the 2017. Área de Relevante Interesse Mineral: Reserva Tassinari C.C.G. & Macambira M.J.B. 2004. A evo-
Research, 262:1-19. Former Guyana Shield – West African Craton Province. Nacional do Cobre e Associados. Belém, CPRM-Serviço lução tectônica do Cráton Amazônico. In: Mantesso-Ne-
Klaver M., De Roever E.W.F., Thijssen A.C.D., Geologia USP. Série Científica, 5(2):49-63. Geológico do Brasil, 182 p. to V., Bartorelli A., Carneiro C.D.R., Brito Neves B.B
Bleeker W., Söderlund U., Chamberlain K., Ernst R., Milhomem Neto J.M. 2018. U-Pb e Lu-Hf em zir- Rosa-Costa L.T., Lafon J.M., Cocherie A., Delor C. (Eds.). Geologia do continente Sul-Americano: evolução
Berndt J., Zeh A. 2016. Mafic magmatism in the Bakhu- cão por LA-MC-ICP-MS: metodologia e aplicação no es- 2008a. Electron microprobe U–Th–Pb monazite dating da obra de Fernando Flávio Marques de Almeida. São
is Granulite Belt (western Suriname): relationship with tudo da evolução crustal da porção sudeste do Escudo of the Transamazonian metamorphic overprint on Ar- Paulo, Beca, p. 471-485.
charnockite magmatism and UHT metamorphism. GFF, das Guianas. Tese de doutorado. Universidade Federal chean rocks from the Amapá Block, southeastern Gui- Tavares R.P.S. 2009. Granitóides e anfibolitos da
138(1):203-218. do Pará, 203 p. ana Shield, Northern Brazil. Journal of South American serra do navio, borda norte do bloco arqueano Amapá:
Klein E.L., Almeida M.E., Rosa-Costa L.T. 2012. Milhomem Neto J.M. & Lafon J.M. 2019. Zircon Earth Sciences, 26:445-462. caracterização petrográfica e geoquímica, geocronologia
The 1.89-1.87 Ga Uatumã Silicic Large Igneous Prov- U-Pb and Lu-Hf isotope constraints on Archean crust- Rosa-Costa L.T., Lafon J.M., Delor C. 2006. Zir- Pb-Pb em zircão e isótopos de Nd. Dissertação de Mes-
ince, northern South America. Large Igneous Provinces al evolution in Southeastern Guyana Shield. Geoscience con geochronology and Sm-Nd isotopic study: further trado, Universidade Federal do Pará, 114 p.
Commission, International Association of Volcanology Frontiers. 10:1477-1506. constraints for the geodynamical evolution during Teixeira W., Hamilton M., Girardi V.A.V., Faleiros
and Chemistry of the Earth’s Interior. http://www.largei- Montalvão R.M.G. & Tassinari C.C.G. 1984. Geo- Archean and Paleoproterozoic in the Southeast of F.M., Ernst R.E. 2019. U-Pb baddeleyite ages of key
gneousprovinces.org/12nov. cronologia pré-cambriana do Território Federal do Ama- Guiana Shield, north of Brazil. Gondwana Research, dyke swarms in the Amazonian Craton (Carajás/Rio Ma-
Klein E.L., Rosa-Costa L.T., Lafon J.M. 2003. pá (Brasil). In: 2º Simpósio Amazônico. Manaus, MME 10:277-300. ria and Rio Apa areas): tectonic implications for events
Magmatismo Paleoarqueano (3.32 Ga) na região do -DNPM, Anais, p. 53-57. Rosa-Costa L.T., Lafon J.M., Monié P., Arnaud N., at 1880, 1110 Ma, 535 Ma and 200 Ma. Precambrian
Rio Cupixi, SE do Amapá, SE do Escudo das Guianas. Nadeau S., Chen W., Reece J., Lachhman D., Ault Dantas E.L., Barbosa O.S. 2008b. Sm-Nd, Pb-Pb and Ar- Research, 329:138-155.
In: 8º. Simpósio Geologia Amazônia. Manaus, Amazo- R., Faraco M.T.L., Fraga L.M., Reis N.J., Betiollo L.M. Ar dating of high-grade metasedimentary rocks from the Teixeira W., Kawashita K., Taylor P.N., Ojima S.K.,
nas, Sociedade Brasileira de Geologia – Núcleo Norte, 2013. Guyana: The lost Hadean crust of South Ameri- Archean Amapá Block, northeastern Amazon Craton: Vieira A.G. 1985. Reconhecimento geocronológico da
Anais, p. 38-40. ca?. Brazilian Journal of Geology, 43(4):601-606. further ages constraints for the Paleoproterozoic meta- Guiana Francesa: novos dados, integração e implicações
Kroonenberg S.B., De Roever E.W.F., Fraga L.M., Neves S.P. 2011. Atlantica revisited: new data and morphism and provenance implications. In: 6th South tectônicas. In: 2º. Simpósio de Geologia da Amazônia.
Reis N.J., Faraco T., Lafon J.-M., Cordani U., Wong T.E. thoughts on the formation and evolution of a long- American Symposium on Isotope Geology. Bariloche, Belém, Pará, Sociedade Brasileira de Geologia – Núcleo
2016. Paleoproterozoic evolution of the Guiana Shield lived continent. International Geology Review, 53(11- Argentina, Proceedings. Norte, Anais, 1, p.194-207
in Suriname: a revised model. Netherlands Journal of 12):1377-1391. Rosa-Costa L.T., Monié P., Lafon J.M., Arnaud N.O. Teixeira W., Ojima S.K., Kawashita K. 1984. A evo-
Geosciences, 95:491-522. Nogueira S.A.A., Bettencourt J.B., Tassinari C.C.G. 2009. 40Ar-39Ar geochronology across Archean and Pa- lução geocronológica de rochas metamórficas e ígneas
Lafon J.M., Costa L.T.R., Milhomem Neto J. 2019. 2000. Geochronology of the granitoid hosted Salaman- leoproterozoic terranes from southeastern Guiana Shield da faixa móvel Maroni-Itacaiunas, na Guiana Francesa.
Sr-Nd-Hf isotopic tracing of Archean continental crust gone Gold: deposit Lourenço District Amapá, Brazil. Re- (north of Amazonian Craton, Brazil): Evidence for con- In: 2º. Simpósio Amazônico. Manaus, MME-DNPM,
in the Brazilian part of the Southeasten Guyana Shield: vista Brasileira Geociências, 30:261-264. trasting cooling histories. Journal of South American Anais, p. 75-81.
A review. In: 11th Inter Guiana Geological Conference: Nomade S., Féraud G., Chen Y., Pouclet A. 2002. Earth Sciences, 27:113-128. Teixeira W., Tassinari C.C.G., Cordani U.G., Kawa-
Tectonics and Metallogenesis of NE South America. Thermal and tectonic evolution of the Paleoproterozoic Rosa-Costa L.T., Ricci P.S.F., Lafon J.M., Vasquez shita K. 1989. A review of the geochronology of the
Paramaribo, Suriname, Geologisch Mijnbouw kundige Transamazonian orogen as deduced from 40Ar/39Ar and M.L., Carvalho J.M.A., Klein E.L., Macambira E.M.B. Amazonian Craton: tectonic implications. Precambrian
Dienst Suriname. Mededeling, 29:121-124. AMS along the Oyapock river (French Guyana). Precam- 2003. Geology and geochronology of Archean and Pa- Research, 42:213-227. https://doi.org/10.1016/0301-
Lafon J.M., Delor C., Théveniaut H., Krymsky R., brian Research, 114:35-53. leoproterozoic domains of the southeastern Amapá and 9268(89)90012-0.
Tavares R.P.S., Roig J.Y. 2003. Isotopic Deciphering of Oliveira E.C., Lafon J.M., Gioia S.M.C.L., Pimentel northwestern Pará, Brazil-southeastern Guiana Shield. Valério C.S., Souza V.S., Macambira M.J.B. 2009.
Rhyacian Crustal Evolution along the Northern Oyapok M.M. 2008. Datação Sm-Nd em rocha total e granada Géologie de la France, 2-4:101-120. The 1.90-1.88 Ga magmatism in the southernmost Guy-
River New Constraints from Sm-Nd, U-Pb and Pb-Pb do metamorfismo granulítico da região de Tartarugal Santos J.O.S., Hartmann L.A., Faria M.S., Riker ana Shield, Amazonas, Brazil: Geology, geochemistry,
geochronology. In: 8º. Simpósio Geologia Amazônia. Grande, Amapá Central. Revista Brasileira de Geociên- S.R., Souza M.M., Almeida M.E., McNaugthon N.J. zircon geochronology, and tectonic implications. Journal
Manaus, Amazonas, Sociedade Brasileira de Geologia – cias, 38:116-129. 2006. A compartimentação do cráton Amazonas em of South American Earth Sciences, 28(3):304-320.
Núcleo Norte, Anais, p. 66-70, CD-ROM. Petersson A., Scherstén A., Gerdes A. 2018. Exten- províncias: avanços ocorridos no período 2000-2006. Vanderhaege O., Ledru P., Thiéblemont D., Egal E.,
Lamarão C.N., Dall’Agnol R., Pimentel M.M. sive reworking of Archaean crust within the Birimian In: 9º. Simpósio de Geologia da Amazônia. Belém, Pará, Cocherie A., Tegyey M., Milési J. 1998. Contrasting
2005. Nd isotopic composition of Paleoproterozoic terrane in Ghana as revealed by combined zircon U-Pb Sociedade Brasileira de Geologia – Núcleo Norte, Anais, mechanism of crustal growth Geodynamic evolution of
volcanic and granitoid rocks of Vila Riozinho: impli- and Lu-Hf isotopes. Geoscience Frontiers, 9(1):173-189. p. 156-159 the Paleoproterozoic granite–greenstone belts of French
cations for the crustal evolution of the Tapajós gold Petersson A., Scherstén A., Kemp A.I.S., Kristins- Santos R.C., Castro J.M.R., Rosa-Costa L.T., Chaves Guiana. Precambrian Research, 92:165-193.
province, Amazon craton. Journal South American dóttira B., Kalvigc P., Anum S. 2016. Zircon U–Pb–Hf C.L. 2019. Geologia e Recursos Minerais da Folha Rio Vasquez M.L. & Lafon J.M. 2001. Magmatismo tipo
Earth Science, 18:277-292. https://doi:10.1016/j. evidence for subduction related crustal growth and re- Trombetas – SB.21-X-A, escala 1:250.000. Belém, CPR- A de 1,75 Ga na porção oriental do Escudo das Guianas
jsames.2004.11.005. working of Archaean crust within the Palaeoproterozoic M-Serviço Geológico do Brasil, 85 p. - Estados do Amapá e Pará, Brasil. In: 7º. Simpósio de
Leal R.E., Lafon J.M., Rosa-Costa L.T., Dantas Birimian terrane, West African Craton, SE Ghana. Pre- Sato K. &Tassinari C.C.G. 1997. Principais eventos Geologia da Amazônia. Belém, Pará, Sociedade Brasileira
E.L. 2018. Orosirian magmatic episodes in the Erepe- cambrian Research, 275:286-309. de acresção continental no Cráton Amazônico, baseados de Geologia - Núcleo Norte, Anais, p. 961-964.

90 91
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 4

Geologia e evolução tectônica das


porções central e nordeste do
Escudo das Guianas e sua estruturação
em cinturões eo-orosirianos
Lêda Maria Barreto Fraga,
Serviço Geológico do Brasil – CPRM
(leda.fraga@cprm.gov.br).
Jean-Michel Lafon,
Universidade Federal do Pará,
Instituto de Geociências
(lafonjm@ufpa.br).
Colombo Celso Gaeta Tassinari,
Lêda Maria Barreto Fraga. Universidade de São Paulo,
Instituto de Geociências
(ccgtassi@usp.br).

1. Introdução

Nas últimas décadas, um enorme número de dados isotópicos foi


adquirido e a necessidade de absorvê-los e integrá-los levou o Profes-
sor Cordani a aceitar mais um grande desafio e, junto com inúmeros
colaboradores, revisar a geologia do Cráton Amazônico através da ela-
boração do novo Mapa Tectônico da América do Sul (Cordani et al.,
2016) – ver na Primeira Parte deste livro, página 26. O mapa, também
disponível em SIG (site do SGB-CPRM), apresenta a interpretação
tectônica das principais unidades geológicas do Cráton Amazônico,
atualizadas e harmonizadas. Com relação à parte central do Escudo
das Guianas, o mapa inclui informações produzidas por programas
Jean-Michel Lafon. sistemáticos de mapeamento geológico e de pesquisa científica, que
levaram a uma nova concepção tectônica daquele setor (Fraga et al.,
2009a, b e referências citadas).
Na parte central do Escudo das Guianas, um cinturão de rochas su- Figura 1: Mapa esquemá-
pracrustais de alto grau metamórfico com forma sinuosa, denominado plexo Imataca e Bloco Amapá e terrenos TTG, granito-greenstone e gra- tico da parte central do
Cinturão Cauarane-Coeroeni se destaca como a principal feição tectôni- nulíticos com evolução meso a neo-riaciana. Contrastando com o blo- Escudo das Guianas com
disposição dos limites entre
ca (Fraga et al., 2009a, b; Fraga e Cordani, 2019) (figura 3 do capítulo 1 co nordeste, a sudoeste desses cinturões, o embasamento exibe idades as províncias geocronológi-
e figura 1 deste capítulo). Neste capítulo, será utilizada a grafia “Curu- inferiores a 1,82 Ga na parte sudoeste do escudo ou está intensamente cas de acordo com Tassinari
ni”, que representa melhor a forma como o termo Coeroene, original, obliterado pelo plutono-vulcanismo de 1,89-1,87 Ga da SLIP Uatumã, e Macambira (2004), e Vas-
quez et al. (2019). O ajuste
deve ser pronunciado. Este cinturão supracrustal é limitado ao norte por ao longo de seu setor centro-sul (figura 1). dos limites foi feito com
um cinturão de caráter essencialmente vulcano-plutônico – o Cinturão Embora um conjunto de aproximadamente 120 idades U-Pb em base na distribuição dos
Ígneo Orocaima – com idades de 1,99-1,96 Ga e, ao sul, por granitoides zircão esteja disponível para os terrenos eo-orosirianos do Escudo das corpos geológicos.
e gnaisses com idades de 1,96-1,92 Ga do Cinturão Rio Urubu (Fraga et Guianas, a contribuição do Professor Cordani para a história evolutiva
al., 2017a; Fraga e Cordani, 2019). Esses cinturões, que correspondem da parte central do Escudo das Guianas (em especial para os três cin-
respectivamente aos domínios 22, 23 e 24 da figura 3 do capítulo 1, turões mencionados acima) foi fundamental. Através de seu apoio, mais
dividem o escudo em dois blocos distintos. No bloco situado a nordes- de 40 novas idades U-Pb foram obtidas para essa porção do Cráton
Colombo Celso te do alinhamento do Cinturão Cauarane-Curuni e seu prolongamento Amazônico, parte das quais já disponibilizada preliminarmente por Fra-
Gaeta Tassinari. para NW e SE, afloram os terrenos arqueanos, representados pelo Com- ga et al. (2017a), Fraga e Cordani (2019) e Reis et al. (2017). Os dados

92 93
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 4

permitiram o aprimoramento do modelo evolutivo para o eo-Orosiriano (Fraga et al.,


2009a, b) e a definição da Orogenia Akawai – 2,05-2,01 Ga (Fraga e Cordani, 2019),
em referência ao termo usado pelos Wapixana para designar as populações ameríndias
que ocupam grandes áreas onde estão expostos os principais elementos tectônicos da
orogenia. Tal orogenia sucedeu à orogenia principal do Ciclo Transamazônico, que
gerou a maior parte das rochas da Província Maroni-Itacaiúnas, durante o intervalo
temporal riaciano (2,28-2,05 Ga). Esses dados são potencialmente importantes para Figura 2: Nelson
Reis e Umberto
embasar futuras revisões dos modelos geocronológicos da parte setentrional cratônica. Cordani em traba-
O presente capítulo apresenta uma síntese sobre o estado da arte da geologia das lho de campo em
porções nordeste e central do Escudo das Guianas integrando informações sobre os Roraima, em 2007,
coletando amostras
domínios 20, 21, 22, 23 e 24, englobados nas províncias Maroni-Itacaiunas, e Ven- para análises geo-
tuari-Tapajós (figuras 1 e 3 do capítulo 1 da Segunda Parte). Em adição, apresenta-se cronológicas.
a evolução tectônica riaciana e orosiriana desses segmentos crustais, além dos eventos
intraplaca mesoproterozoicos. Esse conhecimento integrado foi alcançado através da
contribuição de diversos pesquisadores, ressaltando-se a participação de Nelson Reis e
Ana Dreher e o “auxílio luxuoso” do Professor Umberto Cordani (figura 2). em torno de 3,20 Ga, havendo importante retrabalhamento, migmatização e adição de
material juvenil datado em 2,80 Ga. Vale ressaltar que o evento neoarqueano de 2,65
Ga reconhecido no Bloco Amapá não foi identificado no Complexo Imataca.
2. Configuração Geológica do Escudo das Guianas Durante o Paleoproterozoico, os protólitos arqueanos do Bloco Amapá e do Com-
plexo Imataca foram intensamente retrabalhados (Swapp e Onstott, 1989; Tassinari et
Ao longo do Escudo das Guianas, unidades arqueanas ou com protólitos arquea- al., 2004; Rosa-Costa et al., 2009). No entanto, como será visto a seguir, esse retraba-
nos ocorrem no Bloco Amapá (e.g., Rosa-Costa et al., 2006; Lafon et al., 2019) e no lhamento não foi sincrônico na escala do Escudo das Guianas, tendo ocorrido no final
Complexo Imataca (Swapp e Onstott, 1989; Tassinari et al., 2004), situados nos ex- do Riaciano (2,10-2,08 Ga) no Bloco Amapá e somente durante o início do Orosiriano
tremos sudeste e noroeste do escudo (figura 1), respectivamente. Unidades litológi- (ca. 2,02 Ga) no Complexo Imataca. Estes dois episódios marcam processos colisionais
cas proterozoicas de diferentes idades, composições e significados geodinâmicos distintos, sendo o último também registrado ao longo do Cinturão Cauarane-Curuni,
afloram entre esses dois segmentos arqueanos. e relacionado à Orogenia Akawai (Fraga e Cordani, 2019).

2.1 Domínios Arqueanos 2.2 Domínios Riacianos


O Bloco Amapá, que ocorre no estado de mesmo nome, foi descrito em detalhe no Na borda nordeste do Escudo das Guianas, terrenos TTG e granito-greenstone
capítulo 3, de forma que neste item será descrito apenas o Complexo Imataca (domí- com idades entre 2,26 e 2,11 Ga (Delor et al., 2003a, Barreto et al. 2013 e refe-
nio 21 da figura 3 do capítulo 1, na página 50). Esse complexo estende-se na direção rências mencionadas) estendem-se através das fronteiras entre Venezuela, Guiana,
NE-SW por cerca de 500 km na Venezuela ocidental (figura 1), estando justaposto ao Suriname, Guiana Francesa e Brasil (figura 1 e domínio 19 da figura 3 do capítulo
terreno TTG-granito-greenstone riaciano Supamo-Pastora pela zona de cisalhamento 1) (e.g., Gibbs e Barron, 1993) com contraparte no Oeste África, formando um
de Guri (Swapp e Onstott, 1989; Tassinari et al., 2004). Essa zona de cisalhamento, dos mais extensos domínios riacianos do planeta. Idades desta ordem foram ainda
de direção NE-SW, é caracterizada por rochas miloníticas relacionadas ao evento Nic- reportadas para cinturões de rochas de alto grau metamórfico no Bloco Amapá (Ro-
kerie/K’Mudku de ca. 1,2 Ga com reativações posteriores (Gibbs e Barron, 1993). sa-Costa et al., 2009) e na borda norte do escudo ao longo do Bakhuis (De Roever
Hildebrand et al. (2014) sugeriram mais recentemente que o terreno Supamo-Pastora et al., 2003) (figura 1).
é alóctone e foi justaposto ao Complexo Imataca por falhas de empurrão mais antigas As principais características e eventos desses domínios riacianos são resumidos a seguir.
que 1,20 Ga. O complexo inclui granulitos quartzo-feldspáticos, orto- e paragnaisses
migmatizados e, subordinadamente, gnaisses e granulitos intermediários a máficos. 2.2.1 Tonalito-trondhjemito-granodiorito (TTG)
Na sequência de paragnaisses ocorrem níveis intercalados de mármores dolomíticos e e terrenos granito-greenstone
de formações ferríferas bandadas, que hospedam importantes depósitos de Fe do tipo As sequências do tipo greenstone belt formam exposições quase contínuas ao lon-
Algoma (Tassinari et al., 2004). Corpos migmatíticos (La Ceiba é o mais proeminente) go da borda nordeste do escudo (figura 3 do capítulo 1 e figura 1 deste capítulo)
estão incorporados no complexo. Dados U-Pb em zircão por SHRIMP e análises isotó- e contém importantes depósitos de ouro (Gibbs e Barron, 1993). Apesar de terem
picas Sm-Nd e Rb-Sr em concentrado de minerais e em rocha total, aliados a estudos recebido diferentes denominações (“Pastora” na Venezuela, “Barama-Mazaruni” na
petrológicos, interpretados conjuntamente com dados preexistentes levaram Tassinari Guiana, “Marowijne” no Suriname, “Paramaca” na Guiana Francesa e “Vila Nova” e
et al. (2004) a reconhecer que pelo menos parte do Complexo Imataca foi formado “Ipitinga” no Brasil), as sucessões de greenstone belts tendem a apresentar conteúdos

94 95
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 4

litológicos similares. As unidades inferiores são compostas por rochas metavulcânicas


máficas-ultramáficas com afinidades químicas com toleítos de arco ou transicionais e
rochas metavulcânicas intermediárias a ácidas de afinidade cálcio-alcalina. Komatiitos
foram identificados em alguns desses greenstone belts (Gibbs e Barron, 1993; Delor
et al., 2003a). Turbiditos, metapelitos e metagrauvacas com intercalações de metatu-
fos predominam na parte superior das sequências (Gibbs e Baron, 1993; Hildebrand,
2014; Kroonenberg et al., 2016). O grau metamórfico varia de xisto-verde a anfibolito
nas proximidades dos grandes complexos TTG (Gibbs e Barron, 1993; Delor et al.,
2003a; Hildebrand et al., 2014; Kroonenberg et al., 2016). Sequências sedimentares
mais maduras recobrem discordantemente os greenstone belts, tendo sido depositadas Figura 3: No campo, na
em bacias do tipo pull-apart (e.g., Delor et al. 2003a, b). Datações U-Pb em zircão das área central de Roraima,
rochas metavulcânicas ácidas a intermediárias das sequências greenstone belt concen- com os professores
Roberto Dall’Agnol
tram-se no intervalo de 2,16-2,12 Ga (Delor et al., 2003b, Hildebrand et al., 2014). (UFPA), e Tapani Ramo
Os cristais de zircão detrítico mais jovens da unidade que recobre discordantemente os e Akku Heinonen (Uni-
greenstone belts na Guiana Francesa são de 2,12 Ga (Delor et al., 2003a). versidade de Helsinki).
Com relação aos complexos TTG, aqueles situados a sudeste do Cinturão Ba-
khuis, na Guiana Francesa e Suriname, forneceram idades nos intervalos de 2,18-
2,16 Ga e 2,15-2,13 Ga (Delor et al., 2003a; Kroonenberg et al., 2016), e no Estado
do Amapá foram relatados pulsos magmáticos cálcio-alcalinos entre 2,19 e 2,10 Ga
(Lafon et al., 2019). Para os complexos TTG da Guiana e Venezuela, a noroeste do O Bakhuis (domínio 20 da figura 3 do capítulo 1 e figura 1 deste capítulo) esten-
Bakhuis, as idades U-Pb em zircão estão no intervalo de 2,13-2,11 Ga (Delor et al., de-se na direção NE-SW, na parte norte do escudo, sendo limitado por zonas milo-
2003a; Hildebrand et al., 2014). Corpos de granitos, em geral potássicos, com ida- níticas NE-SW relacionadas ao Evento Nickerie (1,20 Ga, correlacionado ao evento
des de 2,10-2,08 Ga ocorrem indiscriminadamente (Delor et al., 2003a). K’Mudku, Cordani et al., 2010), e posteriormente reativadas como falhas normais.
Os terrenos TTG e granito-greenstone da borda nordeste do escudo são domi- Este cinturão formado por granulitos máficos e intermediários, intercalados com
nantemente juvenis, com idades modelo Nd-TDM muito próximas às idades (U-Pb e rochas metapelíticas, quartzíticas e calcissilicáticas metamorfizadas sob condições
Pb-Pb em zircão) de cristalização das rochas. Em adição apresentam valores de ƐNd(t) de ultra-alta temperatura (950-1050°C a 0,85-0,90 GPa, Ultra-High Temperature,
francamente positivos, o que descarta a possibilidade de participação importante de UHT) em caminho P-T-t com sentido anti-horário, associado ao resfriamento lento,
fontes crustais mais antigas na sua gênese (Delor et al., 2003a e referências citadas). quase isobárico. O metamorfismo UHT ocorreu no período de 2,07-2,05 Ga. Cor-
Em contraposição, o magmatismo riaciano identificado ao longo do Bloco Amapá e pos charnockíticos, gabros e diques máficos foram colocados no intervalo de 1,99-
Complexo Imataca delineia um cenário bastante distinto, e registra uma importante 1,98 Ga (De Roever et al., 2003; Klaver et al., 2015).
contribuição de material crustal mais antigo na sua gênese, como refletem as idades
modelo Nd-TDM arqueanas e os valores de ƐNd(t) negativos reportados (Teixeira et al., 2.2.3 Evolução tectônica riaciana
2002; Rosa-Costa et al., 2006 e referências citadas). Uma evolução ao longo de arcos de ilhas oceânicas foi proposta para o domí-
nio riaciano juvenil da borda nordeste do escudo (Delor et al., 2003b e referências
2.2.2 Eventos tectonotermais neo-riacianos citadas). Após o estágio inicial de oceanização (2,22-2,21 Ga), a convergência N-S
Dois eventos tectonotermais neo-riacianos diacrônicos, com características bas- das paleoplacas arqueanas, hoje incorporadas aos crátons Amazônico e Oeste-Afri-
tante distintas do ponto de vista petrológico e geodinâmico, afetaram o Escudo das cano, resultou no desenvolvimento de complexos de arcos insulares associados à
Guianas e estão registrados respectivamente nos domínios Amapá e Bakhuis. subducção de crosta oceânica no sentido sul no período de 2,18-2,13 Ga (Delor et
No período de 2,10 a 2,08 Ga o Bloco Amapá sofreu intenso retrabalhamento, al., 2003b). Os arcos foram amalgamados e diferentes pulsos de magmatismo resul-
com metamorfismo de alto grau associado à deformação e à colocação de corpos gra- taram em complexos TTG de caráter diacrônico. Após a colagem dos arcos de ilha, a
nitoides sin- a tardi-orogênicos (Rosa-Costa et al., 2009 e referências citadas) (para transição da convergência entre as paleoplacas de N-S, frontal, para NE-SW, oblíqua,
mais detalhes, vide capítulo 3). Análises 40Ar-39Ar aliadas a estudos petrológicos e resultou no desenvolvimento de zonas de cisalhamento sinistrais e de bacias pull
dados isotópicos U-Th-Pb em monazita e zircão indicam que os terrenos de alto grau -apart que receberam as rochas sedimentares maduras que se superpõem às sucessões
metamórfico do bloco foram submetidos a taxas de resfriamento rápido (67° C/m.a. de greenstone belt no intervalo de 2,11-2,08 Ga (Delor et al., 2003a). Um intenso
a 4° C/m.a.) com evolução P-T-t de sentido horário, associado a exumação tectonica- magmatismo granítico também está relacionado ao período 2,11-2,08 Ga. A conti-
mente controlada (Rosa-Costa et al., 2009). No período entre 2,06 e 2,04 Ga, cor- nuidade do cisalhamento sinistral estimulou o fechamento das bacias pull-apart no
pos graníticos foram colocados e zonas de cisalhamento associadas a migmatização período entre 2,07 e 2,05 Ga em associação a um metamorfismo de baixa pressão e
sob condições de fácies anfibolito afetaram o Bloco Amapá (Rosa-Costa et al., 2009). alta temperatura com caminho P-T-t anti-horário (Delor et al., 2003a, b). A ascensão

96 97
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 4

do manto e o superaquecimento crustal associado ao cisalhamento sinistral durante relação à Suíte Trairão, CPRM (2010) e Fraga et al. (2014) consideraram uma
esse período de 2,07-2,05 Ga, resultou na geração dos granulitos UHT ao longo do evolução ao longo de arcos magmáticos desenvolvidos na borda de blocos con-
Cinturão Bakhuis (De Roever et al., 2003; Klaver et al., 2015). tinentais riacianos, com contribuição de fontes crustais juvenis riacianas e fontes
Em cenário distinto, para os TTG e terrenos granito-greenstone desenvolvidos nas mantélicas na gênese da suíte.
proximidades e ao longo do Bloco Amapá (figura 1) foi proposta uma evolução em
margens continentais ativas (Rosa-Costa et al., 2006, 2009). A oceanização nessa área 2.3.2 O Cinturão Cauarane-Curuni
ocorreu em torno de 2,26 Ga e após essa etapa inicial, iniciou-se o consumo da crosta Este cinturão (Fraga et al., 2009a, b) corresponde a uma megaestrutura sinuosa
oceânica ao longo dos arcos magmáticos e as sucessões de greenstone belt foram deposi- que conecta rochas supracrustais de alto grau metamórfico do Grupo Coeroeni no
tadas em bacias do tipo back-arc (Rosa-Costa et al., 2009 e referências citadas). A con- Suriname, do Complexo Kanuku e do Grupo Kwitaro na Guiana e do Grupo Caua-
tinuidade da convergência entre os blocos resultou na colagem dos complexos de arco rane no Brasil (figura 1). A disposição NW-SE, ENE-WSW, NE-SW do cinturão se
e do Bloco Amapá. O estágio colisional da orogenia é registrado pelo metamorfismo ajusta à disposição dos lineamentos estruturais e às principais anomalias magnéticas.
de alto grau caracterizado por caminho P-T-t de sentido horário e resfriamento rápido Parte do Cinturão Cauarane-Curuni já havia sido descrito por Kroonenberg
há cerca de 2,10-2,08 Ga (Rosa-Costa et al., 2006, 2009). A migmatização associada a (1976) como o Cinturão Granulítico Guiana Central. O cinturão inicialmente
zonas de cisalhamento transcorrentes e a colocação de granito em torno de 2,06 e 2,04 proposto compreendia o Complexo Kanuku, na Guiana, de direção NE-SW, bi-
Ga registram o estágio pós-colisional da orogenia nessa região. Nesse contexto, corpos furcando-se para leste em dois segmentos, um seguindo para NE e ligando-se ao
granitoides riacianos (e.g., suite Encrucijada) intrusivos no Complexo Imataca (2187 ± Cinturão Bakhuis e outro encurvando para E-W e NW-SE e ligando-se ao Grupo
94 Ma; Teixeira et al., 2002) devem refletir o desenvolvimento de arcos magmáticos Coeroeni, no Suriname (figura 1). Para sudoeste, o Cinturão Granulítico Guiana
continentais, uma vez que apresentam assinatura isotópica crustal (ƐNd(2,1 Ga) de -2,2 a Central prolongava-se na direção NE-SW até curvar-se para a direção NW-SE na
-4,9 e idades Nd-TDM entre 2,82 e 2,49 Ga). No entanto, como será visto nas seções se- parte oeste de Roraima. A partir da década de noventa, a concepção original desse
guintes, o principal evento colisional no complexo ocorreu apenas em torno de 2,02 Ga, cinturão foi quase totalmente esquecida e passou a vigorar a proposta de Gibbs e
durante o início do Orosiriano, na Orogenia Akawai (Fraga e Cordani, 2019). Barron (1993), que representaram o Cinturão Granulítico Guiana Central como
uma feição retilínea na direção NE-SW, ligando o Complexo Kanuku ao Domínio
2.3 Domínios eo-orosirianos Bakhuis e descartando a ligação entre o complexo e o Grupo Coeroeni, conforme
Os cinturões Cauarane-Curuni, Orocaima e Rio Urubu (respectivamente, domí- proposto inicialmente. Assim, essa proeminente feição sinuosa NW-NE-SW que
nios 22 a 24 da figura 3 do capítulo 1) correspondem aos elementos tectônicos mais liga rochas paraderivadas de alto grau metamórfico na parte central do Escudo das
proeminentes da porção central do Escudo das Guianas, sendo que fragmentos da Guianas ficou “esquecida” por décadas. Trabalhos recentes descartaram a ligação
crosta eo-orosiriana juvenil (2,04-2,03 Ga) foram também recentemente identifica- com o Cinturão Bakhuis (De Roever et al., 2015; Fraga e Cordani, 2019), já a
dos nesta parte do Escudo das Guianas. Completando o quadro do Eo-Orosiriano continuidade entre o Complexo Kanuku e o Grupo Coeroeni, bem documentada
há ainda a sequência metavulcanossedimentar de baixo-grau metamórfico do Grupo por Berrangé (1977) e Kroonenberg (1976), foi reavaliada com a proposição do
Parima. As principais características, entidades tectônicas e eventos desses domínios Cinturão Cauarane-Curuni (Fraga et al., 2009a, b).
eo-orosirianos são resumidos abaixo. As sequências supracrustais das unidades Cauarane, Kanuku, Kwitaro e Coeroe-
ni (figura 1) compreendem paragnaisses migmatíticos pelíticos e quartzo-feldspá-
2.3.1 Granitoides e gnaisses de idade 2,04-2,03 Ga ticos, com predominância de biotita-silimanita-cordierita gnaisses, xistos e rochas
O Complexo Anauá é composto por metatonalitos, metadioritos e granito-g- cálcio-silicáticas e subordinados anfibolitos, quartzitos e BIFs (e.g. Kroonenberg,
naisses (Almeida et al., 2007) e a Suíte Trairão por biotita-hornblenda tonalitos, 1976; Berrangé, 1977; Dreher et al., 2009). Mármore dolomítico foi identificado
granodioritos, quartzo-dioritos e granitos com foliação magmática e por vezes tra- no Grupo Coeroeni (Kroonenberg, 1976), e gondito em megaxenólitos do Grupo
mas gnáissicas (Fraga et al., 2014; CPRM, 2010). Os granitoides e os gnaisses Cauarane (CPRM, 2010). A sequência apresenta três fases de dobramento, D1, D2 e
Anauá e Trairão são metaluminosos, com afinidades cálcio-alcalinas de médio a D3 (CPRM, 2010 e referências mencionadas; Fraga et al., 2017b; Fraga e Cordani,
alto-K e assinatura geoquímica semelhante àquelas típicas de arcos magmáticos 2019). Historicamente, dois eventos metamórficos, M1 e M2, foram reconhecidos
primitivos a maduros (Almeida et al., 2007; CPRM, 2010). nas supracrustais do Cinturão Cauarane-Curuni. M1 é sin-cinemático, desenvolvido
Uma idade U-Pb em zircão de 2,03 Ga e uma idade modelo Nd-TDM de 2,32 Ga, sob condições de alto grau e pressões baixas a moderadas (Kroonenberg, 1976; Ber-
com ƐNd(t) de -0,20 foram obtidas para o Complexo Anauá (Faria et al., 2002), en- rangé, 1977; Dreher et al., 2009 e referências mencionadas) e M2 é estático, tendo
quanto idades U-Pb em zircão de 2,03 Ga e 2,04 Ga, e idades modelo Nd-TDM entre sido interpretado como relacionado à intrusão de enormes e numerosos corpos gra-
2,02 Ga e 2,09 Ga, com valores positivos de ƐNd(t) (+2,2 a +3,1) foram relatadas nitoides (Berrangé, 1977; Dreher et al., 2009). Um evento metamórfico adicional
para a Suíte Trairão (CPRM, 2010; Fraga et al., 2014). – M3 – foi reconhecido na porção a sul do Cinturão Cauarane-Curuni, ao longo do
Faria et al. (2002) propuseram para o magmatismo Anauá, uma origem ao Cinturão Rio Urubu, estando associado a um período de intenso magmatismo, em
longo de arcos de ilha, com importante contribuição de fontes do manto. Em parte colocado sin-cinematicamente (Fraga et al., 2009a, b).

98 99
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 4

Figura 4: Diagra- 2.3.3 O Cinturão Ígneo Orocaima


mas de probabili-
dade para idades Este cinturão é formado por rochas vulcânicas e granitoides colocados em nível
207
Pb/206Pb (<10% crustal raso, com idades variando de 1,99-1,96 Ga, e se estende da Venezuela ao
discordância) e ima- Suriname, a norte do Cinturão Cauarane-Curuni por mais de 1.400 km (figura 1)
gens CL de cristais
de zircão selecio- (Fraga et al., 2017a; Fraga e Cordani, 2019). Dele podem fazer parte o plutonismo
nados das amostras intrusivo no Cinturão Bakhuis tendo em vista a similaridade de idade (item 2.2.2).
UC-30 e LM-13 A maior parte dos dados desse vulcano-plutonismo concentra-se na parte central
(Grupo Cauarane)
e SK-811 e SK-826 do cinturão, na região norte de Roraima. A denominação Orocaima foi utilizada
(Grupo Coeroeni), anteriormente por Reis et al. (2000) para agrupar rochas magmáticas de espectro de
com localização na idades mais ampla, tendo sido redefinido por Fraga et al. (2017a).
figura 1. Em verde,
estão destacadas as Os granitoides e rochas vulcânicas que afloram ao longo do Cinturão Ígneo Orocai-
idades de bordas ma receberam diversos nomes através do escudo. Na Venezuela, granitoides e rochas
relacionadas a M2 e vulcânicas são coletivamente englobados no Grupo Cuchivero e as rochas vulcânicas
M3. Fonte: Fraga e
Cordani (2019). são incluídas na Formação Caicara (Sidder e Mendoza, 1995). No Brasil, ocorrem os
granitoides das suítes Pedra Pintada, Aricamã, Saracura, Tocobirém, Puruê e Reislândia
e as rochas vulcânicas do Grupo Surumu e da Formação Cachoeira de Ilha. Na Guiana,
as rochas vulcânicas (Formação Iwokrama) e os corpos graníticos associados são de-
signados como Grupo Burro-Burro (Gibbs e Barron, 1993; Berrangé, 1977). No Suri-
name afloram as rochas vulcânicas da Formação Dalbana e os granitoides Wonotobo,
Um limitado número de dados geocronológicos havia sido relatado (2,22 Ga, Sipaliwini, de Coppename e Werekitto (Kroonenberg et al., 2016; Fraga et al. 2017b).
U-Pb TIMS, Gaudette et al., 1997; 2,07 Ga e 2,04 Ga, dados não publicados de As rochas granitoides do Cinturão Ígneo Orocaima são cálcio-alcalinas, dominan-
Santos, J.O.S.) para as fontes dos metassedimentos do Cinturão Cauarane-Cu- temente de alto-K, do tipo A e/ou shoshoníticas, distinguidas em diferentes suítes que
runi até que, recentemente, Fraga e Cordani (2019) apresentaram os resultados se distribuem ao longo do cinturão. As variedades cálcio-alcalinas foram incluídas na
preliminares do primeiro estudo integrado envolvendo rochas coletadas ao lon- Suíte Pedra Pintada, composta por hornblenda-biotita granodioritos, tonalitos e granitos
go de toda a extensão do Cinturão Cauarane-Curuni (figuras 1 e 3). Os citados com subordinados monzodioritos e sienogranitos. A suíte é metaluminosa a fracamente
autores identificaram fontes arqueanas (2,98-2,54 Ga) e siderianas (2,50-2,30 peraluminosa e mostra características químicas similares àquelas observadas em rochas
Ga) com contribuição mais proeminente de fontes riacianas (2,21-2,05 Ga) e de formadas em ambiente pré-colisional (em arcos magmáticos maduros ou normais) ou
fontes eo-orosirianas (2,05-2,01 Ga), respectivamente. Os dados confirmam que em ambiente pós-colisional. Esses granitoides possuem idades U-Pb em zircão entre 1,99
a deposição dos sedimentos na bacia precursora Cauarane-Curuni ocorreu após Ga (CPRM, 2010) e 1,96 Ga (Santos, 2003) e idades Nd-TDM no intervalo 2,27-1,98 Ga
o metamorfismo de alto grau no Cinturão Bakhuis, o que descarta uma evolução com ƐNd(t) variando de -1,69 a +3,68 (Santos, 2003; CPRM, 2010), indicando a gera-
comum para os dois cinturões, como proposto por Kroonenberg (1976) e Kroo- ção a partir de fontes predominantemente juvenis de curta vivência crustal.
nenberg et al. (2016). Com relação aos granitos do tipo A, as suítes Saracura (Fraga e Haddad, 1999)
Quanto ao metamorfismo ao longo do Cinturão Cauarane-Curuni, idades em e Aricamã (Fraga et al., 2009c) incluem dominantemente biotita (hornblenda) sie-
monazita com valores de 1,99 Ga (Fraga et al., 2009a) e de 2,01 Ga (De Roever no e monzogranitos e álcali-feldspato granitos, parte dos quais caracterizados como
et al., 2015) obtidos para corpos granitoides do tipo S embutidos nas supracrustais especializados em estanho (Fraga et al., 2009c). Riebeckita granitos (Fraga et al.,
devem refletir a fusão parcial pós pico metamórfico M1. Essas idades estão em con- 2017a e referências citadas) também são considerados como parte da Suíte Saracura.
sonância com a proposição de Fraga e Cordani (2019), que sugerem idades em torno As duas suítes exibem assinaturas geoquímicas similares, correspondendo a granitos
de 2,02 Ga para o metamorfismo sin-cinemático M1. tipo A reduzidos (Fraga et al., 2009c). Idades U-Pb em zircão entre 1,99 Ga (CPRM,
Fraga e Cordani (2019) reportaram idades de 1,99-1,96 e 1,94-1,92 Ga, respec- 2010) e 1,98 Ga (CPRM, 2010) e uma idade modelo Nd-TDM de 2,11 Ga com valor
tivamente, para os eventos metamórficos M2 e M3, que foram interpretados como de ƐNd(t) de +2 (CPRM, 2010, Fraga et al., 2013) foram publicadas para os granitos
reflexo de importantes perturbações térmicas e aportes de fluidos relacionados à Saracura e Aricamã. Idades Pb-Pb de evaporação em zircão no intervalo de 1,92-1,88
instalação dos cinturões Cinturão Ígneo Orocaima e Cinturão Rio Urubu. A ocorrên- Ga (Costa et al., 2001) e uma idade U-Pb de 1,32 Ga (Santos, 2003) foram obtidas
cia de xenólitos de paragnaisses polidobrados nos granitoides destes dois cinturões para corpos equivocadamente interpretados como pertencentes à Suíte Saracura.
confirma que o metamorfismo M1 e a deformação associada tiveram lugar antes da Recentemente, foi identificado no âmbito do Cinturão Ígneo Orocaima um mag-
colocação dos granitoides que formam esses cinturões. Considerando os dados U-Pb matismo de afinidade shoshonítica, representado pela Suíte Tocobirém, com idade
em zircão na literatura, a idade de 1,97 Ga (U-Pb SHRIMP; Santos, 2003), interpre- de 1,96 Ga (U-Pb em zircão; Fraga e Dreher, 2017). A suíte foi definida por Almeida
tada como reflexo de uma colisão, deve refletir o Metamorfismo M2. et al. (2003), no norte de Roraima e, diante dos dados restritos disponíveis de então,

100 101
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 4

foi equivocadamente correlacionada ao magmatismo charnockítico, mais jovem da O magmatismo granítico e o vulcanismo com idades entre 1,99 e 1,96 Ga, rela-
Suíte Serra da Prata (ver próximo item). cionados ao magmatismo Orocaima (unidades Vila Riozinho, Novo Progresso, Jarina,
De uma forma geral, os granitoides do Cinturão Ígneo Orocaima são isotrópicos Creporizão, São Jorge Velho e Vila Rica) também ocorrem no Escudo Brasil Central
apenas afetados pelo Episódio K’Mudku ao longo de zonas de cisalhamento localizadas. ao longo das províncias Tapajós e Juruena (Fraga et al., 2017c e referências citadas).
Porém, granitoides cálcio-alcalinos com idades em torno de 1,97 Ga, exibindo banda-
mento composicional e foliação magmática, ocorrem nas proximidades das supracrustais 2.3.4 O Cinturão Rio Urubu
de alto grau do Cinturão Cauarane-Curuni em Roraima, e podem ser coevos com o Contrastando com o magmatismo de nível crustal raso bem preservado ao norte
Cinturão Ígneo Orocaima. Essas rochas pertencem às unidades Granito Mixiguana e do Cinturão Cauarane-Curuni ao longo do Cinturão Ígneo Orocaima, o Cinturão
Quartzo-Diorito Puruê e à Suíte Reislândia (Fraga et al., 2017b; Fraga e Cordani, 2019). Rio Urubu é composto por granitoides e gnaisses foliados e migmatitos, incluindo
Com respeito às rochas vulcânicas do Cinturão Ígneo Orocaima, variedades pi- lentes de granulito (figura 1). As idades se concentram no intervalo de 1,96-1,92 Ga,
roclásticas predominam amplamente sobre lavas e intrusivas subvulcânicas. Compo- com um máximo em 1,95-1,93 Ga e registram um período importante de magma-
sicionalmente, tipos riolíticos predominam sobre as variedades riodacíticas e dacíti- tismo e metamorfismo na região a sul do Cinturão Cauarane-Curuni (Fraga et al.,
cas, ao passo que andesito, andesito basáltico e basalto são subordinados (Sidder e 2009a, b). No Brasil, o Cinturão Rio Urubu compreende granitoides e gnaisses do
Mendoza, 1995; CPRM, 2010 e referências citadas; Berrangé, 1977; Mahabier e De tipo A das unidades Igarapé Branco e Igarapé Miracelha, rochas charnockíticas da
Roever, 2019). As rochas vulcânicas das unidades Surumu, Caicara e Dalbana exi- Suíte Serra da Prata, corpos gabroicos deformados, granitos do tipo S da unidade
bem afinidades com séries cálcio-alcalinas (Sidder e Mendoza, 1995; CPRM, 2010 e Curuxuim e granulitos da unidade Barauana, além de granitoides e gnaisses do Cin-
referências citadas; Mahabier e De Roever, 2019). Entretanto, rochas efusivas com turão Rio Urubu, ainda pobremente caracterizado (Fraga et al., 2009a, b).
afinidade geoquímica com granitos do tipo A ocorrem no norte de Roraima e são O Gnaisse Igarapé Branco, equivocadamente referido por Santos (2003) como
incluídas na Formação Cachoeira da Ilha (CPRM, 2010). Gnaisse Mucajaí, inclui tipos dominantemente sienograníticos, com hornblenda e
Distintos modelos de evolução geodinâmica foram admitidos para as unidades biotita avermelhada como minerais máficos principais. A unidade Gnaisse Igarapé
plutono-vulcânicas que compõem o Cinturão Ígneo Orocaima. Santos (2003) e Miracelha inclui gnaisses graníticos e granitos foliados contendo biotita esverdeada e
Mahabier e De Roever (2019) propuseram um ambiente pré-colisional para o mag- hornblenda como minerais máficos principais. As unidades Igarapé Branco e Igarapé
matismo cálcio-alcalino, respectivamente, das unidades Pedra Pintada e Dalbana. Miracelha mostram assinaturas respectivamente de granitos do tipo A reduzidos e
Por outro lado, Fraga et al. (1997) e Sidder e Mendoza (1995) propuseram para as oxidados, refletindo diferenças nas fontes crustais que contribuíram na sua gênese
rochas vulcânicas e os granitoides cálcio-alcalinos de alto-K das unidades Surumu, (Fraga et al., 2009b). As rochas charnockíticas da Suíte Serra da Prata compreendem
Pedra Pintada, Burro Burro e Caicara um ambiente pós-colisional. charnockitos, quartzo-mangeritos, quartzo-jotunitos e quartzo-sienitos distribuídos
A recente caracterização da proximidade temporal e espacial entre magmatismos em diferentes corpos alongados na parte central e leste de Roraima. São rochas su-
com assinaturas cálcio-alcalinas de alto K, do tipo A e shoshonítico ao longo do balcalinas e predominantemente metaluminosas (Fraga et al., 2009a, b).
Cinturão Ígneo Orocaima no intervalo 1,99-1,96 Ga, (Fraga et al., 2017a) é mais As rochas do tipo A, bem como as charnockíticas ou os granitoides e gnaisses do Cin-
compatível com o ambiente pós-colisional, onde as heterogeneidades no manto e turão Rio Urubu exibem textura ígnea bem preservada que gradam até tramas deforma-
na crosta continental, resultantes dos períodos pré- e sin-colisionais, devem ter pro- cionais desenvolvidas em estado sólido sob temperaturas altas (> 650° C). Essas tramas
piciado fontes com composições e condições de ƒO2 distintas, capazes de gerar o foram interpretadas por Fraga et al. (2009b) como geradas em parte durante a colocação
espectro de magmatismo verificado no período em torno de 1,99-1,96 Ga. Em espe- sin-cinemática de vários corpos em um ambiente intracontinental transpressivo. Os men-
cial, o intenso magmatismo cálcio-alcalino de alto K, típico do estágio pós-colisional cionados autores propuseram que a colocação de magmas de alta temperatura com os
em diversos orógenos (Bonin, 2004), deve refletir a instabilidade térmica no manto verificados ao longo do Cinturão Rio Urubu deve ter fornecido o calor necessário para o
gerada pelo slab breakoff, após a colisão. Esse magmatismo se concentra ao longo de metamorfismo de alto grau metamórfico (M3) observado ao sul do cinturão.
estreitas faixas alinhadas a importantes feições tectônicas como ilustra a disposição Em uma revisão recente, Velasquez (2015) propôs a colocação tectonicamente
do Cinturão Ígneo Orocaima, a norte do Cinturão Cauarane-Curuni. controlada dos corpos da Suíte Serra da Prata no intervalo de 1,95-1,90 Ga, em um
Além da principal área de exposição a norte do Cinturão Cauarane-Curuni, o mag- cenário muito semelhante ao proposto por Fraga et al. (2009b). No entanto, o autor
matismo Orocaima ocorre em várias porções do Escudo das Guianas. Na região do rio defende que, após a colocação dos corpos magmáticos, ocorreu um evento tectono-
Trombetas, estado do Pará (figura 1), rochas vulcânicas e granitoides cálcio-alcalinos tipo metamórfico entre 1,87-1,86 Ga, sob condições de alta temperatura (650°-700° C).
Orocaima com idades no período de 1,99-1,96 Ga são incluídos, respectivamente, na Idades em torno de 1,88 Ga (Santos, 2003) e de 1,81 Ga (J.O.S. dos Santos; dados
Formação Igarapé Paboca e na Suíte Caxipacoré (Castro et al., 2014; Leal et al., 2018). inéditos, relatório interno CPRM) foram citadas para algumas bordas de zircão em três
No sul de Roraima, a suíte Martins Pereira, cálcio-alcalina de alto K do tipo I e o Granito amostras datadas no Cinturão Rio Urubu. O significado geodinâmico dessas idades
Serra Dourada, do tipo S também são coevos com o magmatismo do Cinturão Ígneo Oro- precisa ser melhor investigado bem como as tramas e assembleias metamórficas rela-
caima, tendo sido gerados com a contribuição de diferentes fontes crustais geradas durante cionadas aos eventos propostos, em especial avaliando que um metamorfismo regional
a amalgamação do arco magmático Anauá com terrenos riacianos (Almeida et al., 2007). de alto grau deve ter efeitos que precisam ser caracterizados regionalmente. A instabi-

102 103
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 4

lidade térmica e entrada de fluidos associada a eventos magmáticos intraplacas podem Esses dois cinturões exibem, porém, características distintas quanto à evolução me-
ter efeitos importantes no sistema isotópico do zircão (Fraga e Cordani, 2019) assim, tamórfica, provavelmente refletindo o envolvimento de blocos arqueanos ao longo do
o efeito do fluxo dos magmatismos intraplacas relacionados à SLIP Uatumã (ca. 1,89 Complexo Imataca e de terrenos juvenis na parte central do escudo. Após a colagem,
Ga) e ao Granito Madeira através da crosta inferior deve ser considerado. Almeida et o slab break-off e a anomalia térmica associada levou ao desenvolvimento do Cinturão
al. (2007), por exemplo, relatam a presença de bolsões graníticos com idades em torno Ígneo Orocaima a norte do Cinturão Cauarane-Curuni, e provavelmente reflete sub-
de 1,90 Ga alojados em granitoides de 1,96 Ga, a sul do Cinturão Rio Urubu. ducção para norte no estágio pré-colisonal nessa parte do proto-cráton. O evento me-
Na Guiana, o Cinturão Rio Urubu é representado pelo Southern Guyana Granite tamórfico M2 reflete a evolução desse cinturão ígneo que bordeja a norte o Cinturão
Complex (Berrangé, 1977), que engloba uma grande variedade de rochas granitoides Cauarane-Curuni por mais de 1.400 km. A concentração de movimentos transpressivos
com predominância de biotita granitos e granodioritos acinzentados e biotita-musco- intraplacas após a colagem, na parte central do escudo a sul do Cinturão Cauarane-Cu-
vita granito róseos. Corpos de granito com granada, cordierita e silimanita e de piro- runi, levou a colocação de corpos magmáticos, deformação e metamorfismo no período
xênio granitos também foram descritos por Berrangé (1977), indicando a presença de de 1,96-1,93 Ga ao longo do Cinturão Rio Urubu, relacionados ao metamorfismo M3
granitos do tipo S e de rochas charnockíticas, correlacionáveis às unidades Curuxuim e (Fraga e Cordani, 2019). Os movimentos transpressivos resultaram na formação de ba-
Serra da Prata, indiscriminadas dentro do Southern Guyana Granite Complex. cias sedimentares (e.g., que ocorrem na parte oeste de Roraima), onde foram deposita-
das as rochas vulcanossedimentares do Grupo Parima. Considerando a importância da
2.3.5 O Grupo Parima orogenia eo-orosiriana para a evolução do Escudo das Guianas, Fraga e Cordani (2019)
O Grupo Parima (domínio 25 da figura 3 do capítulo 1) corresponde a uma suces- propuseram denominá-la Orogenia Akawai, como referido anteriormente.
são vulcanossedimentar na fácies xisto verde que aflora no extremo oeste de Roraima,
onde há ocorrência de ouro, intensamente garimpado na década de 1990. Foi definida 2.3.7 Unidades geológicas do final do Orosiriano e início do Estateriano
a partir de trabalhos pioneiros da década de 1970 e permanece pouco estudada até Como citado anteriormente, idades de 1,92-1,88 Ga (Costa et al., 2001) foram
os dias de hoje. Na unidade predominam metapelitos, laminados à semelhança de reportadas para corpos graníticos do norte de Roraima, equivocadamente interpre-
sequências turbidíticas, metassedimentos arcoseanos acinzentados a róseos, com su- tados como pertencentes a Suíte Saracura, mais antiga (ver item 2.4.5). O significado
bordinados quartzo xistos, quartzitos micáceos e rochas cálcio-silicáticas e raros tipos dessas idades precisa ainda ser compreendido, mas tentativamente parte dessas ro-
interpretados como de natureza komatiítica (capítulo 5). Santos (2003) relatou popu- chas pode estar relacionada à SLIP Uatumã. Recentemente, um corpo da Suíte Máfi-
lações de cristais de zircão detríticos com idades variando entre 2,87 Ga e 1,97 Ga para ca-Ultramáfica Uraricaá indicou uma idade de 1,88 Ga (U-Pb em zircão; Fraga et al.,
um quartzito além de uma idade de 1946 ± 7 Ma para um meta-andesito do Grupo 2013), registrando pela primeira vez um magmatismo intraplaca contemporâneo à
Parima. Mais detalhes sobre esta unidade são apresentados no capítulo 5. SLIP Uatumã na parte central do Escudo das Guianas.
As rochas sedimentares do Supergrupo Roraima, com intercalações de tufos de
2.3.6 A evolução eo-orosiriana do Escudo das Guianas 1,87 Ga, recobrem parte do embasamento na região central do escudo (Reis et al.,
Novos dados U-Pb foram recentemente obtidos no Centro de Pesquisas Geocrono- 2013 e referências citadas). Diques de diabásio da unidade Avanavero com idades
lógicas da USP através de um projeto científico liderado pelo Professor Cordani contri- de 1,79-1,78 Ga (Reis et al., 2013), cortam o embasamento e as rochas sedimenta-
buindo para o entendimento da evolução dos cinturões Cauarane-Curuni, Orocaima e res do Supergrupo Roraima. Finalmente, um magmatismo lamprofírico com idades
Rio Urubu. Tais dados foram interpretados em conjunto com as informações geológicas em torno de 1,76-1,73 Ga (CPRM, 2010) foi recentemente identificado em Rorai-
e isotópicas já disponíveis para a parte central do Escudo das Guianas e permitiram um ma na forma de diques (Lamprófiro Serra do Cupim) e interpretado como reflexo
avanço no entendimento da evolução eo-orosiriana da porção norte do Cráton Amazôni- de processos de extensão crustal em ambiente intracontinental. Esses episódios de
co e a caracterização da Orogenia Akawai, como a mais jovem do Ciclo Transamazônico. magmatismo intraplaca com idades entre 1,80 e 1,60 Ga refletem a Tafrogênese
Em termos geodinâmicos, após os episódios finais da orogenia riaciana, que Estateriana, bem representada em outros setores do Cráton Amazônico.
formou boa parte da Província Maroni-Itacaiúnas a continuidade da aproximação
oblíqua das paleoplacas hoje integradas aos crátons Amazônico e Oeste-Africano 2.3.8 Magmatismo rapakivi na porção central do Escudo das Guianas
e, possivelmente a colagem de algum terreno desconhecido, levou a uma mudança Vários corpos de granito rapakivi foram descritos nas porções central e ocidental
no campo de tensão das regiões interiores da paleo-placa “Amazônia”. Isso pode ter do Escudo das Guianas (figura 1) e interpretados como relacionados ao Evento Par-
produzido tensões extensionais e abertura de oceanos (talvez não muito vastos), com guaza (1,55-1,50 Ga; Gaudette et al., 1978). Dados geocronológicos mais recentes
posterior formação dos arcos Trairão-Anauá em torno de 2,04-2,02 Ga, nas margens demonstraram, no entanto, que a formação de granitos rapakivi, correspondendo a
das massas continentais recém-construídas ou em ambiente intraoceânico (Fraga et piterlitos ou viborgitos, foi episódica e inclui também pulsos magmáticos mais jovens
al., 2009a, b). A colagem dos fragmentos crustais arqueanos e riacianos com os ar- entre 1,34 e 1,44 Ga (Santos et al., 2011; Bonilla et al., 2016).
cos magmáticos de 2,04-2,02 Ga ocorreu durante o evento colisional datado entre O Granito Parguaza, situado na Venezuela, ocupa uma área maior que 35 mil km2
2,02-2,00 Ga, e resultou no intenso retrabalhamento do Complexo Imataca e na e é composto por viborgitos grossos a muito grossos datados em 1,55 Ga (U-Pb em
formação do Cinturão Cauarane-Curuni. zircão). O batólito é intrusivo em rochas graníticas foliadas associadas com rochas

104 105
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 4

vulcânicas ácidas, datadas entre 1,80 e 1,90 Ga (Gaudette et al., 1978). Vários corpos
de granito rapakivi interpretados como relacionados ao magmatismo de 1,55-1,50 Ga se
distribuem em direção a sudoeste em alinhamento geral NW-SE, a sul do CCC (Fraga et
al., 2009d). Na porção noroeste de Roraima, os stocks e os batólitos de granito rapakivi,
alguns mineralizados a estanho, foram agrupados na Suíte Surucucus (Dall’Agnol et al.,
1999) e estão associados a corpos gabroicos. Mais a SE, no centro do Estado de Roraima,
foi caracterizada uma associação do tipo Anortosito-Mangerito-Granito rapakivi (AMG;
Fraga et al., 2009d). Essa associação engloba um grande corpo zonado, relacionado à
Suíte Mucajaí, composto por biotita granitos porfiríticos a nordeste, hornblenda biotita
granitos piterlíticos a localmente viborgíticos na parte central e quartzo fayalita piroxênio
mangeritos, a sudoeste, em contato com o Anortosito Repartimento. Idades U-Pb em
zircão entre 1,53 e 1,52 Ga foram relatados para a associação (Heinonen et al., 2012 e
referências citadas). Um ambiente extensional foi reconhecido para o magmatismo rapa-
kivi de 1,55-1,50 Ga em cenário semelhante ao descrito no Escudo Fenoscandiano, onde
foram identificados os granitos rapakivi clássicos (Fraga et al., 2009d).
Idades no período 1,44-1,34 Ga foram reportadas para corpos de granito rapakivi na
porção leste da Colômbia (idades U-Pb em zircão entre 1,40 e 1,39 Ga e de 1,34 Ga, Bonilla
et al., 2016, e referências citadas) e na parte central de Roraima (1,43 Ga, Santos et al., 2011).

2.3.9 O Episódio K’Mudku


Cordani et al. (2010) reavaliaram os dados disponíveis sobre os episódios tectôni-
cos intra-placas de idade “Grenvilliana” afetando o continente sul-americano. Os autores
elencaram entre os efeitos da orogenia steniana no Cráton Amazônico, a reativação de
estruturas antigas, o aquecimento regional e o magmatismo cratogênico, alcalino e graní-
tico, conforme sintetizado abaixo.
No Escudo das Guianas, o Episódio K’Mudku, denominado Nickerie Metamor-
phic Episode no Suriname, foi responsável pelo desenvolvimento de zonas de milo-
nitos, sob temperaturas baixas (Barron, 1969; Berrangé, 1977; Fraga et al., 2009a,
b), reativando as principais feições tectônicas da parte central e norte do Escudo das
Guianas, resultando em uma rede de zonas de cisalhamento NE-SW, E-W, NW-SE e
NNW-SSE que concentraram a deformação (Cordani et al., 2010) (Figura 5). Idades
K-Ar, Rb-Sr e 40Ar-39Ar em muscovita e biotita com valores entre 1,24 e 1,08 Ga fo-
ram obtidas para a porção norte e central do escudo (Cordani et al., 2010 e referên-
cias citadas) e refletem o rejuvenescimento isotópico e aquecimento regional durante Figura 5: Mapa esque-
o Episódio K’Mudku. 3. Implicações para as províncias mático da parte central
do Escudo das Guianas
Em proposta distinta, Santos (2003) e Santos et al. (2011) interpretam o Episódio K’Mu- geocronológicas da Amazônia setentrional (adaptado de Cordani et
dku como responsável por metamorfismo na fácies anfibolito a granulito entre 1,49 Ma e 1,15 al., 2010) com disposição
Ga associado à evolução de um cinturão NE-SW. Com relação à área central de Roraima, uma A proposição por Cordani e colaboradores de províncias geocronoló- das zonas de cisalhamen-
to reativadas durante o
idade de 1,48 Ga em titanita obtida para a unidade Gnaisse Igarapé Branco (ver item 2.4.4) gicas cada vez mais jovens em direção ao SW do Cráton Amazônico trou- Episódio K’Mudku.
foi, por exemplo, interpretada por Santos et al. (2011) como indicativo de que as rochas foram xe uma enorme contribuição ao entendimento da evolução tectônica da
“localmente metamorfizadas nas fácies anfibolito a granulito durante o orógeno K’Mudku”. parte norte da América do Sul. Entretanto, como demonstrado nos itens
Porém, o conceito de metamorfismo local não parece coerente com metamorfismo regional anteriores, a aquisição de uma enorme quantidade de dados e o avanço do
orogênico, indicando a necessidade de investigações mais detalhadas sobre o significado das conhecimento da geologia regional nas últimas décadas apontam a neces-
idades entre 1,49 Ga e 1,15 Ga mencionadas por Santos (2003) e Santos et al. (2011). Res- sidade de ajustes e revisões nos modelos de províncias geocronológicas.
salte-se ainda que a rocha que forneceu a idade de 1479 Ma aflora a poucos quilômetros do A área abordada no presente capítulo abrange as províncias Ama-
corpo de granito rapakivi de 1,52 Ga (Fraga et al., 2009d), que certamente não registra o zônia Central, Maroni-Itacaiúnas e Ventuari-Tapajós. Na figura 1, so-
metamorfismo regional associado ao “Orógeno K’Mudku”, admitido por Santos et al. (2011). bre o mapa geológico esquemático atualizado do Escudo das Guianas

106 107
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 4

Cordani U.G., Ramos V.A., Fraga L.M., Cegarra Fraga L.M.B., Dall’Agnol R., Costa J.B.S., Ma-
M., Delgado I., Souza K.G., Gomes F.E.M., Schobbe- cambira M.J.B. 2009a. The Mesoproterozoic Muca-
estão ilustrados os limites dessas províncias, na versão apresentada por Tassinari e nhaus C. 2016.Tectonic Map of South America. Scale: jaí anorthosite-mangerite-rapakivi granite complex,
Macambira (2004) e segundo a versão modificada por Vasquez et al. (2019). 1/5,900,000. Paris, Commission for the Geological Amazonian craton, Brazil. The Canadian Mineralogist,
Map of the World. 47:1469-1492.
A Província Maroni-Itacaiúnas, com evolução proposta no intervalo de 2,20 a Costa J.A.V., Costa J.B.S., Macambira M.J.B. 2001. Fraga, L.M.B. & Dreher A.M. 2017. Suíte Tocobi-
1,95 Ga (i.e., Ciclo Transamazônico), mostra maior aderência com a geologia da Grupo Surumu e Suíte Intrusiva Saracura, RR - Novas rém: Magmatismo Shoshonítico Eo-Orosiriano na parte
parte central do Escudo das Guianas (figura 1). Porém, apesar de recentemente Idades Pb-Pb em zircão e interpretação tectônica. In: 7º central do Escudo Das Guianas. In: 15º. Simpósio de Ge-
Simpósio de Geologia da Amazônia. Belém, Anais, v. 7. ologia da Amazônia. Belém, Pará, Sociedade Brasileira de
alterado por Vasquez et al. (2019) para incorporar pelo menos em parte os recen- CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Mine- Geologia – Núcleo Norte, Anais, p. 478-481.
tes avanços no conhecimento geológico dessa região, grandes áreas dos cinturões rais. 2010. Geologia e Recursos Minerais da Folha Vila Fraga L.M.B., Dreher A.M., Armstrong R., Chemale
Cauarane-Curuni, Orocaima e Rio Urubu, que mostram uma evolução dentro do de Tepequém, NA.20-X-A-III. Scala 1:100.000. Manaus, Jr. F. 2014. Eo-orosirian orogeny in the northern amazo-
Programa de Geologia do Brasil, Projeto Cartografia da nian craton: the 2.04-2.03 Ga Trairão Suite. In: 9th Sou-
referido intervalo, extrapolam a Província Maroni-Itacaiúnas, o que demonstra a Amazônia, 182 p. th American Symposium on Isotope Geology. São Paulo,
necessidade de redefinição dos limites desta província. Dall’Agnol R., Costi H.T., Leite S.A.A., Magalhães Brazil, Program and Abstracts.
Segmentos crustais arqueanos importantes como o Bloco Amapá e o Complexo M.S., Teixeira N.P. 1999. Rapakivi granites from Brazil Fraga L.M.B., Dreher A.M., Faria M.S.G., Grazzio-
and adjacent areas. Precamb. Res., 95:9-39. tin H.F., Santos J.O.S., Reis N.J. 2009b. Suite Aricamã,
Imataca permanecem indiscriminados no interior da Província Maroni-Itacaiúnas. Delor C., De Roever E.W.F., Lafon J.M., Lahondère Magmatismo Tipo-A, pós-colisional no norte de Rorai-
Apesar de justificada pelo fato de que tais segmentos foram em grande parte re- D., Rossi P., Cocherie A., Guerrot C., Potrel A. 2003b. ma. Extended abstract. In: 11º. Simpósio de Geologia da
trabalhados no Riaciano, a não individualização de entidades tectônicos de pri- The Bakhuisultrahigh-temperature granulite belt (Suri- Amazônia. Manaus, Amazonas, Sociedade Brasileira de
name): II. Implications for late Transamazonian crustal Geologia – Núcleo Norte, Anais, p. 375-378.
meira ordem como os blocos arqueanos não favorece a compreensão da evolução stretching in a revised Guiana Shield framework. Géolo- Fraga L.M.B., Dreher A.M., Grazziotin H, Reis
geodinâmica desse setor do Cráton Amazônico. Com relação ao Arqueano, por gie de la France, 2-4:207-230. N.J., Farias M.S.G., Ragatky D. 2010. Geologia e Re-
outro lado, um embasamento com evolução >2,5 Ga foi assumido para a Província Delor C., Lahondère D., Egal E., Lafon J.M., Coche- cursos Minerais da folha Vila de Tepequém NA.20-X-A
rie A., Guerrot C., Rossi P., Truffert C., Theveniaut H., -III Estado de Roraima, Escala 1:100.000. Projeto Ama-
Amazônia Central, o que não pode ainda ser comprovado pelos dados disponíveis. Phillips D., Avelar V.G. 2003a. Transamazonian crustal jari. Manaus: CPRM, 2010. 1 CDROM. Cartografia da
Tassinari e Macambira (2004) eliminaram a parte norte da Província Amazônia growth and reworking as revealed by the1:500000 scale Amazônia. Programa Geologia do Brasil (PGB). Levan-
Central, em Roraima (figura 5D do capítulo 1 e figura 1 deste capítulo), mantendo geological map of French Guiana (2nd edition). Géologie tamentos Geológicos Básicos. Sistema de Informações
de la France, 2-4:5-57. Geográficas (SIG).
nessa província apenas a porção centro-sul do escudo, amplamente recoberta pelo De Roever E.W.F., Lafon J.M., Delor C., Cocherie A., Fraga L.M.B., Dreher A.M., Kroonenberg S., De
magmatismo Uatumã (1,89-1,87 Ga), de origem intraplaca. Finalmente, dados re- Guerrot C. 2015. Orosirian magmatism and metamor- Roever E., Faraco T., Wong T., Reis N., Lisboa Lago A.
centes de Sm-Nd e Lu-Hf obtidos para essa região da província Amazônia Central phism in Suriname: new geochronological constraints. 2017b. Geological and geodiversity mapping on the Bra-
In: Gorayeb P.S.S. & Lima A.M.M. (orgs.). Contribui- zil-Suriname border project. Explanatory note for the ge-
(Almeida et al., 2007; Lafon et al., 2019 e referências mencionadas), apesar de ções a Geologia da Amazônia. Belém, Pará, Sociedade ological, mineral resources and geodiversity maps. Brasí-
ainda restritos, não confirmam a presença de embasamento arqueano. Quanto à Brasileira de Geologia - Nucleo Norte, 9:359-372. lia, CPRM. 52p. Http://geosgb.cprm.gov.br/downloads/
natureza da Província Ventuari-Tapajós (1,95-1,85 Ga), a figura 1 indica que ela De Roever E.W.F., Lafon J.M., Delor C., Rossi P., in 10 July 2020.
Cocherie A., Guerrot C., Potrel A. 2003. The Bakhuis Fraga L.M. & Haddad R.C. 1999. Granitos tipo-A
inclui terrenos caracterizados por embasamentos com evolução tectônica e idades ultra-high temperature granulite belt: I. Petrological na porção norte de Roraima: aspectos petrográficos e
distintas, em contraste com a província Maroni-Itacaiúnas essencialmente ligada a and geochronological evidence for a counter clockwi- geoquímicos da Suíte Intrusiva Saracura. In: Simpósio de
duas orogêneses do ciclo Transamazônico. se P-T path at 2.07-2.05 Ga. Géologie de la France, Geologia da Amazônia. Anais... 6:528-531.
2-4:175-205. Fraga L.M.B., Haddad R.C., Reis N.J. 1997. Aspec-
Dreher A.M., Fraga L.M., Ragatky D., Grazziotin tos geoquímicos das rochas granitóides da Suíte Intrusiva
H., Reis N.J. 2009. O Grupo Cauarane na Folha Vila De Pedra Pintada, norte do Estado de Roraima. Revista Brasi-
Tepequém, Roraima. In: 11º. Simpósio de Geologia da leira Geociências, 27:3-12.
Referências South America. Institute of Geological Sciences Overseas Amazônia. Manaus, Amazonas, Sociedade Brasileira de Fraga L.M.B., Macambira M.J.B., Dall’Agnol R., Costa
Division, London, Memoir 4, 112 p. Geologia – Núcleo Norte, Anais, p. 138-141. J.B.S. 2009c. 1.94-1.93 Ga charnockitic magmatism from
Almeida M.E., Ferreira A.L., Pinheiro S.S. 2003. Bonilla A., Frantz J.C., Charão-Marques J., Cramer Faria M.S.G., Santos J.O.S., Luzardo R., Hartman the central part of the Guiana Shield, Roraima, Brazil: sin-
Granitic association of the western state Roraima, Pari- T., Franco J.A., Amaya Z. 2016. Magmatismo Rapaki- L.A. 2002. The oldest arc of the Roraima State, Brazil – gle zircon evaporation data and tectonic implications. Jour-
ma domain, Guiana shield, Brazil. Géologie de la France, vi em la cuenca media del rio Inírida, departamento de 2.03 Ga: zircon SHRIMP U-P geochronology of Anauá nal of South American Earth Sciences, 27:247-257.
2-4:135-159 Guainía, Colombia. Boletin de Geologia, 38(1). https:// Complex. In: 41º. Congresso Brasileiro de Geologia. Fraga L.M.B., Reis N.J., Bettiolo L., Scandollara J.,
Almeida M.E., Macambira M.J.B., Oliveira E.C. doi.org/10.18273/revbol.v38n1-2016001. João Pessoa, Paraíba, SBG, Anais, 1:306. Dreher A.M. 2013. Carta geológica da folha Ilha de Ma-
2007. Geochemistry and zircon geochronology of the Bonin B. 2004. Do coeval mafic and felsic magmas Fraga L.M.B. & Cordani U.G. 2019. Early Orosi- racá NA.20-X-A. Http://geosgb.cprm.gov.br. Downloaded
I-type high-K calc-alkaline and S-type granitoid rocks in post-collisional to within-plate regimes necessarily rian tectonic evolution of the Central Guiana Shield: in 01 July 2019.
from southeastern Roraima Brazil: Orosirian collisional imply two contrasting, mantle and crustal, sources? A insights from new U-Pb SHRIMP data. In: 11th Inter Fraga L.M., Reis N.J., Dall’Agnol R. 2009d. The
magmatism evidence (1.97-1.96 Ga) in central portion review. Lithos, 78:1-24. Guiana Geological Conference: Tectonics and Metal- Cauarane–Coeroeni belt, the main tectonic feature of
of Guyana Shield. Precambrian Res, 155:69-97. Castro J.M.R., Silva R.C.S., Rosa-Costa L.T., Barbo- logenesis of NE South America. Paramaribo, Suriname, the central Guyana Shield, northern Amazonian Craton.
Barreto C.J.S., Lafon J.M., Rosa-Costa L.T., Dantas sa J.P.O., 2014, Mapa geológico da folha Rio Trombetas Geologisch Mijnbouwkundige Dienst Suriname. Mede- Extended Abstract. In: 11º. Simpósio de Geologia da
E.L. 2013. Paleoproterozoic granitoids from the nor- – SA.21-X-A. Escala 1:250.000. CPRM - Companhia de deling, 29:59-62. Amazônia. Manaus, Amazonas, Sociedade Brasileira de
thern limit of the Archean Amapá block (Brazil), Southe- Pesquisa de Recursos Minerais, Programa Geologia do Fraga L.M.B., Cordani U.G., Reis N.J., Nadeau S., Geologia – Núcleo Norte, Anais, p. 142-145.
astern Guyana Shield: Pb-Pb evaporation in zircons and Brasil – PLGB. Maurer V.C. 2017a. U-Pb SHRIMP and LA_ICP-MS new Fraga L.M.B., Vazquez M.L., Almeida M., Dreher
Sm-Nd geochronology. Journal of South American Earth Cordani U.G., Fraga L.M., Reis N., Tassinari C.C.G., data for different A-Type granites of the Orocaima Ig- A.M., Reis N., 2017c. A influência da orogenia eo-oro-
Sciences, 45:97-116. Brito-Neves B.B. 2010. On the origin and tectonic signi- neous Belt, Central Guyana Shield, Northern Amazonian siriana na formação da SLIP Uatumã, parte central do
Barron C.N. 1969. Notes on the stratigraphy of ficance of the intra-plate events of Grenvillian-type age Craton. In: 15º. Simpósio de Geologia da Amazônia. Cráton Amazônico. In: 15º Simpósio de Geologia da
Guyana – Geol. Surv. Guyana 6: II-1-II-28. in South America: A discussion. Journal of South Ameri- Belém, Pará, Sociedade Brasileira de Geologia – Núcleo Amazônia. Belém, Pará, Sociedade Brasileira de geologia
Berrangé J.P. 1977. The geology of southern Guyana, can Earth Sciences, 29(1):143-159. Norte, Anais, p. 482-485. – Núcleo Norte. Anais. p. 405-408.

108 109
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 5

Gaudette H.E., Mendoza V., Hurley P.M., Fairbairn Reis N.J., Teixeira W., Hamilton M.A., Bispo-San-
H.W. 1978. Geology and Age of the Parguaza Rapakivi
Granite. GSA Bulletin, 89:1335-1340.
tos F., Almeida M.E., D’Agrella-Filho M.S. 2013. Ava-
navero mafic magmatism, a Late Paleoproterozoic LIP
Geologia e evolução crustal do centro-norte
Gaudette H.E., Olszewski Jr. W.J., Santos J.O.S.
1997. Geochronology of Precambrian Rocks from the
in the Guiana Shield, Amazonian Craton: U-PbID-TIMS
baddeleyite, geochemical and paleomagnetic evidence.
do Cráton Amazônico e correlações
Northern Part of Guiana Shield, State of Roraima, Brazil.
Journal of South American Earth Sciences, 9:185-195.
Lithos, 174:175-195.
Rosa-Costa L.T., Lafon J.M., Delor C. 2006. Zir-
com as províncias geocronológicas
Gibbs A.K. & Barron C.N. 1993. Geology of the Guia- con geochronology and Sm-Nd isotopic study: fur-
na Shield. New York, Oxford University Press, 246 p. ther constraints for the geodynamical evolution du- Marcelo Esteves Almeida,
Heinonen A.P., Fraga L.M., Rämö O.T., Dall’Agnol ring Archean and Paleoproterozoic in the Southeast Serviço Geológico do Brasil – CPRM
R., Mänttäri I, Andersen T. 2012. Petrogenesis of the of Guiana Shield, north of Brazil. Gondwana Resear- (marcelo.esteves@cprm.gov.br).
igneous Mucajaí AMG complex, northern Amazonian ch, 10:277-300.
craton: Geochemical, U-Pb geochronological, and Nd Rosa-Costa L.T., Monié P., Lafon J.M., Arnaud N.O. Rielva Solimairy Campelo Nascimento,
-Hf-O isotopic constraints. Lithos, 151:17-34. 2009. 40Ar–39Ar geochronology across Archean and Pa- Universidade Federal do Amazonas,
Hildebrand R.S., Buchwaldt R., Bowring S.A. 2014. leoproterozoic terranes from southeastern Guiana Shield Departamento de Geociências Marcelo Esteves Almeida.
On the allochthonous nature of auriferous greensto- (north of Amazonian Craton, Brazil): Evidence for con- (rielva@ufam.edu.br).
nes, Guayana shield, Venezuela. Gondwana Research, trasting cooling histories. Journal of South American
26:1129-1140. Earth Sciences, 27:113-128.
Klaver M., Roever E.W.F., Nanne J.A.M., Mason Santos J.O.S. 2003. Geotectônica dos Escudos das 1. Introdução
P.R.D., Davies G.R. 2015. Charnockites and UHT meta- Guianas e Brasil Central In: Bizzi L.A., Schobbenhaus C.,
morphism in the Bakhuis Granulite Belt, western Surina- Vidotti R.M., Gonçalves J.H. (eds.). Geologia, Tectônica
me: Evidence for two separate UHT events. Precambrian e Recursos Minerais do Brasil: texto, mapas e SIG. Brasí- O estado de Roraima e, em especial, o nor-noroeste do Amazonas,
Research, 262:1-19. lia, CPRM-Serviço Geológico do Brasil, p. 169-226. ainda constituem uma das regiões do Brasil menos conhecidas geologi-
Kroonenberg S.B. 1976. Amphibolite facies and gra- Santos J.O.S., Pinto V., McNaughton N.J., Silva
nulite facies metamorphism in the Coeroeni Lucie area, L.C. 2011. O magmatismo Serra Grande em Roraima: camente. O baixo número de trabalhos sistemáticos de reconhecimen-
southwestern Suriname. Geol. Mijnbouwkund. Dienst Formação co-genética de granito rapakivi e charnocki- to geológico básico tem prejudicado a descoberta do seu verdadeiro
Suriname Meded, 25:109-289. to em ca. 1430 Ma. In: 12º. Simpósio de Geologia da potencial metalogenético, impedindo a região de se desenvolver com
Kroonenberg S.B., De Roever E.W.F., Fraga L.M., Amazônia. Boa Vista, Roraima, Sociedade Brasileira
Reis N.J., Faraco T., Lafon J.M., Cordani U., Wong T.E. de Geologia – Núcleo Norte, Resumos Expandidos, p. base em uma indústria mineral sustentável. Esta situação também tem
2016. Paleoproterozoic evolution of the Guiana Shield in 194-197. dificultado a definição de modelos evolutivos robustos para essa por-
Suriname: a revised model. Neth. J. Geosci., 95:491-522. Sidder G.B. & Mendoza V.S. 1995. Geology of the Rielva Solimairy
Lafon J.M., Costa L.T.R., Milhomem Neto J. 2019. Venezuelan Guayana Shield and its relation to the Geolo-
ção do Cráton Amazônico. Campelo Nascimento.
Sr-Nd-Hf isotopic tracing of Archean continental crust gy of the entire Guayana Shield. U. S. Geol. Survey Bull., A região objeto da presente síntese está localizada na porção centro-
in the Brazilian part of the Southeasten Guyana Shield: 2124(B):1-33. sudoeste do Escudo das Guianas, mais precisamente no centro-norte do
A review. In: 11th Inter Guiana Geological Conferen- Swapp S.M. & Onstott T.C. 1989. P-T Time Cha-
ce: Tectonics and Metallogenesis of NE South America. racterization of the Transamazonian Orogeny in the
Cráton Amazônico. A região é integrante do modelo tectônico pioneiro
Paramaribo, Suriname, Geologisch Mijnbouwkundige Imataca Complex, Venezuela. Precambrian Research, de Cordani et al (1979) e suas adaptações (e.g., Teixeira et al., 1989;
Dienst Suriname. Mededeling, 29:121-124. 42:293-314. Tassinari e Macambira, 2004; Cordani e Teixeira, 2007), representados
Leal R.E., Lafon J.M., Rosa-Costa L.T., Dantas Tassinari C.C.G. & Macambira M.J.B. 2004. A evo-
E.L. 2018. Orosirian magmatic episodes in the Erepe- lução tectônica do Cráton Amazônico. In: Mantesso-Ne-
no caso pelos setores noroeste das províncias Ventuari-Tapajós e Rio
curu-Trombetas Domain (Southeastern Guyana Shield): to V., Bartorelli A., Carneiro C.D.R., Brito Neves B.B Negro-Juruena (figura 1). Essa última, formada entre o final do Orosi-
implications for the crustal evolution of the Amazo- (Eds.). Geologia do continente Sul-Americano: evolução riano e o início do Estateriano, reflete a continuidade dos processos de
nian Craton. Journal of South American Earth Sciences, da obra de Fernando Flávio Marques de Almeida. São
85:278-297. Paulo, Beca, p. 471-485. soft-collision e acreção, que também originaram a Província Ventuari-
Mahabier R. & De Roever E.W.F. 2019. The Cai- Tassinari C.C.G., Munhá J.M.V., Teixeira W., Pa- Tapajós, como recentemente ilustrado para a extremidade noroeste do
cara-Dalbana Belt, a Belt of Felsic and Intermediate lácios T., Nutman A.P., Sousa C.S., Santos A., Calado Escudo das Guianas, no território colombiano (Cordani et al., 2016).
Metavolcanics of 1.99 Ga in the Guiana Shield, and B. 2004. The Imataca Complex, NW Amazonian Cra-
Probably Across, in the Guapore Shield. In: 11th Inter ton, Venezuela: crustal evolution and integration of Naturalmente, o avanço no entendimento da Cráton Amazônico,
Guiana Geological Conference: Tectonics and Metal- geochronological and petrological cooling histories. com base em novos dados isotópicos aliados ao progresso da geologia
logenesis of NE South America. Paramaribo, Surina- Episodes, 27:3-12. regional, levou à identificação de vários domínios e localmente subdo-
me, Geologisch Mijnbouwkundige Dienst Suriname. Teixeira W., Tassinari C.C.G., Mondin M. 2002. Ca-
Mededeling, 29:7-10. racterísticas Isotópicas (Nd e Sr) do Plutonismo Intrusi- mínios (e.g., Santos, 2003; Reis et al., 2003, 2006; Almeida e Macam-
Reis N.J., Cordani U.G., Almeida A.E., Fraga vo no Extremo NW do Cráton Amazônico, Venezuela, e bira, 2009). No capítulo 4, alguns desses domínios foram incluídos em
L.M.B., Wahnfried I., Oliveira V., Maurer V.C. 2017. Implicações para a Evolução Paleoproterozóica. Geolo- cinturões e renomeados com base no entendimento atual dos autores so-
Novas idades U-Pb SHRIMP da região Jauaperi-Moci- gia USP. Série Científica, 2:131-141.
dade-Demêni, sul do Escudo das Guianas, Cráton Ama- Vasquez M.L., Cordani U.G, Sato K., Barbosa J.P.O., bre a evolução dessa parte do Escudo das Guianas. No presente capítulo
zônico. In: 15º. Simpósio de Geologia da Amazônia. Faraco M.T.L. Maurer V.C. (submetido). 2019. U-Pb SH- serão mantidas as denominações tradicionais da literatura mas, tentati-
Belém, Pará, Sociedade Brasileira de Geologia – Núcleo RIMP dating of basement rocks of the Iriri-Xingu Do- vamente, será feito um paralelo com as denominações apresentadas nos
Norte, Anais, p. 463-467. main, Central Amazonian Province, Amazonian Craton,
Reis N.J., Faria M.S.G., Fraga L.M., Haddad R.C. Brazil. Brazilian capítulos anteriores (figura 3 do capítulo 1, na página 50), bem como
2000. Orosirian calcalkaline volcanism and the Oro- Velasquez C.A.T. 2015. Análise das petrotramas das uma comparação com as províncias geocronológicas de Tassinari e Ma-
caima event in the Northern Amazonian Craton, Eas- rochas charnockíticas da Serra da Prata, Mucajaí, RR. cambira (2004) (figura 1). Na região enfocada, destacam-se os seguintes
tern Roraima State, Brazil. Revista Brasileira Geociên- Dissertação de Mestrado, Instituto de Ciências Exatas,
cias, 30:380-383. Universidade Federal do Amazonas, 202 p. domínios, em ordem decrescente de idade e correspondência, quando

110 111
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 5

Rapel no noroeste
de mapeamento
da Folha Ilha de
Maracá, em 2009.

2.2 Domínio Surumu


O Domínio Surumu, também denominado de Orocaima (domínio 23 na figura 3
Figura 1: Províncias Geo- do capítulo 1), está representado basicamente pelas associações vulcano-plutônicas
cronológicas do Cráton for o caso, a novas denominações (ver capítulo 4): Guiana Central (Cin- Aricamã-Cachoeira da Ilha (tipo A) e Pedra Pintada-Surumu (tipo I). Essas unidades
Amazônico segundo a turão Cauarane-Curuni), Surumu (Cinturão Ígneo Orocaima), Guiana
concepção de Tassinari estão estruturalmente controladas por lineamentos E-W a WNW-ESE, localmente
e Macambira (2004) e Central (Cinturão Rio Urubu), Parima, Uatumã-Anauá, Imeri e Alto Rio NW-SE, vinculadas a um estágio orogenético tardi a pós-colisional que formou o
compartimentação em Negro. Apresenta-se abaixo os principais processos tectono-magmáticos Cinturão Cauarane-Curuni (1,99-1,94 Ga; e.g., Fraga et al., 2009). Uma extensa
domínios estruturais (Reis envolvidos na formação desses domínios.
et al., 2003, 2006). cobertura sedimentar, o Supergrupo Roraima (1,96-1,87 Ga), recobre esse embasa-
mento vulcano-plutônico junto à fronteira com a Guiana e Venezuela.
Nesse domínio também ocorrem rochas metassedimentares na fácies granulito
2. Roraima e Nor-nordeste do Amazonas: domínios (Grupo Cauarane; Montalvão et al., 1975). Já no limite com o Domínio Parima,
Parima, Surumu, Guiana Central, Uatumã-Anauá ocorrem corpos plutônicos máfico-ultramáficos (1,88 Ga, Uraricaá-Igarapé Tomás;
Fraga et al., 2010), bem como diques máficos da LIP Avanavero (ca. 1,79-1,78 Ga,
2.1 Domínio Parima Reis et al., 2013) e lamprófiros da Serra do Cupim (Fraga et al., 2010).
No noroeste de Roraima, a Província Ventuari-Tapajós (figura 1) têm
sua evolução crustal baseada em pelo menos um sistema de arcos magmá- 2.3 Domínio Guiana Central
ticos, representado no Domínio Parima ou Cinturão Cauarane-Curuni O Domínio Guiana Central (figura 1), ocupa a porção centro-norte de Roraima
(domínio 25 na figura 3 do capítulo 1). O primeiro estágio evolutivo é e mantém correspondência com o Cinturão Guiana Central ou Faixa K’Mudku (e.g.,
marcado por um orógeno acrecionário relacionado ao sistema de arcos Santos et al., 2000, 2006), aqui correspondente aos domínios Cauarane-Curuni e
Anauá-Trairão (2,03-2,04 Ga), onde ocorrem bacias relacionadas (e.g., Urubu (respectivamente, domínios 22 e 24 na figura 3 do capítulo 1), se prolongan-
Cauarane e Parima, tipo greenstone?). Num segundo e subsequente está- do para nordeste (através da Guiana e Suriname) e mantendo limites para sudoeste
gio, a fase acrescionária dá lugar a um magmatismo tardi a pós-colisional com o Domínio Imeri (Reis et al., 2006). A extensão do domínio para norte e sul está
(1,99-1,94 Ga; e.g., Fraga et al., 2009), ou a um novo sistema de arcos em grande parte encoberta pela sedimentação cenozoica ou obliterada por intrusões
magmáticos (e.g., Santos et al., 2004). As principais estruturas estão rela- graníticas (Reis et al., 2003). O embasamento ortoderivado desse domínio é compos-
cionadas a direções NW a E-W, associadas a zonas de cisalhamento des- to essencialmente por (meta)granitoides, gnaisses, milonitos (Complexo Rio Urubu),
trais, de escala regional. Para o episódio vulcano-plutônico compreendido granulitos e charnockitos deformados (Suíte Serra da Prata), com idades variando de
entre 1,91 e 1,86 Ga é admitido um processo de underplating para a sua 1,96-1,92 Ga (e.g., Gaudette et al., 1997; Fraga, 2002; Fraga et al., 2008). Restos
gênese (slab break off?; Lamarão et al., 2002; Almeida, 2006), interpre- de sucessões de rochas metavulcanossedimentares de alto grau também são descritas
tado como uma SLIP (e.g., SLIP Uatumã; Klein et al., 2012), ou alter- (2,04-1,97 Ga, Grupo Cauarane) (ver capítulo 4).
nativamente uma relação com um último sistema de arcos magmáticos As rochas do Domínio Guiana Central apresentam-se intensamente metamorfiza-
(e.g., Santos et al., 2004). Granitos mesoproterozoicos intrusivos nesse das (alcançando localmente a anatexia) e polideformadas, ocorrendo com lineamentos
embasamento, como os relacionados à Suíte Surucucus (mineralizados em estruturais dominantemente NE-SW a ENE-WNW, coincidentes com a direção da Fai-
cassiterita) em Roraima, são frequentes no domínio Parima. xa K’Mudku. A região registra ainda uma associação AMG mesoproterozoica (1,55-

112 113
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 5

1,52 Ga; Fraga, 2002; Heinonen et al., 2012),


composta por granitos rapakivi e mangeritos
da Suíte Mucajaí e por anortositos e gabros do
Anortosito Repartimento. Eventos magmáticos
mesozoicos estão representados por intrusões Veículo da CPRM atola-
do próximo a fronteira
e derrames máficos (Taiano e Apoteri) e suítes Brasil-Guiana durante os
alcalinas (e.g., Apiaú; Brandão e Freitas, 1994). trabalhos de mapeamento
da fronteira, em 2011.
2.4 Domínio Uatumã-Anauá
Esse domínio está localizado entre o sudeste
do estado de Roraima e o nordeste do Amazonas
(domínio 26 na figura 3 do capítulo 1), em área li-
mítrofe de províncias Ventuari-Tapajós e Amazônia dioríticos, frequentemente milonitizados e por vezes migmatizados, além de raros
Central (figura 1). Divide-se em dois subdomínios anfibolitos. As idades obtidas em zircão variam de 1,83-1,78 Ga para a sua for-
(Almeida e Macambira, 2009). O subdomínio nor- mação (e.g., Almeida et al., 2000; Santos et al., 2000; Santos, 2003; Cordani et
te é caracterizado por um predomínio de metagra- al., 2016; Rossoni et al., 2017). Sucessões metassedimentares com discreta contri-
nitoides cálcio-alcalinos e gnaisses subordinados, buição vulcânica félsica ocorrem subordinadamente, estando representadas pelas
por vezes migmatíticos, da Suíte Martins Pereira, e formações Aracá, Daraá e Neblina (e.g., Almeida et al., 2000). Estudos posteriores
por granitos tipo S Serra Dourada (1,97-1,96 Ga; subdividiram esse embasamento ortoderivado nas fácies Santa Isabel, São Jorge,
Umberto Cordani na Serra de Almeida et al., 2007). Esses granitoides são inter- Cumati e Tarsira (Almeida et al., 2011; Carneiro et al., 2017) em função das suas
Tepequén, Roraima, durante pretados tanto como sendo sin- a tardi-colisionais particularidades composicionais e texturais, e que estão sintetizadas abaixo.
trabalho de campo em 2007. A fácies Santa Isabel do Rio Negro é constituída de (hornblenda)-biotita or-
(Almeida et al., 2007), quanto pós-colisionais (Fraga et al., 2009). São
intrusivos em inliers do embasamento tipo TTG (Faria et al., 2002) per- tognaisses e metagranitoides tonalíticos a monzograníticos, além de localmente
tencentes ao Arco Anauá-Trairão (2,04-2,03 Ga, Complexo Anauá) e nas anfibolitos/metaquartzo dioritos e migmatitos. Possui foliação predominante para
sucessões metavulcanossedimentares associadas (Grupo Uai-Uai). ENE-WSW a NE-SW. Essa fácies prepondera no setor centro-oriental do domínio,
O subdomínio sul é marcado essencialmente por granitoides isó- nos arredores de Santa Isabel do Rio Negro (AM). A fácies São Jorge é constituída
tropos ou pouco foliados (Almeida e Macambira, 2009) de filiação por leucognaisses monzograníticos bandados, tendo biotita e espessartita como os
cálcio-alcalina, de alto-K, tipo I, com idades variando de 1,90-1,88 Ga principais máficos, por vezes dobrados, com dobras desarmônicas. Apresentam
(granitos Caroebe e Igarapé Azul; Suíte Água Branca). Duas gerações foliação preferencial segundo NW-SE com mergulhos de alto ângulo dominan-
de granitoides com filiação subalcalina, tipo A, com idades variando temente para SW. A fácies Tarsira é dominada por biotita metagranitoides por-
de 1,87-1,86 Ga (Suíte Mapuera) a 1,81 Ga (Suíte Moderna) também firíticos (zonas de mais baixo strain) e augen gnaisses (zonas de mais alto strain)
ocorrem neste subdomínio. Subordinado vulcanismo félsico cogené- acinzentados, por vezes migmatizados, associados a zonas de cisalhamento dúcteis
tico e contemporâneo ao plutonismo de 1,90-1,86 Ga é atribuído ao de direção WNW-ESE. Rodrigues (2016) e Carneiro et al. (2017) descrevem três
Grupo Iricoumé (Santos, 2003; Almeida, 2006), que se estende para fases deformacionais principais relacionadas a um metamorfismo regional retro-
sul, dominando amplamente na região nordeste do Amazonas (e.g., progressivo (as duas primeiras em fácies granulito a anfibolito alto e a última em
Valério et al., 2009; Marques et al., 2014). fácies xisto verde), com temperaturas variando de 823oC a 225oC, podendo alcan-
çar 5,84 kbars de pressão. Essa fácies é mais comum no setor centro-ocidental do
domínio, a montante de São Gabriel da Cachoeira (AM). A fácies Cumati ocorre
3. Noroeste do Amazonas: dominantemente no Rio Xié, setor noroeste do domínio. Apresenta-se como or-
tognaisses tonalíticos a granodioríticos, polidobrados (dobras isoclinais, fechadas a
domínios Alto Rio Negro e Imeri
apertadas, ptigmáticas e desarmônicas), localmente apresentando estágio inicial de
migmatização, cujas foliações principais possuem direções NW-SE e WNW-ESE.
3.1 Domínio Imeri
As rochas do embasamento no domínio Imeri são intrudidas por granitoides tipo A
O Domínio Imeri (domínio 28 na figura 3 do capítulo 1, e fi-
das suítes Marauiá, Marié-Mirim e Tiquié, com idades ao redor de 1,75 Ga (Almeida et
gura 1), correspondente a setores das províncias Ventuari-Tapajós e
al., 2011), considerados com tardi- a pós-orogênicos. Os corpos dessas suítes em geral
Rio Negro-Juruena, possui embasamento ortoderivado (Complexo
possuem forte controle estrutural segundo NE-SW e secundariamente NW-SE. Intrusões
Cauaburi; e.g., Lima e Pires, 1985; Reis et al., 2006), formado por
graníticas mais jovens (ca. 1,52 Ga) estão relacionadas ao plutonismo tipo S e I, respecti-
gnaisses monzograníticos a granodioríticos, localmente tonalíticos e

114 115
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 5

vamente, pertencentes às suítes Igarapé Reilau (Almeida et al., 2000) e Rio Uaupés (e.g., Domínios Associações Idades Província
Dall’Agnol e Macambira, 1992). Granitoides vinculados a esse mesmo evento (Inha- Terrenos tipo TTG e
moin, Jauari e Curicuriari) estão distribuídos em todo o domínio, contendo localmente Parima 2,04-1,98 Ga Ventuari-Tapajós
greenstone belts
indícios de columbita-tantalita, cassiterita, água-marinha e outras gemas. Associação Vulcano-
Surumu/ Ventuari-Tapajós/
As Alcalinas Seis Lagos (ca. 1.33 Ga; Rossoni et al., 2017) estão restritas a corpos plutônica e sequências 1,98-1,87 Ga
circulares profundamente alterados (Fe carbonatitos?), e hospedam o mais importante Orocaima vulcanossedimentares Maroni-Itacaiúnas
depósito de classe mundial de Nb (reservas totais ca. 80 Mt Nb2O5), associado a ETR, Terrenos granito-gnáis-
Y, Fe, Ti, V, Zn e Ba (e.g., Viegas Filho e Bonow, 1976). Eventos mais significativos de Guiana Central/ sicos médio a alto grau; 1,95-1,91 Ga;
natureza máfica só ocorrem no domínio Imeri entre o Neoproterozoico e o Triássico. sucessões metavulcanosse- < 2,20 Ga Ventuari-Tapajós/
A Suíte Tapuruquara (1,17 Ga; Santos et al., 2009) representa o mais antigo evento Urubu ou dimentares
Maroni-Itacaiúnas?
máfico (e ultramáfico) registrado, sendo formado por corpos circulares de poucos qui- Cauarane-Curuni Associações do tipo AMCG 1,54-1,50 Ga
lômetros, apresentando hornblenda gabros, olivina gabros, e mais raramente olivina Suíte alcalina 0,18 Ga
websteritos e lherzolitos, quase sempre hidrotermalizados. Duas gerações de diques Terrenos granito-gnáis-
máficos do Toniano (Diabásio Cujubim, 984-941 Ma) e Triássico (Diabásio Uaraná, sicos médio a alto grau,
242-202 Ma) são também reportadas na região (Dall’Agnol e Abreu, 1976). ~1,97 Ga Ventuari-Tapajós
sucessões metavulcanosse-
Uatumã-Anauá dimentares
3.2 Domínio Alto Rio Negro Associações
1,91-1,84 Ga Ventuari-Tapajós
Predomina no Domínio Alto Rio Negro (domínio 29 da figura 3 do capítulo 1) vulcano-plutônicas
um embasamento ortoderivado, aflorante nos rios Uaupés e Papuri (fronteira com a Terreno granito-gnáissico de
Colômbia), representado por hornblenda-biotita metagranitoides e gnaisses varian- alto grau, intrusões graníti-
do de gabro-dioritos (normalmente como enclaves de variados tamanhos) a monzo- cas tardi- a pós colisionais, 1,84-1,75 Ga
granitos, exibindo textura equigranular grossa (Complexo Querari; Almeida et al., sucessões meta(vulcano)
2011). Apresentam idades variando de 1,70-1,74 Ga (Tassinari et al., 1996; Almeida sedimentares
Imeri Rio Negro-Juruena
et al., 2011; Cordani et al., 2016). Essas rochas apresentam foliação WNW-ESE de Intrusões graníticas
1,54-1,48 Ga
alto ângulo associada a zonas de cisalhamento dúcteis destrais e alto grau metamór- sincolisionais
fico. As estruturas WNW são truncadas por foliação NE-SW, com mergulhos altos Intrusões máficas-ultramá-
para NW, associada a zonas de cisalhamento dúctil a dúctil-rúptil sinistrais e subor- ficas e alcalino-carbona- 1,33-1,17 Ga
dinadas falhas de empurrão, gerando localmente milonitos. títicas
Também estão incluídos no âmbito desse domínio, embasamento ortoderiva- Terreno granito-gnáissico
do pertencente ao Complexo Cauaburi (1,83-1,78 Ga), que serve de substrato de alto grau, sucessões 1,78-1,70 Ga
Alto Rio Negro metassedimentares Rio Negro-Juruena
para as sucessões metassedimentares das regiões do Tunuí, Caparro e Taiuaçu-
Cauera, responsáveis por hospedar várias ocorrências de ouro (stratabound ou Intrusões graníticas
1,54-1,48 Ga
sincolisionais
aluvionar) e mais raramente, diamante (aluvionar). Os paragnaisses (Taiuaçu-
Cauera) e quartzitos micáceos (Tunuí e Caparro), pertencentes a essa sucessão Tabela 1: Quadro
metassedimentar, estão localmente em contato gradacional ou na forma de xenó- sintético comparativo
no alto curso do rio Içana, possuem forma elíptica a subcircular. A entre as associações
litos, com granitos de derivação crustal (ca. 1,52 Ga, Suíte Içana). Os granitos a colocação desses corpos aparenta estar controlada por estruturas petrotectônicas dos
duas micas da Suíte Içana (e.g., Lima e Pires, 1985) são gerados a partir da fusão NE-SW. Pela forma de ocorrência a assinatura geofísica, esses plú- domínios tectono-estru-
turais e sua relação com
parcial desses paragnaisses, apresentando idade de cerca 1,52 Ga (Almeida et tons podem ser correlacionados com os granitos Inhamoin (ca. 1,48 as províncias geocro-
al., 1997) e foliação de fluxo magmático e metamórfica nas direções NE-SW a Ga) ou a eventos mais jovens (1,30 Ga?). nológicas de Tassinari e
WNW-ESE. Veras et al. (2018) sugerem origem ortoderivada (ou híbrida) para Macambira (2004).
outros granitos de natureza crustal, representados por biotita granitos porfirí-
ticos. Além de quartzitos e paragnaisses, esses últimos quase sempre dobrados 4. Discussão, integração dos domínios
e migmatizados, o Grupo Tunuí inclui ainda anfibolitos, BIFs, xistos e filitos
em províncias e conclusões
(Reis et al., 2006). De acordo com Veras et al. (2018), os referidos paragnaisses
são mais antigos (<1,80 Ga) do que os quartzitos, devendo, portanto, serem
A compartimentação das províncias geocronológicas do Cráton
desmembrados do Grupo Tunuí (<1,72 Ga, Quartzito Serrinha; Santos, 2003).
Amazônico em domínios tectono-estratigráficos, apesar de auxiliar
Granitos porfiríticos cinza rosados, com altos valores radiométricos e aflorantes
no entendimento das particularidades de cada setor do cráton, nem

116 117
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 5

sempre é bem-sucedida. Por exemplo, existem ainda alguns domínios distribuí- de Nd são igualmente homogêneos, apresen-
dos em mais de uma província como os domínios Uatumã-Anauá (contidos nas tando idades modelo em geral inferiores a 2,2
províncias Amazônia Central e Ventuari-Tapajós) e Imeri (contidos nas províncias Ga e valores de épsilon variando de discre-
Rio Negro-Juruena e Ventuari-Tapajós) (figura 1). Os demais domínios guardam tamente positivos a discretamente negativos
certa correspondência com as províncias definidas por Tassinari e Macambira (e.g., Almeida et al., 2011). Esse padrão se
(2004), a saber: Parima, Surumu, Guiana Central (Ventuari-Tapajós) e Alto Rio assemelha ao encontrado na região que vai do
Negro (Rio Negro-Juruena). Contudo, nem sempre tem havido consenso sobre sul-sudeste do Amazonas até o norte do Mato
se a história geológica dos domínios tenha (ou não) relação com o tipo de crosta Grosso (Complexo Juruena), continuidade da
admitido para a respectiva província. A tabela 1 apresenta um quadro sintético Província Rio Negro-Juruena. Nenhuma evi-
comparativo entre as associações petrotectônicas dos domínios tectono-estrutu- dência de associações petrotectônicas simila-
rais e sua relação com as províncias geocronológicas. res às encontradas na Província Ventuari-Ta-
Um caso de sucesso desse “encaixe” é o domínio Parima, que apresenta muitas pajós foram descritas até o momento.
semelhanças com os domínios Tapajós e Peixoto de Azevedo (associações petro- Já o Domínio Alto Rio Negro está inte-
tectônicas, idades, mineralizações auríferas etc.), situadas na parte sul do cráton. gralmente inserido na Província Rio Negro-
Esses domínios ocorrem em continuidade, formando uma faixa aproximadamen- Juruena, apresentando dois conjuntos de
te NW-SE, teoricamente contínua, definida pela Província Ventuari-Tapajós (e.g., embasamento (Almeida et al., 2011). O mais
Tassinari e Macambira, 2004). Outro exemplo de “encaixe” perfeito seria o Do- antigo deles, mais frequente no setor leste do
mínio Surumu/Orocaima, que poderia ser interpretado como representante da domínio, é o mesmo observado no Domínio Marcelo Esteves
fase final evolutiva do orógeno Transamazônico (Província Maroni-Itacaiúnas), Imeri (mesmas particularidades composicionais e idades). O em- Almeida e Rielva
ou ainda estar relacionado a um cinturão mais jovem, como o Cauarane-Curu- basamento mais jovem domina a oeste, junto à fronteira com a Solimairy Cam-
pelo Nascimento,
ni. Outra possibilidade seria considerar o Domínio Surumu como pertencente Colômbia, apresentando-se como uma série cálcio-alcalina mais durante trabalho
à Província Ventuari-Tapajós, uma vez que há forte correspondência (idades de expandida e com idades entre 1,75 e 1,70 Ga. Dados isotópicos de de campo, em
1,99-1,96 Ga, magmatismo cálcio-alcalino, idades modelo riacianas etc.) com o Nd são escassos, mas sugerem uma crosta com algum componente julho de 2016.
magmatismo do setor orogênico (Suíte Creporizão e Vulcânicas Vila Riozinho) juvenil mais acentuado (e.g., Santos, 2003; Almeida et al., 2011).
do Domínio Tapajós, no sul do Cráton Amazônico. Embasamentos com essas características podem ser identificados
O Domínio Guiana Central/Urubu apresenta embasamento regional com in- também na continuidade da Província Rio Negro-Juruena, a sul,
tervalo de idades entre 1,95 e 1,91 Ga e quimismo variando de subalcalino tipo materializado, por exemplo, pelo Complexo Jamari (Scandolara,
A a cálcio-alcalino tipo I (Fraga, 2002), submetido a eventos metamórficos-de- 2006), na região nordeste de Rondônia.
formacionais policíclicos e com idades modelo de Nd também riacianas (Sato e Apesar do claro sucesso do modelo evolutivo apresentado, al-
Tassinari, 1997; Fraga, 2002). Aparentemente, constituem um caso particular no gumas dificuldades de correlação entre domínios e províncias são
escudo, uma vez que suas associações petrotectônicas não guardam semelhança ainda visíveis. A dificuldade de compreensão da natureza do “en-
nem com aquelas existentes nos domínios Tapajós e Peixoto de Azevedo no setor caixe” entre domínios versus províncias decorre principalmente da
SE da Província Ventuari-Tapajós, nem com aquelas existentes nos terrenos ria- escassez de estudos geológicos sistemáticos de detalhe, sobretudo
cianos da Província Maroni-Itacaiúnas. Na proposta de Fraga et al. (2009), esse cartográficos e litoestratigráficos, refletindo a insuficiência no co-
domínio está incluído também no cinturão Cauarane-Curuni. nhecimento geológico básico. Além disso, os atuais dados geofísicos
Assim como o Domínio Parima, o Domínio Uatumã-Anauá (incluído ao longo do da região remontam a década de 1980, sendo necessária a realiza-
tempo em duas diferentes províncias: Amazônia Central e Ventuari-Tapajós), talvez ção de aerolevantamentos de alta resolução para magnetometria e
seja aquele que apresente as maiores semelhanças com o Domínio Tapajós. Essas se- gamaespectrometria em boa parte da Amazônia ocidental. Também
melhanças se traduzem na existência de dois subdomínios, norte e sul (Almeida e Ma- são fundamentais os levantamentos sísmicos e gravimétricos para a
cambira, 2009), os quais guardam correspondência tectônica, respectivamente, com obtenção de uma tomografia da crosta, auxiliando melhor o deba-
o subdomínio orogênico e o pós-orogênico do Domínio Tapajós (Klein et al., 2001). te sobre a arquitetura da litosfera, permitindo, consequentemente,
O Domínio Imeri, no contexto do modelo de províncias geocronológicas, a elaboração (ou a revisão) de modelos evolutivos cada vez mais
está incluído tanto na província Ventuari-Tapajós (a leste), quanto na Província realísticos para esse setor do cráton. Além disso, um maior aporte
Rio Negro-Juruena (a oeste). Entretanto, o embasamento regional desse domínio de dados analíticos (químicos, isotópicos e geocronológicos), pode
(gnaisses e granitoides cálcio-alcalinos), mostra com idades variando de 1,81-1,76 contribuir para o entendimento e discussão sobre os processos que
Ga, e raros registros mais antigos, que podem alcançar 1,85 Ga, sobretudo na envolvem a interação manto-crosta, permitindo aperfeiçoar o mo-
Venezuela (e.g., Santos, 2003; Almeida et al., 2000, 2011). Os dados isotópicos delo evolutivo vigente ou propor novas possibilidades.

118 119
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 5

Referências folha NA.19 Pico da Neblina. In: 29º. Congresso Brasi- chronology of the Paleoproterozoic magmatism of Vila Santos J.O.S., Hartmann L.A., Gaudette H.E.,
leiro de Geologia. Ouro Preto, Proceedings, 2:321-350. Riozinho, Tapajós Gold Province, Amazonian Craton, Groves D.I., McNaughton N.J., Fletcher I.R. 2000. A
Almeida M.E. 2006. Evolução Geológica da porção Dall’Agnol R. & Macambira M.J.B. 1992. Titanita- Brazil. Precambrian Research, 119:189-223. https://doi. new understanding of the provinces of the Amazon
Centro-Sul do Escudo das Guianas com base no estudo biotita granitos do Baixo Rio Uaupés, Província Rio Ne- org/10.1016/S0301-9268(02)00123- Craton based on integration of field mapping and
geoquímico, geocronológico e isotópico dos granitoides gro, Amazonas. Parte I: geologia, petrografia e geocro- Lima M.I.C. & Pires J.L. 1985. Geologia da região U-Pb and Sm-Nd geochronology. Gondwana Resear-
Paleoproterozoicos do Sudeste de Roraima, Brasil. Ph.D. nologia: Revista Brasileira de Geociências, 22(1):3-14. do Alto Rio Negro – AM. In: 2º. Simpósio de Geologia ch, 3(4):453-488. https://doi.org/10.1016/S1342-
Thesis. Universidade Federal do Pará, 227 p. Faria M.S.G., Santos J.O.S., Luzardo R., Hartman da Amazônia. Belém, Pará, Sociedade Brasileira de Geo- 937X(05)70755-3
Almeida M.E., Fraga L.M., Brito M.F.L., Luzardo L.A. 2002. The oldest arc of the Roraima State, Brazil – logia – Núcleo Norte, Anais, 1:140-154. Santos J.O.S., McNaughton N.J., Almeida M.E.
R., Silva M.A. 2000. Programa Levantamentos Geoló- 2.03 Ga: zircon SHRIMP U-P geochronology of Anauá Marques S.N.S., Souza V.S., Dantas E.L., Valério 2009. Magmatismo de idade Sunsás no centro-norte
gicos Básicos do Brasil. Serra Imeri, Folhas NA.20-Y (in- Complex. In: 41º. Congresso Brasileiro de Geologia. C.S., Nascimento R.S.C. 2014. Contributions to the pe- do cráton Amazonas. In: 11º. Simpósio de Geologia da
tegral) e SA.20-V (parcial). Escala 1:500.000. Estado do João Pessoa, Paraíba, SBG, Anais, 1:306. trography, geochemistry and geochronology (U-Pb and Amazônia. Manaus, Amazonas, Sociedade Brasileira de
Amazonas, CPRM-Serviço Geológico do Brasil, Superin- Fraga L.M.B. 2002. A Associação Anortosito–Man- Sm-Nd) of the Paleoproterozoic effusive rocks from Iri- Geologia – Núcleo Norte, Anais, p. 154-157.
tendência Regional de Manaus, 93 p. gerito-Granito Rapakivi (AMG) e suas encaixantes pa- coumé Group, Amazonian Craton, Brazil. Brazilian Jour- Santos J.O.S., Van Breemen O.B., Groves D.I.,
Almeida M.E. & Macambira M.J.B. 2009. Geolo- leoproterozóicas: evolução estrutural, geocronologia e nal of Geology, 44:121-138. Hartmann L.A., Almeida M.E., Mcnaughton N.J., Flet-
gy and petrography of Paleoproterozoic granitoid rocks petrologia. Centro de Geociências, Tese de Doutorado, Montalvão R.M.G., Munis M.B., Issler R.S., Dall’ag- cher I.R. 2004. Timing and evolution of multiple pa-
from Uatumã-Anauá Domain, central region of Guyana Instituto de Geociências, Universidade Federal do Pará, nol, R., Lima M.I.C., Fernandes P.E.C.A., Silva G.G. leoproterozoic magmatic arcs in the Tapajós Domain,
Shield, southeastern Roraima, Brazil. Revista Brasileira Belém, 351 p. 1975. Geologia da folha NA.20, Boa Vista, NB.20/2I, Amazon Craton: constraints from SHRIMP and TIMS
de Geociências, 37(1):237-256. Fraga L.M.B., Dreher A.M., Faria M.S.G., Grazzio- Roraima, e parte da NA.21, Tumucumaque. ln: Brasil. zircon, baddeleyite and titanite U-Pb geochronology.
Almeida M.E., Macambira M.J.B., Oliveira E.C. tin H.F., Santos J.O.S., Reis N.J. 2009. Suite Aricamã, DNPM. Projeto RADAMBRASIL. Folha NA.20, Boa Vis- Precambrian Research, 131:73-109. https://doi.or-
2007. Geochemistry and zircon geochronology of the Magmatismo Tipo-A, pós-colisional no norte de Rorai- ta, NB.20/21, Roraima e parte da NA.21, Tumucumaque. g/10.1016/j.precamres.2004.01.002.
I-type high-K calc-alkaline and S-type granitoid rocks ma. Extended abstract. In: 11º. Simpósio de Geologia da (Levantamento de Recursos Naturais, 8). Sato K. & Tassinari C.C.G. 1997. Principais eventos
from southeastern Roraima Brazil: Orosirian collisional Amazônia. Manaus, Amazonas, Sociedade Brasileira de Reis N.J., Almeida M.E., Ferreira A.L., Faria de acresção continental no Cráton Amazônico, baseados
magmatism evidence (1.97-1.96 Ga) in central portion Geologia – Núcleo Norte, Anais, p. 375-378. M.S.G., Rizzotto G.J., Quadros M.L.E.S. 2006. Com- em idade modelo Sm-Nd, calculadas em evoluções de es-
of Guyana Shield. Precambrian Res, 155:69-97. Fraga L.M.B., Dreher A.M., Grazziotin H, Reis partimentação tectônica. In: Reis N.J., Almeida M.E., tágio único e estágio duplo. In: Costa M.L. & Angélica
Almeida M.E., Macambira M.J.B., Santos J.O.S., N.J., Farias M.S.G., Ragatky D. 2010. Geologia e Re- Riker S.L., Ferreira A.L. (orgs) Geologia e Recursos Mi- R.S. (eds.). Contribuições à Geologia da Amazônia. Be-
Nascimento R.S.C., Paquette J.L., Vasconcelos P., Luzar- cursos Minerais da folha Vila de Tepequém NA.20-X-A nerais do Estado do Amazonas. Sistema de Informações lém, SBG, 1:91-142.
do R. 2011. A New Geodynamic Model for the Nor- -III Estado de Roraima, Escala 1:100.000. Projeto Ama- Geográficas – SIG: Texto explicativo dos mapas geo- Scandolara J.E. 2006. Geologia e evolução do ter-
thwestern Amazon Craton (Amazonas, Brazil) based on jari. Manaus: CPRM, 2010. 1 CDROM. Cartografia da lógico e de recursos minerais do Estado do Amazonas. reno Jamari, embasamento da faixa Sunsas/Aguapeí,
field geology, geochemistry and geochronology data. Amazônia. Programa Geologia do Brasil (PGB). Levan- Escala 1:1.000.000. Goiânia, Serviço Geológico do centro-leste de Rondônia, sudoeste do Cráton Ama-
In: 14th Congresso Latino-Americano de Geologia. Me- tamentos Geológicos Básicos. Sistema de Informações Brasil–CPRM, p.7-32. zônico. Tese de Doutorado, Universidade de Brasília,
dellín, Colômbia, Proceedings. Geográficas (SIG). Reis N.J., Fraga L.M.B., Faria M.S.G., Almeida M.E. Brasília, 384 p.
Almeida M.E., Macambira M.J.B., Scheller T. 1997. Fraga L.M, Reis N.J., Dall’Agnol R., Armstrong 2003. Geologia do Estado de Roraima. Géologie de la Tassinari C.G.C., Cordani U.G., Nutman A.P., Sch-
Içana Intrusive Suite: 207Pb/206Pb age (zircon evapo- R. 2008. Cauarane-Coeroene Belt - The Tectonic Sou- France, 2-4:71-84. mus W.R.V., Bettencourt J.S., Taylor P.N. 1996. Geo-
ration) of muscovite-bearing granite, Amazonas State, thern Limit of the Preserved Rhyacian Crustal Domain Reis N.J., Teixeira W., Hamilton M.A., Bispo-San- chronological Systematics on Basement Rocks from the
Brazil. In: 1st South-American Symposium on Isotope in the Guiana Shield, Northern Amazonian Craton. tos F., Almeida M.E., D’Agrella-Filho M.S. 2013. Ava- Rio Negro - Juruena Province (Amazonian Craton) and
Geology. Campos do Jordão, SP, SBG/São Paulo, Exten- In: 33th International Geological Congress. Oslo, No- navero mafic magmatism, a Late Paleoproterozoic LIP Tectonic Implications. International Geology Review,
ded Abstracts, p. 31-33. rway, Norwegian Academy of Science and Letters, Pro- in the Guiana Shield, Amazonian Craton: U-PbID-TIMS 38:161-175.
Brandão R.L., Freitas A.F. 1994. Serra do Ajarani, ceedings, p.353. baddeleyite, geochemical and paleomagnetic evidence. Tassinari C.C.G. & Macambira M.J.B. 2004. A evo-
Folha NA.20.X-C-VI: relatório final. Manaus, DNPM/ Gaudette H.E., Olszewski Jr. W.J., Santos J.O.S. Lithos, 174:175-195. lução tectônica do Cráton Amazônico. In: Mantesso-Ne-
CPRM, 153 p. 1997. Geochronology of Precambrian Rocks from the Rodrigues V.O. 2016. Evolução Petrogenética e Me- to V., Bartorelli A., Carneiro C.D.R., Brito Neves B.B
Carneiro M.C., Nascimento R.S.C., Almeida M.E., Northern Part of Guiana Shield, State of Roraima, Brazil. tamorfismo das rochas ortoderivadas da litofácies Tarsira (Eds.). Geologia do continente Sul-Americano: evolução
Salazar C.A., Trindade I.R., Rodrigues V.O., Passos M.S. Journal of South American Earth Sciences, 9:185-195. no perfil entre São Gabriel da Cachoeira e Cucuí, Amazo- da obra de Fernando Flávio Marques de Almeida. São
2017. The Cauaburi Magmatic Arc: Litho-Stratigraphic Heinonen A.P., Fraga L.M., Rämö O.T., Dall’Agnol nas. Master Thesis, Departamento de Geociências, Uni- Paulo, Beca, p. 471-485.
Review and Evolution of the Imeri Domain, Rio Negro R., Mänttäri I, Andersen T. 2012. Petrogenesis of the versidade Federal do Amazonas, 70p. Teixeira W., Tassinari C.C.G., Cordani U.G., Ka-
Province, Amazonas Craton: Journal of South American igneous Mucajaí AMG complex, northern Amazonian Rossoni M.B., Bastos Neto A.C., Souza V.S., Mar- washita K. 1989. A review of the geochronology of the
Earth Sciences, 77: 310-326. craton: Geochemical, U-Pb geochronological, and Nd ques J.C., Dantas E., Botelho N.F., Giovannini A.L., Pe- Amazonian Craton: tectonic implications. Precambrian
Cordani U.G., Sato K., Sproessner W., Fernandes -Hf-O isotopic constraints. Lithos, 151:17-34. reira V.P. 2017. U-Pb zircon geochronological investiga- Research, 42:213-227. https://doi.org/10.1016/0301-
F.S. 2016. U-Pb zircon ages of rocks from the Amazonas Klein E.L., Almeida M.E., Rosa-Costa L.T. 2012. tion on the Morro dos Seis Lagos Carbonatite Complex 9268(89)90012-0.
Territory of Colombia and their bearing on the tectonic The 1.89-1.87 Ga Uatumã Silicic Large Igneous Provin- and associated Nb deposit (Amazonas, Brasil). Journal of Valério C.S., Souza V.S., Macambira M.J.B. 2009.
history of the NW sector of the Amazonian Craton: Bra- ce, northern South America. Large Igneous Provinces South American Earth Sciences, 80:1-17. The 1.90-1.88 Ga magmatism in the southernmost Gu-
zilian Journal of Geology, 46:5-35. Commission, International Association of Volcanology Santos J.O.S. 2003. Geotectônica dos Escudos das yana Shield, Amazonas, Brazil: Geology, geochemistry,
Cordani U.G., Tassinari C.C.G., Teixeira W., Basei and Chemistry of the Earth’s Interior. http://www.lar- Guianas e Brasil Central In: Bizzi L.A., Schobbenhaus zircon geochronology, and tectonic implications. Jour-
M.A.S., Kawashita K. 1979. Evolução Tectônica da Ama- geigneousprovinces.org/12nov. C., Vidotti R.M., Gonçalves J.H. (eds.). Geologia, nal of South American Earth Sciences, 28(3):304-320.
zônia com base nos dados geocronológicos. In: II Cong. Klein E.L., Almeida M.E., Vasquez M.L., Bahia Tectônica e Recursos Minerais do Brasil: texto, mapas Veras R.S., Nascimento R.S.C., Almeida M.E., Pa-
Geol. Chileno. Arica, Actas, 4:137-148. R.B.C., Quadros M.L.E.S., Ferreira A.L. (orgs.). 2001. e SIG. Brasília, CPRM-Serviço Geológico do Brasil, quette J.L., Carneiro M.C.R. 2018. Paleoproterozoic
Cordani U.G. & Teixeira W. 2007. Proterozoic ac- Geologia e recursos minerais da Província Mineral do p. 169-226. basement of Içana Domain, Rio Negro Province, nor-
cretionary belts in the Amazonian Craton. In: Hatcher Tapajós: Folhas: Vila Mamãe Anã (SB.21-V-D), Jacare- Santos J.O.S., Hartmann L.A., Faria M.S., Riker thwestern Amazonian Craton: Geology, geochemistry
Jr. R.D., Carlson M.P., McBride J.H., Martinez Catalán acanga (SB.21-Y-B), Caracol (SB.21-X-C), Vila Riozinho S.R., Souza M.M., Almeida M.E., McNaugthon N.J. and geochronology (U-Pb and Sm-Nd): Journal of South
J.R. (orgs.). The 4D Framework of Continental Crust. (SB.21-Z-A) e Rio Novo (SB.21-Z-C). Estados do Pará e 2006. A compartimentação do cráton amazonas em American Earth Sciences, 86:384-409.
GSA Memoir. Boulder, Colorado: Geological Society of Amazonas. Escala 1:500.000. Nota explicativa e mapas, províncias: avanços ocorridos no período 2000-2006. Viegas Filho J.R. & Bonow C.W. 1976. Projeto Seis
America Book Editors 200, p. 297-320. Brasília, CPRM, CD-ROM. In: 9º. Simpósio de Geologia da Amazônia. Belém, Lagos: relatório final. Manaus, CPRM-Serviço Geológi-
Dall’Agnol R. & Abreu A.S. 1976. Características Lamarão C.N., Dall’Agnol R., Lafon J.M., Lima E.F. Pará, Sociedade Brasileira de Geologia – Núcleo Norte, co do Brasil, Ministério de Minas e Energia, 212 p.
petrográficas e petrológicas do Complexo Guianense na 2002. Geology, geochemistry, and Pb–Pb zircon geo- Anais, p. 156-159.

120 121
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 6

O caráter crustal policíclico do Ariquemes-Vila Rondônia com idades Rb-Sr isocrônicas da ordem de 1,45 Ga e
sudoeste do Cráton Amazônico padrão K-Ar entre 1,40 e 1,10 Ga; iii) região de Jauru com idade Rb-Sr isocrônica
de 1,40 Ga, onde foi também identificado um núcleo siálico mais antigo de 1,88-
Jorge Silva Bettencourt, 1,80 Ga, conforme idades K-Ar; e iv) região de San Ignacio-Tunas (no território
Universidade de São Paulo, boliviano) com idade Rb-Sr isocrônica de 1,35 Ga, onde também ocorre um núcleo
Instituto de Geociências mais antigo com idade de ca. 1,90 Ga.
(jsbetten@usp.br). Foram assim definidas, a saber: i) a Província Rio Negro-Juruena (1,75-1,50 Ga)
Wilson Teixeira, de natureza predominantemente juvenil e duas províncias contíguas mais jovens,
Universidade de São Paulo, ambas contendo rochas mais antigas; ii) a Província Rondoniana (hoje denominada
Instituto de Geociências Rondoniana-San Ignacio) com idades no intervalo 1,45-1,25 Ga e, iii) a Província
(wteixeir@usp.br). Sunsas (Sunsas-Aguapeí, neste capítulo) de idade 1,25-1,00 Ga. Por outro lado, a
Amarildo Salina Ruiz nova compartimentação tectônica demonstrou uma importante contradição na lite-
Universidade Federal de Mato Grosso, ratura quanto ao uso generalizado do termo Complexo Xingu. Esse termo, aplicado
Jorge Silva Bettencourt. Departamento de Geologia Geral originalmente para o embasamento arqueano da região de Carajás (capítulo 2), vinha
(asruiz@gmail.com). sendo adotado para todas as rochas do embasamento da Amazônia o que, de fato,
mostrou-se inapropriado face ao padrão geocronológico mais jovem para essas ro-
1. Introdução chas da região sudoeste do cráton.
Nas décadas seguintes, muito se avançou na caracterização de eventos e orógenos
Esta síntese, que conclui a abordagem setorial sobre o Cráton no arcabouço geológico da Amazônia, incluindo a porção sudoeste cratônica, o que
Amazônico, tratada nos capítulos 2 a 5, apresenta os principais domí- pode ser ilustrado por três publicações que consolidaram o modelo de acrescimen-
nios geológicos e/ou terrenos da porção sudoeste cratônica, segundo to crustal para o Proterozoico. Esses trabalhos já contavam com uma significativa
primariamente a definição oficial da CPRM (e.g., Jamari, Roosevelt- ampliação da base geocronológica e isotópica, fruto da colaboração com colegas
Juruena, Rio Alegre, Nova Brasilândia, Sunsas, Paraguá e Rio Apa). ingleses, australianos e norte-americanos. Três desses ensaios regionais ilustram essa
As tabelas 1 a 4 sintetizam as características geológicas e tectônicas do fase do conhecimento, conforme sintetizado a seguir:
setor SW amazônico e do Terreno (distal) Rio Apa, respectivamente, O primeiro deles (Tassinari et al., 1996), fez uso de isócronas Rb-Sr e Pb-Pb,
que serão tratadas numa contextualização cronológica. seus parâmetros petrogenéticos e idades SHRIMP, para demonstrar a coerência
O conhecimento sobre a evolução do Cráton Amazônico é aborda- geocronológica de um amplo domínio crustal de natureza predominantemente
do inicialmente, de modo a destacar o protagonismo dos trabalhos do juvenil, exposto ao sul e ao norte da bacia Amazônica – a província Rio Negro-
Wilson Teixeira. Professor Umberto Cordani e sua equipe. Na sequência, as contribui- Juruena, cuja arquitetura tectônica permanece em sua essência até hoje (e.g.,
ções mais importantes estão submetidas à uma análise crítica dos mo- Cordani et al., 2016). De acordo com Tassinari et al. (1996), a evolução crustal
delos frente aos dados factuais e opiniões diversas colaterais relativas dessa província, considerando-se toda a sua extensão geográfica ao norte e ao sul
aos temas mais importantes sobre o setor SW do Cráton Amazônico, da bacia do Amazonas, poderia ser fruto de dois arcos magmáticos, o mais velho
que é o objeto principal deste capítulo. de idade entre 1,80 e 1,70 Ga, e o mais novo, entre 1,65 e 1,53 Ga. Esse arco
Após os trabalhos geocronológicos pioneiros para setores do Crá- mais jovem incluiria o magmatismo tipo rapakivi da suíte Serra da Providência
ton Amazônico, como os de Basei (1978), Tassinari (1978) e Teixeira que ocorre em Rondônia. A segunda publicação (Bettencourt et al., 1996), que
(1978) – ver capítulo 1 –, que culminaram com a proposta inovadora contou com a colaboração de colegas norte-americanos e do grupo pesquisa do
de Cordani et al. (1979), uma primeira integração geocronológica CPGeo, apresentou as primeiras datações 40Ar-39Ar em rochas do embasamento
para a Província Rondoniana da porção sudoeste cratônica foi pu- no Estado de Rondônia. As idades 40Ar-39Ar registraram o resfriamento de um
blicada (Teixeira e Tassinari, 1984), também fruto dos avanços no evento tectonotermal que afetou as províncias Rio Negro-Juruena e Rondoniana,
conhecimento geológico e geocronológico oriundos dos trabalhos do correlacionável ao registro geocronológico por outros autores no escudo pré-
projeto RADAMBRASIL. A integração dos dados, que incluiu a re- cambriano boliviano (Litherland et al., 1986).
gião central de Rondônia (e.g., Priem et al., 1971) e a contraparte bo- Finalmente, Cordani e Teixeira (2007), com base na dinâmica dos orógenos acre-
liviana (Litherland et al., 1986), além de produtos acadêmicos (e.g., cionários para o setor sudoeste do Cráton Amazônico, destacaram o caráter predo-
Amaral, 1974; Basei, 1977; Teixeira, 1978), permitiu caracterizar minantemente juvenil das rochas das províncias Rio Negro–Juruena (1,78-1,55 Ga)
Amarildo Salina Ruiz. quatro domínios geocronológicos nos estados de Rondônia e Mato e Rondoniana-San Ignacio (1,50-1,30 Ga) (figura 1) em contraste com a província
Grosso, a saber: i) região Ituxi-Abunã com idades isocrônicas Rb-Sr Sunsas-Aguapeí (1,25-1,00 Ga). Essa última província apresenta rochas com assina-
da ordem de 1,50 Ga e padrão K-Ar entre 1,35 e 1,25 Ga; ii) região tura isotópica predominantemente crustal associadas à orogênese Sunsas (ca. 1,00

122 123
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 6

no (domínio 16 da figura 3 do capítulo 1) Rio Apa (MT) (Cordani et al., 2010a).


Nessa publicação foram apresentados os elementos que fundamentam a possível
correlação entre o Terreno/Domínio Rio Apa e a província Rio Negro-Juruena, e as
implicações para a paleogeografia de blocos continentais que precederam a ruptura
do Supercontinente Rodínia.
A outra publicação (Cordani et al., 2010b) apresentou uma abrangente com-
pilação de dados geocronológicos e sua interpretação integrada para caracteri-
zar os episódios intraplaca de idade “Grenville” na América do Sul, ilustrados
no caso da Amazônia, pelo magmatismo cratogênico (e.g., em Rondônia), pelo
rejuvenescimento isotópico nas rochas de embasamento cratônico e/ou reativa-
ções tectônicas em zonas de fraqueza. Essa publicação vinculou esses registros
intraplaca às atividades reflexas de eventos geodinâmicos nas margens ativas da
Amazônia, no caso representadas pelo desenvolvimento dos cinturões Rondonia-
no-San Ignacio e Sunsas.

2. Análise crítica e reflexões geotectônicas

Ao resgatarmos a contribuição do Professor Umberto Cordani para a Amazônia,


também destacamos o valor dos dados geocronológicos, que serviram e ainda servem
de base para a formulação de ideias e reflexões. Independentemente do método iso-
tópico empregado e da época da obtenção da idade, a consideração desse precioso
acervo, é fundamental para todos os que se interessam sobre a evolução do Cráton
Amazônico. Nesta seção, abordaremos os tópicos considerados como polêmicos e de
interesse maior ao conhecimento do sudoeste cratônico, tendo como paradigmas o
trabalho seminal de Cordani et al. (1979) e a mais recente publicação de Cordani e
Teixeira (2007).
Figura 1: Esboço geoló- Entre os conceitos importantes inerentes ao modelo original e seu aperfeiçoa-
gico-tectônico do setor mento nas décadas seguintes, podemos destacar três deles: i) os elementos físicos
SW do Cráton Amazôni-
co mostrando os limites entre províncias e seus compartimentos internos e ainda, a natureza dos processos de
tentativos entre os geração de crosta no tempo e no espaço; ii) a nomenclatura usada para determinados
cinturões acrecionários, Ga) (Litherland et al., 1986; Boger et al., 2005), a mais jovem do segmentos e/ou províncias e a sua natureza tectônica, e iii) Os elementos temporais
ao sul da bacia sedimen-
tar do Amazonas. As Cráton Amazônico. Cordani e Teixeira (2007) também apontaram que das províncias e o seu significado tectônico.
principais coberturas vul- manifestações tectônicas, metamórficas e magmáticas consideradas co-
cânicas e sedimentares evas à orogênese Sunsas estão registradas na província Rondoniana- 2.1 Os elementos físicos e as províncias geocronológicas
também estão represen-
tadas. Fonte: Cordani e San Ignacio, como a faixa Aguapeí (MT) e o cinturão Nova Brasilândia Existem várias publicações sobre a compartimentação tectônica do Cráton Ama-
Teixeira (2007). (RO). Esse último cinturão teria se originado em uma estrutura tipo zônico, a maioria delas corroborando a hipótese de que processos geotectônicos as-
rift que sofreu subsequente encurtamento crustal, deformação e mag- sociados à dinâmica das placas ao longo da margem ativa proterozoica da Amazônia
matismo à época da colisão orogênica Sunsas. Não obstante, o signifi- (e.g., Cordani e Teixeira, 2007) exerceram papel fundamental na consolidação do
cado tectônico do cinturão Nova Brasilândia, em particular, continua Cráton Amazônico – conforme sintetizado no capítulo 1.
sendo debatido até hoje, conforme será comentado oportunamente Quanto à terminologia aplicada ao longo de décadas a partir da denominação
neste capítulo. original das províncias geocronológicas por Cordani et al. (1979), naturalmente
Cabe também mencionar duas publicações que concretizam o ocorreram modificações que são inerentes ao avanço do conhecimento geológi-
continuado interesse do Professor Cordani pela geologia e geotec- co, geofísico e geocronológico, em especial para o setor sudoeste cratônico. Por-
tônica da Amazônia, com destaque para o seu sudoeste (Cordani et tanto, uma análise crítica do assunto revela as nuances na nomenclatura adotada
al., 2010a, b). O primeiro deles trata de uma revisão e atualização desde o modelo original, inclusive nos trabalhos do grupo de pesquisa liderado
completa acerca do arcabouço tectônico e geocronológico do Terre- pelo Professor Cordani.

124 125
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 6

No caso da Província Rondoniana (1,40-1,10 Ga; cf. Cordani et Essa nova compartimentação para o SW da Amazônia foi amplamente seguida
al., 1979), considerada então para toda a extremidade sudoeste do pela literatura (e.g., Tassinari e Macambira, 1999, 2004; Cordani e Teixeira, 2007;
Cráton, os estudos subsequentes indicaram a necessidade de novas Bettencourt et al., 2010; Teixeira et al., 2010). Em paralelo, teses de doutorado e
compartimentações. De fato, Teixeira et al. (1989) e trabalhos subse- artigos [Geraldes et al. (2001); Matos et al. (2004); Ruiz et al. (2004), Rizzotto et al.
quentes, propuseram outros intervalos temporais para as províncias (2004)] ampliaram o conhecimento geológico da província Rondoniana-San Ignácio
mesoproterozoicas do setor SW cratônico, à luz de novos dados geo- com base em novas informações multidisciplinares voltadas ao entendimento dos
cronológicos e correlações geológicas. Esse último trabalho subdividiu seus processos formadores e/ou quanto ao seu arcabouço tectônico regional (e.g.,
a província Rondoniana em duas, que foram denominadas de Rondo- Ruiz, 2005). Não obstante, a literatura registra concepções alternativas conforme
niana-San Ignácio (1,50-1,30 Ga) e Sunsas-Aguapeí (1,25-1,00 Ga), destacado no próximo item.
incluindo o oriente boliviano, corroborando em parte a proposição de
Teixeira e Tassinari (1984). 2.2 Os limites entre as províncias e as diferentes concepções vigentes
Os limites físicos entre as províncias geocronológicas da Amazônia na maioria
dos trabalhos contemplam a concepção dos “orógenos acrecionários” de Cordani e
Teixeira (2007) (figura 1 e tabelas 2, 3 e 4; ver também capítulo 1). Não obstante, a
CPRM tem tradicionalmente adotado uma subdivisão alternativa para a região sul
-ocidental do Cráton Amazônico, com base na integração de características estru-
turais, geofísicas e geocronológicas distintas entre regiões geográficas adjacentes,
dotadas de evolução geológica peculiar (e.g., Santos et al., 2000). Quadros et al.
(2007), por exemplo, adotando o critério da CPRM, caracterizaram as províncias
Rondônia-Juruena (1,82-1,42 Ga) e Sunsas (1,45-0,90 Ga), subdividindo-as em
terrenos ou faixas (e.g., Roosevelt-Juruena, 1,82-1,66 Ga; Jauru, 1,79-1,50 Ga;
Alto Guaporé, 1,25-0,97 Ga; Nova Brasilândia, 1,25-0,97 Ga), aqui considerados
como domínios (figura 2 do capítulo 1) e orogenias (e.g., Ouro Preto, 1,68-1,63
Ga, e Alto Candeias, 1,42-1,33 Ga).
Contribuições mais recentes, fazendo uso das correlações geológicas, geocrono-
lógicas e geofísicas, propuseram outras compartimentações tectônicas para o SW da
Amazônia, incluindo a definição de orógenos (e.g., Santos et al., 2008), segmentos
tectônicos (e.g., Bettencourt et al., 2010), e/ou ainda de terrenos e/ou províncias
(e.g., Scandolara et al., 2017). Em especial, esse último trabalho definiu o cinturão
orogênico Juruena (1,81-1,51 Ga), para um domínio tectônico denominado como
Rondônia-Juruena. Esse cinturão incluiria os terrenos Jamari e Juruena, ambos con-
siderados como produtos de uma convergência tectônica ocorrida entre 1,69 e 1,64
Ga em condições metamórficas de alto grau (ver capítulo 2). Para Bettencourt et al.
(2010), o Terreno Jamari (domínio 9 da figura 2 do capítulo 1) seria integrante da
sua província Rondoniana-San Ignacio, tendo em vista a presença de retrabalhamen-
to crustal e atividade ígnea no intervalo temporal 1,56-1,30 Ga. Especificamente,
os plútons com idade 1,56 Ga, considerados da suíte Serra da Providência em Ron-
dônia, nesse último trabalho, seriam correlativos às rochas graníticas da orogênese
Cachoeirinha, que intrudem o Terreno Jauru (1,78-1,42 Ga, tabela 3) situado na
extremidade SE da sua província Rondoniana-San Ignacio.
O Terreno Jauru (domínio 10 da figura 2 do capítulo 1) é constituído por
sequências metavulcanossedimentares e ortognaisses (1,79-1,75 Ga), que foram
intrudidos por rochas plutônicas de idades entre 1,58 e 1,42 Ga (cf. Geraldes et
al., 2001), geneticamente associadas aos arcos magmáticos marginais (tabela 2).
Tabela 1: Sumário das feições geológicas Ainda segundo Bettencourt et al. (2010), a arquitetura crustal da província Ron-
e geocronológicas do terreno Paraguá
(Província Rondoniana-San Ignácio) doniana-San Ignacio é marcada por episódios metamórficos e deformacionais
(Modificado de Bettencourt et al., 2010). associados ao desenvolvimento desses arcos magmáticos, culminando com uma

126 127
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 6

colisão obliqua entre o Terreno Paraguá e o proto-Cráton Amazônico, ilustrado


pelo cinturão Alto Guaporé (tabelas 2 e 3). Mais recentemente, Rizzotto et al.
(2013, 2014) trouxeram importante conhecimento para a natureza da orogênese
Alto Guaporé. Fazendo uso de idades U-Pb, assinatura isotópica Nd-Sr e geoquí-
mica, além de dados aeromagnéticos, esses trabalhos definiram sua fase acrescio-
nária (1,47-1,44 Ga), ilustrada por ofiolitos e plagiogranitos, e a fase colisional
(1,35-1,34 Ga). A maioria das publicações mais recentes sobre o SW da Amazô-
nia tem adotado essa concepção tectônica. No entanto, é forçoso reconhecer que
todas essas compartimentações são ainda discutíveis, devido ao número reduzido
de informações multidisciplinares disponíveis (e.g., dados geofísicos, aeromagné-
ticos), e ao se considerar a ampla região constituinte do sudoeste da Amazônia.
A figura 2 apresenta uma proposição para o limite físico entre a província Rio
Negro-Juruena e a província Rondoniana-San Ignacio, fundamentada no conheci-
mento geológico-geocronológico atual e na adaptação do mapa tectônico da Améri-
ca do Sul (Cordani et al., 2016).
Outro tema importante e ainda em aberto é o limite do cinturão Sunsas (1,10-
1,00 Ga), envolvendo ou não o Terreno Paraguá (tabela 1; domínio 12 na figura 2
do capítulo 1). De acordo com Cordani e Teixeira (2007), esse limite seria o front
Rio Negro e zona de cisalhamento Santa Catalina, que marca a borda sul do Terreno
Paraguá, adotando a proposta original de Litherland et al. (1986). Para Teixeira et al.
(2010), o cinturão Sunsas (domínio 15 na figura 2 do capítulo 1), de caráter colisional,
seria penecontemporâneo à evolução do Cinturão Nova Brasilândia (domínio 13 na
figura 2 do capítulo 1), ao aulacógeno Aguapeí (domínio 14 na figura 2 do capítulo 1)
e à reativação de zonas de cisalhamento em diferentes setores das províncias já crato-
nizadas. Outros autores, no entanto, têm concepções tectônicas diferentes acerca da
origem do cinturão Nova Brasilândia [e.g., Tohver et al. (2004a, b, 2005a, b), Boger
et al. (2005), Sadowski e Bettencourt (1996)]. Por exemplo, parte desses autores (e.g.,
Tohver et al., 2005a) considera a geração do cinturão Nova Brasilândia em um rift com
posterior encurtamento crustal durante a colisão entre o Terreno Paraguá e o proto-
Cráton Amazônico ao tempo 1,10-1,00 Ga – o que implicaria numa maior amplitude
física para o orógeno Sunsas do que originalmente proposto. Tal concepção diverge
da proposta de Cordani e Teixeira (2007) que consideraram esse cinturão como uma
entidade geotectônica associada a uma reativação tectônica-magmático-deformacional
na crosta previamente cratonizada, ao tempo da colisão distal Sunsas. Sem dúvida, as
diversas concepções sobre a evolução crustal espelham a complexidade do debate atual
acerca do arcabouço tectônico policíclico da porção sudoeste do Cráton Amazônico e
instigam a continuidade dos estudos geocronológicos para essa região.
Tohver et al. (2004a) conferiram à sutura transpressiva entre o proto-Cráton
Amazônico e o Terreno Paraguá, o tempo 1,09 Ga (consoante com o desenvolvimen-
to da faixa Nova Brasilândia). Subsequentemente, Tohver et al. (2006), com base em
inferências paleomagnéticas e geocronológicas, propuseram uma link entre a porção
leste da Laurentia e o SW da Amazônia, via uma paleogeografia comum no Rodínia,
revelada desde a idade de 1,20 Ga, corroborada por feições metamórficas e magmá-
ticas (e.g., Rivers, 2016). De fato, a combinação dos dados geológicos, paleomagné-
Tabela 2: Sumário das feições geológicas e ticos e informações geológicas da província Sunsas-Aguapeí perante as correlações
geocronológicas dos terrenos Jauru e Rio Alegre continentais sugere que o setor SW da Amazônia representaria a margem ativa Gren-
(setor sul da Província Rondoniana-San Ignácio).
(Modificado de Bettencourt et al., 2010). ville-Sunsas (e.g., Teixeira et al., 2010). Novamente, existem diferentes proposições

128 129
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 6

para o Rodínia no Mesoproterozoico tardio, conforme ilustrado em publicações do


próprio Professor Cordani (Cordani et al., 2003, 2009; Kröner e Cordani, 2003),
entre outras (e.g., Sadowski e Bettencourt, 1996; Tohver et al., 2006; D’Agrella-
Filho et al., 2016). Esses estudos contemplam inclusive a correlação de atividades
magmáticas de caráter anorogênico (1,45-1,25 Ga), que são muito frequentes, tanto
no SW da Amazônia como na Laurentia e Báltica, apontando para uma afinidade
paleotectônica entre esses blocos formadores do supercontinente Rodínia, também
nesse intervalo temporal (e.g., Gower et al., 1990).
Finalmente, em relação ao Terreno Rio Apa, que foi estudado por Cordani et al.
(2010b) – ver item 2 –, outros trabalhos trouxeram importante complementação quanto à
sua compartimentação tectônica (Faleiros et al., 2016; Lacerda Filho et al., 2016), mas tra-

Figura 2: Mapa tectônico do setor


sudoeste do Cráton Amazônico, mos-
trando os domínios, terrenos, blocos
e falhas; modificado de Cordani et al. Tabela 3: Sumário das
(2016). A sutura do Guaporé e limites feições geológicas e ge-
assinalados do cinturão Guaporé ocronológicas da região
resultam de adaptação do mapa tectô- de Rondônia (Setor
nico de Rizzotto et al. (2013). norte da Província Ron-
doniana-San Ignácio).
(Modificado de Betten-
court et al., 2010).

130 131
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 6

zendo também alternativas para a correlação geológica com as províncias do Cráton Ama-
zônico (tabela 4). O primeiro deles, sugeriu a existência de três terrenos alóctones no Bloco
Rio Apa com base em geocronologia U-Pb e elementos geológicos e estruturais, em parte
adotando a compartimentação proposta por Cordani et al. (2010b). O outro apresentou
a sustentação geológica, geoquímica e isotópica para a geração do Grupo Alto Tererê em
ambiente de back arc. Esse modelo, envolvendo a evolução de arcos magmáticos é coeren-
te com a proposta anterior de Cordani et al. (2010a), e tem sido adotado até o presente.
Cabe destacar que o Terreno Rio Apa registra importante atividade intraplaca (1,11
Ga), que representa um componente da LIP Huanchaca-Rincón del Tigre, situada no
SW da Amazônia (Teixeira et al., 2015). Essa LIP refletiria uma tentativa de ruptura con-
tinental, aproximadamente contemporânea à orogenia Sunsas-Grenville, o que implica
na proximidade do Terreno Rio Apa com a Amazônia na época. Por fim, outra síntese
importante com a participação do Prof. Umberto Cordani demonstrou a partir de novos
elementos de correlação geológica e comparativos isotópicos a sua afinidade geodinâmi-
ca com o SW do Cráton Amazônico durante o Paleo- e Mesoproterozoico. Essa publica-
ção apresenta também as implicações paleogeográficas para a Amazônia no contexto dos
paleocontinentes Columbia e Rodínia (Teixeira et al., 2020), reforçando em especial a
geodinâmica paleogeográfica entre Amazônia e a Laurentia no tempo e no espaço.

2.3 Os elementos temporais das províncias e a significância tectônica


No tocante aos intervalos temporais entre as províncias definidas para o SW cratô-
nico, há naturalmente diversas proposições, que são intrínsecas às concepções e subdi-
visões propostas, conforme sintetizado no item anterior. Por exemplo, conforme a pro-
posta de Cordani e Teixeira (2007), os intervalos temporais originalmente adotados para
as províncias Rio Negro-Juruena (1,78-1,55 Ga) e Rondoniana–San Ignacio (1,50-1,30 Tabela 4: Sumário das feições
Ga) são pouco diferentes dos trabalhos mais recentes apesar desses contarem com data- aplicação de novas ideias de tectônica de placas, à formulação do mo- geológicas e geocronológicas
ções mais precisas e numerosas em unidades geológicas-chave, além de outras evidências. do Bloco (Terreno) Rio Apa.
delo mobilístico de Cordani et al. (1979), em confronto com os mo- Fonte: Cordani et al. (2010a),
Para Bettencourt et al. (2010), a delimitação temporal entre essas duas províncias delos fixistas, constitui o ponto alto da sua obra que, de certo modo, Lacerda Filho et al. (2016)
situa-se entre 1,78-1,55 e 1,56-1,30 Ga, respectivamente. Ressalte-se que o intervalo revolucionou o entendimento da evolução do Cráton Amazônico com e Faleiros et al. (2016).
evolutivo 1,53-1,46 Ga é transitório e pouco estudado face à coexistência numa mesma o emprego de dados multidisciplinares e novos paradigmas geodinâ-
região de rochas da Suíte Serra da Providência (os termos mais tardios) e da Suíte Rio micos. Para isso, foi de necessidade a sistematização e uso de uma
Crespo, nela intrusiva. Esse fato, além da falta de consenso sobre o caráter tectônico nomenclatura geotectônica específica, até hoje praticada.
dessas duas suítes (caráter anorogênico ou postectônico), dificulta a definição dos limites Os conceitos originais de soft-collision, cinturão acrecionário, ciclo orogênico, oro-
temporais entre o Orógeno Rondoniano-San Ignacio e o núcleo cratônico central de genia, província geocronológica, domínio e terreno foram seguidos, e/ou progressiva-
Rondônia – ali representado pelas rochas da província Rio Negro-Juruena (cf. concep- mente adaptados pelo Professor Umberto Cordani, discípulos, colaboradores e outros,
ção de Cordani e Teixeira, 2007) – (tabelas 1 a 3). O mesmo vale dizer em relação ao nas últimas décadas. Os eventos, acrecionário e soft-collision, incorporam os principais
papel do orógeno Sunsas na remobilização do embasamento cratônico ao tempo da sua mecanismos de edificação de crosta continental e de formação de províncias geocrono-
colisão com o proto-cráton, e sua relação com episódios intraplaca regionais no Cráton lógicas, durante o Paleo- e Mesoproterozoico na Amazônia, conforme registrado na lite-
Amazônico (e.g., Cordani e Teixeira, 2007; Cordani et al., 2010b; Teixeira et al., 2010). ratura pertinente. Contudo, modificações relativas à subdivisão de províncias estruturais
e geocronológicas segundo domínios e terrenos foram e continuam sendo naturalmente
introduzidas no sudoeste do cráton, também em decorrência da elaboração de mapas
3. Conclusões pela CPRM que refinaram o quadro geotectônico, culminando com um novo mapa
tectônico da América do Sul (Cordani et al., 2016). Cabe também mencionar que exis-
Neste capítulo final ilustramos a importância da pesquisa do Professor Umberto tem muitas contradições relativas aos conceitos e interpretações adotados pelos grupos
Cordani e de seus discípulos para a geologia e geotectônica do Cráton Amazônico, de pesquisadores ou indivíduos. Não obstante tal complexidade, pode-se afirmar que o
em particular o impacto da sua produção científica para o entendimento evoluti- Cráton Amazônico é hoje considerado uma peça-chave no contexto geotectônico global,
vo das províncias Rio Negro-Juruena, Rondoniano-San Ignacio, Sunsas-Aguapeí. A muito em função do protagonismo das ações do eminente cientista aqui homenageado.

132 133
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 6

Referências D’Agrella-Filho M.S., Bispo-Santos F., Trindade Rizzotto G.J., Quadros M.L.E.S., Bahia R.B.C., chronological provinces of the Amazonian Craton. Epi-
R.I.F., Antonio P.J.Y. 2016. Paleomagnetism of the Ama- Dall‘igna L.G., Cordeiro A.V. 2004. Folha SD.20- sodes, 22(3):174-182.
Amaral G. 1974. Geologia Pre-Cambriana de Re- zonian Craton and its role in paleocontinents. Brazilian Guaporé e Folha SE.20-Lagoa Formosa. In: Schobbe- Tassinari C.C.G. & Macambira M.J.B. 2004. A evo-
gião Amazônica. Tese de Livre Docência, Instituto de Journal of Geology, 46(2):275-299. nhaus C., Gonçalves J.H., Santos J.O.S., Abram M.B., lução tectônica do Cráton Amazônico. In: Mantesso-Neto
Geociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, Faleiros F.M., Pavan M., Remédio M.J., Rodri- Leão Neto R., Matos G.M.M., Vidotti R.M., Ramos V., Bartorelli A., Carneiro C.D.R., Brito Neves B.B (Eds.).
SP, 212 p. gues J.B., Almeida V.V., Caltabeloti F.P., Pinto L. M.A.B., de Jesus J.D.A. (eds.). Carta Geológica do Geologia do continente Sul-americano: evolução da obra
Basei M.A.S. 1977. Idade do vulcanismo ácido inter- G.R., Oliveira A.A., Pinto de Azevedo E.J., Costa Brasil ao Milionésimo, Sistema de Informação Geo- de Fernando Flávio Marques de Almeida. São Paulo, Beca,
mediário na região Amazônica. Dissertação de Mestrado, V.S. 2016. Zircon U-Pb ages of rocks from the Rio gráfica. Brasília, CPRM-Serviço Geológico do Brasil, p. 471-485.
Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, São Apa Cratonic Terrane (Mato Grosso do Sul, Brazil): CD-ROM. Teixeira W. 1978. Significação tectônica do magmatis-
Paulo, SP, 133 p. New insights for its connection with the Amazonian Rizzotto G.J., Santos J.O.S., Hartmann L.A., mo anorogênico pré-cambriano básico e alcalino na região
Basei M.A.S. 1978. Estudo geocronológico do mag- Craton in pre-Gondwana times. Gondwana Research, Tohver E., Pimentel M.M., McNaughton N.J. 2013. amazônica. In: 30º. Congresso Brasileiro de Geologia. Re-
matismo ácido da região meridional da Amazônia. In: 34:187-204. The Mesoproterozoic Guaporé suture in the SW Am- cife, SBG, Anais, p. 491-505.
XXX Congresso Brasileiro de Geologia. Recife, Brazil, Geraldes M.C., Van Schmus W.R., Condie K.C., azonian Craton: Geotectonic implications based on Teixeira W., Cordani, U.G., Faleiros, F. M., Sato, K.,
Soc. Bras. Geol., Anais, p. 287-296. Bell S., Teixeira W., Babinski M. 2001. Proterozoic geo- field geology, zircon geochronology and Nd-Sr iso- Maurer, V.C., Ruiz, A.S., Azevedo, E.J.P., 2020. The Rio
Bettencourt J.S., Leite Jr W., Payolla B., Ruiz A.S., logic evolution of the SW part of the Amazonian Cra- tope geochemistry. Journal of South American Earth Apa Terrane reviewed: U-Pb zircon geochronology and
Matos R.S., Tosdal R.M. 2010. The Rondonian-San ton in Mato Grosso state, Brazil. Precambrian Research, Sciences, 48:271-295. provenance studies provide paleotectonic links with a
Ignacio Province in the SW Amazonian Craton: an 111:91-128. Ruiz A.S. 2005. Evolução geológica do sudoeste do growing Proterozoic Amazonia. Earth-Science Reviews,
overview. Journal of South American Earth Sciences, Gower C.F., Rivers T., Ryan A.B (eds.). 1990. Craton Amazônico, região limítrofe Brasil-Bolivia-Mato 202:103089 (no prelo)
29:28-46. Mid-Proterozoic Laurentia-Baltica. Geological Associa- Grosso. Tese de Doutorado, Instituto de Geociências Teixeira W., Geraldes M.C., Matos R., Ruiz A.S., Saes
Bettencourt J.S., Onstott T.C., De Jesus T., Teixei- tion of Canada. Special Paper, 38, 581 p. e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio G., Vargas-Mattos G. 2010. A review of the tectonic evo-
ra W. 1996. Tectonic interpretation of 40Ar/39Ar ages on Kröner A. & Cordani U.G. 2003. African, south- Claro, SP, 260 p. lution of the Sunsás belt, SW Amazonian Craton. Journal
country rocks from the Central Sector of the Rio Negro– ern Indian and South American cratons were not part Ruiz A.S., Geraldes M.C., Matos J.B., Teixeira W., of South American Earth Sciences, 29:47-60.
Juruena Province, Southwestern Amazonian Craton. In- of the Rodinia supercontinent: evidence from field Van Schmus W.R., Schmitt R. 2004. The 1590-1520 Teixeira W., Hamilton M. A., Lima G.A., Matos R.,
ternational Geology Review, 38:42-56. relationships and geochronology. Tectonophysics, Ma Cachoeirinha magmatic arc and its tectonic impli- Ernst R. E. 2015. Precise ID-TIMS U-Pb baddeleyite ages
Boger S.D., Raetz M., Giles D., Etchart E., Fan- 375:325-352. cations for the Mesoproterozoic. SW Amazonian Cra- (1110-1112 Ma) for the Rincón del Tigre-Huanchaca
ning M.C. 2005. U–Pb age data from the Sunsas re- Lacerda Filho J.V., Fuck R.A., Ruiz A.S., Dan- ton crustal evolution. Anais da Academia Brasileira de large igneous province (LIP) of the Amazonian Craton:
gion of Eastern Bolivia, evidence for the allochtonous tas E.L., Scandolara J.E., Rodrigues J.B., Nascimento Ciências, 76:807-824. Implications for the Rodinia supercontinent. Precambrian
origin of the Paraguá Block. Precambrian Research, N.D.C. 2016. Palaeoproterozoic tectonic evolution of Sadowski G.R. & Bettencourt J.S. 1996. Mesopro- Research, 265:273-285.
139:121-146. the Alto Terere Group, southernmost Amazonian Cra- terozoic tectonic correlations between eastern Laurentia Teixeira W. & Tassinari C.C.G. 1984. Caracterização
Cordani U.G., Fraga L.M., Reis N., Tassinari C.C.G., ton, based on field mapping, zircon dating and rock and the western border of the Amazon Craton. Precam- geocronológica da Província Rondoniana e suas Implica-
Brito-Neves B.B. 2010a. On the origin and tectonic sig- geochemistry. Journal of South American Earth Scienc- brian Research, 76:213-227. ções geotectônicas. In: 2º. Simpósio Amazônico. Manaus,
nificance of the intra-plate events of Grenvillian-type age es, 65:121-141. Santos J.O.S., Hartmann L.A., Gaudette H.E., MME-DNPM, Anais, p. 87-94.
in South America: A discussion. Journal of South Ameri- Litherland M., Annels R.N., Appleton J., Ber- Groves D.I., McNaughton N.J., Fletcher I.R. 2000. Teixeira W., Tassinari C.C.G., Cordani U.G., Kawa-
can Earth Sciences, 29(1):143-159. range J., Bloomfield K., Burton C., Darbyshire A new understanding of the provinces of the Ama- shita K. 1989. A review of the geochronology of the
Cordani U.G., Neves B.B.B., D’Agrella-Filho M.S., D.P.F., Fletcher C.J.N., Hawkins M.P., Klink B.A., zon Craton based on integration of field mapping Amazonian Craton: tectonic implications. Precambrian
Trindade R.I.F. 2003. Tearing up Rodinia: the Neopro- Llanos A., Mitchell W.I., O’Connor E.A., Pitfield and U-Pb and Sm-Nd geochronology. Gondwana Re- Research, 42:213-227. https://doi.org/10.1016/0301-
terozoic paleogeography of South American cratonic P.E.J., Power G., Webb B.C. 1986. The geology search, 3(4):453-488. https://doi.org/10.1016/S1342- 9268(89)90012-0.
fragments. Terra Nova, 15(5):343-349. and mineral resources of the Bolivian Precambrian 937X(05)70755-3. Tohver E., Bettencourt J.S., Tosdal R., Mezger
Cordani U.G., Ramos V.A., Fraga L.M., Cegarra shield. Overseas Memoir, British Geological Survey Santos J.O.S., Rizzotto G.J., Potterd P.E., McNaugh- K., Leite W.B., Payolla B.L. 2004a. Terrane transfer
M., Delgado I., Souza K.G., Gomes F.E.M., Schobbe- Paper 9, 154 p. ton N.J., Matos R., Hartmann L.A., Chemale Jr. F., during the Grenville orogeny: tracing the Amazonian
nhaus C. 2016. Tectonic Map of South America. Scale: Matos J.B., Schorscher J.H.D., Geraldes M.C., Sou- Quadros M.L.E.S. 2008. Age and autochthonous evolu- ancestry of southern Appalachian basement through
1/5,900,000. Paris, Commission for the Geological sa M.Z.A., Ruiz A.S. 2004. Petrografia, geoquímica e tion of the Sunsás Orogen in West Amazon Craton based Pb and Nd isotopes. Earth Planetary Sciences Letters,
Map of the World. geocronologia das rochas do Orógeno Rio Alegre, Mato on mapping and U–Pb geochronology. Precambrian Re- 228:161-176.
Cordani U.G., Tassinari C.C.G., Teixeira W., Basei Grosso: um registro de crosta oceânica mesoproterozói- search, 165:120-152. Tohver E., D’Agrella-Filho M.S., Trindade R.I.F.
M.A.S., Kawashita K. 1979. Evolução Tectônica da Ama- ca no SW do Cráton Amazônico. Geologia USP. Série Scandolara J.E., Correa R.T., Fuck R.A., Sou- 2006. Paleomagnetic record of Africa and South Ameri-
zônia com base nos dados geocronológicos. In: II Cong. Científica, 4:75-90. za V.S., Rodrigues J.B., Ribeiro P.S.E., Frasca A.A.S., ca for the 1200-500 Ma interval, and evaluation of Ro-
Geol. Chileno. Arica, Actas, 4:137-148. Priem H.N.A., Boelrijk N.A.I.M., Hebeda E.H., Ver- Saboia A.M., Lacerda Filho J.V. 2017. Paleo-Mesopro- dinia and Gondwana assemblies. Precambrian Research,
Cordani U.G. & Teixeira W. 2007. Proterozoic ac- dumen E.A.T., Verschure R.H., Bon E.H. 1971. Granitic terozoic arc-accretion along the southwestern margin 147:193-222.
cretionary belts in the Amazonian Craton. In: Hatcher complexes and associated tin mineralization of Grenville of the Amazonian craton: the Juruena accretionary Tohver E., Teixeira W., Van der Pluijm B., Geraldes
Jr. R.D., Carlson M.P., McBride J.H., Martinez Catalán age in Rondônia, western Brazil. Geological Society of orogen and possible implications for Columbia super- M.C., Bettencourt J.S., Rizzotto G. 2005a. Restored tran-
J.R. (orgs.). The 4D Framework of Continental Crust. America Bulletin, 82(4):1095-1102. continente. Journal of South American Earth Sciences, sect across the exhumed Grenville orogeny of Laurentia
GSA Memoir. Boulder, Colorado: Geological Society of Quadros M.L.E.S. & Rizzotto G.J. 2007. Geologia e 73:223-247. and Amazonia, with implications for crustal architecture.
America Book Editors 200, p. 297-320. Recursos Minerais do Estado de Rondônia. Texto Explica- Tassinari C.C.G. 1978. Considerações crono-estra- Geology, 34(8):669-672.
Cordani U.G., Teixeira W., D’Agrella-Filho M.S., tivo do Mapa Geológico e de Recursos Minerais do Estado tigráficas da região das Chapadas do Cachimbo e Dar- Tohver E., Van der Pluijm B., Mezger K., Essene E.,
Trindade R.I. 2009. The position of the Amazoni- de Rondônia, escala 1:1.000.000. Sistema de Informa- danelos. In: 30º. Congresso Brasileiro de Geologia. Re- Scandolara J., Rizzotto G. 2004b. Significance of the Nova
an Craton in supercontinents. Gondwana Research, ções Geográficas – SIG. Porto Velho, Serviço Geológico cife, SBG, Anais, p. 477-490. Brasilândia metasedimentary belt in western Brazil: redi-
15:396-407. do Brasil–CPRM, 154 p. Tassinari C.G.C., Cordani U.G., Nutman A.P., Sch- fining the Mesoproterozoic boundary of the Amazon cra-
Cordani U.G., Teixeira W., Tassinari C.C.G., Rizzotto G.J., Hartmann L.A., Santos J.O.S., Mc- mus W.R.V., Bettencourt J.S., Taylor P.N. 1996. Geo- ton. Tectonics, 23:1-20.
Coutinho J.M.V., Ruiz A.S. 2010b. The Rio Apa cra- Naughton N.J. 2014. Tectonic evolution of the southern chronological Systematics on Basement Rocks from the Tohver E., Van der Pluijm B.A., Scandolara J.E., Es-
ton in Mato Grosso do Sul (Brazil) and northern Par- margin of the Amazonian craton in the late Mesopro- Rio Negro - Juruena Province (Amazonian Craton) and sene E.J. 2005b. Late Mesoproterozoic deformation of
aguay: geochronological evolution, correlations and terozoic based on field relationships and zircon U-Pb Tectonic Implications. International Geology Review, SW Amazonia (Rondônia, Brazil): geochronological and
tectonic implications. American Journal of Sciences, geochronology. Anais da Academia Brasileira de Ciên- 38:161-175. structural evidence for collision with southern Laurentia.
310:981-1023. cias, 86:57-84. Tassinari C.C.G. & Macambira M.J.B. 1999. Geo- Journal Geology, 113:309-323.

134 135
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 7

Umberto Cordani e a
Geologia do Centro-Oeste
Reinhardt Adolfo Fuck,
Universidade de Brasília,
Instituto de Geociências
(reinhardt@unb.br).

1. Introdução

Conheci Umberto Cordani nos idos de 1965-66, quando, geó-


logo ainda verdinho, trabalhava (e apanhava, mas aprendia...!) na
Comissão da Carta Geológica do Paraná, cartografando terrenos pré-
cambrianos no Primeiro Planalto do Paraná, junto com A. Muratori,
J. Lopes, E. Trein, J. Palka e O. Marini, sob a coordenação de J. Biga-
rella e o olhar atento de R. Salamuni. Cordani aportou em Curitiba,
em companhia de Vicente Girardi, propondo ao Coordenador da
Carta cartografar a Folha Morretes, que abrange parte da Serra do
Mar e do litoral paranaense, incluindo parte da Baía de Paranaguá
(Cordani e Girardi, 1967).
Na época, já professor da Universidade de São Paulo, Cordani
participava da implantação do Centro de Pesquisas Geocronológicas
da USP e pregava com entusiasmo as maravilhas da geocronologia
K-Ar e Rb-Sr para um bando, inicialmente, de céticos e também – por
que não dizer? – de incréus. Desde então, nossos caminhos se cruza-
ram inúmeras vezes e compartilhamos várias atividades, em particu-
lar, no que respeita ao avanço das Geociências no Centro-Oeste de
nosso país. No início de 1969 eu havia ingressado como Professor
Colaborador nos quadros da Universidade de Brasília, onde, sem des-
ligar inteiramente da geologia paranaense e, sobretudo, procurando
não esquecer as preciosas lições aprendidas no Pré-Cambriano do Pa-
raná, mergulhei com entusiasmo, ao lado de colegas e estudantes da
UnB, na desafiadora geologia pré-cambriana de Goiás e vizinhanças.
A partir daí, e desde então, tive muitas oportunidades de apreciar a
relevante contribuição de Umberto Cordani às Geociências do País,
da América do Sul, do mundo... e ao conhecimento geológico do
Centro-Oeste.

2. Contribuição à geologia do Centro-Oeste

A primeira contribuição específica de Umberto Cordani à geologia


do Centro-Oeste apresenta idades K-Ar de intrusões mesozoicas no Reinhardt Adolfo Fuck.
Oeste Mineiro e Sul de Goiás (Hasui e Cordani, 1968). Trata-se da
primeira indicação de idades de cerca de 80-90 Ma para intrusões alca-

136 137
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 7

linas cretáceas, incluindo carbonatitos e kimberlitos, expostas em grande número na Orogenia Brasiliana, embora assinalem ser impossível, à luz do conhecimento
região e que caracterizam uma província mineral de relevante interesse econômico, então disponível, pretender separar sequências metamórficas pré-brasilianas das
em vista dos importantes depósitos de fosfato, nióbio e outras substâncias, além de brasilianas, em virtude da falta de sequência estratigráfica segura e completa.
diamante. Idades subsequentemente obtidas por outros métodos geocronológicos Na mesma linha de raciocínio os autores advertem sobre os problemas inter-
corroboram essas primeiras determinações, que representam significativa contribui- pretativos relacionados à posição de rochas gnáissicas e migmatíticas expostas
ção ao conhecimento geológico do Centro-Oeste e à compreensão da evolução tec- na Folha Goiás, a maioria incluída no chamado Pré-Cambriano Indiferenciado,
tônica da região durante o Cretáceo. mas algumas podendo ter sido formadas sincronicamente ao Grupo Araxá. Em
Na década seguinte foram divulgados comentários sobre determinações geo- consequência, sugerem pelo menos três épocas de formação de rochas graníticas
cronológicas disponíveis para as folhas geológicas ao milionésimo, que então (e/ou gnássicas e migmatíticas): pré-Araxá, Araxá e Bambuí na área da Folha
foram elaboradas sob a batuta de Carlos Schobbenhaus e publicadas pelo Depar- Goiás. Quanto aos complexos básico-ultrabásicos (Cana Brava, Niquelândia,
tamento Nacional da Produção Mineral (DNPM). Dentre elas, cabe destacar as Barro Alto), sugerem que foram formados em época pré-Araxá, tendo sofrido
folhas de Tocantins, Goiás e Goiânia (Cordani e Hasui, 1975a, b, c), além da de tectonismo e metamorfismo em diversas fases posteriores. Segundo Cordani e
Brasília (Cordani, 1976), que abrangem extensas áreas do Centro-Oeste. Os re- Hasui (1975b), o padrão geocronológico K-Ar de biotita, anfibólio e plagioclá-
feridos comentários, reunindo número significativo de dados isotópicos, repre- sio de amostras dos complexos é altamente discordante, com idades aparentes
sentam a primeira tentativa de sumarizar informações geocronológicas obtidas entre 685 e 4000 Ma, maiores que 650 Ma, época principal da Orogenia Bra-
nas décadas de 1960 e 1970, avaliando-as em contexto geotectônico regional siliana, indicando que são pré-brasilianas. As idades muito antigas poderiam
mais amplo. ser devidas a argônio em excesso presente nos minerais analisados, em virtu-
Nos comentários relativos à Folha Tocantins são referidas 22 idades K-Ar em de de argônio primário incorporado ao retículo ou de argônio proveniente da
biotita, muscovita e rocha total, e três idades aparentes obtidas pelo método Rb degaseificação de fases minerais vizinhas, introduzido em épocas posteriores,
-Sr. Cordani e Hasui (1975a) destacam o significativo contraste de idades obtidas durante episódios térmicos sofridos pelas rochas. Padrão similar é referido para
em amostras provenientes do Cráton Amazônico, exposto na porção oeste da anfibólio de amostras de anfibolitos e metabasitos coletadas em áreas mapeadas
área da folha, com valores sempre superiores a 1500 Ma, em relação às registra- como Pré-Cambriano Indiferenciado ou como Grupo Araxá. Análises K-Ar em
das em rochas da Faixa Araguaia, com idades entre 430 e 550 Ma, assinalando os micas de xistos e gnaisses das mesmas unidades revelaram idades entre 450 e
efeitos indeléveis da Orogenia Brasiliana, durante a qual a faixa foi edificada ao 650 Ma, tidas como indicativas de eventos tectonotermais devidos à Orogenia
longo da margem do cráton. Brasiliana. Isócrona Rb-Sr de referência sugere idade de ca. 2000 Ma para essas
Para a área da Folha Goiás, Cordani e Hasui (1975b) referem 65 determina- rochas. Para o Granito Serra da Mesa é registrada isócrona Rb-Sr com idade
ções radiométricas, obtidas em 56 amostras e divulgadas por diversos autores próxima de 1400 Ma e idade K-Ar em biotita de 530 Ma. Muscovita de peg-
no início da década. As amostras são referentes ao que então era denominado matitos mostra idade K-Ar entre 480 e 890 Ma, sugestiva de formação anterior
Pré-Cambriano Indiferenciado, aos complexos básico-ultrabásicos, ao Grupo à Orogenia Brasiliana. Com notável dose de premonição, os autores assinalam
Araxá e a alguns granitos e pegmatitos, além de diques mesozoicos. Segundo que os dados compilados parecem sugerir haver pelo menos três sequências com
os autores, a área entre os crátons do São Francisco e Amazônico (este referido idades diferentes entre as rochas tidas como Grupo Araxá na Folha Goiás, ilação
à época como Cráton Guaporé) foi submetida aos episódios tectonotermais da corroborada em inúmeros trabalhos realizados em anos subsequentes.
Orogenia Brasiliana, incluindo metamorfismo em várias intensidades, intrusões, Inferências similares são relatadas na análise dos dados então disponíveis para
falhamentos múltiplos etc., que afetaram e rejuvenesceram parcial ou total- a área da Folha Goiânia (Cordani e Hasui, 1975c), abrangendo 40 determinações
mente rochas anteriores, dificultando sua caracterização e correlação regional K-Ar e 1 Rb-Sr. Os autores registram que idades K-Ar são mais dependentes do tipo
e contribuindo para persistentes incertezas. Nesse contexto Cordani e Hasui de material analisado do que da unidade a que são atribuídos, referindo-se espe-
(1975b) consideram que a maioria dos problemas geológicos da folha se refere cificamente ao Grupo Araxá e ao então chamado Pré-Cambriano Indiferenciado.
a: i) identificação das unidades realmente brasilianas, com evolução completa, Assim, idades obtidas em plagioclásio e anfibólio se situam entre 600 e 1300 Ma,
inclusive sedimentação, durante a orogenia; ii) caracterização do Grupo Araxá enquanto idades de micas variam entre 540 e 800 Ma. Idades K-Ar características
como entidade pré-brasiliana e iii) definição e posicionamento temporal dos da Orogenia Brasiliana são frequentes, indicando rejuvenescimento total ou parcial
grupos Tocantins, Cuiabá, Alto Paraguai, Araí, Bambuí e Canastra. Na interpre- de muitos minerais analisados. Embora não haja valores atribuíveis ao Arqueano,
tação dos autores as unidades brasilianas da Faixa Araguaia seriam representadas os autores inferem que a região é essencialmente pré-brasiliana, mas afetada pelos
pelo Grupo Tocantins e possivelmente pelos xistos então mapeados como Gru- fenômenos térmicos associados à implantação das faixas Brasília e Paraguai. Idades
po Araxá, hoje integrando o Grupo Estrondo e, junto com o Grupo Tocantins, K-Ar e uma determinação Rb-Sr obtidas em amostras de granitoides colhidas nos
constituindo o Supergrupo Baixo Araguaia (ver p. ex. Alvarenga et al., 2000). rios Piranhas e Caiapó, oeste de Goiás, com valores ao redor de 500 Ma, são atri-
Com respeito à Faixa Brasília, Cordani e Hasui (1975b) consideram que o Gru- buídas à formação em fase pós-tectônica da Orogenia Brasiliana, antecipando in-
po Bambuí e possivelmente os grupos Canastra e Araxá representam material da terpretações mais recentes baseadas em determinações por métodos mais robustos.

138 139
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 7

A parte da Folha Brasília correspondente ao Centro-Oeste (Cordani, 1976) os- Umberto Cordani desempenhou papel importante na saga da identificação
tenta apenas 5 determinações K-Ar, oriundas do trabalho de Hasui e Almeida (1970). de arco magmático neoproterozoico no Brasil central. Em 1984, acolheu Mar-
Metabasito proveniente do Cráton do São Francisco mostra idade paleoproterozoi- cio Pimentel no Centro de Pesquisas Geocronológicas da USP para que pudesse
ca. Amostras de gnaisse, anfibolito e granito provenientes do embasamento da Faixa analisar amostras representativas de gnaisses e granitos da região de Arenópolis
Brasília e de filito da sequência de margem passiva, com idades entre 932 e 498 Ma, -Piranhas, no oeste de Goiás, objeto de sua dissertação de mestrado, que então
claramente assinalam os efeitos da Orogenia Brasiliana. desenvolvia sob minha orientação na Universidade de Brasília. Não obstante as
As ilações e sugestões avançadas por Cordani e Hasui (1975a, b, c) e Cordani limitações do método Rb-Sr, ficou claro que Marcio, com a supervisão segura
(1976), a partir da compilação dos dados isotópicos então disponíveis para exten- de Koji Kawashita e Cordani, investigava rochas jovens, neoproterozoicas, com
sas áreas do Centro-Oeste Brasileiro, contidas nas folhas ao milionésimo de Tocan- assinatura isotópica de material juvenil, em contraste com inferências prévias de
tins, Goiás, Goiânia e Brasília e respectivos textos explicativos, até então conhecidas que a região abrigava remanescentes de greenstone belts arqueanos. Os primei-
quase exclusivamente em escalas de reconhecimento regional, foram em boa parte ros resultados, indicando idades neoproterozoicas de gnaisses e granitos, foram
corroboradas e comprovadas nos anos e décadas seguintes, em trabalhos de maior divulgados em Pimentel et al. (1985), com Cordani e Kawashita como coau-
escala – contando com apoio crescente de dados isotópicos e geocronológicos – em- tores. Esses resultados foram corroborados por Marcio em anos subsequentes,
preendidos por diversas instituições, com destaque para DNPM, CPRM e UnB. Na com análises isotópicas e geocronológicas por métodos mais robustos (Sm-Nd,
verdade, nunca é demasiado ressaltar a importância da geocronologia no avanço do U-Pb em zircão), durante seu doutorado na Universidade de Oxford, sob orien-
conhecimento geológico do Centro-Oeste e do Brasil, e o relevante papel desempe- tação de Steven Moorbath e Paul Taylor, e em estágio no laboratório de Tom
nhado por Umberto Cordani e associados na implantação dessa ferramenta crucial Krough, na Universidade de Toronto (e.g. Pimentel e Fuck, 1992). Contribuição
para o desenvolvimento brasileiro. adicional de Cordani para o conhecimento geológico do Centro-Oeste emanou
Em trabalho de 1978, com a participação de Cordani, foram apresentados de convite que me fez para estada de um ano como professor visitante na USP,
dados isotópicos Rb-Sr e K-Ar adicionais, referentes ao Complexo Cana Brava com suporte da FAPESP. Entre outros, dessa estada resultaram dados isotópicos
e rochas vizinhas (Girardi et al., 1978). As idades K-Ar de rochas do complexo em isócronas Rb-Sr de granulitos félsicos do Complexo Barro Alto (1266 ± 17
mostram padrão similar ao anteriormente apontado, com valores entre 4125 e 446 Ma) e de gnaisses da Sequência Juscelândia (1330 ± 67 Ma), idades similares
Ma, denotando excesso de argônio nos minerais analisados e rejuvenescimento considerado o erro analítico, então interpretadas como indicativas de evento
influenciado pelos eventos da Orogenia Brasiliana. Análises Rb-Sr de amostras de metamórfico (Fuck et al., 1989).
rochas variadas da borda oeste do complexo renderam isócrona de referência de Na década seguinte Cordani foi coautor de interessante trabalho sobre o Grupo
ca. de 1160 Ma, tida como possivelmente indicativa de metamorfismo, ao passo Bambuí (Thomaz Filho et al., 1998), em que foi proposto que essa unidade foi depo-
que amostras de rochas da borda leste indicam isócrona de referência de ca. 645 sitada em bacia de antepaís, à frente do front dos orógenos brasilianos desenvolvidos
Ma, retratando efeitos da Orogenia Brasiliana. às margens do Cráton do São Francisco.
Uma gama de informações geocronológicas obtidas em amostras representa- Mais recentemente, foi apresentada relevante contribuição relativa ao Bloco
tivas de unidades geológicas do Centro-Oeste foi divulgada na década de 1980. Rio Apa, chamado de cráton, em Mato Grosso do Sul e Paraguai (Cordani et
Inicialmente, Reis Neto e Cordani (1984) apresentam 8 dezenas de análises Rb al., 2010b). Os dados geocronológicos, obtidos pelos métodos U-Pb e Sm-Nd,
-Sr e mais de uma dezena de análises K-Ar referentes a rochas de diversas uni- estabelecem marcos importantes na formação do bloco, sua subdivisão e sua evo-
dades expostas em Goiás. Amostras do então chamado Complexo Basal Goiano lução, bem como permitem compreender implicações tectônicas e possíveis cor-
revelam dispersão de pontos analíticos. Algumas rochas mostram idades de cer- relações com eventos formadores dos supercontinentes Rodínia e Gondwana. As
ca de 3200, 2500 e 2060 Ma, considerando baixas razões iniciais. Isócronas de rochas mais antigas, do Complexo Porto Murtinho, expostas na porção ocidental
referência com altas razões iniciais indicam idades neoproterozoicas. Xistos da do bloco, mostram idades de cerca de 1,9-2,0 Ga, enquanto granitos e gnais-
Formação Ticunzal revelaram idade de 645 Ma em isócrona de referência com ses da porção oriental apresentam idades de 1,7-1,8 Ga. É relatado importante
elevadas razões iniciais, enquanto gnaisses mostraram idade de ca. 2500 Ma em evento metamórfico com cerca de 1,3 Ga, possivelmente relacionado ao evento
isócrona de referência com baixa razão inicial. O Granito Serra Dourada foi Rondoniano-San Ignacio e a possibilidade de evento metamórfico mais antigo ao
datado em 1465 Ma, com razão inicial de 0,792. Já os dados Rb-Sr do Granito redor de 1,6 Ga (Cordani et al., 2010) (ver capítulo 1).
Serra da Mesa apontaram idade de ca. 560 Ma, com razão inicial elevada, e Em sequência, Cordani embarcou em relevante polêmica científica: Houve
idades K-Ar em muscovita de 430-470 Ma. Rochas vulcânicas do Grupo Araí um Oceano Clymene na porção central da América do Sul? Proposto no final
forneceram isócronas de 1140, 590 e 550 Ma e idades K-Ar em rocha total de da década anterior (Tohver et al., 2010), o fechamento de Clymene, um oceano
580 e 670 Ma, enquanto isócrona de referência em rochas metassedimentares ediacarano, teria resultado na edificação de cadeias de montanhas, cujas raízes
do grupo resultou em 470 Ma. De modo geral, os resultados sublinham que a seriam hoje representadas pelas faixas orogênicas Paraguai e Araguaia, na mar-
Orogenia Brasiliana afetou drasticamente as rochas das várias unidades analisa- gem leste/sudeste do Cráton Amazônico. A ideia foi contestada, atribuindo a
das (Reis Neto e Cordani, 1984). formação e evolução dessas faixas também ao fechamento do Oceano Goiás-

140 141
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 7

Farusiano, durante a Orogenia Brasiliana, tal como a Faixa Brasília, na margem capítulo 17). Em termos de Centro-Oeste, foram revisadas estrutura e evolução
ocidental do Cráton do São Francisco (Cordani et al., 2013a). A argumentação das faixas orogênicas da Província Tocantins e suas relações com as bacias do
foi questionada (Tohver e Trindade, 2014), tendo sido reforçada por subsequente Paraná, Parnaíba e Parecis.
réplica (Cordani et al., 2014). Estabelecida a controvérsia, espera-se que no- Seguem-se as importantes revisões de Brito Neves e Cordani (1991, 1992) e
vos trabalhos venham a resolvê-la no futuro próximo. Contribuições recentes Cordani e Sato (1999), que contêm sínteses e atualizações de grande interesse e
mostram que a abertura do rift precursor da bacia que acolheu as sequências repercussão, também sobre o Centro-Oeste. Talvez o exemplo mais significativo
sedimentares formadoras da Faixa Paraguai se deu há ca. 745 Ma (Silva, 2018), desses trabalhos é a revisão sobre a evolução crustal da Plataforma Sul-America-
inferência corroborada por dados obtidos mais a norte, na Faixa Araguaia (e.g. na (Cordani et al., 2000b), que constitui o capítulo inicial da notável e abrangen-
Hodel et al., 2019). Os novos dados mostram que as bacias precursoras desses te obra sobre a evolução tectônica da América do Sul, editada em homenagem
orógenos foram formadas em tempos correspondentes aos estágios finais ou mes- ao emérito geocientista e educador Fernando Flávio Marques de Almeida, por
mo posteriores aos da ruptura de Rodínia e abertura do Oceano Goiás-Farusiano. ocasião do 31st International Geological Congress, realizado no Rio de Janeiro
Da mesma forma, são também posteriores aos estágios iniciais (ca. 900-800 Ma) (Cordani et al., 2000a). O capítulo faz as vezes de introito ao alentado volume
de edificação do Arco Magmático de Goiás, que aliás, por dados recentes, con- que retrata o estado da arte do conhecimento geológico do Continente Sul-A-
tribuiu com sedimentos para a deposição de parte das unidades constituintes da mericano no final do Século XX, incluindo sínteses sobre recursos minerais e
Faixa Paraguai (e.g. Bandeira et al., 2011; Vasconcelos, 2018). fluidos fósseis desta parte do globo. Cordani e coautores apresentam resumo
sobre a evolução da plataforma e das províncias geotectônicas que a constituem,
incluindo também pequena síntese sobre a Província Tocantins, com destaque
3. O Centro-Oeste no contexto às faixas orogênicas Araguaia, Paraguai e Brasília. Nessa contribuição é mais
da evolução da América do Sul uma vez ressaltada a importância do Lineamento Transbrasiliano, que assinala os
limites de domínios geotectônicos de idade e evolução distintos no seio da Pla-
Numerosos trabalhos de Cordani e coautores abordaram aspectos vários da taforma Sul-Americana, assunto retomado com mais ênfase e aprofundamento
formação e evolução do Brasil e do Continente Sul-Americano. Nesses trabalhos de anos mais tarde, também por outros autores (Cordani et al., 2013b; Brito Neves
síntese há relevantes contribuições que alavancaram o conhecimento geológico do e Fuck, 2014; Brito Neves et al., 2014) (ver capítulo 9). De particular interesse
continente e de nosso país e, de quebra, trouxeram novos dados e interpretações nesse capítulo introdutório é a compilação de dados isotópicos que resultou na
que ajudaram a aprofundar o conhecimento sobre a geologia do Centro-Oeste elaboração de diagrama de evolução isotópica de Nd, mais uma vez ilustrando
Brasileiro e compreender sua evolução. o marcante contraste da evolução do Arco Magmático de Goiás em comparação
Desde cedo, após a implantação dos estágios iniciais do hoje Centro de Pes- com a evolução isotópica de rochas de embasamento (basement inliers) da Faixa
quisas em Geocronologia e Geoquímica Isotópica da Universidade de São Pau- Araguaia, do Maciço de Goiás (áreas de Crixás e Uvá) e da região de Nativida-
lo (CPGeo), Umberto Cordani e colaboradores compilaram dados isotópicos e de-Cavalcante. Esses e outros dados são detalhados em importantes capítulos
geocronológicos e desenvolveram exercícios de síntese, visando identificar os integrantes da obra, referentes à geologia do Centro-Oeste (Alvarenga et al.,
distintos compartimentos geológicos e geotectônicos que constituem o Conti- 2000; Dardenne, 2000; Pimentel et al., 2000).
nente Sul-Americano e compreender sua origem e evolução. É digno de nota que
muitos desses exercícios foram publicados em periódicos de ampla circulação
internacional, divulgando-os para comunidades geológicas interessadas em todos 4. Orientações em temáticas do Centro-Oeste.
os continentes. Vários deles foram publicados ainda nas décadas de 1960 e 1970
(Cordani, 1968; Cordani et al., 1968, 1973). Outros foram elaborados nos anos Em sua jornada de professor e pesquisador, Umberto Cordani orientou mais
1980 (Cordani e Brito Neves, 1982; Cordani et al., 1988), divulgando o número de três dezenas de estudantes de pós-doutorado, doutorado, mestrado, gradua-
crescente de dados isotópicos, o que permitiu o aprofundamento do conhecimen- ção e iniciação científica. Dentre eles, alguns pesquisaram temas referentes ao
to da evolução do continente, incluindo o Centro-Oeste. Dentre esses trabalhos, Centro-Oeste. Renato Caminha, bolsista de iniciação científica do CNPq, abor-
de relevante interesse, seguindo reconhecimento geocronológico de rochas de dou a datação Rb-Sr de rochas pelíticas do Grupo Corumbá (Caminha, 1979).
embasamento das bacias do Amazonas e Maranhão (Kovach et al., 1976), merece José Manoel Reis Neto investigou a evolução tectônica da região do Alto To-
destaque o estudo de integração do embasamento pré-cambriano com os eventos cantins em sua dissertação de mestrado, usando dados isotópicos Rb-Sr e K-Ar
tectônicos das bacias sedimentares brasileiras. Realizado a instâncias da Petrobras (Reis Neto, 1983; Reis Neto e Cordani, 1984). Woldemar Iwanuch pesquisou
(Cordani et al., 1984; Brito Neves et al., 1984) e atualizado mais de vinte anos intrusões alcalinas proterozoicas no Norte de Goiás e Tocantins, com base em
depois (Cordani et al., 2010a), o foco do estudo consistiu em compilar e revisar datações Rb-Sr e K-Ar (Iwanuch, 1990). Daniel Martins de Oliveira caracterizou
dados então disponíveis sobre a estruturação do embasamento, visando determi- a geoquímica elementar e isotópica de rochas carbonáticas em Mato Grosso do
nar sua influência na formação e evolução das bacias fanerozoicas brasileiras (ver Sul e no Paraguai, em seu trabalho final de graduação (Oliveira, 2004). Ama-

142 143
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 7

rildo S. Ruiz realizou estágio de pós-doutorado em temas de geologia pré-


cambriana de Mato Grosso e Bolívia, sob a supervisão de Umberto Cordani. Cordani U.G. & Hasui Y. 1975c. Comentários sobre Belo Horizonte, Anais, p. 149-154.
as determinações geocronológicas disponíveis na Folha Hodel F., Trindade R.I., Macouin R.I., Meira
Goiânia. Brasília, Departamento Nacional da Produção V.T., Dantas E.L., Paixão M.A.P., Rospabé M., Castro
Mineral, MME. M.P., Queiroga G.N., Alkmim A.R., Lana C.C. 2019.
Cordani U.G., Melcher G.C., Almeida F.F.M. 1968. A Neoproterozoic hyper-extended margin associated
5. Considerações finais Outline of the Precambrian geochronology of South with Rodinia’s demise and Gondwana’s build-up: The
America. Canadian Journal of Earth Sciences, 5:629- Araguaia Belt, central Brazil. Gondwana Research,
A breve síntese acima é uma pequena amostra do geocientista e professor 632. https://doi.org/10.1139/e68-058. 66:43-62.
Cordani U.G., Milani E.J., Thomaz Filho A., Cam- Iwanuch W. 1990. Geologia dos maciços alcalinos
que é Umberto Cordani. Com uma carreira brilhante, reconhecida no País pos D.A. (eds.). 2000a. Tectonic Evolution of South proterozóicos do centro-norte de Goiás. PhD Thesis, Uni-
e internacionalmente, foi pioneiro na implantação de ferramenta essencial America. Rio de Janeiro, 31st International Geological versidade de São Paulo, São Paulo.
para o desenvolvimento do conhecimento geológico no Brasil, na América do Congress, 855p. Kovach A., Fairbain H.W., Hurley P.M., Basei
Cordani U.G., Pimentel M.M., Araujo C.E.G., Ba- M.A.S., Cordani U.G. 1976. Reconnaissance geo-
Sul e alhures. Em particular, contribuiu de forma relevante para o avanço do sei M.A.S., Fuck R.A., Girardi V.A.V. 2013a. Was there chronology of basement rocks from the Amazonas
conhecimento geológico do Centro-Oeste, seja na forma de desenvolvimento an Ediacaran Clymene Ocean in central South America? and Maranhão basins in Brazil. Precambrian Research,
de pesquisas e realização de trabalhos, seja na orientação e supervisão de es- American Journal of Science, 313: 517-539. 3:471-480.
Cordani U.G., Pimentel M.M., Araujo C.E.G., Basei Oliveira D.M. 2004. Caracterização geoquímica
tudantes. O Centro-Oeste e sua comunidade geológica lhe são extremamente M.A.S., Fuck R.A., Girardi V.A.V. 2014. Reply. American elementar e isotópica de rochas carbonáticas Neoprote-
gratos e eu lhe rendo minhas homenagens e agradecimentos por ajudar a levar Journal of Science, 314: 814-819. rozóicas: inferências quimioestratigráficas - seqüências
o conhecimento geológico do Brasil e do Centro-Oeste ao nível internacional Cordani U.G., Pimentel M.M., Araujo C.E.G, sedimentares do Mato Grosso do Sul e Paraguai. Traba-
Fuck R.A. 2013b. The significance of the -Trans- lho de Conclusão de Curso, Instituto de Geociências,
que vem desfrutando. brasiliano-Kandi tectonic corridor for the amalgama- Universidade de São Paulo, São Paulo. Orientador: Um-
tion of West Gondwana. Brazilian Journal of Geology, berto Giuseppe Cordani.
43:583-597. Pimentel M.M. & Fuck R.A. 1992. Neopro-
Cordani U.G. & Sato K. 1999. Crustal Evolution of terozoic crustal accretion in central Brazil. Geology,
South American Platform, based on Sr and Nd systemat- 20(4):375-379.
Referências (Graduando em Geologia), Instituto de Geociências, ics on granitoid rocks. Episodes, 22(3):167-173. Pimentel M.M., Fuck R.A., Cordani U.G., Kawashi-
Universidade de São Paulo. Orientador: Umberto Cordani U.G., Sato K., Teixeira W., Tassinari ta K. 1985. Geocronologia de rochas graníticas e gnáis-
Alvarenga C.J.S., Moura C.A.V., Gorayeb P.S.S., Giuseppe Cordani. C.C.G., Basei M.A.S. 2000b. Crustal Evolution of the sicas da região de Arenópolis-Piranhas, Goiás. Revista
Abreu F.A.M. 2000. Paraguay and Araguaia Belts. In: Cordani U.G. 1968. Esboço da geocronologia pré- South American Platform. In: Cordani U.G., Milani Brasileira de Geociências, 15:3-8.
Cordani U.G, Milani E.J., Thomaz Filho A., Campos cambriana da América do Sul. Anais da Academia Brasi- E.J., Thomaz-Filho A., Campos D.A. (org.). Tectonic Pimentel M.M., Fuck R.A., Jost H., Ferreira Filho
D.A. (org.). Tectonic Evolution of South America. Rio leira de Ciências, 40(supl.): 47-51. Evolution of South America. Rio de Janeiro, 31st Inter- C.F., Araújo S.M. 2000. The basement of the Brasília
de Janeiro, 31st International Geological Congress, p. Cordani U.G. 1976. Comentários sobre os dados national Geological Congress, p. 19-40. Belt and the Goiás Magmatic Arc. In: Cordani U.G.,
183-193. geocronológicos disponíveis na Folha Brasilia. Brasília, Cordani U.G., Teixeira W., Tassinari C.C.G., Cou- Milani E.J., Thomaz Filho A., Campos. D.A. (eds.). Tec-
Bandeira J., Collins A.S., Nogueira A.C.R., McGee Departamento Nacional da Produção Mineral, MME. tinho J.M.V., Ruiz A.S. 2010. The Rio Apa Craton in tonic Evolution of South America. Rio de Janeiro, 31st
B., Trindade R.I.F. 2011. Sedimentological and prove- Cordani U.G., Amaral G., Kawashita K. 1973. The Mato Grosso do Sul (Brazil) and northern Paraguay: International Geological Congress, p. 195-229.
nance response to Cambrian closure of the Clymene Precambrian evolution of South America. Geologische Geochronological evolution, correlations and tectonic Reis Neto J.M. 1983. Evolução tectônica da Bacia
ocean: The upper Alto Paraguai Group, Paraguay belt, Rundschau, 62:309-317. implications for Rodinia and Gondwana. American Jour- do Alto Tocantins – GO. MS Dissertation, Instituto de
Brazil. Gondwana Research, 21:323-340. Cordani U.G. & Brito Neves B.B. 1982. The geo- nal of Science, 310:981-1023. Geociências, Universidade de São Paulo, São Paulo.
Brito Neves B.B. & Cordani U.G. 1991. Tectonic logic evolution of South America during the Archean Cordani U.G., Teixeira W., Tassinari C.C.G., Kawa- Reis Neto J.M. & Cordani U.G. 1984. Influência
evolution of South America during the late Proterozo- and Early Proterozoic. Revista Brasileira de Geociências, shita K., Sato K. 1988. The growth of the Brazilian do Evento Geodinâmico Brasiliano nos resultados ra-
ic. Precambrian Research,53(1/2):23-40. https://doi.or- 12(1-3): 78-88. shield. Episodes, 11(3):163-166. diométricos do centro-oeste brasileiro. In: 33º. Con-
g/10.1016/0301-9268(91)90004-T. Cordani, U.G., Brito Neves, B.B., Fuck, R.A., Porto, Dardenne M.A. 2000. The Brasilia Fold Belt. In: Cor- gresso Brasileiro de Geologia. Rio de Janeiro, Anais.
Brito Neves B.B. & Cordani U.G. 1992. Eventos ter- R., Thomas Filho, A., Cunha, F.M.B. 1984. Estudo pre- dani U.G.; Milani E.J., Thomaz Filho A.; Campos D.A. Silva M.F. 2018. Evolução tectônica de rift para
minais do Ciclo Brasiliano-Pan-Africano no Gondwana liminar de integração do Pré-Cambriano com os eventos (eds.). Tectonic Evolution of South America. Rio de Janei- margem passiva da Faixa Paraguai. PhD Thesis, Univer-
ocidental. Correlación Geológica, 9:139-144. tectônicos das bacias sedimentares brasileiras. Ciência, ro,31st International Geological Congress, p. 231-263. sidade de Brasília.
Brito Neves B.B. & Fuck R.A. 2014. The basement Técnica, Petróleo. Seção Exploração de Petróleo 15, 1-70. Fuck R.A., Brito Neves B.B., Cordani U.G., Kawa- Thomaz Filho A., Kawashita K., Cordani U.G. 1998.
of the South American Platform: half Laurentian (N- Cordani, U.G., Brito Neves, B.B., Thomas Filho, A. shita K. 1989. Geocronologia Rb-Sr no Complexo Barro A origem do Grupo Bambuí no contexto da evolução ge-
NW) + half Gondwanan (E-SE) domains. Precambrian 2010a. Estudo preliminar de integração do Pré-Cam- Alto, Goiás: Evidência de metamorfismo de alto grau e otectônica e de idades radiométricas. Anais da Academia
Research, 244:75-86. https://doi.org/10.1016/j.precam- briano com os eventos tectônicos das bacias sedimen- colisão continental há1300 Ma no Brasil central. Geochi- Brasileira de Ciências, 70(3):527-548.
res.2013.09.020. tares brasileiras (atualização). Boletim de Geociências mica Brasiliensis, 3(2):125-140. Tohver E. & Trindade R.I.F. 2014. Comment on
Brito Neves B.B., Fuck R.A., Cordani U.G., Tho- Petrobras 17, 205-219. Girardi V.A.V., Kawashita K., Basei M.A.S., Cor- “Was there an Ediacaran Clymene Ocean in central
maz Filho A. 1984. Influence of basement structures on Cordani U.G. & Girardi V.A.V. 1967. Geologia da Fo- dani U.G. 1978. Algumas considerações sobre a evo- South America?” In: Cordani U. G. and others. American
the evolution of the major sedimentary basins of Brasil. lha Morretes. Boletim Paranaense de Geociências, 26:1-40. lução geológica da região de Cana Brava, a partir de Journal of Science, 314:805-813.
Journal of Geodynamics, 1(3-5):495-510. https://doi. Cordani U.G. & Hasui Y. 1975a. Comentários sobre dados geocronológicos. In: 30º. Congresso Brasileiro Tohver E., Trindade R.I.F., Solum J.G., Hall C.M.,
org/10.1016/0264-3707(84)90021-8. as determinações geocronológicas disponíveis na Folha de Geologia. Recife, Anais, p. 337-348. Riccomini C., Nogueira A.C. 2010. Closing the Clymene
Brito Neves B.B., Fuck R.A., Pimentel M.M. 2014. Tocantins. Brasília, Departamento Nacional da Produção Hasui Y. & Almeida F.F.M. 1970. Geocronologia do ocean and bending a Brasiliano belt: Evidence for the
The Brasiliano collage in South America: a review. Bra- Mineral, MME. Centro-Oeste Brasileiro. Sociedade Brasileira de Geolo- Cambrian formation of Gondwana, southeast Amazon
zilian Journal of Geology, 44:493-518. https://doi. Cordani U.G. & Hasui Y. 1975b. Comentários sobre gia, Boletim, 19(1):5-26. craton. Geology, 38: 267-270.
org/10.5327/Z2317-4889201400030010. as determinações geocronológicas disponíveis na Folha Hasui Y. & Cordani U.G. 1968. Idades potássio-ar- Vasconcelos B.R. 2018. Proveniência sedimentar do
Caminha R. 1979. Datação Rb-Sr de rochas pe- Goiás. Brasília, Departamento Nacional da Produção gônio de rochas eruptivas mesozóicas do oeste mineiro e Grupo Cuiabá na Faixa Paraguai meridional. Tese de
líticas do Grupo Corumbá. Iniciação Científica. Mineral, MME. sul de Goiás. In: 22º. Congresso Brasileiro de Geologia. Doutorado, Universidade de Brasília.

144 145
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 8

tui importante peça tectônica no fechamento do Oceano Goiás-Fa-


O Orógeno Brasília Meridional rusiano e na constituição do proto-continente no domínio ociden-
tal de Gondwana. Encoberto pela Bacia do Paraná, rastreado por
Mario da Costa Campos Neto1 sondagem profunda e geocronologia, foi descrito como um domí-
(camposnt@usp.br), nio cratônico por Cordani et al. (1984) e segmentado em distintos
Cauê Rodrigues Cioffi2, blocos de embasamento por Milani e Ramos (1998). Seus limites,
Alice Westin1,
indiretamente evidenciados por um degrau gravimétrico e por dis-
Brenda Chung Rocha1,
tintas propriedades da condutividade elétrica através da litosfera
Gabriella Labate Frugis1,
Mahyra Tedeschi3,
(Lesquer et al., 1981; Quintas et al., 1999; Bologna et al., 2013,
Marco Aurélio Piacentini Pinheiro4. 2014), restringem uma crosta continental estável e acoplada a es-
pessa quilha litosférica (Feng et al., 2004; Assumpção et al., 2006;
Juliá et al., 2008; Rocha et al., 2011 e 2019). Além dos registros
1
Universidade de São Paulo, Instituto de Geociências;
2
Universidade de São Paulo, Instituto de Astronomia, Geofísica paleoproterozoicos e arqueano (Cordani et al., 1984), o Bloco Para-
e Ciências Atmosféricas, Programa de Pós-Doutorado; napanema possui uma faixa mesoproterozoica (Siga Jr. et al., 2011;
Mario da Costa Campos Neto. 3
Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Geociências; Brenda Chung Rocha.
Campanha et al., 2015) e articula-se, através do Lineamento Trans-
4
Serviço Geológico do Brasil (CPRM).
brasiliano com os blocos Pampia e Amazonas. A ausência de dados
paleomagnéticos não lhe asseguram uma afinidade Laurenciana ou
1. Introdução
Gondwânica e sua deriva pré-colisão, através do Neoproterozoico,
é modelada a partir de uma ou da outra massa continental (Merdith
Sínteses tectônicas recentes como as de Kröner e Cordani (2003),
et al., 2017; D’Agrella-Filho e Cordani, 2017).
Cordani et al. (2003a, 2003b, 2010a, 2010b, 2013) e de Brito Neves
A extensa base atual de dados geocronológicos e petrocronológi-
e Fuck (2014) segmentaram o embasamento da Plataforma Sul-Ameri-
cos que serão apresentados, discutidos e geologicamente integrados
cana em dois amplos domínios geotectônicos: o domínio Amazonas ou
a seguir, tem como alicerce o quadro geocronológico e geotectônico
pré-Brasiliano (de afinidades Laurencianas) e o domínio Brasiliano (de
do sudeste brasileiro apresentado por Cordani e Teixeira (1979). As
afinidades Gondwânicas), este com faixas orogênicas ancoradas nos
peças tectônicas oriundas da longa evolução convergente de um vasto
blocos cratônicos Río de la Plata, Paranapanema e São Francisco. Essa
oceano que teria separado Laurencia de proto-Gondwana representam
abordagem permitiu uma correlação intercontinental entre fragmen-
o legado tectônico de Cordani (e colaboradores) para a compreensão
tos de arcos insulares e lascas tectônicas eclogito-retroeclogíticas que,
atual do sistema orogênico Brasília – cuja parte meridional é o tema
no Neoproterozoico, deixaram registros desde o contraforte alpino na
objeto desta síntese – e encontra-se sintetizada no Mapa Tectônico da
África Ocidental, à Borborema e Centro-Oeste brasileiros. Estes regis-
América do Sul (Cordani e Ramos, 2016).
Cauê Rodrigues Cioffi. tros geológicos de regimes convergentes de placas oceânicas e de uma Gabriella Labate Frugis.
sucessão de colisões entre blocos continentais (Arthaud et al., 2015;
Berger et al., 2011, 2014; Brito Neves et al., 1999; Caby e Monié,
2003; Ganade de Araújo et al., 2012; Pimentel e Fuck, 1992; Pimen- 2. Arcabouço tectônico
tel et al., 1997; Santos et al., 2009) foram reconhecidos ao longo de
uma faixa contínua, o Lineamento Transbrasiliano-Kandi (Cordani et No contexto da evolução da longa
al., 2003a; Cordani et al., 2013a, b; Ganade de Araújo et al., 2014), vida convergente do Oceano Goiás-Fa-
relacionada à cicatriz do fechamento diacrônico de um grande oceano, rusiano é que se encontram inseridas as
o Oceano Goiás-Farusiano (Cordani et al., 2003a, 2013a e b). distintas e diacrônicas peças tectônicas
A longa vida de processos convergentes, em parte intraoceânicos, do Sistema de Orógenos Brasília (figura
através do Neoproterozoico (do Toniano ao Ediacarano), permitiu 1), extensamente descritas por Darden-
uma revisão do supercontinente Rodínia (Li et al., 2008). A paleogeo- ne (2000) e Pimentel (2016).
grafia alternativa, com massas continentais de afinidades Laurencianas A síntese tectônica geométrica do
e Gondwânicas separadas por um largo oceano, encontraram consis- sistema orogênico reconhece um ramo
tência nas trajetórias de polos paleomagnéticos (Cordani et al., 2003b, setentrional orientado nordeste (Fuck
2009; D’Agrella-Filho et al., 2016; D’Agrella-Filho e Cordani, 2017; et al., 2017) e outro, meridional,
Alice Westin. Pisarevsky et al., 2003, 2013; Rapalini, 2018; Tohver et al., 2006). de orientação noroeste (Valeriano, Mahyra Tedeschi. Marco Aurélio
O Bloco Paranapanema (Mantovani e Brito Neves, 2005) consti- 2017), conformando uma cunha de Piacentini Pinheiro.

146 147
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 8

Figura 1: Sistemas orogê-


nicos do Centro-Sudeste
colisão, criogeniano-ediacarana, entre as paleoplacas São Francisco e Amazonas do Brasil + insert do
Gondwana Ocidental.
(colisão frontal) e entre São Francisco e Paranapanema (colisão lateral).
Processos de acreção de crosta continental, a partir de prolongada e contínua
evolução de complexos de arcos intraoceânicos foram ativos durante o Toniano.
Constituem o Arco Magmático de Goiás, com o ramo setentrional Mara Rosa
(850-800 Ma) e meridional Arenópolis (900-750 Ma), separados por um terreno
exótico (Maciço Central de Goiás) Arqueano-Paleoproterozoico (Pimentel et al.,
2003; Jost et al., 2013). Em ambos os segmentos um magmatismo cálcio-alca-
lino mais evoluído, com assinaturas de margem continental ativa, foi retomado
no Criogeniano, a partir de 690 Ma (Pimentel et al., 1997; Laux et al., 2005;
Guimarães et al., 2012; Matteini et al., 2010; Fuck et al., 2014). Complexos
metamórficos criogeniano-ediacaranos de alta a ultra-alta temperatura (Moraes
e Fuck, 2000; Moraes et al., 2002; Della Giustina et al., 2009) encontram-se
tectonicamente na base dos segmentos de arco magmático. Estes complexos as-
sociam-se a sequências metavulcanossedimentares mesoproterozoicas (Moraes et
al., 2006), a complexos máfico-ultramáficos acamadados fim-Tonianos (Ferreira
Filho et al., 2010; Correia et al., 2012; Giovanardi et al., 2017) e a sequências
metassedimentares neoproterozoicas oriundas da erosão do arco magmático,
com associações de mélange ofiolítica (Seer e Dardenne, 2000; Piuzana et al.,
2003; Falci et al., 2018; Piauilino et al., 2019).
A extensão sul-oriental do Orógeno Brasília Meridional configura uma cunha
tectônica eo-ediacarana entre a borda sul arqueano-paleoproterozoica do Cráton
São Francisco e os terrenos tardi-ediacaranos do Sistema Orogênico Ribeira (figu-
ra 1). Compreende sistemas de nappes que envolvem segmentos da margem ativa
Paranapanema e da margem passiva São Francisco (figura 2), transportados lateral-
mente à borda sul do cráton. Os sistemas de nappes registram regimes termais pa-
reados, de alta a ultra-alta temperatura e de alta pressão (Trouw et al., 1998; Cam-
pos Neto e Caby, 1999, 2000; Del Lama et al., 2000; Reno et al., 2009; Coelho
et al., 2017; Rocha et al., 2017; Tedeschi et al., 2017, 2018; Cioffi et al., 2019).
Entretanto, uma transição, tanto da paleogeografia, quanto do metamorfismo e da
deformação, ao domínio cratônico, observada nos demais segmentos ocidentais
do sistema orogênico, não está registrada neste domínio. Nappes metamórficas de
alta pressão, ou de alta temperatura, encontram-se diretamente sobre a margem
meridional cratônica.

3. Compartimentação tectônica do
Orógeno Brasília Meridional

Uma espessa pilha sub-horizontal de nappes de cavalgamento caracteriza o do-


mínio Sul-Oriental do Sistema Orogênico Brasília (figura 2). São estruturas sin-me-
tamórficas, desenvolvidas em diferentes etapas do processo de subducção-colisão
-exumação entre as paleoplacas São Francisco e Paranapanema. O sistema de nappes
possui um deslocamento mínimo agregado de cerca de 300 km para E-NE e inflete,
continuamente para NE, no limite oriental do orógeno, repousando, tectônica e
tardiamente, sobre unidades de margem passiva deformadas no Sistema Orogênico
Ribeira. Zonas de cisalhamento de alto ângulo seccionam a porção meridional deste

148 149
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 8

al., 2017, 2018; Tedeschi et al., 2018) e que conformam, com as unidades metamór-
ficas dos alóctones inferiores, uma faixa pareada de alta temperatura – alta pressão.
Cavalga as unidades internas do embasamento orogênico da margem passiva e, nas
porções frontais, cavalga em estruturas sinformais, calhas do Sistema de Nappes
Andrelândia.
O núcleo antigo do orógeno corresponde a unidades arqueano-paleoproterozoi-
cas da paleoplaca São Francisco que ocorrem em um corredor antiformal encurvado,
sob o recobrimento homogêneo da Nappe Socorro-Guaxupé (figura 2). São lascas
profundas de ortognaisses e migmatitos do Meso-Neoarqueano retrabalhadas no
Paleoproterozoico (Complexos Amparo, Heliodora e Minduri, Fetter et al., 2001;
Tassinari e Nutman, 2001; Peternel et al., 2005; Cioffi et al., 2016b; Oliveira et al.,
2019) que envolvem, tectonicamente (figura 3A), ortognaisses cálcio-alcalinos de
assinatura juvenil do Riaciano (Complexo Pouso Alegre, Cioffi et al., 2016a) e uma
sequência supracrustal imatura, oriunda da erosão de arco juvenil riaciano e cortada
por granitos peralcalinos do Estateriano (Complexo São Vicente, Westin et al., 2016;
Pinheiro et al., 2019b).
O Sistema de Nappes Andrelândia (figura 3B e C) ocorre em sinformas sob a
Nappe Socorro-Guaxupé e é constituído por uma pilha metamórfica invertida e
de alta pressão de rochas metassedimentares neoproterozoicas, organizadas em
três alóctones. A nappe superior Três Pontas-Varginha (Campos Neto e Caby,
1999, 2000) e klippen, é constituída por metapelitos (e metawackes) submetidos
a condições metamórficas de fácies granulito de alta pressão (rutilo-granada-cia-
nita K-feldspato gnaisses), recortados por (rutilo-cianita) granada leucogranito
gnaisses (Trouw et al., 1998; Campos Neto et al., 2010; Motta e Moraes, 2017).
As klippen, mapeadas por Trouw et al. (2002a, 2002b, 2008); Paciullo et al.
(2002); Campos Neto et al. (2007), ocorrem em calhas sinformais orientadas
E-W e NE, em padrão de domos e bacias e testemunham um transporte horizon-
tal mínimo de 85 km.
A nappe intermediária Liberdade (Trouw et al., 1986, 2000), constituída por
metapelitos (metapsamitos e gnaisses calciossilicáticos subordinados), é dominada
por rutilo-cianita-granada-micaxisto/gnaisses porfiroblásticos com intercalações de
rochas anfibolíticas. No assoalho da nappe, em meio aos metapelitos, ocorrem
corpos métricos de granada-clinopiroxênio anfibolitos (retroeclogitos), associa-
dos a lascas de rochas metaultramáficas e a corpos imbricados de ortognaisses
paleoproterozoicos do Complexo Pouso Alegre. A trajetória cinemática da Nappe
Liberdade é para E-SE, com encurvamento para NE no corpo frontal alongado da
Figura 2: Extensão
sul-oriental do Orógeno estrutura (figura 2). A nappe inferior Andrelândia é dominada por metawackes
Brasília Meridional. domínio orogênico e estão relacionadas em parte com a propagação (metatufos associados?) acinzentados (granada-biotita-plagioclásio-quartzo xisto
da deformação quando da docagem dos Terrenos Ribeira, em parte homogêneo ou gnaisse) da unidade Xisto Santo Antônio (Trouw et al., 1983). En-
representam a reativação de rampas laterais da migração do sistema contra-se recoberta, aparentemente em discordância, por pacote de rochas meta-
de nappes. pelito-psamíticas (rutilo-cianita-muscovita-quartzo xistos e quartzitos) da unidade
O alóctone superior, Nappe Socorro-Guaxupé (NSG) (Campos Serra da Boa Vista (Campos Neto et al., 2007).
Neto e Caby, 1999, 2000), conforma um edifício, espesso de cerca de O Sistema de Nappes Andrelândia cavalga o Complexo São Vicente e conforma
10 km, construído por segmentos da crosta inferior da margem ativa um complexo arranjo thick-skinned sobre o Sistema de Nappes Carrancas (Trouw et
norte-oriental da paleoplaca Paranapanema. É constituído por rochas al., 2000) e sobre a Nappe Lima Duarte (Campos Neto et al., 2004).
granulito-granito-migmatíticas que registram prolongado evento me- A margem passiva proximal e não-carbonática da borda sul da paleoplaca São
tamórfico neoproterozoico de alta a ultra-alta temperatura (Rocha et Francisco é constituída por extensos cordões psamíticos, tectonicamente descola-

150 151
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 8

portado em um sistema de nappes, para E-SE – E. Na margem sul oriental do


orógeno (figura 2), quartzitos e gnaisses pelíticos, descolados sobre o Complexo
Mantiqueira (arqueano-paleoproterozoico, Teixeira e Figueiredo, 1991; Noce et
al., 2007), constituem a Nappe Lima Duarte. Seu transporte para N-NW, sob um
gradiente metamórfico de alta temperatura (Machado et al., 1996; Campos Neto
et al., 2004, 2011), ocorreu durante a colisão do Sistema Orogênico Ribeira contra
o proto-continente São Francisco-Paranapanema, aglutinado no sistema orogênico
Brasília. O Grupo Carrancas e as unidades supra-crustais da Nappe Lima Duarte
são consideradas no mesmo sistema deposicional de margem passiva evoluída da
borda sul cratônica.
A evolução desta complexa pilha de nappes é abordada em dois modelos. Em
um as unidades dos sistemas de nappes Carrancas e Andrelândia compartilhariam a
evolução de um único sistema deposicional, em outro essas mesmas unidades confi-
gurariam distintas paleogeografias de diferentes idades. O primeiro envolveria ciclos
deposicionais (Carrancas e Serra do Turvo) de uma megassequência, denominada
Megassequência Andrelândia (Paciullo et al., 1993, 1996, 1998; Paciullo, 1997; Ri-
beiro et al., 1995; Trouw et al., 1998). O segundo modelo reconhece as unidades
metassedimentares de margem passiva e um domínio continental subductado (Cam-
pos Neto, 2000; Campos Neto et al., 2004).

4. Nappe Socorro-Guaxupé – Margem


ativa da Paleoplaca Paranapanema

A NSG é segmentada em dois domínios, Guaxupé a norte e Socorro a sul, sepa-


rados por uma janela estrutural do embasamento orogênico. Constitui-se de três uni-
dades tectônicas (figura 2): i) Unidade Granulítica Basal (ca. 3 km de espessura), que
consiste em (granada)-ortopiroxênio granulito bandados, com intercalações locais
de rochas máficas intrusivas sin-metamórficas e veios de leucossoma charnockítico,
interpretados como produto de fusão anidra in situ (Campos Neto e Caby, 2000;
Mora et al., 2014; Rocha et al., 2018; Tedeschi et al., 2018); ii) Unidade Diatexítica
Ortoderivada (ca. 6 km de espessura), constituída por migmatitos metaluminosos
cinza a rosa, e iii) Unidade Metatexítica Paraderivada (Campos Neto e Caby, 2000;
Rocha et al., 2017) constituída principalmente por migmatitos metassedimentares.
Figura 3: Seções geológicas localizadas na figura 2: (A) infraestrutura arqueano-paleoproterozoica da margem
passiva orogênica. Arqueano-Paleoproterozoico: Complexo Amparo (A), Complexo Heliodora-Minduri (H-M). Além destas, o embasamento considerado como parte do Bloco Paranapanema, aflo-
Paleoproterozoico: Complexo São Vicente (SV), Complexo Pouso Alegre (PA). Complexo Mineiro (M). Neo- ra como escassos relictos em meio às rochas neoproterozoicas (Trouw et al., 2008;
proterozoico: Unidades do Grupo Carrancas (amarelo); Unidades Andrelândia (cinza). (B) Sistema de Nappes Tedeschi et al., 2018).
Andrelândia. Neoproterozoico: 1- Leucogranito, 2- Migmatito Alagoa, 3- Unidade Serra da Boa Vista-Nappe
Andrelândia, 4- Unidade Santo Antônio-Nappe Andrelândia, 5- Nappe Andrelândia indivisa, 6- Nappe Liber- No Domínio Guaxupé, granulito datado em ca. 2,55 Ga, com assinatura juvenil
dade, 7- Nappe Pouso Alto (Três Pontas-Varginha). Paleoproterozoico: 8- Complexo São Vicente, 9- Complexo (ƐHf(2550)=+3 a +10) localiza-se em meio a granulitos e enderbitos de idade neopro-
Pouso Alto. (C) Nappe Carrancas com a projeção das lineações de estiramento mineral e indicação da cinemáti- terozoica e assinatura crustal. O granulito neoarqueano contrasta em idade e assina-
ca. Setas em cinza indicam sentido do transporte. Extraído e modificado de Westin et al. (2019).
tura isotópica com outras rochas do embasamento orogênico e representa o principal
registro do bloco Paranapanema (Tedeschi et al., 2018). Leucossomas neoprotero-
dos do embasamento e que gradam para metapelitos grafitosos com intercalações zoicos à hornblenda e biotita possuem cristais herdados de zircão de ca. 2,7 e 1,5 Ga,
lenticulares de quartzitos. Essas rochas constituem o Grupo Carrancas (Trouw et com assinatura isotópica crustal sub-condrítica, sugerindo indiretamente a presença
al., 1980, 1983, 2000; Ribeiro e Heilbron, 1982; Heilbron, 1985; Heilbron et de rochas crustais no embasamento do Domínio Guaxupé (Tedeschi et al., 2018).
al., 2004, 2017; Westin e Campos Neto, 2013; Westin et al., 2019) e registram As seções seguintes sintetizam aspectos do magmatismo e do metamorfismo asso-
um gradiente metamórfico de alta pressão (Silva, 2010; Fumes et al., 2019) trans- ciado a evolução neoproterozoica da NSG.

152 153
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 8

4.1 Magmatismo de arco


A idade do magmatismo relacionado à evolução do arco é identificada nos
núcleos de cristais de zircão dos granulitos e das rochas da Unidade Metatexítica
do Domínio Guaxupé entre 790-640 Ma (Basei et al., 1995; Reno et al., 2009;
Gengo, 2014; Mora et al., 2014; Vinagre et al., 2014; Rocha et al., 2017, 2018;
Tedeschi et al., 2018) e em plútons de charnockitos e hornblenda-granitos entre
ca. 660-640 Ma (Basei et al., 1995; Ebert et al., 1996; Janasi, 1999; Hackspacher
et al., 2003; Mora et al., 2014). Heranças de ca. 800 Ma também foram reconhe-
cidas no Domínio Socorro em monazita (Martins et al., 2009; Virmond, 2019) e
zircão (Negri, 2002; Gengo, 2014). Os dados isotópicos ƐHf(t) = -16 a -6 em zircão
dos granulitos indicam assinatura “crustal” para o protólito (Mora et al., 2014;
Tedeschi et al., 2018), corroborada por Nd em rocha-total com ƐNd(t) entre ca. -21
a -5 e idades modelo Nd-TDM entre 1,4 e 2,3 Ga (Janasi, 1999; Mora et al., 2014;
Vinagre et al., 2014; Gengo, 2014; Rocha et al., 2018). A assinatura isotópica va-
riável e “crustal” encontrada nestas rochas do arco magmático tem sido atribuída à
contribuição de manto metassomatizado (Rocha et al., 2018) e, alternativamente,
ao retrabalhamento do embasamento neo-arqueano juvenil de ca. 2,55 Ga (Tedes-
chi et al., 2018).

4.2 Metamorfismo de temperatura alta,


ultra-alta e magmatismo associado
O pico metamórfico na NSG ocorreu sob temperaturas entre 900-1040 °C e
pressões entre 10-12 kbar, com reequilíbrio a 650-750 ºC e 5-8 kbar em diferentes
setores das unidades Granulítica e Metatexítica Paraderivada do Domínio Guaxupé
(Campos Neto e Caby, 2000; Del Lama et al., 2000; Garcia e Campos Neto, 2003;
Reno et al., 2009; Rocha et al., 2017, 2018; Tedeschi et al., 2018) e são compatíveis
com ambiente tectônico relacionado a profunda raiz de arco magmático. Os litotipos
da Unidade Metatexítica Paraderivada no Domínio Socorro registram pico meta-
mórfico entre 750-950 °C, compatível com a fusão parcial de biotita e hornblenda,
e pressão inferior a 10 kbar, delimitado pelo campo de estabilidade da sillimanita
(Martins et al., 2009).
Trabalhos baseados em petrocronologia (e.g. Rocha et al., 2017, 2018; Tedeschi
et al., 2018) permitiram uma compreensão mais detalhada dos processos de fusão Figura 4: Trajetórias me-
parcial e cristalização de fundido na Nappe Socorro-Guaxupé. Os dados obtidos tamórficas P-T-t (Pressão-
Temperatura-tempo) para
demonstram que o metamorfismo de temperatura alta a ultra-alta foi um evento os segmentos tectônicos
de longa duração que perdurou por cerca de 30 Ma (Rocha et al., 2017) a 80 Ma da extensão sul-oriental
(Tedeschi et al., 2018). No domínio Guaxupé o estudo da evolução metamórfica e pobres em Th ao redor de apatita a ca. 628 ± 4 Ma, seguidos do Orógeno Brasília
Meridional. Compiladas
da Unidade Metatexítica Paraderivada (Rocha et al., 2017) indica a prevalência por fusão parcial envolvendo quebra de biotita. Segundo Reno et de Campos Neto e Caby,
das condições de temperaturas ultra-altas, com pico metamórfico a ca. 1030 °C, al. (2009) e Tedeschi et al. (2018), os primeiros registros do meta- 1999, 2000; Garcia e
11,7 kbar. Cinco episódios distintos de geração de monazita foram identificados morfismo estão em ca. 680 Ma e as condições de temperatura ul- Campos Neto, 2003; San-
tos et al., 2004; Reno et
por Rocha et al. (2017) e correlacionados com as reações metamórficas principais tra-alta, no segmento central do domínio Guaxupé, foram atingidas al., 2009, 2011; Campos
(figura 4). Um estágio de crescimento progressivo de monazita rica em Y e ETRP a precocemente, em ca. 655 Ma (Tedeschi et al., 2018). Alicerçam-se Neto et al., 2010; Motta
631 ± 4 Ma é preservado como núcleos reliquiares inclusos na granada. O início em cálculos termométricos de Ti-em-zircão e texturas envolvendo et al., 2010; Motta e
Moraes, 2016; Martinez,
do metamorfismo de fácies granulito é caracterizado pelo aparecimento de grana- clinopiroxênio zonado e ortopiroxênio, aliados a idade de bordas 2015; Coelho et al.,
da peritética e fundido (Tasco e Moraes, 2019) acompanhado da incorporação de metamórficas de cristais de zircão, interpretados como resultado de 2017; Tedeschi et al.,
Y pela granada e do Th pela monazita (Rocha et al., 2017). Os estágios iniciais de processos sub-solidus, concomitantes a intrusão de rochas gabroicas 2017; Rocha et al., 2017,
2018; Cioffi et al., 2019;
descompressão são registrados por pequenos cristais de monazita ricos em ETR com assinaturas pouco radiogênicas. Fumes et al., 2019.

