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'ó saJue ou nu ePírít, toós os

seguóres ó caábe sd, ê agum


mo, roêsceénte ':

lgenur Míraã wca.

Sdopeãços,
Síntese.

Sdo éw rféxív,
eféxões.

Sdo s tePora,
êPo em toã a gra.

"á mepetece
.• 'Vem ê toós qepesaram e escreYera.

. • O qe mepetence

É o êsfo êpatíar

O reázó

O enteiento

O-encantamento.

Aátonu

iraça Matos
20II
INTRODUÇÃO

E' bonito de ouvir a história da criação. Em cada sistema filosófico a orma de contar, à
primeira vista parece diferenciado, mas, se deixarmos preconceitos, medos, atitudes
discriminatórias e radicais de lado, vamos encontrar pontos de encontro e de identificação.

Vamos contar uma das histórias yorubanas:

"OLODUMARE fez o mundo e repartiu entre os õrisás vários poderes, dando a cada
um deles um reino para cuidar. ESU deu o poder da comunicação e a posse das
encruzilhadas. A OGUN, o poder de forjar os utensílios para a agricultura e o domínio de .
todos os caminhos. A OSOSI poder sobre a caça e a fatura.
• A OBALUAIÊ, o poder de
controlar as doenças de pele. A OSUMARÉ seria o arco-íris, embelezaria a terra, comandaria
a chuva trazendo sote aos agricultores. SANGÓ recebeu o poder sobre a justiça e os
trovões. OYÁ reinava sobre os motos para o orum, bem como controlaria os cemitérios.
· OSUM seria a divindade da beleza, fetilidade das mulheres e de todas as riquezas materiais
da terra, bem como reinar sobre os sentimentos de amor e ódio. NANÃ recebeu a dádiva, por
sua idade avançada, de ser a pura sabedoria dos mais velhos, além de ser o final de todos os
motais, pois ODUDUA já havia criado o mundo. Todo o processo de criação completou-se
com o poder de ÔSÀGIYÁN que inventou a cultura material. Para YEMOJÁ, OLODUMARE a
destinou os cuidados da casa de ÔSÀLÁ, assim como a criação dos filhos e dos afazeres
domésticos. YEMOJÁ reclamava de sua condição e falou, falou tanto que o orí de ÔSÀÁ não
suportou e ele caiu enfermo. YEMOJÁ se deu conta do seu erro e tratou de curá-lo ém
poucos dias. ÔSÀÁ agradecido foi pedir a OLODUMARE que atribuísse a YEMOJÁ o poder
de cuidar de todas as cabeças. Des.de então ela é a mãe de todas as cabeças humanas."

A criação contempla a participação integrada e equilibrada de todas as energias -


água, terra, fogo, ar e o éter - como verdadeiramente funcionam em todas as áreas da vida
humana. Como dizem os chineses, somos um complexo de todos os elementos que_
compõem a Terra apenas, em cada pessoa, um dos elementos assume a liderança, a
· presença mais clara que corrobora o ensinamento da Religião Afro de que cada cabeça
pertence ao seu ôRiSA com a presença do Juntá, sendo que os demais permanecem
disponíveis ao contato e ao uso, consoante o processo de necessidade de cada um, por
conta de formarem a egrégora pessoal.

Do mesmo modo, ao lermos os provérbios yorubanos; ÔWE, responsáveis por todo


um processo educativo, percebemos a existência de uma só verdade. Entendamos:

ÊIB RÊ KI l�EJI ENI KO SINA; ENITTI KO L BÊRE, NI NPÓN ARA RÊ LOJU"


