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1.

A vidada Família

O sistema de parentesco dos Tsongas e de todos os Bantu, é muito diferente do nosso e embaraça
os leigos (indivíduos com pouco conhecimento ou nenhum conhecimento em determinada
matéria) que tentam compreende-lo.

1.1. Observações ao quadro dos termos de parentesco das tribos africanas

A tribo copi fixou-se na costa do oceano indico, da foz do Limpopo a Inhambane. Grande
número dos seus membros imigrou para o distrito de Lourenço Marques.

A tribo khaha é uma parte da população pedi do norte de Transval.

Os Ndzawus, também chamados Nyais, habitavam mais ao norte entre o save e a Beira.

Gramaticalmente, a maior parte dos termos de parentesco tsonga pertence a classe um-va,
que é a classe pessoal. Formam o plural em “va” (Vatatana vana, Vamakwavo, Vatukulu).
Alguns pertencem a classe nh-tin, que compreende principalmente animais mas também
nomes de profissões ou de relações de familia: Ndrisana, Nhondrwa, namu, nhombe,
nhlampsa, que formam o plural em “ti”. Os termos – tatana, mamana, rharhana, malume e
kokwana, são tidos por nomes próprios quando empregados como tais.

Diz –setatana para chamar ao pai, a quem o vocábulo se aplica por excelecia, neste caso,
tatana não é precedido pela vogal inicial “a” ou “e”, que se antepõe aos nomes comuns. Por
sua vez para dizer “seu pai” diz-se atatanawawke (em rhonga) ou etatawayena (em tsonga).

Explicação dos termos de parentesco Tsongas

Nos Tsongas consideram-se duas espécies de parentesco: o parentesco pelo sangue ou


consanguinidade e o parentesco por casamento ou parentesco por aliança do lado da mulher. Os
parentes consanguíneos dividem-se em duas categorias que diferem uma das outras mais nos
bantu que entre nós: são os parentes do lado do pai e os do lado da mãe.

Chamam-se vakwerhu os parentes do lado do pai, varikweru os da nossa casa e vakokwana os


antepassados. Estas designações exprimem muitas coisas diferentes, pois uma das considerações
principais que as ditam é o direito de casar com as parentes da mulher ou de receber em herança
as mulheres pertencentes a sua própria família, isto é, para os homens.

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Parentesco pelo sangue

 Parentes do lado paterno

Pai designado tatana, detém respeito e temor dos filhos, o pai embora nada se ocupe dos filhos, é
o instrutor aquele que reprende e pune e devem lhe obediência absoluta. Os irmão do pai aquém
chamam vatatana va xirharhe, neste caso o irmão mais velho do pai e avô, o irmão mais novo
eetatanalwentrongo (um pequeno pai). As mulheres deles são suas mães, embora em certos
casos ele possa casar com elas quando as recebe por herança.

Os primos do pai são também pais, desde que o pai os trate como irmãos. O correlativo detatana
é nwana (filho ou filha). A expressão tatanawakokwana (pai do avô) nunca se emprega. O facto
desses termos não se usarem mostra que o sistema de filiação paterna é de facto muito antigo
nesta tribo. Deve ter havido uma época em que os antepassados da linha paterna eram melhores
conhecidos que na actualidade. As mulheres destes vakokwana (avô) são também vakokwana,
exactamente como os maridos.

Rharhana emprega-se para dizer minha tia e rharhakatiwaku para dizer vossa tia, os sobrinhos
da tia testemunham-lhe grande respeito, embora ela não seja de qualquer modo uma mãe,
contudo do lado paterno é ela que os rapazes ou raparigas contam os segredos. Eles vão procura-
la para obterem ajuda e conselhos nas ocasiões difíceis, ela intercede por elas junto do pai na
ocasião própria e a sua influencia pode ser decisiva e as vezes pode ser chamada para oficiar
num sacrifício oferecido em favor do sobrinho, filhos dos irmãos se todos estes já tiverem
morrido.

O marido da tia paterna, não é nem pai, nem um tio para os sobrinhos, mas ummukon'wana
(cunhado) tem uma espécie de direito de prioridade para casar com a sua irmã.

O irmão mais velho chama-se nhondrwa, ouhosi e os demais irmãos chamam-se makwavu. Os
Tsongas observam de forma rigorosa a hierarquia da idade. O irmão mais velho é tratado com
grande respeito e dá ordens aos irmãos mais novos, com autoridade quase igual a do pai. A
situação do mais velho não é só devido a idade, pois na família polígama todos os filhos da
primeira mulher ou do primeiro lar são tihosi em relação aos filhos das mulheres ou lares
secundários, embora nasçam depois. Quanto as raparigas chamam-se muitas vezes mamana,
mãe, a irmã mais velha, mas o irmão mais velho nunca é tatana mas sim um hosi. Com estes
termos começamos a ver que as leis de sucessão, especialmente a distribuição das viúvas entre os
membros da família que que as comprou, estão intimamente relacionadas com o sistema de
parentesco.

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Parentesdoladomaterno

Parentes do lado materno são geralmente os pais, avos e irmãos da mae (minha mae).
Mamana, chama-se assim a mae, aquela que se ocupa na educação dos filhos, e a quem eles
devem respeito.

As irmãs da mae, são designadas vamamana porque no caso damae morrer provavelmente
uma delas ou toda cuidarão dos filhos da irmã falecida. E os maridos destas serão Vatatana
dos órfãos.

Vakokwana são todos os parentes masculinos da mae, os irmnaos, o pai, os tios e outros. O
termo vakokwana significa “a casa de minha mae”.

Kokwana, é o avo materno e a ele devemos respeitar pela idade, ele é mais indulgente com o
filho da filha que com o filho do filho, se o filho da filha estragar algo ele dira: “não me
importo, que lhe rale o pai, pois não é da minha povoação”, contrariamente ao filho do filho.

Malume é irmão germano da mae mas todos os meio-irmaos desta, são também vamalume
em segundo grau. O mesmo se da para os irmãos do verdadeiro malume.

A criança vive encasa do pai e so vai em visita a povoação da mae, pode la viver durante
anos, depois do desmame, mas não se pode instalar definitivamente na povoação da mae,
porque seria severamente repreendida, pois ela estaria a abandonando a sua própria povoação
(do seu pai) e aumentando a dos seus vakokwanas (a povoação da sua mae).Na sua cultura a
mulher é comprada no lovolo, portanto, ela (a mulher) e os filhos seriam pertences do pai,
assim como os vitelos dos seus bois.

Mas se a morada eda família da ame não pode vir a ser a morada dos filhos, as relações que
estes mantem com os vakokwana são de natureza muito mais livres, agradáveis e amigáveis
que as que mantem com os parentes do pai.