154 155
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 8

Os episódios de cristalização de fundido foram reconhecidos nos migmatitos


da Unidade Metatexítica Paraderivada a partir de monazita rica em Th e pobre
em Y e ETRP: estágio inicial em ca. 625 Ma, um estágio principal em ca. 615 Ma
e um estágio final em ca. 608 Ma (figura 4), sincrônico com a geração de zircão
tipo soccer ball em granulitos máficos e charnockitos; os estágios finais de crista-
lização de fundido são consistentes com o desenvolvimento de bordas de mona-
zita ricas em Y e ETRP em ca. 600 Ma, concomitante com o consumo parcial de
granada e crescimento extenso de biotita ao longo da trajetória retrometamórfica
(Rocha et al., 2017). Recristalização tardia de monazita por processos de disso-
lução-reprecipitação na presença de fluidos é registrada em bordas de monazita Figura 5: Colunas litoestra-
ricas em Th e pobres em Y e ETRP em ca. 590 Ma (Rocha et al., 2017). tigráficas das unidades do
Sistema de Nappes Andrelân-
O crescimento de zircão ocorreu na trajetória retrometamórfica em ca. 850-650 dia com diagramas de médias
°C, (estimativas de termometria de Ti-em-zircão) durante a cristalização de fundido ponderadas das idades máxi-
entre ca. 630-600 Ma (Rocha et al., 2017, 2018; Tedeschi et al., 2018). mas de deposição (modificado
de Frugis et al., 2018). Relação
Expressivo magmatismo sin-colisional está registrado nas intrusões de charno- com o Grupo Carrancas, com
ckitos no domínio Socorro, há ca. 640-630 Ma e de granitos cálcio-alcalinos de a idade máxima de deposição
alto-K por toda NSG (Janasi, 1999, 2002; Campos Neto e Caby, 1999; Heilbron (modificado de Westin et al.,
2019). Sistema de Nappes An-
et al., 2004; Martins et al., 2009; Duffles et al., 2013; Mora et al., 2014; Vinagre drelândia: 1- Paleoproterozoi-
et al., 2014; Rocha et al., 2017, 2018; Tedeschi et al., 2018; Toledo et al., 2018). 5. Sistema de Nappes Andrelândia – co: ortognaisses do Complexo
Hornblenda-biotita-quartzo monzonitos e monzodioritos porfiríticos constituem os terreno alóctone de alta pressão Pouso Alegre. 2- Nappe Pouso
Alto: Rt-Ky-Grt-Kfs granulitos,
batólitos Pinhal-Ipuiúna (~625-620 Ma, Haddad, 1995) e Socorro (610 ± 7 e 608 quartzitos e granulitos máficos
± 7 Ma, Toledo et al., 2018), onde idades mais antigas (629 ± 8 Ma, Töpfner, Três estruturas alóctones em um padrão metamórfico invertido subordinados. Nappe Liberda-
1996) foram atribuídas a presença de herança em frações multigranulares de zircão constituem o Sistema de Nappes Andrelândia (Trouw et al., 2000). de: 3-Rt-Ky-Grt-Ms-Bt xisto/
gnaisse com metaultramáfica
analisadas por TIMS (Thermal Ionization Mass Spectrometry) (Janasi et al., 2016). O alóctono inferior, Nappe Andrelândia, é composto por pilha (muβ), metamáficas retroeclo-
A suíte mangerítica São José do Rio Pardo (Campos Neto et al., 1988; Jana- litoestratigráfica de metapelitos, metawackes e alternâncias me- gíticas (ecl), gnaisses calciossili-
si, 1999) é constituída por mangeritos, charnockitos e hornblenda granitos grossos tapelito-psamíticas. A Nappe Liberdade, estrutura intermediária, cáticos (cs), metamáficas (mβ);
4-Rt-Ky-Grt-Bt-Ms-Qtz xisto
associados a leucossomas charnockíticos (Janasi, 2002; Mora et al., 2014; Rocha compreende espessa sequência de micaxistos pelíticos intercalados com Ms-Grt quartzitos (grt
et al., 2018). Possui idade de ca. 625 Ma, e possui sua origem na fusão parcial de a quartzitos e com ocorrências de rochas calciossilicáticas, blocos qzt), leucogranitos (lγ). Nappe
granulitos férteis (Nd-TDM de ca. 1,5 Ga) e refratários, estes com maior residência de rochas metabásicas retroeclogíticas e rochas metaultramáficas. Andrelândia: 5-Rt-Ky-Grt-Ms
-Bt xisto/gnaisse; Xisto Santo
crustal (Janasi, 2002). No alóctono superior, Nappe Três Pontas-Varginha (Pouso Alto) e Antônio: 6-Grt-Bt-Pl-Qtz xisto/
Os granitos com idades de cristalização entre ca. 625-610 Ma (Janasi, 1999; klippen, encontram-se metapelitos e metawackes sob condições me- gnaisse com metamáfica (mβ);
Martins et al., 2009) resultam da fusão de para- e ortognaisses (tipo Pinhal no domí- tamórficas de fácies granulito de alta pressão. Unidade Serra da Boa Vista:
7-Rt-Ky-Grt-Bt-Ms xisto, 8-Ky-
nio Guaxupé e tipo Nazaré Paulista, no domínio Socorro). Grt-Ms quartzito, 9-Rt-Ky-Gr-
5.1 Nappe Andrelândia t-Bt-Ms xisto com quartzitos.
4.3 Magmatismo pós-colisional Três unidades litoestratigráficas (figura 5) compõem a Nappe An- Nappe Carrancas: 10-quartzito
e muscovita quartzito, 11-Std-
O final da evolução magmática na NSG está associado ao desenvolvimento e drelândia (Campos Neto et al., 2007). A unidade basal, truncada pela Grt-Grf-Ms xisto com lentes
reativação de zonas de cisalhamento transcorrente de direção NE-SW e represen- zona de cavalgamento, é composta por rochas metapelíticas pelágicas de quartzito, 12-Std-Grt-Gr-
tado pelo plutonismo granítico da Província Magmática Itú em ca. 590-580 Ma com predomínio de granada-cianita-muscovita-biotita xistos, com es- f-Ms xisto, 13-Ms-Qtz xisto,
14-foreland: (Pl-Ep)-Grt-Chl
(Vlach et al., 1990; Janasi et al., 2009) e pela suíte sienítica ultrapotássica, cons- parsas intercalações de quartzitos e de anfibolitos. A Unidade Xisto -Bt-Ms xisto.
tituída pelos plútons Capituva e Pedra Branca (ver capítulo 13, de Vlach e Janasi Santo Antônio (Trouw et al., 1983), intermediária, aflora em gran-
neste livro). Idades-modelo Nd de manto empobrecido (TDM entre 1,5 e 1,7 Ga), des lajes escuras e abauladas e pode alcançar 850 metros de espessura
obtidas para os granitos peralcalinos e de alto potássio e para os sienitos ultra- aparente do pacote metamórfico. A litologia principal é um granada-
potássicos, são interpretadas em processos de geração envolvendo contaminação biotita-plagioclásio-quartzo xisto homogêneo, localmente com cianita,
da crosta e/ou do manto enriquecido (Carvalho et al., 2014). Próximos à borda muscovita, sillimanita e estaurolita. Engloba raras ocorrências lenticu-
tectônica com o sistema orogênico Ribeira ocorrem corpos intrusivos de granito lares de quartzitos e de anfibolitos/gnaisses calciossilicático.
(605-600 Ma), charnockito (580 Ma) e gabronorito Eo-Cambriano (Duffles et A unidade superior, Xisto Serra da Boa Vista (Campos Neto et
al., 2013; Vinagre et al., 2018). al., 2007), é composta por sequência terrígena clástica que pode ul-

156 157
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 8

trapassar os 800 metros de espessura aparente, com topo desconhecido. A base é


discordante sobre o Xisto Santo Antônio, ou diretamente sobre a unidade basal.
Aparentemente preserva um trato de sistema transgressivo onde rochas psamíticas
gradualmente dão espaço para depósitos pelíticos (Frugis et al., 2018). Na base da
unidade, muscovita quartzitos e muscovita-quartzo xistos com lentes de ortoquartzi-
tos intercalam esparsas camadas de cianita-granada-muscovita-quartzo xisto porfiro-
blástico. Gradam em direção ao topo, para cianita-granada-biotita-muscovita xisto
porfiroblástico com intercalação de camadas métricas de quartzito.
Os resultados isotópicos de Hf em cristais detríticos e/ou ígneos de zircão (Frugis
et al., 2018) registram assinatura de supra-subducção para um intervalo de idade to-
niano-criogeniana, sugerindo, como área-fonte, um arco magmático pouco evoluído
em margem continental ativa adelgaçada (figura 6).
O Xisto Santo Antônio apresenta fonte principal em rochas neoproterozoicas
(entre 660-960 Ma), máfico-intermediárias e de caráter juvenil (ƐHf(t) entre +7,9 e
+13,3). Suprimento a partir de áreas-fonte mais antigas caracteriza a Unidade Serra
da Boa Vista, com idades de proveniência entre o Meso (1,0-1,45 Ga) e Paleopro-
terozoico (1,70-2,16 Ga), de caráter predominantemente evoluído (ƐHf(t) < -15)
(Frugis et al., 2018). Metawackes (e metatufos?) do Xisto Santo Antônio apresentam
uma faixa de evolução de Nd (figura 6) com idades-modelo TDM entre 1,2 e 1,4 Ga
e valores de ƐNd(t) próximos ao CHUR ou pouco negativos (Frugis et al., 2018;
Santos, 2011. Indicam, no registro em rocha-total e na assinatura isotópica de Hf
em zircão, fonte vulcânica proximal e de pouca contaminação de crosta continental.
Figura 6: (A) Diagrama da ida-
5.2 Nappe Liberdade e ƐHf(1,4) entre +8 e +12 (Campos Neto et al., 2011; Frugis et al., de versus ƐHft e (B) histograma
A Nappe Liberdade (Trouw et al., 2000) é constituída por espesso pacote meta- 2018). As intercalações de dimensões métricas destas rochas meso- da Unidade Serra da Boa
Vista; (C) Diagrama da idade
mórfico de rochas pelíticas aluminosas com intercalações de metapsamitos e assu- proterozoicas, em meio a rochas metassedimentares neoproterozoicas, versus ƐHft e (D) histograma
midas como registro de depósitos pelágicos de água profunda. Subordinadamente sugerem colocação tectônica, em parte como blocos olistolíticos na da Unidade Santo Antônio;
ocorrem metawackes, gnaisses calciossilicáticos, rochas metamáficas, metaultramáfi- bacia de sedimentação (Frugis et al., 2018). (E) Diagrama da idade versus
ƐHft e (F) histograma da Nappe
cas, sequências manganesíferas e ferríferas (Frugis et al., 2018). Rochas metaultramáficas ocorrem como corpos alongados no as- Liberdade (extraído e modi-
Predominam micaxistos por até 3.000 metros de espessura aparente, que cor- soalho da Klippe Carvalhos. Correspondem a serpentinitos bandados ficado de Frugis et al., 2018).
respondem a rutilo-(ilmenita-sillimanita)-cianita-granada-plagioclásio-muscovi- com núcleos peridotíticos e duníticos (Pinheiro e Suita, 2008; Almei- DM depleted mantle, NC new
crust (Dhuime et al., 2011).
ta-biotita xistos porfiroblásticos, com níveis gnáissicos definidos por um banda- da, 2012) e corpos de rochas piroxeníticas (websteríticas) com serpen- (G) Diagrama de evolução de
mento estromático félsico, dominantemente a quartzo e plagioclásio. Em meio tinitos, espinélio-harzburgitos e lherzolitos subordinados (Pinheiro et Nd para as rochas do Sistema
aos xistos ocorrem lentes de (granada, rutilo, ilmenita)-titanita-diopsídio-hor- al., 2019a). de Nappes Andrelândia e (H)
para os metawackes associados
nblenda gnaisses calciossilicáticos, anfibolitos, granada anfibolitos e de clinopi- As rochas da Nappe Liberdade registram uma área-fonte crioge- a bacia de foreland sobre as
roxênio-granada anfibolitos. niano-toniana e contribuições de rochas mais antigas do Meso e Pale- unidades da margem passiva,
Corpos lenticulares de dimensões que chegam a dezenas de metros de anfibolitos oproterozoico (1,10-1,3 Ga e 1,70-2,0 Ga); diferentemente do Xisto dados compilados de Santos
(2011) e Frugis et al., (2018).
retroeclogíticos (clinopiroxênio-granada anfibolitos) ocorrem concordantes com a Santo Antônio, os cristais detríticos de zircão do Neoproterozoico Compilação de dados do
foliação metamórfica e intercalados em micaxisto/gnaisse. São frequentes no contato (980-640 Ma) possuem assinatura isotópica sub-condrítica com ƐHf(t) Arco Magmático de Goiás de
tectônico basal da nappe e associam-se a rochas metaultramáficas e imbricados tec- entre -5 e -21 (Frugis et al., 2018). Fuck et al. (2014), Junges et
al. (2002), Laux et al. (2004,
tônicos de ortognaisses do Complexo Pouso Alegre. As rochas retroeclogíticas carac- 2005), Matteini et al. (2010) e
terizam-se pela presença de simplectitas com clinopiroxênio, quartzo, plagioclásio 5.3 Nappe Três Pontas-Varginha Pimentel et al. (1997, 2000).
e hornblenda manteadas por hornblenda e de granada com coronas que podem ser A Nappe Três Pontas-Varginha (Pouso Alto) e klippen Carvalhos, Dados do Cráton São Francis-
co de Teixeira et al. (1996) e
simplectíticas, de plagioclásio e anfibólio. Rutilo e epidoto são acessórios frequentes. Aiuruoca e Serra da Natureza são compostas essencialmente por ro- Noce et al. (2000).
Os protólitos dessas rochas têm idades entre 1,52-1,44 Ga (Trouw, 2008; Coelho et chas granulíticas de alta pressão onde o litotipo predominante é um
al., 2017; Tedeschi et al., 2017; Frugis et al., 2018), e possuem assinaturas quími- rutilo-cianita-granada-K-feldspato granulito com esparsas camadas de
co-isotópicas de basaltos toleiíticos de fontes juvenis, com ƐNd(1,44) entre +3 e +0,3 quartzitos, de granada-biotita-plagioclásio gnaisses, de escapolita-hor-

158 159
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 8

nblenda-biotita gnaisse e de rochas máficas como granada-clinopiroxênio-quartzo torno de 10-11 kbar (Santos, 2004; Motta et al., 2010; Motta e Moraes, 2017). As
granulitos e enstatita-granada-hornblenda granulitos (Campos Neto e Caby, 2000; idades obtidas e interpretadas nos estágios metamórficos de descompressão e migra-
Garcia e Campos Neto, 2003; Campos Neto et al., 2004, 2010; Reno et al., 2009, ção do sistema de nappes encontram-se, indistintamente, entre 635 e 585 Ma (Motta
2011; Martinez, 2015; Motta e Moraes, 2016). É interpretada como equivalente, et al., 2010; Campos Neto et al., 2011; Reno et al., 2011; Motta e Moraes, 2017;
em fácies granulito, das unidades metassedimentares preservadas nas nappes Liber- Coelho et al., 2017; Tedeschi et al., 2017; Frugis et al., 2018).
dade e Andrelândia (Garcia et al., 2004; Cioffi et al., 2012). As rochas retroeclogíticas encontradas em blocos e boudins lenticulares nos mi-
caxistos da Nappe Liberdade e imbricados com o embasamento, registram condições
5.4 Metamorfismo de temperatura de ~700 oC, para pressões máximas em torno de 17,5 kbar (Campos
Um gradiente térmico aparente moderado, entre 825-650 oC/GPa, que decresce Neto e Caby, 1999), indicando espessura mínima de 60 km para crosta continental
do alóctono superior ao inferior, caracteriza o metamorfismo do Sistema de Nappes subductada na colisão. Reno et al. (2009), Campos Neto et al. (2011) e Tedeschi et
Andrelândia. As rochas metapelíticas definem um gradiente de campo metamórfico al. (2017) obtiveram idades mínimas U-Pb em zircão (LA-ICP-MS e SHRIMP) de
de alta pressão, a cianita, granada e rutilo, e trajetórias de descompressão isotérmica 680-670 Ma para este processo.
para o campo da sillimanita e ilmenita. Isógrada Ky-out – Sil-in atravessa obliqua- A determinação de trajetórias pressão-temperatura-tempo (P-T-t) a partir de
mente o sistema de nappes em seu domínio interno (Trouw et al., 1983; Ribeiro et abordagem petrocronólogica combinando análises de elementos traços em silicatos
al., 1995) e foi atribuída a zona de interferência da colisão do Sistema orogênico Ri- e composição de inclusões em zircão apontam para uma trajetória retrometamórfica
beira (Peternel et al., 2005; Trouw et al., 2013; Vinagre et al., 2016) ou a trajetória aproximadamente isotermal (figura 4) compatível com tectônica de colisão conti-
metamórfica contínua de descompressão (Santos et al., 2004, Campos Neto et al., nente-continente (Coelho et al., 2017; Tedeschi et al., 2017). Nas amostras estuda-
2011). As trajetórias P-T-t encontram-se sumarizadas na figura 4. das por esses autores o pico de pressão foi atingido em ca. 630 Ma e simplectita e
Rochas metapelíticas residuais, com paragêneses de fácies granulito de alta pres- corona formaram-se em condições de temperatura 550-700 °C e pressão 6-11 kbar
são (granada, cianita, rutilo e K-feldspato), associam-se a leucossomas de granada em ca. 600 Ma.
granitos e, em menor proporção, a granulitos máficos (granada-clinopiroxênio-or- O processo de exumação também está registrado nas rochas metaultramáficas
topiroxênio) e a granulitos calciossilicáticos (clinopiroxênio-granada-quartzo) e que possuem idades de ca. 638 Ma em bordas sobrecrescidas de cristais de zircão,
constituem o pacote metamórfico da Nappe Três Pontas-Varginha e klippen. As con- de natureza incerta, e na cristalização de metabasito rodingitizado, em ca. 608 Ma
dições de pico metamórfico encontram-se em torno de 850 oC e 15 kbar e as assem- (Lesnov et al., 2018, 2019).
bleias minerais gravaram uma trajetória de resfriamento sob altas pressões seguida
por descompressão isotérmica em condições de ~750 oC – 7 kbar (Trouw et al.,
1998; Campos Neto e Caby, 2000; Del Lama et al., 2000; Garcia e Campos Neto, 6. Margem passiva da Paleoplaca São Francisco
2003; Reno et al., 2009; Campos Neto et al., 2010; Motta et al., 2010; Martinez,
2015; Motta e Moraes, 2017). Idades (U-Th)-PbT em monazita de baixo-Y em 660- 6.1 Núcleo Ortognáissico-Migmatítico
655 Ma foram admitidas próximas ao pico metamórfico, enquanto que idades U-Pb O embasamento do orógeno é constituído por ortognaisses migmatíticos, ar-
em zircão em ca. 648 Ma marcariam o início da descompressão sob temperaturas queanos e paleoproterozoicos. Ortognaisses paleoproterozoicos também ocorrem
próximas a 750 oC. A exumação, por descompressão isotérmica aliviou cerca de 20 como lascas tectônicas em meio às sequências metassedimentares do Sistema de
km de carga litosférica e foi acompanhada por um resfriamento quase-isobárico a Nappes Andrelândia.
partir de 620-580 Ma (Reno et al., 2009, 2011). Esse embasamento é interpretado como parte do paleocontinente São Francisco,
As rochas metapelíticas da Nappe Liberdade possuem assinatura metamórfica de intensamente retrabalhado no domínio orogênico (Cioffi et al., 2016a). Registra
alta pressão destacada pela paragênese de rutilo-cianita-granada-muscovita-biotita. uma evolução geológica prolongada que se inicia com a geração de crosta continen-
Pequeno volume de fusão parcial incongruente de muscovita e plagioclásio em pre- tal do tipo TTG durante o período Mesoarqueano e termina com metamorfismo em
sença de água foi responsável por leucossomas lenticulares, estromáticos, a quartzo fácies anfibolito superior no final do Neoproterozoico.
e plagioclásio (Motta e Moraes, 2017). Diques e plutons tabulares de leucogranitos Dados geocronológicos, geoquímicos e isotópicos permitem a divisão do emba-
a muscovita e turmalina, paralelizados a foliação S2, são intrusivos e representam samento em dois domínios tectônicos principais: (1) domínio meso a neoarqueano
leucossomas in source. As paragêneses metamórficas registram temperaturas de 700- representado pelos complexos Amparo e Heliodora-Minduri e (2) domínio paleo-
750 oC sob pressões de 13 kbar e uma trajetória de descompressão quase-isotérmica proterozoico representado pelo Complexo Pouso Alegre.
para 640-660 oC / 7-8 kbar (Campos Neto e Caby, 1999; Santos, 2004; Santos et al., O domínio arqueano apresenta um período bem definido de magmatismo do
2004; Reno et al., 2009; Motta et al., 2010; Motta e Moraes, 2017). Um padrão tipo TTG entre 3,00 e 2,96 Ga com assinaturas isotópicas de Hf(t) no zircão predo-
metamórfico inverso, com metapelitos a estaurolita-granada-cianita na base e grana- minantemente supracondríticas e idades modelo Nd-TDM em rocha-total entre 3,2 e
da-cianita-fusão parcial no topo encontra-se preservado na Nappe Andrelândia. O 3,4 Ga (Fetter et al., 2001; Cioffi et al., 2016b; Oliveira et al., 2019). Essas rochas
registro das condições P-T não ultrapassa temperaturas de 700 oC para pressões em são interpretadas como adições à crosta continental, geradas pela fusão parcial de

160 161
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 8

uma crosta oceânica hidratada. As variadas assinaturas de elementos traços indicam a


ocorrência concomitante de TTGs de alta e baixa pressão (Cioffi et al., 2016b). Essas
idades mesoarqueanas encontram-se dentro do hiato das idades obtidas para as ro-
chas magmáticas arqueanas da porção sul do Cráton do São Francisco (e.g. Teixeira
et al., 2000; Lana et al., 2013; Farina et al., 2015) e sugerem que, ao menos durante
o período Mesoarqueano, esses terrenos TTGs eram exóticos em relação a crosta ar-
queana associada ao proto-cráton. Ortognaisses de composição granítica datados em
ca. 2.76 Ga (Fetter et al., 2001; Cioffi et al., 2016b) marcam a transição neoarquea-
na entre magmatismo do tipo TTG e magmatismo de alto potássio no embasamento
orogênico. O magmatismo granítico apresenta assinaturas isotópicas menos radio-
gênicas, com valores de ƐHf(t) predominantemente negativos (Cioffi et al., 2016b).
As assinaturas geoquímicas e isotópicas das rochas graníticas permitem interpretá-las
como resultado de retrabalhamento da crosta TTG mesoarquena, possivelmente em
um ambiente colisional, durante o Neoarqueano (Cioffi et al., 2016b).
O domínio paleoproterozoico do Complexo Pouso Alegre (Cioffi et al., 2016a) é
composto majoritariamente por ortognaisses metatexíticos, cálcicos a cálcio-alcalinos,
de composição tonalítica a granodiorítica, rochas máficas subordinadas. Ocorrem cor-
pos de granito porfiroclástico. Idades de cristalização dos protólitos ígneos publicadas
na literatura estão entre 2,16 e 2,07 Ga (Fetter et al., 2001; Peternel et al., 2005; Zu-
quin et al., 2011; Campos Neto et al., 2011; Cioffi et al., 2016a; Tedeschi et al., 2017;
Oliveira et al., 2019) e são associadas a assinaturas isotópicas de Nd(t) (figura 7) e Hf(t)
juvenis (Fetter et al., 2001; Campos Neto et al., 2011; Cioffi et al., 2016a; Tedeschi
et al., 2017; Amaral et al., 2019; Oliveira et al., 2019). Para Cioffi et al. (2016a), na
Figura 7: Diagrama de evolu-
porção central do orógeno (figura 2), em sua localidade tipo, o Complexo Pouso Ale- a melhor aproximação da idade de pico metamórfico (Cioffi et al., ção das composições isotópicas
gre é constituído por duas suítes magmáticas, com idades e características geoquímicas 2019) e corroboram datações (U-PbZr, LA-ICP-MS) em ca. 630 Ma de Nd. DM: depleted mantle
distintas, a primeira datada em ca. 2,15 Ga e a segunda em ca. 2,08 Ga. Recentemente, (DePaolo, 1981). Compilação
associadas ao metamorfismo (Tedeschi et al., 2017). Geração ex- dos dados para o embasamento
Oliveira et al. (2019) demostraram a ocorrência de rochas paleoproterozoicas, com as- tensiva de zircão em ca. 616 Ma é considerada como resultado da da margem passiva do Oróge-
sinaturas isotópicas juvenis, na porção oeste do embasamento. No entanto, os autores cristalização do fundido durante resfriamento (Cioffi et al., 2019). no Brasília Meridional extraída
não individualizam suítes magmáticas e assumem um magmatismo prolongado entre de Campos Neto et al., 2011;
Retrogressão durante a exumação, em condições de aproximada- Cioffi et al., 2016a, b; Fetter et
2,16 e 2,09 Ga. Essas rochas paleoproterozoicas juvenis da porção oeste são correla- mente 550-625 °C e 6-9 kbar, foram responsáveis pela substituição al., 2001; Oliveira et al., 2019.
cionáveis ao Complexo Pouso Alegre e ocorrem provavelmente imbricadas com rochas parcial das assembleias minerais de pico metamórfico, contendo
arqueanas do Complexo Amparo. A predominância de rochas félsicas e as assinaturas granada e anfibólio, por assembleias retrometamórficas ricas em
geoquímicas sugerem que o Complexo Pouso Alegre tenha sido gerado em um arco biotita + epidoto/clinozoisita. Bordas de titanita enriquecidas em
continental ou em um arco insular evoluído, sendo interpretado (Cioffi et al., 2016a) elementos terras raras pesados e empobrecidas em estrôncio regis-
como a continuidade orogênica do sistema de arcos do Cinturão Mineiro na porção tram essas reações retrometamórficas (figura 4) e foram datadas em
sul do Cráton do São Francisco (Teixeira et al., 2000, 2015; Ávila et al., 2010; Seixas ca. 606 Ma (Cioffi et al., 2019). A trajetória P-T-t obtida no Com-
et al., 2013; Barbosa et al., 2015; Alkmim et al., 2017a). Portanto, o Complexo Pouso plexo Pouso Alegre assemelha-se às trajetórias obtidas no Sistema
Alegre representa uma parte significativa, muitas vezes negligenciada, do importante de Nappes Andrelândia, assim como nos anfibolitos associados.
evento de geração de crosta continental paleoproterozoica registrado na margem sul O Complexo Pouso Alegre é interpretado como um segmento da
do paleocontinente São Francisco. paleoplaca São Francisco, destacada e incorporada na cunha orogênica
Durante a orogenia neoproterozoica, a crosta continental do paleocontinen- e exumada juntamente com o Sistema de Nappes Andrelândia (Cioffi
te São Francisco foi intensamente retrabalhada. O Complexo Pouso Alegre foi et al., 2019).
submetido a metamorfismo em fácies anfibolito superior (figura 4) com pico me-
tamórfico em aproximadamente 750-775 °C e 10,5-12,5 kbar associado a fusão 6.2 Complexo São Vicente
parcial (Cioffi et al., 2019). Núcleos de titanita empobrecidos em elementos ter- O Complexo São Vicente consiste em rochas metassedimentares
ras raras pesados, interpretados como resultado da geração de titanita em presen- imaturas associadas a rochas cálciossilicáticas, metamáficas e metaul-
ça de granada, datados entre ca. 630-620 Ma (figura 4), são considerados como tramáficas (Paciullo et al., 1993, 1996, 2000; Westin et al., 2016;

162 163
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 8

Pinheiro et al., 2019b). Foi cavalgado pelo Sistema de Nappes Andrelândia e pela
Nappe Lima Duarte e encontra-se imbricado no Sistema de Nappes Carrancas e
nos ortognaisses paleoproterozoicos e arqueanos (figuras 2 e 3). Mapeado e inter-
pretado como uma sequência metassedimentar com área fonte principal no Cráton
São Francisco foi reinterpretado como unidades basais (A1+A2 ou Na1+Na2) de
uma sequência deposicional neoproterozoica (Trouw et al., 2000). Com base na
heterogeneidade de litotipos, na deformação e metamorfismo pervasivos e nos da-
dos de idades e assinaturas isotópicas detríticas e magmáticas, Westin et al. (2016)
redefinem essas rochas como Complexo São Vicente.
As rochas metassedimentares variam de muscovita quartzitos a gnaisses/xistos
ricos em plagioclásio e quartzo, com fragmentos líticos e cristais detríticos de felds-
pato e quartzo. Rochas cálciossilicáticas e anfibolitos ocorrem como lentes e boudins
dentro dos gnaisses e os anfibolitos podem ser observados em afloramentos métricos
associados às rochas metaultramáficas.
Rochas metaultramáficas constituem elementos recorrentes tanto em meio a
unidades supracrustais quanto ortognáissicas. Abordagens petro-químicas (Almeida,
2012) apontaram diferenciação a partir de magmas básicos com altas razões MgO/
FeO e processos de fracionamento em condições elevadas de pressão (> 30 km). De-
terminações isotópicas (zircão: U-Pb e SHRIMP) em olivina-ortopiroxênio granofels
da região do Córrego da Areia (Carrancas-MG) forneceram idade de cristalização
em torno de 2,1 Ga. Os padrões químicos indicam processos de fracionamento e di-
ferenciação em presença de fluidos saturados em sílica e enriquecidos em elementos
incompatíveis (Pinheiro et al., 2019b).
Nas rochas metassedimentares, Westin et al. (2016) apresentam dados isotópicos
em cristais detríticos de zircão que indicam área-fonte de idade paleoproterozoica e
assinatura isotópica juvenil. Os picos de idade de cristalização encontram-se em ca.
2,17 Ga, 2,14 Ga e 2,13 Ga, com ƐHf(t) entre +0,1 e +6,0 (figura 8A e B) e idades
de Nd-TDM de 2,31-2,21 Ga e ƐNd(t) = +1,6 a +2,8, contribuição subordinada de
crosta continental arqueana. Anfibolitos lenticulares possuem idades de cristalização
ao redor de 2,14 Ga e assinatura isotópica juvenil (figura 8A e B).
As idades de cristalização das rochas metamáficas e metaultramáficas (Westin Figura 8: (A) Gráfico de pro-
et al., 2016; Pinheiro et al., 2019b) são similares a idade máxima de sedimentação 6.3 Grupo Carrancas - Sequência babilidade de distribuição de
idades U-Pb em zircão detrítico
obtida para os cristais detríticos da sequência metassedimentar (Westin et al., 2016). neoproterozoica da margem passiva de amostras pertencentes ao
Elas devem representar os eventos magmáticos relacionados à evolução da bacia O Sistema de Nappes Carrancas abrange uma sequência de alócto- Complexo São Vicente (n =
178). Idades dos anfibolitos
precursora do Complexo São Vicente. nos e um domínio para-autóctone (Trouw et al., 2000; Westin et al., intercalados e do granito
O intervalo restrito das idades detríticas e a característica imatura das rochas 2019), transportados para E-SE, lateralmente à borda sul do cráton intrusivo Taguar plotados para
metassedimentares sugerem proximidade entre área-fonte e bacia sedimentar origi- São Francisco: (i) nappes Luminárias e São Tomé das Letras (superior), comparação; (B) gráfico Idade
vs. ƐHft de amostras pertencen-
nal (Cawood et al., 2012). Adicionalmente, o predomínio de zircões detríticos com (ii) Nappe Carrancas (inferior) e (iii) thrust-and-fold belt no domínio tes ao Complexo São Vicente e
idade de cristalização próxima à idade estimada de deposição (controlada pelo mag- para-autóctone frontal (figura 3). das unidades litoestratigráficas
matismo sin-sedimentar) aponta para deposição em ambiente tectônico de margem O Grupo Carrancas (Trouw et al., 1980, 1983) constitui um siste- do Grupo Carrancas. DM: De-
pleted Mantle; NC: new crust.
convergente, admitida em uma bacia intra-arco (Westin et al., 2016). Os ortognais- ma deposicional de margem passiva relacionado à borda sul do cráton (C) gráficos de probabilidade
ses riacianos do Complexo Pouso Alegre (Cioffi et al., 2016a) seriam as prováveis São Francisco (Ribeiro et al., 1990; Paciullo et al., 2000; Trouw et de distribuição de idades U-Pb
rochas-fonte para os detritos. A idade mínima de deposição (figura 8A) é limitada al., 2000; Campos Neto et al., 2004; Westin e Campos Neto, 2013), em zircão detrítico e valores
de NdTDM e de ƐNdt para as
pela intrusão do granito gnaisse Taguar em 1,7 Ga (Westin et al., 2016). A assinatura com idade máxima de deposição em ca. de 920 Ma (Valeriano et al., unidades litoestratigráficas do
anorogênica, do tipo-A, deste granito (Vasconcellos, 1988) sugere que os complexos 2004; Westin e Campos Neto, 2013; Westin et al., 2019). Na área- Grupo Carrancas. Figuras ex-
ortognáissicos (Pouso Alegre) e metassedimentares (São Vicente) encontravam-se em tipo (Carrancas-Itumirim, MG) é caracterizado pela Unidade Inferior traídas e modificadas de Westin
et al. (2016, 2019).
um ambiente estável durante o Estateriano. psamítica, em contato transicional com a Unidade Intermediária psam-

164 165
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 8

mo-pelítica, seguida pela Unidade Superior psamítica (figuras 5 e 8C). Depósitos sin- Idades U-Th-PbT em monazita indicam metamorfismo de fácies anfibolito em 615 ±
colisionais do tipo foreland (Unidade Metawacke) encontram-se discordantes sobre 6 Ma e de fácies eclogito em 632 ± 4 Ma (Fumes et al., 2019). As rochas da região de
as unidades anteriores (Westin e Campos Neto, 2013; Westin et al., 2019). A Unida- Carrancas (figura 4) também apresentam um registro metamórfico semelhante: P-T
de Inferior do Grupo Carrancas é composta por muscovita quartzitos com lentes de 577 ºC – 10 kbar no domínio de thrust-and-fold belt e 608 ºC – 13 kbar na Nappe
ortoquartzitos, que gradam lateralmente para muscovita-quartzo xistos, sendo que Carrancas, compatível com o limite inferior da fácies eclogito (Silva, 2010). Idades
estes predominam no domínio para-autótcone. A Unidade Intermediária, em nítido U-Pb ID-TIMS em monazita são mais jovens, entre 590-570 Ma (Campos Neto et
contato transicional com a unidade basal, é caracterizada pela intercalação entre al., 2011; Machado et al., 1996; Valeriano et al., 2004; Valladares et al., 2004).
muscovita quartzitos e grafita-muscovita xistos, com diminuição progressiva das len-
tes psamíticas dentro dos níveis pelíticos em direção ao topo. O contato entre as uni-
dades Intermediária e Superior é irregular, com mudanças abruptas na espessura da
7. Síntese da evolução orogênica
Unidade Intermediária, sugerindo um hiato de erosão e não-deposição. A Unidade
Superior caracteriza-se pela alternância entre muscovita quartzito, muscovita-quart-
7.1 Regimes em extensão no Toniano – Margem passiva não-magmática
zo xisto e muscovita xisto, com ocorrências subordinadas e locais de meta-placers.
As rochas metassedimentares da margem passiva psamo-pelítica e não carbo-
Segundo Westin et al. (2019), a deposição, iniciada com as barras psamíticas da
nática do Grupo Carrancas possuem idade máxima de sedimentação de 920 Ma.
Unidade Inferior, teve como área-fonte dominante, rochas ígneas juvenis (ƐHft =
Suas unidades litoestratigráficas registram uma transição sedimentar contínua entre
-0,1 a + 3,2) do Riaciano, ca. 2,1 Ga (figura 8B e C). A transição para a Unidade In-
unidades psamíticas e psamo-pelíticas em um ambiente tectônicamente ativo, em
termediária é marcada pela mudança no aporte de detritos: predomínio mais amplo
extensão e responsável pela ampliação da rede de drenagem. O aporte de cristais
de fonte paleoproterozoica (idades U-Pb entre 2,2 Ga e 1,6 Ga) de variável assinatu-
detríticos de zircão de uma fonte félsica, riaciana e juvenil é característica da unida-
ra isotópica (ƐHft = -3,9 a + 3,0) associada a áreas-fonte de idade do Mesoprotero-
de basal psamítica. A transição gradacional à unidade pelito-psamítica intermediária
zoico (idades U-PbZr entre 1,5 Ga e 1,2 Ga) e de assinatura isotópica juvenil (ƐHft =
foi alimentada por rede de drenagem mais ampla, a partir de áreas neoarqueanas,
+0,6 a + 4,8) (figura 8B e C). A transição entre essas unidades também é marcada
riaciano-estaterianas e mesoproterozoicas. Para a unidade superior os suprimentos
pela redução drástica de detritos de idade ~2,1 Ga com ƐHft positivo. A Unidade
pré-orosirianos são raros; prevalecem fontes orosiriano-estaterianas, mesoprotero-
Superior, ao contrário das demais, caracteriza-se pelo incremento na proporção de
zoicas e eo-tonianas. O predomínio de suprimento sedimentar de fontes cada vez
detritos pesados do Mesoproterozoico juvenil e pela ausência de área-fonte em ca.
mais jovens está isotopicamente registrado na sistemática diminuição da idade-mo-
de 2,1 Ga (figura 8B e C). Adicionalmente, cristais detríticos de idade U-PbZr entre
delo Nd através da coluna litoestratigráfica (Westin et al., 2019). A área-fonte en-
1,9 Ga e 1,7 Ga são mais frequentes na Unidade Superior.
contrava-se em blocos extensionais ativos no interior da paleoplaca São Francisco.
As três unidades apresentam contribuição secundária de fontes no Arqueano e
A ausência do registro do magmatismo toniano-criogeniano de arco situa, paleo-
Neoproterozoico eo-Toniano. O cráton São Francisco é admitido como área-fonte
geograficamente, essa margem passiva distante da borda orogênica da margem ativa.
principal de detritos (Paciullo et al., 2000; Valeriano et al., 2004; Valladares et al.,
2004; Westin et al., 2019).
7.2 Orogênese Toniano-Criogeniana – complexos
Na coluna litoestratigráfica as idades modelo Nd-TDM são progressivamente mais
de arcos insulares e margem ativa adelgaçada
jovens e valores ƐNd(920) progressivamente mais positivos, da base para o topo da sequên-
A acreção de crosta juvenil por cerca de 180 milhões de anos em um registro
cia. Registram as mudanças na fonte de detritos durante a evolução da bacia (figura 8 C).
contínuo de complexos de arcos insulares através do Toniano (930-750 Ma), marca
um longo processo de convergência intraoceânica de placas no limite ocidental do
6.4 Metamorfismo do Grupo Carrancas
Sistema Orogênico Brasília. O vasto oceano Goiás-Farusiano, compatível com este
Nas nappes Carrancas e Luminárias o grau metamórfico aumenta de norte para
longo período de consumo de placa (Cordani et al., 2003a, 2013a), separou o domí-
sul, caracterizando um padrão metamórfico invertido (Trouw et al., 1980; Ribeiro
nio orogênico do domínio da margem passiva não-magmática. Um hiato magmático
e Heilbron, 1982; Heilbron, 1985; Campos Neto e Caby, 1999; Silva, 2010). No
de cerca de 50 milhões de anos marcou o fim do Toniano neste domínio (figura 9).
domínio para-autóctone o grau metamórfico aumenta de leste para oeste, chegando
No domínio meridional prevaleceu um sistema de convergência oblíqua sinistral
à zona da estaurolita. O registro metamórfico é de um gradiente geotérmico apa-
entre as paleoplacas São Francisco e Paranapanema. As evidências magmáticas deste
rente moderado (ca. 650 oC/GPa), em condições de temperatura fácies xisto verde
evento orogênico são indiretas e encontradas no Sistema de Nappes Andrelândia.
a anfibolito de alta pressão, em presença de cloritoide-granada, cianita-muscovita-
Cristais de zircão de metawackes (Xisto Santo Antônio), com idades entre 950 e 660
granada, clorita-cianita-granada-estaurolita-rutilo-(±biotita), podendo possuir, por
Ma, possuem ƐHf(t) e ƐNd(t) (figura 6) supra-condríticos. Indicam depósitos associa-
descompressão, biotita-sillimanita no extremo sul da Nappe Carrancas. As rochas
dos a uma rápida erosão de um complexo de arcos insulares, ou mesmo produtos
da Nappe Luminárias (figura 4) gravaram pico P-T em condições de fácies anfibolito
metamórficos em fácies anfibolito superior de rochas vulcânicas (Frugis et al., 2018).
inferior de alta pressão, com T ca. 580-685 oC e P ca. 9-12 kbar, chegando em con-
Este registro preenche o gap magmático observado no domínio ocidental do sistema
dições de fácies eclogito com T 585-690 ºC e P 9 - 16,5 kbar (Fumes et al., 2019).
orogênico (figura 9).

166 167
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 8

Cristais de zircão toniano-criogenianos, com ƐHf(t) entre +3 e +12, sugerem dois


episódios magmáticos juvenis no Toniano e um terceiro no eo-Criogeniano, este
desconhecido no domínio oriental do orógeno. Por outro lado, cristais com ƐHf(t)
subcondríticos, oriúndos da Nappe Liberdade e do Xisto Santo Antônio, definem,
para os mesmos intervalos de idade, uma única área fonte crustal (figura 10 A).
A Nappe Socorro-Guaxupé representa a crosta inferior da margem continental
ativa da paleoplaca Paranapanema. Registra atividade magmática cálcio-alcalina a
dominantemente cálcio-alcalino potássica e shoshonítica, em suítes ortognáissico-
charnockíto-migmatíticas e de granitoides deformados, entre 800 e 625 Ma, com
assinaturas isotópicas crustais (Gengo, 2014; Mora et al., 2014; Rocha et al., 2018;
Tedeschi et al., 2018; Toledo et al., 2018; Vinagre et al., 2014). O prolongado e
contínuo magmatismo, sem zoneamento espacial, indica um arco magmático esta-
cionário e de longa duração.

7.3 Orógeno de Colisão e Subducção Criogeniano-Ediacarano


As rochas félsicas granulíticas de alta pressão da Nappe Três Pontas-Varginha e as
rochas eclogíticas retrometamórficas representam os principais registros da colisão
oblíqua entre as paleoplacas São Francisco e Paranapanema. As idades para as rochas
metamáficas retroeclogíticas na Nappe Liberdade encontram-se entre 680-670 Ma
(Reno et al., 2009; Campos Neto et al., 2011) e para os granulitos de alta pressão
na Nappe Três Pontas-Varginha (Reno et al., 2011) entre 660-645 Ma. O fechamen-
to diacrônico do oceano Goiás-Farusiano foi contemporâneo à cinemática regional
de placas que facilitou a abertura do segmento setentrional do Oceano Adamastor
(Pedrosa-Soares et al., 1998, 2011; Alkmim et al., 2017b; Degler et al., 2017), à
“sudeste” do proto-continente aglutinado nesta colisão.
Independente da colisão, os ortognaisses e granitoides da Nappe Socorro-
Guaxupé registram a continuidade do magmatismo de arco na margem ativa,
com assinaturas química de alto K2O / shoshoníticas e valores sistemáticos Nd-
TDM entre 1,9 Ga e 1,2 Ga (Janasi, 1999, 2002; Vinagre et al., 2014; Gengo,
2014; Rocha et al., 2018), com exceção para o segmento residual de crosta neo-
arqueana (Tedeschi et al., 2018). O prolongado evento metamórfico e de fusão
crustal atingiu condições de ultra-alta temperatura em crosta continental com
espessuras em torno de 40-45 km (Rocha et al., 2017). Por outro lado, o regime
prolongado de subducção pode ter favorecido uma intensa contaminação e enri-
quecimento do manto litosférico e da crosta inferior do arco (Rocha et al., 2018)
por material supracrustal em um processo de relamination (e.g. Hacker et al.,
2011; Kelemen e Behn, 2016; Maietová et al., 2017).
A ausência de assinaturas químicas e isotópicas da crosta sanfranciscana sob o
arco magmático pressupõe uma subducção continental de alto ângulo (figura 10 B
e C). Regimes em extensão, proporcionados por essa geometria da placa inferior,
podem ter favorecido um processo de afinamento ou de desestabilização da litosfera
subcontinental do arco, enfraquecida pela fusão parcial (Kaislaniemi et al., 2018), ou Figura 9: Sistema Orogênico Brasília – Registros (U-Pb) magmáticos e metamórficos.
delaminada, promovendo o alçamento do manto astenosférico. Dados compilados de: Laux et al., 2004, 2005; Pimentel e Fuck, 1992; Pimentel et al.,
1997; Matteini et al., 2010; DellaGiustina et al., 2009; Piuzana et al., 2003; Valeriano et
A idade máxima para a deposição das rochas metassedimentares do Sistema de al., 2004; Piauilino et al., 2019; Vinagre et al., 2014, 2018; Janasi et al., 2009; Töpfner,
Nappes Andrelândia está em torno 670 Ma, com registros episódicos de ca. 640 1996; Duffles et al., 2013; Toledo et al., 2018; Gengo, 2014; Mora et al., 2014; Ebert et
Ma (Trouw, 2008; Frugis et al., 2018). Esses dados sugerem uma deposição sin-coli- al., 1996; Tedeschi et al., 2017, 2018; Coelho et al., 2017; Zuquin et al., 2011; Campos
Neto et al., 2010, 2011; Rocha et al., 2017; Reno et al., 2009, 2011; Basei et al., 1995;
são, mais jovem e distante dos depósitos de margem passiva. Na superfície da placa Frugis et al., 2018; Oliveira et al., 2019; Cioffi et al., 2016 a, b, 2019; Fumes et al., 2019.

168 169
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 8

continental em subducção bacias de foreland instalaram-se no topo das unidades da


proto-nappe Andrelândia e prolongaram-se, discordantemente sobre as unidades da
margem continental passiva (figura 5).

7.4 Gradientes metamórficos aparentes e exumação no Ediacarano


Configurações distintas de placas tectônicas são caracterizadas por diferen-
ças no fluxo de calor registrado nas rochas metamórficas em diferentes gradien-
tes metamórficos aparentes (e.g., Brown e Johnson, 2018). A configuração da
colisão, neste domínio meridional do sistema orogênico, está delineada pela
contraposição de segmentos com diferentes gradientes metamórficos. As rochas
migmatíticas para- ou ortognáissicas da Nappe Socorro-Guaxupé registram um
gradiente térmico aparente elevado (ca. 900 oC/GPa) (figura 4) chegando a con-
dições de metamorfismo de ultra-alta temperatura. No Sistema de Nappes An-
drelândia, o gradiente metamórfico decresce da nappe superior à nappe inferior,
evidenciando o distanciamento progressivo da litosfera adelgaçada do domínio
de arco magmático e um regime metamórfico pareado. O registro é de um gra-
diente térmico característico de uma subducção quente (e.g., Hacker et al., 2003;
Brown e Johnson, 2018) que varia de 800 oC/GPa na Nappe Três Pontas-Varginha
à 700 oC/GPa nas nappes Liberdade e Andrelândia. Na frente orogênica, o Siste-
ma de Nappes Carrancas transporta, sobre a margem cratônica fria, um gradiente
térmico aparente de 630 oC/GPa. As marcantes diferenças dos gradientes térmi-
cos aparentes evidenciam que esses distintos domínios tectônicos alóctones não
estavam contíguos até a exumação do orógeno.
Os estudos petrocronológicos mais recentes (figura 4) aliados às trajetórias me-
tamórficas destacam três etapas principais no processo de exumação do conjunto
orogênico:
Figura 10: Seções esquemáticas
1- Configurações metamórficas independentes, em um regime metamórfico parável, no tempo, com a subducção da placa da Índia na colisão da evolução orogênica.
pareado, são evidenciadas por geotermas perturbadas de gradientes térmicos himalaiana (Stickroth et al., 2019).
aparentes elevados na raiz do arco magmático e moderado na crosta continental 2- A evolução do metamorfismo ocorreu por channel-flow em
subductada. As rochas da Nappe Socorro-Guaxupé registram evento metamór- crosta continental com baixa viscosidade facilitada pela fusão parcial.
fico prolongado que atingiu condições de alta a ultra-alta temperatura (ca. 630 Trajetórias metamórficas de resfriamento quase-isobárico na raiz do
Ma). Tais condições, como para as rochas magmáticas, sugerem intensa anomalia arco magmático (Nappe Socorro-Guaxupé) indicam uma migração
térmica responsável por geotermas alçadas e adelgaçadas em crosta continen- pouco inclinada do channel-flow, de condições de temperatura ul-
tal pouco espessada. É provável que essa anomalia térmica tenha sido provoca- tra-alta em 630-625 Ma para condições de cristalização do material
da pelo afinamento da litosfera subcontinental e alçamento da astenosfera. Em anatético a 615-608 Ma (Rocha et al., 2017). A cinemática do ma-
contraposição, os granulitos félsicos a rutilo-cianita-granada-K-feldspato (Nappe terial metamórfico pode ter sido controlada por elevado gradiente
Três Pontas-Varginha) e as rochas máficas retroeclogíticas (Nappe Liberdade) re- na topografia e na espessura crosta continental na frente oblíqua de
gistram o metamorfismo de alta pressão e indicam uma subducção continental colisão (figura 10 D).
a profundidades mínimas de 60 km. Retroeclogíticos descritos em imbricados Nos sistema de nappes Andrelândia e Carrancas prevalecem tra-
tectônicos no núcleo de embasamento da margem passiva, em domínios do Com- jetórias metamórficas por descompressão isotérmica. Evidenciam, de
plexo Pouso Alegre, possuem idade de pico metamórfico em ca. 630 Ma (Coelho 630-600 Ma (figura 4), um alívio mínimo de cerca de 25 km de carga
et al., 2017; Tedeschi et al., 2017). Na frente orogênica, no Sistema de Nappes litostática com alta taxa de exumação. A migração inclinada do chan-
Carrancas, a idade eo-ediacarana está gravada em metapelito sob condições me- nel-flow pode ter facilitado um transporte sinistral oblíquo em um
tamórficas de fácies eclogito, soterrada a cerca de 50 km de profundidade (Fumes estágio de alto ângulo das zonas de cisalhamento. Nesse processo o
et al., 2019). A migração do metamorfismo de alta pressão para os segmentos Sistema de Nappes Andrelândia teria sido exumado a 15 km de pro-
mais proximais da margem passiva (figura 9) indica a continuidade, por cerca fundidade, sob temperaturas superiores a 600oC, sobre o Sistema de
de 40 milhões de anos, da subducção continental da placa São Francisco, com- Nappes Carrancas, ainda soterrado a 30 km de profundidade (figuras

170 171
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 8

4 e 10D). O bloqueio da subducção e/ou rompimento do slab eclogítico da Referências Bologna M.S., Nunes H.O., Padilha A.L., Vitorello
I., Pádua M.B., 2013. Anomalous electrical structure in
placa inferior, pode ter facilitado essa exumação do prisma orogênico. the northwestern Paraná Basin, Brazil, observed with
Alkmim F.F. & Teixeira W., 2017a. The Paleopro-
3- As diferentes trajetórias metamórficas registradas pelos distintos gra- trozoic Mineiro Belt and the Quadrilátero Ferrífero. broadband magnetotellurics. Journal of South American
dientes térmicos aparentes, dos diferentes segmentos das paleoplacas litos- In: Heilbron, M., Cordani U.G., Alkmim, F.F. (eds.) Earth Sciences, 42:74-82.
São Francisco Craton, Eastern Brazil, tectonic geneal- Bologna M.S., Padilha A.L., Pádua M.B., Vitorello
féricas convergentes compartilharam, a partir de 610-600 Ma, o mesmo I., Chamalaun F.H., 2014. Paraguay-Araguaia Belt con-
ogy of a miniature continent. Regional Geology Re-
caminho através da crosta continental (figura 4). A trajetória metamórfica views, Switzerland, Springer International Publishing ductivity anomaly: A fundamental tectonic boundary in
compartilhada marca a mudança de uma descompressão isotérmica para um Co, p. 71-96. South American Platform imaged by electromagnetic in-
Alkmim F.F., Kuchenbecker M., Reis H.L.S., Pedro- duction surveys. Geochemistry Geophysics Geosystems,
gradiente metamórfico de campo barroviano. Este fato pressupõe a passa- 15, 508-515.
sa-Soares A.C. 2017b. The Araçuaí Belt. In: Heilbron,
gem do deslocamento sinistral das zonas de cisalhamento para um sistema M., Cordani U.G., Alkmim, F.F. (eds.) São Francisco Brito Neves B.B., Campos Neto M.C. Fuck R.A.
de nappes com mergulho de baixo ângulo e cinemática oblíqua. A flutuação Craton, Eastern Brazil, tectonic genealogy of a minia- 1999. From Rodinia to Western Gondwana: An ap-
ture continent. Regional Geology Reviews, Switzerland, proach to the Brasiliano-Pan African Cycle and orogenic
positiva da crosta continental da placa inferior, espessada e menos densa collage. Episodes, 22:155-166.
Springer International Publishing Co, p. 255-276.
que a litosfera da paleoplaca superior adjacente (figura 10 E), poderia ter Almeida S. 2012. Condições físicas de formação de Brito Neves B.B. & Fuck R.A. 2014. The basement
proporcionado a horizontalidade do sistema de nappes e a mudança do gra- associações metamórficas do cinturão ultramáfico Car- of the South American platform: half Laurentian (N-
rancas-Liberdade, MG. Revista Brasileira Geociências, NW) + half Gondwanan (E-SE) domains. Precambrian
diente metamórfico. Por outro lado, esse processo poderia estar associado à Research, 244:75-86.
42(1):162-186.
reversão da cinemática de placas, com a litosfera São Francisco em under- Amaral W.S., Santos F.H., Bravo J.C.S., Fedel H.S., Brown M. & Johnson T. 2018. Secular change in
thrusting para SE, guiada pela subdução do Oceano Adamastor sob o arco Luvizotto G.L., Godoy D.F., 2019. U-Pb zircon ages metamorphism and the onset of plate tectonics. Ameri-
and metamorphic conditions of mafic granulites from can Mineralogist, 103(2):181-196.
magmático Rio Doce no Sistema Orogênico Ribeira (Heilbron et al., 2013; Caby R. Monié R. 2003. Neoproterozoic subduc-
the basement of the southern Brasília Orogen, Campi-
Tedeschi et al., 2016). nas-SP region. Journal of South American Earth Sciences, tions and differential exhumation of western Hoggar
O processo final de exumação do conjunto orogênico para temperaturas 92:184-196. (southwest Algeria): new structural, petrological and
Arthaud M. H., Fuck R. A., Dantas E. L., Santos T. geochronological evidence. Journal of African Earth
de ca. 350oC (12 km de profundidade) foi rápido e evidenciado pela sobre- Sciences, 37:269-293.
J. S., Caby R., Armstrong, R. 2015. The Neoproterozoic
posição de idades metamórficas entre 605 e 580 Ma obtidas por diferentes Ceará Group, Ceará Central domain, NE Brazil: Dep- Campanha G.A.C., Faleiros F.M., Basei M.A.S., Tas-
métodos geocronológicos e/ou com diferentes temperaturas de bloqueio dos ositional age and provenance of detrital material. New sinari C.C.G., Nutman A.P., Vasconcellos P.M. 2015. Ge-
insights from U-Pb and Sm-Nd geochronology. Journal ochemistry and age of mafic rocks from the Votuverava
sistemas isotópicos, como U-Pb (SHRIMP, LA-ICP-MS) em zircão, monazita Group, southern Ribeira Belt, Brazil: Evidence for 1490
of South American Earth Sciences, 58:223-237.
e titanita (Coelho et al., 2017; Tedeschi et al., 2017; Cioffi et al., 2019), Assumpção M., Heintz M., Vauchez A., Egydio-Silva Ma oceanic back-arc magmatism. Precambrian Research,
U-Th-Pb (EPMA) em monazita e 40Ar-39Ar em anfibólio, muscovita e biotita M. 2006. Upper mantle anisotropy in SE and Central 266:530-550.
Brazil from SKS slitting: evidence of asthenospheric flow Campos Neto M.C., Figueiredo M.C.H., Janasi V.A.,
(Campos Neto et al., 2010; Reno et al., 2010, 2011). Basei M.A.S., Fryer B. J. 1988. The São José do Rio Par-
around a cratonic keel. Earth and Planetary Science Let-
ters, 250:224-240. do Mangeritic-Suite, southeastern Brazil. Geochimica
7.5 Província Magmática Itu e bacias de rifte intermontanos Ávila C.A., Teixeira W., Cordani U.G., Moura Brasiliensis, 2:185-199.
C.A.V., Pereira R.M. 2010. Rhyacian (2.23-2.20 Ga) ju- Campos Neto M.C. & Caby R. 1999. Neoprote-
Rochas plutônicas com afinidades peralcalinas e subalcalinas do tipo-A rozoic high-pressure metamorphism and tectonic con-
venile accretion in the southern São Francisco craton,
são encontradas essencialmente no domínio da Nappe Socorro-Guaxupé Brazil: Geochemical and isotopic evidence from the straint from the nappe system south of the São Francisco
(Província Magmática Itú, Vlach et al., 1990; Janasi et al., 2009; Carvalho et Serrinha magmatic suite, Mineiro belt. Journal of South Craton, southeast Brazil. Precambrian Research, 97:3-26.
American Earth Sciences, 29(2):464-482. Campos Neto M.C. & Caby R., 2000. Terrane
al., 2014). Representam as últimas manifestações magmáticas envolvendo a Barbosa N.S., Teixeira W., Ávila C.A., Montecinos accretion and upward extrusion of high-pressure
fusão do manto litosférico enriquecido da placa superior. Evidenciam a con- P.M., Bongiolo E.M. 2015. 2.17 – 2.10 Ga plutonic epi- granulites in the Neoproterozoic nappes of southeast
tinuidade do adelgaçamento litosférico no segmento tectônico da paleoplaca sodes in the Mineiro belt, São Francisco Craton, Brazil: Brazil: petrological and structural constraints. Tec-
U-Pb ages, geochemical constraints and tectonics. Pre- tonics:19, 669-687.
Paranapanema. Essas rochas, com 590-580 Ma, são intrusões rasas (7-15 km cambrian Research, 270:204-225. Campos Neto M. C. 2000. Orogenic Systems from
de profundidade) na crosta ortognáissico-migmatítica em exumação e foram Basei M.A.S., Siga Jr. O., Sato K., Sproesser W.M. Southwestern Gondwana – an approach to Brasilia-
transportadas, sob condições de baixa temperatura, sobre a margem passiva 1995. A metodologia urânio-chumbo na Universidade de no-Pan African Cycle and Orogenic Collage in South-
São Paulo: princípios metodológicos, aplicações e resul- eastern Brazil. In: Cordani U.G., Milani E.J., Thom-
e os sistemas de nappes inferiores. tados obtidos. Anais da Academia Brasileira de Ciências as-Filho A., Campos D.A. (eds). Tectonic Evolution of
Faixas estreitas de rochas sedimentares imaturas, oriundas de fontes pro- 67(2):221-237. South America. Rio de Janeiro, 31 International Geolo-
Berger J., Caby R., Liégois J. P., Mercier J. C., De- gical Congress, p. 335-365.
ximais, encontram-se discordantes sobre as unidades orogênicas. Configu- Campos Neto M.C., Basei M.A.S., Vlach S.R.F.,
maiffe D. 2011. Deep inside a Neoproterozoic intra-oce-
ram bacias rifte intermontanos (Formações Eleutério, Pouso Alegre e Pico do anic arc: growth, differentiation and exhumation of the Caby R., Szabó G.A.J., Vasconcelos P. 2004. Migração de
Itapeva) com idade máxima de deposição de 610 Ma (Caputo Neto et al., Amalaoulaou complex (Gourma, Mali). Contributions to orógenos e superposição de orogêneses: Um esboço da
Mineralogy and Petrology 162:773-796. colagem Brasiliana no sul do Cráton do São Francisco,
2018) e com registro fossilífero (Teixeira e Gaucher, 2004) fim-Ediacarano SE – Brasil. Geologia USP. Série Científica, 4(1):13-40.
Berger J., Ouzegane K., Bendaoud A., Liégeois J-P.,
(ca. 540 Ma – Cloudina Cf. C. riemkeae e Titanotheca coimbrae). A Forma- Kiénast J-R., Bruguier O., Caby R. 2014. Continental https://doi.org/10.5327/S1519-874x2004000100002.
ção Pico do Itapeva possui a borda sudeste limitada e deformada por zona de subduction recorded by Neoproterozoic eclogite and Campos Neto M.C., Janasi V.A. J., Basei M.A.S.,
garnet amphibolites from Western Hoggar (Tassendjanet Siga Jr. O. 2007. Sistema de nappes Andrelândia, setor
cisalhamento lateral oblíqua dextral relacionada ao avanço das deformações oriental: litoestratigrafia e posição estratigráfica. Revista
terrane, Tuareg Shield, Algeria). Precambrian Research,
Ediacarano-Cambrianas do sistema orogênico Ribeira. 247:139-158. Brasileira de Geociências, 37:47-60.

172 173
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 8

Campos Neto M.C., Cioffi C.R., Moraes R., Motta Cordani U.G., Brito-Neves B.B., D’Agrella-Filho of the Guaxupé Complex, southeasthern Brazil. Geolo- ince, central Brazil: A contribution for Atlantica su-
R.G., Siga Jr. O., Basei M.A.S., 2010. Structural and met- M.S. 2003a. From Rodinia to Gondwana: a review of gical Journal, 35:231-249. percontinent reconstruction. Precambrian Research,
amorphic control on the exhumation of high-P granulites: the Available Evidence from South America. Gondwana Della Giustina M.E.S., Oliveira C.G., Pimentel 244:53-74.
The Carvalhos Klippe example, from the oriental An- Research, 6(2):275-283. M.M., Buhn B. 2009. Neoproterozoic magmatism and Fumes R.A., Luvizotto G.L., Moraes R., Heilbron
drelândia Nappe System, southern portion of the Brasília Cordani U.G., D’Agrella-Filho M.S., Brito Neves high-grade metamorphism in the Goiás Massif: new M., Vlach S.R.F. 2019. Metamorphic modeling and pet-
Orogen, Brazil. Precambrian Research, 180:125-142. B.B., Trindade R.I.F. 2003b. Tearing up Rodinia: the Ne- LAM-ICPMS U-Pb and Sm-Nd data and implications for rochronology of metapelitic rocks from the Luminárias
Campos Neto M.C., Basei M.A.S., Janasi V.A., Moraes oproterozoic palaeogeography of South American crato- the collisional history of the Brasília Belt. Precambrian Nappe, southern Brasília belt (SE Brazil). Brazilian Jour-
R. 2011. Orogen migration and tectonic setting of the An- nic fragments. Terra Nova, 15:350-359. Research, 172:67-79. nal of Geology, 49(2).
drelândia Nappe system: An Ediacaran western Gondwa- Cordani U.G., Teixeira W., D’Agrella-Filho M.S., DePaolo D.J., 1981. Neodymium isotopes in the Ganade de Araujo C.E., Cordani U.G., Basei M.A.S.,
na collage, south of São Francisco craton. Journal of South Trindade R.I. 2009. The position of the Amazoni- Colorado Front Range and crust-mantle evolution in the Castro N.A., Sproesser W.M. 2012. U–Pb detrital zircon
American Earth Sciences, 32(4):393-406. an Craton in supercontinents. Gondwana Research, Proterozoic. Nature, 291:193–196. provenance of metasedimentary rocks from the Ceará
Caputo Neto V., Ribeiro A., Nepomuceno F.O., Dus- 15:396-407. Dhuime B., Hawkesworth C., Cawood P. 2011. Central and Médio Coreaú Domains, Borborema Pro-
sin L.A., Trouw R.A.J., 2018. The Pico de Itapeva Forma- Cordani U.G., Fraga L.M., Reis N., Tassinari C.C.G., When continents formed. Science, 331:154-155. vince, NE-Brazil: Tectonic implications for a long-lived
tion: a record of gravitational flow deposits in a Ediacaran Brito Neves B.B. 2010a. On the origin and tectonic sig- Duffles P.A., Trouw R.A.J., Mendes J.C., Gerdes A. Neoproterozoic active continental margin. Precambrian
intracontinental basin, soutern Brasília Orogen, SE Brazil. nificance of the intra-plate events of Grenvillian-type age 2013. Marins Granite (MG/SP): petrography, geochem- Research, 206-207:36-51.
Journal of South American Earth Sciences, 84:34-47. in South America: a discussion. Journal of South Ameri- istry, geochronology, and geotectonic setting. Brazilian Ganade de Araujo C.E., Rubatto D., Hermann J.,
Carvalho B.B., Janasi V.A., Henrique-Pinto R. 2014. can Earth Sciences, 29:143-159 Journal of Geology 43(3):487-500. Cordani U.G., Caby R., Basei M.A.S. 2014. Ediacaran
Geochemical and Sr-Nd-Pb isotope constraints on the Cordani U.G., Teixeira W., Tassinari C.C.G., Coutin- Ebert H., Chemale Jr. F., Babinski M., Artur A.C., 2,500-km-long synchronous deep continental subduc-
petrogenesis of the K-rich Pedra Branca Syenite: Implica- ho J.M.V., Ruiz A.S. 2010b. The Rio Apa Craton in Mato Van Schmus W.R. 1996. Tectonic setting and U-Pb zir- tion in the West Gondwana Orogen. Nature communi-
tions for the Neoproterozoic post-collisional magmatism Grosso do Sul (Brazil) and northern Paraguay: Geo- con dating of the plutonic Socorro Complex in the cations, 5:5198.
in SE Brazil. Lithos 205:39-59. chronological evolution, correlations and tectonic impli- transpressive Rio Paraíba do Sul shear belt, SE Brazil. Garcia M.G.M. & Campos Neto M.C. 2003. Con-
Cawood P.A., Hawkesworth C.J., Dhuime B. 2012. cations for Rodinia and Gondwana. American Journal of Tectonics, 15:688-699. trasting metamorphic conditions in the Neoproterozoic
Detrital zircon record and tectonic setting. Geology, Science, 310:981-1023. Falci A., Caxito F.A., Seer H.J., Valeriano C.M., Dias collision-related Nappes south of Sao Francisco Craton,
40(10):875-878. Cordani U.G., Pimentel M.M., Ganade Araujo C.E., P.H.A., Pedrosa-Soares A.C. 2018. Provenance shift from SE Brazil. Journal of South American Earth Sciences,
Cioffi C.R., Campos Neto M.C., Rocha B.C., Mora- Fuck R.A. 2013a. The significance of the Transbrasiliano a continental margin to a syn-orogenic basin in the Neo- 15(8):853-870.
es R., Henrique-Pinto R. 2012. Geochemical signatures -Kandi tectonic corridor for the amalgamation of West proterozoic Araxá nappe system, southern Brasília Belt, Gengo R.M., 2014. Petrologia de ortognaisses e gra-
of the metasedimentary rocks of high-pressure granulite Gondwana. Brazilian Journal of Geology, 43:583-597. Brazil. Precambrian Research, 306:209-219. nitoides do Domínio Socorro, Nappe Socorro-Guaxupé,
facies and their relation with partial melting: Carvalhos Cordani U.G., Pimentel M.M., Ganade de Araújo Farina F., Capucine A., Lana C. 2015. The Neo- Seção Extrema-Camanducaia. Dissertação de Mestrado,
Klippe, Southern Brasília Belt, Brazil. Journal of South C.E., Basei M.A.S., Fuck R.A., Girardi V.A.V. 2013b. archean transition between medium- and high-K gran- Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, São
American Earth Sciences, 40:63-76. Was there an Ediacaran Clymene Ocean in Central south itoids: Clues from the southern São Francisco Craton Paulo, p. 121 p.
Cioffi C. R., Campos Neto M.C., Möeller A., Rocha America? American Journal of Science, 313:517-539. (Brazil). Precambrian Research, 266:375-394. Giovanardi T., Girardi V.A.V., Correia C.T., Tassina-
B.C. 2016a. Paleoproterozoic continental crust generation Cordani U.G. & Ramos V.A. (coord.). 2016. Tecto- Feng M., Assumpção M., Lee S.V. 2004. Group-ve- ri C.C.G., Sato K., Cipriani A., Mazzucchelli M. 2017.
events at 2.15 and 2.08 Ga in the basement of the sou- nic Map of South America. Comission for the Geological locity tomography and lithospheric S-velocity structure New U-Pb SHRIMP-II zircon intrusion ages of the Cana
thern Brasília Orogen, SE Brazil. Precambrian Research, Map of the World. CPRM-Serviço Geológico do Brasil, of the South American continent. Physics of the Earth Brava and Barro Alto layered complexes, central Brazil:
275:176-196. IGRM-Servicio Geológico Mineiro Argentino, IUGS, and Planetary Interiors, 147:315-331. constraints on the genesis and evolution of the Tonian
Cioffi C.R., Campos Neto M.C., Möller A., Rocha ASGMI, UNESCO. Ferreira Filho C.F., Pimentel M.M., Araujo S.M., Goiás Stratiform Complex. Lithos, 282-283:339-357.
B.C. 2016b. Tectonic significance of the Meso- to Neoar- Correia C.T., Sinigol S., Girardi V.A.V., Mazzucchelli Laux J., 2010. Layered intrusions and volcanic sequen- Guimarães S.B., Moura M.A., Dantas E.L. 2012. Pe-
chean complexes in the basement of the southern Brasília M., Tassinari C.C.G., Giovanardi T. 2012. The growth ces in Central Brazil: Geological and geochronolgical trology and geochronology of the Bom Jardim de Goiás
Orogen. Precambrian Research, 287:91-107. of large mafic intrusions: Comparing Niquelândia and constraints for Mesoproterozoic (1.25 Ga) and Neopro- cooper deposit (GO). Revista Brasileira de Geociências,
Cioffi C.R., Campos Neto M.C., Möller A., Rocha Ivrea Igneous Complexes. Lithos, 155:167-182. terozoic (0.79 Ga) Igneous associations. Precambrian Re- 42:841-862.
B.C. 2019. Titanite petrochronology of the southern Bra- D’Agrella-Filho M.S., Bispo-Santos F., Trindade search, 183:617-634. Hacker B.R., Peacock S.M., Abers G.A., Holloway
sília Orogen basement: Effects of retrograde net-transfer R.I.F., Antonio P.Y.J. 2016. Paleomagnetism of the Ama- Fetter A.H., Hackspacker P.C., Ebert H.D., Dantas S.D. 2003. Subduction factory 1. Theoretical minera-
reactions on titanite trace element compositions. Lithos, zonian Craton and its role in paleocontinents. Brazilian E.L., Costa A.C.D. 2001. New Sm/Nd and U/Pb geo- logy, densities, seimic waves speeds, and H2O contents.
344-345:393-408. Journal of Geology, 46:275-299. chronological constraints on the Archean to Neopro- Journal of Geophysical Research: Solid Earth, 108(B1).
Coelho M.B., Trouw R.A.J., Ganade C.E., Vinagre R., D’Agrella-Filho M.S., Cordani U.G. 2017. The terozoic evolution of the Amparo basement complex Hacker B.R., Kelemen P.B., Behn M.D. 2011. Diffe-
Mendes J.C., Sato K. 2017. Constraining timing and P-T paleomagnetic record of the São Francisco-Congo of the central Ribeira belt, Southeastern Brazil. In: 3th rentiation of the continental crust by relamination. Earth
conditions of continental collision and late overprinting Craton. In: Heilbron, M., Cordani U.G., Alkmim, F.F. South American Symposium on Isotope Geology. Extend and Planetary Sciences Letters, 307:501-516.
in the Southern Brasília Orogen (SE-Brazil): U-Pb zircon (eds.) São Francisco Craton, Eastern Brazil, tectonic Abstracts, CD-ROOM. Hackspacher P.C., Fetter A.H., Ebert H.D., Jana-
ages and geothermobarometry of the Andrelândia Nappe genealogy of a miniature continent. Regional Geology Frugis G.L., Campos Neto M.C., Lima R.B. 2018. si V.A., Oliveira M.A.F., Braga I.F., Negri F.A. 2003.
System. Precambrian Research, 292:194-215. Reviews, Switzerland, Springer International Publish- Eastern Paranapanema and southern São Francisco oro- Magmatismo há ca. 660-640 Ma no Domínio Socorro:
Cordani U.G. & Teixeira W. 1979. Comentários ing Co, p. 305-320. genic margins: Records of enduring Neoproterozoic Registros de convergência pré-colisional na aglutinação
sobre as determinações geocronológicas existentes para Dardenne M.A. 2000. The Brasília Fold Belt. In: oceanic convergence and collision in southern Brasília do Gondwana Ocidental. Geologia USP. Série Científica,
as regiões das Folhas Rio de Janeiro, Vitória e Iguape. Cordani U.G., Milani E.J., Thomaz Filho A., Campos Orogen. Precambrian Research, 308:35-57. 3:85-96.
In: Schobbenhaus Filho C. (coord). Carta Geológica do D.A. (eds.). Tectonic Evolution of South America. Rio Fuck R.A., Pimentel M.M., Alvarenga C.J.S., Dantas Hackspacher P.C., Fetter A.H., Teixeira W., Dantas
Brasil ao Milionésiomeo, Folhas Rio de Janeiro (SF.23) de Janeiro, 31th International Geological Congress, p. E.L. 2017. The Northern Brasília Belt. In: Heilbron, M., E.L., Ebert H.D., Trouw R.A.J., Vasconcelos P. 2004. Fi-
Vitória (SF.24) e Iguape (SF.23). Ministério das Minas e 231-257. Cordani U.G., Alkmim, F.F. (eds.) São Francisco Craton, nal stages of the Brasiliano Orogenesis in SE Brazil: U-Pb
Energia, Departamento Nacional da Produção Mineral, Degler R., Pedrosa-Soares A.C., Dussin I., Queiroga Eastern Brazil, tectonic genealogy of a miniature conti- and 40Ar/39Ar evidence for overprinting of the Brasília
p. 175-207. G., Schulz B. 2017. Contrasting provenance and timing nent. Regional Geology Reviews, Switzerland, Springer Belt by the Ribeira Belt tectonics. Journal of the Virtual
Cordani U.G., Brito Neves B.B., Fuck R.A, Thomaz- of metamorphism from paragneisses of the Araçuaí-Ri- International Publishing Co, p. 205-220. Explorer, 17.
Filho A., Cunha, E.M.B. 1984. Estudo preliminar de inte- beira orogenic system, Brazil: hints for western Gondwa- Fuck R.A., Dantas E.l., Pimentel M.M., Botelho Haddad R.C. 1995. O batólito Pinhal-Ipuíuna (SP
gração do Pré-Cambriano com os eventos tectônicos das na assembly. Gondwana Research, 51:30-50. N.F., Armstrong R.A., Laux J.H., Junges S.L., Soares -MG): Um exemplo de magmatismo cálcio-alcalino po-
Bacias Sedimentares Brasileiras. Revista Ciência-Técnica Del Lama E.A., Zanardo A.M., Oliveira M.A.F., Mo- J.E.P., Praxedes I.F. 2014. Paleoproterozoic crus-for- tássico neoproterozoico no sudeste brasileiro. Tese de
-Petróleo, Public. n. 15, 70p. rales N. 2000. Exhumation of high-pressure granulites mation and reworking events in the Tocantins Prov- Doutoramento, Instituto de Geociências, Universidade

174 175
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 8

de São Paulo, São Paulo, 270 p. granite-migmatite belts. Tectonics, 37:1-15. Martins L., Vlach S.R.F., Janasi V.A. 2009. Reaction proterozoic granitoids from the southern São Francisco
Heilbron M. 1985. O metamorfismo da área de Itut- Kelemen P.B. & Behn M.D. 2016. Formation of microtextures of monazite: correlation between chemi- Craton and implications for the evolution of the Trans-
inga - Madre de Deus de Minas, MG. In: III Simpósio de lower continental crust by relamination of buoyant arc cal and age domains in the Nazaré Paulista migmatite, SE amazonian Orogeny. Journal of South American Earth
Geologia de Minas Gerais. Belo Horizonte, SBG-MG, lavas and plutons. Nature Geoscience, 9:197-205. Brazil. Chemical Geology, 261:271-285. Sciences 13:225-239.
Anais, p. 219-234. Kröner A. & Cordani U.G. 2003. African, south- Matteini M., Junges S.L., Dantas E.L., Pimentel Noce C.M., Pedrosa-Soares A.C., Silva L.C., Arm-
Heilbron M., Pedrosa-Soares A.C., Campos Neto ern Indian and South American cratons were not part M.M., Bühn, B. 2010. In situ zircon U-Pb and Lu-Hf strong R., Piuzana D. 2007. Evolution of polycyclic
M.C., Silva L.C., Trouw R.A.J., Janasi V.A. 2004. A of the Rodinia Supercontinent: evidence from field isotope systematic on magmatic rocks: Insights on the basement complexes in the Araçuaí Orogen, based
Província Mantiqueira. In: Mantesso-Neto V., Barto- relationships and geochronology. Tectonophysics, crustal evolution of the Neoproterozoic Goiás Magma- on U-Pb SHRIMP data: implications for Brazil-Africa
relli A., Carneiro C.D.R., Brito Neves B.B. (eds.). Geo- 375:325-352. tic Arc, Brasília Belt, Central Brazil. Gondwana Resear- links in Paleoproterozoic time. Precambrian Research,
logia do Continente Sul-Americano: Evolução da Obra Lana C., Alkmim F.F., Armstrong R., Scholz R., ch, 17(1):1-12. 159:60-78.
de Fernando Flávio Marques de Almeida. São Paulo, Romano R., Nalini Jr. H.A., 2013. The ancestry and Matteini M., Dantas E.L., Pimentel M.M., Alvaren- Oliveira MA.F., Negri F.A., Zanardo A., Morales N.
Editora Beca, p. 203-234. magmatic evolution of the Archaean TTG rocks of the ga C.J.S., Dardenne M.A. 2012. U-Pb and Hf isotope 2019. Archean and paleoproterozoic crust generation
Heilbron M., Tupinambá M., Valeriano C.M., Ar- Quadrilátero Ferrífero province, southeast Brazil. Pre- study on detrital zircons from the Paranoá Group, Brasí- events, Amparo complex and Serra Negra orthogneiss in
mstrong R., Eirado Siva L.G., Melo R.S., Simonetti A., cambrian Research 231:157-173. lia Belt Brazil: Contraints on depositional age at Mesor- the Brasília Orogen, SE Brazil. Journal of South Ameri-
Pedrosa Soares A.C., Machado N. 2013. The Serra da Laux J.H., Pimentel M.M., Dantas E.L., Armstrong poterozoic-Neoproterozoic transition and tectono-mag- can Earth Sciences, 90:137-154.
Bolívia complex: The record of a new Neoproterozoic R., Armele A., Nilson A.A., 2004. Mafic magmatism matic events in the São Francisco Craton. Precambrian Paciullo F.V.P., Ribeiro A., Andreis R.R. 1993. Re-
arc-related unit at Ribeira belt. Precambrian Research, associated with the Goiás Magmatic arc in the Anicuns Research, 206-207:168-181. construção de uma bacia fragmentada: o caso do Ciclo
238:158-175. region, Goiás, central Brazil: Sm-Nd isotopes and new Merdith A.S., Collins A.S., Williams S.E., Pisarevsky Deposicional Andrelândia, In: II Simpósio do Cráton do
Heilbron M., Ribeiro A., Valeriano C.M., Pacuillo ID-TIMS U-Pb data. Journal of South American Earth S., Foden J.D., Archibald D.B., Blades M.L., Alessio B.L., São Francisco. Salvador, Anais, p. 224-226.
F.V., Almeida J.C.H., Trouw R.A.J., Tupinambá M., Sciences 16:599-614. Armistead S., Plavsa D., Clark C., Müller D. 2017. A Paciullo F.V.P., Fonseca A.C., Andreis R.R., Ri-
Eirado L.G. 2017. Ribeira Belt. In: Heilbron, M., Laux J.H., Pimentel M., Dantas E.L., Armstrong R., full-plate global reconstruction of the Neoproterozoic. beiro A., Trouw R.A., Wiedemann C.M. 1996. Con-
Cordani U.G., Alkmim, F.F. (eds.) São Francisco Cra- Junges S.L. 2005. Two neoproterozoic crustal accretion Gondwana Research, 50:84-134. tribuição à geologia do sul de Minas Gerais edição das
ton, Eastern Brazil, tectonic genealogy of a miniature events in the Brasília belt, central Brazil. Journal of South Milani E.J., Ramos V.A. 1998. Orogenias paleozoi- folhas 1:50.000 Itumirim, Itutinga, Madre de Deus, Lu-
continent. Regional Geology Reviews, Switzerland, American Earth Sciences, 18:183-198. cas no domínio sul-ocidental do Gondwana e os ciclos minárias, Minduri e Andrelândia. Anuário do Instituto
Springer International Publishing Co, p. 277-302. Lesnov F.P., Pinheiro M.A.P., Sergeev S.A., Med- de subsidência da Bacia do Paraná. Revista Brasileira de de Geociências, 19:123-142.
Janasi V.A. 1999. Petrogênese de granitos crustais da vedev N.S. 2019. Geochemistry and Isotopic Age of Geociências, 28:473-784. Paciullo F.V.P. 1997. A seqüência deposicional An-
Nappe de Empurrão Socorro-Guaxupé (SP-MG): uma Zircons from Rocks of Ultramafic Massifs in the Sou- Mora C.A.S., Campos Neto M.C., Basei M.A.S. drelândia. Tese de Doutoramento, Instituto de Geoci-
contribuição da geoquímica elemental e isotópica. Tese thern Folded Framing of the Sao Francisco Craton 2014. Syn-collisional lower continental crust anatexis ências, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
(Livre-Docência), Instituto de Geociências, Universidade (Southeastern Brazil). Russian Geology and Geophy- in the Neoproterozoic Socorro-Guaxupé Nappe System, Janeiro, 263 p.
de São Paulo, São Paulo, 304 p. sics, 60(5):473-491. southern Brasília Orogen, Brazil: constraints from zircon Paciullo F.V.P., Ribeiro A., Andreis R.R., Trouw
Janasi V.A. 2002. Elemental and Sr-Nd isotope Lesnov F.P., Pinheiro M.A.P., Sergeev S.A. 2018. U-Pb dating, Sr-Nd-Hf signatures and whole-rock geo- R.A.J. 1998. Sedimentary, igneous and thermo-tecto-
geochemistry of two Neoproterozoic mangerite suites First Data on the Isotopic Age of Zircons from Rocks chemistry. Precambrian Research, 255:847-864. nic events in the folded belts at the Southern border
in SE Brazil: implications for the origin of the man- of the Roseta Ultramafic Massif, Southern Margin of the Moraes R. & Fuck R.A. 2000. Ultrahigh-tem- of the São Francisco Craton. In: International Confe-
gerite-charnockite-granite series. Precambrian Re- São Francisco Craton (Brazil). Doklady Earth Sciences, perature metamorphism in Central Brazil: The Bar- rence on Precambrian and Craton Tectonics, 14th In-
search, 119:301-327. 483(2):1510-1514. ro Alto Complex. Journal of Metamorphic Geology, ternational Conference on Basement Tectonics. Ouro
Janasi V.A., Andrade S., Vasconcellos A.C.B.C., Lesquer A., Almeida F.F.M., Davino A., Lachaud 18:345-358. Preto, Anais, p. 68-69.
Henrique-Pinto R., Ulbrich H.H.G.J. 2016. Timing J.C., Maillard P. 1981. Signification structurale des ano- Moraes R., Brown M, Fuck R.A., Camargo M.A., Paciullo F.V.P., Ribeiro A., Andreis R.R., Trouw
and sources of granitic magmatism in the Ribeira Belt, malies gravimetriques de la partie sud du craton de São Lima T.M. 2002. Characterization and P-T evolution R.A.J. 2000. The Andrelândia Basin, a Neoproterozoic
SE Brazil: insights from zircon in-situ U-Pb dating and Francisco (Brésil). Tectonophysics, 76:273-293. of melt-bearing ultrahigh-temperature granulites: intraplate continental margin, southern Brasília Belt,
Hf isotope geochemistry in granites from the São Roque Li Z.X., Bogdanova S.V., Collins A.S., Davidson an example from the Anápolis-Itauçu Complex of Brazil. Revista Brasileira de Geociências, 30:200-202.
Domain. Journal of South American Earth Sciences, A., De Waele B., Ernst R.E., Fitzsimons I.C.W., Fuck the Brasília Fold Belt, Brazil. Journal of Petrology, Paciullo F.V.P., Trouw R.A.J., Ribeiro A., Simões
68:224-247. R.A., Gladkochub D.P., Jacobs J., Karlstrom K.E., Lu 43:1673-1705. L.A., Lopes M., 2002. Mapa Geológico – Folha An-
Janasi V.A., Vlach S.R.F., Campos Neto M.C., Ul- S., Natapov L.M., Pease V., Pisarevsky S.A., Thrane Moraes R., Fuck R.A., Pimentel M.M., Gioia drelândia. Projeto Sul de Minas, Etapa 1. UFRJ, UFMG,
brich H.H.G.J. 2009. Associated A-Type subalkaline and K., Vernikovsky V. 2008. Assembly, configuration, and S.M.C.L., Hollanda M.H.B.M., Armstrong R. 2006. The COMIG, Governo de Minas Gerais.
high-K calc-alkaline granites in the Itu Granite Province, break-up history of Rodinia: a synthesis. Precambrian bimodal rift-related Juscelândia volcanosedimentary se- Pedrosa-Soares A.C., Vidal P., Leonardos O.H., Brito
Southeastern Brazil: Petrological and tectonic signifi- Research, 160:179-210. quence in central Brazil: Mesoproterozoic extension and Neves B.B. 1998. Neoproterozoic oceanic remnants in
cance. Canadian Mineralogist, 47:1505-1526. Machado N., Valladares C., Heilbron M., Valeriano Neoproterozoic metamorphism. Journal of South Ameri- eastern Brazil: Further evidence and refutation of an ex-
Jost H., Chemale Jr. F., Fuck R.A., Dussin L.A. 2013. C. 1996. U-Pb geochronology of the central Ribeira belt can Earth Sciences, 20:287-301. clusively ensialic evolution for the Araçuaí-West Congo
Uvá complex, the oldest orthogneisses of the Archean (Brazil) and implications for the evolution of the Brazi- Motta R.G., Moraes R., Touw R.A.J., Campos Neto orogen. Geology, 26:219-522.
-Paleoproterozoic terrane of Central Brazil. Journal of lian Orogeny. Precambrian Research, 79(3-4):347-361. M.C. 2010. Reconstrução e comparação de trajetórias Pedrosa-Soares A.C., Campos C.P., Noce C., Silva
South American Earth Sciences, 47:201-212. Maierová P., Schulmann K., Gerya T. 2018. Re- P-T no Sistema de Nappes Andrelândia, Sul da Faixa Bra- L.C., Novo T., Roncato J., Medeiros S., Castañeda C.,
Juliá J., Assumpção M., Rocha M.P. 2008. Deep lamination styles in collisional orogens. Tectonics, sília, MG. Geologia USP. Série Científica, 10(3):79-96. Queiroga G., Dantas E., Dussin I., Alkmim F. 2011. Late
crustal structure of the Paraná Basin from receiver 37:224-250. Motta R.G. & Moraes R. 2017. Pseudo- and re- neoproterozoic-Cambrian granitic magamtism in the
functions and Rayleigh-wave dispersion: Evidence for Mantovani M.S.M. & Brito-Neves B.B. 2005. The al-inverted metamorphism caused by the superposition Araçuaí orogen (Brazil), the Eastern Brazilian Pegmatite
a fragmented cratonic root. Journal of Geophysical Re- Paranapanema lithospheric block: Its importance for and extrusion of a stack of nappes: a case study of the Province and related mineral resources. Geological So-
search, 113:1-23. Proterozoic (Rodinia, Gondwana) supercontinent theo- Southern Brasília Orogen, Brazil. International Journal ciety, London, Special Publications, 350:25-51.
Junges L., Pimentel M., Moraes R. 2002. Nd iso- ries. Gondwana Research, 8(3):303-315. of Earth Sciences, 106:2407-2427. Peternel R., Trouw R.A.J., Schimitt R.S. 2005. In-
topic study of the Neoproterozoic Mara Rosa Arc , cen- Martinez R.B. 2015. Avaliação de métodos para Negri F.A. 2002. Petrologia das rochas charnockito- terferência entre duas faixas móveis Neoproterozoicas:
tral Brazil : implications for the evolution of the Brasília cálculo e inferência de condições P-T em rochas da fácies graníticas e encaixantes de alto grau associadas na região o caso das faixas Brasília e Ribeira no sudeste do Brasil.
Belt. Precambrian Research, 117:101-118. granulito: investigação das rochas das nappes Três-Pon- de São Francisco Xavier, SP. Tese de Doutorado, Univer- Revista Brasileira de Geociências, 35:297-310.
Kaislaniemi L., Van Hunen J., Bouilhol P. 2018. tas Varginha e Socorro-Guaxupé. Dissertação de Mes- sidade Estadual Paulista, Rio Claro, 400 p. Piauilino P.F., Hauser N., Dantas E.D. 2019. From
Lithosphere desestabilization by melt weakening and trado, Instituto de Geociências, Universidade de São Noce C.M., Teixeira W., Quéméneur J.J.G., Martins passive margin to continental collision: Geochemical
crust-mantle interactions: Implications for generation of Paulo, São Paulo, 236 p. V.T.S., Bolzachini E. 2000. Isotopic signatures of Paleo- and isotopic constraints for E-MORB and OIB-like

176 177
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 8

magmatism during the neoproterozoic evolution of the Quintas M.C.L., Mantovani M.S.M., Zalán P.V. São Francisco, Minas Gerais. Dissertação de Mestrado, orogenic system, SE Brazil). Journal of South American
southeast Brasília Belt. Precambrian Research. https:// 1999. Contribuição ao estudo da evolução mecânica Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, Earth Sciences, 68:167-186.
doi.org/10.1016/j.precamres.2019.105345. da Bacia do Paraná. Revista Brasileira de Geociências, São Paulo, 171 p. Tedeschi M., Lanari P., Rubatto D., Pedrosa-Soares
Pimentel M.M. 2016. The tectonic evolution of the 29:217-226. Santos L.P., Campos Neto M.C., Grohmann C.H. A., Hermann J., Dussin I., Pinheiro M.A.P., Bouvier A.S.,
Neoproterozoic Brasília Belt, central Brazil: a geochro- Rapalini A.E. 2018. The Assembly of Western Gon- 2004. Metamorphic path constrained by metapelitic Baugmgartner L. 2017. Reconstruction of multiple P-T-t
nological and isotopic approach. Brazilian Journal of dwana: Reconstruction based on paleomagnetic data. In rocks from the inner Aiuruoca-Andrelândia nappe, south stages from retrogressed mafic rocks: Subduction ver-
Geology, 46:67-82. Siegesmund S., Basei M.A.S., Oyhantçabal S.O. (eds.) of the São Francisco craton, SE Brazil. Journal of South sus collision in the Southern Brasília orogen (SE Brazil).
Pimentel M.M. & Fuck R.A. 1992. Neoproterozoic Geology of Southwest Gondwana. New York, Springer American Earth Sciences, 16:725-741. Lithos, 294-295:283-303.
crustal accretion in central Brazil. Geology, 20:375-379. Berlin Heidelberg, p. 3-18. Santos T.J.S., Garcia M.G.M., Amaral W.S., Caby Tedeschi M., Pedrosa-Soares A., Dussin I., Lanari
Pimentel M.M., Whitehouse M.J., Viana M.G., Fuck Reno B.L., Brown M., Kobayashi K., Nakamura R., Wernick E., Arthaud M.H., Dantas E.L., Santosh M. P., Novo T., Pinheiro M.A.P., Lana C., Peters D. 2018.
R.A., Machado N. 1997. The Mara Rosa Arch in the E., Piccoli P.M., Trouw R.A.J. 2009. Eclogite-high 2009. Relics of eclogite facies assemblages in the Ceará Protacted zircon geochronological record of UHT
Tocantins Province: further evidence for Neoproterozoic -pressure granulite metamorphism records early colli- Central Domain, NW Borborema Province, NE Brazil: granet-free granulites in the Southern Brasília Orogen
crustal accretion in Central Brazil. Precambrian Resear- sion in West Gondwana: new data from the Southern Implications for the assembly of West Gondwana. Gon- (SE Brazil): Petrochronological constraints on mag-
ch, 81:299-310. Brasília Belt, Brazil. Journal of the Geological Society, dwana Research, 15(3-4):454-470. matism and metamorphism. Precambrian Research,
Pimentel M.M., Fuck R.A., Gioia S.M.C.L. 2000. 166:1013-1032. Santos P.S. 2011. Geocronologia, área fonte e am- 316:103-126.
The Neoproterozoic magmatic arc, central Brazil: A re- Reno B.L., Brown M., Piccoli P.M. 2010. 40Ar/39Ar biente tectônico da Unidade Santo Antônio – Megasse- Teixeira A.L. & Gaucher C. 2004. Bacias do estágio
view and new Sm-Nd isotopic data. Revista Brasileira de thermocronology of high-pressure granulite nappes quência Andrelândia. Dissertação de Mestrado, Instituto de transição dos setores meridional (parcial) e central
Geociências, 30:35-39. in the Southern Brasília Belt, Brazil: Implications de Geociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro, da Província Mantiqueira. A Província Mantiqueira. In:
Pimentel M.M., Jost H., Fuck R.A., Armstrong R.A., for nappe exhumation. American Journal of Science, Rio de Janeiro, 76 p. Mantesso-Neto V., Bartorelli A., Carneiro C.D.R., Brito
Dantas E.L., Potrel A. 2003. neoproterozoic anatexis of 310:1294-1332. Seer H.J. & Dardenne M.A. 2000. Tectonostrati- Neves B.B. (eds.). Geologia do Continente Sul-America-
2.9 old granitoids in the Goiás-Crixás block, Central Reno B.L., Piccoli P.M., Brown M., Trouw R.A.J. graphic terrane analysis on Neoprterozoic time: the case no: Evolução da Obra de Fernando Flávio Marques de
Brazil: Evidence from new SHRIMP U-Pb data and Sm- 2011. In situ monazite (U-Th)-Pb ages from the Southern study of the Araxá Synform, Minas Gerais, Brazil. Impli- Almeida. São Paulo, Beca, p. 503-525.
Nd Isotopes. Geologia USP. Série Científica, 3:1-12. Brasília Belt, Brazil: constraints on the high-temperature cation to the final collage of the Gondwanaland. Revista Teixeira W. & Figueiredo M.C.H. 1991. An out-
Pimentel M.M., Rodrigues J.B., DellaGiustina retrograde evolution of HP granulites. Journal of Meta- Braileira de Geociências, 30:78-81. line of Early Proterozoic crustal evolution in the São
M.E.S., Junges S.L., Matteini M. 2011. The tectonic morphic Geology, 30:81-112. Seixas L.A.R., Bardintzeff J.M., Stevenson R., Bonin Francisco craton, Brazil, a review. Precambrian Re-
evolution of the Neoproterozoic Brasília Belt, Central Ribeiro A. & Heilbron M. 1982. Estratigrafia e me- B. 2013. Petrology of the high –Mg tonalites and dioritic search, 53:1-22.
Brazil, based on SHRIMP and LA-ICPMS U-Pb sedimen- tamorfismo dos Grupos Carrancas e Andrelândia, sul de enclaves of the ca. 2130 Ma Alto Maranhão suite: Evi- Teixeira W., Carneiro M.A., Noce C.M., Machado
tary provenance data: a review. Journal of South Ameri- Minas Gerais, In: XXXII Congresso Brasileiro de Geo- dence for a major juvenile crustal addition event during N., Sato K., Taylor P.N. 1996. Pb, Sr and Nd isotope con-
can Earth Sciences, 31:345-357. logia. Salvador, Anais, p. 177-186. the Rhyacian orogenesis, Mineiro Belt, southeast Brazil. straints on the Archaean evolution of gneissic-granitoid
Pimentel M.M. 2016. The tectonic evolution of the Ribeiro A., Paciullo F.V.P., Andreis R.R. 1990. Evo- Precambrian Research, 238:18-41. complexes in the southern São Francisco Craton, Brazil.
Neoproterozoic Brasília Belt, central Brazil: a geochro- lução policíclica ao sul do Cráton do São Francisco: aná- Siga Júnior O., Cury L.F., McReath I., Ribeiro Precambrian Research, 78:151-164.
nological and isotopic approach. Brazilian Journal of lise da região de São João Del Rei e Andrelândia, MG, L.M.A.L., Sato K., Basei M.A.S. Passarelli C.R. 2011. Teixeira W., Sabatè P., Barbosa J., Noce C.M., Car-
Geology, 46:67-82. In: XXXVI Congresso Brasileiro de Geologia. Natal, Geology and geochronology of the Betara region neiro M.A. 2000. Archean and Paleoproterozoic evo-
Pinheiro M.A.P., Suita M.T.F., Lesnov F., Magalhaes SBG, Anais, p. 2605-2614. in south-southeastern Brazil: evidence for possible lution of the São Francisco Craton, Brazil. In: Cordani
J.R., Korolyuk V. 2019b. Metaultramafito Fazenda da Ribeiro A., Trouw R.A.J., Paciullo F.V.P., Andreis Statherian (1.80-1.75 Ga) and Calymmian (1.50- U.G., Milani E.J., Thomaz Filho A., Campos D.A. (eds.).
Roseta: Uma protrusão astenosférica no extremo sul da R.R., Valença J.G. 1995. Evolução das bacias protero- 1.45 Ga) extension events. Gondwana Research, Tectonic Evolution of South America. Rio de Janeiro, 31st
Faixa Brasília. In: XVII Simpósio Nacional de Estudos zóicas e termo-tectonismo brasiliano na margem sul do 19(1):260-274. International Geological Congress, p. 101-137.
Tectônicos. Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul, Anais, Cráton do São Francisco. Revista Brasileira de Geociên- Silva M.P. 2010. Modelamento metamórfico de Teixeira W., Ávila C.A., Dussin I.A., Corrêa Neto
p. 130. cias, 25:235-248. rochas das fácies xisto-verde e anfibolito com o uso A.V., Bongiolo E.M., Santos J.O., Barbosa N.S. 2015. A
Pinheiro M.A.P., Suita M.T.F., Lesnov F.P., Tedes- Rocha M.P., Schimmel M., Assumpção M. 2011. Up- de pseudosseções: exemplos das rochas da Klippe Car- juvenile accretion episode (2.35-2.32 Ga) in the Mineiro
chi M., Silva L.C., Medvedev N.S., Sergeev S.A. 2019a. per-mantle seismic structure beneath SE and Central Bra- rancas, sul de Minas Gerais. Dissertação de Mestrado, Belt and its role to the Minas accretionary orogeny: Zir-
Timing and petrogenesis of metamafic-ultramafic rocks zil from P- and S-wave regional traveltime tomography. Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, con U-Pb-Hf and geochemical evidences. Precambrian
in the Southern Brasília orogen: Insights for a Rhyacian Geophysical Journal International, 184:268-286. São Paulo, 145 p. Research 256:148-169.
multi-system suprasubduction zone in the São Francis- Rocha B.C., Moraes R., Möller A., Cioffi C.R., Jer- Stickroth S.F., Carrapa B., DeCelles P.G., Gehrels Tohver E., D’Agrella-Filho M.S., Trindade R.I.F.
co paleocontinent (SE-Brazil). Precambrian Research, cinovic M.J. 2017. Timing of anatexis and melt crys- G.E., Thomson S.N. 2019. Tracking the growth of the 2006. Paleomagnetic record of Africa and South Ameri-
321:328-348. tallization in the Socorro-Guaxupé Nappe, SE Brazil: Himalyan fold-and-thrust belt from lower Miocene fore- ca for the 1200-500 Ma interval, and evaluation of Ro-
Pinheiro M.A.P. & Suita M.T.F. 2008. Metamorfis- Insights from trace element composition of zircon, land basin strata: Dumri formation, western Nepal. Tec- dinia and Gondwana assemblies. Precambrian Research,
mo de fundo oceânico e alto grau em meta-peridotitos monazite and garnet coupled to U-Pb geochronology. tonics, 38(11): 3765-3793. 147(3-4):193-222.
ofiolíticos neoproterozóicos, Faixa Brasília Sul, Minas Lithos, 277:337-355. Tasco L.H. & Moraes R. 2019. Evaluation of the Toledo B.B., Janasi V.A., Silva L.G.R. 2018. SHRIMP
Gerais. Revista Brasileira de Geociências, 38(4):686-699. Rocha B.C., Moraes R., Möller A., Cioffi C.R. 2018. contributions of possible sources to the leucosome of U-Pb geochronology of the Socorro Batholith and impli-
Pisarevsky S.A., Wingate M.T.D., Powell C.M., Magmatic inheritance vs. UHT metamorphism: zircon the diatexite of the Socorro-Guaxupé Nappe, in the Al- cations for the Neoproterozoic evolution in SE Brazil.
Johnson S., Evans D.A.D. 2003. Models of Rodinia as- petrochronology of granulites and petrogenesis of char- fenas Region, MG, Brazil. Brazilian Journal of Geology, Brazilian Journal of Geology, 48:761-782.
sembly and fragmentation. Geological Society, London, nockitic leucosomes of the Socorro-Guaxupé Nappe, SE 49(1):e20180066. Töpfner C. 1996. Brasiliano-granitoide in den
Sp. Publ., 206:35-55. Brazil. Lithos, 314-315:16-39. Tassinari C.C.G. & Nutman A.P. 2001. Archean and bundesstaaten São Paulo und Minas Gerais, Brasi-
Pisarevsky S.A., Elming S.A., Pesonen L.J., Li Z.X. Rocha M.P., Assumpção M., Affonso G.M.P., Aze- Proterozoic multiple tectonothermal events recorded by lien-eine vergleichende studie. Münchner Geologische
2013. Mesoproterozoic paleogeography: Supercontinent vedo P.A., Bianchi M. 2019. Teleseismic P wave tomog- gneisses in the Amparo Region, São Paulo State, Brazil. Hefte 4:1-100.
and beyond. Precambrian Research, 244:207-225. raphy beneath the Pantanal, Paraná, and Chaco-Paraná In: 3th South American Symposium on Isotope Geology. Trouw R.A.J., Ribeiro A., Paciullo F.V.P. 1980.
Piuzana D., Pimentel M.M., Fuck R.A., Armstrong Basins, SE South America: Delimiting lithospheric Extend Abstracts, p. 252-254. Evolução estrutural e metamórfica de uma área a SE
R.A. 2003. SHRIMP U-Pb and Sm-Nd data for the Ara- blocks of the SW Gondwana Assemblage. Journal of Tedeschi M., Novo T., Pedrosa Soares A.C., Dus- de Lavras - Minas Gerais, In: XXXI Congresso Bra-
xá Group and associated magmatic rocks: constraints Geophysical Research: Solid Earth, 124:1-18. sin I., Tassinari C., Silva L.C., Gonçalves L., Alkmim sileiro de Geologia. Balneário de Camboriú, SBG,
for the age of sedimentation and tectonic evolution of Santos L.P. 2004. Trajetórias metamórficas de ambi- F., Lana C., Figueiredo C., Dantas E., Medeiros S., De Anais, p. 2773-2784.
the southern Brasília Belt, central Brazil. Precambrian entes colisionais: domínios frontais das nappes Aiuruo- Campos C., Corrales F., Heilbron M. 2016. The Edia- Trouw R.A.J., Ribeiro A., Paciullo F.V.P. 1983. Geo-
Research, 125:139-160. ca-Andrelândia e Lima Duarte, borda sul do cráton do caran Rio Doce magmatic arc revisited (Araçuaí-Ribeira logia estrutural dos Grupos São João Del Rei, Carrancas

178 179
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 9

e Andrelândia, Sul de Minas Gerais. Anais da Academia stituto de Geociências, Universidade de São Paulo, São
Brasileira de Ciências. 55:71-85. Paulo, 199 p. O Lineamento Transbrasiliano:
Trouw R.A.J., Ribeiro A., Paciullo F.V.P. 1986. Con- Vinagre R., Trouw R.A.J., Mendes J.C., Duffles P.,
tribuição à geologia da Folha Barbacena-1:250.000. In: Peternel R., Matos G., 2014. New evidence of a mag- um elemento chave na
34 Congresso Brasileiro de Geologia. Goiânia, SBG,
o
matic arc in the Southern Brasília Belt, Brazil: The Ser-
Anais, p. 974-986. ra da Água Limpa batholith (Socorro-Guaxupé Nappe). evolução da Plataforma
Trouw R.A.J., Paciullo F.V.P., Ribeiro A. 1998. Tec- Journal of South American Earth Sciences 54:120-139.
tonic significance of Neoproterozoic high-pressure gran- Vinagre R., Trouw R.A.J., Kussama H., Peternel R., Sul-Americana
ulites in southern Minas Gerais. In: 14th International Mendes J.C., Duffles P. 2016. Superposition of struc-
Conference on Basement Tectonics. Ouro Preto-MG, utres in the interference zone between the Southern
Anais, p. 69-71. Brasília Belt and the Central Ribeira Belt in the region Marlei Antônio Carrari Chamani
Trouw R.A.J., Heilbron M., Ribeiro A., Paciullo SW of Itajubá (MG), SE Brazil. Brazilian Journal of Ge- (marlei.chamani@gmail.com)
F.V.P., Valeriano C.M., Almeida J.C.H., Tupinambá M., ology, 46:547-566.
Andreis R.R. 2000. The central segment of the Ribeira Vinagre R., Trouw R.A.J., Mendes J.C. 2018. Geo-
Belt. In: Cordani U.G., Milani E.J., Thomas-Filho A., logia e geocronologia do Charnockito São Francisco
Campos D.A. (eds.). Tectonic Evolution of South Amer- Xavier e do Gabronorito Ribeirão do paiol (MG/SP) e 1. Introdução
ica. Rio de Janeiro, 31st International Geological Con- suas possiveis relações com processos crustais extension-
gress, p. 335-365. ais nos orógenos Brasília Meridional e Ribeira Central.
Trouw R.A.J., Junho M.C.B., Ribeiro A., Paciullo Geologia USP. Série Científica, 18:85-102. O Lineamento Transbrasiliano (LTB) foi definido
F.V.P., Almeida M.E., Valeriano C.M. 2002a. Mapa Ge- Virmond A.L. 2019. Petrochronology of anatectic por Schobbenhaus (1975), durante a execução do
ológico – Folha Pouso Alto. Projeto Sul de Minas, Etapa rocks from Nazaré Paulista (SP), southern Socorro Guax-
1. UFRJ, UFMG, COMIG, Governo de Minas Gerais. upé Nappe. Dissertação de Mestrado, Instituto de Geo- Projeto Carta Geológica do Brasil ao Milionésimo
Trouw R.A.J., Paciullo F.V.P., Ribeiro A., Bittar S., ciências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 153 p. (DNPM), como uma faixa intensamente falhada, re-
Almeida J.C.H. 2002b. Mapa Geológico – Folha Caxam- Vlach S.R.F., Janasi V.A., Vasconcellos A.C.B. 1990. presentando uma estrutura de 1ª ordem. Trabalhos
bu. Projeto Sul de Minas, Etapa 1. UFRJ, UFMG, CO- The Itú belt: associated calc-alkalic and aluminous
MIG, Governo de Minas Gerais. A-type Brasiliano granitoids in the States of São Paulo posteriores enfatizam a importância do LTB como Marlei Antônio
Trouw R.A.J., Peternel R., Trouw C.C., Matos G.C. and Paraná, southern Brazil. In: 36th Congresso Brasilei- uma das principais estruturas do Gondwana Ocidental. Brito Neves e Carrari Chamani.
2008. Mapa Geológico – Folha Itajubá, SF.23-Y-B-III. ro de Geologia. Natal, Anais, p. 1700-1711. Cordani (1991) são pioneiros ao enfatizarem a importância e significa-
UFRJ-CPRM. Westin A. & Campos Neto M.C. 2013. Provenance
Trouw C.C. 2008. Mapeamento da Folha Virgínia– and tectonic setting of the external nappe of the Sou- do tectônico do LTB, considerando-o uma das principais suturas na gê-
MG, Geocronologia U-Pb (SHRIMP) em zircões e inter- thern Brasília Orogen. Journal of South American Earth nese do Gondwana. Vários autores (e.g., Cordani et al., 2003; Arthaud
pretação geotectônica. Tese de Doutoramento, Instituto Sciences, 48:220-239. et al., 2008) evidenciam a continuidade do LTB em território africano,
de Geociências, Universidade do Rio de Janeiro, Rio de Westin A., Campos Neto M.C., Hawkesworth C.J.,
Janeiro, p. 127. Cawood P.A., Dhuime B., Delavault H. 2016. A pale- onde é chamado, entre outros nomes, de Lineamento Hoggar-4o50’
Trouw R.A.J., Nunes R.P.M., Castro E.M.O., Trouw oproterozoic intra-arc basin associated with a juvenile (Cordani et al., 2003) e Transbrasiliano-Kandi (Ganade de Araújo et
C.C., Matos G.C. 2008. Nota explicativa das Folhas Var- source in the Southern Brasilia Orogen: application of al., 2014b). Attoh e Brown (2008) consideram o LTB como talvez a
ginha (SF-23-V-D-VI) e Itajubá (SF-23-Y-B-III). Programa U-Pb and Hf-Nd isotopic analyses to provenance studies
Geologia do Brasil. Contrato CPRM-UFRJ, p. 99. of complex areas. Precambrian Research, 276:178-193. mais longa zona de cisalhamento coerente do mundo, com extensão
Trouw R.A.J., Peternel R., Ribeiro A., Heilbron M., Westin A., Campos Neto M.C., Cawood P.A., de cerca de 4.000 km. A figura 1 mostra a extensão do eixo principal
Vinagre R., Duffles P., Trouw C.C., Fontainha M., Kussa- Hawkesworth C.J., Dhuime B., Delavault H. 2019. do LTB na América do Sul e sua contraparte africana.
ma H.H. 2013. A new interpretation for the interference The Neoproterozoic southern passive margin of the São
zone between the Southern Brasília Belt and the central Francisco craton: insights on the pre-amalgamation of Nos últimos anos multiplicaram-se as publicações abordando
Ribeira Belt, SE Brazil. Journal of South American Earth West Gondwana from U-Pb and Hf-Nd isotopes. Pre- vários aspectos do lineamento e de estruturas a ele associadas: sua
Sciences, 48:43-57. cambrian Research, 320:454-471.
Valeriano C.M. 2017. The Southern Brasília Belt. Zuquim M.P.S., Trouw R.A.J., Trouw C.C., Tohver
origem e evolução, seu papel na gênese do Gondwana, suas carac-
In: Heilbron, M., Cordani U.G., Alkmim, F.F. (eds.) E. 2011. Structural evolution and U-Pb SHRIMP zircon terísticas geofísicas, suas reativações fanerozoicas. Neste sentido, é
São Francisco Craton, Eastern Brazil, tectonic geneal- ages of the Neoproterozoic Maria da Fé shear zone, cen- fundamental destacar o papel do Prof. Dr. Umberto Giuseppe Cor-
ogy of a miniature continent. Regional Geology Re- tral Ribeira Belt – SE Brazil. Journal of South American
views, Switzerland, Springer International Publishing Earth Sciences, 31:199-213.
dani e colaboradores no estudo do LTB, tanto pelo seu pioneirismo
Co, 189-204. na percepção da real importância do lineamento como uma das prin-
Valeriano C.M., Machado N., Simonetti A., Val- cipais estruturas da Plataforma Sul-Americana, como pela sua con-
ladare C.S., Seer H.J., Simões L.S.A. 2004. U-Pb ge-
ochronology of the southern Brasilia belt (SE-Brazil): tribuição na evolução dos conhecimentos a respeito do lineamento,
Sedimentary provenance, Neoproterozoic orogeny contribuição esta que se estende até os dias atuais. O presente capí-
and assembly of West Gondwana. Precambrian Re- tulo pretende mostrar de forma resumida a evolução e estado atual
search, 130:27-55.
Valladares C.S., Machado N., Heilbron M., Gauth- dos conhecimentos sobre o LTB, abordando suas características mor-
ier G. 2004. Ages of detrital zircon from siliciclastic fológicas em superfície e evidências geofísicas de sua continuação em
successions south of the São Francisco Craton, Brazil: profundidade (itens 2 e 3); sua origem, evolução pré-cambriana e pa-
implications for the evolution of Proterozoic basins.
Gondwana Research, 7:913-921. pel na colagem do Gondwana Ocidental (item 4); e suas reativações
Vasconcellos A.C.B.C. 1988. Grupo Andrelândia na fanerozoicas, influenciando o magmatismo e as bacias sedimentares
região de Ouro Fino, MG. Dissertação de Mestrado, In- da Plataforma Sul-Americana (item 5).

180 181
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 9

Figura 2: Modelos digitais


de para sul, acompanhando o trend das Sierras Pampeanas de Córdoba de elevação de alguns
Figura 1: Extensão do traço até o limite com a Patagônia (figura 3E). Fairhead e Maus (2003) pro- trechos do LTB e de sua con-
principal do LTB na América 2. O Lineamento Transbrasiliano: principais aspectos traparte africana; a direção
põem uma inflexão do LTB para sudoeste (figura 3F). das principais estruturas é
do Sul e de sua contraparte na
África (Lineamento Hoggar mostrada por setas. A: ter-
-4o50’) sobre modelo digital 2.1 Traçado principal 2.2 Contraparte africana minação norte do lineamen-
de elevação sombreado e Em mapa, o LTB se apresenta como feixes de falhas e zonas de ci- to Hoggar-4º50’ (vermelho)
A contraparte africana do LTB é conhecida, entre outros nomes, truncada por estruturas NW-
topografia do fundo oceânico; salhamento subparalelas e descontínuas, afetando uma faixa que pode
elevações acima de 1.000 m como Lineamento Hoggar-4o50’ (Cordani et al., 2003). Estende-se SE do lineamento de Tibesti
são representadas em branco. chegar a uma largura de 350 quilômetros na porção central do linea- segundo um trend aproximadamente NNE-SSW, desde a costa africa- (amarelo). B: borda leste da
A Zona de Fratura Roman- mento, em Goiás (Fairhead e Maus, 2003). A figura 2 mostra aspectos Bacia do Parnaíba (traceja-
na do Golfo de Benim, na divisa entre Togo e Gana, até o maciço de do amarelo), mostrando as
che conecta as terminações
dos lineamentos nas costas
fisiográficos de alguns trechos do LTB e de sua contraparte africana. Hoggar, na região central da Argélia (figura 1), onde é interceptado falhas de Café-Ipueiras (1),
atlânticas dos dois continentes Em território brasileiro, o LTB estende-se desde o noroeste do Ce- por outro lineamento de escala continental, o Lineamento de Tibesti, Lineamento Sobral-Pedro II
(Basile et al., 2005). ará, através da Bacia do Parnaíba e dos Estados de Goiás e Tocantins (2) e a Falha de Guaraciaba
com cerca de 6.000 km de extensão (Guiraud et al., 2000). (3). C: borda sudoeste da
(ver apêndice) até a borda noroeste da Bacia do Paraná e a Serra da Bacia do Parnaíba (tracejado
Bodoquena, na região sudoeste do Mato Grosso do Sul (figura 3A). A 2.3 Extensão amarelo) e noroeste da bacia
Sãofranciscana (traceja-
definição do que se constitui o traçado principal do LTB na Planície Estimativas propostas na literatura para a extensão do LTB variam do vermelho). Estruturas
Chaco-Pampeana é problemática. Optamos aqui por colocar o eixo entre os 2.700 km propostos inicialmente por Schobbenhaus (1975) a proeminentes nesta região
principal mais a norte, (figura 3B) conforme proposto por Ramos et mais de 9.000 km (Fuck et al., 2013). Chamani (2015) estimou a di- incluem as falhas de Lizarda
(1), Ponte Alta do Norte (2),
al. (2010), principalmente pela existência da bacia Las Breñas, com mensão linear do traço principal do LTB em ao menos 7.400 km, com Manoel do Carmo (3) e o
consideráveis espessuras de sedimento em um depocentro alongado 4.900 km na América do Sul. Graben de Santo Antônio
segundo a direção do LTB. A continuidade do LTB ao longo da escarpa (4). D: as Sierras Pampeanas
de Córdoba, na Argentina.
oriental das Sierras Pampeanas de Córdoba é evidenciada por dados 2.4 Estruturas associadas O tracejado amarelo corres-
geofísicos (Ramé e Miró, 2011). Província Borborema ponde ao LTB.
A continuação do LTB a sul das Sierras Pampeanas de Córdoba apre- A Província Borborema caracteriza-se por uma rede de zonas de
senta pouca expressão em superfície, e há duas hipóteses principais para cisalhamento dúctil de escala continental, que formam um sistema
o seu prolongamento. Ramos et al. (2010) sugerem que o LTB se esten- cinematicamente coerente de mais de 200.000 km2 (Vauchez et al.,

182 183
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 9

1995) e que se conectam com o LTB, configurando uma estrutura em splay que
se estende por grande parte do Nordeste do Brasil (Delgado et al., 2003) (figura
3C). A deformação nessas zonas de cisalhamento se inicia a partir de 570-600 Ma,
com caráter transcorrente dextral (Vauchez et al., 1995). As zonas de cisalhamento
mais importantes da Província Borborema são contínuas a estruturas na África – por
exemplo, o lineamento Pernambuco e a zona de falha de Foumban, nos Camarões
(Fairhead e Maus, 2003), e o lineamento de Senador Pompeu e a falha de Ile-Ife na
Nigéria (Cavalcante, 2006).
Borda norte da Bacia do Paraná e Pantanal Mato-grossense
Na porção norte da Bacia do Paraná ocorrem numerosas falhas subparalelas, com
orientação N60E, formando um ângulo de cerca de 30º com o trend principal do
LTB na região (figura 3D). Um sistema de lineamentos com orientação similar corta
o megaleque do Rio Taquari, no Pantanal Mato-grossense, e foi considerado parte
do LTB por Soares et al. (1998). Chamani (2011) sugere, de forma especulativa,
que esses lineamentos formam uma segunda estrutura em splay associada ao LTB. A
partir de dados aeromagnetométricos, Curto et al. (2014) identificam ao menos duas
estruturas profundas divergindo em cerca de 30º da orientação do LTB, reforçando
a idéia de uma estrutura em splay.

3. O LTB como uma descontinuidade


litosférica maior: evidências geofísicas

3.1 Anomalias magnéticas


Em mapas de anomalias magnéticas (figura 4, 1) o traço principal do LTB apre-
senta-se como uma zona de anomalias de baixa amplitude, separando o Cráton da
Amazônia a noroeste dos terrenos a sudeste, que pode atingir 350 km de largura
(Fairhead e Maus, 2003). Essas anomalias são evidentes tanto em levantamentos
aeroportados quanto em produtos gerados por satélite. Na região de Goiás e sul do
Tocantins o eixo principal do LTB aparece como um limite entre duas áreas com pa-
drões de anomalias magnéticas claramente distintas, o Cráton Amazônico a NW, com
anomalias E-W (figura 4, 2), e a Província Tocantins, a SE, com anomalias na direção
NE-SW. Contudo, a partir da região de Palmas (TO), esse limite não acompanha o
LTB, mas inflete para norte, acompanhando o Lineamento Tocantins-Araguaia e a
borda oeste da Bacia do Parnaíba (figura 4, 3).

3.2 Anomalias gravimétricas


O LTB apresenta uma evidente assinatura gravimétrica (Sadowski e Campa-
nha, 2004), em geral, correspondendo a altos gravimétricos ao longo do eixo do
sistema de falhas ou paralelo a este, como ocorre ao longo da Província Tocantins
(Berrocal et al., 2004) e na região das Sierras Pampeanas de Córdoba, acompa-
nhando o limite do Cráton Río de la Plata (Ramé e Miró, 2011). No entanto, sob
as sinéclises fanerozoicas ocorrem significativos baixos gravimétricos, em especial
na Bacia do Parnaíba, onde um baixo gravimétrico acompanha o eixo deposicional
Figura 3: Modelo digital de elevação mostrando o traçado principal do LTB e estruturas a ele associadas eopaleozoico da bacia (Castro et al., 2014) (figura 8A). Na Bacia do Paraná um
na América do Sul. A, B: traçado principal (vide discussão no texto acima). C: estrutura em splay da
Província Borborema. D: estrutura em splay do norte da Bacia do Paraná e Pantanal Matogrossense. E: baixo gravimétrico ocorre na região oeste da bacia (Vidotti et al., 1998), e pode
terminação sul proposta por Ramos et al. (2010). F: terminação sul proposta por Fairhead e Maus (2013). corresponder a um possível splay do LTB.

184 185
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 9

Figura 5: Epicentros de terre-


panhando o trend do LTB (figura 9B). Pérez-Gussinyé et al. (2007) motos de foco raso (<70 km)
no Brasil desde 1900. Uma con-
e Tassara et al. (2007) também identificam uma área de espessura centração de epicentros ocorre
elástica reduzida acompanhando o trend do LTB em sua porção ao longo do LTB em Goiás
sudoeste. Tanto os modelos de tomografia do manto quanto a es- e Tocantins (elipse vermelha
na inserção). Localização dos
pessura elástica da litosfera indicam que, longe de ser um conjunto epicentros disponível em:
de feições lineares superficiais, o LTB se constitui numa importante http://moho.iag.usp.br/eq/latest
descontinuidade litosférica.

Figura 4: Imagem aeromagne- 3.4 Sismicidade recente


tométrica (ANP, 2011, campo 3.3 Tomografia do manto e espessura elástica da litosfera O mapa de distribuição de epicentros de terremotos recentes no
total reduzido do IGRF, Modelos de tomografia sísmica do manto superior mostram uma Brasil (figura 5) mostra uma concentração de eventos de intensidade
malha de 1x1 km) do terri-
tório brasileiro, sobreposta a faixa de baixa velocidade de ondas S nos níveis superiores do manto ao fraca a moderada ao longo de alguns trechos do LTB, notadamente nos
modelo digital de elevação. O longo do LTB (Feng et al., 2004). Essa zona de baixa velocidade separa estados de Tocantins e Goiás, e alguns autores associaram certos sismos
LTB apresenta-se como uma domínios de alta velocidade e litosfera espessa a NW e SE (figura 9A), a reativações do LTB – por exemplo, o terremoto de Mara Rosa, GO,
faixa de anomalias atravessan-
do o Brasil de NE a SW (1). sugerindo que o traçado superficial do LTB acompanha uma zona de em 2010 (Barros et al., 2015). Contudo, Assumpção e Sacek (2013)
Note-se ainda o padrão de litosfera mais delgada (Feng et al., 2004). notam que a concentração de epicentros na zona sísmica Goiás-Tocan-
anomalias claramente distinto O mapa de espessura elástica efetiva da litosfera (Te) no terri- tins está mais estreitamente correlacionada com o alto gravimétrico
do Cráton Amazônico (2), e a
inflexão para norte do limite tório brasileiro (Bizzi e Vidotti, 2003) mostra uma zona de baixos que acompanha o LTB que com as feições geológicas superficiais que
deste no Tocantins (3). valores de Te (e portanto litosfera mecanicamente mais fraca) acom- compõem o lineamento.

186 187
SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 9

Umberto Cor-
dani e Carlos
Eduardo Ga-
nade de Araújo
em viagem de
campo para o
Doutorado des-
te último, em
Pedra Furada,
Jericoacoara,
Ceará, em
2012.

4. Origem do LTB e sua evolução pré-cambriana

4.1 Idade e cinemática da fase de movimentação principal do LTB


Costa e Hasui (1988) atribuíram em caráter preliminar uma idade de 2050-
2220 Ma ao LTB. Essa idade, no entanto, está em completo desacordo com tra-
balhos mais recentes. Delgado et al. (2003) consideram o LTB ativo a partir do
evento colisional Brasiliano II, há 650 Ma. Ganade de Araújo et al. (2014a) data a
instalação do LTB como uma zona de cisalhamento transcorrente em possivelmen-
te 615 Ma, com uma fase principal de movimentação entre 590 e 570 Ma, e uma
terceira fase ocorre em 590 e 580 Ma.
A principal fase de movimentação é tida com dextral pela maioria dos autores,
tanto na América do Sul quanto na África (e.g., Ferré et al., 2002; Arthaud et al.,
2008; Cordani et al., 2013; Ganade de Araújo et al., 2014a). As principais estrutu-
ras da Província Borborema também possuem uma fase principal de movimentação
dextral, coerente com a observada no LTB.

4.2 O LTB como uma megassutura


Pouca dúvida existe que o LTB é uma das principais estruturas do Gondwana
Ocidental, como mostra a reconstrução esquemática mostrada na figura 6. No en-
tanto, as idéias sobre seu exato papel na origem do Gondwana evoluíram desde os
primeiros trabalhos a reconhecerem sua importância nesse processo.
Brito Neves e Cordani (1991) consideram o LTB uma das principais suturas na
gênese do Gondwana, e são os primeiros a caracterizá-lo como uma megassutura.
Nesta interpretação, o LTB une dois grandes domínios geotectônicos: um domínio
“Pré-Brasiliano”, a noroeste, não afetado pelos eventos do Ciclo Brasiliano, e um
domínio “Brasiliano”, a sudeste, onde os eventos deformacionais predominantes são
relacionados a este ciclo.
Cordani e Sato (1999), a partir de centenas de datações Sm-Nd, propuseram
um modelo de evolução crustal para a Plataforma Sul-Americana, no qual também Figura 6: Reconstrução esquemática do Gondwana ocidental e o posi-
caracterizam o LTB como uma megassutura, colocando em contato domínios geo- cionamento do LTB e do Lineamento Hoggar-4º50’ em relação às áreas
cratônicas e faixas móveis que constituem o supercontinente. Recons-
cronológicos distintos. trução esquemática do Gondwana modificada de Cordani et al. (2016);
Almeida et al. (2000) destacam o papel do LTB entre as estruturas da Plataforma Sul nomenclatura dos elementos tectônicos segundo Cordani et al. (2013).
-Americana, que transecta a plataforma em sua totalidade e separa arranjos distintos de

188 189
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 9

blocos e faixas móveis. Cordani et al. (2003) enfatizam o papel desempenhado pelo LTB Colisão II (~590-570 Ma): fechamento do Oceano Sergipano-Oubanguides e
e o Lineamento Hoggar-4º50’, que se constituiriam na principal megassutura envolvida formação do Orógeno Sergipano; o LTB funciona como um limite de placa transfor-
na origem do Gondwana, uma visão similar à expressa por Cordani et al. (2013). Arthaud me, permitindo a colisão entre a Província Borborema, a norte, e o Cráton do São
et al. (2008) propõem que LTB seja uma sutura críptica, na qual grandes volumes de li- Francisco, a sul.
tosfera foram consumidos antes da instalação de uma colisão oblíqua. Brito Neves e Fuck Extrusão da Província Borborema (~580-550 Ma): fomação das zonas de cisa-
(2014), embora reconhecendo a importância do lineamento, consideram-no uma mega lhamento dextral da Província Borborema como resultado de acomodação de esfor-
zona de extrusão, e posicionam a sutura ao longo do Lineamento Tocantins-Araguaia e ços colisionais e de indentação cratônica, com escape de material para NE e rotação
sua continuação em território africano, os sistemas Rokelides-Bassarides-Mauritanides. anti-horária da Província Borborema.
Ganade de Araújo et al. (2014a) consideram o LTB como uma zona transcorrente Ganade de Araújo et al. (2014b) identificam uma zona de subducção de 2.500 km
resultante da acomodação de um esforço oblíquo gerado pela colisão entre a Provín- ao longo do LTB/Lineamento Hoggar-4º50’ no Mali, Togo e Nordeste do Brasil, com
cia Borborema e o Bloco Parnaíba, e que teria funcionado como um limite de placa ocorrência de eclogitos de alta e ultra-alta pressão, marcando a formação do Orógeno do
transforme durante o fechamento do Oceano Sergipano-Oubanguides. Gondwana Ocidental. Os autores consideram esse evento como a mais antiga evidência
de subducção continental profunda em larga escala, e o primeiro evento de formação
4.3 Origem do LTB e sua evolução pré-cambriana de cordilheiras transcontinentais similares ao Himalaia. Nutrientes provindos da erosão
Cordani et al. (2009) considera o LTB e o Lineamento Hoggar-4º50’ como megassu- dessas montanhas podem ter desempenhado um papel em dois dos principais eventos
turas resultantes do fechamento do Oceano Goiás (ou Brasiliano) e de suas extensões a que marcaram a evolução da vida no planeta, a radiação e diversificação de organismos
sudoeste e do Oceano Pharusiano, a nordeste. Essa sutura seria o resultado da junção do no Ediacarano e no início do Cambriano (Ganade de Araújo et al., 2014b).
Cráton da Amazônia ao Gondwana ocidental, e dois possíveis cenários são considerados,
o primeiro com a colisão ocorrendo há cerca de 620 Ma, com o Cráton da Amazônia
ainda ligado à Laurentia, e o segundo com a colisão ocorrendo no Eocambriano, após 5. Reativações fanerozoicas e o papel do LTB
a separação da Laurentia. Tohver et al. (2011) consideram que a colagem final do Gon- na evolução da Plataforma Sul-Americana
dwana Ocidental ocorreu no Cambriano, como resultado do fechamento do Oceano
Clymene. Apenas a porção sul do LTB, limitando o Cráton Río de La Plata faria parte da Após sua principal fase de movimentação no Neoproterozoico, O LTB foi afeta-
zona de sutura, que para norte acompanharia as faixas Paraguai e Araguaia. do, em maior ou menor extensão, por diversos episódios de reativação. As mais anti-
Cordani et al. (2013), no entanto, consideram que a colagem do Gondwana Ocidental gas reativações registradas do LTB ocorrem no Ediacarano-Eocambriano, em regime
foi completada há cerca de 620 Ma e que a hipótese do fechamento do Oceano Clymene extensional e rúptil (Cordani et al., 2013). Repetidos episódios de reativação do LTB
não é sustentável. A origem do Gondwana Ocidental estaria ligada ao fechamento do ocorrem até o limite Cambriano-Ordoviciano, condicionando a sedimentação em
Oceano Goiás-Pharusiano, e as zonas de sutura estariam situadas no, ou próximas ao LTB bacias do estágio de transição da Plataforma Sul-Americana (Teixeira et al., 2004) e
e sua contraparte africana. Neste cenário, a Faixa Araguaia corresponderia a um aulacóge- a colocação de diversas intrusivas ácidas ao longo de sua extensão (Cordani et al.,
no, possivelmente conectado ao Oceano Goiás-Pharusiano, e a tectônica extensional que 2013). Amaral et al. (2017) identificam um episódio de reativação do LTB de caráter
originou as bacias do estágio de transição da Plataforma Sul-Americana estaria associada sinistral, estendendo-se desde o Ordoviciano até o Carbonífero. Nas Sierras Pampe-
a um colapso do orógeno e à propagação de esforços gerados pela orogenia Pampeana. anas de Córdoba, Martino et al. (2012) associam a colocação dos batólitos Sierra
A partir de uma extensa revisão da literatura, Ganade de Araújo et al. (2014a) ofe- Norte-Ambargasta (Proterozoico superior – Eopaleozoico) e Achala (Devoniano) a
recem o que talvez seja a melhor síntese até agora publicada dos eventos que levaram episódios de reativação do LTB. Chamani (2011, 2015) identifica dois eventos de
à colagem final do Gondwana Ocidental e à origem do LTB e estruturas associadas da atividade sísmica contemporânea à sedimentação na Bacia do Parnaíba, relacionados
Província Borborema. Os autores propõem a ocorrência de dois eventos colisionais a reativações do LTB, o mais antigo afetando o Grupo Serra Grande e provavelmente
distintos, e dividem o processo em quatro estágios principais: relacionado à tectônica formadora da bacia. Santos et al. (2018) identificam quatro
Estágio pré-colisional (~850-650 Ma): subducção do Oceano Goiás-Pharusia- episódios de reativação fanerozoica do LTB na porção sudoeste da Bacia do Parnaíba.
no, gerando arcos magmáticos intra-oceânicos e continentais, e abertura do Oce- Fairhead e Maus (2003) propõem uma fase de movimentação sinistral do LTB
ano Sergipano-Oubanguides; o Bloco Parnaíba é separado do Cráton Amazônico afetando toda a extensão do lineamento na América do Sul, imediatamente antes e
pelas faixas vulcanossedimentares Araguaia e Gurupi. durante a abertura do Atlântico Sul. O modelo prevê que o cisalhamento sinistral
Colisão I (~620-610 Ma): colisão da Província Borborema com o Bloco Parna- tenha se transformado num sistema de bacias distensionais com trend NW-SE no
íba e formação do Orógeno do Gondwana Ocidental, com metamorfismo de alta e norte da Argentina (bacias Salado e Colorado). Esse modelo explicaria o desenvol-
ultra-alta pressão ao longo do LTB/Lineamento Hoggar-4º50’ e anatexia da crosta vimento das bacias mesozoicas na Argentina e Brasil, e a zona de injeção de diques
continental; início da subducção do Oceano Sergipano-Oubanguides. O LTB se for- Paraná-Chaco. A partir de estimativas feitas na contraparte africana do LTB, os
ma como uma zona de cisalhamento transcorrente dextral nos estágios finais dessa autores sugerem um deslocamento horizontal do LTB desde o Mesozoico até o
colisão (~615 Ma), reativando as suturas preexistentes. presente da ordem de 100 km.

190 191
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 9

com idade entre 198 e 190 Ma (Marzoli et al., 1999). O evento mais recente é
representado pelas soleiras e diques de diabásio da Formação Sardinha (135-120
Ma), os quais, em conjunto com o enxame de diques Ceará-Mirim, foram con-
siderados uma LIP (Large Igneous Province) denominada EQUAMP (Equatorial
Atlantic Magmatic Province) por Hollanda et al. (2019). Dados de superfície e
aeromagnetométricos (Macêdo Filho et al., 2019) mostram que, embora o trend
principal de ambos os eventos seja aproximadamente E-W, o LTB exerce algum
grau de influência em ambos os eventos magmáticos, mais notadamente sobre as
intrusivas da Formação Sardinha.
Cabe notar também que um episódio de vulcanismo básico intraplaca ocorre
próximo à terminação norte do Lineamento Hoggar-4º50’, o vulcanismo Hoggar,
de idade cenozoica (~35 Ma-Holoceno) (Liégeois et al., 2005). Os autores associam
esse vulcanismo à reativação de estruturas de idade Pan-Africana, e propõem uma
fonte mantélica rasa (~150 km) para os magmas.

5.2 O LTB e as bacias fanerozoicas da Plataforma Sul-Americana


Episódios de reativação do LTB afetaram diversas bacias sedimentares da Plata-
forma Sul-Americana. Cordani et al. (1984) são pioneiros em reconhecer a influ-
ência do LTB no condicionamento das bacias ditas “molássicas” de Jaibaras, Monte
do Carmo e Piranhas e nas bacias do Paraná e especialmente na do Parnaíba, onde a
atividade do LTB afetou a sedimentação paleozoica, até pelo menos o Carbonífero.
5.2.1 Bacias do estágio de transição da Plataforma Sul-Americana
Reativações rúpteis do LTB condicionaram a instalação de algumas bacias
do estágio de transição da Plataforma Sul-Americana, em calhas do tipo graben
(Cordani et al., 2013). A Bacia Jaibaras (noroeste do Ceará) é um rift gerado
por reativação rúptil de estruturas pré-cambrianas associadas ao LTB (Oliveira e
Figura 7. A: Magmatismo fanerozoi-
co ao longo do LTB (modificado de 5.1 Magmatismo fanerozoico ao longo do LTB Mohriak, 2003), com cerca de 10-20 km de largura e 120 km de comprimento.
CPRM (2004) e Martino et al., 2012). Rochas ígneas intrusivas e extrusivas de idade e compo- O preenchimento da bacia constitui-se de depósitos siliciclásticos continentais
1: Suíte Granítica Meruoca; imaturos, com variações marcantes de espessura, rápida mudança lateral de fá-
2: Suíte Granítica Serra Negra; sição variadas ocorrem ao longo do LTB, que provavelmen-
3: Suíte Granítica São Vicente; te exerceram maior ou menor controle em sua colocação e cies, espessos níveis de conglomerado intercalados e discordâncias locais de ex-
4: Batólitos Achala e Ambargasta; distribuição (figura 7, A). Cordani et al. (2013) consideram tensão variável e quatro eventos magmáticos condicionados pelo LTB marcam a
5: Suíte Alcalina Fecho dos Morros
e Gabro Morro do Triunfo; que magmatismo bimodal pós-orogênico ocorre concomitante evolução da bacia (Oliveira e Mohriak, 2003). A continuidade da Bacia Jaibaras
6: Alcalinas Iporá, Santa Fé, Morro às reativações extensionais do LTB do Ediacarano até o Or- em subsuperfície sob a Bacia do Parnaíba é demonstrada por evidências geofísicas
do Engenho e Ponta do Morro; doviciano. Na região das Sierras Pampeanas de Córdoba, os (e.g., Daly et al., 2014; Castro et al., 2014). Brito Neves et al. (1984) e Oliveira
7: Província kimberlítica de Picos,
kimberlitos Janjão e Apicuns; granitoides do batólito Sierra Norte-Ambargasta (Neoprote- e Mohriak (2003) consideram a bacia Jaibaras um rift precursor da Bacia do Par-
8: Formação Mosquito; 9: Forma- rozoico-Eopaleozoico) e os monzogranitos do batólito Achala naíba. A bacia Monte do Carmo (TO), possui preenchimento sedimentar desta
ção Sardinha. B: Bacias sedimen- (Devoniano) apresentam formas alongadas segundo o trend bacia similar ao da Bacia Jaibaras (Cunha et al., 1981). A possível correlação com
tares fanerozoicas da Plataforma
Sul-Americana (modificado de regional do LTB, e Martino et al. (2012) associam a colocação a Bacia Jaibaras foi defendida por Brito Neves et al. (1984).
CPRM, 2004; Webster et al., 2004; destes batólitos a reativações dessa estrutura. A Bacia Piranhas situa-se próximo à cidade de Piranhas, (sudoeste de Goiás) e é pre-
Pángaro e Ramos, 2012). BJB: Bacia Intrusivas alcalinas de idade Permotriássica a Cretácea ocorrem enchida por conglomerados e arcóseos da Formação Piranhas (Pena e Figueiredo, 1972).
Jaibaras; BMC: Bacia Monte do
Carmo; BPI: Bacia Piranhas; BLB: em vários locais ao longo da porção sudoeste do LTB e na Bacia 5.2.2 As bacias eopaleozoicas de Las Breñas e Água Bonita.
Bacia Las Brenãs; BAB: Bacia Água do Parnaíba, intrusões kimberlíticas acham-se alinhadas segundo o A Bacia Las Breñas é uma bacia de subsuperfície situada na região limítrofe
Bonita; BPN: Bacia do Parnaíba; trend do LTB (Gonzaga e Tompkins, 1991; Kaminsky et al., 2009). entre o Paraguai e a Argentina. Consiste num hemi-graben limitado a NW pela
BPR: Bacia do Paraná; BSF: Bacia
Sãofranciscana; BGL: Bacia General Dois eventos de magmatismo básico de idade mesozoica falha de Las Breñas, com um depocentro assimétrico, alongado na direção NE
Levalle; GM: Graben de Macachin; marcam a evolução da Bacia do Parnaíba. O mais antigo é -SW com cerca de 250 km de extensão (Peri et al., 2013). A bacia possui idade
BCO: Bacia Colorado; BSA: Bacia constituído pelos derrames e intrusivas da Formação Mos- eopaleozoica (Peri et al., 2013) e a espessura máxima dos depósitos atinge cerca
Salado; BPN: Bacia do Pantanal;
BBN: Bacia do Bananal. quito, parte da Central Atlantic Magmatic Province (CAMP), de 6.000 m (Wiens, 1995).

192 193
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 9

A Bacia Água Bonita, na divisa entre Goiás e Tocantins, foi descrita por Bap-
tista e Cartner-Dyer (1966), que consideram o graben posterior à sedimentação,
tendo preservado da erosão sedimentos preexistentes. Ferreira et al. (2018), a
partir de dados geofísicos, concluem que se trata de uma bacia pull-apart. Aguiar
(2013) sugere que a Bacia Água Bonita é o remanescente de um seaway paleo-
zoico conectando as bacias do Parnaíba e Paraná, e possui idade ordoviciana.
Ferreira et al. (2018), por outro lado, adotam uma idade siluro-devoniana.
5.2.3 As sinéclises paleozoicas do Paraná
e Parnaíba, e a Bacia São-franciscana
Evidências geofísicas e geológicas mostram que LTB exerceu importante controle
estrutural na origem e evolução das bacias do Parnaíba e Paraná, como ressaltado
por Brito Neves et al. (1984) e Cordani et al. (1984). Esse controle é mais pronun-
ciado na Bacia do Parnaíba, onde o LTB influenciou a instalação e as fases iniciais da
evolução da bacia. Figura 8. A: Mapa de anoma-
Bacia do Parnaíba tipo rift, com profundidade atingindo 6.500 m e preenchida por depó- lia Bouguer para a Bacia do
Cordani et al. (1984, 2003) evidenciam a continuidade do LTB sob a Bacia do sitos evaporíticos e siliciclásticos e basaltos correlatos aos da Formação Parnaíba (modificado de Pe-
tersohn, 2007). B, C: Mapas
Parnaíba e sua importância como um dos principais elementos de seu arcabouço Serra Geral (Webster et al., 2004). A sudeste da Bacia General Levalle, de isópacas para os Grupo
estrutural, o que é suportado por dados obtidos a partir de levantamentos magne- na margem continental, estão situadas duas bacias offshore alongadas Serra Grande (B) e Canindé
tométricos, gravimétricos e sísmicos. Castro et al. (2014) identificam dois sistemas no sentido E-W, as bacias de Colorado e Salado (Pángaro e Ramos, (C) da Bacia do Parnaíba,
mostrando um depocentro
complexos de rifts eopaleozoicos (figura 8A) relacionados à fase inicial de depo- 2012). Numa posição intermediária entre a Bacia General Levalle e a condicionado pelo LTB nas
sição da bacia, condicionados por estruturas neoproterozoicas, especialmente o extremidade oeste da Bacia Colorado está situado o Graben de Maca- fases iniciais da deposição da
LTB. No entanto, Daly et al. (2014), a partir de um perfil de reflexão sísmica pro- chín, também instalado na zona de fraqueza entre o Cráton Río de la bacia. Isópacas a partir dos
mapas de Neves et al. (1990).
funda cruzando toda a bacia, concluem que não há um sistema de rifts evidente sob Plata e o Terreno Pampia (Webster et al., 2004). A continuidade entre
a bacia, e que estruturas do embasamento não condicionam a sua instalação. Con- estas estruturas sugere uma inflexão para leste do LTB em sua termi-
tudo, essa interpretação contraria não apenas a evidência geofísica como dados de nação sul, conforme proposto por Fairhead e Maus (2003) em seu
poços e geologia de superfície. Mapas de isópacas das unidades litoestratigráficas modelo de reativação sinistral mesozoica do LTB.
da Bacia do Parnaíba (figura 8B e C) mostram um eixo deposicional principal 5.2.5 As bacias cenozoicas do Pantanal e do Bananal
fortemente condicionado pelo LTB durante a deposição dos grupos Serra Grande A bacia cenozoica do Pantanal é cortada por um possível splay do
(Siluriano-Devoniano) e Canindé (Devoniano-Carbonífero) e evidências de tectô- LTB, e Soares et al. (1998) identificaram uma possível influência de
nica sinsedimentar ligada à história inicial da Bacia do Parnaíba são apresentadas atividade neotectônica a ele relacionada na dinâmica de erosão e sedi-
por Chamani (2015), numa região em que a Formação Ipu do Grupo Serra Grande mentação no megaleque do Rio Taquari. A bacia cenozoica do Bananal
sofre um espessamento abrupto, controlado pelo Lineamento Sobral-Pedro II. é balizada em seu limite sudeste pelo eixo principal do LTB (figura
Bacia do Paraná 7B), e Valente e Latrubesse (2012) notam que a arquitetura da bacia é
Mapas de anomalia Bouguer da Bacia do Paraná mostram um importante bai- afetada por atividade neotectônica.
xo gravimétrico na porção ocidental da bacia (Vidotti et al., 1998), coincidindo
com a localização do traço em superfície do LTB, embora com orientação algo
diversa (figura 9A). Curto et al. (2014) atribui a reativações extensionais do LTB 6. Considerações finais
a instalação de depocentros iniciais da Bacia do Paraná. Mapas de isópacas para a
supersequência Rio Ivaí (Milani e Ramos, 1998), de idade ordoviciana-siluriana, O Lineamento Transbrasiliano (LTB) e sua contraparte africana,
mostram um depocentro secundário ao longo do traço do LTB (figura 9B), coin- o Lineamento Hoggar 4º50’, é uma das principais estruturas do
cidente com o baixo gravitacional identificado por Vidotti et al. (1998). Dessa Gondwana Ocidental. Múltiplas linhas de evidência definem o LTB
forma, o LTB parece ter exercido influência menos destacada sobre a Bacia do como uma descontinuidade litosférica continental, que exerceu
Paraná, embora tenha em certa medida afetado seus estágios iniciais de evolução. grande influência na história geológica da Plataforma Sul-America-
5.2.4 As bacias mesozoicas da Argentina na. O LTB desempenhou um papel de fundamental importância nos
e a questão da terminação sul do LTB processos que levaram à amalgamação final do Gondwana, e reati-
Ao sul das Sierras Pampeanas de Córdoba, ocorre um complexo de bacias meso- vações posteriores exerceram grande influência na história da Pla-
cenozoicas tipo graben e rift. A Bacia General Levalle é uma bacia de subsuperfície taforma Sul-Americana, em especial no que diz respeito à origem e

194 195
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 9

Apêndice
Andrea Bartorelli

Figura 9. A: Mapa de Em trabalhos para o Projeto de Transposi-


anomalia Bouguer da Bacia evolução de duas de suas mais importantes bacias sedimentares, as ção das Águas do Rio Tocantins para o Rio São
do Paraná (modificado de bacias do Parnaíba e do Paraná. Francisco, em 2002, foram observadas mani-
Vidotti et al., 1998) B: Mapa
de isópacas para a supersequ- Em meio à produção científica do Prof. Dr. Umberto Giuseppe festações de reativação mesozoica do LTB no
ência Rio Ivaí (modificado de Cordani e colaboradores a respeito do LTB, três temas merecem Estado do Tocantins, em área a montante da
Milani e Ramos, 1998). destaque: confluência dos rios Novo e Soninho, formado-
1. O pioneirismo no reconhecimento do LTB como uma das prin- res do Rio do Sono, representadas por extensa
cipais estruturas do Gondwana Ocidental e de sua importância na ori- e espessa zona de falha silicificada orientada
gem do supercontinente (e.g., Brito Neves e Cordani, 1991; Cordani e segundo NE-SW, a qual afeta arenitos das for-
Sato, 1999; Cordani et al., 2003). mações Corda (Jurássico) e Grajaú e/ou Urucuia
Fotos 1a e 1b: Afloramentos de arenitos
2. A evolução da compreensão do papel do LTB na colagem do (Cretáceo), pertencentes à Bacia Sedimentar do arroxeados da Formação Corda (Neoju-
Gondwana Ocidental, da sequência de eventos envolvida e da im- Parnaíba. Localmente existem indícios de des- rássico) na beira do Rio Novo, próximo à
portância desse evento na evolução geológica do planeta (Ganade de locamentos neotectônicos, ligados a desníveis e confluência com o Rio Soninho (ver foto
5). Denotam “foresets” de estratificação
Araújo et al., 2014a, b). degraus no terreno (foto 3). As fotografias de cruzada de grande porte e situam-se pou-
3. O pioneirismo no reconhecimento da influência do LTB sobre a 1 a 5, a seguir, ilustram aspectos dos arenitos co a jusante da zona silicificada de falha
história fanerozoica da Plataforma Sul-Americana, notadamente no que da Formação Corda e da área de ocorrência da ilustrada nas fotografias 2 e 3, a seguir.
diz respeito a duas de suas principais bacias sedimentares, a do Paraná e zona silicificada de falha.
do Parnaíba (Cordani et al., 1984). Na foto 5 é reproduzida imagem de satéli-
A multiplicação de trabalhos em anos recentes com foco no LTB e te recebida em mensagens trocadas com Marlei
estruturas associadas tem produzido frutos nas mais variadas áreas das Chamani, indicando extenso lineamento, que
geociências. Como esperamos ter demonstrado, o Prof. Dr. Umberto nada mais seria que a manifestação do LTB,
Giuseppe Cordani e colaboradores desempenharam desde o início papel tangenciando a Serra da Igrejinha ou Morro da
de fundamental importância no estudo desta estrutura. Catedral (foto 4).

196 197
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 9

Foto 4: Sopé da Serra da Igrejinha, com paredão plano supostamente associado a grande desconti-
nuidade vertical com direção NE; na área existem grandes blocos de rocha silicificada acumulados
junto à escarpa, constituída de arenito com seixos pequenos esparsos, podendo alcançar até 10 cm;
parecem pertencer à Formação Urucuia (coordenadas UTM GPS: 0292571 x 8877714).

Fotos 2a e 2b: Espessa zona de falha silicificada associada a reativação


mesozoica do Lineamento Transbrasiliano, próximo à cabeceira do Rio
do Sono, no Estado de Tocantins. Tem direção NE com forte mergulho
para NW e afeta as Formações Corda (Jurássico) e Urucuia (Cretáceo).

Foto 3: Vista
aérea do pro-
longamento da
zona silicificada
ilustrada na
figura 2, em
direção a NE,
associada a
desnível de
alguns metros
no terreno
(deslocamen-
to tectônico
recente?). Ao
fundo avista-se
a Serra da
Igrejinha, com
face plana de
escarpa junto
à falha (veja a
foto 4).
Foto 5: Imagem de satélite cedida por Marlei Chamani evidenciando extensa descontinuidade asso-
ciada ao LTB, a qual cruza na direção NE os rios Novo e Soninho logo a montante de sua confluên-
cia, formando o Rio do Sono, e tangencia o Morro da Catedral ou Serra da Igrejinha (ver foto 4).

198 199
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 9

Referências half Gondwanan (E-SE) domains. Precambrian Research, varenga C.J.S., Dantas E.L. 2014. The tectonic evolution Kaminsky F.V., Sablukov S.M., Sablukova L.I.,
244:75-86. of the Transbrasiliano Lineament in northern Paraná Ba- Zakharchenko O.D. 2009. The Fazenda Largo off-cra-
Aguiar M.P. 2013. A Bacia de Água Bonita, uma pas- Castro D.L., Fuck R.A., Phillips J.D., Vidotti R. M., sin, Brazil, as inferred from aeromagnetic data. Journal ton kimberlites of Piauí State, Brazil. Journal of South
sagem marinha eopaleozóica no Brasil central. MS Dis- Bezerra F. H. R., Dantas E. L. 2014. Crustal structure of Geophysical Research: Solid Earth, 119:1544-1562. American Earth Sciences, 28:288-303.
sertation, Instituto de Geociências, Universidade de São beneath the Paleozoic Parnaíba Basin revealed by air- https://doi.org/10.1002/2013JB010593 Liégeois J.P., Benhallou A., Azzouni-Sekkal A., Ya-
Paulo, São Paulo, 60p. borne gravity and magnetic data, Brazil. Tectonophysics, Daly M.C., Andrade V., Barousse C.A., Costa R., hiaoui R., Bonin B. 2005. The Hoggar swell and vol-
Amaral W.S., Kraus R.K., Dantas E.L., Fuck R.A., 614:128-145. McDowell K., Piggott N., Poole A.J. 2014. Brasiliano canism: reactivation of the Precambrian Tuareg shield
Pitombeira J.P.A. 2017. Sinistral reactivation of the Chamani M.A.C. 2011. Tectônica intraplaca e de- crustal structure and the tectonic setting of the Parnaí- during Alpine convergence and West African Cenozoic
Transbrasiliano Lineament: Structural and geochrono- formação sinsedimentar induzida por abalos sísmicos: ba basin of NE Brazil: results of a deep seismic reflec- volcanism. In: Foulger G.R., Natland J.H., Presnall
logical evidences in the Cariré Granulite Zone, Bor- o Lineamento Transbrasiliano e estruturas relacionadas tion profile. Tectonics, 33:2102-2120. https://doi.or- D.C., Anderson D.L. (eds.): Plates, plumes and par-
borema Province - NE Brazil. Journal of South American na Província Parnaíba, Brasil. MS Dissertation, Insti- g/10.1002/2014TC003632. adigms. Geological Society of America Special Paper,
Earth Sciences, 79:409-420. https://doi.org/10.1016/j. tuto de Geociências, Universidade de São Paulo, São Delgado I.M., Souza J.D., Silva L.C., Silveira Filho 388:379-400.
jsames.2017.08.022. Paulo, 206 p. N.C., Santos R.A., Pedreira A.J., Guimarães J.T., Ange- Macêdo Filho A.A., Archanjo C.J., Hollanda.
ANP. 2011. Projeto Aeromag Brasil - Mapa de anoma- Chamani M.A.C. 2015. Tectônica sinsedimentar no lim L.A.A., Vasconcelos A.M, Gomes I.P., Lacerda Filho M.H.B.M., Negri F.A. 2019. Mineral chemistry and
lia aeromagnetométrica escala 1: 2.500.000. http:// Siluro-Devoniano da Bacia do Parnaíba, Brasil: o papel de J.V., Valente C.R., Perrotta M.M., Heineck, C.A. 2003. crystal size distributions of mafic dikes and sills on
www.bdep.gov.br/?id=561, acesso em 10/06/2013. grandes estruturas do embasamento na origem e evolução Geotectônica do Escudo Atlântico. In: Bizzi L.A., Schob- the eastern border of the Parnaíba Basin, NE Bra-
Arthaud M.H., Caby R., Fuck R.A., Dantas E.L., de bacias cratônicas. PhD Thesis, Universidade de São benhaus C., Vidotti R.M., Gonçalves J.H. (eds.). Geo- zil. Journal of Volcanology and Geothermal Research,
Parente C.V. 2008. Geology of the northern Borborema Paulo, São Paulo, 219 p. logia, Tectônica e Recursos Minerais do Brasil. Brasília, 377:69-80.
Province, NE Brazil and its correlation with Nigeria, NW Cordani U.G., Brito Neves B.B., Fuck R.A., Por- CPRM, p. 227-334. Martino R.D., Guereschi A.B., Sigismondi M,
Africa. In: Pankhurst R.J., Trouw R.A.J., Brito Neves to R., Thomaz Filho A., Cunha F.M.B. 1984. Estudo Fairhead J.D. & Maus S. 2003. CHAMP satellite Carignano C.A. 2012. Prolongación del Lineamiento
B.B., De Wit M.J. (eds.). West Gondwana:Pre-Cenozoic preliminar de integração do pré-cambriano com os and terrestrial magnetic data help define the tectonic Transbrasiliano en Argentina y su control sobre el mag-
Correlations Across the South Atlantic Region. Geologi- eventos tectônicos das bacias sedimentares brasilei- model for South America and resolve the lingering prob- matismo cámbrico y devónico de las Sierras Pampeanas
cal Society London, Special Publication, 294:49-67. ras. Ciência. Técnica. Petróleo. Seção: exploração de lem of the pre-break-up fit of the South Atlantic Ocean. orientales. In: 15ª. Reunión de Tectónica. San Juan, Aso-
Assumpção M. & Sacek V. 2013. Intra-plate seismic- petróleo, 14:1-7.0 The Leading Edge, 22(8):779-783. ciación Geológica Argentina.
ity and flexural stresses in central Brazil. Geophysical Cordani U.G. & Sato K. 1999. Crustal evolution Feng M., Assumpção M., Van der Lee S. 2004. Marzoli A., Renne P.R., Piccirillo E.M., Ernesto M.,
Research Letters, 40:487-491. of the South American Platform, based on Nd isotopic Group-velocity tomography and lithospheric S-velocity Bellieni G., De Min A. 1999. Extensive 200-million-
Attoh K. & Brown L.D. 2008. The neoproterozoic systematics on granitoid rocks. Episodes, 22(3):167-173. structure of the South American continent. Physics of the year-old continental flood basalts of the Central Atlantic
Trans-Saharan/Trans-Brasiliano shearzones: suggested Cordani U.G., Brito-Neves B.B., D’Agrella-Filho Earth and Planetary Interiors, 147:315-331. Magmatic Province. Science, 284:616-618.
tibetan analogs. Eos Transactions AGU, 89(23-Joint As- M.S. 2003. From Rodinia to Gondwana: a review of the Ferré E., Gleizes G., Caby R. 2002. Obliquely Milani E.J. & Ramos V.A. 1998. Orogenias paleozo-
sembly Supplement):S51A-04. available evidence from South America. Gondwana Re- convergent tectonics and granite emplacement in the icas no domínio sul-ocidental do Gondwana e os ciclos
Baptista M.B & Cartner-Dyer R. 1966. Ocorrên- search, 6(2):275-283. Trans-Saharan belt of Eastern Nigeria: a synthesis. Pre- de subsidência da Bacia do Paraná. Revista Brasileira de
cia singular de sedimentos médio-paleozóicos no Cen- Cordani U.G., Brito Neves B.B., Thomaz Filho A. cambrian Research, 114:199-219. Geociências, 28(4):473-484.
tro-Oeste de Goiás. Divisão de Geologia e Mineralogia, 2009. Estudo preliminar de integração do Pré-Cambri- Ferreira L., Vidotti R.M., Jorge de Abreu C., Sant´An- Neves C.A.O., Silva A.B., Góes A.M.O., Lima M.P.
Notas preliminares e estudos, 135, 11p. ano com os eventos tectônicos das bacias sedimenta- na Marotta G., Dantas E.L. 2018. Água Bonita pull apart 1990. Projeto de exploração - Bacia do Parnaíba. Petro-
Barros L.V., Assumpção M., Chimpliganond C., res brasileiras (atualização). Boletim de Geociências da basin and its relationship to Transbrasiliano Lineament. bras/DEPEX/DENOR (Relatório Interno) 24 p.
Carvalho J.M., Von Huelsen M.G., Caixeta D., França Petrobrás, 17(1): 205-219. Journal of South American Earth Sciences, 89:63-75. Oliveira D.C. & Mohriak W.U. 2003. Jaibaras
G.S., Albuquerque D.F., Ferreira V.M., Fontenele D.P. Cordani U.G., Teixeira W., D’Agrella-Filho M.S., https://doi.org/10.1016/j.jsames.2018.11.007. through: an important element in the early tectonic evo-
2015. The Mara Rosa 2010 GT-5 earthquake and its Trindade R.I. 2009. The position of the Amazoni- Fuck R.A., Dantas E.L., Vidotti R.M., Roig H.L., lution of the Parnaíba interior sag basin, Northern Brazil.
possible relationship with the continental-scale Trans- an Craton in supercontinents. Gondwana Research, Almeida T. 2013. Deformação intracontinental em siste- Marine and Petroleum Geology, 20:351-383.
brasiliano lineament. Journal of South American Earth 15:396-407. mas transcorrentes: o caso do Lineamento Transbrasilia- Pángaro F. & Ramos V.A. 2012. Paleozoic crustal
Sciences, 60:1-9. Cordani U.G., Pimentel M.M., Araújo C.E.G., Fuck no: geometria, idade e significado. In: 14o Simpósio Na- blocks of onshore and offshore central Argentina: New
Basile C., Mascle J., Guiraud R. 2005. Phanerozoic R.A. 2013. The significance of the Transbrasiliano-Kandi cional de Estudos Tectônicos. Chapada dos Guimarães, pieces of the southwestern Gondwana collage and their
geological evolution of the Equatorial Atlantic domain. tectonic corridor for the amalgamation of West Gondwa- Sociedade Brasileira de Geologia, Anais. role in the accretion of Patagonia and the evolution of
Journal of African Earth Sciences, 43:275-282. na. Brazilian Journal of Geology, 43(3):583-597. Ganade de Araujo C.E., Weinberg R.F., Cor- Mesozoic south Atlantic sedimentary basins. Marine and
Berrocal J., Marangoni Y., de Sá N.C., Fuck R., Soa- Cordani U.G., Ramos V.A., Fraga L.M., Cegarra dani U.G. 2014a. Extruding the Borborema Province Petroleum Geology, 37:162-183.
res J.E.P., Dantas E., Perosi F., Fernandes C. 2004. Deep M., Delgado I., de Souza K.G., Gomes F.E.M., Schob- (NE-Brazil): a two-stage Neoproterozoic collision pro- Pena G.S. & Figueiredo A.J.A. 1972. Geologia das
seismic refraction and gravity crustal model and tectonic benhaus C. 2016. Tectonic map of South America/ Mapa cess. Terra Nova, 26:157-169. folhas de Iporá, Amorinópolis, Piranhas e Caiapônia,
deformation in Tocantins Province, Central Brazil. Tec- tectónico de América del Sur/ Mapa tectônico da América Ganade de Araujo C.E., Rubatto D., Hermann J., Sudoeste de Goiás. Projeto Alcalinas - Relatório Fi-
tonophysics, 388:187-199. do Sul escala 1: 5.000.000. Paris, Commission for the Cordani U.G., Caby R., Basei M.A.S. 2014. Ediacaran nal, v. 1.
Bizzi L.A. & Vidotti R.M. 2003. Condicionamento Geological Map of the World. 2,500-km-long synchronous deep continental subduc- Pérez-Gussinyé M., Lowry A.R., Watts A.B. 2007.
do magmatismo pós-Gondwana. In: Bizzi L.A., Schob- Costa J.B.S. & Hasui Y. 1988. Aspectos do Linea- tion in the West Gondwana Orogen. Nature Communi- Effective elastic thickness of South America and its im-
benhaus C., Vidotti R.M., Gonçalves J.H. (eds.), Geo- mento Transbrasiliano na região de Porto Nacional - Na- cations, 5. https://doi.org/10.1038/ncomms6198. plications for intracontinental deformation. Geochem-
logia, Tectônica e Recursos Minerais do Brasil. Brasília, tividade-GO. In: 35o Congresso Brasileiro de Geologia. Guiraud R., Doumnang Mbaingane J.C., Carretier istry, Geophysics, Geosystems, 8(5). https://doi.org.br/
CPRM, p. 335-364. Belém, Resumos, p. 182. S., Dominguez S. 2000. Evidence for a 6000km lenght 10.1029/2006GC001511.
Brito Neves B.B., Fuck R.A., Cordani U.G., Thomaz CPRM - Serviço Geológico do Brasil. 2004. Carta NW-SE-striking lineament in North Africa: the Tibesti Peri V.G., Pomposiello M.C., Favetto A., Barcelona
Fo A. 1984. Influence of basement structures on the evo- Geológica do Brasil ao Milionésimo. SIG Brasil. CD- lineament. Journal of the Geological Society, London, H., Rossello E.A. 2013. Magnetotelluric evidence of the
lution of the major sedimentary basins of Brazil: a case of ROM. 157:897-900. tectonic boundary between the Río de La Plata Craton
tectonic heritage. Journal of Geodynamics, 1:495-510. Cunha B.C.C., Potiguar L.A.T., Ianhez A.C., Bezerra Hollanda M.H.B. M., Archanjo C.J., Macedo Filho and the Pampean terrane (Chaco-Pampean Plain, Argen-
Brito Neves B.B. & Cordani U.C. 1991. Tectonic P.E.L., Pitthan J.H.L., Souza Júnior J. J., Montalvão R. A.A., Fossen H., Ernst R.E., Castro D.L.D., Melo A.C., tina): the extension of the Transbrasiliano Lineament.
evolution of South America during the Late Proterozoic. M. G., Hildred P. R., Tassinari C. C. G. 1981. Geologia. Oliveira A.L. 2019. The Mesozoic Equatorial Atlantic Tectonophysics, 608:685-699
Precambrian Research, 53:23-40. In: Projeto RADAMBRASIL. Folha SC.22 - Tocantins. Rio Magmatic Province (EQUAMP). In: Srivastava R., Ernst Petersohn E. 2007. Nona rodada de licitações - Bacia
Brito Neves B.B. & Fuck R.A. 2014. The basement of de Janeiro, DNPM, p. 23-196. R., Peng P. (eds.), Dyke Swarms of the World: A Modern do Parnaíba. Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural
the South American platform: half Laurentian(N-NW) - Curto J.B., Vidotti R.M., Fuck R.A., Blakely R.J., Al- Perspective. Singapore, Springer, p. 87-110. e Biocombustíveis. http://www.anp.gov.br/brnd/round9/

200 201
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 10

round9/palestras/Parnaiba português.pdf, acesso em


20/12/2009.
eral Levalle basin, Argentina: A frontier Lower Creta-
ceous rift basin. AAPG Bulletin, 88(5):627-652. Província Borborema,
Ramé G.A. & Miró R.C. 2011. Modelo geofísico
de contacto entre el Orógeno Pampeano y el Cratón del
Wiens F. 1995. Phanerozic tectonics and sedimen-
tation in the Chaco Basin of Paraguay, with comments
síntese retrospectiva do conhecimento
Río de La Plata en las provincias de Córdoba y Santiago on hydrocarbon potential. In: Tankard A.J., Soruco R.S.,
del Estero. Serie Correlacion Geologica, 27(2):111-123. Welsink H.J. (eds.) Petroleum Basins of South America Benjamim Bley de Brito Neves,
Ramos V.A., Vujovicha G., Martino R., Otamen- (AAPG Memoir 62). Tulsa, American Association of Pe- Universidade de São Paulo,
di J. 2010. Pampia: A large cratonic block missing in troleum Geologists, p. 185-205.
the Rodinia supercontinent. Journal of Geodynamics, Instituto de Geociências
50(3-4):243-255. Sites de referência: (bbleybn@usp.br).
Rapela C.W., Pankhurst R.J., Casquet C., Fanning ANP - Agência Nacional de Petróleo. http://www.
C.M., Baldo E. G., González-Casado J.M., Galindo anp.gov.br.
C., Dahlquist J. 2007. The Río de La Plata craton Centro de sismologia USP. http://moho.iag.usp.br/
and the assembly of SW Gondwana. Earth-Science Re- eq/latest, acesso em 28/11/2019. 1. Introdução
views, 83:49-82.
Sadowski G.R. & Campanha G.A.C. 2004. Grandes
falhas no Brasil continental. In: Mantesso-Neto V., Bar- A Província Borborema compreende um complexo sistema ra-
torelli A., Carneiro C.D.R., Brito Neves B.B. (orgs.) mificado de faixas orogênicas neoproterozoicas instalado entre
Geologia do Continente Sul-Americano. Evolução da
Obra de Fernando Flávio Marques de Almeida. São Paulo,
os núcleos cratônicos West África – São Luís (ao norte), Parnaí-
Beca, p. 407-421. ba (bloco Parnaíba, a norte, e a sul o “bloco Terezina”), a oeste Benjamim Bley
Santos C., Sá E., Silva F.C., Antunes A.F. 2018. (encobertos pela Sinéclise do Parnaíba) e o Cráton São Francisco- de Brito Neves.
Reativações pós-silurianas do Lineamento Transbrasilia-
no na porção sul da Bacia do Parnaíba. Geologia USP. Congo-Kasai ao sul. Ocupa uma área com cerca de 450.000 km2
Série Científica, 18(2):71-86. do nordeste oriental do Brasil e tem continuidade por cerca de
Schobbenhaus C. (coord.) 1975. Carta Geológica do 400.000 km2 no centro-oeste do território africano, entre Gana e
Brasil ao Milionésimo – Folha Goiás (SD 22) (texto expli-
cativo). Brasília, DNPM, 114p. Gabão. O embasamento desses sistemas neoproterozoicos se expõe
Soares P.C., Assine M.L., Rabelo L. 1998. The em várias formas de microplacas e microcontinentes até diversos
Pantanal basin: recent tectonics, relationships to Trans- outros tipos de basement inliers (segmentos poligonais menores).
brasiliano lineament. In: 9o Simpósio Brasileiro de Sen-
soriamento Remoto. INPE, Anais, p. 459-469. Estas exposições têm sido chamadas genericamente de “maciços”,
Tassara A., Swain C., Hackney R., Kirby J. 2007. ou “terrenos tectonoestratigráficos”. Estas designações genéricas,
Elastic thickness structure of South America estimated não trazem ainda vínculos comprovados de caráter geotectônico
using wavelets and satellite-derived gravity data. Earth
and Planetary Science Letters, 253:17-36. primário (microplacas, microcontinentes, forebulges). O contexto
Teixeira A.L., Gaucher C., Paim P.S.G., Fonseca de linhas estruturais desta província se acha disposta num amplo
M.M., Parente C.V.P., Silva Filho W.F., Almeida A.R. leque, de NNE (a noroeste, no domínio Médio Coreaú) para SE
2004. Bacias do Estágio de Transição da Plataforma
Sul-Americana. In: Mantesso-Neto V., Bartorelli A., -NW (Faixa Sergipana, a sudeste), sempre chegando de forma dia-
Carneiro C. D. R., Brito Neves B. B. (orgs.) Geologia gonal ou perpendicular à linha de costa.
do Continente Sul-Americano. Evolução da Obra de Estes basement inliers são muito variados em causa, forma e dimen-
Fernando Flávio Marques de Almeida. São Paulo, Beca,
p. 487-536. sões. Mostram características petroestruturais gerais similares àquelas
Tohver E., Cawood P.A., Rosello E.A., Jourdan F. dos crátons adjacentes, consoante a presença de contextos gnáissico-
2011. Closure of the Clymene Ocean and formation of migmatíticos preponderantes, exibindo alguns núcleos arqueanos, e
West Gondwana in the Cambrian: Evidence from the Si-
erras Australes of the southernmost Rio de la Plata cra- um histórico paleoproterozoico marcante (riaciano, sobretudo). Mas
ton, Argentina. Gondwana Research, 21(2/3):394-405. estes inliers, em geral, se apresentam muito retrabalhados pelos ciclos
https://doi.org/10.1016/j.gr.2011.04.001. subsequentes ao Mesoproterozoico. Deste particular eratema a repre-
Valente C.R. & Latrubesse E.M. 2011. Fluvial ar-
chive of peculiar avulsive fluvial patterns in the largest sentação é pequena e esparsa, com alguns corpos graníticos e de rochas
Quaternary intracratonic basin of tropical South Amer- máfico-ultramáficas de características anorogênicas.
ica: the Bananal basin, Central-Brazil. Palaeogeography, A estruturação ramificada da província tem evocado designações re-
Palaeoclimatology, Palaeoecology, 356-357: 62-74.
Vauchez A., Neves S., Caby R., Corsini M., Egy- gionais antigas como “hercinotipo” (geólogos europeus) e/ou “região
dio-Silva M., Arthaud M., Amaro V. 1995. The Borbore- de dobramentos em mosaico” (escola russa). Os principais ciclos oro-
ma shear zone system, NE Brazil. Journal of South Amer- gênicos neoproterozoicos desta província são do Eotoniano (“Carirís
ican Earth Sciences, 8(3-4):247-266.
Vidotti R.M., Ebinger C.J., Fairhead D. 1998. Grav- Velhos”, 1000-930 Ma) e do Brasiliano (Neotoniano ao Neocambriano,
ity signature of the western Paraná basin, Brazil. Earth 800/750Ma → 480Ma). Estes ciclos são responsáveis por contextos me-
and Planetary Science Letters, 159:117-132. tassedimentares e metavulcanossedimentares muito variados em com-
Webster R.E., Chebli G.A., Fischer J. F. 2004. Gen-

202 203
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 10

Coberturas sedimentares paleozoicas (“Gondwânicas”, pré-Pangea) e meso-ceno-


zoicas (pós-Pangea) ocorrem esporadicamente no interior e na margem continental
da província. Praticamente todos estes registros sedimentares foram condicionados e
são controlados por estruturas herdadas de embasamento.
A designação de “Província” veio à tona no clássico trabalho de Almeida et al.
(1981), pensando no tratamento coletivo e expositivo.
O conhecimento geológico (mapeamentos sistemáticos em escalas 1/100.000,
1/250.000), geotectônico, geocronológico e os levantamentos geofísicos regionais
(gravimétricos, aeromagnetométricos, magnetotelúricos, ternários e sísmica pro-
funda) foram enriquecidos nas últimas décadas. A integração desses dados geofísi-
cos (gravimétricos, aeromagnéticos etc.) sobre uma base geológica bem montada,
foi apresentado por Oliveira (1998, 2008) e Oliveira e Medeiros (2018).
a) Os antepaíses cratônicos pré-Mesoproterozoicos, na maioria consolidados
em ciclos do Paleoproterozoico (sistemas Riaciano e Orosiriano), que funcio-
naram como placas maiores que interagiram no Neoproterozoico, a saber: São
Benjamim Bley Francisco (ao sul); São Luís-West África (ao norte); Parnaíba inliers, incluindo
de Brito Neves.
Parnaíba Norte, Parnaíba Sul e Terezina (apud Castro et al., 2014), a oeste, sob
a Bacia do Parnaíba. Neste último caso, o conjunto é considerado como tendo
funcionado como entidade cratônica una. Estas entidades geotectônicas maio-
res participaram do contexto da província orogênica, circunscrevendo-a (lado
posição, natureza e tempo, representando diferentes ambientes tectônicos de origem sul-americano). Nas suas margens verifica-se a presença física de partes delas
(inter e intraplacas). retrabalhadas (os chamados “maciços marginais”) pelas faixas, posteriormente
Uma rede importante de shear zones marca esta província, sendo destacáveis a formadas, que as circunscrevem.
priori aquelas de Kandi-Transbrasiliano (a noroeste, NNE-SSW), Patos-Garoua (con- b) Os demais segmentos/frações do embasamento, de diferentes dimensões,
siderada como uma boundary transform, E-W) e Pernambuco-Adamaoua (E-W). formas, situação e grau de comprometimento, participam do mosaico da pro-
Estas importantes zonas de cisalhamento (com várias outras a ela consorciadas) e víncia, promovendo sua ramificação em faixas. Há vários tipos distintos destas
de escape tectonics, por sua grande expressão intra e transcontinental, são aqueles exposições/intervenções do embasamento, no tocante ao papel desempenhado
elementos melhor utilizáveis (razões composicionais e estruturais) para subdividir a ao longo do processo orogênico. Entre estes “altos” pré-mesoproterozoicos,
província em quatro subprovíncias, a saber: várias tipologias de embasamento têm sido reconhecidas, a nível litosférico (i)
a) Norte-ocidental ou Médio Coreaú, balizada a leste e sudeste pelo Lineamento frações de litosfera e (ii) nível meramente crustal, envolvendo frações de faixas
Transbrasiliano-Kandi, incluindo partes do noroeste do Ceará e norte do Piauí. móveis pré-neoproterozoicas, terrenos “suspeitos” (hard to subduct) continen-
b) Setentrional, reunindo todo o contingente de terrenos e faixas imediatamente tais e/ou oceânicos, slivers (boudins sigmoidais), zonas antiformais causadas
situados ao norte do Lineamento Patos: “Ceará Central” e “Terreno Rio Grande do por transpressão, domos gnáissicos, forebulges de antepaís, upthrusts e zonas
Norte”. de além-país etc.
c) Transversal que é delimitada pelos lineamentos Patos (Garoua), ao norte, e
Pernambuco (Adamaoua), ao sul. Inclui várias faixas móveis neoproterozoicas (bra- 1.1 A Contribuição de Umberto G. Cordani
silianas-tonianas) ramificadas e/ou separadas por terrenos tectonoestratigráficos, pa- A contribuição de Umberto Cordani ao conhecimento da província pode ser
leoproterozoicos e arqueanos. colocada em dois conjuntos distintos de atuação. O primeiro, vinculado ao pris-
d) Meridional, situada ao sul do Lineamento Pernambuco, e entre este e a peri- ma das interpretações continentais e transcontinentais, e o segundo, mediante sua
feria norte do Cráton do São Francisco-Congo). Inclui o amplo Superterreno Per- participação como orientador e/ou coorientador de dissertações de mestrado e
nambuco-Alagoas (ca. 60.000 km2), e uma coligação interessante de faixas móveis da teses de doutoramento vinculadas aos temas nordestinos (em praticamente todas
margem norte do Cráton do São Francisco, correspondente aos sistemas Sergipano, as quatro subprovíncias).
Riacho do Pontal e Rio Preto (hoje separados por injunções erosionais). No primeiro cabide queremos atestar o pioneirismo deste autor na confirmação
Adicionalmente, como característica marcante da Província, deve ser destacado do teste de deriva continental entre Brasil e África (Science), liderado por Hurley
o conjunto formidável de rochas graníticas, de vários tipos, que perfazem cerca (1967). A coleta e a comparação de dados nos dois continentes, em programa inter-
de 30% da área da Borborema, recortando as faixas de dobramentos e os terrenos nacional de colaboração científica, produziram um trabalho clássico, evidenciando a
tectonoestratigráficos. prévia hipótese da conexão pretérita dos dois continentes.

204 205
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 10

Noutro trabalho de Cordani e coautores (Cordani et al., 1984, republicado em


Cordani et al., 2009) sobre a participação/legado das estruturas do embasamento
(crátons, terrenos, faixas móveis, lineamentos etc.) na distribuição das coberturas
sedimentares dos estágios cratônicos pós-Gondwana. Este trabalho hoje é consi-
derado um clássico da nossa bibliografia para a Província em epígrafe e todas as
outras do continente.
Destaque para a orientação da tese de Pessoa (1976) nos estudos geológicos e
geocronológico das rochas policíclicas do Complexo São Vicente (região de Caicó,
RN, Terreno Rio Piranhas), de idade paleoproterozoica. Ainda, no Rio Grande do
Norte, destaquemos a contribuição (parte de um grupo de trabalho em conjunto)
ao doutorando Dantas (1996), com as primeiras determinações de idade de rochas
paleoarqueanas (3,4-3,5 Ga U/Pb em zircão) na Borborema, no terreno de São José
do Campestre, no interior de terrenos paleoproterozoicos.
Seguindo-se ao trabalho de orientação da tese de Araújo (2014) no noroeste Figura 1: Esquema geral
da Província Borborema:
do Ceará (parte da África), vários trabalhos importantes foram publicados em dife- sistemas de dobramentos,
rentes revistas internacionais sobre o significado do Lineamento (tectonic corridor) terrenos e grandes falhamen-
Transbrasiliano-Kandi, do arco magmático de Santa Quitéria e do processo de amal- tos. Limite a oeste e noroeste,
a Bacia do Parnaíba; limite
gamento de Gondwana Ocidental (Cordani et al., 2013; Araújo et al., 2012, 2014a, ao sul, o Cráton do São
2014b, 2016). Trata-se de um conjunto de trabalhos extremamente importantes e c) H. Ebert em diversos trabalhos (de 1955 a 1970) prestou uma Francisco; limite norte e
significativos sobre o contexto da Borborema na escala transcontinental e a relevân- oriental, a Província Costeira
grande contribuição, com ampla divulgação, da geologia pré-cambria- e a Margem Continental.
cia do Lineamento Transbrasiliano-Kandi. na da Borborema, de maneira integrada. (vide Ebert, 1970).
Junte-se a estes, as suas qualidades de colega, amigo, e incansável incentivador e d) A SUDENE, a partir de 1962 desempenhou papel importante
debatedor, todas cimentadas na sua notória auto-segurança e altruísmo congênitos. com mapeamentos geológicos regionais, estudos de jazimentos mine-
rais e a consecução do mapa hidrogeológico 1/1.000.000, cobrindo
toda a região (entre 1963 e 1975).
2. Breve histórico e) Ainda na década de 1960 foi desenvolvido o chamado “Projeto
Cobre”, pela PROSPEC para a SUDENE, com levantamento geológi-
É uma tarefa quase impossível cobrir/discriminar todas as publicações e tra- co de dezenas de quadrículas (escala 1/100.000, integração em escala
balhos inerentes à província em epígrafe, do início do século passado aos tempos 1/500.000) da parte centro ocidental da província (clássico boletim
atuais. Optamos por tentar uma síntese com ênfase no que se fez nas últimas 140 do DFPM/DNPM, Barbosa, 1970).
quatro décadas; todos os livros que cobriram a geologia regional do Brasil, de f) De 1974 até 2004, o DNPM se aplicou ao valioso trabalho de
Schobbenhaus et al. (1981) a Silva et al. (2014), se dedicaram de alguma forma cartas ao milionésimo de toda a província, desenvolvendo mapeamen-
a este histórico. A cobertura por mapas geológicos regionais de diferentes fontes tos e compilando todo o acervo geológico até então disponível.
e escalas (SUDENE, DNPM, CPRM/PLGB, Projeto RADAMBRASIL), a atuação g) Entre 1976 e 1986, o Projeto RADAMBRASIL desenvolveu ma-
dos Cursos de Geologia (UFPE, UFC, UFRN, USP, UFS, UFBA, UnB, UFMG, pas geológicos ao milionésimo e seus textos explicativos de pratica-
Universidade do Kansas etc.) com teses, dissertações e pesquisas de docentes etc. mente toda a província.
Todos os estados da Borborema hoje dispõem de mapas (escala 1/500.000 predo- h) Desde a criação da CPRM (Serviço Geológico do Brasil), meio
minante), que conseguem usufruir e tratar deste histórico. Tentaremos reconhe- século atrás, vários programas de mapeamentos regionais (folhas
cer uma série de fases de estudos, que muitas vezes não foram necessariamente 1/100.000 e 1/250.000 principalmente) foram executados na Bor-
separados em tempo. borema e no continente (e.g., o PLGB-Programa de Levantamentos
a) No primeiro quartel do século passado, destaque para a fase dos geólogos do Geológicos Básicos) com produtos extremamente importantes. Além
antigo IFOCS (R. Crandall, W. H. Small, F. Sopper), encerrada com o clássico traba- disso, a CPRM, em parceria com os governos estaduais, produziu
lho de L. J. Moraes, em 1924 (“Serras e Montanhas do Nordeste”). uma série de mapas geológicos estaduais (escala 1/500.000), sin-
b) A fase seguinte foi incentivada pelas demandas de bens minerais, ao longo da tetizando todo o conhecimento previamente acumulado (inclusive
Segunda Guerra Mundial, com destaque para os trabalhos de P. A. Rolf, W. D. Johns- incorporando os mapas de escala 1/100.000 da própria CPRM) de
ton, Oliveira e Leonardos (primeiro livro de Geologia do Brasil), G. Paiva, Moacyr interesse geoeconômico, desde o mapa geológico de Pernambuco
Vasconcellos, mas não exclusivamente (vide Santos et al., 2014). (2001) ao de Alagoas (2017).

206 207
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 10

i) Last but not least é oportuno acrescentar a contribuição em termos de dis-


sertações, teses de doutoramento e pesquisas realizadas por estudantes de várias
universidades (acima mencionadas). Temos que exaltar o consórcio com a pesquisa
de vários professores, contribuindo decisivamente para o avanço do conhecimento
geológico da Borborema.
j) Contribuições notáveis para a interpretação da província foram produzidas
em diferentes tempos por teses acadêmicas, cada uma com seus escopos e méritos
incontestes. Com risco de cometer injustiças, destacaríamos: Brito Neves (1983);
D’el-Rey Silva (1992); Jardim de Sá (1994); Santos (1995); Dantas (1996); Bittar
(1998); Oliveira (1998, 2008); Fetter (1999); Kozuch (2003); Medeiros (2004);
Arthaud (2007); Caxito (2013); Araújo (2014).
k) Dos levantamentos geofísicos, destaque para as sínteses de Oliveira (1998,
2008) e de Oliveira e Medeiros (2018), pela atualidade dos dados, e que incluíram
interpretação de todos os trabalhos de geologia regional e geofísica preexistentes.
Vide igualmente as sínteses sobre a Bacia do Parnaíba, de Castro et al. (2014) e
Daly et al. (2018).
l) A Borborema é caracterizada pela riqueza em granitos, em tipos, formas, tem-
po e condicionadores. Este é um mundo à parte pela riqueza de bibliografia. Mas
a síntese de Sial e Ferreira (2016), entre outras, é indispensável aos interessados
neste tema e conexões.
m) O reconhecimento da continuidade das estruturas brasilianas da província Figura 2: Mapa geológico
(Mocambo, Meruoca, tipo A). A conexão destas exposições do em- esquemático da Subprovíncia
com aquelas do noroeste da África tem sido debatido em várias oportunidades (e.g., basamento (Granja, Senador Sá) com aquelas dos inliers (Parnaíba, Médio Coreaú, noroeste da
Cordani et al., 2003). O livro editado por Pankhurst et al. (2008) traz também pelo Terezina) do substrato do Parnaíba, embora provável, ainda não foi Borborema; delimitada a leste
menos meia dúzia de capítulos cuidadosamente elaborados sobre o tema. e sudeste pelo Lineamento
possível ser consignada (Castro et al., 2014). Transbrasiliano-Kandi. Fonte:
n) Sobre os recursos minerais da província há inumeráveis trabalhos, muito dis- O preenchimento metassedimentar deste sistema (tabela 1) Santos et al., 2008.
persos, mas o tema está muito bem condensado em livro recente de Santos et al., constitui dois grupos/faixas distintos e emparelhados lateralmente,
2014, que é recomendado. com litologias especificando o condicionamento tectônico original.
O Grupo Ubajara (a leste e sudeste), sequência típica de margem
continental passiva (“QPC”, quartzitos, calcários, folhelhos), e o
3. Subprovíncia Médio Coreaú Grupo Martinópole, constituído de metassedimentos imaturos, ro-
chas vulcanossedimentares, com arenitos feldspáticos, grauvacas
Esta subprovíncia se situa na parte norte-ocidental da Borborema (CE-PI), etc. próximos ao tipo sequência “BVAC” (Condie, 1982), prova-
com uma área de exposição pequena (ca. 10.000 km2, figura 2), posto que é velmente distal da margem continental e com histórico típico de
acobertada por depósitos da sinéclise do Parnaíba e outros sedimentos costeiros. procedência a partir de riftes. Recobrem estes metassedimentos
Sua delimitação a sudeste pelo Lineamento Trasnbrasiliano-Kandi (figura 2) é de os sedimentos clásticos imaturos polimícticos do Grupo Jaibaras e
grande importância, por várias razões que justificam a sua discriminação como correlatos (preenchendo riftes tardios, cambro-ordovicianos) con-
uma subprovíncia especial. A sua continuidade pré-fissão de Pangea com a faixa sorciados com pulsos extensionais do lineamento Transbrasiliano e
Dahomeyana na África tem sido defendida por vários autores (e.g. Fetter et al., outros associados em paralelo.
2003; Santos et al., 2008; Araújo, 2014; Araújo et al., 2014a, 2014b, 2016). Em Presumivelmente, o desenvolvimento litoestratigrafico destes dois
observações de subsuperfície, é possível acompanhar os depósitos pós-tectônicos grupos (Ubajara e Martinópole) é coevo, do final do Neoproterozoico.
(molassoides) desta faixa ao longo de traps do lineamento Transbrasiliano, que Valores de idade U/Pb para vulcânicas (andesíticas) do Grupo Marti-
atravessa toda a borda sudeste do Parnaíba. nópole indicam idade ca. 777 ± 11 Ma. Em alguns outros sistemas
O embasamento paleoproterozoico desta subprovíncia é formado por rochas de dobramentos da Borborema (e do Brasil) esta dualidade de faixas/
gnáissicas e migmatíticas (“Maciço de Granja”) de caráter juvenil com idades litologias num mesmo sistema tem sido comum (e.g., Sergipano).
variando de 2,4-2,6 Ga, com valores positivos do ƐNd(t), pouco usuais nas demais A estrutura das faixas neoproterozoicas é bastante complexa, com
subprovíncias. As supracrustais do sistema Médio Coreaú são cortadas por gra- um sistema de dobramentos com vergência tectônica para norte-no-
nitos tardi-colisionais (Tucunduba, Chaval) e pós-colisionais, já do Cambriano roeste, extremamente penetrado (fatiado) por uma dúzia (pelo me-

208 209
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 10

Figura 3: A Subpro-
Tabela 1: víncia Setentrional
Evolução da Borborema,
litoestratigráfica entre os lineamentos
esquemática da Transbrasilianos (a
Província Médio norte-noroeste) e
Coreaú. de Patos (ao sul).
Destaques para
o domínio Ceará
Central (a oeste do
Lineamento Jagua-
ribe) e o domínio
do superterreno Rio
Grande do Norte (a
leste); este domínio
oriental apresenta
três subdomínios
distintos: Rio
Piranhas, Sistema de
Dobramentos Seridó
nos) de falhas transcorrentes destrais, subparalelas ao lineamento Transbrasiliano. e o Terreno São
A subprovíncia como um todo foi submetida a um processo imponente de tectônica José do Campestre.
Fonte Arthaud et al.
transcorrentente, em parte transpressional (e.g., Santos et al., 2008; Araújo et al., (2015).
2012, 2014a, 2014b).
A interpretação geotectônica usual destas faixas é a de um ambiente oceânico,
com sedimentação de margem continental proximal (Grupo Ubajara) e distal (Grupo
Martinópole). Um processo de subducção para sul-sudeste seria responsável pela
vergência de sudeste para noroeste (sentido do “Maciço” de Granja), fase considera-
da como D1. Em seguida ter-se-ia registrado o vigoroso processo de movimentação
transpressional D2 (comandada pelo Lineamento Transbrasiliano e as falhas paralelas
a este e a noroeste) que veio seccionar intensamente o contexto litoestratigrafico,
que já teria sido (na fase D1) previamente metamorfizado.
O “Maciço de Granja” (s.l.) parece ser o embasamento de toda pilha sedimentar Domínio ocidental, entre o Lineamento Transbrasiliano e a Zona de Cisalhamen-
e vulcanossedimentar do Médio Coreaú, sendo a área de Granja a simples expressão to do Jaguaribe (JSZ), o chamado “Ceará Central”.
local de um soerguimento tectônico ruptural. Estes terrenos do embasamento têm Domínio oriental, entre a Zona de Cisalhamento do Jaguaribe (a oeste) e a mar-
algumas características geológicas interessantes: rochas ortognáissicas, parcialmen- gem continental (a leste), o chamado (super) “Terreno Rio Grande do Norte”. Este
te migmatizadas, siderianas (ver acima) e ainda a presença de gnaisses kinzigíticos. inclui os subdomínios/terrenos Rio Piranhas (W), Seridó (centro-leste) e São José do
Além disto, a presença de valores de idade do Sideriano (ca. 2,35 Ga) constitui algo Campestre (leste).
inusitado, em termo da província como um todo, e mesmo para com os prováveis
candidatos a uma correlação, no lado africano. 4.1 Domínio Ocidental (“Ceará Central”)
Neste subdomínio destacamos primeiro cronologicamente um “alto” signi-
ficativo do embasamento arqueano, envolvidos em cinturões acrecionários do
4. Subprovíncia Setentrional Paleoproterozoico, o “Maciço”/Terreno Tróia-Tauá”, na porção mais central do
Ceará, que está separando (e embasando) das faixas de dobramentos do Bra-
No estudo desta ampla subprovíncia (mais de 130.000 km2), ao norte do Linea- siliano a sua volta: faixas do “Rio Curu” (ao norte) daquelas situadas mais ao
mento de Patos, podemos destacar dois domínios distintos, separados por zonas de sul (“Arneiroz”) e noroeste (“Independência”), preenchidas e estruturadas por
cisalhamento, e com algumas diferenças importantes entre elas (e algumas semelhan- rochas paraderivadas (metapsamíticos e metapelíticas), tratadas sob a égide de
ças), vide figuras 1 e 3. “Supergrupo Ceará” (neotoniano-criogeniano).

210 211
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 10

Na porção noroeste deste subdomínio se situa o arco magmático brasiliano de


Tamboril-Santa Quitéria (Fetter, 1999; Araújo et al., 2014a, 2014b). As rochas me-
tassedimentares e vulcanossedimentares do Supergrupo Ceará se encontram circuns-
crevendo estes dois núcleos distintos do embasamento (o primeiro, Tróia-Tauá, com
registros excepcionais do arqueano-paleoproterozoico), e o segundo, com rochas
de um amplo contexto acrecionário do Neotoniano ao Criogeniano (“Santa Quité-
ria”). É preciso acrescentar ainda o pequeno núcleo granítico-migmatítico de Maran-
guape–Pacatuba (imediatamente ao sul de Fortaleza), que é considerado uma nova
exposição do fronte acrecionário brasiliano (Pitombeira, 2019). Há outras ocorrên-
cias menores (“Pereiro”, “Novo Oriente”) de rochas atribuídas aos processos de sub-
ducção brasiliana, que demandam pesquisas adicionais.
Além da persistência de litologias psamo-pelíticas de médio grau (com vários
tipos de intercalações outras, sedimentares e vulcânicas), caracteriza este Supergru-
po Ceará uma tectônica de nappes muito importante (brasiliana) que predomina no
contexto geral desse subdomínio, no entorno do Arco de Santa Quitéria, e alhures,
como será realçado e comentado.
4.1.1 Terrenos Tróia-Tauá e Granjeiro
Na parte central deste subdomínio ocidental se expõe um contexto/núcleo lito-
estrutural de forma trapezoidal irregular (ca. 5.000 km2) de rochas arqueanas cir-
cundadas por rochas paleoproterozoicas, um “alto estrutural” do embasamento. Este
soerguimento da infraestrutura regional se deu por condições transpressionais con- Figura 4: O “maciço”/“terre-
dicionadas pelas zonas de cisalhamento de Senador Pompeu, a leste (NE-SW, destral) de Patos e situado ao norte deste. Esta unidade (“Complexo Granjei- no” Troia-Tauá, porção centro-
e a de Tauá, a oeste (NNW-SSE, sinistral). ro”) é composta em parte por ortognaisses TTG, incluindo espessas sudoeste do Ceará Central,
com exposições do embasa-
Entre as unidades arqueanas aí expostas estão os complexos gnáissicos e migma- lentes de rochas máficas e ultramáficas, além de encaixantes tipica- mento arqueano. Destaque
titos de Mombaça (ca. 2,8 Ga) e Cruzeta (ca. 2,7 Ga), na porção central do Ceará mente metassedimentares, micaxistos, quartzitos, metachertes, BIFs, para a tectônica (transpressio-
(Grandjean et al., 2018), compostos por ortognaisses (meta-TTG, granodioríticos, associados com metagabros, anfibolitos e serpentinitos. Estas rochas nal) das Zonas de Cisalhamen-
to Tauá e Senador Pompeu.
tonalitos e trondhjemíticas), com várias inserções de rochas máficas, ultramáficas e apresentam idade U-Pb neoarqueanas (ca. 2,55Ga) e, com sua estru- Fonte: Costa et al. (2018).
sills graniticos (“Unidade Tróia”), que apresentam mineralizações locais de cromita. turação, esta unidade é fortemente transposta pelo Lineamento Patos.
Esta unidade é essencialmente composta por uma associação plutônica, máfica-ultra- 4.1.2 Supergrupo Ceará
máfica (gabros, dioritos, tonalitos, horblenditos, serpentinitos, cromititos e cumu- Unidade representada por uma sequência sedimentar (e vulcanos-
latos ultramáficos – figura 4). Mais restritamente, se destacam nesta unidade uma sedimentar) que cobre mais de 60% do domínio ocidental e se apre-
sequência metavulcanossedimentar com metabasaltos, metaultramáficas, metatufos, senta relativamente monótona, típica QPC, psamítico-pelítica e de
paragnaisses feldspáticos e algumas rochas cálcio-silicatadas. médio grau, por excelência. O vulcanismo ácido ocorre às vezes (meta-
Estruturalmente, estas unidades situadas a oeste-noroeste do Lineamento Senador riolitos), e são comuns intercalações anfibolíticas (metabasaltos), assim
Pompeu apresentam uma tectônica de nappes dobrados de forma sinformal aberta como níveis quartzíticos e lentes carbonáticas e calciossilicáticas. Esta
(direção principal NNE-SSW). Na porção mais a leste deste domínio ocidental aque- sequência ocorre em franca discordância acobertando o embasamento
les ortognaisses (meta TTG) afloram amplamente retrabalhados por estruturações (paleoproterozoico e arqueano).
brasilianas. A idade (U/Pb) destas rochas de embasamento é geralmente neoriaciana Vários autores conseguiram empilhar estratigraficamente várias
(2,2-2,1 Ga), consoante vários autores. Interessante observar que os valores de idade das unidades destacadas de mapeamento do Supergrupo Ceará, em
(Sm-Nd) TDM dessas rochas são também paleoproterozoicos. E esta história crustal diferentes locais de estudo (e.g. Cavalcante, 1999; Arthaud, 2007;
é diferente daquela predominante nas rochas de embasamento do domínio oriental Pitombeira, 2019), todas elas com seu valor relativo, local. Pelas ca-
(Rio Grande do Norte), onde são comuns idades TDM do Arqueano. racterísticas litológicas expostas, esquemas semelhantes voltarão a
Ao sul-sudoeste do domínio central do Ceará, entre as zonas de cisalhamento de ser identificados, mas dificilmente uma litoestratigrafia única vai po-
Tatajuba e Aurora, subparalelas, destrais e componentes do contexto do Lineamento der ser validada, em função de sua natureza psamo-pelítica e de sua
de Patos, aflora uma outra fração tectônica do embasamento arqueano (figuras 3 e extensão territorial.
4). Está exposta como uma grande lente sigmoidal, do sul do Ceará à fronteira norte A foliação penetrativa se apresenta com frequência nestas ro-
da Paraíba (ca. 2.200 km2) como se fora um amplo sliver destacado do Lineamento chas com característicos mergulhos em ângulos baixos (nappismo)

212 213
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 10

na forma de um amplo leque: a leste, mergulhos baixos para oeste (por sob o
arco magmático) e a oeste, mergulhos para leste (também ângulos baixos, por
sob o arco magmático). De forma que há possibilidade que uma grande nappe
represente o contexto do arco magmático de Santa Quitéria (que estaria assim
situado no domínio sinformal observado pelo conjunto de atitudes de foliação).
Na área mais a leste, ao sul de Fortaleza, Pitombeira (2019) também demonstra a
persistência de nappismo (neste caso, com transporte tectônico para sul e sudoes-
te). A integração de todos os dados estruturais dessa tectônica de baixos ângulos
prevalecentes, ainda não foi estabelecida a contento.
Dados geocronológicos apontam valores entre 0,75 e 0,8 Ga para os processos
vulcanossedimentares. Um valor de ca. 0,61 Ga tem sido apontado para metamorfis-
mo regional (Arthaud, 2007).
4.1.3 O Arco Santa Quitéria-Tamboril
O arco de Santa Quitéria ocupa uma área próxima a 6.000 km2. Trata-se de um
complexo ígneo-anatético (Arthaud, 2007), com rochas plutônicas (largo volume de
magma) reunido em forma de veios, camadas, sheets e plutões de composição bas-
tante variável, de diorito máfico a granito. Tetos pendentes e enclaves são comuns,
básicos (anfibolitos) e metassedimentares (calciossilicáticas, metapelíticas). Fetter et
al. (2003) foram pioneiros na interpretação deste contexto como de um arco de
margem continental. Mais recentemente, Santos et al. (2008) e Araújo et al. (2014a,
2014b, 2016) reviram a ampla bibliografia preexistente, e discutiram a longa história
evolutiva, com os processos de subducção começando provavelmente em 850 Ma,
com picos a 650-630 Ma, e que foram encerrados por processos tectônicos subse- Figura 5. A: A evolução tafro-
quentes (colisão?), em torno de 610 Ma. Estes últimos autores discutiram a continui- gênica intracontinental precur-
permaneceu com suas rochas como coberturas estáveis por todo o sora, de idade estateriana.
dade deste contexto na África (até imediações do Hoggar) e no Brasil (até o Brasil Mesoproterozoico. Essas rochas só vieram a ser dobradas quando do B: O resultado do desenvolvi-
Central), designando este conjunto de “West Gondwana Orogen”, com ca. 5000 km Brasiliano (ou seja, a deformação tectônica demorou mais de 1 Ga mento orogênico Neocrioge-
de extensão, e sendo o resultado do suposto fechamento do denominado “oceano niano-Ediacarano (Faixa Orós).
após os processos de sedimentação e vulcanismo). Na verdade, são Adaptado de Sá (1991).
Goiás-Farusiano”. Mas, não há unanimidade nesta interpretação. conhecidos diversos pequenos riftes do Estateriano-Calimiano que
Ao sul de Fortaleza (“Complexo Maranguape-Pacatuba”, Pitombeira, 2019), e na foram transformados em faixas móveis intracontinentais no decorrer
porção mais centro-oriental e Hackspacher (2008) identificaram rochas plutônicas do Ciclo Brasiliano, ligados às zonas de cisalhamentos. Muitos deles
com características (TTG) de proveniência também de arcos magmáticos, com carac- não podem ser representados na figura 3 e em mapas geológicos de
terísticas petrológicas e geocronológicas similares àquelas de Santa Quitéria escalas inferiores a 1/50.000. O metamorfismo destas rochas varia de
4.1.4 A zona de passagem entre os domínios “Central Ceará” fácies xisto verde a anfibolito.
e Oriental (“Superterreno Rio Grande do Norte”) Já no lado riograndense desta subprovíncia, a leste das cidades de
A zona situada entre os lineamentos Orós, Jaguaribeano e Portalegre (figura 3) São Miguel e Dr. Severiano, ocorrem em diminutos grabens, as ro-
apresenta uma série de características especiais, com registros importantes de sedi- chas do chamado Grupo Serra de São José, composta por paragnais-
mentação e vulcanismo da Tafrogênese Estateriana que merecem destaque. Há uma ses (intercalações de anfibolitos e metacalcários) e uma unidade de
série de rifteamentos N-NE preenchidos por sequências vulcanossedimentares, bem topo composta por quartzitos e micaxistos e de metaconglomerados.
como a presença de alguns granitoides, como massas tabulares e stocks (hoje augen No entorno destas áreas, concorrem com estes processos trativos de
gnaisses) da mesma idade, consignando quadro interessante de faixas intracontinen- zonas de cisalhamento a presença de rochas ígneas sienograníticas,
tais pré-brasilianas consorciadas com intrusões graníticas de diferentes tipologias e tonalíticas e quartzo dioríticas (hoje são os augen-gnaisses, suítes
natureza, muitas delas do Brasiliano. “Serra do Deserto” e “Poço da Cruz”; vide Cavalcante, 1999). Este
Destaque para uma sequência de rochas meta-vulcânicas (riolíticas e dacíti- é um capítulo importante dos eventos eo-mesoproterozoicos intra-
cas) e metassedimentares (quartzitos, lentes de cálcio-silicáticas, dolomitos etc.) continentais. São vários corpos tabulares associados com a evolução
no setor mais oriental deste domínio, que configura um sistema de dobramentos das “bacias” de Orós, Jaguaribe, Peixe Gordo e Serra de São José, es-
seguindo as zonas de cisalhamento de Orós (a oeste) e de Jaguaribe/JSZ (a leste). parsas na paisagem geológica regional, e que têm escapado a muitas
Este sistema, provavelmente ligado aos riftes da ativação Orosiriana-Estateriana, sínteses sobre a Borborema.

214 215
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 10

4.2 Domínio Oriental


4.2.1 “Superterreno Rio Grande do Norte”
No contexto geográfico-geológico do Rio Grande do Norte temos que destacar,
de oeste para leste, três distintos subdomínios, com características peculiares:
Na porção mais ocidental, o predomínio de rochas originadas na açreção riaciana
(Suíte Caicó), extremamente recortada por stocks e batólitos ediacaranos que chegam Tabela 2:
a obscurecer as muitas ocorrências importantes de magmatismo granítico preceden- Litoestratigrafia
te, paleoproterozoico. Este contexto tem sido chamado de “Terreno Rio Piranhas”. do Grupo/Sistema
Seridó.
Apesar do predomínio de rochas riacianas no embasamento, algumas ocorrências de
rochas arqueanos têm sido identificadas. Grande parte deste embasamento aponta
pelos dados Sm/Nd (TDM) uma destacada procedência arqueana.
As rochas metaplutônicas da Suíte Caicó (designação litodêmica) consistem em
tipos cálcio-alcalinos metaluminosos ricos em potássio, de composição variável de
granito a diorito (Souza et al., 2007) com vários dados de idades eo-riacianas. Na
apreciação mais sintetizada possível deste vasto contexto, Souza et al. (2007) distin-
guiram vários end-members: rochas básicas a intermediárias (a biotita, hornblenda e
clinopiroxênio), augen gnaisses (meta plutões porfiríticos, também com anfibólio e
biotita), gnaisses graníticos e gnaisses tonalíticos.
Os dados geocronológicos indicam idades eo-riacianas (entre 2,23 e 2,18 Ga),
e os dados Sm/Nd indicam valores TDM entre 2,5 e 2,7 Ga (embasamento distinto, como para oeste, a oeste (caso da “bacia”/ Faixa de Lavras da Mangabeira, CE, sobre
em parte, daquele do domínio ocidental). Todo este amplo contexto do emba- o “Granjeiro”). Esta faixa está limitada ao sul pelo Lineamento Patos (que arrasta
samento, de modo especial nesta fração mais ocidental, se encontra cortado por destralmente sua borda sul), e ao norte está encoberta pelos sedimentos cretácicos
intrusões graníticas neo-ediacaranas. Isto, além daqueles corpos e stocks menores, da Bacia Potiguar. A leste, seus metassedimentos reaparecem por sobre o Terreno
precedentes no tempo, de idade estateriana-calimiana. Em sua maioria estas rochas (domo-gnáissico) de São José do Campestre.
graníticas trazem a marca estrutural do Ciclo Brasiliano, com francos sinais da As rochas do Grupo Seridó perfazem espessas sequências metassedimentares (ta-
deformação brasiliana, sobreposta a quaisquer que tenham sido as suas origens e bela 2), com algumas intercalações vulcânicas interessantes. Uma das mais completas
tramas prévias. Nos mapas geológicos do Rio Grande do Norte, da Borborema (e sínteses sobre este sistema foi apresentada por Jardim de Sá (1994). Do ponto de
mesmo da América do Sul, 1/5.000.000), pode ser observada a quantidade enorme vista geocronólogico, o destaque é para o trabalho de Van Schmus et al. (2003).
de rochas graníticas e afins neste domínio com características de intrusivas na Suite Esta sequência apresenta dobramentos na direção NNE-SSW, considerados
Caicó (entre os meridianos 38º30’ e 36º00’), com idades entre 618 e 570 Ma. Os como de uma terceira geração (D3, resultado do dobramento da foliação S2), apre-
autores (Souza, 2007; Sá et al., 2014), conseguiram distinguir, numa síntese, vários sentando planos axiais subverticais a verticais. Algumas outras deformações meno-
grupos diferentes de rochas, enclaves e xenólitos e são referências recomendáveis. res se superpõem a este clássico estilo de dobramento. Precede esta fase principal
As fontes e causas deste magmatismo ediacarano têm sido objeto de muitas dis- de deformação NNE-SSW uma fase anterior muito forte (D2), isoclinal, que foi
cussões (Intraplacas? Sin-colisionais? Pós-colisionais? Intracontinentais? Underpla- responsável pelo paralelismo entre as foliações nela geradas com o plano de estrati-
ting?), questões que permanecem em aberto. ficação, (ou seja, por S2//So). Como a Suite Caicó é discordante (sobposta), conven-
4.2.2 Sistema de Dobramentos Seridó cionou-se chamar esta sua última fase de deformação do embasamento como D1 (o
Entre o “Rio Piranhas” e o “São José do Campestre”, e contendo rochas de alto que se propalou inadvertidamente). Na verdade, as indicações de uma discordância
grau destes terrenos ocorrendo como embasamento, se encontra o mais estudado importante entre o embasamento ortognáissico–migmatítico (Suíte Caicó) e o Gru-
sistema de dobramentos brasilianos da Província. Possui o maior acervo de dados po Seridó são de várias naturezas, estruturais e magmáticas.
geológicos, geofísicos e levantamentos metalogenéticos, e vem sendo analisado Os dados geológicos acumulados indicam uma origem intracontinental para este
desde a metade do século passado. Seu potencial em rochas scheelitíferas (skarns contexto orogênico, mesmo se reconhecendo, em parte, um ambiente marinho para a
a W-Mo) e a presença de cerca de mais de 800 corpos pegmatíticos mineralizados, sedimentação. A deformação apresenta um vínculo forte com a tectônica transcorren-
embasam este interesse incomum. te do Lineamento Patos, delimitação sul da faixa, e que de há muito foi reconhecido
A extensão geográfica atual exposta do sistema (ca. 9.000 km2) foi muito reduzi- como uma boundary transform transcontinental. Os esforços deformacionais do Ciclo
da pelos processos tectônicos e erosionais pós-Neoproterozoico. Para o lado africano Brasiliano parecem ter sido do tipo far field stresses consorciados aos esforços e deslo-
registros de faixas similares têm sido reconhecidos, assim como há restos longínquos camentos de oeste para leste indicados no lineamento de Patos, e provavelmente foram
deste sistema, tanto para leste (no nordeste da Paraíba e no Rio Grande do Norte), esforços conduzidos durante a parte final da aglutinação de Gondwana Ocidental.

216 217
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 10

4.2.3 Terrenos São José do Campestre


Este terreno ocorre na porção oriental do Rio Grande do Norte (se estendendo
ao nordeste da Paraíba, à margem continental e, em parte, sobreposto aos sedimen-
tos da Bacia do Apodí), delimitando a leste o Sistema Seridó. Expõe um núcleo an-
tigo (tipo domo-gnáissico), com a presença de rochas paleoarqueanas, circunscritas
por rochas riacianas e cortado por plutões do Brasiliano (figura 6).
Esta é a mais inconteste exposição de terrenos paleoarqueanos de toda a pro-
víncia, mais bem estudada e cartografada. Estas exposições da infraestrutura estão
condicionadas, a nosso ver, por causas tectônicas combinadas: a transpressão desen-
volvida ao longo da linha de falha Picuí-João Câmara (que separa o sistema Seridó
deste terreno, a oeste) e a estruturação tipo domo-gnáissica. Na verdade, a leste do
terreno, aparecem várias ocorrências (desmembradas por erosão) do Seridó, comple-
tando o quadro de um grande domo antiformal.
Há um núcleo central arqueano (ca. 5.000 km2), imediatamente a sudoeste
de Natal, constituído por ortorochas granodioríticas, tonalíticas e trondhjemíti-
cas que apresentaram idades U-Pb de 3400-3600 Ma (metatonalito, imediações
de Bom Jesus), 3178 Ma (meta-trondhjemito, imediações de Fonte) e 2665 Ma
(meta-sienogranito de São José do Campestre), de acordo com Dantas (1996), e
em trabalhos posteriores. Como nos demais casos desse domínio, os núcleos ar-
queanos estão sempre contornados e retrabalhados intensamente pelas estruturas
paleoproterozoicas. E, também, estão penetradas por rochas graníticas brasilianas.
Intensa tectônica cisalhante pode ser verificada nos mapas inerentes a este terreno.

5. Subprovíncia Central: a Zona Transversal Figura 6: Constituição


petrotectônica esque-
Esta subprovíncia foi assim designada (Ebert, 1970) por se encontrar entre os mática do terreno
dois grandes lineamentos subparalelos, o de Patos, a norte, e o de Pernambuco, a arqueano-paleopro-
terozoico São José do
sul. De forma que há área de exposição franca de rochas do embasamento desde Campestre, extremo
o litoral nordestino (Paraíba e Pernambuco) ao Piauí (tabela 3), onde é recoberta leste da Subprovíncia
pelo sudeste da Bacia Parnaíba. Sua área total é de ca. 100.000 km2. Esta subpro- Setentrional. Observar
a característica final
víncia apresenta diferenças substanciais (geológicas gerais, tectono-estratigráfi- dômica representada
cas, geofísicas e de evolução no tempo) das subprovíncias ao norte (Segmento pela disposição da
cobertura do Grupo
Setentrional) e ao sul (Domínio Meridional). Na figura 7 estão discriminados Seridó. Fonte: Dantas
os constituintes presentes (“terrenos tectonoestratigráficos” e sistemas/faixas de et al., 2013.
dobramentos presentes nesta subprovíncia).
Destacamos sínteses relativamente recentes sobre esta subprovíncia de Van Sch-
mus et al., 2011; Santos et al., 2010 e Sial e Ferreira, 2016, sobre magmatismo
granítico, entre outros. Praticamente toda a subprovíncia está recoberta por mapas
geológicos 1/100.000, do chamado PLGB da CPRM, e pelos mapas geológicos es- sigmoidal irregular. Varia de 40 a 80 km de largura por cerca de 450 de km de extensão,
taduais. Os dados (geológicos e geofísicos) deixam claro que há contraste grande das imediações de Floresta (Pernambuco, centro-sul) ao litoral paraibano, com trende pre-
entre a litosfera continental ao norte do Lineamento Patos (“Rio Grande do Norte”) dominante NE-ENE. Se considerarmos a continuidade provável deste terreno paleoprote-
e desta Zona Transversal. rozoico em África, teremos extensão linear de cerca de 1.000 km.
Este terreno (TAM) se dispõe separando faixas móveis neoproterozoicas (atuan-
5.1 Terreno Alto Moxotó – TAM do como um inlier), dos ciclos Cariris Velhos (Eo-toniano) e Brasiliano (Criogeniano/
Este terreno, identificado e nomeado por Santos (1995, 1996) ocorre na parte centro Eo-ediacarano), como visto na figuras 7 e 8. A definição e delimitação deste terreno
-oriental da Zona Transversal, ocupando área de ca. 28.000 km2, que se dispõe de forma são marcadas pela presença de linhas de cisalhamento e empurrões importantes.

218 219
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 10

Tabela 3: Elementos
geológicos da
subprovíncia
Zona Transversal.

Figura 7: Elementos geotectô-


ragnaisses e metagrauvacas aluminosas (com biotita, sillimanita e nicos presentes na Subprovín-
granada). Nestas rochas predominantes são comuns intercalações cia Zona Transversal. Terre-
nos pré-tonianos e tonianos
de quartzitos, calciossilicáticas e rochas carbonáticas, constituindo (RG, TAP, RT) e os Sistemas/
Destacamos a oeste-noroeste o Lineamento de Afogados de Ingazeiras (sinistral), originalmente uma típica sequência QPC. Mais raramente ocor- Faixas de Dobramentos bra-
que apresenta polifurcação na altura do sul de São José do Egito; ao sul e sudeste se silianos Piancó-Alto Brígida
rem intercalações vulcânicas, anfibolíticas, riolíticas e até mesmo (SPAB) e Rio Capibaribe,
destacam os lineamentos de Pernambuco (E-W destral) e Congo-Cruzeiro do Nor- alguns casos de sheets graníticos. Do ponto de vista de origem, os RC. Há algumas coberturas
deste, (E-NE, sinistral) que apresentam notórias ramificações intra-TAM. Ao norte, metassedimentos presentes nos indicam uma bacia rasa e ampla, sedimentares presentes, com
na porção mais oriental, o TAM é marcado pela linha de empurrões de São João do heranças das tramas tectônicas
com certa quiescência tectônica (bacia de retroarco com substrato do embasamento.
Cariri-Riachão do Bacamarte, as quais chegam a atingir os granitos brasilianos intru- continental?). Esta unidade tem sido mapeada sob a epígrafe de
sivos no Terreno Alto Pajeú (aqueles situados ao norte do TAM). Sertânia (“complexo”, “grupo”, “unidade”) mas, ao nosso ver, a
Dois amplos contextos litoestratigráficos do pré-Mesoproterozoico predominam designação (seguindo o Código de Nomenclatura) Supergrupo é a
no arcabouço do TAM. O primeiro é principalmente composto por rochas de médio mais adequada. Esta unidade é caracterizada por grande extensão
a alto grau de metamorfismo, essencialmente ortognaisses, de natureza granítica, territorial, sendo comparável em extensão territorial com aquela do
granodiorítica e trondhjemítica (meta-TTG), com intercalações de rochas dioríticas Floresta, a quem recobre sempre (figura 8). As variações de grau de
e gabroides, a que nos referiremos como “Suíte Floresta”. Designações anteriores metamorfismo neste supergrupo são muito comuns e interessantes,
relativas ao Floresta (“Grupo”, “Complexo” etc.) têm sido utilizadas. Mas, na ver- desde que passamos de alguns tratos de litoestratigrafia clara, bem
dade, todas estas designações não estão se balizando no Código de Nomenclatura, e preservada, para contextos migmatíticos complexos, de difícil re-
são não aconselháveis. Optamos pela designação litodêmica de Suíte, mais adequada constituição e classificação.
para retratar o contexto de ortoderivadas geradas num amplo e delongado proces- Cortando de forma esparsa a Suíte Floresta e o Supergrupo Ser-
so acrecionário paleoproterozoico (Riaciano). Este contexto/terreno, considerado tânia, tem sido detectado, de forma esparsa, a presença de magmatis-
acrecionário em origem, é também cortado por rochas máficas e ultramáficas de mo anorogênico do Estateriano ao Calimiano (magmatismo tipo A).
natureza tholeítica (“Malhada Vermelha Suíte”, como usualmente chamada) e vários Monzogranitos e granitoides diversos têm sido informalmente nomea-
outros tipos de rochas de natureza granítica (diversamente nomeados), estes últimos dos (“Carnoió”, “Caloete”, “Serra da Barra” etc.), assim como rochas
datados da passagem Riaciano-Orosiriano para o Estateriano. Como será discutido, básicas e gabro-anortosíticas (“Limoeiro”, “Piranha” etc.), que foram
vários contextos de idade pré-Riaciano vêm sendo discriminados no interior desta sintetizadas e discutidas por Lages et al. (2019). Oportuno acrescentar
ampla suíte (poucos deles cartograficamente marcados, figura 8). que, na sua maior parte, estas interveniências magmáticas paleo-me-
O segundo contexto litoestratigráfico presente no TAM é constituído abun- soproterozoicas foram posteriormente retrabalhadas pelos eventos do
dantemente por supracrustais de médio grau, psamítico-pelíticas, micaxistos, pa- Ciclo Brasiliano. Estas manifestações magmáticas têm sido encontra-

220 221
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 10

Os processos tectônicos diversos (deformação regional, cisalhamentos) do Cariris


Velhos (1000-930 Ma) e do Brasiliano (750-480 Ma) deixaram suas marcas de várias
formas no TAM.
Conclusivamente, por todas as características litoestruturais e geocronológicas
acima discutidas, o TAM se enquadra num caso típico de terreno tectonoestratigráfi-
co clássico (natureza litosférica) consoante Gibbons (1994) e Howell (1995).

5.2 Terrenos dispersos (disrupted) da


porção centro-ocidental da Zona Transversal
Na observação dos diferentes ramos que compõem o Sistema de Dobramentos
Piancó-Alto Brígida (vide figura 7), ao norte-noroeste da Zona Transversal destacam-
se mais alguns “altos” do embasamento paleoproterozoico, delimitados por zonas
de cisalhamento. Estes “altos” apresentam entre si algumas afinidades de cunhos
geológicos e geotectônicos. A maior parte destas exposições de embasamento está
discriminada e tectonicamente exaltada como sigmoides (mega-boudins) da trama
de cisalhamento (presença de componentes vetoriais verticais) que assola e demarca
todo o interior da Zona Transversal. As constituições litoestruturais dos terrenos
mostram afinidades composicionais (gnaisses graníticos, paragnaisses, complexos
migmatíticos), que se encontram cortados por uma série de granitos brasilianos do
arco ediacarano desenvolvido pouco mais ao norte (Brito Neves et al., 2016), subpa-
ralelo e longitudinal ao sul do traço do Lineamento de Patos.
Figura 8: Terreno Alto Moxotó a) Terreno Açude Coremas (TAç)
(TAM), centro sudeste da Zona das também no embasamento das faixas móveis brasilianas separadas Trata-se de pequena área (ca. 1.000 km2) de embasamento paleoproterozoi-
Transversal. O histórico evolu- pelo TAM (Rio Capibaribe, Piancó-Alto Brígida etc.). co, circunscrita por supracrustais do SPAB. Esta área tem forma final poligonal,
tivo documenta ricamente pro-
cessos acrecionários riacianos Um substrato/trato arqueano (sobretudo noearqueano) tem sido e as deformações a ela impostas foram consignadas por zonas de cisalhamento
(com alguns núcleos neoarque- esparsamente identificado em rochas migmatíticas e ortognaíssicas brasilianas de Boqueirão do Coxos (sinistral, NNE-SSW), a oeste, e a zona de
anos pontuais). O retrabalha- do interior, aleatoriamente (figura 8), do contexto amplo da chama- cisalhamento de Emas (NE-SW, sinistral), a leste. Como resultante deste sistema
mento nos processos tectônicos
(tonianos e brasilianos) foi da “Suíte Floresta” (que é de idade paleoproterozoica). Mais iden- de cisalhamentos, este polígono de rochas do embasamento se encontra jogado
intenso e generalizado. tificações pontuais semelhantes também têm sido feitas em alguns ao sul sobre supracrustais brasilianas do SPAB. Nesta área de embasamento se
litotipos do interior do embasamento retrabalhado das faixas móveis destacam dois contextos litoestruturais principais. Na parte mais central aflo-
que ladeiam o TAM. ram ortognaisses de filiação TTG (Medeiros, 2004), designado de “Ortognaisse
Por todos os dados até o presente, o amplo processo acrecionário Piancó”, de origem acrescionária riaciana. Na parte mais externa do polígono
da Suíte Floresta e da subsequente bacia/sequência sedimentar-vulcâ- irregular afloram rochas metassedimentares diversas (paragnaisses variados, me-
nica do Supergrupo Sertânia, são do Riaciano Superior (2175-2050 tapelíticas peraluminosas), com intercalações de anfibolitos, calciossilicáticas e
Ma). Mas persistem alguns problemas a respeito destas datações. Há mármores, onde também os processos de migmatização são frequentes, e que
a possibilidade, apontada por alguns autores, de que parte destes tra- foram denominadas de “Paragnaisse Bom Jesus” (Medeiros, 2004). Várias graní-
tos vulcanossedimentares (mapeados previamente como parte do con- ticas brasilianas se encontram cortando o embasamento do TAç.
texto do “Sertânia”) possa vir a ser mais jovem (litotipos do Ciclo Determinações geocronológicas Sm/Nd mostram um predomínio de valores do
Brasiliano, por exemplo, reliquiares sobre o Floresta) e estes litotipos Neoarqueano (TDM = 2,5 / 2,7 Ga), com um traçado muito regular e subparalelo das
mais jovens têm sido geralmente apelidados de “Grupo Surubim-Ca- linhas de evolução mantélica. Para as determinações U-Pb deste terreno também foi
roalina”. Algumas idades orosirianas tem sido eventual e esparsamente encontrado um padrão regular de idades entre 2,06 e 2,15 Ga (Riaciano Superior),
identificadas, mas carecem de um aprimoramento. No tocante ao mé- em várias localidades.
todo Sm/Nd, mais de 60% das rochas da Suíte Floresta e até mais de b) Terreno São José do Caiana (TSJC)
70% das rochas do Supergrupo Sertânia apresentam valores de TDM Este segmento retrabalhado do embasamento se expõe numa área de forma apro-
arqueanos. De forma que, acreditamos que com o crescimento das es- ximadamente sigmoidal de direção NE-SW, com extremidade ao sul do Açude Core-
calas de mapeamentos regionais, estas fontes (substrato) do Arqueano mas (fronteira CE-PB), consignada área total próxima de 1.300 km2, principalmente
possam vir a aparecer de forma mais ostensiva. no noroeste da Paraíba. O TSJC está separado do TAç pela zona de cisalhamento de

222 223
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 10

Boqueirão dos Coxos. Na composição litoestrutural deste terreno são encontrados entre -17 e -25, que é um quadro coerente com aquele encontrado nos dois
os mesmos litotipos já descritos para o TAç, com pequenas modificações: primeiros terrenos acima discutidos. Por seu turno, as amostras do “Complexo
i) Ortognaisses tonalíticos, com intercalações de metapelitos, anfibolitos, cal- Barro” se mostraram completamente distintas, com linhas de evolução (Sm/Nd)
ciosilicáticas e calcários (“Ortognaisse Piancó”), ocupando área pequena, ao nor- variáveis entre 1200 e 1500 Ma (TDM), para valores de ƐNd(0) entre -10 e -15.
deste do terreno; Estes valores (Brito Neves, 2020 – in peer review) vêm em acordo com a sugestão
ii) Paragnaisses diversos e xistos, com intercalações de gnaisses tonalíticos, gnais- de que o “Complexo Barro” seja um contexto alóctone sobre o TIc (nappismo,
ses graníticos, anfibolitos e algumas poucas lentes calciosilicatadas (“Paragnaisse causado por transpressão).
Bom Jesus”). Processos de migmatização são comuns e atingem ca. 80% do terreno. As determinações geocronológicas U/Pb realizadas para as diversas litologias
A presença dos Lineamentos de Patos (ao norte) e da Zona de Cisalhamento Bo- do embasamento do TIc (“fragmento de Icaiçara”, “Complexo Paramirim”) mos-
queirão dos Coxos (a este-sudeste), assim como de inúmeras rochas graníticas, são traram uma vez mais a importância dos eventos paleoproterozoicos (idades entre
complicadores no objetivo de uma recuperação do histórico estrutural deste terreno. 2102 e 2193 Ma, com erros pequenos). Já amostras do “Complexo Barro” apre-
As determinações Sm-Nd mostram padrão bem regular de retas de evolução sentaram idades neoproterozoicas, em torno de 950 Ma ± 26 Ma (Brito Neves,
mantélica, com valores de TDM variando do Orosiriano ao Neoarqueano, entre 1,9 e 2020 – in peer review) o que vem reforçar as observações de campo de uma posição
2,9 Ga. Nas determinações U/Pb em zircão observamos predomínio de idades riacia- alóctone (nappismo) sobre o TIc.
nas (entre 2134 e 2208 Ma). Mas, em uma única amostra (SJCa 5), a cerca de 4 km a
oeste de São José do Caiana, encontramos vestígios de uma idade (original? ígnea?) 5.3 Terreno São Pedro – TSP
de 2445 ± 16 Ma, mas com uma idade sobreposta neoriaciana (ca. 2150 Ma). Este, Este terreno (TSP) fica situado no extremo oeste da Zona Transversal (figuras 7 e
até o momento, é fato isolado (Brito Neves, 2020 – in peer review). 9), ladeado ao leste pelo SPAB, a quem delimita (consoante a linha de falha Ouricu-
c) Terreno Icaiçara (TIc) ri-Bodocó), e a oeste se apresenta recoberto pela Bacia do Parnaíba. As delimitações
No oeste de Pernambuco, situado entre duas zonas de cisalhamento transpres- ao norte (lineamento Patos) e ao sul (Lineamento Pernambuco) lhe emprestam uma
sionais importantes (Trempe, a oeste; Parnamirim a leste-sudeste) está situado um configuração tectônica especial (típica de terrenos tectonoestratigráficos), com zonas
“alto” do embasamento pré-Brasiliano, separando dois ramos do SPAB (Ouricuri, extremamente cisalhadas, que o separam de terrenos adjacentes. A área ocupada é da
a oeste, Salgueiro-Verdejante a leste, sudeste). Este terreno de direção geral NE-SW ordem de 5.000 km2. Além do recobrimento, a oeste, pelos sedimentos do Parnaíba,
apresenta forma muito irregular, sendo bordejado e arrastado ao sul pelo Linea- há muitos restos de cobertura mesozoica da Bacia do Araripe (a leste).
mento Pernambuco, assim como fazem a ação das linhas de cisalhamento que o Essencialmente, é constituído por rochas de alto grau, ortognaisses (meta
delimitam a leste e oeste, e que levam seus reflexos transpressionais importantes ao TTG) com intercalações metassedimentares (quartzitos, calciosilicáticas, forma-
interior do terreno. No interior deste inlier, a foliação principal (Sn) se encontra ções ferríferas), mas também contextos máficos e ultramáficos. Para o primeiro
sinuosamente dobrada, exibindo um padrão de interferência complexo. Além disto, conjunto tem sido usada a designação (inadequada) de “Complexo Granjeiro”, e
este terreno foi penetrado por vários plutões graníticos brasilianos, inclusive alguns para os ortognaisses cataclásticos e/ou migmatizados da porção mais ao sul, tem
com tendência trondhjemítica (tipo “Serrita”). sido utilizada a designação de “Complexo Itaizinho”. Na porção mais oriental
O TIc é composto fundamentalmente de: do terreno (em Pernambuco) são comuns ocorrências de rochas ortognáissicas
i) Rochas gnáissicas (augen gnaisses comuns) de composição quartzo sienítica a migmatizadas, com vários resquícios de rochas máficas e ultramáficas. Por todo o
monzonítica, de textura geralmente grosseira, que ocupam a parte central do terreno terreno há ocorrências de stocks, filões expressivos e batólitos de rochas graníti-
(“fragmento de Icaiçara”). cas (atribuídas ao Brasiliano). Na porção central do terreno ocorre uma faixa de
ii) Contorna este contexto acima uma série variada de rochas gnáissicas, ortode- rochas psamo-pelíticas e vulcânicas ácidas de direção NNE com largura (dobra-
rivadas (graníticas, granodioríticas) e paraderivadas (muscovita gnaisses, metagrau- da) de até 12 km, intensamente deformadas (de idade neoproterozoica) chamada
vacas), com intercalações de rochas máficas e metaultramáficas. Há algumas dessas de “Complexo Ipueirinha”. Trata-se de exemplo notável de desenvolvimento de
rochas com afinidades retroeclogíticas (Beurlen et al., 1992). Este contexto é conhe- orogenias intracontinentais neoproterozoicas na Borborema, de nível de conhe-
cido/mapeado como “Gnaisses/Unidade Parnamirim”. cimento ainda precário.
iii) Recobrindo os contextos anteriores, se situa uma unidade de gnaisses mi- No chamado “Complexo Granjeiro” há uma série pequena de dados geocrono-
cáceos e granadíferos, muito bandados (metaritmitos típicos). Trata-se de um con- lógicos (muitos inéditos ainda) indicando valores de idade paleo, meso e neoarque-
texto paraestratigráfico (“Complexo Barro”) provavelmente alóctone (trazido pelos anas (estas as mais frequentes), mas também alguns valores de idades paleoprote-
eventos transpressionais da zona de Parnamirim?), com alguns problemas de ordem rozoicas. Particularmente na região em torno de Curral Novo do Piauí (no entorno
geológica e geocronológica a serem resolvidos ainda. de várias minerações de ferro) há valores de idade de até 3,5 Ga (granodiorito
As determinações Sm/Nd apresentaram dois conjuntos bastante distintos de gnaisse) consoante Pitarello et al. (2019), e outros dados nossos, ainda inéditos.
linhas de evolução mantélica. A primeira, e mais antiga, apontando idades TDM Resultados semelhantes foram encontrados por alguns outros autores (Sato et al.,
essencialmente paleoproterozoicas (entre 2,0 e 2,4 Ga), para valores de ƐNd(0) 2013) e por pesquisas nossas (região de Curralinho), na porção com bastantes

224 225
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 10

rochas migmatíticas. No lado oriental do terreno (em Pernambuco), nós obtive-


mos um conjunto coerente de dados paleoproterozoicos (Riaciano) e, inclusive, a
presença de granitoides brasilianos. Além de ser uma área especial da Borborema,
pelos dados geocronológicos, o TSP possui reservas acumuladas de ferro (tipo Al-
goma) da ordem de 1 bilhão de toneladas.
A “Faixa Ipueirinha-Simões”, central sobre o terreno, tem extensão longitudinal
(N-NE) de ca. de 80 km, com larguras de até 13 km, tendo por embasamento as ro-
chas de alto grau do “Complexo Granjeiro”. Esta faixa intracontinental é constituída
por contingentes metassedimentares terrígenos (quartzitos, metagrauvacas, metarrit-
mitos, xistos), localmente associados com rochas metamáficas, metaultramáficas e
metariolíticas, que foram organizados e propostos consoante meia dúzia de unidades
litoestratigráficas (Basto et al., 2019). Os dados geocronológicos obtidos para este
contexto supracrustal indicam uma evolução neoproterozoica entre 845 e 630 Ma,
com deformação ediacarana (ca. 600-580 Ma).
Pela presença desta faixa intracontinental e de granitoides neoproterozoicos, ve-
rificamos que o retrabalhamento brasiliano foi expressivo. O significado geotectô-
nico deste terreno ainda está em análise (zona de hinterland do Sistema Riacho do
Pontal? Paleoplaca do Neoproterozoico?), de forma que se tem leque expressivo da
demanda de informações geológicas, geocronológicas e geofísicas.

5.4 Sistema /Terreno Alto Pajeú – TAP


Este terreno foi determinado numa longa faixa (ca. 530 km) do norte da Pa-
raíba ao centro-sudoeste de Pernambuco, com larguras variáveis de 10 a 60 km.
Ao norte-noroeste está delimitado pela zona de cisalhamento sinistral da Serra
do Caboclo (ZCSC), que o separa do SPAB ao sul, e a sua delimitação é bastante
sinuosa, como TAM (parte deste limite fica ao longo da Zona de Cisalhamento Figura 9: Esquema geológico
de Afogados da Ingazeira). Na porção mais ao norte, ao longo do contato com Pretas”, rochas estas que ocorrem na porção mais a sudoeste do do Terreno São Pedro (oeste
o domínio do SPAB, temos um contexto bastante diferente do conjunto, a que de Pernambuco-sudeste do
TAP. Esta suíte inclui metadunitos, metapiroxenitos, metagabros, Piauí), com embasamento
Santos et al. (2010) discriminou bem e o chamou de “subterreno” Riacho Grava- granada anfibolitos com crossita e cumulatos de ilmenita, associada paleo a neoarqueano e paleo-
tá. No restante do TAP há diferentes casos de dominância de litotipos distintos com uma seção de metabasaltos amigdaloidais e metapicritos. A proterozoico, e a cobertura/
um do outro, de forma que a ordenação litoestratigráfica do TAP ainda demanda faixa de dobramentos intra-
geoquímica destas rochas indica filiação toleítica, de ambiente oce- continental neoproterozoica
muitos trabalhos em escalas de detalhe. As diversas formas de retrabalhamento ânico e/ou de retroarco. Estas rochas são interessantes do ponto de de Ipueirinha-Simões. Fonte:
vigoroso pelo Brasiliano superposto (magmatismo, compressão, escape etc.) são vista metamórfico, chegam a condições eclogíticas (ca. 13 kbar) e Basto et al. (2019).
empecilhos de monta para serem suplantados para avaliação mais a contento da apresentam mineralizações de Fe-Ti.
evolução litoestrutural do TAP, desde o Toniano. c) Outra sequência distinta ocorrendo na porção sul-ocidental do
a) No “subterreno Riacho Gravatá” ocorrem rochas psamítico-pelíticas, com vá- TAP (nas imediações da cidade de Floresta, PE), refere-se ao “Comple-
rias intercalações de outras rochas. Muscovita clorita xistos, xistos biotíticos, grana- xo Lagoa das Contendas” (Santos, 1995), composto por metandesitos,
da xistos, mais raramente calciossilicáticas e calcários. A participação de vulcanismo metabasaltos, metadacitos, metatufos, metachertes e metagrauvacas,
é frequente, metariolitos são comuns. A deformação cisalhante brasiliana sobreposta localmente com intercalações carbonáticas. Meta-granitoides muito
é de grande vulto, consubstanciando uma série de fragmentos sigmoidais, que obscu- variados em composição e de características tabulares ocorrem. Há
recem inteiramente a evolução dos estágios estruturais anteriores. indicações geoquímicas para um ambiente de arco magmático de mar-
b) Por grande parte do TAP, predominam biotita gnaisses, com intercalações gem continental (Santos, 1995).
anfibolíticas, alguns poucos carbonatos, metachertes, algumas vulcânicas félsicas, d) Há uma série de granitoides, em modestos stocks e sheets colo-
todos estes em grau mais elevado de metamorfismo, com migmatização frequen- cados ao longo destas linhas de supracrustais tonianas. Do nordeste da
te. São contextos bastante heterogêneos, que foram reunidos sob a égide infor- Paraíba até a expressão final de ocorrência do TAP (paralelo 39º00’)
mal de “Complexo São Caetano”. Neste, algumas outras marcas devem ser assi- na Serra das Vassouras, ao sul de Salgueiro. Algumas outras ocorrên-
naladas, como as de remanescentes de crosta oceânica: a “Suíte Serra das Pedras cias semelhantes são encontradas no extremo oeste de Pernambuco

226 227
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 10

(granitoides tipo “Afeição”) e na borda sudeste da Bacia do Parnaíba, já totalmente


fora dos limites convencionados para o TAP. Os dados geocronológicos consignam a
idade eotoniana (ca. 1000-920 Ma), em quase uma centena de determinações (Van
Schmus et al., 2011; Santos et al., 2010). A relação deste ciclo tectonomagmático
(Cariris Velhos) com os eventos da fissão ou fusão do Supercontinente Rodínia, é
uma questão imediata, mas em aberto ainda. Faltam estudos específicos dirigidos.

5.5 Terreno Riacho do Tigre – RT


Em uma cunha estrutural, entre a zonas de cisalhamento de Congo-Cruzeiro
do Nordeste e o Lineamento Pernambuco, do meridiano 37º30’ para leste (com
extensão WNW de ca. 100 km nas vizinhanças de São José do Tigre, PB), há um
terreno (TRT) muito interessante de rochas metavulcanossedimentares, semelhan-
tes àquelas do TAP. A área de ocorrência (forma triangular) se situa entre o TAM
(para NNW) e o embasamento do Sistema Rio Capibaribe (para S-SE). Estas ro-
chas são reconhecidas como produtos do metamorfismo regional de uma sequên-
cia metassedimentar (xistos diversos), e de rochas vulcânicas e vulcanoclásticas, e
ainda com algumas porções de rochas máficas anfibolitizadas. Biotita xistos (com
granada e anfibólio) e granada biotita gnaisses são as rochas predominantes. As ro-
chas metavulcânicas são variadas, basálticas (afinidades toleítica e cálcio-alcalinas) Figura 10: Sistema de Dobra-
e andesiticas. Estas rochas se apresentam lateralmente milonitizadas pela ação das mentos do Rio Capibaribe,
falhas transcorrentes que a delimitam. Nas rochas do embasamento há predomínio de ortognaisses no centro sudeste da Zona
Transversal (vide figura 7).
Idades U/Pb de várias frações (de vulcânicas inclusive) definiram uma idade de cálcio-alcalinos a biotita e anfibólio (têm sido atribuídos a “Suíte
960 ± 11 Ma, para algumas destas amostras analisadas, com valores de ƐNd(t) li- Floresta”), ortognaisses bandados com importante participação de
geiramente positivos (Accioly et al., 2010). Alguns dados geoquímicos preliminares migmatização (“Complexo Vertentes”) e alguns complexos poli-
apontam para associações de rochas de arco magmático. A alocação deste pequeno migmatíticos e graníticos (“Complexo Pão de Açúcar”). Mas ainda
terreno, sua relação com a faixa principal do Ciclo Cariris Velhos (o TAP, localizado falta aprimoramento e ordenação deste conhecimento. Nestas ro-
ca. 100 km ao norte) e seu significado tectônico são questões em aberto. chas do embasamento há predomínio de idades do Riaciano Supe-
rior, com algumas poucas exceções, com valores do Orosiriano.
5.6 Sistema/Terreno Rio Capibaribe Todo o contexto foi retrabalhado pela imposição das estruturas e
Este Sistema/Terreno (TRC) situa-se na porção mais sul-oriental da província, en- dos processos magmáticos do Brasiliano.
tre o TAM (dele é separado pela zona de cisalhamento Congo-Cruzeiro do Nordeste) Cortando este embasamento (figura 10), ocorre o “Complexo
e o Superterreno Pernambuco-Alagoas, dele separado pelo Lineamento Pernambuco Gabro Anortosítico de Passira” (Accioly, 2000), com idade U/Pb de
(figura 10). Trata-se de um faixa de dobramentos vestigial, com várias exposições de 1718 ± 20 Ma. Alguns outros contextos graníticos pré-brasilianos
rochas paleoproterozoicas. Rochas do embasamento e cobertura são cortadas por se encontram circundando a região de Passira e apresentam idades
vários corpos graníticos brasilianos, de pequenos stocks a portentosos batólitos. na ordem de 1680-1580 Ma. Outra ocorrência marcante de intru-
Duas características adicionais devem ser adicionadas ao embasamento pré-bra- sivas pré-brasilianas neste embasamento é o corpo granítico (hoje
siliano deste sistema: a presença de vários corpos gabro-anortosíticos (“Complexo augen-gnaisse) da chamada “Serra de Taquaritinga”, uma lasca tec-
Passira”) e corpos graníticos grosseiros (hoje augen-gnaisses brasilianos, e.g., “Com- tônica importante (estrutura auferida no Brasiliano) com flagrante
plexo Taquaritinga do Norte), representantes de uma história (mais ou menos esparsa vergência para o norte, com idade U/Pb de 1521 ± 6 Ma (Sá et al.,
em área) de intrusões anorogênicas (tipo A), de idade pós-Orosiriano e pré-Toniano. 2002). Este corpo (tipo A) está intrudindo rochas do embasamento
Apesar do caráter vestigial, localmente as supracrustais são muito expressivas, paleoproterozoico e foi recortado por granitos brasilianos.
com notáveis contextos de sedimentação tipo QPC, com predomínio de metapeli- As estruturas brasilianas do TRC (do “Complexo Surubim Ca-
tos (+ metagrauvacas), em parte migmatizadas, e com várias intercalações carbo- roalina”) apresentam um quadro muito interessante regionalmente
náticas. A designação informal de “Grupo”/”Complexo Surubim Caroalina” tem no tocante a organização de sua foliação principal (Sn). As vergên-
sido usada para este contexto. Do ponto de vista geocronológico, preexistem vá- cias estão distribuídas centrifugamente: para o sul-sudeste (sentido
rios dados para estas supracrustais (Brito Neves et al., 2013) apontando idades do do Lineamento Pernambuco e do PEAL) e para o norte-noroeste
limite Criogeniano-Ediacarano, ca. 627 ± 10 Ma. (sentido do TAM).

228 229
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 10

5.7 Sistema Piancó-Alto Brígida – SPAB -lit) a destacar a ritmicidade das rochas encaixantes psamo-pelíticas. Os estudos geoquí-
Este sistema de dobramentos ocupa a porção centro-ocidental da Zona Transver- micos preliminares destas rochas apontam para origem ligada a arcos magmáticos.
sal (figura 7) em áreas dos estados da Paraíba e Pernambuco (pequena parte do sul do Como mencionado, na maioria dos ramos do SPAB, predominam rochas de
Ceará). Trata-se de um registro rico de um desenvolvimento orogênico da passagem baixo grau. A única exceção é encontrada no ramo mais ao sul (Parnamirim-
Criogeniano-Ediacarano (630-580 Ma) consoante amplo histórico de evolução de Verdejante), com grau mais elevado de metamorfismo regional. Vários estudos,
espessos e variados embaciamentos sedimentares prévios psamo-pelíticos (turbidíti- incluindo teses de doutoramento, têm demonstrado que estas rochas turbidíticas
cos por excelência), seguido de eventos acrecionários e posterior colisão continental. foram termodinamicamente transformadas para as fácies dos xistos verdes: filitos
Seus limites atuais são marcados pelos lineamentos Patos (a norte) e Pernambuco (a (a clorita e sericita), sericita xistos, biotita xistos e localmente o desenvolvimento
sul). Vasta bibliografia é disponível para o SPAB, havendo um razoável resumo das de ardósias. Nas proximidades de corpos graníticos é notório o desenvolvimen-
mesmas por Bittar (1998) e Brito Neves et al. (2018), entre outros. to de auréolas de incremento de metamorfismo. Somente no ramo Parnamirim-
Os históricos evolutivos da paleogeografia (plataformal a marinho marginal Verdejante (o mais ao sul), o grau de metamorfismo é claramente mais elevado,
e litoestratigráfico) são de reconstituição bastante discutida, em face do quadro com flagrante incremento de biotita e granada (+ sillimanita e cordierita) e são
de deformação regional (no mínimo três fases principais), das variações meta- comuns os fenômenos de migmatização. Analisando as condições de metamorfis-
mórficas e da trama de cisalhamentos polifásica do interior da Zona Transversal. mo regional, Bittar (1998) calculou pressões entre 2,5 e 13 kbar, e temperaturas
Os metassedimentos apresentam constante estratificação laminar, turbidítica ou entre 500 e 800 oC.
similar. O metamorfismo regional em duas fácies principais (ainda que a fácies Como já mencionado, a presença de corpos graníticos (os clássicos tipos da Bor-
xisto verde seja predominante) tem gerado/conduzido a muitos esquemas lito- borema) ao longo da porção mais ao norte do SPAB, tem sido objeto de vários tra-
estratigráficos informais (sempre incompletos e/ou de validade local). Também balhos, o contingente bibliográfico é grande, mas a síntese recente de Sial e Ferreira
porque frações do embasamento desta faixa (pertencentes ao TAP) apresentam (2016) é recomendada. O número de corpos ígneos é grande, do leste da Paraíba
também rochas de baixo grau de metamorfismo, e estas rochas foram algumas até o substrato da Bacia do Parnaíba, ou seja, vai além daquelas áreas típicas de
vezes indevidamente incorporadas a esses esquemas de classificação dos litotipos ocorrências dos metamorfitos do SPAB. Muitos destes corpos graníticos apresentam
do SPAB. características de origem em arcos (tipo “I”) magmático, o que está discutido em
Caracteristicamente, este sistema se acha exposto em diferentes ramos/faixas, vários trabalhos (e.g., Brito Neves et al., 2016).
separados por basement inliers de diversos tipos, que representam sigmoides da 5.7.1 Ambiência geotectônica do SPAB na Zona Transversal
trama cisalhante ampla e variada (que atinge o embasamento) da Zona Trans- Os dados geológicos gerais acumulados até o presente apontam para original-
versal. Não necessariamente todos estes “altos” (discutidos anteriormente) estão mente uma ampla bacia de sedimentação clástica fina extremamente rítmica (de na-
marcando posições paleogeográficas, ainda que parte deles pode ter tido este tipo tureza turbidítica), em parte pelo menos (ao norte), sobre uma margem continental
de comportamento. ativa de placa. Esta margem foi interpretada como alocada no sítio de subducção
Os principais litotipos presentes neste sistema se enquadram na classificação de entre a placa superior, na Zona Transversal (contexto somado de TAM+TAP), e uma
sequência QPC, e consoante marcante ritmicidade. A reconstituição litoestratigráfica placa inferior, representada pelo “Terreno Rio Piranhas”, este, então com uma fra-
e a elaboração de sequências litoestratigráficas (ainda que paraestratigráficas, infor- ção oceânica ao sul. Este processo de subducção (de sul para norte) seria responsável
mais, precedendo a formalização) tem sido possível em alguns ramos. Mas, infeliz- pelo arco magmático eo-ediacarano, formador de grandes batólitos graníticos (do
mente elas não têm vingado, em face ao histórico bibliográfico do sistema. Houve leste da Paraíba ao Piauí), apresentando geoquímica compatível ao ambiente de arco
uso exagerado e inadequado de unidades metamórficas e fotogeológicas, infelizmen- (Brito Neves et al., 2016). Mas, não existe unanimidade neste ponto de vista inter-
te impensado. O fato é que as designações de Barbosa (1970), “Cachoeirinha” (baixo pretativo (apesar da ocorrência de prováveis remanescentes ofiolíticos, de várias for-
grau) e “Salgueiro” (médio a alto grau) têm infelizmente persistido e escapado de mas), incluindo dados isotópicos (valores negativos baixos e até mesmo positivos de
várias tentativas de erradicação e aprimoração. ƐNd(t) em algumas das rochas situadas imediatamente ao sul do Lineamento Patos).
Em geral, as rochas que compõem os terrenos do embasamento que ramificam Esta estrutura foi considerada como formada a partir de uma boundary transform
o SPAB são principalmente ortognáissicas (tipo meta TTG) e vulcanossedimentares que teria separado as duas placas acima discutidas (pós-interação principal).
(localmente migmatizadas), do período Riaciano, dos terrenos tectonoestratigráficos
revistos acima. A presença de rochas de baixo grau neste sistema, muitas vezes levou
alguns autores a incluírem estas porções (de baixo grau) no contexto do “Grupo 6. Subprovíncia Meridional
Cachoeirinha” (e/ou “Santana dos Garrotes”, Bittar, 1998) do SPAB, o que tem sido
impedimento ao avanço do conhecimento. Em síntese, o estudo litoestratigráfico A subprovíncia meridional da Borborema é aquela situada ao sul do Lineamento
destas unidades dos três ramos do SPAB está para ser concretizado ainda. Pernambuco, entre esta zona de cisalhamento e a margem setentrional do Cráton do
Uma presença importante nos metamorfitos do SPAB é a presença de inúmeros sheets São Francisco. Esta subprovíncia é bastante retrabalhada tectonicamente, envolvida
e vieiros metariolíticos, que localmente são tão presentes que chegam (disposição lit-par que foi no desenvolvimento dos sistemas de dobramentos Sergipano, Riacho do Pon-

230 231
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 10

tal e Rio Preto (figuras 12 a 17). No presente, ainda faltam os elementos geológicos
gerais e geofísicos para esquematizar uma linha ideal separando a parte realmente
cratônica (ortoplataformal, mais ao sul) das partes do embasamento, irregularmente
regeneradas/retrabalhadas destes sistemas orogênicos brasilianos, aí incluindo o Ou-
banguides (na margem ocidental da África).

6.1 Superterreno Pernambuco-Alagoas – PEAL


Trata-se de um complexo segmento litosférico situado imediatamente ao sul do
Lineamento Pernambuco (e sendo por este delimitado), com uma área aproximada-
mente triangular, ca. 65.000 km2, que reúne diferentes contextos geológicos e geo-
tectônicos anteriores ao Ediacarano (pré-fusão de Gondwana). Na sua composição
variada estão reunidos terrenos de alto grau do Arqueano e do Paleoproterozoico,
terrenos eo-neoproterozoicos (tonianos) e tratos metavulcanossedimentares do ne-
oproterozoico (frações de faixas supracrustais e outros litotipos). Ainda, este super-
terreno é cortado por granitoides neoproterozoicos diversos, em tipologia e geração,
Figura 11: Quadro esque-
de diferentes dimensões (a sua primeira designação no passado fora de “Batólito mático do Superterreno
Pernambuco Alagoas”). Alguns núcleos arqueanos locais são encontrados, principalmente Pernambuco-Alagoas,
O comportamento geotectônico do PEAL tem sido bastante discutido, tendo re- na porção mais ocidental da Bacia de Tucano (“Terreno Cabrobó” de situado imediatamente ao
sul do lineamento de Per-
cebido algumas designações informais. Embora disponha de mapeamentos na escala Oliveira, 2008). Há alguns outros indícios indiretos de rochas arque- nambuco. Destaque para
1/100.000 e outras de integração (1/250.000 e 1/500.000), seu conhecimento geral anas em outras áreas. Frações importantes de embasamento paleopro- os litotipos do Arqueano,
ainda é perfunctório. A bibliografia sobre esta unidade é ampla, e uma síntese recen- terozoico (Riaciano > Orosiriano) estão presentes nesta porção mais Paleoproterozoico, Tonia-
no e Brasiliano (supracrus-
te foi proposta por Brito Neves e Silva Filho (2019). ocidental e na porção central do PEAL (“Terreno Garanhuns”) diver- tais e graníticas, inclusive
A designação adotada de superterreno seguiu as sugestões de autores que trataram samente retrabalhado pelos eventos do Ciclo Brasiliano. relacionadas a acreção).
de contextos policompostos semelhantes (e.g., Gibbons, 1994) em outros domínios Deve ser enfatizada a presença de tratos litoestruturais (diversos
orogênicos do mundo. Do ponto de vista geotectônico, ele atua como um expressivo tipos de leucognaisses) do limite meso-neoproterozoico (tonianos) na
“alto tectônico” do embasamento com rochas de composição variada (pré-neopro- porção mais ocidental do PEAL, com provável conexão prévia com
terozoicas) e históricos complexos, ramificando sistemas de dobramentos neopro- idênticos terrenos da Zona Transversal. Frações significativas de faixas
terozoicos. Seu reconhecimento hoje como unidade de além-país (paleoplaca) do neoproterozoicas vulcânico-sedimentares (“Inhapi”=“Inhp” e “Rio
desenvolvimento do sistema Sergipano (principalmente), a que delimita ao norte, é Una”=“Ru”) ocorrem localmente encaixadas no embasamento paleo-
praticamente consensual. Mas, sua relação tectônica para com o desenvolvimento proterozoico da porção central do PEAL (figura 11). Outras frações
das faixas móveis da Zona Transversal (ao seu norte) ainda comporta questões em de possíveis nappes (klippen) oriundas da porção mais ao norte do
aberto. Este terreno é bruscamente interrompido para oeste-noroeste (para o vértice Sistema-Alagoano (“Garanhuns” = “G”) são observáveis ao sul, super-
principal de sua área aproximadamente triangular), por razões tectônicas e erosio- postas ao superterreno, de forma alóctone.
nais, de forma que apontar suas relações geológico-tectônicas com os antepaíses e Como já reiterado, há riqueza do plutonismo granítico, em todas
blocos do embasamento internos às faixas de dobramento da subprovíncia meridio- suas porções, de modo muito variado. Destaque para aquelas porções
nal (Riacho do Pontal-Rio Preto) ainda é problema em aberto. que parecem estar ligadas à evolução de arcos magmáticos neoprote-
Uma divisão preliminar em três domínios facilita a discussão geográfico-geológi- rozoicos, como as de Águas Belas/Canindé (centro sul de Pernambuco
ca (e geofísica) do PEAL: e do norte de Alagoas) produtos de prováveis zonas de subducção do
a) A porção ocidental (a oeste da Bacia de Tucano), o “Terreno Cabrobó”, Oli- final do Brasiliano (subducção da fração oceânica associada com o em-
veira (2008). basamento da faixa Sergipana), parte norte da placa sanfranciscana.
b) A porção central, com embasamento paleoproterozoico muito retrabalhado, Parte do plutonismo granítico do norte do Sistema Sergipano (Propriá,
com algumas inserções de supracrustais neoproterozoicas (“Terreno Garanhuns”, Glória e adjacências) pode estar ligado, de alguma forma, a este pluto-
designação informal). nismo de Canindé-Águas Belas.
c) A parte mais oriental, ao longo da costa com exposição expressiva mais ou me- Do ponto de vista do desenvolvimento geotectônico, há muitas
nos linear de um amplo e complexo batólito, longitudinal à costa atlântica (“Ipojuca defecções do conhecimento a serem vencidas. Na nossa concepção, o
-Atalaia”). Esta porção foi também informalmente apelidada de “Terreno Arapiraca” PEAL atuou como uma placa (contara com pelo menos uma margem
(Oliveira, 2008). ativa, mais provavelmente até mais do que isto) que foi separada (fis-

232 233
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 10

são de Rodínia?) e depois interagiu (como placa superior) com a paleoplaca do São do embasamento paleoproterozoico regional, apresentam dados petrográficos e
Francisco no final do Neoproterozoico. Ou seja, o fragmento inicialmente fissionado geoquímicos, com características de geração em arco magmático, são tipo VAG,
(PEAL) de Rodínia, que foi posteriormente reaproximado da paleoplaca sanfrancis- do ponto de vista litogeoquímico. Estas rochas apresentam valores de TDM em
cana (fração maior de Rodínia). Assim, no contexto orogênico, ao nosso entender torno de 1,2 e 1,5 Ga e idades U/Pb entre 610 e 620 Ma. Os dados petrológicos
atual, o PEAL funcionou como além-país, e depois como hinterland no decurso dos e isotópicos (Silva Filho et al., 2010; Silva et al., 2015) são bastante coerentes
processos acrecionários e colisionais posteriores. e indicadores (valores de ƐNd(t)fracamente negativos e/ou positivos) de presença
A possibilidade da existência de margem ativa ao norte do PEAL (“Águas Belas/ de processo acrecionário que está situado principalmente na zona do sudoeste
Canindé”), área de fronteiras Pernambuco-Alagoas, e ao sul (sudoeste da fronteira alagoano. No presente, há vários grupos de trabalho das universidades regionais
Alagoas-Sergipe e adjacências) tem sido evocada e continua como foco de vários estudando essas rochas oriundas de um provável arco magmático.
trabalhos de pesquisas em andamento (Silva et al., 2015; Silva Filho et al., 2010). 6.1.2.2 Remanescentes metavulcanosedimentares neoproterozoicos
6.1.1 Terreno Ocidental (“Cabrobó”) (Inhapi/Inhp, Rio Una/Ru, “Garanhuns”/G).
Na porção a oeste da bacia de Tucano, destacamos primeiramente quatro núcleos Duas áreas distintas e pequenas (Inhapi=“Inhp”, Rio Una=“Ru” e mais ainda,
arqueanos distintos (figura 11) retrabalhados no Paleoproterozoico e no Neoprote- a de Garanhuns=“G”, figura 11), estão ocupadas por contingentes metassedimen-
rozoico (Toniano inclusive). Destacamos primeiro, o chamado “granito-greenstone” tares (psamo-pelíticos maturos a muito imaturos) e rochas vulcanossedimentares,
de Riacho Seco, na parte mais central deste terreno, constituído por ortognaisses com grau de metamorfismo elevado, sendo comuns processos de migmatização, o
diversos (TAG) e supracrustais de alto grau metamórfico, onde idades neo e paleoar- que torna difícil discriminá-las em mapeamento do embasamento paleoproterozoico
queanas foram registradas, e onde o retrabalhamento no Paleoproterozoico é franca- sotoposto. É bem provável que sejam resquícios daquelas rochas neoproterozoicas
mente registrado. E na porção mais ocidental, as ocorrências de Caldeirão Encanta- do Sistema Rio Capibaribe, situadas ao norte do PEAL, mas não podemos ainda con-
do-Entremontes (várias pequenas ilhas mostradas na figura 11) também apresentam firmar isto. O significado destas unidades, de sua alocação e relações com similares
rochas de alto grau e idades neoarqueanas. constituem problemas em aberto.
A partir de Floresta, no centro-oeste de Pernambuco, ocorre longitudinalmente A Unidade Garanhuns (“formação”) expõe rochas supracrustais que ocorrem
ao sul do Lineamento Pernambuco uma faixa significativa de leucognaisses de diver- repousando tectonicamente (klippen) sobre o embasamento gnáissico-migmatítico
sas tipologias, com idades tonianas (no interior dela foram identificados protólitos paleoproterozoico, ao longo e ao norte do paralelo 9º00’. Trata-se de quartzitos
arqueanos). Imediatamente ao norte desta região estão as localidades onde, no pas- maturos e imaturos, xistos, metariolitos e tufos vulcanoclásticos com penetrativo
sado, foram identificadas pela primeira vez na Borborema as rochas do ciclo toniano cisalhamento subhorizontal (S0 = Sp), com indicações de uma cinemática de em-
(do Ciclo Cariris Velhos; Santos et al., 2010). A sobreposição do retrabalhamento purrão do sul (Faixa Sergipano-Alagoana) para o norte (para o PEAL). São muitas
brasiliano (com a presença de stocks e batólitos) é comum em toda parte. as variações composicionais (apesar da designação simplista usual de “Quartzitos
6.1.2 Terreno Central (“Garanhuns”) Garanhuns”), com interessantes ocorrências locais com fragmentos de rochas do
O terreno Garanhuns constitui a parte central do PEAL, a leste da Bacia de Tuca- embasamento. A origem sedimentar-vulcânica é clara e os dados geocronológicos
no, sendo constituído de rochas orto e paragnaíssicas paleoproterozoicas, apresen- (zircões) indicam grande espalhamento de idades de paleo a neoproterozoicos com
tando ainda diversificado magmatismo granítico e algumas ocorrências de supracrus- picos em 2,0 Ga; 0,9 e 0,75 Ga.
tais neoproterozoicas sobrepostas em discordância. 6.1.3 Terreno Oriental (“Batólito
6.1.2.1 Magmatismo granítico Ipojuca Atalaia” e/ou “Terreno Arapiraca”)
O primeiro destaque é para o batólito Arcoverde-Paulo Afonso (figura 11), extre- Este terreno ocorre longitudinal à costa atlântica, como substrato das bacias
mamente variado em composição e contendo frações locais de rochas migmatíticas sedimentares meso-cenozoicas e apresenta forma aproximadamente triangular (ca.
(pré-brasilianas), algumas delas com idades do Paleoproterozoico. Trata-se de um 4.000 km2) (figura 11). Esta é a área/porção menos conhecida do PEAL. Trata-se de
amplo domínio de rochas graníticas (160 km longitudinais, NE-SW por até 20 km rochas ígneas muito variadas em composição: granitos álcali-feldspáticos, sienogra-
de largura). Predominam granitos e sienogranitos porfiríticos, dioritos e granodiori- nitos, monzogranitos e granodioritos, mais raramente quartzo-dioritos e quartzo-
tos, sienogranitos e monzogranitos. Todos os dados geocronológicos indicam idades sienitos. A assunção é de que se trata de um complexo brasiliano, mas não tem ainda
brasilianas. Alguns poucos dados preliminares pelo método Sm/Nd sugerem uma ori- determinações conclusivas. Os valores advindos do método Sm/Nd mostram grande
gem (em parte) por possíveis processos acrecionários consoante alguns raros dados variação de TDM (paleoproterozoicos em geral) e valores de ƐNd(hoje) muito variáveis,
de valores de ƐNd(hoje) próximos de zero. a maioria deles muito negativos (< -20,0), sugerindo derivação de diferentes fontes.
Na área de confronto do PEAL com a faixa sul-alagoana ocorrem mais de duas A presença indireta de tratos do embasamento (presenças locais e fontes regionais) é
dezenas de stocks e batólitos de sienogranitos, monzogranitos e álcali-feldspato indicativa de um contexto complexo em composição e origem deste chamado Bató-
granitos de idade eo-ediacarana (630-580 Ma), ao largo de uma área de 5.000 lito “Ipojuca-Atalaia”, com notável e complexo magmatismo. Ou seja, muito distinto
km2.Vários estudos ainda estão em andamento mas, até o presente, as rochas es- daqueles do “Arcoverde-Paulo Afonso” (da porção central) e dos granitos de arco
tudadas, graníticas, granodioriticas etc., intrusivas nos ortognaisses e diatexitos tipo “Águas Belas-Canindé” (figura 11).

