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m babalaô me contou:

Antigamente, os orixás eram homens.


Homens que se tornaram orixás por causa de seus poderes.
Homens que se tornaram orixás por causa de sua sabedoria.
Eles eram respeitados por causa de sua força,
eles eram venerados por causa de suas virtudes.
Nós adoramos sua memória e os altos feitos que realizaram.
Foi assim que estes homens tornaram-se orixás.
Os homens eram numerosos sobre a Terra.
Antigamente, como hoje, muitos deles não eram valentes,
nem sábios.
A memória destes não se perpetuou.
Eles foram completamente esquecidos;
não se tornaram orixás.
Em cada vila, um culto se estabeleceu
sobre a lembrança de um ancestral de prestígio.
E lendas foram transmitidas de geração em geração para
render-lhes homenagem”.
Pierre Verger
Introdução
Oxalá e a criação do mundo de acordo com a mitologia dos
yorubás
Nanã
Exu
Obaluaê
Oxóssi
Ogum
Iansã
Iemanjá
Xangô
Ossaim
Oxumaré
Oxum
Finalmente
Referências bibliográficas
Leituras complementares
Glossário
Biografia dos autores
oucas pessoas sabem que a povoação do mundo partiu da
África. Há cerca de dois milhões de anos, ondas
migratórias levaram os africanos a se espalharem pela
Ásia e a Europa. Foi assim, por meio de sucessivas
miscigenações (intercâmbio genético), que os homens dos
diversos lugares do mundo adquiriram suas características
específicas, que os diferenciaram.
As primeiras sociedades sedentárias e agrícolas nasceram
na África, assim como os Estados burocráticos,
principalmente ao longo do rio Nilo.
A influência dos africanos foi fundamental na formação
da cultura brasileira, através dos escravos vindos desse
continente.
Como isso aconteceu?
Quando os portugueses “descobriram” o Brasil, uma terra
nova, desconhecida, num continente também
desconhecido, de início não encontraram aqui o que
valorizavam: ouro, pedras preciosas e especiarias (temperos
das Índias).
O que havia aqui era uma madeira vermelha, especial,
chamada pau-brasil. Alguns historiadores dizem ser esta a
origem do nome de nosso país.
Para não ver a nova terra em outras mãos, os portugueses
resolveram começar a colonizá-la. Para isso, precisavam de
mão de obra, isto é, de trabalhadores.
Tentaram escravizar os índios que aqui encontraram. Mas
índio não se deixa escravizar. Logo, logo, conseguiam fugir e
se embrenhavam nas matas e nunca mais eram
encontrados.
Foi então que os portugueses, a partir do século XVI,
resolveram trazer os africanos, uma experiência que já tinha
dado certo nas ilhas de Cabo Verde e Madeira.
Muitos escravos foram vendidos aos portugueses pelos
próprios africanos: os prisioneiros das guerras entre eles.
A escravidão era uma barbaridade. Os africanos eram
tratados como objetos, mercadoria, “não gente”. Vinham
para o Brasil em navios negreiros: maltratados, mal-
alimentados; muitos morriam na viagem.
Vindos de diversas regiões da África, eram diferentes na
língua que falavam, nos costumes, nas divindades que
adoravam, enfim, na cultura. Uma esperteza dos
colonizadores que, assim, achavam que eles não poderiam se
comunicar e, por isso, não poderiam se revoltar.
No entanto, essas diversas culturas se integraram através
da religião: o candomblé, com divindades importadas da
África, modificadas no Brasil, e a umbanda, resultado de
uma mistura feita aqui mesmo no Brasil, com elementos do
espiritismo, e que também cultua os orixás.
Os orixás são divindades intermediárias entre Olorum, o
Deus supremo, e os seres da Aiye (Terra). Os yorubás, um dos
maiores grupos etnolinguísticos ou grupo étnico da África
Ocidental, acreditavam que homens e mulheres descendiam
dos orixás e, assim, herdavam de seu orixá de origem as
características de personalidade.
Conta-se que o candomblé nasceu na Bahia, quando
mulheres africanas, originárias de Ketu, na Nigéria,
reuniram-se para preservar as tradições africanas aqui no
Brasil.
Na África, o candomblé não existia como religião, mas
havia o culto dos orixás, com uma série regional de ritos e
bailados. Cada cidade, cada região, tinha suas divindades
próprias, seus orixás.
Só no Brasil é que o candomblé foi organizado como uma
religião com crenças, práticas e ritos. As casas de culto
seriam uma “miniáfrica”.
O candomblé é muito festivo e suas cerimônias têm
músicas e danças.
Segundo o candomblé, os orixás só podem vir à Terra
encarnando nos fiéis. O momento da possessão é o mais
dramático de toda a cerimônia.
Os orixás são chamados numa ordem estabelecida,
específica a cada terreiro de candomblé. A possessão se faz
pelos cantos e tambores de cada orixá.
Os africanos adoravam um único Deus: Olorum. Os
orixás, criados por Olorum, eram divindades ligadas às
forças da natureza, mensageiros do Deus supremo, sua
ligação com os seres da Terra.
Havia certa correspondência entre os orixás das diversas
regiões, mas, na realidade, eram divindades diferentes.
Na época em que os escravos africanos vieram para o
Brasil, a religião católica dominava no mundo ocidental.
Então, os escravos que aqui chegavam eram batizados e
recebiam nomes cristãos. Mas os negros eram espertos e
enganavam os portugueses. Sabe como?
Eles colocavam os santos católicos nas casas de candomblé
e fingiam a adoração.
Até faziam uma correspondência entre os orixás e os
santos católicos: o sincretismo.
Mas na realidade eles rezavam e faziam seus ritos na sua
religião e na sua língua, que os brancos não entendiam...
Hoje, a religião dos africanos é reconhecida e valorizada
no Brasil e muitos a praticam. Censo do IBGE (2010) calcula
que 0,1% da população brasileira, cerca de 190.000
habitantes, frequenta terreiros de candomblé,
predominando o povo da Bahia, que representa 24% do total,
isto é, aproximadamente 45.600 habitantes.
Os orixás são cultuados no Brasil sob a orientação dos
babalorixás (pais de santo) e iyalorixás (mães de santo), nos
terreiros de candomblé e de umbanda. Os pais de santo
geralmente possuem um terreiro, roça ou uma casa que é o
lugar onde estão todos os axés, toda a energia, e onde se
cultuam os orixás.
O orixá é uma força pura, quase imaterial que só se torna perceptível
aos seres humanos incorporando-se em um deles. Esse ser escolhido
pelo orixá, um de seus descendentes, é chamado seu elégùn, o iniciado
no candomblé, aquele que tem o privilégio de ser “montado” por ele.
Torna-se o veículo que permite ao orixá voltar à Terra para saudar e
receber as provas de respeito de seus descendentes que o evocaram.
Pierre Verger
De acordo com alguns pesquisadores, os terreiros de
candomblé se desenvolveram a partir do século XVIII, quando
os centros urbanos favoreceram as reuniões dos africanos
para realizarem suas práticas religiosas de uma forma
regular e estável.
O candomblé se difundiu com nomes diferentes, no Rio
Grande do Sul (batuque), Recife (xangô), São Paulo, Rio de
Janeiro e Bahia (candomblé).
Cerca de 16 orixás foram importados para o Brasil,
principalmente de três regiões africanas: Ketu (atual
Nigéria), Angola e Jeje (região do Daomé).
Os yorubás de Ketu, no Brasil, também são chamados de
nagô. Não havia uma nação nagô. Você sabe a origem desse
nome?
Quando os jejes venceram os yorubás numa guerra, lá na
África, passaram a chamar os vencidos de anagô (piolhentos,
sujos). Esse apelido passou a ser “nagô” e acabou dando
nome a todos os yorubás.
É preciso sempre lembrar que na sociedade dos yorubás,
sociedade não letrada, é pelos mitos que se conhece sua
história; é pelo mito que se alcança o passado e a origem de
tudo. Como essa história é baseada na oralidade, as versões
de um mesmo mito podem variar. Você vai conhecer mais
adiante a história de cada orixá, baseada nos mitos contados
pelos africanos.
Os orixás mais conhecidos e difundidos no Brasil são
exatamente os de Ketu, da língua yorubá, sendo que alguns
orixás do povo jeje e de Angola foram absorvidos pelo
candomblé. Doze orixás são os mais cultuados no Brasil:
- o primeiro orixá criado por Olorum, o mais poderoso,
o criador da vida na Terra.
- de origem jeje, mas tão poderosa que foi absorvida
pelos outros cultos. É representada como uma anciã, pois
é o mais velho orixá feminino. É a deusa da lama do fundo
das águas, dos pantanais.
- no sincretismo é associado ao diabo, mas na realidade
só faz maldades para quem não o respeita nem faz as
oferendas que exige. Para os que o tratam com respeito só
faz o bem. É o mensageiro entre os homens e os deuses.
- nasceu aleijado e cheio de feridas, por
isso foi abandonado no mar por sua mãe, Nanã, e criado
por Iemanjá. É muito poderoso, o deus das pestes, mas
também da cura.
- é o deus caçador, senhor da floresta e de todos os
seres que nela habitam, orixá da caça, da fartura e da
riqueza.
- orixá do fogo, do ferro, da guerra e da tecnologia.
- impulsiva e imprevisível, é a deusa dos ventos e das
tempestades.
- materna e tranquila, é a deusa dos mares e oceanos.
- deus do fogo e do trovão; também da justiça. É
atrevido e prepotente.
- orixá das ervas e folhas medicinais.
- orixá da chuva e do arco-íris; seu elemento é a água.
