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Tutela Administrativa e Superintendência

03.05.23
 Espécies de centralização administrativa;
 Limites da descentralização administrativa;
 Tutela administrativa: conceito, figuras afins, modalidades,
natureza e regime jurídico;
 Superintendência.
A descentralização classifica-se quanto à forma e quanto aos
órgãos.
 Quanto às formas:
- Descentralização territorial: verifica-se quando uma entidade
local, geograficamente delimitada, é dotada de personalidade
jurídica própria, de direito público, com capacidade administrativa
genérica. Dá origem a existência de autarquias locais. É a
verdadeira descentralização.
- Descentralização institucional: dá origem aos institutos públicos
e empresas públicas.

- Descentralização associativa: dá origem as associações públicas.


Em rigor estas duas últimas modalidades de descentralização não
tem a designação de decentralização administrativa e sim, de
devolução de poderes.
Quanto aos graus:
-Simples atribuição de personalidade jurídica de direito privado.
Na verdade não se trata de descentralização, pois permite -se
apenas que haja além do Estado outras pessoas colectivas de
direito privado.
- Atribuição de personalidade jurídica de direito público, das
autonomias administrativa, financeira e patrimonial e a faculdade
de emanar regulamentos administrativos (art. 278 CRM).
A descentralização conhece limites definidos por lei.
-Quando a lei determina as atribuições e as competências de uma
autarquia local, está a estabelecer limites;
- Quando a CRM obriga as autarquias locais a moverem-se dentro
do princípio da legalidade, está a estabelecer limites, vd arts.
272/2 e 277/1,2 CRM.
Segundo José Cretella Júnior (1989), a expressão tutela tem sido
substituída por alguma doutrina pela expressão controlo.
Estes autores, entendem que a expressão tutela utilizada em
sede de Direito Administrativo, é passível de gerar confusão já
que o mesmo vocábulo é utilizado em sede de Direito Civil.
Entende-se que não há necessidade de confundir estes dois
institutos porque expressão realidades completamente
diferentes.
Portanto, podemos dizer que a Tutela Administrativa constitui
uma expressão técnica que designa, de modo geral, a fiscalização
que o Estado exerce sobre outras PCP, dentro dos limites
estabelecidos pela lei.
Posto isto, podemos passar a noção de Tutela Administrativa.
Luís de Sá (1999), define Tutela Administrativa como sendo o
conjunto de poderes mediante os quais uma PCP intervém na
gestão de outra PC com o objectivo de assegurar a legalidade ou o
que entende ser o mérito da sua actuação.
Segundo o Professor Marcello Caetano, diz-se tutela administrativa o
poder conferido ao órgão de uma pessoa colectiva de intervir a gestão
de outra pessoa colectiva autónoma – autorizando ou aprovando os
seus actos, fiscalizando os seus serviços ou suprindo a omissão dos
seus deveres legais – no intuito de coordenar os interesses próprios da
tutela com os interesses mais amplos representados pelo órgão
tutelar. Daqui resultam algumas características/elementos essenciais
da tutela administrativa:
• A tutela administrativa pressupõe a existência de 2 PC: a PC tutelar e
a PC tutelada.
Das PC que intervém no instituto de Tutela Administrativa, uma é
necessariamente uma PCP e outra – a entidade tutelada- pode ser uma
PCP ou PCPriv.
• Os poderes de tutela administrativa são poderes de intervenção na
gestão de uma PC, que consiste, segundo o Professor Marcello
Caetano, em autorizar ou aprovar os actos, fiscalizar os serviços e
suprir a omissão dos deveres legais da entidade tutelada.
• É necessário que exista uma Lei de Habilitação: que é o instrumento
que autoriza a entidade tutelar a exercer tutela sobre a entidade
tutelada e delimita o âmbito dos poderes e o tipo de tutela a exercer .