1
\
"As perguntas livram os homens dos erros; aquele que não pergunta entrega-se aos
problemas".
Questionar é uma arte. Questionar-se é a ate das ates.
Isso nos remete a Sócrates: Conheça-te a ti mesmo e nos leva a Jesus: Amai aos
outros como você ama a si mesmo. Em todas as cosmogonias relativa às religiões sempre é
pedido que cada pessoa aprenda a se conhecer, a se amar para poder amar, respeitar e não
julgar os outros.
Como nas religiões clássicas - gregas e romanas - os orixás dividem-se em vários
orixás - qualidades. De cada qualidade originam-se os seres humanos que são seus filhos ou
descendentes, as qualidades são diferenciações elaboradas a patir de seus atributos,
explicitando as facetas de uma mesma divindade.
Assim, quando da iniciação, um orixá - qualidade é fixado na cabeça do adepto e no
seu assentamento. Prandi escreve: "o orixá particular é parte do orixá geral, subdividido em
suas múltiplas qualidades, avatares, caminhos". Como o ar que se divide em ventos mansos,
brisa, ventania, tempestade e furacão.
Nas religiões indígenas ameríndias, o conhecimento das folhas, das magias, dos
segredos só é dado as mulheres após ter se extinguido o ciclo menstrual quando então, são
levadas para o espaço da iniciação da sabedoria e aprendem em total reclusão tornando-se
pate da sociedade de poder da tribo. Na África, com os nudes e yorubanos, o acesso das
mulheres aos egunguns é honra conferida àquelas que estão alem da idade de gerar filhos e
potanto, extinguiram seu ciclo de fertilidade e se tornam parceiras dos homens em igualdade
de voz e poder.
Ôrisá não é espírito encarnado, embora sua história dê, às vezes, esta falsa
impressão. Ôrisá é a partícula divina existente em cada um. Quem recebe Ôrisá não recebe
espírito algum, manifesta a sua pessoal divindade porque sua matéria se encontra' pronta
para o vinculo com a essência divina que ela mesma possue. Na religião dos ôrisás, ser mais
velho é fundamental para que os mais jovens encontrem o exemplo a seguir, mas é preciso
ser com simplicidade. Os mais velhos são arquivos vivos, testemunhas de fatos
emocionantes.
Ôrisá significa literalmente "cabaça-cabeça". As cabaças são recipientes para água,
alimentos, substâncias mágicas e elementos comuns. Nossas cabeças "intenas", como as
cabaças, contem pequenas quantidades de substâncias sagradas, patilhadas com o ôrisá.
Elas detém a plenitude que é do "dono da cabeça". O Ôrisá da cabeça não realiza nenhuma
luta com o espírito reencarnado, ele apenas orienta, conduz e patilha o processo de
caminhada da alma.
Na prática, o candomblé traz sempre as mulheres no contato com a espiritualidade
porque elas são mais susceptíveis às atividades dos seres invisíveis e com eles trabalham
para atingir um status e proporcionar uma contribuição cultural que sempre lhe são negadas.

-
Capítulo-1

ESU

Vamos falar das encruzilhadas. É importante visualizá-las. A ramificação do caminho


lembra o destino. As próprias divindades são convergência e não divisão. Onde se encontra
uma, sempre estará a outra.
Esu é um dos órisás mais polêmicos: ora encarna o mal ora é o companheiro
inseparável do homem, .sendo o leitor de todos os códigos e todos os idiomas.
Esu é o ideal de terra do africano, o que caminha como ser africano no Brasil. Numa
medida antropológica, a medida que o processo escravagista se amplia com a velocidade do
tráfico da mercadoria humana, Esu vai fotalecendo o seu · papel libetário, reafirmando seu
caráter viril e guerreiro. Esu é essencialmente afeto à fertilidade e ao movimento,· movimento
das coisas da natureza e das relações entre homem e natureza.
Esu é "santo africano" que marca um lado de "meio escravo" pra o olhar dominador
colonial que lhe relacionou imediatamente com o demônio dos católicos, o que revela o medo
do colono diante da oposição cultural africana. E a sociedade com uma base escravagista
desde a África colocou Esu na posição de "escravo" dos demais Órisás. O arquétipo de Esu é
um homem negro, fote, viril. Ê o õrisá inaugurador por excelência. Na verdade, Esu é o mais
ativo e libetador da historia e da cultura geral do homem africano no Brasil.
Esu é o mensageiro, é o que leva os sacrifícios que fazemos para o local apropriado
no espaço espiritual. É o principio mediador entre os dois mundos: o material e o espiritual.
Esu é um mistério. Rege os dois aspectos da existência: o positivo e o negativo.
Contem em si as duas polaridades: o masculino e o feminino.
Como todos os õrisás, Esu tem qualidades e a representada por Elegbá revela
õrisá das poteiras e encruzilhadas, o intermediário, o trapaceiro, o mensageiro, associado ao
sacrifício obrigatório e ao comportamento regressivo. Quando Lonam tem o poder e o controle
sobre os caminhos. Como Asíwajú é o que vem na frente, indispensável e presença
'
primordial a ser invocada e aplacada antes do início do ritual ou tomada de decisão pessoal e
crucial. Em Olobé é o senhor das_ facas, dos cortes, das modificações, da necessidade de um
novo caminho.
Esu é sempre merecedor de oferenda propiciatórias, pois dele depende a
compatibilização entre as diversas forças que são conclamadas em cada ritual.
Esu tem o dom da ubiqüidade. Move-se através do mundo dos vivos e dos motos. Os
mitos atribuem-lhe o papel de inspetor geral, ele é o potador de todos os pedidos a Olorum (o
deus supremo) e é o intermediário entre os órisás e os ancestrais.