É caracretristico do sistema familiar rhonga, um primo casar-se com a filha do seu tio
materno, mas nos tsonga o direito de casar com esta prima não é reconhecido, pode-se
brincar com ela mas nunca se pode casar com ela, pois, constituiria uma violação de
costumes e seria punida pelo chefe.

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Parentesco por alianc ma

Parentesco por lado da mulher

a) Características a gerais

Um dia falava desses assuntos o velho Viguete declarou solenemente «desde que se e
aceite ,entra se pelo noivado ,numa nova espécie de respeito que se deve manter ate a
morte »
O novo laco de parentesco chama se Vukonˊwana, que geralmente pronucia se com
sentimento de inquietação. E porque? Da relação entre o marido e a mulher. Mboza
chama Nsati a aNsavula ou trata por nkanta, termo de reciprocidade, ou Ntrivele, minha
cozinheira e ate por mamana, a palavra Nsati implica um amor mesturado de respeito e
ate medo, a mulher pode causr ao seu marido uma infinidade de aborrecimento se didputa
com ele foge para casa dela, por tanto toads relações de Vukonˊwana serão arruinadas
por discussões intermináveis.

O termo Vukonˊwana compõe se de três elementos:


A raiz koˊ, antiga raiz bantu que se integra igualmente em zulo-xhosa (kwe), em suthu
(hoe) e em pedi. O seu significado etimológico constitui uma incógnita. Juntam-se-lhe o
sufixo nˊwana e o prefixo Vu. O prefixo Vu tem duplo sentido: abstracto e de lugar. Diz
se empregando a palavra no locativo: e Vukonˊwanine, ou simplesmente: Vukwene.

Verifica se que a familiaGogwe e extraordinariamente completa.


Em termos usados para exprimir os diferentes perentescos dividem se em duas categorias:
Quando o homem visita a povoação da mulher encontra as pessoas que mais teme na
terra, as suas Vukonˊwanas e as mulheres em relação as que tem mais liberdade, as suas
tinamu: um informador descrevendo as duas categorias de perentes por alianca, disse «as
vukonˊwana são as que arranjam mulheres, as tinamusão as que arranjam filho…
Pois são as suas mulheres presuntivas. Mesmo que não case com elas, os filhos delas
tratam no por Pai»

b) «As Vukonˊwana»

Em primeiro lugar estao pai da mulher. No coração do genro há um grande temor dele,
pois em caso de conflitos o sogro tratava as discussões, é o protector natural da filha,
contudo os dois homens vivem em harmonia e depreca o genro trata o sogro por tatana,

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Pai. Naturalmente o termo tatana não é impregue aqui no sentido técnico, mais por
extensão.
Em segundo lugar estão os Vakonˊwanas irmãos da mulher, quando o Pai morre tomam
o lugar dele como protectores da irmã. Dai o embaraco e o temor que o marido sente em
relação a eles, mas de modo menos acentuado para o pai. Os irmãos da mulher não são
chamados Vamakwerhu mas designam nas frequentemente pelo termo soar, ou sivar, que
é simplesmente a corrupção da palavra holandesa Zwanger.É moderna, esta curiosa
adopção de um termo estrangeira, e se propaga principalmente entre os zulos, os xhosas e
os Suthos da busutulândia.
Entre os Tsongas só emprega se a palavra sivaruma única vez.A tendência para designar
esta espécie de parentesco pelo seu nome europeu é a prova de que o temor inspirado
pelos cunhados vai desaparecer nas novas regiões.
O respeito pelos vakonˊwanas atinge um alto grau em relação as duas mulheres da família
da mulher . A mãe dela e a mulher do irmão neste caso não se sentem só respeito mas um
afastamento que vai até ao ponto de se evitarem. Se um dos dois vir o outro ao longe
apresenta se a esconder sem ser avistado dando uma grande volta se for necessário.

Sempre que o genro for a povoação da mulher e avistar a sogra ela devera tapar o peito
com um pano, e ele tapa os olhos evitando sempre a sogra.

Tão bizarra conduta é regra, e não só acontece em relação a mãe da mulher, mas
também relativamente as irmãs da sogra.
No clã maputhru o genro fornece um boi e comunga com ela, comendo a carne do
animal ao mesmo tempo com os parentes por aliança. A partir dai o genro e a sogra
podem comer juntos o que era impossível antes de oferecerem os presente. Neste clã o
futuro genro não come com os Vakonˊwanas ates de dar o boi.

Entre os zulos a sogra jamais deve comer com o genro. No claxhoza é de costume
oferecer um presente para maximizar afastamento entre eles.

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As tinamu

As tinamu são as irmãs mais novas da esposa do homem. Namu significa irmã mais nova, e
quanto tinamu é o plural de namu.

Com as tinamu o homem tem vários direitos estendidos a brincadeiras, como uma relação
exclusivamente “amigável” mantedoo respeito. Contudo não são permitidas as relações sexuais,
caso se relacionassem sexualmente e a cunhada ficasse grávida, o homem teria de pagar uma
multa, ou antes iria ter com o sogro dizendo “NdridlayeleKuda” (Matei para comer). O que quer
dizer: cometeu uma ma acção, com intenção de remir a falta casando com a rapariga (irmã da sua
primeira esposa). Levaria cinco enxadas anunciando a nova esposa e entregaria mais tarde o
resto do lovolo. Uma rapariga casada com o marido da irmã mais velha é nlhampsa desta (da
mulher mais velha).

O direito de casar com as irmãs da mulher não é, de qualquer modo, uma obrigação, não é
focado a faze-lo se não agrada-lo.

As irmãs mais velhas da mulher não são tinamu para o marido, são vakon’ wana, porque quando
casa com a amulher, as irmãs mais velhas já encontram-se casadas, segundo a lei pela qual uma
irmã mais velha deve sempre casar-se antes da irmã mais nova. Nunca o pai deve consentir dar a
mais nova antes da mais velha.

Parentesdoladodomarido

Considera-se o parentesco de mboza com a família da mulher. Nsavula trata Masuluke e


Nsengamun’we por n’wingi, e o tratamento, que é reciproco, implica grande respeito.

A recém-casada deve trabalhar um ano inteiro para a sogra. Nsavula demostra o mesmo respeito
a Djane, Same e Fose, irmãos mais velhos do marido. São também n’wingi um apara o outro.

A mulher respeita geralmente os irmaso mais velhos do marido (vengi), mantem o convívio livre
com os irmãos mais novos (tinamu) e vice-versa. O homem evita as mulheres dos iramos mais
novos (Vengi) e brinca com as dos irmãos mais velhos (tinamu).