Também toma a forma de uma cobra na metade do ano. É,
ao mesmo tempo, um orixá masculino (arco-íris) e
feminino (cobra).
- orixá feminino da água doce, do ouro, da fecundidade
e do amor. Faceira, fica se olhando num espelho.
Alguns deles eram cultuados pelas nações Jeje e Angola,
mas foram absorvidos pelo candomblé Ketu, aqui no Brasil.
Neste livro, você vai conhecer algumas lendas desses
orixás.
odos os homens, em todos os tempos, vêm buscando
explicação para os mistérios do universo e da origem da
humanidade.
Os yorubás assim contam a origem do universo, da Terra,
dos homens e de todos os seres sobre ela:
No início de tudo, havia o Orum: o espaço infinito.
O Deus supremo era Olorum, que criou o universo com seu
hálito sagrado, o émi. Ele reinava em todo o espaço. Olorum
criou, também, seres imateriais, divindades dotadas de
grandes poderes: os orixás, intermediários entre o ser
supremo e os seres da Terra. Os orixás tinham domínio sobre
a água, o fogo, a terra, o ar, os animais, as plantas, enfim,
todas as forças da natureza.
O primeiro orixá a ser criado, a partir do ar e das primeiras
águas, era um orixá que se vestia de branco e muito
poderoso, um orixá funfun: Oxalá.
Logo em seguida, Olorum criou um outro orixá que
possuía o mesmo poder do primeiro, dando-lhe o nome de
Nanã. Os dois nasceram da vontade de Olorum de criar o
universo. Oxalá representa a essência masculina de todos os
seres e Nanã, por sua vez, tem a essência feminina.
Exu foi o terceiro elemento criado, de uma porção de terra
vermelha. Exu é um orixá dudu, do preto. Ele foi criado para
ser o elo de ligação entre todos os orixás, e deles com
Olorum: é o orixá mensageiro. Tornou-se costume prestar-
lhe homenagens antes de qualquer outro, pois é ele quem
leva as mensagens e carrega os ebós, as oferendas.
Outros orixás também foram criados, formando um
verdadeiro exército a serviço de Olorum, cada um com uma
função determinada para executar os planos divinos.
Olorum confiou a Oxalá a missão de criar a Terra,
investindo-o de toda a sabedoria e poderes necessários para o
sucesso dessa importante tarefa.
Deu a ele uma cabaça — apo iwa — a bolsa da existência,
contendo todo o axé que seria utilizado.
Oxalá, orgulhoso por ter recebido tamanha honraria,
achou desnecessário fazer as oferendas a Exu. Afinal, era um
orixá funfun, que se vestia de branco, muito poderoso e o
primeiro orixá, enquanto Exu era um orixá dudu, que se
vestia de preto e outras cores.
Exu, vendo que Oxalá partira sem lhe fazer as oferendas,
previu que a missão não seria cumprida, pois, mesmo com a
cabaça e toda a força do mundo, sem a sua ajuda não
conseguiria chegar ao local indicado por Olorum.
Oxalá pôs-se a caminho, apoiado em seu cajado. Quando
passava pela porta do além, encontrou Exu, que estava
descontente, pois Oxalá havia se negado a fazer-lhe as
oferendas exigidas.
Bem que o oráculo (Ifá) havia dito a Oxalá que fizesse
oferendas a Exu, antes de viajar, mas Oxalá, orgulhoso, não
quis.
Assim, Exu colocou vários obstáculos em seu caminho.
A caminhada era longa e difícil, e Oxalá começou a sentir
sede, provocada por Exu, mas, devido à importância de sua
missão, não podia parar para beber água. Não aceitava nada
do que lhe era oferecido; numa aldeia por onde passou lhe
ofereceram leite de cabra, mas ele recusou. Nem mesmo
quando passou perto de um rio interrompeu a sua jornada.
Todos os caminhos pareciam iguais. Depois de andar por
muito tempo, viu que estava realmente perdido. De repente,
ele avistou uma palmeira muito frondosa, logo à sua frente,
o doigi-opê, a árvore do dendê. Oxalá, já delirando de tanta
sede, atingiu o tronco da palmeira com seu cajado, abriu o
tronco do doigi-opê e bebeu a seiva que brotou do buraco da
árvore. Era o vinho da palma, e Oxalá bebeu, bebeu até cair
adormecido, embriagado pela bebida. Desmaiou ali mesmo,
ficando desacordado por muito tempo.
O fato é que quem acabou criando o mundo foi Odudua,
outro orixá, que o substituiu a mando de Olorum.
Oxalá ficou inconsolável, e Olorum, com pena, resolveu
dar-lhe outra missão: criar os seres para povoar Aiye, a
Terra. Oxalá fez várias tentativas, com o ar, o fogo e outros
elementos. Até que Nanã resolveu ajudá-lo: com seu ibiri
(um cajado feito com folhas de dendê), tirou lama do fundo
da água e mostrou a Oxalá que esse seria o elemento para
formar os seres vivos.
E assim fez Oxalá: da lama fez nascer os peixes, as plantas
e os homens. O sopro sagrado de Olorum, o ofurufu, deu
vida aos seres criados.
Os outros orixás, então, vieram ajudar a povoar a terra e,
mais tarde, voltaram a Orum, deixando aqui seus
ensinamentos de como deveriam ser cultuados, através dos
patakis. Todos esses ensinamentos eram orais, por isso há
muitas versões dessa história e variação no nome dos orixás.
Logo que o mundo foi criado, não havia separação entre
Orum e Aiye, isto é, entre o céu e a Terra. Homens e deuses
passavam de um para outro, livremente.
Havia um camponês que morava no limite entre esses dois
mundos e que queria muito ter um filho, mas sua mulher
era estéril. Tanto o camponês rezou a Oxalá, e o orixá, com
pena, fez com que a mulher tivesse um filho. Mas Oxalá
determinou que esse menino nunca deveria cruzar o limite
entre Aiye e Orum.
Só que o menino cresceu, e sua curiosidade também. Um
dia, ele descobriu o caminho para Orum e foi explorar esse
espaço.
Oxalá ficou com muita raiva, até porque o menino contou
vantagem e desafiou os deuses.
Foi assim que Oxalá pegou seu cajado e separou Orum de
Aiye e deu origem à atmosfera (sanmó).
E desde então os homens não puderam mais alcançar
Orum.
anã é a geradora de Iku — a morte. É o orixá que controla
o portal que é a fronteira entre a vida e a morte, por isso,
é o mais temido dos orixás. É também a guardiã do saber
ancestral.
Nanã nasceu da lama, do contato da terra e da água: sua
morada e sua regência é o lodo, o pantanal. É um orixá de
origem jeje, mas tão poderoso que foi incorporado aos outros
cultos.
Contam que Oxalá queria os poderes de Nanã e só poderia
obtê-los se casasse com ela.
Para se casar com a poderosa Nanã, Oxalá conseguiu que
ela tomasse uma poção que fez com que ficasse muito
apaixonada. Assim, Nanã casou-se com Oxalá e dividiu seu
reino com ele.
Mas o Orixá casou-se com Nanã por ambição e não ligava
para ela, que fez um feitiço para ter filhos com Oxalá.
Teve vários filhos: Obaluaê, Ossaim, Oxumaré e Ewá. Mas
seu primeiro filho, Obaluaê, nasceu defeituoso, cheio de
feridas e marcas de varíola. Nanã, então, abandonou-o no
mar para morrer.
Enfurecido por tanta maldade, Oxalá fez com que seu
segundo filho, Oxumaré, ficasse sempre longe da mãe:
durante seis meses do ano, era o arco-íris e durante os outros
seis meses era uma cobra que se arrastava pelo chão.
Nanã era o único orixá que manipulava os eguns, os
espíritos. Oxalá, entretanto, conseguiu descobrir como fazê-
lo e acabou sendo o orixá dos eguns, por meio de uma
trapaça.
Vou contar como isso aconteceu:
Nanã havia proibido Oxalá de entrar no jardim dos eguns.
Os eguns eram seres poderosos, espíritos que Nanã usava
para castigar os que cometiam crimes.
Pois Oxalá, certo dia, espionou Nanã e descobriu como ela
invocava os mortos. Depois, disfarçou-se de mulher,
vestindo-
-se com as roupas de Nanã. Assim disfarçado, foi ao jardim
dos eguns, repetiu as invocações de Nanã, e ordenou:
— Vocês devem obedecer ao homem que vive comigo (que
era ele mesmo).
Quando Nanã descobriu o que acontecera, quis reagir,
mas, ainda apaixonada, abdicou desse poder em favor de
Oxalá. Hoje, nos cultos aos Egungun, só os homens são
iniciados para invocar os eguns.
Mas Oxalá acabou por expulsar Nanã de seu reino, e ela
passou a viver no lodo.
Nos cultos de Nanã não podem aparecer lâminas de metal.
Sabe por quê?
Pois certa vez Ogum, que não respeitava ninguém, era
orgulhoso e nada o assustava, chegou às terras de Nanã.
Chegando à beira de um pântano, início das terras de
Nanã, quis atravessá-lo. Era o caminho mais curto para
chegar a seu destino. Eis que surge Nanã e com voz grave lhe
diz:
— Esta terra tem dono. Para atravessá-la, tem que pedir
licença.
Ogum, orgulhoso, respondeu:
— Ogum não pede, exige. O que ele quer, ele toma. Não
será uma velha como você que vai me impedir de passar.
E assim dizendo, dispôs-se a atravessar o pântano,
atirando lanças com ponta de metal contra Nanã.
Nanã fechou os olhos e mandou que o pântano tragasse o
imprudente e ousado Ogum.
E assim aconteceu: pouco a pouco ele foi afundando,
tragado pela lama. Lutou, lutou e conseguiu se salvar, indo,
depois, por outro caminho, contornando o lamaçal.
Mas gritou para Nanã:
— Velha feiticeira, vou encher esse pântano de aço
pontudo, para que corte sua carne!
Ogum teve que buscar outro caminho, mas desde então
Nanã aboliu o uso de metais em suas terras.
E até hoje nada pode ser oferecido para Nanã usando
metal.
xu é um orixá de múltiplos e contraditórios aspectos.
Gosta de provocar disputas e acidentes, quer com as
pessoas individualmente, quer como grupo. Tem um caráter
