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EXU MAIORAL: DEUS E DIABO NA MAGIA

DE QUIMBANDA

Você já parou para se perguntar do que você tem medo? O que, sinceramente,
tira o seu sono e lhe faz buscar proteção e defesa? O quê lhe faz repensar as
suas atitudes e por que, honestamente, você tenta ser “ uma pessoa boa”?

Muitas pessoas- assim como eu e você – responderão com belas palavras e


ideais, mas... Será que isso é mesmo verdade? Ou estamos todos apenas nos
moldando para fugirmos da condenação eterna a um mar fogo, dor
e sofrimento sob a mira de um tridente amaldiçoado a açoitar a alma?

Vivemos tempos controversos! Na história de toda a humanidade, nunca antes o


acesso e a velocidade da informação foram tão rápidos e, ao mesmo tempo,
nunca antes a verdade dos fatos esteve tão escondida. Muito se fala, pouco se
sabe... Num século que prometia transformar as relações humanas, expandir a
espiritualidade e a paz, vivemos tempos de ódio e intolerância contra tudo e
contra todos.

Negamos nossa própria natureza, fingindo não saber que somos todos feitos de
energia. Espíritos encapsulados num corpo perene, preferimos acreditar que, à
parte de tudo no Universo, não somos feitos de luz e sombra e que o mal... Ah,
o mal! Este não nos pertence, mas nos persegue diariamente, concentrado numa
única figura – o grande adversário a combater: o Canhoto, o Coisa Ruim...
o Diabo!
Inimigo de Deus, aquele que desafiou Sua autoridade e Sua lei, caído e banido
ao fogo eterno do Infer... Mas, ei! Ei! Espera um pouco! O assunto aqui outro!
É ancestralidade, é liberdade, é África e o culto à Natureza.

Sim! À Natureza e à nossa própria natureza – feita de luz e sombras, que não é
santa nem impura, é humana!

Por isso, fique comigo mais um pouco e continue lendo esse texto para
entender melhor:

 Quem é Exu na Quimbanda?


 Qual a relação entre Exu e as forças da Natureza?
 Por que Exu NÃO é o Diabo?
 E quem é, afinal, Exu Maioral?

Quem é Exu na Quimbanda?

Nos artigos anteriores, “Quimbanda: Magia de Exu e Pombagira ” e


“Iniciação e Desenvolvimento Mediúnico na Quimbanda ” você conheceu em
detalhes quem são e como atuam os Guardiões Exu e Pombagira, mas nunca é
demais falar sobre eles, não é mesmo?
Resumidamente, Exu é o interlocutor entre os homens e os deuses, conhecedor
da linguagem dos dois mundos, vai ao sagrado levar o chamado dos seus
filhos que se encontram no mundo profano. Força da natureza, potência do
movimento e da comunicação, Exu na Quimbanda é um espírito ancestral e
familiar, que volta à Terra com a missão de guardar, proteger e ensinar seus
fiéis nos caminhos do destino.
Ele e sua contraparte feminina, Pombagira, são os polos masculino e feminino
da espiritualidade, que se casam e se completam trazendo o equilíbrio. Nas
palavras do Babalorixá Rodney de Oxóssi, em seu artigo “Não sou o Diabo,
sou Exu” para a CartaCapital:
"Quem pode me definir se sou a própria contradição? Nem bom nem ruim, nem
quente nem frio, nem sombra nem luz! Mas não se engane, não sou meio-termo. Sou
tudo e não sou nada! Ousadia é meu nome. Estou sempre pronto, pra luta ou pra
farra. Experimentei o melhor da vida, e gostei! Se me disserem que é impossível, vou
e faço. Se me pedir, eu dou. Se me agradecer, eu retribuo. Se me der, eu aceito. Se
me negar, eu tomo. Aos meus, ensinei a rir da própria sorte, a ter esperança, a
acreditar pra ver. Se a vida vai mal, sambo e esqueço. Se vai bem, sambo e festejo!
Já te disse meu nome? Sou Exu! Muito prazer!”

Qual a relação entre Exu, os Orixás e as forças da


Natureza?

