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A família antiga

(Extraído de ~- H. Morgan, La società antica,


Milão, Feltrinelli, 1970, pp. 297-310.)

Estamos habitúados a considerar a família monogâmica


como
-forma familiar por excelência: a forma que sempre existiu, e b a
. f íl' . 111 ora
substituída em algumas áreas pela am ia patnarcal. _ A idéia de fa.
mília ao contrário foi o resultado d e uma evo1uçao através d
, ' . . ,. e su.
cessivos estágios de desenvolvimen~o, dos quais a familia monogâmica
constituiu a última forma. Tentarei, portanto, mostrar a existência de
formas mais antigas, anteriores a essa, e que predominaram univer- _
salmente no estado selvagem, bem como no período mais tardio e
no período médio da barbárie; buscarei, ademais, demonstrar que nem
a família monogâmica nem a patriarcal podem ser retrodatadas além
cio período mais tardio da barbárie. Elas foram, ao contrário, essen-
cialmente modernas, além de serem impossíveis na sociedade antiga,
pelo menos até o momento em que uma experiência anterior, sob
formas precedentes, tivesse aberto o caminho para sua ·introdução.
Podem-se distinguir cinco formas diferentes e sucessivas de fa-
mília, cada uma delas com uma instituição matrimonial peculiar:

1. A família consangüínea
Fundava-se sobre o intercasamento de irmãos e irmãs, carnais e
colaterais, no interior de um grupo. ·

II. A família punaluana


Fundava-se sobre o casamento de várias irmãs, carnais e cola-
terais, com os maridos de cada uma das outras, no interior de um
grupo; os maridos comuns não eram ne~essariamente parentes en~e
si. Fundava-se também sobre o casamento de vários irmãos, carnais
e -colaterais, com as esposas de cada um dos outros, no interior d~
81
um grupo; as esposas. não eram necessariamente parentes entre '
e~bora também esse caso se verificasse com freqüência, tanto no
que se refere aos maridos como no que se refere às esposas, pe
0
qualquer modo, 0 grupo de homens era conjuntamente casado coJil
·grupo de mulheres. ·
DIALETICA DA FAMILIA
57

111. A família sindiásmica ou de casal


Fundava-se sobre
. -
o casamento entre casais ind' 'd .
. iv1 ua1s, mas s
. ão de coab1taçao exclusiva. O casamento pr · . em
bngaç . ossegu1a enqu t
0
artes o dese1assem. an °
a111bas as P
JV. A família patriarcal

Fundava-se sobre o casamento de um só homem com d'1versas ·


mulheres '• era geralmente acompanhado· pelo isolamento das mu Iheres.
V. A família monogâmica
fundava-se sobre o casamento de casais individuais,com obri-
gação de coabitação exclusiva.
Três dessas formas - ou seja, a primeira, a segunda e a quinta
_ foram, poderíamos dizer, "radicais"; e, de fato, revelaram-se a tal
ponto gerais e influentes que criaram três sistemas distintos de con-
sangüinidade: sistemas ainda hoje existen,tes sob formas plena~ente
vivas e, desse modo, suficientes para demonstrar a existência anterior
das formas de família e de casamento às quais são respectivamente
ligados. As outras duas formas, a sindiásmica e a patriarcal, eram
formas intermediárias, e não tão influentes sobre a experiência hu-
mana a ponto de criarem um novo sistema de consangüinidade ou de
modificarem essencialmente o sistema ·então existente.-.kDeve-se dizer
que esses tipos de família não se distinguem um do outro em função
de linhas bem definidas; ao contrário, o primeiro tipo evolui para
o segundo e o segundo para o terceiro, assim como o terceiro para
o quinto, através de gradações imperceptíveis. Os pontos essenciais
ª verificar são dois: se esses tipos, na verdade, descenderam sucessi-
vamente uns dos outros; e se representam coletivamente o cresci-
mento da idéia de família.
Para explicar o nascimento dessas diversas formas de família e
de casamento, é necessário apresentar a substância do si stema ~e
consangüinidade e de afinidade próprio a cada uma delas. Esses SIS-
temas contem
" in nuce· a prova decisiva da ex1stencia
• A • dessas formas,
uma pro va l'b 'f' ·
1 erta de qualquer suspeita de art1 1c10; e
falam com , uma
.
autoridad 'b'l'd des de duvida
· e e segurança que não deixam poss1 11 ª . _
quanto , t nao for
as conclusões que deles decorrem. Mas, enquan °
A FAM(LIA ANTIGA
58