irritadiço e briguento; por isso foi confundido pelos cristãos
com o demônio, e o símbolo de tudo o que é maldade,
perversidade.
Entretanto, Exu possui o seu lado bom. Se for tratado com
consideração, reage favoravelmente, mostrando-se serviçal e
prestativo. Mas se as pessoas se esquecerem de lhe oferecer
sacrifícios e oferendas, Exu revela seu lado mau.
Ele tem qualidades e defeitos, é dinâmico e jovial, e pode
até ser um orixá protetor.
Exu veio ao mundo com um porrete, chamado gò, que
pode transportá-lo, em algumas horas, a centenas de
quilômetros e de atrair, por um poder magnético, objetos
situados a distâncias igualmente grandes. Ele é o guardião
dos templos, das casas, das cidades e das pessoas. É também
ele que serve de intermediário entre os homens e os deuses,
por isso nada se faz sem que ele receba as oferendas que lhe
são devidas, para evitar mal-entendidos entre os seres
humanos e em suas relações com outros orixás.
Exu sempre foi ranzinza e encrenqueiro, adorava provocar
confusões e fazia brincadeiras que deixava todos confusos e
irritados.
Mas certa manhã acordou se perguntando, afinal, quem
era ele? Não fazia nada, não tinha poder algum,
perambulava pelo mundo sem ter nada que fazer. Todos os
orixás trabalhavam muito, com tarefas bem definidas. Só ele
não tinha nada para fazer! Resolveu ir até o Orum para saber
de seu destino.
Depois de muito andar, finalmente chegou ao palácio de
Olorum. Pediu audiência com o grande Deus. Tudo fechado.
Todos riram dele: “Quem era ele para exigir qualquer coisa?”
Exu ficou enfurecido e começou a gritar, fazendo tanto
barulho que os guardas do palácio o prenderam numa
masmorra. “Como sair daquela situação?”, pensou.
Começou novamente a gritar, e tanto barulho fez que
Olorum resolveu falar com ele. Exu explicou que Olorum o
tratava com muita injustiça; que só ele não tinha qualquer
missão. Olorum explicou, então, que todos os orixás eram
sérios e compenetrados, mas que ele, Exu, só queria saber de
confusões e brincadeiras. Como se igualar aos outros orixás?
— Vai embora e não me aborreça mais — disse Olorum.
Exu, então, resolveu mostrar seu poder, fazendo o que
mais sabia: comer. Tinha uma fome incontrolável, assim
começou a devorar o que encontrava: comeu as matas de
Oxóssi; bebeu as águas de Oxum; palitou os dentes com os
raios de Xangô e foi bebendo aos poucos os mares de
Iemanjá.
E a terra tornou-se árida. Os orixás, desesperados, foram
implorar a Olorum uma solução. Exu foi novamente preso e
levado à presença de Olorum. Exigiu, então, ser tratado com
respeito e assumir um lugar no panteão divino. Senão
comeria o restante do mundo!
Houve uma grande reunião dos orixás com Olorum para
discutir o problema. Depois de muita discussão chegaram a
uma conclusão: Exu seria o mensageiro de todos eles, o
contato terreno entre os homens e os deuses. E mais, uma
parte das oferendas dos outros orixás iriam sempre para Exu,
que ficou satisfeito.
Desceu do Orum cantarolando e devolvendo pelo caminho
tudo que tinha comido.
Mas todos ficaram sabendo: “Com Exu ninguém pode!”
O lado malfazejo de Exu é evidenciado nas seguintes
histórias:
Uma delas, bastante conhecida e da qual existem
numerosas variações, conta como ele semeou discórdia entre
dois amigos. Esse dois camponeses eram muito amigos e
trabalhavam suas roças, que eram vizinhas.
Bem cedo, estavam eles a trabalhar, mas tinham se
esquecido de prestar homenagem a Exu, que sempre lhes
tinha proporcionado chuvas e boas colheitas. Exu ficou
furioso!
Ele colocou um boné que era vermelho de um lado e branco
do outro e passou ao longo de um caminho que separava as
duas roças, cumprimentando os lavradores.
Ao fim de alguns instantes, um dos amigos perguntou:
— Quem será esse desconhecido de boné vermelho?
O outro retrucou:
— Não! O boné era branco!
O primeiro voltou a insistir, mantendo a sua afirmação de
que o boné era vermelho. O outro camponês reafirmou que o
boné era branco.
Como ambos tinham certeza do que haviam visto,
apegavam-se a seus pontos de vista, sustentando-os com
ardor e, logo depois, com cólera.
Ficaram com tanta raiva que acabaram lutando corpo a
corpo e mataram-se um ao outro.
Uma outra lenda mostra Exu mais maquiavélico ainda. Ele
foi procurar uma rainha abandonada já há algum tempo por
seu marido e lhe disse:
— Traga-me alguns fios da barba do rei e corte-os com esta
faca. Eu lhe farei um amuleto que lhe trará de volta o seu
marido.
Em seguida, Exu foi à casa do filho da rainha, que era o
príncipe herdeiro. Este vivia numa residência situada fora
dos limites do palácio do rei. O costume assim o
determinava, a fim de prevenir toda tentativa de assassinato
de um soberano por um príncipe impaciente por subir ao
trono.
— O rei vai partir para a guerra — disse Exu para o príncipe
— e pede o seu comparecimento esta noite ao palácio,
acompanhado de seus guerreiros.
Finalmente, Exu foi ao rei e disse-lhe:
— A rainha, magoada pela sua frieza, deseja matá-lo para
se vingar. Cuidado, esta noite!
E a noite veio. O rei deitou-se, fingiu dormir e viu, logo
depois, a rainha se aproximar de sua garganta com uma
faca. O que ela queria era cortar um fio da barba do rei, mas
ele julgou que ela desejava assassiná-lo. O rei desarmou-a e
ambos lutaram, fazendo grande algazarra. O príncipe, que
chegava ao palácio com seus guerreiros, escutou gritos nos
aposentos do rei e correu para lá. Vendo o rei com uma faca
na mão, o príncipe pensou que ele queria matar sua mãe. Por
seu lado, o rei, ao ver o filho penetrar nos seus aposentos no
meio da noite, armado e seguido por seus guerreiros,
acreditou que eles desejavam assassiná-lo. Gritou por
socorro. A sua guarda acudiu e houve então uma grande
luta, seguida de massacre generalizado.
Tudo aconteceu porque Exu achou que o rei não o havia
homenageado como devido.
Uma história mais simples mostra a atividade de Exu na
vida cotidiana:
Uma mulher se encontra no mercado vendendo os seus
produtos.
Pois Exu põe fogo na sua casa. Todos avisam à mulher que
sua casa estava pegando fogo. Ela corre para lá,
abandonando seu negócio. Só que ela chega tarde: sua casa
está toda queimada!
Durante esse tempo, um ladrão roubou todas as
mercadorias da pobre mulher, que ficou sem a casa e na
miséria! Tudo isso por artes de Exu.
Mas nada disso teria acontecido — os amigos não teriam
brigado, nem o rei e o príncipe teriam se massacrado, nem a
vendedora teria se arruinado — se tivessem feito a Exu as
oferendas e os sacrifícios que ele sempre exigia.
Outra lenda conta que um grande proprietário de terras,
Aluman, estava desesperado com uma grande seca. Seus
campos estavam secos e a chuva não caía.
As rãs choravam de tanta sede e os rios estavam cobertos
de folhas mortas, caídas das árvores. Nenhum orixá
invocado escutou suas queixas e gemidos.
Ele decidiu, então, oferecer a Exu grandes pedaços de
carne de bode. Exu comeu com apetite esta excelente
oferenda. Só que Aluman havia temperado a carne com um
molho muito apimentado. Exu, então, teve sede. Uma sede
tão grande que toda a água de todas as jarras que o dono das
terras tinha e que os vizinhos tinham em suas casas, não foi
suficiente para matá-la! Foi então que Exu foi à torneira da
chuva e abriu-a sem pena. A chuva caiu. Ela caiu dia e noite.
Ela caiu no dia seguinte e no outro dia, sem parar.
O que aconteceu parecia milagre!
Os campos tornaram-se verdes e todos cantaram de
alegria! E as rãs coaxavam, felizes. O rio corria velozmente
para não transbordar!
O proprietário das terras, então, reconhecido, ofereceu a
Exu carne de bode com o tempero no ponto certo da pimenta.
Já havia chovido bastante. Se chovesse mais, seria
desastroso, pois haveria inundação.
baluaê e Olodum são nomes que se confundem. São dois
aspectos de um mesmo orixá: Xapanã. Xapanã era um
orixá jeje, mas se tornou orixá também do candomblé, e
de outros cultos, devido ao seu grande poder. Xapanã é
conhecido pelos nomes de Obaluaê (o jovem) e Olodum (o
velho). Essa é uma característica das religiões africanas, os
vários aspectos de seus orixás: o velho e o jovem; o
masculino e o feminino.
Pois você vai agora conhecer alguma coisa dessa divindade
tão poderosa.
Obaluaê era filho de Nanã. Sua mãe, entretanto, o
rejeitou e jogou-o no mar, pois Obaluaê era coxo e cheio de
feridas, com marcas de varíola em todo o corpo.
Iemanjá teve pena do menino enjeitado e resolveu criá-lo
como se fosse seu filho.
Obaluaê cresceu, mas sempre tímido e arredio, pois tinha
vergonha de seus defeitos.
Mas é um orixá muito poderoso, o orixá das doenças e da
cura. Ele regula a dor, a saúde, o funcionamento do
organismo.
Conta a lenda que houve uma grande festa a que
compareceram todos os orixás. Todos, menos um: Obaluaê,
que tinha vergonha de sua feiúra, de suas feridas e cicatrizes
da varíola.
De longe, observava a festa, quando seu irmão Ogum
resolveu ajudá-lo. Correu à floresta e lá teceu para Obaluaê
uma roupa de palha — o ofilá — que o cobria todo, inclusive
o rosto.
Assim vestido, Obaluaê foi participar da festa dos orixás.
Mas ninguém queria dançar com ele; tinham nojo, mesmo
