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Nanã
Certamente estamos falando da mais velha Orixá cultuada no panteão
africano.
Isso porque Nanã era cultuada pelo povo do Daomè, hoje República
do Benin, e os ritos e cultos deste povo eram muito antigos, vindos de
uma cultura ancestral, que muitos atribuem ser anterior à descoberta
do fogo.
O nome Nanã significa “mãe” e era exatamente isso que ela significava
para os daomeanos. Da mesma forma que para os iorubas é Iemanjá
quem ocupa esse papel.
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Os cânticos de Nanã são súplicas para levar Iku (a morte) para longe. É
ela quem permite que a vida seja mantida. Representa a força natural
mais temida pelos homens, pois ninguém quer morrer. Ela é a senhora
da passagem deste mundo para outro, a dona do portal para as
dimensões do além.
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Contudo, o símbolo que melhor sintetiza o caráter de Nanã é o grão,
pois ela domina também a agricultura e todo o grão tem que morrer
para germinar.
Forma com Oxalá o casal mais velho. Oxalá que é representado ora
como esposo, ora como amante, que lhe deu filhos e que roubou o
segredo dos eguns de Nanã.
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pela vida. Nanã ativa o nosso racional para que possamos “morrer”
(transformar), para que possamos nascer melhores e mais
equilibrados.
Não tomam decisões de imediato, pois sabem que toda decisão deve
ser muito bem analisada. Quando as tomam, são decisões sábias,
justas e equilibradas.
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No sentido oposto são excelentes ouvintes e tem grande capacidade
de compreensão do ser humano, como se fossem mais velhos e
experimentados do que realmente são.
Sincretismo: Sant’Anna
Data de culto: 26 de julho
Saudação: Saluba Nanã! (Nos refugiamos com Nanã)
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Cor da vela: Lilás ou violeta
Pedra: Ametista, tanzanita
Bebida: Champanha rosé, vinho licoroso, água de coco, água
de chuva
Amalá: Feijão preto com purê de batata doce, pipoca, farofa de
dendê
Frutas: laranja lima, figo, ameixa, uva escura, fruta do conde,
coco seco, banana da terra, melão de São Caetano,
abacaxi e jaca
Flores: Rosa rubra, crisântemo roxo e violeta
Algumas ervas: Manacá, folhas de berinjela, folha da fortuna,
avenca, alfavaca. Viuvinha, cana do brejo, manjericão
roxo, canela de velho
Local de oferta: Pântanos, lamaçais, beira de rio e cemitérios
Animais: Rã, galinha branca, pata branca
Instrumentos: Ibiri – cetro feito de cerne de dendezeiro curvado e
adornado de búzios)
Lendas de Nanã
Lenda nº 1
Ogum, numa de suas viagens, aproximou-se das terras de Nanã. Sabia
que o lugar era governado por uma velha e poderosa senhora. Se
quisesse, não seria difícil tomar as terras de Nanã, pois para Ogum,
não havia exército, nem força que o detivesse.
Mas Ogum estava ali apenas de passagem. Seu destino era outro, mas
seu caminho atravessava as terras de Nanã. Isto ele não podia evitar e
nem o importava, uma vez que nada o assustava e Ogum nada temia.
Na saída da floresta, Ogum deparou-se com um pântano, lamacento e
traiçoeiro, limite do inicio das terras de Nanã. Era por ali que teria que
passar. Seu caminho, em linha reta, era aquele – por pior que fosse e
não importando quem dominava o lugar. O destino e objetivo de
Ogum era o que realmente lhe importavam.
Parou à beira do pântano e já ia atravessá-lo quando ouviu a voz rouca
e firme de Nanã:
- Esta terra tem dono. Peça licença para penetrar nela!
No que Ogum respondeu em voz alta:
- Ogum não pede, toma! Ogum não pede, exige! E não será uma velha
que impedira meu objetivo!
- Peça licença, jovem guerreiro, ou se arrependerá! Retrucou Nanã
com a voz baixa e pausada.
- Ogum não pede licença, avança e conquista! Para trás, velha, ou vai
conhecer o fio da minha espada e a ponta de minha lança!
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Dito isto, Ogum avançou pelo pântano, atirando lanças com pontas de
metal contra Nanã.
Ela, com as mãos vazias, cerrou os olhos e determinou ao pântano que
tragasse o imprudente e impetuoso guerreiro. E assim aconteceu...
Aos poucos, Ogum foi sendo tragado pela lama do pântano,
obrigando-o a lutar bravamente para salvar sua própria pele,
debatendo-se e tentando voltar atrás. Ogum lutou muito, observado
por Nanã, até que conseguiu salvar sua vida, livrando-se das águas
pantanosas e daquela lama que quase o devorava.
Ofegante e assustado, Ogum foi forçado a recuar, mas sentenciou:
- Velha feiticeira! Quase me matou! Não atravessarei suas terras, mas
vou encher este pântano de aço pontudo, para que corte sua carne!
Nanã, impassível e calma, voltou a observar:
- Tu és poderoso, jovem e impetuoso, mas precisa aprender a respeitar
as coisas.
Por minhas terras não passarás, garanto!
E Ogum teve que achar outro caminho, longe das terras de Nanã. Esta,
por sua vez, aboliu o uso de metais em suas terras.
E, até hoje, nada pode ser feito com lâminas de metal para Nanã.
Lenda nº 2
Dizem que quando Olorum encarregou Oxalá de fazer o mundo e
modelar o ser humano, Oxalá tentou vários caminhos.
Tentou fazer o homem de ar, como ele. Não deu certo, pois o homem
logo se desvaneceu.
Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura.
De pedra, mas ainda a tentativa foi pior.
Fez de fogo e o homem se consumiu.
Tentou azeite, água e até vinho de palma, e nada.
Foi então que Nanã veio em seu socorro e deu a Oxalá a lama, o barro
do fundo da lagoa onde ela morava, a lama sob as águas, que é Nanã.
Oxalá criou o homem, o modelou no barro.
Com o sopro de Olorum ele caminhou.
Com a ajuda dos Orixás povoou a Terra.
Mas tem um dia que o homem tem que morrer.
O seu corpo tem que voltar à terra, voltar à natureza de Nanã.
Nanã deu a matéria no começo, mas quer de volta no final tudo o que
é seu.
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