Ainda que, na Quimbanda, Exu apresente-se independente de toda e qualquer


hierarquia ou subordinação, é importante observar que tanto em sua origem
africana quanto em sua reconfiguração brasileira o culto a espíritos familiares
sempre esteve ligado ao culto de outras divindades. Além disso, também é
importante lembrar que, quando em vida, estes mesmos espíritos tiveram suas
crenças e religiões - afinal, a Quimbanda como religião organizada tem
pouco mais de 50 anos de existência .
A propósito, são justamente essas crenças e o vínculo ancestral às práticas
religiosas das divindades africanas que difere o Exu de Quimbanda
Tradicional, também chamado Exu de Alto Comando, dos Exus que se
apresentam nas demais expressões religiosas afro-brasileiras. Isso, porém, não
implica na limitação e/ou restrição de ação do Exu nem em sua autonomia
enquanto chefe do culto, da mesma forma que não implica na iniciação ou
participação de um quimbandeiro em qualquer outra religião ou a qualquer
outra energia que não seja o próprio Exu em questão.
Uma vez que tanto a Umbanda quanto a Quimbanda, cada uma a seu modo,
são reinterpretações brasileiras das formas de culto africano, a própria
entidade Exu é, pois, a reinterpretação do Orixá Exu . Aliás, mais que a
reinterpretação, a entidade Exu é a própria personificação deste Orixá, visto
que, nesse caso, a potência da comunicação e do movimento assume nome,
forma e costumes humanos.
Se analisarmos as diversas formas de culto ainda em solo africano,
perceberemos que essa mesma reinterpretação acontece entre as diversas
nações: se na iorubalândia Òyó-Ketu há o Orixá Exu, nas etnias banto
de Congo-Angola há o Inkisi Aluvaia e entre os povos Ewe-Fon do Benin há
o vodun Legba / Elegbara. Essas três figuras, ainda que difiram entre si na
forma de culto, relacionam-se diretamente às mesmas forças da natureza e
condensam em si as mesmas potências do Universo: o movimento, a
comunicação (em especial a intercomunicação entre o mundo físico e as
divindades), a fecundação e a sexualidade.
Sobre a (co)relação entre o Orixá Exu e a Entidade Exu, Pierre Verger, em seu
livro “Os Orixás”, nos relata uma visita feita a uma baiana iniciada para o
Orixá Exu em 1936 e nos trás uma grata surpresa:
”No fundo de seu jardim, em uma casinha, havia um ferro em forma de tridente,
assentamento de Exu bàbá buya e uma corrente de ferro, de Exu Sete Facadas. Eles
estavam na companhia de Exu Elegbara e de Exu Mulambinho. Atrás da porta da
casa alojava-se Exu Pavená.” (VERGER, 2012, p. 132).
É preciso observar ainda que, por fatores históricos e culturais, até os
primeiros anos do século XXI eram raros – se não inexistentes - os terreiros
que cultuavam unicamente a Quimbanda como religião organizada. Mesmo no
Rio Grande do Sul, berço da Quimbanda Tradicional e onde a separação
Umbanda-Quimbanda-Batuque / Caboclos-Exus-Orixás é bastante clara entre
seus adeptos, o processo natural é a prática de pelo menos duas dessas
tradições, ainda que em momentos distintos. Se uma é independente da outra,
esta, por sua vez, não exclui a primeira e, por isso mesmo, não exige que se
abandonem a fé ou as práticas de um ou outro lado.
Dessa forma, é correto afirmar que, mesmo que o Orixá Exu – ou qualquer
variação étnica de seus nomes – não seja cultuado na Quimbanda Tradicional,
ele é louvado como força centralizadora do poder de todas as entidades e
forças que ali atuam.
Outra questão importante a observar é a importância dada à nomenclatura das
energias cultuadas nas religiões de matriz africana: enquanto na Bahia e em
todo o Sudeste brasileiro tanto o Orixá Exu quanto a entidade Exu recebem o
mesmo nome, no sul do país o Orixá Exu recebe o nome de Orixá Bará,
ficando a palavra “Exu“ restrita aos espíritos ancestrais, qualquer que seja sua
forma de culto. Com isso, além do reconhecimento e reafirmação da origem e
influência africana na formação da Quimbanda, os diversos nomes da divindade
africana são, além de tudo, títulos honoríficos na prática quimbandeira.
O Cruzamento de Bará, citado no livro “Desvendando Exu: O Guardião dos
Caminhos”, e um dos títulos pelos quais Exu Rei das 7 Encruzilhadas, o
fundados da Quimbanda Tradicional, é conhecido em Porto Alegre - “ O
Legbara Exu” – são exemplos desse reconhecimento e reafirmação africana em
meio à cultura quimbandeira.

Exu tem chifre, Exu tem rabo... Como, então, Ele NÃO é o
Diabo?