ele estando com suas feridas cobertas.
Iansã, porém, mostrando coragem, tirou-o para dançar.
Mas no melhor da dança, muito animada, Iansã, que é o
orixá dos ventos, levantou uma ventania que levou pelos ares
o ofilá de Obaluaê. Fez-se silêncio e todos observaram
Obaluaê.
Mas, ó surpresa! O que viram foi um jovem de grande
beleza, sem qualquer defeito. É que Iemanjá tinha cuidado
de seu filho adotivo e curou-o de todos os seus males.
Os orixás femininos ficaram encantados, e os masculinos
com ciúmes. Obaluaê recompensou Iansã por sua coragem
em dançar com ele quando se pensava que ainda fosse um
aleijão.
Mas a partir daquela data, passou a dançar sempre
sozinho nas festividades.
Obaluaê era mais conhecido como Xapanã, o Orixá da
peste, da varíola. Sabe por quê?
Pois Olorum resolveu, um dia, distribuir seus bens e seus
poderes entre os orixás. Disse então a seus filhos que se
reunissem e os repartissem como quisessem.
Os orixás escolheram um dia em que Xapanã estava
ausente e fizeram a escolha. Tudo foi distribuído entre eles.
E o que sobrou foi a peste.
Quando Xapanã voltou, só tinha para ele a peste, que
ninguém havia querido. Ficou muito aborrecido e foi se
queixar a Olorum, que o aconselhou:
— Faça oferendas e sacrifícios para que seu poder seja
maior que o dos outros.
E assim ele fez.
Certo dia uma doença terrível começou a se espalhar pela
Aiye: a varíola!
O povo, desesperado, fazia sacrifícios para todos os orixás,
mas nenhum podia ajudá-los.
A varíola tinha sido provocada por Obaluaê.
É que, certo dia, chegou a uma aldeia, lá na África,
coberto de palha como sempre viveu. Mas o pessoal da aldeia
não o deixou entrar lá, pois ele tinha fama de ligação com as
doenças contagiosas.
Obaluaê então explicou:
— Só quero um pouco d´água para matar minha sede e
logo, logo, continuo minha viagem.
Mas o povo negou-lhe até a água. Assim, Obaluaê sentou-
se num morro próximo, e a tribo percebeu que, conforme o
tempo passava, a água ia ficando quente, o alimento se
estragava e todos começaram a passar mal: era a varíola. Aos
poucos, alguns foram morrendo.
Foram três dias de sol quente, e a noite não chegava.
O povo consultou o oráculo que explicou:
— Isso acontece porque Obaluaê está revoltado por vocês
lhe negarem água, mas só o orixá pode salvar o povo, pois só
ele tem poderes sobre a doença.
Recomendou, então, que todos fizessem oferendas e
sacrifícios a Obaluaê, pois só ele podia salvá-los da epidemia.
Assim foi feito: todos pediram perdão e proteção a
Obaluaê, e sacrifícios foram realizados em sua homenagem.
A epidemia foi debelada e Obaluaê saudado por todos:
— Xapanã, rei e senhor da Terra! Xapanã, Obaluaê! Que
sua benção e proteção nos seja dada!
E Obaluaê falou:
— Vivemos no mesmo mundo, somos todos irmãos e
devemos nos ajudar uns aos outros.
E todos perceberam que o maior poder era desse Orixá que,
desde então, foi respeitado por todos.
xóssi é o orixá caçador, o senhor da floresta e dos seres
que nela habitam. O orixá que representa aquilo que há
de mais antigo na existência humana: a luta pela
sobrevivência. Oxóssi é o orixá da caça e da coleta, que
garante a fartura da alimentação. Com seu irmão Ogum, ele
aprendeu a dominar os perigos da mata, onde vai em busca
da caça para alimentar a tribo. Mas Oxóssi possui uma única
flecha; assim, não pode errar sua presa!
Ogum tem por seu irmão, Oxóssi, um grande afeto, pois
foi ele que fez de Oxóssi o grande provedor de alimento para
sua tribo. E, assim como Ogum é o grande guerreiro, Oxóssi
tornou-se o grande caçador.
Foi com Ossaim, um grande feiticeiro e senhor de todas as
folhas, que Oxóssi aprendeu o segredo das folhas e os
mistérios da floresta.
Tal como Xangô, Oxóssi é um orixá avesso à morte, porque
é expressão da vida. Como ele não acredita na morte, Iku não
passa perto dele.
Oxóssi salvou seu povo do terrível pássaro das Iyá-Mi
Ossorongá. As Iyá-mi são conhecidas como as senhoras dos
pássaros e têm fama de grandes feiticeiras Sabe como Oxóssi
.
conseguiu salvar seu povo? Dizem que, em tempos distantes,
houve uma grande festa na aldeia, lá na África, para saudar
a boa safra de inhames. Naquele ano, a colheita havia sido
muito farta. Mas acontece que esqueceram de convidar para
a festa as feiticeiras Iyá-Mi, que ficaram muito ofendidas.
Pois elas se vingaram. Sabe como?
Em meio aos festejos, apareceu o grande pássaro Iyá-Mi,
que pousou sobre o palácio do rei, lançando os seus gritos
malignos e lançando farpas de fogo!
As feiticeiras tinham enviado o pássaro para apavorar o
povo! Tudo seria destruído pelo grande pássaro!
Todos se encheram de pavor, prevendo desgraças e
catástrofes.
O Rei, então, convocou vários caçadores: Osotadotá, o
caçador das 50 flechas, que errou todas as suas investidas.
Osotogi, o segundo caçador chamado, com suas 40 flechas,
também desperdiçou todas as suas tentativas contra o
grande pássaro, que facilmente se esquivava das flechas.
Osotogum, o terceiro caçador, tinha 20 flechas, mas, apesar
da sua grande fama, em vão atirou todas elas.
Por fim, já sem esperança, resolveram convocar Oxóssi, o
caçador que tinha apenas uma flecha.
Acontece que sua mãe sabia que as eleyé viviam em cólera,
e nada poderia ser feito para pacificá-las, a não ser uma
oferenda. Assim, ela foi consultar Ifá, que aconselhou que
ela preparasse oferendas com ekùjébú, frango òpìpì, èkó e
seis kauris para o pássaro. O oráculo também recomendou
que ela sacrificasse um pássaro e o colocasse na estrada, e
que durante a oferenda a Iyá-Mi recitasse o seguinte: “Que o
peito da ave receba esta oferenda”. Naquele exato momento,
seu filho devia disparar sua única flecha em direção ao
pássaro, que abriria sua guarda para receber a oferenda.
Assim foi feito. E a flecha certeira e mortal de Oxóssi
acertou o peito do pássaro. Quando viram o terrível pássaro
morto, todos começaram a dançar e gritar de alegria:
“Oxóssi! Oxóssi! Caçador do povo!”
E, a partir desse dia, Oxóssi foi reverenciado como o maior
guerreiro de todas as terras.
Conta-se, no Brasil, que Oxóssi era irmão de Ogum e de
Exu, todos os três filhos de Iemanjá.
Exu era indisciplinado e insolente com sua mãe, por isso
ela o mandou embora.
Os outros dois ficaram: Ogum trabalhava no campo e
Oxóssi caçava na floresta das vizinhanças, de modo que a
casa estava sempre abastecida de produtos agrícolas e de
caça.
Foi com seu irmão Ogum que Oxóssi aprendeu a caçar e a
abrir caminho pela mata.
Iemanjá, no entanto, estava inquieta pelos filhos que lhe
restavam e resolveu consultar um babalaô que a aconselhou
a proibir que Oxóssi saísse à caça. Na mata, poderia
encontrar Ossaim, o orixá que conhece o poder das plantas.
Ossaim vivia nas profundezas da floresta e poderia fazer
um feitiço para obrigar Oxóssi a ficar com ele.
Com medo de perder o filho, Iemanjá exigiu que Oxóssi
abandonasse sua atividade na floresta. Só que Oxóssi era
muito independente e teimoso. Insistiu em caçar na
floresta.
Cedinho, ele partia com outros caçadores. Quando
chegavam a uma grande árvore (ìrókò), separavam-se e só
voltavam a se encontrar no fim do dia e no mesmo lugar.
Certa tarde, Oxóssi não voltou para o reencontro. Os
outros caçadores chamaram por Oxóssi, mas ele não
respondia. Que teria acontecido?
É que ele havia encontrado Ossaim, que lhe dera para
beber uma poção. Era uma poção mágica de folhas
maceradas de amúnimúyè, cujo nome significa “apossa-se
de uma pessoa e de sua inteligência”. Ao beber, Oxóssi se
esqueceu de tudo! Ele não sabia mais quem era, nem onde
morava. Ficou, então, vivendo na mata com Ossaim, como
havia dito o babalaô.
Ogum, inquieto, foi à sua procura. Encontrou-o na
floresta e o trouxe de volta. Mas Iemanjá não quis mais
receber o filho desobediente. Ogum, revoltado pela
intransigência materna, recusou-se a continuar em casa.
E é por isso que o lugar consagrado a Ogum está sempre
instalado ao ar livre.
Oxóssi voltou para a companhia de Ossaim.
Iemanjá, desesperada por ter perdido seus filhos,
transformou-se em um rio que desaguava no mar...
gum, no Brasil, é conhecido sobretudo como deus dos
guerreiros.
Perdeu sua posição de protetor dos agricultores, pois os
escravos, nos séculos anteriores, não tinham interesse
pessoal na colheita e, assim, não procuravam sua proteção.
Isso explica, igualmente, o pouco caso que os yorubás
escravos lhe deram no Brasil.
Como deus dos caçadores, Ogum foi substituído por
Oxóssi, trazido ao Brasil pelos africanos de Ketu, fundadores
dos primeiros candomblés em Salvador.
Como orixá, Ogum é o deus do ferro, dos ferreiros e de
todos aqueles que utilizam esse material: agricultores,
caçadores, açougueiros, barbeiros, marceneiros,
carpinteiros, escultores. E, desde o início do século XX,
também dos mecânicos, dos condutores de automóveis ou de
trens e daqueles que consertam outras máquinas.
Ogum é um orixá muito importante porque, além de ser
um dos mais antigos deuses yorubás, sem sua permissão e
sua proteção nenhuma atividade que utilize metal poderá ser
realizada. Ele é o que abre caminho para os outros orixás. Por
