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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO

Curso de graduação em ciências sociais

Juazeiro BA
2023

Nome: Luiz Henrique


Professora: Luzania Barreto
Matéria: Pensamento Antropológico no Brasil

WAGLEY, Charles. 1943. “Xamanismo Tapirapé”. Boletim do Museu Nacional, nº 3, p.


1-55.

- A residência é matrilocal e as mulheres de tais co-residências devem ser


idealmente relacionadas por parentesco. Cada grande co-residência, porém, tem
um chefe masculino, homem de prestígio, geralmente marido de uma das
mulheres mais velhas do grupo de parentesco feminino. (p. 7)

- O parentesco tapirapé é bilateral, e o sistema tem por princípio básico o serem


irmãos e irmãs todas as pessoas de uma geração, relacionadas através dos pais,
não importando em que grau. [...] A larga extensão dessas filiações torna possível
a qualquer indivíduo chamar a maioria de seus companheiros de aldeia - e em
tempos passados, aos de outras aldeias - por termos de parentesco próximo.
Irmãos estão na obrigação de ajudar-se reciprocamente, quando necessário e,
em caso de feitiçaria, vingar o mal causado a qualquer deles. Desta forma o
sistema de parentesco provê um importante laço de solidariedade dentro dessa
sociedade em que falta um forte controle centralizado para mantê-la unida. (p. 8)

- Os principais encontros dos Tapirapé com espíritos, verificam-se em sonhos.


Sonhadores visitam-nos algumas vezes em suas aldeias, e , em certas ocasiões,
aprendem com eles novas canções cerimoniais, que escutam nas cerimônias
tradicionais dos Tapirapé, que os espíritos continuam a realizar após terem
deixado a aldeia dos vivos. Ao fim de um período indeterminado, os próprios
espíritos morrerem e seus respectivos espíritos transformam-se, então, em
animais. O espirito do ancúnga morto de um homem comum, um pombo. Entre
outros animais em que espíritos mortos se transformam, encontramos: rã, veado,
paca. (p. 9)
- O conhecimento do mundo sobrenatural é obtido principalmente através de
experiências de sonhos dos xamãs ou pajé, porque entre os Tapirapé o poder
xamanístico se deriva de sonhos e de forças reveladas através deles. Acreditam
que o sonho é uma viagem. O iungá, a alma, pode livrar-se do eté, o corpo,
durante o sono, e mover-se livremente no tempo e no espaço. Obviamente,
qualquer um pode sonhar, mas sonhos frequentes evidenciam força xamanística.
Leigos que sonham muito, têm medo, porque eles não pertencem a esse mundo
sobrenatural, ou acreditam que poderiam vir a ser pajés . [...] Somente os pajés
têm força sobrenatural para mover-se livremente neste mundo fantástico de
espíritos e demônios. Um pajé nunca tem medo em suas viagens de sonho,
porque os espíritos são seus amigos e a força de um pajé aumenta à proporção
que confraterniza com os espíritos demoníacos da floresta. Após uma visita de
sonho de um pajé, séries de espíritos demoníacos podem tornar-se seus
familiares, obedientes a seus apelos para ajuda. Transformando-se ele próprio
num pássaro ou lançando-se através do espaço em sua “canoa”, metade de uma
cabeça, viaja as aldeias dos espíritos, as casas dos espíritos demoníacos, a
lugares terrenos como os estabelecimentos brasileiros ou as aldeias carajás, no
rio Araguaia. Certo, o tempo também não é obstáculo: em sono de poucos
minutos, ele pode fazer uma viagem de três ou quatro dias na aventura de um
sonho. (p. 10-11)

- Tratar os doentes é o dever mais comum dos pajés, e o uso de tabaco é sempre o
prelúdio e complemento necessário dessa operação. Eles sempre curam ao cair
da noite, a menos que a doença seja grave e exija tratamento imediato. [...] Os
pajés também protegem os Tapirapé contra os espíritos. São necessários em
muitas outras situações além das doenças. Assim, os Tapirapé pensam que os
pajés controlam a gestação das mulheres. Conquanto saibam que a gravidez seja
relacionada com as relações sexuais, acreditam que a concepção somente se
realiza quando um pajé “traz uma criança para a mulher”. (p. 17-19)

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