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A mulher dum irmão mis velho é esposa eventual de todos os irmãos mais novos, por terem
direito de a receber em herança, por morte do marido. Pelo cony=trario, um irmão mias velho
não pode receber em herança a mulher dum irmão mais novo a não ser em circunstâncias muito
excepcionais.

Ate que ponto a mulher é incorporada na família do marido?

A mulher pertece ao homem ate a morte desde que os bois do lovolo tenham sido pagos, mas não
reconhece os seus deuses antepassados dos sogros. Conservam os seus próprios deuses, a quem o
pai ou iramos dirigem muitas vezes preces a favor dos filhos dela.

Extensão do parentesco por alianca devido ao lovolo

O direito matrimonial tsonga assenta em dois princípios: um principio jurídico e outro moral, ou
antes de moral social.

Principio jurídico: como o casamento é uma transacção pela qual o marido, ou grupo do marido
paga uma prestação afim de adquirir uma mulher para manter e multiplicar o grupo, é preciso, se
esta mulher falhar neste objectivo que o marido possa voltar a posse da propriedade que
abandonou ou obter outro meio de descendecia desejada. Has três ciscuntancias que podem
originar a falta da mulher assi adquirida: a morte sem deixar filhos ao grupo que a obteve; a
disercao definitiva do dominciliom conjugal em consequência duma acordoremediavel; a
esterilidade.

Caso a mulher não satisfaça as exigência legitimas dos masulukes o Gogwerecorre a devolução
dos bois ou exandas pagas para adquirir a Nsavula (esposa), caso não haja consenso comeca uma
outra discussão que consiste em fornecer-lhe a subistituta segundo o direito matrimonial fundado
no costume do lovolo caso a subistituta exista, mas o Gogwe não oferece outras das suas filhas
para subistituicao da anterior e sim a filha de uma das suas filhas.

Os tabus nas relacoes com os parentes por alianca

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A maior parte dos tabus de vukon'wana (sviyilayla, pequenas proibições) não são tao severas
como relacionados com as relações sexuais, a doença e a morte, somente observam-se
religiosamente, porque são necessárias para assegurar relações normais entre as duas famílias.

Sào impostos alguns tabus durante as reuniões que tem lugar antes do casamento;

1- No discurso da discussão relativa ao lovolo, quando enumeram os bois, os pais do noivo


nunca devem oferecer oito cabeças, porque uma delas ‘e morta para a festa e oityo
significa sete. Contam até sete levantando um a um os cinco dedos da mão esquerda e
depois o polegar e o indicador da direita significa uma ofensa mortal.
2- É tabu um boi assustar-se com o barulho dos gritos de alegria que saúdam a chegada do
rebanho com os combates simulados no dia de lovolo porque significa que a consciência
ou o diafragma foi perturbado.
3- Se o lovolo consiste em enxadas, e cai chuva sobre elas, quando as levam aos
vakon’wana é tabu, os noivos não se casam.
4- Se um dos bois nõ te armações ( homuyaximulwa) ou as tem muitos pequenas, nas
relações com parentes por aliança, não haverá amizade.
5- Não devem levar tabaco com folhas, quando vão vukweni como noivos, so devem levá-lo
em pó.
6- Não devem levar carne de zebra ou de antílope hlangu quando estão em casa dos sogros,
ambos são bicolor e o antílope tem os intestinos muito compridos, nunca pode se dar
carneiros sem armações aos vakon’wana.
7- Quando vão com mulheres ver os pais da noiva para um xirhwalo, isto é, para lhes levar
cerveja, cair uma das bilhas, svayila. Voltem para casa.
8- Na região de tsonga maputo, era grande tabu um homem beber leite em companhia dos
sogros, ou antes comer leite, porque os indígenas consomem-no sempre coalhado. O leite
coalhado só deve ser comido em companhia de pessoas que têm o mesmo nome de
família, ou por outra, é interdito comer leite em todas as povoações onde se pode arranjar
mulher.
9- Nào devem construir palhota para a mulher antes do casamento, se não a mulher será
roubada, do mesmo modo não devem preparar a pele de ntehe antes do nascimento da
criança, a mulher não teria um ser humano.
10- Quando se casam, devem evitar comer mel com a mulher durante um ano, até ela ter um
filho, os dois podem comer na casa dos seus pais porque o mel é doce e a noiva é também
doce, e as duas não coadunam, svaylana.

Regras matrimoniais

Prlo facto de o homem poder ou nào casar certas mulheres, existem regras matrimoniais
muito nítidas.

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De um modo geral pode dizer-se que os Tsongas são endógamos quanto à tribo e clã e
exógamos no que respeita a família. São endógamos quanto à tribo porque se casam com
membros da mesma tribo. Por outro lado são exógamos no que respeita à família,

Caso de proibição absoluta

Em geral o casamento é proibido entre tatana, mamana, rharhana e nwana e entre


vamakwavu.

A proibição é particularmente severa pelo lado paterno. Nos Rhonga é tabu o rapaz casar
com a rapariga quando ambos se atribuem um antepassado comum na linha paterna, m,as não
é tão severa nos clãs do norte. Segundo mankhelu, o casamento é absolutamente proibido
entre descendentes do mesmo avo, isto é, entre primos de primeiro grau. No segundo grau é
permitido matando o parentesco e no terceiro grau é permitido.

Casamentos oermitidos sob condição

Em certos casos, um caso não se deveria realizar pode ser autorizado com a condição de toda
família realizar a cerimónia de kudlayaxivongo. Xivongo ou muvongo é uma palavra arcaica
que só se conservou nesta expressão e que corresponde a vuxaka, parentesco por sangue. Aos
que consentem tal acto, devem se oferecer orações em público e ungi-los de nsvanyi( erva
extraída das entranhas da cabra sacrificada). Este kudlayaxivongo tem por fim matar
legalmente uma forma de parentesco e substituí-lo por outra, por haver incompatibilidade
entre as duas.

Casamentos primitivos

Os parentes em oitavo grau podem casar se sem qualquer condição (Mankhelu). A


escolha que um rapaz pode fazer dentro do clã e mesmo na tribo é ilimitada, os
casamentos com o membros dum clã muito afastado não são recomendáveis.
Mas se nos casarmos entre amigos e até entre parênteses afastados procuraremos
apaziguar entre nos qualquer disputa que surja. Serão pessoas daquelas com quem
discutimos na palhota, enquanto com estranhos discutimos fora.

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Casamentos recomendáveis

1ᵒ direito de preempção

Trata se do costume do qual um homem pode casar com certas raparigas da família da
mulher ou da mukonˊwana principal. Há com efeito dos casos a considerar se a mulher
daquele homem não teve filhos ele tem o direito de exigir uma substituta entre as
raparigas mencionadas, mas não tem de paga lá não houve compra, por conseguinte não
há direito de preempção, mas há sim um direito de apropriação.