isso, atrai o ciúme de outros orixás mais antigos, que não
aceitam bem essa primazia. Isso deu origem a vários
conflitos entre Ogum e outros orixás, como Obaluaê, Nanã e
Xangô.
Ogum era casado com Iansã. Certo dia, o irmão de Ogum,
Xangô, foi visitá-los.
Quando viu Iansã, Xangô ficou apaixonado. Logo,
começou a frequentar a casa de Ogum, insinuando-se para
Iansã. Xangô era bonito, com longos cabelos trançados, e
Iansã foi ficando cada vez mais interessada, envolvida pelas
belas palavras do cunhado. Ogum nada percebia.
Certo dia, Xangô encontrou Iansã sozinha e logo se
aproveitou: pediu que Iansã preparasse um amalá para ele.
Disse que há muito não comia desse prato, pois não sabiam
fazê-lo. Quando o amalá ficou pronto, Xangô,
disfarçadamente, colocou um pó mágico na comida. Pediu
que Iansã também provasse. E ela o fez, sem de nada
desconfiar. Imediatamente começou a cuspir fogo a cada
palavra que dizia!
Esse dom era de Xangô e ele o havia dividido com ela.
Iansã ficou apaixonada e acabou fugindo com Xangô.
Quando voltou, Ogum encontrou a casa vazia. Foi também
embora e, desde então, virou andarilho.
Xangô levou Iansã para seu reino: ele, o senhor dos raios e
trovões; ela, senhora das tempestades.
E desde então Xangô e Ogum são inimigos.
Conta a lenda que, no início dos tempos, os orixás e os
seres humanos trabalhavam e viviam em igualdade: todos
caçavam e plantavam. Usavam-se instrumentos feitos de
madeira, pedra ou metal mole. Assim, o trabalho exigia
grande esforço e era demorado. Como a comida andava
escassa e o plantio era pouco produtivo, era necessário
plantar uma área maior. Era um trabalho muito árduo. Os
orixás então se reuniram para decidir como fariam para
remover as árvores do terreno e aumentar a área de lavoura.
Ossaim, o orixá da medicina, dispôs-se a ir primeiro e
limpar o terreno. Mas seu facão era de metal mole e ele não
foi bem sucedido. Do mesmo modo que Ossaim, todos os
outros orixás tentaram, um por um, e fracassaram na tarefa
de limpar o terreno para o plantio.
Só Ogum, que conhecia o segredo do ferro, não tinha se
manifestado. Quando todos os outros orixás tinham
fracassado, Ogum, então, pegou seu facão de ferro e limpou
todo o terreno. Os orixás ficaram muito admirados.
Examinaram o facão de Ogum e perguntaram que material
era aquele tão resistente. Ogum respondeu que era o ferro,
que tinha sido ensinado por Orunmilá, o adivinho.
Aquele material seria muito útil, não só na agricultura,
como na caça e até mesmo na guerra, por isso os orixás
queriam que Ogum lhes ensinasse o segredo do ferro. Mas
Ogum não queria contar. Os orixás decidiram: se ele
ensinasse tudo sobre aquele material, poderia ser o rei de
todos os orixás. Ogum resolveu aceitar a troca. Os homens
pediram o conhecimento do ferro e como construir
ferramentas com o material. Ogum ensinou como forjar o
ferro, e logo todos os caçadores e todos os guerreiros tiveram
seu instrumento desse metal.
Agora vou contar como Ogum descobriu o ferro. A
descoberta veio por orientação de um Ifá.
Certo dia Ogum, preocupado, procurou um Ifá para saber
por que não tinha ocupação definida.
O adivinho orientou-o para preparar um ebó complicado.
Depois, ele deveria esperar a próxima chuva e procurar um
local onde teria havido uma erosão. Ali ele deveria apanhar a
areia que ficara, uma areia preta e fina, e pôr no fogo até
queimar. Assim ele fez e, ao queimar a areia, Ogum,
espantado, viu-a transformar-se numa massa que, ao
esfriar, se solidificou: era o ferro.
O ferro, quando frio, era muito duro, mas enquanto
quente podia ser manipulado.
Ogum começou a modelar a massa quente. Primeiro fez
uma tenaz, uma espécie de alicate, e, com ela, podia mexer
no ferro quente. Foi assim que aprendeu a fazer vários
instrumentos: primeiro, uma faca e um facão; depois
começou a forjar todo tipo de instrumentos de ferro próprios
para a lavoura. Ensinou aos homens como utilizá-los. Daí
em diante, a vida do orixá mudou: passou a ser o ferreiro
saudado por todos como aquele que “transforma a terra em
dinheiro”, e, mais tarde, como o rei dos orixás.
Acontece que, antes de mais nada, Ogum era um caçador.
Assim, numa ocasião, saiu para caçar. Passou vários dias
fora e quando voltou da mata estava sujo e todo rasgado.
Quando viram o estado de seu rei, os orixás acharam que ele
não era digno de governá-los. Eles o desprezaram e
decidiram destituí-lo. Ogum ficou muito decepcionado!
Quando precisaram dele, eles o fizeram rei, e agora achavam
que não era digno de governá-los. Ogum resolveu então
deixar aqueles ingratos e partiu com suas armas.
Construiu uma casa embaixo da árvore de acoco e lá ficou
morando, isolado.
Mas os humanos não o esqueceram: todo mês de dezembro
festejam Ogum e fazem sacrifícios em sua memória. Por
isso, sempre que é preciso, Ogum ajuda aos homens, como
aconteceu com um peregrino.
O pobre homem andava por toda parte, trabalhando ora
numa, ora noutra plantação. Mas quando o serviço estava
pronto, os donos da terra o despediam e tomavam tudo o que
ele havia feito. Um dia, esse homem foi a um babalaô,
sacerdote do culto, que o mandou fazer um ebó, uma
oferenda na mata. Ele juntou o material e foi fazer o
despacho, mas acabou fazendo tal barulho que Ogum, o
dono da mata, foi ver o que estava acontecendo. O homem,
então, percebeu que estava na morada de Ogum e ajoelhou-
se ante o orixá, pedindo perdão. Deu a ele tudo o que levara
para o ebó. Ogum aceitou e satisfez-se com o ebó. Depois
conversou com o peregrino, que lhe contou por que estava
naquele lugar proibido. Contou tudo o que acontecia entre
ele e os patrões.
Foi então que o orixá mandou que ele desfiasse folhas de
dendezeiro e as colocasse nas portas das casas de seus
amigos, marcando assim cada casa a ser respeitada. Naquela
noite, Ogum destruiu a cidade de onde vinha o peregrino.
Destruiu tudo, menos as casas protegidas pelas folhas de
dendê.
ansã é o orixá dos ventos e das tempestades. Tem
temperamento ardente e foi a primeira mulher de Xangô.
Pois Xangô encarregou-a de ir buscar, na terra dos
Baribas, um preparado que fazia botar fogo pela boca. Contra
as instruções de Xangô, Iansã resolveu provar a poção e
imediatamente pôs-se a botar fogo pela boca. Xangô ficou
furioso, mas nada mais podia fazer, e Iansã ficou com esse
poder.
Certa vez, Ogum foi caçar na floresta.
Escondido, esperava a caça quando viu um búfalo que
vinha em sua direção. Preparou-se para matá-lo. Foi quando
o animal parou e retirou sua pele. Apareceu, então, uma
linda mulher: era Oiá-Iansã. Ela escondeu a pele num
formigueiro, dirigindo-se ao mercado da cidade vizinha.
Ogum pegou a pele e escondeu-a no fundo de um depósito
de milho, ao lado de sua casa. Foi, logo em seguida, ao
mercado para cortejar a mulher-búfalo. Acabou por pedi-la
em casamento.
Só que, de início, Oiá-Iansã recusou. Ele insistiu, insistiu
e ela acabou aceitando.
Mas quando ela voltou à floresta para buscar sua pele, não
mais a encontrou, pois Ogum a tinha escondido. Oiá-Iansã
recomendou ao caçador que não contasse a ninguém que, na
realidade, ela era um animal.
Viveram bem durante alguns anos e ela teve nove
crianças, despertando o ciúme das outras esposas de Ogum.
Acontece que as outras esposas acabaram descobrindo o
segredo de Iansã.
Quando Ogum saiu para caçar, elas começaram a cantar:
“Você pode beber e comer e exibir sua beleza, mas a sua pele
está no depósito, porque você é um animal.”
Iansã compreendeu, então, que as esposas tinham
descoberto seu segredo e onde Ogum tinha escondido sua
pele. Procurou-a no depósito e, quando a encontrou, logo a
vestiu, voltando à forma de búfalo. Matou, então, as
mulheres ciumentas e foi embora, deixando seus chifres
com os filhos. Ao deixá-los, disse:
— Caso estejam em perigo, batam um chifre no outro que
eu virei imediatamente em vosso socorro.
Até hoje os chifres de búfalos são sempre colocados nos
locais consagrados a Oiá-Iansã.
Você sabe por que Iansã se tornou tão poderosa? Pois vou
contar:
Iansã era muito bela e sedutora. Pois ela usou de seus
encantos para seduzir os outros orixás e tomar alguns de
seus poderes.
Com Exu, aprendeu a usar a magia e o poder do fogo, para
realizar seus desejos.
De Ogum, obteve o direito de usar a espada para sua
defesa.
Com Oxaguiã, o de usar o escudo em sua defesa contra os
inimigos.
Com Oxóssi, aprendeu a caçar para se alimentar e a seus
filhos; e com Logum Edé, a pescar para a sobrevivência.
Só com Obaluaê nada conseguiu.
Por artes da magia, transformava-se em búfalo, sempre
que queria.
Afinal, partiu ao encontro de Xangô, com quem viveu por
toda a vida... E foi também com Xangô que adquiriu o poder
sobre os ventos.
emanjá é também chamada Janaína, Rainha ou Princesa
do Mar, pois seu reinado é nas águas do mar. É considerada
uma das divindades mais queridas, deusa da compaixão,
do perdão, do amor incondicional.
Iemanjá é o orixá mais cultuado no Brasil, principalmente
em Salvador e no Rio de Janeiro. As festas de Iemanjá são
belas, com muitas dádivas à deusa: no dia 2 de fevereiro, em