234 235
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 10

7. O sistema de faixas de dobramentos


da periferia norte do Cráton do São Francisco

A margem norte do antepaís/Cráton do São Francisco traz, na sua representa-


ção litoestratigráfica e zoneamento tectônico natural, os testemunhos importantes
da história de uma margem continental do tipo Atlântico e suas fases posteriores
de acreção e colisão. Desde sua abertura, desenvolvimento sedimentar (diversas
sequências bem organizadas de porções rasas e depois mais profundas) e posterior
fechamento por acreção seguida de colisão (com diferentes além-países situados
mais ao norte). Estes além-países, em parte (hoje) estão no interior deste domínio
meridional (e.g., PEAL, “Morro do Estreito”, “Baraúnas-Baixa Verde”, “Cristalân-
dia do Piauí”, “Alto Gurguéia”), mas também partes estão presentes, em parte, na
Zona Transversal (e.g., “Terreno São Pedro”).

7.1 Sistema de Dobramentos Sergipano


A porção mais oriental do sistema de dobramentos do fronte norte do Cráton Tabela 4: Esquema da litoestra-
tigrafia do Sistema Sergipano.
do São Francisco (CSF) ocupa uma área triangular de cerca de 36.000 km2 nos mente idêntica da parte sul do sistema de dobramentos (Grupo Va-
estados de Sergipe, Alagoas e parte da Bahia (figura 12). Caracteristicamente za-Barris), onde a deformação é vigorosa e a vergência das dobras
esta área/faixa apresenta uma das mais completas sequências de uma margem (D1 e D2) é claramente dirigida para o sul (para o CSF). As sequ-
continental do tipo “Atlântico”, desenvolvida do Neocriogeniano ao Ediacarano, ências sedimentares litoestratigraficamente são bem representadas
com ordenação excelente, da porção mais ao sul (proximal ao cráton) para o e expostas (terrígena basal, calcária e terrígena superior), e estão
centro-norte (distal do cráton). Isto em termos de sequências litoestratigráficas, presentes nesses dois domínios da faixa. Elas são extremamente di-
zoneamento geotectônico, magmatismo e deformação e tectogênese. Ainda que dáticas e similares àqueles paradigmas dos orógenos clássicos. A
haja diversidade nos modelos interpretativos, esta constatação é fundamental e porção central e a centro-nordeste está representada por uma com-
coerente, do aceite de todos. plexa cunha turbidítica, onde a classificação litoestratigráfica não
No contexto sergipano e bahiano (do centro para o sul), a vergência das dobras pode evoluir (“Complexo”/”Grupo”/“Domínio Macururé”) como
de foliação é notoriamente para o sul e sudeste, no sentido do cráton. Da parte cen- seria necessário. São predominantes metaturbiditos, micaxistos,
tral e norte, temos uma fração das vergências dirigidas para o norte (para o além, metagrauvaca, algumas inserções quartzíticas (“Quartzito Santa
PEAL). Isto nos leva admitir subducção para nordeste e norte (por sob o além-país), Cruz”, localmente na base), lentes de anfibolito e granada-anfibo-
com francos registros de magmatismo de arco desde Canindé do São Francisco, nor- lito e xistos a clorita. Algumas intercalações de rochas vulcânicas e
te de Sergipe, na beira do Rio São Francisco, para Águas Belas, no agreste pernam- de itabiritos são localmente registradas. A espessura total do pacote
bucano e, posteriormente, um processo de colisão importante. é estimada em mais de uma dezena de quilômetros, e o metamorfis-
O histórico bibliográfico desta faixa é rico, e em franco estágio de progresso. De- mo predominante é na fácies anfibolito, se intensificando bastante
vemos destacar os trabalhos originais de Humphrey e Allard (1962), de grande valia na periferia dos stocks graníticos (dezenas de corpos). Uma idade
até hoje, os inúmeros trabalhos de D’el-Rey Silva (1992, entre outros), Silva Filho e de sedimentação pós-toniana (<720 Ma) tem sido obtida e admiti-
Brito Neves (1979), e a síntese recente de Oliveira et al. (2010). da para este contexto (Oliveira et al., 2010).
7.1.1 Compartimentação geotectônica e litoestratigráfica Ainda na porção centro-norte, ao norte da falha de Belo Monte
Como veremos no quadro elaborado (tabela 4), o reconhecimento dos contex- - Jeremoabo, aparecem duas unidades distintas, uma do embasa-
tos litoestratigráficos e de ambientes tectônicos presumidos se apresenta organiza- mento (“Poço Redondo”) com gnaisses migmatíticos de natureza
do (de sul para norte) com crescimento da complexidade desde a área estável (crá- granodiorítica-tonalítica, e outra de natureza pelítico/psamítica
ton/antepaís e periferia cratônica) para o norte (domínios internos) até o domínio predominante (“Marrancó”), com intercalações vulcânicas inter-
de além-país (PEAL). mediárias (andesito, dacito) e máfico-ultramáficas (metagabros,
Há clareza e lógica de dado na tabela 4, isto obtido apesar dos complicadores serpentinitos). Ocupam áreas contíguas e muito restritas. A uni-
usuais, como exposições do embasamento (domos gnáissicos, slivers, soerguimentos dade de “embasamento” ali presente (Poço Redondo) apresentou
locais exagerados do embasamento e dissecação erosiva etc.). idades eotonianas (ca. 980-960 Ma), e tem sido considerada uma
Na borda do domínio cratônico ocorre o Grupo Estância (figuras 12 e 13), representação local, especial, com exposição de rochas da orogenia
preservado praticamente não dobrado (ao sul). E, depois, a sequência pratica- Cariris Velhos (o que é discutível). A “Unidade Marrancó” apresen-

236 237
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 10

co invertido. O “Domínio Macururé” apresenta as mesmas características estru-


turais acima (com dobramento de foliação), com superfícies axiais de mergulhos
fracos e dobras quase deitadas, evidenciando esforços mais enérgicos em sua área
(mais interna) de ocorrência, e daí, vergência para o norte.
Falhamentos transcorrentes associados a empurrões compõem ainda a trama
estrutural desta faixa Sergipana, a exemplo dos empurrões de S. Miguel do Alei-
xo, Belo Monte-Jeremoabo e Macururé. Aquele falhamento colocado mais ao
sul (Itaporanga) funciona como separação do domínio pericratônico para a faixa
móvel e está consorciado com o soerguimento do domo gnáissico de Itabaiana
(de embasamento arqueano) e as exposições de embasamento do sliver de Simão
Dias. O metamorfismo regional precedeu em parte as fases finais de deformação,
pois desenvolveu uma espécie de xistosidade mimética, que é cortada por cliva-
gem de fratura subparalela à xistosidade do plano axial. Nos cortes geológicos
apresentados é possível melhor discernir o comportamento estrutural deste sis-
tema em seus diferentes domínios. Observar a distinção da porção mais oriental
(maior espaço disponível, maior largura do sistema de dobramentos) daquela da
porção mais ocidental (com menor espaço disponível), com compressão relativa-
mente bem mais forte, não permite verificar a vergência centrífuga.
Figura 12: Esquema da Interessante ressaltar a maior dissecação da parte norte do sistema (chamado
geologia regional do Sistema ta idade em torno de 600 Ma e, ao nosso entender, esta deve ser “Sul Alagoano”) com exposições importantes do embasamento (vide “domo de Jirau
Sergipano, entre o PEAL (ao
norte) e o Cráton do São apenas uma fácies do “Complexo Macururé”. do Ponciano”, e outras ocorrências menores de Arapiraca e adjacências). Esta parte
Francisco (a sul e sudoeste). Ao norte destas pequenas exposições, ao norte da chamada Fa- norte do sistema representa a porção de vergência norte do contexto regional, rela-
Áreas de exposição distintas lha de Macururé, já no interior do PEAL, ocorre o chamado “Gru- tivamente bem preservado.
a leste e a oeste do Sistema/
Bacia Tucano-Jatobá. po/Domínio Canindé”. Trata-se de rochas metavulcanossedimen- 7.1.3 Granitogênese
tares complexas (anfibolitos, metapelitos e metassiltitos, chertes, Conjuntos distintos de rochas plutônicas intrusivas são frequentes, e come-
cálcio-silicatadas e mármores) cortadas por diques félsicos, graní- çam a aparecer com destaque no domínio Macururé. Estão mapeadas cerca de
ticos e gabroides que serão caracterizados no final desta seção. O 60 entidades de plutônicas, com muita variação em composição (predomínio de
ambiente tectônico desta unidade é muito controverso e debatido afinidade cálcio-alcalina) e idades entre 630 e 570 Ma. Uma grande quantidade
por diferentes autores. Os dados geocronológicos preexistentes in- de colaboradores do passado e atualmente (Conceição et al., 2016) consignam
dicam idades entre 715 e 620 Ma (Neocriogeniano-Eoediacarano), cerca de meia dezena de rochas plutônicas (granodioritos, granitos, monzonitos
interpretados como contextos de rifte precursor do desenvolvi- shoshoníticos, sienogranitos etc). Segundo estudos recentes, estas rochas se ca-
mento do orógeno. racterizam como produtos de misturas de magma e não podem ser classificadas
Finalmente, temos que destacar a presença de duas pequenas ba- de forma simplista entre tipo I e S, já que são rochas híbridas de gênese comple-
cias de natureza molassoide (pós-sedimentação e dobramento). A de xa. A interpretação do significado desta granitogênese (colisional?) não pode ain-
Palmares (Formação Palmares; tabela 4; figuras 12 e 13), posicionada da ser conclusiva. Idem, não foi possível ainda estabelecer alguma relação entre
ao sul, sobre a cobertura moderadamente dobrada ou não dobrada estas rochas e aquelas de Águas Belas – Canindé, no norte do PEAL (figura 11).
da faixa, e a de Juá, que preenche um pequeno graben situado na Isto será muito importante e está sendo foco de muitos pesquisadores.
porção central da faixa, entre as falhas de Belo Monte/Jeremoabo e
São Miguel do Aleixo. Em ambas predominam sedimentos clásticos, 7.2 Sistema Riacho do Pontal – SRP
arenitos imaturos, conglomerados etc., com boa amostragem das li- Este sistema (figura 1) ocupa uma área irregular (PE-PI-BA) da ordem de
tologias regionais dissecadas. cerca de 20.000 km2, entre o Lineamento Pernambuco ao norte e o CSF ao sul.
7.1.2 Feições estruturais Esta porção marginal norte do CSF foi tectonicamente regenerada de diversas
As rochas do domínio Vaza-Barris (grupos Miaba e Vaza-Barris) formas, com a instalação e desenvolvimento deste sistema de dobramentos, para
estão estruturadas em dobras similares, contínuas, de grande com- o qual serve de antepaís. Como já enunciado, este sistema, teve para leste uma
primento de onda e pequena amplitude e apresentam suas superfí- presumível continuidade com o Sergipano (separação por falhamento e erosão).
cies axiais mergulhando fortemente para sul-sudeste, apontando a E para oeste e sudoeste aponta conexões com o Rio Preto, e parte desta separa-
vergência para o CSF. Associam-se a isto vários empurrões de flan- ção é devida a coberturas modernas.

238 239
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 10

Figura 13: Seção geoló- Figura 14: Seção geológica da


gico-estrutural da porção são, no informalmente chamado “Terreno de Sobradinho”. Este ter- porção ocidental (SE e BA)
leste (SE e AL) do sistema Do ponto de vista litoestratigráfico e tectônico, este sistema contém entre o antepaís (Bendegó) e
reno marginal ao cráton é formado por terrenos granite-greesntone
Sergipano, do cráton, ao calcários de margem continental, psamo-pelíticos distais, evidência de o além-país (PEAL, bastante
sul para o além-país, ao arqueanos e paleoproterozoicos. deformado), em Macururé-BA.
rochas de fundo oceânico (basaltos toleítos, intrusivas fissurais rela-
norte. Destacamos a parte c) Para o sul (sul de 9º50’) a compressão tectônica tem registro Representação (ao sul) de
não deformada, as escamas cionadas com magmatismo máfico-ultramáfico alimentador do desen- pequena parte pericratônica
na deformação da cobertura cratônica (o back-bulge): aquelas pa-
frontais (Grupo Vaza-Bar- volvimento oceânico) e, localmente, algumas evidências da evolução preservada, da nappe central
ris), a nappe central, onde leo-mesoproterozoicas (Chapada Diamantina) e aquelas do Neopro- (redobrada) e de uma nappe
de um arco magmático. A estruturação geral é de um foreland thrust mais interna na borda do
se concretiza a vergência terozoico (Unidades Bebedouro, diamictitos, e do Grupo Bambuí,
centrífuga (fonte: Campos and fold belts com evidências de tratos thin-skin (mais comuns), mas além-país (fonte: Campos Neto
este com diversos tipos de rochas carbonáticas), até pelo menos o
Neto e Brito Neves, 1987). também thick skin quando, mais para sul, se apresenta de forma notá- e Brito Neves, 1987).
paralelo 12º S (paralelo de Canarana, BA). A deformação desaparece
vel sobre a espessa cobertura cratônica mesoproterozoica da Chapada
(já no interior do Cráton), como um dos mais belos exemplos sul-a-
Diamantina. Também apresenta notório zoneamento litoestratigráfico
mericanos de fold and thrust belt.
e estrutural, que será discriminado do norte para o sul.
7.2.1 Aspectos litoestratigráficos
Além-países ocorrem ao norte, em parte bastante cisalhados pelo
Na realidade, um empilhamento vertical (dotado de cunho lito-
Lineamento Pernambuco: Morro do Estreito (ao sul do lineamento),
estratigráfico) das unidades litológicas listadas nas diferentes zonas
espécie de sliver de uma área de embasamento pretérito, e o Terreno
acima discutidas, não pode ainda ser alcançado. Mesmo porque a ob-
São Pedro (ao norte do Lineamento), ambos constituídos de rochas or-
servação de passagens laterais, mútuas intercalações etc. entre estes
tognáissicas granodioríticas e tonalíticas (TTG) arqueanas, sobretudo.
litotipos são comuns.
Um terceiro além-país pode ser enumerado, mais a noroeste do SRP,
Os poucos dados geocronológicos existentes indicam uma quase
na borda da Bacia do Parnaíba, do paralelo 9º00’ até imediações do
contemporaneidade destes contextos litoestratigráfico-metamórfi-
10º30’, entre S. Raimundo Nonato, PI, e Cristalândia, PI, com cerca
cos desde o lineamento Pernambuco (ao norte) para a borda do
de 320 km de extensão. Esta fração do embasamento foi bastante re-
CSF (ao sul) (vide trabalhos recentes de Caxito, 2013; Brito Neves
alçada, do ponto de vista geofísico, formando destacáveis “altos gravi-
et al., 2015; Caxito et al., 2017), que são complementos indica-
métricos” (Oliveira, 1998).
dos para a síntese aqui tentada. Além disto, uma litoestratigrafia
a) Domínio mais interno, que foi preenchido por litotipos terríge-
convencional latero-vertical pode ser tentada no SRP, com muitas
nos psamo-pelíticos, variados (muitas vezes muito imaturos) das uni-
possibilidades de erro, pela expressividade dos empurrões dirigi-
dades dos complexos Santa Filomena (a norte) e Paulistana (a noroes-
dos para sul e sudeste. É mais prático e seguro distinguir unidades
te), na zona fronteiriça PE/PI, de idades neoproterozoicas.
tectônico-sedimentares (paraestratigráficas, com vínculos expressi-
O domínio central é marcado por restos oceânicos (metabasaltos,
vos com o ambiente presumido de sedimentação e/ou deformação),
metatufos, metachertes) dos complexos Monte Orebe, muito expressi-
como veremos de norte para sul.
vo em área, e Brejo Seco (este, um possível duto máfico-ultramáfico do
a) Zona mais interna:
assoalho oceânico), segundo estudos recentes (Salgado et al., 2016).
Complexo Paulistana: Unidade plutônica-vulcânica-sedimentar,
b) A zona externa é dominada por litotipos terrígenos (profu-
complexa em composição e estrutura, na porção norte-ocidental do
são de xistos biotíticos, com intercalações/imbricações tectônicas de
sistema. Xistos a duas micas, granada xistos, intercalações de quart-
corpos estratoides de granitos colisionais (tipo “Rajada”). Esta zona
zitos e quartzo xistos. Vulcanismo e plutonismo sinsedimentares de
ocupa a mais extensa das áreas, com grande variedade litológica (de
composição máfica (metagabros) e ultramáficas. A unidade se encontra
Afrânio a Casa Nova; de Queimada Nova a Santa Cruz). Estes metas-
cortada por granitoides diversos e circunscrevendo alguns outros. Da-
sedimentos (peraluminosos em geral) para o sul chegam a recobrir o
dos geocronológicos dos zircões detríticos desta unidade mostram de
CSF, nas imediações de Sobradinho e de Lagoa Grande (e.g., “bacia”/
fontes tonianas e estenianas.
klippe de Barra Bonita”). O embasamento desta porção pericratônica
Complexo Santa Filomena: Na porção mais norte-oriental do SRP
se acha exposto e exaltado como a de forebulge em face da compres-
(adjacente ao sliver de Morro do Estreito). Predominam sedimentos

240 241
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 10

pelíticos/psamíticos (típica sequência QPC), xistos a duas micas, com granada, me-
talaminitos e raramente anfibolitos e chertes. Exibe variado cotejo de zircões detríti-
cos, de idades do Neoarqueano ao Toniano, oriundos do embasamento a sua volta.
b) Zona central:
O Complexo Monte Orebe (figuras 15 e 16) ocupa a parte centro-norte do SRP,
e comporta associações metassedimentares (pelítico-psamíticas) e magmáticas (má-
ficas, ultramáficas inclusive), com notáveis horizontes de metachertes (camadas cen-
timétricas a métricas) e tufos vulcanossedimentares. O metamorfismo varia de xisto
verde a fácies anfibolito. Os poucos dados geológicos e geoquímicos destas rochas
são indicativos de frações de assoalho oceânico neoproterozoico.
O Complexo Brejo Seco ocorre no noroeste do SRP (lado piauiense) com dimen-
sões modestas e constitui uma intrusão acamadada (Salgado et al., 2016), com diferen-
tes zonas: troctolítica, ultramáfica, zona transicional máfica (troctolitos) e zona máfica
superior (gabro, anortosito, troctolito, algum anortosito). Mineralizações de Ni-Cu-Pb
ocorrem. Os dados petrológicos indicam esta unidade como alimentadora dos tratos
oceânicos. Dados Sm-Nd indicaram uma idade isocrônica de ca. 903 ± 20 Ma.
c) Zona externa:
O contexto vulcanossedimentar de Casa Nova, predominante em área, no sul-su-
deste do SRP, é considerado como sequência marinha plataformal, imatura (tipo QPC).
Xistos a duas micas, quartzitos a muscovita (alguns raros conglomerados basais), xistos
granadíferos, com metamorfismo na fácies anfibolito têm sido descritos. Tem sido consi-
derada unidade proveniente de ambientes marinhos locais mais profundos. No seio desta
unidade aparecem alguns sheets gnaisse graníticos a duas micas (típicos sincolisionais
“S”, Gnaisse Rajada), com foliação de baixo ângulo e indicadores de transporte de norte
para o sul. Idades obtidas para estas rochas (método U-Pb) são neocriogeniana-ediaca-
ranas (ca. 635 ± 20 Ma), valor assumido para a deformação e metamorfismo regional. Figura 15: Mapa geológico
idades neo-ediacaranas, em coerência com as observações de campo esquemático do Sistema Ria-
d) Os gnaisses tonianos (“tipo Afeição” e /ou Serra Pintada): de intrusivos na fase distensional tardia. cho do Pontal (Brito Neves et
Na porção mais ao norte do SRP, ocorre uma série de stocks de ortognaisses (hoje al., 2015), entre o Lineamen-
augen gnaisses) a granada e biotita, granodioríticos e monzo e monzograníticos), que to Pernambuco ao norte e o
7.3 Faixa de dobramentos do Rio Preto (BA-PI) Cráton do São Francisco ao
ocorrem circundados pelas supracrustais (do Complexo Paulistana principalmente). No noroeste da Bahia e extremo sul do Piauí ocorre a faixa de do- sul (este com toda sua borda
Estes augen gnaisses fazem parte de um delongado (e descontínuo) cortejo que co- bramentos Rio Preto, de natureza intracontinental, com extensão lon- norte retrabalhada, chamada
meça no nordeste da Paraíba (sempre ao sul do Lineamento de Patos), chegando ao de “Terreno Sobradinho”).
gitudinal (E-NE) da ordem de 200 km e largura variável de oeste (ca.
Piauí, mas cujo apogeu de representatividade está no terreno Alto Pajeú (já descrito). 140 km) para leste (80-40 km). Em vários aspectos, esta faixa mostra
Nas imediações do norte do SRP (figura 15), e mais ainda, a sudoeste, na borda da afinidades com os sistemas Sergipano (e.g., litoestratigafia) e Riacho
Bacia do Parnaíba, rochas semelhantes têm sido encontradas. Determinações geocro- do Pontal (continuidade pretérita), ainda que guardando característi-
nológicas, por diferentes métodos, indicam idades tonianas (ca. 950-970 Ma). cas próprias. Sua presumida ligação física prévia com o sistema Riacho
e) granitoides pós-colisionais ediacaranos: do Pontal é admitida, mas é problemática. Pelos litotipos distintos,
Várias ocorrências de stocks e de outros corpos, modestos em dimensão, de pela vergência centrífuga (no Rio Preto), este fato admissível é dificil
rochas graníticas, têm sido encontradas no SRP. São rochas de caráter intru- comprovar/testar, em face do número de coberturas cenozoicas nas
sivo de pós-colisão. Biotita-hornblenda granitos, hornblenda sienitos, granitos imediações das duas (prejudicando observações).
subalcalinos e aegerina-augita granitoides ocorrem longitudinalmente a leste da Esta faixa está delimitada ao norte (consoante falha de empurrão
borda da Bacia do Parnaíba (ao longo de mais de uma centena de quilômetros, a conspícua) por um conjunto de rochas ortognáissicas (a anfibólio e
chamada “Suíte Serra da Aldeia”). Ao norte da represa de Sobradinho ocorrem biotita) e migmatíticas do embasamento (Paleoproterozoico e mais an-
alguns corpos muito pequenos de rochas ultrapotássicas, com grande variedade tigo) que se estendem de Cristalândia do Piauí até São Raimundo No-
de tipos: de sienogranitos ultrapotássicos, sienogranitos, sienitoides diversos. Ao nato, PI (“Terreno Alto Gurguéia”). A porção mais ocidental desta fai-
sul da folha de Santa Filomena ocorrem alguns corpos pequenos de quartzo-sie- xa está acobertada pelo platô cretácico do Urucuia (entre Formosa do
nitos e álcali-feldspato granitos. Os dados geocronológicos disponíveis indicam Rio Preto e São Desidério). Pelos dados geológicos gerais desta faixa

242 243
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 10

Figura 17: Seção geológica


esquemática NNW-SSE da
faixa de dobramentos do
Rio Preto, de seu além-país
Bebedouro) ou, se é uma unidade independente (neoproterozoica), (e internides) a noroeste,
Figura 16: Seção condicionada sobretudo por injunções estruturais. Essa unidade está em Cristalândia do Piauí,
geológica esquemática há uma expectativa de que tenha havido também algum tipo de con- até seu antepaís, a sul-
NNW-SSE no mapa da tinuidade/ligação pretérita com a porção mais norte da Faixa Brasília. situada entre falhas de empurrão com movimentos divergentes (bem
sudeste de São Desidério,
figura 15, da zona mais
Esta faixa se apresenta como uma ampla cunha entre dois dis- na posição axial de divergência) e pode ter sido alçada da parte mais onde a cobertura cratônica
interna (Paulistana, Santa inferior da coluna, portanto a posição estratigráfica original do Cana- sub-horizonal prevalece.
Filomena) aos externides tintos e importantes contextos de embasamento pré-Brasiliano: a) a Fontes: Caxito (2013),
(domínio do cráton). norte, aquela fração pré-Neoproterozoico que se expõe nas imedia- bravinha estaria sob a Formação São Desidério. Caxito et al. (2017).
Destaque, ao sul sudeste,
ções de Cristalândia do Piauí; b) a sul, assenta na periferia noroeste Uma rápida observação no corte geológico apresentado (figura
no interior do cráton da 17), mostra a diferença marcante de deformação da porção sul-orien-
klippe de Lagoa Grande, do CSF, o qual é recoberto em parte pelas mesmas unidades lito-
que é recortada pelo Rio estratigráficas do Rio Preto (neste caso, não dobradas). Consoante tal (zona pericratônica) daquela da porção centro-norte da faixa, e
São Francisco.
Egydio Silva (1987), um pioneiro a propor o modelo tectônico para mais, mostrando a vergência centrífuga e o caráter intracontinental.
esta faixa, as colunas litoestratigráficas presentes no domínio do- Nessa porção meridional até as proximidades de Riachão das
brado (Rio Preto) são plenamente comparáveis (respeitadas as con- Neves, predomina uma fase de dobramentos simples, com planos
dições estruturais e outras) com aquelas (conhecidas amplamente) axiais deitados para o sul (D1), mas que gradativamente (para o
da cobertura do cráton (Supergrupo São Francisco) na Bahia e em norte) chegou a gerar transposição (S1//S0). A partir de Riachão
Minas Gerais (malgrado dissenções de nomenclatura), o que para das Neves para o norte predominam dobras de foliação (D 2), in-
nós faz sentido. clusive isoclinais, com complexidade se intensificando para a zona
7.3.1 Aspectos litoestruturais e estratigráficos central da faixa, com foliações S1 e S2 se tornando subparalelas, e
As unidades da parte sul-sudeste (externides, domínios cratôni- às quais se sobrepõe uma terceira fase de deformação (D3), asso-
co e pericratônico), apresentam vergência para sul (e menor grau ciada com falhamentos. Nesta região central (onde aflora a uni-
de metamorfismo). Aquelas unidades mais ao norte, mais para o do- dade Canabravinha), além dos dobramentos está passando uma
mínio interno da faixa, apresentam vergência para o norte e maior zona de cisalhamento destral importante (Malhadinha-Rio Preto),
grau de metamorfismo. No primeiro caso, Egydio Silva (1987) acarretando nova imposição penetrativa de estruturas. As falhas
reconheceu e caracterizou para o conjunto as unidades do Grupo inversas que comandam a vergência voltada ao norte, para o nú-
Bambuí, no que foi endossado por outros autores. Mais recente- cleo (além-país) de Cristalândia do Piauí, parecem pertencer a esta
mente para a porção mais interna, Alcântara et al. (2017) têm reco- terceira fase ou a uma fase posterior. Na parte central, (onde se dá
nhecido o Grupo Rio Preto (tabelas 5 e 6), e proposto uma subdi- a bifurcação de vergências), está aflorando a Formação Canabra-
visão em duas formações: Canabravinha (que pode ser equivalente vinha, que aparece com seus blocos fortemente deformados (eixo
temporal dos sedimentos glaciais da base do Bambuí, ali encravada maior paralelizado com S 2).
pelo tectonismo de empurão para o norte) e Formosa, esta última Sobre a zona cratônica ao sul (entre Ibotirama e Barreiras), é possível
apresentando xistos granadíferos, quartzo micaxistos, quartzo xis- verificar a parte subhorizonal dos calcários (ao sul da rodovia BR-242) e
tos ferríferos). Para esta unidade, os estudos de proveniência de a parte moderadamente dobrada (ao norte da rodovia), mais ou menos
zircão detríticos mostraram vários picos, mas todos com valores de ao longo do paralelo 12º00’. Chama a atenção o fato que é ao longo
idade inferiores a 965 Ma (o que reitera uma idade também dentro deste mesmo paralelo geográfico que, mais a leste (a cerca de 250 km),
do Neoproterozoico). no fold and thrust belt de Irecê (imediações de Canarana, BA), ao sul
No presente momento, a posição litoestratigráfica (e tectônica) da do sistema Riacho do Pontal, também se verifica a passagem das fácies
Formação Canabravinha é tema controverso. Se é uma unidade basal dobradas para não dobradas.
do Grupo Bambuí, conforme propôs Egydio Silva (é muito asseme- Finalmente, do ponto de vista de metamorfismo regional, de
lhada litologicamente com algumas fácies conhecidas da Formação sul para norte, verificamos rochas não metamórficas e incipiente-

244 245
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 10

Tabela 5: Mar-
gem cratônica two-stage Neoproterozoic collision process. Terra Nova, Brito Neves B.B., Van Schmus W.R., Angelim L.A.A.
e pericratônica 26(2): 157-168. https://doi.org/10.1111/ter.12084 2015. Contribuição ao conhecimento da evolução do
da faixa Rio Arthaud M.H. 2007. Evolução Neoproterozoica do Sistema de Dobramentos Riacho do Pontal - PE, BA,
Preto (=Grupo Grupo Ceará (domínio Ceará Central): da sedimentação PI. Geologia USP. Série Científica, 15:57-93. https://doi.
Bambuí segundo à colisão continental. PhD Thesis, Instituto de Geociên- org/10.11606/issn.2316-9095.v15i1p57-93
Egydio Silva, cias, Universidade de Brasília, 170 p. https://repositorio. Brito Neves, B. B., Van Schmus, W. R., Campos Neto,
1987). unb.br/handle/10482/6606 M.C., 2018. Sistema de Dobramentos Piancó-Alto Brí-
Arthaud M.H., Fuck R.A.,Dantas E.L., Santos T.J.S., gida (PE-PB-CE), Regionalização geotectôncia e geocro-
Caby R., Armstrong R. 2015. The neoproterozoic Ceará nologia. Geologia USP. Série Científica, 18(4): 149-171.
Group, Central Ceará domain, NE Brazil: Depositional https://doi.org/10.11606/issn.2316-9095.v18-142182
age and provenance of detrital material. New insights Campos Neto M.C. & Brito Neves B.B. 1987. Consi-
from U-Pb and Sm-Nd geochronology. Journal of South derações sobre a organização e geometria do sistema de Do-
Tabela 6: American Earth Sciences, 58:223-247. https://doi.or- bramentos Sergipano. In: 1º Simpósio Nacional de Estudos
Margem norte g/10.1016/j.jsames.2014.09.007 Tectônicos. Salvador-BA, Boletim de Resumos, p. 91-93.
da faixa Rio Barbosa O. 1970. Geologia Econômica de parte da Castro D.L., Phillips J., Fuck R.A., Vidotti R. 2014.
Preto (próxima região do Médio São Francisco. Boletim DNPM/DFPM, Crustal structure beneath the Paleozoic Parnaiba Basin,
ao além-país) 140:1-98. (Relatório Final do Projeto do Cobre – SU- revealed by airborne gravimetry and magnetic data,
Grupo Rio DENE-CNPM). Brazil. Tectonophysics, 614:128-145. https://doi.or-
Preto, segundo Basto C.F., Caxito F.A., Vale J.A.R., Silveira D.A., g/10.1016/j.tecto.2013.12.009
Alcântara et al. Rodrigues J.B., Alkmim A.R., Valeriano C.M., Santos Cavalcante J.C. 1999. Limites e Evolução geodinâ-
(2017). E.J. 2019. An Ediacaran back-arc basin in the Trans- mica do Sistema Jaguaribeano, Província Borborema,
versal Zone of the Borborema Province: evidence from Nordeste do Brasil. Dissertação de Mestrado, Centro de
geochemistry, geochronology and isotope systematics Ciências Exatas e da Terra, Universidade Federal do Rio
mente metamorfizadas (de São Desidério a Cariparé), com associações a quart- of the Ipueirinha Group, NE Brazil. Precambrian Re- Grande do Norte, Natal, 200 p.
search, 320:213-231. https://doi.org/10.1016/j.pre- Caxito F.A. 2013. Geotectônica e evolução crus-
zo-sericita-clorita. Na parte central a associação mineralógica típica é quartzo- camres.2018.11.002 tal das Faixas Rio Preto e Riacho do Pontal, estados da
muscovita-clorita (fácies xistos verdes). Em função disso, nas rochas de alto Beurlen K., Silva Filho A.F., Guimarães I.P., Brito Bahia, Pernambuco e Piauí. PhD Thesis, Instituto de
grau do embasamento pré-Brasiliano do norte da faixa, há evidências claras de S.P. 1992. Proterozoic C-type eclogites hosting unusu- Geociências, Universidade Federal de Minas Gerais,
al Ti ± Fe ± Cr mineralizations in Northeastern Bra- Belo Horizonte, 288 p.
retrometamorfismo. zil. Precambrian Research, 58:195-214. https://doi. Caxito F.A., Uhlein A., Dantas E., Stevenson R., Egy-
É possível que esta faixa seja produto de um desenvolvimento inicialmente aula- org/10.1016/0301-9268(92)90119-9 dio Silva M., Salgado, S. 2017.The Rio Preto and Racho
cogênico, ligado ou não com o histórico evolutivo preservado no Riacho do Pontal, Bittar S.M B. 1998. Faixa Piancó-Alto Brígida: terre- do Pontal Belts. In: Heilbron M., Cordani U.G., Alkmim
nos tectonoestratigráficos sob regimes metamórficos e de- F.F. (eds.) São Francisco Craton, Eastern Brazil: Tectonic
o que já havia sido indicado por Caxito (2013). formacionais contrastantes. PhD Thesis, Instituto de Ge- Genealogy of a Miniature Continent. Switzerland, Sprin-
ociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 126 p. ger, p. 221-240.
https://doi.org/10.11606/T.44.1999.tde-18112015-101917 Conceição J.A., Rosa M.L.S., Conceição H. 2016.
Brito Neves B.B. 1983. O Mapa Geológico do Sienogranitos leucocráticos do domínio Macururé, siste-
Referências Província Borborema - Nordeste do Brasil. PhD Thesis, Nordeste Oriental do Brasil, Escala 1/1 000 000. Tese ma Orogênico Sergipano, Nordeste do Brasil, Stock Gló-
Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, São de Livre Docência, Instituto de Geociências, Univer- ria Sul. Brazilian Journal of Geology, 46:63-77. https://
Accioly A.C.A. 2000. Geologia, Geoquímica e signi- Paulo, 243 p. https://doi.org/10.11606/T.44.2014.tde- sidade de São Paulo, São Paulo, 250 p. https://doi.or- doi.org/10.1590/2317-4889201620150044
ficado tectônico do Complexo Metanortositico de Passira, 25092014-144415 g/10.11606/T.44.2013.tde-30102013-131731 Condie, K.C. 1982. Early and Middle Proterozo-
Província Borborema, Nordeste Brasileiro. PhD Thesis, Araújo, C.G.E., Cordani, U. G., Agbossoumoude, Y., Brito Neves B.B. & Silva Filho A.F. 2019. Superter- ic supracrustal successions and their tectonic settings.
Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, São Caby, R., Basei, M. A. S.; Weinberg, R. F., Sato, K. 2016. reno Pernambuco-Alagoas na Província Borborema: en- American Journal of Science, 282:341-357. https://doi.
Paulo, 168 p. https://doi.org/10.11606/T.44.2001.tde- Tightening-up NE Brazil and NW Africa connections: saio de regionalização geotectônica. Geologia USP. Série org/10.2475/ajs.282.3.341
27102015-130049 New U-Pb/Lu-Hf zircon data of a complete plate tecton- Científica, 19:3-28. https://doi.org/10.11606/issn.2316- Cordani, U. G., Brito Neves, B. B., D´ Agrella Fil-
Accioly A.C.A., Santos C.A., Santos E.J., Brito Neves ic cycle in the Dahomey belt of the West Gondwana Oro- 9095.v19-148257 ho, S. D. 2003 From Rodinia to Gondwana: a review of
B.B., Rodrigues J.B., McReath I. 2010. Geochronology gen in Togo and Benin. Precambrian Research, 276: 24- Brito Neves B.B., Santos E.J., Fuck R.A., Santos the available evidences from South America. Gondwana
and Geochemistry of the Meta-volcanic Rocks from Ria- 42. https://doi.org/10.1016/j.precamres.2016.01.032 L.C.M.L. 2016. A preserved early Ediacaran magmat- Research, 6: 275-283. https://doi.org/10.1016/S1342-
cho do Tigre Complex, Borborema Province, Northeast Araújo, C.G.E., Cordani, U. G., Basei, M.A.S., ic arc at the northernnmost portion of the Transversal 937X(05)70976-X
brazil. In: 7th South American Symposium on Isotope Castro, N. A., Sato, K., Sproesser, W. M. 2012 - U-Pb Zone, central subprovince of the Borborema Prov- Cordani, U.G., Brito Neves, B.B., Fuck, R.A., Porto,
Geology. Brasilia-DF, Extended Abstracts, p. 24-27. detrital zircon provenance of metasedimentary rocks ince, northeastern South America. Brazilian Journal of R., Thomaz Fillho, A., Cunha, F.M.B.1984. Estudo Pre-
Alcântara D.C.B., Uhlein A., Caxito F.A, Dussin I., from the Ceará Central and Médio Coreaú Domains, Geology, 46:491-508. https://doi.org/10.1590/2317- liminar de Integração do Pré-Cambriano com os eventos
Pedrosa–Soares A.C. 2017. Stratigraphy, tectonics, and Borborema Province, NE-Brazil: Tectonic implications 4889201620160004 tectônicos das bacias sedimentares brasileiras. Ciência.
detrital U-Pb (LA-ICP-MS) geochronology of the Rio for a long-lived Neoproterozoic active continental mar- Brito Neves B.B., Spröesser W.M., Petronilho L.A., Técnica. Petróleo, 14:1-70.
Preto Belt and northern Paramirim corridor, NE Brazil. gin. Precambrian Research, 206-207: 36-51. https://doi. Souza S.L. 2013. Contribuição à Geologia e Geocrono- Cordani, U.G., Brito Neves, B.B., Fuck, R.A., Porto,
Brazilian Journal of Geology, 47:261-273. https://doi. org/10.1016/j.precamres.2012.02.021 logia do Terreno Rio Capibaribe (TRC, Província Bor- R., Thomaz Filho, A., Cunha, F.M.B. 2009. Estudo Pre-
org/10.1590/2317-4889201720160102 Araújo C.E.G., Rubatto D., Hemann J., Cordani borema). Geologia USP. Série Científica, 13(2):97-122. liminar de Integração do Pré-Cambriano com os eventos
Almeida F.F.M., Hasui Y., Brito Neves B.B., Fuck U.G., Caby R., Basei M.A.S. 2014a. Ediacaran 2, 500km https://doi.org/10.5327/Z1519-874X2013000200006 tectônicos das bacias sedimentares brasileiras (atualiza-
R.A. 1981. Brazilian Structural Provinces: an intro- long synchronous deep continental subduction in the Brito Neves B.B., Van Schums W.R., Santos L.M. ção). Boletim de Geociências da Petrobras, 17: 205-219.
duction. Earth Sciences Reviews, 17:1-09. https://doi. West Gondwana Orogen. Nature Communications, 2020. The Alto Moxotó Terrane- A fragment of Rodinia Cordani, U.G., Pimentel, M.M., Araújo, C.G.E.,
org/10.1016/0012-8252(81)90003-9 5:5198. https://doi.org/10.1038/ncomms6198 Supercontinent branching the Zona Trasnversal, Bor- Fuck, R.A. 2013. The significance of the Trans-
Araújo C.E.G. 2014. Evolução tectônica da margem Araújo, C.G.E., Weinberg, R. F., Cordani, U. G. borema Province- NE Brazil. Brazilian Journal of Geolo- brasiliano-Kandi tectonic corridor for the amal-
ativa Neoproterozoica do Orógeno Gondwana Oeste 2014b. Extruding the Borborema Province (NE-Brazil): a gy, (in peer review). gamation of West Gondwana. Brazilian Journal of

246 247
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 10

Geology, 43: 583-597. https://doi.org/10.5327/Z2317- ics. Precambrian Research, 311: 167-194. https://doi. cal Society Special Publication, 294, 422p. https://doi. Rocha Neto M.B., Jost H., Kuyumjian R. (2014). Me-
48892013000300012 org/10.1016/j.precamres.2018.04.008 org/10.1144/SP294 talogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras. Brasília,
Costa F.G., Klein E.L., Lafon J.M., Milhomem Neto Howell D.G. 1995. Principles of Terrane Analysis: Pessoa, D. A. R., 1976. Estudo geocronológico das ro- CPRM- Serviço Geológico do Brasil, p. 343-388.
J.M., Galarza M.A., Rodrigues J.B., Naleto J.L.C., Lima New Applications for the Global Tectonics. 2.ed. Lon- chas policíclicas do Complexo São Vicente nos anticlinórios Santos E.J., Van Schmus W.R., Kozuch M., Brito Ne-
R.G.C. 2018. Geochemistry and U-Pb-Hf zircon data for don, Chapman & Hall, 235p. (Topics in the Earth Sci- de Caicó e Florânia. Dissertação de Mestrado. Intituto de ves B.B. 2010. The Cariris Velhos tectonic event in North-
plutonic rocks of the Troia Massif, NEE Brazil; Evidence ences, 8). Geociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 110 p. east Brazil. Journal of South American Earth Sciences,
for reworking of Archean and Juvenile Paleoproterozoic Humphrey F.L. & Allard G.O. 1962. Geologia Pré- https://doi.org/10.11606/D.44.2016.tde-01022016- 29:61-76. https://doi.org/10.1016/j.jsames.2009.07.003
crust during Rhyacian accretionary and collisional tec- Cretáceo do Estado de Sergipe e partes adjacentes do Es- 110123 Sato E.N., Almeida T.I.R., Dias V.M., Yamamoto
tonics. Precambrian Research, 311:167-194. https://doi. tado da Bahia. In: 16º Congresso Brasileiro de Geologia. Pitarello M.Z., Santos T.S, Ancelmi M.F. 2019. J.K., Cavallaro, F.A., Santana W.R.R. 2013. Index and
org/10.1016/j.precamres.2018.04.008 Porto Alegre, SBG, Anais. Syn-to psot-depositional processes related to high maps of probability maps of occurrences of iron ore de-
Daly M.C., Fuck R.A., Juliá J., Mcdonald D.I.M., Hurley P.M. (coord.). 1967. Test of continental Drift grade metamorphic BIFs: Geochemical and geochro- posits: A proposed geophysical approach developed in
Watts A.B. 2018. Cratonic basin formation: a case by comparison of radiometric ages. Science, 157: 495- nological evidences form a Paleo to Neoarchean (3.5- Curral Novo do Piauí (PI) State- Brazil. Revista Brasileira
study of the Parnaíba Basin of Brazil. Geological Soci- 500 https://doi.org/10.1126/science.157.3788.495 2.6) terrane in NE Brazil. Journal of South American de Geofísica, 31: 365-374. http://dx.doi.org/10.22564/
ety, London, Special Publications, 472:1-15. https://doi. Jardim de Sá E.F. 1994. A Faixa Seridó (Província Earth Sciences, 96:1-23. https://doi.org/110.1016/j. rbgf.v31i3.311
org/10.1144/SP472.20 Borborema, NE do Brasil) e seu significado geodinâmico jsames.2019.102312 Schobbnehaus C., Campos D.A., Derze G.R., As-
Dantas E.L. 1996. U-Pb e Sm-Nd de terrenos arque- na cadeia Brasiliana-PanAfricana. PhD Thesis, Instituto Pitombeira J.P.A. 2019. Evolução crustal e geoeconô- mus H.E. 1981. Mapa Geológico do Brasil e da area
anos e paleoproterozoicos do Maciço caldas Brandão, de Geociências, Universidade de Brasília, 803 p. mica do complexo granítico-migmatitico Pacatuba-Ma- oceanic adjacent. Inlcuindo Depósitos Minnerais, Es-
NE do Brasil. PhD Thesis, Universidade Estadual Pau- Kozuch M. 2003. Isotopic and trace element ranguape, Ceará Central, Provícia Borborema. Disserta- cala 1:2.500 000. Brasília, Departamento Nacional da
lista, Rio Claro, 206 p. geochemistry in the rocks of Cariris Velhos Orogen ção de Mestrado, Instituto de Geociências, Universidade Produção Mineral, 501 p.
Dantas E.L., De Souza, Z.S., Werncik, E., Hacks- of the Borborema Province, Brazil and their bearing Estadual de Campinas, 128 p. Sial A.N. & Ferreira V.P. 2016. Magma association in
pacher, P.C., Martin, H., Xiaodong, D., Wei-Li, J., tectonic setting. PhD Thesis, Kansas University, Law- Sá, J. M. 1991. Evolution Geodynamique de La cein- Ediacaran granitoids of the Cachoeirinha-Salgueiro and
2013. Crustal growth in the 3,4-3,7Ga. São José do wrence-KS, 199 p. ture proterozoic d´Orós, Nord-Est Brazil. PhD Thesis. Alto Pajeú terranes, Northeast Brazil: forty years of stud-
Campestre Massif. Borborema Province, NE Brazil. Lages G.A., Santos L.C.M.L., Brasilino R.G., Ro- Universidade de Nancy-França, Nancy, 178 p. ies. Journal of South American Earth Sciences, 68:113-
Precambrian Research, 227: 120-156. https://orcid. drigues J.B., Dantas E. 2019. Statherian-Calymmian (ca. Sá J.M., Bertrand J.M., Leterrier J., Macedo M.H.F. 133. https://doi.org/10.1016/j.jsames.2015.10.005
org/0000-0003-2125-3050 1.6 Ga) magmatism in the Alto Moxotó terrane, Borbore- 2002. Geochemistry and geochronology of pre-brasilia- Silva Filho M.A. & Brito Neves B.B. 1979. O Sis-
D’el Rey Silva L.J.H. 1992. Tectonic evolution of ma Province, Northeast Brazil: implications for the with- no rocks from the Transversal Zone, Borborema Prov- tema de Dobramentos Sergipano no Nordeste da Bahia.
the Souhtern Part of the Sergipano Fold Belt. North- in plate and coeval collisional tectonics in West Gondwa- ince, Northeast Brazil. Journal of South American Earth Geologia e Recursos Minerais da Bahia, Textos Bási-
eastern Brazil. PhD Thesis, Royal Holloway Universi- na. Journal of South America Earth Sciences, 91:116-130. Sciences, 14:851-866. https://doi.org/10.1016/S0895- cos, 1: 203-217.
ty, London, U.K., 160 p. https://orcid.org/10.13140/ https://doi.org/10.1016/j.jsames.2019.02.003 9811(01)00081-5 Silva Filho A.F., Guimarães I.P., Ferreria V.P., Ar-
RG.2.1.1928.1763 Magini C. & Hackspacher P.C. 2008. Geoquimi- Sá J.M., Souza L.C., Legrand J.M., Galindo A.C., mstrong R., Sial A.N. 2010. Ediacaran Águas Belas
Ebert H. 1970. The Precambrian Geology of the ca e ambiência tectônica do arco magmático de Perei- Maia H.N., Philipp R.R. 2014. U-Pb and Sm-Nd data pluton, Northeastern Brazil: Evidence on age, emplace-
Borborema Belt. (states of Paraiba an Rio Grande do ro, região nordeste da Província Borborema. Revista of the Rhyacian and Statherian Ortohgneisses form ment and magma sources during gondwana amalgama-
Norte, Northeast Brazil) and the origin of its mineral re- Brasileira de Geociências, 38:336-355. https://doi. Rio Piranhas –Seridó and Jaguaribeano Terranes, Bor- tion. Gondwana Research, 17(4):676-687. https://doi.
sources. Geologische Rundschau, 59:1299-1326. org/10.25249/0375-7536.2008382336355 borema Province, Northeast Brazil. Geologia USP. Série org/10.1016/j.gr.2009.10.002
Egydio Silva M. 1987. O sistema de Dobramentos Medeiros V. 2004. Evolução geodinâmica e condicio- Científica, 14:97-110. https://doi.org/10.5327/Z1519- Silva T.R., Ferreira V.P., Lima M.C., Sial A.N., Silva
Rio Preto e sua relação com o Cráton do são Francis- namento estrutural dos terrenos Piancó-Alto Brígida e Alto 874X201400030007 J.M.R. 2015. Sinkinematic emplacement of the mag-
co. PhD Thesis, Instituto de Geociências, Universida- Pajeú, domínio da Zona Transversal, NE do Brasil. PhD Salgado S.S., Ferreira Filho C.F., Caxito F.A., Uhlein matic epidote bearing Major Isidoro tonalite- granite
de de São Paulo, São Paulo, 141 p. https://orcid.or- Thesis, Centro de Ciências Exatas e da Terra, Universida- A., Dantas E.L., Stevenson R. 2016. The Ni-Cu-PGE batholith: Relicts of an Ediacaran continental arc in the
g/10.11606/T.44.1987.tde-11022014-150431 de Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 185 p. mineralized Brejo Seco, mafic-ultramafic layered intru- Pernambuco-alagoas domain, Borborema Province, NE
Fetter A. H. 1999. U-Pb and Sm-Nd geochronolog- Oliveira R.G. 1998. Arcabouço Geotectônico da Re- sion, Riacho do Pontal Orogen: Onset of Toniana (ca. Brazil, Journal of South American Earth Sciences, 64:
ical constraints on the crustal framework and geologic gião da Faixa Riacho do Pontal, Nordeste do Brasil: Dados 900Ma.) continental rifting in Northeast Brazil. Journal 1-13. https://doi.org/10.1016/j.jsames.2015.09.002
history of the Ceará State, NW Borborema Province, NE Aeromagnéticos e Gravimétricos. Dissertação de Mestra- of South American Earth Sciences, 70:324-339. https:// Silva M.G., Rocha Neto M.B., Jost H., Kuyumjian
Brazil: implications for the assembly of Gondwana. PhD do, Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, doi.org/10.1016/j.jsames.2016.06.001 R. (eds.). 2014. Metalogênese das Províncias Tectônicas
Thesis, Department of Geology, Kansas University, Law- São Paulo, 150 p. https://doi.org/10.11606/D.44.1998. Santos E.J. 1995. O complexo granítico Lagoa das Brasileiras. Belo Horizonte, CPRM- Serviço Geológico
rence-KS, USA, 164 p. tde-26102015-163119 Pedras: acresção e colisão na região de Floresta (Per- do Brasil, 589 p.
Fetter A.H., Santos T.S., Van Schmus W.R., Oliveira R.G. 2008. Arcabouço geofísico, isostasia e nambuco), Província Borborema. PhD Thesis, Instituto Souza Z., Martin H., Peucat J.J., Jardim de Sá E.F.,
Hakspacher P.C., Brito Neves B.B., Arthaud M.H., causas do magmatismo cenozoico da Província Borborema de Geociências, Universidade de São Paulo, São Pau- Macedo M.H.F. 2007. Calc-Alkaline magmatism at the
Nogueira Neto J. 2003. Evidences for a Neoprotero- e de sua Margem Continental (Nordeste do Brasil). PhD lo, 225 p. https://doi.org/10.11606/T.44.1995.tde- Archean-Proterozoic Transition: the Caicó Complex
zoic magmatic arc in the Santa Quiteria batholith of Thesis, Centro de Ciências Exatas e da Terra, Universida- 28102015-094036 Basement (NE Brazil). Journal of Petrology, 48:2149-
Ceará State, NW Borborema Province, Ne Bazil. Im- de Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 411 p. Santos E.J. 1996. Ensaio Preliminar sobre terrenos 2185. https://doi.org/10.1093/petrology/egm055
plications for the assembly of W Gondwana. Gond- Oliveira R.G. & Medeiros W.E. 2018. Deep crust- e tectônica acrescionária na Província Borborema. In: Van Schmus W.R., Brito Neves B.B., Williams I. S.,
wana Research, 6:265-273. https://doi.org/10.1016/ al framework of the Borborema Province, NE Brazil, 39º Congresso Brasileiro de Geologia. Salvador, SBG, Hackspacher P.C., Fetter A. H., Dantas E.L., Babinski M.
S1342-937X(05)70975-8 derived from gravity and magnetic data. Precambrian Anais, p. 47-50. 2003. The Seridó Group of NE Brazil, a late Neopro-
Gibbons W. 1994. Suspect Terranes. In: Hancock Research, 315:45-65. https://doi.org/10.1016/j.precam- Santos T.J.S., Fetter A.H., Hackspacher P.C., Vans terozoic pré-to-syn collisional basin in West Gondwana:
P.L. (ed.) Continental Deformation. Oxford, Pergamon res.2018.07.004 Schmus W.R., Nogueira Neto J.A. 2008. Neoproterozoic insights from SHRIMP U-Pb detrital zircon ages and
Press, p. 305-319. Oliveira E.P., Windley B.F., Araújo M.N.C. 2010. tectonic and magmatic episodes in the NW sector of Bor- Sm-Nd crustal residence (TDM) ages. Precambrian Re-
Grandjean Costa, F., Klein, E.L., Lafon, J.M., The Neoproterozoic Sergipano Orogenic belt, NE Bra- borema Province, NE Brazil, during assembly of Western search, 127(4):287-327. https://doi.org/10.1016/S0301-
Milhomem Neto, J.M., Galarza, M., Rodrigues, J.B., zil: a complete plate tectonic cycle in Western Gond- Gondwana. Journal of South American Earth Sciences, 9268(03)00197-9
Naleto, J.L.C., Lima, R.G.C., 2018. Geochemical of wana. Precambrian Research, 181:64-84. ttps://doi. 25:271-284. https://orcid.org/0000-0003-2125-3050 Van Schmus W.R., Kozuch M., Brito Neves B.B.
U-Pb-Hf data from plutonic rocks of the Troia Massif, org/10.1016/j.precamres.2010.05.014 Santos E.J., Souza Neto J.A., Silva M.R., Beurlen H., 2011. Precambrian history of the Zona Transversal of
Borborema Province, NE Brazil: Evidence for rework- Pankhurst R.J., Trouw R.J., Brito Neves B.B., De Cavalcanti J.A., Silva M.G, Das V.M., Cota A.F, Santos the Borborema Province, NE Brazil. Journal of South
ing of Archan and Juvenile paleoproterozoic crust Wit M.J. 2008. West Gondwana: Pre-Cenozoic Cor- L.C.M.L., Santos R.B. 2014. Metalogênese das porções American Earth Sciences, 31:227-252. https://doi.
during Rhyacian accretionary and collisional tecton- relations Across the South Atlantic Region. Geologi- norte e central da Província Borborema. In: Silva M., org/10.1016/j.jsames.2011.02.010

248 249
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 11

O Orógeno Araçuaí Dentre as muitas outras contribuições científicas de Cordani, cele-


à luz da Geocronologia: bradas nos capítulos deste livro, nos coube concretizar a homenagem
que aqui se apresenta como uma evolução de conhecimento geocro-
um tributo a Umberto Cordani nológico, desde os anos 1960 ao fim da presente década, sem a qual o
Orógeno Araçuaí jamais teria sido conceitualmente construído, a muitas
Antonio Carlos Pedrosa-Soares, mãos, por uma sucessão de descobertas e caracterizações de componen-
Universidade Federal de Minas Gerais, tes geotectônicos previsíveis à luz da Teoria da Tectônica de Placas.
Centro de Pesquisa Manoel Teixeira da Costa
Além disso, destacamos a atuação de Cordani na formação de cien-
Antonio Carlos Pedrosa-Soares. (pedrosasoares@gmail.com). Cristiano de Carvalho Lana.
tistas brasileiros e sua inserção no cenário internacional em decorrência
Carolina Deluca,
das muitas oportunidades por ele oferecidas a pesquisadores de diversas
Universidade Federal de Minas Gerais,
Centro de Pesquisa Manoel Teixeira da Costa instituições, e do seu permanente incentivo para que a comunidade ge-
(cdelucam@gmail.com). ocientífica atuante no Brasil transmita o conhecimento geológico aqui
Cristina Santos Araujo, produzido nos mais diversos palcos e mídias das Geociências.
Universidade Federal de Minas Gerais,
Centro de Pesquisa Manoel Teixeira da Costa
(crsantosaraujo@gmail.com). 2. Crátons versus orógenos
Camila Gradim,
Universidade Federal de Minas Gerais, Na década de 1960, o nascente acervo de dados geocronológicos
Centro de Pesquisa Manoel Teixeira da Costa K-Ar e Rb-Sr deu início a uma nova era no conhecimento do Pré-
(gradim_camila@yahoo.com.br). Cambriano do Brasil. É importante lembrar que a produção de dados
Cristiano de Carvalho Lana, geocronológicos sobre amostras do território brasileiro, concentrada
Carolina Deluca. Ivo Dussin.
Universidade Federal de Ouro Preto, no Centro de Pesquisas Geocronológicas (CPGeo) da USP, começou
Departamento de Geologia
antes mesmo do mapeamento geológico sistemático do território, ha-
(cristianodeclana@gmail.com).
vendo raras áreas cobertas por mapas articulados (como o Quadri-
Ivo Dussin,
látero Ferrífero de Minas Gerais). Contudo, nas décadas de 1960 a
Universidade Estadual do Rio de Janeiro,
Faculdade de Geologia 1980, a proliferação de idades K-Ar e Rb-Sr pelo território brasileiro
(ivodusin@yahoo.com.br). foi fundamental para as definições e delimitações dos crátons e faixas
Luiz Carlos da Silva, orogênicas que compõem o substrato continental, muitas das quais
Serviço Geológico do Brasil – CPRM permanecem total a parcialmente válidas até o presente (vide Alkmim
(luizsilva.cp2012@gmail.com). e Cruz, neste livro).
Marly Babinski, Àquela época, Cordani participou do artigo de Hurley et al. (1967)
Universidade de São Paulo, que demonstrou, com base em dados geocronológicos, a existência de
Instituto de Geociências ligações continentais entre América do Sul e África no Pré-Cambriano,
Cristina Santos Araujo. (babinski@usp.br). sendo uma delas a conexão entre a região leste da Bahia e sua contra- Luiz Carlos da Silva.
parte no Gabão, a qual teria sido poupada de orogenia após ca. 2 Ga.
1. Introdução Neste contexto, Cordani et al. (1968) delinearam uma faixa orogênica
brasiliana que delimitaria o Cráton do São Francisco na região fron-
A geocronologia absoluta é um ramo científico resiliente, porque teiriça entre o sudeste da Bahia e o nordeste de Minas Gerais. Dando
seus métodos analíticos se sucedem rapidamente em busca de resulta- continuidade a esta investigação, Cordani obteve dados K-Ar e Rb-Sr
dos radiométricos mais precisos e reprodutíveis, demandando criati- de grande número de amostras coletadas na região costeira entre Sal-
vidade e produtividade de laboratórios sofisticados e caros, em face vador e Vitória, apresentados e interpretados em sua Tese de Livre
de resistências de toda sorte. Resiliente também tem sido Umberto Docência (Cordani, 1973), e parcialmente publicados em Torquato e
Cordani, cientista e pioneiro da geocronologia absoluta no Brasil, em Cordani (1981). Nesta tese aparece a formalização de um limite ge-
sua imensa contribuição para o entendimento da evolução geológica ocronológico entre o que Cordani definiu como uma faixa orogêni-
da América do Sul e, especificamente, por seu trabalho para a carac- ca brasiliana, a qual correlacionou à Faixa Ribeira, de Almeida et al.
terização de um intrigante setor orogênico da região leste-sudeste do (1973), e a região oriental do Cráton do São Francisco, na Bahia (figu-
Camila Gradim. Brasil: o Orógeno Araçuaí. ra 1). Segundo Cordani (1973), este limite geocronológico (ou seja, a Marly Babinski.

250 251
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 11

Figura 2: Recorte
simplificado do mapa
de Almeida (1977),
mostrando a deli-
mitação da Faixa de
Dobramentos Araçuaí
em relação ao Cráton
do São Francisco e ao
domínio das “estruturas
pré-brasilianas”.

a faixa orogênica brasiliana da região de Itapebi ao norte de Paramirim, separando


o Cráton de Salvador, a leste, do que restou do Cráton do São Francisco, a oeste
(figura 1). O trabalho de Cordani se tornou marco de referência no debate sobre a
existência de um ou mais crátons na região ocupada pelo Cráton do São Francisco,
como está historiado em Alkmim e Cruz (capítulo 3 da primeira parte deste livro).
Figura 1: Mapa de correlação fronteira cráton-orógeno) coincidiria com uma importante feição tec- Em meio à turbulência dos acirrados debates sobre o Cráton do São Francisco,
geotectônica apresentado por
Cordani (2017, adaptado de tônica que denominou Falhamento de Itapebi (uma extensa zona de Almeida (1977) fez uma detalhada revisão dos limites cratônicos impostos pelas fai-
Cordani, 1973; com cidades cisalhamento de direção NW-SE; cf. Alkmim et al., 2006), separando o xas orogênicas brasilianas, com base nas relações tectônicas e geocronológicas entre
acrescentadas para apoio ao domínio de idades brasilianas, a sul, do domínio de idades mais antigas unidades brasilianas e aquelas consideradas mais antigas. Assim, Almeida (1977) de-
texto). A região balizada por
Araçuaí, Itapebi e Vitória era contido na região cratônica, a norte (figura 1). É importante ressaltar, finiu a Faixa de Dobramentos Araçuaí como marcadora do limite sudeste do Cráton
considerada como uma faixa como mostra a figura 1, que tanto Cordani como os demais autores do São Francisco, após caracterizar a ampla curvatura delineada pela trama estrutural
orogênica antiga, mas retraba- que abordaram esse tema (e.g., Almeida et al., 1973) consideravam, à brasiliana na região a sul de Caculé (figura 2). Esta curvatura (hoje chamada Saliência
lhada pelo Evento Brasiliano.
época, que a grande maioria das rochas graníticas e de alto grau me- do Rio Pardo; Peixoto et al., 2018) se articula, a oeste, com o ramo N-S da Faixa
tamórfico seriam mais antigas (“transamazônicas ou embasamento”) e Araçuaí e, a leste, com a Zona de Cisalhamento de Itapebi, o divisor geocronológico
teriam sido apenas retrabalhadas pelo Evento Orogênico Brasiliano. que Cordani, em 1973, chamou de Falhamento de Itapebi. É importante lembrar
As correlações geológico-geocronológicas com a África, apresentadas que a definição original da Faixa Araçuaí incluiu apenas o domínio das estruturas
por Cordani (1973), consolidaram a importância da ponte continental brasilianas mostrado na figura 2, pois a região oriental, rica em rochas graníticas e
pré-Atlântica entre as regiões cratônicas de Bahia e Gabão, além de de alto grau metamórfico, continuou sendo considerada como uma unidade geotec-
destacar as correspondências entre as faixas orogênicas brasilianas e tônica composta de rochas mais antigas (a Faixa Paraíba ou Ribeira; Cordani et al.,
pan-africanas que limitam estas áreas cratônicas (figura 1). Mas Cor- 1968; Cordani, 1973; Almeida et al., 1973) que teriam sido apenas retrabalhadas
dani (1973), retomando o que prenunciou em Cordani et al. (1968), pelo “Ciclo Geotectônico Brasiliano” (Almeida, 1977).
voltou sua principal atenção para o recém-definido Cráton do São O limite entre a Faixa Araçuaí e o Cráton do São Francisco ficou bem estabe-
Francisco (Almeida, 1967; Almeida et al., 1973) e, lançando mão dos lecido a partir de Almeida (1977), tendo sido apenas aprimorado em detalhamen-
marcantes traços estruturais de direção NW-SE e correspondentes ida- tos posteriores (cf. Alkmim et al., 2006, 2017). Entretanto, a definição de Almeida
des K-Ar no intervalo 450-650 Ma (Távora et al., 1967), prolongou (1977) deixou em aberto os limites meridional e oriental da Faixa Araçuaí, causando

252 253
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 11

frequentes conflitos de nomenclatura na literatura sobre a região, particularmente Assim, ao final da década de 1990, o cenário para a redefinição do conceito de fai-
quanto ao uso dos termos Araçuaí e Ribeira, até que o acúmulo de dados analíticos xa para orógeno estava montado. Então, com base na descoberta de corpos ofiolíticos
e a expansão da cobertura de mapas geológicos sistemáticos levassem à revisão dos neoproterozoicos, na identificação dos estágios pré-colisional (Arco Magmático Rio
conceitos e consequente caracterização do Orógeno Araçuaí (ver síntese em Pedrosa- Doce), colisional (rochas graníticas tipo S foliadas e migmatizadas) e pós-colisional
Soares et al., 2007). (intrusões pós-foliação regional) da evolução brasiliana, e na correlação entre as faixas
Araçuaí e Congo Ocidental foi definido o Sistema Orogênico Araçuaí – Congo Ociden-
tal (AWCO) para referir o edifício litotectônico brasiliano – pan-africano confinado à
3. De faixa de dobramentos a Orógeno Araçuaí grande reentrância delineada pelos crátons do São Francisco e Congo (Pedrosa-Soares
et al., 2001). Portanto, o AWCO engloba um conjunto de componentes geotectônicos
Virada a década de 1970, mas ainda em tempos de geocronologia K-Ar e Rb-Sr, ro- que caracterizam um orógeno colisional (rico em granitos tipo S) sucessor de um oró-
chas que anteriormente eram consideradas mais antigas passaram a ser cronologicamen- geno acrecionário de margem continental ativa (com arco magmático cálcio-alcalino)
te redefinidas, ao passo que também avançava o mapeamento geológico dando maior que, por sua vez, sucedeu um completo sistema de bacias precursoras, com corpos
suporte às correlações locais e regionais. De fato, os projetos de mapeamento geológico ofiolíticos e sucessões de margem continental passiva que se seguiram à sedimentação
sistemático da CPRM (http://geosgb.cprm.gov.br/) e CODEMIG (http://www.portal- e magmatismo de rifte continental, conforme sumarizado nos itens seguintes deste
geologia.com.br/), executados por equipes próprias ou em parceria com universidades capítulo e referências bibliográficas neles citadas.
(destacando-se a UFMG, que produziu a cartografia geológica sistemática de cerca de Desde Cordani (1973) e Torquato e Cordani (1981) já se descortinava a caracterís-
400.000 km2 em Minas Gerais e Espírito Santo: http://cpmtc-igc-ufmg.org/laboratorios6. tica singular do AWCO, ou seja, sua localização no interior de uma grande reentrância
htm), acabaram por cobrir toda a região aqui enfocada. Some-se a isto o crescente núme- moldada no Cráton São Francisco – Congo. Isto decorre da relação entre os crátons do
ro de trabalhos publicados, dissertações e teses sobre aquela região. São Francisco e Congo que permaneceram pelo menos parcialmente ligados desde o
Em dissertação de mestrado que teve a orientação de Cordani, grande número evento orogênico do limiar Riaciano – Orosiriano (ca. 2,05 Ga) até a abertura do Oce-
de corpos graníticos situados no nordeste de Minas Gerais foi cronologicamente ano Atlântico Sul, no Cretáceo, por meio da ponte continental que uniu as regiões de
organizado em episódios de magmatismo sin- a tardi-tectônico (650-550 Ma), tar- Bahia e Gabão (vide síntese em Degler et al., 2018). Este cenário induziu, inicialmente, à
di- a pós-tectônico (550-500 Ma) e pós-tectônico a anorogênico (500-450 Ma) por interpretação da “Faixa Araçuaí – Congo Ocidental” como exclusivamente ensiálica (cf.
Siga-Junior (1986; vide também Siga-Junior et al., 1987), com base em mais de uma síntese em Trompette, 2004) até que as descobertas de corpos ofiolíticos, arco magmá-
centena de datações Rb-Sr e K-Ar, e alguns dados U-Pb. Embora estes intervalos tico e abundante plutonismo tipo S, dentre outros fatos, aportassem novos argumentos
de tempo tenham sido posteriormente revistos em decorrência do crescente acervo para sua reinterpretação. A partir daí, o sistema de bacias precursoras do AWCO passou
de idades U-Pb, o trabalho de Siga-Junior (1986) foi um importante passo para a a ser consistentemente interpretado como um amplo golfo (uma inland sea-basin com
demonstração de que as rochas graníticas da região a leste de Araçuaí formaram-se área mínima de 1 milhão de km2) parcialmente oceanizado e articulado com aulacóge-
durante a Orogenia Brasiliana, não se tratando, portanto, de rochas mais antigas que nos (Pedrosa-Soares et al., 2001, 2007, 2008, 2017; Alkmim et al., 2006, 2017; Amaral
apenas teriam sido retrabalhadas nesse evento orogênico. et al., 2020), mas conectado, via Faixa Ribeira, ao Oceano Adamastor (Cordani et al.,
Como um dos temas centrais de seu doutorado, o primeiro autor deste capí- 2003; Corrales et al., 2020). Embora largamente cercado pela mesma massa cratônica (o
tulo buscou responder a um desafio contido na definição da Faixa Araçuaí como Cráton São Francisco – Congo; ou seja, sem envolvimento de placas distintas), o oróge-
“geossinclinal alpinótipo” (Almeida, 1977): onde estariam os ofiolitos tão comuns no colisional resultante (o AWCO) contém corpos ofiolíticos, arco magmático e volumo-
nas faixas orogênicas do tipo alpino? Esta questão foi esclarecida nos trabalhos de sos plutonismos colisional e pós-colisional. Este edifício colisional singular foi designado
Pedrosa-Soares et al. (1992, 1998) e Pedrosa-Soares (1995) que, sustentados por ma- como orógeno confinado (Pedrosa-Soares et al., 2001, 2017; Rogers e Santosh, 2004),
peamento de detalhe, análises litoquímicas e geoquímica isotópica Sm-Nd, relatam visando caracterizar um termo intermediário entre os clássicos orógenos colisionais de
a descoberta de remanescentes ofiolíticos na Faixa Araçuaí, de onde novos achados margem de placa (que têm ofiolitos, arcos magmáticos, e abundantes plutonismos coli-
e estudos recentes de restos oceânicos encontram-se em Queiroga (2010), Peixoto et sional e/ou pós-colisional; e.g., Brasília, Grenvilleano, Himalaias) e os típicos orógenos
al. (2015) e Amaral et al. (2020). intracontinentais (ou ensiálicos, os quais são desprovidos de ofiolitos e têm pouco a
Paralelamente, Figueiredo e Campos-Neto (1993), Nalini-Junior (1997), Na- nenhum magmatismo orogênico; e.g., Alice Springs, Mongolia Altai, Tien Shan).
lini-Junior et al. (2000a) e Noce et al. (2000), lançando mão de dados geo-
cronológicos (inclusive U-Pb e Pb-Pb em zircão), caracterizaram segmentos do
Arco Magmático Rio Doce (vide síntese em Tedeschi et al., 2016). Embora sem 4. Componentes geotectônicos à luz da geocronologia U-Pb
novos dados geocronológicos, o mapeamento sistemático do Projeto Leste cobriu
grande parte da região oriental de Minas Gerais, agrupando, com base na trama A sistemática de estudos que levou à definição do Orógeno Araçuaí fundamen-
estrutural, rochas graníticas de tipos I e S de acordo com as fases tectônicas da ta-se na caracterização de componentes geotectônicos e estágios evolutivos à luz da
Orogenia Brasiliana (Pinto et al., 2001). Teoria da Tectônica de Placas (cf. Pedrosa-Soares et al., 2001, 2007, 2008, 2017).

254 255
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 11

Os componentes geotectônicos são representados por produtos (i.e., conjuntos de


rochas) originados de processos atuantes durante estágios evolutivos diversos, des-
de os que se referem ao sistema de bacias precursoras até aqueles que resultam na
construção do edifício orogênico. Assim, os conjuntos de rochas que representam
rifte continental (e.g., magmatismo bimodal com granitos ferroanos tipo A), margem
continental passiva (e.g., sucessões arenito-pelito-carbonato) e assoalho oceânico
(e.g., corpos ígneos ofiolíticos) materizalizam componentes geotectônicos represen-
tantes do sistema de bacias precursoras. Por seu turno, arco magmático (magmatismo
cálcio-alcalino, magnesiano, tipo I e bacias associadas (que registram contribuição
sedimentar provida pelo próprio arco), plutonismo peraluminoso (granitos tipos S),
e intrusões tipos A e I representantes de plutonismo tardio representam componen-
tes geotectônicos originados de processos orogênicos. Obviamente, para que cada
componente geotectônico possa ser identificado é necessário que as rochas sejam
mapeadas e bem caracterizadas em termos petrográficos, litoquímicos e isotópicos.
De fato, são grandes os acervos de dados analíticos e de campo, aliados à completa
cobertura de mapas geológicos sistemáticos, que sustentam as contribuições de mui-
tos pesquisadores para a identificação dos componentes geotectônicos do Orógeno
Araçuaí, simplificadamente ilustrados na figura 3. Este mapa mostra conjuntos de
rochas, caracterizadas em campo e laboratório, que compõem os arranjos crono-li-
totectônicos que contam a evolução do Orógeno Araçuaí.
Se a geocronologia K-Ar e Rb-Sr sustentou, nas décadas de 1960 a 1980, as
principais interpretações sobre a evolução geológica da região aqui abordada, foi
a partir dos anos 1990 que a tríplice aliança entre mapeamento geológico sistemá-
tico, estudos geoquímicos e geocronologia U-Pb implantou os alicerces essenciais
para a identificação dos componentes geotectônicos e dos intervalos de tempo a
eles associados no Orógeno Araçuaí. Como Cordani atuou em ambos os estágios de
produção do conhecimento geocronológico sobre o Orógeno Araçuaí, este capítulo
apresenta, em sua homenagem, uma síntese do volumoso acervo de análises de zircão
pelos métodos U-Pb (LA-ICP-MS, SHRIMP e TIMS) e Pb-Pb (evaporação), cujos
dados foram compilados de um número expressivo de publicações (tabela 1). Esta
compilação engloba 5.143 idades, a grande maioria delas obtidas de análises pontu-
ais (spots LA-ICP-MS e SHRIMP), incluindo 1.647 idades referentes ao sistema de
bacias precursoras (riftes 1 e 2, e margem passiva; figura 4), 1.329 ao magmatismo
orogênico (supersuítes G1 a G5; figura 5), 660 aos metamorfismos regional e termal
tardio (figura 5), e 1.507 às bacias orogênicas (figura 6). Não se utilizou trabalhos O Grupo Macaúbas, que tem sido palco de estudos desde o início Figura 3: Mapa geológico
simplificado do Orógeno
que contêm equívocos e incertezas na classificação de rochas que serviram à extração do século passado (cf. Pedrosa-Soares et al., 2011a), está preservado Araçuaí (atualizado após
de zircão ou que apresentam misturas de dados fornecidos por rochas diferentes. como unidade mais extensa e completa do sistema de bacias precurso- Pedrosa-Soares et al.,
ras do Orógeno Araçuaí. Este grupo registra dois processos de riftea- 2007) com indicação de
distritos minerais (cf. Vilela
mento continental na bacia precursora, sendo que o segundo evoluiu et al., 2014; para distritos
5. O Sistema de Bacias Precursoras para margem passiva e abertura oceânica (Pedrosa-Soares e Alkmim da Província Pegmatítica
2011; Kuchenbecker et al., 2015; Amaral et al., 2020). O rifte 1, do Oriental do Brasil ver Pe-
drosa-Soares et al., 2011b).
O sistema de bacias precursoras do Orógeno Araçuaí é representado pelas uni- Toniano Inferior, inclui as rochas sedimentares e vulcânicas do pacote
dades metassedimentares e metavulcânicas do Grupo Macaúbas proximal a transi- depositado abaixo dos diamictitos Macaúbas, ou seja, antes do perí-
cional, sua unidade distal, a Formação Ribeirão da Folha, e seus correlatos como o odo glacial registrado nesse grupo (Bitencourt et al., 2019; Castro et
Grupo Dom Silvério, o Complexo Jequitinhonha, pacotes metaclásticos com inter- al., 2019; Souza et al., 2019). O intervalo de idades balizador deste
calações de metadiamictitos do Vale do Rio Pardo e paragnaisses da Unidade Andre- rifteamento toniano (950-880 Ma) está registrado por datações U-Pb
lândia da região de Manhuaçu (figura 3). (zircão e baddeleyita) de enxames de diques máficos (Dussin, 2017;

256 257
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 11

grafitosos (black shales), metacherts, diopsiditos


sulfetados e formações ferríferas (sedimentos quí-
mico-exalativos), e metabasaltos com assinatura
oceânica, configurando uma bacia que evoluiu de
rifte continental para margem passiva associada
à instalação de crosta oceânica (Pedrosa-Soa-
res et al., 1992, 1998, 2011a; Queiroga, 2010;
Kuchenbecker et al., 2015; Peixoto et al., 2015;
Amaral et al., 2020).
O intervalo de idades (730-670 Ma) que se
associa ao rifte 2 é dado pelas datações de zir-
cões das intrusões da Província Alcalina do Sul
do Estado da Bahia (PASEBA; Teixeira et al.,
1997; Rosa et al., 2007) e idades U-Pb (zircão e
baddeleyita) de rochas vulcânicas (715-690 Ma)
intercaladas em diamictitos da Faixa Congo
Ocidental (Straathof, 2011; Thiéblemont et al.,
2009). A instalação de crosta oceânica associada
à margem passiva sucessora do rifte 2 é balizada
pelas idades U-Pb de zircões de plagiogranito
(ca. 645 Ma) da cunha acrescionária ofiolítica
de Ribeirão da Folha (Amaral et al., 2020) e de
metagabro (ca. 600 Ma) da Suíte Ofiolítica de
Santo Antônio do Grama (Queiroga, 2010).
Os estágios evolutivos do sistema de bacias
precursoras do Orógeno Araçuaí estão também
registrados por grande número de análises U-Pb
em grãos detríticos de zircão (figura 4), a começar
pelas primeiras idades U-Pb SHRIMP de zircões
detríticos do Grupo Macaúbas publicadas em arti-
go de Pedrosa-Soares, Cordani e Nutman (2000).
Os diagramas de idades U-Pb de zircões detríti-
cos mostram uma ampla contribuição de fontes
distintas, cobrindo desde o Paleoarqueano até o
Tabela 1: Referências das fon-
tes de compilação de idades de Evans et al., 2015; Chaves et al., 2019), do vulcanismo máfico asso- início do Ediacarano (figura 4), como se espera
zircão, obtidas pelos métodos ciado ao Grupo Macaúbas Inferior (Castro et al., 2019; Souza et al., de um completo sistema de bacias precursoras que
U-Pb (LA-ICP-MS, SHRIMP e 2019) e do Complexo Plutono–Vulcânico de Salto da Divisa (Silva et evoluiu desde ambientes de rifte continental aos
TIMS) e Pb-Pb (evaporação).
Discordância de corte ≤ 10%; al., 2008; Victoria et al., 2019). de margem passiva e assoalho oceânico. As fontes
*grãos detríticos; **cristais íg- Após longo hiato, registrado por discordância regional, inicia-se a arqueanas são minoritárias em todos os diagra-
neos; ***cristais neoformados evolução do rifte continental 2 até abertura oceânica, do limiar Tonia- mas, sugerindo pouca exposição ou escassez de
e sobrecrescimentos metamór-
ficos em cristais ígneos. no – Criogeniano ao Ediacarano, incluindo desde: (i) as extensas pilhas terrenos arqueanos nas regiões que alimentaram
de metadiamictitos maciços proximais (ocidentais) até os (ii) espessos
pacotes distais portadores de metadiamictitos (fluxos de detritos) estrati-
Figura 4: Curvas de densidade de
ficados com metarenitos e metapelitos (turbiditos) que passam, vertical e probabilidade representando acervos
lateralmente, a (iii) sucessões metarenito – metapelito livres de diamicti- de idades de grãos detríticos de zircão
tos, as quais, ainda mais distalmente, dão lugar a (iv) pacotes compostos extraídos de rochas metassedimenta-
res do sistema de bacias precursoras
de xistos peraluminosos (pelitos pelágicos) com intercalações de xistos do Orógeno Araçuaí (cf. tabela 1).

258 259
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 11

as bacias (figura 4). Em todos os casos, as maiores contribuições devem-se a fontes com
idades em torno de 2,1 Ga, as quais representam importante época de constituição do
embasamento do AWCO e região cratônica adjacente, tanto pela formação de arcos
magmáticos riacianos quanto pelo retrabalhamento metamórfico-anatético com recris-
talização de zircões de unidades mais antigas (cf. Heilbron et al., 2017; Degler et al.,
2018). Outro pico de idades proeminente nos diagramas indica importante atividade
magmática produtora de zircão em torno de 900-950 Ma (figura 4). Isto testemunha,
como apontado por Pedrosa-Soares, Cordani e Nutman (2000), a contribuição do mag-
matismo anorogênico do Toniano Inferior também para depósitos sedimentares do pró-
prio rifte 1 (figura 4D), em decorrência da dinâmica das ombreiras e horsts internos
expostos a soerguimento e erosão contemporâneos ao preenchimento da bacia. O pico
em 900-950 Ma diminui significativamente no registro dos depósitos de margem passiva
(figura 4B) em contraposição ao aumento da contribuição de outras fontes, indicando
que os meios de erosão e transporte de sedimentos atingiram áreas mais amplas e diversi-
ficadas. Os diagramas referentes ao rifte 1 e margem continental passiva mostram contri-
buições significativas de fontes mesoproterozoicas e estaterianas (figura 4D), indicando
proveniências desde o Sistema Espinhaço – Chapada Diamantina (Chemale et al., 2012;
Magalhães et al., 2018) à Faixa Kibarana (Tack et al., 2010; Degler et al., 2017). No rifte
2 aparecem pequenos picos em torno de 700 Ma (figura 4C), ausentes do diagrama do
rifte 1, sugerindo a entrada da contribuição de fontes ígneas criogenianas. Esta contribui-
ção criogeniana aumenta significativamente no estágio de margem passiva que sucede o
rifte 2, indicando aporte de sedimentos da Província Alcalina do Sul do Estado da Bahia
e de arcos magmáticos situados na Faixa Ribeira (Kuchenbecker et al., 2015; Degler et
al., 2017). Idades do fim do Criogeniano e início do Ediacarano sugerem, também, con-
tribuição do Arco Rio Doce para as cunhas acrescionárias com remanescentes ofiolíticos
(Peixoto et al., 2015; Amaral et al., 2020).

6. Magmatismo e Metamorfismo Orogênicos

A cobertura de mapas geológicos sistemáticos, produzidos à luz de conceitos


atualizados, e o crescente número de dados analíticos levaram à separação dos dife-
rentes conjuntos de rochas ígneas plutônicas (e correspondentes metamórficos) que Tabela 2: Principais caracterís-
compõem o núcleo brasiliano do Orógeno Araçuaí, de acordo com suas relações (e correspondentes vulcânicos) que constituem o Arco Rio Doce (e.g., ticas das supersuítes plutô-
de campo, feições tectono-metamórficas, características mineralógico-petrográficas, Gonçalves et al., 2014, 2016, 2018; Tedeschi et al., 2016); volumo- nicas do Orógeno Araçuaí
(modificado de Pedrosa-Soares
assinaturas litoquímicas e isotópicas, e idades de cristalização magmática, resultando sa granitogênese tipo S relacionada essencialmente ao espessamento et al., 2011b; Serrano et al.,
em cinco grandes agrupamentos (Pedrosa-Soares et al., 2001) que, após refinamen- crustal do estágio colisional, mas em parte ao fim do desenvolvimento 2018 e Araujo et al., 2020, e
tos e atualizações, são representados pelas supersuítes G1 a G5 (Pedrosa-Soares et do Arco Rio Doce e máximo estiramento na bacia de retroarco ainda referências aí contidas).
al., 2011b; Serrano et al., 2018; Araujo et al., 2020), sumarizadas na tabela 2. As ro- na transição dos estágios pré-colisional e sincolisional (Gradim et al.,
chas G1 a G5 são diferentes em vários aspectos composicionais e estruturais, os quais 2014; Richter et al., 2016; Melo et al., 2017), assim como à descom-
remetem para diversos processos petrológicos e tectônicos, envolvendo fontes térmi- pressão regional concomitante à cessação dos esforços tangenciais e
cas variadas e fenômenos geodinâmicos distintos, tais como: processos de geração de passagem para o processo de colapso gravitacional, dos estágios tardi-
arco magmático de margem continental ativa relacionados à dinâmica da subducção colisional ao pós-colisional, originando inicialmente a Supersuíte G2,
de litosfera oceânica (incluindo subducção de dorsal e slab break-off), mas com en- sucedida pela Supersuíte G3 (Pedrosa-Soares et al., 2011b; Gradim et
volvimento majoritário de fusões parciais derivadas do embasamento (em particular al., 2014); fusão parcial da crosta profunda por ascensão de manto
dos ortognaisses riacianos, juvenis a moderadamente juvenis, dos complexos Juiz de astenosférico (na forma de hot spot ou pluma regional) relacionada à
Fora e Pocrane; cf. Degler et al., 2018) na gênese dos magmas tipo I da Supersuíte G1 delaminação subcrustal durante o processo de colapso gravitacional

260 261
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 11

no estágio pós-colisional, dando origem às intrusões félsicas tipos A e I, e corpos


máficos associados, englobadas na Supersuíte G5 (Campos et al., 2016; Serrano et
al., 2018) e, em nível crustal mais raso, à Supersuíte G4 (Deluca, 2018).
Em termos geocronológicos, um significativo acervo de idades de zircão permite
delinear com segurança as principais épocas de cristalização magmática e de meta-
morfismo que ocorreram no núcleo do Orógeno Araçuaí (figura 5). Aqui, Cordani
revisitou, quatro décadas após seus estudos pelos métodos K-Ar e Rb-Sr, as rochas
gnáissicas e graníticas da região norte do Espírito Santo, contribuindo com dados
U-Pb que estão consubstanciados no artigo de Gradim et al. (2014).
As 874 idades de cristais de zircão referentes às rochas das supersuítes G1 e G2
delineiam duas curvas bem distintas antes de 585 Ma, mas que tendem a se sobre-
por a partir desta idade rumo a valores mais jovens (figura 5). Como previamente
indicado por Tedeschi et al. (2016), a Supersuíte G1 mostra dois picos principais
de maior cristalização de rochas no Arco Rio Doce, o mais antigo em ca. 620 Ma e
outro, bem mais expressivo, em ca. 589 Ma (figura 5). É importante destacar que
as idades mais jovens de zircões extraídos de rochas G1 (tipo I) tendem a coincidir
com o pico de cristalização magmática dos granitos G2 (tipo S), indicando a forte
influência do estágio colisional sobre o Arco Rio Doce que, particularmente em sua
parte oriental (e.g., Batólito Baixo Guandu), sofreu metamorfismo e migmatização
sin- a tardi-colisionais (Pedrosa-Soares et al., 2011b; Silva et al., 2011; Novo, 2013; Figura 5: Curvas de densidade
Gradim et al., 2014; Tedeschi et al., 2016). A Supersuíte G2, por sua vez, mostra um 520 Ma. O primeiro pico (ca. 563 Ma) corresponde ao clímax do meta- de probabilidade representan-
proeminente pico de cristalização magmática em ca. 582 Ma e um pico menor em do idades de zircões extraídos
morfismo regional do estágio colisional, sendo equivalente ao intervalo de de rochas representantes das
ca. 544 Ma, os quais são dados essencialmente pela distribuição de grande número idades-concórdia de grande parte dos granitos G2 (Pedrosa-Soares et al., supersuítes G1 a G5 (tabela 2),
de idades de spots individuais (figura 5). Entretanto, as idades-concórdia de granitos 2011; Silva et al., 2011; Gradim et al., 2014; Richter et al., 2016; Melo et formadas nos diversos estágios
G2 se espalham no intervalo entre ca. 590 Ma e ca. 540 Ma, com tendência a se con- de magmatismo orogênico
al., 2017; Serrano et al., 2018; Araujo et al., 2020). O segundo pico (ca. brasiliano, e de idades U-Pb
centrar no intervalo 560-570 Ma, ou seja, em torno do pico metamórfico regional de 507 Ma) corresponde ao metamorfismo termal pós-cinemático à foliação dos metamorfismos regional
ca. 563 Ma (figura 5), provavelmente em decorrência da prolongada influência dos regional, contemporâneo do enxame de plútons G4 e G5 (Campos et al., e termal tardio, obtidas de
processos metamórfico-anatéticos sobre granitos G2 (Pedrosa-Soares et al., 2011b; zircões neoformados e sobre-
2016; Deluca, 2018; Serrano et al., 2018; Araujo et al., 2020) e da ampla crescimentos metamórficos em
Silva et al., 2011; Gradim et al., 2014; Richter et al., 2016; Melo et al., 2017). produção de fluidos que promoveram, no intervalo 515-495 Ma, marcan- zircões ígneos (cf. tabela 1).
Os dados de zircões das rochas G3, G4 e G5 foram tratados em conjunto, uma te hidrotermalismo no Orógeno Araçuaí (Gonçalves et al., 2019). É im-
vez que todas elas se cristalizaram após a foliação regional (que é por elas cortada) portante lembrar a existência do metamorfismo pré-colisional registrado
e as duas primeiras têm poucas idades disponíveis na literatura (G3: 15 dados e G4: por Degler et al. (2017, 2019) e Vieira et al. (2019), o qual, mesmo não
11) em relação às intrusões G5 (429 idades compiladas). A curva correspondente a marcando um pico bem definido, parece ser o responsável pela protube-
G3–G4–G5 se destaca nitidamente das distribuições de idades referentes às supersuítes rância da curva em torno de 600 Ma (figura 5).
G1 e G2, mostrando um hiato (um vale) marcante em torno de 545 Ma (figura 5). Os
granitos G3 mais velhos (ca. 545 Ma, formados por fusão parcial de granito G2 com
ca. 585 Ma; Gradim et al., 2014) foram contemporâneos dos granitos G2 mais jovens 7. Bacias Orogênicas
(Richter et al., 2016; Melo et al., 2017), mas a produção de fusões (melts) G3 conti-
nuou até o clímax do estágio pós-colisional quando se cristalizaram a maior parte das Umberto Cordani, coautor em Lima et al. (2002), Gradim et al. (2014)
intrusões G5 (Campos et al., 2016; Serrano et al., 2018; Araujo et al., 2020) em torno e Deluca et al. (2019), também participou dos estudos que levaram à des-
de 504 Ma (figura 5). Aquele hiato indica marcante diminuição na produção de rochas coberta de bacias que se formaram durante estágios da inversão tectônica
magmáticas orogênicas, o que também se constata pela avaliação dos intervalos de ida- do Orógeno Araçuaí, quando rochas orogênicas brasilianas expostas à
des-concórdia das diversas supersuítes, indicando quiescência magmática no intervalo erosão passaram a contribuir com grande quantidade de grãos de zircão
540-530 Ma e retomada da produção de magmas em torno de 527 Ma (figura 5). para sítios deposicionais parcialmente alimentados pelo Arco Rio Doce e,
Quanto ao metamorfismo, após tratados apenas os dados de zircão neoformados e de também, pelo magmatismo colisional (figura 6). De fato, sem a aplicação
domínios metamórficos em zircões ígneos, verifica-se um pico marcante em ca. 563 Ma da geocronologia U-Pb em zircão seria virtualmente impossível distinguir
e outro, menor, em ca. 507 Ma, separados por um hiato com vale máximo em torno de com segurança as bacias precursoras das bacias orogênicas; e foi Cordani

262 263
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 11

o primeiro a conseguir análises U-Pb SHRIMP para uma unidade, a Formação Salinas ficativas de fontes mais velhas que 1 Ga segundo
(figuras 3 e 6F), que até 2002 era considerada parte da Bacia Macaúbas, mas se tornou padrão de distribuição similar ao do sistema de
um exemplo de bacia orogênica na literatura corrente (cf. Lima et al., 2002; Deluca et bacias precursoras (figura 4), mas também apre-
al., 2019, e referências aí contidas). A descoberta de ocorrência da Formação Salinas a senta zircões detríticos com idades entre 580 Ma
noroeste de Governador Valadares (figura 3) ajudou a caracterizar o prisma acrecionário e 545 Ma, indicando a participação de fontes situ-
portador de restos ofiolíticos da região de São José da Safira (Peixoto et al., 2015). adas nas áreas hoje dominadas pelos granitos co-
Aquela primeira descoberta chamou a atenção para outras candidatas a bacias lisionais da Supersuíte G2 (Kuchenbecker, 2014;
orogênicas e, também com o apoio de análises U-Pb de grãos detríticos de zircão, foi Deluca et al., 2019).
caracterizada parte da bacia de retroarco representada pelos paragnaisses do Com-
plexo Nova Venécia (figura 3) por Noce et al. (2004). Após este trabalho vieram
outros que, com muito maior volume de dados geocronológicos U-Pb (figura 6C), 8. Recursos minerais brasilianos
confirmaram a natureza orogênica da bacia onde se depositaram os protolitos sedi-
mentares do Complexo Nova Venécia (Gradim et al., 2014; Richter et al., 2016) e Além de sua importância petrogenética e
trouxeram dados isotópicos de Hf em zircão que suportam interpretações mais deta- geotectônica, o Evento Orogênico Brasiliano
lhadas sobre proveniência sedimentar e metamorfismo neste complexo paragnáissico foi também profícuo na produção de recursos
(Araujo et al., 2020). Sucessivamente, o aporte de dados da geocronologia U-Pb em minerais durante a evolução do Orógeno Ara-
zircão levou à caracterização do Grupo Rio Doce (figuras 3 e 6B) como cobertura çuaí, no que diz respeito a depósitos minerais
vulcanossedimentar do Arco Magmático Rio Doce (Vieira, 2007; Gonçalves et al., relacionados ao metamorfismo regional e mag-
2018; Novo et al., 2018; Schannor et al., 2019), e à descoberta de depósitos de ba- matismo brasilianos, particularmente os hoje
cias de ante-arco e intra-arco tectonicamente embaralhados com pacotes sedimenta- chamados high-tech minerals (como grafita e
res de bacia precursora, todos representados por paragnaisses da Unidade Andrelân- minerais de lítio), além das gemas e minerais
dia na região meridional do Orógeno Araçuaí (Degler et al., 2017) (figuras 3 e 6D). industriais, rochas ornamentais e depósitos de
O espectro geral de idades para as bacias orogênicas, delineado por 1.507 dados ferro (cf. Pedrosa-Soares et al., 2011b; Vilela et
U-Pb, mostra marcante concentração em torno de 600 Ma, sintetizando um conjunto al., 2014; ver também a plataforma digital Re-
de diagramas que tende à unimodalidade (figuras 6A a 6E). A despeito do proeminente cursos Minerais de Minas Gerais On-Line em
pico em torno de 600 Ma, as idades das fontes de sedimentos das bacias representadas http://recursomineralmg.codemge.com.br/).
variam significativamente, mas sempre com grande concentração de grãos com idades Grandes jazidas e depósitos de grafita do tipo
entre 900 e 600 Ma. Este fato e as variações nas assinaturas isotópicas de Hf dos zircões flake (lamelar), além de ocorrências de grafita do
deste intervalo de idades, desde valores positivos, principalmente em zircões tonianos tipo lump (maciça), se formaram a partir da recris-
e criogenianos, a negativos, na maioria dos zircões ediacaranos (Degler et al., 2017; talização metamórfica regional, em fácies anfibolito
Schannor et al., 2019; Araujo et al., 2020), sugerem que fontes com componentes alto a granulito, de sedimentos pelito-carbonosos
juvenis, como os arcos magmáticos Serra da Prata (Peixoto et al., 2017) e Rio Negro que constituíram os protolitos dos sillimanita-gra-
(Tupinambá et al., 2012), e corpos ofiolíticos (Queiroga, 2010; Amaral et al., 2020), fita gnaisses intercalados nos kinzigitos (grafita-
também contribuíram significativamente para o preenchimento das bacias orogênicas, sillimanita-cordierita-granada-biotita gnaisses) do
além das fontes crustais ediacaranas relacionadas ao Arco Rio Doce (Tedeschi et al., Complexo Jequitinhonha e dos sillimanita grafita
2016; Corrales et al., 2020). Neste sentido, são as rochas metassedimentares do Grupo xistos do Grupo Macaúbas, situados no extremo
Rio Doce e da Unidade Andrelândia representantes de bacias intra-arco e ante-arco, nordeste do Orógeno Araçuaí, formando o Distrito
que mais contêm zircões juvenis criogenianos e tonianos, sugerindo que os arcos Serra Grafítico Minas – Bahia (GMB, figura 3). O meta-
da Prata e Rio Negro já estariam de alguma forma acessíveis aos meios de transporte morfismo regional também promoveu a recristali-
de sedimentos que alimentaram aquelas bacias antes do crescimento do Arco Rio Doce zação dos diamictitos anomalamente ricos em ferro
(cf. Degler et al., 2017, 2019; Schannor et al., 2019; Vieira et al., 2019). do Grupo Macaúbas, transformando-os em forma-
Os espectros de idades do Complexo Nova Venécia (figura 6C) e da Formação Sa-
linas (figura 6E) mostram distribuições unimodais relativamente bem concentradas em
torno de 600 Ma. Os paragnaisses Nova Venécia registram muita pouca contribuição de Figura 6: Curvas de densidade de pro-
babilidade representando acervos de
fontes mais velhas que 1 Ga, mas os pequenos picos entre 1,9 e 2,1 Ga indicam fontes idades de grãos de zircão extraídos de
de sedimentos no embasamento riaciano-orosiriano (Gradim et al., 2014; Richter et al., rochas metassedimentares e metavul-
2016; Araujo et al., 2020). A Formação Salinas, por sua vez, mostra contribuições signi- canoclásticas de bacias orogênicas do
Orógeno Araçuaí (cf. tabela 1).

264 265
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 11

evolução, bem como destacam a contribuição de Umberto Cordani para o conhecimen-


to geológico da região enfocada. Desde a síntese publicada por ocasião da celebração
dos 30 anos da definição da Faixa Araçuaí (Pedrosa-Soares et al., 2007, artigo no qual
Cordani é coautor) foi enorme o crescimento do conhecimento geocronológico sobre a
região do Orógeno Araçuaí, mas permanece a necessidade da produção de mais dados
em busca de descobertas, detalhamentos e novas interpretações.
Figura 7: Curva geral de Os padrões de distribuição de idades U-Pb mostram que o Orógeno Araçuaí, a
densidade de probabilidade de despeito de sua situação paleotectônica singular (confinado a um embainhamento
idades U-Pb de zircão para o
Orógeno Araçuaí, com indi- cratônico), teve uma história equivalente à dos clássicos orógenos colisionais de mar-
cação dos principais picos que gem de placa, os quais evoluem a partir de sistemas de bacias precursoras complexos
representam épocas de maior (de rifte continental a margem passiva com abertura oceânica), envolvidos em con-
produção de zircão desde o
Cambriano ao Arqueano. vergência de placas por subducção de litosfera oceânica e, portanto, contêm ofio-
lito, arco magmático, bacias orogênicas, magmatismos colisional e pós-colisional, e
metamorfismos associados. O conjunto de componentes geotectônicos do Orógeno
Araçuaí, incluindo bacias precursoras, magmatismos e metamorfismos orogênicos, e
bacias orogênicas, está aqui representado por 5.143 idades de zircão, cuja distribui-
ções ferríferas metadiamictíticas, enriquecidas em hematita e/ou magnetita, com teores de ção geral se ilustra na figura 7. Este diagrama sinóptico mostra picos que sintetizam
Fe total entre 15 e 55%, que constituem o Distrito Ferrífero Nova Aurora (FNA, figura 3). genericamente as épocas de produção de zircão, seja pelos processos ígneos e me-
O magmatismo orogênico produziu enorme quantidade de rochas que servem tamórfico-anatéticos que originaram rochas brasilianas ou por fenômenos similares
para materiais de construção, desde rochas ornamentais de alto valor à pedra de que atuaram em terrenos mais antigos (figura 7). Assim, o pico em ca. 584 Ma
talhe. Especialmente no estágio pós-colisional, mas também no estágio colisional, sintetiza o magmatismo e metamorfismo na transição dos estágios pré-colisional e
cristalizou-se a enorme quantidade de pegmatitos que constituem a Província Pegma- colisional, enquanto o pico em ca. 504 Ma corresponde ao clímax do magmatismo
títica Oriental do Brasil (ver síntese em Pedrosa-Soares et al., 2011b). Os pegmatitos pós-colisional e metamorfismo termal associado. O vale em ca. 540 Ma baliza a
residuais de granitos tipo S da Supersuíte G4, no Distrito Pegmatítico de Araçuaí, quiescência no magmatismo orogênico, marcando a transição entre a cessação dos
e da Supersuíte G2, no Distrito Pegmatítico de Conselheiro Pena, são depósitos de esforços compressionais e o início da descompressão generalizada que sobrevém com
gemas (e.g., turmalinas verde, rosa e/ou azul, morganita, kunzita, citrino e outras o colapso gravitacional pós-colisional. Os picos mais antigos são todos correlatos de
variedades de quartzo), minerais de coleção (e.g., fosfatos raros) e minerais para a épocas de produção de zircão conhecidas na literatura, como os magmatismos dos
indústria cerâmica (e.g., feldspatos), mas hoje se destacam principalmente pela pro- riftes 1 (em torno de 920 Ma) e 2 (em ca. 710 Ma), registrados no Grupo Macaúbas
dução (na Mina da Cachoeira, da Companhia Brasileira de Lítio, a leste de Araçuaí) e rochas ígneas associadas, e os magmatismos anorogênicos relacionados ao Sistema
e grande potencial para minérios de lítio, essencialmente o espodumênio, um dos Espinhaço – Chapada Diamantina (ca. 1200 Ma e ca. 1780 Ma) e crono-correlatos.
mais importantes high-tech minerals da atualidade. Os pegmatitos da Supersuíte G4 Por fim, os grandes alimentadores das bacias precursoras são sistemas orogênicos
se caracterizam como fusões residuais da cristalização de magmas graníticos peralu- riaciano-orosirianos (1985-2110 Ma) e, em menor parte, unidades do Neoarqueano
minosos, originados por anatexia de rochas sedimentares pelíticas. Por sua vez, os (ca. 2680 Ma) que compõem o embasamento do próprio Orógeno Araçuaí e da re-
pegmatitos associados às intrusões G5, em particular aquelas situadas a norte de gião cratônica adjacente, corroborando, mais uma vez, o confinamento do sistema
Teófilo Otoni (figura 3), são os principais produtores de água-marinha e topázio azul de bacias precursoras e do orógeno dele resultante.
a incolor, sendo virtualmente desprovidos de minerais de lítio e pobres a estéreis em
turmalinas coradas, em decorrência de sua origem a partir de fusões parciais da cros-
ta profunda. No conjunto, o período de maior produção de pegmatitos residuais mi- Agradecimentos
neralizados em gemas e/ou potenciais minérios de lítio situa-se em torno de 500 Ma,
correspondendo ao clímax na produção dos magmas pós-colisionais (figuras 3 e 5). Agradecemos à CAPES, CNPq, CODEMIG-CODEMGE, CPRM, FAPEMIG,
FAPERJ, FAPESP, FINEP e PETROBRAS-CENPES pelas bolsas de estudo e pes-
quisa, e recursos para realização de projetos científicos e de mapeamento geoló-
9. Conclusão gico. Nosso especial agradecimento aos organizadores deste livro (A. Bartorelli,
W. Teixeira e B. B. Brito-Neves) pelo honroso convite. Este capítulo é um singelo
As informações históricas e sínteses de dados, aqui apresentadas, demonstram a tributo a Umberto Cordani, nosso colaborador em trabalhos sobre temas diversos
importância da geocronologia absoluta para a caracterização dos diversos componentes do Orógeno Araçuaí e, acima de tudo, um permanente incentivador da formação
geotectônicos de um orógeno e definição dos estágios tectônicos que marcaram sua de pesquisadores em Geociências.

266 267
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 11

Referências Bitencourt C.N., Cruz S.C.P., dos Anjos Cruz V., Degler R., Costa A.G., Pedrosa-Soares A.C., Quei- Gonçalves G., Lana C., Buick I., Alkmim F.,
Pedrosa-Soares A.C., Paquette, J.L., Alkmim A.R., roga G. 2019. High-pressure metamorphism related to Scholz R., Queiroga G. 2019. Twenty million years
Alkmim F.F., Marshak S., Pedrosa-Soares A.C., Barbosa J.S.F. 2019. Rifting events in the southern suture zone in the Araçuaí orogen (SE Brazil): Further of post-orogenic fluid production and hydrothermal
Peres G.G., Cruz S.C.P., Whittington A. 2006. Kine- sector of the Paramirim Aulacogen, NE Brazil: new evidence against ensialic models. In: XVII Simpósio mineralization across the external Araçuaí orogen and
matic evolution of the Araçuaí–West Congo orogen geochronological data and correlations for the São Nacional de Estudos Tectônicos, SBG, Bento Gonçal- adjacent São Francisco craton, SE Brazil. Lithos, 342-
in Brazil and Africa: Nutcracker tectonics during the Francisco – Congo paleocontinent. Precambriam Re- ves, Anais, p. 124. 343:557-572.
Neoproterozoic assembly of Gondwana. Precambrian search, 326:417-446. Deluca C. 2018. Evolução do Batólito Itaporé e ro- Gradim C.T. 2013. Complexo Nova Venécia e
Research, 149:43-63. Campos C.P, Medeiros S.R., Mendes J.C, Pe- chas encaixantes, Orógeno Araçuaí (MG): geoquímica, magmatismo associado, Orógeno Araçuaí, Estado do
Alkmim F.F., Kuchenbecker M., Reis H.L.S., Pedro- drosa-Soares A.C., Dussin I., Ludka I.P., Dantas E.L. geocronologia e petrogênese. Dissertação de Mestrado, Espírito Santo. Dissertação de Mestrado, Instituto de
sa-Soares A.C. 2017. The Araçuaí belt. In: Heilbron M., 2016. Cambro-Ordovician magmatism in the Araçuaí Instituto de Geociências, Universidade Federal de Minas Geociências, Universidade Federal de Minas Gerais,
Cordani U.G, Alkmim F.F. (eds.). São Francisco Craton, Belt (SE Brazil): Snapshots from a post-collision- Gerais, Belo Horizonte, 116 p. Belo Horizonte, 123 p.
Eastern Brazil: Tectonic Genealogy of a Miniature Conti- al event. Journal of South American Earth Sciences, Deluca C., Pedrosa-Soares A., Lima S., Cordani U., Gradim C., Roncato J., Pedrosa-Soares A.C., Cor-
nent. Regional Geology Reviews, p. 255-276. 68:248-268. Sato K. 2019. Provenance of the Ediacaran Salinas For- dani U.G., Dussin I., Alkmim F.F., Queiroga G., Jaco-
Almeida F.F.M. 1967. Origem e evolução da Plata- Castro M.P., Queiroga G., Martins M., Alkmim mation (Araçuaí Orogen, Brazil): Clues from lithochem- bsohn T., Silva L.C., Babinski M. 2014. The hot back-
forma Brasileira. DNPM-DGM, Boletim 241, 36p. F., Pedrosa-Soares A., Dussin I., Souza M.E. 2019. An ical data and zircon U-Pb (SHRIMP) ages of volcanic arc zone of the Araçuaí Orogen, Eastern Brazil: from
Almeida F.F.M., Amaral G., Cordani U.G., Kawa- Early Tonian rifting event affecting the São Francis- clasts. Brazilian Journal of Geology, 49:1-19. sedimentation to granite generation. Brazilian Journal
shita K. 1973. The Precambrian evolution of the South co-Congo paleocontinent recorded by the Lower Ma- Dussin I.A. 2017. Geocronologia U-Pb e Lu-Hf em of Geology, 44:155-180.
American cratonic margin south of the Amazon River. caúbas Group, Araçuaí Orogen, SE Brazil. Precambri- zircão, aplicada às bacias proterozóicas. Moldova, Novas Hurley P.M., Almeida F.F.M., Melcher G.C.,
In: Nairn A.E.M. & Stehli F.G (eds). The Ocean Basins am Research, 331: 105351. Edições Acadêmicas - ICS Morebooks, 114 p. Cordani U.G., Rand J.R., Kawashita K., Vandoros P.
and Margins, v.1, New York, Plenum Publishing Corp., Chaves A.O., Ernst R.E., Söderlund U., Wang X., Evans D., Trindade R., Catelani E., D’Agrella-Filho Pinson W.H., Fairbairn H. 1967. Test of continen-
p. 411-446. Naeraa T. 2019. The 920-900-Ma Bahia-Gangila LIP M., Heaman L., Oliveira E., Söderlund U., Ernst R., tal drift by comparison of radiometric ages. Science,
Almeida F.F.M. 1977. O Cráton do São Francisco. of the São Francisco and Congo cratons and link with Smirnov A., Salminen J. 2015. Return to Rodinia? Mod- 157:495-500.
Revista Brasileira de Geociências, 7:349-364. Dashigou-Chulan LIP of North China craton: New in- erate to high palaeolatitude of the São Francisco-Congo Heilbron M., Cordani U.G, Alkmim F.F. (eds.)
Amaral L., Caxito F.A., Pedrosa-Soares A., Queiro- sights from U-Pb geochronology and geochemistry. Pre- craton at 920 Ma. London. Geological Society of London 2017. São Francisco craton, eastern Brazil. Tectonic
ga G., Babinski M., Trindade R., Lana C., Chemale F. cambrian Research, 329:124-137. Special Publication, 424:167-190. genealogy of a miniature continent. Regional Geology
2020. The Ribeirão da Folha ophiolite-bearing accre- Chemale Jr. F., Dussin I.A., Alkmim F.F., Martins Figueiredo M.C.H. & Campos Neto M.C. 1993. Reviews, Switzerland, Springer International Publish-
tionary wedge (Araçuaí orogen, SE Brazil): New data for M.S., Queiroga G.N., Armstrong R., Santos M.N. Geochemistry of the Rio Doce magmatic arc, South- ing Co, 331 p..
Cryogenian plagiogranite and metasedimentary rocks. 2012. Unravelling a Proterozoic basin history through eastern Brazil. Anais da Academia Brasileira de Ciên- Kuchenbecker M. 2014. Relações entre coberturas
Precambriam Research, 336. detrital zircon geochronology: the case of the Espin- cias, 65:63-81. do Cráton do São Francisco e bacias situadas em oró-
Aranda R. 2018. Petrology of the Afonso Cláudio haço Supergroup, Minas Gerais, Brazil. Gondwana Re- Figueiredo C.M.S. 2009. O Arco Magmático Bra- genos marginais: O registro de datações U-Pb de grãos
Intrusive Complex (Espírito Santo State, Araçuaí Oro- search, 22:200-206. siliano na conexão entre os orógenos Araçuaí e Ribeira, detríticos de zircão e suas implicações geotectônicas. Tese
gen): Insights from Petrography, Lithogeochemistry, Cordani U.G., Melcher G.C., Almeida F.F.M. Região de Muriaé-MG. Tese de Doutorado, Universidade de Doutorado, Universidade Federal de Minas Gerais,
U-Pb Geochronology and Lu-Hf Isotopes. Dissertação 1968. Outline of the Precambrian Geochronology of Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 103p. Belo Horizonte, 173p.
de Mestrado, Universidade Federal de Minas Gerais, South America. Canadian Journal of Earth Sciences, Gonçalves-Dias T., Pedrosa-Soares A.C., Dussin Kuchenbecker M., Pedrosa-Soares A.C., Babins-
Belo Horizonte, 64 p. 5:629-632. I.A., de Alkmim F.F., Caxito F.A., Silva L.C., Noce C.M. ki M., Fanning M. 2015. Detrital zircon age pat-
Araujo C., Pedrosa-Soares A., Lana C., Dussin I., Cordani U.G. 1973. Evolução Geotectônica da Re- 2011. Idade máxima de sedimentação e proveniência do terns and provenance assessment for pre-glacial to
Queiroga G., Serrano P., Medeiros-Júnior E. 2020. gião Costeira do Brasil, entre Salvador e Vitória. Tese de Complexo Jequitinhonha na área-tipo (Orógeno Ara- post-glacial successions of the Neoproterozoic Ma-
Zircon in emplacement borders of post-collisional Livre Docência, Instituto de Geociências, Universidade çuaí): primeiros dados U-Pb (La-ICP-MS) de grãos detrí- caúbas Group, Araçuaí Orogen, Brazil. Precambriam
plutons compared to country rocks: A study on mor- de São Paulo, São Paulo, 97 p. ticos de zircão. Geonomos, 19:121-130. Research, 266:12-26.
phology, internal texture, U-Th-Pb geochronology Cordani U.G., Brito-Neves B.B., D’Agrella M.S., Gonçalves-Dias T., Caxito F.A., Pedrosa-Soares Lima S.A.A., Martins-Neto M.A., Pedrosa-Soares
and Hf isotopes (Araçuaí orogen, SE Brazil). Lithos: Trindade R.I.F. 2003. Tearing-up Rodinia: the Neopro- A.C., Stevenson R., Dussin I., Silva L.C., Alkmim A.C., Cordani U.G., Nutman A. 2002. A Formação
352-353: 105252. terozoic paleogeography of South American cratonic F., Pimentel M. 2016. Age, provenance and tecton- Salinas na área-tipo, NE de Minas Gerais: Uma pro-
Babinski M., Gradim R.J., Pedrosa-Soares A.C., fragments. Terra Nova, 15:343-349. ic setting of the high-grade Jequitinhonha Complex, posta de revisão da estratigrafia da Faixa Araçuaí com
Alkmim F.F., Noce C.M., Liu D. 2005. Geocronolo- Cordani U.G. 2017. O Craton do São Francisco e as Araçuaí orogen, eastern Brazil. Brazilian Journal of base em evidências sedimentares, metamórficas e ida-
gia U–Pb (SHRIMP) e Sm–Nd de xistos verdes basálti- faixas brasilianas: meio século de avanços. In: Geosudes- Geology, 46:199-219. des U-Pb SHRIMP. Revista Brasileira de Geociências,
cos do Orógeno Araçuaí: Implicações para a idade do te 2017, Diamantina, SBG-MG, Anais. Gonçalves L., Farina F., Lana C., Pedrosa-Soares 32:491-500.
Grupo Macaúbas. Revista Brasileira de Geociências, Corrales F.F.P., Dussin I.A., Heilbron M., Bruno H., A.C., Alkmim F., Nalini Jr. H.A. 2014. New U–Pb ages Magalhães J.R., Pedrosa-Soares A., Dussin I., Mün-
35:77-81. Bersan S., Valeriano C.M., Pedrosa-Soares A.C., Tedes- and lithochemical attributes of the Ediacaran Rio Doce tener O., Pinheiro M.A.P., Silva L.C., Knauer L.G., Bou-
Babinski M., Pedrosa-Soares A.C., Trindade R.I.F., chi M. 2020. Coeval high Ba-Sr arc-related and OIB magmatic arc, Araçuaí confined orogen, Southeast- vier A.S., Baumgartner L. 2018. First Lu-Hf, δ18O and
Martins M., Noce C.M., Liu D. 2012. Neoproterozoic Neoproterozoic rocks linking pre-collisional magmatism ern Brazil. Journal of South American Earth Sciences, trace elements in zircon signatures from the Statherian
glacial deposits from the Araçuaí orogen, Brazil: Age, of the Ribeira and Araçuaí orogenic belts, SE-Brazil. Pre- 52:129-148. Espinhaço anorogenic province (Eastern Brazil): geo-
provenance and correlations with the São Francisco cambriam Research, 337:1-52. Gonçalves L., Alkmim F.F., Pedrosa-Soares A.C., tectonic implications of a silicic large igneous province.
craton and West Congo belt. Gondwana Research, Degler R., Pedrosa-Soares A., Dussin I., Queiroga Dussin I.A., Valeriano C.M., Lana C., Tedeschi M. Brazilian Journal of Geology, 48:735-759.
21:451-465. G., Schulz B. 2017. Contrasting provenance and timing 2016. Granites of the intracontinental termination Martins M., Karfunkel J., Noce C.M., Babinski M.,
Basílio M.S., Pedrosa-Soares A.C., Evangelista H.J. of metamorphism from paragneisses of the Araçuaí-Ri- of a magmatic arc: an example from the Ediacaran Pedrosa-Soares A.C., Sial A.N., Liu D. 2008. A sequência
2000. Depósitos de alexandrita de Malacacheta, Minas beira orogenic system, Brazil: Hints for Western Gond- Araçuaí orogen, southeastern Brazil. Gondwana Rese- pré-glacial do Grupo Macaúbas na área-tipo e o registro
Gerais. Geonomos, 8:47-54. wana assembly. Gondwana Research, 51:30-50. arch, 36:439-458. da abertura do rifte Araçuaí. Revista Brasileira de Geoci-
Belém J. 2014. Geoquímica, geocronologia e con- Degler R., Pedrosa-Soares A., Novo T., Tedeschi Gonçalves L., Alkmim F.F., Pedrosa-Soares A.C., ências, 38:761-772.
texto geotectônico do magmatismo máfico associa- M., Silva L.C., Dussin I., Lana C. 2018. Rhyacian-Oro- Gonçalves C.C., Vieira V. 2018. From the plutonic root Mello F.M. 2000. Litogeoquímica e Química Mineral
do ao feixe de fraturas Colatina, Estado do Espírito sirian isotopic records from the basement of the to the volcanic roof of a continental magmatic arc: a re- do Maciço Charnockítico Aimorés-MG. Tese de Douto-
Santo. Dissertação de Mestrado, Instituto de Geoci- Araçuaí-Ribeira orogenic system (SE Brazil): Links in view of the Neoproterozoic Araçuaí orogen, southeast- rado, Universidade de São Paulo, São Paulo, 167 p.
ências, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo the Congo-São Francisco palaeocontinent. Precambrian ern Brazil. International Journal of Earth Science (Geol- Melo M.G., Lana C., Stevens G., Pedrosa-Soares
Horizonte, 138 p. Research, 317:179-195. ogische Rundschau), 107:337-358. A.C., Gerdes A., Alkmin L.A., Nalini Jr. H.A., Alkmim

268 269
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 11

F.F. 2017. Assessing the isotopic evolution of S-type em geocronologia U-Pb (SHRIMP e LA-ICP-MS). Tese de Record of Neoproterozoic Glaciations. Geological Soci- Rosa M.L., Conceição H., Macambira M.J.B., Ga-
granites of the Carlos Chagas batholith, SE Brazil: Doutorado, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo ety of London, Memoir, 36(49):523-534. larza M.A., Cunha M.P., Menezes R.C.L., Marinho
Clues from U-Pb, Hf isotopes, Ti geothermometry Horizonte, 193 p. Pedrosa-Soares A.C., De Campos C.P., Noce C.M., M.M., Filho B.E.d.C., Rios D.C. 2007. Neoproterozoic
and trace element composition of zircon. Lithos, 284- Novo T.A., Pedrosa-Soares A., Vieira V.S., Dussin I., Silva L.C., Novo T., Roncato J., Medeiros S., Castañe- anorogenic magmatism in the Southern Bahia Alkaline
285:730-750. Silva L.C. 2018. The Rio Doce Group revisited: An Edi- da C., Queiroga G., Dantas E., Dussin I., Alkmim F. Province of NE Brazil: U–Pb and Pb-Pb ages of the blue
Mendes J.C., Medeiros S.R., McReath I., De Cam- acaran arc-related volcano-sedimentary basin, Araçuaí 2011b. Late Neoproterozoic-Cambrian Granitic Mag- sodalite syenites. Lithos, 97:88-97.
pos C.M.P. 2005. Cambro-Ordovician magmatism in orogen (SE Brazil). Journal of South American Earth Sci- matism in the Araçuaí Orogen (Brazil), the Eastern Schannor M., Lana C., Fonseca M. 2019. São Fran-
SE Brazil: U-Pb and Rb-Sr ages, combined with Sr and ences, 85:345-361. Brazilian Pegmatite Province and Related Mineral Re- cisco-Congo Craton break-up delimited by U-Pb-Hf iso-
Nd isotopic data of Charnockitic rocks from the Várzea Paes V.J.C. 1999. Geologia e Geoquímica da Região sources. In: Sial, A.N., Bettencourt, J.S., De Campos, topes and trace-elements of zircon from metasediments
Alegre complex. Gondwana Research, 8:337-345. de Alvarenga, Minas Gerais: implicações geotectônicas e C.P., Ferreira, V.P. (eds.), Granite-Related Ore Depos- of the Araçuaí Belt. Geoscience Frontiers, 10:611-628.
Mondou M., Egydio-Silva M., Vauchez A., Rapo- metalogenéticas. Tese de Doutorado, Universidade Fede- its. Geological Society of London, Special Publication, Serrano P., Pedrosa-Soares A., Medeiros-Junior E., Fon-
so M.I.B., Bruguier O., Oliveira A.F. 2012. Complex, ral de Minas Gerais, Belo Horizonte. 350:25-51. te-Boa T., Araujo C., Dussin I., Queiroga G., Lana C. 2018.
3D strain patterns in a synkinematic tonalite batho- Paes V.J.C., Raposo F.O., Pinto C.P., Oliveira F.A.R. Pedrosa-Soares A.C. & Alkmim F.F. 2011. How A-type Medina batholith and post-collisional anatexis in
lith from the Araçuaí Neoproterozoic orogen (Eastern (orgs.) 2010. Projeto Jequitinhonha, Estados de Minas many rifting events preceded the development of the the Araçuaí orogen (SE Brazil). Lithos, 320-321:515-536.
Brazil): evidence from combined magnetic and isoto- Gerais e Bahia: texto explicativo. Geologia e Recur- Araçuaí-West Congo orogen? Geonomos, 12:244-251. Siga-Júnior O. 1986. A evolução geocronológica da
pic chronology studies. Journal of Structural Geology, sos Minerais das Folhas Comercinho, Jequitinhonha, Pedrosa-Soares A.C., Alkmim F.F., Tack L. 2017. porção nordeste de Minas Gerais, com base em inter-
39:158-179. Almenara, Itaobim, Joaíma e Rio do Prado. Programa From inland-sea basins to confined orogens: An exam- pretações geocronológicas. Dissertação de Mestrado,
Nalini H.A. 1997. Caractérisation des suites mag- Geologia do Brasil. Belo Horizonte, CPRM – Serviço ple from the Neoproterozoic Araçuaí-West Congo oro- IG-USP, São Paulo, 156 p.
matiques néoprotérozoïques de la région de Conse- Geológico do Brasil. gen and implications for Plate Tectonics. In: William Siga Junior O., Cordani U.G., Basei M.A.S., Tei-
lheiro Pena et Galiléia (Minas Gerais, Brésil): étude Pedrosa-Soares A.C., Noce C.M., Vidal P., Monteiro Smith Meeting 2017: Plate Tectonics at 50. London, xeira W., Kawashita K., Schmus W.V. 1987. Trabalho
géochimique et structurale des suites Galiléia et Uru- R., Leonardos O.H. 1992. Toward a new tectonic model Abstracts Book, p. 75-76. Completo - Contribuição ao Estudo Geológico-Geo-
cum et leur relation avec les pegmatites à éléments for the Late Proterzoic Araçuaí (SE Brazil) - West Con- Peixoto C.A., Heilbron M., Ragatky D., Armstrong cronológico da Porção Nordeste de Minas Gerais. In:
rares associées. Thèse de Doctorat, École des Mines golian (SW Africa) Belt. Journal of South American Earth R., Dantas E., Valeriano C.M., Simonetti A. 2017. Tec- IV Simpósio de Geologia, 1987, Belo Horizonte - MG.
de Saint-Étienne et École des Mines de Paris, Saint-É- Sciences, 6:33-47. tonic evolution of the Juvenile Tonian Serra da Prata Anais, v. 7., p. 29-44.
tienne, 395 p. Pedrosa-Soares A.C. 1995. Potencial aurífero do Vale magmatic arc in the Ribeira belt, SE Brazil: Implications Silva L.C., Armstrong R, Noce C.M., Carnei-
Nalini H.A., Bilal E., Paquette J.L., Pin C., Ma- do Araçuaí, Minas Gerais: história da exploração, geolo- for early west Gondwana amalgamation. Precambrian ro M., Pimentel M., Pedrosa-Soares A.C., Leite C.,
chado R. 2000a. Geochronologie U-Pb et géochimie gia e controle tectono-metamórfico. Tese de Doutorado, Research, 302:221-254. Vieira V.S., Silva M., Paes V., Cardoso-Filho J. 2002.
isotopique Sr-Nd des granitoides neoproterozoiques IG-UnB, Brasília. Peixoto E., Pedrosa-Soares A.C., Alkmim F.F., Reavaliação da evolução geológica em terrenos pré-
des suites Galileia et Urucum, vallée du Rio Doce, Sud Pedrosa-Soares A.C., Vidal P., Leonardos O.H., Bri- Dussin I.A. 2015. A suture-related accretionary wedge cambrianos brasileiros com base em novos dados U-Pb
-Est du Brésil. Compte Rendu Academie Science Paris, to-Neves B.B. 1998. Neoproterozoic oceanic remnants formed in the Neoproterozoic Araçuaí orogen (SE Bra- SHRIMP, parte II: Orógeno Araçuaí, Cinturão Móvel
331:459-466. in eastern Brazil: Further evidence and refutation of an zil) during Western Gondwanaland assembly. Gondwana Mineiro e Cráton São Francisco Meridional. Revista
Nalini H. A., Bilal E., Correia-Neves J.M. 2000b. exclusively ensialic evolution for the Araçuaí-West Con- Research, 27:878-896. Brasileira de Geociências, 32:513-528.
Syncollisional peraluminous magmatism in the Rio Doce go orogen. Geology, 26:519-522. Peixoto E., Alkmim F.F., Pedrosa-Soares A. 2018. Silva L.C., McNaughton N.J., Armstrong R., Hart-
region: mineralogy, geochemistry and isotopic data of Pedrosa-Soares, A.C. & Wiedemann-Leonardos, The Rio Pardo salient, northern Araçuaí orogen: an mann L., Fletcher I. 2005. The Neoproterozoic Man-
the Urucum suite (eastern Minas Gerais State, Brazil). C.M. 2000. Evolution of the Araçuaí Belt and its con- example of a complex basin-controlled fold-thrust belt tiqueira Province and its African connections. Precambri-
Revista Brasileira de Geociências, 30:120-125. nection to the Ribeira Belt, Eastern Brazil. In: Cordani curve. Brazilian Journal of Geology, 48:25-49. an Research, 136:203-240.
Noce C.M., Macambira M.B., Pedrosa-Soares A.C. U.G., Milani E.J., Thomaz-Filho A., Campos D.A. (eds.). Petitgirard S., Vauchez A., Egydio-Silva M., Bruguier Silva L.C., Pinto C.P., Gomes A.C.B, Paes V. 2007.
2000. Chronology of Neoproterozoic-Cambrian granit- Tectonic Evolution of South America. São Paulo, Socie- O., Camps P., Monié P., Babinski M., Mondou M. 2009. Geocronologia U-Pb (LA-ICP-MS) e a cronoestratigrafia
ic magmatism in the Araçuaí Belt, Eastern Brazil, based dade Brasileira de Geologia, p. 265-285. Conflicting structural and geochronological data from granítica no segmento NE do Orógeno Araçuaí, MG. In:
on single zircon evaporation dating. Revista Brasileira de Pedrosa-Soares A.C., Cordani U., Nutman A. 2000. the Ibituruna quartz-syenite (SE Brazil): effect of pro- 10º. Simpósio de Geologia do Sudeste. Diamantina, SB-
Geociências, 30:25-29. Constraining the age of Neoproterozoic glaciation in tracted “hot” orogeny and slow cooling rate? Tectono- G-MG, Resumos.
Noce C.M, Pedrosa-Soares A.C., Piuzana D., Ar- eastern Brazil: First U-Pb SHRIMP data from detrital physics, 477:174-196. Silva L.C., Pedrosa-Soares A.C., Teixeira L.R. 2008.
mstrong R., Laux J.H., Campos C.M., Medeiros S.R. zircons. Revista Brasileira de Geociências, 30:58-61. Pinto C.P., Drumond J.B.V., Féboli W.L. (coord.) Tonian rift-related, A-type continental plutonism in the
2004. Ages of sedimentation of the kinzigitic complex Pedrosa-Soares A.C., Noce C.M., Wiedemann 2001. Projeto Leste, Etapas 1 e 2. Belo Horizonte, CPR- Araçuaí orogen, Eastern Brazil: new evidences for the
and of a late orogenic thermal episode in the Araçuaí C.M., Pinto C.P. 2001. The Araçuaí–West Congo M-COMIG, CD-ROM. breakup stage of the São Francisco-Congo Paleoconti-
orogen, northern Espírito Santo State, Brazil: Zircon and orogen in Brazil: An overview of a confined orogen Queiroga G.N. 2010. Caracterização de restos de nent. Gondwana Research, 13:527-537.
monazite U-Pb SHRIMP and ID-TIMS data. Revista Bra- formed during Gondwanland assembly. Precambrian litosfera oceânica do Orógeno Araçuaí entre os para- Silva L.C. da, Pedrosa-Soares A., Noce C.M., Pin-
sileira de Geociências, 349:587-592. Research, 110:307-323. lelos 17 e 21 S. Tese de Doutorado, Instituto de Geo- to C.M., Paes V, J.C., Gonçalves-Dias T., Chemale Jr. F.
Noce C.M., Figueiredo C.M., Novo T.A., Pedrosa- Pedrosa-Soares A.C., Noce C.M., Alkmim F.F., Silva ciências, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo 2010. LA-ICP-MS and TIMS U-Pb geochronology and
Soares A.C., Alkmim F.F., Silva L.C., Dussin I., Arms- L.C., Babinski M., Cordani U.G., Castañeda C. 2007. Horizonte. the tectonic significance of a number of calc-alkaline and
trong R. 2010. The southern segment of the Araçuaí Orógeno Araçuaí: síntese do conhecimento 30 anos após Richter F., Lana C., Steven G., Buick I., Pedro- S-type plutons from the Araçuaí Orogen (SE Brazil). In:
magmatic arc (SE Brazil): U-Pb zircon dating and impli- Almeida 1977. Geonomos, 15:1-16. sa-Soares A.C., Alkmim F.F., Cutts K. 2016. Sedimenta- VII South American Symposium on Isotope Geology.
cations for geodynamic reconstructions of the pre-colli- Pedrosa-Soares A.C., Alkmim F.F., Tack L., Noce tion, metamorphism and granite generation in a back-arc Brasília, Short Papers, p. 530-533.
sional. In: South American Symposium on Isotope Geol- C.M., Babinski M., Silva L.C., Martins-Neto M.A. 2008. region: Records from the Ediacaran Nova Venécia Com- Silva L.C., Pedrosa-Soares A.C., Armstrong R., Noce
ogy. Brasília. Short papers, CD-ROM. Similarities and differences between the Brazilian and Af- plex (Araçuaí Orogen, Southeastern Brazil). Precambrian C.M. 2011. Determinando a duração do período coli-
Novo T.A., Pedrosa-Soares A.C., Noce C.M., Alk- rican counterparts of the Neoproterozoic Araçuaí-West- Research, 272:78-100. sional do Orógeno Araçuaí com base em geocronologia
mim F.F., Dussin I.A. 2010. Rochas charnockíticas do Congo orogen. Geological Society of London Special Rogers J.W. & Santosh M. 2004. Continents and Su- U–Pb de alta resolução em zircão: uma contribuição para
sudeste de Minas Gerais: a raiz granulítica do arco mag- Publication, 294:153-172. percontinents. Oxford University Press, 289 p. a história da amalgamação do Gondwana Ocidental. Ge-
mático do Orógeno Araçuaí. Revista Brasileira de Geoci- Pedrosa-Soares A.C., Babinski M., Noce C., Martins Roncato J.G. 2009. As suítes graníticas tipo-S do onomos, 19:180-197.
ências, 40:573-592. M., Queiroga G., Vilela F.T. 2011a. The Neoprotero- norte do Espírito Santo na região das folhas Ecoporan- Söllner H.S., Lammerer B., Weber-Diefenbach K.
Novo T.A. 2013. Caracterização do Complexo Po- zoic Macaúbas Group (Araçuaí orogen, SE Brazil) with ga, Mantena, Montanha e Nova Venécia. Dissertação de 1991. Die Krustenentwicklung in der Küstenregion
crane, magmatismo básico mesoproterozóico e unidades emphasis on the diamictite formations. In: Arnaud E., Mestrado, Instituto de Geociências, Universidade Fede- nördlich von Rio de Janeiro, Brasilien. Müncher Geolo-
neoproterozóicas do sistema Araçuaí-Ribeira, com ênfase Halverson G. P., Shields-Zhou G. (eds). The Geological ral de Minas Gerais, Belo Horizonte, 102 p. gische Hefte, 4:1-100.

270 271
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 12

Söllner F., Lammerer B., Wiedemann-Leonardos C.


2000. Dating the Ribeira Mobile Belt of Brazil. In: Son-
(UHT) Metamorphic Rocks from the Araçuaí Oro-
gen, Southeastern Brazil: Tectonic implications from Terrenos policíclicos da
derheft, Zeitschrift Angwandte Geologie, p. 245-255.
Souza M.E., Martins M.S., Queiroga G.N., Leite
petrography, thermobarometry and phase-equilibria
modeling. In: XVII Simpósio Nacional de Estudos Província Mantiqueira:
M., Oliveira R.G., Dussin I., Pedrosa-Soares A.C. 2019.
Paleoenviroment, sediment provenance and tectonic set-
Tectônicos. Bento Gonçalves, SBG, Anais, p.133.
Vilela F.T., Pedrosa-Soares A.C., Carvalho M.T.,
da superposição de orogêneses
ting of Tonian basal deposits of the Macaúbas basin sys-
tem, Araçuaí orogen, southeast Brazil. Journal of South
Arimatéia R., Santos E., Voll E. 2014. Metalogênese
da Faixa Araçuaí: O Distrito Ferrífero Nova Aurora
aos modelos atuais
American Earth Sciences, 96:1-19. (Grupo Macaúbas, Norte de Minas Gerais) no con-
Straathof G.B. 2011. Neoproterozoic Low Latitude texto dos recursos minerais do Orógeno Araçuaí. In: Miguel Tupinambá
Glaciations: An African Perspective. Tese de Doutorado, Silva M.G., Rocha-Neto M.B., Jost H., Kuyumjian (tupinambamiguel@gmail.com). Miguel Tupinambá.
Universidade de Edinburgo, Edinburgo, 263 p. R.M. (orgs.). Metalogênese das Províncias Tectônicas
Tack L., Wingate M.T.D., De Waele B., Meert J., Brasileiras, Belo Horizonte, CPRM-Serviço Geológico Beatriz Paschoal Duarte
Belousova E., Griffin B., Tahon A., Fernandez-Alon- do Brasil, p. 415-430. (biapasch@gmail.com).
so M. 2010. The 1375 Ma Kibaran Event in Central Xavier B.C. 2017. Relações tectônicas no setor Monica Heilbron
Africa: prominent emplacement of bimodal magma- central da Faixa Araçuaí: Análise Estrutural por ASM (monica.heilbron@gmail.com).
tism under extensional regime. Precambrian Research e Geocronologia U-Pb e Lu-Hf. Dissertação de Mestra-
180:63-84. do, Universidade de São Paulo, São Paulo, 123 p. Claudio de Morisson Valeriano
Távora FJ., Cordani UG., Kawashita K. 1967. Deter- Wiedemann C.M., Campos C.M., Medeiros S.R., (valeriano.claudio@gmail.com).
minações de idade K-Ar em rochas da região central da Mendes J.C., Ludka I.P., Moura J.C. 2002. Architec- Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
Bahia. In: 21º Congresso Brasileiro de Geologia. Curiti- ture of late orogenic Plutons in the Araçuaí-Ribeira
ba. SBG, Anais, p. 234-244. Folded Belt, Southeast Brazil. Gondwana Research, Faculdade de Geologia, Departamento de
Tedeschi M., Novo T., Pedrosa-Soares A., Dussin I., 19:381-399. Geologia Regional e Geotectônica.
Tassinari C., Silva L.C., Gonçalves L., Alkmim F., Lana
C., Figueiredo C., Dantas E., Medeiros S., De Campos
C., Corrales F., Heilbron M. 2016. The Ediacaran Rio 1. Introdução
Doce magmatic arc revisited (Araçuaí-Ribeira orogenic
system, SE Brazil). Journal of South American Earth Sci- Ao fim dos anos 60 do século XX, o embasamento cristalino da Beatriz Paschoal Duarte.
ences, 68:167-186.
Teixeira W., Kamo S.L., Arcanjo J.B.A. 1997. U–Pb Plataforma Sul-Americana passou por uma revisão conceitual, com
zircon and baddeleyte age and tectonic interpretation of proposição de etapas evolutivas correlacionadas com eventos de dis-
the Itabuna alkaline suite, São Francisco Craton, Brazil. tribuição mundial, como o Baikaliano (Almeida, 1967). Faltava, po-
Journal of South America Earth Sciences, 10:91-98.
Thiéblemont D., Castaing C., Billa M., Bouton P., rém, um levantamento geocronológico de grande amplitude para que
Préat A. 2009. Notice explicative de la carte géologique a história fosse individualizada para a Plataforma Sul-americana. Ini-
et des ressources minérales de la République gabonaise à
1/1,000,000. Libreville, Editions DGMG - Ministère des
ciar este levantamento seria uma tarefa árdua. Em artigo citado por
Mines, du Pétrole, des Hydrocarbures, 384 p. Cordani (2004), The basement of Central and South America, or, how
Torquato J.R. & Cordani U.G. 1981. Brazil-Africa not to date a continent, P. M. Hurley (1967) destacava as dificuldades
geological links. Earth Science Reviews, 17:155-176.
Tupinambá M., Heilbron M., Valeriano C.M., Por-
enfrentadas na abordagem do embasamento da América do Sul, suge-
to Jr. R., Blanco de Dios F., Machado N., Silva L.G.E., rindo iniciar os estudos em áreas homogêneas, de evolução simples,
Almeida J.C.H. 2012. Juvenile contribution of the Neo- evitando áreas policíclicas. No entanto, seria nas áreas policíclicas em
proterozoic Rio Negro magmatic arc (Ribeira Belt, Bra-
zil): implications for western Gondwana amalgamation. que os ciclos termo-tectônicos seriam delineados.
Monica Heilbron.
Gondwana Research, 21:422-438 Aceitando o desafio, U. G. Cordani, pelo Centro de Pesquisas Ge-
Vauchez A., Egydio-Silva M., Babinski M., Tomma- ocronológicas da USP e pesquisadores do Museu Real da Bélgica per-
si A., Uhlein A., Liu D. 2007. Deformation of a per-
vasively molten middle crust: insights from the Neo- correram, entre agosto e outubro de 1966, o leste do Brasil, passando
proterozoic Ribeira-Araçuaí orogen (SE Brazil). Terra pela Serra da Mantiqueira, vale do Rio Paraíba do Sul, Serra dos Ór-
Nova, 19:278-286. gãos, sul de Belo Horizonte e oeste de Vitória. Nesta região foram de-
Victoria A.M., Pedrosa-Soares A., Cruz S.C.P. 2019.
Os riftes neoproterozoicos precursores ao Orógeno Ara- finidas as faixas móveis Ribeira (Hasui et al., 1975) e Araçuaí (Almei-
çuaí – Congo Ocidental: atualização dos limites de tem- da, 1977), e a Província Estrutural Mantiqueira (Almeida et al., 1977).
po com base em idades (U-Pb e Pb-Pb) do magmatismo Os resultados obtidos por U. G. Cordani nas províncias Mantiqueira
anorogênico. In: XVII Simpósio Nacional de Estudos
Tectônicos. Bento Gonçalves, SBG, Anais, p. 111. e Borborema transformaram o acervo geocronológico disponível de
Vieira V.S. 2007. Significado do Grupo Rio Doce menos de uma centena (Hurley et al., 1967; Cordani et al., 1968) a
no Contexto do Orógeno Araçuaí. Tese de Doutorado, milhares de idades em poucos anos (Cordani et al., 1973a; Almeida et
Instituto de Geociências, Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte. al., 1973). O incremento nos dados permitiu estabelecer a cronologia
Vieira P.L., Queiroga G.N., Novo T.A., Pedrosa- dos ciclos Brasiliano e Transamazônico, e delimitar a área ocupada Claudio de Morisson
Soares A.C., Lana C. 2019. Ultrahigh Temperature pelo Cráton do São Francisco e suas faixas marginais. Valeriano.

272 273
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 12

As idades Rb-Sr compiladas resultaram de isócronas de referência ou isócronas


internas (minerais). Quando por nós recalculadas, foi utilizado o ajuste de York et al.
(2004) no programa IsoplotR (Vermessch, 2018). As idades U-Pb são idades aparen-
tes 207Pb/206Pb com concordância com as demais idades, obtidas em concentrados de
zircão com elevado número de cristais, devido às características do espectrômetro
utilizado na época. As idades K-Ar foram recalculadas por Tupinambá et al. (1997)
com constantes de Steicer e Jaeger (1977).

3. Superposição de Ciclos Orogênicos


Figura 1: Províncias estruturais na Província Mantiqueira
brasileiras contendo faixas mó-
veis brasilianas (Almeida et al., O Ciclo Orogênico Trans-Amazônico (grafia original) foi proposto em 1967 por
1977). Bo: Borborema;
To: Tocantins; Ma: Mantiqueira, Hurley et al. (1967) para um evento orogênico ocorrido há 2,0 Ga que afetou o
e destaque para as faixas móveis Escudo das Guianas e parte do Escudo Atlântico. Neste mesmo ano, a Comissão
Ribeira (Rb) e Araçuaí (Ar). do Mapa Tectônico do Brasil propôs os termos Ciclo Brasiliano (ou Orogênese),
Serra da Mantiqueira (figura 3)
e Serra dos Órgãos (figura 4). Sistemas Brasilianos e Brasilides para um evento de grande distribuição na Platafor-
ma Brasileira que ocorreu entre o Neoproterozoico e o Paleozoico Inferior (Ferrei-
ra, 1972). A adoção desses termos pela comunidade geocientífica não foi imediata.
Em 1968, U. G. Cordani denominou de Episódio Akawaiano o evento definido em
2,0 Ga no Escudo das Guianas e de Ciclo Orogênico Cariri ao evento com máxi-
mo termal em 650-600 Ma no nordeste e sudeste do Brasil (Cordani et al., 1968).
Neste capítulo apresentamos o trabalho de U. Cordani na Província Manti- Em 1969, trabalhos importantes sobre a evolução tectônica do SE do Brasil (Ebert,
queira e discutimos sua contribuição na pesquisa de terrenos poli-cíclicos, expan- 1969) e da Plataforma Brasileira (Almeida, 1969) no mesmo intervalo (600-450 Ma)
dindo uma revisão preliminar de Tupinambá et al. (1997). Os resultados foram adotaram nomes de orogenias eurasianas (Assíntica e Baikaliana, respectivamente).
publicados em numerosas publicações que introduziram o uso combinado de Nesse ano, U. G. Cordani atribui ao Ciclo Orogenético Trans-Amazônico rochas
idades K-Ar, Rb-Sr e U-Pb no Brasil. plutônicas com idades isocrônicas Rb/Sr de 2,0 Ga do Cráton do São Francisco na
Bahia (Cordani et al., 1969). Na região SE do Brasil, Delhal et al. (1969) definiram
um evento metamórfico em 2,0 Ga e outro evento de migmatização e granitogênese
2. Acervo de dados em 620 Ma, sem atribuí-los a orogêneses conhecidas.
A publicação do Mapa Tectônico do Brasil, em 1972, consolidou o uso dos ciclos
O período investigado inicia em 1968 e se estende a 1973. Inicia pela publica- no Brasil (Ferreira, 1972). Almeida et al. (1973) propuseram uma divisão tectônica e
ção da primeira idade U/Pb em zircão no país (granitos pós-tectônicos da Serra dos cronológica da plataforma brasileira segundo os ciclos Transamazônico, Uruaçuano e
Órgãos, Cordani et al., 1968; Ledent e Pasteels, 1968), passa pela publicação de Brasiliano. U. G. Cordani, em sua tese de livre-docência, reconheceu a atuação dos ciclos
resultados em vários sistemas isotópicos (Delhal et al., 1969), indo até 1973, ano em Transamazônico e Brasiliano no Cráton do São Francisco e Faixa Araçuaí, entre a Bahia
que defendeu sua tese de livre docência (Cordani, 1973) e publicou artigos de inte- e o Espírito Santo (Cordani, 1973). Posteriormente, integrou a esses dados novos resul-
gração dos resultados (Cordani e Teixeira, 1979; Cordani et al., 1973b) nas serras tados na região SE do Brasil e discutiu os efeitos metamórficos e deformacionais gerados
da Mantiqueira e dos Órgãos (figura 1). pela superposição dos ciclos Brasiliano e Transamazônico (Cordani et al., 1973).
Na campanha original de campo de 1966 foram coletadas 193 amostras para análi- A Província Mantiqueira se estende pela Costa do Atlântico Sul por 3.000 km, do
ses petrográficas e determinações Rb-Sr e K-Ar e sete amostras com cerca de 50 kg para Sul da Bahia ao Uruguai, contendo as faixas Araçuaí, Ribeira, Apiaí e Dom Feliciano
determinações U-Pb. A localização dos afloramentos, detalhada em relatório inédito (figura 1). Os episódios acrecionários e colisionais das faixas em relação aos crátons
cedido pelo Prof. Cordani, foi conferida e fornecida em coordenadas nos quadros 1, do São Francisco, Congo, Paranapanema e Luís Alves resultaram em orógenos hoje
2 e 3. Afloramentos-chave em Juiz de Fora e na Serra dos Órgãos foram revisitados parcialmente erodidos, o que justifica a denominação mais recente de Sistema Oro-
e detalhados (figura 6) e incluídos em unidades estratigráficas adotadas atualmente. gênico Mantiqueira à província e de orógenos Araçuaí – Oeste Congo, Ribeira, Dom
A mineralogia e textura de amostras-chave foi reexaminada em lâminas delgadas da Feliciano e São Gabriel às faixas (Heilbron et al., 2004; Pedrosa-Soares et al., 2011).
coleção organizada pelo Prof. Cordani, constituída de duplicatas do acervo do Museu Os orógenos Ribeira e Araçuaí – Oeste Congo são reconhecidos como acrecionários
Real da África Central, em Tervuren, Bélgica (figura 2). e resultantes de colagens orogênicas durante os ciclos Brasiliano e Transamazônico.

274 275
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 12

O mosaico final de terrenos contem equivalentes metamór-


ficos de sequências sedimentares e vulcanossedimentares de
margens passivas e ativas proterozoicas, remanescentes de
embasamento paleoproterozoico e arqueano, granitoides
brasilianos de várias gerações e bacias molássicas cambro
-ordovicianas.
a 3.1 Remanescentes Arqueanos
Após a atuação de dois ciclos de geração e retrabalha-
mento crustal, o reconhecimento de remanescentes arque-
anos na Província Mantiqueira é uma tarefa difícil, mas foi
realizada com sucesso pela equipe do Prof. Cordani. As
amostras analisadas por Cordani et al. (1973) entre Juiz de
Fora e Barbacena (figura 3 e quadro 1) estavam posiciona-
das no embasamento arqueano de Ebert (1956). Fornece-
ram isócrona de referência com idade de 2880 ± 166 Ma
e razão inicial 87Sr/86Sr de 0,706, indicando idade neoar-
queana para a gênese dos gnaisses. Um grupo de amostras
retiradas próximo a Barbacena forneceu idade orosiriana de
1975 ± 96 Ma e razão inicial 87Sr/86Sr de 0,7128. Os autores
não relacionaram a idade ao evento Transamazônico, mas à
b proximidade da bacia proterozoica do Grupo São João del
Rei. Análises U-Pb das amostras JD144, 147 e 149 foram
publicadas posteriormente por Delhal e Demaiffe (1985).
A amostra 149, um gnaisse pegmatoide, provável leucosso-
ma, apresenta alta discordância nas idades U-Pb, com idade
206
Pb/207Pb de 1963 ± 15 Ma. Na amostra JD144 a titanita
forneceu idade concordante em 600 Ma e duas frações de
zircão se alinham em discórdia com intercepto superior em
2550 Ma. A amostra 147, um gnaisse bandado, mostra alta
Figura 3: Amostragem re-
discordância, com idade 206Pb/207Pb de 2421 ± 15 Ma. alizada por U. G. Cordani
-2,70 Ga) é denominado de Orogênese Rio das Velhas (Teixeira et al.,
No contexto geológico atual (figura 3 e quadro 1), as
c amostras analisadas por Cordani et al. (1973) entre Juiz de
2019) e o Orógeno Acrecionário Minas (Teixeira et al., 2015) é o evento entre Juiz de Fora e Barba-
cena, MG. Ba: Barbacena;
paleoproterozoico que o sucedeu. SD: Santos Dumont; JF:
Fora e Barbacena, MG, pertencem ao complexo mesoarquea- Juiz de Fora. Tracejado:
O Complexo Barbacena é considerado como um greenstone belt
no Barbacena (ou Piedade), à Suíte São Bento das Torres (Neo- Rodovia BR-040. Mapa
em alto grau (Pires, 1978). Idades isocrônicas Sm-Nd e Rb-Sr atingem geológico modificado de
arqueano) e aos complexos paleoproterozoicos Mantiqueira
3190 e 3220 Ma, e o complexo é cortado por dique gabroico com Heilbron et al., 2010.
(com herança arqueana) e Ressaquinha. No Sul do Cráton do
idade U-Pb de 2706 ± 9 Ma (Teixeira et al., 2019). O Gnaisse Piedade
São Francisco o evento de geração crustal neoarqueano (2,79
é uma variedade bandada do complexo sujeita à deformação dúctil
tangencial durante o Paleoproterozoico, como proposto por Machado
Figura 2. Fotomicrografias de amostras selecionadas Filho et al. (1984). Magmatismo neoarqueano com herança paleoar-
do acervo do Prof. Cordani, da Série Juiz de Fora (a) queana foi descrito na Suíte São Bento das Torres (Pinto, 1991; Viana,
e da Série Serra dos Órgãos (b-d): a) ortopiroxênio 1991), que contém ortogranulitos básicos e ácidos. Viana (1991) adi-
(Opx), biotita (Bi) e granada (Gt) em paragnaisse
granulítico, amostra 127; b) fitas de quartzo (Qz) e cionou quatro amostras (147 e 149 no quadro 1) a amostras de Cor-
microclina (Mi) em leucossoma milonítico em migma- dani et al. (1973) do mesmo afloramento e obteve uma isócrona com
tito, amostra 4-5; c) megacristal de quartzo anedral, idade de 2684 ± 110 Ma e razão inicial 87Sr/86Sr de 0,714. Quando
gnaisse sin-colisional, amostra 49; d) cristais euedrais
incluído um restito de piroxênio granulito, a isócrona fornece idade
d de plagioclásio (Pl) e microclina em granito pós-tectô-
nico, amostra 50. A barra vermelha mede 500 µm. paleoarqueana de 3370 Ma e razão inicial 87Sr/86Sr de 0,701.

276 277
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 12

O Complexo Ressaquinha (Viana, 1991) é constituído por rochas graníticas


(predominante) a tonalíticas pouco deformadas e está encaixado em rochas do
Complexo Barbacena. Viana (1991) obteve isócronas Rb/Sr de afloramento do
complexo com idades entre 1815 e 1974 Ma e 87Sr/86Sr inicial de 0,7085 a 0,7157.
Possui continuidade lateral com o Batólito Alto Maranhão, com idades U-Pb TIMS
em zircão de 2130 ± 2 Ma e titanita de 2124 ± 2 Ma, confirmando um extenso
magmatismo riaciano na região.

3.2 Terrenos paleoproterozoicos


Em Juiz de Fora, MG, os conceitos de Ebert (1956, 1968) sobre as rochas char-
nockíticas embasaram a pesquisa de U. G. Cordani e colaboradores. A série Juiz de
Fora (Ebert, 1956) englobava metassedimentos com paragêneses diagnósticas para a
fácies granulito que ocorrem em um sinformal na porção centro-oeste da cidade de
Juiz de Fora e cercanias, e sustenta o mais alto morro da cidade, o Morro do Cristo
Redentor. No local, Ebert (1956a) descreveu, da base para o topo: quartzito felds-
pático; metagrauvaca conglomerática (biotita gnaisse porfiroblástico) com bancos
delgados de quartzito e gnaisse kinzigítico; gnaisse charnockítico. A espessura do
pacote chegaria a 900 metros. O nível kinzigítico consistiria em uma transição meta-
mórfica entre o biotita-gnaisse e o charnockito, associada a falhas de empurrão com
desidratação e “descalcinização” do topo da sequência sedimentar (Ebert, 1956a).
Posteriormente, o autor (Ebert, 1968) incorporou a sequência ao Grupo Paraíba,
considerando um equivalente metamórfico de uma sequência psamítica que ocorre
Quadro 1: no vale do Rio Paraíba do Sul.
Amostras do emba- Foram amostrados por Cordani et al. (1973) dois afloramentos do nível kinzi-
samento arqueano
e paleoproterozoico No Complexo Mantiqueira, trabalhos posteriores convergem gítico (128 e 130) e três afloramentos do nível charnockítico (127, 140 e JD145).
entre Barbacena e para geração dos ortognaisses por magmatismo de arco paleopro- As amostras dos níveis grauváquicos e kinzigíticos se alinharam em isócrona Rb-Sr
Juiz de Fora. de 2000 Ma; as amostras charnockíticas se posicionaram acima da isócrona. A
terozoico instalado em um bloco arqueano. Remanescentes arque-
anos no complexo foram reconhecidos por Heilbron et al. (2010) amostra 145, com teor quase nulo de rubídio, apresenta razão elevada de 87Sr/86Sr
em gnaisse leucocrático mesoarqueano de 2866 ± 6 Ma e cristais (0,7155), o que sugere razão inicial metassedimentar ou rehomogeneização iso-
herdados de zircão em diversas rochas. Idades neoarqueanas de cris- tópica. Os autores concluíram que as amostras charnockíticas pertenceriam a um
talização foram determinadas por Bruno et al. (2020), que delimita- embasamento arqueano, possivelmente contemporâneas ao Complexo Mantiquei-
ram o bloco arqueano Piedade na porção norte do Complexo Man- ra (2800 Ma), sujeitas a metamorfismo paleoproterozoico.
tiqueira. Três episódios arqueanos (2,53-2,64; 2,96-2,98; 3,02-3,26 O Complexo Juiz de Fora, unidade largamente conhecida no sudeste brasileiro,
Ga) de geração crustal foram reconhecidos através de isótopos de não adota a definição original de Ebert (1956a) para a Série Juiz de Fora. O com-
Nd (Fischel et al., 1998; Bruno et al., 2020). Isócronas Rb-Sr de plexo metamórfico contem rochas ortoderivadas granulitizadas e quase sempre
afloramentos do complexo (Teixeira e Figueiredo, 1996) forneceram miloníticas, com termos ácidos a básicos representantes de um arco magmático
idades entre 2230 e 2110 Ma e 87Sr/86Sr inicial entre 0,703-0,705 e paleoproterozoico de caráter juvenil (Oliveira, 1983; Machado Filho et al., 1983;
0,712-0,713. Os autores atribuíram as idades a um evento metamór- Teixeira e Figueiredo, 1991; Heilbron et al., 2004; Heilbron et al., 2010). A lar-
fico paleoproterozoico capaz de rehomogeneizar rochas arqueanas ga faixa de afloramentos do Complexo Juiz de Fora inicia a sul de Juiz de Fora,
para razões 87Sr/86Sr elevadas e gerar duas séries magmáticas de cará- incluindo o charnockito do ponto 140 de Cordani et al. (1973) (quadro 2), onde
ter juvenil. Silva et al. (2002) e Noce et al. (2007a e 2007b), a partir Heilbron et al., 2010 obtiveram idade U-Pb em zircão LA-ICP-MS de 2199 ± 17
de análises U-Pb SHRIMP em zircão, obtiveram idades discordantes Ma. A razão 87Sr/86Sr desta amostra calculada para idade de cristalização fornece o
no intervalo 2180-2041 Ma interpretadas como idades de cristali- valor de 0,7123.
zação. A variação de idades do evento paleoproterozoico foi obtida O conjunto metassedimentar a sul e a norte de Juiz de Fora, intercalado tectonica-
por Heilbron et al. (2010) através de U-Pb TIMS e LA-ICP-MS em mente entre os complexos Mantiqueira e Juiz de Fora, é incluído na Megasequência
zircão: magmatismo tonalítico entre 2121 e 2220 Ma; granitogênese Sedimentar Andrelândia (figuras 3 e 4). Os metassedimentos que ocorrem na cidade
entre 2170 e 2209 Ma e migmatização em 2096 ± 27 Ma. de Juiz de Fora, inclusos em estrutura sinformal, foram incluídos por Duarte (1998)

278 279
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 12

Quadro 2:
Amostras
da Série
Juiz de Fora.

Com base nas peculiaridades da Unidade Jardim Glória e da Série Juiz de Fora
refizemos o cálculo da idade isocrônica das amostras 127, 128, 140 e JD145 (qua-
dro 2 e figura 4) de Cordani et al., 1973. Foi obtida uma idade de 2457 ± 157 Ma
e 87Sr/86Sr inicial de 0,711. O valor de MSWD (Mean Square Weighted Deviation)
define uma errócrona (Kalsbeek, 1992) mas a idade tem significado importante,
por excluir a Unidade Jardim Glória da Megassequência Andrelândia, sabidamente
neoproterozoica (Heilbron et al., 2017). Ao mesmo tempo, é possível estabelecer
hipóteses sobre ocorrência de sequências sedimentares paleoproterozoicas ou mais
antigas ao longo de uma importante descontinuidade da Faixa Ribeira.

3.3 O Neoproterozoico e a Orogênese Brasiliana na Serra dos Órgãos


A região da Serra dos Órgãos (figura 5) foi escolhida pela equipe do Prof. Cor-
dani para obter a idade do evento orogênico na região costeira do Brasil (U. G.
Figura 4: Mapa Geológico dos Cordani, comunicação verbal). Nela eram conhecidos migmatitos e gnaisses gra-
arredores de Juiz de Fora, MG, na Unidade Jardim Glória e posteriormente incorporados à Megase- nitoides da Série Serra dos Órgãos e granitos pós-tectônicos, definidos por Rosier
modificado de Duarte (2009). quência Andrelândia (Duarte, 2009). No entanto, os paragnaisses da
ppMa: Complexo Mantiqueira.
(1957, 1967). O intervalo de idade do evento de migmatização, metamorfismo e
ppJf: Complexo Juiz de Fora. Unidade Jardim Glória apresentam peculiaridades. O litotipo princi- granitogênese revelou-se neoproterozoica a cambriana desde os primeiros traba-
pƐAnd: Megassequência An- pal é um biotita-granada-ortopiroxênio gnaisse, rocha escura de to- lhos publicados (Ledent e Pasteels, 1968; Delhal et al., 1969) e foi utilizada como
drelândia (q: quartzito) nalidade esverdeada ou azulada, foliada e de estrutura estromática. O
(p: gnaisse porfiroblástico). base para a definição do Ciclo Brasiliano (Ferreira, 1972).
pƐJg: Unidade Jardim Glória gnaisse tem concentração elevada em plagioclásio e apatita e é pobre
(hachurado: domínio milonítico). em quartzo, sugerindo protólito rico em cálcio. Lentes centimétricas 3.4 Gnaisses migmatíticos e o arco magmático Rio Negro
pƐCk: charnockito Salvaterra. de rocha calcissilicática e anfibolito associam-se aos paragnaisses. Leu-
IT: Intercalação tectônica O afloramento chave para determinação da idade da migmatização e grani-
entre Complexo Juiz de Fora e cossoma branco a esverdeado ou azulado, com granada, quartzo azul togênese da Série Serra dos Órgãos (Delhal et al., 1969; Cordani et al., 1973)
Megassequência Andrelândia. e ortopiroxênio é comum (figura 2a); o melanossoma é rico em biotita está situado na margem direita do Rio Piabanha, na área urbana de Areal, RJ.
e granada. A sequência foi considerada como depósito semipelítico, Há no local duas pedreiras onde ocorre migmatito com bandas máficas homogê-
em parte químico, provavelmente margas e cherts de fundo marinho neas e félsicas de grão médio a grosso (figura 6a, quadro 3). A banda félsica tem
(Duarte, 1998; Duarte et al., 2003). A situação estrutural da Unida- composição granítica, com quartzo em fitas e biotita (figura 2b). A banda máfica
de Jardim Glória é peculiar por estar situada no núcleo de sinformal (melanossoma) contém biotita, hornblenda, plagioclásio e epídoto secundário. O
(Ebert, 1956a) na base de dúplex crustal (Duarte, 1998) entre os do- mesossoma é um gnaisse cinzento a preto, homogêneo, micáceo e pouco foliado.
mínios tectônicos com diferentes tipos de embasamento e evolução Predomina neossoma grosso com feições de assimilação do bandamento migma-
estrutural diversa (Heilbron et al., 1995). títico e do mesossoma. A equipe de Cordani retirou duas amostras (4 e 5) pe-

280 281
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 12

Quadro 3:
Gnaisses e
granitos da
Série Serra dos
Órgãos.

Figura 5: Amostragem
realizada por U. Cordani
na Região da Serra dos Ór- sando, juntas, 50 kg, em um composto de bandas máficas e félsicas,
gãos. Mapa geológico do
Terreno Oriental da Faixa denominado amostra 4-5. Na preparação a amostra foi dividida em 3.5 Gnaisses Granodioríticos e o Batólito sin-colisional da Serra dos Órgãos
Ribeira simplificado de três frações em peneira de 100#, que forneceram idades aparentes Os migmatitos da Série Serra dos Órgãos envolvem um extenso núcleo de
Tupinambá et al. (2012). gnaisses granodioríticos, cartografados e assim denominados por Rosier (1965).
1: Grupo São Fidélis.
207
Pb/206Pb concordando em 620 Ma (Delhal et al., 1969). As razões
2: Complexo Rio Negro.
87
Sr/86Sr de duas frações da amostra 4-5, calculadas para idade de Estes gnaisses foram reunidos no Batólito da Serra dos Órgãos e posteriormente
3: Suíte Serra dos Órgãos. cristalização, fornecem valores de 0,7091 e 0,7085. na Série Serra dos Órgãos (Tupinambá, 2012). A idade do magmatismo foi pesqui-
4: Suíte Cordeiro. sada por Delhal et al. (1969) e Cordani et al. (1973), através de um conjunto de
5: Suíte Nova Friburgo.
Em 1994, M. Tupinambá procurou o Prof. Cordani para dar
6: Complexos alcalinos prosseguimento à pesquisa na região. Na ocasião, Cordani men- amostras da região serrana fluminense (quadro 3). As amostras 47 e 49, destinadas
meso-cenozoicos. cionou o que esperava sobre as rochas da região: “(...) devem re- a análises U-Pb, Rb-Sr e K-Ar, foram coletadas em duas pedreiras na rodovia BR-
presentar um magmatismo brasiliano, e não apenas metamorfismo 492 entre Nova Friburgo e Bom Jardim, RJ, instaladas em vertente rochosa que
e fusão parcial”. A hipótese foi confirmada: evidências de campo expõe o plano de contato entre o Complexo Rio Negro (CRN) e a Suíte Serra dos
e petrografia reclassificaram os migmatitos e gnaisses da Unidade Órgãos (SSO), com suave mergulho para noroeste (figura 6b). O contato é intru-
Rio Negro (Matos et al., 1980) como um complexo plutônico com sivo, abrupto, com schlieren biotíticos, prováveis resíduos de tonalitos do CRN.
predomínio de rochas intermediárias (Complexo Rio Negro, Tupi- No gnaisse do CRN a foliação é bem marcada, com forte lineação mineral. Este é
nambá et al., 1996). A idade e o quimismo indicaram uma sequ- cortado por veios e bolsões concordantes e discordantes de granitoide leucocrá-
ência calci-alcalina de arco magmático, com idade U-Pb em zircão tico pouco foliado. O gnaisse granodiorítico da SSO não é cortado por veios. A
de 634 Ma (Tupinambá et al., 1998, 2000). Dados isotópicos de amostra 47 é um biotita gnaisse grosso, granodiorítico, localmente com granada e
Sr e Nd reforçaram o caráter juvenil do magmatismo (Tupinambá megacristais de quartzo anédrico tardio, propriedades típicas de gnaisse da SSO.
et al., 2012). A cartografia de um arco neoproterozoico juvenil A amostra 49 foi retirada de veio granítico leucocrático levemente foliado (figura
embasou a reconstituição da paleogeografia do Terreno Oriental 2c), que ocorre em veios e bolsões que cortam gnaisse tonalítico do CRN mas não
e suturas orogênicas brasilianas na Faixa Ribeira (figura 5), como o gnaisse da SSO. Esse leucognaisse foi posteriormente incluído na Suíte Cordeiro,
o Limite Tectônico Central (Tupinambá, 1999; Heilbron et al., com idade intermediária entre o CRN e o SSO (Tupinambá et al., 2012). As idades
2004, 2017). U/Pb das amostras 47 e 49 (Delhal et al., 1969) não são concordantes e nem estão

282 283
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 12

a)
e 55, calculadas para idade de cristalização (560 Ma) fornecem valores de 0,7082
e 0,7080, respectivamente. Dados geotermobarométricos, litogeoquímicos e iso-
tópicos da SSO indicam origem do magmatismo por fusão de crosta paleopro-
terozoica induzida por injeção de magma básico e alojamento no limite entre a
crosta inferior e superior (Machado et al., 2016).

3.6 Granitos pós-colisionais e o estágio pós-orogênico


Os granitos pós-tectônicos (ou pós-colisionais) da Serra dos Órgãos foram
caracterizados por Rosier (1957, 1965) como rochas isotrópicas, não deformadas
ou metamorfisadas, que cortam de forma discordante a foliação dos gnaisses.
Considera-se que a primeira idade U-Pb em zircão de rochas do território brasi-
leiro foi obtida na amostra 50, de granito pós-tectônico (Ledent e Pasteels, 1968;
Cordani et al., 1968) foi obtida em amostra de granito pós-tectônico (figura 2d,
amostra 50). A amostra foi coletada em pedreira na estrada que ligava Nova
Friburgo a Campo do Coelho. Neste trecho da atual rodovia RJ-130 não há pe-
dreiras, com exceção para o sítio do aterro sanitário de Nova Friburgo, que teria
aproveitado uma cava de pedreira para iniciar a deposição de rejeitos. Ledent e
Pasteels (1968) analisaram duas frações não magnéticas de um concentrado de
zircões e atribuíram a idade aparente 207Pb/206Pb de 540 ± 60 Ma como a melhor
estimativa da idade de cristalização do granito. Para o sistema Rb/Sr, a amostra
50 foi analisada para rocha total, apatita, microclina e biotita. A isócrona interna
b) (ou mineral) calculada pelo IsoplotR (Vandeerben, 2018), fornece idade de 460
± 9 Ma, com 87Sr/86Sr inicial de 0,7099. A idade K-Ar em biotita, recalculada por
Tupinambá et al. (1997), é de 459 ± 23 Ma.
O Granito Nova Friburgo foi datado por U-Pb LA-MC-ICP-MS em zircão e tita-
nita, fornecendo idades entre 486 e 488 Ma (Valeriano et al., 2011). Juntamente com
outros tipos de granitos pós-colisionais da região serrana do Rio de Janeiro, represen-
tam um episódio ordoviciano de magmatismo, precedido por evento cambriano em
513 Ma (Valeriano et al., 2011). Análises de Sr do Granito Nova Friburgo (Tupinambá,
1999; Valeriano et al., 2016) indicam que o magmatismo resultou de mistura de fonte
com 87Sr/86Sr<0,705 e outra com 0,706-0,707, ambas fornecendo idades isocrônicas
semelhantes à idade U-Pb. Um conjunto com 87Sr/86Sr>0,708 e idade isocrônica de
444 ± 32 Ma sugere presença de fluidos hidrotermais pós-magmáticos. As razões
Figura 6: Geologia de deta-
87
Sr/86Sr das amostras de granito analisadas por Ledent e Pasteels (1968) na Serra dos
lhe de afloramentos-chave Órgãos (50, 44 e 47, quadro 3), quando calculadas para a idade de 486 Ma, resultam
da Série Serra dos Órgãos. em razões entre 0,7085 e 0,7142, revelando a influência do evento pós-magmático.
a) Pedreira de Areal, mig-
matito, amostra 4-5, com
destaque para contato entre
leucossoma e melanossoma
milonítico. 4. Discussões e conclusões
b) Pedreiras entre Nova alinhadas em uma discórdia. A amostra 47 tem idade Pb206/U238 de
Friburgo e Bom Jardim, 629 ± 10 Ma e a amostra 49 idades ainda maiores e discordantes, U. Cordani foi pioneiro em levantamento de dados geocronológicos em ter-
gnaisses granodioríticos sin-
tectônicos, Suíte Serra dos indicando presença de cristais herdados de zircão nas duas amostras. renos policíclicos. A leste do Cráton do São Francisco, reconheceu, com sucesso,
Órgãos, amostras 47 e 49. A idade de cristalização da Suíte Serra dos Órgãos foi determi- remanescentes arqueanos retrabalhados por eventos paleoproterozoicos e estabe-
nada posteriormente por U-Pb em zircão através de TIMS, 559 ± 4 leceu parâmetros robustos para formular um dos primeiros modelos evolutivos da
Ma (Tupinambá, 1999) e SHRIMP, 569 ± 6 Ma (Silva et al., 2003). Orogênese Brasiliana.
A presença de cristais herdados e discordantes de zircão foi também Pesquisas posteriores comprovaram hipóteses levantadas por U. Cordani e co-
observada por Tupinambá (1999). A razão 87Sr/86Sr das amostras 47 laboradores. O Bloco Piedade (Bruno et al., 2020) reúne remanescentes arqueanos

284 285
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 12

inicialmente reconhecidos por U. Cordani e um arco continental paleoprotero- Delhal J., Ledent D., Cordani U. G. 1969. Ages Ann. Soc. Géol. Belg, 91: 305-309.
Pb-U, Sr-Rb et Ar-K de formationsmétamorphiques et Oliveira M.A.F. 1983. As rochas granulíticas da
zoico foi confirmado na Serra da Mantiqueira (Bruno et al., 2020; Heilbron et granitiquesdusud-estduBrésil (États de Rio de Janeiro et faixa Paraíba do Sul. Revista Brasileira de Geociên-
al., 2010; Teixeira e Figueiredo, 1996). Na Serra dos Órgãos, a idade de 620 Minas Gerais). Ann. Soc. Géol. Belg, 92:271-283. cias.13(2):84-92.
Ma representa fusão crustal contemporânea ao Arco Rio Negro (Tupinambá et Ebert H. 1956a. BeitragZurGliedrung des Prakam- Pinto C.V. (org.). 1991. Programa Levantamentos
brium in Minas Gerais. GeolRunds, 45. pp 471-521. Geológicos Básicos do Brasil. Lima Duarte. SF.23-X-
al., 1998, 2012), como hipotetizou U. Cordani. O magmatismo sin-tectônico de Ebert H. 1956b. Relatório de atividades. In Relató- C-VI. Estado de MInasGerais.Belo Horizonte, DNPM/
Delhal et al. (1969) e Cordani et al. (1973) foi sistematicamente datado em 560- rio anual do diretor da Divisão de Geologia e Minera- CPRM. 224p. 2 mapas.
575 Ma (Heilbron e Machado, 2003; Silva et al., 2005; Tupinambá, 1999), idade logia, ano 1956. Rio de Janeiro. DGM/DNPM: 97-107. Pires F.R.M. 1978. The Archean Barbacena greens-
Ebert H. 1968. Ocorrência da fácies granulítica no tone belt in its typical development and the itabirite
do metamorfismo principal da Faixa Ribeira (Machado et al., 1996). Os granitos sul de Minas Gerais e em áreas adjacentes, em depen- distribution at the Lafaiete District. Anais da Academia
pós-tectônicos foram gerados entre o Cambriano e o Ordoviciano (Valeriano et al., dência de sua estrutura orogênica: Hipótese sobre sua Brasileira de Ciências 50: 599-600.
2011), como indicado no trabalho pioneiro de Ledent e Pasteels (1968). origem. Rio de Janeiro. Anais Academia Brasileira Cien- Steiger R. & Jäger E. 1977. Subcommission on
cias, 40 (supl): 215-229. geochronology: convention on the use of decay cons-
Algumas questões abordadas na época permanecem em aberto. Complexos ti- Duarte B.P. 1998. Evolução tectônica dos ortognais- tants in geo-and cosmochronology. Earth andPlanetary
dos como arqueanos (Barbacena, Piedade e São Bento das Torres) ainda carecem ses dos Complexos Juiz de Fora e Mantiqueira na região Science Letters, 36(3): 359-362.
de determinações U-Pb para que sua idade e evolução possa ser estabelecida. Ida- de Juiz de Fora, MG: Geologia, petrologia e geoquímica. Teixeira W., Ávila C., Dussin I., Corrêa Neto A.,
1998. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. Bongiolo E., Santos J., Barbosa N. 2015. Zircon U–Pb–
des arqueanas foram encontradas no Complexo Juiz de Fora (Silva et al., 2003; Duarte B. P. (coord.). 2003. Mapa Geológico da Hf, Nd–Sr constraints and geochemistry of the Resende
Heilbron et al., 2010; Fernandes André et al., 2018), sem que se possa atribuir Folha Juiz de Fora, SF-23-X-D-IV. Escala 1:100.000. Costa Orthogneiss and coeval rocks: new clues for a
a núcleos arqueanos ou enclaves de rochas mais antigas. A idade e distribuição CODEMIG UERJ. 2003 juvenile accretion episode (2.36-2.33 Ga) in the Minei-
Duarte B., Heilbron M., Nogueira J.R., Tupinambá ro belt and its role to the long-lived Minasaccretionary
dos metassedimentos de alto grau de Juiz de Fora, com idade isocrônica Rb-Sr do M., Eirado L.G.,Valladares C., Almeida J.C.H., Guia C. orogeny. PrecambrianResearch: 256: 148-169.
Sideriano precisa ser melhor investigada ao longo da sutura entre os complexos 2003. Geologia das Folhas Juiz de Fora e Chiador. In: Tupinambá M., Teixeira W., Heilbron M., Basei M.
Mantiqueira e Juiz de Fora. Na Serra dos Órgãos, o migmatito de Areal foi inclu- A.C. Pedrosa Soares, C.M. Noce, R. Trouw, M. Heil- 1998. The Pan-African / Brasiliano Arc-Related Mag-
bron (coord.). Projeto Sul de Minas, Belo Horizonte, matism at The Costeiro Domain of The Ribeira Belt,
ído no Complexo Rio Negro, com assinatura química e isotópica de arco mag- COMIG/SEME, vol. 1, cap. 6, p.153-258. Southeastern Brazil. In: International Conference on
mático juvenil e idade entre 600 e 634 Ma (Tupinambá et al., 2000, 2012). No Fernandes André J.L., Valladares C. S., Duarte, B. P. Basement Tectonics, OURO PRETO. Anais. Interna-
entanto, estruturas diatexíticas como encontradas na pedreira de Areal precisam 2018. Granulitos Arqueanos na Região de Mangaratiba tional Conference on Basement Tectonics. Ouro Preto:
(RJ): Significado Tectônico. Anuário Instituto de Geo- UFOP. v. 14. p. 12-14.
ser entendidas no contexto de uma etapa evolutiva pré-colisional. ciênciasUFRJ. 41-3: 531-547. Tupinambá M. A. 1999. Evolução tectônica e mag-
Ferreira E.O. 1972. Tectonic Map of Brazil. Expla- mática da Faixa Ribeira na região serrana do Estado
natory Note. Brasilia, DNPM, 18p. do Rio de Janeiro. Tese de Doutorado., Instituto de
Heilbron M., Pedrosa-Soares A.C., Campos-Neto Geociências, Universidade de São Paulo, 184p. https://
M., Silva L.C., Trouw R.A.J., Janasi V. 2004. Província doi.org/10.11606/T.44.1999.tde-18112015-100759
Referências tinente Sul-Americano: Evolução da obra de Fernando Mantiqueira. In: VirginioMantesso-Neto; A.B.i; Car- Tupinambá M., Teixeira W., Duarte B. P., Heil-
Flávio Marques de Almeida. São Paulo: Beca Produções neiro, C.D.R; Neves, B.B.B. (Org.). Geologia do Con- bron M. 1997. UG Cordani& J. Delhal’s geochro-
Almeida, F. F. M. 1977. O cráton do São Francisco. Culturais Ltda., p. 165-175. tinente Sul Americano: Evolução da Obra de Fernando nological data from the Ribeira Belt revisited after
Revista Brasileira de Geociências, 7(4): 349-364. Cordani U. G., Delhal J., Gomes C., Ledent, D. Flávio Marques de Almeida. 1ªed.São Paulo: Beca Pro- thirty years. In South-American Symposium on Isoto-
Almeida F.F.M., Amaral G., Cordani U.G., Ka- 1968. Nota preliminar sobre idades radiométricas em duções Culturais Ltda., 2004:203-234. pe Geology, Campos do Jordão, Extended Abstracts
washita K. 1973.The Precambrian evolution of the rochas da Serra dos Órgãos e vizinhanças (leste de Mi- Heilbron M., Ribeiro A., Valeriano C.M., Paciullo F., (pp. 320-322).
South America cratonic margin south of the Amazon nas Gerais e Estado do Rio de Janeiro). Revista Brasilei- Almeida J.C.H., Tupinambá M., Eirado Silva L. G. 2017. Tupinambá M., Teixeira W., Heilbron M. 2000.
River. In: A. E. M. NAIRN & F. G. STEHLI, The ra de Geociências, 17(1): 89-92. The Ribeira belt. In: Heilbron, M., Cordani, U., Alkmim, Neoproterozoic western gondwana assembly and sub-
Ocean Basins and Margins, v. 1, p. 411-446. New York: Cordani U. G., Melcher G.C., Almeida F.F.M. F.F. (Org.). São Francisco Craton, Eastern Brazil Tectonic ductionrelated plutonism: the role of the Rio Negro
Plenum Publishing Corp. 1968. Outline of the Precambrian Geochronology of Genealogy of a Miniature Continent. Springer, Cham. 1: Complex in the Ribeira Belt. Revista Brasileira de Geo-
Almeida F. D., Hasui Y., Brito Neves B. D., Fuck R. South America. Canadian Journal Earth Sciences. 5: 277-304. https://doi.org/10.1007/978-3-319-01715-0_15 ciências, 30(1), 7-11.
A. 1977. Províncias estruturais brasileiras. Simpósio de 629-632. Hasui Y., Carneiro C. D. R., Coimbra A. M. 1975. Tupinambá M., Heilbron M., Valeriano C., Júnior
Geologia do Nordeste, 8, 363-391. Cordani U. G., Amaral G., Kawashita K. 1973a. The Ribeira foldedbelt. Revista Brasileira de Geociên- R. P., de Dios F. B., Machado N., de Almeida J. C. H.
Bruno H., Elizeu V., Heilbron M., Valeriano C. The precambrian evolution of South America. Geol. cias, 5(4): 257-266. 2012. Juvenile contribution of the Neoproterozoic Rio
M., Strachan R., Fowler M., Bersan S., Moreira H., Rundschau, 62: 309-317. Hurley P. M. 1961. The basement of Central and Negro magmatic arc (Ribeira Belt, Brazil): implications
Dussin I., Eirado Silva L.G., Tupinambá M., Almeida Cordani U. G., Delhal J., Ledent D. 1973b. Oro- South America, or, how not to date a continent. Annals for western Gondwana amalgamation. Gondwana Re-
J., Neto C., Storey, C. 2020. Neoarchean and Rhya- gèneses superposèes dans le Précambrien du Brèsil Su- of the New York Academy of Sciences, 91(2), 571-574. search, 21(2-3), 422-438.
cian TTG-Sanukitoid suites in the southern São Fran- d-Oriental (États de Rio de Janeiro et Minas Gerais). Hurley P.M., Almeida F.F.M., Melcher G.C., Cor- Vermeesch P. 2018. IsoplotR: a free and open
cisco Paleocontinent, Brazil: evidence for diachronous Revista Brasileira de Geociências, 3(1): 1-22. dani U.G., Rand J., Kawashita K., Vandoros P., Pinson toolbox for geochronology. GeoscienceFrontiers, 9(5),
change towards modern tectonics. Geoscience Fron- Cordani U. G. & Teixeira W. 1979. Comentários W.H., Fairbairn H. 1967. Test of continental drift by 1479-1493.
tiers. In press. sobre as determinações geocronológicas existentes para means of radiometric ages. Science, 144:495-500. ht- Viana H. S. 1991. Programa Levantamentos Geo-
Cordani, U. G. 1973. Evolução Geotectônica da as regiões das folhas Rio de Janeiro, Vitória e Iguape. tps://doi.org/10.1126/science.157.3788.495 lógicos Básicos do Brasil. Barbacena. SF.23-X-C-III.
Região Costeira do Brasil, entre Salvador e Vitória. Ha- In. Fonseca, M.J.G. (ed.) Carta geológica do Brasil ao Kalsbeek F. 1992. The statistical distribution of Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte, DNPM/
bilitationThesis, Universidade de São Paulo, 98p. milionésimo: SF-23, SF-24, SG-23, Rio de Janeiro, Vi- the mean squared weighted deviation---Comment: CPRM. 184p.
Cordani, U. G. 2004. Fernando de Almeida e a tória, Iguape.Brasília, DNPM, pp: 175-208. Isochrons, errorchrons, and the use of MSWD-values. York D., Evensen N.M., Martinez M.L., Basabe
“sua” Plataforma Brasileira. In: VirgínioMontesso Delhal J. & Demaiffe D. 1985. U-Pb Archaean geo- Chemical Geology, 94: 241-242. Delgado J., 2004. Unified equations for the slope, in-
Neto; Andrea Bartorelli; Celso dal Ré Carneiro; Ben- chronology of the São Francisco Craton (Eastern Bra- Ledent D. & Pasteels. 1968. Determinations de tercept, and standard errors of the best straight line.
jamin Bley de Brito Neves. (Org.). Geologia do Con- zil). Revista Brasileira de Geociências, v. 15(1): 55-60. l’age des roches post-tectoniques du sud-est Du Brésil. American Journal of Physics, 72(3), pp.367-375.

286 287
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 13

Geocronologia do magmatismo contribuições significativas do Prof. Cordani foram a definição dos principais perío-
dos deste magmatismo no contexto do então denominado “Ciclo Brasiliano” (Edia-
granítico no sudeste brasileiro: carano e Criogeniano) na região S-SE do Brasil e os estudos das limitações inerentes
evolução do conhecimento a partir das ao método isocrônico Rb/Sr, os quais são revistos nos próximos dois itens.
A partir da década de 1990, datações pelo método U/Pb em zircão e monazita
contribuições de Umberto G. Cordani passaram a constituir o método preferencial para a determinação da idade de
cristalização magmática de rochas graníticas e, desde então, sustentam largamen-
Silvio Roberto Farias Vlach te o conhecimento atual da geocronologia dessas rochas no sudeste brasileiro.
(srfvlach@usp.br), Os itens 4 e 5 deste trabalho consideram, dentro de uma perspectiva histórica,
Valdecir de Assis Janasi
as principais contribuições trazidas pelo método convencional (ID-TIMS) e pelos
(vajanasi@usp.br),
métodos pontuais de alta resolução espacial (SHRIMP, LA-MC-ICP-MS), que em
Universidade de São Paulo,
ambos os casos tiveram contribuições pioneiras do Prof. Cordani, bem como do
Instituto de Geociências.
método Th-U-PbT em monazita e xenotima com EPMA. O item final apresenta
Silvio Roberto Farias Vlach. breves considerações sobre as perspectivas futuras de datação dos granitos no
1. Introdução sudeste brasileiro.

Rochas graníticas (s.l.) afloram em abundância no embasamento


cristalino da região de São Paulo e estados vizinhos, S-SE do Brasil, e
2. Sistemáticas K/Ar e Rb/Sr e a definição de idades
se constituíram em objetos de estudo de diversas gerações de geólo-
gos e pesquisadores devido a sua importância para a compreensão de de referência para o magmatismo granítico
processos magmáticos, para a evolução crustal ao longo do tempo ge-
ológico e do seu potencial como fontes de diversos recursos naturais. Uma das preocupações fundamentais dos pesquisadores a partir do final da
Ao início da década de 1970, os trabalhos dedicados ao magmatis- década de 1960 era a identificação dos granitos pré-, sin-, tardi- e pós-tectônicos
mo granítico na área eram embasados principalmente em dados geo- em relação ao posteriormente denominado Cinturão Orogênico Ribeira (figura
lógicos, estruturais e petrográficos, os quais eram em geral obtidos em 1; Almeida et al., 1976), a partir de dados geológicos e estruturais, uma classifi-
escala de reconhecimento regional. Nessa época, a teoria da tectônica cação então equivalente e inspirada no clássico trabalho de Read (1955) sobre as
das placas progressivamente substituía a teoria geossinclinal clássica diferentes etapas de colocação de granitos (pré-, sin-, tardi- e pós-orogênicos) em
e as ideias de geração de granitos por processos metassomáticos, que relação ao clímax da evolução de um “cinturão móvel” ou orógeno. Paralelamen-
motivaram debates muito acalorados, estavam sendo abandonadas na te, diversas características texturais e petrográficas expeditas eram empregadas
Valdecir de Assis Janasi. literatura internacional (cf. Read, 1957). No caso do Estado de São para caracterizar e/ou identificar “tipos” correlacionados de granitos e diversos
Paulo, os conhecimentos prévios disponíveis para as ocorrências co- termos como tipos “Itu”, “Pirituba”, “Anhanguera” e “Varejão” (e.g., Hasui e
nhecidas até meados dos anos 1980 foram compilados e apresentados Hama, 1972) ou ainda “granitos a duas micas” eram aplicados corriqueiramente
por Janasi e Ulbrich (1991, 1992). pelos geocientistas. Entretanto, não haviam dados geocronológicos quantitativos
Os primeiros dados geocronológicos para rochas graníticas, obti- que permitissem posicionar os diferentes eventos magmáticos na escala absoluta
dos com as sistemáticas K/Ar em minerais (anfibólio, biotita, muscovi- de tempo geológico.
ta, feldspato alcalino) e Rb/Sr em minerais e rocha total, começaram Os primeiros resultados que preencheram esta lacuna foram apresentados
a surgir ao final dos anos 60, com contribuições significativas do Prof. para rochas graníticas do denominado “Grupo Açungui” por U. G. Cordani e
Umberto Cordani, do staff de pesquisadores e técnicos do Centro de I. Bittencourt em resumo ao Boletim Paranaense de Geociências (Cordani e Bit-
Pesquisas Geocronológicas do Instituto de Geociências da USP, e de tencourt, 1967). Este foi um marco para a identificação dos períodos principais
pesquisadores associados. Nesses períodos iniciais, anteriores à dis- de colocação das intrusões sin-tectônicas e tardi-/pós-tectônicas entre 650 e 600
ponibilidade de dados e estabelecimento dos métodos mais precisos Ma e entre 580 e 530-500 Ma, respectivamente, para posicionar o soerguimento
de datação U/Pb em zircão e monazita, aquelas sistemáticas eram as do orógeno e consequente resfriamento regional em ca. 450 Ma, bem como co-
únicas ferramentas geocronológicas disponíveis para a comunidade locar um limite superior em ca. 650 para o período de sedimentação do “Grupo
científica da América do Sul. Açungui”. Além da contribuição específica para o posicionamento temporal do
Dois aspectos fundamentais para a evolução do conhecimento ge- magmatismo granítico, o trabalho esboça um primeiro quadro evolutivo da evo-
ocronológico e para interpretações de dados isotópicos e, consequen- lução orogênica na região, abrindo caminhos para as primeiras sínteses geocro-
temente, para a pesquisa do magmatismo granítico, e que receberam nológicas e suas implicações geotectônicas regionais (e.g., Cordani, 1971, 1974;
Campos Neto e Cordani, 1984).

288 289
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 13

e Cordani, 1993) e para os granitos pós-orogênicos/colisionais da região da Serra


do Mar no leste paranaense (Kaul e Cordani, 1994; Siga Jr., 1995; Cordani et
al., 2000a), estes últimos atualmente incluídos na Província Graciosa de granitos
e sienitos de “tipo-A” (Gualda e Vlach, 2007).
Isócronas Rb/Sr que representam este marco histórico e fundamentaram as inter-
pretações decorrentes são apresentadas nas figuras 2 e 3, as quais reproduzem par-
cialmente resultados originais apresentados nos trabalhos de Cordani e Kawashita
(1971) e Cordani et al. (1973) para rochas graníticas do “Grupo Açungui” e da Serra
dos Orgãos, respectivamente. É aqui necessário destacar que os objetivos iniciais da
pesquisa geocronológica naqueles tempos eram de natureza regional e, neste sentido,
a maioria das isócronas obtidas eram isócronas de referência, e uma mesma isócrona
incluía, na maioria dos casos, amostras de granitos de diferentes plútons e/ou maci-
ços, que em geral não eram comagmáticas e/ou não cogenéticas.
Na revisão de dados Rb/Sr, deve ser lembrado, adicionalmente, que os valores
recomendados para a constante de decaimento do 87Rb (λ87Rb) mudaram signifi-
cativamente ao longo do tempo: enquanto que nas décadas de 1960 e 70 usava-se
em geral o valor λ87Rb = 1,47E-11 ano-1, este mudou para 1,42E-11 ano-1 a partir
da sistematização de Steiger e Jäger (1978) e, atualmente, o valor recomendado
aproxima-se de 1,395E-11 ano-1 (e.g., Snelling, 2014). Por questões históricas,
os valores originais publicados são mantidos nas figuras e quadro apresentados
neste capítulo, indicando-se em cada caso as constantes utilizadas. As necessá-
rias conversões devem ser feitas considerando-se a que a idade é inversamente
proporcional a λ87Rb. Merece ser destacado também que as precisões analíticas
nas determinações isotópicas, tanto para a sistemática Rb/Sr quanto para a K/
Ar, eram muito inferiores às atuais e as razões isotópicas eram medidas para um
intervalo de confiança equivalente a 1σ, o mesmo utilizado em geral para os cál-
culos isocrônicos. A título de exemplo, os erros analíticos nas determinações es-
pectrométricas das razões 87Sr/86Sr estavam inicialmente na terceira casa decimal,
Figura 1: Arcabouço tectônico
passando para a quarta casa somente ao final da década de 1970, até alcançar a
do sudeste do Brasil (segundo Este quadro evolutivo durante o Ediacarano e o Criogeniano quinta/sexta casa decimal dos tempos atuais. De forma similar, diversos dados K/
Campos Neto et al., 2011). Ar (em geral em biotita) obtidos, face às dificuldades inerentes à época, traziam
AçD: Domínio Açungui. foi sendo progressivamente refinado nos anos seguintes e estendido
CFT: Terreno Cabo Frio. para diversas regiões do Sul-Sudeste brasileiro, com contribuições algumas imprecisões. Naturalmente, as temperaturas relativamente baixas de fe-
CT: Terreno Curitiba. significativas do Prof. Cordani, colaboradores e outros pesquisado- chamento do relógio K/Ar em minerais implicam que os resultados obtidos se
ET: Terreno Embu. aproximavam progressivamente mais das idades reais de cristalização nos casos
Go: Arco Magmático de Goiás. res, com destaque para determinações K/Ar e Rb/Sr para granitos da
LAM: Microplaca Luís Alves. região do Vale do Ribeira e vizinhanças (SP/PR) de Cordani e Kawa- de granitos colocados em níveis crustais mais rasos (de cristalização mais rápida)
OcT: Terreno Ocidental. shita, 1971 (impresso em 1972) e determinações K/Ar em granitos e que não tivessem sido afetados por eventos termais posteriores significativos;
OrT: Terreno Oriental. por outro lado, estas mesmas características permitiam avaliar idades para os
SBB: Cinturão Brasília do Grupo São Roque (cf. localização de domínios geológicos na
Meridional. figura 1) apresentadas por Hasui e Hama (1972). Outras contribui- eventos de resfriamento regional mais importantes.
SGN: Nappe Socorro-Guaxupé. ções nesta linha merecem ser mencionadas, como os resultados para Os resultados integrados obtidos através destes primeiros esforços são suma-
SRD: Domínio São Roque. rizados no Quadro apresentado na figura 4 e permaneceram, com variações pon-
a região da Serra dos Orgãos (RJ/MG) obtidos por Delhal et al.
(1969) e Cordani et al. (1973); para o denominado “Bloco Jundiaí” tuais, como as principais referências na literatura nacional para a evolução do
(SP) por Wernick et al. (1976) e Vlach (1985); para o Complexo magmatismo granítico durante o final do Neoproterozoico no “Ciclo Brasiliano”
Granítico São Sepé, RS, e integração para a denominada “região até meados da década seguinte.
orogênica do Sudeste” (Sartori e Ruegg, 1979); para a região da ci- Mais recentemente, Cordani et al. (2002) obtiveram uma isócrona Rb/Sr que
dade do Rio de Janeiro (Fonseca et al., 1984) e, mais recentemente, permitiu definir a idade de ortognaisses (derivados de tonalitos e granodioritos) aflo-
para os granitos sin- a tardi-orogênicos dos Complexos Três Córre- rantes na região NW do Complexo/Terreno Embu, Estado de São Paulo, em 821 ±
gos e Cunhaporanga nos estados de Paraná e São Paulo (Reis Neto 68 Ma, outra contribuição relevante, que permitiu estender para esta área um perío-

290 291
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 13

Figura 2: Isócronas de referência para os magmatismos graníticos tardi- (A) e pós-tectônicos (B) no denomina-
do “Grupo Açungui” (Cordani e Kawashita, 1972). Notar que se incluem em ambos os casos amostras de dife-
rentes corpos intrusivos. Em A: Maciços/stocks Cantareira (UC-Cant-1 e RE3/1607), Acaré (JMC-3), Mauá
(JMC-7), Itaquera (JMC-8) e ocorrência de granito gnáissico de Campinas (AM.1a); em B: Maciços/stocks
São Francisco (JB-1), Perus (AM-PE-1), Itu (Itu-1), Guaraú (GB-54), Capivari (PG-3), Graciosa (A-294B,
A-469), Anhangava (MO-159) e Marumbi (MO-257). Idades calculadas para λ87Rb = 1,47E-11 ano-1.

Figura 3: Isócronas de referência para o magmatismo granítico “Brasiliano” (Ediacarano) da região da Serra dos
Orgãos (adaptado de Cordani et al., 1973). A: Isócrona de referência para os denominados “gnaisses sin-tec-
tônicos”; B: isócrona de referência para os granitos pós-tectônicos e isócrona mineral com apatita (Ap), rocha
total (RT) e Microclínio (MI). Como destacado pelos autores, a idade de uma amostra de granito pós-tectônico
resulta em ca. 540 Ma quando calculada para um valor (87Sr/86Sr)0 = 0.706, idade similar a um entre os primei-
ros resultados U/Pb em zircão obtidos para a região. Idades calculadas para λ87Rb = 1,47E-11 ano-1.

do orogenético anterior (ca. 790-800 Ma), já esboçado em Cordani et al. (2000b) e


Figura 4: Quadro ilustrativo
comprovado por Vlach (2001) no extremo SSE deste Complexo/Terreno. No traba- especificamente, indicaram variações claras e significativas nas ra- para a evolução do magma-
lho de 2002, os autores também se utilizam de pares Rb/Sr envolvendo rocha total zões iniciais 87Sr/86Sr de amostras cogenéticas, de um mesmo plú- tismo granítico e eventos
– feldspatos (potássico e plagioclásio) para sugerir o fechamento do sistema isotópico pós-magmáticos relaciona-
ton (e.g., Stephens e Halliday, 1979), mostrando que a premissa de dos, inferidos a partir dos
em rocha total/feldspatos por volta de 560 Ma. igualdade, em geral assumida a priori, para as razões 87Sr/86Sr ini- dados geocronológicos K/Ar
ciais das amostras consideradas cogenéticas e mesmo comagmáticas e Rb/Sr disponíveis na década
de 1970 para a região sul-
para a construção de isócronas Rb/Sr, era questionável em diversas sudeste do Brasil durante o
3. Evolução isotópica do Sr e limitações situações concretas. Paralelamente, diversos trabalhos já discutiam denominado Ciclo Brasiliano
(Ediacarano), modificado
das isócronas Rb/Sr em rocha total conceitos como isócronas fictícias ou “do manto” ou ainda “erró-
de Vlach (1985). A linha em
cronas” (e.g., Duncan e Compston, 1976) e iniciaram a geração torno de 580 ± 10 Ma mar-
No panorama internacional do final dos anos 1960 e início dos anos 70 houve de modelos (semi-)quantitativos mais robustos de processos como ca o valor médio aproximado
mistura de diferentes componentes em processos magmáticos (e.g., para o clímax dos magmatis-
uma grande popularização de espectrômetros de massa e de recursos compu- mos pós-orogênico/colisio-
tacionais mais modernos e desenvolvimento de métodos analíticos mais preci- Langmuir et al., 1978). nal, considerando-se dados
sos que alavancaram o método de datação U/Pb em zircão, particularmente com Na área da “granitologia”, neste período e pouco após, foram Rb/Sr e U/Pb mais recentes e/
iniciados os primeiros mapeamentos faciológicos de detalhe em ro- ou precisos. Ver discussão e
ID-TIMS. Paralelamente, emergiram de forma mais incisiva diversos trabalhos referências no texto.
de detalhe com aplicação da geoquímica dos isótopos estáveis e radiogênicos, chas graníticas na região Sudeste do Brasil (Wernick, 1972; Vlach,
além da geoquímica convencional, para a compreensão da origem e evolução 1985; Vlach e Ulbrich, 1984; ver sistematização em Ulbrich et al.,
das rochas graníticas. Estes revelaram grandes variabilidade e complexidade e, 2001), os quais abriram caminhos para examinar de forma mais

292 293
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 13

apropriada a estratigrafia e a evolução cronológica dos eventos magmáticos em


escalas de plútons, batólitos e/ou complexos, bem como discutir conceitos de isó-
cronas “verdadeiras”, isócronas “de referência” e “errócronas” Rb/Sr, com base
em fundamentos geológicos mais concretos e realistas.
Os trabalhos de SRF Vlach (Vlach, 1985; Vlach e Ulbrich, 1984; Vlach e Kawa-
shita, 1984) foram determinantes para tal, ao demonstrar, com base principalmente
em argumentos geológico-estruturais, que as isócronas, a priori verdadeiras, obtidas
para as rochas graníticas da área oriental e meridional dos granitos de Morungaba
(plútons Oriental e Meridional de Vlach, 1993) apontavam para um intervalo de
colocação de magmas demasiado elevado (superior a 200 Ma), incompatível com a
evolução de plútons multi-intrusivos simples e em franca contradição com relações
estruturais observadas em campo: por exemplo, isócronas de amostras de rochas cla-
ramente mais jovens ou no mínimo contemporâneas resultavam em idades mais anti-
gas quando comparadas com isócronas de rochas mais antigas. Na figura 5 (A, B e C)
são reproduzidas algumas das isócronas obtidas para estes plútons e que permitiram
aos autores visualizar e analisar a questão da consistência do método isocrônico sob
uma perspectiva mais crítica.
Estes resultados, analisados à luz da literatura moderna da época, indicavam
que a explicação deveria necessariamente estar relacionada a variações nas ra-
zões isotópicas iniciais e/ou migração seletiva de Rb e/ou Sr nos estágios finais
de cristalização e/ou pós-magmáticos/hidrotermais das amostras utilizadas para
a construção das isócronas. Vlach (1985), Vlach e Kawashita (1984) e Vlach Figura 5: Isócronas em
e Cordani (1986) discutem os principais processos petrológicos que poderiam química isotópica do Sr em rochas graníticas e as suas implicações princípio verdadeiras e de
referência para os granitos
explicar a situação observada: assimilação, herança isotópica, cristalização fra- para a geocronologia, temas apresentados preliminarmente no pri- pós-orogênicos dos plútons
cionada prolongada, mistura de magmas, difusão e alteração pós-magmática, e meiro Workshop sobre Granitogênese e Mineralizações Associadas Meridional e Oriental de
apresentam alguns modelos conceituais para alguns entre os mais simples destes realizado no Brasil (Cordani e Vlach, 1985; Caruaru, PE) e, em se- Morungaba. Observar signifi-
cativa variação de idades nos
casos. Merece ser aqui salientado também que a partir do advento de métodos guida, na forma de publicação completa em Vlach e Cordani (1986). primeiros casos, incompatível
de espectrometria de massa combinada com micro amostragem ou amostragem Estes trabalhos permitiram também posicionar mais adequadamente com dados geológicos e estru-
por ablasão laser (LA-MC-ICP-MS) a partir do final da década de 1990, que o clímax do magmatismo granítico pós-tectônico/orogênico regional turais disponíveis.
A: quartzo monzonitos e
permitem análises isotópicas de frações e in situ de fases minerais específicas, em ca. 590 ± 20 Ma com apoio de isócronas de referência para os monzogranitos marginais, ine-
respectivamente, demonstrou-se em diversos casos que as razões iniciais 87Sr/86Sr plútons Meridional e Oriental de Morungaba (figura 5D), idade bem quigranulares e mais máficos.
podem ser significativamente heterogêneas mesmo em domínios intra-mineral B: monzo- e sienogranitos
superior a até então regionalmente admitida (cf. figura 4). equi- e inequigranulares róse-
(e.g., Davison et al., 2001). Nas figuras 6 e 7 são reproduzidos dois dos modelos originais os principais.
Não se considerou à época o caso particular de granitos peralcalinos conten- de evolução isotópica do Sr e seus potenciais efeitos sobre os re- C: monzogranitos róseos
do essencialmente quartzo, feldspato alcalino e quantidades variadas de aegirina equigranulares mais félsicos
sultados isocrônicos. O primeiro, apresentado originalmente por (adaptado de Vlach, 1985).
ou anfibólio sódico, minerais máficos com teores insignificantes de Rb e/ou Sr, McCarthy e Cawthorn (1978), considera os efeitos de cristalização D: isócronas de referência
para os quais a “amostra total” está representada essencialmente por feldspato al- fracionada muito prolongada sobre as razões isotópicas 87Rb/86Sr e, (consideradas como a melhor
calino em termos da distribuição destes elementos e, portanto, idades isocrônicas estimativa para a idade de
consequentemente, 87Sr/86Sr das frações progressivamente mais fra- cristalização de ambos os
definidas e/ou muito dependentes de amostras deste tipo refletem, na prática, o cionadas, muito enriquecidas em Rb em relação ao Sr. Este pode plútons), extraída de Vlach
fechamento do sistema Rb/Sr em feldspato alcalino, que ocorre em temperaturas explicar algumas idades anomalamente jovens observadas frequen- e Cordani (1986); notar a
baixas, e que, portanto, resultam em valores anomalamente jovens (Vlach et al., adição de granitos cinzentos
temente em variedades graníticas mais diferenciadas, caso de alguns hololeucocráticos, peralu-
2011). São potenciais exemplos destes casos, alguns dos dados apresentados por microgranitos e aplitos tardios, com altos valores 87Rb/86Sr. O segun- minosos (cf. Vlach, 1985;
Kaul e Cordani (1994) para granitos da Província Graciosa, na região da Serra do modelo ilustra potenciais efeitos de mistura simples (“mecânica”) isócrona tracejada). Discussão
no texto. Idades calculadas
do Mar paranaense. isotopicamente não homogeneizada ou parcialmente homogeneizada para λ87Rb = 1,42E-11 ano-1.
O trabalho de Vlach (1985), não sem algumas discussões acaloradas face às de magmas com razões 87Sr/86Sr homogêneas, mas distintas, que se
implicações embutidas para a interpretação geocronológica, abriu caminhos para aplica qualitativamente tanto para processos de assimilação de ro-
examinar em maior detalhe e principalmente sob uma perspectiva diferente a geo- chas encaixantes, quanto para processos de mistura de magmas, estes

294 295
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 13

Figura 6: Diagramas ilus-


trando potenciais efeitos típicos particularmente de rochas graníticas cálcio-alcalinas com es-
de cristalização fracionada pectro composicional mais expandido.
muito prolongada em um Entretanto, modelos de mistura simples como o mencionado não
sistema comagmático sobre
isócronas Rb/Sr (McCarthy contemplam adequadamente os processos naturais, particularmente nos
e Cawthorn, 1978). A: casos de rochas plutônicas em que mecanismos de cristalização fracio-
Variação das razões Rb/Sr nada são muito relevantes. Neste panorama, modelos mais complexos e
nos sólidos formados em
dependência da diferença que, naturalmente, se aproximam melhor das situações naturais, levam
entre os coeficientes de em consideração efeitos combinados de mecanismos que envolvem des- Figura 7: Diagramas isocrô-
partição totais (D) de Rb nicos conceiturais ilustrando
de a fusão de áreas-fonte heterogêneas, mistura de magmas distintos, as- os efeitos de processos de
(DRb) e Sr (DSr) de acordo 1996), e definir a cronoestratigrafia de alguns dos principais batólitos
com o modelo de Rayleigh. similação das encaixantes durante a ascensão, colocação e cristalização mistura simples (“mecânica”)
que ocorrem em sua porção central (Ebert et al., 1996; Gimenez Filho considerando membros finais
B: Isócronas obtidas em caso final em câmaras magmáticas e processos pós-magmáticos/hidrotermais
de cristalização fracionada et al., 2000; Janasi et al., 2001; Leite et al., 2007). silícicos e básicos, com Rb
subsequentes, e foram apresentados em literatura por diversos autores = 150 ppm, Sr = 200 ppm
rápida (a) e lenta (b e c, os Cabe aqui destacar que as primeiras idades U/Pb em zircão para
quais indicam resultados ao longo das décadas de 1970 e 1980 (cf. Allègre, 2008). Neste panora- e 87Sr/86Sr = 0,707 (A) e Rb
rochas graníticas do sudeste brasileiro haviam sido apresentadas duas = 10 ppm, Sr – 400 ppm,
para os sólidos fracionados ma, merece destaque o modelo de Assimilação combinada com Crista-
e as fusões coexistentes, décadas antes, em colaboração do Prof. Cordani com Jacques Delhal e 87
Sr/86Sr = 0,703 (B), respecti-
lização Fracionada (ACF) desenvolvido por De Paolo (1981). Na figura vamente. A linha lm (A-B) re-
respectivamente). Diagramas Dolly Ledent, e permitiram, junto com dados Rb/Sr e K/Ar, identificar
extraídos de Vlach (1985) e 8, reproduzida de Vlach e Cordani (1986), ilustra-se de forma simples presenta uma linha de mistura
a idade transamazônica (~2.07 Ga), com retrabalhamento no ciclo simples, com coeficiente que
Vlach e Cordani (1986). e conceitual os efeitos deste modelo para a evolução das composições
Brasiliano (~0.6 Ga) para ortognaisses do “Grupo Paraíba” (Cordani determina uma idade fictícia
elemental e isotópica do Sr em sistemas graníticos e como este processo de 135 Ma. Representam-se
et al., 1973; Delhal et al., 1969). situações em que o sistema
tem potencial para afetar as razões 87Sr/86Sr medidas em amostras de
A partir dos anos 2000, foram apresentados os primeiros resul- é total (h, isócrona th) e
séries cogenéticas de rochas graníticas. No IGc-USP, com a disponibi-
tados de datações U/Pb TIMS em laboratórios brasileiros, especial- parcialmente homogeneizado
lidade dos microcomputadores a partir do final dos anos 1980, foram (dois domínios homogêneos
mente no CPGeo, cujos resultados levaram à definição da crono- distintos: h1, isócrona th1 e
elaborados também softwares que permitiam examinar e modelar alguns
estratigrafia de outros batólitos graníticos do sudeste brasileiro, à h2, isócrona th2). Em todos
destes processos (e.g., IsoJob, Vlach, 1990).
identificação da idade das rochas de núcleos de embasamento da os casos, amostras representa-
tivas dos domínios homogê-
porção centro-sul do cinturão Ribeira (Cury et al., 2002; Passarelli neos resultam em idades reais
et al., 2004; Prazeres Filho et al., 2003; Siga Jr. et al., 2007), e à de cristalização e os valores
4. Datações U/Pb por ID-TIMS identificação de ortognaisses de caráter pré-colisional na Nappe So- (87/Sr/86Sr)0 variam com as
proporções relativas em massa
corro-Guaxupé (Hackspacher et al., 2003). dos componentes A e B na
A possibilidade de utilizar o método de datação U/Pb em zircão, a Várias determinações U/Pb em zircão de granitos do sudeste brasilei- mistura e das suas composi-
partir da década de 1990, permitiu superar muitas das limitações até ro, especialmente aqueles de caráter mais diferenciado, apresentaram re- ções isotópicas. A inclusão
então encontradas para determinar idades de cristalização de granitos sultados fortemente discordantes, mesmo após intensa abrasão física dos de amostras de diferentes
domínios resulta em idades
do sudeste brasileiro. Ao longo desta década, apareceram pela primeira cristais datados, que se refletiram em imprecisões na determinação da ida- (tnh) bem maiores e valores
vez na literatura resultados sistemáticos de determinações pelo método de de cristalização e, normalmente, as idades apresentadas eram idades (87Sr/86Sr)i menores, ambos
ID-TIMS (Isotope Dilution – Thermal Ionization Mass Spectrometry) em sem qualquer significado real.
de intercepto superior da linha discórdia com a concórdia (e.g., Siga Jr., Extraído de Vlach (1985) e
zircão (e, minoritariamente, em monazita), em boa parte obtidas em la- 1995). Nesses casos, a datação de rochas máfico-intermediárias contem- Vlach e Cordani (1986).
boratórios estrangeiros, que permitiram estabelecer quadros evolutivos porâneas (e.g., enclaves e diques sin-plutônicos), nas quais os cristais de
mais precisos para o magmatismo granítico neoproterozoico e para as zircão apresentam probabilidade significativamente menor de conter fra-
rochas ortognáissicas que compõem o embasamento cristalino da por- ções herdadas e/ou de ser afetados por efeitos pós-magmáticos, se mostrou
ção norte da Faixa Ribeira (Heilbron e Machado, 2003; Machado et al., uma excelente alternativa para a obtenção de precisas (Vlach et al., 2011).

296 297
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 13

Figura 8: Diagrama
87
Sr/86Sr vs. 1/Sr ilustran-
do tendências evolutivas
mais simples em processos
combinando cristalização
fracionada e assimilação
(ACF, De Paolo, 1981)
e destacando o efeito do
coeficiente de partição
total de Sr (DSr) e das
razões entre as razões de
cristalização (Mc) e de
assimilação (Ma). Notar
que quando DSr = 1 ou
Mc/Ma = 0 a trajetória
corresponde a uma mis-
tura simples, “mecânica”,
tal como representada no
diagrama da figura 7. O
modelo parte de um mag-
ma inicial com Sr = 400
ppm e 87Sr/86Sr = 0,705
(representativo do manto Figura 9: Diagramas Con-
e/ou crosta inferior) que que as idades obtidas por SHRIMP ou LA-ICP-MS, o que tem sido córdia comparando dados
evolui por cristalização e resultados U/Pb em zircão
atribuído à presença de pequenas proporções de núcleos herdados obtidos com métodos diferen-
fracionada e paralela-
mente assimila material nas frações multi-grão analisadas (Janasi et al., 2016; Toledo et al., tes para amostras similares de
supra-crustal com Sr = 2018). Deste modo, por exemplo, a idade dos granitos cálcio-al- sienitos do Plúton Corupá,
200 ppm e 87Sr/86Sr = Província Graciosa. A: idades
calinos potássicos que constituem o principal volume dos maiores obtidas pelo método ID-TIMS
0,740. Extraído de Vlach
e Cordani (1986). batólitos graníticos na NESG e na porção central da Faixa Ribeira convencional, a partir de 4
encontra-se atualmente bem estabelecida na faixa de 610-600 Ma e frações magnéticas distintas de
cristais de zircão (zr1, zr2, zr3
portanto claramente mais jovem que os principais eventos colisio- e zr4) que definem uma linha
5. Datações U/Pb pontuais nais, o que até então era incerto, em vista de idades ca. 20-30 Ma Discórdia, cujo intercepto su-
mais velhas. perior com a curva Concórdia
(SHRIMP, LA-MC-ICP-MS e EPMA) define a idade de cristaliza-
Na figura 9 são representados exemplos simples de diagramas ção. Neste exemplo a fração
O impacto da utilização de métodos pontuais SHRIMP (Sensitive High-Resolu- concórdia que comparam procedimentos e resultados geocronoló- zr4, não-magnética, é quase
gicos U/Pb em zircão obtidos através do método ID-TIMS conven- concordante, resultando em
tion Ion MicroProbe) e LA-MC-ICP-MS (Laser Ablation-Multi Collector-Inductively uma idade muito adequada;
Coupled Plasma Mass Spectrometry) na datação de granitos do sudeste brasileiro, cional, a partir de frações de cristais de zircão, e do método pontual esta situação não é comum em
também inicialmente obtida principalmente em laboratórios estrangeiros, começou a LA-MC-ICP-MS para amostras equivalentes de sienito do Plúton Co- rochas graníticas diferencia-
rupá, na Província Graciosa, o primeiro obtido na década de 1990 e das, para as quais o intercepto
ser sentido ainda na década de 2000. Também neste caso, trabalho pioneiro utilizan- superior apresenta desvios sig-
do o método SHRIMP foi liderado pelo Prof. Cordani (Cordani et al., 2002), iden- o segundo representativo dos tempos atuais. nificativos, acarretando erros
tificando a presença de ortognaisses de idade Toniana (811 ± 13 Ma) com heranças Idades U/Pb pontuais em zircão têm contribuído fortemente para o bem mais elevados. Parâmetros
para avaliação do erro indica-
de ~1 Ga e ~2 Ga) no Complexo Embu. melhor conhecimento da história evolutiva do magmatismo granítico do não reportados, reproduzi-
Os métodos pontuais, embora sem ganho significativo em termos de precisão no sudeste brasileiro, especialmente após a sua implementação no CP- do de Siga Jr. (1995), no qual
analítica (em geral limitada, para o Neoproterozoico, a 1% relativo, ou 5-6 Ma Geo-USP (SHRIMP e LA-ICP-MS) e em outras instituições geocientí- se encontram diversos outros
resultados para a província.
para a faixa de idades típica do magmatismo granítico na região (~600 Ma), ficas brasileiras, com a datação de núcleos de embasamento (Heilbron B: idades pontuais obtidas por
passaram a substituir largamente as determinações por TIMS, em vista da rapi- et al., 2010), da proveniência de metassedimentos (Henrique-Pinto et LA-MC-ICP-MS em cristais
dez, facilidade de preparação e menor risco de contaminação, mas também pela al., 2012), e especialmente do amplo intervalo de formação de grani- de zircão extraídos da fração
não-magnética. Observar que
vantagem inerente de evitar inclusões e porções afetadas por perda de chumbo, e tos associados aos processos tectônicos no final do Neoproterozoico todos os resultados pontuais
datar núcleos herdados, dada a sua grande resolução espacial. Na prática, as van- e início do Fanerozoico (Cury, 2009; Vlach et al., 2011; Alves et al., são concordantes dentro dos
tagens dos métodos pontuais acabaram por resultar muitas vezes em melhor pre- 2013; Heilbron et al., 2013; Janasi et al., 2016; Valeriano et al., 2016; erros das medidas. Modificado
de Vilalva et al. (2019).
cisão (por gerar um grande número de resultados concordantes) e notavelmente, Passarelli et al., 2019).
exatidão, e revelaram que algumas idades U/Pb TIMS previamente consideradas A vantagem de obter resultados concordantes, no entanto, tem
indicadoras de cristalização magmática (e.g., Toepfner, 1996) eram mais antigas trazido alguns problemas inesperados para a interpretação das ida-

298 299
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 13

des dos granitos. Em muitos casos, observa-se um espalhamento de idades con- mo volume do cristal, apresenta grande potencial para o estudo da evolução de
cordantes ao longo de intervalos muito superiores aos erros individuais das aná- sistemas magmáticos. Tais procedimentos tornaram-se possíveis em anos recen-
lises. A interpretação desses padrões de distribuição de idades é em muitos casos tes, graças especialmente a melhoramentos analíticos, como a chamada LAAS
ambígua, pois pode se dever a: (1) perda de Pb ou recristalização em eventos (Laser ablation split-stream analysis) (Kylander-Clark et al., 2013), e são parte
pouco posteriores à cristalização magmática; (2) presença de cristais previamente de um ramo da geologia que se desenvolve rapidamente, a chamada “petrocro-
formados dentro do mesmo sistema magmático cristalizados (antecristais); (3) nologia” (e.g., Schaltegger e Davis, 2017). Um exemplo aplicado a processos de
presença de xenocristais derivados de rochas-fonte ou encaixantes pouco mais metamorfismo geração de magmas crustais no sudeste brasileiro é o trabalho
antigas que os granitos. recente de Rocha et al. (2017), que integra a química de zircão e monazita em
Paralelamente, a introdução de métodos de datação de minerais portadores granulitos e charnockitos da Nappe Socorro-Guaxupé com datação desses mine-
de Th e U com microssonda eletrônica EPMA (Electron Probe Micro-Analyser) rais, respectivamente por LA-MC-ICP-MS e EMPA.
a partir da década de 1990 (e.g., Suzuki e Adachi, 1992) trouxe também con- Embora o investimento atual na geocronologia de granitos seja fortemente
tribuições significativas. Embora de aplicação mais restrita, em geral limitada à direcionado para o método U/Pb, cumpre destacar que, não obstante as dificulda-
monazita e, subordinadamente, à xenotima, o método Th-U-PbT com EPMA é o des analíticas inerentes e os problemas relativos à interpretação dos métodos K/
que, entre os métodos in situ, apresenta a melhor resolução espacial e, portan- Ar e Rb/Sr, bem como aos erros relativamente elevados associados, os primeiros
to, o maior potencial para desvendar a história evolutiva de cristais poligenéti- resultados obtidos para as rochas graníticas do sudeste brasileiro se revelaram ex-
cos. Importante, o método permite determinar simultaneamente as composições tremamente importantes para posicionar de forma pioneira as diferentes etapas
químicas dos diferentes domínios cristalinos, o que possibilita relacionar idades dos magmatismos Ediacarano e Criogeniano na região S-SE do Brasil. Tais resul-
absolutas com características químicas e avaliações termométricas decorrentes, tados forneceram as bases para a elaboração das primeiras ideias sobre a evolução
um avanço muito significativo para a petrologia e a geocronologia. Os primeiros geodinâmica da crosta continental nesta região. De fato, a análise geral dos dados
resultados para rochas graníticas do sudeste brasileiro foram apresentados por disponíveis, acompanhada de seleção criteriosa e eliminação de diversos resulta-
Vlach et al. (1999) e Vlach e Gualda (2000), a partir dos quais foi obtido nú- dos espúrios, mostra em diversos casos que esses resultados, afora os intervalos
mero significativo de dados para diversas rochas graníticas e metamórficas, com de erro bem superiores, se comparam muito bem com dados modernos, obtidos
destaque para o “Complexo Embu” e vizinhanças, e para situações, antes pouco com métodos mais precisos, U/Pb em zircão, seja em frações de vários cristais,
evidentes, de registros de diferentes processos petrogenéticos em monocristais de seja in situ em cristais únicos. Como exemplo, Vlach et al. (2011) sistematizam
monazita. Vlach (2008) sistematiza os dados até então obtidos; diversos outros criteriosamente os dados prévios disponíveis para os granitos pós-colisionais da
são discutidos em Martins et al. (2009) e Vlach (2010). Província Graciosa nos estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo, e mostram
que os valores médios, ponderados pelos erros individuais, das determinações K/
Ar, Rb/Sr e U/Pb (ID-TIMS, em geral idades de intercepto superior) em zircão
6. Perspectivas mais apropriados são similares: 576 ± 26, 580 ± 20 e 581 ± 16 Ma, respectiva-
mente, os quais são iguais, considerando as margens de erro, às determinações U/
A datação pontual U/Pb em zircão (e monazita) tem contribuído fortemente para Pb (ID-TIMS) em zircão concordantes e precisas obtidas por estes autores em 581
o estabelecimento de um quadro evolutivo aprimorado para o magmatismo granítico ± 3 Ma e iguais às determinações similares recentes obtidas com LA-MC-ICP-MS
no sudeste do Brasil. O grande volume de rochas graníticas intrusivas nas faixas do- (ca. 580 Ma, cf. Vilalva et al., 2019).
bradas brasilianas, ou presentes nos núcleos de embasamento, demanda ainda muito
investimento em datações geocronológicas pelo método U/Pb utilizando metodolo-
gias pontuais. Por outro lado, para a correta compreensão da história evolutiva de Dedicatória
plútons graníticos pode ser necessária a obtenção de idades com maior precisão (por
exemplo, incertezas da ordem de 1 Ma para granitos neoproterozoicos), que só é Os autores dedicam este capítulo à memória do Prof. Dr. Koji Kawashita,
alcançada pelo método TIMS, em laboratórios ultra-limpos e utilizando processos pela sua incomparável dedicação ao CPGeo-USP.
de abrasão química em cristais individuais de zircão. De fato, trabalhos recentes
demonstraram que câmaras magmáticas graníticas podem ter histórias prolongadas
(e.g., por mais de 10 Ma, cf. Coleman et al., 2004), porém marcadas por pulsos
magmáticos que se sucedem em escala temporal que podem ser resolvidas com as
precisões significativamente melhores obtidas atualmente pelo método TIMS (da
ordem de 0.1% relativo, e.g., Schaltegger et al., 2009).
Para além da resolução temporal, a integração entre a idade e a composição
isotópica e/ou química do mineral datado, através da análise simultânea do mes-

300 301
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 13

Referências Cordani U.G., Delhal J., Ledent D. 1973. Orogêne- geochronology: Implications for paleogeographic recon- McCarthy T.S. & Cawthorn R.G. 1978. Changes in
ses superposés dans le Précambrien du Brésil Sud-Orien- structions of the São Francisco-Congo paleocontinent. initial 87Sr/86Sr ratio during protracted fractionation ig-
Allègre C.J. 2008. Isotope Geology. Cambridge, tal (États de Rio de Janeiro et de Minas Gerais). Revista Precambrian Research, 178(1-4):136-148. neous complexes. Journal of Petrology, 21:245-264.
Cambridge University Press, 512 p. Brasileira de Geociências, 1:1-22. Heilbron M., Tupinambá M., Valeriano C. M., Passarelli C.R., Basei M.A.S., Campos Neto M.C.,
Alves A., Janasi V.A., Campos Neto M.C., Heaman Cury L.F. 2009. Geologia do terreno Paranaguá. Armstrong R., Eirado Siva L.G., Melo R.S., Simonetti Siga Jr O., Prazeres Filho H.J. 2004. Geocronologia e
L., Simonetti A. 2013. U/Pb geochronology of the gran- Tese de Doutorado, Instituto de Geociências, Uni- A., Pedrosa Soares A.C., Machado N. 2013. The Serra geologia isotópica dos terrenos pré-Cambrianos da
ite magmatism in the Embu Terrane: Implications for the versidade de São Paulo, São Paulo, 188 p. https://doi. da Bolívia complex: The record of a new Neoprotero- porção sul-oriental do Estado de São Paulo. Geologia
evolution of the Central Ribeira Belt, SE Brazil. Precam- org/10.11606/T.44.2009.tde-06072009-113335. zoic arc-related unit at Ribeira belt. Precambrian Re- USP. Série Científica, 4(1):55-74.
brian Research, 230:1-12. Cury L.F., Kaulfuss G.A., Siga Jr. O., Basei M.A.S., search, 238:158-175. Passarelli C.R., Verma S.K., McReath I., Basei
Almeida F.F.M., Hasui Y., Brito Neves, B.B. 1976. Harara O.M.M., Sato K. 2002. Idades U/Pb (zircões) de Henrique-Pinto R., Janasi V.A., Simonetti A., Tas- M.A.S., Siga Jr. O. 2019. Tracing the history from Ro-
The upper precambrian of South America. Boletim IG- 1.75 Ga em granitoides alcalinos deformados dos Nú- sinari C.C.G., Heaman L.M. 2012. Paleoproterozoic dinia break-up to the Gondwana amalgamation in the
USP, 7:45-80. cleos Betara e Tigre: Evidências de regimes extension- source contributions to the São Roque Group sedi- Embu Terrane, southern Ribeira Belt, Brazil. Lithos,
Campos Neto M.C. & Cordani U.G. 1985. Evolução ais do Estateriano na Faixa Apiaí. Geologia USP. Série mentation: LA-MC-ICP-MS U/Pb dating and Sm-Nd 342-343:1-17.
do Pré-cambriano paulista e regiões adjacentes. In: Científica, 2:95-105. systematics of clasts from metaconglomerates of the Prazeres Filho H.J., Harara O.M., Basei M.A.S.,
Coutinho J.M.V.C. (coord.) Mesa Redonda. Simpósio Davidson J., Tepley F., Palacz Z., Meffan-Main S. Boturuna Formation. Geologia USP. Série Científica, Passarelli C.R., Siga Jr. O. 2003. Litoquímica, geo-
Regional de Geologia. SBG, Atas, p. 561-585. 2001. Magma recharge, contamination and residence 12(3):21-32. cronologia U/Pb e geologia isotópica (Sr-Nd-Pb) das
Campos Neto M.C., Basei M.A.S., Janasi V.A., Mo- times revealed by in situ laser ablation isotopic analysis Janasi V.A. & Ulbrich H.H.G.J. 1991. Late Pro- rochas graníticas dos batólitos Cunhaporanga e Três
raes R. 2011. Orogen migration and tectonic setting of of feldspar in volcanic rocks. Earth and Planetary Sci- terozoic granitoid magmatism in the State of São Córregos na porção sul do Cinturão Ribeira, Estado
the Andrelândia Nappe system: An Ediacaran western ence Letters, 184:427-442 Paulo, southeastern Brazil. Precambrian Research, do Paraná. Geologia USP. Série Científica, 3:51-70.
Gondwana collage, south of São Francisco craton. Jour- DePaolo D.J. 1981. Trace element and isotopic 51(1):351-374. Read H.H. 1955. Granite series in mobile belts.
nal of South American Earth Sciences, 32(4): 393-406. effects of combined wallrock assimilation and frac- Janasi V.A. & Ulbrich H.H.G.J. 1992. Inventário Geological Society of America Special Paper, 62:409-430.
Coleman D.S., Gray W., Glazner A.F., 2004. Re- tional crystallization. Earth Planetary Science Letters, bibliográfico de granitos do Estado de São Paulo. Bole- Read H.H. 1957. The granite controversy. Geologi-
thinking the emplacement and evolution of zoned plu- 53:189-202. tim IG-USP: Série Especial, 11:1-253. cal adresses ilustrating the evolution of a disputant. Her-
tons: Geochronologic evidence for incremental assembly Duncan R.A., Compston W. 1976. Se-isotopic evi- Janasi V.A., Leite R.J., Van Schmus W.R. 2001. U/ stford, Thomas Murby. 430 p.
of the Tuolumne Intrusive Suite, California. Geology, dence for an old mantle source region for French Poly- Pb chronostratigraphy of the granitic magmatism in Reis Neto J.M. & Cordani U.G. 1993.Agutinação do
32(5):433-436. nesian volcanism. Geology, 4:728-732. the Agudos Grandes Batholith (west of Sao Paulo, Gondwana Ocidental no Brasiliano: O papel dos Com-
Cordani U.G. 1971. Síntese da geocronologia Ebert H.D., Chemale Jr. F., Babinski M., Artur A.C., Brazil) -- implications for the evolution of the Ribei- plexos Três Córregos e Cunhaporanga. In: 5º. Simpósio
pré-cambriana da região costeira atlântica meridional da Van Schmus W.R. 1996. Tectonic setting and U/Pb zircon ra Belt. Journal of South American Earth Sciences, Sul-Brasileiro de Geologia. Curitiba, SBG, Boletim de
América do Sul. In: 25º. Congresso Brasileiro de Geolo- dating of the plutonic Socorro Complex in the Trans- 14(4):363-376. Resumos e Programa. p. 1.
gia. São Paulo, SBG. Resumo das Comunicações. Boletim pressive Rio Paraíba do Sul Shear Belt, SE Brazil. Tecton- Janasi V.A., Andrade S., Vasconcellos A.C.B.C., Rocha B.C., Moraes R., Möller A., Cioffi C.R., Jer-
Especial, 1:179-180. ics, 15(3):688-699. Henrique-Pinto R., Ulbrich, H.H.G.J. 2016. Timing cinovic M.J. 2017. Timing of anatexis and melt crys-
Cordani U.G. 1974. Comentários sobre as deter- Fonseca A.C., Cordani U.G., Kawashita K. 1984. and sources of granite magmatism in the Ribeira Belt, tallization in the Socorro–Guaxupé Nappe, SE Brazil:
minações geocronológicas disponíveis para as folhas Dados preliminares sobre a geocronologia das rochas SE Brazil: Insights from zircon in situ U–Pb dating Insights from trace element composition of zircon,
Assunción e Curitiba. In: Texto Explicativo. Carta graníticas e suas encaixantes na cidade do Rio de Janeiro and Hf isotope geochemistry in granites from the São monazite and garnet coupled to UPb geochronology.
Geológica do Brasil ao Milionésimo, Folha Assunción – Método Rb/Sr. In: 33º. Congresso Brasileiro de Geolo- Roque Domain. Journal of South American Earth Sci- Lithos, 277: 337-355.
(SG-21) e Folha Curitiba (SG-22). Brasília, DNPM, gia. Rio de Janeiro, SBG, Anais, 5:2333-2345. ences, 68:224-247. Sartori P.L.P. & Ruegg N.R. 1979. O Complexo
p. 58-67. Gimenez Filho A., Janasi V.A., Campanha G.A.C., Kylander-Clark A.R., Hacker B.R., Cottle J.M. Granítico São Sepé, Rio Grande do Sul, e a evolução das
Cordani U.G. & Vlach S.R.F. 1985. Isótopos de Teixeira W., Trevizoli Júnior L.E. 2000. U/Pb dating and 2013. Laser-ablation split-stream ICP petrochronology. rochas graníticas na Região Orogênica do Sudeste. Bole-
Sr em rochas granitoides: interpretações e exemplos Rb/Sr isotope geochemistry of the eastern portion of the Chemical Geology, 345:99-112. tim IG-USP: Série Científica, 10:69-78.
brasileiros. In: Workshop sobre Granitoides e Min- Três Córregos Batholilth, Ribeira Fold Belt, São Paulo. Leite R.J., Heaman L.M., Janasi V.A., Martins L., Schaltegger U. & Davis J.H.F.L. 2017. Petrochro-
eralizações Associadas. Caruaru-PE, Boletim de Resu- Revista Brasileira de Geociências, 30(1):45-50. Creaser R.A. 2007. The late- to postorogenic transition nology of zircon and baddeleyite in igneous rocks:
mos, p. 158. Gualda G.A.R. & Vlach S.R.F. 2007. The Serra in the Neoproterozoic Agudos Grandes Granite Batho- reconstructing magmatic processes at high temporal
Cordani U.G. & Kawashita K. 1971. Estudo geo- da Graciosa A-type granites and Syenites, Southern lith (Apiai Domain, SE Brazil): Constraints from geol- resolution. Reviews in Mineralogy and Geochemistry,
cronológico pelo método Rb/Sr de rochas intrusivas no Brazil. Part 1: Regional setting and geological charac- ogy, mineralogy, and U/Pb geochronology. Journal of 83(1):297-328.
Grupo Açungui. In: 25º. Congresso Brasileiro de Geolo- terization. Anais da Academia Brasileira de Ciências, South American Earth Sciences, 23(2-3):193-212. Schaltegger U., Brack P., Ovtcharova M., Peytcheva
gia. São Paulo, SBG, Anais, 2:105-110. 79:405-430. Kaul P.A.T. & Cordani U.G. 1994. Aspectos petro- I., Schoene B., Stracke A., Marocchi M., Bargossi G.M.
Cordani U.G. & Bittencourt I. 1967. Determinação Hasui Y. & Hama, M. 1972. Geocronologia do Gru- gráficos, geoquímicos e geocronológicos dos Maciços 2009. Zircon and titanite recording 1.5 million years
de idades potássio-argônio em rochas do Grupo Açun- po São Roque pelo método K/Ar. Revista Brasileira de Graníticos da Serra do Mar no Leste Paranaense e of magma accretion, crystallization and initial cooling
gui. In: 21º. Congresso Brasileiro de Geologia. Curitiba, Geociências, 2:18-24. vizinhanças. In: 38º. Congresso Brasileiro de Geolo- in a composite pluton (southern Adamello batholith,
SBG, Anais, 1:218-233. Hackspacher P.C., Fetter A.H., Ebert H.D., Janasi gia. Camboriú, SBG, Boletim de Resumos Expandidos, northern Italy). Earth and Planetary Science Letters,
Cordani U.G., Coutinho J.M.V., Nutman A. 2002. V.A., Dantas E.L., De Oliveira M.A.F., Braga I.F., Negri 2:371-373. 286(1):208-218.
Geochronological constraints on the evolution of the F.D.A. 2003. Magmatismo há 660-640 Ma no Domí- Langmuir C.H., Vocke R.D., Hanson G.N., Hart Siga Jr. O. 1995. Domínios tectônicos da região
Embu Complex, São Paulo, Brazil. Journal of South nio Socorro: registros de convergência pré-colisional S.R. 1978. A general mixing equation with applications sudeste do Paraná e nordeste de Santa Catarina: geo-
American Earth Sciences, 14:903-910. na aglutinação do Gondwana Ocidental. Geologia USP. to Icelandic basalts. Earth Planetary Science Letters, cronologia e evolução crustal. Tese de Doutorado, In-
Cordani U.G., Kaul P.A.T., Siga Jr. O. 2000a. Geo- Série Científica, 3(1):85-96. 37:380-392. stituto de Geociências, Universidade de São Paulo, São
chronology of the Neoproteozoic granitoid complexes Heilbron M. & Machado N. 2003. Timing of ter- Machado N., Valladares C., Heilbron M., Valeriano Paulo, 290 p. https://doi.org/10.11606/T.44.1995.
of the Serra do Mar, Southern Brazil. In: 31st Interna- rane accretion in the Neoproterozoic-Eopaleozoic Ri- C. 1996. U/Pb geochronology of the central Ribeira belt tde-05112013-093542.
tional Geological Congress. Rio de Janeiro, Abstract beira orogen (se Brazil). Precambrian Research, 125(1- (Brazil) and implications for the evolution of the Bra- Siga Jr O., Basei M.A.S., Passarelli C.R., Har-
Volume (CD). 2):87-112. zilian Orogeny. Precambrian Research, 79(3-4):347-361. ara O.M.M., Sato K., Cury L.F., Prazeres Filho H.J.
Cordani U.G., Coutinho J.M.V., Nutman A. 2000b. Heilbron M., Duarte B.P., Valeriano C.M., Simon- Martins L., Vlach S.R.F., Janasi V.A. 2009. Reaction 2007. Geocronologia das rochas gnáissico-migmatíti-
Geochronological constraints for the age of the Embu etti A., Machado N., Nogueira J.R. 2010. Evolution of microtextures of monazite: Correlation between chemi- cas e sienograníticas do Núcleo Setuva (PR): impli-
Complex, São Paulo, Brasil. In: 31st International Geo- reworked Paleoproterozoic basement rocks within the cal and age domains in the Nazaré Paulista migmatite, SE cações tectônicas. Revista Brasileira de Geociências,
logical Congress. Rio de Janeiro, Abstract Volume (CD). Ribeira belt (Neoproterozoic), SE-Brazil, based on U/Pb Brazil. Chemical Geology, 261:271-285. 37(1):114-128.

302 303
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 14

Snelling A.A. 2014. Determination of the radioiso-


tope decay constants and half-lives: Rubidium-87 (87Rb).
Vlach S.R.F. & Kawashita K. 1984. Isócronas Rb/Sr
da Suite Intrusiva de Morungaba, SP. In: 33º. Congresso
Geocronologia e Tectônica
Answers Research Journal, 7:311-322.
Stephens W.E. & Halliday A.N. 1979. Composition-
Brasileiro de Geologia. Rio de Janeiro, SBG, Boletim de
Resumos, p. 158-159.
do Grupo Brusque –
al variations in the Galloway plutons. In: Atherton M.P.
& Tarney J. (eds.) Origin of granitic batholiths. Geo-
Vlach S.R.F. & Ulbrich H.H.G.J. 1984. As fácies
granitoides da Suite Intrusiva de Morungaba, SP. In: 33º.
Cinturão Dom Feliciano
chemical Evidence. Nantwich, Shiva. p. 9-17. Congresso Brasileiro de Geologia. Rio de Janeiro, SBG,
Suzuki K. & Adachi M. 1991. Precambrian prove- Boletim de Resumos, p. 158. Miguel Angelo Stipp Basei1
nance and Silirian metamorphism of the Tsubonosawa Vlach S.R.F., Gualda G.A.R., Chiessi C.M. 1999. (baseimas@usp.br).
paragneiss in the South Kitakami Terrane, Northeast Electron microprobe monazite dating: first results for
Japan, revealed by the chemical Th-U-total Pb isochron two granites from Southeastern Brazil. In: II South Cláudia Regina Passarelli1
ages of monazite, zircon and xenotime. Geochemical American Symposium on Isotope Geology. Cordoba, Ar- (cr.passarelli@usp.br).
Journal, 25:357-376. gentina, Actas, p. 518-521. Mathias Hueck2
Ulbrich H.H.G.J., Vlach S.R.F., Janasi V.A. 2001. O Vlach S.R.F., Siga Jr. O., Harara O.M.M., Gualda (mathiashueck@gmail.com). Miguel Angelo Stipp Basei. Cláudia Regina Passarelli.
mapeamento faciológico em rochas ígneas plutônicas. G.A.R., Basei M.A.S., Vilalva F.C.J. 2011. Crystalli-
Revista Brasileira de Geociências, 31:163-172. zation ages of the A-type magmatism of the Graciosa Oswaldo Siga Júnior1
Toledo B.B., Janasi V.A., Silva L.G.R. 2018. SHRIMP Province (Southern Brazil): Constraints from zircon (osigajr@usp.br).
U/Pb Geochronology of the Socorro Batholith and impli- U/Pb (ID-TIMS) dating of coeval K-rich gabbro-dio- Marina Q. Fernandes1.
cations for the Neoproterozoic evolution in SE Brazil. ritic rocks. Journal of South American Earth Sciences,
Brazilian Journal of Geology, 48:761-782. 32:407-415.
Neivaldo Araújo de Castro3
Topfner C. 1996. Brasiliano-granitoide in den Vilalva F.C.J., Simonetti A., Vlach S.R.F. 2019. In- (n.castro@ufsc.br).
Bundesstaaten São Paulo und Minas Gerais, Brasiliene- sights on the origin of the Graciosa A-type granites and
ine Vergleichende studie. Münchner, Münchner Geolo- syenites (Southern Brazil) from zircon U/Pb geochro- 1
Universidade de São Paulo, Instituto de Geociências.
gische Hefte A, v.17, 258 p. nology, chemistry, and Hf and O isotope compositions. 2
Goettingen University, Geoscience Centre.
Vlach S.R.F. 2010. Th-U-PbT dating by Electron Lithos, 340-341:20-33. 3
Universidade Federal de Santa Catarina,
Probe Microanalysis, Part I. Monazite: Analytical pro- Wernick, E. 1972. A geologia do Maciço Graníti- Departamento de Geologia.
cedures and data treatment. Geologia USP. Série Cientí- co de Morungaba, Leste do Estado de São Paulo. Es-
fica, 10:61-85. cola de Engenharia de São Carlos. Boletim Geologia,
Vlach S.R.F. 2008. Mineralogia, análise e datação v. 16. 110 p. 1. Introdução
de monazita e xenotima com microssonda eletrônica Wernick E., Oliveira M.A.F., Kawashita K., Cordani Mathias Hueck. Oswaldo Siga Júnior.
e aplicações. Habilitation Thesis, Instituto de Geo- U.G. 1976. Estudo geocronológico pelo método Rb/Sr
ciências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 186 p. em rochas do Bloco Jundiaí e regiões adjacentes. Revista O conhecimento da geologia do Pré-Cambria-
https://doi.org/10.11606/T.44.2013.tde-31102013- Brasileira de Geociências, 6:125-135. no do sul do Brasil teve forte influência do Prof.
190318.
Vlach S.R.F. 2001. Microprobe monazite constraints Umberto Cordani. Mesmo sem ter escolhido essa
for an early (ca. 790 Ma.) Brasiliano Orogeny: The região como um de seus alvos principais, ele atuou
Embu Terrane, Southeastern Brazil. In: 2nd South Amer- de forma decisiva na produção de conhecimento
ican Symposium on Isotope Geology. Pucón, Extended
Abstract Volume (CD), p. 265-268. geocientífico. Na década de 1960 iniciou suas pes-
Vlach S.R.F. 1993. Geologia e petrologia dos gran- quisas geocronológicas com base no método K-Ar
itoides de Morungaba, SP. Tese de doutorado, Instituto em diques de diabásio e basaltos da Bacia do Para-
de Geociências, Universidade de São Paulo, São Pau-
lo, 414 p. https://doi.org/10.11606/T.44.1993.tde- ná. No Symposium on Continental Drift, ocorrido
15042013-112501. em Montevidéu, Uruguai, em 1967, comparou pela
Vlach S.R.F. 1985. Geologia, petrografia e geocro- primeira vez resultados Rb-Sr e K-Ar das rochas do
nologia das regiões meridional e oriental do Complexo Marina Q. Fernandes. Neivaldo Araújo de Castro.
de Morungaba, SP. Dissertação de Mestrado, Instituto embasamento de ambos os lados do Atlântico sul.
de Geociências, Universidade de São Paulo, São Pau- Mais especificamente, ao final da década de 1970,
lo, 253 p. https://doi.org/10.11606/D.44.1985.tde- passou a orientar duas teses de doutorado, de Mi-
29082013-164250.
Vlach S.R.F. 1990. ISOJOB: um programa para guel Basei e Enio Soliani, respectivamente, no Pré-
manipulação de dados e cálculos isotópicos Rb/Sr, Sm/ Cambriano de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Nd e Lu/Hf em microcomputadores. In: 36º. Congres- Dessa forma, apesar de Umberto Cordani, nunca
so Brasileiro de Geologia. Natal, SBG, Boletim de Re-
sumos, p. 74-75. ter, ele próprio, realizado trabalhos de detalhe na
Vlach S.R.F. & Gualda G.A.R. 2000. Microprobe região sul brasileira, como o fez em muitas outras
monazite dating and the ages of some granitic and meta- áreas do país e da América do Sul, teve uma im-
morphic rocks from Southeastern Brazil. Revista Brasile-
ira de Geociências, 30:391-405. portância muito grande na condução das pesquisas
Vlach S.R.F. & Cordani U.G. 1986. A sistemática geológicas dessa região, principalmente pelo apoio
Rb/Sr em rochas granitoides: considerações interpretati-
vas, limitações e exemplos brasileiros. Revista Brasileira
e orientação de estudos, em especial para o caso do
de Geociências, 16:38-53. Cinturão Dom Feliciano (CDF).