-------- - - 1
Capítulo - li

ÓSÀLÁ

"Arakétu' wíre, rara imóra"

Povo de Kétu, nos abracemos

e nos abençoemos.
Para os yorubás a moralidade é fruto da religião - um bom caráter em todos os
sentidos da vida, e que inclui o respeito aos mais velhos, lealdade para com os pais e a
tradição local, honestidade e assistência aos necessitados e um desejo irresistível ao
trabalho. Ê um processo de vida longa, onde a sociedade inteira é uma escola: moralidade
não é apenas ensinada, é vivida. Coragem não é ensinada, é demonstrada. Persistência e
devoção são exibidas.
Na logística yorubana a criança deve ser embalada e amada e o calor da maternidade
deve ser constante e os mais velhos devem ser respeitados.
Um ato de hospitalidade deve ter retribuição:

"IYÁN OGÚN ODÚN A MÁA JÓ NI LÓWÓ"

um ato de hospitalidade pode ter retribuição 20 anos mais tarde.


O terreiro é o espaço religioso onde são revividas as coisas sagradas e estabelecidos
os contatos diretos com as divindades.
O mundo sagrado é um mundo independente, o homem nele se coloca a partir de uma
definição pessoal e não tem haver com aproximação física. Locais sagrados são lugares onde
só alguns conseguem permanecer.
O mito da fundação do mundo nagô com a terra primordial, a ave encantada que a
espalhou por um determinado espaço onde o poder criador de Ôsàlá se manifestou e tornou
possível traçar coordenadas do mundo. Esse ponto foi denominado llé lfê e veio a ser o
centro do mundo no qual se desenvolveram reinos tribos, culturas e existência.
Os Ôrisàs são a razão de ser de uma Casa e nos lugares onde seus símbolos são
assentados eles transmitem suas energias, seu Àsê em beneficio da comunidade. Ôsàlá é
um Ôrisà lnú isto é de assentamento interno, dentro do quarto de santo, que é o centro de
força da casa.
Na Casa de Candomblé Kétu há uma bandeira branca que representa Ôsàlá e é
trocada a cada ano na Cerimônia das Águas de Ôsàlá, porque nas Casas de Angola a
bandeira branca representa a divindade TEMPO.
A semana yorubana era de 04 dias sendo que o quato dia, reverenciava ôsàlá a
quem foi incumbida a criação do planeta terra; é o princípio criador e formalizador das idéias,
determinando um comportamento digno, boa conduta e caráter íntegro às pessoas. No
contato cultural entre negros e brancos houve uma reordenação da semana, sendo aceito o
sistema ocidental de 07 dias, ficando a sexta-feira para Ôsàlá
Como criador, ôsàlá foi o responsável pela construção dos seres humanos mas, como
OLÔRUN não ficou satisfeito com as cabeças, Yemojá se ofereceu a Ôsàlá para auxiliá-lo e a
feitura dela foi aprovada, tomando-se Mãe das Cabeças Humanas ao lado do criador da
Terra.
Outra vez, Yemonjá descobre que Êsu fingindo ser Ôsàlá se apresenta em cada
cidade por onde Ôsàlá vai visitar e come toda a comida do banquete então, Yemônjá prepara
16 àkàsà, esconde-os numa talha para Ôsàlá e o agradecimento a Yemonjá por sua atitude é
revivido anualmente na festa de 2 de fevereiro. Ôsàlá é o senhor da criação e dos seres
. humanos sendo o primeiro Ôrisá Funfun - as divindades brancas - para quem todos se
curvam em sinal de respeito. O branco representa a pureza ética e moral do qual é revestido.
Outorgado por Olódumarê, Ôsàlá julga quem deve nascer e como nascer. Tem como
qualidades:

• Ôsàlúfón - mais velho, mais sábio, usa o cajado Ôpá Soro para ajudá-lo a andar,
mas é uma arma poderosa
• Ôsàgíyán - guerreiro dono do pilão e do inhame
• Odundúwà - reverenciado nas Aguas de Ôsàlá
• Ôrisà Oko - divindade da agricultura e da fetilidade alimentar
• Bàbá Lejúgbê - tem enredo com as águas
• Ôsàfuru - usa um cajado e tem o poder do sono físico
• Bàbá Àjàlé - modelador das cabeças

Ôsàlá tem dois títulos:

AABAASE - o que tem o poder de criar com autonomia

ALÁMÔ(N)RERE - o pefeito escultor.

Pela sua essência ética Ôsàlá tem supremacia observada nas saídas de Efun, quando
o iniciado tem pate do seu corpo pintado de branco em respeito ao princípio criador que
Ôsàlá representa pois é a iyàwó um novo ser criado.
É o pai de todos, denominado Ôrisà nlá, o Grande Ôrisá, pois a êle é remetido a
mesma mitologia de Osíris que fragmentado e espalhado pela terra, foi juntado, fazendo
assim surgir todas as outras divindades.
É também o criador dos seres humanos usando OMI (águas) e AMÔ (N) (o barro
primordial) para que Olorum venha e insufle o Eli (sopro vital) que dará a vida. A
representação da criação humana é feita a cada Ôsê quando se coloca água no interior da
quartinha que sendo de barro evapora e transpira a água intena. Ôsàlá da forma às crianças
e as coloca no útero materno.
Os iniciados ou devotos da linhagem de Ôsàlá estão sujeitos ao uso de roupas
brancas ou claras - ASO Funfun - com a determinação de que sejam honrados e leais.