Direito de herança

No que respeita o direito de herança, não entram em conta as mulheres que homem tenciona
kulobola, mas as que ele pode herdar por herança, depois da morte de seus maridos. As que
podem assim caber-se em herança chamam em geral namu ou nsati, com as quais pode ter
relações livres mas nunca mantem relações sexuais com as mesmas.

Um homem pode também herdar, uma mulher do seu pai, mas isto so em certas circunstâncias. O
kudlayaxivongo nunca se pratica quando se trata de mulheres deixadas em herança. As mulheres
cujo marido não tinha irmaso mais novos, deve ser dadas em herança aos vatukulu e não aos
vana; vatukulu são os verdadeiros netos, filhos do filho ou os sobrinhos uterinos, filhos do irmã
do defunto.

Os vana filhos tomariam liberdade com as mulheres do próprio pai, e fariam suasbalamu, se
elas pudesses ser normalmente atribuidas por herança e isso perturbaria a vida da aldeia. Se
eu que sou nwana, filho, recebo em herança a mulher do meu pai, e se tenho dela um filho,
esta filho é nwana, filho para mim. Por outro lado, esta mulher pode ter tido filhos do meu
pai, e eles são meus irmãos assim um dos filhos desta mulher é meu filho, o outro, meu irmão
o que diz-se Aveleketinxakatimbirhi (teve filhos de duas geracoes) e isso não deve acontecer.
Assim se constitui a família entre os Tsongas.

Casamentos por grupos

Quanto aos casamentos por grupos, podemos ver que o homem tem direito de prioridade especial
em relação a certas mulher da família de sua mulher. O seu filho considerara também como
particularmente conveniente escolher mulher no clã de sua mãe, aquele em que o pai se casou.
Entre os indígenas da austrália enquanto um homem de um grupo de o direito de casar com todas

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as mulheres de um outro grupo, uma mulher deste grupo tem o mesmo direito de casar com todos
os homens do primeiro grupo. Entre os Tsongas e absolutamente um tabu para uma mulher
casada ter relações com quem quer que seja para além do seu marido. A poligamia existe e
aprovam na, mas a poliandria é severamente reprovada e considerada costume indecoroso. A
razão principal deste facto e, sem duvida, o tabu das matlulana, que proíbe a dois irmãos terem
relações com a mesma mulher.

Embora ligando uma grande importância a esta diferença, devemos notar contudo que há certa
correspondência entre os direitos dos homens e os das mulheres a este respeito. O homem tem
direito de preferência sobre as irmãs mais novas das mulher e sobre as filhas do irmão da mulher
o mesmo se estende as mulheres.

Matriarcado

Deveres e direitos do tio materno

O sobrinho uterino e, durante toda a vida, objecto de cuitado especial da parte do tio; se é o
primeiro, o malume prepara lhe o ntehe, quando é desmamado, vai viver durante anos na
povoação dos pais da mae, e se é uma rapariga, fica la as vezes ate ao fim da adolescência. Mais
tarde, quando ela se casa, o tio materno tem o direito, chamado kutsumba, de descontar uma
libra esterlina do total do lovolo.

No dia de kuhlomisa, quando a recém casada e levada para a povoação doa marido, os seus
parentes maternos recebem um presentem especial, uma vaca nova chamada mubiawanawayena,
isto e, a pele em que a ame trouxe as costas quando ela era criança, esta vaca e enviada a família
quando a primeira e terceira filha casam. Quando se tratam da segunda e da quarta filha, só
mandam o nyinba.

Direitos do sobrinho uterino.

O sobrinho uterino e chefe, tomatodasliberdades quer com o tio materno (mboza).

Estas actos dos sobrinhos uterinos em relação aos parentes maternos, os seus vamalume e
vakokwana aparecem claramente nas cerimonias religiosas e sempre nas de lut

O costume do lovolo

História do costume. Como o praticam

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O lovolo praticou-se sempre, contituiu primeiro em esteiras e objectos de vimes, isso nos temos
remotos antes da penetração árabe-perca e portuguesa. Passado algum tempo no acto do lovolo a
troca pela mulher era efectuada tais como grandes anéis de ferro, obtidos por troca dos
marinheiros que visitavam a costa. Tambe, se usavam grandes anéis de cobre, foram encontrados
dois na região de maputo, etes pesam mais de 1k, chamavam-lhe Litlatla e eram muito
ptocurados, bastava um para ter em amos uma mulher.

Os bois empregaram-se já há muito tempo para o lovolo, eles foram moeda corrente para
comprar uma mulher nop século XVIII.

Em 1820 Manicusse surgiu e apropriou-se de todo o gado e os Tsongas foram por isso obrigados
a empregar enxadas. Em 1835 quando os Ncuna emigraram para Transval pagavam lovolo em
bois, o pai exigia 10 bois pela filha. O s pedis da região exigiam apenas 2 ou 3 bois por nunca ter
havido casamento entre os membros de suas tribos. Os bois passaram a ser o meio habitual de
pagar o lovolo como transparecer nas seguintes expressões técnicas:

 Partir com um rebanho (Ntlhambi) significa ir ao lovolo


 Comer os bois é lovolo

A falta do boi causada provavelmente por guerra foi o impulso para a aintriducao da enxada
como meio de pagamento do lovolo entre 1840-1870. 10 enxadas eram o preco normal do
lovolo, mais tarde os pais começaram a pedir 20, 30 e 50.

Os comerciantes portugueses com espingardas e pólvora começaram a mandar a Gaza, indígenas


para cacar elefantes, e pagavam-lhes em enxadas, a razão de 20, 50 e 100 enxadas por dente
conforme o tamanho.

Em 1870 as enxadas foram substituídas pela libra esterlina, visto que durante o ano os cronistas
da tribo ainda chamam “Daimane”, foram para Kimberley, muitos indiginas recrutas sobre tudo
nas colónias tsonga do Transval e a moeda de ouro começou a espalhar-se com todos os seus
benefícios e perigos. A principio uma libra esterlina valia dez enxadas e o lovolo tinha sido
fixado em oito libras pelos chefes. Mas este preco depreca foi julgado insuficiente pelos pais,
exigiam 10 libras e 10 Guineus. Mais tarde o preco fixado subiu para 20 libras para uma rapariga
vulgar e 30 para a filha de um chefe, passado algum tempo, o preco médio era de 18 libras nos

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arredores de lourenco marques (actual maputo) e de 25 libras no Transval. Quando um baneane
tomasse uma mulher este pagava baixos preços como por exemplo 10 libras, isto porque os pais
aceitavam este trecho por ser homem branco e porque este regrecaria a sua terra e esse seria uma
casamento temporário.