304 305
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 14

Em Santa Catarina, um estudo bastante completo foi realizado com inúmeras 2. Contexto Geológico-tectônico
expedições de campo dedicadas ao reconhecimento geológico das unidades regionais
do CDF e coleta de material para as pesquisas litoestratigráficas, estruturais, geoquí- O Cinturão Dom Feliciano, CDF, constitui a principal unidade geotectônica da
micas e radiométricas. Duas entidades tectônicas pré-cambrianas foram identificadas porção sul do Brasil e do Uruguai formada no final do Neoproterozoico como resul-
sem Santa Catarina. O Cráton Luís Alves, porção setentrional da área, é caracteri- tado da interação entre os Crátons Río de la Plata, Paranapanema, Congo e Kalahari
zado por associações litológicas de médio a alto grau, com idades arqueanas e do durante a formação de Gondwana Ocidental. No embasamento da Plataforma Sul
Paleoproterozoico e o CDF, com evolução Brasiliana. No CDF foi reconhecida de -Americana dois amplos domínios geotectônicos podem ser identificados: o domínio
SE para NW uma compartimentação interna: os domínios Interno, Intermediário e Amazonas ou pré-Brasiliano (de afinidades Laurencianas) e o domínio Brasiliano
Externo, exibindo uma polaridade metamórfica compatível com a vergência tectô- (de afinidades Gondwânicas). A partir do Toniano, regimes convergentes de pla-
nica NW do cinturão. cas oceânicas estariam ativos no domínio oeste (Farusiano–Goiás de Cordani et al.,
Os primeiros resultados deste trabalho em conjunto com o Prof. Cordani foram 2013), enquanto regimes divergentes segmentaram os blocos continentais Congo–
apresentados no 27º International Geological Congress, na Rússia, em 1984, inti- São Francisco (Tack et al., 2001; Affaton et al., 2016) e Kalahari – Río de la Plata
tulado The-geologic evolution of the Upper Proterozoic Dom Feliciano Belt in Santa (Frimmel et al., 2011, 2013; Basei et al., 2005, 2008a, 2011a, 2018) resultando na
Catarina State – Southeastern Brazil, e no Congresso Brasileiro de Geologia, no Rio abertura do oceano Adamastor. Nesse contexto, o bloco cratônico Luís Alves (Basei
de Janeiro, intitulado Evolução Geológica do Cinturão Dom Feliciano em Santa Ca- et al., 2000, 2008a) representaria um microcontinente com uma borda continental
tarina. Na época, cerca de 200 datações radiométricas (K-Ar em minerais, Rb-Sr e ativa no fim do Neoproterozoico.
Sm-Nd em rocha total, e U-Pb em zircões por TIMS) indicaram a seguinte cronologia A instalação ediacarana de arcos magmáticos em margens continentais ativas
de eventos: metamorfismo regional principal de cerca de 700 Ma; deformação sin- (Frimmel et al., 2013; Basei et al., 2008a, 2010, 2018; Peixoto et al., 2015; Tedeschi
tardi tectônica associada à colocação de granitoides de cerca de 640 Ma; episódios et al., 2016; Philipp et al., 2016a; Hueck et al., 2016, 2018, 2019) marcaria o final
térmicos e intrusões graníticas pós-tectônicas (580 e 540 Ma); resfriamento regional dos processos de expansão oceânica no domínio do CDF. Essa dinâmica litosférica
e soerguimento em 450-500 Ma. Ainda no final da década, em artigo publicado na foi rápida e culminou em colisões Ediacaranas que foram seguidas por regimes ex-
Episodes, o Prof. Cordani e colaboradores apresentaram dados isotópicos U-Pb em tensionais litosféricos com magmatismo sub-alcalino. Nesse contexto, a articulação
zircão, Pb-Pb, Sm-Nd e Rb-Sr para inferir os períodos de acrescimento e retrabalha- entre as massas cratônicas e blocos continentais antigos quando do fechamento do
mento crustal do Pré-Cambriano do Brasil, incluindo dados inéditos do CDF. Oceano Adamastor criaram as condições para a geração das faixas de dobramentos
No início da década de 1990, estudos realizados na porção norte do Uruguai Neoproterozoicas de ambos os lados do atual oceano Atlântico Sul (Ribeira, Araçuaí,
permitiram a Umberto Cordani caracterizar a evolução tectônica do Cráton Río de la Dom Feliciano, Oeste do Gongo, Kaoko, Damara, Gariep e Saldanha). A constitui-
Plata e da contraparte do CDF naquele país. Em 1991, sob a luz da tectônica global, ção do CDF deu-se como consequência de sua posição privilegiada em relação aos
uma síntese em coautoria com o Prof. Brito Neves, apresentou discussão acerca da Crátons Río de la Plata (a oeste), Paranapanema a norte e Congo e Kalahari a leste.
evolução e formação do Gondwana Oeste no qual interpretou o Cráton Río de la O CDF representa a unidade geotectônica mais a sul da Província de Mantiqueira
Plata como foreland para o CDF. Ainda no final desta década em trabalho sobre as (Almeida et al., 1981) (figura 1) correspondendo a um extenso cinturão N-NE de
Bacias do sudeste brasileiro, Cordani apresentou os primeiros dados U-Pb SHRIMP cerca de 1.200 km de comprimento e 150 km de largura, que ocupa toda a porção
da Bacia de Itajaí, enfatizando a importância das sucessões vulcanossedimentares oriental da região sul-brasileira e uruguaia (Fragoso Cesar, 1980; Basei et al., 2000,
ediacaranas acomodadas em depressões crustais relacionadas ao colapso do orógeno 2008a, 2010; Oyhantçabal et al., 2009; Philipp et al., 2016a, b; Hueck et al., 2018).
em termos regionais (CDF e Cinturão Ribeira) no setor sul-sudeste brasileiro. De seu limite norte em Santa Catarina até seu término no Uruguai, o CDF contempla
No ano de 2000, o Prof. Cordani foi editor juntamente com colaboradores do três segmentos crustais, de SE a NW, com características litológicas e tectônicas dis-
livro Tectonic Evolution of South America, cuja contribuição, sem precedentes, em tintas: Cinturão Granitoide (rochas sin-colisionais cálcio-alcalinas que evoluem para
honra ao Prof. Fernando Flávio de Almeida, incluiu um capítulo especial sobre o granitoides tardios alcalinos), Faixa metamórfica vulcanossedimentar (xisto verde
CDF. A partir do ano 2000 a contribuição do Prof. Cordani no que se refere aos a anfibolito), e uma Bacia de ante-país, esta última preenchida por espesso pacote
estudos do Pré-Cambriano do sul do país se manteve constante através de inúmeras de rochas sedimentares turbidíticas anquimetamórficas (Grupo Itajaí). Essa estrutu-
publicações dentro da evolução geotectônica do continente Sul Americano e global. ração orogênica foi alcançada somente no período Ediacarano quando seus distin-
Neste artigo será efetuada uma revisão do conhecimento estrutural, meta- tos terrenos foram justapostos, acompanhada pela formação de bacias tipo foreland
mórfico e geocronológico disponível para o Grupo Brusque ao qual serão adi- (Itajaí, Camaquã, El Soldado). Os contatos NE-SW entre os domínios e a vergência
cionados novos dados radiométricos U-Pb obtidos em rochas vulcânicas básicas tectônica para oeste são características evidentes de todo o cinturão. Esta geometria
sin-sedimentares e apresentados os resultados em zircão detrítico das sucessões reflete diferentes pulsos tectônicos entre 640 e 580 Ma (Basei et al., 2008a).
metassedimentares. Mapas atuais servirão de base para as interpretações. Ao A Zona de Cisalhamento Major Gercino (ZCMG), no Estado de Santa Catarina,
final, será apresentada a evolução tectônica do CDF dentro do contexto de ge- separa o domínio composto pelas supracrustais do Grupo Brusque, e seu provável
ração do Gondwana Ocidental. embasamento, do domínio sul composto por granitos neoproterozoicos (Batólito de

306 307
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 14

mo de baixa pressão, posicionamento tectônico de todas as sequências e também


as características do magmatismo granítico intrusivo, além das evidências geofísicas
(Schukowsky et al., 1991; Halinann e Mantovani, 1993). Estas unidades são sequên-
Figura 1: (a) Mapa esquemá- cias polideformadas, com três fases de dobramento associadas a um transporte para
tico que mostra a posição dos NW, que evoluiu para a transpressão lateral tardia. O metamorfismo regional é de fá-
crátons e das principais faixas cies xisto-verde, atingindo localmente o fácies anfibolito inferior (Silva et al., 1980;
móveis do Neoproterozoico
durante a formação de Sánchez-Bettucci et al., 2001, 2004; Philipp et al., 2004; Basei et al., 2010, 2011b).
Gondwana ocidental. Magmatismo extensional toniano precedeu o desenvolvimento do orógeno, con-
Crátons mostrados em cinza: forme sugerido pela presença no Sertão de Santa Luiza (N de Tijucas) de pequenos
A: Amazônia.
C: Congo. afloramentos de um metagabro. Trata-se de corpo maciço, homogêneo, bastante de-
K: Kalahari. formado, com foliação bem evidente definida pelo alinhamento de cristais de anfi-
LA: Luís Alves.
P: Paranapanema.
bólio e plagioclásio. Apesar de não ter sido observado seu contato com as demais
SF: São Francisco. rochas ele ocorre intercalado em meio a metassedimentos psamíticos e metavulcâni-
WA: West África. cas básicas finamente foliadas da Formação Rio do Oliveira. A idade desse corpo é
Cinturões
Brasiliano–Panafricanos:
toniana, com colocação ao redor de 930 Ma e metamorfismo hidrotermal em 550
Bo: Borborema. Ma indicado pelos cristais com baixa razão Th/U (Basei et al., 2011b). Outro exem-
Rp: Rio Preto. plo do magmatismo toniano que precedeu a instalação e evolução da Bacia Brusque
A: Araguaia.
Aç: Araçuaí.
é dado pelo granitoide milonítico que ocorre como uma faixa alongada NE-SW no
P: Paraguai. limite norte dos metassedimentos do Grupo Brusque. Esse granitoide foi datado
B: Brasília. por U-Pb em 840 Ma, sendo constituído predominantemente por sieno-leucograni-
R: Ribeira.
DF: Dom Feliciano. tos miloníticos (figura 5a-b), denominados como Morro do Parapente (Basei et al.,
Pa: Pampeana. 2008b). São rochas hololeucocráticas, miloníticas e geoquimicamente classificados
H: Hoggar. como granitos do tipo A moderadamente peraluminosos, enriquecidos em elementos
D: Dahomey.
Ro: Rockelides. incompatíveis e relacionados à gênese de granitos anorogênicos.
O: Oubangides. Ao longo do cinturão granitoides intrusivos sin-colisionais de ca. 600 Ma, com
Ta: Tanzânia. afinidades crustais, cortam as sequências supracrustais regionais, desenvolvendo au-
WC: West Congo.
Ka: Kaoko. réolas de metamorfismo de contato em época posterior à foliação principal. Estes
Da: Damara. granitoides são mais frequentes no Grupo Brusque e menos abundantes em direção
K/Z: Katangan/Zambezi. ao sul, sendo escassos nas rochas do Grupo Lavalleja no Uruguai (Basei et al., 2000;
Kl: Arco Katanga-Lufilian.
M: Mozambique. Koester et al., 2001; Hueck et al., 2018, 2019) o que sugere que as condições térmi-
G: Gariep. cas responsáveis pelo calor que gerou esse magmatismo foram mais intensa a norte
S: Saldania. do que na porção sul do CDF.
A localização do Cinturão
Dom Feliciano é mostrada.
(b) Esboço tectônico do
Cinturão Dom Feliciano
no Brasil e Uruguai. 3. Grupo Brusque – Unidades litoestratigráficas

O Grupo Brusque (GB) constitui o representante em Santa Catarina do cinturão


Florianópolis). Esse lineamento tem continuidade a sul nas zonas de cisalhamento de rochas supracrustais do CDF, excelentemente exposto na sua porção leste. Seu
Cordilheira (RS) e Sierra Ballena (Uruguai) que também separam as unidades de limite sul com os granitoides do domínio Interno é marcado pela ZCMG (Basei,
supracrustais Porongos e Lavalleja dos domínios graníticos Pelotas e Aiguá. Estudos 1985; Bitencourt et al., 1989; Basei et al., 1995; Passarelli et al., 2010, 2011). As
recentes (Passarelli et al., 2011; Basei et al., 2018; Hueck et al., 2016, 2019) per- rochas antigas gnáissico-migmatíticas do embasamento são representadas principal-
mitiram posicionar a fase de cavalgamento desses lineamentos em 600 ± 10 Ma e a mente por rochas arqueano-paleoproterozoicas retrabalhadas do Complexo Cambo-
reativação transcorrente ao redor de 580 Ma. riú (e.g., Basei, 1985; Chemale et al., 1995; Basei et al., 2000; Lopes, 2008; Lopes
A faixa de rochas metamórficas do CDF, compreende as sucessões supracrustais e Basei, 2019; Basei et al., 2013) e ocorrem como lascas em meio às unidades supra-
Brusque (SC), Porongos (RS) e Lavalleja (Uruguai) que representam depósitos de crustais. O limite norte é marcado pelos gnaisses tonalíticos do Complexo de São
margem passiva no lado ocidental do Oceano Adamastor em desenvolvimento na Miguel/Luís Alves e sua porção noroeste definida pelo cavalgamento sobre o Grupo
época. A continuidade dessas faixas, é sugerida pelo predomínio do metamorfis- Itajaí. Para oeste, o GB é recoberto pelos sedimentos da Bacia do Paraná. O mapa

308 309
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 14

unidades com trend aproximadamente NE-SW, do topo para base: metapsamítica,


metapelítica, vulcânica-exalativa, e, na base, metavulcânica básica e rochas cálcio-
silicáticas. O limite norte é marcado pelo BV, enquanto para o sul é sobreposto
tectonicamente, pelos metassedimentos da Formação Botuverá (figura 2).
A Unidade Metapsamítica é a unidade superior da Formação Rio do Oliveira,
composta por ortoquartzitos maciços na base, que gradam para ritmitos que se
alternam com bandas de sericita-quartzo-xistos e quartzitos. No topo ocorrem
paraconglomerados polimíticos, compostos por matriz arenosa fina e clastos de
quartzo leitoso e quartzito e, subordinadamente, por quartzitos hematíticos e
ortoquartzitos, interpretados possivelmente como meta-diamicitos (Basei et
al., 2011b). Restritas lentes de BIF são constituídas por faixas milimétricas de
quartzito fino (metachert?) e bandas ricas em hematita com porfiroblastos de
magnetita na matriz. Na Unidade Metapelítica predominam micaxistos pelíticos
formados por quartzo-muscovita-xistos com porfiroblastos de granada, biotita e
andaluzita; sericita-quartzo-xistos com biotita; quartzo-sericita-xistos com bioti-
ta, e quartzo-muscovita-xistos com granada e grafite. Intercalações de anfibolito,
granada-anfibolito, quartzito e rochas cálcio-silicáticas com granada são comuns.
A Unidade metavulcânica-exalativa é composta por turmalinitos intercaladas
com quartzitos ricos em turmalina e rochas carbonáticas ocasionais. Os turma-
linitos configuram bandas alternadas ricas em quartzo (chert) e em turmalina
com anfibólios, monazita, zircão e clorita como minerais acessórios. A pirita está
sempre em paragênese com turmalina, que sugere uma origem vulcanogênica
dos turmalinitos. Próximo ao contato com o Batólito Valsungana intercalações
metapelíticas são observadas, compostas por sillimanita-quartzo-micaxistos con-
tendo andaluzita e localmente cordierita geradas pelo metamorfismo de contato
com o granitoide.
A Unidade Metabásica e Cálcio-Silicática é constituída por rochas metabá-
sicas anfibolíticas, cujo protólito corresponde a metabasaltos e menos comu-
mente a ultramafitos (tremolita-xistos). As rochas cálcio-silicáticas originadas
de carbonatos e/ou tufos básicos, geralmente bandadas, são classificadas como
Figura 2: Mapa geológico do Grupo andesina-clorita-sericita-epídoto-quartzo-gnaisse e quartzo-clorita-andesina-ac-
Brusque entre Camboriú e Vidal Ramos tinolita gnaisse.
(Domínio Central do CDF, em SC). simplificado da figura 2 apresenta a distribuição das unidades
Suítes intrusivas: Suíte Nova Trento: litoestratigráficas do GB.
1- Faxinal, 2- Gaspar, 3- Santo Antônio, 3.2 Formação Rio da Areia
4- Morro Pelado, 5- Beija Flor, 6- Morro O GB está dividido em três formações denominadas Rio
A Formação Rio da Areia abrange as unidades metavulcanossedimentares que
Redondo, 7- Fartura, 8- Rio do Alho, da Areia, Botuverá e Rio do Oliveira (Basei et al., 2006), com
9- Santo Aleixo, 10- Rio do Salto, ocorrem a norte do Batólito Valsungana, (figura 3 e-h). É composta por quatro
a empilhamento litoestratigráfico proposto tendo como refe-
11- Indaiá/Nova Trento, 12- Nova unidades metamorfizadas no fácies xisto-verde, que incluem a maioria das unidades
Itália, 13- Rio do Braço, 14- Serra dos rência a foliação metamórfica principal observada neste setor
metacarbonáticas do CDF em Santa Catarina (figura 2).
Macacos, 15- Morro do Boi, 16- Rio do CDF. Esta é caracterizada como (S2) que regionalmente é
do Areal, 17- Caetês, 18- Campo Novo. A Unidade Metavulcânica é composta predominantemente por rochas vulcânicas
uma superfície de transposição, dentro da qual as estruturas
Suíte Valsungana: 19- Lajeado Mirim, máficas a ultramáficas com termos subvulcânicos (veios) e extrusivos. Metabasaltos
20- Lajeado Alto, 21- Lajeado Baixo, anteriores, sedimentares (S0) ou metamórficas (S1), tornam-
variolíticos a amigdaloidais, metaperidotitos e metatufos básicos estão frequente-
22- Batólito Valsungana Norte, se paralelas. Uma síntese das unidades que compõem o GB é
23- Batólito Valsungana Sul, 24- Cambo- mente transformados em clorita-xistos e tremolita-xistos. Rochas subordinadas me-
apresentada a seguir (figuras 3 e 4).
riú/Rio Pequeno. Suíte São João Batista: tassedimentares, como clorita-quartzo-xistos, calco-clorita-xistos e sericita-xistos
25- Catinga, 26- Tijucas, 27- São João
estão intercaladas com as metavulcânicas.
Batista, 28- Rio da Areia, 29- São Pedro, 3.1 Formação Rio do Oliveira
30- Oliveiras, 31- Morro Grande, A Unidade Quartzítica apresenta ortoquartzitos maciços com porções recrista-
32- Terra Nova, 33- Ponta do Engodo.
A Formação Rio do Oliveira agrupa as unidades metavul-
lizadas irregulares intercalados com quartzitos micáceos e feldspáticos, bem como
Modificado de Basei et al., 2011b; canossedimentares que ocorrem a sul do Batólito Valsunga-
com quartzo-muscovita-xistos.
Hueck et al., 2016. na, próximo a Tijucas (figura 3 a-d). É constituída por quatro

310 311
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 14

Figura 4: Sequências
metapsamo-pelíticas:
a) metapsamitos com a
superfície S2 em dobras
tardias com intensa
crenulação plano axial
Figura 3: Fotografias (entrada da cidade de
de rochas das sucessões São João Batista).
metavulcanossedimen- b) mesma localidade
tares. com detalhe, em
Formação outro ângulo, da cre-
Rio do Oliveira: nulação deformando a
a) meta-cálcio-silicáti- foliação principal.
cas e metabásicas. c) detalhe da mine-
b) meta-cálcio-silicáti- ralogia metamórfica
cas e metabásicas com com porfiroblastos de
leucogranitos paralelos granada, andaluzita
ao bandamento. e cloritoides (mesmo
c) turmalinitos com corte de estrada das
alternância de níveis fotos anteriores).
quartzosos e ricos d) interferência tipo
em turmalina. 3 em metadiamictitos
d) anfibolitos. marinhos intensamente
Formação deformados
Rio da Areia: (Praia Cabeçudas).
e) metabásicas com e) detalhe de clasto
vesículas estiradas. centimétrico de
f) metacarbonáticas do metacalcários.
Ribeirão do Ouro com f) clastos de quartzito
padrão de deformação muito estirados em
em domos e bacias. diamictitos do
g) metacarbonáticas Morro do Carneiro.
do Ribeirão do g) porfiroblastos de
Ouro com dobras cianita em quartzo-
isoclinais tardias. mica-xistos (corte da
h) intercalação de BR 110 em Itapema).
matatufos em h) dobra D3 sub-hori-
calcários negros. zontal com clivagem
plano axial bem
desenvolvida afetando
granada-mica-xistos
com cianita (Praia
de São Miguel).

A Unidade Metacarbonática representa calcários e dolomitos maciços a banda- 3.3. Formação Botuverá
dos, espessos que intercalam níveis de metamargas e lentes de calco-xistos. Trata-se A Formação Botuverá é composta principalmente por rochas metassedimentares
do principal recurso mineral explorado na região. Menos abundantes, são sericita e representa a principal unidade do GB em termos de volume (figura 2). Rochas
-xistos, clorita-xistos, quartzo-xistos e quartzitos. Rochas metabásicas e meta-ultra- subvulcânicas filoneanas, deformadas e metamorfizadas, ocorrem de forma muito
básicas ocorrem com frequência. subordinada. Foram reconhecidas três unidades principais, onde o metamorfismo
A Unidade Metapelito-Carbonática é constituída principalmente por meta- pode variar de xisto verde baixo a médio (figura 4).
margas, calco-xistos e metacalcários maciços e lentes de meta-dolomitos. Cama- A Unidade Metapelítica é formada por xistos finos, sericita-xistos e clorita-serici-
das de micro-brechas indicam ambiente sedimentar marinho agitado, retraba- ta-xistos com alguma biotita (geralmente cloritizada). Microbandamento resultante
lhado, possivelmente sub-litorâneo. As rochas metapelíticas desta unidade são da deformação é caracterizado pela alternância de bandas sericíticas e quartzíticas.
representadas por sericita-xistos, clorita-sericita-xistos e quartzo-sericita-xistos. Camadas de quartzo-xisto e de quartzito estão intercaladas com os metapelitos.
As intercalações de metaritmitos são caracterizadas por bandas alternadas de me- A Unidade Metarítmica é constituída por filitos rítmicos basais que gradam para
tapelitos e metapsamitos. ritmitos com componente psamítico em direção ao topo. Quartzo-xistos finos e

312 313
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 14

4. Magmatismo granítico no Grupo Brusque

O magmatismo granítico do Grupo Brusque consiste em uma série de plútons Neo-


proterozoicos levemente deformados a isótropos de afinidade meta a peraluminosa agru-
pados em três tipos principais. Como será visto adiante, esses granitoides desempenha-
ram importante papel na evolução metamórfico-tectônica do Grupo Brusque.
A suíte São João Batista (figura 5 c-d), é composta por pequenos stocks de leu-
cogranitos a duas micas, que podem conter granada, turmalina e fluorita com ocor-
rências de W e Sn. A Suíte Valsungana é constituída por granitoides normalmente
porfiríticos, com megacristais de microclínio em matriz grossa rica em biotita (figura
Figura 5: 5 e-f). A Suíte Nova Trento é caracterizada pela muscovita-biotita monzogranitos,
a-b): Sienograni- cinza médio a claros, inequigranulares a levemente porfiríticos (figura 5 g-h).
to Parapente Todas as suítes intrusivas, mostram características tardi a pós-tectônicas em rela-
e milonitos
deste granito. ção às fases principais de metamorfismo e deformação que afetaram as rochas hos-
c-d): Granito tur- pedeiras supracrustais. Auréolas de metamorfismo de contato, atingindo o fácies
malinífero Ponta piroxênio hornfels, cercam todos os plútons granitoides (Basei, 1985, 2000; Castro
do Engodo–Suíte
São João Batista. et al., 1999; Silva et al., 2005; Florisbal et al., 2012).
e-f): Biotita
granito a mega-
cristais da Suíte
Valsungana. 5. Evolução do conhecimento geocronológico
g-h): Suíte
Nova Trento
(Granito Serra A tabela 1 apresenta as informações radiométricas disponíveis para metamorfitos
dos Macacos). e granitoides intrusivos no GB, incluindo os resultados apresentados no presente ca-
pítulo. Também são apresentados dados para o núcleo do embasamento do Orógeno
Neoproterozoico que ocorre na área de Camboriú-Itapema.

5.1 Rochas metassedimentares


Idades disponíveis U-Pb em zircão detrítico SHRIMP (Hartmann et al.,
2003a; Basei et al., 2008a; Basei et al., 2011b) para a Formação Botuverá in-
dicam preferencialmente fonte unimodal entre ca. 2190 e 2025 Ma indicando
que a área-fonte deste material se restringiu a rochas paleoproterozoicas. No en-
tanto, os granada-biotita-xistos da mesma formação, entre Brusque e Botuverá,
apresentam contribuições de fontes meso e paleoproterozoicas (2.25−1.7 Ga,
1.5−1.3 Ga, 1.3−1.1 Ga) e uma pequena moda neoproterozoica (0.54 e 0.57
Ga) (Basei et al., 2008a). Essas idades neoproterozoicas, representam abertura
do sistema U-Pb e podem não ter significado geológico, visto que a sequência
metassedimentar (Botuverá) está intrudida por granitos com idades ao redor de
600 Ma, conforme descrito adiante.
quartzo-sericita-xistos intercalados com níveis pelíticos com boudins de quartzo lei-
toso compõem uma parte importante desta unidade. Subordinadamente, também 5.2 Rochas vulcânicas interestratificadas nas unidades metassedimentares
ocorrem camadas quartzíticas e de metaritmitos. Na porção SW, ocorrem clorita- Metadacitos e metariolitos intercalados nas sequências metassedimentares com
quartzo-xistos intercalados a sericita-quartzo-xistos. Camadas de quartzitos maciços a mesma história metamórfico-deformacional que as rochas hospedeiras, apresen-
e muscovita-quartzitos ocorrem de forma subordinada. tam idades U-Pb em zircão pelas técnicas TIMS e SHRIMP em torno de 640 Ma
A Unidade Metapsamítica é predominantemente constituída por ortoquartzitos (Silva et al., 2002a; Grasso, 2003). Este magmatismo, observado em diferentes
e quartzitos micáceos que se distribuem em duas faixas com trend NE-SW. Sericita localidades, é a melhor indicação para a idade da sedimentação do GB.
quartzito fino com granada e cloritoides ocorre ocasionalmente. As unidades descri- Idade toniana U-Pb SHRIMP em zircão de 936 ± 40 Ma obtida em metagabro
tas acima também podem exibir paragêneses metamórficas de grau médio. da Formação Rio do Oliveira foi interpretada como da época de colocação da

314 315
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 14

Figura 6:
Quadro sinótico
do conjunto
de idades U-Pb
em zircão dos
granitoides intru-
sivos no Grupo
Brusque (baseado
em Hueck
et al., 2019).

5.3 Granitoides intrusivos


Apesar da dispersão das idades relacionadas ao magmatismo granítico crustal que
afeta os metamorfitos do GB, foi possível caracterizar uma idade média ao redor de
600 Ma para essas rochas. Essa magmatismo foi objeto de estudos em maior detalhe
por Hueck et al., 2016 e 2019 que ofereceram informações sobre a petrogênese e a
idade de colocação dos granitoides das Suítes São João Batista, Valsungana e Nova
Trento (figura 2).
No quadro da figura 6 podem ser observadas as idades disponíveis para esse
plutonismo. Um conjunto de 16 idades U-Pb em zircão pelos métodos SHRIMP e
Tabela 1: Dados isotópicos das unidades associadas ao Grupo Brusque – Cinturão Dom Feliciano, SC. zr: zircão. mz: mona- LA-ICP-MS, distribuído pelas três suítes mostra uma distribuição principal entre 610
zita. qzo: quartzo. gra: granada. bio: biotita. musc: muscovita. ser: sericita. anf: anfibólio. RT: rocha total. diq-sin-p: dique
sin-plutônico. TIMS: Thermal Ionization Mass Spectrometry. EPMA: Electron Probe Microanalyzer. SHRIMP: Sensitive e 590 Ma com algumas idades pouco mais antigas ca. 620 Ma presentes na Suíte
High Mass-Resolution Ion Microprobe. LA-ICP-MS: Laser Ablation Inductively Coupled Plasma Mass Spectrometry. Valsungana. Valores mais jovens que 590 Ma são observados nas suítes Valsungana e
Nova Trento. Os granitoides da Suíte São João Batista, apesar de terem sua origem
rocha, associada à fase de rift da Bacia Brusque (Yamamoto e Basei, 2009; Basei et na fusão da pilha metassedimentar do Grupo Brusque, mostram-se mais coesos, com
al., 2008b, 2010). No entanto, Basei et al., 2011b sugeriram que esse metagabro idades restritas ao intervalo 615-600 Ma.
estaria associado com o início da tafrogenia que originou o Paleobacia Brusque, Outra característica do conjunto de idades disponível, é a superposição dos valo-
e não diretamente com sua fase rift. Episódio metamórfico/hidrotermal é identifi- res U-Pb em função dos erros. Esta peculiaridade não oferece suporte à cronologia
cado nestas rochas em 550 Ma através de datação em zircões metamórficos com relativa sugerida pelos dados de campo que coloca os granitoides São João Batista
razão Th/U muito baixas. como mais antigos e os da Suíte Nova Trento como mais novos.

316 317
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 14

clorita-quartzito com biotita e muscovita foram analisados (figura 8a) e apresenta-


ram idades entre 800 e 2480 Ma (figura 7). O maior pico da curva de probabilidade
de densidade, com expressão bimodal, ocorre ao redor de 1950 Ma. Há também
contribuições expressivas entre 1220 e 1000 Ma e um pico menor em 1550 Ma
(figura 7). Portanto as contribuições de fontes paleoproterozoicas (Riaciano) a meso-
proterozoicas (Steniano) são predominantes. Apenas um spot apresentou idade neo-
proterozoica, e outro spot com idade Sideriana, porém se tratam de idades isoladas
à luz dos dados disponíveis.
Na porção pelítica da Unidade Metarítmica, sericita-quartzo filito silicificado fo-
ram realizadas 83 datações (spots) em 30 grãos de zircão (figura 8b). As idades va-
riam entre ca. 635 e 2210 Ma com padrão polimodal com pico mais expressivo entre
815 e 780 Ma (figura 7) e picos subordinados em 680, 1200 e 1900 Ma. Portanto
os dados mostram contribuições do Paleoproterozoico (Orosiriano) ao Mesoprote-
rozoico (Ectasiano) e do Neoproterozoico (Toniano médio ao Ediacarano inferior).
Os resultados obtidos permitem sugerir uma idade máxima para a sedimentação da
unidade Metarítmica da Formação Botuverá de 635 Ma.
Para um granada-clorita-biotita-muscovita xisto 100 spots foram analisados em
um total de 78 grãos de zircão (figura 8c). As idades resultantes variam entre ca. 850
e 1950 Ma (figura 7). Os dados mostram um padrão polimodal, com pico em apro-
ximadamente 1200 Ma (Ectasiano-Steniano), e picos menos expressivos em 1500
e 1850 Ma. Essas populações enquadram-se do Paleoproterozoico (Orosiriano) ao
Mesoproterozoico (Steniano) e Neoproterozoico (Toniano).
Em porções metapelíticas da Unidade Psamítica ocorrem granada-biotita-quart-
zo-muscovita xistos nos quais foram analisados 100 spots em 98 grãos de zircão (fi-
gura 8d). As idades obtidas apresentam-se no intervalo entre 990 e 1950 Ma (figura
7). Esta unidade mostra contribuições de áreas-fonte Paleoproterozoica (Orosiriano)
a Mesoproterozoica (Esteniano). A curva de probabilidade de densidade (polimodal)
mostra o pico mais expressivo em 1230 Ma (Ectasiano), com contribuições menores
em 1000 Ma e entre 1850 e 1900 Ma.
Na extremidade nordeste da área de ocorrência dos metassedimentos do GB
(Praia de São Miguel), em granada micaxistos com cianita da Formação Botuverá,
foram realizadas datações U-Pb por LA-ICP-MS em 100 grãos de zircão detríti-
cos (figura 8e). A contribuição observada foi de áreas fontes Paleoproterozoicas
com a principal população em 2200 Ma (figura 7) e populações subordinadas em
torno de 2000 e 1950 Ma o que permite caracterizar uma distribuição unimodal
Figura 7: Histogramas
e curvas de probabili- 6. Novos resultados U-Pb para as idades observadas.
dade de densidade para Observando-se o conjunto dos resultados verifica-se para a porção oeste do Brus-
as amostras datadas do que grande similaridade entre três das amostras analisadas com populações princi-
Grupo Brusque.
Neste item serão apresentados novos dados obtidos por LA-ICP
Amostras representativas -MS em zircão detrítico das Unidades Metarítmica e Metapsamítica pais paleo e neoproterozoicas. A outra amostra indicou, diferentemente das demais,
da Formação Botuverá: da Formação Botuverá e da Formação Rio do Oliveira. Os resulta- um pico principal Criogeniano-Ediacarano, não identificado nas demais amostras.
VRA-VI-017, VRA- Para a porção leste, a população identificada é exclusivamente Riaciana-Orosiriana.
VII-024, VRA-VIII-056, dos obtidos estão representados nos diagramas da figura 7 e os dados
VRA-II-058, ICA-05. analíticos podem ser acessados no link: https://drive.google.com/file/
Amostras representa- d/1SY7w0xfknDiQ1ajFzfNaW05UpSjPHK_7/view?usp=sharing 6.2 Formação Rio do Oliveira
tivas da Formação Rio O metaconglomerado que aflora em escarpas no topo do Morro do Carneiro
do Oliveira: TFM-26A,
TFM-30, TFM-35D, 6.1 Formação Botuverá apresenta matriz milonítica, milimetricamente bandada com leitos micáceos al-
TFB-2/3/5/6B. Cinco amostras da Formação Botuverá foram analisadas. Na por- ternados com bandas quartzíticas. Apresenta também porfiroblastos de granada e
ção psamítica da Unidade Metarítmica, 74 grãos de zircão em granada- clastos centimétricos estirados de quartzo. Numa amostra da matriz dessa unida-

318 319
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 14

de 63 grãos foram datados. Nas imagens de catodoluminescência (CL) notam-se


cristais de zircão, prismáticos de bordas arredondadas e com inclusões, fraturas,
núcleos herdados e zoneamentos (figura 8f). Têm-se ainda cristais mais jovens,
claramente alterados por eventos hidrotermais. O pico das idades da população
principal é de 2000 Ma (figura 7).
Nos arredores de Santa Luzia, foi analisada uma amostra de um quartzito rítmico
que forneceu 76 grãos de zircão detrítico. Foram observados cristais de diferentes
morfologias, mas no geral alongados com bordas arredondadas, fraturados, com in-
clusões, núcleos herdados, sobrecrescimento e zoneamentos (figura 8g). A população
mais abundante forneceu uma idade média ao redor de 2140 Ma (figura 7).
Nessas duas amostras têm-se grande predomínio de idades paleoproterozoicas,
além de importante contribuição arqueana, em especial no metaconglomerado. Ida-
des mesoproterozoicas são encontradas em ambas, porém de forma menos signifi-
cante. Os menores valores encontram-se no intervalo 1200−1330 Ma (figura 7).
Em outra amostra da unidade metassedimentar da Formação Rio do Oliveira, um
cianita granada micaxisto, foram analisados 30 cristais de zircão (figura 8h) obtendo-
se idades nos cristais detríticos entre os intervalos de 900−1200 Ma; 1500−2400
Ma e 2800 Ma. Entretanto, como será discutido adiante, nessa mesma amostra foi
possível caracterizar importante contribuição neoproterozoica em torno de 600 Ma
(figura 9a) atribuída ao metamorfismo do fácies anfibolito que afetou essa rocha. Es-
ses resultados mais jovens apresentaram grande dispersão refletindo as dificuldades
de se datar bordas de sobrecrescimento, muitas delas com alto teor de urânio.
Ainda na Formação Rio do Oliveira foi realizada uma tentativa de obter-se uma
idade U-Pb em zircão por LA-ICP-MS das rochas vulcano-exalativas hospedeiras
dos depósitos turmaliníferos. Várias amostras foram analisadas, mas todas com
pouco sucesso o que nos levou a interpretar o conjunto dos resultados de forma in-
tegrada (amostras TFB-2, 3, 5e 6). A população de zircão detrítico desse conjunto
(figura 8i) apresentou duas idades paleoproterozoicas (figura 9b) com a mais jovem
ao redor de 1950 Ma correspondendo a sobrecrescimentos metamórficos em torno
dos núcleos ígneos riacianos de 2100 Ma (figura 7). Cristais de zircão caracterís-
ticos de rochas metabásicas (figura 8j) apresentaram duas idades distintas: 619 ±
1.9 Ma e 581.2 ± 2 Ma (figura 9c).
Figura 8: Imagens de ca-
todoluminescência de cris-
tais de zircão representati- 7. Integração dos dados geocronológicos:
vos das amostras datadas.
Formação Botuverá: implicações tectônicas
(a-d): amostras VRA,
(e): amostra ICA-05. 7.1 Idade de deposição do Grupo Brusque
Formação
Rio do Oliveira: A época de deposição da sequência metavulcanossedimentar do GB é criogenia-
(f-h): amostras TFM, na. Essa afirmação apoia-se nas idades das rochas metavulcânicas (ca. 640 Ma; Silva
(i-j): amostras TFB. et al., 2002a) interestratificadas em meio às unidades sedimentares. A essas idades
Os círculos representam
o local do spot de análise somam-se determinações realizadas por Basei, 2000 e Grasso, 2003 que indicaram
de cada grão. Estão referi- valores semelhantes, em torno de 640 Ma para metadacitos porfiríticos, deformados
dos os números de observados em cristas alongadas NE-SW localizadas a E de Brusque.
cada spot e a idade
206
Pb/238U respectiva. Alternância de níveis de metatufos básicos, metabásicas e cálcio-silicáticos asso-
ciados aos depósitos vulcano-exalativos turmaliníferos na Formação Rio do Oliveira
forneceram a idade de 619 Ma (figura 9c). Esse magmatismo, ao fornecer idade

320 321
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 14

Figura 9: Resultados
U-Pb – Formação
Rio do Oliveira.
(a): Diagrama
Tera-Wasserburg de
cianita micaxisto;
(b): Diagrama Tera
-Wasserburg de todos
cristais de zircão
datados, destaque
em amarelo dos
cristais sin-magmáti-
cos, cujas idades são
apresentadas em
(c): Detalhe do
diagrama anterior,
diagrama U-Pb
Concordia com
idades obtidas nos
cristais jovens.

Figura 10: Resumo dos


Se a deposição da sequência metavulcanossedimentar é segura- dados geocronológicos do
Grupo Brusque (GB) e
próxima das vulcânicas félsicas permite sugerir uma associação entre elas, definindo mente criogeniana, essa mesma certeza não pode ser atribuída aos unidades associadas:
um vulcanismo bimodal, que pode caracterizar um ambiente de rift para a associação metassedimentos da Formação Botuverá. É possível que parte das (1): GB - micaxisto
vulcanossedimentar do GB. Vale ressaltar que todas as rochas vulcânicas datadas unidades siliciclásticas dessa formação sejam mais antigas, possivel- (Hueck et al., 2018).
(2): Complexo Camboriú
apresentam as mesmas deformações que afetaram as rochas metassedimentares, po- mente do Toniano, conforme sugerido por seu conteúdo de zircão (Basei et al., 2011a).
sicionando esse magmatismo como sin-sedimentar. detrítico cujos valores mais recentes são dessa época. Unidades me- (3): Intrusões graníticas pós-D2
tassedimentares depositadas no Toniano foram observadas no Grupo (Silva et al., 2002b, 2003,
2005; Vlach et al., 2009;
7.2 Proveniência do zircão detrítico das unidades metassedimentares Porongos (RS) com base na geocronologia das rochas vulcânicas fél- Basei et al., 2011a;
O estudo geocronológico U-Pb de zircão detrítico de unidades do GB teve um sicas e intermediárias, deformadas, intercaladas nos sedimentos com Florisbal et al., 2012;
salto substancioso nos dois últimos anos alcançando um total de 528 novos resulta- idades ao redor de 780-750 Ma. Hueck et al., 2018, 2019).
(4): Basei et al., 2013.
dos distribuídos ao longo de todas as unidades que o compõem (figura 10). Três des- Se a partir dos resultados disponíveis para a região oeste foi pos- (5): Silva et al., 2000.
sas amostras estão a norte de Tijucas na Unidade metavulcanossedimentar do Rio do sível constatar a existência de depósitos ediacaranos, ao se considerar (6): Hartmann et al., 2002.
Oliveira (TFM), quatro na região de Vidal Ramos (VRA) e uma na porção NE entre (7): Martini et al., 2015.
somente as amostras da porção nordeste do GB, verifica-se que a pro- (8): Metagabro
Itajaí e Penha (ICA). A essas novas amostras, somam-se 4 determinações anteriores veniência nesse caso se torna unimodal com pico ao redor de 2200 Ma (Basei et al., 2011b).
apresentadas por Basei et al., 2008a, 2011b; Hartmann et al., 2003a. como indicado pelos resultados de Basei et al., 2008a, 2011b; Hart- (9): Granito Morro do Para-
Esse acervo de datações reflete idades distribuídas do Arqueano até o Toniano, pente (Basei et al., 2008b).
mann et al., 2003a, e este trabalho (figura 7). Isso indica um padrão (10): Rochas Meta-ácidas
com pico principal ao redor de 2200 Ma. Esse conjunto sugere possível deposição de proveniência distinto das demais áreas, sugerindo que a deposição (Silva et al., 2002a,
no Criogeniano de grande parte das rochas psamo-pelíticas que constituem o GB dessas rochas possa ser mais antiga, não se descartando a hipótese de e esta contribuição).
provavelmente provenientes de fontes diversas, com origem no embasamento e no (11): Metatufos
representarem septos de rochas supracrustais do embasamento. (esta contribuição).
vulcanismo fissural pré-deposicional Toniano (Basei, 2000; Basei et al., 2008b). Em suma, o GB pode conter várias sequências de idades distintas (12): Diques básicos pós-D2
Na região de Vidal Ramos, uma das 4 amostras estudadas (nível de filito sericítico da amalgamadas no Ediacarano. Essas teriam sido geradas no Paleopro- (Campos et al., 2012).
Formação Botuverá, próximo a Presidente Nereu) apresenta um padrão distinto dos de- (13): Hartmann et al., 2002.
terozoico, no Toniano, no Criogeniano, e no Ediacarano com esses Basei et al., 2008a; Basei et al.,
mais com importante população de idade criogeniana, e alguns cristais indicando valores últimos representando depósitos sin-orogênicos. Adicionalmente, os 2011a, e esta contribuição.
ediacaranos. Isso indica que essa unidade representa depósitos ediacaranos, possivelmen- novos dados indicam um conjunto de idades mesoproterozoicas, entre (14): esta contribuição.
te sin-orogênicos, como observado no Complexo Metamórfico Porongos (RS). 1.5 e 1.0 Ga, que não tinham sido detectados nas análises anteriores.

322 323
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 14

Essa população possui origem desconhecida quando considerado o padrão das ida- do Sertão de Santa Luzia (550 Ma), que ocorre em meio aos metassedimentos dessa
des observadas na porção sul-oriental brasileira no CDF e seus substrato. Ao longo unidade, também foram interpretadas com indicativas do metamorfismo (hidroter-
da porção sul da Província Mantiqueira, bem como dos Crátons Río de la Plata, malismo) que afetou o corpo básico.
Paranapanema, Luís Alves e demais segmentos antigos, rochas mesoproterozoicas Uma possível relação entre a colocação dos corpos graníticos e o clímax térmico
são raras e geralmente associadas ao magmatismo básico Caliminiano que, por suas é sugerida quando se verifica que as unidades supracrustais de mais alto grau do GB,
características composicionais, não deve ser fonte importante de zircão. Foi sugerido se distribuem ao redor do Batólito Valsungana.
por Basei et al., 2008a, 2010, que a possível fonte do zircão Mesoproterozoico no É possível sugerir que o metamorfismo regional de mais baixo grau estaria asso-
intervalo entre 900 e 1200 Ma, poderia ter origem nas rochas Greenvillianas do ciado ao desenvolvimento da superfície S2 em condições de xisto verde baixo e seria
Cinturão Namáqua do sudoeste africano. anterior aos corpos graníticos, intrusivos nessa foliação. Esses granitoides teriam
sido gerados por um pico térmico ao redor de 600 Ma. Quando de sua colocação,
7.3 Idade do Clímax Metamórfico do Grupo Brusque os granitoides aumentariam o gradiente térmico permitindo o desenvolvimento do
As características do metamorfismo do GB foram abordadas em inúmeros arti- segundo evento de metamorfismo, que seria localizado e de mais alto grau, atingindo
gos e em diversos projetos desenvolvidos pela Companhia de Pesquisas de Recursos o fácies xisto verde alto a anfibolito ao redor do Batólito Valsungana (Basei et al.,
Minerais publicados entre os anos de 1975 e 1995. Philipp et al., 2004, bem como 2000, 2008a, 2011b; Silva et al., 2003).
Basei et al., 2011b, retomaram o tema e caracterizaram o metamorfismo como re- Dessa forma, é bem provável que a idade de 620 Ma obtida nas unidades vulca-
gionalmente de baixo grau, fácies xisto verde, zona da clorita-sericita que, subordi- nogênicas do Rio do Oliveira reflita o metamorfismo regional que gerou a foliação
nadamente, alcança o fácies xisto verde superior a anfibolito. S2 enquanto que o valor ao redor de 585 Ma indicaria o resfriamento de um segundo
Entretanto, devido principalmente a ausência de uma mineralogia apropriada metamorfismo que teria ocorrido ao redor de 600 Ma concomitante a colocação dos
(monazitas e titanitas) e limitações das metodologias empregadas, os dados geocro- granitoides tardi a pós-tectônicos das Suítes São João Batista, Valsungana e Nova
nológicos nunca foram capazes de oferecer uma idade precisa para o pico do me- Trento. Esse magmatismo apresenta auréolas de metamorfismo de contato.
tamorfismo que afetou as unidades do GB. Desta forma, a idade do metamorfismo
sempre foi determinada indiretamente, posicionada no lapso de tempo entre sua 7.4 Principais estágios evolutivos do Grupo Brusque
deposição (idade do vulcanismo) e as rochas ígneas pós-tectônicas que o cortam. Face ao conjunto das informações disponíveis, a evolução do GB ocorreu em
Na Formação Rio do Oliveira, foram analisadas por U-Pb em zircão, rochas cál- um período de tempo que teve início no Toniano e término no Ediacarano. Nesse
cio-silicáticas, metatufos e metabásicas que quando tratadas isoladamente não forne- período teriam ocorrido todas as etapas evolutivas do CDF, tais como deposição,
ceram idades precisas. Em contraposição, o tratamento conjunto desses resultados deformação, metamorfismo, granitogênese e, finalmente, os cavalgamentos que co-
oriundos de rochas de uma mesma associação vulcanossedimentar e espacialmente locaram as unidades do GB sobre os sedimentos da Bacia do Itajaí.
próximas, permitiu caracterizar o padrão geocronológico desse conjunto. Na figura O conjunto dos dados radiométricos que permitiu a definição dessas etapas evo-
9 estão representados dois grupos principais de cristais de zircão analisados, um lutivas está representado na figura 10. O início de todo o processo orogênico seria
conjunto de zircão detrítico mais antigo, com idades entre 2000 e 2200 Ma (figuras precedido por extensão crustal e magmatismo de idade toniana (com características
7 e 9b) e um conjunto mais jovem, ao redor de 600 Ma. Observando em detalhe o filonianas). Esse magmatismo apresenta-se muito deformado, com caráter básico
conjunto mais jovem pode-se caracterizar um subconjunto principal com idade de (metagabro da região de Santa Luzia; norte de Tijucas) e alcalino (sienogranito Para-
619.7 ± 1.9 Ma e um segundo conjunto ainda mais jovem com idade de 581.2 ± 2.0 pente), com idades de 930 e 850 Ma, respectivamente. Esse magmatismo, deve re-
Ma (figura 9c). Ambos os valores são interpretados como indicativos dos processos presentar, na região, o início do processo de quebra de Rodínia que levou a geração
metamórficos que afetaram regionalmente as unidades do GB. No primeiro caso do Oceano Adamastor.
o valor estaria próximo da idade ígnea, enquanto no segundo caso representaria a O melhor candidato a embasamento do GB é o Complexo Camboriú que, apesar
idade do processo hidrotermal superimposto (baixas razões Th/U). dos contatos tectônicos com as unidades supracrustais, representa a única exposição
A propósito deste contexto um cianita-granada-biotita-quartzo-muscovita xis- de rochas gnáissico-migmatíticas antigas que ocorrem em meio as rochas supracrus-
to (figura 4g) cortado por veios de leucogranitos turmaliníferos da Suíte São João tais. Esses gnaisses apresentam rochas com idades entre 3200 e 2000 Ma que foram
Batista, apresenta granada com inclusões de quartzo e biotita, e porfiroblastos de cia- intensamente retrabalhadas no Neoproterozoico. Diques e corpos graníticos com
nita distribuídos na foliação principal. A paragênese observada indica metamorfismo idades ao redor de 630 Ma que também afetam o GB, cortam as rochas gnáissico-
do fácies anfibolito, zona da cianita o que é raro no GB. A datação do leucogranito migmatíticas. As idades apresentadas por essa unidade, com exceção de valores do
turmalinífero forneceu a idade de 615 Ma (Hueck et al., 2019) com inúmeros cristais Toniano, cobrem todo o intervalo de idades obtidas em zircão detrítico do Brusque.
indicando herança meso a paleoproterozoica. As determinações realizadas nas bor- O processo de formação da crosta oceânica relacionada ao Adamastor teria seu
das dos cristais detríticos, apesar de claros indícios de perda de chumbo, forneceram apogeu entre 780−750 Ma conforme observado no CDF e nas unidades equivalen-
a idade de 584 Ma (figura 9a), interpretada como representativa do metamorfismo tes do sudoeste africano (notadamente Kaoko, Damara e Gariep). Por outro lado,
superimposto. Vale assinar que as idades mais jovens obtidas no corpo de metagabro rochas vulcânicas tonianas, apesar de ainda não terem sido reconhecidas no GB,

324 325
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 14

ocorrem intercaladas em meio às unidades metassedimentares do Grupo Porongos


que é considerado equivalente do GB no Rio Grande do Sul. Essas rochas vulcânicas,
apresentam evidências composicionais e afinidades químicas que permitem associá
-las a restos de ofiolitos deformados e desmembrados (Hartmann e Remus, 2000;
Marques et al., 2003; Arena et al., 2016 e 2017).
Em Santa Catarina, no GB a deposição da Formação Botuverá, principal unidade
siliciclástica regionalmente reconhecida, pode ter ocorrido nesse mesmo período de
tempo, correspondendo a depósitos siliciclásticos predominantemente turbidíticos
em uma bacia de margem continental passiva. As Formações Rio da Areia e Rio
do Oliveira representam as duas unidades metavulcanossedimentares do GB, res-
pectivamente a norte e a sul do Batólito Valsungana. Ambas possuem intercalações
de metavulcânicas básicas com afinidades alcalinas sugestivas de ambiente de rift.
Idades ao redor de 640 Ma posicionam esse magmatismo e consequente deposição
sedimentar no final do Criogeniano. Devido às similaridades composicionais, apesar
da ausência de idades U-Pb, a Formação Rio da Areia está sendo considerada como
cronocorrelata à Formação Rio do Oliveira.
A deformação e o metamorfismo regional do GB teriam ocorrido entre 640 e
610 Ma. Esse período de tempo é definido pelo intervalo entre a colocação do vul-
canismo sin-deposicional e a época de colocação dos granitoides intrusivos. Cor-
responde ao desenvolvimento das foliações metamórficas S1 e a S2 de transposição
(principal superfície observada nessas rochas).
O magmatismo granítico das Suítes São João Batista, Valsungana e Nova Trento,
correspondendo a um conjunto de granitoides crustais, apresenta idades muito
próximas entre si, cuja colocação ocorreu após o desenvolvimento da foliação S2,
conforme indicado pela presença de xenólitos metassedimentares bem como pela
auréola de metamorfismo de contato desenvolvida nessa foliação pelas três suítes. O
clímax metamórfico teria ocorrido ao redor de 600 Ma, associado a colocação dos
granitoides intrusivos conforme sugerido pelos dados U-Pb desse magmatismo.
Quando comparadas as informações radiométricas do GB com as demais unida-
des supracrustais do CDF (figura 11) inúmeras semelhanças são observadas entre
os diferentes segmentos, principalmente no tocante a época de resfriamento regio-
nal, idade de colocação dos granitoides intrusivos e a idade das principais popula-
ções de zircão detrítico. Neste último quesito, apesar das semelhanças, ressalta-se
a predominância de grãos de idade ediacarana na porção sul (Rio Grande do Sul)
e a idades arqueanas na extremidade meridional (Uruguai). Nessas mesmas locali-
dades ocorre a presença de embasamento com idade mesoproterozoica, enquanto
que no GB o Mesoproterozoico é observado somente como xenólito em meio aos
diatexitos do Complexo Camboriú. Figura 11: Resumo dos dados geocronológicos do Grupo Brusque e unidades correlacionadas do Cinturão de Dom
Feliciano. Santa Catarina: referências como na figura 10. Rio Grande do Sul K-Ar: Hueck et al., 2019. Associa-
ções do embasamento – Complexo Encantadas (EC): Hartmann et al., 2002; Saalmann et al., 2011. Complexo
Arroio dos Ratos (ARC): Leite et al., 2000; Gregory et al., 2015. Anortosito Capivarita (CA): Chemale et al.,
8. Evolução tectônica 2011. Anfibolito Tupi Silveira (TSA): Camozzato et al., 2013. Complexo Várzea do Capivarita (VCC): Philipp et
al., 2016b. Magmatismo sin-sedimentar – Grupo Porongos: Saalmann et al., 2011; Philipp et al., 2016a. Granitos
pós-tectônicos: Babinski et al., 1997; Philipp et al., 2002, 2016a; Bittencourt et al., 2015. Zircões detríticos: Basei
O GB representa o segmento norte da faixa de rochas supracrustais dobradas e et al., 2008a; Gruber et al., 2011; Pertille et al., 2015a, b, 2017; Höfig et al., 2018. Uruguai dados K-Ar e Ar-Ar:
metamorfizadas que, juntamente com os Grupos Porongos e Lavalleja integram o Oyhantçabal et al., 2009; Oriolo et al., 2016. Complexo Campanero: Mallmann et al., 2007; Sánchez-Bettuci et
CDF. Esse segmento, apesar das diferenças observadas, apresenta as mesmas etapas al., 2003a; Oyhantçabal et al., 2005; Gaucher et al., 2014. Magmatismo Mesoproterozoico: Oyhantçabal et al.,
2005; Gaucher et al., 2014. Granitos pós-tectônicos: Hartmann et al., 2003b; Sánchez-Bettuci et al., 2003b; Gau-
evolutivas principais de seus equivalentes no RS e Uruguai. A tabela 2 resume a evo- cher et al., 2008; Oyhançabal et al., 2009; Lara et al., 2017. Metamorfismo no Grupo Lavalleja: Sánchez-Bettuci
lução tectônica proposta ao Grupo Brusque que é o objeto desta reflexão. et al., 2003a. Zircões detríticos: Mallmann et al., 2007; Basei et al., 2008a; Pecoits et al., 2016; Oriolo, 2016.

326 327
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 14

resultado da colisão, o conjunto vulcanossedimentar foi então afetado pelos inú-


meros granitoides aluminosos a peraluminosos claramente pós-tectônicos ao de-
senvolvimento da foliação S2. Associado a intrusão desses corpos graníticos teria
ocorrido, ao redor de 600 Ma, um segundo pico térmico responsável pelo clímax
metamórfico do GB em fáceis xisto verde alto a anfibolito. O incremento da
temperatura, responsável pela geração dos corpos graníticos decorreu da justa-
posição colisional do arco magmático, quando o mesmo ainda estava quente. Isso
explicaria o sincronismo entre as idades dos corpos graníticos em ambos os lados
da zona de sutura Major Gercino que separa as supracrustais (NW) do domínio
do arco magmático (SE).
Outro ponto muito importante relacionado com a exumação do arco, diz respei-
to à geração, no Ediacarano, de depósitos sin-orogênicos, onde o arco passa a ser
a principal área fonte de aporte de detritos para essas unidades. Essas bacias estão
muito bem documentadas no Grupo Porongos (RS), pelos depósitos deformados e
metamorfizados do Antiforme do Capané (Pertille et al., 2015a, b, 2017; Höfig et
al., 2018) e estão sendo propostas para o Grupo Brusque neste artigo.
Com a continuidade da compressão pós colisional no CDF, as unidades já dobra-
das, metamorfizadas e cortadas pelos corpos graníticos, foram transportadas para
noroeste, colocando-se sobre as rochas das bacias de foreland, representada em San-
ta Catarina pelos depósitos da Bacia do Itajaí. Os cavalgamentos que colocaram os
xistos do GB sobre as unidades sedimentares da Bacia do Itajaí, seriam responsáveis
pela principal fase de deformação observada na Bacia. Esses cavalgamentos, que
teriam ocorrido a baixa temperatura, na transição dúctil-rúptil representam os ester-
tores da deformação regional do CDF.
Tabela 2: Sumário da Em termos regionais a evolução do Grupo Brusque acima proposta estaria rela-
evolução tectônica do cionada ao processo Criogeniano-Ediacarano de convergência de placas, responsável
Grupo Brusque. É postulado que no Toniano, ao redor de 780 Ma, iniciou-se a
Gr: Grupo; Fm: Formação; deposição em uma bacia marginal das unidades siliciclásticas mari- pela geração das faixas de dobramentos Araçuaí, Ribeira, Dom Feliciano, Oeste Con-
zr: zircão; mz: monazita. nhas que constituem a principal sequência sedimentar reconhecida go, Kaoko, Damara, Gariep e Saldanha, observadas em ambos os lados do Atlântico
TIMS: Thermal Ionization Sul como decorrência do fechamento do Oceano Adamastor quando da convergên-
Mass Spectrometry; no âmbito do CDF. Restos ofiolíticos e vulcânicas interestratificadas
EPMA: Electron Probe marcam esse período. Ao longo de todo o cinturão, restos reliquiares cia dos Crátons Río de la Plata, Paranapanema, Congo, Angola e Kalahari. Esse
Microanalyzer; de rochas infracrustais são observadas com idades principais ao redor processo culminou na aglutinação de Gondwana Ocidental.
SHRIMP: Sensitive
High Mass-Resolution de 2000−2200 Ma.
Ion Microprobe; No Criogeniano, ao redor de 640 Ma, foram desenvolvidas ba-
LA-ICP-MS: Laser Ablation cias vulcanossedimentares, com magmatismo bimodal com afinidades Agradecimentos
Inductively Coupled Plas-
ma Mass Spectrometry. alcalinas. Essas bacias receberam os principais depósitos vulcano-exa-
lativos conhecidos no cinturão, sendo caracterizados no GB por pos- Os autores consideram uma honra a possibilidade de participarem do livro
santes depósitos turmaliníferos associados a rochas cálcio-silicáticas e em homenagem ao Professor Umberto Cordani pois, muito do que está sendo
metabásicas. Todo o conjunto de rochas supracrustais foi dobrado e apresentado neste capítulo, nada mais representa do que a aplicação dos ensina-
metamorfizado polifasicamente, com a foliação S2 sendo a principal mentos e orientações recebidos durante o convívio com esse professor e pesqui-
superfície regionalmente reconhecida no conjunto metassedimentar. sador. Os dados geocronológicos que suportam as interpretações apresentadas
Essa deformação estaria associada a uma tectônica tangencial com as foram em sua grande maioria obtidos nos laboratórios do CPGeo, criado pelo
nappes resultantes indicando transporte para N-NW. Umberto Cordani e colaboradores em 1964. Os autores também agradecem à
Em termos geodinâmicos, postulamos que a causa do dobra- Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, FAPESP, pelo contínuo
mento e das nappes observadas ao longo do CDF seria decorrente apoio financeiro aos diversos projetos submetidos pelo grupo, que permitiram
da compressão inicial relacionada com a aproximação do arco mag- a realização das pesquisas geológicas e a manutenção e ampliação do parque de
mático representado pelos batólitos Florianópolis, Pelotas e Aiguá equipamentos do CPGeo, IGc-USP. Em especial, os autores agradecem à FAPESP
durante o processo de fechamento do Oceano Adamastor. Como pelo atual projeto Temático 2015/03737-0.

328 329
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 14

Referências ra and Dom Feliciano belts of South America and matism in Botuverá region, Santa Catarina, southern from TTG-type rock associations of the Arroio dos Ra-
comparison with coeval sequences from SW Africa. Brazil: Evidence from petrology, geochemistry, iso- tos Complex and implications for crustal evolution of
Affaton P., Kalsbeek F., Boudzoumou F., Trompette In: Pankhurst R.J., Trouw R.A.J., Brito Neves B.B., tope geology and geochronology of the diabase and southernmost Brazil in Paleoproterozoic times. Journal
R., Thrane K., Frei R. 2016. The Pan-African West Con- de Wit M.J. (Eds.). West Gondwana: Pre-Cenozoic lamprophyre dikes. Journal of South American Earth of South American Earth Sciences, 57:49-60.
go belt in the Republic of Congo (Congo Brazzaville): Correlations Across the South Atlantic Region, Lon- Sciences, 37:266-278. Gruber L., Porcher C.C., Lens C., Fernandes
Stratigraphy of the Mayombe and West Congo Super- don. Geological Society London, Special Publication, Castro N.A., Basei M.A.S., Crósta A.P. 1999. The L.A.D. 2011. Proveniência dos metassedimentos das
groups studied by detrital zircon geochronology. Precam- 294:239-256. W(Sn-Mo) specialized Catinga and other intrusive gran- sequências Arroio Areião, Cerro Cambará e Quart-
brian Research, 272:185-202. Basei M.A.S., Grasso C., Vlach S.R.F., Nutman A.P., itoids in the Brusque group, Neoproterozoic of the state zo Milonitos no Complexo Metamórfico Porongos,
Almeida F.F.M., Hasui Y., Brito Neves B.B., Fuck Siga Jr. O., Osako L.S. 2008b. A-type rift-related granite or Santa Catarina, southern Brazil. Revista Brasileira de Santana da Boa Vista, RS. Pesquisas em Geociências,
R.A. 1981. Brazilian structural provinces: an introduc- and the Lower Cryogenian age for the beginning of the Geociências, 29 (1):17-6. 38(3):205-223.
tion. Earth Science Reviews, 17:1-29. Brusque Belt basin. In: VI South American symposium Cordani U.G., Pimentel M.M., Ganade de Araú- Halinann S.E. & Mantovani S.M.M. 1993.Struc-
Arena K.R., Hartmann L.A., Lana C. 2016. Evo- on Isotope Geology. San Carlos de Bariloche, Argentina, jo C.E., Basei M.A.S., Fuck R.A., Girardi V.A.V. tural framework of the Southern Brazilian shield: the
lution of Neoproterozoic ophiolites from the south- Proceedings (CD-ROM). 2013. Was there an Ediacaran Clymene Ocean in perspective from gravity models. In: 3rd International
ern Brasiliano Orogen revealed by zircon U-Pb-Hf Basei M.A.S., Brito Neves B.B., Siga Jr. O., Babins- central South America? American Journal of Science, Geophysical Congress. Rio de Janeiro, Anais, v.2, p.
isotopes and geochemistry. Precambrian Research, ki M., Pimentel M.M., Tassinari C.C.G, Hollanda 313:517-539. 1078-1083.
285:299-314. M.H.B., Nutman A., Cordani U.G. 2010. Contribution Chemale Jr. F., Hartmann L.A., Silva L.C. 1995. Hartmann L.A. & Remus M.V.D. 2000. Origem e
Arena K.R., Hartmann L.A., Lana C. 2017. U-Pb-Hf of SHRIMP U–Pb zircon geochronology to unravelling Stratigraphy and tectonism of the Precambrian and evolução das rochas ultramáficas do Rio Grande do Sul
isotopes and trace elements of metasomatic zircon delim- the evolution of Brazilian Neoproterozoic fold belts. Pre- Early Paleozoic units in southern Brazil and Uruguay. desde o Arqueano até o Cambriano. In: Holz M., De Ros
it the evolution of neoproterozoic Capané ophiolite in cambrian Research, 183:112-144. Excursion guidebook. Acta Geológica Leopoldensia, L.F. (eds.) Geologia do Rio Grande do Sul. Porto Alegre,
the southern Brasiliano Orogen. International Geology Basei M.A.S., Peel E., Sánchez Bettucci L., Preciozzi 42:5-117. CIGO/UFRGS, p. 53-78.
Review, 60(7):911-928. F., Nutman A.P. 2011a. The basement of the Punta del Chemale Jr. F., Philipp R.P., Dussin I., Formoso Hartmann L.A., Santos J.O.S., Bossi J., Campal N.,
Babinski M., Chemale F., Hartmann L.A., Van Este Terrane (Uruguay): an African Mesoproterozoic M.L.L., Kawashita K., Berttotti A.L. 2011. Lu-Hf and Schipilov A., McNaughton N.J. 2002. Zircon and ti-
Schmus W.R., da Silva L.C. 1997. U-Pb and Sm-Nd geo- fragment at the eastern border of the South American U-Pb age determination of the Capivarita Anortho- tanite U-Pb SHRIMP geochronology of Neoproterozoic
chronology of the Neoproterozoic granitic-gneissic Dom Río de la Plata craton. International Journal of Earth Sci- site, Dom Feliciano belt, Brazil. Precambrian Research, felsic magmatism on the eastern border of the Río de la
Feliciano belt, southern Brazil. Journal of South Ameri- ences, 100:289-304. 186:117-126. Plata Craton, Uruguay. Journal of South American Earth
can Earth Sciences, 10(3-4):263-274. Basei M.A.S., Campos Neto M.C., Castro N.A., Florisbal L.M., Janasi V.A., Bitencourt M.F., Sciences, 15:229-236.
Basei M.A.S. 1985. O Cinturão Dom Feliciano em Nutman A.P., Wemmer M.T., Yamamoto M.T., Hueck Heaman L.M. 2012. Space-time relation of post-colli- Hartmann L.A., Bitencourt M.F., Santos J.O.S.,
Santa Catarina. PhD Thesis, Universidade de São Paulo, M., Osako L., Siga Jr. O., Passarelli C.R. 2011b. Tec- sional granitic magmatism in Santa Catarina, southern McNaughton N.J., Rivera C.B., Betiollo L. 2003a.
São Paulo, 191 p. tonic evolution of the Brusque Group, Dom Feliciano Brazil: U-Pb LAMC-ICP-MS zircon geochronology Prolonged Paleoproterozoic magmatic participation
Basei M.A.S. 2000. Geologia e Modelagem Ge- belt, Santa Catarina. Journal of South American Earth of coeval mafic-felsic magmatism related to the Ma- in the Neoproterozoic Dom Feliciano Belt, Santa
otectônica dos Terrenos Pré-Cambrianos das Regiões Sciences, 32:324-350. jor Gercino Shear Zone. Precambrian Research, 216- Catarina, Brazil based on zircon U–Pb SHRIMP geo-
Sul-Oriental Brasileira e Uruguaia: Possíveis Correla- Basei M.A.S., Campos Neto M.C., Lopes A.P., 219:132-151. chronology. Journal of South American Earth Sciences,
ções com Províncias Similares do Sudoeste Africano. Nutman A.P., Liu D., Sato K. 2013. Polycyclic evolu- Fragoso Cesar A.R.S. 1980. O Cráton do Rio 16:477-492.
Tese de Livre Docência, Universidade de São Paulo, tion of Camboriú Complex migmatites, Santa Catari- de La Plata e o Cinturão Dom Feliciano no Escudo Hartmann L.A., Santos J.O.S., Leite J.A.D., Porcher
São Paulo, 124 p. na, Southern Brazil: integrated Hf isotopic and U-Pb Uruguaio-Sul Riograndense, Camboriú, SC. In: 31º. C.C., McNaughton I., Neal J. 2003b. Metamorphic evo-
Basei M.A.S., Ahrendt H., Wemmer K., Passarelli age zircon evidence of episodic reworking of a Me- Congresso Brasileiro de Geologia. Camboriú, Anais, lution and U-Pb zircon SHRIMP geochronology of the
C.R. 1995. Evolução policíclica da Zona de Cisalha- soarchean juvenile crust. Brazilian Journal of Geology, p. 2879-2892. Belizário ultramafic amphibolite, Encantadas Complex,
mento Major Gercino, Santa Catarina, Brasil. In: V 43:427-443. Frimmel H.E., Basei M.A.S., Gaucher C. 2011. Neo- southernmost Brazil. Anais Academia Brasileira de Ciên-
Simpósio Nacional de Estudos Tectônicos. Gramado, Basei M.A.S., Frimmel H., Campos Neto M.C., proterozoic geodynamic evolution of SW-Gondwana: a cias, 75(3):393-403.
Resumos, p. 371-373. Araújo C.A., Castro N.A., Passarelli C.R. 2018. The southern African perspective. International Journal of Höfig D.F., Marques J.C., Basei M.A.S., Giusti
Basei M.A.S., Siga Jr. O., Masquelin H., Harara Tectonic History of the Southern Adamastor Ocean Earth Sciences, 100:323-354. R.O., Kohlrausch C., Frantz J.C. 2018. Detrital zir-
O.M., Reis Neto J.M., Preciozzi F.P. 2000. The Dom Based on a Correlation of the Kaoko and Dom Feli- Frimmel H.E., Basei M.A.S., Correa V.X., Mban- con geochronology (U-Pb LA-ICP-MS) of syn-oro-
Feliciano Belt of Brazil and Uruguay and its foreland ciano Belts. In: Siegesmund S., Oyhantçabal P., Basei gula N. 2013. A new lithostratigraphic subdivision genic basins in SW Gondwana: new insights into the
domain the Rio de la Plata Craton: framework, tec- M.A.S., Oriolo S. (eds.) Geology of Southwest Gond- and geodynamic model for the Pan-African western Cryogenian-Ediacaran of Porongos Complex, Dom
tonic evolution and correlation with similar provinces wana. Regional Geology Reviews. Heidelberg, Spring- Saldania Belt, South Africa. Precambrian Research, Feliciano Belt, southern Brazil. Precambrian Research,
of Southwestern Africa. In: Cordani U.G., Milani E.J., er, p. 63-85. 231:218-235. 306:189-208.
Thomaz- Filho A., Campos D.A. (eds.). Tectonic evolu- Bitencourt M. F., Hackspacher P.C., Stoll L.V. 1989. Gaucher C., Finney S.C., Poiré D.G., Valencia V.A., Hueck M., Basei M.A.S., Castro N.A. 2016. Or-
tion of South America. Rio de Janeiro: 31st Internation- A Zona de Cisalhamento Major Gercino - Santa Catari- Grove M., Blanco G., Pamoukaghlián K., Gómez Peral L. igin and evolution of the granitic intrusions in the
al Geological Congress, p. 311-334. na. In: II Simpósio Nacional de Estudos Tectônicos. For- 2008. Detrital zircon age of Neoproterozoic sedimentary Brusque Group of the Dom Feliciano Belt, south Bra-
Basei M.A.S., Frimmel H.E., Nutman A.P., Pre- taleza. Boletim 11, p. 214-215. successions of Uruguay and Argentina: Insights into the zil: Petrostructural analysis and whole-rock/isotope
ciozzi F., Jacob J. 2005. A connection between the Bitencourt M.F., Nardi L.V.S., Florisbal L.M., geological evolution of the Río de la Plata Craton. Pre- geochemistry. Journal of South American Earth Scienc-
Neoproterozoic Dom Feliciano (Brazil/Uruguay) and Heaman L. 2015. Geology, geochronology and petro- cambrian Research, 167:150-170. es, 69:131-151.
Gariep (Namibia/South Africa) orogenic belts-evidence genesis of a Neoproterozoic, syntectonic sillimanite-mus- Gaucher C., Frei R., Frei D., Blanco G. 2014. Edad, Hueck M., Basei M.A.S., Wemmer K., Oriolo S.,
from a reconnaissance provenance study. Precambrian covite-biotite granite from southernmost Brazil. In: 8th. proveniencia y paleogeografía de la Formacion San Car- Heidelbach F., Siegesmund S. 2018. Evolution of the
Research, 139:195-221. Hutton Symposium on Granites and Related Rocks. Flo- los. In: Bossi J., Gaucher C. (Eds.). Geologia del Uru- Major Gercino Shear Zone in the Dom Feliciano Belt,
Basei M.A.S., Campos Neto M.C., Castro N.A., San- rianópolis, Brazil, Abstracts p. 176. guay. Tomo 1: Predevonico. Montevideo, UdelaR. South Brazil, and implications for the assembly of south-
tos P.R., Siga Jr. O., Passarelli C.R. 2006. Mapa Geoló- Camozzato E., Philipp R.P., Chemale Jr. F. 2013. Grasso C.B. 2003. Características Petrográficas, western Gondwana. International Journal of Earth Sci-
gico 1:100.000 das Folhas Brusque e Vidal Ramos, SC, Evolução Tectônica e Geocronologia U-Pb em zircão da Geoquímicas e Geocronológicas de granitoides intrusivos ences, 108:403-425.
Convênio USP-CPRM. In: 43º. Congresso Brasileiro de terminação sul do Terreno Tijucas (RS, Brasil). In: 7º. no Complexo Metamórfico Brusque. Monografia de Gra- Hueck M., Basei M.A.S., Castro N.A. 2019.
Geologia. Aracaju-SE, SBG, Anais. Congreso Uruguayo de Geología. Montevideo, Resúme- duação, Instituto de Geociências, Universidade de São Tracking the sources and the evolution of the late
Basei M.A.S., Frimmel H.E., Nutman A.P., Pre- nes Extendidos, p. 7. Paulo, São Paulo, 49 p. Neoproterozoic granitic intrusions in the Brusque
ciozzi F. 2008a. West Gondwana amalgamation based Campos R.S., Philipp R.P., Massonne H.J., Che- Gregory T.R., Bitencourt M.F., Nardi L.V.S., Floris- Group, Dom Feliciano Belt, South Brazil: LA-ICP-MS
on detrital zircon ages from Neoproterozoic Ribei- male Jr. F. 2012. Early post-collisional Brasiliano mag- bal L.M., Chemale Jr. F. 2015. Geochronological data and SHRIMP geochronology coupled to Hf isotopic

330 331
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 14

analysis. Precambrian Research, 338:105566. Passarelli C.R., Basei M.A.S., Siga Jr. O., Mc Reath temperature conditions of the collisional metamor- ment and inheritance ages. In: IV South American
Koester E., Roisenberg A., Fernandes L.A.D., So- I., Campos Neto M.C. 2010. Deformation and geochro- phism in the Várzea do Capivarita complex: implica- Symposium on Isotope Geology. Salvador, Short pa-
liani Jr. E., Nardi L.V.S., Kraemer G. 2001. Petrologia nology of syntectonic granitoids emplaced in the Major tions for the origin of Pelotas Batholith, Dom Feliciano pers, p. 687-690.
dos granitóides sin-tectônicos à Zona de Cisalhamento Gercino shear zone, southeastern South America. Gond- Belt, southern Brazil. Journal of South American Earth Silva L.C., McNaughton N.J., Fletcher I.R. 2005.
Transcorrente Dorsal de Canguçu, Encruzilhada Do Sul, wana Research, 17:688-703. Sciences, 66:196-207. Reassessment on complex zircon populations from
RS. Revista Brasileira de Geociências, 31(2):131-140. Passarelli C.R., Mc Reath I., Basei M.A.S., Siga Jr. Saalmann K., Gerdes A., Lahaye Y., Hartmann Neoproterozoic granites in Brazil, through SEM imag-
Lara P., Oyhantçabal P., Dadd K. 2017. Post-col- O., Campos Neto M.C. 2011. Heterogeneity in syn- L.A., Remus M.V.D., Läufer A. 2011. Multiple ac- ing and SHRIMP analysis: consequences for discrimi-
lisional, Late Neoproterozoic, high-Ba-Sr granitic tectonic granitoids emplaced in a major shear zone, cretion at the eastern margin of the Rio de la Plata nation of emplacement and inherited ages. Lithos, 82
magmatism from the Dom Feliciano Belt and its cra- southern Brazil. Journal of South American Earth Sci- craton: the prolonged Brasiliano orogeny in southern- (3-4):503-525.
tonic foreland, Uruguay: Petrography, geochemistry, ences, 32:369-378. most Brazil. International Journal of Earth Sciences, Tack L., Wingate M.T.D, Liégeois J.-P, Fernan-
geochronology, and tectonic implications. Lithos, Pecoits E., Aubet N.R., Heaman L.M., Philippot P., 100:355-378. dez-Alonso M., Deblond A. 2001. Early Neoproterozoic
277:178-198. Rosière C.A., Veroslavsky G., Konhauser K.O. 2016. Sánchez-Bettucci L., Cosarinsky M., Ramos V.A. magmatism (1000-910 Ma) of the Zadinian and Ma-
Leite J.A.D., Hartmann L.A., Fernandes L.A.D., Mc- U-Pb detrital zircon ages from some Neoproterozoic 2001. Tectonic setting of the late Proterozoic Lavalleja yumbian Groups (Bas-Congo): onset of Rodinia rifting
Naughton N.J., Soliani Jr. E., Koester E., Santos J.O.S., successions of Uruguay: Provenance, stratigraphy and Group (Dom Feliciano Belt), Uruguay. Gondwana Re- at the western edge of the Congo craton. Precambrian
Vasconcellos M.A.Z. 2000. Zircon U-Pb SHRIMP dating tectonic evolution. Journal of South American Earth Sci- search, 4:395-407. Research, 110(1-4):277-306.
of gneissic basement of the Dom Feliciano Belt, south- ences, 71:108-130. Sánchez-Bettucci L., Preciozzi F., Basei M.A.S., Oy- Tedeschi M., Novo T., Pedrosa-Soares A.C., Dussin
ernmost Brazil. Journal of South American Earth Scienc- Peixoto E., Pedrosa-Soares A.C., Alkmim F.F., hantçabal P., Peel E. Loureiro J. 2003a. Campanero Unit: I.A., Tassinari C.C.G., Silva L.C., Gonçalves L., Alkmim
es, 13:739-750. Dussin I.A. 2015. A suture related accretionary wedge a probable Paleoproterozoic basement and its correlation F.F., Lana C., Figueiredo C., Dantas E., Medeiros S.,
Lopes A.P. 2008. Geologia do Complexo Camboriú formed in the Neoproterozoic Araçuaí orogen (SE Bra- to other units of southeastern Uruguay. In: IV South Campos C., Corrales F., Heilbron M. 2016. The Edia-
(SC). Tese de Doutorado Instituto de Geociências, Uni- zil) during Western Gondwanaland assembly. Gondwa- American Symposium on Isotope Geology. Salvador, caran Rio Doce Magmatic Arc revisited (Araçuaí-Ribeira
versidade de São Paulo, São Paulo, 102 p. na Research, 27:878-896. Short Papers, p. 673. orogenic system, SE Brazil). Journal of South American
Lopes A.P. & Basei M.A.S. 2019. Geologia do Com- Pertille J., Hartmann L.A., Philipp R.P. 2015a. Zir- Sánchez-Bettucci L., Oyhantçabal P., Page S., Ramos Earth Sciences, 68:167-186.
plexo Camboriú, Santa Catarina: Petrogênese dos mig- con U-Pb age constraints on the Paleoproterozoic sed- V.A. 2003b. Petrography and geochemistry of the Carapé Vlach S.R.F., Basei M.A.S., Castro N.A. 2009. Ida-
matitos. Riga Latvia, European Union, Novas Edições imentary basement of the Ediacaran Porongos Group, Complex, (Southeastern Uruguay). Gondwana Research, de U-Th-Pb de monazita por microssonda eletrônica do
Acadêmicas, 120 p. Sul-Riograndense Shielf, southern Brazil: Journal of 6:89-105. Granito Nova Trento, Grupo Brusque, SC. In: Simpósio
Marques J.C., Roisenberg A., Jost H., Frantz J.C., South American Earth Sciences, 63:334-345. Sanchez-Bettucci L., Oyhantçabal P., Loureiro J., 45 anos de Geocronologia no Brasil. São Paulo, Boletim
Teixeira R.S. 2003. Geologia e Geoquímica das Rochas Pertille J., Hartmann L.A., Philipp R.P., Petry T.S., Ramos V.A., Preciozzi F., Basei M.A.S. 2004. Mineraliza- de Resumos Expandidos, p. 325-327.
Metaultramáficas da Antiforme Capané, Suíte Meta- Lana C.C. 2015b. Origin of the Ediacaran Porongos tions of the Lavalleja Group (Uruguay), a Probable Neo- Yamamoto M.T. & Basei M.A.S. 2009. Geoquími-
mórfica Porongos, RS. Revista Brasileira de Geociên- Group, Dom Feliciano Belt, southern Brazilian Shield, proterozoic Volcano-sedimentary Sequence. Gondwana ca isotópica e idade U-Pb em zircão do magmatismo
cias, 33:95-107. with emphasis on whole rock and detrital zircon geo- Research, 7:745-751. básico do Grupo Brusque no Estado de Santa Cata-
Mallmann G., Chemale Jr., F., Ávila J.N., Kawa- chemistry and U-Pb, Lu-Hf isotopes. Journal of South Shukowsky W., Vasconcellos A.C.B.C., Mantovani rina, SC. In: Simpósio 45 anos de Geocronologia no
shita K., Armstrong R.A. 2007. Isotope geochemistry American Earth Sciences, 64:69-93. M.S.M. 1991. Estruturação dos terrenos Pré-Cambria- Brasil. São Paulo, Boletim de Resumos Expandidos, p.
and geochronology of the Nico Pérez Terrane, Rio Pertille J., Hartmann L.A., Santos J.O.S., McNaugh- nos da região sul do Brasil e oeste do Uruguai: um estu- 328-330.
de la Plata Craton, Uruguay. Gondwana Research, ton N.J., Armstrong R. 2017. Reconstructing the Cryo- do por modelamento gravimétrico. Revista Brasileira de
12:489-508. genian–Ediacaran evolution of the Porongos fold and Geofísica, 9(2):275-287.
Martini A., Bitencourt M.F., Nardi L.V.S., Florisbal thrust belt, Southern Brasiliano Orogen, based on Zir- Silva L.C., Dias A.A., Hartmann L.A., Krebs A.S.J.,
L.M. 2015. An integrated approach to the late stages con U-Pb-Hf-O isotopes. International Geology Review, da Silva M.A.S. 1980. História metamórfica do Grupo
of Neoproterozoic post-collisional magmatism from 59(12):1532-1560. Brusque e SC e Análise comparativa entre as regiões do
Southern Brazil: Structural geology, geochemistry and Philipp R.P., Machado R., Nardi L.V.S., Lafon J.M. Russo e da Catinga. In: 31º Congresso Brasileiro de Ge-
geochronology of the Corre-Mar Granite. Precambrian 2002. O magmatismo granítico Neoproterozoico do Ba- ologia. Camboriú, Anais, v.5, p. 2982-2995.
Research, 261:25-39. tólito Pelotas no sul do Brasil: novos dados e revisão de Silva L.C., Hartmann L.A., McNaughton N.J.,
Oriolo S. 2016. Tectonothermal Evolution of the geocronologia regional. Revista Brasileira de Geociên- Fletcher I. 2000. Zircon U-Pb SHRIMP dating of a
Sarandí Del Yí Shear Zone and Adjacent Blocks (Uru- cias, 32(2):277-290. Neoproterozoic overprint in Paleoproterozoic granit-
guay): Implications for the Assembly of Western Gond- Phillip R.P., Mallmann G., Bitencourt M.F., Souza ic-gneissic terranes, southern Brazil. American Minera-
wana. Dissertation zur Erlangung des mathemathisch R.R., Liz J.D., Wild F., Arend S., Oliveira A.S., Duar- logist, 85:649-667.
- naturwissenschaftlichen Doktorgrades Doctor rerum te L.C., Rivera C.B., Prado M. 2004. Caracterização Silva L.C., McNaughton N.J., Santos J.O.S. 2002a.
naturalium der Georg-August-Universität Göttingen Litológica e Evolução Metamórfica da Porção Leste do Datações U-Pb SHRIMP do vulcanismo félsico na Bacia
Göttingen, 218p. Complexo Metamórfico Brusque, Santa Catarina. Revis- Brusque, Orógeno Pelotas, SC. In: 41º Congresso Brasi-
Oriolo S., Oyhantçabal P., Wemmer K., Heidelbach ta Brasileira de Geociências, 34(1):21-34. leiro de Geologia. João Pessoa, Anais, p. 510.
F., Pfänder J., Basei M.A.S., Hueck M., Hannich F., Sper- Phillip R.P., Massonne H.J., Theye T., Campos Silva L.C., Armstrong R., Pimentel M.M., Scan-
ner B., Siegesmund S. 2016. Shear zone evolution and R.S. 2009. U-Th-Pb EMPA Geochronology of poly- dolara J., Ramgrab G., Wildner W., Angelim L.A.A.,
timing of deformation in the Neoproterozoic transpres- genetic monazites of the metapelitic migmatitic gneiss- Vasconcelos A.M., Rizzoto G., Quadros M.L.E.S.,
sional Dom Feliciano Belt, Uruguay. Journal of Structural es of Camboriú Complex, SC, Southern Brazil: evi- Sander A., Rosa A.L.Z. 2002b. Reavaliação da evo-
Geology, 92:59-78. dences for the collisional and post-collisional events lução geológica em terrenos pré-cambrianos brasilei-
Oyhantçabal P., Sánchez Bettucci L., Pecoits E., Aubet in the Dom Feliciano Belt. In: Simpósio 45 anos de ros com base em novos dados U-Pb SHRIMP, Parte
N., Preciozzi F., Basei M.A.S. 2005. Nueva propuesta es- Geocronologia no Brasil. São Paulo, Boletim de Resu- III: Províncias Borborema, Mantiqueira Meridional e
tratigráfica para las supracorticales del Cinturón Dom mos Expandidos, p. 289-291. Rio Negro-Juruena. Revista Brasileira de Geociências,
Feliciano (Proterozoico, Uruguay). In: XII Congreso Philipp R. P., Pimentel M. M., Chemale Jr. F. 2016a. 32(4):529-544.
Latinoamericano de Geología. Quito, Abstracts. Tectonic evolution of the Dom Feliciano Belt in Southern Silva L.C., McNaughton N.J., Hartmann L.A.,
Oyhantçabal P., Siegesmund S., Wemmer K., Presnya- Brazil: Geological relationships and U-Pb geochronolo- Fletcher I.R. 2003. Contrasting zircon growth pat-
kov S., Layer P. 2009. Geochronological constraints on gy. Revista Brasileira de Geociências, 46:83-104. terns in Neoproterozoic granites of Southern Brazil
the evolution of the southern Dom Feliciano Belt (Uru- Philipp R.P., Bom F.M., Pimentel M.M., Junges revealed by SHRIMP U-Pb analyses and SEM imag-
guay). Journal of the Geological Society, 166:1075-1084. S.L., Zvirtes G. 2016b. SHRIMP U-Pb age and high ing: consequences for the discrimination of emplace-

332 333
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 15

Geocronologia e geoquímica isotópica al. (1968), que obtiveram valores da ordem de 0,7057 para a razão ini-
cial 87Sr/86Sr de basaltos (de alto Ti/Y) na porção norte, concluindo que
da Província Ígnea Paraná-Etendeka a contaminação crustal seria praticamente ausente nessas rochas, con-
trastando com os dados obtidos nos basaltos da Tasmânia e Antártica.O
Evandro Fernandes de Lima1 trabalho posterior de M. Halpern, U. Cordani e M. Berenholc (1974)
(eflgeologo@gmail.com). mostrou, no entanto, que as razões iniciais de Sr nas rochas vulcânicas
Valdecir de Assis Janasi2 da parte sul da Província (de baixo Ti/Y) eram significativamente mais
(vjanasi@usp.br).
altas e variáveis, alcançando valores superiores a 0,714 em rochas de
Lucas de Magalhães May Rossetti3
composição não usual – “altamente diferenciadas”. Diversas publicações
(lucasross@hotmail.com).
Breno Leitão Waichel4
posteriores (p. ex., Cordani et al., 1980; Mantovani et al., 1985) confir-
(breno@cfh.ufsc.br). maram esta diferença fundamental e deram sustentação a modelos gené-
ticos distintos para os dois grupos na petrogênese dos basaltos de baixo
1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Geociências.
Ti/Y e rochas associadas do sul da Província: (1) participação importante
Evandro Fernandes de Lima.
2
Universidade de São Paulo, Instituto de Geociências. da crosta continental; (2) processos tipo AFC. Lucas de Magalhães
3
Universidade Federal do Mato Grosso, Instituto de Ciências Exatas e da Terra. O presente trabalho apresenta uma revisão da evolução do conhe- May Rossetti.
4
Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Geociências.
cimento sobre a idade e duração do magmatismo da Província Magmá-
tica Paraná e da contribuição geoquímica isotópica para a identificação
1. Introdução
de fontes e processos evolutivos. Nas contribuições pioneiras de U.
Cordani e colaboradores do CPGeo são destacados os principais de-
O primeiro artigo publicado pelo CPGeo-USP, de autoria de Gil-
senvolvimentos que ocorreram nos estudos desses temas.
berto Amaral, Umberto Cordani, Koji Kawashita e John Reynolds
(Amaral et al., 1966), apresentou à literatura internacional as idades
das rochas basálticas da Província Magmática Paraná, determinadas
pelo método K-Ar. O artigo destaca 3 principais conclusões: 1) con- 2. A Província Ígnea Paraná-Etendeka (PIPE)
centração de idades em torno de 120 Ma, estabelecendo claramente
a idade cretácea para o magmatismo; 2) intervalo de pelo menos 28 Províncias Basálticas Continentais representam eventos geológicos
Ma (147-119 Ma) para o magmatismo; 3) inexistência de diferenças de magnitudes extraordinárias que produziram as maiores erupções co-
significativas nas idades de rochas vulcânicas e intrusivas na porção sul nhecidas na história geológica da Terra (magnitudes > M8; Bryan et al.
da Província. A idade Cretácea do vulcanismo principal, contrariando 2010). Estas manifestações formam campos de lavas que excedem 0,1
a ideia até então de que ele seria Jurássico e correlato aos basaltos do Mkm2 em área e produzem volumes de magmas superiores a 0,1 Mkm3
Karoo, Antártica e Tasmânia, levou os autores a registrar na frase final (Bryan e Ernst, 2008). Neste contexto, o magmatismo de Províncias
do artigo: ...The present work certainly does not rule out the theo- Basálticas Continentais, em muitos casos, antecede a fragmentação e rif-
Valdecir de Assis Janasi. ry of continental drift, but seems to remove the possibility, previously teamento de continentes (Courtillot et al., 1999). O magmatismo está Breno Leitão Waichel.
suggested, that the major basaltic occurrences in all these continents associado a importantes anomalias térmicas no manto superior, capazes
were contemporaneous. Posteriormente, foi demonstrada na Província de produzir quantidades imensas de magma de afinidade dominante-
Ígnea Etendeka (Namíbia e Angola) a ocorrência de rochas basálticas mente toleítica (Ernst e Buchan, 2003).
de idade equivalente às da Província Ígnea Paraná. A duração do vulca- A Província Ígnea Paraná-Etendeka (figura 1) representa um me-
nismo basáltico tem sido tema de ampla discussão e, atualmente, existe gaevento vulcânico do Cretáceo Inferior associado à ruptura da porção
um consenso de que foi bem menor que 28 Ma. A variação obtida ocidental do Gondwana. A província é caracterizada por um grande
no trabalho reflete limitações intrínsecas ao método K-Ar (perda ou volume de lavas subaéreas de afinidade toleítica, em sua grande maioria
ganho de Ar). (90%), de composição basáltica e, subordinadamente, intermediárias e
A petrogênese do vulcanismo da Província Ígnea Paraná-Etendeka é ácidas. O vulcanismo está preservado em uma área de 1,2x106 km2 so-
também tema de amplo destaque na literatura internacional, dada a sua bre a plataforma Sul-Americana (Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina)
importância como uma das maiores Províncias Basálticas Continentais e, em uma menor área, no continente africano, na Angola e Namíbia
(CFB) do planeta. A geoquímica de rocha, com destaque para a geoquí- (Cordani e Vandoros, 1967). No Brasil, as rochas vulcânicas recobrem
mica isotópica, tem sido utilizada para inferir fontes e processos magmá- a Bacia do Paraná em uma área de aproximadamente 917.000 km2 e
ticos evolutivos que geraram as rochas da Província. Os primeiros dados o volume preservado estimado é superior a 450.000 km3 (Frank et al.,
isotópicos de Sr para a Província foram apresentados por Compston et 2009). A Bacia do Paraná é do tipo intracratônica e acumula um total de

334 335
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 15

Figura 1: Mapa geo-


lógico simplificado da
PIPE na América do Sul.
Enxames de diques:
1: Ponta Grossa.
2: Santos, Rio de Janeiro. Figura 2: Vista panorâmica
das sucessões vulcânicas da
3: Florianópolis. 3. Estratigrafia do vulcanismo Província Ígnea Paraná-Eten-
4: Paraguai.
(Modificado de Peate et deka em Urubici (Estado de
al., 1992; Janasi et al., O arcabouço estratigráfico da Província Ígnea Paraná-Etendeka no Santa Catarina, Brasil).
2011). A-A’ representa Brasil foi inicialmente construído a partir de um conjunto de caracte-
perfil na figura 3.
rísticas químicas das lavas, sumarizadas na tabela 1, e utilizadas para
definir a distribuição estratigráfica regional de diferentes magmas-ti-
po (figura 3, Peate et al., 1992). Na porção sul, uma subprovíncia
constituída por rochas de baixo-Ti/Y (Ti/Y < 310) é caracterizada por
magmas do tipo Gramado na base, recobertos por dacitos e riolitos
7000 m de sedimentos e rochas vulcânicas, com idades deposicionais que vão do Devo- do tipo Palmas (baixo Ti), e sucedidos na estratigrafia por basaltos do
niano ao Neocretáceo. Milani et al. (2007) dividiram a bacia em seis supersequências tipo Esmeralda. Lavas basálticas alto-TiO2 (Ti/Y > 310) do tipo Urubici
deposicionais: Rio Ivaí (Ordoviciano – Siluriano), Paraná (Devoniano), Gondwana I ocorrem como uma faixa alongada (~100 km x 350 km) no limite
(Carbonífero – Eotriássico), Gondwana II (Meso a Neotriássico), Gondwana III (Neo- nordeste da escarpa vulcânica no sul do Brasil. Esta unidade vulcânica
jurássico – Eocretáceo) e Bauru (Neocretáceo). O magmatismo do Paraná-Etendeka, é contemporânea e está localmente intercalada com os derrames do
juntamente com a Formação Botucatu, representa a supersequência deposicional Gon-
dwana III. Os primeiros derrames recobriram e interagiram com sedimentos eólicos
ainda inconsolidados da Formação Botucatu (Scherer, 2002; Waichel et al., 2012).
A pilha vulcânica tem espessura média preservada de aproximadamente 700 metros, Tabela 1: Magmas-
tipo para os basaltos
atingindo uma espessura máxima de 1.800 m na porção central da bacia, Estado do da Formação Serra
Paraná (Piccirillo e Melfi, 1988). Os correspondentes intrusivos do magmatismo são Geral. (Modificado
representados por grandes enxames de diques (Marques et al., 2018; Raposo e Ernes- de Peate, 1997).
to, 1995) e, na porção NE da Província, por expressivas soleiras colocadas na pilha
sedimentar da Bacia do Paraná (Ernesto et al., 1999).

336 337
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 15

Figura 3: Estratigrafia química e distribuição regional de magmas-tipo segundo Peate et al., 1997.

tipo Gramado (Peate et al., 1999). Ao norte, uma subprovíncia vulcânica de alto-Ti/Y
(>310) é formada por um pequeno volume de rochas traquidacíticas do tipo Cha-
pecó (alto Ti) na base, recobertas por espessos pacotes de basaltos do tipo Pitanga,
Paranapanema e, subordinadamente, Ribeira (Peate, 1997).
A compreensão das variações geoquímicas internas das unidades ácidas, Palmas e
Chapecó, permitiu a subdivisão de diferentes magma-tipo, aumentando assim a re-
solução estratigráfica e introduzindo um maior detalhamento à província. As rochas
vulcânicas ácidas do tipo Palmas foram subdivididas em: Caxias do Sul, Jacuí, Anita
Garibaldi, Santa Maria, Clevelândia e Barros Cassal (Peate et al., 1992; Garland et
al., 1995; Nardy et al., 2008; Polo et al., 2018). Já as rochas do tipo Chapecó foram
divididas em: Ourinhos, Guarapuava e Tamarana (Nardy et al., 2008). Figura 4.
Estudos recentes sobre a vulcanologia da província e diversidade de formas A: Mapa geológico sim-
de ocorrência das lavas (Waichel et al., 2006, 2012; Rossetti et al., 2014; Polo et plificado da porção sul da
Província Paraná-Etendeka.
al., 2014; Lima et al., 2018) deslocaram a pesquisa tradicionalmente geoquímica Em destaque as principais
para o desenvolvimento e compreensão dos modelos de emplacement e aspectos seções que expõem a variação
estratigráficos. Rossetti et al. (2018) separaram a sequência vulcânica de baixo da estratigrafia.
B: empilhamento estratigrá-
Ti/Y em quatro formações, com base em relações estratigráficas dos pacotes de fico das seções geológicas
lava e características físicas, morfologia e estrutura interna dos derrames (figura e correlação com dados
3). A base da sequência vulcânica é formada por basaltos e basaltos andesíticos paleomagnéticos de Ernesto
e Pacca (1988). Extraído de
que ocorrem na forma de campos de derrames pahoehoe compostos intercalados a Rossetti et al. (2018).
unidades sedimentares, agrupados na Formação Torres. O segundo grupo de lavas,
Formação Vale do Sol, é caracterizado por sucessivos derrames tabulares (sheet-li-
ke) de andesitos basálticos com morfologias do tipo rubbly pahoehoe que recobrem Figura 5.
parcialmente a Formação Torres. O contato entre as duas unidades é caracterizado A: Contato entre arenitos
da Formação Botucatu e
localmente pela presença de camadas de arenitos, que podem atingir até 2 m de primeiros derrames da
espessura. Esse contato representa uma mudança no estilo eruptivo e uma parada Formação Torres.
da atividade vulcânica, sendo um importante marcador regional. A porção supe- B: Contato entre Formação
Torres e Formação Vale do Sol
rior da sequência vulcânica é formada por unidades tabulares de dacitos e riolitos na região de Herveiras, cama-
agrupados na Formação Palmas, que recobrem e/ou são localmente intercalados à da pouco espessa de arenito
Formação Vale do Sol. A Formação Esmeralda, localmente sobreposta à Formação entre as duas unidades.
C: Contato entre as Formações
Palmas, é formada por basaltos na forma de campos de derrames pahoehoe com- Vale do sol e Palmas na
postos similares aos da Formação Torres. Com a separação e definição de novas região de Herveiras.
unidades estratigráficas, foi sugerida a elevação do status de Formação Serra Geral D: Derrames pahoehoe com-
postos na região de Esmeralda,
para Grupo Serra Geral, no qual estão incluídas as formações acima descritas além Formação Esmeralda. Extraído
da Formação Botucatu (Rossetti, 2018). de Rossetti et al. (2018).

338 339
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 15

Na Namíbia, onde a Província do Paraná-Etendeka recobre uma área de 0.8


× 10 5 km 2 (Erlank et al., 1984), a sequência vulcânica é caracterizada por um
estágio inicial de magmatismo formado por magmas primitivos, em parte com
composição picrítica (Gibson et al., 2000; Jerram et al., 1999), caracterizado
por derrames pahoehoe compostos intercalados a camadas sedimentares agru-
pados no membro Tafelkop (Jerram et al., 1999). A fase principal do magmatis-
mo é caracterizada por uma espessa sequência de lavas de composições andesito
-basálticas (Membro Tafelberg, Jerram et al., 1999). Essas lavas têm geometrias
tabulares e formaram derrames espessos e de grandes extensões laterais. Nas
porções superiores da estratigrafia, unidades tabulares de composição ácida
(reoignimbritos?) ocorrem intercaladas às lavas do Membro Tafelberg (Milner
et al., 1992). Deste modo, a estratigrafia das rochas do Grupo Etendeka pode
ser correlacionada às unidades que compõem a porção sul do Grupo Serra Ge-
ral (Rossetti et al., 2018).

4. Geocronologia

O trabalho pioneiro de Amaral et al. (1966) apresentou idades K-Ar de 35


amostras (20 basaltos e 15 diabásios) e lançou as bases para a geocronologia da
Província Magmática Paraná. Como já destacado anteriormente, foi identificado
um pico de idade próximo a 120 Ma e um espalhamento de aproximadamente
28 Ma (147-119 Ma), levando os autores a sugerir pelo menos quatro eventos
magmáticos principais para a construção da província. A formação da provín-
cia foi claramente distinguida das províncias basálticas jurássicas mais antigas
associadas à fragmentação do Gondwana (Karoo e Ferrar). O método K-Ar foi Figura 6: Principais
responsável pela geração da maior parte das idades para a província ao longo da datações radiométricas
e intervalo temporal
década seguinte, e o conjunto de dados disponível até 1987 foi sumarizado por das rochas da
Rocha-Campos et al. (1988). O trabalho de Thiede e Vasconcelos (2010) colocou em questão a Província Ígnea do
O emprego do método Ar-Ar, a partir da década de 1990, consolidou que a Paraná-Etendeka.
confiabilidade das datações por laser-spot, ao reanalisar pelo método (A): Idades K/Ar de
idade do principal volume do magmatismo era um pouco mais antiga do que o step-heating exatamente as mesmas amostras, para as quais as idades Amaral et al. (1966).
sugerido pelo pico das datações K-Ar, mas a discussão sobre a sua duração foi mais antigas (~138 Ma) e mais jovens (~128 Ma) haviam sido obtidas (B): K/Ar de Rocha-
mantida. Renne et al. (1992) mostraram que as idades Ar-Ar obtidas por step-he- Campos et al. (1988).
por Stewart et al. (1996). As novas idades mostraram-se idênticas em (C): Idades 40Ar/39Ar
ating de todo o pacote de rochas basálticas e ácidas da porção sul da província 134,2-134,8 Ma. Deste modo, ficou claro que as estimativas de idade e por step-heating e
são da ordem de 133.5 Ma (idades corrigidas para valores atuais do monitor de duração do vulcanismo da província eram sustentadas por um número idades U-Pb (Renne
fluxo), de modo que o magmatismo teve, nesta porção, uma duração inferior a 1 et al., 1992; Ernesto
muito pequeno de datações confiáveis. et al., 1999; Thiede
Ma, o que tem sido confirmado por estudos posteriores (Thiede e Vasconcelos, O emprego recente de datações U-Pb em zircão e, subordinada- e Vasconcelos, 2010;
2010; Baksi, 2018). Idades pouco mais jovens (131,5-133,6 Ma), obtidas em mente, baddeleyíta, utilizando métodos pontuais (Pinto et al., 2011) Pinto et al., 2011;
Janasi et al., 2011).
poucas amostras de basaltos de alto Ti/Y da porção norte da Província (Ernesto ou TIMS (Janasi et al., 2011; Florisbal et al., 2014; Almeida et al., Para os diferentes
et al., 1990) pelo mesmo método, são consistentes com dados estratigráficos in- 2018), constituiu um avanço importante na determinação da ida- métodos existe uma
dicativos de migração do magmatismo para norte (Peate, 1997). de do magmatismo da Província, favorecendo a hipótese de curta concentração de
amostras entre
Em meados da década de 1990, no entanto, foi gerado um grande volume de idades duração (< 4 Ma?) para a geração do magmatismo toleítico. Um 134,5 ± 0,5 Ma.
Ar-Ar por fusão por laser spot ( Turner et al., 1994; Stewart et al., 1996), que forneceram programa de datação utilizando a metodologia mais precisa possível
valores entre 137 e 127 Ma, sugerindo uma duração da ordem de 10 Ma para o magma- (ID-TIMS com abrasão química em laboratórios ultralimpos, usando
tismo. Em paralelo, intervalos semelhantes foram obtidos pelo método step-heating para traçadores EARTHTIME) foi apresentado por Rocha et al. (2020),
rochas do enxame de diques de Florianópolis, para as quais foi admitida uma idade mais indicando um intervalo muito curto para a geração de todo o vulca-
jovem (128-119 Ma) e duração de cerca de 10 Ma (Raposo et al., 1998). nismo ácido (133.6-132.9 Ma).

340 341
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 15

5. Geoquímica isotópica e petrogênese


Figura 7: Compo-
As condições de geração dos magmas basálticos que compõem a PIPE têm sido sições de 87Sr/86Sri
tema de importantes debates na comunidade científica. Os principais modelos assu- vs. 143Nd/144Ndi
recalculadas para
mem a geração dos magmas a partir de: 130 Ma para as
1) Fusão em larga escala de um manto subcontinental litosférico hidratado (Galla- rochas da Província
gher e Hawkesworth, 1992; Hawkesworth et al., 1992; Peate e Hawkesworth, 1996; do Paraná-Eten-
deka (Compilação
Turner et al., 1996; Peate, 1997; Marques et al., 1999; Hawkesworth et al., 2000). de dados das Pro-
2) Fusões parciais do manto astenosférico que localmente incorporaram e foram víncias do Paraná e
contaminadas por fusões parciais da crosta e manto litosférico metassomatizado (Gi- Etendeka apresen-
tada por Hoernle et
bson et al., 1995; Ewart et al., 1998; Thompson et al., 2001; Ewart et al., 2004), e al., 2015). Campos
3) Fusão do manto astenosférico com componentes enriquecidos (EM-I e EM composicionais
-II) herdados de eventos de subducção anteriores (Peate et al., 1999; Ewart et al., extraídos de Peate
et al. (1997).
2004; Rocha-Júnior et al., 2012).
Argumentos baseados na assinatura geoquímica dos basaltos menos contamina-
dos por interação com a crosta continental têm sido fundamentais para dar suporte a
esses modelos. A geoquímica isotópica é uma ferramenta particularmente poderosa
para avaliar os diferentes modelos.
Os primeiros dados isotópicos Rb-Sr apresentados para as rochas vulcânicas da
província foram restritos a basaltos de alto Ti/Y da porção norte (Compston et al., O emprego de isótopos de oxigênio teve início com o trabalho de Fodor et
1968), e apontaram para uma homogeneidade composicional consistente com um ca- al.(1985), que modelaram processos de contaminação a partir de correlações com
ráter primitivo, com pouca ou nenhuma interação com a crosta (87Sr/86Sr130Ma= 0.705- isótopos de Sr, também em rochas de composição entre basaltos e riolitos do sul
0.706). Trabalhos posteriores, que incluíram basaltos e rochas ácidas da porção sul da da província. Dados adicionais obtidos para os basaltos de alto Ti/Y, no entanto,
província (Halpern et al., 1974; Cordani et al., 1980), mostraram, no entanto, razões também mostraram uma ampla variação de δ18O (+6,5 a +10.0), sem variação sig-
iniciais de Sr mais elevadas para os basaltos (até 0,710), indicativas de contaminação nificativa na assinatura isotópica de Sr, sugerindo processos adicionais de interação
crustal. Na região de Santa Maria, no Estado do Rio Grande do Sul, rochas vulcânicas água-magma (Cordani et al., 1988). O trabalho de Harris et al. (1990) analisou a
ácidas de composição riolítica, situadas estratigraficamente acima dos basaltos de bai- assinatura isotópica de oxigênio em fenocristais de piroxênio (menos susceptíveis
xo Ti/Y, apresentaram razões iniciais de Sr notavelmente elevadas (até 0,725), indican- a alterações secundárias) e mostrou diferença sistemática entre as rochas silícicas
do, de acordo com Cordani et al. (1980), tratar-se de magma superaquecido, gerado do tipo Chapecó (+5.8 a +6.8) e tipo Palmas (+9.4 a +10.0) e correlação positiva
por fusão da crosta continental pelo calor do magma basáltico em ascensão, contendo com a razão inicial de Sr. Esses valores são indicativos de importante contribuição
uma pequena quantidade de material derivado do manto. Em contrapartida, o estudo crustal (admitida como de um cinturão móvel proterozoico) na gênese das vulcâ-
de rochas vulcânicas ácidas dacíticas de alto Ti/Y (tipo Chapecó) revelou razões iniciais nicas tipo Palmas e menor contribuição nas vulcânicas tipo Chapecó (embora os
baixas (0,7056), similares às dos basaltos associados (Mantovani et al., 1985), indican- autores atribuam os valores próximos aos do manto-modelo à geração a partir de
do, neste caso, fontes similares para ambos os conjuntos. crosta inferior arqueana).
Trabalhos sistemáticos posteriores agregaram um volume significativo de dados Os dados isotópicos de Nd e Pb, que passaram a ser gerados a partir da década de
adicionais de isótopos de Sr e de outros sistemas isotópicos (p. ex., Mantovani 1980, permitiram identificar com maior segurança as características das fontes manté-
et al., 1985; Bellieni et al., 1986; Garland et al., 1995), lançando as bases para a licas do magmatismo. Valores sistematicamente negativos de ƐNd(t) e razões 207Pb/206Pb
identificação das fontes envolvidas na geração dos dois grupos de rochas vulcâni- mais elevadas que as dos basaltos de cadeias meso-oceânicas foram obtidos, implicando
cas ácidas da Província: contaminação por crosta continental com alta razão Rb/Sr contribuição crustal para as fontes mantélicas dos basaltos, associadas por Hawkesworth
(vulcânicas tipo Palmas baixo Ti/Y) e refusão e/ou diferenciação de basaltos, com et al. (1986) à anomalia Dupal, característica do manto do hemisfério sul (Hart, 1984).
pouca ou nenhuma contribuição de crosta antiga (vulcânicas tipo Chapecó alto Mais recentemente, Rocha-Júnior et al. (2012) utilizaram o método Re-Os
Ti/Y). As variações composicionais nas razões de isótopos de Sr, Nd e Pb das rochas e obtiveram para basaltos sem evidência de contribuição crustal uma razão
vulcânicas de baixo Ti/Y da porção sul da Província Paraná-Etendeka ocorrem em 187
Os/188Os relativamente uniforme, com média de 0.12957 ± 0.0006. Os au-
paralelo ao enriquecimento nas concentrações de elementos incompatíveis litófilos tores concluíram que os basaltos da província teriam como fonte o manto aste-
(p. ex., Rb, Ba) e SiO2, demonstrando um forte controle de processos de assimila- nosférico enriquecido por fluidos e/ou magmas relacionados aos processos de
ção crustal concomitante à cristalização fracionada (AFC). Este processo é muito subducção neoproterozoicos, descartando a participação da pluma de Tristão da
menos importante para as rochas da porção norte (alto-Ti). Cunha e do manto empobrecido.

342 343
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 15

6. Considerações finais Referências


Contribuições de Umberto
O progresso no conhecimento da PIPE nas últimas cinco décadas, des- Cordani e colaboradores
de quando o trabalho pioneiro de Amaral et al. (1966) revelou sua idade
Cretácea e mostrou que se tratava de uma província distinta e mais jovem Amaral G., Cordani U.G., Kawashita K., Reynolds
J.H. 1966. Potassium-argon dates of basaltic rocks from
que a do Karoo, tem sido notável, fazendo jus ao seu caráter singular, Southern Brazil. Geochimica et Cosmochimica Acta,
dado que se trata de uma das maiores manifestações de magmatismo ba- 30(2):159-189.
sáltico continental do planeta. Os trabalhos pioneiros liderados por pes- Cordani U.G. 1999. Dating of volcanic rocks by
means of 40Ar/39Ar method and its application in the case
quisadores das universidades brasileiras lançaram os fundamentos para of the Paraná Continental Flood basalts. In: 1º Simpósio
o conhecimento desse magmatismo em termos geológicos (Leinz, 1949), Sobre Vulcanismo e Ambientes Associados. Gramado, RS. Umberto Cordani entre grandes geodos de ametista
geoquímicos-petrológicos (Rüegg e Amaral, 1976) e geocronológicos Cordani U.G., Civetta L., Mantovani M.S.M., Petri- em Soledade, Rio Grande do Sul, em 2008.
ni R., Kawashita K., Hawkesworth C.J., Taylor P., Lon-
(Amaral et al., 1966; McDougall e Rüegg, 1966). A destacada carreira ginelli A., Cavazzini G., Piccirillo E.M. 1988. Isotope
do professor e pesquisador Umberto Cordani marca contribuições geo- geochemistry of flood volcanics from the Paraná basin
Syncline, Southern Brazil. Journal of Volcanology and
lógicas importantes em diversas províncias do território brasileiro. Para (Brazil). In: Piccirillo E.M., Melfi A.J. (eds.). Mesozoic
Geothermal Research, 285:81-99.
Flood Volcanism of the Parana Basin: Petrogenetic and
o Paraná-Etendeka, os trabalhos pioneiros de Cordani e colaboradores Geophysical Aspects. São Paulo, Instituto Astronômico e
Bellieni G., Brotzu P., Comin-Chiaramonti P., Ernes-
(vide lista de referências) representaram um marco no estudo da geologia to M., Melfi A.J., Pacca I.G., Piccirillo E.M. 1984. Flood
Geofísico, Universidade de São Paulo, p. 157-178.
Basalt to Rhyolite Suites in the Southern Paraná Plateau
isotópica e geocronologia da província. Em ambos os casos, a evolução Cordani U.G., Sartori P.L.P., Kawashita K. 1980.
(Brazil): Palaeomagnetism, Petrogenesis and Geodynam-
Geoquímica dos isótopos de estrôncio e a evolução da
do conhecimento geológico ainda fomenta uma série de discussões acerca atividade vulcânica na Bacia do Paraná (Sul do Brasil)
ic Implications. Journal of Petrology, 25(3):579-618.
da geoquímica e fontes envolvidas na gênese do magmatismo Serra Geral, Bellieni G., Comin-Chiaramonti P., Marques L.S.,
durante o Cretáceo. Anais da Academia Brasileira de Ci-
Melfi A.J., Nardy A.J.R., Papatrechas C., Piccirillo E.M.,
assim como o refinamento de dados geocronológicos tem fornecido no- ências, 52(4):811-818.
Roisenberg A., Stolfa D. 1986. Petrogenetic Aspects of
Cordani U.G. & Vandoros P. 1967. Basaltic rocks of
vos argumentos para um evento de menor duração. the Paraná Basin. In: Bigarella J.J., Becker R.D., Pinto I.D.
Acid and Basaltic Lavas from the Paraná Plateau (Brazil):
Ao longo das décadas de 1980 e 1990, deu-se um grande incremen- Geological, Mineralogical and Petrochemical Relation-
(eds.). Curitiba, Instituto de Geologia, 1967, p. 207-231.
ships. Journal of Petrology, 27(4):915-944.
to no conhecimento da província em trabalhos colaborativos entre pes- Halpern M., Cordani U.G., Berenholc M. 1974.
Bryan S.E., Peate I.U., Peate D.W., Self S., Jerram
Variations in strontium isotopic composition of Paraná
quisadores brasileiros com grupos de pesquisa de universidades italianas basin volcanic rocks of Brazil. Revista Brasileira de Geo-
D.A., Mawby M.R., Marsh J.S.G., Miler J.A., 2010. The
(Bellieni et al., 1984, 1986; Piccirillo et al., 1989) e do Reino Unido largest volcanic eruptions on Earth. Earth-Science Re-
ciências, 4:223-227.
views, 102(3-4):207-229.
(Hawkesworth et al., 1986; Mantovani e Hawkesworth, 1990; Peate et Mantovani M.S.M., Cordani U.G., Roisenberg A.
Bryan S.E. & Ernst R.E. 2008. Revised definition of
1985. Geoquímica isotópica em vulcânicas ácidas da ba-
al., 1992). Mais recentemente, esforços concentrados têm sido liderados cia do Paraná, e implicações genéticas associadas. Revista
Large Igneous Provinces (LIPs). Earth-Science Reviews,
86(1-4):175-202.
por equipes de pesquisadores de diversas universidades brasileiras, cuja Brasileira de Geociências, 15(1):61-65.
Compston W., McDougall I., Heier K.S. 1968. Geo-
atuação conjunta tem sido fundamental para o melhor conhecimento da Rocha-Campos A.C., Cordani U.G., Kawashita K.,
chemical comparison of the mesozoic basaltic rocks of
Sonoki H.M., Sonoki I.K. 1988. Age of the Paraná flood
província, especialmente quanto aos seus aspectos físicos (Waichel et al., volcanism. In: Piccirillo E.M., Melfi A.J. (eds.). Mesozoic
Antarctica, South Africa, South America and Tasmania.
Geochimica et Cosmochimica Acta, 32(2):129-149.
2006, 2012; Barreto et al., 2014; Guimarães et al., 2018; Luchetti et al., Flood Volcanism of the Parana Basin: Petrogenetic and
Erlank A.J., Marsh J.S., Duncan A.R., Miller R.M.G.,
2018; Polo et al., 2018) e estratigráficos (Janasi et al., 2011; Gomes et Geophysical Aspects. São Paulo, Instituto Astronômico e
Hawkesworth C.J., Betton P.J., Rox D.C. 1984. Geo-
Geofísico, Universidade de São Paulo, p. 25-45.
al., 2018; Rossetti et al., 2018). A compreensão de questões tão funda- chemistry and petrogenesis of the Etendeka volcanic rocks
from SWA/Namibia, In: Erlank A.J. (ed.). Petrogenesis of
mentais amarradas agora a uma estratigrafia vulcânica detalhada repre- Outras referências Volcanic Rocks of the Karoo Province. Geological Society
senta o próximo passo no entendimento do grande evento magmático do of South Africa, Special Publications, 13:195-245.
Paraná-Etendeka. Almeida V.V., Janasi V.A., Heaman L.M., Shaulis Ernesto M. & Pacca I.G. 1988. Paleomagnetism of
B.J., Hollanda M.H.B.M., Renne P.R. 2018. Contempo- the Parana Basin flood volcanics, Southern Brazil. In:
A contribuição dos trabalhos de Umberto Cordani e da equipe do raneous alkaline and tholeiitic magmatism in the Pon- Piccirillo E.M., Melfi A.J. (eds.). Mesozoic Flood Volca-
CPGeo, iniciada com o trabalho de datação utilizando inicialmente o ta Grossa Arch, Paraná-Etendeka Magmatic Province: nism of the Parana Basin: Petrogenetic and Geophysical
método K-Ar (Amaral et al., 1966) e, em seguida, o método isocrônico Constraints from U–Pb zircon/baddeleyite and 40Ar/39Ar Aspects. São Paulo, Instituto Astronômico e Geofísico,
phlogopite dating of the José Fernandes Gabbro and Universidade de São Paulo, p. 229-255.
Rb-Sr (Mantovani et al., 1985), estabeleceu as bases da geocronologia da mafic dykes. Journal of Volcanology and Geothermal Re- Ernesto M., Pacca I.G., Hiodo F.Y., Nardy A.J.R.,
província (Rocha-Campos et al., 1988), posteriormente refinada com a search, 355:55-65. 1990. Palaeomagnetism of the Mesozoic Serra Geral
introdução dos métodos Ar-Ar (Renne et al., 1992; Thiede e Vasconce- Baksi A.K. 2018. Paraná flood basalt volcanism Formation, southern Brazil. Physics of the Earth and
primarily limited to ~1Myr beginning at 135Ma: New Planetary Interiors, 64(2):153-175.
los, 2010) e U-Pb (Janasi et al., 2011; Hartmann et al., 2019). O uso da 40
Ar/39Ar ages for rocks from Rio Grande do Sul, and Ernesto M., Raposo M.I.B., Marques L.S., Renne
geoquímica isotópica, empregando de modo pioneiro o método Rb-Sr critical evaluation of published radiometric data. Journal P.R., Diogo L.A., Min A. 1999. Paleomagnetism, geo-
(Cordani et al., 1980; Halpern et al., 1974), mostrou-se também impor- of Volcanology and Geothermal Research, 355:(66-77). chemistry and 40Ar/39Ar dating of the North-eastern
Barreto C.J.S., Lima E.F., Scherer C.M., Rossetti Paraná Magmatic Province: tectonic implications. Jour-
tante para o reconhecimento de características fundamentais das fontes L.M.M. 2014. Lithofacies analysis of basic lava flows of nal of Geodynamics, 28(4-5): 321-340.
mantélicas e crustais dos magmas basálticos e diferenciados da PIPE. the Paraná igneous province in the south hinge of Torres Ernst R.E. & Buchan K.L. 2003. Recognizing mantle

344 345
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 15

plumes in the geological record. Annual Review of Earth Paraná magmatism and the opening of the South Atlan- McDougall I. & Rüegg N.R. 1966. Potassium-argon Walker R.J., Machado F.B., Nardy A.J.R., Babinski M.,
and Planetary Sciences, 31:469-523. tic. Geological Society, London, Special Publications, dates on the Serra Geral formation of South America. Figueiredo A.M.G. 2012. Re-Os isotope and highly sid-
Ewart A., Marsh J.S., Milner S.C., Duncan A.R., 68:221-240. Geochimica et Cosmochima Acta, 30(2):191-195. erophile element systematics of the Paraná continental
Kamber B.S., Armstrong R.A. 2004. Petrology and Geo- Hawkesworth C.J., Gallagher K., Kirstein L., Manto- Peate D.W. 1997. The Paraná-Etendeka Province. flood basalts (Brazil). Earth and Planetary Science Let-
chemistry of Early Cretaceous Bimodal Continental vani M.S.M., Peate D.W., Turner S.P. 2000. Tectonic con- In: Mahoney J.J., Coffin M.F. (eds.). Large Igneous Prov- ters, 337-338:164-173.
Flood Volcanism of the NW Etendeka, Namibia. Part 1: trols on magmatism associated with continental break-up: inces: Continental, Oceanic, and Planetary Flood Volca- Rossetti L.M., Lima E.F., Waichel B.L., Scherer
Introduction, Mafic Lavas and Re-evaluation of Mantle an example from the Paraná-Etendeka Province. Earth nism. American Geophysical Union, p. 217-245. C.M., Barreto C.J. 2014. Stratigraphical framework of
Source Components. Journal of Petrology, 45(1):59-105. and Planetary Science Letters, 179(2):335-349. Peate D.W. & Hawkesworth C.J. 1996. Lithospheric basaltic lavas in Torres Syncline main valley, southern
Ewart A., Milner S.C., Armstrong R.A., Dungan A.R. Hawkesworth C.J., Mantovani M.S.M., Taylor P.N., to asthenospheric transition in Low-Ti flood basalts from Parana-Etendeka Volcanic Province. Journal of South
1998. Etendeka Volcanism of the Goboboseb Mountains Palacz Z. 1986. Evidence from the Parana of south Brazil southern Paraná, Brazil. Chemical Geology, 127(1-3):1-24. American Earth Sciences, 56:409-421.
and Messum Igneous Complex, Namibia. Part I: Geochem- for a continental contribution to Dupal basalts. Nature, Peate D.W., Hawkesworth C.J., Mantovani M.S.M. Rossetti L.M., Lima E.F., Waichel B.L., Hole M.J.,
ical Evidence of Early Cretaceous Tristan Plume Melts and 322:356-359. 1992. Chemical stratigraphy of the Paraná lavas (South Simões M.S., Scherer C.M.S. 2018. Lithostratigraphy
the Role of Crustal Contamination in the Paraná-Etendeka Hoernle K., Rohde J., Hauff F., Garbe-Schönberg America): classification of magma types and their spatial and volcanology of the Serra Geral Group, Paraná-Etend-
CFB. Journal of Petrology, 39(2):191-225. D., Homrighausen S., Werner R., Morgan J.P. 2015. distribution. Bulletin of Volcanology, 55:119-139. eka Igneous Province in Southern Brazil: Towards a for-
Florisbal L.M., Heaman L.M., Janasi V.A., Biten- How and when plume zonation appeared during the 132 Peate D.W., Hawkesworth C.J., Mantovani M.S.M., mal stratigraphical framework. Journal of Volcanology
court M.F. 2014. Tectonic significance of the Florianópo- Myr evolution of the Tristan Hotspot. Nature Commu- Rogers N.W., Turner S.P. 1999. Petrogenesis and Stra- and Geothermal Research, 355: 98-114.
lis Dyke Swarm, Paraná–Etendeka Magmatic Province: nications, 6:7799. tigraphy of the High-Ti/YUrubici Magma Type in the Rossetti L.M. 2018. Lithostratigraphy and Geo-
A reappraisal based on precise U–Pb dating. Journal of Janasi V.A., de Freitas V.A., Heaman L.H. 2011. Paraná Flood Basalt Province and Implications for the chemistry of the Paraná-Etendeka Large Igneous Province
Volcanology and Geothermal Research, 289:140-150. The onset of flood basalt volcanism, Northern Paraná Nature of ‘Dupal’-Type Mantle in the South Atlantic Re- and Constraints on the Petrophysical Properties of Vol-
Fodor R.V., Corwin C., Sial A.N. 1985. Crust- Basin, Brazil: A precise U-Pb baddeleyite/zircon age for gion. Journal of Petrology, 40(3):451-473. cano-Sedimentary Sequences. PhD Thesis, University of
al signatures in the Serra Geral flood-basalt province, a Chapecó-type dacite. Earth and Planetary Science Let- Piccirillo E.M. ,Civetta L., Petrini R., Longinelli, A., Aberdeen, 292 p.
southern Brazil: O- and Sr-isotope evidence. Geology, ters, 302(1-2):147-153. Bellieni G., Comin-Chiaramonti P., Marques L.S., Melfi Rüegg N.R. & Amaral G. 1976. Variação regional
13(11):763-765. Jerram D., Mountney N., Holzförster F., Stoll- A.J. 1989. Regional variations within the Paraná flood da composição química das rochas basálticas da Bacia do
Frank H.T., Gomes M.E.B., Formoso M.L.L. 2009. hofen H. 1999. Internal stratigraphic relationships in basalts (southern Brazil): Evidence for subcontinental Paraná. Boletim IG-USP, 7:131-147.
Review of the areal extent and the volume of the Serra the Etendeka group in the Huab Basin, NW Namibia: mantle heterogeneity and crustal contamination. Chemi- Scherer C.M.S. 2002. Preservation of aeolian genetic
Geral Formation, Paraná Basin, South America. Pesquisas understanding the onset of flood volcanism. Journal of cal Geology, 75:103-122. units by lava flows in the Lower Cretaceous of the Paraná
em Geociências, 36(1):49-57. Geodynamics, 28(4-5):393-418. Pinto V.M., Hartmann L.A., Santos J.O.S., Mc- Basin, southern Brazil. Sedimentology, 49:97-116.
Gallagher K. & Hawkesworth C. 1992. Dehydra- Leinz V. 1949. Contribuição à geologia dos derra- Naughton N.J., Wildner W. 2011. Zircon U-Pb geo- Stewart K., Turner S., Kelley S., Hawkesworth C.,
tion melting and the generation of continental flood ba- mes basálticos do sul do Brasil. Boletim da Faculdade de chronology from the Paraná bimodal volcanic province Kirstein L., Mantovani M. 1996. 3-D, 40Ar-39Ar geochro-
salts. Nature, 358:57-59. Filosofia Ciências e Letras, Universidade de São Paulo: support a brief eruptive cycle at ~ 135 Ma. Chemical nology in the Paraná continental flood basalt province.
Garland F., Hawkesworth C.J., Mantovani M.S.M. Geologia, 5, 103 p. Geology, 281(1-2):93-102. Earth and Planetary Science Letters, 143(1-4):95-109.
1995. Description and Petrogenesis of the Paraná Lima E.F., Waichel B.L., Rossetti L.M.M., Sommer Polo L.A., Janasi V.A., Giordano D., Lima E.F., Thiede D.S. & Vasconcelos P.M. 2010. Paraná flood
Rzhyolites, Southern Brazil. Journal of Petrology, C.A., Simões M.S. 2018. Feeder systems of acidic lava Cañon-Tapia E., Roverato M. 2018. Effusive silicic vol- basalts: Rapid extrusion hypothesis confirmed by new
36(5):1193-1227. flows from the Paraná-Etendeka Igneous Province in canism in the Paraná Magmatic Province, South Brazil: 40
Ar/39Ar results. Geology, 38(8):747-750.
Gibson S.A., Thompson R.N., Dickin A.P., Leonar- southern Brazil and their implications for eruption style. Evidence for locally-fed lava flows and domes from de- Thompson R.N., Gibson S.A., Dickin A.P., Smith
dos O.H. 1995. High-Ti and low-Ti mafic potassic mag- Journal of South American Earth Sciences, 81: 1-9. tailed field work. Journal of Volcanology and Geother- P.M. 2001. Early Cretaceous Basalt and Picrite Dykes
mas: Key to plume-lithosphere interactions and conti- Luchetti A.C.F., Gravley D.M., Gualda G.A.R., mal Research, 355:204-218. of the Southern Etendeka Region, NW Namibia: Win-
nental flood-basalt genesis. Earth and Planetary Science Nardy A.J.R. 2018. Textural evidence for high-grade ig- Raposo M.I.B. & Ernesto M. 1995. Anisotropy of mag- dows into the Role of the Tristan Mantle Plume in
Letters, 136(3-4):149-165. nimbrites formed by low-explosivity eruptions, Paraná netic susceptibility in the Ponta Grossa dyke swarm (Brazil) Parana-Etendeka Magmatism. Journal of Petrology,
Gomes C.B., Comin-Chiaramonti P., Azzone R.G., Magmatic Province, southern Brazil. Journal of Volca- and its relationship with magma flow direction. Physics of 42(11):2049-2081.
Ruberti E., Rojas G.E.E. 2018. Cretaceous carbonatites nology and Geothermal Research, 355:87-97. The Earth and Planetary Interiors, 87(3-4):183-196. Thordarson T. & Self S., 1998. The Roza Member, Co-
of the southeastern Brazilian Platform: a review. Brazil- Mantovani M.S.M. & Hawkesworth C.J. 1990. An Raposo M.I.B., Ernesto M., Renne P.R. 1998. Paleo- lumbia River Basalt Group: A gigantic pahoehoe lava flow
ian Journal of Geology, 48(2):317-345. inversion approach to assimilation and fractional crys- magnetism and 40Ar-39Ar dating of the early Cretaceous field formed by endogenous processes? Journal of Geophys-
Guimarães L.F., Campos C.P., Janasi V.A., Lima E.F., tallisation processes. Contributions to Mineralogy and Florianópolis dike swarm (Santa Catarina Island), South- ical Research: Solid Earth, 103(B11):27411-27445.
Dingwell D.B. 2018. Flow and fragmentation patterns Petrology, 105:289-302. ern Brazil. Physics of The Earth and Planetary Interiors, Turner S., Hawkesworth C., Gallagher K., Stewart
in the silicic feeder system and related deposits in the Mantovani M.S.M., Marques L.S., de Sousa M.A., 108(4):275-290. K., Peate D., Mantovani M. 1996. Mantle plumes, flood
Paraná-Etendeka Magmatic Province, São Marcos, South Civetta L., Atalla L., Innocenti F. 1985. Trace Element Renne P.R., Ernesto M., Pacca I.G., Coe R.S., Glen basalts, and thermal models for melt generation beneath
Brazil. Journal of Volcanology and Geothermal Research, and Strontium Isotope Constraints on the Origin and J.M., Prévot M., Perrin M. 1992. The age of Paraná flood continents: Assessment of a conductive heating model
358:149-164. Evolution of Paraná Continental Flood Basalts of San- volcanism, rifting of Gondwanaland, and the Jurassic-Cre- and application to the Paraná. Journal of Geophysical
Harris C., Whittingham A.M., Milner S.C., Arm- ta Catarina State (Southern Brazil).Journal of Petrology, taceous boundary. Science, 258(5084):975-979. Research: Solid Earth, 101(B5):11503-11518.
strong R.A. 1990. Oxygen isotope geochemistry of the 26(1):187-209. Rocha B.C., Davies J.H.F.L., Janasi V.A., Schaltegger Turner S., Regelous M., Kelley S., Hawkesworth C.,
silicic volcanic rocks of the Etendeka-Paraná Province: Marques L.S., De Min A., Rocha-Júnior E.R.V., U., Nardy A.J.R., Greber N., Luchetti A.C.F., Polo L.A. Mantovani M. 1994. Magmatism and continental break-up
source constraints. Geology, 18(11):1119-1121. Babinski M., Bellieni G., Figueiredo A.M.G. 2018. El- 2019. Voluminous silicic magmatism from the Paraná in the South Atlantic: high precision 40Ar-39Ar geochronolo-
Hart S.R. 1984. A large-scale isotope anomaly in the emental and Sr-Nd-Pb isotope geochemistry of the Flo- LIP postdates the Valanginian δ13C excursion. In: Gold- gy. Earth and Planetary Science Letters, 121(3-4):333-348.
Southern Hemisphere mantle. Nature, 309:753-757. rianópolis Dyke Swarm (Paraná Magmatic Province): schmidt 2019. Barcelona, European Association of Geo- Waichel B.L., Lima E.F., Lubachesky R., Sommer C.A.
Hartmann L.A., Baggio S.B., Brückmann M.P., Knijnik Crustal contamination and mantle source constraints. chemistry and of the Geochemical Society, Abstracts. 2006. Pahoehoe flows from the central Paraná Continen-
D.B., Lana C., Massonne H-J., Opitz J., Pinto V.M., Sato Journal of Volcanology and Geothermal Research, Rocha, B.C., Davies, J.H.F.L., Janasi, V.A., Schalteg- tal Flood Basalts. Bulletin of Volcanology, 68:599-610.
K., Tassinari C.C.G., Arena K.R. 2019. U-Pb geochronol- 355:149-164. ger, U., Nardy, A.J.R., Greber, N.D., Luchetti, A.C.F., Waichel B.L., Lima E.F., Viana A.R., Scherer C.M.,
ogy of Paraná volcanics combined with trace element geo- Marques L.S., Dupré B., Piccirillo E.M. 1999. Man- Polo, L.A., 2020. Rapid eruption of silicic magmas from Bueno G.V., Dutra G. 2012. Stratigraphy and volcanic
chemistry of the zircon crystals and zircon Hf isotope data. tle source compositions of the Paraná Magmatic Prov- the Paraná magmatic province (Brazil) did not trigger the facies architecture of the Torres Syncline, Southern Bra-
Journal of South American Earth Sciences, 89:219-226. ince (southern Brazil): evidence from trace element and Valanginian event. Geology, 48, https://doi.org/10.1130/ zil, and its role in understanding the Paraná-Etendeka
Hawkesworth C.J., Gallagher K., Kelley S., Manto- Sr-Nd-Pb isotope geochemistry. Journal of Geodynamics, G47766.1. Continental Flood Basalt Province. Journal of Volcanolo-
vani M., Peate D.W., Regelous M., Rogers N.W. 1992. 28(4-5):439-458. Rocha-Júnior E.R.V., Puchtel I.S., Marques L.S., gy and Geothermal Research, 215-216:74-82.

346 347
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 16

U. G. Cordani e o continua sendo, o principal agente responsável pelo grande desenvolvimento e


magmatismo alcalino pelo alto nível científico alcançado das pesquisas geocronológicas no continente
sul-americano, e de suas múltiplas implicações.
Celso de Barros Gomes,
Universidade de São Paulo,
Instituto de Geociências 2. Atividades de pesquisa
(cgomes@usp.br).
As atividades relacionadas com o tema geral se inserem em duas grandes ver-
1. Introdução tentes, o magmatismo alcalino continental e o oceânico. Quanto à primeira delas,
é também necessário fazer-se menção à existência de duas linhas diferentes de
O envolvimento do pesquisador com o pesquisa em função do tempo de formação das ocorrências, de um lado as de idade
magmatismo alcalino se deu mais intensa- variável do Mesozoico ao Cenozoico, em maior número, de outro as pertencentes
mente na fase inicial do Laboratório de Ge- ao Proterozoico.
ocronologia, instalado na então Faculdade de
Celso de Barros Gomes. Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da Univer- Magmatismo alcalino continental
sidade de São Paulo, em 1964. Esse laboratório, fruto de projeto de Idades Mesozoica a Cenozoica
pesquisa de autoria do renomado físico John Hamilton Reynolds,
professor do Instituto de Física da Universidade da Califórnia, Esse tema foi escolhido como o segundo mais abrangente (o primeiro foi o
Berkeley, submetido em 1962 à agência de fomento norte-ameri- programa sobre o vulcanismo da Serra Geral, com os dados obtidos divulgados
cana National Science Foundation, foi por ela aprovado, vindo, no artigo de Amaral et al. (1966) a ser desenvolvido na fase de implantação e
posteriormente, a contar com o apoio financeiro de instituições apresentação dos primeiros resultados analíticos do CPGeo. Da maior importância
públicas do país, em especial da Fapesp, que muito contribuíram científica, o trabalho consistiu na determinação da idade radiométrica por K-Ar de
no sentido de criar as condições necessárias para a sua implantação grande número de intrusões alcalinas (20) distribuídas pelo território brasileiro,
nas dependências daquela faculdade na Alameda Glette, no bairro principalmente ao longo das bordas das bacias sedimentares do Paraná, Santos e
paulistano dos Campos Elíseos. Ainda na fase embrionária de con- Bauru, e porção oriental do Paraguai (figura 1). Na oportunidade, essa atividade
cepção do laboratório, U. G. Cordani, docente do Departamento magmática era considerada muito genericamente como de idade meso-cenozoi-
de Geologia e Paleontologia da FFCL, foi convidado a participar ca e, ao contrário da primeira pesquisa sobre as rochas basálticas de granulação
de suas atividades futuras, cabendo-lhe, num primeiro momento, a fina ou mesmo afanítica, representada dominantemente por variedades plutônicas,
missão de ir para Berkeley por alguns meses a fim de se familiarizar possibilitando com isso a separação e datação de concentrados minerais (micas,
com a técnica analítica, no caso a metodologia K-Ar para a datação feldspatos, anfibólios), o que se constituiu em fator de grande valia para o melhor
de rochas, e adquirir os conhecimentos indispensáveis para a sua controle das condições analíticas empregadas no recém-criado laboratório e de
plena utilização e ampla difusão seja no cenário geológico brasi- suas limitações em termos de precisão, reprodutibilidade e validade do método. O
leiro, seja no sul-americano, num segundo momento. Essa fase de artigo, assinado por Amaral, Cordani, Kawashita e Reynolds, em ordem alfabética,
aprendizagem, que foi seguida pelo período de acompanhamento foi publicado em 1967 na revista internacional Geochimica et Cosmochimica Acta,
dos trabalhos de instalação dos equipamentos em São Paulo ao lado a exemplo do já verificado com o trabalho sobre as vulcânicas, e representou uma
do professor Reynolds, foi fundamental para a sua preparação e valiosa contribuição ao melhor conhecimento do magmatismo alcalino, servindo,
transformação no principal pesquisador do laboratório, logo de- ainda, como elemento de apoio para o desenvolvimento de muitos outros traba-
pois alçado à condição de centro interdepartamental, com a desig- lhos sobre o tema que viriam a ser realizados nos anos seguintes.
nação de Centro de Pesquisas Geocronológicas (CPGeo). Embora A pesquisa foi um marco histórico que permitiu reunir as diversas ocorrên-
outros pesquisadores, como Gilberto Amaral, igualmente docente cias alcalinas das regiões sudeste e centro-oeste do país em dois grandes grupos
do mesmo Departamento de Geologia e Paleontologia, e o recém- cronológicos bem evidenciados no histograma (figura 2). Um mais antigo com
contratado físico Koji Kawashita, ambos incorporados à equipe do valores de idade no intervalo 133-122 Ma, correspondente ao Cretáceo Inferior,
projeto desde os instantes iniciais de sua estruturação, tenham par- e outro, mais novo, com valores variáveis de 82 a 51 Ma, estendendo-se desde
ticipado ativamente dos trabalhos e colaborado de forma significa- o Cretáceo Superior ao Terciário Inferior. A idade do grupo mais antigo é coin-
tiva para a produção de dados científicos, sobretudo durante a fase cidente com a do vulcanismo da Serra Geral. Por outro lado, a idade do mais
pioneira do CPGeo, é forçoso reconhecer que U.G. Cordani foi, e jovem, representando a maioria das ocorrências alcalinas brasileiras, não guarda

348 349
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 16

Figura 2: Histograma
de idades para as
Ulbrich et al. (1990). Os dois primeiros procuraram relacionar essa rochas datadas
sazonalidade com os processos tectônicos que acompanharam a (Amaral et al., 1967).
abertura do Atlântico Sul e a migração da placa Sul-americana. Por
sua vez, Ulbrich et al. (1990) definiram alguns intervalos de idade
que separam a interrupção e a recorrência do magmatismo alcalino,
propondo quatro pulsos distintos (cronogrupos) de manifestação –
133 Ma, 108 Ma, 84 Ma e 70-62 Ma.
Precedendo o artigo de caráter mais geral, que reuniu todos
os dados analíticos produzidos até então no laboratório, é impor-
tante chamar a atenção para o primeiro trabalho dele emanado, o
de Gomes e Cordani (1965) sobre a idade do maciço alcalino de
Itapirapuã, no Vale do Ribeira. Os valores obtidos se situaram no
intervalo 110-100 Ma do histograma acima, guardando correspon-
Figura 1: Mapa de localiza- dência com o cronogrupo de 108 Ma, sugerido posteriormente por
ção das ocorrências alcalinas, qualquer associação genética com as rochas basálticas. Nos anos Ulbrich et al. (1990). Questionado por longo tempo, esse pulso
com os números representan-
do as idades K-Ar determina- que se seguiram alguns outros trabalhos se ocuparam da geocro- de atividade alcalina, cujos únicos representantes conhecidos no
das (Amaral et al., 1967). nologia dessas rochas por diferentes métodos e, em linhas gerais, momento incluem as intrusões de Banhadão e Itapirapuã, ambas no
confirmaram a presença dessas duas classes modais dominantes, as- Vale do Ribeira, foi recentemente confirmado por novas datações
sim caracterizadas 140-130 Ma e 90-80 Ma. Ao lado da enorme geocronológicas (Ar-Ar e U-Pb SHRIMP) publicadas por Gomes et
variação temporal do magmatismo alcalino, os dados divulgados no al. (2018). No caso específico de Itapirapuã, os novos valores de
artigo de Amaral et al. (1967) possibilitaram igualmente registrar a idade são rigorosamente concordantes com aqueles determinados
existência de idades no intervalo 110-100 Ma, além de outras bem nos primórdios do CPGeo por Gomes e Cordani (1965), atestando
mais velhas, em torno de 240 Ma, reforçando, desse modo, a ideia a qualidade analítica do laboratório.
da periodicidade do magmatismo alcalino – ou seja, manifestações Em razão do grande número de ocorrências e das condições
ocorrendo dentro de intervalos regulares de idade –, um tema do mais favoráveis para a coleta de amostras, o programa de datação
maior interesse científico que viria a ser explorado anos depois por das rochas alcalinas teve prosseguimento na parte sudeste do país,
vários pesquisadores, entre eles Herz (1977), Sadowski (1987) e com a atenção direcionada inicialmente para as intrusões do pri-

350 351
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 16

meiro planalto do Estado do Paraná. O trabalho produzido por Cordani e Hasui Idade Proterozoica
(1968a) apresentou idades K-Ar para as rochas que ocorrem nas imediações da
cidade de Cerro Azul, especialmente as silicáticas (sienitos e gabros) do maciço A destacar nessa linha de pesquisa o trabalho de reconhecimento geocronoló-
de Tunas, bem como as fonolíticas do complexo carbonatítico de Mato Preto e gico inicial das intrusivas alcalinas de afinidade marcadamente sódica que ocorrem
do plug de Barra do Teixeira, as duas últimas do Cretáceo Superior. Os dados na porção meridional da Bahia. Elas formam diversos corpos dispersos, os batóli-
referentes às litologias de Tunas mostraram, contudo, algumas divergências com tos de Itabuna, Floresta Azul, Serra das Araras e Itarantim; um grande número de
os valores indicando duas épocas distintas de formação, em torno de 110 Ma e ao stocks, entre eles o de Itaju do Colônia e Rio Pardo; além de centenas de diques,
redor de 70 Ma. Trabalho mais recente de Siga Júnior et al. (2007), com o auxílio com as maiores intrusões alinhadas na direção NE-SW (Rosa et al., 2007). Esse
do método U-Pb em cristais de zircão, possibilitou dirimir a dúvida, reportando conjunto de ocorrências controlado tectonicamente por falhas profundas que se
idades ID-TIMS e SHRIMP, mais confiáveis, em rochas sieníticas do maciço, res- desenvolveram entre o Paleoproterozoico e o Mesoproterozoico é conhecido por
pectivamente, de 82,7 ± 0,7 Ma e 84,7 ± 1,2 Ma. O interesse científico sobre a integrar a Província Alcalina do Sul do Estado da Bahia (Silva et al., 1974) e há
geocronologia das alcalinas se deslocaria para a região centro-oeste, mais espe- muito vem sendo objeto de estudos sistemáticos nos seus mais diversos aspectos
cificamente para as ocorrências do oeste mineiro e sul de Goiás, sendo as idades por M. L. S. Rosa e H. Conceição e seus colaboradores. As primeiras idades radio-
K-Ar listadas por Hasui e Cordani (1968a) provenientes de diferentes litologias métricas dessas rochas foram determinadas por Cordani et al. (1974a), empregan-
dos complexos carbonatíticos de Araxá, Catalão, Salitre, Serra Negra e Tapira, do os métodos K-Ar, Rb-Sr e Ar-Ar, bem como amostras procedentes de diversos
de rochas pulaskíticas da intrusão de São Gotardo, assim como dos corpos ultra- corpos alcalinos (Itabuna, Itaju do Colônia, Itarantim, Potiraguá, Santa Cruz de
básicos de Morro das Broas e Pântano. Pouco depois, Cordani e Hasui (1975) se Vitória). Os resultados obtidos sugeriram a existência de importante evento de
ocuparam de análise geral sobre as determinações radiométricas disponíveis (41, homogeneização isotópica ocorrido há 655 ± 25 Ma, interpretado pelos autores
sendo 40 por K-Ar e 1 por Rb-Sr) para as intrusões alcalinas da folha geológica como a própria época de formação dos maciços sieníticos, o que permitiu correla-
de Goiânia, além de fornecerem a idade relativa à de Montes Claros de Goiás. cionar esse magmatismo alcalino com a fase principal da orogenia Brasiliana. Pou-
Apenas alguns anos transcorridos, a atenção sobre o tema se voltaria novamente co depois, um programa de datação dessas rochas especificamente com a técnica
para a porção sudeste brasileira, com o trabalho de Cordani e Teixeira (1979a) do Ar-Ar foi conduzido por Bernat et al. (1977).
tecendo comentários sobre o conjunto de idades (87, sendo 83 por K-Ar e 4 por Similarmente à linha de pesquisa anterior, houve também a preocupação de di-
Rb-Sr) existentes para as ocorrências associadas com as folhas geológicas do Rio vulgar os resultados dos trabalhos analíticos em eventos científicos, sendo as contri-
de Janeiro (Serra da Paciência, Soarinho, Tanguá) e Iguape. Na mesma ocasião, buições de Cordani et al. (1974b) e de Bernat e Cordani (1974) submetidas, respec-
esses autores (Cordani e Teixeira, 1979b) fariam uma revisão sobre as determi- tivamente, no congresso geológico de Porto Alegre e na reunião anual da American
nações geocronológicas exclusivas do Estado do Rio de Janeiro. Geophysical Union, em Washington, D.C., EUA.
A lembrar, que todos os valores de idades K-Ar mencionados nos artigos acima
foram recalculados por Sonoki e Garda (1988), em geral acrescidos de 2,1 a 2,4%,
empregando novas constantes de decaimento. Magmatismo alcalino oceânico
Ao lado da produção dos textos para publicação, o pesquisador muito se em-
penhou na missão de difundir a técnica recém-implantada no país e os resultados Essa linha de pesquisa foi a terceira mais importante ligada às atividades ini-
coligidos nos vários programas de pesquisa concluídos ou mesmo em andamento. ciais do CPGeo e foi desenvolvida basicamente com o propósito de avaliar as
Isso implicou em seu comparecimento a diversos eventos científicos nacionais com limitações do método analítico K-Ar para as datações em materiais de idade mais
o propósito de apresentação e discussão dos dados analíticos. As referências listadas recente. As ilhas brasileiras do Atlântico Sul (Fernando de Noronha, Trindade
retratam algumas dessas iniciativas tomadas nos primeiros anos de funcionamento e Abrolhos) foram escolhidas para o programa de pesquisa, considerando seus
do laboratório: Cordani (1965), Ribeiro Filho e Cordani (1966), Cordani e Hasui aspectos positivos como idade presumivelmente jovem, grande diversidade lito-
(1968b), Hasui e Cordani (1968b), além de Vandoros et al. (1966), esta última con- lógica reunindo rochas vulcânicas e subvulcânicas (principalmente ankaratritos,
tribuição focalizando o complexo ígneo do Cabo São Agostinho, não muito distante basaltos, basanitos, diabásios, fonolitos, nefelinitos) e existência de cartografia
de Recife, que reúne rochas de composição basáltica até granítica, e também uma geológica de qualidade e de detalhe. Esses fatores foram determinantes para o
variedade alcalina de granito, com idades próximas de 90 Ma (Cretáceo Superior). bom êxito dos trabalhos que redundaram em contribuições científicas das mais
Além disso, a preocupação constante de U. G. Cordani com os programas de relevantes, a principal delas se constituindo na tese de doutorado do pesquisador
cooperação internacional levou-o a participar mais recentemente de atividades de (Cordani, 1970). As determinações potássio-argônio (28 e 37, respectivamente,
pesquisa envolvendo as rochas alcalinas mesozoicas de Moçambique. Como resul- em amostras do arquipélago de Fernando de Noronha e da ilha de Trindade e
tado, ele se apresenta como coautor de dois resumos (Chauque et al., 2008, 2012) rochedos de Martim Vaz) indicaram para esses edifícios vulcânicos idades do fim
submetidos em reuniões científicas, o primeiro na ocorrida na cidade de Praia, Cabo do Terciário entre 12,3 e 1,7 Ma para o primeiro e não superiores a 3,6 Ma para
Verde, e o segundo na de Santos. o segundo. Para o arquipélago de Abrolhos as análises foram em número bem

352 353
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 16

menor (6), com os resultados compreendidos no intervalo de 52-42 Ma, colocan- Referências chas alcalinas do primeiro planalto do Estado do Paraná.
In: 22º Congresso Brasileiro de Geologia. Belo Horizon-
do essa atividade vulcânica no Eoceno. A qualidade satisfatória dos dados analí- te, Resumo das Comunicações, p. 3-4.
Amaral G., Bushee J., Cordani U.G., Kawashita K.,
ticos em muito contribuiu como elemento de motivação para o prosseguimento Reynolds J.H. 1967. Potassium-argon ages of alkaline Cordani U.G. & Hasui Y. 1975. Comentários sobre
dos trabalhos sobre o tema, levando, assim, ao emprego de nova metodologia rocks from Southern Brazil. Geochimica et Cosmochimi- os dados geocronológicos disponíveis para a Folha de
ca Acta, 31:117-142. Goiânia. In: Schobbenhaus C. (org.). Carta Geológica do
analítica, a Ar-Ar, na datação desse vulcanismo. Os frutos dessas novas pesquisas Brasil ao Milionésimo. Folha Goiânia (SE-22). Brasília,
Amaral G., Cordani U.G., Kawashita K., Reynolds
são encontrados em Cordani et al. (1977). Contudo, dúvidas surgidas quanto J.H. 1966. Potassium-argon dates of basaltic rocks from Ministério de Minas e Energia, Companhia de Pesquisa
à posição estratigráfica de formações geológicas do arquipélago com base nas Southern Brazil. Geochimica et Cosmochimica Acta, de Recursos Minerais, p. 57-62.
30:159-189. Cordani U.G. & Teixeira W. 1979a. Determinações
idades K-Ar e Ar-Ar disponíveis serviram de justificativa para a execução recente geocronológicas no Estado do Rio de Janeiro: uma
Bernat M. & Cordani U.G. 1974. Ar-Ar ages from
de pesquisa mais minuciosa por Ar-Ar sobre as 22 amostras de rochas analisadas the alkaline massives of Southern Bahia, Brazil. In: Ame- síntese. In: 5º Seminário de Geologia. Rio de Janeiro,
anteriormente por Cordani (1970), com o auxílio da técnica K-Ar. Os novos rican Geophysical Union, Annual Meeting. Washington, Anais, p. 29-44.
D.C., 55:470-470. Cordani U.G. & Teixeira W. 1979b. Comentários
dados analíticos possibilitaram uma revisão da cronologia da atividade vulcânica sobre as determinações geocronológicas existentes para
Bernat M., Cordani U.G., Kawashita. 1977. Ages
do arquipélago, indicando a existência de uma fase mais antiga entre 12,5 ± 0,1 39
Ar-40Ar des massifs alcalins du sud de l’état de Bahia as regiões das Folhas do Rio de Janeiro, Vitória e Iguape.
e 9,0 ± 0,1 Ma e um episódio mais novo entre 6,2 ± 0,1 e 1,3 ± 0,1 Ma. Essas (Brésil). Cahiers ORSTOM, Série Géologie, 9:35-43. In: Schobbenhaus C. (orgs.). Carta Geológica do Brasil
Blazekovic A. 1971. Geocronologia do Arquipélago ao Milionésimo. Folhas Rio de Janeiro (SF-23), Vitória
informações constam do artigo de Perlingeiro et al. (2013). Outra importan- (SF-24) e Iguape (SF-23). Brasília, Ministério de Minas e
de Abrolhos. Trabalho de Iniciação Científica, Instituto
te contribuição ao conhecimento do vulcanismo alcalino da região nordeste do de Geociências, Universidade de São Paulo, São Paulo. Energia, Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais,
Brasil consiste no trabalho de Fodor et al. (1989), focalizando especificamente as Chauque F.R. 2009. Geoquímica isotópica e geocro- p. 175-207.
nologia das rochas alcalinas e carbonatitos de Moçambi- Cordani U.G., Bernat M., Teixeira W., Kinoshita H.
rochas do arquipélago de Abrolhos. 1974a. Idades radiométricas das rochas alcalinas do Sul
que. MS Dissertation, Instituto de Geociências, Universi-
Uma vez mais os resultados coligidos no programa de datação foram objeto de di- dade de São Paulo, São Paulo. da Bahia. In: 28º Congresso Brasileiro de Geologia. Por-
vulgação, com destaque para as contribuições sobre as rochas de Fernando Noronha Chauque F.R., Cordani U.G., Manjate V.A., Onoe to Alegre, Publicação de Resumos, p. 254-259.
A.T., Souza S.L. 2012. Geoquímica e geologia isotópica Cordani U.G., Bernat M., Teixeira W., Kinoshita H.
e de Trindade no congresso geológico de Belo Horizonte (respectivamente, Cordani, 1974b. Idades radiométricas das rochas alcalinas do Sul
de alguns complexos sieníticos e carbonatíticos de Mo-
1968a; Cordani, 1968b) e, bem mais tarde, tão somente sobre Fernando de Noro- çambique. In: 46º Congresso Brasileiro de Geologia, 1º da Bahia. In: 28º Congresso Brasileiro de Geologia, Por-
nha, no IV Simpósio Sul-Americano de Geologia Isotópica de Salvador (Cordani et Congresso de Geologia dos Países de Língua Portuguesa. to Alegre, Publicação de Resumos, p. 533-534.
Santos, Anais, CD-ROM. Cordani U.G., Kinoshida H., Bernat M. 1977. Data-
al., 2003a) e no evento dos PLOP em Maputo, Moçambique (Cordani et al., 2003b); tion par la méthode 39Ar/40Ar de roches volcaniques des
Chauque F.R., Cordani U.G., Onoe A.T, Lucena de
e, por último, sobre as vulcânicas do arquipélago de Abrolhos na reunião de Brasília Souza, S. 2008. Geocronologia e geoquímica isotópica iles brésiliennes de Fernando de Noronha et Trindade.
(Cordani e Blazekovic, 1970a, 1970b). Sr-Nd de alguns complexos sieníticos e carbonatíticos Cahiers ORSTOM, Série. Géologie, 9:35-43.
de Moçambique. In: 9º Congresso de Geoquímica dos Cordani U.G., Ulbrich M.N.C., Menor E.A., Lopes
Países de Língua Portuguesa. Praia, Cabo Verde, Livro de R.P. 2003a. Cenozoic alkaline volcanism of Fernando de
Resumos, p. 78-78 Noronha Island. In: 4th South American Symposium on
Isotope Geology, Salvador, Field Trip T1, p. 1-24.
4. Atividades de formação Cordani U.G. 1965. Idades K-Ar em rochas do Esta-
Cordani U.G., Ulbrich M.N.C., Onoe A.T., Vinasco
do da Guanabara. In: 19º Congresso Brasileiro de Geo-
logia, Rio de Janeiro, DNPM Avulso, 40:50-50. C.J. 2003b. Novas determinações de idade pelos méto-
Como as principais áreas de interesse científico de U. G. Cordani são a Geo- Cordani U.G. 1968a. Idades potássio-argônio de ro- dos K-Ar e Ar-Ar para o Arquipélago de Fernando de
chas do Arquipélago de Fernando de Noronha. In: 22º Noronha. Revista da Faculdade de Ciências, Maputo,
cronologia e Geoquímica Isotópica, aplicadas a estudos de Geotectônica, o seu Moçambique, 1:167-177.
Congresso Brasileiro de Geologia. Belo Horizonte, Resu-
engajamento em programas de formação relacionados com a temática do magma- mo das Comunicações, p. 2-3. Fodor R.V., Musaka S.B., Gomes C.B., Cordani U.G.
tismo alcalino não foram tão numerosas ao longo da carreira, cabendo registro, Cordani U.G. 1968b. Idades potássio-argônio de 1989. Ti-rich Eocene basaltic rocks, Abrolhos Platform,
rochas da Ilha de Trindade. In: 22o Congresso Brasilei- Offshore Brazil, 18 S: petrology with respectto South
no entanto, para duas dissertações de mestrado (Teixeira, 1978; Iwanuch, 1982) Atlantic Magmatism. Journal of Petrology, 30:763-786.
ro de Geologia. Belo Horizonte, Resumo das Comuni-
e uma tese de doutorado (Iwanuch, 1990) e, em tempos mais recentes, para um cações, p. 16-16. Gomes C.B., Cordani U.G. 1965. Geocronologia do
trabalho de mestrado (Chauque, 2009). Além disso, foi orientador de dois projetos Cordani U.G. 1970. Idade do vulcanismo no Ocea- maciço alcalino de Itapirapuã, São Paulo, Brasil. Anais da
no Atlântico Sul. Boletim do Instituto de Geociências e Academia Brasileira de Ciências, 37:497-501.
de iniciação científica (Blazekovic, 1971; Teixeira, 1973), respectivamente, com o Gomes C.B., Azzone R.G., Ruberti E., Vasconcelos
Astronomia da USP, 1:9-75.
apoio do CNPq e da Fapesp. Cordani U.G. & Blazekovic A. 1970a. Idades ra- P.M., Sato K., Enrich G.E.R. 2018. New age determi-
diométricas das rochas vulcânicas dos Abrolhos. In: nations for the Banhadão and Itapirapuã complexes in
24º Congresso Brasileiro de Geologia. Brasília, Anais, the Ribeira Valley, southern Brazil. Brazilian Journal of
p. 265-270. Geology, 48:403-414.
Cordani U.G. & Blazekovic A. 1970b. Idades ra- Hasui Y. & Cordani U.G. 1968a. Idades K-Ar de
diométricas das rochas vulcânicas dos Abrolhos. In: 24º rochas eruptivas mesozoicas do oeste mineiro e sul de
Congresso Brasileiro de Geologia. Brasília, Publicação de Goiás. In: 22º Congresso Brasileiro de Geologia, Belo
Resumos, p.80-81. Horizonte, Resumo das Comunicações, p. 139-143.
Cordani U.G. & Hasui Y. 1968a. Idades K-Ar de ro- Hasui Y. & Cordani U.G. 1968b. Idades K-Ar de
chas alcalinas do primeiro planalto do Estado do Paraná. rochas eruptivas mesozoicas do oeste mineiro e sul de
In: 22º Congresso Brasileiro de Geologia. Belo Horizon- Goiás. In: 22º Congresso Brasileiro de Geologia, Belo
te, Resumo das Comunicações, p. 149-153. Horizonte, Resumo das Comunicações, p. 5-5.
Cordani U.G. & Hasui Y. 1968b. Idades K-Ar de ro- Herz N. 1977. Timing of spreading in the South At-

354 355
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 17

lantic: information from Brazilian alkalic rocks. Geologi-


cal Society of America Bulletin, 88:101-112. Influência do embasamento na evolução
Iwanuch W. 1982. Geologia da região do Domo de
Sucunduri. MS Dissertation, Instituto de Geociências,
de bacias sedimentares: a contribuição
Universidade de São Paulo, São Paulo.
Iwanuch W. 1990. Geologia dos maciços alcalinos
de Umberto Giuseppe Cordani e do grupo
proterozoicos do centro-oeste de Goiás. PhD Thesis,
Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo,
de Geocronologia e Tectônica da USP para
São Paulo.
Perlingeiro G., Vasconcelos P.M., Knesel K.M., Thie-
as atividades exploratórias da Petrobras
de D., Cordani U.G. 2013. 40Ar-39Ar geochronology of
the Fernando de Noronha Archipelago and implications
for the origin of alkaline volcanism in NE Brazil. Journal Edison José Milani
of Volcanology and Geothermal Research, 249:140-154. (edis.mila@hotmail.com).
Ribeiro Filho E. & Cordani U.G. 1966. Contempo-
raneidade das intrusões das rochas alcalinas do Itatiaia, Peter Szatmari
Passa Quatro e Morro Redondo. Rio de Janeiro, Brasilei- (szatmari@petrobras.com.br).
ra de Geologia, Núcleo do Rio de Janeiro, 1:62-63.
Rosa M.L.S., Conceição H., Macambira M.J.B.,
Galarza M.A., Cunha M.P., Menezes R.C.L., Marinho 1. Introdução
M.M., Cruz Filho B.E., Rios D.C. 2007. Neoproterozoic
anorogenic magmatism in the Southern Bahia Alkaline
Province of NE Brazil: U-Pb and Pb-Pb ages of the blue A exploração petrolífera é atividade emi-
sodalitesyenites. Lithos, 97:88-97. nentemente integradora de informações. A
Sadowski G.R. 1987. A possible relation between avaliação do potencial para hidrocarbonetos
pulses of platform activation and plate kinematics. Tec-
tonophysics, 143:43-57. existente em uma bacia sedimentar requer o
Siga Júnior O., Gomes C.B., Sato K., Passarelli C.R. manuseio de dados de natureza variada, tanto
2007. O maciço alcalino de Tunas: novos dados geocro- geológicos quanto geofísicos. Sob o conceito de
nológicos. Geologia USP. Série Científica, 7:71-80.
Silva Filho M.A., Moraes Filho O., Gil C.A.A., San- Sistema Petrolífero (Magoon e Dow, 1994), os
tos R.A. 1974. Projeto Sul da Bahia, Folha SD.24.Y.D. grupos de interpretação exploratória buscam
Salvador, Departamento Nacional da Produção Mineral, Peter Szatmari e
Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, 1:1-164.
uma compreensão do “mecanismo” atuante em subsuperfície no pas- Edison José Milani.
Sonoki I.K., Garda G.M. 1988. Idades K-Ar de ro- sado geológico e que possa, porventura, ter dado origem a uma jazida
chas alcalinas do Brasil Meridional e Paraguai Oriental: de petróleo no âmbito de uma determinada província sedimentar.
compilação e adaptação às novas constantes de decai-
mento. Boletim IG-USP. Série Científica, 19:63-85.
Tal “mecanismo” inclui sempre complexa e multifacetada relação
Teixeira W. 1973. Idades K-Ar de rochas básicas e entre diversos elementos: rochas geradoras, rochas-reservatório, ro-
alcalinas da região amazônica. Trabalho de Iniciação chas selantes, caminhos de migração, estrutura, janela apropriada de
Científica, Instituto de Geociências, Universidade de
São Paulo, São Paulo. temperaturas, dentre outros, são fatores indispensáveis e que se arti-
Teixeira W. 1978. Significação tectônica do magma- culam naturalmente ao longo da história geológica da bacia. Uma vez
tismo anorogênico básico e alcalino da região amazônica. atendidos determinados requisitos, que incluem relações espaciais e
MS Dissertation, Instituto de Geociências, Universidade
de São Paulo, São Paulo. temporais adequadas, origina-se uma jazida de hidrocarbonetos.
Ulbrich H.H.G.J., Garda G.M, Ulbrich M.N.C. De pronto transparece o significado e a importância do quesito
1990. Avaliação das idades K/Ar dos maciços alcalinos “tempo” na Geologia do Petróleo. O correto estabelecimento dos pa-
do Brasil Sul-Oriental e Paraguai Oriental. Boletim IG
-USP. Publicação Especial, 9:87-91. râmetros cronoestratigráficos de uma bacia sedimentar é ingrediente
Vandoros P., Cordani U.G., Matzko J. 1966. Idades indispensável de suporte a qualquer campanha exploratória. As com-
absolutas das rochas ígneas da região do Cabo, Pernam- panhias que operam equipes de exploração servem-se da Bioestratigra-
buco. In: 20º Congresso Brasileiro de Geologia. Vitória,
Publicação 1, p. 64-66. fia para a determinação das idades das diferentes unidades litológicas
que preenchem uma bacia sedimentar e, para tal, é sistematicamente
estudado o conteúdo microfossilífero presente nas rochas sedimenta-
res por meio da análise em laboratório de amostras coletadas durante
a perfuração de poços.
As técnicas bioestratigráficas usuais resolvem a questão “idade”
de rochas sedimentares pelo uso de correlações do conteúdo fossilífe-
ro local a seções internacionais de referência, as Chronostratigraphic

356 357
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 17

Units da International Commission on Stratigraphy (www.stratigraphy.org), órgão numa sequência de processos que acompanham o desenvolvimento da província
temático da International Union of Geological Sciences (IUGS). Em função do gran- sedimentar e que certamente se iniciam na estrutura e descontinuidades de seu
de acervo cumulativo de conhecimento representado nessas “unidades de referência substrato. O relacionamento das bacias fanerozoicas brasileiras com seu embasa-
global”, inclusive com calibrações de suas idades absolutas, no momento em que se mento, embora seja tema corriqueiro de investigação na atualidade, nem sempre
viabiliza a correlação do conteúdo microfossilífero local a uma das assembleias-pa- esteve entre o rol de tarefas dos geólogos do petróleo. A despeito da descoberta de
drão fica de pronto caracterizada sua idade ou posicionamento da seção em questão volume apreciável de hidrocarboneto alojado em fraturas no substrato cristalino
na carta cronoestratigráfica global. do Campo de Carmópolis, em Sergipe, ainda no início dos anos 1960, as atividades
No tocante a esse ramo das Geociências no Brasil, a continuada atividade explo- de prospecção virtualmente desconsideravam informações outras que não aquelas
ratória executada pela Petrobras desde 1953, com a implantação e manutenção de relacionadas ao preenchimento sedimentar das bacias na formulação de seus mo-
equipes dedicadas aos vários métodos bioestratigráficos, respaldada por parcerias delos exploratórios. Apesar desse foco pragmático, inúmeros poços amostraram
com qualificados grupos de especialistas atuantes em universidades do País e intera- rochas do embasamento, na forma de testemunhos de sondagem, como aferição de
ções científicas no exterior, tem assegurado conhecimento bastante robusto do ar- que haviam efetivamente alcançado o “fundo da bacia” – o limite natural para a
cabouço cronoestratigráfico das nossas bacias sedimentares, cuja consolidação mais prospecção petrolífera convencional.
recente se encontra publicada em Milani et al. (2007). Da interação de uma bacia com seu embasamento dependem diversos aspectos
Fato relativamente corriqueiro no trabalho de prospecção petrolífera em bacias do preenchimento sedimentar, a começar pela própria história de subsidência, sua
é encontrarem-se rochas ígneas (intrusivas, vulcânicas, vulcanoclásticas) em meio geometria geral e seu arcabouço estrutural. Os elementos tectônicos preexistentes
aos sedimentitos, na perfuração de poços ou em trabalhos no campo. A presença no substrato – falhas, zonas de sutura, núcleos rígidos e a trama dos metamorfitos,
desses litotipos traz em si a oportunidade de se obter calibração de idades absolutas com forte anisotropia mecânica – quando submetidos a novos campos de tensões
para o horizonte estratigráfico em que ocorrem por meio das diferentes técnicas acabam por condicionar a localização de arcos, falhamentos, charneiras e depocen-
geocronológicas. Neste particular, a atuação em parceria da Petrobras com a equipe tros. Dentre outros temas, a qualidade das rochas-reservatório siliciclásticas em uma
de Geocronologia da Universidade de São Paulo tem produzido grande número de bacia também é função em boa medida dos atributos das rochas do embasamento
resultados de datações, que contribuem ao estudo das bacias brasileiras. que foram erodidas para dar-lhes origem.
Embora alguma atividade de prospecção para petróleo tenha sido realizada em A percepção de que havia todo um potencial de conhecimento a ser desvenda-
terrenos proterozoicos do território brasileiro, como é o caso das bacias do São do nesta temática motivou a Petrobras a desenvolver projeto de investigação no
Francisco e dos Parecis, o interesse maior e predominante da pesquisa petrolífera início dos anos de 1980, época em que as disciplinas ligadas à Tectônica ganhavam
reside nas sequências sedimentares do Fanerozoico, de onde a exploração no Brasil muito espaço na indústria do petróleo. Publicado como o número 15 da série
tem obtido seus resultados (Mendonça et al., 2004). Nossas sequências sedimentares Ciência - Técnica - Petróleo da empresa, o Estudo preliminar de integração do Pré-
fanerozoicas arranjam-se em duas classes principais de bacias: a) sinéclises paleo- Cambriano com os eventos tectônicos das bacias sedimentares brasileiras (Cordani
zoicas – amplas depressões intracontinentais desenvolvidas via múltiplos ciclos de et al., 1984) é, ainda hoje, a obra de referência sobre o tema. Para a realização do
subsidência e acomodação de sedimentos entre o Ordoviciano e o Triássico inicial; projeto, a Petrobras contou com a coordenação externa do eminente professor e
no Jurássico e Eocretáceo foram atingidas por episódios de volumoso magmatismo, pesquisador Umberto Giuseppe Cordani. A equipe por ele constituída contava ain-
alojado como intrusões e derrames; b) bacias da margem continental – com a ruptu- da com outros dois dentre os maiores especialistas acadêmicos nacionais dos terre-
ra do Pangea, mais particularmente do Gondwana Ocidental e a consequente indivi- nos pré-cambrianos, Reinhardt Adolfo Fuck e Benjamin Bley de Brito Neves, além
dualização das placas africana e sul-americana, a partir do Neojurássico formaram-se de Roberto Porto, Antonio Thomaz Filho e Francisco Motta Bezerra da Cunha,
bacias do tipo rifte em resposta à tectônica distensiva, que evoluíram via subsidência experientes geólogos da Companhia.
térmica e por sobrecarga sedimentar pari passu à abertura progressiva do Oceano Utilizando o banco de rochas acumulado pela Petrobras, o estudo envolveu pes-
Atlântico Sul (Asmus e Ponte, 1973). quisas petrológicas e geocronológicas dos litotipos do embasamento e análises de
As bacias sedimentares brasileiras desenvolveram-se sobre a Plataforma Sul campo em áreas selecionadas do embasamento adjacente às bordas das bacias, além
-Americana (Almeida, 1967, 1971), amplo mosaico de terrenos que atingiu con- de contar com suporte geofísico. Nesse contexto, o projeto procurou:
dição de estabilidade no Proterozoico terminal-Cambriano, consolidando uma Identificar antigos riftes intracratônicos, as mais proeminentes suturas tectôni-
das peças constitutivas fundamentais do paleocontinente Gondwana. Em termos cas com evolução policíclica e os principais contatos entre as províncias tectônicas
geotectônicos, a edificação da Plataforma Sul-Americana pode ser traçada de pré-cambrianas já conhecidas. Inferiu-se a extensão destas feições por sob as bacias
modo diacrônico entre 725 e 500 Ma na sucessão das orogenias Brasilianas/Pan sedimentares e buscou-se a sua comprovação através das rochas testemunhadas do
-Africanas que resultaram na colagem de blocos cratônicos, microcontinentes e embasamento e de dados estruturais das bacias. Verificou-se que muitas das desconti-
arcos magmáticos por faixas orogênicas. nuidades identificadas no embasamento têm forte influência na história deposicional
Igualmente importante para a exploração de hidrocarbonetos é a compreensão das bacias, comprovando a existência de herança tectônica.
integrada da evolução de uma bacia sedimentar, pois o sistema petrolífero se insere E, como conclusão geral, os autores afirmaram:

358 359
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 17

É provável que tais estruturas, pela sua suscetibilidade congênita, sejam também
os locais preferidos para os falhamentos mais novos (concomitantes ou subsequentes a
episódios deposicionais) e, portanto, áreas de interesse para hidrocarbonetos, em vista
da formação de eventuais traps estruturais. Até o momento, em todas as observações
efetuadas no presente trabalho, têm sido confirmada a importância fundamental das
antigas descontinuidades do embasamento na estruturação das bacias fanerozoicas.
Em 2009, o Boletim de Geociências da Petrobras, v. 17, nº 1, republica o relatório
de 1984 e oferece oportunidade aos autores para adicionarem uma visão mais recen-
te sobre o tema, na forma de Atualização (Cordani et al., 2009).
Constituindo um empreendimento pioneiro, que envolveu a Petrobras e a equipe
de Geocronologia e Tectônica da Universidade de São Paulo, tal projeto possibilitou o
mapeamento geocronológico do embasamento de todas as bacias brasileiras integrado
ao conhecimento das regiões adjacentes aflorantes. Pelo alcance dos resultados e por
haver lançado as bases de técnicas de integração de dados que se perpetuaram em
estudos posteriores, e que continuam nos dias atuais, este trabalho de 1984, coorde-
nado pelo professor Cordani, pode ser considerado a contribuição mais importante
do pesquisador e seus associados para as atividades exploratórias da Petrobras. Na
continuidade deste capítulo, procuraremos comentar alguns aspectos do tema como
tratados no projeto original e na Atualização de 2009, mesmo sendo pouquíssimas as
novas amostras do embasamento das bacias brasileiras obtidas por poços em anos mais
recentes. Entretanto, há novos levantamentos geofísicos, teses, trabalhos de campo
e sínteses regionais que permitiram o aprimoramento da percepção geotectônica do
substrato de diversas regiões sedimentares do país, trabalhos estes que serão aqui inte-
grados sob uma perspectiva de tectônica e sedimentação no Fanerozoico.
Figura 1: Mapa de anomalias
gravimétricas Bouguer do
território brasileiro (Bizzi
2. Sinéclises Paleozoicas e Vidotti, 2003). Observar
a resposta diferenciada que
A despeito das similaridades geológicas que guardam entre si, as quais incluem exibem entre si as bacias
do Paraná (1), Parnaíba (2),
arcabouços estratigráficos constituídos por sequências paleozoicas cronocorrela- Amazonas (3) e Solimões (4).
tas, a geometria de “prato” com mergulhos suaves dos flancos ao depocentro sem
falhamentos expressivos, e a marcante presença de magmatismo mesozoico em
todas elas, as bacias cratônicas do Brasil se expressam de forma bastante diversa sob a bacia. Na Bacia do Parnaíba, a assinatura gravimétrica é a mais coerente dentre
no mapa gravimétrico regional (figura 1). Em termos conceituais, para a geometria as bacias cratônicas brasileiras para uma depressão preenchida por sedimentos, em
simples de uma depressão em rochas cristalinas da crosta e repleta de sedimentos que os mínimos gravimétricos correspondem aos depocentros sedimentares e onde
a resposta esperada seria a de um baixo gravimétrico, tanto mais negativo quanto há resposta de anomalias positivas nas áreas de embasamento raso no sentido das
mais espesso fosse o pacote sedimentar ali acumulado. Entretanto, o magmatismo bordas da bacia, em todos os quadrantes de seu contorno.
mesozoico impôs complicações a esta leitura teórica pela colocação de importan- Já na Bacia do Amazonas, a resposta gravimétrica exibe mais fortemente a provável
tes volumes de materiais densos em diferentes posições na estratigrafia das bacias interferência de fenômenos intracrustais: um pronunciado eixo de anomalias positivas
paleozoicas, além das raízes intracrustais desse magmatismo, que são fontes de marca a região do seu depocentro, cuja natureza é tema de discussão persistente desde
anomalias positivas passíveis de mascarar a resposta naturalmente negativa do con- Linser (1958). Nunn e Aires (1988) sugerem ser este alto gravimétrico a resposta de
texto sedimentar no dado gravimétrico. intrusões densas na crosta inferior. Por seu turno, a Bacia do Solimões, na extremidade
A Bacia do Paraná se apresenta como um baixo gravimétrico em seu contorno ocidental da grande calha sedimentar amazônica, reflete-se na gravimetria regional de
geral, mas bipartido por um alto gravimétrico relativo na região de seu eixo, orien- maneira também singular: como um bem definido baixo em sua porção leste, junto ao
tado a SW-NE. Nessa região axial é onde ocorrem as maiores isópacas cumulativas limite com a Bacia do Amazonas, ao passo que sua porção oeste se encontra difusa na
das unidades sedimentares da bacia, as maiores espessuras dos magmatitos Serra grande área Bouguer positiva que domina todo o setor norocidental do país. Particula-
Geral e, segundo Assumpção et al. (2002), também as maiores espessuras crustais ridades de cada uma destas bacias serão comentadas a seguir.

360 361
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 17

implantação da bacia, no Ordoviciano terminal, até provavelmente o Carbonífero.


Cordani et al. (2009) destacaram que as zonas de cisalhamento no embasamento, tais
como o Lineamento Transbrasiliano, enquanto suturas da colagem brasiliana, foram
reativadas no Fanerozoico e induziram subsidência nas suas vizinhanças, localizando
depocentros para as diferentes sequências que preenchem a bacia. De fato, os mapas
de folhelhos devonianos com teores mais elevados de carbono orgânico apresenta-
dos por Rodrigues (1995) mostram as maiores isólitas na forma de calha alongada,
condicionada ao strike do Lineamento Transbrasiliano. Um segundo depocentro de-
voniano muito importante e também de geometria alongada, localizado na porção
centro-norte da sinéclise, provavelmente acomoda-se ao lineamento WNW-ESE que
materializa o contato do núcleo cratônico com a Faixa Gurupi.
Em 2012, a Bacia do Parnaíba foi alvo de uma campanha de aquisição de dados
sísmicos de reflexão com parâmetros bastante singulares (Daly et al., 2014, 2018).
Em traçado E-W, cruzando inteiramente a sinéclise e alcançando áreas marginais de
embasamento ao longo de um perfil com 1.430 km de extensão, a Global Geophy-
sical, sob contrato com a BP do Brasil, realizou levantamento de dados de sísmica
profunda com alcance de 20 s two-way-time, o que corresponde a cerca de 65 km de
imageamento vertical. Produziu-se, assim, um conjunto de informações com caracte-
rísticas até então inéditas no tocante às bacias cratônicas brasileiras.
Em grande parte, as informações desta linha sísmica profunda corroboram as
interpretações de Cordani et al. (1984, 2009) no tocante à estrutura do substrato sob
a Bacia do Parnaíba. Daly et al. (2014), que publicaram pioneiramente tais dados de
sísmica profunda, interpretaram 3 distintos domínios crustais delimitados por zonas
Figura 2: Arcabouço tectônico esquemático
parcial do Brasil com as principais desconti- 2.1 Bacia do Parnaíba de cisalhamento rúpteis/dúcteis: a) a oeste, o bloco Amazônia, com um abrupto limi-
nuidades, blocos cratônicos e faixas orogênicas A Bacia do Parnaíba, como descrita por Cordani et te oriental na zona de falha de Araguaína e, em parte, subjacente à Faixa Araguaia,
do embasamento relacionados à evolução das empurrada por sobre o flanco oriental do Cráton Amazônico durante a Orogenia
bacias paleozoicas. Crátons/blocos cratônicos: al. (1984, 2009), assenta sobre embasamento neofor-
AC: Amazônia Central, SL: São Luís, Pn: mado ou retrabalhado durante a Orogenia Brasiliana. Brasiliana; b) ao centro, o Bloco Parnaíba, que corresponde ao núcleo cratônico
Parnaíba, SF: São Francisco, RA: Rio Aporé, O trabalho de 1984 reconheceu um núcleo cratônico central de Cordani et al. (1984) e se estende por cerca de 500 km até a região do
em provável continuidade na faixa aflorante Lineamento Transbrasiliano; e c) a leste do Lineamento Transbrasiliano, a Província
da borda da bacia com a área do Gnaisse Oeste central em relação à geometria poligonal da bacia, bor-
de Goiás (GOG, 900-860 Ma, Hasui, 2012); dejado a oeste pela Faixa Araguaia de orientação N-S, Borborema. Tanto a zona de falha de Araguaína quanto o Lineamento Transbrasi-
Pa: Paranapanema, LA: Luís Alves. Faixas oro- a sudeste pelas faixas Rio Preto e Riacho do Pontal, liano cortariam a crosta inteira; a primeira com mergulho para leste, e o segundo
gênicas pré-brasilianas do Cráton Amazônico: exibindo atitude subvertical. Curiosamente, Daly et al. (2014) não consideraram a
M-I: Maroni-Itacaiúnas, V-T: Ventuari-Tapajós, orientadas SW-NE, e, em sua porção norte, pela Faixa
RN-J: Rio Negro-Juruena, R-SI: Rondonia- Gurupi, com strike NW-SE. Toda esta estruturação do Faixa Gurupi em seu mapa do embasamento.
na-San Ignácio. BP: Bacia dos Parecis. Dados embasamento sob a sinéclise do Parnaíba está posicio- Por sobre estes três blocos e as mencionadas descontinuidades que os delimitam,
do embasamento compilados de Cordani et sucedendo uma discordância regional subplanar, desenvolve-se a Bacia do Parnaíba
al. (2009) – Bacias do Amazonas e Solimões; nada, no sentido geotectônico, entre o Cráton Amazô-
Cordani et al. (2009) e Daly et al. (2014, 2018) nico, a oeste, e a Província Borborema, a leste. (figura 3). Para Daly et al. (2014), tal superfície de peneplanização, estabelecida no
– Bacia do Parnaíba; Milani e Ramos (1998) – O Lineamento Transbrasiliano (Schobbenhaus et al., Neoproterozoico/Eopaleozoico, representaria a culminação da complexa evolução
Bacia do Paraná. Eixo positivo gravimétrico da pré-cambriana do embasamento. A bacia tem geometria assimétrica, mais acidentada
Bacia do Amazonas do mapa em Bizzi e Vidotti 1975), de direção SW-NE, constitui estrutura primor-
(2003). Megacisalhamento do Solimões segun- dial na Bacia do Parnaíba (figura 2), interpretado como no seu flanco oeste e com suaves mergulhos junto à margem leste, estando sobre o
do Caputo e Soares (2016). Isópacas das bacias feição que delimita províncias do embasamento. Atra- Bloco Parnaíba a região com as maiores isópacas cumulativas de sedimentos.
de Pereira et al. (2012). Convém lembrar que A recorrência de eventos tectônicos fanerozoicos controlados por feições estru-
as sinéclises cratônicas ocupavam área muito vessa a área da bacia em sua região centro-sudeste e se
mais ampla durante sua história deposicional no projeta no sentido da atual margem continental equato- turais do embasamento pré-cambriano fica bem expressa na região da borda oeste
Paleozoico, assentadas sobre o paleocontinente rial brasileira. O lineamento foi considerado como ten- da bacia, como ilustrado na figura 3. Menzies et al. (2018) descrevem uma sucessão
Gondwana, sendo a atual geometria destas de discordâncias de caráter local quebrando o registro sedimentar naquela área, in-
bacias o resultado do contínuo recorte erosivo do estado ativo entre 600 e 500 Ma, truncando estru-
atuante desde o Mesozoico. Localização de turas mais antigas da história pré-cambriana – a sutura terpretadas como tendo origem em ativações sucessivas do conjunto de falhas de
outras ilustrações: A – B: figura 3; C – D:
entre as províncias. Na evolução tectonossedimentar da Araguaína durante a história de subsidência da sinéclise. Da mesma forma, na área
figura 4; E – F: figura 5; G – H: figura 7.
sinéclise, o lineamento afetou a sedimentação desde a do Lineamento Transbrasiliano, a recorrência de episódios de movimentação des-

362 363
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 17

2.2 Bacias do Solimões e Amazonas


Em conjunto, as bacias do Solimões e Amazonas recobrem uma área de litosfera
continental de mais de 1 milhão de quilômetros quadrados, inteiramente contidos
no Cráton Amazônico, de evolução pré-brasiliana. O conhecimento da geologia do
Pré-Cambriano dessa vasta região remota ainda é em escala regional e, fundamen-
talmente, de base geocronológica/geoquímica. São reconhecidos a norte e a sul das
bacias fanerozoicas os seguintes domínios geotectônicos (Cordani et al., 2009): a)
Província Amazônia Central, com dois blocos arqueanos – Xingu-Iricoumé e Paka-
raima; b) cinco faixas acrecionárias proterozoicas, formadas por sucessivos episódios
de convergência/colisão: Maroni-Itacaiúnas (2,25-2,05 Ga), Ventuari-Tapajós (2,0-
1,8 Ga), Rio Negro-Juruena (1,78-1,55 Ga), Rondoniana-San Ignácio (1,5-1,3 Ga) e
Figura 3: Seção geoló-
gica com a geometria, ta estrutura fundamental durante o Fanerozoico está documentada Sunsás-Aguapeí (1,1-1,0 Ga). Santos (2003), em trabalho de síntese regional, mostra
estruturação e preen- por diversos autores em estudos recentes (Santos et al., 2013; Arêas um desenho semelhante para o Cráton Amazônico, com dominância na orientação
chimento da Bacia do et al., 2013; Lima et al., 2012). Algumas destas reativações estão NW-SE para as várias províncias geológicas que o constituem, mas com nomenclatu-
Parnaíba e as províncias
de seu substrato pré- associadas às tensões da abertura do Atlântico Equatorial. Santos et ra própria. Esse autor interpreta diferentemente os eventos que lá se sucederam em
cambriano, desenhada a al. (2018) estudaram as reativações pós-silurianas do lineamento na termos de agrupamento dos litotipos e correspondentes idades e, consequentemente,
partir de interpretação porção sul da bacia e caracterizaram quatro eventos de localização o contexto tectônico que lhes deu origem.
de dado sísmico regional
(modificado de Daly et e cinemática diversas, que se sucederam entre o Permiano e o Neo- Cotejando-se tal arranjo de faixas geotectônicas pré-cambrianas orientadas a NN-
al., 2014, 2018). Linhas cretáceo. Igualmente interessante é o fato de que a seção cretácica W-SSE com o contorno geral E-W da grande sinéclise amazônica, não se evidencia de
verticais representam da bacia tem seu limite meridional de ocorrência aproximadamente imediato qualquer tipo de condicionamento da grande calha sedimentar fanerozoica
os poços utilizados para
controle estratigráfico da coincidente com o traçado da sutura entre a Faixa Gurupi e o Bloco ao seu substrato. Com cerca de 2.200 km de comprimento, a bacia amazônica desen-
interpretação sísmica. A Parnaíba, indicando a influência também no Mesozoico deste limite volveu-se em direção praticamente ortogonal à estruturação do embasamento. A ob-
Zona de Falha Araguaína fundamental do substrato da bacia. servação de dados gravimétricos da Bacia do Amazonas (figura 1) destaca a presença
(ZFA) e a Zona de Falha
Transbrasiliana (ZFT) de- Hollanda et al. (2018) investigaram a proveniência sedimentar do de anomalias positivas ao longo do eixo da sinéclise, fato que é associado por Costa
limitam o núcleo cratôni- preenchimento da bacia por meio do estudo de grãos detríticos de (2002) a intrusivas profundas ligadas a um suposto rifte precursor da bacia. Desta-
co da bacia. Localização zircão, concluindo que as terras altas circundantes remanescentes da que também para a pronunciada deflexão em ângulo reto dessa feição gravimétrica
da seção: indicada como
A – B na figura 2. Orogenia Brasiliana forneceram os detritos siliciclásticos. Esses auto- positiva que acontece na região da Bacia do Amazonas coincidente aos domínios da
res apontam um sentido persistente de influxo sedimentar de SW para Província Amazônia Central do seu embasamento; nessa mesma área a bacia alcança
NE durante a evolução das diversas supersequências paleozoicas da suas maiores isópacas cumulativas de sedimentos.
Bacia do Parnaíba. Hollanda et al. (2014), com base na conspícua pre- Cordani et al. (1984) associaram os arcos regionais que compartimentam a gran-
sença de grãos de zircão com idades entre 1,0 e 0,92 Ga em todas as de sinéclise amazônica em diferentes sub-bacias a este padrão recorrente de faixas
unidades analisadas, idades estas que caracterizam os domínios central ou províncias geotectônicas orientadas a NNW-SSE. Os limites entre os diversos
e meridional da Província Borborema, sugerem uma área elevada a sul- domínios pré-cambrianos teriam sido, segundo estes autores, os controladores da
sudeste durante todo o Paleozoico. Os dois trabalhos de Hollanda et localização das feições positivas conhecidas como Arco de Iquitos, de Purus e de
al., acima citados, apontam para uma sistemática polaridade sedimen- Monte Alegre. Caputo e Soares (2016) detalharam a evolução destes arcos (figura
tar de sul para norte no preenchimento da Bacia do Parnaíba. 4) e consideram Purus como feição pré-fanerozoica, resultado da inversão de um
A Bacia do Parnaíba tem sido o palco de uma história de sucesso rifte proterozoico, muito embora a sedimentação e magmatismo pré-cambrianos que
exploratório em tempos recentes com a descoberta de 7 jazidas de gás ocorrem sob a bacia fanerozoica na região de Purus sejam associados por Santos
a partir de 2010 (Miranda et al., 2018). As acumulações, localizadas (2003) a um contexto tectônico pré-cambriano de intra-arco. Para Caputo e Soares
na porção centro-norte da sinéclise, encontram-se em armadilhas es- (2016), o Arco de Monte Alegre teria sido formado no Triássico e o Arco de Iquitos,
truturais capeadas por soleiras de diabásio e o conjunto de estruturas que ocorre separando a Bacia do Solimões do contexto subandino da Bacia do Acre,
petrolíferas exibe nítido controle por lineamentos NW-SE do embasa- seria uma intumescência flexural (flexural bulge) de idade cenozoica, relacionada à
mento da bacia (Ernani Porsche, ENEVA, comunicação pessoal, 2018). Orogenia Andina. Esses autores destacam ainda que o Arco (ou Domo) de Monte
Pela posição da área dessas acumulações com respeito ao arcabouço es- Alegre não chega a segmentar totalmente a calha paleozoica, comportando-se muito
trutural do embasamento da bacia, é muito provável que o trend NW- mais como uma zona periclinal de uma estrutura com caimento para sul e abran-
SE de campos de gás em questão coincida espacialmente, ou tenha gência local. O Arco de Carauari formou-se no Neotriássico e segmenta a Bacia do
forte relação, com a sutura entre a Faixa Gurupi e o Bloco Parnaíba. Solimões em duas sub-bacias: Jandiatuba, a oeste, e Juruá.

364 365
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 17

Figura 4: Seção geológica Figura 5: Seção geoló-


esquemática longitudi-
Separadas pelo Arco de Purus, as bacias do Solimões e do Ama- gica transversal à Bacia
nal à grande sinéclise zonas apresentam histórias de subsidência bastante diferenciadas, e é deformação intraplaca afetando embasamento e cobertura sedimen- do Solimões, baseada na
interpretação de dado
amazônica (modificada sob este prisma que se consegue aquilatar o significado e a influência tar, de movimentação dextral, orientada a N80ºE e desenvolvida no sísmico e ilustrando a
de Caputo e Soares,
2016). As províncias do
das províncias pré-cambrianas na sua evolução. A Bacia do Amazonas Mesozoico, tendo sido até agora identificada por mapeamentos de configuração geométrica
embasamento amazô- alcança 5.000 metros de espessura sedimentar e ígnea acumulada, ao sísmica desde os limites ocidentais da Sub-bacia de Jandiatuba até as do alto transpressivo
nico de Cordani et al. que compõe o Megaci-
passo que em Solimões o registro estratigráfico é incompleto e tem proximidades do arco de Purus (figura 2). salhamento do Solimões
(2009) são tentativamente
correlacionadas a cada apenas a metade da possança observada no Amazonas. Na visão de Com maior amplitude deformacional a oeste, o Megacisalhamen- (Caputo, 1991).Linhas
domínio em particular Cordani et al. (2009), o Arco de Purus originou-se no limite entre as to do Solimões se expressa como acentuado pop-up na área do Arco verticais representam
da bacia. A oeste, as uni- os poços utilizados para
províncias Rio Negro-Juruena e Ventuari-Tapajós. A nosso ver, este de Jutaí, onde o pacote paleozoico foi completamente erodido pela controle estratigráfico da
dades paleozoicas foram
envolvidas pela tectônica arco – uma ampla feição orientada a NNW-SSE com centenas de qui- ascensão da estrutura, fazendo com que a seção meso-cenozoica ve- seção. Há que se men-
compressional cenozoica lômetros de extensão em sua expressão positiva ao longo da calha nha jazer diretamente sobre o embasamento pré-cambriano (figura cionar ser este o melhor
andina no contexto da exemplo de uma faixa de
sedimentar paleozoica – deve corresponder integralmente à província 5). No sentido leste, a intensidade de deformação compressiva – ma- deformação intraplaca
Bacia do Acre, ao passo
que a terminação oriental pré-cambriana Ventuari-Tapajós (figura 4). Para oeste estão as faixas terializada no rejeito das inúmeras falhas de empurrão escalonadas até hoje identificado
da seção representa o Rio Negro-Juruena e Rondoniana-San Ignácio constituindo o assoalho que conformam o trend, algumas delas constituindo trapas petrolífe- nas bacias cratônicas
rifte mesozoico-cenozoico brasileiras. Localização
da Bacia do Solimões, ao passo que a Bacia do Amazonas se desenvol- ras – diminui progressivamente. da seção: indicada como
de Marajó. Arcos:
1: Iquitos, veu quase que inteiramente sobre os domínios da Província Amazônia O Megacisalhamento do Solimões exemplifica de maneira incon- E – F na figura 2.
2: Carauari, Central – o núcleo arqueano do Cráton Amazônico, mais preservado teste a manifestação de tectônica transcorrente intraplaca com envolvi-
3: Purus, de retrabalhamentos orogênicos posteriores (Santos, 2003). mento do embasamento e fruto da interação de dois campos de tensões
4: Monte Alegre e
5: Gurupá. Estarem suportadas por substratos de histórias pré-cambrianas dis- que se contrapunham durante o Mesozoico: aquele ligado ao regime
Localização da seção: tintas e, consequentemente, dotados de comportamentos termo-me- colisional da região andina e os esforços relacionados ao rifte sul-atlân-
indicada como C – D cânicos diferenciados, pode justificar as diferenças observadas entre tico. Esta notável zona de cisalhamento segmentou os domínios tectô-
na figura 2.
Solimões e Amazonas no tocante às suas histórias de subsidência e nicos NW-SE do Pré-Cambriano, aparentemente sem condicionar-se a
preenchimento sedimentar. Da mesma forma, se pode especular quan- direções de fraqueza preexistentes conhecidas. Convém observar, entre-
to à origem do pronunciado arco existente entre elas como estando tanto, a continuidade sugerida entre o Megacisalhamento do Solimões
relacionado ao comportamento isostático positivo de um domínio es- e as estruturas profundas indicadas pela gravimetria na vizinha Bacia do
pecífico do embasamento, a Faixa Ventuari-Tapajós. Albuquerque et Amazonas (figura 2), definindo assim um trend estrutural axial WSW-E-
al. (2017), em estudos de telessísmica, caracterizaram uma discreta NE ao longo da inteira calha sedimentar amazônica, sismogênico, e que
variação de espessura crustal relativa a oeste e leste do Arco de Purus, se apresenta como importante aspecto destas bacias a ser investigado.
fato que se associa aos acima descritos no entendimento da evolução
fanerozoica da calha sedimentar amazônica. 2.3 Bacia do Paraná
Se a orientação geral das bacias amazônicas não guarda aderência Após o trabalho de Cordani et al. (1984), algumas novas investi-
evidente à trama regional de seu embasamento – embora visivelmen- gações foram efetuadas sobre a questão do substrato pré-cambriano
te influenciada por ele em sua compartimentação, da mesma forma que constitui o assoalho da Bacia do Paraná. O conceito inicial de um
se comporta a principal faixa de estruturas petrolíferas conhecida na “núcleo cratônico” sob a região central da sinéclise, como aparece na
região. Situado no flanco sul da Bacia do Solimões, o Megacisalha- proposta original de 1984, também em Soares (1991) com o Bloco
mento do Solimões (Caputo e Silva, 1990) é uma clássica faixa de Paraná e que, em muitos aspectos, se vincula ao próprio conceito de

366 367
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 17

“bacia cratônica”, de certa maneira tem resistido aos novos dados geofísicos adquiri- Em abordagem eminentemente geocronológica/geoquímica, Santos et al. (2019)
dos. Todavia, a forma inicial postulada em 1984 – um domínio crustal de geometria procederam a ampla revisão bibliográfica relativa ao domínio de abrangência do
ovalada, orientado a N-S – e sua “integridade geotectônica” de bloco único são Cráton Río de la Plata e argumentam a favor da integração de blocos cratônicos
premissas que têm sido substituídas pela figura de um mosaico de blocos cratônicos menores em uma única entidade geotectônica, seguindo caminho inverso ao que
menores, circundados por faixas brasilianas (Milani, 1997; Juliá et al., 2008; Cor- tem sido indicado pelas investigações geofísicas realizadas em anos recentes para o
dani et al., 2009; figura 2). substrato da Bacia do Paraná (Juliá et al., 2008; Dragone et al., 2017). Segundo esta
Dragone et al. (2017) apresentaram reprocessamento de dados gravimétricos em interpretação, o “Cráton Río de la Plata extendido” englobaria os blocos crustais até
ampla área da América do Sul que, associado a estudos de tomografia sísmica, subsi- então individualizados de Luís Alves, Curitiba, Tebicuary e Paranapanema, totalizan-
diou a proposição de uma sutura litosférica brasiliana, por eles denominada de Wes- do área de 2.400.000 km2 no Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
tern Paraná suture. A feição coincide com um gradiente nos dados de gravimetria, Desde Almeida (1980), e reafirmado em Cordani et al. (1984, 2009), a ques-
que se desenvolve como um arco com cerca de 2.000 quilômetros de extensão emol- tão da “herança tectônica” na evolução da Bacia do Paraná é tema recorrente de
durando a porção ocidental da Bacia do Paraná. Os autores consideram como impor- pesquisas. Compreender a influência de elementos tectônicos preexistentes no
tantes argumentos a favor dessa interpretação a existência de granitos sin-tectônicos desenvolvimento tectonossedimentar fanerozoico da sinéclise passa por discri-
neoproterozoicos-eocambrianos naquela região, bem como os valores modelados da minar, no intrincado arcabouço estrutural da bacia (Zalán et al., 1990), quais
espessura e densidade média da crosta, contrastantes no domínio leste em relação elementos foram efetivamente controlados por estruturas pretéritas, quando da
ao oeste e assumidos desta forma nas simulações geofísicas a fim de honrar, nos mo- subsidência inicial da bacia.
delos geotectônicos apresentados, as leituras gravimétricas efetuadas no terreno. A O mapeamento geofísico regional ao nível do embasamento, realizado por Mar-
oeste da suposta sutura estariam amplos terrenos cratônicos, com espessura crustal ques et al. (1993), trouxe alguma luz sobre esta questão. Destaca-se no arcabouço
regional estimada em 32 km, ao passo que a leste, sob a Bacia do Paraná, os autores mapeado por dados sísmicos o absoluto predomínio de elementos estruturais orien-
interpretam um mosaico de blocos menores interpostos a faixas dobradas, possuindo tados SW-NE, muitos deles desenvolvidos na continuidade de faixas de unidades
o conjunto uma espessura crustal média de 42 km. Blocos crustais descontínuos, ao pré-cambrianas reconhecidas no flanco leste da Bacia do Paraná e aflorantes na por-
invés de um grande cráton, é o conceito corroborado pelas anomalias gravimétricas ção meridional da Província Mantiqueira (Almeida et al., 1977, 1981). Projetadas ao
de curto comprimento de onda na região da bacia, segundo Dragone et al. (2017). substrato da bacia, esses elementos geotectônicos se expressam em dados geofísicos
Em estudos geofísicos de telessísmica, Juliá et al. (2008) encontraram evidên- de magnetometria (Bizzi e Vidotti, 2003; figura 6) como anomalias de longo com-
cias de underplatings máficos localizados sob a Bacia do Paraná, coincidentes em primento de onda, características de fontes profundas – as faixas e blocos cratônicos
grande parte com a localização das suturas brasilianas da proposta de embasamen- brasilianos sob a bacia.
to fragmentado de Milani e Ramos (1998). Os supostos corpos máficos subcrustais Ao se analisar o mapa da figura 6, de imediato emerge a associação da trama pré-
de Juliá et al. (2008) admitem duas possíveis interpretações: a) relacionados à cambriana SW-NE ao arcabouço estrutural da Bacia do Paraná. Neste contexto, le-
história colisional do Brasiliano, ou b) associados a processos distensivos no Eopa- vantamentos de sísmica de reflexão executados no início dos anos 1990, planejados
leozoico, com provável relação à gênese do Basalto Três Lagoas (Milani, 2004), de para amostrar a região dos trends estruturais de Jacutinga e Garça Branca, lograram
idade neo-ordoviciana, o que aporta elementos à compreensão do primeiro ciclo identificar leads exploratórios de interesse. A posterior perfuração naquela região,
de subsidência da sinéclise (Milani, 1997). em 1996, culminaria com a descoberta de Barra Bonita (Campos et al., 1998). A
Ainda nessa questão do substrato da bacia, Hasui (2012), respaldando Manto- ocorrência de gás está em arenitos da porção basal do Grupo Itararé e é capeada por
vani e Brito Neves (2009), não considerou os dados sísmicos de Juliá et al. (2008) soleira de diabásio do evento Serra Geral.
e nem as informações geocronológicas das rochas do embasamento (Cordani et Uma segunda e importante direção estrutural constitui o arcabouço tectônico
al., 1984), optando pela gravimetria – um dado muito mais ambíguo nas interpre- da Bacia do Paraná, esta orientada a NW-SE (Zalán et al., 1990). Nos dados de
tações que proporciona – para argumentar em prol da existência de um grande magnetometria, o feixe NW-SE se expressa como anomalias de curto comprimento
e único Bloco Paranapanema sob a Bacia do Paraná. Pinto e Vidotti (2019), em de onda e elevada amplitude (figura 6). Na geologia regional da bacia, tais feições
modelagem de dados de métodos potenciais e integração com informações de sís- correspondem às intrusivas mesozoicas, grandes diques com centenas de quilômetros
mica, identificaram um Bloco Paranapanema com dimensões bem mais reduzidas de comprimento que se implantaram utilizando o intenso faturamento associado à
relativamente a Mantovani e Brito Neves (2009), e bordejado por faixas móveis a ruptura do Gondwana. Os elementos de direção NW-SE correspondem a estruturas
leste, oeste e norte, mais em acordo com o desenho de Milani e Ramos (1998) e de transtrativas originadas para acomodar magnitudes diferenciais de deformação da
Cordani et al. (2009). Rocha et al. (2019), com tomografia de ondas P, também ar- Placa Sul-Americana em resposta à abertura oblíqua que caracteriza o segmento me-
gumentam a favor de um Bloco Paranapanema mas modificado em seus limites NE, ridional do rifte sul-atlântico (Heine et al., 2013).
onde o substrato cratônico da bacia, segundo estes autores, teria sido afetado pelo A deformação intraplaca fanerozoica ao longo de elementos geotectônicos anti-
magmatismo intraplaca do Cretáceo. De toda a sorte, a discussão das entranhas da gos pode ser também observada na região do Lineamento Transbrasiliano, que cru-
Bacia do Paraná parece não estar encerrada. za a Bacia do Paraná em sua porção setentrional (figura 2). Naquela região, Curto

368 369
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 17

Figura 6: Mapa de
anomalias magneto-
métricas da Bacia do
Paraná. Campo total
reduzido do Interna-
tional Geomagnetic
Reference Field –
IGRF (Bizzi e Vidotti,
2003), onde se visua-
lizam as bandas largas
SW-NE – resposta do
embasamento – e as
anomalias estreitas
NW-SE – diques me-
sozoicos. As principais
feições estruturais ao
nível do embasamen-
to da bacia (linhas
pretas) definidas com
base em dados sísmi- Figura 7: Modelo tectôni-
cos de reflexão por nas de metros de espessura total (Costa et al., 1975); ii) a presença de co baseado em magneto-
Marques et al. (1993, basaltos eojurássicos em contato com sedimentitos eólicos associados metria e gravimetria para
in Milani, 2004) a zona de influência do
por Pinto Filho et al. (1977) às unidades Serra Geral e Botucatu; iii) Lineamento Transbrasilia-
acomodam-se às faixas
SW-NE de seu subs- interpretações de dados de métodos potenciais de caráter regional que no, região norte da Bacia
trato pré-cambriano. sugeriam depocentros com espessuras sedimentares consideráveis; e do Paraná (modificado de
J: Lineamento Jacutin- Curto, 2015). Observar os
iv) a presença de lineamentos geofísicos que auspiciavam interessan- depocentros da seção fane-
ga; GB: Lineamento
Garça Branca. tes possibilidades de estruturação (Siqueira, 1989; Siqueira e Teixeira, rozoica, que se associam
1993). Além disso, a existência de seeps de gás em algumas localidades a reativações transtrativas
das grandes descontinuida-
no contexto de Parecis compunha o argumento definitivo a uma cam- des do substrato da sinécli-
panha de prospecção naquela bacia, e acabaram por estimular investi- se. ZFGC: Zona de Falha
mentos exploratórios por parte da Petrobras. de General Carneiro; FB:
Falha de Baliza, e ZFSN:
(2015) utilizou geofísica e geologia de campo e caracterizou ramificações N60ºE e Após alguns levantamentos de dados sísmicos no início dos anos Zona de Falha de Serra
N70ºE associadas à orientação geral N30ºE do lineamento. Essa autora interpreta o 1990, dois poços foram perfurados e as dúvidas sobre a posição em Negra, são ramificações do
Lineamento Transbrasiliano como importante limite crustal durante o Pré-Cambria- que se insere a maior parte das rochas sedimentares de Parecis no es- Lineamento Transbrasilia-
no, de cinemática transcor-
no, marcando a fase final da Orogenia Brasiliana em seu domínio de ocorrência. Du- quema cronoestratigráfico global foi definitivamente dirimida. O poço rente dextral. Localização
rante a evolução da Bacia do Paraná, zonas de falha associadas ao lineamento prin- Fazenda Itamarati, finalizado numa profundidade em torno dos 2.300 da seção: indicada como
cipal exibem movimentações verticais e oblíquas observadas tanto no embasamento G – H na figura 2.
metros, revelou uma rocha gabroide no intervalo 828-1.107 m que
quanto em depósitos sedimentares da bacia (figura 7). Para essa autora, a reativação foi, a princípio, relacionada aos magmatitos Serra Geral. Entretanto,
fanerozoica ocorreu em dois períodos: no Ordoviciano-Siluriano, quando cria es- a datação K/Ar em plagioclásios realizada no ano de 1993 pela equipe
paço para acomodar as unidades basais mais antigas da sinéclise, segundo calhas do Professor Cordani no Laboratório de Geocronologia da USP reve-
transtensionais SW-NE; e no Mesozoico, rompendo as unidades paleozoicas da bacia lou idade de 1,163 Ga. No ano seguinte, nova datação desta rocha,
e permitindo o alojamento das rochas magmáticas Serra Geral (Cañón-Tapia, 2017). agora em Berkeley, EUA, e utilizando a técnica Ar/Ar em plagioclásios,
resultou 1,084 Ga. Além da idade mesoproterozoica, esta rocha ígnea
2.4 Bacia dos Parecis: proterozoica ou paleozoica? foi testemunhada conjuntamente a pelitos sericíticos de trama xistosa,
A Bacia dos Parecis, posicionada geograficamente entre a Bacia do Paraná e a o que afastava a possibilidade de se tratar de material litológico corre-
Bacia do Solimões (figura 2), foi tema de acaloradas discussões no âmbito explo- lacionável ao das sequências paleozoicas das bacias brasileiras.
ratório a partir de meados dos anos 1980. Na bibliografia pertinente, a bacia era Uma segunda perfuração, agora em Salto Magessi – esta bem mais
reconhecida como região de sequências sedimentares proterozoicas capeadas pelas profunda – revelou cerca de 5.800 metros de rochas sedimentares de
camadas cretácicas continentais que compõem a “chapada”. Entretanto, alguns fatos constituição variada (arenitos, siltitos, pelitos, carbonatos), fato que
induziam a uma correlação com a vizinha Bacia do Paraná: i) a existência de alguns continuava a estimular algumas vertentes exploratórias. Registros
afloramentos de sedimentos devonianos fossilíferos equivalentes aos das formações de perfis desse poço também serviam como argumento positivo pela
Furnas e Ponta Grossa na extremidade sudeste da área, que totalizam poucas deze- aparente similaridade geofísica à assinatura de unidades estratigráfi-

370 371
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 17

cas bem conhecidas em outras bacias, o que ainda alimentava em alguns técnicos
a expectativa de serem paleozoicas as camadas ali perfuradas. Entretanto, a total
inexistência de conteúdo microfossilífero na espessa seção de Salto Magessi, o que
não acontece em intervalos paleozoicos – geralmente férteis para a Palinologia – e o
reconhecimento em testemunhos de padrões de deformação por dobramento, que
associam essas sequências de subsuperfície àquelas aflorantes na vizinha Faixa Para-
guai (Vasconcelos et al., 2014), corroboraram o diagnóstico definitivo para o enqua-
dramento das unidades pré-mesozoicas de Parecis no Eon Proterozoico.

3. Bacias da Margem Continental

A evolução geotectônica do Atlântico Sul teve início como extenso sistema de rif-
tes intracontinentais e magmatismo que fragmentaram o Gondwana Ocidental a par-
tir do Neojurássico, individualizando assim as placas Africana e Sul-Americana. Ao
longo da margem continental brasileira, a quebra aconteceu em marcado diacronis-
mo: profundos grábens bordejados por falhas normais acolheram sistemas lacustres
no Eocretáceo na região Nordeste (Série do Recôncavo, Viana et al., 1971), enquan-
to importantes eventos ígneos acompanhavam a ruptura litosférica e a sedimentação
continental no Sul-Sudeste (Dias et al., 1990). Durante o Aptiano, rearranjos na
cinemática das placas em separação promovem a ruptura transtrativa da Margem
Equatorial (Szatmari et al., 1987), e um segundo episódio de falhamentos normais
em diversos setores da Margem Leste (Blaich et al., 2008). A separação litosférica se
completaria com o rifte entre África e América do Sul no setor de Pernambuco-Paraí-
ba, no Mesoalbiano (Almeida et al., 2005). Na continuidade, as águas dos segmentos
Sul e Equatorial se integrariam num só Oceano Atlântico (Koutsoukos, 1992).
A propagação do rifte sul-atlântico ora se ajustou à trama estrutural preexisten-
te, ora truncou em ângulos variados as estruturas pré-cambrianas do embasamento Figura 8: Arcabouço tectônico esquemático
e construiu seu próprio caminho. Este comportamento diferenciado é função dos parcial do Brasil com as principais des-
vetores de movimento de separação das placas. A nível litosférico, a ruptura se dá litosfera. A conclusão central desses autores é que a trama continuidades, blocos cratônicos e faixas
brasilianas do embasamento com provável
ortogonalmente à direção de atuação dos esforços trativos, porém, em níveis crustais preexistente controla a geometria das estruturas do rifte relacionamento à evolução das bacias margi-
mais rasos, a reologia dos maciços rochosos e suas descontinuidades – em interação principalmente numa escala local e nos estágios mais pre- nais mesozoico-cenozoicas. Estruturação das
com as tensões atuantes – irá comandar a nucleação dos falhamentos, sua geometria coces da ruptura. O resultado em termos de geometria de áreas de embasamento a partir de Cordani et
al. (1984, 2009) e dos diversos autores em
e o sentido de mergulho de seus planos, interação entre blocos via falhas de trans- bacia rifte será uma combinação variável de padrões em Hasui et al. (2012). LT: Lineamento Trans-
ferência e demais aspectos cinemáticos das áreas de subsidência distensional, de tal parte herdados do embasamento e em parte neoformados. brasiliano. Crátons/blocos cratônicos: SL:
sorte que alguma obliquidade entre a orientação do evento distensivo e seus resulta- Alkmim (2004) discutiu o comportamento da litosfe- São Luís; Pn: Parnaíba; SF: São Francisco;
LA: Luíz Alves. Bacias da margem:
dos em termos de falhas e fraturas sempre pode ser esperada. ra continental quando submetida a esforços distensivos, 1: Pelotas; 2: Santos; 3: Campos; 4: Espírito
Foi assim que segmentos do rifte sul-atlântico acomodaram-se como um con- como é o caso do Rifte Sul-Atlântico. Para esse autor, a Santo/Mucuri; 5: Cumuruxatiba/Jequitinho-
junto de falhas normais desenvolvido sobre uma fábrica estrutural antiga (figura arquitetura estrutural dos riftes é condicionada a priori nha; 6: Almada/Camamu; 7: Jacuípe;
8: Sergipe-Alagoas; 9: Pernambuco-Paraíba;
8). A existência de zonas transversais, com trama de fraquezas posicionada oblí- pela natureza da região sob ruptura: crátons localizam a 10: Potiguar; 11: Ceará; 12: Barreirinhas;
qua ou perpendicularmente ao “rifte propagante”, criou complicações locais ao deformação em poucas falhas normais de grande rejeito, 13: Pará-Maranhão; 14: Foz do Amazonas;
enquanto uma região de não-cráton tende a distribuir a 15: Gráben de Cassiporé. Riftes abortados:
avanço da fratura continental e estruturas complexas foram então originadas, 16: Marajó; 17: São Luis/Bragança-Viseu;
na forma de zonas de transferência ou de acomodação. Ficaram, ainda, alguns deformação em área ampla, com muitas falhas normais de 18: Recôncavo-Tucano-Jatobá. Localização
ramos abortados de rifte como registros da complexidade local do processo de rejeito relativamente menor. Estas constatações são muito de outras ilustrações: A – B: figura 11-1;
C – D: figura 11-2; E – F: figura 12; G – H:
ruptura do continente. bem exemplificadas pela bacia do Recôncavo-Tucano-Ja- figura 13; I – J: figura 15; K – L: figura 16.
Manatschal et al. (2014) avaliaram os controles da herança do embasamento tobá – cráton, comentada a seguir, e pelo rifte da Bacia de
no processo de rifteamento sob premissas térmicas, estruturais e de composição da Santos – não-cráton, discutido adiante.

372 373
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 17

3.1 Do Chuí ao Oiapoque:


a trajetória de ruptura do rifte sul-atlântico
No âmbito regional da geologia da América do Sul, o sul-sudeste brasileiro está
incluído na denominada Província Mantiqueira (Almeida et al., 1977, 1981). Trata-
se de contexto lito-estrutural caracterizado por elementos orientados dominante-
mente a SW-NE e fortemente impressos na trama pré-cambriana como proeminentes
zonas de falha e suturas, sendo este o padrão observável desde os domínios mais me-
ridionais da província, na fronteira com o Uruguai, até aproximadamente a latitude
22º S, já no território do Estado do Rio de Janeiro. Em terras fluminenses o trend
regional das estruturas pré-cambrianas costeiras reorienta-se, assumindo o rumo N-S
e assim prossegue até alcançar os 13º S, em Salvador, no Estado da Bahia (figura 8).
A partir dos limites com o Uruguai, a margem continental brasileira, em seu
trecho no território gaúcho, orienta-se segundo a estruturação do Cinturão Dom
Feliciano (Philipp et al., 2016), faixa orogênica brasiliana orientada a N20º-30ºE
e originalmente interposta aos crátons do Río de la Plata e do Kalahari. O Batólito
de Pelotas é outro domínio expressivo da geologia do RS, representando a raiz de
um arco magmático neoproterozoico no contexto do Cinturão Dom Feliciano.
Zonas de cisalhamento dúcteis e rúpteis SW-NE segmentam a região, visíveis na
faixa de afloramentos no Escudo Sul-Riograndense, e pode-se admitir a existência
de outras descontinuidades de mesma natureza ocorrendo mais a leste, em áreas
do assoalho da porção offshore da Bacia de Pelotas, reaproveitadas no Cretáceo na
forma de falhas normais e configurando este setor da margem brasileira como pla-
Figura 9: Diagrama taforma homoclinal basculada para sudeste. Em sua porção norte, região de Torres
isométrico mostrando o Milani e Davison (1988) ilustraram os fatos da “dinâmica rifte”
relacionamento dos prin- para o conjunto de bacias do Recôncavo-Tucano-Jatobá (figura 9), um e Terraço do Rio Grande – seu domínio de subsidência menos pronunciada – as
cipais falhamentos do rifte segmento abortado da margem continental brasileira que, pela sua sequências meso-cenozoicas da Bacia de Pelotas apoiam-se em unidades da Bacia
Recôncavo-Tucano-Jatobá
com a trama estrutural do especial condição aflorante e por dispor de um abundante banco de do Paraná, posto que nesta área as unidades paleozoicas desenvolviam-se continua-
embasamento (modificado informações geológico-geofísicas, favorece observação direta e análise mente entre América do Sul e África na configuração pré-ruptura do Gondwana, e
de Milani e Davison, 1988). em superfície e subsuperfície e pode ser utilizado como referência para agora jazem capturadas sob o rifte sul-atlântico.
Províncias pré-cambrianas
de Cordani et al. (1984). os aspectos tectonossedimentares do Rifte Sul-Atlântico hoje inacessí- As faixas aflorantes adjacentes à porção sul da Bacia de Santos representam
LP: Lineamento veis, situados nas áreas submersas da margem. os principais domínios lito-estruturais da faixa costeira do território catarinense
de Pernambuco. e incluem os granitoides do Cinturão Dom Feliciano, o Complexo Metamórfico
FIb: Falha de Ibimirim.
Na figura 9, pode-se perceber a Falha de Ibimirim – limite seten-
AVB: Arco do Vaza-Barris. trional do rifte, no flanco norte da Bacia de Jatobá (J) – ajustada às Brusque (Silva e Dias, 1981) e os granulitos do Complexo de Santa Catarina
FIt: Falha de Itaporanga. antigas zonas de cisalhamento dúcteis do maciço Pernambuco-Alagoas, (Hartmann et al., 1979). Estas unidades se arranjam em bandas orientadas a SW-
FRI: Falha do Rio Itapicuru. NE e se projetam sob as bacias offshore, onde são interrompidas pelo trend geral
AA: Alto de Aporá.
ao passo que a principal falha normal no Tucano Norte (TN), na sua
FMC: Falha Mata-Catu. borda ocidental e orientada a N-S, trunca quase ortogonalmente a trama N-S das falhas da margem.
AS: Alto de Salvador. estrutural da Faixa de Dobramentos Sergipana. Tucano Central (TC), O segmento central da Província Mantiqueira, abrangendo as faixas costeiras dos
Sul (TS) e Recôncavo (R) ajustam-se ao fabric do Cinturão Granulítico estados do Paraná e sul de São Paulo, é representado pelos domínios Apiaí, Curitiba, São
Atlântico (Cordani et al., 1984), em seus dois ramos: o N-S a oeste das Roque e Embu (Heilbron et al., 2004). A região é estruturada por extensas zonas de cisa-
bacias (Bloco de Serrinha) e o SW-NE configurando os limites orientais lhamento dextrais, tais como Lancinha e Caucaia – Rio Jaguari, orientadas a WSW-ENE.
dos grábens, na região do Alto de Salvador e Alto de Aporá. Quebrando A Faixa Ribeira desenvolve-se na continuidade a NE desses elementos e é a entidade
a continuidade do sistema de rifte surgem zonas de transferência a NW- geotectônica dominante no SE brasileiro, desenvolvendo-se por cerca de 1.400 km ao
SE, acomodando magnitudes diferenciais do processo distensivo: Arco longo das terras marginais às bacias atlânticas. Constitui complexo cinturão orogênico
do Vaza-Barris entre os segmentos de Tucano Norte e Central, condicio- desenvolvido à margem do suposto Bloco Paranapanema, então já unido à paleo-placa
nado ao limite entre o Cráton do São Francisco e a Faixa Sergipana ao São Francisco, e que tem sua origem ligada a processos de convergência oblíqua e colisão
longo da Falha de Itaporanga; Falha do Rio Itapicuru separando Tucano durante o Neoproterozoico-Cambriano (Heilbron et al., 1998).
Central de Tucano Sul e a Falha de Mata-Catu compartimentando a A deformação principal na Faixa Ribeira caracteriza-se por feições de encurta-
Bacia do Recôncavo (Destro et al., 2003). mento frontal (falhas de empurrão) e zonas de cisalhamento oblíquo dextrais. A du-

374 375
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 17

Figura 11: Seções geológicas


baseadas na interpretação de
tem sua continuidade sugerida pelos dados de métodos potenciais dados sísmicos, representativas
da porção “proximal” (1) e
(Zalán e Oliveira, 2005). Esse domínio tectônico inclui importante “distal” (2) da Bacia de Santos.
fase de deformação pós-colisional, datada de 510-480 Ma e marcada Modificadas, respectivamen-
pelo desenvolvimento de dois conjuntos de zonas de cisalhamento: te, de Mohriak (2003) e de
Gomes et al. (2012). Observar
o primeiro é longitudinal ao cinturão, de caráter dúctil-rúptil, asso- a deformação distensiva dis-
ciado a dobras, e o segundo é rúptil, na forma de falhamentos sub- tribuída na forma de inúmeras
verticais transtrativos NW-SE de movimentação dextral, orientados falhas normais, presentes em
Figura 10: Traçado dos toda a extensão do corte trans-
transversalmente ao trend geral do cinturão orogênico e associados a versal à bacia. A falha normal
contatos geológicos
da área emersa (Mapa
pla vergência das estruturas do cinturão, para NW e para SE, confere magmatismo granítico cálcio-alcalino (Heilbron et al., 2004). de grande rejeito (F, cerca de
Geológico da Província simetria ao conjunto e lhe empresta a geometria de estrutura-em-flor Esta característica de compartimentação em blocos alongados e 3 km de deslocamento) que
Mantiqueira – CPRM, aparece na seção (1), por seu
em escala crustal (Cobbold et al., 2001), centrada na zona de cisalha- dispostos segundo o strike da faixa, típica para o Cinturão Ribeira caráter singular ao longo deste
2001) e esboço das
anomalias magnetomé- mento dúctil vertical de Além Paraíba (Campanha, 1981). A zona de e revelada em trabalhos de mapeamento de superfície e geologia re- corte pode representar a lo-
tricas (segunda deriva- Além Paraíba tem grande expressão regional, estendendo-se do Estado gional, deve prolongar-se ao Platô de São Paulo, em áreas de emba- calização de uma descontinui-
da, reduzidas ao polo) dade importante nos terrenos
de São Paulo até a porção norte do Estado do Rio de Janeiro. Estrutu- samento pré-cambriano sotopostas às bacias marginais do sul-sudes- proterozoicos do substrato da
na plataforma rasa da
porção central da Bacia ra-se em faixas miloníticas com trama planar bem desenvolvida, gera- te. As bacias offshore foram desenvolvidas inteiramente sobre crosta bacia, tal qual as grandes zonas
de Santos (modificado de da sob esforços transpressivos e que alçam em seu núcleo granulitos e continental estirada (Kowsmann et al., 1982; Meisling et al., 2001), transcorrentes que caracteri-
Zalán e Oliveira, 2005). zam a Faixa Ribeira na zona
gnaisses formados em níveis crustais profundos. que adentra o mar por até cerca de 400 km e, em seu limite externo, emersa adjacente à bacia. Na
Observa-se uma total
concordância do trend O Orógeno Ribeira foi edificado por recorrente aglutinação e justapõe-se às rochas de natureza basáltica da crosta oceânica. Os área distal da bacia desenvolve-
estrutural SW-NE nos imbricação de escamas crustais ou terrenos entre 580 e 520 Ma, li- dados de métodos potenciais adquiridos nas bacias sugerem a con- se o Alto Externo de Santos,
dois contextos, sugestivo sobre o qual depositaram-se
mitados entre si por extensas zonas de cisalhamento oblíquas ou por tinuidade do padrão estrutural orientado a SW-NE presente na área as rochas da seção “pré-sal”.
de uma continuidade
da província geológica falhas de empurrão (Heilbron et al., 2004). Alguns desses limites emersa, expresso muito fortemente na textura dos mapas gravimétri- Em algumas áreas da Bacia de
Ribeira por sob a Bacia entre diferentes terrenos têm sido interpretados como suturas por cos e magnetométricos das áreas offshore do sul-sudeste (figura 10). Santos é interpretada geofisica-
de Santos. A E-SE da mente a ocorrência de rochas
alguns autores (Almeida et al., 2005a; Heilbron et al., 2000), con- O estilo do rifte na Bacia de Santos (figura 11) exemplifica o caso de sedimentares correlatas às
charneira cretácea as
fontes estão muito mais figurando fundamentais descontinuidades em escala litosférica. O não-cráton de Alkmim (2004), com muitas falhas normais de relativo sequências da Bacia do Paraná,
profundas e as anomalias Terreno Cabo Frio é interpretado como tendo sido o último deles a pequeno rejeito em ampla área acomodando a ruptura distensiva. sobrepostas ao embasamento
magnetométricas tornam- neoproterozoico (não repre-
aglutinar-se ao Gondwana, no Cambriano-Ordoviciano, aflorando Stanton et al. (2018) atribuem à estruturação pretérita da Faixa sentadas aqui). Localização das
se bastante mais difusas.
junto ao litoral do Estado do Rio de Janeiro e prolongando-se às Ribeira e de seu Domínio Cabo Frio a resposta particular da crosta seções: indicadas como A – B e
ilhas do mar fluminense (Schmitt, 2000; Schmitt et al., 2004). Cer- nesta região ao processo distensivo, com importante controle dessa C – D na figura 8.
tamente compõe parte do substrato da Bacia de Campos, sob a qual textura sobre a propagação do rifte. Recentemente, um poço perfu-

376 377
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 17

rado na Bacia de Santos cerca de 100 km a SW de Cabo Frio – a coleta mais distan-
te da costa já realizada na margem brasileira pela indústria petrolífera – amostrou
rochas do embasamento cristalino a 4.343 metros de profundidade. Foi constatado
ortognaisse cálcio-alcalino com idades U-Pb de cristalização no núcleo de zircão
em 1,98-1,96 Ga e bordas com 500 Ma (Carmo et al., 2017); esta rocha e idades
têm afinidade aos litotipos do Terreno Cabo Frio da região emersa no Brasil, bem
como aos da faixa angolana correlata a esta, indicando a grande extensão desse
bloco no sentido offshore de Santos e Campos.
Na região central da Bacia de Santos, em águas ultra-profundas, desponta o
proeminente alto externo (Gomes et al., 2012), onde acumularam-se as sequên-
cias sedimentares que hoje constituem a prolífica província petrolífera do Pré-Sal.
Estruturada como horst ao tempo do Andar Aptiano (figura 11), controlado pelo
conjunto de falhas normais SW-NE herdadas da trama da Faixa Ribeira, esta área
elevada propiciou as condições paleoambientais de águas rasas e quentes necessá-
Figura 12: Seção geológica
rias ao desenvolvimento de uma grande diversidade de fácies carbonáticas. Com até encontrarem um importante elemento tectônico NW-SE (Pedreira, esquemática da Bacia
centenas de metros de espessura, estes reservatórios excepcionais – trapeados pelo 1999) definidor do limite entre o orógeno brasiliano e o Cráton do de Campos (modificada
espesso pacote evaporítico – acumulam enormes volumes de hidrocarbonetos ge- São Francisco na região meridional da Bahia (figura 8). Ferreira et al. de Dias et al., 1990).
Domínios do embasa-
rados pelos folhelhos lacustres a eles sotopostos. (2009) elegeram a Zona de Cisalhamento de Itaju do Colônia, SW-NE, mento neoproterozoico
No que se refere à trama do embasamento, a Bacia de Campos ocupa posição como sendo o limite entre a Faixa Araçuaí e o Cráton do São Francisco tentativamente inferi-
particular, situando-se sobre um domínio oroclinal, área de maior complexidade e a projetaram no sentido offshore para ali marcar o limite entre as dos a partir de Zalán e
Oliveira (2005). Observar
estrutural, onde as estruturas orientadas a SW-NE que caracterizam a Faixa Ribeira bacias de Almada e Camamu. Segundo Antonio Carlos Pedrosa-Soares a geometria horst-graben
passam às de direção N-S, dominantes na Faixa Araçuaí (Teixeira-Silva, 2010). Este (comunicação pessoal, 2019), o suposto limite SW-NE entre a faixa e que caracteriza o contexto
controle geotectônico fundamental, em que o padrão de estruturas impresso no Pré- o cráton não encontra suporte em observações de campo, de tal sorte tectono-deposicional da
seção rifte. Localização da
Cambriano manifestou-se durante a evolução tectonossedimentar das bacias costeiras que tanto Almada quanto Camamu jazem sobre um substrato consti- seção: indicada como
mesozoico-cenozoicas, teve importantes implicações na história tectonossedimentar tuído por rochas do Cráton do São Francisco, na porção sul da Ponte E – F na figura 8.
da Bacia de Campos definindo depocentros do rifte em que se acumulou a Formação Cratônica Bahia-Gabão (Pedrosa-Soares et al., 2008), trecho de cone-
Lagoa Feia, com os folhelhos geradores dos óleos da bacia (figura 12). A estruturação xão intercontinental entre estes elementos na configuração geológica
em horsts e grábens das camadas basais da Bacia de Campos, em particular nos basal- pré-ruptura gondwânica.
tos da Formação Cabiúnas e refletida nas coquinas da Formação Lagoa Feia, define Para a Bacia de Jequitinhonha, Loureiro et al. (2018) realizaram
trapas petrolíferas em alguns setores da bacia. Até mesmo durante o Neocretáceo e estudos conjuntos de sísmica de refração e reflexão multicanal de alta
o Cenozoico, a trama antiga e profunda foi reativada, trazendo magmas à superfície resolução, produzindo um imageamento até então inédito das cros-
associados à implantação de bacias intracontinentais no contexto do sistema de riftes tas continental e transicional naquela região. Para esses autores, em
do Sudeste do Brasil (Riccomini et al., 2004; Zalán e Oliveira, 2005). Jequitinhonha o processo de estiramento relacionado à evolução de
A evolução do relevo adjacente ao rifte e da paleodrenagem em toda essa região rifte para margem oceânica conduziu a um adelgaçamento extremo
cumpriu papel fundamental na natureza do preenchimento sedimentar da margem da crosta superior com exumação da crosta inferior/média a partir
continental. Com aporte predominante na Bacia de Santos durante o Cretáceo, se- do limite externo da faixa de ocorrência dos evaporitos aptianos (fi-
guido do alçamento da Serra do Mar e instalação do sistema do Rio Paraíba do Sul, gura 13). As observações da crosta inferior/média nos dados sísmicos
no Cretáceo terminal (Ribeiro et al., 2011), a sedimentação durante o Cenozoico mostram feições em boudin que foram interpretadas como devidas
toma o rumo da Bacia de Campos, onde colossais massas turbidíticas formaram os a creep ou cisalhamento daquela camada no sentido do oceano pro-
importantes reservatórios petrolíferos que lá produzem óleo e gás. fundo, tectonicamente induzido pelo processo de estiramento. Tal
A partir da Bacia de Campos para norte, a margem continental adentra os domí- comportamento “dúctil” parece ter sido favorecido pela anisotropia
nios do Orógeno Araçuaí (Pedrosa-Soares, 2007). Esta faixa, desenvolvida durante a mecânica do Orógeno Araçuaí, com fissilidade favoravelmente orien-
Orogenia Brasiliana em reentrância do Cráton do São Francisco, tem sua contraparte tada aos esforços distensivos do rifte.
na Placa Africana na Faixa Congo Ocidental. Com a ruptura do Gondwana, esta Seguindo a norte, já nos domínios do Cráton do São Francis-
unidade geotectônica foi capturada sob o rifte e projeta-se do continente ao offshore. co, complexa trama litoestrutural se desenvolve nos terrenos pré-
A Bacia do Espírito Santo, bem como Mucuri, Cumuruxatiba e Jequitinhonha as- cambrianos que bordejam as bacias de Almada e Camamu. Embora
sentam sobre terrenos submersos do Orógeno Araçuaí que se prolongam para norte, sem exibir integralmente os requisitos geométricos e geotectônicos

378 379
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 17

Figura 14: Esquema tectônico


evolutivo da Bacia de Sergipe
– Alagoas, modificado de Lana
(1990). (1) Estágio inicial de
ruptura do Gondwana nesta
área é atribuído a um binário
de cisalhamento transtrativo
sinistral que originou um
conjunto escalonado de falhas
normais (tension gashes) orien-
tadas a N-S, desvinculadas da
trama NW-SE do embasamento
(eixos de dobras e falhas de
empurrão da Faixa de Dobra-
mentos Sergipana); nos blocos
abatidos desenvolveram-se os
depocentros que acolheram a
Figura 13: Imagem de uma clássica “junção tríplice” (McKenzie e Morgan, 1969), a re- seção basal da sedimentação
sísmica interpretada, rifte. O Cráton do São Francis-
Bacia de Jequitinhonha, gião onde concorrem as bacias costeiras de Camamu (N-S), Jacuípe
co limitou a Sul o desenvolvi-
ilustrando o afinamento (N30ºE) e o rifte interior do Recôncavo-Tucano-Jatobá (N-S) repre- mento da bacia.
extremo e desapareci-
mento da crosta superior
senta contexto muito particular da margem continental brasileira em (2) Andar Aptiano: com o
que articulam-se diversos sistemas de lineamentos do fabric antigo e início do movimento divergen-
coincidente com a área te entre os recém-individuali-
do limite externo do sal encontram-se expressos no arcabouço de falhas normais e de zonas zados continentes africano e
aptiano. A partir deste
ponto ocorre exumação
de transferência do rifte. A partir da junção tectônica nas proximi- sul-americano, o rifte em Se-Al
dades de Salvador-BA, a margem assume o trend N30ºE até alcançar propaga-se agora em respos-
da crosta inferior/média. ta a uma distensão regional
Modificado de Loureiro o norte da Bacia de Alagoas, girando para N-S no “saliente oriental segundo a orientação NW-SE,
et al. (2018). Localiza-
ção da seção: indicada nordestino” de Pernambuco-Paraíba. no Pré-Cambriano como o contato entre a Faixa de Dobramentos definindo a “Charneira Aptia-
A evolução simultânea e bifurcada do processo de rifteamento na Sergipana e o Cráton do São Francisco e reativada no Cretáceo com na” (CA), elemento tectônico
como G – H na figura 8. focalizador da subsidência e
margem continental e na calha interior do Recôncavo-Tucano-Jatobá rejeito vertical pronunciado. caracterizado por pronuncia-
deve ser compreendida à luz de conceitos geodinâmicos que elucidem A Faixa Sergipana apresenta trama lito-estrutural orientada a NW- dos rejeitos verticais. Estava
de que forma o processo distensivo alcançou posições tão distantes SE, mas a propagação do rifte em Sergipe-Alagoas, mormente na por- assim estabelecida a orientação
definitiva SW-NE da ruptura
do eixo principal de propagação da abertura da margem. Milani et ção sergipana da bacia, desconsiderou esta facilidade natural – por sua continental naquele trecho
al. (1988) identificaram a Microplaca do Nordeste Brasileiro (figura orientação desfavorável – e originou sua própria direção de ruptura. da margem. CSF: Cráton do
São Francisco; FDS: Faixa de
8) como sendo o elemento de acomodação deste contexto particular: Lana (1990) discute os campos de tensões responsáveis pelo desenvol- Dobramentos Sergipana; ZFI:
enquanto individualizavam-se África e América do Sul, tal bloco crus- vimento da bacia; os mapas de isópacas das unidades mais inferiores Zona de Falha de Itaporanga.
tal – delimitado a oeste pelo Rifte Recôncavo – Tucano, a norte pela da seção rifte mostram geometria de depocentros N-S arranjados en
Bacia de Jatobá – Lineamento de Pernambuco e, a leste, pelo trecho da échelon ao longo da direção geral N30º-40ºE, uma configuração de
margem continental entre Salvador e Recife – rotacionou em sentido elementos estruturais que é indicativa de regime transcorrente sinistral
anti-horário e de maneira independente relativamente às duas placas entre as placas Africana e Sul-Americana naquele trecho da margem
continentais, induzindo assim o processo distensivo em sua retaguarda durante os estágios primordiais de rompimento. No Aptiano, um se-
e propiciando subsidência e a sedimentação da Série do Recôncavo gundo episódio importante de falhas normais desenvolve-se em Sergi-
também no rifte interior. Rearranjos geodinâmicos durante o Andar pe-Alagoas, agora com direção geral SW-NE, definindo então o strike
Aptiano levam ao “congelamento” da movimentação da microplaca regional da margem naquele trecho e assim prosseguindo até o Recen-
e o conjunto de grábens do Recôncavo-Tucano-Jatobá tem, então, sua te. Pinheiro et al. (2018), em estudos de reflexão sísmica, destacam a
história tectonossedimentar abortada. configuração de plataforma continental estreita e transição abrupta
Mas não cessou ali o desenvolvimento da margem continental; para a crosta oceânica defronte a Sergipe-Alagoas.
ela continuou a propagar-se para norte. A Bacia de Sergipe – Ala- Na região do Maciço Pernambuco – Alagoas, domínio de abran-
goas acomodou-se sobre o embasamento metassedimentar da Faixa gência do Orógeno Cariris Velhos (1,0 - 0,92 Ga, Santos et al., 2010)
de Dobramentos Sergipana em sua porção sul e sobre as rochas e que constitui a chamada Zona Transversal da Província Borborema,
granito-gnáissicas do Maciço Pernambuco – Alagoas na parte norte a trama é caracterizada por sistemas anastomosados de falhas trans-
(Cordani et al., 1984). O limite meridional da bacia coincide com o correntes dextrais E-W e sinistrais NE-SW em que se destacam os ex-
Zona de Falha de Itaporanga (figura 14), NW-SE, feição originada tensos lineamentos de Patos e de Pernambuco que a limitam, respec-

380 381
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 17

nados da margem orientados a E-W ou a NW-SE (figura 8). Matos (2000) destaca a
complexidade do mecanismo de rifteamento no ambiente de margem transforman-
te, controlado basicamente por tensões derivadas da movimentação lateral de placas
em ampla escala. A ruptura litosférica, nesse contexto, acontece de maneira mais
rápida do que no ambiente extensional clássico, como é a maior parte da margem
leste (Heine et al., 2013; Sutra e Manatschal, 2012). A ausência de extensa bacia
evaporítica no domínio equatorial indica invasão acelerada das águas marinhas, de
certo modo corroborando as premissas de ruptura litosférica mais rápida nesse con-
texto geotectônico particular.
Figura 15: Seção geo- Uma das maiores feições da geologia pré-cambriana do continente sul-americano
lógica esquemática da tivamente, a norte e a sul (figura 8). Cordani et al. (1984) já haviam
Bacia Potiguar emersa percebido o papel destes elementos tectônicos na compartimentação é o Lineamento Transbrasiliano, adrede comentado em suas reativações e efeitos
(modificada de Bertani
de Pernambuco-Paraíba, orientada a N-S, em diversas sub-bacias. Be- tectonossedimentares sobre a evolução das bacias paleozoicas do Parnaíba e do Pa-
et al., 1990). Províncias raná. No Mesozoico, esse elemento tectônico volta a destacar-se, agora induzindo
do embasamento de zerra et al. (2014) identificaram a reativação de estruturas do embasa-
Santos e Brito-Neves mento pré-cambriano nesta região durante vários momentos da histó- mudança no strike da margem continental equatorial na região da Bacia do Ceará.
(1984). Lineamentos
ria geológica, inclusive em tempos neógenos. Na região offshore da margem cearense, esse lineamento SW-NE, materializando a
de caráter regional projeção do limite oriental do Domínio Médio Coreaú e seu contato com o Maciço
reconhecidos no emba- A partir do extremo oriental nordestino, em Pernambuco-Paraíba,
samento aflorante a Sul até o limite oeste da Bacia de Barreirinhas, já na margem equatorial, há de Santa Quitéria da geologia emersa (Cordani et al., 1984), manifesta-se como o
da bacia, orientados a
sistemático truncamento – ortogonal ou oblíquo – do fabric pré-cam- elemento tectônico que delimita as sub-bacias de Mundaú – orientada a NW-SE – e
SW-NE e contidos no Icaraí, esta com strike geral E-W. Mais para oeste, faixas pré-cambrianas de trama
Domínio Rio Piranhas briano pelas estruturas do rifte mesozoico. Na Bacia Potiguar, em ex-
– um maciço gnáissico- ceção local a esta regra, o rifte Pendência (Neocomiano) acomodou-se regional SW-NE e aflorantes nos estados do Ceará e Piauí seguem sendo truncadas
migmatítico de elevada
aos lineamentos SW-NE da Província Borborema reconhecidos na bor- pelo rifte E-W da margem equatorial, até o limite ocidental da Bacia de Barreirinhas.
rigidez – condicionaram O Cráton de São Luís é outro importante elemento geotectônico da margem
a localização das falhas da sul da bacia (figura 15), os quais controlam as principais falhas nor-
normais de grande re- mais que definem os depocentros da seção rifte (Castro, 2011; Castro equatorial brasileira, cuja borda oriental define o limite entre as bacias costeiras
jeito (1 e 2) que limitam
et al., 2012). Os principais trends petrolíferos na porção emersa da Ba- de Barreirinhas e do Pará-Maranhão. Trata-se de domínio paleoproterozoico com
os depocentros da seção
rifte. Localização da cia Potiguar estabeleceram-se ao longo destas falhas normais principais vestígios arqueanos caracterizado por rochas granitoides e metavulcanossedimenta-
seção: indicada como I – (Bertani et al., 1990). O truncamento da trama pré-cambriana SW-NE res (Delgado et al., 2003) considerado como fragmento do Cráton Oeste Africano
J na figura 8. (Klein e Moura, 2008), do qual foi separado pela ruptura do Gondwana Ocidental.
dominaria a seguir, com o desenvolvimento progressivo da margem
equatorial em transtração segundo a orientação E-W (Szatmari et al., A S-SW, a Faixa Gurupi emoldura o Cráton São Luís, e a sutura entre ambos ma-
1987) a partir do Albo-Cenomaniano (Matos, 2000). terializa a Zona de Cisalhamento de Tentugal (Hasui et al., 1984; Hasui, 2012),
A margem equatorial brasileira configurou um limite transfor- orientada NW-SE. Adjacente e condicionado ao strike da zona de cisalhamento de
mante entre as placas Africana e Sul-Americana durante a evolução Tentugal desenvolveu-se o sistema de riftes cretáceos de São Luís – Bragança – Viseu
do Atlântico (Azevedo, 1991). No Aptiano, o Atlântico Central (entre – Ilha Nova (figura 16). Este conjunto de bacias interiores, desenvolvido em sucessão
a América do Norte e a África norocidental) já estava plenamente de- de blocos falhados, materializa o segundo braço abortado da margem continental
senvolvido (Manspeizer, 1988), enquanto o Atlântico Sul vivenciava brasileira, desenvolvido quando a ruptura continental propagante interage com o
seu break up, com os primeiros estágios de criação de crosta oceânica. segundo cráton ao longo de sua trajetória. São Luís – Bragança – Viseu – Ilha Nova
Tensões em escala de placa propeliam África e América do Sul em di- repetem o Recôncavo – Tucano – Jatobá em significado geotectônico.
vergência, porém ainda conectadas na região equatorial e no extremo A bacia costeira na região do Pará-Maranhão assenta inteiramente sobre o Cráton
oriental nordestino. Um evento relativamente curto de ruptura definiu São Luís (Soares et al., 2007) e conforma-se à orientação geral NW-SE até os confins
então a fase rifte do trecho equatorial, seguido por fases sucessivas de da Foz do Amazonas. Ali a margem continental bifurca-se e articula-se com a Bacia
estiramento crustal (Matos, 2000) em segmentos pull apart, enquanto de Marajó – outro braço abortado de rifte que adentra o continente por cerca de 400
nucleavam-se as grandes zonas transformantes E-W que constituem km – e o ramo principal segue ao Amapá no rumo N-NW, conforme a trama do em-
o arcabouço tectônico do Atlântico Equatorial (figura 8). Um último basamento na área mais setentrional da margem brasileira. Nesta região do extremo
espasmo de ruptura culminou por individualizar definitivamente as norte do país o Escudo das Guianas serviu de substrato às bacias mesozoicas: trata-se
duas placas no Albiano, quando enfim rompeu-se o Gondwana em da Província Maroni – Itacaiúnas, um contexto de terrenos granito-greenstone com
Pernambuco-Paraíba / Camarões. presença localizada do Arqueano e predomínio de idades paleoproterozoicas (Tassi-
As bacias sedimentares equatoriais – Potiguar, Ceará, Barreirinhas, nari e Macambira, 2004). Nesse contexto implantou-se o Gráben de Cassiporé, de
Pará-Maranhão e Foz do Amazonas – desenvolvem segmentos alter- direção NNW-SSE, na região costeira de águas rasas do Estado do Amapá (figura 8).