. do e tornado familiar, um sistema de consang·u· . ·


expl1ca . lll1dacte ,
_ ·ntrincado que causa perplexidade; e submeterá e selllp
tao 1 . . a urna re
.
pac1en,., eia do leitor que pretenda examinar o assunt o o tern Prova
a
ciente para avaliar o valor e o peso da documentação a ~o sufi.
da ( . . . ) . p esenta.
Nossa principal afirmação nesse local - ou seJ·a .
, 'a de
família humana se desenvolveu atraves de várias form que a
as suce s1.
_ é a razão determinante que nos leva a introduzir e est s vas
. - 1 udar ess
sistemas: na pressupos1çao, natura mente, de que eles se· es
. Jam capaze
verdadeiramente de provar esse tato ( . . . ) . s
É entre os polinésios - dos quais tomaremos os havaian
, . . . os como
exemplo up1co - que se pode encontrar o mais primitivo .
sistema
de consangüinidade até agora descoberto. Chamei-o também d .
e siste-
ma malaquês ( da Península _de Malaca, que é uma outra região onde
ele pode ser encontrado) . Na base de tal sist~ma, todos os consan-
güíneos, próximos e remotos, encontram-se numa das seguintes rela-
ções de parentesco: pai, fjlho, avô, neto, irmão e irmã. Não se co-
nhecem outros laços de sangue. Ao lado desses, existem também as
relações de parentesco baseadas no casamento. Esse sistema de
consangüinidade foi introduzido juntamente com a primeira for-
ma familiar, e consangi,iínea, e constitui a ·prova principal de sua
existência ab antiquo. Isso poderia talvez parecer uma base muito
débil para uma inferência tão importante; mas, se é justifkado
presumir que toda relação de parentesco, quando efetivamente reco-
nhecida, era a que realmente existia, nossa inferência resulta segurà-
mente fundamentada. Esse sistema predominava de modo geral na
Polinésia, embora entre os polinésios a família houvesse passad~ da
forma consangüínea à forma punaluana. O sistema se manteve inal-
t erad o porque não se verificou nenhum motivo suf1c1en . . t mente forte
e ro·
e nenhuma alteração das instituições suficientemente radical para p •
duzir . . .. . - . - não havia
a modificação. O intercasamento entre irmaos e irmas ·.
. d . . . , ca de c1n
ain ª desaparecido mteiramente nas Ilhas Sandw1ch ha cer ~.se
.. belecera1l•
quenta anos atrás, quando as m1ssoes americanas esta a antiga
e?tre_ aquelas populações. Não podem haver dúvidas ~obr~á que ele
d~fusao geral , desse sistema de consangüinidade na Asia, J Ie con·
ainda e t., . d'd naque
. .s ª na base do sistemc turd11iano ainda d1fun 1 0
tinente assim . "
' como na base do sistema ch1nes.
'(:~ ~.
DIAL~TICA DA FAMlLIA
59
·
0
passar dos tempos, um segundo g
Co1l1 . . b . . rande sistem
'd de O turaniano, su stitu1u o primeiro d'f . a de con-
iiíOI ª ' ~ • ' 1 undind
0 -se numa
sarig rção da superf1c1e terrestre. Era univ
Ia Pº . ersalment ct·1
amP aborígines norte-americanos· e ent e functido
e os ' ' re os sul .
entr ncontrados alguns de seus traços em nú -amencanos,
am e . - . mero sufic•
for rovável uma d1fusao igualmente generaliz d iente para
roar P a a entre el 0
to ços foram encontrados em regiões da Áf . es. u-
tros tra nca, embora I
0
sistema das tribos africanas se aproxim . . gera '."
mente . e mais do sist
uês. o sistema turaniano, por outro lado ainda , d'f . ema
malaq . f . ' e 1 und1do na
. entre os hindus que alam dialetos da língua d 'ct• .
tnd1a, .. . rav1 1ca, assim
sob farmas modificadas, na ln dia setentrional e t .
como, , ' n re os hmdus
falam dialetos da hngua gaura. Ele é encontrado a· d
que , . . m a na Aus-
'li
tra , ' a num estagio parcialmente
. _ desenvolvido , onde par ece ter se
originado ou da organ1zaçao em classes ou da primitiva organização
em gens, o que levou ao mesmo resultado.
Nas principais tribos das famílias turanianas e ganowanianas,
ele deve sua origem ao casamento punaluana no interior do grupo
e à organização gentílica, essa última tendente a reprimir os matrimô-
nios consangüíneos. Já mostramos como isso foi obtido através da
proibição do casamento entre consangüíneos no interior da gens, 0
que exclui permanentemente irmãos e irmãs germanos da relação
matrimonial. Quando surgiu o sistema turaniano de consangüinidade,
a forma da ~amília era a pu~;,a/uana. Isso é provado pelo fato de que
o casamento punaluana no interior do grupo explica as principais
relações de parentesco sob aquele sistema; ou seja, mostra que elas
eram o que eram precisamente em virtude dessa forma de casamento.
_A lógica dos fatos nos possibilita mostrar que a família punaluana foi
um dia tão difundida quanto o sistema turaniano de consangüinidad:.
~sse sistema tem sua origem na organização em gens e com ª fami-
lia punaluana. Em seguida, veremos que esse sistema se formou ª
partir do sistema malaquês, modificando apenas as relações que re-
sultavam de casamentos
· . - e irmas,
anteriores entre Ifmaos · - germanos.
e colaterais, e que foram efetivamente modificados pelas gens; iss_o
prova '· . fl da orgam-
- ª ligação direta entre eles. A poderosa m uencia
A •