" AYÊ WON A TÓRÔ BI OMI A FI OORÀ PON"

suas vidas serão claras e puras como a água da fonte.


Ôsàlá é uma das raras divindades que as histórias revelam como possuidor de apenas
uma mulher porque Ôsàlá percebeu que se o mundo ia mal; se ninguém se entendia, a causa
estava sempre em casa onde havia muito falatório e muitas brigas entre as mulheres de um
mesmo homem.
Ôsàlá disse: "é impossível viver no meio de quarenta mulheres e não dizer coisas
erradas".
Seu nome primordial o define como Oba ti àlà - o rei cuja roupa é branca ou Oba ti
olà - o rei que possui honra. Então, o Àlà não é só um pano branco mas algo puro, sem
mácula. O inhame é sinal de pureza e retidão ética pois é o depurador do sangue e o grande
purificador.
O padrão de moralidade exigido no Candomblé é representado no colar de contas
brancas colocado no pescoço do abíyàn. Não é um enfeite, ele é independente das contas
do seu real Ôrisà, ele é o fundamento, um comprometimento com a religião e todas as
divindades. É preciso lembrar.

"OHUN TI Ó PAMÓ, OJÚ OLORUN TO"

O que é oculto ao povo é visto aos olhos de Deus.

A moralidade é fruto da religião. A ética está em Ôsàlá e nos relatos dos Odus,
raramente exercitados. São princípios éticos do Candomblé:

lwà lésin - o caráter é a religião, o mais importante de todos os valores morais e o maior
atributo do homem.

Oore - a bondade que envolve a generosidade e a hospitalidade.

Se rere - fazer o bem é a tarefa das grandes realizações diárias.

Sirúrú - a paciência é entendida como fator mais importante para se evitar


precipitações que impliquem a perda do caráter. A paciência é o primeiro filho de de
OLÓDÜMARÊ e o pai de lWA, o caráter.
ôwo - o respeito a que todos se devem entre si sobretudo aos mais velhos pela
experiência admirável de vida.
Olóótó - uma pessoa verdadeira é um bem para a comunidade.
Olóódodo - justo e sincero.
Sé lféni - fazer a caridade.
Ôsàlá - nunca foi um guerreiro; ele não é um lutador por natureza. Ele foi feito para
paz, para ordem e para vida integra. Nos momentos em que foi forçado por seus
inimigos, lutou por necessidade.

A reverencia pública a Ôsàlá se dá em duas belas festividades. Na cerimônia das


AGUAS DE ôsALA que tem três aspectos:
• O )e reviver a( fe(ta( agrária( )e origem )o( ance(trai( afro
• O )e )eterminar a abetura )a( gran)e( fe(ta( )e to)o( o( Ôri(á(.
• O )a purificação a que to)o( (e (ubmetem.

Na cerimônia )o PIÃO DE ÔSÀGIYÁN temo( a reverencia pelo retorno com muita


· fatura )e comi)a branca.
Na( fe(ta( )e Ô(àlá, me(mo na alegria )o Pilão, o compotamento )o( inicia)o( e
convi)a)o( )eve (er re(erva)o, cautelo(o e )e muita concentração.
Ô(àlá é (imple(, não anuncia (ua chega)a, ele é (ilencio e é conheci)o pela( roupa(
branca( e uma reti)ão moral que o faz re(peita)o por to)o(, é ob(tina)o e paciente.
Ô(àlá tem o (en(o ético )a ju(tiça - "o que (eria )a ju(tiça (e o( mau( juíze( não
fo((em puni)o(?" A paz não é a au(ência )e guerra( ma( a pre(ença )a ju(tiça.
A i)éia )o atrito que tran(forma e(tá no(. mito( )e Ô(àgiyan, patrono )a cultura
material, em que e((a )ivin)a)e, (obretu)o quan)o ,ivoca)a pelo nome Ajagunã, (empre
aparece como protagoni(ta )e guerra( e mal- enten)i)o(, que ele provoca, com o único fim
)e tran(formar para que o progre((o (eja vivi)o pelo( homen(.
Obàtàlá ou Ô(àlá ê o Deu( cria)or. Deu( )a roupa branca, to)o( o( Ôri(à( e(tão
refleti)o( nele. Seu( a)ora)ore( (ão o( que preparam o( corpo( no final )a vi)a. Lavam e
ve(tem o corpo )e branco para o funeral.