O aparecimento de dinheiro na sociedade Bantu teve também sobre os cosutumesindiginas o


seguinte efeito inesperado: aparecimento de duas espécies de lovolo.

 O lovolo que o rapaz obtem pelo casamento da irmã e que el emprega, com o
consentimento da família na compra de uma mulher.
 O lovolo adquirido, ganho por um rapaz que trabalhoupara o arranjar e que assim
obteve ele próprio o rebanho (Kutisungulelantlhambi). Esta segunda espécie de lovolo
é muito mais fácil obter com as novas condições de vida, sobre tudo porque o estagio
de um ou dois anos em Johasburgo é suficiente para amealhar a quantia necessária.

Consequência desagradáveis do costume do “lovolo”

A primrira consequência lamentável do lovolo é que a mulher é evidentemente reduzida a uma


situação inferior pelo facto de ter sido paga.

Em segundo surge um novo rol de consequências deste costume que são as relações tensas
existentes entre os dois grupos que participam no contrato.

Vantagens do cotume do lovolo

 Fortifica a família, a família patriarcal, o direito do pai


 Marca diferenca entre um casamento legitimo e o ilegítimo, neste sentido, subistitui um
registo oficial de casamento
 Poe obstáculo a a dissolução das uniões matrimoniais, porque a mulher não pode
abandonar definitivamente o marido sem que seu grupo restitua o lovolo

Poligamia

Origem e extensão da poligamia entre os Tsongas

A poligamia pratica-se uniformemente em toda tribo. Isto não quer dizer que todos os homens
possuam muitas mulheres; muitos homens são monógamos, não que o desejem mas por força das

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circunstâncias. As mulheres casam-se mais cedo que os homens. Nas povoações dos arredores de
Lourenço Marques, o chefe de povoação tem muitas vezes duas ou três mulheres. Os grandes
chefes tem naturalmente mais, e Muvecha,por exemplo, chefe em Nondrwana , tinha pelo menos
trinta.na região de gaza,os chefes vao ainda mais longe,oupelomenos faziam-no noutros
tempos,sobre o domínio de nghunghunyana.Bingwana,chefe dos Tswas,tinha tantas mulheres
que mal as conhecia,e não conhecia todos os filhos.

Qual e a origem deste costume?

Podia pretender-se que se trate dum vestígio do velho sistema de casamento por grupos,supondo
terem os Bantu passando também por este estádio de evolução familiar.

Em dada épocatodos oshomens de um grupo,e vice-versa. Seria um estado de poligamia e


poliandria ao mesmo tempo. O temor do matlulana teria acabado com a poliandria,eso a
poligamia sobreviveu. Pode ainda supor-se que a monogamia existia primeiro e que a poligamia
apareceu mais tarde,pelas razões seguinte;;

1º As guerras diminuíram o numero de homens. Como as mulheres não desejavam ficar


solteiras,e a tribo queria aproveita-las o mais possível para aumentar e fortalecer-se,as mulheres
solteiras foram tomadas por homens casados,e assim se instituiu a família poligâmica. De facto a
poligamia desenvolveu-se consideravelmente quando das guerras do Nghunghunyana.
Anualmente,o chefe ngoni preparava expedições contra os seus inimigos,os copis da costa,ao
norte da embocadura do Limpopo; os homens eram mortos e as mulheres capturadas,passando
cada uma delas a ser a mulher do seu captor. A situação destas escravas não era muito
ma,maschamavam-lhes de tinhloko,cabeças (palavra que se pode aproximar da expressão
cabeças de gado),e podiam ser vendidas pelos seus proprietários .

2º As leis de sucessão que regulam a família agnatica actual entre os Tsongas conduzem
também,necessariamente,apoliagamia.

Um irmão herda a viúva do irmão mais velho,quer seja casado ou não.

Se, a poligamia começou desta segunda maneira, o seu desenvolvimento não há de espantar.
Corresponde admiravelmente ao ideal de vida do bantu. O homem que possui um harém,
tshengwe, e homem que triunfou na sua carreira! E a maneira normal de vir a ser homem rico,
ideal que de maneira alguma esta confinado a raça negra! Por outro lado, a sensualidade
desenvolveu se depressa na família poligâmica e o seu desenvolvimento reage mesmo sobre o
costume e tende a consolidá-lo.

Não julgo que a origem da poligamia possa ser determinada com exactidão. Existem, contudo,
entre os trongas alguns costumes impressionantes, que concedem à ˝primeira ou principal
mulher˝ uma situação especial que parece confirmar a hipótese da monogamia primitiva.

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O primeiro destes costumes é a incisão ritual na região inguinal feita a primeira mulher depois da
morte, do marido; não se faz nas outras mulheres.

Da mesma maneira, o viúvo pratica o mesmo ritual somente quando lhe morre a primeira
mulher, e não quando as ˝mulheres pequenas˝. O segundo costume encontra se nos rituais da
fundação da povoação. A primeira mulher desempenha papel especial nestas cerimónias
significativas.

Esta espécie de carácter sagrado de que é revestida a primeira mulher aparece ainda mais
claramente em casos de casamentos dos chefes. A mulher principal do chefe é, num sentido, não
a primeira em data, mas a que foi comprada com dinheiro dado pelos súbditos e cujo filho é
herdeiro do poder.

Geralmente a ˝mulher do país˝ não é a primeira. Pela sua morte o chefe não faz a incisão˸ a
primeira mulher torna se a mais importante sob o ponto de vista ritual.

Todos estes factos mostram que, para os Tsongas, há uma concepção do casamento mais
profunda e mais mística do que parece à primeira vista, quando examinamos a família
poligâmica actual. Para eles, um casamento verdadeiro e completo é a união de duas pessoas e
não de três ou de dez, e as pequenas mulheres não passam de concubinas.

Este sentimento explica-se muito bem pela hipótese de ter a raça atravessado uma fase
monogâmica anterior.

Aspectos do sistema de parentesco noutras tribos do sul de áfrica

As tribos podem classificar-se em duas categorias atendendo o sistema de parentesco: aquelas


em que o homem tem o direito de casar com a filha do irmão e aquelas em que é o filho que casa
com esta rapariga, da sua prima cruzada.

Tribosemqueohomemtemodireitodecasarcom afilhadoirmãodamulher

Deve-se citar em primeiro lugar a tribo tsonga, as outras tribos pertencentes a esta categoria são
as dos copis, dos tongas de Inhambane e dos ndzawus. Estas todas tribos são geograficamente
contiguas, porque estão todas estabelecidas no litoral; do oceano indico.