zaçao g 'l' . 1 sobre o grupo


enti ica sobre a sociedade, e em particu ar
Punaluan , d · t mas
a, e provad~ por essa modificação e sis e ·
O sistema turaniano é, para dizer pouco, .admirável. .
Exp1·ICa
todas as relações de parentesco conhecidas sob O siS tema anano, alé
., l . 111
de um certo número de relações desconhecidas por _e~se u ttmo sistema.
Os consangüíneos, próximos e remotos, são ~las~ificados_ em categ0 _
rias; e são individuados, segundo formas propnas ao siS tema, bern
além dos limites n.ormais do sistema ariano. Nos modos de saudação
familiais e formais, as pessoas se dirigem uma_s às. outras com 0
termo que qualifica sua relação de parentesco e Jamai~ com o nome
pessoal, o que tende a difundir no .exterior um c~nhecimento do sis-
tema e, ao mesmo tempo, a preservar - atraves de um constante
reconhecimento - o tipo de relação que liga também os parentes
mais distantes. Quando não existe nenhuma relação, a forma de sau-
dação é simplesme~te "meu amigo". Nenhum outro sistema de con-
sangüinidade encontrado entre grupos humanos aproxima-se desse
pela minuciosidade de distinções ou pela quantidade de características
especiais.
Quando os aborígines americanos foram descobertos, a família
passara entre eles da forma punaluana à sindiásn1ica, de modo que
as relações de parentesco reconhecidas pelo sistema de consangüi- ·
nidade não eram, num certo número de casos, as que existiam real-
mente na família sindiásmica. Tratava-se da exata repetição do que
ocorrera sob o sistema malaquês, onde a família passara da forma con-
sangüínea à forma punaluana , enquanto o sistema de consangüinidade
se conservara inalterado; desse modo, enquanto as relações de pa-
rentesco existentes no sistema malaquês eram as que existiam efetiva-
mente na ~família consangüínea, elas estavam defasadas com relação ª
uma parte das existentes na família punaluana. De igual modo, enquan-
0

to as relações de parentesco existentes no sistem a turaniano são as que


efetiva men te existiam
· · na família punaluana, estavam defasadas com
relação ª uma parte das existentes na família sindiásmica. A forma
~e família evolui necessariamente de modo mais rápido do que os
sistemas
. . de consanguini
.. •. ·da de, que
· permanecem para atestar as re lações
fam1hares Assim - apre-
. como o advento da família punaluana nao
sentou motivos ade d ,. d rnesm 0
qua os para reformar o sistema malaques O . .
mo dO o desenvolv' d , . . . ,. . · _ rnouvos
imento a fam1ha s1nd1asm1ca nao forneceu
,, ·a umª
·ªd equa
. . d~os parª ref ormar o sistema . .
turaniano. Foi necess,lfl
tnstttu1çao complex forrnar o
ª como a organização .gentílica para trans ·
DIALf:TICA DA FAM1LIA
61

,.. turaniano; e foi necessáriat uma instituiç~ .


a}aques 00 . . b ao 1m-
d1a JJl de uma propnedade real, c m seus direit d
jsteiv oJJlO a ,• ~ os e
s ..t81lte e são ·untamente com a fam1ha monogâmica que 1
"°" d suces , 1 . ,, ea
r- se e e truir O sistema turaniano de consangüinidade e sub t·
~ arades s 1-
aioll, p lo ariano.
tllí-1° pe /odo posterior, veio à luz um terceiro grande sistema
JJl pen
N° ngüinidade, que pode ser chamado, como se queira, de aria-
de cons~ . ou uraliano, e que provavelmente substituiu um anterior
et11ltlCO . . . - 1 .
no, s aniano nas pnnc1pais naçoes que a cançaram mais tarde
. t roa tur
s1s e d civilização.
É .
o sistema que d ef.ine as relações na família
a etaP~ :a. Ele não se baseava no turaniano, assim como esse se
IIlonogãJD malaquês; mas substituiu, nas nações civilizadas, um ante-
baseava no
. ma turaniano, como outras provas podem demonstrar.
rior s1ste
As últimas quatro formas familiares existiram no período his-
. . mas a primeira, a consangüínea, desapareceu. Pode-se porém
tónco, . . . ,; . ,. ' '
eduzir sua existência anterior a partir do sistema malaques de con-
:angüinidade. Ternos, assim, três_ formas f_arniliares "radicais", que
representam três grandes e essencialmente diversas condições de vida,
com três diferentes e bem delineados sistemas de consangüinidade,
suficientes para provar - mesmo que não existissem outras provas
_ a existência desses tipos de família. Tal afirmação servirá para
sublinhar a singular permanência . e persistência dos sistemas de c~n-
sangüinidade, assim corno o valor de prova que eles constituem com
relação à condição da sociedade antiga.
Cada uma dessas famílias teve uma longa vida nas tribos da
humanidade, coni períodos de infância, de maturidade e de decadên-
cia. A família monogâmica deve suas próprias origens à propriedade,
assim como a sindiásmica - que continha os germes da família mo-
nogâmica - devia suas próprias origens, por seu turno, à sociedade ·
ge~t~ca. Quando as tribos gregas entraram no período histórico, já
eXIStia ª família monogâmica; mas ela não se instaurou completa-
mente enquanto uma legislação precisa não determinou seu st atus e
seu~ d' •
h ireitos. O desenvolvimento da idéia de propriedade na mente
~ana, através de sua criação e de sua posse, e especialmente atra- ·
ves da si t . . ,.,
h . s ematização dos direitos legais que regulam sua transmissao
ered1tári é · . f -
. a, intimamente ligado com a instauração dessa forma ª
62 A FAMILIA ANTIGA

miliar. A propriedade desenvolveu uma infl ,. .