Capítulo - Ili

YEMOJÁ

Ósàlá é pai e nos deu a vida, Yemojá é mãe e deu a cada filho uma cabeça diferente,
zelando por todos.

Oi, Oi, asé

Asé oi ô!

Odoia!

Que Ô(àlá e Yemjá abençoem a to)o(.


Yemojá é a mãe que cria to)o( o( filho( como (e fo((em (eu( e junto com ô(àlá é o
õri(à mai( fe(teja)o )o povo bra(ileiro.
Yemojá é filha )e Obatala, o céu, e )e O)u)ua, a terra. Conta-(e que em uma reunião
)e to)a( a( )ivin)a)e( com Olo)umare a única a lhe lev�r um pre(ente foi Yemojá, )an)o-lhe
a cabeça )o carneiro. Olo)umare então )iz: AWOYÓ ORI DORI RE cabeça traze(, cabeça(
(erá( e )e()e então Yemojá toma conta )e to)a( a( cabeça( pen(ante(.
Na África, Yemojá é divindade das águas doces, ninfa do rio Ogum, tendo sido
cultuada pelos êgbás, associada aos rios e suas desembocaduras, à fertilidade das mulheres,
à maternidade, ao processo de criação do mundo e da continuidade da vida. Seu nome
significa:

YE YE OMO EJA = Mãe dos Filhos. Peixes

Interessante que nós, homens e mulheres, somos todos peixe na medida em que nos
formamos dentro d'água - dentro do liquido amniótico no útero matemo - respiramos como
peixe e só vamos viver como terráqueos depois que estamos prontos para esta realidade.
Nos templos africanos ela aparece como uma mulher "larga", de seios grandes e tijela
na cabeça onde ficam os seus otás que são potadores de sua força sagrada. Ao pensar no
corpo de Yemojá, especialmente seus seios que originaram o mar e os rios e por onde brota o
leite, alimento de seus filhos e nutridor da humanidade, sabemos então a razão de serem
seios sagrados, seios primordiais da grande mãe. Yemojá preocupa-se em ser generosa
sabendo retribuir os atos generosos dos outros e respeita a hierarquia divina.
Yemojá surge nos papeis de mãe, filha e esposa representando as diferentes
maneiras como a mulher se coloca na sociedade mas, por outro lado, tem reciprocidade com
o criador responsabilizando-se pelas cabeças humanas; representando a consciência, o
equilíbrio emocional e a personalidade.
Mesmo no Brasil onde Yemojá é a Ôrisá do mar, ela continua a ser saudada no
Candomblé por Odoiyá que significa Mãe do Rio.
Yemojá tem várias qualidades. Vamos ver as oito qualidades que estruturaram a
grande família. da Mãe d'água:
YEMOJÁ IYÁSABA é a mais temível, muito ciumenta de seus filhos, perigosa,
possessiva, e por vezes traiçoeira cono as águas do mar. É a esposa de Orunmila e
sabe ler o lfá tanto que Olodumaré ordenou que todos os adivinhos deveriam fazer
reverencias a ela e que ela responderia através dos cauris, trazendo suas
mensagens aos homens.
YEMOJÁ IYÁSESU é a divindade relacionada com as águas mais profundas e frias,
habitando sítios escuros e sujos. Temível como a IYÁSABA participa dos ritos do
ásésé pois vive nas profundezas como Naná que abre a terra para receber os
motos. Ê muito ligada a Ogum, ligação umbilical, pois nos momentos de ira do órisá
da guerra, ela o acalma, o apazigua.
YEMOJÁ OGUNTÉ é a que luta ao lado de Ogum, ela é guerreira obstinada,
ambiciosa e ardilosa.
YEMOJÁ AWOYÓ é a que possui o carater mais feminino, estando voltada às causas
da família, dos filhos e do parceiro; implacável nas decisões familiares, não
permitindo inteferências de terceiros em suas atitudes.
YEMOJÁ AKURA é a mais jovem, de caráter alegre e infantil e tem um profundo
amor aos IBÊJIS.
YEMOJÁ ATARAMAGBA representa a beleza feminina madura, espírito tranquilo e
benevolente e vive nas águas doces calmas sendo muitas vezes confundida com
Oxum. Mas, é conquistadora.
• YEMOJÁ MALELEWO é velha vingativa e introspectiva; ela tem rituais nas águas e
nas florestas onde busca as evas para os banhos e os unguentos de cura.
YEMOJA KONLÁ associada às águas profundas e frias dos rios, ciumenta e
possessiva.
Yemojá é a que fabrica as cabeças humanas então, é pre�iso cuidar do ORI (cabeça)
antes da iniciação de feitura para que a área emocional seja amparada e equilibrada. Então
tem-se o ritual do BORI, atribuindo-se a Yemojá a realização simbólica e a eficácia do ato. O
culto às cabeças denota uma preocupação primeira que é a de emergir a personalidade
profunda do ser humano, ligada ao seu destino pessoal.
A água pode percorrer qualquer caminho, seu destino é algo sempre improvável.
Mesmo que a represem, sua imensidão cobrirá qualquer obstáculo, dando-nos a idéia de seu
poder real, a natureza íntima de Yemojá - percorrer o univeso com suas águas num eterno
ciclo, manifestando sua força infinita. A água sempre triunfa pelo que dela brota. A água está
sempre em movimento, preenche todos os vazios e mesmo o maremoto, revelando a irritação
com a terra e com os homens, passa e as águas voltam ao seu lugar.
Essa deusa tem no olhar um misto de orgulho e responsabilidade pelos seu filhos, ela
significa a manutenção da sanidade física pois a Yemojá é solicitado o resgate da calma e da
consciência.
Os filhos de Yemojá são voltados à ascensão social e tem temperamento imprevisível,
segundo Rita, Segato "se preocupam mais com as aparências do que com a verdade, mais
com a ordem que com a justiça" (Segato, 1995: 158), demonstram afeto mas escondem um
grande desejo de controle de toda a situação, fazem transparecer que pouco importa o que
realmente pensam, assumem ser "mãe" de todos os filhos (gerados ou não), prestam grandes
favores mas cobram devolução de forma insistente porém não querem ser cobrados mesmo
quando devem, numa traição não perdoam mas podem reatar as relações para cutirem a
vitória e a posse.
Yemojá dá as águas a Oxum, apazigua Sangô com suas águas e deixa Ogum abrir
caminho através delas. YEMOJÁ é a grande mãe africana do Brasil.