Tribocopi

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O sistema de parentesco é muito semelhante ao dos Tsongas embora sejam diferentes em outros
costumes. O jovem copi não emprega o mesmo termo para designar irmão (nkoma) e a irmã
(ndiyangu) vice-versa. Encontramos pela primeira vez a posição dos sexus, que é um dos tracos
do sistema suthu.

Entre os copis, o pai da mulher é tratado com mais familiaridade que entre os Tsongas, é mais
um pai (tate) que um mukonwana (musade).

Tribo tonga de Inhambane

Esta tribo estabelecida na vizinhaca de Inhambane tem uma língua diferente do tsonga, porque
pertence a um outro grupo lionguistico. Mas no que respeita as sistema de parentesco observa
regras muito parecidas.

Tribo ndzawu

Apresenta um alinguagem muito afastada do tsonga. Possui certas características pertencentes a


o grupo linguístico da africa central mas cujos princípios em matéria do direito matrimonial são
idênticos aos dos Tsongas.

Tribos em que o homem tem direito de casar por prioridade com a filha do tio materno

Tribo khaha-pedi

Não se sabe o sufuciente os costumes matrimoniais de todos os clãs pedis do Nordeste do


Transval para afirmar que em toda parte é da regra o casamento com a filha do tio materno.

Esta pequena tribo estabeleceu-se num vale isolado ao pé das montanhas de Drakensberg, e
dominado pelo soberano maciço e do Mamotswiri (Kranzkop).

A vida da povoação

A povoação tsonga(muti) é um organismo social de estrutura bem determinada e regulamentada


por leis definidas. É uma família ampliada, composta pelo chefe e pelos velhos que estão a seu
cargo, por suas mulheres, irmãos mais novos e filhos, formando uma comunidade.

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Descreve-se à seguir alguns aspectos exteriores relevantes da povoação tsonga:

A povoação tsonga

As povoações Tsongas apresentam, em toda a tribo, uma uniformidade notável. A sua contrucao
e regulada pelas mesmas leis no clarhonga e nos clãs do norte.

Os Tsongas gostam de construir no meio das avores, para se defenderem dos terrivei ventos do
sul que sompram com frequência na planície. A pequena comunidade prefere viver aa parte,
poque se basrtainteramente a si própria.

A vedação circular exterior (lihlampfu) ee feita de ramos de 45 a 60 centimetros de altura, a


vedação não éconstruída para servir de protecção contra os inimigios. Os Tsongas não são
fortificados, e no caso de guerra, a fuga é o único recurso. A sebe (cerca de plantas ou de
arbustos e ramos secos) protege contra os inimigos espirituais, os feiticeiros.

Os homens que possuem uma aldeia grande, gostam de construir uma palhota pequena que as
palhotas vulgares, o xiluvelo, e onde não vive nenhuma mulher. Ee a palhota particular do chefe,
onde as pessoas vao prestar-lhe homenagem; uma espécie de repartição do senhor da aldeia.

O lawu (palhota dos rapazes solteiros) e o nhanga (palhota das raparigas),constroem-se


separadamente, muitas vezes a palhota das raparigas eecontruida atrás das palhotas das mães
(mhala) para melhor serem vigiadas.

A cabeça de todo o boi abatido pertence aos homens, e comem-na juntos no huvu (onde faz-se a
matança e a festa que consiste em comer a cabeca).antigamente era tabu ir de sdandalias ao
huvu, pois as sandálias usavam-se na caca e deviam tirar-se antes de se entrar na aldeia.

Os membros da aldeia tsonga forma um todo cuja unidade é notável. A vida em comum revela-se
da maneira mais impressionante à refeição da noite. Em cada pátio a dona da palhota cozinha o
milho e o tempero em panelas diferentes, logo ao anoitecer ela distribui o conteúdo (kuphamela)
pelos pratos de madeira ou de barro. O mais cheio é era para o marido. Sentado com outros
homens e rapazes da aldeia esperando a refeição. As mulheres de cada palhota levava ao grupo

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um prato do que tinha cozinhado, e os homens comiam tudo de prato em prato usando os dedos.
De modo que todos os membros da povoação comam um pouco de tudo que foi cozinhado.

Transferência de povoação e fundação de povoação nova

Havia vários motivos para a mudança de povoação, dentre as quais destaca-seo esgotamento das
machambas e a morte da esposa do chefe, mas as principais razões para este acontecimento
eram: a queda de um raio sobre a aldeia e a morte do chefe.

Mortedochefedaaldeia- há um laço místico entre o chefe e o organismo social que depende


dele, o que quer dizer que se o chefe morre, a aldeia também é considerada morta. A aldeia não é
abandonada imediatamente, passara um ano de luto antes da saída, mas logo que as viúvas e os
bens tiverem sido distribuídos, o sucessor do antigo chefe vai fundar a sua própria aldeia e a
antiga transforma-se em ruinas (rhumbi). Se morre uma pessoa comum, não há transferência de
povoação, apenas deitam a sua palhota ao mato. Contudo, se as mortes se multiplicam os
ossinhos (usados pelo curandeiro para fazer consultas mágico-religiosas) podem ordenar que
abandonem o lugar considerado impuro e perigoso.

Queda do raio na aldeia –se um raio cair no huvu, não é bom sinal, chamam o medico, para
tratar o lugar apanhado pelo raio. Se puder retirar do chão a ave misteriosa que causa o raio e
solucionar o problema.Os habitantes são autorizados a ficar. Caso não, a povoação deve emigrar,
porque a presença da potência misteriosa do céu no interior do círculo das palhotas causaria
grande desgraça.

Esgotamento das machambas – quando os campos estão esgotados (kukarhala) e não produzem
o suficiente para alimentar os habitantes, estes deixam o lugar e procuram novo domicilio, mas
não tomam nenhuma decisão sem antes consultar os ossinhos (usados pelo curandeiro para
consulta).

Às vezes a aldeia pode ser transportada para outro local pelo facto de os habitantes estarem fartos
do sítio e desejarem mudar.

A fundação de povoação nova observa alguns ritos:

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Nos clãs do Norte

Em primeiro lugar o chefe vai examinar os lugares em que gostariam de fazer a povoação nova.
Arrancando pequenos ramos de diferentes árvores e leva-os para casa.

Em seguida consulta os ossinhos, que ajudam a fazer a escolha de onde será construída a palhota
do chefe através de um dos ramos das árvores arrancados pelo chefe. Reunido o material de
construção, o chefe deixa a povoação com sua principal mulher para o lugar escolhido e matem
relações sexuais na primeira noite. No dia seguinte começa a época da mudança, onde são
interditas as relações sexuais e caso infrinjam esta lei, o chefe cairá doente ou talvez paralisado,
será punida também a mulher culpada que fica sem dar a luz é amarada pela povoação
(kubohiwahimuti).