382 383
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 17

fanerozoica destas áreas indica que uma integridade monolítica de tais blocos cratô-
nicos não pode ser assumida. Um mosaico de blocos crustais bordejados por zonas
de fraqueza (suturas, grandes feições estruturais, lineamentos, faixas orogênicas e
corredores de deformação) no Paraná e no Parnaíba parece ser a configuração que
melhor descreve o embasamento em que estas sinéclises se apoiaram, com papel
destacado para as descontinuidades desse substrato como elementos de influência
na sua evolução tectonossedimentar. Para as bacias do Amazonas e Solimões, com
histórias de subsidência contrastantes, a presença de domínios pré-cambrianos dis-
tintos constituindo o substrato de cada uma delas parece explicar essa questão. O
cenário pré-fanerozoico de faixas NW-SE na região amazônica também aponta para
embasamento fragmentado. Porém, este desenho está baseado muito fortemente em
Figura 16: Seção geológica dados geocronológicos e geoquímicos, de sorte que uma definição geotectônica mais
esquemática ilustrando o A Bacia de Marajó conforma-se em crescente orientado a NW-SE, segura do embasamento da grande sinéclise amazônica carece ainda de maior supor-
relacionamento que guar- com a concavidade voltada para NE, abrangendo as sub-bacias de Me- te em dados de sísmica profunda.
dam as bacias de Marajó xiana, Limoeiro e Cametá. Consiste em um profundo rifte com até 11
(Sub-bacia de Cametá) e
Bragança-Viseu com as mil metros de sedimentos acomodados por grandes falhas normais de 4.2 Sobre o mecanismo de subsidência
províncias geotectônicas geometria lístrica. Esta fossa tectônica implantou-se a partir da área de inicial das bacias paleozoicas
de seu embasamento junção da Faixa Araguaia com a Faixa Gurupi, localizada sob a fossa
pré-cambriano. As prin- As descontinuidades antigas do substrato, reativadas sob campos de tensões fane-
cipais falhas normais do de Cametá (figura 16), seguindo para NW (Limoeiro e Mexiana) ao rozoicos, parecem haver exercido papel decisivo na localização dos depocentros que
arcabouço destas bacias longo do domínio geotectônico que configura o limite entre os crá- acolheram as unidades basais nestas bacias. O Lineamento Transbrasiliano que, ao
acomodaram-se aos trends tons Amazônico e São Luís (Zalán e Matsuda, 2007). A Faixa Araguaia
estruturais do substrato. longo de sua trajetória, cruza as sinéclises do Paraná e do Parnaíba, deixou registrada
ZCT: Zona de Cisalha- prossegue no domínio costeiro, onde compõe o substrato da Bacia da sua interferência na história tectonossedimentar destas bacias, definindo calhas de
mento Tentugal. Locali- Foz do Amazonas e encontra sua contraparte africana na Faixa Roke- geometria alongada em que se acumularam localmente os sedimentos das suas uni-
zação da seção: indicada lides (Figueiredo et al., 2007).
como K – L na figura 8. dades mais antigas. Esse foi processo recorrente ao longo da história dessas bacias.
Um enxame de diques NNW-SSE corta o Escudo das Guianas no Embora a subsidência inicial possa ter sido controlada por estruturas do embasa-
Estado do Amapá, marcando os primeiros eventos de ruptura con- mento reativadas adicionadas a fenômenos flexurais em ampla escala, é interessante
tinental do Pangea. Estas rochas intrusivas do Triássico aflorantes constatar que as máximas isópacas totais cumulativas dos pacotes sedimentares +
no Amapá e os basaltos toleíticos da Formação Calçoene (186-222 magmáticos no Paraná e Parnaíba localizam-se sobre áreas de blocos cratônicos, po-
Ma, Brandão e Feijó, 1994) que ocorrem associados a red beds con- rém nas vizinhanças das descontinuidades fundamentais do substrato que os balizam.
tinentais em subsuperfície – num evento que provavelmente inclui Na Bacia do Amazonas, a geometria E-W do depocentro sedimentar + ígneo e sua
também o primeiro ciclo distensivo e a subsidência inicial da Bacia localização, coincidente em área com as grandes anomalias gravimétricas positivas
de Marajó – assinalam as manifestações mais meridionais do rifte no eixo da bacia, sugere associação ao suposto “rifte inicial” de alguns autores antes
no Atlântico Central (Milani e Thomaz Filho, 2000). A partir de mencionados, sendo este um tema que demanda maiores investigações.
então, iniciando pelo extremo sul da Argentina, desenvolver-se-ia o
rifte do Atlântico Sul. 4.3 O papel de blocos cratônicos na
propagação do Rifte Sul-Atlântico
Desenvolveram-se sobre estes blocos braços abortados que se projetam da mar-
4. Sumário e questões em aberto gem para o interior do continente. Na região do Cráton do São Francisco, as bacias
do Recôncavo – Tucano – Jatobá materializam uma “tentativa frustrada” de rup-
4.1 Sobre a natureza do substrato tura continental; na área de influência do Cráton São Luís, as bacias de São Luís
das sinéclises paleozoicas / Bragança-Viseu / Ilha Nova têm igual significado. Na margem correspondente
A existência de um bloco cratônico único suportando cada uma defronte aos riftes abortados desenvolveu-se um limite crustal mais abrupto, com
das bacias paleozoicas brasileiras – com formato e tamanho variável plataforma continental estreita, como na Bacia de Jacuípe e em Sergipe-Alagoas.
segundo os diversos autores – é hipótese que acompanha o histórico Parece haver grandes complicações geotectônicas para o rompimento de litosferas
de pesquisas das sinéclises brasileiras desde há muito, e continua com muito antigas e consolidadas, o que ensejou a movimentação de microplacas e
evidências geofísicas favoráveis em dados recentes. Entretanto, a re- propiciou deformação espacialmente mais distribuída, com a presença dos braços
corrente reativação de lineamentos do substrato durante a evolução abortados no interior continental adjacente.

384 385
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 17

4.4 Sobre a reativação de faixas Para as bacias cratônicas, em especial no caso do Parnaíba, são evidentes os avanços
brasilianas durante o rifteamento recentemente alcançados no entendimento da relação embasamento-bacia advindos da
É interessante constatar que a região da margem brasileira com a mais ampla aquisição de dados de sísmica de reflexão profunda. Integrados às demais ferramentas
área de crosta continental estirada sob as bacias marítimas localiza-se no sudeste. geofísicas, patrocinaram o estabelecimento de modelos bem controlados da estrutura
O Platô de São Paulo, com seus 400 km de largura, é uma singularidade no rifte crustal sob a bacia e da influência das descontinuidades pré-cambrianas fundamentais
da margem brasileira e sua existência coincide espacialmente com uma região onde sobre a evolução fanerozoica daquela região. Paraná e Amazonas-Solimões carecem
o rifte implantou-se, por longo trecho, paralelamente à trama estrutural de faixas de investimentos em dados sísmicos profundos, o que poderia dirimir as persistentes
móveis brasilianas – Ribeira e Araçuaí. Essa condição particular ofereceu ao rifte dúvidas sobre a natureza e estruturação fundamental de seu substrato precursor.
uma crosta espessada pela orogenia e com abundantes descontinuidades dispo- Para a margem continental brasileira, o desafio é ainda maior: grandes porções do
níveis para uma reativação distensiva/transtrativa. Assim estruturou-se o embasa- embasamento da mesma jazem a profundidades inalcançáveis por poços convencionais
mento das bacias de Santos e Campos. da exploração petrolífera; pouco se pode extrair sobre a natureza e características
geológicas do substrato pré-fanerozoico a partir dos dados sísmicos de reflexão usuais
4.5 Sobre a cronologia da abertura do Atlântico Sul que, apesar de abundantes ao longo das bacias costeiras, focalizam a seção sedimentar
O processo de rifteamento, que conduziu à ruptura continental e ao desenvol- mesozoico-cenozoica em função dos objetivos particulares da atividade de prospecção
vimento da margem brasileira, foi evento marcadamente diacrônico. Neotriássi- de hidrocarbonetos. Além disso, a contraparte africana das bacias brasileiras – que
co, no extremo norte (Foz do Amazonas e Marajó, Milani e Thomaz Filho, 2000) comporia a moldura adequada a um estudo mais completo das relações do embasa-
– relacionado à abertura do Atlântico Central; Eojurássico, no sul da Argentina mento com o desenvolvimento do rifte sul atlântico – tem seu conhecimento geológico
(Baldi e Nevistic, 1996); Neocomiano, ao longo da margem leste brasileira (As- fragmentado em diversos e pequenos países, dados estes de difícil homogeneização e
muz e Ponte, 1973); Aptiano, na margem equatorial (Matos e Waick, 1998), e integração para a montagem de um cenário pré-ruptura do Gondwana. De todo o
Albiano, em Pernambuco-Paraíba (Almeida et al., 2005b), em amplitude tempo- modo, dados geofísicos especiais, focados no entendimento da estrutura crustal, tem
ral de cerca de 100 Ma. sido adquiridos em anos recentes e trazem nova luz sobre o tema.
Mas o conhecimento avança inexoravelmente, e nos particulares aspectos acima
citados é que se evidencia a enorme contribuição pioneira que o projeto Estudo
5. Considerações finais preliminar de integração do Pré-Cambriano com os eventos tectônicos das bacias
sedimentares brasileiras trouxe à Análise de Bacias no Brasil.
Para compreender apropriadamente a evolução de uma bacia sedimentar há
que se começar pelo estudo da geologia de seu embasamento, os litotipos que o
constituem e sua trama estrutural. A dinâmica tectonossedimentar fanerozoica 6. Agradecimentos
das bacias brasileiras parece estar vinculada de modo estreito à história tectônica
do substrato pré-cambriano. Este exibe um arcabouço constituído por blocos cra- Somos gratos a Andrea Bartorelli, Wilson Teixeira e Benjamim Bley de Brito Neves
tônicos, faixas orogênicas e descontinuidades de diversas naturezas que foi con- pelo convite para participarmos desta obra. Agradecemos também à Petrobras por
solidado pelos eventos da Orogenia Brasiliana. Tal arcabouço foi episodicamente nos conceder a oportunidade de prestar uma homenagem institucional ao Professor
reativado sob novos campos de tensões e, desta forma, atuou como controla- Cordani e equipe, reverenciando os resultados e o alcance do projeto aqui em foco.
dor de fenômenos diversos na história evolutiva tanto das sinéclises paleozoicas Fernando Flecha de Alkmim, Reinhardt Adolfo Fuck e Renato Pimenta de Azevedo
quanto das bacias da margem continental. realizaram extensivas revisões do manuscrito, com sugestões pertinentes que influíram
Entretanto, desvendar esse relacionamento – como pretendeu o projeto de 1984 – decisivamente na versão final do trabalho; a eles, os nossos agradecimentos. Loren
requer dispor-se de informações geológico-geofísicas adequadas; se a geologia em Pinto Martins desenhou as ilustrações com esmero, a ela o nosso muito obrigado!
subsuperfície das bacias sedimentares já é bastante bem conhecida em função do
vasto acervo de dados e informações acumulado pela indústria do petróleo, entender
seu embasamento implica um mergulho muito mais profundo. A partir das faixas Referências A., Carneiro C.D.R., Brito-Neves B.B. (eds.). Geologia
aflorantes junto às bordas das bacias, a pesquisa do substrato pré-cambriano oculto do continente sul-americano: Evolução da obra de Fer-
Albuquerque D.F., França G.S., Moreira L. P., As- nando Flavio Marques de Almeida. São Paulo, Editora
sob as sequências fanerozoicas depende de amostras de rochas obtidas pelos escassos Beca, p. 17-35.
sumpção M., Bianchi M., Barros L. V., Quispe c. C.,
poços que o alcançaram e de informações fornecidas pela Geofísica. Estas, apesar de Oliveira M.E. 2017. Crustal structure of the amazonian Almeida F.F.M. 1967. Origem e Evolução da Pla-
indiretas e eivadas de uma ambiguidade natural – mormente os métodos potenciais, Craton and adjacent provinces in Brazil. Journal of South taforma Brasileira. Rio de Janeiro, DNPM/DGM, Bo-
American Earth Sciences, 79:431-442. letim 241, 36 p.
que não oferecem uma única e robusta interpretação para as anomalias observadas, Almeida F.F.M. 1971. Geochronological subdivision
Alkmim F.F. 2004. O que faz de um cráton um crá-
são importantes por serem as ferramentas de “amarração” de trends e províncias das ton? O Cráton do São Francisco e as revelações almei- of the Precambrian of South America. Revista Brasileira
regiões de embasamento aflorante com o domínio de subsuperfície. dianas ao delimitá-lo. In: Mantesso Neto V., Bartorelli de Geociências, 1:13-21.

386 387
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 17
Almeida F.F.M. 1980. Tectônica da Bacia do Pa- Campos L., Milani E., Toledo M., Queiroz R., Daly M.C., Andrade V., Barousse C.A., Costa R., Mc Heilbron M., Mohriak W.U., Valeriano C.M., Mila-
raná no Brasil. São Paulo, Instituto de Pesquisas Tec- Catto A., Selke S. 1998. Barra Bonita: A primeira acu- Dowell K., Piggott N., Poole A.J. 2014. Brasiliano crust- ni E.J., Almeida J., Tupinambá M. 2000. From collision
nológicas do Estado de São Paulo (IPT). 187 p. (Re- mulação comercial de hidrocarboneto na Bacia do Pa- al structure and the tectonic setting of the Parnaíba basin to extension: the roots of the Southeastern continen-
latório 14.091). raná. Rio de Janeiro, Instituto Brasileiro do Petróleo of NE Brazil: Results of a deep seismic reflection profile. tal margin of Brazil. In: Mohriak W.U. & Talwani M.
Almeida F.F.M., Hasui Y., Brito Neves B.B., Fuck (IBP), Manuscrito 17198. Tectonics, 33:2102-2120. (eds.). Atlantic rifts and continental margins. Washing-
R.A. 1977. Províncias estruturais brasileiras. In: 8º Cañon-Tapia E. 2017. The Paraná-Etendeka conti- Daly M.C., Fuck R.A., Juliá J., MacDonald D.I.M., ton, American Geophysical Union, Geophysical Mono-
Simpósio de Geologia do Nordeste. Campina Grande, nental flood basalt province: A historical perspective of Watts A.B. 2018. Cratonic basin formation: a case study graph Series 115, p. 1-32.
Anais, p. 363-391. current knowledge and future research trends. Journal of the Parnaíba Basin of Brazil. Geological Society, Lon- Heilbron M., Pedrosa-Soares A.C., Campos Neto
Almeida F.F.M., Hasui Y., Brito Neves B.B., Fuck of Volcanology and Geothermal Research, 355:287-303. don, Special Publications, 472. M.C., Silva L.C., Trouw R.A. J., Janasi V.A. 2004. Pro-
R.A. 1981. Brazilian structural provinces: an introduc- https://doi.org/10.1016/j.jvolgeores.2017.11.011. Delgado I.M., Souza J.D., Silva L.C., Filho N.C.S., víncia Mantiqueira. In: Mantesso-Neto V., Bartorelli
tion. Earth-Science Reviews 17(1):1-29. Carmo I.O., Schmitt R.S., Araújo M.N.C., Romeiro Santos R.A., Pedreira A.J., Guimarães J.T., Angelim A., Carneiro C.D.R., Brito-Neves B.B. (eds.). Geolo-
Almeida J. C. H., Heilbron M., Neves A., Tupinambá M.A.T. 2017. Evidence for the Paleoproterozoic/Cambri- L.A.A., Vasconcelos A.M., Gomes I.P., Filho J.V.L., gia do continente sul-americano: evolução da obra de
M. 2005a. West Gondwana sutures in the central Ribeira an Angolan belt in the Brazilian margin - new data from Valente C.R., Perrotta M.M., Heineck C.A. 2003. Ge- Fernando Flávio Marques de Almeida. São Paulo, Beca
belt, southeastern Brazil: an example of a folded shear offshore basement drill core. In: 5th Conjugate Margins otectônica do Escudo Atlântico. In: Bizzi L.A., Schob- Produções Culturais, p. 203-234.
zone. In: Gondwana 12. Mendoza, Abstracts, p. 39. Conference. Porto de Galinhas, Brazil, Abstracts. benhaus C., Vidotti R.M., Gonçalves J.H. (eds.). Geo- Heine C., Zoethout J., Muller R.D. 2013. Kinemat-
Almeida C.B., Cruz L. R., Sá E.F.J., Vasconcelos Caputo M.V. 1991. The Solimões megashear - in- logia, tectônica e recursos minerais do Brasil. Brasília, ics of the South Atlantic rift. Solid Earth, 4:215-253.
P.M.P., Medeiros W. E. 2005b. Tectônica e relações es- traplate tectonics in Northwestern Brazil. Geology, Serviço Geológico do Brasil/CPRM, p. 227-334. Hollanda M.H.B.M., Góes A.M., Silva D.B., Negri
tratigráficas na Sub-bacia de Pernambuco, NE do Brasil: 19(3):246-249. Destro N., Szatmari P., Alkmim F.F., Magnavita L.P. F.A. 2014. Proveniência sedimentar dos arenitos da Ba-
contribuição ao conhecimento do Rifte Sul-Atlântico. Caputo M.V. & Silva O.B. 1990. Sedimentação e 2003. Release faults, associated structures, and their con- cia do Parnaíba (NE do Brasil). Boletim de Geociências
Boletim de Geociencias da Petrobras, 13(2):167-180. tectônica da Bacia do Solimões. In: Raja Gabaglia G.P. & trol on petroleum trends in the Recôncavo rift, northeast da Petrobras, 22(2):191-211.
Arêas I., Ferrari A.L., Bezerra J.R., Ferraz A.E.P.P.D. Milani E.J. (eds.). Origem e evolução de bacias sedimen- Brazil. AAPG Bulletin, 87(7):1123-1144. Hollanda M.H.B. M., Góes A., Negri F.A. 2018.
2013. A influência tectônica do Lineamento Transbrasi- tares. Rio de Janeiro, Petrobras, p. 169-192. Dias JL., Scarton J.C., Esteves F.R., Carminatti M., Provenance of sandstones in the Parnaíba Basin
liano na Bacia do Parnaíba. In: 14º Simpósio Nacional de Caputo M.V. & Soares E.A.A. 2016. Eustatic and Guardado L.R. 1990. Aspectos da evolução tectono-se- through detrital zircon geochronology. In: Daly M.C.,
Estudos Tectônicos. Chapada dos Guimarães, Boletim de tectonic change effects in the reversion of the transconti- dimentar e ocorrência de hidrocarbonetos na Bacia de Fuck R.A., Juliá J., MacDonald D.I.M., Watts A.B.
Resumos Expandidos, vol. 1. nental Amazon River drainage system. Brazilian Journal Campos. In: Gabaglia G.P.R & Milani E.J. Origem e evo- 2018. Cratonic basin formation: a case study of the
Asmuz H.E. & Ponte F.C. 1973. The Brazilian mar- of Geology, 46(2):97-114. lução de bacias sedimentares. Rio de Janeiro, Petrobras- Parnaíba Basin of Brazil. Geological Society, London,
ginal basins. In: Nairn A.E.M. & Stehlli F.G. (eds). The Castro D.L. 2011. Gravity and magnetic joint mod- Gávea Editora, p. 333-360. Special Publications, 472.
oceans basins and margins, The South Atlantic. New eling of the Potiguar rift basin (NE Brazil): basement Dragone G.N., Ussami N., Gimenez M.E., Klinger Juliá J., Assumpção M., Rocha M.P. 2008. Deep
York, Plenum Press, p. 87-133. control during Neocomian extension and deformation. F.G.L., Chaves C.A.M. 2017. Western Paraná suture/ crustal structure of the Paraná Basin from receiver
Assumpção M., James D.E., Snoke A. 2002. Crust- Journal of South American Earth Sciences, 31:186-198. shear zone and the limits of Rio Apa, Rio Tebicuary and functions and Rayleigh-wave dispersion: Evidence for
al thickness in SE Brazilian Shield by receiver function Castro D.L., Bezerra F.H.R., Sousa M. O. L., Fuck Rio de la Plata cratons from gravity data. Precambrian a fragmented cratonic root. Journal of Geophysical Re-
analysis: Implications for isostatic compensation. Journal R. A. 2012. Influence of Neoproterozoic tectonic fabric Research, 291:162-177. search, 113:B08318.
of Geophysical Research, 107:(B1). on the origin of the Potiguar Basin, northeastern Brazil Ferreira T.S., Caixeta J.M., Lima F.D. 2009. Con- Klein E.L. & Moura C.A.V. 2008. São Luís Craton
Azevedo R. P. 1991. Tectonic evolution of Brazilian and its links with West Africa based on gravity and mag- trole do embasamento no rifteamento das bacias de and Gurupi Belt (Brazil): possible links with the West
Equatorial margin basins. PhD thesis, University of Lon- netic data. Journal of Geodynamics, 54:29-42. Camamu e Almada. Boletim de Geociências da Petro- African Craton and surrounding Pan-African belts. In:
don, London, 494 p. Cobbold P.R., Meisling K.E., Mount V.S. 2001. bras, 17(1):69-88. Pankhurst R.J., Trouw R.A.J., Brito Neves B.B., De Wit
Baldi J. E. & Nevistic V. A. 1996. Cuenca costa afue- Reactivation of an obliquely rifted margin, Campos Figueiredo J.J.P., Zalán P.V., Soares E.F. 2007. Bacia M.J. (eds.). West Gondwana: Pre-Cenozoic Correlations
ra del Golfo San Jorge. In: Ramos V. A. & Turic M. A., and Santos basins, southeastern. Brazil. AAPG Bulletin, da Foz do Amazonas. Boletim de Geociências da Petro- Across the South Atlantic Region. Geological Society,
(eds.). Geologia y recursos naturales de la plataforma 85(11):1925-1944. bras, 15(2):299-309. London, Special Publications, 294:137-151.
continental argentina. Buenos Aires, Argentina, Asociaci- Cordani U.G., Neves B.B.B, Fuck R.A., Porto R., Gomes P.O., Kilsdonk B., Grow T., Minken J., Bar- Koutsoukos E.A.M. 1992. Late Albian to Maastrich-
ón Geologica Argentina/Instituto Argentino del Petroleo, Thomaz Filho A., Cunha F.M.B. 1984. Estudo preli- ragan R. 2012. Tectonic evolution of the Outer High of tian foraminiferal biogeography and palaeoceanography
p. 171-192. minar de integração do Pré-Cambriano com os even- Santos basin, southern São Paulo plateau, Brazil, and im- of the Sergipe basin, Brazil. Palaeogeography, Palaeocli-
Bertani R.T., Costa I.G., Matos R.M.D. 1990. Evo- tos tectônicos das bacias sedimentares brasileiras. Rio plications for hydrocarbon exploration. In: Gao D. (ed.) matology, Palaeocology, 92:295-324.
lução tectono-sedimentar, estilo estrutural e habitat do de Janeiro, Petrobras, Série Ciência-Técnica-Petróleo, Tectonics and sedimentation: implications for petroleum Kowsmann R.O., Costa M.P., Boa Hora M.P.P.,
petróleo da Bacia Potiguar. In: Raja Gabaglia G.P. & Mi- 15, 70 p. systems. AAPG Memoir 100, p. 125-142. Almeida H.P., Guimarães P.P. 1982. Geologia estrutural
lani E.J. (eds.). Origem e evolução de bacias sedimenta- Cordani U.G., Neves B.B.B., Thomaz Filho A. 2009. Hartmann L.A., Silva L.C., Orlandi V. 1979. O do Platô de São Paulo. In: 32º Congresso Brasileiro de
res. Rio de Janeiro, Petrobras, p. 291-310. Estudo preliminar de integração do Pré-Cambriano com complexo granulítico de Santa Catarina: descrição e Geologia, Salvador. Salvador, Sociedade Brasileira de
Bezerra F.H.R., Rossetti D.F., Oliveira R.G., Me- os eventos tectônicos das bacias sedimentares brasilei- implicações genéticas. Acta GeologicaLeopoldensia, Geologia, Anais, 4:1558-1569.
deiros W.E., Brito Neves B.B., Balsamo F., Nogueira ras (Atualização). Boletim de Geociências da Petrobras, 6:93-112. Lana M.C. 1990. Bacia de Sergipe-Alagoas: Uma
F.C.C., Dantas E.L., Andrades Filho C., Góes A.M. 17(1):205-219. Hasui Y. 2012. Compartimentação geológica do hipótese de evolução tectono-sedimentar. In: Gabaglia
2014. Neotectonic reactivation of shear zones and Costa A.R.A. 2002. Tectônica cenozoica e movimen- Brasil. In: Hasui Y., Carneiro C. D.R., Almeida F.F.M., G.P.R & Milani E.J. Origem e evolução de bacias se-
implications for faulting style and geometry in the tação salífera na Bacia do Amazonas e suas relações com Bartorelli A. 2012. Geologia do Brasil. São Paulo, Beca dimentares. Rio de Janeiro, Petrobras-Gávea Editora,
continental margin of NE Brazil. Tectonophysics, a geodinâmica das placas da América do Sul, Caribe, Co- Editora, p. 112-122. p. 311-332.
614:78-90. cos e Nazca. MS Dissertation, Universidade Federal do Hasui Y., Carneiro C.D.R., Almeida F.F.M., Barto- Lima T.P.C., Moreira J.A.M., Bezerra F.H.R., Santos
Bizzi L.A. & Vidotti R.M. 2003. Condicionamento Pará, Belém, 237 p. relli A. 2012. Geologia do Brasil. São Paulo, Beca Edi- R.D. 2012. Modelagem e interpretação de dados magné-
do magmatismo pós-Gondwana. In: Bizzi L.A., Schob- Correa-Gomes L.C., Dominguez J.M.L., Barbosa tora, 900 p. ticos e gravimétricos de uma seção transversal ao Linea-
benhaus C., Vidotti R.M., Gonçalves J.H. (eds.). Geo- J.S.F., Silva I.C., Pinto M.V. 2005. Relações entre oró- Hasui Y., Haralyi N.L.E., Schobbenhaus C. 1984. mento Transbrasiliano - Região Sul da Bacia do Parnaíba.
logia, tectônica e recursos minerais do Brasil. Brasília, genos, zonas de cisalhamento, quebra continental e de- Elementos geofísicos e geológicos da região amazônica: In: 5o Simpósio Brasileiro de Geofísica. Abstract.
Serviço Geológico do Brasil/CPRM, p. 335-361. formações 3-D. A história tectônica da bacia sedimen- subsídios para o modelo geotectônico. In: 2o Simposium Linser H. 1958. Interpretation of the regional gravity
Blaich O.A., Tsikalas F., Faleide J.I. 2008. Northeast- tar de Almada, Bahia. Revista Brasileira de Geociências, Amazônico. Manaus, DNPM, Anais, p. 129-147. anomalies in the Amazonas area. Relatório Interno. Rio
ern Brazilian margin: Regional tectonic evolution based 35(4):105-115. Heilbron M., Tupinambá M., Almeida J.C.H., Va- de Janeiro, Petrobras.
on integrated analysis of seismic reflection and potential Costa S.A.G., Fragomeni P.R.P., Fragomeni M.G. leriano, C.M., Valladares C.S., Duarte B.P. 1998. New Loureiro A., Schnürle P., Klingelhöfer F., Afilha-
field data and modelling. Tectonophysics, 458:51-67. 1975. Projeto Serra do Roncador. Reconhecimento geoló- constraints on the tectonic organization and structur- do A., Evain E., Gallais F., Rabineau M., Baltzer A.,
Brandão J.A.S.L. & Feijó F.J. 1994. Bacia da Foz do gico. Relatório Final. Goiânia, CPRM/DNPM, 3 v. al styles related to the Brasiliano collage of the cen- Benabdellouahed M., Pinheiro J., Dias N., Soares J.,
Amazonas. Boletim de Geociências da Petrobras, 8(1):91-99. Curto J.B. 2015. O Lineamento Transbrasiliano na tral segment of the Ribeira belt, SE Brazil. In: Intl. Fuck R.A., Cupertino J.A., Viana A., Matias L., Mou-
Campanha G.A.C. 1981. O Lineamento Além Paraí- Bacia do Paraná: compartimentação crustal do emba- Conf. on Precambrian and craton tectonics/14th Intl. lin M., Aslanian D., Morvan D., Mazé L., Pierre J.P.,
ba na área de Três Rios (RJ). Revista Brasileira de Geoci- samento e reativações fanerozoicas. PhD Thesis n. 120, Conf. on basement tectonics. Ouro Preto, Extended Roudaut-Pitel, D., RioI, M., Alves I., Barros Jr. D, Bia-
ências, 11(3):159-171. Universidade de Brasília, 178 p. Abstracts, p. 15-17. ri P., Corela Y., Crozon C., Duarte J., Ducatel J.L.,

388 389
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 17
Falcão C., Fernagu P., Lima M.V.A.G., Le Piver D., Milani E. J. (coord.). 2007. Cartas estratigráficas Baltzer A., Benhabdellouaed M., Dias N., Moulin Schmitt R.S., Trouw R.A.J., Van Schmus W.R., Pi-
Mokeddem Z., Pelleau P., Rigoti C., Roest W., Rou- das bacias sedimentares brasileiras. Boletim de Geociên- M., Aslanian D. 2018. Modeling onshore-offshore mentel M.M. 2004. Late amalgamation in the central
daut M. 2018. Imaging exhumed lower continental cias da Petrobras, 15(2):183-573. wide-angle seismic data across the Alagoas-Sergipe part of West Gondwana: New geochronological data
crust and proto-oceanic crust in the distal Jequitin- Milani E.J. & Davison I. 1988. Basement control passive margins, NE Brazil. Journal of South American and the characterization of a Cambrian orogeny in the
honha basin, Brazil. Journal of South American Earth and transfer tectonics in the Recôncavo-Tucano-Jatobá Earth Sciences, 88:649-672. Ribeira Belt - SE Brazil. Precambrian Research, 133(1-
Sciences, 84:351-372. rift, northeast Brazil. Tectonophysics, 154:41-70. Pinto M.L., Vidotti R.M. 2019. The tectonic 2):29-61.
Magoon L.B. & Dow W.G. 1994. The petroleum Milani E.J. & Ramos V.A. 1998. Orogenias paleo- framework of the Paraná Basin unveiled from gravity Schobbenhaus C., Ribeiro C.L., Oliva L.A.,
system. In: Magoon L.B. & Dow W.G. The petroleum zóicas no domínio sul-ocidental do Gondwana e os ciclos and magnetic data. Journal of South American Earth Takanohashi J.T., Lindenmayer Z.G., Vasconcelos
system - from source to trap. AAPG Memoir, 60:3-24. de subsidência da Bacia do Paraná. Revista Brasileira de Sciences, 90:216-232. J.B., Orlandi V. 1975. Carta Geológica do Brasil ao
Manatschal G., Lavier L., Chenin P. 2014. The role Geociências, 28(4):527-544. Pinto Filho F.P., Freitas A.F., Melo C.F., Romanini milionésimo, Folha Goiás (SD.22), Texto explicativo.
of inheritance in structuring hyperextended rift systems: Milani E.J., Lana M.C., Szatmari P. 1988. Mesozo- S.J. 1977. Projeto Sudeste de Rondônia. Relatório Final. Brasília, DNPM/MME, 114 p.
Some considerations based on observations and numeri- ic rift basins around the northeast Brazilian microplate Porto Velho, CPRM/DNPM, 4 v. Silva L.C. & Dias A.A. 1981. Projeto Timbó-Barra
cal modeling. Gondwana Research, 27(1):140-164. (Recôncavo-Tucano-Jatobá, Sergipe-Alagoas). In: Man- Ribeiro M.C.S., Hackspacher P.C., Ribeiro L.F.B., Velha, Brasil. Relatório Interno. Porto Alegre, Convênio
Manspeizer W. 1988. Triassic-Jurassic rifting and speizer W. (ed.). Triassic-Jurassic rifting: Continental Hadler Neto J.C. 2011. Evolução tectônica e denuda- CPRM-DNPM, 282 p.
opening of the Atlantic: an overview. In: Manspeizer Breakup and the Origin of the Atlantic Ocean and Passive cional da Serra do Mar (SE/Brasil) no limite entre o Cre- Siqueira L.P. 1989. Bacia dos Parecis. Boletim de Ge-
W. (ed.). Triassic-Jurassic rifting: Continental Breakup Margins. Amsterdam, The Netherlands, Elsevier. Devel- táceo Superior e Paleoceno, utilizando análises de traços ociências da Petrobras, 3:3-16.
and the Origin of the Atlantic Ocean and Passive Mar- opments in Geotectonics, 22:834-858. de fissão e U-Th/He em apatitas. Revista Brasileira de Siqueira L.P. & Teixeira L.B. 1993. Bacia dos Pa-
gins. Amsterdam, The Netherlands, Elsevier. Develop- Milani E.J. & Thomaz Filho A. 2000. Sedimentary Geomorfologia, 12(3):3-14. recis: nova fronteira exploratória da Petrobras. In:
ments in Geotectonics, 22:41-79. basins of South America. In: Cordani U.G., Milani E.J., Riccomini C., Sant’ Anna L.G., Ferrari A.L. 2004. 3º Congresso Internacional da Sociedade Brasileira
Mantovani M.S.M. & Brito Neves B.B. 2009. The Thomaz Filho A., Campos D.A. (eds.). Tectonic evolu- Evolução geológica do rift continental do Sudeste do de Geofísica. Rio de Janeiro, Resumos Expandidos,
Paranapanema lithospheric block: its nature and role tion of South America. Rio de Janeiro, 31st International Brasil. In: Mantesso-Neto V., Bartorelli A., Carneiro p. 168-170.
in the accretion of Gondwana. In: Gaucher C., Sial Geological Congress, p. 389-449. C.D.R., Brito-Neves B.B. (eds.). Geologia do continen- Soares P.C. 1991. Tectônica sedimentar cíclica na
A.N., Halverson G.P., Frimmel H.E. (eds.). Neopro- Miranda F.S., Vettorazzi A.L., Cunha P.R.C., Aragão te sul-americano: evolução da obra de Fernando Flávio Bacia do Paraná - Controles. Tese para concurso ao
terozoic-Cambrian tectonics, global change and evolu- F.B., Michelon D., Caldeira J.L., Porsche E., Martins Marques de Almeida. São Paulo, Beca Produções Cul- cargo de Professor Titular, UFPR. Curitiba, 141 p.
tion: a focus on Southwestern Gondwana. Amsterdam, C., Ribeiro R.B., Vilela A.F. 2018. Atypical petroleum turais, p. 383-405. Soares E.F., Zalán P.V., Figueiredo J.J.P., Trosdorf
The Netherlands, Elsevier Science. Developments in systems of the Parnaíba Basin: seismic, well logs and Rocha M.P., Assumpção M., Affonso G.M.P.C., Aze- Júnior I. 2007. Bacia do Pará-Maranhão. Boletim de Ge-
Precambrian Geology, 16:257-272. analogues. In: Daly M.C., Fuck R.A., Juliá J., MacDon- vedo P.A., Bianchi M. 2019. Teleseismic P wave tomog- ociências da Petrobras, 15(2):321-329.
Marques A., Zanotto O.A., França A.B. 1993. Com- ald D.I.M., Watts A.B. Cratonic basin formation: a case raphy beneath the Pantanal, Paraná, and Chaco-Paraná Stanton N., Kusznir N., Gordon A., Schmitt R.
partimentação tectônica da Bacia do Paraná. Curitiba, study of the Parnaíba Basin of Brazil. Geological Society, basins, SE South America: Delimiting lithospheric blocks 2018. Architecture and tectono-magmatic evolution
Petrobras/Nexpar, Relatório, 87 p. London, Special Publications, 472. of the SW Gondwana assemblage. Journal of Geophys- of the Campos Rifted Margin: Control of OCT struc-
Matos R.M.D. 2000. Tectonic evolution of the Mohriak W.U. 2003. Bacias sedimentares da margem ical Research: Solid Earth, 124:7120-7137. https://doi. ture by basement inheritance. Marine and Petroleum
Equatorial South Atlantic. In: Mohriak W.U.& Talwani continental brasileira. In: Bizzi L.A., Schobbenhaus C., org/10.1029/2018JB016807. Geology, 100:43-59.
M. (eds.). Atlantic rifts and continental margins. Amer- Vidotti R.M., Gonçalves J.H. (eds.). Geologia, tectônica Rodrigues R. 1995. A geoquímica orgânica da Ba- Sutra E. & Manatschal G. 2012. How does the con-
ican Geophysical Union, Geophysical Monograph, e recursos minerais do Brasil. Brasília, Serviço Geológico cia do Parnaíba. PhD Thesis, Instituto de Geociências, tinental crust thin in a hyperextended rifted margin: In-
115:331-354. do Brasil - CPRM, p. 87-165. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto sights from the Iberia margin. Geology, 40(2):139-142.
Matos R.M.D. & Waick R.N. 1998. A unique Nunn J.A. & Aires J.R. 1988. Gravity anomalies Alegre, 225 p. Szatmari P., Françolin J.B.L., Zanotto O.A., Wolff S.
transform margin: the Equatorial Atlantic. In: Mello and flexure of the lithosphere at the Middle Ama- Santos F.J. & Brito Neves B.B. 1984. Província Bor- 1987. Evolução tectônica da margem equatorial brasilei-
M.R. & Yilmaz P.O. (eds.).In: AAPG International zon basin, Brazil. Journal of Geophysical Research, borema. In: Almeida F.F.M. & Hasui Y. (eds.). O Pré- ra. Revista Brasileira de Geociências, 17(2).
Conference and Exhibition. Rio de Janeiro, Extended 93(B1):415-428. Cambriano do Brasil. São Paulo, Blucher, p. 123-186. Tassinari C.C.G. & Macambira M.J.B. 2004. A
Abstracts, p. 798-799. Pedreira A.J. 1999. Evolução sedimentar e tectônica Santos E.J., Van Schmus W.R., Kozuch M., Brito evolução tectônica do Cráton Amazônico. In: Mantesso
Meisling K.E., Cobbold P.R., Mount V.S. 2001. da bacia metassedimentar do Rio Pardo: Uma síntese. Neves B.B. 2010. The Cariris Velhos tectonic event in Neto V., Bartorelli A., Carneiro C.D.R., Brito Neves B.B.
Segmentation of an obliquely rifted margin, Campos Revista Brasileira de Geociências, 29(3):339-344. Northeast Brazil. Journal of South American Earth Sci- (org.). Geologia do continente Sul-Americano: Evolução
and Santos basins, southeastern Brazil. AAPG Bulletin, Pedrosa-Soares A.C., Alkmim F.F., Tack L., Noce ences, 29:61-76. da obra de Fernando Flávio Marques de Almeida. São
85(11):1903-1924. C.M., Babinski M., Silva L. C., Martins-Neto M.A.M. Santos J.O.S. 2003. Geotectônica dos escudos das Paulo: Beca, p. 471-486.
Mendonça P.M.M., Spadini A.R., Milani E. J. 2004. 2008. Similarities and diferences between the Brazil- Guianas e Brasil-Central. In: Bizzi L.A., Schobbenhaus Teixeira-Silva C.M. 2010. O sistema transcor-
Exploração na Petrobras: 50 anos de sucesso. Boletim de ian and African counterparts of the Neoproterozoic C., Vidotti R.M., Gonçalves J.H. (eds). Geologia, tectô- rente da porção sudeste do Orógeno Araçuaí e norte
Geociências da Petrobras, 12(1):9-58. Araçuaí-West Congo orogen. In: Pankhurst R.J., Trouw nica e recursos minerais do Brasil. Brasília, Serviço Geo- da Faixa Ribeira: geometria e significado tectônico.
Menzies L. A., Carter A., MacDonald D.I.M. R.A.J., Brito Neves B.B., De Wit M.J. (eds.). West lógico do Brasil/CPRM, p. 169-226. PhD Thesis, Escola de Minas, Universidade Federal
2018. Evolution of a cratonic basin: insights from Gondwana: Pre-Cenozoic correlations across the South Santos C.H.O, Sá E.F.J., Silva F.C.A, Antunes A.F. de Ouro Preto, 221 p.
the stratal architecture and provenance history of Atlantic region. Geological Society, London, Special 2018. Reativações pós-silurianas do Lineamento Trans- Vasconcelos C.S., Morales I.V.F., Figueiredo M.F.
the Paranaíba basin. In: Daly M.C., Fuck R.A., Juliá Publications, 294:153-172. brasiliano na porção sul da Bacia do Parnaíba. Geologia 2014. Revisão da estratigrafia da Bacia do Parecis-Al-
J., MacDonald D.I.M., Watts A.B. 2018. Cratonic Pedrosa-Soares A.C., Noce C.M., Alkmim F.F., Silva USP. Série Científica, 18(2):71-86. to Xingu. In: 47º Congresso Brasileiro de Geologia.
basin formation: a case study of the Parnaíba Basin L.C., Babinski M., Cordani U.G., Castañeda C. 2007. Santos R.D., Castro D.L., Bezerra F.H.R., Vidotti Anais, p. 400.
of Brazil. Geological Society, London, Special Publi- Orógeno Araçuaí: síntese do conhecimento 30 anos após R.M., Fuck R.A., Dantas E.L., Lima T.P.C. 2013. Influ- Viana C.F., Carozzi A.V., Araujo M.B., Cesero P.,
cations, 472. Almeida 1977. Geonomos, 15(1):1-16. ência do Lineamento Transbrasiliano na formação do Fonseca J.R., Silva V.J.L. 1971. Revisão estratigráfica das
McKenzie D.P. & Morgan W.J. 1969. Evolution of Pereira E., Carneir, C.D.R., Bergamaschi S., Al- arcabouço estrutural da Bacia Parnaíba. In: 13th. Inter- bacias do Recôncavo e Tucano. Boletim Técnico da Petro-
triple junctions. Nature, 224:125-133. meida F.F.M. 2012. Evolução das sinéclises paleozoi- national Congress of the Brazilian Geophysical Society. bras, 14(3/4):157-192.
Milani E.J. 1997. Evolução tectono-estratigráfica da cas: províncias Solimões, Amazonas, Parnaíba e Para- Rio de Janeiro. Zalán P.V. & Matsuda N.S. 2007. Bacia do Marajó.
Bacia do Paraná e seu relacionamento com a geodinâmi- ná. In: Hasui Y., Carneiro C.D.R., Almeida F.F.M., Santos J.O.S., Chernicoff C.J., Zappettini E.O., Mc- Boletim de Geociências da Petrobras, 15(2):311-319.
ca fanerozoica do Gondwana sul-ocidental. PhD Thesis, Bartorelli A. (eds.). Geologia do Brasil. São Paulo, Naughton N. J., Hartmann L.A. 2019. Large geographic Zalán P.V. & Oliveira J.A.B. 2005. Origem e
Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Beca Editora, p. 374-394. and temporal extensions of the Rio de la Plata Craton, evolução do Sistema de Riftes Cenozóicos do Su-
Grande do Sul, Porto Alegre, 2 v. Phillipp R.P., Pimentel M.M., Chemale Jr. F. 2016. South America, and its metacratonic eastern margin. In- deste do Brasil. Boletim de Geociências da Petrobras,
Milani E. J. 2004. Comentários sobre a origem e Evolução tectônica do Cinturão Dom Feliciano no Sul ternational Geology Review, 61(1):56-85. 13(2):269-300.
a evolução tectônica da Bacia do Paraná. In: Mantesso do Brasil: relações geológicas e geocronologia U-Pb. Bra- Schmitt R.S. 2000. Um evento tectono-metamórfico Zalán P.V., Astolfi M.A.M., Vieira I.S., Conceição
Neto V., Bartorelli A., Carneiro C.D.R., Brito-Neves zilian Journal of Geology, 46:83-104. Cambro-Ordoviciano caracterizado no domínio tectô- J.C.J., Appi V.T., Neto E.V.S., Cerqueira J.R., Marques
B.B. (eds.). Geologia do continente sul-americano: Pinheiro J.M., Schnurle P., Evain M., Afilhado A., nico Cabo Frio, Faixa Ribeira - sudeste do Brasil. PhD A. 1990. The Paraná Basin. In: Leighton M.V., Kolata
Evolução da obra de Fernando Flavio Marques de Al- Gallais F., Klingelhoefer F., Loureiro A., Fuck R.A., Thesis, Instituto de Geociências, Universidade Federal D.R., Oltz D.S., Eidel J.J. (eds.). Interior cratonic basins.
meida. São Paulo, Editora Beca, p. 265-279. Soares J.E.P., Cupertino J., Viana A.R., Rabineau M., do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 273 p. AAPG Memoir, 51:681-701.

390 391
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 18

1. Introduction
Geochronological record of plutonic
activity on a long-lived active In the early 1960’s there were very few
radiometric dates of for plutons in Chile, and
continental margin, with emphasis a little local expertise in the use of the appro-
on the pre-Andean rocks of Chile priate methodologies. A program for devel-
oping this branch of geology was started and
Mauricio Calderón1 supported by the Organization of American Francisco Munizaga e Mauricio Calderón.
(mauricio.calderon@unab.cl). States (OAS), and in the early sixties laborato-
Francisco Hervé1,2 ries were installed in São Paulo, Buenos Aires
(fherve@ing.uchile.cl). and later Santiago, and personnel trained in the
Francisco Munizaga2 United States for running them. In this way the
(fmunizag@cec.uchile.cl). Geochronology laboratory (Geochron) of the
Robert John Pankhurst3. Instituto de Geociências (Universidade de São
Christopher Mark Fanning4
Paulo) in Brazil, became the leading institution
(mark.fanning@anu.edu.au).
for developing geochronology in the continent.
Carlos W. Rapela5
(crapela@cig.museo.unip.edu.ar).
Prof. Umberto Cordani was one of the driving
forces behind the consolidation and expansion
1
Universidad Andrés Bello, Carrera de Geología. of the influence of this laboratory, which has a
2
Universidad de Chile, Departamento de Geología. very healthy present day life under the direction
3
British Geological Survey.
4
Australian National University, Research School of Earth Sciences. of Cordani’s successors.
5
Universidad Nacional de La Plata, Centro de Investigaciones Geológicas. Chile also benefited from this influence, and
Cordani opened a new way for the development
of geochronology in South America, conducting
a pioneer geochronology course at the Univer- Christopher Mark Fanning, Carlos W. Rapela,
Abstract Francisco Hervé e Robert John Pankhurst.
sity of São Paulo in 1969. This course was open
Half a century ago, Professor Umberto Cordani promoted to foreign students, among whom Francisco
throughout South America, including Chile, the benefits of apply- Munizaga attended, backed by Universidad de Chile. Later, in 1972, Cordani him-
ing isotope geochronology for the understanding of the geologi- self came to Santiago to give a geochronology course in the recently created PhD
cal evolution of a region. A brief synthesis of the U-Pb in zircon program at the Geology Department at Universidad de Chile. Among others, Fran-
geochronological database for plutonic rocks in Chile is present- cisco Hervé attended this course and became an active collaborator with Cordani, up
ed. Apart from a unique 1060 Ma granitic clast at Limón Verde, to the present time. Together with the course, Cordani helped in the consolidation of
and a Cambrian granodiorite from the basement of the Magallanes the Rb-Sr laboratory and, together with Koji Kawashita participated actively in the
basin, the oldest granitic plutons are Ordovician in age, and they installation of a K-Ar facility, both at Instituto de Investigaciones Geológicas (IIG).
belonging to the widespread Famatinian magmatic event in South In 2003 Cordani participated in a fied trip to the ophiolites in Cordillera Sarmiento,
America. Plutons of this age are found exclusively between the lat- and in 2006 he formed part of the jury of Mauricio Calderón’s PhD at Departa-
itudes (18-26° S) where the Arequipa-Antofalla terrane has been mento de Geología, Universidad de Chile. From 1976 to 2018 he attended most of
considered to be present. Contrarily, they are absent from the lati- the Chilean Geological Congresses given talks about his research and playing baby
tudinal extension of the Chilenia terrane (26-40° S), where instead football with Academia, the team of Universidad de Chile professors.
Carboniferous and Permian plutonism, extending into the Triassic, During the 1970s, Cordani continued to stimulate the operation and upgrade
was well developed. At latitudes (40-55° S) where the Patagonia of geochronological laboratories in Chile, together with Enrique Linares from IN-
terrane has been defined, Mesozoic and Cenozoic plutons predom- GEIS, Universidad de Buenos Aires and Norman Snelling from the British Geological
inate, emplaced in a restricted belt of Devonian plutons which are Survey. Together they consolidated the work of the geochronological laboratory at
only present here, and one isolated outcrop of a Carboniferous SERNAGEOMIN (Servicio Nacional de Geología y Minería, successor of IIG) which
age. These results are supportive of the existence of the three main is now very active with the addition of U-Pb analytical facilities.
terranes which collided with southwestern Gondwana during the In 1975 Cordani’s wise and broad perspective of development possibilities of
Paleozoic, each with characteristict plutonic history. the speciality in South America, brought together Enrique Linares from Universi-

392 393
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 18

In this publication, we would


like to show the state of the art of
the knowledge of the chronologi-
cal evolution of granitoids in Chile,
which was started during those first
10 years, and has continued today
with modern instruments and meth-
ods (U-Pb SHRIMP and LA-ICP-MS)
mainly in laboratories from Austra-
lia, United Kingdom, United States
of America, Brazil and Chile.
The presentation will be or-
ganized in latitudinal segments of
Chile, which are named after the
extension of the main tectonostrati-
graphic terranes (figure 1) envisaged
as having collided with the Gondwa-
na margin during its geological de-
velopment. These segments are the
following (see figure 2):
The MARA or Arequipa-Antofal-
la segment (18-26° South latitude),
The CHILENIA segment (26-40°
South latitude), The Patagonia
segment (40-55° South latitude).
Outcrops of granitoid rocks con-
stitute ca. 24% of the surface area of
the country. The data based on U-Pb
ages of zircon, interpreted as crys-
tallization ages of the considered
plutons, will be presented in dia-
grams, relying mainly on published
data and the SERNAGEOMIN da-
tabase. The focus in the MARA and
Chilenia segments will be on pre-Ju-
rassic plutonism, while in the Pata-
gonia segment the focus will be on
Figure 1: General map show-
the Mesozoic ages.
ing the main terranes at the dad de Buenos Aires and Francisco Munizaga from Universidad de
western continental margin Chile, to formulate and run the 10-year Magmatic Evolution of the
of South America. Abbrevi- Figure 2: Distribution of outcrops of
ations are: RPC: Río de La Andes IGCP Project 120; this project incorporated scientists from all granitic rocks in Chile. In most of the
Plata Craton; MB: MARA the South American countries in studying the magmatic evolution of country, the present day active magmatic
Block; PB: Precordillera Belt; the Andes based on radioisotopic dating. This momentum led to the arc is near the eastern limit (border with
Cy: Cuyania; Ch: Chilenia; Argentina). Lines are main faults and
Ct: Chaitenia; Pt: Patagonia, development of further IGCP projects, of new laboratories and new lineaments. Abbreviations are: AFZ:
NPM: North Patagonian Mas- dating techniques, which altogether have completely transformed the Atacama Fault Zone; DFZ: Domeyko
sif; DM: Deseado Massif; TF: concepts of the geological evolution of South America, and particular- Fault Zone, LOFZ: Liquiñe-Ofqui Fault
Tierra del Fuego Igneous and Zone; MFFZ: Magallanes-Fagnano Fault
Metamorphic Complex. ly of the Andes, to which this paper will refer to. Zone; CTJ: Chile Triple Junction.

394 395
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 18

2. Geological Setting

Present-day Chilean territory bears witness to widespread and protracted


magmatic activity starting in the Neoproterozoic time and extending almost con-
tinuosly into the Holocene. Interruptions of this activity appear to be scarce and
localized, and some are very probably artifacts resulting from inadequate density
of geochronological data.
Paleozoic development of this marginal portion of the Gondwana supercon-
tinent is dominated by the periodic accretion of terranes (Ramos et al., 1988) as
shown in figure 1, although the detailed history is in often poorly known. Some
of these terranes are considered to have approached Gondwana from the pres-
ent west. The main Paleozoic terranes considered from north to south are: Areq- Figure 3: Map illustrating
uipa-Antofalla (Ramos et al., 1988) or MARA (Casquet et al., 2010), Chilenia plutonic belts in Chile and
(Ramos et al., 1986); Patagonia may constitute a somewhat different model (Ra- Argentina and the distri-
bution of representative
mos, 1984; Pankhurst et al., 2006). Other smaller terranes have been proposed pre-Jurassic U-Pb zircon
in order to explain diverse local geological characteristics: Madre de Dios (For- crystallization ages (circles).
sythe and Mpodozis, 1983), Mejillones (Ramos et al., 1988; Casquet et al., 2014), The limits between main
terranes, suture zones and
Diego Ramírez (Davidson et al., 1989), X-terrane (Mpodozis and Kay, 1992), the Lanalhue and Huincul
Atacama-Domeyko (Sigoña, 2016), Occidentalia (Dalla Salda et al., 1992), Fitz lineaments are indicated.
Roy (Hervé and Mpodozis, 2005), and Chaitenia (Hervé et al., 2016) terranes, Dataset from Sernageomin
(unpublished), Munizaga et
among others. After or during the final stages of this collisional history, which al. (2008), Pankhurst et al.
might have extended into the Jurassic in southernmost Chile, subduction-related (2003, 2006), Hervé et al.
accretionary prisms developed on the western margin of the continent, mainly (2010), Hervé et al. (2014),
Deckart et al. (2014), Mak-
represented by Late Paleozoic metasedimentary outcrops. Mesozoic components saev et al. (2014, 2015), Sato
of the accretionary prisms exists locally (Angiboust et al., 2018) and present-day et al. (2105), Strazzere et al.
accretionary prisms are developing underwater all along the Chilean continental (2015), Hervé et al. (2016),
Pankhurst et al. (2016). The
margin (Maksymovicz, 2015). Paleozoic plutonic belts are spatially related to the Carboniferous age in Patago-
outcrops of the Late Paleozoic accretionary complexes, whereas most of the Meso- nia near Lago General Carre-
zoic plutonic belts that crop out in Chile have been emplaced into chronologically ra (orange square) is the only
39
Ar/40Ar mineral age (De
equivalent subaerial volcanic rocks and shallow water sedimentary deposits. La Cruz and Suárez, 2006).
According to Charrier et al. (2007), the Andean orogenic cycle extends from Early The Ordovician ages in red
Jurassic time up to the present day. It is characterized by continuous subduction of triangles are from plutonic
clasts in Permian and Jurassic
Pacific Ocean lithosphere below the margin of South America. This configuration has conglomerates, at Deseado
been quite stable, apart from along-strike and temporal variations in orogenic short- Massif and Tierra del Fuego,
respectively. Abbreviations
ening, extensional and compressional events, and probably tectonic erosion of the as in figure 1 including:
margin (Lohrman, 2002; Contreras-Reyes et al., 2014, 2015). Controls over these EAMC: Eastern Andean
processes are in general poorly established, but velocity, obliquity and angle of subduc- Metamorphic Complex.
tion, the age of the subducting oceanic lithosphere, and subduction of oceanic topo-
graphic highs have been considered as possible factors resulting in tectonic variations. The MARA (Arequipa-Antofalla) segment (18-26°S)
In the present-day structure of the Andean belt, the volcanic arc constitutes The segment of the Andes, underlain by the MARA (Arequipa-Antofalla) terrane,
the highest part of the orogenic chain; in many places it coincides with the conti- has some unique aspects with regard to its plutonic development. It is the only seg-
nental divide and is located some 200 to 250 km inland of the trench axis. Most ment of the Andean belt in Chile that exhibits outcrops of Late Mesoproterozoic
of the previous magmatic activity, and specifically the plutonic rocks, crop out in to Early Neoproterozoic rocks, one of which, at Limón Verde, is a coarse diamic-
a present-day fore-arc rather than a back-arc position. This may be interpreted as tite with 1060 Ma granite boulders (Pankhurst et al., 2016) and matrix (Morandé,
a predominant effect of eastward migration of the magmatic arc with time during 2014). It is also the only part of the present Andean fore-arc in Chile where there
the Andean orogenic cycle, other than variations that will be dealt with below is an Ordovician magmatic belt intruded into the Precambrian units. Intrusive rocks
when possible or appropriate. of the Famatinian cycle crop out in the pre-Andean upthrust belt (Niemeyer et al.,

396 397
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 18

2014; Pankhurst et al., 2016), establishing a continuity between the classic Famati- In the Elqui-Limarí batholith, Ear-
nian outcrops of the western Sierras Pampeanas of Argentina (figure 3; Pankhurst et ly Permian plutons predominate over
al., 1988; see Rapela et al., 2018 for complete references) and those further north in scarce Mississippian ones, and mag-
South America (Chew et al., 2007; Rapela et al., 2018). matic pulses continuing into the late
A further characteristic of this segment is the paucity or absence of intrusive Triassic (figure 4b) have been identi-
rocks of Devonian age: a compilation of K-Ar ages led Bahlburg and Hervé (1997) fied by Hervé et al. (2014).
to suggest that there was a Devonian magmatic hiatus in this region. Magmatism The fact that the Jurassic plutonic
restarted in the late Mississippian and extended into the Early Jurassic, with plutons belt at the latitude of the Elqui valley
distributed in a wide area mainly within or west of the Famatinian arc (Maksaev et lies 100 km west of the late Paleozo-
al., 2014), reaching the present-day coast at the mouth of Río Loa and Cifuncho ic to Triassic Elqui-Limarí batholith
(figure 2). However, the major outcrops are in the vicinity of the Domeyko Fault was interpreted by Mpodozis and Kay
Zone which lies in the Precordillera upthrust belt (see Pankhurst et al., 2016), with (1992) as indicating that a small ter-
lesser outcrops near the coastal Atacama Fault zone. Pankhurst et al. (1988) suggest- rane, the ‘X terrane’, was accreted to
ed that the emplacement of Jurassic–Cretaceous plutons between separate branches this part of the continental margin,
of (mainly) Permian–Triassic plutonic belts at ca. 26° S was due to early Mesozoic probably during the Jurassic. The pres-
extension and subduction roll-back at the Gondwana margin. ence of Ordovician schists in the coast-
According to the data presented here in figure 4a and those of Maksaev et al. al area at these latitudes can be taken
(2014, 2015), magmatism was scarce before 330 Ma, and absent during the Silurian as further evidence of the existence
and the Devonian, but continuous between 330 and 200 Ma, with a main Early of this terrane, which was however
Permian peak at ca. 290 Ma and large population of Upper Triassic ages. previously detached from Gondwana,
The Mejillonia terrane, is mainly composed of low- and high-grade metamor- judging by the schist provenance age
phic rocks formed in a subduction setting (Calderón et al., 2017), intruded by pattern (Hervé et al., submitted) be-
Triassic to Early Jurassic plutons (Casquet et al., 2015). It is probably a displaced fore colliding again, probably during
terrane, as it lies immediately west of the Atacama Fault Zone, whose accumulative the Triassic or the Jurassic.
movement is not well quantified. Further south in this sector, no Ear-
Jurassic to Cenozoic plutons are abundant along and across the present-day fore- ly Paleozoic plutons crop out on the
arc. A general trend of progressive displacement of magmatic foci to the east with Chilean side of the high Andes: instead
time is well displayed by figure 5a. This younging trend of intrusions towards the voluminous outcrops of the Pennsylva-
east was recognized and interpreted initially by Rutland (1971) and Haschke et al. nian Coast Range batholith (Cordani
(2006) as indicative of tectonic erosion of the continental margin. This process ap- et al., 1976; Deckart et al., 2014) are
pears to continue until the present day, as indicated by von Huene et al. (1999) and prominent in the Coast Ranges from
Contreras Reyes et al. (2015). A notable plutonic event around 30-40 Ma produced 32° S as far as 38° S, where the batholith
Figure 4. Histograms of U-Pb zircon ages:
a series of mega-porphyry copper deposits in this region (Maksaev et al., 2007; switches to a NW-SE trend and cross- (a) U-Pb zircon ages on granitoids (n = 168) from the
Hervé et al., 2012). es the Andes into northern Patagonia MARA (Arequipa-Antofalla) segment (18-26° South
(figures 2 and 3). The northernmost latitude) of northern Chile (Sernageomin, unpublished;
Maksaev et al., 2004, 2015; Munizaga et al., 2008;
The Chilenia segment (26-40° S) of Central Chile occurrence of plutonic rocks of the Pankhurst et al., 2016; López et al., 2018) databases.
South of the MARA (Arequipa-Antofalla) terrane lies the Chilenia terrane (Ra- Pennsylvanian coastal batholith is as an (b) U- Pb zircon ages on granitoids (n= 107) from the Chile-
mos et al., 1986a, b), extending from about 26° S to 40° S. This is thought to have inclusion in a mafic dyke cross-cutting nia segment (26-40° South latitude) of central Chile (Ser-
nageomin, unpublished; Álvarez et al., 2011; Hervé et al.,
collided with the main Gondwana landmass during the Devonian period (Davis et the Paleozoic basement schists at Puer- 2014; Deckart et al., 2014; del Rey et al., 2016) databases.
al., 1999; Massonne and Calderón, 2008; Willner et al., 2011; Hyppolito et al., to Manso (31º S) (Sigoña, 2016) which (c) U-Pb zircon ages on granitoids (n= 81) from the Patago-
2014). No Famatinian or Devonian plutonic ages are known from the vast Chilean suggests that the batholith underlies nian segment (40-56° South Latitude): Mesozoic-Cenozoic
South Patagonian Batholith (Hervé et al., 2007; Fosdick
part of the Andes underlain by Chilenia. this area. et al., 2011; Klepeis et al., 2010; Calderón et al., 2012;
Pre-Devonian metamorphic complexes have been identified as mega-inclusions The time frame of emplacement of Ramírez de Arellano et al., 2012; Sánchez et al., 2006,
in the Carboniferous Elqui plutonic complex in the high Andes: the El Cepo For- the Coast Range batholith is restrict- 2008; De La Cruz and Suárez, 2006) and Chaitenia
(Hervé et al., 2016, 2018) databases.
mation (Álvarez et al., 2011, 2013) which is thought to be part of the Chilenia ed to the (300 to 320 Ma; Deckart et
terrane lithosphere, as well as micaschists at Huentelauquén and in migmatitic al., 2014). Small late Triassic plutons
rocks at Las Cruces (Hervé et al., submitted). were emplaced, mainly near the west-

398 399
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 18

ern border of the coastal batholith by Hervé et al. (2016) confirmed and extended the area where Devonian plutons
(Vasquez et al., 2011). occur. This evidence, and the isotopic characteristics of the zircons, led Hervé et
The Jurassic to Cenozoic plu- al. (2016) to postulate the existence of two magmatic belts in this segment of the
tons here, show a clear eastward Andes, one emplaced in the continental crust of Patagonia and occurring exclu-
younging pattern (figure 5b) and sively in Argentina, and one in Chile generated in an oceanic environment and
Neogene plutons are found in the named Chaitenia (figure 3). This hypothesis will benefit from further investiga-
main cordillera. These plutons tion. Devonian zircon of detrital origin in the Buill metasedimentary rocks with
were emplaced into penecon- late Devonian fossils (Fortey et al., 1992) and in a sandstone layer intercalated
temporaneous subaerial volcanic between pillow basalts at Fiordo Reñihue (Hervé et al., 2018) indicate erosion of
rocks and associated sediments, the Devonian magmatic arcs.
with porphyry copper deposits An isolated occurrence of a Carboniferous granitic intrusion ( 40Ar/39Ar, mus-
generated during the Neogene covite) has been reported from near the western end of Lago General Carrera
(Maksaev et al., 2004; Maksaev in the Aysén region (De la Cruz and Suárez, 2006): emplaced in the Eastern
et al., 2007). Andes Metamorphic Complex, it is not yet established if this pluton is part of
the Chaitenia terrane.
The Patagonia segment
The region south of ca. 40° S is the The Late Jurassic-Cenozoic Patagonian Batholith
western part of Patagonia, proposed The nearly NS-trending Chilean Patagonian Andes are dominated by the Late
as an allochtonous terrane by Ramos Jurassic-Cenozoic Patagonian batholith, formed after the emplacement of the
(1984) but alternatively considered as NNW-SSE-trending Early Jurassic Subcordilleran Batholith in Argentina (40-44°
autochthonous or parautochthonous S, Rapela et al., 2005). The apparent rotation of the magmatic arc and westward
by Pankhurst et al. (2006, 2014) and migration has been explained by the accretion of the Fitz Roy suspect terrane in
Rapalini et al. (2013). early to middle Jurassic (Hervé and Mpodozis, 2005). The extensive outcrops of
In the northern part of this seg- this Patagonian Batholith form the highest Andean peaks in this segment and ex-
ment of the continental margin, a tend in part to the east of the present-day volcanic arc.
limited and as yet little understood The Patagonian Batholith (figure 2) has been previously divided arbitrarily into
oceanic magmatic arc of Devoni- northern (Pankhurst et al., 1999) and southern (Hervé et al., 2007) segments relative
an age has been termed Chaitenia to the Chile Triple Junction area. It is a continuous body over 1300 km long and 100
(Hervé et al., 2016) and is a sus- to 150 km wide, subparallel to the continental margin. The South Patagonian Ba-
pect oceanic terrane that suppos- tholith formed between 155 Ma and 5 Ma (Hervé et al., 2007), with a main peak in
edly collided with the continental Cretaceous times (figure 4c). It was mainly intruded into the late Paleozoic to Early
margin in the late Paleozoic or Tri- Jurassic rocks of a fossil accretionary prism, to the west, and passive margin rocks
assic. There is no trace of the Penn- (Augustsson et al., 2006) of the Eastern Andes Metamorphic Complex to the east.
sylvanian coastal batholith of cen- There are few, if any, remnants of the volcanic roof. It is spatially continuous with
tral Chile, but there are Devonian, the Fuegian Batholith, which was emplaced in the Scotia tectonic plate and lacks late
Figure 5: Longitude vs Cenozoic plutons (Montes et al., 2013).
U-Pb zircon ages diagram Carboniferous and Early Jurassic
for each of the three batholiths on the Argentine side of the Andes (figure 3). Near its western margin, the Liquiñe-Ofqui Fault Zone extends for over 1000
segments of Chile consid-
Buried below the sedimentary infill of the Magallanes basin, Cam- km north of the Taitao Peninsula, near the Chile Triple Junction, controlling the lo-
ered. Databases as in figure cation of volcanos along its NNE strike. Late Miocene near-trench satellite plutons
4 including Söllner et al. brian intrusive rocks are known from deep oil wells (Söllner et al,
(2000), Hervé et al. (2010) 2000; Pankhurst et al., 2003; Hervé et al., 2010) and correlate with crop out on the Taitao Peninsula (Anma et al., 2009), as well as back-arc plutons in
and Castillo et al. (2017).
rocks of similar ages in the North Patagonian Massif in Argentina (Ra- southern Patagonian Andes (Sánchez et al., 2007, 2008).
palini et al., 2013; Pankhurst et al., 2014). Castillo et al. (2017) have Age zonation of magmatism has been established, mainly in the southern segment
reported for first time late Permian plutonic rocks in Tierra del Fuego. of the Patagonian Batholith, with Jurassic plutons predominant on the eastern mar-
gin located west of the Late Jurassic bimodal igneous suites of the Rocas Verdes ophi-
The Devonian magmatic arc of Chaitenia olitic complexes (Calderón et al., 2007). Cretaceous plutonic rocks crop out near the
Duhart (2008) was the first to identify, map and date at least western margin of the batholith, and Cenozoic rocks within the central area. Some
three plutonic bodies of Devonian age in this region. Further work small satellite plutons, mainly Cenozoic, are found both west (Anma et al., 2009)

400 401
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 18

and east (Fosdick et al., 2011; Ramírez de Arellano, 2012; Sánchez, 2007, 2009) of
the main body of the batholith. In all, the geochronological data are consistent with
a stable focus of igneous activity for more than 150 Ma. This distribution is well
shown in figure 5c, in which no younging trend with longitude is perceived. This
is a major difference with respect to the eastward migration of Mesozoic-Cenozoic
magmatism in northern Chile across the MARA (Arequipa-Antofalla) terrane, or in
central Chile across the Chilenia terrane.
In the area south of the triple junction where the Patagonian Batholith reaches Table 1: Comparison of
the Pacific coast, localized Cenozoic tectonic erosion of the continental margin has The distribution of U-Pb ages as indicated here correlates with the the plutonic development
between segments along the
been suggested by Ramírez de Arellano et al. (2012) to explain the presence of the underlying component of the continental margin: notably the segment Andean margin in Chile.
late Cenozoic Fitz Roy satellite pluton in Argentina and other similar extra Andean underlain by the MARA (Arequipa-Antofalla) terrane presents a well-de-
plutons located in a rear-arc position (Sánchez et al., 2006, 2008). veloped Famatinian plutonic belt, absent in the Chilenia and Patagonian
segments. However, Famatinian plutonic belts are found further East in
Argentina extending into Patagonia (Rapela et al., 2018). These data are
3. Discussion compatible with a pre-Ordovician emplacement of the Arequipa-An-
tofalla terrane and a Devonian emplacement of Chilenia on the conti-
This review is based on more than 275 U-Pb zircon ages for pre-Jurassic plu- nental margin. The absence of Devonian plutons in both segments in
tonic rocks in Chile, a similar quantity of Jurassic to Neogene ones, numbers that the western Andean slope is also well established, a limited number of
are rapidly increasing, albeit patchily. However, it still means an average of only Devonian plutons being found in central Argentina (Achala Pluton in
one age every 300 km2, assuming that 20% of the country is underlain by plutonic figure 3). The Chilean portion of the continental margin of Patagonia
rocks. Many details in terms of age patterns yet remain to be discovered. is the only one to have Devonian plutonic rocks, but completely lacks
Plutonic rocks in Chile are generally considered to be the roots of magmatic arcs Ordovician and probably also of Pennsylvanian plutonic belts.
related to subduction processes, and their exposure is a result of unroofing by tecto- The spatial distribution of Jurassic to Neogene plutonic rocks
nism and erosion removing the cover. Remnants of the overlying cover are unknown in the MARA (Arequipa-Antofalla) and the Chilenia segments in-
for the Proterozoic igneous bodies, are very scarce for the Ordovician, locally pres- dicates a clear trend with progressive displacement of the younger
ent for the Carboniferous, but become more extensive in the Permian and Mesozoic, intrusions into the main belt of the Andes, whilst in the Patagonian
where volcanic units contemporaneous with plutonism are widespread. Patagonia Andes they all occur in the same batholith, with no overall displace-
is a further exception, where the Mesozoic-Cenozoic batholiths has few preserved ment since the Late Jurassic with respect to the present continental
cover rocks, probably owing to deeper erosion related to the northward transit of margin (see table 1).
the Chile Triple Junction since the Miocene, and increased glacial erosion during the
Pliocene and Pleistocene.
At least two types of plutonic belt can be distinguished in terms of their chrono- Acknowledgements
logical characteristics:
Short-lived batholiths generated in a comparatively short, well-defined time, The importance of the precise dating of the plutonic rocks, and of
such as the Early-to-mid Ordovician belt in the MARA (Arequipa-Antofalla) ter- the associated metamorphic, volcanic and sedimentary units, is a pri-
rane of northern Chile, and the Pennsylvanian (300-320 Ma) Coast Range Ba- mary need for understanding the geological development of igneous
tholith in the area of Central Chile associated with the Chilenia terrane. In both belts. The initial impetus given by Umberto Cordani and the Centro de
of these areas the Mesozoic-Cenozoic batholiths started in the Late Jurassic in Pesquisas Geocronológicas of São Paulo University, together with the
a tectonic regime which resulted in eastward migration of the magmatic focus, generous contribution of researchers and other geochronological lab-
suggesting large-scale tectonic erosion of the continental margin, flattening of oratories in the continent and beyond, have allowed the establishment
the subducting slab or extension of the margin. of a geochronological framework for the Andean evolution which is
Long-lived batholiths, mainly represented by the Elqui Limari (300-215 Ma) still in development. Fondecyt projects 1180457 to Francisco Hervé
batholith, and the huge Jurassic to Neogene (155-5 Ma) Patagonian Batholith and 1161818 to Mauricio Calderón supported the production of this
in which there is no apparent eastward migration of the magmatic focus, except paper. Thanks are due to Prof. Rodrigo Luca and the student Carlo
locally and on a small scale. The later batholith is emplaced in accretionary com- Donoso who helped with the collection of the mostly unpublished
plexes built outboard from the continental margin of the Patagonia terrane prior zircon U-Pb age database from northern Chile developed by SERNA-
to and during igneous emplacement. GEOMIN during their Carta Geológica de Chile program.

402 403
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 18

References Casquet C., Hervé F., Pankhurst R.J., Baldo M., mineralizações da região dos Andes Patagónicos setentri- Marambio C. 2016. Devonian magmatism in the accre-
Calderón M., Fanning C.M., Rapela C.W., Dahlquist onais do Chile. PhD Thesis, Instituto de Geociências, tionary complex of southern Chile. Journal of the Geo-
Alvarez J., Mpodozis C., Arriagada C., Astini R., J. 2014. The Mejillonia suspect terrane (Northern Universidade de Sao Paulo, São Paulo, 229 p. logical Society London,173(4):587-602.
Morata D., Salazar E., Valencia V.A., Vervoort J.D. 2011. Chile): Late Triassic fast burial and metamorphism Duhart P., Cardona A., Valencia V., Muñoz J., Quiroz Hervé F., Calderón M., Fanning C.M., Pankhurst
Detrital zircons from late Paleozoic accretionary com- of sediments in a magmatic arc environment ex- D., Hervé F. 2009. Evidencias de basamento Devónico, R.J., Rapela C.W., Quezada P. 2018. The country rocks
plexes in northcentral Chile (28°-32° S): Possible finger- tending into the Early Jurassic. Gondwana Research, Chile centro-sur 41-44°S. In: 12º. Congreso Geológico of Devonian magmatism in the North Patagonian Massif
prints of the Chilenia Terrane. Journal of South American 25(3):1272-1286. Chileno. Santiago, Servicio Nacional de Geología y Min- and Chaitenia. Andean Geology, 45(3):301-317.
Earth Sciences, 32:460-476. Castillo P., Fanning C.M., Pankhurst R.J., Hervé F., ería, Actas, CD-ROM, S8_009. Hervé M., Sillitoe R.H., Wong C., Fernández
Alvarez J., Mpodozis C., Blanco-Quintero I.F., Rapela C.W. 2017. Zircon O- and Hf-isotope constraints Forsythe R.D. & Mpodozis C. 1983. Geología del P, Crignola F., Ipinza M., Urzúa F. 2012. Geologic
García-Casco A., Morata D., Arriagada C. 2013. on the genesis and tectonic significance pf Permian mag- basamento pre-Jurásico Superior en el Archipielago overviewof the Escondida Porphyry Copper District,
U/Pb geochronology and P-T-t path of the La Pam- matism in Patagonia. Journal of the Geological Society Madre de Dios, Magallanes, Chile. , Santiago, Chile, Ser- Northern Chile. In: Hedenquist J.W., Harris M.,
pa Gneisses, implications for the evolution of the London, 174:803-816. vicio Nacional de Geología y Mineria, Boletin 39, 63 p. Camus F. (eds.). Geology and genesis of major cop-
Chilenia Terrane and Permo-Triassic tectonics of Charrier R., Pinto L., Rodriguez M.P. 2007. Tec- Fortey R., Pankhurst R.J., Hervé F. 1992. Devonian per deposits and districts of the world: a tribute to
north-Central Chile. Journal of South American tonostratigraphic evolution of the Andean Orogen in trilobites at Buill, Southern Chile. Revista Geológica de Richard Sillitoe. The Society of Economic Geologists,
Earth Sciences, 47:100-115. Chile. In: Moreno T. & Gibbons W. (eds.). The Geology Chile, 19(2):133-144. Special Publication, 16:55-78.
Angiboust S., Cambeses A., Hyppolito T., Glodny J., of Chile. London, The Geological Society, p. 21-114. Fosdick J., Romans B., Fildani A., Bernhardt A., Hyppolito T., Juliani C., García-Casco A., Tiep-
Monies P., Calderón M., Juliani C. 2018. A 100-m.y.- Chew D.M., Schaltegger U., Kosler J., Whitehouse Calderón M., Graham S.A. 2011. Kinematic evolu- poV., Bustamante A., Hervé F., 2014. The nature of the
long window onto mass-flow processes in the Patago- M.J., Gutjahr M., Spikings R.A., Miskovic A. 2007. U-Pb tion of the Patagonian retroarc fold-thrust belt and Palaeozoic oceanic basin at the southwestern margin of
nian Mesozoic subduction zone (Diego de Almagro Is- geochronologic evidence for the evolution of the Gond- Magallanes foreland basin, Chile and Argentina, Gondwana and implications for the origin of the Chile-
land, Chile). The Geological Society of America Bulletin, wanan margin of the north-central Andes. The Geologi- 51°30’S. The Geological Society of America Bulletin, nia terrane (Pichilemu region, central Chile). Interna-
130(9-10):1439-1456. cal Society of America Bulletin, 119(5/6):697-711. 123(9/10):1679-1698. tional Geology Reviews, 56(9):1097-1121.
Anma R., Armstrong R., Orihashi Y., Ike S., Shin K, Contreras-Reyes E., Becerra J., Kopp H., Reichert Haschke M., Günther A., Melnick D., Echtler H., Klepeis K., Betka P., Clarke G., Fanning M., Hervé
Kon Y., Komiya T., Ota T., Kagashima S., Shibuya T., C., Díaz-Naveas J. 2014. Seismic structure of the Reutter K.J., Scheuber E., Oncken O. 2006. Central and F., Rojas L., Mpodozis C., Thomson S.N. 2010. Conti-
Yamamoto S., Veloso E., Fanning C.M., Hervé F. 2009. north-central Chile convergent margin: Subduction ero- southern Andean tectonic evolution inferred from arc nental underthrusting and obduction during the Creta-
Are the Taitao granites formed due to subduction of the sion of a paleomagmatic arc. Geophysical Research Let- magmatism. In: Oncken O., Chong G., Franz G., Giese ceous closure of the Rocas Verdes rift basin, Cordillera
Chile ridge? Lithos, 113(1-2):246-258. ters, 41(5):1523-1529. P., Ramos V., Strecker M.R., Wigger P., Gotze H.J. (eds.). Darwin, Patagonian Andes. Tectonics, 29(3):TC3014.
Augustsson C., Munker C., Bahlburg H., Fanning Contreras-Reyes E., Ruiz J., Becerra J., Kopp H, The Andes: active subduction orogeny. Berlin, Spring- https://doi.org/10.1029/2009TC002610.
C.M. 2006. Provenance of Late Paleozoic metasedi- Reichert C., Maksymowicz A., Arriagada C. 2015. er-Verlag, Heidelberg GmbH & Co., p. 337-353. Levi, B., Mehech, S., Munizaga F. 1963. Edades
ments of the SW South America Gondwana margin: a Structure and tectonics of the central Chilean margin Hervé F., Faundez V., Calderón M., Massonne H-J., radiométricas y petrografía de los granitos chilenos.
combined U-Pb and Hf-isotope study of single detri- (31°-33° S): Implications for subduction erosion and Willner A.P. 2007. Metamorphic and plutonic basement Instituto de Investigaciones Geológicas, Boletin N°12,
tal zircons. Journal of the Geological Society London, shallow crustal seismicity. Geophysics Journal Interna- complexes. In: Moreno T. & Gibbons W. (eds.). The Ge- Santiago de Chile.
163:983-995. tional, 653(2):776-791. ology of Chile. London, The Geological Society, p. 5-22. Lohrman J. 2002. Identification of parameters con-
Bahlburg H. & Hervé F. 1997. Geodynamic evolu- Cordani U.G., Munizaga F., Hervé F., Hervé M. Hervé F., Munizaga F., Mantovani F., Hervé M. trolling the accretive or tectonically erosional mass-trans-
tion and tectonostratigraphic terranes of northwestern 1976. Edades radiométricas provenientes del basamento 1976. Edades Rb/Sr neopaleozoicas del Basamento Cris- fer mode at the south-central and north Chile forearc
Argentina and northern Chile. The Geological Society of cristalino de la Cordillera de la Costa de las Provincias talino de la Cordillera de Nahuelbuta. In: 1º. Congreso using scaled 2D sandbox experiments. Phd Thesis, Free
America Bulletin, 109(7):869-884. de Valparaiso y Santiago, Chile. 1º. Congreso Geológico Geológico Chileno. Actas, II:F19-F26. University, Berlin, 233 p.
Calderón M., Fildani A., Hervé F., Fanning C.M., Chileno. Actas, 2:F213-F221. Hervé F. & Mpodozis C. 2005. The western Pata- López C., Riquelme R., Martínez F., Sanchez C.,
Weislogel A., Cordani U.G. 2007. Late Jurassic bimodal Dalla-Salda L., Dalziel I.W.D., Cingolani C.A., Vare- gonia terrane collage: new facts and some thought-pro- Mestre A. 2018. Zircon U-Pb geochronology of the me-
magmatism in the northern sea-floor remnant of the Ro- la R. 1992. Did the Taconic Appalachians continue into voking possibilities. In: Pankhurst R.J. & Veiga G.D. sozoic to lower Cenozoic rocks of the Coastal Cordille-
cas Verdes basin, southern Patagonian Andes. Journal of southern South America? Geology, 20:1059-1062. (eds.). Gondwana 12: geological and biological heritage ra in the Antofagasta region (22°30’-23°00’ S): Insights
the Geological Society, 164(5):1011-1022. Davis J.S., Roeske S.M., McClelland W.C., Snee of Gondwana. Mendoza. Córdoba, Argentina, Academia to the Andean tectono-magmatic evolution. Journal of
Calderón M., Fosdick J., Warren C., Massonne L.W. 1999. Closing the ocean between the Precordil- Nacional de Ciencias, Proceedings. South American Earth Sciences, 87:113-138.
H.J., Fanning C.M., Cury L.F., Schwanwthal J., Fon- lera and Chilenia: Early Devonian ophiolite emplace- Hervé F., Calderón M., Pankhurst R.J., Fanning Maksaev V., Munizaga F., McWilliams M., Fan-
seca P., Galaz G., Gaytán D., Hervé F. 2012. The low- ment and deformation in the southwest Precordillera. C.M, Yaxley G. 2007. The South Patagonian Batho- ning C.M., Mathur R., Ruiz J., Zentilli M. 2004. New
grade Canal de las Montañas Shear Zone and its role in In: Ramos V.A. & Keppie J.D. (eds.). Laurentia-Gond- lith: 150 my of magmatism on a plate edge. Lithos, chronology for El Teniente, Chilean Andes, from U–
the tectonic emplacement of the Sarmiento Ophiolitic wana connections before Pangea. Geological Society of 97:373-394. Pb, 40Ar/39Ar, Re–Os, and fission-track dating: implica-
Complex and Late Cretaceous Patagonian Andes orog- America, Special Paper, 336:115-138. Hervé F., Calderón M., Fanning C.M., Kraus S., tions for the evolution of a supergiant porphyry Cu–
eny, Chile. Tectonophysics, 524-525:165-185. Deckart K., Hervé F., Fanning C.N., Ramírez V., Pankhurst R.J. 2010. SHRIMP chronology of the Ma- Mo deposit. Society of Economic Geologists. Special
Calderón M., Massonne H-J., Hervé F., Theye T. Calderón M., Godoy E. 2014. U-Pb Geochronology gallanes basin basement, Tierra del Fuego: Cambrian Publications, 11:15-54.
2017. P–T–time evolution of the Mejillones Metamor- and Hf-O Isotopes of Zircons from the Pennsylvanian plutonism and Permian high-grade metamorphism. An- Maksaev V., Townley B., Palacios C., Camus F.
phic Complex: Insights into Late Triassic to Early Juras- Coastal Batholith, South-Central Chile. Andean Geolo- dean Geology, 37:253-275. 2007. Metallic ore deposits. In: Moreno T. & Gibbons
sic orogenic processes in northern Chile. Tectonophys- gy, 41(1):49-82. Hervé F., Calderón M., Fanning C.M., Pankhurst W. (eds.). The Geology of Chile. London, The Geological
ics, 717:383-398. De La Cruz R., Suárez M. 2006. Geología del área R.J., Godoy E. 2013. Provenance variations in the Society, pp. 180-199.
Casquet C., Fanning C.M., Galindo C., Pankhurst Puerto Guadal - Puerto Sánchez, región Aisén del Gen- Late Paleozoic accretionary complex of central Chile Maksaev V., Munizaga F., Tassinari C. 2014. Timing
R.J., Rapela C.W., Torres P. 2010. The Arequipa Massif eral Carlos Ibáñez del Campo, Escala 1.100.000. Carta as indicated by detrital zircons. Gondwana Research, of the magmatism of the paleo-Pacific border of Gond-
of Peru: new SHRIMP and isotope constraints on a Pa- Geológica de Chile. Santiago, SERNAGEOMIN, Serie 23(3):1122-1135. wana: U-Pb geochronology of Late Paleozoic to Early
leoproterozoic inlier in the Grenvillian orogen. Journal Geología Básica 95, 58 p., 1 mapa. Hervé F., Fanning C.M., Calderón M., Mpodozis C. Mesozoic igneous rocks of the north Chilean Andes be-
of South American Earth Sciences, 29:128-142. Del Rey A., Deckart K., Arriagada C., Martínez F. 2014. Early Permian to Late Triassic batholiths of the tween 20° and 31°S. Andean Geology, 41:447-506.
Casquet, C., Rapela C.W., Pankhurst R.J., Baldo 2016. Resolving the paradigm of the late Paleozoic-Tri- Chilean Frontal Cordillera (28°-31°S): SHRIMP U-Pb Maksaev V., Arancibia J., Munizaga F., Tassinari C.
E.G., Galindo, C., Fanning C.M., Dahlquist, J.A., Saave- assic Chilean magmatism: Isotopic approach. Gondwana zircon ages and Lu-Hf and O isotope systematics. Lithos, 2015. Detrital-zircon U-Pb geochronology of the Que-
dra, J., 2012. A history of Proterozoic terranes in south- Research, 37:172-181. 184-187:436-446. brada del Carrizo Metamorphic Complex and El Jardín
ern South America: from Rodinia to Gondwana. Geosci- Duhart P. 2008. Processos metalogeneticos em am- Hervé F., Calderon, M., Fanning C.M., Pankhurst schists and spatially-related granitoids of the Sierra Cas-
ence Frontiers, 3:137-145. bientes de arco magmático tipo andino, caso de estudo: R.J., Fuentes F., Rapela C.W., Correa J., Quezada P., tillo batholith. Andean Geology, 42:285-312.

404 405
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 18

Maksymowicz A. 2015. The geometry of the Chilean sozoic rocks of northern Chile: U-Pb ages, and Hf and O sone A. (eds.). GEOSUR 2007: un Congreso Internacio-
continental wedge: tectonic segmentation of subduction isotopes. Earth-Science Reviews, 152:88-105. nal sobre Geología y Geofísica del Hemisferio Sur. San-
processes off Chile. Tectonophysics, 659:183-196. Parada M.A., López-Escobar L., Oliveros V., Fuentes tiago, Departamento de Geología, Universidad de Chile,
Massonne H-J. & Calderón M. 2008. P-T evolution F.,Morata D., Calderón M., Aguirre L., Féraud G., Espi- Resúmenes, 184 p.
of metapelites of the Guarguaráz complex, Argentina: noza F., Moreno H., Figueroa O., Muñoz J., Troncoso Sanchez A., Hervé F., De Saint Blanquat M. 2008.
evidence for Devonian crustal thickening close to the Vásquez R., Stern C.R. 2007. Andean Magmatism. In: Relations between plutonism in the back-arc region in
western Gondwana margin. Revista Geológica de Chile, Moreno T.& Gibson W. (eds.). The Geology of Chile. southern Patagonia and Chile Rise subduction: a geo-
35:215-231. London, The Geological Society, p. 115-146. chronological review. In: 7th International Symposium
Montes M., Hervé F., Calderón M., Fanning C.M., Ramírez de Arellano C., Putlitz B., Müntener O., on Andean Geodynamics – ISAG 2008. Nice, Extended
Ramírez de Arellano C. 2013. Magmatic Evolution of the Ovtcharova M. 2012. High precision U/Pb zircon dat- Abstracts, p. 485-488.
Fuegian Batholith, southernmost Chile at 53°−56°S: Tec- ing of the Chaltén Plutonic Complex (Cerro Fitz Roy, Sánchez A., Saint Blanqat M., Polvé M., Hervé F.
tonic Implications. Bollettino di Geofisica teorica ed appli- Patagonia) and its relationship to arc migration in the 2009. Different plutonic events in extra-andine southern
cata, 54 (Suppl. 2):333. southernmost Andes. Tectonics, 31(4):TC4009. https:// Patagonia, Chile. In: 12º. Congreso Geológico Chileno.
Morandé J.P. 2014. El Basamento pre-Mesozoico de doi.org/10.1029/2011TC003048. Santiago, Chile, Actas, S8_026.
la Sierra Limón Verde: Implicancias para la Evolución Ramos V.A., Jordan T.E., Allmendinger R.W., Sato A.M., Llambías E.J., Basei M.A.S., Castro C.E.
Tectónica del Norte de Chile. Tesis de Magíster, Universi- Mpodozis C., Kay S.M., Cortés J., Palma M. 1986. Pa- 2015. Three stages in the Late Paleozoic to Triassic mag-
dad de Chile, Santiago, 99 p. leozoic terranes of the central Argentine Chilean Andes. matism of southwestern Gondwana, and the relation-
Mpodozis C. & Kay S.M. 1992. Late Paleozoic to Tri- Tectonics, 5(6):855 -880. ships with the volcanogenic events in coeval basins. Jour-
assic evolution of the Gondwana margin: evidence from Ramos V.A. 1988. Tectonics of the late Proterozo- nal of South American Earth Sciences, 63:48-69.
Chilean Frontal Cordilleran batholiths (28°-31° S). The ic-early Paleozoic: a collisional history of southern South Sigoña P. 2016. Petrología, geocronología e implican-
Geological Society of America Bulletin, 104(8):999-1014. America. Episodes, 11:168-174. cias tectónicas de enclaves graníticos en el Paleozoico Tar-
Munizaga F., Aguirre L., Hervé F. 1973. Rb/Sr ages of Ramos V.A. 1989. Southern South America: an ac- dío en un dique mesozoico en el sector costero del Norte
rocks from the Chilean Metamorphic Basement. Earth and tive margin for the past 700 Ma. In: 28th International Chico (31°30’S), Chile. Memoria para optar al Título de
Planetary Science Letters, 18:87-92. Geological Congress. Washington, Abstracts, 2:664. Geóloga, Departamento de Geología, Universidad de
Munizaga F., Maksaev V., Fanning C.M., Giglio S., Ramos V.A., Jordan T.E., Allmendiger R.W., Kay Chile, Santiago, 147 p.
Yaxley G., Tassinari C.C.G. 2008. Late Paleozoice-Early S.M., Cortés J.M., Palma M.A. 1986. Chilenia, un ter- Söllner F., Miller H., Hervé M. 2000. An Early
Triassic magmatism on the western margin of Gondwa- reno alóctono en la evolución paleozóica de los Andes Cambrian granodiorite age from the pre-Andean base-
na: Collahuasi area, Northern Chile. Gondwana Re- Centrales. In: 4o Congreso Geológico Argentino. Bari- ment of Tierra del Fuego (Chile): the missing link be-
search, 13:407-427. loche, 2:84-106. tween South America and Antarctica? Journal of South
Muñoz Cristi J. 1962. Comentarios sobre los granitos Ramos V.A., Jordan T.E., Allmendiger R.W., American Earth Sciences, 13:163-177.
chilenos. Sociedad Geológica de Chile, Pub. 2:17. Mpodozis C., Kay S.M., Cortés J.M., Palma M.A. 1986. Strazzere L., Gregori D., Benedini L. 2015. Early
Niemeyer H. Meffre S., Guerrero R. 2014. Zircon Paleozoic terranes of the central Argentine-Chilean An- Permian arc-related volcanism and sedimentation at the
U-Pb geochronology of granitic rocks of the Cordón de Lila des. Tectonics, 5:855-880. western margin of Gondwana: Insight from the Choiyoi
and Sierra de Almeida ranges, northern Chile: 30 m.y. of Rapalini A.E., López de Luchi M., Tohver E., Group lower section. Geoscience Frontiers. 7(5):715:731.
Ordovician plutonism on the western border of Gondwana. Cawood P.A. 2013. The South American ancestry of the https://doi.org/10.1016/j.gsf.2015.08.009.
Journal of South American Earth Sciences, 56:228-241. North Patagonian Massif: geochronological evidence for Vásquez P., Glodny J., Franz G., Frei D., Romer R.L.
Pankhurst R.J., Hole M. J., Brook M. 1988. Isoto- an autochthonous origin? Terra Nova, 25:337-342. 2011. Early Mesozoic Plutonism of the Cordillera de la
pic evidence for the origin of Andean granites. Transac- Rapela C.W., Pankhurst R.J.,Fanning C.M., Hervé F. Costa (34-37º S), Chile: constraints on the onset of the
tions of the Royal Society of Edinburgh: Earth Sciences, 2005. Pacific subduction coeval with the Karoo mantle Andean Orogeny. Journal of Geology, 119(2):159-184.
19:123-133. plume: the Early Jurassic Subcordilleran belt of north- Willner A., Gerdes A., Massonne H-J., Schmidt A.,
Pankhurst R.J., Rapela C.W., Loske W.P., Fanning western Patagonia. Geological Society London, Special Sudo M., Thomson S., Vujovich G. 2011. The geody-
C.M., Márquez M. 2003. Chronological study of the Publications, 246:217-239. namics of collision of a microplate (Chilenia) in Devo-
pre-Permian basement rocks of southern Patagonia. Jour- Rapela C.W., Pankhurst R.J., Casquet C., Dahlquist nian times deduced by the pressure-temperature-time
nal of South American Earth Sciences, 16(1):27-44. J.A., Fanning C.M., Baldo E.G., Galindo C., Alasino evolution within part of a collisional belt (Guarguaraz
Pankhurst R.J., Rapela C.W., Saavedra J., Baldo E., P.H., Ramacciotti C.D., Verdecchia S.O., Murrad J.A., Complex, W-Argentina). Contributions to Mineralogy
Dahlquist J., Pascua I., Fanning C.M. 1998. The Famati- Basei M.A.S. 2018. A review of the Famatinian Ordovi- and Petrology, 162:303-327.
nian magmatic arc in the southern Sierras Pampeanas. In: cian magmatism in southern South America: evidence of Von Huene R., Weintrebe W., Heeren F. 1999. Sub-
Pankhurst R.J. & Rapela C.W. (eds.)., The Proto-Andean lithosphere reworking and continental subduction in the duction erosion along the north Chile margin. Journal of
Margin of Gondwana. Geological Society London, Spe- early proto-Andean margin of Gondwana. Earth-Science Geodynamics, 27:345-358.
cial Publication, 142:343-367. Reviews, 187:259-285. https://doi.org/10.1016/j.earsci-
Pankhurst R.J., Rapela C.W., Loske W.P., Fanning rev.2018.10.006.
C.M., Márquez M. 2003. Chronological study of the Rutland R.W.R. 1971. Andean orogeny and ocean
pre-Permian basement rocks of southern Patagonia. Jour- floor spreading. Nature, 233:252-255.
nal of South American Earth Sciences, 16:27-44. Sanchez A., Saint Blanquat M., Hervé F., Pankhurst
Pankhurst R.J., Rapela C.W., Fanning C.M., Márquez R.J., Fanning C.M. 2006. A SHRIMP U-Pb zircon Late
M. 2006. Gondwanide continental collision and the origin Miocene crystallization age for the Torres del Paine
of Patagonia. Earth-Science Reviews, 76:235-257. pluton, Chile. 5th South American Symposium on Iso-
Pankhurst R.J., Rapela C.W., López de Luchi M.G., tope Geology. Punta del Este, Uruguay, Short Papers,
Rapalini A.E., Fanning C.M., Galindo C. 2014. The p. 196-199.
Gondwana connections of Patagonia. Journal of the Geo- Sánchez A., De Saint Blanquat M., Hervé F. 2007.
logical Society London, 171:313-328. Geological observations on granitic plutons at Cerro
Pankhurst R.J., Hervé F., Fanning C.M., Calderón M., Donoso and Cerro Balmaceda, back-arc region in south
Niemeyer H., Griem-Klee S., Soto F. 2016. The pre-Me- Patagonia. In: Demant A., Hervé F., Menichetti M., Tas-

406 407
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 19

rés por descubrir el significado y correlaciones de los remanentes


Geocronología e isotopía de Sr y Nd de la historia tectónica pre-Andina actualmente expuestos en las
en los Andes Colombianos como Cordilleras Colombianas.
En esta contribución, será realizada una revisión de la base de datos
trazadores de la formación del de Sr, Nd y geocronología como insumo para contextualizar el estado
Supercontinente Pangea del arte sobre los modelos geológicos de Permo-Triásico de los Andes
del Norte, especialmente en lo referente a los orógenos de importancia
César Vinasco, planetaria del final del Paleozoico, en una visión del ciclo de supercon-
Universidad Nacional de Colombia tinentes registrado en el territorio colombiano. Algunas de las ideas
(cvinasco@unal.edu.co). vienen justamente de los trabajos previos y actuales del Dr. Cordani a
través de cooperaciones académicas y principalmente a través de direc-
1. Introducción ciones de trabajos de maestría y doctorado.

La primera contribución científica documentada en cooperación con el Dr.


Umberto Cordani incluyendo los servicios del Laboratorio de Geocronología de 2. Marco Geológico
la Universidad de Sao Paulo, data de 1971. En ese momento, fueron obtenidas
14 edades K-Ar para discutir el metamorfismo del límite Cretácico Superior – La cordillera Central Colombiana (CC) configura la espina dor-
Terciario del Caribe colombiano. sal de los Andes del Norte. Su basamento fue construido fundamen-
En la década de los 80s y 90s las contribuciones estuvieron enfocadas al recono- talmente en el Permo-Triásico (figura 1) aunque existen bloques
cimiento geocronológico mediante análisis Rb-Sr y K-Ar de remanentes metamór- inmersos menores del paleozoico inferior. Presenta un basamen-
ficos Precámbricos de afinidad Grenvilliana en el sur de los Andes Colombianos to ígneo-metamórfico que incluye granitoides de hornblenda y de
(Álvarez y Cordani, 1980) y en especial el acompañamiento del proyecto 120 de dos micas, fuertemente deformados a no deformados, una serie de César Vinasco.
cooperación geológica internacional de la UNESCO (International Geological Co- metagabros y una secuencia esquistosa de medio a bajo grado de
rrelation Program), que buscaba enmarcar el magmatismo Andino en su contexto metamorfismo y localmente migmatas y granulitas (Maya y González, 1995). Las
tectónico (cf. Victor A. Ramos en el capítulo 7 de este libro). Como parte de este características petrográficas y la distribución espacial de las rocas metamórficas
proyecto fue posible establecer algunos de los principales eventos metamórficos y llevó a considerar la posibilidad de polimetamorfismo para el basamento de la CC
magmáticos que están registrados en las rocas de la Cordillera Central y Occidental (Restrepo, 1986). En Colombia la CC fue la primera en levantarse y formar una
entre el Devónico y el Mioceno (Restrepo et al., 1991). expresión topográfica notable en el Cretácico Superior – Paleógeno y funcionó
Una nueva fase de contribuciones en los Andes Colombianos comienza en el como back stop de los fenómenos acrecionales y de reactivaciones tectónicas en su
nuevo milenio con el apoyo en la formación de estudiantes de posgrado colombianos margen occidental que definen la Cordillera Occidental Colombiana. La importan-
y su interés en los remanentes pre-Triásicos inmersos en la historia Andina y Cari- te erosión causada por el levantamiento alimentó las cuencas sedimentarias al W y
beña, en el análisis de la continuidad de los dominios geocronológicos del Cratón principalmente al E generando espesos depósitos continentales sobre las secuencias
Amazónico (Cordani et al., 2005; Cardona-Molina et al., 2006, 2010b; Jiménez sedimentarias cretácicas marinas orientales y a su vez sobre el basamento precám-
et al., 2006; Vinasco et al., 2006; Ibañez-Mejia y Cordani, 2019), en la evaluación brico que hoy configura la Cordillera Oriental colombiana.
de la temporalidad de los principales episodios magmáticos asociados a la meta- Desde inicios de la década del 70 y especialmente en la década de los 80, se ha
logénesis de los Andes Colombianos (Leal-Mejía, 2011) y al entendimiento de las propuesto que el territorio colombiano estaría conformado por terrenos geológicos
reactivaciones tectónicas de sistemas de fallas regionales (Vinasco y Cordani, 2012). de naturaleza y edad contrastante. Es el caso de los trabajos de Case et al., 1971;
La integración de la geocronología Ar-Ar y U-Pb en granos individuales mediante el Etayo-Serna, 1983; Aspden y McCourt, 1985; Forero, 1986; Toussaint et al., 1987;
uso del SHRIMP y la ablación laser en conjunto al análisis isotópico de Sr y Nd han Restrepo y Toussaint, 1988 (en Restrepo y Toussaint, 1988). Para el caso de la CC co-
resultado fundamentales para identificar los principales eventos tectonomagmáticos lombiana o parte de ella, diferentes nombres y limites se han propuesto, incluyendo
regionales, evaluar la generación o retrabajamiento de la corteza continental y espe- Grupo Cajamarca (Nelson, 1957), Complejo Cajamarca (Maya y González, 1995),
cialmente contribuir a la paleogeografía de los supercontinentes Rodinia y Pangea, terreno Central Andino (Restrepo y Toussaint, 1988); terreno Tahami (Toussaint
de los cuales existen remanentes en la margen Andina. y Restrepo, 1989), Complejo Polimetamórfico de la Cordillera Central (Restrepo,
El interés por alcanzar una visión integral de la evolución geológica de Su- 1986), terreno Cajamarca-Valdivia (Cediel, 2003) que corresponden regionalmente
ramérica, llevó al profesor Cordani a orientar los trabajos de posgrado del autor a las rocas permo triásicas de la figura 1.
con inmensa generosidad y espíritu colaborativo, enfatizando la importancia de La formación del basamento de la CC y su evolución geológica está ligada de
la geocronología en los modelos tectónicos, y en especial acompañando su inte- manera fundamental a la conformación del súper continente Pangea y subsiguiente

408 409
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 19

3. Orógeno Pérmico

Las rocas graníticas deformadas y posiblemente parte de las rocas metamórficas


de basamento datan del Pérmico y posiblemente del Carbonífero (Vinasco et al.,
2006; Toussaint, 1996). Estas rocas hacen parte de un cinturón deformado alguna
vez continuo Permo-Carbonífero descrito desde el norte de Los Apalaches, pasando
por las montañas Oachitas y la región de Marathon, en Texas, llegando hasta el
cinturón Huasteca en México (Pindell y Dewey, 1982). Mundialmente, la orogenia
Permiana es conocida como Aleganiana o Herciniana y define la colisión entre Norte
América y América del Sur – África, precedida de un sistema de subducción (Pindell
y Dewey, 1982). Por otro lado, las rocas graníticas no deformadas del Triásico co-
rresponderían a la fase inicial de rifteamiento asociado con el inicio del rompimiento
dela masa supercontinental (Vinasco et al., 2006; Cochrane et al., 2014; Spikings et
al., 2015). El evento colisional resultó del cerramiento del océano Rheic y el desa-
rrollo de un orógeno en la margen sur de Laurentia que subduce bajo Gondwana en
su movimiento al norte, desarrollando una margen de arco continental diacrónica a
la colisión con la parte suramericana de Gondwana (Forrest et al., 2005). La defor-
mación descrita a lo largo del cinturón Ouachita-Marathon-Sonora comenzó en el
Misisipiano medio y terminó de manera diacrónica en el Pensilvaniano superior en la
zona de Ouachita, en el Pérmico medio en la zona de Marathon y al final del Pérmico
en la zona de Sonora (Forrest et al., 2005).
Dentro del proyecto IGCP 120 (Simposio sobre magmatismo Andino y su marco
tectónico) fueron obtenidas una serie de edades Rb-Sr y K-Ar realizados en los labo-
ratorios del CPGeo USP. En esta contribución se identificó la existencia de por lo me-
nos dos grandes registros magmáticos y/o metamórficos durante el Devónico-Car-
bonífero y el Triásico, interpretados como edades de enfriamiento subsecuentes a
un episodio metamórfico Devónico o posiblemente Pérmico (Restrepo et al., 1991),
mientras que Aspden et al. (1987) sugieren que la generación de magmas sería el
resultado de fallamiento de rumbo regional en el mesozoico temprano, relacionado
con el rompimiento de Pangea. Si bien diferentes autores habían presentado datos
geocronológicos mostrando edades en el rango Permo-Triásico para el basamento de
Figura 1: Mapa la CC, es el trabajo de Vinasco, Cordani et al. (Vinasco et al., 2006) el que presentó
geológico regional. las primeras ideas sobre el ambiente de formación del basamento de la CC, discutien-
Ilustra el basamento
Permo-Triasico de la do los fenómenos de anatexis y su relación con la orogenia Aleganiana y mostrando
CC y los remanentes la diferencia con los fenómenos triásicos de tipo distensivo a partir de geocronología
Precámbricos del país. de precisión, geoquímica e isotopía de Sr-Nd. Restrepo et al. (1991) por ejemplo,
interpreta las edades Permo-Triásicas como edades de enfriamiento subsecuentes a un
episodio metamórfico Devónico o posiblemente Pérmico, mientras que Aspden et al.
(1987) sugieren que la generación de magmas es el resultado de fallamiento de rum-
bo regional en el mesozoico temprano, relacionado con el rompimiento de Pangea.
rompimiento. Sin embargo, los detalles y mecanismos de generación La importancia de esta contribución es que puso en el debate académico un pe-
del magmatismo, deformación y metamorfismo no están claramente riodo de tiempo de suma importancia para comprender la evolución geológica de los
entendidos y son varias las alternativas planteadas por diferentes auto- Andes del Norte. Varios trabajos subsiguientes han aportado una muy valiosa base
res. Las diferencias fundamentales se centran en el papel del mecanis- de datos y argumentación que refuerza o inclusive propone modelos alternativos de
mo colisional vs los mecanismos de subducción, en la temporalidad del formación del basamento para este periodo de tiempo.
metamorfismo, en la afinidad de las rocas magmáticas y en el carácter Vinasco et al. (2006) presentan edades U-Pb SHRIMP en circones y edades Ar-Ar
exótico del bloque central andino. en anfíboles y micas, además de una base de datos de geoquímica y análisis de Sr y

410 411
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 19

Figura 3: Com-
pilación de datos
Nd-Sr. Vinasco
et al., 2006; Res-
trepo et al., 2011;
Villagómez et al.,
2011; Cochrane
et al., 2014; Mar-
tens et al., 2014;
Bustamante et al.,
2017; Spikings
et al., 2015.

Figura 2: Compilación de
base de datos geocronológica
U-Pb, Ar-Ar y K-Ar. Vinasco Nd (figuras 2 y 3). A ese momento, los datos novedosos de isotopía formación del super continente Pangea como parte de la orogenia Aleganiana (Herci-
et al., 2006; Spikings et al., abrieron una nueva ventana de interpretación geológica para la CC, niana), compatible con el cinturón de rocas permianas descritas desde los Apalaches
2015; Ordóñez y Pimentel,
2002; Cochrane et al., 2014;
junto con datos presentados recientemente por Ordóñez y Pimentel hasta México. Este cinturón Permo-Triásico es reconocido en otros sectores de la CC,
Pérez, 1967; Vesga y Barrero, (2002) para el complejo de Puquí y Correa et al. (2006) para rocas incluyendo orto y para neises, esquistos y granitos triásicos tipo S. Estas localidades
1978; Restrepo et al., 1991; intrusivas cretácicas de la CC. Vinasco et al. (2006) presentan eda- incluyen la Sierra Nevada de Santa Marta (Cardona et al., 2010), el Complejo de Pu-
González, 1980; Ordóñez,
2001; Martens et al., 2014. des U-Pb SHRIMP para 3 granitos deformados permianos. Una de quí (Ordoñez y Pimentel, 2002), los terrenos Loja y Amotape, en Ecuador (Aspden y
las muestras presenta circones en el rango 250-300 Ma con una edad Litherland, 1992) y porciones de la cordillera oriental de Perú (Miskovic et al., 2009).
ponderada de 274 ± 9.6 Ma. La edad más joven, alrededor de 250 Diferentes alternativas para explicar el orógeno Permo-Triásico, sin embargo,
Ma fue interpretada como inicio de la fusión parcial de los granitos sintectónicos se han presentado por diferentes autores. Martens et al. (2014) sugieren que el
anatécticos, similar a la edad obtenida para otro cuerpo granítico deformado de la basamento de la CC experimentó retrabajamiento cortical durante la transición
zona. Un tercer cuerpo granítico presentó edades de 290 ± 10 Ma y 302 ± 4 Ma in- Permo-Triásica de rocas de arco magmático (?) a extensión en la margen occidental
terpretadas como las edades más antiguas para el metamorfismo permiano de la CC de Pangea. Restrepo et al. (2011) proponen un tipo orogénico Andino para la mar-
(Vinasco et al., 2006). Otras edades en este rango son presentadas en un compilado gen occidental de Gondwana, sugiriendo que el metamorfismo del terreno Tahamí
de Spikings et al. (2015), incluyendo metagranitos del complejo Cajamarca a 277.6 Pérmico muy tardío a Triásico es formado como parte del orógeno Terra Australis
± 1.6 Ma, 255.7 ± 1.5 Ma y 275 ± 1.5 Ma, y en granitos miloníticos en la Sierra (Restrepo et al., 2009). Cardona et al., 2010; Cochrane et al., 2014; Spikings et
Nevada de Santa Marta a 288.1 ± 4.5 Ma, 276. 5 ± 5.1 y 264.9 ± 4 Ma. (figura 2). al., 2015; Bustamante et al., 2017; Rodríguez et al., 2019, a su vez, proponen en
Los datos de geoquímica e isotopía presentados por Vinasco et al. (2006) indican un sentido similar la conformación de un arco continental desde 290 hasta 265 Ma
que las rocas graníticas deformadas Permianas y las rocas graníticas no deformadas que cambia a un magmatismo tipo S en el Triásico basado en estudios en la Sierra
Triásicas son de carácter fuertemente peraluminoso, formadas por procesos de retra- Nevada de Santa Marta, al norte. El arco magmático formado entre 290 – 240
bajamiento cortical con contribución variable de material mantélico juvenil, especial- Ma en la CC se habría formado por la subducción pacífica bajo Pangea (Cochrane
mente en las rocas generadas en el Triásico. et al., 2014) por fusión parcial de rocas sedimentarias (Spikings et al., 2015). En
Los granitos deformados parecen sintectónicos con el metamorfismo regional del este escenario el registro del Triásico se asocia a una dinámica extensional perifé-
Pérmico y experimentan fusión parcial hacia el final del pérmico e inicios del Triásico. rica al núcleo de Pangea (Restrepo et al., 2011; Cochrane et al., 2014; Martens
En ese trabajo estos fenómenos de carácter cortical, generando fundamentalmente gra- et al., 2015; Spikings et al., 2015), la cual también podría tener un control en la
nitos sintectónicos tipo S fueron interpretados como colisionales y adscritos a la con- historia de subducción del Pacífico en la margen de las Américas. Es interesante

412 413
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 19

sin embargo, que los granitos peraluminosos Pérmicos habrían sido formados en sido encontradas hacia el sur en el Perú, donde depocentros extensionales contienen
el mismo régimen tectónico y como una continuación geográfica del cinturón per- vulcanismo bimodal típicos de ambientes de rift (Miskovic et al., 2009).
miano expuesto en el sur de México (Spikings, 2015). En ese sentido, Weber et al. El Triásico está muy bien documentado geocronologicamente a través de datos
(2007) interpretan las edades U-Pb de 251.8 ± 3.8 – 254.0 ± 2.3 Ma obtenidas U-Pb SHRIMP, Ar-Ar y K-Ar. Las rocas graníticas triásicas que intruyen el basamento
en migmatitas en el bloque Maya como resultado de metamorfismo de media pre- permiano o anterior, arrojan edades U-Pb SHRIMP de 227 ± 4.5 Ma y Ar-Ar en
sión y alta temperatura durante un evento compresivo, asociado con un fenómeno micas de 218.7 ± 0.3 Ma y 219.3 ± 0.3 Ma (Vinasco et al., 2006). Edades Ar-Ar en
colisional que postdata la amalgamación de Pangea, la cual contenía originalmente anfibolitas del Complejo Cajamarca y en neises graníticos cerca de la ciudad de Ma-
rocas de arco magmático. De manera similar, Cardona et al. (2010) atribuyen la nizales en la parte central de la CC se agrupan alrededor de 230 Ma y puntualmente
anatexis registrada a 250 Ma en la Sierra Nevada de Santa Marta a un evento com- valores tan jóvenes como 211 Ma son encontrados. Edades Ar-Ar en anfibolitas en
presional similar. La causa del evento compresional la atribuyen a una acreción de la margen oriental de la CC arrojan valores más antiguos a 246 ± 6 Ma y 243 ± 4
un terreno, a una subducción de litosfera oceánica engrosada o a un acoplamiento Ma (Vinasco et al., 2006). Edades K-Ar en micas para granitos triásicos de 232 ± 12
de placas durante la amalgamación del supercontinente. Spikings et al. (2015) ar- Ma (Restrepo et al., 1991) y 221 ± 7 Ma (Pérez, 1967) también han sido reportadas.
gumentan que pueden existir episodios compresionales y extensionales al tiempo En los neises permianos también se reportan edades triásicas por recristalización de
en diferentes regiones de la margen occidental de Pangea como consecuencia de bordes de circones, por resetamiento termal o por migmatización. Edades Ar-Ar en nei-
acreción de terrenos y/o a un régimen variable de esfuerzo como consecuencia de ses pérmicos arrojan valores alrededor de 230 Ma (Vinasco et al., 2006); K-Ar de 207 ±
un desplazamiento diferencial en la interface de placas océano-continente. 5 Ma (González, 1980) y 209 ± 7 Ma (Vesga y Barrero, 1978). Ordóñez (2001) obtuvo
edades U-Pb SHRIMP en un leucosoma relacionado a un neis pérmico a 223 Ma.
Martens et al. (2014) y Spikings et al. (2015) presentan un compilado de edades
4. Orógeno Triásico U-Pb y Ar-Ar triásicas para Ecuador y Colombia entre 213 y 247 Ma aproximada-
mente con un pico aparente alrededor de 240 Ma. Edades U-Pb SHRIMP en bordes
La historia Triásica parece estar mejor comprendida, siendo que la mayoría de de circones de rocas neisicas de la CC dieron edades ponderadas de 237 ± 2 Ma y
los autores considera este periodo de tiempo como distensional y asociado al rom- 244 ± 2 Ma y un grupo de edades entre 222 y 204 Ma interpretadas como edades de
pimiento del supercontinente Pangea. En una compilación de las edades K-Ar dis- cristalización de protolitos neisicos (Martens et al., 2014). El rifteamiento de Pangea
ponibles para la Cordillera Central y Occidental Colombiana, Aspden y MacCourt occidental habría comenzado aproximadamente a 240 Ma, afectando más de 2.500
(1986) plantean la posible existencia de un registro magmático del Triásico rela- km de la margen Gondwanica completando su fragmentación alrededor de 180 Ma
cionado con las primeras fases de apertura de Pangea, idea que complementarían (Spikings et al., 2015). La margen activa pacífica habría comenzado a 209 Ma y
con sus observaciones en la Cordillera Real del Ecuador Noble et al. (1997). Parece continuó hasta 115 Ma aproximadamente (Spikings et al., 2015).
evidente un contraste en el ambiente geodinámico entre el Pérmico y el Triásico en Vinasco et al. (2006) presentan datos de Nd-Sr para 15 muestras en la CC para
la CC colombiana (Vinasco et al., 2006). Los granitos permianos y migmatitas en ge- granitos deformados permianos y granitos no deformados triásicos. Las razones
neral fueron formados en regímenes tectónicos diferentes comparados con litologías iniciales de 87Sr/86Sr para todas las muestras analizadas es alta, entre 0.710 – 0.7136
similares formadas en el Triásico, dominado por extensión (Spikings et al., 2015). para los primeros y alrededor de 0.7121 para los segundos. El ƐNd(250) para los
El Triásico representa una cantidad mucho mayor de fusión parcial que el reportado granitos deformados permianos varía entre -4.6 a -7 y entre -1.1 a -4.6 para los
para el Pérmico, asociado a fenómenos de delaminación que elevaron el gradiente granitos no deformados triásicos. En los diagramas compuestos ƐNd(0)-ƐNd(0) las
termal a causa de la distensión regional (Vinasco et al., 2006; Cochrane et al., 2014). muestras grafican en el cuadrante IV. Los resultados obtenidos sugieren fuertemen-
Las rocas graníticas no deformadas del Triásico serían producto de migmatización te derivación cortical y eventualmente definen una curva de mezcla de materiales
regional en un ambiente postectónico con influencia mantélica (Vinasco et al., 2006; corticales con magmas tipo MORB ideales. Composiciones isotópicas de Sr-Nd
Cochrane et al., 2014). La amplia ocurrencia de toleitas, diques anfibolitizados y ana- indican fenómenos de anatexis cortical y aportes más juveniles en el Triásico (Res-
tectitas triásicas, soportan el ambiente distensivo, formado en una región de alto flujo trepo et al., 2011; Weber et al., 2011; Villagómez et al., 2011; Cochrane et al.,
térmico característico de una cuenca de back arc atenuada (Spikings et al., 2015), o 2014; Martens et al., 2014; Bustamante et al., 2017; Spikings et al., 2015). Las
sistemas de rift asociadas al rompimiento de Pangea (Vinasco et al., 2006; Cochrane et edades modelo Nd obtenidas varían de 1,4 a 1.6 Ga para los granitos deformados
al., 2014). Bustamante (2003) documenta fenómenos de descompresión extremamen- permianos y de 1.1 a 1.4 Ga para los granitos triásicos mostrando de nuevo una
te rápida en la zona de El Retiro, cerca de la ciudad de Medellín para este periodo de diferencia significativa en el tiempo medio de residencia cortical. Datos de Hf pre-
tiempo, generando fusión parcial, promoviendo la intrusión de granitos postectónicos sentados por Cochrane et al. (2014) en circones, muestran que rocas de afinidad
superficiales (Bustamante y Juliani, 2011). Una cantidad razonable de edades K-Ar toleitica manto derivadas fueron emplezadas durante el rango 240-232 Ma con
y Ar-Ar (Pérez, 1967; Vesga y Barrero, 1978; Vinasco et al., 2006; Restrepo et al., importante asimilación de corteza continental evolucionada, mientras que después
1991) en el rango del Triásico reflejan el alto flujo termal en la corteza asociado con el de 225 Ma no hay evidencia clara de asimilación puesto que los valores de Hf se
fenómeno distensivo (Vinasco et al., 2006). Rocas de características extensionales han aproximan a condiciones de manto empobrecido.

414 415
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 19

man A. 2005. Geochronology of Proterozoic basement isotopic study of the Puqui complex, Colombian Andes.
inliers in the Colombian Andes: Tectonic history of rem- Journal of South American Earth Sciences, 15(2):173-182.
nants of a fragmented Grenville belt. Geological Society Perez A. 1967. Determinación de la edad absoluta
5. Conclusiones London, Special Publications, 246(1):329-346. de algunas rocas de Antioquia por métodos radioactivos.
Correa A.M., Pimentel M., Restrepo J.J., Nilson A., Or- Dyna, 84:27-31.
doñez O., Martens U., Laux J.E., Junges S. 2006. U-Pb zircon Pindell J. & Dewey J. 1982. Permo-Triassic recons-
Independiente del modelo geodinámico considerado, todos consideran alguna ages and Nd-Sr isotopes of the Altavista stock and the San truction of Western Pangea and the evolution of the gulf
relación a una o a varias de las etapas de aglutinación y fragmentación del Super- Diego gabbro: new insights on Cretaceous arc magmatism of Mexico/Caribbean region. Tectonics, 1:179-211.
in the Colombian Andes. In: 5th South American Symposium Restrepo J. 1986. Metamorfismo del sector Norte de
continente Pangea como elemento controlador de la historia tectonomagmática. Sin on Isotope Geology (SSAGI). Punta del Este, Abstracts. la Cordillera central de Colombia. Trabajo presentado
embargo, es importante destacar que el registro Permico-Triásico aún aguarda por ser Poole F.G., Perry Jr. W.J., Madrid R.J., Amaya-Mar- como requisito para la promoción a profesor Titular, Fa-
refinado geológicamente, incluyendo varios desafíos geológicos por resolver: 1- La tínez R. 2005. Tectonic synthesis of the Ouachita-Ma- cultad de Ciencias, Universidad Nacional de Colombia.
rathon-Sonora orogenic margin of southern Laurentia: Restrepo J. & Toussaint J. 1988. Terranes and con-
documentación más detallada del registro magmático Pérmico, que en contraste con el Stratigraphic and structural implications for timing of tinental accretion in the Colombian Andes. Episodes,
registro Triásico es relativamente más limitado; 2- el entendimiento del metamorfismo deformational events and plate-tectonic model. In: An- 11(3):189:193.
Permico; 3- la compatibilidad entre la historia estructural y los modelos paleogeográfi- derson T.H., Nourse J.A., McKee J.W., Steiner M.B. The Restrepo J., Ordonez-Carmona O., Armstrong R.,
Mojave-Sonora Megashear hypothesis: development, Pimentel M.M. 2011. Triassic metamorphism in the nor-
cos (Rodríguez-Jiménez et al., 2018), y 4- el rol y participación de estas unidades en los assessment, and alternatives. The Geological Society of thern part of the Tahamí Terrane of the central cordillera
procesos Andinos Cretácicos y más jóvenes, bastante significativos como lo sugieren America, Special Papers, 393:543-596. of Colombia. Journal of South American Earth Sciences,
Vinasco y Cordani (2012) en su evaluación mediante la geocronología Ar-Ar de los González H. 1980. Geologıa de las Planchas 167 32(4):497-507.
(Sonson) e 187 (Salamina). Boletín Geológico de Ingeo- Restrepo J., Ordóñez-Carmona O., Martens U.,
episodios de reactivación a lo largo de las zonas de sutura cretácicas. minas, Informe 1760. Correa A. 2009. Terrenos, complejos y provincias en la
Las contribuciones del profesor Cordani en la geología colombiana van mucho mas Ibañez–Mejia M. & Cordani U.G. 2019. Zircon U– cordillera central de Colombia. Ingeniería Investigación
allá de las ideas desarrolladas e hipótesis propuestas para el periodo Permo-Triásico Pb geochronology and Hf–Nd–O isotope geochemistry y Desarrollo, 9(2):49-56.
of the Paleoproterozoic to Mesoproterozoic basement in Restrepo J., Toussaint J., González H., Cordani
para el basamento de la CC colombiana. Incluyen una larga lista de trabajos en rocas the westernmost Guiana Shield. In: Gómez J. & Mateus– U.G., Kawashita K., Linares E., Parila C. 1991. Precisio-
precambricas y cretácicas y aplicación de métodos geocronológicos e isotópicos de Zabala D. (eds.). The Geology of Colombia. Bogotá, Ser- nes geocronologicas sobre el occidente colombiano. In:
manera novedosa a diferentes problemas geológicos. Se resalta en esta contribución el vicio Geológico Colombiano, Publicaciones Geológicas Simposio Sobre Magmatismo Andino y su marco tectó-
Especiales, 35:97-125. nico. Manizales, Colombia, 1:1-22.
estudio del orógeno Permo-Triásico porque se trata del interés más personal del autor Jiménez D., Juliani C., Cordani U.G. 2006. P–T–t Rodriguez G., Correa-Martinez A., Zapata J., Oban-
en donde resultó fundamental la orientación e influencia del profesor Cordani. conditions of high-grade metamorphic rocks of the Gar- do G. 2019. Fragments of a Permian Arc on the Western
zon Massif, Andean basement, SE Colombia, Journal of Margin of the Neoproterozoic Basement of Colombia.
South American Earth Sciences, 21(4):322-336. In: Gomez Tapias J. & Mateus-Zabala D. (eds.). The
Agradecimientos Leal-Mejía H., Shaw R.P., Melgarejo J.C. 2011. Pha- Geology of Colombia. Bogotá, Servicio Geológico Co-
nerozoic granitoid magmatism in Colombia and the tec- lombiano, Publicaciones Especiales 35, 1: 293-335.
tono-magmatic evolution of the Colombian Andes. In: Spikings R., Cochrane R., Villagómez D., Van der
El autor agradece la contribución y revisión del texto realizadas por el Dr. Agus- Cediel F. (ed.). Petroleum Geology of Colombia. Regio- Lelij R., Vallejo C., Winkler W., Beate B. 2015. The geo-
tín Cardona, y a Juan Sebastián Jaramillo por la elaboración del mapa geológico. nal Geology of Colombia, Agencia Nacional de Hidro- logical history of northwestern South America: From Pan-
carburos (ANH) – EAFIT, 1:109-188. gaea to the early collision of the Caribbean Large Igneous
Martens U., Restrepo J., Ordoñez-Carmona O. Province (290-75Ma). Gondwana Research, 27:95-139.
Referências Cardona A., Chew D., Valencia V.A., Bayona G., 2014. The Tahami and Anacona Terranes of the Colom- Toussaint J.F. 1996. Evolución Geológica de Colom-
Mišković A., Ibañez-Mejía M. 2010b. Grenvillian rem- bian Andes: Missing Links between the South American bia 3: Cretácico. Medellín, Universidad Nacional de Co-
Álvarez J. & Cordani U.G. 1980. Precambrian nants in the Northern Andes: Rodinian and Phanerozoic and Mexican Gondwana Margins. The Journal of Geolo- lombia, 277 p.
basement within the septentrional Andes: age and ge- paleogeographic perspectives. Journal of South American gy, 122(5):507-530. Toussaint J.F. & Restrepo J.J. 1989. Acreciones su-
ological evolution. In: 26th International Geological Earth Sciences, 29:92-104. Maya M. & González H. 1995. Unidades Litodémicas cesivas en Colombia: un nuevo modelo de evolución
Congress. Paris, Abstract, 1:10. Bustamante C., Archanjo C.J., Cardona A., Busta- en la Cordillera Central de Colombia. Colombia, Informe geologica. In: 5º. Congreso Colombiano de Geologıa.
Aspden J.A. & McCourt W. 1986. Mesozoic oceanic ter- mante A., Valencia V.A. 2017. U–Pb ages and Hf isotopes Unidad Operativa Medellín, Ingeominas, p. 44-57. Memorias, p. 127-146.
rane in the central Andes of Colombia. Geology, 14(5):415. in zircons from parautochthonous Mesozoic terranes in Miskovic A., Spikings R.A., Chew D.M., Kosler J., Vesga C. & Barrero D. 1978. Edades K/Ar en rocas íg-
Aspden J.A., & Litherland M. 1992. The geology the western margin of Pangea: Implications for the terra- Ulianov A., Schaltegger U. 2009. Tectonomagmatic evo- neas y metamórficas de la Cordillera Central de Colombia
and Mesozoic collisional history of the Cordillera Real, ne configurations in the northern Andes. The Journal of lution of western Amazonia: geochemical characteriza- y su implicación geológica. In: 2º. Congreso Colombiano
Ecuador. Tectonophysics, 205:187-204. Geology, 125(5):487-500. tion and zircon U-Pb geochronologic constraints from de Geología. Bogotá, Colombia, Abstract, p. 21-31.
Aspden J.A., Mccourt W., Brook M. 1987. Geometri- Cardona A., Cordani U.G., MacDonald W. 2006. Tec- the Peruvian Eastern Cordilleran granitoids. Geological Vinasco C. & Cordani U.G. 2012. Episodios de re-
cal control of subduction-related magmatism: the Meso- tonic correlations of pre-Mesozoic crust from the northern Society of America Bulletin, 121:1298-1324. activación del sistema de fallas de Romeral en la parte
zoic and Cenozoic plutonic history of Western Colombia. termination of the Colombian Andes, Caribbean region. Nelson H.W. 1957. Contribution to the geology of Nor-Occidental de los andes centrales de Colombia a
Journal of the Geological Society London, 144:893-905. Journal of South American Earth Sciences, 21(4):337-354. the Central and Western Cordillera of Colombia in the través de resultados 39Ar-40Ar y K-Ar. Boletín de Ciencias
Bustamante A. & Juliani C. 2011. Unraveling an an- Cediel F., Shaw R., Cáceres C. 2003. Tectonic as- sector between Ibague and Cali. Leidse Geologische Me- de la Tierra, 32:111-124.
tique subduction process from metamorphic basement sembly of the northern Andean block. In: Bartolini C, dedelingen, 22:1-75. Vinasco C.J., Cordani U.G., Gonzales H., Weber
around Medellín city, Central Cordillera of Colom- Buffer RT, Blickwede J (eds) The circum—Gulf of Mexi- Noble S.R., Aspden J.A., Jemielita R. 1997. Nor- M., Pelaez C. 2006. Geochronological isotopic and geo-
bian Andes. Journal of South American Earth Sciences, co and the Caribbean: hydrocarbon habitats, basin for- thern Andean crustal evolution: New U/Pb geochrono- chemical data from Permo-Triassic granitic gneisses and
32(3):210-221. mation and plate tectonics. Tulsa, American Association logical constraints from Ecuador. Geological Society of granitoids of the Colombian Central Andes. Journal of
Cardona A., Valencia V., Garzon A., Montes C., Ojeda of Petroleum Geologists. AAPG Memoir, 79:815-848. America Bulletin, 109:789-798. South American Earth Sciences, 21:355-371.
G., Ruiz J., Weber M. 2010. Permian to Triassic I to S-type Cochrane R., Spikings R., Gerdes A., Ulianov A., Ordonez O. 2001. Caracterização isotópica Rb–Sr Weber B., Iriondo A., Premo W.R., Hecht L., Schaaf P.
magmatic switch in the northeast Sierra Nevada de Santa Mora A., Villagómez D., Putlitz B., Chiaradia M. 2014. e Sm–Nd dos principais eventos magmaticos nos Andes 2007. New insights into the history and origin of the sou-
Marta and adjacent regions, Colombian Caribbean: tecto- Permo Triassic anatexis, continental rifting and the disas- Colombianos. Ph.D. Thesis, Instituto de Geociências, thern Maya block, SE Mexico: U-Pb-SHRIMP zircon geo-
nic setting and implications within Pangea paleogeography. sembly of western Pangaea. Lithos, 190:383-402. Universidade de Brasília, Brasília. chronology from metamorphic rocks of the Chiapas massif.
Journal of South American Earth Sciences, 29:772-783. Cordani U.G., Cardona A., Jiménez D., Liu D., Nut- Ordonez O. & Pimentel M. 2002. Rb–Sr and Sm–Nd International Journal of Earth Sciences, 96:253-269.

416 417
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 20

Tectonic juxtaposition of Triassic and


Cretaceous meta-(ultra)mafic complexes in
the Central Cordillera of Colombia
(Medellín area) revealed by zircon U-Pb
geochronology and Lu-Hf isotopes
Mauricio Ibañez-Mejia1
(ibanezm@rochester.edu).
Jorge J. Restrepo2
(jjrestrepo@unal.edu.co).
Antonio García-Casco3
(agcasco@ugr.es).
1
University of Rochester, Department of Earth and Environmental Sciences.
2
Universidad Nacional de Colombia, Departamento
de Geociencias y Medio Ambiente, Grupo Gemma.
3
Universidad de Granada, Departmento de Mineralogía y Petrología.
Mauricio Ibañez-Mejia.
1. Introduction

The Phanerozoic geologic evolution of northwestern South Amer-


ica is characterized by a complex tectonic history involving multiple
events of regional extension, compression and terrane accretion that
ultimately shaped the basement of the northern Andes (e.g., Restrepo
& Toussaint, 1988; Toussaint & Restrepo, 1989; Maya & González, Figure 1:
1995; Spikings & Paul, 2019; among many others). This protracted a) Geologic sketch of re-
Although many efforts have been made over the past decades to gional tectonostratigraphic
history of Paleozoic to modern subduction-related orogenesis and oro- reconstruct the tectonostratigraphic architecture of the northern An- units in the north Andean
genic collapse, terrane docking, and superposed strike-slip tectonics is des using modern geochronologic methods (e.g., Vinasco et al., 2006; Central Cordillera and
particularly striking in the Central Cordillera of Colombia (figure 1a), their bounding structures
Cardona-Molina et al., 2006; Villagómez et al., 2011; Cochrane et (modified from Cor-
where rocks of clear continental and oceanic affinity are commonly al., 2014a, b; Bustamante et al., 2016; Jaramillo et al., 2017, other rea-Martínez, 2007);
found side-by-side, juxtaposed along regional-scale fault systems. It is references therein), the interpretations and tectonic models derived b) simplified geological
recognized that the relative angle of convergence between the over- map of the Aburrá Valley
Jorge J. Restrepo. from the existing data remain ambiguous. This is particularly true for region near the city of
riding and down-going plates along an active continental margin plays blocks whose basement dominantly consists of basic and/or metabasic Medellín, compiled after
a critical role in controlling along-strike displacement of continental lithologies (e.g., Arquia complex), where the application of modern Botero (1963), Correa–
and oceanic terranes (e.g., Patchett & Chase, 2002), and ocean-floor Martínez & Martens
zircon U-Pb geochronology has been hampered by the naturally low (2000), Rodríguez et al.
magnetic anomalies indicate that strongly oblique convergence (>30˚) abundance of this phase in such rock types. One clear example of (2005), Restrepo et al.
has been prevalent in the north Andean orogen since at least the early these shortcomings is our current understanding of the geology of the (2012), Garcia-Casco et
al. (2019), and references
Jurassic (Seton et al., 2012). This has resulted in the development of Aburrá valley region, where the city of Medellín is located. The am- therein.
prominent margin-parallel structural features of dominantly transcur- phibolites and associated ophiolitic rocks/metapelites in the area are
rent nature such as the Romeral Shear Zone, which extends for more commonly considered oceanic fragments accreted to the Permian-Tri-
than 1000 km from northern Colombia to Ecuador and is thought assic Cajamarca Complex of the north Andes. Nevertheless, their com-
to have been active since, at least, the early Mesozoic (see review in plex tectonostratigraphic relationships and general paucity of accurate
Vinasco, 2019). Due to these structural complexities, imposing robust geochronologic data for these units preclude robust interpretations of
geochronologic constraints is arguably essential towards reconstruct- their origin and accretionary/metamorphic history. Consequently, al-
ing the crustal development and tectonic history of the northern An- though the geologic evolution of the Aburrá valley has been intensely
dean margin, especially when dealing with lithospheric blocks bound debated for decades, and many stratigraphic/petrological/structural
Antonio García-Casco. by regional transcurrent fault systems. interpretations have been proposed (e.g., Botero, 1963; Restrepo &

418 419
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 20

Toussaint, 1984; Correa-Martínez & Martens, 2000; Correa-Martínez et al., 2005; was obtained from metasedimentary gneiss near the La Sierra tunnel area, while
Correa-Martínez, 2007; Restrepo, 2008; Rodríguez et al., 2016; Garcia-Casco et the enclosing amphibolites had previously been dated to 90.8 ± 4.5 Ma by K-Ar
al., 2019), the scarcity of robust geochronologic constraints has led not only to (Restrepo & Toussaint, 1976). At the time, it was considered that the regional meta-
ambiguities in the local stratigraphic/structural/lithological nomenclature, but also in morphism of this sequence was pre-Cretaceous, and that the Rb-Sr as well as K-Ar
the tectonic models that have been invoked to explain the evolution of the region. dates must have been reset during the emplacement of the Antioquian Batholith. It is
To better understand the age and tectonic significance of the ophiolitic metaba- worth noting that all these samples were collected from the metabasic/metasedimen-
sic/metapelitic and volcanic-arc igneous units in the Aburrá valley area, we have con- tary sequence known today as the Santa Elena amphibolites (after Restrepo, 2008).
ducted a geochronologic study using modern U-Pb zircon dating methods. Our new As with many other aspects of the geology of Colombia, particularly those
ages, in combination with Lu-Hf isotopic results from the same dated crystals, allow concerning the temporal understanding of events that shaped the South American
us to place key constraints on the origin of these units, their timing of accretion to continent using radio-isotopic methods, the role that Umberto Cordani played in
the continental margin, as well as the source of the liquids/fluids from which zircon unraveling the geologic history of the Colombian Andes was a central one. It is the
(re)-crystallized. In particular, we focused our work on understanding the origin authors’ pleasure to contribute this work in celebration of Prof. Cordani’s monu-
and development of units that comprise the Aburrá Ophiolite, as well as its tectonic/ mental scientific career, by presenting state-of-the-art geochronologic results for
pseudostratigraphic relationship with oceanic metabasites from the unit known as the very same geologic units on which he performed pioneering K-Ar and Rb-Sr
the Santa Elena amphibolites. Our results provide further support to the hypothesis work more than four decades ago.
of Restrepo (2008) that the metabasites of the Aburrá ophiolite that structurally
underlie the Medellín Metaharzburgitic Unit (as opposed to the commonly used
term “Medellín Dunite”; note that in this paper we follow the new terminology 3. Geologic context and sampling
proposed by García-Casco et al., 2019) represent a metamorphic sole, and propose
that their metamorphism defines the timing of subduction initiation within the basin The basement of the Central Cordillera predominantly consists of metamor-
where this ophiolite was formed. Furthermore, we demonstrate that the Santa Elena phic and plutonic rocks ranging in age from late Proterozoic to the Mesozoic (e.g.,
amphibolites and associated metapelites, previously considered of Permian-Triassic Toussaint & Restrepo, 1989; Restrepo et al., 1991; Maya & González, 1995; Vina-
age, are part of a much younger oceanic unit formed and metamorphosed during sco et al., 2006; Villagómez et al., 2011; Blanco-Quintero et al., 2014; Cochrane
the Cretaceous, thus lending further support to the stratigraphic subdivision of the et al., 2014a, b; Bustamante et al., 2016; Jaramillo et al., 2017; Spikings & Paul,
Aburrá metabasites as outlined by Restrepo (2008) based mostly on structural obser- 2019, and other references therein), and is the locus of recent subduction-related
vations and geochemical data. volcanism in the north Andes. Two main continental domains separated by the
Otú-Pericos fault system were recognized early on by Restrepo & Toussaint (1988)
and Toussaint & Restrepo (1989) based on their contrasting basement types,
2. Historical perspective and namely the Chibcha Terrane (CT) to the east of the Otú-Pericos fault, and the
Umberto Cordani’s contributions Tahamí Terrane (TT) to the west. The CT is underlain by plutonic and high-grade
metamorphic rocks of Proterozoic age (e.g., Cordani et al., 2005; Ibañez-Mejia
In the mid to late 70’s, the number of radio-isotopic dates available for units et al., 2011, 2015), whereas the TT is characterized by a basement consisting of
in the Colombian Andes was extremely limited. An important leap forward was medium to high-grade metamorphic and intrusive rocks yielding Permian to Tri-
accomplished within the framework of the IGCP-120 project “Magmatic Evolution assic ages (Restrepo et al., 2011; Villagómez et al., 2011; Cochrane et al., 2014a;
of the Andes” led by Umberto Cordani, where several K-Ar and Rb-Sr dates from Spikings & Paul, 2019, and references therein). The rocks studied here are part
the Colombian Andes were performed at the Geochronological Research Center of of the latter terrane, which mostly consists of a geologic unit known regionally as
the University of São Paulo by Cordani, and at the Ingeis in Buenos Aires by Enrique the Cajamarca Complex (Maya & González; 1995; figure 1a). It is worth noting
Linares. In 1978, Cordani visited Medellín to offer a workshop on radio-isotopic that the mid- to high-grade metamorphic units exposed in the vicinity of the city
dating and to participate in fieldwork aimed at collecting amphibolites from the of Medellín were not part of the Cajamarca Complex from its original definition
Ayurá-Montebello group (Botero, 1963), the tectonostratigraphic unit that included by Maya & González (1995), but instead formed part of the so-called Ayurá-Mon-
all metamorphic rocks in the vicinities of the city of Medellín at the time. All dates tebello Group of Botero (1963). Nevertheless, it is now becoming evident that
obtained using the K-Ar method from these samples fell within two relatively narrow several distinct metamorphic belts of different ages can be recognized both within
age ranges, one between 105 and 90 Ma, and a second one between 62 and 60 Ma. the Ayurá-Montebello and the Cajamarca groups, which poses complications to
Whereas the former was interpreted as a minimum age for the regional metamorphic the commonly used nomenclature. Since proposing new stratigraphic/structural/
event responsible for widespread amphibolite-facies recrystallization, the second lithological nomenclature is beyond the purpose of this study, we use the term
group was interpreted as related to the thermal effects associated with emplacement Cajamarca Complex lato sensu, to also include rocks originally assigned to the
of the Antioquian Batholith (Restrepo et al., 1991). A Rb-Sr isochron of ca. 81 Ma Ayurá-Montebello group in the vicinity of Medellín.

420 421
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 20

In the Aburrá valley of the Central Cordillera, a large meta-ultramafic tectonite is


exposed to the E and N of the city of Medellín (figure 1b). This unit, historically re-
ferred to as the ‘Medellín Dunite’ (e.g., Álvarez, 1987; Restrepo & Toussaint, 1984),
has been interpreted as the mantle section of the so-called Aburrá Ophiolite (e.g.,
Correa–Martínez & Martens, 2000; Correa–Martínez et al., 2005; Restrepo, 2008).
These rocks, which are pervasively recrystallized, have hydrated minerals such as
tremolite, chlorite and talc which developed mostly at the expense of pyroxene.
More recently, García-Casco et al. (2019) argued that these rocks mostly correspond
to metaharzburgites, not dunites, and tentatively proposed two alternative tectonic
scenarios to explain metamorphism in the metaharzburtic unit and underlying me-
tabasites of the Aburrá ophiolite. One of these models, justified and developed here
in detail, challenges previous ideas for a “normal” ophiolite in the region and its
previously suggested ocean-floor metamorphism.
The Medellín Metaharzburgitic Unit is structurally underlain by amphibolite-facies
metabasalts and metagabbros (figure 1b), the latter typically considered as part of the
basal amphibolites of the Ayurá-Montebello Group (Botero, 1963) or as a separate
unit, the ophiolitic El Picacho Metagabbros (Correa–Martínez et al., 2005). More
recently, the metabasites associated with the Medellín Metaharzburgitic Unit have
been grouped by Restrepo (2008) within a unit he named the La Espadera-Chupadero
Amphibolite, which were separated from another metabasic unit exposed east of the
Rodas fault called the Santa Elena Amphibolite (figure 1b). A relatively small sliver of
amphibolites approximately bound by the Rodas, Santa Lucía, and La Aguadita faults
in the Santa Elena creek valley (see map in figure 2 of Restrepo, 2008, for details),
was recently studied by Rodríguez et al. (2016) and interpreted to be of Paleozoic age.
These authors suggested this fragment to represent an entirely different metabasic unit,
which they called the La Aguadita amphibolites.
To further understand the relationships amongst the various mafic units de-
scribed above, and to place robust constraints regarding their tectonic significance
in the geologic evolution of the Central Cordillera, we obtained new ages from the
La Espadera-Chupadero and El Picacho metabasite units, as well as the Santa Elena
Figure 2: Representative
amphibolites and associated metasediments. A plutonic rock that intrudes one of Three samples from the meta-basic rocks of the Aburrá Ophi- high-resolution cathodolumines-
the local faults was also dated to obtain a minimum age for the tectonic juxtaposi- olite were analyzed. These are: 1) a margarite-rich meta-gabbroic cence images of individual zircon
tion of the two meta-(ultra)basic units. GPS coordinates of all studied samples are crystals from the studied Triassic
pegmatite in the Quebrada Seca area (sample QS-1); 2) a medi- metabasites: a) Quebrada Seca
included in table 1. um-grained amphibolite from the La Espadera unit (sample AE-1) metagabbropegmatite sample
which structurally directly underlies the Medellín Metaharzbur- QS-1; b) El Picacho metabasites
deformed Qz-tonalitic leucosome
gitic Unit and is tectonically intermingled at the outcrop scale with sample LPP-1; c) La Espadera
carbon-rich metasediments and serpentinites, and 3) a deformed amphibolite sample AE-1. White
quartz-rich tonalitic layer enclosed within metagabbroic rocks circles are locations of analytical
spots for U-Pb geochronology
of the El Picacho unit, which appear to structurally underlie the and white numbers are the
Aburrá metaharzburgitic unit along the Medellín-San Pedro road respective 206Pb/238U dates (±2
(sample LPP-1). Sample QS-1 is composed mainly of hornblende, 𝜎) for each spot analysis. Green
circles are locations of analytical
plagioclase, zoisite, margarite-rich mica and millimeter-sized zir- spots for Lu-Hf isotopes and
cons, and locally the mica is partially replaced by plagioclase. The green numbers are calculated
amphibolite collected from the La Espadera unit (sample AE-1) is initial ƐHf values (±2𝜎) using
Table 1: GPS locations of all studied samples (WGS84 the age of the nearest U-Pb spot
datum). IGSN: International GeoSample Number unique dominantly composed of greenish hornblende and mm-sized pla- analysis. All analyses conducted
identifier for on-line metadata (http://www.geosamples.org/).
gioclase bands with minor clinopyroxene. The metamorphic foli- by LA-ICP-MS as described in
ation of the amphibolites is parallel to the fabric of the overlying the main text.

422 423
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 20

metaharzburigitic unit. Other outcrops of this unit, located in close proximity to 232
Th and 238U were measured using Faraday cups. Data collection, processing, and
the sample analyzed here, show the presence of millimetric bands of micas and uncertainty calculations follow the approach of Ibañez-Mejia et al. (2014). Analy-
graphite found within the amphibolites. This indicates the presence of a subdued ses conducted on the Element2 follow the methods and data processing approach
pelitic component intercalated with the basic protoliths to the amphibolites, im- outlined in Pullen et al. (2018). To assess the accuracy of our dates, and ensure data
plying that their deposition took place in a surficial environment in the form of compatibility across sessions and instruments, zircon crystals from the R33 locality
basaltic flows and/or mafic tuffs. with a well-established ID-TIMS age of 419.26 ± 0.38 Ma (Black et al., 2004) were
Two samples were collected from the Santa Elena unit: 1) a medium-grained frequently analyzed and treated as unknowns during all analytical sessions. Calcu-
garnet amphibolite along the Medellín-Guarne road (sample AMI-2), and 2) a lated mean ages for this secondary reference material are as follows: 421.5 ± 2.9
garnet-sillimanite gneiss from a thin metasedimentary horizon along the Me- Ma (2σ, n = 14, MSWD = 0.3) using ‘Faraday’ collection on the Nu Plasma; 421.0
dellín-Guarne road, enclosed within amphibolites near the La Sierra tunnel ± 2.8 Ma (2σ, n = 11, MSWD = 1.6) using ‘ion-counter’ collection on the Nu
(sample TNL-1). The amphibolites along this section are dominantly composed Plasma; and 419.7 ± 2.2 Ma (2σ, n = 35, MSWD = 0.6) on the Element2. These
of green to brownish hornblende and plagioclase. Some localities, such as the results indicate that dates obtained using our different analytical approaches are all
one sampled here, also include almandine-rich garnet, which indicates metamor- compatible and accurate within the calculated uncertainties of our data. Mean dates
phic recrystallization at intermediate to moderate-pressure. Metasedimentary discussed throughout the text are weighted mean 206Pb/238U values, and uncertainties
rocks interbedded with the amphibolites are typically composed of quartz-pla- are presented in the form ±X/Y, where X is solely analytical uncertainty, while Y
gioclase-muscovite-biotite-graphite, and in some localities such as the one sam- is the total uncertainty that combines the analytical uncertainty, uncertainty on the
ple here also include sillimanite and garnet, in agreement with the metamorphic ID-TIMS date of the primary reference material, SSB normalization uncertainty, and
assemblages of the amphibolites. 238
U decay constant uncertainty (see Ibañez-Mejia et al. (2014) for further details).
One sample from a tonalitic pluton, interpreted as a satellite body to the After LA-ICP-MS analyses, a sample from the Media Luna stock was selected for
Antioquian Batholith and known as the Media Luna stock (Restrepo, 2008), was dating by chemical abrasion–isotope dilution–thermal ionization mass spectrome-
collected from the Santa Elena creek valley (sample SML-1). Along this valley, try (CA-ID-TIMS), to validate the accuracy of the new dates reported here and of
the Rodas lineament is slightly offset (≤500 m) by two minor faults, known as our interpretations. Select zircon crystals were individually removed from the epoxy
the La Aguadita and Santa Lucía faults. The Media Luna stock intrudes the Santa mount used for LA-ICP-MS dating, and subjected to a modified version of the CA-
Lucía fault north of the Santa Elena creek (Restrepo, 2008), and should therefore TIMS method of Mattinson (2005) at the MIT isotope geochemistry laboratories
provide a minimum age of tectonic activity along the Santa Lucía and the Rodas as described by Ibañez-Mejia & Tissot (2019). In brief, zircons plucked from the
structures. LA-ICP-MS mounts were annealed in quartz crucibles in a muffle furnace at 900°C
for 60 hours, chemically abraded using a single abrasion step in concentrated HF at
205°C for 12 hours, and processed for isotope dilution thermal ionization mass spec-
4. Methods trometry (ID-TIMS) using the EARTHTIME 205Pb-233U-235U tracer. U and Pb isotopic
measurements were made on an IsotopX PhoeniX-62 TIMS at MIT. U-Pb dates and
uncertainties were calculated using U-Pb Redux (Bowring et al., 2011) and the U
4.1 U-Pb zircon geochronology
decay constants of Jaffey et al. (1971). The uncertainty of the weighted mean age for
Zircon crystals were concentrated using traditional magnetic and density separa-
this sample is presented in the form ±X/Y/Z, where X is solely analytical uncertainty,
tion techniques. Individual grains were hand-picked under a binocular microscope,
Y is the combined analytical and tracer uncertainty, and Z is the combined analytical,
mounted in epoxy resin, and polished to expose the interior of the grains prior
tracer and 238U decay constant uncertainty.
to cathodoluminescence (CL) imaging using a scanning electron microscope. U-Pb
geochronologic analyses were conducted by laser ablation–inductively coupled plas-
ma–mass spectrometry (LA-ICP-MS) at the Arizona Laserchron Center (ALC), using 4.2 Zircon Lu-Hf isotope geochemistry
a Photon Machines Analyte G2 laser coupled either to a Nu Plasma multicollec- A sub-set of the zircon crystals previously dated by U-Pb using LA-ICP-MS were
tor ICP-MS or a ThermoScientific Element2 single-collector ICP-MS. Instrumental selected for Lu-Hf isotopic analyses, to better understand the sources of the fluids/
bias, drift, and inter-element fractionation corrections were performed by the stan- magmas from which the dated zircon crystalized. Laser ablation Lu-Hf isotopic mea-
dard-sample bracketing (SSB) approach, using an in-house Sri Lanka zircon crystal surements were conducted at the ALC following the analytical protocols described
with well-established ID-TIMS age of 563.5 ± 3.2 Ma as primary reference mate- in detail by Ibañez-Mejia et al. (2014, 2015), so only a brief summary is provided
rial. U-Pb analyses conducted using the Nu Plasma MC-ICP-MS were performed here. Masses 171 through 180 were all simultaneously monitored using Faraday
in two different ways: i) using a laser-beam diameter of 30 µm and simultaneously collectors fitted with 3x1011 ohm amplifying resistors on a Nu plasma MC-ICP-MS.
measuring all Pb masses in Faraday cups (hereafter referred as ‘Faraday’ method); Mass-bias factors to correct for Hf fractionation (βHf) were calculated for each cycle
or ii) using a laser-beam diameter of 15 µm and measuring all Pb masses in dis- by internally normalizing the measured 179Hf/177Hf values relative to a reference ratio
crete-dynode secondary ion multipliers (i.e., ‘ion-counting’ method). In all cases, of 0.7325 (Patchett & Tatsumoto, 1980), using an exponential fractionation law.

424 425
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 20

dellín Metaharzburgitic Unit (figure 1), yield-


ed zircon crystals between 300 to 800 µm in
diameter with varied internal zonation (figure
2b). Some crystals are weakly sector-zoned to
un-zoned, have homogeneous CL response,
and are equant to sub-equant in dimensions
Figure 3: U-Pb concordia (e.g., two leftmost crystals in figure 2c). Other
diagrams for studied Triassic Ytterbium mass fractionation was corrected using a 173Yb/171Yb value crystals, such as the two shown towards the
metabasites: a) Quebrada Seca of 1.129197 (Vervoort et al., 2004) and a session-specific 176Yb/173Yb right of figure 2c, have strongly zoned cores
metagabbropegmatite sample
QS-1; b) El Picacho metab- bias correction factor obtained from measurement of high REE/Hf that exhibit well-preserved or partially blurred
asites deformed Qz-tonalitic natural and synthetic zircon crystals (see Ibañez-Mejia et al. (2015) oscillatory-zoned textures. These, in turn, ap-
leucosome sample LPP-1; c) La for details). All 176Hf/177Hf compositions reported here are relative to pear mantled or partially recrystallized by un-
Espadera amphibolite sample
AE-1. All ellipses are 2𝜎. a Mud Tank zircon value of 0.282507 (Woodhead & Hergt, 2005), zoned or sector-zoned recrystallization rims.
and this reference material was analyzed twice every ~15 unknowns All spots analyzed from the un-zoned (or weak-
during our session. Additionally, the reference crystals FC-1 and R-33 ly zoned) crystals and/or overgrowths have
were also analyzed repeatedly throughout the session in order to mon- undistinguishable U-Pb dates within uncer-
itor the accuracy of Hf bias and Yb interference corrections. These tainty, resulting in a weighted mean 206Pb/238U
crystals are particularly well suited for this purpose due to their much crystallization age of 220.9 ± 1.6/2.6 Ma
higher HREE/Hf ratios compared to most natural crystals and other (2𝜎, MSWD= 1.1, n= 21; figure 3c). The os-
zircon reference materials (Ibañez-Mejia et al., 2015). During the ses- cillatory-zoned cores, on the other hand, are
sion in which the samples reported here were analyzed, we obtained only slightly older and most crystals have sta-
mean values of 0.282177 ± 63 (2 S.D., n= 52) and 0.282704 ± 45 (2 tistically undistinguishable dates resulting in a
S.D., n= 34) for FC-1 and R-33, respectively. These values are with- weighted mean 206Pb/238U crystallization age of
in uncertainty of their JMC-475 normalized solution-MC-ICP-MS 228.5 ± 1.4/2.5 Ma (2𝜎, MSWD= 0.8, n= 24;
Figure 4: Initial 176Hf/177Hf vs. 206Pb/238U date
reference compositions (Eddy et al., 2017), thus demonstrating the figure 3c). A few older xenocrysts (n= 5) with plot for all zircon from Triassic metabasites
accuracy of our data and providing a measure of 176Hf/177Hf external 206
Pb/238U dates between ca. 244 and 560 Ma analyzed for Lu-Hf. Faded symbols represent
reproducibility during our session. were also found in this sample. Hafnium iso- individual spot analyses (without uncertain-
ties plotted) while solid symbols represent the
topic analyses from the weakly-zoned crystals/ interpreted mean 176Hf/177Hf composition and
overgrowths, and the oscillatory-zoned cores, weighted mean 206Pb/238U age for each one of the
5. Results* also support the separation of ages described samples. 176Hf/177Hf uncertainties are 2 standard
deviations of the data, while 206Pb/238U uncertain-
above based on textural criteria. While the ties are 2 standard errors of the weighted mean.
5.1 Samples from “La Espadera-Chupadero amphibolites” cores have radiogenic isotopic compositions No mean values or uncertainties are plotted for
and “El Picacho metagabbros” units with a mean initial 176Hf/177Hf = 0.28279 ± the results of sample 10RC39A from Cochrane
et al. (2014) because the reported means repre-
The deformed pegmatitic gabbro sample QS-1 from the Quebrada 12 (2 SD, n= 8), the weakly-zoned crystals and sent mixtures of core and rim domains. DMM:
Seca section (figure 1) yielded large zircon crystals with sizes up to 1 mm overgrowths yield a much lower mean initial Depleted MORB mantle model from Vervoort et
176
Hf/177Hf = 0.282512 ± 70 (2 SD, n= 16). al. (2017). AC: Arc Crust model from Dhui-
in diameter and well-preserved sector- and oscillatory-zoned internal me et al. (2011). CHUR: Chondritic Uniform
structures (figure 2a). Spots analyzed for U-Pb in different zones of these These values are equivalent to initial εHf(t)= Reservoir model from Bouvier et al. (2008). Red
crystals have undistinguishable dates within uncertainty, resulting in a +5.1 ± 4.3 and -4.8 ± 2.5, respectively. The dotted lines are apparent TAC model age contours
*Supplementary analytical larger dispersion in initial 176Hf/177Hf for these calculated using the mean 176Lu/177Hf composi-
weighted mean 206Pb/238U age of 228.1 ± 1.2/2.3 Ma (2𝜎, MSWD= 0.9, tion of global subducted sediments from Plank
results to this chapter can be
obtained upon request to M.I. n= 39; figure 3a). Lu-Hf analyses conducted in different textural do- two populations could be due to the textural and Langmuir (1998). Gray dashed lines repre-
-M. (at ibanezm@arizona.edu), mains of these crystals also yielded undistinguishable initial Hf isotopic complexity of the studied grains, which im- sent iso-εHf deviations from the CHUR model.
or found at the EARTHCHEM plies that domain mixing of these contrasting The MT and R33 uncertainty bars represent
compositions within uncertainties, consistent with a mean 176Hf/177Hf the external reproducibility (at 2SD) of these
(http://www.earthchem.org/)
and GEOCHRON (https:// = 0.282753 ± 68 (2 SD, n= 33) corrected to the mean age of zircon compositional endmembers during ablation is reference materials during the analytical session
www.geochron.org/) on-line crystallization. This is equivalent to a mean εHf(t)= +4.1 ± 2.5 (2 SD) difficult to avoid. Therefore, the initial εHf(t) in which our samples were analyzed.
data repositories. using the CHUR parameters of Bouvier et al. (2008). values of +5.1 ± 4.3 and -4.8 ± 2.5 for the
The fine-grained amphibolite sample AE-1 from La Espadera am- cores and un-zoned domains represent mini-
phibolite unit, which is in direct structural contact below the Me- mum and maximum values, respectively.

426 427
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 20

Figure 6: U-Pb
concordia diagram
for analyzed zircons
from the Santa Elena
garnet-amphibolite
sample AMI-2. All
ellipses are 2𝜎.

Figure 5: Representative
high-resolution cathodolu- The deformed Qz-rich tonalitic layer sample LPP-1 from within the El
minescence images of indi-
vidual zircon crystals from Picacho metagabbros along the Medellín-San Pedro road (figure 1), also
studied samples of the Santa yielded large zircon crystals between 300 to 800 µm in diameter exhibit-
Elena amphibolites unit: a) acterized by oscillatory-zoned cores with sharply contrasting CL bands, which are
Santa Elena garnet-amphi-
ing combined oscillatory- and sector-zoning (figure 2b). All spots analyzed
bolite sample AMI-2; b) La from these crystals have undistinguishable U-Pb dates within uncertain- mantled by oscillatory- to sector-zoned recrystallization rims (figure 5b). U-Pb anal-
Sierra tunnel garnet-silli- ty, resulting in a weighted mean 206Pb/238U crystallization age of 221.7 ± yses of the oscillatory-zoned cores were performed using the Faraday routine on
manite gneiss sample TNL- the Nu Plasma, and yielded 206Pb/238U dates between ca. 128 to 184 Ma (figure 7a).
1. Other conventions are
1.0/2.1 Ma (2𝜎, MSWD= 0.5, n= 40; figure 3b). Lu-Hf analyses also
the same as in figure 2. result in undistinguishable initial Hf isotopic compositions within uncer- Thick recrystallization rims were dated using 30 µm ablation spots and Faraday mea-
tainties, consistent with a mean, age-corrected 176Hf/177Hf = 0.282873 ± surements on the Nu Plasma, whereas thinner ones were dated using 15 µm ablation
48 (2 SD, n= 31). This is equivalent to εHf(t)= +8.1 ± 1.7 (2 SD). spots and ion-counting detectors. All analyses performed on the rims, irrespective
of measurement method, are undistinguishable within uncertainties, and yield a
5.2 Santa Elena unit weighted mean 206Pb/238U crystallization age of 101.8 ± 0.6/1.2 Ma (2𝜎, MSWD=
The two analyzed samples from the Santa Elena unit are a garnet 0.9, n= 19; figure 7b). Lu-Hf isotopic analyses from the cores indicate that most
amphibolite (AMI-2) and a graphite-bearing sillimanite-garnet-biotite zircon have initial 176Hf/177Hf between ~0.28280 and 0.28300, or εHf(t) between
gneiss (TNL-1), which appears interlayered within the thick package +3 and +11, respectively (figure 7c). A few crystals with ages in the 140-160 Ma
of the amphibolitic unit. age interval also exhibit much lower 176Hf/177Hf values with εHf(t) between 0 and -4.
Sample AMI-2 yielded relatively small zircon crystals between ~100
and 250 µm in diameter along their major axes. Many of these crystals 5.3 Media Luna stock
are equant to sub-equant, and display un-zoned to weakly sector-zoned Sample SML-1 yielded dominantly euhedral zircon crystals of ca. 250 to 500
textures (figure 5a). A few relict cores with partially to strongly blurred µm length and clear internal oscillatory zoning (e.g., figure 8a). Twenty-one LA-
oscillatory-zoned textures were also observed. U-Pb analyses utilizing ICP-MS analyses conducted using 30 µm spot diameters and Faraday detectors
15 µm ablation spots and ion-counter measurements in the Nu Plasma on the Nu Plasma yielded a weighted mean 206Pb/238U crystallization age of 89.1
resulted in a weighted mean 206Pb/238U crystallization age of 101.0 ± ± 1.0/1.3 Ma (2𝜎, MSWD= 0.5, n= 21; figure 8b). One analysis conducted in a
0.8/1.2 Ma (2𝜎, MSWD= 1.1, n= 18; figure 6) from the un-zoned high-U domain was statistically younger (gray ellipse in figure 8a) and therefore
and/or sector zoned crystals. The few cores with relict oscillatory-zoned not considered towards the mean crystallization age. Five crystals from this sample
textures have 206Pb/238U dates between 150 and 170 Ma. that had been previously analyzed by LA-ICP-MS were carefully plucked from the
Sample TNL-1 yielded abundant zircon crystals ranging between epoxy mount under a binocular microscope and processed using the CA-ID-TIMS
~250 and 500 µm in diameter. The vast majority of these are char- approach. All five zircons yielded statistically undistinguishable dates at high pre-

428 429
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 20

Figure 8: a) Representative
top section of an ophiolite pseudostratigraphy), are structurally under- high-resolution cathodolu-
minescence images of two
neath the Medellín Metaharzburgitic Unit (i.e., the exhumed mantle individual zircon crystals
Figure 7: a) U-Pb concor-
dia diagram for all zircon cision, resulting in a Th-corrected weighted mean 206Pb/238U crystal- section). This is also the case for the El Picacho metabasites, which ap- from the Media Luna
lization age of 88.849 ± 0.046/0.065/0.12 Ma (2𝜎, MSWD= 0.79, Stock sample SML-1; spots
analyzed from the Santa pear to structurally underlie the Medellín Metaharzburgitic Unit (fig- indicate the location of
Elena garnet-sillimanite n= 5; figure 8c). This CA-ID-TIMS age is in excellent agreement ure 1b). These observations were used by Restrepo (2008) to propose
gneiss sample TNL-1; b) LA-ICP-MS U-Pb analyses
‘zoomed-in’ U-Pb concordia with the mean crystallization age obtained by LA-ICP-MS (absolute that the Medellín metaharzburgite and La Espadera-Chupadero am- and resulting 206Pb/238U dates
offset of 251 kyr, or ~0.3%), therefore providing additional demon- (±2𝜎) for each.
diagram showing only results phibolites and the El Picacho metabasites do not actually correspond b) U-Pb concordia diagram
from recrystallization rims stration that the ages we obtained by LA-ICP-MS are accurate within to different structural levels within a simple ophiolite pseudostratigra-
used to calculate the age of for zircons from sample
metamorphism of sample uncertainties. phy, as previously suggested by Correa & Martens (2000), but rather SML-1, analyzed by LA-
ICP-MS.
TNL-1; c) Initial 176Hf/177Hf that the latter unit represents a sub-ophiolitic metamorphic sole to the c) U-Pb concordia diagram
vs. 206Pb/238U date plot for Medellín Metaharzburgitic Unit.
all zircon from sample for zircons from sample
TNL-1 analyzed for Lu-Hf. 6. Discussion Sub-ophiolitic soles are relatively thin (<500 m thick) layers of SML-1, analyzed by CA-ID-
TIMS. All ellipses are 2𝜎.
Each symbol represents an strongly sheared intermediate- to high-grade metamorphic rocks
individual zircon analysis commonly found to structurally underlie many ophiolitic sequences
and its associated 176Hf/177Hf 6.1 Timing of formation, metamorphism and
uncertainty. N Andes Plu- tectonic development of the Aburrá Ophiolite worldwide (Wakabayashi & Dilek, 2003; and references therein). For
tons field from Cochrane Triassic ages for the metabasic units in the Aburrá valley have example, the Semail ophiolite of Oman, the largest ophiolite in the
et al. (2014b). Fields for
the Mariquita, Ibague and been described by previous workers (e.g., Correa-Martínez, 2007; world, preserves a ≤300 m thick high-grade metamorphic sole struc-
Payande plutons of the Restrepo et al., 2007). Nevertheless, a clear recognition of wheth- turally below the peridotite tectonite (e.g., Hacker, 1994; Hacker et
Colombian Central Cordil- er the existing dates represent protolith crystallization ages, ages of al., 1996). In understanding the dynamics of ophiolite emplacement,
lera are after Bustamante et
al. (2016). Vertical gray bars metamorphism, or a mixture of the two, has proven difficult. This Hacker et al. (1996) highlighted the importance of establishing tem-
represent the ages of meta- ambiguity has hampered a clearer understanding of how the me- poral relationships between the ophiolite fragment and its sole, and
morphism (from panel b) and ta-basic units of the Aburrá valley relate to one another in a temporal recognized that subduction of ‘hot and young’ oceanic lithosphere is
of maximum sedimentary
protolith deposition from the and tectonostratigraphic framework, and what those relationships not only a widespread characteristic of sub-ophiolitic soles globally,
youngest detrital zircon crys- imply for tectonic and geodynamic reconstructions of this section of but also that it provides the best explanation for the thermal regimes
tals dated from this sample. the proto-Andean margin at the wake of Pangea. necessary to attain the observed metamorphic gradients within the
All other conventions are the
same as in figure 4. Based on structural and geochemical data, Restrepo (2008) divided sole (e.g., Hacker, 1990). In fact, a recent high-precision U-Pb study
the ‘Medellín amphibolites’ into three main units: i) the Santa Ele- of the Semail Ophiolite demonstrated that formation of the sub-ophi-
na amphibolite, and ii) the La Espadera-Chupadero amphibolite, and olite sole in Oman only shortly post-dated and may even be occurring
iii) the El Picacho metabasites – or El Picacho metagabbros – of Cor- simultaneously with formation of the ophiolite crust above the corre-
rea-Martínez et al. (2005). One puzzling aspect of the Aburrá Ophi- sponding mantle section (Rioux et al., 2016). These authors argued
olite stratigraphy pointed out by Restrepo (2008) was the structural that this close temporal relationship is only consistent with ophiolite
position of the La Espadera-Chupadero amphibolites relative to the and sole formation in a supra-subduction tectonic setting. Therefore,
Medellín Metaharzburgitic Unit. In a ‘normal’ (i.e., Penrose-style) the temporal relationship between oceanic lithosphere formation and
ophiolitic stratigraphy, the ultramafic (mantle) section defines the base metamorphism of a putative sole can further inform models for the
of the sequence, which is overlain by cumular and/or isotropic gab- tectonic setting of the Aburrá Ophiolite and its emplacement. Further-
bros, a sheeted dike complex, effusive or sub-volcanic basalts, and a more, because sub-ophiolitic soles form at the inception of subduction
veneer of sediments. In the case of the Aburrá Ophiolite, fine- to me- (Wakabayashi & Dilek, 2003), determining the time of metamorphism
dium-grained amphibolites from La Espadera with strong deformation of the Aburrá sub-metaharzburgite sole also provides a means to di-
fabrics and fine-scale intercalations of deep-water sediments (i.e., near rectly date subduction initiation in the basin where this fragment of

430 431
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 20

oceanic crust was developed, thus constraining the timing of regional compressional
stress across the arc and the onset of ophiolite obduction.
It is well-known from previous geochemical and geochronologic studies that the
north Andes in the late Permian were characterized by arc-related magmatism (figure
9a; e.g., Cardona et al., 2010), and that enhanced regional compression during the ear-
ly- to mid-Triassic led to widespread regional metamorphism and anatectic granitoid
formation (figure 9b; e.g., Vinasco et al., 2006; Villagómez et al., 2011). This regional
crustal thickening event, which we refer to here as M1 (figure 9b), was responsible
for the development of the pervasive peraluminous syn-tectonic granitoid bodies (e.g.,
Samaná, Naranjales, Palmitas, etc.) found throughout the “Cajamarca Complex” of
the Central Cordillera. The occurrence of mid- to late-Triassic meta(basic) rocks in the
Aburrá valley and surroundings, some of which have been documented to have su-
pra-subduction zone geochemical signatures (Restrepo, 2008; Cochrane et al., 2014a),
have been used to suggest that the stress regime across the arc switched from compres-
sional to extensional sometime in the 240 to 234 Ma interval, triggering lower pres-
sure metamorphism (M2; figure 9c) and resulting in basaltic underplating and crustal
thinning. Complete attenuation of the continental lithosphere during arc retreat, pre-
sumably resulting from slab roll-back, is thought to have eventually led to the opening
of a back-arc basin floored by oceanic lithosphere in the mid-Triassic (figure 9d). It is
within this basin that the Aburrá Ophiolite is thought to have developed (Restrepo,
2008; Cochrane et al., 2014a; Garcia-Casco et al., 2019).
Our new zircon U-Pb ages establish important temporal relationships between the
formation of oceanic lithosphere and its metamorphism in the Aburrá Ophiolite, and
therefore directly inform tectonic models for its origin. Zircon crystallization ages
from the Quebrada Seca pegmatitic gabbro (QS-1; 228.1 ± 1.2/2.3 Ma) and the oscil-
latory-zoned cores of La Espadera amphibolite (AE-1; 228.5 ± 1.4/2.5 Ma), which we
interpret as representing the age of igneous protolith formation for these two units,
provide a mutually compatible and robust estimate for the age of oceanic lithosphere
formation during back-arc extension prior to sole development (figure 9d). In this sce-
nario, the pegmatitic gabbro at Quebrada Seca would be part of the gabbroic section
of the back-arc oceanic lithosphere, whereas the finer grained La Espadera amphib-
olite, which at the outcrop scale appears tectonically intermingled with metapelitic
sedimentary components, may be derived from a basaltic protolith formed at or near
the sea-floor surface (see ‘zoomed-in’ section in figure 9d). A subordinated component
of older ‘Cajamarca-like’ zircon xenocrysts in sample AE-1 may be reflective of partial
sediment assimilation during eruption, or later tectonic mixing of supra-ophiolitic sed-
iments derived from erosion of the adjacent Tahami continental crust.
The weakly-zoned to un-zoned zircons and overgrowths found in sample AE-1
from La Espadera, which yield an age of 220.9 ± 1.6/2.6 Ma (figure 3c), are in-
terpreted as dating the metamorphic event that affected the La Espadera-Chupadero
amphibolites. Bearing in mind that this unit is structurally underneath the Medellín
Metaharzburgitic Unit, fact which led Restrepo (2008) and Garcia-Casco et al. (2019)
to interpret it as representing the metamorphic sole of the ophiolite, we argue that the
Figure 9: Model for the Triassic tectonic evolution of the Northern Andes and for the formation/obduc-
age of metamorphism determined from these overgrowths directly dates the develop- tion of the Aburrá Ophiolite and its metamorphic sole. The sequence of tectonic and metamorphic (M1,
ment of the metamorphic sole (M3; figure 9e). Therefore, formation of the oceanic M2 and M3) events are inferred from age data of Vesga & Barrero (1978), González (1980), Restrepo
lithosphere represented by the La Espadera-Chupadero metabasite protoliths only et al. (1991, 2011), Ordóñez-Carmona (2001), Vinasco et al. (2006), Ibañez-Mejia et al. (2008), Vil-
lagómez et al. (2011), Martens et al. (2014), Cochrane et al. (2014) and this work. See García-Casco et
predates sole formation by approximately 7.6 ± 3.0 Myr according to our data. This al. (2019) for a summary of previous views for ophiolite formation, metamorphism and obduction.

432 433
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 20

short time interval between oceanic crust accretion and sole development is in agree- dates, subduction of the La Espadera oceanic lithosphere should have eventually
ment with observations made from other ophiolites and their soles such as Semail, led to back-arc closure and obduction of the ophiolite (and its sole) over the
where it has been shown that lithosphere formation predates sole formation by less Tahami continental margin sometime after ca. 217 Ma (figure 9f). Subsequent
than approximately 5 Myr (Hacker, 1994) or even shorter (Rioux et al., 2016). There- strike-slip displacement during superposition of the Jurassic-Cretaceous arcs and
fore, we argue that back-arc oceanic lithosphere formation in a retreating mid-Triassic structures, could have been responsible for dismembering the ophiolite to the
arc, shortly followed by underthrusting of hot and young oceanic lithosphere during extent that the supra-metaharzburgite gabbros and basalts are not anymore pres-
subduction initiation and back-arc closure, is a structurally and geochronologically ent, or at least clearly identified yet, within the ophiolitic pseudostratigraphy of
feasible explanation for the formation of the La Espadera-Chupadero metamorphic the Aburrá valley. In this scenario, the so-called “Aburra Ophiolite” actually rep-
sole underneath the Medellín Metaharzburgitic Unit (figure 9e). resents a composite (meta)ophiolite which has lost (by tectonic dismemberment
Because of the young age (7.6 ± 3.0 Myr) of the subducting oceanic litho- and erosion) the entire oceanic crust section that used to sit structurally above
sphere at the time of subduction initiation, its temperature was still likely high the Medellín Metaharzburgitic Unit.
from igneous crystallization. Consequently, once sinking of the slab (i.e., subduc-
tion initiation) began and the young oceanic lithosphere underplated the ophiolite 6.2 Hf isotope signatures of the Aburrá Ophiolite
mantle section due to extension in the forearc, heat transfer from the hot peri- The Hf isotopic compositions of zircon from the Aburrá Ophiolite provide
dotite to its sole could have efficiently driven high-temperature metamorphism additional evidence for the petrologic/tectonic model of ophiolite development
and possibly even partial melting of the La Espadera-Chupadero unit. Our sample outlined above. As shown in figure 4, the initial 176Hf/177Hf values of the La Es-
LPP-1, which was collected from a deformed Qz-rich tonalitic layer within the El padera-Chupadero igneous protoliths (i.e., Quebrada Seca gabbropegmatite and
Picacho metabasites, yields an age of 221.7 ± 1.0/2.1 Ma that agrees within un- La Espadera amphibolite igneous cores) are radiogenic, with mean ƐHf(t) between
certainty with the age of metamorphism of the La Espadera amphibolite. Similar +4 and +8. These high positive values indicate that the parental melts to their
leucocratic units within El Picacho, dated to 216.6 ± 0.4 Ma by Correa-Martínez igneous protoliths were derived from a juvenile source, such as upwelled astheno-
(2007), were interpreted by this author to derive from partial melting of the meta- sphere under a tectonically attenuated back-arc basin lithosphere that ultimately
basites. Thus, a feasible explanation for the origin of the tonalitic layers found in produced oceanic lithosphere upon drifting of the arc (figure 9d). The metamor-
El Picacho is that these represent accumulated melt pockets formed during partial phic rims and newly formed crystals in the La Espadera amphibolite (sample AE-1),
melting of metabasites within the sinking sole (figure 9e). Therefore, these layers on the other hand, have unradiogenic initial 176Hf/177Hf values (mean ƐHf(t) ≈ -5),
would also date sole formation (and subduction initiation) rather than oceanic indicating the contribution of older continental sources to the fluids from which
lithosphere accretion as argued by Correa-Martínez (2007) and Cochrane et al. metamorphic zircon precipitated in this sample. Considering that the strongly
(2014a). Fluxing with volatiles derived from the down-going oceanic lithosphere, sheared amphibolite appears tectonically intermingled with metasedimentary lay-
such as, for instance, from dehydration of a partially serpentinized lithospher- ers at the outcrop scale, dehydration of such sediments, which would have likely
ic mantle underneath the sole, could have sufficiently lowered the solidi of me- been sourced from the exposed Tahami crust adjacent to the back-arc basin (figure
tabasites within the sole to induce flux-induced melting without production of 9e, d), could provide an explanation for the unradiogenic 176Hf/177Hf values for
widespread metamorphic clino- and orthopyroxene in the metabasites. Also, the the La Espadera amphibolite metamorphic overgrowths. Indeed, the low initial
concomitant addition of volatiles to the overriding peridotite along with cooling ƐHf(t) values of these zircon are in excellent agreement with the composition of the
during sole heating, could have also driven the metamorphic reactions observed in ‘Cajamarca’ basement (figure 4; Cochrane et al., 2014).
the Medellín Metaharzburgitic Unit by García-Casco et al. (2019), which require Contrary to the unradiogenic initial 176Hf/177Hf values of metamorphic zircon
simultaneous cooling from ambient mantle temperatures and hydration. from our sample AE-1 from La Espadera, which presumably reflect involvement
The mechanical discontinuity responsible for facilitating subduction initia- of ‘Cajamarca’-like components during metamorphism (e.g., sediments interlay-
tion in our reconstruction could have been a transform fault within the back-arc ered with the basaltic protoliths in the subducted back-arc basin; figure 9e), the
basin (figures 9d, 9e), therefore implying that, prior to sole development, the initial 176Hf/177Hf values of Qz-tonalitic levels within the El Picacho metabasites
units that today constitute the Aburrá Ophiolite (i.e., Medellín metaharzburg- are highly radiogenic (figure 4). Sample LPP-1, which we (and Correa-Martínez,
ite and La Espadera-Chupadero and other metabasites) would have originally 2007) interpret as derived from partial melting of El Picacho metabasites, has
belonged to different lithospheric blocks. Nevertheless, once subduction was es- zircon with a mean initial ƐHf(t) ≈ +8. This value is in excellent agreement with
tablished the metamorphic sole would have become ‘welded’ to the base of the the 176Hf/177Hf composition of La Espadera-Chupadero igneous protoliths (figure
Medellín Metaharzburgitic Unit, thus becoming integral part of the obducted 4), therefore indicating a lack of ‘Cajamarca’-like components in the generation
Aburrá Ophiolite thrust sheet (Wakabayashi & Dilek, 2000). A natural question of these tonalitic leucosomes. According to our reconstruction of metamorphic
that arises from our interpretation is: where did the top section of the Aburrá sole development, the metagabbros of the downgoing plate (e.g., coarse-grained
ophiolite (i.e., gabbros and basalts which should have been structurally above the metabasites in El Picacho unit) should be structurally below sample AE-1 in the
Medellín Metaharzburgitic Unit) go? Although not directly constrained by our subducting oceanic crust stratigraphy (figure 9d, e). Thus, if the primary source of

434 435
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 20

6.3 Timing of formation and metamorphism of the Santa Elena


amphibolites, and implications for regional tectonic correlations
Figure 10: Potential The ‘Medellín amphibolites’ of Restrepo & Toussaint (1984), which originally
location of the Santa included all amphibolites from the basal section of the Ayurá-Montebello of Bote-
Elena amphibolite
protoliths in a ro (1963), were subdivided by Restrepo (2008) into the La Espadera-Chupadero
tectonic recon- amphibolites (discussed above) and the ‘Santa Elena amphibolites’ based on their
struction based on structural occurrence and bulk-rock geochemistry. Since mid-Triassic U-Pb ages for
Pindell et al. (2012).
The location of the units of the Aburrá Ophiolite were already known by the time (e.g., Restrepo et al.,
Arquía complex is 2007; Correa-Martínez, 2007). Restrepo (2008) concluded that the Santa Elena unit
also indicated. The
collision of the arc
was possibly older than the ophiolite, considering field relationships that suggest the
with the Antioquia/ latter was thrusted over the former. Although the exact nature of the contact be-
Tahami block upon tween the Aburrá Ophiolite and the Santa Elena amphibolites remains obscure, the
closure of the Co-
lombian-Ecuadorian
dominantly strike-slip structure known as ‘Rodas Fault’ after Toussaint & Restrepo
back-arc may have (1984) appears to define the modern limit between these two units (figure 1). How-
triggered inter- ever, robust geochronologic constraints on the formation and metamorphic age of
mediate pressure
metamorphism in
the Santa Elena amphibolite were yet to be published.
the Santa Elena The two samples analyzed here from Santa Elena, namely a garnet amphibolite
amphibolites by ca. (sample AMI-2) and a garnet-sillimanite metasedimentary gneiss (sample TNL-1),
101 Ma.
place direct constraints on this problem and end a long-standing debate about
the age of formation and metamorphism of this unit. The garnet amphibolite has
zircon with CL textures indicative of a metamorphic origin (figure 5a) that yield a
robust age of 101.0 ± 0.8/1.2 Ma which we interpret as dating the metamorphic
recrystallization of its basaltic protolith. A few zircon crystals (or cores) from this
the fluids that infiltrated the ophiolite (i.e., metamorphic sole and overlying Me- amphibolite yielded older dates between 150 and 170 Ma, which we interpret as
dellín Metaharzburgitic Unit) were mostly derived from sources within the slab, xenocrystic for reasons that will be further explained below. Considering the close
such as dehydration of an at least partially serpentinized lithospheric mantle in the association of these amphibolites with metasedimentary schists and gneisses, and
subducting plate, then the fluids that facilitated incipient partial melting of the El field evidence for inter-stratification of the two, Restrepo (2008) argued that the
Picacho metagabbros could have been equally radiogenic and thereby not imparted protoliths were originally formed as surficial basalt flows onto which arkosic and
an unradiogenic signature to the tonalitic leucosomes. pelitic sediments were deposited.
A metagabbro sample (10RC39A) from the La Ceja-Abejorral road analyzed Metamorphic recrystallization rims dated from the TNL-1 metasediment (figure
by Cochrane et al. (2014a), with a reported mean 206Pb/238U crystallization age of 5b) yield a weighted mean age of 101.8 ± 0.6/1.2 Ma (figure 7b), which is in perfect
239.7 ± 2.4 Ma, yields initial 176Hf/177Hf values between 0.282499 and 0.282917, agreement with the age obtained from the AMI-2 garnet amphibolite. This reinforces
or ƐHf(240) between -4.8 and +10.0. This large variability could be explained by our interpretation that the metamorphic event that affected the Santa Elena unit indeed
zircon with complex growth histories such as those in our sample AE-1, where in- took place during the Albian. Furthermore, individual spot ages from the exquisitely
dividual spot analyses range from εHf(t) ≈ +9 in the igneous protolith cores to -7 in preserved oscillatory-zoned zircon cores in our TNL-1 sample (figure 5b) indicate these
metamorphic grains and/or overgrowths. Therefore, the large ƐHf(t) spread in sam- are detrital in nature, derived from early Jurassic to early Cretaceous igneous sources
ple 10RC39A could result from an inadvertent mixture of radiogenic igneous core (figure 7a). The youngest dated detrital zircon(s) from the TNL-1 metasediment provide
components with unradiogenic metamorphic rims. Note also that the MSWD of the a maximum age estimate for deposition of its sedimentary precursor, thus indicating a
weighted mean 206Pb/238U date for sample 10RC39A (i.e., 1.9) is beyond the 95% formation age of ~130 Ma (or less) for this segment of the Santa Elena stratigraphy.
confidence interval of a weighted mean with n= 15 degrees of freedom (Wendt & Considering these results, it is unlikely that the older zircon with ages between 150
Carl, 1991). Therefore, the analyses used to calculate the reported weighted mean and 170 Ma in the garnet amphibolite reflect formation of their igneous predecessor.
‘age’ of 239.7 ± 2.4 Ma exhibit excess variability, such as can be caused by an unrec- Instead, we interpret these as xenocrystic, possibly assimilated from sedimentary layers
ognized mixture of igneous protolith cores with younger metamorphic overgrowths/ within the Santa Elena unit during eruption of the amphibolites’ basaltic protoliths. Lu-
recrystallization rims. At any rate, the ca. 240 Ma age and radiogenic nature of most Hf isotopic results from the detrital zircon cores of sample TNL-1 also provide valuable
analyses from sample 10RC39A indicate that this sample represents a fragment of insights into the sources of the sediments. As shown in figure 7c, the initial 176Hf/177Hf
accreted mid-Triassic juvenile crust, and not the Santa Elena amphibolite unit as ratios of these early-Jurassic to early-Cretaceous zircon are in excellent agreement with
originally designated by the authors (see further discussion below). those from Jurassic-Cretaceous intrusives exposed in the Ecuadorian and Colombian

436 437
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 20

Andes (Cochrane et al. 2014b), and particularly those from relatively proximal intru- sillimanite-bearing metasediments, in all cases showing no trace of former high-pressure
sives in the Central Cordillera (Bustamante et al., 2016). Therefore, the range of detrital conditions), and the complex structural development of the unit, which records several
zircon ages found in the Santa Elena metasediments, as well as their 176Hf/177Hf isotopic phases of ductile deformation/folding, allows considering a distinctive environment of
compositions, are both compatible with the protoliths for this unit as having formed in formation for Santa Elena away from the Pacific plate and Arquía’s subduction zone.
close proximity to the Tahami terrane prior to their metamorphism and accretion. Collision-tectonic events in a complex extensional and compressional evolution of the
The early-Cretaceous age of formation and metamorphism of the Santa Elena forearc-arc-backarc in the mid-Cretaceous Northern Andes is a more suitable scenario
amphibolites motivates further questions about its origin and potential correlations (Zapata et al., 2019). Perhaps, the Santa Elena protolith formed within a long lived (e.g.,
within the tectonostratigraphic architecture of the Central Cordillera. Metabasic and Kennan & Pindell, 2009) or ephemeral (Zapata et al., 2019) back-arc basin that presum-
meta(volcano)sedimentary rocks of Cretaceous age are common in the western Co- ably formed oceanic lithosphere and closed by the mid-Cretaceous during collision of
lombian Andes, mostly grouped within the broad lithostratrigraphic units known as the Andean arc with the Tahami terrane (with a pre-Mesozoic basement that includes the
the Quebradagrande and Arquía complexes (figure 1a). The Quebradagrande com- “Cajamarca Complex”; Kennan & Pindell, 2009; see figure 10).
plex consists of early Cretaceous meta(volcano)sedimentary units of arc/back-arc af-
finity (Nivia et al., 2006; Cochrane et al., 2014b; Jaramillo et al., 2017) which were 6.4 Tectonic juxtaposition of Triassic and
metamorphosed during arc accretion to the continental margin in the late Cretaceous Cretaceous meta-(ultra)mafic complexes
(Jaramillo et al., 2017). The regional metamorphic grade of the Quebradagrande Our geochronologic results from the Aburrá Ophiolite and Santa Elena amphibo-
complex is low, typically characterized by greenschist- to epidote amphibolite-facies lite have major implications for understanding the tectonic architecture of this segment
recrystallization of metabasaltic protoliths (Nivia et al., 2006; Jaramillo et al., 2017). of the northen Andes. In particular, based on previous field observations it had been
Therefore, although of similar age to the Santa Elena amphibolites, a correlation with suggested that the Santa Elena unit pre-dated the formation and emplacement of the
the Quebradagrande is unlikely given the higher metamorphic pressures and tempera- mid-Triassic Aburrá Ophiolite (Restrepo, 2008), but this conclusion is no longer plau-
tures that are necessary to form the garnet amphibolites and sillimanite-garnet gneiss sible based on the geochronologic results discussed above. The structural relationship
studied here. Furthermore, the geochemical affinity of the Santa Elena amphibolites between the two meta-basic complexes, with the Aburrá Ophiolite west of the Rodas
is MORB-like (Restrepo, 2008), which is at odds with a volcanic arc environment of Fault and the Santa Elena unit towards the east, are unlikely to be the result of a sim-
formation. The Arquía complex, on the other hand, consists mostly of basic volca- ple margin-perpendicular stacking of accreted tectonic blocks. Instead, a more likely
nosedimentary and MORB-like basaltic protoliths metamorphosed at higher pressures interpretation is that the modern boundary between the two blocks, the Rodas Fault
and/or temperatures (Ruiz-Jimenez et al., 2012; Valencia-Morales et al., 2013), and (figure 1b), represents a structure that post-dates the accretion of both complexes to
includes intermediate- to high-pressure lithologies such as garnet amphibolites and the continental margin. Along-strike tectonic transport by dextral structures has been
eclogites (Garcia-Ramirez et al., 2017; Rios-Reyes et al., 2017). Located to the W a common structural feature of northwestern South America since at least the Permian
of the Quebradagrande complex across the Silvia-Pijao fault system (figure 1a), the (e.g., Restrepo & Toussaint, 1984; Spikings & Paul, 2019; Vinasco, 2019; and refer-
Arquía complex is commonly regarded as a tectonic mélange formed in a subduc- ences therein). This process is likely to result in tectonic dismemberment of previously
tion channel outboard of the Quebradagrande magmatic arc(s) (e.g., Villagómez et accreted terranes accompanied by significant along-strike transport, which can result
al., 2011; Garcia-Ramirez et al., 2017; Spikings & Paul, 2019), implying a derivation in apparently ‘out-of-order’ structural architecture of tectonic blocks (e.g., as is now
from Pacific oceanic lithosphere subducting below the Andean (Quebradagrande) arc. evident in the Aburrá Valley region; figure 1b). Therefore, rather than a true ‘suture’
Although robust geochronologic constraints on the ages of protolith formation and separating mutually exotic blocks, the Rodas Fault is most likely a post-accretional
metamorphism of the Arquía remain scarce, Lu-Hf isochrons of 128.7 ± 3.5 Ma from strike-slip structure which must post-date the regional metamorphic event that affect-
the Pijao-Génova area (Garcia-Ramirez et al., 2017) and in the range 147.9 ± 2.9 to ed the Santa Elena amphibolites and metasediments at ca. 101 Ma.
126.4 ± 4.0 Ma from the correlative Raspas complex of Ecuador (John et al., 2009), are Near the Santa Elena creek, the Rodas Fault appears to be offset by two minor struc-
broadly in agreement with high-pressure metamorphism having taken place in the early tures known as the Santa Lucía and La Aguadita faults (figure 1b). The Santa Lucía
Cretaceous. Furthermore, exhumation ages obtained using lower-T thermochronome- fault is in turn intruded by the Media Luna tonalite stock, for which we obtained a new
ters such as K-Ar and Ar-Ar fall in similar age ranges from 120.7 ± 0.3 to 112.0 ± 3.7 high-precision age of 88.849 ± 0.065 Ma (note that the second level of uncertainty on
Ma for the Arquía (Restrepo & Toussaint, 1976; Villagómez et al., 2011; Bustamante the CA-ID-TIMS date is the most appropriate for comparison with LA-ICP-MS U-Pb
et al., 2011), and between ca. 105 and 90 Ma for Santa Elena (Restrepo et al., 1991). data). Therefore, our new age for the Media Luna stock not only provides a precise
Therefore, on the basis of the metamorphic assemblages of the Santa Elena amphibo- minimum estimate for displacement along the Santa Lucía fault, but also for the Rodas
lites and the new ages obtained here, one possible interpretation is that this complexly fault. In light of these results, we conclude that the Rodas Fault represents a fossilized
deformed metabasite/metasedimentary unit may potentially represent a tectonically dis- late Cretaceous structure, whose development was responsible for the final along-strike
sected fragment of the intermediate- to high-pressure Arquía complex. However, their tectonic juxtaposition of the Aburrá Ophiolite and Santa Elena amphibolites sometime
much younger age of metamorphic recrystallization ca. 101 Ma, intermediate-pressure after the accretion of these terranes to the continental margin and before emplacement
phase assemblages (amphibolites, with only local presence of garnet amphibolites, and of the Media Luna stock (i.e., between the Cenomanian and the Coniacian).

438 439
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 20

7. Conclusions Blanco–Quintero I.F., García–Casco A., Toro L.M., Correa–Martínez A.M. & Martens U. 2000. Carac-
Moreno–Sánchez M., Ruiz E.C., Vinasco C.J., Cardona terización geológica de las anfibolitas de los alrededores
A., Lázaro C., Morata D. 2014. Late Jurassic terrane col- de Medellín. Bachelor thesis, Universidad Nacional de
The meta-(ultra)mafic rocks of the Aburrá valley can be sub-divided into at least two lision in the north- western margin of Gondwana (Caja- Colombia, Medellín, 363 p.
independent complexes: 1) the Aburrá Composite (meta)-Ophiolite, which includes a marca Complex, eastern flank of the Central Cordillera, Correa–Martínez A.M., Martins–Pimentel M., Mar-
Colombia). International Geology Review, 56(15):1852- tens U., Restrepo J.J., Ordóñez–Carmona O. 2005. Sub-
mid-Triassic mantle fragment (the Medellín Metaharzburgitic Unit) underplated by a 1872. https://doi.org/10.1080/00 206814.2014.963710. división de las meta- morfitas básicas de los alrededores
sequence of oceanic metabasalts and metagabbros that constitute its metamorphic sole; Botero G. 1963. Contribución al conocimiento de la ge- de Medellín–cordillera Central de Colombia. Revista de
and 2) the Santa Elena amphibolites and associated minor lithologies, which represents ología de la zona central de Antioquia. Universidad Nacional la Academia Colombiana de Ciencias Exactas, Físicas y
de Colombia, Anales de la Facultad de Minas, 57:101 p. Naturales, 29(112):325-344.
an early-Cretaceous basaltic/sedimentary sequence metamorphosed during the Albian. Bouvier A., Vervoort J.D., Patchett P.J. 2008. The Cuadros F.A., Botelho N.F., Ordonez-Carmona O.,
Our new zircon U-Pb ages indicate that formation of oceanic lithosphere (rep- Lu-Hf and Sm-Nd isotopic composition of CHUR: Con- Matteini M. 2014. Mesoproterozoic crust in the San Lucas
resented by the protoliths of the La Espadera-Chupadero amphibolites) was active straints from unequilibrated chondrites and implications Range (Colombia): An insight into the crustal evolution of
for the bulk composition of terrestrial planets. Earth and the northern Andes. Precambrian Research, 245:186-206.
until at least 228 Ma, most likely at a back-arc basin, which was shortly followed by Planetary Science Letters, 273(1-2):48-57. http://doi. http://doi.org/10.1016/j.precamres.2014.02.010.
subduction initiation and metamorphism at ca. 221 Ma as part of a metamorphic org/10.1016/j.epsl.2008.06.010. Dhuime B., Hawkesworth C., Cawood P. 2011.
sole to the Medellín Metaharzburgitic Unit. Thus, the metamorphism of this unit Bowring J.F., McLean N.M., Bowring S.A. When Continents Formed. Science, 331(6014):154-155.
2011. Engineering cyber infrastructure for U-Pb geo- http://doi.org/10.1126/science.1201245
during sole development directly dates subduction initiation within the basin where chronology: Tripoli and U-Pb_Redux. Geochemis- Eddy M.P., Jagoutz O., Ibañez-Mejia M. 2017.
the Aburrá Ophiolite was formed, and also marks the onset of ophiolite obduction try Geophysics Geosystems, 12(6):1-19. http://doi. Timing of initial seafloor spreading in the Newfound-
onto the continental margin that was presumably associated with major changes in org/10.1029/2010GC003479. land-Iberia rift. Geology, 45(6):527-530. http://doi.
Bustamante A., Juliani C., Hall C.M., Essene E.J. org/10.1130/G38766.1.
regional tectonic stresses along the arc-ocean interface. 2011. 40Ar/39Ar ages from blueschists of the Jambaló re- Garcia–Casco A., Restrepo J.J., Correa–Martínez
The unit known as the Santa Elena amphibolite consists of early Cretaceous gion, Central Cordillera of Colombia: implications on A.M., Blanco–Quintero I.F., Proenza J.A., Weber M.,
basaltic and sedimentary protoliths that experienced intermediate-pressure am- the styles of accretion in the Northern Andes. Geologica Butjosa L. 2019. The petrologic nature of the “Medellín
Acta, 9(3-4):351-362. Dunite” revisited: an algebraic approach and proposal
phibolite-facies metamorphism near the early- to late-Cretaceous boundary (ca., Bustamante C., Archanjo C.J., Cardona A., Vervoort of a new definition of the geological body. In: Gómez
101 Ma). Therefore, this unit bears no geologic or tectonic relationship with the J.D. 2016. Late Jurassic to Early Cretaceous plutonism in J. & Pinilla–Pachon A.O. (eds.). The Geology of Colom-
Aburrá Ophiolite, but instead appears to be a tectonically dissected fragment of the Colombian Andes: A record of long-term arc maturity. bia: Mesozoic. Bogotá, Servicio Geológico Colombiano,
Geological Society of America Bulletin, 128(11/12):1762- Publicaciones Geológicas Especiales, 2:36 p. https://doi.
either the subduction-related unit known regionally as the Arquía-Raspas com- 1779. http://doi.org/10.1130/B31307.1. org/10.32685/pub. esp.36.2019.02.
plex, or a distinct body of non-Pacific oceanic affinity (e.g., back-arc related to Cardona-Molina A., Cordani U.G., MacDonald García-Ramírez C.A., Rios-Reyes C.A., Castellanos
W.D. 2006. Tectonic correlations of pre-Mesozoic -Alarcon O.M., Mantilla-Figueroa L.C. 2017. Petrology,
the Proto-Caribbean). Juxtaposition of the two units after their accretion to the crust from the northern termination of the Colombian Geochemistry and Geochronology of the Arquía Com-
continental margin along the Rodas fault took place between the Cenomanian Andes, Caribbean region. Journal of South American plex’s Metabasites at the Pijao-Génova Sector, Central
and the Coniacian, as constrained by the cross-cutting Media Luna tonalite stock Earth Sciences, 21(4):337-354. http://doi.org/10.1016/j. Cordillera, Colombian Andes. Revista Boletín De Geo-
jsames.2006.07.009. logía, 39(1):105-126. http://doi.org/10.18273/revbol.v.
for which we obtained a new age of 88.849 ± 0.065 Ma. We hence conclude that Cardona A., Valencia V., Garzón A., Montes C., 39n. 1-2017005.
the Rodas Fault represents a fossilized late Cretaceous structure. Ojeda G., Ruiz J., Weber M. 2010. Permian to Trias- Gehrels G.E., Valencia V.A., Ruiz J. 2008. Enhanced
sic I to S-type magmatic switch in the northeast Sierra precision, accuracy, efficiency, and spatial resolution
Nevada de Santa Marta and adjacent regions, Colom- of U-Pb ages by laser ablation–multicollector–induc-
Acknowledgements bian Caribbean: Tectonic setting and implications with- tively coupled plasma–mass spectrometry. Geochemis-
in Pangea paleogeography. Journal of South American try Geophysics Geosystems, 9(3):Q03017. http://doi.
The authors would like to acknowledge the editors of this volume for their invi- Earth Sciences, 29(4):772-783. http://doi.org/10.1016/j. org/10.1029/2007GC001805.
jsames.2009.12.005. González H, 1980. Geología de las planchas 167
tation to contribute a chapter in honor of Prof. Cordani’s career. The Arizona Laser- Cochrane R., Spikings R., Gerdes A., Ulianov A., (Sonsón) y 187 (Salamina). Boletín Geológico Ingeomi-
Chron center and MIT Isotope Geochemistry laboratories are acknowledged for ac- Mora A., Villagómez D., Putlitz B., Chiaradia M. 2014a. nas, 23(1): 1­174.
cess to their facilities, where the analytical data included here was produced. Support Permo-Triassic anatexis, continental rifting and the dis- Hacker B.R. 1990. Simulation of the metamorphic
assembly of western Pangaea. Lithos, 190-191:383-402. and deformational history of the metamorphic sole of
for this research was provided in part from start-up funds at University of Rochester http://doi.org/10.1016/j.lithos.2013.12.020. the Oman Ophiolite. Journal of Geophysical Research:
to M.I-M., and the IGCP-546 project ‘Subduction Zones of the Caribbean’ to A.G-C. Cochrane R., Spikings R., Gerdes A., Winkler W., Solid Earth, 95(B4):4895-4907. http://doi.org/10.1029/
Ulianov A., Mora A., Chiaradia M. 2014b. Distinguish- JB095iB04p04895.
ing between in-situ and accretionary growth of conti- Hacker B.R. 1994. Rapid Emplacement of Young
nents along active margins. Lithos, 202-203:382-394. Oceanic Lithosphere: Argon Geochronology of the
References Black L.P., Kamo S.L., Allen C.M., Davis D.W., http://doi.org/10.1016/j.lithos.2014.05.031. Oman Ophiolite. Science, 265(5178):1563-1565. http://
Aleinikoff J.N., Valley J.W., Mundil R., Campbell I.H., Condon D.J., Schoene B., McLean N.M., Bowring S.A., doi.org/10.1126/science.265.5178.1563.
Álvarez A.J. 1987. Tectonitas dunitas de Medellín, Korsch R.K., Williams I.S., Foudoulis C. 2004. Im- Parrish R.R. 2015. Metrology and traceability of U-Pb iso- Hacker B.R., Mosenfelder J.L., Gnos E. 1996. Rapid
departamento de Antioquia, Colombia. Boletín Geoló- proved 206Pb/238U microprobe geochronology by the tope dilution geochronology (EARTHTIME Tracer Calibra- emplacement of the Oman ophiolite: Thermal and geo-
gico, 28(3): 9-44. monitoring of a trace-element-related matrix effect; tion Part I). Geochimica Et Cosmochimica Acta, 164(C):464- chronologic constraints. Tectonics, 15(6):1230-1247.
Bernal A. & Jaramillo M. 1985. Estudio Geológico­ SHRIMP, ID–TIMS, ELA–ICP–MS and oxygen iso- 480. http://doi.org/10.1016/j.gca.2015.05.026. http://doi.org/10.1029/96TC01973.
Geotécnico del área Medellín­Aeropuerto José María tope documentation for a series of zircon standards. Correa–Martínez A.M. 2007. Petrogênese e evolução do Ibañez-Mejia M., Jaramillo-Mejia J.M., Valencia
Córdoba. Bachelor thesis, Univ. Nacional, Fac. Minas, Chemical Geology, 205(1-2):115-140. http://doi.or- Ofiolito de Aburrá, Cordilhera Central dos Andes Colombia- V.A. 2008. U/Pb zircon geochronology by multicollec-
Medellín, 317 p. g/10.1016/j.chemgeo.2004.01.003. nos. PhD thesis, Universidade de Brasília, Brasilia, 204 p. tor LA-ICP-MS of the Samaná Gneiss: a Middle Triassic

440 441
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 20

syn-tectonic body in the Central Andes of Colombia, cas en la Cordillera Central de Colombia. Boletín Geoló- Restrepo J.J., Ordonez-Carmona O., Armstrong sucesivas en Colombia: Un nuevo modelo de evolución
related to the latter stages of Pangea. In: VI South Amer- gico, 35(2-3):43-57. R., Pimentel M.M. 2011. Triassic metamorphism in geológica. In: V Congreso Colombiano de Geología. Bu-
ican Symposium on Isotope Geology. San Carlos de Bari- Nivia A., Marriner G.F., Kerr A.C., Tarney J. 2006. the northern part of the TahamI Terrane of the cen- caramanga, Memoirs, I:127-146.
loche, Argentina. The Quebradagrande Complex: A Lower Cretaceous tral cordillera of Colombia. Journal of South Amer- Valencia-Morales Y.T., Toro-Toro L.M., Ruiz-Jime-
Ibañez-Mejia M., Ruiz J., Valencia V.A., Cardona A., ensialic marginal basin in the Central Cordillera of the ican Earth Sciences, 32(4):497-507. http://doi. nez E.C., Moreno-Sanchez M. 2013. Pressure-Tempera-
Gehrels G.E., Mora A.R. 2011. The Putumayo Orogen Colombian Andes. Journal of South American Earth org/10.1016/j.jsames.2011.04.009. ture path of Arquía Group rocks (NW Colombia): a
of Amazonia and its implications for Rodinia recon- Sciences, 21(4):423-436. http://doi.org/10.1016/j. Restrepo-Pace P., Ruiz J., Gehrels G., Cosca M. petrographic analysis from mineral assemblages. Earth
structions: New U-Pb geochronological insights into the jsames.2006.07.002. 1997. Geochronology and Nd isotopic data of Gren- Sciences Research Journal, 17(2):141-149.
Proterozoic tectonic evolution of northwestern South Ordóñez­ Carmona O. 2001. Caracterizaçao iso- ville-age rocks in the Colombian Andes: new constraints Villagómez D., Spikings R., Magna T., Kammer A.,
America. Precambrian Research, 191:58-77. http://doi. tópica Rb­Sr e Sm­Nd dos principais eventos magmaticos for late Proterozoic Early Paleozoic paleocontinental re- Winkler W., Beltrán A. 2011. Geochronology, geochem-
org/10.1016/j.precamres.2011.09.005. nos Andes Colombianos. PhD thesis, Universidade of constructions of the Americas. Earth and Planetary Sci- istry and tectonic evolution of the Western and Central
Ibañez-Mejia M., Gehrels G.E., Ruiz J., Vervoort Brasília, Brasília, 177 p. ence Letters, 150(3-4):427-441. cordilleras of Colombia. Lithos, 125(3-4):875-896.
J.D., Eddy M.E., Li C. 2014. Small-volume baddeley- Ordonez-Carmona O., Restrepo Alvarez J.J., Pimen- Rios-Reyes C.A., Castellanos-Alarcon O.M., http://doi.org/10.1016/j.lithos.2011.05.003.
ite (ZrO2) U–Pb geochronology and Lu–Hf isotope tel M.M. 2006. Geochronological and isotopical review García-Ramírez C.A. 2017. Petrogenetic significance Vervoort J., Patchett P., Soderlund U., Baker M. 2004.
geochemistry by LA-ICP-MS. Techniques and appli- of pre-Devonian crustal basement of the Colombian An- of the eclogites from the Arquía Complex on south- Isotopic composition of Yb and the determination of Lu
cations. Chemical Geology, 384:149-167. http://doi. des. Journal of South American Earth Sciences, 21(4):372- western Pijao, Central Cordillera (Colombia Andes). concentrations and Lu/Hf ratios by isotope dilution us-
org/10.1016/j.chemgeo.2014.07.011. 382. http://doi.org/10.1016/j.jsames.2006.07.005. Dyna, 84(200):291-301. http://doi.org/10.15446/ ing MC-ICPMS. Geochemistry Geophysics Geosystems,
Ibañez-Mejia M., Pullen A., Arenstein J., Gehrels Patchett P.J. & Tatsumoto M. 1980. Hafnium Iso- dyna.v84n200.48166. 5:Q11002. http://doi.org/10.1029/2004GC000721.
G.E., Valley J., Ducea M.N., Mora A.R., Pecha M., tope Variations in Oceanic Basalts. Geophysical Research Rioux M., Garber J., Bauer A., Bowring S., Searle M., Vervoort J.D., Kemp A.I.S., Fisher C.M., Bauer A.M.
Ruiz J. 2015. Unraveling crustal growth and rework- Letters, 7(12):1077-1080. Kelemen P., Hacker B. 2016. Synchronous formation of the 2017 Growth of Earth’s earliest crust: the perspective
ing processes in complex zircons from orogenic low- Patchett P.J. & Chase C. 2002. Role of transform metamorphic sole and igneous crust of the Semail ophiolite: from the depleted mantle. In: Goldschmidt 2017. Paris,
er-crust: The Proterozoic Putumayo Orogen of Ama- continental margins in major crustal growth episodes. New constraints on the tectonic evolution during ophiolite France, Conference Abstracts.
zonia. Precambrian Research, 267:285-310. http://doi. Geology, 30(1):39-42. formation from high-precision U–Pb zircon geochronolo- Vesga J., & Barrero D. 1978. Edades K/Ar en rocas
org/10.1016/j.precamres.2015.06.014. Pindell J., Maresch W.V., Marten U., Stanek K. 2012. gy. Earth and Planetary Science Letters, 451(C):185-195. igneas y metamorficas de la Cordillera Central de Co-
Ibañez-Mejia M., & Tissot F.L.H. 2019. Extreme Zr The Greater Antillean Arc: Early Cretaceous origin and http://doi.org/10.1016/j.epsl.2016.06.051. lombia y su implicacion geologica. In: II Congreso Co-
stable isotope fractionation during magmatic fraction- proposed relationship to Central American subduction Rodríguez G., González H., Zapata G. 2005. Geolo- lombiano de Geologia. Bogota, Resumenes, 19.
al crystallization. Science Advances, 5(12):eaax8648. mélanges: implications for models of Caribbean evolu- gía de la plancha 147 Medellín oriental. Scale: 1:50000. Vinasco C. 2019. The Romeral Shear Zone. In:
http://doi.org/10.1126/sciadv.aax8648. tion. International Geology Review, 54:131-143. Bogotá, Ingeominas, 300 p. Cediel F. & Shaw R.P. (eds.) Geology and Tecton-
Jaffey A., Flynn K., Glendenin L., Bentley W., Es- Plank T. & Langmuir C.H. 1998. The chemical com- Rodríguez G. & Correa–Martínez A.M. 2015. Edad ics of Northwestern South America. Cham, Springer.
sling A. 1971. Precision Measurement of Half-Lives position of subducting sediment and its consequences for jurásica del Neis Milonítico de Sajonia y su posible sig- Frontiers in Earth Sciences, p. 833-876. https://doi.
and Specific Activities of 235U and 238U. Physical Re- the crust and mantle. Chemical Geology, 145(3-4):325- nificado en la evolución geotectónica del sector norocci- org/10.1007/978-3-319-76132-9_12.
view C, 4(5):1889-1906. http://doi.org/10.1103/Phys- 394. http://doi.org/10.1016/S0009-2541(97)00150-2. dental de la cordillera Central de Colombia. In: Simpo- Vinasco C.J., Cordani U.G., Gonzalez H., Weber
RevC.4.1889. Pullen A., Ibañez-Mejia M., Gehrels G.E., Giesler sio: Tectónica jurásica en la parte noroccidental de Sur M., Pelaez C. 2006. Geochronological, isotopic, and
Jaramillo J.S., Cardona A., León S., Valencia V., Vi- D., Pecha M. 2018. Optimization of a Laser Abla- América y bloques adyacentes. Medellín, Abstracts, 1p. geochemical data from Permo-Triassic granitic gneisses
nasco C. 2017. Geochemistry and geochronology from tion-Single Collector-Inductively Coupled Plasma-Mass Rodriguez G., Gonzalez H., Zapata G., Cossio U., and granitoids of the Colombian Central Andes. Journal
Cretaceous magmatic and sedimentary rocks at 6˚35’ Spectrometer (Thermo Element 2) for Accurate, Precise, Correa-Martinez A.M. 2016. Geologia de la plancha of South American Earth Sciences, 21(4):355-371. http://
N, western flank of the Central cordillera (Colombian and Efficient Zircon U-Th-Pb Geochronology. Geochem- 147, Medellín Oriental, Escala 1:50000. Servicio Geoló- doi.org/10.1016/j.jsames.2006.07.007.
Andes): Magmatic record of arc growth and collision. istry Geophysics Geosystems, 332(1-2):157-17. http:// gico Colombiano, Internal Report, 464 p. Wakabayashi J. & Dilek Y. 2000. Spatial and tem-
Journal of South American Earth Sciences, 76:460-481. doi.org/10.1029/2018GC007889. Ruiz-Jimenez E.C., Blanco-Quintero I.F., Toro-Toro poral relations between ophiolites and their subophiol-
http://doi.org/10.1016/j.jsames.2017.04.012. Rendón D.A. 1999. Cartografía y caracterización L.M., Moreno-Sanchez M., Vinasco C.J., Garcia-Casco itic soles: a test of models of forearc ophiolite genesis,
John T., Scherer E.E., Schenk V., Herms P., Halama de las unidades geológicas del área urbana de Medellín. A., Morata D., Gomez-Cruz A. 2012. Geoquímica y Pe- ln: Dilek Y., Moores E.M., Elthon D., Nicolas A. (eds.).
R., Garbe-Schönberg D. 2009. Subducted seamounts in Bachelor thesis, Universidad Nacional de Colombia, Me- trología de las Metabasitas del Complejo Arquía (Muni- Ophiolites and Oceanic Crust: New Insights from Field
an eclogite-facies ophiolite sequence: the Andean Raspas dellín, 113 p. cipio de Santa Fe de Antioquia y Río Arquía, Colombia): Studies and the Ocean Drilling Program. Geological So-
Complex, SW Ecuador. Contributions to Mineralogy Restrepo J.J. 2008. Obducción y metamorfismo de Implicaciones Geodinámicas Geochemistry and Petrology ciety of America, Special Papers, 349:53-64.
and Petrology, 159(2):265-284. http://doi.org/10.1007/ ofiolitas triásicas en el flanco occidental del Terreno of Metabasites of the Arquia Complex (Santa Fe De Antio- Wakabayashi J. & Dilek Y. 2003. What constitutes
s00410-009-0427-0. Tahamí, cordillera Central de Colombia. Boletín de Cien- quia and Arquia Creek, Colombia): Geodynamic Implica- “emplacement” of an ophiolite? Mechanisms and re-
Kennan L. & Pindell J.L. 2009. Dextral shear, ter- cias de la Tierra, 22:49-100. tions. Boletin Ciencias de la Tierra, 32:65-80. lationship to subduction initiation and formation of
rane accretion and basin formation in the Northern Restrepo J.J. & Toussaint J.F. 1976. Edades ra- Schoene B., Crowley J.L., Condon D.J., Schmitz metamorphic soles. In: Dilek Y. & Robinson P.T. (eds.).
Andes: best explained by interaction with a Pacific-de- diométricas de algunas rocas de Antioquia-Colombia. M.D., Bowring S.A. 2006. Reassessing the uranium de- Ophiolites and Earth history. Geological Society of
rived Caribbean Plate? In: James K.H., Lorente M.A., Medellín, Universidad Nacional, Publicación Espe- cay constants for geochronology using ID-TIMS U–Pb London, Special Publication, 218:427-448. https://doi.
Pindell J.L. (eds.) The Origin and Evolution of the Ca- cial-Geología, 6:1-13. data. Geochimica Et Cosmochimica Acta, 70(2):426- org/10.1144/GSL.SP.2003.218.01.22.
ribbean Plate. Geological Society, London, Special Pub- Restrepo J.J. & Toussaint J.F. 1984. Unidades litoló- 445. http://doi.org/10.1016/j.gca.2005.09.007. Wendt I. & Carl C. 1991. The statistical distribution
lications, 328:487-531. gicas de los alrededores de Medellín. Primera conferencia Seton M., Müller R.D., Zahirovic S., Gaina C., of the mean squared weighted deviation. Chemical Geol-
Martens U., Restrepo J.J., Ordonez-Carmona O., sobre riesgos geológicos del valle de Aburrá. Medellín, So- Torsvik T., Shephard G., Talsma A., Gurnis M., Turner ogy: Isotope Geoscience Section, 86(4):275-285. http://
Correa-Martínez A.M. 2014. The Tahamí and Anaco- ciedad Colombiana de Geología, Memoirs, p. 1-26. M., Maus S., Chandler M. 2012. Global continental and doi.org/10.1016/0168-9622(91)90010-T.
na Terranes of the Colombian Andes: Missing Links Restrepo J.J. & Toussaint J.F. 1988. Terranes and ocean basin reconstructions since 200Ma. Earth-Science Woodhead J.D. & Hergt J.M. 2005. A Preliminary
between the South American and Mexican Gondwa- Continental Accretion in the Colombian Andes. Episo- Reviews, 113(3-4):212-270. http://doi.org/10.1016/j. Appraisal of Seven Natural Zircon Reference Materials
na Margins. The Journal of Geology, 122(5):507-530. des, 11(3):189-193. earscirev.2012.03.002. for In Situ Hf Isotope Determination. Geostandards and
http://doi.org/10.1086/677177. Restrepo J.J., Toussaint J.F., González H., Cordani U.G., Spikings R. & Paul A. 2019. The Permian – Triassic Geoanalytical Research, 29(2):183-195. http://doi.or-
Mattinson J. 2005. Zircon U-Pb chemical abra- Kawashita K., Linares E., Parica C. 1991 Precisiones geocro- history of magmatic rocks of the northern Andes (Co- g/10.1111/j.1751-908X.2005.tb00891.x.
sion (“CA-TIMS”) method: Combined annealing and nológicas sobre el occidente colombiano. Simposio sobre lombia and Ecuador): Supercontinent assembly and dis- Zapata S., Cardona A., Jaramillo J.S., Patiño A., Va-
multi-step partial dissolution analysis for improved magmatismo andino y su marco tectónico. Memoirs, I:1-22. assembly. In: Gómez J. & Pinilla–Pachon A.O. (eds.). The lencia V., León S., Mejía D., Pardo-Trujillo A., Castañe-
precision and accuracy of zircon ages. Chemical Ge- Restrepo J.J., Frantz J.C., Ordóñez­ -Carmona O., Geology of Colombia: Mesozoic. Bogotá, Servicio Geoló- da J.P. 2019. Cretaceous extensional and compressional
ology, 220(1-2):47-66. http://doi.org/10.1016/j.chem- Correa A.M., Martens U., Chemale F. 2007. Edad triásica gico Colombiano, Publicaciones Geológicas Especiales, tectonics in the Northwestern Andes, prior to the colli-
geo.2005.03.011. de formación de la Ofiolita de Aburrá. In: XI Congreso 2:42 p. https://doi.org/10.32685/pub.esp.36.2019.01. sion with the Caribbean oceanic plateau. Gondwana
Maya M. & González H. 1995. Unidades litodémi- Colombiano de Geología. Bucaramanga, Memorias, p 1. Toussaint J.F. & Restrepo J.J. 1989. Acreciones Research, 66:207-226.

442 443
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 21

Geochronology of the Makenene-Bafoussam terrains in Central Cameroon. Several limits were proposed; e.g.:
transect in Cameroon: constraints for a latitude 4°N (Manguelle-Dicoum et al., 1992; Toteu et al., 1994;
Pouclet et al., 2006; Tadjou et al., 2009), the Sanaga fault (Ngako
major crustal boundary in the Precambrian et al., 1991) or the Tcholliré-Banyo fault (Toteu et al., 2001). Also,
terrains of Cameroon (Central Africa) based on Nd isotopes and Ar/Ar geochronology, Tchouankoue et
al. (2004) and Tchouankoue (2005) suggest the possible existence
Jean Pierre Tchouankoue1 of an NNE-SSW major crustal boundary aggregate to the Tcholli-
(tchouankoue@yahoo.com). re-Banyo-Fault (TBF) that extends to Massenyo Ounianga Anomaly
Depesquidoux I Tchato Tchaptchet1 Madeleine Liliane Nyassa.
in Chad evidenced by Louis in 1970.
(depesquidoux@yahoo.fr). The recent works on Paleoproterozoic terrane in the Adama-
Nicole Armelle Simeni Wambo2 wa-Yadé in the area of Meiganga (Ganwa et al., 2016) and Bafia
(swannie2009@yahoo.fr). (Tchaoukounté et al., 2017) which indicate Archean nucleus in the
Jean Pierre Tchouankoue. Madeleine Liliane Nyassa1 Bafia on one hand and the occurrence of ancient subducted ocean-
(lilimadi2@yahoo.fr).
ic floor in the Nyong series (Loose & Schenk, 2018; Bouyo et al.,
Joseline Dieugnou Juinang1
2019), highlight the problem of the northern extension of the Congo
(juinangjoseline8@yahoo.fr).
Celine Maffo Feudjou1
as well as the tectonic plate that might have been involved during this
(fceline2013@yahoo.fr). Paleoproterozoic orogeny.
Noel Aimee Kouamo Keutchafo1 The present works highlights results obtained at the University of
(noelaimeekeutchafo@gmail.com). São Paulo in 2002-2003 which are being reinforced by recent find-
ings from petrological and geochrological works in Central Cam-
1
University of Yaounde I, Department of Earth Sciences. eroon (e.g., Ganwa et al., 2016; Tchouankoue et al., 2016, 2017; Joseline Dieugnou Juinang.
2
University of Ngaoundere Department of Earth Sciences. Nomo Negue et al., 2017), which point out the Tcholliré Banyo Fault
as the major crustal boundary.
1. Introduction K/Ar dating of basalt dykes found along the traverse provided Pa-
leozoic and Mesozoic ages that were for the first time recorded in
Depesquidoux I The 31st International Geological Congress (IGC) took place in the corridor of the Cretaceous Cameroon Volcanic Line and which
Tchato Tchaptchet. 2000 at Rio de Janeiro while Professor Umberto Cordani was President opened a new research axis for Phanerozoic magmatism in Cameroon
of the International Union of Geosciences (IUGS). Thanks to significant as this type of magmatism fill the gap initially recorded between Pre-
financial supports (Geohost program) to geoscientists from developing cambrian and Cretaceous times in Cameroon.
countries, many African geoscientists took part in 31st IGC.
The 31st IGC has thus been the starting point of our collaboration
with Professor Cordani who was eager to correlate northern borders 2. Geology background
of the São Francisco craton in Brazil and the Congo craton in Camer- Celine Maffo Feudjou.
oon. Dating works on samples from Cameroon were generated during The transect from Ndikinimeki to Bafoussam located in Cen-
a 6 months visit of the first author at the Institute of Geosciences in tral-West Cameroon straddles the transition between the Yaounde
São Paulo in 2002/2003 and presented for the first time together with group formations mainly formed by rocks of gneisses affinity with
Professor Umberto Cordani during the 32nd IGC at Florence, in Italy. strong marks of tangential tectonics, to the West Cameroon Pan-Afri-
The northern border of the Congo craton in Cameroon locally can domain intruded by numerous juvenile granitoid plutons mostly
known as the Ntem craton (e.g., Tchameni et al., 2001) and which aligned aggregately to a NE-SW direction (figure 1). The Precam-
outcrops up to the latitude of 3°N, is thrust by the Neoproterozoic brian terrains which form 100% of the basement of the Cameroon
Nicole Armelle Yaounde group of the southern domain of the Central Africa fold territory include the Ntem craton representing the northern border
Simeni Wambo. belt and flanked by the Adamawa-Yadé domain that constitutes the in Cameroon of the Congo Craton, surrounding Paleoproterozoic
northern domain of the Paleoproterozoic terrane. However, the rocks which extend in South West Cameroon (Nyong Complex)
northern prolongation and limit of the Ntem craton is a debate and central west Cameroon (Bafia group). The rest of the country
since juvenile pan-African rocks are well constrained in the north is made up of Neoproterozoic rocks with some intercalations of Pa-
and West Cameroon; what thus highlights the problem of location leoproterozoic nucleus mainly described in the Adamawa region and Noel Aimee
and nature of the suture between the Archean and Neoproterozoic associated with the Adamawa-Yade Domain. Kouamo Keutchafo.

444 445
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 21

- Protoliths of Paleoproterozoic mafic rocks (Loose & Schenk, 2017), shosho-


nitic Panafrican plutonism and generalized metasomatism features in magmatic
rocks (Tchouankoue et al., 2016; Tchaptchet Tchato et al., 2017; Keutchafo Koua-
mo et al., 2019) may be indicative of successive subduction environment during
the Paleoproterozoic and the Neoproterozoic of the northern border of the Congo
craton below a Nigerian shield.

3. Lithology

3.1 Archean–Paleoproterozoic gneiss


Figure 1: Geology The southeastern part of the transect which starts from Ndikinimeki to the Nde
sketch map of Cam- river (figure 1c), is mainly formed by Paleoproterozoic gneiss with dominant Arche-
eroon with:
A) location and an Sm-Nd model ages recrystallized under granulites facies metamorphic conditions.
B) detailed lithol- They were retrogressed into amphibolites facies metamorphism during Pan-African
ogy of the Ba- orogeny. These Paleoproterozoic gneisses are associated with Archean nucleus made
foussam-Makenen
geotraverse. up of gneiss of TTG composition similar to those of the Archean Congo Craton. The
C) 1: Cameroon latter was subsequently affected by Paleoproterozoic and Neoproterozoic orogenies.
Volcanic Line. Amphibolites
2: Panafrican
granitoids. Amphibolites are found throughout the transect. It predominantly occurs as small
3: panafrican size (3.5 x 1 km) bodies concordant with the NNE trending foliation of Paleoprotero-
monzosyenites. zoic and Archean gneisses as exemplified in the Makenene quarry in the extreme south-
4: Panafrican
Orthogneisses. western portion of the transect. They display heterogranular granoblastic texture made
5: Metasedimentary up of amphibole, plagioclase, biotite, as main minerals constituent and zircon, apatite
quartzites cover of
the Yaounde Group.
and oxides as accessory minerals. Podiform amphibolites are also found, generally dark-
6: Paleoproterozoic green, the mean grain size of the amphiboles being 1 mm. The textures are granoblastic,
to Archean basement. grano-nematoblastic, porphyroblastic and/or poikiloblastic. The commonest mineral as-
semblage is amphibole, plagioclase, minerals of the epidote group, sphene and opaque
minerals. Additionally, pyroxene, garnet, biotite, calcite, chlorite, apatite occur in some
samples. In this area, amphibolites are associated with pyroxene-amphibolites (Ndikin-
imeki ) which appears as 3 x 1 km small size massif concordant with the foliation of the
Geochemical and Geochronological studies of Precambrian rocks in Camer- hosting Paleoproterozoic gneiss. They display a cumulative texture with hypersthene
oon carried out over the past five years helped to a better understanding of the (19%), secondary green hornblende (45%), from augite (as shown by cross-polarized
geology of the northern border of the Congo craton and provided the following tints of augite), garnet (5%), quartz (10%), plagioclases (10%), chlorite (1%), titanite,
key peaces of information: apatite, and zircon (1%), opaque oxides (1%). In the area towards the northwest of the
- A ∼3.8 Ga-old ancient proto-crust might have existed in the northwestern Con- transect, amphibolites are found as two-meter width sill interbedded with the gneiss the
go Craton during the Archean time (Li et al., 2016). roadcut exposed near the bridge on the Ndé river in Tonga. Pyroxenoamphibolites are
- Archean relics evidenced in Panafrican terrains of the Adamawa-Yade domain fine-grained, dark-colored rocks with granolepidoblastic texture and the mineral com-
to the north of the Congo craton show that the Pre-Panafrican history of Central position made of green hornblende, augite, and plagioclase. They are found at Maham
Cameroon includes Archean relics not reworked during Proterozoic eburnean and and Bangoua as various sizes enclaves that can reach 1 m in diameter. Amphibolites
Panafrican orogenesis (Ganwa et al., 2016; Tchakounte et al., 2017). show clear discordant contacts and intrusive relationships with the gneissic basement.
- The Tchollire-Banyo-Fault which overlaps the northwestern border to the Ad- The general texture is granoblastic and the mineral composition is made up of green
amawa-Yade domain (Nomo Nengue et al., 2017) is characterized by the presence of hornblende, plagioclase, orthoclase, quartz, titanite, apatite, zircon. Amphibolites typ-
gold indices and a ring of mafic towards the SSW. ically exhibit fine-grained granoblastic textures. In these samples, plagioclase occurs as
- Paleoproterozoic to Archean age of the mantle that underlies the Proterozoic heterogranular euhedral zoned crystals in a fine-grained matrix of hornblende + biotite.
domain at the northern border of the Congo craton indicate that the domain was Clinopyroxenes occur as rare relics. Dykes zoned labrador-bytownite (35-67%) in some
formed during the convergence of West Africa and Congo cratons (Liu et al., 2017). cases altered to saussuritic micro aggregates; dark greenish-brown.

446 447
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 21

Table 2: K/Ar data.

Table 1: Ar/Ar ages.


3.2 Pan-African terrane
The Pan-African formation, which consists of orthogneiss associated
with variably deformed granitoids, is predominantly found towards the
NW segment of the transect from Maham to Bafoussam through Ban-
Table 3: Sm/Nd data.
goua. The orthogneiss consists of metagranite, metagranodiorite and me- ages towards Makenene. These observations are supported by recent
ta-leucogranite display heterogranular granoblastic texture and mineral zircon U/Pb ages in the region that indicate Pan-African ages towards
composition orthoclase, quartz, plagioclase, green hornblende, biotite, Bfoussam (e.g., Tchouankoue et al., 2016) and Paleoproterozoic to Ar-
accessory minerals. These Pan-African orthogneisses are intruded by late- chean ages in the Makenene area (e.g., Tchakounte et al., 2017).
to post-Pan-African granitoids, monzonites and syenite, which represent
more than 60% of rock types, are oriented aggregately to the NE-SW. 4.1 Ar/Ar ages
Ar/Ar results (table 1) were carried out for 8 purified hornblendes
and 11 biotite minerals separate from 8 samples representing: syenites,
4. Geochronology granite, orthogneisses, and granulitic rocks. From the Northwestern
end of the area, five biotites and three amphiboles were dated and the
Details of Ar/Ar, K/Ar and Nd-TDM ages generated along the Ba- apparent age is between 589 and 557 Ma. Towards Makenene, 4 bio-
foussam-Makenene transect are presented in more detail in Tchouank- tites and 6 amphiboles were dated. The biotite yielded normal spectra
oue (2005). These ages presented here (tables 1, 2, 3) shows the oldest and plateau ages between 607 and 555 Ma.

448 449
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 21

4.2 K/Ar
Six samples from the Makenene area were analyzed for K/Ar. Amphibolites gave
an age of 963 ± 23.2 Ma and orthogneisses 1976 ± 34.1 Ma. In the corridor of the
Cameroon Volcanic line which intersects the studied area in Bafoussam-Bangangte Figure 2: Proposed
initial boundary of
areas, the basalt dykes yielded Paleozoic (417 ± 8.1 Ma) and Mesozoic (214.7 ± 6.6 the Congo craton
and 149.2 ± 3.8 ages). in Cameroon. The
proposed boundary
traddles the Mak-
4.3 Sm/Nd enene-Bafoussam
Sm/Nd data show two distinct age groups in the northwestern domain. Nd-TDM SE-NE oriented
ages span the time between 1.78 and 2.04 Ga for orthogneisses and granitoids to- geotraverse.
AF: Adamawa fault.
wards Bafoussam while the Makenene area is characterized by Archean Nd-TDM ages CCSZ: Central
ranging between 3.17 and 2.9 Ga. Cameroon Shear
Zone.
TBF: Tchollire-Ban-
yo fault.
5. Suture problem MOGA: Massenya
Ounianga Gravimet-
ric Anomaly.
Pre-drift correlations between Africa and North East Brazil are relatively well
constrained (e.g., Brito Neves et al., 2002; Van Schmus et al., 2008) but the problem
of the location of the Congo craton/Proterozoic suture zone, the absence of extend-
ed Paleoproterozoic terrains to the north of the São Francisco craton in North East
Brazil adds to the location of northern limit of the Congo craton in Cameroon.
Starting near Massenya and for more than 1000 km through Central Chad is a linear
positive gravity anomaly of quite exceptional proportions Louis (1970), the Massen- as movements on faults zones (Nnangue et al., 2001; Goussi Ngalamo et al., 2017),
ya-Ounianga Gravimetric Anomaly (MOGA). Assuming a crust with an average thick- lithospheric thinning (Poudjom Djomani et al., 1997) or an excess of density of
ness of 30 km and a density of about 2.7 g/cm3 cut by a basaltic dyke with a density con- materials at depths (e.g., Tadjou et al., 2010). At the scale of reconnaissance maps of
trast of about +0.20 g/cm3 and overlain by Quaternary sediments, Freeth (1984) built a Cameroon, a rapid examination of the sheets Yaounde-West (Champetier Ribes &
simple two-dimensional model with a good fit of the main peak of the observed anomaly Reyre, 1959), Douala East (Weecksteen, 1957) show that a corridor of small basic
obtained with a dyke which has a width of about 10 km, beneath a 1 km thick layer of plutons maybe draw in a position aggregate to the direction we propose (figure 2).
Quaternary sediments and which increases with depth to about 20 km at the base of the On the geology map of Cameroon, the south-eastern limit of domains invaded by
crust. He also estimated that if the dyke is made up of more basic rocks, with a greater juvenile granitoids can be superposed to the proposed direction of the MOGA pro-
density contrast, then its width will be correspondingly decreased. longation into Cameroon (Tchouankoue et al., 2016). In addition to field evidences,
Freeth (1984) also suggests that if the anomaly reflects the presence of a major we have noted on a geochronological map of Cameroon, that all ƐNd values for the
dyke; the dyke must leave a fairly constant width at depth but vary in the extent domain west of the MOGA in Cameroon as well as in eastern Nigeria, are lower
to which it penetrates the overlying crust. Although the amplitude of the gravity than data from Adamawa-Yade and the Congo craton. These are additional pieces of
anomaly varies considerably along its length, the width of the anomaly remains re- evidence that in central Cameroon, the prolongation of the MOGA should be seen
markably constant. Freeth (1984) concludes that it is difficult to find any structure as a line of mafic dense bodies that represent the main lineament of the country. The
with which a Massenya-Ounianga dyke could be compared to. location of the MOGA in Central Cameroon – that we expect should also be inves-
Various interpretations of MOGA prolongation into the Cameroon territory tigated by geophysical methods – is thus of greater geodynamic significance together
are available: with other identified Precambrian lineaments in Cameroon such as the Adamawa
- According to structural evidences, Ngako (1999) documents a continuation Shear Zone and the Sanaga Fault.
of MOGA into the Air, with its curve rounding a hypothetic craton extending
northwards from northern Cameroon. Ferre et al. (2002), draws the MOGA
lineament towards Nigeria and beneath the Benue Through. Pinna et al. (1994) 6. Implications for pre-drift reconstitutions
found the MOGA to form a branch of lineaments coinciding with the Tcholli-
re-Banyo-Fault (TBF). The Tchollire-Banyo Fault is located at the northern edge of the Adamawa-Ya-
- Recent similar works carried out in the neighboring Adamawa plateau and in de domain. Characteristics of the Adamawa-Yade domain can be summarized as
the Yaounde domain revealed a long negative anomaly (120 mgal) interpreted either follow (Toteu et al., 2004; Ganwa et al., 2016): Abundant syn- to late-tectonic

450 451
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 21

granitoids of intermediate composition, Paleoproterozoic upper ages for zir-


cons and Paleoproterozoic to Archean ages in both the sedimentary rocks
and orthogneisses, existence of Paleoproterozoic juvenile material and most
basement rocks derived from the recycling of Archean crust similar in age to
the Congo Craton. Toteu et al. (2001) already suggested that the characteris-
tics above were found in the Nyong series farther southwest of the Makenene
area and it is undoubtedly that with features as the one described above are
Figure 3: A portion
found for the Makenene area of the Bafia group the studied area prolongs of West Gondwa-
to the NNE of the Nyong group with which it forms the southwestern pro- na about 500 Ma
longation of the Adamawa-Yade domain. Van Schmus et al. (2008) argue that showing inferred
geological provinces
the Tchollire Banyo Fault appears to be a significant terrane boundary. On and potential correla-
pre-drift reconstitutions maps (figure 3), the Tchollire Banyo fault should tions from Brazil to
thus appear as a major crustal boundary running SSW esternwards from the west-central Africa
(after Van Schmus et
Tchollire-Banyo Fault through Makenene and Kribi areas in Cameroon to the al., 2008). The pro-
pre-drift collage zone between Congo and São Francisco cratons as proposed posed northern limit
by Tchouankoue (2005). of the Congo craton
(dotted line) prolongs
into Brazil at the
eastern edge of the
São Francisco Craton.
7. Evidence for Paleozoic and Mesozoic MOGA: Massenya
dyke magmatism associated with the Ounianga Gravime-
tric Anomaly.
Cenozoic Cameroon Volcanic Line

The northern border of the Congo craton in Cameroon recorded Pha-


nerozoic magmatism constrained between Eocene to Miocene also know as
Cameroon Volcanic Line, which is an NE trending chain of volcanic and plu-
tono-volcanic massifs extending from Pagalu in Atlantic Ocean of the Gulf
to Chad through Cameroon. This line is associated with dyking magmatism
filling up Riedel’s kinematic fractures model (Tchouankoue et al., 2014; Si-
meni et al., 2017). These basalt dikes were previously considered as part of
the Cameroon volcanic line. The geochronological data K/Ar obtained from 8. Conclusion
basalt dikes associated to these network of fractures of the Central Camer-
oon Shear Zone have revealed the existence of dyking magmatism whose age The geochronology works carried out in collaboration with Professor Umberto
range from Paleozoic to Mesozoic times (Tchouankoue, 2005; Tchouankoue Cordani have significantly boosted geodynamics research in Cameroon at the north-
et al., 2014). This magmatism which displays tholeiitic affinity originated ern border of the Congo craton. Two key outcomes can be highlighted:
from the partial melting of the sublithospheric mantle that was previously - The proposed NNE-SSW limit for the former Archean-Proterozoic boundary
metasomatized by previous subduction events at the northern border of the that overlaps the TBF is reinforced by recent Archean zircons U/Pb ages published
Congo craton following an extensional event (Tchaptchet Tchato et al., 2017; for terranes of Centre Cameroon (Adamawa & Bafia) to the Southeast of the TBF;
Keutchafo et al., 2019). The ages, as well as the geochemical signatures of the - The determination of Paleozoic and Mesozoic K/Ar ages for basalt dykes in the
dyke basalts, are quite different from that of the Cameroon Line volcanics, corridor of the Cameroon Volcanic Line has shed light on that dyke magmatism that
suggesting that dyke magmatism at the northern border of the Congo craton fills the gap previously recorded between Neoproterozoic and the Cretaceous mag-
resulted from another magmatism episode older than that of the Cameroon matism in Cameroon. By filling this gap, it appears that this basalt dyke magmatism
Line. This argument is reinforced by works of Aka et al. (2018) who recorded reinforces the role of rejuvenation of Precambrian fractures during the Phanerozoic
Jurassic K/Ar ages from basalt dikes exposed in the Wum area in the southern as a key hypothesis on the origin of the Cameroon Volcanic Line.
continental part of the Cameroon Volcanic Line. This dyking episode points To date within our research group, research works linked to the two themat-
out that the lithospheric mantle at the northern border of the Congo craton is ics above led to two PhD and three MSc thesis, as well as four PhD and 3 MSc
heterogeneous and characterized by a metasomatized sublithospheric mantle ongoing thesis work. These studies are associated with Universities and the Geo-
following Proterozoic subduction. logical survey in Cameroon.