Capítulo - IV

SANGÓ
O/úkóso atóbájayé só nimú won
Oixá fote o suiciente para nos poteger na vida, poteja me dos meus
inimigos. (oiki)
Ê o àrisá do calor, do fogo e da "cobrança" das tarefas assumidas por cada um antes
de encanar. O fogo alia-se ao sentimento e à sensação do calor, e é também um fenômeno
privilegiado capaz de explicar ações do nascimento, das transformações e da mote. Ao
mesmo tempo o fogo está no céu e na terra, encarna o bem e o mal. O fogo brilha, dá a luz e
também doçura e totura. O fogo abre caminho e revela esconderijos, junto com a umidade
toma-se sangue correndo nas veias, promove a nutrição na transformação dos alimentos,
purifica as emoções, castiga sem queimar e traz as interdições tanto as pessoais quanto as
culturais.

O fogo Sangó é capaz de congregar pessoas em volta de sua fogueira simbolizando o


poder, a sabedoria, a realeza e a ancestralidade.
Do crepitar da fogueira às lavas do vulcão Sangó aponta sua mobilidade entre a
suavidade e o compotamento agressivo e violento, entre o irmão e a virilidade sexual do
amante.
Sangô traz o raio e o relâmpago em seu fogo portanto, ele patilha esse mesmo fogo
com Oyá simbolizando a vida e as faíscas como movimento desta mesma vida.
Por conta do fogo, Sangô tem muita fome: fome de comida , fome de sexo e fome de
bebida. Tem fome de justiça, ome de moralidade e fome de individualidade.
Existem doze Sangôs nascidos de Oraniã e de Yamassê chamados: Dada, Airá lntilé,
Airá lgbonam, Airá Adjaosi, Jakutá, Oba Afonjá, Obalubé, Ogodô, Baru, Oba Kossô, Olorokê e
Aganju.
Sangô tomou-se rei após destronar seu irmão Ajaká e por sete anos govenou Oyó.
Sangô representa a síntese da liberdade , altivez e realeza dos dignatários africanos além de
· dominar controlar as forças da natureza.
Sangô bem como sua família real formada por Obá, Oxum, Oyá e lbejis e la Massê
Malê, são representados por objetos preferencialmente de madeira.

O repetório simbólico de Sangô vem com o

acará ➔ mecha de algodão embebida com azeite de dendê acesa para


lembrar o fogo

adê coroa ➔ capacete de franja com contas que cobre o rosto do rei

adê baiane ➔ coroa também chamada de Dadá Ajaká

ajerê ➔ panela de barro onde se coloca o acará

aké ➔ machado também chamado oxé

aso awé ➔ tecido feito em tear manual

batá ➔ instrumento membranofone

cobre ➔ metal a Sangô consagrado


cor vermelha ➔ é o fogo e o sangue significando purificação e fetilidade

édum ará ➔ pedra do raio2 foi a base formal para o oxé

gamela ➔ recipiente, redondo para as comidas e ovalada para os


assentamentos, de madeira (gameleira ou jaqueira)

idé ➔ pulseira de cobre do iniciado simboli1ando a vinculação deste a


Sangô

ilú eláde ➔ ilu de Sangô

·itú eréko ➔ ilu de Sangô

ilu xi ➔ é o xerê

ilu àlójà ➔ ilu de Sangó

iruqueré ou iru Kéré ➔ cauda de vaca branca ( a barba do rei)

labá ➔ bolsa de couro com os objetos de Sangó, quem carrega é a alabá


- mulher de corpo na casa Sangô.