. . uenc1a .
poderosa para at1ng1r a estrutura orgânica da . suficient
diante da paternidade dos filhos passava agór sociedade. A. elllente
. . a a adq . . certe
ficado desconhecido nas condições anteriores O Utrir um . za
. . . ., . . d d . casament0 s1gni.
sais individuais Jª existia es e o período mais t . entre
ard1o d ca.
sob a forma de um acasalamento que durava enq a barbár'
uanto as 1e
vessem de acordo. Paralelamente ao avanço da so . d Partes esti~
c1e ade .
graças ao melhoramento das instituições e ao progres ~ntiga _
. . . so das in ~
e das descobertas, que garantiam condições de vida e d vençoes
. . 1 a a vez lll .
elevadas - , essa f orma matnmonia tendia a se toma · . ais
r mais está
mas continuava a fazer falta o elemento essencial da fam'li Vel;
. - 1 . J, I a monogâ
mica, a coa b1taçao exc usiva. a nos tempos mais remotos da b b'. ·
. . ar ane
0 homem começava a pretender a fidehdade da esposa com '
' penas
cruéis e atrozes em caso de transgressão, mas proclamava para .
5
mesmo a isenção dessa obrigação. A obrigação é necessariamente re~
cíproca, sendo bilateral a realização desse princípio. Entre os gregos
de Homero, a condição da mulher na família era de isolamento e
dominação pelo marido, com direitos imprecisos e excessiva desigual-
dade. Um exame da família grega em épocas posteriores, desde a era
de Homero até a de Péricles, mostra um sensível melhoramento, com
sua gradual estabilização nun1a ~nstituição definida. A família moder-
na constitui um indubitável melhoramento com relação à dos gregos
. e dos romanos, já que a mulher ganhou imensamente em posição
social De uma condição de filha em face do próprio marido, como
era o caso entre os gregos e os romanos, a mulher aproximou-se de
uma condição de igualdade em dignidade e de direitos pessoais rec~-
nhecidos. Temos uma vasta documentação sobre a família monog~-
mica, através da qual ela nos é apresentada no · curso de quase tres
mil anos, durante os quais pôde se afirmar a existência de um gr:d~al
mas const ante melhoramento na sua qualidade. A fam1n·13 mon oganuca
está de f d
s ina a a progredir ainda mais até o reconhec1men
da iguald d d '
• t completo
,.,
° .
atrltnonta1·
ª e os sexos no interior de uma justa relaçao tn _
Temos um f •t _ de llle
ª prova semelhante - embora não tão per ei ª u
lhoramento . . . , . que chego
, progressivo no caso da família sind1asmica, E ses
ate a forma m " . t baixo, s
fat d onogamica a partir de um nível bastan e . . , 055a
os evem se · 1a1s a 0
. -
discussao. r conservados na mente porque são essenc
'
DIALeTICA DA FAMlLIA
63

'tulos anteriores, voltamos nossa atenção para O ad ._


,..r s capt . " , h . . m1
r"º onJ·ugal que se 1mpos ~ uman1dade na sua· infân ..
. terna e , . .. _ . eia,
rável 515 bando-a ate a c1vd1zaçao, mas perdendo contmuamente ter- .
acolllPan rogressivo melhoramento da sociedade. O grau e a P . ro-
reno ~ coIIl o p · h d
desenvolvimento umano po em, em certa medida, ser ·
gres . d na base do grau de re d uçao
sao do ~
progressiva•
desse sistema
mina os '
deter , ressão que a sociedade exerceu no plano moral. Cada suces-
graças ª P familiar e matrimonia · · 1 constttu1
· · um atestado significativo ·
sl·va forma
ro ressiva reduçao. - A f am1'1'ia monogamica · " · so, f 01· possível ·
dessa p gsistema em questão foi destroçado. Essa família pode ser
O
quandorada desde o peno , d o mais .
tar d.10 d a b ar b ane,
, .
onde ainda é
encont . , . . d. , .
difícil distingui-Ia da famiha sm 1as~ica. _ ,
Podem-se assim obter algumas 1mpressoes das epocas passadas,
essas duas últimas fcrmas de família explicitavam seus
enquan to . . . . _
sos de crescimento e de desenvolvimento. Mas a cnaçao de
proceS . .. .
.
cmc 0
sucessivas tormas
· fam1hares, cada uma diferente das outras,
e ligada a condições sociais inteiramente diversas, aumenta a nossa
avaliação da grande duração dos períodos durante os quaís se desen-
volveu a idéia de família, desde a consangüínea até a monogâmica
ainda em desenvolvimento, através de formas intermediárias. Nenhu-
ma instituição humana jamais tev~ uma história mais surpreendente e
rica de eventos, nem condensa os resultados de uma experiência mais
prolongada e diversificada .. Ela exigiu os mais altos esforços mentais
e morais no curso de inúmeras épocas para se conservar em vida e
para se transformar através dos estágios diversos até sua forma atual.
O casamento passou da forma punaluana para a monogâmica·
através da sindiásmica sem nenhuma modificação material no sistema
turaniano da consangüinidade. Esse sistema, que testemunha as rela-
ções na família punaluana, permaneceu substancialmente inalterado
até a afirmação da família monogâmica, quando se tornou quase
totalmente defasado em relação à natureza das descendências., che-
gando mesm o, a1·;
V ias, a se tornar um escandalo .para a monogamia.
A •