452 453
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 21

References Louis P. 1970. Contribution géophysique a la con- Tchaptchet Tchato D., Simeni Wambo N.A.,
naissance géologique du bassin duLac Tchad. Mémoi- Keutchafo Kouamo N.A., Tchouankoue J.P., Cuccini-
Aka F.T., Hasegawa T., Nche L. A., Asaah A.N.E., res ORSTOM, 42, 311p. ello C. 2017. Geology, mineralogy and geochemistry
Mimba M.E., Teitchou I., Ngwa C., Miyabuchi Y., Manguele Dicoum E., Bokosah A., Kwende of the kekem dyke swarm (western Cameroon): in-
Kobayashi T., Kankeu B., Yokoyama T., Tanyileke G., Mbanwi T.E. 1992. Geophysical evidence for a ma- sights into Paleozoic and Mesozoic magmatisms and
Ohba T., Hell J.V., Kusakabe M. 2018. Upper Triassic jor Precambrian schist-granite boundary in Southern geodynamic implications. Comptes Rendus Geosci-
mafic dykes of Lake Nyos, Cameroon (West Africa) Cameroon. Tectonophysics, 205:725-739. ence, 349(4):175-185.
I: K-Ar age evidence within the context of Cameroon Ndougsa-Mbarga T., Yufenyiu D., Charles L. Ta- Tchouankoue J.P. 1992. The Bangangté Syenite:
Line magmatism, and the tectonic significance. Jour- bod C T., Yene-Atangana Q.J. 2014. Delineation of the a Pan-african complex with intermediate characters:
nal of African Earth Sciences, 141:49-59. northern limit of the Congo Craton based on spectral Petrology-Geochemistry. Doc. 3eme Cycle Thesis, Univ.
Brito Neves B.B., Van Schmus W.R., Fetter A. analysis and 2.5D modeling of aeromagnetic data in Yaounde, Cameroon, 160 p.
2002. North-western Africa-North-eastern Brazil ma- the Akonolinga-Mbama area, Cameroon. Geofísica In- Tchouankoue J. P. 2005. Geochronology of the Pre-
jor tectonic links and correlation problems. Journal of ternacional, 53(1):5-16 cambrian basement of West-Cameroon: evidence of a
African Earth Sciences, 34:275-278. Ngako V. 1999. Les deformations continentales major Paleoproterozoic/Neoproterozoic crustal boundary
Champetier de Ribes G., Reyre D. 1959. Carte panafricaines en Afrique Centrale: Resultat d’un Poin- in Cameroon and its prolongation in North-East Brazil.
géologique de reconnaissance du Cameroun au connement de type himalayen. Doct. State Thesis, Thesis “Doctorat d’Etat”, University Yaounde I. 133 p.
1/500000. Feuille Yaoundé-Ouest avec notice explica- Univ. Yaounde I, 241 p. Tchouankoue J.P., Ghogomu R.T., Tchoua F. M.
tive. Yaounde, Direction Mines, 31 p. Nnangue J.M. 1991. The crustal structure of the 1994. Etude comparative de deux massifs a caracteres
Ferré E.C., Gleizes G., Caby R. 2002. Obliquely Cameroon Volcanic Line and the Foumban shear zone intermediaires dans les granitoides atectoniques du Ca-
convergent tectonics and granite emplacement in the based on graity and aeromagnetic data. PhD thesis, meroun. Annales Faculte Sciences Yaounde, 3:166-175.
Trans-Saharan belt of Eastern Nigeria: a synthesis. Uniersity of Leeds, England, 242 p. Tchouankoue J. P., Cordani U.G., Onoe A.T. 2004.
Precambrian Research, 114:199-219. Nomo Negue E., Tchameni R., Vanderhaeghe O., On the Pan-African crustal evolution of West-Cam-
Freeth S.J. 1984. How many rifts are there in West Sun F., Barbey P., Tekoum L., Tchunte Fosso P.M., Eg- eroon: New petrological, isotope geochemical and
Africa? Earth Planetary Science Letters, 67:219-227. linger A., Fouotsa Saha N.A. 2017. Structure and LA- geochronological evidences from the Bafoussam-Mak-
Ganwa A.A., Klotzli U.S., Hauzenberger C. 2016. ICP-MS zircon U-Pb dating of syntectonic plutons em- enene region. In: 32nd International Geological Con-
Evidence for Archean inheritance in The pre-Panafri- placed in the Pan-African Banyo-Tchollire shear zone gress. Florence, Italy, Poster.
can crust of Central Cameroon: Insight from zircon (central north Cameroon). Journal of African Earth Tchouankoue J. P., Li X.H., Ngo Belnoun R.N.,
internal structure and LA-MCICP-MS U-Pb ages. Jour- Sciences,131:251-271. Mouafo L., Ferreira V.P. 2016. Timing and tectonic
nal of African Earth Sciences, 120:12-22 Pinna P., Calvez J.Y., Abessolo A., Angel J.M., Me- implications of the Pan-African Bagangte syenomon-
Presentation of the poster On the Goussi Ngalamo J.F., Bisso D., Abdelsalam M.G., koulou-Mekoulou T., Mananga G., Vernhet Y. 1994. zonite, West Cameroon: constraints from in situ zir-
Pan-African crustal evolution of Atekwana E.A., Katumwehe A.B., Ekodeck G.E. Neoproterozoic events in the Tchollire area: Pan-Afri- con U-Pb age and Hf-O isotopes. Journal of African
West-Cameroon: New petrological, 2017. Geophysical imaging of metacratonizaton in can crustal growth and geodynamics in central-north- Earth Sciences,124:94-103.
isotope geochemical and geochrono- the northern edge of the Congo craton in Cameroon. ern Cameroon (Adamawa and North Provinces). Jour- Toteu S. F., Van Schmus W. R., Penaye J., Michard
logical evidences from the Bafous- Journal of African Earth Sciences, 129:94-107. nal of African Earth Sciences, 18(4):347-353. A. 2001. New U-Pb, and Sm-Nd data from North-Cen-
sam-Makenene region, by Jean Pierre Keutchafo Kouamo N.A., Tchaptchet Tchato Pouclet A., Tchameni R., Mezger K., Vidal M., Nsi- tral Cameroon and its bearing on the pre-Pan-Afri-
Tchouankoue, Umberto Cordani and D., Tezanou Ngueguim A. L., Simeni Wambo N.A., fa E.N., Shang C.K., Penaye J. 2007. Archaean crustal can history of Central Africa. Precambrian Research,
Artur Takashi Onoe at the 32nd Inter- Tchouankoue J.P., Cucciniello C. 2019. Elemental accretion at the northern border of the Congo Craton 108:45-73.
national Geological Congress, geochemistry and Sr-Nd-Pb isotopes of basalt dykes (South Cameroon). The charnockite-TTG link. Bulletin Toteu S. F., Van Schmus W. R., Penaye J., Nyobe
in Florence, Italy, in 2004. from the Manjo area (West-Cameroon): Insights for de la Société géo-logique de France, 78:330-342. J.B. 1994. U-Pb and Sm-Nd evidence for Eburnean
Phanerozoic geodynamics at the northern margin of Poudjom‑Djomani Y.H., Boukeke D.B., Legeley‑Pa- and Pan-African high-grade metamorphism in cratonic
the Congo craton in Cameroon. Arabian Journal Geo- dovani A., Nnange J.M., Ateba‑Bekoa Albouy Y., Fair- rocks of southern Cameroon. Precambrian Research,
sciences, 12(9):281. head J.D. 1996. Levés gravimétriques de reconnais‑sance: 67:321-347.
Li X.H., Chen Y., Li J., Yang C., Ling X.X., Gravity Map Cameroun. Paris, ORSTOM, 28 p. Toteu S.F., Penaye J., Poudjom Djomani Y.H.
Tchouankoue J.P. 2016. New isotopic constraints on Tadjou J.M., Nouayou R., Kamguia J., Kande 2004. Geodynamic evolution of the Pan African belt
age and origin of Mesoarchean charnockite, trondh- H.L., Manguelle-Dicoum E. 2009. Gravity analysis in Central Africa with special reference to Cameroon.
jemite and amphibolite in the Ntem Complex of NW of the boundary between the Congo Craton and the Canadian Journal of Earth Sciences, 41(1): 73-85
Congo Craton, southern Cameroon. Precambrian Re- Pan-African belt of Cameroon. Austrian Journal of Van Schmus W.R., Oliveira E.P., da Silva Filho
search, 276:14-23. Earth Sciences, 102:71-79 A.F., Toteu S.F., Penaye J., Guimaraes I.P. 2008. Pro-
Li X-H., Yi, Chen, Y., Tchouankoue, J.P., Liu, Takam T., Arima M., Kokonyangi J., Dunkley D.J., terozic links between the Borborema Province, NE
C.Z., Li J., Ling X.X., Tang, G.Q., Liu Y. 2017. Im- Nsifa E.N. 2009. Paleoarchean charnockite in the Brazil, and the Central African fold belt. Geological
proving geochronological framework of the Pan-Af- Ntem Comples, Congo Craton, Cameroon: insights Society of London, Special Publications, 294:69-99.
rican orogeny in Cameroon: New SIMS zircon and from SHRIMP zircon U-Pb ages. Journal of Mineralog- Weecksteen G 1957. Carte géologique de recon-
monazite U-Pb age constraints. Precambrian Research, ical and Petrological Sciences, 104:1-11. naissance à l’échelle du 1/500 000ème, feuille Doua-
294:307-321. Tchameni R., Mezger K., Nsifa N.E., Pouclet A. la‑Est, avec notice explicative. Publication de la Direc-
Liu C.Z., Yang L.Y., Li X.H., Tchouankoue J.P. 2001. Crustal origin of Early Proterozoic syenites in tion des Mines et de la Géologie du Cameroun.
2017. Formation age and Sr-Nd-Hf isotopes of the the Congo craton (Ntem Complex), South Cameroon.
subcontinental lithospheric mantle beneath the Cam- Lithos, 57:23-42.
eroon Volcanic Line: contraints from the Nyos mantle Tchakounté J., Aurélien E., Toteu S.F., Zeh C.,
xenoliths. Chemical Geology, 455:84-97. Nkoumbou C., Mvondo-Ondoa J., Penaye J., De Wit
Loose D., Schenk V. 2018. 2.09 Ga old eclogites M., Barbey P. 2017. The Adamawa-Yadé domain, a
in the Eburnian-Transamazonian orogen of southern piece of Archaean crust in the Neoproterozoic Central
Cameroon: Significance for Palaeoproterozoic plate African Orogenic belt (Bafia area,Cameroon). Precam-
tectonics. Precambrian Research, 304:1-11. brian Research, 299:210-229.

454 455
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 22

Reviews of the Eburnean geodynamic


The Kedougou-Kenieba Inlier (KKI) is one of the most important Eburnean
evolution: case study of the ore regions in the West African Craton (WAC) that experienced a complex ebur-
Kedougou-Kenieba Inlier (Senegal) nean structural evolution. This inlier is characterized by elongated NE-SW to N-S
major granitoid plutons and greenstone belts and is transected by several major
Gueye Mamadou1 lineaments and associated shear zone systems, most of which show evidence of
(mamadou1.gueye@ucad.edu.sn). polyphase deformation. These lineaments separate structurally and stratigraphi-
Ngom Papa Malick2 cally different domains, referred to as supergroups by Bassot, 1987. Despite the
(papam.ngom@ucad.edu.sn). obvious importance of these lineaments which host important mineral deposits
(Lawrence et al., 2013; Treolar et al., 2014; Masurel et al., 2015; Sylla et al.,
1
University Ch. A. DIOP Dakar, Institute of Earth Sciences.
2
University Ch. A. DIOP Dakar, Faculty of Sciences and Technics, Dept. Geology. 2016), their evolution is incompletely understood.
This paper describes the results of structural analysis in the western part of the
1. Introduction KKI called Mako Belt and investigated his early stratigraphic and structural architec-
ture. It describes the history of deformation of the shear zone system from the study
In the last two decades different geodynamical settings have been of limited exposures, starting with a review of the regional deformations phases re-
proposed for the generation of the Birimian rocks and the eburnean corded in the Mako Belt, then describing their structural evolution and kinematics.
Gueye Mamadou. orogeny, based on its juvenile character. Of particular significance to this study is the belt-parallel Major Shear Zone and
Collaborative research programs to develop the use of Sr and Nd adjacent shear systems, which we will present in detail. We propose a new geological
isotopic geochemistry in the West African Craton was initiated by Prof. map of the KKI showing subdivision of the previously undivided Mako Group.
Umberto Cordani with the Institute of Geosciences of the University
of São Paulo (Brazil) under the sponsorship of the FAPESP.
This collaborative work with Prof. Umberto Cordani culminated 2. Regional geological settings
with the publication of Ngom et al., 2010 in the Arabian Journal
of Geosciences and has led to the recognition of a major accretion Paleoproterozoic formations of the WAC comprises a lithological succession of
within the West African Craton occurring at about 2.1 Ga, which Birimian volcanic Belts and volcanosedimentary basin, overlain by fluvial-deltaic ba-
corresponds to an important process of mantle-oceanic lithosphere sins (Tarkwaian) (e.g., Feybesse et al., 2006; Baratoux et al., 2011). The volcanosed-
differentiation. The results contribute to the understanding of this imentary sequences alternate with granitoid intrusions made of Tonalite-Trondh-
little know Paleoproterozoic period of arc magmatic activity that oc- jemite-Granodiorite (TTG) gneisses or plutons, diorites, and granites. The volcanic
curred during the building of the Mako Belt. pile is dominated by rocks ranging from basalt to rhyolite with tholeiitic to calc-al-
The genesis of Paleoproterozoic terranes is diversely discussed ac- kaline affinities (e.g., Leube et al., 1990; Pouclet et al., 2006; Baratoux et al., 2011).
cording to many authors. In the West African Craton (WAC), complex The Eburnean lithostructural evolution is controlled by a succession of tectonother-
tectonic pattern during Paleoproterozoic tectonism can result from mal events active during a period of Birimian volcanic eruption, intrusion of granit-
transpression (e.g., Gueye, 2001, 2013; Ngom et al., 2010; Baratoux oids and a period of metamorphism, uplift, and erosion (2140-2070 Ma) (Feybesse
et al., 2011; Metelka et al., 2011; Diene et al., 2012; Perrouty et al., et al., 2006; Gueye et al., 2007; Perrouty et al., 2012). It consists structurally of an
Ngom Papa Malick. 2014; Lebrun et al., 2015; Block et al., 2015; Baratoux et al., 2015; early contraction dominated deformation phase, followed by a transcurrent tecton-
Dabo et al., 2018). Crustal-scale shear zones developing in such a re- ics (e.g., Liégeois et al., 1991; John et al., 1999; Caby et al., 2000; Klemd et al.,
gime may reflect potential terrane boundaries. They separate struc- 2002; Debat et al., 2003; Galipp et al., 2003; Feybesse et al., 2006; Ganne et al.,
turally and stratigraphically different domains, or accreted segments 2012; White et al., 2014; Block et al., 2015; Dabo et al., 2018).
referred to as belts by Hirdes & Davis, 2002, and Gueye et al., 2013. The Kédougou-Kéniéba inlier (KKI) located at the eastern of Senegal consists
The structural evolution of such domains is also strongly debated of Birimian formations (Paleoproterozoic) bounded to the south and west parts by
(Pons et al., 1995; Vidal et al., 1996, 2009; Caby et al., 2000). Neoproterozoic sedimentary basins, Pan-African and Hercynian belts.
The geotectonic evolution of the WAC can be explained by grav- In general, the KKI comprises 2.2-2.07 Ga, Paleoproterozoic high grade (migmatite,
ity-driven tectonic processes attributed to Archean times or by sub- granulite) gneisses later retrograded to amphibolite grade that built the basement com-
sequent accretion of volcanic plateaus and islands arcs compared to plex and granite-greenstone terranes, overlain by sediments (Dia et al., 1997; Hirdes &
modern plate tectonism (Zonou, 1987; Dia, 1988; Sylvester & Attoh, Davis, 2002; Gueye et al., 2007; Gueye et al., 2008; Lambert-Schmidt et al., 2015) (fig-
1992; Ama-Salah et al., 1996: Abouchami et al., 1990; Boher et al., ure 1). It is characterized by elongate NE-SW to N-S-trending major plutons and belts.
1992; Pouclet et al., 1996; Dampare et al., 2008; Pawlig et al., 2006; The KKI has long been subdivided into three tectonostratigraphic groups, defined
Ngom et al., 2010; Baratoux et al., 2011). based on distinct volcanic facies, geochemistry, and age of volcanism, starting with

456 457
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 22

granites (2160 Ma and 2130 Ma successively) (Gueye et al., 2008). This magma-
tism took place within an intra-oceanic arc context. Common sedimentary interca-
lations include grey to black mudstone, volcaniclastic siltstone, sandstone, breccia
conglomerate, and rare limestone. This association of calc-alkaline granitoids and
volcanosedimentary sequences is interpreted as having developed in a magmatic arc
setting, which was accreted during the Eburnean cycle (Diallo, 1994; Dia et al.,
1997; Pawlig et al., 2006; Ngom et al., 2010).
The scattered values of initial isotopic of the Nd with positive ƐNd(2.1 Ga) vary-
ing from +1.10 to +7.43 in all the Mako bimodal volcanic belt samples exclude
a single origin for these magmas (Pawlig et al., 2006; Ngom et al., 2010). Despite
these isotopic heterogeneities, their source is a depleted upper mantle different from
modern MORB. The low Sr initial isotopic (0.700 to 0.704) and the initial isotopic
of Nd with positive ƐNd(2.1 Ga) values of the Eburnean granitoids indicate a negli-
gible component of Archean crust and are similar to those of Mako basalts.
The Diale-Dalema Group overlies the Mako Group and comprises argillites,
sandstones, conglomerates, and subordinate carbonaceous mudstones to con-
glomerates. The Dialé-Daléma sedimentary basin, interbedded with the Daléma
calc-alkaline volcanism which could be resulted from the activation of transcur-
rent faults during the Eburnean event. This event is associated with the emplace-
Figure 1: Sim- ment of G4-type granites (around 2100 Ma). The Dalema igneous rocks may have
plified geolog- formed in an extensional back-arc, related to the arc system (Lambert-Schmidt
ical map of the
Kedougou-Ke- et al., 2015). Inherited zircons in the Boboti pluton indicate magmatic activity
nieba Inlier. in the Faleme Belt at 2218 ± 83 Ma coincided with the oldest dated units in the
Explanation: KKI to the East (Lambert-Schmidt et al., 2015).
1: Granites.
2: Volcanosedi- Metamorphic conditions range from greenschist to lower amphibolite, and lo-
mentary. cally, middle to upper amphibolite facies near syn-kinematic granitoids (Debat et
3: Volcanics. al., 1984; Dia et al., 1997; Schwartz & Melcher, 2004; Pawlig et al., 2006; Gueye
4: Major gold
projects. et al., 2008; Ganne et al., 2012).
5: Shear A generally accepted scheme of deformation in the KKI outlines three main
systems and phases, D1- to D3 (Ledru et al., 1989; Milesi et al., 1992; Dabo & Aifa, 2010, 2011;
geophysical
lineaments. Diene et al., 2012; Ndiaye et al., 2014; Diatta et al., 2017). D1 is a phase of thrust-
ing, isoclinal recumbent folding and D2 and D3, phases of transcurrent tectonic. The
number, nature, and timing of events is controversial, with some authors proposing
three protracted events (Dabo & Aifa, 2010; Ndiaye et al., 2015; Diatta et al., 2017;
Dabo et al., 2018), while others suggest up to continuum events (Diene et al., 2012).
Bassot (1966), Bassot (1987), Hirdes & Davis, 2002, and Théveniaut et al. (2010), The Mako Belt presents similarities with eburnean domains controlled by crustal
through the most recent subdivision by Gueye et al. (2013), Lambert-Schmidt et al., thickening, followed by transcurrent shear zones development. Its structural evolu-
(2015), which is adopted in this paper (figure 1). From west to east, these are the tion is controlled dominantly by a transpressional event (Diene et al., 2012) which
Mako, Dialé and Daléma. Groups or belts are separated by major linear structures the granite-greenstone terrains. The main structural features of the Mako Belt are
which extend over at least 120 km, known as the Main Transcurrent Zone (MTZ) ascribed to the superposition of two principal deformation events, D1, D2, and D3
(Ledru et al., 1989; Milesi et al., 1992) and the Senegalo Malian Fault (figure 1) (Diene et al., 2012; Ndiaye et al., 2014). D2 deformation produced a pervasive
(Bassot & Dommanget, 1986; Dabo & Aifa, 2010, 2011; Lawrence et al., 2013; regional north-easterly to northerly trending foliation.
Diene et al., 2015; Diatta et al., 2017). Eburnean granitoids
The Mako bimodal volcanic belt is represented at the base by an ultramafic During the polycyclic Eburnean Orogeny numerous calc-alkaline plutons intrud-
-mafic complex with tholeiitic affinity comparable to the oceanic plateau basalts, ed the Palaeoproterozoic sequences (Pawlig et al., 2006) including tonalite (TTG),
intruded by the G1-type granites (2200 Ma) (Gueye et al., 2007). Above, it sets granodiorite, diorite, and meta-diorite, and these are collectively called Eburnean
up a calc-alkaline mafic-intermediate-acid complex associated with G2 and G3-type granitoids (Pons et al., 1995; Naba et al., 2004; Pawlig et al., 2006; Ngom et al.,

458 459
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 22

ranging from high temperature (near solidus and subsolidus ductile deformation (in-
tense quartz and feldspar recrystallization). The Falombo pluton is one of a group
of composite, zoned, multiphase plutons (Sylla et al., 2016) that intruded TTG,
volcanics and sediments of the Mako Belt.

3. Regional structural framework

Group or supergroup in the Mako Belt are further subdivided into domains,
which define contiguous blocks with particular tectonostratigraphic features (figure
Figure 2: Geological 2). The eastern and western parts of the Mako Belt is composed of at least three
map of the area studied.
1: Mako-Granite-Green- lithologically and structurally distinct domains or belts. These domains follow the
stone-Belt: red, TTG, NE-SW to N-S structural grain in the Belt and are associated with folding, thrusting
and granite, green, and strike-slip shearing. Shear zones are common in all lithologic domains, and are
supracrustal sequences.
2: Metasediment and specifically well developed along the contact of domains or belts. They cause the
volcanic aggregates. lenticular shaping of different lithologic units (figure 2). Structural analysis and an
3: Volcaniclastic increased understanding of the lithological relationships between the various units,
sedimentary rocks.
4: Metasediments and have allowed distinctions to be made between successive tectonic events.
volcanic aggregate. Lithotectonic assemblage
5: Massawa-Bero- Most of the belts in the WAC are characterized by abundant tholeiites and
la-Shear-Belt.
6: Sedimentary overlain by felsic volcanic and sedimentary rocks and intruded by granitoids
sequence. (Leube et al., 1990; Pouclet et al., 2006; Feybesse et al., 2006; Baratoux et al.,
7: Diale basin.
8: Syn-D2 granioids.
2011). Supracrustal rocks at Mako can be subdivided into distinct NE-SW to N-S
9: Late-D2 granitoids. trending volcanic, volcano-sedimentary and sedimentary assemblages (figure 2).
10: Goldmine. The main distinction between these lithotectonic assemblages is based on field
11: Major Shear
Zone (MSZ).
relationships and interpretations of regional and structural geophysical data. The
12: Faults. different assemblages are intruded by a variety of granitic, tonalitic, granodiorit-
ic and gabbroic intrusive rocks.
The Mako Belt is in this study define as composed of three major domains with
distinct lithostructural characteristics: 1) the Mako Western Domain (WD) comprise
the Mako-Granite-Greenstone Belt (MGGB) to the west bordered by the supracrust-
2010). Granitoids with Mako greenstone fall into one of three categories: gneis- al sequence, and the 2) Eastern Domain (ED) ~2125 Ma accretionary complex to
sic complexes and batholiths, diapiric syntectonic plutons of variable composition, the east (figure 2). A major terrane boundary is considered to separate the MGGB
late granitic plutons, stocks and dykes. Gneissic complexes and batholith which are from the accretionary complex in the east (figure 2). The ED is limited to the east
dominantly tonalitic trondhjemite and granodiorite to so-called TTG suite compose by the Massawa-Berola-Shear-Belt (MBSB). The volcano-detritic and sedimentary
most of the preserved Paleoproterozoic crust. Most granite and felsic volcanics are rocks are mostly found within the Massawa-Berola-Shear-Belt (MBSB). The WD is
genetically related. Diapiritic plutons (Bouroumbourou, Falombo, and Diombalou) dominated by belts of Tonalite-Trondhjemite-Granodiorite (TTG), ultrabasic rocks,
and syntectonic granitic complexes (Laminia-Kaourou-Plutonic-Complex, LKPC) granite, and thick sequences of supracrustal rocks metamorphosed from greenschist
(figure 2) are composed by granitic to granodioritic suites that were emplaced during to amphibolite-facies. It can be traced for about 125 km from Soukouta to the south
deformation as indicated by well-developed magmatic fabrics (Gueye et al., 2008). to Kenieba in the north. The MGGB comprises a basement complex of migmatised
The most remarkable feature of the LKPC is the heterogeneity of strain distribution granitoids, gneisses, amphibolite and mafic-ultramafic complexes dated by zircon
(strain partitioning) define by the development of a distinct association of structures Pb-evaporation between 2.2 and 2.14 Ga (Dia et al., 1997; Gueye et al., 2007) in
and mylonitisation stages (Gueye, 2001). In the Kaourou area deformation corre- tectonic contact with the supracrustal sequence.
sponds dominantly to flattening with development of a strong foliation and verti- In the Sandikounda area, widespread high-grade regional metamorphism includ-
cal shear zones synchronous with magma emplacement, consolidation, and cooling. ing migmatisation occurred and was dated between 2.2 and 2.15 Ga (Dia et al.,
Both plutons Diombalou and Bouroumbourou exhibit structures consistent with 1997; Gueye et al., 2008). Gueye et al. (2007) reported an age of ca. 2.10 Ga for
fault activity. The Diombalou granite suffered a strong shortening under conditions the final uplift of the metamorphic terrain. Granites, ultramafic rocks and Mg-rich

460 461
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 22

basalts dominate in the western part of the Belt MGGB, while in the supercrustal se-
quence, calc-alkaline andesitic volcanics, felsic volcanics and conglomerate dominate
other parts. Thin interbedded quartzite occurs throughout the Belt. The intermedi-
ate to felsic volcanic rocks occur throughout the supracrustal sequence. They contain
andesitic to rhyodacitic, dacitic lava flows, pyroclastic deposits. Agglomerate, volca-
nic breccia and tuff built the top of the WD. Based on the available geochemical data,
there is no Archean component in these rocks and the volcanic rocks show juvenile
island arc affinity (Dia et al., 1997; Pawlig et al., 2006; Ngom et al., 2010).
The ED is dominated by a post-greenstone volcano-sedimentary and sedimentary
succession. Our results, together with those compiled from previous studies, show
that this post-greenstone succession includes the flysh-like sediments: turbiditic sand-
stone, volcanics and volcanoclastics, epiclastites, pyroclastites and lava intercalated
with andesites. This volcanic and sedimentary unit constitutes the transition zone
between the MGGB and the MBB to the east. Sheets of Quartz Feldspar Porphyry
(QFP) are abundant in the ED, straddling the boundary between the MGGB and the
ED. The porphyries contain rare quartz phenocrysts and subheudral plagioclase, in
a very fine-grained matrix of quartz, plagioclase and biotite. They appear generally
homogeneous, sometimes massive to weakly foliated.

4. Revisited tectonic framework

4.1 Major shear zones of the Mako Belt:


geometry and structural features
4.1.1 The Major Shear Zone (MSZ)
The MSZ represents an important boundary and separates the MGGB from
the CD (figure 2). It is a curvilinear crustal discontinuity that encompasses sev-
eral anastomosed shear zones, striking NNE and NE with dominant transcurrent Figure 3:
kinematics, in which syntectonic, small, late calc-alkaline granites intrusions oc- rectly where the shear zone is exposed (e.g., Gueye et al., 2013). Sylla A: Asymmetric pressure shad-
curred (Koulountou, Diakhali, Diegoun). ows around plagioclase clast
et al., 2016, interpreted the Sabodala Makana shear zone as a major indicating reverse-dextral slip
The MSZ is one of the main regional faults, and is considered to be the first-or- sinistral wrench structure. An important reverse sense of shear also parallel to L2-lineation.
der structure from which the second-order Sabodala-Makana shear zone splays. has been deduced from section interpretation in the Sabodala mine B and C: shear sense indica-
The MSZ is interpreted to have reactivated as a structurally weak zone of marked tors of sinistral movement in
and confirmed by field observations (Sylla et al., 2016). Other authors mylonite of the LMFZ.
anisotropy that strongly influenced deformation in the Mako Belt. In general, the recognized oblique-sinistral movement in the system (e.g., Gueye et D: S-C fabric in the sheared
strike of the mylonitic foliation in this zone varies from ca. N30, high dip in the al., 2001) as well as dextral movement (Dioh, 1995). metasediment (east of Sofia).
southern portion, with a gently plunging stretching lineation, grading in the central E: asymmetric boudinaged
4.1.3 The N-S-striking Leoba-Moussala Fault Zone plagioclase indicate high
portion around N-S with low to intermediate angle stretching lineation, and around One of the most important fault zones of the complex shear sys- strain (SE- Laminia).
N165 subvertical with low-angle lineation in the northwestern-most portion. The tem is the amphibolite facies mylonites of the Leoba-Moussala Fault F: Plagioclase clast depicting
variations of stretching lineation plunge in the MSZ may reflect strain portioning, a bookshelf-style deforma-
Zone (LMFZ) (figure 2). This shear zone, in northward structural tion on narrow, east-dipping
revealing the record of a progressive transition from early thrusting to late-stage continuity of the Sabodala Makana Fault, deforms granitic rocks of reverse planes (SE- Laminia).
transpressional tectonics (e.g., Diene et al., 2012). the LKPC (figure 3). It is oriented N-S, locally marked by mylon-
4.1.2 The Sabodala Sofia Shear Corridor (MSZ) ite rocks of granitic composition, particularly well developed in the
The latter is the largest shear zone near many gold deposits in the area (Sab- western half within granitic gneisses and contains feldspar porphy-
odala, Masato, Sofia…) and extends for about 20 to 30 km south of the Falom- roclasts and S-C foliation indicative of sinistral kinematic (figures 3B
bo pluton (figure 2). and 3C). The lineation is defined by elongated aggregate of phyllosil-
Interpretation of the sense of movement in the Sabodala-Makana shear zone icates and extended quartz and feldspar porphyloclasts. This tectonic
varies widely, inferred from large-scale features of the shear system or observed di- structure has been considered as a sinistral shear zone developed in

462 463
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 22

response to a transpressional regime, which produced a wide mylonitic zone (Gu-


eye, 2001). Shear movement within the LMFZ is timed by the crystallization of
the Kaourou monzogranite. Determination of stress direction has confirmed the
kinematic of this deformation regime, suggesting that pure shear was as import-
ant as simple shear (Gueye, 2001). The dominant greenschist facies metamorphic
grade observed in the Major Shear Zone contrast with that of the mylonitic rocks
of the shear system in the Leoba-Moussala area, which reaches the lower-medium
amphibolite (Gueye, 2001).
The intrusion of the LKPC being roughly coincident with the early development
of major structures and was coeval with regional transpression at ca. 2140 Ma (Gu-
eye, 2001; Gueye et al., 2008). The northern segment of the LMFZ is in structural Figure 4: Isoclinal D1 fold in
continuity with the NE-trending Kenieba Fault (lateral segment of the MSZ) which quartzite near Falombo, over-
printed by vertical D2 fold.
records dextral shearing (figure 3A).
4.1.4 The MTZ-Shear Zone
The MTZ has a NE-SW to N-S-orientation parallel to the trend of the orog-
eny for 125 km. This tectonic boundary between the Mako Belt and the Di-
ale-Dalema basin, which crosscut the Massawa deposit (figures 1 and 2) is cur-
rently define as the Main Transcurrent Zone (Ledru et al., 1989; Milesi et al.,
1989) and is a key element in tectonic model of the Eburnean orogeny in the
KKI. It is defined by a major change in strike from NE-SW-strike in Senegal, to
N-S in Mali. But along strike complexities suggest that this boundary cannot be 4.2 Folds
defined as a single structure. In this paper, the eastern margin of the MTZ is Mesoscopic folds have variable styles and are mostly found on the flank of
defined by the Massawa-Berola-Shear-Belt (MBSB) (figure 2). The MBSB has an megascopic folds (figures 4 and 5). Isoclinal folds are rare and were refolded
arcuate shape, characterized by important geometric variations along the strike. by later phases of deformation (figures 4A and B). Open to close F2 folds are
This has implications on the local kinematic evolution of the constituent seg- common and have subvertical axial plane and fold axis plunging moderately to
ments of the shear zone. It was previously described in terms of different sinis- the north, parallel to L1 or newly developed L2-lineation (figures 5A and B).
tral and dextral shear zone segments (Diene et al., 2012). Both segments are In the Laminia-Kaourou area, rarely extrusion of melt into the hinge zone of
continuous and represent the same structure and are jointed herein in a single F2-folds has been observed. These observations suggest that thermal conditions
structure (figure 2). Numerous structural signatures were identified along the of the transition between D1 and D2 coincide with widespread migmatisation
strike of the MTZ, ranging from thrusting in the southern segment of the fault observed in the Sandikounda area. F3 folds and kink-band folds with fold axes
zone to sinistral transpression in the Malian northern area, as well as strike-slip. plunging moderately to the NE were observed in metasediments, south of the
Meso- and map-scale observations indicate a rather complex structural pattern MSZ (figure 5C).
within the shear belt, characterized by generally anastomosing shear planes and
heterogeneous strain distribution, with lenses of less deformed volcanoclastics or 4.3 Boudinage
sedimentary rocks, surrounded by very high strain zones (figure 2). These high The development of boudinage is a dominant characteristic of most of the lith-
strain zones and apparent truncations of lithologic features suggest the presence ologies in the Mako Belt. Numerous boudinage structures occur throughout the belt
of second and third-order shear zones to the main shear zone (figure 2). Princi- ranging from brittle boudins to pinch and swell structures. Large-scale boudinage is
pal structures form a steeply WNW-dipping, NE-trending shear zone network in also evident in all domains and along the MBSB (figure 2).
the Massawa area. Our analysis indicates a structural history involving mylonitic Asymmetric shear band fabric is present in the Massawa Berola Shear Belt (fig-
fabrics derived from two separate shear events and several folding phases. The ure 2). Along this belt, boudins are generally asymmetric and often connected by
older NE-striking folds with NW-dipping axial planes and shallow plunging axes left-lateral shears (figure 2). The resulting structure corresponds to lens of back-ro-
are characterized by large-scale, multiple-order, tight and overturned structures, tated layering as asymmetric foliation boudinage. This assemblage of asymmetric
implying approximately NW-SE compression (thrusting D1) during the eburnean boudinage structure reflects the development of NE-trending dextral strike-slip
orogeny. The NE-striking folds were refolded and formed NE-striking superim- movement parallel to the regional F2 hinge zones throughout the MBSB. The
posed folds during transpression. Massawa fold-and-thrust structures are related recognition of asymmetric boudinage structures related to the NE-elongation di-
to regional scale tangential tectonics, and reflect lateral accretion of the MBSB rection provides valuable kinematic insight into the nature of orogenic movement
at the margin of the MGGB. during the eburnean deformation.

464 465
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 22

Figure 6:
Figure 5. Structural
A: Quartz vein in the highly
elements in the
strained basalt near Badon
Mamakono area:
village showing an example of
A: Upright to slight-
asymmetrical boudinage. The
ly recumbent fold.
quartz vein have fish mouthed
B: Photo B is orient-
neck shapes suggesting a dex-
ed vertically, parallel
tral sense of shear.
with lineation and
B: Near Laminia, leucosome
perpendicular to
formed in the neck zone
subvertical foliation,
are folded and crenulation
exhibiting boudi-
S3-cleavage overprinting S2.
naged and brittle-
C: Oblique (synthetic) shear
ly-extended lithic
fracture boudinage. These shear
clasts. The strong
elements modify existing mylo-
prolate shape of
nitic fabric (Sofia Shear Zone).
the claste record
D: Photographs with interpre-
the imposition of
tation: typical microstructural
intense construction-
reactivation-geometries in
al strain.
host rock (NW Laminia). S3
C: F3 kink-fold in
crenulation cleavage affected
sandstone folding
the mylonitic foliation. S3 pre-
the S2 foliation.
served in low strain domains.
D: Folds with verti-
cal axes developing
a vertical axial plane
cleavage striking
N155°E. truncate and merge into the mylonitic foliation at a low angle, indicating that
E: Stereographic they were formed synchronously (figure 6C).
plots (lower hemi- Mapping of structures throughout the Labah Salah Shear Zone revealed small-
sphere projections)
of the structural scale foliation boudinage structures in both horizontal and cross-sectional planes
elements measured (figure 7). In this area, the down-dip stretching lineation first appears in relatively
in Mamakono (see
photograph D);
low D2 strain regions, where it is orthogonal to the extension direction, indicated a
1: pole to foliation, subhorizontal boudinage of the pillowed basalts. However, with the increasing D2
2: stretching linea- strain, the lineation increases substantially in intensity and boudinaged pillowed ba-
tion, 3: NW-trend-
ing fault.
salts become increasingly apparent in vertical as well in horizontal sections.
F: Shallow F2
folds overprinted
by upright open to
tight F3 to create 5. A new structural framework for the KKI
done and basin
interference of a 5.1 New structural observations
recumbent-shallowly
inclined D2 archi- The steeply dipping, sigmoidal architecture of the Mako Belt is largely due to
tecture. transpressional shearing. The belt is made up of numerous fault slices that together
define a shear zone network. These faults have undergone significant reactivation,
complicating the resultant geometry. Eburnean transpressional deformation has been
At the outcrop scale, many of the boudin networks (figures 6 and 7) may be recognized in the WAC (e.g., Baratoux et al., 2011; Metelka et al., 2011; Diene et
described as chocolate tablet boudinage structures with subvertical long axes that al., 2012; Perrouty et al., 2014; Lebrun et al., 2015; Block et al., 2015; Baratoux et
deformed primary structures and transect D1 structures, suggesting that they al., 2015). Several suggestions have been made in recent years that the development
formed syn- to post-D1. Boudinage in most of the outcrop can occur as a compe- of sinistral eburnean transpression may be due to oblique convergence.
tent-layer boudinage involving relatively rigid metavolcanic rocks or early quartz The nature of the early deformation is also difficult to interpret due to co-pla-
veins (figure 6A). At Koulountou, boudinage of centimetric to decametric scale nar and coaxial overprinting relationships. However, the preservation of multiple
is widespread, as a result of stretching of the ultrabasic and gabbroic layers. Bou- foliations in some outcrops, and fold relationships preserved in ultrabasic rocks and
dins of ultrabasic rocks often form trails ten of meter long. In all case, the bulk quartzite layers, have at least allowed the structural chronology to be defined.
deformation responsible for the boudin generations and modifications has an In the Mako Belt, localized recumbent folds preserved in ultramafic rocks suggest
oblique component where the asymmetry of the resulting structures can be used that the early folding may have been related to thrust faulting. In other areas, the
to determine the sense of shear. Around Laminia boudin-necks are rectangular early thrust packages would be disrupted by the transpressional shearing. Thrust-
and quartz-feldspar-biotite-hornblende leucosome formed in neck zone (figures ing at ca. 2160 Ma was suggested by Gueye et al., 2008, based on Pb-Pb and U-Pb
6B and D). At Sofia an orthogonally dipping shear zone set termed S2c and S2c’ isotopic data. Recent U-Pb dating of zircon and metamorphic monazite constrains

466 467
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 22

tion within the KKI (at around 2130-2158 Ma) is suggested to relate either to sinis-
tral transpression arising from ESE-WNW crustal shortening (Gueye, 2001) or, to
NW-SE shortening (Gueye et al., 2008; Diene et al., 2012). Several field relations
indicate that the D1 shear zones were active (reactivated?) during 2.16-2.13 Ga arc
magmatism, suggesting that D2 represents an intra-arc deformation event.
Figure 7: Strongly foliated
pillow basalt defining the
Labah Salah shear zone at
Sandikounda. The photo- 6. Geodynamic evolution of the KKi
graphs (A, B, C and D) are
of a vertical wall, perpen-
dicular to the foliation 6.1 Tectonic evolution of the Mako Belt
planes, showing elongated Two major phases of deformation could be recognized, the second which pro-
and disrupted inter-pillow. duced regionally dominant foliation (S2).
A: South-dipping reverse
fault displacing the hinge 6.1.1 Kinematics and geometry of the earlier structures
zone of a tight fold with The oldest deformation structures are preserved in high-grade metamorphic
axial planar foliation par- xenoliths within the undeformed parts of the Sandikounda Layered Complex. In
allel to the main foliation
within the shear. this area, SE-verging thrusting took place and is characterized by a series of im-
A, B, C and D: Boudinaged bricated banded gneisses, volcaniclastic and volcanic rocks dipping 50° NW, and
competent mafic bands asymmetric folds. The penetrative metamorphic foliation S1 is developed in both
within the basalt with
gently plunging axes. low and high-grade metamorphic terranes.
E: Fold interference pattern Structures predating D2-folding have also been observed in the Sandikounda
on the horizontal plane.
F: Schematic line drawing
area. Earlier structures are represented by NW-dipping shear zones and related
of structures documented structures like mylonitic foliation, stretching lineation, intrafolial folds, asym-
within an intensely sheared metric boudins and shear bands. The mylonites represent a ductile shear that
zone at Labah Salah (drawn
to scale based on the pho-
placed high-grade gneiss in the hanging-wall, in contact with pillow lava in the
tographs). All structures foot-wall (Diene et al., 2012; Gueye et al., 2008). In the high-grade rocks, the
combined accommodated gneissic banding S1 carries amphibolite- to granulite-facies metamorphic assem-
vertical stretching and
horizontal shortening blages (Gueye et al., 2008). In that region the high-grade basement rocks com-
in the direction perpen- monly exhibit pervasive NE-SW foliation, dipping systematically 50-70° NW,
dicular to the dominant and stretching lineation with medium rakes predominantly to NW, indicating
70°/80° W foliation.
general tectonic vergence from NW to SE. This pattern is strongly disturbed
along N-S transcurrent zones defined by steeply dipping mylonitic foliation and
sub-horizontal lineation. The development of strike-slip zones coincides with
the emplacement of the LKPC (Gueye et al., 2008). The Labah Salah Shear
Zone (LSSZ) as exposed in the Sandikounda area is characterized by an earlier
phase of deformation which gave rise to the observed wide zone of intense de-
formation, with down-dip stretching lineation. Combined with boudins, tight
to isoclinal folds and NNW-trending, moderately to steeply dipping thrusts,
these structures accommodated horizontal ESE-WNW-shortening and vertical
extension (figures 7A to 7F).
D1 between 2138 ± 7 and 2127 ± 7 Ma (Block et al., 2015, 2016). The D1 tecto- Detailed work along the LSSZ has shown, however, that the main phase of
no-metamorphic event is linked to crustal thickening. activity in the shear zone may predate D2. The first generation of structures we
recognized in this is a series of gently- to steeply-plunging mesoscopic folds. Folds
5.2 Deformation history of the KKI are pervasive through the pillowed basalts and are sometimes difficult to identify
Most of the authors proposed a polyphase deformational history (D1 to D4) because they have been transposed, dismembered, or refolded (figure 7E). In this
for the KKI, which includes the Mako Belt (Ledru et al., 1989; Gueye et al., 2008; zone shear, sense indicators suggest dextral shearing, and chocolate tablet boudi-
Dabo & Aifa, 2010; Diene et al., 2012; Ndiaye et al., 2015; Dabo et al., 2018). D1 nage suggests stretching in horizontal and vertical directions (and hence transpres-
comprises the earliest recognizable structure. The main compressional deforma- sional strains- see also Gueye et al., 2008).

468 469
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 22

6.1.2 Kinematics and geometry of D2-structures either forming during transpressional shearing, or predate it. The strain within
The major deformation event within the field was an NW-SE shortening event the belt was variable, even at all scales with elements of both flattening and con-
that produced thrusts and upright, NNE-trending, gently plunging folds. The dom- striction (after Ramsey & Hubert, 1983). The local presence of a strong rodding
inant antiform fold axis through the Sabodala area has been related to this event lineation (L-fabric) in mylonitic rocks in Sofia and boudinage of the ultramafic
(figure 7). This compression event, which we will name D2 in accordance with the rocks in Koulountou, in the horizontal plane, contrast with structures formed
classical terminology is undoubtedly responsible for the map-scale structures. primarily by flattening (e.g., strong S-fabric in the pillowed basalt in figure 7.
D2-strain intensity, however, varies over the MGGB and some low strain This subhorizontal mineral lineation is interpreted to be due to the effects of
areas allow recognition of fabric elements that predate the main deformation. stretching and boudinage. This suggests high strain with a strong shortening
The most notable low strain area is a zone near Mako of well-developed pressure component perpendicular to the lineations. These factors are consistent with
dissolution cleavage in basaltic rocks. transpressional deformation, with a high degree of shortening sub-perpendicu-
For the Mako area, Ndiaye et al., 2014, suggest that D2 is a phase of coaxial lar to the main shear zone and belts, and a stretching component along the axis
shortening, followed by D3 sinistral strike-slip, and that a gradual transition exists of the belt.
from D2 to D3 whereas Dabo et al., 2018, D2 is a sinistral transpressive deforma- The D2 bulk strain pattern is related to a transpressional regime during bulk
tion due to NNE-SSW shortening direction. Data presented here suggest a similar horizontal shortening. This transpression, contemporaneous with emplacement of
situation near Kaourou and D2 in this paper may coincide with regional D2 and granitic plutons and plutonic complexes, resulted in a strain partitioning between
which are locally difficult to separate. the anastomosing shear zone network and folded domains. The partitioning of de-
In the Sandikounda area, the earlier fabric is overprinted and partly erased formation, common in tectonic limits, has already been reported in the Baoulé Mossi
by a younger D2 strain. D1-fold in quartzite near Falombo (figure 4) are re- Province and it is caused mainly by the collision of the irregular continental margin
folded by upright D2 folds which commonly have a weak axial planar cleavage margins, besides for process of oblique convergence.
(S2). S2 is subvertical and dominantly NE-SW-trending. The occurrence of quasi
synchronous upright folds and folds with vertical axes suggests that transpres- 6.2 Tectonic constraints from the eburnean Granitoids
sion plays a significant role in the tectonic evolution of the KKI. Evidences of The older intrusive rocks (e.g., Badon & Sandikounda) contain tectonic fabric
D2 shear zones have been documented locally at Dioubeba (figure 2) and the that parallels those in the D2-shear zones. Development of an amphibole lineation
en-echelon, NW-trending, ductile sinistral shear zone may be the expression of and growth of oriented hornblende in the necks of boudinaged pyroxenite dykes
a deep sinistral shear zone. indicates that metamorphism is synchronous with D1-D2 deformation.
6.1.3 Kinematics and geometry of the late structures The second deformation D2 is responsible for the exhumation of high-grade San-
The late deformation phase is characterized by the development of crenulation dikounda Sonfara amphibole gneissic units and is characterized by N-S-stretching.
cleavage (figure 5D) or kink folds (figure 5C) and reverse faults observed mostly in Localized shallow-dipping shear zones with down dipping lineation were found at
highly anisotropic lithologies of the greenstone belts. The NW-SE striking S3 spaced the contact of units with contrasting metamorphic grade.
cleavage, crenulation is in general steeply dipping and crosscut S1 and S2 foliations In the Kaourou area D2 deformation includes upright folds with N-S-trending
at a high angle. Related thrust faults are dipping to the east and west. axis and by late N-S-trending shear zones that are contemporaneous with 2.16 Ga
Brittle-ductile to brittle-structures, including the dominantly NW-trending granitoids and local peak metamorphism. The emplacement of the intrusion was fol-
cleavage, conjugate kink sets, and large-scale dextral 070-080-trending faults lowed by the development of a brittle to ductile oblique-sinistral wrench fault system
overprint the above sinistral shears, but fit the same NW-SE compressional that was associated with the majority of gold mineralization in the KKI.
framework. We interpret these structures to have developed during one continu- Other plutons such Badon were emplaced early because during D2, they behave
ous phase of NW-SE compression. Absolute age constraints for this deformation like rigid bodies that were less deformed in the solid-state. Deformation throughout
phase are not available, but it postdates the 2070-2080 Ma old intrusions of Ma- the inlier was dominated by phase of constriction that is contemporaneous with or
makono, Tinkoto and Saraya. This last deformation phase resulted in strike-slip predates intrusion of the most granitoid rocks. This includes intense deformation
reactivation of shear zones parallel to the Mako Belt, especially the SSC, asso- and high-grade metamorphism in the Mako Belt.
ciated with felsic dyke emplacement and indicating NW-SE compression during The Mamakono granodioritic and rhyolitic phases are the volcano-plutono-tec-
the final orogenic stage. tonic response to the exhumation of the MGGB. These pluton and stocks corre-
6.1.4 Strain variation and implications for understanding kinematics spond to aligned syntectonic granitic intrusions and small pull-apart basin and indi-
The major Shear Zone is dominated by sinistral kinematic indicators such as cate local transtensional structures occurring within the bulk transpressional regime.
S-C foliations, asymmetric pebbles and porphyroclasts. These and the presence These occur along releasing bend.
of conjugate S-C foliations indicate both a rotational and a flattening compo- Significant competence heterogeneities would strongly influence deformation
nent during shearing, interpreted to be related to transpression. Major folds partitioning in the Mako Belt. An example is the concentration of deformation
throughout the belt, such as the Sabodala antiform are cut by shears. These folds around the margin of the MGGB.

470 471
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 22

7. Discussion and conclusion Bassot J.P. 1987. Le complexe volcano-plutonique rozoic volcanic arc complex in the Kedougou Inlier,
calco-alcalin de la rivière Daléma (Est Sénégal): discus- eastern Senegal, West Africa. Journal of African Earth
sion de sa signification géodynamique dans le cadre de Sciences, 24:197-213.
7.1 Structural interpretation of the Mako l’orogénie eburnéenne (Protérozoïque inférieur). Journal Diallo D.P. 1994. Caractérisation d’une portion de
accretionary belt during the Paleoproterozoic of African Earth Sciences, 6:505-519. croûte d’âge protèrozoïque inférieur du craton Ouest Afri-
Bassot J.P. & Dommanget A. 1986. Mise en evidence cain : cas de l’encaissant des granitoïdes dans le super-
The Mako Belt presents some similarities with the Borom Yalago Belt: lithologies d’un accident majeur affectant le Proterozoıque infe- groupe de Mako (boutonnière de Kédougou) implications
dominated by thick greenstone sequence and plutonic belt composed of TTG rocks. The rieur des confins senegalo-maliens. Comptes Rendus de géodynamiques. Thèse doctorat Etat, Université Ch. A.
structural history (Gueye et al., 2008; Diene et al., 2012; Ndiaye et al., 2014), litholog- l’Académie des Sciences: Series II, 302:1101-1106. Diop. Sénégal. 446 p.
Block S., Ganne J., Baratoux L., Zeh A., Parra L.A., Diatta F., Ndiaye P.M., Diene M., Amponsah P.O.,
ical relationships (Dia et al., 1997; Cissokho et al., 2009; Ngom et al., 2010; Ngom et Jessell M., Aillères L., Siebenaller L. 2015. Petrological Ganne J. 2017. The structural evolution of the Diale-Da-
al., 2011) and geochronological data (Dia et al., 1997; Gueye et al., 2007) show that and geochronological constraints on lower crust exhu- lema basin, Kedougou-Kenieba Inlier, eastern Senegal.
the Mako greenstone belt has had a long and complex evolution. The most significant mation during Paleoproterozoic (Eburnean) orogeny, Journal of African Earth Sciences, 129:923-933.
NW Ghana, West African Craton. Journal of Metamor- Diene M. & Gueye M., 2013 Tectonomagmatic Evo-
structure in the Mako region is the N-trending Major Shear Zone (this study), which phic Geology, 33(5):463-494. lution of Precambrian Segment: Mako Belt Formations.
was predominantly active during the Paleoproterozoic Eburnean orogeny (2160-2130 Block S., Jessell M., Aillères L., Baratoux L., Brugui- Lambert Academic Publishing, 56 p.
Ma). This shear may have initially formed before this and may represent a zone of crustal er O., Zeh A., Bosch D., Caby R., Mensah E. 2016. Low- Diene M., Gueye M., Diallo D.P., Dia A. 2012.
er crust exhumation during Paleoproterozoic (Eburnean) Structural Evolution of a Precambrian Segment: Exam-
weakness where deformation has been focused. It is interpreted as a sinistral transpres- orogeny, NW Ghana, West African Craton: interplay of ple of the Paleoproterozoic Formations of the Mako Belt
sional shear because of its large-scale, sigmoidal geometry, stretching lineation geometry, coeval contractional deformation and extensional grav- (Eastern Senegal, West Africa). International Journal of
sinistral S-C foliations and asymmetric pebbles and porphyroclasts, and the presence itational collapse. Precambrian Research, 274:82-109. Geosciences, 3:153-165.
Caby R., Delor C., Agoh O. 2000. Lithology, structure Diene M., Fullgraf T., Gloaguen E., Gueye M.,
of a flattening component in shear related fabrics and structures. Strike-parallel folds and metamorphism of the Birimian formations in the Odi- Ndiaye P.M., Diatta F.M. 2015. Review of the Senegalo
throughout the belt may also relate to shearing or may predate it. enné area (Ivory Coast): the major role played by plutonic -Malien shear zone system – timing, kinematics and im-
This attests to that a large part of the Mako Belt underwent sinistral transpres- diapirism and strike-slip faulting at the border of the Man plications for possible Au mineralisation styles. Journal
Craton. Journal of African Earth Sciences, 30:351-374. of African Earth Sciences, 112(Part B):485-504.
sion generated by the oblique collision between different terranes. The transpres- Cissokho S. 2010. Etude géologique du secteur de Dioh E. 1995. Caractérisation, signification et origi-
sional phase defined mainly by the generation of compressive tectonic-associated Mako (partie méridionale du supergroupe de Mako, Bou- ne des formations birimiennes encaissantes du granite de
granites occurred between ca. 2160 and 2070 Ma. tonnière de Kédougou-Kénieba, Sénégal Oriental): im- Diombalou (Partie septentrionale de la boutonnière de Ke-
plications sur la diversité magmatique. Thèse troisième dougou- Sénégal Oriental). Thèse d´Etat, UCAD, 427 p.
The structural pattern of the Mako Belt is similar to those observed in many cycle Univ. Dakar. 212 p. Feybesse J.L., Billa M., Guerrot C., Duguey E., Les-
orogenic belts, where crustal thickening is followed by transpressional shear zones Dabo M. & Aïfa T. 2010. Structural styles and tec- cuyer J.L., Milési J.P., Bouchot V. 2006. The Palaeopro-
tonic evolution of the Kolia-Boboti sedimentary Basin, terozoic Ghanaian province: Geodynamic model and ore
development, resulting in fast exhumation of deep parts of the orogeny. Kédougou-Kéniéba inlier, eastern Senegal. Comptes Ren- controls, including regional stress modelling. Precam-
dus Geoscience, 342:796-805. brian Research, 149:149-196.
7.2 Geochronological constraints on the evolution of the KKI. Dabo M. & Aïfa T. 2011. Late Eburnean deformation in Galipp K., Klemd R., Hirdes W. 2003. Metamor-
the Kolia-Boboti sedimentary basin, Kédougou-Kéniéba In- phism and geochemistry of the Paleoproterozoic Biri-
In the Mako Belt, the transpressional event in the major shear system occurred lier, Senegal. Journal of African Earth Sciences, 60:106-116. mian Sefwi volcanic belt (Ghana, West Africa). Geologis-
between approximately 2160 and 2130 Ma (Dia et al., 1997; Gueye et al., 2007, Dabo M., Aïfa T., Miyouna T., Diallo D.A. 2016. ches Jahrbuch,111:151-191
2008), with a reasonable concentration of syn-kinematic granitic activity at ca. 2140 Gold mineralization paragenesis to tectonic structures in Ganne J., De Andrade V., Weinberg R.F., Vidal O.,
the Birimian of the eastern Dialé-Daléma Supergroup, Dubacq B., Kagambega N., Allibon J. 2012. Modern-s-
Ma. Older granitic magmatism ca. 2158 Ma controlled by low angle shear zones is Kédougou-Kénieba inlier, Senegal, West African Craton. tyle plate subduction preserved in the Palaeoproterozoic
recorded locally in the Sandikounda area in Tonkoutou (Gueye et al., 2008) and in International Geology Review, 58:807-825. West African craton. Nature Geoscience, 5:60-65.
the Kaourou granite (LKPC), which could record the beginning of the transpres- Dabo M., Aïfa T., Gassama I., Ngom P.M. 2018. Gueye M. 2001. Transcurrent fault propagation and
Thrust to transpression tectonics during the Paleopro- granitoid plutonism during lower Proterozoic transpres-
sional phase (Gueye et al., 2008) of this shear system in the KKI. The NW-trending terozoic evolution of the Birimian Greenstone Belt of sion (SE Senegal). Zeitschrift deutsche geologische Ge-
principal compressional component led to dextral and sinistral movements in the Mako, Kedougou-Kenieba Inlier, Eastern Senegal. Jour- sellschaften, 152(4):175-198.
shear system. In West Africa, as in the Mako Belt the geological architecture result- nal of African Earth Sciences, 148:14-29. Gueye M., Siegesmund S., Wemmer K., Pawlig S.,
Debat P., Diallo D.P., Ngom P.M., Rollet M., Seyler Drobe M., Nolte N. 2007. New evidences for an Early
ed from a complex transpressional evolution during the late eburnean period (e.g., M. 1984. La série de Mako dans ses parties centrale et Birimian evolution in the West African Craton: An exam-
Baratoux et al., 2011; Metelka et al., 2011; Diene et al., 2012; Perrouty et al., 2014; méridionale (Sénégal oriental, Afrique de l’Ouest). pré- ple from the Kédougou-Kénieba inlier, SE- Senegal. Sou-
Lebrun et al., 2015; Block et al., 2015; Baratoux et al., 2015). cisions sur l’évolution de la série volcanosédimentaire th African Journal of Geology, 110:511-534.
et données géochimiques préliminaires sur les forma- Gueye M., Ngom P.M., Diène M., Thiam Y., Sieges-
tions magmatiques post- tectoniques’, Journal of Afri- mund S., Wemmer K., Pawlig S. 2008. Intrusive rocks
can Earth Sciences, 2:71-79. and tectono-metamorphic evolution of the Mako Paleo-
References Baratoux L., Metelka V., Naba S., Jessell M, W., Debat P., Nikiema S., Mercier A., Lompo M., Be- proterozoic belt (Eastern Senegal, West Africa). Journal
Gregoire M., Ganne J. 2011. Juvenile Paleoprotero- ziat D., Bourges F., Roddaz M., Salvi S., Tollon F., Wen- of African Earth Sciences, 50:88-110.
Amponsah P.O., Salvi S., Beziat D., Siebenaller L., zoic crust evolution during the Eburnean orogeny menga U.A. 2003. New metamorphic constraint for the Gueye M., Siegesmund S., Wemmer K., Pawlig S.,
Jessell M., Nude P.M., Gyawu A.E. 2016. Multistage (~2.2-2.0 Ga), western Burkina Faso. Precambrian Eburnean orogeny from Paleoproterozoic formations of Drobe M., Nolte N., Layer P. 2007. New evidences for
gold mineralization in the Wa-Lawra belt: the Bepkong Research, 191:18-45. the Man shield (Aribinda and Tampelga countries, Burki- an early Birimian evolution in the West African Craton:
deposit. Journal African Earth Sciences, 120:220-237. Bassot J.P. 1966. Etude géologique du Sénégal orien- na Faso). Precambrian Research, 123:47-65. An example from the Kédougou-Kénieba inlier, southeast
Arslan A., Passchier C.W., Koehn D. 2008. Foliation tal et de ses confins guinéo-maliens. Paris, Mèm. Bureau Dia A., Van Schmus W.R., Kröner A. 1997. Isotopic Senegal. South African Journal of Geology, 110:511-534.
boudinage. Journal of Structural Geology, 30:291-309. Recherche Géologique et Minière, 40. 332 p. constraints on the age and formation of a Paleoprote- Gueye M., Van den Kerkhof A., Hein U.F., Sieges-

472 473
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 23

mund S., Diene M., Mücke A. 2013. Structural control,


fluid inclusions and cathodoluminescence studies of Biri-
R., Henry C., Lapierre H., Pons J., Thieblemont D.,
Toure S., Morel B. 1989. Les minéralisations aurifères Trajetória geocronológica do
mian gold-bearing quartz vein systems in the Paleoprote-
rozoic Mako belt (SE- Senegal). South African Journal of
de l’Afrique de l’Ouest. Chronique de la Recherche Mi-
nière, 497:3-98. Prof. Cordani na África e a colaboração
Geology, 116:199-218.
Hirdes W., Davis D.W. 2002. U-Pd geochronology of
Milési J.P., Ledru P., Feybesse J.L., Dommanget A.,
Marcoux E. 1992. Early Proterozoic ore deposits and
científica com Moçambique
Palaeoproterozoic rocks in the southern part of the Ke- tectonics of the Birimian orogenic belt, West Africa. Pre-
dougou-Kéniéba Inlier, Senegal, West Africa: Evidence cambrian Research, 58:305-344. Rômulo Machado,
for diachronous accretionary development of the Ebur- Ndiaye P.M., Dioh E, Diatta F., Traore A., Fall M., Universidade de São Paulo,
nean province. Precambrian Research, 118:83-99. 21. Balde O. 2014. Polycyclic Evolution of Paleoprotero-
John T., Klemd R., Hirdes W., Loh G. 1999. The zoïc Rocks in the Southwestern Part of the Mako Group Instituto de Geociências
metamorphic evolution of the Paleo-proterozoic (Birim- (Eastern Senegal, West Africa). International Journal of (rmachado@usp.br).
ian) volcanic Ashanti belt (Ghana, West Africa). Precam- Geosciences, 5:739-748. Ruy Paulo Philipp,
brian Research, 98:11-30. Ngom P.M. 1995. Caractérisation de la croûte
birimienne dans les parties centrale et méridionale du
Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Klemd R., Hunken U., Olesch M. 2002. Metamorphism
of the country rocks hosting gold-sulfide-bearing quartz supergroupe de Mako. Implications géochimiques et Instituto de Geociências
veins in the Paleoproterozoic southern KibiWinneba belt pétrogénétiques. Thèse d’Etat Univ. Ch. A. Diop, Séné- (ruy.philipp@ufrgs.br).
(SE-Ghana). Journal of African Earth Sciences, 35:199-211. gal, 240 p.
Lambert-Smith J.S., Lawrence D.M., Müller W., Tre- Ngom P.M, Cissokho S., Gueye M., Joron J.L. 2011.
loar P.J. 2016a. Paleoprotectonic setting of the southeast- Diversité du volcanisme et évolution géodynamique au 1. Introdução Rômulo Machado.
ern Kédougou-Kénieba inlier, West Africa: new insights paléoprotérozoique : exemple du Birimien de la bouton-
from igneous trace element geochemistry and U-Pb zir- nière de Kédougou – Kéniéba (Sénégal). Africa Geosci-
con ages. Precambrian Research, 274:110-135. ence Review, 18(1):1-22. O interesse do professor Cordani pela geologia do continente
Lawrence D.M., Treloar P.J., Rankin A.H., Harbidge Pawlig S., Gueye M., Klischies R., Schwars S., Wem- africano evidencia-se desde os seus primeiros trabalhos há mais de
P., Holliday J. 2013a. The Geology and Mineralogy of mer K., Siegesmund S. 2006. Geochemical and Sr-Nd
the Loulo Mining District, Mali, West Africa: Evidence isotopic data on the Birimian of the Kedougou-Kenieba
meio século, quando foi implantado o Centro de Pesquisas Geo-
for Two Distinct Styles of Orogenic Gold Mineralization. Inlier (Eastern Senegal): Implications on the Palaeopro- cronológicas da então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da
Economic Geology, 108:199-227. terozoic evolution of the West African Craton. South Af- Universidade de São Paulo. As primeiras determinações geocrono-
Lebrun E., Thébaud N., Miller J., Ulrich S., Mc- rican Journal of Geology, 109:411-427.
cuaig T.C. 2015. The world-class orogenic gold Siguiri Perrouty S., Ailleres L., Jessell M.W., Baratoux L., lógicas realizadas pelo método K-Ar neste laboratório, em amostras
district, Siguiri Basin (Guinea, West Africa). Ore Geol- Bourassa Y. 2012. Revised Eburnean geodynamic evolu- do Nordeste do Brasil, mostraram a correlação de idades entre as
ogy Reviews, [Withdrawn Article in Press] http://doi. tion of the gold-rich southern Ashanti belt, Ghana, with unidades geológicas do Brasil e da África, produzindo evidências
org/10.1016/j.oregeorev.2015.08.013. new field and geophysical evidence of pre-Tarkwaian de-
Ledru P., Pons J., Milési J.P., Dommanget A., Johan formations. Precambrian Research, 204:12-39. de que ambos os continentes estiveram unidos no passado e supor-
V., Diallo M., Vinchon C. 1989. Tectonique transcurrente Platt J.P. & Vissers R.L.M. 1980. Extensional struc- tando assim a hipótese da Deriva Continental (Hurley et al., 1967;
et évolution polycyclique dans le birimien, protérozoïque tures in anisotropic rocks. Journal of Structural Geology, Cordani, 1975).
inférieur, du Sénégal-Mali (Afrique de l’ouest). Comptes 2:397-410.
Rendus de l´Académie des Sciences, 308:117-122. Pouclet A., Doumbia S., Vidal M. 2006. Geodynamic Os capítulos 21 (Tchouankoue et al.), 22 (Mamadou e Malik) e
Leube A., Hirdes W., Mauer R., Kesse G.O. 1990. setting of the Birimian volcanism in central Ivory Coast 24 (Jamal et al.) na segunda parte deste livro, servem de demonstra-
The early Proterozoic Birimian Supergroup of Ghana (western Africa) and its place in the Palaeoproterozoic ção do papel indutor de Cordani nos estudos preliminares em países,
and some aspects of its associated gold mineralization. evolution of the Man Shield. Bulletin Société Geologique
Precambrian Research, 46:139-165. France, 177:105-121. respectivamente, da costa atlântica (Camarões, Senegal) e também da Ruy Paulo Philipp.
Liégeois J. P., Claessens W., Camara D., Klerx J. Robin P.Y. & Cruden A.R. 1994. Strain and vorticity África Oriental (Moçambique), este último sendo o foco do presente
1991. Short-lived Eburnian orogeny in southern Mali. patterns in ideally ductile transpression zones. Journal of texto. Em adição, também foram fundamentais seu esforço para de-
Geology, tectonics, U–Pb and Rb–Sr geochronology. Pre- Structural Geology, 16:44-466.
cambrian Research, 50:111-136. Schwartz M.O. & Melcher F. 2004. The Falémé Iron terminar a idade das rochas vulcânicas de ilhas oceânicas do Atlânti-
Masurel Q., Thébaud N., Miller J., Ulrich S., Hein District, Senegal. Economic Geology, 99:917-939. co Sul e das rochas basálticas e alcalinas da Bacia do Paraná (Amaral
K.A.A., Cameron G., Béziat D., Bruguier O., Davis J.A. Sylla S. Gueye M., Ngom P.M. 2016. New approach et al., 1966; Vandoros et al., 1966; Cordani, 1970; Cordani et al.,
2017a. Sadiola Hill: a world-class gold deposit in Mali, of structural setting of gold deposits in birimian volcanic
West Africa. Economic Geology, 112:23-47. belt in West African craton: the example of the Sabodala 1977, 1980), correlativas com atividades no continente africano (ver
Masurel Q., Thébaud N., Miller J., Ulrich S., Rob- gold deposit, se Senegal. International Journal of Geosci- capítulos 15 e 16 na Segunda Parte deste livro).
erts M.P., Béziat D. 2017b. The Alamoutala carbon- ences, 7:440-458. Em sua tese de livre-docência, defendida em 1973, desenvolvi-
ate-hosted gold deposit, Kédougou-Kénieba inlier, West Theveniaut H., Ndiaye P.M., Buscail Couëffe R.,
Africa. Economic Geology, 112:49-72. Delor C., F., Fullgraf T., Goujou J.C. 2010. Notice ex- da numa extensa faixa de rochas de alto grau situada ao longo da
Metelka V., Baratoux L., Naba S., Jessell M.W. 2011. plicative de la carte géologique à 1/500 000 du Sénégal costa leste brasileira, entre Vitória (ES) e Salvador (BA), Cordani
A geophysically constrained lithostructural analysis of oriental. Dakar, Ministère des Mines, de l’Industrie, de delineou, com base na interpretação integrada de idades K-Ar e
the Eburnean greenstone belts and associated Granitoid l’Agro-Industrie et des PME, Direction des Mines et de
domains, Burkina Faso, West Africa. Precambrian Re- la Géologie. Rb-Sr, os principais ciclos orogênicos que afetaram a região, no
search, 190:48-69. Treloar P.J., Lawrence D.M., Senghor D., Boyce A., Neoarqueano (~2,7 Ga), no Transamazônico (~2,0 Ga) e no Bra-
Milesi J.P., Feybesse J.L., Ledru P., Dommanget Harbidge P. 2014. The Massawa gold, Eastern Senegal, siliano (0,65 e 0,45 Ga), concepção esta que permanece válida
A.,Ouedraogo M.F., Marcoux E., Prost A., Vinchon C., West Africa: an orogenic gold deposit sourced from mag-
Sylvain J.P., Johan V., Teguey M., Calvez J.Y., Lagny P., matically derived fluids? . The Geological Society, Lon- até hoje em linhas gerais para a evolução da crosta continental
Abouchami W., Ankrah P., Boher M., Diallo M., Fabre don, Special Publications, 393:135-160. da Plataforma Sul-Americana. O caráter policíclico dessa crosta

474 475
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 23

Durante a década de 2000, o professor Cordani e colaboradores (nacionais


e internacionais) discutiram em vários artigos as evidências disponíveis sobre a
posição das massas cratônicas na América do Sul e na África, para fins do exame
da paleogeografia dos supercontinentes Rodínia e Gondwana Ocidental, respec-
tivamente. A fragmentação de Rodínia (início ~1,0-1,1 Ga e final ~0,75 Ga) foi
parcialmente sincrônica com a aglutinação do supercontinente Gondwana (entre
0,65 e 0,5 Ga).
Em termos geodinâmicos, a distribuição de arcos magmáticos proterozoi-
cos juvenis indicaria a existência de domínios oceânicos pretéritos entre a
parte central de Rodínia (Laurentia, Amazônia, Báltica e Oeste da África) e
massas continentais situadas no Hemisfério Sul, tais como os blocos São Fran-
cisco-Congo e Paraná-Kalahari (Cordani et al., 2003a, b; Kröner e Cordani,
2003; Cordani et al., 2013), e a parte africana entre os blocos Indo-Árabe
e Australiano-Antártico e o Bloco Central Africano (Cordani et al., 2003a,
2009, 2013) (ver capítulo 23). Assim sendo, na transição Rodínia-Gondwana,
teria ocorrido o desaparecimento de dois grandes oceanos: o Oceano Goiás-
Farusiano, entre os blocos Oeste Africano-Amazônico e os da parte central e
leste da proto-África, e o Oceano de Moçambique e Árabe-Nubiano, entre os
blocos Indo-Árabe e Australiano-Antártico, e o Bloco Central Africano (Cor-
dani et al., 2003a, 2009, 2013).
O Cinturão de Moçambique, considerado a parte sul do Orógeno do Leste
Africano (Stern, 1994), situa-se a leste dos crátons do Congo, Tanzânia, Kalahari
e Zimbábue, correspondendo a um segmento orogênico com direção N-S, que se
estende desde o Norte do Quênia até Moçambique, onde expõe rochas metamór-
ficas de médio a alto grau, que exibem metamorfismo crescente para leste e uma
tectônica inicial de empurrão, envolvendo nappes com vergência para oeste, que
ao final evoluiu para uma tectônica oblíqua (Kröner et al., 2001). Ao norte de Mo-
çambique, estruturas E-W pan-africanas, relacionadas ao Cinturão Zambezi, co-
nectam-se com estruturas N-S, numa relação estrutural ainda não esclarecida. No
Cinturão de Moçambique, em Moçambique, há evidências de um retrabalhamento
crustal do embasamento, relacionadas com o Ciclo Pan-Africano, que promoveu
A equipe brasileira e moçambicana, a partir da esquerda: Matheus Philipe Bruckmann (Doutorando do Insti-
tuto de Geociências da UFRGS), Thales Sebben Petry (Doutorando do Instituto de Geociências da UFRGS), uma importante reciclagem crustal neste período.
Ruy Paulo Philipp (Professor do Instituto de Geociências da UFRGS), Daud Jamal (Professor da Faculdade de Os estudos em Moçambique, realizados a partir de 2011, tiveram os aus-
Ciências da Universidade Eduardo Mondlane, Maputo, Moçambique), Rômulo Machado (Professor do Ins- pícios de um projeto de cooperação científica internacional do Programa Pró
tituto de Geociências da USP), Fátima Roberto Chaúque (geóloga do Instituto Nacional de Minas, Maputo,
Moçambique), Rogério José Matola (geólogo da Direção Nacional de Geologia e Minas, Maputo, Moçam- -África, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológi-
bique), António Razo Alface (técnico de geologia da Direção Provincial de Recursos Minerais e Energia de co (CNPq). Esta iniciativa, idealizada e coordenada pelo Prof. Cordani, viria
Tete, Moçambique) e Casimiro Alexandre Johane (motorista do Instituto Nacional de Minas, Moçambique). beneficiar toda uma comunidade de pesquisadores e muitos pós-graduandos
moçambicanos, que vieram ao Instituto de Geociências da USP para desenvol-
continental foi correlacionado por ele com o arcabouço tectônico da África ver suas pesquisas acadêmicas em diferentes aspectos da evolução geológica
Equatorial, face à evolução policíclica comparável da crosta continental em am- da África Oriental. Na parte brasileira, professores e alunos de pós-graduação
bos os continentes (ver capítulo 11, na Segunda Parte deste livro). A presença envolvidos estão vinculados aos institutos de Geociências da USP e da Univer-
de idades de cerca de 2,0 Ga para a infraestrutura dos cinturões brasilianos e sidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), enquanto que, na parte afri-
pan-africanos, aliada à existência de núcleos estáveis muito antigos no interior cana, os pesquisadores e estudantes pertencem ao Departamento de Geologia
desses cinturões de dobramento marginais, levou o autor a admitir que, ao final da Faculdade de Ciências da Universidade Eduardo Mondlane, de Maputo, e à
do Ciclo Transamazônico (ou Eburneano, no caso da África), uma massa conti- Direção Nacional de Geologia de Moçambique. O esforço coletivo tem produ-
nental de tamanho equivalente ao estimado para o supercontinente Gondwana zido importantes contribuições para o entendimento do segmento centro-nor-
teria sido consolidada. te do Cinturão de Moçambique e do extremo leste do Cinturão Zambezi, e de

476 477
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 23

seu embasamento de idade grenvilliana (representado pelo Cinturão Irumides não são registradas rochas com idades entre 1300 e 1000 Ma. Este padrão de idade
Sul), assim como da relação tectônica destes segmentos orogênicos com a por- aparece somente em rochas da porção NW de Moçambique, nas províncias de Tete e
ção nordeste do Cráton do Zimbábue (Chaúque, 2012; Chaúque et al., 2017, de Manica (Kröner e Cordani, 2003). Vale destacar que os estudos geocronológicos
2019; Philipp et al., 2020). recentes são frutos da cooperação bilateral com suporte do CNPq entre pesquisado-
res moçambicanos e brasileiros.
O extremo sul do Cinturão de Moçambique e leste do Cinturão Zambezi e
2. Cinturões Brasilianos/Pan-Africanos e a borda nordeste do Cráton do Zimbábue correspondem a área-chave para a
a aglutinação do Gondwana Ocidental investigação da evolução tectônica das unidades pan-Africanas. Os estudos re-
alizados nesta região têm envolvido a integração de dados de campo, incluindo
Os cinturões móveis formados durante a orogenia Brasiliana/Pan-Africana, análises petrográfica e estrutural, datações geocronológicas U-Pb em zircão e
vinculados à aglutinação do Gondwana Ocidental (Cordani et al., 2013), são pelos métodos Sm-Nd em granada e K-Ar em micas e anfibólios, estudos espe-
amplamente expostos em muitas áreas do Oeste e Leste do continente africano cíficos de microssonda analítica (i.e., geotermobarométricos) e de geoquímica
e da costa atlântica da América do Sul, marginais às áreas cratônicas (Neves e isotópica de Nd e Hf.
Cordani, 1991, 1992; Cordani et al., 2013). Os estudos definiram as épocas de cristalização de suítes granitoides e com-
As unidades tectônicas mais antigas desses cinturões são atribuídas ao consumo plexos máfico-ultramáficos estratiformes (Suíte Tete), e forneceram estimativas
de litosfera oceânica num sistema intra-oceânico, como de arco de ilhas, com idades da idade de fontes potenciais das bacias sedimentares por proveniência de zircão
entre 950 e 650 Ma, formando cinturões orogênicos do tipo acrecionário. Rema- detrítico e idade máxima para a sua sedimentação. As relações tectônicas entre
nescentes de rochas oceânicas são encontrados nos cinturões Dahomey e Transaa- os terrenos mesoproterozoicos e neoproterozoicos incluíram estudos das condi-
riano, situados entre o Cráton do Oeste Africano e o Metacráton do Sahara. Estas ções do metamorfismo de caráter colisional (550-500 Ma), aferidas por meio de
rochas orogênicas têm continuidade na região central e nordeste do continente Sul datações U-Pb e isócronas Sm-Nd (Chaúque, 2012; Chaúque et al., 2017, 2019).
-americano, delimitadas pelo lineamento intercontinental Transbrasiliano-Kandi A interpretação geodinâmica do conjunto de dados do extremo sul do Cinturão
(ver capítulos 7, 9 e 10 da Segunda Parte). Esta estrutura maior do Gondwana Oci- de Moçambique indicou que no Cambriano ocorreu a fusão de Gondwana e que
dental representa o fechamento do chamado Oceano Goiás-Farusiano (ver acima). ela foi diacrônica ao longo do Orógeno do Leste Africano. Este processo teria
Este oceano teria sido conectado durante a formação do Gondwana Ocidental com começado mais cedo no norte e cessando mais tarde no sul, onde esta orogenia
outro grande oceano pretérito, cujo registro estaria situado hoje na porção leste da foi coeva com a Orogenia Kuunga, entre a Austrália e a Antártica, com idades em
África. Este último oceano teria existido desde a região do escudo Árabe-Nubiano, geral restritas no intervalo de 530 a 490 Ma.
no norte (geografia atual), passando pelo leste de Moçambique e por Madagascar, Na margem oriental do Cráton do Zimbábue, ao longo da fronteira de Mo-
estendendo-se até a porção Oeste da Antártida na extremidade sul (Macey et al., çambique e Zimbábue, os estudos incluíram ainda a datação U-Pb em zircão
2001; Hanson, 2003; Grantham et al., 2003; Kröner e Cordani, 2003; Cordani et das rochas mais antigas do NW de Moçambique, que indicaram idades entre
al., 2013). Este domínio corresponde ao segmento norte do Orógeno Leste Africa- 3,0 e 2,5 Ga. Elas são parte de um grande terreno do tipo granito-greensto-
no no mapa de reconstrução do Gondwana de Unrug (1997), onde o limite ociden- ne, composto pelas suítes TTG do Complexo Mudzi na porção norte, e pelo
tal do escudo Árabe-Nubiano é definido por uma sutura de direção N-S, contendo Complexo de Mavonde na parte sul, associado ao terreno granito-greenstone
uma zona de mélange ofiolítica (Mélange Ofiolítica de Kabus), a qual se estende do de Mutare-Odzi-Manica (Chaúque et al., 2019). As rochas metassedimentares
Norte do Sudão até a margem ocidental do Cinturão Orogênico de Moçambique, dos grupos Umkondo e Gairezi, depositadas ao longo da margem oriental do
no NW do Quênia (Abdelsalam e Dawoud, 1991). Cráton do Zimbábue, têm uma idade mínima de 1,1 Ga para o primeiro grupo,
com base na época de intrusão de diques de diabásio. Ambos os grupos foram
afetados por um metamorfismo progressivo de idade pan-africana. Na margem
NE do cráton ocorrem unidades metassedimentares, relacionadas a uma mar-
3. Cinturão de Moçambique
gem passiva de idade neoproterozoica (Grupo Rushinga), que incluem rochas
metavulcânicas félsicas datadas de ca. 800 Ma. Estas rochas são cavalgadas
Na magistral síntese, apresentada por Kröner e Cordani (2003), sobre os crátons
pelos granulitos e paragnaisses de grau médio a alto e migmatitos dos grupos
e os cinturões móveis africanos e da América do Sul, incluindo regiões do Sul da
Chimoio, Macossa e Mungari, que correspondem a terrenos alóctones vindos
Índia, Sri Lanka, Madagascar e países do Leste da África (Moçambique, Malaui,
do leste. Mais ao leste, estas unidades estão em contato tectônico com as suítes
Tanzânia, Quênia e Sul da Etiópia), os autores discutem com base em novos dados
granitoides pertencentes ao arco magmático Báruè, com idade entre 1,1 e 1,0
(isotópicos, petrológicos e estruturais) a evolução dessas unidades tectônicas e o seu
Ga. Trata-se de uma sequência de nappes que caracteriza a estruturação N-S do
significado para a formação e dispersão do Rodínia e a subsequente amalgamação
Cinturão de Moçambique, ilustrando a justaposição tectônica com as rochas
do supercontinente Gondwana. Segundo os autores, nos países do segmento seten-
arqueanas do Cráton do Zimbábue.
trional do Cinturão de Moçambique (Malaui, Tanzânia, Quênia e Sul da Etiópia),

478 479
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 23

4. Considerações finais Cordani U.G., Kinoshita H., Bernat M. 1977. Da-


tation par lamethode Ar39/Ar40 de rochesvolcaniques-
desilesbrésilienne de Fernando de Noronha et Trindade.
A trajetória científica do Prof. Cordani tem sido marcada por trabalhos em ge- Cah ORSTOM. Serv. Geol., IX: 45-48.
ocronologia voltados para definição de idades dos grandes eventos tectônicos em Cordani U. G., Sartori P. L. P., Kawashita K. 1980.
Geoquímica dos isótopos de estrôncio e a evolução da
escalas regional e continental, como é o caso aqui ilustrado da cooperação científica atividade vulcânica na bacia do Paraná (Sul do Brasil)
bilateral com pesquisadores de Moçambique. De forma pioneira, incorporou nos durante o Cretáceo. Anais da Academia Brasileira de
seus trabalhos, a partir do final da década de 1960, a formulação de novos modelos Ciências, 52: 811-818.http://memoria.bn.br/DocRea-
der/158119/24874.
tectônicos à luz da geodinâmica de placas, enquanto vários de seus colegas conti- Cordani U.G., Amaral G., Kawashita K. 1973. The
nuavam ainda a propor modelos baseados em teorias fixistas. Sua história de vida precambrian evolution of South America. Geologis-
confunde-se com a própria história das geociências da segunda metade do século 20 cheRundschau, 62:309-317. https://doi.org/10.1007/
bf01840100.
e com as duas primeiras décadas do século 21. Cordani U.G., Brito Neves B.B., D’Agrella Filho Umberto Cordani em trabalho de
Tem contribuído de forma inigualável para construção do conhecimento geoló- M.S. 2001. From Rodinia to Gondwana: a review of campo em Moçambique, em 2010.
gico do território brasileiro e também para o continente africano, particularmente the available evidence from South America. Gondwana
Research, 4:600-602. https://doi.org/10.1016/S1342-
para o Cinturão de Moçambique. Sua produção científica é de consulta obrigatória 937X(05)70402-0; the Rodinia supercontinent: evidence from field rela-
tionships and geochronology. Tectonophysics, 375:325-
para todos os pesquisadores interessados em conhecer a história da evolução tectô- Cordani U.G., Brito Neves B.B., D’AgrellaFilho
352. https://doi.org/10.1016/s0040-1951(03)00344-5.
nica do território sul-americano e contrapartes africanas. M.S. 2003a. From Rodinia to Gondwana: a review
of the available evidence from South America. Gon- Macey P.H., Thomas R.J., Grantham G.H., Ingram
Por fim, o Prof. Cordani, sem dúvida, é detentor de uma história singular: além dwanaResearch, 6:275-283. https://doi.org/10.1016/ B.A., Jacobs J., Armstrong R.A., Manhiça A.S.T.D.,
Grantham G.H., Armstrong, R.A., Guise P.G., Kruger
de geocientista e também um visionário, deixa a sua marca e suas “pegadas” no tem- S1342-937X(05)70976-X
F.J. 2001. Polyphase deformation and metamorphism at
po geológico da Plataforma Sul-Americana e partes da África, registrando de forma Cordani U.G., D’Agrella Filho M.S., Brito Neves
B.B., Trindade R.I.F. 2003b. Tearing up Rodinia: the Kalahari Craton-Mozambique Belt boundary. In: Miller,
permanente seu nome no panteão dos mais notáveis geólogos do seu tempo. Neoproterozoic palaeogeography of South American J.A., Holdsworth, R.E., Buick, L.S., hand, M. (Eds.).
cratonic fragments.Terra Nova, 15:350-359. https://doi. Continental reactivation and Reworking.Geological So-
org/10.1046/j.1365-3121.2003.00506.x ciety of London, 184: 303-321.https://DOI: 10.1016/j.
Cordani U.G., Teixeira W., D’Agrella Filho M.S., precamres.2010.07.005
Neves B.B.B. & Cordani U.G. 1991. Tectonic evo-
Agradecimentos Trindade R.I.F. 2009. The position of the Amazonian
lution of South America during the late Proterozoic.
Craton in supercontinents.Gondwana Research, 15:
396-407. https://doi.org/10.1016/j.gr.2008.12.005. Precambrian Research, 53(1/2): 23-40. https://doi.or-
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Cordani U.G., Pimentel M.M., Araujo C.E.G., Fuck g/10.1016/0301-9268(91)90004-T
Neves B.B.B. & Cordani U.G. 1992. Eventos ter-
pelo apoio e pelas bolsas de pesquisador. Ao Prof. U. G. Cordani pela porta sempre R.A. 2013. The significance of the Transbrasiliano-Kandi
minais do Ciclo Brasiliano-Pan-Africano no Gondwana
aberta, dedicação e interminável disposição sempre em aprender e ensinar. Aos orga- tectonic corridor for the amalgamation of West Gondwa-
na.Brazilian Journal of Geology, 43:583-597. https://doi. ocidental. Correlación Geológica, 9:139-144.
nizadores deste livro, os colegas Wilson Teixeira e Andrea Bartorelli, pelas preciosas org/10.5327/Z2317-48892013000300012. Philipp R.P., Jamal D., Machado R., Cordani U.G.,
Tassinari C.G., Samburane E. 2020. Crustal delamina-
sugestões e pela revisão cuidadosa do texto. Grantham G.H., Maboko M., Eglington B.M.,
tion on grenvillian Southern Irumide Belt: the the ga-
2003. A review of the evolution of the Mozambique Belt
and implications for the amalgamation for Rodinia and bbro-anorthositeTete Suite and the contemporaneous
Gondwana. In: Yoshida M., Windley B.F., Dasgupta S. granitic magmatism, NW Mozambique, Africa. Journal
(Eds.). Proterozoic East Gondwana: Supercontinent As- of African Earth Sciences, submitted.
Referências Chaúque F.R., Cordani U.G., Jamal, D.L., Onoe
sembly and Breakup. Geological Society of London, Spe- Stern R.J. 1994. Arc assembly and continental colli-
A.T. 2017. The Zimbabwe Craton in Mozambique: A sion in the Neoproterozoic East African Orogen: impli-
brief review of its geochronological pattern and its re- cial Publications,206:401-426.
Abdelsalam M.G. & Dawoud A.S. 1991.The Ka- Hanson R.E., 2003. Proterozoic geochronology cations for consolidation of Gondwanaland. Annu. Rev.
busophioliticmelange, Sudan, and its bearing on the lation to the Mozambique Belt. Journal of African Earth Earth Planet. Sci. 22:319-354. https://doi.org/10.1146/
Sciences, 129:366-379. https://doi.org/10.1016/j.jafre- and tectonic evolution of southern Africa. Geological
western boundary of the Nubian Shield.Journal of the Society, Special Publications, 206:427-463.https://doi. annurev.ea.22.050194.001535
Geological Society, London, 148:83-92.http://dx.doi. arsci.2017.01.021. Teixeira W., Tassinari C.C.G., Cordani U.G., Kawa-
Chaúque F.R., Cordani U.G., Jamal D.L. 2019. Ge- org/10.1144/GSL.SP.2003.206.01.20
org/10.1144/gsjgs.148.1.0083 Hurley P.M., Almeida F.F.M., Melcher G.C., Corda- shita K. 1989. Review of the geochronology of the
Amaral G., Bushee J., Cordani U.G., Kawashita K., ochronological systematics for the Chimoio-Macossa Amazonian craton: tectonic implications. Precambrian
frontal nappe in central Mozambique: Implications for ni U.G., Rand J.R., Kawashita K., Vandoros P., Pinson Jr
Reynolds J.H. 1967. Potassium-argon ages of alkaline W.H., Fairbairn H.W. 1967. Test of continental drift by Research, 42:213-227. https://doi.org/10.1016/0301-
rocks from southern Brazil.GeochimicaetCosmochim- the tectonic evolution of the southern part of the Mo- 9268(89)90012-0.
zambique belt. Journal of African Earth Sciences, 150:47- comparison of radiometric ages. Science,157:495-500.
ica Acta, 31:117-142. https://doi.org/10.1016/s0016- DOI:10.1126/science.157.3788.495 Torquato J.R. & Cordani U.G. 1981. Brazil-Africa
7037(67)80041-3. 67. https://doi.org/10.1016/j.jafrearsci.2018.10.013. geological links.Earth-Science Reviews, 17:155-176. ht-
Cordani U.G. 1970. Idade do vulcanismo no Oce- Kröner A., Willner A.P., Hegner E., Jaeckel P.,
Amaral G., Cordani U.G., Kawashita K., Reyn- Nemchin A. 2001. Single zircon ages, P-T evolution tps://doi.org/10.1016/0012-8252(81)90010-6.
olds J.H. 1966. Potassium-argon dates of basaltic ano Atlântico Sul. Boletim IGA, 1:9-75. https://doi. Unrug R., 1997. Rodinia to Gondwana: the geody-
org/10.11606/issn.2316-9001.v1i0p09-75 and Nd isotopic systematics of high-grade gneisses in
rocks from southern Brazil.GeochimicaetCosmochim- southern Malawi and their bearing on the extent of the namic map of Gondwana supercontinent assembly. GSA
ica Acta, 30:159-189. https://doi.org/10.1016/0016- Cordani U.G. 1973. Evolução Geológica Pré-Cambria- Today 7:1-6.
na da Faixa Costeira do Brasil, entre Salvador e Vitória. Tese Mozambique belt into southern Africa. Precambrian
7037(66)90105-0. Research, 109:257-291. https:DOI: 10.1016/S0301- Vandoros P., Cordani U.G., Ruegg N.R. 1966.
Chaúque F. R. 2012. Contribution to the knowledge de Livre-Docência, Instituto de Geociências da USP, 98p. On potassium-argon age measurements of basal-
Cordani U.G. 1975. Dados recentes sobre a deriva 9268(01)00150-4.
of the tectonic evolution of the Mozambique Belt,Mo- Kröner A. & Cordani U.G. 2003.African, southern tic rocks from southern Brazil.Earth and Planetary
zambique.Thesis (Ph.D), Institute of Geosciences, Uni- dos continentes. Cadernos de Ciência da terra Instituto Science Letters, 1:449-452. https://doi.org/10.1016/
de Geografia, 38: 38. Indian and South American cratons were not part of
versity of São Paulo, São Paulo, 187p. 0012-821x(66)90045-8.

480 481
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 24

A review of the modern geochronological A modern interpretation of the Mozambique belt as a case of
record of the Mozambique Belt in continent-continent collision between East (India, Madagascar, Sri
Lanka and Antarctic) and West (Meta-Sahara, Congo and Kalahari
Mozambique and its key in understanding Cratons) Gondwana stands from the pioneering work of Dewey
the crustal evolution and Burke (1973) and represented a major breakthrough in the
understanding of the crustal evolution of the African Plate. Subse-
Daud L. Jamal1 quent work reiterate that this belt is mainly composed of pre-Neo-
(daudjamal1@gmail.com), proterozoic medium-to high-grade para- and orthogneisses traced
Fátima R. Chaúque2 from Kenya southward to Mozambique, and has evolved from re-
(fchauque27@gmail.com), peated continental collision, suturing and lateral extrusion (Kröner,
Pete Siegfried3, 1890; Shackleton, 1986; Burke & Sengor, 1986; Pinna et al., 1993;
Heldo Manhiça1, Meert et al., 1995; Shackleton, 1996).
Daud L. Jamal. Heldo Manhiça.
Felizardo M. Augusto1, The East African Orogeny (EAO) of Stern (1994) envisages the
Doldêncio C. Macute1. Arabian-Nubian Shield (ANS) and the Mozambique Belt (figure 1)
resulting from Neoproterozoic Gondwana consolidation (Reeves
1
Universidade Eduardo Mondlane, Faculdade de Ciências,
Departamento de Geologia, Maputo, Mozambique. & De Wit, 2000; De Wit, 2003) between ~ 850-550 Ma (Jamal,
2
Instituto Nacional de Minas, Maputo, Mozambique. 2005; Fritz, et al., 2013). Low-grade island-arc assemblages mapped
3
Geoafrica Prospecting Services, Windhoek, Namibia. from the ANS to southern Kenya, suggest an ocean-continent col-
lision with the Mozambican Ocean closure (Berhe, 1990; Shackle-
1. Introduction ton, 1993). The Mozambique Belt from southern Kenya to central
Mozambique experienced two main accretionary stages, beginning
The Precambrian of Mozambique preserves a long record of crust- with main magmatic intrusion at Mesoproterozoic times followed by
al evolution spanning from the Archean to the Neoproterozoic. Me- Gondwana Supercontinent collision and amalgamation in the Neo-
soproterozoic crust with a strong Neoproterozoic thermo-tectonic proterozoic (Kröner et al., 1997; De Wit et al., 1998; Jamal et al.,
Fátima R. Chaúque. overprint dominates the Precambrian that constitutes 2/3 of the coun- 1999; Kröner & Cordani, 2003).
Felizardo M. Augusto.
try’s surface. Systematic geological studies date from the 20th century In this paper we provide synoptic reappraisal of the evolution of
when Holmes (1918) described a “dominant monotonous grey bio- the Mozambique Belt in Mozambique based on the recent publica-
tite-gneiss” with intrafolial lenticular hornblende-gneiss, amphibolite tions that have been supported by the extensive regional 1:250,000
and crystalline limestone lenses from NE-Mozambique. On his tecton- geological mapping (NGU, 2006). This is presented in honor of
ic map he designated the N to NE tectonic belt along East Africa as the Humberto Cordani who has contributed with effort and passion to
Mozambique Belt with an age of 1300 Ma (Holmes, 1951). The same unraveling the Precambrian Geology not only of Mozambique but of
author interpreted these gneisses in modern terms as the core zone many parts of Africa.
of an orogenic Belt that had been uplifted. Kennedy (1964) coined Since his paper together with Alfred Kröner in 2003, Professor
the thermo-tectonic episode leading to structural differentiation of the Umberto Cordani committed himself with great enthusiasm on the
continental African Plate during late Precambrian to early Paleozoic promotion and strengthening of scientific collaboration between
(450-550 Ma) as the “Pan-African Thermo-Tectonic Episode”. This Mozambican institutions (Department of Geology of the Eduardo
event has been recognized in adjoining parts of Gondwana including Mondlane University and National Directorate of Geology), and
Pete Siegfried. areas of Brazil, Arabia and Madagascar (Kröner, 1977) and considered the Institute of Geosciences of the University of São Paulo. Under
to be restricted to this and earlier tectonism affecting geosynclines his patronage this collaboration was later extended to the Federal Doldêncio C. Macute.
(Jackson & Ramsay, 1980; Tankard et al., 1982). The Mozambique University of Rio Grande do Sul. For almost a decade, through
Belt model of Holmes (1951) remained unused for almost three de- sponsorship from two Brazilian funding institutions, CNPq (Con-
cades; in fact regional Precambrian studies of southern and eastern selho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico)
Africa (Hunter, 1981; Tankard et al., 1982) did not address regional and FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
tectonic features in Mozambique. However, Cahen et al. (1984), point Paulo), six researchers and seven post-graduate students were in-
that the Mozambique Belt is part the of the late Precambrian - early Pa- volved in various projects focusing on U/Pb zircon geochronology,
laeozoic structural network of Kennedy’s “Pan-African” event (Cahen, whole-rock geochemistry and tectonics of Precambrian geology
et al., 1984; Holmes & Cahen, 1957). of Mozambique. From these aforementioned collaboration three

482 483
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 24

2. Major Precambrian regional tectonic units

2.1 Tectonic Framework of the Precambrian of Mozambique


The Precambrian of NE Mozambique has been recognized as a polydeformed
high-grade complex terrain (Holmes, 1918, 1951; Oberholzer, 1968), initially in-
terpreted as the result of a two-stage evolution comprising magmatic and high-grade
metamorphism between 1400 Ma – 850 Ma (Holmes, 1951; Sacchi, 1984; Sacchi et
al., 1984; Costa et al., 1992; Pinna et al., 1993). Subsequent work has demonstrated
that the region has undergone an extended period of high-grade metamorphism and
cooling from 650 Ma to 410 Ma (Costa et al., 1992; Kröner et al., 1997; Jamal,
2005) following major Mesoproterozoic magmatic crustal accretion.
An ENE-trending Belt, termed the “Lurio Belt” (Oberholzer, 1968; Jourde &
Wolf, 1974), strikes from the western region stranded by the NS orientated East
African Rift Valley towards the Indian Ocean margin of Mozambique. The Lurio
Belt comprises high-grade gneisses and granulites, and divides the Precambrian of
NE-Mozambique into two major terrains that record different crustal evolution his-
tories. Westerhof et al. (2008) introduced the subdivision of the crystalline basement
of Mozambique into three different terranes, namely East, West and South Gond-
wana separated by shear zones and structural discontinuities (figure 1). Although
the geodynamic significance of the boundaries still far from being understood it is,
however, agreed that these terrains record a different crustal evolution prior to the
East African Orogeny (EAO).

2.2 The Geology of the East Gondwana


The East Gondwana terrain is transected by ENE- and N-trending shear zones
truncated by the Lurio belt in the south and consists of Mesoproterozoic basement
tectonically superimposed by Neoproterozoic supracrustal units (Pinna et al., 1993;
Jamal, 2005; NGU, 2006). Viola et al. (2008) grouped these lithodemic units (ex-
tensively described in Boyd et al., 2010) into mega-tectonic units namely (figure 2):
1) Paleoproterozoic domain consisting of migmatitic paragneisses, augen gneiss-
es, talc schists, and amphibolites ascribed to the Ponta Messuli Complex (metamor-
phic age 1950 ± 15 Ma; Bingen et al., 2009), that represent a SE extension of the
Ubendian Belt and NW foreland of the Pan-African Orogeny.
2) An extensive Mesoproterozoic orthogneissic and migmatitic basement com-
posed of the Unango, Marrupa, Nairoto, and Meluco Complexes extensively re-
worked during Pan-African orogeny.
3) The Neoproterozoic Montepuez and Ocua Complexes, interpreted as a
Figure 1: Regional tectonic map of East Pan-African tectonic mélange including granulites and high-grade para- and or-
and Central Africa (after Fritz et al., Ph.D theses and three M.Sc dissertations have been thognaisses, in part derived from Paleo- and Mesoproteroizoic Complexes; the
2010, and Chauque et al., 2019). Keys: Ocua Complex forms the core of the Lurio Belt, and,
ANS: Arabian Nubian Shield.
produced by Mozambicans through the University of
EG: East Gondwana. São Paulo. Additionally five papers and fourteen con- 4) Supracrustal high-grade gneisses and mafic granulites making up various com-
SG: South Gondwana. ference communications have been published. These plexes (Xixano, Lalamo, M’Sawize, and Muaquia) that represent NW verging imbri-
WG: West Gondwana. cate thrust nappes grouped into the “Cabo Delgado Nappe complex (CDNC). Fritz
TCB: Tete-Chipata Belt.
publications (e.g., Chaúque et al., 2017; Chaúque et
MDZ: Mwembeshi Dislocation Zone. al., 2019; Manjate, 2016) shed new light on the un- et al. (2013) extended the CDNC into the Eastern Granulites in Tanzania and coined
SSZ: Sanangoe Shear Zone. derstanding of the evolution of the Mozambique Belt, this entity as Eastern Granulite – Cabo Delgado Nappe Complex (EGCD) that experi-
US: Usagaran Belt. enced a 650 Ma – 620 Ma granulite-facies metamorphism episode. This mega-nappe
UB: Ubendian Belt.
and its involvement with the Zimbabwe Craton in the
ZB: Zambezi Belt. central-western regions of Mozambique. extends southward across the Lurio Belt over the Nampula Complex (see Monapo

484 485
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 24

Figure 3: Combined U/Pb


zircon geochronological
data (ages with error
< 40 Ma) from East
Gondwana. Keys:
Crystallization age:
: Bingen et al. (2009).
: CGS (2007).
Metamorphic ages:
: Ueda et al. (2012).
Open boxes bracket the
age of metamorphism.
Geological Units:
UNA: Unango Complex.
MAR: Marrupa Complex.
OCU: Ocua Complex.
TXI: Txitonga Group.
ANG: Angónia Group.

and Mugeba Klippen) and possibly to Maud Province of western Dronning Maud
Land in Antarctica (Grantham et al., 2013). U/Pb zircon geochronological data show
extended Mesoproterozoic magmatic activity from 1050 Ma – 900 Ma (figure 3),
and starting 50 Ma later on the Marrupa Complex, suggests distinct and diachronous
magmatic derivation. According to Bingen et al. (2009), the Mesoproterozoic zircon
metamorphic ages spanning from 960-940 Ma, and late to coeval with magmatic ac-
tivity, implies possible docking of Unango and Marrupa Complexes onto the Congo
Craton within an arc-setting environment. This intense period of magmatic accretion
was followed by a long period of quiescent magmatic and tectonic activity, though
sporadic crystallization ages between 827-753 Ma are recorded in the NW Paleo- and
Mesoproterozoic terrains. Apparent depositional ages obtained from marbles from
Xixano and Montepuez Complexes are in the range of 800-660 Ma (Melezhik et al.,
2008), provides some an indication for the timing of sedimentation of metasediments
from the Cabo Delgado Nape Complex (CDNC).
Other localized and less well exposed Neoproterozoic supracrustal sequences
overlie the Paleo- and Mesoproterozoic sequences. The Txitonga Group rests tec-
tonically on top of the Paleoproterozoic Ponta Messuli Complex, and is dominated
by siliciclastic metasediments with greenstone, greenschist and minor metagabbro
Figure 2: Regional simpli- and metarhyolite. The age of the Txitonga is constrained by a rhyolite crystalliza-
fied map of Precambrian tion age of 714 ± 17 Ma (Bjerkgård et al., 2009), slightly younger than the ages
geology of Mozambique of syenite emplacement into the Unango and Marrupa Complexes (see figure 3).
(adapted from Westerhof
et al., 2008; Bingen et al., Tectonic lenses of low-grade metamorphosed volcanic rocks, clastic carbon-
2009; Macey et al., 2010; ates and mudstones of the Geci Group overlie the Unango Complex. These four
Chauque et al., 2019). NNE-SSW trending lenses appear tectonically juxtaposed and apparent ages of
Keys:
FB: Fingoe Belt. either 595-585 Ma or 630-625 Ma have been determined for carbonate rocks
SSZ: Sanangoe Shear Zone. (Melezhik et al., 2006). Cambrian age undeformed to weakly deformed alka-
Complexes: li granite, monzonite and charnockite of the Malema Suite (ca. 530-495 Ma,
Ms: M’Suwaze.
Mq: Muaquia. Macey et al., 2007; Grantham et al., 2007; Bingen et al., 2009) constrain the
Mp: Montepuez. minimum age of deformation.

486 487
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 24

The Angonia Group, located in the Tete Province of NW Mozambique overlies


the Irumide granites along a NW verging thrust that separates East and West Gond-
wana. It displays layering consisting of medium to high-grade tonalitic gneisses at the
base (1103 Ma), overlain by metabasic rocks (1058 Ma) and banded gneisses at top
(CGS, 2007). The Ulongue Suite intrudes the Angonia Group and is composed of
monzonite, anorthosite and mafic-gneisses. A U-Pb zircon age of ca. 550 Ma (CGS,
2007) from the monzonite in association with mafic-gneisses suggest this Suite is
possibly syn- to late Pan-African.

2.3 The Geology of the South Gondwana


South of the Lurio Belt, in NE-Mozambique, the Mesoproterozoic Nampula Block
(Jamal et al., 2001; Jamal, 2005; Macey et al., 2010), classified as the Nampula Com-
plex after NGU (2006), mainly consists of felsic orthogneisses, migmatites and migma-
titic gneiss basement dated between 1070 Ma – 1120 Ma (Bingen et al., 2009; Macey
et al., 2010). This basement, ascribed to the Mocuba Suite, is derived from a ca. 1120
Ma juvenile calc-alkaline arc-related precursor accreted at 1075 Ma to the proto Ka-
lahari Craton. Coeval extension and the deposition of 1080 Ma – 1110 Ma volca- Figure 4: Combined U/Pb
no-sedimentary rocks of the Molócuè Group occurred in the back-arc setting on the arc (Báruè Magmatic Arc, BMA of Chaúque et al., 2019), and the latter zircon geochronological data
outboard of the proto Kalahari Craton (Macey et al., 2010). The Rapale Orthogneiss to the Macossa and Chimoio Groups. These units are all tectonically (ages with error < 40 Ma)
from the South Gondwana.
(ca. 1095 Ma) represent the main intrusive event followed by ca. 1070 Ma granitic included within the Macossa-Chimoio Nappe (Chaúque et al., 2017), Keys:
orthogneisses of the Culicui Suite. The last suite, dominated by A-type granitoids, was probably representing a western extension of the Nampula Block Fron- : Bingen et al. (2009).
emplaced during extension following Mesoproterozoic orogenic accretion at 1075 Ma tal thrust (Fritz et al., 2013). North of this nappe, the Mungari nappe : Chaúque (2012).
:Chaúque et al. (2017).
and marks the final stage of the pre-Pan-African evolution of the Nampula Complex consists of high-grade metasediments intruded by the 850 Ma bimodal : Chaúque et al. (2019).
(Macey et al., 2010). Sm/Nd isotope studies (Jamal, 2005) indicated a derivation of Guro Suite (Chaúque, 2012). Age determination for the Báruè magmat- : Costa et al. (1994).
Nampula orthogneisses from a juvenile magma between 1070 Ma – 1660 Ma. Under ic arc derived orthogneisses, have been consistently reported at 1100- : Kröner et al. (1997).
: Macey et al. (2007).
this tectonic evolution, earlier D1 (see Mesoproterozoic metamorphic ages on figure 1070 Ma by several authors (Manhiça et al., 2001; Mänttäri, 2008; : Macey et al. (2010).
4) formed around 1090 Ma, in agreement with several authors (Macey et al., 2010; Chaúque, 2012; Chaúque et al., 2019). Age provenance determination : Manhiça et al. (2001).
Sacchi et al., 1984; Costa et al., 1992; Pinna et al., 1993). In contrast, Kröner et al. for the high-grade paragneisses from the Macossa and Chimoio Groups : Manjate (2011).
: Manjate (2015).
(1997), Jamal et al. (1999), Jamal (2005) and Bingen et al. (2009) linked deformation revealed a dominant Mesoproterozoic source with a zircon population : Mäntäri et al. (2008).
under high-grade metamorphism to the deformation of a Pan-African thermo-tectonic with a magmatic age within 1200-1000 Ma, and a subordinate contribu- : Ueda, K., et al. (2011).
event. Bingen et al. (2009), bracket this event between 543 ± 23 Ma and 493 ± 8 tion from the Neoproterozoic (Bene, 2004; Chaúque, 2012; Chaúque Encircled symbols – Mesopro-
terozoic metamorphic ages.
Ma. The Monapo and Mugeba Klippen are tectonically juxtaposed over the Nampula et al., 2017), suggesting a Neoproterozoic deposition age. Geological Units:
Complex and represent allochthonous remnant units of the ECDC nappe complex. The bimodal Guro Suite extends from the northern margin of the MOC: Mocuba Suite.
Of note are late Neoproterozoic autochthonous metasedimentary rocks which occur Zimbabwe Craton along the Zambezi Belt, and then turns southwards MOL: Molócuè Group.
RAP: Rapale Gnaiss.
uncomfortably deposited on top of the Nampula basement. These include high-grade, into the N-S trending Mozambique Belt, along the eastern margin of CUL: Culicui Gnaiss.
strongly deformed meta-psammites and meta-conglomerates from the Alto Benfica the same craton (figure 2). It follows the strike of the Palaeproterozo- MEC: Mecuburi Group.
and Mecuburi Groups, with an early Cambrian deposition age (530 Ma for the Me- ic metasediments flanking the Archean eastern margin of this craton. MAC: Macossa Group.
MUN: Mungari Group.
cuburi Group; Thomas et al., 2010). Widespread late- to post tectonic, undeformed The Guro Suite also occurs to the east and north of the Mesoprotero-
large granitoids, syenites and charnockites intrude the Nampula Complex and areas zoic orthogneisses. The rocks are dominated by felsic sheets which are
adjacent to the Lurio Belt. They belong to the Murrupula and Malema Suites with a intercalated with subordinate mafic material (Mäkitie et al., 2008),
crystallization age of 530 Ma – 495 Ma (Jacobs et al., 2008; Macey et al., 2010). The and display a striking banded appearance, a characteristic aspect of
final stage of magmatic evolution and deformation is constrained by mineralized peg- this Suite. The age is constrained between 860 Ma and 850 Ma using
matites across the Precambrian basement. zircons from aplite granites (Mänttäri, 2008; Chaúque et al., 2017).
The Mozambique Belt at the southern Sanangoe Shear Zone, in the central-western High-grade peak metamorphic conditions in the Mozambique Belt
part of Mozambique (figure 1) is part of the South Gondwana terrane of Westerhof et of western central Mozambique was reached later if compared to the
al. (2008). The region consists of high-grade ortogneisses and supracrustal rocks (fig- Nampula Complex and East Gondwana areas. K-Ar ages from the
ure 2). The former are ascribed to the Báruè Complex and interpreted as a magmatic eastern Zimbabwe Craton Margin suggest a Cambrian thermal over-

488 489
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 24

print confirmed by consistent Sm-Nd garnet-whole rock isochron and U/Pb ages on ern Mozambique, continental collision culminated with westward emplacement of
zircon metamorphic overgrowth at 500 Ma (Chaúque et al., 2017; Chaúque et al., the Eastern Granulite–Cabo Delgado Nappe Complex at 650-620 Ma. Final amal-
2019 and references therein). The lower age of deformation and metamorphism is gamation occurred during the Kuunga Orogeny (540 Ma to 500 Ma) that affected
constrained by a U-Pb zircon crystallization age of ca. 490 Ma, from post-collisional large portions of southern Tanzania, Zambia, Madagascar, Malawi, Mozambique
nepheline syenite (Manjate, 2011) intruding the known Mesoproterozoic units. and Antarctica. The EAO and Kuunga Orogeny are part of the long-lived Neopro-
terozoic-Cambrian Pan African Orogenic Cycle.
2.4 Geology of West Gondwana Jamal (2005), combining U/Pb zircon SHRIMP and TIM’s dating, bracketed the
A mosaic of Mesoproterozoic plutonic and supracrustal units (Hunting, 1984; Barr granulite and amphibolite facies associated with thrusting and folding between 620 Ma
and Brown, 1987; Afonso et al., 1998; GTK, 2006b, d; Mänttäri, 2008) representing and 550 Ma for the terrain north of the Lurio Belt, and 635 to 524 Ma for Nampula
an assembly of single isolated lithospheric fragments (Westerhof et al., 2008) dom- Complex to the south. Viola et al. (2008), dated the NW directed imbricate thrusts
inates the Precambrian of NW Mozambique. These units, together with respective of the CDNC at 540 Ma. Bingen et al. (2009) and Ueda et al. (2012) considered that
correlatives across Zambia form the Tete-Chipata Belt (figure 1), a triangular structural crustal thickening in NE-Mozambique was a result of CDNC stacking of the CDNC and
domain between the Congo and Kalahari Cratons (TCB; Westerhof et al., 2008) that occurred at 600 and 550 Ma and is coeval with high-pressure granulite-facies metamor-
includes the Southern Irumide Belt (SIB; Johnson et al., 2005, 2007; Alessio et al., phism along the Lurio Belt at 575-557 Ma. The low-grade and weakly deformed Geci
2019). At ca. 1.0 Ga the TCB had been amalgamated through tectonic collage onto Group deposited between 630 and 585 Ma (Melezhik et al., 2006) possibly represents
the Congo Craton margin and, therefore, it is considered to be part of West Gondwa- the foreland setting of the Unango Complex. NW-SE directed extension (Jamal, 2005;
na. Subsequently the TCB has been reworked during the Pan-African thermo-tectonic Viola et al., 2008; Emmel et al., 2011), following prolonged Neoproterozoic to Ear-
event associated with the collision between the Kalahari and Congo Cratons. Within ly Palaeozoic granulite facies metamorphism, recorded in the Ocua Complex to have
the TCB of Mozambique several late Mesoproterozoic, voluminous granitoids, char- near-isothermal decompression (Jamal, 2005; Engvik et al., 2007; Engvik & Bingen,
nockites, anorthosites and mafic suites with associated small grabbroic bodies intrude 2017; Engvik et al., 2019), pinpoint the onset of orogenic collapse at 540-495 Ma, pos-
and encompass the volcano-sedimentary and siliciclastic formations (figure 2). Supra- sibly caused by lithospheric delamination (Ueda et al., 2012).
crustal rocks, now metamorphosed to mafic schists, pelitic schists, gneisses, migmatites
and granulites are bracketed between 1.3 and 1.2 Ga. In turn, the plutonic rocks and 3.2 Collision Timing in South Gondwana
orthogneisses have crystallization ages in the range of 1.2 Ga to 1.04 Ga (Mänttäri, The Nampula Complex attained its tectonic setting during the Neoproterozoic,
2008; Jamal, 2012). Two Sm-Nd whole-rock isochron ages of 1025 ± 79 Ma (Evans preceded by crustal formation comprising magmatic and volcanic activity with sedi-
et al., 1999) and 1047 ± 29 Ma (Mänttäri, 2008) constrain the emplacement time mentation between 1070 Ma and 1120 Ma (Macey et al., 2010). These authors argue
for the Tete Gabbro-Anorthosite Suite. Phillip et al. (2014) considered these bimodal for an early orogenic deformation and high-grade metamorphism at 1090 Ma (fig-
rocks as an Anorthosite-Mangerite-Charnockite-Granite association. Neoproterozoic ure 4). However, Pan-African high-grade metamorphism in the Nampula Complex is
age mafic, ultramafic and granitoid intrusions are far less common in the TCB. A bracketed between 635 and 560 Ma (Jamal, 2005; Ueda et al., 2012) and 520-510 Ma
crystallization age of 890 Ma has been obtained for the Atchiza Mafic-Ultramafic Suite (Ueda et al., 2012). Metamorphic ages of approximately 635 Ma (Macey et al., 2013)
using U-Pb on zircon from coarse-grained gabbros (Jamal et al., 2013) and is compara- and 590 to 570 Ma (Grantham et al., 2013) have been obtained from the Monapo
bly older than the 860 Ma Sm-Nd (Mänttäri, 2008) previously reported. This author Klippe mafic granulites. All authors suggest that high-grade metamorphism is older
reported Pb-Pb mean ages from gneisses west of the Atchiza Suite of 800 Ma and 528 than 560 Ma and is represented by HP/HT granulites associated with EAO collision
Ma. They should represent the magmatic and metamorphic events respectively. and polyphase deformation. On the other hand, the deposition and deformation of
the Alto Benfica and Mecubui Groups, molasses type metasediments dated at ca. 530
Ma (Macey et al., 2013) are difficult to explain in this context. Therefore, as suggest-
3. The timing of continental collision across ed by Ueda et al. (2012), the early Cambrian zircon metamorphic ages post-date the
the Mozambique Belt in Mozambique metasediments from the Alto Benfica and Mecubui Groups and result from a post-col-
lisional partial delamination in the Nampula Complex. Alternatively, these younger
3.1 Collision timing in East Gondwana metamorphic ages reflect an overprint along the E-W Kuunga orogeny (Meert, 2003;
The Mozambique Belt (MB) is the world’s largest Neoproterozoic to Cambrian Meert & Lieberman, 2008; Grantham et al., 2013). Further constraints on the lower
orogenic complex resulting from the closing of the Mozambique Ocean. Gondwana limit for the collision is possibly established between 485 ± 9 Ma and 493 ± 10 Ma
assembly started with initial arc/arc convergence and terrane suturing at 780 Ma using Pb-corrected recrystallization ages respectively from zirconolite and uranothori-
with closure culminating at ca. 550 Ma (Johnson & Woldehaimanot, 2003; Meert anite from a carbonatite intruding the Monapo Klippe (Hurai et al., 2017). These ages
& Van Der Voo, 1997). Fritz et al. (2013) suggested that the final stage of the EAO would be comparable to post-peak metamorphic conditions.
on the ANS region comprised magmatic arc suturing and the closing of the Mozam- In the broadest terms, the Neoproterozoic tectonic evolution that post-dates the em-
bique Ocean at ca. 650 Ma. To the south of the ANS, in Kenya, Tanzania and north- placement of the Guro Suite in central-western Mozambique is comparable with the

490 491
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 24

References
Nampula Complex. However, two main differences may be pointed out; on the Macos- Alessio B.L., Collins A.S., Clark C., Glorie S., Sieg-
sa-Chimoio nappe, paragneisses yielding Neoproterozoic detrital zircons were identified, fried P.R., Taylor R. 2019. Age, origin and palaeogeog-
raphy of the Southern Irumide Belt, Zambia. Journal of
while in the Nampula block this has not been not recognized; moreover, the widespread Geology, 176:505-516.
post-tectonic Cambrian age Murrupula granitic magmatism (Macey et al., 2010) which Afonso R.S., Marques J.M., Ferrara, M. 1998. A
affected the Nampula Block, is rarely encountered in the Macossa-Chimoio nappe. Evolução geológica de Moçambique. Uma Síntese. Lis-
boa, Instituto de Investigação Cientifica Tropical / Ma-
U/Pb zircon metamorphic ages for this region are very limited (figure 4) and puto, Direccao Nacional de Geologia.
show that high-grade metamorphism facies were reached later (< 535 Ma; Mänttäri, Barr M.W.C. & Brown M.A. 1987. Precambriam
2008 and Chaúque et al., 2017) compared to NE-Mozambique. On the other hand, gabbro-anorthosite complexes, Tete Province, Mozambi-
que. Geological Journal, 22:139-159.
a nepheline syenite intruding the migmatitic paragneisses and siliciclastic metased- Bene B.M. 2004. Tectonic Evolution of Wester Cen-
iments of the Báruè Complex, yield a U/Pb zircon crystallization age between 498 tral Mozambique. PhD Thesis, School of Geological and Umberto Cordani on the outcrop of the deformed
Computer Science, Kwazulu-Natal University, Durban, granitoid Chimoio, in Mozambique, in 2010.
and 562 Ma (Manjate, 2016), and compares with the Evate carbonatite which in-
216 p. (unpubl.).
trudes the Monapo klipp. This suggests that collision in this region only occurred at Berhe S.M. 1990. Ophiolites in Northeast and East Dewey J.F. & Burke K. 1973. Orogeny in Africa. In:
Kuunga times. Post-collisional regional cooling rates of both the Nampula Block and Africa: implications for Proterozoic crustal growth. Jour- Dessauvagie T.F.J. & Whiteman A.J. (eds.). Orogeny in
the Macossa-Chimoio nappe are very slow, as demonstrated by the available younger nal of Geological Society of London, 147:41-57. Africa. Nigeria, Department of Geology, University of
Bingen B., Jacobs J., Viola G., Henderson I.H.C., Skår Ibadan, p. 583-608.
biotite Ar-Ar cooling ages between 400 and 430 Ma (Ueda et al., 2012; Chaúque et Ø., Boyd R., Thomas A., Solli A., Key R.M., Daudi E.X.F. De Wit M.J. 2003. Madagascar: Heads it’s a Conti-
al., 2017) and 550 and 450 Ma (Manhiça et al., 2001). 2009. Geochronology of the Precambrian crust in the Mo- nent, Tails It’s an Island. Annual Reviews of Earth Plane-
zambique belt in NE Mozambique, and implications for tary Science, 31:213-248.
Gondwana assembly. Precambrian Research, 170:231-255. De Wit M.J., Ghosh J.G., Bowring S., Ashwal L.
Bjerkgård T., Stein H.J., Bingen B., Henderson 1998. Late Neoproterozoic shear zones in Madagscar
4. Summary and way forward I.H.C., Sandstad J.S., Moniz A. 2009. The Niassa Gold and India: Gondwana “life-lines”. Journal of African
Belt, northern Mozambique – a segment of a continen- Earth Science, 27:58.
tal-scale Pan-African gold-bearing structure. Journal of Engvik A.K., Tveten E., Solli. 2019. High-grade
The last two decades have seen modern geochronological and isotopic studies com- African Earth Sciences, 53:45-58. metamorphism during Neoproterozoic to Early Palae-
pletely revising the internal tectonostratigraphy of the Mozambique Belt in Mozambique. Boyd R., Nordgulen Ø., Thomas R.J., Bingen B., ozoic Gondwana assembly, exemplified from the East
The notion of an extensive Mesoproterozoic autochthonous package of rocks extending Bjerkgard T., Grenne T., Henderson I., Melezhik V.A., African Orogen of northeastern Mozambique. Journal of
Often J.S., Sandstad A., Solli A., Tveten E., Viola G., Key African Earth Sciences, 151:490-505.
across all of northern and central Mozambique, and only exhibiting greater and lesser R.M., Smith R.A., Gonzalez E., Hollick L.J., Jacobs J., Ja- Engvik A.K. & Bingen B. 2017. Granulite-facies meta-
degrees of Pan African or Neoproterozoic structural overprint, has now with a wealth of mal D., Motuza G., Bauer W., Daudi E., Feitio P., Manhiça morphism of the Palaeoproterozoic to early Palaeozoic
new U/Pb zircon results, as presented in this review, been demonstrated not to be the case. V., Moniz A., Rosse D. 2010. The geology and geochem- gneiss domains of northeast Mozambique, East African
istry of the East African Orogen in northeastern Mozam- orogen. Geological Magazine, 154(3):491-515, https://doi.
Available U/Pb zircon geochronological data consistently point to a major Meso- bique. South African Journal of Geology, 113:87-129. org/10.1017/S0016756816000145.
proterozoic accretion with high-grade metamorphic and tectonic on the Mozambique Burke K. & Sengor C. 1986. Tectonic escape in the Engvik A.K., Tveten E., Bingen B., Viola G., Eram-
Belt in East and South Gondwana. Neoproterozoic supracrustal and crustal segments evolution of the continental crust. In: Baranzangi M. & bert M., Feito P., De Azavedo S. 2007. P-T–t evolution
Brown L. (eds.). Reflection seismology: The continental and textural evidence for decompression of Pan-African
are intimately involved with the arrangement of the various Mesoproterozoic terranes crust. Washington, DC, American Geophysics Union, high-pressure granulites, Lurio Belt, north-easternMo-
during the East African and later Kuunga Orogenies. The extensive Cabo Delgado Geodynamics, Ser. 14. zambique. Journal of Metamorphic Geology, 25:935-952.
Nappe Complex and the southern exposed remnants of the thrust sheets – the Muge- Cahen L., Snelling N.J., Delhal J., Vail J.R. 1984. Emmel B., Kumar R., Ueda K., Jacobs J., Daszinnies
The geochronology and evolution of Africa. Oxford, M.C., Thomas R.J., Matola R. 2011. Thermochronolog-
ba and Monapo klippen, as well as the deformed Guro Suite, demonstrate that the Clarendon Press, 512 p. ical history of an orogen-passive margin system — an
Neoproterozoic forms a notable component of the rocks of the Mozambique Belt. CGS. 2007. Map Explanation Sheets Furancungo example from N Mozambique. Tectonics, 30:TC2002,
Accordingly, their direct role in the amalgamation of Gondwana is fundamental. (1433) and Ulongue (1434). , National Directorate Of Geo- https://doi.org/10.1029/2010TC002714.
logy.Chaúque F.R. 2012. Contribuição para o conhecimen- Evans R.J., Ashwal L.D., Hamilton M.A. 1999. Maf-
Whereas considerable advances in unraveling the Precambrian geology of to da evoluçao tectônica do Cinturão de Moçambique, em ic, ultramafic, and anorthositic rocks of the Tete Com-
NE-Mozambique (i.e., Gondwana East) through detailed geochronology studies has Moçambique. Tese de Doutorado, Instituto de Geociências, plex, Mozambique: petrology, age, and significance.
been made, systematic U/Pb zircon geochronological studies across South and West Unievrsidade de São Paulo, SãoPaulo, 187 p. South African Journal of Geology, 102:153-166.
Chaúque F.R, Cordani U.G, Jamal D.L., Onoe A.T. Fritz H., Abdelsalam M., Ali K.A., Bingen B., Col-
Gondwana are still needed and crucial to understand the collision and amalgamation 2017. The Zimbabwe Craton in Mozambique: A brief lins A.S., Fowler A.R., Ghebreab W., Hauzenberger C.A.,
processes between these two terrains. Equally lacking is work completed on the East review of its geochronological pattern and its relation to Johnson P.R., Kusky T.M., Macey P., Muhongo S., Stern
Gondwana side. For these regions, systematic U/Pb, Sm/Nd and Ar-Ar dating studies the Mozambique Belt. Journal of African Earth Sciences, R.J., Viola G. 2013. Orogen styles in The east African oro-
129:366-379. gen: a review of the neoproterozoic to cambrian tectonic
are further required in order to better constrain Gondwana reconstruction. Chaúque F.R., Cordani U.G, Jamal D.L. 2019. Geo- evolution. Journal of African Earth Sciences, 86:65-106.
Finally, we commend Professor Cordani on his efforts and dedication to the chronological systematics for the Chimoio-Macossa fron- Grantham G.H., Macey P.H., Botha G.A., Ingram
study of Precambrian geology of Mozambique. Indeed we know today that many of tal nappe in central Mozambique: Implications for the tec- B.A., Roberts M.P., Rohwer M., Opperman R., Manhica
tonic evolution of the southern part of the Mozambique V., Alvares S., Bacalhau C., Du Toit M.C., Cronwright
the scientific questions that are currently raised on the evolution of the Mozambique belt. Journal of African Earth Sciences, 150:47-67. M., Thomas R.J. 2007. Map Explanation of Sheets Me-
Belt are stimulated by the U/Pb ages from zircons measured at the Institute of Geo- Costa M., Ferrara G., Sacchi R., Tamarin S. 1992. Rb/ conte (1439) and Nacala (1440). National Directorate of
Sr dating of the Upper Proterozoic basement of Zambesia, Geology, Republic of Mozambique, 240 p.
sciences at the University of São Paulo, Brazil. Grantham G.H., Macey P.H., Horie K., Kawakami
Mozambique. Geologische Rundschau, 81:487-500.

492 493
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEGUNDA PARTE: ESTADO DA ARTE DO CONHECIMENTO – CAPÍTULO 24

T., Ishikawa M., Satish-Kumar M., Tsuchiya N., Graser can (~Kibaran) and Pan-African events, with implications for rego (1637), Gilé (1638) and Angoche (1639-40). National 1438 Ribáuè-Mecuburi, 1535 Insaca, 1536 Gúruè, 1635 Mi-
P., Azevedo S. 2013. Comparison of the Metamorphic Gondwana studies. PhD Thesis, University of Cape Town. Directorate of Geology, Republic of Mozambique, 418 p. lange e 1636 Lugela-Mocuba, Moçambique. Maputo, Direcção
History of the Monapo Complex, Northern Mozam- Jamal D., Cordani U.G., Ocker C., Sato K. 2012. Ida- Macey P.H., Thomas R.J., Grantham G.H., Ingram Nacional de Geologia, Ministério dos Recursos Minerais.
bique and Balchenfjella and Austhameren Areas, Sør des U-Pb SHRIMP em zircões do Supergrupo de Fíngoè, B.A., Jacobs J., Armstrong R.A., Roberts M.P., Bingen Oberholzer W.F. 1968. Carta Geológica da Provincia de
Rondane, Antarctica: Implications for the Kuunga Orog- NW de Moçambique. 46º Congresso Brasileiro de Geolo- B., Hollick L., Kock G.S., Viola G., Bauer W., Gonzales Moçambique. Escala 1:2000000. Lourenço Marques, Mo-
eny and the Amalgamation of N and S. Gondwana. Pre- gia. Santos, Brasil, Sociedade Brasileira de Geologia, Anais. E., Bjerkgård T., Henderson I.H.C., Sandstad J.S., Cron- çambique, Serviços de Geologia e Minas.
cambrian Research, 234:85-135. Jamal D.L, Ibraimo D., Cordani U.G. 2013. New wright M.S., Harley S., Solli A., Nordgulen Ø., Motuza Philipp R.P., Machado R., Jamal D.L., Sumburane E.,
GTK. 2006b. Map Explanation; Volume 2: Sheets Me- U-Pb ages and Lu-Hf isotopic data on zircon from gab- G., Daud E., Manhiça V. 2010. Mesoproterozoic geolo- Juliani C., Cordani U.G., Tassinari C.C.G. 2014. Petrologia
cumbura (1631), Chioco (1632), Tete (1633), Tambara bros of the Neoproterozoic Atchiza Suite, in NW-Mo- gy of the Nampula Block, northern Mozambique: Trac- da Sequência Estratiforme Gabro Anortosítica da Suite de
(1634), Guro (1732,1733), Chemba (1734), Manica (1832), zambique. In: 24º Colloquium of African Geology. Addis ing fragments of Mesoproterozoic crust in the heart of tete, NW de Moçambique, Africa. In: 2º Congresso Nacio-
Catandica (1833), Gorongosa (1834), Rotanda (1932), Ababa, Ethiopia, Geological Society of Africa, Abstracts. Gondwana. Precambrian Research, 182:124-148. nal de Geologia (CoGeO02). Maputo, Moçambique.
Chimoio (1933) and Beira (1934) Moçambique. Scale Johnson P.R. & Woldehaimanot B. 2003. Devel- Manhiça A.S.T.D., Grantham G.H., Armstrong R.A., Pinna P., Jourde G., Calvez J.Y., Mroz J.P., Marques
1:250.000. Maputo, Mozambique, National Directorate of opment of the Arabian-Nubian Shield. Perspectives on Guise P.G., Kruger F.J. 2001. Polyphase deformation and J.M. 1993. The Mozambique Belt in northern Mozam-
Geology. Ministry of Mineral Resources. accretion and deformation in the northern East African metamorphism at the Kalahari Craton Mozambique Belt bique: neoproterozoic (1100-850 Ma) crustal growth
GTK. 2006d. Map Explanation; Volume 4: Sheets 1430- Orogen and the assembly of Gondwana. In. Yoshida M., boundary. In: Miller J.A., Holdsworth R.E., Buick I.S., Hand and tectogenesis, and superimposed Pan-African (800-
1432 e 1530-1534. Inhamambo, Maluwera, Chifunde, Windley B.F., Dasgupta S. (eds.). Proterozoic East Gond- M. (eds.). Continental reactivation and Reworking. Geolog- 550 Ma) tectonism. Precambrian Research, 62:1-59.
Zumbo, Fíngoè-Mágoè, Songo, Cazula e Zóbuè, Moçam- wana, Supercontinent Assembly and Breakup. Geologi- ical Society of London, Special Publications, 184:303-322. Reeves C. & De Wit M.J. 2000. Making ends meet
bique. Scale 1:250.000. Maputo, Mozambique, National cal Society, London, Special Publication, 206:290-325. Manjate V. 2016. Whole-rock geochemical, U-Pb in Gondwana: retracing the transforms of the Indian
Directorate of Geology. Ministry of Mineral Resources. Johnson S.P., Rivers T., De Waele B. 2005. A review and Sm-Nd isotope characteristics of the Dongueni Ocean and reconnecting continental shear zones. Terra
Holmes A. 1918. The Pre-Cambrian and associated of the Mesoproterozoic to early Palaeozoic magmat- Mont nepheline syenite intrusion, Mozambique. Geos- Nova, 12:272- 280.
Rocks of the district of Mozambique. Quarterly Journal of ic and tectono-thermal history of south-central Africa: cience Frontiers, 8(5):919-1186. Sacchi R. 1984. Late-Proterozoic evolution in the
the Geological Society, 74:31-98. implications for Rodinia and Gondwana. Journal of the Manjate V.A. 2011. Geocronologia da região de Gon- southernmost Mozambique Belt. UNESCO, Geology for
Holmes A. 1951. The sequence of pre-Cambrian Geological Society, 162:433-450. dola-Nhamatanda, centro de Moçambique. [Relatório]. Development, Newsletters, 3:69-72.
orogenic belts in south and central Africa. 18th Interna- Johnson S.P., De Waele B., Tembo F., Katongo F.C., Dissertação de Mestrado, Instituto de Geociências, Uni- Sacchi R., Marques J., Costa M., Casati C. 1984.
tional Geological Congress. London, 14:254-69. Tani K., Chang Q., Iizuka I., Dunkley D. 2007. Geo- versidade de São Paulo, São Paulo, 82 p. (unpubl.). Kibaran events in the southern Mozambique Belt. Pre-
Holmes A. 1962. “Absolute age” a meaningless term. chemistry, Geochronology and Isotopic Evolution of Mäkitie H., Lehtonen M. I., Manninen T., Marques cambrian Research, 25:141-159.
Nature, 196:1238. the Chewore RufunsaTerrane, Southern Irumide Belt: J. M., Cune G., Mavíe H. 2008. Petrography and Geo- Shackleton R.M. 1993. Tectonics of the lower crust:
Holmes A. & Cahen L. 1955. African geochronolo- a Mesoproterozoic Continental Margin Arc. Journal of chemistry of Granitoid Rocks in the Northern Part of a view from the Usambara Mountains, NE Tanzania.
gy. Results available to 1st September 1954. Colon. Geol. Petrology, 48(7):1411-1441. Tete Province, Mozambique. In: Pekkala Y., Tapio L., Journal of Structural Geology, 15:663-71.
Mineral, Resour. London, 5:3-39. Jourde G. & Wolff J.P. 1974. Geologie et minerali- Mäkitie H. (eds.). GTK Consortium Geological Surveys Shackleton R.M. 1996. The final collisional zone be-
Holmes A. & Cahen L. 1957. Géochronologie Afric- sation des degrees carrés 13-39, 40; 14-37, 38, 39, 40: in Mozambique, 2002−2007. Geological Survey of Fin- tween East and West Gondwana: where is it? Journal of
aine 1956. Résultats acquis au 1e juillet 1956. Academie 15-36; 15-39, 40; 16-39,40. 11 Cartas 1-250 000 com land, Special Paper, 48:167-189. African Earth Sciences, 23(3):271-287.
Royal des Sciences Coloniales, Classe des Sciences Na- notícias explicativas. Maputo, Open-file Rep., BRGM, Mänttäri I. 2008. Mesoarchaean to Lower Juras- Shackleton R.M. 1986. Precambrian collision tec-
turelles et Medicales, Mémoires in 8o, 5(1), 179 p. Intituto Nacional de Geologia. sic U-Pb and Sm-Nd ages from NW Mozambique. In: tonics in Africa. In: Coward M.E & Ries A.C. (eds.).
Hunter D.R. 1981. Precambrian of the Southern Kennedy W.Q. 1964. The structural differentiation Pekkala Y., Tapio L., Mäkitie H. (eds.). GTK Consortium Collision Tectonics. Geological Society, London, Special
Hemisphere. Development in Precambrian Geology 2. of Africa in Pan the Pan-African (± 500 m.y.) tectonic Geological Surveys in Mozambique, 2002−2007. Geo- Publication, 19:329-353.
Amsterdam, Elsevier, 882 p. episode. In: Annual Report. Research Institute of African logical Survey of Finland, Special Paper, 48:81-119. Stern R.L. 1994. Arc assembly and continental colli-
Hunting 1984. Projecto de Inventariação mineral, Geology, University of Leeds p. 48-49 Meert J.G. 2003. A synopsis of events related to the sion in the Neoproterozoic East African Orogen: Impli-
Relatório final. Maputo, Moçambique. Kröner A. 1980. Pan African crustal evolution. Ep- assembly of eastern Gondwana. Tectonophysics, 362:1-40. cation for the consolidation of Gondwanaland. Annual
Hurai V., Paquette J.L., Huraiová M., Slobodník M., isodes, 2:3-8. Meert J.G. & Lieberman B.S. 2008. The Neoprotero- Review of Earth and Planetary Sciences, 22:319-351.
Hvožďara P., Siegfried P.R., Gajdošová M., Milovská S. Kröner A. 1977. Precambrian mobile belts of south- zoic assembly of Gondwana and its relationship to the Edia- Tankard A.J., Jackson M.P.A., Eriksson K.A., Hobday
2017. New insights into the origin of the Evate apatite-iron ern and eastern Africa – Ancient sutures or sites of ensi- caran- Cambrian radiation. Gondwana Research, 14:5-21. D.K., Hunter D.R., Minter W.E.L. 1982. Crustal Evolu-
oxide-carbonate deposit, Northeastern Mozambique, con- alic mobility? A case of crustal evolution towards plate Meert J.G., Van Der Voo R., Ayub S. 1995. Pale- tion of Southern Africa, 3.8 Billion Years of Earth History.
strained by mineralogy, textures, thermochronometry, and tectonics. Tectonophysics, 40:101-135. omagnetic investigation of the Neoproterozoic gagwe New York, Berlin, Springer, 523 p.
fluid inclusions. Ore Geology Reviews, 80:1072-1091. Kröner A., Sacchi R., Jaeckel P., Costa M. 1997. lavas and mbozi complex, Tanzania and the assembly of Thomas R.J., Jacobs J., Horstwood M.S.A., Ueda K.,
Jackson N.J. & Ramsay C.R. 1980. What is the Kibarean magmatism and Pan-African granulite meta- Gondwana. Precambrian Research, 74:225-244. Bingen B., Matola R. 2010. The Mecuburi and Alto Ben-
“Pan-African”? A consensus is needed. Geology, 8:201-211. morphism in northern Mozambique: single zircon ages Meert J. & Van der Voo R. 1997. The assembly of Gon- fica Groups, NE Mozambique: aids to unravelling ca.1Ga
Jacobs J., Bingen B., Thomas R.J., Bauer W., Wingate and regional implications. Journal of African Earth Sci- dwana 800 – 550 Ma. Journal of Geodynamics, 23:223-235. and 0.5 Ga events in the East African Orogen. Precambri-
M., Feitio P. 2008. Early Palaeozoic orogenic collapse and ences, 26(3):467-484. Melezhik V.A., Bingen B., Fallick A.F., Gorokhov an Research, 178:72-90.
voluminous late-tectonic magmatism in Dronning Maud Kröner A. & Cordani U.G. 2003. Africa, southern I.M.,Kuznetsov A.B., Sandstad J.S., Solli A., Bjerkgård Ueda K., Jacobs J., Thomas R.J., Kosler J., Jourdan
Land and Mozambique: insights into the partially delaminat- Indian and South America cratons were not part of the T., Henderson I., Boyd R., Jamal D., Moniz A. 2008. F., Matola R. 2012. Delamination-induced late-tecton-
ed orogenic root of the East African–Antarctic Orogen?. In: Rodinia supercontinet: evidence from field relationship Isotope chemostratigraphy of marbles in northeastern ic deformation and high-grade metamorphism of the
Satish-Kumar M., Motoyoshi Y., Osanai Y., Hiroi Y., Shiraishi and geochronology. Tectonophysics, 375:325-352. Mozambique. Apparent depositional ages and regional Proterozoic Nampula Complex, northern Mozambique.
K. (eds.). Geodynamic Evolution of East Antarctica: A Key Lawver L.A., Gahagen L.M., Dalziel I.W.D. 1998. A implications. Precambrian Research, 162:540-558. Precambrian Research, 196-197:275-294.
to the East–West Gondwana Connection. Geological Society tight fit early Mesozoic Gondwana, a plate reconstruc- Melezhik V.A., Kuznetsov A.B., Fallick A.F., Smith Viola G., Henderson I.H.C., Bingen B., Thomas
London, Special Publication, 308, p. 69-90. tion perspective. Memoirs of National Institute of Polar R.A., Gorokhov I.M., Jamal D., Catuane F. 2006. Dep- R.J., Smethurst M.A., De Azavedo S. 2008. Growth and
Jamal D.L., Zartman R.E., De Wit M.J. 1999. U-Th-Pb Research, 53(Special Issue): 214-229. ositional environments and an apparent age for the Geci collapse of a deeply eroded orogeny: insights from struc-
single zircon dates from the Lurio Belt, Northern Mozam- Macey P.H., Miller J.A., Rowe C.D., Grantham meta-limestones: constraints on the geological history of tural, geophysical, and geochronological constraints on
bique: Kibaran and Pan-African orogenic events highlighted. G.H., Siegfried P., Armstrong R.A., Kemp J., Bacalau J. northern Mozambique. Precambrian Research, 148:19-31. the Pan-African evolution of NE Mozambique. Tectonics,
Journal of African Earth Science, 111:32. 2008. Geology of the Monapo Klippe, NE Mozambique NGU. 2006. Notícia Explicativa: Folhas 1039 Muidine, 27:TC5009, https://doi.org/10.1029/2008TC002284.
Jamal D.L., Sahu B.K., De Wit M.J. 2001. Tectonic and its significance for assembly of central Gondwana. 1040 Palma, 1134 Ponta Messuli, 1135 Lupilichi, 1136 Milepa, Westerhof A.B. P., Lehtonen M. I., Mäkitie H., Man-
Blocks of northern Mozambique: integrating geochronology Precambrian Research, 233:259-281. 1137 Macalange, 1138, Negomano, 1139 Mueda, 1140 Mo- ninen T., Pekkala Y., Gustafson B., Tahon A. 2008. The
and aeromagnetics. In: 7th SAGA Biennial Technical Meeting Macey P.H., Ingram B.A., Cronwright M.S., Botha G.A., címboa da Praia, 1234 Metangula, 1235 Macaloge-Chicono- Tete-Chipata Belt: a new multiple terrane element from
and Exhibition. Drakensberg, South African Geophysical As- Roberts M.R., Grantham G.H., Maree L.P., Botha P.M.W., no, 1236 Mavago, 1237 Mecula, 1238 Xixano, 1239 Meluco, western Mozambique and southern Zambia. In: Pekkala
sociation, Proceedings. Kota M., Opperman R., Haddon I.G., Nolte J.C., Rowe 1240 Quissanga-Pemba, 1334 Meponda, 1335 Lichinga, 1336 Y., Tapio L., Mäkitie H. (eds.). GTK Consortium Geo-
Jamal D. L. 2005. Crustal studies across selected geotran- M. 2007. Map Explanation of Sheets Alto Molócuè (1537), Majune, 1337 Marrupa, 1338 Namuno, 1339 Montepuez, logical Surveys in Mozambique, 2002−2007. Geological
sects in NE Mozambique: differentiating between Mozambi- Mur-rupula (1538), Nampula (1539), Mogincual (1540), Er- 1340 Mecúfi, 1435 Mandimba, 1436 Cuamba, 1437 Malema, Survey of Finland, Special Paper, 48:145-166.

494 495
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano TERCEIRA PARTE: ENTREVISTAS E DISCURSOS – CAPÍTULO 1

De Milão para São Paulo samente bombardeada pelos aviões ingleses das
forças Aliadas. Em 1941, meu pai decidiu que
Entrevista de Andrea Bartorelli deveríamos sair da cidade e mudamos para Bi-
gravada por Denise Bacci em suschio, uma cidade pequena, perto de Varese,
setembro 2019 e transcrita por e lá ficamos numa casa grande na chamada Villa
Beffa (foto 3). Era um lugar que abrigava gen-
Daniel do Valle Lemos Santos
te como nós, pessoas que fugiam dos bombar-
(Doutorando).
deios, os então chamados sfollati. Lá vivemos
muito bem, ao lado de camponeses que cultiva-
– Você tem um currículo profissional e cien-
vam trigo e próximos ao lago de Zurique, fron-
Andrea Bartorelli. tifico muito grande, mas pouco se fala de sua
teira com a Suíça. Ficamos nessa Villa até meus
vida pessoal. Então, além de ouvir sobre suas li-
5 anos, ou seja, 1943. Uma instrutora vinha em
gações familiares e sociais, tenho aqui a chance
nossa casa, e eu já estava bem alfabetizado nessa
de lhe perguntar sua origem, onde você nasceu
época. Foi por esse motivo que, ao começar na
na Itália, onde morou e o que estudou por lá,
escola regular, iniciei pelo segundo ano e não
quem são seus pais, e o que eles faziam?
pelo primeiro. A propósito, nesse ano de 1943
– Isso é fácil, pois minha memória de longo
a guerra registrava o mais grave dos ataques a
tempo permanece firme. Pois fique à vontade
Milão, produzindo não só um grande número
para perguntar.
de vítimas mas também graves danos a monu-
– Em qual cidade da Itália você nasceu e em
mentos históricos. Isso mostra o acerto de meus
que data?
pais em mudar para o campo!
– Eu nasci em Milão, em 1938. Um ano an-
Quanto a Milão, lembro do prédio em que
tes do começo da Segunda Guerra Mundial. Foto 3: Villa Beffa, Bisuschio.
morávamos que parecia um pequeno castelo
– Como seus pais se conheceram, o que fa-
(fotos 4a e 4b) e nosso andar era o segundo.
ziam e quais as principais atividades deles?
Ele ainda está lá, tirei foto há alguns anos para
– Meu pai, Luigi, era engenheiro mecânico
registro. Lembro de meu pai escutando rádio
e trabalhava na Alfa Romeo, ao passo que mi-
via ondas curtas, por onde ele ficava sabendo
nha mãe, Beatrice, e sua família eram de Ber-
das notícias da guerra. Lembro, também, de ter
nareggio, uma comuna menor, perto de Milão
conhecido os primos de meu pai, descendentes
(foto 1). Não conheci meu avô, de quem puxei
o sobrenome Cordani, pois ele morreu relativa-
mente jovem, quando meu pai tinha 15 anos.
Já minha avó paterna, Corinna, eu conheci
Foto 1: Os pais de Umberto, Luigi Cordani e Beatrice muito bem, pois ela viveu até os 97 anos – fi-
Angela Colnaghi, durante o noivado, por volta de 1931.
cou viúva muito cedo e tomou conta de uma
tabaccheria em Milão, até o casamento de meus
pais. Conheci minha outra avó, Caterina, que
era parteira. Os dois irmãos de minha mãe,
Dante e Aronne, que acabaram por vir ao Bra-
sil também, trabalhavam como alfaiates, como
meu avô, Giuseppe. Tenho uma boa lembrança
dos tios que conheci. Até 1941, morávamos em
Milão e lembro do nascimento da minha irmã,
Annamaria (foto 2) dois anos mais nova do que
eu. Aliás, meu nome é em homenagem aos meus
Fotos 4a e 4b: "Marco Zero", a Casa na
avós, Umberto e Giuseppe. Falando dos tempos Via Giuseppe Arimondi, 12, em Milão,
de guerra, a Itália entrou na Segunda Guerra onde nasceu Cordani. Vistas externa e
Foto 2: Annina e Umbertino em Milão, em 1942. Mundial em junho de 1940 e Milão foi inten- do cortile (quintal), em 2018.

496 497
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano TERCEIRA PARTE: ENTREVISTAS E DISCURSOS – CAPÍTULO 1

da minha avó. Eles eram partigiani, do movimento de resistência


contra os fascistas, moravam em Busto Arsizio, uma cidade perto de
Milão, e tiveram participação na guerra. Em 1944, meu pai arranjou
um emprego numa fábrica de ferramentas, para trabalhar com ma-
deira, serras e coisas assim. Fui fazer o segundo e terceiro anos do
primário em Villasanta, perto de Monza, e continuamos sfollati, mo-
rando em um novo lugar chamado Casa Bianca. Quanto a Villasanta,
lembro muito do frio que fazia no inverno, quando ia de bicicleta
para as aulas, e sofria nos meses de novembro a janeiro, tendo que
Foto 6: O "batello"
usar jornal sob a camisa. Sebastiano Caboto da
Foto 5: Giorgio Parmia- Na Casa Bianca tive um amigo que foi muito importante para mim, Línea C, que trouxe
ni, “compagno di gioco da minha idade, chamado Giorgio Parmiani (foto 5), que morava no a família Cordani ao
di Umbertino nella Casa Brasil, em 1949.
Bianca”, entre 1945 e andar térreo de nossa casa. Brincávamos juntos e principalmente jogá-
1949. Renomado onco- vamos futebol, no campo anexo à Casa Bianca. Dada a minha vinda
logista italiano, diretor ao Brasil, nos despedimos em 1949, tínhamos 11 anos, e nunca mais
do Istituto Nazionale dei
Tumori, de Milão. tive notícias dele. Em 2012, recebi um e-mail que me emocionou, per-
guntando se eu era o Umbertino que brincava na Casa Bianca. Com
o avanço da internet, Giorgio havia conseguido meu e-mail em sites segundo andar. Nossa família viajante era consti-
de busca. Ou seja, retomamos nosso contato aos 74 anos de idade! tuída por meus pais, Beatrice e Luigi, minha avó
Desde então, já nos encontramos três vezes em visitas que fiz à Itália. paterna, Corinna, eu e minha irmã, Annamaria.
Parmiani, já aposentado, foi um nome de referência como pesquisador Lembro que foram 15 dias muito alegres (foto
na área clínica de oncologia, tendo sido diretor do importante Istituto 7). Eu usei muito a piscina, pois tinha aprendido
Nazionale dei Tumori, de Milão. Ele tem um conhecimento profun- a nadar no rio que passava perto de Casa Bianca.
do sobre câncer, principalmente na área de imunoterapia, tendo sido Tinha uma trupe italiana de teatro, comandada
pioneiro nesse assunto, e é mundialmente conhecido pela sua forte por um artista italiano de renome, Ruggero Ru-
qualificação. É possível até que nossos caminhos tenham se cruzado ggeri, viajando conosco, ou seja, o navio estava
por este tempo todo, pelo mundo, sem que nós nos tivéssemos dado cheio de artistas. E tinha uma pessoa neste na-
conta! Bem, depois que a guerra terminou, meu pai ainda continuava vio que, durante a viagem, me ensinou a jogar
com um certo receio pois havia sempre no ar a possibilidade de ha- xadrez. Essa foi a última viagem do Sebastiano
ver um outro conflito mundial. Havia guerra na Coreia e em outros Caboto para o Brasil porque em seguida ele iria
lugares e ele achou que deveríamos nos mudar para um lugar mais sos- para Austrália. Nós fizemos escala no Rio de Ja-
Foto 7: Annina, nonna Co-
segado e seguro. Em 1948, recebeu um convite, de uma empresa que neiro, onde demos uma volta de táxi pela cidade. Aliás, tomei conhe- rinna, Umbertino e mamma
trabalhava com madeira, para vir ao Brasil, que estava na sua fase de cimento, há pouco tempo, de que o jornal Correio da Manhã, de 31 Beatrice a bordo do transatlân-
tico Sebastiano Caboto durante
industrialização, e ele aceitou. A viagem para o Brasil foi marcada para de maio de 1949, deu a notícia do atracamento do navio Sebastiano a vinda ao Brasil, em 1949.
maio de 1949 (quando eu faria 11 anos!). Nesse momento, eu estava Caboto no Rio de Janeiro, provavelmente pela fama do grupo teatral,
no primeiro ano ginasial em Monza, mas como iríamos viajar para o que iria fazer uma turnê pela América do Sul, incluindo Rio e São Paulo.
Brasil em maio do ano seguinte, parei de ir às aulas no final do ano e No dia seguinte, o navio seguiu para Santos, onde descemos com tudo,
fiquei aguardando a viagem. passamos pela alfândega e partimos para São Paulo. Ficamos uma sema-
– Você se lembra do nome dessa empresa de marcenaria e ferra- na em uma pensão, na Rua das Palmeiras e em seguida mudamos para o
mentaria que convidou seu pai? bairro da Lapa, a um pequeno prédio de três andares.
– Estava instalada no bairro da Lapa e acabou virando uma empre- – Como foi para você atravessar o Atlântico?
sa que fabricava máquinas de costura, cujo dono era português e se – Na Itália eu tinha tido férias com a escola no mar Tirreno, pró-
chamava Manoel Ambrósio Filho. ximo a Sestri Levante, e no mar Adriático, perto de Pesaro. Assim eu
– Em que navio vocês vieram? já tinha ideia de como era um mar. E com 11 anos, quando conheci o
– Foi no Sebastiano Caboto, um navio de tamanho médio compara- Oceano Atlântico, não tive surpresa. O navio partiu de Gênova, parou
do com os atuais transatlânticos de 6 ou 7 andares (foto 6). Esse navio em Barcelona, nas ilhas Canárias, e finalmente no Rio de Janeiro. Fo-
era muito legal, tinha quatro andares, uma piscina, e nós ficamos no ram dias interessantes de céu e mar.

498 499
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano TERCEIRA PARTE: ENTREVISTAS E DISCURSOS – CAPÍTULO 1

Foto 8: Cordani no Giná- Foto 9: Turma do 3º ano


sio Estadual Anhanguera, – O que você pode falar do início de sua escola no Brasil? trajeto! Muitos dos amigos daquela época fazem parte de meu conví- científico do Colégio Presi-
na Lapa, São Paulo, por – Eu cheguei aqui em maio e por isso o ano letivo já havia come- vio até hoje, de uma forma ou de outra: Vicente Girardi (compadre e dente Roosevelt, em 1956,
volta de 1952. destacando-se os alunos
çado. O Grupo Escolar e Ginásio Estadual Anhanguera, na Lapa, era a companheiro de muitas jornadas), Koji Kawashita (companheiro fun- Umberto Cordani (a partir
escola pública mais perto de casa, e minha mãe marcou uma entrevista damental na geocronologia), Walter Colli (que me ensinou as noções da esquerda, sexto na fileira
com o então diretor. Eu estava no primeiro ano do ginásio na Itália, básicas de eletricidade em uma tarde para o vestibular do dia seguin- superior) e Koji Kawashita
(penúltimo agachado, à
mas não trazia um certificado correspondente ao exame de admissão, te!), Marcos Berenholc (químico que colaborou conosco no CPGeo direita). Da mesma turma
então o diretor sugeriu para eu continuar o fim do semestre no quarto -USP), Yogiro Hama, que é professor e pesquisador de física da USP, fazia parte Vicente Girardi
ano primário. E isso foi ótimo porque em dois ou três meses eu já era (ausente nesta foto).
o grande jornalista Vladimir Herzog, cuja história é bem conhecida, e
bilíngue, o que foi confirmado pelo exame de admissão, onde acertei outros (foto 9). Tenho muito boas lembranças do tempo no Roosevelt.
tudo no ditado obrigatório. Assim, em 1950 pude ser matriculado no Realmente, foi uma grande satisfação.
primeiro ano ginasial, no mesmo Anhanguera, onde fiquei até 1953 – Qual eram as disciplinas que você mais gostava no colégio
(foto 8). Tenho boas lembranças dessa época. Destaco um amigo, Luís cientifico?
Olavo Baptista, que seguiu os mesmos passos até chegar à USP, onde – Matemática era uma delas, dada por um professor controvertido,
ele foi cursar a Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Ele foi muito exigente, mas como eu gostava da matéria, saía-me bem. Lem-
um professor de direito internacional da USP, muito competente, e bro da professora Eloísa, de química, com quem tive algumas aulas de
infelizmente nos deixou recentemente. O ginásio era de bom nível e eu mineralogia. Não tinha bons professores de geografia e a disciplina de
lembro com admiração de um professor de matemática que inventou física sempre trocava de professor. Meu caminho para o vestibular foi
uma maneira de trabalhar com os interessados da minha turma para um pouco para seguir a profissão de engenheiro, de meu pai, e para
a aprendizagem de xadrez. Eu já sabia mexer as peças, mas ele nos isso fui prestar o vestibular para a Escola Politécnica da USP. Naquela
ensinou tática, meio jogo, aberturas e coisas assim. Depois disso, eu época, éramos submetidos a dois crivos: limite de vagas e nota mínima.
fui fazer o científico no Colégio Presidente Roosevelt, na Liberdade. Eu tirei pouco mais do que o mínimo, mas fiquei no grupo de exceden-
– Como foi a sua passagem pelo colégio? tes, dado o limite de vagas.
– Fiz os três anos de científico no Roosevelt, e considero esse pe- – Como foi essa sua época com os esportes?
ríodo de 1954 a 1956 como espetacular! Pegava o ônibus 36-Lapa – Joguei muito futebol na Lapa, em campos de várzea, comuns
e descia ao lado do Teatro Municipal. Caminhava até a Praça João naquela época, e eu era convidado para jogar frequentemente. Um dos
Mendes e tomava o bonde que descia até a Rua São Joaquim. Levava campos era chamado Lameirão (imagine como era!), outro, era perto
um certo tempo, mas menos do que eu levaria hoje de carro por esse de onde hoje é o Colégio Santa Cruz, e tinha também um terceiro, no

500 501
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano TERCEIRA PARTE: ENTREVISTAS E DISCURSOS – CAPÍTULO 1

Alto da Lapa, que hoje é chamado Pelezão. Eram regiões próximas de casa ou da seguidos. Com isto eu frequentava o ambiente
escola e eu jogava com meus colegas de classe. Foi um ótimo período, futebol de social e esportivo da faculdade, principalmente
salão ainda não existia, mas futebol de botão sim, e eu gostava muito. Resumindo, por causa dos eventos de xadrez. Em 1962 fui
continuei com o xadrez e jogava futebol. Mais tarde, quando estava no científico, ao baile de calouros (comum naquela época),
começou o futebol de salão no Brasil e cheguei a ser um jogador razoável. Participei na Casa de Portugal, em São Paulo, onde tive a
de equipes do bairro e mais tarde de equipes de estudantes universitários, de docen- emoção estética de minha vida ao encontrar Lis-
tes da USP, e de amigos do Clube Paineiras, por muitos anos. beth, caloura de Matemática, minha esposa até
– E chegou a torcer por algum time de futebol? hoje. Nesse dia, nos conhecemos e dançamos.
– Ao chegar no Brasil eu já era palmeirense. Aliás o hino do time foi composto em Depois disso fui para os Estados Unidos, fazer
1949, ano de minha chegada ao Brasil... O primeiro jogo que assisti, no Pacaembu, minha especialização em Geocronologia. Uma
com meu tio Aronne, foi a final do Paulista daquele ano, que o Palmeiras ganhou ao ou duas semanas depois que voltei da viagem,
empatar com o São Paulo. Fiquei sócio do Palmeiras, que tinha acabado de inaugu- em 1963, encontrei novamente Lisbeth no grê-
rar uma piscina, onde hoje é o Allianz Park e na época era o Parque Antárctica. Eu mio da Maria Antônia. Retomamos o relaciona-
também ia lá jogar futebol de salão. mento e nos casamos dois anos depois, em 1965 Foto 10: Matrimonio com Lisbeth Kaiserlian
– Agora vamos falar da sua família. Conte um pouco mais sobre sua irmã. (foto 10). Tivemos um casal de filhos, Marina em São Paulo, em 3 de julho de 1965.
– Minha irmã, Annamaria, casou-se com um colega da Lapa, Nilo, e hoje mora e Renato (foto 11) e eles tiveram um casal de
em Itu. Tiveram cinco filhos e estão com quatro netos. Eles estão bem em Itu, uma filhos cada um, João e Ana, da Marina, e Mabel
cidade mais tranquila do que São Paulo. Lembro bem que, na Lapa, foi ela quem me e Rafael, do Renato. Com isso temos quatro ne-
ensinou a dançar, atividade muito importante na socialização da época. tos, dos quais falarei mais adiante.
– Quando seus pais faleceram? – Como ela era? Também tinha ascendentes
– Em 1976, meu pai teve, aos 69 anos, um colapso cardíaco e em 30 segun- estrangeiros na família?
dos faleceu. Minha mãe faleceu em 1986, com 74 anos, e também foi de infarto. – Sim, ela tinha avô paterno armênio, de
Ela estava em Itu, morava em uma casa próxima à de minha irmã. Percebi então a sobrenome Kaiserlian, cuja família sofreu as
possível relação genética de propensão a doenças cardíacas. Como eu sempre fiz atrocidades do genocídio, e avó paterna bem
práticas físicas, procurei me inscrever em um programa de prevenção, já pensando enraizada na história brasileira, da região do
em um infarto que poderia chegar perto dos 70 anos. E eu tive de fato esse infarto Rio de Janeiro. Do lado materno, ela teve avó
quando estava nos Estados Unidos, aos 68 anos, durante a Penrose Conference da de ascendência portuguesa e avô filho de espa-
Geological Society of America, mas o incrível é que eu senti apenas um mal-estar, nhol. Dessa mistura de culturas, saiu a Lisbeth,
um certo desconforto, mas nem suspeitava que pudesse ser infarto. Minha viagem de que é a mulher da minha vida. A gente sempre Foto 11: Renato e Marina, em 1970.
volta já estava marcada para o dia seguinte, segunda feira e, por sorte, tinha também se deu bem, temos muitos pontos em comum e,
um agendamento médico para terça-feira no Hospital Universitário da USP, com a sempre que possível, ela me acompanha em viagens e até em momentos mais longos
médica que já me acompanhava há algum tempo. Disse a ela que, após minha volta, fora do Brasil, como quando fiz o pós-doutorado na Bélgica, ou quando fui convida-
continuava com um cansaço exagerado e mal tinha forças para andar. Ela pediu um do como professor visitante, em Milão, Aveiro etc. Ela se formou em Matemática na
exame de sangue e com o resultado me informou que o mal-estar tinha sido reflexo USP em 1966, dava aulas de matemática para o secundário em uma escola privada,
de um infarto moderado do miocárdio. Fui encaminhado imediatamente de ambu- até ser convidada para ser professora de estatística no IME-USP. Fez seu mestrado
lância ao Incor, Instituto do Coração do Hospital das Clínicas, e no dia seguinte já na USP em 1976, e o doutorado um pouco mais tarde, também na USP, em 2001.
estava na mesa de operação. Fiquei hospitalizado por uns 10 dias. Colocaram um Depois de aposentada do departamento de Estatística do IME-USP, foi professora do
stent (hoje já tenho mais um) e, voltando à genética, isso tudo aconteceu quando eu Centro Universitário do Instituto Mauá de Tecnologia. Assim como eu com a SBG
tinha 68 anos, muito perto da idade em que meu pai faleceu de infarto! (Sociedade Brasileira de Geologia), ela foi muito atuante em sociedades científicas,
– Me fale um pouco de como conheceu sua esposa, e como é sua relação com como a Associação Brasileira de Estatística (ABE), a Regional Brasileira da Sociedade
seus filhos e netos? Internacional de Biometria (RBRAS) e mais recentemente a Sociedade Brasileira para
– Eu era formado em Geologia e tive um convite para lecionar no curso de Geo- o Progresso da Ciência (SBPC), tendo sido membro de várias diretorias. Atualmente,
logia, o qual pertencia à Faculdade de Filosofia Ciências e Letras (FFCL), começando faz parte do grupo de orientadores do Mestrado Profissionalizante de Ensino de
em 1961. A FFCL tinha uma Associação Atlética (AAFF) muito forte em xadrez, Matemática do IME-USP para professores da escola básica, na área de Educação
onde eu jogava como estudante, e o pessoal quis que eu continuasse a jogar pela Estatística. Nós dois estamos aposentados, mas continuamos bem ativos.
faculdade. Assim, eu me matriculava em algumas disciplinas como aluno especial e – E vocês tiveram dois filhos, a Marina e o Renato, conte mais sobre eles.
continuava jogando pela AAFF, que foi campeã universitária de xadrez por 5 anos – Foram momentos fundamentais de nossa vida. Marina nasceu em 1967 (durante

502 503
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano TERCEIRA PARTE: ENTREVISTAS E DISCURSOS – CAPÍTULO 1

o Carnaval daquele ano), fez o fundamental I e estatística na UFSCAR e está contratado como estatístico de uma multinacional. Ana
II no Colégio Santa Cruz, e o médio no Logus. terminou o curso de Artes Visuais na UNESP e participa de exposições esporádicas.
Foi uma boa aluna, com muitas habilidades, e Mabel está cursando a Faculdade de Direito na PUC-SP, e realizou um intercâmbio
teve uma vida esportiva intensa, como nadado- com uma universidade de Madri, na Espanha, durante o primeiro semestre de 2020.
ra e como jogadora de polo aquático do Clube Rafael está cursando o ensino médio no Colégio Santa Cruz e ainda está pensando
Paineiras, tendo participado de torneios de nível sobre qual profissão escolher. Os quatro são muito bons e legais como netos.
paulista, nacional e internacional. Ela se formou – Conte sobre o episódio da construção na Rua Heitor de Andrade.
em Educação Física na USP, e foi técnica de nata- – Quando voltamos do estágio na Bélgica, em 1971, nós tínhamos um terreno
ção em clubes como São Paulo, Hebraica e Co- na Vila Madalena, e com um empréstimo bancário construímos uma casa na Rua
rinthians. Fez também cursos de aperfeiçoamen- Heitor de Andrade (recém demolida por especulação imobiliária). Foi uma época
to da língua inglesa (não só no Brasil como na muito interessante de se morar em casa, vendo os dois filhos pequenos crescendo,
Inglaterra) e hoje atua como professora de inglês tendo cachorro e recebendo amigos e parentes em diversos eventos. Por ter passado
Foto 12: Os quatro netos, Mabel, no colégio Rainha da Paz, aqui em São Paulo. por essa fase, essa construção foi especial na nossa vida e lá moramos por cerca de 10
Ana, Rafael e João, com diferença Nosso genro, Luiz Dantas, que trouxe um sabor anos. Infelizmente, tivemos algumas experiências com assaltos por lá e, no terceiro
de idades de até 9 anos (2008). soteropolitano para a família, é docente na Es- episódio, nos mudamos para um apartamento perto do Instituto Butantã, pelo qual
cola de Educação Física da USP. Renato nasceu íamos à USP (quando era permitido) para cortar caminho. Tempos depois, Lisbeth,
em 1970 (na semana da Copa do Mundo de fu- lendo o jornal do domingo, viu um anúncio de lançamento de um prédio no terreno
tebol), e toda a sua formação básica foi no Co- ao lado do Shopping VillaLobos, e me perguntou – “Vamos ver”? No mesmo dia
légio Santa Cruz, onde foi um bom aluno e bem fomos lá e compramos esse apartamento na planta – isso foi em 2004. Ficou pronto
engajado nas atividades escolares, tendo até hoje em três anos e continuamos morando lá!
amizade com os amigos da época. Desde os 10 – O que o Clube Paineiras marcou em sua vida?
anos, depois de uma passagem interessante pelo – Nós somos sócios do Clube Paineiras desde 1964 – eu era noivo quando com-
judô, treinou intensamente natação e participou prei o título e a Lisbeth já era sócia. Na época, vários colegas geólogos da USP en-
de campeonatos estaduais, nacionais e interna- traram também como sócios (Adolpho, Vicente, Celso e outros). O clube foi uma es-
cionais, com bons resultados, mantendo até hoje pécie de extensão da nossa casa: com o treinamento intensivo de natação dos nossos
uma ligação de forte amizade com muitos de seus dois filhos, íamos ao clube praticamente todos os dias e eu cheguei a fazer parte de
colegas ex-nadadores. Escolheu Geofísica como seu Conselho Deliberativo por oito anos, contribuindo com o clube. Ainda lá, joguei
profissão, tendo feito o curso de graduação no futebol recreativamente e fiz parte da equipe de xadrez que participava de torneios
IAG-USP, onde também fez mestrado e doutora- interclubes. Lisbeth joga vôlei até hoje, eu frequento a academia e estou retomando
do. Ele tem uma firma, Reconsult, que atua na o xadrez. Na década de 80 fiz parte do grupo que criou e implementou a chamada
exploração mineral. No momento em que este Olimpíada dos Coroas do Paineiras, onde, junto com vários amigos, participei por
material está sendo produzido, ele está como vários anos da “Equipe Sanguessuga”. Mas o mais importante foi o desenvolvimento
Diretor Geral da CBDA (Confederação Brasi- do gosto dos filhos pelo esporte, pela natação em particular, e posso dizer que foram
leira de Desportos Aquáticos), o que indica que atletas bem-sucedidos (foto 13). Nossa neta, Ana, também foi atleta do Paineiras fe-
a natação continua como um de seus interesses derada de tênis, tendo participado de vários torneios, e nosso neto, Rafael, foi atleta
principais. Nossa nora, Dora Cavalcanti Corda- federado de natação até recentemente. Nossa família continua frequentando o clube,
Foto 13: Técnico de natação ni, advogada, trouxe a sabedoria das Arcadas da e inclusive Renato faz parte do Conselho atualmente.
Pancho com Marina e Renato USP para a família. – Finalmente, sei que você foi um bom jogador de Xadrez. Diga-nos algo sobre isso.
no Clube Paineiras em 1981.
– Cada um teve um casal de filhos. Conte – Como já disse, aprendi o jogo no navio que me trouxe ao Brasil e aqui, no
sobre seus netos. início, jogava recreativamente com meu tio Dante e com companheiros do ginásio.
– Tenho quatro netos (foto 12) e todos dife- No colégio tive minhas primeiras partidas oficiais, num torneio da Gazeta Esportiva.
rentes entre si, alegres e divertidos. De Marina Na universidade foi no Grêmio da Maria Antônia, sede da AAFF, que iniciei a jogar
e Luiz vieram o João (1994) e a Ana (1997). Já seriamente e a estudar a teoria do jogo. Creio que naquela época me dediquei mais
o Renato e a Dora tiveram a Mabel (1999) e o a aprender xadrez do que propriamente geologia. Tive um bom parceiro em minha
Rafael (2004). Os caminhos escolhidos por eles turma da Geologia, José Júlio Carneiro, que jogou comigo na equipe da AAFF nos
são bem diferentes entre si e refletem bem seus torneios da FUPE, muito forte, e ganhávamos quase sempre os jogos coletivos. Indi-
interesses pessoais: João fez um bacharelado em vidualmente, fui campeão universitário paulista em 1960.

504 505
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano TERCEIRA PARTE: ENTREVISTAS E DISCURSOS – CAPÍTULO 2

– Você chegou a jogar com Bela Petry, que Cordani e a


foi meu parceiro em várias atividades como en-
genheiro ligado à geotecnia? revolução científica
– Sim, Bela jogava pela Poli e era nosso com- da tectônica de placas
petidor nos torneios da FUPE. Jogamos várias
vezes; nas primeiras duas ele me venceu, mas fui Entrevista de Marta
melhorando até equilibrar o confronto. Pelas Silvia Maria Mantovani
planilhas dos jogos, que ainda guardo, o placard gravada por Denise Bacci em
está empatado em 3 1/2 pontos (foto 14). fevereiro de 2019 e transcrita por
– E o xadrez depois da universidade? Daniel do Valle Lemos Santos
– Eu morava na Lapa antes de casar e joga- (Doutorando).
va os torneios da Federação Paulista pela equi-
pe do SAVI (Sociedade Amigos da Vila Ipoju- – Cordani, eu te conheço há muitos anos; a
ca). Após entrar no Clube Paineiras, comecei gente se encontrou várias vezes no caminho da
a jogar os torneios oficiais por esse clube du- profissão. Você foi uma pessoa que eu não só
rante pelo menos 30 anos. José Júlio, também admirei mas segui também ao longo do tempo.
sócio do clube, dirigiu o departamento de xa- Você me abriu uma série de portas e caminhos
Foto 14: Placar dos jogos de xadrez universitários drez por alguns anos e o clube chegou a ter uns
resumido por Cordani, mostrando que em sete partidas, e sou muito grata por isso. Gostaria de saber
tanto Bela Petry como Cordani venceram três cada um e 100 bons enxadristas. Nessa época, havia tor- como você foi parar na Geologia.
empataram uma, mostrando total equilíbrio entre eles. neios internos anuais, e eu ganhei alguns deles. – Eu tinha 19 anos, fiz um vestibular e queria
Durante alguns anos joguei também Xadrez ser engenheiro, como meu pai. E acabei ficando
Epistolar, quando as cartas com um único lan- excedente na Escola Politécnica. No tempo do
ce levavam mais de uma semana para chegar. Jânio Quadros iam ser criadas uma série de salas Marta Silvia Maria Mantovani.
Desisti quando entraram os computadores e novas e então a gente iria entrar na Poli. Mas
você não sabe contra quem está jogando. Hou- o diretor da Poli, que se chamava Maffei, não deixou. Então, o Jânio
ve muitas ocasiões em que disputei partidas de não tinha o que fazer, regra é regra, e eu fiquei fora. Mas aí tinha uma
bom nível, ganhando ou empatando com en- coisa muito interessante. Naquele ano de 1957 apareceu algo novo,
xadristas de renome. Considero a partida mais não existia a carreira de Geologia no Brasil e Juscelino resolveu co-
significativa para minha carreira de enxadrista meçar uma campanha de formação de geólogos. Então, ele criou uma
a que empatei com Vassily Smyslov (foto 15), série de cursos em São Paulo, Recife, Porto Alegre e Ouro Preto. Esses
jogador da antiga URSS, ex-campeão mundial cursos tiveram um vestibular atrasado. Eu, que não consegui entrar na
de xadrez, numa simultânea que ele deu para Poli, pensei “bom, vamos ver o que é isso: Geologia”. Sobre Geologia
30 tabuleiros, no Paineiras. Como bom joga- eu nunca ouvira falar nas aulas de ciência do ginásio e do cientifico.
dor de clube, devo ter jogado umas 300 parti- Não se falava em minerais, rochas, fósseis, nada disso. Hoje também
das oficiais, com saldo positivo, e continuo me há pouco, né? (risos)... Então, vamos ver o que é Geologia. E foi um
divertindo hoje em dia, sempre no Paineiras. vestibular mais fácil que o da Poli, fui relativamente bem e acabei en-
Lisbeth, meus filhos e meus netos sabem jogar trando numa turma de 40 alunos.
relativamente bem, mas nenhum deles se inte- No primeiro ano tínhamos disciplinas normais: Química, com o
ressou fortemente pelo jogo. Professor Senise, Matemática, com Castanho, e várias outras. Geo-
logia só começou no segundo ano, em 1958. E daí por diante, aulas
do Viktor Leinz, Josué Camargo Mendes etc. Leinz era professor de
Geologia e inclusive escreveu depois um livro sobre Geologia Geral.
Foto 15: Vassily Smyslov, campeão mundial
de xadrez nos anos 1950, com quem Cor- Ou seja, tivemos aulas antes do livro. Foi aí que comecei na Geologia.
dani empatou em uma partida disputada – E quantos professores havia no instituto naquela época?
no Clube Paineiras do Morumbi durante – Ainda não era instituto porque o curso era da Faculdade de Filo-
um evento simultâneo, em 1978. Arquivo:
Fotocollectie Anefo / Koen Suyk (1977), sofia, Ciências e Letras. E eram dois departamentos: um de Geologia
Wikipedia Commons, domínio público. e Paleontologia, e outro de Mineralogia e Petrologia. Havia dois cate-

506 507
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano TERCEIRA PARTE: ENTREVISTAS E DISCURSOS – CAPÍTULO 2

mento e do mapeamento geológico do Brasil,


anterior à formação dos cursos de Geologia.
– Eles tinham alguma linha de pensamento
sobre a deriva continental?
– Todos eram mobilistas e favoráveis à de-
riva dos continentes. Quando eu tive aula com
o professor Leinz, que também era alemão e
favorável à deriva, o que mais me influenciou
foi o livro de Geologia Física do maior geó-
logo do século XX, Arthur Holmes. Existia
uma tradução para o idioma espanhol, acho
que de 1954, e esse livro me chamou para o
Foto 1: O
professor
mobilismo porque ele era favorável à teoria
Viktor Leinz e de Alfred Lothar Wegener, descrevendo que
Nariaqui Cava- os continentes estiveram unidos no passado,
gutti estudando
basaltos no Rio no que ele chamava de Pangea. E existia todo
Grande do Sul, um mecanismo para a deriva porque Arthur
em 1964. Holmes já tinha ideias sobre o movimento de
correntes de convecção do manto e isso me
chamou a atenção. Então, para um menino de
20 anos o mobilismo foi muito atrativo.
– E durante esses anos você tentou buscar Foto 2: O catedrático Rui Ribeiro Franco
o que se fazia lá fora? Teve oportunidade de (1916-2008). Ilustração de Mei Zijian
conhecer outras universidades? reproduzida da obra Minerais e Pedras
Preciosas do Brasil, de Carlos Cornejo e
– Até o fim do meu curso de Geologia eu não Andrea Bartorelli, Solaris, 2014.
saí do Estado de São Paulo. Tive uma influência

Foto 3: O Presi-
dráticos em cada departamento, um era o professor Viktor Leinz (foto 1) e o outro dente Juscelino
era o professor Josué Camargo Mendes, no Departamento de Geologia. E do outro Kubitschek na assi-
lado haviam os professores Rui Ribeiro Franco (foto 2) e William Camargo. Então natura de decreto
de formatura das
eram quatro os catedráticos dessas disciplinas de Geociências e eu comecei a ter con- primeiras turmas
tato com eles, e gostei da matéria. de Geologia da
– E havia professores estrangeiros? Universidade de São
Paulo e das universi-
– Havia os assistentes brasileiros Sérgio Amaral, por exemplo, e o Evaristo Ri- dades federais de
beiro, entre outros. E havia professores estrangeiros que foram contratados para a Rio Grande do Sul
campanha de formação de geólogos, que tinha recursos federais do programa do Jus- e de Ouro Preto,
em Brasília, em
celino (foto 3). Viktor Leinz contratou uma série de geólogos americanos do “Ponto dezembro de 1960.
Quatro”, que eram do United States Geological Survey, os professores John Stark, Umberto Cordani
Norman Herz e Gene Tolbert (fotos 4, 5 e 6), que eram excelentes profissionais. é o mais alto, no
centro da foto, logo
– A Geologia no Brasil teve influência alemã no começo? atrás de seu colega
– Na Geologia sim, havia cientistas alemães, mas não digo professores porque não André Davino
havia no Brasil cursos de Geologia. Havia o Karl Beurlen, em Recife, Reinhardt Maack (de óculos).
(foto 7), em Curitiba, William Kegel, no Rio de Janeiro, e Heinz Ebert (foto 8) no
DNPM do Rio de Janeiro, enfim, gente que trabalhou muito em favor do conheci-

508 509
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano TERCEIRA PARTE: ENTREVISTAS E DISCURSOS – CAPÍTULO 2

Foto 4: O Prof. John


Stark homenageado – O professor Leinz me convidou para ser o seu assistente antes de
pelo representante acabar o curso. Isso foi em agosto e tive alguns dias para pensar. Em
dos alunos da Turma 15 dias decidi que valeria a pena e comecei a trabalhar em janeiro. Ou
de 1964, Luiz Fer-
reira Vaz (à direita), seja, em 1961 eu já era da USP (foto 10).
ao retornar aos EUA. – No seu curriculum, consta que você fez um estágio na universi-
O Prof. Evaristo dade da Califórnia, em Berkeley. O que isso lhe trouxe de informação?
Ribeiro Filho (Tito)
está atrás de Stark – Fui para Berkeley em 1963. Antes disto, eu já estava sendo
e o Prof. Geraldo orientado pelo professor Leinz no doutorado para trabalhar com as
Conrado Melcher minas de ferro de Antonina, no Paraná. Já estava a meio caminho.
encontra-se à esquer-
da na foto. Alameda Mas aí aconteceu o seguinte: a USP ia ganhar um laboratório de Foto 7: O Prof. Reinhard
Glette, ca. 1963. Geocronologia, fornecido pelo professor John Reynolds (foto 11), Maack (1892-1969), célebre
professor de física da Universidade da Califórnia, um pesquisador pesquisador na área de
Geografia e Geociências da
extraordinário que desenvolveu um espectrômetro especial para tra- Faculdade de Filosofia da
balhar com gases raros, particularmente argônio. Com isso, ele levou Universidade Federal do Pa-
o seu instrumento para uma série de laboratórios de Geocronologia raná e do Instituto de Biolo-
gia e Pesquisas Tecnológicas.
espalhados pelo mundo. Esse equipamento chamava-se Reynolds- Imagem de domínio público
type, era feito com tubo de vidro pyrex e existia em vários lugares em reproduzida da Wikipédia.
meados dos anos 60. Em 1963, ele tinha um ano sabático e comprou
um laboratório inteiro com dinheiro da National Science Founda-
Foto 5: O Prof.
Norman Herz na tion. Inclusive nós ainda temos o espectrômetro que ele trouxe, que
primeira fila, entre a fica numa sala do laboratório do SHRIMP, e ainda está bom e bonito.
Dra. Brigitte Salentien Reynolds trouxe tudo que precisava no final de 1963 para começar
e o Prof. Rui Osório
de Freitas, durante a o sabático no início de 1964. Um ano antes, ele disse ao Leinz que
cerimônia de despe- queria uma pessoa em Berkeley para aprender o método e queria que
dida do Prof. Stark, fosse um físico. O Leinz procurou um físico, quase conseguiu, mas
na Alameda Glette.
À esquerda, o Prof. no final não deu certo. Então ele perguntou: “Vamos tentar um geó-
João Ernesto de Souza logo?” E Reynolds aceitou só porque era melhor do que nada. Afinal,
Campos e, logo atrás, quem não tem cão caça com gato. E lá fui eu. Na ocasião, o professor
os Professores Sérgio
Estanislau do Amaral Leinz me perguntou: “Você se interessa por Geocronologia? Geocro-
e Viktor Leinz. nologia é datação de rochas e esse tipo de coisa”, explicou. Respondi
que sim, e perguntei como faria. Ele respondeu que deveria ir para
os Estados Unidos e fazer um curso de 5 ou 6 meses para aprender.
Questionei: “E quando é esse curso?” Ele me respondeu que teria
que ir dali a 15 dias. Era começo de maio de 1963, e em 15 dias eu
estava em um avião para ir a Berkeley. Você me perguntou qual a Foto 8: O Prof. Heinz Ebert
Foto 6: O muito forte no meu terceiro ano, em novembro de influência que eu trouxe de Berkeley? Bem, nessa época os Estados (1907-1983), geólogo e
geólogo Gene 1959, do professor Henno Martin (foto 9), contratado Unidos estavam tendo campanhas dos Civil Rights, com protestos no naturalista alemão. Retrato do
Edward Tolbert acervo do Museu de Minerais,
(1925-1989),
também pela CAGE. Era um alemão que tinha passa- Norte do Alabama e lugares desse tipo. Bem, 1963 é anterior à tectô- Minérios e Rochas “Prof. Dr.
num retrato do muitos anos na Namíbia, possuía uma experiência nica de placas. Mas a sua preparação estava funcionando de uma ma- Heinz Ebert”, do Instituto de
cedido pela extraordinária e inclusive escapou da guerra, visto que neira muito forte porque muitas evidências mobilistas haviam sido Geociências e Ciências Exatas
sua filha da Universidade Estadual
Elaine Tolbert,
tinha idade para ser convocado, ficando no deserto da produzidas. Nesse ano, saiu o trabalho de Vine e Mattews a respeito Paulista “Júlio de Mesquita
reproduzido da Namíbia. Era um geólogo espetacular e foi contrata- das anomalias magnéticas no Atlântico Norte e também os trabalhos Filho”, UNESP, de Rio Claro,
obra Carajás: a do pela USP. Deu aula de Geologia Estrutural e me in- de paleomagnetismo sobre reversões do campo magnético. Conheci São Paulo. Reprodução da obra
descoberta, de Coleções Minerais do Brasil,
Erasto Boretti
fluenciou muito com essa parte da Geotectônica. esse pessoal todo em Menlo Park, com o USGS fazendo essas coisas de Carlos Cornejo e Andrea
de Almeida, – Quando terminou o curso você foi contrata- de paleomagnetismo. Conheci bem o Allan Cox (foto 12), estive na Bartorelli, Solaris, 2020.
Solaris, 2017. do ou foi convidado para ir fazer algum curso ou casa dele e em Berkeley tinha gente como Turner e Verhoogen, além
algum estágio em outra universidade? de um monte de outros que eram os super cobras da Geologia, de

510 511
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano TERCEIRA PARTE: ENTREVISTAS E DISCURSOS – CAPÍTULO 2

Foto 10: Restaurante


Gambinus, na Ala-
meda Glette, em que
aparecem (em sentido
horário) Norman
Herz, Moacyr Cou-
tinho, Vicente Vala-
relli, Celso B. Gomes,
Altamir Benedicto
de Oliveira, Gilberto
Foto 9: O Prof. Amaral, Manuel
Henno Martin ao Bebiano, Eduardo C.
lado do ônibus Damasceno, André
recém adquirido Davino, Gene Tol-
pela CAGE (Cam- bert, Umberto Corda-
panha Nacional ni e Rudolph Kollert.
de Formação de São Paulo, 1960.
Geólogos), em
excursão do 3º
ano da Geologia
da USP ao Espírito
Santo, em junho
de 1959.
utilizando os nossos laboratórios, faremos tam-
bém as amostras da África. Nós fazemos potás-
sio-argônio e vocês fazem rubídio-estrôncio”. E
o Pat Hurley do MIT esteve de acordo. Assim,
começou um convenio MIT-USP para se fazer as
análises rapidamente.
Em seguida, nosso pessoal foi buscar amos-
tras em Belém, São Luís e no Nordeste da Bahia,
e Hurley conseguiu amostras na África, de Ca-
marões, Nigéria etc. Quando o resultado saiu
foi espetacular, impressionante como a evolu-
ção era parecida. A história geológica do nor-
modo que foi uma experiência extraordinária. Eu já me sentia mobilista e aquela deste do Brasil e da África ocidental eram prati-
onda toda me ajudou. camente idênticas.
– Então, no Brasil você foi o primeiro a introduzir essa teoria? – Vocês publicaram onde?
– O primeiro trabalho que se publicou no Brasil, após o pioneiro trabalho de Xa- – Publicamos na Science em 1967, antes da
vier Le Pichon (foto 13), foi em 1968, e foi meu doutorado. E no meu doutorado Foto 11: Reunião da International Conference on
tectônica de placas. Esse paper foi um dos pila- Geochronology, ICOG-8 em Berkeley. Cordani
trabalhei com as ilhas do Atlântico Sul, Trindade (foto 14), Fernando de Noronha e res da teoria. Para mim, esse trabalho que foi com John Reynolds na casa deste, em 1994.
outras. Queria ver se as idades delas eram compatíveis com a abertura do Atlântico publicado na Science foi o mais importante do
e eram. Coloquei a tectônica de placas e o crescimento do assoalho oceânico, o me- ponto de vista científico que foi feito no centro Foto 12: O geólogo
canismo proposto por Harry Hess e companhia. Então, acho que esse foi o primeiro aqui da USP. E o Le Pichon, no ano seguinte, norte-americano Allan
trabalho sobre tectônica de placas em português. Não sei se há outro. Mas isso já era Verne Cox (1926-1987)
em 1968 e antes disso nós tivéramos uma aventura geocronológica em 1965 com os com destacada atuação
no U.S. Geological Sur-
ingleses de Newcastle upon Tyne. Eles fizeram uma reconstrução dos continentes em vey. Imagem do acervo
volta do Atlântico usando computadores. Então, o Brasil e África estavam juntos. Um da Stanford University,
tremendo “fit” entre eles. Com isso, o pessoal do hemisfério norte achou que aí era School of Earth Sciences.
um bom teste que precisava ser feito: “Vamos comparar a geocronologia da parte
norte e nordeste do Brasil com o oeste africano. E vamos ver o que acontece, pois se
der idades muito parecidas é porque eles tiveram unidos”. Vários laboratórios se orga- Trabalho publi-
nizaram para fazer isso. Por sorte, nós tínhamos aqui em 1964 o professor Reynolds cado na revista
Science em 4 de
que falou muito claramente: “As amostras brasileiras serão coletadas por nós do Brasil agosto de 1967.
e nós vamos fazer todas as análises pelo método potássio-argônio. Se vocês quiserem,

512 513
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano TERCEIRA PARTE: ENTREVISTAS E DISCURSOS – CAPÍTULO 2

Foto 13: o geofísico


francês Xavier Le
Pichon (1937-), um
dos pioneiros da teo- publicou o seu paper sobre Global Tectonics.
ria das placas tectôni- Nosso paper já estava lá, ou seja, a contribuição
cas (1968). Imagem:
https://www.balzan. brasileira na verdade foi um trabalho dentro da
org/en/prizewinners/ revolução científica da tectônica de placas. Foi
xavier-le-pichon pioneiro no Brasil e na América do Sul. Nele, a
gente definiu uma série de coisas e o trabalho
segue sendo citado até hoje.
– Esse trabalho foi em 1967. Vamos voltar
um pouco para trás até 1963/64. O professor
Reynolds veio ao Brasil e trouxe os equipa-
mentos?
– Sim, ele estava no sabático e comprou os
equipamentos em 1963, quando eu estive lá e
aprendi a fazer as medidas do potássio-argônio.
Ele foi às compras. Em setembro, ele colocou
tudo num navio de carga e viajou com a famí-
lia nesse mesmo navio. Chegou aqui em outu-
bro. Eu já estava aqui e começamos a instalar
o equipamento. Em janeiro, três meses depois,
tiramos a primeira datação.
Foto 14: Umberto Cordani com Fernando de – Quantas pessoas trabalhavam no labora-
Almeida e Aluísio Castanho Maciel em viagem tório de São Paulo? Foto 16: Gilberto Amaral (à direita) e o geólogo Ar-
para a Ilha de Trindade (ao fundo) para coleta – Além de mim, fomos buscar um físico no – Sim, ele teve um antes do nosso que foi gemiro Ianhez (da turma de 1964 da USP) na mina
de amostras para o Doutorado, em 1966, a de zinco de Vazante, Minas Gerais, assunto do Dou-
bordo de um destróier da Marinha do Brasil. instituto de energia atômica aqui de São Pau- para a Austrália, no laboratório de Ian Mac- torado de Amaral. A vegetação rasteira esbranquiça-
lo, onde o Pieroni era chefe. O físico chama- Dougall, em Camberra. E sete anos depois, em da em primeiro plano é uma calaminácea conhecida
se Koji Kawashita (foto 15), foi meu irmão de 1971, ele foi para Portugal, ao laboratório de como Gonfrena, indicadora de anomalias de zinco.
Fotografia de Andrea Bartorelli em 1967.
trabalho, e havia também um outro geólogo Martim Portugal, em Coimbra (foto 18).
chamado Gilberto Amaral (foto 16). Nós três – Você manteve contato com ele e com esses
trabalhamos desde o começo da implantação. E outros laboratórios?
os técnicos, nós tivemos que tomar empresta- – Sim, mantive com ele, e em relação aos ou-
dos do laboratório de física, do laboratório de tros laboratórios sempre tivemos bons contatos
química, e contratamos um que veio de fora e com Ian MacDougall e Martim Portugal, que se
se chamava Claudio Comerlatti (foto 17). Que tornaram bastante amigos.
provavelmente você conheceu. – Então, você foi um dos pioneiros da sua
– E como aconteceu a mudança da Geologia área. Seu nome tornou-se conhecido e começou
da Alameda Glette para o novo campus? a participar da parte científica, não quero dizer
– Foi bem depois, pois nós trabalhamos na política, de associações cientificas internacionais.
Glette até 1969, foram 5 anos na Glette. Depois – Exato. Esse trabalho de 1967 projetou o
Foto 15: Umberto Cordani e o físico Koji Kawa- viemos para o Campus do Butantã e fomos pa- CPGeo para o mundo. E eu, de certa forma, re-
shita no CPGeo, Centro de Pesquisas em Geo- rar nos barracões da Escola Politécnica. presentava essa parte científica. Uma espécie de
cronologia e Geoquímica Isotópica, em 2014. – E tiveram que desmontar todos os equipa- liderança científica após a partida do John Rey- Foto 17: Cordani com Cláudio Comerlatti
mentos e remontá-los? nolds. No ano seguinte, em 1968, fui convida- operando o fotômetro de chama do Labora-
– Certamente, desmontamos, tiramos de tório de Geocronologia, na Alameda Glette,
do pela National Academy of Science para fazer Campos Elíseos, São Paulo, em 1964.
lá, trouxemos com muito cuidado e montamos um tour pelos EUA e visitar uma série de labo-
com muito zelo, aqui de novo. ratórios, fazendo palestras sobre essa correlação
– E o professor Reynolds teve outros sabáti- Brasil/África. E conversava com vários geofísicos
cos? Ele participou de outros projetos? porque a National Academy of Science precisava

514 515
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano TERCEIRA PARTE: ENTREVISTAS E DISCURSOS – CAPÍTULO 2

de uma certa quantidade de expertise na América


do Sul e verificou que havia muito pouco conta-
to nessa área da Geofísica. Então acabei fazen-
do contato tanto com a área de Geocronologia
quanto com a área de Geofísica. E conheci gente
muito boa, a turma de Los Angeles, por exem-
plo, Wasserburg, e Willard Frank Libby, que foi
Prêmio Nobel lá na UCLA, gente de alto nível. E
aqui no Brasil, eu consegui uma série de contatos
procurando desenvolver a Geofísica e cheguei a
ministrar uma série de disciplinas optativas para
o Instituto de Física da USP. Participei da pas-
sagem do IAG para a USP. Ele era um instituto
apenas de Astronomia, e quando chegou na USP
teve que implantar Geofísica, e eu ajudei nisso
Foto 18: Distinção Doutorado Hono-
ris Causa, com Manuel Serrano Pinto,
junto com Koji Kawashita. Então, minha contri-
Umberto Cordani e Martim Portugal buição para a Geofísica começou em 1968, com
Ferreira, em Aveiro, Portugal, em 2000. essa visita aos EUA. E depois teve outras coisas,

Foto 20: Reunião do Projeto 120 do IGCP


em Santiago do Chile, em 1985, com Enrique
o Upper Mantle Project, o Geodynamics Project. Linares, Jorge Restrepo, Francisco Munizaga,
Nesse último, teve um comitê brasileiro que ti- Umberto Cordani e Reynaldo Charrier.
nha como coordenador o Fernando de Almeida
(foto 19), do qual nós todos fomos discípulos.
Eu era secretário desse Brazilian Comittee for
the Geodynamics Project que teve muita atuação
para verificar como é que funcionava a tectônica
de placas. Nessa época, o Brasil foi passando de
verticalista para mobilista, na década de 1970,
e esse projeto teve um papel muito importante
nisso. Você deve ter trabalhado nas transectas, e
nós dois trabalhamos na geocronologia de Ron-
dônia. Você trabalhou com Fernando de Almeida
(foto 21) em Mato Grosso e tal, e foi assim que o
Brasil foi virando mobilista.
– Foi Nessa época a sua participação no
IGCP? Você trabalhou não só com as transectas
mas em outro projeto sobre litosfera?
– Foi nessa época. O International Geoscience Foto 21: Umberto Cordani, ao centro, entre Gilles
Programme, IGCP, é o programa internacional de Allard e Fernando de Almeida, numa das palestras
correlações geológicas. É da UNESCO, ou seja, do XXVII Congresso Brasileiro de Geologia, em
Aracaju, Sergipe, em novembro de 1973.
das Nações Unidas junto com a International
Union of Geological Sciences, IUGS e esse foi
meu primeiro contato com aquela entidade. Eu
Foto 19: Simpósio Panamericano de Geofísica, com Raúl Zardini, Umberto Cordani,
fui líder de um projeto no IGCP, que não foi no
Fernando Flávio Marques de Almeida e Othon Henry Leonardos. México, 1968. Brasil e sim nos Andes, visto que nós tínhamos

516 517
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano TERCEIRA PARTE: ENTREVISTAS E DISCURSOS – CAPÍTULO 2

Foto 22: Umberto Cordani e


Carlos Oití Berbert (à direita) muitos dados geocronológicos com colegas andinos, como Francisco
junto a autoridades na cerimô- Hervé, Francisco Munizaga, Victor Ramos e Enrique Linares do labora- Foto 23: 28th IGC Moscow,
nia de abertura do 31st Interna- no Lago Baikal, com Gro-
tional Geological Congress, no tório de Buenos Aires, alguns colombianos e venezuelanos. Houve uma petente. Os brasileiros eram considerados de importância nas Geoci- ves, Craddock, Van Aswe-
Rio de Janeiro em 2000. reunião em Santiago, Chile, em 1974, e os colegas pediram para que eu ências e a IUGS queria um sucessor para Fernando de Almeida. Pedi- gen e Umberto Cordani, em
liderasse um projeto no IGCP que se chamava Magmatic Evolution of ram para que o DNPM me indicasse como vice-presidente, porque era agosto de 1984.
the Andes. Nós entrávamos com a geocronologia, Buenos Aires também, tinha labora- o Comitê Nacional que indicava a pessoa. Naquela época, Carlos Oití
tórios de fora, como o de Berkeley, outro da Alemanha, e muita gente estrangeira traba- Berbert (foto 22) que era do Departamento de Geologia do DNPM, me perguntou se
lhando na América do Sul. Foi um contato muito importante com os colegas sul-ame- eu estava interessado. Concordei, passei então por uma eleição e fui vice-presidente
ricanos. Eu posso dizer que trabalhamos 10 anos nesse projeto, que é o projeto 120 do quando o presidente era um canadense chamado Bill Hutchison, excelente pessoa.
IGCP (foto 20). E durante esse tempo, por exemplo, chilenos e argentinos começaram a Em 1984 teve o congresso de Moscou (foto 23), onde fui eleito. O congresso seguin-
trabalhar juntos, o que nunca haviam feito antes. A Cadeia Andina é o divisor de águas. te da IUGS não ia ser quatro anos depois e sim cinco anos depois, em 89, porque
Os argentinos trabalhavam de um lado e os chilenos do outro, e só se juntaram quando os Estados Unidos tinham decidido fazer a American Decade of Geology em 88 e
houve o projeto 120 do IGCP. E isso foi parecido com Equador, Peru, Colômbia, Vene- fizeram um ano depois o congresso da IUGS. Mas, infelizmente, o nosso presidente
zuela etc. De modo que eu me sinto muito bem com os colegas sul-americanos, entre Hutchison, da IUGS, faleceu em 87. O past-president Seibold aceitou ficar respon-
os quais conto com muitos amigos. Teve também a Litosfera, que era um projeto da sável pela União por um tempo limitado, e imediatamente chamou uma eleição.
International Union of Geodesy and Geophysics, IUGG, e IUGS, de Geofísica e Geolo- Nessa eleição, muita gente queria que eu me candidatasse, especialmente os colegas
gia. Então, como eu era conhecido internacionalmente, me chamaram para o bureau do africanos e sul-americanos. No final tinha dois ou três candidatos, mas o mais forte
projeto sobre a litosfera, que tinha Ray Price, canadense, como seu primeiro presidente obviamente era Jean Auboin, francês, um dos geólogos mais conhecidos do mundo.
e várias outras pessoas no Projeto Litosfera, controlando as transectas por vários anos e E eu apareci lá quando Ray Price me convenceu a ser candidato, para representar
assim por diante. Foi minha caminhada internacional até a IUGS. vários países. Ele mencionou Canadá, EUA, países africanos, sul-americanos. Aceitei.
– E na IUGS você foi vice-presidente, presidente em seguida e participou de vá- Não dava para dizer que não! E eu ganhei a eleição até com certa folga em 1987. As-
rios comitês. Qual foi a sua participação como sul-americano na IUGS? sumi a IUGS com o secretário e tesoureiro que eram de Hutchison (foto 24) e conti-
– Fernando de Almeida tinha sido vice-presidente entre o Congresso de Paris e nuaram comigo na mesma função. Em 1989 foi meu primeiro Congresso, em que fui
Moscou de 1980 para 84, e o presidente tinha sido Seibold, um alemão muito com- como speaker pela IUGS. Eu tinha conseguido mandato até o congresso seguinte, que

518 519
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano TERCEIRA PARTE: ENTREVISTAS E DISCURSOS – CAPÍTULO 2
Foto 24: Reunião do Comitê Executivo da
IUGS em San Antonio, com Cordani, Hut-
chison, Mattews III e Newhall, em 1986.

seria em Kyoto em 1992. Então, fui presidente


da IUGS por um ano ainda nesse mandato e de-
pois mais quatro, ou seja, cinco anos como pre-
sidente. Fiz um discurso muito interessante na
reunião em Washington (foto 25). O discurso
foi muito forte, falando que as Geociências esta-
vam entrando numa fase diferente. Quer dizer,
as Nações Unidas tinham pensado na questão
ambiental na época da assembleia da ONU em
Estocolmo, incluindo várias coisas, “Nosso fu-
turo comum”, o relatório Brundtland etc., e eu
me coloquei à frente da IUGS nessa parte, sobre
ambiente e ensino. Durante minha gestão isso
foi feito, como tinha colocado no meu discurso
de abertura, que acho importante reproduzir. E
depois eu fiz um outro discurso como presiden-
te da IUGS em Kyoto (foto 26). Depois disso, fui
como past-president até o congresso de Beijing,
Foto 25: Ottawa, Canadá, em 1988, para Reunião
do Bureau da IUGS, com J. Reinemund (Tesourei-
na China (foto 27). Foi quando sai da lideran-
ça da IUGS, mas, em Beijing, o Brasil ganhou a Foto 28: Executive Committee da International Union
ro), Vera Lafferty e R. Sinding Larsen (Secretário)
of Geological Sciences, IUGS, em Adelaide, Austrália,
da IUGS. Posse de Cordani na Presidência da IUGS. oportunidade de sediar o Congresso Internacio- assembleias da IUGG (foto 28), fazendo parte em janeiro de 1995, com a presença, a partir da esquer-
nal, no Rio de Janeiro, em 2000. Fui convidado da IUGS fui ao International Science Council, da, de: Eduardo De Mulder, Francisco Hervé, G. O. Ke-
pelos colegas brasileiros para presidente do co- ICSU, em Paris, fiz parte do comitê executivo sse, Robin Brett, John Lovering, Hanne Refsdal, Glenn
Caldwell, Michael Schmidt-Thomé, Nicole Petit-Maire,
mitê de organização e depois presidente do Con- por quase um ano, enfim foi uma época muito Umberto Cordani, William Fyfe, Vilen Zharikov, Attilio
gresso. E com isso, fui até o congresso seguinte interessante. Nesse período, eu era diretor do Boriani, Ruslan Volkov, Seiya Uyeda e Liu Dunyi.
em Florença. Gianbattista Vai conta essa história, Instituto de Geociências da USP (foto 29), o
que começa em 1984 em Moscou e termina em que foi complicado porque cheguei a fazer de
2004 em Florença, são 20 anos, uma vida. 6 a 8 viagens internacionais por ano. Não digo
– Como você se sentiu no Congresso do Rio que foi ruim, ao contrário, digo que foi extre-
em 2000. Eu, inclusive, participei liderando mamente interessante. Considero-me “cidadão
uma excursão de campo. do mundo”.
– Para mim o Congresso do Rio foi de emo- – Eu estive no Congresso de Florença. De cer-
ções contínuas. Um ponto alto de minha vida. ta forma, segui seus passos porque foi a partir
Foto 26: 29th International Geological Congress, em Quatro anos de preparação e duas semanas fre- disso que comecei a interagir com essas associa-
Kyoto, com a presença de Naruhito, futuro Imperador néticas. Há um paper que foi escrito por Oití e ções. Interação que durou até o momento da mi-
do Japão (sentado à mesa, à direita), em agosto de 1992. por mim, publicado na revista Episodes, que diz nha aposentadoria e acredito que você deve estar
bem o que foi. Marta, você também fez parte da se relacionando com essas associações até agora.
IUGS. Não é? – Sim. Você me lembrou de muita coisa.
– Sim, de certa forma eu trabalhei mais na Começou quando você ainda estava na Uni-
parte final do que no início dos projetos. Você que camp trabalhando com traços de fissão, depois
me indicou para substituir a Mary Von Knorring um ano trabalhando com a gente! Depois no
Foto 29: Umberto Cordani na sua sala
no Lithosphere Project da IUGG e IUGS. departamento de Geofísica, onde você fez sua como Diretor do IGc-USP, em 1991.
– É mesmo. Tinha muita coisa para fazer vida, sua carreira.
do Planeta Terra (risos). Participei de várias – Sim, época em que você e Koji atuavam
como membros do conselho do departamento.
Foto 27: 30th International Geological – O conselho foi formado de acordo com
Congress, em Beijing, com o Presiden-
te da China, Jiang Zemin, em 1996. as regras da USP, no tempo que a USP trouxe

520 521
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano TERCEIRA PARTE: ENTREVISTAS E DISCURSOS – CAPÍTULO 2

Foto 30: Miguel


Reale (1910-
2006), Reitor
da Universidade o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências
de São Paulo em Atmosféricas, IAG, para dentro do campus. O
dois períodos
(1949-1950 e reitor na época era Miguel Reale (foto 30). O
1969-1973). reitor garantiu ao governador daquela época
Fonte da ima- que não ia deixar o IAG fora e fez todo o pos-
gem: https://aca-
demianotarial. sível para trazê-lo. Já havia gente para Astrono-
org.br/patronos/ mia, Benevides e outros, e não havia ninguém
miguel-reale para Geofísica. Para montar um departamento
era necessário um professor titular, um pro-
fessor doutor, um professor livre-docente, um
assistente e um técnico, ou seja, cinco pessoas.
Então, ele conseguiu o Giorgio Giacaglia, que foi o diretor do Instituto, e ele montou
o Departamento de Geofísica com Igor Pacca, eu, Koji Kawashita, e o técnico em
eletrônica Francisco Yukio Hiodo. Com isso funcionou o primeiro Departamento
de Geofísica da USP. Nisso, Miguel Reale teve que me passar meio período para o
IAG, mas não poderia ter conflito com o tempo integral no Instituto de Geociências,
então fiquei com dois salários de meio período nessa época de construção do Depar-
tamento de Geofísica para poder trabalhar nos dois institutos ao mesmo tempo. Eu
era chefe do Departamento de Geologia do Instituto de Geociências e fazia parte da
congregação do IAG, cheguei a ser chefe do Departamento de Meteorologia do IAG,
e ganhando menos, porque dois salários parciais não chegam a um salário em tempo Foto 31: Umberto Cordani
integral, o que foi interessante (risos). os EUA e eu fui para a Europa para buscar fabricantes de espectrômetros recebendo o título de Pro-
– Quando entrei no IAG, você estava na comissão do departamento e estava in- fessor Emérito do Instituto
de massa de solid-state para rubídio-estrôncio. Koji voltou com a ideia de Geociências da Univer-
centivando os que estavam se agregando ao curso de Geofísica no Instituto de Física. de comprar um Shields-type que era um home-made, o Shield fazia isso e sidade de São Paulo, em
E você também deu aulas de Geofísica para as turmas da Física. vendia. E era o melhor que havia, pois ele conhecia todas as peças e etc., 19 de novembro de 2010.
– Sim, eu dei dois anos de Geofísica para os físicos. E isso foi antes da criação O Prof. Adilson Carvalho,
mas a administração da USP não deixou. Eu visitei vários laboratórios, à esquerda, e Colombo
do departamento. Lembro que havia cadeiras não ocupadas, e a cadeira de Geofísica inclusive um que era mantido pela Varian, no Instituto Federal de Tec- Tassinari, ao centro.
que estava a nome de Mário Schemberg passou para Giorgio Moscati, sem ativida- nologia, ETH, de Zurique, com Peter Signer. Era um protótipo do TH5,
des. Então, eu acabei dando dois anos de aula ali. achei legal, a fonte era um pouco pequena, mas era o que havia na épo-
– Você até trouxe um equipamento de paleomagnetismo para a USP? ca. Então acabamos comprando o TH5 da Varian que funcionou bem.
– Ele estava encostado em Curitiba, era de Kenneth Creer, de Newcastle. O aluno – Você trabalhou nele?
dele, um chinês chamado Liu Kai tinha desistido e o equipamento tinha ficado no – Sim, trabalhava nele à noite, em 1972 ou 73. Com isso, nós pro-
Departamento de Geodésia da UFPR. Aí a gente perguntou para Camil Gemael se duzimos muito com o método Rb-Sr e fizemos centenas de análises.
pretenderia usar ou não. Disse que não. Então, Igor Pacca e eu fomos buscar. Na – Inclusive otimizamos o laboratório! Koji ficava durante o dia e
ocasião, Igor estava se inclinando para fazer alguma coisa de paleomagnetismo. No eu passava à noite (risos).
geral, acho que minha contribuição para a Geofísica foi interessante. No começo – Aí vieram os discípulos para trabalhar no laboratório que o
era só eu, não havia geofísicos e na USP a Geofísica era uma cadeira sem ninguém. projeto Radam contratou, entre eles Miguel Basei, Colombo Tassi-
Então, em 1968, fui para os EUA pela National Scientific Academy e conheci vários nari e Wilson Teixeira, na década de 1970. Eles se formaram por
geofísicos importantes. Na volta escrevi um relatório indicando os contatos que ti- volta de 72, 73. E à medida que eles iam se formando, o Radam ia
nha feito, o qual foi publicado em 1969 na Revista de Geologia e Mineração. contratando porque eles fizeram iniciação científica comigo e com
– Você começou a trabalhar não somente com os isótopos de argônio mas tam- Koji. Então, eles começaram a trabalhar e iam sendo contratados um
bém com os de rubídio-estrôncio e, mais tarde, no desenvolvimento do CPGeo. por um conforme a USP podia. O Radam atuava na Amazônia e isso
– No potássio-argônio, nós tínhamos um instrumento que está hoje na sala do foi muito interessante porque todas as análises de rubídio-estrôncio
SHRIMP e tínhamos um outro que Reynolds trouxe com o mesmo tubo de pyrex, só feitas no Cráton Amazônico, que é enorme, se agrupam em áreas que
que com um filamento de solid-state e Koji colocou aquilo para funcionar em 1965. se podem classificar perfeitamente, junto com os dados de potássio
Um solid-state no tubo de pyrex foi o primeiro a ser usado, primeiro e único. Então, -argônio, num conjunto coerente, algo mobilista, o mais velho aqui e
Koji trabalhou com esse pirex-tube Reynolds-type e fez um doutorado. Aí, Koji foi para o mais novo ali. Então, nós elaboramos o primeiro modelo mobilista

522 523
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano TERCEIRA PARTE: ENTREVISTAS E DISCURSOS – CAPÍTULO 2

para o Cráton Amazônico e eu apresentei isso


em um congresso chileno em 1979. Está pu-
blicado em português nos anais do congresso
chileno. O primeiro modelo mobilista para o
Cráton Amazônico.
– A história do SHRIMP foi mais recente.
– O SHRIMP teve outra história, também
ele teve um outro nível de preço. Acho que custa
cinco vezes o espectrômetro normal. O SHRIMP
Foto 32: Guilherme Estrella, geólogo e ex-diretor de
nos anos 80 tinha sido uma sensação por ter feito
Exploração e Produção da Petrobras entre os anos de as datações com os zircões mais antigos da Terra.
2003 e 2012, considerado o “Pai do Pré-Sal”. Fonte Foram zircões detríticos de um metaconglomera-
da imagem: https://www.opetroleo.com.br/desco-
bridor-do-pre-sal-lamenta-que-pais-tenha-perdido-a
do australiano, com idade de 4.200 milhões de
-oportunidade-de-desenvolver-industria/ anos. E são idades reais, mas não foi encontrada
rocha com essa idade. A primeira vez que eu vi
um SHRIMP foi em 1991, quando fui para Austrália para participar de um congresso.
Eu fiquei 15 dias a mais lá e trabalhei com Allen Nutman. Levei zircões de rochas antigas
que já tinham sido datadas aqui em rubídio-estrôncio, potássio-argônio e também chum-
bo-chumbo. São rochas da Bahia, que têm idades antigas, mas pouco precisas. Tinha
idade de 3 bilhões de anos, mas nós estávamos curiosos para saber se essas idades seriam
corretas quando elas fossem analisadas pelo SHRIMP. Então, datamos uma porção delas Foto 33: Instituto de Geo-
durante vários dias. A primeira datação, zircões de um gnaisse de Sete Voltas, na Bahia, tros para Porto Alegre, Belém e Brasília, que são os ICPs deles. Ou seja, ciências da Universidade de
deu um valor de 3 bilhões e 400 milhões. De cara, a rocha mais antiga da América do Sul. com o SHRIMP a Petrobras levantou a qualidade analítica do país inteiro! São Paulo. Em pé, a partir da
esquerda: Celso de Barros Go-
Seguida pelas demais análises, isso se confirmou e publicamos os dados. Aquela datação Nesses outros laboratórios de geocronologia, que continuam trabalhando, mes, Vicente Girardi, Adolpho
foi sensacional, uma emoção estética. Quando se recebe uma informação dessas é muito têm muita gente produzindo muito e em parte isso se deve àquela nossa Melfi, Antonio Carlos Rocha-
especial. Então o SHRIMP passou a ser um sonho. Eu voltei para Camberra em 94, fui iniciativa. E a gente conseguiu o SHRIMP. Nós também temos um ICP Campos, Georg R. Sadoswki,
Benjamin Bley de Brito Neves,
para o SHRIMP chinês em 98, depois trabalhamos com o Remote Operational System agora, em que o coordenador é Miguel Ângelo Stipp Bassei, e têm outros Umberto Cordani e Igor Pacca.
no SHRIMP chinês, pela internet, em 2004 ou 2005. E eu dizia para todo mundo que o ICPs em Ouro Preto e em Campinas. Todo mundo quer ser geocronólogo, Sentados: Setembrino Petri,
SHRIMP era um salto de qualidade. Fizemos uma tentativa pelo CNPq, no começo dos é outra história. E atualmente o Brasil é muito competente nisso. Kenitiro Suguio, Marta Man-
tovani, Moacyr V. Coutinho e
anos 2000. Já existiam aqueles institutos do milênio e coisas do tipo. E a gente quase che- – Você teve o perfil de ser pioneiro em várias coisas. Seja na Jorge Bettencourt. Fotografia
gou na final, mas, infelizmente, tinha um outro laboratório que pedia a mesma coisa. A parte científica, seja na parte de liderança de vários laboratórios e para a revista Pesquisa FAPESP,
gente pediu um SHRIMP e Porto Alegre pediu outro SHRIMP. Aqui tinha embasamento, também na parte da “política científica”, carregando consigo vá- em dezembro de 2014.
infraestrutura e experiência para o uso, e Porto Alegre não tinha nada. Mas por ter dois rios geólogos sul-americanos.
pedidos iguais, o CNPq não deu. Então, ficamos sem o SHRIMP, isso deve ter sido em – No plano nacional, eu fui duas vezes membro do comitê do Con-
2002. Continuamos aqui em São Paulo a pensar num SHRIMP, agora pela FAPESP. Hou- selho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq.
ve uma ocasião em que eu era coordenador de geociências na própria FAPESP e com isso Duas vezes também fui coordenador da Fundação de Amparo à Pesqui-
promovi uma reunião geral com os geocientistas do Estado, gente do IAG, do Instituto sa do Estado de S. Paulo, FAPESP.
Nacional de Pesquisas Espaciais, INPE, enfim, de vários lugares. Quem estava naquela – Desde a escolha do professor Leinz, houve uma serie de coinci-
reunião decidiu por duas coisas: uma delas foi para mudanças globais e a outra foi para dências positivas para o bem da geociências no Brasil.
a aquisição de um SHRIMP. Esse equipamento custava na época 3 milhões de dólares. – E se eu tivesse sido um engenheiro? (risos). O Leinz realmente me
Um espectrômetro de massa custava entre 500 e 600 mil. A administração da FAPESP convenceu, quando disse que quem não tem cão caça com gato. No De-
“falou”: “Três milhões é muito, se vocês conseguirem metade a gente complementa”. partamento de Geologia da USP tinha uma boa turma de geólogos. Alguns
Aí, Colombo e eu fomos buscar a outra metade na Petrobras, cujo diretor de exploração estão na foto 33, mas havia também o Sergio Amaral, o Alfredo Bjornberg,
era Guilherme Estrella (foto 32), bem conhecido nas geociências. Ele pediu para a gente o Faustino Penalva, o André Davino e outros.
esperar porque iria conversar com todo o pessoal técnico da Petrobras. Três meses depois, – Seu filho entrou na Geofísica em parte por influência sua?
ele retornou avisando que OK! Que iríamos ter o milhão e meio de dólares, mas que para – Não sei, Geologia e Geofísica estão próximas, é até possível que
que São Paulo não seja muito favorecido pela Petrobras, seriam comprados espectrôme- tenha sido (risos).

524 525
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano TERCEIRA PARTE: ENTREVISTAS E DISCURSOS – CAPÍTULO 3

Saudação pela outorga do título de Professor


Emérito a Cordani em sessão solene da
Congregação em 19 de novembro de 2010
Sônia Barros de Oliveira

O Professor Cordani formou-se em Geologia pela antiga FFCL-USP em 1960.


Foi contratado como instrutor do Curso de Geologia, na mesma Faculdade, em
1961. Desde o início de sua carreira como geólogo interessou-se por Geocrono-
logia, tendo realizado especialização nessa área na Universidade da Califórnia,
em Berkeley, nos EUA, em 1963. Nesse tema, fez também seu doutoramento em
1968, datando as rochas do Arquipélago de Fernando de Noronha, e em 1970- a Universidade da Califórnia, a Universidade de Milão, a Universidade de Aveiro, a
1971 realizou na Universidade Livre de Bruxelas pós-doutorado nessa mesma Universidade de Strasbourg, a Universidade de Marselha e a Universidade Cornell.
especialidade. Fez sua livre-docência em 1973 e tornou-se professor titular do Entre suas realizações mais importantes está a participação na criação do Centro
IGc-USP em 1980. Dirigiu esta instituição entre 1987 e 1991. Aposentou-se em de Pesquisas Geocronológicas da USP, em 1964. Este foi e continua sendo um centro
2008, mas, para nossa sorte, continua como professor colaborador, orientando de pesquisa pioneiro na América do Sul e até hoje distingue-se no panorama cientí-
estudantes, proferindo palestras e participando de disciplinas de pós-graduação. fico internacional por dar suporte a pesquisas de diversas instituições acadêmicas do
Durante sua longa carreira como professor da USP, foi também professor visitan- Brasil e do exterior, oferecendo também serviços para o setor produtivo vinculado
te de diversas universidades estrangeiras, entre as quais a Universidade Livre de Bru- às áreas de exploração mineral e pesquisa ambiental.
xelas, a Universidade do Chile, a Universidade do Texas, a Universidade de Oxford, Seus interesses de pesquisa ao longo de toda sua vida centraram-se nos temas
da Geocronologia e Geoquímica Isotópica, aplicadas a estudos de Geotectônica,
focalizados principalmente na evolução crustal do continente sul-americano. Sobre
esse assunto publicou mais de uma centena de artigos e vários capítulos de livros.
Teve intensa atividade como professor, lecionando durante todos esses anos em
cursos de Graduação e de Pós-Graduação, tendo orientado mais de duas dezenas
de teses de doutoramento e dissertações de mestrado. Mas não deixou de con-
tribuir para a formação em pesquisa também de estudantes de graduação, tendo
orientado inúmeros alunos em trabalhos de formatura e em projetos de iniciação
científica, entre os quais tenho a honra de me incluir.
O talento e a dedicação do Professor Cordani à pesquisa científica e à formação
de estudantes foram amplamente reconhecidos pela comunidade científica nacio-
nal e internacional. Desde o início de sua carreira acumulou prêmios e distinções.
É membro da Academia Brasileira de Ciências, da Academia Latino-Americana de
Ciências, da Academia de Ciências de Córdoba, Argentina e, em 2009, tornou-se
membro estrangeiro da Academia de Ciências da França. Foi por duas vezes distin-
guido pela Sociedade Brasileira de Geologia com o Martelo de Prata, no início de
sua carreira, e com a Medalha de Ouro José Bonifácio, em 1998. É também membro
honorário das Sociedades Geológicas do EUA e do Chile. Recebeu medalhas da Aca-
demia de Ciências do Terceiro Mundo, da Universidade do Chile e da Academia de
Ciências da Rússia, além do título de Cavaleiro da Ordem das Palmas Acadêmicas do
Ministério da Educação, Ciência e Tecnologia, da França, e a Grã-Cruz do Mérito
Científico, outorgada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil.
Sônia Barros Pelo quase meio século de inestimáveis serviços prestados a esta casa e à co-
de Oliveira.
munidade científica brasileira e internacional, e pelo carinho e consideração que
lhe devotamos, a Congregação do Instituto de Geociências decidiu outorgar-lhe
o título de Professor Emérito.

526 527
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano TERCEIRA PARTE: ENTREVISTAS E DISCURSOS – CAPÍTULO 4

“Nature to be commanded...”

Address by the IUGS President


at the opening ceremony
of the 28th International
Geological Congress
Umberto G. Cordani1,2

Episodes 1989; 12(3): 159-161


Published online September 1, 1989.
https://doi.org/10.18814/epiiugs/1989/v12i3/002
Copyright © International
Union of Geological Sciences.

1
Institute of Geosciences at the
University of São Paulo, Brazil.
2
Brazilian Academy of Sciences and the Academy
of Sciences of the State of São Paulo.

The past five years have brought many significant achievements in


the geological sciences that contribute new data about Earth. Note-
worthy are planetary data, especially from Venus, that provide a better
understanding of Earth’s early history, as well as new isotopic and Umberto G. Cordani and
Charles Drake, President
analytical results that demonstrate that plate tectonic processes com- Let me begin my account of accomplishments by paying tribute, of the 28th International
parable to those known today have probably operated since the Ar- first and foremost, to Dr. Hutchison’s accomplishments. His bound­ Geological Congress,
chean. Increasing quantification of earth-science disciplines and the less energy, his fantastic capacity to bring out the best in people, his Washington, D.C., USA,
July 9-19, 1989.
shift to a global, earth-system perspective provide new opportunities, enthusiasm and optimism were a boon to international cooperation
new responsibilities, and new challenges for professional geoscientists around the world. His was a life dedicated to geology and to the IUGS.
to contribute to societal needs. Major problems and concerns tran- It is a great privilege for me to follow in his footsteps.
scend national jurisdiction and include catastrophic natural hazards, Let me also pay tribute to Canada for putting forward people of
global change, man-induced environmental damage, and sustainable the caliber of Dr. Hutchison, Dr. Harrison, and their colleagues. The
economic development. IUGS, with its emphasis on multidisciplinary Geological Survey of Canada, in particular, deserves a special note
international scientific collaboration, can play a fundamental role in of recognition for its generosity in supporting the IUGS and inter-
addressing these problems and concerns. (Ed.) national scientific collaboration – through Hutch’s terms as Secretary
General and President, through the editorial office of our successful
Dear Colleagues, Ladies, and Gentlemen: newsmagazine Episodes, and through the difficult transition period
At the opening ceremony of the International Geological Con- following Dr. Hutchison’s death. Both Eugen Seibold, Hutch’s pre-
gress, tradition calls for the outgoing President of the IUGS to decessor and acting President before my election, and I, as well as the
summarize recent accomplishments in the geosciences on a global Union, are very much indebted to the Canadian support.
scale. Because of Dr. William W. Hutchison’s untimely death in Geology and geologists have been active during the past five
1987, I stand before you not as the “outgoing” President, but as years. Although there were no breakthroughs comparable to the
the “ongoing” one. If luck prevails, I will see you again at the plate tectonic revolution of the late 1960’s, there was certainly ex-
closing ceremony and in Japan at the opening ceremony of the 29th cellent progress in several fields. I will highlight just a few examples
session of the Congress, by which time we will certainly know one based on many excellent submissions received from friends and col-
another very well indeed! leagues around the world.

528 529
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano TERCEIRA PARTE: ENTREVISTAS E DISCURSOS – CAPÍTULO 4

The largest of the IUGS Commissions, the Commission on Stratigraphy, has been ping and modeling of rock materials, reservoirs, fluid circulation, and so on. The
defining, properly, some of the more important stratigraphic boundaries, like the tools are now being developed, and resource management of the subsurface will
Precambrian-Cambrian and the Cretaceous-Palaeogene. On the latter, it cooperates likely become a crucial issue for the geosciences in the future.
with the Commission on Global Sedimentary Geology in correlating global events Deep seismic surveys will benefit from the results of deep continental drill-
recognizable more or less worldwide in the sedimentary record. ing, the only direct access to the crystalline crust under in situ conditions and,
You may be interested to know that in parts of the Cretaceous, geologic evi- by consequence, the only possible way to calibrate the nature of the deep seismic
dence demonstrates that the average surface temperature of the Earth was some reflectors. The technology involved in superdeep boreholes is very complex. A
10 ºC higher than today and that palm trees grew at very high latitudes. This number of continental drilling projects are underway or in the planning stage,
demonstrates that our planet can reach such extreme conditions naturally, even with the Soviet Union leading in that field.
without a greenhouse effect produced by man! Among the recent advances in petrology, inclusions of small diamond
Significant progress was made in comparative planetology after analysis of crystals in garnets of a metasedimentary gneiss from north Kazakhstan,
the radar images obtained by the Soviet Venera 15 and 16 space probes. Venus USSR, have demonstrated that carbon representing former organic matter
seems to be more similar to Earth than any other planet of the solar system, and was present in the original sediment. In addition, it was subducted to mantle
the processes operating today may be similar to the Earth’s Early Archean in depths of at least some 130 km.
terms of upper mantle temperature, lithospheric behavior, tectonic styles, and In my own fields of research, isotopic geochemistry, geochronology, and
processes of crustal thickening. America’s recently launched Magellan mission to crustal evolution, we have made significant analytical improvements on mass
Venus is expected to provide higher resolution radar images, as well as altimetric spectrometers, ion probes, and single-zircon dating. We also have had several
and gravimetric data. We look forward to a better understanding of Venus and, important discoveries, including precise dating that identified the Earth’s oldest
by comparison, the early history of Earth itself. known minerals, a few grains of detrital zircon in metasediments of Western Aus-
tralia that have apparent ages of about 4300 Ma. The ages mean that probable
granitic material existed very early in Earth’s history.
“...sea-floor spreading and plate tectonic Moreover, extensive work with neodymium isotopes suggests that substantial
processes comparable to those of today operated amounts of continental crust formed in the Archean. On the other hand one of the
well back in time-probably since the Archean.” largest juvenile crust-formation episodes in the Earth’s history was identified in mid-
dle Proterozoic times in North and South America, and ophiolites dated about 1900
Ma were discovered in Scandinavia, Canada, and near Lake Baikal, USSR. This evi-
Paleontology has experienced a revival in recent years when molecular pa- dence demonstrates that sea-floor spreading and plate tectonic processes comparable
leontology developed considerably. Cooperation between biochemists and pa- to those of today operated well back in time-probably since the Archean.
leontologists is producing spectacular results in the understanding of the phylo-
genetic relationship between living and extinct animal taxa. This understanding
demonstrates that man is actually closer to the great apes than previously be- “Human activities now involve an
lieved. In addition, important new fossils discovered recently have refined our annual flux of earth materials that is
understanding of the evolution of man. equal to that of plate tectonics.”
We have advanced geological interpretation of deep seismic profiles, such
as those produced by the French “ECORS”, the American “COCORP”, the
Canadian “UTHOPROBE”, and other projects. Cooperation between geolo- Let me focus now on our profession in general. Professional geologists, espe-
gists and geophysicists has led to the correlation of observed discontinuities in cially those involved with mineral deposits and economic geology, were affected
the records with geologic structures observed at the Earth’s surface, and if we seriously in the 1980’s by a worldwide recession. With the exception of gold,
take into account the probable rheological behavior of the material, such ev- industrialized countries reduced their consumption of mineral commodities.
idence impacts our understanding of the origin and evolution of folded belts. Metal prices declined, and mining companies reduced exploration activities and
They can now be regarded as orogenic floats that separate crustal fragments budgets. The results were both severe unemployment and discouragement.
from the underlying lithospheric roots. The Global Geoscience Transects proj- These effects were probably most drastic in the industrialized countries, where
ect, with its emphasis on large-scale geological interpretation of the crust, the system forces producers to compete openly for world markets. In the Third
is the most visible and impressive product emanating from the International World, where mineral production is more controlled by government, activities con-
Lithosphere Program. tinued because income earned from production simply could not be foregone, what-
The tridimensional view of the continental lithosphere has fantastic poten- ever the price. But the overall result was continued oversupply, reduced income,
tial. Eventually, we geologists must recognize the need for 3-D subsurface map- and consequent economic difficulties. At present, the depressed situation seems to

530 531
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano TERCEIRA PARTE: ENTREVISTAS E DISCURSOS – CAPÍTULO 4

be easing, at least for some commodities like nickel, copper, and zinc, and this is Soil degradation, desertification, deforestation, acid rain, water pollution as a
resulting in some renewed exploration for these metals. result of excessive use of fertilizers and pesticides, major technological hazards in
As a representative of the developing world, I must stress the importance of nuclear plants or large chemical plants, mining wastes, and seawater pollution from
mining, not only in economic terms but in the role that exploration geologists can wastes and oil spills – all these demonstrate that our planet is in an environmental
play in advancing north-south cooperation. Genuine cooperation between indus- crisis. Most of these problems are related to the growing human population, which
trialized and developing nations can reverse the present, very adverse situation for is starting to reach saturation. Human activities now involve an annual flux of earth
the Third World. The developed nations, having about one-quarter of the world’s materials that is equal to that of plate tectonics.
population, use more than 80 percent of the world’s mineral wealth, no matter In addition to the local or regional environmental problems, concern grows
what sources. As a result the mineral potential of the Third World has been benefi- about possible changes in the whole global ecosystem, which may have a long-term
cial practically only to the industrialized nations and a very small minority within adverse effect on mankind. And, finally, there are the catastrophic natural hazards –
the developing countries. earthquakes, volcanic eruptions, typhoons, floods, landslides, and the like – that so
frequently cause death and destruction.
The geosciences have a fundamental role to play in addressing all of these prob-
“Geology is shifting to a global, lems. The geologic record of past global changes provides the baseline against which
earth-as-a-system perspective.” to assess the nature and significance of contemporary and future changes. The elu-
cidation of the dynamics of the solid earth provides a framework for the mitigation
of catastrophic natural hazards.
I believe that we geoscientists have a responsibility to understand the social and IUGS, having its emphasis on multidisciplinary international collaboration, can
economic factors that control the development of mineral resources and to estimate contribute in a major way. We can contribute through the lnternational Council of
their effects. It is our duty to identify the appropriate balance, the division of respon- Scientific Unions program on global change and through the “International Decade
sibilities between governmental and private interests, that best will meet the different for Natural Disasters Reduction”. As geologists, we are custodians of our Earth.
needs of all involved, while providing the necessary material to industry. Let us mobilize and start bridging the knowledge gaps to address these vital global
Finally, a few words of “crystal ball gazing” into the future of our profession. threats to our planets’ survival and our own survival.
Geology is becoming a more quantitative science, as broader application of in- Let us not shy away from communicating with policymakers and planners. Geol-
formation technology and modeling is made to the geologic processes bearing on the ogy is not, at present, part of their culture. All of us know how important geology is
nature and evolution of the Earth. Basin analysis using computers, seismic tomog- for society. Let’s make sure that educators too share that knowledge. It is our respon-
raphy of the interior of the Earth, numerical simulation for exploitation of oil and sibility to reintroduce earth-science curricula into educational programs, preferably
mineral deposits, remote sensing, digital data bases, and digital cartography are all at the secondary school levels when students are introduced to the environment and
examples of this tendency. the very serious problems that face it.
Geology is shifting to a global, earth-as-a-system perspective. New initiatives Francis Bacon in the 17th century wrote, “Nature to be commanded must be
in the IUGS family alone reflect this development: the Global Sedimentary Ge- obeyed”.
ology Program, the Global Geoscience Transects project and the World Stress We live in a challenging world with many uncertainties. We hold a great respon-
Map of the International Lithosphere Program, and the recently launched envi- sibility for future generations. We must keep faith in our capacity and remain orga-
ronmental programs. nized to accomplish our goals, and we must make use of the tremendous potential
This brings me to what I consider the most important role of the geosciences in of international collaboration. Let us start right now to respond to the signals that
the next decades: to contribute in a holistic view, in cooperation with many other naturals sending us. Let us obey in order to command again.
branches of science, to achieve sustainable development as it was characterized in the
United Nations “Brundtland Commission” report, “Our Common Future”.
Damage to the environment and the many related problems are now a major
worldwide concern. The challenges cut across the divide of national jurisdiction. Po- Umberto G. Cordani is Director of the In-
litical decisions on the management of resources and land-use planning are crucial. stitute of Geosciences at the University of São
Sustainable development will give rise to an unprecedented demand for informa- Paulo, Brazil. He is a member of the Brazil-
tion, advice, and technology that only an integrated approach can satisfy. In many ian Academy of Sciences and the Academy of
countries, the focus of the challenge ahead is shifting from protection and resto- Sciences of the State of São Paulo, and he has
ration to planning and prevention, as the possible solutions to environmental issues served on many international scientific boards
become more and more complex and dependent on the cooperation of a multitude and committees. He assumed the presidency of
of sectors but first and foremost that of science. the IUGS on May 1, 1988.

532 533
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 1

Origin of the Center for Geochronological My first task was to raise money for the
equipment. I knew that in the short time I would
Research at São Paulo be in Brazil we could only make important head-
way if I brought absolutely everything we needed
John Hamilton Reynolds from the US. So I had to sit down and make a list
(in memoriam) of everything needed – mass spectrometers, sam-
ple systems with an induction heater, glass equip-
Presented at the First SSAGI, 1997, Campos do Jordão, SP, BRAZIL
(Article publication in Geologia USP. Série Científica, v. 2, p. 1-8, ment for filling sets of 38Ar spikes, a flame pho-
december 2002 – http://www.revistas.usp.br/guspsc/issue/view/2058). tometer for potassium analyses, ion exchange
columns for Sr separations. Of course we had to
Please excuse my making this account totally personal. In evoking the origins locate the vendors for all that material and get
of the Center I pretty much lack outside documentation. Much of what you will their prices before a proposal could be sent to
hear is thus what I remember. Memories are, as you know, highly fallible. People the U. S. National Science Foundation where we
my age can not only fail to remember what happened but worse still can succeed in expected we could get support.
remembering things that didn’t happen! Happily I kept a journal of my association Things progressed and we got the mon- John Hamilton Reynolds no Laboratório
with this project. About once a week I would dictate my account of the previous de Espectrometria de Massas da Univer-
ey based on our lists of things needed. The big sidade da Califórnia, em 1962.
week’s activity and, from time to time send plastic “Dictabelts” back to Berkeley for items were the mass spectrometers. At that time
transcribing. There resulted, finally, some 530 typewritten pages of documentation. the Nuclide Corporation was fabricating glass instruments based on a Berkeley design
I shared these with the US National Science Foundation as they were typed up and, so that we could order a complete mass spec of the kind we wanted for the argon anal-
of course, kept a copy for myself. I have referred conscientiously to this journal in yses. I saw myself with a potential conflict of interest, so I specified that no royalties
writing my report. It suffers from many inadequacies but at least the material in it were to be paid to me as a result of the orders. It was important in my view to teach
was written within a few days of its occurrence and the impressions, subjective as the Rb-Sr method in addition to the K-Ar method. An inexpensive way to do that was
they may be, were at least fresh. So, – let us begin. to design a modified glass tube in which a surface ionization source could be fitted for
I remained working at Berkeley for all of my professional life. There are dangers in Rb/Sr measurements. Such a mass spectrometer would not be a permanent solution for
that, but Berkeley has a very enlightened policy about sabbatical leaves – after every 6 the Rb/Sr capability, but would enable me to teach all the steps in determining Rb-Sr
years of service you can be away for a year on 2/3 salary. And I took full advantage of ages. Later a proper mass spec could be added by the Brazilians. The glass tubes were
that program. I liked to be partly a traveler on those leaves and partly engaged in some- fabricated for Nuclide by our Berkeley glass blower as an outside job so that I could
thing useful. When it came time to think about a plan for my second sabbatical leave conveniently oversee his work. We made spare glass tubes for both the argon and
in 1963-1964, an article by Patrick Hurley caught my eye. Partly the title read “How surface ionization instruments. There were two magnets and two pumping systems
not to date a continent”. As a non-geologist I did not pay much attention to his recipe, but shared electronics. Despite all our thinking ahead we had not reckoned on the
but I was struck by learning that for the most part there were no radiometric dates for substantial California Sales Tax for the equipment, some 6 percent. The solution to
South America. I had enjoyed teaching geologists at Berkeley how to measure dates. that problem, which was found by an energetic purchasing specialist at Berkeley – Mr.
Why not go to South America and teach there for a year? The first step was to write Howard Symonds – was to store all the material upon receipt in a sealed container for
a letter to several leading geology departments in South America and ask if they were export. We couldn’t test any of the equipment until we got to Brazil.
interested in a joint project between the University of California at Berkeley, hereafter There are two amusing stories which come to my mind about this phase of the
UCB, and their institution. The Brazilians at São Paulo came back immediately with work. As part of USP’s contribution to the project, the Geology Department there
enthusiasm. It just so happened that Frank Turner, a friend of mine at the Geology was asked to send a junior geologist to Berkeley to work with those geologists at
Department at Berkeley, was visiting the São Paulo department at the time and he en- Berkeley who were engaged in geochronology. This would give him or her a running
couraged them to respond quickly. By the time a friend of mine at Buenos Aires gave a start in learning the business. USP wisely sent Umberto Cordani, one of their best
similar response, it was too late. We had a deal with Brazil. assistants at the time. From that time onward, Umberto was the chief Brazilian par-
The deal involved obligations on both sides. UCB was to collect the equipment ticipant in the laboratory and became the de facto chief when I returned in 1964 to
needed for a geochronology laboratory and arrange to bring it and me to São Pau- Berkeley. While at Berkeley, Umberto lived in my house and worked very hard and
lo. The University of São Paulo, hereafter USP, was to provide suitable space for the effectively in learning the ropes. He was so efficient that he had extra time to help
lab and provide key personnel – one or more geologists and at least one physicist. me with assembling the equipment. I suddenly realized that we had neglected to put
USP was also responsible for getting funds for properly fitting out the space and a cathode ray oscilloscope on the equipment list. The cheapest way to add such a
for operating the lab. My own support would come from UCB but other personnel piece of equipment was to buy a so-called Heathkit oscilloscope – an unassembled
would be supported by USP. kit which the purchaser puts together himself. Umberto put it together in the apart-

534 535
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 1

ment in my house where he was living. One morning he came down to breakfast Myself – then and now
looking completely undone and told us he had been incredibly foolish. Much of
the wiring in the kit for the oscilloscope was in a preassembled harness. Umberto In starting to read the journal a few weeks ago I was confronted with recol-
somehow though it was necessary to undo all that before attaching the wires. So he lections, attitudes, and feelings which date back 33 years. How on earth could I
spent much time painfully taking apart a harness which eventually he had to put back have been that intense? How could I have displayed that much energy? How could
together again. I can finish this story by saying it is the only mistake I ever remember my co-workers have put up with me? I focused completely on having the project
Umberto making in all the work we did together. succeed. I evaluated everyone involved in terms of the extent to which they shared
I am the goat in the other story. We needed some 90Sr to use in calibrating our my goals and contributed to them. Except for Umberto, who always behaved in
ion exchange columns. I obtained the isotope catalog from the government lab saintly fashion, I complain about all of these people at one time or another – often
in Oak Ridge, Tennessee, and noted that the minimum price for the isotope was unjustly so – in the pages of the journal. In short I am confronted with myself as a
that for a curie no matter how little you ordered. Being a thrifty New Englander person I now don’t particularly like. But on I somewhat admire for single-minded
by nature and having noticed that 90Sr had no gamma rays – only a beta minus dedication to carrying out a plan. Much as one might admire a military officer who
activity which would be well shielded by ordinary packing – I said, “why not harasses his troops incessantly and expects far too much of them but in so doing
order a curie – other Brazilians might like to have a large supply of the isotope?” drives them to great exploits and, with them, achieves the states objective. I am
What I had overlooked was that although the short-lived daughter, 90Y, of the much more appreciative now of what others did on this project. Let me start by
29-year 90Sr also decayed predominantly by pure beta emission there was a .02% talking about some of these people.
branch to an excited state of 90Zr which emits a 1.75 MeV gamma ray. In other Umberto Cordani
words when the package arrived it was as hot as a pistol. A nearby Geiger count- I start with the two Brazilians you are honoring today. Umberto was the happy
er would register large amounts of radiation and there were, for that reason, all choice of the faculty at USP to be the leading assistant for the geochronology labo-
sorts of restrictions about handling the package. Getting that “hot” package into ratory and his time working with me and his subsequent distinguished career at São
safe hands in Brazil without causing a bureaucratic nightmare was a major source Paulo and on the international geologic scene have underscored that fact. As geolo-
of worry for weeks to come. gist, researcher, research director, professor, administrator, and international worker
We traveled to Brazil by freighter. There were two reasons. One was that I and spokesman for geology, his career has brought distinction to USP, Brazilian sci-
greatly enjoy sea travel (now that I am retired, for example, cruising in our sail- ence, and the entire geological profession. The geological data base, “georef ” we can
boat has become a major activity with Ann and me). The other was that we had call up on our PC’s these days lists 120 publications under his name.
a lot of fragile equipment to transport safely to Brazil – glass mass spectrometer
tubes, glass mercury diffusion pumps, the rudiments of a glass system for filling Koji Kawashita
individual argon spikes and so on, not to mention much other delicate electronic When I got to São Paulo, the Brazilians had not yet obtained the services of a
instrumentation. The best way, thought I, to ensure safety of these cargo items physicist assistant. They had, however, identified two young physicists who were
was to accompany them on a ship and supervise all loading and unloading. A possible candidates. They held provisional jobs at the Atomic Energy Institute at
trick we always used in shipping the fragile glass items was to box them up in a São Paulo near the Cidade Universitária with responsibilities for looking after a
wooden “coffin” with a transparent top. Even the roughest, toughest stevedore newly acquired Metropolitan Vickers mass spectrometer. The machine was a good
would exercise some care when he could look into the box he was handling and one, it seemed, capable of both surface ionization and the usual stable isotope stud-
see a delicate piece of laboratory glass lying in state on its padding. So we had a ies (carbon and oxygen). Their lab, however, lacked supplementary equipment and
leisurely time traveling by ship from Los Angeles to Santos, Brazil, enjoying the supplies, reliable electrical power, operating funds, and most of all any visible re-
passage through the Panama Canal and stopping at various ports in the Caribbe- search program. Of the two men, Koji was by far more interested in what we were
an until we got to Santos. doing. His colleague was attracted by some promise of receiving a fellowship for
We solved the problem of how to transport the radioactive package on the ship. training in Vienna as part of his affiliation with the Institute. Koji’s chief, Professor
The freighter had cargo winches which operated on the ship’s DC electrical power. Pieroni, did not seem to be averse to Koji coming to work for us. I had hoped we
Just like a trolley car, or in Brazil I should say just like a “bonde” if that term is still could get a trial arrangement so that both Koji and I could see how well we worked
used here, the speed of the winches is controlled by switching in and out resistances together but it turned out finally, and I’ll never know unless Koji tells me whether
with high power ratings. On a ship these resistances are situated in a so-called re- the insistence was his or Professor Pieroni’s, that we had to make a contract for
sistor house, a metal closet, essentially, with stout steel walls where a crew member Koji right off the bat. It turned out that the contract I was a little hesitant about
hardly ever goes – a perfect place to transport a radioactive box. When we got to was worth its weight in gold. Koji has been a mainstay of the laboratory ever since.
Santos and were ready to leave the ship, I retook possession of my radioactive box It is his technical expertise, his interest in Always improved instrumentation, his
and put in one of my suitcases, hoping that they would not check incoming personal proclivity for hard work, and his dedication to the laboratory that have made it a
luggage with a Geiger counter. Fortunately they did not. lasting success. His ‘georef ” entries number 103.

536 537
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 1

Gilberto Amaral of that sort. He was also an invaluable liaison with the American Consular office
He was the second geology assistant to be assigned to the project. Gilberto in São Paulo who had to participate in the free importation of our lab equipment
worked very hard as part of the crew who got the laboratory started. He was asso- through Brazilian customs and handle the documents for that process. That con-
ciated with those science projects that I worked on during my stay and was indeed nection continued to be an absolutely indispensable one because we were able to
a strong contributor to the K-Ar work. Because his name started with “A”, the first import small spare parts and other needed items from Berkeley via the diplomatic
papers from the lab are authored by “Amaral et al.”. Gilberto had other interests in pouch. To everyone’s amazement, that useful pipeline postdated my time in Brazil
geochemistry so that he did not become, like Umberto and Koji, a permanent fixture for many years. Every now and then a badly needed item could get quickly from
in the lab but he was truly one of the pioneering contingent whose efforts played a Berkeley to São Paulo in that way – the last instance being a scant few years ago.
big role in the success of the project. When I consult “georef ” under his name I find When the lab began to make measurements, Norman was one of the people, along
36 papers listed. Many of these are in the field of remote geological sensing so I infer with Brazilian geologists, that we brought into the programs discussions where his
he has changed to that field. geologic expertise and familiarity with Brazilian geology were a valuable resource.
Norman returned to the USGS for a few years but eventually returned to academia
Viktor Leinz by joining the faculty at the University of Georgia. It is interesting that the work
Professor Leinz was the senior professor of geology and the one to whom Um- he is now famous for, marrying marble quarries and archeological artifacts by their
berto was attached as an assistant. The first paper we published in Geochimica et carbon and oxygen isotopic signatures, involves the use of mass spectrometry. Herz
Cosmochimica Acta contains a profuse and flowing tribute to Professor Leinz for is now a famous name in archeological geology.
his administrative support of the laboratory. I am told that several years after I left
Brazil to return to Berkeley he finally came to understand what we were trying to Geraldo Melcher
do and to live up to the tributes we paid him in the literature. But while I was in Of all the Brazilian professors at USP, the one who most assisted the geochronol-
São Paulo and for a few years thereafter he really did not have an understanding of ogy lab was he. Melcher was an expert field geologist who specialized in economic
our objectives and viewed the project more as some sort of prize to be captured in geology. He was also one of the most gifted linguists I have ever known. He was not
what could best be described as a power play. My Brazilian colleagues are of a mind only fluent in many languages but was truly multilingual, soon speaking languages
that I should let bygones be bygones and not elaborate on these difficulties, but I which were new to him with very little trace of foreign accent. He told me in 1979
think in writing a history there is a certain obligation not to cover up important but that despite no previous acquaintance with the Russian language he succeeded, after
unpleasant facts. Dealing with Professor Leinz was somewhat like dealing with the a then recent but brief stay in Russia, in understanding almost everything his Russian
weather – sometimes fair and warm and sometimes stormy. On the whole, however, friends were saying. Moreover, advice from Melcher in dealing with the problems
these interactions were troublesome and consumed energy from all of us who were already mentioned in relation to Prof. Leinz was invaluable. My communication
working hard to establish the lab. I am pleased that toward the end of his life he with other senior Brazilians at USP was hampered by my limited facility with the
began to appreciate the principles we had established for the laboratory and the Portuguese language, adequate for most purposes in living there but not up to han-
contributions of its staff to the reputation of the Geology Department, of which he dling delicate interpersonal relationships. Not so with Melcher. And like Herz, he
had been the major founder, and indeed the reputation of the University as a whole. was extremely helpful in the discussions of our scientific program and quite willing
He now seems to be fondly remembered by those who served under him years ago. to devote time in the field to that program.