número ➔ , é o poder real e o equilíbrio (6 a direita e 6 a esquerda)

odô ➔ pilão

okinki ➔ longa trombeta de cobre para anunciar o rei

olú ilú ➔ instrumento percussão peculiar de Oyó.

sandálias ➔ feitas de pele de pantera

tonibobé alujá ➔ polírritmos para as danças vigorosas e rápidas. O


e
gestual lembra o jogar dos édum ará sobre a terra, riscando o céu com os
coriscos

xerê ➔ chocalho de cobre para chamar Sangó

No candomblé, os animais mostram o quanto é vital para o homem integrar em sua


vida o instinto. Para Sangó o agutã - caneiro - é o seu animal emblema pois desde Amon no
Egito, o carneiro é a forma terrena do deus das tempestades, das trovoadas, e dos
relâmpagos. A chifrada de agutã tem a velocidade do_ arremesso dos oxés e do edum ará,
bem como o desenho do oxé. Mas, não é o único animal. Tem o ajapá - cágado -
representando o juí1o e a calma para coordenar os jugamentos; o elefante_que é o rei depois
da morte e a pantera que é o rei.
Capítulo - V

OVA

Oya é imprevisível.

Oya: uma das deusas africanas mais dinâmica e vital. Oya se manifesta no grande rio
Níger, nos vendavais e tornados, no fogo e nos relâmpagos e no búfalo africano. Oya é a
liderança feminina por seu charme persuasivo e seus poderes mágicos.
Oya é o vento que p�'de ser agradável e refrescante mas, especialmente, é o vento
fote, quase um furacão; é o fogo que tudo regenera e tudo envolve mas sobretudo é o raio
rápido e nervoso com direção ceta.
Oya tem o habito de ficar invisível só para reaparecer em lugares onde
não é esperada.
O povo yorubano foi o primeiro a cultuá-lá como Ôrisá é na Nigéria, ela deu origem ao
culto dos ancestrais no festival dos motos.
Oya está sempre presente nos funerais.
Oya tem encantamento presente e persuasivo, fala o que pensa, é o elemento
purificador nas situações tensas, ela limpa a atmosfera da fé e da mistificação distorcida.
Oya discursa objetivamente mas a maioria de suas metas permanece obscura até o
· acontecimento.
Oya é a deusa dos limites, da interação dinâmica entre as supefícies, da
transformação de um estado de ser para outro.
Oya não aceita permanecer fora dos fatos considerados apropiiados apenas aos
homens.
Oya significa: "ela rasgoun ; e como lansã a "mãe dos nove".
Por trás da cotina da morte, ela dá a luz a nove seres anômalos sendo que o último
é um Egungum, ancestral que retoma sobre a forma de um mascarado. Nove é o número de
Oya, um prodígio aritmético cuja a soma dos dígitos do produto de sua multiplicação por
qualquer outro número é sempre NOVE.
Oya aparece sob vários disfarces, usa a verdade para atemorizar a pessoa fraca,
responsável pela fronteira entre a vida e a morte e ao assumir um acordo não o rompe.

A DANU OJU BI YE

"Quando ela põe seu olho em alguma coisa, nunca muda sua intenção".

Oya adora romper estruturas e alterar a direção.

Oya, em sua forma mais temida e livre, é uma deusa do tempo atmosférico. Seu
temperamento se expressa em padrões reconhecíveis de nossos próprios turbilhões,
inundações e fevores.
Quando as mulheres foram treinadas por mães sufocadoras, em vez de superar
nossas tempestades, represar e oc�ultar nossos fogos para fornecer carvão aos nossos
maridos, elas congelaram a Oya dentro de nós tornando-nos geladas e negativamente
carregadas.

Transformações radicais no clima sinalizam a necessidade de transformações no


pensamento e no sentimento humano e nesse momento, o ar toma um grande impulso para
superar qualquer resistência marginal.

Oya como paixão, ao se refinar, ilumina; ela é o poder gerador do feminino que
. promete lealdade em troca de homenagens permanentes.

Oya limpa o ar. A varredura de Oya é rodopiar com a mão erguida representando a
revolução da sua tempestade que limpa e dispersa a poluição. Manejar o irukê de Oya com
uma série de chicotadas rápidas é livrar quem quer que seja das forças negativas pendentes,
espanando-as.