Ex. A Lei n.º 6/2018, de 3 de Agosto (Lei de Autarquias Locais).
Nesta Lei estabelece-se o regime jurídico da Tutela Administrativa
que o Estado exerce sobre as autarquias locais (art. 12). Veja-se o
art. 24 da Lei n.º3/2018, de 19 de Junho (quadro legal do sector
empresarial do Estado).
A tutela tem de ter por fim assegurar em nome da entidade tutelar,
que a entidade tutelada cumpra as leis em vigor e que adopte soluções
convenientes para a prossecução do interesse público.
• Objecto dos poderes tutelares: os poderes tutelares recaem sobre a
legalidade e mérito dos actos administrativos da pessoa tutelada. Para
o efeito, a entidade tutelar pode realizar inspecções, inquéritos,
sindicâncias e ractificações, pode solicitar informações e
esclarecimentos, etc. Cfr. 0s arts. 6 e 7 da Lei de Tutela do Estado (Lei
n.º 5/2019, de 31 de Maio).
i. Tutela e hierarquia: a hierarquia ocorre dentro de um única PCP
enquanto que a tutela pressupõe a existência de duas PCs (a PCP
tutelar e a PCP tutelada);
ii. Tutela e controlo jurisdicional: a tutela se exerce no âmbito da
função administrativa e cabe a órgãos administrativos, enquanto que o
controlo jurisdicional se exerce no âmbito da função jurisdicional e
cabe a órgãos jurisdicionais- tribunais administrativos.
iii. Tutela e controlo interno: tal como a relação de hierarquia este
ocorre dentro de uma única PCP enquanto que a tutela pressupõe a
existência de duas PCPs
Podemos distinguir:
Quanto ao fim:
a) Tutela de Mérito: visa apreciar a conveniência, oportunidade e
correcção da actividade da entidade tutelada/visa apreciar o
mérito das decisões da entidade tutelada.
b) Tutela de Legalidade: visa exclusivamente apreciar a legalidade
dos actos da entidade tutelada.
Quanto ao conteúdo:
a) Tutela Interrogativa/correctiva: traduz-se na autorização ou
aprovação de actos da entidade tutelada.
b) Tutela sancionatória: consiste em a entidade tutelar aplicar
sanções à entidade tutelada pela prática de ilegalidades graves no
âmbito da gestão, a responsabilidade culposa pela inobservância
das suas atribuições, negligência no exercício das suas
competências e dos deveres funcionais (n.º 4 da art. 272 da CRM).
Esta tutela pode levar até à dissolução das entidades tuteladas;
ou à demissão do órgão executivo (art. 273 da CRM).
c) Tutela revogatória: traduz-se no poder de revogar
actos/decisões da entidade tutelada o que reduz o conteúdo da
autonomia das autarquias locais. É uma tutela excepcional, reduz
o conteúdo da autonomia das entidades descentralizadas, já que
pode colocar em causa quase todas as decisões da entidades
tutelada.
d) Tutela substitutiva: traduz-se no poder de suprir omissões da
entidade tutelada, praticando os actos devidos em nome e por
conta da entidade tutelada nos termos definidos na lei. É
igualmente excepcional.
e) Tutela inspectiva: consiste na faculdade de o órgão tutelar
fiscalizar os órgãos, serviços, documentos e contas da entidade
tutelada.
O essencial sobre o regime jurídico da tutela administrativa é o
seguinte:
• Não se presume a existência de tutela, ela deve ser expressamente
consagrada por lei;
• A entidade tutelada pode impugnar, nos tribunais administrativos, as
decisões da entidade tutelar (vd. art.12/n.º 4 da Lei n.º 6/2018, de 03 de
Agosto);
• A tutela administrativa não abrange o poder de dar instruções a
entidade tutelada, ainda que, numa situação determinada está solicite
o parecer daquela;
• A tutela administrativa do Estado sobre as autarquias locais,
incide sobre a legalidade e o mérito dos seus actos
administrativos.
T.P.C.
Produzir uma ficha de leitura sobre a natureza da Tutela
Administrativa e sobre a distinção entre a tutela administrativa e
a superintendência.
Sobre a Superintendência, veja-se os arts. 89, 92 e o Glossário da
LBOFAP.
FIM.

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