Norman Herz Rui Franco


Norman was an American who preceded my coming to the Geology Depart- In 1963, the Geology Department at USP was located in what had been a
ment at USP as part of the AID program (Assistance for International Develop- grand private house near the Governor’s Palace on Alameda Glette. The ground
ment) of the US Department of State. Outside assistance to geology at USP and floor was taken up by the Mineralogical Museum, presided over by Prof. Rui
elsewhere in Brazil actually began even earlier under a Brazilian program called Franco. Franco was much admired as an expert on gems; much traffic in gem
CAGE (standing for “Campanha de Formação de Geólogos” or “campaign for appraisal came his way. According to Frank Turner he was very discrete in this
the preparation of geologists”) instituted by President Juscelino Kubitschek. The work. His notes might conclude, after a careful description of a large and rare
American contingent, under the AID program, were geologists seconded to that gem, “this stone is remarkably similar in both description and weight to the fa-
program by the US Geological Survey and included Professors John Stark, Gene mous Such-and-such stone – which was stolen from So-and-so several decades
Tolbert, and Norman Herz. Norman, who overlapped my year in Brazil for most of ago.” But the client could be sure that the comment went no further. Rui Franco
it after the other AID professors had left, gave a great deal of his time and effort to was of great help to the lab as a professor of high standing in Brazil who wanted
help our geochronology lab. It was he who helped solve the myriad personal prob- us to succeed, who was close at hand to our work, but had no designs on our
lems I faced in getting established in São Paulo, finding a house to rent and a cook undertaking. His standing in Brazil can be evaluated from the fact that he retired
to help my wife, providing a vehicle to get around in before I bought a car – things from his professorship at USP to become the chief of the educational division

538 539
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 1

of Brazilian Atomic Energy Institute. His friendship and support were always Technical difficulties
much appreciated by the lab. I also owed him a large personal debt of thanks
because he was able to arrange it so that my three young children attended an Research projects always have these and they are not very interesting long after
excellent state school in São Paulo when a new semester began in February. His the fact. Those that were the most thorny I can recognize by the frequency of their
arranging had nothing to do with his political influence. It came about because mention in the index I prepared for the dictated journal. Notable in that way are the
his sister had for many years been a classroom teacher at the school and thought broken quartz still, the ammonia shortage, the fuse problem, and the problems filling
that having my American children in attendance in three of their classes would the first set of argon spikes in Brazil.
be an unusual opportunity for the other children to interact with these North Part of the quartz still was damaged at sometime during its shipment and needed
American neighbors. My children flourished at that school and came away from replacement. Its lack held up all the wet chemistry tasks in our lab, because we needed
Brazil completely fluent in Portuguese. Unfortunately there was no way for them ultra-pure distilled water for potassium, rubidium, and strontium chemistry. Completing
to maintain that skill back in Berkeley. the first radiometric age determinations in our lab so that we could publicize our coming
on stream was a prized goal; despite having made great progress in determinations of
Claudio Comerlatti radiogenic argon, we could not complete any age determinations until the more mun-
He represents the hard working technicians skillful and dedicated, that assisted dane potassium measurements were completed. So crucial did this problem become that
our operation – he was responsible for much of our wet chemistry and flame pho- I finally had to make a special trip to Rio to bring back as airline baggage the quartz part
tometry. Another man who comes to my mind was our mechanic Donato, a techni- which had reached Rio safely but would not be accepted as freight by the airlines unless
cian belonging to the neighboring Chemistry Department. it were, carted, something I considered too risky – after something is crated there is noth-
ing to ensure that it won’t be tossed around and possibly damaged in transit.
USP professors in other disciplines The ammonia shortage had to do with a peculiar mindset then prevalent in
I would mention a few professors in other departments who helped the laboratory Brazil. When ammonia was imported, there was plenty – despite the trouble and
a great deal. Professor Oscar Sala of the Physics Department ran an ambitious and expense to the chemical companies in having it imported. When Petrobras, the
successful nuclear physics program, using a homemade Van der Graaf accelerator. He state oil company, started producing ammonia in a small way, the chemical com-
helped us obtain some needed shop work when revisions to our Rb/Sr mass spectrom- panies stopped importing it despite the fact hat the local production was far less
eter proved necessary. His colleague in physics, Professor Quadros, met our needs in than demand. They simply told people who formerly got ammonia from them
obtaining liquid nitrogen. We needed relatively small quantities so that commercial that there wasn’t any – which in a way was true. I do not know how the Brazilian
supplies, although obtainable, would have been impractical. Several professors in the economy finally dealt with this problem. We needed so little in our operation that
biological sciences were helpful. Professor Crodowaldo Pavan, a well-known genet- a friendly bureaucrat at Petrobras whom myself and Umberto visited simply di-
icist, ran an admirable program at USP. Some of his work was on Brazilian flies. He verted one of their cylinders of liquid ammonia for our (more or less lifetime) use.
also did interesting work, using genetic observations on a small barren island under The fuse problem just about drove us crazy. We had adequate power from our
his complete control as a natural genetics laboratory. His aid to us was in the form of own generator even during the rather frequent power interruptions. The problem
some voltage stabilizers badly needed by us which he could spare. Also in genetics was was the two sets of fuses between us and the generator. Poor electric contacts in fuse
Professor Warwick Kerr, an expert on bees. Kerr was actually at another university holders can substantially lower the current rating because of the extra heat produced
but served while I was there as FAPESP, the State Agency Scientific Director of from in the poor contact between wire and fuse. The solution was to install circuit breakers
which we obtained supplementary funding. That position rotated among prestigious but it took weeks or even months before we could get delivery on the breakers. The
professors who took on the job for limited terms. Kerr understood our problems generator we brought was to be housed in a brick shed. By the way, the Brazilian way
with Professor Leinz very well and was able to help a good deal. Kerr’s lab had the to handle that was to install the generator and then build the brick shed around it. If
misfortune later of being the one from which African “killer” bees escaped into the the generator needed work it was considered an easy job to demolish the brick shed,
American continents, showing that genetics can sometimes be a dangerous occupation repair the generator and start over. An elegant solution which probably would not oc-
even before cloning became possible. Finally, the marine biologist at USP, Professor cur in the US, where a large and costly shed with doorways would have been required.
Sawaya, provided help of an especially important kind. He gave may Family the privi- The filling of large butches of argon 38 spikes was a series of successive troubles.
lege of going from time to time, for a rest. Restoration at the station of Marine Biolo- The spike tubes were preweighed both empty and filled with mercury in order to
gy of the USP at São Sebastião was an important thing for me and I always remember know their volume. To finally fill the spikes, mercury was distilled into the system,
it. Professor Sawaya was an enthusiastic supporter of the Sociedade Brasileira para o a charge of spike argon was released in the volume and the mercury then gradually
Progresso da Ciência (SBPC), the Brazilian equivalent of the American AAAS – the shifted by gravity from the reservoir into the capillaries so as to seal off the tubes
American Association for the Advancement of Science (and publisher of Science mag- before removing them with a torch. The volume of the system remained constant
azine). At his urging I gave a paper at one of their annual meetings and came away during the mercury transfer so that all tubes were filled at the same argon pressure.
with a good opinion of that organization. People wouldn’t dream of such a procedure nowadays, but it had a great advantage

540 541
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 1

when we were opening our lab to visiting workers. If they bungled, they could lose Renne et al. use the 39-40 method and incre-
one spike but they could not destroy a carefully calibrated gas pipette. We brought one mental heating so that instances of argon loss or
set of some 400 spikes to São Paulo from Berkeley but further spikes had to be filled argon inheritance can be detected and discarded
in Brazil. My journal index contains about six long entries concerning the spike filling from the uncomplicated plateau ages.
problem, all near the time I was trying to wind up affairs and leave Brazil. The shortest Another project worthy of mention con-
way to describe the situation is to remind you of Murphy’s Law – if anything can go cerns the dating of older rocks in the northeast
wrong it will. There was really only one expert glassblower we knew about. During of Brazil, near the bulge in the coastline which
the last part of my stay I believe he was halftime at the Nuclear Institute and halftime has always been strongly suggestive of a former
in a commercial shop of his own. To get the spike tubes assembled for filling, we had fit with a corresponding indentation in the west
to transport things back and forth between our lab and his shop. He had no annealing coast of Africa. The boundaries between geolog-
oven. We solved that problem by building our own. Its thermostat was unreliable and ical provinces in that region run in such direc-
melted one subset of assembled spike tubes. I dropped another. And so on. When I left tions there should be similar patterns between
Brazil we had successfully filled about 185 tubes. The remainder, counting the ones I old South American and old African rocks if the
had not broken or melted, were totally filled with mercury for a second time when the regions were once connected and continental
system cracked on the operating table, so to speak. Koji had to deal with that problem drift has subsequently occurred. This was a Proj- The first two articles.
after I left the country. ect where Rb-Sr dating would also be important.
According to my journal, the idea of dating these
Brazilian rocks was mentioned in the original NSF proposal – something I later had to
Our scientific program document as you will see. On May 25, 1964, we received a letter form Patrick Hurley
of MIT describing a large collaboration being organized to carry out this “crucial
The first two projects we undertook, and I am speaking now of our São Paulo experiment to test the hypothesis of continental drift”. According to Hurley’s letter,
group because visitors to the lab brought their own scientific projects, were a survey Steve Moorbath’s lab at Oxford was to have pretty much a monopoly on dating the
of the ages of various occurrences of the vast Paraná flood basalts and related diabases African rocks, but there was to be much US involvement in the work on the Brazilian
and a survey of the ages of various occurrences of alkaline rocks in Southern Brazil. rocks. When Hurley’s letter came, we got together people at USP and decided that we
These rocks were thought to be relatively young and appropriate for K-Ar dating would participate actively and strongly in the project and made concrete plans for the
and were of considerable geologic importance. These two projects were completed necessary field work in the northeast region and for its funding. Melcher was to play a
and eventually published in the journal Geochimica et Cosmochimica Acta. Because major role in the field work, along with Gilberto and others. Our response to Hurley
my expertise was in the instrumental method and not in the geology, I was especially generated a second letter from Hurley that we found disturbing because it painted a
interested in the precision of the work. We carried out quite a number of replicate picture of our lab as a fledgling enterprise that “needed to be brought along to matu-
analyses so as to evaluate the analytical precision. The other question we were inter- rity and sophistication by helpful contact with other members of the collaboration”,
ested in was to what extent differences in age among the samples was real. To attack and not in any way be the major player in the South American work. This letter went
that question we selected diabase samples from fresh intrusive dikes where we could over with us like the proverbial lead balloon and had me documenting for Hurley
be confident that all samples from the dike should be contemporaneous within a very our earlier proposal to NSF and our intention to engage strongly in the project irre-
short time span. The results of these systematic studies were somewhat inconclusive. spective of what others did, although we welcomed their participation with us if they
We found, for example, that in studying a particularly appropriate dike, sampled on so chose. The next and final letter from Hurley during my stay at USP said it had all
the beach at a place called Ubatuba, that five of six samples taken from spaced inter- been a misunderstanding and they did not want to horn in on our area now that they
vals in the width of the dike were exactly the same in age, but the remaining sample understood the picture etc. all was sweetness and light again. The project went ahead
was lower in age by about 10 percent. And we could find no property of the aberrant at least at São Paulo and at MIT and resulted in a somewhat famous 1967 joint paper
sample which could in any way explain the difference. Our general conclusion was in Science which strongly supported the hypothesis of continental drift. The authors
that the true accuracy of the method was good enough, except for rare instances, so from USP, where field work and K-Ar ages were done, were Fernando de Almeida,
that the observed spread in the ages of the Paraná basalts was real. Much more recent Geraldo Melcher, Umberto Cordani, Koji Kawashita, and Paul Vandoros. The au-
work, by Renne and others, shows that we were wrong and that by newer techniques thors from MIT, where Rb/Sr work was done on Brazilian samples, were Hurley, J.
the ages of the basalt floods prove to have a much smaller spread. I can brag a little R. Rand, W. H. Pinson Jr. and H. W. Fairbairn. The African data were taken from
here and comment that just at the time we were perplexed about this problem in São the literature. Hurley later wrote a Scientific American article about the work. The
Paulo, work was going on in my lab back in Berkeley that developed the needed ex- MIT – São Paulo paper in 1967 came at a time when there was an explosive output of
perimental technique. I refer to the discovery of the argon 39-40 method by Merrihue evidence for continental drift, sea floor spreading and plate tectonics. As you can see,
during his thesis work with me and published in 1965. The new measurements by our lab had a role in this scientific revolution.

542 543
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 1

rello both of the University of La Plata. From my journal I find that they visited
us in mid-December of 1963 and mainly explored the possibility of setting up
their own lab in Argentina. I urged them to send people here for hands on train-
ing while I was here, but nothing happened until I left Brazil. According to “geo-
ref ” Cazeneuve published a paper in 1965 containing dates form samples form
Argentina so that he must have worked in the lab briefly. The first visitor to really
grab the opportunity with both hands and make something of it was Fernando
Munizaga from Chile. He appeared in São Paulo on April 4, 1964, with samples
in hand (and more on the way) prepared to spend three months with us. Within
five days he was running an argon extraction line with one of his samples loaded.
Principal His three months stay was very productive and near the end he was asked by his
figure of the colleagues in Chile to stay longer. I do not remember what happened in that re-
article on con- spect but it was clear at the time that he needed a rest. I was able to arrange with
tinental drift,
published Prof. Sawaya that he visit the marine biology station for some restoration, just as
on Science I had needed on several occasions.
in 1967. Our first visitors from other places in Brazil were Homero Lenz Cezar and
Jorge Gerken from Fortaleza and Belo Horizonte respectively. These visitors
were unusual in that they had experience with radiometric dating and mass
spectrometry earlier on. Homero had been a student at Oxford working in Ken
Maune’s laboratory. I had not met him but my Berkeley postdoc at the time,
Grenville Turner had overlapped with him at Oxford. Jorge had spent some
time with Tom Aldrich’s group at the Carnegie Dept. of Terrestrial Magnetism
in Washington DC, as well as a year in Minneapolis. I was especially interested
in getting them involved because of their experience and I was able to find
some left over NSF funds to pay most of their expenses. They were here for
most of July and accomplished quite a bit. They were very helpful to me in
helping to get the kinks out of our Rb/Sr work. Between them they ran quite
The visitor program a few of their samples for K-Ar dates. These were samples form the State of
Ceará. Sometime later Homero and a geologist, Gerhard O. Schrader, must
From the very first we planned for the laboratory to be open to geologists who have returned from Fortaleza and measured some definitive Rb/Sr dates on the
cared to visit and to be instructed by us in running their own samples. By this means Ceará samples because I have a treasured reprint of a paper (in English) by Koji,
the scope of the work would be expanded and geochronology in South America Homero and Schrader which is the only description in English of which I am
would be advanced more than would be the case with a closed lab in São Paulo. We aware about the small glass surface ionization machine and the successful work
also expected that by directly involving people from other institutions in radiometric it did. Most of these people were at my house on the evening of July 24 for an
dating there would eventually be spin off of other laboratories for radiometric dating evening of heavy eating and music making.
in South America. Our approach was to disseminate this invitation by letters to other
institutions on the continent. Our hopes in this regard have been fully realized. Even
in the first year of operation we enjoyed considerable participation by visitors. Fond memories
Jonathan Bushee, a geology graduate student of Frank Turner’s was our first visi-
tor. Having a Berkeley graduate student was planned from the first so as to strength- I have about used up my time, so I will simply conclude this very personal
en the collaborative relationship between UCB and USP. Jonathan’s thesis topic, un- account by saying how fondly I look back on the project as one of the high
der Turner’s direction, was a study of alkaline rocks. In particular, since a survey of points in my life. The year was a mixture of hard work, new experiences for
the ages of alkaline rock localities had been preempted as one of “in-house” projects, myself and family, interesting travels, and interactions with many people who
Bushee’s special project was to be a detailed study of the Poços de Caldas alkaline came to be lifelong friends. Lasting satisfaction from having done this work
complex, although he participated with the group in the survey as well. has come from seeing that the precepts we had in mind for the laboratory
Two scientists form Argentina were the first visitors to respond to our letter have been maintained over all these years, something to which this meeting
of invitation, namely Horacio Cazeneuve, a physicist, and geologist Angel V. Bor- will certainly attest.

544 545
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 2

Trajetória histórica do
Centro de Pesquisas
Geocronológicas da
Universidade de São Paulo
Enio Soliani Jr.
(eniosoliani@hotmail.com).
Koji Kawashita
(in memoriam).

1. Introdução

Enio Soliani. No ano de 1963 apenas dois espectrômetros


de massa existiam em São Paulo: um de fonte ga-
sosa, da Atlas-Vickers, fabricado na Alemanha, e
outro para gases, líquidos e sólidos, da Metro-
politan Vickers, modelo MS-2, construído na
Inglaterra. O primeiro ficou sob a responsabi-
lidade do Prof. Otto Gotrieb, do Departamen-
to de Química da FFCL da USP (Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de Foto 1: Umberto
não sermos repetitivos, abordaremos com maior ênfase o desenvolvimen- Cordani e o painel do
São Paulo), e o segundo foi acomodado no Ins- to técnico-científico das metodologias radiométricas deste Laboratório espectrômetro Nuclide
tituto de Energia Atômica, atual IPEN/CNEN a partir de 2007, ano em que, por coincidência, o mesmo ingressa em para análise de argônio.
(Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares/ Laboratório de Geo-
uma fase que aqui vamos denominar de a Nova Era da Geocronologia cronologia na Alameda
Comissão Nacional de Energia Nuclear), efe- no Brasil. Antes, porém, faremos algumas breves considerações de caráter Glette, Campos Elíseos,
tivamente utilizado pelo Dr. Eiichi Matsui nos histórico para situar o leitor sobre a razão da existência do Centro de
São Paulo, em 1965.
primeiros anos da década de 1960. Pesquisas Geocronológicas, instalado do Instituto de Geociências da USP,
Ambos os equipamentos podiam analisar gases que sucedeu o Laboratório inicial.
Koji Kawashita e Umberto G. Cordani. nobres no modo dinâmico ou no estático (Atlas-
Vickers), ou elementos sólidos e também gases
nobres (MS-2), mas não eram destinados para finalidades geocronométricas. Original-
mente, seriam empregados em análises isotópicas de urânio enriquecido em 235U, parte 2. O Laboratório de Geocronologia
de um projeto para a fabricação do combustível necessário ao funcionamento do reator e o método K/Ar
de fissão induzida, instalado no IPEN. Na verdade, por alterações de metodologia, os
dois espectrômetros nunca chegaram a ser utilizados para a finalidade inicialmente ima- Em 1957, a partir dos departamentos de Geologia e Paleontologia e de Mineralogia
ginada. Sob a responsabilidade do Dr. Eiichi Matsui, e com a colaboração de um dos e Petrologia, com o incentivo da Campanha de Formação de Geólogos (CAGE), pro-
subscritores deste texto (Koji Kawashita), o MS-2 ficou certo tempo no modo de ope- posta pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura), criou-se nos domínios da FFCL
ração para análises de elementos sólidos, como o chumbo, para fins geocronométricos. o curso de Geologia. Entre os marcos de pesquisa da FFCL foi a instalação em 1963
Um fato de certa forma premonitório para um dos autores deste texto (KK) foi a do primeiro Laboratório de Geocronologia da América do Sul (Cordani, 2007), fruto
tentativa de se datar galenas, por exemplo, por simples determinações de razões isotó- de iniciativa do Prof. John Hamilton Reynolds (ver capítulo 1 da Quarta Parte) com
picas de Pb por espectrometria de massa. Porém, as primeiras medidas das razões isotó- substancial apoio financeiro da National Science Foundation (ca. US$ 110.000,00).
picas do 204Pb mostraram-se imprecisas. No ano de 1963 o destino levaria KK para um O acervo instrumental inicial deste laboratório incluía um espectrômetro de massa
novo desafio profissional, o Laboratório de Geocronologia do Departamento de Geo- da marca Nuclide (MS-1), cujo tubo era inteiramente de vidro Pyrex, com raio de cur-
logia e Paleontologia da FFCL/USP, local que viria a trabalhar até a sua aposentadoria. vatura de 4,5 polegadas e deflexão magnética de 60 graus, equipado com um detector
A origem e o histórico deste Laboratório de Geocronologia estão descritos no capí- Faraday convencional e provido com resistência de entrada de 3,0x1010 ohms. Ainda, em
tulo 1 (Quarta Parte deste livro) e na obra Geologia USP – 50 Anos (Gomes, 2007). Para complemento, fazia parte do conjunto mais um tubo idêntico ao do MS-1, porém para

546 547
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 2

montagem e análise de elementos sólidos (K, Rb


e Sr), um forno de indução, sistemas de ultra-alto
vácuo para extração de argônio, bombas de vácuo
e diversos acessórios (Cordani, 2007).
Todos estes instrumentos e seus acessórios
foram convenientemente embalados em caixas
e despachados por via marítima para o porto de
Santos, em setembro de 1963. Face à fragilidade
de vários componentes (tubos do espectrômetro
em vidro Pyrex), por precaução, as caixas foram
acompanhadas pelo Prof. Reynolds que viajou
com sua família no mesmo navio. Desembarcadas
no porto em outubro do mesmo ano, aparente-
Foto 2: Espectrômetro
MS-1 de Nuclide. À esquer- mente sem problemas alfandegários por tratar-se de doação, as caixas
da pode-se observar o siste- seguiram por terra para São Paulo. Já no destino final, nas dependências
ma de ampolas (sample take da FFCL, passou-se à instalação do laboratório, o que representou um
off) com argônio extraído.
trabalho árduo, com grande dedicação por parte dos membros pioneiros
responsáveis pela relevante tarefa, destacando-se, além do Dr. Reynolds
na direção dos trabalhos, os professores geólogos Umberto G. Cordani,
Gilberto Amaral, o físico Koji Kawashita, e alguns funcionários da USP.

2.1 A busca do staff inicial


É interessante registrar que os professores Cordani e Reynolds ha- Foto 4: John Hamilton
Reynolds e Koji Kawa-
viam se dirigido ao Departamento de Física à procura de um profis- ram, justamente na seção de espectrometria que era estratégica para o shita, em 1964.
sional da área que pudesse integrar a equipe original do laboratório Laboratório de Geocronologia. Face à impossibilidade do Dr. Matsui
recém-implantado. O convite foi inicialmente endereçado ao Dr. Mat- atender ao convite, a solicitação recaiu sobre um dos subscritores deste
sui, por indicação do departamento, mas esse já estava comprometi- texto (KK) que, sem alternativa e relutantemente, transferiu-se para o novo endere-
do com sua viagem à Viena. Nessa visita, Cordani surpreendeu-se ao ço, não possuindo qualquer conhecimento relativo às “pedras”, ao que Cordani teria
encontrar um colega (KK) do Colégio Roosevelt onde ambos estuda- retrucado: “Diga rochas e não precisa se preocupar com isso. De rochas entendo eu.”
A equipe inicial do laboratório já era multidisciplinar, pois se compunha ainda
de um mecânico, disponibilizado emergencialmente pela própria FFCL, sendo pos-
teriormente substituído em definitivo por outro e ainda um técnico-químico, ambos
muito habilidosos. Esporadicamente, para serviços mais especializados, envolvendo
Pyrex, recorria-se a um vidreiro lotado no Departamento de Química da USP.

2.2 Fase embrionária da metodologia K/Ar


Foto 3: Módulos
de registro do A primeira datação K/Ar em uma rocha basáltica foi concluída com sucesso em
espectrômetro MS-1 janeiro de 1964. O potássio total era avaliado por via úmida clássica, em que se uti-
sendo operado por lizava fotômetro de chama, comparado com soluções padrões de 0 a 10 ppm. O 40Ar
Koji Kawashita em
1964. Observe-se o radiogênico era estimado subtraindo-se do total o que seria o inicial, assumindo-se
registrador de papel como sendo atmosférico, ou seja, razão atual 40Ar/36Ar igual a 295,5. O Ar total era
(Brown recorder). avaliado adicionando-se uma quantidade bem conhecida, durante a fusão da amos-
tra, de 38Ar como traçador (Spike) com quase 100% de pureza, acoplado ao sistema
de extração de gases. Os gráficos resultantes, com cerca de um metro, apresentavam
as intensidades dos três isótopos, cujo espectro era obtido efetuando-se varredura
eletromagnética. As razões 40Ar/38Ar e 38Ar/36Ar eram calculadas usando-se chartrules
e métodos interpolativos. As idades resultavam do uso de formulário padronizado,

548 549
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 2

valendo-se de um lento calculador eletromecânico. Tudo isso para demonstrar o


quão trabalhosas eram essas atividades.
Entre as melhorias e progressos na sistemática inicial K/Ar citamos: cálculos em
linguagem Fortran no Centro de Computação Eletrônica da USP a partir dos anos
1970; aquisição dos primeiros computadores pessoais (PC – HP9825B e Microen-
genho da Itautec); montagem de hardwares e de softwares para aquisição automática
e processamento de dados do espectrômetro tipo-Reynolds (MS-1 de Nuclide). Esta
importante fase inicial do Laboratório já exigia uma equipe multidisciplinar, contan-
do até com uma analista de sistemas formada em matemática. Foto 5: Espec-
De forma indireta, porém efetiva, após a obtenção das primeiras datações K/Ar, a trômetro de
escolha dos alvos geológicos de maior interesse para os estudos geocronológicos era Massa TH-5, ainda
sem sistema de
feita através de sugestões dos pesquisadores mais antigos como os professores Viktor aquisição, sendo
Leinz, Geraldo C. Melcher, Norman Herz, do Departamento de Geologia, e do Dr. operado por Kei
Fernando Flávio Marques de Almeida, da Escola Politécnica, entre outros. Sato, em 1978.
Nos anos seguintes, o laboratório viria a ampliar o seu quadro de pesquisadores com
a participação de Bruno Minioli, Adolpho José Melfi, Paul Vandoros e Yociteru Hasui,
geólogos contratados pelo departamento hospedeiro do laboratório e, poucos anos mais
tarde, Luciano Carlos Isotta e Andrea Bartorelli. Iniciou-se, também, paulatinamente o
acolhimento de pesquisadores visitantes no Laboratório, oriundos de instituições nacio- consultas e visitas, envolvendo até práticas analíticas, tanto por parte de Cordani
nais e de países vizinhos, que vinham com o intuito de incrementar seus conhecimentos como de Kawashita. Foram acessadas famosas instituições em países diversos, como
geológicos regionais com a utilização dessa inovadora ferramenta isotópica. na Bélgica (CH-4 modificado), Suíça (protótipo do TH-5), Estados Unidos (MIT –
Em 1965, ainda instalado no Departamento de Geologia e Paleontologia da FFCL, onde havia um Nuclide e três equipamentos homemade; Carnegie com um homema-
por receber colaborações de outros departamentos e por despertar o interesse de insti- de; National Bureau of Standards com um Shields MS; School of Mines, no Colora-
tuições nacionais e internacionais em suas pesquisas, o Laboratório de Geocronologia do, e Caltech, na Califórnia, com espectrômetros homemade). Com isso, verificou-se
galgou a um novo patamar institucional, passando a ser denominado Centro de Pesqui- que a melhor opção para o CPGeo seria a de adquirir um TH-5 da Varian Mat, único
sas Geocronológicas – CPGeo – nome que permanece até os dias atuais. instrumento comercial, cujo protótipo encontrava-se em operação em Zurich, sob a
Paralelamente à instalação do espectrômetro (MS-1) e às primeiras datações pelo responsabilidade do Dr. Peter Signer.
método K/Ar que eram as pesquisas prioritárias, a presença, por um mês, em 1964, Corria o ano de 1971. Para desencanto da equipe, a importância disponível para a
do Dr. Stanley R. Hart, da Carnegie Institution of Washington, propiciou os pri- aquisição do aparelho perfazia, apenas, algo em torno de 70% de total necessário. O
meiros ensaios de datação isotópica pelo método Rb/Sr no Laboratório. Para esse estratagema vislumbrado foi o de adquiri-lo em duas partes independentes, em que se
intento, o Prof. Reynolds utilizou o mesmo tipo de tubo em Pyrex, com as devidas considerou como primeira parcela do pagamento tão somente o montante já disponí-
adaptações obrigatórias: sistema de inserção de amostras sólidas e adaptação de um vel, enquanto a segunda parcela seria liquidada com verba vindoura no ano seguinte.
multiplicador de elétrons no setor de coleção de íons (MS-2). A contribuição de Mas restavam ainda dois problemas. Do ponto de vista eletrônico, as válvulas ele-
Hart foi a de expor aos interessados as bases da metodologia, incluindo o processo trométricas mostravam-se muito sensíveis às condições ambientais locais. No labora-
de diluição isotópica. Esse arranjo instrumental do MS-2 persistiu por cerca de cinco tório, este problema foi minimizado envolvendo-se a placa pré-amplificadora com um
anos, até meados de 1970, quando o multiplicador de elétrons perdeu totalmente a saco plástico e sílica gel. Este improviso levou os fabricantes do espectrômetro a inserir
sua eficiência em ganho. Antes, porém, produziu cerca de 300 dados Rb/Sr e algumas a peça em uma pequena câmara sob vácuo, prática generalizada ainda nos dias atuais,
determinações de K por diluição isotópica. não se utilizando mais os denominados eletrômetros. Agora são dispositivos de estado
sólido ou placas com circuito impresso. Tais dispositivos são munidos de amplificado-
res operacionais e sistemas conversores digitais, permitindo que os dados sejam trans-
3. Metodologia Rb/Sr no CPGeo: feridos para computadores e processados automaticamente. Essa evolução técnica foi
espectrômetro TH-5 da Varian Mat implantada no TH-5 por KK auxiliado por técnicos do laboratório com a participação
do engenheiro Leopoldo Magram, do INGEIS (Instituto de Geocronologia y Geologia
As atividades ganhariam um novo impulso com a iniciativa do Prof. Dr. Fernando Isotópica, da Argentina) e ajuda efetiva de técnicos da Hewlet Packard, em especial do
de Almeida, à época membro consultor do CNPq, acenando com a possibilidade de engenheiro Ruben Dick. O microcomputador utilizado foi o HP-9825B com 16 Kb de
se adquirir um novo e moderno espectrômetro de massa de fonte sólida, como o memória. O sistema selecionava as massas e efetuava automaticamente a aquisição dos
TH-5 da Varian Mat. A escolha por esse espectrômetro foi decidida após demoradas dados. Contava até com correção de interferência dinâmica dada a conhecer pelo Prof.

550 551
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 2

clássica K/Ar, mas possuidora de mais recursos


interpretativos. Para tanto, serviu-se do “velho”
espectrômetro MS-1, anteriormente à implan-
Foto 6: Espectrôme- tação do sistema digital de aquisição de dados
tro MAP-210 sendo introduzido em 1986, à semelhança do que foi
operado por Artur
Onoe e Paulo Vascon- feito com o TH-5. Por motivo de restrições go-
celos, em 2000. vernamentais, que dificultavam ou impediam a
importação de equipamentos visando proteger a
indústria nacional, bastante incipiente na época,
usou-se um computador Microengenho da em-
presa paulista Spectrum e um voltímetro digital,
também construído no país, com apenas 3½ dí- Foto 8: Espectrômetro
gitos, mas que redundou em um magnífico traba- VG Sector 354, em 1988.
lho, funcionando sem problemas relevantes.
Um novo espectrômetro (MAP-210), adquirido em 2000, foi dedicado exclusi-
vamente à metodologia Ar/Ar. Em 2013, o CPGeo foi aquinhoado com o sofisticado
espectrômetro multicoletor Argus VI, da Fisher Scientific. Já instalado o MAP-210, e
principalmente com a vinda do novo Argus VI, a metodologia Ar/Ar foi automatizada
tal qual a rotina usada no Berkeley Geochronological Center (BGC, EUA) com o mesmo
equipamento. Com substancial apoio da FAPESP, grande parte do staff do BGC atuou
no CPGeo, sob a liderança do Dr. Paul Renne, para reprodução do sistema por eles de-
Foto 7: Espec- senvolvido. Com respeito ao hardware para o automatismo contou-se com a inestimável
trômetro Argus
VI da Fisher colaboração do Dr. Tim Becker, enquanto a instalação e a apresentação do software fica-
Scientific ram a cargo do Dr. Alan Deino, responsável pelo seu desenvolvimento no próprio BGC.
Instruments, É preciso ainda registrar a presença do Dr. Paulo Vasconcelos, durante todo o ano
em 2013.
de 1999 no laboratório Ar/Ar. Este pesquisador que estagiou no BGC, responsável
por laboratório similar implantado na Universidade de Queensland, na Austrália,
instruiu e praticou a rotina da metodologia para a equipe responsável pelo setor
no CPGeo. Deixou ainda um grande legado, que foi a calibração precisa de quatro
padrões internacionais (P-210, Bern 4M, Bern 4G e BSP-1) contra um padrão austra-
liano (Biotita GA-1500) já exaurido em todo o mundo, que nos foi cedido pelo Dr.
Ian McDougall quando da sua permanência entre nós no ano de 1965.

Paul Taylor da Universidade de Oxford. Essas melhorias consumiram cerca de seis


meses de trabalho sem, no entanto, prejudicar a rotina. Já corriam os primeiros anos 5. Metodologia Sm/Nd:
de 1980, época de grandes projetos em cooperação com a Universidade de Oxford, espectrômento VG Sector 354
tendo à frente o Dr. Stephen E. Moorbath, nos tempos do auge da metodologia Rb/Sr.
Em meados da segunda metade dos anos 1980, face à quantidade de solicitações
de dados isotópicos por grande número de instituições e de pesquisadores, o CPGeo
4. Metodologia Ar/Ar: espectrômetros adquiriu dois espectrômetros VG Sector 354, ambos com sistema multicoletor e siste-
MS-1, MAP-210 e Argus VI ma de montagem dos beads em torretes, o que permitia até análises automáticas. São
de 1987/1988 as primeiras análises pelo método Sm/Nd. Para tanto, registre-se a vinda
Nos anos 1970 já considerávamos a possibilidade de implantar a metodologia Ar/ do químico italiano Nicola Petrini, da Universidade de Trieste, Itália, que trouxe em
Ar no CPGeo, método que requer irradiação de amostras com nêutrons rápidos. Em mãos, imersas em solução ácida, meia dúzia de colunas já calibradas para a delicada
1974, o Dr. Michel Bernat, pesquisador francês da ORSTOM (Office de la Recherche separação de Sm do Nd, ambos ETR (elementos de terras-raras) com as mesmas pro-
Scientifique et Technique D’outre-Mer) atuou no CPGeo por cerca de um ano, quan- priedades químicas. Houve também, na mesma época, a inestimável colaboração do
do deu início e concluiu com sucesso a implantação dessa metodologia alternativa à Dr. Gunter Lugmair, do Scripps Institution of Oceanography em La Jolla, Califórnia

552 553
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 2

Foto 10:
LA-ICP-MS
(Laser Ablation
Foto 9: Espectrôme- Inductively
tro Finnigan MAT Coupled Plasma
262 sendo operado Mass Spectrome-
por Key Sato. À try) – NEP-
direita, Umberto TUNE (2008).
Cordani (1998).

mineral portador de urânio, através da erosão de porções da amostra por um feixe


iônico de alta energia, o que não é possível no caso da técnica TIMS. O sítio anali-
sado pode chegar até cerca de 5 micra e a sua profundidade é da ordem de apenas
(EUA). O CPGeo, por um bom tempo, contou com a química Mercedes Diaz Vergara, alguns micra. Com isso, as idades obtidas por este método são muito precisas. Cabe
que assimilou os fundamentos da metodologia. O Prof. Noburo Nakamura, da Univer- notar que Cordani foi pioneiro na utilização deste método de datação no Brasil, ao
sidade de Osaka, Japão, veio ao Brasil sob os auspícios do programa USP/BID (Banco estudar rochas arqueanas da parte norte do Cráton do São Francisco (Nutman e
Interamericano de Desenvolvimento) trazendo a técnica de multianálises de ETR por Cordani, 1993), utilizando na época o equipamento SHRIMP I, da ANU.
TIMS (Thermal ionization mass spectrometry) usando spike múltiplo. Todos os pes- Logo após a entrada do SHRIMP no mercado instrumental, surge alternativa mais
quisadores mencionados contribuíram para a implantação e para o estabelecimento em conta, com especificidade e predicados semelhantes, conhecida no meio científico
de formas expeditas e precisas para a obtenção das análises requeridas, úteis para a pela abreviatura LA-ICP-MS (Laser Ablation Inductively Coupled Plasma Mass Spectro-
definição de idades-modelo Sm/Nd, além do método isocrônico. metry), modelo adquirido pelo CPGeo, da marca Neptune, em meados dos anos 2000.
Modernamente, trata-se de um instrumento capaz de efetuar análises in situ, fazendo-
se incidir, para a ablação, raios laser em uma área mineral pré-selecionada, o que têm
6. A Nova Era da Geocronologia pequenas, mas superáveis, desvantagens. Relativamente ao SHRIMP, trata-se de meto-
dologia mais destrutiva do grão mineral em razão do maior poder energético do laser, in-
6.1 Espectrômetros automáticos ICP/MS-LA e SHRIMP viabilizando muitas vezes a obtenção de um número significativo de dados num mesmo
Em sequência, e durante este novo século, a Geocronologia no Brasil deu entrada sítio, além de requerer área mineral maior (10 a 20 micra) para cada uma das análises.
em uma nova era. No ano de 1998, o CPGeo adquiriu o sofisticado e totalmente Cabe notar que concomitantemente à aquisição do LA-ICP-MS pelo CPGeo, por
automático espectrômetro Finnigan MAT 262, que substituiu os dois, ainda não tão meio de projeto específico, por iniciativa do Prof. Colombo Tassinari, então diretor do
obsoletos, VG Sector 354, adquiridos em 1987. IGc-USP, diligenciou-se também recursos para a aquisição do SHRIMP. Este objetivo
Significante mesmo foi a entrada em rotina de metodologias radiocronológicas foi alcançado com o suporte financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
do sistema U/Pb, em zircão, análises essas também conhecidas como in situ. Ante- de São Paulo (FAPESP), a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e a PETRO-
riormente, nos últimos anos da década de 1990, as análises U/Pb obedeciam a proce- BRAS. Dificuldades adicionais tiveram que ser superadas, incluindo-se a construção
dimentos clássicos, muito trabalhosos envolvendo o método da digestão química do de um edifício com arquitetura adequada no IGc, que pudesse receber o equipamento
mineral com adição de traçadores (spiking) e posterior análise pela técnica conven- de elevado peso. A inauguração desse conjunto com vários laboratórios (e.g., Ar/Ar) e
cional TIMS (Thermal ionization mass spectrometry). O procedimento foi implanta- equipamento SHRIMP, o primeiro da América do Sul, se deu durante o ano de 2007,
do pelo Prof. Miguel Basei no CPGeo, depois de frutífero aprendizado junto ao Dr. trazendo um upgrade para a pesquisa geocronológica do Brasil.
J. R. Lancelot, da Universidade de Montpellier, na França.
Pode-se compreender, portanto, o quanto a utilização de um SHRIMP (Sensi-
tive High Resolution Ion MicroProbe) passou a ser cobiçada pela comunidade geo- 7. Centro de Pesquisas Geocronológicas
cronológica, após testes e trabalhos deflagrados em amostras lunares do programa
americano Apollo, da NASA (National Aeronautics and Space Administration), e na 7.1 Importância e desdobramentos na América do Sul
Australian National University (ANU). A grande vantagem do SHRIMP é que ele Embora não haja, de forma explicita, nenhum compromisso de atender ou de rece-
permite a determinação precisa das razões isotópicas U/Pb em áreas micrométricas ber interessados e pesquisadores nacionais ou estrangeiros, o CPGeo, nesses quase 60
(até cerca de 5 micra) selecionadas de grãos polidos de zircão ou de qualquer outro anos de atividade, assumiu como obrigação acolher aqueles que se mostraram motivados

554 555
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 2

pela geocronologia, e optou por firmar projetos de cooperação científica, participar de


convênios, dar cursos especializados e auxiliar na implantação de novos laboratórios e
metodologias no Brasil e no exterior. Esses procedimentos altruístas dos pesquisadores Foto 11: Umberto
Cordani com
do CPGeo talvez tenham tido origem em sua própria aurora e evolução, pois se valeu Victor Ramos e
desses mesmos recursos ao receber auxílio de inúmeros pesquisadores de várias partes do Carlos Alberto
mundo, que colaboraram de forma altamente frutífera, a maioria deles citada em itens Cingolani, no
South American
anteriores, em quantidade expressiva. Assim, no que tange à radiogeocronologia, não Symposium on
há como negar a importância do CPGeo e o próprio papel de Cordani por despertar o Isotope Geology,
interesse de toda a comunidade geológica brasileira e sul-americana, tendo em vista as SSAGI, em Bari-
loche, Argentina,
carências observadas com relação a tais tipos de dados, adicionada às dimensões territo- em 2008.
riais e à complexidade geológica dos países envolvidos.
Como laboratório pioneiro na América do Sul, e devido ao contínuo crescimento
e à implantação de quase todas as metodologias radiométricas clássicas, o CPGeo
recebeu e tem recebido interessados ou potenciais usuários de quase todos os países
hispano-americanos, e mesmo de outros continentes, através de convênios bilate-
rais ou temáticos, ou mesmo por conta do desenvolvimento de projetos com cola-
boradores externos à USP. Estiveram conosco como primeiros visitantes do então
Laboratório de Geocronologia, os professores Enrique Linares e Oscar Latorre, da uma dinâmica interna talvez até superior em comparação com as de algumas outras
Universidade de Buenos Aires, assim como de outras instituições argentinas, tais instituições similares. Da maior importância, primeiramente, foi a atuação coesa de um
como Horácio Cazeneuve, Salvador Ferraro e José Alberto Venier. Do Chile citamos grupo de pesquisadores no Centro, necessariamente capacitado e eficiente, além do
Fernando Munizaga, Francisco Munizaga e Francisco Hervé, os dois últimos geólo- dinamismo de seu staff. Em segundo lugar, a dedicação em busca dos recursos financei-
gos e professores da Universidade do Chile, em Santiago. Mencionamos, novamente, ros necessários à manutenção das atividades laboratoriais, na renovação e moderniza-
a vinda dos geólogos americanos Jonathan Bushee e colombiano Gonzalo Pérez. ção de técnicas com a aquisição de novos equipamentos, e ainda mais recentemente no
E há muito mais. Como importantes resultados dessas visitas, relatamos a criação desenvolvimento de outras rotinas isotópicas modernas como a dos Isótopos Estáveis.
de dois novos laboratórios em nosso continente: o INGEIS (Instituto de Geocrono- No caso de recursos humanos para uma área tão especial, a formação do pessoal
logía y Geología Isotópica) da Universidade de Buenos Aires, em 1971, e o do SER- exigiu, muitas vezes, treinamento no exterior, como o acontecido com o próprio
NAGEOMIN (Servicio Nacional de Geología y Minería), no Chile, bem mais jovem, Cordani enviado à Universidade da Califórnia, em Berkeley, nos idos de 1963. Alter-
inaugurado em 1982, certamente instigado pelos visitantes chilenos mencionados. nativa, talvez até mais proveitosa, fez-se através de “treinamento interno”, quando
Nesse último, implantaram-se quase simultaneamente as metodologias K/Ar e Ar/ oriundo de especialistas estrangeiros convidados a atuarem de maneira pedagógica
Ar. Ambos os laboratórios, à semelhança do que ocorreu com o CPGeo, receberam nos laboratórios locais. Através da simples leitura dos itens anteriores, constata-se
apoio de pesquisadores como o Prof. Dr. Reynolds, no caso do INGEIS. O do SE- o significativo número de pesquisadores temporariamente trazidos de importantes
NARGEOMIN, por sua vez, por iniciativa do Dr. Carlos Roeschman, tendo Carlos entidades científicas de outros países.
Pérez de Arce como executor, contou com substancial participação de integrantes do Igualmente, instituições e pesquisadores brasileiros acorreram e acorrem ao Cen-
BGC (Berkeley Geochronology Center). tro em bom número, em busca de dados, desde o início de suas atividades. Também
Ainda na Argentina, é preciso mencionar uma iniciativa dos pesquisadores Carlos A. professores de universidade federais, à procura de cursos de pós-graduação, face à
Cingolani, Ricardo Varela e Ana Maria Sato, interessados em resultados isotópicos que nova exigência por qualificação feita aos docentes quando se encerrou a sistemática
montaram o que passou a ser denominado de “laboratório intermediário”, no qual se de ascensão na carreira acadêmica por antiguidade.
executam as etapas químicas do método Rb/Sr. Os elementos já separados das amostras, Os primeiros laboratórios brasileiros subsequentes ao CPGeo resultaram de uma
trazidos diretamente para as análises espectrométricas, agilizaram em muito os procedi- reunião realizada nas dependências do IGc-USP, em 1986, no âmbito do PADCT
mentos que seriam realizados em colaboração no CPGeo, no INGEIS e no Laboratório (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico), com a presen-
de Geologia Isotópica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (LGI/UFRGS). ça do Dr. R. Azambuja, Coordenador da Área de Ciências da Terra, e cerca de dez
entusiastas, interessados em Geologia Isotópica, quando ficou estabelecido, primei-
7.2 Importância e Desdobramentos no Brasil ramente, fortalecer o CPGeo com um novo TIMS, totalmente automático, seguin-
Sob o comando seguro e competente de Cordani, e contando com estratégias e do-se a criação de três novos laboratórios definidos por critérios regionais. Foram,
ações muito semelhantes às verificadas em laboratórios estrangeiros, o CPGeo evoluiu então, assim distribuídos: Belém do Pará, nas dependências da UFPA (Universidade
de maneira constante desde a sua criação, ao longo desses anos de sua existência, Federal do Pará), em 1990, denominado Para-Iso; Porto Alegre, junto ao Instituto
inclusive agregando mais recentemente um laboratório de Isótopos Estáveis. Criou-se de Geociências da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), batizado

556 557
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 2

como LGI (Laboratório de Geologia Isotópica), ativo a partir de 1997, e Brasília, no


Instituto de Geociências da UnB (Universidade de Brasília), implantado alguns anos
antes que os anteriores por iniciativa do Prof. Márcio Pimentel, de saudosa memória.
Estes três novos laboratórios contaram com substancial aporte financeiro por meio
do programa denominado Rede CRONOS, criado por volta de 2005 pelo Governo
Federal por intermédio do Ministério de Minas e Energia, que proveu o país, entre
outros benefícios, dos três primeiros LA-ICP-MS da Research Scientific Instruments.
Os laboratórios subsequentes datam já desse novo milênio: o da Faculdade de
Geologia da UERJ (LAGIR – Laboratório de Geocronologia e Isótopos Radiogêni-
cos, Universidade Estadual do Rio de Janeiro), em 2005, e o do Departamento de
Geologia da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto), em 2013.
Foram, em anos mais recentes, aquinhoados com LA-ICP-MS, os laboratórios de
Brasília, Porto Alegre, Ouro Preto (em convênio com a UFMG – Universidade Fede-
ral de Minas Gerais) e o do Rio de Janeiro, patrocinados pela Petrobras, Companhia
Vale do Rio Doce e CNPq/FINEP. É preciso que se diga de forma enfática: na implan-
tação dos equipamentos e para a manutenção de suas atividades, esses laboratórios
receberam, sem exceção, apoio incondicional do CPGeo.
tivos em diferentes países, ao redor de 340 artigos publicados sobre a Ca- Foto 12: 1º Simpósio
Listamos a seguir, com esperadas omissões, resultados e alguns projetos nacionais Sul-Americano de Geo-
e outros internacionais com atuação parcial ou total do CPGeo, tanto quanto possí- deia Andina, 7 simpósios com 3 publicações especiais, 12 cursos de trei- logia Isotópica (SSAGI),
vel em ordem cronológica: namento sobre os métodos de datação, coleta de amostras e interpretação Campos do Jordão, São
Paulo, em 1997.
1. Projeto bilateral USP – Universidade da Califórnia (Berkeley), sob os auspícios dos dados geocronológicos, implantação de “laboratórios intermediários”
da National Science Fundation (1962-1966); para preparação de amostras (ver capítulo 6 da Quarta Parte);
2. Centenas de projetos individuais, financiados por uma grande diversidade de 8. Embora a maior ênfase científica do CPGeo tenha sido, e ainda é, focada
instituições, abrangendo as mais diferentes regiões do Brasil, da América do Sul e de nos terrenos sul-americanos, Brasil e países vizinhos, independentemente dos limites
outros continentes, com especial destaque para pesquisadores argentinos, chilenos, político/geográficos dos mesmos (ver item anterior), outros continentes também se
colombianos, venezuelanos e uruguaios; beneficiaram das pesquisas desenvolvidas nos laboratórios da USP. Mencionam-se
3. Plano informal com Puriquima (1970-1992) envolvendo a operacionalidade datações realizadas em rochas de Camarões, Moçambique e Senegal (ver capítulos
de equipamento de fluorescência de raios-X (PW-1000, da Philips), com efetiva par- 21, 22, 23 e 24 da Segunda Parte). Em adição, menciona-se o trabalho conjunto de
ticipação do químico Marcos Berenholc e da técnica Tieka Sato; Umberto Cordani e Roland Trompette (Aix-Marseille Université, Marselha, França)
4. Projeto RADAMBRASIL (1970-1980), visando o mapeamento geológico da Re- no que diz respeito à correlação Brasil-África no contexto do Continente Gondwana
gião Amazônica, resultando em grande contribuição científica para o país, levando a (temas desenvolvidos na presente obra);
equipe de geólogos, especialistas em Geocronologia, a ser integrada, gradual e totalmen- 9. Participação em projeto multi-institucional envolvendo o PROANTAR (Pro-
te, ao quadro de docentes do Instituto de Geociências da USP, sendo eles: Miguel A. S. grama Antártico Brasileiro), o LGI/UFRGS, a UNISINOS (Universidade do Vale do
Basei, Wilson Teixeira, Colombo C. G. Tassinari e Oswaldo Siga Jr., que contribuíram Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS), o Instituto de Ciências Geológicas e a Academia
com inúmeros artigos, dissertações e teses; Polonesa de Ciências (Varsóvia) e o Institut Dolomieu (Université Joseph Fourier,
5. Projetos temáticos locais ou regionais com a PETROBRAS, CPRM, DOCE- Grenoble, França), com foco principal em datações K/Ar e Rb/Sr em rochas vulcâni-
GEO (Rio Doce Geologia e Mineração S/A) e CBPM (Companhia Bahiana de Pesqui- cas da Ilha do Rei George, Ilhas Shetland do Sul, na Antártica;
sa Mineral) entre outras, notadamente após o ano de 1970, quando entrou em rotina 10. Projeto USP/BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), de 1990 a
a metodologia Rb/Sr a partir da aquisição do espectrômetro TH-5; 1992, visando, fundamentalmente, intercambio de pesquisadores com a vinda de
6. Projeto de datação de rochas sedimentares em associação com o laboratório muitos especialistas em Geologia Isotópica;
do Centre de Sédimentologie et Géochimie de la Surface, da Universidade de Stras- 11. Proposição de encontros bienais – SSAGI (Simpósio Sul-Americano de Geo-
bourg, França, na pessoa do Dr. Michel Bonhomme, com visitas científicas bilaterais logia Isotópica), por sugestão dos professores Miguel A. S. Basei e W. Teixeira (USP),
financiadas pelo CNRS e CNPq; ante o expressivo aumento de interesse em Geocronologia e Geologia Isotópica no
7. Projeto IGCP-120 sob os auspícios do IGCP (International Geological Correlation Brasil e na América do Sul. Com total apoio do CPGeo, a primeira edição se deu
Programme) e da IUGS/UNESCO (International Union of Geological Sciences / United em junho de 1997, em Campos do Jordão, São Paulo, Brasil, com mais de uma cen-
Nations Educational, Scientific and Cultural Organization – 1975 a 1985), com o título tena de participantes e a presença do Dr. John H. Reynolds, seguida, até esta data,
de “Evolução Magmática dos Andes”, resultando em cerca de 20 encontros administra- por edições nas localidades de Villa Carlos Paz, em Córdova, Argentina, em 1999;

558 559
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 2

Pucón, Región de la Araucanía, Chile, em 2001; Salvador, Bahia, Brasil, em 2003; Diretoria:
Punta del Este, Uruguai, em 2006; Bariloche, Argentina, em 2008; Brasília, Distrito - Dra. Maria Helena Bezerra Maia de Hollanda, - Izabel Ramos Ruiz,
Federal, Brasil, em 2010; Medellín, Colômbia, em 2012; São Paulo, Brasil, em 2014;
Diretora do CPGeo. Especialista em Laboratório.
Puerto Vallarta, Jalisco, México, em 2016, e Cochabamba, Bolívia, em 2018;
12. Antes da aquisição do SHRIMP pelo CPGeo, pesquisadores brasileiros, so- - Dra. Cláudia Regina Passarelli, - Roberto Siqueira,
bretudo do IGc-USP, beneficiaram-se de um convênio estabelecido com a School of Vice-diretora do CPGeo. Especialista em Laboratório.
Earth and Environmental Sciences da University of Wollongong, na Austrália, na
- Solange Lucena de Souza,
pessoa do Prof. Allen P. Nutman, para utilização de semelhante equipamento;
13. Um ensaio tecnológico também é merecedor de destaque, qual seja a opera- Corpo Científico: Especialista em Laboratório.
ção remota, a partir do CPGeo, de análises isotópicas U/Pb fazendo uso do SHRIMP - Dr. Umberto Giuseppe Cordani - Vasco Antônio Pereira dos Loios,
locado na China, procedimento desenvolvido nos anos de 2006 a 2008;
- Dr. Miguel Ângelo Stipp Basei Técnico de Laboratório.
14. Milhares de artigos científicos resultaram das atividades do CPGeo envol-
vendo centenas de autores no país e no exterior, publicados em boletins especiali- - Dr. Wilson Teixeira - Davi Machado, Técnico Administrativo.
zados, simpósios, congressos e livros. Números expressivos podem ser igualmente - Dr. Colombo Celso Gaeta Tassinari - Michele Silva, Técnica Administrativa.
atribuídos à elaboração de dissertações, teses de doutorado e de livre-docência. - Silvana Macedo, Técnica Administrativa.
- Dr. Oswaldo Siga Júnior
Todo esse acervo contribuiu para o que talvez seja a obra maior da instituição, o
Mapa Tectônico da América do Sul (capítulo 2 da Primeira Parte). Essa obra-mes- - Dra. Marly Babinski - Helen Mayumi Sonoki (aposentada).
tra teve a coordenação para a América do Sul de Umberto G. Cordani (USP) e de - Dra. Maria Helena Bezerra Maia de Hollanda - Ivone Keiko Sonoki (aposentada).
Victor Ramos (Universidade de Buenos Aires), em conformidade com a Comissão - Walter Maurício Sproesser (aposentado).
- Dra. Veridiana Teixeira de Souza Martins
do Mapa Geológico do Mundo (Commission for the Geological Map of the World,
CGMW). Tendo iniciados os trabalhos em 2002/2003, perdurou por 13 anos até a - Dra. Cláudia Regina Passarelli.
sua finalização. Citando novamente Cordani (in Pacheco, D., 2018): In Memorian:
“Centenas de geocientistas nos ajudaram de uma maneira significativa e cerca de Quadro Técnico: - Prof. Dr. Viktor Leinz
50 estão nomeados no mapa. É o resultado de uma vida dedicada à ciência, um mapa
tectônico de uma região enorme.” - Dr. Kei Sato, Especialista em Laboratório. - Prof. Dr. Fernando Flávio Marques de Almeida
- Artur Takashi Onoe, Técnico de Laboratório. - Prof. Dr. Ruy Ribeiro Franco
- Liliane Aparecida Petronilho, - Prof. Dr. Gilberto Amaral
8. O corpo técnico do CPGeo Especialista em Laboratório. - Prof. Carlos Augusto Luciano Isotta
O CPGeo está ativo e produtivo desde 1964 e atualmente suas facilidades labo- - Alyne Barros Machado Lopes, - Prof. Bruno Minioli
ratoriais incluem equipamentos de ponta e estão dedicados à pesquisa geocronoló- Especialista em Laboratório. - Cláudio dos Santos (Biotita)
gica nos mais variados métodos. Conta com uma equipe coesa e multidisciplinar, - José Elmano Gouveia
- Daniela Batista da Silva,
altamente qualificada, com alguns dos seus pesquisadores tendo vivenciado com-
pletamente, tais como Umberto Giuseppe Cordani, ou quase completamente a sua Técnica de Laboratório. - Eliza Correia Lucena
história, sendo eles, na maioria, membros do Corpo Científico dos primeiros dez - Giselle Magdaleno Enrich, - Décio Duarte Rosas
anos de sua fundação. Além disso, agrega o laboratório de isótopos estáveis 13C/12C Especialista em Laboratório. - Maria Feliciana de Jesus.
e 18O/16O que está voltado aos estudos exógenos e superficiais. A infraestrutura deste
setor inclui três espectrômetros de massas (instalados em 2004, 2011 e 2014), aco-
plados a um sistema on-line de preparação de amostras do tipo GasBench. Novos 9. Considerações Finais
equipamentos, recém-adquiridos, e a modernização das instalações físicas ampliam
ainda mais o leque de análises isotópicas do carbono, oxigênio, nitrogênio e enxofre Estamos extremamente honrados em poder discorrer sobre a Trajetória His-
em amostras orgânicas, que interessam às pesquisas paleoclimáticas e paleoambien- tórica do CPGeo do IGc-USP em seus quase 60 anos de existência. Ao fazermos
tais (e.g., com base em anéis de crescimento de árvores) e ainda aos estudos da dieta este esforço, temos a clara consciência de termos apenas bosquejado tal tarefa
humana do passado, conduzidos em parceira com arqueólogos. face aos incontáveis aperfeiçoamentos verificados nos espectrômetros de massa
Finalmente, no quadro técnico do CPGeo, grande parte é constituída por uma desde a criação do CPGeo, cuja equipe dedicou-se sempre à implantação das mais
nova geração de geólogos, porém a multidisciplinaridade é notória, com destaque importantes metodologias radiogeocronológicas e também em adquirir instru-
para físicos e químicos. Eis a composição: mentos modernos à medida que foram sendo disponibilizados no mercado.

560 561
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 3

O sucesso e o reconhecimento atribuídos ao CPGeo resultam do A importância do SHRIMP da USP


empenho, da dedicação e da competência de todos os seus membros
constituintes. Obviamente, o primeiro nome que vem à cabeça quando para a Geologia Brasileira
se faz referência a essa corporação é o de Umberto Giuseppe Cordani,
fundador, incentivador, propositor e mantenedor dos objetivos cientí- Kei Sato
ficos das diversas comunidades de pesquisadores, de certa forma seus (keisato@usp.br).
comandados, que também buscaram inserção no campo das ciências
tendo como exemplo, por reflexo, as qualidades desse que é hoje o O Centro de Pesquisas Geocronológicas (CPGeo) do Instituto
nosso homenageado. de Geociências da USP é uma referência internacional na área da
É já longo o tempo transcorrido e encontra-se firmemente enraiza- Geocronologia. Físico de formação, contratado em 1974, sempre
do o prestígio do CPGeo e de seus membros participantes. Agora, com trabalhei, sob a orientação competente de Koji Kawashita, nos dife-
toda a experiência adquirida, talvez seja mais descomplicado manter a rentes espectrômetros de massa do CPGeo. Atualmente, respondo
rota vislumbrada que, mesmo assim, trará desafios e entraves impor- pela operação e manutenção do SHRIMP IIe (Sensitive High Reso-
tantes a serem superados. Os resultados futuros sempre serão compen- lution Ion Micro Probe).
sadores. De nossa parte, desejamos ao CPGeo, de maneira uníssona: O SHRIMP é um espectrômetro de massa de íons secundários que
sucesso em todos os seus empreendimentos, per saecula saeculorum! efetua análises isotópicas in situ de materiais sólidos. No caso do CP-
Em tempo: não podemos olvidar e nem desconsiderar os fortes e Geo, o interesse é direcionado a materiais geológicos, com aplicação
profícuos laços de amizade que conquistamos simplesmente por ter- voltada para geoquímica isotópica e geocronologia, por meio de aná-
mos interesses comuns em temas que tanto admiramos. Em consequên- lises isotópicas de U-Th-Pb in situ nos minerais zircão, titanita, xe-
cia, e em síntese, passamos a desfrutar de um amplo mundo científico notímio, baddeleyíta e monazita. Possui alta sensibilidade e altíssima
e de incontáveis mútuas afeições. resolução, sendo capaz de separar muitas das interferências que pre-
judicariam as suas análises isotópicas. Na área geológica há inúmeras
aplicações, tais como geotermometria (titânio em zircão) e geoquímica
(terras-raras em zircão), entre outras (foto 1).
Homenagem a Koji Kawashita
O instrumento SHRIMP I, concebido originalmente por William
recentemente falecido Compston, foi instalado na Australian National University, de Camber-
Muito entristecido, tendo em vista seu recente falecimento, desejo ho-
menagear o querido Koji quem, associado a Cordani, foi um ente de ab-
soluta grandeza e importância tanto na minha vida profissional quanto na
particular. Tive a honra de escrever com ele, com base principalmente em
sua prodigiosa memória, este capítulo que relata, de maneira concisa, a Evo-
lução Histórica do CPGeo. Foram alguns meses, durante o ano de 2019,
de intensa troca de mensagens e de manifestações de atenção e carinho, de
alegria e de responsabilidade por estarmos participando em conjunto desta
Foto 1: Kei Sato e o
gratificante tarefa. Koji está gravado, permanentemente, em nossas vidas e Reitor da USP João
lembranças. A saudade estará sempre presente, de forma intensa. Grandino Rodas,
em dezembro de
2010, por ocasião
Enio Soliani Júnior. da inauguração do
GEOLab-SHRIMP
no Instituto de
Geociências da USP.
Referências
Cordani U.G. 2007. Geocronologia: as pesquisas zircon geochronology of archaeangranitoids from the
pioneiras da USP que mudaram a Geologia do Brasil. In: Contendas-Mirante area of the São Francisco Craton,
Gomes C.B. (org.) Geologia USP – 50 Anos. São Paulo, Bahia, Brazil. Precambrian Research, 63:179-188. http://
EDUSP, p. 149-172. doi.org/10.1016/0301-9268(93)90032-W.
Gomes C.B. (org.). 2007. Geologia USP – 50 Anos. Pacheco D. 2018. Mapa Tectônico da América do Sul
São Paulo, Editora EDUSP, 541 p. é lançado em formato digital. São Paulo, Jornal da USP,
Nutman A.P. & Cordani U.G. 1993. Shrimp U-PB Editorial Ciências Exatas e da Terra, 17/04/2018.

562 563
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 3
Foto 2: SHRIMP IIe
(Sensitive High Resolu-
tion Ion Micro Probe)
instalado no prédio do
GEOLab, em rotina
desde dezembro de
2010. O Prof. Cordani
(à esquerda) e
Kei Sato analisando Foto 3: Edifica-
isótopos de U-Th-Pb em ção que abriga
zircão: os equipamentos
(A): Fonte de do SHRIMP do
íons primários; CPGeo, junto
(B): Câmara ao prédio do
de amostra; Instituto de Ge-
(C): Analisador Eletros- ociências da USP.
tático; Fotografia de
(D): analisador Andrea Bartorelli
magnético; em 2020.
(E): Detector multi-
coletor de copo de
Faraday e multiplicador
de elétrons.
Fotografia de Andrea
Bartorelli em 2020.

ra, Austrália, em 1973. Na época, os trabalhos científicos do SHRIMP I tiveram gran-


de impacto junto à comunidade geológica internacional, a exemplo da datação inédita Desde então, eu já compartilhava com o Prof. Cordani o desejo de poder al-
de cristais detríticos de zircão com idades muito antigas (> 4000 Ma), extraídos de gum dia trabalhar com um equipamento desse tipo na USP. Em 2000-2001 Allen
metaconglomerados de uma região remota no oeste da Austrália. Esta microssonda iô- Nutman veio ao Brasil como Professor Visitante no IGc-USP, sob os auspícios da
nica de alta resolução utiliza um feixe de íons primários de oxigênio que são acelerados FAPESP, onde ministrou cursos e palestras sobre datações U-Pb e sobre tipologia
em altíssima velocidade (884.000 Km/h) contra o alvo em estudo, por exemplo, um de zircão. Em 2003, Cordani organizou no CPGeo um experimento em que da-
cristal polido de zircão. No sítio de impacto o feixe transfere toda a energia cinética tações de zircões brasileiros foram efetuadas a distância, pela internet, usando o
para o cristal, ocasionando sua ablação pontual e produzindo íons secundários. Em se- SHRIMP instalado na China.
guida, o feixe de íons secundários é acelerado na direção de dois sistemas analisadores. Em meados da primeira década do século XXI, estava finalmente madura a possi-
O analisador eletrostático filtra os íons que perderam energia e o analisador magnético bilidade da aquisição de um SHRIMP pelo CPGeo, cujo custo era na época da ordem
separa feixes de íons de acordo com suas massas. Finalmente, após essa separação, a de US$ 3 milhões. Após contatos realizados com a FAPESP, sua diretoria científica se
intensidade de cada feixe, correspondendo a um isótopo específico, é detectada e me- dispôs a conceder metade desse orçamento. Em seguida, mediante o esforço condu-
dida no eletrômetro multicoletor e no multiplicador de elétrons. zido pelo Prof. Colombo Tassinari, então diretor do IGc-USP, a parte que faltava foi
No caso do SHRIMP IIe (foto 2) do CPGeo, a aquisição de dados é feita de forma obtida da Petrobras, que na época muito se interessava pela melhoria da situação das
automática e a redução de dados por meio do programa SQUID 2.5 (Williams, 1998). escolas de geologia no Brasil. A construção do SHRIMP, em Camberra, levou cerca
Os resultados são processados no programa Isoplot (Ludwig, 2009) para a elaboração de 18 meses, e eu tive a oportunidade de participar da montagem e conhecer todas as
de diagramas do tipo Concórdia e outros. O padrão TEMORA (417 Ma) é utilizado partes desse instrumento. A instalação no IGc-USP se deu num prédio especialmente
para normalização de massas, e o padrão Z6266 (U = 903 ppm) é utilizado para edificado para tal fim: o GEOLab SHRIMP (Laboratório de Geocronologia de Alta
calcular o teor de urânio. Informações adicionais encontram-se em Sato et al., 2014. Resolução) em dezembro de 2010 (foto 3).
O Prof. Cordani foi o primeiro brasileiro a utilizar o SHRIMP I de Camberra, em A implantação da rotina analítica do GEOLab SHRIMP foi iniciada em abril
1991, sob a supervisão de Allen Nutman, para datar alguns granitoides considerados de 2011. Recentemente, o GEOLab SHRIMP participou na elaboração do padrão
arqueanos do Cinturão Contendas – Mirante, no Cráton do São Francisco. Em seu GHR1 (Eddy et al., 2019), ao lado de um pool de laboratórios internacionais, entre
regresso a São Paulo, contou-me ele que o zircão escolhido para a primeira datação os quais o MIT, Stanford, Universidade do Arizona e outros, em que foi possível
apresentou uma idade de cerca 3500 Ma, que na época já se apresentava como a certificar que nosso instrumento está oferecendo a mesma qualidade analítica in-
idade mais velha da América do Sul (Nutman e Cordani, 1993). Nascia aí o seu de- ternacional (foto 4 e figura 1). Além disso, pelas conversas com pesquisadores de
sejo de ter, um dia, um equipamento SHRIMP na USP. Nos anos seguintes, Cordani muitas instituições sul-americanas, usuários do GEOLab SHRIMP da USP para os
esteve outras vezes trabalhando no SHRIMP da Austrália ou no de Beijing, na China, seus projetos de pesquisa, tenho convicção que as datações U-Pb in situ de cristais de
que foi o segundo em operação no mundo. Com a importância demonstrada pelas zircão, nestes dez anos de trabalho continuado, possibilitaram um salto de qualidade
datações U-Pb SHRIMP em zircão para problemas geológicos, vários pesquisadores na geocronologia do Brasil e da América do Sul.
da USP e de outras instituições sul-americanas estiveram em Camberra ou Beijing, e A alta resolução espacial do SHRIMP é capaz de obter em pouco tempo a
seus resultados foram publicados nas melhores revistas da área. idade de amostras com história geológica simples, mas consegue também ajudar

564 565
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 3

Figura 2: Diagrama
Concórdia – Huayna
Potosí da Cordilheira
Real Boliviana. Complexa
história geológica onde
as idades entre 257 e 217
Ma caracterizam eventos
de adição de magma de
pulsos distintos (quadro
1). O evento mais jovem
com idade concórdia
de 222,3 ± 2,4 Ma
corresponde à fase final
do plúton (quadro 2) e
o mais antigo (quadro 3)
com uma idade concórdia
de 249,2 ± 2,5 Ma.
Foto 4: Imagem de
catodoluminescência da na interpretação de situações geológicas complexas. Para ilustrar as
população de cristais
de zircão, com indica- possibilidades do SHRIMP mostrarei apenas um exemplo, tirado
ção dos sítios (spots) de Cordani et al. (2019). Trata-se da datação da amostra RIB 2
analisados por meio de do plúton granítico Huayna Potosí da Cordilheira Real boliviana,
SHRIMP – IGc-USP mais jovens (figura 2, quadro/insert 2) definiram uma idade Con-
(Eddy at al., 2019). objeto dos estudos de Álvaro Rodrigo Iriarte, pós-graduando sob a
orientação do Prof. Cordani. A figura 2 mostra o diagrama Concór- córdia de 222,3 ± 2,4 Ma, que representaria a fase de cristalização
dia com os resultados obtidos. final do plúton. Os resultados mais antigos (figura 2, quadro/insert
Nesse estudo, análises de cerca de 30 cristais de zircão possibi- 3) indicaram uma idade Concórdia de 249,2 ± 2,5 Ma, havendo
litaram um entendimento razoável da história geológica da rocha. também uma série de cristais com idades intermediárias, considera-
Os cristais apresentaram uma tipologia muito variada, com a maior dos como antecristais na mesma câmara magmática. Sua formação
parte deles apresentando idades concordantes (± 10%) entre 257 e têm duração estimada de 25 a 30 Ma, à luz dos resultados obtidos.
217 Ma (figura 2 e quadro/insert 1), caracterizando eventos de cris- Os cristais de zircão com idades mais antigas, que se distribuem ao
talização, formados em diferentes pulsos com adição de magma. Os longo da Concórdia, com idades variando entre 500 e 1500 Ma,
são todos herdados, possivelmente grãos detríticos assimilados das
rochas sedimentares encaixantes.

Referências
Nutman A.P. & Cordani U.G. 1993. SHRIMP U-Pb
Cordani U.G., Iriarte R., Sato K. 2019. Geochro- zircon geochronology of Archean granitoids from the
nolgical systematics of the Huayna Potosí, Zongo and Contendas-Mirante area of the São Francisco Craton, Ba-
Taquesi plutons, Cordilhera Real of Bolivia, by K/Ar, hia, Brazil. Precambrian Research 63 (3): 179-188.
Rb/Sr and U/Pb methods. Brazilian Journal of Geolo- Sato K., Tassinari C.C.G., Basei M.A.S., Siga Jr O.,
gy. 49(2): Onoe A.T., Souza M. D. 2014. Sensitive High Resolu-
Eddy M.P., Ibañez-Mejia M., Burgess S.D., Coble tion Ion Microprobe (SHRIMP IIe/MC) of the Institute
M.A., Cordani U.G., Desormeau J., Gehrels G.E., Li X., of Geosciences of the University of São Paulo, Brazil:
MacLennan S., Pecha M., Sato K., Schoene B., Valencia analytical method and first results. Geologia USP, Série
V.A., Vervoort J.D., Wang T. 2019. GHR1 Zircon – A Científica 14 (3):3-14.
new Eocene natural reference material for in-situ mi- Williams I. S. 1998. U-Th-Pb geochronology by ion
crobeam U-Pb geochronology and Hf isotopic analysis microprobe. In: M. A. McKibben, I. Shanks, W. C. P. Ri-
of zircon. – Geostandards and Geoanalytical Research 43 dley, W. I. Ridley (Eds.), Application of Microanalytical
Figura 1: Comparação da datação inter-laboratorial internacional de cristais de zircão envol- (1):113-132. Techiniques to Understanding Mineralizing Process. Re-
vendo SIMS (SHRIMP), LA-ICP-MS e Ablação Química-ID-TIMS (CA-ID-TIMS), publicada Ludwig K. 2009. SQUID 2.5: A User’s Manual. Berke- views in Economic Geology 7. Capítulo 1:1-35. Socorro,
em Eddy et al. (2019) no periódico internacional Geostandards and Geoanalytical Research. ley Geochronology Center, Special Publication 5, 110 p. USA. Society Geologists.

566 567
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 4

A geocronologia de rochas
sedimentares, interação Umberto Cordani, o
acadêmico Cândido
CPGeo/IGc-USP e PETROBRAS Simões Ferreira (à direi-
ta) e o geólogo Roberto
Antonio Thomaz-Filho Porto, da Petrobras,
conversando durante a
(antoniothomaz@globo.com). posse de Cordani como
Membro Associado da
Academia Brasileira de
1. Introdução Ciências, em 1970.

Os procedimentos preliminares para a datação radiométrica de


Antonio Thomaz Filho. rochas sedimentares tiveram início nos primórdios da década de 70,
do século passado, no Centro de Pesquisas Geocronológicas (CPGeo)
do Instituto de Geociências da USP (IGc-USP).
Tratando-se de pesquisa pioneira e de grande importância para a Petrobras, hou-
ve a decisão da empresa de enviar o geólogo Antonio Thomaz Filho para fazer está-
gio de 1 ano no CPGeo. O objetivo foi o de tomar conhecimento dessa nova espe- formes, independente das razões Rb/Sr presentes nas diferentes amostras da rocha.
cialização da geocronologia, além de coordenar o processamento das determinações Vale ressaltar a importância da coleta de amostras nesse procedimento. As amostras
das idades das rochas ígneas básicas (basaltos e diabásios) que afetaram a evolução devem ser espaçadas de alguns poucos metros, tanto em sentido horizontal, quanto
das bacias sedimentares brasileiras. Além da boa acolhida que teve por parte dos vertical, em afloramentos de algumas dezenas de metros
professores do IGc-USP, o Professor Umberto Cordani propôs ao geólogo Thomaz
aproveitar a oportunidade para a realizar seu doutorado e, assim, registrar e divulgar 2.1 Tratamento das amostras
o desenvolvimento das pesquisas nessa nova área de atuacão da geocronologia. Essa As amostras, preferencialmente de argilito e siltito, eram cuidadosamente tritu-
foi, então, a primeira das grandes atitudes do Prof. Cordani que levaram este estagi- radas e submetidas à separação das frações mais finas (dimensões abaixo de 4 micra
ário a grandes conquistas e o enriqueceram muito em termos de aprendizado da ge- ou, mesmo, abaixo de 2 micra) através dos processos de decantação e pipetagem.
ologia, da geocronologia e de diversas outras realizações profissionais, simbolizado Para tanto, chegou a ser implantado um laboratório de preparação de amostras no
pela sua Tese de Doutoramento no IGc-USP (Thomaz-Filho, 1976). Centro de Pesquisas da Petrobras (CENPES), no Rio de Janeiro, sob a coordenação
Os trabalhos iniciais de datação radiométrica das rochas sedimentares no CPGeo, da geóloga Ana Maria Pimentel Mizusaki.
com mais evidências para demonstrar a viabilidade de suas idades geologicamen- No CPGeo/USP, sob a coordenação do físico Koji Kawashita, essas fracções eram
te aceitáveis, contaram com a atuação dos professores Cordani e Koji Kawashita, submetidas a análises em espectrômetro de massa para a obtenção das razões isotópi-
além da valiosa cooperação do pesquisador francês Michel Bonhomme (Bonhomme, cas 87Rb/86Sr e 87Sr/86Sr a partir das quais eram construídas as isócronas para chegar-
1976; Bonhomme et al., 1982; Thomaz-Filho e Bonhomme, 1979). se às idades radiométricas das rochas.
Também participou, com grande destaque, em todas essas pesquisas a geóloga
Ana Maria Pimentel Mizusaki em parte pela Petrobras e em parte pela UFRGS. 3. Os métodos K/Ar e Ar/Ar nas rochas sedimentares

2. Os métodos radiométricos pesquisados Ainda naquela oportunidade, os métodos K/Ar e Ar/Ar também eram alvos para
aplicação em rochas sedimentares argilosas geradoras de hidrocarbonetos, mais especi-
Os métodos pesquisados naquela época para a datação das rochas sedimentares ficamente para datação de eventos diagenéticos, dentre os quais se incluíam as épocas
incluíam Rb/Sr, K/Ar e Ar/Ar. O que se mostrou mais adequado à datação radiomé- de geração e migração de hidrocarbonetos. Visava-se determinar o momento, durante
trica foi o Rb/Sr aplicado em rochas sedimentares de granulação fina, argilosas e a evolução diagenética das rochas geradoras, em que a ocorria a expulsão da água
sílticas. As idades radiométricas obtidas pelo método de isócronas de Rb/Sr passaram dos minerais de argila causada pela transformação de esmectitas em ilitas. Essas ilitas
a chegar a valores de idade com bom significado geológico, tanto em rocha total neoformadas, uma vez separadas das rochas, seriam submetidas a técnicas analíticas
(idades da sedimentação) quanto em frações granulométricas finas inferiores a 4 e isotópicas para a determinação de sua idade, utilizando-se a metodologia K/Ar e Ar/Ar.
mesmo a 2 micra (onde as transformações de smectitas em ilitas permitiram a obten- Projeto de pesquisa com esses objetivos, que contava com a participação do geó-
ção de idades de eventos diagenéticos). Nesses casos, a proposição admitida foi o da logo Wilson Teixeira e do físico Koji Kawashita do CPGeo-USP chegou a ser discu-
mistura mecânica dos detritos no ambiente deposicional e os processos de halmiró- tido com a Petrobras mas não evoluiu para a sua concretização. No entanto, ainda
lise. Eles seriam os responsáveis por levar a valores 87Sr/86Sr aproximadamente uni- persistem como muito válidos os seus objetivos para pesquisas futuras.

568 569
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 4

4. Importante trabalho de pesquisa Referências Mizusaki A.M., Cordani U.G., Kawashita K.,
Thomaz Filho A. 1994. Rb-Sr systematics in recent
Bonhomme M.G. 1976. Mineralogie des fractions sediments and its bearing for geochronological inter-
Paralelamente aos trabalhos desenvolvidos na geocronologia das fines et datations Rubidium-Strontium dans le Groupe pretations. In: 8o. International Conference on Geo-
rochas sedimentares, outras atividades foram desenvolvidas durante a Bambui (MG-Brésil). Revista Brasileira de Geologia., chronology, Cosmochronology and Isotope Geology.
6(4):211-222. Berkeley, USGS, p. 220.
interação Petrobras / IGc-USP. Thomaz Filho A., Cordani U.G., Kawashita K.
Bonhomme M.G., Cordani U.G., Kawashita K., Ma-
Uma delas refere-se ao desejo dos geólogos exploracionistas da cedo M.B., Thomaz Filho A. 1982. Radiochronological 1976. Aplicacão do método Rb-Sr na datação de ro-
Petrobras de um melhor conhecimento das relações geológicas entre age and correlation of Proterozoic sediments in Brazil. chas sedimentares da Bacia do Paraná. In: 29º. Con-
Precambrian Research, 18:103. gresso Brasileiro de Geologia. Ouro Preto, Anais, p.
as estruturas e descontinuidades do embasamento pré-cambriano e as 289-302.
Brito-Neves B.B., Fuck R.A., Cordani U.G., Tho-
bacias sedimentares paleozoicas e mesozoicas nele sobrejacentes. Na- maz Filho A. 1984. Influence of Basement Structures Thomaz-Filho A. 1976. Potencialidades do Méto-
quela oportunidade, o geólogo Roberto Porto, da Petrobras, sugeriu on the Evolution of the Major Sedimentary Basins of do Rb/Sr para Datação de Rochas Sedimentares. Tese
Brazil: A Case of Tectonic Heritage. Journal of Geody- de Doutorado, Instituto de Geociências, Universida-
buscar a cooperação com as universidades do país. Para tanto, convi- de de São Paulo, São Paulo, 142 p. (Orientação Um-
namics, 1:495-510.
dou os geólogos Umberto Cordani e Benjamim Bley de Brito Neves, Cordani U.G, Mizusaki A.M., Kawashita K., berto Cordani).
do IGc-USP, e o Geólogo Reinhard Fuck, da UnB, para junto aos geó- Thomaz Filho A.1993. Rubídio e Estrôncio em sedi- Thomaz-Filho A., Bonhomme M.G., Cordani U.G.,
mentos recentes: implicações na datação radiométrica Kawashita K., Macedo M.H.F. 1982. Radiochronologi-
logos Francisco Mota Bezzera da Cunha e Antonio Thomaz Filho, da de rochas sedimentares argilosas. In: 2º. Congresso de cal Age and Correlation of Proterozoic Sediments in Bra-
Petrobras, para que dessem andamento aos trabalhos. Foram inúmeras Geoquímica dos países de língua portuguesa. Porto, zil. Precambrian Research, 18:103-118
as reuniões no Centro de Pesquisas da Petrobras que permitiram che- Memórias. 3:405-409. Thomaz-Filho A., Bonhomme, M.G. 1979. Da-
Cordani U.G., Kawashita K., Kikuchi R.K.P., Cor- tations Isotopiques Rb/Sr dans le Groupe Bambui a
gar-se ao final da pesquisa que, devidamente registrada em dois traba- tes P.L., Simomoto M.A. 1985. Sistemática Rb-Sr em São Francisco (MG), au Brésil. Phase Métamorfique
lhos, ainda nos dias anuais, têm sido importante objeto de constantes rochas sedimentares argilosas do Paleozóico da Bacia Brésilienne Synchronne de la Premiere Phase Pana-
referências (Brito-Neves et al., 1984); Cordani et al., 1984). Amazônica. In: 2º. Simpósio de Geologia da Amazôni- fricaine. Comptes Rendus de l’Académie des Sciences,
ca. Belém, Anais, p. 94-105. 289:1221-1224.
Cordani U.G., Kawashita K., Thomaz Filho A. 1978. Thomaz-Filho A., Kawashita K., Cordani U.G.
5. O “Livro do Cordani” The applicability of the Rb-Sr method to shales and re- 1995. A Origem do Grupo Bambuí no Contexto da
lated rocks. AAPG Studies in Geology, 6:93-117. Evolução Geotectônica. In: Sessão Regular da Acade-
Cordani U.G., Kawashita K., Thomaz Filho A., mia Brasileira de Ciências – IG/USP. Ciências da Ter-
Outra atividade conjunta entre geólogos da Petrobras e o Prof. Brito Neves B.B. 1985. On the applicability of the Rb-Sr ra: A Transição Proterozóico-Cambriano no Brasil.
Cordani foi quando da editoração do livro Tectonic Evolution of South method to argillaceous sedimentary rocks: some exam- 70(3):527-548.
ples from Precambrian sequences of Brazil. Giornale di Thomaz-Filho A., Kawashita K., Cordani U.G. 1995.
America apresentado durante a realizacão do 31st International Geolo- A Origem do Grupo Bambuí no Contexto da Evolucão
Geologia, 47(1-2):263-280.
gical Congress, realizado no Rio de Janeiro, em 2000. Foram designa- Cordani U.G., Mizusaki A.M.P., Kawashita K., Tho- Geotectônica e de Idades Radiométricas. Anais da Acade-
dos como editores os geólogos Edison José Milani e Antonio Thomaz maz-Filho A. 2004. Rb/Sr systematics of Holocene pelitic mia Brasileira de Ciências, 70(3):527-548
sediments and their bearing on whole-rock dating. Geo- Thomaz-Filho A., Mizusaki A.M.P., Kawashita K.,
Filho, da Petrobras. O Prof. Umberto Cordani, do IGc-USP e o geólo- Cordani U.G. 1993. Rubidio e Estrôncio em Sedimen-
logical Magazine, 141(2):233-244.
go Diogenes de Almeida Campos, do DNPM. Durante os exaustivos Cordani U.G., Brito Neves B.B, Thomaz Filho A. tos Recentes: Implicacões na Datacão Radiométrica
O livro Tectonic Evolution trabalhos de revisão dos temas geológicos ali apresentados, partia do 2010. Estudo preliminar de integracão do Pré-Cam- de Rochas Sedimentares Argilosas. In: 9ª. Semana de
of South America, organiza- briano com os eventos tentônicos das bacias sedimen- Geoquímica e 2º. Congresso de Geoquímica dos Paises
do por U. G. Cordani, E.L. geólogo Milani a expressão mais adequada para a obra que ali se reali- tares brasileiras. Boletim de Geocoências da Petrobras, de Língua Portuguesa. Porto, Portugal, p. 405-409.
Milani, A. Thomaz Filho e zava: este é o “Livro do Cordani” (Cordani et al., 2000). Sem dúvida, 17:205-219. Thomaz-Filho A., Cordani U.G., Brito Neves B.B.,
D.A. Campos, publicado no esta obra marcou uma linha divisória na história da evolução tectônica Cordani U.G., Brito Neves, B.B., Fuck R.S., Porto Kawashita K. 1985. On the Applicability of the Rb-Sr
marco do 31st International R., Thomaz Filho A., Cunha F.M.B. 1984 Estudo Preli- Method to Algillaceous Sedimentary Rocks: Some Ex-
Geological Congress, no da América do Sul entre antes e depois do ano 2000. minar de Integração do Pré-Cambriano com os Eventos amples from Precambrian Sequences of Brazil. Giornale
Rio de Janeiro, em 2000. Tectônicos das Bacias Sedimentares Brasileiras. Revista di Geologia, 47(1-2):253-280.
Ciência Técnica Petróleo, 15:70. Thomaz-Filho A., Cordani U.G., Kawashita K.
6. Produtos científicos Cordani U.G., Milani E.J., Thomaz-Filho, A., 1978. The Applicability of the Rubidium-Strontium
Campos D.A. (org.). 2000. Tectonic Evolution of Method in Shales and Related Rocks. In: 25th Sympo-
Fruto do esforço coletivo e objetividade temática e pesquisa isotó- South America. Rio de Janeiro, 31st International Geo- sium on the International Geochronological Congress.
logical Congress, p. 854. Contributions to The Geologic Time Scale. Bull. AAPG
pica inovadora, a geocronologia das rochas sedimentares do território – Studies in Geology, 6:93-117.
Kawashita K., Thomaz Filho A., Lima V.Q., Cordani
brasileiro foi significativamente ampliada. Para a Petrobras, em particu- U.G., Conhomme M.G. 1978. A idade do Grupo Bam-
lar, houve a oportunidade de obter a idade das rochas tanto sedimenta- buí: problemas interpretativos das determinacões radio-
res (no caso pelo método Rb/Sr) como também das rochas ígneas básicas métricas. In: 30º. Congresso Brasileiro de Geologia. Re-
cife, Resumo das comunicacões, p. 53.
(no caso pelo método K/Ar), que ocorrem sob a forma de diques, solei- Kawashita K., Thomaz-Filho A., Brito Neves
ras e derrames nas bacias sedimentares. Durante as cerca de três deze- B.B., Cordani U.G., Macedo M.H.F., Soliane Jr E.
nas de anos de contínua atividade científica do grupo, foram concluídas 1996. Reavaliacão das Idades Rb/Sr do Grupo Una
com base na Composicão Iotópica do Sr em Carbo-
muitas publicações, incluindo artigos em periódicos, trabalhos em anais natos. In: 39º. Congresso Brasileiro de Geologia.
de congressos e resumos em anais de congressos. Salvador, p. 533-535.

570 571
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 5

Umberto Cordani, o professor


Paulo César Boggiani
(boggiani@usp.br). Cordani em aula
de campo do
curso de Geologia
1. Introdução da USP, em São
Paulo, em 1962.
A figura de Umberto Cordani é marcada pela sua carreira cientí-
fica, no geral, associada à Geocronologia e Geotectônica. Contudo,
ele teve também destacada atuação no Ensino, tendo sido fundamen-
tal para a consolidação do curso de Geologia da Universidade de São
Paulo César Boggiani. Paulo (USP), onde foi um dos primeiros docentes e, depois, na sua
reestruturação, com a implementação dos trabalhos de formatura, o
que influenciou outros cursos de Geologia no Brasil.
Ao ingressar na primeira turma do curso de Geologia da USP, Umberto Cordani
não pensava seguir carreira universitária. Sua intenção era trabalhar com prospecção sobre seu doutorado, sobre as ilhas do Oceano Atlântico (Cordani, 1967) e outro sobre a
e pesquisa mineral. Convidado pelo Prof. Victor Leinz, em agosto de 1960, ainda correlação Brasil – África (Melcher et al., 1967). Tinha a intenção, nesse congresso, de se
não formado, para vir a ser auxiliar de ensino, pediu tempo para pensar. Não tinha aprofundar na área de Geofísica, para qual já demonstrava grande interesse, especialmen-
noção da área que teria que atuar, mas havia se encantado com a Mineralogia, área te na teoria da Tectônica de Placas, que estava em seus primórdios de desenvolvimento.
em que se destacou e justificou o convite. Diante da solicitação, recebeu como resposta um “Não vai!” Mas ele foi!
Nos anos 1960, eu nem havia nascido ainda, as informações para aquele tempo Cordani, junto com Celso de Barros Gomes, foram com o veículo Willys do
me foram prestadas pelo próprio Cordani. Na época, no Departamento de Geologia curso e ficaram por lá por duas semanas. Ao retornar, o Prof. Leinz chamou o
e Paleontologia, que funcionava no Palacete da Alameda Glette, havia dois professo- Prof. Sérgio Estanislau do Amaral como testemunha, e comunicou ao Cordani
res catedráticos, Viktor Leinz e Josué Camargo Mendes, e alguns professores assis- que seu contrato junto à CAGE – Campanha para a Formação de Geólogos, esta-
tentes, como Reinholt Ellert, Evaristo Ribeiro Filho, Sergio Amaral, e outros. Junto va para vencer e que ele não renovaria.
com ele, ingressaram também para o curso de Geologia da USP, como instrutores, os Esse momento, por pouco, não marcou o fim de sua breve carreira universitária.
professores André Davino e Antonio Carlos Rocha Campos. Porém, outro contratado pela CAGE optou por não renovar seu contrato. Foi o Prof.
Jorge Bettencourt, assistente do Prof. Rui Ribeiro Franco, que havia aceito convite
para trabalhar na empresa Brumadinho, que atuava na pesquisa e mineração de cas-
2. Início de sua carreira docente siterita. O colega Celso de Barros Gomes conversou com o Prof. Rui e o convenceu
para convidar Cordani a ocupar essa vaga no Departamento de Petrologia.
Naquela época existia uma clara e rigorosa hierarquia entre os docentes. Além dos Cordani assumiu então o lugar do Prof. Bettencourt, sem a oposição do Prof. Leinz,
recém-contratados e dos assistentes, havia como professores os doutores Ruy Osório de que já havia dado o recado para o desmando, com o susto da não renovação. Com a sua
Freitas, Geraldo Melcher, Aziz Ab’Saber, além de professores estrangeiros contratados mudança, porém, Cordani teve que trocar o orientador de seu Doutorado, que estava
pela CAGE, como John Thomas Stark, Mauro Ricci, Gene Tolbert, Norman Herz e praticamente pronto, do professor Leinz para o professor José Moacyr Vianna Coutinho.
Rudolph Kollert. O curso de Geologia contava ainda com aulas práticas de Mineralo- Cordani voltou mais tarde a integrar o Departamento de Geologia, após a refor-
gia e Petrologia, ministradas pelos professores Rui Ribeiro Franco, José Moacyr Vianna ma universitária e fim das Cátedras. Nesse departamento, dedicou-se aos trabalhos
Coutinho e Nabor Ricardo Rüegg. de campo e mapeamento geológico do curso de Geologia. Antes disso, havia realiza-
Naquele tempo, o assistente preparava as aulas e o catedrático mandava. do seu pós-doutoramento na Bélgica, e também sua Livre Docência, com a geologia
Tendo avançado em sua formação como docente, Cordani já se destacava pelas suas do eixo Salvador – Vitória e o estudo do sistema isotópico Rb-Sr na datação de
pesquisas nas ilhas do Atlântico e sobre Tectônica Global, e com sua primeira publicação rochas da região costeira do Brasil.
internacional em 1967 (Hurley et al., 1967). Estas pesquisas proporcionaram o reconhe- Ao final da década de 1960, ainda sob influência da CAGE, os trabalhos de campo
cimento internacional, e o contato com pesquisadores de universidades estrangeiras, en- de mapeamento geológico eram realizados no período de quinze dias, com participação
tre eles John Tuzo Wilson, o do famoso ciclo e idealizador das falhas transformantes, ape- de todos os docentes do curso. Cordani, em sua nova atribuição, propôs mapear a área
sar da forte resistência da comunidade internacional às novas ideias da Tectônica Global. da região do Pico do Jaraguá, em 1972, onde já havia pesquisado (Cordani et al., 1961).
Cordani foi pedir autorização ao Catedrático Leinz para participar do Congresso da Em 1974 proporcionou a primeira mudança significativa do curso de Geologia, com
IUGS, que iria ocorrer no Uruguai em 1967, onde iria apresentar dois trabalhos, um a criação da disciplina Geologia de Campo, sob sua coordenação. Para essa matéria vinha

572 573
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 5

Figura 2: Participação do Prof. Fer-


nando Alkmim, em 2007, nas aulas
de campo da disciplina Geologia His-
tórica e do Brasil, no Quadrilátero
Ferrífero, a convite do Prof. Cordani.

3. Destaques no
Figura 1: O Prof.
Cordani em aula de Instituto de Geociências
campo, em 2006, da
disciplina Geologia
Histórica e do Brasil,
Como presidente da Comissão de Graduação,
na Mina Sambra, em no IGc da USP, instituiu marcante reestruturação
Minas Gerais, com curricular no curso de Geologia, em 1994, a qual
discussão sobre a
Capa Carbonática da
vigora até os tempos atuais, com a instituição do
Formação Sete Lagoas Trabalho de Formatura e a criação de opções de
e seu contexto geoló- concentração. Através do formato proposto origi-
gico e estratigráfico
no Grupo Bambuí. nalmente, o estudante poderia direcionar sua formação para determinadas áreas, por meio
de disciplinas optativas e finalizada com o tema escolhido para seu trabalho de formatura.
A opção de concentração acabou por não se consolidar, mas a realização do trabalho de
com grande experiência em Aerofotogeologia, disciplina que havia ministrado por diversas formatura demonstrou ser uma fórmula de sucesso para a formação profissional, principal-
vezes, como assistente do Prof. Mauro Ricci, junto com Geologia Estrutural e Petrologia. mente pela condução dos trabalhos pelo próprio aluno, na própria instituição ou em outras
Nos primórdios de sua docência, pode-se dizer que Cordani era eclético, ten- e empresas, através de seus estágios, orientados por um membro do quadro docente.
do ministrado a disciplina de Aerofotogeologia, em Rio Claro e, por um ano, Mi- Outra inovação no currículo, com a reestruturação de 1994, foi a organização dos
neralogia, para o curso de Química, em Campinas, além de disciplinas diversas trabalhos de campo, com melhor distribuição ao longo do curso e estruturados em graus
do curso de Geologia na USP, mas seu interesse pessoal estava na Geocronologia, crescentes de dificuldade. Neste contexto, a disciplina introdutória, anual, intitulada
na Geotectônica, e na Geofísica, pela sua importância no desenvolvimento da “Geologia Geral – Sistema Terra” foi estruturada e ministrada por Cordani, juntamente
Tectônica de Placas. com professores dos dois departamentos do IGc. Para essa disciplina, optou-se por rea-
Em função deste seu interesse, e com sua projeção internacional, após a publi- lizar mapeamento geológico na região de Itu, por possibilitar contato com unidades de
cação de seu artigo na revista Science em 1967 (Hurley et al., 1967), foi convidado rochas ígneas, metamórficas e sedimentares, em diferentes contextos. Foi também rees-
para ir aos EUA em 1967, pela Comissão Brasileira do Manto Superior, com visitas a truturada a disciplina Geologia Histórica e do Brasil, anual, que contava com trabalho
diversas instituições de pesquisa naquele país. Oportunidade em que ficou demons- de campo nos terrenos pré-cambrianos da região do Quadrilátero Ferrífero, juntamente
trado o interesse por se obter informações a respeito da América do Sul e do Brasil, com a disciplina Prospecção, Pesquisa e Avaliação de Jazidas, reforçando a ideia de ativi-
em particular, abrindo possibilidades diversas de cooperação. dades interativas e que envolvessem mais de uma disciplina (figura 1).
Existia a cadeira de Geofísica, no IAG – atualmente Instituto de Astronomia, Geo- A disciplina de Geologia Histórica e do Brasil contava ainda com outra ati-
física e Ciências Atmosféricas, tendo como responsável o Prof. Mário Schenberg, po- vidade de campo integradora no segundo semestre, com enfoque para sucessões
rém não concursado para a “cátedra”. Após a publicação de sua experiência nos EUA, sedimentares neoproterozoicas e perfis na Bacia do Paraná, que contou com a
na revista Mineração e Metalurgia (Cordani et al., 1968), o Prof. Giorgio Moscati o participação do Prof. Cordani por inúmeras vezes.
convidou para ministrar a disciplina optativa Introdução à Geofísica no curso de Físi- O Prof. Cordani procurava, na disciplina Geologia Histórica e do Brasil, dar
ca, a qual ministrou nos anos de 1969 e 1970. Naquela época, conheceu Igor Pacca e oportunidade aos estudantes de conhecerem outros pesquisadores e diferentes ideias,
Marta Mantovani, e proporcionou o ingresso dos dois na Geofísica. como em 2007, quando convidou o Prof. Fernando Flecha Alkmim, da UFOP, para
O IAG era antes considerado um instituto anexo à USP, sem atribuições univer- acompanhar parte das aulas de campo (figura 2).
sitárias. Durante o velório de seu diretor Abrahão de Moraes, em 1970, o reitor da
USP Miguel Reale se posicionou fortemente pela sua formalização como instituto de
pesquisa na USP, o que acabou acontecendo em março de 1972, quando já existia o 4. Sua disciplina Evolução Geotectônica
Instituto de Geociências (IGc). Cordani ficou alocado nos dois institutos, no IAG, do Continente Sul-Americano
ministrou a disciplina de Sismologia, depois assumida pelo Prof. Marcelo Assunção.
Sua participação no ensino não se restringiu a criar e ministrar disciplinas, tendo Na condição de professor sênior no Instituto de Geociências, o Prof. Cordani pro-
tido forte influência na inclusão de temas de Geociências na Educação Básica, seja em cura agora repassar seus ensinamentos e experiência profissional através da disciplina de
palestras, artigos (Cordani et al., 2018; Ernesto et al., 2018), como em comissões, a pós-graduação Evolução Geotectônica do Continente Sul-Americano, inclusive para os
exemplo de sua participação recente na SBPC, Sociedade Brasileira para o Progresso docentes mais jovens, com os quais planeja a disciplina como legado a ser deixado. Esta
da Ciência, e em comissão criada para esse fim na Sociedade Brasileira de Geologia. disciplina, organizada há anos, tem agora por base o recente Mapa Tectônico da América

574 575
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 6

do Sul, do qual foi coordenador, juntamente com O Professor Umberto


o Prof. Victor Ramos, da Universidade de Buenos
Aires, resultante de parceria entre o Serviço Geo- Cordani e a Geofísica
lógico do Brasil (CPRM) e o Serviço Geológico e
Mineiro da Argentina (SEGEMAR). Igor Ivory Gil Pacca
O referido mapa, disposto sempre em posição
de destaque durante as aulas, é detalhadamente No final da década de 1960 era grande ain-
explicado, no característico ritmo e estilo do Prof. da a disputa entre fixistas e mobilistas. Cor-
Cordani de apresentar suas explicações (figura 3). dani era adepto do que em 1965 foi chamado
A primeira aula é a apresentação do referido de Teoria da Tectônica de Placas e sentia que
mapa, seguido pela revisão de noções de geotectô- a Geofísica tinha que ser desenvolvida no Bra-
nica com base na geocronologia e a apresentação sil. No antigo Departamento de Física da Fa-
da compartimentação da América do Sul, com seus culdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP
crátons e faixas móveis. A disciplina não se restringe havia uma Cátedra de Geofísica e outra de
à evolução pré-cambriana, e inclui também abor- Astrofísica, mas que o Departamento nunca
dagens das bacias intracratônicas e a evolução da tinha tido interesse em implantar. Em 1969,
Cordilheira dos Andes. A avaliação da disciplina é entretanto, o Prof. Giorgio Moscati resolveu
feita através de seminários, com temas cuidadosa- oferecer uma disciplina optativa de Geofísica
mente selecionados pelo Prof. Cordani, por vezes aos alunos do curso de Física. Houve então a
em contato com o orientador, que também escolhe aproximação com Cordani, que passou a co-
um aluno para relatar a apresentação do colega. Igor Ivory Gil Pacca.
laborar nas aulas de Geofísica.
Seja em sala de aula, ou pelos corredores, ou O interesse pela Geofísica havia trazido a
mesmo em reuniões ou conversas em sua sala, te- visita ao Departamento de Física do Prêmio
Figura 3: O Prof. Umberto
Cordani no fechamento de mos ainda a oportunidade de conviver com o Prof. Cordani pelo Instituto. Nobel Patrick Maynard Stuart Blackett, Presi-
sua disciplina de pós-gra- Nesse convívio, sempre cordial e agradável, marcado pela carac- dente da Royal Society e autor do livro Conti-
duação Evolução Geológica terística risada, que fecha suas reflexões, ou mesmo um palavrão em
do Continente Sul-Ame- nental Drift. O seminário de Blacket foi muito
ricano, em novembro de italiano, quando instigado, é possível desfrutar de seu amplo e vasto ilustrativo. Mas aqueles anos de 1969/70 foram
2019, desenvolvida com conhecimento construído. também de muita discussão na USP: era a Refor-
base no Mapa Tectônico da Através de suas conversas, é possível saber sobre os primórdios da con-
América do Sul, do qual foi ma Universitária, que criou o Instituto de Geo-
coordenador, junto com o solidação da Teoria da Tectônica de Placas, quando ela ainda não era aceita ciências e Astronomia, e o Instituto de Física,
Prof. Victor Ramos e Lêda no Brasil e no mundo, e sobre a estruturação dos primeiros cursos de geolo- colocando neles as Cátedras que pareciam mais
Maria Barreto Fraga. gia do Brasil, entre eles o da USP, do qual foi um dos primeiros professores. correspondentes.
O Instituto Astronômico e Geofísico, embo-
Referências Comissão Brasileira do Manto Superior. Mineração e ra mais antigo do que a USP, era só um Institu-
Metalurgia, 48:22-24.
Hurley P.M., Almeida F.F.M., Melcher G.C., Cordani U.G., Ernesto M., Dias M.A.F.S., Saraiva to Complementar e ficou de fora na Reforma.
Cordani U.G., Rand J., Kawashita K., Vandoros P., E.S.B.G., Alkmim F.F., Mendonça C.A., Albrecht R. Houve muita discussão sobre para onde deveria
Pinson W.H., Fairbairn H. 1967. Test of Continental 2018. Ensino de Geociências na universidade. Estu-
Drift by Comparison of Radiometric Ages: A pre- dos Avançados, 32:309-330. https://doi.org/10.1590/
ir o IAG mas acabou prevalecendo a ideia de-
drift reconstruction shows matching geologic age s0103-40142018.3294.0020. fendida pelo Prof. Abrahão de Morais de que
provinces in West Africa and Northern Brazil. Sci- Ernesto M., Cordani U.G., Carneiro C.D.R., Dias deveria ser criada uma nova unidade de Ensino
ence, 157(3788):495-500. https://doi.org/10.1126/ M.A.F.S., Mendonça C.A., Braga E.S. 2018. Perspectivas
science.157.3788.495. do ensino de Geociências. Estudos Avançados, 32:331
e Pesquisa, pois permitiria o desenvolvimento
Cordani U.G. 1967. Potassium-argon ages of rocks - Perspectivas do ensino de Geociências. ESTUDOS da Astronomia, atividade tradicional do IAG e
from the Brazilian South Atlantic Islands. Abstract. Pro- AVANÇADOS, v. 32, p. 331-343, 2018. https://doi. a implantação de pesquisas em Geofísica e Me-
ceedings of the “Symposium on Continental Drift, em- org/10.1590/s0103-40142018.3294.0021.
phasizing the History of the South Atlantic Area” – IUGS Melcher C. G., Cordani U G, Isotta, C.A.L., Hur- teorologia, em nível compatível com a USP. No
& UNESCO – Montevideo, Uruguay. ley, P.M. 1967. A geochronological comparison of West final de 1972, foi criada a nova unidade, com
Cordani U.G., Campos, A.C.R., Davino, A., Bjor- African and South American basements. Abstract. Proce- seus três departamentos.
nberg, A.J. 1961. Geologia da região do Jaraguá. Boletim edings of the “Symposium on Continental Drift, empha- William Drew perfurando rocha alcalina
da Sociedade Brasileira de Geologia, 10:73-91. sizing the History of the South Atlantic Area” – IUGS & O primeiro Diretor do IAG foi o Professor
cretácea em Ubatuba, São Paulo. Fotogra-
Cordani U.G. 1968. Programa de Geofísica da UNESCO - Montevideo, Uruguay. Titular da Escola Politécnica Giorgio Giacaglia, fia de Andrea Bartorelli, em 1968.

576 577
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 7

Magmatic Evolution
of the Andes: the
contributions of the
IGCP Project 120
Victor Alberto Ramos
(andes@gl.fcen.uba.ar),
Orientação de Instituto de Estudios Andinos
testemunho para Don Pablo Groeber (UBA-CONCET)
estudos de Pale-
omagnetismo em
dique alcalino no The launch in the early 1970’s of the project
porto de Ubatuba. 120 “Magmatic evolution of the Andes” within
Fotografia de
Andrea Bartorelli, the framework of the International Geological
Victor Alberto Ramos.
em 1968. Correlation Program, a joint effort of the Inter-
national Union of Geological Sciences and Unesco was timely created
and driven from its origins by Umberto Cordani. The Andean-tecton-
ic model had been recently proposed and many unknowns arose to
explain the development in time and space of magmatic arcs. Proj-
que tinha trabalhado com Geodésia Dinâmica. Seu primeiro objetivo foi incrementar ect 120 in ten years of work, contributed with more than 2000 ages
o quadro dos três Departamentos e as regras então em vigor exigiam para cada De- and studied throughout the Andes the variations of these arcs. The
partamento um Professor Titular, três doutores e três categorias docentes. O Titular data provided established that the migration to the foreland of the
poderia ser ele mesmo, um Doutor foi Igor Pacca, que poderia ser transferido do volcanic arcs was due to crustal erosion by subduction of the forearc
Instituto de Física, onde havia feito doutorado em Física da Radiação Cósmica. A USP and to changes in the geometry of the subducted slab. Each of these
permitia então que, em situações excepcionais, doutores podiam acumular funções em processes has different geochemical and petrological characteristics
duas unidades. Do Instituto de Geociências vieram Cordani, que já estava envolvido and different time dynamics. In turn, trench arc migrations, especially
com Geofísica, e Koji Kawashita, que era graduado em Física. Para completar as três when they were abrupt and associated with metamorphism and defor-
categorias, foi contratado como Auxiliar de Ensino um aluno de pós-graduação. mation, were indicating the collision of allochthonous terranes on the
Após seu doutoramento sobre Física da Radiação Cósmica, em 1969, Igor Pacca continental margin. Geochronological and petrological studies carried
havia se interessado por Geofísica e a primeira ideia era dedicar-se a um dos campos out in a series of transects allowed identifying the collision of island
fundamentais, como a Sismologia. Cordani, entretanto, contou-lhe que um pesquisa- arcs in the Meso-Cenozoic of the Northern Andes and the accretion of
dor britânico chamado Kenneth Michael Creer havia tentado instalar um laboratório continental terranes in the Paleozoic throughout all the margin. The
de paleomagnetismo em Curitiba, mas que não havia dado certo e tinha deixado variation of the geometry of the subducted slab could reach a flat-slab
equipamento lá. Cordani propôs que falássemos com Creer e fôssemos a Curitiba stage with an important gap in magmatism. The study of these and
para trazer o equipamento para o Instituto de Física. Essa operação bem sucedida other processes was carried out through intense cooperation between
deu origem às pesquisas em Paleomagnetismo no Brasil. scientists from different Andean countries. Although the scientific re-
A tarefa seguinte seria definir quais linhas de pesquisa deveriam acompanhar o sults of the project were important, the main legacy of IGCP 120, is to
Paleomagnetismo, que já tinha um laboratório, transferido do Instituto de Física. Foi have established cooperation networks among the participants, which
muito importante aí a atuação de Cordani, que dos quatro, era o que tinha melhor are still successfully maintained in different new programs.
visão das Geociências. Identificadas as linhas, a próxima tarefa seria procurar pesso-
as adequadas, num assunto em que não havia tradição no país. Foi uma tarefa difícil
em que o conhecimento e os relacionamentos de Cordani foram essenciais. 1. Introduction
Um objetivo da nova Unidade seria a criação de cursos de graduação e pós-gradu-
ação. A graduação em Geofísica teve oposição das associações profissionais de geólo- At the end of the 60’s, a scientific revolution was being developed
gos, mas a pós-graduação foi criada em 1975. No nível de graduação, eram oferecidas that was going to modify the Geological Sciences with the change of
disciplinas optativas sobre vários assuntos de Geofísica. Eram muitas aulas, dadas por old “fixist” paradigms and tectonic ideas dominated by almost entirely
pouca gente e aqui também foi muito importante a colaboração de Cordani. vertical structures and displacements. It was the gradual decline of

578 579
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 7

the geosynclinal theory, which had reached its colleagues in the geology of the eastern slope of
climax in 1965 with the popular text on the the Andes. However, the main contributions in
Geosynclines produced by Jean Aubouin (Aub- the Argentine-Chilean Andes at that time, were
ouin, 1965), a bestseller in the field of geology those of Aubouin & Borrello (1966) and Aub-
of that decade. These were the beginnings of ouin et al. (1973, and cites therein), which still
Plate Tectonics and a total effervescence domi- analyzed the Andean evolution from the geo-
nated geologists and geophysicists at that time. synclinal point of view.
An important milestone was the American Geo- In that state of affairs, the International
physical Union Symposium on sea-floor spread- Geological Correlation Program (IGCP) arose
ing of 1967 held in Washington, which brought in 1972. This program was an initiative of Aus-
together Dan McKenzie, Jason Morgan, Xavier tralian geologists headed by H. J. Harrington
Le Pichon and Jack Oliver, among many others, in 1965, who through the IUGS promoted a
to discuss John Tuzo Wilson’s proposal (Wilson, Gondwana correlation program between the
1965). This symposium was followed by many different countries of the southern hemisphere. Figure 2: Francisco Muni-
benchmark papers with new knowledge and This initiative was broadening itself so as to include some nations of zaga and Umberto Cordani
ideas explaining the processes that led to the the northern hemisphere. Finally, the program created by IUGS was in Antofagasta, Chile.
Previous meeting in 1974
continental drift and the interaction between presented to Unesco, which agreed to a formal involvement and ap- at the IAVECI Symposium
rigid plates (Morgan, 1968; Le Pichon, 1968; proved it in Paris in 1972. The development and growth of the IGCP (International Association
McKenzie, 1969). as a joint venture of IUGS and Unesco was followed by the approval of Volcanology and Chem-
istry of the Earth’s Interior)
However, we must wait a few more years of a number of projects in the 1973-1974 academic year. The first where the geochronological
to see how these new concepts and processes projects were mainly inter-European, but soon after were expanded to problems of the volcanism
Figure 1: The Ande- of Chile were analyzed.
an-type model envis- interacted to form the Andes. A seminal proposal was anticipated by the rest of the world. The first South American project was the IGCP
aged by John Dewey John Dewey, who was the first to associate these processes in an Ande- 42, Upper Paleozoic of South America, successfully headed by Antonio
in the early seventies an-type model (Dewey, 1969; Dewey & Bird, 1970). This first model
(after Dewey, 1969; Rocha Campos from 1974-1982. An important symposium was held
Dewey & Bird, 1970). related the subduction of the oceanic slab to arc magmatism, basin in São Paulo, which grouped most of the researchers working in South
formation, and Andean structures (see figure 1). Although some of its America (Rocha Campos, 1974).
premises proved erroneous, the merit of this model was that it con- Soon after, the IGCP Project 120, Magmatic Evolution of the An-
ducted research on these processes for many years. des (1975-1985), was approved by the initiative of Umberto Cordani,
In those years a project was launched to study the magmatic evolu- elected chairman of the project, later followed by Enrique Linares,
tion of the Andes through the collaboration between the International both geochronologists formed in the geochron laboratories of the
Union of Geological Sciences (IUGS) and the Unesco. This project led universities of Berkeley and Yale, USA, in previous years. The main
to the advancement of knowledge in the Andean processes in much of goals of the project were to determine the age of the major volca-
this decade and following decades. nic, plutonic and tectonic events along the Andes, and to correlate
them throughout the cordillera and related regions (Cordani, 1978).
The initial meeting was in São Paulo in 1976, followed by a second
2. International cooperation across the Andes working meeting held in Santiago de Chile in occasion of the Primer
Congreso Geológico Chileno in the same year (figure 3). There, a pilot
In the late 1960s, cooperation between researchers on both sides subproject consisting of a transect across the Andes from the Pacific to
of the Andes was almost non-existent, especially in the southern sec- the foothills across the Central Andes was defined. Besides, some oth-
tor of the Central Andes. One of the few exceptions was the teaching er regional and thematic subprojects from Venezuela to southern Chile
at the University of Chile of several professors from the University were approved. An important part of the project was the cooperation
of Buenos Aires, which got away from the Military Government in offered from different geochronological laboratories as the CPGeo of
1966. Among these professors stood out Felix González Bonorino, Universidade de São Paulo, INGEIS from Buenos Aires, University of
who contributed with modern ideas on the study of metamorphism California at Berkeley, University of Texas at Dallas and the Universitè
of the accretionary prism of the Pacific margin. On the Argentine side of Grenoble in France. Next meetings were held in 1977 in Guayaquil,
the fieldtrips of Jean Claude Vicente, a professor at the University Ecuador, and in Caracas, during the 5º Congreso Geológico Venezola-
of Chile, with his students promoted the interest of young Chilean no, to discuss the activities in the northern Andes.

580 581
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 7

3. Initial scientific achievements presented (Caminos et al., 1979) among many


other contributions. The transect new dates
One of the first highlights of the project was showed the age and characteristics of the met-
discussed in the meeting of Santiago de Chile, amorphic basement of the cordillera, the Late
where sixty-six K-Ar dates from the laboratory Paleozoic magmatism and the Cenozoic Andean
of the University of California at Berkeley on volcanic rocks and their tectonic relationships.
the Cenozoic volcanic rocks of Central Chile Another important study was the first ages of
were presented (Drake, 1976; Drake et al., the Puna Eruptive Belt of northern Argentina Figure 4: Part of the early K-Ar equipment
1976). These results revealed previously un- and Chile (Omarini et al., 1979), which was the of the INGEIS at the Universidad de Buenos
Figure 3: Attendants to Aires in 1971 (archives of FCEN-UBA).
recognized episodes of volcanism during Cre- first step in a major controversial issue that con-
the first meeting of the
project in Santiago de taceous and Cenozoic times in central Chile, as the Early and Late tinues up to nowadays.
Chile during the 1º Con- Cretaceous volcanic rocks of Las Chilcas and Lo Valle formations, and
greso Geológico Chileno. opened new research to evaluate the extension and tectonic signif-
Wilson Texeira, Umberto
Cordani, Woldemar icance of these rocks. These studies were complemented with K-Ar 4. The main scientific meeting
Iwanuch, Francisco Muni- dates made by Mario Vergara in Berkeley (Vergara & Drake, 1976),
zaga, Colombo Tassinari which showed an important gap in late Cenozoic rocks. The series of meetings and symposia pro-
and Carlos Johnson.
At the same meeting, the first 87Sr/86Sr dates produced by Fran- duced a significant amount of data and new hy-
cisco Munizaga in São Paulo were presented by Munizaga & Man- potheses about the formation of the Andes with
tovani (1976) and Hervé et al. (1976), together with new K-Ar ages more than thirty contributions of the working
of the southern Coastal Cordillera (Cordani et al., 1976). These groups (Linares, 1979, 1980). International par-
results showed the different initial ratios of the southern segment ticipation of different universities from the Unit-
of the Southern Volcanic Zone (SVZ), much more juvenile than the ed States and Europe was growing and the results
northern segment, as well as the metamorphic age of the Nahuel- of the research, were widening in the different
buta basement. The Munizaga geochronological study was part of disciplines of the Project 120. As a consequence Figure 5: Similar argon extraction system
his PhD thesis in the Laguna del Maule Volcanic Complex defended of that, an important meeting was planned to at CPGeo in the Universidade de São Paulo
the next year (Munizaga, 1977). submit the new ideas in occasion of the 26º In- during the 70’ (photo CPGeo).
These results encouraged two new symposia in 1978, one during ternational Geological Congress of Paris in 1980.
the 7º Congreso Geológico Argentino at Neuquén and other in La The session on Recent developments on the knowledge of the Magmatic Evolution
Paz, Bolivia, sponsored by the Bolivian Academy of Sciences, where of the Andes was very successful, not only because of the quantity and quality of pub-
several scientific contributions were presented. In the Bolivian sym- lications that resulted from the meeting, but also because of the vivid discussions and
posium the leadership move to Enrique Linares (1928-2014), being exchanges with the international community working on this issue. The highlights of
Umberto Cordani vice-chairman and Francisco Munizaga the project this session were the segmentation of the Andes and its importance in the control of
secretary (Linares, 1979). the mineralization, the migration of the magmatic arc through time, and the complex
The symposium at the 7º Congreso Geológico Argentino in 1978 array of metamorphism and magmatism of the basement of the Andes.
provided an opportunity to present the new K-Ar data processed in The main results were published in a special volume of Earth-Science Reviews on
the INGEIS laboratory (figure 4) (Charrier et al., 1978; Hervé & Magmatic evolution of the Andes edited by Enrique Linares, Umberto Cordani and
Munizaga, 1978, among others). The data from the Meseta Buenos Francisco Munizaga (Linares et al., 1982).
Aires showed that two different pulses of basaltic magmatism formed The contribution of Jean F. Toussaint and Jorge J. Restrepo, was a milestone in
the meseta, which was applied to analyze the relationship with the the evolution of the Northern Andes. The new geochronological Rb-Sr and K-Ar
Chile triple junction (Charrier et al., 1979). There were also dis- dating in Colombia, done in São Paulo and Buenos Aires, showed the abrupt west
cussed the contributions of Martin Halpern from the geochron lab- migration of the magmatic arc and associated metamorphism, which was interpret-
oratory of Texas University at Dallas in cooperation with São Paulo ed as evidence of the collision of island arcs or thickened oceanic crust against the
(figure 5), in northern Chile and in the southern region (Halpern & Central Cordillera (Toussaint & Restrepo, 1982). In each magmatic cycle they also
Fuenzalida, 1978; Halpern, 1978). observed a progressive arc migration to the east, which was later interpreted as the
The Segundo Congreso Geológico Chileno in Arica, gave the occa- shallowing of the subducted slab (Restrepo & Toussaint, 1988).
sion to held another symposium of the project where the first results The evolution of Ecuador was presented by Minard L. Hall and Jorge Calle,
of the pilot transect across the Main and Frontal Andes at 33ºS were which based on the new ages systematically obtained though the IGCP 120, de-

582 583
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 7

was explained by subduction erosion of the continental crust, in one of the early
works where this process was applied.
Another milestone paper was the transect across the Central Andes between 30º
and 36º S latitude (Caminos et al., 1982). This was the pilot subproject of the IGCP
120. An extensive age dataset allowed to recognize a series of belts of different ages
from the Early Cambrian to the late Paleozoic, which became younger to the west
and were separated by mafic and ultramafic rocks. This study was seminal for future
work on collisional tectonics (see Ramos et al., 1986, and cites therein).
A series of papers on the Patagonian Andes defined the zonation of the volcanic
and plutonic rocks from east to west (González Díaz, 1982), reconstructed of the
Late Jurassic-Early Cretaceous magmatic arc between Chile and Argentina (Haller &
Lapido, 1982), and reviewed the Patagonian magmatism, including the extra-Ande-
an basalts (Ramos et al., 1982). The transition between early and late Mesozoic evo-
lution was linked to the convergence rates of the subduction, at the same time that
Figure 6: Ricardo Varela,
Carlos Cingolani, Pedro the north to south variation in the amount of extension was related to the geometry
Stipanicic, Enriqie Lin- scribed the collision in the early Tertiary of an island arc, and the sub- of the subducted slab, being steeper in the Rocas Verdes Basin.
ares, Umberto Cordani sequent magmatism during the rest of the Cenozoic. They presented As a whole, this Earth-Science Reviews Special Volume was a benchmark in the
and Francisco Hervé in the unusual parallel belts of Quaternary strato-volcanoes of Central
Carlos Paz, Córdoba in understanding of the timing and geometry of the different magmatic arcs, the seg-
SSAGI 1999 Symposiun. and Northern Ecuador and contrasted this behavior with the volcanic mented nature of the subduction, the processes such as tectonic erosion, collision
Note that most of them evolution of Peru (Hall & Calle, 1982). of island arcs, variation in the subduction geometry, as well as the accretionary
were part of the IGCP The Coastal Batholith of Peru was analyzed by E. J. Cobbing, who
120, showing the strong tectonics of the early Paleozoic terranes. Ten years after the original and pioneer
links generated by IGCP based in the existing age dataset, recognized that during the Creta- Andean Tectonic model proposed by Dewey and Bird (1970), significant changes
120 twenty years later ceous the Coastal Batholith was emplaced in a thinned continental in the processes and important variations in the segmented nature of the Andes,
(after Cingolani, 2016). crust, contrasting with the postorogenic thicker crust where the Ter- start being envisaged. This success was a direct credit to the Magmatic Evolution
tiary volcanism was developed (Cobbing, 1982). This fact was later of the Andes IGCP project 120.
related to the important change in the tectonic regime observed in all
the Andes in the mid Cretaceous associated with the opening of the
South Atlantic (Ramos, 2010, and cites therein). 5. The last years of the IGCP Project 120
On the other hand, the magmatic evolution of the Eastern Cordil-
lera of Peru was analyzed by the French researchers. This complete re- After the successful meeting in the international congress held in Paris and the
view was a synopsis of more than twenty years of ORSTOM research publication of the Earth-Science Reviews papers, the project concentrated in a new
in this country (Carlier et al., 1982). The well-known late Paleozoic Symposium on Magmatic Evolution of the Andes to be held during the 5º Congreso
magmatism contrasted with the poor knowledge of the early Paleozo- Latinoamericano de Geología in Buenos Aires in 1982. The sessions of this sympo-
ic gneisses and ultramafic and mafic complexes. They recognized the sium showed a large participation of almost all the Andean countries of South Amer-
gap in Andean volcanic rocks in central and northern Peru, but it was ica, with review papers on Colombia, Peru, Chile and Argentina.
not associated with flat slab subduction as proposed by Barazangi and As aftermath of the results of the international congress in Paris, Bryan Isacks and
Isacks (1979). This was clearly exposed years later in Peru by Soler & coworkers presented in the Latin-American Congress a paper on the segmented nature
Bonhomme (1990). of the Andes and the control of the flat-slab subduction in this segmentation. This was
An important advance was produced in the knowledge of volca- the first work in the Andes where the migration of the magmatic arc, the propagation
nism of the upper Cenozoic of northern Chile (Lahsen, 1982) with of the fold and thrust belt, and the evolution of the foreland basin, could be explained
the new dated rocks done in São Paulo. However, the most cited by variations in the geometry of the subducted slab, with strong implications in base-
paper of this Earth-Science Reviews Special Volume was the review ment uplifts as the Sierras Pampeanas (Isacks et al., 1982). This was a seminal paper
of the Tectonic and magmatic evolution of the Andes of northern which in the following years permitted the understanding of the evolution of several
Argentina and Chile of Coira et al. (1982). In this contribution, flat-slab segments in Colombia, Peru, and in the Chile-Argentine Andes.
the occurrence of suspect terranes was analyzed for the first time, The project working meeting during the Buenos Aires congress decided to focus in
as microcontinents colliding along the Pacific proto-margin during the geochemical evolution of the magmatic arcs as well as in paleomagnetic studies for
early Paleozoic times. The east migration of the Andean volcanism the two last years of the IGCP 120 (Linares, 1983).

584 585
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 7

These results were achieved by the active participation of different laboratories as


the CPGeo of the Universidade de São Paulo; the INGEIS of the Universidad de Bue-
nos Aires; since 1981 the SNGM’ lab of the Servicio Nacional de Geología y Minería
in Santiago; the University of Texas at Dallas; the University of California at Berke-
ley; the Isotopic Geology Division of the British Geological Survey; the Universität
of Munster; and l’Universitè Grenoble.
The final volume of the project was edited by Francisco Hervé and Francisco Mu-
nizaga, with more than 80 papers covering the entire Andes. It comprises not only
geochronological studies, but also a wider range of topics and related disciplines.
This final document highlighted several update works. Among them a synthesis of
the evolution of the igneous rocks of Bolivia by Avila Salinas (1985); a proposal of
the Arequipa Massif in southern Peru as a potential allochthonous terrane (Cordani
et al., 1985); the metallogenic importance of late Paleozoic calderas in northern
Chile (Davidson et al., 1985); the paleogeography and tectonics of the Andes be-
tween the Precambrian and the Paleozoic (Frutos, 1985); the geologic framework of
the granitoids of the Coastal Cordillera (Hervé et al., 1985; Munizaga et al., 1985);
the magmatic evolution of the Main Andes and the changes in slab geometry (Kay
et al., 1985); the petrological characteristics of the Southern Volcanic Zone (Notsu
et al., 1985; López Escobar et al., 1984); the late Paleozoic-Triassic magmatism of
the Frontal Cordillera of Chile (Mpodozis et al., 1985); the volcanic rocks of Cerro
Aconcagua (Ramos et al., 1985); the magmatic evolution of the Northern Andes of
Colombia and Ecuador (Restrepo et al., 1985); the epochs of intrusions of porphyry
copper mineralization in the Andes (Sillitoe, 1985) and the volcanism of the Central
Figure 7: Participants to the Cordillera of Colombia (Vatin-Perignon et al., 1985); among many others.
final IGCP meeting in Santia- During 1984 special attention was paid in the program to the final
go de Chile at the front of the meeting of the project in 1985 and its final documents. The project These contributions showed the huge region encompasses by the IGCP project,
Departamento de Geología organized in 1984 three meetings, one in La Paz, Bolivia; a second in which covered almost the entire Andes. The different aspects of the magmatic rocks,
of the Universidad de Chile. their tectonics and isotope geology, the petrological characteristics, the relationships
Among the participants are: Bucaramanga, Colombia, and a third one in Bariloche, Argentina. The
Roberto Caminos, Alejandro last working group meeting in Bariloche set the basis for the proposal with the variation in the subducted slab, and many other aspects of the Andes were
Tosselli, Waldo Ávila Salinas, of a new project to be submitted to the IGCP Board. The scientific analyzed in the final meeting (Hervé & Munizaga, 1985). A summary of the scien-
Claude Froidevaux, Jean tific achievements of the project was also presented to the International Correlation
Claude Vicente, Constantino sessions conveyed in a symposium on Tectonic Evolution of the Andes,
Mpodozis, Eduardo Llam- where previous and pioneer analyses on terrane accretion flourished Program by Linares (1987).
bías, Miguel Haller, Suzanne in new studies and hypotheses on the accretion of Chilenia, Cuyania,
Kay, Victor Ramos, Carlos
Rapela, José Corvalán, Robert and Patagonia. These allochthonous and para-autochthonous Paleo-
Pankhurst, José Viramonte, zoic terranes were accreted to the Pacific protomargin of the Andes 6. The legacy of the IGCP Project 120
Enrique Linares, Umberto
Cordani, Carlos Klohn, Jorge
(Ramos et al., 1984; Kay et al., 1984; Ramos, 1984).
Restrepo, Francisco Muniza- The new proposals were received in a skeptical way with much This outstanding 10 years’ project was enriched by high quality scientific
ga, Reynaldo Charrier, Mario vivid discussion and uncertainty, giving rise to a series of controversies achievements, with a strong interdisciplinary and international cooperation, with
Vergara, Daniel Valencio, an excellent interchange from northern and southern hemisphere scientists. The
Ricardo Thiele, Ricardo Oma-
that led to research on these topics over the past 30 years. Neverthe-
rini, Hubert Miller, Francisco less, the new ideas were making their way until obtaining a relative project convened many fieldtrips and specific field works in many different re-
Vilas, John Rodgers, and consensus and being currently part of the mainstream of the evolution gions, thematic symposia with lively discussions and sharing experiences, select-
many others. ed courses in geochronology and geochemistry, which all together explain the
of the Andean basement (see discussions in Vujovich et al., 2004).
The last meeting was held in Santiago de Chile (figure 7), where success of the IGCP project 120.
numerous participants from most of the Andean countries and re- However, it is important to recognize that the accomplishments obtained for
searchers from Europe and North America had a lively involvement. the project 120, could not have been achieved without the presence of an authentic
During the 10 years’ duration of the project more than 2,000 radioiso- leader and the support of two other persons whom did not save effort and work to
topic determinations were obtained, which produced a great advance obtain the goals proposed at the beginning of the project (figures 8 and 9). The for-
in the understanding of the magmatic evolution throughout the Andes. mulation of the project from the beginning was under the responsibility of Umberto

586 587
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 7

Cordani, who was the one who proposed it, structured it, and took it petrological changes, related to variations to the subduction geometry, as presented
to practice, being its first chairman. by Kay et al. (1985) in the final meeting of the project, which developed in a bet-
Since the preparatory stages of the project two people were key ter comprehension years later (Kay et al., 1991). These magmatic variations could
in supporting the development and success. One was Enrique Lin- evolve to a flat-slab subduction with important arc volcanic gaps, as proposed in the
ares (1928-2014), former director of the INGEIS laboratory of the Latin American Congress by Isacks et al. (1982). This study was the base of future
University of Buenos Aires, who was trained in geochronology in research in the Andes during the project time (Jordan et al., 1983), which led to the
the laboratories of the University of Yale (Ostera, 2015). The foun- present knowledge of this Andean process (Ramos et al., 2002, and cites therein).
dation of the INGEIS laboratories from the beginning had strong A significant scientific influence of the project was the identification of accre-
support from the laboratory of São Paulo, with the participation of tionary tectonics during the Paleozoic. The pilot transect of the IGCP project 120
Koji Kawashita technical advice. Linares was the second chairman across the Main and Frontal Andes had recognized a series of abrupt migrations of
of the project from 1978 to 1985. The second key figure, Francisco the magmatic belts toward the trench (Caminos et al., 1982). There was also a trench
Munizaga, also co-founder of the project, and one of the most rec- migration identified in northern Chile and Argentina, which originated a hearty dis-
ognized geochronologists in Chile, was crucial in different aspects cussion on the occurrence of a possible early Paleozoic terrane (Coira et al., 1982).
of the program and acted as General Secretary. The coordination of Both facts produced a series of concerns that led to prompted the organization of
these three scientists in the working meetings, in the planning of the new transects in northern and central Chile and Argentina. As a result of these tran-
activities and in the organization of the symposia guaranteed with sects new ideas on terrane accretion were presented in the 8° Congreso Geológico
much work, efficiency and skilness, the results obtained. Argentino of Bariloche (Ramos et al., 1984), which evolved in a new proposal for the
The contributions of the project exceed the 340 scientific articles geological evolution of southern part of South America (Ramos, 1988).
printed in many different journals and proceedings of symposia and con- These are a few examples of the many problems identified during the execution
gresses (Linares, 1987). These studies modified and enhanced the pro- of the IGCP project 120. These problems led to new questions and challenges, which
cesses associated with the early Andean tectonic model of Dewey & Bird motivated the proposal of a new and successful IGCP project 249 Andean magma-
Figures 8 and 9: Umberto (1970). In the early years, the symposia had an overwhelming attendance tism and its tectonic setting. This successor project, based on the existing working
Cordani, (above) first chair- of local scientists, but over the years they attracted the attention of various groups, was conducted by Miguel Parada of the Universidad de Chile and Carlos
man the IGCP 120 in 1974- centers of excellence, especially from the northern hemisphere. This ex- W. Rapela of the Universidad Nacional de La Plata. It continued along the path of
1978, and Enrique Linares
(below), second chairman change improved the analytical results with the logistic support of various success of its predecessor from 1986 to 1990.
from 1978 to 1985. reference laboratories, but even more importantly, all learned together to The scientific development in the knowledge of the Andes, the new ideas
examine the Andean processes and learn in a joint way. and the better understanding of the Andean-type model, have been important
The geochronological studies of the IGCP 120 identified the age of the successive achievements of the project. However, the main legacy of the IGCP 120 was the
volcanic arcs, their migrations to the foreland over time, and in this way, it was pos- establishment of a network of cooperation between the different Andean coun-
sible to understand processes such as crustal erosion by subduction, almost unknown tries, which is still in force today.
for those years. Northern Chile, the type area of this process defined by Rutland In regions such as the Argentine-Chilean Andes, where the political division sep-
(1971), was reexamined with new ages and petrological studies, that confirmed the arates researchers from both sides of the Cordillera, the International Correlation
process and enhanced its importance through time (Coira et al., 1982). Program was outstanding in its results. The project was able to establish working
The results of the project in the Northern Andes of Colombia and Ecuador were groups on both sides of the Andes, which for the first time worked together, both in
outstanding. The new data contributed to identify the occurrence of Precambrian in- the laboratory and in the field with common objectives.
liers affected by Paleozoic metamorphism in different sectors, all of them deformed Without a doubt we can conclude that the most important achievement of the
by the Cretaceous and Cenozoic accretion of island arcs (Restrepo & Toussaint, project was the success of this network of researchers, which marked a before and
1982; Toussaint & Restrepo, 1981, 1982). Although during the project time, they after in the cooperation in the Earth Sciences to study the Andes that still endures.
were suspected to be allochthonous, the final understanding was produced later (Re-
strepo & Toussaint, 1988; Toussaint & Restrepo, 1987, 1989). But no doubt, the
new ages obtained were decisive for the early comprehension of the processes. Acknowledgments
Another important contribution of the project was the understanding of the dif-
ferent processes that produced migration of the magmatic arc. In northern Chile it The author wishes to express his thanks to the leaders of the IGCP 120 project,
was evident that crustal erosion produced a series of jumps of the magmatic belts to Umberto Cordani and Enrique Linares, for the support provided during all those
the foreland during the Cretaceous to the early Tertiary (Coira et al., 1982; Mpodoz- years, as well as to Fracisco Munizaga, Estanislao Godoy and Carlos Cingolani for
is & Ramos, 1990, and cites there in). However, it was also possible to identify their assistance in supplying information and documents. This is the contribution R
some more rapid migrations of the magmatic arc, with important geochemical and 326 of the Instituto de Estudios Andinos Don Pablo Groeber.

588 589
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 7

References Cordani U.G. 1977. Magmatic evolution of the Halpern M. & Fuenzalida R. 1978. Rubidium-stron- Project 120. In: Basset M.G. (ed.) International Correla-
Andes: Project 120. In: Basset M.G. (ed.) Interna- tium- geochronology of a transect of the Chilean Andes tion Programme (IGCP). Geological Correlation, 8, 225 p.
Aubouin J. 1965. Geosynclines. Developments in tional Correlation Programme (IGCP). Geological between latitudes 45º and 46ºS. Earth Planetary Science Linares E. 1983. Magmatic evolution of the An-
Geotectonics. Amsterdam, Elsevier, 335 p. Correlation, 5, 111 p.Cordani U.G. 1978. Magmatic Letters, 41:60- 66. des: Project 120. In: Bally A.W. (chairman) Interna-
Aubouin J. & Borrello A.V. 1966. Châines alpines evolution of the Andes: Project 120. In Basset M.G. Hervé F. & Munizaga F. 1978. Evidencias geo- tional Correlation Programme (IGCP). Geological
et chaines Andines: regard sur la géologie de la cordil- (ed.) International Correlation Programme (IGCP): cronológicas de un magmatismo intrusivo triásico supe- Correlation, 10, 97 p.
lere des Andes au parallele de l’Argentine moyenne. Scientific achievements 1973-1977. Geological Cor- rior-jurásico en la Cordillera de la Costa de Chile entre Linares E. 1987. Magmatic evolution of the An-
Bulletin de la Societé Geologique de France, 7º Serie, relation, Special Issue, 120 p. los 35º30’ y 36º30’ L.S. In: 7º Congreso Geológico Ar- des: Project 120, Summary of Achievements. In: Heier,
VIII:1050-1070. Cordani U.G., Munizaga F., Hervé F., Hervé M. gentino, Simposio Evolución Magmática de la Cordille- K.S. (chairman) International Correlation Programme
Aubouin J.A., Borrello A.V., Cecione G., Charrier 1976. Edades radiométricas provenientes del basa- ra de los Andes. Buenos Aires, Actas, 2:43-52. (IGCP): Scientific Achievements 1983-1987. Geological
R., Chotin P., Frutos J., Thiele R., Vicente J.C. 1973. Es- mento cristalino de la Cordillera de la costa de las Hervé F. & Munizaga F. 1985. Final symposium Correlation, Special Issue, 123 p.
quisse paleogeographique et structurale des Andes Me- Provincias de Valparaiso y Santiago, Chile. 1º Congre- of project IGCP 120 Magmatic evolution of the An- Linares E., Cordani U.G., Munizaga F. (eds.)
ridionales. Revue de Géographie Physique et de Geologie so Chileno. Santiago de Chile, Actas, 2(F): 213-221. des. Comunicaciones, Revista de Geología Andina, 1982. Magmatic evolution of the Andes. Earth-Sci-
Dynamique, 15(1-2):11-71. Cordani U.G., Kawashita K., Siegl G., Vicente J.C. Volumen Especial Evolución Magmática de Los An- ence Reviews, 18:199-450.
Ávila Salinas W. 1985. Evolución tectomagmática 1985. Geochronological results from the southeastern des, 35, 262 p. Lopez Escobar L. 1984. Petrology and chemistry of
de los Andes de Bolivia. Comunicaciones, Revista de part of the Arequipa Massif. Comunicaciones, Revista de Hervé F., Mantovani M., Munizaga F., Hervé M. volcanic rocks of the Southern Andes. In: Harmon R.S.
Geología Andina, Volumen Especial Evolución Magmáti- Geología Andina, Volumen Especial Evolución Magmáti- 1976. Edades Rb/Sr neopaleozoicas del basamento & Barreiro B.A. (eds.). Andean Magmatism: chemical and
ca de Los Andes, 35:9-12. ca de Los Andes, 35:45-51. cristalino de la Cordillera de Nahuel Buta. 1º Con- isotopic constraints. Bristol, Shiva Pub. Ltd., p. 47-71.
Barazangi M. & Isacks B. 1979. Subduction of the Davidson J., Ramirez C.F., Gardeweg M., Hervé greso Chileno. Santiago de Chile, Actas, 2(F):19-26. McKenzie D.P. 1969. Speculations on the conse-
Nazca plate beneath Perú evidence from spatial distribu- M., Brook M., Pankhurst R. 1985. Calderas del Pa- Hervé F., Munizaga F., Parada M., Brook M., quences and causes of plate motions. Geophysical Jour-
tion of earthquakes. Geophysical Journal of Royal Astro- leozoico superior: Triásico inferior y mineralización Pankhurst R., Drake R. 1985. Granitoids of the Coast nal, 18:1-32.
nomic Society, 57:537-555. asociada en la Cordillera de Domeyko, Norte de Range of Central Chile: Geochronology and geologic Morgan W.J. 1968. Rises, trenches, and great faults
Caminos R., Cordani U.G., Linares E. 1979. Chile. Comunicaciones, Revista de Geología Andina, setting. Comunicaciones, Revista de Geología Andi- and crustal blocks. Journal of Geophysical Research,
Geología y geocronología de las rocas metamórficas Volumen Especial Evolución Magmática de Los An- na, Volumen Especial Evolución Magmática de Los 73:2131-2153.
y eruptivas de la Precordillera y Cordillera Frontal de des, 35:53-57. Andes, 35:105-108. Mpodozis C. & Ramos V.A. 1990. The Andes of
Mendoza, República Argentina. In: 2º Congreso Geoló- Dewey J. 1969. Continental margins: a model for Isacks B., Jordan T., Allmendinger R., Ramos V.A. Chile and Argentina. In: Ericksen G.E., Cañas Pinochet
gico Chileno. Arica, Actas, 1: 43-60. conversion of Atlantic type to Andean Type. Earth and 1982. La segmentación tectónica de los Andes Centrales M.T., Reinemud J.A. (eds.). Geology of the Andes and its
Caminos R., Cingolani C., Hervé F., Linares E. Planetary Science Letters, 6(3):189-197. y su relación con la geometría de la placa de Nazca sub- relation to Hydrocarbon and Mineral Resources. Hous-
1982. Geochronology of the Pre-Andean Metamorphism Dewey J. & Bird J.M. 1970. Mountain Belts and ductada. 5° Congreso Latinoamericano Geología. Bue- ton, Circumpacific Council for Energy and Mineral Re-
and Magmatism in the Andean Cordillera Between Lati- the New Global Tectonics. Journal of Geophysical Re- nos Aires, Actas, 3:587-606. sources, Earth Sciences Series, 11:59-90,.
tudes 30 ° and 36°S. In Cordani U.G. & Linares E. (eds.) search, 75:2625-2647. Kay S.M., Ramos V.A., Kay R.1984. Elementos Mpodozis C., Nasi C. Moscoso R., Cornejo P., Mak-
Symposium on Magmatic Evolution of the Andes, Earth Drake R.E. 1976. Chronology of Cenozoic igneous mayoritarios y trazas de las vulcanitas ordovícicas en saev V., Parada M. 1985. The Late PaleozoicEarly Triassic
Science Reviews, 18:333-352. and tectonic events in the central Chilean Andes - lati- la Precordillera occidental: basaltos de rift oceánic- Magmatic Belt of the Chilean Frontal range (28°31°S):
Carlier G., Grandin G., Laubacher G., Marocco tudes 35º30’ to 36° S. Journal of Volcanology and Geo- os tempranos (?) próximos al margen continental. igneous “stratigraphy” and tectonic setting. Comunica-
R., Mégard, F. 1982. Present knowledge of the mag- thermal Research, 1:265-284. 9º Congreso Geológico Argentino. S.C. Bariloche, ciones, Revista de Geología Andina, Volumen Especial
matic evolution of the Eastern Cordillera of Peru. Drake R.E., Curtis G., Vergara M. 1976. Potassi- Actas, 2:48 65. Evolución Magmática de Los Andes, 35:161166.
In: Cordani U.G. & Linares E. (eds.) Symposium on um-argon dating of igneous activity in the central Chil- Kay S.M., Maksaev V., Mpodozis C., Nasi C., Munizaga F. 1977. Geología del Complejo Volcánico
Magmatic Evolution of the Andes, Earth Science Re- ean Andes – latitude 33° S. Journal of Volcanology and Moscoso R. 1985. Evolution of Mid Late Tertia- del Maule, Chile. PhD Thesis, Geology Department, Uni-
views, 18:253-283. Geothermal Research, 1:285-295. ry igneous rocks in the main Chilean Cordillera versidad de Chile, Santiago. (unpublished).
Charrier R., Linares E., Niemeyer H., Skarmeta J. Frutos J. 1985. Discusión de la organización (29°31°S): Correlation with changes in the slab ge- Munizaga F. & Mantovani M. 1976. Razones inicia-
1978. Edades Potasio-Argón de vulcanitas mesozoicas tectónico paleogeográfica de la cadena andina en el ometry.Comunicaciones, Revista de Geología Andina, les Sr87/Sr 86 de rocas volcánicas pertenecientes al “Com-
y cenozoicas del sector chileno de la Meseta Buenos Precámbrico y en el Paleozoico. Comunicaciones, Re- Volumen Especial Evolución Magmática de Los An- plejo Laguna del Maule”, Chile Central. 1º Congreso
Aires, Aysén, Chile, y su significado geológico. In: 7º vista de Geología Andina, Volumen Especial Evolución des, 35:113118. Chileno. Santiago de Chile, Actas, 2(F):145-152.
Congreso Geológico Argentino, Simposio Evolución Magmática de Los Andes, 35:79-88. Kay S.M., Mpodozis C., Ramos V.A., Munizaga F. Munizaga F., Hervé F., Drake R., Brook M.,
Magmática de la Cordillera de los Andes. Buenos Ai- González Díaz E.F. 1982. Chronological zonation of 1991. Magma source variations for mid to late Ter- Pankhurst R., Snelling N. 1985. Geochronology of the
res, Actas, 2:23-41. granitic plutonism in the northern Patagonian Andes of tiary volcanic rocks erupted over a shallowing sub- granitoids: Lake region (38º-42ºSL). Comunicaciones,
Charrier R., Linares E., Niemeyer H., Skarmeta J. Argentina: the migration of intrusive cycles. In: Cordani duction zone and through a thickening crust in the Revista de Geología Andina, Volumen Especial Evolución
1979. K-Ar ages of basalt flows of the Meseta Buenos Ai- U.G. & Linares E. (eds.) Symposium on Magmatic Evo- Main Andean Cordillera (28-33°S). In: Harmon R.S. Magmática de Los Andes, 35:167-170.
res in southern Chile and their relation to the southeast lution of the Andes, Earth Science Reviews, 18:365-394. & Rapela C.W. (eds.) Andean Magmatism and its Tec- Notsu K., López Escobar L., Onuma N. 1985. Be-
Pacific triple junction. Geology, 7:436-439. Hall M.L. & Calle J. 1982. Geochronological con- tonic Setting. Geological Society of America, Special haviour of the strontium isotope ratio along the strike
Cingolani C. 2016. La historia de la geocronología trol for the main tectonic-magmatic events of Ecuador. Paper, 265:113-137. of the Andean SVZ with emphasis in the 41º30’S –
en La Plata: el Proyecto Borrello. Revista del Museo de In: Cordani U.G. & Linares E. (eds.) Symposium on Lahsen A. 1982. Upper Cenozoic volcanism and tec- 48º00’S region). Comunicaciones, Revista de Geología
La Plata, 1(Número Especial):86-102. Magmatic Evolution of the Andes, Earth Science Re- tonism in the Andes of Northern Chile. In: Cordani U.G. Andina, Volumen Especial Evolución Magmática de
Cobbing E.J. 1982. The segmented Coastal Batho- views, 18:215-239. & Linares E. (eds.) Symposium on Magmatic Evolution Los Andes, 35:177-180.
lith of Peru: its relationships to volcanicity and metal- Haller M. & Lapido O. 1982. The Jurassic Creta- of the Andes, Earth Science Reviews, 18:285-302. Omarini R.H., Cordani U.G., Viramonte J.G., Sal-
logenesis. In: Cordani U.G. & Linares E. (eds.) Sym- ceous volcanism in the Septentrional Patagonian Andes. Le Pichon X. 1968. Sea-floor spreading and fity J.A., Kawashita K. 1979. Estudio isotópico Rb-Sr
posium on Magmatic Evolution of the Andes, Earth In: Cordani U.G. & Linares E. (eds.) Symposium on continental drift. Journal of Geophysical Research, de la “Faja eruptiva de la Puna” a los 22º25’ Lat. Sul,
Science Reviews, 18:241-252. Magmatic Evolution of the Andes, Earth Science Re- 73:3661-3697. Argentina. 2º Congreso Geológico Chileno. Arica, Ac-
Coira B.L., Davidson J., Mpodozis C., Ramos V.A. views, 18:395-410. Linares E. 1979. Magmatic evolution of the An- tas, 3:257-69.
1982. Tectonic and magmatic evolution of the Andes of Halpern M. 1978. Geological significance of Rb-Sr des: Project 120. In: Basset M.G. (ed.) International Ostera H.A. 2015. Enrique Linares (1928-2014),
Northern Argentina and Chile. In: Cordani U.G. & Lin- isotopic data of Northern Chile crystalline rocks of the Correlation Programme (IGCP). Geological Correla- Necrológica. Revista de la Asociación Geológica Argen-
ares E. (eds.) Symposium on Magmatic Evolution of the Andean orogen between 23º and 27º S. Geological Soci- tion, 7, 148 p. tina, 72(2):291-296.
Andes, Earth Science Reviews, 18:303-332. ety of America Bulletin, 89:522-532. Linares E. 1980. Magmatic evolution of the Andes: Ramos V.A. 1984. Patagonia: ¿Un continente paleo-

590 591
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 8

zoico a la deriva? 9° Congreso Geológico Argentino. S.C.


Bariloche, Actas, 2:311-325.
In: Cordani U.G. & Linares E. (eds.) Symposium on
Magmatic Evolution of the Andes, Earth Science Re- Three decades of educational and
Ramos V.A. 1988. Late Proterozoic-Early Paleozo-
ic of South America: A Collisional History. Episodes,
views, 18:205-213.
Toussaint J.F. & Restrepo J.J. 1987. Collages de
research collaborations in Brazil,
11(3):168-174.
Ramos V.A., Jordan T.E., Allmendinger R.W.,
megaterrenos alóctonos en la Cordillera Central de
Colombia. In: Memoria Seminario G. Botero. Me-
with special recognition of
Mpodozis C., Kay S.M., Cortés J.M., Palma M.A.
1986. Paleozoic Terranes of the Central Argentine
dellín, p. 1-12.
Toussaint J.F. & Restrepo J.J. 1989. Acreciones
Prof. Umberto Cordani’s role in initiating
Chilean Andes. Tectonics, 5(6):855-880.Ramos V.A.
2010. The tectonic regime along the Andes: Present
sucesivas en Colombia: Un nuevo modelo de evolución
geológica. 5° Congreso Colombiano de Geología. Bucar-
and facilitating the programs
settings as a key for the Mesozoic regimes. Geological amanga, Actas, 1:127-146.
Journal, 45:2-25. Vatin-Perignon N., Vivier G., Vittoz P., Oliver R., William R. Van Schmus,
Ramos V.A., Niemeyer H., Skarmeta J., Muñoz J. Thouret J.C., Salinas R., Murcia A. 1985. REE con- Emeritus Professor,
1982. Magmatic evolution of the Austral Patagonian centrations in some volcanic rocks from a cross-section
Andes In: Cordani U.G. & Linares E. (eds.) Symposium through the Central Cordillera, Colombia: Cauca Basin, University of Kansas,
on Magmatic Evolution of the Andes, Earth Science Nevado El Ruiz, Casabianca Formation. Comunica- Department of Geology
Reviews, 18:411-443. https://doi.org/10.1016/0012- ciones, Revista de Geología Andina, Volumen Especial William R. Van Schmus.
(rvschmus@ku.edu).
8252(82)90047-2. Evolución Magmática de Los Andes, 35:243-248.
Ramos V.A., Jordan T., Allmendinger R.W., Kay Vergara M. & Drake R. 1976. Evidencias de pe-
S.M., Cortés J.M., Palma M.A. 1984. Chilenia un ter- riodicidad en el volcanismo cenozoico de los Andes 1. Introduction
reno alóctono en la evolución paleozoica de los Andes Centrales. 1º Congreso Chileno. Santiago de Chile,
Centrales. 9° Congreso Geológico Argentino. S.C. Bari- Actas, 2(F):153-162.
loche, Actas, 2:84-106. Vujovich G.I., Fernandes L., Ramos V.A. (eds.). It is an honor and a pleasure to write a few words acknowledging
Ramos V.A., Kay S., Cingolani C., Kawashita K. 2004. Cuyania: an exotic block of Gondwana. Gondwa- Professor Umberto Cordani’s role in initiating and his continued encour-
1985. The volcanic rocks of Cerro Aconcagua Cordille- na Research, 7(4):1003-1208.
ra Principal (32°S) Argentina. Comunicaciones, Revista Wilson J.T. 1965. A new class of faults and their bea- agement of joint scholarly associations between faculty, students, and staff
de Geología Andina, Volumen Especial Evolución Mag- ring on continental drift. Nature, 207:345-343. at various universities in Brazil on the one hand and faculty, students, and
mática de Los Andes, 35:191-194. staff at the Isotope Geochemistry Laboratory (IGL) in the Department of
Ramos V.A., Cristallini E., Pérez D.J. 2002. The
Pampean flat-slab of the Central Andes. Journal of Geology at the University of Kansas, in Lawrence, Kansas, USA, on the
South American Earth Sciences, 15(1):59-78. other hand. This association was the outgrowth of an attempt to establish
Restrepo J.J. & Toussaint J.F. 1982. Metamorfismos a much broader US-Brazil geoscience exchange, and although that effort
superpuestos en la Cordillera Central de Colombia. 5º
Congreso Latino-Americano de Geología. Buenos Aires, did not come to fruition in the short-term, in the long-term several re-
Actas, 3:505-512. search exchanges did develop and flourish in Brazil since then.
Restrepo J.J. & Toussaint J.F. 1988. Terranes and The association discussed here was especially successful in geo-
continental accretion in the Colombian Andes. Episodes,
11(3):189-193. chronology. It was a direct outgrowth of the pioneering work of Prof.
Restrepo, J.J., Toussaint J.F., Hall M., Pimentel Umberto Cordani, who received his doctorate in geochronology from
M., Cordani U.G., Kawashita K., Linares E. 1985. UC Berkely and then returned to the Universidade de São Paulo (USP)
Evolución magmática de los Andes Septentrionales.
Comunicaciones, Revista de Geología Andina, Vol- to establish the first geochronology laboratory in South America. Over
umen Especial Evolución Magmática de Los Andes, the next two decades the Centro de Pesquisas Geocronológicas (CP-
35:201-208. Geo) grew under Prof. Cordani’s leadership and carried out extensive
Rocha Campos A.C. (ed.) 1974. International
Symposium on the Carboniferous and Permian Sys- pioneering work throughout Brazil and South America. It should also
tems in South America, São Paulo, 1972. Anais Acade- be made clear that several other pioneering geochronology studies
mia Brasileira de Ciências, 44(Suppl.), 391 p. were being done in South America and that several other laboratories
Sillitoe R. 1985. Epochs of intrusion-related cop-
per mineralization in the Andes. Comunicaciones, Re- were getting started. However, by 1982 the CPGeo was the premier
vista de Geología Andina, Volumen Especial Evolución geochronology lab in Brazil and I was fortunate to become involved
Magmática de Los Andes, 35:225-226. with them at that time.
Soler P. & Bonhomme M. 1990. Relations of mag-
matic activity top late dynamics in central Peru from Late
Cretaceous to present. In: Kay S. & Rapela, C.W. (eds.)
Plutonism from Antarctica to Alaska. Geological Society
of America, Special Paper, 241:173-191. 2. Getting started: 1982-90
Toussaint J.F. & Restrepo J.J. 1981. Migración del
magmatismo del Noroccidente Colombiano. Boletín My own association with Brazilian geochronology and Prof. Cor-
de Ciencias de la Tierra, Universidad Nacional de Me-
dellín, 5-6:147-161. dani began with my first trip to Brazil, namely to Salvador, Bahia,
Toussaint J.F. & Restrepo J.J. 1982. Magmatic to attend the International Symposium on Archaean and Early Pro-
Evolution of the Northwestern Andes of Colombia. terozoic Geologic Evolution and Metallogenesis (ISAP), September 3

592 593
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 8

to 11, 1982. I was invited to ISAP as a member of Working Group 3 (Proterozoic custom in our lab, students learned to do all steps in the procedures, from mineral
Lithospheric Evolution, WG3) of the newly formed Inter-Union Commission on separation, dissolution, elemental extraction, and mass spectrometry, to final data
the Lithosphere (ICP), which co-sponsored the symposium and for which I must reduction). As a result, Miguel and his family spent a year in Lawrence, Kansas,
thank Prof. Alfred Kroner, Chair of WG3, who invited me to participate. At this that was both fruitful scientifically and enjoyable personally. I also was invited back
meeting I met many geoscientists from around the globe, including several Brazil- to CPGeo to help Miguel put the skills he learned into practice, during which I also
ians. Although no co-operations or collaborations resulted specifically from this interacted with many of the support staff, notably Mr. Kei Sato, with whom I had
meeting, a seed was planted which sprouted the following year. many productive discussions on mass spectrometry. As further follow-up, one of
The next meeting of WG3 was held at the International Symposium on Precam- the chemical technicians, Ms. Lilliane Petronelli, spent several weeks at the IGL in
brian Crustal Evolution, which was hosted by the Chinese Academy of Geological Kansas learning mineral dissolution and element separation methods first-hand, so
Sciences in Beijing, China, from September 3-16, 1983. This symposium was also that she could set up similar facilities at CPGeo.
attended by Prof. Umberto Cordani and Prof. Benjamin Bley de Brito Neves from About this time I was awarded a Distinguished Professorship in the Department
Brazil, and because we were mutually familiar faces from the previous year in of Geology, which included annual allocations of funds that I could use for travel
Salvador, Umberto, Bley, and I got to know one another much better, spending and research. These, along with some travel support from CPGeo/USP, allowed me to
significant parts of our free time together. continue developing research collaborations in Brazil independent of external grants.
To my pleasant surprise, shortly after returning from China I was contacted by In 1988 I attended the International Conference on the Geochemical Evolu-
my program manager at the U.S. National Science Foundation (NSF) with an invi- tion of the Continental Crust, which was sponsored by the International Associ-
tation to represent NSF at a meeting in Brazil with Prof. Cordani and colleagues at ation of Geochemistry and Cosmochemistry and held in Poços de Caldas, Brazil.
USP in São Paulo, October 6-8, 1983. The purpose of the meeting was to plan a joint A field trip was scheduled to southern Brazil, but it was cancelled due to cold
U.S.-Brazilian workshop to formulate a research prospectus for a joint NSF-CNPq weather, and instead I was invited to spend the next few days at CPGeo in USP.
(Brazilian National Council for Scientific and Technological Development) research CPGeo was still in its old quarters and I was asked by Prof. Koji Kawashita to
collaboration that was being considered at higher levels of our governments. Thus meet one of his students, Ms. Marly Babinski, who was finishing up a Master’s
was I drawn into close association with Prof. Cordani, members of CPGeo, and sev- degree under the sponsorship of Dr. S. S. Iyer at IPEN (Instituto de Pesquisas
eral other members of the Brazilian geoscience community, with whom I developed Energéticas e Nucleares). The purpose of the meeting was two-fold: first to dis-
many research associations in subsequent years. I was also introduced to the Bra- cuss with Ms. Babinski aspects of her thesis research involving Pb isotopes, and
zilian wonders of rodízio (churrasco) and caipirinhas, loves that remain to this day. second, to discuss the possibility that Ms. Babinski could come to the IGL at the
The resulting workshop was held in the Federal Capital of Brasilia in March University of Kansas in order to carry out research for her doctoral program
of 1984. Prof. Cordani and I had invited several geoscientists from the USA and within a so-called “sandwich” program. I remember this meeting well, because I
Brazil, along with representatives from NSF and CNPq, and we spent the next was impressed by Ms. Babinski’s intellect in general and her grasp of Pb isotope
few days, including a local field trip, discussing both geographical areas and geo- geochemistry and isotope dilution methods in particular. Thus I agreed to have
logical disciplines of Brazilian geology for which collaborative US-Brazil projects her join us in Kansas after she finished her preparatory doctoral course work
would be most fruitful. That is, where could we use U.S. expertise and technical and exams at USP; she joined us in February 1990, the first of several successful
facilities to provide the most benefit to Brazilian colleagues in various fields, “sandwich” students. Prof. Cordani’s role in setting up this exchange set the
while U.S. geoscientists could benefit from collaborating on selected research stage for a long educational and research exchange, not only with sandwich stu-
projects in Brazil. An essential component of our deliberations was that any proj- dents, but also several other faculty from USP and other Brazilian universities, as
ects must include significant exchange of scientific personnel as well as scientific summarized in the next section.
knowledge and skills (true collaboration). I had been travelling between Kansas and Brazil several times from 1984 to
Although the main initiative ultimately died on the vine due to changing po- 1990 to attend conferences where I also became friends with Prof. Benjamin Bley
litical and financial priorities within the two governments, the friendships I made de Brito Neves of USP and Dr. Peter Hackspacher of UNESP and to assist faculty
during the conference and the exercise of the report writing created a desire to find and staff at CPGeo with setting up U-Pb and Sm-Nd methods. During these visits
some kind of continued collaboration with Prof. Cordani and his. One of the major I also conferred with CPGeo faculty about possible joint research programs that
needs of CPGeo at this time was to expand their capabilities into U-Pb and Sm-Nd I could submit to NSF Earth Sciences in the spirit of the 1984 workshop, even
geochronology. We started small, with me taking several hand samples or mineral though that formal high-level international program never was created. This was a
concentrates back to Kansas for preliminary dating using U-Pb analyses of zircons. learning process, with several preliminary studies involving KU seed grants and re-
The results were modest, but a start. jected proposals to NSF, until a proposed collaboration in northeastern Brazil with
Prof. Cordani then proposed that I host one of his CPGeo faculty, Dr. Miguel Benjamin Bley de Brito Neves and Peter Hackspacher was approved for funding by
Basei, as a visiting research scientist in our lab (IGL) at Kansas, with the goal for NSF beginning in 1992. Throughout this process I was continually encouragement
him to learn U-Pb zircon geochronology from the ground up (in keeping with the and supported by Prof. Cordani and his colleagues at CPGeo.

594 595
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 8

3. Production Mode (1990-2005): Research and Training strated, there was an growing desire for other Brazilian faculty and students to learn
these methods as well as for other labs in Brazil to develop these capabilities.
Once we got partnerships established, the KU-Brazil geochronology exchange Following the initial success of the sandwich program with Marly Babinski
took on a life of it’s own. Ms. Marly Babinski arrived at KU as a sandwich stu- (Babinski, 1993), several other students from around Brazil were accepted to
dent in February of 1990 to do U-Pb and Pb-Pb geochronology for a study of work in our lab. These were Peter Hackspacher’s student Elton Dantas (Dantas,
the Bambui Group in the São Francisco Basin, Bahia (Babinski et al., 1995); Dr. 1997) from Universidade Estadual Paulista (UNESP), Wilson Teixeira’s student
Farid Chemale supervised her field work and Dr. Koji Kawashita of USP was her Mauro G. Geraldes from USP (Geraldes, 2000), and Rudolf Truow’s student Re-
dissertation supervisor. My first research field trip to Brazil was in January, 1991 nata da Silva Schmitt from UFRJ (Schmitt, 2001), and Farid Chemale’s student
with Dr. Chemale and Ms. Babinski to visit Ms. Babinski’s sample localities and Marcia A. S. B. Pinho from UFRS & UFMT (Pinho, 2002). These students each
collect additional samples (I believe it is always important for a geochronologist worked in our lab for about a year over the interval from 1994 through 1999 and
to have a personal field connection to samples studied) and to experience for the into 2000. They were also working with two of my students, Mr. Allen Fetter and
first time the joys of field work in Brazil. Our field route took us from the Belo Ms. Marianne Kozuch, who pursued their doctoral studies in Brazil, with Allen
Horizonte region through Januária to Morro do Chapéu, where we met up with working in Ceará State (Fetter, 1999) and Marianne working in the Zona Trans-
Dr. Brito Neves and other colleagues. versal (Kozuch, 2003). Allen and Marianne received valuable assistance in Brazil
Ms. Babinski was able to extend her time at Kansas through 1992 with support from several people, notably Ticiano J. Saraiva dos Santos (Allen), who was a
from USP (of which Prof. Cordani was very supportive), and she analyzed not only doctoral student at Universidade Federal do Ceará, and Ignez Guimarães and
her samples, but many samples from the Borborema Province collected by Bley, Adejardo da Silva Filho at Recife (Marianne); Allen and Marianne also benefited
Peter, and myself. While at Kansas Ms. Babinski worked in the lab with fellow from a field visit by my colleague Doug Walker, who was also a member of their
American students, Mr. Drew Coleman and Mr. Mark Martin, who were studying doctoral committees. In return, Allen and Marianne provided valuable collegial
for their doctorates with my colleague and IGL partner, Prof. Douglas Walker. support in our lab as they and the sandwich students and several professional
Marly, Mark, and Drew shared many duties in the lab, and also became very com- visitors (next) pursued their research.
petitive, striving to achieve the lowest blanks and best data as they pursued their The exchange program was not limited to students. After the initial profes-
studies. Because of this positive reinforcement, all three emerged as some of the sional visit by Dr. Miguel Basei, our lab hosted several other faculty or post-doc-
best geochronologists our lab produced during that decade. toral research visitors from 1994-2000. These included Dr. Farid Chemale, Dr.
I was back again in the field with Benjamin Bley de Brito Neves and his col- Marly Babinski, Dr. Ignez Guimaraes, Dr. Adejardo da Silva Flho, Dr. Valdecir
leagues Edilton dos Santos and Peter Hackspacher and Peter’s student Elton Janasai, Dr. Elson Oliveira, and Dr. Francisco Pinho. All of these stayed for sub-
Dantas in 1992, 1993, and 1994 for the joint NSF-CNPq project throughout the stantial periods, from a few months to a year or more, and in many cases I was
Borborema Province. These trips ranged from northern part of the São Francisco also able to pursue joint research projects with them in the field. We also had
craton, starting in Aracaju in the south to northwestern Ceará State in the north shorter visits from other faculty, including Dr. Umberto Cordani, Dr. B. Bley
and to Natal and Recife in the east. During these trips I saw a wide variety of NE de Brito Neves, Dr. Columbo Tassinari, Dr. Peter Hackspacher, and Dr. Marcio
geology and met many very interesting faculty, staff, and students from several Pimentel, plus a return visit from Dr. Miguel Basei. I also provided assistance by
other universities in the region, notably Ignez Guimarães, Adejardo da Silva Filho, serving on the committees of several of the students mentioned above and on the
Alcides N. Sial and Val P. Ferreria at Recife, and Emanuel Jardim de Sá, and Jaziel examination committee of Dr. Kei Sato at USP. I also gave methodology seminars
Sá at Natal; they provided invaluable insights to the geology of the region, both at USP, UFP in Recife, and UERJ in Rio de Janeiro.
from their guidance in the field and from their published papers. I was also pleas- All these student “sandwich” exchanges and the professional colleague exchanges
antly exposed to the varied cultures of the Northeast. resulted in several publications from many parts of Brazil other than the Northeast
Our first results from these studies (Van Schmus et al., 1995) clearly established (e.g., Babinski et al., 1996, 1997, 1999; D’Agrella-Filho et al., 2000; Ebert et al.,
the basic tectonic framework for the region: Archean nuclei, Paleoproterozoic con- 1996; Geraldes et al., 2000, 2001, 2002; Payolla et al., 2002; Pinho et al., 2003;
tinental crust, crustal extension with or without new seafloor, Neoproterozoic sed- Ruiz et al., 2004; Schmitt et al., 2004, 2008, 2016; Tassinari et al., 1996).
imentation, and Brasiliano-Pan African continental collision (formation of Gond- As things evolved, my principal collaborations in the Northeast were the Bor-
wana). The biggest surprise was the realization that many schists and gneisses (e.g., borema project with Dr. Brito Neves, Dr. Edilton J. dos Santos, Dr. Ignez Guimarães,
Seridó, Jucurutu) thought to be Paleoproterozoic were, in fact, Neoproterozoic, and Dr. Elton Dantas, Dr. Adejardo da Silva Filho, and Dr. Peter Hackspacher, which
that in many places Paleoproterozoic or older basement seemed to be absent (e.g., has resulted in many papers (marked with * in the bibliography). These, along with
parts of the Sergipano belt). Although the pioneering RADAM K-Ar and Rb-Sr stud- concurrent work by many others have resulted in great advances in (although not
ies at USP and extensive field studies had done much to establish a general frame- universal consensus) of understanding the crustal and tectonic history of the region.
work for NE Brazil, our new studies demonstrated the power of combined U-Pb and I would also like to mention a parallel exchange program with a colleague, Dr. S.
Sm-Nd geochronology in tectonically complex regions. Once this had been demon- Felix Toteu, from Cameroon. His visits overlapped those of several of the Brazilians,

596 597
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 8

and in some cases resulted in three-way international collaborations. Our work in Acknowledgements
Cameroon provides a foundation for better understanding of the pre-drift associa-
tion between the Borborema Province and the Precambrian basement in the Camer- $: NSF, CNPq, CAPES, FAPESP, KU, KU Geology, UNESCO (ILP, IGCP).
oon region of West Africa. See, for example the paper by Dr. Toteu, Dr. Oliveira, and People of Brazil: Cordani, Bley, Marly, Adejardo, Ignez, Edilton, Miguel, Marcio,
myself (Van Schmus et al., 2008). Hartmann, Jardim da Sa, Jaziel, Louizon, too long!
One other collaboration that developed was my involvement in IGCP Project
462, Granite Systems and Proterozoic Lithospheric Processes with Dr. Jorge Betten-
court of USP and Dr. Tapani Ramo of Helsinki, Finland (cf. Ramo et al., 2002). This
was a five year project and included a field trip in 2002 through the rapakivi granite References 1990. Contribuição ao estudo da evolução geochrono-
lógica do systema de Dobramentos Piancó-Alto Brígi-
suites of Rondônia (cf. Paylla et al., 2002) led by Dr. Bettencourt and his colleagues. da. In: 36º. Congresso Brasileiro de Geologia. Natal,
A. Sandwich program Ph.D. thesis projects
Thus, the door opened to me and other Brazilians by Dr. Cordani in 1983-84 Babinski M. 1993. Idades isocrônicas Pb/Pb e geo- Anais, 6:2697-2710.
developed into much more than an USP-Kansas program. Even though few of the química isotópica de Pb das rochas carbonáticas do *Hackspacher P.C., Van Schmus W.R., Dantas E.L.
Grupo Bambuí, no porção sul da bacia do São Fran- 1990. Um embasamento Transamazônico na Provincia
studies involved close collaboration between Prof. Cordani and myself, we main- cisco. Ph.D. Dissertation, Universidade de São Paulo, Borborema. In: 36º. Congresso Brasileiro de Geologia.
tained close collegial contact over the years, for which I am thankful. (Koji Kawashita, supervisor), 133 p. Natal, Anais, 6:2683-2696
Dantas E. 1997. Geocronologia U-Pb e Sm-Nd Babinski M., Brito-Neves B.B., Machado N., Noce
de terrenos arqueanos e paleoproterozóicos do Maci- C.M., Uhlein A., Van Schmus W.R. 1994. Problema na
ço Caldas Brandão, NE do Brasil. Ph.D. Dissertation, methodologia U/Pb em zircoes de vulcanicas continen-
4. 2005-2018: Into the Future Universidade Estadual Paulista, Rio Claro (Peter C. tais: o caso do Grupo Rio dos Remedios, Supergrupo
Hackspacher, supervisor), 229 p. Espinaco, no Estado da Bahia. In: 38º. Congresso Bra-
Geraldes M.C. 2000. Geoquímica e geocronologia sileiro de Geologia. SBG, Boletim de Resumos Expan-
As we entered the 21st Century my direct involvement with research in Bra- dos plutons graníticos Mesoproterozóicos do SW do es- didos, 2:409-410.
zil slowed down, in large part because of time commitments involved with tak- tado de Mato Grosso (SW do crató Amazonico). Ph.D. Babinski M., Chemale Jr. F., Van Schmus W.R.
Dissertation, Universidade de São Paulo (Wilson Tei- 1995. The Pb/Pb age of Minas Supergroup carbonate
ing on the Chairmanships of the Department of Geology at KU (1999-2004), in rocks, Quadrilatero Ferrifero, Brazil. Precambrian Re-
xeira, supervisor), 185 p.
part because of diminishing funding resources in the U.S., and in part because of Schmitt R.S. 2001. A orogenia Búzios: Um evento search, 72:235-245.
evolution in methodologies (e.g., LAMS-ICP, high precision TIMS analyses using tectono metamórfico cambro-ordoviciano caracteriza- *Van Schmus W.R., Brito Neves B.B., Hackspacher
do no Domínio Tectônico de Cabo Frio, Faixia Ribeira P., Babinski M. 1995. U/Pb and Sm/Nd geochronolgic
chemical abrasion) for which I was not equipped to continue active lab work, in studies of eastern Borborema Province, northeastern
- sudeste do Brasil. Ph.D. Dissertation, Universidade
part because of approaching retirement in 2007, and in large part because the new Federal do Rio de Janeiro (Rudolph Trouw, supervi- Brazil: initial conclusions. Journal of South American
generation of geochronologists in Brazil (including those trained in Kansas) was sor), 273 p. Earth Sciences, 8:267-288.
Pinho M.A.S.B. 2002. Petrografia, geoquímica e Babinski M., Chemale Jr. F., Hartmann L.A., Van
rapidly becoming independent of outside expertise. This latter point is especially geocronologia do magmatismo bimodal paleoprote- Schmus W.R., Da Silva L.C. 1996. Juvenile accretion at
important, and in many ways is the realization of the goals envisioned by Prof. rozóico ocorrente no norte do estado de Mato Gros- 750-700 Ma in southern Brazil. Geology, 24:439-442.
Cordani and others in the 1984 workshop in Brasilia. so. Ph.D. Dissertation, Universidade Federal do Rio Ebert H.D., Chemale Jr. F., Babinski M., Artur
Grande do Sul (Farid Chemale, Jr., supervisor), 163 A.C., Van Schmus W.R. 1996. Tectonic setting and U/
From 2005 to 2015 my involvement was primarily directed toward making p.B. University of Kansas PH. D. thesis projects. Pb zircon dating of the plutonic Socorro Complex in
sure that all data generated during the many collaborations at KU, and much data Fetter A.H. 1999. U-Pb and Sm-Nd constraints on the transpressive Paraíba do Sul shear belt, SE Brazil.
generated later by Brazilian colleagues, utilizing ion microprobe facilities in Aus- the crustal framework and geologic history of Ceará Sta- Tectonics, 15:688-699.
te, NW Borborema Province, NE Brazil: Implications for Tassinari C.C.G., Cordani U.G., Nutman A.P., Van
tralia and China and by utilizing TIMS or LA-ICP-MS labs in Brazil, was pulled the assembly of Gondwana. Ph.D. Dissertation, Univer- Schmus W.R., Bettencourt J.S., Taylor P.N. 1996. Geo-
together and published in major scientific journals. I believe this has now been sity of Kansas, 164 p. chronological systematics on basement rocks from the
Kozuch M. 2003. Isotopic and trace element geo- Rio Negro-Juruena Province (Amazonian Craton) and
accomplished and can look forward to full retirement with a strong sense of fulfill- tectonic implications. International Geology Review,
chemistry of early Neoproterozoic gneissic and meta-
ment, not only in terms of projects and data completed, but, more importantly, in volcanic rocks in the Cariris Velhos orogen of the Bor- 38:161-175.
terms of the people that have become successful, productive geoscientists in Brazil borema Province, Brazil, and their bearing on tectonic *Brito Neves B.B., Van Schmus W.R., Santos E.J.,
setting. Ph.D. Dissertation, University of Kansas, 199 Campos Neto M.C., Kozuch M. 1997. O evento Cari-
in part because of the seeds planted in the 1980s. rís Velhos na Província Borborema: integração de da-
p.C. Selected General References (* denotes papers on
I am proud that all of the Brazilian sandwich students are now successful faculty the Borborema Province). dos, implicações e perspectivas. Revista Brasileira de
member at several universities in Brazil: USP (Babinski), Brasília (Dantas), Universi- Van Schmus W.R., Tassinari C.C.G., Cordani U.G. Geociências, 25:279-296.
1986. Estudo geochronológico da parte inferior do gru- Babinski M., Chemale Jr. F., Van Schmus W.R.,
dade Federal de Rio de Janeiro (Schmitt), U. Estadual de Rio de Janeiro (Geraldes), Hartmann L.A., Da Silva L.C. 1997. U-Pb and Sm-Nd
po São Roche. In: 34º. Congresso Brasileiro de Geolo-
and Universidade Federal de Mato Grosso (Pinho), and that all continue to educate gia. Anais, 3:1399-1406. grochronology of the Neoproterozoic granitic-gneissic
students. The student exchange program did not end here, though, for Dr. Allen Fetter Siga Jr. O., Cordani U.G., Basei M.A.S., Teixeira W., Dom Feliciano belt, southern Brazil. Journal of South
Kawashita K., Van Schmus W.R., 1987. Contribuição ao American Earth Sciences, 10:263-274.
spent several years as a post-doctoral research associate at UESP, helping Peter Hack- *Dantas E. L., Hackspacher P.C., Van Schmus
estudo geológico-geocronológico da porção nordeste de
spacher set up laboratory facilities and training other students. The lasting legacy from Minas Gerais. In: 4º Simpósio de Geologia de Minas Ge- W.R., Brito Neves B.B. 1998. Archean accretion in the
the programs initiated by Dr. Cordani and myself will not be in the research, which rais. Anais, p. 29-44. São José do Campestre massif, Borborema Province,
*Brito Neves B.B., Van Schmus W.R., Basei, M.A.S. northeast Brazil. Revista Brasileira de Geociências,
will be improved or superseded, but in the human resources created in the process. 28:221-228.Babinski M., Van Schmus W.R., Chemale

598 599
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 8

Jr. F. 1999. Pb-Pb dating and Pb isotope geochemis- tems and Proterozoic lithospheric processes. Precam- South Shetland arc, Antarctica. Lithos, 82:435-453. strong R., Van Schmus W.R. 2016. Geochemistry,
try of Neoproterozoic carbonate rocks from the São brain Research, 119:1-7. *Brito Neves B.B., Van Schmus W.R., Kozuch M., U-Pb geochronology, Sm-Nd and O isotopes of ca. 50
Francisco basin, Brazil: Implications for the mobility Payolla B.L., Bettencourt J.S., Kozuch M., Leite Dos Santos E.J., Petronilho L. 2005. A zona tectônica Ma long Ediacaran High-K Syn-Collisional Magma-
of Pb isotopes during tectonism and metamorphism. Jr. W.B., Fetter A.H., Van Schmus W.R. 2002. Geolo- Teixeira Terra Nova-ZTTTN-fundamentos da geolo- tism in the Pernambuco Alagoas Domain, Borborema
Chemical Geology, 160:175-199. gical evolution of the basement rocks in the east-cen- gia regional e isotópica. Geologia USP, Série Científica, Province, NE Brazil. Journal of South American Earth
D’Agrella-Filho M.S., Babinski M., Trindade tral part of the Rondônia tin province, SW Amazonian 5(1):57-80. Sciences, 68:134-154, https://doi.org/10.1016/j.jsa-
R.I.F., Van Schmus W.R., Ernesto M. 2000. Simulta- craton, Brazil: U-Pb and Sm-Nd isotopic constraints. *Van Schmus W.R., Oliveira E.P., Silva Filho A.F., mes.2015.12.013.
neous remagnetization and U-Pb isotope resetting in Precambrian Research, 119:141-169. Toteu S.F., Penaye J., Guimaraes I.P. 2008. Protero- Schmitt R.S., Trouw R., Van Schmus W.R., Arm-
Neoproterozoic carbonates of the Sao Francisco cra- Geraldes M.C., Tassinari C.C.G., Teixeira W., Van zoic Links between the Borborema Province, NE Bra- strong R., Gomes-Stanton N.S. 2016. The tectonic
ton, Brazil. Precambrian Research, 99:179-196. Schmus W.R. 2002. Geocronologia U-Pbconvencional zil, and the Central African Fold Belt. In: Pankhurst significance of the Cabo Frio Tectonic Domain in the
*Brito Neves B.B., Dos Santos E.J., Van Schmus e SHRIMP e Sm-Nd de rochas granitoides na Serra R.J., Truow R.A.J., Brito Neves B.B., De Wit M.J. SE Brazilian margin – a Paleoproterozoic through
W.R. 2000. Tectonic history of the Borborema Pro- Santa Bárbara (SW do Estado de Mato Grosso): uma (eds.). West Gondwana: Pre-Cenozoic Correlations Cretaceous saga of a reworked continental margin.
vince, Northeastern Brazil. In: Cordani U.G., Milani possível extensão do orógeno San Ignácio da Bolívia Across the South Atlantic Region. Geological Society, Brazilian Journal of Geology, 46(Suppl 1):37-66,
E.J., Thomaz Filho A., Campos D.A. (eds.). Tectonic (?). In: Klein E.L., Vasquez M.L., Rosa-Costa L.T. London, Special Publications, 294:69-99, https://doi. https://doi.org/10.1590/2317-4889201620150025.
evolution of South America. Rio de Janeiro, Brazil, 31st (org.). Contribuições à Geologia da Amazônia III. Be- org/10.1144/SP294.5.
International Geological Congress, p. 151. lém-PA, SBG-Núcleo Norte, III:143-151. Schmitt R.S., Truow R.A.J., Van Schmus W.R.,
*Fetter A.H., Van Schmus W.R., Dos Dantos T.J.S., *Fetter A.H., Santos T.J.S., Van Schmus W.R., Passchier C.W. 2008. Cambrian orogeny in the Ribeira
Neto J.A.N., Arthaud M.H. 2000. U-Pb and Sm-Nd Hackspacher P.C., Brito Neves B.B., Arthaud M.H., Belt, (SE Brazil) and correlations within West Gond-
gecohronological constraints on the crustal evolution Neto J.A.N., Wernick E. 2003. Evidence for Neo- wana: ties that bind underwater. In: Pankhurst R.J.,
oand basement architecture of Ceará state, NW Bor- proterozoic continental arc magmatism in the Santa Truow R.A.J., Brito Neves B.B., De Wit M.J. (eds.).
borema Province, NE Brazil: Implications for the ex- Quitéria batholith of Ceará State, NW Borborema West Gondwana: Pre-Cenozoic Correlations Across
istence of the Paleoproterozoic supercontinent “Atlan- Province, NE Brazil: Implications for the assembly the South Atlantic Region. Geological Society, Lon-
tica”. Revista Brasileira de Geociências, 30:102-106. of West Gondwana. Gondwana Research, 6:265-273. don, Special Publications, 294:279-296. https://doi.
Geraldes M.C., Teixeira W., Van Schmus W.R. Pinho M.A.S.B., Chemale Jr. F., Van Schmus org/10.1144/SP294.15.
2000. Isotopic and chemical evidence for three accre- W.R., Pinho F.E.C. 2003. U-Pb and Sm-Nd evidence *Santos T.J.S., Fetter A.H., Hackspacher P.C., Van
tioary magmatic arcs (1.79-1.42 Ga) in SW Amazon for 1.78 Ga magmatism in the Moriru region, Mato Schmus W.R., Nogueira Neto J.A. 2008. Neoprotero-
craton, Mato Grosso state, Brazil. Revista Brasileira de Grosso, Brazil: implications for province boundaries zoic tectonic and magmatic episodes in the NW sector
Geociências, 30:99-101. in the SW Amazon craton. Precambrian Research, of the Borborema Province, NE Brazil during assem-
*Silva Filho A.F., Van Schmus W.R., Guimarães I.P. 126:1-25. bly of Western Gondwana. Journal of South American
2000. High-K calk-alkaline granitoids of ca. 1 Ga TDM *Van Schmus W.R., Brito Neves B.B., Williams I.S., Earth Sciences, 25:271-284.
along the limit PE-AL massif/Sergipano fold belt, NE Hackspacher P.C., Fetter A.H., Dantas E.L., Babinski *Santos T.J.S., Fetter A.H., Van Schmus W.R., Ha-
Brazil, and their geotectonic significance. Revista Bra- M. 2003. Seridó Group of NE Brazil, a Late Neopro- ckspacher P.C., 2009. Evidence for 2.35 to 2.30 Ga
sileira de Geociências, 30:182-185. terozoic pre- to syn-collisional flysch basin in West juvenile crustal growth in the northwest Borborema
Geraldes M.C., Van Schmus W.R., Condie K.C., Gondwanaland?: insights from SHRIMP U-Pb detrital Province, NE Brazil. In: Reddy S.M., Mazumder R.,
Bell S., Teixeira W., Babinski M. 2001. Proterozoic zircon ages. Precambrian Research, 127:287-327. Evans D.A.D., Collins A.S. (eds.). Palaeoproterozoic
geologic evolution of the SW part of the Amazonian Schmitt R.S., Trouw R.A.J., Van Schmus W.R., Pi- Supercontinents and Global Evolution. Geological
craton in Mato Grosso state, Brazil. Precambrian Re- mentel M.M. 2004. Late amalgamation in the central Society, London, Special Publication, 323:271-281.
search, 111:91-128. part of West Gondwana: new geochronological data *Santos E.J., Van Schmus W.R., Kozuch M., Brito
*Brito Neves B.B., Van Schmus W.R., Fetter A.H. and the characterization of a Cambrian collisional Neves B.B. 2010. The Cariris Velhos tectonic event
2001. Noroeste da Africa - Nordeste do Brasil (Pro- orogeny in the Ribeira Belt (SE Brazil). Precambrian in northeast Brazil. Journal of South American Earth
víncia Borborema): Ensaio comparativo e problemas Research, 133:29-61. Sciences, 29:61-76.
de correlação. Geologia USP, Série Científica, 1:59-78. Ruiz A.S., Geraldes M.C., Matos J.B., Teixeira *Van Schmus W.R., Kozuch M, Brito Neves B.B.
*Brito Neves B.B., Campos Neto M.C., Van Sch- W., Van Schmus W.R., Schmitt R.S., 2004. The 1590- 2011. Precambrian history of the Zona Transversal of
mus W.R., Santos E.J. 2001. O “Sistema Pajeú-Pa- 1520 Ma Cachoeirinha magmatic arc and its tectonic the Borborema Province, NE Brazil: Insights from Sm
raíba” e o “maciço” São José do Campestre no les- implications for the Mesoproterozoic SW Amazonian -Nd and U-Pb geochronology. Journal of South Ame-
te da Borborema. Revista Brasileira de Geociências, craton crustal evolution. Anais da Academia Brasileira rican Earth Sciences, 31:227-252.
31:173-184. de Ciências, 76(4):1-18. *Silva Filho A.F., Guimarães I.P., Van Schmus
*Brito Neves B.B., Campos Neto M.C., Van Sch- *Dantas E.L., Van Schmus W.R., Hackspacher W.R., Dantas E., Armstrong R.A., Concentino L.M.,
mus W.R., Fernandez T.M.G., Souza S.L. 2001. O P.C., Fetter A.H., Brito Neves B.B., Cordani U.G., Lima D. 2013. Long–lived Neoproterozoic high-K
terreno Alto Moxotó no leste da Paraiba (“Maciço Nutman A.P., Williams I.S. 2004. The 3.4-3.5 Ga São magmatism in the Pernambuco-Alagoas Domain, Bor-
Caldas Brandão”). Revista Brasileira de Geociências, José do Campestre massif, NE Brazil: remnants of the borema Province, NE Brazil. International Geology
31:185-194. oldest crust in South America. Precambrian Research, Review, 55:1280-1299, https://doi.org/10.1080/0020
*Brito Neves B.B., Van Schmus W.R., Fetter, A.H. 130:113-137. 6814.2013.774156.
2002. North-western Africa--North-eastern Brazil. *Guimarães I.P., Silva Filho A.F., Almeida C.N., *Silva Filho A.F., Guimarães I.P., Van Schmus
Major tectonic links and correlation problems. Jour- Van Schmus W.R., Araújo J.M.M., Melo S.C., Melo W.R., Armstrong R.A., Rangel da Silva J.M., Osako
nal of African Earth Sciences, 34:275-278. E.B. 2004. Brasiliano (Pan-African) granitic magma- L.S., Cocentino L.M. 2014. SHRIMP U–Pb zircon
*Silva Filho A.F., Guimarães I.P., Van Schmus tism in the Pajeú-Paraíba belt, Northeast Brazil: an geochronology and Nd signatures of supracrustal se-
W.R. 2002. Crustal evolution of the Pernambuco-Ala- isotopic and geochronological approach. Precambrian quences and orthogneisses constrain the Neoprotero-
goas complex, Borborema Province, NE Brazil: Nd Research, 135:23-53. zoic evolution of the Pernambuco–Alagoas domain,
isotopic data from Neoproterozoic granitoids. Gon- Machado A., Chemale Jr. F., Conceição R.V., southern part of Borborema Province, NE Brazil. In-
dwana Research, 5:409-422. Kawashita K., Morata D., Oteíza O., Van Schmus W.R. ternational Journal of Earth Sciences, 103:2155-2190,
Rämö O.T., Van Schmus W.R., Bettencourt J.S. 2005. Modeling of subduction components in the https://doi.org/10.1007/s00531-014-1035-4.
(eds.) 2002. Preface: IGCP project 426-granite sys- genesis of the Meso-Cenozoic igneous rocks from the *Silva Filho A.F., Guimarães I.P., Santos L., Arm-

600 601
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 9

O Brazilian Journal of Geology Em junho de 2012, por decisão da sua Diretoria Executiva, o Diretor Presidente
da SBG, Prof. Moacir José Buenano Macambira (Universidade Federal do Pará) con-
Claudio Riccomini* vidou o Prof. Umberto G. Cordani para assumir o cargo de Editor-Chefe da então
(riccomin@usp.br) Revista Brasileira de Geociências. Aceito o convite, foram estabelecidas como princi-
pais metas a elevação do nível dos trabalhos publicados, a manutenção da regularida-
*
Claudio Riccomini é Editor-Chefe do Brazilian Journal of Geology, de da publicação, a indexação junto às principais bases de periódicos internacionais,
Prof. Titular (Sênior) do Instituto de Geociências e do Instituto e a busca de visibilidade internacional para a Revista Brasileira de Geociências.
de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo.
De imediato, foi instalado um Conselho Editorial, formado por 15 pesquisadores
brasileiros e 15 estrangeiros de renome, coordenado pelo Prof. Cordani. Todos os
1. Introdução editores associados pertenciam a instituições com forte e reconhecida atuação na
área de Geociências, configurando excelente distribuição nacional e internacional,
Os capítulos precedentes neste livro destacaram a trajetória do Prof. nos quais centros de excelência em Geologia estavam representados.
Umberto Cordani como pesquisador e liderança científica internacional, Nesta fase de transição, Cordani atuou em conjunto com o editor-chefe anterior,
bem como sua atuação em instituições nacionais e internacionais voltadas Prof. Alberto Pio Fiori (Universidade Federal do Paraná), na edição e publicação de
Claudio Riccomini. à divulgação das ciências geológicas. Neste contexto, além da organização um conjunto de manuscritos já aprovados.
e edição de livros de grande impacto, Umberto Cordani teve destacada A SBG, desde o início, empenhou-se em assegurar os recursos financeiros para via-
atuação como editor principal ou editor associado de importantes periódicos científicos bilizar as mudanças pretendidas. A Petrobras, parceira já tradicional, renovou o convê-
em Geociências e multidisciplinares. Dentre estes, podem ser destacados: Earth and Pla- nio para financiamento da revista. Recursos adicionais passaram a ser buscados junto
netary Science Letters (1972-1980), Elsevier; Anais da Academia Brasileira de Ciências às agências de financiamento à pesquisa. Custeou-se a tradução de alguns artigos se-
(1984-1998), Academia Brasileira de Ciências; Revista Geológica de Chile (1986 -2007) lecionados, tendo em vista que a publicação de artigos em inglês representava o passo
e sua sucedânea Andean Geology (desde 2008), editadas pelo Servicio Nacional de Geo- inicial na busca da internacionalização da revista. Procurou-se incentivar a submissão
logía y Minería, Chile; Journal of South American Earth Sciences (1987-1997), Elsevier; de artigos na língua inglesa, que passariam por revisão gramatical no processo edito-
Geochimica Brasiliensis (desde 1987), Sociedade Brasileira de Geoquímica; Ciência e rial. Ao mesmo tempo, foram contratados serviços profissionais especializados para a
Cultura (1990-2000), Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência; Estudos Avan- execução das atividades de secretaria, editoração, diagramação e impressão da revista.
çados (1993-1997), Instituto de Estudos Avançados, Universidade de São Paulo; Episo- Em editorial publicado no volume 42, número 3, de setembro de 2012, Cordani
des (1998-2006), International Union of Geological Sciences; Terra Nova (2000-2009), apresentou os novos rumos pretendidos para a Revista Brasileira de Geociências,
Wiley; e Gondwana Research (2002-2006), Elsevier. essencialmente sua internacionalização, inserção em bases de referenciação inter-
Em 1971, Cordani participou da primeira grande transformação da principal nacionais, como o Institute of Scientific Information (ISI) e o Web of Knowledge,
publicação científica da Sociedade Brasileira de Geologia (SBG). Como editor-asso- e que para tanto uma parte apreciável dos artigos deveria ser publicado em inglês.
ciado, esteve ao lado do saudoso Professor Fernando Flávio Marques de Almeida, Anunciou a mudança de nome da revista, para Brazilian Journal of Geology, a partir
então editor-chefe, na criação da Revista Brasileira de Geociências, em substituição do volume 43 (2013), de modo a refletir a mudança de seu escopo, o de “publicar
ao Boletim da SBG, editado desde 1952. Permaneceu nesta posição até 1975 quando material a respeito de nosso território, de âmbito amplo, mais do que local” e buscar
passou a responder como editor-chefe, até 1980. “originalidade, inovação e significância para as ciências geológicas, deixando à res-
A segunda e última grande transformação desta publicação ocorreu em 2013. Sob ponsabilidade de revistas congêneres artigos de geografia física, geofísica e ciências
a liderança do Professor Umberto Cordani, foi criado o Brazilian Journal of Geology, atmosféricas, entre outros, que de qualquer forma fazem parte das Geociências”:
em substituição à Revista Brasileira de Geociências. Comunicou ainda a escolha deste signatário como editor-adjunto da revista.
Este capítulo procura oferecer uma retrospectiva histórica das decisões tomadas Ainda neste número foram apresentados os componentes no novo Conselho Edi-
para a criação da nova revista, bem como dos seus impactos na difusão internacional torial, que passaram a editores associados, bem como os novos objetivos e escopo
da geologia brasileira. Destaca a capacidade de gestão e liderança de Umberto Cor- da revista: “O Brazilian Journal of Geology é uma revista trimestral, publicada pela
dani como editor-chefe do Brazilian Journal of Geology. SBG, com uma versão eletrônica de acesso aberto. O BJG fornece um meio inter-
nacional para a publicação de trabalhos científicos originais de amplo interesse em
todos os aspectos das ciências da terra no Brasil, América do Sul e Antártida, in-
2. A fase de transição cluindo regiões oceânicas adjacentes. O BJG publica artigos com apelo regional e
significado maior que o local em diferentes áreas da Geologia, proporcionando um
Desde 2011 a Revista Brasileira de Geociências passara a ser indexada na base de nicho para o trabalho interdisciplinar em geologia regional e história da Terra”. O
dados Scopus (Elsevier), diga-se em função de uma consulta espontânea do Professor BJG está disponível nos sites: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pi-
Mario Luiz Assine (Universidade Estadual Paulista, Rio Claro). d=2317-4889&lng=en&nrm=iso e http://bjg.siteoficial.ws/

602 603
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 9

3. A criação do Brazilian Journal of Geology A primeira consequência da admissão do BJG no SciELO foi sua inclusão na
base Web of Science, da Thomson Reuters, no final de maio de 2015. O periódico
A partir do número 1 do volume 43 (2013) é criado o Brazilian Journal of Geolo- foi inicialmente incluído na Science Citation Index Expanded (SCIE) e no Journal
gy (BJG). Não se tratou apenas de uma mudança de designação da Revista Brasileira Citation Reports (JCR). A segunda foi sua reclassificação como periódico internacio-
de Geociências, mas sobretudo de objetivos e conteúdo. Em editorial, Cordani en- nal pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),
fatizou a necessidade de publicação preferencial de artigos em inglês, a manutenção comunicada em editorial assinado pelos coordenadores da área de Geociências da
da regularidade na publicação e a busca da indexação nas bases Scientific Electronic CAPES no número 3 do volume 45 (setembro de 2015). A decisão de publicação de
Library Online (SciELO) e Institute of Scientific Information (ISI), em adição à base artigos em inglês e a indexação nas bases Scopus, SciELO e Web of Science foram
Scopus (Elsevier) alcançada em 2011. os fatores decisivos apontados pelos coordenadores para a reclassificação da revista,
A manutenção do acesso aberto da revista, implantado enquanto Revista Brasi- identificando o seu caráter internacional.
leira de Geociências, era outro aspecto fundamental na busca do maior número de
leitores e aumento da visibilidade internacional.
5. O Brazilian Journal of Geology
no cenário internacional
4. A fase de indexação do Brazilian Journal
of Geology nas bases internacionais O número 2 do volume 46 (junho de 2016) trouxe um único e último artigo
publicado em português. A partir do número 3 do volume 46 (setembro de 2016)
Ao final do primeiro ano do BJG (volume 44, número 1, março de 2014) foram todos os artigos passaram a ser publicados unicamente em inglês.
alcançadas duas marcas notáveis. A partir de meados de 2013 o número de downlo- A adoção do inglês não foi consensual, mas superada esta barreira foi notório o
ads de artigos da revista mais do que dobrara em relação ao semestre anterior, sobre- crescimento da internacionalização da revista. A pretensão do BJG era e é o seu cres-
tudo em função do incremento na publicação de artigos em inglês. Ainda, o tempo cente reconhecimento por parte dos autores brasileiros e estrangeiros como o nicho
médio de avaliação dos artigos atingira pouco mais de 6 meses, prazo compatível principal de divulgação de seus artigos na área de Geologia. Para a consolidação do
com outros periódicos internacionais da área. caráter internacional do BJG seria necessário que o veículo atraísse artigos sobre a
Em editorial publicado no número 3 do volume 44 (setembro de 2014), Cor- geologia brasileira, sul-americana, antártica e regiões vizinhas, produzidos por auto-
dani comunicou que o Comitê Consultivo SciELO Brasil, em sua reunião realiza- res estrangeiros ou em colaboração com autores brasileiros.
da em 29 de agosto de 2014, considerou o BJG apto a integrar a Coleção SciELO Em junho de 2016, o BJG recebeu seu primeiro fator de impacto (IF=0,598)
Brasil. A SciELO (Scientific Eletronic Library Online) é uma biblioteca virtual de de Thomson Reuters. Este valor superou todas as expectativas dos editores e do
revistas científicas brasileiras em formato eletrônico, com a missão de organizar Conselho Editorial da revista. Em paralelo, a revista foi incluída na Web of Science
e publicar textos completos de revistas na internet, assim como produzir e publi- Core Collection.
car indicadores do seu uso e impacto. A antiga Revista Brasileira de Geociências Para ilustrar o sucesso recente da revista, após a sua designação atual, vários arti-
participara do seleto grupo de 10 revistas da primeira fase do projeto SciELO gos atingiram índices de citações expressivos na principal coleção do Web of Science
(1997-1998), desenvolvido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de (referência de fevereiro de 2020):
São Paulo (FAPESP), o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em – The Brasiliano collage in South America: a review, 2014, de autoria de Ben-
Ciências da Saúde (Bireme) e editores de revistas científicas. Este projeto teve jamim Bley de Brito Neves, Reinhardt Adolfo Fuck e Marcio Martins Pimentel,
como objetivo aumentar a visibilidade da produção científica nacional. Entre- com 77 citações;
tanto, a falta de recursos financeiros para a publicação da Revista Brasileira de – The significance of the Transbrasiliano-Kandi tectonic corridor for the amal-
Geociências levou à perda da pontualidade, com a sua consequente exclusão logo gamation of West Gondwana, 2013, de autoria de Umberto Giuseppe Cordani,
no segundo ano do projeto. Desta forma, o reingresso no SciELO representou Marcio Martins Pimentel, Carlos Eduardo Ganade de Araújo e Reinhardt Adolfo
uma das principais vitórias da nova revista, pois o BJG passaria a ter acesso às Fuck, com 66 citações;
facilidades de preparação e avaliação de publicações científicas eletrônicas, via- – Tectonic evolution of the Dom Feliciano Belt in Southern Brazil: Geological re-
bilizando tecnicamente o processo de transição entre a publicação tradicional lationships and U-Pb geochronology, 2014, de autoria de Ruy Paulo Philipp, Marcio
impressa e o formato eletrônico. Martins Pimentel e Farid Chemale Jr., com 42 citações;
O ingresso na coleção SciELO ocorreu a partir do primeiro número do volume – The hot back-arc zone of the Araçuaí orogen, Eastern Brazil: from sedimen-
45 (março de 2015), mas efetivamente foi possível a inclusão a partir do número 2 tation to granite generation, 2014, de autoria de Camila Gradim, Jorge Roncato,
do volume 44. A partir de maio de 2015 o BJG passou a ter acesso ao sistema edi- Antonio Carlos Pedrosa-Soares, Umberto Cordani, Ivo Dussin, Fernando Flecha
torial ScholarOne, utilizado pelas principais revistas internacionais, uma das etapas Alkmin, Glaucia Queiroga, Tania Jacobsohn, Luiz Carlos da Silva e Marly Ba-
mais importantes no rumo à sua internacionalização. binski, com 42 citações;

604 605
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 9

6. A consolidação de um trabalho,
a “despedida” e a sucessão

Ao final de 2016 o BJG atingiu todos os ob-


jetivos inicialmente traçados pelo Prof. Umber-
to Cordani. Seu escopo foi redefinido, restrito
à Geologia e abrangendo não somente o terri-
tório brasileiro, mas também a América do Sul,
Antártica e oceanos vizinhos. A língua inglesa
Figura 1: Total de acessos às versões em pdf dos arti- Figura 2: Evolução do fator de impacto (IF) no período foi adotada como idioma único. A qualidade
gos do BJG entre março de 2017 e janeiro de 2020. 2015-2017 (fonte: Journal of Citation Reports, Clarivate). dos artigos foi crescente. A publicação conti-
nuou de acesso aberto e passou para divulgação
essencialmente eletrônica. A revista foi incluída
– Aptian/Albian (Early Cretaceous) paleogeography of the South Atlantic: a pale-
nas principais bases de referenciação internacio-
ontological perspective, 2014, de autoria de Mitsuru Arai, com 37 citações.
nal (SciELO, Scopus e Web of Science), com im-
O BJG é acessado de diferentes maneiras por interessados do país e do exterior (http://
pacto crescente. A internacionalização tornou-
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=2317-4889&lng=en&nrm=iso ou
se um processo irreversível.
http://bjg.siteoficial.ws/). Na tabela 1 são apresentados os acessos ao BJG, por ano,
Cordani, em conversa reservada com o signa-
no período de 2015 a 2017. É notável a expansão do número de acessos a partir da
tário, declarou que havia conseguido o que plane-
inserção da revista no sistema SciELO, particularmente a partir da publicação exclu-
jara e que pretendia dedicar-se prioritariamente a
siva em língua inglesa (2016). Na página do SciELO a média é de 5 a 10 mil acessos
outros projetos. Entendeu que era o momento de
mensais aos artigos em pdf a partir de março de 2017, com um pico entre junho e
“passar o bastão”. Quem conhece o Prof. Cordani
setembro de 2018, com até mais de 40 mil acessos, conforme a figura 1.
sabe que uma “consulta” ou “convite” partindo
Durante os anos de 2016 e 2017 o BJG recebeu 105 citações na base Web of
dele é praticamente uma ordem. Após sua indi-
Science. São dominantemente periódicos internacionais com foco na geologia da
cação e o convite recebido da Diretoria Executi-
América do Sul (Journal of South American Earth Sciences, 22 citações) ou temas
va da SBG, durante o 48o Congresso Brasileiro
gondwânicos (Gondwana Research, 11 citações), o que parece ser uma decorrência
de Geologia, em Porto Alegre, o signatário acei-
do escopo do BJG. O próprio BJG, com 8 citações, foi a terceira revista que mais
tou a missão de atuar como editor-chefe, tendo
citou artigos, denotando um baixo índice de auto-citações.
como editor-adjunto o Professor Carlos Henrique
O BJG, segundo a avaliação de 2017 do Web of Science (Journal of Citation
Grohmann (Instituto de Energia e Ambiente, Uni-
Reports, referente ao biênio 2015-2016), alcançou um fator de impacto de 1,250
versidade de São Paulo), a partir de 2017.
(figura 2), o que o colocava em patamar semelhante a outras revistas internacionais
Em seu editorial de despedida, no número
importantes de sociedades científicas da área de Geologia, como Australian Journal
4 do volume 46 (dezembro de 2016), Cordani
of Earth Sciences (IF 1,220), Bulletin de la Société Géologique de France (IF 1,262) e
fez uma retrospectiva das conquistas alcançadas
Canadian Journal of Earth Sciences (1,317). Em relação a outras revistas de interesse
e manifestou que, decorridos cinco anos como
da América do Sul, o BJG estava também próximo de Andean Geology (IF 1,306) e
editor-chefe da revista ele estava completamen-
abaixo de Journal of South American Earth Sciences (IF 1,639). Ocupava a posição
te gratificado em ver a inserção da nossa publi-
140 no ranking das revistas da área. No Brasil, dentre as revistas científicas com fator
cação no cenário internacional, e que acreditava
de impacto superior a 1.0, o BJG encontrava-se na posição 27 entre 39.
seria duradoura. Agradeceu à Diretoria da SBG,
Volume 46, número 4, de dezembro de 2016, do
aos membros do Corpo Editorial e à comunida- Brazilian Journal of Geology, antiga Revista Brasilei-
de geológica brasileira pelos esforços no sentido ra de Geociências, apresentando na capa a foto de
de concretizar a internacionalização do Brazi- autólitos máficos no granito Brejinho, da Borbo-
rema, e que no editorial contém a despedida de
Tabela 1: Acessos lian Journal of Geology. Umberto Cordani como Editor Chefe da publicação.
ao BJG no período Felizmente para todos nós, Cordani continua a
de 2015-2017
(fonte: SciELO).
atuar na revista, não somente como editor-associa-
do, mas principalmente como mentor e referência
a quem recorremos nos momentos de dificuldades.

606 607
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 10

A Carta Geológica do
Brasil ao Milionésimo
Figura 2: Cópia
da Folha SG-22
Carlos Schobbenhaus, (Curitiba) publi-
Serviço Geológico do Brasil (CPRM) cada no Projeto
Carta Geológica
(carlos.schobbenhaus@cprm.gov.br). do Brasil ao
Milionésimo
(DNPM, 1974).
1. Introdução

O Prof. Umberto G. Cordani da Universidade de São


Paulo colaborou com o Projeto Carta Geológica do Bra-
sil ao Milionésimo (PCGBM), executado pelo Departa-
mento Nacional de Produção Mineral, entre os anos de
1974 e 1979, através da integração, análise e interpreta-
ção dos dados geocronológicos, então disponíveis.
Figura 1: Folhas da Carta Geológica
do Brasil ao Milionésimo publicadas A execução desse projeto relacionou-se ao pri-
pelo DNPM entre 1974 e1979. meiro Plano Mestre Decenal para Avaliação dos Re- dores: S. S. Iyer, W. Teixeira, M. Halpern, M.
cursos Minerais do Brasil, numa primeira tentativa Berenholc e Y. Hasui. A grande maioria das
de sistematizar o conhecimento geológico brasileiro datações disponíveis foi executada no Centro
na escala 1:1.000.000. de Pesquisas Geocronológicas da Universida-
A Carta Geológica do Brasil ao Milionésimo consti- de de São Paulo (CPGeo-USP). Contou tam-
tui um conjunto de 46 folhas com formato cartográfico bém com diversos laboratórios congêneres no
internacional (6o x 4o), tratada como o repositório sin- exterior: Amsterdam (Holanda), MIT (EUA),
tético de informações geológicas obtidas de trabalhos Carnegie Institution (EUA), Faculté de Scien-
de geologia de campo e/ou laboratório. ces de Clermont-Ferrand (França), Texas Uni-
Dois foram os objetivos dessa carta: versity (Dallas, EUA).
– Integração, interpretação e sistematização dos da- As determinações radiométricas apresentadas
dos disponíveis da geologia do Brasil, para fins de pla- foram obtidas pelos métodos K-Ar, Rb-Sr (rocha
Figura 3: Mapa de
nejamento de investimentos governamentais e privados; total), U-Pb e 40Ar/39Ar. Algumas foram obtidas em galenas (Pb modelo). pontos de amostragem
– Preparação de mapas geológicos para a divulga- Na figura 3 é apresentado um exemplo de uma folha do PCGBM de determinações geo-
cronológicas da Folha
ção ampla dos conhecimentos consolidados da geolo- (Folha SG-22 – Curitiba) e na figura 4 o correspondente mapa de SG-22 (Curitiba).
gia e recursos minerais do Brasil. pontos de amostragem de determinações geocronológicas.

2. Contribuição de U. G. Cordani 3. Conclusão

Tabela 1: Nomes e códigos Das 25 folhas publicadas pelo Projeto Carta Geoló- A participação de U. G. Cordani e colaboradores na execução
das folhas analisadas. gica do Brasil ao Milionésimo, entre os anosde 1974 e 1979 (figura 1), do Projeto Carta Geológica do Brasil (1974 e 1979) foi muito im-
U.G. Cordani fez o levantamento e análise dos dados geocronológicos portante, não somente pela apresentação, discussão e divulgação das
disponíveis em 18 folhas. informações geocronológicas disponíveis até a década de setenta,
Cerca de 1300 datações disponíveis (algumas com resultados mas também pela contribuição dada à interpretação das informações
inéditos) para as 18 folhas indicadas na figura 2 foram integradas, geológicas apresentadas nesse projeto. Vários problemas foram le-
avaliadas, discutidas e interpretadas por U. G. Cordani. Em 6 fo- vantados e hipóteses, julgadas viáveis, foram sugeridas para a inter-
lhas este autor contou com a participação dos seguintes colabora- pretação da geologia regional.

608 609
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 11

Cordani: um dos ícones Por essas razões, e pela sua personalida-


da Geologia brasileira de afável, acessível, defensor educado de suas
ideias, tornou-se o geólogo brasileiro mais co-
Carlos Oití Berbert¹ nhecido e um dos mais respeitados no exterior,
(carlos.berbert@cprm.gov.br). dedicando-se a difundir a geologia de seu país,
Carlos Schobbenhaus2 contribuindo com outros grupos de expoentes
(carlos.schobbenhaus@cprm.gov.br). estrangeiros e disseminando ensinamentos por
Lêda Maria Barreto Fraga3 todo o Brasil e no exterior.
(leda.fraga@cprm.gov.br).

¹, ² e 3CPRM – Serviço Geológico do Brasil. 2. Cordani e a


Geocronologia no Brasil
1. Introdução
Umberto G. Cordani e Em 1958, o Prof. Norman Herz da Universi- Foto 1: Os Professores Umberto Cordani e
Carlos Oití Berbert. O papel de Umberto Giuseppe Cordani iguala-se ao dos grandes dade de Geórgia, EUA, publicara com C. V. Du- Victor Ramos, trabalhando em uma das versões
mestres do passado, como Djalma Guimarães, Othon H. Leonardos, tra 11 determinações geocronológicas de rochas do Mapa Tectônico da América do Sul.
José Raymundo de Andrade Ramos, Octávio Barbosa, Fernando Flá- graníticas do Quadrilátero Ferrífero realizadas
vio Marques de Almeida, cujas publicações serviram de base para as no MIT pelo processo K-Ar, e lutava para a
primeiras gerações de geólogos no Brasil. instalação de um laboratório de geocronologia
Enquanto aqueles começaram a delinear o que hoje se conhece na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da
do território nacional, desbravando regiões muitas vezes totalmen- USP. Ele viera ao Brasil, junto com outros pro-
te desconhecidas do ponto de vista da geologia, Cordani iniciava fessores, através de um Acordo com aquele País
sua trajetória de geólogo destacando-se por sua inteligência, persis- (o conhecido “Ponto Quatro”), para ajudar no
tência, dedicação em tudo que fez e faz até hoje. Como professor, desenvolvimento do então recém-criado Curso
transmitindo ensinamentos cada vez mais modernos a estudantes e de Geologia dessa Universidade.
profissionais de várias áreas, correlatas ou não com a geologia, atra- À mesma época, o Prof. John Reynolds, da
vés de aulas, conferências, palestras, exposições. E como cientista, Universidade da Califórnia, em Berkeley, pre-
publicando em diversas revistas científicas do Brasil e do exterior. tendia instalar um laboratório daquele tipo na
Carlos Schobbenhaus.
Até o momento, seu curriculum vitae, registra mais de 600 publica- América do Sul e Herz, sabendo disso, empe-
ções, incluídas em periódicos, livros e capítulos de livros, anais de nhou-se em trazê-lo para o Brasil.
congressos, jornais, revistas e mapas. Uma produção dificilmente Depois de muitas discussões, o Prof. Vik- Foto 2: Reunião do Conselho do 30th IGC
(International Geological Congress), Beijing,
igualável por qualquer geocientista brasileiro, e até mesmo estran- tor Leinz, Chefe do Departamento de Geolo- China que indicaria o Brasil à Assembleia
geiro, em seus quase 60 anos dedicados à profissão. gia e Paleontologia, decidiu enviar um jovem Geral para sediar o 31st IGC.
Com Doutorado e Livre Docência pela USP, onde atuou como graduado três anos antes a Berkeley. Corria o
docente no período de 1961 a 2008, Cordani ainda não abandonou ano de 1963 e o jovem era Umberto Giuseppe
a Universidade. Aposentado pela compulsória em 2008 exerceu a Cordani.
função de Professor Visitante e desde 2015 como Pesquisador Sê- Sua incumbência era aprender a metodo-
nior na mesma instituição. logia de determinação K-Ar e iniciar a aquisi-
Como Professor Visitante ainda atuou em várias Universidades ção de tudo que seria necessário para o futuro
estrangeiras (Bélgica, Chile, EUA, Inglaterra, Itália, França, China), Centro de Pesquisas Geocronológicas da Uni-
além de participar como membro de inúmeras sociedades, associações versidade, tornado realidade, em 1965, com a
e programas de natureza científica, tais como o International Council aquisição de dois espectrômetros de massa e
of Scientific Unions (ICSU), o Internatioal Geological Correlation Pro- equipamentos auxiliares. De início para análi-
Lêda Maria Barreto Fraga.
gram, culminando com a International Union of Geological Sciences ses pelo método acima e depois pelo método
(IUGS), da qual foi Presidente no período de 1988-1992. Rb-Sr. (Kawashita et al., 2009).
Seu principal interesse sempre foi a geocronologia e sua aplica- As primeiras determinações geocronológi-
ção à geotectônica. cas nesse laboratório, depois de vários testes e

610 611
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 11

Foto 3: Delegação
Brasileira (parcial)
no 30th IGC, em
Beijing, China, em
agosto de 1996,
comemorando a es-
colha do Brasil para
sediar o 31st IGC,
no Rio de Janeiro,
em 2000. A partir
da esquerda: Carlos
Schobbenhaus,
Claudio Riccomini,
Hernani Chaves,
Carlos Oití Berbert e
Umberto Cordani.

treinamento de pessoal, datam de 1974. Desde


sua criação até hoje, novos equipamentos, cada
vez mais modernos, foram sendo adquiridos,
tornando o Centro de Pesquisas Geocrono-
lógicas da USP (CPGeo) o mais avançado da
América Latina. E incentivou a instalação de
laboratórios em outras Universidades como a
UnB, a UFRGS, a UFPA.
Foto 6: Umberto Cordani, o engenheiro Carlos Eugênio G. Farias, o Vice-Presidente da
República Marco Maciel e Carlos Oití Berbert, entre outros, na abertura do 31st IGC.

3.Cordani e o Serviço volvimento e resultados de diversas folhas da primeira Carta Geológica do Brasil
Geológico do Brasil ao Milionésimo (DNPM), executada entre 1974 e 1979, através da integração,
Foto 4: Umberto Cordani (Presidente do 31st IGC), Sabino análise e interpretação dos dados geocronológicos então disponíveis.
Orlando Loguércio (Secretário-Geral Adjunto), Carlos Oití Até dezembro de 1994, o Serviço Geológi- A contribuição de Umberto Cordani relacionou-se ao levantamento e análise
Berbert (Secretário-Geral), Gian Battista Vai (agachado) e co do Brasil era bipartite. Em outras palavras,
demais membros da Delegação Italiana no Morro da Urca,
de 1.300 datações geocronológicas em 18 folhas (ver na Quarta Parte, capítulo
com a placa comemorativa do 31st International Geological era composto por duas instituições: o DNPM 10, figura 1), que foram integradas, avaliadas, discutidas e interpretadas por ele.
Congress (infelizmente destruída e lançada ao lixo em 2016). – Departamento Nacional de Produção Mine- Em 6 folhas esse autor contou com a participação dos seguintes colaboradores: S.
ral (hoje Agência Nacional de Mineração) e a S. Iyer, W. Teixeira, M. Halpern, M. Berenholc e Y. Hasui. A grande maioria das
CPRM – Companhia de Pesquisa de Recursos datações utilizadas foi executada no CPGeo-USP. Contou também com diversos
Minerais (hoje Serviço Geológico do Brasil, laboratórios congêneres no exterior: Amsterdam (Holanda), MIT (EUA), Carne-
stricto sensu). O primeiro encomendava à se- gie Institution (EUA), Faculté de Sciences de Clermont-Ferrand (França), Texas
gunda os trabalhos de geologia a serem reali- University (Dallas, EUA).
zados, mediante discussões e acordos, dentro, A participação de Umberto Cordani e colaboradores na execução do Proje-
então, dos objetivos do I Plano Mestre Decenal to Carta Geológica do Brasil ao Milionésimo (1974 e 1979) foi muito impor-
para Avaliação dos Recursos Minerais do Brasil. tante não somente pela apresentação, discussão e divulgação das informações
Foi naquele período que Cordani, ao lado geocronológicas (uma de suas paixões) existentes até a segunda metade da
de José Raymundo de Andrade Ramos, Octá- década de setenta, mas também pela contribuição dada à interpretação das
vio Barbosa, Sylvio Guedes, Fernando de Al- informações geológicas apresentadas naquele projeto. Vários problemas foram
meida e outros, iniciou a sua inestimável con- levantados e hipóteses foram sugeridas para a geologia regional. As suas obser-
Foto 5: Cordani inaugurando a Placa Comemorativa do tribuição para o DNPM/CPRM, discutindo e vações e comentários fazem parte dos textos explicativos das diversas folhas
31st International Geological Congress no Morro da Urca. comentando com os executores sobre o desen- dessa carta geológica.

612 613
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 11

Convidado a ocupar a presidência da comissão organizadora do evento, Cordani


coordenou vários encontros no Brasil e no exterior com integrantes da IUGS, de
Comissões de congressos anteriores e cientistas de renome, objetivando realizar um
excelente evento, que contou com a presença de mais de 5.000 participantes. As
fotos 3,4, 5 e 6 registram a atuação de Cordani durante o 31st IGC.
Urge aqui registrar que o IGC Rio 2000 (ou 31st IGC) teve o esforço conjuga-
do de diversas instituições e empresas além do nosso Serviço Geológico, tais como
DNPM, CNPq, ABC, Petrobras, VALE, SBG, universidades (com destaque para a
UFRJ e a UERJ) e inúmeras outras. Uma importante marca deixada por esse evento
internacional foi a publicação do livro Tectonic Evolution of South America, editado
por U. G. Cordani, E. J. Milani, A. Thomaz Filho e D. A. Campos.
Um relato detalhado desse memorável evento foi publicado em 2017 na revista Epi-
sodes, então editada na Índia sob os auspícios da IUGS (Berbert e Cordani, 2017).

3.2 Cordani e o Ano Internacional do Planeta Terra


A outra participação especial de Cordani junto à CPRM, ao Ministério da Ciên-
cia e Tecnologia (hoje Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações,
MCTIC) e a diversas outras organizações deu-se quando a ONU proclamou 2008
como o Ano Internacional do Planeta Terra.
Além de participar como palestrante em diversas ocasiões e localidades, Cordani
foi dinâmico na divulgação da importância das geociências para o futuro da socie-
dade mundial, tendo redigido, com Colombo Tassinari, um excelente artigo sobre o
assunto para a SBG.

Foto 7: Abertura do 31st


International Geological Mas a contribuição de Cordani ao Serviço Geológico do Brasil
Congress: Marco Maciel não parou por aí. Além de discussões com técnicos da instituição em 4. Cordani e o Mapa Tectônico da América do Sul
(Vice-Presidente da Repú- simpósios e congressos, que vieram enriquecer os trabalhos em rea-
blica), Antony Garotinho
(Governador do Estado lização pelas diversas equipes, ele publicou artigos com alguns deles, O primeiro Mapa Tectônico da América do Sul (Almeida et al., 1978) foi elabora-
do Rio de Janeiro), Luiz relacionados à tectônica do Brasil e da América do Sul. Um desses do sob a égide da Comissão da Carta Geológica do Mundo (CGMW) e coordenado
Paulo Conde (Prefeito do por Fernando Flávio Marques de Almeida. O mapa, na escala de 1:5.000.000, foi
Rio), Umberto Cordani
artigos saiu no periódico Terra em Revista, criado pelo saudoso Dire-
(Presidente do 31st IGC) e tor de Geologia da CPRM, Hermes W. Inda, em 1997, periódico esse editado pelo DNPM e ainda adorna a parede das melhores instituições de geoci-
Rodolpho Tourinho Neto infelizmente tirado de circulação após alguns números. ências do país. É um marco na compreensão não só do nosso continente em sua
(Ministro do Ministério de configuração atual, como das correlações entre crátons e faixas móveis em diversas
Minas e Energia, MME).
Em duas outras ocasiões especiais a participação e contribuição de
Cordani foram fundamentais para a CPRM e para todos os geocientis- configurações de paleocontinentes.
tas e organizações brasileiras e sul-americanas da área. A decisão de se preparar uma segunda edição do Mapa Tectônico da América do
Sul foi tomada em 2002. Naquele ano, a Assembleia Geral da CGMW, realizada em
3.1 Cordani e o 31st International Geological Congress Paris, aprovou o projeto de elaboração do novo mapa, na mesma escala do anterior,
Em 1996, na Assembleia Geral do 30º Congresso Internacional de porém, desta vez em formato digital, usando tecnologia de Sistema de Informações
Geologia (IGC), em Beijing, China, o Brasil concorreu com a África do Geográficas (SIG) e o mapa impresso como um subproduto.
Sul para sediar o Congresso seguinte na cidade do Rio de Janeiro e ob- A essa época, passados 26 anos do lançamento da primeira versão, seria necessá-
teve uma vitória retumbante. Esse evento está registrado nas fotos 2 e 3. rio integrar, harmonizar, interpretar e sistematizar uma quantidade inimaginável de
O nome de Umberto Cordani, reforçado pela sua posição como informações geológicas e de conceber uma legenda e uma forma de representação
ex-Presidente da IUGS, e um gigantesco trabalho realizado pela equipe adequadas às informações e coerentes com a escala do trabalho.
da CPRM ali presente, contribuíram para a honrosa conquista. Por sugestão de Carlos Schobbenhaus, Presidente da Subcomissão da CGMW
Na verdade, toda essa estratégia já vinha sendo montada há pelo para a América do Sul, foram então escolhidos como coordenadores do projeto
menos dois anos, sempre com a contribuição de Cordani e coordena- os professores Victor Ramos, da Universidade de Buenos Aires (UBA, Argentina)
ção de Carlos Oití Berbert, então Diretor-Presidente da CPRM. e Umberto Cordani, da Universidade de São Paulo (USP). O primeiro, coorde-

614 615
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 11

naria os trabalhos relativos ao Cinturão Andino e, o segundo, aqueles relativos à A legenda inicialmente proposta precisava ser aprimorada para que os polígo-
Plataforma Sul-Americana. nos geológicos fossem classificados de acordo com seus atributos tectônicos, de
O trabalho começou de fato no ano de 2004 e só foi possível através do apoio forma unificada para a parte andina e para a Plataforma Sul-Americana. Isto seria
recebido do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e do Serviço Geológico e Mineiro um dos grandes objetivos do projeto. Cordani e Victor Ramos reuniram-se, foram
da Argentina (SEGEMAR). e voltaram em rodadas intermináveis de discussões em diversos encontros com a
Com relação à Plataforma Sul-Americana, foram inicialmente utilizados os arqui- comunidade geocientífica sul-americana. A legenda foi aprimorada, não sem exi-
vos digitais (shapefiles) do Geobank da CPRM, na escala de 1:1.000.000, e foram gir o esforço da equipe executora para reclassificar milhares de polígonos a cada
compilados, digitalizados, atualizados e integrados os dados geológicos disponíveis alteração. Finalmente, em 2012, a primeira versão do mapa com uma legenda
para a Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname, Guiana Francesa, Bolívia, Paraguai unificada foi apresentada no Congresso Internacional de Geologia, em Brisbane,
e Uruguai. Com isso, preparou-se então um gigantesco banco de dados geológicos Austrália. Ainda seriam necessárias muitas versões até o lançamento da versão final
para a América do Sul. Nessa fase, a colaboração de Inácio Medeiros, então chefe do em papel, em 2016, e do SIG, em 2018, com preciosas revisões dos colegas Benja-
Departamento de Geologia da CPRM, foi fundamental, sendo importante também min Bley de Brito Neves (USP) e Francisco Hervé (UC, Chile).
ressaltar a participação ativa de Carlos Schobbenhaus e a coordenação dos trabalhos Para se chegar a este resultado o caminho foi longo, e não teria sido trilha-
por Lêda Maria Barreto Fraga. Mas, quem melhor do que o professor Cordani para do sem a experiência e a capacidade de atrair colaboradores de diversos países e
enxergar naquele emaranhado de informações o que seria o nosso mapa tectônico? tornar simples aquilo que aos olhos da maioria parecia muito complicado; carac-
Por mais de uma década, ele manteve discussões com muitos especialistas de di- terísticas do professor Umberto Cordani, e também do professor Victor Ramos,
ferentes países da América do Sul em reuniões científicas regionais, nacionais e inter- coordenadores científicos do projeto.
nacionais, visando receber comentários e sugestões. Citando apenas alguns eventos: Em todo o percurso, Cordani conduziu a elaboração do conceito científico do
- Rio de Janeiro, Brasil (2005, 2007, 2009, 2013 e 2015); mapa com sua natureza gentil, que tornou mais fácil a convivência com tantas ideias
- Buenos Aires, Argentina (2005 e 2012); e pesquisadores de distintas regiões do Brasil e de países tão diversos. Sua capacidade
- Montevideo, Uruguai (2007 e 2008); de sintetizar, harmonizar pensamentos que destoavam dos seus e aceitar novas pro-
- Curitiba, Brasil (2008); postas criou as condições para o êxito dessa jornada.
- Georgetown, Guiana (2009);
- Belém, Brasil (2010);
- Medellín, Colômbia (2011), 5. Conclusão
- Búzios, Brasil (2011);
- Villa de Leyva, Colômbia (2014); É difícil expor a obra de Umberto Giuseppe Cordani em poucas páginas. Os
- International Geological Congress, em Florença, Itália (2004); Oslo, Noruega autores deste pequeno artigo que conviveram (e ainda convivem) com ele têm a
(2008) e Brisbane, Austrália (2012). consciência de que nem todas as suas realizações junto à CPRM – Serviço Geológico
Foram incontáveis as fases de correção e revisão dos polígonos geológicos a par- do Brasil estão aqui expressas. Mas agradecem a amizade e o aprendizado que dele
tir de sugestões de pesquisadores de diversas regiões do continente, com Cordani obtiveram durante anos e que continuam usufruindo como privilégios.
participando ativamente do processo. Mais do que isso, no entanto, é a geologia brasileira que deve prestar-lhe todas as
Para se compreender a relevância da contribuição de Umberto Cordani ao novo homenagens e agradecimentos.
Mapa Tectônico da América do Sul, é preciso entender a envergadura dessa obra.
Sua edição, raster, em papel, foi lançada em 2016 durante o Congresso Internacio-
nal de Geologia, em Capetown, África do Sul, sendo acompanhada de uma nota expli- Referências
cativa (ver Primeira Parte 1, capítulo 2). Porém, foi em 2018 que a versão completa em
Almeida F.F.M. (Coord. Geral). 1978. Tectonic tribuição Brasileira para o Ano Internacional do Plane-
Sistema de Informações Geográficas (SIG) foi disponibilizada. Este SIG integra 25 shape Map of South America 1: 5.000.000. Explanatory Note. ta Terra. São Paulo: SBG, v.1, p. 93-105.
files e uma camada raster e é composto por 7 shapes referentes à base cartográfica, 5 à Dep. Nac. Prod. Miner., CGMW, UNESCO, Brasília. Cordani U.G., Ramos V. A., Fraga L.M., Cegarra M.,
área offshore e 13 relacionados aos aspectos geotectônicos do continente sul-americano. 1v. Mapas dobr. Delgado I., Souza K.G., Gomes F. E. M., Schobbenhaus
Berbert C.O. & Cordani U.G. 2016. The 31st In- C. 2016. Tectonic Map of South America at 1:5.0 M, CG-
O shape file da classificação tectônica, por exemplo, abrange cerca de 8.000 polígonos. ternational Geological Congress, Rio de Janeiro, Brazil, MW-CPRM-SEGEMAR,
Zonas de suturas, estruturas, vulcões ativos, crateras de impacto e isópacas, entre outros 2000. Episodes, 39(3), 518-523. Kawashita K. & Sonoki I.K. 2009. História Resumi-
elementos estão também representados no SIG. O layout do mapa mostra uma legenda Cordani U.G., Milani E.J., Thomaz Filho A., Cam- da do Centro de Pesquisas Geocronógicas (CPGeo-IGc/
pos D.A. 2000. Tectonic Evolution of South America. Rio USP) In: Simpósio 45 Anos de Geocronologia no Brasil.
usando cores para as idades e texturas para os ambientes tectônicos e uma legenda se- de Janeiro., pp.265-285. Bol. de Resumos Expandidos. Instituto de Geociências,
parada para a área offshore, apenas com cores representando as idades. Um inset com Cordani U.G. & Tassinari C.C.G. 2008. O interior USP. pp. 101-103.
as principais características tectônicas em uma versão simplificada do mapa também é da Terra: características e implicações na dinâmica do Schobbenhaus Filho, C. (Coord.) 1974-1979. Carta
planeta. In: Rômulo Machado. (Org.). As Ciências da Geológica do Brasil ao Milionésimo. Departamento Na-
mostrada, bem como uma nota com as informações relevantes. Terra e sua importância para a Humanidade - A Con- cional de Produção Mineral - DNPM, Brasília.

616 617
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 12
Foto 1: Umberto
Cordani a Ot-
tawa, in Canada,
nel 1988, per
Un triangolo Bologna-Milano-San Paolo. l’inaugurazione
alla presidenza
Intesa italo-brasiliana tra IUGS e IGC IUGS e la riunio-
ne dell’ufficio
in una visione globale della geologia IUGS, con John
Reinemund
non più Big Science (tesoriere),
Eugene Suebold
(past-president)
Gian Battista Vai1 e Richard
(gianbattista.vai@unibo.it). Sinding-Larsen
William Cavazza1 (segretario).
(william.cavazza@unibo.it).
Attilio Boriani2 in tempi ben più lontani di ogni immaginazione,
Gian Battista Vai. (in memoriam).
e scomparsi insieme a tanti altri oltre ogni limite
1
Università Di Bologna, Department of Biological, di storia e di mito. In quel contesto era facile per
Geological, and Environmental Sciences. i geologi aver riconoscimenti, svolgere ruoli, fon-
2
University of Milan. dare musei e istituti, progettare ferrovie, dighe,
ponti, strade e ferrovie, influenzare piani di svi-
Premessa luppo e piani regolatori, gestire cave e miniere,
curare canali e bonifiche in Europa e presto in
I primi attori di questa storia sono tutti nati in Italia poco prima della Nord America e in altre parti del pianeta.
Seconda Guerra Mondiale. Uno, Umberto Cordani, nato a Milano, è Due successive guerre mondiali hanno fune-
migrato con la famiglia in Brasile, a San Paolo. Gli altri due sono rimasti stato il mondo intero, e dissolto il mito del pro-
in patria, a Milano (Attilio Boriani) e Bologna (Gian Battista Vai). Tutti gresso positivista, ma non oscurato il potenziale
tre sono diventati geologi, nelle loro città. Non erano città qualsiasi. San di sviluppo scientifico e tecnologico, pur senza
Paolo e Milano erano e sono le capitali economiche dei due paesi latini saperne evitare disuguaglianze e distorsioni nei ri-
a cui appartengono. Bologna dall’inizio del secondo millennio cristiano sultati. Nel frattempo sono state la Fisica e la Bio- Foto 2: Discorso del Presidente dell’Unione
William Cavazza. è “la detta Alma Mater Studiorum” e per la geologia è sede speciale. A logia a costituire con tutte le loro ancelle la nuova Internazionale di Scienze Geologiche, IUGS, al
Bologna la geologia come disciplina principe delle Scienze della Terra è 29° Congresso Geologico Internazionale, IGC, a
Big Science, mentre la Geologia col riciclaggio e le Kyoto, in Giappone, nel settembre 1992.
nata e ha ottenuto nome e identità da Ulisse Aldrovandi (1533-1605) materie sintetiche ha cominciato a perdere spazio.
nel 1603 (Vai, 2003; Vai & Cavazza, 2003, 2006). Sempre a Bologna, Eppure ci rimaneva e ci rimane ancora il petrolio
negli anni 1870 Giovanni Capellini (1833-1922) ha ideato il Congresso e annessi, e ci rimarrebbe molto di più se fossi-
Geologico Internazionale (CGI o IGC in inglese), e a Bologna nel 1881 mo capaci di promuovere la immanente necessità
ha celebrato il 2° CGI (Vai, 2002, 2004a). E’ stata quella la sessione della prevenzione, mitigazione e difesa dai grandi
basilare nel creare una comunità geologica scientifica sovranazionale, rischi geologici naturali (ma anche indotti). Que-
con filosofia, metodo e obiettivi comuni, oltre a linguaggio e norme sta è prima di tutti competenza nostra, e solo noi
di comportamento, con un minimo di organi permanenti. Due di que- siamo in grado di creare una cultura e una perce-
sti organi, la Commissione Internazionale di Stratigrafia e quella per la zione del rischio nelle popolazioni esposte, senza
Carta Geologica del Mondo sono ancora in funzione oggi. allarmismi ma con vero fondamento.
Da metà Ottocento la Geologia, con la Chimica, avevano il vento in Noi tre eravamo ben consci di tutto ciò, fie-
poppa, ben prima della Fisica, e costituivano la Big Science del tempo ri di averlo imparato e pronti a trovare tutte le
(Corsi, 2009). La Geologia, in particolare, stava alimentando la rivolu- occasioni per ridare ai geologi un ruolo conso-
Attilio Boriani.
zione industriale, trovando miniere di carbone e di ferro e propiziando no a quello avuto nell’Ottocento, a cominciare
le basi della futura era del petrolio e del gas. Lo strumento principe della dai nostri due paesi. Foto 3: Grande sala del 30° Congresso Geolo-
nuova Big Science erano le carte geologiche che, già da sole, indicavano Di tale coscienza noi due italiani eravamo de- gico Internazionale, IGC, a Pechino, in Cina,
quali erano le nazioni che potevano ambire a diventare stati in corsa per bitori ai nostri maestri Schiavinato a Milano e Selli quando Umberto Cordani era Past President
dell’Unione Internazionale di Scienze Geologi-
l’agognato progresso. Contestualmente l’esplosione della stratigrafia e a Bologna. I due erano buoni amici, e soprattutto che, IUGS, in questa immagine con Liu Dunyi
della paleontologia rinnovava anche il fascino culturale della geologia concordi nel promuovere o rilanciare una visione e Zhang Bingxi, nell’agosto 1996.
con la scoperta di esseri misteriosi prediluviani, come i dinosauri, vissuti competitiva dell’Italia geologica sul piano interna-

618 619
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 12
Foto 4: Umberto Cordani con la
Signora Lisbeth all’inaugurazione di un
cartello panoramico di fronte al Pan di
Zucchero al 31st IGC Rio 2000.

zionale a partire dalla qualità della ricerca, aggiungendovi anche la presenza attiva nelle International Commission on
organizzazioni scientifiche geologiche internazionali. L’Italia veniva da una stagione autar- Stratigraphy (ICS-IUGS)
chica anche in campo geologico, con poche eccezioni. Un esempio chiarirà la situazione.
Nell’Italia del miracolo economico Selli, che aveva preso parte a tutti i CGI a partire Cordani ha conosciuto l’ICS certamente
dal 1948 a Londra, sosteneva che il paese Italia, patria ideatrice del CGI con Capellini e dal 1979 per ragioni d’ufficio quando è di-
paese ospitante fin dal secondo CGI a Bologna, avrebbe ottenuto grandi benefici sostan- venuto membro dello Scientific Committee
ziali e non solo di immagine nel candidarsi di nuovo a ospitare un prossimo CGI. Nel dell’IGCP. Con G. B. Vai – altro membro del
1976 Selli, capo delegazione al 25° CGI di Sydney, ne aveva anche già stilato una bozza di Board – si trovava per una settimana a Pari-
proposta, estremamente articolata, un vero piano di fattibilità (Vai, 2004b). Ma fra i suoi gi ogni anno, nella sede dell’Unesco, con lo
colleghi professori incontrò solo dubbi o dissensi, con l’eccezione di Schiavinato, appunto. stato maggiore dell’IUGS, l’altro partner,
Una motivazione della proposta di Selli era la caratterizzazione mediterranea, per valutare la qualità scientifica delle nuove
idea ripresa dall’Italia con il Consorzio Mediterraneo nella proposta del 32° IGC di proposte e i progressi delle molte decine di
Firenze 2004 (Proceedings, 2004). programmi di correlazione geologica fra paesi
A Sydney con me c’erano i giovani milanesi Attilio Boriani e Annibale Mottana. C’era in via di sviluppo e paesi sviluppati membri
anche il giovane italo-brasiliano Umberto Cordani, che strinse subito amicizia con Boria- dell’Unione. In quegli anni a Parigi era già
ni – soggiornavano nella stessa residenza femminile – anche per l’affinità disciplinare e di presente come officer dell’IUGS anche Boria-
nascita. Forse anch’io lo ho incrociato nelle assemblee risolutive generali del Congresso. ni, in modo che il triangolo Bologna – Milano
Certo noi italiani abbiamo cominciato a renderci conto che Selli aveva ragione. Ma era – San Paolo cominciava a strutturarsi e a pro-
anche chiaro che per arrivare a poter candidare di nuovo l’Italia a organizzare un CGI gettare il ruolo internazionale dei nostri paesi
non bastava fare buona scienza, occorreva anche un’opera capillare, costante, e attenta in ambito geologico. Pur non essendo officers
per ottenere di fatto cooptazione all’interno di una lobby dominata dagli anglo-sassoni, dell’IUGS, Cordani e Vai potevano accedere
olandesi e svizzeri, che aveva qualche riguardo solo dei francesi in quanto ospitanti la come osservatori alle sedute dell’IUGS, e Bo-
sede UNESCO a Parigi. Sarebbe stata quindi opera lunga, incerta, non sufficiente, ma riani, a sua volta, interagire tramite loro con
necessaria. Bisognava certo trovare alleanze a vari livelli. E’ quanto vedremo nei prossimi l’IGCP e l’ILP (v. oltre).
capitoletti. Per Selli quello di Sydney fu l’ultimo CGI a cui partecipò. Vai conosceva già da tempo molti esponenti della ICS per essere membro del Com-
E’ presumibile che anche il giovane Cordani sia pervenuto a conclusione analoga mittee on the Silurian/Devonian Boundary and Stratigraphy (1964-1972) (sarebbe stato
nel 1980. Lo fa supporre il numero dei geologi partecipanti fra le principali nazioni: questo comitato a raggiungere l’agreement per definire formalmente quel limite con un
GSSP nel 1971, ratificato dall’IGC di Montreal nel 1972), della Subcommission on Silu-
rian Stratigraphy (1974-1990), e della Subcommission on Devonian Stratigraphy (1974-
1996). Anche per questo motivo fin dal 1968 aveva partecipato, fra gli altri congressi,
a tutti gli IGC, stringendo rapporti scientifici e di amicizia con molti importanti geologi
di moltissimi paesi.
Tale vasta rete di conoscenze internazionali si allargò ancor di più sia per Cor-
dani che per Vai nei sei anni dedicati alla loro attività nell’ICL-ILP perché alla
folta schiera di stratigrafi, petrologi e geochimici si aggiungevano anche geologi
strutturali, geodinamici e geofisici (v. oltre).
Erano quasi pronti per entrare in una fase operativa dei loro ambiziosi sogni.

International Geological
Correlation Programme (IGCP)

L’IGCP è stato il progetto scientifico di collaborazione fra IUGS e UNESCO me-


glio riuscito e più efficace in termini di addestramento e trasferimento di conoscenze
nei più remoti paesi del mondo. Fondato nel 1973, ha conseguito i massimi risultati
Numero di partecipanti delle principali nazioni in alcuni IGC selezionati. nei primi due decenni di vita, subendo poi presto la pressione mediatica e il dre-
naggio dei finanziamenti esercitati da un altro progetto inter governativo di matrice

620 621
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 12

ONU, l’IPCC, nato nel 1988 e favorito da governi e lobbies. L’Italia ha partecipato
all’IGCP fin dai primi progetti nel 1975 e dal 1977 ha costituito un Comitato Nazio-
nale di sostegno, in ambito CNR, con Boriani presidente e Vai segretario.
La ragione del primo immediato successo dell’IGCP stava nell’alta qualità scien-
tifica (che sola può permettere risultati utili “al bene dell’umanità”) richiesta per
l’assegnazione dei contributi. Era stato il Presidente del Board IGCP, il canadese D.
J. McLaren già Presidente della ICS, a volerla. A lui devo la cooptazione nel Board Foto 5: Umberto
IGCP (ero già suo buon amico fin dal 1968) a partire dal 1980. Ne venni nominato Cordani, Sabino
anche Vice-Chaiman fino al 1986, sostituendo anche il Presidente G. O. Kesse impe- Orlando Loguércio,
la Signora Abate,
dito negli ultimi anni del mandato. Contemporaneamente dal 1979 Cordani veniva Gian Battista
chiamato nello Scientific Committee dell’IGCP allora presieduto da A. W. Bally, da Vai, Carlos Oití
tempo grande amico dell’Italia e da allora anche mio. Berbert, Ernesto
Abate (da sinistra),
Da quel momento il triangolo Bologna – Milano – San Paolo divenne effettivo. Per davanti al Pan di
motivare la stretta collaborazione va anche detto che in quegli anni nell’IGCP guidavano Zucchero, al 31st
i progetti alcuni fra i più rinomati geologi del mondo (es. C. W. Drooger, A. Martinsson, IGC Rio 2000.
A. J. Boucot, G. S. Odin, F. P. Agterberg, G. Choubert, J. W. Cowie, A. C. Rocha-Cam-
pos, P. C. Acenolaza, B. A. Sturt, H. W. Flügel, F. P. Sassi, M. B. Cita, Ch. Pomerol, V.
E. Khain, D. Bernoulli, G. Kukla, N. D. Opdyke, A. L. Bloom, A. J. Naldrett, M. Schi-
dlowski, L. Beccaluva, V. B. Harland, F. Hervé), e all’interno di molti progetti la com-
ponente italiana schierava le sue giovani forze più promettenti (es. M. Gaetani, F. Ricci (1986-1990). Anche in questo ambito il triangolo Bologna – Milano – San Paolo ha
Lucchi, E. Mutti, E. Patacca, A. Bosellini, R. Catalano, B. D’Argenio, R. Sprovieri, M. L. continuato a rafforzarsi, in particolare dopo l’elezione di Cordani a vice-Presidente
Colalongo, D. Rio, E. Abbate, V. Bortolotti, F. C. Wezel). Il contributo italiano all’IGCP (1983-1988) e poi a Presidente dell’IUGS (1988-1992).
è continuato anche in tempi più recenti con la partecipazione (2005-2007) e la direzione L’attività internazionale conseguente alla partecipazione italiana al programma ha
(2007-2008) del Scientific Board da parte di William Cavazza. portato grandi benefici alla geologia italiana di quegli anni. Ha aperto la porta alla com-
Nel “blue book” (Geological Correlation, Special Issue, Paris 1983, IGCP) Um- petizione internazionale in ambito geodinamico e strutturale, quando prima gli italiani,
berto Cordani faceva la sintesi critica dei progetti dedicati al Precambriano (p. 31) e salvo poche eccezioni, la esercitavano solo in campo stratigrafico e sedimentologico. Inol-
G. B. Vai di quelli dedicati al Paleozoico (p. 45). tre, sotto la pressione dei gravi terremoti del Friuli 1976 e dell’Irpinia 1980, ha favorito
il lancio del Progetto Finalizzato Geodinamica e la partecipazione alle grandi geotraverse
alpine e mediterranee. Così una ulteriore schiera di giovani geologi italiani ha acquisito
notorietà internazionale (es. A. Castellarin, P. Scandone, R. Sartori, G. V. Dal Piaz, F.
International Commission on the Lithosphere e
Barberi, L. Carmignani, R. Funiciello, M. Bonafede, G. F. Panza, M. Parotto, R. Nicolich,
International Lithophere Program (ICL-ILP) A. Praturlon, R. Polino, P. Pialli, G. B. Piccardo, M. Boccaletti, P. Manetti, C. Doglioni).
L’IGCP metteva la buona scienza dei paesi sviluppati al servizio istruttivo dei pae-
si in via di sviluppo col reciproco vantaggio di ampliare le conoscenze e le correlazio-
ni fra gli oggetti e i processi che si trovano e avvengono prevalentemente nella crosta
International Union of Geological Sciences (IUGS)
superiore del nostro pianeta. L’ILP invece aveva l’ambizione strettamente scientifica
Quelli erano gli anni in cui si proponevano, progettavano e attuavano gli IGC di
di sfruttare le conoscenze dell’IGCP e la massa critica dei suoi operatori per indagare
Washington 1989, Kyoto 1992, e Beijing 1996. Tale sequenza significava che veniva
l’intera litosfera, facendo largo uso di indagini geofisiche. Queste, applicate con suc-
infranta la consuetudine consolidata dell’alternanza di sede ospitante (fra un paese
cesso alla ricerca petrolifera, venivano già impiegate nella geologia dei fondi marini
europeo e uno extraeuropeo). Ma si dava anche la prima opportunità di ospitare un
e ormai anche nelle catene montuose dei continenti. L’obiettivo in questo caso era
IGC a grandi paesi, come Giappone e Cina. Poiché gran parte degli abboccamenti
tettonico, geodinamico, e interpretativo dell’evoluzione delle grandi strutture del
informali preparatori e delle attività formali per arrivare alle decisioni sulla sede
pianeta. Anche qui erano impegnati alla guida del Programma alcuni fra i maggiori
dei futuri IGC si svolgevano in riunioni dell’IUGS (e relativi organi e commissioni),
geologi e geofisici del tempo, come R. A. Price, E. Artyushkov, K. Lambeck, S. Uye-
si profilava la congiuntura opportuna per progettare finalmente la realizzazione di
da, E. Flinn, P. Hoffman, P. Tapponier, C. Scotese, P. Ziegler.
due nostri sogni, (1) assegnare il primo IGC al subcontinente sudamericano, e al suo
Il programma promosso dall’ICSU e condotto dalle IUGS e IUGG era nato
maggior paese, il Brasile, e (2) trovare credito sufficiente per invitare in Europa, e nel
nel 1980. Cordani è stato membro del Bureau (1980-1985) e Vai Presidente della
caso specifico in Italia per la seconda volta l’IGC successivo.
Commissione Italiana (CNR-CUN) per l’ILP (1983-1986), seguito poi da Boriani

622 623
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 12

Foto 6: Invito di
gala al Consolato
Italiano per il 31st
IGC Rio 2000.