Oya é a criatura de várias cores, nove fios brilhantes adornam suas insígnias
ritualisticas pousadas no chão ao lado das oferendas dos motos locais.

Oya é um enigma: deusa dupla - no lado da mote no lado da vida.

Os ventos de Oya precedem as tempestades. As sementes de chuva de


Sangó fetilizam a terra. No meio dos dois está a origem dos raios.

Todas os õrisás femininos são além de rios, feiticeiras. Oya é um ritual de purificação
com a tarefa de trazer o Ancestral de volta à vida sob orma de mascarado.

Oya coordena o lugar dos encontros, das seduções, das trocas e, das transfusões, de
energia. O ímpeto de procurar independência para si e seus filhos, entre as mulheres, é de
Oya.

O animal avatar de Oya é o búfalo e, nêle a deusa adquire profundidade instintiva,


peso moral e arrebatado comprometimento com o feminino. Oya necessita de períodos de
solidão, períodos de feitiçarias e períodos de fatalidades. Oya controla a mote e· preseva a
vida dos recém-nascidos, ela se ocupa da continuidade ancestral e do processo
reencarnatório. Oya ensina que a vida sempre é uma coisa terminando e outra começando.

Oya dança viajando no tempo, montando um cavalo. Com a mão erguida ela sente o
vento. Seu corpo balança da esquerda para direita reagindo ao ritmo do vento soprando. Oya
é um õrisá muito intenso. Há força, maturidade e um tipo vibrante de energia.
CONCLUSÃO

Estou encerrando um primeiro movimento de entregar aos amigos um pouco


dos meus estudos e minhas leituras.
Escrever sobre reflexões múltiplas é um exercício de aquietamento e de solidão.
Aprendi muito. Esse é, certamente, o primeiro de uma série de pensamentos a respeito de
relacionamentos espirituais.
Esse primeiro veio com os caminhos de encontro e desenvolvimento entre as crenças
africanas e as brasileiras.
São reflexões iniciais, pedaços de retalhos que venho costurando no meu campo
mental, tendo o coração como fundamento.
Estudar sobre o candomblé veio de diversas formas. A principal chegou através do
petencimento nos terreiros Odé de Katiombá e no llê Axé lnginoquê Omorossí. Ficar, ajudar,
ouvir, obsevar e sentir. A cozinha em ambas as Casas foi e tem sido uma escola.
Vieram as aulas. Agradecer ao Pai Edvaldo é lugar-comum. Desde 2009 que eu o ouço
e registro seus conteúdos, provenientes da sua experiência vivida e sentida.
Os anos de estudo e vivência de Pai Edvaldo tem sido partilhados conosco no Grupo de
Estudo e me despetaram o desejo de aprender e entender sempre mais. Então venho unindo
•.

a essa base, a essa raiz muitos autores e sinto que minha mente se alarga.
Mas o conhecimento por si só não nos traz benefícios, toma-se necessário traduzir o
conteúdo em compreensão e crença para, alcançando a base do corpo mental, que é o
coração, objetivar práticas de viver no mundo baseadas nessas crenças.
O que entrego nesse pequeno texto são pedaços insignificantes frente a magnitude do
conteúdo. É apenas o começo. É uma ínfima parte de um trabalho a longo prazo: Sei que se
abrirão inúmeras vetentes. Sei que me disponho a mais e me coloco em mãos da
espiritualidade para a condução desse processo.

"IKÀWÉ ODÀÁ JÊ NA NÁ IMÔ"

(uma boa leitura é um grande saber).


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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. LI7A, Luis Felipe de. Oxum, A mãe da água doce - Pallas;


2. CAPUTO, Stela Guedes9 Educação nos terreiros - Pallas;
39 D'OGU7, Guilherme. lansã do Balé, Senhora dos Eguns - Pallas;
4. GLEIASON, Judith. Oya - Betrand Brasil;
5. LODY, Raul. Xangô, Senhor da Casa do Fogo - Palias;
. 7OURA, Carlos Eugenio 7arcondes de. Culto aos Orixás - Pallas;
. VALADO, Armando9 lemanjá, a grande mãe africana do Brasil -Pallas;
. BENISTE, José. As águas de Oxalá - Bertrand Brasil;
. BENISTE, José. O jogo de Búzios - Betrand Brasil;
1 0. ROCHA, Agenor 7iranda. Caminhos do Odu - Pallas
1 1 . SARRACENI, Rubens. Orixá Exu - 7adras;
129 AYRA, Valnízia de. Resistência e fé: fragmentos de uma vida - AII Print;
13. SILVA, Vagner Gonçalves da9 Orixás da 7etr8pole - Vozes;
14. SANTOS, 7aria Stella de Azevedo. 7eu Tempo é agora - Assembléia Legislativa do
Estado da Bahia.

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