Neste período de mudança ninguém deve lavar o corpo, porque isso poderia fazer chover, o que
prejudicaria a construção.

Construídas as palhotas, na entrada principal antes de serem espetadas as estacas, o curandeiro


protege o lugar dizendo: “Desta maneira impeço o inimigo de entrar. Os que vem tentar contra
nós os seus sortilégios (kuhiringahimaringo) serão atacados pela doença e irão morrer em suas
casas.”

Depois reúnem-se todos os membros da povoação em dois grupos, perguntando-se mutuamente


se todos tinham respeitado as leis de mudança, e se um deles ter pecado esta tudo estragado e
teriam que recomeçar todo o processo de mudança num outro sitio. Se conduziram-se bem,
celebra-se o rito de purificação semelhante a que se pratica na cerimónia de luto
(kulhambandzhaka) e dai cada par está permitido a praticar relações sexuais.

No dia seguinte, depois de ter mantido relações sexuais a mulher principal pega no escudo e
azagaias do chefe e coloca-se em frente da entrada principal para fechar a povoação. Em seguida
o chefe bebe um golo de água de uma taca e cospe uma parte para a assistência (phalha) e por
ultimo faz-se a cerimónia de inauguração. E quanto a antiga aldeia, um dos habitantes fecha a
entrada principal com um ramo. O que significa que “as pessoas que lá viviam morreram e não
ficou uma única para fechar a porta.”

Nos clãs Rhongas

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A série de ritos de mudança é semelhante à dos clãs do Norte.

Aqui o chefe também examina alguns lugares e consulta os ossinhos sobre o local da construção.

Designada árvore onde se deve construir a palhota do chefe, é estabelecida uma relação mística
entre o chefe e a árvore, que nunca deve ser cortada. Na primeira noite, o chefe mantem relações
sexuais com a mulher principal para possuir a árvore bem como a povoação. Diferentemente dos
clãs do Norte, os habitantes vem no mesmo dia ao novo local e constrói-se uma palhota para se
protegerem da chuva e só no dia seguinte constroem duas palhotas para que possam separar-se os
homens das mulheres.

Na noite desse dia o chefe e amulher principal, mantem relações sexuais na sua palhota, e ao
começar o dia, ainda escuro vão lavar as mãos à entrada principal. Depois do rito sexual,
amontoa-se toda a erva seca à frente da palhota principal e é queimada ritualmente.

Diferentemente dos clãs do Norte, o curandeiro abençoa as paliçadas da aldeia e não a entrada
principal, depois disso ele sacrifica uma galinha e invoca os seus deuses para abençoar o lugar.

Observações às regras de mudança

É possível perceber que os ritos praticados nos dois clãs subdividem-se em três séries,
nomeadamente: ritos sociais, de protecção e de passagem.

Ritos sociais - o (muti), é uma pequena comunidade organizada, que tem as suas próprias leis,
entre as quais a mais importante parece ser a lei da hierarquia. O irmão mais velho é o
proprietário da povoação. Ninguém lha deve roubar, se alguém o fizer, toda a comunidade
sofreria. Por isso o chefe deve ser o primeiro a ir à nova povoação e ter relações sexuais com a
mulher principal, para tomar a posse da povoação, pela mesma razão quando o chefe morre a
povoação deve ser transferida para outra parte.

Édos mais notáveis o papel desempenhado pela mulher principal em todas estas cerimónias. É
absolutamente obrigatório que o chefe “amare a povoação” com ela e não com outra das suas
mulheres. Se for doente e incapaz de ter relações sexuais, a povoação não pode ser transferida.

Nos clãs do Norte, a mulher toma o escudo e a azagaia, para fechar a povoação, e praticando um
sacrifício para invocar os deuses. Não é frequente veruma mulher presidir a uma cerimónia

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religiosa pública, mas é dona da povoação como o chefe. Portanto, é obrigatória a mudança da
povoação depois de sua morte, assim como a do chefe.

Ritos de protecção - são os que respeitam a paliçada, ela não visa proteger materialmente. É
uma protecção espiritual, uma barreira de encantamento, de influências magicas, para impedir a
entrada de feiticeiros e de todas as forcas hostis que há no mato.

Ritos de passagem –quando um chefe decide emigrar, abandona a sua velha povoação, separa-
se dela, não pela porta habitual, mas por uma abertura especial feita atrás e não deve lá voltar.
Começaà seguirpara ele e para todos que o acompanham um período de margem, um mês ou
mais, vuhlapfa. Durante algumas semanas, a povoação subtrai-se às leis ordinárias da sociedade.
São impostasvárias leis ou tabus especiais como: a proibição de relações sexuais e outros.
Exactamente como no período de luto. A povoação volta finalmente àvida normal por um acto
final de purificação, o misterioso kuhlambandzhaka, que parece o meio mais poderoso de
purificar a vida colectiva. Esta purificação, deve-se a impureza da antiga povoação, pois a sua
transferência deveu-se a morte de alguém, e só depois da purificação podem recomeçar uma vida
nova e purificada. Estes ritos revelam a concepção mística da povoação tsonga.

O chefe de povoações e suas atribuições

Cada família ou povoação possui o seu superior (hosi), o seu dono (munumuzana, ou seja, o
homem da aldeia em zulu). O muti (povoação), verdadeira pequena comuna com o seu chefe á
cabeça, forma o organismo primitivo de que a tribo (tiko), que é o conjunto das povoações,
reproduz em mais alta escala todas as características.

O filho mais velho é o seu herdeiro absoluto, mas não deve gozar de forma egoísta a sua
superioridade e dominar os demais, porque estes só aceitarão a sua autoridade se as suas
prerrogativas forem para o bem de todos.

As posições na família e a autoridade na mesma são bem visíveis quando, este mata um boi para
dar uma festa aos seus familiares, as partes do animal são distribuídas aos parentes de acordo
com a sua posição na família. Sendo assim, o pai, que é o chefe da povoação fica com o peito
(xifuva) e as maiores vísceras que o animal contém.

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E o seu irmão imediatamente mais novo fica com uma perna traseira e uma dianteira, o filho
mais velho recebe a segunda coxa e o mais novo a segunda perna da frente e vão repartir estes
pedaços com as suas famílias (tiyindlu).