fil~mos ~ar um- exemplo; no sistema malaquês, um homem . chama de


0
, 0 filho de seu irmão, já que a mulher de seu irmão é sua mulher,
1
~:~. de ser mulher de seu irmão; e o filho de sua irmã é tambêm ·
Ilho porque . - , . .
0 filh ' a irma e também sua mulher. No sistema turamano,
0
.de seu irmao
- e, ainda
· seu filho, pela mesma razão, m_as o f'Jh
1 °
A FAMfLIA ANTIGA
64

•rmã torna-se agora seu sobrinho, porque


de sua i _ / . , na organ·1 ,
/. ua irmã nao e mais sua mulher. Entre os . Zaça
tihca s . ./ . iroquese 0 gen,
amiliar é a s1nd1asm1ca, um homem cham• . s, ºnct
forma f . _ , a ainda de . e <1
.lh de seu 1rmao, embora a mulher de seu irrn~ ~ filho
ft o . . ao nao s . o
sua mulher, e assim por diante, com um vasto núrn ero d e1a niai•s
. !mente defasadas com relação à forma matrimoni·al ~ relações
igua . ex1st
•stema sobreviveu aos usos dos quais se originou· e ai d ente. o
s1 , n a se rn
ent re eles, embora defasado, em sua maior parte ' con1 rela anténi ;-
descendências agora existentes. Não surgiu nenhum rnoti Çao às
. vo adequado
para modificar um grande e antigo sistema de consangüinida
. - . f de. No
momento de sua apançao, a monogamia orneceu esse . ,
. . . . .. motivo as
nações ananas que se encaminhavam para a c1v1hzação. Ela ar · .
. . . .d d g antia
a paternidade dos f 1lhos e a 1eg1t1m1 a e dos herdeiros Era •
.. . . / · impos-
sível mod1f1car o sistema turan1ano para adapta-lo às descendências
monogâmicas. Ele era totalmente defasado em relação à monogamia.
Mas havia um remédio, ao mesmo tempo simples e completo. o sis-
tema turaniano foi abandonado e substituído pelo método descritivo,
que as tribos turanianas sempre usavam quando queriam tornar espe-
cífica uma dada relação de parentesco. Voltaram aos puros e simples
fatos da consangüinidade e passaram a descrever as relações de pa-
rentesco de toda pessoa graças a uma combinação dos termos primá-
rios. Ou seja: diziam filho do irmão, sobrinho do irmão, irmão do
pai e filho do filho do pai. Cada frase descrevia uma pessoa, deixand0
implícita a relação de parentesco. Foi esse o sistema das nações aria-
. · nas
nas, tal como ainda o encontramos em sua forma mais antiga,
tribos gregas, 1atinas,
· " · '" ·
sanscntas, german1cas e ce/1ticas,
· • e também entre.
as ·
semi tas, como o testemunham as genealogias das agra . ., •.
s das Escn-
tura h b · · d · quais Jª fo
. s e ra1cas. Traços do sistema turaniano, alguns os , . as
ram r f ·d · s e semittc
e en os por nós, permaneceram nas nações anana bs·
até o pe / dO h' ,. . . fastado e su
. / no 1stonco; mas o sistema foi totalmente ª
htu1do pelo_ sistema descritivo.
. ., neces-
. , ções sera .
/ . Para ese1arecer e confirmar todas essas aftrma ' apareci-
sano tomar . / . de seu . 5
em consideração na ordem cronologica · fat11ihare
~-en~o, esses três sistemas . ; . formas J11
I ad1cais ,, as três respectivas . terpreta
. 'que aparecem em conexão com eles. Eles se in
reciprocam .
. ente.
DIALi;:TICA DA FAMfLIA 65