Salvador; na passagem do ano, no Rio e Janeiro. As oferendas
são jogadas no mar. Diz a lenda que, se a pessoa pular sete
ondas nessa festa, terá muita sorte no ano inteiro.
Quando Iemanjá era criança, sua mãe, Olokum, lhe deu
uma cabaça com um líquido e disse:
— Quando você estiver em perigo, quebre a cabaça que
você será ajudada.
Iemanjá foi casada com Odudua e teve dez filhos, que
também foram orixás. De tanto amamentar os filhos, seus
seios cresceram muito, o que lhe causava vergonha.
Cansada de sua vida com Odudua, foi para oeste, onde
conheceu Oquerê, que por ela se apaixonou. Assim, Iemanjá
casou-se pela segunda vez com Oquerê, mas exigiu que ele
nunca zombasse de seus seios grandes.
Certa vez, Oquerê chegou bêbado em casa e começou a
brigar, ofendendo Iemanjá, zombando de seus seios fartos.
Ora, quando se casaram, Oquerê prometera nunca zombar
dos seios de Iemanjá. Ela ficou furiosa, e Oquerê tentou
agredi-la.
Iemanjá, então, fugiu e foi perseguida pelo marido, que
não queria perder a esposa. Na corrida, Iemanjá caiu e
quebrou a cabaça que a mãe lhe dera e, imediatamente, se
formou um grande rio que a carregou na direção do mar. O
marido se transformou, então, numa montanha, para
impedir o curso da água.
Muito aflita, Iemanjá pediu ajuda a seu filho Xangô, o
orixá do trovão. Xangô, então, mandou raios e trovões que
romperam a montanha, criando um vale. E o rio passou no
meio.
Assim, Iemanjá chegou ao mar, e lá ficou morando junto a
sua mãe, e passou a ser cultuada como a Rainha do Mar.
Logo, Iemanjá ficou desgostosa com os homens, pois
jogavam no mar tudo o que não lhes servia, cuspiam e
urinavam em suas águas. Os homens sujavam seus
domínios.
Iemanjá queixou-se a Olodum: suas águas viviam sujas;
isso não podia continuar.
Foi então que Olodum lhe deu o dom de devolver à praia
tudo o que jogassem em suas águas.
Desde então, surgiram as ondas do mar, que trazem para a
praia tudo o que não é do mar.
Iemanjá criou a lua para dar descanso ao sol.
Pois o sol estava muito cansado de brilhar dia e noite.
Desde a criação do mundo, ele não tinha dormido!
Com seus raios, Orum, o sol, maltratava a terra,
queimando tudo, até os seres humanos. Isso tinha que
acabar! Mas, como aplacar o sol?
Foi Iemanjá que teve a ideia. Ela havia guardado sob suas
saias alguns raios do sol. Então ela disse ao sol que fosse
descansar, pois ela deixaria os raios que tinha guardado
iluminando a terra. Só que esses raios eram bem mais fracos
e acabaram gerando um outro astro, Oxu, a lua.
Enquanto o sol descansava, era a lua que iluminava e
refrescava a terra, com sua luz fria. Assim, os seres humanos
não morreriam de calor.
Graças a Iemanjá, Orum pôde dormir, pois à noite as
estrelas velavam seu sono até surgir um novo dia.
Certa ocasião, os homens resolveram preparar uma grande
festa em homenagem aos orixás. Mas cometeram uma
imprudência: esqueceram-se de convidar Iemanjá.
A Deusa ficou furiosa e resolveu se vingar dos homens.
Chamou o mar para ajudá-la, e o mar começou a engolir as
terras. E lá estava Iemanjá, linda, sobre a onda mais alta,
comandando o mar.
Os homens ficaram muito assustados e pediram proteção
para Oxalá, que ajudara a criar o mundo. Quando Iemanjá ia
acabar com o que restava do mundo, Oxalá apareceu e a
impediu: levantando seu opaxorô, instrumento em forma de
cajado, feito de cipó ou de metal prateado, ordenou que
parasse. Ele ajudara a criar os homens e não deixaria que
fossem destruídos!
A dona do mar acabou por se acalmar, bem como as suas
águas.
Já estava satisfeita com o castigo que tinha imposto aos
homens e mostrado todo o seu poder.
angô é o orixá dos raios e trovões, da descarga elétrica e
do fogo.
Belo, viril, atrevido e violento, é, também, o justiceiro que
castiga os ladrões e mentirosos.
Roubou de Nanã o poder sobre os eguns, e agora é o único
orixá que tem poder sobre os mortos.
Xangô era filho de Aganju, mas eles não se conheciam.
Aganju era temido e respeitado. Sua casa ficava sempre
aberta e ninguém se atrevia a entrar. Ele tinha, na casa,
muitas frutas, pois suas terras eram vastas e férteis.
Pois um dia, Xangô entrou na casa de Aganju e comeu,
comeu todas as frutas, até se fartar. Depois se deitou e
dormiu na própria esteira de Aganju.
Quando este chegou em casa, encontrou aquele atrevido
dormindo em sua esteira. Ficou enraivecido e atirou Xangô
no fogo. O que ele não sabia é que Xangô dominava o fogo,
pois era o próprio fogo! Xangô não se queimava.
Então, Aganju resolveu atirar o orixá ao mar. Só que a
rainha do mar era Iemanjá, a mãe de Xangô, que apareceu e
disse:
— Não podes matar Xangô, Aganju. Ele é teu filho!
Foi então que Aganju reparou como os dois eram
parecidos: tal pai, tal filho!
Aganju falou:
— Sou valente e bravo, o mais valente e bravo do mundo,
mas tu, Xangô, és tão bravo e valente como eu. És bem meu
filho!
E os dois festejaram o encontro...
Xangô foi criado por Dadá, sua irmã. Ela cuidava de Xangô
e fazia todas as suas vontades. Assim, Xangô cresceu e só
fazia o que queria.
Dadá explicava que ele deveria ter cuidado em suas
brincadeiras, pois podia se machucar.
Só que Xangô era teimoso e o que ele mais gostava era de
brincar com as brasas e o fogo.
Certa ocasião, ele estava brincando na cozinha e caiu no
fogão. Dadá ficou horrorizada! Quis tirá-lo do fogo, mas
Xangô só ria e ria. Ele gostava de brincar com as brasas, que
não lhe faziam qualquer mal. Xangô era orixá do fogo, das
brasas.
Uma outra vez, Xangô estava fugindo de seus inimigos,
que eram muitos e queriam matá-lo. Mas Xangô também
tinha amigos, principalmente mulheres, pois era muito
bonito.
Assim, Xangô foi se refugiar na casa de Oiá-Iansã. Os
inimigos sitiaram a casa. Como poderia Xangô sair?
Pois Oiá teve uma ideia: vestiu Xangô com suas roupas,
cortou seus próprios cabelos e cobriu a cabeça de Xangô.
Enfeitou-o com colares e pulseiras e anunciou que ia passear.
E lá se foi Xangô, fingindo que era Oiá, andando como
mulher.
Os inimigos pensaram que era Oiá e abriram caminho
para Xangô, que passou por eles, impunemente.
Só bem mais tarde, quando Oiá-Iansã finalmente saiu
também, é que perceberam que foram enganados. Mas já era
tarde: Xangô tinha escapulido!
Xangô temia mais que tudo os eguns, pois tinha medo da
morte.
Certa vez foi perseguido pelos eguns. Ficou apavorado!
Mas Iansã veio em seu socorro: deu a Xangô nove espelhos
para que ele fizesse os eguns olharem suas imagens neles.
Ora, os eguns são horrorosos e temem a própria imagem;
não suportam ser confrontados com ela.
Pois quando os eguns cercaram Xangô, ele os recebeu com
seus espelhos. Os eguns se apavoraram com o que viram
refletido nos espelhos. Fugiram em debandada, mas Xangô
os perseguiu e os venceu.
Iansã ajudou o orixá por quem estava apaixonada.
Xangô ensinou os homens a fazer o fogo. Sabe como?
Pois havia um homem que ajudava os orixás e, estes, em
troca, lhe ensinaram seus segredos. O homem que ajudava
os orixás deveria oferecer um banquete aos homens, em
agradecimento. Mas os orixás estavam fartos de comer
comida crua; queriam coisa diferente, comida cozida.
Mas como fazê-lo, se os homens não conheciam o fogo?
Foi então que o homem pediu ajuda a Xangô, que mandou
raios sobre as árvores, que se incendiaram. Os galhos das
árvores ficaram queimados e viraram brasas. O homem,
temeroso de um incêndio, colocou as brasas num buraco e
cobriu com gravetos e terra.
Dias depois reparou que naquele monte havia umas lascas
pretas: era o carvão.
O homem percebeu que podia acender o carvão com as
brasas que restaram. E cozinhou os alimentos, dos quais os
orixás gostaram muito.
E Xangô ensinou o homem a cozinhar com o carvão, num
fogão feito com pedras.
Estava inventado o fogão!
ssaim é a divindade das plantas medicinais e dos rituais.
Nenhuma cerimônia pode ser feita sem sua presença, ele
tem uma importância fundamental.
As palavras, cuja força desperta seus poderes, são os
elementos mais secretos do ritual no culto aos deuses
yorubás, bem como o nome das plantas e a sua utilização.
O símbolo de Ossaim é uma haste de ferro, tendo, na
extremidade superior, um pássaro em ferro forjado, cercada
por seis hastes arrumadas em leque para o alto.
O pássaro é a representação do poder de Ossaim, pois é o
seu mensageiro, o que leva suas mensagens e traz o relato
dos resultados.
Ossaim domina o segredo das ervas, que se tornaram sua
propriedade e que ele não reparte com ninguém.
A colheita das folhas deve ser feita com grande cuidado,
sendo rejeitadas aquelas cultivadas em jardins. Devem ser
sempre colhidas em lugar selvagem, onde as plantas
crescem livremente.
Mas um dia, Xangô se queixou à sua mulher, Oiá-Iansã,
senhora dos ventos, de que somente Ossaim conhecia o
segredo de cada uma dessas folhas e que os outros deuses não
tinham nenhuma planta.
Foi então que Iansã levantou suas saias e agitou-as,
fazendo soprar uma ventania.
Ora, Ossaim guardava o segredo das ervas numa cabaça
pendurada num galho de árvore. Pois o vento fez quebrar a
cabaça, espalhando as folhas que foram apanhadas pelos