Cada um de nós tem formações, círculos sociais, perfis emocionais e conduta


absolutamente distintos, e se utiliza de um vocabulário próprio, formado e
moldado em função do meio em que vivemos e daqueles com quem nos
relacionamos. Gírias, expressões regionais e idiomáticas, e até mesmo a
extensão do nosso vocabulário dependem e são formados pelo tanto de cultura
e estudo a que tivemos acesso e por uma série de outros fatores sócio
educacionais. Exu da mesma forma!
Como já foi dito, os Exus são espíritos ancestrais. Dessa maneira, tiveram
vida encarnada antes da manifestação espiritual, durante a qual se relacionaram
e aprenderam o que lhes foi possível em função do contexto social em que
estiveram inseridos. Com isso, cada um desses espíritos terá um universo
completamente distinto dos outros para identificar, qualificar e descrever
aquilo que vê, faz e sente – aqui e do outro lado da vida, antes e depois de seu
existência encarnada.
Mesmo em sua forma espiritualizada, esses espíritos encontram-se muito
próximos de nós, seres humanos, e têm naturezas e comportamentos tão
semelhantes e diversos quanto nós. E, não esqueçamos, nenhum de nós vivos
pode afirmar sem sombra de dúvida onde se encontram nem por onde passaram
esses espíritos após seu desencarne, muito menos como é esse lugar. Como nos
diz a curimba de Exu: “para chegar aqui, atravessei um mar de fogo ”...
Considerando tudo isso e considerando ainda que tanto a Quimbanda quanto
todas as demais práticas afro-religiosas são uma forma de resistência ao
racismo, à dominação e à escravidão física e cultural perpetrada pelas
religiões cristã-européias, apresentar-se como “O Diabo" passa a ser,
também, uma forma de defesa contra as agruras da violência.
Ora, se quem lhes ataca teme o mal individualizado na figura
de Lúcifer / Satanás e se a religião é a única ou a maior força de resistência a
que se tem acesso para defender-se, é natural que ela e seus ícones sejam
utilizados como argumento de defesa: se o maior medo do agressor é o Diabo,
é justamente com figura do Diabo que o agredido vai se defender!
Em última instância, para que exista um “ Diabo” é necessário acreditar que
exista um “Deus” – onipotente, onipresente e onisciente, criador de todas as
coisas e pai de Jesus Cristo, remissor dos pecados . Esse Cristo, esse Deus e
esse Diabo só existem para quem neles acredita – se não há um, também não há
o outro. E o fato é que na Quimbanda, assim como no Candomblé e nas demais
religiões de matriz africana, não há nem um, nem outro. Nenhuma delas são
religiões cristãs!
Um dos expoentes da Quimbanda no sudeste brasileiro em meados da década de
70, Tata Augustin de Satã – que também era umbandista e posteriormente
iniciou-se no Candomblé - se destacou especialmente por quebrar a ordem de
sua época ao saudar Exu com a expressão “ Salve Exu, o Rei das Trevas, Filho
de Satanás”. Essa mesma expressão pode ser ouvida nas cantigas que compõe o
LP gravado pelo sacerdote neste mesmo ano e que hoje já fazem parte das
cantigas e rezas populares da religião. Numa delas, ele descreve a posição
hierárquica do Maioral na Quimbanda:
“Olha a catira da Umbanda,
Espia, espia quem vem lá.
É o chefe, é o Rei da Quimbanda,
Chefe dos chefes, é o Maioral.
Todo povo está lhe saravando,
Tata de Umbanda mandou lhe chamar”.
Nessa reflexão, portanto, inferno, diabo e etc. perdem seu valor teológico e
literal e ganham valor muito mais simbólico. Intitular-se “ O Diabo” e assumir
sua “origem infernal”, nesse contexto, passa a ser motivo de orgulho, tais como
cicatrizes de guerra são símbolos de vitória sobre as dificuldades e os inimigos
do passado pela força de Exu Maioral.

E quem é, afinal, Exu Maioral?