de consangüinidade considerado em si mesmo é de


úill sistema,. .a Limitado no numero ' d e 1·d,.
eias que contém e
. ortanc1 . . . . - '
oca 1IllP amente sobre simples proposiçoes, pareceria incapaz
Pº dO-se e1ar , . .
oiall . f rn1ações ute1s e, amda menos, de lançar luz sobre a
ªdePforne certn° .
d' ·ão humana. Essa, pelo menos, sena a .conclusão na-
. . ·va con iç . b -
primttl m examinadas de modo a strato as relaçoes de paren-
1 se fosse .. , M d
tura rupo de consangumeos. as, quan o se compara 0
de um g
tesc0 diversas tribos e se constata que ele se eleva ao nível de
·ststeIIlª _de d méstica e que se perpetua atraves ' de penados
' extrema-
. stl·tuiçao O '
1n s então muda notavelmente o aspecto que a questão as-
te longo ' .
rnen Esses três sistemas, um postenor ao outro, representam o inteiro
sume. •mento da família, desde sua forma consangüínea até a
desenvo1vt .
,. ·ca E desde que possamos supor que cada um expressa as
Onogam1 · , ~
rnla ões de parentesco efetivamente existentes no interior da família
reno çmomento de sua af 1rmaçao, · - e1o reve 1ara' t_am b,em a f orma matn- ·
rnonial e familiar então difundida, embora ambas possam ter alcan-
çado um estágio superior, enquanto o sistema de consangüinidade se
mantinha inalterado.
Pode-se observar, por outro lado, que esses sistemas desenvol-
veram-se naturalmente, de modo paralelo ao progresso da sociedade,
desde uma condição inferior a uma superior; em cada caso, a mu-
dança era sublinhada pdo aparecimento de uma instituição qualquer
que incidisse de modo profundo na configuração da sociedade. As
relações de parentesco entre mãe e filho, entre irmão e irmã e entre
avó e neto foram constatadas em todas as épocas com absoluta segu-
rança; mas as relações entre ·pai e filho e entre avô e neto não foram
comprovadas com certeza enquanto não se alcançou a máxima se- ·
gurança possível, graças à monogamia. Nas mais toscas condições da
sociedade antiga, essas relações de parentesco, tanto as efetivas ~uanto
as prováveis, eram imediatamente percebidas e, por conseguinte, in-
ventaram-se termos capazes de expressa-las. , .
Com o tempo, um sistema
de consa ... · ·
nguimdade resultava da aplicação constante desses termos
a pessoas que e . . . .. ,
M ram assim organizadas num grupo de consangumeos.
as, como af
de ca irmamos antes, a forma do sistema dependia das formas
. samento Ond . ~ • ~
germ · e os casan1entos ocorriam entre 1rmaos e irmas,
anos e colat · .. ,
nea e • era1s, no interior do grupo, a família era consangm-
O
s1s tema de co nsangu1n1 .... dade era o malaques. Onde os casamen-
A
A FAMlLIA ANTIGA
66

. entre diversas irmãs e os maridos de cada u ·


tos ocorriam . . _ ma dela .
. . d O grupo e entre diversos irmaos e as mulheres d s
no 1ntenor . ' . / . e cacta
interior de um grupo, a famiha era punaluana e O , ·
um d e1es n0 . . . sisterna
üinidade era O turan1ano; e onde o casamento ocorr·
de consang . _ . ,. 1a entre
. . dividuais com coab1taçao exclusiva, a fam1ha era m
casais in , .. . . . onogâ-
.
mica e o 51 ·stema
. • da consangu1n1dade era o anano.
É evidente, portanto, que os três sistemas se fundam sobre trés
formas de casamento: e que eles buscam. expressar, até onde possível
. '
a efetiva relação de parentesco existente entre pessoas que se enc~n-
travam sob cada uma das formas de casamento. Pode-se ver, portanto
. ,. . ,
que não se baseiam na natureza, mas no matnmon10; não em consi-
derações fictícias, mas nos fatos~ e que cada um deles é um sistema
tão lógico quanto verdadeiro. O testemunho que eles dão é do mais
alto valor, como também do tipo mais sugestivo e estimulante. Reve-
lam do modo mais simples, e com precisão segura, a condição da
sociedade antiga.
Os sistemas de que tratamos, ademais, podem ser resumidos em
duas formas últimas, fundamentalmente distintas: uma classificatória,
outra descritiva. Sob a primeira forma, os consangüíneos jamais são
de~critos e sim classificados em categorias, sem levar em conta o grau
de proximidade ou de distância com relação ao Eu~ e o mesmo termo
de parentesco é aplicado a todas as pessoas da mesma categoria.
Assim, meus irmãos carnais e os filhos dos irmãos de meu pai são
todos igualmente ·meus irmãos~ minhas irmãs germanas e as filhas das
ir,!Ilãs de minha mãe são todas igualmente minhas irmãs. É essa ª
classificação adotada tanto no sistema malaquês quanto no turaniano.
No segu n<lo caso, os consangüíneos são descritos ou através <los ter-
mos_ primários da relação de parentesco ou através de uma· combi-
naçao desses termos t . , . - d paren-
' ornando assim especifica a relaçao e
tesco de cada . - do
.• _ pessoa. Tratar-se-á portanto do filho do irma0 '
irmao do pai ou d 0 f'lh ' '
1 0 do irmão do pai É esse o sistema v
igente
'
entre as famílias ar· . . . é intro·
<luzido • ianas, semitas e uralianas sistema que -0
Juntamente com ' ssificaça
é alcançad .. a monogamia. Um certo grau de e1ª ;
o postenorment os comu05
mas a forma . . . . e, graças à introdução de term , .. ,15 a
gálica e a pnm~ttva do sistema, do qual sã<, modalidades upi\rafll
0
, escandinava f 01, . . . rnos
, exemplos ind· ' simplesmente descnuva, como d .. sis·
. icados a . . s ois
cima. A diferença radical entre ·º
LJIALt. l l\.;A UA FAMILIA