outros orixás, repartindo-as entre si.
Só que Ossaim era o senhor das plantas e ordenou que elas
voltassem a seu poder. As folhas voltaram, e as poucas que
ficaram com os outros orixás perderam o axé, perderam o
poder da cura.
Mas Ossaim acabou por dar a cada orixá uma folha e suas
cantigas de encantamento, sem as quais as plantas não
funcionam. Assim, os outros orixás não mais invejaram
Ossaim.
Mas os segredos das plantas, os mais profundos, ele não
partilha com ninguém...
Ossaim vive na floresta, em companhia de Aròni, um
anãozinho.
Conta a lenda que foi Aròni quem ensinou a Ossaim as
propriedades das plantas, quando o encontrou na floresta e
ficaram amigos.
Os adeptos de Ossaim são também chamados de
curandeiros (Oníì-ègùn), devido a suas atividades na
colheita de plantas medicinais.
Quando vão colher as plantas para seus trabalhos, devem
estar em estado de pureza; assim, desde a véspera, não
podem ter relações sexuais. Vão à floresta, durante a
madrugada, sem dirigir palavra a ninguém e devem deixar
uma oferenda em dinheiro no local da colheita.
Segundo uma lenda, Ossaim foi um escravo comprado por
Orunmilá para lavrar seus campos.
Quando começou seu trabalho, verificou que as ervas que
Orunmilá queria tirar do campo eram todas úteis e
medicinais: uma curava a dor de cabeça, outra as cólicas e
assim por diante. Ossaim falou:
— Na verdade, não posso arrancar ervas tão necessárias.
Orunmilá, sabendo da recusa de seu escravo, quis ver essas
ervas, que ele se recusava a cortar. Ossaim explicou que as
ervas tinham muito valor, pois ajudavam a manter o corpo
em boa saúde.
Pois então Orunmilá resolveu manter o escravo a seu lado
na hora das consultas, para ajudá-lo a reconhecer as virtudes
das plantas.
Se é Ossaim que conhece o uso medicinal das plantas, foi
Orunmilá quem deu nomes a essas plantas; os poderes de
cada planta estão em ligação com o seu nome e são
potencializados por palavras ditas no momento de seu uso.
Toda a medicina yorubá se baseia, portanto, nos poderes
de Ossaim sobre as folhas — remédio — e de Obaluaiê, o deus
que rege as doenças graves. Ambos os orixás são muito
temidos e respeitados, porque também entre os yorubás, o
mesmo princípio que cura, mata. Remédio e veneno, tudo é
uma questão de grau.
xumaré é uma entidade do branco, muito antiga.
Participou da criação do mundo, enrolando-se ao redor
da terra, reunindo a matéria e dando forma a Aiye. Como
uma cobra, rastejou desenhando vales e rios. É a grande
cobra que morde a cauda, representando a continuidade do
movimento e do ciclo vital. A cobra é um dos seus símbolos,
por isso no candomblé não se mata cobra.
Oxumaré regula todos os movimentos que não podem
parar, como a alternância entre o dia e a noite, as chuvas e as
secas, o bem e o mal (positivo e negativo).
Enquanto arco-íris, traz notícia do fim da tempestade, da
volta do sol, da possibilidade de movimentação; já enquanto
cobra é perigoso, pois pode dar botes rápidos.
Conta a lenda que Oxumaré é o segundo filho de Nanã e
Oxalá. Porém, mais uma vez, o casal não havia obedecido
Orunmila, e Oxumaré nasceu sem braços e sem pernas,
andava rastejando pela terra, como uma serpente.
Horrorizada, Nanã também abandonou Oxumaré, como já
havia feito com Obaluaiê.
Só que Oxumaré se adaptou à sua situação e, mesmo sem
pernas e braços, por meio de sua grande inteligência,
conseguia locomover-se, aprendeu a subir em árvores, a
caçar para comer, a colher as batatas doces de que tanto
gostava e até a nadar.
Orunmilá, o deus da adivinhação do futuro, admirou sua
coragem e determinação e, apiedando-se dele, tornou-o um
orixá belo. Tinha as sete cores do arco-íris, como um facho
de luz.
Orunmilá encarregou-o de levar e trazer as águas do céu.
Assim, é Oxumaré quem traz as águas da chuva e é a ele que
se pede que chova.
Para ajudá-lo em sua tarefa, seu pai Oxalá fazia com que
tomasse a forma do arco-íris sempre que tivesse essa missão
a cumprir. Com esse poder de trazer as águas da chuva,
Oxumaré tanto traz riquezas ou pobreza aos homens,
aguando as plantações, como também provoca as enchentes.
Oxumaré tem sua morada no fim do arco-íris. Assim, o
arco-íris tornou-se o símbolo desse Orixá, que gosta de
movimento e harmonia em todas as coisas.
Conta a lenda como surgiu o arco-íris:
Oxumaré recebeu de Olorum uma missão muito especial e
importante: dar continuidade ao processo de criação e
renovação da natureza, carregando, dentro de suas cabaças,
toda a água da Terra de volta para o céu. Mas acontece que,
mal ele enchia as cabaças com as nuvens do céu, a água já
começava a escorrer, como chuva, molhando tudo de novo.
Numa dessas idas e vindas, ele viu, na terra, um lugar em
que só havia lama. Era um triste lugar! O que se poderia
fazer para melhorá-lo?
Oxumaré já tinha movimentado os seres criados, como
Olorum havia ordenado, mas isso não bastava; tudo parecia
a mesma coisa, sem vibração...
Pediu, então, ao grande Deus que o ajudasse a encontrar
uma maneira de trazer mais vida e alegria para a Terra.
Foi quando, sem querer, carregando a água, deixou cair
algumas gotas pelo caminho: logo formou-se um belo arco
colorido com sete cores: era o arco-íris.
Aquele arco mostrava as cores e suas possibilidades de
combinações e sempre poderia ser visto quando as águas do
céu encontrassem a luz do sol.
Oxumaré é um orixá tanto masculino como feminino:
metade do ano é macho, como arco-íris; na outra metade é
fêmea, como cobra. Por isso, a dualidade é o conceito básico
associado a Oxumaré, que representa todos os opostos: o
bem e o mal, o dia e a noite, o macho e a fêmea e assim por
diante...
Durante seis meses é um orixá masculino, o arco-íris,
regulando as chuvas e as secas. Mas, ao mesmo tempo, o
arco-íris mostra que a água está sendo levada para os céus
em forma de vapor, formando nuvens, e logo voltará à terra
sob a forma de chuva, recomeçando todo o ciclo de novo.
Nos outros seis meses, Oxumaré toma a forma feminina,
a cobra, sendo exatamente o oposto de tudo o que
representou sob a forma anterior. E, como cobra, vê-se
obrigado a se arrastar tanto na terra como na água. Alguns
mitos mostram que, sob essa forma, ele encarna sua figura
mais negativa, provocando tudo o que é mau e perigoso.
xum é a divindade da água doce, dos rios e riachos.
Oxum é jovem e faceira. Muitas vezes é representada
como uma ninfeta, ficando sempre junto a uma fonte,
com bonecas e outros brinquedos.
Mas Oxum também é considerada o Orixá da sedução, do
amor, da vaidade da mulher e, por isso, carrega sempre um
espelho, onde se mira constantemente.
O toque dos atabaques, que acompanha sua dança no
candomblé, é denominado ijexá.
Sendo considerada a mais bela dentre os orixás, Oxum não
estava contente: ela queria porque queria saber os mistérios
do Ifá. Queria conhecer o passado, o presente e o futuro das
coisas e dos seres. Tinha sede do conhecimento dos oráculos.
Pensou, pensou e resolveu procurar Exu para que ele lhe
revelasse os segredos do Ifá. Usou de toda a sua sedução, até
que Exu lhe propôs um trato: ela o serviria por sete anos e
depois ele revelaria todos os segredos que Oxum queria.
Oxum aceitou o trato e serviu Exu com desvelo durante o
prazo estipulado. Ao fim dos sete anos, Exu liberou Oxum e
revelou tudo o que ela desejava: todos os segredos do Ifá.
Só que durante esse tempo Oxum se apaixonou por Exu e
não quis deixá-lo. Os dois, muito apaixonados, viviam
felizes...
Até que Xangô viu a bela Oxum. Ela estava à beira de um
rio, cantando com sua voz maviosa. Xangô ficou apaixonado.
Ele estava acostumado a ter tudo o que queria, por isso
declarou-se a Oxum, convencido de que ela corresponderia a
seu amor. Mas Oxum explicou que era casada com Exu e
viviam muito felizes. Ela não poderia aceitar o amor de
Xangô.
Xangô não aceitou a recusa. Furioso, agarrou a mulher e
levou-a para seu reino, onde a trancou numa torre alta.
Muito tempo se passou, em que Oxum só chorava e chorava e
se recusava a casar com Xangô.
Exu, desesperado, sem saber o que havia acontecido,
procurava a mulher que ele tanto amava. Depois de muito
tempo, cansado e triste, sentou-se debaixo de uma árvore,
para descansar, próximo à torre onde Oxum estava presa.
Ouviu então um canto que logo reconheceu ser de Oxum.
Subiu à torre e tentou libertá-la.
Só que Xangô, previdente, tinha usado um círculo mágico,
de onde Oxum não conseguia sair, e Exu não conseguiu
soltá-la. Depois de muito tentar, desistiu e, muito triste,
andou a esmo, desanimado.
Logo encontrou um velho, que era Olorum, mas que ele
não reconheceu. O velho perguntou por que ele estava tão
triste, e ele mostrou a torre onde sua amada estava
prisioneira.
Percebendo que o amor de Exu era sincero, o grande Deus
resolveu ajudá-lo: deu-lhe um saquinho onde havia um pó e
recomendou que jogasse todo o pó em Oxum. Cheio de
esperança, Exu voltou à torre e fez como tinha sido
recomendado. Oxum se transformou numa linda pomba
dourada que saiu voando e voltou para seu lar. Lá Exu foi
encontrá-la, já em sua forma feminina, e viveram muitos
anos em plena felicidade.