Aos cunhados, ou sogros, enviam o rabo (nkila) é apreciável mas é pouco, como se estivessem a
dizer que eles não vivem na povoação, e como prova das relações que unem o sobrinho ao irmão
da mãe (malume) é- lhe reservado o lombo, e quanto ao fígado é reservado ao avô, porque este
perdera os dentes e precisa de uma carne tenra. A todos os membros do animal, tiram
(kunchumbuta) um pequeno pedaço que espetam numa vara pontiaguda, que e reservada aos
pastores e aos magarefes e a cabeça fica para todos os homens da aldeia que a repartem entre si,
e desta maneira diz-se matar um boi cumprindo as leis.

Quando o irmão mais novo dohosi, mata um boi que lhe pertença, este apenas envia o peito ao
hosi, e o remanescente do animal fica para si com a prorrogativa de que já é o bastante pagar
imposto ao chefe da região, e com isso afirma que este apenas subordina-se ao chefe da região.

 O hosi deve velar pela aldeia e deve ser e é um bom juiz de paz para os habitantes da
povoação, e faz o possível para que haja boas relações entre eles;
 O chefe também tem autoridade sobre os irmãos mais novos e os seus respectivos filhos,
contudo este não deve abusar desta autoridade e deve ter cuidado com a maneira de o
exercer;
 O chefe da aldeia tem também o direito de impor trabalhos especialmente quando é
necessário reconstruir o curral dos bois ou arrancar as ervas ruins,
 Preside a todas as discussões que tem o lugar na povoação, essa discussão pode ser em
três vertentes: quando se trata de segredo, os homens vão para a palhota e o fazem lá
dentro (vavulavulandlwini). Os assuntos privados relativos a vida das povoações são
geralmente discutidos ai e quanto aos negócios discutidos com estranhos não comportam
nenhum segredo e em que todos podem participar, Salientar que todos têm direito a tomar
decisões excepto as mulheres.

Geralmente os membros da mesma família ajudam-se mutuamente nestas dificuldades, e com


isso os filhos devem pagar as dívidas dos pais já falecidos, mesmo que estes não o tenham
recebido qualquer herança.

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Se omunumuzana é absolutamente incapaz de governar a povoação, o conselho pode depô-lo e
substitui-lo por outro homem, dizer que o conselho é formado pelos parentes velhos em especial
os tios paternos a quem os irmãos mais novos se queixaram da má conduta do chefe.

A vida diária da povoação

Do curral dos bois as palhotas, do largo ao bosque, pelas portas e pelos pátios fechados a caniço,
passam vultos negros.

As mulheres de manha aquecem as papas de milho que cozeram para a ceia da véspera e de que
ficou um bocado, nos tempos da lavoura partem para os campos onde passam a manha a arrancar
batata-doce, desabrocham a futura machamba ou sacham o milho. No período da tarde regressam
para confeccionarem os alimentos para a refeição e além disso fazem muitos outros trabalhos
domésticos

E quanto aos homens, são considerados de menos ocupados, dado que as suas posições e os seus
estatutos na comunidade conferem-lhes os tais direitos. Sendo assim é homem quem constrói as
pequenas palhotas que servem de celeiro, tratam do gado, reparam os currais, fazem todas as
ferramentas e todos os utensílios, excepto as panelas e outras louças de barro usados na
povoação.

A caça e a pesca são, naturalmente trabalhos ou passatempos dos homens, a caça era para alguns
um verdadeiro comércio, mais concretamente antes do estabelecimento de regulamentos severos
e licenças onerosas por parte dos governos coloniais.

As viagens desempenham um papel muito importante na vida dessas tribos, e com isso vem um
conjunto de inúmeros requisitos que um membro da tribo tem de resolver ou reunir antes da sua
partida, tais como evitar levar sal quando se vai visitar alguém, não afiar as zagaias e nem cortar
palha no meio do caminho, etc.

Jogos de adultos

O passatempo de muitos homens no sul de África é o consumo da cerveja, mesmo com a


ausência de botequins no mato a povoação tende a revelar-se como uma verdadeira fábrica de
cerveja e uma taberna, pois preparam-na em grandes quantidades. A preparação leva em média

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nove dias, e já pronta reserva-se um vasilhame para o chefe da povoação que deve provar a
bebida e deitar um bocado em cima do gandrelo, o que é acto religioso obrigatório, geralmente
aglomeraram-se num local e consomem-na em ambientes de animação em que até os leprosos
podem participar desde que tragam a sua própria cabaça e enche-la com uma colher especial. E
outro passatempo não menos apreciado, e o consumo da cannabis (soruma, mbangi) que é
cultivado pelos Tsongas já a um bom tempo e não é com o intuito de fazer cordas, mas sim com
a finalidade acima citada vulgarmente chamado de combate de salivas. Para além dos primeiros
passatempos, os homens do sul de África também praticam o ncuva, que faz parte de um dos
jogos mais espalhados do mundo.

Já para a generalidade, já na calada da noite, praticam-se jogos ou passatempos em que tanto as


mulheres assim como os homens podem participar, e um destes jogos e okutha, que trás consigo
o tabu de não poder ser jogado durante o dia com o risco de se ficar calvo. Este jogo consiste em
fazer adivinhações e funciona na base de resolução de enigmas e contar histórias.

Regras de etiqueta e de hospitalidade

A sociedade é organizada de forma hierárquica, a hierarquia não vai cingir-se apenas na moral
como também no religioso, sendo assim o chefe da povoação também é o chefe religioso, o
único intermediário entre os vivos e os seus antepassados.

Não é conveniente dirigir-se aos mais velhos pelos seus nomes, têm de ser antecedidos pelas
palavras N'wa, se for um homem e Mi, se for mulher e para os pais diz-se tatana para o pai e
mamana para a mãe. Mesmo falando com um adulto na terceira pessoa não empregam o seu
nome, mas sim expressões respeitosas deste género.

Os Tsongas não tinham antigamente o hábito de apertar as mãos, mas alguns adoptaram este
hábito europeu, mas esta familiaridade não é aprovada pelos velhos, sobretudo os chefes. Pior se
faz a situação do beijo, os mesmos troçam os europeus dizendo que aqueles” sugam os lábios e
comem a saliva dos outros”.

E quanto a hospitalidade, os Tsongas, quando os estrangeiros entram numa povoação os homens


sentam-se no bandla e as mulheres vão sentar-se mais longe. E permanecem ai até que os

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habitantes da povoação os venham saudar e se estes demorarem muito os visitantes vão-se
embora, naturalmente irados e dizendo que aquela gente não sabe viver.

A lei da hospitalidade é geral em toda tribo, os Tsongas associam o facto de, por exemplo se
alguns viajantes verem-se recusados a hospitalidade típica numa povoação o advento de uma
desgraça e o chefe imputa a responsabilidade a povoação que não ofereceu a dita hospitalidade e
por tal a povoação deve pagar uma multa.

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