67
decorria de casamentos múltiplos no . t .
temas . . . m enor do
. caso, e de casamentos 1nd1viduais e t . grupo, no pri-
meiro n re casais singul
n1indo. ares, no
seb- .t d ..
Enquanto o s1s ema escnttvo é O mesm
. 1 if' -
.,u•cas e uraI1anas, o e ass 1catório tem du f
o nas famílias .
arianas,
senu . as ormas d·
·n-1eira é a malaquesa, a mais antiga em termos d iversas. A
pfbu . e tempo• a
., do sistema turan1ano e ganowaniano essen ·a1 ' segunda
ea ' c1 mente simil
ue se formaram em conseqüência da modificaçãO d are~ e ·
q a1
A e um antenor
sistema m aques.
Uma breve. , .referência a_ nosso sistema de consangu1n1 .. · 'dade escla-
recerá os pnnc1p1os que estao na base de todos os sistemas.
As relações de parentesco são de dois tipos• em pri·m · 1
.. . . . · eiro ugar,
por consangu1n1dade ou sangue; depois, em linha direta ou colateral.
A consangüinidade_ em linha direta ocorre entre pessoas que sejam
uma descendente direta da outra. A consangüinidade em linha cola-
teral ocorre entre pessoas que descendem de antepassados comuns,
mas não descendem uma da outra. As relações de parentesco basea-
das no casamento são as impostas pelo costume. Não queremos entrar
de maneira muito específica no assunto, mas pode-se afirmar, de modo
muito geral, que em todo sistema de consangüinidade, onde exista o
casamento entre casais individuais, deve existir uma descendência em
linha direta e diversas linhas colaterais divergentes da primeira. Cada
pessoa constitui ó centro de um grupo de consangüíneos, o Eu através
do qual se pode determinar o grau de parentesco de toda pessoa e ao
qual a relação de parentesco refere-se continuamente ( ... ) .
Com um tal complexo de subdivisões e ramos, abarcando global-
mente um tão grande número de consangüíneos, logo se percebe que
um método de reordenamento e descrição que mantivesse cada parte
distinta da outra e tornasse o todo inteligível seria um resultado extra-
0
0rdinário. Os ·civilistas romanos levaram a cabo uma tal obra, e
., · · · ações euro-
metodo por eles elaborado foi adotado pelas pnncipais n
,,.
Peias; ,, A • . ,desperta surpresa
e um método tão simples em sua essencia que . . .
e d . 1t até os hm1tes ex1-
a muação. O desenvolvimento da nomenc aura . . •
gid • , ·i rovavelmente, 1ama1s
os pela situação deve ter sido tão d1f1c1 que, P . nte
t · ss1dade urge ,
0

ena ocorrido a não . ser sob a pressão de uma nec"' egulasse


o · · dA ia que r
u se1a, da necessidade de um código de descen enc
ª transmissão hereditária da propriedade.
A FAMILIA ANTIGA
68

Para tornar possível a nova forma fo.


. . , i necessãr·
--es de parentesco entre tio e tia por p 10 disr
relaÇO arte de . tn&uir
de mãe na base de termos c~ncretos, resultado ale Pélí e Por as
ucas línguas humanas. Tais termos aparecer an~do ªPen Pa«c
Po . . . am
omana: patruus e amita, para tio e tia por part d . élís da é
em fin . as clll
r • • e e Pélí· Poca
e ,natertera, para tio e tia por parte. de mãe . Depa1s. d, e. a\lunc"'~ • ·-
introdução desses termos, pode-se dizer que O mét ª UlvenÇào
• ... d .. , odo aperf . e
romano de descnçao os consangu1neos estava co • e1Çoado
. . l f . d d nc1Uído E
aspectos essenciais, e e 01 a ota o pelos vários r · rn se11s
ariana com exceçao - dos ramos gae'lico, escandinavoamos da fatni1ia
' e~~
o sistema ariano assumiu necessariamente a forma desc· ..
quando foi abandonado o sistema turaniano. Toda rela ~ ntiva
. ha d'ire t a e nas cinco
rentesco na l10 · 1·1nhas colaterais eçao. de, pa·
. , . d d ' UJo numero
vai a mais de cem, e 1n epen ente e requer várias fases d . .
escnttvas
ou a invenção gradual de termos comuns. '
Deve-se notar que as duas farmas radicais - a classificação e
a descritiva - representam quase a exata linha de demarcação entre
nações bárbaras e nações civilizadas. Podia-se prever um tal resultado
a partir da lei do progresso revelada por todas essas formas de casa-
mento e de família.
Os sistemas de consangüinidade não são nem adotados, nem
modificados, nem abandonados por acaso. Eles se identificam, ori~-
nariamente, com movimentos orgânicos da sociedade que produziram
uma grande modificação na situação.
Uma vez adotada de modo geral, uma forma particular - com
sua nomenclatura e seus métodos de verificação fixos - evolui, pre·
·
cisamente por isso, de modo bastante lento. Todo ser humano cons-,
· • d pessoa e
lltui o centro de um grupo de parentesco e, portanto, to ª di·
obrigada a usar e compreender o sistema vigente. Extremamente A
fícil sena
· .uma modificação em uma dessas relaçoes- de parentesco.
. . mas
tend... · , d tais s1ste
. encia a permanência é acentuada pelo fato e que . seja,
CXIstem · . - ·slattvas, ou
mais por força do costume que de sançoes 1egt . nto os
como e ·· - · rsa1s qua .
rescimento e desenvolvimento natural -tao umve ansJJllS--
costumes Tod , . anal de tr .
~ · - a pessoa e parte de um sistema, e O e ·nfluênc1as
sao de tal sistema é o sangue Portanto existiam fartíssimas J depois
no sentido d . ' . - o meslllº
e perpetuar um sistema por muito temp '
. DIALBTICA DA FAMlLIA
69