A separação de Aiye, a Terra, de Orum, o espaço infinito


Depois que o Orum se separou da Aiye, os orixás acabaram
por ter saudades da época em que iam e vinham do céu para
a terra, da convivência com os humanos que tanto os
prezavam e homenageavam.
Principalmente Oxum, que gostava de vir a terra brincar
com as mulheres, mostrando sua beleza e vaidade,
ensinando as mulheres a cativar os homens com seu
encanto.
Foi então que Oxum recebeu de Olorum a missão de
preparar os humanos para receberem os orixás em seu corpo;
para serem incorporados.
Oxum fez as devidas oferendas a Exu para que sua missão
tivesse êxito e veio à Aiye.
Juntou as mulheres a sua volta e banhou seus corpos com
ervas milagrosas, raspou seus cabelos e pintou seus corpos.
Pintou suas cabeças com as pintinhas que nem a Kererê, a
galinha-d’angola, e vestiu-as com belos panos. Enfeitou-as
com joias e coroas.
Envolveu seu colo com contas multicoloridas e muitas
fieiras de búzios e cerâmica. Enfeitou, ainda, sua cabeça
com a pena ecodilé e colocou, também, um cone feito de obi
mascado, manteiga de ori e finas ervas. Pronto.
E lá estavam elas prontas para atrair o orixá da iniciada, as
noivas mais bonitas que a Oxum vaidosa pôde imaginar.
Os orixás tinham agora seus “cavalos”, podiam conviver
com os humanos e voltar com segurança para a Aiye. Os
orixás, contentes, dançavam e dançavam na roda, no corpo
das iaôs.
Estava inventado o candomblé!
As lendas dos orixás vieram da África, onde tiveram sua
origem. Foram transmitidas oralmente de geração a
geração, e os escravos as trouxeram para o Brasil.
E os orixás viveram sob o céu do Brasil, mas agora
organizados em uma religião: o candomblé.
Aqui eles se encontram com os mortais, incorporados em
seus “cavalos”, por artes de Oxum.
As lendas que você leu aqui são apenas algumas dentre
muitas, pois a história dos orixás é longa e sempre contada
nas lendas. Como foram transmitidas oralmente, muitas
versões de uma mesma lenda são encontradas. Você pode
pesquisar esses orixás e muitos outros em livros sobre as
religiões de origem africana e na internet.
Por enquanto, divirta-se com estas e procure conhecer
mais a cultura dos africanos, que muito influenciou nossa
própria cultura.
BASTIDE, R. Estudos Afro-brasileiros. São Paulo: Perspectiva,
1983.
_________. O Candomblé da Bahia. São Paulo: Cia Editora
Nacional, 1978.
NASCIMENTO, E. L. Introdução à história da África. In:
Educação e Africanidade e Brasil. Brasília: MEC; Secad, 2006.
pp. 33-51.
PRANDI, R. Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das
Letras, 2001.
VERGER, P. F. Deuses Iorubás na Africa e no Novo Mundo. Tradução
de Maria Aparecida da Nóbrega. Salvador: Editora
Corrupio, 1997.
_________. Dieux d’Afrique. Paris: Revue noire, 1995.
GALI, G. A Lenda dos Orixás. São Paulo: Lazuli, 2011.
PESTANA, M. Lendas dos orixás para crianças. Brasília: Ministério
da Cultura/ Fundação Cultural Palmares, 1996.
PRANDI, R. Ifá, o Adivinho. São Paulo: Companhia das
Letrinhas, 2002.
_________ . Oxumarê, o Arco-íris. São Paulo: Companhia das
Letrinhas, 2004.
_________ . Xangô, o Trovão. São Paulo: Companhia das
Letrinhas, 2003.
Sites:
Lendas e características dos orixás. Disponível em:
<http://www.geocities.ws/a.gomespereira/>. Acesso em
31 outubro 2012.
Contos e lendas. Disponível em:
<http://www.acordacultura.org.br/mojuba/orixas>.
Acesso em 31 outubro 2012.
Lenda dos orixás. Disponível em:
<http://www.vetorial.net/~rakaama/lo-oxum.htm>.
Acesso em 31 outubro 2012.
Algumas palavras desconhecidas que você vai encontrar
neste livro:
- o mundo, a Terra, a realidade física.
- piolhento, sujo.
- bolsa da existência.
- energia; saudação.
- pai de santo, dirige o culto no terreiro.
- árvore do dendê.
- orixá do negro, que veste roupas negras e de
outras cores.
- sacrifício ou oferenda de animal a um orixá.
- mortos-vivos; espíritos.
- culto dos eguns.
- hálito sagrado de Olorum.
- orixá do branco, orixá que só usa veste
branca.
- porrete de Exu que pode transportá-lo para qualquer
lugar e também atrai objetos distantes.
- cajado de Nanã, feito de palitos do dendezeiro.
- mãe de santo, dirige o culto no terreiro.
- jogo de búzios; oráculo.
- morte.
- roupa de palha de Obaluayê.
- sopro sagrado de Olorum.
- Deus supremo.
- cajado de Oxalá.
- céu; espaço infinito.
- contos e histórias dos orixás.
- atmosfera, camada entre o céu e a Terra.
é carioca, nascida em 1926. Pedagoga,
jornalista, editora e escritora, exerceu o magistério nos
diferentes níveis de ensino, especialmente em cursos de
formação de professores. Foi diretora do Instituto de
Educação do Rio de Janeiro e membro do Conselho Estadual
de Educação do Rio de Janeiro. Publicou vários livros
didáticos e de literatura infantojuvenil. Dentre estes se
destacam Fadas, Dragões e Princesas, Nem Tanto, Notícia de Jornal e
Mistérios da Pindorama. Este último, publicado pela Editora
Biruta, foi considerado Altamente Recomendável pela FNLIJ
e adquirido pelos governos de alguns estados e municípios,
selecionado e adquirido pelo Programa Nacional de
Bibliotecas Escolares do Governo Federal. Mistérios da
Pindorama recebeu o prêmio White Ravens, da Biblioteca
Internacional de Literatura Infantil e Juvenil de Munique,
Alemanha.
Aposentada como professora do Estado do Rio de Janeiro,
cursou Faculdade de Comunicação, sendo bacharel em
Jornalismo e Editoração. Hoje trabalha como editora e
escritora.
é animador e ilustrador, crescido no subúrbio
carioca. Desde a infância era fascinado pelos desenhos
animados, e essa paixão o motivou a cursar Desenho
Industrial da UFRJ. Atualmente faz pós-graduação em
Design na Puc-Rio. Em 2008, dirigiu seu primeiro curta Se
essa Rua..., da série para TV Cantigas de Roda da Multirio. Além
dessa experiência, trabalhou como animador nas produções
do curta O Despejo... Memória de Gabiru, nas séries Juro que Vi e Meu
Amigãozão e fez storyboard para a série Sítio do Pica-pau Amarelo.
No campo da ilustração fez os desenhos para a coleção de
livros infantis Nana & Nilo.
Os orixás sob o céu do Brasil

Copyright texto © Marion Villas Boas


Copyright ilustrações © Sandro Lopes

Coordenação editorial Elisa Zanetti


Revisão Elisa Zanetti e Eugênia Souza
Projeto gráfico Monique Sena

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Villas Boas, Marion


Os orixás sob o céu do Brasil [livro eletrônico] / Marion Villas Boas ; ilustrações
Sandro Lopes. -- São Paulo : Biruta, 2015.
4,2 Mb ; ePUB2

Bibliografia.
ISBN 978-85-7848-164-3

1. Afro-brasileiros - Religião 2. Cultura popular 3. Orixás 4. Religiosidade 5.


Umbanda (Culto) I. Lopes, Sandro. II. Título.
15-08354
CDD-299.60981

Índices para catálogo sistemático:


1. Orixás : Umbanda : Religiões
afro-brasileiras 299.60981

Edição em conformidade com o acordo ortográfico da língua portuguesa.

Todos os direitos desta edição reservados à Editora Biruta Ltda


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