Exu e Pombagira são as duas faces da mesma moeda: os polos masculino e


feminino da espiritualidade, que se casam e se completam trazendo o equilíbrio
energético e espiritual sob a doutrina da Quimbanda. Onde há um, também há o
outro - luz e sombras, fogo e água, dia e noite: opostos complementares que,
juntos, tornam-se uma só força! É dessa união que surge Exu Maioral.
Ele é, portanto, a união dessas energias, a concentração das vibrações de
todas as entidades cultuadas na Quimbanda Tradicional. Ele é a condensação
mágica dos polos positivo, negativo e neutro, a concentração dos cinco
elementos da natureza mágica: terra, fogo, água, ar e espírito .
Exu Maioral não é um espírito e, por isso, não está sujeito ao fenômeno da
incorporação, o que significa dizer que Exu Maioral não incorpora em
nenhum médium. Representado comumente pela imagem de Baphomet -
uma criatura andrógina com cabeça de bode, seios femininos e pés de boi -,
sintetiza em si o equilíbrio do Universo. A posição das mãos, apontando uma
para cima e outra para baixo, é uma clara referência à regra comum a todas as
tradições religiosas: “tudo o que está acima, também está abaixo ” ou “assim
na terra como no céu”.
Eliphas Levy, em sua obra “Dogma e Ritual da Alta Magia”, desenhou e
descreveu de maneira exemplar Baphomet e sua simbologia mágica e
esotérica:
“O bode [...] traz na fronte o signo do pentagrama, com a ponta para cima, o que é
suficiente para fazer dele um símbolo de luz; faz com as mãos o sinal do ocultismo, e
mostra em cima a lua branca de Chesed e embaixo a lua preta de Geburah. Este sinal
exprime o perfeito acordo da misericórdia com a justiça. Um dos seus braços é
feminino, o outro é masculino, como no andrógino Khunrath, cujos atributos tivemos
de reunir aos do nosso bode, pois que é um único e mesmo símbolo. O facho da
inteligência que brilha entre seus chifres é a luz mágica do equilíbrio universal; é
também a figura da alma elevada acima da matéria, como a chama está presa ao
facho. A cabeça horrenda do animal exprime o horror do pecado de que só o agente
material, único responsável, deve para sempre sofrer a pena: porque a alma é
impassível por sua própria natureza, e só chega a sofrer, materializando-se. O
caduceu, que está em lugar do órgão gerador, representa a vida eterna; o ventre
coberto de escamas é a água; o círculo que está em cima é a atmosfera; as penas que
vem depois são o emblema do volátil; depois, a humanidade é representada pelos
dois seios e os braços andróginos desta esfinge das ciências ocultas.
Eis dissipadas as trevas do santuário infernal, eis a esfinge dos terrores da Idade
Média adivinhada e precipitada do seu trono; 'quomodo cecidisti, Lúcifer'? O
terrível Baphomet não é mais, como todos os ídolos monstruosos, enigma da ciência
antiga e dos seus sonhos, senão um hieróglifo inocente e até piedoso.”. (LEVY, 2015,
p. 281).
Levy também esclarece que o nome “ Baphomet” é a abreviação cabalística
– TEM OHP AB - de “Pactos Templi omnium hominum pacis abbas ” que
significa “o pai do templo da paz de todos os homens ”. Exu Maioral é,
portanto, o Chefe Supremo da Quimbanda, fonte de onde emana a vida e a
morte e a partir do qual se origina a força e o caminho de todas as Entidades
que nela trabalham.

E se Deus é bom, o Diabo não é mal...

O problema histórico é que, por interesses da dominação cultural judaico-


cristã, desde a Idade Média a imagem do Bode Baphomet foi associada à
figura do Diabo, batizada de Belzebu e convenientemente transformada na
representação de todo o mal que assola e persegue os homens de bem.
Por sua vez, o sincretismo entre o Diabo cristão e o Orixá Exu já estava
arraigado na sociedade criando no inconsciente coletivo as imagens e ícones de
representação do mal, da dor, do imoral e do amoral . Mais ainda nos
primeiros séculos de descobrimento do Brasil, quando a influência da
sociedade cristã-europeia na formação cultural do país era muito mais forte e
influente que nos dias atuais. E é claro que, chegando à Quimbanda, Exu
Maioral passou, também, a ser chamado Exu Belzebu – trazendo consigo todos
os possíveis e imagináveis estigmas negativos.
Junte-se a isso o processo de escravidão e dominação das culturas africanas
desde a colonização do Brasil em 1500 e temos um prato cheio para o medo,
a ignorância e a intolerância religiosa.
A mesma intolerância religiosa que, há alguns séculos, perseguiu, queimou e
assassinou em praça pública milhares de mulheres condenadas por bruxaria.
A mesma intolerância religiosa que, há algumas décadas, permitia que a
polícia invadisse os terreiros de Umbanda e Candomblé, destruindo seus altares
e prendendo seus sacerdotes.
A mesma intolerância religiosa que, nos últimos anos, vem ganhando força no
Brasil com o crescimento das religiões evangélicas neopentecostais e de sua
bancada na câmara e no senado, que têm uma agenda muito clara: eliminar,
dominar e conquistar território no mercado da fé.
A mesma intolerância religiosa que, nos últimos meses, tem se mostrado cada
vez mais tirana e cruel, arrebatando grupos de jovens com um discurso de ódio
e discriminação contra tudo e contra todos os que discordam de sua doutrina
religiosa. Formatando frentes de combate como o “ Exército de Cristo” e os
“Gladiadores do Altar”.
A mesma intolerância religiosa que, nas últimas semanas, tomou as redes
sociais com imagens de criminosos e traficantes “ protegidos em nome de Jesus
Cristo” apontando armas para uma Mãe de Santo no Rio de Janeiro e a
obrigando a destruir seus ícones sagrados.
A mesma intolerância religiosa que, nos últimos dias, segue existindo sem que
o governo e as autoridades tomem qualquer providência e que, nos próximos
dias, pode bater à sua porta quando menos você esperar.
“Para exterminar um povo é preciso destruir sua cultura. Talvez isso nos faça
entender o porquê de tanta perseguição às crenças de origem africana. Na base do
racismo, o fato de não reconhecer o outro como humano, como igual.”
- Rodney de Oxóssi , em ” Traficantes e pastores unidos pelo preconc S

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