ido modificadas ou de desaparecerem inteiram t ·


terelll s . . É en e as con. .
de haviam originado. esse elemento de perm " .
. ,, es que O , anenc1a que
d1ço às conclusões extrai das dos fatos· e preservou
, certeza _ ' . . ,. . e e1evou a
da . plano uma documentaçao sobre a soc1~~~de antiga q d
·me1ro . . ~ ue, e
priutro rn odo, tena se perdido completamente para a ciência do homem.
0
Decerto, não se pode supor que um sistema elaborado, como 0
. no fosse capaz de se manter em diferentes nações e família
turania , . . . s
humanas com aspectos perfe1t~mente 1gua1s em todos os lugares. Na
e é possível encontrnr diferenças em detalhes secundários mas
ver dad , , . . .. '
.
0
não a ou.la o fato de que as caractensticas umversais são geral-
::nte constant~s. O sistema de consangüinidade da população Tamil,
da lndia meridional, e aquele dos senecairoqueses cóntinuam idênticos
mesmo depois de examinarmos mais de duzentas relações de paren-
tesco; trata-se de uma aplicação de _lógica natural à realidade da
condição social, sem paralelo na história do pensamento humano.
Existe também uma forma modificada do sistema, que tem sua pró-
pria história. f: a dos hindis, dos bengalis, dos maratas e de outras
populações da lndia setentrional: tal forma é constituída por uma
combinação dos .sistemas ariano e turaniano. UJlla população civili-
zada, a dos brâmines, fundiu-se com um tronco b~rbaro, e todo traço
de sua língua originária se perdeu nos novos dialetos acima citados,
que conservam a estrutura gramatical da língua aborígine, tomando
de empréstimo cerca de noventa por cento dos vocábulos ao sânscrito.
Isso levou ao conflito entre os dois sistemas de consangüinidade, um
baseado na monogamia ou sindiasmia, e o outro nos casamentos múl-
tiplos no interior do grupo, dando assim lugar a um sistema misto.
Os aborígines, mais numerosos, impuseram a esse sistema um caráter
turaniano, enq~anto o elemento sânscrito introduzia modificações ten-
dentes a proteger do escânpalo uma família monogâmica. Dessa mis-
tura de raças, parece ter decorrido um tronco eslavo. Um sistema de
consangüinidade que atravessa apenas duas fases durante todo 0
período da selvageria e da barbárie, e projeta no período mais avan-
çado da civilização uma terceira forma modificada, manifest a um
elemento de permanência que não pode deixar de atrair a atenção.
Não será necessário considerar a fanu1ia patriarcal fundada sobre
ª poligamia. Dada sua düusão limitada teve uma influência mínima
na h' , '
istoria humana.
A FAMILIA ANTIGA
70

A vida doméstica dos selvagens e dos bárb .


- aros ainct
ada com a atençao que o tema mereceria E t a não f.
est ud / . /. · n re as t 'b 01
s da Amenca do Norte, a f amiba era sindiás . n os ind'
gena .. mica• el ,~
almente em conjuntos de edificações comuns pr t· ' es Vivian.
ger ./ . . , a 1cando ~
de ·vida comunitana. A medida que descemos a escala . urn tiPo
.. / em d1reç ..
fa mília punaluana e consanguinea, o grupo doméstico ao da
. , . se ampr ·
um número ma1or de pessoas habitando na mesma ia, colll
construçã
tribos costeiras da Venezue1~' entre as quais a f amíl' º· As
- ta parece se
Punaluana' .sao apresentadas - pelas descobertas e nor1c1as .
que
ra
chegam _ como vivendo em casas em forma de caban nos
as, cada um
capaz de abrigar cento e sessenta pessoas. Maridos e mulheres .. a
V1v1azn
juntos, em grupo, na mesma casa, e geralmente num mesmo cômodo
Pode-se corretamente supor que esse tipo de vida doméstica fosse.
muito difundido no período da selvageria.
Nos capítulos seguintes, oferecemos uma explicação da origem
desses sistemas de consangüinidade. Eles se baseiam nas formas ma-
trimoniais e familiares que os produziram. Se se obtiver uma expli-
cação satisfatória para cada sistema, a existência anterior de .cada
forma de matrimônio e de família poderá ser assim deduzida do
sistema que ela implica~ Num capítulo final, tentaremos articular numa
sucessão as principais instituições que contribuíram para o desenvol-
vimento da família através de formas sucessivas. Nosso conhecimento
das condições primitivas da humanidade é ainda tão limitado que
teremos de nos contentar com as melhores indicações disponíveis. A
sucessão que apresentaremos é, em parte, hipotética; mas é apoi~da
por um conjunto de provas suficiente para recomendá-la à atençao.
Sua siStematização completa e definitiva será deixada aos resultados
das futuras investigações etnológicas.

Lewis H. Morgan

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