Foto 7: Umberto
Cordani e Ernesto
Abate al 32nd IGC
Florence 2004.

Cruciale per i due obiettivi si rivelò anche il fatto che G. B. Vai venisse nominato
membro dell’IUGS Nominating Committee dal 1986 al 1989. Era stato il presiden-
te della ICS, V. V. Menner a indicare il suo nome nelle decisioni dell’IGC di Mosca quindi in grado di garantirsi un appoggio sicuro di questi due paesi, oltre a quello
1984, per la loro conoscenza fin dal 1968 a Leningrado per il Congresso sul Limite dell’Italia (7 voti) e di altri sostenitori della candidatura del Brasile. Si sarebbe poi
Siluriano/Devoniano. Per la prima volta un italiano veniva cooptato in un organo de- aggiunto l’appoggio della Cina, una volta che il grande paese asiatico avesse visto
cisionale dell’IUGS-IGC. Quel Committee aveva il compito di stabilire le candidature coronata la sua candidatura a ospitare l’IGC nel 1996. E Cordani cominciò subito
degli organi direttivi dell’IUGS, per il mandato successivo 1988-1992, candidature la lunga corsa con un memorabile discorso scientifico e geopolitico all’apertura
che avrebbero influenzato anche l’assegnazione dei successivi IGC fra i paesi invitanti. del 28th IGC Washington 1989 (Proceedings, 1990, p. 41-42).
Di quel Committee facevano parte anche R. Brett (USA) e E. Seibold (Germania) che Dal canto suo l’Italia, favorendo la strategia di Cordani, si precostituiva gli ap-
conoscevano bene G. B. Vai da tempo, col quale avevano stretto rapporti di amicizia e poggi degli stessi sostenitori del Brasile, e auspicava quindi di poter succedere al
stima a Parigi durante le sessioni di lavoro per l’IGCP e l’ILP. Seibold in particolare era Brasile nel vedere approvata la sua candidatura. Come capo Delegazione Italiana
uomo di grande cultura, estimatore e amico di Selli, e cultore di storia della geologia e ai tre IGC menzionati qui sopra, G. B. Vai ha sempre garantito l’appoggio italiano
anche di L. F. Marsili e A. Vallisnieri, trovando quindi una sponda culturale e scientifi- all’intera strategia anche nei rapporti che durante lo svolgimento dell’IGC intercor-
ca ideale in chi veniva da Bologna. Il risultato fu la candidatura di Cordani a Presidente revano fra le delegazioni e i loro progetti futuri.
dell’IUGS (1988-1992) e di Boriani a Vice-Presidente. Seguì poi l’effettiva elezione di
Cordani, mentre Boriani sarebbe stato eletto al 29th IGC Kyoto 1992.
Verso il 31st IGC Rio 2000 e
il 32nd IGC Florence 2004
Una strategia comune lungimirante
I punti nodali dell’attività della Delegazione Italiana al 30th IGC Beijing 1996
Con l’aiuto dell’IUGS Nominating Committee veniva superato il momento erano:
cruciale per portare un autorevole brasiliano al vertice dell’organo dirigenziale 1. La elezione del nuovo Comitato Esecutivo dell’IUGS, per il quale si era già
permanente, l’IUGS appunto, e per vedere in prospettiva un autorevole italiano in pervenuti la candidatura del vice-Presidente Prof. A. C. Boriani alla carica prestigiosa
condizione di succedergli. Si poteva quindi concertare una strategia comune che e impegnativa di Segretario Generale; e
nel volgere di poco più di un decennio avrebbe consentito prima al Brasile (per 2. L’invito italiano a tenere il 32° CGI a Firenze nel 2004, invito presentato uffi-
la prima volta) poi all’Italia (per la seconda volta) di ospitare l’IGC, occasione cialmente per lettera dal Capo Delegazione e rappresentante nazionale CNR presso
prestigiosa di sviluppo interno e di visibilità internazionale. Il mandato di Cordani l’IUGS prof. G. B. Vai nel Giugno 1996, e di cui occorreva divulgare l’informazione,
presidente dell’IUGS copriva i due IGC di Washington 1989 e Kyoto 1992, paesi sollecitare il sostegno e illustrare formalmente le motivazioni.
che per le quote pagate all’IUGS (8 e 7 rispettivamente) godono di altrettanti voti La Delegazione Ufficiale era composta dai Proff. A. Boriani, M. B. Cita, G. Fer-
in sede di assegnazione dei futuri IGC. Cordani infatti era subentrato in anticipo raris, R. Malaroda, G. F. Panza, F. P. Sassi e G. B. Vai (Presidente Capo Delegazione).
al canadese W. W. Hutchison prematuramente scomparso nel 1987, e si presen- Le sedi formali e proprie dell’attività della Delegazione erano i due IGC Council
tava a Washington sia come presidente uscente che come entrante. Cordani era Meetings, convocati rispettivamente per la Domenica 4 e il Giovedì 8 Agosto 1996.

624 625
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 12

Inoltre, il rappresentante italiano presso l’IUGS, eventualmente accompagnato da un dell’IGC non era chiaro al proposito. Il capo delegazione belga ha chiesto che si vo-
assistente-sostituto, era tenuto a partecipare ai due IUGS Council Meetings, convoca- tasse a scrutinio segreto (cosa mai avvenuta in precedenza, a memoria dei presenti).
ti rispettivamente per il Venerdì 9 e il Lunedì 12 Agosto 1996. Si sono poi evidenziate tre diverse modalità di voto: 1. di dare un solo voto a ogni
Diversamente dal passato recente, tutti quattro i meetings sono stati meno for- paese membro, proposta dal Segretario Generale uscente dell’IUGS; 2. di seguire la
mali e assai più dibattuti del solito. I Comitati e/o Rappresentanti Nazionali hanno prassi consolidata, dando un numero di voti corrispondenti alla categoria di asso-
rivendicato un ruolo più decisivo e meno ratificatorio, e si sono opposti vivacemente ciazione (membership category) e espressi in blocco dal capo delegazione dopo ac-
alla “democrazia cinese” che col presidente dell’IGC proponeva all’acclamazione del cordo di maggioranza all’interno della delegazione di ogni paese, proposta dal capo
Consiglio le decisioni già prese dallo Steering Committee. delegazione italiana; e 3. di attibuire il voto personale ai soli membri di delegazione
Prima dell’apertura del 1st IGC Council Meeting G. B. Vai si era premurato di presenti. Il Presidente ha optato per la terza proposta (di compromesso) e i risultati
far distribuire a ogni capo-delegazione copia di un breve documento illustrativo della votazione, controllati da un ballottaggio postale, hanno premiato l’invito bra-
dell’invito italiano a tenere il 32° IGC a Firenze nel 2004, consegnando poi a fine siliano con 103 voti contro 18 per quello sudafricano.
riunione l’originale dello stesso documento al Segretario Generale del Congresso, Passati all’illustrazione degli inviti presentati per il 32° IGC del 2004, in ordine
perché lo mettesse agli atti come parte integrante della lettera ufficiale di invito alfabetico è stata data la parola prima al capo delegazione austriaco e poi a quello
inviata in data 18 Giugno 1996 e perché ne distribuisse copia allo Steering Com- italiano, che hanno parlato per una decina di minuti ciascuno. Concludendo la sua
mittee, che si sarebbe riunito nei giorni successivi. illustrazione il Capo Delegazione italiano ha consegnato al Presidente copia della let-
Al primo IGC Council Meeting le due candidature preliminari di Brasile e Sud tera di sostegno governativo che il Sottosegretario Barberi gli aveva fatto pervenire
Africa sono state riconfermate in maniera piuttosto dimessa dal rappresentante bra- tempestivamente tramite il Presidente del Comitato 05 Prof. P. Manetti.
siliano e più attraente da quello sudafricano. Già prima dell’apertura del meeting, a Al 1st IUGS Council Meeting del Venerdì 9 Agosto 1996 il Capo Delegazione
una domanda personale di Vai il capo delegazione sudafricano aveva risposto che, o Italiana ha partecipato con l’assistenza del Prof. Forese C. Wezel. Era in program-
il Sudafrica otteneva il Congresso per il 2000 oppure sarebbe stato difficile prevede- ma la nomina del nuovo IUGS Executive Committee, per la carica di Segretario
re un IGC in Africa nei successivi 50 anni, perché la situazione politica del continen- Generale del quale il candidato era il Prof. Attilio C. Boriani. E’ apparso di nuovo
te sarebbe stata destinata a deteriorarsi (in realtà l’IGC in Sudafrica si è tenuto prima, subito chiaro che i Comitati Nazionali rappresentati non intendevano svolgere
nel 2016 a Cape Town). Nel dibattito il rappresentante tedesco, pur preferendo il un puro ruolo di passiva ratifica. Va detto che il casus belli non ha investito le
Brasile, ha riferito di dubbi sorti dopo l’organizzazione non brillante dell’IAS a Re- candidature al nuovo Executive Committee, ma è stato provocato dal modo in cui
cife nel 1995; quello canadese si è detto incerto; Vai per la delegazione italiana ha era stata preparata la lista delle candidature di un organo secondario ma delicato
ricordato di aver già espresso a Kyoto 1992 apprezzamento per il Sudafrica, ma, a e potenzialmente assai efficace nell’orientare gli assetti e la politica dell’Unione: il
parità di interesse scientifico, ha ribadito priorità al Brasile perchè l’America Meri- Nominating Committee. Per chiarire il suo valore chiave ripeterò che, solo dopo
dionale mai era stata sede di IGC. In vista delle incertezze espresse dai delegati, Vai che Vai è stato chiamato a far parte di questo organo dal 1984 al 1989, l’Italia ha
ha suggerito di rinviare la decisione sulla scelta al successivo IGC Council Meeting, potuto concretizzare quell’opera graduale di promozione che ci ha consentito di
per lasciare tempo al formarsi delle opinioni e permettere la presenza di un maggior avere per la prima volta una vice-Presidenza dell’IUGS nel 1992 e la Segreteria
numero di delegazioni. Va aggiunto che la proposta brasiliana era già stata preannun- Generale nel 1996 sempre per Boriani.
ciata a Washington 1989 da Cordani allo Steering Committee come invito dei paesi Ciò che ha sollevato critiche è stata la scarsa informazione scritta fornita sulle
del Sudamerica, e formalizzata poi dal Brasile già a Kyoto 1992. candidature per il nuovo Nominating Committee, il fatto che le candidature siano ri-
Nei quattro giorni precedenti il 2nd IGC Council Meeting, la delegazione brasiliana sultate sbilanciate sul versante geochimico-petrologico, e il fatto che, contrariamente
ha svolto una efficente e massiccia opera di lobbying, puntando molto su un booth ide- a risoluzioni approvate in precedenza, non ci fossero donne presenti nella rosa. Ne
ato all’uopo (opuscolo scientifico-logistico-turistico promozionale, hostesses, nastrini è conseguita l’aggiunta di nuove candidature che sono state votate in alternativa e
giallo-verdi, gadgets vari) e sull’opera sapiente di Cordani sui componenti dello Stee- l’invito al prossimo esecutivo di preparare rose più equilibrate e a fornire più infor-
ring Committee. I sudafricani invece, che pur avevano diffuso un eccellente opuscolo mazioni preventive ai Comitati Nazionali.
promozionale già a Kyoto, non si mostravano altrettanto attrezzati e motivati. Sui rapporti fra IUGS e IGC il Rappresentante Italiano, anche a nome di altri
Al 2nd IGC Council Meeting la Delegazione Italiana era presente al completo dei Comitati Nazionali, ha ripreso brevemente i punti emersi nei due IGC Council Mee-
suoi sette membri. Dei circa 100 paesi membri dell’IUGS ne erano rappresentati una tings, cioè: 1. esigenza di medio termine di modificare lo statuto dell’IGC in maniera
cinquantina con oltre 120 delegati in sala. Il Presidente ha informato che lo Steering da predefinire la sede di un IGC con due termini (otto anni) di anticipo e di precisare
Committee, dopo lunga valutazione, aveva preferito l’invito brasiliano. Quindi ha le modalità per le relative votazioni; e 2. esigenza immediata di trovare un modo
incautamente invitato il Consiglio ad approvare la decisione suggerita, sollevando per dare un’indicazione di preferenza sulle due candidature già presentate per l’IGC
immediate ironiche reazioni di vari capi delegazione a partire da quello britannico. A 2004. Il Presidente Fyfe ha convenuto sul primo punto, invitando il Rappresentante
questo punto la presidenza ha compiuto un’altra gaffe, mostrandosi poco preparata. Italiano a discuterlo nel 2nd IUGS Council Meeting, mentre sul secondo ha glissato,
Nella discussione e confusione che ne è seguita è apparso evidente che lo Statuto in quanto riguardante il Congresso e non l’Unione.

626 627
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 12

però che la Presidenza del Congresso e lo Steering Committee non avevano ancora
l’intenzione di dare risposta al dilemma, ma che nello stesso tempo non volevano
Foto 8: Seduta dello
Steering Committee al scontentare troppo le due delegazioni invitanti. Così il Segretario Generale del Con-
32nd IGC Florence 2004 gresso ha letto per esteso i due documenti illustrativi depositati, chiedendoci poi
(Umberto Cordani, informalmente a riunione terminata se eravamo soddisfatti, e lasciando intendere
Attilio Boriani e Tadashi
Sato, da destra). che si sarebbe trovato un modo per dare una indicazione anticipata della preferenza
dello Steering Committee sull’IGC 2004.
Infatti al termine dell’Assemblea l’ex Presidente IUGS e Presidente in pectore
del successivo IGC di Rio, Cordani, in presenza mia e della Delegazione Francese,
espresse la possibilità e la sua intenzione che il Brasile, quale prossimo paese ospi-
tante, convocasse una seduta dello Steering Committee a Rio nel 1998, in modo da
poter fornire una prima indicazione, anticipata di almeno 6 anni, sul paese presumi-
bilmente incaricato di ospitare il 32nd IGC 2004. A questa seduta avrebbero potuto
essere invitati anche i rappresentanti dei due paesi in corsa per fornire la documen-
tazione più aggiornata e illustrarla.
Per la prima volta nella storia dell’Unione (e per la seconda nella lunga storia del CGI)
un italiano, Attilio C. Boriani, sedeva al tavolo direttivo, nella seconda, e più diretta posi-
zione di responsabilità quale Segretario Generale, mentre nuovo presidente diventava R.
Brett che tenne un ottimo discorso d’apertura sostenendo il ruolo insostituibile dell’IGC
Foto 9: Il in abbinata all’IUGS nel dare anima pubblica e visibilità alla comunità dei geologi.
Comitato
Organizzatore Nello Steering Committee Meeting a Rio nel 1998, come era stato promesso, i Capi
del 32nd IGC Delegazione Austriaca (W. Janoschek) e Italiana (G. B. Vai) illustrarono il loro invito
Florence 2004. per il 32nd IGC 2004, con una chiara maggioranza di voti per l’Italia (astensione di
Boriani) e il riconoscimento all’Austria come alternativa forte. La decisione formale
veniva quindi rimandata ancora, ma si orientava in un senso, o almeno sembrava.
A fine 1998 l’Italia si era buttata a capofitto nella preparazione scientifica e orga-
nizzativa della invitation for Florence 2004 in competizione con l’Austria. Stavamo
investendo nella qualità di contenuti e nella visibilità del booth Geoitalia al GeoExpo
di Riocentro. Ma c’era il timore serpeggiante che l’Austria potesse ancora tramare
L’elezione del nuovo esecutivo IUGS non ha riservato sorprese (salvo quella deriva- coi potenti amici vicini e lontani per avere un nuovo voto dello Steering Committee
ta dalla candidatura di Boriani alla Segreteria Generale mentre non erano ancora sca- prima della votazione decisiva in assemblea a Rio. In quei due anni prima di Rio
duti i suoi termini di vice-Presidente). E così per la prima volta nella storia dell’IUGS 2000, i rappresentanti austriaco (W. Janoschek) e italiano (G. B. Vai) ebbero varie oc-
un italiano fu eletto alla seconda massima carica dell’Unione, che è sì quella di maggior casioni di illustrare i rispettivi bids in riunioni di organi intermedi a Parigi e al Cairo
impegno operativo ma anche di maggior efficacia pratica, internazionale e interna. agli inizi del 2000. Forse l’unico errore dell’Austria fu di puntare più sull’organizza-
Nel 2nd IUGS Council Meeting del Lunedì 12 Agosto 1996 il Rappresentante Ita- zione che sui contenuti. Ma i timori continuavano ad aleggiare. Allertai Brett (Past
liano era assistito dal Prof. Francesco P. Sassi. Esaurite le possibilità di ottenere una President) e Cordani (outgoing IUGS & ongoing IGC President). Mi tranquillizzaro-
risposta preliminare al dilemma Austria o Italia per il 32° IGC 2004, Vai ha cercato no. In particolare Umberto Cordani, molto serenamente concordava che lo Steering
di completare un suo sondaggio personale. Committee non doveva rinnovare lo straw vote e che la scelta sarebbe stata posta in
In totale i voti virtuali espressi confidenzialmente dai gruppi di paesi contattati votazione nell’ultimo IGC Council Meeting. A pochi mesi della celebrazione del suo
(in base alle loro categorie associative) sarebbero stati: almeno 15 a favore dell’Au- IGC saggiamente aggiungeva “il consiglio personale di essere ben pronti all’opera di
stria, almeno da 73 a 95 a favore dell’Italia, almeno 27 astenuti provvisori. convincimento personale delle poche decine di delegati votanti veramente importan-
L’ultima riunione formale utile per avere una qualche indicazione sul solito di- ti e presenti a Rio” (messaggio 26/6/2000 di U. Cordani).
lemma era l’Assemblea Generale di chiusura nel pomeriggio di Mercoledì 14 Agosto Di lì a poco avrebbe tenuto un memorabile discorso.
1996, a cui ha partecipato un migliaio di persone. Sia il Rapprentante Austriaco L’attività del Mediterranean Consortium, un consorzio di trentuno paesi pe-
che io eravamo pronti a fornire ulteriori informazioni sui rispettivi inviti, dato che ri-mediterranei formatosi al fine di presentare un programma coerente di contenuti
all’o.d.g. figurava una voce “candidature per i futuri IGC”, e alcune delegazioni (sessioni, escursioni, simposi, corsi brevi) per l’eventuale IGC 2004 a Firenze, rap-
erano pronte a esprimere la loro preferenza (es. Francia e Spagna). E’ apparso chiaro presentò un significativo sostegno al bid italiano. Il consorzio, presieduto da Bruno

628 629
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 13

D’Argenio e William Cavazza, fu supportato finanziariamente dall’Ufficio per il Me-


diterraneo del Consiglio Nazionale delle Ricerche. Lembranças do convívio
Al 31st IGC Rio 2000 infatti gli stessi Capi Delegazione rinnovarono in modo com Umberto
sempre più ricco la presentazione del loro invito al 1st IUGS Council Meeting e nel
2nd, dopo alcuni giorni di meditazione e convincimento delle delegazioni presenti, la Andrea Bartorelli
scelta fu messa ai voti con l’Italia vittoriosa a 96 e l’Austria a 57. E Boriani veniva ri-
confermato Segretario Generale IUGS. Su questo si era sviluppato un piccolo giallo. Relato a seguir alguns episódios que ilus-
La rosa uscita dal Nominating Committee del Cairo vedeva la riconferma di Boriani. tram o espírito colaborativo e de apoio de Um-
Ma il presidente Bill Fyfe ne ritardava la comunicazione all’IUGS sino a fine Aprile berto Cordani, influindo no destino de pessoas Foto 1: O colega Bruno Minioli, contratado no
2000, con la sorpresa che la candidatura di Boriani mancava (messaggio 15/5/2000 que teve a oportunidade de ajudar. Departamento de Geologia e Paleontologia pelo
di R. Brett). Venne inserita allora in una rosa alternativa (prevista da regolamento) e Conheci Cordani em 1962, quando, jun- Prof. Leinz, em período parcial, uma vez que
fu la sola approvata rispetto alla rosa ufficiale. acumulava o cargo de chefe de operações da
tamente com o Prof. Yociteru Hasui, ele era Torre de Controle do Aeroporto de Congonhas,
La missione era compiuta. I brasiliani la stavano completando. Gli italiani sta- assistente do Prof. Viktor Leinz e ministrava as como Suboficial da Aeronáutica, aqui retratado
vano iniziando il loro massimo sforzo. I successi scientifici e organizzativi, che chi aulas de Geologia Física, matéria do primeiro na torre com seu filho Edson, em 1968.
c’era ancor oggi ricorda, furono pieni, sul piano interno e su quello globale. Per certi ano do curso no Departamento de Geologia e
aspetti, come la partecipazione, l’IGC italiano è ancora insuperato. Paleontologia da antiga FFCL-USP. Em 1965,
Le radici storiche condivise, l’affinità culturale e il comune sentire hanno garantito ele foi também assistente do Prof. Norman
che, anche dopo il successo di Firenze 2004, il fortissimo accordo italo-sudamericano Herz, que lecionava Geoquímica, envolvendo
in ambito IUGS sia continuato con l’elezione della Prof.ssa Marta Mantovani (Brasile) a na verdade muita microscopia óptica.
Consigliere (2006-2010), del Prof. Alberto Riccardi (Argentina) a Presidente (2008-2012) Tive algum convívio com ele de 1966 a
e del Prof. Cavazza a Tesoriere (2008-2012) e Vice-Presidente (2016-2020) dell’IUGS. 1969, quando fui assistente do Professor
Ma anche la gloria passata può svanire. Per ora ci teniamo ad augurare ai nostri Leinz. Umberto era muito prestativo e, nes-
nipoti di scongiurarlo, attivando altre triangolazioni scientifico-politiche virtuose. se período, me ajudou na elaboração de arti-
gos científicos, tendo ainda me orientado na
datação de rochas ultramáficas do litoral de
Omaggio a Attilio Boriani Santa Catarina, assunto do Mestrado do co-
lega Bruno Minioli (foto 1).
Nelle more della stampa di questo volume, a cui ha partecipato con gioia per esser- Uma vez que participou, em 1961, junto
ne stato in tanta parte attore prima che autore, Attilio C. Boriani (‘Lio’) (1936-2020) ao seu colega de turma Antonio Carlos Rocha Foto 2: Domingos Giobbi apreciando o Maciço
ci ha lasciati per altri orizzonti ancora più inebrianti e vasti di quelli che aveva con- Campos, da Expedição Brasileira aos Andes Caullaraju em 1968, visitado por ele, Umberto Cor-
templato e studiato in tante parti del mondo. Lui ha contribuito a capirne la genesi e dani e Antonio Carlos Rocha Campos em 1961.
Peruanos, chefiada pelo consagrado alpinista
ad organizzarne geologicamente la fruizione per il bene dell’umanità a livello globale. Domingos Giobbi, Cordani foi convidado para
Giambattista Vai. uma segunda expedição em 1968. Como es-
tava engajado na operação do Laboratório de
Geocronologia, indicou-me para a expedição à
Cordilheira Huallanca, a sudeste do maciço de
Referenze cal Congress, Bologna, 1881. Episodes, 27:13-20.
Caullaraju, na Cordilheira Branca, que ele ha-
Vai G.B. 2004b. La proposta di un ‘secondo IGC in
Corsi P. 2009. La Scuola Geologica Pisana e i suoi Italia’, Selli 1976. Geoitalia, 13:17-20. via mapeado com Rocha Campos (fotos 2 e 3).
rapporti con Pilla e Scarabelli. In: Vai G.B. (cur). Il dia- Vai G.B. & Cavazza W. (eds.).2003. Four Centuries A publicação dos resultados da expedição ren-
mante e Scarabelli. Comitato Promotore per le Celebra- of the Word Geology: Ulisse Aldrovandi 1603 in Bologna.
zioni Scarabelliane, Tipografia Fanti Imola, p. 109-116. Bologna, Minerva Edizioni, 328 p. deu-me o Mestrado com a dissertação intitulada
ISBN: 88-88782-18-4. Vai G.B. & Caldwell G. E. (eds.). 2006. The Ori- “Reconhecimento Geológico da parte setentrio-
Vai G.B. 2002. Giovanni Capellini and the origin gins of Geology in Italy. Boulder Co, USA, Geological nal da Cordilheira Huallanca, Peru”.
of the International Geological Congress. Episodes, Society of America, Special Paper, 411, 223 p. ISBN:
25:248-254. 10 0-8137-2411-2. Também em 1968, fui designado por Leinz
Vai G.B. 2003. Aldrovandi’s Will introducing the Vai G.B. & Cavazza W. 2006. Ulisse Aldrovandi and e Cordani para acompanhar o geólogo inglês
term ‘Geology’ in 1603. In: Vai G.B. & Cavazza W. (eds.). the origin of geology and science. In: Vai G.B. & Cal- William Drew, da equipe de Creer, na coleta
Four Centuries of the Word Geology: Ulisse Aldrovandi dwell W.G.E. Caldwell (eds.). The Origins of Geology in Foto 3: Nevado do Maciço Caullaraju, cujo pico
1603 in Bologna. Bologna, Minerva Edizioni, p. 65-111. Italy. Boulder Co, USA, Geological Society of America, de amostras para datação, estudos de paleo- dominante chega a 5.682 metros de altitude.
Vai G.B. 2004a. The Second International Geologi- Special Paper, 411, p. 43-63. ISBN: 10 0-8137-2411-2. magnetismo e deriva continental. O alvo eram Fotografias de Andrea Bartorelli, em 1968.

630 631
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUARTA PARTE: DEPOIMENTOS – CAPÍTULO 13

rochas alcalinas e ultramáficas do Mesozoico Após ter deixado a USP, tive vários encon-
nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e tros esporádicos com Umberto. Numa das visi-
Minas Gerais (foto 4). tas à “querência”, como gostava de dizer o Prof.
Ainda em 1968, Cordani e eu participamos Leinz sempre que eu aparecia na Geologia, en-
de viagem a Diamantina por ocasião da implan- contrei o Umberto que, na época, era Diretor
tação do Instituto Eschwege, idealizado pelo do Instituto de Estudos Avançados da univer-
DNPM e pelo geólogo alemão Reinhard Pflug, sidade. Passado algum tempo, minha cunhada,
da Universidade de Heidelberg. Nessa viagem, cujo marido, Peter Demant, era professor de
lembro da participação, além do professor história e relações internacionais na Universi-
Pflug, dos renomados geólogos Licínio Barbosa dade de Jerusalém, perguntou-me se conhecia
(quem mais discutiu com Pflug sobre a geologia alguém da USP, pois pretendiam vir ao Brasil.
Foto 4: O geólogo William Drew, da Universidade do Espinhaço), Grossi Sad, Sérgio Estanislau do Lembrei do cargo de Cordani e apresentei-lhe o
de Newcastle upon Tyne, coletando testemunho Amaral, Frederico Renger e Hans Schorscher currículo de meu cunhado. Cordani logo simpa- Foto 6: Cordani num momento de descontra-
orientado de rochas vulcânicas mesozoicas para
estudos paleomagnéticos desenvolvidos por Creer entre outros (fotos 5 e 6). tizou com Peter e conversou com alguns conhe- ção na viagem a Diamantina por ocasião da
Pouco antes de deixar o corpo docente da cidos do Depto. de Ciências Políticas da FFCL, inauguração do Instituto Eschwege, em 1968.
e sua equipe. À direita, Koji Kawashita, físico do
CPGeo, que acompanhou a coleta de amostras na Geologia, em 1969, paguei um “mico” com que se interessaram e admitiram meu cunhado
Serra do Salitre, Minas Gerais, em 1968.
Umberto. Em face de divergências com o che- como professor convidado. Pouco depois, surgiu uma vaga e meu cunhado foi
fe Leinz, Umberto se desapontou muito com a concursado, tendo lecionado na USP até sua aposentadoria.
ação dele quando não o autorizou a viajar para Em outra circunstância, foi muito hilária uma visita ao Instituto de Ge-
Montevidéu ao Simpósio Internacional de Deri- ociências quando deparei com uma emblemática pichação na entrada do
va Continental (organizado por Tuzo Wilson!), prédio da Geologia: “Fora Cordani!”
onde ele faria duas palestras importantes. Cor- Em entrevista que fiz com Cordani, em setembro de 2019, ele relatou as
dani acabou viajando assim mesmo, contrarian- circunstâncias desse episódio, que foi o mais penoso da sua vida universitá-
do o catedrático e, logo após sua volta, Leinz ria, como a seguir relatado:
disse que não renovaria o seu contrato, o qual – Sei que desde 1961 você foi professor de Geologia da USP. Como foi a
venceria em pouco tempo. Acabou se transfe- sua carreira docente?
rindo para o Depto. de Petrologia, com o acor- – No começo o curso de Geologia estava no departamento de Geologia e
do do catedrático Rui Ribeiro Franco. Paleontologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras e nela fui primei-
Como fã de Leinz, apostei com Umberto ro Instrutor e depois Professor Doutor. Com a mudança na estrutura da USP,
que eu nunca me desapontaria com ele e pro- em 1970-71, passei a ser professor do Instituto de Geociências, onde fiz
meti um jantar no Terraço Itália caso isso acon- Livre-docência e depois concursos de professor Adjunto e Professor Titular,
tecesse. Mas fiquei chateado com Leinz quan- este em 1980. Fui Vice-Diretor (1983-87) e Diretor do Instituto (1987-91).
do, já demissionário da USP, ele não autorizou a Quando fiz 70 anos, em 2008, fui obrigado a me aposentar pela compul-
minha visita às ilhas de Trindade e Martim Vaz sória, entretanto a USP permitiu que eu continuasse fazendo o que sempre
junto ao grande mestre Fernando de Almeida, fiz, como “Professor Sênior”, por meio de um acordo oficial, aprovado pela
uma grande oportunidade perdida. E lá fomos congregação do Instituto.
nós, Umberto, eu e nossas esposas, jantar no – Sei que você teve dificuldades com os alunos, quando era Chefe do De-
Terraço Itália por minha conta! partamento de Geologia. Como foi isso?
– Isso foi em 1978 ou 79, em plena ditadura, época em que chefias de
qualquer tipo eram contestadas. Dois professores jovens, Marcos Egydio
e Rômulo Machado, tiveram um problema grave com os alunos da disci-
Foto 5: O Professor Sérgio Estanislau plina de Geologia Estrutural. Um belo dia, foram “sequestrados” durante
do Amaral, do Departamento de Geo-
logia e Paleontologia da USP, encantado
algumas horas, sem poder deixar a sala de aula. Após o relato deles, como
com minhocuçus (tendo em vista o chefe que era, convoquei uma reunião do conselho do departamento para
apelido de “Minhocão” com que fora discutir o assunto. O resultado foi uma punição de suspensão, baseada
brindado pelos alunos da Geologia)
em viagem ao Instituto Eschwege em
num decreto baixado pelo regime, para seis alunos que lideraram o movi-
Diamantina, Minas Gerais, em 1968. mento, e eu virei alvo imediatamente, por ter assinado o documento que

632 633
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUINTA PARTE: DEPOIMENTOS DE COLEGAS DE TURMA – CAPÍTULO 1

Umberto, meu amigo de longa data


foi encaminhado à diretoria do Instituto. Os
estudantes de Geologia entraram em greve, Adolpho José Melfi
porém a bandeira não foi suficiente para eles (ajmelfi@usp.br).
conseguirem uma greve geral dos estudantes
da universidade. Como chefe do departamen- Foi com grande satisfação que recebi o convite dos colegas, Wilson
to, tive que enfrentar reuniões e assembleias Teixeira, Andrea Bartorelli e Benjamim Bley de Brito Neves, para escre-
diversas, no Instituto, na Reitoria, na Assem- ver algumas linhas sobre o Umberto, meu amigo de longa data, que fará
bleia Legislativa, sempre penosas. O Institu- parte deste livro, redigido por vários amigos e colegas para homenage-
to não recuou, e os alunos resolveram tomar á-lo por sua importante contribuição para a evolução do conhecimento
o Departamento de Geologia. Nove meses, das Geociências, não só brasileira, mas, igualmente, internacional.
um parto! Terminou quando o reitor da USP, Gostaria muito de falar sobre o nosso convívio durante o período em
Valdir Oliva, resolveu intervir e mediou uma que frequentamos o Curso de Geologia, de 1957 a 1960, mas não vou
tentativa de acordo que teve sucesso. Foi re- fazê-lo, pois acredito que vários dos nossos colegas irão escrever histórias
Foto 7: Protesto dos alunos contra tirada do prontuário a punição dos seis alu- interessantes ocorridas não só nos quatro anos passados no “casarão” da
Cordani em 1978 ou 1979. nos e a greve acabou. Resultado: uma grande Alameda Glette, mas igualmente nas excursões geológicas realizadas por
parte dos alunos de Geologia foi reprovada esse Brasil afora, com o nosso sempre lembrado ônibus azul e branco, do
por faltas em diversas disciplinas e acabou nosso time de futebol, dos bailes na biblioteca do Departamento de Geo- Adolpho José Melfi.
perdendo o ano (foto 7). logia, etc. Entretanto, não poderia deixar de fazer um breve comentário
Cordani ainda foi um importante elo que sobre a grande amizade de quatro jovens que, por brincadeira de alguns
ajudou na obtenção de patrocínio para a edi- colegas e mesmo de alguns professores, formaram e organizaram a famosa “Petromáfia”,
ção do livro Evolução ao nível de espécie: rép- onde o Cappo era o Umberto, italiano de nascimento, o Vicente e o Adolpho eram os
teis da América do Sul – opera omnia de P. E. oriundi e o Celso, brasileiro da gema, era o “adotado”. Assinalo, ainda, que a amizade
Vanzolini. Numa viagem a trabalho em Rorai- iniciada no primeiro ano do curso de Geologia, em 1957, foi se consolidando durante
ma, nos ermos da tríplice fronteira do Brasil os quatros anos de duração do curso e permanece inabalável até hoje, passados 61 anos,
com a Guiana Inglesa e a Venezuela, deparei- envolvendo inclusive nossas famílias (esposas, filhos e filhas).
me com uma camionete da CPRM ao lado de Neste pequeno relato, não quero deixar de registrar um fato, que talvez poucos dos
afloramentos de metarenitos do Supergrupo nossos colegas tenham conhecimento: foi o importante papel que o Umberto teve na
Roraima (foto 8). O motorista do veículo in- trajetória da minha vida profissional, desenvolvida principalmente na Universidade de
formou se tratarem de pesquisas conveniadas São Paulo, a qual teve início em 1964, quando me transferi, a Convite do Prof. Viktor
da CPRM com as universidades do Amazonas Leinz, Chefe do Departamento de Geologia e Paleontologia da Faculdade de Filosofia
Foto 8: Cachoeira do Rio Paiuá, em Uiramutã, e de São Paulo, entre outras. Quando soube Ciências e Letras da USP (FFCL), do centenário Instituto Agronômico de Campinas
Roraima, onde Cordani desenvolveu pesquisas que o representante da USP era o Cordani, (IAC) para a FFCL, e, mais especificamente, para o Departamento de Geologia e Pale-
com datação de zircões detríticos em metare-
nitos do Supergrupo Roraima em 2007, junto deixei um recado para jantarmos uma massa ontologia, onde o amigo Umberto, desde 1961, fazia parte do corpo docente do Curso
a pesquisadores da CPRM, UFAM e outras em São Paulo. Pouco depois, Umberto e Lis- de Geologia. No outro Departamento, o de Petrografia e Mineralogia que, juntamente
instituições de pesquisa em geociências. beth convidaram-me para um espaguete em com o de Geologia e Paleontologia, formavam o núcleo duro do Curso de Geologia,
sua casa, junto ao Ennio Candotti, amigo meu o Celso e o Vicente também já eram docentes, de forma que continuamos, os quatros
dos tempos do colegial. Comentei com Ennio a dificuldade na ob- juntos, trabalhando no mesmo prédio da Alameda Glette.
tenção de patrocínio para o livro de Vanzolini e ele nos encaminhou No período em que trabalhava no IAC, como geólogo da Seção de Solos (1961
à Fapesp, que acabou viabilizando a edição. a 1964), portanto antes de me tornar docente da USP, tive a oportunidade de co-
Os episódios relatados são exemplos do espírito colaborativo de laborar com Umberto em uma pesquisa de mapeamento geológico com o uso de
Cordani e de sua influência na carreira e no destino de alunos, co- fotografias aéreas, método que se desenvolvia com grande rapidez no Brasil e prin-
legas e amigos. cipalmente no Estado de São Paulo, e que o Umberto conhecia profundamente,
Em viagem que realizamos juntos a Manaus em 2018, como pois ministrava aulas de aerofotogrametria e fotogeologia no curso de Geologia.
convidados para participar num workshop no MUSA – Museu da Contando também com a participação de outro colega de faculdade, Igor Bitten-
Amazônia, deixei Cordani “perplexo” com a proposta de um livro court, que trabalhava na Seção de Aerofotogrametria do IAC, publicamos o traba-
em homenagem à sua contribuição às Geociências (ver na apresen- lho Reconhecimento fotogeológico de parte do Grupo Açungui, publicado em 1965
tação desta edição). na revista Bragantia, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC).

634 635
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUINTA PARTE: DEPOIMENTOS DE COLEGAS DE TURMA – CAPÍTULO 1

Mas qual foi o papel importante que citei anteriormente? Pelo fato de estar es-
tudando os solos formados a partir das rochas básicas (basaltos e diabásios) da bacia
Turma do “Boaven-
do Paraná, nos arredores de Campinas, pesquisa que eu tinha iniciado pouco tempo tura” destacando-se
antes de me desligar da Seção de Solos do IAC, e pensando na elaboração de uma Adolpho Melfi e
tese de doutorado, que defenderia em 1967, eu possuía um certo conhecimento so- Umberto Cordani,
além de José Maria
bre a geologia, petrografia e mineralogia dessas rochas básicas, a partir das quais os Pacheco de Souza,
latossolos roxos se formaram. Nesta época, o Umberto, juntamente com o Prof. Dr. Giorgio Moscati
Reynolds, da Universidade da Califórnia, estava implantando, no Departamento de e João Barata, em
dezembro de 1982.
Geologia e Paleontologia, o primeiro Laboratório de Geocronologia da América do
Sul. Uma das pesquisas, que estavam sendo conduzidas por um pequeno, mas quali-
ficado, grupo de geólogos e físicos, ligado ao laboratório, dizia respeito exatamente
à datação, pelo método K-Ar, de rochas básicas da Bacia do Paraná.
Talvez este fato tenha motivado o Umberto a me convidar para fazer parte deste
grupo e estudar testemunhos de sondagens de rochas basálticas da região sul do Brasil.
Graças à liderança científica do Umberto e sua alta capacidade de trabalho, rapidamen-
te o laboratório, sob sua direção, tornou-se o Centro de Pesquisas Geocronológicas, Instituto de Astronomia e Geofísica (IAG/USP), localizado na Água Funda e cria-
que logo alcançaria a alta reputação nacional e internacional que desfruta até hoje. do durante a reforma universitária ocorrida no Brasil em 1969. Como este novo
Foi assim que eu comecei minha carreira científica como pesquisador na USP e Instituto não possuía professores titulares e, naquele momento, o regimento da
esta foi uma etapa importante no desenvolvimento de minha carreira acadêmico- USP exigia que o diretor de unidades de ensino e pesquisa fosse um professor da
científica, que se iniciou graças ao convite de Umberto. Permaneci no Laboratório USP com o grau de Professor Catedrático ou de Professor Titular, para substituir
cerca de dois anos e meio e consegui terminar o meu primeiro trabalho científico seu então diretor, o Prof. Dr. Giorgio Eugenio Oscare Giacaglia, professor titular
internacional, sempre contando com o incentivo e apoio do amigo Umberto: Potas- da Escola Politécnica, a substituição deveria recair sobre um docente externo ao
sium-argon ages for core samples of basaltic rocks from southern Brazil, publicado na quadro da Instituição. Em uma reunião do referido Conselho Diretor, Umberto, na
conceituada revista Geochimica et Cosmochimica Acta, em 1967. qualidade de membro desse Conselho, não só indicou, mas também apoiou o meu
Depois de 1968, nossos caminhos seguiram rumos distintos, pois eu fui realizar nome para fazer parte da lista tríplice a ser posteriormente enviada para o Reitor,
meu pós-doutoramento na França, no Centre National de Recherche Agronomique a quem caberia fazer a escolha do futuro diretor da instituição. Após contato que
(CNRA), onde me dediquei ao estudo da dinâmica exógena da Terra, estudando os tive com alguns professores do IAG, dos Departamentos de Astronomia, Geofísica
processos de intemperismo e de formação dos solos tropicais (pedogênese tropical) e Meteorologia (atual Departamento de Ciências Atmosféricas), concordei com a
e de jazidas supérgenas lateríticas do Brasil. O Umberto continuou suas pesquisas inclusão de meu nome na lista tríplice. Na reunião seguinte do Conselho Diretor,
no campo da Geocronologia, aplicando os dados obtidos na datação de rochas, a foi formada a lista tríplice e o meu nome apareceu em primeiro lugar. O Reitor
partir da utilização de diferentes métodos geocronológicos, no mapeamento ge- acolheu a lista e indicou o meu nome para dirigir a unidade. No IAG, fui duas vezes
ológico e geotectônico, mas, sempre com a mesma eficiência, não se descuidou diretor e duas vezes vice-diretor e, posteriormente, as circunstâncias me levaram
de vários outros setores das Geociências, tornando-se um dos mais conceituados para a administração da Universidade de São Paulo, primeiramente como Pró-Rei-
geólogos da nossa geração. Quanto aos dois outros “mafiosos”, o Celso continuou tor de Pós-Graduação (de 1994 a 1997), posteriormente como Vice-Reitor (1997
no campo da petrologia, enfocando, em especial, o estudo das rochas alcalinas do a 2001) e finalmente, como Reitor (2001 a 2005).
Brasil e de outros países da América do Sul e o Vicente permaneceu em um campo
próximo ao de Celso, mas com foco no estudo da petrologia das rochas máficas e
ultramáficas e suas associações com a gênese de jazidas minerais. Tudo isso aconteceu por “culpa” do meu grande amigo Umberto
Nós quatro, porém, tivemos ainda a oportunidade de trabalhar em um grande
projeto de mapeamento geológico para a elaboração de várias folhas geológicas da E para terminar, julgo importante ressaltar que, apesar das nossas pesquisas ge-
região do vale do Rio Ribeira de Iguape (Apiaí, Itararé, Guapiara, Cerro Azul e ológicas nos terem conduzido a campos diferentes, a amizade iniciada há 63 anos
Eldorado). Posso considerar que este foi o último trabalho que os quatro grandes continuou e, até hoje, mesmo depois das nossas aposentadorias, continuamos, todos
amigos realizaram em conjunto, dentro de um grupo onde participaram vários os quatro, trabalhando na mesma USP, como Professores Sêniores, o Umberto, o Celso
outros colegas do curso de Geologia. e o Vicente no Instituto de Geociências (IGc/USP) e eu, a poucos metros de distância,
Depois de alguns anos, Umberto novamente teve um papel preponderante na no Instituto de Energia e Ambiente (IEE/USP). Continuamos sempre juntos em eventos
evolução da minha vida acadêmica, desta vez na parte administrativa. Isto ocorreu acadêmicos e de lazer, evidentemente não mais jogando futebol de campo e de salão,
no ano de 1977. Nessa época, Umberto fazia parte da Conselho Diretor do novo mas aproveitando um convívio amigável, onde estão incluídas as nossas famílias.

636 637
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUINTA PARTE: DEPOIMENTOS DE COLEGAS DE TURMA – CAPÍTULO 2

Foto 1: Braço de
ferro entre Faustino
Penalva e Lister de
Araújo, e a torcida
dos estudantes: José
Vicente Valarelli,
Aluisio Castanho
Maciel, Igor Bit-
tencourt, Umberto
Giuseppe Cordani
e Milton Kanji, na
praia de Marandu- Foto 2: Trabalho de
ba, litoral norte de que dominam o dia a dia de nossa existência. O nosso relacionamento formatura dos estu-
São Paulo, em 1959. dantes Altamir, Neusa,
remonta a 1957, quando ingressamos no curso de Geologia da en- Celso de Barros Gomes
tão Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São e Umberto Cordani,
Paulo, e se mantém desde então (fotos 1 e 2). A partir de 1961, con- fotografados junto
a Fiore Peccicacco e
vivemos juntos como membros do corpo docente, respectivamente, senhora, proprietários
dos departamentos de Geologia e Paleontologia, e de Mineralogia e da mineração em Perus,
O convívio com Umberto Petrografia (mais tarde Petrologia) daquela instituição, que funciona- São Paulo, em frente
à residência deles, em
vam na Alameda Glette, no bairro dos Campos Elíseos. No início dos julho de 1960.
Celso de Barros Gomes, anos 70, já na Cidade Universitária, passamos a trabalhar no Instituto
Instituto de Geociências, USP. de Geociências, criado com a reforma que atingiu a USP ao final da
década de 60. Presentemente, somos professores aposentados dessa
Resumo unidade de ensino e pesquisa. Assim, para o melhor acompanhamento
desta narrativa parece-me mais conveniente separá-la segundo esses
Esse capítulo trata das relações de amizade mantidas com o Umberto, desde o três momentos distintos, que, no mais, se distinguem por suas próprias
nosso ingresso no curso de Geologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras particularidades e formas de convivência.
da Universidade de São Paulo, em 1957. Cobre o período seguinte ao término da
graduação, que se estendeu por toda a década de 1960, na condição de membros
do corpo docente daquela instituição, e avança até os dias atuais como professores No Curso de Geologia
do Instituto de Geociências. Foram muitos anos de atividades conjuntas que propor-
cionaram imensa satisfação e contribuíram para consolidar o nosso relacionamento. Durante esse período o nosso contato foi muito intenso e con-
tou invariavelmente com a presença de dois outros colegas de turma,
Adolpho Melfi, que, em 2001, viria a ser eleito Reitor da Universidade
Introdução de São Paulo, e Vicente Girardi (foto 3, uma homenagem àquele quar-
teto cujo espírito de amizade persiste após tantos anos). Formávamos
Falar de um convívio, ainda que hoje bem menos frequente, que vem se dando ao um grupo muito unido, que compartilhava os momentos de estudo e
longo de dezenas de anos é sempre tarefa muito difícil, pois há o risco de se deixar lazer, movidos tão somente pelo sentimento de amizade. Umberto se
de lado aqueles momentos muito especiais, substituindo-os por outros mais banais destacou como um dos alunos mais brilhantes da turma, senão o mais,

638 639
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUINTA PARTE: DEPOIMENTOS DE COLEGAS DE TURMA – CAPÍTULO 2

porém, era inteiramente solidário, compor-


tando-se sempre como um membro do gru-
po. Nas decisões a tomar, tínhamos em geral
uma posição forte e comum, o que levou ao
rótulo de que agíamos como uma máfia, que,
até hoje, alguns colegas insistem em empre-
gar não obstante o longo tempo transcorri-
do. Umberto tinha um passatempo predileto,
que virou sua marca registrada. Habilmente,
gostava de desenhar no quadro negro um
simpático falo estilizado, como a indicar que
já passara por ali. De modo absolutamente
natural, o nosso relacionamento passou dos
Foto 3: Da esquerda para direita, grupo formado
bancos escolares ao social, uma vez que estu-
pelos professores Umberto Giuseppe Cordani, dávamos alternadamente na casa de um ou
Celso de Barros Gomes, Adolpho José Melfi e outro. Alguns desses momentos ficaram gra-
Vicente Antônio Vitório Girardi, em cerimônia
ocorrida por ocasião do lançamento do livro
vados na memória, como o do jogo de deci-
Geologia USP: 50 Anos, no anfiteatro da Escola são do campeonato mundial de futebol con-
Politécnica, em novembro de 2007. tra a Suécia, em 1958, que foi acompanhado
por rádio na minha casa em Moema, durante
uma sessão conjunta de estudos.
A vida na Glette era tranquila, ainda que
monótona em certas ocasiões, e os aconteci- Foto 5: Morro do Pico, na ilha
mentos mais esperados eram quase sempre os Na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Fernando de Noronha, com
os colegas Celso de Barros Go-
associados às excursões didáticas, mais entu- mes e Adolpho Melfi, durante
siasticamente às peregrinações noturnas que Ainda na Glette, Umberto e eu fomos contratados como docentes uma coleta de amostras para o
elas acabavam proporcionando, e aos jogos em 1961 pelos dois departamentos existentes na área de ciências da ter- Doutorado, em 1965.
de futebol de campo, com a Geologia cons- ra: o de Geologia e Paleontologia, tendo como chefe o professor Viktor
tituindo na maioria das vezes o time base da Leinz, e o de Mineralogia e Petrografia (depois Petrologia), chefiado
Faculdade de Filosofia (foto 4). Umberto e eu pelo professor Rui Ribeiro Franco. As relações pessoais entre os dois
tínhamos sempre presença garantida na equi- andavam estremecidas à época, o que acabou afetando a vida dos do-
pe titular. Alguma atividade social na época centes mais novos, sempre temerosos do comportamento germânico do
corria por conta dos bailes realizados na sala professor Leinz. Lembro-me de um triste episódio que serve bem para
sob a biblioteca, anteriormente ocupada pelo ilustrar o clima reinante, o uso do britador de rochas de propriedade
Foto 4: Tirada no segundo semestre de 1958, retrata Departamento de Botânica, muito concorri- da Geologia. Na condição de assistente do professor Rui, não me era
a equipe de futebol da Associação Atlética da Facul- dos e famosos pela ausência total de controle permitido utilizá-lo, assim que o Umberto vinha aos sábados à Glette a
dade de Filosofia, representada na ocasião quase que do consumo alcoólico e pela presença da tra- fim de britar as minhas amostras de rochas alcalinas de Itapirapuã, tema
inteiramente por alunos do curso de Geologia e seus
respectivos anos de graduação em parênteses (extra- dicional Turma do Sereno, um grupo de alu- da tese de doutorado. Foi uma operação sigilosa executada por várias
ída de Vaz, 2007). Em pé, a partir de esquerda: Ni- nos que preferiam o chope à música e que se semanas e mantida como verdadeiro segredo de estado.
colau (62), Luiz (60), Umberto (60), Mobaid (não se postava ao redor de um barril, tomando se- No começo da década fizemos o nosso primeiro trabalho de pesquisa
formou), Porto (61) e Waltir (62). Agachados, a partir
da esquerda: Vianna (62), Diogo (61), Lister (não se reno. Eram tempos alegres, de muita cordia- em conjunto, ao lado de Vicente Girardi, recém-contratado pela FFCL.
formou), Celso (60) e Roni (curso de História). lidade e calor humano, o que compensava as O trabalho resultou de um estágio efetuado ao final do curso de Geologia
limitações físicas do espaço disponível para na mineração Peccicacco, de propriedade do comendador Fiorelli Pecci-
o curso de Geologia e para os demais que ali cacco, com atividades na região de Perus, não muito distante da capital,
funcionavam (História Natural, Psicologia e voltadas para a extração de feldspato e caulim destinados à indústria ce-
Química), e a falta de maiores opções em ter- râmica (foto 2). O local era muito citado geologicamente pelas famosas
mos de entretenimento. estruturas fluidais nos turmalina granitos e fazia parte da programação

640 641
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUINTA PARTE: DEPOIMENTOS DE COLEGAS DE TURMA – CAPÍTULO 2

Foto 6: Ato de trans-


missão de posse do
novo diretor do Insti-
tuto de Geociências,
professor Umberto
Cordani, em ceri-
mônia ocorrida no
mês de dezembro de
1987. Na mesa,
o então diretor
Celso de Barros
Gomes ao lado do
assistente técnico de
assuntos acadêmicos
da unidade, José
Abrantes Assir.

Foto 7: Primeira turma do curso de Geologia da USP. Da esquerda para a direita: Fernão Paes de
Barros, José Júlio de Castro Carneiro, Giuseppina Giaquinto de Araújo, Pachoal Giardullo, Celso
de Barros Gomes, José Eduardo Machado, Luiz de Oliveira Costa, Igor Bittencourt, Vicente Girar-
di, Umberto Cordani, Henrique Della Piazza, Wilson Scarpelli e José Aluízio de Vasconcelos.

didática de meu departamento. O nosso objetivo foi o de investigar os diversos aflora-


mentos de rochas calciossilicatadas ocorrendo associados aos corpos graníticos e pegma-
títicos que, no passado, haviam sido examinados de forma muito geral pelo professor
Rui Ribeiro Franco em sua tese de cátedra. Lembro-me que ficamos muito orgulhosos
com o artigo e sua consequente publicação nos Anais da Academia Brasileira de Ciências,
em 1963. Pouco depois, uma vez instalado o Laboratório de Geocronologia, voltaríamos
a interagir, desta vez, no estudo geocronológico do maciço alcalino de Itapirapuã (Go-
mes e Cordani, 1965), que precedeu a publicação do trabalho clássico sobre a datação
das rochas alcalinas brasileiras de autoria de Amaral et al. (1967).
Já mais tarde, Umberto convidou-nos (Adolpho Melfi, que se havia transferido
do Instituto Agronômico de Campinas, e eu) para auxiliá-lo nos trabalhos de co-
leta de amostras em Fernando de Noronha, tema de sua futura tese de doutorado
(foto 5). Foi uma experiência das mais agradáveis e muito rica em momentos des-
contraídos e imprevisíveis. Na oportunidade, uma delegação de uma instituição
católica alagoana de ensino visitava também o arquipélago. Num evento social
noturno coordenado pelo chefe dessa delegação, um padre (não me recordo o
nome), nós três fomos convidados, sem direito à recusa, para participar de es-
petáculo musical na condição de atração principal. Na época, o samba Saudosa
Maloca de Adoniran Barbosa fazia muito sucesso e tivemos que cantá-lo à capela,
sem qualquer acompanhamento. Obviamente, foi um vexame. Na noite seguinte,
Foto 8: Professores home-
contando com a participação de dois membros da delegação, jogamos uma partida trolar o cavalo, Umberto, muito aflito, largou as rédeas e se agarrou nageados (da esquerda para
de basquete com a equipe dos oficiais. Jogo equilibrado, perdemos, mas com dig- com tudo ao Santo Antônio do arreio na tentativa de se equilibrar a a direita): Sérgio Estanislau
nidade. Sem condições de dizer não, uma vez que estávamos alojados nas depen- do Amaral, Ruy Osório de
todo custo. Felizmente, a queda previsível não aconteceu. Contudo, Freitas, Rui Ribeiro Franco,
dências do exército (nos famosos bangalôs utilizados pelos soldados americanos a experiência de cavalgar, a partir de então, deixou de fazer parte de Setembrino Petri, Moacyr
na segunda guerra), e sem as mínimas condições físicas, uma noite depois tivemos nossa programação de campo. Rabelo de Arruda, Reinholt
que enfrentar o time dos sargentos, e um juiz tendencioso. Como era de se espe- Ellert e José Vicente Valarelli,
O final dos anos 60 trouxe alguns momentos de inquietação face juntamente com Umberto
rar, o resultado foi desastroso. Porém, o evento mais engraçado de nossa estada aos acontecimentos políticos em curso no país. Porém, os seus refle- Cordani, diretor (à direita), e
em Fernando de Noronha correu por conta do “cavaleiro” Umberto, no retorno xos pouco atingiram a Glette, uma vez que as reuniões e as manifes- Celso de Barros Gomes, vice-
de um dia de atividades de campo. O cavalo que ele montava tinha o costume de diretor (à esquerda).
tações se davam na Rua Maria Antônia, onde funcionava o Grêmio
acelerar o passo a fim de chegar rapidamente à cocheira. Sem condições de con- Estudantil. É bem verdade que alguns alunos da Geologia acabaram

642 643
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUINTA PARTE: DEPOIMENTOS DE COLEGAS DE TURMA – CAPÍTULO 2

sendo envolvidos nos incidentes, mas de ma-


neira geral o ambiente de trabalho na Glette
foi pouco afetado, a despeito dos constantes
boatos de invasão policial. Umberto e eu está-
vamos mais identificados com o esporte antes
que a política, assim que seguimos normalmen-
te nossas vidas acadêmicas. Pessoalmente, o
ano de 1968, o mais crítico, apanhou-me ain-
da organizando viagem para os EUA, ocorrida Foto 10: Celso de Bar-
em agosto, a fim de desenvolver programa de ros Gomes e Umberto
Cordani no X Con-
pós-doutorado na Universidade da Califórnia, gresso Brasileiro de
Berkeley, portanto, totalmente afastado dos Geoquímica, em Porto
acontecimentos políticos. Mesmo distante, de Galinhas, Pernam-
buco, em 2005.
não tive notícia de qualquer envolvimento do
Umberto.

No Instituto de Geociências algo assustador por saber que qualquer acidente mais grave poderia comprometer
o esforço de muitos anos e de grande número de pessoas. O incêndio ocorrido no
Esse período, de maior duração, é conse- Laboratório de Microssonda, debelado de pronto e, felizmente, sem maiores danos
quentemente o mais rico em experiências vi- materiais, além de circunscrito ao barracão ocupado pelo Departamento de Minera-
venciadas, reunindo um conjunto de situações logia e Petrologia, foi mais um alerta para a precariedade das instalações. Para alívio
Foto 9: Destaque para o de naturezas diversas. geral, a mudança para o prédio novo se deu não muito depois (1976). Ainda que esse
professor homenageado Rui Num primeiro momento, deu-se a continuidade dos trabalhos de apresentasse algumas deficiências estruturais, a alternativa já oferecia um pouco mais
Ribeiro Franco, ao lado de
Umberto Cordani e Celso de mapeamento geológico do Vale do Ribeira, iniciados no final da fase de tranquilidade em termos de segurança.
Barros Gomes, respectiva- de permanência na Glette. Foi um período de trabalho intenso, com Na área de lazer continuávamos tendo o futebol como atividade comum, po-
mente, diretor e vice-diretor Umberto e eu participando ativamente, em colaboração com vários rém, o futebol de salão, à vista da maior facilidade de formação de equipe, passaria
do Instituto de Geociências.
outros colegas (Igor Bittencourt, Eduardo Damasceno, Vicente Fúlfa- também a ganhar alguma preferência. As atividades contando com a participação de
ro, Vicente Girardi, Hilton Lellis, Geraldo Melcher, Adolpho Melfi e professores, funcionários e até mesmo estudantes de pós-graduação, criaram muitas
Setembrino Petri), das atividades de campo e de laboratório visando ocasiões favoráveis para encontros e congraçamentos.
à elaboração de várias folhas geológicas da região (Apiaí, Cananeia, Na área de pesquisa, à exceção de algum caso isolado, o nosso envolvimento se
Guapiara etc.). Muitas viagens em conjunto e longas caminhadas a direcionou para projetos próprios, com interesses os mais distantes, fazendo, assim,
pé, com a mais traumática delas sendo a que fizemos ao longo do rio com que aquela colaboração mais efetiva ficasse restrita ao passado.
Pardo, a partir da rodovia federal Régis Bittencourt, até a localidade Desde o início abraçamos a causa do Instituto de Geociências e muito fizemos
de Barra do Turvo, com pernoite num casebre de um morador local. no sentido de contribuir para a sua plena consolidação. Vivemos intensamente os
No segundo dia, Umberto, saltando um obstáculo, quase que, milagro- mais variados momentos da unidade desde aqueles iniciais ligados à sua criação
samente, conseguiu se desviar de uma cobra coral que se aquecia num e muito nos empenhamos para a expansão de sua infraestrutura laboratorial. Na
lajedo. Foi um tremendo susto que nos deixou apavorados o restante sua vida política, caminhamos sempre juntos, ocupando os postos diretivos e
do trajeto, uma vez que não dispúnhamos de soro antiofídico e tería- procurando representar a instituição de forma condigna nos organismos centrais
mos ainda que percorrer alguns trechos cobertos por vegetação. da USP e nos meios externos. Quis o acaso que formássemos uma dupla que
Nos barracões (para os quais fomos transferidos inicialmente por acabou se sucedendo mutuamente na administração da unidade: como diretor,
ocasião da mudança para a Cidade Universitária), o sentimento com- no período de 2003-2007, tive o privilégio de dar posse a Umberto nessa função
partilhado com Umberto era de total preocupação com as suas condi- para a gestão de 2007-2011 (foto 6). Por outro lado, tornei-me seu vice-diretor,
ções precárias, sobretudo no tocante às instalações elétricas, que pode- cargo por ele ocupado na minha gestão.
riam interferir no funcionamento dos equipamentos sofisticados dos Em reconhecimento pela sua grande contribuição ao desenvolvimento e plena
laboratórios ali instalados: de Geocronologia e, a partir de 1972, de consolidação do Instituto de Geociências como uma das mais importantes e respei-
Microssonda. A situação era angustiante e o sentimento de impotência tadas unidades de ensino e pesquisa do país nessa área de conhecimento, Umberto

644 645
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUINTA PARTE: DEPOIMENTOS DE COLEGAS DE TURMA – CAPÍTULO 3

foi agraciado com o título de Professor Emérito, em cerimônia realizada no dia 19 Umberto, meu primo por adoção
de novembro de 2010.
Umberto muito se dedicou à promoção de um evento da maior relevância histó- Vicente Antônio Vitório Girardi
rica, a comemoração dos 50 anos do curso de Geologia da USP (foto 7). O evento, (girardi@usp.br).
que teve lugar no final do mês de novembro de 2010, contou com a participação de
13 (do total de 24) membros da turma graduada em 1960. Coube ao geólogo Breno Creio ser provável que, dentre os vários colegas que participam
Augusto dos Santos, formado em 1963, e figura emblemática da geologia brasileira desta homenagem a Umberto, seja eu o que mantém laços de amizade
pelo seu papel marcante no descobrimento da Serra dos Carajás, a missão de saudar mais antigos, datados do longínquo ano de 1954. Recém ingresso no
os homenageados, e a Fernão Paes de Barros, orador da turma em 1960, expressar os curso científico do Colégio Estadual Presidente Roosevelt, em conti-
devidos agradecimentos. Foi uma cerimônia singela, mas carregada de muito simbo- nuidade ao curso ginasial da mesma Instituição pública, onde reinava
lismo, pelo papel desempenhado pelos geólogos brasileiros no desenvolvimento dos entre os alunos um misto de respeito e terror pelos professores, senti,
recursos minerais do país, que teve início em 1957 com a criação do programa de no curso científico, grande alívio face à mudança de ambiente que pro-
formação de geólogos, instituído pelo governo de Juscelino Kubitschek de Oliveira. piciou um relacionamento muito mais amigável e descontraído com os
Como diretor, Umberto foi ainda responsável pela organização de um evento de professores e com a direção. Logo no início do ano fiz vários amigos,
grande significado que muito sensibilizou a comunidade da instituição, uma sessão cujo relacionamento, com algum deles, persistiu até há pouco tempo.
solene da congregação, realizada em 12 de setembro de 1991, em homenagem, das Vicente Antônio
Entre eles houve grande empatia com Umberto, ressaltando-se nossas Vitório Girardi.
mais justas e merecidas, aos professores aposentados do curso de Geologia, inclusive afinidades esportivas, notadamente futebolísticas, ambos palmeiren-
daqueles que lecionaram nos tempos da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. A ses convictos, praticantes do esporte, tanto no time do colégio, como
foto 8 reúne o conjunto desses professores, enquanto a foto 9 mostra particularmen- nos nossos respectivos times de várzea, sediados na Lapa, onde residia
te o homenageado Rui Ribeiro Franco, o nosso sempre saudoso professor de petro- Umberto, e no Ipiranga, bairro onde eu frequentava um clube local.
logia na Glette. Ao longo dos anos, estivemos juntos em diversos eventos científicos Outra prática esportiva de nosso grupo, bastante comum na época,
no país e no exterior, com a foto 10 retratando uma dessas situações. consistia em longas partidas de snooker, nos fundos de um bar situado
na esquina da Rua São Joaquim, onde se situava o colégio, com a Rua
da Glória, no Cambuci; ali, entre uma partida e outra, saboreávamos
A Convivência Social deliciosos sanduíches de cachorro-quente, muitas vezes pagos pelos
perdedores das partidas. As atividades escolares desenvolviam-se agra-
No início de nossas carreiras, com os filhos ainda pequenos, mantivemos um davelmente, e o único resquício autoritário e despótico dos tempos
contato social bastante intenso, compartilhado em muitos instantes com as famílias do colégio emanava da figura do professor de matemática, o famo-
do Melfi e Girardi. Esse relacionamento foi responsável por dois momentos especiais so Prof. Cruz. Seu método de ensino era muito peculiar e consistia
de enorme satisfação e muito orgulho, o convite para padrinhos (Maria Conceição em, ao tratar do tema da aula, chamar à lousa um aluno, e através de
e eu) de Renato Cordani e de Rogério Girardi. Na ocasião, os fortes laços de ami- perguntas e respostas, conduzia o desenvolvimento da nova matéria.
zade levaram ainda a uma decisão conjunta, a de ingressar no corpo associativo do O mote “que horror” era frequentemente atribuído aos infelizes que
Clube Paineiras do Morumby, fundado em 1960, e ainda em fase de implantação. A não acompanhavam o raciocínio do mestre ou que não haviam com-
exemplo de outros colegas da USP, formalizamos o pedido de ingresso ao final dessa prado os cadernos de alunos que já haviam cursado a matéria, pois
década, com o clube se tornando então uma segunda casa à qual recorríamos com esta era rigorosamente repetida todos os anos, sem alterações. Havia
alguma frequência, principalmente para a prática de esportes e atividades de lazer. uma lista na qual os melhores alunos eram chamados com frequência,
Os filhos cresceram, se casaram e geraram netos. Novas prioridades surgiram e e entre eles o primeiro era sempre Umberto, o mais brilhante de to-
ocuparam os espaços. Restam apenas as lembranças daqueles bons tempos vividos, dos, especialmente nas ciências exatas. Enquanto trilhávamos o curso
sem grandes exigências, mas muito ricos em amizade e calor humano. com facilidade, Umberto e eu iniciamos um frequente convívio social,
compartilhando de bailinhos e festinhas. Tornou-se comum passarmos
juntos a virada do ano. Após assistirmos, no apartamento da família de
Referências Umberto, a corrida de São Silvestre, que na época terminava à meia-
Anais da Academia Brasileira de Ciências, 35:361-372.
Amaral G., Bushee J., Cordani U.G., Kawashita K., Gomes C.B., Cordani U.G. 1965. Geocronologia do noite sob o rumor das sirenes que anunciavam o novo ano, éramos
Reynolds J.H. 1967. Potassium-Argon ages of alkaline maciço alcalino de Itapirapuã, São Paulo. Anais da Aca- convidados, junto com Ana, irmã do Umberto, para uma festa, por
rocks from Southern Brazil. Geochimica et Cosmochim- demia Brasileira de Ciências, 37:497-501. sinal sempre muito animada, num dos apartamentos do prédio, que
ica Acta, 37:117-142. Vaz L.F. 2007. Os primeiros tempos do Cepege. In:
Cordani U.G., Gomes C.B., Girardi V.A.V. 1963. Gomes C.B. (org.). Geologia USP 50 Anos. São Paulo, terminava ao amanhecer do novo dia. Tal convívio levou-nos a nos
Rochas calciossilicatadas da região de Perus, São Paulo. Edusp/Fapesp, p. 103-129. tratarmos por primos, estabelecendo-se uma adoção mútua informal.

646 647
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUINTA PARTE: DEPOIMENTOS DE COLEGAS DE TURMA – CAPÍTULO 3

Terminado o curso científico, enquanto Umberto estava decidido a cursar enge- Após nossa formatura, embora nossas carreiras tenham tomado rumos diversos,
nharia, eu mergulhei numa fase repleta de indecisões. O desenvolvimento do curso com Umberto e Celso exercendo funções docentes respectivamente nos Departamen-
gerou dúvidas a respeito da minha verdadeira vocação, a ponto de prestar vestibular tos de Geologia e Mineralogia, e Petrologia; Melfi e eu em atividades de pesquisa,
na Faculdade de Direito da USP, sendo reprovado no exame oral de latim, matéria no Instituto Agronômico de Campinas, onde tive a oportunidade de colaborar com
da qual só tive conhecimento no curso ginasial. Comecei então, sem convicção e en- Umberto e Celso na pesquisa que resultou numa das nossas primeiras publicações,
tusiasmo, a cursar um dos famosos cursinhos preparatórios da época, quando, após sobre as rochas cálcio-silicatadas da Região de Perus, divulgada através do Boletim
alguns dias frustrantes, Umberto irrompeu entusiasmado em minha casa, trazendo da Academia Brasileira de Ciências, em 1963. Apesar da diversidade das funções
uma notícia bombástica. “Primo, sabe da última? Vai se iniciar um curso novo de que exercíamos, nosso convívio social continuou. Várias partidas de futebol de salão
Geologia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP”. Passou em seguida a ocorreram nessa época em Campinas e em São Paulo, entre os times de docentes da
transmitir-me todas as informações relativas ao novo curso, seu potencial, pioneiris- Geologia, do qual faziam parte Umberto, Celso e Evaristo, que havia sido nosso pro-
mo e importância para o País, e um adendo que me ajudou a aderir imediatamente, fessor, e o do Instituto Agronômico, no qual participavam Melfi, Igor, nosso colega
ou seja, a promessa de concessão de bolsas pelo Governo Federal, que na época, de turma, e eu. Na maior parte das vezes fomos vencedores.
tinham valor significativo, propiciando, principalmente a nós, que morávamos com Em 1964 fui convidado para integrar o Departamento de Mineralogia e Petrolo-
a família, completa independência econômica. Essa informação, que decidiu minha gia da USP, tendo sido Melfi, quase concomitantemente, contratado para o Departa-
vida profissional, propiciando uma carreira na qual me senti inteiramente realizado, mento de Geologia e Paleontologia. Na época, Umberto ainda trabalhava na região
foi uma contribuição inestimável, devida totalmente ao meu grande amigo Umberto. de Morretes – Antonina, no Estado do Paraná, tendo por objetivo principal o estudo
O Curso de Geologia, ocorrido de 1957 a 1960, propiciou-me quatro dos anos das ocorrências de ferro para sua tese de doutoramento. Seu estágio em Berkeley,
mais felizes de minha vida. O curso, onde Umberto, para variar, foi um dos alunos em 1963, seguido pela instalação do laboratório de Geocronologia em 1964, mu-
mais destacados, senão o mais brilhante, decorreu de modo muito agradável, recheado dou seus planos. Face à importância representada por esse laboratório na USP e sua
de excursões didáticas, que nos permitiram não só aprendizado geológico como uma repercussão no Brasil e na América do Sul, Umberto e sua equipe de colaboradores
visão geral abrangendo várias partes do País, incluindo agradável conhecimento da passaram a se dedicar inteiramente às pesquisas geocronológicas, tendo como conse-
vida noturna. As aulas eram ministradas, quase totalmente, no casarão colonial da Ala- quência a mudança de planos no tocante a seu doutoramento, que se desenvolveria
meda Glette, em conjunto com as turmas de Química, Pedagogia e História Natural, sobre o estudo geocronológico e implicações tectônicas das ilhas de Fernando de
cuja convivência, principalmente com as colegas naturalistas, propiciou numerosos Noronha e Trindade, de grande importância não só para a geologia do Brasil, como
namoros, alguns dos quais resultaram em casamentos. O ambiente era muito cordial, para a divulgação da teoria sobre a expansão do assoalho oceânico. Face a isso, resol-
caracterizado por calor humano e solidariedade. Nosso convívio social foi incrementa- veu encerrar suas pesquisas em Morretes e publicar os resultados até então obtidos.
do pelo fato de podermos realizar frequentes festas nos finais de semana, abrilhantadas Para isso convidou-me para elaborar os estudos petrográficos, e essa colaboração
pela nossa banda denominada “Os Filhos da Pauta”, na qual dois dos membros faziam permitiu a publicação do artigo denominado Geologia da Folha de Morretes, publi-
bicos à noite, nos fins de semana, pois oriundos do interior, moravam em pensões ou cado em 1967. Os estudos petrográficos efetuados resumiram-se na descrição das
apartamentos compartilhados, e assim complementavam as respectivas rendas oriun- seções delgadas dos litotipos e revelaram uma sucessão de eventos metamórficos
das das bolsas. Logo no início do curso, estabeleceu-se sólida amizade envolvendo complexa, culminando com retrometamorfismo, assunto muito pouco tratado na
Umberto, Celso Gomes, Adolpho Melfi, que viria a ser Reitor da USP, e eu. Alguns bibliografia petrológica. Decidi, então, efetuar uma pesquisa detalhada da evolução
colegas posteriormente viriam denominar jocosamente nosso grupo inicialmente como metamórfica da área, utilizando metodologia específica e incrementando o número
“Máfia” e posteriormente como “Petromáfia” talvez porque Umberto, já professor de amostras, que originalmente já era grande. Tais pesquisas permitiram a elabora-
do curso, exerceu, por algum tempo, suas funções no Departamento de Mineralogia ção de minha tese de doutoramento sobre a petrologia das rochas metamórficas da
e Petrologia, onde Celso e eu já trabalhávamos. O grupo convivia no trabalho e fora região de Morretes – Antonina, e motivou dedicar-me inteiramente à estruturação
dele, frequentemente jogando futebol com o Prof. Coutinho, a quem muito apreciá- da área dedicada ao estudo do metamorfismo com o auxílio de vários colegas. Nela
vamos. Costumávamos estudar juntos, revezando as casas. Na minha, a atração maior atuei durante muitos anos. Justificou-se desse modo a divisão da petrologia em duas
era um jogo de pebolim, moda na época, e que gerou grande número de disputadas novas áreas, a da petrologia ígnea e a da petrologia metamórfica, cujos cursos, em
partidas. Esses laços de amizade perduram até hoje e se estreitaram através de relações nível de graduação e de pós-graduação, iniciaram-se nessa ocasião, juntamente com
entre esposas e filhos das respectivas famílias. Bons alunos, éramos, porém, um tanto a implantação dos três programas de pós-graduação no Instituto. Portanto, mais uma
irreverentes, assim como parte dos demais colegas, frequentemente inventando brin- vez, Umberto exerceu papel importante na minha carreira profissional.
cadeiras ditas “sadias”, que muitas vezes, porém, não mereciam esse rótulo. Uma das Vale a pena ressaltar, na década de 1960, a execução do projeto que consistiu
brincadeiras favoritas de Umberto consistia em apor sua marca característica nos avisos no mapeamento geológico de larga parte da Região do Vale do Ribeira, englobando
que lhe pareciam desagradáveis e irrelevantes. Tal assinatura consistia numa estranha várias folhas geológicas, tais como Eldorado, Capão Bonito, Apiaí, Guapiara e Ca-
ave, cujo corpo cilíndrico, de aspecto fálico, portador de possantes asas, foi por nós naneia. O projeto reuniu, além de Celso, Umberto e Melfi, um grupo de geólogos
denominada “Papacus Terrificus”. formados nas primeiras turmas, incluindo Igor Bettencourt, Eduardo Damasceno,

648 649
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUINTA PARTE: DEPOIMENTOS DE COLEGAS DE TURMA – CAPÍTULO 4

Vicente Fúlfaro e Hilton Lellis, além de Geraldo Melcher e Setembri- Estágio em Mato Grosso
no Petri, nossos professores no curso de Geologia, cabendo a mim a
elaboração da petrografia. O estudo geológico e petrológico das ro- Wilson Scarpelli
chas metamórficas e graníticas da área deu origem a uma publicação, (wiscar@terra.com.br).
em 1973. Nos anos seguintes, face ao interesse diverso em função da
natureza das pesquisas, Umberto e eu tivemos apenas pequenas cola- Por volta de junho de 1959, já finalizando
borações esporádicas resultantes de datações obtidas em rochas máfi- o primeiro semestre de nosso terceiro ano de
cas-ultramáficas, meu objeto de pesquisa nas últimas décadas. Nestes estudos do Curso de Geologia, Cordani e eu
últimos anos, porém, recebi dois convites que reativaram nossa co- fomos informados que havíamos sido indicados
laboração. O primeiro referiu-se a assunto controverso e de grande para um estágio com a Comissão Nacional de
importância para o estudo geotectônico da América do Sul, referente Energia Nuclear (CNEN), a ser realizado em
à presença do oceano Clymene durante o Ediacarano. Na defesa da julho, mês de férias. O estágio envolvia nos-
tese de sua inexistência, Umberto organizou uma equipe que contou sa participação em viagem de campo do Prof. Wilson Scarpelli.
também com a presença dos colegas Marcio Pimentel, Carlos Eduardo Evaristo Ribeiro Filho, que na ocasião também
de Araújo, Miguel Basei e Reinhardt Fuck, para a elaboração de traba- tinha atividades na CNEN, para a seleção, exame e amostragem de
lho publicado no American Journal of Science em 2013, seguido por afloramentos de litologias de interesse no Estado de Mato Grosso.
uma réplica em 2014. O segundo tratou da elaboração do livro sobre Como era de esperar com estatais, a verba para a viagem somente
o Cráton de São Francisco, publicado em 2017, do qual ele foi um dos foi liberada ao final de julho, a poucos dias do início das aulas do se-
editores, que me propiciou, com a colaboração dos colegas Wilson Tei- gundo semestre. Mesmo assim, com o apoio do Prof. Leinz, lá fomos
xeira, Maurizio Mazzucchelli, Elson Oliveira e Paulo Corrêa da Costa, nós com o Prof. Evaristo.
a redação do capítulo que tratou dos diques máficos desse cráton. A viagem foi feita em um jipe Willys, daqueles bons, o qual foi
Finalizando, gostaria de tecer breve comentário a respeito do Ins- dirigido pelo Prof. Evaristo durante toda a viagem. Afinal, nós dois
tituto de Geociências a partir da década de 1970, quando já instala- não tínhamos carteira de habilitação para dirigir e, pelo menos eu, não
dos no prédio definitivo. Nessa época e nos anos seguintes o Instituto sabia dirigir. Aliás, convém deixar registrado aqui: nem um colega de
experimentou grande avanço em termos de ensino e pesquisa, com a nossa turma tinha veículo próprio e todos vinham à escola a pé, de
consolidação dos cursos de pós-graduação, recém iniciados, e com a ônibus, trem ou bonde. Imagino que também não tinham carteira de
instalação de laboratórios modernos nos seus Departamentos e Cen- habilitação. Para que teriam? Nem conversávamos sobre isso.
tros de Pesquisa. O esforço de um grupo de docentes pioneiros foi de Saindo das imediações de São Paulo, as estradas eram todas de terra
fundamental importância nesse processo. O laboratório de Geocro- batida e cascalho. Os veículos que por elas circulavam eram poucos e
nologia que, já na década anterior, contava com número significati- asfalto, nem pensar. No oeste do Estado de São Paulo e leste de Mato
vo de colaboradores, continuou agregando pesquisadores brasileiros Grosso, o que mais chamou a atenção foram os extensos trechos em
e estrangeiros, desenvolvendo novas metodologias e obtendo novos areia e mata rala nos vastos trechos da Formação Bauru. Naquelas retas
equipamentos. A atuação pioneira de Umberto, reconhecida pela co- arenosas o jeep ia meio que patinando, deslizando às vezes, e a veloci-
munidade geológica, no Brasil e no exterior, resultou na congregação dade máxima que o Prof. Evaristo conseguia era de 60 quilômetros por
de importantes colaboradores assim como na formação de significati- hora. Coincidentemente, era também a velocidade máxima que atin-
vo número de pesquisadores que continuaram dando sequência ao seu giam as seriemas que apareciam em nossa frente, no eixo da estrada.
trabalho. Além disso, exerceu encargos administrativos, ressaltando-se Ao ver o carro, as seriemas não saíam da estrada e começavam a
o de diretor do Instituto, em cuja função tive o prazer de sucedê-lo, correr à frente, na mesma velocidade em que íamos. Após um tempo
de 1991 a 1995. Creio que será repetitivo ressaltar neste relato consi- curto, talvez da ordem de 20 segundos, elas fraquejavam e o jeep co-
derações sobre o mérito de todo o seu trabalho, a importância de suas meçava a alcançá-las e, então, elas voavam para a frente, descendo na
pesquisas em termos de geologia global e regional, e o brilhantismo de estrada lá longe. Quando chegávamos a elas, novamente corriam na
sua carreira, que lhe rendeu várias honrarias, dentre as quais a de Pro- frente do carro por outros 20 segundos. Quando chegávamos bem
fessor Emérito, pois certamente outros colegas mais afeitos aos porme- perto, elas, já denotando cansaço, alçavam voo novamente, desta vez
nores de seu vasto campo de pesquisa o farão com mais propriedade. para fora da estrada. Essa rotina repetiu-se por muitas vezes (na Ama-
Agradeço à Comissão Organizadora a oportunidade de elaborar zônia, vi pássaros fazerem isso em rios, voando à frente de barcos, apa-
este relato, e espero que vários dos fatos aqui narrados sirvam de in- rentemente para levar os “perseguidores” para longe de seus ninhos,
centivo às novas gerações de colegas. que estavam lá no início da corrida).

650 651
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUINTA PARTE: DEPOIMENTOS DE COLEGAS DE TURMA – CAPÍTULO 4

Em uma ocasião, ao passar perto de uma tro de Cuiabá. Sempre pensávamos que Cuiabá
casa à beira da estrada, um bando de galinhas estava muito a oeste, sem imaginar que havia
surgiu do lado da estrada e correndo atraves- outro tanto de Brasil a oeste da cidade.
sou-a pela frente do jeep. Uns 20 quilômetros De Cuiabá fomos para nordeste, subindo
à frente, quando paramos por algum motivo, pela magnífica escarpa de sedimentos devo-
vimos que uma das galinhas viera presa à grade nianos (foto 5), até a Chapada dos Guimarães,
do radiador, na frente do jeep. Liberada, saiu para encontrar novamente, lá em cima, vastas
andando meio tonta. áreas de piso arenoso entre escarpas de areni-
Já próximo a Campo Grande, a estrada se- to. Orientados pelo guia, fomos e fomos pelas
guia bem de perto a Ferrovia Noroeste, que une savanas e escarpas, até as nascentes do Rio Ron-
São Paulo a Santa Cruz de la Sierra, Bolívia. Aí, cador. Lá, naquele fundão, nos deu hospedagem
Foto 1: Locomotiva da Noroeste do Brasil chamou a atenção uma locomotiva tombada de um fazendeiro pioneiro, único numa área de
tombada sobre seu lado esquerdo. Os trilhos lado sobre os trilhos, que haviam “aberto late- milhares de quilômetros quadrados, e põe qui-
estavam “abertos”, afastados nessa direção. O ralmente” (foto 1). O acidente devia ter sido re- lômetros quadrados nisso!
carregamento de madeira parecia ter sido gran- Foto 4: Cordani ao lado do monumento
de. Da esquerda para a direita, o Prof. Evaristo
cente, mas não havia ninguém no local. Nos dias seguintes foram feitas as amostra- marcando o Centro Geográfico do Brasil,
Ribeiro Filho, eu e Umberto Cordani. Após Campo Grande descemos pelas magní- gens de litologias de interesse da CNEN. Está- em Cuiabá, Mato Grosso.
ficas escarpas de arenito devoniano da Bacia do vamos no limite noroeste da Bacia do Paraná,
Paraná (foto 2) até Aquidauana (foto 3) e, daí,
até Bonito, onde foram tomadas amostras de
calcário de interesse da CNEN. Nesse trecho,
tivemos a companhia do geólogo Sobanski, que
viera de Curitiba em outro jeep.
Após o retorno a Campo Grande seguimos
com rumo norte, para Cuiabá. Chamou a aten-
ção um restaurante de beira de estrada ao lado
do Rio Taquari, que nos serviu peixes pescados
na hora, ali mesmo no rio.
Em Cuiabá ficamos um dia, enquanto o
Evaristo preparava a continuidade da viagem e
localizava o guia que iria nos acompanhar. Na
caminhada pela cidade chegamos a uma praça
em que havia um marco topográfico marcando
Foto 2: Escarpa de sedimentos Paleo- o Centro Geográfico do Brasil, isto é, o pon-
zoicos da Bacia do Paraná, na descida
de Campo Grande para Aquidauana. to médio das longitudes e latitudes máximas e
Vista da estrada federal. mínimas do país (foto 4). Ali estava ele, no cen-

Foto 3:
Aquidauana,
Mato Gros-
so do Sul,
numa vista
de 1959.

Foto 5: Umberto Cordani e Wilson Scarpelli no caminho de Cuiabá à Chapa-


da dos Guimarães. Ao fundo, escarpa do Devoniano, a nordeste de Cuiabá.

652 653
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUINTA PARTE: DEPOIMENTOS DE COLEGAS DE TURMA – CAPÍTULO 4

Foto 6: O arenito Três Foto 7: Umberto Cordani e


Portões, cretácico, mari- na região aproximadamente centrada em 15o15’S com 55o30’W. Na- Caminhar à noite naquela areia fofa cansava e após algumas Wilson Scarpelli amostran-
nho e com forte estratifi- do o arenito cretácico Três
cação cruzada, principal quela área a bacia apresenta uma sequência de arenitos, devonianos ao horas o guia, com estatura similar à nossa, mas um pouco mais Portões, na bacia do Rio
objetivo da amostragem sul, jurássico-cretácicos na parte intermediária e cretácicos ao norte, gordo e, sem dúvida, não acostumado a andar muito, deu sinais de Roncador, no Mato Grosso.
para a CNEN. com a granulometria desses níveis de arenito diminuindo dos devo- cansaço. Logo depois disse que “não dava mais” e pediu-nos que
nianos aos cretácicos. O arenito do topo, denominado Três Portões, o deixássemos ali na estrada. Não aceitamos o pedido e decidimos
apresenta ótima estratificação cruzada (foto 6). Esse arenito foi o alvo “levá-lo” na marra.
da principal amostragem (foto 7). Assim, Evaristo, Umberto e eu passamos a nos revezar em dar-
Amostras de sedimentos de drenagem que coletamos e examina- lhe apoio. A cada “turno” um de nós descansava, andando sozinho,
mos em São Paulo mostraram que todos os níveis de arenito da área da enquanto os outros dois davam-lhe suporte, apoiando-o um de cada
amostragem tinham os mesmos minerais pesados, com destaque para lado, com seus braços por cima de nossos ombros. Andamos assim por
turmalina escura e granadas róseas. Caracteristicamente, esses mine- horas e horas, noite adentro.
rais pesados diminuíam em granulometria e melhoravam em arredon- Lá pela madrugada, chegamos à fazenda. Ufa! Arriei e deitei no
damento das camadas inferiores às superiores. chão da varanda e ali mesmo dormi. Não sei o que os outros três
Terminado o trabalho, saímos cedo da fazenda, rumo a Cuiabá. fizeram e onde dormiram. Ao clarear do dia fomos despertados pelo
Havíamos percorrido uns 20 quilômetros quando o jipe teve problema pessoal da casa, surpresos por nos ver ali.
e parou. Enquanto Evaristo e o guia se envolviam em consertar o de- Depois das explicações e um reforçado café da manhã, o fazendei-
feito, ficamos ali, à toa. Por sugestão de Umberto, passamos um tempo ro nos levou em seu carro, até onde estava o jipe. No caminho, uma
jogando xadrez. O “tabuleiro” foi riscado no chão e as peças, diferen- surpresa: pegadas de onça, das grandes, superpostas às nossas pegadas.
tes entre si, foram obtidas com fragmentos de pedras e de madeira de Ela nos havia seguido por um bom tempo. Se tivéssemos deixado o
diversos tamanhos e cores. Tudo correu bem e deu para se distrair. guia no caminho, como ele tanto havia pedido...
O tempo passava, o dia ia indo e o carro continuava parado. Foi O fazendeiro entendia de jeep, tinha ferramentas e peças sobressa-
decidido, então, retornar à fazenda e pedir apoio. Começamos a cami- lentes e em pouco tempo o veículo estava operacional. Agradecemos e
nhada de volta quando começava a escurecer. retomamos a viagem de volta.

654 655
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUINTA PARTE: DEPOIMENTOS DE COLEGAS DE TURMA – CAPÍTULO 5
Foto 8: Umberto Cordani e Wilson
Scarpelli prontos para embarcar no Curtiss
Commando da Real, para voo de Cuiabá a
São Paulo, com escala em Campo Grande.

Memórias do Cordani
Chegando em Cuiabá, Evaristo entrou em
contato com a escola e, surpresa, providenciou Milton Assis Kanji
nosso retorno imediato, em avião. Na manhã (milton.kanji@gmail.com).
seguinte, saímos de Cuiabá em um Curtiss
Commando da Real, companhia aérea que não Sem dúvida existirá uma coincidência nos testemunhos da maioria
mais existe (foto 8). dos antigos colegas de turma de Umberto, que simplesmente dirão que
Para novatos, o primeiro voo era uma ex- ele foi um colega exemplar destacando-se pela sua cordialidade e edu-
periência a ser bem vivida. Antes da decola- cação, fino trato com os colegas, e por aí vai, pois é o que todos nós
gem um pouco de oração não fez mal nenhum. sentimos e guardamos na lembrança por todas essas seis décadas que
Como geólogos, ficamos cada um em uma jane- decorreram desde os tempos universitários. Muito do que o Fernão diz
linha, atentos à paisagem. Na subida, que bele- Milton Assis Kanji.
sobre ele é o que eu também diria.
za, aqueles escarpamentos todos. A dificuldade Entretanto, uma qualidade de Umberto ou do Cordani, como de-
que sentimos era a visão lateral reduzida, limitada por aquelas janelinhas. sejem chamá-lo, é a sua aguda inteligência. Ele se destacou na nossa
Naquele tempo não havia rígidas regras de segurança e prevenção, e logo depois, turma por essa qualidade, manifesta por ter sido excelente aluno, com
atendendo nossa solicitação, permitiram que fôssemos à cabina de comando. Ali, notas invejáveis. Por exemplo, no primeiro ano, as provas de Cálculo
para ver a paisagem, era muito melhor. O avião tinha uma haste vertical logo atrás eram terríveis para todos, menos para ele. Nesse mesmo ano, nós da
do assento do comandante e ficamos nós dois ali, em pé, segurando a haste. A visão, Geologia, tivemos as aulas de Química Geral e Inorgânica em conjunto
à frente, era total. Beleza pura! com os alunos de Química. O que aconteceu no fim do ano é que com
O voo fez escala em Campo Grande. Estávamos ali, de pé, agarrados à haste exceção de alguns (Umberto e poucos mais), todo mundo “rodou” e
quando o avião aterrissou e, também, quando decolou para São Paulo. Nesse mo- teve de refazer o curso no ano seguinte.
mento, outra surpresa, que, eu, particularmente, não esqueço. A decolagem fora dei- É notória sua habilidade no xadrez, tendo rivalizado com outros
xada a cargo do copiloto e lá foi o avião acelerando pela pista. Num certo momento, conhecidos enxadristas. Não acompanhei e não sei que títulos ele teve,
quando o copiloto levantou o bico do avião para subir, o comandante berrou: “Ainda mas sei que era muito bom.
não, seu burro!” No mesmo instante assumiu o comando, colocou novamente o Um aspecto da sua notável inteligência fez com que ele fosse pre-
avião no chão, acelerou, correu pela pista e decolou. Em seguida, explicou que ainda terido pelo Prof. Kollert para ser seu assistente em Geofísica, que pre-
não tivera sido atingida a velocidade de decolagem. Alguns minutos depois, com o feriu o Davino. Contam que o Prof. Kollert intuindo a inteligência e o
avião ainda em ascensão, mostrou restos de um avião, lá em baixo, no chão, e infor- possível interesse por múltiplos assuntos de Umberto tenha preferido
mou que ele caíra há alguns meses por tentar decolar antes do tempo. menos inteligência, porém maior constância e dedicação ao ramo, o
Ao final da tarde chegamos a São Paulo e fomos para casa, ansiosos para retornar que Davino cumpriu. Felizmente, para Umberto e para a Geocronolo-
ao curso. Já havíamos perdido duas semanas de aula. gia, o episódio serviu para que ele abraçasse esse campo, que o tornou
Na manhã seguinte, quando chegamos à Glette, nova surpresa: havia sido contra- um dos melhores cientistas internacionais no assunto.
tado um professor de Geologia do Petróleo, que estava dando um curso em regime Embora tenhamos sido muito bons colegas, não privei muito de Um-
especial, com aulas o dia inteiro, os cinco dias da semana. Todas as aulas dos demais berto na Faculdade, nos tempos da Glette, pois ele tinha sua turma muito
cursos haviam sido suspensas. A prova final ocorreria alguns dias após o final das aulas. unida, com o Celso, Vicente e Adolfo. Por outro lado, eu tinha como com-
Assistimos somente às últimas aulas. O professor era um texano que se espressava panheiro constante o Igor, motivo pelo qual nos chamavam de Krumbein
em “texanês”, com a boca torta para o lado, como se estivesse fumando um charuto. & Pettijohn (se você não sabe quem são, você não é geólogo!).
Sentimos saudades do inglês falado pelos professores Henno Martin (alemão, de Es- Um episódio talvez diferente do que meus demais colegas men-
tratigrafia e Geologia Estrutural) e Kollert (sueco, de Geofísica); que injustiça termos cionarão, foi uma viagem que fizemos no primeiro ano de formados
reclamado do inglês falado por eles. (ou seja, 1961!) a um Congresso de Geologia em Santa Catarina.
Entendemos pouco daquelas poucas aulas que assistimos. Os colegas não nos Tínhamos pouco dinheiro, mas muita vontade de ir ao primeiro con-
ajudaram informando-nos quais pontos seriam interessantes de estudar, pois eles gresso de nossas vidas. Consegui carona na viagem que o Prof. Viktor
também não tinham entendido o professor. Assim, para nos preparar para a prova, Leinz nos autorizou a fazer com o jipe da Geologia, aquele velho tipo
enfiamo-nos na biblioteca, lendo o que havia de Geologia do Petróleo, sem fazer de jipe da 2ª Guerra, só com cobertura de lona e o resto tudo aberto.
uma seleção prévia de assuntos. Umberto foi o principal piloto e o chefe da excursão. Não me lembro
Chegou a prova. Nós dois obtivemos as duas melhores notas. Fiquei me pergun- exatamente quem foi junto, mas foram dois colegas mais (Tenho im-
tando: será que o curso foi feito para motivar os alunos a estudar sozinhos a matéria? pressão que foram Antônio Carlos Rocha Campos e Castanho, mas

656 657
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano QUINTA PARTE: DEPOIMENTOS DE COLEGAS DE TURMA – CAPÍTULO 6

O colega Umberto
Fernão Paes de Barros
(fernao@engecorps.com.br
fernaopaesdebarros@gmail.com).

Meu maior contato com o homenageado


não foi com o Cordani e sim, com o Umberto
que é como eu me refiro a ele desde os distan-
tes anos da década de 1950, quando estudan-
tes da Glette.
Claro que Umberto era uma figura de des-
taque no grupo da primeira turma de Geo-
logia, sempre com as melhores notas e não
só por esse aspecto, mas também porque era
multi-ativo, bastante sociável e participava
dos esportes, basicamente do futebol e xa-
drez, e também frequentava os bailinhos que
organizávamos na Glette (eu era um dos orga-
Umberto Cordani e nizadores), com música de Delapiasa ao sax,
Lisbeth, e Milton Assis não estou certo disso). Comemos bastante poeira, pois naquela época violão de José Julio e bateria de Castanho.
Kanji e Lili, em Monte
Verde, São Paulo, para
as estradas não estavam todas asfaltadas. O que hoje parece perto, Cobiçava, como todos nós, as meninas da
comemorar os 50 anos naquela época era muito longe. História Natural, Geografia e Psicologia, mas,
de formatura, ocasião No meio do caminho, em Santa Catarina, o jipe teve uma pane bem como era diferenciado, encontrou sua com-
aproveitada para uma
reunião do “Grupo
em Rio do Sul, e tivemos que encontrar uma oficina mecânica para panheira de toda a vida na Maria Antônia.
Figueira da Glette”. consertá-lo, bem como encontrar um lugar para pernoitar. Encontra- Umberto sempre foi bem-apessoado, tinha e
Fernão Paes de Barros.
mos uma pensão de uma senhora alemã, que nos alojou num ambiente ainda tem uma postura elegante, vaidoso por
teutônico. Foi a melhor noite da minha vida, com colchão, edredom e natureza. Participava ativamente de todas as
travesseiro de plumas de ganso. Inesquecível. A paisagem da região e a brincadeiras, inclusive as mais pesadas, que implicavam em pendurar nos ônibus
população de lá eram e creio que continuam maravilhosas. as vestimentas dos colegas Davino, Scarpelli e outros que eram ou pretendiam ser
Embora eu esteja convicto que nutrimos uma grande simpatia mú- os mais comportados nos ônibus de excursão.
tua, não tivemos oportunidade de privar no meio profissional, pois Sim, o grupo que ele compunha com Celso, Vicente e Adolfo orbitava em tor-
escolhemos linhas e especialidades diferentes. Umberto é um cientista, no dele e tinha o apelido de Máfia, talvez pelo fato de ser um grupo muito unido
um acadêmico, chegando a ser Professor Titular e Chefe do Instituto e que se escudava e se apoiava no brilho de sua estrela maior.
de Geociências. Eu me dediquei à Geologia de Engenharia e à Geo- Eram clássicas as disputas de xadrez em que ele enfrentava o José Julio, páreo
tecnia, tendo atuado concomitantemente na Escola Politécnica (onde duro para ambos. Meu pai, diretor do Clube de Xadrez São Paulo a essa época,
alcancei uma Livre Docência) e no exercício profissional. Ambas espe- via esporadicamente Umberto por lá, mas ao que eu saiba, nunca jogaram entre
cialidades importantes, mas de diferentes naturezas. si, dada a grande disparidade de idades. Meu pai, muitos anos antes, chegou a
Lamento que alguns colegas da nossa “1ª Turma da Geologia” não ser campeão brasileiro pela equipe paulista. Eu também gostava de xadrez, mas
estejam mais conosco. Quando comemoramos os 50 anos de forma- era de nível inferior, da segunda turma no xadrez e nunca cheguei a enfrentá-lo,
dos, em Monte Verde, dos 40 que ingressaram (se formaram 24), 6 nem a ele nem ao meu pai.
haviam morrido. 5 não foram, e éramos 13. Faz falta nos reunirmos Lembro, não sei bem porque, que Umberto morava com a família, quando estu-
mais frequentemente. dante, num sobrado da Rua Clélia, na Lapa.
Parabenizo Bartorelli, Teixeira e Brito Neves pela iniciativa e or- Ao fim do curso, já sabíamos que Umberto e seus mais próximos seriam con-
ganização deste livro, e cumprimento com carinho Umberto pelo seu vidados a ficar na Geologia, o que era considerado uma grande deferência e uma
êxito e lhe desejo muita saúde e longa vida. escolha pessoal de Viktor Leinz.

658 659
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS

Umberto Cordani na
Academia Brasileira de Ciências
Diogenes de Almeida Campos
(diogenes.campos@cprm.gov.br),
Museu de Ciências da Terra,
Serviço Geológico do Brasil – CPRM,
Membro titular da Academia Brasileira de Ciências.

1. Introdução

A Academia Brasileira de Ciências (ABC), fundada em 1916, é uma entidade


independente, não governamental e sem fins lucrativos, que atua como socieda-
de científica honorífica e como consultora do governo, quando solicitada, para
estudos técnico-científicos e de política científica. A ABC tem recebido contribui-
ções de seus membros individuais e corporativos, e apoio financeiro de agências
governamentais.
Com um quadro de cerca de 600 cientistas, a Academia publica os Anais da ABC,
organiza simpósios e congressos, presta consultoria, desenvolve projetos especiais,
mantém intercâmbio com academias científicas estrangeiras, bem como com outras
organizações internacionais de caráter abrangente.1
A atuação do professor Umberto Giuseppe Cordani nessa importante instituição
para a ciência brasileira foi possível graças ao exame do acervo bibliográfico e docu-
mental da mesma, que apresentamos a seguir.

O extinto Palacete Street,


localizado na Alameda Do meu lado, tão logo terminadas as provas e tendo sido aprovado,
Glette, nº 463, primeira
sede da antiga Faculdade de me mandei no dia 31 de dezembro de 1960 para Ponta Porã cumprir O paleontólogo
Filosofia, Ciências e Letras meu estágio no Exército junto ao 17º Regimento de Cavalaria, em Ponta Diogenes de Almeida
(FFCL) da Universidade de Campos, diretor do
Porã. No retorno, em abril de 61, verifiquei que quase todos os cole- Museu de Ciências
São Paulo (USP), onde eram
oferecidos os cursos de gas já estavam encaixados e empregados, e a mim sobrava um convite da Terra codesco-
História Natural, Química e da Petrobras. Fui designado para Salvador, para trabalhar nos poços de bridor (junto com
Geologia. Na atualidade, o Alexander Kellner,
desenvolvimento do Recôncavo Baiano, campos de Taquipe e Cassa- atual diretor do
nome da Alameda é Glete,
mas optamos por manter rongongo, sob as ordens diretas do grande geólogo Acyr Ávila da Luz. Museu Nacional, da
a grafia da época, que Após 6 meses, resolvi retornar a São Paulo e enveredei pelo ca- Universidade Federal
homenageava o empresário do Rio de Janeiro)
minho das barragens, tendo sido, junto com Milton Assis Kanji os do Tupandactylus
Frederico Glette, proprie-
tário do loteamento que primeiros geólogos do Brasil a trilhar os caminhos da Geologia Apli- imperator, pterossau-
ro da Formação San-
deu origem ao bairro dos cada, que eu, anos mais tarde, batizei e hoje é reconhecida como tana, Crato, Ceará.
Campos Elíseos, em 1878. Geologia de Engenharia. Fotografia de Carlos
Este caminho profissional que tomei, mais próximo da Engenha- Cornejo, reproduzi-
da da obra Coleções
ria Civil, não mais se cruzava com as atividades científicas de Um- Minerais do Brasil,
berto, a quem, daí para frente, cruzei esporadicamente pelo resto da de Carlos Cornejo
vida, assim como nos encontros anuais do Grupo Figueira da Glette, e Andrea Bartorelli,
Solaris, 2020.
dos quais tenho as lembranças agradáveis de duas pessoas que reci-
procamente sempre se gostaram e que ainda continuam produzindo.
O que acontece até os dias de hoje.

660 661
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS

2. Ingresso na Academia

Associado
Embora quatro candidatos disputassem as duas vagas para membro
associado da seção de Ciências da Terra da Academia, devido aos cri-
térios estatutários, somente Umberto G. Cordani foi eleito como novo
membro associado, na Assembleia Geral Ordinária de 23 de dezembro
Conferência
de 19692, tomando posse em 20 de janeiro de 1970. sobre “Proble-
Titular mas de la Tierra
Por iniciativa do professor Rubens da Silva Santos (1918-1996), Sólida”, em
Buenos Aires,
membro titular da Academia Brasileira de Ciências, foi proposto para Argentina, em
membro titular em outubro de 1978 o nome do professor Cordani, do 1969, vendo-se
Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo.3 Gilberto Amaral,
ao fundo.
Disputando vaga única na seção de Ciências da Terra, referente ao
ano de 1979, foi promovido a membro titular na Assembleia Geral Or-
Diogenes de Almeida Cam- dinária de 25 de fevereiro de 1980, sob a presidência de Aristides A.
pos, da Academia Brasileira
de Ciências, e a astrônoma Pacheco Leão (1914-1993), com 63 votos sobre os 17 do seu colega
Elisabeth Zuccolotto, do concorrente à mesma vaga.4 A posse foi realizada na Sessão Regular de 8 Membro do Conselho Consultivo
Museu Nacional. Fotografia de abril de 1980, na sede da Academia, junto com os demais onze eleitos
de Andrea Bartorelli no Mu- Além da Diretoria, a instituição conta com duas outras instâncias: o Conselho
seu de Ciências da Terra, da na última assembleia geral. A tradicional saudação aos novos membros Fiscal e o Conselho Consultivo. Cordani foi membro do Conselho Consultivo desde
CPRM, na Avenida Pasteur, foi proferida pelo acadêmico José Cândido M. Carvalho (1914-1994).5 2017, com mandato até 2022.12
Rio de Janeiro, em 2019.

3. Diretoria 4. Comissão Editorial

Como membro da Diretoria da ABC, Cordani procurou estimular A Academia publica de maneira ininterrupta os Anais da Academia Brasileira de
atividades das Ciências da Terra, em particular, e das ciências, como Ciências desde 1929. Os Anais são o órgão oficial da Academia Brasileira de Ciências
um todo, tanto em São Paulo, como em outras unidades da federação. e tem por finalidade a publicação dos resultados de pesquisas realizadas em qualquer
Tesoureiro ramo de Ciência, por seus membros ou por pessoas estranhas à mesma.
Tesoureiro da ABC de 1993 a 1997.6 No biênio 1995-1997, pôde Os artigos submetidos ao exame da Comissão Editorial devem referir-se a pesqui-
dar apoio à Diretoria, por sua condição de Diretor do Instituto de Estu- sas originais cujos resultados não hajam sido previamente publicados e nem venham
dos Avançados da USP, tendo organizado numerosas sessões regulares na a ser divulgados, simultaneamente, noutras publicações.
cidade de São Paulo e em Campinas, com a participação da Unicamp.7 A Diretoria da Academia indicou o professor Cordani, em novembro de 1985,
Primeiro Secretário para membro da Comissão Editorial dos Anais13, tendo ele colaborado de maneira
Eleito, em abril de 1997, 1º Secretário da Diretoria da ABC, relevante14 com essa Comissão Editorial desde 1985 a 1994.
tomou posse em maio, para o biênio 1997-1999.8 Nesse mandato, Com o objetivo de ampliar a divulgação de artigos científicos na área das Geoci-
procurou estimular atividades ligadas às Ciências da Terra, como ências, Cordani sempre procurou estimular a publicação de trabalhos com revisão dos
acompanhar, por exemplo, o andamento da publicação do livro, com pares, como é caso dos Anais, como pode ser visto pelo grande número de artigos e/
o apoio do acadêmico José G. Tundisi (1938), sobre águas doces no ou comunicações credenciados por ele em diferentes volumes dos Anais.15, 16, 17, 18, 19
Brasil, em coedição da Academia com o Instituto de Estudos Avan- Ele mesmo publica frequentemente nessa importante revista científica brasileira.
çados da USP.9 Apoiou, ainda, que a descentralização das atividade
da Academia deveria ser aprofundada, cogitando-se de uma reunião
em Curitiba, que já contaria com o interesse de acadêmicos locais.10 5. Seção de Ciências da Terra
Representante do Escritório Regional em São Paulo
Cordani ocupou essa posição em 2002. Era um posto equiva- Foi designado coordenador da seção de Ciências da Terra, em agosto de 1982,
lente ao de vice-presidente regional da nova estrutura administra- pelo presidente da Academia, Maurício M. Peixoto (1921-2019).20 Logo, como pri-
tiva da Academia.11 meira tarefa, foi convidado para participar de uma reunião dos coordenadores e

662 663
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS

Umberto Cordani com


Henno Martin e Aroldo secretários das seções da Academia, em sua sede, no dia 20 de agosto
Asmus em conferência do
Simpósio Internacional
daquele ano. Essa coordenação se fez efetiva pela atuação do acadêmi-
Ocean Basins and Mar- co ao longo da permanência que as diretorias consecutivas da Acade-
gins, no Hotel Hilton, mia deram a essas seções.
São Paulo, em 1975.
Sempre houve uma preocupação muito grande por parte do professor
Cordani para manter a representatividade dos geocientistas no quadro de Umberto Cordani na
membros da Academia, especialmente dos titulares. Para ilustrar essa im- Ciências da Terra, na Academia. Nesta ocasião, peço a atenção e os posse como membro
portante questão transcrevemos correspondência dirigida ao presidente da bons ofícios da V. Sa. no sentido de transmitir esta mensagem aos mem- associado da Academia
Brasileira de Ciências,
Academia Brasileira de Ciências em que são expostas essas necessidades: bros da Comissão de Seleção da Academia, para que estes avaliem a junto a Cândido Simões
Ao receber a cédula de votação para eleição dos Membros da Academia situação existente, e possam se convencer da necessidade de garantir Ferreira e Roberto
Brasileira de Ciências, constatei com certa surpresa que a Comissão de uma situação de prioridade para as Ciências da Terra, na distribuição Porto (à direita), da
Petrobras, em 1970.
Seleção deixou de incluir vagas para a Seção de Ciências da Terra, apesar futura das vagas de Membro Titular.21
de terem sido apresentados alguns candidatos. Desconheço os critérios uti- Convém assinalar a atuação do professor Cordani, tanto em defesa
lizados pela Comissão, nem pretendo contestar-lhe tal decisão. da participação ampla e interdisciplinar de cientistas da Terra na Aca-
Entretanto, desejo alertar a V. Sa. que a Seção de Ciências da demia, como na promoção e divulgação das geociências.
Terra desta Academia tem sofrido, nos últimos anos, uma gradativa Registra-se, por exemplo, que Cordani foi convidado, junta-
involução, que se torna muito perigosa, pela perda de representativi- mente com outros acadêmicos, para participar na sede da Acade-
dade no plano nacional. Com efeito, as Ciências da Terra estão em mia, no Rio de Janeiro, em 16 de julho de 1991, de um encontro
expansão continuada, com atividades crescentes, e com especialida- com o ministro Luiz Felipe Macedo Soares (1941) para discutir
des de grande relevância científica, como a geofísica, ou a meteoro- sobre a organização da Eco-92, visando à realização de eventos
logia, que não contam com acadêmicos que possam representá-las científicos paralelos.22
adequadamente. Em agosto de 1999, Cordani, juntamente com o também acadê-
Desde 1983 o Setor não recebeu qualquer novo Membro Titular, mico Wilson Teixeira (1950), sondaram a Diretoria da Academia,
apesar dos excelentes candidatos que foram apresentados em várias pleiteando uma contribuição de vinte mil reais “para fazer frente
ocasiões. Ao mesmo tempo, oito acadêmicos do setor vieram a falecer a parte dos custos” de elaboração, edição e publicação de um livro
no período, acarretando uma diminuição da ordem de 25%. didático, denominado Planeta Terra, voltado para o ensino nas car-
Por diversas vezes, tive a oportunidade de expor pessoalmente a V. reiras de Geologia, Geofísica, Geografia, Biologia e Engenharias
Sa. minha preocupação com a perda de representatividade do Setor de de Minas e Civil.23

664 665
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS

Sala de reuniões da Direto-


ria da Academia Brasi- 6. Comissão de Seleção
leira de Ciências, ABC, O astrônomo Manuel Peimbert e o enge-
presidida por Israel José nheiro e geólogo Cinna Lomnitz Arons-
Vargas, com a presença de Em reunião da Diretoria da ABC, em julho de 1989, foi proposto
frau, da Universidad Nacional Autónoma
Joel Mendes Rennó, Pre- o nome de Cordani para substituir o acadêmico Othon H. Leonardos de México, UNAM, Umberto Cordani e
sidente da Petrobras (com (1941) na Comissão de Seleção.24 Ele ocupou esse posto até 1995. Diogenes de Almeida Campos, durante a
a mão no rosto), Aristides 6ª Conferência Geral da TWAS, Science for
Pacheco Leão e Humberto Sustainable Development in Latin America
Cordani (ao fundo, no 7. Participação em programas and the Caribbean, realizada no Rio de
centro da foto), em 1993. Janeiro entre 6 e 11 de setembro de 1997.
A Academia desde sua fundação, em 1916, tem buscado contribuir
Almoço na Academia Brasilei-
para o estudo de temas de primeira importância para a sociedade, vi- ra de Ciências por ocasião da
sando dar embasamento e subsídios científicos para a formulação de presença de pesquisadores da
políticas públicas.25 Nesse sentido é que diversos programas e projetos UNAM, México, em 1997.
foram desenvolvidos pela ABC e, no caso das ciências da Terra, muitos
foram liderados pelo professor Cordani. Evolução geológica do continente sul-americano
Simpósio sobre o Manto Superior A Academia vem patrocinando, desde a realização do primeiro workshop, em
Mesmo antes de ingressar na ABC, Cordani participou, com a junho de 1984, a preparação da obra Evolução Geológica do Continente Sul-ameri-
apresentação de um trabalho26, no qual resumiu as atividades de cano, principalmente, através do custeio das reuniões anuais de seu corpo de coor-
pesquisa do Centro de Pesquisas Geocronológicas da Faculdade denadores regionais.28
de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, no Esse apoio solicitado à Academia, como bem salientou o professor Cordani em
Simpósio sobre o Manto Superior, organizado pela ABC, realizado seu pleito29, coadunava-se perfeitamente com os objetivos e a vocação da Academia,
no Rio de Janeiro, de 23 a 27 de outubro de 1967, como contri- ao mesmo tempo em que não se caracterizava como solicitações normais de pesquisa,
buição ao Programa Brasileiro no Projeto Internacional do Manto passíveis de serem atendidas pelos órgãos de apoio e financiamento existentes.
Superior. Esse projeto foi proposto, em 1960, no âmbito da União Foi aprovado pela Diretoria da ABC apoio logístico e passagens internacio-
Internacional de Geodésia e Geofísica (IUGG), como prossegui- nais para a segunda reunião dos coordenadores da obra.30 Apoio a passagens,
mento ao Ano Geofísico Internacional.27 para participar do II Workshop sobre Evolução Geológica do Continente Sul

666 667
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS

Umberto Cordani
na posse da nova
Diretoria da Aca-
demia Brasileira de
Ciências, em 1997.

Umberto Cordani na
posse da nova Diretoria -Americano, em 1985, dirigido aos professores Francisco Hervé
da Academia Brasileira
de Ciências, em 1997, (Santiago, Chile), Carlos Cingolani (La Plata, Argentina) e Jorge J.
com os acadêmicos (da Restrepo (Medellín, Colômbia).31
esquerda para a direita): Foi aprovado o pedido de auxílio do acadêmico Cordani para pro-
Sérgio Henrique Ferreira, Posse como
Affonso Guidão Gomes, mover, na sede da Academia Brasileira de Ciências, o III Workshop Primeiro Secretá-
Ricardo Gattass, Carlos sobre a Evolução Geológica do Continante Sul-Americano.32 Esse rio, com Carlos
Eduardo Rocha Miranda e apoio consistiu ainda, como explicitado por solicitação à ABC, na Eduardo Rocha
Mauricio Matos Peixoto, Miranda, Luis
ex-presidente da ABC. concessão de uma passagem aérea a Cordani, para comparecer à Bevilacqua e
reunião específica com os coautores regionais do Chile, Argentina, Eduardo Krieger,
Bolívia e Peru, por ocasião do Congresso Geológico Argentino, em segurando pa-
péis, em 1997.
Tucumán, previsto para setembro de 1987.33, 34

Prêmio Nacional de Ciência e Tecnologia


A Academia indicou os nomes dos acadêmicos Antônio Carlos Ro-
cha Campos (1937-2019) e Cordani para fazerem parte, na área das
Ciências da Terra, da Comissão de Especialistas do Prêmio Nacional
de Ciência e Tecnologia de 1986.35 Japan Society for the Promotion of Science
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Programa entre a Japan Society for the Promotion of Science e a Academia
Indicação do professor Cordani para fazer parte do grupo de traba- para permuta anual e recíproca de três cientistas de cada país. A partir de 1988, a
lho, instalado na Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Diretoria da ABC decidiu que a escolha dos três candidatos brasileiros fosse feita
(IBGE), em julho de 1986.36 por uma comissão que os avaliasse, a partir da análise dos programas de pesquisa
Programa de Apoio ao e dos currículos apresentados. Dentre os nomes lembrados para essa comissão
Desenvolvimento Científico e Tecnológico estava o de Cordani38. De fato, ele foi convidado para fazer parte da Comissão
O presidente da Academia indicou Cordani para o Comitê Asses- de Seleção dos candidatos a esse convênio entre as duas instituições. A Comissão
sor do PADCT, Subprograma de Geociências e Tecnologia Mineral, na deveria reunir-se em abril de 1988 e fornecer à Diretoria da Academia, elementos
área das Geociências, para representação no grupamento de Pesquisa para a indicação dos nomes dos participantes brasileiros que deveriam viajar ao
Básica da região Sudeste, em 1987.37 Japão naquele ano39.

668 669
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS

Umberto Cor-
dani com Marco
Maciel, Vice
-Presidente do Umberto Corda-
Brasil, em visita à ni como mem-
exposição mon- bro da Academia
tada pelo Museu de Ciências de
de Ciências da Córdoba, Argen-
Terra durante o tina, com Victor
31º Congresso Ramos, Nina e
Internacional o Presidente da
de Geologia, ANC, em 2006.
realizado no Rio
de Janeiro, entre
6 e 17 de agosto
de 2000.

te o ILP uma Comissão Brasileira de Geodinâmica, instituída pelo CNPq na década


de 1970, mas que foi virtualmente desativada a partir de 1986.
Comissão Brasileira do Programa Internacional da Litosfera Cordani já tinha feito parte, de 1981-1985, do Bureau da Inter-Union Com-
O Geodynamics Project, coordenado pela Inter-Union Commission on Geody- mission on the Lithosphere, por indicação da IUGS44. Esse mesmo Bureau do
namics, do International Council of Scientific Unions (ICSU), foi criado em 1970 ILP, durante sua reunião anual, ocorrida em agosto de 1991, em Viena, solicitou
como um programa internacional de pesquisa para o estudo da litosfera, dos mo- para alguns pesquisadores brasileiros a revitalização da comissão nacional para o
vimentos e deformações antigos e atuais da crosta, bem como para investigar pro- Programa. Nesse sentido, em dezembro de 1991, no Instituto de Geociências da
priedades relevantes do interior da Terra40. A Comissão Brasileira de Geodinâmica Universidade de São Paulo foi realizada uma reunião de diversos pesquisadores
foi constituída, em 1971, pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico interessados no ILP, em que se resolveu solicitar a formação de uma Comissão
e Tecnológico (CNPq) para agir como a comissão nacional de coordenação e pro- Brasileira para o Programa Internacional da Litosfera, sob os auspícios da Acade-
moção de pesquisa em apoio ao Geodynamics Project. O acadêmico Fernando F. mia Brasileira de Ciências.
M. de Almeida (1916-2013) foi indicado pelo CNPq, como presidente dessa Co- A sugestão do acadêmico Cordani de instalação da referida comissão na Aca-
missão41, e Cordani como um de seus membros, desde 1971. demia, que poderia ser coordenada pela seção de Ciências da Terra teria os se-
A inspiração para o Simpósio Internacional sobre as Margens Continentais guintes objetivos principais: 1) divulgar o ILP em âmbito nacional; 2) manter os
de Tipo Atlântico, promovido pela ABC, realizado em São Paulo, de 13 a 18 contatos oficiais com a gerência internacional do Programa; 3) manter a infor-
de outubro de 1975, veio da Comissão Brasileira de Geodinâmica durante uma mação e a coordenação sobre as atividades de pesquisa nacionais, e 4) elaborar
reunião realizada no Rio de Janeiro, em 1972, com os presidentes das comissões os relatórios periódicos nacionais.
nacionais dos países situados na placa da América. Cordani colaborou, sob a Cordani informou ainda que a sugestão apresentada à Academia foi feita em
coordenação de Fernando F. M. de Almeida, na Comissão Organizadora desse concordância plena dos membros da já mencionada Comissão Brasileira de Geodi-
Simpósio.42 nâmica: R. A. Fuck e Igor G. Pacca.45
Em janeiro de 1992, José I. Vargas (1928), presidente em exercício da Acade- Seguindo a solicitação de J. I. Vargas, Diogenes A. Campos, em comum acordo
mia Brasileira de Ciências, encarregou ao acadêmico Diogenes A. Campos (1943) com Carlos Eduardo da Rocha Miranda (1934-2018), tomou as devidas providên-
preparar resposta à sugestão feita pelo acadêmico Cordani no sentido de que a cias administrativas para a instalação da Comissão Brasileira do ILP, nos mesmos
Academia pudesse responsabilizar-se pelas atividades da Comissão Brasileira para moldes do que já estava ocorrendo com a Comissão Brasileira do Programa Inter-
o Programa Internacional da Litosfera (International Lithosphere Program, ILP). nacional de Correlação Geológica, inclusive com solicitação de financiamento para
O entendimento do acadêmico Cordani era que seria vocação da Academia coor- a realização de reuniões anuais. A acadêmica Marta S. M. Mantovani (1944) foi
denar os trabalhos inerentes a colegiados e comissões científicas internacionais, convidada a coordenar a referida Comissão.
não governamentais, de âmbito nacional. Isso seria o caso do ILP, um programa
internacional patrocinado pelas duas uniões científicas das Ciências da Terra, a Conselho Deliberativo do CNPq
saber, IUGS e IUGG, de comum acordo com o Conselho Internacional de Uniões Há, pelo menos, duas indicações de seu nome para o Conselho Deliberativo do
Científicas (ICSU)43. E Cordani prosseguiu explicando o histórico da atuação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq. A primeira
ILP no Brasil, uma vez que até o presente, vem respondendo pelo nosso país peran- que se registrou data de maio de 1989, quando a diretoria da Academia Brasileira

670 671
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS

Umberto Cordani
em almoço nas à alteração do uso da terra de floresta e sua interferência no clima global e o
dependências da ambiente local.51
Academia Brasi-
leira de Ciências,
com Carlos Edu- Simpósio Internacional sobre Física e Química do Manto Superior
ardo da Rocha
Miranda e José
A Diretoria da Academia, em sua reunião de 30 de junho de 1993, aceitou o
Paulo Schiffini. copatrocínio do Simpósio Internacional sobre Física e Química do Manto Supe-
À esquerda, a rior, a ocorrer, em São Paulo, em agosto de 1994. Além disso, criou o Comitê
Dra. Johanna
Döbereiner, céle-
Consultivo para o referido evento, constituído, além do próprio Cordani, como
bre pesquisadora presidente, pelos acadêmicos Igor I. G. Pacca (1930), Alcides N. Sial (1942),
da Embrapa, e Reinhardt A. Fuck (1940) e Darcy P. Svisero (1940), e pelos pesquisadores Marta
o pesquisador
Walter Baptist Mantovani e Jean-Marie Flexor (1939?-2019), cuja reunião deveria ocorrer em
Mors. novembro próximo, por ocasião do 3º Congresso Brasileiro de Geofísica.52

Projeto Memória dos Acadêmicos Falecidos


Cumprimentando a Academia pela iniciativa de criação do Projeto Memória dos
Acadêmicos Falecidos, Cordani informa que teria prazer em produzir texto sobre o
de Ciências fez a indicação de seu nome em uma lista tríplice para ser submetida ao acadêmico Viktor Leinz (1904-1983).53
Secretário Especial de Ciência e Tecnologia.46
A outra indicação, em 15 de maio de 1997, também pela Academia Brasileira de Grupo de Trabalho sobre Recursos Minerais
Ciências, apresenta-o como um dos nomes da lista tríplice dirigida ao Ministro da Mais recentemente, em função da compreensão de que a exploração dos
Ciência e Tecnologia, José Israel Vargas, para representante da comunidade científica recursos minerais requer a utilização maciça do conhecimento que se tem da
no Conselho Deliberativo (CD) do CNPq, de acordo com o disposto no § 2º do Art. Terra e da gênese dos depósitos minerais, Cordani participou de um Grupo de
10 do Estatuto do CNPq.47 Estudos sobre Recursos Minerais, instituído na Academia, em 2011, coordena-
do por ele mesmo, e pelos acadêmicos Adolpho José Melfi (1937), Aroldo Misi
Comissão Brasileira para o (1940) e Diogenes A. Campos.
Programa Internacional de Geosfera-Biosfera Os resultados das ações desse Grupo de Trabalho que organizou, em agosto de
Atendendo à solicitação feita por Thomas Rosswall (1941), diretor executivo 2013 um simpósio sobre o tema, podem ser encontrados no livro Recursos minerais
do International Geosphere-Biosphere Programme – a Study of Global Changes no Brasil: problemas e desafios54, publicado em 2016 pela Academia, sob os auspícios
(IGBP), e entendendo o crescente interesse que o referido programa apresenta da Vale, um membro institucional da ABC.
para o conhecimento do sistema terrestre como um todo, a Academia criou, no
âmbito de suas atividades, a Comissão Brasileira para o Programa Internacional
da Geosfera-Biosfera, com o objetivo de representar, coordenar e divulgar as ati- 8. Participação na IUGS, no ICSU e na Unesco
vidades do mesmo em todo o território nacional. Essa comissão seria constituída
por um comitê executivo, formado por cientistas, a título pessoal, por represen- Cordani é reconhecido por sua participação ativa e ampla na comunidade cien-
tantes de instituições brasileiras e por representantes brasileiros de organizações tífica internacional e especialmente no âmbito da International Union of Geological
internacionais.48 Sciences (IUGS).
A ABC convidou o professor Cordani na qualidade de cientista, a título pessoal,
para fazer parte do comitê executivo da referida Comissão Brasileira, em janeiro de Presidente da União Internacional de Ciências Geológicas
1990.49 No decorrer das atividades da referida Comissão, ele organizou, em 1995, a Eleito, em agosto de 1984, Vice-Presidente da União Internacional de Ciências
Conferência Regional sobre Mudanças Globais.50 Geológicas (IUGS). Exerceu também como membro do IUGS Advisory Board for
Convém mencionar que, já em março de 1989, o professor Cordani, na qua- Research Development. Foi eleito, em maio de 1988, Presidente da União Inter-
lidade de Diretor do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo con- nacional de Ciências Geológicas (IUGS) por meio de uma cédula postal especial,
vidava a ABC para comparecer ao início de uma programação de eventos com de acordo com os estatutos e regulamentos da IUGS, de comum acordo com o
a conferência A Amazônia e o clima no globo terrestre, a ser proferida pelo Dr. Conselho da IUGS e por recomendação do Comitê de Indicação da IUGS. Essa
Luiz Carlos Molion, do Laboratório de Pesquisas Atmosféricas e Oceânicas do medida excepcional foi necessária pelas circunstâncias incomuns, ocasionadas pela
INPE, membro do Comitê de Coordenação nº 3 do IGBP – Aspectos biosféricos morte do Dr. William W. Hutchison (1935-1987) no meio de seu mandato como
do ciclo hidrológico, lembrando que o conferencista abordaria tópicos ligados Presidente.55 Cordani exerceu essa presidência até 1992.

672 673
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS

Congresso Geológico Internacional


A realização do 31st International Geological Congress, no Rio de Janeiro, no
ano 2000, presidido por Cordani, foi um importante evento científico, que permitiu
colocar as geociências e os profissionais brasileiros, em particular, e sul-americanos,
no geral, em evidência internacional.
Ao dar apoio à concretização do livro Tectonic Evolution of South America56,
trazido à luz durante o referido Congresso e que contém capítulos elaborados
pelos mais competentes e ilustres geocientistas nacionais, a Academia estava ani-
mada da certeza de que seria produzido, como foi, um trabalho atualizado e de
alta qualidade científica57.
Cúpula da
Academia
Programa Internacional de Correlação Geológica de Ciências
Indicado pelo diretor-geral da Unesco e pelo presidente da IUGS como membro da França,
Paris, 2010.
do Comitê Científico do Programa Internacional de Correlação Geológica (IGCP/ Fotografia de
PICG), de 1980 a 1985.58 B. Eymann.
Na segunda metade de 1972, o Conselho da União Internacional de Ciências
Geológicas (IUGS) e a Conferência Geral da Unesco, em sua décima sétima sessão,
decidiram pôr em execução um Programa Internacional de Correlação Geológica
(PICG/IGCP) que seria coordenado em comum pelas duas organizações. O diretor-
geral da Unesco e o Presidente da IUGS designaram os quinze nomes que deveriam Por outro lado, na qualidade de pesquisador, Cordani apresentou-se, em 1975,
compor o Conselho do referido programa, cuja primeira reunião seria realizada na como coordenador do projeto PICG 120 Evolução magmática dos Andes.65 Um exa-
sede da Unesco, em Paris, de 22 a 25 de maio de 1973. Dentre os nomes do Conse- me nos catálogos do PICG, entre 1973 e 1985, permite encontrar 18 citações de
lho, o Brasil estava representado pelo professor João José Bigarella (1923-2016).59 artigos do professor Cordani, distribuídas por quatro projetos, que foram fundamen-
O diretor-geral da Unesco convidou os estados membros a constituírem comis- tais para a formação de pesquisadores em petrologia, magmatismo, geocronologia,
sões nacionais para o PICG ou, pelo menos, indicar o endereço de um correspon- geoquímica e estratigrafia do Pré-Cambriano. Os projetos foram, além do já citado
dente que poderia se ocupar do Programa.60 Em seu retorno ao Brasil, João José acima: Paleozoico Inferior da América do Sul (Projeto 44), Geoquímica do Arqueano
Bigarella Bigarella ficou encarregado de promover ações para a constituição da (Projeto 92) e Correlações do Pré-Cambriano Superior/Correlação de sequências pré-
Comissão Brasileira do PICG.61 cambrianas em zonas estáveis.66, 67, 68
Convém mencionar que o projeto Paleozoico Superior da América do Sul, coor-
denado pelo professor A. C. Rocha Campos já aprovado como um projeto de cor- Comissão de Estratigrafia
relação pelo Grupo de Coordenação do IUGS, foi incluído como um dos primeiros Eleito, em fins de 1973, membro conselheiro (advisor) da Subcomissão de Geo-
projetos (nº 42) do novo Programa (PICG).62 cronologia da Comissão de Estratigrafia da União Internacional de Ciências Geoló-
Em 1974, foi criada no âmbito do Ministério de Minas e Energia (MME) a Co- gicas (IUGS). Exerceu até fins de 1974.69
missão Brasileira do Programa Internacional de Correlação Geológica (PICG) e, em
1975, D. A. Campos foi indicado como representante do Ministério de Minas e International Decade on Natural Disasters Reduction
Energia e presidente da referida Comissão.63 O professor A. C. Rocha Campos fazia A partir de 1989, atuou como membro do United Nations Scientific and Techni-
parte dessa Comissão na qualidade de representante da Universidade de São Paulo. cal Committee, em seu projeto International Decade on Natural Disasters Reduction
A coordenação do Programa se fazia em dois níveis, para atender tanto os as- (IDNDR), e como membro do Special Committee do ICSU para o projeto IDNDR.70
pectos nacionais como a realização dos projetos de pesquisa, procurando manter a
qualidade científica (Comitê Científico) e os interesses políticos dos estados-mem- Conselho Internacional de Ciência
bros da Unesco (Conselho). No período entre 1980 e 1986, graças ao apoio Minis- Cordani foi eleito, para o período de 1990-1993, membro do Executive Board do
tério de Relações Exteriores e da Embaixada do Brasil na Unesco, U. G. Cordani e Conselho Internacional de Uniões Científicas, atual Conselho Internacional de Ciên-
D. A. Campos participaram, das reuniões do Comitê Científico e/ou do Conselho, cia (ICSU), em Paris. Nessa qualidade, participou das Assembleias Gerais do ICSU.71
o que lhes permitiu defender de perto o desenvolvimento e a continuidade dos Em 1993, o CNPq delegou à Academia a representação brasileira no ICSU. Em
assim chamados “projetos sul-americanos”. De 1988 até 1992, Cordani, na quali- agosto do mesmo ano, a Academia submeteu à Secretaria do então Conselho Interna-
dade de presidente da IUGS continuou a participar, como membro ex-officio, das cional de Uniões Científicas (ICSU), o nome do acadêmico Umberto Cordani como
reuniões do Conselho do IGCP64. representante brasileiro (National Scientific Member) para o Comitê Geral do ICSU.

674 675
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS

Agradecimentos

Registramos o inestimável apoio dado pelos funcionários da ABC para o exame


do acervo bibliográfico e documental do membro titular Umberto G. Cordani, a
saber: Adriana Bouzón Farias, Daniel Lopes Lima Sant’Anna, Deborah Santos Lima
Sant’Anna, Elisa Oswaldo-Cruz Marinho, Fernando Veríssimo, Gabriella Mello, Isa-
bel Beatriz Vidal, Maria Lúcia Paixão Maioli, Sonia Regina Cardozo Jacklen e, ainda,
Layza e Natália, com a devida vênia do acadêmico José Murilo de Carvalho que
franqueou os arquivos para a pesquisa.
Agradecimentos são devidos também à toda a equipe do Museu de Ciências da
Terra, Serviço Geológico do Brasil – CPRM, particularmente, pelo apoio na prepara-
ção do texto, ao estagiário de Design Drean, Moraes de Moura Corrêa, à estagiária
de Comunicação Social Larissa Marques Gomes Brandão de Oliveira e à auxiliar de
serviços administrativos, a jovem aprendiz Jenifer Pereira Xavier.

Referências derações petrológicas. An. Acad. Bras. Ci., Rio de Janeiro,


49(1): 157-169.
1. Campos D.A. & Góes Filho P. 2002. Origem, ati- 18. Landim P.M.B. et al., 1977. Aplicação do D2 de
vidades e perspectivas [da] Academia Brasileira de Ciên- Mahalanobis na distinção de ambientes de sedimentação.
cias. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências. An. Acad. Bras. Ci., Rio de Janeiro, 49 (2): 259-268.
2. Ata da Assembleia Geral Ordinária [da ABC], em 19. Gomes C.B. et al., 1977. Studies of Brazilian me-
23/12/1969. teorites IX. Mineralogy, petrology and chemistry of the
3. Correspondência de Rubens da Silva Santos ao Macau, Rio Grande do Norte, chondrite. An. Acad. Bras.
Presidente da Academia Brasileira de Ciências, datada do Ci., Rio de Janeiro, 49 (4): 575-579.
9. Ordem Nacional do Mérito Científico Rio de Janeiro, 23/10/1978. 20. Correspondência de Mauricio Matos Peixoto,
4. Ata da Assembleia Geral Ordinária [da ABC], em Presidente da Academia Brasileira de Ciências, a Umber-
25/02/1980. to Giuseppe Cordani, datada de 3/8/1982.
Essa condecoração é autorgada pelo Presidente da República a renomados cien- 21. Correspondência de Umberto G. Cordani,
5. Ata da Sessão Regular [da ABC], em 08/04/1980.
tistas que se destacam pela sua excelsa contribuição à Ciência. Umberto Cordani foi 6. Academia Brasileira de Ciências. Banco de Infor- Coordenador do Setor [sic] de Ciências da Terra, ao
admitido na Ordem Nacional do Mérito Científico (ONMC), na classe de Grã-Cruz, mações de Acadêmicos – BIA, 1997. Prof. Mauricio Matos Peixoto, Presidente da Academia
7. [Ata da] Reunião da Diretoria [da ABC], biênio Brasileira de Ciências, datada do Rio de Janeiro, em
em 1994, pelo Decreto de 6 de setembro de 1994. 18/11/1988.
1997/1999, 2/5/1997.
No mesmo ano em que foi condecorado, Cordani foi indicado, em novembro 8. [Ata da] Reunião da Diretoria [da ABC], biênio 22. Ata da Reunião da Diretoria da Academia Bra-
de 1994, pelo Ministro da Ciência e Tecnologia, na qualidade de Chanceler da 1997/1999, 2/5/1997. sileira de Ciências (biênio 1991-1993), em 15/7/1991.
9. [Ata da] Reunião da Diretoria [da ABC], biênio Livro de Atas, p. 60 e 60 verso.
Ordem Nacional do Mérito Científico, para compor a Comissão Técnica do Con- 23. Correspondência de W. Teixeira e U.G. Cordani
1997/1999, 24/9/1997.
selho da ONMC, através da Portaria nº 198, de 16 de novembro de 1994. 10. [Ata da] Reunião da Diretoria [da ABC], biênio ao Presidente da Academia Brasileira de Ciências, datada
1997/1999, 2/5/1997. de São Paulo, 10 de agosto de 1999.
11. www.abc.org.br/a-instituicao/estrutura 24. Ata da Reunião da Diretoria da Academia Brasi-
12. www.abc.org.br/a-instituicao/estrutura leira de Ciências (biênio 1989-1991), em 9/7/1989. Li-
10. Outras academias 13. Ata da Reunião da Diretoria [da ABC] (biênio vro de Atas, p. 43 verso.
1985/1987), em 28 de novembro de 1985. 25. Davidovich L. 2019. Apresentação. In: Vilela,
14. Correspondência do Secretário Geral da Aca- E.F. et al. Biomas e agricultura: oportunidades e desa-
Academia de Ciências da América Latina demia Brasileira de Ciências, Affonso Guidão Gomes, a fios. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências/
Membro da Academia de Ciências da América Latina (ACAL).72 Umberto Giuseppe Cordani, Editor Sectorial de Ciências FAPEMIG, p. 5.
da Terra [dos] Anais da Academia Brasileira de Ciências, 26. Cordani U.G. 1968. Esbôço da geocronologia
Academia de Ciências do Estado de São Paulo pré-cambriana da América do Sul. An. Acad. Bras. Ci.,
datada de Rio, 21 de maio, 1993.
Membro fundador da Academia de Ciências do Estado de São Paulo, foi empos- 15. Penalva F. & Hasui Y. 1970. A intrusão graní- Rio de Janeiro, 40 (supl.): 47-51.
sado em junho de 1976.73 tica dos morros Grande e do Tico-Tico, município de 27. Academia Brasileira de Ciências. 1968. Simpó-
Caieiras, SP. An. Acad. Bras. Ci., Rio de Janeiro, 42 sio sobre o Manto Superior; prefácio. An. Acad. Bras.
Academia Mundial de Ciências (TWAS) Ci., Rio de Janeiro, 40 (supl.): 5-6.
(4): 725-730.
Foi eleito em outubro de 1990, membro da Academia de Ciências do Terceiro 16. Davino A. 1971. Gravimetria como método in- 28. Correspondência de Umberto Cordani a Mauri-
Mundo (Third World Academy of Sciences), atual Academia Mundial de Ciências direto de pesquisa de água subterrânea na bacia sedimen- cio Matos Peixoto, Presidente da Academia Brasileira de
tar de São Paulo. An. Acad. Bras. Ci., Rio de Janeiro, 43 Ciências, datada de São Paulo, 3/12/1984.
(World Academy of Sciences – TWAS).74 29. Correspondência de Umberto G. Cordani, Diretor
(3/4): 647-649.
Foi o primeiro cientista brasileiro a receber o prêmio TWAS Medal Lectures 17. Wernick E. & Gomes C.B. 1977. Geoquímica de do Centro de Pesquisas Geocronológicas, IG-USP, ao Presi-
1996, em reconhecimento de suas realizações no campo das Ciências da Terra.75 maciços graníticos da região do Ribeira. Parte III: consi- dente da Academia Brasileira de Ciências, Mauricio Matos

676 677
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS

Peixoto, datada de São Paulo, 13 de março de 1985.


30. Ata da Reunião da Diretoria [da ABC] (Biênio
49. Correspondência (E-009/90) de Maurício Matos
Peixoto, Presidente da Academia Brasileira de Ciências, Produção científica de
1983/1985), 28 de fevereiro de 1985.
31. Correspondência (E-217/85) do Presidente da
a Umberto Giuseppe Cordani, do Rio de Janeiro, em 26
de janeiro de 1990. Umberto G. Cordani
Academia Brasileira de Ciências, Mauricio Matos Pei- 50. Academia Brasileira de Ciências. Banco de Infor-
xoto, ao Serviço Regional de Operações de Câmbio, do mações de Acadêmicos – BIA, 1997. Compilação de Anderson Santana.
Banco Central do Brasil, datada de 30/5/1985. 51. Correspondência (SPE/02/89) do Diretor do Ins-
32. [Ata de] Reunião da Diretoria [da ABC] (biênio tituto de Geociências da USP à Academia Brasileira de Almeida F.F.M., Melcher G.C., Cordani U.G.,
1985/1987), em 12 de março de 1986. Ciências, datada de São Paulo, em 13 de março de 1989. Kawashita K., Vandoros P. 1968. Radiometric age deter-
33. [Ata da ] Reunião da Diretoria [da ABC] (biênio 52. Correspondência (PR-010/93) do Presidente, minations from northern Brazil. Boletim da Sociedade
1987/1989), em 28 de maio de 1987. Eduardo Moacyr Krieger, da Academia Brasileira de Ciên- Brasileira de Geologia, 17:3-14.
34. Correspondência de Umberto G. Cordani ao cias a Umberto Giuseppe Cordani, da Comissão Prepara- Amaral G., Bushee J., Cordani U.G., Kawashita K.,
Presidente da Academia Brasileira de Ciências, Maurí- tória do Simpósio Internacional sobre o Manto Superior Reynolds J.H. 1967. Potassium-argon ages of alkaline
cio Matos Peixoto, datada de São Paulo, 17 de março [sic], datada do Rio de Janeiro, 20 de julho de 1993. rocks from southern Brazil. Geochimica et Cosmochi-
de 1987. 53. Carta de Umberto G. Cordani, dirigida a Raquel mica Acta, 31:117-142. https://doi.org/10.1016/s0016-
35. Correspondência (E-353/85) do Presidente da Velloso, assessora do Projeto Memória, datada de São 7037(67)80041-3.
Academia Brasileira de Ciências, Mauricio Matos Pei- Paulo, 3 de abril de 1996. Amaral G., Cordani U.G., Kawashita K., Reynol-
xoto, ao Secretário Executivo do Prêmio de Ciência e 54. Melfi A.J., Misi A., Campos D.A., Cordani ds J.H. 1966. Potassium-argon dates of basaltic rocks
Tecnologia, datada de 1985. U.G. 2016. Recursos minerais no Brasil; problemas e from southern Brazil. Geochimica et Cosmochimica
36. Correpondência do Presidente da Academia desafios. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciên- Acta, 30:159-189. https://doi.org/10.1016/0016-
Brasileira de Ciências, Mauricio Matos Peixoto, ao Dire- cias, 420 pp. 7037(66)90105-0.
tor-Geral da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia 55. Correspondência de E. Seibold, IUGS Acting Araujo C.E.G., Cordani U.G., Basei M.A.S., Castro
e Estatística (IBGE), Regis Bonelli, datada de 2/7/1986. President, a John Kendrew, President ICSU, datada de N.A., Sato K., Sproesser W.M. 2012. U-Pb detrital zircon
37. Correspondência de Mauricio Matos Peixoto, 30/4/1988. provenance of metasedimentary rocks from the Ceara
Presidente da ABC, para João da Rocha Hirson, Secretá- 56. Cordani U.G. ed. et alii. 2000. Tectonic evolu- Central and Medio Coreau Domains, Borborema Prov-
rio Técnico do SPGTM/PADCT, CNPq, datada de 1987. tion of South America. Rio de Janeiro: 31st International ince, NE-Brazil: tectonic implications for a long-lived
38. Ata da Reunião da Diretoria da Academia Brasi- Geological Congress, 855 pp Neoproterozoic active continental margin. Precambrian
leira de Ciências (biênio 1987-1989), em 2/3/1988. Li- 57. Correspondência do Presidente da Academia Research, 206-207:36-51. https://doi.org/10.1016/j.pre-
vro de Atas, p. 41 verso. Brasileira de Ciências (PR-166/01), Eduardo Moacyr camres.2012.02.021.
39. Correspondência (E-098/88) do Secretário Ge- Krieger, a Umberto G. Cordani, Presidente do 31st Inter- Araujo C.E.G., Cordani U.G., Weinberg R.F.,
ral da Academia, Cândido Simões Ferreira, ao professor national Geological Congress, datada do Rio de Janeiro, Anderson Santana.
Basei M.A.S., Armstrong R., Sato K. 2014. Tracing
Umberto G. Cordani, datada de 18/3/1988. em 6 de julho de 2001. Neoproterozoic subduction in the Borborema Prov-
40. Almeida F.F.M. 1975. Preface. An. Acad. Bras. 58. Curriculum vitae de Umberto G. Cordani [até ince (NE-Brazil): clues from U-Pb geochronology and bution of SHRIMP U–Pb zircon geochronology to un-
Ci., Rio de Janeiro, 48 (supl.): 7-8. 91]. Sr-Nd-Hf-O isotopes on granitoids and migmatites. ravelling the evolution of Brazilian Neoproterozoic fold
41. Almeida F.F.M. 1975. Preface. An. Acad. Bras. 59. Corrélation géologique, Paris, 1: 19, 1973. Lithos, 202-203:167-189. https://doi.org/10.1016/j. belts. Precambrian Research, 183:112-144. https://doi.
Ci., Rio de Janeiro, 48 (supl.): 7-8. 60. Corrélation géologique, Paris, 1: 21, 1973. lithos.2014.05.015. org/10.1016/j.precamres.2010.07.015.
42. Almeida F.F.M. 1975. Preface. An. Acad. Bras. 61. Corrélation géologique, Paris, 1: 22, 1973. Araujo C.E.G., Rubatto D., Hermann J., Cordani Bayona G., Jiménez G., Silva C., Cardona A.,
Ci., Rio de Janeiro, 48 (supl.): 7-8. 62. Corrélation géologique, Paris, 1: 28-29, 1973. U.G., Caby R., Basei M.A.S. 2014. Ediacaran 2,500-km- Montes C., Roncancio J., Cordani, U. 2010. Paleo-
43. Correspondência datada de São Paulo, 63. Decreto 74.687, de 14/10/1974 e Portaria MME long synchronous deep continental subduction in the magnetic data and K–Ar ages from Mesozoic units of
14/1/1992, do Prof. Dr. Umberto G. Cordani, Coorde- 116, de 22/1/75. West Gondwana Orogen. Nature Communications, 5:1- the Santa Marta massif: A preliminary interpretation
nador do Setor de Ciência [sic] da Terra, ao Dr. José I. 64. Geological Correlation, Paris, 19: 5, 1991. 8. https://doi.org/10.1038/ncomms6198. for block rotation and translations. Journal of South
Vargas, presidente em exercício da Academia Brasileira 65. Geological Correlation, Paris, 3: 11, 32, 1991. Araujo C.E.G., Weinberg R.F., Cordani U.G. 2014. American Earth Sciences, 29:817-831. https://doi.
de Ciências. 66. IGCP Catalogue I (1973-1979). Paris: IUGS/ Extruding the Borborema Province (NE-Brazil): a two- org/10.1016/j.jsames.2009.10.005.
44. Curriculum vitae de Umberto G. Cordani [até Unesco, 1980. stage Neoproterozoic collision process. Terra Nova, Berbert C.O. & Cordani U.G. 2016. The 31st In-
1991]. 67. IGCP Catalogue II (1978-1982). Paris: IUGS/ 26:157-168. https://doi.org/10.1111/ter.12084. ternational Congress, Rio De Janeiro, Brazil 2000.
45. Correspondência do Prof. Dr. Umberto G. Cor- Unesco, 1983. Ávila C.A., Teixeira W., Cordani U.G., Barrueto Episodes, 39:518-523. https://doi.org/10.18814/epii-
dani, Coordenador do Setor de Ciência [sic] da Terra, ao 68. IGCP Catalogue III (1983-1985). Paris: IUGS/ H.R., Pereira R.M., Martins V.T.S., Dunyi L. 2006. ugs/2016/v39i2/99772.
Dr. José I. Vargas, presidente em exercício da Academia Unesco, 1985. The Glória quartz-monzodiorite: isotopic and chem- Bernat M. & Cordani U.G. 1974. Ar39/Ar40 ages of
Brasileira de Ciências, datada de São Paulo, 14/1/1992. 69. Curriculum vitae de Umberto G. Cordani [até ical evidence of arc-related magmatism in the cen- rocks from the alkalic massifs of Southern Bahia, Brazil.
46. Correspondência do Presidente da Academia 1991]. tral part of the Paleoproterozoic Mineiro belt, Minas Eos (Washington), 55:470.
Brasileira de Ciências, Mauricio Matos Peixoto, ao Presi- 70. Summary Resume of Dr. Umberto G. Cordani, Gerais State, Brazil. Anais Da Academia Brasileira de Bernat M. & Cordani U.G. 1977. Datation par la
dente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien- President of the International Union of Geological Sci- Ciências, 78:543-556. https://doi.org/10.1590/s0001- méthode 39 Ar/40 Ar de roches volcaniques des iles Bré-
tífico e Tecnológico – CNPq, Crodowaldo Pavan, datada ences, 1992. 37652006000300013. siliennes de Ferdando de Noronha et Trindade. Cahiers
de 31/5/1989. 71. Academia Brasileira de Ciências. Banco de Infor- Ávila C.A., Teixeira W., Cordani U.G., Moura Orstom. Serie Geologie, 9:45-48.
47. Correspondência (VP-100/97) assinada pelo Vi- mações de Acadêmicos – BIA, 1997. C.A.V., Pereira R.M. 2010. Rhyacian (2.23-2.20Ga) Bernat M., Cordani U.G., Kawashita K. 1977. Ages
ce-Presidente da Academia Brasileira de Ciências, Car- 72. Academia Brasileira de Ciências. Banco de Infor- juvenile accretion in the southern São Francisco cra- 39 Ar/40 Ar des massifs alcalins du sud de l’état de Bahia
los Eduardo Rocha Miranda, ao Dr. Paulo Albuquerque mações de Acadêmicos – BIA, 1997. p. 8. ton, Brazil: Geochemical and isotopic evidence from (Brésil). Cahiers Orstom. Serie Geologie, 9:35-43.
Melo, Secretário de Órgãos Colegiados / CNPq, datada 73. Academia Brasileira de Ciências. Banco de Infor- the Serrinha magmatic suite, Mineiro belt. Journal of Bernat M., Cordani U.G., Kawashita K., Kinoshita
do Rio de Janeiro, em 15 de maio de 1997. mações de Acadêmicos – BIA, 1997. p. 8. South American Earth Sciences, 29:464-482. https:// H. 1975. A utilização do reator nuclear para a deter-
48. Correspondência (E-009/90) de Maurício Matos 74. Academia Brasileira de Ciências. Banco de Infor- doi.org/10.1016/j.jsames.2009.07.009. minação da idade de rochas: o método Ar39/Ar40. Ci-
Peixoto, Presidente da Academia Brasileira de Ciências, mações de Acadêmicos – BIA, 1997. p. 8. Basei M.A.S., Brito Neves B.B., Siga Júnior O., Ba- ência e Cultura, 27:1126-1132.
a Umberto Giuseppe Cordani, do Rio de Janeiro, em 26 75. https://twas.org/opportunity/twas-medal-lectu- binski M., Pimentel M.M., Tassinari C.C.G., Hollanda Bigazzi, G., Cordani U.G., Kawashita K. 1971.
de janeiro de 1990. resNotas M. H. B. M., Nutman A., Cordani U.G. 2010. Contri- Comparison between radiometric and fission track

678 679
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS

ages of micas. Anais Da Academia Brasileira de Ciên- Casquet C., Cordani U.G., Pankhurst R.J. 2010. nomia, Boczko, R., 1984, São Paulo, Blücher. Revista Cordani U.G. 2002. Dedication to John Ham-
cias, 43:633-638. Foreword. Journal of South American Earth Sciences, Brasileira de Geociências, 16:132. ilton Reynolds (1923 - 2000). Geologia USP. Série
Bonhomme M.G., Cordani U.G., Kawashita K., 29:1-3. https://doi.org/10.1016/j.jsames.2009.09.008. Cordani U.G. 1989. A participação da Universidade Científica, 2:I–II. https://doi.org/10.5327/s1519-
Macedo M.F.G., Thomaz Filho A. 1982. Radiochrono- Chaúque F.R., Cordani U.G., Jamal D.L. 2019. de São Paulo no Programa Internacional Geosfera-Bios- 874x2002000100002.
logical age and correlation of proterozoic sediments in Geochronological systematics for the Chimoio-Ma- fera (IGBP). Boletim IG-USP. Publicação Especial, 6, III. Cordani U.G. 2005. The involvement of the Ama-
Brazil. Precambrian Research, 18:103-118. https://doi. cossa frontal nappe in central Mozambique: Implica- https://doi.org/10.11606/issn.2317-8078.v0i6pIII-V zonian Craton in Rodinia, Gondwana and Pangea. Terra
org/10.1016/0301-9268(82)90039-0. tions for the tectonic evolution of the southern part Cordani U.G. 1989. Nature to be commanded...: Nostra, 5:36-37.
Brito Neves B.B. & Cordani U.G. 1991. Tectonic of the Mozambique belt. Journal of African Earth Sci- address by the IUGS President at the opening cere- Cordani U.G. 2011. A internacionalização do IEA.
evolution of South America during the late protero- ences, 150:47-67. https://doi.org/10.1016/j.jafrears- mony of the 28th International Geological Congress. Estudos Avançados, 25:133-134.
zoic. Precambrian Research, 53:23-40. https://doi. ci.2018.10.013. Episodes, 12:159-161. Cordani U.G. 2012. Novos rumos para a Revista
org/10.1016/0301-9268(91)90004-T. Chaúque F.R., Cordani U.G., Jamal, D.L., Onoe Cordani U.G. 1990. Obrashienie Presidenta MSGN Brasileira de Geociências. Revista Brasileira de Geo-
Brito Neves B.B. & Cordani U.G. 1992. Eventos ter- A.T. 2017. The Zimbabwe Craton in Mozambique: A K 28 Sessii Mijdunarodnogo Geologishkogo Kongressa ciências, 42:451-452. https://doi.org/10.5327/z0375-
minais do ciclo brasiliano / pan-africano no Gondwana brief review of its geochronological pattern and its re- na Tsieremonii Otkritia 9 iulia 1989g. Isvestia Akademii 75362012000300001.
ocidental. Correlacion Geologica, 9:139-144. lation to the Mozambique Belt. Journal of African Earth Nauk SSR. Seria Geologicheskaia, 4:6-10. Cordani U.G. 2013. The Brazilian Journal of
Brito Neves B.B., Fuck R.A., Cordani U.G., Thomaz Sciences, 129:366-379. https://doi.org/10.1016/j.jafrear- Cordani U.G. 1990. Discurso de abertura do vigésimo Geology is born. Long life to it! Brazilian Journal
Filho A. 1984. Influence of basement structures on the sci.2017.01.021. oitavo Congresso Geológico Internacional - Washington, of Geology, 43:1-1. https://doi.org/10.5327/Z2317-
evoluiton of the major sedimentary basins of Brazil: a Coira B., Cisterna C.E., Ulbrich H., Cordani U.G. USA - julho 1989. Revista Do Instituto Geológico, 11: 48892013000100001.
case of tectonic heritage. Journal of Geodynamics, 1:495- 2016. Extensional Carboniferous magmatism at the 58-61. https://doi.org/10.5935/0100-929X.19900013. Cordani U.G. 2013. Editorial. Brazilian Journal of
510. https://doi.org/10.1016/0264-3707(84)90021-8. western margin of Gondwana: Las Lozas valley, Cata- Cordani U.G. 1991. Global and interdisciplinary ac- Geology, 43:423-424. https://doi.org/10.5327/Z2317-
Brito Neves B.B., Kawashita K., Cordani U.G., Del- marca, Argentina. Andean Geology, 43:105-126. https:// tivities: the earth sciences. Science International, (Esp):56. 48892013000300001.
hal J. 1979. A evolução geocronológica da Cordilheira do doi.org/10.5027/andgeoV43n1-a06. Cordani U.G. 1992. Geology and our common fu- Cordani U.G. 2014. The Brazilian Journal of Ge-
Espinhaço: dados novos e integração. Revista Brasileira Collo G., Astini R.A., Cardona A., Campo M.D., ture. Episodes, 15:179-181. ology is part of the SciELO. Brazilian Journal of Ge-
de Geociências, 9:71-85. https://doi.org/10.25249/0375- Cordani U.G. 2008. Edades de metamorfismo en las Cordani U.G. 1993. International non-governmen- ology, 43:351-352. https://doi.org/10.5327/Z2317-
7536.19797185. unidades con bajo grado de la región central del Fama- tal cooperation in the solid earth sciences. Geological 4889201400030001.
Caffe P.J., Soler M.M., Coira B.L., Onoe A.T., Cor- tina: la impronta del ciclo orogénico oclóyco (Ordovi- Survey of Canada Bulletin, 446:123-127. https://doi. Cordani U.G. 2014. O Brazilian Journal of Geo-
dani U.G. 2008. The Granada ignimbrite: A compound cico). Revista Geológica de Chile, 35:191-213. https:// org/10.4095/193520. logy faz parte da coleção SciELO. Brazilian Journal of
pyroclastic unit and its relationship with Upper Mio- doi.org/20.4067/s0716-02082008000200001. Cordani U.G. 1992. Ecos da ECO 92 na reunião Geology, 44:353-354. https://doi.org/10.5327/Z2317-
cene caldera volcanism in the northern Puna. Journal of Cordani U.G. 1961. A expedição brasileira aos An- da SBPC. Estudos Avançados, 6:97-102. https://doi. 4889201400030001.
South American Earth Sciences, 25:464-484. https://doi. des Peruanos. Boletim Do Centro Paulista de Estudos org/10.1590/s0103-40141992000200006. Cordani U.G. 2014. On January 15 the Brazilian
org/10.1016/j.jsames.2007.10.004. Geologicos, 1:7-12. Cordani U.G. 1994. Papel da ciência no desenvolvi- Journal of Geology will be part of the SciELO. Bra-
Calderón M., Cordani U.G., Massonne H.J. 2007. Cordani U.G. 1965. Idades K-A em rochas do es- mento sustentável. Coleção Documentos. Série Ciências zilian Journal of Geology, 44:519-519. https://doi.
Crust-mantle interactions and generation of silicic melts: tado de Guanabara. Avulso Divisão de Geologia e Mi- Ambientais, 20:1-11. https://doi.org/10.1590/s0103- org/10.5327/Z23174889201400040000.
insights from the Sarmiento Complex, southern Patago- neralogia, 40:50-51. 40141992000200010. Cordani U.G. 2015. The third year of the Brazil-
nian Andes. Revista Geológica de Chile, 34:249-275. ht- Cordani U.G. 1967. Geologia da folha de Morre- Cordani U.G. 1994. A ciência aplicada e o processo ian Journal of Geology and its international challenge.
tps://doi.org/10.4067/s0716-02082007000200005. tes. Boletim Da Universidade Federal Do Paraná. Ge- social. Estudos Avançados, 8:7-9. Brazilian Journal of Geology, 45:491-498. https://doi.
Calderón M., Fildani A., Hervé F., Fanning C.M., ologia, 26:1-40. Cordani U.G. 1994. A nova direção do IEA. Estudos org/10.1590/2317-488920150000454.
Weislogel A., Cordani, U. 2007. Late Jurassic bimodal Cordani U.G. 1968. Esboço da geocronologia pré- Avançados, 8:261-265. Cordani U.G. 2016. Farewell! Brazilian Journal
magmatism in the northern sea-floor remnant of the cambriana da América do Sul. Anais Da Academia Brasi- Cordani U.G. 1994. O Instituto de Geociências. Es- of Geology, 46:489. https://doi.org/10.1590/2317-
Rocas Verdes basin, southern Patagonian Andes. Journal leira de Ciências, 40, 47-51. tudos Avançados, 8:553-561. 488920160000464.
of the Geological Society, 164:1011-1022. https://doi. Cordani U.G. 1968. Dados recentes sobre a deriva Cordani U.G. 1995. Sustainable society seminar (in- Cordani U.G. Amaral G., Kawashita K. 1973. The pre-
org/10.1144/0016-76492006-102. dos continentes. Boletim Do Centro Paulista de Estudos trodução). Ciência e Cultura, 47:14. cambrian evolution of South America. Geologische Rund-
Cardona A., Cordani U.G., MacDonald W.D. Geologicos, 3:11-40. Cordani U.G. 1995. As Ciências da terra e a mun- schau, 62:309-317. https://doi.org/10.1007/bf01840100.
2006. Tectonic correlations of pre-Mesozoic crust Cordani U.G. 1968. Programa de geofísica da co- dialização das sociedades. Estudos Avançados, 9:13-27. Cordani U.G., Basei M.A.S., Siga Júnior O., Citroni
from the northern termination of the Colombian An- missão brasileira do manto superior. Mineração e Meta- Cordani U.G. 1996. Redução de desastres naturais. S.B., Nutman A. 1999. U-Pb SHRIMP ages for late Pro-
des, Caribbean region. Journal of South American lurgia, 48:22-24. Coleção Documentos. Série Ciências Ambientais, 22:1-18. terozoic acid volcanics of southern Brazil; tectonic impli-
Earth Sciences, 21:337-354. https://doi.org/10.1016/j. Cordani U.G. 1970. Idade do vulcanismo no Oce- Cordani U.G. 1997. A formação do geólogo bra- cations. Abstracts with Programs - Geological Society of
jsames.2006.07.009. ano Atlântico Sul. Boletim IGA, 1:9-75. https://doi. sileiro numa sociedade em transformação: a proposta America, 31:A-108.
Cardona A., Cordani U.G., Ruiz J., Valencia V.A., org/10.11606/issn.2316-9001.v1i0p09-75 da Universidade de São Paulo. A Terra Em Revista, Cordani U.G., Basei M.A.S., Siga Júnior O., Nutman
Armstrong R., Chew D., Nutman A., Sanchez A.W. Cordani U.G. 1974. Dados recentes sobre a deriva 3:76-85. A. 1999. Idades U-Pb (shrimp) de rochas vulcânicas das
2009. U-Pb Zircon Geochronology and Nd Isotopic dos continentes. Caderno de Ciências Da Terra, 38:1-38. Cordani U.G. 1998. Geosciences and development: bacias de Campo Alegre, Itajaí e Castro (SC e PR). Anais
Signatures of the Pre-Mesozoic Metamorphic Base- Cordani U.G. 1979. O conceito de província tectô- the role of the earth sciences in a sustainable world. Ci- Da Academia Brasileira de Ciências, 71:835.
ment of the Eastern Peruvian Andes: Growth and nica e sua aplicação para a América do Sul. Anais Da ência e Cultura, 50:336-341. Cordani U.G., Bittencourt I. 1967. Estudo geocro-
Provenance of a Late Neoproterozoic to Carbonifer- Academia Brasileira de Ciências, 51:775-776. Cordani U.G. 1998. Geology and development. Epi- nológico no grupo Açungui. Boletim Paranaense de Geo-
ous Accretionary Orogen on the Northwest Margin Cordani U.G. 1982. O programa internacional de sodes, 21:2. ciências, 26:58-59.
of Gondwana. Journal of Geology, 117. https://doi. estudos da litosfera. Ciências Da Terra, 2:2-29. Cordani U.G. 1999. Faltam ações e vontade política Cordani U.G., Brito Neves B.B. 1982. The geo-
org/10.1086/597472. Cordani U.G. 1982. International symposium on para resolver os grandes problemas da terra. [Entrevista]. logic evolution of South America during the archaean
Cardona A., Weber M., Valencia V., Bustamante C., archean and early proterozoic geologic evolution and Revista Biodia, 1:4-7. and early proterozoic. Revista Brasileira de Geociên-
Montes C., Cordani U.G., Muñoz C.M. 2014. Geochro- metallogenesis: as fronteiras da metagênese e geologia Cordani U.G. 2000. As ciências da terra na socieda- cias, 12:78-88.
nology and geochemistry of the Parashi granitoid, NE do Precambriano. Ciências Da Terra, 4:66-67. de contemporânea. Cadernos IG/Unicamp, 8:22-35. Cordani U.G., Brito Neves B.B., D’Agrella Filho
Colombia: Tectonic implication of short-lived Early Eo- Cordani U.G. 1986. Manual de coleta de amostras Cordani U.G. 2000. The role of the earth sciences in M.S. 2001. From Rodinia to Gondwana: a review of
cene plutonism along the SE Caribbean margin. Journal em geociências: geocronologia. Boletim SBG. Núcleo a sustainable world. Episodes, 23:155-162. the available evidence from South America. Gondwana
of South American Earth Sciences, 50:75-92. https://doi. Sao Paulo, 2:23-27. Cordani U.G. 2000. Não se desafia a natureza impu- Research, 4:600-602. https://doi.org/10.1016/S1342-
org/10.1016/j.jsames.2013.12.006. Cordani U.G. 1986. Resenha: Conceitos de Astro- nemente. Saneamento Ambiental, 11:24-27. 937X(05)70402-0;

680 681
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS

Cordani U.G., Brito Neves B.B., D’Agrella Fil- https://doi.org/10.1016/j.jsames.2009.07.002. Cordani U.G. & Moreschi J.B. 1979. Agradecimen- Cordani U.G., Sato K., Nutman A.P. 1995. Single
ho M.S. 2003. From Rodinia to Gondwana: a review Cordani U.G., Gomes C.B., Girardi V.A.V. 1963. Ro- tos. Revista Brasileira de Geociências, 9:1979. zircon shrimp determinations from archean tonalitic
of the available evidence from South America. Gon- chas cálcio-silicatadas da região de Perus, SP. Anais Da Cordani U.G., Nutman A., Andrade A.S., Santos J.F., rocks near Uaua, Bahia, Brazil. Anais Da Academia Brasi-
dwana Research, 6:275-283. https://doi.org/10.1016/ Academia Brasileira de Ciências, 35:361-372. Azevedo M.R., Mendes M.H., Pinto M.S. 2006. New leira de Ciências, 67:526.
S1342-937X(05)70976-X; Cordani U.G., Iriarte A.R., Sato K. 2019. Geo- U-Pb SHRIMP zircon ages for pre-variscan orthogneisses Cordani U.G., Sato K., Sproesser W.M., Fernandes
Cordani U.G., Brito Neves B.B., Fuck R.A., Por- chronological systematics of the Huayna Potosí, Zon- from Portugal and their bearing on the evolution of the F.S. 2016. U-Pb zircon ages of rocks from the Amazo-
to R., Thomaz Filho A., Cunha F.M.B. 1984. Estudo go and Taquesi plutons, Cordillera Real of Bolivia, Ossa-Morena tectonic zone. Anais Da Academia Brasi- nas Territory of Colombia and their bearing on the tec-
preliminar de integração do pré-cambriano com os by the K/Ar, Rb/Sr and U/Pb methods. Brazilian Jour- leira de Ciências, 78:133-149. https://doi.org/10.1590/ tonic history of the NW sector of the Amazonian Cra-
eventos tectônicos das bacias sedimentares brasileiras. nal of Geology, 49. https://doi.org/10.1590/2317- s0001-37652006000100013. ton. Brazilian Journal of Geology, 46:5-35. https://doi.
Ciência. Técnica. Petróleo. Seção: Exploração de Pe- 4889201920190016. Cordani U.G., Pimentel M.M., Araujo C.E.G., Ba- org/10.1590/2317-4889201620150012.
tróleo, 14:1-70. Cordani U.G. & Iyer S. S. 1979. Geochronological sei M.A.S., Fuck R.A., Girardi V.A.V. 2013. Was there Cordani U.G., Scherbakova T.F., Kawashita K.
Cordani U.G., Brito Neves B.B., Fuck R.A., Por- investigation on the precambrian granulitic terrain of an Ediacaran Clymene Ocean in central South America? 1989. Rubidii -strontsievyi vozrast amfibolitov i obra-
to R., Thomaz Filho A., Cunha F.M.B. 2009. Estudo Bahia, Brazil. Precambrian Research, 9:255-274. https:// American Journal of Science, 313:517-539. https://doi. zovannykh po nim migmatitov belomorskogo kom-
preliminar de integração do Pré-Cambriano com os doi.org/10.1016/0301-9268(79)90006-8. org/10.2475/06.2013.01. pleksa baltiiskogo schita. Doklady Akademii Nauk
eventos tectônicos das bacias sedimentares brasileiras Cordani U.G., Iyer S.S., Taylor P.N., Kawashita Cordani U.G., Pimentel M.M., Araujo C.E.G., Ba- Sssr, 305:176-178.
(Republicação). Boletim de Geociências da Petrobras, K., Sato K., McReath I. 1992. “PB’-’PB”, “RB’-’SR” sei M.A.S., Fuck R.A., Girardi V.A.V. 2014. Reply: reply Cordani U.G., Skinner B., Silver L.T., Wolman G.,
17:137-204. and k-’AR’ systematics of the Lagoa Real uranium to the comment by E. Tohver and R. Trindade on “Was Mclaren D. 1992. H-f boundary: who needs a bolide?
Cordani U.G., Brito Neves B.B., Thomaz Filho A. province (south-central Bahia, Brazil). Journal of there a Clymene Ocean in central South America?” v. Geology Today, 3:4.
2009. Estudo preliminar de integração do pré-cam- South American Earth Sciences, 5:33-46. https://doi. 313, p. 517-539. American Journal of Science, 314:814- Cordani U.G. & Soliani Junior E. 1990. Idades
briano com os eventos tectônicos das bacias sedimen- org/10.1016/0895-9811(92)90058-7. 819. https://doi.org/10.2475/06.2013.01. k-’AR’ e “RB’-’SR” das ilhas cristalinas de Rivera e Ace-
tares brasileiras (Atualização). Boletim de Geociências Cordani U.G., Jacobsohn T., Sato K., Petronilho Cordani U.G., Pimentel M.M., Araujo C.E.G., Fuck gua (Uruguai e Rio Grande do Sul, Brasil) e seu enqua-
da Petrobras, 17:205-219. L.A., Ferreira T.C.O. 2005. On samarium-neodymium R.A. 2013. The significance of the Transbrasiliano-Kandi dramento no contexto geotectônico regional. Anais Da
Cordani U.G., Castro G. 1997. As metas da Rio isochron dating of garnet and the role of inclusions. Ge- tectonic corridor for the amalgamation of West Gond- Academia Brasileira de Ciências, 62:145-156.
92, cinco anos depois [entrevista]. Revista Do IN- ophysical Research Abstracts, 7. wana. Brazilian Journal of Geology, 43:583-597. https:// Cordani U.G., Svisero D.P. 1995. Foreword. Anais
COR, 2:24-30. Cordani U.G. & Juliani C. 2019. Potencial mineral doi.org/10.5327/Z2317-48892013000300012. Da Academia Brasileira de Ciências, 67:1.
Cordani U.G., Coimbra A.M., Bottura J.A., Rodri- da Amazônia: problemas e desafios. REB: Revista de Es- Cordani U.G. & Riccomini C. (2012). Avanços Cordani U.G., Tassinari C.C.G., Kawashita K. 1984.
gues E.L.M. 1974. Geologia da região de Cruzeiro e Ca- tudios Brasileños, 6:91-108. https://doi.org/10.14201/ em geologia sedimentar, ambiental e hidrogeolo- A serra dos Carajás como região limítrofe entre provín-
choeira Paulista, e sua importância na interpretação da reb201961191108. gia no Brasil. [Apresentação]. Revista Brasileira de cias tectônicas. Ciências Da Terra, 9:6-11.
evolução tectônica do Vale do Paraíba. Geologia, Ciência Cordani U.G., Kawashita K., Mueller G., Quade H., Geociências, 42:1. https://doi.org/10.5327/Z0375- Cordani U.G., Teixeira W., D’Agrella Filho M.S.,
- Técnica, 6:9-30. Reimer V., Roeser H. 1980. Interpretação tectônica e pe- 75362012000500001. Trindade R.I.F. 2009. The position of the Amazonian
Cordani U.G., Cooray P.G. 1990. “RB’-’SR” ages of trológica de dados geocronológicos do embasamento no Cordani U.G. & Riccomini C. 2015. O Brazilian Craton in supercontinents. Gondwana Research, 15:
granites and gneisses from the precambrian of Sri Lanka. bordo sudeste do Quadrilátero Ferrífero/MG. Anais Da Journal of Geology migra para o sistema editorial Schol- 396-407. https://doi.org/10.1016/j.gr.2008.12.005.
Journal of the Geological Society of Sri Lanka, 2:35-43. Academia Brasileira de Ciências, 52:785-799. arOne [Editorial]. Brazilian Journal of Geology, 45:159. Cordani U.G., Teixeira W., Tassinari C.C.G., Cou-
Cordani U.G., Coutinho J.M.V., Nutman A.P. Cordani U.G., Kawashita K., Siegl G., Vicente J.C. https://doi.org/10.1590/23174889201500020000. tinho J.M.V., Ruiz A. 2010. The Rio Apa Craton in
2002. Geochronological constraints on the evolution 1985. Geochronological results from the southeastern Cordani U.G. & Riccomini C. 2015. The Brazilian Mato Grosso do Sul (Brazil) and northern Paraguay:
of the Embu Complex, São Paulo, Brazil. Journal of part of the Arequipa massif. Comunicaciones, 35:45-51. Journal of Geology migrates to the ScholarOne editorial geochronological evolution, correlations and tecton-
South American Earth Sciences, 14: 903-910. https:// Cordani U.G., Kawashita K., Thomaz Filho A. system [Editorial]. Brazilian Journal of Geology, 45:160. ic implications for Rodinia and Gondwana. Ameri-
doi.org/10.1016/s0895-9811(01)00083-9. 1978. Applicability of the rubidium-strontium meth- https://doi.org/10.1590/23174889201500020000. can Journal of Science, 310:981-1023. https://doi.
Cordani U.G., D’Agrella Filho M.S., Brito Neves od to shales and related rocks. Studies in Geology Cordani U.G. & Riccomini C. 2016. The Brazil- org/10.2475/09.2010.09.
B.B., Trindade R.I.F. 2003. Tearing up Rodinia: the (Tulsa), 6:93-117. ian Journal of Geology receives its first Impact Factor Cordani U.G., Teixeira W., Tassinari C.C.G.,
Neoproterozoic palaeogeography of South American Cordani U.G., Kawashita K., Thomaz Filho A., Brito from Thomson Reuters [Editorial]. Brazilian Journal of Kawashita K., Sato K. 1988. The growth of the Brazilian
cratonic fragments. Terra Nova, 15:350-359. https://doi. Neves B.B. 1985. On the applicability of the rb-sr meth- Geology, 46:329-330. https://doi.org/10.1590/2317- Shield. Episodes, 11:163-167.
org/10.1046/j.1365-3121.2003.00506.x od to argillaceous sedimentary rocks: some examples 488920160000463. Cordani U.G., Ulbrich M.N.C., Onoe A.T., Vinasco
Cordani U.G., Delhal J., Gomes C.B., Ledent D. from precambrian sequences of Brazil. Giornale Di Geo- Cordani U.G., Riccomini C., Fairchild T.R. 2014. Vallejo C.J. 2004. Novas determinações de idade pelos
1968. Nota preliminar sobre idades radiométricas em logia, 47:253-280. The first year of the Brazilian Journal of Geology. Brazil- métodos K-Ar e Ar-Ar para o arquipélago de Fernando
rochas da região da Serra dos Órgãos e vizinhanças (leste Cordani U.G., Kawashita K., Vancini K.R.B., Boriani ian Journal of Geology, 44:1-2. https://doi.org/10.5327/ de Noronha. Revista Da Faculdade de Ciências., 1.
de Minas Gerais e Estado do Rio de Janeiro). Boletim Da A., Bigioggero B., Cadoppi P., Sacchi R. 1993. Geochro- Z2317-4889201400010001. Cordani U.G., Vancini K.R.B., Petronilho L.A.,
Sociedade Brasileira de Geologia, 17:89-92. nology and geochemistry of upper proterozoic granites Cordani U.G., Rocha-Campos A.C., Davino A. Omarini R.H. 1989. Geochronological contribution for
Cordani U.G., Delhal J., Ledent D. 1973. Oro- from southern Benin. Anais Da Academia Brasileira de 1961. Geologia da região do Jaraguá, SP. Boletim Da So- the knowledge of the tectonic evolution of the puncovis-
genèses superposées dans le précambrien du Brésil su- Ciências, 65:389-402. ciedade Brasileira de Geologia, 10:73-91. cana formation near Salta, Argentina. Anais Da Acade-
d-oriental (États de Rio de Janeiro et de Minas Gerais). Cordani U.G., Marcovitch J., Salati E. 1997. Ava- Cordani U.G., Sartori P.L.P., Kawashita K. 1980. mia Brasileira de Ciências, 69:245.
Revista Brasileira de Geociências, 3:1-22. https://doi. liação das ações brasileiras após a Rio-92. Estudos Geoquímica dos isótopos de estrôncio e a evolução da Couto J.G.P., Cordani U.G., Kawashita K., Iyer S.S.,
org/10.25249/0375-7536.1973122. Avançados, 11:399-410. https://doi.org/10.1590/s0103- atividade vulcânica na Bacia do Paraná (Sul do Brasil) Moraes N.M.P. 1981. Considerações sobre a idade do
Cordani U.G., Ernesto M., Dias M.A.F.S., Sarai- 40141997000100019. durante o cretáceo. Anais Da Academia Brasileira de Ci- grupo Bambuí com base em análises isotópicas de Sr e
va E.S.B.G., Alkmim F.F., Mendonça C.A., Albrecht R. Cordani U.G., Melcher G.C., Almeida F.F.M. 1968. ências, 52:811-818. Pb. Revista Brasileira de Geociências, 11:5-16. https://
2018. Ensino de Geociências na universidade. Estudos Outline of the precambrian geochronology of South Cordani U.G. & Sato K. 1999. Crustal evolution of doi.org/10.25249/0375-7536.1981516.
Avançados, 32:309-330. https://doi.org/10.1590/s103- America. Canadian Journal of Earth Sciences, 5:629- the South American Platform, based on Nd isotopic sys- D’Agrella Filho M.S., Cordani U.G., Brito Neves
40142018.3294.0020. 632. https://doi.org/10.1139/e68-058. tematics on granitoid rocks. Episodes, 22:167-173. B.B., Trindade R.I.F., Pacca I.I.G. 2001. Evidence from
Cordani U.G., Fraga L.M., Reis N., Tassinari Cordani U.G., Mizusaki A.M., Kawashita K., Cordani U.G., Sato K., Marinho M.M. 1985. The south america on the formation and disruption of Rod-
C.C.G., Brito Neves B.B. 2010. On the origin and Thomaz Filho A. 2004. Rb-Sr systematics of Holocene geologic evolution of the ancient granite-greenstone inia. Geological Society of Australia Abstracts, 65:31-34.
tectonic significance of the intra-plate events of Gren- pelitic sediments and their bearing on whole-rock dat- terrane of central-southern Bahia, Brazil. Precambrian Dantas E.L., Van Schmus W.R., Hackspacher P.C.,
villian-type age in South America: a discussion. Jour- ing. Geological Magazine, 141:233-244. https://doi. Research, 27:187-213. https://doi.org/10.1016/0301- Fetter A.H., Brito Neves B.B., Cordani U.G., Nutman
nal of South American Earth Sciences, 29:143-159. org/10.1017/s0016756803008616. 9268(85)90012-9. A.P., Williams, I. S. 2004. The 3.4-3.5 Ga Sao Jose do

682 683
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS

Campestre massif, NE Brazil: remnants of the oldest Gradim C., Roncato J., Pedrosa-Soares A.C., Corda- isotopic signature of the Umburanas greenstone belt, das mirante conglomerates, São Francisco craton. Bo-
crust in South America. Precambrian Research, 130:113- ni U.G., Alkmim F.F., Dussin I.A., Queiroga G., Jacob- northern São Francisco craton, Brazil. Journal of South letim IG-USP. Publicação Especial, 17:ca 5. https://doi.
137. https://doi.org/10.1016/j.precamres.2003.11.002. sohn T., Silva L.C., Babinski M. 2014. The hot back-arc American Earth Sciences, 15:775-785. https://doi. org/10.11606/issn.2317-8078.v0i17p98-115.
Delhal J., Ledent D., Cordani U.G. 1969. Ages Pb/U, zone of the Araçuaí orogen, Eastern Brazil: from sed- org/10.1016/s0895-9811(02)00129-3. Nutman A.P., Cordani U.G., Sabaté P. 1994. SHRIMP
Sr/Rb et Ar/K de formations métamorphiques et grani- imentation to granite generation. Brazilian Journal of Lima M.N., Azevedo M.R., Nogueira Neto J.A., U-Pb ages of detrital zircons from the early proterozo-
tiques du sud-est du Brésil (états de Rio de Janeiro et Geology, 44:155-180. https://doi.org/10.5327/Z2317- Rosa G.M., Cordani U.G. 2009. Rb-Sr and K-Ar ages for ic Contendas-Mirante supracrustal belt, São Francisco
de Minas Gerais). Annales de La Societé Géologique de 48892014000100012. pegmatites from the Banabuiú region, Borborema Prov- Craton, Bahia, Brazil. Journal of South American Earth
Belgique, 92:271-283. Halpern M., Cordani U.G., Berenholc M. 1974. ince, Brazil. Estudos Geológicos, 19:188-192. Sciences, 7:109-114. https://doi.org/10.1016/0895-
Deluca C., Pedrosa-Soares A., Lima S., Cordani Variations in strontium isotopic composition of Paraná Lima S.A.A., Martins Neto M.A., Pedrosa-Soa- 9811(94)90002-7.
U.G., Sato K. 2019. Provenance of the Ediacaran Sali- basin volcanic rocks of Brazil. Revista Brasileira de Ge- res A.C., Cordani U.G., Nutman A. 2002. A forma- Pacci D., Herve F., Munizaga F., Kawashita K., Cor-
nas Formation (Araçuaí Orogen, Brazil): Clues from ociências, 4:223-227. https://doi.org/10.25249/0375- ção Salinas na área-tipo, NE de Minas Gerais: uma dani U.G. 1980. Acerca de la edad Rb-Sr precambrica de
lithochemical data and zircon U-Pb (SHRIMP) ages of 7536.1974223227. proposta de revisão da estratigrafia da faixa Araçuai rocas de la formacion esquistos de belen, Departamento
volcanic clasts. Brazilian Journal of Geology, 49. https:// Hurley P.M., Almeida F.F.M., Melcher G.C., Corda- com base em evidências sedimentares, metamórficas de Parinacota, Chile. Revista Geológica de Chile, 11:43-
doi.org/10.1590/2317-4889201920190017. ni U.G., Rand J.R., Kawashita K., Vandoros P., Pinson Jr e idades U-Pb SHRIMP. Revista Brasileira de Geoci- 50.
Diaz M., Cordani U.G., Kawashita K., Baeza L., W.H., Fairbairn H.W. 1967. Test of continental drift by ências, 32:491-500. https://doi.org/10.25249/0375- Perlingeiro G., Vasconcelos P.M., Knesel K., Thie-
Venegas R., Herve F., Munizaga F. 1985. Preliminary ra- comparison of radiometric ages. Science, 157:495-500. 7536.2002324491500. de D.S., Cordani U.G. 2013. 40Ar/39Ar geochronology
diometric ages from the mejillones peninsula, northern Iyer S.S., Choudhuri A., Cordani U.G. 1987. Gran- Linares E., Cordani U.G., Munizaga F. 1982. Mag- of the Fernando de Noronha Archipelago and im-
Chile. Comunicaciones, 35:59-67. ulite facies rocks of Brazil: a review of their geologic matic evolution of the Andes: an introduction. Earth-Sci- plications for the origin of alkaline volcanism in the
Eddy M.P., Ibañez-Mejia M., Burgess S.D., Coble setting, geochronological evolution, petrographic and ence Reviews, 18:199-203. NE Brazil. Journal of Volcanology and Geothermal
M.A., Cordani U.G., DesOrmeau J., Gehrels, G.E., Li geochemical caracteristics. Journal of the Geological Macdonald W.D., Doolan B.L., Cordani U.G. 1971. Research, 249:140-154. https://doi.org/10.1016/j.jvo-
X., MacLennan S., Pecha M., Sato K., Schoene B., Valen- Society of India, 29:309-326. Cretaceous-early tertiary metamorphic K-Ar age values lgeores.2012.08.017.
cia V.A., Vervoort J.D., Wang T. 2019. GHR1 Zircon - A Iyer S.S., Choudhuri A., Vasconcellos M.B.A., Cor- from the South Caribbean. Geological Society of America Picanco J.L., Tassinari C.C.G., Cordani U.G., Nut-
New Eocene Natural Reference Material for Microbeam dani U.G. 1984. Radioactive element distribution in Bulletin, 82:1381-1388. man A.P. 1998. Idades U-Pb (SHRIMP), Sm-Nd e Rb-Sr
U-Pb Geochronology and Hf Isotopic Analysis of Zir- the archean granulite terrane of Jequié - Bahia, Brazil. Mantovani M.S.M., Cordani U.G., Roisenberg A. em rochas do Maciço Itatins (SP): evidências de evolu-
con. Geostandards and Geoanalytical Research, 43:113- Contributions to Mineralogy and Petrology, 85:95-101. 1985. Geoquímica isotópica em vulcânicas ácidas da ção policíclica. Anais Da Academia Brasileira de Ciências,
132. https://doi.org/10.1111/ggr.12246. https://doi.org/10.1007/bf00380226. Bacia do Paraná e implicações genéticas associadas. Re- 70:139-150.
Ernesto M., Cordani U.G., Carneiro C.D.R., Dias Jiménez Mejía D.M., Juliani C., Cordani U.G. 2006. vista Brasileira de Geociências, 15:61-65. https://doi. Piccirillo E.M., Raposo M.I.B., Melfi A.J., Comin-
M.A.F.S., Mendonça C.A., Braga E.S. 2018. Pers- P–T–t conditions of high-grade metamorphic rocks of org/10.25249/0375-7536.19856165. Chiaramonti P., Bellieni G., Cordani U.G., Kawashita K.
pectivas do ensino de Geociências. Estudos Avan- the Garzon Massif, Andean basement, SE Colombia. Melcher G.C., Gomes C.B., Cordani U.G., Betten- 1987. Bimodal fissural volcanic suites from the Paraná
çados, 32:331-343. https://doi.org/10.1590/s103- Journal of South American Earth Sciences, 21:322-336. court J.S., Damasceno E.C., Girardi V.A.V., Melfi A.J. basin (Brazil): k-’AR’ age, ’SR’-isotopes and geochem-
40142018.3294.0021. https://doi.org/10.1016/j.jsames.2006.07.001. 1973. Geologia e petrologia das rochas metamórficas e istry. Geochimica Brasiliensis, 1:53-69. https://doi.
Espejo A., Etchart H.L., Cordani U.G., Kawashita Kaul P.F.T., Cordani U.G. 2000. Geochemistry of graníticas associadas do Vale do Rio Ribeira de Iguape, org/10.21715/gb.v1i1.3.
K. 1980. Geocronologia de intrusivas acidas en la Sierra the Serra do Mar granitoid magmatism and tectonic SP e PR. Revista Brasileira de Geociências, 3:97-123. ht- Pimentel M.M., Fuck R.A., Cordani U.G., Kawa-
de Perija, Venezuela. Boletin de Geologia, 14:245-254. implications, Southern Brazil. Revista Brasileira de Geo- tps://doi.org/10.25249/0375-7536.197397123. shita K. 1985. Geocronologia de rochas graníticas e
Fodor R.V, Mukasa S.B., Gomes C.B., Cordani U.G. ciências, 30:115-119. https://doi.org/10.25249/0375- Melfi A.J., Cordani U.G., Bittencourt I. 1965. Reco- gnáissicas da região de Arenópolis-Piranhas, Goiás.
1989. Ti-rich eocene basaltic rocks, abrolhos platform, 7536.2000301115119. nhecimento fotogeológico de parte do Grupo Açungui. Revista Brasileira de Geociências, 15:3-8. https://doi.
offshore Brazil, 18°S: petrology with respect to south Kornprobst J., Àbalos B., Barbey P., Boullier Bragantia, 24:447-474. https://doi.org/10.1590/s0006- org/10.25249/0375-7536.198538.
atlantic magmatism. Journal of Petrology, 30:763-786. A.M., Burg, J.P., Capdevila, R., Claesson S., Cordani 87051965000100034. Rapalini A.E., Calderon M., Singer S., Herve F.,
https://doi.org/10.1093/petrology/30.3.763. U.G., Corrigan D., Gabrielsen R.H., Gil-Ibarguchi J. Miller H., Cordani U.G., Herve F. 2000. German Cordani U.G. 2008. Tectonic implications of a paleo-
Friaça A.C.S., Mendes E., Cordani U.G. 1992. Viver I, Johansson A., Letsch D., Le Vigouroux P., Upton, - Latin - American cooperation in Geosciences: past, magnetic study of the Sarmiento ophiolitic complex,
na lua: o desafio de colonizar um lugar sem água nem ar, B. 2018. Boris Choubert: Unrecognized visionary present and future. Zeitschrift Für Angewandte Geolo- southern Chile. Tectonophysics, 452:29-41. https://doi.
onde a noite dura mais de duas semanas. Globo Ciência, geologist, pioneer of the global tectonics. BSGF - gie, Esp.1:19-25. org/10.1016/j.tecto.2008.01.005.
6:24-31. Earth Sciences Bulletin, 189. https://doi.org/10.1051/ Mulder E.F.J. & Cordani U.G. 1999. Geoscience Restrepo J.J., Toussaint J.F., Cordani U.G., Hall M.,
Fuck R.A., Brito Neves B.B., Cordani U.G., Kawa- bsgf/2018006. provides assets for sustainable development. Episodes, Kawashita K., Linares E., Pimentel N. 1989. Geochro-
shita K. 1989. Geocronologia Rb-Sr no Complexo Barro Kovach A., Fairbairn H.W., Hurley P.M., Basei 22:53-78. nological Review of the Northern Andes. Revista Del
Alto, Goiás: evidência de metaformismo de alto grau e M.A.S., Cordani U.G. 1976. Reconnaissance geochro- Munhá J.M.U., Cordani U.G., Tassinari C.C.G., ICNE, 2:39-82.
colisão continental ha 1300 Ma no Brasil central. Geo- nology of basement rocks from the Amazonas and Mara- Palacios T. 2005. Petrologia e termocronologia de Restrepo J.J., Toussaint J.F., Hall M., Pimentel N.,
chimica Brasiliensis, 3:125-140. nhão basins in Brazil. Precambrian Research, 3:471-480. gnaisses migmatíticos da faixa de dobramentos Ara- Cordani U.G., Kawashita K., Linares E. 1985. Evolución
Ganade C. E., Cordani U.G., Agbossoumounde https://doi.org/10.1016/0301-9268(76)90039-5. çuaí (Espírito Santo, Brasil). Revista Brasileira de Geo- magmática de los Andes septentrionales. Comunicacio-
Y., Caby R., Basei M.A.S., Weinberg R.F., Sato K. Kroner A., Cordani U.G. 2003. African, southern ciências, 35:123-134. https://doi.org/10.25249/0375- nes, 35:201-208.
2016. Tightening-up NE Brazil and NW Africa con- Indian and South American cratons were not part of the 7536.2005351123134. Ricci M. & Cordani U.G. 1964. Notas sobre trian-
nections: new U–Pb/Lu–Hf zircon data of a complete Rodinia supercontinent: evidence from field relation- Ngom P.M., Cordani U.G., Teixeira W., Janasi V.A. gulação radial. Boletim Paulista de Geografia, 41:83-93.
plate tectonic cycle in the Dahomey belt of the West ships and geochronology. Tectonophysics, 375:325-352. 2010. Sr and Nd isotopic geochemistry of the early ul- Rocha-Campos A.C. & Cordani U.G. 1962. Reco-
Gondwana Orogen in Togo and Benin. Precambrian https://doi.org/10.1016/s0040-1951(03)00344-5. tramafic–mafic rocks of the Mako bimodal volcanic belt nhecimento geológico no Maciço do Caullaraju, Peru.
Research, 276:24-42. https://doi.org/10.1016/j.pre- Kroonenberg S.B., Roever E.W.F., Fraga L.M., Reis of the Kedougou–Kenieba inlier (Senegal). Arabian Jour- Boletim Da Sociedade Brasileira de Geologia, 11:80-87.
camres.2016.01.032. N.J., Faraco T., Lafon J.M., Cordani U.G., Wong T.E. nal of Geosciences, 3:49-57. https://doi.org/10.1007/ Sant’anna L. G., Clauer N., Cordani U.G., Ricco-
Gomes C.B. & Cordani U.G. (1965). Geocronologia 2016. Paleoproterozoic evolution of the Guiana Shield in s12517-009-0051-3. mini C., Velázquez V.F., Liewig N. 2006. Origin and
do maciço alcalino de Itapirapuã, SP. Anais Da Academia Suriname: a revised model. Netherlands Journal of Geosci- Nutman A.P. & Cordani U.G. 1993. Shrimp U-’PB’ migration timing of hydrothermal fluids in sedimenta-
Brasileira de Ciências, 37:497-501. ences, 95:491-522. https://doi.org/10.1017/njg.2016.10. zircon geochronology of archaean granitoids from the ry rocks of the Paraná Basin, South America. Chemical
Gomes C.B., Cordani U.G., Basei M.A.S. 1975. Ra- Laclavere G. & Cordani U.G. 1991. Unions: earth Contendas-Mirante area of the São Francisco Cra- Geology, 230:1-21. https://doi.org/10.1016/j.chem-
diometric ages from the Serra dos Carajás area, Northern sciences. Science International, Esp.:15-16. ton, Bahia, Brazil. Precambrian Research, 63:179-188. geo.2005.11.009.
Brazil. Geological Society of America Bulletin, 86:939- Leal L.R.B., Cunha J.C., Cordani U.G., Teixeira https://doi.org/10.1016/0301-9268(93)90032-W. Simon I. & Cordani U.G. 1996. A obra e o legado
942. https://doi.org/10.1130/0016-7606(1975)86<939 W., Nutman A., Leal A.B.M., Macambira M.J.B. 2003. Nutman A.P. & Cordani U.G. 1995. Shrimp U-Pb de John Neumann. Estudos Avançados, 10:175-176.
:raftsd>2.0.co;2. SHRIMP U-Pb, 207Pb/206Pb zircon dating, and Nd zircon geochronology of archean gneisses and conten- https://doi.org/1806-9592.

684 685
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS

Simon I. & Cordani U.G. 1996. The work and legacy otectônica e de idades radiométricas. Anais Da Academia lini C., Mann P. (eds.), Petroleum Geology and Poten- Cordani U.G., Brito Neves B.B., Fuck R.A., Porto R.,
of John von Neumann. Estudos Avançados, 10:176-178. Brasileira de Ciências, 70:527-548. tial of the Colombian Caribbean Margin, Tulsa, The Thomaz Filho A., Cunha F.M.B. 1984. Estudo integrado
https://doi.org/10.1590/S0103-40141996000100016. Torquato J.R. & Cordani U.G. 1981. Brazil-Africa American Association of Petroleum Geologists, p. 103- do Pré-Cambriano com os eventos tectônicos das bacias
Soares A.C.P., Cordani U.G., Nutman A. 2000. Con- geological links. Earth-Science Reviews, 17:155-176. 136. https://doi.org/10.1306/13531933M1083639. sedimentares brasileiras. Rio de Janeiro: CENPES, 151p.
straining the age of neoproterozoic glaciation in eastern https://doi.org/10.1016/0012-8252(81)90010-6. Brito Neves B.B., Cordani U.G., Torquato J.R.F. Cordani U.G., Cardona A., Jiménez D.M., Liu
Brazil: first U-Pb (SHRIMP) data of detrital zircons. Torquato J.R., Silva A.T.S.F., Cordani U.G., Kawa- 1980. Evolução geocronológica do pré-cambriano do D., Nutman A.P. 2005. Geochronology of proterozo-
Revista Brasileira de Geociências, 30:58-61. https://doi. shita K. 1979. Evolução geológica do cinturão móvel do estado da Bahia. In: Geologia e recursos minerais do Es- ic basement inliers in the Colombian Andes: tectonic
org/10.25249/0375-7536.2000301058061. Quipungo no Ocidente de Angola. Anais Da Academia tado da Bahia : textos básicos. Salvador, Coordenação history of remnants of a fragmented Grenville belt.
Soares A.C.P., Noce C.M., Alkmim F.F., Silva L.C., Brasileira de Ciências, 51:133-144. da Produção Mineral. In: Vaughan A.P.M., Leat P.T., Pankhurst R.J. (eds.)
Babinski M., Cordani U.G., Castañeda C. 2007. Orógeno Vandoros P., Cordani U.G., Ruegg N.R. 1966. On Campos D.A., Cordani U.G., Kellner A.W.A. 1997. Terrane processes at the margins of Gondwana. Geo-
Araçuai: síntese do conhecimento 30 anos após Almeida potassium-argon age measurements of basaltic rocks Earth sciences. In: Science in Brazil : an overview. Rio de logical Society, London, Special Publications, 246,
1977. Geonomos, 15:16-21. https://doi.org/10.18285/ from southern Brazil. Earth and Planetary Science Janeiro, Academia Brasileira de Ciências, p. 66-74. p. 329-346.
geonomos.v15i1.103. Letters, 1:449-452. https://doi.org/10.1016/0012- Cordani U.G. 1992. Recursos minerais da Amazô- Cordani U.G., Civetta L., Mantovani M.S.M.,
Songshan W., Shiling H., Haiqing S., Ji Q., Cordani 821x(66)90045-8. nia e sua problemática. In: Pavan. C. (org.) Amazônia Petrini R., Kawashita K., Hawkesworth C. J., Taylor
U.G., Kawashita K. 1992. Bsp-1 hornblende, a 2ga age Vinasco C. & Cordani U.G. 2012. Reactivation Conferência Internacional: Uma Estratégia Latino-A- P., Longinelli A., Cavazzini G., Piccirillo E.M. 1988.
standard as flux monitor of 40ar-39ar dating. Acta Petrolo- episodes of the Romeral Fault system in the north- mericana para a Amazônia – Relatório-Síntese e Reco- Isotope geochemistry of flood volcanics from the
gica Sinica, 8:125-134. western part of central Andes, Colombia, through mendações. São Paulo, Fundação Memorial da Améri- Parana basin (Brazil). In: Piccirillo E.M. & Melfi J.
Tassinari C.C.G., Cordani U.G., Nutman A.P., Bet- 39
Ar-40Ar and K-Ar results. Boletín de Ciencias de La ca Latina, p. 48-57. (org.) Mesozoic Flood Volcanism of the Parana Basin:
tencourt J.S., Taylor P.N. 1996. Geochronological sys- Tierra, 32:111-123. Cordani U.G. 1996. Geociências. In: Ciência e Tec- Petrogenetic and Geophysical Aspects. São Paulo: IA-
tematics on basement rocks from the Rio Negro-Juruena Vinasco C.J., Cordani U.G., González H., Weber nologia No Brasil: a Capacitação Brasileira para a Pesqui- G-USP, p. 157-178.
Province (Amazonian Craton) and tectonic implications. M., Pelaez C. 2006. Geochronological, isotopic, and sa Cientifica e Tecnológica. Rio de Janeiro, FGV. Cordani U.G., França M.S.J. 1991. Bahia foi centro
International Geology Review, 38:161-175. https://doi. geochemical data from Permo-Triassic granitic gneisses Cordani U.G. 2000. O planeta terra e suas ori- de continente. O Estado de São Paulo, 13 abril, p. 14.
org/10.1080/00206819709465329. and granitoids of the Colombian Central Andes. Journal gens. In: Teixeira W, Toledo M.C.M., Fairchild T.R. Cordani U.G., Gorustovich S.A., Souza A.P., Molina
Tassinari C.C.G., Teixeira W., Cordani U.G., of South American Earth Sciences, 21:355-371. https:// (org.), Decifrando a terra. São Paulo, Oficina de Tex- P., Bassaget J.P., Feroul J.M., Perrin C., Saggerson E.P.,
Kawashita K., Basei M.A.S. 1979. Caracterização das doi.org/10.1016/j.jsames.2006.07.007. tos, p. 1-26. Turner L.M., Pillement, P. 1986. Precambrian sedimen-
províncias geocronológicas da Amazônia. Anais Da Aca- Vlach S.R.F. & Cordani U.G. 1986. A sistemática Rb Cordani U.G. 2000. Ciências da Terra num mundo tary covers. In: Correlation of uranium geology between
demia Brasileira de Ciências, 51:776-777. -Sr em rochas granitoides: considerações interpretativas, sustentável. Folha de São Paulo, 4 agosto, p. A3. South America and Africa. Vienna, International Atomic
Tassinari C.C.G., Teixeira W., Taylor P.N., Cordani limitações e exemplos brasileiros. Revista Brasileira de Cordani U.G. 2000. Geologia é a ciência da evolu- Energy Agency, 270, p. 191-245.
U.G., Van Schmus W.R. 1986. The Crustal evolution of Geociências, 16:38-53. https://doi.org/10.25249/0375- ção. Jornal do Brasil, 6 agosto, p. 21. Cordani U.G., Marcovitch J., Salati E. (org.) 1997.
the Amazonian Craton during the proterozoic time. Ter- 7536.19863853. Cordani U.G. 2002. Uma nova “cultura de avalia- Rio 92 cinco anos depois: avaliação das ações brasileiras
ra Cognita, 6:233. Weber M.B.I., Cardona A., Paniagua F., Cordani ção”. Jornal da USP, 4 março, p. 4-5. em direção ao desenvolvimento sustentável após a Rio
Távora F.J., Cordani U.G., Kawashita K. 1967. De- U.G., Sepúlveda L., Wilson R. 2009. The Cabo de la Cordani U.G. 2003. Foreword. In: Aswathanaraya- 92. São Paulo, ABC/IEA-USP/FBDS, 307p.
terminações geocronológicas na região central da Bahia Vela Mafic-Ultramafic Complex, Northeastern Colombi- na U. (org.), Mineral Resources Management and the En- Cordani U.G., Marcovitch J., Salati E. 1997. Ava-
pelo método potássio-argônio. Boletim Paranaense de an Caribbean region: a record of multistage evolution of vironment. London, CRC Press. liação das ações brasileiras em direção ao desenvolvi-
Geociências, 26:59. a Late Cretaceous intra-oceanic arc. Geological Society, Cordani U.G. 2004. Chatting with... Dr. Cordani. mento sustentável após a Rio 92. In: Cordani U.G.,
Teixeira A.L., Cordani U.G., Nutman A. 1999. Ida- London, Special Publications, 328:549-568. https://doi. 32nd IGC Informs, 6. 25 agosto. Marcovitch J., Salati E. (org.) Rio 92 cinco anos de-
des U/Pb (SHRUMP) de seixo riolítico em metaconglo- org/10.1144/SP328.22. Cordani U.G. 2004. Discurso de posse dos novos pois: avaliação das ações brasileiras em direção ao de-
merado da Bacia Eleutério, estado de São Paulo. Anais Wernick E., Oliveira M.A.F., Kawashita K., Cordani acadêmicos em 2004. Rio de Janeiro, Academia Brasi- senvolvimento sustentável após a Rio 92. São Paulo,
Da Academia Brasileira de Ciências, 71:837. U.G., Delhal J. 1976. Estudo geocronológico pelo méto- leira de Ciências. http://www.abc.org.br/a-instituicao/ ABC/IEA-USP/FBDS, p. ix–xix.
Teixeira W., Cordani U.G., Nutman A.P., Sato K. do Rb/Sr em rochas do bloco Jundiaí e regiões adjacen- memoria/discursos-proferidos-em-cerimonias-de-posse/ Cordani U.G., Milani E.J., Thomaz Filho A., Cam-
1998. Polyphase Archean evolution in the Campo Belo tes. Revista Brasileira de Geociências, 6:125-135. https:// posse-dos-novos-academicos-em-2004. pos D.A. 2000. Tectonic evolution of South America.
metamorphic complex, Southern São Francisco Cra- doi.org/10.25249/0375-7536.1976125135. Cordani U.G. 2004. Fernando de Almeida e a “sua” Rio de Janeiro, 31st International Geological Con-
ton, Brazil: SHRIMP U-Pb zircon evidence. Journal of Xavier R.P., Barbosa J.S.F., Iyer S.S., Choudhuri A., plataforma brasileira. In: Geologia do Continente Sul-A- gress, 830 p.
South American Earth Sciences, 11:279-289. https://doi. Valarelli J.V., Cordani U.G. 1989. Low density carbonic mericano. São Paulo, Beca, p. 165-175. Cordani U.G., Olsen H., Gorustovich S.A., Souza
org/10.1016/S0895-9811(98)00011-X. fluids in the Archean granulite facies terrain of the Jequié Cordani U.G. 2004. O papel da academia no mundo A.P., Molina P., Feroul J.M., Meunier A., Saggerson E.P.,
Teixeira W., Cordani U.G. 2010. Proterozoic evolu- Complex , Bahia, Brazil. Journal of Geology, 97:351- globalizado. Jornal da USP, 19 julho, p. 12. Turner L.M., Thoste V., Pillement, P. 1986. Late Precam-
tion of the Amazonian Craton reviewed. Indian Journal 359. https://doi.org/10.1086/629308. Cordani U.G. 2007. Geocronologia: as pesquisas brian belts. In: Correlation of uranium geology between
of Geology, 80:115-137. pioneiras da USP que mudaram a geologia do Brasil. In: South America and Africa. Vienna, International Atomic
Teixeira W., Tassinari C.C.G., Cordani U.G., Gomes C.B. Geologia USP 50 anos. São Paulo, IGc/USP Energy Agency, 270, p. 89-189.
Kawashita K. 1986. Geochronological review on the -EDUSP, p. 149-171. Cordani U.G., Olsen, H., Gorustovich, S. A., Sou-
amazonian craton. Abstracts with Programs - Geological Cordani U.G. 2011. Deslizamentos e inundações - o za, A. P., Molina, P., Meunier, A., Saggerson E.P., Turner
Society of America, 18:770. Livros, capítulos de livros, que fazer? O Estado de São Paulo, 19 fevereiro. L.M., Krische E.U., Pillement, P. 1986. Precambrian cra-
Teixeira W., Tassinari C.C.G., Cordani U.G., artigos de jornais e outros Cordani U.G., Barreto P.M.C., Molina P., Saggerson tons. In: Correlation of uranium geology between South
Kawashita K. 1989. Review of the geochronology of the E.P., Turner L.M., Ziegler V. 1986. Significance for ura- America and Africa. Vienna, International Atomic Energy
Amazonian craton: tectonic implications. Precambrian Almeida F.F.M., Amaral G., Cordani U.G., Kawa- nium exploration. In: Correlation of uranium geology Agency, 270, p. 15-87.
Research, 42:213-227. https://doi.org/10.1016/0301- shita K. 1973. The precambrian evolution of the South between South America and Africa. Vienna, International Cordani U.G., Picazzio E. 2009. A terra e suas ori-
9268(89)90012-0. American cratonic margin south of the Amazon River. Atomic Energy Agency, 270, p. 417-455. gens. In: Teixeira W., Toledo M. C. M., Fairchild T. R.,
Thomaz Filho A., Cordani U.G., Kawashita K. 1996. In: Nairn A.E.M., Stehli F.G. (eds.), The ocean basins Cordani U.G., Brito Neves B.B. 1978. Geocrono- Taioli F. (org.), Decifrando a Terra. São Paulo, Compa-
A origem do grupo Bambuí no contexto da evolução ge- and margins. New York, Plenum Press. logia do pré-cambriano. In: lnda H.A.V.; Barbosa J.F. nhia Editora Nacional, p. 18-49.
otectônica. Anais Da Academia Brasileira de Ciências, Baquero M., Grande S., Urbani F., Cordani U.G., Texto explicativo para o Mapa geológico do Estado da Cordani U.G., Ramos V.A., Fraga L.M., Cegarra
68:593-594. Hall C., Armstrong R. 2015. New Evidence for Putu- Bahia: escala 1:1.000.000. Salvador, Estado da Bahia, M., Delgado I., Souza K.G., Gomes F.E.M., Schobbe-
Thomaz Filho A., Kawashita K., Cordani U.G. 1998. mayo Crust in the Basement of the Falcon Basin and Secretaria das Minas e Energia, Coordenação da Pro- nhaus, C. 2016. Tectonic map of South America: scale
A origem do Grupo Bambui no contexto da evolução ge- Guajira Peninsula, Northwestern Venezuela. In: Barto- dução Mineral. 1:5.000.000: explanatory notes. Paris, Commission

686 687
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS

for the Geological Map of the World. https://doi. São Francisco Craton, eastern Brazil: tectonic genealogy
org/10.14682/2016TEMSA. of a miniature continent. New York, NY, Springer Berlin
Cordani U.G., Sato K., Teixeira W., Tassinari C.C.G., Heidelberg, p. 321-331. https://doi.org/10.1007/978-3- Distinções acadêmicas
Basei M.A.S. 2000. Crustal evolution of the South Amer- 319-01715-0_17.
ican platform. In: Cordani U.G., Milani E.J., Thomaz Janasi V.A., Rocha-Campos A.C., Macedo A.B., Car-
Filho A., Campos D.A. (eds.) Tectonic evolution of South neiro C.R., Tassinari C.C.G., Gomes C.B., Ruberti E.,
Compilação e digitalização
America. Rio de Janeiro, 31st International Geological Amaral I.A., Sígolo J.B., Toledo M.C.M., Boggiani P.C., de Andrea Bartorelli
Congress, p. 19-40. Santos P.R., Gonçalves P.W., Hirata R., Cordani U.G.,
Cordani U.G., Sígolo J.B. 1997. Composição e Teixeira W. 2015. Destaques da contribuição do Instituto
estrutura interna de Marte. In: Massambani O., Man- de Geociências para a Geologia e a formulação de políti-
Umberto Giuseppe Cordani tem sido agra-
tovani M.S.M. (org) Marte: novas descobertas. São cas públicas no Brasil. In: Goldemberg J. (org.). USP 80 ciado ao longo de sua prolífica trajetória no
Paulo, Diagrama & Texto/Instituto Astronômico e Ge- Anos. São Paulo, EDUSP, p. 187-194. campo das Geociências com inúmeras distin-
ofísico-USP, p. 121-138. Melfi A.J., Misi A., Campos D.A., Cordani U.G.
Cordani U.G. Taioli, F. 2000. A terra, a humanidade (org.). 2016. Recursos minerais no Brasil: problemas
ções, muitas das quais nos pareceu indicado re- Distinção da Sociedade Brasileira de Geologia conce-
e o desenvolvimento sustentável. In: Teixeira W., Toledo e desafios. Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Ci- tratar aqui como forma de estimular às novas dendo o “Martelo de Prata” para a equipe do CPGeo
M. C. M., Fairchild T. R. (org.). Decifrando a Terra. São ências, 422p. gerações para enveredar pelo campo da pesqui- (G. Amaral, U. G. Cordani, K. Kawashita e A. J. Mel-
Paulo, Oficina de textos, p. 517-528. Oliveira S.M.B., Cordani U.G., Fairchild T.R. 2009. fi), durante o XX Congresso Brasileiro de Geologia,
Cordani U.G. Taioli F. 2009. As ciências da terra: Atmosfera, clima e mudanças climáticas. In: Teixeira W.,
sa acadêmica, da produção científica e da ativa em Vitória, Espírito Santo, em setembro de 1966.
sustentabilidade e desenvolvimento. In: Teixeira W., Toledo M. C. M., Fairchild T. R., Taioli F. (org.). Deci- cooperação internacional.
Toledo M. C. M., Fairchild T. R., Taioli F. (org.). De- frando a Terra. São Paulo, Companhia Editora Nacional, Reproduzimos, a seguir, a breve resenha que
cifrando a Terra. São Paulo, Companhia Editora Na- p. 108-127.
cional, p. 564-577. Rocha-Campos A.C., Cordani U.G., Kawashita K., destaca a Cordani como Membro Titular da
Cordani U.G., Teixeira W. 2007. Proterozoic accre- Sonoki H.M., Sonoki I.K. 1988. Age of the Parana flood Academia Brasileira de Ciências, na qual tomou
tionary belts in the Amazonian Craton. In: Hatcher Jr. volcanism. In: Piccirillo E.M. & Melfi J. (org.) Mesozoic posse em 20 de janeiro de 1970 (http://www.
R.D., Carlson M.P., McBride J.H., Catalán J.R.M. (eds.) Flood Volcanism of the Parana Basin: Petrogenetic and
4-D Framework of Continental Crust. Colorado, Geo- Geophysical Aspects. São Paulo: IAG-USP, p. 25-45. abc.org.br/membro/umberto-giuseppe-cordani):
logical Society of America, p. 297-320. Teixeira W., Linsker R., Pedreira A.J., Pirani J.R., Umberto Cordani nasceu na Itália em 1938
Cordani U.G., Van Schmus W.R. 1984. Workshop re- Cordani U.G., Ligabue A., Rocha A.A., Neto, C. 2005. e tornou-se brasileiro em 1960, mesmo ano em
port on geological evolution of the Brazil craton (24-29, Chapada Diamantina: águas do sertão. São Paulo, Terra
March). Brasília: Universidade de Brasília. Virgem, 160p. que se formou pela Universidade de São Paulo
Cordani U.G., Vandoros P. 1967. Basaltic rocks of (USP), na primeira turma de Geologia. Especia-
the Paraná basin. In: Bigarella J.J., Pinto I.D., Becker lizou-se em Geocronologia (1963) na Univer-
R.D. (org.). Problems in Brazilian Gondwana Geology.
Curitiba, Instituto de Geologia, Universidade Federal do sidade da Califórnia, em Berkeley, nos Estados
Paraná, p. 208-231. Unidos, e concluiu doutorado em Geociências
D’Agrella-Filho M.S. & Cordani U.G. 2017. The (1968) também pela USP. Entre 1970 e 1971,
Paleomagnetic Record of the São Francisco-Congo
Craton. In: Heilbron M., Cordani U.G., Alkmim F.F. realizou estágio de pós-doutorado também na
(eds.). São Francisco Craton, eastern Brazil: tectonic área de geocronologia na Universidade Livre de
genealogy of a miniature continent. New York, NY, Bruxelas, na Bélgica. Seus principais interesses
Springer Berlin Heidelberg, p. 305-320. https://doi.
org/10.1007/978-3-319-01715-0_16. de pesquisa são a geocronologia e a geoquímica
Forman J., Melfi A.J., Misi A., Campos D.A., Cor- isotópica, aplicadas a estudos de geotectônica.
dani U.G. 2016. Considerações finais sobre o setor mi- Além disso, já publicou trabalhos relacionados Medalha do Centenário do Museo
neral brasileiro e visão de futuro. In: Melfi A.J.,Misi A., de La Plata, Argentina, em 1977.
Campos D.A., Cordani U.G. (org.). Recursos minerais no ao desenvolvimento socioeconômico e o papel
Brasil : problemas e desafios. Rio de Janeiro, Academia da geologia na sociedade.
Brasileira de Ciências, p. 406-417. Durante a carreira, reuniu diversos prêmios
Heilbron M., Cordani U.G., Alkmim F.F. (eds.)
2017. São Francisco Craton, eastern Brazil: tecton- e títulos, dentre os quais destacam-se: Marte-
ic genealogy of a miniature continent. New York, lo de Prata (1966), da Sociedade Brasileira de
NY, Springer Berlin Heidelberg, 331 p. https://doi. Geologia (SBG); Grã-Cruz da Ordem Nacio-
org/10.1007/978-3-319-01715-0.
Heilbron M., Cordani U.G., Alkmim F.F. 2017. nal do Mérito Científico (1994); Medalha de
The São Francisco Craton and its Margins. In: Heil- Ouro José Bonifácio (1998), da SBG; Cavaleiro
bron M., Cordani U.G., Alkmim F.F. (eds.). São Fran- da Ordem das Palmas Acadêmicas (1999), do
cisco Craton, eastern Brazil: tectonic genealogy of a
miniature continent. New York, NY, Springer Berlin Ministério da Educação, Ciência e Tecnologia
Heidelberg, p. 3-13. https://doi.org/10.1007/978-3- da França; Medalha Spendiarov (2000), da
319-01715-0_1. Academia Russa de Ciências (RAS, na sigla em
Heilbron M., Cordani U.G., Alkmim F.F., Reis
H.L.S. 2017. Tectonic genealogy of a miniature conti- inglês); Prêmio Herbert Thomas (2006), da So- Placa de homenagem da IV Semana de Geologia, da
nent. In: Heilbron M., Cordani U.G., Alkmim F.F. (eds.). ciedade Geológica Chilena; e título de Profes- Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, em 1978.

688 689
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS

Medalha do X Congreso
Geológico Argentino,
realizado em San Miguel
de Tucumán, em 1987.

Placa de couro e metal com os dizeres: “A Universidad


del Norte ao Dr. Umberto Cordani, Diretor do Centro
de Geocronologia do Instituto de Geociências da
Universidade de São Paulo, Brasil. Antofagasta, Chile,
agosto de 1985. Jorge A. Alarcón, Rector.”

Diploma com a nomeação como membro titular da Aca-


demia Brasileira de Ciências em 25 de fevereiro de 1980. Placa de homenagem da
XXVII Turma de Geolo-
gia da Universidade de
São Paulo em 1987.

sor Emérito (2010) do Instituto de Geociências


da Universidade de São Paulo.
Além disso, Umberto é um dos criadores
do Centro de Pesquisas Geocronológicas da
USP. Além da Academia Brasileira de Ciências
(ABC), também é membro das academias de
ciências da Argentina, França, Portugal, a Aca-
demia de Ciências Latino-americana (ACAL),
a SBG, a Sociedade Brasileira de Geoquímica
(SBGq), a União Americana de Geofísica (AGU, Diploma com a nome-
ação como membro da
na sigla em inglês), a Associação Geológica Ar- TWAS (Third World
gentina (AGA, na sigla em espanhol), a Socieda- Academy of Sciences),
de Geológica Chilena, a Academia de Ciências a Academia Mundial
de Ciências, em 1990.
do Estado de São Paulo (Aciesp), a Sociedade
Designação como Membro Correspon-
dente da Asociación Geológica Argen- Geológica Americana (GSA, na sigla em inglês)
tina em 25 de setembro de 1980. e com a Academia Mundial de Ciências (TWAS,
na sigla em inglês). Para o Acadêmico, a geo-
logia “é a história do planeta, tão importante
para nós, embora tão pouco conhecida para a
sociedade brasileira”.

690 691
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS

Parte da nômina
com os cientistas
agraciados pelo
Presidente da
Placa de reco- República para
nhecimento com admissão na
medalha sobre Ordem Nacional
fatia de jaspilito do Mérito Cien-
a U. G. Cordani tífico, na Classe
concedida pelo da Grã-Cruz, em
Serviço Geoló- 6 de setembro
gico do Canadá, de 1994.
em Ottawa, em
abril de 1992.

Grã-Cruz da Ordem
Nacional do Mérito
Científico, 1994.

Faixa com a meda-


lha da Grã-Cruz da
Ordem Nacional do
Mérito Científico
outorgada a Umber-
to Cordani em 6 de
Medalha setembro de 1994.
do Mérito
do Sistema
CONFEA/
CREAs,
Conselho
Federal de
Engenharia,
Arquitetura e
Agronomia,
em 1993.

Medalha
da École
Normale Su-
périeure, de
Paris, quando
diretor do
IEA (Instituto
de Estudos José Israel Vargas, Ministro da Certificado de admissão de Umberto Flávio Fava de Moraes, Reitor da
Avançados), Ciência e Tecnologia, comu- Cordani na Ordem Nacional do Universidade de São Paulo, cum-
em 1994. nica a admissão na Ordem Na- Mérito Cientifico na Classe da Grã- primenta Umberto Cordani por
cional do Mérito Científico, Cruz assinado por José Israel Vargas, ter sido agraciado com a Ordem
na Classe da Grã-Cruz, Chanceler da Ordem, em Brasília, Nacional do Mérito Científico
em 9 de setembro de 1994. em 21 de setembro de 1994. em 30 de setembro de 1994.

692 693
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS

Placa da Third
World Academy
of Sciences
(TWAS) conferida
a Cordani pela
apresentação da
“Medal Lecture”
do ano 1996.

Medalha de bronze e medalha em disco de acrílico do XXX Congresso


Internacional de Geologia, em Beijing, China, em 1996.

Outorga da
Medalla Rectoral
da Universidad
de Chile em 6 de
janeiro de 1997.

Medalha pela Visita de Suas


Cátedra José Bo- Majestades Im-
nifácio, implanta- periais do Japão
da por Cordani na à Universidade
Universidade de de São Paulo
Lodz, na Polônia, em 6 de junho
concedida em 5 de 1997. Placa
de maio de 1996. desenhada pela
renomada artista
Tomie Ohtake.
Placa de Membro Honorário da Sociedade
Geológica do Chile, em janeiro de 1997.

694 695
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS

Cubo de sodalita com placa alusiva ao 1º Lugar


no Campeonato de Xadrez do Instituto de Geo-
ciências da Universidade de São Paulo em 1998.
Placa de madeira com fatia de sodalita conce- Prêmio Medalha Geológica Internacional L. A. Spendiarov concedido pela Academia Russa
dida pelo Centro de Pesquisas Geocronológicas de Ciências a Umberto Cordani em reconhecimento pela sua valiosa contribuição à coope-
do Instituto de Geociências da Universidade de ração internacional no campo das Ciências da Terra, entregue durante o 31st IGC (Interna-
São Paulo, em homenagem ao seu fundador, tional Geological Congress), realizado no Rio de Janeiro em agosto de 2000.
Umberto G. Cordani, em junho de 1997.

Insígnias de Doutor
Honoris Causa con-
feridas a Umberto
Cordani em 15 de
dezembro de 2000
pela Universidade
de Aveiro, em Portu-
gal, no âmbito do
27º Aniversário da-
quela instituição de
ensino da qual foi
professor visitante.

Certificado de reconhecimento
pela apresentação da Inter-
national Ingerson Lecture da
International Association of
Geochemistry and Cosmoche-
Ordre des Palmes Aca- mistry, no Rio de Janeiro, em
démiques (categoria 16 de agosto de 2000, durante
Palmas de Cavaleiro), a realização do 31º Congresso
concedida pelo Mi- Geológico Internacional.
nistério da Educação,
Ciência e Tecnologia
Medalha de ouro José Bonifácio de Andrada e da França, em 1999.
Silva – 1º Geólogo Brasileiro, prêmio concedido
pela Sociedade Brasileira de Geologia em 1998.

696 697
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS

Prêmio Herbert Thomas concedido pela Sociedade Geo-


lógica do Chile pela contribuição ao avanço das ciências
geológicas naquele país. Antofagasta, agosto de 2006.

Eleição de sócio cor- Placa em homenagem à atuação de Umberto Cordani


respondente estran- Sessão Solene da Congregação do Instituto de
Geociências da Universidade de São Paulo pela como Editor-Chefe da Revista Brasileira de Geociências,
geiro da Academia de no período de 1975 a 1978, conferida pela Sociedade Bra-
Ciências de Lisboa, em outorga de título de Professor Emérito a Um-
berto Cordani, em 19 de novembro de 2010. sileira de Geologia, em Santos, em 1º de outubro de 2012.
8 de maio de 2002.

Medalha concedida pela


Sociedade Brasileira de
Título de Acadê- Geologia enquanto Edi-
mico da Academia tor Chefe do Brazilian
Nacional de Ciências Journal of Geology.
da Argentina, em
Córdoba, Argentina,
em 2006.

Placa em homenagem à
Premio Capes de Tese,
dedicação do Professor
2015, a Umberto Cor-
Dr. Umberto Giuseppe
dani pela orientação
Cordani nos 60 anos da
da tese de Douturado
incorporação do IAG
de Carlos Eduardo
(Instituto de Astrono-
Ganade de Araújo.
mia, Geofísica e Ciências
Atmosféricas) à Univer-
sidade de São Paulo, em
novembro de 2006.

698 699
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS

Medalha de Acadé-
mico Correspondiente
Extranjero concedida
pela Academia Na-
cional de Ciências de
Buenos Aires, em 25
de abril de 2016.

Medalha de Sócio
Honorário da Socie-
dade Brasileira de
Geologia, em 2017.

Diploma em que a
Sociedade Brasileira de
Geologia concede a Um-
berto Giuseppe Cordani
o título máximo da enti-
dade: Sócio Honorário,
no Rio de Janeiro, a
23 de agosto de 2018.

Medalhas de prata e ouro conferidas a Umberto Cordani pelo Institute


of Geology, CAGS (Chinese Academy of Geological Sciences), em 2013.

700 701
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS – ÁLBUM FOTOGRÁFICO

Luigi Cordani, pai de Umberto Cordani, Mamma Beatrice com Umbertino


retratado por volta de 1940. e Annina, por volta de 1950.

Álbum fotográfico de Scuola Elementare de Villasanta, perto de Monza, Itália, por volta de
Umberto G. Cordani 1947. Umberto na fila de pé, ao centro, é o 3º a partir da direita.

Compilação e digitalização
de Andrea Bartorelli

A longa trajetória profissional de Umberto


Cordani também ficou registrada nas diversas
imagens que retratam cenas pessoais e fami-
liares, sua infância na Itália, diversos aspectos
de seus tempos de estudante, vida profissional,
práticas esportivas, atividades com colegas, tra-
balhos de campo, viagens, participação em sim-
pósios, conferências e congressos nacionais e
internacionais, além de seu relacionamento com
diversas personalidades científicas e autoridades
públicas e acadêmicas, que se entrelaçam com
pontos altos do desenvolvimento e história das
geociências no Brasil. Nos pareceu interessan-
te incluir este álbum na obra em sua homena-
gem pela importância do registro iconográfico
e pelo estímulo que pode representar para as
novas gerações de geólogos.

Umbertino e sua prima Luisa em


visita a Roma em 1943, em pleno pe-
ríodo da Segunda Guerra Mundial. Umberto (5º de pé a partir da esquerda) no time Juvenil Icaray, da Lapa, São Paulo, em 1956.

702 703
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS – ÁLBUM FOTOGRÁFICO

Time da Asso-
ciação Atlética
da Faculdade de
Filosofia no Cam-
peonato Paulista
Universitário, ven-
do-se os jogadores
Odenis (História),
Umberto, Adol-
pho e Nicolau
(Geologia), Rafael
(Filosofia), Bahia
(Física), Viana,
Odimar, Lister e
Celso (Geologia)
e Verrone (Física),
em 1959.

Alunos do 1º ano de Geologia, no Instituto de Física da USP, na Cidade


Universitária, em 1957 (Cordani é o 5º de pé, a partir da direita). Umberto Cordani
como goleiro no
Campeonato Paulista
Universitário, em
setembro de 1959.
Aparecem os com-
panheiros Verrone,
Raphael e Odenis.

Cordani no Departa-
mento de Geologia da
Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras da USP,
em dezembro de 1960.

Celso de Barros Gomes, Adolpho Melfi e Umberto Cordani em visita a Ouro Preto, em novembro de 1958,
por ocasião do XII Congresso Brasileiro de Geologia realizado em Belo Horizonte, Minas Gerais.

704 705
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS – ÁLBUM FOTOGRÁFICO

Partida de Cor-
dani (Filosofia)
vs. Eckart Wer-
nick (POLI),
irmão do geó-
logo Eberhard,
de turma de
1973 da USP,
em setembro
de 1959. Nesse
ano, Corda-
ni venceu o
campeonato
universitário
paulista.

Colação de Grau no
Teatro Municipal, com
a presença dos professo-
res da Universidade de
São Paulo e criadores da
Campanha de Formação
de Geólogos, CAGE:
Prof. Reynaldo Ramos
Saldanha da Gama, Prof.
Viktor Leinz, General
Arthur Costa e Silva, Dr.
Ulhôa Cintra, Dr. Juran-
dyr Lodi, Dr. Paulo Sawa-
ya, Dr. Avelino Ignácio
de Oliveira, Dr. Othon
Henry Leonardos e Dr.
Silvio Fróes de Abreu,
em janeiro de 1961.

Missa de Formatura na Basílica Nossa Senhora do Carmo. Estão presentes Francisco,


Fernão, Celso, Igor, Machado, Valarelli, Paschoal, Lister, Kanji, Luiz, Scarpelli, Vascon-
Colação Grau no Teatro Municipal com a presença dos pais, Luigi e Beatrice, celos, Carlos, Umberto, Adolpho, Della Piazza, José Júlio, Miguel, Fernando, Giuseppi-
dos tios Dante e Aronne, e diversos amigos, em janeiro de 1961. na, Nivaldo, Neusa, Vicente, Antonio Carlos, Davino e Castanho, em janeiro de 1961.

706 707
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS – ÁLBUM FOTOGRÁFICO

Umberto na expe-
dição Brasileira aos
Andes Peruanos, do
Clube Alpino Pau-
lista, presidida por
Domingos Giobbi,
em julho de 1961.

Visita à Hacienda Ya-


nahuanca por ocasião
da Expedição Brasileira
aos Andes Peruanos:
Umberto, o fazendeiro
Don Ricardo e Antonio Cordani junto a Adolpho Melfi, Koji Kawashita, Eberhard
Carlos Rocha Campos, Wernick e Moacyr Coutinho, entre outros, num coquetel na
em agosto de 1961. Embaixada dos EUA durante o XIX Congresso Brasileiro de
Geologia, no Rio de Janeiro, em setembro de 1965.

Coleta de
amostras para
o Doutorado
com uso de
um helicópte-
ro Hughes-300
da Marinha
do Brasil, no
Arquipélago
de Abrolhos,
em 1966.

Coleta de amostras na Ilha São José, Trabalho de campo no Rio Taquari,


em Fernando de Noronha, em 1965. Vale do Ribeira, São Paulo, em 1965.

708 709
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS – ÁLBUM FOTOGRÁFICO

Trabalho de campo em Itabuna, Bahia, com coleta Cordani e o geólogo soviético Valery Bar-
de amostras para a pesquisa de Livre Docência, com sukov durante viagem para a reunião do
Augusto Pedreira e Edson Sampaio, em 1968. Comitê Executivo da International Union
Trabalho de campo no Morro do Berrante, em Cordani e A. I. Tugarinov (da ex-URSS) of Geological Sciences, IUGS, em
Antonina, Paraná, em 1966. Camada de magneti- durante o colóquio Geochronology, Cosmo- Aix-les-Bains, Marselha, França, em 1971.
ta compacta com 2 metros de espessura. chronology and Isotope Geology (ICOG),
realizado em Edmonton, Alberta, Canada,
entre 12 e 14 de junho de 1967.

Excursão ao Mt. Washington (New Hampshire), em


xistos da Formação Littleton, durante viagem aos Umberto Cordani e Lisbeth, sua esposa, com os filhos Renato
EUA a convite da National Academy of Science. e Marina, na Praça da República, São Paulo, em 1972.

710 711
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS – ÁLBUM FOTOGRÁFICO

Diretoria do Instituto
de Geociências da
Universidade de São
Paulo, com Setem-
brino Petri (Diretor),
Paulo Parenti (Secretá-
rio), Reynaldo Ellert,
Umberto Cordani e
Antonio Carlos Rocha
Campos, em 1975.

Umberto Cordani
junto a Yociteru Ha-
sui durante palestra
de Juracy Masca-
renhas no XXIX
Congresso Brasileiro
de Geologia, realiza-
do em Ouro Preto,
Coleta de amostras para a Docegeo (Rio Doce Geologia Minas Gerais, entre
e Mineração S/A), no Rio Iriri, Amazônia, em 1973. 29 de outubro e 5 de
novembro de 1976.

Umberto Cordani
junto a Francisco
Munizaga, durante
o IAVCEI (Interna-
tional Association of
Volcanology and Che-
mistry of the Earth’s Umberto Cordani,
Interior) – Simpo- Wilson Teixeira,
sium Internacional Colombo Tassinari
de Volcanología, e Francisco Muni-
realizado em Santiago zaga na atividade
do Chile entre 9 e 14 esportiva cam-
de setembro de 1974, peonato de Baby
oportunidade em que Fútbol durante o
foi solicitada a Cor- Primer Congreso
dani a elaboração de Geológico Chile-
um projeto para o In- no, em Santiago
ternational Geological entre 2 e 7 de
Correlation Program agosto de 1976.
(PICG), controlado
pela UNESCO.

712 713
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS – ÁLBUM FOTOGRÁFICO

O Reitor José
Goldenberg cum-
primenta Umberto
Cordani em sua
posse como Diretor
do Instituto de
Geociências da
Universidade de São
Paulo, IGc-USP, em
novembro de 1987.

Posse de Celso de
Barros Gomes (à
direita) como Vice-
Cordani em Beijing, China, durante o Inter- Cordani com Igor Mikhailovich Gorokhov Diretor do IGc-USP,
national Archean Symposium, em 1982. durante o 27º International Geological junto a sua esposa
Congress, em Moscou, Rússia, em 1984. Conceição, e a Um-
berto Cordani e sua
esposa Lisbeth, em
dezembro de 1987.

Time de futebol
de salão “La
Academia” por
ocasião do IV
Congreso Geo-
lógico Chileno.
Os jogadores são
Stern, Toma-
son, Umberto
Cordani, Thiele, Umberto Cordani com
Padilla, Romero Setembrino Petri e o
e Godoy, em Assistente Acadêmico
Antofagasta, em Henrique Vallado, no
agosto de 1985. Instituto de Geociências,
em outubro de 1988.

714 715
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS – ÁLBUM FOTOGRÁFICO

Reunião de trabalho
da IUGS, Inter-
national Union of
Umberto Cordani e Geological Sciences,
Dallas Peck, Diretor em Johannesburg,
do U.S. Geological África do Sul, com
Survey, durante o 28° os renomados
IGC, em Washington, pesquisadores Seiya
DC, EUA, em 1989. Uyeda (sismologia)
e Louis Nicolaysen
(geocronologia), em
janeiro de 1993.

Atividade da IUGS
Umberto Cordani, (International Union
Martin Portugal Ferreira of Geological Scien-
e Aires Barros, em mo- ces) em Phalaborwa,
mento de lazer na Adega África do Sul. Cor-
Mesquita, casa de fados dani com Nok Frick,
do Bairro Alto de Lisboa, Diretor do Serviço
em outubro de 1989. Geológico, e com Mi-
chael Schmidt-Thomé,
tesoureiro da IUGS.

Umberto Corda-
ni com Balram
Jakhar, Ministro da
Cordani com Agricultura da Índia,
Tadashi Sato, durante reunião do
Presidente do 29º Scientific and Te-
IGC, e o Prefeito chnical Committee
da cidade de on the International
Kyoto, Japão, em Decade for Natural
agosto de 1992. Disaster Reduction
das Nações Unidas
(UN-STC/IDNDR),
no Taj Palace Hotel,
em Nova Delhi, em
fevereiro de 1993.

716 717
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS – ÁLBUM FOTOGRÁFICO

Os casais Umberto
Cordani e Lisbeth,
e Nalini Thakur e
senhora, numa visita
aos pré-Himalayas
por ocasião da
conferência da Inter-
national Decade for
Natural Disaster
Reduction (IDNDR)
em Nova Dehli, Ín-
dia, entre 1º e 5 de
fevereiro de 1993.

Posse de Umberto
Cordani como Di- O presidente da China, Jiang Zemin (terno cinza), saúda Tadashi Sato e os mem-
retor do Instituto bros do Comitê Executivo da IUGS durante o 30º IGC, em Beijing, em 1996.
de Estudos Avan-
çados, IEA-USP,
vendo-se o Reitor
Flávio Fava de
Moraes e Jacques
Marcovitch, a
quem Cordani su-
cedeu na Diretoria
do IEA, em 1994.

Thomas R.
Fairchild,
Umberto
Cordani e J.
William Schopf
no Clube dos
Professores da
USP, em maio
de 1994.

Participantes do 30º IGC, em Beijing, em 1996, com a presença do Primeiro-ministro


da República Popular da China, Li Peng (primeira fila, ao centro, de óculos).

718 719
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS – ÁLBUM FOTOGRÁFICO

Colombo Tassi-
nari faz entrega a
Umberto Cordani
de premiação pelo
pioneirismo na Ge-
ocronologia durante
o 1° SSAGI (South
American Symposium
on Isotope Geology),
Campos do Jordão,
São Paulo, em 1997.
Wilson Teixeira apa-
rece à esquerda e, na
mesa à direita, Koji
Kawashita e John
Reynolds.

Reunião da 9th
International Confe-
rence on Geochro-
nology (ICOG),
Mesa da Seção de Abertura do 1° SSAGI (South American Symposium on Isotope Geology) com Koji Kawashita, em Beijing, China,
John Reynolds, Wilson Teixeira e Miguel Basei, em Campos do Jordão, São Paulo, em 15 de junho de 1997. com Alfred Kröner
e Zhou Xun, em
agosto de 1998.

Ricardo Varela, Carlos


Cingolani, Enrique
Linares Cordani e Pedro
Stipanicic, durante o
II SSAGI, Segundo
Simposio Sudamericano
de Geología Isotópica,
realizado na Villa Carlos
Paz, em Córdoba, Ar-
gentina, entre 12 e 16 de
setembro de 1999.

Cordani e sua esposa Lisbeth junto a John e Ann Reynolds, no 1° SSAGI (South American
Symposium on Isotope Geology), em Campos do Jordão, São Paulo, em 1997.

720 721
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS – ÁLBUM FOTOGRÁFICO

Anthony Garotinho, Governador do Rio de Janeiro, Marco Maciel, Vice-presidente do Brasil, e Umberto Cor-
dani na abertura do 31st International Geological Congress, realizado no Rio de Janeiro em agosto de 2000.

Cordani recebe a Medalha Geológica Internacional L. A. Spendiarov, oferecida


pela Academia Russa de Ciências pela sua valiosa contribuição à cooperação
internacional no campo das Ciências da Terra, durante o 31st International Geolo-
gical Congress, realizado no Rio de Janeiro entre 6 e 17 de agosto de 2000.

Cordani com
Diogenes de
Almeida Campos
e a Secretária
Administrativa do
31st IGC, realizado
no Rio de Janeiro
em agosto de
2000, na cerimô-
nia de abertura do
congresso.

Cordani, Marco Maciel, Vice-presidente do Brasil, e Rodolpho Tourinho Neto, Ministro das Minas e Energia,
na abertura do 31st International Geological Congress, realizado no Rio de Janeiro em agosto de 2000.

722 723
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano SEXTA PARTE: DESTAQUES ACADÊMICOS – ÁLBUM FOTOGRÁFICO

Afloramento de
metaconglome- Umberto e Lisbe-
rado na Cha- th no vulcão da
pada Diaman- ilha Deception,
tina, perto de em viagem para
Lençóis, Bahia, a Antártica, em
em 2004. janeiro de 2007.

Encontro da Turma
de 1960 em reunião
Cordani no Valle de do Grupo “Figueira
Horcones, aos pés da Glette”, com
do Monte Aconca- os colegas Luis
gua, no Parque Pro- Oliveira Costa, José
vincial Aconcagua, A. Vasconcelos, Pas-
durante excursão do coal Giardullo, Igor
Simpósio Gondwa- Bittencourt, Wilson
na, em Mendoza, Scarpelli, Henri-
Argentina, em 2005. que Della Piazza,
Umberto Cordani
e Francisco G.
Chaves, em Monte
Verde, Minas Ge-
rais, em 2009.

Wilson Teixeira,
Umberto Cordani,
K. V. Subbarao e
outros, diante do
Pico das Agulhas Trabalho de campo na
negras, no Parque Barragem de Cahora
Nacional do Itatiaia, Bassa, no Rio Zambeze,
no Rio de Janeiro, província de Tete, Mo-
durante trabalho de çambique, em 2010.
campo em outubro
de 2006.
Todas as centenas de fotogra-
fias e distinções acadêmicas
de Umberto Cordani foram
compiladas e digitalizadas
por Andrea Bartorelli.

724 725
Geocronologia e Evolução Tectônica do Continente Sul-Americano AGRADECIMENTOS

Diretoria Executiva da Sociedade Brasileira de Geologia


Agradecimentos Simone Cerqueira Pereira Cruz (Presidente).
Gilmar Vital Bueno (ex-Presidente)
Os organizadores expressam seus agradecimentos a todas as pessoas, patroci- João Marinho de Morais Neto (Diretor Adjunto).
nadores e instituições colaboradoras que tornaram possível a conclusão deste Fábio Braz Machado (Diretor Secretário).
projeto. Em especial, agradecem profundamente ao Instituto de Geociências Miguel Antônio Tupinambá A. Souza (Diretor de Comunicação e Publicações).
(IGc) da Universidade de São Paulo, na pessoa de seus diretores, Prof. Dr.
Marcos Egydio da Silva (até dezembro de 2019) e Prof. Caetano Juliani, pela Secretaria da Sociedade Brasileira de Geologia
disponibilização da infraestrutura e quadro técnico; à presidente da Sociedade Ivete di Rocco Fontes Alves e França.
Brasileira de Geologia (SBG), Profa. Dra. Simone Cruz, pelo gerenciamento Clóvis di Rocco Fontes.
financeiro; ao Centro de Pesquisas Geocronológicas, na pessoa de sua
diretora Prof. Dra. Maria Helena Bezerra Maia de Hollanda, e ao diretor Entrevistas e transcrições
do GeoLab-SHRIMP, Prof. Dr. Colombo Celso Gaeta Tassinari. Gravação: Denise de La Corte Bacci
Agradecem, também, especificamente, aos seguintes colaboradores pela (Depto. de Geologia Sedimentar e Ambiental IGc-USP).
sua participação essencial e/ou apoio nas diversas etapas do trabalho. Transcrição: Daniel do Valle Lemos Santos
(Doutorando; IGc-USP).

Cessão de imagens e fotos


Agradecimentos específicos: Andrea Bartorelli, Caio Ciardelli (cessão do modelo computacional para a capa),
Caetano Juliani (Diretor do IGc-USP à partir de janeiro de 2020). Carlos Cornejo (Solaris Edições Culturais), João Emilio Gerodetti,
Marcos Egydio da Silva (Diretor do IGc-USP até dezembro de 2019). Luiz Ferreira Vaz (pela cessão de fotos dos Professores John Stark e Norman Herz),
Nanci Iurico Assakura (assistência técnico-acadêmica). Marcelo Assumpção, Marcelo Lerner, Marlei Antônio Carrari Chamani.
Valéria Fajardo Montanholli (secretária da Diretoria IGc-USP).
Colegas que intermediaram contatos com potenciais patrocinadores,
Seção de Ilustração geológica cederam materiais e/ou contribuíram com informações para o livro
Elaboração, revisão e padronização de ilustrações: Adriana Zapparoli (VALE).
Marco Antonio Chamadoira, Antônio Carlos Pedrosa Soares (UFMG).
Thelma Collaço Samara. Atlas Correa Neto (UFRJ).
Cesar Ferreira Filho (UnB).
Seção de Publicações Elson Paiva de Oliveira (UNICAMP).
Organização de arquivos e estruturação Elton Luiz Dantas (UnB).
preliminar do boneco do livro: Fernando Flecha Alkmim (UFOP).
Daniel Machado. Francisco William da Cruz Junior (USP).
Jorge Silva Bettencourt (USP).
Comissão de relações institucionais Kei Sato (USP).
Hellen Cristina Damaso. Lydia Maria Lobato (UFMG).
Lúcia Travassos da Rosa Costa (CPRM).
Setor de Eventos Marcelo Sousa de Assumpção (USP).
Pesquisa de imagens no banco de imagens da USP: Marlei Antônio Carrari Chamani (USP).
Claudio Satoru Higa. Miguel Angelo Stipp Basei (USP).
Roberto Xavier (ADIMB).
Serviço de Biblioteca Rodrigo Martins (VALE).
Revisão e padronização bibliográfica: Veridiana Teixeira de Souza Martins (USP).
Anderson Santana (chefia técnica), Washington Barbosa Leite Junior (UNESP).
Celia Regina de Oliveira Rosa (atendimento ao usuário).
Somos gratos à Solaris Edições Culturais que se propôs a
Acervo fotográfico institucional publicar uma obra desta magnitude que esperamos seja uma
Jaime de Souza Marcos. referência para os interessados na Geotectônica e na Geocronologia.

Departamento de Mineralogia e Geotectônica Agradecemos, finalmente, a todos os autores e coautores de capítulos, depoimentos
Sônia Gomes Costa Vieira (secretaria). e relatos pela participação com seus consistentes e excelentes textos.

726 727

Você também pode gostar